Beach Office

Escrito por Luh Marino | Revisado por Ponci

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  A brisa forte da maresia já podia ser sentida com o vento que entrava pela janela do carro. Seu cabelo esvoaçava e chicoteava o rosto e os óculos escuros. Era quase fim de tarde, o Sol já estava inclinado a oeste, o céu já havia adquirido aquele tom vibrante de laranja. sorriu com a visão da praia, e desviou da rodovia para uma rua normal da cidade quando o GPS avisou que ela devia virar à esquerda.
  Ela contornou alguns bons quarteirões antes de finalmente avistar a pousada à beira-mar em que a empresa a hospedou. Era um lugar que parecia calmo e acolhedor, os quartos eram na verdade chalés espalhados pelo terreno, e tudo dava numa praia linda de areia branca e fofa e mar azul cintilante.
  Um moço a chamou com a mão, dizendo onde ela devia estacionar. Ela o fez e ele imediatamente se dirigiu ao porta-malas do carro, que ela abriu com um comando no painel. Saiu do automóvel e foi para a parte de trás do mesmo, ajudando o funcionário.
  — , é isso? — Ele perguntou, e ela confirmou com a cabeça. Estava admirada com a capacidade dos funcionários.
  Ele então disse que iria deixar as coisas no chalé dela enquanto ela fazia o check-in no estabelecimento principal da pousada. Ela perguntou onde era e ele apontou para uma casa maior que as outras, e ela passou a andar naquela direção.
  Lá dentro, havia a recepção, para onde ela se dirigiu. Fez o check-in rapidamente, e logo recebeu a chave de seu chalé. Um outro funcionário apareceu para levá-la ao seu cômodo. Era um dos mais próximos à praia, notou quando estava se aproximando, e não deixou de soltar um sorriso. Ao lado de seu chalé, bem próximo, havia outro igual. O mesmo funcionário que a havia ajudado antes, no momento colocava outras malas na casinha vizinha à sua.
  Já do lado de dentro, após agradecer o moço que a ajudou, ela olhou em volta. Tudo muito arrumadinho, de um jeito que ela adorou. Suas malas estavam perto da cama de casal onde ela dormiria, e ela pegou o celular no bolso da calça para verificar se havia sinal, e se havia wi-fi, e se ela recebeu algum e-mail da empresa. Por enquanto, nada.
  Decidiu então, já que não havia nenhum comando a seguir, aproveitar enquanto podia. Foi até a mala, abriu-a e de lá pegou uma roupa mais leve. Já eram quase seis da tarde, ela queria ver como era a cidadela em seu momento noturno. Não havia um tempo específico para ficar ali, apenas um prazo máximo de duas semanas, então ela pretendia ficar as duas semanas, fazer seu trabalho e, se desse tempo, se divertir pelo menos um pouco. Há quantos anos não tinha férias de verdade? Toda vez que pensava em descansar, a empresa surgia com um novo caso para tratar, um novo contrato para assinar, uma nova agência criminosa para defender.
  Ela amava seu trabalho, mas ele era demasiado cansativo.
  Já vestida, ela finalmente saiu de seu chalé. Ouve a porta do chalé ao lado se abrindo ao mesmo tempo que a dela, e sorri ao pensar em conhecer o novo vizinho. Talvez fosse bonito, e jovem, e gostoso, e talvez ela pudesse se divertir um pouco mais...
  Quando virou-se para encarar a pessoa do chalé ao lado, a primeira coisa que lhe veio em mente foi “ele realmente é tudo isso”. Mas ao notar de verdade quem era o vizinho, seu próximo pensamento foi “pena que é um escroto”.
  Sua cabeça latejou e ela sentiu o rosto pegar fogo. Não de vergonha, mas sim de raiva. Não haviam lhe avisado daquilo! Ninguém a disse que ela precisava fazer aquele trabalho com mais de uma pessoa, pelo contrário, lhe foi dito que ela conseguiria fazer tudo sozinha.
  Então por que diabos seu vizinho de chalé era ?

  — E você acha que eu queria estar aqui com você? Aliás, por que está me seguindo, sua louca? — quase gritou enquanto entrava no restaurante, o seguindo fielmente.
  Assim que se reconheceram, começou um questionário infinito enquanto a ignorava completamente. Seguiram para a cidade, ele escolheu um restaurante e a colega continuou lhe seguindo até o estabelecimento, ainda fazendo perguntas.
  — , eu também não sabia que você estaria aqui! Se soubesse, não teria aceitado o caso. — Ele disse, com desdém na voz. Parecia até que ela se fazia de burra. — Sei lá por que nos botaram juntos, não enxergam que não sabemos trabalhar juntos.
  Finalmente parou onde estava, enquanto pedia uma mesa. A garçonete desviou o olhar dele para a mulher logo atrás, se perguntando se ela estava o acompanhando. suspirou e assentiu, como quem diz que era mesa para dois.
  — Talvez eles achem o contrário. — disse. — Talvez eles achem que nós trabalhamos bem juntos!
  — , a gente só sabe gritar um com o outro.
  Foram até a mesa e sentaram-se um de frente para o outro. Havia uma vela e uma flor no centro da mesa, e rolou os olhos.
  — Não somos um casal. — Ela apontou para as decorações e falou para a garçonete, que ficou corada. Ela pediu desculpas antes de levar a flor embora. A vela continuou ali, porque senão eles ficariam no escuro. deu de ombros. — Talvez o caso precise de uma discussão pra tomarmos uma decisão boa.
  — Pare de tentar justificar. Você sabe que não há justificativa. — contrapôs, pegando o cardápio e começando a escolher o que iria comer e beber. rolou os olhos novamente. — Eles só querem duas visões diferentes sobre o mesmo assunto, assim podem escolher entre eles e nos mandar o que fazer.
  — Podiam ter nos colocado em hotéis diferentes, pelo menos.
  Ele olhou para a mulher por cima do cardápio. Ela estava encarando o resto do restaurante, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e os cotovelos estavam apoiados na mesa. Parecia extremamente desconfortável.
  Nada mudou desde que eles haviam tido aquele encontro nada convencional no escritório de , quase nove meses antes. Eles continuaram com as discussões, com o ódio gratuito – exatamente como acharam que iria ser. De vez em quando pegavam-se pensando um no outro, naquela noite deliciosa que passaram juntos, mas esqueciam logo que se viam novamente e discutiam mais uma vez.
  Nada faria aquele ódio passar, pelo jeito.
  A única coisa que parecia ter acontecido era que um conseguia respeitar melhor as decisões do outro. nunca mais invadiu o escritório de para brigar com ela por cada uma das escolhas que ela fazia para o futuro da empresa. No fundo, ele imaginava que tinha medo de ceder à colega mais uma vez.
  Não que ele não quisesse.
  Mas não gostava daquilo, sua fase de gostar de sexo sem compromisso havia passado na faculdade. Ele não queria algo sem comprometimento, algo que não daria em nada.
  , por outro lado, não ligava. Às vezes desejava que ele aparecesse em seu escritório, jogasse-a contra a janela e a fodesse mais uma vez.
  Mas ele nunca o fazia, para o bem da sanidade dos dois.
  Ouviram uma tossida, e viram que a garçonete estava lá novamente, o bloquinho nas mãos, pronta para anotar os pedidos. Só então percebeu a situação em que estavam. Segurou sua bolsa com força, levantou-se da cadeira e falou com voz firme, para que os dois – tanto quanto a funcionária – ouvissem:
  — Discutiremos o caso depois, então. Quando recebermos ordens. Não vou ficar, obrigada.
  E partiu, já pensando em ir logo para o restaurante do outro lado da rua apenas por preguiça de procurar algo melhor, não queria se afastar do hotel.
   deu de ombros. Não fazia questão da presença da mulher, na verdade, achava que seria melhor sem ela – era o plano inicial, afinal de contas.
  Sorriu para a garçonete, pronto para fazer o pedido. Tentou esquecer que estava ali a trabalho. Queria terminar tudo o mais rápido possível, para voltar logo para a capital e não ter que ver todos os dias toda vez que levantasse para o café da manhã; para que só precisasse vê-la nas temidas reuniões da empresa.

   acordou com seu celular fazendo barulho. Demorou certo tempo até se acostumar com a longitude dos sonhos e tateou o criado-mudo em busca do aparelho eletrônico. Seus olhos doeram com a luz que saía da telinha e ela viu que já eram mais de dez da manhã. Deslizou o dedo pela tela, atendendo a chamada.
  — Alô?
  — ! Estamos numa conferência com . — A voz de seu chefe parecia animada, e quis matá-lo por isso. Por isso e por tê-la lembrado de seu tão querido colega.
  — Bom dia, .
  — Cala a boca, . — Ela mandou, ríspida, enquanto se levantava e ia para o banheiro. — Quais as ordens?
  — Nosso cliente é o dono de um restaurante famoso aí. Quero que os dois vão lá, juntos...
  — JUNTOS? — Os dois perguntaram, interrompendo o chefe.
  — Sim, juntos. Me deixem continuar. Os dois vão juntos e façam uma entrevista corriqueira com o homem. Perguntem as coisas de sempre.
  — Já temos certeza de que vamos representá-lo? perguntou.
  — Não, , por isso estou mandando vocês fazerem a entrevista. Pra tomar a decisão. — O chefe respondeu, e riu fraco enquanto separava uma roupa. — Vou mandar o endereço do restaurante por mensagem. Quero respostas imediatas.
  — Sim, chefe. — Responderam juntos e a ligação terminou.
   não demorou para ficar pronta e foi para o lado de fora do chalé, esperar pelo parceiro. Ela se perguntou por que diabos existia o boato que dizia que mulheres demoravam para ficar prontas, se ela se arrumou em dez minutos e parecia que iria demorar meia hora. Ela chegou a cogitar sentar-se na areia, mas quando estava prestes a fazê-lo, finalmente saiu do próprio chalé.
  Eles se olharam e, sem dizer mais nada, foram cada um para seu carro. poderia ter ido sozinha, mas não recebeu nenhuma mensagem. Imaginou que o chefe mandara o endereço apenas para , para certificar que os dois iriam juntos ao bendito restaurante. Mas aquilo não significava que eles precisavam ir no mesmo carro.
  Em mais meia hora, estavam no local. havia seguido pelo caminho. O restaurante era grande e bem decorado, parecia ser caro. Os dois, vestidos socialmente e contrastando com todos os turistas que almoçavam no local, foram em direção à entrada da cozinha e entraram na mesma sem informar ninguém, nem pedir permissão.
  Cara de pau não lhes sobrava.
  — Precisamos falar com o dono do empreendimento, por favor. — disse, chamando atenção de todos na cozinha. Alguns se desesperaram, mandando que saíssem para não estragar nada. Mas o que pareceu o chef se colocou à frente e apontou para uma porta no final da cozinha com uma plaquinha escrito “Gerente”.
   e atravessaram o local em direção ao escritório, e como de costume, não bateram antes de entrar. O homem, que falava ao telefone, pareceu surpreso no primeiro momento, mas depois se conformou.
  — Vou ter que te retornar depois. — Disse, terminando a ligação. sorriu, enquanto ela e o colega se sentavam cada um em uma poltrona à frente da escrivaninha do gerente.
  — Pode começar. — disse, pegando o celular do bolso e ligando o gravador, para não perder nenhum detalhe. O homem engoliu a seco, escolhendo bem as palavras que utilizaria. Sabia que, se não expusesse seu lado de forma boa, não teria ninguém para representá-lo na corte.
  — Bom, tudo começou com uma safra de feijão supostamente estragada...
   e se entreolharam, suspirando.
  Aquilo ia ser longo.

  — Têm certeza que não tem como salvar o caso? — O chefe perguntou, do outro lado da linha telefônica. Depois de mais uma entrevista com o dono do restaurante, e estavam voltando para a pousada.
  Juntos.
   deu a desculpa de que a tendinite havia atacado e ele não conseguia dirigir. Mas desconfiava que tinha algo a mais por trás daquilo.
  — Sim, temos certeza. — O advogado respondeu. O celular de estava no viva-voz.
  — Fomos lá a semana toda, chefe. O homem inventava novas desculpas a cada entrevista.
  — Fora o fato de que entrevistamos outros funcionários do restaurante. Os feijões não estavam estragados. — Ele complementou, levantando o vidro do carro, estava se irritando com o vento. rolou os olhos com a frescura. — Estavam claramente envenenados.
  — Além de que ele me chamou de puta! — quase berrou, abaixando o vidro da porta de pelo controle que ela tinha do lado do motorista.
  — Ele não te chamou de puta, . Disse que suas roupas eram inapropriadas. Tem diferença.
  — Disse isso porque eu estava usando uma bermuda. Está um calor de quarenta graus lá fora, ele queria que eu usasse uma calça? Isso que eu ainda desisti da ideia original, que era ir de shorts... , para de levantar esse vidro!
  Eles se esqueceram completamente da ligação para o chefe. O homem, do outro lado da linha, rolou os olhos, pensando que aquilo um dia iria acabar do outro lado da moeda. Dizem que amor e ódio andam juntos, todo aquele papo clichê e não sei o que mais.
  Vai saber.
  — Enfim, disseram que foram lá todos os dias da semana e mesmo assim o homem não foi convincente? — Ele tentou parar a discussão.
  — Pois é, nem pra ser um criminoso decente. Que sabe inventar mentiras boas, como todos os nossos outros clientes. — resmungou, fechando de uma vez todos os vidros e ligando o ar-condicionado. sorriu em vitória.
  — Todos os dias não. deu pra trás no meio da semana, disse que precisava se afastar do, e eu cito aqui, “energúmeno escroto e misógino que o chefe quer chamar de cliente”. — Ele desenhou aspas no ar.
  — Ele havia me chamado de puta! — Ela berrou novamente.
  — CHEGA! Não me importa. Tudo bem então, não precisamos pegar o caso. Podem voltar pra capital. Temos outros serviços, , nada de ficar de folga por mais uma semana. — Ele avisou, como se soubesse dos planos da outra.
  — Sim, chefe. — Falaram os dois juntos, e encerrou a ligação.
   ia reclamar, falar para ele não tocar em seu celular. Mas não estava com paciência nem para aquilo.
  O céu se iluminou em um clarão repentino, e quase pulou do banco. Teria atravessado o vidro se não fosse pelo cinto de segurança. riu um pouco, e após alguns segundos, o berro do trovão pôde ser ouvido. O céu estava cinzento, horrível, digno de um filme de suspense de quinta categoria.
  — Vai cair o mundo. — Ela sussurrou, bem baixinho. Não queria que o colega achasse que ela estava puxando assunto.
  A última coisa que queria era puxar assunto.
  Quando chegaram ao hotel, em mais meia hora, o mundo já havia caído, e na verdade, continuava caindo. Não dava para ver nada a um palmo de distância dos olhos, as rajadas de vento levantavam a areia e os pingos dançavam enlouquecidamente de um lado para o outro, impossibilitando a visão de qualquer um.
   parou mais próxima de seu chalé, é claro, e saiu do carro deixando todos seus pertences ali dentro. A única coisa que levou com si foi a chave do aposento, que estava no bolso da bermuda. Não pensou duas vezes antes de se dirigir ao seu próprio quarto, e sequer notou quando a seguiu sem nem pensar.
  Ela já ia tirando a roupa – porque, apesar do temporal, continuava calor – quando, por sorte, se virou para encarar a parede da porta. Viu o colega ali e tirou as mãos da braguilha da calça.
  — Está tão desesperada assim, ? — Ele perguntou, irônico.
  — ! O que você está fazendo aqui? Cruz credo.
  Ele riu antes de responder.
  — Sei lá, eu só te segui.
  — Por que não foi pro seu próprio quarto?
  Ele ficou quieto, pareceu pensar em uma resposta. Mas nem ele sabia por que não havia ido para o próprio quarto. Seguiu num impulso.
  — Não pensei.
   fez uma careta antes de dizer que ele poderia ficar ali até que a chuva diminuísse um pouco. Ligou a televisão para se manter ocupada enquanto o sinal não caísse, e se deitou na cama da colega, para tentar tirar um cochilo. O clima dentro do chalé não estava dos melhores.
   olhou para e viu que ele já estava adormecido, jogado de qualquer jeito em sua cama. Rolou os olhos.
  Se perguntou se aguentaria passar tanto tempo com o infeliz sem cometer assassinato.

  — Ah, não! Justo agora? — reclamou, jogando o controle da televisão para longe.
   despertou de seu sono com os gritos da outra e o barulho do controle se despedaçando pelo chão. Bocejou e coçou os olhos com força, colocando-se sentado na cama.
  — Caiu o sinal?
  — Acabou a força. — Ela respondeu, gesticulando para as luzes apagadas. O chalé só não estava num breu total porque um pouco de luminosidade ainda entrava pelas janelas. — Justo quando passava uma coletiva com a presidenta que eu queria ver há tempos.
  — Só está chovendo aqui?
  — A moça do tempo falou que sim, só no litoral norte de São Paulo.
  Ficaram em silêncio por um tempo enquanto foi ao banheiro tirar a água dos joelhos. se abanava com um papel qualquer, já que o ventilador não mais funcionava. O quarto estava um inferno, que era impossível abrir as janelas ou tudo ficaria encharcado.
  — O que a presidenta falava?
  — Era sobre o reajuste de salário do executivo.
  — Será que ela finalmente para de vetar? — abriu os dois primeiros botões da camisa e enrolou as mangas, chamando a atenção de para seu peito e braços.
  Ela balançou a cabeça.
  — Espero. Meu pai vive reclamando disso, que está sem reajuste há oito anos e quer se aposentar, mas não vai fazer antes do reajuste e blá blá blá.
   riu um pouco.
  — É de família a profissão, então?
  — Por parte de pai, a maioria fez advocacia. Por parte de mãe, a coisa é mais diversificada.
  — Explicado porque você é tão chata... — Ele sussurrou, mas conseguiu ouvir.
  — Cala a boca, . Ou eu te jogo lá fora com quinze metais condutores amarrados no seu corpo.
  — Só disse a verdade. — Ele fez uma careta, e bufou.
  — Você simplesmente não consegue ficar no mesmo local que eu sem implicar com alguma vírgula do que eu falo, não é?
  Ele passou por ela e bagunçou seus cabelos, desarrumando o coque que ela fez com dificuldade – nunca soube fazer coques. Agora ia ter que passar mais dez minutos tentando arrumar o cabelo no topo da cabeça de novo.
  — Claro que não, linda.
  Ela rolou os olhos mais uma vez, mas agora tinha também um mínimo sorriso no rosto. não percebeu, ou fingiu não perceber, para a sorte de . Foi novamente em direção à cama, mas dessa vez apenas se sentou na ponta e, apoiando os cotovelos nos joelhos e sustentando a cabeça com as mãos, soltou um suspiro de tédio.
  — Não me venha com elogios baratos. — comentou, rindo por dentro. Apenas queria provocar. Não gostava do silêncio.
  — Não posso te encher o saco, não posso te elogiar. O que eu posso fazer então?
  As cabeças dos dois se encheram de ideias maliciosas, mas ninguém falou nada. logo se perguntou, se a gente brigar o suficiente, será que acabamos transando?
  — Pode ficar quieto.
  — O silêncio me incomoda.
  A mim também, ela pensou. Arranja um assunto, nem que seja a guerra da Síria. Por favor.
  Ficaram quietos por mais alguns segundos. , de costas para o outro, encarava a tela preta da televisão, como se a energia fosse voltar apenas com o poder de um olhar. cutucava os cantos das unhas, os olhos fixos nas costas da colega.
  — E a guerra da Síria, hein? — Ele falou depois de um tempo.
   explodiu em risadas, deixando o outro confuso. Enquanto ela gargalhava, ele franzia o cenho. A primeira coisa que passou pela sua cabeça foi...
  — Está rindo de mim, ?
   tentou negar, mas não conseguia rir e falar ao mesmo tempo. Como diabos uma coincidência tão grande podia ter acontecido? Ela nunca vira aquilo acontecer, pelo menos não entre ela e .
  Furioso, o advogado bateu nas coxas e se levantou, rumando em direção ao banheiro. O que realmente queria fazer era sair do chalé, mas tinha medo de ser levado pelo vento, que ainda estava exaustivamente forte.
   viu quando ele foi para o outro cômodo, e conseguindo controlar só um pouco a risada, foi atrás dele.
  — , calma aí! — Ela tentou dizer, quando ele já estava dentro do banheiro, mas a única resposta que recebeu foi a porta batendo bem em sua cara. — AI!
  Com o impacto, ela foi para trás, quase perdendo o equilíbrio. Por sorte, havia um móvel do lado da porta, onde ela se segurou antes de cair no chão. Com a mão no nariz, fazia uma massagem para ver se aliviava a dor.
  — Também não precisava quebrar minha cara, babaca.
   não respondeu. Dentro do banheiro, ele chegou a ouvir as palavras murmuradas, mas era difícil distinguir a fala. Estava bravo.
  Por que estava bravo?
  Porque havia rido dele.
  Mas por que aquilo o incomodava?
  Por que o incomodava?
  Por quê?
  — Por que caralhos isso me incomoda? — Perguntou a si mesmo, encarando-se no espelho acima da pia, conseguindo se ver graças a um mínimo feixe de luz que adentrava pela janela perto do chuveiro, do outro lado do cômodo.
  Abriu a torneira e jogou um pouco de água gelada no rosto e na nuca, fazendo um arrepio se arrastar pelo corpo.
  — Me incomoda porque eu me importo com o que ela acha de mim. — Suspirou ao finalmente deixar escapar o que estava pensando. — Babaca.
  Ele falou baixo. Mas , que estava colada à porta, ouviu. Seus olhos se arregalaram enquanto, sem sequer perceber, ela colocava a palma da mão encostada à madeira polida da porta, como se quisesse confortá-la.
  Como se fosse a madeira que precisasse de consolo.
  Engoliu a seco. Por algum motivo, a fala do colega a deixara aliviada. E aquilo, na verdade, a desesperava mais ainda.
  — ? — Chamou baixinho, ainda encostada na porta. Do outro lado, encarava a madeira com os braços cruzados, enquanto se apoiava no balcão da pia.
  — Quê?
  — Abre aí.
  Ele suspirou antes de fazer o que lhe foi – indiretamente – mandado. estava com as mãos dadas atrás do corpo. De certo modo, parecia submissa, mas não muito, já que o encarava com o típico vigor de sempre, olhos nos olhos.
  — Não estava rindo de você.
  — Eu sei.
  — E por que ficou bravo? — Ela colocou as mãos na cintura, arqueando uma das sobrancelhas.
  — Não sei.
   rolou os olhos, mas sorria. Antigamente, aquilo seria muito estranho, mas por algum motivo já havia acontecido duas vezes apenas aquele dia, e não a deixava sequer duvidosa do porquê.
  Se juntou a ele, o empurrando com o quadril e também se apoiando na pia. O encarava ainda, mas ele não a olhava de volta.
  — Tem que tirar esse carão do rosto.
  — Meu carão é minha marca. — Ele respondeu, e ela riu fraco.
  — Não, o carão é a minha marca.
  Ele bufou e se afastou, saindo do banheiro. Mas foi surpreendido quando segurou sua mão, o impedindo de atravessar a porta para o quarto. Olhou para ela com uma cara tão chocada que até parecia que ela havia confessado um assassinato.
  — Por que se preocupa? — Ele perguntou, a voz algumas oitavas acima do normal.
  O contato o deixara inquieto.
  — Não sei.
  Ele rolou os olhos e forçou para que soltasse sua mão, mas ainda assim não saiu do banheiro. Os dois estavam estranhando os próprios comportamentos. Parecia que haviam trocado de lugar. estava bravo e , calma. Quando se tratava daqueles dois, era quem sempre perdia a paciência primeiro, enquanto apenas provocava com palavras curtas. Seu pavio era muito mais longo que o da colega.
  Mas não naquele dia.
  Respirou fundo, tentando tirar a cabeça daquele assunto. Ele não podia, não podia, não pod--
  — . — Sentiu o toque suave de em seu braço.
  Não queria virar.
  Ele não queria virar.
  E não ia.
  Não vou virar.
  — O quê? — Perguntou, se virando.
  Ela o olhava de uma maneira que nunca havia feito. No começo, achava que ela estava com dó dele, mas então olhou melhor nos olhos dela e percebeu que havia ali um misto de sentimentos que ele não conseguia decifrar de verdade. Mas ele tinha certeza que não havia qualquer tipo de pena ali.
  — Eu... — Ela desviou o olhar do dele, pareceu levá-lo à janela ao lado da porta. Sua expressão mudou, ela franziu as sobrancelhas.
  Curioso, imitou seu olhar, querendo saber o que havia levado à súbita mudança no rosto da advogada. Do lado de fora, já era possível ver alguns contornos com mais certeza. O vendaval não levantava as areias. A janela não recebia mais pancadas d’água e não tremia mais.
  O chalé estava mais iluminado pelo sol.
  Sem sequer falar algo a mais, apenas direcionando um último olhar frio a , rumou em direção à porta e saiu por ela rápido como um lince corre atrás da presa, se molhando imediatamente – a chuva havia diminuído, não parado.
   ainda tentou ir atrás dele, mas quando já estava com o pé molhado ao colocá-lo para fora do chalé viu que não adiantaria de nada. não falaria com ela agora. E por mais que nunca pensou que um dia iria querer conversar com ele, respeitou seu momento.
  Voltou para dentro do chalé e fechou a porta ao mesmo tempo em que fazia a mesma coisa com a porta do próprio quarto.

  Ela estava dormindo.
  Estava é o verbo certo. Porque, no meio de seu sonho com galinhas depenadas que guardavam um tesouro de chocolates Cacau Show no fim de um arco-íris preto e branco, alguém começou a bater com tanta força na porta que pensou que ela era uma foragida da lei e não sabia.
  Levantou da cama, onde havia se jogado ainda de bermuda jeans e camiseta após a pseudo-briga com , a blusa toda amassada e a bermuda enfiada na bunda, e foi até a porta. Olhou pela janela, já era noite e não parecia chover mais.
  Abriu a porta, imaginando que seria qualquer pessoa batendo em sua porta incessantemente, menos a que realmente era.
   estava tão vermelho de raiva quanto estava nove meses antes, quando invadiu o escritório de para reclamar sobre o contrato do banco.
  Entrou no chalé empurrando para trás e fechando a porta com força atrás dele. fingiu que não viu quando ele os trancou juntos ali dentro, com ele ardendo de raiva.
  Ela imaginava no que aquilo iria dar.
  E estava gostando.
  — Eu simplesmente odeio o que você causa em mim. — Ele começou a falar e, surpreendentemente, seu tom de voz estava controlado e baixo. — Você me dá nos nervos. Me deixa com o coração palpitado, e não do jeito bom. De raiva. De ódio. De vontade de cometer homicídio e sorrir de orgulho na mugshot.
  Ele estava parado até então, mas começou a andar e não queria, mas deu alguns passos para trás quando ele estava quase colado nela. Não queria que ele ficasse colado nela.
  Não ainda.
  — Mas ao mesmo tempo você me deixa mais duro que concreto. E eu amo o fato de que você passou a usar mais saias do que calças no trabalho depois da nossa transa. E eu amo saber que você ainda tem aquele par de algemas na sua escrivaninha. — se perguntou como ele sabia daquilo. — E eu amo te ver sem óculos assim, porque você fica um tesão ambulante quando pisca esses cílios gigantes na minha direção.
  E em um segundo, ele estava muito próximo novamente, com a mão na cintura da mulher a puxando contra seu corpo, as mãos dela apoiadas no peito dele e aqueles cílios gigantes piscando em sua direção.
   tinha a sensação de que não conseguia respirar direito.
  — , você fode comigo.
  Ela sorriu.
  — De um jeito bom ou ruim?
  — Dos dois, graças a Deus. — E, terminando a frase, ele a beijou, aquela faísca que existia entre os dois finalmente começando um incêndio.
  A boca dela ainda tinha gosto de café com mel. a beijava com o máximo de energia que conseguia, tentando mostrar a ela como se sentia. Suas mãos na cintura dela, abraçando-a, puxando-a para tão perto que fazia os músculos dos braços doerem. Ela já lhe havia enlaçado o pescoço, estava com as mãos enfiadas nos cabelos dele, puxando e desarrumando.
  Ela abriu os olhos por um instante, procurando uma superfície onde podia se apoiar. Havia um baú na frente da cama. Andou para o lado, puxando o outro junto sem se separarem por um milímetro sequer. Ele notou o que ela estava fazendo e fez questão de sentar-se primeiro e puxá-la para seu colo.
   estava sobre uma das pernas dele, o abraço continuava. Mas os lábios de agora haviam descido para o pescoço esguio da advogada, deixando marcas assim como havia feito naquela primeira vez.
  — Da outra vez, tive que usar maquiagem por uma semana e meia pra cobrir seus chupões, desgraçado. — Ela resmungou, mas não o afastou.
  Óbvio que não.
  — Dessa vez, vai ter que usar por duas semanas.
  A mão dele já estava na braguilha da bermuda, abrindo o botão e o zíper enquanto amassava o tecido de sua blusa na altura dos ombros. A língua de passeava pela mandíbula dela, às vezes chegando ao lóbulo de sua orelha e o prendendo entre os dentes de leve. Ela se arrepiava mais a cada segundo.
  Levantou por apenas um segundo enquanto puxava sua bermuda para fora das pernas e jogava na cama atrás dos dois. Aproveitou que estava de pé para tirar a blusa dele e depois sentou-se novamente. Agora as mãos do colega rumavam de cima a baixo pelas coxas dela, apertando lá e cá ocasionalmente.
  Voltaram a se beijar enquanto arranhava o peito dele com suas unhas que não estavam mais tão compridas como da outra vez, mas ainda não eram curtas o suficiente para não deixar marcas.
  Estavam tão envolvidos um no outro que nem notaram a chuva voltando a cair de mansinho. Uma garoa leve, apenas para marcar presença – por mais que não tenha sido reparada.
   perdeu a blusa e estava sem sutiã por baixo, foi a única coisa que lembrou de tirar antes de dormir. A visão enlouqueceu ainda mais, que se atirou rapidamente nos seios descobertos da outra. Começou com beijinhos em toda a região antes de chegar aos mamilos durinhos pela excitação. Lambeu, chupou, chegou a morder suavemente enquanto derretia em seus braços e boca.
  Ela desceu a mão pelo peitoral dele em direção à calça que ele usava. Dessa vez não iria esperar por um strip-tease por parte de , ela mesma teria o prazer de tirar cada pedaço de pano que o cobria. A braguilha logo estava solta e ela saiu do colo dele e o ajudou a tirar a calça e, aproveitando, tirou também a cueca.
  Ele já estava duro feito pedra. E se aproveitou disso quando, ao invés de voltar para o colo dele, se ajoelhou no meio das pernas dele e segurou a base do pênis dele enquanto a outra mão repousava em sua coxa. sorriu quando notou o que ela queria fazer. Da outra vez, ele que havia feito oral nela, estava na hora de uma retribuição.
  Mas por que ele não parava de comparar as duas vezes, meu deus?
   beijou a glande e ele se arrepiou todo. Continuou distribuindo beijinhos por toda a extensão do pau dele até a base antes de voltar até a cabeça em uma só lambida. Colocou toda a ponta dentro da boca e sugando levemente, para então contornar a pele sensível com a língua várias vezes seguida.
  Só então ela colocou tudo na boca de uma vez e as mãos de voaram para os cabelos dela, incentivando os movimentos com a cabeça. A boca dela era quente e convidativa e estava o fazendo perder a cabeça de tesão. Ela molhava tudo de saliva, chupava, lambia, sugava até se enjoar – coisa que não parecia que iria acontecer, para falar a verdade.
  Ela podia ficar horas ali, mas puxou seu cabelo com um pouco mais de força, dizendo que não ia aguentar muito mais e só por isso ela levantou.
  — Pera aí. — Avisou, correndo para o banheiro só de calcinha. A visão fez rir lindamente.
  Ela voltou em um minuto com uma caixa de camisinhas na mão e um sorriso safado nos lábios. largou a cabeça para trás e gargalhou.
  — Planejava me foder hoje, ? — Ele perguntou enquanto ela se aproximava, abrindo a caixa e pegando uma das pequenas embalagens de lá de dentro. Largou o resto na cama.
  Deja-vu, os dois pensaram.
  — Espera! Ou planejava me matar com isso aqui? — Pegou a camisinha da sua mão e colocou em seu pau ele mesmo, porque imaginava que se ela tocasse nele por mais um segundo que fosse ele explodiria. — É látex. Não mata ninguém.
  Ela riu antes de responder.
  — Eu podia te sufocar.
  Ele puxou a calcinha dela com raiva, rasgando e machucando sua coxa de leve. Passou os dedos pela entrada de sua buceta. Molhadinha.
   pegou as mãos dele, fazendo com que ele se levantasse, e o levou até a lateral do baú. Em seguida, se colocou de quatro no móvel, a bunda empinada na direção de . Olhou para ele por cima do ombro e sorriu, aquele sorriso falsamente inocente que queria lamber.
  Ele foi para frente e posicionou a cabecinha na entrada dela. Levou as mãos ao seu quadril, puxando-a de encontro a ele ao invés de se inclinar para frente. Seu membro deslizou lenta e deliciosamente para dentro de , que estava tão molhada e quente quanto ele lembrava que ela era.
  Como diabos passara nove meses sem aquilo?
  Se dobrou para frente e tirou os cabelos dela do ombro, beijando o local em seguida. Uma das mãos continuava no quadril dela, a outra havia passado pela barriga e agora apertava seu peito com vontade, de forma quase dolorosa mas que deixava louca.
  Seu vai-e-vem não era lento, mas também não era rápido. Era o ritmo perfeito que fazia o baú abaixo deles ranger e o suor escorrer pelas peles. estava com a testa apoiada no meio das costas de , e ela passou a mão pelo ombro e alcançou o topo da cabeça do outro, puxando seus fios para descontar um pouco da excitação que sentia.
  O membro dele atingia todas as partes mais necessitadas dentro dela, e ela gemia como se não houvesse amanhã, como se ninguém pudesse ouvir do lado de fora do chalé. Para falar a verdade, ela pouco estava se fodendo se alguém ouvisse. Tinha mais é que ouvir mesmo.
   respirava alto, vez ou outra soltando um gemido entre o ranger dos dentes, entre os beijos que dava nas costas de , entre os apertões que deixavam marcas no quadril dela. Aquele típico som de pele batendo em pele o deixava mais alucinado do que já estava; amava aquele som. Misturado aos gemidos de e ao ranger do baú, aquela era a sinfonia perfeita.
  Quem era Beethoven?
  As pernas de começaram a tremer e ela apertou o pau de dentro dela, causando uma sensação de estar no paraíso para o homem. Ele gemeu mais alto e acelerou o ritmo, fazendo o baú ranger mais alto e quase berrar. Desencostou-se das costas dela, voltando a ficar com a coluna ereta e estocando com toda a força que tinha dentro dela.
  Mesmo assim não era suficiente.
   também se jogava para trás, causando um choque mais intenso entre os dois, que se movimentavam avidamente um contra o outro. A mulher queria mais, queria mais, queria...
  — AI! — Berrou quando sentiu um tapa em sua bunda. — Que isso?
  — Foi mal. — Ele se desculpou enquanto ria e metia com mais força, como se para deixar bem claro que estava arrependido.
   quase pediu que ele fizesse de novo, mas esqueceu quando mexeu o quadril de modo circular, atingindo lugares mais sensíveis dentro dela. Ela então gemeu novamente e perdeu a força nos braços, ficando com o peito encostado na superfície do baú e fazendo com que seu quadril e cintura ficassem mais para cima. Isso apenas melhorou a situação, porque agora atingia aquele ponto sensível todas as vezes que se impulsionava para frente.
  O ventilador no teto fazia um trabalho pífio em refrescar o local. Na verdade, sequer parecia que ele estava ligado.
   se cansou da posição e, sem sair de dentro dela, a levantou e sentou-se no baú com ela em seu colo. Ele gostava quando ela ficava por cima. Ela estava um pouco extasiada demais para aquilo, mas conseguia sentar e levantar repetidamente com a ajuda do outro. Ele tinha a mão na lateral de seu quadril, quase nas nádegas, e a pressionava quando queria que ela levantasse, e então a puxava de volta para que ela sentasse.
  Não demorou muito para que começasse a sentir aquela pressão deliciosa no baixo de seu ventre, indicando que ela estava próxima do clímax. Aquilo a deixou mais motivada e ela aumentou a velocidade de seus movimentos por conta própria, querendo gozar logo.
   notou e passou a chupar novamente o pescoço dela, uma das mãos em seu seio enquanto a outra viajou até a parte íntima da mulher, passando a fazer movimentos circulares no clitóris e ajudando a aproximação do orgasmo.
  Orgasmo esse, que logo chegou. mordeu o lábio inferior com força, quase fazendo sangrar enquanto franzia o cenho e soltava um gemido mais longo. Ela explodiu por dentro, fogos de artifício tomando conta de todo seu corpo. Apertou dentro de si mais uma vez, agora com mais força que antes, e isso fez com que ele também alcançasse seu estopim. E assim, gozaram juntos.
  , com o cansaço, se lançou para frente, quase caindo. riu enquanto tentava a segurar e puxava o lençol da cama atrás deles ao mesmo tempo. A estratégia não deu certo, porque caíram os dois e ainda levaram o lençol junto ao chão. caiu por cima dela, saindo de dentro dela no processo.
  Ela o encarou, apertando os braços dele que estavam apoiados ao lado de seu corpo. Se inclinou para frente e o beijou com vigor, e logo ele estava tirando a camisinha e pegando outra do pacote que havia caído com o lençol da cama.
  E logo estavam trocando carícias mais quentes, e logo as bocas não estavam mais uma na outra e sim por outras partes do corpo.
  E logo já estavam começando tudo de novo.

  Quando acordou, estava nua e delicadamente deitada na cama, com um lençol do hotel a cobrindo. Sentou-se no colchão e olhou em volta, mas não havia sinal de nenhuma outra pessoa no local.
  Não lembrava de ter dormido na cama. Se sua memória não estava louca, ela e haviam transado a noite toda e, após algumas vezes no chão, eles haviam dormido ali mesmo. Será que ele havia a colocado na cama antes de ir embora? Será que ele havia a colocado na cama e dormiu com ela ali?
  Ela teve um calafrio só de pensar em dormir na mesma cama que .
  O sexo era ótimo, mas ela não estava preparada para nadinha de nada depois disso.
  Levantou e foi direto para o banheiro. Tomou um banho gelado, porque lembrar da noite anterior a deixara queimando por dentro. Quando saiu, estavam batendo na porta. Aproveitou que estava de roupão e não apenas de toalha e abriu a porta, pensando que era . Mas era um moço do hotel. Com um carrinho de comida.
  Ela não havia pedido serviço de quarto.
  — Bom dia, senhorita. — O moço disse. — O senhor do chalé ao lado pediu que a servíssemos.
  Ela sorriu e deixou o empregado entrar com o carrinho. Agradeceu, deu uma gorjeta e foi se acabar com a comida. Apenas depois de terminar tudo ela notou um papelzinho no canto.
  Eles estavam virando um casal clichê de comédia romântica? Eles transaram a noite toda, dormiram na mesma cama e ele não pôde ficar, então mandou um café-da-manhã com bilhetinho dizendo “Me perdoe, mas me encontre não-sei-onde às não-sei-quando. Beijos. Com amor, e quando se encontrassem iriam se beijar com carinho e passar o resto da eternidade juntos?
  Credo.
  Ela riu antes de desdobrar o bilhete, que não dizia nada daquilo que ela esperava. Na verdade, a letra era tão feia que ela custou a entender tudo. E ainda achava que tinha lido alguma coisa errada.
  “A chuva de ontem congestionou as estradas. A gente vai ter que ficar mais um dia. O café-da-manhã é um pedido de desculpas porque eu quebrei o vaso quando saí. E você quem vai pagar.”
  Ela abriu a boca e arregalou os olhos em surpresa, então levou os olhos para onde o vaso ficava ao lado da porta, em cima de um pedestalzinho. Não havia vaso nenhum no pedestal. Por outro lado, havia diversos cacos azuis e brancos no chão.
  Ela soltou um suspiro frustrado antes de ir até a mala para pegar um biquíni.
  Dez minutos depois ela estava na praia do hotel, sua canga, chinelos e saída de praia no chão enquanto passava filtro solar fator 50 – porque ela queimava ridiculamente fácil.
  Queria mesmo era se jogar na água, mas tinha que esperar mais um tempo. Então apenas sentou em cima da canga na areia, os óculos escuros na cara e observando os outros hóspedes que aproveitavam o sol quente do verão. Não notou quando se aproximou por trás dela. Soltou um grito quando sentiu a areia que ele havia chutado em suas costas. Olhou para trás o encarando como se ele tivesse matado um filhote de golfinho.
  — Seu idiota, acabei de passar protetor!
  — Lamento. — Ele tinha uma cadeira daquelas que dobra, e a ajeitou na areia fofa ao lado da canga de .
  Ela grunhiu antes de deitar na canga, barriga para cima esperando pegar uma corzinha.
  — Avisou o chefe?
  — Sim, senhora.
  Ficaram quietos por um tempo curto demais. sentiu uma movimentação, algo bloqueando seu sol e quando abriu os olhos, estava em cima dela como nos típicos filmes de comédia romântica.
  Que vão a merda os filmes de comédia romântica.
  — Quê? — Ela perguntou, e ele só riu antes de se abaixar e tomar os lábios dela entre os seus.
  Num primeiro momento, ela se entregou. Deixou que ele sugasse sua língua, passeasse por toda a boca dela com a vontade que queria, porque ela também tinha aquela vontade. Também chupou o lábio inferior dele e levou as mãos aos seus peitos descobertos. Quase esqueceu que estavam num local público quando desceu as mãos pela lateral do torso dele, em direção à bermuda que ele usava como roupa de banho.
  Mas de repente algo fez click em sua cabeça. E ela se lembrou das comédias românticas que estavam a perseguindo o dia todo, e se lembrou que não queria ser como os casais dos ditos filmes. Não queria se envolver com . Por deus, aquela era a última coisa que queria fazer em vida!
  — ... — Conseguiu murmurar entre um beijo e outro. Ele fez um barulho com a garganta, como se perguntasse “o quê?”. Ela o empurrou, mas ele continuou ali. — , sai.
  Ele desceu os lábios ao pescoço dela e chupou a área, sensível pelos chupões do dia anterior.
  — Aham...
  — , para. É sério! — Ele lambeu a pele dela, lhe causando um arrepio.
  — , eu--
  — PARA! — Ela o empurrou com toda a força que tinha, e ele finalmente saiu de cima dela, caindo na areia. — Eu disse não, .
  — Mas continuou me beijando... — Ele parecia realmente confuso.
  — Isso não quer dizer nada. Se meu corpo diz sim, mas minha boca diz não, você ouve minha boca. E respeita meu não.
  Ela não deixou ele falar mais nada, apenas recolheu suas coisas e rumou para longe dali, deixando um confuso e levemente arrependido jogado na areia fofa e branca de Ubatuba.
  Ela fechou a conta no hotel. Pegou suas coisas. E fugiu para outra praia, porque ainda queria aproveitar seu dia único de folga. Por mais que toda vez que saía da água e se alojava na areia novamente, pensasse em e em sua boca rumando por todo seu corpo, e nas mãos de e em outras coisas de .
  Mas não estava preparada para um relacionamento.
  Muito menos com .
  Não mesmo.
  Não com .
  Ela odiava .
  Não odiava?

Fim



Comentários da autora

  Yaaay, segunda parte de Office por aqui! Espero que tenham gostado, eu batalhei pra escrever essa cena restrita aí, ela custou a sair USHDA Acho que gastei meu estoque todo na primeira parte da história. :B
  Enfim, vocês podem me encontrar no meu ask ou no meu twitter! E se gostaram da história, não deixem de dar uma passada no Tumblr e no grupo do facebook.
  Beijocas! <3