Bed Time Story

Escrito por Brubs Mota | Revisado por Mariana

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  Já faz algum tempo desde que Marco a viu pela primeira vez. Ele ainda podia sentir o forte aroma de café misturado com o cheiro de rosas que chamaram sua atenção para a garota que estava sentada a apenas algumas mesas de distância, falando numa língua desconhecida com quem quer que estivesse do outro lado da linha. Ele lembrava perfeitamente do quão estressada e chateada ela parecia ao tirar os óculos de sol, revelando os olhos mais profundos e verdadeiros que ele já havia visto. Ele se lembrava da preocupação que o atingira e da vontade que lhe subiu de ir falar com aquela garota. Ele se lembrava de ter pensado como a vida poderia ser tão cruel com ela? Ela parecia tão frágil, tão especial, tão digna de toda a felicidade do mundo... Como a vida poderia desapontá-la daquele jeito?
  Encerrando a chamada, a garota murmurou algo na mesma língua estranha que Marco era incapaz de entender e descansou a mão na testa, levando-a até a boca logo em seguida. Ela fechou os olhos por um segundo, encarando as flores sobre a mesa no segundo seguinte. A garota suspirou e olhou para o teto sussurrando algo, talvez uma oração. Ela tomou um gole de seu café e suspirou novamente, encarando o copo em sua mão com uma angústia translúcida em seus olhos.
  Ele se lembrava de ter pensado que veria a tal garota chorando a qualquer momento. Era capaz de lembrar que procurou por coragem em si para ir até lá e dizê-la que, independente do que estivesse acontecendo, tudo ficaria bem. Lembrava de ter procurado por algo engraçado para dizer logo após para que, talvez, ela se esquecesse do que quer que estivesse perturbando a sua mente. Mas antes mesmo que ele pudesse pensar em algo útil, a garota se levantou, pegando suas rosas e seu café, deixando o lugar com a mesma rapidez com que chegara ali.

  Já faz algum tempo desde que Marco se apaixonou perdidamente pelo sorriso dela. O mesmo que ele viu naquele mesmo dia, minutos depois de ter deixado a cafeteria, alguns blocos de distância de lá.
  Ela estava sentada, seus cabelos negros caíam como cascatas em suas costas enquanto seus olhos estavam fixos na vitrine de uma das lojas do outro lado da rua. As flores, ainda estavam em suas mãos, dividindo espaço com seu copo de café e um sorriso enorme e genuíno se estendia pelos lábios da garota. Marco provavelmente estaria assustado com a mudança repentina de humor da moça se não estivesse tão encantado com a visão que tinha. Os olhos castanhos da garota, que antes estavam apagados pela tristeza que a afligia, agora brilhavam intensamente e tinham uma doçura tal, que Marco teve de conter seu desejo de se aproximar apenas para poder observá-la melhor.
  Marco sabia que deveria estar parecendo um idiota, parado na esquina, olhando embasbacado para uma desconhecida que sorria para uma vitrine, mas ele não conseguia deixar de se sentir bem ao fazê-lo. Ainda naquele dia, ele chegaria à conclusão de que poderia passar o resto da sua vida observando a tal desconhecida, ele não reclamaria caso tivesse que passar todos os dias até o fim da eternidade apenas observando o seu sorriso.
  Foi então que um som fez com que o rapaz, contra sua vontade, desviasse o olhar até a origem do barulho estranhamente conhecido. Demorou pouco mais de três segundos para que o franzido no cenho de Marco fosse desfeito, quando percebeu que aquele era apenas o toque do seu celular.
  – Sim? - atendeu, voltando seu olhar para o céu, perguntando o que tinha feito de tão ruim para não poder apenas observar a tal garota cujo sorriso o havia cativado.
  – Alguém perdeu uma aposta e ficou encarregado de ser meu chofer por duas semanas... - a voz de Mats soou contente e Marco rolou os olhos.
  – Onde deseja ir agora, senhor Hummels?
  – Tenho um compromisso inadiável na casa do Lukasz em uma hora. Você tem 10 minutos para chegar e, ah, traga-me chocolate. Você sabe qual é o meu favorito. - e desligou.
  – Babaca. - murmurou Marco com ar de risos, encarando o aparelho em suas mãos.
  Então seus olhos buscaram novamente pela bela dona do sorriso que aquecia seu coração.
  Ele a observou pela última vez, gravando em sua mente cada traço, cada detalhe, o máximo deles que conseguia. E foi então que com a vontade de ficar mais um pouco, a dúvida de quando a veria novamente e com a certeza de que sonharia com seu sorriso, Marco girou em seus calcanhares, seguindo em direção ao seu carro.

  Já faz algum tempo desde que Marco se via frustrado. Extremamente frustrado. O motivo? Ele não a via há algumas semanas. Quer dizer, ele sonhava com ela todas as noites, mas sonhar já não era mais o suficiente. Ele precisava vê-la. Precisava do calor de seu sorriso. Precisava do brilho dos seus olhos. Precisava até mesmo dos pensamentos idiotas que teve naquele dia.
  Dias atrás, ele chegou a pensar em conversar com um psicólogo. Quer dizer, como uma garota que ele havia visto apenas por uma manhã, estava ocupando seus pensamentos por tanto tempo? Como ele poderia já estar planejando um futuro com uma pessoa que havia visto duas vezes? Marco chegou a ligar para o psicólogo do clube, mas acabou desistindo assim que percebeu que nada que lhe fosse dito, seria satisfatório. A única coisa que poderia acabar com a sua frustração era, de fato, a tal garota.
  Sempre que podia, Marco voltava à cafeteria no mesmo horário em que a havia visto pela primeira vez, com a esperança de que ela pudesse estar lá novamente, mas ele voltava para casa ainda mais frustrado. Ele chegou a pensar que fosse apenas a sua imaginação, que talvez aquela garota nem mesmo existisse. Ele havia ouvido em algum lugar que a mente nos faz ver coisas que não existem apenas para que nos sintamos felizes e, bom, isso martelou na cabeça dele durante um bom tempo.
  Ele pensou em desistir, em esquecê-la, mas enquanto maquinava uma forma de fazê-lo, cenas de um futuro feliz ao lado dela o atingiam e o faziam se esquecer da possibilidade de esquecê-la.

  – Encontrou a moça? - Nuri perguntou assim que Marco sentou ao seu lado no ônibus que os levaria até Berlim, onde seria o próximo jogo. Nuri era o único que sabia da tal garota que causava suspiros em Marco Reus e, sempre que podia, acompanhava o amigo até a tal cafeteria, ato que Marco agradecia bastante. Ele até manejou algumas palavras para responder o amigo, mas nunca chegou a dizê-las, já que uma voz feminina que chamava por Jonas ecoou pelo lugar, fazendo com que a maioria dos presentes parasse o que fizesse e olhasse para a entrada do ônibus na tentativa de identificar a dona da voz.
  – Jonas, onde você está? - repetiu a dona dos cabelos negros que habitava os sonhos de Marco já há algum tempo. Enquanto o garoto por quem ela chamava se dirigia até ela tagarelando, Marco mal conseguia pensar.
  Ela estava ali, a poucos metros de distância dele e Marco criticava sua mente por não ter sido capaz de lembrá-lo quão encantadora a garota realmente era. Não que ele houvesse se esquecido disso, ele apenas não era capaz de raciocinar. Eis que acontecia o que ele tanto desejara: ela estava realmente ali, ao alcance de seus olhos. Memórias daquela manhã, lembranças de todas as vezes que ele havia sonhado com ela ou imaginado um futuro ao seu lado o atingiram em cheio, tornando-o um pouco mais incapaz de pensar em algo lógico.
  Foi então que ele percebeu que vê-la não parecia ser o suficiente. Marco precisava falar com ela.
  Antes mesmo que ele pudesse pensar sobre, Marco já havia se levantado e em poucos passos, já estava ao lado de Jonas e da garota misteriosa. Foi só então que ele parou para analisá-la. Com o milhão de pensamentos que o atingiram no momento em que a vira - lembranças de todas as vezes que ele havia sonhado com um futuro ao lado dela -, que se esqueceu de buscar por qualquer sinal de emoção do rosto dela. Mentalmente, ele já estava se jogando de um precipício por ter sido tão idiota.
  Os olhos dela não estavam brilhando, mas também não estavam opacos, o que já fez com que ele agradecesse aos Céus. Porém, ele não conseguia identificar exatamente o que eles transmitiam embora uma candura sem igual transbordasse dos mesmos, ele sabia que havia muito mais ali.
  Mas antes mesmo que Marco pudesse se pronunciar, a garota se despediu de Jonas com um beijo na bochecha, gritando um “Boa sorte, rapazes!” enquanto se dirigia à saída do ônibus. Foi então que ela virou e seus olhos encontraram o de Marco, que não pôde fazer nada além de suspirar ao perceber que ela havia lançado um sorriso em sua direção.

  Já faz algum tempo desde que Marco enchia Jonas de perguntas, de maneira nada sutil, sobre - esse era o nome da garota misteriosa. É claro que o mais novo achou estranho todo o interesse, mas não hesitou em contar um pouco sobre a estudante de intercâmbio de quem era anfitrião.
  Marco chegou a pensar em diversas formas de abordagem, algumas bastante ridículas, mas não chegou a realizar nenhuma com medo da reação da garota. É, ele tinha medo de assustá-la. Não apenas isso, ele tinha medo de ser rejeitado.
  Foi então que começou a ir a todos os jogos e a aparecer durante alguns treinos e toda vez que isso acontecia, um sorriso se estendia pelos lábios de Marco que algumas vezes já havia imaginado a garota fazendo isso apenas para vê-lo. Tecnicamente, ela não estava ali para vê-lo, mas isso não o incomodava nenhum pouco, desde que ele pudesse tê-la por perto, tudo eram flores.
  Quando ela não estava por lá, Marco tratava logo de perguntar a Jonas o que havia acontecido e, quase sempre, recebia como resposta um “Está estudando”. De certa forma, isso o deixava frustrado. Ele queria vê-la. Será que ela não entendia que ele tinha necessidade de vê-la?
  Num desses não tão belos dias em que não aparecera, Marco decidiu ficar até mais tarde para trabalhar nas suas cobranças de falta. O silêncio em que se encontrava o lugar o ajudava a calcular cada cobrança que bateria e Marco estava adorando isso. Quanto mais pudesse se concentrar, melhor.
  – O que você está fazendo aqui sozinho? - uma voz com a qual ele já havia se acostumado, chegou docemente aos seus ouvidos, fazendo com que o rapaz desviasse sua atenção da bola pela primeira vez naquele dia. caminhava em sua direção à passos largos, com olhos cansados enquanto suas mãos estavam firmes ao redor da alça de sua bolsa. Marco apenas teve tempo de respirar fundo e dizer a si mesmo para não agir como um completo idiota.
  – Eu, hm... Eu estou treinando. - respondeu um pouco inseguro e a garota franziu o cenho, prendendo o riso enquanto o rapaz tentava agir como uma pessoa normal.
  – E onde estão os outros?
  – Os outros? - ele franziu o cenho, passando as mãos pelos cabelos em nervosismo. - Hmm, devem estar jantando a essa hora.
  – Hmm... E por que você não está fazendo o mesmo, Marco?
  Ele poderia ser inteligente e contar a verdade de forma simples, dizer que tinha ficado porque queria melhorar, poderia agir normalmente, como em qualquer outra ocasião, mas já fazia algum tempo que ele não agia normalmente - principalmente quando estava perto dela. E a falta desse “agir normalmente”, deixava espaço para que o lado estúpido de Marco transbordasse. Não que ele já não fosse estúpido, porque posso garantir que ele é e muito, mas era só a aparecer para ele ficar ainda mais... O que sempre nos rendia boas risadas.
  Ok, foco! Voltando...
  Marco não conseguiu achar uma resposta, apenas ficou lá tentando pensar em algo além de “Não seja estúpido, não seja estúpido”.
  – Quer comigo jantar? - declarou com algo que talvez fosse a tentativa de um sorriso e fechou os olhos com força assim que percebeu o que havia dito. não riu descaradamente como ele imaginava que ela fosse fazer. Ela soltou uma risada discreta, a mesma que ela soltava toda vez que via o Ömer, filho de Nuri, que segundo ela era a criança mais fofa do Universo. A mesma risada que ela soltava toda vez que sentia uma vontade inexplicável de apertar alguém num abraço. Marco não pôde deixar de sorrir ao pensar que, talvez, ela estivesse com essa vontade no momento. E que esse tal alguém, poderia ser ele.
  – Sim, Marco. Eu quero jantar com você. - ela sorriu e Marco podia jurar que não conhecia melhor sensação que aquela que o sorriso de causava nele.
  Eu poderia continuar a história e te contar o que aconteceu naquele jantar e nos dias seguintes, mas não teria graça se eu te contasse tudo de uma vez, certo? Ok, talvez tivesse. Seu pai fez muitas coisas épicas que, provavelmente, fariam você rir até que seus bisnetos nascessem, mas por hora, é só, .
  Agora vá dormir, antes que sua mãe apareça aqui e me mate por ter feito você dormir tarde.

  – Mas eu não quero! - meu afilhado miou e eu não pude deixar de sorrir ao vê-lo inflar as bochechas exatamente como fazia quando eu a negava algo.
  – Você tem seis anos, pirralho, você não tem querer. - ri, levantando da cama e seguindo em direção à porta.
  – Tio Mario? - chamou antes que eu pudesse sair do quarto e eu tinha certeza que um sorriso abestalhado estava no meu rosto nesse exato momento. Digamos que essa criança seja apenas minha pessoa favorita do Universo e que qualquer coisa que ela faça, me deixa parecendo um bobão. Apenas digamos. Porque, para todos os efeitos, o bobão é o Marco e somente ele.
  – Ja?
  – Essa história... Vai ter um final feliz, não vai? - virei para encará-lo e estava praticamente na ponta da cama, os olhos esbugalhados em curiosidade que eu tanto adorava e que ninguém conseguia resistir.
  – O que você acha? - a passos lentos, voltei para a poltrona que eu ocupara enquanto o contava a história e deu de ombros. - Você não sabe? - arqueei as sobrancelhas e ele franziu o nariz.
  – Não... - fez bico. - Mas eu poderia saber se você terminasse de contar. - sorriu de orelha a orelha, tática que funcionaria perfeitamente alguns meses atrás, e eu não contive minha vontade de rolar os olhos e rir, balançando a cabeça negativamente.
  – Boa noite, . - me levantei mais uma vez, depositando um beijo na testa do meu afilhado e baguncei os cabelos dele no instante seguinte.
  Segui até a saída do quarto novamente e ao apagar a luz, pude ouvir bufar. Ri fraco e abri a porta quando ouvi um “Boa noite, tio”. É claro que eu deixei o quarto com um sorriso bobo no rosto. E é claro que esse sorriso se transformou numa gargalha [um tanto contida para que não aparecesse com foices para me matar por estar fazendo barulho àquela hora da noite] quando eu vi o semblante nada contente de Marco.
  – Estúpido?
  E assim se deu início uma não tão rápida explicação - segundo Marco extremamente convincente - de que meu melhor amigo não era estúpido.

Fim



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