
Beautiful Liar
Escrito por Maru Ferrari
Revisado por Natashia Kitamura
Capítulo 1 - Who are you?
POV.
Estava em tempo de abrir o chão, havia perdido a conta de quantas voltas já havia dado em meu quarto pensando no que fazer. Eu tinha que arranjar a desculpa perfeita para atrair a polícia de uma forma que eles quisessem ficar próximos a mim a qualquer custo. O plano já estava todo armado: eles iriam receber um chamado anônimo de um suposto vizinho dizendo que uma garota havia sofrido um atentado em sua casa, a polícia viria até mim e eu só precisava dizer que foi a máfia com a qual meu irmão estava envolvido, só. Isso faria uma trupe de policiais ficar na cola de qualquer pessoa, porém, essa era a parte fácil da coisa toda. Eu precisava me causar ferimentos de tal forma que nem o melhor legista do mundo pudesse identificar que eles foram feitos por mim. Mas como diabos eu iria fazer isso? Não poderia envolver ninguém nisso, era arriscado demais, haviam digitais, e um fio de cabelo de outra pessoa com meu sangue e ela estaria perdida, assim como a minha parte da missão.
Parei no centro do quarto e olhei os móveis à minha volta, teriam que servir.
Corri até a penteadeira tentando acertar a minha cabeça na quina do móvel.
- Merda.
Senti minha cabeça latejar na hora e me xinguei imediatamente, uma puta dor de cabeça para nenhum filete de sangue. Teria que ser em outro lugar. Encarei o espelho acima da penteadeira e juntei toda minha coragem pra jogar minha cabeça contra ele, fechei os olhos assim que senti os estilhaços se partirem contra meu crânio, a ardência no canto de minha testa veio logo depois, trazendo pequenos cortes consigo. A pancada havia sido tão forte que mal consegui conter o grito de dor. Ótimo, os verdadeiros vizinhos não poderiam negar que tinham escutado algo.
Notei uma gota de sangue pingar em um dos meus perfumes e decidi aproveitar aquela deixa, empurrando tudo que havia ali para o chão só para depois golpear a minha cabeça ao menos três vezes naquela superfície plana e branca, deixando um rastro de sangue notável.
Caminhei devagar até o outro espelho querendo ver os meus resultados, a dor já começava a ficar grande demais, mas assim que olhei meu reflexo, senti que faltava algo: meu cabelo estava quase impecável, porém eu soube como resolver assim que meus olhos encontraram o banheiro.
Fechei o ralo da banheira e abri a torneira deixando que ela fizesse seu trabalho enquanto eu terminava o meu. Usei o secador para deixar o meu cabelo o mais bagunçado possível e arranquei alguns bons fios de cabelo somente de um lado da minha cabeça, descartando-os no vaso sanitário logo depois. Havia tomado o máximo de cuidado possível para não encostar minhas unhas em meu couro cabeludo, não poderia haver nenhum vestígio nelas.
Olhei-me mais uma vez no espelho e sorri feito uma psicopata admirada com meu trabalho, enquanto tentava não pensar na dor. O meu rosto estava perfeito para o meu objetivo. Eu só tinha que dar um jeito no meu corpo e estaria tudo pronto.
A banheira estava quase cheia e eu tinha pouco tempo. Juntei toda a coragem que eu ainda não tinha usado e me afastei com o secador em minhas mãos, ainda ligado na tomada, se aquilo não desse certo e a polícia não chegasse a tempo eu iria parar no necrotério. Puxei tudo o que havia de fio no aparelho tomando distância da entrada do banheiro, quando senti que não dava mais, parei no lugar e implorei a Deus que aquilo desse certo, eu não queria morrer, principalmente daquela forma. Olhei para o relógio em minha parede, a polícia já havia sido acionada pela equipe, era hora do truque final.
Fechei meus olhos e arremessei o secador na banheira que já transbordava e espalhava água pelo banheiro, mal pude o ver cair na água, o curto foi certeiro, tudo ficou escuro em questão de segundos. O secador continuava estralando, soltando faíscas vez ou outra.
Escutei sirenes ao longe e vi que estava na hora do truque final, eu não tinha mais do que alguns minutos. Dei alguns passos para trás tomando distância do espelho, tentando ao máximo não pensar no que faria a seguir. Coloquei todas as minhas forças naquilo e me atirei contra o grande espelho que estava à minha frente.
Os pedaços de vidro estavam por toda parte, assim como o meu sangue muito provavelmente. O estalo do meu corpo se chocando contra o chão depois do golpe no espelho foi inconfundível, eu havia quebrado uma costela e choviam vidros em mim, queria gritar, mas não tinha forças. Quando o secador soltou outra faísca, pude notar duas coisas, uma: água da banheira já invadia o meu quarto, dois: se alguém não me encontrasse logo, eu iria morrer.
Sentindo meus cabelos empapados de sangue e ouvindo passos ao longe, deixei a escuridão me dominar.
POV. Nicolás
Eu sentia meu coração disparar a cada passo que eu dava, disparava tanto que por vezes eu pensava que ele iria parar de bater. Metade da casa havia sido vasculhada e nada parecia fora de seu lugar, parte de mim dizia que aquilo poderia ser uma armadilha, mas outra parte me incentivava a continuar, eu só não entendia por que diabos meu coração estava daquele jeito, era como se ele estivesse pressentindo algo. A casa estava totalmente escura, nenhuma luz funcionava, que merda havia acontecido ali?
Subi as escadas em direção ao segundo andar pestanejando por aquela porcaria de escuridão, o lugar era enorme e as lanternas embutidas nas armas eram uma porcaria maior ainda. Estava quase abrindo uma porta quando escutei um estouro vindo da outra direção, o barulho foi tão grande que eu quase disparei a minha arma por reflexo, um ato burro. Corri na direção oposta e um odor de algo queimando invadiu minhas narinas, foi quando notei que uma das portas exalava fumaça. Por algum motivo eu temi o que encontraria ali, meu coração bateu ainda mais rápido.
Guardei minha arma e cobri meu rosto, algo me dizia que eu precisaria da minha mão livre quando entrasse ali, além de eu ter o resto da minha equipe com a arma em punho logo atrás. Dei sinal para que três dos meus homens me acompanhassem e me empenhei em derrubar a porta. A fumaça era absurda, se já era difícil enxergar no escuro, naquele quarto era praticamente impossível. Estava a ponto de adentrar o ambiente quando algo chamou minha atenção, tinha água correndo no quarto. Água, estouro, fumaça. Senti meu coração parar por dois segundos.
Peguei a lanterna da mão de e apontei para o quarto. Não era uma armadilha, havia uma pessoa lá, parecia que estava morta, mas algo me dizia que ainda havia esperança para aquela vida, que talvez pudesse ser salva. Não pensei duas vezes antes de entrar no quarto, apontava a lanterna para o chão na tentativa de evitar a água, eu não queria ser eletrocutado. A cada passo que eu dava em sua direção eu sentia meu coração acelerar mais, foi absurdo o modo como ele disparou quando eu a encontrei. Segurei seu rosto em minhas mãos e achei que fosse descobrir como era ter um infarto. O seu rosto tinha traços tão familiares que eu me senti assombrado, a semelhança era assustadora. Não era à toa que diziam que para uma pessoa existem mais 7 parecidas.
Eu teria ficado naquele devaneio por horas se não tivesse escutado outro estouro e não tivesse me chamado. Olhei novamente para a garota em meus braços e desejei com todas as minhas forças que ela estivesse viva. Levei meus dedos ao seu pescoço e quando pude sentir sua pulsação irregular, meu coração pareceu se acalmar instantaneamente.
- - chamei com um tom de desespero, não sabia se pela água ou se pela impressão que havia acabado de ter. - Joga a sua jaqueta, rápido - gritei.
estava quase entrando no quarto e eu quis matá-lo, ele não tinha notado a água?
- NÃO ENTRA AQUI - gritei mais alto - Só joga a sua jaqueta, faz o que eu to mandando antes que a gente a perca.
O tecido foi arremessado em minha direção de forma tão rápida que eu quase não consegui pegar. Depois de cobrir com a jaqueta a garota que estava só de toalha, me levantei da forma mais rápida possível com ela em meus braços. Coloquei a lanterna na boca e fiz o caminho de volta ao corredor.
Meus olhos continham uma umidade indescritível, e eu sabia que não era pela fumaça.