Behind The Spotlight
Escrito por Bia J. | Revisado por Debbie
Aula de História é a segunda coisa pior do mundo. Pois a primeira, é sentar do lado de . Irritante. Sério, a menina se acha. Ela é bonita, convenhamos, mas... O que tem de beleza, tem de chatice.
é a típica adolescente que acha que pode fazer tudo sozinha, ela se acha melhor que os outros e sempre tem uma resposta na ponta da língua. Ela é assim: gostou de você, tá salvo. Mas meu amigo, se ela te odiar... Aí você não pode fazer nada. Pois nada mudara a opinião dela. Falo por experiência própria. está nesse momento sentado do meu lado escrevendo algo no caderno, tenho vontade de perguntar o que, mas sei que vou ganhar de resposta um belo “Não te interessa.” Então fiquei na minha. O professor explicava algo, sobre algo que aconteceu há mil anos atrás... Dude, me fala, esses caras já morreram, isso tudo é passado. Então o que vai mudar na minha vida? Aí que eu te respondo: Nada. Não vai mudar absolutamente nada na minha vida. Minha mãe costuma dizer “Pare de viver o passado e viva o presente.” acho que vou falar isso para o meu professor de História.
O tempo passou de vagar, assim como todas as aulas passam, mas graças a Deus estávamos na última aula do dia, Ciências. era da minha classe também, mas pelo menos não sentávamos juntos. Meu parceiro era Turner, meu melhor amigo.
Antes de sairmos da sala, a diretora Hernandez entrou na sala, fazendo todo mundo se calar. Inclusive , o que era um milagre. A menina não para de falar. Sério.
- O que será que a bruxa velha vai falar? – Sussurrou para mim.
- E eu que vou saber? Desde quando virei vidente? – Respondi mal-humorado.
O cara faz uma pergunta idiota, merece uma resposta idiota. Nada mais justo. riu baixo e falou algo como “TPM”. ouviu a piadinha de e riu também, quase a mandei a merda. Quase.
- Todos vocês sabem que o ano está chegando ao fim...
Todos começaram a dar gritinhos, fazendo a diretora revirar os olhos.
-... E isso quer dizer que, a peça de final de ano está chegando...
Ouvi murmúrios de alegrias, vindo de e suas patéticas amigas e murmúrios de tristeza, que a maioria era dos garotos da sala.
- E a peça desse ano é um clássico, Romeu e Julieta. Gostaria da presença de todos para os testes, que a proposito começam nessa semana...
Desliguei-me ali mesmo. Peça de fim de ano da escola, até parece que eu vou participar. Já estou lá fazendo o teste. Humpft! Até parece. As meninas da minha sala, incluindo a chata e irritante da , começaram a conversar animadamente sobre o assunto. Eu só queria ir para casa. Isso já cansou. Na boa. As peças do final de ano sempre são uma bosta. Tá, é tudo ensaiadinho e blábláblá, mas é uma bosta, pois sempre consegue os papeis principais. O sinal finalmente tocou, fazendo-me recolher o meu material rapidamente e sair apressadamente. me acompanhou, mas antes de sairmos escutei a voz mais chata desse universo.
- Sempre fugindo, não é, ?
Respirei fundo antes de me virar.
- Pode ser que sim, pode ser que não, mas... Realmente não sei o que você tem a ver com isso, .
Ela ficou incrédula e ouvi um “Ohhh” vindo da sala, me fazendo sentir vitorioso. Antes que ela retrucasse, saí com . Garotinha insuportável. Me despedi daquele palerma e fui para casa.
[...]
Abri meus olhos e me levantei contra a minha vontade, diga-se de passagem. Bocejei e me espreguicei, cara, acordar cedo é foda. Fui em direção ao banheiro, fiz minha higiene pessoal e joguei água do meu rosto umas vinte vezes para eu despertar. Voltei para o quarto e peguei uma roupa qualquer e coloquei, ainda com sono, chequei que horas eram. E então, vi que eram 7h50. Senti meu coração saltar. Rapidamente me despertei e saí correndo sem ao menos dar bom dia para meus pais ou comer qualquer coisa. Com minha mochila nas costas corri como o flash. Eu não podia perder de novo a primeira aula, de matemática, da Sra. Eveline. Ela disse a mim curta e grossa “Se perder novamente a minha aula, você terá um encontro, de novo, com a diretora Hernandez”
Tipo, eu não tenho medo da diretora e nem da Sra. Eveline. O que eu tenho mesmo é da minha mãe. Ela pode ser mais malvada do que o Hitler quando quer. Corri o mais rápido que pude e como eu sou um homem bem sortudo, a minha aula era do terceiro andar, então... Bora subir escadas.
Corri, corri, tropecei, corri, corri, tropecei de novo, corri, subi escada, corri, corri, corri, subi o segundo lance de escada, corri e finalmente cheguei à sala. Mas para a minha desgraça, a porta estava fechada e a professora já estava explicando a matéria, mas de algum modo ela viu que eu estava lá e apenas fez um sinal que indicava para eu ir para a diretoria. Bufei e fui não tinha escolha, tinha? Adeus celular, adeus violão, adeus computador, adeus videogame. Adeus vida.
A diretoria estava vazia, afinal, estava no começo da primeira aula. Sheila, a secretaria, disse para eu entrar na sala da diretora, bufei e entrei.
Já estava acostumado, ia lá pelo menos duas vezes por semana. No mínimo.
- , o que faz por aqui?
- Também estava com saudades, diretora. – Debochei me sentando na cadeira.
- , ... O que aprontou dessa vez?
- Nada, eu juro, é que essa é a sexta vez que eu perco a aula da Eveline e ela me mandou para cá, vai saber.
- Seis aulas? , eu não sei onde você vai parar se continuar com isso!
Agora é a parte que eu me desligo. Ela continuou a falar, mas eu nem ouvia nada. Entrava por um ouvido e saia pelo outro. Ela não parava de falar e eu estava quase dormindo. Deveria ter jogado mais água na minha cara...
Ouvi-a batendo com força na mesa, me fazendo pular de susto. Mulher louca.
- , você precisa de uma punição séria! Não pode continuar assim... E é por isso que você ficara de detenção por duas semanas...
- Mas diretora... - resmunguei.
- Sem mas, ! E quer saber? Acho que tenho ideia melhor do que a detenção.
Ela fez uma cara que me deu medo. Diretora Hernandez vai me ferrar. Pronto, já era... Vai dar merda, tô prevendo. Isso tudo é culpa do meu despertador! Merda de vida.
- Você vai participar da peça do final de ano.
E foi aí que eu paralisei. Peça de final de ano = .
Se eu estava ferrado? Deus, quem eu queria enganar? Eu estava fudido.
Dois dias depois – Teatro, Institute London.
14h00 p.m
E aqui estou eu. , aqui, no teatro da escola se preparando para fazer o teste da peça Romeu e Julieta. E não para por aí, ainda mais com... . Ah, o destino. Às vezes, tão cruel...
Eu estava com a folha que a diretora me deu com minhas falas, a professora Courteney, que era a professora de teatro estava organizando tudo. O teatro estava uma loucura, tanto no palco, como na plateia. Os alunos tentavam gravar as falas, outros choravam saindo do palco sabendo que não conseguiram o papel... Essas coisas que a gente vê em filme.
Adivinhem para que papel eu fui obrigado a fazer o teste? Sim, Romeu.
Oh, Romeu, porque exististes?
Um saco, sério. E adivinhem que papel vai fazer? Julieta, é claro. estava do meu lado quase dormindo enquanto eu via as pessoas fazendo o teste. Na moral, esse povo é ruim pra caralho. Até eu sou melhor. Foi então que chamaram o nome de . Ela sorriu convencida, como se o papel já fosse dela, e caminhou para o palco.
Emily, uma garota da minha sala e amiga de , iria atuar com ela.
- Só para recordar, é Julieta, Emily é a Senhora Capuleto, então... Ação!
E então começou. Foi aí que senti uma pontada. As duas atuavam bem. Sim, as duas. podia ser o que fosse, mas ela era uma excelente atriz. É difícil para mim, digo, elogia-la. A menina é um porre, tão dura, tão determinada. Mas naquele momento ela parecia uma que eu não conhecia. Seus olhos brilhavam e ela falava com tanta emoção. Ela falava como se fosse Julieta. Como se a peça fosse real. E aquilo mexeu comigo. Parecia que ela era uma nova , e com muito esforço, digo que daquela , eu gostava.
Deus, eu realmente disse isso? Balancei a cabeça negativamente. Preciso me acalmar. Ouvi me chamar e olhei para ele.
- É sua vez, cara. Boa sorte.
- Valeu, vou precisar.
Andei irritado até o palco, mas fui impedido por uma mão, delicadamente, puxando meu braço. Olhei para quem me impediu e estranhei quando vi quem era.
Nada mais e nada menos que . Sim, eu tenho essa mania irritante de chamá-la pelo nome e sobrenome. E então, previ tudo. Ela vai fazer alguma piadinha, é isso. “Uau, , não sabia que curtia teatro.” “Só tenta não se humilhar mais do que você vai fazer subindo no palco.” Coisas desse tipo, ou ela vai brigar comigo. Isso, ela vai gritar comigo do tipo “Esse é meu palco, minha peça... Saia daqui, seu grande idiota.”
Mas fui surpreendido. Digo, surpreendido mesmo, até abri minha boca em um completo “O”. Ela deu um sorriso, sim, um sorriso. Que é muito lindo por sinal. E disse:
- Boa sorte.
E pela primeira vez, eu sorri verdadeiramente para .
[...]
- Ah, cara, com certeza você vai conseguir o papel, você foi muito bem!
é um bom amigo. Chato, metido a engraçadinho, fala besteira 99% do tempo, mas ele é um cara legal.
- O fato, Turner, é que eu não quero ganhar papel nenhum.
- Olha pelo lado bom, se nada der certo você pelo menos vai ser uma árvore de cenário. – Riu.
E com isso, eu me recusei ao ver o lado bom.
Eu fui extremamente mal ao teste, o fato é que eu sou um péssimo ator. Eu não sei atuar e fazer essas coisas, sabe? Entrar em um mundo paralelo, entrar no papel... Isso é coisa de doido. Eu não fui feito para ser ator. E ponto final.
Os resultados iam sair daqui a 5 minutos. Todas as pessoas, inclusive eu, estavam na frente do mural. Eu estava nervoso, não ia admitir, mas lá no fundo, bem no fundo, gostaria de conseguir o papel. É, eu nunca falar isso em voz alta.
estava comigo para fazer companhia, pois ele não fez o teste. Ele estava praticamente mais animado que eu. sorria toda feliz enquanto olhava para o corredor em cinco em cinco segundo para ver se Courteney chegava com os resultados.
Ela sorrindo toda feliz se virou e então por instantes nossos olhares se cruzaram. Ela ainda sorrindo, olhava para mim e eu para ela. Eu senti algo dentro de mim, não sei bem o que era. Mas... Era bom. O sorriso dela era lindo. Era do tipo que fazia você sorrir até nos dias mais sombrios. Só que o fato é que eu senti algo estranho... Porque quando ela sorriu, eu senti uma vontade quase incontrolável de ser o motivo.
Eu devo estar enlouquecendo.
Courteney finalmente chegou com os resultados em mãos. Ela pediu licença e grampeou no mural e saiu rapidamente. Todos se aglomeraram tentando ver quem ganhou o papel de quem. Exprimi-me lá no meio e tentei enxergar alguma coisa.
Sra. Capuleto: Emily Joy
(Substituta – Joyce Yarnd.)
Julieta:
(Substituta – Alexandra Bulk.)
Rosalina: Suzana Collins.
(Substituta – Olivia Jakstreck.)
E assim ia a lista. Nada mais do que o esperado de ter conseguido o papel. Fui para a lista masculina, agora era hora.
Sr. Caputelo: Xavier Woods
( Substituto - Tobias Levin.)
Teobaldo: Gabriel Patrick.
(Substituto - Josh France.)
Romeu: Nash Colasanti.
(Substituto – .)
Parei de ler a lista aí. É claro que eu não conseguiria. colocou uma de suas mãos no meu ombro, tentando me consolar.
- Eu nem queria mesmo. – Menti dando de ombros e sorri falso.
não disse nada, apenas sorriu triste. Acho que ele sacou. Vi na multidão, ela me olhava interessada. Desviei o olhar rapidamente e me despedi de , saindo o mais rápido dali.
Um dia antes da peça – Institute London.
Hora da saída.
O ruim de ser substituto é que você tem que decorar as falas, mesmo tendo o risco de nem se apresentar e de aquilo ser um desperdício. A vida é dura. Respirei fundo e li as falas de novo. Eu era bom em decorar. Decorar para mim era a parte mais fácil, o ruim era... Atuar. Esse era meu pequeno grande problema. Hoje eu ficaria aqui até à tarde na escola decorando essa droga. Eu sabia que se fosse para casa, largaria isso e não pegaria tão cedo.
- Mas... Eu a amo. – Parei. - Não isso tá péssimo. Mas... – fiz voz sofrida. – Eu a amo. Agora sim.
- Sinto lhe informar, mas o Romeu não morre nessa parte. – Disse rindo da minha voz sofrida.
Ela sentou ao meu lado e pegou meu roteiro da minha mão, sem mais nem menos! Ela estava falando comigo? Nesse tom risonho? Nem brigava comigo? Ela deve estar aprontando alguma...
- Digamos que eu não sou bom em atuar. – Dei um riso sem humor.
- É fácil. – Ela deu de ombros. – É só você se colocar no lugar de Romeu.
- Pra você é fácil. – murmurei.
- Não, não é... Mas sabe o que eu imagino? – Ela disse ficando mais perto de mim.
- Não, o quê? – Falei curioso.
- Eu imagino como eu ficaria no lugar de Julieta. Já pensou? Você ama um garoto, mas não pode ficar com ele de jeito nenhum, pois... Suas famílias são rivais. Tudo está dando errado para os dois, o mundo conspira contra eles, mas o amor deles é mais forte que tudo isso. Tão forte que vai além da morte. Tão forte que não conseguem viver um sem ao outro. E eu me coloco no lugar dela, eu sinto o que ela sente. É uma questão de pratica. Outra questão é travar na hora, é muito comum, mas você só tem que relaxar. Você é quem manda. Se você errar, ninguém vai saber, só você e a Courtney, mas...
Eu juro, que eu nunca me imaginei, tendo uma conversa civilizadamente com sobre esse assunto. Ela tagarelava sem parar, me fazendo sorrir de leve. Ela falava algo sobre se colocar no personagem, mas eu não conseguia prestar atenção, estava observando uma coisa mais importante, ela. Enquanto ela falava, gesticulava as mãos e balançava a cabeça rindo, fazendo seu cabelo cair na cara dela e desajeitadamente, a mesma arrumar. Enquanto falava, ela olhava para tudo, menos para mim. E então meus olhos foram para os lábios dela. Ela usava um batom clarinho, nada muito chamativo, mas ao mesmo tempo, atraente. Não que ela precisasse de batom para ficar bonita, ela sempre foi. E eu sempre admiti isso. E a única coisa naquele momento que eu queria fazer, era beija-la. E não parar mais.
- Entende? É bem fácil.
- Hm, é. – Concordei sem a mínima ideia do que ela estava falando.
- Não estava escutando nada, não é mesmo? – Gargalhou baixo.
- Ér... não. – falei sem graça. – Foi mal, .
- Me chama de e me desculpe também, às vezes eu falo demais.
Sorri e continuamos a conversar e dessa vez eu prestava atenção. Ela era engraçada. Não era nada daquilo que eu pensava que era. Ajudou-me a treinar as falas, e a maioria eu errava, a fazendo rir. Às vezes, eu errava de proposito, só para ouvir aquela risada gostosa, que se tornou meu som favorito.
Dia da Peça. – Teatro, bastidores.
Institute London – 21h10 p.m
Estava sentado no sofá ali na coxia entediado. Todos andavam apressadamente e eu ouvia os gritos da professora Courteney. Acho que até lá da esquina eu ouviria. Pessoas gritavam que seus figurinos estavam apertados ou largos demais. Outros choravam porque estavam nervosos. Eu e os outros substitutos estávamos aqui, quietinhos observando a cena. A parte boa era que passava meninas quase peladas aqui, todas reclamado do figurino, menos mal...
A plateia, como sempre, estava lotada. Só os pais mesmo para verem os filhos nisso aqui... Não vi até agora, o que achei estranho, considerando que vi todos da peça até agora. Será que ela não vem? E porque estou tão preocupado?
- ? – Ouvi Courtenay gritar. – Onde está ?
- Aqui. – Disse me levantando.
- Colasanti não vem. Se arrume o mais rápido possível, seu camarim é o 17, vá rápido...
Assenti e fui correndo para o camarim. Tinha 10 minutos para eu me trocar, na verdade, a peça já tinha começado, mas eu só entrava daqui a 10 minutos. Coloquei a fantasia, era bem ridícula, por sinal. E me olhei no espelho. Não aguentei e gargalhei. Eu estava um pateta. Fora que tinha que usar um chapéu ridículo com uma pena...
Senti uma presença no cômodo e olhei para porta, lá estava .
Ela usava o cabelo preso e uma maquiagem clara, mas que chamava atenção. Usava um hobbie, cobrindo sua roupa.
- Faça esse dinheiro valer a pena, . – Apenas disse isso.
- Dinheiro? – perguntei confuso.
- Sim, o dinheiro que eu gostei subornando Nash para não vir hoje.
O que posso dizer? Fiquei chocado. tinha dito mesmo aquilo? Ela subornou Nash Colasanti só para ela atuar comigo? Cara, eu só posso estar sonhando. Olhei para ela abismado e ela se apressou em dizer.
- Digamos que eu não queria beijar Nash. – Ela riu envergonhada.
- E então você quer me beijar? – Sorri galanteador.
Ela corou e abaixou a cabeça sem dizer nada e então eu constatei aquilo como um “sim.” Eu não deveria estar feliz, mas... Estava.
- Tire suas próprias conclusões. – Apenas respondeu aquilo.
E então saiu do camarim, mas eu gritei a fazendo dar meia volta.
- Eu acho que não te odeio, . – Dei ênfase no apelido.
Ela gargalhou, me fazendo gargalhar da gargalhada dela. Olhou para mim, ainda rindo fraco, e seus olhos se encontraram com os meus, fazendo meu coração acelerar e ter a certeza de que eu não odiava .
[...]
- Está preparado? – Disse Courteney a mim.
- Sempre. – Sorri galanteador.
- Não me faça me arrepender disso, .
- Não vou. – Sorri.
E então, ela me empurrou para o palco murmurando um “Boa sorte, garoto.”
A plateia estava lotada, o que me fez paralisar por segundos. Mas então vi meus pais e na plateia e me acalmei um pouco, um pouco. Consegui dar um sorriso e fui para o centro do palco, onde estava Xavier, interpretando o Capuleto. Eu estava nervoso, paralisado.
E então ouvi a voz dela na minha cabeça, me acalmando.
“Outra questão é travar na hora, é muito comum, mas você só tem que relaxar. Você é quem manda. Se você errar, ninguém vai saber...”
Eu sou quem manda. Eu que tenho o poder. Eu quem sou o Romeu da parada.
E agora era hora de entrar no personagem.
[...]
Capuleto/Xavier: Não quero você perto da minha filha, quantas vezes vou ter que repetir?
Romeu/Eu: Mas... Eu a amo.
Capuleto/Xavier: Você é só um jovem imprestável e ainda por cima, filho do meu maior inimigo!
Romeu/Eu: Eu não tenho nada a ver com a rivalidade de você e da minha família, eu só sei que eu a amo, e quero passar minha vida inteira ao lado dela.
Capuleto/Xavier: Como ousa dizer isso? – Gritou. – Sai daqui antes que eu mesmo mate você!
Julieta/: Não encoste nele, papai.
E então, quando entrou, todos levantaram e bateram palmas. Ela estava incrivelmente linda. E eu estava que nem um bobo olhando para ela.
Capuleto/Xavier: Eu vou chamar os guardas. - Ele disse saindo do palco.
E então só sobramos eu e , ou melhor, a minha julieta.
Julieta/: Romeu, saia daqui antes que meu pai faça algo com você. Não quero perder você...
Romeu/Eu: Você nunca irá me perder. Eu sempre vou estar aqui, com você, para sempre!
Julieta/: Por favor, vá.
Romeu/Eu: Quando vamos nos ver de novo?
Julieta/: Eu não sei, mas me prometa que nós ainda vamos nos ver hoje?
Romeu/Eu: Eu prometo.
Capuleto/Xavier: Ele está ali. – Gritou entrando palco, de novo.
Julieta/: Vá, rápido, eu te amo...
Romeu/Eu: Eu também te amo.
[...]
Romeu/Eu: – Aqui estou como combinado. Aquela é Julieta?
Julieta, ou seja, aparece na sacada do cenário que tinha no palco. Eu queria rir tanto...
Julieta: – Como conseguiste entrar?
Romeu/Eu: – Pulei o muro. Está escuro e teus parentes não conseguiram me ver.
Julieta: – Se eles pegam você... Podem te matar!
Romeu/Eu: – O que me mata é o amor que sinto por você.
Julieta: – Você me ama de verdade?
Romeu/Eu: – Juro pela lua.
Julieta: – A lua? A lua muda de fazes todas as semanas. Não jures pela lua. Não jures por nada, só por você mesmo.
Romeu/Eu: – Então eu juro por meu coração...
Julieta: - Para! Não jures.
Romeu/Eu: – Então eu saio daqui sem um beijo?
Julieta: - ri - Para isso você tem que subir aqui...
No cenário tinha uma escadinha, subi por ali, fingindo estar escalando. Logo cheguei e pulei para dentro no cenário, onde ela estava.
Romeu/Eu: E agora? - disse sorrindo
Julieta/: E agora? O que está esperando para me beijar?
E essa a pergunta que martelou na minha cabeça. Não como na peça, mas também fora dela. O que eu estava esperando para beijar ela? Puxei-a delicadamente pela cintura, meu coração estava a mil, minhas mãos estavam suando e que porra é essa? Eu nunca fiquei nervoso em beijar uma garota, mas ela não era uma garota qualquer, ela era , a garota mais encantadoramente irritante desse mundo, ela era minha Julieta, ela era minha garota, mesmo não sabendo disso ainda. entrelaçou seus braços em meu pescoço e então nós, finalmente, nos beijamos. Pedi passagem para a língua e ela cedeu. Seus lábios se encaixavam perfeitamente nos meus. Como eu imaginava eles eram macios e aveludados, eram perfeitos... A puxei para mais perto, se isso era possível. Eu sei que isso tá meio gay, mas, naquele momento, enquanto eu a beijava, para mim, só tinha eu e ela ali. Apenas nós dois e mais ninguém.
[...]
Nem preciso falar que depois daquela cena todos gritaram e aplaudiram? Mas não preciso falar também que teve mais peça, certo? Eu ainda estava sorrindo que nem um idiota com a lembrança do beijo. A peça já tinha acabado e todos nos parabenizavam. Avistei vindo até mim.
- Você arrasou, dude. Na moral, parabéns.
- Valeu, cara. – Sorri satisfeito.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Manda aí.
- Cara, você atua muito mal, mas no palco... Parecia real. Qual é o segredo?
E então eu olhei para ela. ria de algo com suas amigas. Sua risada era tão linda, que fazia cocegas em mim. Eu queria ir lá e abraça-la. Queria beija-la. Queria ela para mim. Percebi que eu nunca tinha odiado ela. Você não pode odiar aquilo que não conhece. Eu e ela nunca conversamos de verdade. Mas eu senti, que a partir daquele dia... Conversaríamos por muito tempo.
Olhei para , que me olhava sorrindo, esperando uma resposta, ri baixo e me lembrei da cena do beijo, respondi verdadeiramente:
- O segredo era que... Eu não estava atuando.