Ballet Shoes II

Ella Souza | Revisada por Isabelle Castro (até capítulo 61) | Angel

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Chapter I

  Ahh, o verão! Nada melhor para relaxar do que o Sol brilhante no céu e a brisa fresca de Londres no mês de junho! Tanto havia mudado desde o começo daquele ano... Quem diria que seis meses seriam o necessário para que a banda dos meus melhores amigos/namorado/irmão caísse na fama nacional. Durante esses seis meses, o One Direction assinou o seu contrato com a Syco Entertainment (gravadora do próprio Simon Cowell em parceria com a Sony), gravou o seu primeiro CD (chamado Up All Night, só pra constar) e conquistou o Reino Unido inteiro. Literalmente inteiro! Os meninos se tornaram o sonho de consumo de todas as meninas e um fenômeno nacional. Sem falar que agora eles tinham empresários de verdade, pois assinaram outro tipo de contrato com a Modest!Management. Eles estavam vivendo o sonho!
   Mesmo com todo o lado bom que a fama e o reconhecimento traziam, também tinha o lado ruim, pois as vezes ficava bem impossível para eles sair pelas ruas tão tranquilamente quanto antes; o que os obrigou a conseguir uma penca de guarda costas. O meu preferido deles se chamava Paul, mas voltaremos a isso mais tarde. O caso é que perdi a conta de quantas vezes tivemos que deixar uma festa mais cedo por causa da invasão de fãs ou de todas as capas de revista fofoca que eu ilustrei – mesmo que aparecendo apenas no plano de fundo. Atualmente os cinco meninos estavam nos Estados Unidos, divulgando o seu trabalho nas terras estrangeiras e trabalhando em algumas músicas para o próximo CD, já que a Syco também tinha uma sede em Los Angeles. Para resumir, eu não os via há mais de um mês inteiro. Por mais que morresse de saudade dos meus idiotas, sabia que fazia parte do trabalho deles e por isso tinha que aceitar. “Mas e a Academy? Niall e Zayn não podem faltar tantas aulas assim!” Aí é que está, cara leitora, eles não estavam mais estudando na Academy; ou em lugar algum, pra falar a verdade. Os dois foram obrigados a deixar a London Royal Academy para se concentrar na banda.
  Mas chega de falar deles! Essa história aqui ainda é minha, certo? Não vou dizer que mudei completamente durante aquele período de seis meses, mas também não era a mesma garota. Principalmente fisicamente falando. Fique calma, não fiz nenhuma plástica ou coisa do tipo! Ainda era a velha com as mesmas inseguranças e manias, apenas um pouco mais madura. Meus cabelos passaram por vários cortes, mas o atual era sem dúvida o meu preferido. Continuei com as minhas ondas selvagens, cortando as pontas claras que me acompanharam por tanto tempo da minha estadia naquela cidade inglesa. Como ainda era a minha melhor amiga maluca, tenha certeza de que ela me obrigou a continuar ousando no quesito salão de beleza. Para ser mais clara, ela conseguiu me convencer a pintar o cabelo todo dessa vez. Ainda era morena, apenas possuía um tom mais claro, tipo caramelo. No começo demorei para me acostumar, mas logo me apaixonei pela coloração artificial das madeixas.
  Naquele dia em questão, estava exatamente no último dia de aula do semestre. A última vez que teria que ir à minha amada escola de dança nos próximos dois meses e pouco. Claro que eu sentiria saudade dos meus novos professores, novos colegas de turma e da mesma diretora Agnes de sempre, mas o Summer Break seria mais que merecido. Pelo visto eu não era a única a estar animada pelas férias de verão, já que todo mundo que passava por mim na escadaria de saída parecia estar com muita pressa de ir embora logo. Isso acabou me fazendo sentar na parte mais afastada dos degraus para não ser pisoteada enquanto aguardava sair de sua aula de teatro. Admito que não era a mesma coisa assistir aulas sem ela, mas estava feliz porque a ruiva finalmente fazia o que gostava.
  - ? Ainda bem que você ainda não foi embora! – Brigitte correu até o meu encontro. Sim, Brigitte. Me chamando pelo apelido. Você leu certo. – Você deixou isso na sala.
  - Obrigada, Brie. – Sorri para a loira ao segurar o cartão postal que ela me entregou. – Não acredito que quase perdi isso!
  - É da professora Holly, não é? – Não chegou a se sentar ao meu lado, mas se manteve próxima enquanto conversávamos.
  - É da Holl sim. – Sorri olhando para a foto que ilustrava o cartão postal: Ela e Nick na frente de um monumento qualquer de Moscou. – Ela e Nick ainda estão tendo trabalho pra se acostumar com o frio todos os dias do ano.
  - Pelo menos nós temos mais sorte que eles! – Riu, olhando para o céu azul. – Tenho que entrar, , só vim lhe entregar isso mesmo.
  - Obrigada novamente. – Acenei com a cabeça. – Boas férias, Brie!
  - Pra você também!
  Antes que você comece a me achar louca, Brigitte e eu não nos tornamos BFF’s. Nem todo o tempo do mundo seria capaz de realizar um milagre tão grande assim. Acontece que, assim que eu saltei de nível, acabamos ficando na mesma sala. As primeiras semanas foram meio complicadas, mas assim que Brigitte viu que eu só estava ali pra estudar, sem ligar para as implicâncias dela, acabou dando um tempo pra me conhecer de verdade. Eu também a deixei “se aproximar” e acabamos nos suportando. De qualquer forma, ela não entrava no meu caminho e muito menos eu. Ao ouvir uma risada conhecida, olhei para trás para ver a minha melhor amiga pendurada no pescoço de um loiro de olhos azuis, tentando fazer duas coisas impossíveis de serem feitas ao mesmo tempo: Beijar e descer as escadas.
  - Uh-hum. – Limpei a garganta, levantando do degrau e pendurando a minha mochila sobre o ombro.
  - ! Você está aí. – A menina fingiu uma falsa timidez e largou o menino que a acompanhava. – Esse aqui é o Benjamin. Ben, essa é a minha amiga .
  - Hey, Benjamin. – Acenei de longe, sem querer ficar tão intima do novo peguete de . Pelo que eu tinha presenciando nos últimos quatro meses, o relacionamento dos dois não iria durar, por isso não tinha importância nos darmos bem ou não.
  - Me espere no carro, ok? – ordenou para o loiro e ele apenas obedeceu, descendo o resto das escadas e partindo em direção ao estacionamento. – Calouros não são uma fofura? Eles fazem tudo que a gente manda!
  - Semana passada você estava falando dos caras do último ano... – Levantei uma sobrancelha, meio desconfiada. – Eu sei que desde que você e o Ni terminaram tem sido complicado controlar os seus hormônios, mas tem mesmo que experimentar todos os tipos de homem?
  - Porque me contentar com um prato, se posso ter o cardápio inteiro?! – Cruzou os braços, querendo dizer: “Estou cansada desse assunto, você já sabe o que eu penso.”
  - Ok, ok. – Dei de ombros. – Podemos ir?
  - Ir onde?
  - Almoçar, ! – A sacudi com uma risada. – Lembra que você prometeu almoçar comigo e Liv?
  - Damn it! Eu sabia que estava esquecendo de algo... – Bateu na própria testa e me olhou com os olhos claros e pidões. – Benjamin ia me levar pra almoçar...
  - Sei bem o almoço que vocês vão ter! – A reprovei com os olhos. – Eu te deixo ir, mas você tem que prometer que vamos nos ver! Ainda faltam algumas semanas para os meninos voltarem e não estou afim de passar as férias sozinha.
  - Eu prometo! – Cruzou o coração. – Vamos fazer algo amanhã, mas agora eu tenho que ir...
  - Vá lá! E usem proteção. Não quero ter um sobrinho ainda; especialmente se o pai for esse aí. – Entortei o nariz e começamos a descer as escadas. – Mas se quiser ter o filho de outro loiro de olhos azuis...
  - Não comece a falar do Niall, . – Pediu com um toque de irritação em sua voz. – Tem noticias dele, aliás?
  - Ontem fiquei sabendo que ele está fazendo sucesso com as americanas. – Provoquei com aquela mentira. – Parece até que não quer mais voltar pra cá.
  - Pois que fique lá! – Bufou. – Te ligo amanhã.
  - Juízo! – Ri.
  Por mais que tentasse fingir que tinha superado completamente a separação com o namorado, ela não me enganava. E ele também não, pra falar a verdade. Todo mundo sabia que eles sentiam falta um do outro, mas nada que falássemos os fazia ponderar a opção de voltarem. Já fazia quatro meses que o loiro e a ruiva não estavam mais namorando e até hoje ninguém além dos dois sabia do que havia causado aquela separação. Ao menos tudo aconteceu de forma pacífica e os dois continuaram “amigos”. Vai entender, né? Foi um choque tremendo, com certeza, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Fiquei observando-a entrar no carro azul-marinho de Benjamin e acenei antes de procurar a chave do Range Rover na minha mochila. Como nenhum dos meninos estava ali para dirigir aquele carro preto, a tarefa de manter o motor em uso sobrava pra mim; me obrigando a intercalar o uso do Range com o meu próprio carro.

+++

  - Querida, chegueeeeeei. – Anunciei a minha chegada assim que entrei no hall de entrada da minha casa.
  - , cuidado! – A voz de Liv vinha de cima das escadas e o latido alto que escutei em seguida me fez entender.
  - Calma, , calma! – Ri, tentando fazê-lo diminuir a velocidade, mas era impossível.
  Eu passava pela mesma coisa todos os dias. estava fazendo seus nove meses e alguma coisa, o que significa que ele ainda não tinha alcançado a sua fase adulta, mas não era mais do tamanho de um filhote. Pra falar a verdade, ele crescera extremamente rápido, tornando impossível que qualquer um o carregasse nos braços. Apesar to seu tamanho grande, ainda tinha aquele espírito de criança, sempre correndo por aí e, principalmente, pulando em cima de mim toda vez que chegava em casa. Aquele dia não foi diferente, pois assisti enquanto o animal majestoso e desengonçado descia a escada com pressa até estar de pé na minha frente, com as patas dianteiras apoiadas na minha barriga para poder lamber o meu rosto.
  - Bo! – Tentei tirá-lo de cima de mim, o que foi quase impossível. Acabei gargalhando e abraçando o meu gigante de volta. – Nem faz tanto tempo assim que a gente não se vê!
  - Almoço, ! – A voz de Dorota chamou o cachorro na direção da cozinha e a palavra mágica “almoço” o fez me deixar de lado e correr atrás da sua comida.
  - Tenha cuidado, menino! – Falei quando quase escorregou no chão de madeira e bateu o quadril na lateral da porta. – Não sei de quem você puxou essa graciosidade toda. Só pode ter sido do seu pai, porque eu não me bato tanto pelos cantos quanto você.
  - Falando mal do Zayn enquanto ele não pode se defender, ? – Liv desceu as escadas finalmente, vindo me abraçar. – Ué, não vinha com você?
  - Ela nos trocou! – Fiz bico depois de abraçá-la de volta. – Já deve saber o porquê.
  - Presença de cromossomo Y? – Riu e eu só afirmei com a cabeça, deixando a minha mochila em uma mesinha que havia por ali. – Pelo menos sobra mais comida pra gente.
  - O que teremos para o almoço? – Perguntei interessada.
  - E depois diz que não sabe a quem o cachorro puxou... – Olivia resmungou.
  - Fiz tacos, minha menina! – Dora nos encontrou na sala de jantar e puxou o meu rosto para dar um beijo estalado na minha bochecha. – Vegetarianos para a minha querida Liv e de frango pra você, .
  - Posso ficar com o da também? Já que ela não veio e tal...
  - , desse jeito não tem corrida que dê jeito! – Olivia sentou-se à mesa e fiz o mesmo, com um novo bico nos lábios.
  Liv se tornara oficialmente a minha personal treiner, vigiando o que eu comia e me arrastando diariamente para fazer uma caminhada pelas montanhas ou correr nos arredores da cidade. Quem mais gostava de todos esses exercícios era , já que o animal parecia nunca se cansar! Também conseguia me distrair bastante quando os meninos estavam ocupados com o trabalho e continuava com o seu novo hobby de colecionar garotos. Dorota saiu da cozinha trazendo consigo dois pratos com os nossos tacos, já que a jarra de suco já estava sobre a mesa. Celebrei quando a comida chegou na minha frente e não fui nada delicada ao começar a comer. Pelo canto do olho, podia ver meu filho atacando a sua tigela de comida; começando a acreditar que tínhamos mais em comum do que gostava de admitir.
  Tão rápido quanto vieram, os tacos se foram. Dorota continuava cozinhando maravilhosamente bem! O taco de acabou indo para a geladeira, já que nem Liv e nem eu agüentávamos mais uma folha de alface que fosse. não saiu dos pés da minha cadeira desde a hora que acabou de comer até que eu fiz o mesmo. Nós éramos assim, grudados o dia inteiro. O cachorro gostava de todos que moravam naquela casa, mas eu era a sua grande paixão. Prova disso é que ele sempre dormia ao meu lado na cama, o que incluía até mesmo os dias que Zayn ficava para passar a noite. Era bem engraçado quando nós dois queríamos ter um tempo “sozinhos”, uma verdadeira luta pra tirar o cachorro do quarto. O pobrezinho não devia entender nada, mas eu também não era louca de deixá-lo nos observando enquanto tínhamos nossos momentos íntimos. Conhecendo-o bem, acabaria achando que estávamos brincando e pularia em cima de nós dois.
  - É o seu celular que está tocando? – Liv perguntou e parei de rir de algo que Dorota falara pra prestar atenção no som que vinha do corredor de entrada.
  - Esse é o toque de mensagem. Deve ser um dos meninos... É nessa hora que eles tem mais folga. – Expliquei para então terminar o meu copo de suco de laranja e levantar. – Estava uma delicia, Dora, como sempre!
  - Obrigada, querida. – Começou a recolher os pratos da mesa. – Gostou dos meus tacos, Olivia?
  - Estavam divinos! – A minha amiga sorriu e me seguiu para fora daquele cômodo.
  - Vamos, . – Chamei o bichinho e ele deu um pulo, batendo as costas na parte de baixo da minha cadeira. – Deus do céu, você tem algum problema, falo sério.
  Ri e o cachorro só ficou me observando com aqueles olhos azuis curiosos, querendo saber para onde iríamos. Por sorte ele era bem forte e agüentava todas as pancadas que levava diariamente. Olivia também riu e foi na frente. Por estar quase todos os dias me fazendo visitas, já não tinha mais nenhum receio de andar por aí, se sentindo na própria casa. A loira foi direto para a sala, sentando-se no sofá em forma de “L” e eu só fiz o mesmo após recuperar a minha mochila da mesinha do hall. Tirei os tênis para ficar mais confortável e coloquei os pés para cima do sofá, dobrando as pernas como os índios. Enquanto eu procurava o celular dentro da mochila, a outra menina também mexia em seu próprio telefone para colocar alguma música pra tocar. Liv não era muito fã de televisão.
  - Zayn me mandou uma foto... – Falei enquanto esperava a imagem carregar, em seguida lendo o que ele escrevera. – “Sentimos muito a sua falta, babe. Tem certeza que não quer vir?” Querer eu quero!
  - E por que não vai? – Olivia perguntou, após escolher uma música que a agradasse.
  - Não posso simplesmente arrumar as malas e ir para o outro lado do planeta, Liv! – A encarei. – Tenho uma bola de pelo pra cuidar e não confio em hotéis para cachorro. E também não posso levá-lo pra Los Angeles!
  - Você confia em mim? – Dorota parecia estar escutando a nossa conversa e apareceu na sala, com um pano de prato em mãos.
  - Claro que confio, mas e daí? – A olhei.
  - Eu posso ficar por aqui, se você quiser. E cuido do enquanto estiver fora... – Sugeriu com um sorriso.
  - Isso é loucura gente! – Ri.
  - Claro que não, ! – Liv concordou com a babá. – E eu moro na rua de trás, então posso sempre passar aqui pra dar uma ajuda ou levá-lo pra passear.
  - Espera, vocês duas estão falando sério? – Perguntei.
  - Você sempre quis ir pra L.A. e essa é uma ótima oportunidade... – Minha amiga deu de ombros, mas seu sorriso tentava me encorajar. – E, que eu saiba, tem passaporte e vistos prontos.
  - Além do mais, você não tem uma frase no seu corpo que diz que a vida é uma aventura? – Dora piscou cheia de intenções. Ela falava sobre a minha tatuagem na costela que falava exatamente aquilo. – Quer uma aventura maior que essa?
  - Então acho que estou indo para Los Angeles então... – Sorri animada, quase pulando no sofá. – Ainda acho loucura, mas confio em vocês...
  - vai ficar bem, , não se preocupe. – A menina ao meu lado no sofá fez carinho no cachorro deitado no chão na nossa frente.
  - Ok, ok... – Respirei fundo para não me desesperar com todas as coisas que eu ainda tinha que preparar para aquela viagem. – Passagens? Quando eu vou? E a minha mala? Tenho roupas pra isso?
  - POR FALAR EM ROUPAS! – Dorota praticamente gritou, assustando todos que estavam ali na sala. – As novas roupas da Mulberry chegaram...
  - Yay! – Exclamei. Agora sim eu teria roupas para viajar.
  Sem falar mais nada, levantei do sofá com um pulo e corri na direção das escadas. Liv e fizeram o mesmo, me seguindo. Lembra da conversa que Carine queria ter comigo, sobre o meu estágio na Models One? Bem, essa conversa acabou se transformando em um conjunto de várias reuniões, onde ela me apresentava às propostas de um plano maluco que ela e a minha madrasta bolaram. As duas pretendiam me transformar em uma espécie de It Girl da nova marca de Carine, a Mulberry. Só o que precisava fazer era usar as roupas da marca por aí, fosse no meu dia-a-dia ou em desfiles de moda que era convidada para assistir por intermédio da agência de modelos e ainda receberia por isso. Com o aumento da atenção em cima de mim por causa da minha ligação com o One Direction, Carine insistiu até que eu acabasse aceitando ser um meio ambulante de divulgação da marca. Claro que não era obrigada a usar apenas as roupas daquela loja, mas gostava bastante do estilo de design da mesma.
  Chegando ao meu quarto, encontrei as caixas e sacolas de embalagem em cima da minha cama. A cada mês eu ganhava uma quantidade diferente de variadas peças. Era um verdadeiro sonho, pra falar a verdade, receber roupas praticamente de graça. morria de inveja e vivia roubando uma pecinha aqui ou ali, mas Liv só ficava feliz pelo que eu tinha, sempre negando os presentes que eu oferecia a ela. A menina arrumou um espaço na minha cama e pegou o meu iPad, juntamente com o meu cartão de crédito dentro da minha carteira. Ela ficou responsável por cuidar da minha passagem de avião – que meu pai pagaria – enquanto eu arrumava a minha mala. Antes de fazer qualquer coisa, pensei em uma resposta para a mensagem de Zayn, não querendo deixar na cara os meus planos de surpreendê-lo.

“Também sinto muita falta de vocês! Mas nos veremos logo, assim que voltarem pra casa. xx .”
  “Como foi seu último dia de aula? Ainda temos alguns minutos de descanso...”
  “Teria sido melhor se você estivesse me esperando na porta. ): Recebi um postal de Holly e Nick. Eles estão bem e mandam lembranças! Ah, está com um ficante novo...”
  “Qual a novidade? Haha Já é o quarto esse mês? Pobre Niall. Não ficou com mais ninguém depois da cabecinha de fogo.”
  “Ele é que está certo! Mas chega de falar de outro casal. Como está tudo por aí? Onde estão agora?”
  “Estamos na van, a caminho de um shopping. Faremos uma apresentação e parece que já tem um grupo relativo de fãs nos esperando.”
  “Então estão fazendo sucesso pelos EUA? Isso é ótimo. Quem sabe assim vocês possam voltar logo.”
  “O público aqui é diferente do daí... É mais calmo. Nós podemos andar pela rua e quase ninguém nos reconhece.”
  “Dê um tempo, baby. Logo vocês vão ser perseguidos do mesmo jeito que são aqui!”
  “Só quero ser perseguido por você! Falo sério, acho que não vou agüentar mais três semanas sem você, .”
  “Você já agüentou quatro! Só mais três não farão diferença...”
  “Escreva isso no meu epitáfio, então. Aliás, a culpa vai ser sua se eu morrer. Boa sorte explicando para a minha mãe.”
  “Acho que Trisha entenderia!”
  “Babe, já tenho que ir. Estamos estacionando agora. Skype na hora de sempre?”
  “Estarei te esperando.”

  - Se eu espremer o seu sorriso agora, tenho certeza que consigo mel. – Liv riu, me olhando.
  - Shh, ok?! – Era impossível não sorrir como uma besta enquanto falava com Zayn, fosse por mensagens, telefone ou pessoalmente. Tanto é que eu já desistira de disfarçar. – Ele não faz idéia que estarei de frente pra ele antes do que imagina!
  - São onze horas de vôo e o seu sai daqui às cinco horas da manha de amanhã, então faça as contas. – Liv sorria satisfeita, mas eu me desesperei mais ainda. – E não esqueça do fuso horário... Você vai chegar lá às oito da manhã!
  - Cinco horas da manhã, Olivia?!
  - Yep. – Me mostrou a tela do notebook, com a compra da minha passagem efetuada. – Melhor você agilizar a sua mala...
  - Pode me ajudar com isso? – Corri para dentro do closet e tirei de lá a minha maior mala de viagem. – Tenho que ligar para Rach... Ela é quem sabe dos detalhes de hotel e essas coisas.
  Olivia se levantou e segurou a minha mala, abrindo-a no chão para começar a fazer a seleção das coisas que eu deveria levar. Confiava no seu senso de moda, mas me mantive de olho nas peças que ela tirava das embalagens da Mulberry e colocava do mesmo jeito dentro da mala. Rachel, agora que não precisava mais ser a empresária dos meninos, se tornara a Bauty Stylist oficial da banda; afinal, tinha feito faculdade para isso. Com a idade chegando, ela aceitou que a sua carreira como modelo não duraria mais tanto tempo assim, então aceitou a primeira oportunidade que teve para mudar de emprego. Dessa forma, tinha que seguir a banda para qualquer lugar que fossem. Nas viagens mais curtas, Lux ficava com Sam, a sua tia por parte de mãe, ou até mesmo comigo. Mas em viagens longas como essa, a minha irmãzinha ia junto. Eu tinha certeza que ela era mimada pela equipe inteira, principalmente pelos cinco meninos que a tratavam como princesa. Disquei o número da minha madrasta, torcendo para que ela estivesse longe dos meninos. Não podia estragar a minha surpresa agora.
  - Rach, sou eu, . Mas se os meninos estiverem perto de você, não fala que sou eu! – Falei rápido demais, esperando que ela entendesse.
  - Fique calma, . – A mulher riu. – Estou com Lux no carro. Ela adormeceu e acabei ficando por aqui... Mas o que houve?
  - Ainda bem! É que vou fazer uma surpresa para os meninos...
  - Você vai vir? – Senti que ela sorria. – Eles vão pirar! Que dia você vem?
  - Vou sair daqui hoje de madrugada, tecnicamente, mas devo chegar aí pela manhã. – Informei, vendo Liv fazer o número oito com as mãos. – Vou chegar às oito da manhã. Bendito fuso horário...
  - Vai ser incrível, ! Você vai poder acordar os meninos! Acredite, eles não saem da cama antes das dez e meia da manhã. Principalmente o seu namorado; ele é o mais difícil de acordar.
  - Eu não vou atrapalhar ninguém, certo? – Perguntei enquanto entrava no closet para tirar de lá as peças que precisava levar.
  - Claro que não, boba. Eles só tem compromissos até o resto dessa semana. Depois disso terão duas semanas de folga pra aproveitarem a cidade!
  - Fico mais aliviada sabendo disso... – Com várias roupas em meu braço, as joguei em cima de Liv, que bufou. apenas ficou sentado na cama, observando tudo atentamente. – Qual é o endereço do hotel?
  - Não se preocupe com isso, , vou pedir que Paul vá lhe buscar!
  - Então já está tudo certo? – Sorri. – Vou arrumar a minha mala agora...
  - Traga roupas curtas, porque aqui está um calor infernal.

+++

  Não eram nem nove horas da noite ainda e eu já estava na cama, com ao meu lado, no travesseiro que costumava ser do meu namorado, e minha xícara da chá na mão. Estava cedo sim, mas eu teria que acordar mais cedo ainda no dia seguinte para pegar um vôo de onze horas, então teria que descansar enquanto pudesse. Dormir na cadeira do avião era uma opção, mas duvidava que fosse tão confortável quanto a minha própria cama. Minhas duas malas consideravelmente grandes estavam na sala, mas a maxi bolsa que eu levaria na mão estava em cima da minha escrivaninha. Eu iria passar algumas semanas em Los Angeles! Mal podia acreditar. É óbvio que coloquei todas as minhas roupas de banho e peças mais curtas na mala, sem querer deixar nada para trás. Liv riu muito quando eu tive que sentar em cima das duas malas pra conseguir fechá-las, mas pelo menos consegui fazer tudo caber sem precisar de uma terceira. Já podia até ouvir as piadinhas de Louis, falando que eu estava planejando me mudar para os Estados Unidos de vez, pela minha quantidade roupas. Mas para os meninos era muito fácil, porque eles podiam dividir suas roupas! Mas eu não, ora bolas. Ora bolas? Ainda se fala isso? Anyway.
  Com o computador aberto na minha frente, eu conferia mais uma vez os documentos que precisaria levar para poder entrar naquele país e fiquei bem tranqüila por já estar com tudo separado dentro de uma pasta na minha bolsa. me olhava tanto que chegaria a ser esquisito se ele não fosse um cachorro. Abri meio sorriso e me inclinei sobre o animal, sentindo o perfume de seus pelos recém lavados. Eu sentiria falta daquele bobão, mas seria por uma boa causa. Recebi lambidas na orelha que me fizeram rir. Eu já havia me acostumado em ser babada, mas as cócegas ainda me pegavam desprevenida. Teríamos começado uma brincadeira se um bipe na tela do computador não tivesse chamado a minha atenção. Era Zayn fazendo uma chamada de vídeo no Skype. Aceitei-a antes mesmo de ver se meus cabelos estavam apresentáveis. A figura de um Zayn sem camisa apareceu e me deixou sem palavras.
  - Boa noite, Anjo. – Ele sorria, apesar do cansaço aparente.
  - Você demorou hoje. – Fiz bico, mas logo tratei de completar com um sorriso maroto: - Mas valeu à pena...
  - Eu sabia que você ia gostar! – Gargalhou e flexionou o bíceps.
  - Agora mais do que nunca eu queria estar aí. – Ri, sentindo meu coração apertar. Eu sabia que estaria com ele em poucas horas, mas qualquer segundo que fosse já parecia longo demais.
  - Esse aí no meu travesseiro é o Bo? – Zayn perguntou e eu mexi o notebook para que fosse focalizado pela câmera.
  - Seu filho também sente sua falta! – Disse após voltar o foco pra mim.
  - Ele está é se aproveitando da minha ausência. Esse ainda é o meu lugar.
  - E vai continuar sendo, mesmo que cuide dele por um tempo. – Sorri, apoiando o cotovelo no joelho e o rosto na palma da mão. – Você está tão lindo...
  - Você é linda. – Sorriu de volta.
  - Falo sério, Zayn! – Ri baixo. – Gosto quando o seu cabelo está baixo assim...
  - Acabei de sair do banho, então não deu tempo de arrumar...
  - Prefiro ele assim. – Dei de ombros, mordendo o lábio quase sem perceber. Imaginá-lo tomando banho não era a coisa mais segura do mundo para se fazer. – Hey, eu estive pensando... Quando vocês ficam de férias?
  - Nossa agenda só vai até esse próximo final de semana e aí estaremos livres. – Puxou um travesseiro para deitar mais confortavelmente. – Mas você sabe como Marco é...
  - Esse seu empresário... – Balancei a cabeça. Marco fazia parte da equipe da Modest!Management e nós não íamos com a cara um do outro.
  - Por que, babe?
  - Porque, bem... O casamento da minha mãe é no final de julho... Então, se fossemos para Paris um pouco antes, poderíamos aproveitar a cidade, já que não fizemos isso da última vez que fomos lá.
  - E ainda poderíamos passar o seu aniversário lá. – Zayn sorriu, lendo os meus pensamentos. Não demorou muito para que ele começasse a bocejar.
  - Babe, vou te deixar dormir agora, ok? Você está caindo de sono!
  - Não estou nada! – Tentou fingir que estava sem sono, mas logo bocejou mais uma vez.
  - Você não me engana, Malik! Já pra cama.
  - Já estou na cama. – Resmungou, se achando muito esperto.
  - Agora desligue o computador e feche os olhos.
  - Quero ficar com você. – Fez um bico enorme.
  - Vai ficar comigo nos seus sonhos! – Disse com um sorriso, querendo abraçá-lo por causa daquela manha toda.
  - Diz que me ama? – Suspirou sonolento, se rendendo.
  - Eu te amo, baby-bear. – Falei e Zayn só riu do apelido. Nós sabíamos que não era dos melhores, mas eu gostava de chamá-lo assim e causava risadas da parte dele, então eram dois por um.
  - Eu te amo, princesa.

Chapter II

  Quatro horas da manhã pode parecer um horário muito cedo pra se estar no aeroporto... E é mesmo. Meu corpo pedia por cama, mas o resto de mim se encontrava bem animado para a viagem dos sonhos. Minhas malas foram despachadas, passagem retirada no check-in e, graças à empresa de câmbio, uma quantia razoável de libras havia sido trocada por dólares americanos. Mesmo com o clima que me esperava em Los Angeles estando quente, Londres ainda estava relativamente fria, apesar de ser verão, por culpa da pouca hora. Isso me obrigou a jogar um casaco aconchegante por cima da minha roupa de viagem. Faltavam dez minutos para que a British Airways começasse o embarque do meu vôo, então me permiti passear pelas lojinhas de “Free Shop”. Eu repetia para mim mesma que não iria gastar nada ali, mas não consegui resistir ao entrar em uma revistaria. “Ah, por favor, né? O vôo é longo e eu preciso de algo pra fazer durante onze horas!” Com esse pensamento, escolhi algumas edições de revistas de moda, que me renderiam longas horas de meditação, e um pacote de M&M’s de chocolate. Nunca gostei daqueles de amendoim!
  - É ela, mummy, eu tenho certeza! – Uma voz infantil chamou a minha atenção, na outra ponta da loja.
  - Filha, se comporte! – A mãe reclamou com a menininha que deveria ter no máximo uns oito anos de idade.
  - Fala com ela, por favoooooor? – A mais nova insistiu, me fazendo rir disfarçadamente. Eu já passara por tantas situações assim que estava acostumada.
  - Tudo bem, mas pare de manha. – Aceitou o convencimento da pequena e se aproximou. – Com licença?
  - Bom dia. – Respondi com um sorriso e acenei para a menininha, que riu envergonhada.
  - Desculpe incomodá-la, mas você conhece uma banda chamada One Direction? – A adulta perguntou. – Minha filha colocou na cabeça que você os conhece...
  - Ela é a namorada do Zayn! – A menininha corrigiu a mãe, cansada de não estar sendo levada a sério. Eu fiquei surpresa por ela ter falado que eu era namorada de Zayn, já que a maioria das meninas preferia me reconhecer como “irmã do Louis”.
  - Sou mesmo. – Sorri para ela e em seguida fitei a mãe da mesma. – Sua filha está mais do que certa.
  - Então ainda bem que não a confundimos! – Riu. – Se não for pedir muito, poderia tirar uma foto com ela?
  - Eu adoraria. – Afirmei e abaixei até ficar quase da mesma altura que a pequena. – Qual o seu nome, sweetie?
  - Amy. – Respondeu e me pegou de surpresa ao me dar um abraço.
  - Então você gosta de One Direction, Amy? – Retribui o abraço e a menina afirmou que sim com a cabeça. – Quem é seu preferido?
  - Ela vive dizendo que vai se casar com aquele dos cabelos cacheados. – A mãe a entregou.
  - Muuuuum. – Amy reclamou, sentindo-se envergonhada.
  - Vai se casar com o Harry? – Perguntei com uma risada. – Porque não tiramos uma foto com o meu celular também, pra que eu possa te mostrar para os meninos? Se não tiver problema com a sua mãe, é claro...
  - Problema algum!
  A adulta tinha preparado a câmera enquanto eu conversava com a sua filha e logo fiquei ao lado da pequena para que a nossa foto pudesse ser tirada. Em seguida, peguei meu iPhone no bolso da calça e pedi para Amy olhar para a câmera do aparelho, também tirando uma foto. A menininha era super adorável e nós conversamos mais um pouco até que a primeira chamada do meu vôo foi escutada. Antes de me despedir das duas, pedi para que esperassem algumas horas caso fossem postar aquela foto em alguma rede social. Eu e os meninos tínhamos sido instruídos a fazer isso sempre que encontrássemos alguma fã que pedisse fotos ou autógrafos; como uma forma de evitar confusão ou a invasão de novos fãs em qualquer lugar que estivéssemos. Aquela manhã, porém, pedi que não postassem ainda porque tinha medo que a minha viagem surpresa fosse desmascarada. As duas entenderam perfeitamente e aceitaram só postar a imagem depois de um tempo.
  Me dirigi até o caixa para pagar pelas minhas duas revistas e pacote médio de M&M’s. Que Liv não me visse com aquele chocolate, caso contrário, teria uma nova dieta me esperando assim que voltasse para a cidade. A balconista do Free Shop foi bem simpática e não enrolou ao embalar as minhas compras, já que viu que eu estava com certa pressa. O bom de estar levando uma bolsa de mão grande é que tudo cabe dentro dela. O ruim, por outro lado, é que torna mais difícil ainda achar qualquer objeto que seja ali dentro daquela entrada alternativa para Nárnia. Enquanto caminhava para a fila de embarque, tratei de pegar a minha passagem, pois era só o que eu precisaria mostrar por ali. Depois que a entrada preferencial teve fim, os passageiros comuns puderam entrar e eu fui atrás. No geral, a fila estava pequena. Comparando ao tamanho do avião internacional, o vôo seria bem vazio.
  Logo mostrei o meu ticket para a aeromoça e ela indicou o corredor que eu deveria seguir. Não olhei para trás em minuto algum, mas me despedi de Londres internamente. Eu estava prestes a embarcar em uma longa jornada que me levaria para um continente completamente diferente e isso me animava. Era a primeira vez que eu pisaria em terras americanas e não podia estar mais ansiosa. Óbvio que queria muito ver os meus meninos – Zayn em especial -, mas isso não significava que não fosse aproveitar o novo país, certo? Com um sorriso enorme, cumprimentei a aeromoça que estava me esperando na entrada da aeronave.
  - Bom dia! – Ela falou. – Posso ver o seu bilhete?
  - Claro... – Já havia mostrado a passagem para a primeira funcionária antes de embarcar, então agora só tinha o canhoto. – Está tudo certo?
  - Houve um pequeno problema na sua seção, senhora... – Disse ao ler o meu bilhete. – Então estaremos lhe transferindo para a primeira classe, para evitar transtornos.
  - Primeira classe? – Repeti animada. – Que tipo de problema foi esse?
  - Sua seção ficava no fundo do avião, certo? Bem... Tivemos um pequeno problema com o banheiro de trás.
  - Ah, entendi. – Fiz uma careta imaginando o que teria acontecido.
  - Queira me acompanhar, por gentileza.
  Afirmei que sim com a cabeça e a aeromoça passou por trás de uma cortina até chegarmos a uma curta escada em espiral que levava até o andar de cima. E pensar que eu nem precisei perguntar o que tinha no segundo andar daquele avião! Quando nós duas já nos encontrávamos na sessão da primeira classe, senti vontade de gritar, mas me contive. Devia fingir que estava acostumada com aquele luxo todo, ao menos na frente dos homens de negócios que não paravam de mexer em seus computadores ou aparelhos telefônicos. As poltronas eram bem espalhadas umas da outras e pareciam extremamente confortáveis. Sem falar na televisão particular que cada “mini-cabine” possuía. “Ok, talvez a minha viagem não vá ser assim tão entediante.”
  - Onde quer sentar? – A aeromoça me ofereceu a escolha.
  - Gosto da janela... – Minha resposta soou mais como uma pergunta e apontei para uma cadeira bem na frente, próxima á janela.
  - Fique a vontade. – Sorriu. – Já voltarei com o travesseiro e cobertor de cortesia. Gostaria de algo para beber?
  - Você tem chá gelado de pêssego? – Questionei, me segurando para não pedir champanhe.
  - Trarei em um instante. – Sorriu mais uma vez e se virou.
  - Isso vai ser bom... – Falei sozinha, me jogando na poltrona.

+++

  A viagem de onze horas e vinte minutos do Heathrow até o LAX pareceu ter durado apenas cinco. A primeira classe era bem mais glamorosa do que os filmes mostram. Bebi chá quase o trajeto inteiro e o banheiro daquela seção também parecia ser maior que o da minha casa. Assisti dois filmes, alguns desenhos, terminei de ler as minhas revistas, comi o café da manhã da companhia aérea e aproveitei os meus M&M’s de sobremesa; claro que não comi tudo, mas enfim. Dormi por seis horas e só fui acordar com o impacto que a aeronave sofreu ao pousar. Demorei uns dois minutos para me situar e entender que tinha chegado a Los Angeles. O relógio em meu pulso marcava onze horas da manhã, o que me fez quase gritar; então a aeromoça legal explicou que, por causa do fuso-horário, ainda era pouco mais de 8h20min em L.A. Não estava tão atrasada assim, pelo menos.
  Já na área de desembarque, mandei uma mensagem para Paul, avisando que só estava pegando a minha mala e já o encontraria na saída daquele salão. Ele infirmou que estava me esperando e que não acreditou muito no singular que usei para definir a minha “mala”. Ele me conhecia tão bem! Logo achei um carrinho e fui para as esteiras, esperando as malas começarem a sair. Como o vôo realmente foi vazio, consegui encontrar as minhas duas com certa facilidade, recebendo ajuda de um homem mais velho que eu para tirá-las da esteira e colocar sobre o meu carrinho; já que eu parecia fraca demais para conseguir carregá-las sozinha. Mesmo ainda estando dentro do aeroporto, pude sentir a diferença de temperatura já me obrigando a tirar o casaco e colocá-lo dentro da bolsa. E, aliás, coube perfeitamente.
  Empurrei o carrinho para o lado de fora da área de embarque e desembarque, dando de cara com centenas de pessoas que estavam ali para esperar seus amigos e parentes que chegavam de vários lugares do mundo. Paul, por outro lado, foi fácil de achar, já que era realmente grande. Tanto para cima quanto para os lados, pois ele era forte e alto, daquele porte normal de seguranças particulares. Mas o guarda-costas era tão fofo e simpático que eu realmente não sabia como alguém podia ter medo dele. Localizei a minha carona, rindo da placa que ele segurava: “Bem-vinda, !” enfeitada com vários desenhos infantis que julguei serem obra de arte de Lux.
  - Pauly! – Fui até ele e larguei o carrinho de qualquer jeito para poder abraçá-lo. – É bom te ver, grandão!
  - Também é bom te ver, baixinha. – Praticamente se curvou para me abraçar de volta. – Os meninos vão ficar loucos quando você chegar lá.
  - É o que eu espero. – Comentei indo pegar o carrinho novamente, mas o homem me impediu.
  - Essa é a sua mala pequena? – Gargalhou, começando a empurrar o objeto para que pudéssemos sair dali.
  - Acredita que ela se multiplicou? – Brinquei, seguindo-o na direção que deveria ser do estacionamento.
  - Claro que sim. – Ironizou. – Quer alguma coisa antes de irmos? Está com fome?
  - Eu comi tanto na primeira classe que não agüento mais nada...
  - Primeira classe? Alguém está mais posh do que eu me lembrava. – Riu.
  - Não sou posh! – Reclamei. – Foi um acaso, pra falar a verdade. Mas me diga... Os meninos estão te dando muito trabalho?
  - Como sempre. – Rolou os olhos, cansado, e passamos pelas portas de vidro que nos levaram ao lado de fora. – Bem vinda a Los Angeles, .
  O primeiro suspiro que soltei serviu para mostrar o quanto eu estava animada de finalmente ter chegado. Olhei em volta, me surpreendendo com as diferenças óbvias entre aquele país e o meu. L.A. já se mostrava bem calorosa, quente, animada e ensolarada. Minhas redundâncias são usadas pra dar ênfase, só pra constar. As palmeiras que eram tão conhecidas por fotografias agora estavam bem ali na minha frente, junto às pessoas de pouquíssima roupa que passeavam por ali. Todos pareciam ser artistas de cinema. Um assovio chamou a minha atenção e descobri que era Paul, já se afastando com velocidade em direção à van preta isolada no estacionamento cheio. Corri até ele, começando a me arrepender por não estar usando shorts. Logo começaria a suar e não era bem isso que eu planejava para o primeiro momento de encontro entre Zayn e eu depois de um mês.
  - Eu estou aqui há vinte minutos e já estou suando! – Ri sem reclamar de verdade. Ao menos sempre usava uma liguinha de cabelo em volta do pulso, tratando de usá-la pra prender minhas madeixas caramelo.
  - Isso porque ainda é cedo! Espere a tarde chegar. – Paul abriu a porta de trás da van, começando a guardar as minhas malas ali dentro. – Quando der três horas da tarde, você não vai querer sair de baixo do ar condicionado.
  - Pelo menos aqui tem praia! – Sorri animada com aquele pequeno grande detalhe. – Não lembro nem quando foi a última vez que mergulhei no mar...
  - Isso vai poder ser resolvido logo, porque o nosso hotel é em frente à praia. – Depois de ter guardado as minhas malas, o homem abriu a porta dianteira do passageiro para que eu pudesse entrar. – Pode avisar a Rachel que já estamos saindo daqui?
  - Aviso sim!
  Dentro do carro, esperei Paul dar a volta e também entrar. Diferente da Inglaterra, o volante ficava do lado esquerdo do carro. Logo quando eu começava a me acostumar a dirigir no lado direito, tinha que voltar para o esquerdo? Mas não vou reclamar! Essa viagem vai ser inteiramente feliz, sem nenhuma reclamação! Como alguém poderia reclamar estando na Califórnia? Eu com certeza não conseguiria. Aproveitando que o meu iPhone continuava no bolso do meu jeans, o peguei e digitei uma mensagem rápida para a minha madrasta:

  
“Pauly conseguiu me achar. Estou oficialmente em terras americanas. WOOHOO!”
  “Perfeito! E já estão vindo pra cá? Os quartos ficam no 7B. Vou avisar na portaria que você pode subir.”

  - Está avisada! – Respondi e travei o celular, pronta para apreciar a vista que passava pelo lado de fora da minha janela. – Os meninos tem a agenda cheia hoje?
  - Durante a tarde sim. – Começou a falar enquanto dirigia. – Vou ter que levá-los ao estúdio e depois a uma reunião com a Modest!.
  - Será que vem bomba por ai? – Perguntei calmamente, sem prestar atenção demais para aquela conversa.

+++

  - Rachel! – Quase gritei para a minha madrasta assim que a vi na ponta oposta do corredor. Eu acabava de sair do elevador no sétimo andar e ela já estava me esperando do lado de fora do quarto.
  - ! – A mulher fez o mesmo a me ver e corremos uma na direção da outra. – Como foi a sua primeira impressão de Cali?
  - Incrível! Parece um sonho e eu nem acredito que estou aqui. É tão... Quente! – Ri ao abraçá-la. – É tudo que eu sempre imaginei e muito mais. E essa praia aí na frente? Ela está me chamando.
  - Você vai ter muito tempo pra curtir a praia... E a piscina desse hotel também não é nada mal. – Sorriu e acenou para Paul que trazia as minhas malas. – Você vai ficar no quarto de Zayn, ok?
  - Sério? Que pena. – Brinquei.
  - Não se ele vai gostar disso, porque estava com um quarto só pra ele desde o começo! – Piscou. - Quem você quer acordar primeiro?
  - Como está a divisão dos quartos?
  - Lou e Haz estão naquele ali... – Apontou para o quarto de número 783B. – E Liam e Niall estão no seguinte. 784B. Você e Zayn vão ficar no fim do corredor, no 790B.
  - Vou pegar as chaves... – Paul explicou, voltando para a área do elevador.
  - Por mais que a tentação seja muito grande, vou começar por Zayn. – Mordi o lábio inferior. Ele odiava ser o primeiro a ter que acordar, mas era por uma boa causa. – Quero ver o meu quarto. Tenho que saber como é tudo, né?
  - Sim, claro! – Não acreditou na minha desculpa e tirou uma série de cartões magnéticos do bolso, procurando um em questão. – Essa é a minha chave reserva. Quando Paul voltar, ele te entrega as suas.
  - Obrigada... – Suspirei, pegando o cartão com o número do quarto do meu namorado. – 790, certo? Fim do corredor?
  - Vá ser feliz! – Riu e a obedeci.
  Mesmo que eu duvidasse conseguir sair do quarto de Zayn depois de acordá-lo, tinha que vê-lo antes dos outros. Não é que eu não estivesse com saudades do meu irmão, cunhado e amigos queridos, mas era do meu namorado que estávamos falando ali! Corri até o final do corredor, parando apenas quando estava de frente para a porta do último quarto. Passei o cartão na fechadura e um pequeno clique a destrancou. Abri com todo cuidado do mundo, espiando pela fresta antes de entrar. O quarto estava frio, comparado ao resto da cidade. O ar condicionado devia ser muito potente, pois quase senti como se estivesse em Londres novamente. Com a pouca luz, não consegui ver muitos detalhes do quarto, mas enxergava nitidamente a figura masculina jogada na cama de casal. Sem conseguir controlar os meus sorrisos, tirei os tênis dos pés e deixei a minha bolsa pelo chão mesmo.
  Caminhei na ponta dos pés até a janela do quarto, me surpreendendo por ela tomar conta de uma das paredes inteira. Abri uma brecha da persiana só para que o que quarto pudesse ser mais iluminado e assisti enquanto Zayn se mexia na cama. Sua parte de cima estava nua e a de baixo era coberta pelo lençol branco. Conhecendo suas manias de dormir, ele só devia estar usando uma boxer; o que tornou muito difícil o meu trabalho de não espiar. Soltei os cabelos para ficar mais confortável e voltei a guardar a liga em volta de meu pulso. Ao menos agora eu não estava mais suando e nem fedendo. A cama do hotel era extremamente convidativa, principalmente quando o menino deitado nela se mexeu e deitou de barriga para cima, revelando a barra de sua cueca. “Bem como eu desconfiava!”
  Cautelosamente e torcendo para não fazer movimentos bruscos, deitei na cama ao lado daquele menino sonolento. Não me importei em me cobrir, apenas fiquei observando-o dormir; hábito que eu realmente sentia falta. O peito tatuado do meu namorado subia e descia tranquilamente enquanto ele respirava, completamente afastado de qualquer preocupação, por menor que fosse. O examinei mexer as pálpebras como se estivesse sonhando e tive pena de acordá-lo. Deslizei a ponta dos dedos pelo torso masculino ao meu lado, dedilhando cada curva, cada subida e descida dos músculos relaxados. Zayn não era do tipo bombado e também não era seco. Pra mim, o resultado perfeito. Achei impressionante que até quando estava dormindo sozinho, Zayn ocupava o lado direito da cama, deixando o esquerdo pra mim. Peguei o travesseiro que estava sobrando e me acomodei, ainda passando os dedos pela pele do menino.
  Subi o indicador até o pescoço de Zayn, rindo baixo quando ele mexeu o rosto. Antes que eu percebesse, o menino passou o braço em cima da minha barriga e me puxou pra perto. Não sei se ele estava sonhando com aquilo ou foi um ato automático, mas tinha certeza que não acordara. Suspirei e me acomodei nos braços daquele menino que eu tanto amava. O olhei de perto e já pude sentir um pouco do seu perfume, sem conseguir resistir por mais muito tempo. Meu rosto estava bem na região de encontro entre o pescoço e o ombro de Zayn, que era mais do que uma tentação. Delicadamente encostei os lábios ali e comecei a distribuir beijos, arrastando a boca até abaixo da orelha dele.
  - Acorda, baby... – Sussurrei manhosa.
  - Hm, hmmm... – Ele resmungou. – Se isso for um sonho, não me acorde...
  - Não é um sonho, Zayn... – Voltei a rir baixo, achando bem engraçado aquela moleza toda. O cutuquei na ponta do nariz devagar. – Abre os olhinhos...
  - Não quero acordar... Se acordar vou ter que te deixar. – Murmurou, apertando os olhos com força.
  - Mas eu estou aqui... – Toquei a lateral de seu rosto e a puxei pra mim, encostando os nossos lábios sem me importar se ele tinha escovado os dentes ou não.
  - ? – Após sentir o meu beijo, Zayn abriu um dos olhos. Seus neurônios estavam tendo um pouco de dificuldade para se situar. – ? Você... Hã? Eu te vi... O que?
  - Você fica tão fofo quando está acabando de acordar. – Ri e o abracei com força, puxando-o pra cima de mim. – Você está em Los Angeles e eu estou aqui também. Cheguei hoje de manhã. Vim te ver. Entendeu?
  - ! – Separou o abraço pra poder olhar pra mim. Aproveitou para me cutucar inteira, tendo certeza de que era eu mesma. – Babe, você está aqui, em carne e osso!
  - Para com isso, Malik! – Gargalhei pelas cócegas que estava sentindo e sentei na cama, sendo puxada para mais um abraço. – Também senti a sua falta...
  - Eu te vi ontem a noite! Como pode estar aqui hoje? – Encheu o meu rosto de beijos, deixando o sono de lado. – Não importa. O importante é que você está aqui! Tenho tantas coisas pra te mostrar!
  - E você vai mostrar, só...
  - Você pintou o cabelo! – Sorriu, sentando na cama e mexendo nos meus fios claros.
  - Baby, você já sabia disso!
  - Eu sei, mas tinha esquecido. Você está linda! – Segurou meu rosto com as duas mãos, me puxando para um beijo mais longo que o primeiro.
  Ele estava feliz ao me ver e não preciso nem dizer que estava da mesma forma. Depois de acordar, Zayn costumava ficar umas duas horas se situando para então agir com sua energia normal. Naquela manhã, porém, ele era movido por baterias, porque deu um pulo da cama e terminou de abrir a cortina. A nova claridade machucou os meus olhos, mas eu o achava lindo demais com aquela animação toda pra me importar. Finalmente pude observar o quarto de hotel que conseguia ser maior que o meu de casa. No canto direito havia uma mini cozinha com frigobar, microondas, fogão pia. Mais para trás, uma pequena sala com um sofá, mesa de centro e uma TV pendurada na parede. À esquerda, um guarda roupa embutido e a porta que dava para o banheiro da suíte. A parede atrás da cama era coberta pela janela, mas assim que a cortina foi aberta totalmente, notei que não era bem uma janela e sim vidros que davam para a varanda do lado de fora. Fiquei de joelhos na cama e me encantei com a vista. Aquele quarto era virado para a praia, então no horizonte só havia o azul do mar e o céu.
  - Zayn, abre essa porta! – Niall bateu na madeira. – Rach disse que tem uma surpresa pra gente aqui.
  - , vai se esconder no banheiro! – Zayn sussurrou com um sorriso sapeca. – Já vou abrir! Só estou... Me vestindo.
  - Shhh... – Falei sozinha, tapando a minha boca para não rir alto e me fechei no banheiro.
  - Pronto, pra que a pressa? – Escutei Zayn abrir a porta e passos corridos entrando no quarto.
  - Cadê a surpresa? – Escutei Liam perguntar.
  - Isso aqui é uma bolsa de mulher?! – Lou deve ter visto a bolsa que esqueci no chão do quarto. – Você passou a noite com alguém, Zayn?
  - Você não faria isso com a ... – Harry soava horrorizado.
  - Desculpa, caras... Não deu pra me segurar. Sou homem, tenho minhas necessidades. – Zayn mentiu. Eu só esperava que nenhum dos meninos batesse nele.
  - Como você pode fazer isso, Zayn?! – Liam começava a se revoltar. – É retardado? Bebeu muita água na banheira?
  - Onde está a vadia? – Louis gritou. Eu começava a me preocupar. – Quero ela fora daqui agora!
  - Está no banheiro. – Zayn falou, sem nenhum pingo de remorso na voz. – Pode sair agora, gata...
  - Gata? – Niall repetiu, chocado.
  Abri a porta devagar, louca pra ver a cara que eles fariam ao ver que era apenas eu. Os quatro meninos esperavam impacientemente a amante de Zayn sair do banheiro e suas expressões foram de “eu vou matar esse menino” para “é o melhor dia da minha vida” em questão de segundos. Abri os braços em uma pose de modelo assim que pude ser vista por todos e os quatro gritaram tantas coisas ao mesmo tempo que não consegui entender nenhum deles. Zayn estava sentado na cama, me olhando com aquele sorriso apaixonado. Falei um “SURPRESAAA” e fui agarrada. Literalmente agarrada. Liam correu até onde eu estava e me envolveu pela cintura, me abraçando tão forte que fiquei um pouco sem ar. Acabei tirando os pés do chão ao ser girada e logo os outros três se juntaram àquele abraço.
  - O que você está fazendo aqui?! – Lou perguntou com um sorriso enorme após eu ser solta.
  - Não eram vocês que passaram semanas insistindo pra eu vir? – Sorri ao arrumar a minha roupa que quase foi arrancada do lugar. – Vim passar um pouco das férias em Cali.
  - Agora vamos poder aproveitar! – Harry me deu mais um abraço e dei uma boa olhada nele.
  - Você está bronzeado! – Ri. – Niall, você está vermelho!
  - Tivemos um tempinho de folga ontem e aproveitamos na piscina. – Ni sorriu, encantado com aquela história toda de eu estar ali.
  - Piscina? Com essa praia linda aí na frente? – Os reprovei com o olhar e me sentei na cama, ao lado de Zayn, sendo envolvida em um abraço de lado.
  - Rachel disse que só podemos ir para a praia depois que ficarmos livres. – Lou fez bico. – Ela está parecendo a madrasta da Cinderela.
  - Hey, ... – Niall me chamou. – Você… Veio sozinha?
  - Desculpa, Ni, não veio comigo. – Fiz um bico de lado.
  - Não estava querendo saber dela... – Tentou disfarçar a sua decepção. – Queria saber se a namorada do Li veio junto.
  - Dani está viajando com a equipe do X Factor. – Liam explicou.
  - Como ela está, aliás? Faz tempo que não nos falamos... – Comentei, recebendo um beijo na bochecha de Zayn.
  - Muito bem. – Sorriu bobo. Ele estava claramente apaixonado pela namorada de três meses.
  - Desculpa acabar com a festa... – Rachel entrou no quarto, trazendo as minhas malas.
  - Vão tomar banho! – Paul vinha atrás, com Lux em seus braços. – Temos que estar no estúdio em uma hora.
  - Paaaaaul... – Louis se jogou na cama de Zayn, escondendo o rosto em um travesseiro.
  - Como acha que vou deixar a minha garota agora que ela acabou de chegar? – Zayn também se escondeu, mas fez isso no meu pescoço.
  - Vão logo, meninos, é sério! – Rach também mandou. – Hoje é sábado e vocês estarão de férias oficialmente na segunda, então deixem de preguiça!
  - vem pro estúdio com a gente, né? – Harry foi o primeiro a se mexer para sair do quarto.
  - Vocês sabem o que o Marco diz... – Minha madrasta mexeu os ombros; ato que queria dizer “não posso ajudar dessa vez”. – Nada de distrações.
  - Poxa. – Fiz bico. – Eu prometo que não atrapalho...
  - Foi mal, , mas você vai ter que ficar. – Paul balançou a cabeça, esticando Lux na minha direção. – E ainda vai ganhar uma filha de presente.
  - Vou ficar com essa princesa? – Sorri, esticando os braços para a menina que ria por estar sendo sacudida no ar. Zayn parecia não querer me soltar, então não pude levantar e ir até ela.
  - , ajuda! – Minha irmã pediu, ainda morrendo de rir.
  - Você não se importaria, certo? – A mãe dela perguntou. – Eu a levaria junto, mas não é bem um ambiente para crianças.
  - Claro que não me importo! – Lutei para conseguir me soltar de Zayn, que fez um barulho de dinossauro ao tentar me manter presa em seus braços. – Podemos ir para a praia, tomar sorvete, nadar...
  - Ah, que ótimo, vocês vão se divertir e nós temos que trabalhar! – Liam resmungou, cruzando os braços.
  - Eu já estou de férias! Vocês não. – Mostrei a língua pra quem quisesse me olhar.

+++

  - Então, Lux, o biquíni rosa ou o azul? – Mostrei pra ela as duas opções que consegui encontrar na gaveta que Rachel me explicara ser das cosias da pequena.
  Eu já estava completamente vestida, mas a minha irmã mais nova parecia não conseguir se decidir. Para uma menina de quase dois anos de idade, ela tinha uma opinião muito forte. Passava das duas e meia da tarde e ambas já havíamos almoçado e esperado uma hora pra poder nadar. A loirinha estava muito animada em ir para a praia, já que Rachel não tivera tempo de levá-la nem do outro lado da rua. Lux passeava pelo quarto quase pelada, usando apenas uma fralda a prova d’água que eu já vestira nela. Apesar disso, ela queria porque queria uma roupa de banho bem bonita pra usar por cima.
  - O rosa. – Depois de muito pensar, escolheu o que iria vestir.
  - O rosa será! – Sorri, ajudando-a a entrar o biquíni infantil.
  - , podemos tomar sorvete? – Perguntou com um sorriso fofo que conseguiria qualquer coisa de mim.
  - Você leu meus pensamentos, Lux. – Ri, passando os bracinhos gorduchos da menina pela parte de cima da roupa. – Quero um bem grande...
  - O meu vai ser maior! – Distanciou uma mão da outra, mostrando o tamanho do sorvete que iria tomar.
  - E de qual sabor você vai querer? – A deixei sentada na ponta da cama e voltei para a gaveta, pegando um vestidinho azul que ela poderia usar por cima.
  - Morango, chocolate, manga, abacaxi... – Foi contando nos dedinhos enquanto falava.
  - Tantos assim? – Ajoelhei de frente pra ela e a fiz levantar os braços mais uma vez. – É melhor eu levar muito dinheiro então.
  - Pede pro Harry. – Lux falou, me surpreendendo. – Ele tem um tantão na carteira...
  - Harry está rico agora, não é? – Ri e fiz cócegas na espertinha. – Pronto. Agora calce o seu sapato e poderemos ir...
  - Cadê?
  Não precisei responder, pois Lux logo correu para um canto do quarto e olhou embaixo da poltrona. Como ela se lembrava de onde deixava os sapatos eu não fazia idéia. Peguei a minha bolsa que continua uma toalha para mim e para Lux, a minha carteira, chaves de todos os quartos e ainda algumas outras coisas básicas que poderíamos precisar. Abri a porta para sair enquanto Lux terminava de calçar as suas sandálias. Minha irmãzinha estava crescendo cada vez mais rápido. Ela não era mais o bebê rechonchudo que eu gostava de apertar. Agora começava a ganhar tamanho e afinar, mesmo que ainda tivesse uma barriguinha muito fofa. Por mais que não gostasse de falar o tempo todo, a criança dominava o vocabulário completo e tinha alguns raciocínios muito inteligentes para a sua idade; como da carteira de Harry, por exemplo.
  Depois de pronta, a menina me seguiu para fora do quarto e segurou a minha mão para atravessarmos o corredor até o elevador. A levantei para que ela conseguisse apertar o botão de chamar o elevador, mas a coloquei no chão em seguida. Com uma personalidade que com certeza puxou de mim, Lux só gostava de ficar no colo quando queria. Imagine o trabalho que daria pra atravessar alguma avenida movimentada com ela. As portas automáticas se abriram rapidamente e nós duas pudemos entrar. Enquanto Lux mexia o seu vestido de frente para o espelho, fui distraída por uma propaganda em um quadro de avisos que havia ali dentro; o qual eu não notara antes. “Summer Fest”, era do que o panfleto se tratava. Aparentemente esse Summer Fest aconteceria no próximo final de semana, com várias atrações para todas as idades. Me aproximei para ler o nome das bandas que estariam se apresentando e levei um susto ao ler o nome de uma em especial: “Emblem3.”
  Sem nem pensar direito no que estava fazendo, chamei Lux para sair do elevador assim que chegamos ao andar do térreo e fui tirando o celular da bolsa. Ela já conhecia aquele hotel melhor do que eu, então segurou a minha mão e nos guiou até a saída enquanto eu torcia mentalmente para ainda ter o número que procurava na agenda. “Wes, Wes, cadê você?!” Me perguntava sozinha até chegar na letra S. Eu me esquecera que o sobrenome dele era Stromberg, caso contrário teria encontrado o que procurava bem mais rápido! Uma vez no lado de fora do hotel, aquela brisa quente bateu no meu corpo e já me senti começando a suar mais uma vez. Segurando firme na mão da minha irmã, caminhamos até a faixa de pedestres mais próxima, para esperar o sinal fechar.
  - Espero que ele atenda... – Pensei alto, levando o iPhone até a orelha.
  - ? – A voz masculina atendeu.
  - Você lembra de mim?! – Perguntei com uma risada. Fazia muito tempo que não nos falávamos.
  - É claro que sim! – Wesley também riu. – Só achei que você nunca mais fosse ligar!
  - Engano seu. – O sinal para os pedestres finalmente foi aberto e pude guiar Lux para atravessar. O policial que estava ali na frente também nos ajudou muito. – Você está em Cali?
  - Yeah, estou em casa. Por que?
  - Bem, você me disse pra ligar quando fizesse uma visita à Califórnia, então...
  - Você está aqui?! Onde?
  - Em L.A! – Comemorei, tendo cuidado para não ser atropelada pelas pessoas que patinavam ou andavam de bike pelo calçadão. – Para ser mais exata, em uma praia chamada Venice. Conhece?
  - Não perde tempo mesmo! – Ele riu. – Estarei aí em trinta minutos.
  - Fala sério?
  - E vou te ensinar a surfar. – Pude sentir a certeza em sua voz, mas eu duvidava muito que fosse aprender alguma coisa. – Keaton, acorda, vamos sair!
  - Pobre Keath! – Balancei a cabeça sozinha. – Vejo vocês em trinta minutos então...
  - Faça vinte.
  Com essa promessa impossível, desligamos a ligação. Eu me lembrava muito bem de Wesley me falando que da casa dele até Los Angeles o trajeto era de quarenta minutos, sem trânsito. Queria saber como ele conseguiria chegar ali em vinte! Guardei o celular na bolsa mais uma vez e olhei para Lux, cujos olhos brilhavam ao olhar para o mar a nossa frente. Passado o calçadão, nossos pés entraram em contato com a areia branca da praia. Nós duas tratamos de tirar os sapatos para sentir a natureza em baixo de nossos pés e a mais nova riu como se estivesse sentindo cócegas. Um homem muito simpático perguntou se gostaríamos de um lugar na areia e logo aceitei, sem saber muito bem do que ele estava falando. Esse senhor nos guiou até um ponto mais afastado da bagunça toda, mas ainda assim a uma distância segura do mar, e montou um guarda sol e duas espreguiçadeiras. Se apresentou como J.C. e informou que se quiséssemos beber qualquer coisa era só avisar que ele providenciaria. Meu sotaque francês falando inglês denunciou que eu era estrangeira e só torcia pra que ele não quisesse me dar algum golpe ou algo do tipo.
  - Chegamos, Luxy! – Sorri sem nem acreditar que estava mesmo ali. Deixei meus sapatos na areia e a bolsa em uma das cadeiras.
  - Quero nadar! – Ela também soltou os chinelos e pulou, se apressando para tirar o vestidinho.
  - Deixa eu te ajudar com isso... – A livrei da peça de roupa, mas a segurei antes que pudesse fugir. – Mas você tem que me esperar! Sua mãe me mata se algo acontecer com você.
  - Anda logo! – Me apressou.
  - Já to indo!
  Ri, tirando a minha camiseta e partindo para o short jeans em seguida. Alguns olhares que recebi ao fazer isso me fez questionar se a dieta e exercícios que vim fazendo sofreram efeito ou se a minha pele branca demais era tão óbvia assim se comparada aos corpos bronzeados das mulheres ao meu redor. Sem querer ficar mais tempo ali para descobrir, olhei para a minha irmã, falando que quem chegasse por último seria a mulher do padre. Já dá pra imaginar a carreira que ela deu em direção à água. A deixei ir na frente, mas não fiquei pra trás por muito tempo, partindo no mesmo caminho. Meus pés afundavam na areia, me fazendo ser mais lenta do que o esperado. Apesar disso, a sensação era maravilhosa. O Sol queimando a minha pele, o sal do mar sendo assoprado para os meus cabelos... Aquilo sim era um verão de verdade.
  - Ganhei! – Lux comemorou ao parar de correr quando a água azul do mar chegou aos seus joelhos. – é a mulher do padre!
  - Não sou não! – Fiz bico e a acompanhei, me abaixando para jogar um pouco de água na menina.
  - Paaaaara! – Riu e tentou fazer o mesmo que eu, mas acabava se molhando mais do que a mim. – Ai...
  - Caiu, baby girl? – Ri ao observá-la cair de bunda na água. – Quer ir mais pro fundo?
  - Quero! – Esticou as mãos para que eu a levantasse. – Você sabe nadar?
  - Sei sim... – Respondi assim que começamos a andar mais para o fundo. A maré estava calma, então as ondas que batiam nos meus calcanhares eram bem fracas.
  - Eu não sei.
  - Mas você vai aprender logo, eu tenho certeza! – Parei de caminhar quando meu joelho já estava submerso e a água batia na metade da barriga de Lux. – Sabe quem também não sabe nadar?
  - Quem? – Ela perguntou e eu me sentei na água, sentindo o meu corpo ser instantaneamente refrescado.
  - Zayn! – Ri, segurando-a nas mãos para que pudesse se abaixar com segurança.
  - Mas ele já é grande! – Tentou sentar também, mas parou quando o nível do mar bateu em seu pescoço. – Eu sou pequenininha.
  - É sim, você é desse tamanho aqui. – Juntei o polegar e o indicador, mostrando o tamanho que ela era.
  Paramos de conversar quando Lux começou a querer mergulhar. Ela tapava o nariz com a mãozinha e fechava os olhos com muita força, temendo que eles ardessem. Ainda segurando uma das mãos da mais nova, a ajudava a voltar para a superfície depois que ela mergulhava. Logo nós duas mergulhamos ao mesmo tempo e era uma delicia sentir o meu corpo inteiramente molhado por aquela água fria, mas que caia perfeitamente com o clima quente de Los Angeles. A nossa volta, pessoas brincavam, nadava, e se divertiam. Mais para o fundo, outros se aventuravam a pegar ondas. Uns se dando bem, mas outros falhando miseravelmente. Eu com certeza seria uma dessas a falhar e só esperava não pagar um mico muito grande.
  Cansada de ficar ali na água e já querendo se distrair com outra coisa, Lux pediu para ir brincar na areia. Obedecendo-a, saímos da água e caminhamos de volta para a nossa “barraca”, sem correr dessa vez. Ela se sentou na areia e me fez fazer o mesmo. Não tínhamos nenhuma pá ou brinquedo de praia, mas fizemos o melhor que pudemos com as nossas próprias mãos. Enquanto Luxy fazia um castelinho de areia meio deformado, eu me concentrava em procurar um tesouro dentro do buraco que estava cavando. Não sabia mais que horas eram – principalmente por ainda estar meio avoada por conta da troca de fuso horário -, porém, sabia exatamente quem eram os dois meninos que se aproximavam por trás de nós e enfiaram duas pranchas de surf ao nosso lado; uma sendo maior que a outra.
  - Cachorrinho! – Lux apontou para o cachorro branco que Wes e Keath trouxeram com eles.
  - Ei, coisa fofa! – Sorri quando o pequeno se aproximou para me cumprimentar.
  - Sampson gosta de você. – Keaton foi o primeiro a falar, já indo cumprimentar a pequena ao meu lado. – E quem é essa princesinha?
  - Essa é a minha irmã Lux. – A apresentei, levantando a tempo de observar Wes tirar a camisa. – Você está mais forte do que eu me lembrava!
  - E você está loira! – Ele riu, me puxando para um abraço.
  - Não estou! – Ri. – É a luz.
  - O que você está fazendo aqui do outro lado do mundo? – Wes perguntou. Aparentemente Keaton tinha se distraído muito com a minha pequena.
  - Os meninos estão aqui pra divulgar a banda e tal. Daí eu aproveitei e vim passar algum tempo nessa terra quente! – Expliquei.
  - Ah, nós os ouvimos na rádio semana passada, lembra? – Falou para o irmão, que mal ouviu. – Acho que perdemos os dois.
  - Lux sempre gosta de ter alguém da idade dela pra brincar. – Alfinetei e fiz Wesley rir. – Aliás, não sabia que cachorros eram permitidos aqui.
  - Se forem pequenos, são sim. – Falou ao se espreguiçar, olhando para o cachorro branco que relaxava embaixo do guarda-sol.
  - Ele é muito fofo! – Sorri, desejando que estivesse ali também. – O meu ficou em casa. Tenho um Husky Siberiano.
  - Huskys são bem legais também! – Keath comentou. – São tão elegantes e majestosos...
  - O meu é um bobão desastrado. – Afirmei e olhei para as pranchas. – Vou aprender a surfar, é?
  - Eu não poderia deixar você vir até a Califórnia e não prender a surfar. – Wes colocou as mãos na cintura de forma mais máscula do que isso soa e sorriu pra mim.
  - Então vamos para a água! – Comemorei com uma dancinha esquisita e rápida, sem nem me importar com os olhares que a minha infantilidade atraía. Antes que eu pudesse ir em direção o mar, o menino me impediu. – O que foi?
  - A primeira fase da aula é na areia. – Explicou enquanto colocava a prancha menor deitada na nossa frente.
  - Weeeee. – Pulei em cima da prancha e fingi estar surfando sobre ela. – Viu? É fácil.
  - ficou doida. – Lux riu, ainda brincando com Keaton e Sampson.
  - Hey! – Cruzei os braços.
  - Vocês passaram protetor solar? – O mais novo perguntou.
  - Antes de sair do hotel... – Respondi e os olhei. – Ela está ficando vermelha?
  - Rosada. – Riu.
  - Tem mais dentro da minha bolsa... Pode passar nela, por favor?
  - Yep.
  - Obrigada. – Sorri, me virando para o irmão mais velho. – Vamos começar? Vou te mostrar como sou boa em cima de uma prancha!
  - Quero ver você dizer isso daqui a meia hora.

+++

  Wes estava certo, porque eu não voltei a repetir aquilo. Se muito, disse exatamente o contrário. Surfar era mais difícil do que parecia, acredite. Não que eu esperasse pegar o jeito em um dia só, mas tinha esperança de ao menos conseguir ficar de pé! Depois da nossa sessão na areia, finalmente consegui arrastar Wes até a água. Ele não pegou a outra prancha, mas me acompanhou a nado mesmo. Na minha primeira tentativa de pegar onda, consegui chegar até a areia ainda em cima da prancha, mas aparentemente estar deitada sobre ela não conta. Na quarta vez, pelo menos, dei conta de ficar de quatro. Não foi uma cena muito bonita de se observar – ou talvez bonita demais, se é que me entende – e algumas pessoas já começavam a se envolver e torcer por mim quando eu chegava nas margens. Demorei mais umas duas tentativas pra conseguir ficar de joelhos, mas esse foi o máximo que eu consegui antes que a minha sessão de quedas começasse. Ao menos era gostoso sentir a temperatura da água na minha pele que já começava a queimar.
  Uma coisa que descobri sobre os paparazzis de Los Angeles... Eles respeitavam mais o espaço das pessoas do que os de Londres. No começo, uns dois fotógrafos apareceram e imaginei que estivessem tirando fotos da paisagem, mas comentário “Como eles nos acharam aqui?” que Wes soltou enquanto ainda estavam na água fez a minha inocência ir embora. Eventualmente outros começaram a se juntar aqueles primeiros e quando fui perceber, todo lado que eu conseguia olhar estava repleto por esses “profissionais” que podem ser muito irritantes as vezes. Pelo lado bom, nenhum deles ficou em cima de nenhum dos integrantes do Emblem3 o que também serviu pra mim.
  - Desculpe por isso... – Wesley comentou ao meu lado quando os paparazzis tiravam fotos nossas ao sair do mar; ele carregando a prancha que eu usara até então.
  - Está tudo bem. – Sorri, já estando acostumada com aquele tipo de atenção. – Só espero que a sua namorada não fique com ciúmes.
  - Não tenho namorada. – Deu de ombros, batendo com a ponta da prancha na minha bunda de propósito, me causando risadas.
  - Então espero que o meu namorado não fique com ciúmes... – Pela primeira vez desde que ligara para Wesley no elevador comecei a pensar naquele pequeno detalhe. “Bem, acho que não adianta me preocupar com isso agora, certo?” Com aquele pensamento em mente, corri o resto do caminho até a minha barraca. – Viu a sua irmã surfando, Luxy?
  - Vi você caindo! – Gargalhou, tirando uma com a minha cara.
  - Engraçadinha. – Sentei embaixo do guarda Sol e a puxei para o meu colo, atacando-a com cócegas.
  - Para, paaaaaaaaaaaara! – Pedia em meio a risadas, mas não a obedeci até ver o canto da sua boca sujo de chocolate.
  - O que é isso, mocinha? – Perguntei quando ela já estava de volta na areia.
  - Ops. – Cobriu a boca com as mãozinhas.
  - Ela nos descobriu, Lux. – Keath bagunçou o cabelo loiro da menina. – Eu dei um sorvete pra ela, , espero que não tenha problema.
  - Problema algum! Eu tinha prometido a ela que tomaríamos sorvete, mas esqueci... – Fiz um meio bico e olhei para Wesley que cumprimentava meninas que não paravam de chegar desde que eu me sentara. – Fiquei distraída e culpo o seu irmão.
  - Ele desperta isso nas garotas. – Keath comentou e percebi o possível duplo sentido na minha frase.
  - Não foi isso o que eu quis dizer... – Tentei me corrigir, mas era tarde. Keaton levantou e foi até o irmão. – Será que eu fiz algo errado?
  - Você mexeu no que não devia? – Lux ainda me escutava.
  - Huh? – A olhei enquanto começava a fazer carinho no cachorro branco que se escondia embaixo de uma das espreguiçadeiras.
  - Mummy sempre diz que é errado mexer no que não deve...
  - Não conta pra ninguém, tá? – Ri, brincando. – Quer dar mais um mergulho?
  - Tenho uma idéia melhor. – Keath havia retornado, dessa vez trazendo Wes.
  - Porque não vamos todos surfar? – O mais alto sugeriu.
  - Claro! Porque não deixo a minha irmã que não sabe nadar subir em cima dessa prancha que quase me afogou? – Perguntei irônica.
  - Por favoooooor, . – Lux já levantara e tentava me convencer. Para ela tudo era seguro.
  - Não estou falando pra ela ir sozinha! – Wes pegou a prancha grande que estivera largada desde então e a segurou embaixo do braço direito. – Essa aqui, é chamada prancha de SUP.
  - Sup? Tipo... Suuup, dude? – Imitei o sotaque americano da melhor forma que pude, mas, assim como no surf, falhei miseravelmente e só provoquei risadas.
  - Não, dude. – Wes esticou a mão na minha direção. – Stand Up Paddle. SUP. Eu vou em pé, remando... E vocês, princesas, vão sentadas. Prometo que vou devagar.
  - Nesse caso... – Sorri e segurei a mão dele, sendo puxada do chão. – Vamos Lux?
  - Eu levo ela. – Keath parecia ter gostado mesmo dela, pois logo a carregou.
  - Quando eu tento carregá-la, a menina quase tem um chilique! – Comentei, reprovando a minha irmã com o olhar. – Acho que é um padrão... Lux também é louca pelo Harry.
  - Ela sabe do que gosta, desde cedo. – Wes riu. – Vem, Sampson!
  Nós cinco – o que também incluía o cachorro – fomos andando em direção ao mar azul. O fuzuê causado pelos dois meninos tinha diminuído bastante, mas algumas pessoas ainda os fotografavam ao longe, provavelmente me pegando em alguma das fotos. Eu teria me preocupado por estar só de biquíni se não estivesse em um país completamente longe do meu e de todo mundo que me conhecia. Ao menos essas fotos não teriam como chegar aos olhos do meu pai. Sem falar que Los Angeles tinha esse toque de liberdade que contagia qualquer um.
  Quando a água bateu em meus joelhos, Wesley deitou a prancha na água e desamarrou um remo que ficava preso embaixo dela. O pobre cachorro vinha nadando atrás de nós e foi o primeiro a subir naquela prancha. Ele logo se sacudiu e espirrou água em todos que estavam por perto. Segurando a prancha para que ela não virasse, o mais alto me ajudou a sentar na parte da frente. Keath logo me entregou Lux, que quis ficar sentada na minha frente e não no meu colo; como planejado. Deixei que ela fizesse como queria, mas a segurei pela cintura. Wes ficou de pé atrás de mim e começou a remar enquanto Keath voltava para a areia para pegar a prancha que estava sobrando.
  - Prontas para a aventura? – O menino atrás de mim perguntou.
  - Siiiiiiim! – Lux bateu palmas.

Chapter III

- Baby, tem certeza que não quer vir?
  Eu tentava convencer meu namorado a levantar da cama antes das nove horas da matina, o que já sabia ser um caso perdido. Mas não podia culpá-lo, afinal, era a primeira manhã de folga que ele teria em longos meses de trabalho duro. Harry e Niall, por outro lado, já estavam de pé e me esperavam do lado de fora do quarto enquanto eu trocava de roupa. Segunda feira não costuma ser um dia muito agradável, mas quando se está de férias qualquer dia parece sexta-feira. Louis, Rachel, Liam e Lux também saíram da cama cedo e foram fazer compras em um shopping próximo ao nosso Hotel. Diferente deles, eu e os dois garotos que me aguardavam pretendíamos curtir as acomodações daquele lugar. Segundo Paul – que já estava na piscina – uma aula de aeróbica começaria em dez minutos e Haz estava louco para participar.
  - Só vou dormir mais algumas horas... – Resmungou sonolento, me olhando terminar de me arrumar. – Logo encontro vocês lá embaixo.
  - Tente não demorar. – Fiz um bico e me ajoelhei no chão, ao lado dele. – Ainda sinto a sua falta, Malik.
  - Vamos passar o resto do dia juntos, prometo. – Sorriu sincero e admito que senti muita vontade de me aninhar embaixo das cobertas com ele. – Se cuide, Anjo. E não deixe ninguém ficar te olhando.
  - Vou me cuidar, mas como não deixarei ninguém me olhar? – Ri, encostando a cabeça no ombro dele. – Se você estivesse lá, pra me proteger...
  - , ANDA LOGO! – Niall gritou da porta.
  - JÁ VOU! – Gritei de volta e me virei para o moreno preguiçoso. – Tenho que ir, ou serei afogada quando chegarmos à piscina.
  - Ou pode ficar aqui na cama comigo, segura e confortável... – Me tentou com um sorriso travesso.
  - Talvez mais tarde. – Pisquei e colei nossos lábios em um beijo de despedida.
  Me levantei e corri em direção à porta, tentando ignorar os chamados de Zayn. Se ele preferia ficar na cama ao invés de aproveitar aquele novo país, teria que ficar sozinho, porque eu com certeza iria. Peguei a minha bolsa na mesinha de canto e coloquei os óculos escuros no rosto. Quando cheguei no corredor, dei de cara com dois garotos já sem camisa e bermuda de banho. Niall ria de alguma coisa que Harry contara e esse segundo parecia bem vermelho. Envolvi os dois pelos ombros e tive que ficar na ponta dos pés para conseguir caminhar entre os dois. Niall até que não era TÃO mais alto que eu; mas Harry era gigantesco. Enquanto íamos na direção do elevador daquele andar, me senti curiosa demais pra não perguntar nada.
  - Qual é a graça, Nillo? – Questionei.
  - Conta pra ela, Harry. – Gargalhou mais alto ainda.
  - Diga-me, Stylo. – O olhei.
  - Harry recebeu reclamações do quarto vizinho! – Niall entrou na frente antes que o de cabelos cacheados pudesse falar qualquer cosa.
  - Por que? – Arqueei uma sobrancelha, soltando os dois para chamar o elevador.
  - Porque estávamos fazendo muito barulho... – Haz respondeu. – Ligaram da portaria, falando que receberam reclamações por estarmos pulando na cama, fazendo com que a cabeceira ficasse batendo na parede que dava para o quarto do lado...
  - Eeeeeeew. – Fiz uma careta ao imaginar o que o meu irmão e ele poderiam estar fazendo pra causar tanto barulho assim. Niall riu ainda mais da minha reação.
  - Imagine se os dois caem da cama?! – O loiro falou, absorto do que havia realmente acontecido.
  - Ni, você sabe que eles não estavam “pulando” na cama, certo? – Perguntei assim que a porta do elevador abriu e ele me olhou confuso. – Tão inocente!
  Harry foi o primeiro a entrar e o segui após pular no pescoço de Niall e o abraçar. O irlandês era tão especial! Mais uma vez a capacidade dele de ver as coisas pelo lado mais inocente me surpreendeu. Apertamos o botão para o subsolo, que era onde a piscina estava instalada, e mais uma vez olhei para o panfleto do Summer Fest preso ao pequeno quadro de avisos. Os meninos acabaram seguindo o meu olhar e também pareceram bem interessados com aquele evento. Antes que pudéssemos comentar qualquer coisa, o elevador voltou a abrir para que pudéssemos sair. Eu nunca havia estado naquele andar antes, pois era um abaixo do lobby do Hotel. Apesar disso, não ficava escondido como se fosse um estacionamento ou coisa assim. O lugar era todo aberto e praticamente ao ar livre. De um lado estava o caminho para o restaurante e do outro, as salas de reunião e festas.
  - Acho que o café da manhã ainda está aberto... – Niall comentou, já caminhando para o lado do restaurante.
  - Traga algo pra mim! – Pedi, mas duvidava que fosse ser atendida.
  - Então somos só nós dois? – Haz me envolveu pelos ombros e passei um braço em volta da cintura dele.
  - Creio que sim, cunhadinho. – O olhei sorrir com aquele apelido. – Então você e Lou estão mesmo arrasando?
  - ... – Arrastou o meu nome, ficando claramente corado. Ele ia indicando o caminho até a área da piscina e eu apenas o acompanhava.
  - Ok, não precisa responder. Eu não gostaria de saber dos detalhes mesmo... – Comentei a última frase um pouco mais baixa, mas ainda assim fui escutada. – Só fico feliz que vocês estejam felizes.
  - Quem não está muito feliz com isso é o Marco. – Olhou para baixo. – Ele acha que se admitirmos o nosso namoro claramente, podemos perder público...
  - Nem tudo é só “público”, “público” e “público”! Ele tem que entender isso. E eu acho que é besteira...
  - Mas nós estamos bem, , só com nossos amigos íntimos e familiares sabendo... Você conhece o seu irmão. Eu sou bem mais aberto pra isso do que ele.
  - Ele te ama, Haz. – Disse com um pequeno sorriso assim que chegamos à área da piscina.
  - E eu o amo. – Também sorriu. – Vem, o Paul está ali...
  Olhei na direção que um homem extremamente forte e grande acenava com um sorriso infantil. Ele estava dentro da piscina enorme e cristalina que brilhava com o reflexo do Sol. Na ponta do fundo, uma cachoeira artificial divertia criancinhas que brincavam por ali. Aos redores da piscina, várias espreguiçadeiras brancas com guarda-sóis maiores ainda davam conforto para quem quisesse deitar ali; tanto para se bronzear ou apenas relaxar enquanto aproveitava os drinks que garçons distribuíam. Uma música com cara de verão também embalava o lugar. Mais a frente, do lado de fora do hotel, tínhamos uma visão privilegiada da praia Venice. Harry e eu seguimos até umas cadeiras que Paul reservara para nós.
  - Harry, a aula de aeróbica já vai começar! – Paul gritou da piscina, apontando para a salva-vidas que se aquecia em uma das bordas e chamava as pessoas para se juntarem a ela.
  - Estou indo! – O menino tentou correr para a piscina após tirar seu chinelo, mas o segurei pelo pulso.
  - Não vai a lugar nenhum antes de passar protetor solar! Não quero que vire um camarão. – Informei e ele fez bico como uma criança mimada. – Não faz essa cara, Harold! Sua mãe pediu pra que eu cuidasse de você.
  - Eu não sou um bebê. – Continuou reclamando enquanto eu pegava o protetor solar na minha bolsa.
  - Você pode ser maior que eu, mas ainda sou a mais velha aqui. – Mostrei a língua, não fazendo muito jus àquela minha afirmação. – Fique quieto e serei rápida!
  Curly me obedeceu, ficando parado como uma estátua. Literalmente... Uma estátua. Ele fez uma pose de modelo e deixou que eu espirrasse o protetor solar em seu peito e abdome tatuado. Se estivesse ali, ela faria piadinhas de que eu estava me aproveitando do corpo firme de Harry, mas nós dois sabíamos que não era verdade. Além de nós dois termos namorados, nosso relacionamento não passaria nunca do sentimento de irmãos. Tirando aquele beijo que trocamos no último natal, nada tão íntimo chegaria a acontecer. Eu era apenas uma irmã mais velha cuidando do pequeno. Sim, usei a palavra “pequeno” aqui de forma totalmente figurativa, já que ele era bem maior que eu. O fiz virar de costas e também espalhei protetor ali e em seu rosto. Ninguém ficaria vermelho sobre a minha vigilância!
  - Quer passar também, Paul? – Ofereci para o guarda-costas. – Aproveita que as minhas mãos ainda estão meladas.
  - Obrigado, . Já passei. – Fez sinal de ok com a mão e correu assim que Harry ameaçou pular em cima dele.
  - Geronimooooooooo. – Harry pulou onde Paul estivera segundos antes e espirrou água nos meus pés.
  - Crianças. – Balancei a cabeça.
  Parando de observá-los brincando de quem afogava quem primeiro, tirei os sapatos antes de tirar o vestidinho branco que me cobria. Deixei-os junto da minha bolsa na mesinha ao lado da cadeira em que deitaria. Aproveitei para espalhar o resto do protetor solar das minhas mãos pelos meus ombros e rosto. Em seguida, usei um pouco de bronzeador só pra dar uma ajudinha aos raios de sol. Não pretendia ficar marrom bombom, mas gostaria de voltar pra Londres com uma cor menos pálida que a minha natural. A minha fase cor-de-rosa passara depois da praia que peguei com Lux, Wes e Keath no sábado, então era hora de arrasar no bronzeado. Limpei as minhas mãos oleosas em uma toalha branca do hotel que estava ali por cima e deitei confortavelmente, com meus olhos ainda protegidos da luz soltar pelos óculos escuros. Antes de me concentrar totalmente na calmaria e relaxamento, peguei o celular para ligar para uma garota não tão relaxada e calma assim.
  - Ainda lembra dos velhos amigos? atendeu, me fazendo rir. – O mar e o Sol ainda não te mudaram?
  - Ai, como eu sinto a sua falta! – Admiti. – Só queria que você estivesse ao meu lado agora.
  - E onde você está?
  - Na piscina... Tomando Sol... Respirando a maresia que vem do outro lado da rua... – Me gabei, sabendo que ela reclamaria.
  - E sabe onde eu estou? Na sua casa! – Me informou. – Continue passando as suas férias na minha cara e não garanto que o seu quarto vá estar como você o deixou quando você chegar!
  - Ok, parei! Mas você iria amar estar aqui. – Apoiei os pés na espreguiçadeira, ficando com os joelhos levemente dobrados.
  - Quem sabe uma outra vez, né? – Senti o pesar em sua voz. Se ela ainda estivesse namorando Niall, com certeza teria vindo junto comigo. – Mas sabe quem está aqui comigo, deitado ao meu lado?
  - , não me diga que você levou algum homem para a minha casa?! – Reclamei, fechando os olhos com força para não imaginar. – E se for aquele Benjamin...
  - Estou te enviando uma foto do meu encontro de hoje a noite! – Ela falou e escutei o barulho de uma mensagem chegando no meu celular.
  - Posso estar com medo de olhar... Espera aí. – Ri baixo ao tirar o telefone da orelha e abrir a mensagem, dando de cara com uma foto de . – Meu Bo!
  - Isso mesmo, mummy. Estou cuidando do seu filho enquanto você e o pai dele saem em lua de mel!
  - Awn, eu estou com saudade do meu bebê. Como ele está? Tem comido direito?
  - Até parece que ele não comeria direito, né? Dora tem feito cada coisa gostosa pra ele... Fico até com inveja. – Gargalhou. – Mas ela me disse que ele só consegue dormir na sua cama e depois que ela coloca alguma roupa sua pra ele cheirar.
  - Ok, estou indo buscar ele agora mesmo! – Fiz bico.
  - OI, ! – Uma voz feminina gritou do outro lado da linha.
  - Liv está aí também? Mande um beijo pra ela.
  - POR FALAR EM BEIJO! – Foi a vez de gritar, me fazendo afastar o telefone da minha orelha. – O convite do casamento da sua mãe chegou hoje! O meu e o de Liv também. Só tenho uma palavra pra você, minha querida, LU-XO.
  - Vai ser muito lindo mesmo... – Sorri, lembrando de todos os planos que minha mãe e Dan tinham feito para esse casamento.
  - Casamentos normais duram um dia só... Mas o da sua mãe vai durar três! – Ela comemorou. – Não acredito que vou passar três dias em Paris!
  - Não é o casamento que vai durar três dias, ruiva... Mas entendo a sua animação. – Até porque, eu também estava animada com isso. – Sabe quem vai estar lá também, não sabe?
  - Sei sim! Seus primos gatinhos que você vai ter que me apresentar!
  - Como você gosta de loiros, tenho um amigo irlandês pra te apresentar... – Que, aliás, estava vindo na minha direção com dois abacaxis em mãos.
  - Vou fingir que nem escutei isso, Tomlinson. – Bufou. – Vou até desligar depois dessa... Liv quer falar com você, mas sou chata e não deixo! Um beijo, meu amor. Vá aproveitar a sua piscina!
  - Vocês duas também aproveitem, porque meu condomínio ainda tinha piscina quando eu saí daí. E cuidem do meu !
  Encerramos a ligação antes que Niall se sentasse na espreguiçadeira ao meu lado. Eu não queria tocar no nome de e estragar aquele clima tão bom que estava nos rodeando aquela manhã. Não sei se o loiro chegou a comer algo no restaurante, mas logo me entregou um dos abacaxis que carregava. Admito que fiz uma cara bem engraçada ao ver aquela coisa sem saber se era comida, bebida, sobremesa ou prato principal. Segurei o meio abacaxi que formava uma espécie de copo. Eu podia sentir que ele estava recheado por um líquido colorido e o topo era coberto por vários pedacinhos de fruta; como manga, morango, uvas verdes e kiwi. Niall então, adicionou um canudo ao topo do meu café da manhã.
  - É pra comer ou pra beber? – Perguntei ao usar o canudo cor de rosa para mexer o conteúdo.
  - Acho que é um pouco dos dois. – Deu um gole e em seguida caçou um pedaço de manga para comer.
  - Hm, nada mal... – Comentei após dar o primeiro gole no líquido. Acho que era um suco resultado da mistura de todas as frutas que estavam ali dentro.
  - Harry estava falando sério mesmo... – Niall apontou para o único jovem entre tantas senhoras que aproveitavam a aula de aeróbica.
  - As vezes ele esquece que só tem dezenove anos. – Ri após engolir um pedacinho de morango e voltei a olhar para o menino ao meu lado. – Hey, Ni... Sabe o que vamos fazer hoje?
  - Ouvi Liam falando que sabe de um Lual hoje a noite...
  - Legal! – Sorri. – Mas ainda queria fazer algo mais turístico.
  - Tipo andar por aí com uma máquina fotográfica no pescoço e camisa floral?
  - Se for preciso! – Gargalhei imaginando nós seis andando por aí com essas roupas típicas de turistas. – Mas falo sério! Não quero voltar pra Londres sem ter andado por Beverly Hills, ou sem ter visto a placa de Hollywood.
  - Porque não pede aos seus amigos americanos pra te levar em um tour? – Fez uma careta após falar.
  - Não acredito nisso, Niall Horan! Tudo bem se o Zayn ficar com ciúmes do Wes e do Keath, mas você não. – Reclamei antes de dar mais um gole no meu super-abacaxi recheado.
  - Você é a única mulher da minha vida, , e eu já tenho que te dividir com mais quatro caras... – Falou como se realmente acreditasse naquilo. – Não preciso de mais concorrência.
  - Por que será que eu sou a única mulher da sua vida? – Deixei meu café da manhã preso entre as minhas pernas para que eu pudesse cruzar os braços e encará-lo. – Você tinha uma namorada antes? Eu não me lembro direito... O que aconteceu mesmo?
  - Já provou esse kiwi? Eu achei que era doce, mas é bem azedo... – Mudou de assunto e me fez bufar.
  - Ugh, que vontade de bater em vocês dois! – Falei mais comigo mesma do que com Niall.
  Eu já devia saber que não adiantaria continuar batendo naquela mesma tecla, pois nenhum dos dois iria me contar o que causou o término do namoro. Se eu quisesse descobrir o que houve, teria que encontrar outra forma de abordar aquele assunto. O loiro terminou de comer as suas frutas e correu direto para a água. Não tive tempo de pedir pra ele passar protetor solar, pois ele foi mais rápido e eu ainda sabia que era feio falar com a boca cheia. Acabei deixando pra lá apenas enquanto eu terminava de beber o meu suco e caçar pedacinhos de morango que viviam fugindo de mim. De vez em quando eu olhava para Harry na sua aula de aeróbica e para Niall e Paul brincando de tubarão, mas o que chamou a minha atenção naquele momento em especial foi quando a parte feminina que se encontrava naquela área encarou um ponto exato ao mesmo tempo.
  Curiosamente, segui a mesma direção que elas. Foi então que eu vi o homem mais lindo que já vira na vida. Para ser sincera, nunca vi alguém mais digno de suspiros do que ele. O menino de cabelos escuros e bagunçados parou na entrada daquela área e tirou a camisa, pendurando-a sobre o ombro. Arrumou os óculos Ray Ban sobre o nariz e pareceu escanear a multidão a procura de alguém. Parecendo encontrar quem queria, o deus grego caminhou em câmera lenta, atraindo cada vez mais olhares na sua direção. Mordi o lábio inferior inconscientemente, protegida pelos meus próprios óculos de ser notada enquanto quase o comia com os olhos.
  - Esse lugar está ocupado? – O menino perguntou, apontando para a espreguiçadeira ao meu lado.
  - Na verdade, está sim. – Respondi com um sorriso travesso, colocando o meu abacaxi vazio na mesinha ao lado da minha cadeira. – Mas eu divido esse aqui com você.
  - Melhor ainda. – Zayn riu enquanto eu dava espaço para que ele se juntasse a mim na espreguiçadeira.
  - O que você está fazendo aqui? A camareira entrou no quarto por acidente de novo? – O puxei para um beijo caloroso, matando qualquer uma de inveja.
  - Acontece que eu percebi que sinto mais saudades de você do que de dormir. – Sorriu, deixando que eu me encostasse ao seu corpo. Logo ficaríamos com calor, mas ninguém se importava. – E também fiquei pensando em você sozinha aqui... Quase sem roupas...
  - Veio ficar de olho em mim, então? – Levantei a sobrancelha.
  - Da última vez que te deixei sozinha, você arrumou dois americanos pra te ensinar a surfar. – Senti um tom de reclamação em sua voz. – Não quero que tentem te ensinar a fazer respiração boca-a-boca agora.
  - Mais um pra reclamar disso hoje?! – Exclamei e Zayn riu, mesmo sem saber do que eu falava. – Não podemos simplesmente curtir um dia no sol?
  - Hey, ! – Alguém me chamava na piscina. – Acha que damos conta desses dois?
  - Tenho certeza! – Ri ao ver que Paul apontava para Niall e Harry; sendo que o primeiro estava sentado nos ombros do seguindo.
  - Vai lá, babe... – Zayn me encorajou a ir brincar depois de ver que eu não me mexi.
  - Mas e você? Vai ficar sozinho aí?
  - Eu posso sentar na borda, com os pés na água... – Fez um biquinho fofo. – Ou posso procurar as bóias de braço da Lux lá em cima...
  - Com certeza elas ficariam lindas em você! – Brinquei, mas acabei levantando.
  - Me deixe orgulhoso.
  Ao falar aquilo, Zayn deu um tapinha na minha bunda que me fez gargalhar. Tirei meus óculos escuros para que ele guardasse na minha bolsa, mas ao invés disso os colocou sobre a própria cabeça, bem orgulhoso de si mesmo por estar usando dois óculos ao mesmo tempo. Sim, Zayn podia ser idiota, mas era o meu idiota. Corri o resto do caminho até a piscina e soltei um pequeno gritinho ao pular na direção da água. Com o meu impacto, sei que levantei algumas ondas que molhariam qualquer pessoa desavisada que passasse por perto naquele instante. Se fosse em Londres ou no meu condomínio, as dondocas teriam reclamado, entretanto, o clima em L.A. era tão tranqüilo que qualquer um podia fazer o que quisesse e não iria incomodar ninguém.
  - Estão prontos pra perder? – Niall falou enquanto praticamente dançava sentado nas costas de Haz.
  - Estamos prontos pra ganhar! – Mostrei a língua pra eles e senti duas mãos segurando a minha cintura e me levantando como se eu fosse um pedacinho de algodão. – Woooow...
  - Desculpa, , te assustei? – Paul me colocou em suas costas, sem o mínimo de esforço.
  - Você está me assustando agora, porque eu não sabia que era tão forte! – Ri e me acomodei ali. – Mas vamos ensinar uma lição à esses meninos!
  - Quem fala “já”? – Harry perguntou embaixo de Niall.
  - JÁ! – O homem embaixo de mim foi quem gritou.
  No final das contas eu acabei gritando também, mas meu grito foi mais de diversão do que tudo. Harry e Paul investiram um contra o outro e Niall veio na minha direção. Ele tentou atacar as minhas costelas, já conhecendo o meu ponto fraco, mas fui mais rápida e agarrei as suas mãos. Quanto mais ele tentava se soltar, mais eu o empurrava para trás, na esperança que isso causasse a sua queda. Harry percebeu a minha tática e começou a andar para trás, me dando duas únicas alternativas: a) Soltá-lo. Ou b) Cair pra frente e perder a batalha. Paul segurava nos meus joelhos, por isso me deu apoio quando escolhi a opção letra ‘a’ e soltei nossos oponentes.
  - Acaba com eles, ! – Zayn torcia sentado na borda da piscina, já sem nenhum óculos na cabeça.
  - Estou tentando! – Respondi sem tirar os olhos de Niall, evitando qualquer distração. – Por que está tão longe, Harry?! Está com medinho?
  - Não! – Respondeu, mas continuou em uma distância segura.
  - Está sim! Não quer perder pra uma garota e para um velho? – Coloquei as mãos na cintura, provocando-o.
  - Hey! – Paul reclamou abaixo de mim.
  - Sem ofensas, Pauly! – Fiz um pequeno carinho na cabeça do segurança. Eu não quis chamá-lo de velho, apenas estava provocando nossos oponentes.
  - Sei. – Fez careta.
  Quase não vi quando Niall se jogou na minha direção, mas Paul foi mais rápido e se esquivou, causando um pequeno desequilíbrio em Harry, que quase tropeçou. Dei uma ajudinha e terminei de empurrar o loiro enquanto o meu parceiro dava uma rasteira no de cabelos cacheados. Aquela manobra super ensaiada causou a queda dos dois e a minha vitória. Paul e eu comemoramos com uma volta semi-olímpica pela piscina, pois no meio do caminho eu acabei caindo de costas e voltando para a água. Harry e Niall brigavam entre si, querendo decidir quem levaria a culpa daquela derrota terrível e Paul se aproximou só pra ter certeza de que nenhum deles acabaria quebrando o nariz do outro. A profissão do segurança se assemelhava bem com a de uma babá, porque ele não podia descansar nem naqueles momentos de lazer.
  Zayn ainda estava sentado na borda, balançando os pés como uma criancinha e usando as mãos em forma de concha pra pegar água e jogar sobre o seu corpo. Ele devia estar morrendo de vontade de entrar na água, mas um pequeno detalhe o impedia. Mergulhei até estar submersa e abri os olhos ali embaixo. Apesar da minha visão embaçada, sabia exatamente o caminho que devia seguir e nadei até o meu namorado com um fôlego só. Ao levantar, fiquei entre as pernas dele e usei a borda de apoio para levantar metade do meu corpo da água e juntar os nossos lábios em um beijo surpresa. O menino riu com o susto que levou e envolveu a minha cintura com as pernas, me impedindo de voltar para a água.
  - Quer entrar? – Perguntei ao roubar mais alguns selinhos. – Essa parte aqui não é funda.
  - Tem certeza? – Soltou a minha cintura, causando a minha queda na piscina mais uma vez. O nível da água batia na altura do meu busto. – Parece bem funda pra mim...
  - Não é! – Dei um tapa no joelho do menino por ele ter me soltado tão abruptamente e só escutei suas risadas em resposta. – Você é mais alto que eu, então não vai ficar tão fundo pra você... Sem falar que eu estou aqui pra te carregar.
  - , o certo é que eu te carregue. – Ponderou, mas eu sabia que ele não negaria um pedido meu.
  - Fora da água! Dentro da água, você é o meu bebê. – Estiquei os braços na direção dele, querendo encorajá-lo. – Não confia em mim? Você deve estar morrendo de calor aí...
  - Ughhhhh. – Resmungou, mas acabou deixando a borda para trás e entrando na piscina.
  - Viu? Você alcança o chão aqui. – Sorri quando ele segurou as minhas mãos. Zayn parecia um pouco tenso, mas começaria a relaxar aos poucos.
  - Isso quer dizer que você não vai mais me carregar? – Fez um pequeno bico e pulou em cima de mim.
  Literalmente pulou em cima de mim! Foi algo bem engraçado, um homem relativamente bem maior do que eu se pendurando nos meus braços para que eu o carregasse como se fosse uma noiva. Se ele fizesse isso fora da água, nós dois teríamos caído no chão no mesmo instante, mas ali o menino estava bem leve. Eu já não sabia mais o que Niall ou Harry estavam fazendo, pois só me importava com o garoto encantador nos meus braços. Zayn me abraçou pelo pescoço e encostou sua barba mal feita na minha orelha, causando respostas imediatas do meu corpo. O arrepio misturado com um suspiro foi disfarçado por uma risada nervosa, pois eu torcia que ninguém tivesse me escutado.
  - Fez cócegas? – Se soltou dos meus braços e mergulhou para molhar os cabelos.
  - Claro... Vamos dizer que foi isso... – Ri quando ele voltou à superfície e foi a minha vez de pular em cima dele; dessa vez abraçando-o pela cintura com as pernas. – Se arrependeu de ter entrado?
  - Não mesmo. – Sorriu, envolvendo-me pelo quadril.
  - Sempre estou certa. – Passei as mãos pelos fios molhados de Zayn, inventando um penteado super maluco. Eu tinha que aproveitar, já que era a única pessoa permitida a fazer isso.
  - Está começando a parecer a ao falar isso. – Beijou o meu queixo, me arrancando novos sorrisos.
  - Por falar na ruiva... – Pousei as mãos em seus ombros quando começamos a passear pela área rasa da piscina. – Liguei pra ela hoje.
  - E como ela está?
  - Animada com o casamento da minha mãe... – Afirmei com a cabeça, fazendo uma expressão engraçada. – Muito animada mesmo. Liv também está.
  - Elas não sabem que vamos uma semana antes, certo? – Franziu o cenho, me balançando devagar de um lado para o outro como se embalasse uma criança.
  - Claro que não! – Soltei os ombros dele e deitei para trás até que meu tronco estivesse encostado na água, minhas pernas ainda bem presas a ele. – Se soubessem iam querer ir com a gente! Os meninos também não sabem.
  - Mas eles vão tirar essa folga pra passar um tempo com a família. – Explicou enquanto segurava os dois lados da minha cintura. – Liam vai pra Wolverhampton, Ni pra Irlanda e Harry vai levar Louis para Cheshire.
  - Você não quer ir pra Bradford? – Levantei o pescoço para observá-lo. – Seu pai deve estar com saudades...
  - Prefiro ficar com você. – Sorriu e senti que ele queria falar mais alguma coisa, mas se proibiu.
  - E Trisha? Já está aceitando a idéia de você se mudar? – Perguntei mesmo já sabendo da resposta.
  - Até parece que você não conhece a minha mãe. – Riu e me puxou pelos pulsos, fazendo com que voltasse a ficar com o corpo junto ao dele. – Por falar nisso...
  - Não, baby, eu não vou me mudar com você. – Falei pouco antes de juntar nossos lábios de uma vez.
  Aquele era um assunto um tanto delicado para tratar com Zayn, pois ele vivia insistindo que eu me mudasse para esse tal apartamento que ele estava querendo comprar. Não é que eu não quisesse exatamente morar com ele, mas simplesmente não podia ir para um apartamento com um Husky Siberiano que viveu a vida inteira em uma casa com espaço pra correr. Quem sabe na sua próxima mudança ele não pensava direito sobre isso e resolvesse ir para uma casa? Mas eu até que o entendia... Agora que tinha o próprio dinheiro e uma vida mais agitada como um pop-, queria ter o seu próprio canto, com as suas próprias coisas. Queria começar a sua vida própria e pra isso o seu primeiro passo seria sair de baixo das asas da sua mãe. Nada melhor pra isso do que um “apartamento de solteiro”, mesmo que a parte do “solteiro” não fosse ser tão verdadeira assim.
  - Já sei disso. – Rolou os olhos da minha teimosia e mordeu o meu lábio inferior como forma de protesto. – Quero saber se você vai me ajudar a escolher entre os dois prédios que eu mais gostei.
  - Qual deles é o mais perto da minha casa? – Arqueei uma sobrancelha.
  - Ok, acho que está decidido.

+++

  - Da próxima vez eu juro que vou primeiro! – Cruzei os braços enquanto observava Zayn voltar para o quarto com a toalha branca do hotel amarrada em volta de sua cintura.
  - Eu ofereci dividir o chuveiro, você é que não quis...
  A partir daí eu comecei a desconfiar que toda a demora de Zayn no banho foi proposital só por eu ter rejeitado o seu convite para tomarmos banho juntos. Havíamos voltado da piscina há mais ou menos duas horas e a minha barriga roncava de fome. Liam e Louis prometeram trazer o almoço quando voltassem das compras, mas estavam demorando demais. Uma batida na porta me fez levantar da cama e ir espiar no olho mágico antes de abri-la. Era apenas Harry, Lux e Niall; os três com roupas limpas e aparentemente de banho tomado. Bufei com raiva de Zayn, mas ambos sabíamos que isso não duraria muito, não é? Olhei o moreno por cima do meu ombro, constatando que ele já vestira uma bermuda cinza e apenas secava os cabelos com a mesma toalha.
  - Qual é a senha? – Abri apenas uma brecha da porta, olhando as três pessoas ali fora.
  - Trouxemos comida. – Niall mostrou as sacolas do McDonald’s que tinha nas mãos.
  - Acertaram em cheio! – Ri e abri espaço para que eles passassem.
  - , Harry comeu uma batata sua! – Lux se jogou nos meus braços e dedurou o menino.
  - Lux! Que parte de “isso é um segredo” você não entendeu? – Curly fez careta para a minha irmã e se jogou na minha cama.
  - Irmãs não tem segredo. – A pequena respondeu, me abraçando pelo pescoço.
  - Nós vamos comer todas as batatas dele! – Sussurrei pra ela, fechando a porta atrás de nós com o pé. – Shhhh.
  - O que vocês estão resmungando aí, hein? – Zayn veio cumprimentar a menina que eu carregava e ela riu pelas cócegas que recebeu.
  - Para, Zayn! – Gargalhou enquanto passava do meu colo para o dele.
  Deixei os dois brincando ali mesmo enquanto fui de encontro com Harry e Niall na cama. Fiquei sentada entre os dois e observei enquanto dividiam os sanduíches, batatas e refrigerantes de todos que estavam por ali. Pelo que entendi, Lou e Liam já haviam chegado e foram direto para o banho – coisa que eu ainda não fizera – e por isso pediram que fossemos comendo antes que eles chegassem. Rach estava com Marco, resolvendo alguma coisa da banda, e depois se juntaria a nós. Eu só torcia pra que apenas ela se juntasse à nossa pequena reunião. Assim que foi solta, Lux correu para a cama e atacou um das embalagens de batata. Se te falarem que todo McDonald’s é igual no mundo inteiro, não acredite, pois eu tenho certeza que nunca vi esse tal de “Double Quarter” em Londres.
  - Por que você não tomou banho antes de comer, ? – Niall questionou enquanto começava a devorar o seu sanduíche.
  - Eu pretendia! – Lancei um olhar mortal para Zayn, que deu de ombros como se não tivesse culpa alguma. – Mas alguém ficou enrolando no banheiro, sabe?
  - Não tenho culpa se tomo banho direito. – Zayn sentou na ponta da cama, ao lado de Lux.
  - Tem culpa se acabar com toda a água do mundo! – Reclamei.
  - Vamos parar de brigar, crianças? – Harry deu uma de adulto e joguei uma batata frita em sua cabeça.
  - ! Pode parar, não admito desperdiçar comida assim! – Niall é quem reclamou dessa vez, também recebendo uma batatada na cabeça; dessa vez vinda de Zayn. – Zayn!
  - Esses dois se merecem. – Haz nos repreendeu com o olhar.
  - Pelo menos ninguém nunca veio reclamar do nosso barulho! – Alfinetei, mordendo um pedaço do meu sanduíche em seguida.
  - Como assim? – Zayn perguntou, já que não sabia daquela história. Foi só Niall lembrar do que eu estava falando que começou a rir escandalosamente novamente.
  - Eu te conto mais tarde. – Pisquei e apontei para Lux. – Quando não tivermos crianças em volta.
  - Não é minha culpa se vocês dois não são tão bons quanto nós dois. – Harry devia estar achando que era algum tipo de competição.
  - Quem fica em cima e quem fica embaixo? – Niall perguntou normalmente, quase me fazendo engasgar com um pedaço de pão.
  - Niall! – Reclamei com os olhos bem abertos.
  - Lux não entende, , não tem problema. – Zayn também queria saber daquilo?
  - Não estou preocupada com ela! – Neguei com a cabeça, tapando os ouvidos da melhor forma que pude. – Estou com medo é que EU fique traumatizada. Lou ainda é meu irmão!
  - Nós revezamos. – Haz respondeu, ignorando meus gritinhos de nojo.
  Realmente não era a melhor imagem do mundo as posições que meu irmão e seu namorado faziam quando estavam na cama, ainda mais durante o almoço. Por outro lado, admito que sempre pensei que Harry seria o ativo... “VAMOS MUDAR DE ASSUNTO. Hm, essa batata frita está divina!” Comecei a comer as batatas uma atrás da outra, como se quisesse me distrair. Os três meninos me olhavam e riam, como se soubessem o que estava passando pela minha cabeça. A única que parecia completamente atônita daquele assunto era Lux, que de vez em quando roubava uma batatinha de qualquer um que se distraísse. Claro que nenhum de nós se importava com a pequena e fingia não estar vendo nada.
  Uma nova batida na porta chamou a nossa atenção. Pelas vozes que vinham do lado de fora, devia ser o resto da banda que terminara de tomar banho e veio para se juntar a nós. Olhei para cada um dos meninos, já sabendo que sobraria pra eu ir abrir a porta e deixá-los entrar. Aliás, deixe-me contar um pequeno detalhe pra vocês: Todos ali tinham a chave do quarto dos outros, então porque é mesmo que NINGUÉM lembrava de trazer a sua quando se tratava do quarto onde EU era a porteira? Sabendo que não adiantaria reclamar, deixei o meu almoço pela metade em cima da embalagem do mesmo e pulei para fora da cama. Corri o resto do caminho até a porta e fiz o mesmo que antes, espiando os dois novos visitantes.
  - Senha? – Arqueei a sobrancelha.
  - Temos presentes pra você. – Li levantou as sacolas que trazia.
  - Todos estão acertando em cheio hoje! – Ri e os deixei passar.
  - Que interesseira! – Zayn riu.
  - Tem pra você também, Zen. – Lou jogou um pacote da marca OBEY na direção do cunhado.
  - Mas como eu ia dizendo, é sempre bom ver os amigos...
  Quem é o interesseiro aqui mesmo? Cof Cof. Depois que Zayn ganhou o presente dele, Liam me entregou o meu próprio. Por um momento esqueci o meu almoço em cima da cama e sentei em uma poltrona pra poder abrir o pacote da Forever 21. Não tive muito cuidado ao tirar a caixinha lá de dentro, sem entender mais nada. Louis era o único que ria ao ver a minha reação. Não sei se era pra ser uma piada dos dois meninos que foram fazer compras ou se realmente houvera uma confusão na loja e os meninos trocaram os pacotes.
  - Obrigada pelas rodinhas, meninos... Mas eu não ando de skate. – Falei, levantando.
  - E obrigada pelo vestido, mas acho que essa cor não combina com os meus olhos. – Zayn brincou, esticando a peça de roupa na minha direção.
  - Você tinha mesmo que fazer isso, não é, Louis? – Liam pressionou as têmporas, sabendo do plano do meu irmão.
  - Qual é? Foi engraçado! – Lou não era mais o único a rir, já que Harry também caiu na gargalhada.
  - Obrigada pelo vestido! – Rolei os olhos para Lou, mas sorri para Li em agradecimento. – Posso usá-lo hoje a noite! Vamos ao Lual mesmo?
  - Sim! – Niall celebrou. – Uhuuuuul. Party in the USA.
  - Ni, não esqueça que você não pode beber aqui... – Cortei o barato dele enquanto guardava o meu vestido dentro do guarda roupa.
  - Por que? É porque eu sou irlandês, não é?! – O loiro parecia chocado.
  - Não, idiota. – Ri, dando meia volta em direção à cama. – É porque a maioridade aqui é vinte e um anos... Então só o Lou pode beber coisas com álcool.
  - , você não acredita mesmo que todo mundo aqui respeita isso, certo? – Zayn questionou com uma sobrancelha arqueada e eu só dei de ombros, voltando a almoçar.
  De uma forma ou de outra, com bebida ou sem bebida, iríamos à esse Lual e seria bem divertido. Lux também perguntou se podia ir e eu não quis ser a pessoa a destruir os seus sonhos, então me concentrei apenas em acabar com o meu sanduíche e batata frita. O termo pode ser fast food, mas eu demorei bastante para comer. Até porque, quando não estava rindo de alguma coisa, tinha que explicar certos costumes americanos para Niall. Não que eu fosse uma expert no assunto, entretanto, Wes havia me dado umas dicas na última vez que nos encontramos.
  Mais uma vez escutamos uma batida na porta, mas ela veio acompanhada do som de um cartão sendo arrastado pela fechadura. Mesmo sem que eu precisasse ir até lá e atender quem quer que fosse, já comecei a levantar e juntar as embalagens vazias de comida, pois todos acabaram de comer e eu não queria atrair formigas para a cama onde eu iria dormir nas próximas semanas. Uma cabeleira loira entrou pela porta e infelizmente Rach estava acompanhada pelo empresário dos meninos. Deixe-me parar um pouco aqui... Eu não odiava Marco. Apenas tinha as minhas razões para não tê-lo como a minha pessoa preferida no mundo! Algo nele não me cheirava bem. Talvez fosse o fato de eu acreditar fielmente que ele pensava que o dinheiro que a banda podia trazer pra ele era mais importante do que os próprios meninos da banda.
  - Vamos aproveitar que todos estão aqui para que possamos tratar de um assunto muito importante! – O homem começou a falar e colocou uma pastinha marrom em cima da cama.
  - E vou aproveitar pra ir tomar banho! – Informei esperando que ninguém se importasse.
  - , espere um minuto... – Marco se importou. – O assunto que tenho a tratar também lhe envolve.
  - Duvido muito. – Falei baixo, mas joguei as coisas que estavam na minha mão na lata de lixo do quarto e voltei a me sentar na cama.
  - Na verdade, o assunto é mais com você do que com eles. – O mais velho apontou para a pasta na minha frente e senti a fisionomia de Zayn ficar tensa. – Porque não me falou que conhece o Emblem3?
  - Não sabia que precisava te contar quem são os meus amigos. – Peguei a pastinha preta e tirei de lá algumas fotos.
  O empresário deixou que tirássemos o nosso tempo para analisar aquelas imagens, uma por uma. Eu era a primeira a ver e logo as passava para Zayn, que se sentou ao meu lado. Esse último ia passando a diante. As fotos em si não tinham nada demais. Eram apenas imagens capturadas por paparazzis no dia em que Lux e eu fomos a praia com Wes e Keath. Todos já sabiam que aquelas coisas iriam acabar saindo na mídia ou em sites de fofoca americanos mais cedo ou mais tarde, mas ninguém entendeu porque Marco tinha uma cópia delas. Eu entendia que era a Modest!Management que controlava a publicidade dos meninos, mas eu não tinha nada a ver com isso. Não assinara um contrato e muito menos possuía uma agência que deveria me fazer ter boa fama.
  - Você tem alguma idéia do tesouro que tem nas mãos, ? – Marco parecia sonhador ao falar. – Imagine só... Emblem3 e One Direction... Vistos juntos pelas ruas de Los Angeles... Ou então: Meninos da Inglaterra fazem amizade com o trio que já conquistou a América...
  - Eu sei o que você está insinuando e a resposta é não. – Fui direto ao ponto, cansada de ouvir aqueles títulos de reportagem. – Eles são meus amigos e não vou usá-los para promover a banda.
  - ... – Rachel ia começar a falar, mas não deixei.
  - Eu sei que é importante para a banda ser divulgada aqui e acho ótimo, só não acho justo usarmos a fama de outros. – Eles não podiam estar falando sério. Olhei para os cinco meninos que olhavam para qualquer canto menos pra mim. – Vocês não podem estar concordando com isso, estão?
  - Seria bom para a banda... – Lou falou baixinho.
  - Vocês podem fazer o que quiserem, mas não contem com a minha ajuda. – Suspirei pesadamente, não acreditando no que estava acontecendo. – Vou tomar banho, porque é o melhor que posso fazer.

Chapter IV

Mesmo que eu não estivesse usando nada além de um short jeans e uma blusa folgada, sentia como se o meu corpo fosse entrar em chamas a qualquer momento. O clima daquela quarta feira em Los Angeles estava sendo de longe o mais quente de toda a minha estadia até aquele dia e, infelizmente, eu não planejava passar o dia na praia ou na piscina. Pra falar a verdade, não era eu quem estava planejando coisa alguma. Niall e Harry seriam nossos guias turísticos e, segundo eles, tinham algo bem divertido para que todos nós pudéssemos aproveitar de uma forma inusitada as atrações daquela cidade; próprias palavras deles. Eu não tinha tanta certeza do que os dois estavam aprontando, mas esperava pra ver.
  Literalmente esperava. No lobby do hotel, ao lado de Louis, ambos jogados no sofá mais próximo do ar condicionado. Nenhum de nós falava coisa alguma, pois até isso parecia fazer o calor piorar. Por trás das lentes dos meus óculos escuros, avistei Liam e Zayn se aproximando enquanto conversavam. A diferença entre os dois era bem clara, pois enquanto Zayn corria as mãos pelos cabelos, completamente sexy e no maior estilo bad boy, Liam sorria adoravelmente como se fosse um menininho. Acho que era justamente por causa dessa diferença toda que os dois acabaram se tornando inseparáveis, melhores amigos de verdade. Todos da banda eram melhores amigos entre si – o que me incluía -, mas aqueles dois eram apaixonados um pelo outro. Não apaixonados como Lou e Harry, mas ainda assim apaixonados.
  - Conseguiu o carro? – Sorri para o meu namorado assim que ele se sentou na poltrona oposta.
  - Yep! – Girou as chaves pretas no dedo indicador.
  - Espero que tenha conseguido uma van, porque não quero ir apertado no banco de trás... – Lou reclamou, mas todos ali concordavam com ele.
  - É melhor que isso, acreditem. – Liam riu.
  - Um ônibus? – Acabei rindo junto.
  - Vamos precisar de mais dois carros... – Harry aparatou com Niall onde estávamos, nos assustando por não tê-los visto chegar.
  - Bom dia, meninos. – Acenei para os dois.
  - Por que mais dois carros? – Zayn indagou, olhando os dois. – Cabem seis pessoas em um só...
  - Mas não vamos todos juntos! – Ni já começava a sorrir animado.
  - Eu sabia que vocês estavam aprontando alguma coisa! – Cerrei os olhos, esperando o que estava por vir.
  - Posso começar a explicar? – Harry aqueceu as mãos.
  - Fique a vontade, Hazza. – Lou afirmou, prestando atenção. Eu agradecia por eles não se chamarem de “pudincup”, “cerejinha” ou derivados.
  - Sabem como a estava louca pra ir conhecer a cidade, pontos turísticos e tudo mais? – Ni questionou e todos afirmaram quem sim com a cabeça. – Bem... Harry e eu andamos pesquisando formas americanas de aproveitar tudo isso...
  - E acabamos chegando em uma brincadeira chamada “Scavenger Hunt”. É como se fosse uma caça ao tesouro... – Haz o interrompeu.
  - Ah, eu sei o que é isso! – O interrompi. – É algo que meninas fazem durante festas do pijama.
  - Não, não... Não só meninas. – Rachel também apareceu ali do nada, com algumas coisas em mãos.
  - De onde as pessoas estão saindo? – Zayn cochichou na minha direção e eu só ri em concordância.
  - Quais são as regras? – Liam parecia ser o mais interessado.
  - Achei que nunca fosse perguntar, Payno. – Niall estava com essa mania de colocar a letra “o” no final dos nossos nomes/sobrenomes/apelidos, o que acabava pegando. – Nossa querida ajudante Rachel escolheu algumas tarefas para realizarmos ao longo do dia e criou algumas listas. São a mesma coisa, mas as ordem estão um pouco diferentes...
  - Isso mesmo. E vocês vão se dividir em duplas e cada dupla receberá uma lista, um marcador, um mapa da cidade e um walkie talkie, para que possam se comunicar uns com os outros. – Rachel explicou e começou a mostrar os sacos transparentes que carregava. – Nessas listas está escrito as coisas que vocês terão que fazer, pegar, lugares pra visitar... Todos estão com as suas câmeras aí, certo?
  - A minha está aqui... – Falei ao olhar a minha Polaroid digital dentro da mochila.
  - Também estou com a minha! – Liam mostrou a câmera digital que tirou do bolso. Não era tão legal quanto a minha, mas daria pro gasto.
  - Tenho câmera no celular. – Lou piscou.
  - Muito bem, então vamos começar a dividir as equipes...
  - Você vai participar também, Rach? – Perguntei, já começando a me animar.
  - Adoraria, mas passarei o dia no SPA do hotel. – Sorriu como se sentisse a própria estrela de cinema. – Paul vai tomar conta da Lux pra mim.
  - Isso eu queria ver. – Zayn riu.
  - Podemos nos concentrar aqui? Não temos o dia inteiro! – Niall reclamou.
  - Sorry, Ni! – Fingi fechar um zíper nos meus lábios e jogar a chave fora.
  - Muito bem! Quem quer ser a dupla número um? – Rach levantou a sacola transparente com o número 1 escrito a caneta.
  - Eu quero! – Levantei a mão antes que qualquer um pudesse fazer isso.
  - Eu fico com ela! – Zayn quis ser a minha dupla e quem podia culpá-lo?
  Liam reclamou que se sentia excluído, mas as regras eram claras: Duplas! Ele acabou se juntando com Niall e o outro casal da banda formou a última dupla. Rachel distribuiu os sacos transparentes, mas fomos proibidos de abri-los antes de estarmos nos nossos carros ou meios de transporte. Zayn e eu ficamos com o carro que já fora alugado, Liam e Niall pretendiam pegar taxis e Harry e Lou tentariam o transporte público. Eu já começava a me sentir ganhadora daquele Scavengers Hunt mesmo sem saber o que teria que fazer ou procurar. Fomos informados que de não seria permitido enganarmos uns aos outros, mentir ou usar o walkie talkie para dar informações erradas. Nosso limite de tempo seria o pôr-do-sol, coisa que naquela época do ano só acontecia às oito horas da noite. O ponto final de encontro seria na praia ali na frente e a primeira dupla a chegar encerraria a brincadeira.
  Nós seis fomos para a saída do hotel e Rachel, a juíza oficial da brincadeira, nos acompanhou até lá para dar a largada. Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos quando nos preparávamos para correr. Por sorte, o nosso carro já estava ali na frente, então não perderíamos tempo procurando o Jeep preto pelo estacionamento. Uma contagem rápida até ‘3’ foi feita e Zayn e eu corremos sem nem esperar pra ver se as outras duplas fariam a mesma coisa. Ele era bem mais rápido que eu, mas como estávamos de mãos dadas, eu acabava acompanhando-o. Apenas nos soltamos quando o menino destravou o carro e pudemos praticamente pular dentro dele. Não havia tempo para cavalheirismos, então abri a minha própria porta.
  - Pra onde vamos primeiro? – Zayn perguntou, já colocando o carro em movimento.
  - Quem amarrou esse saco?! – Joguei a minha bolsa no chão do carro e tentei abrir a sacola transparente, mas eu estava tão nervosa que quase tremia. – Não consigo abrir!
  - Babe... Respira. – Zayn riu, me fazendo parar e olhar pra ele. Com um gesto simples, puxou uma fitinha e a sacola foi aberta como num passe de mágica. – Não vamos correr, ok? Vamos com calma, aproveitando a cidade... Se perdermos a brincadeira não tem problema, porque teremos nos divertido.
  - Você tem razão. – Afirmei com a cabeça, sorrindo e tirando a lista dobrada de dentro daquele recipiente transparente. – Conseguir o menu de um restaurante chinês, tirar uma foto ao lado da estrela do Michael Jackson na calçada da fama... Entrar em um barco? Tem muita coisa aqui...
  - A gente consegue. – Piscou, parando no primeiro sinal vermelho. – Sabe ler mapas?
  - Melhor ainda. – Voltei a pegar a minha bolsa do chão, tirando de lá o meu iPhone. – Sei programar um GPS.

+++

  - Estamos no lugar certo? – Zayn estacionou o carro na primeira vaga livre que encontramos.
  - Eu acho que sim... – Olhei para fora do carro e em seguida para a tela do meu celular. – O GPS está falando que estamos aqui e tem estrelas na calçada... A não ser que tenha outra Calçada da Fama aqui.
  - Vamos descobrir. – Sorriu, pulando do carro e correndo para me ajudar a descer. Aquele Jeep era bem alto. – O que é isso?
  - É uma máquina de estacionamento. Colocamos uma moeda por aqui e não somos multados. – Expliquei, caçando alguma moeda nas profundezas da minha mochila. – Temos isso em Londres também, sabia?
  - Mas lá é azul... Fiquei confuso. – Riu da própria besteira e eu só balancei a cabeça.
  - Azul não é tão diferente assim de verde, baby. – Coloquei as moedas no lugar apropriado e retirei o recibo. – Temos uma hora, vamos correr.
  Correr não era a melhor opção em um dia quente, mas ainda assim era a que tínhamos. Zayn esticou a mão para que eu a segurasse e entrelacei os nossos dedos, sentindo aquela conhecida sensação de eletricidade se espalhando pelo meu corpo inteiro. Estávamos namorando havia um bom tempo, mas mesmo assim essas pequenas coisas que geralmente só duram a primeira fase do relacionamento não tinham ido embora. Eu nunca tive tanta intimidade assim com ninguém na minha vida, nem mesmo com Louis, que morou na mesma casa que eu desde sempre. Eu realmente gostava de conhecer os hábitos mais pessoais de Zayn; como o que ele gostava de ler quando ia ao banheiro, ou quais tipos de comida o deixavam enjoado. Outras pessoas podiam preferir ignorar essas coisinhas, mas eu as abraçava, pois faziam parte daquele menino que eu amava. Fazia parte de sermos um casal. Podíamos não concordar em tudo e termos opiniões próprias, mas era trabalhar nessas diferenças que nos tornava tão unidos.
  O menino foi na frente, me puxando levemente. Não estávamos correndo tão rápido assim, mas era o suficiente para não perdermos tempo. Ainda no carro, eu lera todas as coisas que teríamos que fazer ou conseguir para vencer aquela Scavengers Hunt e por isso olhava a nossa volta, procurando qualquer coisa que pudesse ser riscada da lista. O lugar em si era tudo aquilo que víamos em filme e um pouco mais. Ao menos naquela área da cidade não havia nenhum mendigo pelas esquinas ou cachorros de rua. Skatistas faziam seus caminhos entre as pessoas e ninguém parecia notar. Desde crianças até idosos naqueles carrinhos automáticos passeavam por ali, sem reclamar de nada além do calor. Ao passarmos em frente a um grande cinema no meio daquele quarteirão, parei de correr e automaticamente obriguei Zayn a fazer o mesmo.
  - Encontrou a estrela? – Perguntou enquanto olhava para o chão.
  - Não, mas acho que encontrei outra coisa da lista... – Sorri e comecei a andar em direção à entrada do cinema.
  - Espero que você não esteja pensando no que eu acho que está. – Zayn levantou o boné para bagunçar os cabelos, olhando para os lados, e me seguiu.
  - Onde estão? – Perguntei retoricamente, procurando aqueles cartazes grandes de lançamentos de filmes. – Meu malvado favorito 2? Acho que não... Johnny Depp, é isso!
  - Eu estava com medo que você dissesse isso. – Balançou a cabeça, mas me seguiu quando fui até a imagem em tamanho original do ator, feita em papelão, como propaganda do novo filme “O cavaleiro solitário.” – Me dê a câmera, porque eu me recuso a fazer isso.
  - Sem graça! – Ri, mas já imaginava que Zayn fosse se negar a fazer isso.
  Tirei a câmera fotográfica da mochila e a liguei, entregando para o menino em seguida. Algumas pessoas nos observavam, mas quem nunca fez algo assim? Além do mais, fazia parte das tarefas da lista. Bem... Mais ou menos. Fiquei ao lado do falso Johnny de papelão e passei um braço em volta dele, sorrindo e fazendo uma pose qualquer. Zayn demorou para encontrar um ângulo legal para bater aquela foto, mas logo escutei o barulho característico da câmera e, segundos depois, a foto foi revelada pela lateral. Me juntei ao meu namorado enquanto a imagem clareava e sorri com o resultado. Também retirei a lista dobrada do meu bolso e o marcador preto que ganhamos de Rachel.
  - Tirar uma foto com alguém famoso... – Li enquanto riscava o item da lista. – Check!
  - Você acha que isso vale? – Colocou a fotografia e a câmera na minha mochila enquanto eu voltava a dobrar o papel.
  - Tem uma idéia melhor? – Dei de ombros.
  - Pensei em pegar um mapa daqueles “Endereços das Estrelas” e sair batendo de porta em porta até que alguém tirasse uma foto com a gente. – Brincou. Ou eu esperava que ele estivesse brincando. – Mas vamos. Ainda temos que encontrar a estrela. Tem certeza que não pode ser qualquer uma?
  - Na lista está falando que tem que ser a estrela do MJ. – Passei o braço pelo dele e andamos até a saída. – E podemos levar horas procurando... Já viu o tamanho disso aqui?
  - Com licença... – Zayn parou uma menina que passava por nós. – Sabe onde podemos encontrar a estrela do Michael Jackson?
  - Vocês vão seguir nessa direção e dobrar à direita na primeira esquina... Não devem demorar muito pra achar, geralmente está cheia de flores e homenagens. – A garota com um forte sotaque americano respondeu.
  - Obrigado. – Acenou para ela e virou para mim. – Viu? Fácil!
  - Eu poderia ter pensado nisso. – Fiz careta e ganhei um beijo na ponta do nariz.
  Ao sair do cinema, não voltamos a correr e nem andamos devagar demais. Apenas apreciamos o passeio e aquela cultura diferente da nossa. Em Los Angeles, todos pareciam ser ricos e bonitos. Me senti um pouco constrangida pela falta de curvas óbvias no meu corpo e no excesso delas no corpo de meninas que passavam por Zayn e eu, entretanto, me sentia bem orgulhosa por ter um namorado tão bonito quando aquele garoto ao meu lado. Ele andava olhando para o chão, lendo os nomes das estrelas por onde passávamos. Kristen Stewart, The Beatles, Britney Spears, Marilyn Monroe e Houdini foram algumas das celebridades que lemos os nomes. Dobramos a esquina como a menina nos informou e continuamos andando, sendo interrompidos por alguns vendedores ambulantes que tentavam nos vender suvenires. Admito que não consegui resistir por muito tempo e acabei comprando uma camisa que falava “I <3 L.A” e um bracelete de conchas.
  - Sabe o que eu estava pensando? – Perguntei depois de pagar pelo bracelete e colocá-lo em volta do pulso.
  - No quanto eu sou lindo? – Respondeu com outra pergunta e me fez rir um tanto demais. – !
  - Desculpa, eu não devia estar rindo! – Tapei a boca com uma mão e respirei fundo. Nem havia sido tão engraçado assim! – Eu estava pensando nas siglas MJ... E você é JM.
  - Sou ZM, . – Me olhou com uma cara estranha.
  - Tecnicamente, você é ZJM. Zayn Javaad Malik. – O corrigi. – JÁ SEI! Você podia ser tanto ZJ, o contrário de JZ e JM, o contrário de MJ!
  - Ok, acho que o Sol não está te fazendo bem... – Foi a vez dele de gargalhar e passar o braço em volta dos meus ombros, beijando o topo da minha cabeça. Em seguida, tirou o próprio snapback e o colocou na minha cabeça. – Pronto.
  - Ei, eu estava falando sério! – Fiz bico, mas gostei daquele carinho e arrumei o boné nos meus cabelos. – Olha!
  - Acho que é ali... – Zayn concordou após olhar para onde eu apontara. – Realmente tem muitas flores.
  - Vai, vai, vai! – O soltei para pegar a câmera mais uma vez. – Eu tiro a sua foto dessa vez.
  - Ok! – Sorriu.
  Eu sabia o quanto Zayn era fã do artista, por isso não reclamou em ter que se abaixar até quase ficar de joelhos no chão para que eu pudesse tirar a foto. Preciso dizer que não foi difícil achar uma posição legal para registrar aquele momento? Mesmo com o sorriso aberto que ele deu, ainda ficou parecendo um modelo italiano. Na verdade, eu gostava mais das fotos em que ele sorria do que aquelas que ele parecia seduzir a câmera. Pensando melhor... Eu gostava das duas. É, as duas está bom. Assim que a fotografia foi revelada, a balancei um pouco para clarear mais rápido. Zayn pediu para ver a fotografia e a entreguei pra ele.
  - Meu cabelo está horrível! – O lado vaidoso do menino falou mais alto.
  - Seu cabelo sempre está lindo! Lindo... Lindo... Lindo. – Me joguei nos braços dele, abraçando-o pelo pescoço e roubando alguns selinhos. – Você sabe que gosto mais quando está bagunçado assim.
  - Nunca mais o arrumo se ganhar seus beijos em troca. – Segurou a minha cintura e riu travesso, demorando para soltar os meus lábios dos seus. Senti sua mão escorregar para o bolso de trás do meu short.
  - Está se aproveitando de mim, Malik? – Perguntei com uma risada.
  - Só estou pegando a lista pra riscar... – Levantou as sobrancelhas, esperando que eu acreditasse.
  - Então qual é o próximo item? – Tentei me soltar daquele abraço e quase não consegui, pois Zayn não queria me deixar afastar. – Baby, temos que andar!
  - Ugh, tá bem! – Bufou e choramingou ao mesmo tempo, abrindo a lista que realmente arrancara do meu bolso. – “Todos da equipe devem fazer uma tatuagem.”
  - Você está brincando, certo? – Desejei com todas as forças que ele falasse que sim, mas eu sabia que não estava.
  - Então, o que vamos tatuar? – Perguntou mais feliz do que eu gostaria.
  - Nada! – Balancei a cabeça. – Já estou bem feliz com a única tatuagem que eu tenho.
  - Mas está na lista... – Foi a vez dele de fazer bico. Parecia que precisava de uma desculpa pra fazer alguma tatuagem nova e aquela era a melhor oportunidade.
  - Aí não está falando nada que precisa ser uma tatuagem permanente, certo? – As engenhocas na minha cabeça começavam a funcionar.
  - Não. – Voltou a olhar para a lista e em seguida pra mim. – Está pensando em fazer uma de henna?
  - Melhor! – Peguei o marcador que continuara no meu bolso e o destampei. – O que vai querer?
  - Uma nave espacial bem aqui. – Ficou de lado e apontou para a lateral do braço.
  - Então uma flor será! – Respondi como se fosse isso o que ele pedira e comecei a desenhar a flor mais simples que consegui.
  - Uau, , você tem talento. – Riu enquanto me observava.
  - Eu sei! Nasci pra ser tatuadora. – Também ri e finalizei o desenho com a minha assinatura. – E agora você tem o meu autógrafo!
  - Perfeito! E o que você quer? – Recebeu o marcador e me olhou dos pés a cabeça, como se me analisasse. – Posso escolher o local?
  - Não depois de me olhar assim! – Segurei a barra da minha blusa, temendo que ele quisesse me despir ali no meio da rua.
  - Eu quero desenhar no seu pulso, tonta. – Puxou a minha mão esquerda e me fez rir com o pseudo-xingamento. – Não vale olhar!
  - Ok, seu chato! – Rolei os olhos, ainda rindo, e olhei pra cima. – Eu devia ter medo?
  - Só se você não quiser o desenho das minhas partes íntimas aqui.
  - Zayn! – Reclamei assustada, mas ao olhar para o desenho, não tinha nada daquilo. Era apenas um floco de neve simples, mas fofo. – Que lindo!
  - Mais lindo que as minhas partes íntimas? – Levantou uma das sobrancelhas, porém, me recusei a responder. – Significa inocência.
  - Eu não sou inocente!
  Apesar da minha reclamação, Zayn não concordou comigo e começamos uma pequena discussão de quem era o inocente entre nós dois. Ele alegava que eu via apenas o lado bom nas pessoas e que muitas vezes achava que era só isso o que existia. Falou que eu tinha o meu próprio jeitinho único de ver o mundo, o que o encantava. Nunca tinha parado pra perceber ou pensar nessas coisas, mas deviam ser verdade. Ou então, ao menos, era como ele me enxergava e isso me agradou.

+++

  Já havíamos riscado pelo menos vinte itens da lista e não passava nem das cinco horas da tarde ainda. Almoçamos em um restaurante chinês, compramos uma bandeira dos Estados Unidos, compramos uma refeição para um morador de rua, tiramos fotos abraçando estranhos, compramos um buquê de flores e distribuímos pela rua, conseguimos três guardanapos de restaurantes diferentes, compramos chapéus engraçados e tiramos fotos com eles, conseguimos camisetas de um time local de baseball (Go Dodgers!), Zayn recitou um poema de Shakespeare à uma criança e consegui mais braceletes fofos; entre outras coisas. O último não estava incluído na lista, mas quem se importa? Poderia ser um novo hobby; uma coleção de pulseiras.
  Nós dois estávamos no Jeep, resfriados pelo ar condicionado quase no máximo, e procurávamos novas coisas para riscar na lista. Apesar de grande, Los Angeles não tinha muitas árvores pela rua, o que dificultava bastante a nossa tarefa de encontrar uma grande o bastante para ser escalada. Um chiado estranho chamou a nossa atenção e me fez abaixar o volume do som do carro e procurar o walkie talkie na minha mochila.
  - Time um? Time um? – A voz de Niall chamava por nós. – Aqui é o time dois. Câmbio?
  - Nialler, aqui é a Tommo Girl falando. – Respondi, apertando o botão do dispositivo e colocando-o perto da boca. – Qual o problema? Câmbio.
  - Tem mesmo que falar “câmbio” o tempo inteiro? – Zayn riu.
  - É divertido. – Também ri, me acomodando no banco.
  - Vocês conseguiram encontrar alguém famoso? – Foi a voz de Liam que saiu do walkie dessa vez. – Parece que rodamos essa cidade inteira e ninguém famoso apareceu!
  - Conseguimos sim! – Respondi com a maior segurança que consegui e olhei para Zayn. – Encontramos Johnny Depp na Calçada da Fama...
  - SÉRIO? WOW, ISSO É TÃO LEGAL! – Niall gritou e segurei o riso.
  - Mas e vocês? Fizeram tatuagens? – Zayn perguntou enquanto eu apertava o botão.
  - Niall não quis! Então não tinha motivos pra eu fazer, já que só conta se for os dois. – Li explicou. – Mas soubemos que Lou e Harry fizeram.
  - Ai meu Deus... – Pressionei as têmporas. – Aposta quanto que tatuaram o nome um do outro?
  - Foi o que perguntamos, mas parece que não foi isso. – O loiro do outro time nos contou. – Vocês estão terminando a lista?
  - Ainda não chegamos nem na metade! – Menti. Não queria que eles achassem que estávamos quase terminando e resolvessem se apressar. – Por falar nisso, temos que ir! Até mais tarde, lads.
  - Que vençam os melhores! – Liam desejou. – Zen, eu te amo!!
  - Eu também amo vo... HEY! – Zayn reclamou por eu ter soltado o botão, cortando a sua fala.
  - Não pode amar ninguém além de mim! – Fiz careta e guardei o walkie talkie de volta na mochila. – Achou alguma árvore?
  - Não, mas estou procurando um parque... Vai ser mais fácil assim. – Fizemos uma curva brusca para a esquerda. Zayn ainda estava pegando o jeito com o lado do volante, mas vinha melhorando devagar. – Seu GPS mostra algum?
  - Posso perguntar. – Peguei o iPhone enquanto o menino me observava. – Siri?
  - Como posso ajudá-la, ? – O celular respondeu, fazendo Zayn me encarar mais ainda.
  - Eu gostaria de encontrar um parque, com árvores, grama... – Pedi para o aplicativo, rindo do meu namorado que não conhecia aquele truque.
  - Minha pesquisa mostrou quinze resultados. Dois parques estão perto de você. Gostaria de direções?
  - Sim, para o mais próximo. – Respondi para a voz feminina e computadorizada de Siri. – Obrigada, Siri.
  - Sua satisfação é todo o agradecimento que eu preciso. – Com essa última frase, a tela do celular voltou para o GPS com instruções de como chegar ao parque.
  - Ok, agora eu com certeza vou mudar pra a Apple... – Zayn ainda estava encantado.
  - Seu Android também é legal, baby... – Coloquei a mão sobre a coxa dele, fazendo um pequeno carinho. – Claro que não tão legal quanto o meu, mas... Legalzinho.

+++

  - Só não caia, tá bem? – Zayn pedia enquanto me levantava sobre os seus ombros para que eu pudesse subir na árvore. – Por que a lista tinha que pedir logo a maior árvore do lugar?
  - Justamente pra ser difícil assim! – Agradeci por não estar usando vestido aquele dia e agarrei o galho mais próximo, içando-me para a árvore e fora dos braços do meu namorado. – Não se preocupe, baby, já fiz isso muitas vezes!
  - Muitas vezes? – Pareceu nada convencido.
  - Algumas vezes... – Admiti, subindo um pouco mais naquela árvore. – Mas ainda conta, não é?
  - Eu acho. – Me observava preocupado. – Não precisa subir mais, , aí está bom!
  - Certo... – Ri baixo da preocupação dele. Não por ser engraçado, mas por ser fofo. – Pode tirar a foto, então!
  - Sorria! – Pediu enquanto me focalizava na tela da máquina fotográfica.
  - Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis. – Disse ao exagerar no sorriso, sentando em um galho que parecia seguro.
  - Linda. – Riu ao segurar a foto revelada. Duvidei que estivesse linda mesmo, mas quem se importa? – Pode descer agora.
  - Tá bem... – Me arrastei de volta para o tronco da árvore, mas parei por não conseguir encontrar nenhum ponto de apoio a partir dali. – Ahn, Zayn?
  - Sim, Anjo? – Guardava a máquina e a fotografia na mochila que eu havia deixado na grama e olhou na minha direção.
  - Não consigo descer... – Ri de mim mesma por estar literalmente presa ali em cima.
  - Nós não pensamos direito sobre isso, não é? – Ele também riu, bagunçando os cabelos. – Bem, você vai ter que pular.
  - HA-HA, essa foi boa! – Balancei a cabeça. Era alto demais pra pular!
  - Tem uma idéia melhor?
  - Tenho! Chame os bombeiros pra vire me tirar daqui! – Pedi. – Eles tem aquela escada grande...
  - , você não é uma gata. – Riu e cochichou as últimas palavras: - Bem, não nesse sentido.
  - Zayn, por favor! – Não era hora de ficar fazendo brincadeiras.
  - Pode pular, eu te seguro. – Esticou os braços na minha direção. – Falo sério.
  - Não tenho outra opção, né? – Choraminguei, assistindo-o negar com a cabeça. – Tudo bem, você venceu!
  - No três, ok? – Indicou, os braços ainda levantados para mim. – Um... Dois...
  - Espera, espera! – Fiz parar. – Eu pulo no três? Ou espero você falar o três?
  - Só pula, !
  Com aquela última ordem, não tive muita escolha a não ser me jogar do galho onde estava sentada e torcer para que Zayn conseguisse me pegar. De fato, ele pegou, mas como o meu pulo não foi muito bem avisado ou ensaiado, meu corpo acabou batendo no dele de mau jeito. Com isso, ambos acabamos indo ao chão. Fiquei preocupada, imaginando que teria machucado-o, porém, a risada que escapou de sua garganta mostrou que ele estava bem.
  - Você está bem? – Perguntei só pra confirmar.
  - Estou... E você pulou mesmo. – Riu mais uma vez.
  - Pois é! – Rolei de cima dele e fui para a grama. – E nunca mais vou acreditar que você nunca vai me deixar cair!
  - Mas eu não te deixei cair! – Protestou, levantando e limpando a grama da roupa. – Você é que nos derrubou com o seu peso.
  - Eu não sou tão pesada assim! – Reclamei; minha voz afinando levemente, como se eu fosse começar a dar chilique. – Está me chamando de gorda?
  - Não, não, claro que não! – Esticou a mão pra me ajudar a levantar também, mas tinha um sorriso sapeca nos lábios. – Só estou dizendo que todo esse fast food não está te fazendo bem.
  - Cala a boca, Malik! – Fui retirada do chão, tentando não me importar com aquela brincadeira. – Preciso falar quem o gordo aqui? Porque você bem que ganhou uns quilinhos e...
  Antes que eu pudesse continuar a “insultá-lo”, Zayn usou a mão que prendia a minha para me puxar mais pra perto e calar a minha boca com um beijo. Não resisti nem por um segundo, passando os braços em volta do pescoço dele. Também não impedi a passagem da língua dele para dentro da minha boca, indo direto ao encontro da minha. Nós podíamos estar suados e com calor, mas isso não foi motivo para nos separarmos. O boné de Zayn havia caído da minha cabeça depois da nossa queda na grama e ninguém se importou em pegá-lo de volta. Como meus cabelos já estavam bem bagunçados, nada mais justo do que bagunçar os dele também, certo? Usei os dedos para passear entre os fios negros do menino que agora mordia o meu lábio inferior e o puxava com luxuria.
  - Você tem que parar de fazer isso... – Pedi, sem nenhum tom de verdade em minha voz.
  - De te morder? – Levemente ofegante, escondeu o rosto no meu pescoço, deixando uma mordidinha ali.
  - Não! – Ri devagar, sentindo um pouco de cócegas. – Parar de me interromper no meio de uma discussão.
  - Mas é o meu jeito de ganhar a discussão! – Se defendeu, passando a minha franja para trás da orelha.
  - Quem disse que você ganhou, Malik? – Cruzei os braços, ainda sendo abraçada pela cintura.
  - Vou ter que te interromper de novo? – Questionou com um sorriso torto.
  - Talvez... – Joguei a cabeça para trás, balançando os cabelos e nos separei. – Mas antes temos que continuar com a caçada!
  - Falta muito? – Se contentou em me soltar e recuperou o boné do chão, usando-o dessa vez. Também pegou a minha mochila e a colocou sobre o próprio ombro.
  - Algumas coisinhas... Não muito. – Tirei a lista e o marcador do bolso para riscar a escalada na árvore. – Na verdade, só três coisas.
  - Então vamos!
   Mais do que nunca eu começava a acreditar que ganharíamos aquele Scavenger Hunt. Nenhum dos meninos voltara a bipar nosso walkie talkie e o combinado era que a primeira equipe que chegasse ao ponto de encontro no final da competição deveria avisar os outros. Agora que paramos pra pensar nisso... Não sabia exatamente qual seria o prêmio da equipe vencedora, mas isso pouco importava. O dia estava sendo incrivelmente divertido por duas razões bem simples: a) Eu estava aproveitando a cidade de um jeito que jamais conseguiria se apenas passeasse por aí. E b) Estava com Zayn cada segundo do trajeto. Demos as mãos enquanto caminhávamos e acabei fitando-o por mais tempo que o considerado “casual”.
   Como começar a explicar o que eu sentia quando o olhava? Palavras não são o suficiente, com toda certeza. Sabe o cheiro de pão fresquinho durante a manhã? Ou um longo banho depois de um dia cheio? Descer do avião após uma viagem longa? Todas essas coisinhas pequenas tem um valor enorme pra quem sabe apreciar. Eu lembrava vividamente de todos os dias que passara longe de Zayn por causa do trabalho dele e agora me sentia imensamente feliz por estar ao seu lado. A saudade realmente era o único defeito dessa vida louca que começávamos a viver, mas mesmo assim eu me sentia extremamente orgulhosa de tudo que ele e os meninos vinham alcançando.
  - Sabe quem também está aqui nos EUA? – Quebrou o silêncio, após corar levemente por estar sendo tão observado.
  - Tom, Danny, Harry e Dougie? – Sorri, sabendo que tinha acertado.
  - Eles estão no Texas! – Sorriu de volta. Zayn já não tinha tanto ciúme assim dos quatro meninos que acabaram se tornando nossos amigos com o passar do tempo.
  - Eu sei! Danny me mandou uma foto ontem à noite, de uma aranha, pedindo que eu fosse lá matá-la. – Ri ao lembrar aquela besteira. – Vocês não tem planos pra trabalhar juntos de novo? Eu realmente gosto das músicas que criaram juntos...
  - Eu também gosto, mas acho que não vamos nos juntar de novo nesse CD... – Começou. – Estamos nos focando mais em músicas próprias nossas, sabe? O primeiro CD tinha que ser algo que atraísse o público, por isso tivemos tantas parcerias. Agora queremos fazer algo mais a nossa cara. Não sabemos se a Modest! vai gostar da idéia... Mas estamos tentando.
  - É uma boa idéia. – Afirmei, alternando o olhar entre ele e o parque a nossa volta. – Alguma música que eu já conheça?
  - Vamos colocar a primeira música que eu escrevi pra você! – Me cutucou com o cotovelo e piscou. – Também tem outra sua... O nome é Kiss You.
  - Claro que é! – Ri, beijando o seu ombro. Zayn e os meninos viviam fazendo mistério pra me falar sobre esse novo CD que estavam gravando e sempre inventavam nomes de músicas que não eram reais.
  - Mas é verdade! – Percebeu que eu não estava acreditando e cerrou os olhos.
  - E eu falei que não é? – Me fiz de inocente e olhei para o lago que começava a correr ao nosso lado. – Acho que achei algo pra riscarmos na lista!
  - Beijar o seu namorado? – Tentou, mas neguei com a cabeça. – Essa lista não é nada legal.
  - Você não precisa de uma lista pra pedir um beijo meu. – Assoprei um beijo na direção dele e o puxei para o lado do lago.
  - Me dá um beijo? – Pediu, fazendo corpo mole.
  - Depois de ganharmos essa brincadeira. – O soltei e puxei a cordinha que prendia uma canoa nas margens daquele lado.
  - , o que você está fazendo?!
  - Entrando em um barco! – Respondi como se fosse óbvio. – Tire uma foto antes que os donos cheguem!

+++

  - Hey, losers! Podem parar de tentar, porque Zayn e eu já chegamos na praia! – Comemorei usando a linha central do walkie talkie para falar com as outras duas duplas.
  - Damn it, ! – Louis foi o primeiro a reclamar.
  - Parabéns, eu acho... – Liam estava triste, mas era um bom perdedor.
   Quase uma hora antes do tempo limite, eu e Zayn chegamos à praia Venice e ficamos super felizes ao perceber que mais ninguém estava por ali. Estacionamos o Jeep no hotel e corremos para o ponto final da “corrida”. Enquanto eu avisava os perdedores, Zayn ligava para a juíza vir nos encontrar e fazer a contagem de pontos. Nós dois tínhamos trapaceado algumas vezes – como na tatuagem e fotografia com alguém famoso -, mas torcíamos para que ainda assim pudéssemos ganhar. Largamos a mochila e sacolas com as coisas que coletamos na areia e também nos sentamos ali. Tirei os tênis e Zayn fez o mesmo, enterrando os pés ali. Por ser um dia de semana, mesmo sendo férias, a praia estava mais vazia que o normal; nos dando a oportunidade de relaxar e curtir a maresia.
   Como não tínhamos mais nada pra fazer até a hora em que todos os meninos chegassem, procurei a minha câmera na bolsa para continuar a tirar fotos. Primeiro capturei algumas imagens do oceano a nossa frente, só escolhendo duas para revelar. Como não havia nada mais bonito que o menino ao meu lado, apontei a câmera para Zayn e tirei algumas fotos seguidas, sem que ele percebesse; também revelando as que eu mais gostei.
  - Sabe o que está faltando nessas fotos? – Ele perguntou, ao ver as imagens.
  - Eu acho que estão perfeitas... Mas o que?
  - Você, ao meu lado. – Sorriu. Acho que tirar fotos comigo era um hobby que ele tinha.
  - Selfie time! – Ri e aceitei que tirássemos fotos juntos.
   Meu cabelo estava bem bagunçado, mas não me importei. Eu começava a apreciar aqueles momentos de casal, onde não fazíamos nada além de tirar fotografias bobas e sem sentido. Em Londres mesmo, guardava uma caixa de sapatos lotada de fotos idiotas que tirara com os meninos, , Liv, , Dorota, Lux e mais qualquer pessoa que aparecesse. Não digo que desenvolvera uma paixão por fotografia, mas o que me atraia mesmo era o fato de poder guardar memórias, eternizar momentos que eu poderia sentir falta dali a alguns anos. Não que alguém fosse morrer ou coisa parecida, mas eu sabia que um dia ficaria velha e gostaria de ter aquelas lembranças para me aquecer.
   Zayn pegou a câmera e apontou para nós dois. Na primeira foto, ambos mostravam a língua. Na segunda e terceira, fizemos caretas engraçadas. As que se seguiram foram uma mistura de fofura, romantismo e melosidades de casal: Tiramos fotos sorrindo, nos olhando, rindo de algo que o outro falara e é claro que o clichê não poderia faltar, então nos beijamos para poder fotografar. Bem, não literalmente só para fotografar, se é que me entende. Em seguida, Zayn me pegou de surpresa, capturando o momento que eu parei para olhar o por do sol que começava ali na frente. Não gostando de ser o centro das atenções, escondi o rosto nas mãos, mas quem disse que isso o parou? Mesmo quando levantei e ameacei correr para o mar, ele também se pôs de pé e continuou com os flashes na minha direção.
  - Zayn, chega! – Pedi, andando para trás.
  - Não está acostumada com os paparazzis, Anjo? – Me seguia.
  - Eles costumam ser mais respeitosos! – Coloquei uma mão na direção da lente, torcendo para que tampasse a visão de mim. – Parou?
  - Só mais uma! – Correu até onde eu estava mais rápido do que eu consegui me afastar e enlaçou a minha cintura.
   Com aquela proximidade toda e o contato do meu corpo no de Zayn, não havia força alguma dentro de mim que conseguisse se afastar. Apenas o olhei enquanto sorria e ele fez o mesmo. Acabou deixando a câmera de lado e desistindo de fotografar. Pousei as mãos nos ombros do menino, inspirando e espirando com força, enchendo os pulmões com o cheiro do sal que vinha do mar e do aroma emanado pela pele levemente bronzeada do mesmo. Meu sorriso diminuiu aos poucos, mas não sumiu. Também não falamos mais nada, pois não era o necessário. Os olhos amendoados dele estavam com um brilho alaranjado por causa do Sol dizendo adeus e era como se eu não tivesse visto algo tão imensamente bonito até aquele momento.
   Estiquei a mão direita até encostar a ponta dos dedos na testa do outro, dedilhando um caminho pelo nariz afilado até que chegasse aos lábios cheios. Zayn mordeu meus dedos de leve, me causando risadas calmas. Ele me abraçou ainda mais, destruindo qualquer distância entre nós; por menor que já fosse. Me coloquei na ponta dos pés para que pudesse abraçá-lo sem que precisasse se curvar na minha direção e enterrei o rosto no encontro do seu pescoço com o ombro direito. Respirei fundo, tendo certeza que era a pessoa mais feliz do mundo. Não por estar em um lugar maravilhoso, tendo o melhor verão da minha vida. Também não era por ser amiga de uma banda famosa ou por ter uma família perfeita me esperando em dois países diferentes. Não era por ter a oportunidade de realizar os meus sonhos, conhecer lugares novos e ser a “garota propaganda” de uma marca de luxo. Eu era a pessoa mais feliz do mundo porque tinha aquilo que muitos passam a vida inteira sem encontrar; um amor tão insuperavelmente bonito.
  - ... – O quase sussurro de Zayn me fez olhá-lo. – Você é tudo pra mim.
   Só consegui sorrir ainda mais e encostar a testa na dele. Zayn também sorriu, fechando os olhos devagar para sentir a minha presença ali em seus braços. O apertei ainda mais contra mim até que fosse impossível nos aproximarmos algo além daquilo. Nossas respirações se tornaram uma só enquanto o mundo inteiro desaparecia e o som das ondas falasse tudo que não éramos capazes. Naquele momento eu tive plena certeza de que era com ele que eu queria passar o resto da minha vida.
- Zayn... – Aquela declaração me pegou de surpresa, causando o esquecimento imediato de qualquer coisa que eu pudesse falar.
  - Eu te amo...

    

Chapter V

Ficar a noite inteira conversado na cama com o seu namorado é bom até que você tem que acordar cedo na manhã seguinte pra ir à praia. Ou, nesse caso, acordar e depois mudar de idéia e voltar pra dormir por mais uma hora. Ou quatro. O importante é que eu estava totalmente decidida a passar o dia inteiro na cama e Zayn aceitou me acompanhar. Nossa felicidade, porém, durou muito pouco. Conseguimos ficar dormindo até que uma certa pessoa com menos de um metro de altura começou a pular na nossa cama. Nem tínhamos filhos ainda e já éramos acordados por uma criança. A vida é ótima, não? O que aconteceu é que Zayn prometera levar Lux ao parque e nenhum dos outros meninos estava por perto para substituí-lo.

  Para resumir a história, agora nós três andávamos de mãos dadas lado a lado naquela espécie de praça ao lado do hotel. Não era um lugar muito grande e nem estava muito cheio; apenas o suficiente. O caminho de grama que levava até o parquinho da praça era ladeado por alguns canteiros de flores naturais que exalavam um cheiro maravilhoso. Se no verão a vegetação já estava dessa forma, imagine na primavera! Infelizmente não ficaria naquela cidade tempo suficiente para apreciar todas as estações, mas quem sabe um dia, não? Assim que os brinquedos já podiam ser vistos, Lux começou a nos puxar com mais pressa. Eu teria corrido com ela se o celular na minha bolsa não tivesse começado a tocar.
  - Por que eu nunca encontro essa coisa? – Falei sozinha, a procura do aparelho. – ACHEI!
  - Quem é? – Zayn perguntou após rir da minha batalha.
  - Minha mãe. – Respondi com um sorriso, lendo o nome “Mum” na tela do celular. – Hey, muuuuuuuum. Que saudade!
  - , querida? – Não foi a voz da minha mãe que eu escutei. Minhas bochechas devem ter ficado completamente vermelhas. – É você?
  - Oi, Trisha... – Levei uma mão à testa, morrendo de vergonha. – Desculpa, é que o seu filho inventou de comprar um celular igual ao meu, então acho que confundimos os dois...
  - Não tem problema! Eu queria mesmo falar com você.
  - Sendo assim... Tudo bem? – Tentei manter a voz firme e esquecer esse pequeno mico que acabara de pagar. Zayn ainda ria ao meu lado, pedindo pra apanhar.
  - Eu estou ótima, como sempre! E vocês dois?
  - Estamos muito bem, pra falar a verdade. E não se preocupe, estou tomando conta do seu filho. Ele tem se alimentado direito e não vai para o sol sem passar protetor solar.
  - Eu sabia que podia ficar tranqüila que você cuidaria dele! – Escutei uma voz do outro lado da linha, que julguei ser de Doniya. – Só não deixe que ele escute isso, tá bem? Zayn odeia quando eu me preocupo. Mas ele não entende que sempre vai ser o meu bebê...
  - Não se preocupe, o seu segredo está seguro comigo. – Sorri e afastei Zayn com um abano de mão quando ele tentou escutar a conversa.
  - Hey, ela é minha mãe! – O menino reclamou.
  - Trisha, vou passar o telefone pra ele ou Zayn terá um treco, ok? – Balancei a cabeça.
  - Sem problemas. Até logo, querida. – A mulher se despediu. – As meninas estão te mandando um beijo!
  - Outro pra elas! – Me despedi e entreguei o aparelho para Zayn. – Pronto, toda sua!
  - Obrigado, babe. – Sorriu como se fizesse uma careta, me arrancando uma curta risada. – E aí, mum? (...) Estamos em um parque com a irmã da . (...) Essa mesma, a loirinha fofa...
  - , quero ir brincar... – Lux puxou a barra do meu short pra chamar a minha atenção.
  - Então vamos, pequena! – Segurei a mão dela e acenei para o menino que estava ao telefone.
  Zayn apenas afirmou com a cabeça e deixou que nós duas nos afastássemos em direção aos brinquedos e se sentou em um banco para continuar a conversa com a sua mãe. E, aliás, se Patricia não fosse tão legal e simpática todas as vezes que nos falamos, eu teria ficado muito constrangida em ter atendido a sua ligação da forma que atendi. Lux não estava achando muita graça daquela história toda, então correu para o primeiro brinquedo em que queria ir. Fui atrás dela enquanto subia pela escadinha da entrada.
  - Espera por mim, Lux! – Pedi, fazendo-a parar quando já estava no topo.
  - Você vai brincar comigo, ? – Sorriu.
  - Posso?
  - Vem, veeeeeeem! – Esticou a mãozinha na minha direção.
  - Já vou! Só não me deixe cair, ok? – Antes de começar a subir, verifiquei se o brinquedo era realmente seguro. Bem... Seguro para alguém do meu tamanho.
  - Temos que passar pela ponte... E pelo túnel mágico... – Ia explicando enquanto eu terminava de subir naquela fundação de madeira.
  - Não gosto de túneis, Lux. – Fiz bico e a menina segurou a minha mão para que atravessássemos a ponte. – E essa ponte aqui parece... OH, NÃO! LUX, OLHA!
  - O que? O que? – Segurou com força nas cordas da ponte assim que chegamos ao centro dela. – Onde?
  - Lá embaixo! São jacarés! – Também segurei nas cordas e dei alguns pulinhos para que a ponte balançasse. – Corre, Lux, acho que a ponte está quebrando!
  - Rápido, vamos! – Entrando na brincadeira, correu o mais rápido que pode e parou já na outra parte do brinquedo, segura dos jacarés. – Vem, , não fica parada aí! Os jacarés vão te pegar!
  - Fuja, Lux! Não sei se consigo! – Dramatizei, sem sair do lugar. – Você pode se salvar!
  - Não sem você! – Com isso, a pequena voltou para a ponte e fingiu chutar jacarés imaginários. Ela parecia realmente enxergar os animais e até fazia barulhos de luta. – Vem comigo!
  - Você me salvou! – Segurei a mão dela e ambos corremos até a próxima parte segura do brinquedo. Sentei no chão de madeira como se estivesse cansada após uma longa batalha. – Obrigada, Lux. Eu teria virado picadinho!
  - É o que as irmãs fazem. – Sorriu, se jogando em meu colo pra poder me abraçar. - Vamos para o túnel mágico agora?
  Surpresa com o cuidado que a pequena estava tendo comigo, a segui para a próxima etapa. Lux estava acostumada a ser cuidada e protegida, mas naquela brincadeira, ela era quem estava cuidando de mim; mesmo que não soubesse que era só de brincadeira. Então essa mudança de papeis fez que um novo traço de sua personalidade aflorasse. A loirinha se mostrou extremamente protetora e uma ótima líder, sempre matando os jacarés que apareciam na nossa frente. Até mesmo quando eu fiquei meio em dúvida sobre atravessar um túnel estreito, ela me acompanhou e me apoiou até que eu estivesse do outro lado. Lux continuou na frente, seguindo o caminho até o escorregador mais próximo. Enquanto a seguia, procurei Zayn com o olhar ao notar que ele não estava mais no canto de antes. Ao invés disso, o menino se divertia em um dos balanços do parque. Eu senti que podia ficar observando-o fazer aquilo por horas, pois sua risada era quase inocente; linda.
  - Você não vem mais, ? – Lux perguntava lá de baixo, após ter escorregado.
  - Já estou indo! – Ri e me abaixei para poder fazer o mesmo que ela. Só torci pra não ficar entalada no escorregador. – Weeeeee.
  - Agora vamos na caixa de areia? – Apontou para onde algumas crianças montavam castelinhos.
  - Vá lá, Luxy. – A encorajei. – Tem amiguinhos novos pra você conhecer...
  Mesmo um pouco em dúvida se deveria ir ou não com aqueles estranhos americanos, a menina saltitou em direção ao novo brinquedo. A observei chegar lá em segurança e começar a conversar com uma menina morena de vestido florido para então dar meia volta e seguir para o meu próprio destino. Zayn me estudava enquanto eu caminhava em sua direção, parando de se balançar graduadamente. Ambos sorrimos um para o outro e me sentei no balanço livre ao lado do seu. Dei um pequeno impulso com os pés para que o meu brinquedo se mexesse e meus cabelos logo caíram de meus ombros.
  - Se divertindo? – Perguntei ao observar o menino ao meu lado.
  - Não tanto quanto ela. – Apontou para Lux e sorriu.
  - Acho que ninguém consegue se divertir tanto quanto ela. – Olhei a criança brincar com um balde que provavelmente pertencia á morena do vestido floral.
  - Eu estava pensando... – Começou, ainda olhando a minha irmã.
  - Eu sabia que tinha sentido cheiro de queimado. – Brinquei, interrompendo-o.
  - . – Me olhou sério, mas só me fez rir.
  - Desculpa! – Levantei as mãos e prendi um lábio no outro.
  - Como eu ia dizendo... – Rolou os olhos ao segurar um sorriso e continuou. – Lux se parece com você e com seu pai. Mas não com o Lou...
  - Você acha? – Encarei os meus próprios pés na grama, temendo o rumo que aquela conversa começava a tomar.
  - Cheguei à conclusão que é porque ele puxou a Jay e você e Lux ao Mark. – Deu de ombros. – Porque Lou não parece muito com o seu pai, agora que estou reparando...
  - Sei disso. – Suspirei. Então ele tinha percebido. – É porque Lou não é filho do meu pai. Não biologicamente falando, pelo menos...
  - Como é? – Parou de uma vez de se balançar e me encarou, seus olhos cheios de duvida.
  - Vou te contar a história. – Forcei um sorriso. Não era de fato um segredo, ainda mais por se tratar de Zayn. Finalmente consegui encará-lo para contar a confusão que era a minha família. – Quando a minha mãe conheceu o meu pai, ela já estava grávida do Lou. Mas o pai verdadeiro dele não queria um filho ou uma esposa, então foi embora e abandonou a minha mãe... E foi aí que ela conheceu o meu pai, em uma viagem que fez a Londres. Os dois se apaixonaram perdidamente, essa parte é verdade, e Mark percebeu que seria capaz de fazer qualquer coisa por ela e pelo filho que ainda iria nascer. Então eles se casaram antes mesmo que Lou viesse ao mundo.
  - Eu não fazia idéia... – Zayn absorvia as informações que eu acabara de jogar em cima dele.
  - Nós não gostamos muito de falar sobre isso, na verdade. Quero dizer, meu pai estava lá desde o nascimento de Lou e deu muito mais que um sobrenome. Deu amor... – Aquela história não era de fato triste, apenas... Ruim. – Então Mark é o pai dele. A única diferença é que não tem o mesmo sangue.
  - Você tem razão. E se não me contasse essa história, eu nunca desconfiaria. – Sorriu como se falasse “está tudo bem”. – E esse pai biológico... Vocês o conhecem?
  - Yeah... O nome dele é Troy Austin, mora em uma cidade ao sul de Paris. Nós o conhecemos há alguns anos atrás. – Afirmei, não gostando daquelas lembranças. – Lou encontrou o endereço dele em uma agenda da minha avó, então roubamos o carro de papá e dirigimos até lá.
  - E aí?
  - Bem... Pra ser bem sincera, ele praticamente fechou a porta na nossa cara. E tem uma filha chamada Georgia, que deve ter uns quatorze anos agora e é uma versão piorada da antiga Brigitte.
  - Então deixa ver se eu entendi... Você tem o Lou por parte de mãe e Lux por parte de pai. Lou tem você e essa tal de Georgia... Então a Lux só tem você.
  - Exatamente. – Ri baixo daquela pequena confusão. – E agora teremos as filhas de Dan. Phoebe e Daisy.
  - E eu achava que a minha família era complicada. – Também riu, me olhando com uma expressão divertida no rosto.
  - Agora você sabe onde está se metendo! – Estiquei a mão na sua direção, que logo encontrou com a dele. – Ainda dá tempo de sair dessa.
  - Não, obrigado. – Piscou, entrelaçando os nossos dedos.
  - Por falar nisso, o que a sua mãe queria? – Preferi mudar um pouco o assunto enquanto nos balançávamos de mãos dadas.
  - Saber se o programa que iremos hoje vai ser transmitido lá.

+++

  - , eu sei que você está chateada, mas não pode ao menos tentar ficar feliz por nós? – Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos, me fazendo tirar os olhos da janela do carro e olhar pra ele.
  - Eu estou feliz por vocês, baby, é claro que estou... – Suspirei, me esforçando pra sorrir. Em seguida, olhei para os outros meninos que estavam naquela van. – Eu entendo que esse programa é uma ótima oportunidade pra todos vocês.
  - Mas estamos de “férias”, então não deveríamos trabalhar. – Lou fez aspas no ar, sabendo que era aquilo que eu estava prestes a falar. Ele estava no banco da frente, ao lado de Liam e Ni. – , a gente não se importa. De verdade.
  - É até divertido! – Li se virou um pouco para poder me olhar. – Nós gostamos disso, , não se preocupe.
  - Acho que vocês tem razão. – Afirmei, resolvendo dar o braço a torcer.
  Não é que eu não estivesse animada com a idéia de os meninos se apresentarem pela primeira vez em um programa americano ao vivo, porque estava sim! O que me preocupava é que Marco nem ao menos perguntou o que eles achavam disso. Além de já terem trabalhado bastante nos últimos meses, a Modest! continuava a forçá-los a fazer mais coisas aqui ou ali. Hoje podia ser um programa de TV, mas amanhã seria uma turnê mundial. Eu sabia que os cinco gostavam daquele trabalho e que era o sonho de todos eles, mas eu tinha outras preocupações. Sentia como se eles estivessem sendo explorados agora que estavam no começo de suas carreiras, mas preferia guardar essas opiniões só pra mim.
  “Vamos lá, . Eles estão felizes. É o que importa.” Com esse pensamento, decidi apenas aproveitar o momento. Paul dirigia aquele carro e Rachel estava ao seu lado, mexendo algo em seu celular. Lux dançava em cima do colo de Niall e eu não sabia qual dos dois era o mais novo. Zayn brincava com os dedos da minha mão esquerda e Harry estava à minha direita, olhando pela janela. Desde que entramos no carro, o menino se mostrou mais calado que o normal e agora que eu o olhava com atenção, seu rosto parecia mais pálido que o normal.
  - Haz? – Toquei o seu joelho com a mão livre. – Você está bem?
  - Uh... Estou sim... – Sorriu, mesmo que não tenha me convencido muito. – Só estou um pouco nervoso.
  - Não precisa disso! – Encostei o rosto ao ombro dele e suspirei. – Vocês vão ser perfeitos, como sempre.
  - É só uma música e uma entrevista, nada demais... – Haz parecia falar mais pra si mesmo do que pra mim.
  - Sem falar nas milhões de pessoas assistindo vocês pela TV. – Comentei como se não fosse nada de mais. – Pela internet... Em outros lugares do mundo...
  - Muito obrigado, . – Dessa vez foi Liam quem pareceu ficar nervoso.
  - Sempre que precisar! – Ri.
  - Meninos, acabei de ser informada que não teremos muito tempo antes de entrarem em cena... – Rachel se virou para falar com os meninos. – Então podem começar a aquecer as vozes e fazer aquela baboseira toda.
  - Não é baboseira, pesant. – Lou reclamou.
  - Tá, tá, como quiser. – A mulher riu, sem dar muita importância. – , se lhe perguntarem...
  - Já sei, Rach. Falo que estou usando Mulberry e blábláblá. – Rolei os olhos. – Não é a minha primeira vez.
  - E depois somos nós que trabalhamos demais... – Zayn me reprovou com o olhar.
  - É diferente, ok? – Cerrei os olhos. – Só o que eu tenho que fazer é usar essas roupas bonitas e aparecer na frente das câmeras.
  - É mais ou menos o que nós fazemos também. – Ni riu; e foi o único.
  Todos os meninos pareceram se entreolhar após Niall continuar rindo daquela piada que ninguém conseguia enxergar a graça. Se estivesse ali, eu tinha certeza que ela o teria chamado de idiota e os dois acabariam se beijando no final e tudo ficaria bem. Ah, como eu queria que ela estivesse ali! Sentia falta da minha ruiva e da minha loira, que deviam estar na minha casa agora, cuidando do meu filho. Queria que Liv e pudessem estar indo ao estúdio do Today Show, mas sabia que elas não podiam ter feito essa viagem comigo; mesmo que por razões diferentes. Os cinco logo começaram a fazer baboseira que Rach se referira. Se juntaram em uma voz só e começaram a fazer exercícios de aquecimento para as suas cordas vocais, em um conjunto de “aAaaAaaAs”, “oOoOooOs” e etc. Eu devia estar acostumada, mas ainda morria de rir quando Liam imitava algo que me lembrava muito uma galinha ou quando Louis afinava a sua voz. Lux também se divertia muito e se juntava a eles.
  Assim que Paul estacionou o carro na vaga reservada para nós no estúdio do programa de TV, Liam abriu a porta da van e foi o primeiro a descer. Quase no mesmo instante, gritos puderam ser escutados e nos fizeram olhar em volta. De um em um, fomos descendo até que pudéssemos nos situar do que estava acontecendo ali. Há alguns metros de distância, um grupo razoavelmente grande de fãs se encontrava espremido em grades de ferro, na esperança de conseguir ver os meninos. Mesmo de longe, conseguíamos ler algumas placas que falavam o quanto elas amavam o One Direction e agradeciam por eles estarem naquele país. O sorriso dos meninos era simplesmente enorme. Era a primeira vez naquele país que algo assim acontecia, então é claro que não poderiam deixar passar em branco.
  Como Marco já devia estar dentro do estúdio e longe dali, não poderia reclamar se os meninos fossem cumprimentar suas fãs. Lou olhou para Rach e Paul, como se precisasse de uma espécie de permissão. A loira apenas balançou a cabeça afirmativamente; dando a deixa para que os quatro meninos pudessem correr em direção à grade. Os gritos aumentaram consideravelmente, me fazendo rir. Zayn foi o último a ficar ali, com um braço em volta da minha cintura, até que eu aceitasse ir com ele para perto dos outros. Lux estava com a mãe, mas correu ao nosso encontro assim que viu que eu também iria.
  - Elas querem você, não eu! – Me soltei de Zayn, empurrando-o na direção de um grupo de meninas que pedia uma foto com ele.
  - Eu já volto! – Sorriu e deixou um beijo em meus lábios antes de correr até elas.
  - Awn, vocês dois são tão fofos! – Uma garota falou, fazendo-me corar. – , certo?
  - Sim, certo! – Acenei para ela, segurando a mão de Lux; que também acenou.
  - Essas são as nossas garotas! – Harry, que acabava de tirar uma foto com duas fãs, apontou para mim e Lux.
  - São lindas. – Uma outra garota falou.
  - Tinham que ser minhas irmãs! – Lou se gabou, fazendo com que nós duas nos aproximássemos dele.
  - Vem aqui, ! Tira uma foto com a gente? – A mais baixinha me chamou. – Você também, pequena linda!
  - O que acha, Luxy? – Perguntei à minha irmã, que logo afirmou que sim com a cabeça.
  A peguei no colo e nos aproximamos da primeira menina. Zayn pegou a câmera dela também se juntou para tirar a foto de nós quatro. Depois dessa primeira fã, mais algumas pediram fotos comigo ou com os meninos. Lux não entendia quase nada. Ela podia estar acostumada com esse tipo de atenção, mas em sua cabeça, os meninos ainda eram “pessoas normais”. Também era comum ela receber mais atenção que eu, por ser uma bebê e não namorar com nenhum dos meninos. Eu entendia as fãs, claro. Também nunca ia com a cara das namoradas dos meus ídolos. Um exemplo puro disso era a Lara Jones, namorada do Dougie do McFly. Só cheguei a começar a suportá-la depois que a conheci pessoalmente. E olhe lá! Claro que existiam exceções, como a Gi, por exemplo. Esposa do Tom. Sempre gostei dela e sei que parte disso se devia ao fato de ela sempre ter estado ao lado dele, desde o começo da banda. O que era o meu caso; eu estava ao lado de Zayn desde sempre. Só podia torcer que seria uma exceção também.
  - Love, temos que ir... – Toquei o ombro de Zayn enquanto ele assinava o pulso de uma garota. – Rach está fazendo aquela cara.
  - Aquela cara? – Fez careta e me olhou. – Estamos encrencados.
  - Pode apostar. – Ri e me virei para os outros meninos. – Lads, tá na hora!

+++

  Maquiagens feitas, cabelos arrumados e nervos a flor da pele, todos os meninos estavam prontos para entrar no palco! O intervalo do programa logo seria anunciado pelo apresentador e então eles iriam se preparar para poder aparecer. Cada um dos cinco havia ganhado um daqueles microfones que são escondidos na roupa, além disso, ganhariam outros quando fossem cantar. Harry e Louis se abraçavam, o mais velho tentando acalmar os nervos do mais alto, Liam “meditava” e Ni falava ao telefone com a sua mãe. Péssima hora pra ela ligar, eu sei! Ao menos o irlandês estava calmo. Quem não estava calmo, aliás, era Zayn. Ele vinha se sentindo enjoado desde que avisaram que só teriam dez minutos e ficava andando de um lado para o outro. No começo foi um pouco engraçado, mas agora eu começava a me preocupar.
  - Assim você vai furar o chão! – Me coloquei na frente dele, forçando nossos corpos a se esbarrarem. Diferente do que eu esperava, ele não voltou a se afastar e me abraçou com força. – Baby...
  - Eu estou nervoso, . E se eu esquecer a letra? E se eu desafinar? – Pressionou o rosto em meu pescoço e o envolvi pelos ombros.
  - Você não vai esquecer a letra e nem desafinar! – Tentei acalmá-lo da melhor forma que pude. – Você vai ser ótimo! Todos vão.
  - One Direction, dois minutos. – O produtor do show anunciou.
  - É agora que eu desmaio! – Liam pensou alto.
  - Abraço em grupo! – Puxei Zayn pela mão até que nós dois pudéssemos nos juntar aos outros quatro.
  - Vamos ser incriveeeeeeis! – Niall se forçou entre eu e meu namorado, nos abraçando pelos ombros.
  Ni era o único que não parecia estar nervoso e eu esperava que a sua animação contagiasse os outros meninos. Harry, Lou e Liam se juntaram ao abraço que se tornara uma espécie de ritual entre nós. Mesmo quando eu não podia estar no meio, sabia que eles se abraçavam como uma forma de mostrar que estavam juntos nessa e que não importava o que acontecesse, um teria o apoio do outro. Assim que nos separamos, Zayn me puxou para um beijo de boa sorte (que só eu podia dar, aliás, mesmo que Liam se oferecesse constantemente) e fui me juntar a Rachel. Nós duas tínhamos a opção de ficar ali atrás ou ir assistir o programa na platéia, então escolhemos essa segunda opção.
  Lux preferiu ficar nos braços da mãe dessa vez e nós três seguimos um dos funcionários do Today. Passamos por uma porta e chegamos ao estúdio. O lugar não era tão grande assim e apenas cem pessoas mais ou menos pareciam estar por ali. Isso se ignorássemos todos os telespectadores que estavam assistindo através das cinco câmeras espalhadas que focavam o palco do programa. Descobrimos onde deveríamos sentar e fomos nos juntar a alguns outros convidados que também vieram acompanhar amigos ou familiares que foram ou iriam ser outras atrações daquele show.
  - Mummy, porque estamos aqui? – Lux perguntou ao ser colocada entre eu e a mãe.
  - Vamos ver os meninos! Eles vão entrar ali, oh... – Apontei para uma rampa e as luzes do estúdio diminuíram para em seguida acenderem. – Acho que vai começar! Shh.
  - Estamos de volta com o seu Today Show!! – A apresentadora bem arrumada anunciou, levantando da sua poltrona confortável. Enquanto nós a aplaudíamos, ela olhava em suas plaquinhas. – Como todos estavam esperando, eu gostaria de chamar ao palco esse grupo de cinco britânicos lindíssimos! One... Direction!
  - Yaaaaay! – Gritei no meio de outros gritos e bati palmas.
  - Olha, olha! – Lux ficou louca, apontando para os meninos enquanto eles acenavam e desciam a rampa, bem mais calmos que antes.
  - Tudo bem, L.A.?! – Liam acenou e depois fez uma careta adorável para a câmera.
  - Oi, todo mundo... – Harry acenou para a platéia, que gritou ainda mais.
  - Uau, essa é a recepção que vocês recebem em todo lugar que vão? – A apresentadora perguntou, abraçando de um por um.
  - Geralmente sim! – Lou foi o último a se sentar no sofá que havia ali, por isso quase não coube. – Mas nós amamos. É realmente muito bom receber essa energia toda dos fãs.
  - E como vocês lidam com essas coisas... Do tipo, andar pela rua, pegar um ônibus? – Os ânimos da platéia começaram a diminuir e a entrevista pode ter inicio. – Porque deve ser uma loucura com todas essas garotas gritando por vocês! É possível ainda fazer isso, ou...?
  - Ainda é possível fazer isso, sim... – Lou começou a responder.
  – É mais difícil quando nós cinco estamos juntos. – Liam confirmou.
  - É verdade, quando estamos juntos é mais complicado, ou até mesmo em dupla. – Lou olhou para os meninos, como se perguntasse se podia continuar a responder. – Mas mesmo assim, ainda é possível fazer essas coisas normais. A diferença é que às vezes temos que parar pra tirar fotos ou dar autógrafos.
  - Ainda é um pouco estranho acreditar que somos reconhecidos na rua. – Niall riu, olhando para Lou e em seguida para Chelsea, a apresentadora. Os meninos tratavam meu irmão como se ele fosse o líder, sempre buscando a sua afirmação. – Até ontem nós éramos cinco amigos cantando pra nos divertir e hoje podemos fazer isso como profissão.
  - É bem surreal mesmo. – Zayn abriu a boca pela primeira vez.
  - E quem dos cinco recebe mais atenção? – A loira parecia realmente interessada.
  - Harry Styles! – Os quatro responderam de uma vez, menos Harry, que cobriu o rosto, tímido.
  - Eu acho que é o cabelo... – Liam brincou, bagunçando os cachos de Harry.
  - Harry é charmoso... – Lou suspirou ao olhar o namorado, mesmo que ninguém mais pudesse saber disso.
  - E porque não falam um pouco sobre o primeiro single de vocês? Vamos ouvi-lo daqui a pouco e eu preciso dizer que é bem contagiante.
  - Nós estamos muito felizes com ele, porque mostra bem o que nós queremos passar... – Ni começou. – Ainda mais por ter sido a primeira coisa que escrevemos juntos com uma banda, então é algo bem importante pra todos nós.
  - E vocês tiveram muito trabalho, não é? Filmando o vídeo clipe...
  - Com certeza! Passamos dias na praia... Eu até ganhei uma queimadura do Sol. Terrível! – Li brincou com uma risada. – Não, na verdade foi muito bom gravar esse clipe. Nós nos divertimos muito e a equipe inteira foi simplesmente incrível.
  - Qual foi a praia onde vocês filmaram? – Chelsea se mexeu na cadeira, chegando mais perto dos meninos e cruzando as pernas.
  - Malabami... – Zayn respondeu, causando risadas nos outros meninos. – O que foi?
  - Malibu, Zayn... – Liam o corrigiu e mesmo estando longe, eu podia ver as bochechas dele adquirindo um tom avermelhado.
  - Malibu! Eu não sei porque falei Malabami. – Riu, tentando se desculpar. Mas ele estava sendo tão fofo que eu não acho que alguém tenha se importado com aquele pequeno erro.
  - E o X Factor, huh? Foi uma mudança drástica na vida de vocês!
  - Principalmente por nem sabermos que estávamos concorrendo ao concurso! – Lou falou e me encarou. – Mas muito obrigado a minha irmã, que sempre acreditou que conseguiríamos.
  - De nada. – Sussurrei com um sorriso, sabendo que não seria escutada por ninguém.
  - Então acho que é a ela que suas fãs em que agradecer, não?
  - Com toda certeza! – Liam sorriu. – Mas foram os fãs que votara pra que ganhássemos e são eles que nos dão apoio e tornam tudo isso possível, então somos nós que devemos agradecê-los!
  - Awn, como são lindos! – A apresentadora riu e trocou a ordem das fichas em suas mãos. – Bem, logo teremos que seguir com o show, mas temos tempo para mais uma pergunta! Essa é a que vocês estavam esperando, meninas.
  - Ah, não... – Harry riu. – Estou com medo!
  - Tenha medo mesmo, Harry! – Chelsea também riu. – Vamos ao que interessa! Quem... De vocês... Está... Namorando?
  - Zayn e Liam! – Niall foi o primeiro a responder, apontando para os dois. Harry e Lou se entreolharam e trocaram um sorrisinho rápido, mas me doeu porque eles não podiam admitir o próprio relacionamento.
  - Mas não um com o outro! – Liam gargalhou, mal podendo se mexer naquele sofá apertado demais para os cinco. – Minha namorada se chama Danielle.
  - A minha garota se chama e ela é a melhor namorada do mundo. – A resposta de Zayn me fez corar, ainda mais porque ele estava olhando pra mim ao falar isso. – Eu não seria nada sem ela.
  - Temos um romântico aqui, pessoal! – A mulher sorriu, olhando para uma câmera. – E não é difícil ter esses relacionamentos quando vocês estão sempre na estrada e longe de casa?
  - É difícil, mas não impossível. Quero dizer... Vale a pena lutar, sabe? E quando estamos juntos de novo, é muito melhor. Parece que damos mais valor aquilo que nós temos. – Zayn podia ter ficado calado durante a maioria da entrevista, mas agora falava tão naturalmente que até fiquei impressionada. – Claro que é muito bom quando as nossas namoradas podem nos acompanhar em viagens e essas coisas.
  - E elas fazem isso muitas vezes? Sempre acompanham vocês?
  - A minha irmã nos acompanhou em algumas viagens curtas pela Europa, mas é a primeira vez que ela vem em uma mais longa... – Lou apontou pra mim na platéia. – Ela é a .
  - Minha namorada. – Zayn reforçou.
  - Oi... – Falei meio sem jeito, acenando para todos que olhavam pra mim.
  - Ela não é linda? – Harry piscou pra mim.
  - Maravilhosa! – Chelsea exagerou e eu sabia disso. – Bem, porque não vamos logo ao principal? Cantam What Makes You Beautifil pra gente?
  - Claro!

+++

  - Vocês o acharam? – Perguntei um tanto afobada após sair do hotel e encontrar Louis e Liam na calçada.
  - Ali... – Liam apontou para um menino sentado na areia da praia na frente do hotel. Mesmo de longe era possível ver que ele estava de cabeça baixa. - Acho que alguém devia ir falar com ele.
  - Só uma pessoa. – Louis afirmou, dando um passo a frente. – Eu vou.
  - Lou, por favor. – O segurei pelo braço, impedindo que andasse mais. – Me deixa ir?
  - ... – Suspirou, louco pra dizer não.
  - Eu sei que ele é seu namorado, mas Harry foi meu melhor amigo antes de ser o seu. – Meu motivo era bem melhor do que qualquer um que ele pudesse ter.
  - Tudo bem. – Bufou baixo, mas sabia que eu tinha razão. – Só... Me avisa, ok?
  - Claro que sim. – Sorri fraco e afirmei com a cabeça. – Pode ficar tranqüilo.
  Tranqüilo era a última coisa que Louis ficaria naquele momento. Na verdade, era a última coisa que qualquer um de nós ficaria naquele momento. Havíamos voltado do Today Show havia pouco mais de duas horas e durante mais da metade desse tempo, Harry sumira. O pior era que todos nós sabíamos o motivo que o levara a se afastar e ficar sozinho ali na praia, a poucos minutos do pôr-do-sol. A apresentação dos meninos de What Makes You Beautiful foi ótima, claro, mas Haz encontrou um pouco de dificuldade durante o seu solo. O que aconteceu na verdade foi apenas uma falta de fôlego que poderia ter acontecido com qualquer um. Ou seja, Haz quase não conseguiu cantar o seu solo e por isso ficou decepcionado consigo mesmo, acreditando que tinha estragado tudo. É claro que não estragou nada, mas por mais que falássemos isso pra ele, o menino não conseguia mais sorrir.
  Foi difícil assistir aquela “falha” do meu melhor amigo e não poder fazer nada. O mesmo foi o que li no olhar dos outros quatro meninos. Todos sabiam o que devia estar se passando na cabeça de Harry no momento que as palavras não saiam de sua boca por causa da falta de ar que ele estava sentindo. Ninguém do programa ou da platéia falou coisa alguma e todos aplaudiram de pé quando a música terminou, porém, isso também não foi o suficiente para acalmar os nervos do menino em questão. Atravessando a rua sem esperar o sinal de pedestres abrir, corri com meus saltos nas mãos. Não tivemos tempo de trocar de roupa, por isso eu ainda estava com aquele vestido curto, mas não dava a mínima.
  - Posso sentar? – Anunciei a minha chegada devagar.
  - Uhum. – Harry não levantou a cabeça para me olhar, mas limpou o rosto como se tentasse esconder lágrimas. Na sua outra mão estava o celular, que ele também tentou esconder.
  - O que você tem aí? – Perguntei com calma, sem obrigá-lo a me mostrar. Finalmente me sentei na areia e estiquei as pernas na minha frente, deixando meus sapatos de lado.
  - Eu só estava pesquisando... – Respondeu com a voz embargada. – Vendo o que estão falando sobre a apresentação de hoje...
  - E o que achou? – O olhava mesmo que fugisse de meu olhar. Sem falar nada, apenas me entregou o aparelho para que eu mesma pudesse ler. – “Harry Shit”? Harry, porque você pesquisou isso?
  - É como me sinto. – Deu de ombros e eu vi seus olhos verdes brilharem por causa de novas lágrimas que ele lutava pra segurar.
  - Você não pode ler apenas as coisas ruins, Haz... Tem gente falando coisas boas também... – Tentei.
  - Se tem três pessoas falando que eu sou incrível... Por que eles estão falando isso? Porque são fãs... – Harry começou, se permitindo me fitar com suas orbes esverdeadas. – Mas se tem uma pessoa falando: “Eu te odeio”... Por que você me odeia? Entende? Eu quero saber porque me odeiam... O que eu fiz? Eu sei ser criticado, com certeza. Mas se é tipo “eu não gosto de você”, eu quero saber por que não gostam de mim.
  - Eu te entendo... – Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Me partia o coração ver aquele menino que costumava ser tão alegre e adorável falar aquelas coisas com tanta dor. Era simplesmente horrível.
  - Eu sempre quis ser uma daquelas pessoas que não se importa com o que as pessoas falam... – Respirou profundamente, deixando as lágrimas caírem em suas bochechas. – Mas eu acho que não sou.
  - Você é tão incrível, sweetie. Sinceramente. Você tem um coração enorme que mal cabe dentro de você. Você é doce, tem um jeito de ver o mundo que ninguém mais tem. Você é bom, você importa. – Fechei a área de pesquisa do celular e me concentrei apenas em Harry, colocando uma de suas mãos no meio das minhas. – Acima de tudo, você está cercado por pessoas que te amam. Você tem a mim, aos meninos, ao Lou... Sua família, a minha família... E você tem milhares de pessoas que nem conhece, mas que te amam também. O que aconteceu hoje? Não é nada comparado ao que você já fez por aí ou o que ainda vai fazer.
  - Mas eu falhei... – Soluçou.
  - Não falhou coisa nenhuma! – Balancei a cabeça, falando sério. – Você só perdeu o ar e isso acontece. É apenas um problema que teremos de lidar. E eu trouxe algo pra você.
  - O que? – Secou os olhos mais uma vez enquanto eu tirava algo do bolso interno do meu vestido.
  - Digamos que é uma velha amiga. – Sorri fraco ao passar uma bombinha de asma para ele.
  - Onde você achou isso? – Arqueou uma sobrancelha, levando o remédio até a boca e acionando-o.
  - Lou sempre carrega uma dessas na mala, quando vocês dois tem que viajar. – Admiti, contando aquilo que devia ser um segredo. – Só por precaução.
  - Ele me conhece...
  - Mais do que você imagina. – Sorri, abrindo os braços pra que ele pudesse entrar ali.
  - Obrigado, . – Fungou mais uma vez, seu choro começando a diminuir.
  - Sempre que precisar, curly.

    

Chapter VI

Sábado chegou e trouxe com ele todo aquele agito de final de semana. Tendo isso em mente, alguém precisava explicar para Marco o conceito de “férias”. Estar de férias significa relaxar, aproveitar seu tempo livre fazendo coisas que apenas lhe agradam, não estudar, não trabalhar. Principalmente: Não ir a uma reunião que estava demorando mais pra acabar do que eu demorei pra nascer. Não estou sendo dramática – não muito, pelo menos. Pra você ter uma pequena noção do que eu estou falando, passava das quatro horas da tarde e os meninos haviam “sumido” desde as sete e meia da manhã. Tudo culpa desse empresário de araque que não respeitava o espaço que Zayn, Harry, Louis, Liam e Niall precisavam para recuperar as energias da maratona que vinham enfrentando a um bom tempo. Algo que me incomodava bastante era que eu parecia ser a única a perceber isso. Não sei se era o meu sexto sentido feminino ou se existia algum clausula no contrato com a Modest!Management que os proibia de reclamar.
  Sentei na cama, bufando de tédio. Não estava afim de ir a praia sozinha e nem de voltar para a piscina, já que ela apenas conseguiu me distrair durante algumas horas naquela manhã. Ir passear pelas lojinhas da área comercial do hotel também estava fora de cogitação. Nem ao menos Paul pode ficar ali pra me fazer companhia! Pelo que eu entendera, todos que estavam relacionados a banda eram obrigados a comparecer pontualmente àquela reunião nos estúdios da Syco Entertainment. Desconfiava que até mesmo Simon fosse dar uma passadinha lá antes de ir para a gravação do novo episódio do X Factor americano. Rachel e Lux também foram convocadas (bem, mais Rach do que Lux, mas enfim), o que me deixou extremamente excluída dessa história toda. Tudo bem, eu não trabalhava com a banda, mas era praticamente a fundadora! Deveria no mínimo ganhar um monumento como o de Abraham Lincoln em Washington DC.
  Deixando meu drama momentaneamente de lado, estiquei a mão para recuperar o meu celular do criado mudo ao lado daquela cama de hotel. “Nenhuma mensagem nova.” Repeti na minha cabeça. Me chame de grudenta se quiser, mas é errado uma namorada pedir noticias para o seu namorado que prometera voltar na hora do almoço? Também achei que não. Tudo bem que doze mensagens pode ser um pouco de exagero, mas sabia que Zayn não se importaria. Se qualquer coisa, ele gostaria de ver que eu sentia sua falta. Antes de poder digitar a minha décima terceira mensagem, senti o aparelho vibrar sobre os meus dedos, avisando que eu recebia uma ligação. O nome que apareceu na tela não era de nenhum dos meninos raptados, mas me senti igualmente feliz ao aceitá-la.
  - Bonjour, nana. – Saudei, voltando a me acomodar nos travesseiros de pena de ganso.
  - , minha neta preferida! – Jolene falou do outro lado e só a sua voz já foi capaz de acalmar o meu humor.
  - Sou sua única neta, vó. – Ri, mesmo sabendo que seria a sua preferida mesmo entre milhares de outras. – Como a senhora está? Faz tempo que não nos falamos.
  - Tempo demais! Eu sabia que você devia estar se divertindo aí do outro lado da lagoa, então não quis te atrapalhar... Mas eu estou bem, minha querida. E você?
  - Melhor agora que estou escutando a voz da minha nana! – Soei infantil, mas quem se importava? – Fico feliz que tenha ligado.
  - Estou ligando pra confirmar o dia que você vem... Não mudou de idéia quanto a vir antes do grande dia da sua mãe, certo?
  - Claro que não! Na verdade, estou mais certa do que nunca. Vou levar dois amores comigo, tudo bem?
  - Oh, que ótimas noticias! Zayn virá com você?
  - Ele não perderia a sua comida por nada. E também vai gostar muito da senhora.
  - Vou preparar um banquete pra quando vierem! Já tem uma data mais ou menos certa? Só pra que eu possa me organizar...
  - Se organizar? Nana, eu morava aí, ok? – Segurei mais um riso. Não queria ser tratada como visita na minha própria casa.
  - Ora, então não quer a sua torta de maçã com canela? Tudo bem...
  - Nana, nana! Quem disse isso? – Me desesperei. Aquela ameaça era golpe baixo. – Só um minuto, tá bem? Tenho certeza que Zayn anotou essas coisas em algum lugar...
  Prendi o celular entre a orelha e o ombro enquanto levantava da cama e corria até uma mesinha no fundo do quarto. Meu namorado podia ser organizado quando se tratava das suas roupas, mas em relação ao resto ele era uma completa negação. Todos nós estávamos com as nossas passagens de volta marcadas para dali a mais ou menos uma semana, mas eu queria ter certeza. Escutei a risada doce da minha avó enquanto revirava alguns papeis até encontrar o que estava procurando.
  - Achei! – Afirmei, voltando a segurar o iPhone com a mão direita e o papel na esquerda. – Dia sete de julho dá em um domingo... É quando voltaremos pra Londres. Então acho que na segunda feira já estaremos por aí!
  - Vai passar o seu aniversário conosco? – Minha avó parecia ter recebido a melhor noticias de todas. – Já tenho tantos planos...
  - Nana, eu não quero nenhuma festa. – Tinha certeza que a decepcionaria, mas não seria a mesma coisa sem meu avô para me lembrar de fazer um pedido antes de apagar as velas. – Só quero passar o dia com vocês... Mas não negarei a minha torta.
  - É uma escolha sua, . Mas eu não me importaria de organizar uma reuniãozinha...   - Quando eu chegar aí, nós decidimos, tá bem? – Não me sentiria bem negando de uma vez, ainda mais pelo telefone. Minha avó gostava de fazer aquelas coisas por mim e pelo meu irmão.
  - Claro, ma chère. Escute, devo ir agora. Já está tarde e o sono está começando a me vencer...
  - Sono? – Levei alguns segundos para me tocar que em Paris era quase meia noite. Maldito fuso horário! – Oh, é verdade! Nos falamos logo, nana. Bonne nuit!
  - Bonne nouit, dear.
  Eu nunca parava de sentir saudades da minha avó, mas acho que depois de quase um ano morando longe de Paris, já havia me acostumado relativamente a conviver com aquele aperto no coração que me atormentava sempre que nos falávamos pelo telefone. Desencostei da poltrona onde sentara após achar os papeis com as datas de viagem e caminhei de volta para a cama, me preparando para voltar a ficar entediada. Ainda com o aparelho celular na mão, reparei em um pequeno envelope que não estava ali antes. “Uma mensagem!” Mas novamente não era Zayn.

  
Ainda vai vir ao Summer Fest? Wesley quer te ver, mas não diga a ele que eu falei isso. xx – K.”
  “Se ele quer me ver, porque é você que está me mandando essa mensagem? Haha. xx – .”
  “Perguntei a mesma coisa, mas quem o entende? Só sei que ou eu mandava, ou corria o risco de ser atirado do palco!”
  “Espero que ele esteja lhe pagando muito bem por esses serviços de carteiro!”
  “Penso seriamente em aumentar o meu preço. Mas então, vai vir? Ele vai morrer se não receber uma resposta...”
  “Eu não sei... Admito que esqueci que era hoje. Tinha combinado de ir com os meninos, mas eles me abandonaram aqui sozinha!”
  “Está sozinha? Mais uma razão pra vir. Aqui tem comida, brinquedos, montanha russa...”
  “Começou a me convencer! Haha Mas ainda não sei...”
  “Quer mesmo gastar um sábado inteiro trancada em um quarto? Venha dizer oi para o Sol!”

  Keaton tinha bons argumentos. Aquele seria o meu último sábado antes da véspera da minha viagem de volta para Londres. Minha amada e nublada Londres. Onde eu não tinha praia, um céu extremamente azul ou temperaturas elevadas. É, Keath tinha argumentos muito bons! Sem falar que o Summer Fest prometia ser muito divertido. A única coisa que me deixava com um pé atrás era a minha desconfiança de que talvez Wesley não quisesse apenas me “ver”. “Pare de pensar besteira. Ele sabe que você tem namorado.” Isso mesmo, consciência. Além do mais... O que teria de errado em ir me divertir um pouco?

  
“Estarei no píer em vinte minutos.”
  

+++

  Ok, posso ter demorado um pouco mais que vinte minutos para trocar de roupa, arrumar o meu cabelo em uma trança de lado, sair do hotel, encontrar um taxi na rua e finalmente chegar ao Píer de Santa Monica onde o Summer Fest tinha se iniciado. Segundo o motorista amigavelmente informativo que me dirigiu até ali, o festival desse ano estava acontecendo naquele dia por culpa do solstício de verão; o dia mais longo do ano. Geralmente este fenômeno acontece em junho, mas por culpa do efeito estufa ou qualquer outra coisa desse estilo que não prestei muita atenção durante as minhas aulas de ciências, o dia atrasou consideravelmente a chegar. De qualquer forma, todas as pessoas que passavam por mim pareciam muito felizes e animadas por estar ali. Apesar do calor, ninguém parecia ter preocupação alguma no mundo inteiro.
  Diferente de mim, que tinha uma única apreensão: Encontrar Wes, Keath ou Drew. Como naquele dia em especial não era preciso comprar ingresso para entrar no pequeno parque de diversões montado em cima do píer, apenas atravessei a catraca e tentei sair do caminho das pessoas já acompanhadas que corriam para os primeiros brinquedos de suas pequenas aventuras. Preferi me esconder em uma sombra atrás de uma placa decorativa que dizia “End of the Road” e peguei o celular para ligar ou apenas mandar uma mensagem para qualquer um dos três meninos que deveriam estar me esperando ali.
  - Achei que você tivesse se perdido! – Antes mesmo que eu digitasse qualquer coisa, escutei uma voz não muito íntima, mas mesmo assim conhecida, atrás de mim.
  - Hey, Drew! – Sorri, me colocando na ponta dos pés para abraçá-lo. Porque todo mundo tinha que ser mais alto que eu? – Não me perdi, só tive um pouco de trabalho pra encontrar o que vestir.
  - Fez um bom trabalho. – Senti suas mãos quentes em volta da minha cintura nua. Ok, talvez eu devesse ter escolhido uma blusa que escondesse mais da metade da minha barriga. Mas as pessoas de LA não pareciam se importar em mostrar um pouco mais de pele, então porque eu deveria? – Nós nos dividimos pra te procurar! Como eu te encontrei, ganhei o prêmio.
  - Qual é o prêmio? – Perguntei realmente curiosa, andando ao lado do loiro enquanto ele mostrava o caminho que deveríamos seguir.
  - Você vai ver. – Piscou, mas não com segundas intenções. – Ali estão eles!
  O menino apontou para os dois irmãos que se penduravam em uma das cercas de madeira que cercavam o píer. Para alguém que deveria estar me procurando, nenhum dos dois parecia fazer um bom trabalho. A não ser, é claro, que imaginassem que eu chegaria nadando pelo mar que pacientemente se movia lá embaixo. Drew não se importou em tocar os meus ombros enquanto andávamos, da forma que eu tinha certeza que Wes faria, e nos juntamos aos outros dois que ainda não haviam notado a minha chegada, apenas a do terceiro garoto.
  - Alguma sorte procurando ela aí embaixo? – Drew perguntou, assustando os dois.
  - Não estamos procurando a aqui, jerk. – Wes o xingou em tom de brincadeira, se virando na nossa direção.
  - Por mais que ele ainda ache que ela é uma sereia... – Keath confessou, me fazendo rir. Meu som fez com que os outros dois finalmente me olhassem e suas expressões foram mais engraçadas ainda. – Oh... Você está aí...
  - Não ligue para o que ele falou, ... – Wes podia ser bem bronzeado, mas ainda fui capaz de encontrar resquícios de um pequeno rubor em suas bochechas.
  - Eu nem sei do que está falando. – Preferi ignorar o pseudo-elogio e apenas sorri, deixando que o menino me abraçasse. – É bom te ver, Wes! Ainda quero novas aulas de surf.
  - É só marcar. – Sorriu de volta, separando-se de mim.
  - É impressão minha, ou você está mais loira do que da última vez que nos vimos? – Keath foi o último a me abraçar, me fazendo bufar com aquele comentário.
  - Não estou loira! – Reclamei, rolando os olhos. – É culpa desse sol que está clareando a cor, mas ainda é um tom castanho caramelizado...
  - Pra mim é loiro. – Wes provocou, cruzando os braços.
  - Querem parar com isso?! – Bati o pé, mas não consegui ficar brava por muito tempo. A atmosfera daquele lugar era boa demais. – Quanto tempo vocês tem antes de subir ao palco?
  - O bastante. – Drew se espreguiçou, flexionando os músculos e fazendo um grupinho de meninas que passava por nós trocar sussurros e gritinhos nada discretos. – Quem está lá agora é a banda We The Kings, conhece?
  - Não por nome... Essa música que está tocando é de lá? – Achei impressionante que a música que estava sendo tocada ao vivo no palco no fundo daquele píer pudesse ser escutada dali. Claro que eu via as caixas de som espalhadas, mas ainda assim. – O sistema de áudio deve ser muito bom...
  - Vamos mesmo ficar conversando sobre tecnicalidades ou podemos ir nos divertir?! – Keath meio que me interrompeu, mas não achei ruim. – Isso é um festival, for God’s sake!
  - , quer escolher o primeiro lugar aonde vamos? – Wes ofereceu.
  - No way! – Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Drew se colocou na minha frente. – Eu a achei. O combinado era que eu escolheria primeiro.
  - O que aconteceu com “primeiro as damas”, Chadwick? – Keath cruzou os braços, mas algo me dizia que ele estava se divertindo com aquilo tudo.
  - Não tem problema... Ele ganhou, então tem direito. – Coloquei uma mão no bolso e dei de ombros. – E quero andar em todos os brinquedos, então não me importo muito...
  - Então está feito! – O mais loiro dos três sorriu satisfeito pela sua vitória. – Vamos à Casa Maluca.
  Eu tinha um bom conhecimento de Casas Malucas, principalmente por costumar me perder dentro delas, mas esperava que ali nos Estados Unidos as coisas fossem um pouco mais fáceis. De qualquer forma, Drew tinha o direito de escolher e mesmo que eu tivesse sentido um pequeno frio na barriga ao me imaginar perdida em um labirinto de espelhos, seria obrigada a acompanhá-los. Os olhares cresciam conforme adentrávamos o festival e eu sabia que o motivo disso era os meninos que estavam ao meu lado. Ao menos ali não havia nenhum paparazzi e nenhuma garota os parou para tirar fotos ou pedir autógrafos. Acho que em um parque de diversões, as atrações principais não eram eles.
  Andamos por um pouco mais de três minutos – não, eu não estava cronometrando – e pude enxergar a tal casa maluca. A instalação de três andares era tão brilhante e colorida que meus olhos tiveram que se acostumar com aquele excesso de informações. Incrivelmente não havia fila alguma esperando para entrar no brinquedo, então qualquer um que chegasse ali podia simplesmente começar a se divertir. O som que vinha lá de dentro era uma mistura de portas batendo, gritos, risadas e mecanismos pesados sendo acionados; sem falar de um barulho realmente alto que eu não conseguia identificar ainda, mas me assustava cada vez que eu o ouvia. Drew e Keaton nem ao menos esperaram que eu e Wesley o acompanhássemos e correram em disparada para o primeiro andar e primeira fase daquela casa, literalmente, maluca.
  - Está nervosa? – Wes me olhou, parado na minha frente e impedindo a nossa entrada na casa. – Pode segurar a minha mão, se quiser...
  - Obrigada pela oferta... – Sorri travessa, mas neguei. Ao invés de segurar a mão dele, o ultrapassei e corri para a esteira rolante que girava na direção contraria a que eu deveria ir. – Mas acho que estou bem!
  - Ei, espera!
  Não parei de correr, pois se fizesse isso, acabaria indo ao chão. A esteira parecia aumentar embaixo de meus pés na medida em que eu me aproximava do seu final. Também não me atrevi a olhar para o menino que devia estar vindo atrás de mim. Já em um ponto seguro daquele primeiro andar, vi os dois outros que estavam mais adiantados que eu e me pus a correr mais uma vez, dessa vez tentando acompanhá-los. Tive que passar por cima de alguns troncos falsos e me arrastar pelo chão para passar por muros de cabeça para baixo. Quase caí ao pisar em falso em uma placa de metal que começou a tremer assim que subi em cima dela. Minha sorte é que Wesley apareceu do nada para salvar a minha vida e me deu um pouco mais de apoio ao segurar o meu cotovelo. O agradeci com um sorriso e dessa vez não corri dele.
  - Taa-lvez ee-u preci-iisee mesmooo da su-uaa aju-uda... – Gaguejei por causa da tremedeira e pulei para frente e fora daquela placa. – Pare de rir, Wesley!
  - Desculpa, mas você falou engraçado! – Gargalhou alto e pisou onde eu estivera segundos antes. – Pr-raa oonde-e agoo-ra?
  - Como é? – Foi a minha vez de rir por ele gaguejar. – Pra onde vamos?
  - Exatamente. – Veio para o meu lado e observou as duas portas na nossa frente, que eram nossas únicas opções. – Direita ou esquerda?
  - Você vai pela direita e eu pela esquerda!
  Podia não ser a idéia mais inteligente que nos separássemos, mas que mal teria? Quero dizer, aquela casa não poderia nos matar, certo? Wes afirmou que aceitava aquele meu plano e foi engolido pela porta direita. Esperei alguns segundos para seguir meu próprio caminho e assim que entrei na porta esquerda, me senti em um verdadeiro aquário. A única diferença é que não havia água ali dentro. Eu estava dentro de um retângulo cercado por paredes de vidro foscas, que não me permitiam ver nada do lado de fora. O teto era escuro e o chão formado por quadrados que me lembravam muito um tabuleiro de campo minado. Aquele pensamento me deu um pequeno arrepio, porque eu não queria nada explodindo sobre os meus pés.
  Dei o primeiro passo, pisando em um quadrado vermelho. No mesmo instante, um jato de água foi lançado acima da minha cabeça, me fazendo recuar instintivamente. Não fiquei encharcada, apenas um pouco úmida na região dos braços e topo da cabeça. Sem falar no grito que acabei soltando com o susto. “Ok, eu deveria ter ido pela direita.” Analisei as minhas opções. A) Sair correndo e chegar até o fim daquele pequeno corredor. B) Calcular uma estratégia que me permitiria chegar seca ao outro lado. Respirei fundo, escutando o meu nome sendo chamado do outro lado. Wes já devia ter passado pelo seu desafio! Se eu continuasse parada ali, ele provavelmente pensaria que segui em frente sem ele; o que me deixaria sozinha e acho que nós podemos concordar que essa realmente não era uma boa idéia. Não em um lugar daqueles.
  - Oh, fuck it.
  Xinguei não tão alto assim e respirei fundo antes de voltar a correr. Acabei pisando em todos os quadrados que escondiam armadilhas, me odiando por não ter escolhido outra seqüência de corrida. Para resumir, levei novos jatos de água, vento, algo que parecia muito com penas de galinha e, por último, mas não menos importante, espuma! Quando consegui atravessar a nova porta, já tinha gritado muito e agora só conseguia rir. Wes ainda estava ali e, acredite se quiser, estava mais molhado do que eu.
  - Eu odeio essa parte. – O menino balançou a cabeça, mas eu ainda ria tentando tirar a espuma do meu cabelo.
  - Eu gostei. – Afirmei e recebi uma careta em resposta. – Ah, podia ser pior...
  - Se você diz... – Tirou algumas penas que acabaram ficando presas na minha trança. – Vamos?
  - Yep!

+++

  Após mais ou menos duas horas correndo pra cima e pra baixo, indo nos mais variados brinquedos, era de se esperar que eu estivesse com fome, sede e suada. Fora isso, me sentia... Viva! Todas as atrações faziam a adrenalina correr pelas minhas veias e liberar aquela felicidade que só sentimos quando estamos com amigos em um lugar tão divertido quanto um parque de diversões sob um píer em Los Angeles. Meu relógio marcava sete horas da noite, mas o céu falava três horas da tarde. Era um pouco confuso e você acabava ficando um pouco perdida, mas ainda assim era bem divertido. O que não estava sendo tão divertido, porém, é que nem Drew, Wes ou Keath pareciam querer me deixar escolher a próxima atração que iríamos visitar. Já havíamos repetido alguns brinquedos e mesmo assim o único que eu realmente queria andar ainda parecia distante demais.
  - O que vocês vão comer? – Drew parou na entrada da área de alimentação, mesmo que eu estivesse relutante a seguir em frente.
  - Aqui ainda tem bagles, certo? – Keath esfregou uma mão na outra, como se fosse louco por aquilo que eu não fazia idéia do que poderia ser.
  - Vão indo na frente, ok? Ainda preciso andar em um brinquedo antes de encher o estômago. – Se eles não me acompanhavam, eu iria sozinha mesmo. – Encontro com vocês daqui a pouco...
  - Você ainda quer ir ao balanço, ? – Wes perguntou, puxando uma das pontas dos meus cabelos clareados. Depois do terceiro brinquedo, meu cabelo já estava tão bagunçado que acabei sendo obrigada a desfazer a trança.
  - Muito... – Usei de artilharia pesada e fiz um bico bem grande.
  - Okay, frenchy, você venceu. – Bufou com um meio sorriso, se virando para os outros dois em seguida. – Vou acompanhar a estrangeira no balanço e encontramos vocês depois.
  - Yaaaaay! – Comemorei com um pulinho sem sair do lugar. – Merci, Wes!
  - É, isso mesmo. – Afirmou e desconfiei que ele não entendia nem o básico de francês.
  Simplesmente acenei para os dois meninos que separaram de nós e dei meia volta. Não precisaria ser guiada até aquele brinquedo que estava de olho desde que cheguei àquele festival. Não sei qual era a banda que estava se apresentando agora, mas a música que tocava era meio inde e meio pop; uma combinação inusitada de letra e melodia que acabou dando muito certo. O calor também parecia ter amenizado um bocado e uma brisa gostosa trazia o cheiro da maresia direto para os meus pulmões e o gosto de sal para os meus lábios. Apesar de Keath soltar uma indireta aqui ou ali que dissesse respeito à Wes ter uma “crush” por mim, ele não tentou nada e até perguntou sobre o meu namorado; provando que a minha consciência estava certa e que eu não deveria me preocupar com nada. Com isso, o clima estava super leve e tranqüilo e não me importei de estar passeando apenas com um garoto charmoso e atraente.
  Mais rápido do que eu esperava, mas ainda assim não rápido o suficiente, chegamos ao brinquedo que não parecia tão popular quanto os outros. O carrossel gigante chamava o meu nome! Ao invés de animais que subiam e desciam conforme o brinquedo girasse, havia balanços pendurados! Eu nunca andara naquele chamado “Swing Ride”, mas já sabia que iria adorar. Wesley ficou um pouco atrás de mim, obviamente nervoso, entretanto, ainda assim me seguiu quando a fila andou e a nossa vez de entrar chegou. O brinquedo tinha balanços de dois lugares ou apenas um. Antes que meu acompanhante pudesse ter qualquer idéia, fui mais rápida e sentei em um solitário. Não que eu me importasse de sentar ao lado do meu mais novo amigo, é só que aquilo era algo que eu queria fazer sozinha. O funcionário do parque logo passou para travar os acentos e me informou que eu poderia guardar os sapatos e bolsa em um compartimento abaixo do meu e assim o fiz.
  - Tem medo de altura? – Perguntei com uma risada, olhando para o menino que ocupou um balanço mais atrás de onde eu estava.
  - Tenho medo de cair! – Respondeu enquanto checava pela terceira vez a trava de segurança.
  - Bom argumento! – Não conseguia parar de sorrir. Meus pés descalços balançavam livremente e logo voltei a olhar pra frente. – Here we go!
  Acabei rindo sozinha quando o carrossel começou a girar. Era quase como um balanço comum, com a exceção de que só íamos para frente. Como se já não bastasse, o mecanismo central do brinquedo pareceu se elevar alguns metros e rodopiar ainda mais rápido. Não era o suficiente para me deixar tonta, apenas fazia com que o meu balanço fosse inclinado levemente e meus cabelos fossem jogados para trás. No começo, enquanto ganhava confiança, mantive as minhas mãos segurando as correntes que prendiam o banco. Como se fosse impossível, a velocidade e altura voltaram a aumentar até que o ritmo foi estabilizado. Olhei para baixo e só o que meus olhos captaram era o borrão de cores formado por outros brinquedos e pessoas.
  O vento lambia o meu rosto e era gentil, como se me acariciasse e me convidasse pra voar. Aceitando o convite, fechei os olhos e respirei fundo. Entrelacei os calcanhares para trás e aos poucos fui soltando as mãos. Precisei de força para abrir os braços, e assim que consegui, os mantive naquela posição. De repente, só o que encostava no banco do balanço era um pedaço das minhas costas e a minha bunda. Fora isso... Eu estava voando! Poderia ser uma cena ridícula pra quem estava de fora, mas pra mim era uma sensação libertadora; bem como eu gostava. Respirei fundo aquele cheiro de praia como se quisesse prendê-lo dentro de mim para quando não estivesse mais naquele país. Sentia falta de Londres, da minha casa e das minhas coisas... Mas sentiria ainda mais falta daquela cidade maluca de vendedores ambulantes, transito terrível, praias belíssimas, pessoas famosas e corpos banhados pelo sol.
  Abri os olhos só para enxergar o céu azul brilhando na minha frente. Eu me sentia como um pássaro e, só pra brincar, bati os braços como se fosse um. O barulho de algo sendo explodido chamou a minha atenção e me assustou até que eu vi que era uma nova queima de fogos, comemorando o Solstício de Verão e o último dia do mês de junho. A cada meia hora/quarenta minutos um daqueles espetáculos de foguetes agradavam todo o público que curtia o festival, mas foi estando ali em cima que eu realmente pude apreciar. Era como se eu pudesse esticar a mão e tocar aquela chuva de gliter.
  Tudo que é bom dura pouco, mas até que aquelas voltas duraram bastante. Ou pelo menos o suficiente. Da mesma forma que começou a girar, o brinquedo parou. Diminuindo a altura e velocidade devagar até que nos acostumássemos com aquela nova rotação. Ninguém vomitou, então era um ponto positivo. Antes de pisar no chão, recuperei meus sapatos e bolsa, recebendo ajuda de Wes para soltar a trava de segurança. Ele parecia um pouco pálido e seus lábios levemente secos. Acho que alguém sentiu um pouco de medo. Preferi não comentar a péssima aparência que ele estava, pois ao menos ele me acompanhara até ali.
  - Isso foi tão legal! – Vibrei enquanto saíamos do brinquedo. – Eu realmente amei!
  - Sério? Eu não fazia idéia! – Ironizou, voltando a cor normal. – Acho que escutaram as suas risadas lá em Londres.
  - Me deixe ser feliz, Wes. Sempre quis andar em um brinquedo desses... – O cutuquei com o cotovelo, ainda sorrindo e sem me importar com a bagunça que meu cabelo deveria estar. – Eu amo voar.
  - Já pulou de pára-quedas? – Me deu a mão para que eu pudesse descer a escada que nos levaria pra fora daquela atração.
  - Eu disse que gosto de voar, não de cair.
  - Bem pensado. – Riu e paramos de andar, olhando em volta. – O que quer fazer agora?
  - Estou com fome... – Como já andara no Swing Ride, podíamos comer!
  - Gosta de Corn Dogs?
  - Por favor, me diga que Corn Dog é um primo distante do Hot Dog... – Pedi, realmente preocupada. – E me diga que vocês não comem cachorros de verdade aqui... Com milho.
  - Você nunca comeu um Corn Dog? – Riu da minha ingenuidade. – Vem comigo. Não posso deixar você sair daqui sem comer um.
  Como eu não teria escolha, segui Wesley pelo caminho contrário ao que eu sabia ser o da área de alimentação. Não sabia mais onde nos encontraríamos com Drew e Keath, mas o outro menino não parecia se importar muito. O número de pessoas aumentou consideravelmente conforme as horas do dia foram passando e ali no final do píer parecia mais um formigueiro gigante. A maioria dela era adolescentes que curtiam o festival perto do palco que crescia na minha frente. Mais uma vez eu não conhecia a banda que se apresentava, mas mexi a cabeça no ritmo da música enquanto andava.
  Não demoramos muito pra chegar até um carrinho ambulante que não me parecia ser muito seguro – higienicamente falando -, mas ninguém por ali se importava com isso. Várias pessoas formavam filas e gritavam para o senhor atendê-las. Senti pena por ele estar sozinho e não ter nenhuma ajuda para dar conta de todos aqueles pedidos. Conhecendo Los Angeles como eu achava que conhecia, aquele agito todo já deveria ser normal pra ele pelo menos. Preferindo me deixar a uma distância segura daquela bagunça, Wes me pediu para esperar na sombra enquanto se afastava para comprar nossos tais Corn Dogs.
  Enquanto me mantinha protegida dos raios de sol, dei uma rápida olhada no meu celular. Ainda não tinha nenhuma mensagem, ligação não atendida ou sinal de vida de nenhum dos meninos ou de Rachel. Aquela demora toda estava começando a me irritar, mas como dizem que noticia ruim chega logo, tentei relaxar. Se algo tivesse acontecido, eu já teria ficado sabendo. A música que tocava aos poucos foi diminuindo até que acabou completamente e a platéia aplaudiu aquela banda uma última vez. Fiz o mesmo, claro. Informaram uma pequena pausa de dez minutos e mesmo assim quem estava por ali não se dispersou muito. Parei de encarar o palco assim que Wesley apareceu no meu campo de visão. Em cada não ele segurava um palito de picolé, com a exceção de que aquilo não se parecia nada com um sorvete e muito menos doce. A comida parecia uma coxinha de frango, daquelas que encontramos em lanchonetes de comida brasileira, mas era mais comprida e estava enfada no palito de picolé.
  - Um Corn Dog no capricho! - Sorriu ao me entregar o meu palito.
  - Obrigada... – Fiquei observando o meu lanche, sem saber exatamente como começar a comê-lo. – Eu acho.
  - Não é tão ruim depois que você se acostuma! – Um homem que até então eu não notara, estendeu a mão na minha direção, sorrindo simpático. – , certo?
  - Sim, eu mesma! – Aceitei aquele comprimento, sorrindo da mesma forma que ele.
  - Ouvi muito ao seu respeito. – O homem continuou falando, mas arrisquei e dei uma mordida no Corn Dog.
  - Esse é Jared, . – Wes respondeu antes mesmo que eu pudesse perguntar o nome dele. – Nosso empresário.
  - É um prazer! – Falei sincera após engolir o pedaço que mastigava.
  - Gostou? – Wes se referia a comida.
  - É... Interessante. – Ri fazendo uma careta. – Parece cachorro quente, mas mais...
  - Salgado? – Jared opinou.
  - Gorduroso. – Afirmei com uma nova careta. Não era ruim, apenas... Diferente. – Mas eu gostei!
  - Não precisa comer, se não quiser. – Wes riu, mas é claro que eu terminaria de comer. Reclamar seria a mesma de alguém ir pra Londres e não gostar do nosso Fish ‘n Chips.
  - Está ótimo. – Dei uma nova mordida e Jared tocou no ombro de Wes, que o olhou.
  - Tenho que deixar sozinha agora, ... – Meu amigo começou. – Vamos subir ao palco agora.
  - Os outros dois já estão no backstage! – Jared explicou. Pessoas estavam com mania de me responder antes mesmo que eu perguntasse.
  - Não tem problema! Eu vou adorar assistir!
  Desejei boa sorte, mesmo que soubesse que não precisava, e abracei Wes, pedindo que ele também abraçasse os outros meninos por mim. Jared se despediu e os dois me deixaram ali sozinha. Bem... Não tão sozinha, já que eu ainda tinha meu Corn Dog pela metade. O gosto realmente não era tão ruim depois que você se acostumava. Sem falar que as minhas mãos começavam a ganhar uma textura meio engordurada. Ew. De qualquer forma, foi vendo aqueles dois se afastarem que percebi o quanto o relacionamento dos meus meninos com Marco não era dos melhores. Jared e Wesley pareciam a vontade na presença um do outro. Pareciam amigos de verdade.
  Terminei o meu lanche o mais rápido possível e caminhei até uma lata de lixo para jogar o palito vazio fora. Aproveitei para limpar as mãos em um lencinho perfumado que trazia na bolsa e dei muita sorte de encontrar uma pastilha de cereja que seria perfeita para tirar o gosto do Corn Dog da boca. Esse meio tempo foi o necessário para que o Emblem3 subisse ao palco e novos gritos começassem. Pelo menos eu podia dizer que conhecia uma banda a se apresentar no Summer Fest de Los Angeles! Os três pareciam bem a vontade na frente de todas aquelas pessoas, acenando para Deus e o mundo e sorrindo mais que tudo! Senti falta de também subir em um palco e fazer algo um pouco diferente... Dançar!
  - WHAT’S UP, LA? – Drew gritou, cumprimentando a platéia. – Vamos esquentar isso aqui?!
  - Então vamos lá! – Keath foi o segundo, apertando a mão de algumas meninas que se espremiam perto do palco. – Wes, quer anunciar essa primeira música?
  - Será um prazer! Queremos começar o show com uma homenagem a uma pessoa muito especial. – Wes começou e, mesmo eu estando mais no fundo, olhava pra mim. – É a nossa forma de lhe das as boas vindas ao Sunset Boulevard.

  
Let's take a trip to Sunset Boulevard,
  (Vamos passear no Sunset Boulevard)
  In the city of stars.
  (Na cidade de estrelas)
  The city of blinding lights and starry eyes.
  (A cidade de luzes que cegam e olhos de estrelas)
  I said now welcome to the city of angels! Woah oh oh oh
  (Eu disse, bem vinda à cidade de anjos)
  City of angels! Woah oh oh oh
  (Cidade de anjos)

  A música começou e a banda os acompanhou. Os três meninos andavam e pulavam pelo palco, animando a platéia e fazendo com que eles balançassem os braços no mesmo ritmo. Wes puxou o primeiro trecho que funcionava como uma introdução. Como a boa fã que era dos três meninos, eu conhecia aquela música e arrisquei cantar uma parte ou outra. Era impossível ficar parada, então quando fui perceber, já estava dançando sem sair do lugar.

  
I said I love my women like I love my juice, naked.
  (Eu disse, eu gosto das minhas mulheres como do meu suco, nuas)
  All natural, no preservatives or fakeness.
  (Tudo natural, sem preservatives ou falsidade)
  I like my ladies like I like my Brady's, in Bunches.
  (Gosto das minhas senhoritas como gusto dos Brady, em muitos)
  I've got the six pack, I ain't talking 'bout the crunches.
  (Tenho o six pack e não estou falando dos abdominais)
  Hit it 'til I quit it like Tyson's punches.
  That's how you gotta rock if you wanna run shh...
  (É assim que você precisa fazer se quiser corer)
  Sweat make it less fizzy.
  (Suor torna isso menos efervescente)
  Buzzkill Betty got me dolly dolly dizzy.
  Lost In her eyes, like oh my God, where is she?
  (Perdido nod olhos dela, tipo ai meu Deus, onde ela está?)
  Down here in SoCal, boy we gettin busy in the city.
  (Aqui no sul da California, boy, estamos ficando ocupados na cidade)
  We're getting busy in the city!
  (Estamos ficando ocupados na cidade!)

  Drew entrou com o rap, que era a parte mais difícil para eu acompanhar; me obrigando a desistir. Keaton entrava de vez em quando e acompanhava o amigo. O publico pulava, incluindo eu. Talvez “principalmente eu”, mas isso é detalhe. De vez em quando os meninos apontavam pra mim, o que me rendia bons olhares curiosos e de inveja. Sinceramente eu já não me importava com isso. Só queria aproveitar e me divertir com a homenagem que eu nem sabia que estaria recebendo.

  
Let's take a trip to Sunset Boulevard,
  (Vamos passear pelo Sunset Boulevard)
  In the city of stars.
  (Na cidade de estrelas)
  The city of blinding lights and starry eyes.
  (A cidade de luzes que cegam e olhos de estrela)
  I said now welcome to the city of angels. Woah oh oh oh
  (Eu disse, bem vinda à cidade de anjos)
  City of angels. Woah oh oh
  (Cidade de anjos)

  Nesse refrão, os três meninos se juntaram e me permiti cantar a letra a plenos pulmões. Claro que minha voz não seria diferenciada – até porque quase todos ali pareciam conhecer a música -, mas os cantores ficaram felizes por ver que eu estava me divertindo. Wes pulou em uma caixa de som na frente do palco e as mulheres foram a loucura, tentando agarrá-lo. Se não fossem os seguranças para protegê-lo, não sei o que aconteceria. Apesar disso, o menino não aparentava estar preocupado.

  
I said a bright future reflect off my aviators.
  (Eu disse, um future brilhante refletido nos meus óculos de aviador)
  Here's a peace sign going out to all my haters.
  (Aqui está um sinal da paz para todos os meus inimigos)
  High five, Keaton, no hurt hand when we…
  (High five, Keaton, não machuque a mão quando nós...)
  Get samples at yogurt land and we…
  (Pegamos amostras na Yougurt Land e nós...)
  Chill smooth, talk about Betty Blonde-B.
  (Relaxar suave, falar sobre Betty Blonde-B)
  Kill brews, play Call of Duty: Zombies. Yeah…
  (Matar bebidas, jogar Call of Duty: Zumbis.)
  She's startin' to get the best of me.
  (Ela está começando a ter o melhor de mim)
  While she makes her mind up whether she wants me or Wesley…
  (Enquanto se decide se quer eu ou Wesley)

  Mais uma vez Drew arrasou no rap, fazendo um High Five com Keath e empurrando Wesley de brincadeira quando mencionou os dois. Acabei rindo daqueles três palhaços, preferindo pensar que a música serviria apenas para me dar as boas vindas à cidade e que não tivesse realmente que escolher entre Drew ou Wesley, até porque a minha decisão já estava tomada: Zayn.

+++

  Uns vinte minutos haviam se passado e show do Emblem3 seguia cada vez mais divertido. Não tive mais nenhuma surpresa ou homenagem, mas os três meninos continuaram fazendo de tudo para que, não só eu como todo o resto do público, estivesse aproveitando ao máximo. Eles faziam brincadeiras em cima do palco, falavam conosco e contavam piadas que muitas vezes nem eram tão engraçadas assim, mas que continuavam nos matando de rir. Mesmo sem conhecer ninguém que estava na platéia, eu pulei, dancei, cantei e aproveitei de verdade o primeiro show daquela banda que eu assistia. Eu os conheci como pessoas antes de conhecê-los como banda e sinceramente não havia muita diferença. Em cima do palco ou fora dele, os três eram extremamente charmosos ou, como falamos em Londres, cheeky.
  - Adivinha quem é... – Uma voz masculina sussurrou ao meu ouvido enquanto tampava os meus olhos com as mãos.
  - ZAYN! – Praticamente gritei e me virei tão rápido que mal dei tempo pra ele pensar se eu havia acertado a adivinhação. Me joguei nos braços dele e o apertei contra mim, pretendendo nunca mais soltar.
  - Ainda bem que sou eu mesmo... – Riu baixo, retribuindo o abraço com a mesma necessidade de mim que eu tinha dele. – Não queria ver você agarrando outra pessoa assim.
  - Eu sabia que era você, idiota. – O segurei pelas laterais do rosto e tasquei um beijo em seus lábios. Pode ter doído um pouco, por causa da força que usei, mas nenhum de nós se importou. – Reconheceria a sua voz em qualquer lugar. Seu cheiro... Seu toque... Seu corpo tão encostado ao meu...
  - Hm... – Suspirou e apertou a minha cintura, gostando até demais do que eu estava falando. – Fale mais...
  - Melhor não. – Mordi o lábio inferior. Se continuasse pensando no corpo escultural que Zayn escondia embaixo daquelas roupas, acabaria me animando demais. – Eu senti sua falta...
  - Também senti a sua, Anjo. – Acariciou o meu rosto com o polegar e sorriu daquele jeito adorável que só ele conseguia. – Desculpa ter demorado tanto. A reunião durou bem mais do que esperávamos...
  - E como foi, huh? – Brinquei com a gola baixa da regata preta que ele usava.
  - Cansativa! – Plantou um beijo no topo da minha cabeça, sem me soltar de seus braços. – Podemos falar sobre isso mais tarde?
  - Claro que sim! – Sorri. Zayn realmente aparentava cansaço, então a última coisa que desejava era falar sobre aquele assunto. O soltei para poder voltar a assistir o show, mas entrelacei os dedos aos do meu namorado. – Onde estão os outros?
  - Deixa eu ver... Niall está na barraquinha de tiro ao alvo, Louis e Liam foram ao banheiro... E Harry está com Lux em algum brinquedo infantil. – Explicou, dividindo a sua atenção entre o palco e eu.
  - E você está com fome? Comeu alguma coisa durante o dia?
  - , eu estava em uma reunião, não preso em um calabouço! – Riu jogando a cabeça pra trás. – Tivemos tempo pra comer!
  - Mas ainda assim não pode me mandar uma noticia sequer. – O soltei para cruzar os braços próximos ao corpo, encarando-o séria.
  - Eu sei, eu sei... – Envolveu meus ombros e me puxou para um novo abraço, onde encostei a cabeça em seu peito. – Marco confiscou todos os nossos celulares e só devolveu quando saímos de lá.
  - Eu não gosto desse cara! – Bufei, me deixando relaxar e envolver o menino pelas costelas.
  - Sei disso. – Riu e começou a brincar com meus cabelos. Ou tentar, já que ele devia estar um ninho de rato.
  - Não, não! – Levantei a cabeça para fitá-lo. – Você sabe que eu não gosto dele. Mas eu realmente não gosto dele!
  - Não sou fã de algumas decisões que ele tem, mas você sabe que não podemos fazer nada. – Um dos cantos de seus lábios foi repuxado em uma espécie de biquinho.
  - Porque vocês tem um contrato e blábláblá. – Já conhecia essa história. – Isso é que dá não ler os Termos e Condições.
  - Podemos parar de falar sobre isso? Quero curtir a minha namorada. – Mordeu a ponta do meu nariz, me fazendo rir. – E tenho uma idéia que não envolve falar coisa alguma.
  - Gosto de idéias assim! – Sorri travessa.
  Realmente não falamos mais nada, pois Zayn logo segurou meu rosto com as duas mãos e o aproximou do dele. Trocamos alguns sorrisos curtos que diziam o quanto aquele dia separados havia sido difícil, mas que estávamos felizes por finalmente estarmos juntos. Acabei agarrando o tecido da camisa dele e minhas unhas se arrastaram levemente sobre a pele do peito do menino, fazendo-o arfar. Não tive muito tempo de apreciar aquela reação, pois logo fui obrigada a fechar os olhos e deixar que Zayn envolvesse os meus lábios com os dele. Um sacrifício muito grande, eu sei! Aparentemente não era só eu que gostava da minha blusa curta, pois o menino em meus braços soltou o meu rosto e pousou as duas mãos na parte baixa das minhas costas, em contato direto com a minha pele. Ele acariciava devagar enquanto perseguia a minha língua com a sua e girava o rosto de um lado para o outro, me fazendo imitá-lo. Infelizmente e contra toda a minha vontade, aquele beijo não durou tanto quanto eu desejava.
  - O que houve? – Recuperei um pouco do meu fôlego, fitando Zayn. Após tirar os lábios dos meus, ele encarou o palco como se esperasse algo.
  - É isso aí, pessoal! – Drew parecia ter começado a se despedir. – Essa é a nossa última música! Mas ainda não vão embora, pois teremos mais uma surpresa pra vocês!
  - Você perdeu o show! – Fiz um bico de lado, sabendo que ele não estava se importando muito com isso. – Por que você está tão sério?
  - ... – Apontou com a cabeça para um ponto mais na nossa frente. – Por favor, não fica brava...
  - Não estou entendendo... – Acenei para Harry, Niall, Lou e Liam, que estavam onde Zayn apontara. – Por que eu ficaria brava?
  - Só não fique... – Seu semblante ainda mostrava preocupação quando beijou o topo da minha cabeça mais uma vez. – Eu tenho que ir ali.
  “Uh... Alguém me explica algo?” Olhei enquanto Zayn ia de encontro aos meninos, que pareciam tão preocupados quanto ele. Quando os cinco começaram a se afastar, os segui mesmo sem ter sido convidada. Me mantive um pouco afastada, mas ainda o suficiente para não perdê-los de vista. O show do Emblem3 estava acabando, mas nem por isso o publico parecia ir embora. Acho que todos estavam ansiosos pela tal “surpresa” que eles tinham prometido. Eu também estava, até que meu namorado e meus amigos começaram a agir de forma estranha. Duas meninas entraram na minha frente quando eu passava, nos fazendo esbarrar. Elas estavam, como posso dizer? Bêbadas? Isso era pouco para definir. As duas se desculparam por quase terem me feito cair, mas apenas sorri e afirmei que não tinha problema algum.
  Quando pude passar por elas e voltar a minha perseguição, não consegui mais encontrar os cinco meninos. Olhei em volta, procurando uma cabeleira cacheada. Como Harry era o mais alto, seria mais fácil encontrá-lo primeiro, mas não havia nem sinal de que ele ao menos passara por ali! Também ameacei pegar o meu celular para ligar para Zayn e pedir alguma explicação, mas fiquei congelada ao ver a última – bem, talvez não tão literalmente assim – pessoa que esperava encontrar no Summer Fest. Marco conversava com um homem mais alto, que logo reconheci como sendo Jared; o empresário do Emblem3. Preferi continuar imaginando que não tinha motivo algum para me preocupar, já que as duas bandas (One Direction e Emblem3) eram assinadas pela mesma empresa então os dois podiam apenas ser dois conhecidos conversando, ainda que os empresários não tivessem nada a ver com a Syco E. Foi quando eles riram de alguma coisa e olharam na direção do palco que eu realmente me preocupei.
  - Até a próxima, pessoal! Vocês foram ótimos! – Keath acenava em despedida.
  - Estamos indo embora, mas vamos deixar vocês com mais uma surpresa. – Wes disse, após beber um gole de uma garrafa de água que segurava. – Por favor, dêem as boas vindas aos nossos amigos do ONE DIRECTION!
  - Tá brincando com a minha cara... – Pensei alto, olhando os cinco meninos subir no palco.
  “Nossos amigos”? Que porra é essa? Que eu saiba, eles só se falaram três vezes, no máximo! Sem falar que os meus meninos tinham muito ciúme dos outros três. Olhei para o sorriso satisfeito no rosto de Marco, sentindo o meu interior esquentar. Wes, Keath e Drew deviam ter feito aquilo por mim. Digo... Marco deve ter pedido para Jared, que falou com os meninos. Mas era óbvio que o Emblem3 só aceitara essa publicidade porque sabia que eram meus amigos. Eu não estava surpresa por Marco ter passado por cima da minha palavra quando disse que não iria usar minhas amizades para promover o One Direction, mas todos os cinco meninos sabiam como eu me sentia sobre isso! Zayn pediu para que eu não ficasse brava, mas estava sendo muito difícil me controlar.
  Bufando e sentindo o olhar do meu namorado em cima de mim, dei meia volta. Precisava sair dali. Podia estar fazendo drama em copo d’água, ou seja lá qual for a expressão, mas achava isso errado. Acabei esbarrando em outras pessoas enquanto fugia para fora daquele píer. Dessa vez a culpa foi inteiramente minha, mas estava tão desesperada para ir embora que nem ao menos tentei me desculpar. Pelos auto-falantes espalhados pelo parque de diversões, eu podia escutá-los começando a cantar, tentando com todas as forças ignorar. Não, eu não pretendia fazer um escândalo ali no meio do festival, mas não agüentava mais escutar What Makes You Beautiful. Eles tinham tantas músicas além daquela! O que custava mudar o repertório de vez em quando?
  Ao passar pela entrada do píer, jurei ter escutado o meu nome sendo chamado. A voz era feminina, então provavelmente era Rachel com Lux, mas não esperei para confirmar minhas suspeitas. Apenas quando pude sentir a areia fofa embaixo dos meus pés é que percebi que estivera quase correndo. Olhei pra frente, onde o Sol finalmente começava a se pôr. Era a primeira vez que eu assistia um pôr do Sol as 22h30min da noite, então acabei sorrindo, mesmo que de forma fraca. Como estava distante o bastante para não escutar mais nenhuma das vozes angelicais dos meninos, decidi ficar por ali para assistir aquele espetáculo da natureza. Tirei os sapatos e pisei na areia quente, andando até um lugar mais afastado de casais que também apreciavam a mesma coisa que eu. O mar estava baixo e fraco, então as ondas silenciosas que banhavam a praia eram extremamente relaxantes. Mal consegui respirar fundo até que senti alguém se aproximando atrás de mim.
  - O show foi tão ruim assim? – Wes se jogou ao meu lado na areia, abraçando os joelhos no peito. – Nunca vi alguém sair dele com tanta pressa!
  - Vocês foram incríveis, Wes, de verdade. – Sorri verdadeira, virando levemente na direção dele. – E obrigada pela surpresa.
  - Então o problema foi o One Direction? É, também não gosto muito deles... – Brincou com uma piscadinha, esperando que eu achasse aquilo mais engraçado do que realmente achei. – Sério, , qual é o problema?
  - Eu não queria estar usando vocês assim... – Admiti, voltando a encarar apenas o oceano e o céu que ganhava um tom alaranjado. – Considero você, o Drew e o Keath como amigos. Não acho justo que a banda dos meus outros amigos aproveite essa nossa proximidade para se divulgar, sabe? É errado!
  - Você acha que está nos usando? – Riu, me deixando bem confusa.
  - Você deixaria eles encerrarem o seu show se não fossem meus amigos? – Rebati, séria.
  - Provavelmente não...
  - Tá vendo?! – O interrompi. – Essa é a definição de “usar os amigos”.
  - Você não sabe nada sobre o show business, né? – Aquela pergunta soou um pouco retórica, mas a respondi mesmo assim.
  - Não. Mas sei o que é certo e errado!
  - Também não sabe deixar os outros terminarem de falar! – Brigou, mas tinha um sorriso no rosto. Eu devia ter contado uma piada e não sabia. – O que estou querendo dizer é que isso acontece no mundo do espetáculo, ou seja, bandas que já estão mais populares por aí, ajudam novas bandas que estão começando. Se não fossemos nós, outra banda teria deixado-os encerrar o show. O que acha que fomos fazer em Londres quando conheci você? Demi nos levou pra lá pra divulgar a banda pelo UK. Vocês estão fazendo isso pelo EUA.
  - Eu não sei... – Até que fazia um pouco de sentido o que Wes falava, mas pra mim ainda era errado. – De qualquer forma, eu só queria que eles tivessem me avisado antes de subir ao palco.
  - Bem, isso já não é comigo. – Me cutucou com o cotovelo. Acho que aquele gesto seria a nossa piada interna. – Mas desamarre erra cara! Olhe em volta. Olhe onde você está. E depois de um dia tão incrível como o de hoje, você vai mesmo ficar assim?
  - Ugh, você tem razão! – Ri. Talvez eu estivesse mesmo fazendo drama demais. – Obrigada, Wes. Por tudo. Eu gostei muito do dia de hoje.
  - Não seja por isso! – Me abraçou de lado e encostei em seu corpo levemente suado após um show bem animado.
  - Ew! – Gargalhei ao tentar afastá-lo e só conseguir ser mais agarrada ainda. – Sai, Wesley!
  - Um pouco de contato humano nunca é ruim. – Também riu, mas me soltou. – Vou voltar pra lá, ok? Te chamaria pra vir, mas acho que já tem companhia...
  Observei o menino se levantar e logo entendi o que ele quis dizer. Zayn estava parado a alguns metros de nós e não tirava os olhos de mim. Pelas linhas tensas em seu rosto, notei que ele não estava com ciúmes do que poderia ter visto, e sim preocupado. Devia saber que eu me chateara com o que aconteceu. Assim que fui deixada sozinha na areia, Zayn começou a se aproximar. Quebrei o nosso olhar e levantei, deixando os meus sapatos e bolsa onde estivera sentada. Não caminhei até Zayn, e sim na direção contrária, em direção ao mar.
  - Não vá muito fundo, eu ainda não sei nadar. – Tentou brincar, me seguindo.
  - Só vou molhar os pés. – Informei ao parar, deixando as ondas lamberem até o meu calcanhar. O olhei por cima do ombro, ainda com receio de se aproximar de mim. Acabei sorrindo. Ficar chateada com ele era mais difícil do que eu me lembrava. – Vem também?
  - Não precisa pedir duas vezes! – Se apressou para tirar os tênis e correu ao meu encontro. Zayn passou os braços em volta da minha cintura e pude me acomodar em seu peito, olhando pra frente. – Você ficou brava?
  - Claro que sim! – Respondi sem nem pensar, sentindo-o ficar tenso atrás de mim. – Mas não estou mais... Só não me esconda mais nada, tá bem?
  - Eu prometo. – Beijou a minha bochecha. – Também posso te pedir uma coisa?
  - Qualquer coisa. – Sorri, olhando-o de lado.
  - Me ensina a dançar? – Rolou os olhos enquanto pedia.
  - Como é? – Tive que olhá-lo de frente para ver se era uma brincadeira ou coisa assim. Acabei rindo e soltando um pequeno gritinho. – Está falando sério?
  - Não quero que me ensine a dançar ballet, então pode apagar esse sorrisinho. – Gargalhou da minha animação. – É que o casamento da sua mãe está chegando... E eu não quero fazer feio, sabe?
  - É claro que eu ensino!

    

Chapter VII

Eu estava gostando cada vez mais daquela estadia nos Estados Unidos, isso era claro. Apesar de ter feito de tudo, ainda havia uma atividade em especial que não poderia faltar na minha lista turística de coisas pra fazer. Não, não estava falando de assistir um filme em um daqueles estacionamentos gigantes, nem andar de bicicleta pelo calçadão ou visitar a placa de Hollywood. O invés disso, resolvi ocupar a minha manhã de terça-feira com uma atividade que agradaria qualquer mulher: COMPRAS! Tudo bem que as marcas daquele país não eram totalmente diferentes das que tínhamos em casa, mas o preço era consideravelmente mais barato. Deve ser por causa da taxa de importação ou algo do tipo...
  De qualquer forma, me vesti confortável o suficiente para aquela maratona fashion e pedi à minha querida Siri que me levasse até o melhor ponto de compras da cidade. Zayn ainda ficava impressionado com toda aquela tecnologia e eu só conseguia rir. Acabamos chegando ao centro de Beverly Hills; chocante, eu sei. Mas ao invés de procurarmos um Shopping Center gigantesco, preferimos parar em uma galeria, onde várias lojinhas estavam dispostas lado a lado, chamando o meu nome e o meu cartão de crédito. Fui a primeira a descer do Jeep preto, desejando que aquela galeria possuísse algum tipo de refrigeração interna, pois julho com certeza chegara com força total. E com “força” eu quero dizer “amostra grátis de inferno”. Ao menos no sentido de calor.
  - Por que você me arrastou até aqui mesmo? – Zayn resmungou, coçando os olhos. Ele não estava mal humorado, apenas sonolento. – Porque não chamou qualquer um dos outros meninos, ou até mesmo Rach?
  - Porque eu pretendo gastar o seu dinheiro, é claro. – Rolei os olhos como se não fosse óbvio o suficiente e coloquei as mãos na cintura.
  - Eu sabia! – Me imitou com as mãos na cintura, parecendo mais gay que o necessário. – Todas aquelas meninas no Twitter estavam certas no fim das contas? Que você só estava atrás do meu dinheiro e da minha fama?
  - Oh, não! Você descobriu o meu plano. – Dramatizei, levando uma mão a testa. Zayn deu meia volta, querendo retornar ao carro, fingindo estar bravo. – Para de ser idiota e vem logo! Você não vai escapar, Malik.
  - Valeu à tentativa. – Deu de ombros e riu, aceitando segurar a minha mão assim que a estiquei na direção dele.
  - Mas e essa história aí de meninas do Twitter... – Arqueei uma sobrancelha. Eu sabia que uma parte do fandom dos meninos não ia com a minha cara, mas era muito raro eu sentar e ler tudo o que falavam de ruim sobre mim. – O que tem falado?
  - O de sempre. – Zayn também não se importava tanto. Pra falar a verdade, o único motivo que ele tinha pra entrar no Twitter era postar fotos dos seus desenhos e, ocasionalmente, algumas fotos nossas. – Mas sabe que não precisa se importar, né?
  - E você sabe que eu não me importo. – Sorri enquanto passávamos pelos portões da galeria, escolhendo ir pelo o lado esquerdo. – O engraçado dessas pessoas que mandam mensagens me xingando é que elas só ficam na internet... Todas as que encontramos pelas ruas sempre são educadas e nunca me tratam mal. Enquanto continuar assim, não irei me importar. Uma coisa é se esconder atrás de uma tela de computador e achar que é melhor do que eu, outra coisa é vir me agredir quando eu não fiz absolutamente nada pra merecer.
  Acho que minha atitude de encarar o ódio que às vezes recebia era a mais saudável. Não finjo que era totalmente “que se foda”, mas também não sentia como se precisasse dar ouvidos a quem não gostava de mim. Eu era quem eu era e Zayn me fez ver que isso era o suficiente pra ele; então seria o suficiente pra mim também. A maioria das coisas que eu lia ao meu respeito em redes sociais não era ruim, então enquanto continuasse assim, eu sabia que estava fazendo algo certo. Meu rosto podia não ser o mais bonito do mundo e meu corpo não era de nenhuma modelo, mas eu estava confortável com o que tinha. Tudo bem, tenho que admitir que – por mais que ainda estivesse enjoada dessa música – What Makes You Beautiful me ajudou a entender que eu era bonita mesmo que não soubesse. Vai ver era por isso que o One Direction estava fazendo tanto sucesso... Por mostrar a garotas inseguras como eu que elas são o suficiente.
  - Podemos entrar nessa loja? – Zayn pediu animado, me tirando de meus devaneios.
  - Pra quem não queria nem vir, você escolheu uma loja muito rápido!

+++

  Convidar Zayn para fazer compras comigo seria uma decisão que não voltaria a tomar nem tão cedo. A companhia dele ainda era incrível e nós podíamos conversar sobre qualquer coisa ao olhar as vitrines das mais diferentes lojas, mas o problema mesmo começava quando entrávamos em uma dessas lojas. Sabe aquelas propagandas de TV ou cenas de filme onde um casal vai passear no shopping e a mulher passa horas dentro do provador, trocando de roupa milhões de vezes e o marido/namorado fica esperando como se pudesse morrer a qualquer momento? Bem, minha manhã com Zayn naquele centro comercial estava sendo exatamente assim. Claro, com a pequena diferença que ele era a mulher trancada no provador e eu o marido entediado.
  Eu adorava dar opiniões sobre o que ficava bom ou não no meu namorado, escolhendo peças que eu mais gostava e às vezes ele nem tanto. Entretanto, enquanto saíamos da terceira loja que Zayn pedira pra entrar, o menino carregava cinco sacolas só com coisas que ele comprara; enquanto eu me resumia a apenas uma. Não que eu não gostasse das marcas que ele escolhia, só que acho meio complicado encontrar algo que fique bem em mim em lojas de departamento masculino. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde eu acabaria confiscando uma camisa ou outra do guarda-roupa de Zayn, com o seu consentimento ou não.
  - Você lembra que o nosso objetivo aqui hoje não é renovar o seu guarda-roupa, certo? – Perguntei assim que voltamos a caminhar pelo meio da galeria, fora de qualquer loja. – E sabe que se voltarmos para Londres sem um presente para , Liv e suas irmãs, nenhuma delas vai falar conosco.
  - Eu acho que esqueci desse detalhe... – Riu, deixando que eu passasse o braço pelo seu.
  - Além do mais... Acho que nem cabe tudo isso no seu guarda-roupa! – Fiz questão de dobrar à direita dessa vez, saindo daquela área que só parecia ter coisas para homens.
  - Podia não caber no meu guarda-roupa antigo. – Piscou, animado. – Mas o guarda-roupa do novo apartamento é maior que o seu closet.
  - Assim ficarei com inveja. – Brinquei. Eu estava adorando vê-lo animado com aquela mudança, mesmo não conseguindo arrancar muitas informações sobre o ap. – Novo apartamento, novo guarda-roupa, novas roupas...
  - Novas vizinhas... – Cantarolou, me fazendo encará-lo com uma sobrancelha erguida. – Possivelmente uma nova namorada...
  - Eu tinha me esquecido desse pequeno detalhe! – Cocei o queixo, forçando uma expressão pensativa.
  - Que eu terei uma nova namorada? – Insistiu, claramente divertido.
  - Não... Que você terá novos vizinhos pra eu conhecer quando for te visitar. – Sorri dissimulada, torcendo para conseguir inverter aquele jogo.
  - Epa... – Parou para pensar no mesmo que eu e todo o seu entretenimento desapareceu. – Pensando melhor, quem precisa de um apartamento, não é? Estou muito bem morando com a minha mãe e três irmãs pentelhas.
  - Boa tentativa. – Ri, beijando o ombro do menino só porque não conseguia passar muito tempo com os lábios longe dele. – Oh, não...
  - O que houve? – Seguiu a direção do meu olhar, parando na vitrine de um Pet Shop. – Saudade?
  - Muita saudade! – Meu bico aumentou assim que paramos de frente para a loja. Vários filhotes brincavam ou dormiam em suas gaiolas. – Liv me manda noticias todos os dias, mas ainda fico preocupada... Será que está bem?
  - Tenho certeza que ele está ótimo. – Passou todas as sacolas pra uma mão só, podendo me envolver pelos ombros em um meio abraço. – Quer que eu peça a minha mãe pra ir lá conferir?
  - Não precisa. Eu confio em Liv e , se algo tivesse acontecido, elas não conseguiriam esconder. – O olhei com um sorriso e em seguida voltei a olhar o filhote de Labrador que tentava morder os meus dedos apesar do vidro. – Além do mais, Dora está lá...
  - Ele gosta de você. – Apontou para o bichinho que “brincava” comigo. – Eu quero um.
  - Um Labrador? – Alerta vermelho!
  - Um cachorro... Agora que vou sair da casa da minha mãe, não terei mais o Boris. As meninas nunca me deixariam levar ele embora. – Explicou, batendo de leve no vidro da loja. – Talvez um cachorro pequeno...
  - Baby, não quero ser chata... Mas acha que arrumar um cachorro agora seria a coisa mais esperta a se fazer? – O segurei pela mão para que continuássemos o nosso passeio. – Agora você está de férias, mas sabe como a sua rotina é complicada quando está trabalhando. As reuniões, viagens da banda e tudo mais.
  - Sei que você está certa. – Deu um meio sorriso de lado, me seguindo. – Mas não quero que o apartamento fique vazio, sabe?
  - Acha mesmo que isso pode acontecer? – Gargalhei. – Conhecendo o Liam, ele vai passar mais tempo com você do que em casa. Sem falar que eu e também iremos te visitar sempre...
  Zayn pareceu tirar aquela idéia de comprar outro cachorro momentaneamente da cabeça. Mesmo assim, não me espantaria nada em encontrar uma penca de filhotes ao chegar no tal apartamento. Enquanto passeávamos e estudávamos novas vitrines, eu ia tentando arrancar novos detalhes sobre a futura moradia do meu namorado; como por exemplo: O número de quartos, andar, tipo de decoração... Mas só o que consegui descobrir é que se tratava de uma cobertura e que eu iria gostar do lugar. Ele mesmo não tinha estado lá, mas a sua corretora de imóveis havia feito vários tours por meio de webcam e Skype. Essa tecnologia de hoje... Juro que as máquinas ainda vão se unir para controlar o mundo. Escreva o que estou falando.
  Deixando minhas teorias de lado, avistei o paraíso. Um corredor repleto com as minhas lojas preferidas. Sephora, Chanel, H&M, Juice Couture, entre muitas outras. Enquanto eu sorria em animação, Zayn choramingava ao meu lado. Agora ele teria que me agüentar fazendo compras! Quase saí correndo até a primeira loja, mas me contive.

+++

  Lembra quando eu reclamei do número de sacolas que Zayn carregava? Retiro tudo que disse. Agora era eu quem tinha muitas sacolas de compras e o menino até mesmo me ajudava a levar todas elas. Que culpa eu tinha? Absolutamente nenhuma. Tinha o emprego dos sonhos e ainda recebia por ele, então nada mais justo do que gastar naquele shopping em Beverly Hills. Não tinha mais noção de tempo havia algumas horas e o meu estômago já começava a reclamar de fome. Talvez eu conseguisse convencer Zayn a ir comer uma pizza ou passar no McDonald’s mais próximo. Só precisava provar umas peças que selecionara naquela loja Chanel e iríamos comer!
  - Podemos ir agora? – Zayn perguntou, sentado em um sofá próximo do provador.
  - Só vou experimentar esses aqui e já iremos. – Sorri com um mesclado de agradecimento por ele estar passando por aquilo por mim e remorso por deixá-lo tão entediado.
  - Tudo bem. – Suspirou, olhando para a pilha de roupas nas minhas mãos. – Está com o vestido vermelho aí?
  - Claro que sim! – Pisquei, seguindo a funcionária que me guiaria até o meu provador.
  O vestido que Zayn se referia era curto e um pouco decotado, mas, além disso, bem justo ao corpo. Ele mesmo o escolhera e afirmava que eu ficaria muito bem nele. Claro que essas não foram as palavras exatas que ele usou, mas me sinto um pouco constrangida em usar o termo “gostosa pra caralho”. Anyway. Segui a moça educada e simpática chamada Alison até o cubículo nem tão pequeno assim. Ela me ajudou a colocar as minhas peças de roupa em cima de uma mesa branca – assim como todos os outros móveis ali dentro – e me disse para ficar a vontade. Deixei a bolsa pendurada em um gancho na parede e já fui tirando os sapatos. Quase fui cegada quando algumas luzes nas laterais do espelho acenderam automaticamente. Assim, além da lamparina que pendia do teto, também tinha aquelas novas luzes para iluminar o que quer que eu quisesse ver. Os designers que organizaram aquela parte da loja deviam estar querendo que as suas clientes observassem as roupas nos mínimos detalhes.
  Deixei de prestar atenção no espaço ao meu redor e me despi, deixando as minhas próprias peças junto com a bolsa. Claro que começaria pelo vestido! Talvez até chamasse Zayn para ver o resultado! Retirei a peça vermelha do cabide com cuidado e abri o zíper das costas. Nunca sabia se deveria entrar por cima ou por baixo, mas resolvi que a segunda opção era a mais sensata. Joguei o vestido por cima de meus braços e tive um pouco de trabalho para puxá-lo até que meu corpo estivesse totalmente coberto. “Meus peitos aumentaram de tamanho?” Ri sozinha, terminando de arrumar a peça avermelhada no lugar certo. Em seguida, comecei a deslizar o zíper para cima, encontrando mais dificuldade do que esperava.
  “Vamos lá, Coco Chanel... Ajude uma conterrânea!” Apelei para a criadora da marca, que também possuía a mesma nacionalidade que eu, mas ela devia estar se revirando no tumulo. Após uns bons três minutos tentando fechar aquela porcaria, acabei desistindo. Não sei o que aconteceu, mas meu humor foi de dez para zero em dois segundos. Ou talvez até soubesse, mas preferia não colocar em palavras a minha decepção. Respirei fundo ao me olhar no reflexo do espelho. Já não sorria mais, apenas me estudava. Balancei a cabeça, começando a tirar a peça que ficara pequena demais pra mim. Eu me esquecera de como era horrível esse sentimento que a gente ganha após algo assim acontecer. Chame de besteira, futilidade ou do que quiser, mas me senti bem ruim ao não conseguir entrar naquele vestido tão bonito.
  Quando o tecido tocou o chão, meu olhar foi preso diretamente naquela garota que estava parada na minha frente. De repente tudo pareceu feio. Minhas coxas, meu quadril, até mesmo os meus joelhos! Acho que a minha barriga foi a pior parte. Apertei a minha pele, puxando-a entre o polegar e o indicador. Um pneuzinho. Ok, isso também pode parecer nada de mais, mas pra mim era. Veja bem, sou uma bailarina! Não posso estar acima do peso. “Não exagere, você não está acima do peso!” Shh! Podia não estar acima do peso agora, mas quem me garantia que isso não aconteceria dali alguns meses? Ainda faltava muito tempo até o próximo espetáculo da Academy, mas eu ainda pretendia conseguir o papel principal. Seria o meu último semestre e por isso deveria ser o melhor de todos. Mais do que nunca, eu precisava ser perfeita.
  Engraçado como as coisas funcionam, não? Naquele mesmo dia eu estava me sentindo linda e blábláblá. Mas agora, de frente para aquelas luzes que teimavam em deixar cada um dos meus defeitos mais visíveis que o normal, me sentia realmente mal. Não começaria a chorar, nem faria um escândalo, mas meu ego estava machucado. Quando consegui parar de me encarar, voltei a guardar o vestido no cabide, sem ter muita certeza se pretendia experimentar as outras coisas que selecionara.
  - ? – Zayn me chamou do lado de fora, sem abrir a portinha de madeira que nos separava. – Tudo bem aí? Você entrou já faz um tempo.
  - Estou bem. – Respondi com a maior segurança que pude. – Já vou sair...
  - Não tem problema, é só que acabei de receber uma mensagem de Liam. – Era ele que soava preocupado e por isso tratei de voltar a me vestir. – Estão precisando da gente lá.
  - Tem algo errado? – Tentei não imaginar nada de ruim, mas era meio impossível. Pendurei a bolsa sobre o ombro e destravei a porta do provador. – Estão todos bem?
  - Pelo que entendi, nada aconteceu, mas acabaram de ter uma conversa com Marco e... – Se interrompeu ao ver a minha expressão de descrença.
  - O que ele aprontou agora?
  - Não sei direito... Não vai nem levar o vestido?
  - Temos que ir. – Me apegaria a essa desculpa. Doeria menos do que falar que não coube dentro dele.
  - Dá tempo de passar no caixa. – Ele sorriu, recolhendo as nossas sacolas das outras lojas.
  - Não, Zayn. É sério. – Insisti para que fossemos logo. – Não ficou bem em mim, de qualquer forma.
  - Impossível. – Me olhou como se realmente não acreditasse que algo poderia ficar ruim em mim; o que doeu mais um pouco. – Mas se você não quer, vamos embora.
  - Obrigada... – Forcei um sorriso, aliviada por ele não ser do tipo que insiste em causas perdidas.

+++

  Assim que voltamos ao Hotel Venice, entregamos todas as nossas sacolas de compras para um funcionário que ficou encarregado de levar as nossas coisas até o quarto. Nós mesmos teríamos feito isso, mas hotel cinco estrelas é outra coisa. Após isso, seguimos na direção da área da piscina, exceto que viramos à direita assim que vimos a placa “Sala de Reuniões”. Estranhei estarmos indo naquele caminho, mas Zayn me informou que Liam explicara que os quatro estavam por ali, na primeira sala. Ou seria segunda? Não sabia dizer. Durante todo o trajeto de volta para nossa habitação temporária, me mantive calada e pensativa, apenas escutando Zayn e respondendo sim ou não quando perguntava alguma coisa. Ele respeitou o meu espaço mais uma vez, acreditando que eu só estava preocupada com o que poderia ter acontecido com nossos amigos. Não chegava a ser mentira, mas eu também me preocupava com coisas um pouco mais pessoais.
  Acertei ao ter pensado que a primeira sala era a que deveríamos procurar, pois os quatro meninos e Rachel estavam por ali. A sala tinha um carpete esverdeado cobrindo o chão e paredes com uma pintura terrosa mais para o lado do pastel. Não encontrei muitas janelas naquele lugar, mas as poucas que haviam estavam cobertas por um plástico escuro, impedindo a entrada de muitos raios de Sol. Um ar condicionado potente cuidava para que ninguém morresse de calor ali dentro e uma mesa de mogno comprida cortava a sala de reuniões. Rachel estava sentada na cadeira da ponta direita, como se fosse a dona de uma grande empresa que fazia uma conferência ali. Ao lado dela, Louis olhava alguns papeis. Harry estava ao lado do namorado, mas os dois não estavam tão próximos quando o de costume. Niall sentava em cima da mesa, sem nenhuma compostura, e Liam levantou de onde estava assim que nos viu entrar.
  - Viemos o mais rápido que conseguimos. – Zayn informou ao nosso amigo e os dois quase se abraçaram.
  - Não tem problema! – O menino sorriu, mas havia algo a mais em seus olhos. – Espero não ter atrapalhado vocês...
  - Não atrapalhou, Li. – Me coloquei na ponta dos pés para beijar a sua bochecha e segui até os outros meninos. – Niall, onde estão seus modos?
  - No mesmo lugar que o meu almoço! – Rebateu, quase deitando em cima da mesa. – Mas você está vendo ele por aqui? Nem eu!
  - Eu juro que se ouvir você reclamar que está com fome mais uma vez... – Liam ameaçou, vindo se juntar a nós, com Zayn o seguindo.
  - Por favor, Haz... – Lou, que estava excluído de qualquer um de nossos assuntos, pediu para Harry, que mal o olhava. – Só escolha uma.
  - Não consigo, Lou. Por mim tanto faz... – Curly respondeu simplesmente, evitando olhar para os papeis que meu irmão lhe empurrava.
  - O que é isso? – Puxei uma poltrona para me sentar, mas fiquei de joelhos sobre ela e me inclinei em cima da mesa. – Estamos comprando pessoas agora?
  - Mais ou menos... – Rachel respondeu, sem entender que era uma piada.
  - Sério, quem são essas? – Minha curiosidade aumentou quando Lou me passou os cinco papeis que pareciam mais com currículos do que qualquer coisa.
  - Não contou pra ela? – Liam sussurrou para Zayn, mas nenhum dos dois era muito discreto.
  - O que está acontecendo? – Franzi o cenho ainda sem entender nada, procurando com o olhar alguém que pudesse me explicar qualquer coisa que fosse.
  - , você conhece o conceito de “beard”? – Rachel se propôs a falar.
  - Só o que cresce no rosto de homens, mas sinto que não é bem disso que estamos falando aqui.
  - Não é mesmo. – A loira voltou a falar. Eu estava acostumada com o seu alto astral, alegria e até loucura, mas agora ela estava séria; profissional. – “Beard” é uma gíria que quer dizer... “Cover up”. Um disfarce, entende? Podem ser homens ou mulheres que são contratados para fazer um papel de namorado ou namorada de alguém famoso. É mais comum do que imagina...
  - E você sabe como Lou e Haz não podem simplesmente falar que estão juntos pra qualquer um que quiser ouvir... – Liam completou o pensamento.
  - Por que a Modest! não quer. – Acrescentei.
  - Não é só a Modest!, . – Lou balançou a cabeça negativamente. Sua voz saiu fraca. – Eu não sei se estou pronto... Uma coisa é os nossos amigos e familiares saberem da minha “opção”, outra coisa é o mundo inteiro... Desculpa, Haz...
  - Não precisa. Eu entendo. – O menino de cachos bagunçados segurou a mão do meu irmão em cima da mesa. Era claro que ele estava magoado, mas entendia. Todos nós entendíamos; prova disso foi o silêncio que encobriu a sala.
  - Mas espera, estão querendo contratar namoradas pra eles? – Perguntei a Rach, mas olhava o casal na minha frente. – Por que não podem só fingir que não tem nada demais entre eles?
  - As pessoas estão começando a perceber. – Zayn foi quem falou, se acomodando na cadeira ao meu lado. – Então a Modest! está começando a achar que é um problema.
  - Então nós estávamos pensando que talvez fosse uma boa idéia... – Rach voltou a falar, mas o olhar que recebeu de mim mostrava que eu não concordava. – Tudo bem, Marco estava pensando... Mas eu concordo com ele, . Ao menos dessa vez. Então contrataremos um disfarce. Uma namorada de mentira para um dos dois.
  - Pra mim. – Lou levantou a mão, se voluntariando. – A culpa não é do Harry, então não é justo que ele tenha que passar por isso.
  - A culpa também não é sua... – Haz tentou, mas a decisão parecia ter sido tomada.
  Era como se nenhum de nós soubesse mais o que falar. Eu realmente não conseguia nem imaginar como seria ver Zayn fingindo namorar outra pessoa. Entendia que seria só pra publicidade, só na frente das câmeras, então Louis e a tal garota não precisariam se agarrar ou conviver sobre o mesmo teto, mas ainda assim era estranho. Além de que deveria ser uma situação um tanto constrangedora para os dois. A contratada deveria saber o que fazer e ter sido bem treinada, caso contrário, duvido que desse uma boa cobertura.
  Olhei para todos ali antes de voltar a me concentrar nos papeis que anda estavam em minhas mãos. Niall não voltara a falar de comida e parecia distante; talvez distante até demais, em outro continente. Louis encarava a madeira da mesa e Harry o fitava com pesar. Liam tinha o rosto escondido nas mãos e os cotovelos apoiados no objeto em sua frente. Zayn tentava ler o que passava pela minha cabeça e eu tinha certeza que conseguia. Aquilo era errado. Aquele mundo era errado. Eu não conseguia entender porque os dois não podiam simplesmente andar de mãos dadas por aí, ou porque isso era tão errado! Mas aceitava. Novamente não tinha outra escolha a não ser aceitar e ajudar.
  Comecei a folhear aquelas cinco páginas e as coloquei lado a lado na minha frente. Ninguém conhecia meu irmão melhor do que eu, então talvez pudesse escolher uma garota que não fosse ser tão difícil assim de conviver com ele; pelo tempo que fosse. As cinco eram muito bonitas, isso tenho que admitir. E também tinham estilos bem diferentes, mas uma coisa em comum: Todas eram estudantes e possuíam aquele estereótipo de “pessoa normal”. Talvez a Modest! estivesse pretendendo mais do que apenas encobrir o relacionamento de dois membros da banda, porém, teria que esperar pra ver.
  - Essa aqui. – Empurrei o currículo da escolhida na direção de Lou e Haz.
  - Eleanor Calder? – Meu irmão começou a analisar e, em seguida, olhou para o namorado. – O que acha?
  - Ela é bonita. – Haz sorriu. Não o suficiente pra mostrar a sua covinha, mas pra mostrar que concordava. – Boa escolha, .
  - Obrigada. – Tentei me animar e sorri de volta.
  - Não sei se é a hora certa, mas... – Ni chamou nossa atenção. – Podemos ir comer agora?

    

Chapter VIII

- WOOOOOOOOO-HOOOOOOOO! FELIZ QUATRO DE JULHO! – Gritei pela janela da van, sem me importar com as mãos que tentavam me puxar para dentro do carro.
  - , para com isso! – Liam gargalhava enquanto eu escapava de suas mãos.
  - Vocês são muito chatos, sabia disso? – Reclamei, mas estava animada demais pra me controlar.
  - Ao menos pare de gritar? – Dessa vez foi Paul quem pediu, sem parar de dirigir. – Já estamos chegando à marinha...
  - Ok. Sorry, daddy. – Fiz bico e me acomodei no banco.
  - Você sabe que não é americana, certo? – Zayn perguntou do banco da frente, mas estava de joelhos sobre ele para poder conversar com quem estava atrás.
  - Falou o Capitão América! – Liam me defendeu, apontando para a estampa na camisa do meu namorado. Acabei gargalhando daquilo.
  - Obrigada, Baba! – O abracei de lado.
  - Larga ele! – Zayn praticamente se jogou em cima de nós, quase caindo no chão do veículo.
  - Eu devia ter ficado no hotel com Rachel... – Paul resmungou lá na frente.
  Liam e eu fomos obrigados a nos soltar. O grande problema aqui é que eu não sei se Zayn estava com ciúmes de Liam ou da própria namorada. Acabei rindo ainda mais quando se apertou entre eu e nosso amigo, fazendo com que Niall – que estava no final do banco – fosse jogado no pequeno corredor da van. Harry e Louis continuaram na frente, conversando sobre qualquer coisa melosa demais para chamar a minha atenção. A semana havia começado um pouco tensa sim, por causa da nova namorada-de-mentira do meu irmão, mas naquele dia ninguém se deixaria perturbar. Sabe por que? ERA QUATRO DE JULHO! YAY!
  “Você sabe que não é americana, certo?” Ok, isso podia até fazer sentido. Não, eu não era americana, mas aquele país parecia amar o feriado e dia de sua independência; até porque a liberdade parecia ser o maior motivo de orgulho para os EUA. Ou seja: Todos que nós víamos nas ruas, em lojas e até no próprio hotel estavam comemorando aquele feriado. Eu não podia ficar de fora, então me vesti apropriadamente. Também ganhamos algumas bandeirinhas americanas em miniatura e as ruas pareciam estar cobertas de azul e vermelho.
  - Chegamos! – Paul anunciou, fazendo algumas manobras para estacionar o carro.
  - Yay, yay! – Comemorei, olhando em volta.
  Aquela marinha não era tão diferente das que eu conhecia. Era um verdadeiro porto, com várias embarcações estacionadas ali; umas maiores que as outras. Várias rampas saiam daquele estacionamento meio improvisado e levavam a outros caminhos e mais barcos. Fora isso, a água do mar que brilhava ali perto de nós servia como um convite que eu tentadoramente desejava aceitar. O segurança/babá/daddy estacionou com sucesso e foi o primeiro a descer, abrindo a porta para que fizéssemos o mesmo. Niall foi o primeiro, ainda acariciando o cotovelo que machucou durante a sua queda. Lou e Harry o seguiram e eu e os outros dois fizemos o mesmo.
  - Alguém vai me ajudar aqui? – Haz pediu, pegando algumas mochilas na mala do carro.
  - Já estou com a minha! – Apontei para as minhas costas, mas era só uma desculpa.
  - Eu ajudo... – Li prontamente correu até o menino e eles dividiram o peso.
  - Hopped off the plane in the LAX, with a dream in my cardigan. Welcome to the land of fame excess. Am I gonna fit it? – Niall começou a cantar e dançar desengonçadamente, atraindo diversos olhares. - Jumped in the cab, here I am for the first time. Look to my right and I see the Hollywood sign…
  - Essa é a esquerda… - O corrigi quando olhou para o lado errado.
  - Tinha que ser. – Paul fechou o carro quando já estávamos com tudo e riu disfarçadamente. – Por aqui, pessoal.
  - This is all so crazy. Everybody seems so famous! – Lou continuo a cantar, envolvendo Ni pelos ombros. Todos seguimos Paul pela primeira passarela. - My tummys turnin' and I'm feelin' kinda homesick. Too much pressure and I'm nervous. That's when the taxi man turned on the radio…
  - And a Jay Z song was on! – Arrisquei cantar junto, mesmo sabendo que a minha voz não soava bem junto com a deles.
  - Não acredito que vocês vão cantar essa música inteira. – Zayn resmungou. Ele estava um pouco na minha frente, já que a passarela era estreita e não podíamos todos andar lado a lado.
  - Pare de ser chato, Zayn! – Lou reclamou, empurrando-o de leve.
  - Deixa o meu emburradinho em paz! – O defendi, correndo até o menino e me jogando sem suas costas. – Ele só está um pouco irritado porque teve que acordar cedo, não é, my love?
  - Exatamente. – Zayn acabou sorrindo ao passar os braços pelos meus joelhos e me acomodar pendurada em suas costas. O envolvi pelos ombros e descansei ali. – Principalmente por causa da forma que vocês me acordaram!
  - O que você tem contra uma boa música de manhã? – Harry parecia inconformado.
  - Nada! Mas contra vocês pulando na cama até que eu caísse no chão? Tudo! – Meu namorado reclamou e eu acabei rindo ao lembrar da cena. Por sorte, já estava acordada quando eles nos atacaram. – Eu podia estar pelado, sabia?!
  - Acha que nunca te vimos pelado antes? – Niall gargalhou atrás de nós.
  - É verdade. A é uma garota de sorte. – Li estava ao nosso lado e me olhou com uma cara de safado que me deixou corada.
  - Hey, essa é a minha irmã, ok? – Lou o reprovou. – Não quero saber se ela tem sorte por causa do tamanho do...
  - Até parece que você não se gaba do Harry! – Zayn rebateu, interrompendo-o, e foi a minha vez de reclamar.
  - Podemos mudar de assunto?! – Pedi quase desesperada. – Pauly, controle seus filhos!
  - Eu queria saber como! – Ele respondeu com uma risada. – HEY, BRAD!
  - É nisso aí que vamos andar? – Meu queixo quase caiu.
  Nosso segurança quase correu até um homem meio careca e bem bronzeado, até que se abraçaram. Pelo que eu sabia, aquele tal de Brad era um amigo antigo de Paul e, assim que soube que estávamos por perto, convidou a todos nós para passar o dia em seu Iate. Eu só não esperava que a embarcação fosse ser tão grande e luxuosa. Mesmo ali da plataforma eu já podia ver que o lado de dentro era tão bem cuidado quanto o de fora. Os dois andares pareciam ser equipados com os melhores moveis e eletrodomésticos. Sem falar dos quatro Jet-Skis presos à lateral do barco. Tive que descer das costas de Zayn quando Paul começou a nos apresentar ao homem.
  - Estes são Harry, Louis, Liam, Zayn, Niall... – Foi apontando e apresentando cada um dos meninos, olhando pra mim por último. – E . Ela é a patroa.
  - Oi... – Os meninos falaram quase ao mesmo tempo.
  - Então é você que manda? – O homem quase ignorou os meninos e deu um passo na minha direção, esticando a mão.
  - É um prazer, Brad. – Aceitei a mão dele e nos cumprimentamos. Sorri por estar me sentindo super importante. – Eu é que mando sim. Todos me obedecem!
  - Aham, tá. – Louis gargalhou, mas não me importei.
  - Sendo assim, senhorita, você escolherá nosso destino hoje. – Não soltou a minha mão após nos cumprimentarmos e me guiou até a entrada do barco. Ele estava sendo super cavalheiro e ajudou a subir sem tropeçar. – Para onde quer ir?
  - Me surpreenda! Qual é o lugar mais bonito que você já encontrou por acaso? – Sorri misteriosa; mania que peguei de Zayn.
  - Já sei exatamente para onde vamos. – Afirmou mais rápido do que eu esperava e também subiu ao barco. – Todos a bordo!
  Com aquele convite, os meninos foram subindo de um em um. Enquanto faziam isso, eu me permiti explorar aquele andar. Segui pelo corredor na lateral da embarcação me levou até o fundo do barco, onde fiquei surpresa com o que vi. Mais para o fundo havia uma pequena plataforma de madeira que podia ser abaixada ou erguida, formando uma doca de mergulho. Antes dela, um sofá bem grande parecia extremamente confortável. Ali fora também avistei uma churrasqueira e outras coisinhas que serviriam para fazer o nosso almoço. À esquerda, vi que uma cozinha bem equipada também estaria à nossa disposição. Uma pequena escada em espiral me levaria até o andar de cima, mas senti que seria curiosidade demais se eu simplesmente fosse subindo sem nem pedir licença. Logo eu não estava mais sozinha, pois Brad chegou com os meninos e indicou um lugar na sombra onde podíamos deixar as nossas coisas.
  - Antes de partirmos, tenho alguns avisos que sempre falo para os meus marinheiros. – O dono do Iate começou. Paul se colocou ao lado dele, com aquela posição de segurança e olhar que dizia: “É melhor que prestem atenção”. – Sintam-se em casa! O lugar é de vocês. Aqui temos a cozinha... No andar de baixo se encontra o banheiro e um quarto, caso alguém queira dormir ou se sinta enjoado demais pra ficar por aqui. Lá em cima é mais um lugar pra relaxar e também está liberado pra vocês.
  - Agora, meus avisos... – Paul tomou a palavra. – Nada de correr molhados por aí, ou vão acabar caindo e morrendo! Se eu falar não, é não. Se eu falar pare, vocês param. Entendido?
  - Sim, daddy! – Respondemos em coro, causando risadas em Brad.
  - Quem é a patroa mesmo? – Perguntou retoricamente, olhando para o amigo. Paul acabou rolando os olhos e fez uma posição afeminada. – Então pronto! Podemos partir!
  - Vamos nessa! – Harry comemorou.
  - Só mais uma coisa... – Brad parou antes de se virar em direção à sua cabine. – Alguém aqui não sabe nadar?
  Todos nós paramos e olhamos para Zayn, mas ele não falou nada. Talvez estivesse envergonhado pra falar que não sabia nadar, então preferiu ficar calado. Ninguém se atreveu a fazer diferente, dando a entender que todos sabiam nadar como peixinhos. Estiquei a mão até que encontrei a de Zayn e entrelacei nossos dedos, sorrindo compreensiva. O careca deu meia volta e sumiu pelo caminho que tínhamos vindo. Imaginei que a cabine ficasse na frente da embarcação, pois antes de sumir, ele informou que sentiríamos um pequeno tranco ao começar a andar. Também disse tinha cerveja na geladeira e Niall foi o primeiro a correr até lá.

+++

  Tirando Paul e Brad dessa contagem, era até agradável ver tantos meninos sem camisa e de bermudas “curtas” andando ao meu redor. Eu era a única que ainda estava vestida, apesar do calor. Ser a única mulher no meio de sete homens me deixava um pouco intimidada, mas sabia que mais cedo ou mais tarde teria que me despir. Ao menos para entrar na água. Estávamos navegando há quase quarenta minutos e tudo que eu podia ver a minha volta era água. Ainda não sabia para onde estávamos indo, mas se a paisagem continuasse sendo tão bonita quanto já era ali, não me importaria de viajar por mais tempo ainda. Harry e Louis temperavam pedaços de carne enquanto Niall e Brad cuidavam do fogo da churrasqueira. Paul só relaxava ao meu lado no sofá e curtia o sol. Nunca gostei muito de cerveja, mas aquela Heineken estava tão gelada que eu arriscava alguns goles de vez em quando.
  - Alguém quer que eu ligue o som? Tenho um CD bem legal que a minha sobrinha esqueceu aqui. Acho que vão gostar! – Brad ofereceu.
  - Sim, por favor! – Pedi. Era exatamente isso que estava faltando ali... Música e dança.
  - Só um minuto... – Afirmou com um aceno de mão.
  - Vocês dois aí vão fazer algo? – Harry perguntou à Liam e Zayn, que só conversavam em um canto.
  - Eles vão dançar comigo! – Informei, mas os dois em questão não pareciam concordar muito com aquela idéia.
  - Psiu, ... – Paul me chamou, com seu sotaque irlandês bem carregado. – 5 pounds que você não consegue fazer eles dançarem com você.
  - Você tem uma aposta.
  Aceitei e apertamos as mãos para selar o nosso acordo. Eu sabia bem como seria difícil convencê-los, mas não impossível. Eu tinha uma arma secreta que não gostaria de usar, mas o faria se fosse preciso. Paul continuou bebericando a própria cerveja, divertindo-se e torcendo para que ficasse cinco libras mais rico. Brad logo voltou com um controle remoto preto e apertou alguns botões apontando para o nada. Quase como mágica, uma música com uma batida bem legal começou a tocar. O homem perto de mim levantou a garrafa em sua mão como se brindasse ao meu fracasso, mas retribui o favor. Bebi dois goles seguidos da minha própria bebida e me levantei.
  - Hey, meninos... – Me aproximei das minhas duas vitimas. – Querem dançar comigo? Por favor?
  - Babe... – Zayn fez uma careta, querendo dizer não.
  - Pode ser depois? Estamos conversando... – Liam também negou.
  - Poxa. – Coloquei as mãos na cintura, nada surpresa. A risada que veio de Paul serviu para me encorajar a usar a minha arma secreta. – Tudo bem...
  - Talvez mais tarde?
  Zayn ainda tentou oferecer, mas já tinha me virado de costas pra ele. Caminhei até mesa mais uma vez e Paul esticava a mão, como se me cobrasse. Balancei a cabeça negativamente e pedi para que ele esperasse. Eu podia sentir o olhar de Zayn em cima de mim e, talvez, Liam também estivesse me encarando. Meu namorado me conhecia o suficiente para saber que eu não desistiria tão fácil assim de algo que envolvesse qualquer tipo de dança, por isso sabia que tinha algo errado. Aproveitei aquela atenção toda para colocar meu plano em prática.
  Comecei tirando os sapatos e agradecendo mentalmente pelo chão de madeira não estar tão quente. Em seguida, me livrei da blusa e a joguei em cima do sofá. Ainda estava um pouco insegura quanto à minha forma, mas me sentia bem a vontade rodeada por aquelas pessoas em questão. Para tirar o short, fiquei de costas para os meninos de propósito, mexendo o quadril para que o jeans escorregasse pelas minhas coxas. Já tinha passado muito tempo no Sol para que a minha pele mudasse do tom “Noiva Cadáver” para “Malibu Barbie”. Joguei os cabelos para o lado, fazendo ainda mais charme. Recuperei a minha garrafa de cerveja e me virei, ficando bem satisfeita pelo olhar que recebia dos meninos. Não só Liam e Zayn, mas também de Niall e Harry.
  - Acho que terei que dançar sozinha, então... – Caminhei na ponta dos pés, como uma modelo desfilando. Dei um gole na bebida e olhei cada um nos meninos enquanto fazia isso.
  - Droga. – Paul reclamou.
  - Pensando melhor... – Zayn começou, me segundo pela lateral do barco.
  - Quem precisa conversar? – Liam também veio atrás.
  Culpe a cerveja se quiser, mas eu culpava o sol, o mar, o verão e todo esse clima de festa. A música podia ser escutada pelo barco inteiro, graças às caixas de som espalhadas por tudo que é lugar, então minha trilha sonora não foi cortada quando cheguei à frente do barco. Os meninos ainda me acompanharam, mas não começaram a dançar do nada. Ali na proa, o chão não era mais de madeira, e sim de um estofado branco e bem confortável, que serviria muito bem como uma cama ou lugar para passar horas só aproveitando o passeio. Liam foi o primeiro a se jogar no meio e se acomodar, olhando pra mim; curioso com o que eu pudesse fazer. Zayn, por outro lado, encontrou apoio encostado no barco, me devorando com os olhos.
  - Não vão dançar? – Perguntei entre um gole ou outro, mexendo o corpo de um lado para o outro.
  - Estou bem, admirando a vista... – Liam falou na maior cara dura. Se ele não estivesse namorando Danielle, poderia jurar que ainda tinha sentimentos por mim.
  - Payne! – Zayn reclamou, finalmente com ciúmes de mim. Eu acho. – Ela é minha.
  - E mesmo assim você não está dançando comigo, não é? – Rebati, sem parar de dançar. – Vem aqui, babe...
  - Chamando assim. – Sorriu torto e deu alguns passos na minha direção, parando antes de encostar em mim. – Anjo...
  - Sim? – Mordi o lábio inferior, não me proibindo de olhá-lo dos pés a cabeça. Era meu mesmo, que mal teria?
  - Dança pra mim.
  Aquele pedido soou mais como uma ordem e algo me dizia que eu não teria muita escolha a não ser atendê-lo. Não que eu pretendesse fazer o contrário, mas enfim. Virei a minha cerveja nos lábios, sem conseguir terminá-la por completo. Ainda assim foi o suficiente e deixei a garrafa no chão, um pouco mais afastada de mim. Zayn continuou parado ali na frente e Liam ainda estava bem atento a tudo que acontecia. Esse meio tempo de preparação foi o necessário para que a música mudasse. Dei uma voltinha sem sair do lugar, mexendo o quadril em alguns rebolados. Por mais que ballet fosse a minha praia, não seria nada sensual começar a fazer Grand Jetés ali em cima, então me resumi a embalar o meu corpo de um lado para o outro. Ora ou outra, apoiava as mãos na cintura e mexia os ombros. Meus pés também se moviam, me aproximando e afastando de Zayn, que levantava as sobrancelhas sempre que achava que eu iria tocá-lo.
  Acabei rindo da decepção dele quando negava seus toques. Por fim, eu mesma quase não conseguia resistir àquele menino tão bonito e tão... Na falta de uma palavra melhor: Gostoso! Eu já devia estar acostumada a vê-lo sem camisa, mas era simplesmente impossível. Ele me deixava completamente louca com apenas um olhar, um beijo. Dei as costas pra ele e rebolei até o chão, escutando um arfar exasperado vindo de Zayn. Ao levantar, senti a minha cintura sendo agarrada com força e o meu corpo sendo encostado ao dele com urgência. O melhor de tudo? Senti um volume não tão pequeno assim sendo pressionado contra mim. Ele me prendia com tanta vontade que minha pele poderia ficar avermelhada. Me deixei ser tomada e relaxei, sentindo a minha respiração pesar. Fechei os olhos ao sentir o hálito quente do outro batendo na minha orelha.   - Viu o que você faz comigo? – Ele sussurrou cheio de intenções.
  - Na verdade, estou sentindo. – Sorri travessa, mexendo o quadril devagar; só pra provocar.
  - É todo pra você... – Continuou naquele tom de voz, o que era bom para não sermos escutados, mas ruim para a minha sanidade.
  - LIAM? – Gritei por ele.
  - Meu nome é Zayn. – Pareceu desconfiado.
  - Shh, Zayn! – Ri daquela pseudo-confusão. – Liam, pode sair daqui, por favor?
  - Não precisa pedir de novo... – Ele devia ter entendido o recado e por isso foi embora. Não o olhei em quanto fazia isso, mas pelo barulho de seus passos, foi correndo.
  - Porque pediu pra ele sair? – Zayn voltou a ter aquele tom mal intencionado. Ele sabia os meus motivos, mas queria me ouvir falar.
  - Por que se ele estivesse aqui... – Em um movimento rápido, me virei de frente pra ele. Sem pudor algum, arrastei as unhas pela barriga de Zayn até chegar ao cós da bermuda. Arrisquei um pouco mais até que a minha mão encostasse-se à protuberância que parecia querer fugir da sua roupa. – Eu não poderia fazer isso.
  - Fuck. – Xingou em meio a um suspiro pesado.
  - Não gosta? – Continuei a mexer a mão, apertando um pouco. Meu sorriso era de satisfação, mas o dele era pura luxuria. – Quer que eu pare?
  - Não pare! – Falou quase desesperado, apertando a minha cintura com mais força. – Continua.
  - Vou te mostrar o quanto te quero. – Meu sussurro o fez abrir os olhos que estiveram fechados até então.
  Sem falar mais nada usei a mão livre para segurar em sua nuca e acabar com a distância entre nossos lábios. Nosso beijo começou intenso e o calor só aumentou. Nossas línguas pareciam travar uma verdadeira batalha dentro de nossas bocas e os dentes também entravam em ação, deixando mordidas nos lábios. Naquele momento a última coisa que passava pela minha cabeça era que tinha mais gente naquela embarcação. Só torcia para que Liam impedisse qualquer um de ir nos atrapalhar. Também mal pudemos notar que o barco havia parado de se mexer. Minha mão direita ainda acariciava o membro rijo por cima das roupas de Zayn e eu quase podia senti-lo pulsar. Por experiência própria, sabia que ele não agüentaria ficar só naquela provocação por muito tempo. Logo precisaria de algo mais e eu estava disposta a dar – sem trocadilhos.
  Nossas bocas não se desencaixaram quando Zayn começou a andar para trás, me levando junto com ele. Quando me dei por mim, estava sendo deitada no estofado branco e minhas mãos foram presas acima da minha cabeça por apenas uma das dele. Meus joelhos foram afastados com violência, dando espaço para que o outro se deitasse entre as minhas pernas e pressionasse a sua intimidade contra a minha. Minha respiração estava completamente descompassada e um gemido baixo acabou escapando, dando a Zayn toda a permissão que quisesse. Minhas mãos foram soltas e tratei de agarrar os cabelos bagunçados dele, puxando com certa força. Como vingança, meu pescoço foi atacado pelos lábios e dentes de Malik, que tratou de morder e chupar um lugar só; tendo certeza de que me marcaria. O prendi pela cintura com as pernas e um de meus seios fora apertado pela mão ágil que eu tanto amava que me acariciasse daquela forma.
  - OLHA A ONDA. – Um grito quase assustado nos fez parar por um segundo até que fossemos atingido em cheio por pelo menos três litros de água.
  - Que porra é essa? – Zayn se exaltou, olhando em volta. Ele tinha se molhado mais do que eu, por estar por cima de mim como um escudo. – NIALL, SEU FILHO DA PUTA.
  - O que? – Ainda demorei mais um pouco para entender que o irlandês que ria no andar de cima era o causador daquela pausa. – Tá de brincadeira...
  - Eu vou matar esse duende! – Meu namorado estava claramente irritado e isso até que era excitante, mas com Niall nos observando, nada aconteceria.
  - Nós vamos nadar, pombinhos! – O intruso avisou.
  - Pode se afogar, por favor? – Pedi, escondendo o rosto com a mão.
  - Eu mesmo o afogarei. – Zayn rosnou. – Se importaria de ir na frente e começar a fazer isso?
  - Oh, claro... – Comecei a me levantar e com isso Niall começou a correr.
  Zayn ainda deveria ficar um tempo sentado ali, para que... Bem, para que você-sabe-o-que abaixasse e voltasse ao normal. Enquanto isso, eu teria que me vingar sozinha daquele menino que nos atrapalhara na pior hora. O moreno quase bufava de raiva e por um momento tive medo do que ele faria quando alcançasse Niall. Terminei de arrumar meu biquíni no lugar e pude começar a correr em busca da criatura que também corria de mim. Passei por Louis e Harry na cozinha, que me olharam como se não entendessem nada. Apenas perguntei onde o infeliz estava e ambos apontaram para o lado de fora. Continuei minha perseguição e observei quando Niall empurrava Liam da plataforma de madeira, fazendo-o cair na água.
  - AÍ ESTÁ VOCÊ! – Gritei quando já estava perto o bastante para que ele não tivesse mais pra onde fugir. Pulei em cima de Niall e ambos caímos na água, perto de Li.
  - Você vai matar ele! – Liam ria.
  - Eu sei! – Respondi ao tentar me manter na superfície, empurrando-o para baixo.
  - Socorro! – Se debatia, tentando respirar. Mais rápido do que eu imaginava, Niall tomou posse dos meus pulso e me puxou para baixo junto com ele. Tive que prender a respiração e fechar a boca para não engolir água.
  Tudo aconteceu bem rápido, mas ainda assim consegui me situar. Senti quando Liam se aproximou e agarrou Niall para que nós dois nos soltássemos. Ele sabia que estávamos brincando, mas seu instinto protetor o guiou. A água levemente fria refrescava a minha pele e encharcava os meus cabelos, mas era azul e clara o suficiente para que eu pudesse enxergar embaixo dela. Me afastei daqueles dois meninos ao nadar para o fundo e para o lado, seguindo o volume do barco. Só levantei quando não tinha mais fôlego e já estava longe de Niall e Liam.
  - ? – Niall gritou, sem ver que eu tinha me afastado. – Liam cadê a ?
  - Ela estava aqui... – Olhou em volta, mas me escondi na lateral do Iate. – ELA MORREU? ZAYN VAI ME MATAR?!
  - Ela está aqui, bando de patetas. – Paul me denunciou, ainda ressentido por causa da aposta que perdera.
  - Uau, Paul, muito obrigada!

+++

  Harry acelerava o Jet-Ski e eu tinha que segurar em sua cintura para que não fosse jogada pra fora. Pra falar a verdade, tinha que abraçá-lo com força, mas o menino não se importava. Estávamos a alguns metros do Iate, onde os outros meninos ainda bebiam e se divertiam sozinhos. Harry e eu estávamos mais sóbrios que os outros, por isso nos arriscamos a dar aquele passeio pelo mar. Vez ou outra, o piloto fazia uma curva mais brusca e passava por cima da própria onda criada por aquele movimento, fazendo com que saltássemos. Eu acabava soltando um gritinho de susto e escutava Harry gargalhar na minha frente. Ambos usávamos coletes salva-vidas para o caso de algum acidente acontecer, mas acho que nenhum de nós se afogaria caso caíssemos na água.
  - Hazza, pode parar aqui? – Perguntei elevando a voz para ser escutada apesar do som do motor do Jet-Ski.
  - Yep! – Girou o freio e paramos com um tranco, forçando o meu corpo ainda mais contra o dele.
  - Geez, Harry! Vai com calma. – Ri, sentindo o objeto parar devagar.
  - Você perguntou se eu podia parar aqui, ué. – Girou a chave para desligar o veículo e só o que nos mexia era a correnteza tranqüila do mar. – Está passando mal?
  - Não é isso. Só quero nadar. – Consegui me equilibrar de pé no Jet, começando a abrir o meu colete. – Olha como a água é mais clara aqui...
  - É meio fundo... – Olhou em volta ainda sentado.
  - Para de ser frouxo! – Deixei minha proteção em cima do banco e saltei para o mar. – Weeeeee.
  No momento em que meu corpo tocou a água, um “splash” pode ser escutado e tenho certeza que Harry foi atingido por meus respingos. O calor de Los Angeles parecia ter aumentado ali no meio do oceano e eu não conseguia ficar muito tempo longe da água. Naquele ponto mais afastado do Iate, a temperatura era ainda mais fria, mas isso não me assustou ou impediu que eu nadasse. Meus cabelos flutuavam levemente atrás de mim quando comecei a bater as pernas devagar para que eu fosse em direção ao fundo do mar. A água ali era tão clara que eu conseguia enxergar perfeitamente. Bem, perfeitamente se levarmos em conta o embaçado natural de quando abrimos os olhos embaixo d’água. Sempre gostei de nadar e sempre fui muito boa nisso. Não tinha um pulmão de ferro, mas me garantia alguns segundos ali no fundo. Pela perturbação na água, notei que Harry deixara de frescura e se juntara a mim.
  Quando meu corpo começava a dar sinais de falta de ar, me impulsionei de volta para a superfície, procurando meu amigo com os olhos. Ele ainda se mantinha próximo ao Jet-Ski, mas ao menos estava sem o colete salva-vidas. Mexi as pernas para me manter ali em cima sem afundar. Aquele estava sendo o melhor verão de todos, sem duvida alguma! Eu sabia que nada disso seria possível se os meninos não estivessem fazendo tanto sucesso, mas isso não queria dizer que eu estava me aproveitando deles, certo?
  - Hey, Haz... – Comecei, me aproximando um pouco mais dele. – Agora que estamos sozinhos, posso fazer uma pergunta?
  - Você vai perguntar mesmo se eu falar não, então vá em frente. – Manteve sua atenção em mim, arriscando se soltar do Jet-Ski.
  - Você está chateado? Quero dizer... Com essa história de namorada de mentira, você e Lou tendo que se esconder e tal...
  - Eu desconfiava que seria sobre isso que você iria perguntar. – Harry riu nervoso. – Não vou mentir e falar que estou feliz com isso, porque não estou... Mas Louis está certo, nós precisamos fazer isso. Você mesma já falou que eu sou muito mais aberto quanto a minha sexualidade do que o Lou, então não é como se tivéssemos outra escolha. Eu tenho que protegê-lo.
  - Você sabe que vai ser difícil, né? – Não estava querendo soar pessimista, apenas encarar a realidade.
  - Eu demorei muito tempo para tê-lo assim, . Não vou desistir agora. – Sorriu fraco. – Você desistiria do Zayn?
  - Você está certo.
  Afirmei com outro sorriso e o dele aumentou. Não tinha duvida alguma na minha mente de que eu seria capaz de passar por qualquer coisa por Zayn. Infelizmente, Harry teria que se submeter a ver o namorado com outra pessoa, mesmo que de mentira, mas era preciso. Por mais que não gostasse de quase nenhuma das decisões da Modest!, compreendia o que estavam tentando fazer. De um jeito meio egoísta e conturbado, esse plano acabaria “protegendo” o meu irmão. Todos nós só podíamos torcer para que essa tal de Eleanor entendesse a realidade e também nos ajudasse.
  - Acho que devemos voltar! – Harry anunciou.
  - Minha vez de dirigir!
  Não pedi, apenas informei que seria a nossa piloto. Meu amigo pareceu não se importar muito e me ajudou a montar no Jet-ski. Tive um pouco de dificuldade para me içar para fora da água, mas assim que dominei a minha força, pode subir e me sentar na frente, com uma perna de cada lado daquele banco amarelo. Graças a Poseidon o Sol não esquentou tanto o meu assento então a minha pele não foi cozinhada. Quase esqueci do colete salva-vidas, mas Harry o entregou pra mim assim que vestiu o próprio. O agradeci com um sorriso e voltei a girar a chave na ignição, fazendo o motor roncar quase como se fosse um carro. Dei partida um pouco mais lentamente do que Harry. Não estava com pressa, apenas passeava e curtia o vento soprando os meus cabelos. Haz também não precisou segurar em mim e até arriscou levantar e abrir os braços, se sentindo o dono do mundo.
  As ondas que batiam contra a parte de baixo do Jet-Ski respingavam no meu rosto e pernas, mas nada que pudesse me atrapalhar. Quando nos aproximamos do Iate, diminui a velocidade para que não batêssemos e Brad, que estivera sentado na mesa do deck com Paul e os outros meninos, desceu para a plataforma de madeira e nos ajudou a “estacionar”. Usou uma corda para prender o objeto ao Iate e ofereceu a mão para nos ajudar a saltar. Neguei aquela ajuda e, ao invés disso, o entreguei meu colete salva vidas e pulei na água mais uma vez. Não cheguei a ficar muito tempo nadando, apenas dei um mergulho rápido para me refrescar enquanto os dois homens iam de encontro com aos outros.
   Quando já estava com um pouco menos de calor, subi na plataforma de madeira e balancei os cabelos na esperança de tirar metade da água que ele sugara. Sabe aquela impressão de que você está atrapalhando alguma coisa? Foi isso o que senti ao subir as escadas para o deck da embarcação e todos os meninos pararam de conversar para me olhar. Brad já voltara para o seu lugar no sofá ao lado de Paul, Liam era o seguinte e na ponta mais afastada estavam Zayn e Lou. Harry estava se enrolando em uma toalha quase na entrada da cozinha. Foi ao olhar novamente para o meu namorado que notei o que ele tinha em mãos. Um cigarro. Não era só ele quem fumava, pois meu irmão também tragava aquela coisa que eu odiava.
  - Quando você voltou a fumar? – Perguntei a Zayn, tentando não soar chata demais.
  - Não estou fumando o tempo todo... – Se defendeu, com a voz baixa. Cauteloso por medo da minha reação. – Só quando fico ansioso ou nervoso...
  - Está nervoso agora? O que aconteceu? – Franzi o cenho, preocupada.
  - Uh, não... – Olhou para Liam como se pedisse ajuda.
  - Ele só está com saudade da família, . – Li se intrometeu. – É normal.
  - Oh... Okay... – Aceitei calmamente aquela explicação. Não concordava com aquela forma de relaxamento, mas o que podia fazer, não é? – Bem, vocês sabem como me sinto sobre isso.
  - Quer comer alguma coisa, ? – Brad mudou de assunto, em uma tentativa frustrada de melhorar os humores. – Você mal tocou na comida durante o almoço. Estou achando que não gostou dos meus dotes culinários!
  - Não estou com fome, Brad, mas obrigada! – Menti, forçando um sorriso. Não queria comer. – Só vou subir um pouco e relaxar lá em cima...
  - Não quer ficar aqui embaixo com a gente? – Paul ofereceu.
  - Ela não gosta do cheiro. – Lou o respondeu no meu lugar, dando mais uma tragada em seu fumo.
  Eu não o culpava por estar fumando, já que devia estar atormentado com o que aconteceria quando voltássemos para Londres em alguns dias, com essa nova garota que seria sua “namorada” e, principalmente, preocupado em perder Harry. Ele estava certo em procurar uma forma de alivio, por mais que aquela em questão não fosse a mais saudável. Apesar disso, eu não seria a irmã mais nova chata que fica tentando controlá-lo. Zayn, por outro lado... Já tivera problemas com cigarro. Ele não chegou a precisar ir para a rehab ou coisa parecida, mas estava começando a ficar dependente daquele vicio. Antes mesmo de me conhecer, havia parado com esse hábito – ao menos era o que Niall me contara -, mas agora parecia estar voltando com ele. Eu sempre fui completamente contra, mas também não podia simplesmente proibi-lo de fazer o que queria. Com um pai médico você acaba aprendendo que aquelas coisas fazem mais mal do que se imagina.
  Como ninguém mais quis me impedir de me afastar, recuperei a minha mochila e rumei em direção às escadas em espiral. Harry estava na cozinha, colocando algo no forno, e acenou, abstraído de qualquer coisa que não fosse os seus cupcakes comemorativos. Subi com certa pressa, pois sentia o olhar de Zayn queimando as minhas costas. Ou talvez fosse o Sol... Mas quem sabe dizer a diferença? Ao chegar lá em cima, a primeira coisa que vi foi o balde que Niall usara para atrapalhar meu momento íntimo, e o coloquei de lado. Subi naquele colchão branco que ocupava todo o segundo andar, que, aliás, era bem menor que o de baixo, e fui para um dos cantos, me jogando sobre uma almofada igualmente branca. Sem perder tempo, abri um guarda sol que havia ali do lado, para me proteger do Sol. Sim, eu queria ganhar uma corzinha mais bronzeada, mas não pretendia morrer de calor.
  Peguei a minha mochila e tirei de dentro dela uma camisa preta de mangas compridas. Incrivelmente, aquela peça não era quente, pois parecia mais uma rede de pesca, totalmente furada. O tecido era bem confortável e não me incomodaria. Era masculina, mas quem disse que eu me importava com isso? Primeiramente fora de Harry, mas a encontrei no meio das coisas de Zayn; o que comprovou a minha teoria de que eles dividiam roupas. Talvez fizessem uma mala só durante as viagens, com coisas que todos os cinco pudessem gostar. Mal sabiam eles que eu também iria me inserir nessa brincadeira. Ainda com a mochila aberta, peguei meu celular para ver as horas, mas acabei notando uma mensagem não lida.

  
“Ainda lembra que tem família? (x)”
  “Baby Bo. ): Pode me ligar? Estou tão estressada! Olha que vista feia: (x)”

  Sabia que ficaria com inveja pela foto que mandei, mas não me importei. Ri sozinha, me acomodando naquela almofada grande e confortável. Como a sombra do guarda-sol protegia o meu rosto, não sofria com a claridade e podia aproveitar todo paraíso que me rodeava. Era como se fossemos os últimos seres na face da terra, sem nenhum problema nos perturbando. Eu só queria que essa última parte fosse verdade. Não demorei muito para sentir a primeira vibração do aparelho em minha mão e a foto de uma ruiva fazendo careta apareceu na tela.
  - What’s up, bitch? – Atendi com o melhor sotaque americano que consegui forçar.
  - Heeeey, honey! – Também tentou fazer o mesmo que eu, mas sua tentativa foi bem pior que a minha. – Ah, fuck it. Que saudade de você!
  - Também estou com saudades, cabecinha de fogo! – Ri, mesmo estando com um aperto no coração. – Como você está?!
  - Não estou melhor que você, isso é verdade. – Lá vinha a reclamação! – Está na praia? Onde é essa foto que me mandou?
  - Estou em um Iate! Paul tem um amigo americano que nos convidou para passar o feriado em alto mar. – Expliquei animada, olhando para o horizonte. – Estão todos aqui...
  - Feriado? Esqueci de alguma coisa?
  - Não é feriado mundial, anta. – Gargalhei da lerdeza dela. – É dia quatro de julho. Aniversário da independência do país, ou algo assim...
  - Ah, claro! Eu não tinha obrigação de saber, não é? Não estou em terras, ou melhor, em águas estrangeiras pra saber o que acontece no dia quatro de julho!
  - Não está aqui porque não quer. Conheço um menino que adoraria a sua presença...
  - Não comece, . Aliás, vou encontrar o Ben em trinta minutos.
  - Quem? – Fiz uma careta, tentando lembrar quem exatamente era esse Ben. Só lembrava do meu primo, mas ele era novo demais pra ela.
  - Benjamin! Aquele que você conheceu na escada, no último dia de aula...
  - Ah, o loiro de testa grande! – É claro! – Então vocês dois estão juntos mesmo, hein? Pra você não ter arrumado outro em duas semanas...
  - Muito obrigada por me chamar de vadia, . – Bufou, me fazendo rir ainda mais. – Mas até que tem razão. E como está o badboy de Bradford?
  - Estranho, eu acho... – Falei sem pensar, me apressando para me corrigir. – Quero dizer... Ele está bem, mas as vezes fica meio aéreo, sabe? Às vezes me olha como se quisesse falar algo, mas continua calado. Não sei, se fosse importante ele teria me falado.
  - Espero que ele esteja bem...
  - , tenho tanto pra te contar! – Levei uma mão à testa, só então percebendo o quanto sentia falta de fofocar com a minha melhor amiga.
  - Pode contar agora?! – Quase gritou, super curiosa.
  - Não em trinta minutos.
  - Nah, Ben pode esperar um pouco. Conta!
  - Coitado. – Balancei a cabeça negativamente. Mas desde quando me importo com esse garoto? – Anyway. Lembra do Marco, certo?
  - WeyHey! – A cabeça flutuante de Niall apareceu na escada, me assustando. – , vamos andar de Jet. Quer vir?
  - Não, Nialler, obrigada! – Falei sem tirar o aparelho de telefone da orelha propositalmente.
  - Tudo bem! – O menino se foi tão rápido quanto apareceu.
  - Hm. resmungou para chamar a minha atenção. – Sim, eu lembro quem é Marco. O magricelo de cabelo castanho e óculos.
  - Esse mesmo! – Teria perturbado-a mais se o assunto que estávamos prestes a tratar não fosse tão mais importante. – Ele quer que o Louis tenha uma namorada falsa. Pra disfarçar o relacionamento com Harry, sabe?
  - No way! Louis ficou uma fera, eu aposto! Ele não gosta de se sentir controlado pela Modest!.
  - Muito pelo contrário! – Comecei a explicar, assistindo o primeiro menino sair de Jet-Ski. – Ele aceitou, porque não...
  Perdi a fala ao reconhecer o menino em cima do objeto que aumentava de velocidade cada vez mais rápido: Zayn. O pior? Ele não estava usando nenhum tipo de proteção, muito menos estava acompanhado. Aquele menino devia estar ficando maluco! Pra começo de conversa, estava com algumas garrafas de cerveja no sangue e algo me dizia que o que ele fumara não era um cigarro “normal”. Em segundo lugar, ele não sabia nadar! Como se eu estivesse adivinhando, assisti em câmera lenta a cena que mais poderia ter me assustado. O Jet-Ski deu uma guinada um tanto violenta quando o motorista fez a volta para retornar na direção do Iate e, com o impacto de uma onda, Zayn foi jogado contra a água azul do mar.
  - ZAYN! – Gritei desesperada.
  Eu sabia que os meninos pulariam na água para ir atrás dele, mas nenhum era tão bom nadador quanto eu. Larguei o celular de qualquer jeito e levantei, pisando na borda do barco e pegando o máximo de impulso que consegui. Em segundos eu já estava na água e remava com toda a força de meus braços e pernas. Pela minha cabeça a única coisa que passava era: “Tenho que chegar até ele.” Escutei mais corpos se jogando na água, mas eu ainda era a mais adiantada. Zayn se debatia como um peixe fora d’água (sem trocadilhos +1) e engolia água quando tentava gritar por ajuda. Eu mal conseguia ver seus braços na superfície, apenas a sua cabeça tentando lutar por ar. Sem deixar meu desespero me dominar, acelerei ainda mais a velocidade em meus movimentos, ignorando a dor que causava ao meu próprio corpo. Ao chegar perto o bastante de onde Zayn estivera segundos antes, o assisti começar a afundar.
  Gritei por ajuda antes de mergulhar e afundar atrás dele. O peso do menino parecia estar puxando o seu corpo inconsciente para baixo. “Ele só entrou em choque e desmaiou. Não pense besteira.” Briguei comigo mesma ao pensar no pior e ignorei a minha própria falta de fôlego, indo em busca daquele menino até que a ponta dos meus dedos tocasse na sua cabeça. Xinguei os meus olhos por estarem tão embaçados, mas consegui firmá-lo em meus braços e empurrá-lo para cima. Tudo o que eu queria era tirar seu rosto da água para que ele voltasse a respirar. Zayn era mais pesado do que eu, o que me deu mais trabalho para mantê-lo ali em cima quando eu mesma não tinha nenhum apoio maior. Sentia que iria começar a chorar, mas engoli essa vontade assim que Liam e Harry conseguiram nos alcançar. Brad também estava com eles e trazia uma bóia vermelha, daquelas de salva vidas mesmo.
  O mais velho parecia saber o que fazer, porque tirou Zayn de meus braços – por mais que eu tivesse resistido no começo – e o colocou dentro da bóia; de forma que ficasse bem preso e com o rosto para fora da água. Ainda assim, meu namorado não voltou a abrir os olhos, o que me preocupou anda mais. Liam envolveu a minha cintura, me dando o apoio que eu mesma precisava. Harry fez um sinal com os braços e Paul, que continuara no barco, começou a puxar a corda que fora amarrada à bóia de Zayn. Logo o menino chegaria ao barco e tudo ficaria bem...
  Harry foi recuperar o Jet-Ski ligado, que se afastava bem devagar como se nada tivesse acontecido. Liam e eu começamos a nadar em direção ao Iate mais uma vez, com um pouco mais de calma. Podíamos ver Zayn sendo carregado para fora da água por Paul e levado até o deck, onde sumiu da nossa visão. Sem agüentar mais um segundo sem saber o que estava acontecendo, acelerei graças a adrenalina e até mesmo Liam acabou ficando pra trás. Ao chegar no Iate, Brad tentou vir me ajudar a subir mais uma vez, mas consegui ser mais rápida e logo estava de pé, subindo até o primeiro andar. Só porque eu era uma menina pequena, não queria dizer que eu não era capaz de fazer coisas grandes.
  - Como ele está? – Minha voz saiu mais engasgada do que eu esperava.
  - Ele precisa de espaço! – Paul pediu, deitando o corpo quase sem vida do menino no chão. Louis, Niall e todos os outros que estavam ali se afastaram.
  - Zayn... – Ignorei os pedidos de me afastar e me ajoelhei ao lado dele.
  Vendo o desespero em meus olhos, Paul não pediu para que eu saísse de perto dele. Também não queria atrapalhar, então apenas segurei uma das mãos de Zayn e a levei até o meu peito. O segurança surpreendeu a todos nós quando soube exatamente o que fazer. Primeiro colocou a cabeça do menino inconsciente para trás, de maneira que permanecesse reta. Em seguida, tentou escutar a respiração do mesmo, sem perder tempo e já assoprou ar para dentro da boca de Zayn, usando a própria.
  - , preciso que me ajude. – Falou rapidamente, puxando as minhas duas mãos e colocando-as em cima do peito de Zayn. – Quero que você aperte e conte até cinco, entendeu?
  - Sim... – Me coloquei de joelhos ao lado de Zayn para conseguir mais apoio e pressionei a caixa torácica dele enquanto contava. – 1, 2, 3, 4, 5...
  - De novo.
  Quando eu terminava de apertar e contar, Paul assoprava mais ar para dentro da boca dele. Eu esperava para voltar a apertar o peito abaixo de mim com força, tentando estimular os movimentos dos pulmões. “Vamos, Zayn, respira...” Eu pedia silenciosamente, já com as lágrimas escapando pelos meus olhos. Depois que eu e Paul repetimos aquela manobra mais três vezes, o menino abriu um pouco os olhos e teve uma crise de tosse, cuspindo tanta água que eu mal sabia como era possível. Fiquei tão aliviada que era como se um caminhão tivesse sido tirado de mim e acabei caindo sentada no deck, tirando alguns fios molhados do meu rosto.
  - Agora sim! – Paul foi o primeiro a comemorar em voz alta, ajudando-o a se sentar. – Você está bem?
  - Eu acho... – Balançou a cabeça, ainda ofegando.
  - Eu tive tanto medo! – Cansei de esperar e me joguei nos braços de Zayn, o abraçando talvez um pouco forte demais.
  - Foi você, não foi? – Zayn falava baixo, me apertando de volta.
  - Sim, Zayn, a te salvou... – Liam parecia em choque com tudo que acontecera bem na frente dos seus olhos.

+++

  Acho que posso dizer com toda certeza que nosso feriado foi mais animado do que o de muita gente por aí. Com isso em mente, é bem fácil de acreditar que todos nós fomos para a cama antes mesmo da meia noite. Após o acidente de Zayn, todos achamos melhor voltar para o hotel e terminar o dia na segurança de terra firme. Claro que ele se sentiu super culpado, pensando que estragara o passeio de todo mundo, mas fiz o que pude para que ele não pensasse assim. Lux e Rachel também tiveram um dia muito animado, no hotel mesmo. A mais velha das duas contou que o Venice Hotel desenvolveu várias atividades para pessoas de todas as idades, até mesmo fazendo caça ao tesouro na praia ali da frente. Minha irmãzinha estava tão morta de cansaço que nem quis comer o cupcake que trouxemos para ela.
  Depois de ter tomado banho e com uma camisola um tanto quanto fofa e confortável, adormeci nos braços de Zayn. Segura por saber que ele estava bem ali. Devia passar das três horas da manhã quando algo começou a perturbar o meu sono. Me mexi na cama de casal, com medo de chutar o menino ao meu lado, mas ainda assim com vontade de encontrá-lo. Não era pra menos que algo tivesse me acordado... Eu estava com frio e não tinha o corpo de Zayn bem grudado em mim para me aquecer. Resmunguei qualquer coisa humanamente desconhecida e comecei a tatear a cama, encontrando o espaço ao meu lado completamente vazio.
  - Baby? – Chamei por ele com a voz bem amassada; ou algo que faça mais sentido.
  Não obtive resposta, então deixei meu olhar se acostumar com o escuro do quarto. Ironicamente, havia uma fresta de luz que vinha do lado de fora; na direção da varanda. A luz lá de fora não estava acesa, mas a porta que dava passagem àquele local estava entreaberta, permitindo a entrada da luz fraca que vinha da rua. Cocei os olhos e afastei o resto de sono que ainda me consumia. Me colocar sentada e levantar daquela cama confortável só foi fácil porque meu namorado não estava ali. Arrastei um pé após o outro, atravessando o quarto até chegar ao meu destino final. Empurrei a porta com cuidado, espiando à procura de Zayn. Ele não estava em nenhuma das cadeiras dali, mas arrisquei averiguar mais profundamente e o vi encostado à parede, de frente para o vidro da varanda que nos deixava ver a praia do outro lado da rua.
  - Love? Está tarde, volta pra cama... – Minha voz ainda saia fraca por causa da sonolência.
  - Eu já vou entrar. – O som que deixou seus lábios não foi tão diferente do meu, me fazendo entrar na varanda e caminhar devagar até ele.
  - Você está bem? – Não precisei de convite para também me sentar ali no chão, ao lado de Zayn.
  - Estou bem, não se preocupe. – Era mais fácil falar. Me olhou com um meio sorriso, tentando me tranqüilizar, mas não fui convencida. – Só tive um pesadelo...
  - Sobre o que? Quer me contar? – Ambos encostamos as costas na parede, deixando nossos ombros se encostarem. Segurei a mão dele e entrelacei nossos dedos.
  - Sonhei que estava me afogando de novo. – Suspirou, olhando as nossas mãos juntas e começando a brincar com os meus dedos. – Mas você não estava lá pra me salvar dessa vez.
  - Eu sempre vou estar lá pra te salvar, sweetie. – Acariciei as costas da mão dele com meu polegar, me virando levemente para poder fitá-lo melhor. – Só foi um sonho ruim. Agora já passou...
  - Eu sei. É que é difícil fechar os olhos e não imaginar... Não lembrar como eu me senti quando... – Parou de falar no meio da frase.
  Não sabia exatamente como era a sensação de estar se afogando, de tentar respirar, mas não conseguir... Só sabia que devia ser a experiência mais terrível do mundo. Pior, talvez, só assistir a pessoa que você mais ama passar por isso. Zayn ficou calado, olhando pra frente. O céu estava escuro, mas algumas estrelas faziam companhia à Lua cheia que brilhava em cima de nós. A expressão de Zayn parecia tranqüila e seu corpo estava bem relaxado; eram seus olhos que falavam o contrário. Também não falei coisa alguma, apenas o assisti abraçar os joelhos no peito e deitei a cabeça em seu ombro. Recebi um beijo na testa e pude escutar a voz baixa de Zayn mais uma vez.
  - Você nunca me perguntou porque eu não sei nadar.
  - Sempre achei que você me contaria quando estivesse pronto. – Levantei a cabeça para poder vê-lo, mas mantive o queixo apoiado no mesmo lugar. Não era da minha personalidade insistir em saber coisas sérias, pois entendia que cada pessoa tinha seu tempo para conseguir se abrir ou falar sobre certos assuntos.
  - Quando eu era pequeno, em Bradford ainda... Tinha um amigo chamado Mike. Um dia, nós estávamos brincando perto desse lago... – Começou a contar, mais uma vez evitando o meu olhar. Eu, em compensação, mal piscava ao olhar pra ele. Tinha medo de como essa história poderia terminar. – Nossas mães sempre falavam pra não ficarmos muito próximos, mas sabe como crianças são. Mike caiu... Nenhum de nós sabia nadar ainda, então eu corri para pedir ajuda... Mas foi tarde demais...
  - Não foi sua culpa... – Estava realmente surpresa com aquela história, sem saber muito bem o que falar.
  - Desde aquele dia, eu nunca mais consegui chegar perto águas abertas. – Admitiu baixo. – Não até hoje, pelo menos.
  - Mas não era você. Quero dizer, você tinha bebido... – Afastei o rosto do ombro dele para poder ler todas as suas reações. – E aquilo que estava fumando com o Lou... Não era só cigarro, certo?
  - Não.
  - Eu sabia. – Ri baixo, sem graça alguma. Voltei a encostar na parede e Zayn finalmente me olhou.
  - Sinto muito... – Preferia que ele continuasse sem me encarar, pois a dor que senti em seu olhar me quebrou.
  - Não sinta. – Foi a minha vez de olha pra frente. – Você fez o que queria, então não pode se arrepender disso.
  - Eu te desapontei.
  - Um pouco.
  - Eu não pretendia... É só que... – Encostou o rosto aos joelhos, fechando os olhos com força. – Eu tenho tantas coisas na cabeça.
  - Então porque você não me conta? Você costumava me contar tudo, mas agora eu sinto como se sempre estivesse um passo atrás.
  Não pretendia jogar aquelas coisas em cima dele e ainda piorar a confusão da cabeça dele, mas tinha medo. Zayn e eu costumávamos contar tudo um para o outro, saber de tudo sobre o outro. Meu medo era que não fosse mais assim. Como eu falara pra mais cedo, sentia que ele estava estranho. Não o tempo inteiro, é claro, mas algumas vezes. E não saber o que estava acontecendo era pior do que qualquer noticia que ele poderia me dar. Vendo que a minha última pergunta não seria respondida, balancei a cabeça em frustração e suspirei baixo. O silêncio era tão forte naquela varanda que cogitei poder ouvir até uma formiga andando por ali. Para quebrar o gelo, Zayn desarmou o abraço em suas pernas e virou até estar de frente pra mim.
  - Anjo.
  - Hm? – Dessa vez eu o olhei.
  - Você ainda me ama? – Aquela pergunta me surpreendeu mais do que posso explicar.
  - Sim. – Minha resposta foi simples, mas não podia ser mais verdadeira. – O que te faz pensar que eu não amaria?
  - Tanta coisa mudou. Eu mal estou em casa, sempre tenho o trabalho me mantendo ocupado, Modest! está sempre se intrometendo... – De certa forma eu sentia que aquilo era Zayn finalmente se abrindo e me deixando entrar. – Meu rosto está em três de cada cinco revistas, todos os dias tem um novo boato...
  - Zayn, eu não comecei a te amar porque você estava sempre em casa, ou porque os únicos boatos eram os que Brigitte inventava. – Segurei sua mão, querendo tranqüilizá-lo; ao menos sobre aquilo. – Você significa mais pra mim do que sabe.
  - Eu te amo tanto... – Abaixou o olhar, mas levantei seu rosto com cuidado.
  - Eu sei. – Sorri, juntando nossos lábios de uma vez por outra. Nosso pequeno beijo foi simples e não durou muito, mas era o bastante.
  - Você sabe que as coisas vão mudar quando voltarmos pra casa, não sabe? – Encostou a testa à minha. – As coisas em Londres não são tão quietas como são aqui.
  - Especialmente com a Modest! querendo controlar tudo que vocês fazem. – Teria rolado os olhos se eles não estivessem fechados. – Com a Eleanor e tal.
  - É... – Senti a respiração de Zayn pesar. Ele devia ter as mesmas preocupações que eu.
  - Mas ainda teremos Paris! E o casamento da minha mãe. – Acabei sorrindo e levantando do chão, esticando a mão para que ele fizesse o mesmo. – Vem. Vamos pro quatro.
  - Está com sono? – Aceitou minha ajuda e levantou.
  - Não. Mas quero terminar algo que o Niall interrompeu.

    

Chapter IX

- Eu não vou! – Choraminguei, me agarrando ao banco no fundo da van.
  - , nós temos que ir... – Meu irmão ria do lado de fora, esticando a mão na esperança que eu saísse de lá.
  - Podem ir! Vou ficar por aqui mesmo. – Cruzei os braços, forçando os pés no chão, me prendendo ali.
  Passava das sete horas da noite, mas o céu ainda estava claro como se fosse de manhã. Eu sentiria falta desses dias de verão americanos... Não! Não sentiria falta, porque não iria embora. Ficaria para sempre naquela van preta. Talvez Brad me deixasse morar com ele. Ou até me emprestar o Iate por uns meses. Isso! Ah, quem eu estava querendo enganar? No fim das contas eu acabaria saindo daquele carro e aceitaria entrar no LAX para pegar o avião que me levaria de volta para a terra da rainha. Um lado de mim estava bem animado em ver as minhas meninas e , mas o outro lado queria continuar naquela cidade quente e maluca. No lado de fora da van, Paul tirava as nossas bagagens do porta-malas e os meninos buscavam carrinhos para guardá-las. Os únicos que me esperavam sair eram Louis e Liam.
  - Alguém arranca ela daí, por favor? – Rachel pediu, com Lux em seus braços.
  - Deixa comigo. – Li se ofereceu, deixando de lado o plano que meu irmão tinha de me tirar dali apenas com conversa. Assisti Liam entrar e se sentar ao meu lado. – Oi, .
  - Oi, Leeyum. – Arqueei uma sobrancelha, me mantendo atenta a qualquer movimento brusco.
  - Por que não quer sair? Não quer ver a ? Seu bebê? deve estar com tanta saudade de você... – Começou, apelando para o meu emocional. – Sem falar que o casamento da sua mãe é em algumas semanas...
  - Eu ligo pra ela e explico. E posso pedir pra alguém ir buscar . também pode vir me visitar aqui. – Fiz bico, olhando pra fora da janela. – Você e os meninos podem ir! Sei que está com saudades da Dani, então não te culpo em querer ir embora o mais rápido possível. Pode me deixar aqui!
  - Eu nunca iria embora sem você. – Liam falou tão adoravelmente que acabei olhando pra ele e sorrindo. – Você quer ficar mais um tempo? Podemos tentar...
  - Eu quero! Awn, você é um amor! – Comemorei, deixando a minha inocência tomar conta da minha racionalidade. Acabei envolvendo Liam pelo pescoço e o abraçando.
  - AHÁ! – O enlace em minha cintura foi mais forte do que eu esperava. – Peguei ela!
  - O que?! Você me enganou? – Tentei me soltar, mas foi inútil.
  Liam era ridiculamente forte. Tão forte que conseguiu me carregar como se eu fosse um pedacinho de algodão; e, ainda por cima, eu estava esperneando e me comportando como uma criancinha de três anos. Até Lux estava mais quieta que eu! Assim que saímos do carro, fui colocada no chão, mas Liam e Louis passaram os braços pelos meus. Parecíamos apenas bons amigos aos olhares de quem passava por nós, mas eu sabia que estavam se assegurando de que eu não fugiria ou coisa assim. Brad viera conosco, para poder levar a van de volta para a concessionária de onde a alugamos, e também para se despedir de Paul. Eu já me despedira dele e não gostaria de passar pela mesma situação novamente, então apenas acenei quando ele entrou no veículo e desejou boa viagem para nós.
  - Hey, olha quem resolveu vir com a gente! – Zayn sorriu, trazendo um carrinho para perto de mim.
  - Não foi por espontânea vontade, pode ter certeza. – Fiz um bico maior que eu e suspirei.
  - Não fique assim, babe... Vai ser bom voltar, você vai ver. – Tentou fazer com que eu me sentisse melhor, mas nem ele mesmo parecia certo daquilo. – Quer uma carona?
  - Achei que nunca ia perguntar! – Rolei os olhos com um sorriso e os meus carcereiros me deixaram sentar na única mala preta que estava em cima daquele carrinho cinza.
  - Está tudo pronto? – Rach questionou, olhando para todos os carrinhos e todas as pessoas que estavam ali no portão do aeroporto.
  - Os outros já estão lá dentro. – Paul afirmou com a cabeça e pegou o carrinho mais cheio de bagagem.
  - Então vamos! – A loira só carregava Lux e a sua maxi bolsa, indicando o nosso caminho.
  - Quem são os outros? – Perguntei apenas para Zayn, torcendo para não parecer lerda demais.
  - Marco e o resto da equipe. – Respondeu ao começar a empurrar nosso carrinho.
  - Marco? “O” Marco? – Minha discrição toda chamou a atenção de Lou e Ni, que passaram a nos olhar. – Está me dizendo que eu terei que passar doze horas presa dentro de um avião, a milhares de metros do chão, com esse cara?
  - Acho que só um sobrevive. – Niall gargalhou bem do jeitinho dele.
  - Vinte libras que é a . – Lou esticou a mão para selarem a aposta.
  Os cinco meninos também arrastavam carrinhos cheios de malas. O de Zayn era o mais vazio, mas como eu estava em cima dele, continuava bem pesado. Parecíamos um verdadeiro exercito se preparando para a guerra; ou ao menos uma viagem muito longa. Se eu já viera para os Estados Unidos com duas malas, estava voltando com três. Sim, tive que comprar mais uma para que todas as minhas compras coubessem em algum lugar. Da próxima vez eu só levaria uma mochila de costas para poder comprar tudo que precisasse! De qualquer forma, conseguimos entrar no LAX – que estava mais cheio e movimentado do que no dia em que cheguei – e tive que descer do carrinho.
  Preston, um novo funcionário da Modest! que aparentemente teria a mesma função que Paul, se encarregou de levar todas as malas para o balcão do nosso checkin; com a ajuda de funcionários do próprio aeroporto, claro. Rachel deixou a filha com Harry e foi com Paul resolver as questões dos nossos vistos, passaportes, passagens e toda essa burocracia chata. Como não tínhamos muita coisa pra fazer, seguimos para alguns bancos estofados que acabavam de ficar vazios. Haz foi o primeiro a sentar, brincando com a minha irmã. Louis sentou ao seu lado e os dois praticamente se abraçaram, parecendo um casal com a sua primeira filha. Os outros meninos também se acomodaram por ali e eu me sentei nos braços da cadeira que ligava a de Zayn à de Niall.
  - , você sabe que a viagem é longa, não sabe? – Niall questionou enquanto Zayn encostava a cabeça à minha coxa.
  - Sei... Por que? – Ri por sentir cócegas do ato de meu namorado, mas fitava o loiro com curiosidade.
  - Você não parece muito confortável nessas roupas... – Concluiu seu pensamento, me estudando dos pés a cabeça. – Salto, blazer e tudo mais.
  - Vou tirar tudo isso no avião, não se preocupe! – Expliquei, pousando a minha bolsa no chão à minha frente. – Mas você tem o seu trabalho, e eu tenho o meu também.
  - Às vezes esqueço que você é uma modelo agora. – Zayn mordeu a minha perna de leve, me causando novos risos. – E depois voltaremos à essa história de tirar as roupas.
  - Eu não sou modelo! Não do jeito que você pensa, pelo menos. – Acariciei seus cabelos, preferindo ignorar a última parte de sua fala. – Só uso algumas roupas da Mulberry por aí...
  - Como funciona esse seu trabalho? – Nunca imaginei que Niall fosse se interessar por esse assunto, mas ficaria feliz em lhe explicar.
  - Bem... Antes de uma coleção nova ser lançada, eu recebo algumas peças pra usar por aí e ser vista. Não só por pessoas “normais”, digamos assim, mas também por formadores de opinião. Ou seja, editores de moda, blogueiros e todo o tipo de pessoas envolvidas com o mundo da moda. E, acredite, eles estão em toda parte! Geralmente recebo vários convites para eventos ou desfiles que tem tapete vermelho e essas coisas... Então tenho que estar usando a marca Mulberry. – Era um erro me perguntar sobre aquele assunto, pois eu realmente me empolgava e começava a falar muito. – Não tenho um salário fixo, porque só recebo quando trabalho. Quero dizer... Recebo quando vou a eventos, ou quando faço propaganda da marca, da forma que for.
  - Mas você não pode usar outra marca? – Liam, que eu nem sabia que também prestava atenção no assunto, perguntou.
  - Esse é o bom, eu posso usar o que eu quiser. – O olhei, me sentindo o centro das atenções. – A única coisa que eu não posso fazer é divulgar outras marcas, entende? Não posso ir até tal loja e tirar uma foto com a logo marca aparecendo. Nem posso postar alguma coisa no Twitter falando que a minha marca preferida é a TOPSHOP, por exemplo. Porque tenho um contrato com a Mulberry.
  - Você é tão linda. – Zayn falou, me encarando tão profundamente que até me assustou.
  - O que? – Sorri verdadeiramente com aquela declaração inesperada.
  - Só estava pensando alto. – Pareceu voltar a realidade e gargalhou, passando os braços em volta da minha cintura. – É só que eu nunca te vi falando assim de alguma coisa... Com tanta paixão, sabe? Talvez só de ballet.
  - Eu realmente gosto do que estou fazendo. – Sempre gostara de moda, mas parecia que agora eu fazia parte do seu universo e ela do meu. Se dependesse de mim, eu não sairia nunca mais.
  - O que o Simon está fazendo aqui? – A voz de Louis chamou a atenção de nós quatro. – SIMON! AQUI!
  - Ele deve ter vindo se despedir. – Niall levantou e começou a acenar.
  Simon Cowell acabava de entrar pelos portões do aeroporto, seguido por dois seguranças particulares. Todos pareciam reconhecê-lo. Alguns acenavam e tiravam fotografias e outros só cochichavam com suas companhias algo que deveria ser mais ou menos assim: “Ai, meu Deus, esse não é aquele cara do X Factor? Que era do Idols?” Sim, meus caros, era ele mesmo! O homem que só parecia ter camisas acinzentadas e calça jeans em seu guarda roupa avistou o irlandês acenando em sua direção e logo caminhou até onde estávamos. Tirou os óculos escuros do rosto e os guardou no bolso, abrindo os braços e sorrindo como se fosse um pai ao ver seus filhos. Fui a segunda a levantar e sorri para abraçá-lo.
  - Tio Simon! – Ri aquele apelido, sendo envolvida pelo homem que parecia tão severo, mas que comigo sempre foi um verdadeiro amor. – O que está fazendo aqui?
  - Gostei do seu cabelo loiro, . E vim me despedir de vocês, não é óbvio? – Também riu, me soltando em seguida.
  - Tio Simon! – Niall e Liam pularam em cima do mais velho ao mesmo tempo, quase levando os três ao chão.
  - Ela é a única que pode me chamar assim, lads. – “Reclamou” e foi cumprimentar os outros meninos. – Talvez Lux também possa...
  - É bom te ver, Simon! – Zayn o abraçou de forma mais comportada, mas ainda assim carinhosa.
  - Trouxe mais algumas pessoas que queriam se despedir. – Simon fez um sinal para os seguranças e os dois gigantes abriram espaço.
  - SURPRESA! – Três meninos gritaram ao mesmo tempo.
  - Não acredito que vocês estão aqui! – Levei as mãos ao rosto, literalmente surpresa por ver Wesley, Drew e Keaton parados na minha frente.
  - Não achou mesmo que deixaríamos você ir embora sem se despedir, né? – Wes abriu os braços, me convidando.
  - Eu torcia pra que sim! – Nunca gostei de despedidas, então quanto menos eu precisasse dizer adeus, melhor. Dei alguns passos até poder abraçar o primeiro menino. – Não queria ir! Não queria me despedir!
  - Você só está indo para o outro lado do mundo, não precisa ficar assim... – Me apertou com força, beijando a minha bochecha. – Iremos nos ver de novo.
  - Uau, isso me deixou muito melhor! – Ri, mas sentia meus olhos começarem a arder. – Me prometa que vai me visitar.
  - Eu prometo, . – Nos soltamos relutantemente.
  - Vocês dois também! – Me virei para Keaton e Drew, abraçando o mais novo primeiro. – Keath, vou sentir falta dos seus bagles e conversas sobre gatos.
  - Também vou sentir sua falta, . – Riu, me abraçando com tanta força quanto o irmão. Ao menos ele era da minha altura. – E prometo ir te visitar.
  - Eu prometo também, se é que se importa! – Drew já me esperava de braços abertos.
  - Claro que me importo! – O abracei pelas costelas, tendo meus ombros envolvidos. Segurando o choro, tentei manter a vos firme. – Ainda quero que me ensine a fazer rap!
  - Pode deixar. – Bagunçou os meus cabelos com carinho.
  Doeu ter que abraçar aqueles três meninos pelo que pareceu ser a última vez. Eu os conhecia desde o ano anterior, mas foi nessa viagem de quase três semanas que passamos a nos conhecer melhor, que pudemos conversar cara a cara, sem ter que ser por meio de mensagens ou ligações rápidas. Aprendi coisas com cada um e tenho certeza que eles também aprenderam bastante comigo. Mais do que nunca queria poder ficar mais tempo, ou ao menos prolongar aquela despedida. Eu tinha certeza que os veria novamente, mas não sabia quando. Poderia ser nas próximas férias, mas também poderia ser dali a anos! Nós quatro nos tornamos amigos e a idéia de não poder ir à praia com eles sempre que sentisse vontade me incomodava. Eu já estava com algumas lágrimas escapulindo pelas laterais dos meus olhos e tentava ignorá-las. Não chorei compulsivamente, apenas o suficiente para que todos ali percebessem o quanto meus mais novos amigos eram importantes e o quanto me incomodava ter que dizer adeus.
  Infelizmente, Rachel e Paul logo retornaram com os nossos documentos e permissão para embarcar. Simon disse que ir até ali não tinha apenas o objetivo de se despedir, como também o de fazer uma última surpresa. Sendo assim, nos acompanharia mais um pouco. Preston chegou também, para o meu desespero, e poderíamos nos encaminhar para o portão de embarque. Wes, Drew e Keath não podiam vir com a gente, então senti o coração apertar mais ainda. Eles se despediram dos outros meninos – de quem não eram tão íntimos assim, mas gostavam bastante – e evitavam olhar pra mim, por medo que meu choro piorasse. Wes foi o único que me abraçou mais uma vez, ainda mais forte do que antes. Funguei algumas vezes antes de nos separarmos pela última vez e notar que seus olhos não estavam muito diferentes dos meus. Antes de me virar e ir embora, observei o menino tirar do pescoço a corrente que usava desde que eu o conhecera em Londres, nos estúdios do XF. Tentei negar, mas foi impossível. Deixei que ele colocasse no meu próprio pescoço e agradeci deixando um beijo em sua bochecha. A última coisa que escutei dele foi: “Nos veremos em breve.”

+++

  Lembra da surpresa do tio Simon? Quero dizer... Do Senhor Simon Cowell? Bem, essa surpresa não poderia ter sido melhor! Ele emprestou o jatinho particular para que pudéssemos viajar. Ainda tinha que agüentar Marco no mesmo lugar que eu, mas talvez pudesse superar e ignorar essa parte. Além de nosso trajeto ser bem mais confortável em um jatinho, chegaríamos ao aeroporto Heathrow duas horas antes do previsto! Nossa viagem ainda seria longa, mas qualquer hora que eu pudesse retirar já seria muito boa. Ainda estava tristonha por ter que ir embora, mas como não tinha escolha, queria que isso acabasse logo!
  Aquela aeronave era bem menor que os aviões comerciais de viagens internacionais que eu estava acostumada, mas era como se fosse inteiramente da primeira classe. O jatinho particular era dividido em duas metades, a da frente e a de trás – obviamente – e, sendo assim, também nos dividimos. As crianças na metade de trás e os adultos na metade da frente. Imagine a minha felicidade ao descobrir que podíamos nos fechar ali atrás e deixar que os três funcionários da Modest! conversassem sobre coisas chatas com Paul e Rach lá na frente. O interior do jatinho era muito luxuoso, diga-se de passagem. Seis poltronas de couro macio estavam destinadas para nós, sendo três de um lado e três de outro, e como se já não bastasse o seu tamanho e conforto, elas ainda davam giros de 360º; nos permitindo colocá-las na posição que bem quiséssemos. O chão era de um carpete limpo e muito fofo, o que me “obrigou” a tirar os sapatos altos assim que pisei ali. Estávamos voando há algumas horas, então o escuro da noite finalmente aparecera, fazendo com que a atmosfera da cabine ficasse mais aconchegante ainda.
  Zayn estava sentado na última cadeira da esquerda, atrás de mim e ao lado de Harry. Eu estava ao lado de Lou e o último na minha frente era Liam, que estava ao lado de Niall. Confuso, eu sei, mas viramos as nossas poltronas para que ficássemos todos de frente uns para os outros e assim pudéssemos conversar. A televisão no centro da cabine estava ligada e quem quisesse assistir o filme só precisava pegar os headphones no braço de sua cadeira e escutar. Mas é claro que ninguém se interessou pelo clássico em preto e branco. Lux estava ali atrás conosco também, mesmo que não tivesse uma cadeira só para si, então ficava indo de colo em colo até que ficasse entediada. Nesse momento, ela estava no colo de Liam, que lhe contava uma história qualquer sobre soldadinhos de chumbo.
  - Psiu, gente... – Cochichei para chamar a atenção dos outros, abaixando um pouco o edredom azul que me aquecia. – Acho que o Harry dormiu...
  - Finalmente! – Niall comemorou com um pulo da cadeira, mas manteve-se quieto.
  - Nem pense nisso! – Lou tentou proteger o namorado, mas seria inútil.
  - Ah, por favor, Louis! Você vive colocando coisas na boca dele o tempo inteiro, porque não podemos fazer isso uma vez que seja? – Ri baixo, tentando não pensar no que havia acabado de falar. Acontece que Harry sempre adormece com a boca aberta, o que era um convite e tanto para pessoas mal comportadas como nós. Ele não chegava a roncar, mas era uma tentação colocarmos coisas dentro da sua boca.
  - Façam o que quiserem, só não quero ser parte disso. – Meu irmão levantou os braços como se lavasse as mãos, figurativamente falando. Se fosse com qualquer um dos outros, ele teria sido o primeiro a aprontar, mas já que se tratava de Harry, a história era outra.
  - , ainda guarda aquele lápis de olho na bolsa? – Zayn perguntou e eu li seus pensamentos.
  - Sim! – O olhei maleficamente e comecei a procurar o objeto dentro da minha bolsa enorme que estava apoiada no chão. – Aqui...
  - O que vocês acham? – Zayn já levantara da própria cadeira e se ajoelhara perto do adormecido. – Estilo Hitler ou algo mais sofisticado?
  - Harry é meio hipster, então nada mainstream. – Ni também se juntou a nós, rodeando o curly. Tenho certeza que ele não fazia idéia do que mainstream queria dizer.
  - Desenha aquele bigode bonitinho... O que o Liam tem na estampa de uma camisa, sabe? – Opinei.
  - Sei, mas é pra ser engraçado, não bonitinho... – Zayn rolou os olhos e lhe entreguei o lápis.
  - Você escolhe então! Quem sabe desenhar é você. – Dei de ombros.
  - Já sei! – Meu namorado sussurrou mais uma vez e se inclinou sobre Harry.
  - Ni, o que você vai colocar na boca dele? – Me virei para o loiro.
  Nossa brincadeira tinha algumas regras, claro. A graça da brincadeira era que cada um escolhesse um objeto para colocar na boca de Harry, mas não podia ser pequeno o bastante para ser engolido e nem grande demais para não machucá-lo. Nós, então, tirávamos par ou impar para estabelecer a ordem dos jogadores. Cada um ia colocando o seu objeto na ordem, e se Harry acabasse acordando na sua vez, você estaria desclassificado. Se ele não acordasse em nenhuma das vezes dos jogadores, o último objeto a cair ou ser descoberto pelo menino que eventualmente iria acordar, era o do vencedor.
  - Terminei aqui! – Zayn se levantou para que pudéssemos ver a sua obra de arte e tive que cobrir os lábios para não rir alto demais.
  - Ficou ótimo! – O bigode fazia voltinha na ponta e Zayn colocara tanto capricho que parecia de verdade e daria trabalho pra limpar.
  - Obrigado. – Sorriu galanteador e roubou um selinho. – Quem vai começar?
  - Acho que as damas deveriam ir primeiro, sabe? – Pisquei os olhos tentando parecer sedutora.
  - Não podia concordar mais. – Zayn sorriu pra mim, mas se virou para Niall. – Pode começar.
  - Hey! Se alguém vai ser dama garota aqui, acho que seria você, Georgia Rose. – Ni rebateu, fazendo Louis e Liam rirem atrás de nós.
  - Niall, você prometeu que nunca contaria isso pra ninguém! – Zayn se exaltou, quase pulando em cima do amigo.
  - Não tenho certeza se quero saber... – Fiz uma careta. – Eu começo!
  Por mais que estivesse bem curiosa em saber que história era essa de Georgia Rose, deixaria passar; ao menos por agora. Olhei em volta pensando no que colocar na boca de Harry, até que meus olhos bateram em uma colher perdida por ali. Não, colheres não estavam magicamente aparecendo em nossa volta. Acontece que a aeromoça do jatinho tinha nos servido pudim de chocolate, então assumi que aquela colher em questão havia sido a que Liam jogou para longe ao resolver comer sua sobremesa com os dedos. A peguei e limpei com a minha blusa, sem querer colocar a colher suja na boca do meu querido cupcake.
  - , assim ele vai engasgar! – Lou reclamou depois que eu finalmente encontrei uma posição boa para colocar aquele talher.
  - Mas ontem a noite eu escutei você falando que gosta quando ele engasga. – Niall o olhou como quem apronta e fiz uma nova careta ao entender o que ele quis dizer.
  - Ai, Deus, não. – Fechei os olhos e balancei a cabeça para tirar aquela imagem. – Quem é o próximo? Por favor, alguém seja o próximo!
  - ... – Lux se aproximou e chamou a minha atenção ao puxar o tecido da minha calça.
  - Hey, baby girl, o que houve? – Dei a mão pra ela e a afastei dos meninos para que nosso barulho não acordasse Haz.
  - Tô com... – Sua frase foi interrompida por um bocejo e logo entendi o que ela queria dizer.
  - Está com sono? – Confirmei e ela balançou para falar que sim. – Vem cá, vou te colocar pra dormir.
  Ela esticou os bracinhos para que eu a carregasse e assim o fiz, trazendo-a para a minha cadeira em meu colo. Sentei e a acomodei em meus braços. Lux podia estar crescendo e tornando-se uma mocinha – como dizem por aí -, mas sempre seria a minha bebê e caberia no meu colo. Voltei a pegar o meu edredom azul e nos envolvi. Podíamos estar no verão, mas ali nas alturas a temperatura aumentava consideravelmente, sem falar no ar condicionado interno no jatinho. A criança deu um beijo em minha bochecha e se aninhou nos meus braços, fechando os olhos e suspirando. Em poucos minutos ela já estaria dormindo um sonho tão profundo que só acordaria quando chegássemos à Londres. Ou era o que eu esperava.
   Levantei o olhar para assistir Zayn e Niall colocando mais coisas na boca de Haz, mas foi o olhar de Lou que encontrei. Ele estava sorrindo. Sorrindo de verdade... Um sorriso que eu não vira tão constantemente nos últimos dias. Correspondi da mesma forma e observei suas orbes tão azuladas quanto as minhas descerem até a nossa irmã. Lou nos amava e eu sentia que seria capaz de qualquer coisa para nos proteger. Milhões de coisas deviam estar passando pela sua cabeça naquele momento, todas as coisas que ele teria que passar e superar, para o bem da banda e da “imagem” que teria que sustentar. Mas Lou não teria que passar por isso sozinho. Eu e todos os outros estaríamos ao lado dele.
  Um pequeno ronco chamou a minha atenção e me fez rir. Lux já estava perfeitamente adormecida no meu colo e parecia absorta em seus sonhos infantis mais belos. Os meninos também terminaram de se divertir às custas do novo bigodudo do pedaço e voltaram para os seus lugares. Liam já estava dormindo há uns bons vinte minutos e Niall parecia querer fazer o mesmo, pois se enrolou em um casulo no próprio edredom e arrumou o travesseiro na cabeça. Zayn, por outro lado, não parecia querer dormir antes que eu fizesse isso. Acabei sorrindo quando ele fez um bico gigante e me convidou para me aproximar dele. Devagar e sem querer acordar a minha criança, levantei e deitei Lux com cuidado de volta à cadeira. Ela se mexeu um pouco para se acomodar, mas não acordou.
  Suspirei aliviada quando ela se cobriu até o pescoço com o edredom e continuou a sonhar. Antes de ir me juntar à Zayn, fui até a traseira do avião, onde a aeromoça mostrou o painel de controle das luzes, e diminuí ainda mais a iluminação. Todos eram levados pela calma e sono, então ninguém reclamou. Ao voltar para perto de Zayn, ele já havia se acomodado na cadeira levemente inclinada, deixando o espaço que eu precisaria pra me encaixar ali. Arrumar uma posição confortável no colo de Zayn foi uma tarefa bem fácil, já que nossos corpos pareciam ter sido feitos um para o outro. Ele me envolveu com os braços quase da mesma forma que fiz com Lux. Encostei o rosto sobre o seu peito e minha mão pousou em cima de seu coração. Nada me relaxava mais do que senti-lo bater tão perto.
  - Quer escutar alguma música? – Perguntou ao começar a brincar com meus cabelos, referindo-se ao fone conectado ao braço da cadeira do avião.
  - Uhum. – Aceitei, mas ao vê-lo se esticar para pegar os fones de ouvido, o parei. – Quero ouvir você.
  - Quer que eu cante? – Sorriu nem um pouco surpreso. – Escolha uma música.
  - Não quero uma música conhecida. Quero uma que você escreveu... Mas que ainda não me mostrou. – Pedi manhosa, deixando alguns beijos pelo pescoço dele, só para não deixar nenhuma chance de escapatória.
  - É meio complicado quando você é a primeira que escuta quando eu escrevo algo novo. – Riu baixo no meu pé do ouvido. – Tudo bem, acho que já sei. Não está pronta ainda, mas posso tentar...

  
Am I asleep, am I awake, or somewhere in between?
  I can’t believe that you are here and lying next to me.
  Or did I dream that we were perfectly entwined?
  Like branches on a tree, or twigs caught on a vine.

  Like all those days and weeks and months I tried to steal a kiss.
  And all those sleepless nights and daydreams where I pictured this.
  I’m just the underdog who finally got the girl.
  And I am not ashamed to tell it to the world.

  Me acomodei ainda mais nos braços de Zayn quando ele começou a cantar baixinho, só pra mim. Senti-me a única mulher no mundo inteiro, com o namorado mais perfeito de todos. A voz dele mudara desde que nos conhecemos. Não como se ele estivesse passando por uma segunda puberdade, é claro, mas agora parecia que ele aprendera novas técnicas de como impor as suas cordas vocais. Todo esse treinamento diário e trabalho também deviam ter a sua parte de culpa de aperfeiçoamento musical. Fechei os olhos, esperando ouvir mais daquela música nova que ele estava me permitindo escutar. Ao perceber que ele parara de cantar, o encarei com uma sobrancelha arqueada.
  - Por que parou? Eu estava gostando...
  - É só isso. Só tenho até aí. – Mexeu os ombros de forma despreocupada.
  - E essa música vai estar no novo CD? – Continuei desconfiada até que ele afirmou que sim com a cabeça. Lembrava da melodia e desconfiava de ter escutado sua versão no piano. – E ainda não terminou? Poxa, você já foi melhor nisso. Está devagar, hein, Malik?
  - Você sabe que eu posso ser rápido quando pede... – Seu sorriso travesso que eu tanto amava voltou a brincar em seus lábios e, antes que eu percebesse, atacou o meu pescoço com beijos e mordidas, me fazendo gargalhar.
  - Zayn, para! – Tentava manter a voz baixa para não acordar ninguém, mas quase não conseguia parar de rir.
  - Retire o que disse! – Continuou com aquele ataque, deixando mordidinhas doloridas na minha pele.
  - , posso falar com você? – Uma voz nos fez parar com que estávamos fazendo e olhar para aquele homem magro parado na nossa frente.
  - O que você quer, Marco? – O abraço de Zayn em meu corpo pareceu ficar mais apertado, quase tenso.
  - Só quero falar com ela, Zayn. – O empresário falou casualmente, mas eu ainda tinha um pé atrás.
  - O que quer que você queira falar, pode ser na frente dele. – Avisei, sem querer me afastar do meu namorado.
  - Prefiro falar só com você, se não se importar. – Agora sim eu estava preocupada e, pelo suspiro de Zayn, não era a única.
  - Tudo bem, baby, nós só vamos conversar. – Afirmei para o menino embaixo de mim e tive um pouco de trabalho para levantar.
  - Não demore... – Pediu ao ver que eu realmente teria que ir com Marco.
  - Por aqui, por favor. – O dono de meu quase-ódio indicou o caminho até a próxima cabine.
  Eu estava com tantos pés atrás que mais parecia um polvo. Que diabos Marco podia querer comigo? E porque Zayn parecera tão defensivo e preocupado com a conversa que iríamos ter? Que eu soubesse, a única ali que não ia com a cara do empresário era eu. Passamos pela cortina que dividia as áreas do avião e, antes de chegarmos a outra, o homem fechou mais uma, nos deixando no centro do jatinho, protegidos entre duas cortinas. Coloquei as mãos nos bolsos traseiros da minha calça, tentando parecer descontraída e ignorar o clima tenso que se instalou.
  - Olha, , eu sei que você não gosta de mim, Ok? – Começou assim que viu que eu não falaria nada. – Mas quero que saiba que eu me importo com os meninos sim. Se algumas das minhas decisões não lhe agradam, ou se você não concorda com elas, é porque não conhece o mundo em que esses meninos estão. Não quero o mal de nenhum dos cinco, só sei o que é melhor para a carreira deles.
  - Exatamente, Marco, você sabe o que é melhor para a carreira deles. – Era só o que me faltava, ter que escutar que ele era preocupado com os meninos! – Mas às vezes se esquece que os cinco são jovens e são humanos, não máquinas. Eles têm sentimentos e ficam cansados de vez em quando, então precisam de descanso.
  - Eu entendo. E vou prestar mais atenção nisso. – Não se defendeu, o que eu estranhei bastante. – E também gostaria de contar com a sua ajuda. Como sabe, irão conhecer a Eleanor quando chegarem ao aeroporto. Vamos fingir que eles namoram há alguns meses e...
  - E ela não agüentava mais de saudades, então teve que ir recebê-lo no aeroporto. Onde alguns paparazzis vão estar esperando, “por acaso”. – O interrompi e fiz aspas no ar, já tendo escutado aquela história várias vezes. – Você acha mesmo que alguém vai acreditar nisso?
  - Espero que sim. – Sorriu com a própria manobra publicitária. – E é por isso que te chamei aqui. Seria muito bom se você se aproximasse dela, . Sabe como é, ela vai ser a namorada do seu irmão...
  - Namorada de mentira, não se esqueça. – Rolei os olhos, mas ele tinha razão. – Tudo bem, eu sei o que tenho que fazer.
  - Eu sabia que podia contar com você! – Esticou a mão para apertar a minha.
  - Não estou fazendo por você, e sim pelo meu irmão. – Não aceitei aquele cumprimento e me virei de frente para a cortina cinza, querendo sair dali. – Já terminou?
  Marco afirmou que sim com a cabeça e me deixou sair de lá. Zayn estava de pé no corredor e andava de um lado para o outro, perto de sua cadeira. Ao me notar ali, seu rosto mostrava pura preocupação. Minha expressão também não devia estar lá essas coisas todas, pois eu não confiava nesse Marco, mas que outra escolha tinha a não ser fazer o que ele pedira? Se quiséssemos que aquela mentira fosse convincente, todos teriam que fazer a sua parte, o que incluía a minha pessoa. Eu era a irmã de Louis, então nada mais óbvio do que ser amiga da “namorada” dele. Só esperava que a garota fosse legal mesmo. Caminhei apressada até a cadeira vazia que pertencia ao meu namorado e me joguei lá.
  - O que ele queria? – Zayn perguntou, ainda nervoso.
  - Basicamente, me pedir para ser amiga da Eleanor.
  - Só isso? – Se ajoelhou ao meu lado, sua feição começando a relaxar.
  - Ainda queria mais? – Arqueei a sobrancelha, mas foi uma pergunta retórica.
  - Não mesmo. – Sorriu. – Chega mais pra lá, ainda temos que dividir esse banco!
  - Vou fingir que você não me chamou de gorda! – Ri e deixei que ele se juntasse à mim. – Mas só porque estou com sono...

+++

  Dormir por seis horas seguidas em um avião foi uma tarefa mais fácil de ser realizada do que eu jamais esperaria. Por mais que tivesse dormido praticamente em cima de Zayn, meu corpo estava completamente relaxado e pronto pra outra viagem longa. Por mais que tivesse gostado muito daquele jatinho particular de Simon, fiquei bastante grata quando pudemos sair dele e esticar as pernas. “Estou em Londres!” Era o pensamento de comemoração que corria na minha cabeça. Já estava com saudades de Los Angeles, mas era bom estar em casa. A temperatura ambiente ainda estava quente, se compararmos ao inverno daquela cidade, mas levando em consideração o clima dos estados unidos, eu senti frio. Logo me acostumaria novamente, então tudo ficaria bem. Não que não estivesse tudo bem... Mas você entende o que eu quero dizer.
  Estávamos na área de desembarque do aeroporto, onde deveríamos pegar as nossas malas. Eu teria ajudado de bom grado a carregar as minhas, mas fomos informados de que toda a nossa bagagem seria levada pela saída de trás do aeroporto e nós teríamos que sair pela frente como se nada estivesse acontecendo. Preferia ter ido por trás também, saindo à francesa – sem trocadilhos – de forma bem mais discreta, mas é claro que isso iria contra todos os planos de Marco. Ainda não podíamos ver o lado de fora do aeroporto, mas eu sabia que paparazzis e fotógrafos contratados pela Modest! estariam nos esperando.
  - Daddy! – O grito de Lux chamou a atenção de todos por ali. A loirinha se soltou da mão de Rachel e correu até um homem que se abaixava para pegá-la.
  - Luxy! – Meu pai a carregou e em seguida jogou-a para o ar, fazendo-a rir.
  - Pai! – Sorri ao vê-lo ali e também corri ao seu encontro.
  - Minhas duas princesas! – Mark encaixou Lux em um de seus braços e me envolveu com o outro. – Onde está o Boo Bear?
  - Tem mesmo que me chamar assim? – Louis rolou os olhos, entediado, mas acabou sorrindo e se juntando á nós. – Senti a sua falta, pai.
  - Eu também, Lou. De todos vocês. – Meu pai sorria mais que qualquer um e beijou a cabeça de cada um de seus filhos.
  - Sentiu a minha falta também? – Rachel estava parada atrás de nós, com os braços cruzados ao peito.
  - É claro que sim! – O homem sorriu galanteador, soltando eu e Louis, apenas mantendo a mais nova em seus braços.
  Preferi não olhar enquanto ele e a minha madrasta trocavam carinhos depois de meses sem se ver e me virei para os outros meninos, que assistiam ao nosso pequeno encontro familiar. Eu sabia que Niall e Liam eram os que mais sentiam falta de suas famílias, pois eram as que estavam mais longe. Zayn sempre fora apegado as suas irmãs e mãe, então não estava muito distante disso. Paul falava ao telefone com alguém que eu não tinha como descobrir quem era e Marco sumira de vista, assim como os outros da sua equipe. Aquilo era um mau sinal. Louis andou até Harry e o abraçou como se precisasse de coragem para dar continuidade ao plano que teria que realizar em alguns instantes.
  - Não se acanhe, Eleanor, vou te apresentar a todos. – A voz de Marco soou mais animada do que de costume, atraindo meus olhares.
  - Tudo bem... – Uma menina com mais ou menos a minha altura, cabelos longos e um sorriso tímido estava parada ao lado dele.
  - ? – O empresário me chamou e eu já sabia do que se tratava.
  Me separei dos meninos e escutei o solado de meus saltos batendo contra o chão enquanto caminhava até aquela menina. Tentei não julgá-la pela aparência, mas não foi algo muito fácil de se fazer. Naquela primeira impressão que tive dela, pude perceber que estava tão constrangida em estar ali quanto qualquer um de nós. Não sabia o que a levava a ter aceitado esse tipo de trabalho, mas ainda não era a hora de perguntar detalhes. Eleanor mantinha seus braços para trás do corpo, sem ter muita certeza do que deveria fazer. Ao notar a minha aproximação, abriu um sorriso doce e tímido, arrumando os cabelos como se tentasse se acalmar.
  - É um prazer conhecê-la, Eleanor. – Estiquei a mão em sua direção, sendo verdadeiramente simpática. As coisas já seriam complicadas demais por si só para eu ainda ser chata com a menina que não tinha culpa de nada. – Me chamo . Sou irmã do Lou.
  - Também é um prazer. – Aceitou a minha mão e sorriu um pouco mais tranqüila.
  - Vem comigo, eu vou te apresentar a todo mundo. – Retribui seu sorriso e passei o braço pelo dela, sem querer forçar a barra, mas sim deixá-la à vontade.
  Eleanor me acompanhou de bom grado enquanto voltávamos para o semicírculo formado pelos cinco meninos, meu pai, Marco, Paul e Preston. Eu desconfiava que ela já soubesse os nomes de cada um, pois, se aquele era o seu trabalho, ela devia ter sido informada sobre tudo que precisaria fazer. Zayn notou que eu estava tentando amenizar os nervos ali e foi o primeiro a se apresentar. Não falou apenas o nome e sobrenome, como também disse que era meu namorado. Em seguida, Liam e Niall fizeram o mesmo, deixando apenas Harry e Louis por último. Meu irmão estava na frente de Harry, mas como esse último era bem alto, podia ver a menina claramente.
  - Oi. – Harry apenas acenou para ela. – Sou o Harry.
  - Louis... – Lou forçou um sorriso.
  - Eu sei. – Eleanor também se esforçou para sorrir, olhando o casal. – E também sei que deve estar sendo muito difícil pra vocês dois, ter que fingir que não estão juntos, então quero que saibam que eu só quero ajudar. No que for preciso.
  - Obrigado... – Harry segurava nos ombros de Lou e sorriu para a morena.
  - Vocês terão tempo de conversar mais depois... Muito tempo, na verdade. – Marco tocou no meu ombro e no de Eleanor, rindo. Me irritava a forma que ele conseguia ver graça em qualquer coisa. – É a hora do show!
  - . – Zayn me chamou, entrelaçando a mão na minha.
  Entendi o que queria dizer e mantive perto dele. Quando tínhamos que passar por fotógrafos, paparazzis ou em qualquer aparição publica que pudesse ter um número grande de pessoas, Zayn se mostrava super protetor. Nunca largava a minha mão e sempre prestava atenção no que falavam pra mim. Com ele por perto, as pessoas tendiam a ser mais educadas e não começar a me xingar do nada, mas, caso isso acontecesse, tenho certeza que ele me defenderia com unhas e dentes. Eu não acreditava que precisava de toda essa proteção exagerada, mas gostava do cuidado que Zayn tinha comigo. Era quase como se eu fosse uma boneca de porcelana que precisa de total atenção.
  Marco pediu para que fossemos todos juntos para o lado de fora da sala de desembarque, onde passaríamos por um grupo de imprensa logo na entrada do salão do aeroporto. Não podíamos parar e nem responder pergunta alguma. Em seguida, apenas seguiríamos para uma van que já estava nos esperando do lado de fora. Também fomos informados que um pequeno grupo de fãs estava esperando a chegada dos meninos, mas que não havia com o que nos preocuparmos. Pra variar, nenhum tinha permissão de parar para tirar fotos ou dar autógrafos. Formamos uma espécie de fila, onde Preston foi na frente, seguido por Harry e Liam. Logo atrás, vieram Louis e Eleanor, que foram obrigados a dar as mãos. Paul, Zayn, eu e Niall viemos logo atrás, sendo que o irlandês seria o último. Meu pai ficaria por ali mais um pouco, esperando Lux e Rachel voltarem do banheiro, mas nos encontraríamos logo.
  Confirmando que todos sabiam o que fazer, o empresário deu um sinal para que as portas de vidro fosco fossem abertas. No mesmo instante em que um movimento pode ser notado, vários flashes de câmeras fotográficas profissionais ou não nos atingiram. As luzes eram tão fortes e brilhantes que cogitei a possibilidade de ficar bronzeada. Os meninos começaram a andar e acenar para os fotógrafos. O aperto de Zayn em minha mão aumentou quando também começamos a andar e eu tentava manter a cabeça baixa para proteger os meus olhos do clarão. Meu namorado olhava pra mim o tempo inteiro, querendo ter certeza de que eu estava bem. Todos conseguiram passar por aquela quase coletiva de imprensa e Paul e Preston afastavam os mais ousados que tentavam vir atrás de nós.
  Então o bombardeamento de perguntas começou: “Louis, quem é essa menina com você?”, “É a sua namorada?”, “Liam, onde está Danielle?”, “Harry, Harry, uma palavrinha aqui, por favor?”, “Como foi a viagem aos Estados Unidos?”, “Já tem planos para um segundo CD?”, “Star, como foi viajar com o One Direction?”, “Zayn, é bom ter a sua namorada ao seu lado o tempo todo? Você não fica cansado?”. Essas foram apenas as perguntas que consegui entender, já que uma verdadeira confusão de vozes e gritos encheu os meus ouvidos. Mesmo se não fosse obrigada a permanecer calada, teria ignorado aquelas questões. Algumas delas não tinham sentido algum! Eu sabia que a privacidade era algo impossível de se ter àquela altura, mas já era demais. Paul pediu para que se afastassem, pois teríamos que ir e eles pareceram obedecer. Na verdade, obedeceram até rápido demais. Alguns deles até mesmo começaram a correr na direção contrária à nossa.
  Foi aí que a verdadeira confusão começou. Chegamos à metade do saguão do Heathrow e tivemos que parar. Um verdadeiro formigueiro de gente começou a entrar pelas portas automáticas do aeroporto, literalmente invadindo o lugar. Muitas pessoas que estavam ali apenas para viajar ou retornando de suas viagens começaram a correr para longe da multidão. Demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Essa multidão inteira gritava pelo nome da banda e dos meninos, levantando cartazes que diziam coisas como “Marry me, Harry!” ou “Bem vindos à sua casa.”. Se fosse apenas um grupo de fãs querendo dar as boas vindas à banda não teria problema algum, mas não era bem isso o que aquele ataque parecia. Paul olhou para trás, desesperado. “Fiquem juntos!” Foi o que consegui ler em seus lábios.
  Na falta de uma palavra melhor, estávamos sendo assediados. Tudo aconteceu rápido demais. Quando me dei por mim, estava correndo puxada por Zayn em direção à saída do aeroporto. A confusão ficou maior ainda, pois meninas e meninos surgiam de todos os lados, querendo pegar um pedaço dos meninos só pra eles. Por mais que Paul tentasse se colocar na nossa frente, a multidão era grande demais. Não tínhamos seguranças o suficiente e isso foi desesperador. Quase não consegui mais andar, pois me vi espremida entre aquele numero exorbitante de pessoas. Senti alguns puxões em meus cabelos e roupas, mas não adiantaria reclamar. Os gritos daquelas fãs eram altos demais para que a minha voz conseguisse se sobressair. Ao menos a van realmente estava nos esperando ali fora. Por cima das cabeças na minha frente, pude ver a porta do veículo se abrindo e algumas pessoas entrando nele. Ao menos alguns dos meninos estavam a salvo.
  Olhei para trás ao lembrar que Niall era o último da fila e me desesperei ainda mais ao ver o horror em sua expressão. Ele estava tentando andar atrás de nós, mas o número de meninas que tentava agarrá-lo era grande demais. O loiro abraçava o próprio corpo e tinha os olhos bem fechados. Eu lembrava claramente de uma conversa que tivera com ele, onde fiquei sabendo de sua claustrofobia. Não era nada que o impossibilitasse de entrar em elevadores ou coisas assim, mas acho que aquele caso era bem mais desesperador. Eu precisava fazer algo! Me esquivei das mãos de Zayn, que me olhou assustado, e voltei no caminho. Tive praticamente que nadar naquele mar de pessoas, recebendo cotoveladas e pisadas de pé. Ao chegar o perto o bastante do meu amigo, o abracei.
  - Niall, sou eu! – Avisei em seu ouvido para que ele não se desesperasse mais.
  - Niall está assustado! – Reconheci a voz de Zayn. Ele não conseguia se aproximar de nós, mas tentava chamar a atenção de qualquer um que pudesse ajudar. – PAUL!
  - , me tira daqui. – Ni praticamente me implorou.
  - Cheguei, estou aqui. – Paul veio o mais rápido que pode, parando de frente para nós dois.
  - Onde está o Zayn? – Perguntei rápido, olhando em volta e não conseguindo vê-lo.
  - Já está no carro, vamos logo! – O segurança sabia que não tínhamos tempo a perder, então falava tão rápido quanto eu.
  - Paul, carrega o Niall. – Pedi, ajudando o loiro a chegar até o mais alto. Quase tropecei, mas consegui me equilibrar.
  - , se eu carregá-lo...
  - Eu sei, Paul! Carrega ele! – Pedi o mais rápido que pude.
  Aceitando meu pedido, Paul puxou Niall pelos braços e o colocou no colo. Logo os dois me deram as costas e voltaram a fazer o caminho até a van. Tentei com todas as forças ir atrás dele, mas foi impossível. Eu sabia o que Paul iria dizer quando o interrompi. Se ele estivesse carregando Niall, não teria como me proteger também. Fui deixada para trás, mas ao menos tinha certeza de que meu amigo estaria bem. Posso ter me sacrificado por ele, mas faria isso quantas vezes fosse preciso, por qualquer um dos meus amigos. Era como se as meninas ao meu lado tivessem percebido que a banda que tanto amavam estava quase indo embora, então aquela seria a sua última chance de chegar perto deles. Com isso, a confusão aumentou e fui cada vez mais apertada por corpos que tentavam se fundir ao meu. Recebi tapas, mais puxões de cabelo, cotoveladas e socos; propositais ou não.
  Como se as coisas ainda pudessem piorar, senti o espaço ao meu redor diminuindo. Não apenas por estar esmagada no meio de o que pareceu ser milhões de pessoas, mas o meu corpo pareceu começar a ser comprimido dentro de si mesmo. “Não, não, não, aqui não...” Pedi para mim mesma, na esperança de conseguir me acalmar, mas foi inútil. Por mais que eu tentasse puxar o ar para dentro dos meus pulmões, ele não vinha. Senti as minhas mãos e pernas começarem a tremer e um bolo se formar na minha garganta. Eu conhecia muito bem esse sentimento e agora sabia o que estava acontecendo melhor do que na última vez que passara por isso, no meu quarto, meses atrás. Louis saberia exatamente como me acalmar, mas ele não estava ali agora. Ninguém estava ali agora. Eu estava sozinha!
  Agarrei a minha bolsa com todas as minhas forças, como se fosse meu em mais precioso. Não por estar com medo de ser roubada, mas porque – em algum nível do meu subconsciente – sabia que ali dentro estava o meu celular; minha única forma de pedir ajuda. Meus olhos ficaram turvos e entendi que estava chorando. Não apenas um choro assustado, mas prantos de terror. Meu coração estava batendo tão rápido que eu podia senti-lo sendo comprimido nas minhas costelas. Eu olhava para os lados na tentativa de saber o que fazer, mas a minha cabeça era uma confusão completa. Eu sentia um pânico tão grande crescer dentro de mim que os gritos à minha volta pareceram desaparecer. Eles apenas se tornaram um eco, como se estivessem ali, mas não estivessem ao mesmo tempo.
  Comecei a gritar com todas as minhas forças, pois eu sentia que era a única coisa que eu realmente conseguia fazer. Estava paralisada, mas as pessoas que me empurravam cada vez mais conseguiam me tirar do lugar. Escutei algumas meninas chamarem o meu nome, provavelmente sabendo quem eu era, mas até pra elas era difícil fazer alguma pra me ajudar. Minha garganta doía por causa da força que eu colocava em meus gritos e logo pude sentir gosto de ferrugem. Sangue? Um par de mãos fortes envolveu os meus ombros por trás e quando me dei conta, estava sendo tirada do chão. Olhei para o lado e dei de cara com olhos azuis extremamente reconfortantes. Abracei o meu pai com tanta força que o fiz arfar por não conseguir respirar. Felizmente, papai não estava sozinho. Um grupo de policiais tipicamente britânicos o acompanhava, tratando de dispersar parte da multidão.
  - Tudo está bem, . Respire...

    

Chapter X

- LADS! – O grito de Harry fez não só eu me assustar, mas também , que pulou da cama e correu na direção do som. – Estamos na TV... CALMA, !
  Não sei se saí correndo mais por causa do aviso de estarem na televisão ou pelo barulho de algo caindo no chão logo após Haz pedir calma para o meu cachorro. Havíamos chegado a Londres no dia anterior, mas eu mal teria tempo de aproveitar aquela cidade, já que minha nova viagem para Paris estava marcada para dali a algumas horas. Minha única mala – acredite se quiser – já estava pronta e aguardava calmamente no canto do quarto. As coisas de também estavam em uma mala menor, já que dessa vez o meu bebê viria junto. Mesmo sem saber disso, o cachorro já estava super animado só por estar comigo mais uma vez. Imagine se soubesse que visitaria um novo país pela primeira vez?
  Quase esbarrei em Liam no corredor, quando ele também resolveu ir atender o grito de Harry, e acabamos rindo um do outro. Lou havia sido mais rápido que nós dois e já estava sentado na cama de seu namorado. Encontrei lambendo as bochechas de um Harry caído no chão, tentando levantar, mas sem muito sucesso. A televisão estava ligada em um canal de noticias e consegui ver claramente que as imagens retratavam o acontecimento do dia anterior, no aeroporto Heathrow. A câmera devia ter gravado tudo de dentro de um helicóptero, pois o vídeo mostrava uma visão panorâmica do ataque. Só o que eu conseguia ver era milhares de pontinhos coloridos tentando entrar no aeroporto.
  “Estamos acompanhando essas imagens incríveis do ataque que a boyband do momento, One Direction, sofreu na tarde de ontem, ao retornar de sua viagem de divulgação pela América. Nossas fontes confirmaram que mais de três mil fãs ficaram loucas e tentaram invadir o Heathrow, na esperança de conseguir chegar perto de seus ídolos.”
  O apresentador do telejornal anunciou. As imagens iam e voltavam, mostrando vários momentos. Liam segurou a minha mão, indicando o espaço no colchão ao lado dele para que eu pudesse me sentar. O agradeci com um sorriso e me acomodei. correu até onde eu estava e deitou a cabeça na minha perna, deixando que eu acariciasse a sua cabeça. Logo voltei a atenção para a tela da TV, onde a câmera dava um zoom em cada um dos meninos. Pude assistir o momento em que Preston ajudou Harry, Louis e Eleanor a entrar na van. Liam chamando o nome de Zayn no momento em que nos separamos... E, por fim, eu correndo até Niall para ajudá-lo.
  “Kim, o que você acha disso? Tomlinson, deixando a pouca segurança que tinha para ir atrás do companheiro de banda de seu irmão.” – O primeiro apresentador perguntou para sua co-host.
  “Eu achei uma prova de amizade, Cliff! Sem falar que acho muito errado o que esses fãs fizeram. Tudo bem tentar conseguir uma foto ou um autógrafo, mas isso já foi passar dos limites. Muito deselegante.” – A tal Kim respondeu.
  “Hum, essa pode não ser a hora pra isso, pessoal, mas deram uma olhada nas roupas que estava usando?” – Uma terceira apresentadora começou a falar e algumas fotos minhas ao lado de Zayn, ainda no aeroporto, começaram a ser mostradas. – “Ela sempre está linda! Tive a oportunidade de conhecê-la na última Fashion Week. Um verdadeiro amor de pessoa. Não merecia nada do que aconteceu ontem a tarde.”
  “Bem observado, Claire!” – Kim voltou a falar. – “Acho que ela trabalha para a Mulberry, não é? Acredito que essa menina vai se tornar um ícone fashion mais rápido do que imaginamos. Sem falar que tem um namorado como o Zayn Malik!”
  - Pelo menos essa confusão inteira teve uma coisa boa... – Comentei amargamente, já deixando de assistir ao programa. – Carine vai ficar muito feliz em saber que a sua marca foi falada até em um jornal da BBC.
  - Isso não é engraçado, . – Lou me repreendeu. – Você teve um ataque de pânico. Se nosso pai não estivesse lá, não sei o que teria acontecido.
  - Mas nada aconteceu, então vamos parar de falar disso, por favor. – Não quis soar rude, apenas não queria mais lembrar de nada daquele assunto. – Só quero me concentrar na nossa viagem de hoje, não é, Bo?
  - Rouff. – Liam latiu ao meu lado, como se fosse respondendo à minha pergunta.
  - Por falar nisso, Louis e Harry... Quando vão viajar? – Baguncei os cabelos de Li como faria com meu filhote e encarei meu irmão na outra ponta da cama.
  - Amanhã de manhã vamos para Cheshire. – Harry informou.
  - Mas não se preocupe, iremos para Paris a tempo do casamento. – Louis acrescentou.
  - Eu sei que vão. – Levantei da cama assim que a campainha no andar de baixo começou a tocar, fazendo meu cachorro correr em disparada para ver quem era. – E você, Li?
  - Eu e Dani iremos até a casa dos meus pais... – Sorriu bobo, totalmente apaixonado. – Mas também voltaremos antes do casório.
  - É bom mesmo! E tem certeza que ela não pode ir à Paris também?
  - Infelizmente não. – Li respondeu com um meio bico e a campainha tocou novamente, fazendo latir.
  - Vou lá embaixo abrir a porta antes que os vizinhos venham reclamar do barulho. – Suspirei, caminhando até a porta. – Deve ser Zayn!
  Cantarolei enquanto descia as escadas em uma corrida animada. Realmente acreditava que era Zayn com o nosso transporte até a estação de trem. Chegando ao primeiro andar da casa, o cachorro preto e branco parou de girar em círculos e tentar morder o próprio rabo para me observar caminhar até a porta. Juro que não sei o que se passa pela cabeça desse cachorro. Às vezes acreditava que se Harry e Niall tivessem um filho, ele seria como . Girei a chave na fechadura e encontrei a figura baixinha e ruiva parada na varanda.
  - Até que enfim você abriu a porta, ! – reclamou, mas se jogou em cima de mim e me abraçou com força. Havíamos nos visto no dia anterior, mas a saudade ainda não parecia ter passado. – Já estava torrando aqui fora.
  - Não sabia que te veria hoje, ruivinha. – A abracei de volta, quase gritando quando vi por cima de seu ombro o que ela trouxera consigo. – , o que são essas coisas aí?
  - O que? – Perguntou confusa enquanto se abaixava para cumprimentar meu cachorro. – Ah, sim, são as minhas malas, ué.
  - Pra que você precisa de malas? – Não, não, não. Ri meio sem graça, torcendo para que ela falasse que apenas estava se mudando para a minha casa.
  - Pra ir à Paris, bobinha! – Apertou as minhas bochechas com uma risada. – Vamos hoje, não é?
  - Como você sabe?
  - Quando deixei Zayn em casa ontem, ele me contou que vocês iriam viajar hoje, então me convidei para ir junto! – celebrou, quase pulando sem sair do lugar.
  - Ah, Zayn te disse... – Então era ele quem eu deveria matar? Ok.
  - Sim! E ele já deve estar quase chegando. Não vai trocar de roupa?
  - Claro, vou sim...
  Eu estava feliz por essa surpresa de , já que sentia falta da minha melhor amiga e adoraria mostrar a minha cidade e o meu país para ela. Acontece que Zayn e eu estávamos planejando uma viajem um pouco mais romântica do que seria agora que ela estaria vindo conosco. Acabei rindo com a dificuldade que a baixinha estava tendo em arrastar as suas malas pra dentro de casa. “Talvez não seja tão ruim assim. Preciso de uma babá pra de qualquer forma.” Antes que apanhasse por estar rindo, resolvi subir as escadas e trocar de roupa. Ela estava certa... Zayn já devia estar chegando.

+++

  - PARIS. PARIS! EU ESTOU EM PARIS! – foi a primeira a descer do taxi e já correu para o jardim de entrada da casa da minha avó. – DÁ PRA ACREDITAR QUE EU ESTOU EM PARIS?
  - Ela vai ficar rolando na grama o dia inteiro. – Sussurrei pra Zayn, ao esticar as pernas por estar finalmente fora do carro. – Você está bem?
  - Estou sim, o enjôo já passou. Da próxima vez viajamos de avião! – O menino já havia saído do carro antes de mim e acabara de tirar de sua caixinha de viagem.
  - Pode deixar! – Não sabia se ria da minha amiga girando e dançando pelo jardim ou de , que cheirava tudo bem curioso. – É bom estar de volta...
  - Estou feliz em ter vindo com você. – Zayn envolveu a minha cintura por trás, encostando-se à mim. – Dessa vez por um motivo mais feliz...
  - Sei disso. – Sorri com um pouco de nostalgia.
  Na última vez que estivemos naquele mesmo jardim de entrada, estávamos tristes por ter que dar adeus a papá. Agora, porém, os motivos que me traziam de volta ao meu lar de infância eram bem melhores. Aproveitando que e estavam distraídos, virei para ficar frente a frente com meu namorado. Passamos por tantas coisas juntos naquela casa... Era maravilhoso poder voltar. Zayn colocou a minha franja para o lado, tirando-a da frente dos meus olhos. O sol brilhava sobre ele, iluminando seus cabelos e pele bronzeada. Naquele momento, Zayn voltou a parecer o ser celestial que eu sabia que era. Ele não tinha mais o semblante preocupado que vinha perseguindo-o por tanto tempo, não estava tenso ou ansioso. Eu sentia como se aquele lugar também fosse uma casa para ele, assim como era pra mim; um porto seguro.
  - Quer ir avisar à Leene que chegamos? – Deixou um beijo na minha bochecha enquanto eu ria por causa daquele novo apelido de minha avó. Leene? Desde quando o apelido de “Jolene” é “Leene”? – Vou ajudar o motorista a terminar de tirar as nossas malas.
  - Mas, babe... Você não fala francês. – A maioria da população de Paris falava inglês, mas aquele senhor em questão não sabia nem o básico.
  - Eu me viro! – Soltou nosso abraço e dobrou as mangas da camisa que usava. – Sei que você está louca pra entrar.
  - Tudo bem... – Acabei sorrindo. Estava mesmo com saudade da minha nana. – Mas qualquer coisa me chame, ok?
  - Fique tranqüila! – Praticamente me expulsou dali.
  - Já entendi, já entendi! – Dei meia volta, pegando uma das malas de que já estavam fora do veículo. – Hey, ruiva! Dá pra se comportar? Não quero que a minha avó pense que a minha melhor amiga é uma chimpanzé!
  - Já vamos entrar? – Parou de cheirar as flores do jardim da casa e levantou, arrumando a roupa que usava e correndo atrás de mim. – Não acredito que vou conhecer a minha primeira francesa!
  - EU sou francesa! E você já conhece a minha avó. – Rolei os olhos, pegando a coleira de e trazendo-o para perto de mim. – Quer conhecer a vovó, pequeno?   - Você não conta, . E não sei onde esse cachorro é pequeno. Já viu o tamanho dele?
  - Não fale assim do meu bebê. – Ri enquanto o animal cheirava curioso a madeira da porta da casa. – Se comportem, os dois!
  Agarrei a maçaneta redonda da casa e tentei girar. Trancada. Isso era novidade, mas já que a minha avó passava mais da metade do tempo sozinha ali dentro, o melhor era estar segura mesmo. Conseguia escutar passos no interior da casa, então nana estava ali. Como eu perderia muito tempo procurando a minha chave dentro da bolsa, resolvi tocar a campainha. conhecia esse tipo de som, mas geralmente estava do lado de dentro, então assistiu curioso e balançando o longo rabo enquanto a senhora de meia idade abria a porta para finalmente nos receber.
  - Nana! Ravie de te voir! – Mal dei tempo para ela entender o que estava acontecendo e abracei a minha avó com força, me intoxicando com seu cheiro de roupa limpa e grama recém cortada.
  - Vous enfin arrivé! – Me abraçou de volta, beijando as minhas bochechas várias vezes. – Oh, mon Dieu! Qu'est-ce que c'est?   - Pardon, nana! C'est mon chien. – Tive que segurar , já que ele tentava pular em cima da minha avó para lamber-lhe o rosto.
  - Se importaria em manter o idioma que eu entendo? – sorria sem graça e foi aí que percebi que só estávamos falando em francês.
  - Desculpa! – Quando consegui acalmar o meu filhote, comecei com as re-apresentações. – Nana, você se lembra da minha amiga . E esse é !
  - É um prazer revê-la, ! – Nana abraçou a minha amiga.
  - O prazer é todo meu, senhora Darling. Espero que não tenha problema eu ter vindo hoje... – retribuiu o abraço e começou a falar demais. – Sabe... Sempre quis conhecer essa cidade maravilhosa, mas nunca tive a oportunidade. Mesmo com a minha melhor amiga tendo nascido aqui... Por falar nisso, imagine o meu desespero ao só finalmente vir aqui depois de quase um ano...
  - , calma! – Meio que a repreendi. Minha avó apenas ria daquela energia toda.
  - E onde está o meu querido Zayn? – Era uma coisa boa mudarmos de assunto.
  - Está terminando de pegar as nossas malas... – Olhei na direção do taxi. – E tendo um pouco de dificuldade com o nosso idioma.
  - Nesse caso é melhor eu ir ajudar. – “Leene” se ofereceu, saindo da própria casa. – Você já conhece tudo, querida, porque não mostra a casa para a sua amiga?
  - Pode deixar, nana. – Afirmei, me virando para a ruiva que já entrava e começava a explorar. – Hey, me espera!
  - Não acredito que estou em uma casa francesa! – A segunda menina comemorou.
  - É só uma casa, ! – Era impossível não rir do exagero de .
  Mas quer saber? Ela tinha razão. Aquela casa não era “só uma casa”. Era mais do que isso... Em cada canto, em cada móvel, em cada ranger de tabuas do assoalho havia memórias esperando para serem descobertas. Eu passara grande parte da minha vida ali e, mesmo depois de meses distante, ainda conhecia cada espaço e cada segredo melhor do que eu conhecia a mim mesma. No escuro, seria capaz de atravessá-la inteira sem bater ou esbarrar em nada. O cheiro amadeirado, o vento fresco que entrava por todas as janelas abertas... Tudo que queria dizer “lar”. nem ao mesmo me esperou servir de guia e foi se aventurando pela sala, cozinha, escadas...
  Soltei quando seguimos atrás dela para o segundo andar da casa. Felizmente o cachorro já não corria em disparada quando era solto e sempre atendia os meus chamados. Se não fosse assim, eu teria deixado-o em Londres para começo de conversa. Naquele corredor, duas das quatro portas estavam abertas: A porta do meu quarto e a de Louis. As outras duas representaram as portas do banheiro e da suíte principal. Enquanto estudava o quarto do meu irmão, segui para o meu próprio. As coisas estavam um pouco diferentes do que eu me lembrava, mas ainda era o meu quarto. O guarda roupa de madeira clara agora tinha alguns adesivos colados aleatoriamente, minha cama tinha novos lençóis e travesseiros, meus brinquedos antigos estavam em prateleiras de vidro nas paredes...
  - N’Sync, ? – gargalhou atrás de mim, parada no pé da porta.
  - Por que ninguém para de reparar nisso? – Cruzei os braços, olhando para o pôster ao lado da minha cama. – Eles já foram famosos um dia, sabia?!
  - Sem duvida. – Dessa vez foi Zayn quem gargalhou, arrastando algumas malas para dentro do meu quarto. – Mas ainda acho que precisa pendurar o pôster de uma boyband mais recente, sabe?
  - Concordo... – Sentei na ponta da cama, deixando pular pra cima dela. – Mais tarde podemos ir à uma banca de revista, pra que eu possa procurar um pôster novo do The Wanted.
  - Ha-ha, tão engraçada, . – Zayn fez uma careta e vi o seu bom humor indo embora. – Depois dessa vou até me mudar para o outro quarto.
  - Baby, não! – Ri, levantando da cama para ir atrás dele. – Volta aqui.
  - Yay, festa do pijama todas as noites! – comemorou, colocando as nossas malas no canto do meu quarto. – Deixa ele pra lá, . Você pode dormir comigo.
  - Boa sorte descobrindo o que ela gosta ou não, ! – Zayn gritou do quarto do meu irmão. – Levei duas semanas só pra encontrar o ponto...
  - Shhhhh! – Gargalhei ao pular sobre Zayn e tapar a sua boca com a minha mão. – Ela não precisa saber disso e muito menos a minha avó!
  - Só estava dividindo o quanto foi difícil... – Zayn também riu, me segurando pela cintura. Ele estava se divertindo com o meu embaraço.
  - Não foi difícil coisa nenhuma! – Me esquivei quando ele tentou roubar um beijo, ainda tímida com aquele assunto.
  - Tem razão. Na primeira noite eu já te fiz gritar... – Continuou, abrindo um sorriso malicioso.
  - Cala a boca!
  Eu não sabia se ria por estar nervosa ou se por saber que era verdade. Zayn não demorara nada para entender as coisas que eu gostava ou não gostava, se é que me entende. Se bem que, se tratando de Zayn Malik, eu gostaria de qualquer coisa que ele fizesse. Decidida a encerrar aquele assunto antes que qualquer um de nós ficasse animado demais, passei um braço em volta do pescoço do homem e o trouxe mais pra perto, colando os nossos lábios. Ainda sorrimos enquanto o beijo começava, mas isso só o tornou mais divertido ainda. Zayn envolveu a minha cintura e espalmou as mãos nas minhas costas. Nossos lábios foram encaixados perfeitamente até que eu tomei posse do inferior dele e o puxei. Recebi uma reclamação misturada com um suspiro de satisfação e logo tive minha boca grudada contra a dele mais uma vez.
   devia estar tão cansado da nossa viagem que nem veio atrás de mim. também pareceu ter entendido que um casal precisava de um tempo sozinho, então nos deixou em paz, por mais que eu tivesse certeza que ela pudesse nos observar pela porta do meu quarto. Me pegando desprevenida, Zayn apertou o abraço em volta de mim e levantou os meus pés do chão. Tive que me agarrar em seus ombros para conseguir mais segurança e a próxima coisa que senti foi a risada quente do menino ao meu pé do ouvido. Não sei o que ele pretendia ao me jogar na cama do meu irmão e praticamente pular em cima de mim.
  - Muito bem, isso já é demais! – apareceu. Ou talvez já estivesse ali antes que eu a notasse... – Eu estava disposta a deixar vocês se divertirem um pouco, mas se vão se comer, ao menos fechem a porta!
  - Por que ela veio com a gente mesmo? – Zayn saiu de cima de mim apenas para se deitar ao meu lado.
  - Por que alguém não consegue manter a língua dentro da boca! – Me acomodei no colchão, tirando os sapatos e jogando-os no chão de qualquer jeito.
  - Hey, você gosta da minha língua! – Ao falar isso, Zayn lambeu a minha bochecha como se fosse um gatinho, me fazendo gargalhar e gritar com certo nojo.
  - Para com isso, Malik! – O empurrei, mas isso só fez com que ele me abraçasse mais ainda.
  - Os dois podem parar, por favor? – puxou um pufe alaranjado que estava largado no canto do quarto e se sentou.
  - Até parece que se Niall estivesse aqui, os dois não estariam da mesma forma! – Falei meio sem pensar, observando o semblante da minha amiga ficar tenso. – Desculpa...
  - Não precisa. – tentava se fazer de forte, mas eu sabia que meu comentários havia sido desnecessário. – Se Ben estivesse aqui, nós poderíamos estar assim como vocês dois...
  - Ben? O primo da ? – Zayn fez uma careta estranha. Devia estar achando que nossa amiga pirou de vez.
  - Não, baby... Benjamin. Um cara lá da Academy. Você saiu antes dele entrar, então acho que não o conhece. – Tentei explicar o “rolo” mais recente da minha amiga, pois me recusava em chamá-los de “namorados”. – É a mais nova vitima da nossa cabecinha de fogo.
  - E não o convidaram para o casamento?
  - Não mesmo! – respondeu mais rápido do que eu esperava. – Quero dizer, eu gosto dele e tudo mais... Mas as vezes fica muito grudento, sabe? Preciso de um descanso! Sem falar que não queria acabar com as minhas chances de arrumar um francês pra me pagar um macaron.
  - Então tá, né... – Olhei para Zayn, que devia estar pensando no mesmo que eu. Niall estaria no casamento.
  - Por falar nisso, vocês assistiram o jornal hoje de manhã? – Meu namorado se mexeu na cama, ficando apoiado no cotovelo. – Filmaram o nosso ataque de ontem.
  - Harry me mostrou. A Modest! deve estar furiosa, porque estão prestando mais atenção em mim do que na Eleanor.
  - Essa menina é legal? – perguntou.
  - Ainda não tivemos tempo de conversar com ela direito, mas acho que podia ser pior... – Comentei, procurando o apoio de Zayn.
  - Ela parece ser uma boa pessoa. – Deu de ombros. – Mas não se preocupe, . Próximo sábado você vai conhecê-la para tirar suas próprias conclusões.
  - Ela virá para o casamento? – A ruiva não podia parecer menos desinteressada.
  - Eu a convidei. Se teremos que fingir que somos cunhadas, é melhor que eu a conheça. – Sorri ao sentir Zayn voltando a deitar e encostar o rosto em meu ombro. – Mas ela só quis vir para a cerimônia... Achou que seria abusar passar o final de semana com a gente.
  - Meninos, o almoço está servido! – A voz da minha avó pode ser ouvida do andar debaixo e parecia que nós três estávamos apostando corrida pra ver quem chegaria primeiro.

+++

  Mais ou menos uma hora após o almoço, começou a me perturbar. Ela alegava que estava em Paris pela primeira vez e por isso queria aproveitar cada instante tinha naquela cidade para conhecer tudo o que pudesse. No final das contas, nana acabou emprestando as chaves do carro de papá e deixou que fossemos passear. Qual é a primeira coisa que turistas de meia viagem querem conhecer ao chegar à França? A Torre Eiffel, é claro! Por mais que a minha amiga fosse a que mais pedisse para irmos até lá, no fundo eu sabia que Zayn também estava morrendo de vontade de conhecê-la. E quem estamos querendo enganar? Eu também queria. Quando se mora em Paris, esses monumentos e atrações acabam se tornando comuns, mas naquele dia... Eu estava louca para visitar a torre!
  Estacionei o carro de coloração esverdeada/azulada (ninguém conseguia definir) na Av. Pierre Loti propositalmente. Dessa forma, seriamos obrigados a atravessar o bairro afim de chegar até a Eiffel. Estávamos caminhando há pouco mais de cinco ou sete minutos, aproveitando a paisagem e as pessoas que passeavam por ali. Muitos turistas tentavam tirar fotos como se estivessem com a torre na palma da mão, mas falhavam miseravelmente. Eles estavam perto demais! E havia apenas um ângulo certo para que essa fotografia desse certo. Eu sabia disso porque passara uma tarde inteira procurando o ponto exato para tirar essa foto, quanto tinha mais ou menos quinze anos. Nessa época, Pâmela ainda era minha amiga, então ela me acompanhou fielmente.
   andava de um lado e Zayn do outro, ambos segurando as minhas mãos. Não falo pelos dois, mas eu não parecia uma turista. Parecia que vivera ali a minha vida inteira e não me mudara para Londres há quase um ano atrás. Era fácil olhar pra mim e dizer que eu era parisiense. Talvez pela minha postura, meu físico ou até mesmo pela minha áurea. Pode ser exagero, mas eu sentia que mudava quando estava em Paris. Não para melhor e nem pra pior... Apenas mudava. Como fiz questão de entrar no parque, o chão logo mudou de calçada para grama. Muitos casais ou famílias com crianças faziam piquenique ali, ou almas solitárias procuravam sossego para terminar seus livros. Era algo bem bonito de se ver.
  - Vamos parar aqui... – Pedi, procurando um lugar vazio para que pudéssemos sentar.
  - Não vamos até a torre? – fez bico.
  - Ninguém vai até a torre, ... – Ri, sentando primeiro e puxando os dois para fazer o mesmo. – Não a essa hora, pelo menos. Ainda está fechada. E se chegarmos mais perto, não vamos conseguir enxergar o topo.
  - É um monumento muito bonito. – Zayn comentou, nem esperando para já deitar na grama e encostar a cabeça na minha coxa.
  - Quem diria que um dia eu estaria em Paris com os meus dois melhores amigos? – A ruiva sorria como uma criancinha que acabou de ganhar um doce.
  - Você falou. – Fitei-a com um sorriso nostálgico em meus lábios. – Lembra de uma das primeiras coisas que me disse quando nos conhecemos?
  - Eu falo tanta coisa! – Gargalhou, também deitando na grama, se apoiando nos cotovelos.
  - É verdade. – Zayn soou baixo, fechando os olhos quando comecei a passar os dedos entre seus fios escuros.
  - Shut up, Zayn! – A outra reclamou.
  - Enfim! , você disse que eu te traria um dia... E que nós passearíamos de vespa!
  - Eu me lembro disso! – Deu um pulo para ficar sentada mais uma vez. – Uau, por falar nisso, não vi nenhuma vespa desde que chegamos aqui... Fui enganada pelos programas de turismo! Propaganda enganosa!
  - Não fique assim... Nós andamos de vespa. É só que essa mania é mais vista em Roma do que aqui. – Me senti uma francesa de raiz e Zayn percebeu.
  - “Nós” andamos de vespa? – Ele riu.
  - Oui, Malik. Nós, parisienses! – Joguei os cabelos para o lado, fazendo bico.
  - Você mal é parisiense, ! – Era melhor Zayn estar brincando. – Seu sotaque já é britânico, babe. Você é inglesa.
  - Prreferrre qui eo fale assssim? – Puxei o sotaque francês, querendo dar ênfase ao meu caso. – E suis metadê frrrancesa, oui.
  - Zayn está certo, . – se intrometeu. – Seu sotaque não é mais aquele fofo de quando te conheci.
  - Meu sotaque não é mais fofo? – Cruzei os braços com um bico.
  - É claro que é! – Zayn segurou o meu rosto, me fazendo inclinar em sua direção até que nossos lábios se encostassem.
  - Ugh, é a minha hora de ir... – Senti que se levantava. – Vocês podem ficar aí o quanto quiserem, mas vou tirar algumas fotos por aí... Naquela fonte!
  - Tenha cuidado, ! – Pedi.
  - É melhor que os franceses tenham cuidado com ela... – Zayn saiu do meu colo para que eu também pudesse deitar na grama.
  - Contanto que ela não me apareça aqui com um...
  Zayn sorriu imaginando a minha reação se voltasse com um namorado francês, mas eu realmente me preocupei. A menina era bonita e atirada – ao menos atualmente -, então não era impossível! Me deitei na grama verde de verão, ao lado do menino. Agradeci por estar de short, então pude relaxar as pernas na natureza fresca. O sol estava na direção contrária à nossa, então podíamos olhar para o céu com tranqüilidade, por mais que meu namorado olhasse mais pra mim do que para a torre Eiffel na nossa frente. Conversamos sobre algumas coisas sem importância, mas também escutei sobre as vezes que Zayn encontrou Niall chorando em seu quarto de hotel. Aparentemente ele sentia mais falta da ex-namorada do que imaginávamos. Isso me partia o coração, mas o que eu podia fazer? O que qualquer um podia fazer se não soubéssemos o que levou a separação do casal?
  - Quando Lou e eu éramos pequenos e nana nos trazia aqui, costumávamos brincar de Peter Pan e fingir que tínhamos que subir até o topo da torre... – Apontei enquanto explicava, tendo as imagens na minha mente como se fosse ontem. – E de lá encontraríamos a segunda estrela à direita e direto ao amanhecer!
  - Você sabe que Peter Pan se guia pelo Big Ben, não é? – Prestava atenção na minha história e pegou a minha mão para brincar com meus dedos.
  - Sei sim. – Fiz careta, pouco me importando se ele veria ou não. – Mas nós não morávamos em Londres ainda e, se ainda não percebeu, o Big Ben fica em Londres!
  - Tudo bem, desculpa! – Gargalhou de forma gostosa. – Não está mais aqui quem falou!
  - Eu adorava fingir que era a Wendy. – O olhei, ainda deitada na grama.
  - Eu poderia ser o seu Peter? – Sorriu brincalhão, também me olhando.
  - Claro que não! – Arqueei uma sobrancelha. – Meu irmão é o Peter, já discutimos sobre isso. De qualquer forma, você está mais pra garoto perdido.
  - Garoto perdido, é? – Aproximou o rosto do meu e senti que ele aprontava algo. – Faz sentido... Porque sempre fico perdido nos seus olhos.
  - Ai, essa foi terrível! – Estraguei o momento galanteador de Zayn quando comecei a rir quase escandalosamente. Adorava quando Zayn usava essas cantadas, pois sempre me faziam rir.
  - Ei, qual é? – Ele não ria nada e até se sentou para me encarar com os braços cruzados. – Muitas mulheres por aí se derreteriam com algo assim, ok?
  - Tenho certeza que sim! – Ainda ria, mas juntei todas as minhas forças pra me levantar e ficar de joelhos, pousando as mãos nos ombros de Zayn. – Mas não sou como muitas mulheres por aí.
  - Tem razão, você não é. – Com um puxão em minha cintura, fez com que eu caísse sobre seu colo. – Você é chata, irritante, teimosa, ciumenta, medrosa, desajeitada... Chata! Já falei chata?
  - Já sim! – Voltei a rir, mesmo tentando me fazer de ofendida. – Três vezes, aliás!
  - Porque você é triplamente chata. – Me prendeu em seu abraço, fazendo um caminho com beijos do meu ombro até a minha orelha, onde sussurrou: - Mas é a minha chata.
  - Essa parte é verdade. – Já não gargalhava mais, apenas sorria. – Eu te amo, Zayn.
  - E eu amo você, Anjo. – Roubou um selinho que foi mais do que retribuído.
  Ficamos mais uns cinco minutos apenas trocando beijos e declarações silenciosas. Eu continuava sendo sincera ao falar que o amava e senta a mesma coisa vindo dele; talvez até mais intensamente do que antes. Eu entendia que Zayn ficava preocupado com as coisas que estavam mudando, mas eu gostava de provar a cada oportunidade o quanto eu não seria coisa alguma se não o tivesse ao meu lado. Lembrava de todas as vezes que passeara por ali, olhando para os casais na grama, e me perguntava se um dia eu encontraria alguém que me beijasse sem razão alguma, ou que ficasse satisfeito apenas em me ter por perto. E agora eu tinha tudo aquilo e muito mais. Só queria poder falar para o meu eu do passado: “Fique calma, você vai encontrar o que procura. Ou melhor... Ele vai encontrar você.”
  Duas meninas passaram pela nossa frente, perto demais se considerarmos todo o espaço que elas tinham para passear, e logo mais três fizeram o mesmo. E mais outras e outras... Até que Zayn e eu nos entreolhamos, mais uma vez pensando a mesma coisa. “Fomos descobertos.” Olhei em volta disfarçadamente para confirmar e encontrei um grupo um tanto grande de meninas que tentava disfarçar, mas apontava as câmeras do celular na mossa direção. Ao menos não estávamos sento atacados, certo? Não demorou muito para que uma primeira criatura vencesse o medo e se aproximasse. Era sempre assim, uma menina vinha perguntar se ele era mesmo o “Zayn do Onde Direction”. Gostaria de saber o que aconteceria se ele respondesse que não... Mas como todo bom ídolo, ele respondia que sim e logo novas meninas se aproximavam até que estivéssemos rodeados por fãs.
  - Pode tirar uma foto comigo?
  - Também quero uma foto!
  - Autografa aqui pra mim?
  - A minha irmã também é sua fã, pode mandar um recado pra ela?
  - Zayn, Zayn!
  - Ele é tão mais bonito pessoalmente!
  - Calma, pessoal, vou tirar fotos com todas... – Zayn tentava dar atenção ao máximo de pessoas que podia, mas eram tantas que ficava até difícil entender quem falava o que.
  - , vocês estão aqui em Lua de Mel? – Uma garota loira com mechas azuis me perguntou.
  - O que? Não, não... – Ri, meio sem graça. – Minha mãe vai se casar nesse final de semana, então viemos para a cerimônia...
  - Vocês dois são tão fofos juntos! – Ela continuou. – Zayn, porque não pede ela em casamento logo?
  - Acha que eu já não fiz isso? – Zayn me olhou travesso entre uma fotografia ou outra. – O que acha que esse anel na mão dela é?
  - Zayn! – O repreendi, escutando os vários gritos que se seguiram após aquele comentário. Senti que muitas meninas, inclusive a de mexas azuis, encaravam o anel de brilhantes que eu usava desde que Zayn me dera no último fim de ano. Não era um anel de noivado literalmente. – É brincadeira dele, gente, não estamos noivos...
  - Porque ela não quer! – O menino continuou. – Eu tento. Podem falar pra ela aceitar, por favor?
  - Aceita, sua boba!
  - Ela deve ser maluca por não aceitar casar com você!
  - Vocês dois são o meu ship preferido!
  - É verdade que o Liam gostava de você, ?
  - Ele teve uma queda por ela no inicio, mas acredito que escolheu o melhor homem. – Zayn respondeu antes que eu pudesse.
  - Claro que não! Liam e eu sempre fomos apenas bons amigos... – Menti, tentando não prolongar aquele assunto. Zayn sabia dos sentimentos que Liam um dia dirigira a mim, mas agora era tarde demais pra se falar nisso.
  - E a namorada do Louis? Vocês gostam dela?
  - Eleanor? Sim, ela é um verdadeiro amor de pessoa. Os dois estão super apaixonados... – Imaginei que a minha voz fosse quebrar ao confirmar aquela nova mentira, mas que outra escolha eu tinha?
  - , tira uma foto com a gente?
  Também era sempre assim. Depois de conseguirem fotos boas o suficiente com o boybander Zayn Malik, elas tentavam conseguir uma com Tomlinson, a irmã de Louis. Matariam dois coelhos com uma cajadada só, não? É claro que eu aceitei tirar quantas fotos fossem pedidas, muitas vezes não sabendo nem pra onde olhar, já que as câmeras triplicavam na minha frente. Era uma confusão ainda maior quando o instinto protetor de Zayn atacava e ele me puxava para perto de si, obrigando os fãs a tirarem fotos com nós dois juntos. Não que reclamassem, mas eu podia ver algumas meninas entortando o nariz o falando coisas feias em francês, imaginando que eu não fosse entender. Estava com Zayn ao meu lado, então pra que diabos eu iria me importar em ser chamada de feia ou vadia? Ele sabia que eu não era nada disso e pra mim era o que importava.
  - Empresária passando, por favor, saiam de cima! – fez seu caminho entre o grupinho de meninas, até que pode segurar no meu pulso e no de Zayn. – Temos que ir para uma entrevista urgentíssima. Sinto muito, meninas, mas Zayn tem que ir embora, ok?
  - Foi um prazer conhecê-las! – Ele acenou enquanto éramos arrastados pela falsa empresária.
  - Obrigada, , - Agradeci num sussurro.
  - Por nada. – Piscou. – Mas temos que ir mesmo, não sei como os paparazzis franceses funcionam, mas alguém avisou que estamos aqui. Daqui a pouco vai virar um inferno!

+++

  O ruim de a casa de meus avós ser tão pequena, é que três pessoas tinham que dividir um banheiro só. Se com Louis já era complicado, imagine quando ficava atrás de mim na fila do banho. Em minha defesa, Zayn fora o primeiro e demorar mais que ele... Ninguém consegue! Então a ruiva não estava irritada apenas por causa da minha demora e sim pelo total de minutos que ela teve que esperar no meu quarto, praticamente entediada. Apenas saí do banheiro quando estava vestida apropriadamente com um short qualquer e a primeira camisa que encontrei dentro da mala. Tive muito trabalho pra fazer tudo caber dentro de uma bagagem só, então não estava afim de destruir tudo aquilo em cinco minutos.
  - Pelo amor de Deus, . Juro que vou primeiro na próxima vez! – Acho que falava mais consigo mesma do que comigo, pois logo se trancou no cômodo e não me esperou responder.
  - Não tenho culpa alguma, ok? – Tentei me defender, mas era tarde demais.
  Escutei o som do chuveiro sendo ligado e isso me provou que ela realmente não iria mais me escutar. Bufei divertida, passando os dedos pelos cabelos molhados, desembaraçando-os. Era tarde demais para tentar voltar ao banheiro e pegar a escova, a não ser que eu quisesse ser mordida por uma ruiva raivosa. Passei no quarto que costumava ser meu e em seguida no de Louis – que atualmente pertencia ao meu namorado -, mas não havia sinal de mais ninguém naquele andar. Do topo da escada pude assistir uma criancinha loira atravessando o corredor lá embaixo. Então, se eu não estivesse tendo uma alucinação, alguém deveria ter vindo visitar a minha avó. A risada masculina que escutei só fez aumentar a minha curiosidade. “Então Zayn está se divertindo, huh?”
  Desci com rapidez, atravessando até chegar à sala. A criancinha que vi correndo já parecia ter voltado sem que eu percebesse, pois uma menina completamente adorável de cabelos loiros na altura dos ombros estava sentada ao lado de Zayn no sofá e os dois pareciam muito entretidos. Olhando com mais atenção, percebi que aqueles dois não eram os únicos na sala. Minha mãe e Dan me encaravam como se esperassem ser notados. Não fazia tanto tempo assim que eu não os via, mas ambos estavam bem diferentes. O cabelo da minha mãe estava mais longo e mais liso, como se ela tivesse passado por um tratamento de estrelas de cinema. Também estava mais cheinha, diga-se de passagem. Dan estava mais bronzeado e eu me lembrava de alguns fios brancos em sua cabeça, porém, agora ele estava bem mais loiro. O mais importante: Ambos nunca pareceram tão felizes.
  - Aqui estão os noivos! – Sorri quase emocionada, correndo até a minha mãe e abraçando-a com força.
  - Calma, filha... – Levantou-se a tempo de me abraçar de volta. – Mas também estou feliz em lhe ver.
  - Você está incrível! – Me afastei da mulher para obrigá-la a dar uma voltinha sem sair do lugar. – Seu cabelo, sua pele... E essas curvas! Uau, o casamento realmente está te fazendo bem.
  - Obrigada, ... – Passou as mãos pelos meus cabelos, quase como se quisesse retribuir os elogios.
  - Cof cof. – Dan fingiu tossir para chamar a minha atenção.
  - Dan! Hey! Não esqueci de você. – Me virei para o meu futuro padrasto e o abracei quando fui convidada. – Você também está muito bem!
  - Obrigado, mas já sei disso. – Piscou e escutei a risada da menininha loira. – Daisy, eu escutei!
  - Desculpa, papai! – Continuou rindo, praticamente se sentando no colo de Zayn.
  - É a sua filha? – Acenei para a pequena.
  - Uma das. – Sorriu orgulhoso, procurando a outra pela sala. – Phoebe?
  - Aqui, papai... – Uma segunda menina que era a cópia da primeira surgiu na entrada da sala.
  - Uau, vocês são iguais. – Ri com a minha total inteligência ao lembrar que eram gêmeas.
  - Eu sou mais bonita. – A que eu soube que se chamava Daisy mexeu nos cabelos. – Não concorda, Zayn?
  - Ugh. – Phoebe resmungou, preferindo ignorar a irmã.
  - A duas são lindas. – Zayn deu a sua melhor resposta.
  - Ah, é, esqueci de falar... – Dan voltou a recuperar a minha atenção. – Daisy é meio apaixonada pelo One Direction.
  - E o preferido dela é o seu namorado. – Minha mãe acrescentou.
  - E quem é o seu preferido, Phoebe? – Me virei para a segunda loirinha.
  - Liam! – Respondeu com um sorrisinho.
  - Liam também é meu preferido! – Retribui seu sorriso, escutando Zayn resmungar no fundo da sala.
  - Sweetheart, você e a sua amiga farão alguma coisa amanhã pela manhã? – Jay voltou a se sentar ao lado do noivo e fiz o mesmo, acomodando-me ao seu lado.
  - Só dormir. – Respondi com uma risada, achando a minha piada realmente boa. – Por que?
  - Bem... É que todos já provaram as roupas para o casamento, menos vocês duas e a sua outra amiga que também virá. A Olivia. E terei que ir buscar o meu vestido na loja amanhã, então porque não vem junto?
  - Claro que sim! – Essa era a parte que mais me deixava curiosa: Ver o vestido da minha mãe. Por mais que eu estivesse por dentro de todos os detalhes do casório, aquele era o único que ela mantinha em segredo.
  - Sua prima Charlotte também chegou hoje, então acho que ela também nos acompanhará!
  - Lottie está aqui?!

    

Chapter XI

e eu tivemos que acordar cedo naquela manhã de terça-feira. Zayn, por outro lado, pode ficar em casa com a minha avó; dormindo, claro. Como a minha mãe informara na noite anterior, ela deveria ir fazer a última prova e pegar o seu vestido na loja, então nós duas fomos juntas, já que éramos as únicas que ainda não sabiam o que iriam usar no casamento que aconteceria no próximo sábado. Minha prima Charlotte também estaria lá e eu realmente sentia saudades dela. Aquela manhã seria repleta de afazeres femininos e por isso não tinha sentido o meu namorado nos acompanhar. Mais uma vez nana emprestou o carro - que agora era seu - para que fossemos encontrar com a minha mãe na loja, ao invés de ela ter que dar uma volta maior só para nos buscar.
  Pontualmente às nove horas da manhã, a ruiva e eu estávamos descendo do nosso veículo e indo de encontro à minha mãe e Vivy, uma mulher de quem eu me lembrava vagamente, mas era a melhor amiga dela. ficou encantada com o tamanho do lugar onde nos encontrávamos. A Kleinfeld era simplesmente a melhor loja da cidade quando se tratava de vestidos de noiva e derivados. Nós tínhamos hora marcada para dali a cinco minutos, mas como o movimento estava bem calmo, pudemos ser atendidas assim que entramos.
  - Por aqui, por favor... – A mulher que estava destinada a nos atender, nos guiou por dentro do estabelecimento classe A. – Já pedi para levarem os vestidos que a senhorita pediu pra separar para uma sala. Gostaria que elas fossem na frente enquanto você prova o seu próprio? Para o caso de ainda precisarmos fazer algum ajuste, claro...
  - Mãe, quero ver o seu vestido também... – Me virei para Jay, meio que ignorando a atendente.
  - Sei disso, querida, mas vocês também devem experimentar o de vocês. – Minha mãe tentava calcular um jeito de que tudo coubesse no prazo de uma hora que teríamos até que nosso tempo acabasse.
  - Será que posso opinar? – Viv parecia ter a solução para todos os problemas da minha mãe. Era como se ela fosse para Jay o que era pra mim. Um pouco mais centrada e calma, claro... – Vocês duas podem começar a provar seus vestidos, porque sei como adolescentes podem demorar com essas coisas. E enquanto isso, ajudarei a sua mãe a entrar no vestido, porque, acreditem, é uma tarefa muito complicada! E quando estiver tudo pronto, eu as chamo.
  - Brilhante! – Minha mãe sorriu animada com aquela idéia; ou talvez com toda a idéia de se casar novamente. – Acho que já conheço o caminho... Pode levar as meninas até a sala delas?
  - Oui, mademosielle. – A atendente aceitou aquela tarefa com um sorriso.
  - , se importaria em traduzir tudo que está acontecendo? – Não me surpreendia que estivesse calada o tempo inteiro! Nossa conversa fora em francês, então a coitada não estava entendendo nada.
  - Sorry... Bem, basicamente vamos provar os nossos vestidos enquanto Viv ajuda a minha mãe a entrar no vestido dela. – Expliquei em inglês dessa vez.
  - Ah, claro, só estava confirmando!
  Aham, sei! Ri com a minha amiga fingindo ter entendido aquele idioma que ela só conhecia algumas palavras. Nos dividimos, indo duas para cada lado. Minha mãe e sua amiga foram para a esquerda, enquanto eu e a minha amiga fomos para a direita, seguindo a mulher que logo descobri se chamar Camille. Essa última parecia ser nova demais para trabalhar em uma loja como aquela, onde tinha que agüentar noivas nervosas e querendo que tudo saísse perfeitamente do jeito que sempre sonharam. Eu olhava para os lados, suspirando sempre que via um vestido ou véu que chamava a minha atenção. Toda a loja era repleta por araras com não só vestidos, mas também conjuntos de duas peças; como saias e blusas, por exemplo. Além disso, não ficávamos só no branco comum, como encontrei outras cores que variavam to bege até o azul mar. Um modelo era mais bonito que o outro, isso era óbvio.
  Nunca fui daquelas garotas que planeja o seu casamento desde os doze anos de idade, mas creio que todas nós temos bem dentro da gente uma idealização do que seria o nosso vestido perfeito, nossa festa perfeita e nosso marido perfeito. Pelo menos desses três, eu sabia que tinha ao menos um. Tudo bem que Zayn não era meu marido e estava longe de se tornar meu noivo, mas não vou dizer que nunca imaginei nós dois nos casando. Eu sabia que ele brincava muito com aquele assunto e, conhecendo-o, devia ter um fundo de verdade. O “problema” é que ele tinha muitas coisas acontecendo em sua vida naquele momento e as coisas provavelmente só ficariam mais agitadas dali pra frente. Sendo assim, sabia que fosse com ele que eu viesse a me casar no futuro, essa oficialização só seria feita em cinco, oito ou dez anos...
  - Aqui estamos! – Camille abriu uma porta grande de madeira branca, revelando a “nossa” sala. permaneceu calada, sem entender coisa alguma que saísse de sua boca. – Esses aqui são os que sua mãe separou para que você escolhesse. Aqueles do outro canto são os das damas de honra... Que acho que incluem a sua amiga. De qualquer forma, as etiquetas estão nomeadas. Caso queiram ver mais algum modelo ou tamanho diferente, não se acanhem em me chamar, ok?
  - Merci de votre appui, Camille. – Sorri em agradecimento, deixando que ela saísse e fechasse a porta atrás de si.
  - Merci de votre... Merci... – cochichava baixinho, me imitando.
  - Está praticando, ruiva? – Deixei a minha bolsa de ombro em cima de uma mesinha que havia ali na sala.
  - Preciso saber ao menos o básico pra me virar, não é? Porque agora é que eu me toquei que o casamento vai ser em francês. – Fez o mesmo que eu com a sua própria bolsa.
  - Isso é verdade...
  Por mais que ao menos a maioria dos meus familiares falasse inglês tão bem quanto francês, a cerimônia seria realizada em nosso idioma original. Não podia falar sobre a família de Dan, mas como ele e as suas filhas entendiam o idioma natal de , tinha quase certeza que também eram bilíngües. Assim que Camille nos deixou a vontade, dei mais uma olhada na sala. Seu chão era de porcelana branca e as paredes possuíam um papel de parede na cor salmon. Um espelho ia do chão até o teto, na parede do fundo, e abria como as portas de um guarda roupa, permitindo a observação de mais ângulo. Um pouco a frente desse espelho, havia uma espécie de tablado na altura de um degrau de escada comum, usado para que as noivas pudessem subir e observar seu vestido com perfeição. Em um lado da sala estava uma arara com pouco mais de sete modelos de vestidos com a mesma tonalidade, algo que parecia um tom abaixo do rosa, mas pro pastel. No lado contrário, outra arara com vestidos do mesmo modelo e mesma cor, apenas tamanhos diferentes.
  - Acho que o seu é esse aqui, . – Chamei pela minha amiga ao pegar o cabide de onde se via uma etiqueta com o nome dela. Um daqueles iguais, mas de tamanhos diferentes.
  - Então eu não posso usar esse? – Fez um bico gigantesco ao me mostrar a peça de um ombro só que chamara a sua atenção.
  - Acho que não. – Trocamos de cabides. – As damas de honra tem que usar o mesmo modelo. Ali também estão os vestidos da Liv e da Lottie.
  - Essa Lottie, aliás... Quem é a peça? – questionou, começando a se despir das próprias roupas para provar o vestido rosa.
  - Minha prima! Ela se mudou para a Alemanha quando ainda éramos novas, mas de vez em quando voltava pra visitar e nós não nos desgrudávamos. – Acabei sorrindo com aquelas lembranças, pendurando o cabide que eu segurava de volta na arara. Comecei a mexer entre os tecidos na minha frente. – Ela é bem legal, , nem invente ficar com ciúmes.
  - Você sabe como eu sou. Posso ficar com ciúmes no começo, mas logo me acalmo... Prova disso somos eu e Liv. – Tinha razão em seu argumento, pois eu ainda lembrava de ficar assustada assim que Olivia e começaram a se tornar amigas. – Mas a sua família é bem internacional, não? Vocês tem uma pessoa em cada país!
  - Aqui na Europa não é tão difícil assim de mudar de um país pro outro, então isso ajuda muito. – Afastei os cabelos do rosto, tirando o primeiro vestido que chamou a minha atenção. – O que acha desse?
  - Você vai ser a madrinha de casamento, ou uma das freiras? – Arqueou ambas as sobrancelhas, julgando o meu vestido só porque ele era um tanto comportado. – Pode me ajudar aqui?
  - Esse vestido não é tão ruim assim, vai... – Tentei defender a peça, deixando-a de lado para seguir até a minha amiga e ajudá-la a fechar o zíper.
  - Cuidado com a minha pele!
  - Eu terei cuidado se parar de se mexer! – Falei entre dentes, subindo o zíper com tanta facilidade que senti inveja. – Pronto.
  - Vamos ver como eu estoooou! – Saltitou cantarolando até subir na plataforma em frente ao espelho. Ela realmente estava bonita dentro daquele vestido, mesmo descalça e sem maquiagem alguma. – Serei a mais bonita de todas as damas de honra, não acha?
  - Não sei... A minha prima é bem bonita também. – Provoquei, segurando o riso.
  - Ugh, começou a puxar saco! – Me atirou um olhar mortal pelo reflexo do espelho e ficou emburrada. – Acha que devo provar o da Liv também? Somos do mesmo tamanho, então podemos ter uma noção...
  - Faça o que quiser, mas ninguém é do seu tamanho. – Continuei a curtir mais um pouco com a cara dela. – A não ser anões de jardim...
  Cochichei aquelas últimas palavras, mas sabia que fora ouvida por causa do xingamento que levei. Torcia sinceramente para que ninguém fora daquele cômodo pudesse nos escutar. Enquanto se recusava a receber minha ajuda para abaixar seu zíper, voltei para a minha própria arara de roupas, sem encontrar nenhum que fizesse meus olhos brilharem. Todos eram muito bonitos e delicados, claro, mas a sua grande maioria era um tanto justa ao corpo. Ou seja, marcaria os meus defeitos. Acima de tudo, eu não queria passar mais uma vez pela situação de quando provei o vestido vermelho em Los Angeles. Vez ou outra eu tirava um vestido mais soltinho do cabide e o encostava ao meu corpo, tentando imaginar se ficaria realmente tão ruim assim. pareceu perceber que havia algo errado, pois logo se juntou a mim e começou a olhar as minhas opções.
  - Talvez esse aqui... – Puxei um bem fluído e nada marcado, sabendo que teria que começar a provar em algum momento.
  - O que há de errado com você? – Fez careta para aquela peça.
  - Como assim? Não tem nada de errado em usar vestidos soltos. – Fui para a frente do espelho, tentando me ver dentro daquela roupa. – E se sentir confortável...
  - Você quer mesmo se sentir confortável no dia do casamento da sua mãe? – Cruzou os braços, dentro do vestido que devia pertencer a Olivia.
  - Talvez... – A assisti tirar o vestido solto das minhas mãos. – Hey!
  - Aqui. Tente este. – Trocou o vestido que eu gostara por um mais marcado.
  - Não vai caber. – Encarei o chão ao admitir meu medo. Não adiantava mentir para .
  - Como não vai caber, ? – Riu, talvez por não perceber que eu falava sério. – Pode ao menos tentar?
  - Eu não quero. – A olhei com um muxoxo.
  - A que eu conhecia não tinha medo de mostrar um pouco de curvas...
  - Talvez as pessoas não estivessem esperando tanto da que você conhecia. – Minha última declaração a deixou sem saber como responder por alguns minutos, por isso decidi que era melhor continuar. – Talvez eu devesse provar aquele mesmo.
  - Por favor, . Prova esse? Se não couber, tudo bem. Eu nunca mais te peço nada. – Aquela proposta era tentadora demais pra recusar sem nem pensar sobre o assunto.
  - Tudo bem! Mas nunca mais pede nada!
  Bufando baixo, desabotoei a minha saia e a deixei cair em minhas pernas. Em seguida, tirei a minha camiseta e também a joguei no chão, parecendo uma criança birrenta. ria da minha relutância toda, mas ainda segurava o vestido para que eu o provasse. Evitava com todas as forças me olhar no espelho enquanto usava apenas as roupas de baixo. Finalmente fez algo de útil e abriu o zíper da peça rosada para que eu pudesse entrar embaixo dele. Este vestido era realmente muito bonito, mas eu ainda achava que não caberia. Ele tinha praticamente duas camadas. A de baixo, que ficava junto ao corpo, era uma espécie de tubinho que ia até a metade das minhas coxas. A segunda camada era um tanto transparente e saía da parte debaixo do meu busto, criando um pouco de volume que me daria movimento ao dançar, cobrindo o tal tubinho completamente.
  - E então? – Perguntei impaciente ao colocar o tecido no lugar certo e esperar a minha amiga sofrer para fechá-lo.
  - Me diga você mesma. – Me fez subir ao tablado, cruzando os braços com um sorriso satisfeito demais para o meu gosto.
  - Não vai fechar o zíper? – Tentei olhar por cima de meu ombro, constatando que ele já estava fechado. – Como você fez esse milagre?
  - Não fiz milagre algum, sua tonta. – Gargalhou, pulando para o tablado e se colocando ao meu lado. – Sabe o que eu vejo?
  - O que? – Nos fitei pelo espelho na nossa frente.
  - Eu vejo uma jovem forte, confiante e muito bonita... – Ela sorria e logo eu fiz o mesmo. – Oh, olha, você está aí também!
  - Ai, idiota! – A empurrei dali de cima, rindo daquela piadinha. – Vou fingir que você não roubou esse diálogo do filme da Rapunzel.
  - Belles filles! – Camille retornou, abrindo a porta devagar enquanto ainda “brigávamos”. – Vejo que provaram os vestidos!
  - Sim... Todos são lindos, mas acho que fico com este. – Sorri para a mulher, segurando na barra da minha roupa. – E também provou o dela... Serviu como uma luva.
  - Merci. – arriscou, mesmo sem saber do que falávamos. – Falei certo?
  - Sim, . – Rolei os olhos. Ela não tinha errado tanto assim... – Minha mãe está pronta?
  - Está sim! Vim buscá-las.
  - Minha mãe está pronta, ! – Traduzi para a menina, quase pulando de animação.
  Não me importei em trocar de roupa e muito menos , que devia estar adorando andar com aquele vestido pra cima e pra baixo. Também não nos importamos em calçar nossos sapatos mais uma vez. Camille deixou a porta aberta e nos esperou passar. Atravessamos um pequeno corredor, sem voltar para o centro da loja, onde novas possíveis noivas entravam. A sala onde a minha mãe e Viv estavam era um pouco parecida com a nossa. As portas já estavam abertas a nossa espera e pude ver o mesmo tipo de espelho e batente para dar altura a quem quer que subisse ali. Vivian estava em um canto, desfrutando de uma taça de champanhe e sentada em um sofazinho vermelho que não possuía uma réplica na nossa sala particular. Como já era de se esperar, a minha amiga foi logo procurando onde poderia conseguir uma pra ela.
  Eu, porém, estava com os olhos grudados na mulher que se dizia ser a minha mãe. Johannah estava simplesmente incrivelmente linda. Seu vestido seguia a silhueta de seu corpo e abria na parte de baixo, seguindo com uma longa cauda como se ela fosse uma sereia. Toda a sua superfície era coberta por uma renda trabalhada e delicada, sem falar que era tomara-que-caia e mostrava os lindos braços da noiva dentro dele. Seu cabelo ainda estava amarrado em um rabo de cavalo desleixado, mas o véu que fora preso improvisadamente no topo de sua cabeça a fazia se parecer ainda mais com uma criatura de outro planeta.
  - Mum... Você parece uma princesa! – Caminhei até ela para tocar em seu vestido e véu, fazendo-a dar uma voltinha.
  - Eu sei! – Ela sorriu com os olhos brilhando. – Não acha que isso é demais? Ou que o vestido é exagerado? Ou que esse casamento é exagerado? Oh, meu Deus, estou exagerando, não é? Quero dizer, não sou uma garotinha...
  - Pode ir parando! Você merece isso e muito mais, mãe. – Eu mesma tentava não chorar. – Esse casamento é o seu dia. Você só tem que estar feliz.
  - E eu estou feliz, filha. – Beijou o topo da minha cabeça, só então percebendo o que eu estava usando. – Uau! Esse é o escolhido?
  - É o que mais gostamos... – Sorri, passando as mãos sobre o meu próprio tomara que caia. – E também já provou o dela e o de Liv...
  - Ficou do jeitinho que eu imaginava! – Jay acenou para , que bebia a segunda taça de champanhe.
  - A senhora está linda, tia Jay! – acenou de volta.
  - Bem, acho que podemos tirar essas roupas e ir! – A mais velha acenou para a própria melhor amiga para que a ajudasse a se despir.
  - Mas onde está a Lottie? – Questionei. Achava que a minha prima nos encontraria ali.
  - Oh, ela está nos esperando para o brunch.

+++

  Mais uma vez estacionei o carro em uma das primeiras vagas que encontrei. Estávamos na parte sul de Paris e eu geralmente não dirigia sozinha até ali, por isso agradeci bastante por estar seguindo o carro de minha mãe. andou o caminho inteiro com a cabeça para fora da janela, observando os prédios baixos e antigos, me obrigando a ter muito cuidado para não passar perto de nenhum poste ou outro carro que pudesse decapitá-la. No final das contas, ela estava completamente descabelada quando paramos em frente ao L’Avenue, uma das melhores delicatessens da cidade. Não era a melhor por ser a mais cara ou a mais cheia, e sim por ter as comidas mais gostosas que eu já provara; tirando as da minha avó, é claro. O lugar não estava lotado e nem vazio demais. A maioria das pessoas gostava mais de ficar em uma das mesinhas espalhadas pela calçada, aproveitando o verão francês.
  - ! – Escutei meu nome ser chamado e observei uma garota mais ou menos da minha altura correr na minha direção.
  - CHARLOTTE! – Retribui o grito, também correndo até ela.
  - Finalmente! – Me abraçou apertado assim que teve a primeira chance. – Que saudade, prima!
  - Nem me fale! Uau, você está linda! – Demorei um pouco para poder soltá-la. – Berlin realmente te fez bem!
  - Não vou nem comentar do que Londres fez com a senhorita. Está até saindo em revistas! – Comentou bem animada.
  - Eu sei... Devo tudo isso à banda do Lou.
  - O que? Não estou falando sobre essas revistas de fofoca... – Fez uma cara engraçada, me deixando mais confusa. – De qualquer forma, podemos falar sobre isso mais tarde! Onde está o seu namorado? Estou ansiosa para conhecê-lo.
  - Zayn ainda estava dormindo, mas liguei pra ele antes de sairmos da Kleinfeld. – A deixei passar o braço pelo meu, nos guiando até a mesa em que ela já estava sentada. – Deve chegar aqui em uma meia hora.
  - Bem, espero que chegue logo! – Foi a primeira a se sentar, puxando a cadeira pra que eu fizesse o mesmo ao seu lado. – Me conte! Como estão as coisas lá no seu reino encantado?
  - Tudo está perfeito! Eu não sei nem por onde começar. A London Royal Academy é perfeita e mês que vem estarei retornando para o meu último período no curso de ballet... – Comecei a despejar informações. – E também tenho vários convites para assistir os desfiles da próxima fashion week.
  - Que sonho! – Lottie deu um gole em seu café.
  - Imagine se fosse me esquecer... – se juntou a nós na mesa, junto com a minha mãe e Viv. Eu realmente me esquecera dela... Oops.
  - ! Mon Dieu! Uh, Lottie, essa é a minha melhor amiga no mundo inteiro... Minha segunda metade e irmã de alma. – Tentei me redimir, apresentando as duas. – E, , essa é a minha prima Charlotte.
  - É um prazer conhecê-la, ! – A menina de cabelos extremamente claros sorriu simpática.
  - Igualmente. – Sorriu de volta, se virando pra mim com uma careta. – E boa tentativa.
  - Valia a pena arriscar. – Ri baixo, observando-a se sentar na minha frente.
  - O que vamos comer? – pegou um dos cardápios que estavam postos em cima da mesa e o levantou na altura dos olhos, me impedindo de continuar com nosso contato.
  - Tomei a liberdade de fazer nossos pedidos. – Lottie informou. – Acho que não deve demorar muito...
  Charlotte não era literalmente a minha prima de sangue, já que minha mãe era filha única. Mas a mãe dela era prima da minha mãe, então isso nos tornava primas por osmose, ou algo parecido. De qualquer forma, nos tratávamos dessa forma e ninguém nunca reclamou. Ela tinha longos cabelos platinados e olhos castanhos como uma noz. Uma combinação um tanto diferente, mas que a fazia se destacar entre as pessoas daquela cidade. pareceu ter se chateado com o meu pequeno esquecimento, mas logo deixou isso de lado quando a nossa garçonete apareceu com os pedidos que Lottie fizera. Minha mãe e sua amiga estavam tão entretidas em um assunto qualquer que mal falavam conosco no canto da mesma mesa.
  Uma bandeja de três andares foi colocada no centro da mesa e a minha amiga ruiva só faltou babar. No primeiro andar, um conjunto de bolinhos das mais diversas coberturas me fez salivar. Em baixo, alguns croissants. Na última bandejinha, tortilhas de frutas tais como morango, blueberry e manga. Além disso, a moça que nos servia também deixou novas xícaras de café na frente de cada uma que estava sentada na mesa e uma cestinha com torradas e pequenos potes de geléia. Tudo parecia extremamente delicioso e familiar.
  - Se há uma coisa que deveria existir em Londres são essas Pâtisseries. – Comentei, esticando o braço para pegar a minha primeira tortinha de morango. – Hm, hm, hmmmmm.
  - Acho que você quis dizer: “Le magnifique!” – Lottie riu e acabou fazendo o mesmo.
  - Seja lá o que isso queira dizer, eu concordo. – Minha amiga falou quase com a boca cheia, atacando os bolinhos de açúcar. – me contou que você mora na Alemanha...
  - Em Berlin, pra ser mais exata. – Afirmou que sim com a cabeça. – Estudo arte. Mas não o tipo de vocês... Arte do tipo pintura e essas coisas.
  - Deve ser muito divertido. – Podia estar sendo apenas simpática, pois eu lia em seu semblante que ela devia achar aquilo a maior chatice. – te contou que eu estudo teatro?
  - Ela tinha mencionado que vocês estudavam juntas, mas não contou o curso. – Enquanto minha prima falava com ela, me distrai com o nosso brunch e minha xícara de café. – Também vai para o último semestre?
  - Estou indo para o segundo semestre, na verdade. – Rolou os olhos por estar tão mais atrasada do que eu, mesmo tendo entrado na Academy antes. – É uma longa história. Primeiro eu estava em ballet clássico porque era obrigada pela minha mãe, mas pude ser transferida para o curso de teatro, que é o que eu sempre sonhei.
  - Isso sim deve ser muito divertido!
  - Até que é, sim. – se serviu de café, sem nem ao menos reclamar que não era chá. – Mas de qualquer forma, a está mais adiantada porque é muito talentosa.
  - Você também é talentosa, ! – Me intrometi.
  - Não seja modesta, . - Minha prima tocou o meu braço, quase esquecendo da comida. – Eu posso não me lembrar de muita coisa da nossa infância, mas se tem uma coisa que eu não esqueço é de todas as vezes que você tentava a me ensinar a dançar. Claro que eu falhei miseravelmente todas as vezes...
  - Você não era tão ruim assim... – Foi a minha vez de deixar a comida de lado para poder rir. – Lembra quando até o Louis conseguiu fazer uma pirueta melhor que você?
  - Tento esquecer desse trágico dia. – Também riu. Em seguida, arregalou os olhos e sorriu como acabasse de ter uma lembrança melhor que aquela. – ! Amanhã é o seu aniversário, não é?!
  - Eu sabia que você não iria esquecer! – O sorriso que apareceu em meus lábios foi tão grande que meu rosto poderia ter se dividido em dois. – É sim!
  - Por que você teve que lembrar disso?! – bufou. – Cometi o erro de mencionar isso ontem e ela quase não conseguiu dormir. E pra piorar, quase não ME deixou dormir!
  - Eu não sabia, desculpa! – Lottie riu, dando um gole em seu café em seguida.
  Ok, talvez eu ficasse um pouco animada demais com o meu aniversário, mas que culpa tinha? Absolutamente nenhuma, muito obrigada. Antes que pudesse me defender, um celular começou a tocar perto de nós, fazendo com que todas olhassem sem suas devidas bolsas. Fiz o mesmo com a minha, escutando a música aumentar assim que segurei o meu aparelho. Vi a foto que eu tirara de Zayn enquanto ele dormia aparecer na telinha que piscava. Levantei, deixando a bolsa na minha cadeira.
  - É o Zayn... – Olhei para as mulheres que me questionavam com o olhar. – Com licença.
  - Agora ela nunca mais volta. – Escutei falar, mas ela nem ao menos se deu ao trabalho de cochichar!
  - Baby? Já está vindo? – Atendi a ligação, olhando para os lados na esperança de encontrar o meu namorado.
  - Eu estava! Mas acho que fiquei meio perdido... – Zayn parecia quase desesperado. – Estou com o endereço que você me deu, mas acho que peguei o metrô errado. E ninguém fala inglês aqui...
  - Zayn, porque não pegou um taxi?! – Tive que rir, por mais preocupada que estivesse. – Deixa pra lá! Isso não é importante... Onde você está?
  - Em uma ponte... – Ótimo! Ajudou bastante. Paris quase não tinha pontes! – Não passam carros por aqui, se isso melhora as coisas. E não sei porque, mas tem vários cadeados nas grades...
  - Cadeados? – Uma lâmpada se acendeu sobre a minha cabeça. – Ok, acho que sei onde você está, britânico-perdido-em-Paris. Fique aí, vou te buscar.
  - Obrigado, ...
  - Não demoro. – Avisei e encerrei a ligação, fazendo o meu caminho de volta para a mesa.
  - E aí, conhecerei o famoso Zayn? – Lottie parou o que estava fazendo e me encarou.
  - Talvez mais tarde. – Uma pequena risada escapou meus lábios, enquanto eu pegava a minha bolsa mais uma vez e guardava meu celular. – Ele se perdeu ao tentar vir pra cá, então vou buscá-lo. , você vem?
  - Mas ainda tem comida aqui... – Choramingou, apontando para a bandeja de três andares.
  - Eu posso deixá-la em casa, , não se preocupe. – Charlotte se ofereceu. – Estou com a minha lambreta.
  - LAMBRETA? – quase gritou. É, ela estava em boas mãos.

+++

  Demorei no máximo vinte minutos para chegar onde Zayn deveria estar. A ponte onde encontrávamos “cadeados nas cercas e carros não passavam” era chamada Pont des Arts e atravessava o rio Sena, ligando a esquerda de Paris com o Louvre. Um lugar que costumava estar bem cheio de casais durante o ano inteiro, mas ficava pior no inverno. Não sei porque, só ficava. Passei pelos arcos de entrada, olhando de um lado para o outro. A madeira embaixo de meus pés mexia, mas nada assustador ou alarmante. Encontrar Zayn não foi a tarefa mais difícil do mundo, já que a sua beleza o destacaria mesmo entre uma multidão. Ele estava apoiado nas grades da direita, inclinado e relaxado, olhando os movimentos do rio embaixo de nós. Eu pagaria fortunas só pra saber o que se passava pela cabeça dele naquele momento.
  Enquanto caminhava até aquele garoto, notei que atraia a maioria dos olhares femininos. Quem poderia culpá-las? Não era todos os dias que se via um deus grego andando as ruas de Paris. E olhe que aquela cidade tinha muitos homens bonitos. Permitindo as minhas íris a brincar mais um pouco sobre o corpo do meu namorado, reparei no que ele vestia: Calça preta um tanto justa, camiseta de mangas compridas dobradas até os cotovelos em um jeans azulado e fino. Uma conjunto simples, mas lindo! Sem falar que o seu topete de sempre estava impecavelmente de pé.
  - Escolheu um lugar interessante pra ficar perdido. – Comentei enquanto ainda me aproximava, conseguindo sua atenção e sorriso. – Aqui é lindo.
  - Chegou rápido, Anjo. – Segurou o meu rosto com ambas as mãos assim que ficamos próximos o suficiente e juntou nossos lábios em um beijo rápido. – Atrapalhei o seu brunch?
  - Estava chato sem você. – Não era uma completa mentira. Com a bolsa pendurada em meu ombro, pude segurar as mãos dele, sentindo que uma delas não estava vazia. – O que é isso?
  - Você é rápida! – Riu, mostrando o pacote esverdeada que carregava. – Trouxe isso pra você.
  - Quando você passou no Ladurée? – Meus olhos brilharam ao entender o que aquilo seria. Caminhei até um banco de madeira próximo, para que pudesse abrir o meu presente com calma. – As pessoas costumam ficar horas na fila!
  - Digamos que eu tinha tempo... – Me seguiu com um olhar que denunciava mais do que devia. Zayn se sentou no mesmo banco que eu, aproveitando que ele não tinha apoio de costas para ficar com uma perna de cada lado.
  - Você não ficou perdido de verdade, ficou? – Arqueei ambas as sobrancelhas, desconfiada.
  - Talvez não. – Admitiu. Eu deveria saber! – Sua avó me deu algumas dicas do que você gostava...
  - Sou tão inocente. – Suspirei, mas resolvi me concentrar em abrir o meu presente.
  Tirei o pequeno lacre que mantinha o pacote fechado e logo tirei de lá uma caixa cor de rosa. Ladurée é a mais famosa loja de confeitaria do país inteiro, por isso mesmo seus clientes eram obrigados a enfrentar horas na fila só para experimentar suas delicias. Apesar disso, ninguém reclamava da espera, pois valia muito à pena. Fiquei impressionada com a boa vontade de Zayn para enfrentar tudo isso só pra comprar aquilo pra mim. Tirei um novo lacre da abertura dessa caixa cor de rosa, podendo abri-la. Minha avó deveria ter um dedinho naquilo, pois ela sabia que macaron era o meu doce preferido. Zayn riu, então percebi que devia estar quase babando.
  - Obrigada, baaaaaaaby! – Minha voz provavelmente saiu mais esganiçada que o normal, fazendo-o rir ainda mais. – Eu amei!
  - Tudo para a futura aniversariante. – Se inclinou para ganhar um beijo e acabou recebendo vários deles. Viu? Zayn não era como . Ele me deixava ser feliz! – Posso provar um?
  - Claro! – Havia muitos macarons na minha caixinha, então um só não faria diferença. – Quer de que?
  - Eu não sabia os sabores, então pedi os mais coloridos. – Aquela confissão causou um sorriso a aparecer no meu rosto. – Não sei... Esse aqui é de que?
  - Pétalas de rosa. – Expliquei ao ver o que ele apontava na caixinha. – Falo sério, não me olhe com essa cara.
  - Não sei se gostaria desse. Tem algo menos afeminado aí?
  - Esse aqui é daquele que você gosta! – Tirei um macaron verde com pontinhos pretos e ofereci para ele morder. – É de alpiste.
  - Pistache? – Mordeu não só o macaron, como também o meu dedo. – Uhunhom.
  - Como é? – Gargalhei, comendo o pedaço que sobrou.
  - Eu disse... “Uhunhom”. Não é óbvio? – Rolou os olhos, limpando os cantos da boca. – É muito bom.
  - Agora sim! – Peguei outro macaron, que eu sabia ser de sidra. Mordi metade e ofereci o resto. – Quer?
  O presente era pra mim, mas ele acabou aproveitando o mesmo tanto. Aqueles docinhos pareciam biscoitos, mas eram mais cremosos no recheio e não tão crocantes. Era algo dos céus, com toda certeza. Nós dois não chegamos a comer tanto assim, pois eu queria guardar pra depois e também ficaríamos enjoados logo. Sem falar que eu já comera um pouco no brunch e tinha certeza que a minha avó não deixaria Zayn sair de casa sem um delicioso café da manhã. Voltei a guardar a caixinha rosa dentro da sacola verde e a deixei de lado, me aproximando ainda mais de Zayn. Ele me abraçou pela cintura e encostou o queixo no meu ombro, já que eu estava de frente para o rio e ele de lado pra mim; ainda com uma perna em cada lado do banco.
  - Qual é a de todos esses cadeados? – Perguntou ao deitar a cabeça em meu ombro para observar a mesma direção que eu.
  - Achei que nunca fosse perguntar! – Inclinei a cabeça sobre a dele, deixando minhas mãos acariciarem os braços que me envolviam. – Casais de todas as partes do mundo vem aqui com seus próprios cadeados e muitas vezes escrevem seus nomes neles ou frases de amor... E então prendem o cadeado a uma parte da grade. Em seguida, jogam as chaves no rio Sena... Assim, ele fica preso ali pra sempre, sabe? É como se fosse uma promessa de ficarão juntos pra sempre também.
  - Isso é romântico. – O olhei e percebi que estava sorrindo. – Já colocou um cadeado aí?
  - Já sim, com meu ex. Prometemos ficar juntos pra sempre, porque ele era bem desse tipo, sabe? – Nunca fui tão irônica na minha vida, mas Zayn pareceu enciumado mesmo assim. – Claro que não, besta. E são só lendas, de qualquer forma. Meus pais colocaram um cadeado aí, mas isso não os impediu de se separarem.
  - Algumas lendas são legais. – Desemburrou, me apertando mais contra si.
  - Sabe outra lenda que essa ponte tem? – Mordi meu lábio inferior, olhando para ele. Ao assisti-lo afirmar negativamente, continuei. – Dizem que se um casal trocar um beijo verdadeiro sobre ela, os dois terão felicidade eternamente.
  - Esse é o meu tipo preferido de lendas.
  O sorriso travesso que apareceu nos lábios daquele menino não tinha preço. Zayn envolveu a minha nuca com uma mão e a outra permaneceu em volta da minha cintura. Fechei os olhos assim que o hálito quente e gostoso dele invadiu os meus lábios previamente entreabertos. Suspirei, inclinando-me ainda mais na direção do outro e pousando as mãos sobre os ombros do mesmo, agarrando o tecido de sua camisa antes mesmo que eu percebesse. Zayn riu baixo, me provocando. Ele sabia o quanto eu era louca pelos seus lábios vermelhos e cheios, por isso se demorou a roçá-los sobre os meus. Não agüentei aquela brincadeira por muito tempo e investi, praticamente abocanhando-o.
  Toda a minha vontade foi retribuída agradecidamente, pois Zayn prendeu ainda mais a minha nuca e inclinou o rosto para o lado contrário do meu. Nossas bocas foram encaixadas e a minha língua rebelde invadiu a dele na procura da outra. Não demorei muito para encontrá-la, então começamos a nossa dança mais bonita. Por um momento desejei que a lenda realmente fosse verdadeira, e não algo que as pessoas inventavam para atrair outros casais e aumentar o turismo naquele lado da cidade. Por um momento desejei ser feliz pra sempre ao lado de Zayn, como em um conto de fadas. Por um momento... Deixei que a cidade do amor me contagiasse e me fizesse acreditar ainda mais que poderíamos ficar juntos até o último dia de nossas vidas. Nos separamos devagar e fui a primeira a abrir os olhos, só pra poder admirá-lo.
  - O que foi? – Não sorria, mas ainda assim parecia sereno. Suas orbes passeavam pelo meu rosto.
  - Como você consegue ser tão lindo? – Deslizei as mãos, que antes estiveram em seus ombros, até que elas parassem nas pernas que quase estavam em volta do meu corpo.
  - É a genética. – Riu divertido, dando de ombros. Em seguida, olhou para o lado. – O que é isso?
  - O que? – Segui a direção do olhar dele, onde uma menininha segurava um buquê de tulipas vermelhas.
  - Pour vous... – A menininha de vestido estendeu o buquê até que eu o pegasse e então saiu correndo.
  - Ok, não entendi nada! – Olhei na direção em que ela desaparecera, mas apenas vi uma mulher que devia ser a sua mãe lhe dar a mão para que fossem embora. – Você sabe o que foi isso?
  - Não faço idéia. – Ele riu. – Mas tem um cartão...
  - Pelo menos isso. – Apesar de estar bem confusa, admito que adorei ter recebido aquelas flores que eram as minhas preferidas. Peguei o pequeno cartão dobrado ao meio para ler o que estava escrito.

  
“Feliz pré-aniversário, babe.
   Com amor, seu Zayn.”
  - Foi você! – Levantei os olhos mais uma vez, encontrando aquele sorriso travesso que parecia ter virado permanente.
  - Culpado. – Zayn se superava cada vez mais.
  - Não vou nem perguntar como você fez isso. – Cheirei as minhas novas flores. – Mais uma vez... Eu amei. E porque está fazendo tudo isso? Meu aniversário só é amanhã...
  - Você não quis uma festa de aniversário, então esse é o único jeito que eu tenho pra te mimar. – Colocou uma mecha de meu cabelo para trás da minha orelha.
  - Ainda tem mais alguma surpresa? – Sinceramente eu não sabia mais o que esperar.
  - Só mais uma. – Aquele comentário me fez sorrir ainda mais, ansiosa. – E ela está vindo bem ali...
  Olhei para todos os lados, imaginando ver algum dos meninos se aproximando, mas nem sinal deles. Claro, o que eu esperava? Niall estava na Irlanda, Harry e Lou em Cheshire e Liam em Wolverhampton. Foi olhando mais atentamente que fitei algo incomum: Três homens vestidos exatamente iguais, com calças vermelhas, blusas listradas e chapéus de palha amarela. Além de trazerem instrumentos e balões de gás hélio vermelhos em formato de coração. Cada um segurava um instrumento diferente; tambor, saxofone e violão. Eu tinha medo de acreditar que aquela surpresa era pra mim. Os três andavam na nossa direção e então notei que Zayn já estava de pé e acenava para eles. Para terminar a caminhada, como se não estivessem chamando atenção o suficiente, começaram a tocar Bon anniversaire.

  
Bon anniversaire, nos vœux les plus sincères.
  Que ces quelques fleurs vous apportent le bonheur.
  Que l'année entière vous soit douce et légère.
  Et que l'an fini, nous soyons tous réunis.
  Pour chanter en chœur:
  "Bon Anniversaire”

  Imagine o meu desespero ao receber total atenção na minha direção. Ainda mais sem estar esperando por nada daquilo. A hora em que cantam parabéns pra você é algo realmente constrangedor, pois você não sabe bem o que deve fazer. Não sabe se bate palmas e canta junto, ou se apenas fica ali, sorrindo sem graça. Levantei do banco e tentei fingir que não era comigo, mas não deu nada certo. Zayn começou a apontar pra mim e mais pessoas que estavam na ponte pararam o que estavam fazendo e começaram a bater palma juntos, outros até tiravam fotos. Pela primeira vez em muito tempo, senti que aquelas fotografias não eram tiradas porque Zayn era famoso e coisa e tal. O publico que nos rodeava apenas queria registrar aquela homenagem que um namorado estava fazendo para o seu amor na Pont des Arts.
  - Você é louco, sabia disso? – Deixei a minha bolsa, minha caixinha de macarons e minhas flores em cima do banco e me atirei nos braços de Zayn, recebendo mais aplausos e gritinhos em comemoração.
  - Tudo vale á pena pra ver esse sorriso no seu rosto. – Me abraçou pela cintura e fez com que meus pés deixassem o chão. Não senti medo de cair nem quando ele começou a me girar no ar.
  - Joyeux anniversaire, mademoiselle. – Um dos três cantores me entregou os balões em formato de coração. Como eles estavam amarrados em algo mais pesado, não iriam sair voando por aí.
  - Merci beaucoup, monsieur. – O agradeci assim que fui posta no chão, encantada com tudo aquilo.
  O homem logo voltou a se juntar aos seus companheiros e eles pareceram conversar sobre alguma coisa que eu não pude escutar. Algo me dizia que estava aprontando alguma coisa. Olhei para Zayn, que parecia distraído brincando com os meus balões. Algumas das pessoas na ponte voltaram a se dispersar, mas outras permaneceram ali para também esperar o que estava para acontecer. Deixei meus balões junto aos meus outros presentes e comecei a escutar uma música calma e levemente conhecida.
  - Pronto para a sua próxima aula de dança? – Perguntei com um sorrisinho, já segurando a mão dele e o arrastando até a frente daquela “banda” que tocava para nós.
  - Aqui? – Olhou em volta meio sem graça.
  - Por que não? – O soltei apenas para fazer uma reverência.
  - Só por você...
  Aquele último comentário saiu mais como um sussurro secreto. Em seguida, ele mesmo fez uma reverência e esticou a mão direita, esperando que eu a aceitasse. Um conjunto de “Awwwwwwwwn” foi escutado assim que aceitei tal convite e fui guiada suavemente até estar com o corpo encostado ao de Zayn. Ele, então, usou a mão livre para envolver a minha cintura. Eu já havia mostrado alguns ritmos de dança que lhe viriam a calhar, mas o que ele mais parecia interessado era a valsa, então foi nela que nos concentramos. Naquela amostra publica de seus dotes dançantes é que eu percebi o quanto era uma boa professora, ou ao menos tinha um bom aluno.
  Zayn me guiou com tamanha perfeição, sem ser tremendamente lento, mas também sem me deixar tonta. Demos algumas voltas e eu quase não conseguia tirar os olhos dele. Muitas vezes acabava ficando na ponta dos pés para que ele me girasse por baixo de seu próprio braço e logo voltasse a me puxar para perto de si mais uma vez. Para quem não sabia dançar nada, meu namorado parecia um verdadeiro príncipe e eu era sortuda o bastante para ser sua princesa.

+++

  Já estava escuro quando nana se despediu e foi dormir. A casa estava em um completo silêncio, já que nem e nem Zayn quiseram assistir à televisão no primeiro andar. Não os culpo, pois se tivesse que assistir à algum canal onde a programação era completamente em um idioma que eu não conhecesse, também iria preferir ficar conversando com os meus amigos. Meu namorado foi para o quarto de Louis, que estava sendo o seu, porque não queria escutar “conversa de garota”, e pediu para que eu ficasse com ela só mais um pouco, enquanto me contava como fora seu dia com Lottie.
  As duas passearam de lambreta, o que sonhava desde que chegara ali. Ou melhor... Desde que nós nos conhecemos. Não chegaram a ir muito longe, apenas ficaram percorrendo as ruas magníficas da minha cidade. Ela estava cada vez mais encantada com tudo que via e seria bem difícil voltar ali sem ela. Não que eu me importasse, claro... Amava dividir aquelas coisas com ela. Também contei como fora o meu dia após deixá-la no L’Avenue, o que ela não teria acreditado se eu não mostrasse os presentes que trouxe de volta para casa. Não sei se eu era tão entediante assim ou se a ruiva estava cansada demais após o seu dia de aventuras, mas ela acabou dormindo no meio do meu discurso.
  Fiquei com duas opções no fim das contas: Apagar a luz e dormir ali mesmo, ou me aventurar com a esperança de que Zayn ainda estivesse acordado. Com um namorado tão dorminhoco quanto o meu, era bem possível que ele já estivesse no terceiro sono. Mesmo com essa probabilidade muito alta, levantei da cama com cuidado e apaguei a luz para deixar a minha amiga continuar a dormir tranquilamente. Fechei a porta quando eu já estava do lado de fora e, antes de ir ao meu destino, passei na porta do quarto de minha avó. Não queria incomodá-la, apenas ter certeza de que tudo estava bem. Abri a porta dela com cuidado, deixando meus olhos se acostumarem com a falta de claridade.
  Nana estava dormindo tranquilamente, mas fazia isso no lado que costumava ser de meu avô. Ela sentia muita falta dele, isso era óbvio. Todos nós sentíamos falta dele, era verdade, mas ninguém seria capaz de desejar que ele ainda estivesse vivo como a minha avó deveria desejar. Eles ficaram juntos por mais da metade da vida dela, então devia ser muito difícil ter que aprender a continuar sozinha. Ao menos ela estava tentando, não é? Sem querer acabar acordando-a por estar ali, fechei a porta tão silenciosamente quanto a abri. Passei pelo corredor com mais cuidado ainda, sabendo que as tábuas do chão poderiam me denunciar a qualquer momento.
  Abri a porta do quarto do meu irmão, ignorando o pôster do Busted que ainda estava ali. A luz do quarto estava apagada, mas a janela estava aberta, o que permitia a entrada de alguns raios de luz dos postes do lado de fora da casa. Zayn também não estava dormindo, então pontos pra ele! Ao invés disso, mexia em meu iPad. Não me lembrava de ter deixado o aparelho com ele, mas não tinha medo do que ele pudesse fazer. No máximo tiraria algumas selfies e isso não seria nada ruim. Eu simplesmente amava ter milhões de fotos dele que ninguém mais tinha, principalmente agora que todas as adolescentes do reino unido pareciam tê-lo em seus computadores e telefones.
  - Cabe mais uma nessa cama? – Perguntei retoricamente, fechando a porta do quarto e correndo até o móvel confortável.
  - Se não couber, fazemos caber. – Não sei se aquilo fazia muito sentido, mas me enfiei debaixo das cobertas com ele. Fiquei extremamente feliz ao descobrir que a única peça de roupa que ele usava era uma bermuda de dormir.
  - O que está olhando aí? – Me acomodei em seu abraço, deixando que ele continuasse a mexer no iPad que ganhei de presente de natal.
  - Niall mandou uma foto do sobrinho dele. – Explicou enquanto procurava. – Filho do Greg e da Denise.
  - Já nasceu?! – Mantive os olhos na tela, quase gritando ao ver a foto do bebê. – QUE GRACINHA!
  - Nasceu ontem! Não quis te esperar pra terem o mesmo aniversário. – Fez um bico de lado, mas logo voltou a sorrir. – Ni disse que o nome dele é Lil’craic.
  - Claro que disse! – Gargalhei, talvez mais do que o normal. – Ao menos não é Crazy Mofos, né?
  - Tem razão, podia ser pior!
  - Os outros meninos deram noticia também? – Questionei, logo me ocupando em dar beijos calmos pelo seu ombro nu.
  - Lou mandou uma foto de Harry e Gemma... Dizendo que estava tudo bem. – Continuou, mas sua voz tremeu um pouco. – Liam é que ainda não deu sinal de vida.
  - Ele está com a namorada, baby... Deixa ele. – Me virei um pouco na cama, continuando com os beijos.
  - Mas eu estou com saudades! – Resmungou com um choramingo, me fazendo rolar os olhos e aumentar os beijos.
  - Acho que posso pensar em uma forma de fazer você esquecê-lo...
  Consegui fazê-lo deixar o iPad de lado antes que começasse a digitar um email de coração partido para o seu marido Liam Payne. E ele sinceramente achava que macaron de pétalas de rosa era muito afeminado? Tá certo. De qualquer forma, comecei a aumentar a intensidade de meus beijos, seguindo até o pescoço livre de Zayn, sabendo que alguns deixariam marcas por ali. O menino pareceu finalmente entender o que eu queria e segurou a minha cintura com força, me fazendo ficar completamente em cima dele. Como eu estava usando uma camisola um tanto curta, não foi difícil para que ele subisse as mãos pelas minhas coxas até parar na altura da minha bunda. Senti seu aperto e com isso mordi a região entre o maxilar e a orelha, que era onde a minha boca brincava.
  Sorri com aquela provocação e aproveitei para colar meu quadril ao dele, me surpreendendo com o volume que começava a deixar aquela bermuda que Zayn usava um tanto apertada. Ao notar que fora descoberto, abriu um sorriso torto e cheio de intenções. Eu tinha quase certeza que sabia o que ele queria e estava mais do que disposta a atender seu pedido silencioso. Antes de fazer qualquer coisa, o segurei pelas laterais do pescoço e juntei nossos lábios com violência. Fui retribuída de uma forma tão urgente que o calor naquele quarto pareceu crescer consideravelmente. Zayn continuou a me tocar, subindo ambas as mãos pelas minhas costas, trazendo consigo a minha camisola que agora só parecia atrapalhar.
  Me separei dele de uma vez, fazendo-o soltar uma reclamação baixa. Minha camisola foi obrigada a voltar para o lugar pela gravidade, mas logo agarrei a barra do tecido e comecei a levantá-la devagar, sentindo o olhar dele me queimar a cada centímetro de pele que era revelado. Não que ele já não conhecesse cada pedacinho do meu corpo, claro. Primeiro deixei que ele visse a renda clara da minha calcinha, seguindo pela minha barriga e parando pouco abaixo do meu busto. Pela primeira vez em algum tempo eu já não me sentia insegura quanto à minha falta de forma ou coisa parecida, pois era encarada com tanto desejo que me sentia a mulher mais gostosa do mundo inteiro. Por fim, acabei tirando a peça de seda inteira, deixando-a cair no chão do quarto.
  Zayn pulsou embaixo de mim, se é que me entende. Ele deslizou os dedos pela minha pele levemente bronzeada, fazendo um caminho pelo centro da minha barriga até que estivesse tocando os meus seios livres de qualquer peça de roupa. Fechei os olhos e mordi o lábio inferior inconscientemente, conhecendo as maravilhas que ele conseguia fazer com aqueles mesmos dedos que agora brincavam com os meus biquinhos. Abri os olhos para vê-lo levantar as costas da cama até estar sentado; comigo ainda em seu colo. Zayn podia parecer um anjo na maior parte do dia, mas quando estávamos sozinhos e seguros de qualquer interrupção, ele se transformava em algo diferente. Algo mais escuro, quase perigoso.
  Tive meu pescoço tomado pelos dentes afiados do menino que se transformava embaixo de mim. Não fui delicada e fiz questão de passar as unhas pelas costas dele com força, sabendo que mais uma vez deixaria as minhas marcas. Como resultado, Zayn apertou anda mais a pressão dos dentes contra o meu pescoço, se impedindo de soltar um murmúrio. Em seguida, com a mão livre, agarrei os cabelos um pouco úmidos do menino, o que explicava o seu cheiro de banho tomado. Não deixei que eles escapassem entre meu dedo assim que os puxei com força, obrigando-o a soltar minha pele entre seus dentes. Só relaxei um pouco o meu puxão quando tive os olhos dele bem presos aos meus. Estava sendo dominante, papel que geralmente era dele, por isso enfrentava certa relutância da parte dele, porém, isso não dizia que o homem não estava gostando.
  - Eu te quero. – As palavras dele saíram como raios, me deixando arrepiada.
  - Eu sei. – Respondi convencida no mesmo tom, com um sorriso até mais torto que o dele.
  - Eu te quero agora. – Enfatizou, me fitando com certa raiva pela minha demora toda a dar o que ele almejava. Só o que isso me fez fazer foi rir divertida, não necessariamente por estar achando graça.
  - Vejamos o que eu posso fazer por você... – Meu tom se tornou baixo, meio arranhado.
  Sem esperar por uma resposta, o forcei de volta na cama, mexendo o quadril para aumentar aquela tortura toda. Voltei a abaixar o corpo na direção dele, mas meu destino dessa fez não foi a sua boca. Dei uma leve mordida no queixo do outro para descer não só o rosto, como também meu corpo inteiro. O caminho que fiz com a minha língua pelo torço daquele menino tão descontrolado mostrou bem qual era o meu objetivo. Minhas mãos arranharam mais um pouco a sua pele, deixando linhas avermelhadas quando passavam pela barriga tonificada. Por fim, agarraram o elástico daquela bermuda enquanto meus dentes brincavam pela parte baixa do abdômen masculino. Ele não era o único excitado ali, pois eu me sentia latejar e o calor aumentar, se espalhando pelo meu corpo inteiro.
  - ... – Chamou o meu nome, mas era mais um delírio.
  Um suspiro alto encheu o quarto quanto abaixei a bermuda dele até que ela estivesse junto à minha camisola. Voltei a morder o meu lábio ao ver que estivera certa ao pensar que aquela peça de roupa era a única que ele usava, já que agora a sua ereção descansava sobre a sua barriga, apenas esperando por mim. Segurei em sua base, observando enquanto o peito de Zayn subia e descia conforme a sua respiração acelerava. Selei meus lábios em volta de seu topo, sentindo o gostinho salgado do primeiro líquido que acabara de sair. Deixei as minhas pálpebras pesarem, fazendo movimentos leves de sobe e desce com a minha mão que ainda o segurava, enquanto deixava a minha língua passear e acariciá-lo do jeito que eu já sabia que Zayn gostava.
  - Olha pra mim, babe... – Seu pedido tinha quase uma imploração escondida nas entrelinhas.
  O atendi e abri os olhos mais uma vez para poder fitá-lo. Entreabri a boca um pouco mais, deixando-o invadi-la. Dessa vez, Zayn não foi capaz de impedir um gemido rouco escapar de sua garganta, me deixando ainda mais decidida ao fazer meus movimentos. Com a mão trabalhando um pouco mais rápido devido á saliva que escorria por toda a extensão do membro rijo, meus lábios também aumentaram a sua velocidade. Fazendo certa pressão com as bochechas e protegendo-o dos meus dentes, comecei a sugá-lo com mais intensidade. Logo a minha cabeça estava subindo e descendo enquanto Zayn quase se contorcia na cama, agarrando o lençol preso ao colchão. Sem que eu esperasse, tive meus cabelos agarrados e presos em sua mão grande, me mantendo onde estava.
  Acabei engolindo-o um pouco mais, sentindo-o tocar a minha garganta. Se continuasse com os olhos abertos, acabaria lacrimejando, então fui obrigada a fechá-los com força. A sensação de estar engasgando era bem incômoda, mas os meus esforços por ar pareciam agradar demais àquele homem. Logo tive os cabelos puxados mais uma vez para que o meu canal fosse desobstruído e eu pudesse voltar a respirar, ofegando por ar. O sorriso de Zayn era intocável e vez ou outra ele mordia os lábios com tanta força que eu tinha certeza que machucaria. Usei ainda mais vontade na minha mão direita, que ainda o dava prazer enquanto eu me recuperava, logo recebendo ajuda da esquerda.
  - Se você continuar, eu vou... Ugh, fuck... – Xingou com um aviso, não me impedindo de continuar.
  - Eu sei. – Voltei com o meu tom convencido, adorando o sentimento de estar com ele em minhas mãos. Literal e figurativamente. – E eu quero isso.
  - Não, babe, você sabe... – Pareceu juntar todo o seu auto controle para se colocar sentado mais uma vez e tomar meus pulsos em suas mãos. – Primeiro as damas.
  Lá estava aquele sorriso travesso e até um pouco arrogante de quem recuperava o controle da situação. Senti todo o meu poder ir para o ralo quando tive meu corpo tirado de onde estava e sendo jogado no meio da cama. Zayn não me segurou ali por muito tempo, pois precisou das suas mãos para deslizar a minha última peça de roupa por baixo das minhas pernas. Sem esperar por mais nada e como se tivesse pressa, me fez separar os joelhos e me invadiu por completo. Foi impossível segurar o meu gemido longo e um tanto alto. Me olhou como se pensasse o mesmo que eu... Não estávamos sozinhos naquela casa e a porta permanecera destrancada depois que eu entrara no quarto. Mas, ao contrário de mim, ele não estava preocupado ou com medo; estava satisfeito e até mesmo orgulhoso de si mesmo.
  Minha única saída foi agarrá-lo com força, encostando os lábios na divisão do ombro e pescoço do homem em cima de mim. Prendi minhas pernas em volta de sua cintura, sentindo as suas investidas aumentarem, assim como a minha falta de ar. Estávamos no quarto do meu irmão e na casa de meus avós, onde eu crescera e passara quase toda a minha adolescência. Saber disso de alguma forma aumentou a adrenalina e, de um jeito meio distorcido, aumentou a minha excitação. Zayn entrava e saia de mim com tamanha facilidade que me assustava todas as vezes que ele voltava a penetrar profundamente, murmurando obscenidades ao meu pé do ouvido.
  Agarrei suas costas em um abraço e não me impedi de fincar as unhas contra a pele do mesmo. Dessa vez fui um pouco mais violenta, mas tinha as minhas razões. Zayn pareceu entender o que eu queria dizer com os espasmos curtos que meu corpo começava a dar. Prova disso é que seus movimentos diminuíram de velocidade, mas aumentaram de intensidade; tornando-se mais fortes. Quase não consegui me segurar de gritar o nome dele a plenos pulmões quando o que parecia muito com pequenos choques elétricos percorrendo o meu corpo inteiro. Também comecei a tremer, mas de um jeito gostoso. Meus olhos reviraram e joguei a cabeça pra trás involuntariamente. Um formigamento percorreu as minhas coxas e parou nos meus pés, me fazendo estralar os dedos e suspirar mais uma vez.
  Como se me invejasse e também não agüentasse mais, Zayn se retirou de dentro de mim e segurou a própria ereção da mesma forma que eu fizera antes. Ainda sem conseguir me mexer muito, o observei chegar ao clímax e também jogar a cabeça pra trás, quase como eu fizera segundos antes. Seu líquido branco e cremoso foi de encontro a minha barriga e não podia ter me incomodado menos. Zayn estava lindo, parecendo um anjo novamente. A luz da janela batia diretamente em sua lateral, fazendo com que seus olhos amendoados brilhassem. Tão extasiado quanto eu, jogou-se na cama ao meu lado, passando o braço em minha volta e respirando fundo; totalmente relaxado.
  - Eu já falei que você é incrível? – Perguntou em uma respiração só.
  - Todas às vezes... – Comentei com um sorriso brincalhão nos lábios.
  - Bem, você é. – Riu baixo, beijando o topo da minha cabeça.
  - Você também não é nada mal... – Fechei os olhos, suspirando. – E precisamos de um banho.

       

Chapter XII

Após os momentos agitados da noite passada era de se esperar que eu estivesse com sono e pretendesse dormir a manhã inteira. Apesar do cansaço, meu corpo inteiro estava relaxado e eu tinha certeza que até a minha pele deveria estar mais brilhante. Eu não me importava com qual dia pudesse ser e nem ao menos lembrava se era sábado, domingo ou quinta feira. Só o que queria era dormir enrolada naquele lençol fino que me envolvia. Após Zayn e eu tomarmos banho juntos e aproveitar o segundo round de nossas “brincadeiras”, tive que vestir a mesma camisola que deixara no chão do quarto, já que não queria entrar no quarto onde e dormiam, por medo de acordá-los. Também fui obrigada a dormir com os cabelos molhados, pois não usaria o secador barulhento as duas horas da manhã.
  Claro que, como a maioria dos meus planos, aquele de permanecer por mais tempo na cama não deu certo. Eu teria continuado com meu sonho de que estava brincando em um carrossel infinito se não fosse pela melodia baixa e tranqüila que vinha do travesseiro ao lado do meu, onde Zayn devia estar. Me mexi mais devagar ainda até que a minha mão encontrou o que logo descobri ser o meu iPad. Tentei inutilmente desligar o alarme sem ter que abrir os olhos, mas não consegui. Abri apenas o olho direito, demorando um pouco para focalizar a tela. Quando consegui, pude ler o que estava escrito na frase do alarme:
  “Hora de acordar, aniversariante.”
  Foi aí que tudo me atingiu de uma vez. Eu não podia ficar dormindo! Era meu aniversário! Eu sabia que não teria uma festa ou algo assim para me deixar ansiosa, mas o dia do meu nascimento devia ser celebrado de qualquer forma, não? Abri meu outro olho, fazendo uma pequena careta enquanto os dois se ajustavam e fui logo procurar Zayn. Ele não estava mais na cama e nem no resto do quarto. Eu sabia que o meu alarme havia sido programado por ele, mas gostaria de saber se deveria esperá-lo por ali ou descer para o primeiro andar. Ficar sozinha ali é que eu não iria!
  - É meu aniversáaaaaaaaaaaaaaaaaa... – Tentei comemorar, mas esqueci que a cama de Louis era menor do que eu estava acostumada, então acabei indo ao chão antes mesmo de levantar. – Eu estou bem...
  Acalmei mais a mim mesma do que qualquer um que tivesse escutado o barulho do meu tombo. Ótima maneira de começar o seu aniversário! Caindo da cama. Yay! Acabei rindo sozinha e me levantando com um pulo. “Ágil como um gato!” Como era o meu dia, me permiti fazer piadinhas sem graça e ri mais ainda. Corri até a porta e abri de uma vez, esperando já encontrar alguém no corredor. Ninguém por ali. Em três passos grandes, cheguei até o meu antigo quarto. Abri a porta de uma vez, torcendo para que ainda estivesse dormindo e eu pudesse acordá-la. Ao invés disso, a encontrei mexendo na minha mala de roupas.
  - É MEU ANIVERSÁRIO! – Gritei, assustando-a um pouco.
  - É SEU ANIVERSÁRIO! – Ela gargalhou, deixando as minhas coisas de lado e correndo para me abraçar. – Feliz aniversário, minha little kitty!
  - Obrigada, minha super gigante! – Pulei de animação enquanto ainda a abraçava.
  - Aproveitando que é o seu aniversário, eu não vou nem reclamar pelo barulho que você e Zayn fizeram ontem. – Me olhou com aquele sorrisinho.
  - Nós te acordamos? – Senti as bochechas esquentarem, mas não dei muita atenção.
  - Você não ME acordaram, mas acordaram o e ele me acordou... – Comentou enquanto me dava as costas e ia buscar alguma coisa em suas próprias coisas. – Você sabe que cachorros são muito bons em escutar barulhos mais... Agudos.
  - Oh, Gosh. – Ri meio sem graça, escondendo o rosto com uma mão. – Desculpa por isso.
  - Não tem problema! – Se virou com uma caixinha azul em suas mãos. – Quer abrir o seu presente?
  - Eu ganhei presente?! – Sorri quase arrancando o embrulho das mãos dela.
  - O que seria um aniversário sem presentes, ?!
   ria de mim enquanto eu rasgava o embrulho de qualquer jeito e o deixava cair no chão. Abri a tampa da caixinha que foi revelada e soltei um pequeno gemido de fofura ao ver que ganhara um bracelete daqueles personalizados com vários pingentes. O tirei da caixa para poder observar melhor e sorri ao ver quais eram os pingentes: Uma réplica em miniatura do relógio do Big Ben, a torre Eiffel, um par de sapatilhas de ponta, um microfone, uma câmera fotográfica, um ultra mini manequim, uma xícara, uma pena e uma patinha de cachorro; não necessariamente nessa ordem. No centro do bracelete, metade de um coração com a palavra “Best” gravada.
  - A outra metade está aqui. – Esticou o próprio braço, onde vi um bracelete parecido com aquele, mas com bem menos pingentes.
  - É lindo, ! Muito obrigada! – Tive um pouco de trabalho, mas consegui colocá-lo em meu pulso direito sem precisar pedir ajuda.
  - É só pra te lembrar que você pode estar do outro lado do mundo, ou apenas do outro lado do corredor, mas sempre vai poder contar comigo. – “Não vou chorar!” – Porque somos melhores amigas pra sempre!
  - Awwwwwwn, eu te amo, ruivinha! – A puxei para um novo abraço.
  - Chega de melação, porque você já deve estar atrasada! – Retribuiu o abraço, mas o fez ser mais curto do que eu esperaria.
  - Atrasada pra que? – A encarei questionadoramente.
  - Se eu te contar, seu namorado me mata. – Segurou nos meus ombros, me empurrando para o lado de fora do quarto. Eu devia saber que Zayn estaria aprontando algo. – Vá escovar os dentes, lavar o rosto e fazer o que mais precisar. Depois volte, porque eu já escolhi a sua roupa!
  Então era isso que ela estava fazendo quando a peguei mexendo na minha mala! Não seria a primeira vez que escolheria minhas vestimentas, então eu não estava preocupada. Também não reclamei com as suas ordens e não fiquei enchendo-a de perguntas sobre o que Zayn estava escondendo. Corri para o banheiro do corredor e já fui pegando a minha escova de dentes cor de rosa enquanto fazia o resto da minha higiene matinal. É claro que toda minha curiosidade não me permitiu demorar mais do que cinco minutos para fazer tudo. O que mais me deu trabalho foi pentear os cabelos que ficaram mais embaraçados do que o normal. “É isso aí, nunca mais durmo com eles molhados.”
  Ao voltar para o meu quarto como um furacão, fiquei feliz por não estar mais por lá. Não que eu me importasse de me trocar na frente dela, é só que eu sabia que Zayn deixara algumas marcas onde o Sol não bate e seria melhor que permanecessem em segredo. Sem falar no círculo roxo em meu pescoço, feito pelos dentes e lábios do meu namorado tão adorável. Só podia torcer para que a minha avó não o notasse e que meus cabelos fossem capazes de escondê-lo, pois nem toda a maquiagem do mundo taparia o estrago. Deixando as minhas preocupações de lado, encarei a roupa em cima da cama. Eu estava guardando aquele vestido para usar no casamento da minha mãe – não necessariamente na cerimônia -, mas acho que o meu aniversário era uma ocasião igualmente especial, não?
  Me despi da camisola de seda que usava desde ontem e coloquei o sutiã que deixara separado. Em seguida, entrei no vestido. Mesmo se ele tivesse botões ou um zíper ao invés de elástico, eu não teria me preocupado. Não por já ter superado a minha pequena insegurança quanto a não caber em certas roupas, apenas decidi que aquele dia seria livre de preocupações ou pressão em cima das minhas costas. Eu seria apenas eu, sem ter que agradar fashionistas, paparazzis ou fãs malucas que me cobravam no mínimo a perfeição por estar ao lado de Zayn. Este último pensamento me deixou um pouco triste, pois nenhum dos outros meninos estava ali para curtir o aniversário ao meu lado. Fora isso, tinha certeza que todos ligariam para ao menos me parabenizar.
  Fiquei pronta em dez minutos, o que deve ter batido algum recorde, com toda certeza. Pensei em pegar uma bolsa e colocar meu celular, mas como não mexera nisso, achei que a minha surpresa não incluía meios de comunicação tão tecnológicos quanto o meu iPhone. Deixei o quarto para trás, descendo as escadas enquanto arrumava o meu Fedora sobre a minha cabeça. Ninguém na sala e ninguém na cozinha... “Ok, isso está começando a ficar realmente entranho.” Eu estava esperando ao menos um café da manhã caprichado feito somente pela minha avó, mas não encontrei nada disso. Ao escutar uma risada gostosa seguida por um latido vindo do lado de fora da casa, corri para a entrada e saí da casa.
  Todos estavam lá. Minha avó, , Zayn e . ainda de pijamas, sem se importar por estar sentada na grama. Minha avó com um de seus conjuntinhos estampados de saia e blusa. correndo e cheirando tudo que encontrava... E por último, Zayn. Esse usava uma bermuda preta e camiseta com uma estampa de NY, sem falar na camiseta xadrez que usava por cima dessa última peça de roupa, totalmente aberta. Nos pés, tênis pretos. Lindo, como sempre. O que mais chamou a minha atenção foram seus cabelos bagunçados. Isso mesmo, bagunçados! Não com aquele topete perfeitamente montado que demorava meia hora pra ficar pronto. Estavam bem do jeitinho que eu gostava mais.
  - Olha quem chegou! – me avistou, fazendo com que os outros três olhassem pra mim. – Cuidado com o !
  - Calma, Bo! – Tentei fazê-lo diminuir de velocidade, mas foi meio inútil. O cachorro correu e preferi me abaixar antes que ele pulasse em cima de mim e nós dois acabássemos caindo no chão. – Eu sei, você também quer me dar os parabéns!
  - Também quero fazer isso! – Ouvi Zayn reclamando lá na frente.
  - Primeiro eu! – Minha avó se aproximou com os braços abertos quando pareceu se aquietar um pouco. – Feliz aniversário, ... Que os seus sonhos continuem a se realizar e que você tenha muitos outros aniversários, sempre com saúde, pois é o que importa.
  - Obrigada, nana... – A abracei com carinho, deixando meu rosto descansar em seu ombro.
  - Seu avô também estaria desejando a mesma coisa. – A senhora sorriu, beijando o meu rosto. – Mas ele usaria palavras mais complicadas...
  - Sei disso. – Ri, tentando não ficar deprimida por aquele ser o meu primeiro aniversário sem meu avô.
  - Ei, ainda tem mais gente querendo falar com a aniversariante. – Zayn me esperava no meio do jardim, com sentado comportadamente ao seu lado.
  - Já estou indo! – Meu sorriso aumentou e corri para os braços do meu namorado, abraçando-o com toda vontade. – Baby! Obrigada pela música no alarme... Demorei um pouco pra entender que era Irresistible.
  - Tão lerda quando acorda! – Gargalhou ao meu ouvido, mas me apertou mais ainda. – Feliz aniversário, Anjo.
  - Obrigada! – Mordi o lábio inferior, olhando pra ele. – disse que eu estava atrasado pra algo...
  - Hoje é o seu dia. Você não está atrasada... É o mundo que está adiantado. – Gostei de ouvir aquilo e tinha certeza que seria o meu novo lema de vida. – Mas de qualquer forma, obrigado, !
  - Sempre que precisar! – A ruiva acenou após levantar da grama. – Só aconselho irem logo...
  - Pra onde estamos indo? – Perguntei curiosa. Ninguém me dizia coisa com coisa.
  - Só vamos dar uma volta. – Zayn piscou, me fazendo rolar os olhos.
  O menino riu da minha impaciência e se afastou, voltando para perto da casa. Só então percebi o que ele estava desencostando da parede de fora: Duas bicicletas. Uma era minha e a outra era de Lou, mas eu me lembrava vividamente de que ao menos uma das duas estava quebrada. Bem, alguém devia tê-las concertado e a minha intuição me dizia que eu já sabia quem. Primeiro o menino me entregou a feminina, de cor azul bebê e com o aro um pouco mais baixo. Sem falar nas flores de plástico e na cestinha presa à frente. Em seguida, pegou a sua própria e o ajudou a amarrar uma cesta marrom no banco do carona.
  - Vamos fazer um piquenique? – Dei um pulinho, vendo se o meu banco estava regulado.
  - É meio difícil fazer uma surpresa quando você não pode esconder nada em uma bicicleta. – Zayn parecia meio decepcionado por eu ter descoberto o seu plano super bolado, mas não me importei com isso. – Mas você teria que descobrir isso mais cedo ou mais tarde, porque eu não conheço um bom lugar pra fazermos esse piquenique.
  - Eu contei pra ele do campo aqui perto, ... – Nana trazia um violão de dentro da casa. – Você ainda conhece o caminho?
  - É claro que sim! – Afirmei ao assistir meu namorado colocar o instrumento no mesmo banco improvisado onde a cesta já estava presa. – Quer ajuda com algo?
  - Você vai levar o ! – Zayn anunciou, jogando a coleira azul do bebê na minha direção.
  - Yay! Vem, Bo!
  Com meu chamado, veio correndo. Ele parecia entender tudo, pois ficou de pé ao meu lado para que eu prendesse a guia na coleira em seu pescoço. Nesse meio tempo, Zayn terminou de se arrumar e já montou na bicicleta de Louis, pedalando até a rua nada movimentada na frente da casa de minha avó. Terminei de me assegurar que estava seguro e amarrei a outra ponta da coleira no guidão da minha própria bicicleta. Sei que não era uma boa idéia prender o meu Husky hiper-ativo ao meu meio de transporte, mas ainda era melhor do que prendê-lo à minha mão. Acenei uma despedida rápida para nana e , que logo acenaram de volta e desejaram um bom passeio.
  Não esperei as duas voltarem para dentro de casa para começar a pedalar e guiar o caminho. Sorri para Zayn com a lembrança da primeira vez em que andamos de bicicletas juntos; em nosso primeiro encontro. Essa é a hora que eu penso em todas as coisas que mudaram naquele período enorme de tempo. No ano anterior, quando saímos sozinhos pela primeira vez, eu não estava tão certa se deveria confiar nele ou deixá-lo entrar na minha vida. Mas naquela manhã, no meu aniversário... Eu confiava nele com a minha própria vida e deixá-lo se aproximar foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Parecendo ler meus pensamentos, o menino piscou, se mantendo na minha direita, sem ir mais rápido ou diminuir a velocidade.
  Inspirei profundamente, voltando a olhar para o caminho na nossa frente. O vento bagunçava os meus cabelos, mas não era forte o suficiente para tirar o chapéu da minha cabeça. Meu vestido também deixava as minhas pernas subir e descer nos pedais na medida em que eu pedalava com mais força, mesmo assim continuando comportada como uma verdadeira dama. O céu estava bem claro, só algumas nuvens brincalhonas, e o sol brilhava forte acima de nós. Apesar disso, o clima não estava extremamente quente e a brisa fresca nos refrescava. corria na minha frente, com a grande língua cor-de-rosa para fora e os pelos ao vento. Pelo visto nós três estávamos nos divertindo muito.
  Rodamos por mais ou menos vinte minutos e me surpreendi pela facilidade que tive para lembrar aquele caminho. Como estávamos basicamente nos subúrbios de Paris, não passamos por transito ou tivemos que parar por algum sinal vermelho. No máximo, um carro ou outro passava ao nosso lado, mas foi só nos afastarmos de vez da cidade que tudo o que podíamos ver era a estrada de terra embaixo de nossos pedais e as árvores que cercavam aquela espécie de trilha secreta. Em todos os meus anos de aventura, nunca vi outra pessoa passar por aquele lugar, então acreditava fielmente que era o meu lugar especial; que eu só dividira com Louis porque ele me seguiu até ali. Zayn me mostrara o seu lugar preferido quando me levou para ver estrelas, então agora era a minha vez.
   se comportou durante todo o nosso passeio e fiquei bem surpresa quando eu pedia para ele ir mais devagar e tinha o pedido atendido. Até mesmo quando avistei a cerca de entrada para onde deveríamos ir, pedi para que ele parasse de andar em frente e o animal parou, olhou para os lados e latiu como se perguntasse: “E agora o que?”. A cerca em si tinha a aparência bem mais nova do que realmente era. Um aviso de “Fique fora” afastava possíveis invasores, mas nunca conseguiu me impedir de entrar. Fui a primeira a pular da minha bicicleta, encostando-a levemente na madeira, fazendo Zayn me olhar meio desconfiado.
  - Porque sinto que a minha namorada é uma vândala? – Também desceu do seu veículo e me acompanhou.
  - Não sou uma vândala! Só sei as horas certas pra quebrar as regras... – Dei de ombros, soltando a corrente de ferro que mantinha a abertura da cerca bem “fechada”.
  - Tem certeza que isso é uma boa idéia? – Só me fitava arrastar a porteira pela grama alta.
  - Para de ser medroso e vem logo! – Ri, soltando e pegando a bicicleta para guiá-la até a parte de dentro do terreno.
  - Se formos presos, eu serei deportado? – Terminou me acompanhando, mesmo relutante.
  - É meu aniversário... Não vamos ser presos! – Continuei nosso caminho a pé, sem me dar ao trabalho de montar na bike mais uma vez.
  - Tem razão. – Sorriu torto, me surpreendendo por ter concordado tão rapidamente.
  Zayn me acompanhou a pé, empurrando a sua bicicleta que devia estar mais pesada do que a minha, devido a nossa cesta de piquenique e o violão de Louis. O espaço entre a estrada de terra, a grade e a floresta que se aproximava era bem curto, portanto logo estávamos rodeados por uma cadeia de vegetação alta. Aquele bosque não era grande o suficiente para ser chamado de floresta, mas também não chegava a ser pequeno como um parque. A grama ali de dentro era rasteira, quase como se alguém a aparasse todos os meses. Talvez fadinhas e elfos... Apesar de bem agradável para passar horas lendo ou fugindo do mundo de fora, aquelas matas não guardavam nada de especial. Nem animais selvagens e nem vaga-lumes que apareciam ao crepúsculo, apenas algumas flores que conseguiam sobreviver até a primavera.
  - Acho que aqui é um bom lugar pra parar, não acha? – Sorri alegremente quando paramos em um espaço mais aberto.
  - Perfeito! – Encostou a sua bicicleta em um lado da árvore onde eu encostara a minha própria. – Agora vamos montar o nosso piquenique!
  - Minha parte preferida! – Comemorei, parando ao lado dele para receber a cesta. Apesar de ser meu aniversário, ele preferiu me entregar o violão. – Eu podia cuidar disso aí...
  - E perder a sua cara de surpresa? Pode deixar que eu mesmo cuido dessa parte. – Carregou o contêiner de nossas comidas e me entregou uma toalha quadriculada. – Pode estender isso aqui.
  - Tudo bem! – Fiz meio bico, mas ainda estava feliz. Não “feliz por ao menos ajudar” e sim “feliz por estar aqui, feliz por ser meu aniversário e feliz por ter um namorado tão atencioso”. – , volta aqui!
  - Ele não pode ir longe... Só quer marcar seu território.
  Meninos... Sempre ficam do lado um do outro! Tsc. Resolvi relaxar e deixar que o meu cachorro explorasse, tendo certeza que ele acharia o caminho de volta. Não que tivesse saído da minha vista, é que as vezes sou super protetora em relação ao meu Bo. Abri a toalha de mesa que eu já conhecia bem e a estendi sobre a grama, na região onde alguns raios de sol conseguiam atravessar as camadas de folhas das árvores altas. Tirei os sapatos antes de pisar no pano e me sentar, observando Zayn fazer o mesmo e se acomodar na minha frente. Colocou a cesta ao seu lado enquanto eu arrumava o meu vestido sobre as minhas pernas. O violão também foi colocado na grama cuidadosamente.
  - O que será que temos aqui? – Perguntou retoricamente, abrindo a tampa e não me deixando espiar.
  - Uau, já estou sentindo o cheiro daqui... – Inspirei fundo com os olhos fechados, me inclinando levemente na direção dele. – Torta de maçã com canela!
  - Você está mesmo estragando todas as minhas surpresas hoje, . – Me reprovou com o olhar e tirou a primeira coisa ali de dentro: A torta!
  - Desculpa! – Cobri o rosto com as mãos, deixando uma brecha entre os meus dedos para espiá-lo sorrir. – Ficarei calada agora!
  - Muito bem! – Balançou a cabeça negativamente, tirando da cesta uma garrafa de vinho. – Nada melhor para comemorar um dia tão especial, não acha?
  - Com certeza. – Mordi o lábio inferior. Álcool+Zayn+lugar deserto= Nada bom.
  Zayn continuou a tirar as coisas de dentro da cesta e eu comemorava cada vez que uma coisa nova aparecia. Além do vinho, ele trouxe suco de laranja em uma garrafa térmica, duas taças, água para , pedaços de baguete cortados perfeitamente na diagonal, três tipos de queijo, patê de frango, croissant de chocolate para a sobremesa, um pote com uvas e morangos, mel, geléia de ameixa, panquecas que permaneceram milagrosamente quentes e queijo quente. Um café da manhã mais do que digno, preciso acrescentar.
  - Ah, só mais uma coisa... – Zayn me olhou quase misteriosamente, tirando a última coisa de dentro da cesta de piquenique. – Isso aqui é pra você...
  - A chave do seu coração? – Segurei o chaveiro de uma única chave com um riso no rosto.
  - Melhor. – Cerrou os olhos, orgulhoso por dessa vez conseguir manter a surpresa. – A chave do meu apartamento.

+++

  - Falo sério, Zayn! Como você conseguiu fechar esse negócio em um dia? – Girei o chaveirinho com uma foto de Zayn pendurada em volta do dedo. Ele ser de uma banda famosa tinha suas regalias, pois onde eu iria encontrar algo tão brega fofo assim?
  A comida voou e quase não sobrou nada. Claro que meu cachorro tinha um pouco de culpa nisso, já que apareceu sorrateiramente e roubou duas metades de um queijo quente. Não terminamos a garrafa de vinho, mas duas taças também se foram. O suco de laranja acabou completamente, assim com as panquecas, a sobremesa, queijos e etc. Parecia até que eu não comia direito havia dias! Ok, talvez essa parte fosse verdade... Depois de tanta gordisse, só conseguimos afastar as tigelas e potes vazios e deitar na toalha de mesa, sentindo a grama abaixo de nossas costas. Deitados lado a lado, ora olhávamos para o céu acima de nós, conseguindo enxergar algumas nuvens que flutuavam calmamente, ora fitávamos um ao outro. Passarinhos cantavam ao longe e o vento balançava os galhos das árvores, fazendo a nossa trilha sonora. Se tinha um assunto que eu não conseguia deixar de lado era aquele de que Zayn usara o único dia que passamos em Londres para assinar o contrato de compra da sua cobertura.
  - Sou eficiente, , diferente de você. – Riu, me cutucando na barriga.
  - O nome disso é loucura, não eficiência! – Bati na mão dele, fazendo-o a afastar. – Sério, você só teve um dia pra conhecer o lugar...
  - Você está reclamando porque não conheceu o flat. É perfeito! – Virou o rosto para me olhar. – Além do mais, se eu quisesse estar com ele pronto assim que voltássemos para a cidade, teria que assinar o mais rápido possível...
  - Ainda acho que poderia ter feito isso com mais calma. E se eu não gostar? Agora você já comprou! Olha, se eu não gostar, não coloco os pés lá, Malik! – Àquela altura eu já estava sendo chata de propósito.
  - Quer saber?! Não quero mais que você tenha a chave! – Se sentou, me olhando um pouco sério, mas comecei a rir. – Pode me devolver, !
  - Não devolvo! Se ferrou, agora está preso. – Gargalhei, segurando o chaveiro com mais força. – Vou fazer cópias e distribuir por aí... Porque como eu não gosto desse flat mesmo, não me importo que roubem as suas coisas...
  - Quem é a louca agora? – Acabou rindo do meu exagero, daquele jeito que sua cabeça caía pra trás e seus olhos ficavam bem pequenos. – Devolve logo! Você está proibida de entrar no prédio. Vou colocar a sua foto na portaria, com a legenda: “Stalker maluca, proibida a entrada. Se avistada, chamar a policia imediatamente.”
  - Esqueceu do “Aproximar com cuidado”. – Gargalhei ainda mais alto, sem querer, o que fez Zayn me olhar como se eu realmente estivesse ficando maluca. Também me sentei, colocando a mão que segurava o chaveiro para trás do meu corpo. – Você quer mesmo a chave de volta?
  - Claro que sim! – Continuou com a brincadeira, estendendo a mão para que eu lhe entregasse.
  - Tudo bem, eu devolvo... Mas vai ter que me pegar primeiro!
  Parecendo uma garotinha, o empurrei pra trás e levantei para começar a correr. Zayn se desequilibrou por ter sido pego de surpresa, o que me deu alguns segundos de diferença para me afastar o máximo que eu conseguisse. notou nosso movimento e se colocou de pé, também correndo atrás de mim. Eu não sabia se ele estava do meu lado ou do lado do pai, porém, logo fui perseguida pelos dois meninos. Zayn tinha as pernas um pouco mais compridas do que as minhas, então logo me alcançaria. Eu poderia subir em alguma das árvores que desviava ao correr se não estivesse com aquele bendito vestido! Não tive muito tempo para pensar em um plano de fuga, pois logo tive a cintura agarrada, me fazendo cair na grama e levar Zayn junto comigo. latiu alto como se comemorasse e começou a lamber o meu rosto.
  - , sai! – Tentava proteger meu rosto daquelas lambidas ao deitar de costas na grama e sentir Zayn subir em cima de me mim e prender as minhas mãos.
  - Ataca ela, Bo! Bom menino! – Me manteve presa pelos pulsos enquanto até o meu nariz era lambido. Zayn se divertia mais do que deveria!
  - Malik, me solta! – Abrir a boca pra falar era algo perigoso.
  - Peguei as chaves! Mwuahaha. – Arrancou o chaveiro da minha mão e me soltou, guardando o objeto em seu bolso. – Pode parar .
  - Finalmente! – O cachorro não o obedeceu, mas assim que recuperei meus movimentos, pude afastá-lo. – Não acredito que você pegou a minha chave!
  - Não acredito que você ainda acha que consegue ser mais rápida do que eu. – Sorriu convencido e saiu de cima de mim. Agora que conseguira o que queria, me deu as costas e fez seu caminho de volta para o nosso piquenique.
  - Baby... – Choraminguei. Tinha que recuperar a minha chave. Levantei e arrumei o meu vestido bagunçado, saltando baixo para ir atrás dele. – Por favor...
  - Sem chance! – Virou na minha direção, mas continuou andando para trás. Fez alguns movimentos estilo gangster e um bico de lado. – Perdeu... Já era... Não vai poder entrar...
  Aproveitei aquela chance de tê-lo de frente pra mim e me coloquei na ponta dos pés descalços, praticamente pulando em volta de seu pescoço. Não, não iria cometer um assassinato, por mais que aquele lugar fosse um tanto perfeito pra isso. Juntei meus lábios aos de Zayn, torcendo para deixá-lo distraído o suficiente. Claro que ele não demorou nada pra me abraçar pela cintura e dar passagem para a minha língua. Aquele beijo precisava ser de tirar o fôlego, mas não precisei me esforçar muito. Era só ter uma pequena iniciativa que Zayn se empolgava e seguia a minha deixa. Não que eu odiasse beijá-lo, mas naquele momento tinha outros objetivos além de matar a minha vontade dele. Enquanto a minha mão esquerda permaneceu em sua nuca, a outra foi deslizando quase imperceptivelmente pela lateral do corpo masculino. Meus dedos leves encontraram o bolso onde a chave estava guardada e consegui tirá-la dali com sucesso. Interrompi o beijo para olhá-lo com o sorriso travesso que aprendera com ele.
  - Ainda não vou te devolver a chave. – Tentou sair por cima naquela situação, mas meu sorriso não se desfez.
  - Não precisa. – Foi a minha vez de lhe dar as costas, mais uma vez girando o meu chaveiro no dedo indicador.
  - HEY! Como é que... Hã? ! – Ficou confuso e me seguiu de volta para a toalha. – Me sinto usado.
  - Talvez eu deixe você me usar mais tarde... – Pisquei pra ele, me sentando. se deitou ao meu lado, na grama mesmo, e coloquei o meu chapéu (que estava caído por ali) em sua cabeça. Claro que ele não deixou que o enfeite ficasse ali por mais de cinco segundos.
  - O aniversário é seu, mas quem ganha o presente sou eu! – Depois dessa até desistiu de pegar a chave de volta. Aproveitei essa distração para guardá-la na cesta de piquenique.
  - Por falar nisso! – Enquanto ele se sentava, puxei o violão para o meu colo. – O que vai cantar pra mim?
  - Eu esperava que você fosse cantar pra mim... – Fez um biquinho enquanto me escutava dedilhar as cordas. Eu sabia alguns acordes que os meninos me ensinaram, mas nada que desse pra tocar uma música complicada.
  - Podemos cantar juntos depois, mas primeiro você tem que cantar pra mim. – Sorri tranqüila, sem me apavorar com aquela idéia de cantar fora do chuveiro. – Aqui...
  - Algum pedido em especial, senhorita aniversariante?
  - Me surpreenda!
  Ok, primeiro eu fico curiosa com as surpresas que ele faz e depois peço para que ele me surpreenda? Muito bem, , assim o menino não vai ficar nem um pouco louco. Zayn começou a afinar o violão antigo do meu irmão e me perdi em seus movimentos. A forma como ele passou de brincalhão para profissional em dois segundos sempre me pegava desprevenida. Não demorou muito com aquele aquecimento e limpou a garganta, estralando os dedos em seguida. Me arrumei onde estava sentada, afastando meus cabelos loiros – sim, admiti que estava loira, me julgue – para não perder nenhum movimento daquele menino. Me olhando como se perguntasse se podia começar, Zayn segurou fundo e segurou a primeira nota pra começar a tocas.

  
Her head is on my chest, the sun comes rolling in.
  (A cabeça dela está no meu peito, o sol entra Rolando)
  We’re lost in these covers and all I feel is skin.
  (Estamos periods nesses leçóis e tudo que eu sinto é pele)
  I slowly kiss your face, beautiful in every way.
  (Eu beijo o seu rosto devagar, lindo em todos os jeitos)
  You are, you are...
  (Você é, você é…)
  See I’m a man that don’t believe in much.
  (Veja, eu sou um homem que não acredita em muito)
  But I’ll be damned if I don’t believe in us.
  (Mas estarei condenado se não acreditar em nós)
  And how we play a fight up in the bathroom…
  (E como brincamos de brigar no banheiro)
  Next thing you know I’m making love to you.
  (A próxima coisa que sei, estou fazendo amor com você)
  Girl, promise me you’ll never change…
  (Garota, me prometa que nunca vai mudar)

  Começou a cantar e tocar o violão, em uma versão acústica daquela música que eu não conhecia. Será que algum dia eu deixaria de ficar surpresa com a voz dele? Duvidava muito. Apoiei uma das mãos na toalha, mudando de posição e dobrando os joelhos para o outro lado. Zayn só tirava os olhos de mim de vez em quando, quando tinha que se concentrar para mudar o acorde.

  
She ain’t perfect, but she’s worth it.
  (Ela não é perfeita, mas vale a pena)
  Every breath I breathe for the life I’m in.
  (Toda a respiração é pela vida que estou dentro)
  And I know I might not deserve it…
  (E sei que posso não merecê-la)
  But she loves me, and it’s simply amazing.
  (Mas ela me ama, e é simplesmente incrível)
  Simply amazing, uh, simply amazing. Whoa.
  (Simplesmente incrível, simplesmente incrível)
  And she loves me, and it’s simply amazing…
  (E ela me ama, e é simplesmente incrível)
  Amazing, amazing.
  (Incrível, incrível)

  Foi impossível não sorrir depois de ouvir aquela letra. Zayn também sorriu, sem nem ao menos parar de cantar. Eu não seria capaz de falar coisa alguma, pois mal podia pensar. Os passarinhos pareciam também ter parado de cantar para escutar àquele menino que colocava o coração em suas notas. Ele cantava e era assim que eu me sentia... Simplesmente incrível.

  
The girl’s a work of art and I can’t help but stare.
  (Essa garota é uma obra de arte e eunão consigo evitar encarar)
  Got the smile like the sunset and the ocean is her hair…
  (Tem o sorriso como o por do sol e o oceano é seu cabelo)
  What she do ain’t fair.
  (O que ea faz não é justo)
  And she know me better than I know myself.
  (E ela me conhece melhor do que eu me conheço)
  There is nothing in this world that can keep me away from you.
  (Não há nada nesse mundo que possa me manter longe de você)
  And ain’t nobody who could ever compare to you…
  (E ninguém poderia ser comparada a você)

  Parou de tocar o violão, deixando que apenas a sua voz preencher o espaço entre nós e aquele bosque. Eu não podia ter imaginado um jeito mais perfeito de encerrar aquela minha canção de aniversário. Eu devia estar próxima daqueles dias, pois era a única razão para eu estar tão sensível! Só sei que meus olhos teimaram em se encher de lágrimas, mas não permiti que elas caíssem. Tive que piscar algumas vezes para que minha visão se tornasse menos embaçada.
  - Mas como é mole! – Zayn riu do meu sentimentalismo e preferi rir junto do que chorar ou reclamar. Ele tinha razão.
  - Não tenho culpa se você tem esse efeito sobre mim! – Estirei a língua pra ele e franzi o nariz, ouvindo mais risadas. – E juro que se não estivesse no One Direction, seria um ótimo artista R&B.
  - Concordo plenamente, babe. – Sorriu torto. – Mas não seria a mesma coisa.
  - Claro que não! Estava escrito nas estrelas, vocês se juntarem... – Suspirei.
  - Sua vez de cumprir o trato, antes que comece a chorar. – Riu da minha careta que se seguiu e voltou a apoiar o violão sobre o colo. – O quer cantar?
  - You and I! – Respondi simplesmente, pois ele saberia do que eu estava falando.
  - Não sei porque ainda pergunto! – Balançou a cabeça, com seu velho sorriso sem deixar o seu rosto. – E já que estamos falando sobre isso, você seria uma cantora Indie.
  - Obrigada! – Segurei a barra do meu vestido, fazendo uma meia reverência. – Sendo assim, vamos fazer direito!
  Peguei uma pequena flor solitária na grama e a coloquei atrás da minha orelha. O que seria de uma cantora Indie sem flores no cabelo? Nadinha! Levante e fiz movimentos para que Zayn fizesse o mesmo. Ele me observava como quem diz “Tenho mesmo?” e resolveu levantar antes que eu tivesse que obrigá-lo. Olhei para e também fiz um movimento para que ele se pusesse de pé. Ou de quatro... Enfim. Zayn começou a dedilhar aquela música que eu tanto gostava e o obrigara a aprender a tocar. E com “obrigara” eu quero dizer que o comprara com beijos.
  - Don't you worry there, my honey. We might not have any money, but we've got our love to pay the bills. (Não se preocupe, meu querido, podemos não ter dinheiro, mas ainda temos nosso amor pra pagar as contas) Maybe I think you're cute and funny. Maybe I wanna do want bunnies do with you, if you know what I mean… (Talvez eu ache que você é fofo e engraçado. Talvez eu queira fazer o que coelhos fazem, com você, se é que me entende) - Voltei a segurar a barra do meu vestido, começando a cantar. Pisquei pra ele na última parte, rindo um pouco. não entendia coisa alguma, mas me seguia balançando o rabo quando dava alguns passos. - Oh lets get rich and buy our parents homes in the south of France. (Oh, vamos ficar ricos e comprar a casa de nossos pais, no sul da França) Let’s get rich and give everybody nice sweaters and teach them how to dance. (Vamos ficar ricos e dar sweaters para todo mundo e ensiná-los a dançar) Let’s get rich and build a house on a mountain making everybody look like ants from way up there, you and I, you and I… (Vamos ficar ricos e contruir uma casa no topo da montanha, fazendo todo mundo parecer formigas lá de cima. Você e eu, você eu)
  - Well you might be a bit confused and you might be a little bit bruised, but baby how we spoon like no one else. So I will help you read those books if you will soothe my worried looks. And we will put the lonesome on the shelf. (Bem, você pode ser um pouco confisa e você pode ser um pouco machucada, mas baby, como dormimos de conchinha como ninguém. Então eu te ajudarei a ler aqueles livros se você aliviar minha aparência preocupada. E colocaremos a solidão na estante)
– Foi a vez do solo de Zayn, que ria da forma que eu estava me divertindo, dançando em círculos e balançando as mãos como se fosse uma dançarina de Jazz. Ele me seguia pela grama, se mexendo de um lado para o outro. - Lets get rich and buy our parents homes in the south of France. Let’s get rich and give everybody nice sweaters and teach them how to dance…
  - Let’s get rich and build a house on a mountain making everybody look like ants from way up there… - Cantamos juntos o refrão, quase perfeitamente afinados. É, eu estava melhorando nisso. - You and I, you and I...

+++

  Nosso trajeto de volta para a casa da minha avó foi um pouco mais lento do que o de ida. Além de estarmos com preguiça de correr, cansados dos nossos “esforços” no bosque e simplesmente aproveitar o vento em nossos corpos, estava tão cansado que quase andou o processo inteiro. Ao virarmos a esquina de casa, a rua que estivera vazia mais cedo naquela mesma manhã agora estava um pouco mais cheia de carros estacionados. Alguém devia estar dando uma festa ali por perto! Achei ruim não ter sido convidada, mas teria sido tenso cantar parabéns para outra pessoa no meu próprio aniversário. Diminui ainda mais a velocidade quando pedalei até a calçada em direção ao jardim de entrada da minha avó. Zayn me seguiu, saltando de sua bike tão rápido que até me assustei. Enquanto ele soltava a cesta de piquenique quase vazia e o violão, encostando-as á parede da casa, também desci da minha e soltei a coleira de .
  - O que é isso? – Pela primeira vez percebi a trilha de balões coloridos que iam até os portões baixos que levavam até o quintal.
  - Não faço idéia... – Zayn levantou as mãos como se não tivesse nada a ver com aquilo. – Devemos fazer o que a placa manda?
  - “Siga os balões.” Acho que sim... – Li em voz alta uma plaquinha pendurada em um dos primeiros balões que voavam quase livremente.
  Um pouco desconfiada, segui a tal trilha de balões com Zayn e ao meu encalço. Rapidamente passei pela cerca branca que dividia o lado da frente com o lado de trás da casa, encontrando mais balões ainda. Àquela altura eu já estava sorrindo com as minhas teorias de o que poderia estar acontecendo. Finalmente no quintal, levei as mãos até a boca ao ver o que estava acontecendo por ali. Vários outros balões coloridos estavam cheios e presos em árvores e outros cantos mais baixos, como cadeiras e pedrinhas. Uma mesa havia sido montada no fundo e, mesmo um pouco longe, eu conseguia ver um bolo de aniversário e doces. No canto direito, Dan comandava uma churrasqueira improvisada. No esquerdo, um grupo de cinco crianças brincava no balanço de pneu amarrado ao galho mais forte da árvore mais alta. Realmente estava acontecendo uma festa de aniversário... A minha festa de aniversário.
  Todos pareceram perceber a minha chegada e pararam o que estavam fazendo. Não chegaram a gritar “SURPRESA!”, mas bateram palmas animadamente. Minha lista de convidados não podia ser melhor: Minha mãe, seu noivo e filhas, Charlotte e a sua mãe, minha avó, , meu “primo” James, seus pais, outras amigas da minha mãe que me viram crescer e alguns parentes que não eram tão presentes assim, mas deviam estar felizes ao me ver. Não era um conjunto muito grande de pessoas, mas eu me sentia a vontade com todos que estavam ali. Claro que ainda faltavam quatro garotos e uma loirinha para que os convidados estivessem perfeitos, mas entendia que Ni, Lou, Haz, Li e Liv estavam ocupados.
  - Achou mesmo que deixaríamos você fazer vinte anos sem uma festa de aniversário? – Zayn tinha as mãos nos bolsos, sorrindo orgulhoso.
  - Eu devia saber! – Ri, vendo correr na minha direção. Ela não estava mais de pijamas, então era um avanço.
  - A idéia foi minha! – A ruiva pulou nos meus braços, quase me derrubando. – Gostou? Quero te mostrar tudo... Essa foi a primeira festa que eu organizei, então estou muito orgulhosa. Ah, quase esqueci! Aqui.
  - Outch, ! – Reclamei quando ela arrancou o chapéu da minha cabeça e o entregou para Zayn. Em seguida, colocou outro chapéu um pouco mais colorido em meus cabelos.
  - O que seria de uma festa de aniversário sem um chapéu de aniversário?! – A baixinha comemorou. – Agora vem, porque tenho muitas coisas pra te mostrar...   - , não acha que ela devia falar com os convidados primeiro? – Zayn se intrometeu, fazendo a menina resmungar algo inescutável.
  - Porque não vai colocar pra dentro e guardar as coisas que vocês levaram no piquenique? – Foi meio rude, mas Zayn já devia estar acostumado.
  - Se ela te maltratar, dê um grito. – Beijou o topo da minha cabeça e mostrou a língua para .
  - Pode deixar... – Ri, olhando a minha mãe acenar para que eu fosse até ela. – , não quero ser chata...
  - A CÂMERA! EU JÁ VOLTO!
  Alguém deu café pra essa menina? Ou talvez tequila, porque o pulo que ela deu seguido por uma correria para dentro de casa, não era normal. Ao menos a minha amiga estava feliz. Aproveitei aquele momento que fui deixada sozinha para poder ir cumprimentar os meu convidados, pois Zayn estava certo. Primeiro fui até a minha mãe, que me abraçou com força e desejou todas aquelas coisas que mães desejam para as suas filhas nessas datas especiais. Em seguida, fui até Dan, que conseguiu me usurpar um pedacinho de carne, mesmo que ainda não estivesse na hora da refeição ser servida. Phoebe e Daisy também me abraçaram e eu me tornava cada vez mais encantada pela educação daquelas duas meninas. Minha avó veio logo em seguida, falando que o presente dela estava junto com os outros que eu recebera, então mais tarde poderíamos abrir todos. Meu lado curioso me obrigou a procurar com os olhos a mesa redonda onde uma pequena montanha de presentes esperava por mim.
  Meu primo de segundo grau James também veio me abraçar e desejar feliz aniversário. Ele estava mais alto do que eu me lembrava e a sua altura passava até mesmo da minha. Qual o problema desses meninos mais novos que inventam de ficar mais altos que nós? A puberdade o fez muito bem, tenho que admitir. Seus cabelos estavam mais compridos que o tamanho considerado normal para um garoto, mas não chegava a tocar seus ombros. Seus olhos tinham uma mistura de verde com âmbar, o que o deixava muito charmoso. Nunca nos demos muito bem enquanto crescíamos, mas naquele dia ele parecia ter deixado para trás tudo que tinha contra mim. Cumprimentei seus pais em seguida, passando para outros e outros e outros convidados, até que minhas bochechas estivessem cansadas de tanto sorrir e meus braços quase não suportassem mais abraçar pessoa alguma.
   já retornara com a câmera fotográfica e começou a capturar vários momentos daquela festa surpresa de aniversário. Não apenas enquanto eu cumprimentava um ou outro, mas também quando estava sozinha, andando por aí. Ela devia estar brincando de fotógrafa, era a única explicação! Aproveitando que estava tendo um pouco de paz, reparei na decoração. Tudo era muito colorido, mas incrivelmente combinando. Os balões tinham cores vivas e brilhavam com os raios do Sol, a toalha da mesa do bolo era de um tom azul claro e o bolo cor de rosa, coberto por chantilly desenhado como se fosse botões de rosas. Algumas balas de goma – como dentaduras, ursinhos de gelatina, minhocas azedinhas e etc - estavam distribuídas em potinhos que pareciam agradar todas as crianças.
  Na ponta dessa mesa, alguns jarros de geléia estavam cheios com um líquido rosa e gelo. Muito tentada a descobrir que bebida era aquela, peguei um jarro pra mim e dei um primeiro gole no canudo. “Limonada cor-de-rosa! Eu devia saber.” Sorri ao fechar os olhos, bebendo mais alguns goles daquela bebida adocicada. Tinha o mesmo gosto que eu me lembrava! Gosto de infância.
   Olhei em volta, procurando o meu próximo destino. Charlotte acenava freneticamente em uma mesa mais afastada e me perguntei se ela tinha algo importante para me contar ou se só queria me dar os parabéns. Para ter a resposta daquela pergunta, comecei a caminhar até a minha prima. mais uma vez sumira, mas não dei muita importância.
  - Gostando da festa? – Lottie levantou, me abraçando. – Feliz aniversário, !
  - Obrigada, Lottie! – Sorri aliviada por nosso abraço não ter durado tanto e pude me sentar com ela. – Você já sabia disso?
  - me contou após você deixar o brunch... Também soube das surpresas de Zayn na Pont des Arts. – Roubou um gole da minha limonada. – Ainda não o conheço, mas preciso dizer que estou com inveja! Inveja boa, é claro.
  - Ele é um namorado perfeito. – Suspirei, espiando o que ela tinha em cima daquela mesa. – Essa é a nova edição da Elle?
  - É sim! Eu a comprei assim que cheguei aqui. E era disso que eu estava te falando... – Começou a folhear as páginas na revista como se procurasse algo. Fiquei ali sem entender nada, apenas esperando.
  - Achei vocês! – se juntou à nossa mesa, deixando a sua câmera de lado por uns instantes. – O que estamos vendo?
  - Estou procurando... Aqui! – Empurrou a revista aberta na minha direção. – Eu disse que você estava em uma revista! E não qualquer revista...
  - Se importariam de traduzir? – pediu, mas eu estava surpresa demais pra lembrar como passar o idioma francês para o inglês.
  Puxei aquela revista para a minha frente, tentando entender o que eu estava fazendo na última edição da Elle Paris. Já tinha aparecido em algumas revistas inglesas menores, geralmente em notas curtas ou fotos de rodapé que Carine tinha dado um jeitinho de me inserir. Mas duas páginas? Em uma revista tão grande quanto a Elle? Essa era a primeira vez. Havia várias fotos minhas por ali, em diferentes ocasiões. É claro que eu me lembrava de cada uma delas, sendo que a maioria era em desfiles de lançamento de coleções, mas também vi outras onde eu simplesmente andava pelas ruas de Londres; fosse saindo de uma Starbucks ou atravessando a rua para chegar ao prédio de . Claro que em todas elas eu vestia ao menos uma peça da Mulberry, mas algo que dizia que dessa vez Carine não teve que pagar ninguém para me promover/promover a sua marca.
  - “Radar Londres.” – Lottie começou a traduzir para , lendo o título daquela matéria. – É uma parte da revista onde fazem tipo um resumo do mês sobre o que tem sido tendência em outras partes do mundo, sabe? Tem o Radar Londres, Nova York, Rio de Janeiro, Milão... Geralmente não passam de uma página só, mas dessa vez Londres ficou com duas.
  - ficou com duas! – quase subiu em cima de mim pra ver as fotos mais de perto. – Uau, você sabe que eu amo todas as suas roupas, mas essas aqui... Lottie, pode traduzir isso aqui? Acho que a morreu.
  - Claro... – Também se espremeu ao meu lado para ler o pequeno trecho que apontara na página da revista. – “Você conhece essa garota?” é o titulo... Uh... “É impossível não ficar de boca aberta com a moda diversificada que se encontra nas ruas de Londres, mas recentemente uma garota tem chamado a atenção dos fashionistas. O que ela tem de tão especial? Não se sabe, mas ficou claro que a nossa “menina misteriosa” tem em mente qual é o seu estilo, desfilando por aí com peças-desejo da Mulberry; a marca debute de Carine Roitfeld.”
  - Até que faz sentido... – Finalmente falei algo, mas foi mais um pensamento alto. As duas meninas me encararam como se esperassem alguma explicação maior que aquela. – É da Elle que estamos falando... Quem é a inimiga número um dessa revista? A Vogue!
  - Porque ela está falando isso como se devêssemos saber de algo? – perguntou para Lottie, mas rolei os olhos.
  - Carine trabalhava na Vogue Paris antes de ir pra Londres, , eu já te contei isso. Agora quem está trabalhando lá é a Emmanuelle Alt. – Voltei a explicar, tentando fazer com que as duas seguissem o meu raciocínio. – O que seria uma provocação maior para a Vogue do que ter a sua ex editora chefe sendo promovida na sua maior concorrente? Eles provavelmente só estavam procurando alguém que usasse a marca. Sinceramente, quem usa mais Mulberry do que eu?
  - Como você sabe de tudo isso? – parecia espantada com o meu conhecimento do assunto. – Também leio revistas de moda, mas nunca teria captado isso.
  - Se importa se eu ficar com essa revista? – Pedi para Lottie, ignorando .
  - Claro que não! É sua.

+++

  A minha festa de aniversário de vinte anos foi um sucesso! Mesmo se eu soubesse dela e tivesse planejado, não teria sido tão divertida. Eu estava errada em não querer uma festa de aniversário e devia agradecer eternamente á e minha avó por terem feito tudo por baixo dos panos. Sem falar de Zayn, que me distraiu perfeitamente durante a manhã, me mantendo fora de casa enquanto a festa era montada. O churrasco de Dan durou até o começo da noite, servindo de almoço, lanche e jantar. Os docinhos também se foram, mas tenho certeza que vi surrupiando alguns aqui ou ali. Adorei ter passado o dia com a minha família e meus dois melhores amigos no mundo todo! Claro, sem falar dos presentes...
  Ah, os presentes! Nesse exato momento o meu quarto estava mais coberto por papeis de embalagem do que qualquer outra coisa. Eu até que tentei abri-los calmamente, mas mesmo que o embrulho sobrevivesse às minhas mãos desesperadas, os atacava assim que tinha a primeira oportunidade. Os outros três ocupantes daquela casa também assistiam enquanto a minha criança interior se revelava para ver todas as coisas legais que ganhei. Lottie tinha que me dar algo relacionado á moda, então trouxe uma bolsa diretamente da Alemanha. Minha mãe me deu uma carteira nova e seu noivo um perfume. James me presenteou com uma cestinha de sais naturais para banho, Viv, a amiga de minha mãe, um conjunto de colar e brincos. Fora isso, ganhei algumas blusas, vestidos, maquiagem e essas coisas que damos para qualquer menina quando não somos tão íntimos para pensar em um presente mais elaborado.
  O presente que mais “aqueceu o meu coração”, digamos assim, foi o de nana. Ela encontrara uma boneca de porcelana que costumava ser minha e mandou restaurá-la para que ficasse novinha em folha! Seu vestidinho azul agora estava limpo e rebordado, seus cachos loiros perfeitamente penteados e os braços não estavam mais quebrados como antes. Sinceramente amei ter revivido minhas lembranças com aquela boneca que com toda certeza iria para a minha prateleira em Londres, onde ficaria segura de crianças tão desastradas quanto eu fui um dia.
  Assim que todos os meus presentes estavam abertos e eu parecia não ter mais nada pra fazer, meu celular começou a tocar. Nana saiu do quarto, talvez para me dar mais privacidade, e começou a estudar as minhas roupas novas; torcendo para que alguma coubesse nela. Zayn, por outro lado, não se mexeu. Continuou na ponta da cama, me observando procurar o aparelho desesperada. É, eu devia ter deixado-o na mesinha de cabeceira e não no meio de todos esses papeis de embrulho! Louis, Harry, Liam e Niall já haviam ligado para me parabenizar, então devo ter “perdido” o iPhone durante a confusão que eles criaram. Os quatro devem ter combinado em ligar no mesmo horário só pra me deixarem maluca! Finalmente agarrei o objeto que vibrava e atendi a ligação antes mesmo de ver quem era.
  - Ellô... – Àquela altura eu já não sabia mais se falava francês ou inglês.
  - Happy birthday to you. Happy birthday to youuu... – Quatro vozes começaram a cantar juntas, mas um menino fazia cada coisa diferente. Danny ria mais do que tudo, Dougie afinava a voz e puxava um coro, Harry tentava ser normal e Tom, como sempre, parecia comandar a harmonia. – Happy birthday, dear ... Happy birthday... To... YooooUUUUuUuUuUUUUUU.
  - Ai, meu Deus, o que é isso?! – Ri, sentindo o meu coração disparar. Não é todo dia que a sua banda preferida canta parabéns no seu aniversário! – Obrigada!
  - Você está no speaker, . – Tom avisou.
  - Oi, meninos... – Os saudei; meu sorriso deixando Zayn curioso e enciumado.
  - OI, . – Harry Judd gritou.
  - E AÍ, PEQUENA? – Danny Jones o acompanhou.
  - RAAAAAAWR. – É claro que Dougie Poynter tinha que fazer algo estranho.
  - Estamos te ligando pra desejar um feliz aniversário, já que você não está aqui pra receber seu presente. – Tom anunciou, agindo como o mais adulto dos quatro.
  - Obrigada! Mas não precisavam se incomodar... – Era verdade, mas já fiquei mega curiosa.
  - Na verdade, é um presente só de nós quatro, mas acho que vai gostar muito. – Harry explicou.
  - Não crie muita expectativa, porque não é um lagarto. – Dougs parecia desapontado. – Eles não deixaram...   - Não tem problema, pessoal, sério. – Ri, imaginando o bico do mais novo.
  - Gi também tem um presente pra você, . – O marido da minha amiga voltou a falar.
  - Só aceito se for uma cópia autografada de Billy & Me.
  - Tudo bem, ela tem dois presentes pra você. – A risada que Tom deu foi tão gostosa que me peguei pensando em sua covinha. – Agora que os losers já falaram com você, vou te tirar do viva-voz, ok?
  - Tudo bem, Tom. – A pronuncia daquele nome fez Zayn descobrir quem era e fazer cara de nojo. Os dois eram amigos, mas nós podíamos ficar conversando por horas, o que não agradava meu namorado. – TCHAU, MENINOS...
  - TCHAU, . WE LOVE YOU. VOLTA LOGO! SAUDADES! – Os três gritaram ao mesmo tempo, quase me deixando confusa. Se não tivesse passado anos da minha vida estudando as suas vozes, não teria reconhecido quem falou o que.
  - Pra você ver as coisas que eu tenho que agüentar. – Apenas Tom falava comigo agora. Eu amava Danny, Harry e Dougie, mas era com aquele jedi loiro que eu realmente me entendia.
  - Você ama esses idiotas, Tom. – Gargalhei. Como não amá-los? – Queria falar a sós comigo?
  - Mais ou menos. Quando você e os outros meninos voltam pra Londres?
  - O casamento da minha mãe acaba no domingo, então todos voltaremos na segunda, se tudo der certo. Não se preocupe, estarei aí para o seu aniversário!
  - Era sobre isso mesmo que eu queria falar! Farei uma festa aqui em casa, mas só vai ser na sexta-feira... Quando você voltar conversamos sobre os detalhes.
  - Ótimo! Está combinado. – Já fui aceitando o convite. Zayn rolou os olhos e fingiu vomitar, me fazendo segurar o riso. Não agüentando ficar por lá, acabou levantando e indo para o quarto do outro lado do corredor.
  - Também tenho um favor pra te pedir. Não é bem pra mim, e sim pra minha irmã... Mas também conversamos sobre isso quando estivermos no mesmo país.
  - Carrie quer um favor meu? Devo ficar preocupada?
  - Se tratando dela... Bem, sim. – Riu. – Mas eu te protejo, se for preciso.
  - Mister covinha, ao resgate! – Tente imitar uma voz de narrador de desenho animado, mas isso também não deu certo.
  - Sempre, super . Mais uma vez, feliz aniversário! Você merece.
  - Obrigada, Tom. Espero te ver logo.

    

Chapter XIII

Naquela sexta-feira eu acordei cedo... Provavelmente cedo demais. Era o dia em que o casamento da minha mãe começaria, então antes do meio dia todos deveríamos estar na estrada, mas ainda tinha uma coisa que eu precisava fazer em Paris. Antes de mais nada, deixe-me explicar as etapas que do casamento que me levara até aquele país. Para resumir, a minha mãe queria que fosse um verdadeiro conto de fadas. Já que se casou às pressas com o meu pai – principalmente por causa do bebê em sua barriga – ela nunca teve aquele casamento que todas as mulheres sonham em ter. Dan estava disposto a mudar isso, então o que seria melhor que um casamento em um castelo? Talvez um casamento em dois castelos, mas isso não vem ao caso. Há mais ou menos uma hora de Paris e antes de Versalhes havia este Chateau que um dia fora um castelo de verdade, mas hoje em dia servia de hotel. Como se não fosse o bastante, meu futuro padrasto reservou todos os hectares para o casamento; então eu, meus amigos e os familiares dos noivos poderiam desfrutar de todo esse luxo pelo final de semana inteiro!
  O primeiro dia seria cheio de atividades ao ar livre, com muita liberdade para todos os primeiros convidados chegarem e se acomodarem em uma das sessenta e três suítes disponíveis, e a noite o “Jantar de ensaio” seria a primeira celeridade que envolveria o casamento. A cerimônia em si aconteceria no sábado ao fim da tarde e em seguida a recepção. Por último, teríamos o domingo para nos recuperar da possível ressaca e os noivos partiriam para a sua Lua de Mel. Particularmente invejei aquela parte, já que minha mãe e Dan estariam indo passar uma semana em Santorini, na Grécia. Tudo seria perfeito e eu tinha certeza disso. Minha avó devia ter partido com Jay, seu noivo e as gêmeas, quando Zayn, , e eu iríamos no carro que agora era dela. Niall, Liam, Louis e Harry iriam até Esclimont no ônibus destinado a levar não só eles, mas também o resto dos familiares e amigos íntimos dos donos da festa. Mesmo assim, só deveriam chegar no fim do dia.
  Voltando ao assunto, eu não podia deixar a minha cidade sem fazer uma visita ao meu avô. Mesmo que em um cemitério, me senti bem em prestar aquela homenagem. Levei peônias até o seu túmulo que já estava completamente coberto pela grama mais verde que a do meu próprio jardim. Conversamos e trocamos segredos, mesmo que eu não obtivesse resposta alguma. Contei de tudo que estava acontecendo e pedi para que ele assistisse o casamento de sua filha. Seria difícil para a minha mãe estar no altar sem ele, mas eu torcia para que a presença de papá pudesse ser sentida por ela.
  Preferi ir até lá de taxi, devido às poucas horas do dia, porém retornei para casa de metrô. Teria ido de carro, mas preferi deixá-lo lá para o caso de Zayn e começarem a guardar as malas que arrumamos na noite anterior. Nenhum de nós levaria a mesma quantidade de coisas que trouxemos, por isso nossa bagagem estava relativamente menor do que a original; principalmente a de , se é que me entende. Prova de que fiz a escolha certa é que quando dobrei a esquina a pé encontrei meus dois amigos arrumando o veículo para que pudéssemos sair. Pelos seus sorrisos, deveriam ter tomado café da manhã. Acredite, o único jeito de colocar um bom humor naquelas duas criaturas pela manhã é dando comida para os dois. Eu particularmente não comera nada, mas também não sentia fome. Ok, talvez um pouco de fome. Ainda pretendia caber no meu vestido de madrinha de casamento e tinha certeza que engordara algumas gramas desde o meu aniversário.
  - Olha quem chegou! – apenas acenou, fechando a porta do motorista depois de verificar se tudo estava às ordens.
  - Está tudo pronto? – Sorri acariciando a cabeça do cachorro que veio me cumprimentar.
  - Quase. – Zayn parecia tão feliz ao fechar o porta-malas que quase questionei se ele aprontava algo. – Só tem mais uma coisa que falta guardar. Acho que está no sofá da sala, pode ir buscar, por favor?
  - Posso sim. Aproveito e pego a minha bolsa... – Afirmei, deixando me seguir. – Baby, você vai dirigindo?
  - Yep, sua avó me deu um mapa com o endereço. – Encostou no carro enquanto eu atravessava o jardim de entrada. – Mas qualquer coisa temos a Siri.
  - Quem é Siri?
   não entendeu o que ele disse e muito menos porque eu comecei a rir da nossa piadinha interna. Os dois ficaram para trás enquanto eu abria a porta destrancada. “Tenho que lembrar de fechar e levar a chave!” Bem lembrado. Dei uma espiada na cozinha, averiguando se tudo estava desligado e no lugar. Não seria legal viajarmos e encontrar a casa pegando fogo ao retornar. “Tudo ok por aqui...” Onde estava mesmo o que eu tinha que levar para o carro? No sofá! Segui distraída para a sala de estar e pareceu perder o interesse em mim, pois correu para o lado de fora. Por sorte, ele estava comportado e não saía correndo por aí como fazia quando era menor. Dei uma boa olhada no sofá e quase gritei de susto ao ver a figura sentada sobre ele.
  - LEEYUM! – Arregalei os olhos enquanto ele se levantava. Não perdi mais tempo e corri até pular em seus braços. Estava de vestido, mas quem se importava?
  - Pequena! – Parecia igualmente feliz em me ver e me deu o apoio que eu precisava para dobrar os joelhos e tirar os pés do chão. – Senti sua falta, !
  - Eu também senti, baba! O que você está fazendo aqui? Quando chegou? Os outros meninos estão aqui? – Não quis soltar ele de jeito nenhum, mesmo já pisando no chão.
  - Ah, então só a minha presença não é o suficiente pra você? – Me soltou de uma vez como se estivesse ofendido.
  - É claro que é, não seja besta. – Segurei em sua mão, ainda sorrindo. Uma semana sem vê-lo era demais pra mim.
  - Cheguei faz uma meia hora... Zayn e também não sabiam que eu viria. Fiz uma surpresa e Lou me deu o endereço pra que eu não me perdesse. – Explicou e fazia bastante sentido. – Os outros vão direto para o hotel, mas ainda devem demorar.
  - Entendi... E como foi em Wolverhampton? Dani está bem? E seus pais? – Teria continuado a bombardeá-lo de perguntas se alguém não tivesse buzinando do lado de fora.
  - Acho que temos que ir. – Me entregou a minha bolsa que estava no braço do sofá. – E eu vou contar como foi tudo, não se preocupe.
  - Pode acreditar que vai!
  Nos abraçamos de lado, podendo sair da casa. Não esqueci de trancar tudo e guardar a chave na bolsa que pendurei em meu ombro. Liam ora beijava o meu rosto, ora me apertava em seus braços. Nós dois sempre fomos muito unidos e íntimos, mas agora que ele não tinha mais nenhum sentimento mal resolvido para com a minha pessoa, nós nos tornamos ainda melhores amigos do que antes. Eu não tinha mais medo de passar a idéia errada pra ele e ele não dava indiretas que me deixavam tímida. Ou algo perto disso. Zayn, e já estavam dentro do carro, apenas nos esperando pra partir. Meu namorado estava no assento do motorista e a ruiva e o cachorro iam no banco de trás. Liam e eu também ocupamos nossos lugares, sendo que ele se juntou à menina e ao filhote enquanto meu lugar por direito era ao lado do meu namorado.
  Não perdemos mais nenhum segundo e o motorista deu partida no carro. Roadtrip, aqui vamos nós! Zayn dirigia extremamente bem, levando em consideração que não estava acostumado com o volante no lado esquerdo do carro. Liam começou a comentar sobre a sua viagem e como sentia falta de casa e dos seus pais, incluindo o quanto todos se deram bem com Danielle, mas eu quase não prestei atenção. Meus olhos estavam presos nos movimentos que o meu homem fazia ao mudar a marcha do carro ou girar o volante. Ele mal percebia que eu o encarava e isso o deixava ainda mais bonito. Seu sorriso natural por estar achando graça das coisas que seu melhor amigo falava, o movimento constante de sua língua umedecendo os lábios quando se concentrava para fazer uma curva... Era simplesmente de perder o ar.
  - , quer um babador? – estava sentada no banco atrás de Zayn, por isso devia estar me vendo quando quase me afoguei em minha própria baba.
  - Não, obrigada. Eu estou bem. – Rolei os olhos um pouco tímida por ter sido flagrada, mas sorri quando Zayn entendeu o que tinha acontecido. Para encontrar algo pra fazer e disfarçar, comecei a abrir todos os vidros do carro. – Sou a única que está com calor?
  - Não mesmo. Pode abrir tudo! – Liam concordou comigo, já colocando a cabeça para fora da janela.
  - Não dê uma idéia para , porque ele é bem capaz de cair do lado de fora. – Zayn gargalhou, olhando algo pelo retrovisor.
  - Sabe o que está faltando aqui? – perguntou, mas senti que o fez retoricamente. Me virei para fitá-la. – Música!
  - Quer que eu ligue o rádio?
  - Não precisa, . Tenho algo melhor! – Entregou-me uma caixa transparente de CD.
  - “Músicas para escutar na estrada.” – Li o título escrito no CD com marcador preto. – Yay, nossa própria trilha sonora!
  - Dani não pode mesmo vir com a gente? – Zayn se referia ao amigo e eu colocava o disco no aparelho do carro.
  - Ela queria, mas tinha trabalho. Vão começar os ensaios para a nova turnê que ela vai participar. – Chegou mais pra frente quando falou e encostou a cabeça no meu banco. – , ela disse que Josh tem perguntado por você.
  - Josh? Quem é Josh? – O menino ao meu lado quase rosnou, passando a prestar mais atenção em mim do que na rua. O CD carregava, por isso não tocava ainda. Carro antigo é assim mesmo.
  - Josh? – Eu mesma demorei um pouco para me lembrar de quem estavam falando. – Josh! O da festa, né? Uau, faz tempo...
  - , que festa? E que porra de Josh? – Meu namorado começava a se irritar.
  - É um amigo da Dani, babe. Você lembra dele! O conheceu no Open Mic quando cantei com Ed... – Confesso que achei aquele ciúme todo bem divertido.
  - Não gosto de lembrar daquela época, mas acho que lembro sim. – Pareceu relaxar minimamente, mas eu também não gostava de lembrar de quando nós dois terminamos. – É o urubu.
  - Urubu? – gargalhou. – Eu quase havia me esquecido desse apelido!
  - Hey, ele não é nenhum urubu, ok?
  Preferi não defendê-lo muito, pois o olhar repreendedor que recebi de Zayn foi tudo menos amigável. Para melhorar os ânimos, o CD finalmente começou a rodar e a primeira música começou a tocar. Reconheci como sendo C’mon da Ke$ha e torci para que todas as tracks fossem tão animadas quanto aquela, pois a estrada pode ser bem entediante de vez em quando e eu prometera à Zayn que não iria dormir dessa vez. Levamos dez minutos para sair da cidade e chegar à rodovia. Não era tarde e nem cedo demais, então aquele caminho com poucas curvas estava bem vazio, permitindo ao motorista aumentar a velocidade até 170 km por hora.
  - Ei, Little Mix! – Zayn apontou comentou assim que a nova música começou a tocar.
  - Quem? – Estava distraída tirando os sapatos que nem dei muita importância.
  - As ganhadoras do X Factor, . Aquela banda de quatro meninas... – Liam tentou me ajudar, mas não conseguia formar uma imagem de nenhuma delas na minha cabeça.
  - A banda daquela loira que deu em cima do Zayn. – Aquela simples informação dada pela minha amiga fez tudo se encaixar.
  - Ah, claro. – Foi a minha vez de encará-lo.
  - Perrie não deu em cima de mim, ! – Sorria quase satisfeito, sem nem me olhar. Eu sentia que ele estava orgulhoso por ter virado o jogo.
  - Ah, então a loira tem um nome? – Fui irônica, quase fazendo careta.
  - Não tem nada de mais, ... E elas são boas.
  - Seu gosto musical já foi melhor, Malik. – Sem esperar mais nenhum refrão, mudei de música. Não teria que ficar agüentando aquilo!
  - É bom, né? – Só ele e eu falávamos, já que os dois do banco de trás assistiam nossa “discussão”. Cometi o erro de olhá-lo e vi seu sorriso travesso.
  - Cala a boca.
   Eu sabia que ele estava brincando, por isso não cheguei a dar um piti de ciúmes, mas ainda preferia quando eu estava na frente do jogo. Uma música qualquer da Selena Gomez substituiu a antiga e comecei a relaxar. Nós quatro ficamos apenas escutando a melodia e aproveitando a viagem. Encostei no banco e apoiei os pés no painel na minha frente. O vento que entrava por todas as direções bagunçava os meus cabelos, mas realmente não me importava. Senti a mão de Zayn acariciando a minha coxa e o olhei meio desconfiada. O sorriso impecável em seus lábios me dizia tudo que eu precisava saber: “Eu sou seu, .”

+++

  “Eu, com toda certeza, poderia me acostumar a morar em um lugar assim!” Pensava pela quinta vez, deixando a minha bolsa em cima da espreguiçadeira. Havíamos chegado ao Chateau havia pouco mais de meia hora e eu já estava encantada com tudo. Sinceramente parecia um castelo de contos de fadas, ou mais. A área de lazer era simplesmente gigantesca e o interior do lugar não ficava muito longe disso. Claro que não tive tempo de conhecer todos os quartos ou salas, restaurantes, salões de baile e etc, mas os poucos lugares que vi já me deixaram de queijo caído. Tetos altos, detalhes em ouro, lustres esplendorosos, banheiros maiores que o meu próprio quarto... Era tudo um sonho. O quarto em que Zayn e eu ficaríamos foi o meu preferido, mas chegaremos a essa parte mais tarde.
  Fomos uns dos primeiros a chegar e minha mãe estava simplesmente radiante. Ela ainda estava em uma reunião com a organizadora do casamento, mas pudemos nos cumprimentar durante uns cinco minutos. Não havia sinal de Dan ou suas filhas, mas a minha avó já estava na cozinha, conversando com o chef que faria as nossas refeições e eu tinha certeza que ela estava tentando conseguir alguma receita nova.
  Enquanto Liam e Zayn rumaram para a academia na esperança de fazer algo mais másculo, minha pequena ruiva e eu fomos para a piscina. Aquele lugar conseguia ser maior do que a área do hotel que ficamos em Los Angeles. A água azul era um convite e tanto, ainda mais em um dia tão quente quanto aquele. Várias espreguiçadeiras rodeavam as bordas da piscina e uma cascata fazia algumas ondas baixas na sua superfície inteira. Por mais que gostasse da companhia dos outros dois, precisava de um tempo a sós com a minha melhor amiga.
   ocupou a cadeira ao meu lado e foi logo tirando a sua roupa e começando a passar bronzeador. Ela ainda estava branca como um fantasma, mas a minha pele continuava um pouco bronzeada. Por essa razão, a imitei, mas passei protetor solar ao invés daquele produto. Não conseguia ver quase ninguém a nossa volta; as únicas exceções eram os funcionários que passavam de um lado para o outro ao longe, mas nenhum parecia prestar atenção nas duas jovens que aproveitavam o verão. Aliás, também parecia curtir o sol, pois ele lodo deitou no chão e virou de barriga para cima.
  - É isso que eu chamo de verão! – arrumou os óculos sobre a ponte do nariz e deitou na sua cadeira.
  - Achei que iria passar um bom tempo sem ver uma piscina, mas creio que estou errada. – Comentei distraída, espalhando o creme branco em meus ombros. – Você devia ter ido pra LA comigo, ... Foi incrível.
  - Imagino que tenha sido. – Ela sorria, mas eu a conhecia melhor que isso. – Quem sabe na próxima? Porque pelo jeito que você fala, vai ter próxima!
  - É claro que vai! – Meu sorriso foi um pouco mais verdadeiro. Peguei a toalha branca que ganhara de um funcionário e a estiquei na minha espreguiçadeira, só então me deitando. – E como vai o Ben?
  - Não sei... Tenho ignorado as suas ligações. – Estava de óculos escuros, mas eu podia jurar que ela rolara os olhos.
  - Eu não entendo, ... Como você pode estar com um cara que, quando ele liga ou faz algum esforço pra falar com você, é ignorado. – Comentei calmamente. Sabia onde queria chegar com aquele assunto, mas não podia falar de uma vez. – É como se você só estivesse com ele por causa da parte física.
  - E é. – Admitiu mais rápido do que pensei e acabei olhando-a impressionada. – Não quero me envolver com mais ninguém, sabe, ? Só quero curtir... Se apegar é para os fracos. Sem ofensas, claro.
  - Não ofendeu. – Forcei um sorriso, me virando para a minha bolsa e pegando a revista que deixara ali dentro. – Mas você não sente falta de poder contar com alguém? Saber que você não está sozinha e que alguém se importa com você?
  - Eu tenho você, não?
  - É claro que sim! Você tem a mim e à Liv e sempre vai ter. – Folheei a revista, sabendo que ela não queria sentir o meu olhar agora. – Mas é diferente, não? Porque eu tenho o Zayn e Liv pode arrumar um namorado... Logo você pode...
  - Ficar sozinha? Ser abandonada? É isso o que você está dizendo? – Depois disso eu tive que mudar a minha direção de olhar.
  - Não, tonta. Eu ia falar que você pode ter necessidades que nem eu e nem ela podemos suprir. – Expliquei, mas ela tentou me interromper de novo. – E eu não estou falando de sexo!
  - Onde você quer chegar com isso?
  - O que estou tentando dizer é que... – Parei por um momento, estudando-a com as minhas orbes. Por mais que estivesse curiosa e chateada com o término sem explicação do namoro dela com o meu irlandês preferido, não era legal ficar questionando sobre esse assunto. Por esse motivo, mudei meu discurso. – Quero que saiba que eu sempre vou estar ao seu lado. Seja pra conversar, rir, chorar ou até pra achar um novo namorado. Eu só quero que você seja feliz.
  - Obrigada, ... – Agora sim ela sorriu de verdade.
  Fomos interrompidas por uma moça fardada formalmente que carregava uma bandeja de prata. Ela se apresentou como Allie e entregou um copo para mim e outro para , ambos cheios com um líquido avermelhado e algumas pedras de gelo. Também nos informou que se quiséssemos comer ou beber qualquer outra coisa devíamos apenas chamá-la. Claro que ela falou tudo em francês e, assim que foi embora, traduzi tudo para a minha amiga. Naquela altura comecei a questionar a possibilidade de dar a ela um dicionário inglês-francês. Mexi o que acreditei ser um suco pelo canudo e dei o primeiro gole. “Cranberry!” Sim, era um suco! E dos mais gostosos, diga-se de passagem. Enquanto eu apenas folheava a revista em meu colo e bebericava de meu suco, tirava fotos de sua bebida, suas pernas ou sua amiga; no caso, eu!
  - Ainda lendo essa revista? – esticou o pescoço na minha direção. – Você já deve ter decorado todas as matérias!
  - Elle é uma revista muito boa. – A respondi após mais um longo gole no suco. – E estou estudando.
  - Estudando? Ok, que escola é essa, porque quero mudar!
  - Estudando sim, ! Tenho uma reunião com a equipe da Mulberry nas próximas semanas, então tenho que estar a par das novidades.
  - Mas seu trabalho não é só estar bonita e desfilar por aí com as roupas que ganha? – Quis saber enquanto mordia seu canudinho. – Não precisa “estudar” pra isso.
  - Sei disso, mas gosto de dar opiniões. Não posso fazer isso se não souber do que estou falando, né? – Dei de ombros, parando um pouco para ler um comentário de Dominique Forest.
  - Acho que sim. – Mexia no celular, provavelmente vendo quantos likes suas fotos ganhavam no Instagram. – Como são essas reuniões?
  - Sabe aquelas cenas de filme onde uma sala de vidro com uma mesa comprida no centro está cheia por pessoas de paletó? – Tentei criar um cenário e a esperei assentir para poder continuar. – É tipo isso. A Carine dá as idéias que tem e pergunta o que os outros acham... O problema é que todos parecem ter medo dela. Como eu não tenho, acabo sendo escutada.
  - Você cresceu. – Soltou de uma vez. Tive que me virar pra ela e ter certeza de que ainda falava comigo.
  - Hã? – Ri, ainda sem entender.
  - É... Você não é mais aquela menininha que não sabia o caminho pra sala na Academy. – suspirou. – Agora é uma mulher que aparece em revistas como um ícone fashion, vai a reuniões e realmente sabe do que está falando... Você é uma adulta!
  - Eu ainda sou a mesma, boba! – Acabei sorrindo com o que ouvi. Ainda era a mesma, mas ela tinha razão. Eu cresci.
  Uma música animada qualquer começou a tocar, nos fazendo olhar em volta. Pelo relógio em meu próprio celular, passava das onze horas da manhã. O som vinha de umas caixas de som penduradas nos postes de luz que rodeavam aquela área. Minha mãe devia ter saído de sua conferência com a organizadora e pedira para que a festa começasse. Ela sabia que e eu estávamos ali, então também devia ter sido a responsável pelas nossas bebidas. Deixei a minha revista de lado, voltando a me concentrar em meus pensamentos. Dei alguns goles longos no meu suco que começava a ficar aguado devido ao gelo derretido. Suspirei fundo, olhando para a água brilhando na minha frente, mas sem dar muita atenção assim.   - Cheguei, bitches! – Uma loira limpou a garganta e parou na nossa frente, cruzando os braços e sorrindo como se fosse a manhã de natal.
  - OLIVIA! – Fui a primeira a reconhecê-la.
  - AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – soltou um daqueles gritinhos agudos que meninas de quinze anos dominam.
  - EU SEEEEEEEEEEEEEEEEI! – Liv gritou de volta. – Não ganho um abraço?
  Com aquela pergunta, tanto quanto eu levantamos ao mesmo tempo e corremos em sua direção. Tudo aconteceu calmamente, só que não. A mais baixa não teve cuidado algum ao pular em cima de Liv, então nós três acabamos perdendo o equilíbrio completamente. Como resultado, fizemos um tremendo SPLASH ao cair na água. Mesmo assim, não nos soltamos até ficarmos sem ar. Ao subir para a superfície em busca de oxiênio, comecei a rir, querendo matar a menor por ser tão desajeitada. Pelo menos estávamos bem. Menos as roupas de Liv, que ficaram encharcadas instantaneamente. A menina era tão pacifica que nem reclamou por causa daquela recepção um tanto agitada.
  - Também senti a alta de vocês, meninas! – Liv ainda sorria, começando a se dirigir para a borda da piscina. – Sabe quem também não via a hora de chegar? Harry e Louis!
  - ELES ESTÃO AQUI? – Foi a minha vez de gritar como uma adolescente. É claro que eles deviam ter chegado!
  - Acho que são eles vindo pra cá... – apontou para um ponto mais afastado. Como tudo ali era longe das outras coisas, tive que apertar os olhos para enxergar os dois meninos que caminhavam de mãos dadas pela grama, na nossa direção.
  - BOO BEAR E CUPCAKE! – Gritei pra eles, recebendo acenos em resposta.

+++

  Apesar de Haz e Lou terem vindo no mesmo transporte que Liv, ainda faltava uma pessoa em especial para chegar. Não estou falando do resto dos meus familiares, mesmo que eles também sejam especiais... Mas Niall ainda não chegara ao Chateau. Pelo que entendi, o seu vôo da Irlanda para Paris atrasou um pouco mais do que devia e por isso ele seria obrigado a vir com o segundo grupo de convidados. De acordo com a última mensagem sua que recebi, ele deveria chegar em cinco minutos. É claro que já fazia meia hora desde que eu recebera essa mensagem, então podemos deduzir que ele não é o melhor no quesito calcular tempo.
  Claro que não queria esperar por ele junto a mim e aos outros meninos no salão principal do “castelo”, mas não a culpei. Fazia no mínimo três meses que o ex-casal não se via e algo me dizia que a ruiva pretendia continuar assim. Liam e Zayn estavam sentados em um sofá no canto e desfrutavam de biscoitos que algum funcionário qualquer os ofereceu. Harry estava parado próximo à parede, estudando atenciosamente algumas pinturas famosas penduradas ali. Não tinha certeza se eram replicas ou originais, mas recordava ler sobre elas em livros de história na escola. Louis e eu andávamos de um lado para o outro, já preocupados com a demora. O som de um veiculo maior que um carro sendo estacionado ali perto chamou a nossa atenção.
  - Deve ser ele... – Lou foi o primeiro a falar, se virando para a porta. – Hey, Lotts!
  - Essa recepção inteira é só pra mim? – Charlotte atravessava a ponte que ligava o lado de fora com a entrada do hotel. – Louis!
  - Faz tempo que eu não te vejo! – Meu irmão abraçou a nossa prima e a deixou passar.
  - A culpa é sua! Porque não foi pra Paris junto com a ? – Lottie o deixou e veio me abraçar em seguida. – Já estava aproveitando a piscina sem mim?!
  - Não sabia que você demoraria tanto! – Usei essa desculpa por ainda estar usando minhas roupas de banho. Não saí por aí desfilando de biquíni, mas o vestido claro que usei por cima deste não escondia muito bem meu traje. – Como foi a viagem?
  - Foi rápida! E teria sido melhor se Niall não reclamasse a cada minuto que estava com fome. – Rolou os olhos, mas não parecia zangada.
  - Você o conheceu? – Ri. Pelo que ela falou, com certeza era o mesmo Niall que eu esperava chegar.
  - Ele é bem legal. Está lá fora tentando trazer nossas malas... – Lottie afirmou, olhando por cima do próprio ombro e sorrindo de uma forma que falava: “Tem algo aí”. - Uma graça...
  - Melhor ir ajudá-lo. – Louis nos deixou ali e correu pelo caminho que nossa prima chegara.
  - Se eu não te conhecesse, Lottie, diria que está interessada no pequeno duende... – Passei o braço pelo dela para que pudéssemos atravessar o grande salão até onde os outros meninos estavam.
  - E me conhecendo, o que você diz? – Mordeu o lábio, acabando com todas as minhas duvidas. – Ele é uma graça, ... E não deu em cima de mim como muitos teriam dado. Já deu uma olhada no meu decote?!
  - Acho que ninguém não deu uma olhada no seu decote. – Completei com uma risada nervosa. Charlotte seria uma boa namorada para Niall, mas ele já tinha dona; mesmo que os dois estivessem separados no momento. – Mas falamos sobre isso mais tarde, me deixe te apresentar aos meninos...
  - Hey, Charlotte! – Zayn virou o rosto assim que nossos passos puderam ser escutados e se levantou para abraçar a minha prima. É, ele já se sentia parte da família. – Teve uma boa viagem?
  - Foi a melhor, com certeza. – Se jogou nos braços do meu namorado, não da forma que eu fazia, mas ainda assim.
  - Esse aqui é o Liam... – Puxei o menino do sofá para que ele também a cumprimentasse. As vezes aquele menino era muito tímido! – E aquele vindo ali é o Harry, namorado do Lou.
  - Uau, ele é muito fofo! Olhe esse cachinhos! – Lottie abraçou Liam com um pouco menos de intimidade e passou para Harry.
   Enquanto todos terminavam de se cumprimentar e se conhecer, observei o motivo de minha espera entrar pelas portas extremamente altas e trabalhadas no maior estilo barroco. Niall usava um snapback vermelho que trouxera de Los Angeles, regata com a bandeira dos EUA e uma bermuda preta; sem falar no seu tênis branco de sempre. Com certeza ele achava que estava no país errado! A mala que carregava era cor de rosa e tinha algumas flores desenhadas em preto, mesmo assim, só o que denunciou que a dona daquela bagagem era na verdade a minha prima foi a etiqueta exorbitantemente grande com o apelido “LOTTIE”. Meu irmão vinha mais atrás, com a verdadeira mala do irlandês.
  - Aqui está, Charlotte. – Niall parecia ignorar todos os amigos, pois parou na frente de Lottie e deixou a mala calmamente na frente da dona.
  - Você é um amor, Niall! Muito obrigada. – Minha prima deixou um beijo na bochecha do menino e cruzei os braços.
  - Com licença... – Liam cruzou os braços.
  - Sem querer atrapalhar... – Zayn fez o mesmo, parando ao lado do amigo.
  - Mas já atrapalhando... – Harry seguiu a brincadeira, cruzando os braços igualmente e parando perto dos outros dois.
  - Ah, que se dane, vem cá, Ni! – Eu podia ter brincado também, mas sentia muita saudade daquele loiro dos olhos azuis. O puxei para um abraço antes mesmo que terminasse de se virar. – Nunca mais passe tanto tempo longe de mim, ok?!
  - Desculpa! – Gargalhou como só ele fazia e me apertou pela cintura. Lottie ficaria com ciúmes, lalala. – Mas eu tinha que ir ver o Lil’ Craic.
  - Por falar nisso! Me diga que você o trouxe... Eu queria conhecer seu sobrinho! – O apertei um pouco mais e fiz um meio bico ao lembrar do bebê que eu ainda não sabia o nome e torcia pra que não fosse “Craic”.
  - Ele não coube na... – A frase de Niall foi interrompida pelo barulho de algo sendo derrubado com raiva no chão. - ...Mala?
  - Ainda bem que não! – Foi só olhar para o olhar de Louis após soltar a mala de Niall com raiva que deu pra perceber que ele algo não estava certo. – O que houve, Lou?
  - Marco está lá fora. – Meu irmão esbravejou, fechando as mãos em punho. – E trouxe fotógrafos.
  - Que tipo de fotógrafos? – Fui a única que conseguiu quebrar o silêncio, já que os outros três meninos não conseguiram reagir.
  - Você sabe bem que tipo de fotógrafos. – Louis foi grosso, o que fez Zayn dar um passo a frente e segurar os meus ombros, apesar disso, não me importei. Já enfrentara meu irmão irritado antes.
  - Ele acha que é uma boa idéia deixar os paparazzis contratados pela Modest! circularem por aí e tirar algumas fotos... – Niall começou a explicar, mas parecia tão feliz com isso quando qualquer um ali. – Principalmente amanhã, quando a Eleanor chegar para o casamento.
  - Alguém tem que fazer alguma coisa. – Liam pareceu pensar alto, deixando uma Lottie mais confusa ainda.
  - O que está acontecendo? – A loira questionou, mas ninguém a deu ouvidos.
  - Mas o que?! Nós não podemos falar nada e nem reclamar! – Louis atravessou até o sofá, onde sentou e abaixou a cabeça, respirando fundo em uma tentativa de se controlar. – Isso se não quisermos um processo!
  - Lou está certo, vocês não podem falar nada. – Minha cabeça começava a doer e minha barriga ficou gelada de repente. – Mas eu posso.
  - , o que você vai fazer? – Zayn ficou tenso atrás de mim, sua super proteção falando mais alto.
   Não respondi nem a ele e nem aos outros meninos que tentaram me chamar. Eu já estava, na falta de uma palavra melhor, puta da vida com Marco e os seus planos pra criar manobras publicitárias! Uma coisa era querer fotografar os meninos em bares, festas ou saindo pra almoçar fora. Outra completamente diferente era ir até ali, achando que tinha qualquer tipo de autoridade. Ah, mas ele estava muito enganado! Passei como um furacão pelo salão de entrada e segui pela ponte. Não demorei nada pra encontrar o motivo da minha raiva, pois Marco estava conversando animadamente com os dois “fotógrafos”. Ele fazia gestos e sorria como se fosse a pessoa mais feliz do mundo. Mal sabia ele que eu pretendia acabar com aquela felicidade toda.
  - ! Que bom que apareceu. – O empresário se virou pra mim e pousou uma mão em meu ombro. – Onde acha que as primeiras fotos ficariam melhores?
  - Do lado de fora do portão! – Me desfiz de seu toque. – O que acha que está fazendo aqui?
  - Do lado de fora? Isso seria ilógico! – Cruzou os braços, ainda sem me entender.
  - Não ligo para a sua lógica, Spock! Quero que esses dois saiam daqui imediatamente. – Já estava me exaltando e me virei para os dois paparazzis. – Nada pessoal, sei que só estão fazendo o seu “trabalho” ou seja lá o que quiserem chamar.
  - , você não entende. Isso é importante. – Marco voltou a falar, mas levantei o indicador como se pedisse silêncio.
  - Não, Marco, é você quem não entende. O que acha que estamos fazendo aqui? Duas pessoas estão prestes a se unir para toda a eternidade na frente de Deus ou de quem quer que você queira acreditar. Isso aqui não é uma bagunça que você pode simplesmente se infiltrar e achar que pode participar. – Falei tudo em uma respiração só, puxando o ar para conseguir continuar. – Isso aqui é uma celebração. Algo que a minha mãe vem sonhando a muito tempo antes mesmo de você aparecer na vida dos meninos e eu não vou permitir que estrague. É algo para os familiares, algo intimo. Você quer fotos do casamento? Certo, eu ficarei mais do que feliz em lhe dar uma foto ou duas quando o fotógrafo contratado para o casamento puder revelar essas fotos. Ou tenho certeza que Harry ficaria mais do que feliz em postar algo no Instagram ou vídeos no Vine, mas isso porque ele gosta e não porque está sendo obrigado por você.
  - Ok... Entendi... – O homem nem ao menos chegou a piscar, quanto mais tirar aquele sorriso condescendente dos lábios, o que acabou me irritando mais ainda.
  - Espero que sim, porque os meninos não podem falar nada, mas eu estou aqui pra alguma coisa. Agora queira mandar esses dois embora ou chamarei o segurança. – Não liguei a mínima se estava sendo dramática ou criando um barraco. Nem mesmo sabia que tinha tanto fogo dentro de mim para mandá-los embora como estava fazendo. – Eu entendo que a minha mãe lhe convidou porque acredita que você é importante para o meu irmão, mas fique sabendo que não é bem vindo aqui.
  - Não se preocupe, vamos embora. – Apertou o meu queixo com quase carinho, me deixando chocada e sem entender mais nada. – Aproveite enquanto ainda pode.
   Senti um arrepio percorrer a minha espinha, pois tinha certeza de que aquilo fora uma ameaça. Os dois fotógrafos também devem ter percebido isso porque se entreolharam com expressões espantadas. Tentei tirar aquilo da cabeça, pois pelo menos eles estavam indo embora. Antes de partir, Marco passou por mim e caminhou até onde os cinco meninos assistiam tudo de camarote. Niall era o que mais se divertira com o meu show, pois ria e batia palmas lentas enquanto me olhava. Louis sorria em agradecimento e Liam encarava Marco. Esse último caminhou até o meu namorado e cochichou algo em sua orelha. Pela frieza que senti quando conectei o olhar ao de Zayn, não era coisa boa.

+++

  “TOC TOC TOC.” Três batidas consecutivas na porta do meu quarto me fizeram revirar na cama. A suíte destinada à mim e Zayn era grande demais, então não adiantaria gritar ou pedir para quem quer que estivesse do lado de fora entrar sozinho. Alguém teria que ir abrir! Niall estava deitado ao meu lado, tomando mais espaço na cama do que eu mesma. Harry ocupava o espaço abaixo de nossos pés, o que ainda era muito se parássemos pra pensar no tamanho do colchão. era o menos folgado de todos, por incrível que pareça, pois foi o primeiro a levantar do sofá onde estivera deitado e correu para atender quem batia na porta... Se ao menos ele tivesse polegares.
  - Niall, você chegou por último, tem que ir abrir a porta... – O empurrei devagar, quase com manha.
  - Exatamente! Tive uma longa viagem e estou cansado, . – Resmungou sem nem ao menos se mexer.
  - Você ainda tem aqueles docinhos? – Harry cutucou o meu pé.
  - Tenho! Niall, se você for abrir a porta, eles são seus.
  Sim, essa foi uma proposta muito difícil de ser recusada, ainda mais por Niall que não comera quase nada desde que saíra do aeroporto de Paris. Com um pulo, o irlandês saiu da cama e correu até a porta. No começo ele mancou um pouco por causa do seu joelho defeituoso, mas conseguiu deixar a nossa visitante entrar. pulou em cima da minha prima e lambeu o seu rosto como se lhe desse as boas vindas. Charlotte não se importou, mas quase caiu pra trás devido a altura de seus saltos. Uma característica daquela menina era essa: Usava salto alto até antes de ir dormir.
   Harry e eu nos entreolhamos e parecíamos pensar a mesma coisa. O olhar mortal que a loira lançou na direção do outro seguido pelo sorriso abobalhado do mesmo gritava “tem alguma coisa aí” e, por mais que fossemos a favor do Team & Niall, queríamos saber onde isso poderia acabar. Lottie praticamente rebolou até a minha cama, me fazendo sentar e dar espaço para ela também se acomodar ali. Harry engatinhou até o espaço vazio ao meu lado e voltou a se deitar, encostando o rosto à minha coxa. Niall foi o último a se juntar a nós, já que voltou para o seu sofá.
  - Por que vocês não estão lá fora? – Lottie tirou os sapatos e cruzou as pernas sobre a cama. – Todos estão tomando o chá da tarde no jardim.
  - Por mais que eu goste de chá, lá fora está muito quente. – Expliquei pra ela enquanto começava a acariciar os cachos de Harry.
  - E aqui é mais confortável... – Ni deu uma batidinha no colchão e deu alguns pulinhos pra cima e pra baixo, fazendo a cama toda balançar. – E essa cama parece fazer todo o trabalho.
  - Todo o trabalho de que, Niall? – Harry perguntou em um bocejo. Não sei se era lerdo ou inocente.
  - Não se preocupe, Harry, acho que Louis vai te mostrar o que ele está falando. – Lottie comentou com um risinho sacana, mas eu fiz cara de nojo. – Talvez possamos testar o meu também, Niall. O que acha?
  - Uau, querem que a gente saia daqui pra vocês dois ficarem sozinhos? – Ri, pegando o meu celular no bolso do meu short. – Aliás, Lotts, você está sozinha?
  - Solteira sim, sozinha nunca.
  - Bom saber. – Niall arrumou o boné sobre a cabeça.
  - Não foi isso o que eu quis dizer. – Revirei os olhos, deixando meus dedos se perderem nos fios bagunçados do meu cunhado. – Você está sozinha em um quarto?
  - Ah, sim! Não, estou com a e aquela sua outra amiga. – Eu já sabia disso, mas queria que Lottie mencionasse , quase como uma indireta para o ex-namorado dela. – Aliás, Niall, qual é a parada entre você e a ruivinha elétrica?
  - ? Uh... – O menino pareceu meio desconcertado com aquele assunto, mas nem eu nem Harry nos intrometemos no assunto. – Nós namoramos por um ano, mas não estamos mais juntos. Acho que não deu certo.
  - E por que não deu certo? – Três meses depois da separação dos dois e eu ainda não sabia a causa.
  - Pra falar a verdade, eu não sei. simplesmente terminou tudo... E nem ao menos me deu uma explicação. – Suspirou, pegando todos de surpresa. Eu tinha certeza que algo acontecera, mas nem mesmo Niall sabia o quê?
  – Talvez tenha sido a fama... Vai ver ela não soube muito bem como lidar com tudo isso. – Lottie sorriu como se o apoiasse, mas devia estar morrendo de vontade de mudar de assunto.
  - Pode ser. – Harry se pronunciou, saindo do meu colo e sentando. – Mas ela nunca se envolveu muito com a banda. A é que sempre foi a nossa companheira pra essas coisas.
  - Gosto de pensar que sou a protetora de vocês. – Sorri para ele.
   Não deixava de ser verdade. Se eu sempre estava ao lado dos meninos, fosse em viagens de divulgação ou em lançamentos, festas e entrevistas, não era porque eu queria aparecer ou aproveitar o que a fama proporcionava a eles. É claro que eu gostava de tudo isso, entretanto, meu objetivo sempre foi cuidar daquelas cinco crianças. Em um mundo onde todos querem se aproveitar de você, o importante é manter aqueles confiáveis e importantes o mais próximo possível. Era muito fácil sentir falta da família e amigos quando se está na estrada, então meu papel era amenizar essa saudade, ao menos um pouco. Sem falar que acabara de descobrir a minha voz contra a Modest! e Marco.
   Enquanto os outros três começaram um assunto qualquer de qual não me importei muito em participar, olhei para o aparelho telefônico em minhas mãos. Quase me esquecera do que queria com o celular e não demorei para abrir a minha pasta de mensagens. parecia cansado do sofá, então pulou sobre a cama e passou por cima de todos até chegar em cima de mim. Literalmente em cima de mim, pois só faltou sentar no meu colo. Ri pelo cachorro nem sempre lembrar o seu próprio tamanho e o empurrei até que estivesse apenas sentado ao meu lado. Voltando ao meu objetivo principal, digitei:

  
“Abi, onde você está?”

  Enquanto esperava pela minha resposta, fiz carinho no meu Husky. Sabia que estava em falta com ele, pois sempre estava saindo ou deixando-o com outra pessoa. Mesmo assim, o amor que recebia de sua parte era incondicional. podia ser desengonçado e atrapalhado, mas era a criatura mais leal que existia.

  
“Eu e Liv estamos correndo! Você devia vir. Quer que te esperemos?”
  “VOCÊ? CORRENDO? Vai chover! HAHA Não precisa me esperar, mas não esqueçam do jantar...”
  “Não se preocupe, não vamos! Também temos alguns planos pra depois, mas SHHHH.”
  “Que tipo de planos, ?”
  “Você vai ver. :3 Todos estão aí com você?”
  “Lou, Li e Zayn estão no quarto de algum deles... Mas Niall, Lottie e Harry estão aqui comigo.”
  “Eu não deixaria Zayn muito tempo com Liam. Esses dois vão acabar se casando. Quem diria?”
  “Pois é, quem diria?! Por falar nisso! Estou sentindo um clima entre Niall e Charlotte...”
  “Ok.”
  “Ok? É só o que tem a falar sobre isso?”
  “O que mais quer que eu fale? Quero dizer... Gosto da Lottie, só acho que ela merece algo melhor. Ei, o que é aquilo? Um cavalo? TCHAU, .”
  “Vai fugindo!”

  - ? ! – Niall devia estar me chamando há algum tempo, mas e demorei um pouco para escutá-lo.
  - Oi? Eu! – O encarei um pouco assustada, deixando o meu celular de lado.
  - Você prometeu! – Fez um biquinho enorme, mostrando a revista que tinha em mãos. – Eu a trouxe especialmente por sua causa!
  - Tenho certeza que sim, Ni. – Gargalhei, vendo a foto dele e dos meninos na capa da nova KISS irlandesa. – Tenho mesmo que fazer isso?
  - Tem! – Ele e Harry responderam ao mesmo tempo. Apenas Lottie parecia estar tão entediada quanto eu.
  - Tudo bem! “Que integrante da banda One Direction você namoraria?” – Niall começou lendo o título do teste. Ele estava mais animado com aquilo do que deveria, não me deixando ver a revista ou as perguntas. Tinha uma caneta na mão esquerda para marcar as minhas respostas. – Primeira pergunta: Qual é o perfil do seu gato ideal?
  - Tá brincando comigo?! – Me manter séria foi impossível e Lottie me acompanhou na risada.
  - Quais são as opções? – Minha prima balançou a cabeça negativamente como se não acreditasse que estava perguntando aquilo.
  - A) Quietos chamam mais a sua atenção. Dá um certo mistério. B) Tem de ter papo e atitude. C) Tem de ser maduro. Garotos mais sérios combinam com você. D) Segue o tipo conquistador, aquele garoto que todas as meninas querem e comentam. – Niall narrou, até mesmo fazendo uma voz mais afinada. Não sabia se era pra ser engraçadinho ou se realmente estava interessado. Harry gargalhava tanto que seus olhos ficaram bem menores e até mesmo bateu palmas.
  - E então, ? – Lottie perguntou.
  - O pior é que eu não sei! – Como um teste de revista me deixava indecisa? Passei as mãos pelos cabelos embaraçados pelo cloro, tentando me decidir. – Uhhh, letra A!
  - Interessante resposta! Próxima: Qual dessas características físicas é mais marcante em você? – O entrevistador continuou com a entrevista após marcar algo com a caneta. – A) É morena. B) Tem olhos verdes. C) Tem olhos azuis. Ou D) Tem cabelo claro. Acho que podia ser C e D! De qual gosta mais?
  - Dos meus olhos azuis, com certeza!
  - Qual estilo o seu namorado deve seguir? – Fomos para a terceira pergunta e Harry ainda ria. – A) Urbano, com tênis esporte e jaqueta varsity. B) Casual, com calças e camisetas lisas e com cores neutras. C) Certinho, com calça jeans escura e camiseta pólo. D) Colegial, com blazers que lembram uniformes de escolas inglesas.
  - Bem, meu namorado usa jaquetas, então...
  - Não pode responder pensando no seu namorado, ! – Lottie entrou na onda e me reprimiu. – Esse teste é pra descobrir com quem da banda One Direction você namoraria!
  - Mas eu namoro alguém da banda One Direction!
  - Ei, ei, deixem ela escolher! Já falou letra A! – Ni marcou mais alguma coisa com a caneta, parando com aquela discussão toda.
  Continuamos aquele teste com mais dez perguntas, mas levamos meia hora para terminá-lo. Niall se empolgava com as perguntas e Harry morria de rir com as mais idiotas, como por exemplo: “Qual o seu encontro ideal?”. Sério, quem cria essas coisas? Pelo menos rimos e nos divertimos muito. Lottie parecia cada vez mais apegada a Niall, não só por desejar o seu corpo nu, mas porque os dois pareciam se dar realmente bem.
  - Fala logo o resultado! – Insisti pela terceira vez, mais curiosa do que eu gostava de admitir.
  - Seu gato dos sonhos, é... – Niall bateu no colchão como se fossem tambores. – HARRY!
  - ESTOU AQUI! – Haz respondeu, mais uma vez não entendo.
  - Sério?! – Cobri a boca com as mãos para não gritar alto demais.
  - Com licença, meninos... – Minha mãe abria a porta devagar, apenas colocando a cabeça pra fora. – O jantar começará em uma hora. É melhor se arrumarem...
  - Obrigado, tia! – Não foi a sobrinha dela que respondeu, e sim Harry.
  - Já estamos indo, mum. – Sorri para Johannah. Não havíamos passado muito tempo juntas desde que chegamos ali, mas eu estava feliz por vê-la tão sorridente.
  - Podem avisar aos outros meninos também? e Olivia já estão sabendo. – Jay acenou um “tchau” rápido e se retirou.
  - Bem, acho melhor ir avisar aos meninos que eles estão solteiros. – Arrisquei fazer uma piadinha, já esperando que Harry não a entendesse. Para a minha surpresa, ele voltou a rir.
  - Isso mesmo, . E vamos anunciar nosso noivado no jantar da sua mãe. – Harry piscou.
  Foi a minha vez de voltar a rir. Se levarmos em consideração o natal passado, Harry e eu já havíamos nos beijado. Eu com certeza o considerava bonito e algumas fãs nos consideravam um casal bonito. Não teria nada de errado em namorarmos ou ficarmos noivos... A não ser a pequeníssima questão de ele ser o namorado do meu irmão! E eu a namorada do melhor amigo dele, claro. Mas enfim. me deixou levantar cama sem me seguir e permaneceu deitado. Lottie e Niall também se mexeram, provavelmente para começarem a se arrumar para o jantar. Eu só esperava que os dois fizessem isso separadamente...
  Não estava exagerando quando falava que devia me arrumar para o jantar, porque não seria simplesmente um “jantar” qualquer. Seria o jantar de ensaio para o casamento. Segundo a organizadora que estava cuidando de todas as coisas relacionadas à cerimônia e etc, era nesse jantar que algumas tradições seriam efetuadas, como os primeiros agradecimentos dos noivos e discursos de quem quisesse se arriscar. Eu particularmente já estava nervosa o suficiente com o discurso que teria que dar no dia seguinte, graças a minha posição como madrinha de casamento, portanto não planejava falar nada ao microfone naquela noite em especial.
  Deixei o quarto para trás, na esperança de encontrar os meninos logo. Sei que ter ligado seria muito mais simples, mas confesso que estava com saudades dos braços do meu namorado. Sem falar que pessoalmente seria mais fácil convidá-lo para tomar banho comigo; se é que me entendem, cof cof. Passei pelo corredor daquele andar, me perdendo em toda a perfeição das paredes e janelas altas. O único lado ruim de se morar em um castelo como aquele deveria ser a complicação para limpar tudo ou a preguiça de caminhar 1km só pra chegar ao banheiro! Exageros a parte, chequei o primeiro quarto à direita do meu, que devia ser de Liam e Niall. Vazio.
   O próximo quarto pertencia ao meu irmão e meu “namorado perfeito da banda One Direction”. Apesar de ainda estar um pouco claro, eu podia ver pela fresta embaixo da porta que a luz estava acesa, então os meninos deviam mesmo estar ali dentro. Uma idéia passou pela minha cabeça e um plano de assustá-los começou a ser bolado inconscientemente. Agarrei a maçaneta redonda e dourada com certa força, girando-a o mais devagar que consegui, tentando não chamar a atenção de ninguém. Prendi os lábios um ao outro com força, evitando risadas que teimavam escapar. Como imaginei, os três restantes estavam ali. Zayn era o único de pé e andava de um lado para o outro, de costas pra mim. Liam e Louis sentavam na ponta da cama, sérios.
  - Mas, Zayn, é a ... – Liam falou, me fazendo congelar e parar onde estava.
  - Eu sei que é! E o problema é justamente esse! – Zayn passou uma mão pelos cabelos, não como fazia ao querer bagunçá-los; mas da forma que mostrava que estava preocupado com algo.
  - Você tem que contar pra ela. – Lou pediu, olhando do chão para o menino de pé. – Antes que...
  - Me contar o que? – Cansei de ficar ali escutando e abri mais a porta, me fazendo ser notada.
  - ... – Zayn parecia ter visto um fantasma quando se virou pra me encarar. Eu, no entanto, tentava não tirar conclusões precipitadas.
  - E então? – Cruzei os braços, andando pelo quarto até estar perto dos três meninos. – O que tem pra me contar?
  - Uh... Acho melhor irmos dar uma volta... – Louis falou ao começar a se levantar e Liam fez o mesmo.
  - Fiquem aí. – Não foi um pedido, estava mais pra uma ordem. Liam e Louis voltaram a sentar rapidamente e voltei a me virar para Zayn, aguardando uma resposta.
  - Ok, ok... Tudo bem! – Aparentemente ele adquirira a minha mania de repetir as palavras ao ficar nervosa. – Tudo bem, eu conto... Só... Me escuta, por favor. A Modest! está com um plano novo... Bem, eles querem criar rótulos para nós cinco, sabe? Niall, o adorável que sempre está de bem com a vida e não se importa com nada... Louis, o líder responsável que namora uma garota normal. Liam, o “paizão” que leva as coisas a sério. Harry, aquele que flerta com todas e é um womanizer. E, bem, eu... O bad boy.
  - Estereótipos que não tem nada a ver com a realidade! – Descruzei os braços pra colocar as mãos na cintura. Eu devia saber que algo assim logo aconteceria. – Eles estão cada vez mais loucos.
  - Tem mais... – Voltou a falar. – Eles não acham que vai ser bom pra essa imagem que eles querem criar de mim... Eu ter uma namorada. Querem que eu apareça solteiro.
  - O que? – Quase não tive forças pra falar. Querer “criar uma imagem” era uma coisa, mas obrigá-lo a terminar comigo era outra. Meu estômago revirou enquanto esperava por mais informações.
  - Nós não vamos terminar, Anjo, claro que não! – Deu um passo na minha direção, me acalmando um pouco mais. – Eu sairia da banda se esse fosse o preço. Só... Fingir. Marco disse que isso se chama “staged breakup”. É quando um casal finge se separar, mas só por causa da mídia.
  - Menos mal... Eu acho... – Na verdade não achava nada. Aquilo ainda me pegara de surpresa e eu mal conseguia colocar meus pensamentos no lugar. – A gente faz o que tiver que fazer... Aquele Marco nunca gostou de mim! Tenho certeza que ele está adorando tudo isso. Argh, eu estou com tanta raiva!
  - Eu também fiquei com muita raiva, ! – Zayn me abraçou. Podia sentir meu sangue ferver, mas apenas o contato de seu corpo serviu para colocar um pouco de serenidade em minhas ações. – Tive que me segurar muito pra agüentá-lo durante o resto da nossa viagem em Los Ang...
  - Espera... – Dei um passo para trás, me soltando de seus braços. – Há quanto tempo você sabe disso?
  - Ficamos sabendo no dia daquela reunião que durou o dia todo, logo quando você chegou...
  - Mas isso foi há três semanas. – Minha voz quebrou. Apertei os braços junto ao corpo, quase como uma forma inconsciente de me proteger do que quer que fosse. – E você só me contou agora? Isso porque eu escutei a conversa!
  - Talvez... Devêssemos ir... – Foi a vez de Liam tentar escapar.
  - Já falei pra ficar! – O olhei brava, obrigando-o a sentar.
  - Eu tive medo! Eu tive tanto medo da sua reação, ou do que você pudesse fazer quando descobrisse isso. – Zayn mexia os braços como se não conseguisse ficar parado. Já eu, mal me movia pra respirar. – Eu pensei que...
  - Isso é ainda pior, Zayn, você não percebe? – Minhas orbes arderam, mas lutei contra a urgência de lacrimejar. Às vezes eu queria não ser tão sentimental! – Foi sobre isso que eu falei com você, na noite da varanda... Eu sinto que você não me conta mais as coisas, como se estivesse me afastando. E não costumava ser assim. Eu era a primeira pessoa pra quem você corria, fosse por coisas boas ou ruins. Você devia ter falado comigo antes, para que pudéssemos conversar e entender juntos tudo o que teríamos que fazer pra lidar com isso. Juntos, entende?
   Como sempre que alguma coisa assim acontecia, minha primeira reação foi dar as costas para Zayn e me afastar em direção à porta. Eu não estava chorando, mas queria liberar aquela frustração que apertava o meu peito de qualquer forma. Várias coisas nebulavam meus pensamentos e o que falava mais alto era a dúvida: “Como foi que isso aconteceu? Quando nos tornamos assim?” Zayn e eu sempre fomos tão perfeitos um para o outro que descobrir que ele começara a esconder certas coisas de mim me incomodou. Não é como se eu quisesse saber de tudo tudo, apenas o que era importante e necessário que eu soubesse.
  - , me desculpa! Eu devia ter te falado antes, não sei como fui tão idiota. – A sua voz me fez parar antes de chegar à porta e dar meia volta. – Eu pensei que isso fosse demais pra você... Tive medo que pudesse desistir.
  - Eu? A pessoa que esteve do seu lado em todos os momentos, te apoiando em todas as suas decisões? Quem sempre acreditou cegamente no seu potencial até mesmo quando nem você acreditava nisso? – Passei as mãos pelo rosto como uma reação irracional, mas da qual eu estava completamente consciente. – É isso que você vê em mim? Zayn, eu te amo! E não desistiria disso que nós temos por nada, muito menos por uma decisão da Modest!. E pensar que você achou isso... É como se não me conhecesse mais.
  - Baby... – Sussurrou. Seus olhos estavam cheios de culpa e o corpo um pouco curvado. Ele sentia muito.
  - Desculpa, eu preciso ir. – Com a voz embargada, retornei para a porta. – Está quase na hora do jantar, é melhor se arrumarem.

+++

  O jantar de ensaio foi simplesmente lindo! A minha mãe e Dan estavam radiantes, sorrindo o tempo inteiro! Até mesmo faziam brincadeiras um com o outro e era fácil ver Jay gargalhando e atraindo os olhares de todos que estavam por ali. O salão de jantar onde a refeição foi servida também era incrivelmente lindo; ficava na parte sul do castelo, em um lugar extremamente grande. Como todos os outros cômodos, a decoração me lembrava muito a renascença francesa e acho que esse era o objetivo. Apenas uma mesa de banquete estava no centro, assim como aquelas que vemos em filmes antigos. A decoração era da mesma cor do tema do casamento: Rosa, azul e verde, todas bem claras. Mais quadros que retratavam cenas históricas ou apenas paisagens enfeitavam as paredes absurdamente altas.
   A comida também estava maravilhosa e o que foi bom pra mim, deixou Niall decepcionado. Como todas as porções eram gourmet, vinham em pouca quantidade, o que me agradou, já que eu não teria conseguido comer mais do que aquilo. Niall, por outro lado, reclamou constantemente que as porções não o encheriam de jeito nenhum. Minha mãe escolheu um cardápio requintado e ao mesmo tempo delicioso, o que incluía: Crudités, Navarin d’agneau e cheesecake com cobertura de frutas vermelhas. Também é óbvio que, do meu grupo de amigos, eu era a única que realmente sabia pronunciar aqueles nomes. Nem mesmo Louis que dominava a língua francesa tão bem quanto eu parecia conseguir!
   Admito que a noite teria tudo para ter acabado tão bem quanto o dia começou, se não fosse a discussão que tive com Zayn horas antes. Mesmo com o banho longo que tomei para relaxar e com o vestido roxo lindo que eu pude usar, meu humor não melhorou nem um pouco desde que deixara o quarto de meu irmão. Prova disso é que nem ao menos fiz questão de me sentar ao lado de Zayn, ocupando uma cadeira entre James, meu primo, e Phoebe. Claro que, mesmo assim, nossos olhares acabavam se cruzando e os dele me falavam o que sua voz nunca confessaria. Ele estava triste e arrependido de não ter me contado nada por tanto tempo e eu também não devia ter “fugido” daquela maneira, porém, estava chateada e tinha esse direito.
   Acima de tudo, sentia medo. Medo de que isso continuasse e de que ele passasse a me esconder coisas ainda mais sérias. Temia que Marco continuasse a se intrometer na vida dos meninos como se controlasse até mesmo quando eles respiram ou não. E não devia ser assim... Vida profissional é uma coisa, mas a vida pessoal de cada um dos cinco é algo completamente diferente! Além do que, porque diabos seria melhor passar uma imagem falsa para o público quando as personalidades verdadeiras dos meninos eram tão perfeitas? Não sei, realmente não sei.
   Enquanto conversava com James sobre qualquer coisa desinteressante dos seus planos para o futuro, senti a minha bolsa de mão vibrar sobre o meu colo. Ok, pode ter sido estranho ser a única pessoa com uma bolsa durante aquele jantar, mas que culpa tenho se meu vestido maravilhoso não tinha bolso? Carregar meu celular na mão é que não dava! Pedi licença e aproveitei que os pratos começavam a ser retirados para levantar e me afastar da mesa. Podia ser Carine ligando, então eu teria que atender.

  
“Patch se soltou e está aterrorizando o vilarejo.”

  Essa foi a mensagem que li e vinha de . Levantei o rosto para procurá-la com os olhos e a encontrei do outro lado do salão, também fora da mesa. Levantei as mãos como se falasse que não entendi absolutamente nada e a enxerguei balançar a cabeça em negação, logo encarando o próprio celular e digitando mais alguma coisa. Não seria mais fácil vir falar comigo?

  
“Liv acabou de passar pelo seu quarto e disse que a porta estava aberta! Nenhum sinal de . Estamos nos dividindo pra cobrir todo o perímetro. Você tem que ir procurar no Salão A.”
  “Estou indo!”

  Enquanto a respondia, praticamente corri em direção à porta do salão de jantar. Zayn devia ter deixado a porta aberta ao sair, já que foi o último a se arrumar para mini-festa. Por um lado estava tranqüila, porque tinha certeza que meu filhote não tão pequeno assim saberia fazer o seu caminho de volta se não saísse de dentro do hotel. Por outro, ele ficaria perdido se chegasse ao lado de fora e se aventurasse nos vários campos da propriedade. Eu tinha que achá-lo! Não só eu, mas qualquer pessoa. Antes de sair, dei uma última olhada em , que falava algo com Liam. Só os dois ainda estavam naquele lugar, o que me fez acreditar que todos os outros já procuravam pelo nosso mascote.
   Minha mãe me viu saindo, mas não falou nada. Estava feliz demais para se preocupar com qualquer coisa. “Salão A, Salão A...” Onde ficava mesmo esse salão?! Direita! Segui a direção apenas depois de ter certeza que não me perderia. Por sorte, não estava muito longe daquele lugar onde a cerimônia de casamento seria realizada. Torcia fielmente para que estivesse lá, mas que todos os enfeites e decorações ainda estivessem inteiros. O pior que poderia acontecer àquela altura era ter que refazer todo o trabalho que os funcionários tiveram para arrumar tudo minuciosamente. O som de conversas e brindes ia ficando pra trás conforme eu avançava no corredor que não acabava nunca.
   Chegando ao meu destino, a porta entreaberta me alarmou. Não era um espaço muito grande, mas qualquer animal, por maior que fosse, poderia passar por ali tranquilamente. Empurrei a madeira para poder passar e parei um pouco, estudando tudo que estava montado por ali. Não chegava a ser uma igreja ou coisa assim, apenas uma grande sala digna de bailes de contos de fadas, com um tapete branco comprido que atravessava de ponta a ponta, servindo de Ave. Fileiras de cadeiras de madeira igualmente brancas estavam arrumadas dos dois lados e no dia seguinte todas seriam ocupadas por amigos e familiares dos noivos. Ainda acima da ala onde Dan e Jay fariam sua última caminhada antes de se tornarem marido e mulher, galhos claros e retorcidos faziam uma espécie de telhado sobre o túnel. Era simplesmente mágico.
  - ? Bo, vem cá... – Resolvi me concentrar na minha tarefa e começar a procurar o ser perdido. – Bebê, não faz isso com a mummy, cadê você?
  - Esse lugar está incrível, não é? – Uma voz confortavelmente inesperada surgiu das sombras.
  - Você devia vê-lo com as luzes acesas. – Evitei olhar pra o menino que caminhava na minha direção tão rápido quanto uma tartaruga. – O que você está fazendo aqui, Zayn?
  - O mesmo que você... Procurando o Bo. – Parou no meio da Ave, respeitando o meu espaço caso eu não quisesse a sua aproximação.
  - Claro... ... Não acredito que caí nessa. – Ri sem muito humor, me sentindo idiota por ter caído nessa armação. Eu devia saber que ele pediria a ajuda da minha melhor amiga pra conseguir ficar a sós comigo.
  - A intenção dela foi boa...
   Queria ver se eu fizesse algo assim, trancando-a em um quarto com Niall, se também seria por uma boa intenção! Zayn continuou parado, iluminado apenas por alguns raios de luz que entravam pelas janelas laterais e pela porta aberta atrás de mim. Não sei porque, mas gostava de vê-lo tão vulnerável como naquele momento. As mãos enfiadas nos bolsos, o olhar maravilhado como se a pessoa em sua frente fosse a mais interessante do mundo... Simplesmente lindo. Toda a minha pose defensiva me deixou e minhas expressões relaxaram. Era Zayn que estava ali, por Deus! Pra quê ter hostilidade? Andei o resto do caminho até ele, parando com a diferença de uma cadeira entre nós dois. Deixei a minha bolsa de mão sobre um assento próximo e suspirei sem saber ao certo o que falar.
  - Não posso esperar pra te ver andando em um corredor como esse. – Comentou quase despreocupado, sem tirar os olhos amendoados de mim.
  - Bem, você está com sorte! – Tentei imitar o tom do outro. – Amanhã Lou e eu estaremos desfilando na passarela!
  - Você sabe o que eu quis dizer, . – Ficou um pouco mais sério.
  - Sei, mas e você? – Puxei o ar com força. Não queria voltar a me descontrolar e nem fugir daquela conversa. – Com tudo que a Modest! tem feito pra controlar você e os meninos, acha mesmo que eles não te impediriam de fazer qualquer coisa que você quiser?
  - Não se o que eu quiser for você.
  - Zayn, as coisas não são tão simples assim e-
   Fui impedida de terminar a minha frase, pois duas mãos prenderam a minha cintura e lábios quentes e familiares foram pressionados aos meus. Resisti pelo que pareceu um segundo inteiro até me derreter nos braços daquele garoto. Era assim que as coisas deveríamos ser, nós dois encaixados, sem preocupação alguma. Por todo o tempo que aquele beijo surpresa durou, eu esqueci de qualquer coisa fora daquele salão. Apenas Zayn existia e ele era tudo que me importava.
  - Você tem que parar de fazer isso! – Tentei reclamar assim que nossos lábios se separaram, mas meu sorriso me denunciou.
  - Parou de funcionar? – Ergueu uma sobrancelha, sorrindo presunçoso. Juntou nossas bocas mais uma vez antes de me deixar responder.
  - Nem um pouco. – Acariciei seu rosto com a ponta dos dedos.
  - Eu realmente sinto muito... E você estava certa em tudo que falou.
  - Sei que estava. Só não me esconda mais nada...
  - Não vou, eu prom... – O interrompi, colocando o indicador sobre seus lábios. Zayn me observou confuso.
  - Promessas tem um peso muito grande pra mim, então não prometa o que não puder cumprir. – Tive meu dedo beijado, por isso sorri. – Não fale nada.
  - Eu te amo.
   Ok, isso ele podia falar! Como estava de salto alto, não precisei ficar na ponta dos pés para abraçá-lo; por mais que gostasse disso. Tudo ficaria bem. Tudo estava ficando bem. Apertei os braços em volta de Zayn, querendo sentir o corpo dele bem junto ao meu, seu coração batendo tranqüilo e o aroma de seu perfume. Fui enlaçada com a mesma necessidade e até recebi alguns beijos pelo ombro e pescoço. Nos soltamos com um pouco de relutância e demos as mãos. Imaginei que fossemos voltar para o jantar, mas fui pega de surpresa quando o menino nos guiou até a ponta contrária do salão, no final da Ave, onde um palanque com três degraus bastante largos foram colocados especialmente para o casamento. Zayn sentou no do meio e eu fiz o mesmo, mantendo-me ao seu lado.
  - Como vai ser tudo? – Não tinha certeza se queria saber, mas precisava saber.
  - Primeiro você precisa saber que a Modest! é muito maior que só o Marco, . É uma equipe gigantesca de mais de vinte pessoas que estão espalhadas por aí, em vários setores que nós nem imaginamos. – Não soltou a minha mão em momento algum, acariciando-a com o polegar. Estava calmo, assim como eu. – E eles são poderosos. Se você soubesse tudo que eles controlam...
  - Eu devia ficar com medo? – Não fui irônica, pois sentia isso.
  - Não enquanto eu estiver ao seu lado. – Sorriu com ternura, me atraindo para encostar a cabeça em seu ombro. – A Modest! controla tudo que sai na mídia sobre nós. Todas as revistas, entrevistas, programas de TV... Eles tem uma lista enorme sobre o que podemos falar ou não. Apenas esses blogs independentes é que tem controle sobre as próprias coisas que escrevem, já que não tem muita credibilidade.
  - Como o Blind Gossip? – Prestava atenção em todas as informações que recebia, ligando uma coisa à outra. – Eles já postaram tanta coisa sobre vocês! Mas quase ninguém acredita...
  - Exatamente. São esses sites que acabam mostrando a realidade. – Deitou a cabeça sobre a minha, sua respiração pesando. – “As mentiras bonitas e verdades feias.” Vão se aproveitar de todo esse poder que tem sobre a mídia pra espalhar um boato... Sobre a gente. Que, supostamente, vai nos fazer terminar. E teremos que criar uma “cena” e tornar isso acreditável.
  - Qual boato? – Levantei a cabeça para olhar suas expressões. Zayn fez o mesmo e seu olhar perguntava: “Quer mesmo saber?” – Pode falar, por favor...
  - O boato é que eu te traí. – Quase senti a dor em suas palavras.
  - Mas como não vão desconfiar que é uma... Manobra publicitária? – Mordi o lábio inferior, sentindo o estômago revirar. – Quero dizer, vocês tem fãs maravilhosos e parece que eles trabalham para o FBI, porque sempre descobrem algo aqui ou ali...
  - Esse é justamente o caso. A Modest! não quer deixar vestígios. Eles já tem todo um plano arquitetado...
  - E como é esse plano?
  - Contrataram uma mulher... Ela trabalhava como garçonete em um restaurante onde eu e os meninos fomos algumas vezes, antes de você chegar em L.A.. – Encarou o espaço vazio na nossa frente, mas não prestava atenção em nada. – E, bem... Ela vai “soltar a bomba”. Afirmando que uma noite a levei para o hotel e...
  - Não sei se quero detalhes. – Ri baixo, tentando amenizar o clima que começava a pesar.
  - Claro que não! – Sua atenção se tornou novamente minha. – Para resumir, ela é mais uma fantoche da Modest!
  - E, quando “terminarmos”... O que acontece? Não podemos mais ser visto juntos. – A última frase foi uma afirmação, mas soou mais como uma pergunta.
  - Como eu disse, a Modest! controla a mídia no que é relacionado a nós. Não vão poder falar nada e nem mostrar fotos nossas juntos, mesmo que nos vejam passeando de mãos dadas no Hyde. Só não podemos ser óbvios demais, porque as pessoas na rua não podem ser processadas caso postem coisas assim.
  - A gente consegue. – Foi só o que eu consegui falar.
  - Disso eu nunca duvidei.

  

Chapter XIV

- Olha quem resolveu descer para o café da manhã! – acenou incessantemente, apontando a cadeira vazia entre ela e Zayn.
  - Morning, my babies.Comprimentei todos os meus amigos com um sorriso.
   Não passava nem das nove horas da manhã e Louis, Liam, Harry, Niall, Zayn, Olivia, e Charlotte estavam reunidos em uma das várias mesas espalhadas pelo jardim do Chateau. A maioria dos outros convidados estava por ali também, se deliciando com o café da manhã requintado e saboroso. Pelo que pude ver, todas as mesas tinham a mesma coisa: Porções com todo tipo de coisa, fossem doces ou salgados. Eu prometera a mim mesma que não iria comer muito aquele dia, para que pudesse caber perfeitamente no meu vestido de madrinha de casamento, mas essa tarefa seria muito difícil porque até mesmo o cheiro que pairava naquele jardim parecia querer me torturar.
   Assumi o lugar entre o meu namorado e a minha melhor amiga, deixando um beijo nos lábios desse primeiro antes de me servir de chá. Era certo milagre todos estarem reunidos e eu gostava de ser cercada por todos eles. Claro que Niall e estavam o mais longe possível um do outro e não trocavam palavra alguma, mas ao menos estavam suportando ficar no mesmo lugar que o outro. Devo culpar o casamento da minha mãe pelo clima gostoso que parecia contagiar o hotel inteiro! A cerimônia aconteceria em poucas horas e a festa viria logo em seguida. Não posso falar por mais ninguém, mas eu pretendia dançar até o sol nascer.
  - O que te tirou da cama tão cedo? – Enquanto todos ali pareciam conversar entre si, puxei assunto com Zayn, que sorriu imensamente por ter a minha atenção.
  - Eu senti vontade de sair pra caminhar... Aproveitar a manhã. – Deu de ombros, pegando um mini donut na mesa. – Acho que são os ares do campo.
  - Uau, quem diria? Zayn Malik acordando cedo pra caminhar... – Achei aquilo difícil de acreditar, mas sabia que ele não esconderia nada de mim em um bom tempo. – Se você morasse em uma fazenda, seria daqueles que acorda cedo pra ordenhar a vaca e pegar ovos no galinheiro pra ter um café da manhã fresco.
  - Só se você estivesse esperando pra cozinhar esses ovos. – Piscou após engolir o pedaço do doce que mastigava. – Por falar nisso, provou esses ovos Benedite?
  - Ovos Benedict? – Gargalhei, mas desconfiava fielmente que Zayn errara o nome de propósito, só por saber que eu iria rir disso. – Já sim. Só não estou com fome agora...
  - , você tem que provar isso aqui! – segurou um pãozinho recheado com algo branco e coberto por um pó que parecia farinha. – É divino! Pelo menos prove!
  - Tudo bem... – Fiz uma pequena careta, ainda com as minhas desconfianças, mas seria mais fácil provar um e acabar logo com isso. Peguei o pãozinho e dei uma mordida. – Hmm... Nada mal...
  - Acho que você se sujou um pouco. – Zayn colocou o braço nas costas da minha cadeira. Me virei em sua direção pra perguntar onde estava sujo e fui impedida por um beijo. – Pronto, agora está limpa!
  - Obrigada, mon amour. – Não sei se agradecia pelo beijo ou por ter sido limpa.
   Terminei de comer aquele pãozinho e também a minha xícara de chá. não foi a única a tentar me empurrar coisas pra comer, porque Olivia e Lottie também me encheram de coisas pra provar. Tudo estava uma delicia, isso preciso admitir. Vez ou outra, Harry piscava pra mim e mandava beijos, irritando o meu irmão sempre que fazia isso. Zayn, por outro lado, ria junto comigo ou apenas ignorava. Eu poderia passar mais duas horas sentada naquela mesa, dando atenção para cada uma das pessoas, e provavelmente teria, se Dan não tivesse se aproximado.
  - O que vocês pretendem fazer agora, crianças? – O noivo da minha mãe olhava de mim para Louis.
  - Eu estava pensando em jogar Polo de Jardim, sabe? – respondeu, fazendo todos olharem pra ela.
  - Acho que ele estava falando com a e o Lou, ... – Liam a fez se tocar.
  - Estava sim, mas se quiser jogar, sugiro que peça ao James, primo deles. Ontem a tarde nós dois jogamos algumas partidas e ele tem bastante técnica! – Daniel sorriu para a ruiva e voltou a sua atenção para mim. – E então?
  - Bem, eu tenho um casamento no final da tarde, mas por agora estou livre! – Sorri.
  - Eu também tenho um casamento hoje! – Louis deu uma batidinha na mesa, fingindo estar surpreso. – Acho que devíamos ir juntos.
  - Ótimo! Eu gostaria de passar um tempo com vocês, quero dizer... Eu vou me casar com a mãe de vocês hoje, não é?
  - Três casamentos em um dia? Qual seria a chance disso acontecer? – Meu irmão continuou.
  - Nós adoraríamos, Dan. – Aceitei por nós dois, fazendo o nosso futuro padrasto sorrir.
  - Maravilha! Vou buscar o carro, então. – Fez sinal de “ok” com os dedos e se virou.
  - Psiu, . – sussurrou, não tão discreta assim. – Esse James... É bonito?
  - É sim, . E menor de idade. – Era só o que me faltava, ela querer ficar com o meu primo de dezessete anos.
  - Idade é só um número. – Ela rebateu.
  - Diga isso para a policia. – Zayn jogou uma bolinha de guardanapo em cima dela.
  - Você vai se comportar enquanto eu estiver longe? – Deixei a ruiva de lado, me virando para o moreno.
  - Eu sempre me comporto. – Seu sorriso travesso comprovava que aquilo era mentira.
  - Acho bom! – Fiz de conta que acreditei naquilo.
  - Provavelmente só vou sair pra correr com o . Precisamos deixá-lo cansado, se não quisermos que ele fique entediado e resolva destruir o quarto enquanto estivermos no casamento.
  - Posso te acompanhar? – Harry se ofereceu. – Já que a minha namorada vai sair...
  - Eu volto logo, honeybuns. – Mandei um beijo para o menino de olhos verdes.
  - Não estou gostando dessa história... – Dessa vez Zayn reclamou.
  - O que posso dizer? O resultado do teste foi claro. – Segurei o riso, fazendo uma cara séria. – Harry e eu somos almas gêmeas.
  - , Dan chegou. – Lou me chamou, já levantando de sua cadeira.
  - Ok, eu tenho que ir. Tchau, baby. – Antes de também levantar, selei meus lábios aos de Zayn uma última vez. – Tchau, Hazza-bear. Até mais tarde, pessoal!
   Quando Dan falou que ia “buscar o carro”, imaginei que ele falasse um carro de verdade, por isso não contive uma risada ao ver que ele dirigia um carrinho de golfe. Até que fazia sentido, pois aquele era o melhor transporte para andar dentro dos perímetros do Chateau e, com poucas horas para o casamento, a melhor opção seria não ir muito longe. Lou deu um beijo no namorado e acenou para o restante, assim como eu fiz, e correu até o carrinho de golfe, ocupando o seu lugar ao lado do motorista. Não me importei por ter sido obrigada a me sentar no banco de trás, que iria de costas para os dois outros homens ali; conseqüentemente de costas para o caminho. Contanto que eu não ficasse enjoada, tudo ficaria bem.
   Acenei para a minha mãe assim que ela fez o mesmo. Seu sorriso não tinha preço! Ela parecia muito feliz por estar vendo os seus dois filhos indo passar um tempo com o homem que amava e era justamente por isso que eu aceitara aquele convite de Dan sem nem pensar direito sobre o assunto. Me sentei confortavelmente ao lado de uma maleta de ferramentas um pouco grande e três objetos compridos que pareciam varetas. Meu futuro padrasto deu partida no carro e tive que me segurar no ferro ao meu lado, caso contrário teria caído.
  - Tudo bem aí atrás, ? – Lou riu do grito que soltei ao quase escorregar do banco.
  - Estou bem! – Me virei para olhá-los. – Hey, Dan, vamos pescar?
  - Encontrou as varas, não foi? – O mais velho continuou dirigindo em frente, mas fez isso com calma. – Sim, vamos pescar!
  - Elas são meio difíceis de não ver...
  - Não se isso foi uma boa ideia, Dan. – Meu irmão comentou divertido. – A tem medo!
  - Não tenho nada! – Meu tom saiu mais afinado do que eu gostaria, me fazendo soar como uma menina birrenta de cinco anos de idade. – Só não gosto de tirar os peixes do anzol. Eles nunca param de se mecher!
  - Não se preocupe, , eu posso fazer isso por você. – O homem sorriu pelo retrovisor. – A mãe de vocês ainda está olhando?
  - Provavelmente... – Louis se virou para trás, tentando espiar a pequena multidão que ficara pra trás. – Mas estamos longe demais pra poder ver qualquer coisa.
  - Finalmente! – Não entendi porque aquilo era uma coisa boa até o mais velho nos olhar com um fogo infantil em suas orbes. – Se segurem, crianças.
   Aquele aviso veio mais tranqüilo do que eu teria esperado. Logo em seguida, Dan pisou com tudo no acelerador, fazendo o carrinho de golfe dar uma arrancada bruta, mais uma vez me obrigando a segurar com força na grade ao meu lado. Dessa vez tive que ficar completamente de costas para meu irmão e futuro padrasto, caso contrário não teria apoio; meus cabelos sendo jogados contra o meu rosto e a minha tiara quase saindo voando. Não fui a única a gritar, pois Louis soltou um “WOHOOO” que se misturou ao meu “AHHHH, SOCORRO”. Dan não desacelerou nem quando passamos por uma espécie de colina baixa, fazendo o nosso veículo dar um pequeno salto nada delicado. Agora além de me segurar, tinha que proteger a caixa de ferramentas e as varas de pescar! Perfeito.
   Não demorei muito pra começar a rir e me divertir com aquela corrida maluca. Era a primeira vez que passávamos um tempo sozinhos com aquele homem, portanto só então descobrimos esse lado divertido que ele escondia. Rapidamente os seus gritos se tornaram mais altos e animados que os nossos, se é que isso era possível. Continuamos naquela velocidade alta até avistarmos o lago onde a nossa pescaria se passaria. Ao menos assim não acabaríamos caindo na água! O lugar era tão lindo quanto qualquer outro naquele terreno, mas o contato com a natureza ficara ainda mais forte. Grama continuou sendo o tapete que cobria o chão inteiro e apenas algumas árvores grandes e folhosas estavam espalhadas por aqui e por ali, nos protegendo do Sol de verão. O lago era igualmente verde e limpo, até mesmo convidativo, diga-se de passagem. Ah, se eu estivesse com biquíni por baixo do vestido e sem tênis...
   Fui a primeira a descer do carrinho assim que estacionamos. Ao invés de vir me ajudar a pegar as nossas ferramentas de pesca, Lou preferiu caminhar até o lago e explorar o lugar à nossa volta. Dan, por outro lado, se colocou ao meu lado, pegando as coisas mais pesadas e deixando apenas a vara que escolhi como sendo minha para que eu carregasse. Andamos lado a lado até certo ponto na grama, onde os objetos foram colocados e o futuro-padrasto se sentou. Fiz o mesmo, sem saber ao certo no que ajudar. Lou não demorou para se juntar a nós, já tirando os sapatos e deitando na grama.
  - , essa aqui já está pronta, só falta colocar a isca. – Dan ofereceu a vara de pescar azul que segurava em troca da minha. – E você vai fazer isso!
  - Okay, Dan! Você é que manda. – Apoiei o objeto azul em meu colo e tomei liberdade para abrir a caixa de ferramentas e procurar algum pote com salsicha ou pão, que era o que eu já havia usado para pescar antes. – Onde estão?
  - Bem aqui. – Tirou de dentro de lá uma caixinha verde de metal, mais pesada do que eu esperava. – Prenda bem, certo? Caso contrário os peixes vão roubar a nossa isca.
  - Espera... Não, não, não, não, não... – Quase joguei a caixinha para o lado quando vi as dezenas de minhocas se contorcendo ali dentro. – Eca, eca, eca, eca.
  - Vamos lá, ! – Louis se sentou ao ver o meu desespero e começou a rir. – Encare isso como um ritual de passagem!
  - Eu não quero! – Não conseguia parar de fazer careta e entortar o nariz. – Lou, faz isso pra mim!
  - Ele vai fazer outra coisa! – Dan estava querendo me torturar, era a única explicação. – Louis, consegue trocar o anzol dessa aqui?
  - Deixa comigo. – Ainda ria de mim e pegou a vara restante.
  - Ok, muito bem, , você consegue fazer isso... – Falei sozinha, lembrando da minha resolução de fim de ano. – Ousar mais, isso mesmo. Ainda que seja muito, muito nojento.
  - É assim que se fala! – Dan encostou o cotovelo no meu braço como incentivo.
  - Aham, sei. – Fiz cara de brava, semi-cerrando os olhos. Respirei fundo algumas vezes e apenas abri um dos olhos para pegar uma minhoca. Seria melhor se ela fosse pequena e fina, mas era comprida, gordinha e gelada. – Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah... Aaaaaaaaaaaaaaah...
  - E então, Lou? One Direction, huh? – Dan resolveu ignorar o meu piti e começou a falar com Louis. – Deve ser incrível passar por tudo isso. Todos os fãs querendo tirar fotos, autógrafos... Milhões de pessoas gritando a onde quer que vocês vão.
  - É realmente incrível, Dan! Subir em um palco e ver todas aquelas pessoas cantando junto com você... – Lou sorriu enquanto falava, quase me distraindo de minhas próprias reclamações de nojo. – Há alguns momentos que você só para e pensa: “Uau, olha onde eu estou! Esse é o meu trabalho, é o que eu tenho que fazer todos os dias.” É inacreditável.
  - Isso parece perfeito! – O segundo comentou enquanto eu tentava dar um nó com a minhoca no anzol.
  - É claro que há o lado ruim disso... Quero dizer, quase não temos privacidade alguma e a pressão em cima de nós é muito grande. Sem falar que devemos obedecer todas as decisões dos nossos empresários. – Meu irmão não parecia triste ao falar sobre aquele assunto, o que me surpreendeu. Soltei um gritinho quando a minha minhoca caiu em minha perna, mas ninguém pareceu se dar conta. – É o preço que pagamos, mas meio que vale a pena. É como se pra ter todas as essas coisas boas, devemos ter algumas ruins. E eu estou disposto a isso.
  - É um jeito de ver as coisas. Até porque... , o que você está fazendo? – Dan se interrompeu ao olhar pra mim. – Não é assim que se coloca!
   O adulto pegou o anzol e a minhoca das minhas mãos, o que me fez agradecer mentalmente. Limpei as mãos no meu vestido enquanto Dan enfiava o verme propriamente no anzol, com uma facilidade que eu nunca teria. Lou voltou a rir da desgraça dos outros – nesse caso, a minha – e pegou outra minhoca para prender em seu próprio anzol. Apenas fiquei ali observando os dois homens fazerem seus trabalhos de homens. O meu trabalho deveria ser só iluminá-los com a minha humilde presença, ou dar apoio moral, não melecar as mãos por causa de um bicho nojento que não parava de se contorcer! Admito que me senti mal pela minhoquinha quando o noivo de minha mãe a prendeu no anzol como se a vestisse ali como uma meia.
  - Pronto, . – Esticou a vara pronta e com a isca presa na minha direção. – Agora você sabe o que fazer, certo?
  - Minha parte preferida! – Me coloquei de pé antes de pegar a vara e logo fui para a perto das margens do lago. Mesmo ali na frente, já dava pra ver que era bem fundo.
  - Só tenha cuidado com a gente... – Meu irmão pediu ao me ver destravar o molinete e balançar para trás e para a frente, jogando o meu anzol o mais longe possível. – Wooooow, essa foi boa!
  - Eu disse que era a minha parte preferida! – Os olhei por cima do ombro, adorando o olhar surpreso no rosto de cada um.
  - Lou, só mais uma coisa... Não diga para as meninas que eu pedi isso, ok? Bem, Phoebe e Daisy são muito fãs do One Direction, então se não fosse pedir muito...
  - Qualquer coisa, Dan! Fotos, autógrafos, uma temporada em nossa casa em Londres... Você é que manda. – Meu irmão sorriu.
  - Mesmo? Uau, elas vão ficar tão felizes! – O segundo comemorou. – Só não quero que pense que estamos nos aproveitando ou coisa assim...
  - Nah, não se preocupe, Dan. De irmã aproveitadora eu entendo.
  - HEY! Eu ouvi essa. – Reclamei, sentando mais uma vez e segurando a vara com firmeza. – Mas sabe quem vai gostar das meninas? A Lux!
  - É a sua outra imã, não é?
  - Sim... Ela vai fazer dois anos em setembro, mas é muito esperta. – Quase pude ver o sorriso bobo nos lábios de Lou. – É a filha do nosso pai e da Rach, que também é nossa stylist.
  - Eu gostaria de conhecer o pai de vocês. – Dan e Louis já estavam com suas iscas prontas e se aproximaram de onde eu estava. – Sua mãe sempre fala dele. Ela me contou o que... Bem, tudo que ele fez. Só um grande homem faria isso.
  - Ele é um grande homem sim. – Lou sentou à minha direita. Ele devia tantas coisas ao nosso pai...
  - Mas você também é um grande homem, Dan. – Olhei para o outro à minha esquerda. – Você mudou tudo quando apareceu na vida da minha mãe. A transformou em outra pessoa... Alguém extremamente feliz.
  - Jay é o amor da minha vida.

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  Demoramos um pouco mais que o esperado para retornar da nossa pescaria, por isso todos já haviam almoçado e nós três tivemos que comer qualquer coisa na cozinha mesmo. Ninguém se importou, além de mim claro. Não por eu me achar boa demais pra comer por ali, mas estava simplesmente encharcada! Meu querido irmão fez o ótimo favor de ME JOGAR DENTRO DO LAGO! E, pra piorar, não consegui fazer o mesmo com ele. Por mais que isso tivesse me refrescado bastante, duvido que alguém fosse gostar de andar por aí com um vestido de algodão colado ao corpo, sem falar na bagunça que o meu cabelo ficou!
   Por outro lado, encontrei uma pequena surpresa ao adentrar o Chateau. Todos haviam sido separados em dois grupos: Homens e mulheres. Sendo assim, o grupo em que eu estava selecionada passaria o resto da tarde em um SPA, ao lado da minha mãe que teria o seu “Dia de Noiva”. E o outro grupo faria... Não faço idéia. Provavelmente fariam coisas de garotos, talvez uma despedida de solteiro improvisada. Preferi não pensar em Zayn em um clube de strip, mas isso não vem ao caso agora. Assim que tomei um rápido banho para tirar o cheiro de lago da minha pele e cabelo, vesti um biquíni simples e um roupão branco que me foi entregue por uma funcionária.
   Assim que desci para encontrar as minhas amigas no SPA, desejei ter conhecido aquela parte do castelo mais cedo. Diferente dos centros de beleza que eu conhecia, aquele em questão ficava no ultimo andar, com uma vista maravilhosa que era proporcionada por todas as paredes de vidro que cercavam a sala. No lado direito, a minha avó e sua filha aproveitavam uma massagem com pedras quentes que deviam fazer milagres. Encontrei Liv e perto de uma parede, ambas deitadas em cadeiras de pedra e pelas expressões de prazer em seus rostos, algo devia estar acontecendo. Lottie também captou o meu olhar, acenando com a mão livre, pois a outra estava no colo de uma manicure. A música que embalava o ambiente era calma e relaxante, o que obrigava todas as mulheres dali a ficarem caladas ou conversarem bem baixo.
   Sem saber muito bem onde queria ir primeiro, olhei em volta mais uma vez, constatando as dezenas de opções que me aguardavam. Foi nessa segunda olhada que reconheci uma garota de cabelos presos por uma trança e roupão felpudo como o meu. Ela estava sozinha e parecia ser ignorada por todas. Não propositalmente, creio eu, apenas por não ter intimidade com ninguém. Eu sabia quem ela era e por isso fiquei meio em duvida se deveria ir atrás dela ou não. Meu lado bondoso acabou falando mais alto – que surpresa, não? haha – e caminhei até ela, com um sorriso simples, mas amigável.
  - Eleanor, você chegou! – Fizemos aquilo de dar um beijo em cada bochecha, sem realmente encostar, e nunca vi algo tão desajeitado.
  - Sim! Eu devia ter chegado mais cedo, mas não quis incomodar... Acabei enrolando na cidade, mas acho que ainda cheguei cedo demais. – Sorriu de canto, tímida, escondendo as mãos no bolso.
  - Você não está incomodando ninguém, acredite! – Eu podia não gostar da idéia de ela ter que fingir ser a namorada do meu irmão, mas não era sua culpa. O que custava ser legal com a menina? – Se importa em ter a minha companhia?
  - Não mesmo! Eu iria adorar. Estou meio sozinha aqui... – Seu sorriso se tornou um pouco mais animado.
  - Ótimo! Por onde devemos começar? – Olhei em volta, captando uma banheira de hidromassagem vazia. – Pode ser ali?
  - Você é que escolhe!
   Desde que vi aquela menina pela primeira vez no aeroporto, tive a impressão de que ela era quieta e calma; o que ainda permanecia até aquele momento. Talvez se nos tornássemos colegas ela poderia deixar de ter um pé atrás e se abrir. Nós duas caminhamos até a banheira de hidro e fui a primeira a tirar o roupão e entrar na água. A menina pareceu um pouco acanhada ao me imitar e, para a sua sorte, não podia ver as caretas que fazia do outro lado da sala enquanto nos observava. A reprovei com o olhar, não gostando nada dessa atitude e Liv me compreendeu, pois deu um tapa em sua cabeça. Um tapa fraco demais, só pra constar.
  - Então, El... Posso te chamar assim, certo? – Me sentei em uma ponta da banheira, encontrando uma espécie de banquinho. Eleanor afirmou que sim com a cabeça e voltei a falar. – O que você faz?
  - Bem, atualmente estou terminando o segundo ano na Manchester University... Onde estudo política e sociologia. – Segui a direção de seus olhos quando uma funcionária vestida de branco se aproximou da nossa banheira com um balde de madeira na mão. – Não é tão divertido ou artístico quanto ballet...
  - Mas se é o que você gosta de fazer, não tem nada de errado com isso. – Política e sociologia? Uau, ela devia ser muito inteligente! A mulher começou a despejar o conteúdo do balde dentro da banheira, o que parecia ser um pó branco que deixou a água com aquela mesma coloração. Era como se estivéssemos nadando em leite. - Eu não sabia que você morava em Manchester...
  - Nasci e fui criada em Londres, mas tive que me mudar por causa da UNI. – Explicou enquanto éramos banhadas por pétalas de rosas e fatias de laranja e limão. – É por causa disso que trabalho com o que trabalho... Sei que você devia estar morrendo de vontade de perguntar! Preciso me manter.
  - Só um pouco de vontade... – Ri, brincando com algumas bolhas que se formavam na água turva e cheirosa. – Mas se precisa se manter... Porque não procurou um emprego mais... Normal?
  - Esse era o plano, na verdade. Fiz algumas campanhas como modelo da Hollister e foi aí que eu conheci o pessoal da empresa de coverups. Eles me encantaram com toda essa idéia de conhecer pessoas famosas... E o pagamento também não era nada mal! – Foi me contando como se estivesse um pouco envergonhada de suas escolhas. – Não sei, pareceu uma boa idéia na época.
  - Imagino que sim. – Não precisei forçar um sorriso. Eleanor não era tão ruim quanto poderia ser, quero dizer, ela só era uma garota normal que aceitou as oportunidades que precisava aceitar.
  - Não me ofereci pra ser a beard do Louis pra me aproveitar, pode ter certeza! Eu era fã da banda desde a época do X Factor, então se pode dizer que conheço um pouco dele. – Deitou um pouco em seu banco assim que uma moça tocou os seus ombros para começar uma massagem. – E me importo com ele e com Harry... Quero o mesmo que você, que tudo fique bem.
  - Obrigada, El. – Não sabia exatamente pelo que agradecia. Podia ser por ela estar me contando tudo aquilo, ou simplesmente por estarmos no mesmo lado de batalha. Outra moça veio até mim e também se ocupou de meus ombros.
  - Eu é que tenho que lhe agradecer, . Por ser sempre tão legal comigo. – Eleanor fechou os olhos, tranquila. – É meu primeiro trabalho assim, mas conheço meninas que sofreram muito...
  - Não se preocupe, ok? Tenho certeza que todos vão te adorar quando tiverem a chance de te conhecer.

+++

  O tratamento de SPA veio com uma espécie de pacote de salão de beleza, que incluía: Cabelo, maquiagem, manicure, pedi-cure e outras coisinhas do tipo! Quando todas terminaram a tarde de beleza, já estávamos prontas e vestidas! Eu particularmente me sentia muito bem dentro do meu vestido, que coube perfeitamente! Valeu à pena passar algumas horas sem comer ou comendo pouco. E o melhor é que eu não sentia como se fosse desmaiar, então ponto pra mim. Minha mãe foi a única que ganhou um quarto reservado só para si, o que impediu que eu e as outras convidadas a víssemos antes da hora. Consegui, também, fazer com que Eleanor conversasse com , Olivia e Charlotte. A minha prima foi a que mais a acolheu, visto que não estava tão por dentro dos dramas com a Modest! quanto as outras duas amigas. El ainda se sentia mais a vontade comigo, mas a noite seria longa...
   Os familiares e convidados “normais” já haviam tomado os seus assentos no lugar onde a cerimônia iria acontecer; no salão onde eu e Zayn fizemos as pazes na noite anterior. Ainda não vira o resto das decorações ou como aquele salão ficava na luz do dia e por isso estava super curiosa! As portas que separavam o corredor daquele último destino estavam fechadas, mas ainda era possível escutar um murmúrio vindo do lado de dentro. Todos pareciam estar nervosos, já que ninguém ali fora – onde eu estava – parecia sustentar uma conversa por mais de cinco minutos. , Lottie e Liv vestiam a mesma coisa, com a exceção dos sapatos e bijuterias; também carregando um mini buquê de flores brancas.
   O único menino ali fora era meu irmão e eu nunca o vira tão radiante. Não usava gravata com o seu blazer, porém, não havia muita necessidade. Ele passava uma mão na outra na tentativa de se manter calmo. Ao menos não bagunçava o cabelo como teria feito em outras ocasiões; seu topete estava perfeito demais para que fosse destruído antes mesmo do casamento. Tentei caminhar até ele para que pudéssemos nos acalmar mutuamente, mas fui interrompida pela minha avó. Jolene informou que a minha mãe queria falar comigo antes sair, então tive que correr até uma sala menor ao lado do salão principal, onde a noiva estava “escondida”.
  - Mum? – Abri a porta devagar, sem bater. Espiei o interior do quarto, encontrando-a facilmente. – Mon Dieu...
  - ... – A mulher sorriu ao escutar a minha voz, se virando para me olhar. Eu já a vira dentro daquele vestido antes, mas hoje estava especialmente e incrivelmente de tirar o fôlego.
  - Não sei nem o que dizer... – Acho que a palavra que mais me definia naquele momento era “hipnotizada”. Caminhei até aquela mulher que agora mais parecia uma princesa. – Você é a noiva mais bonita que eu já vi...
  - Não me faça chorar! – Riu com a voz embargada, mas acho que seria justo, já que eu mesma estava lutando contra algumas lágrimas. – Você também está linda, querida.
  - Não tanto quanto você! – Segurei a mão dela, ficando completamente arrepiada. – Nervosa?
  - Muito! Não lembrava que o frio na barriga era tão grande assim...
  - Mas é um frio bom, certo? Quero dizer... Você está se preparando pra passar o resto da sua vida ao lado do homem que ama... – Suspirei, acariciando sua mão na minha. Por mais que nunca tivesse passado por uma emoção como aquela, imaginava a sensação.
  - Será? Quero dizer, não seria a primeira vez que algo dá errado... Eu não consigo passar por outra separação, . – Jay olhou pra baixo, visivelmente com medo daquilo.
  - Não pense assim, por favor. Eu amo o meu pai, você sabe disso, mas ele não era o homem certo pra você. – A toquei no ombro com uma mão e usei a outra para arrumar seu véu transparente. – Dan é a pessoa certa pra você e tenho certeza que vão ficar juntos para todo o sempre! É completamente normal sentir um pouco de duvida, mas você não duvida que o ama, certo? E é isso o que importa. Agora no salão aqui ao lado, tem um homem lhe esperando e ele quer te dar tudo que você sempre sonhou. Prova disso é esse castelo digno de uma princesa! Agora vá lá e se torne uma rainha.
  - Quem diria que eu estaria recebendo conselhos da minha própria filha no meu casamento? – Foi uma pergunta retórica, já que uma pequena lágrima rolou de seu olho antes de nos abraçarmos com força.
  - As damas de honra já entraram e a cerimônia está começando... – A voz da organizadora soou na porta, não sendo o suficiente para fazer com que nos separássemos.
  - A noiva sempre se atrasa! – Falei, ainda agarrando a minha mãe. Quase senti como se ela estivesse indo para longe e aquela fosse nossa despedida. – Je T’aime, mummy.
  - Eu te amo mais, meu amor. – Ela parecia tão relutante em me soltar quanto eu.
  Apesar de a noiva sempre se atrasar, nós tínhamos que ir. Ri ao ver que ambos os nossos rostos estavam molhados e agradeci com todas as forças pelas nossas maquiagens serem a prova d’água, pois algo me dizia que aquela não seria a única vez que eu choraria nas próximas horas. Secamos as lágrimas umas das outras e Jay deu uma última olhada em seu reflexo no espelho, arrumando um fio ou outro de seu cabelo que saíra do lugar. Apesar disso, estava mais que perfeita. Demos as mãos para caminhar até a saída daquela sala, onde apenas Louis, Phoebe, Daisy e a organizadora nos aguardavam. As damas de honra e os outros realmente já haviam entrado e uma musica suave podia ser ouvida. A noiva recebeu o seu buquê de rosas brancas.
   A reação de Lou foi basicamente igual a minha, pois também mal conseguiu expressar o quanto a nossa mãe estava linda. Nossas futuras meio irmãs também a elogiaram bastante, cada uma segurando seus devidos objetos. A menina que eu acreditava ser Daisy segurava uma cestinha com pétalas de rosas vermelhas e a outra levava uma almofadinha com as alianças. As duas estavam lindas, é claro, com seus vestidos de cor um tom abaixo do meu próprio. As portas se abriram rapidamente só pra que ambas pudessem passar e fazer o que foram treinaras para fazer.
  - Venham quando estiverem prontos. – A organizadora que eu sabia se chamar Kali, ou algo assim, nos informou e também passou porta a dentro.
  - Tem certeza que quer fazer isso? – Lou perguntou para a noiva. – Ainda dá tempo de desistir...
  - Louis! – O repreendi. Vai ver era por isso que ela pedira pra falar comigo e não com ele!
  - O que? Só quero que ela saiba que tem essa opção!
  - Obrigada, Lou, mas estou certa disso. – A mais velha riu. – Vá em frente, .
  - Okay... Boa sorte!
   Antes de me virar para a porta, dei um último abraço apertado na mulher que estava prestes a se casar e também um beijo em Louis. Seria possível que eu estivesse nervosa? O casamento nem era meu! Passei as mãos pelo vestido, confirmando se estava tudo no lugar. Com um pequeno aceno, informei que iria entrar e por isso os outros dois se afastaram um pouco. Dessa forma, quando as portas fossem abertas, não poderiam ser vistos ainda. Como madrinha, eu teria que andar sozinha e só podia torcer para que o meu salto alto não prendesse no chão e causasse a minha queda. “Muito bem, , pensamento positivo, é isso aí.”
   Foi só girar um pouco a maçaneta que as portas foram abertas por quem quer que estivesse do lado de dentro. A música mudou quase instantaneamente, onde uma mulher cantava ao microfone, acompanhada por uma pequena banda. Todos estavam ali... Os convidados levantaram de suas cadeiras, olhando na minha direção, Dan no altar, esperando a sua princesa entrar, Liv, Lottie e mais ao lado, também de pé e viradas para mim... Até mesmo Zayn estava no altar, representando o meu irmão na posição de padrinho. Sabia que se olhasse muito pra ele, acabaria esquecendo o que devia fazer.
   Um sorriso tomou conta do meu rosto quando comecei a caminhar. Realmente era algo totalmente diferente ver aquele salão com a luz natural do fim da tarde. Os raios de Sol entravam pela direita, onde as janelas abertas deixavam que a suave brisa nos embalasse. O cheiro das rosas, também brancas que enfeitavam alguns cantos daqui e dali, enchia os meus pulmões. Era algo realmente inspirador. O tapete branco que me guiaria até o altar estava repleto das pétalas vermelhas que uma das gêmeas havia espalhado e era impossível não pisar em algumas ao caminhar.
   Levantei o rosto e meu olhar acabou conectando-se ao de Zayn, que parecia ter esquecido de como respirar. Imaginei o rubor que tomara conta de minhas bochechas quentes e preferi ignorá-lo. Algo que sempre gostei em casamentos era o primeiro olhar que o noivo tinha de sua futura esposa, um misto de emoção e deslumbramento. O casamento podia não ser meu, mas tinha certeza que a forma que Zayn me olhava estava muito próxima do que eu imaginava que seria esse primeiro olhar. Meu sorriso só aumentou quando ele percebeu a mesma coisa que eu. Dan esticou a mão na minha direção assim que já estava perto o bastante dele e aceitei aquele gesto. Tive as costas da minha mão beijada e em seguida pude me posicionar ao lado de Zayn no altar.
   A estrela da noite demorou o que pareceu uma eternidade para aparecer na porta, ao lado esquerdo de meu irmão. Ele era mais baixo que ela, mas ninguém se importou com isso, visto que ele estava fazendo um ótimo trabalho em substituir papá. “Oh, God, lá vem as lágrimas de novo...” Tentei me controlar, mas isso se tornava cada vez mais impossível. Johannah parecia ainda mais bonita agora que era iluminada apenas pelos raios de Sol. Olhei para Dan, que levara uma mão até os lábios. Seus olhos falavam claramente o quanto ele estava encantado, quase que sob um feitiço. Minha mãe também quase chorava mais uma vez, porém, ela tinha mais força que eu. Todos os convidados estavam de pé, inclusive nana, que estava na primeira fileira para ter uma vista privilegiada.
   Zayn permanecera ao meu lado e a ponta dos seus dedos encontrou as minhas, querendo me passar possivelmente duas coisas: A) Está tudo bem chorar agora. E B) Não precisa chorar ainda, a cerimônia vai ser longa. Não prestei muita atenção em nenhuma das duas, apenas me contentando com o seu toque quente. Minha mãe logo se juntou a seu noivo no altar, me passando o buquê que segurava e beijando Louis no rosto para que ele então pudesse seguir até o seu lugar ao lado da nossa avó.
  - Queridos amigos, estamos reunidos aqui hoje... – O mesmo padre que fizera a cerimônia de despedida do meu avô celebraria aquela nova. – Para celebrar a união de Johannah e Daniel...

+++

  - Eu achei que você nunca ia parar de chorar! – riu.
  - Cala a boca! – Fiz careta pra ela, me aninhando ainda mais nos braços de Zayn, que me envolvia com carinho.
   A cerimônia toda havia sido a coisa mais linda que qualquer pessoa poderia sonhar. O padre não ficou meia hora fazendo um discurso chato, apenas disse o que era pra ser dito e foi direto para os votos de casamento, onde a Jay e Dan juraram todas aquelas coisas de “na doença e na saúde”. Não era de se estranhar que eu tivesse chorado praticamente o tempo inteiro! Não fui a única, já que todas as amigas e familiares dos dois noivos – agora marido e mulher – choraram também; ao menos um pouco. Os “Aceito”s também foram trocados e jogamos arroz enquanto os dois principais corriam para fora daquela sala.
   A Recepção estava quase começando, mas ainda havia alguns detalhes que deveriam ser tirados do caminho antes que pudéssemos curtir a festa. Um em particular me deixava bem nervosa. O jardim onde o brunch de mais cedo havia sido servido parecia um lugar completamente diferente agora! Ainda era completamente coberto por grama, com a exceção do tablado baixo que fora colocado em frente ao palco onde a banda tocava, improvisando perfeitamente uma pista de dança. O palco em si não era muito alto, com pouco mais de um metro de altura. Mesas compridas e quase eternas estavam montadas nas laterais, com seus enfeites e arranjos de flores e pratos limpos e vazios, esperando o banquete de jantar ser servido.
   As luzes ainda eram completamente naturais, já que o pôr do Sol estava quase começando e vários potes de vidro estavam espalhados por aí, pendurados com velas acesas em seu interior. Me senti em um jardim onde fadinhas e seres místicos moravam. Ali, ao lado do palco, apenas eu, Louis, Zayn e esperávamos o que estava por vir. Por mais que acreditasse que estava ali apenas para me perturbar, gostei de tê-la por perto. Harry, Liam e Niall estavam igualmente arrumados com seus blazers e gravatas, mas foram para a frente do palco, reservando seu lugar de honra. O resto dos convidados, incluindo Eleanor e as famílias que acabavam de se juntar. Os noivos também estavam ali na frente, abrindo a primeira garrafa de champanhe.
  - Deixa a minha pequena em paz, cabecinha de fogo. – Zayn beijou o topo da minha cabeça. Ele era o único que entendia o quanto eu estava emocionalmente abalada.
  - Nesse caso eu também vou defendê-la, . – Lou passou um braço em volta da baixinha. – Ela tem que ficar tranqüila, porque vai subir ao palco em... Cinco minutos.
  - Já?! – Senti o sangue congelar, escondendo o rosto no pescoço do meu namorado.
  - Não fique assim, babe... Você já sabe o que falar, não?
  - Sei sim... – Saber eu sabia, mas isso não facilitava nada.
  - Aliás, vai ser em inglês ou francês? – A ruiva perguntou algo realmente importante dessa vez.
  - Falei com a minha mãe e ela deixou que eu falasse tudo em inglês, pra que vocês pudessem entender... – Ergui o rosto. – Já basta a cerimônia que vocês perderam.
  - , estão prontos pra você. – Kali retornou, esticando a mão para que eu pudesse subir ao palco.
  - Boa sorte! – Zayn roubou um beijo antes de me soltar.
  - Você vai arrasar, ! – Minha melhor amiga me apoiou.
  - Ok, ok, eu já fiz pior que isso... – Falei sozinha. – Já representei Julieta na frente de três mil pessoas, posso fazer um pequeno discurso...
  - É assim que se fala! – A organizadora me ajudou a subir ali.
   Assim que viram algum movimento, a platéia que me aguardava bateu palmas. Todos já estavam com suas taças de champanhe e ganhei a minha assim que ocupei meu posto em frente ao microfone. Minha mãe era a que mais sorria, curiosa com o que eu tinha preparado para falar, apesar de não segurar copo agum. Dan também era só sorrisos, não largando a sua esposa de forma alguma. O fotógrafo contratado estava por ali também, registrando não só os convidados, como eu também. O nervosismo foi passando aos poucos. Por mais que estivesse com tudo anotado em um papel, preferi deixá-lo no quarto e falar o que eu já havia decorado. Limpei a garganta disfarçadamente e dei mais um passo para me aproximar do microfone.
  - Antes de começar, eu gostaria de dizer, mum, você está absolutamente linda! E, Dan, você também não está nada mal! Para aqueles que não me conhecem, meu nome é e sou a filha de Jay. Vocês também podem me reconhecer como a que estava chorando mais... – Ri da minha própria piada e não fui a única, já que todos ali pareciam ter achado graça. Logo meus nervos foram se acalmando e obtive mais confiança para continuar. – Quando Johannah me contou, preste atenção, ela me contou e não me pediu, que eu fizesse um discurso, eu imaginei que esse fosse o seu jeito de se vingar de qualquer coisa que eu possa ter feito enquanto crescia. Recentemente eu percebi que é na verdade uma honra estar aqui na frente, falando com todos vocês! Porque vocês são as pessoas que Jay e Dan mais amam. Eles lhes convidaram porque este dia não seria o mesmo sem cada um. Em nome da minha família, eu gostaria de agradecer a todos por virem. – Fui obrigada a dar uma pausa, já que recebi aplausos e gritinhos de todos. – Eu também gostaria de tirar um momento para lembrar de pessoas muito importantes para os noivos que não puderam estar aqui hoje, mas que amariam ter visto os dois se casarem e sempre estarão em nossos pensamentos. Charles, o pai da noiva, e Ellie, irmã mais velha de Dan. – Outra pausa foi feita, dessa vez para que todos ficassem em silêncio. Mais uma vez os olhos de minha mãe se encheram de lágrimas e me controlei para não acabar da mesma forma. – Não existem palavras que possam explicar o relacionamento entre a minha mãe e eu, mas acho que isso resume um pouco: “você não é somente a minha mãe, como foi a minha primeira amiga”. E ela se parece muito com a minha melhor amiga, conversadora, divertida e sempre me colocando em encrenca! Muitas pessoas vêem-na como uma segunda mãe, doce, cuidadosa e carinhosa. Mas como sua filha, eu a vejo de forma um pouco diferente. Como a maioria de vocês sabe, Jay é uma pessoa muito artística, sempre criando e fazendo arte, no sentido mais literal da palavra. Mas algo que eu me lembro vividamente é que ela sempre costumava sair cantando pelos cantos da casa. Sim, mum, você não perdia uma oportunidade de cantar, não é? Uma coisa boa é que Louis não herdou o talento dele de você! – Outra piadinha que os fez rir, é eu estava me saindo bem! – Eu não conheci Dan antes que a minha mãe o fisgasse de vez, por isso não posso contar histórias engraçadas a seu respeito, que provavelmente o deixaria envergonhado, mas eu posso falar pra vocês que o acho a pessoa perfeita para a minha mãe. Ele é amável, adorável e o melhor de tudo... Tem um coração enorme. Sendo assim, gostaria de dizer que você é mais do que bem vindo à nossa família, assim como Phoebe e Daisy, essas duas princesas que já considero como irmãs. Mas, Dan... Tenho alguns conselhos pra você, já que conheço a sua nova esposa há vinte anos. Primeiramente, ela sempre está certa. Segundo, ela sempre precisa de roupas novas! Terceiro, ela nunca parece gorda em nada! E por último, mas mais importante... Se ela está certa, admita. Se não está… Não fale nada. – Uma onda de risadas encheu o jardim e me senti mais orgulhosa ainda. – Para finalizar, eu gostaria de propor um brinde à Dan e Jay. Que sua vida juntos seja cheia de amor, risadas, saúde e que vocês vivam felizes para sempre! Cheers!
   Encerrei o meu brinde, podendo respirar tranqüila. Elevei a minha taça de champanhe e todos fizeram a mesma coisa. Em seguida, recebi mais aplausos gerais e Jay e Dan sorriam tanto que poderiam rasgar as bochechas a qualquer momento. Todos os meninos estavam rindo e levantavam as taças na minha direção. Minhas meninas também pareciam orgulhosas e juro que vi secar uma lágrima de seus olhos, torcendo para que eu não visse isso. Dei um gole na bebida fria e senti as bolhas fazerem cócegas na minha língua. Olhei para a minha esquerda, onde Louis me aguardava.
  - Agora eu gostaria de chamar ao palco, o padrinho... Também conhecido como Louis! Meu irmão. – Estiquei o braço para que Lou fosse até ali. – Obrigada mais uma vez!
  - Boa tarde a todos! – Lou ficou no meu lugar, tirando o microfone do pedestal. – Como não sou tão bom em discursos como a minha querida irmã, pensei em algo um tanto diferente para oferecer como homenagem aos noivos. Por favor, queiram abrir espaço na pista de dança, para que Dan e Jay possam ter a primeira dança como casal.
  - Como eu fui? – Perguntei a Zayn, que me esperava ainda ao lado palco.
  - Incrível! Acho que o seu discurso devia entrar pra história. – Segurou na minha cintura quando pulei para o chão, fazendo a minha decida ser bem mais graciosa. – Agora vem, tem que ver a dança...
  - Desde quando dança te deixa tão animado? – Ri enquanto era puxada pela mão quando o menino correu para que nos juntássemos ao circulo de pessoas que também se preparava para assistir.
  - Você vai ver. – Piscou misterioso.
  - Como é a tradição, os pais do noivo e da noiva devem ser os primeiros a dançar com seus respectivos filhos. – Lou voltou a falar assim que o espaço havia sido liberado, deixando apenas os noivos ali no centro. – Senhora Lucile, poderia acompanhar o seu filho, por favor?
  - Vem cá. – Zayn mais uma vez me puxou pela mão, nos guiando entre as pessoas enquanto a mãe de Dan ia se juntar a ele no centro da pista.
  - Hey, ! – Liam me abraçou assim que chegamos perto dele e de Niall. – Ótimo discurso!
  - Obrigada! Você está lindo. – Beijei a bochecha do mais alto e em seguida, assoprei um beijo para o loiro. – Você também, Ni.
  - Isso é óbvio! – Jogou os cabelos invisíveis ara o lado.
  - E para dançar com a rainha da noite, senhor Zayn Malik, queira fazer o favor de se apresentar! – Lou chamou o menino, causando todos olharem na direção deste último.
  - Volto logo! – Zayn era o menos surpreso entre nós, por isso sorriu enquanto me deixava com nossos amigos.
   Meu queixo caiu assim que ele fez uma reverência para a minha mãe e esticou a mão para que ela aceitasse o seu convite. Aquela dança também seria de papá e mais uma vez ele era substituído perfeitamente. Claro que nunca seria a mesma coisa, mas Jay estava tão feliz com o seu casamento, com a sua festa, que não se importou nada em ter que dançar com o namorado de sua filha. Li me olhou como se perguntasse: “Você sabia disso?” e eu só balancei a cabeça de um lado para o outro. A banda contratada para fazer a música da recepção já estava por ali, em seus devidos instrumentos, e Lou deu um sinal para que começassem a tocar.

  
Wise men say only fools rush in
  But I can't help falling in love with you
  Shall I stay
  Would it be a sin
  If I can't help falling in love with you

  Louis começou a cantar com todo o seu coração e sua voz macia foi o que Zayn precisou para trazer a minha mãe para perto de si e ambos começarem a valsar pela pista. Sem as minhas aulas particulares, aquilo teria sido um verdadeiro desastre! O menino devia saber dos planos de meu irmão desde que me pedira para ensiná-lo a dançar e eu nem ao menos desconfiei! Como sempre, Zayn me surpreendera completamente. Liam passou o braço em volta de meus ombros quando funguei, ameaçando começar a chorar novamente. “Se controle, !” Briguei comigo mesma e ainda assim foi complicado me manter centrada.

  
Like a river flows surely to the sea
  Darling so it goes
  Some things are meant to be
  So take my hand, and take my whole life too
  Cause I can't help falling in love with you

  A dança dos dois não durou muito, pois os noivos ainda eram o centro das atenções. Dan envolveu a minha mãe como se fossem duas metades se encaixando depois de muito tempo. Todos bateram palmas e gritaram assim que ele a girou por baixo de seu braço. Meu irmão sorria em cima do palco. Era estranho vê-lo lá em cima sozinho, quando seus quatro companheiros não o acompanhavam, mas mesmo assim era lindo vê-lo e escutá-lo. Zayn mais uma vez me surpreendeu ao tirar nana pra dançar. A mãe de Dan também dançava com o pai dele, então acho que fazia sentido. Os três casais flutuavam calmamente na frente daquela multidão que estava ali só por causa de Jay e Dan.

  
Like a river flows so surely to the sea
  Oh my darling so it goes
  Some things are meant to be
  So won't you please just take my hand,
  and take my whole life too
  Cause I can't help falling in love
,   in love with you

  Liam entrelaçou os dedos aos meus, desfazendo nosso abraço. O olhei surpresa quando nos juntamos aos outros casais na pista de dança. Apenas um casal de amigos da minha mãe nos imitou, porém, isso não me impediu de aceitar o convite silencioso de Li. Minha mão direita foi para seu ombro e a esquerda encontrou a dele. Liam usou a mão livre para segurar as minhas costas e liderar a dança. Desde quando ele aprendera a dançar bem? Foi fácil imaginar Zayn passando pra ele as lições que eu mesma o ensinara, o que me fez rir. Liam sorriu sem entender muito bem os motivos de minhas risadas, só que isso não o parou.
   Assim que a música chegou ao seu fim, todos bateram palmas tanto para Louis quando para o casal que acabara de ter a sua primeira dança como casal. Por enquanto, os afazeres cerimoniais haviam acabado, então todos estavam liberados para fazer o que quisessem. Pelo canto do olho, vi Lou pular do palco e abraçar Harry, que o esperava ali embaixo. Os vocalistas da banda eram um casal, o que daria uma diversidade muito grande às musicas que tocariam, pois não ficaria preso a um gênero só. Prova disso foi o novo clássico que começou a embalar quem ainda estava na pista de dança.
  - Posso roubar essa dama? – Zayn apareceu e fez com que Liam desse um passo para trás e me deixasse ser tomada pelo menino.
  - Cuide bem dela. – Liam beijou a minha mão, galanteador.
  - Acho que estou em boas mãos. – Afirmei para o meu ex-par e entrelacei os dedos aos do novo. – Ótimas mãos...
  - Ótimas mãos, lábios, olhos, corpo... – A humildade em pessoa me orientou até o meio da pista de dança. O Sol já estava bem mais baixo e agora as velas eram o que mais nos iluminavam. – Como dancei?
  - Perfeitamente! – O abracei pelo pescoço e fui enlaçada pela cintura, deixando-me ser conduzida pela canção e por ele. – Não sei como não desconfiei antes!
  - Sou bom em fazer surpresas. – Sorriu galanteador. – Mas foi idéia da sua mãe...
  - Ela sempre teve boas idéias. – Fui levantada do chão por alguns segundos e rodopiada em seguida. – Prova disso é que foi idéia dela ter uma segunda filha!
  - Essa com certeza foi a melhor idéia de todos os tempos, com toda certeza! – Beijou os meus lábios assim que fui presa em seu corpo mais uma vez. – E o seu discurso? De onde tirou as idéias pra escrevê-lo?
  - Sabe que eu não sei? A inspiração só veio pra mim. – Sorri. Ainda estávamos falando sobre isso? Ótimo! – Acho que é um novo talento.
  - Vai me ajudar a escrever o meu?
  - Você não precisa fazer um discurso, baby... Acho que dançar com a minha mãe já foi o suficiente.
  - Não estou falando desse casamento. – Rolou os olhos como se me chamasse de lerda. – Estou falando do discurso no nosso casamento.
  - É claro que não vou te ajudar! – Não era uma boa idéia falar sobre aquele assunto enquanto meu emocional estava tão abalado quanto naquele momento, mas Zayn sempre arrumava um jeito de tocar na questão, então pode-se dizer que eu estava acostumada. – Se quiser ajuda, peça ao Tom. Aliás, boa sorte pra superá-lo. Já te mostrei o vídeo do discurso dele?
  - Algumas vezes. – Rolou os olhos mais uma vez, dessa vez com certo tédio. – Meu discurso vai ser melhor que o dele, pode apostar.
  - Acho bem difícil. – Brinquei, querendo irritá-lo. Logo tive meu corpo girado mais uma vez e dessa vez parei de costas para Zayn.
  - Sabe que gosto de te surpreender. – Cochichou ao meu ouvido, fazendo com que um choque elétrico percorresse todo o meu corpo.
  - ZAYN, OS MENINOS ESTÃO TE CHAMANDO! – Um grito feminino chamou a nossa atenção. Claro que tinha que ser !
  - O que será agora? – Paramos de dançar e ri, olhando-a dançar totalmente fora do ritmo.
  - Não sei, mas é melhor ir lá antes que ela faça algum escândalo. – Me girou uma última vez, dessa vez ficando frente a frente, e roubou um beijo demorado. – Não some.
  - Não sairei daqui! – Relutantemente deixei que ele se fosse.
  - Estão prontos pra começar a festa? – O vocalista da banda perguntou e foi respondido com vários gritos, inclusive o meu.
   Os casais foram se desfazendo devagar, enquanto a maioria ia se sentar ou pegar bebidas e comidas nas mesas reservadas para isso. Minha mãe e Dan continuaram ali, ignorando o resto do mundo. Braços leves envolveram os meus ombros e o cabelo dourado denunciou Olivia. A abracei com um sorriso, puxando-a pra dançar comigo. A nova música que a banda tocava era animada, então logo nos deixamos contagiar. Liv tinha o jeito pacífico, mas gostava de dançar quase tanto quanto eu. Demos as mãos e começamos a girar, cada uma fazendo peso para um lado. Tive medo de cair ou escorregar, por causa do meu salto fino, e tentei não me preocupar com isso.
  - Estou tonta! – Liv também gargalhou e paramos de girar.
  - Para de ser fraca! – Ainda segurando as mãos dela, arrisquei alguns passos dos anos setenta, dando passinhos para um lado e para o outro, sendo acompanhada perfeitamente por ela.
  - Se eu cair, te levo junto! – Jogou os braços pra cima quando foi solto e deu alguns pulinhos. Passo que gostei de chamar de “minhoca maluca.”
  - Já começou a beber? – Sabia muito bem que Olivia não bebia, mas qualquer um que a visse assim iria duvidar muito da sua sobriedade.
  - Nunca parei! – Brincou, se contendo um pouco ao ver que recebia olhares de um menino moreno e alto; o dito cujo devia ser da família de Dan, pois eu não o conhecia. – Uhhh...
  - Está fazendo sucesso, Liv. – Cochichei pra ela, dando pacinhos de um lado para o outro. – Por que não vai lá falar com ele?
  - Estou aqui com a minha amiga, não vou trocá-la por um garoto.
  - Você e são mesmo opostos... Ela teria corrido na hora. – Dei uma voltinha sem sair do lugar, deixando meu vestido esvoaçar.
  - Por falar nisso, ela se comportou ontem? – Fez movimentos de onda com as mãos.
  - Como assim? – Joguei os ombros de um lado para o outro. Não dançava em sincronia, apenas queria me divertir.
  - No seu quarto, ontem. – Ainda não entendia onde Liv queria chegar. – Ela dormiu lá, não foi?
  - Não...
  - Tem certeza?
  - Eu acho que sei quem dorme no meu quarto ou não! – A abracei pela cintura, dando algumas voltas rápidas, fazendo-a rir.
  - , vai me derrubar! – Esse era o objetivo! Ou quase. – Bem, disse que ia dormir no seu quarto, por causa de uma briga entre você e Zayn... Mas se ela não dormiu lá, onde passou a noite?
  - Quarto é o que não falta por aqui... Vai ver ficou perdida e escolheu um quarto vazio pra passar a noite.

+++

  - , você não vai mesmo? – Haz questionou, sentado no colo de meu irmão apesar de ser maior que ele.
  - É claro que não! Não quero ser pisoteada hoje muito obrigada. – Cruzei os braços, encostando na mesa reservada para nós.
  - Todas as garotas estão lá. – Liam sugeriu, desamarrando a gravata de seu pescoço. – Não quer ser a próxima a se casar?
  - Eu sei que não vou ser a próxima a me casar. – Ri. Eles não iriam desistir?
  - Como pode ter tanta certeza? – A pergunta de Zayn soou mais como um desafio.
  - Tá vendo aquela garota de vestido preto? – Apontei discretamente para uma baixinha ruiva que não era . Todos os meninos olharam na direção dela e toda a minha descrição se tornou inútil. – Ela vai se casar em dezembro. Zayn, se você me disser que eu serei a próxima, aí sim eu vou tentar pegar esse buquê.
  - Vamos levá-lo pra casa. – O menino não perdeu um segundo pra pensar. Ou ele não acreditava que eu pegaria esse buquê, ou casaria comigo antes de dezembro.
  - Lembre-se disso, Malik. – Pisquei e dei as costas para os quatro meninos parados ali.
  - Mate, acho que você acabou de ficar noivo. – Liam deu tapinhas no ombro do amigo que podiam dizer tanto “boa sorte” ou “parabéns”.
   Eu já havia dançado tanto que não aguentava mais andar em cima dos saltos, por isso passara a última hora descalça. Por mais que fosse arriscado enfrentar aquele mar de mulheres desesperadas, pretendia continuar assim. Zayn era louco, isso todas nós sabemos, mas me desafiar a pegar aquele buquê em troca de nos casarmos antes do fim do ano já era demais! Corri até a pista de dança, me emaranhando entre as mulheres solteiras ou comprometidas que também queria tentar a sorte. e Liv estavam bem na frente, mas eu não arriscaria chegar perto delas. Acabei encontrando Eleanor perdida entre as mulheres, rindo de qualquer coisa que Niall falara. Espera... Niall? Olhei de novo, confirmando que o loiro irlandês estava mesmo ali.
  - Todos querem se casar, huh? – Me pus entre os dois.
  - , weyhey! – Niall celebrou a minha chegada, um pouco alegre demais.
  - Fui obrigada a vir aqui! – El já estava mais solta do que quando chegara e Niall era o culpado por aquilo. – E você?
  - Digamos que estou aqui por causa de uma aposta. – Dei de ombros. – Se eu pegar, vou me casar antes do fim do ano.
  - Wow, Zayn ficou maluco? – Ni gargalhou.
  - Muito obrigada pela parte que me toca, seu ingrato! – Pensei em empurrá-lo, mas fazê-lo esbarrar em qualquer mulher não seria nada legal.
  - Shh, ela vai jogar! – Colocou o indicador sobre os lábios.
  - Ele está bêbado? – El cochichou pra mim.
  - Pior que não...
   Ambas rimos e nos concentramos na mulher vestida de branco que subia ao palco. Jay continuava com seu vestido longo, mas deixara o véu comprido para trás. A gritaria foi geral quando ela levantou o buquê de rosas e se virou de costas para todos nós. Ela ainda sorria muito e com certeza era quem mais estava aproveitando a sua festa. Dan tentou brincar e ficar na frente daquele grupo de mulheres, mas quase foi assassinado, preferindo se afastar mais uma vez. Uma contagem rápida e lenta ao mesmo tempo fez o meu coração disparar. Não percebi até aquele momento que uma parte de mim realmente acreditava na pseudo-promessa de Zayn. Por um lado não era esse o noivado que eu sonhava, mas por outro... Estar com ele para sempre era sim o que eu sonhava.
  - UM, DOIS, TRÊS! – Todas gritaram em uma voz só.
   Tudo aconteceu rápido demais, o que acabou sendo compreendido em câmera lenta, ao menos pra mim. Um vulto branco foi lançado para trás, em direção ao amontoado de pessoas do sexo feminino. Mais gritos perfuraram o meu ouvido quando as flores caíram nas mãos de alguém na frente do grupo. As esperanças se acenderam assim que o buquê voltou a escapar das mãos de sua segunda dona e cair no meio, onde eu estava. Estiquei as mãos e tentei pular, mas um mar de fios loiros se colocou na minha frente. Niall pulara mais alto do que a Shamu no Sea World. Outras garotas que estavam tão desapontadas quanto eu, resolveram pular em cima do menino para tentar brigar pelas flores. O resultado disso foi um irlandês desesperado e tentando correr. Como estávamos cercados, ele acabou se desequilibrando – culpo o joelho ruim dele – e foi ao chão. Como se não bastasse, me levou junto, usando-me de escudo.
  - Alguém ajuda a ! – Eu tinha certeza que escutara gritar.
  - Gente, acabou, eles pegaram! – Eleanor foi uma peça fundamental para dispersar as perdedoras.
  - Elas foram embora? – Choraminguei, mesmo estando com vontade de rir.
  - Filha, você está bem? – Jay terminou de afastar suas convidadas, preocupada comigo.
  - Ninguém se importa comigo?! – Niall reclamou, me empurrando para sair de cima dele.
  - Outch! – Caí novamente, de costas no chão dessa vez, e comecei a rir. – Niall!
  - Desculpa, ! – O menino riu, levantando devagar e ainda com o buquê em mãos. – SEREI O PRÓXIMO A ME CASAR!
  - Isso é muito injusto. – Resmunguei, recebendo uma mão amiga para me levantar também. – Obrigada, .
  - Você está bem? – A ruiva arrumou o meu vestido.
  - Estou sim! Graças à El. – Sorri para a morena em agradecimento e ela fez o mesmo, extremamente terna.
  - Obrigada por salvar a minha amiga, Eleanor. – também sorriu para a menina.
  - Vocês teriam feito o mesmo por mim. – Deu de ombros como se não fosse grande coisa.
  - ... – Qualquer pessoa poderia ter chamado a minha amiga que eu não teria me importado, mas foi só reconhecer a voz de Niall que parei até de respirar. O menino esticou as flores na direção da ruiva. – Peguei pra você.
  - Obrigada... – Aceitou as flores e meus olhos se expandiram tanto que até doeu. – Eu acho.
  - Não seja por isso. – O menino piscou com um sorriso malicioso e se afastou. Já não entendia mais nada.
  - Então vocês estão se falando de novo? – Perguntei tão rapidamente que Eleanor até se assustou.
  - Não! – voltou a ficar emburrada como fazia sempre que Niall estava por perto, mas dessa vez parecia culpada.
  - NÃO ACREDITO! – Agora tudo fazia sentido! Levei as mãos à boca e ainda assim gritei. – , onde você dormiu ontem?
  - Em um quarto! – Cruzou os braços, já sabendo onde eu chegaria. – Com licença, El, preciso calar a boca dessa menina...
   me puxou pelo braço e começou a correr assim que eu ameacei soltar novos gritos. Ela não estaria tão preocupada em ser escutada se não tivesse coisa aí. Era meio impossível não deixar a minha imaginação navegar por todas as coisas que poderiam ter acontecido. Nos afastamos consideravelmente de qualquer ouvido curioso e ela parou de correr. se encostou a uma árvore e respirou fundo, tentando não olhar para as flores em sua mão, mas eram como um imã.
  - Então... Em que quarto você dormiu? – Preferi não ir direto ao ponto. era mestra em fugir daquele assunto.
  - Não tinha dono... Estava vazio. – Respondeu baixo; é, eu estava chegando perto.
  - Com quem você dormiu? – Mordi o lábio inferior, evitando mais um grito.
  - Como se você não soubesse. – Rolou os olhos, balançando as flores. – Foi um momento de fraqueza, ok?! Era pra ser uma coisa de uma noite só! E foi! Não sei o que ele quis dizer com essas flores, mas não querem dizer nada!
  - Eu sabia, eu sabia! – Sorri e bati palmas, animada. – Você ficou com ciúmes da Lottie, não foi? Por causa do jeito que ela estava se atirando pra cima dele...
  - Eu sabia que você tinha um plano! – Me reprovou com o olhar, me culpando pela sua recaída.
  - Agora vocês podem acabar com essa besteira toda e voltar a namorar! – Dei um pulinho, comemorando.
  - Não é tão simples assim, ! Não posso esquecer o que ele fez assim tão... – Prestou atenção no que estava falando e se calou. – Enfim. Vou comer. Quer algo?
  - Então ele fez alguma coisa?! – Por um momento achei que fosse descobrir o motivo da separação. – O que ele fez?
  - Pergunte pra ele. – Entregou-me o buquê, voltando pelo caminho que fizemos pra chegar até ali.
  - Mas ele também não sabe! – Tentei acompanhá-la, mas estava rápida demais e eu não queria correr. – Algum dia eu vou saber?
  - Talvez!
   Simplesmente assim ela me deixou! Bufei cansada de tudo aquilo. Como alguém termina o namoro de um ano sem mais nem menos? E ainda por cima não conta o motivo para a melhor amiga? Eu sabia que esse motivo não era simplesmente o “amor ter acabado”, porque era só olhar para os dois pra ver que ainda gostavam um do outro como se nada tivesse mudado. Sem falar que essa noite que os dois passaram juntos mais do que comprovava minha teoria. Ao menos eu estava com o buquê de flores nas mãos... E um cabelo extremamente bagunçado, mas quem se importava?
   Olhei na direção da mesa onde os meninos ainda estavam. Niall conversava com Eleanor e Louis em uma ponta, Harry e Liv riam de qualquer coisa e Zayn se encontrava de costas pra mim, conversando com seu melhor amigo. Sorri e corri na ponta dos pés até os meus amigos. A noite havia chegado e com isso alguns postes com lamparinas foram acesos, dando uma ajudinha para as velas que derretiam extremamente devagar. Não demorei muito para me aproximar dos meninos e pular nas costas de Zayn, permanecendo na ponta dos pés. Como as flores estavam na minha mão, praticamente as enfiei no rosto do meu namorado.
  - Você pegou?! – Zayn pareceu mais feliz do que eu esperava.
  - Peguei! – Menti, deixando-o se virar na minha direção. O sorriso no rosto dele era maior do que eu esperava, por isso acabei me sentindo mal. – Nah, foi o Niall... Ele deu pra e ela me deu. Tecnicamente não conta.
  - Pode contar se você quiser. – Me abraçou pelas costelas e me pendurei mais uma vez em seu corpo, levantando os pés do chão.
  - Depois a gente conversa sobre isso! – Deixei um beijo estalado em sua bochecha. Estava feliz demais pra ficar nervosa com aquele assunto.
  - O que quis dizer com “Niall deu pra Abi”? – Liam pareceu tão surpreso por aquilo quanto eu.
  - Você ouviu! – Zayn me colocou no chão e entreguei as flores para Li. – Ou você não notou que ele não dormiu no seu quarto ontem?
  - Isso eu notei, mas achei que ele tinha ficado com a Lottie... – Cochichou, pois os outros estavam próximos. – Oh... My... God.
  - Também incorporei a Janice quando soube disso. – Gargalhei e Liam fez o mesmo, deixando um Zayn confuso.
  - Janice? – Questionou.
  - É coisa de F.R.I.E.N.D.S, você não entenderia. – Li esnobou o amigo, que estirou a língua pra nós dois.
  - De quem é isso aqui? – Peguei uma taça com um liquido vermelho de cima da mesa.
  - É minha! – Harry acenou de onde estava.
  - Hm... Arrrrrrgh. – Cometi o erro de provar e fiz uma careta. Quase parecia álcool puro! – Sinto que já estou bêbada!
  - Então é melhor eu te falar uma coisa logo!
   Zayn tirou o copo da minha mão e o devolveu para a mesa. Liam também experimentou a bebida e fez uma careta ainda pior que a minha, me fazendo rir. Zayn praticamente me carregou para longe dali. Não por eu não conseguir andar ou não querer acompanhá-lo, apenas gostava de me jogar em seus braços e saber que não cairia. Não importava quanto tempo passasse, ele continuava sendo forte o bastante para me segurar como se eu pesasse menos que um travesseiro. Não demorei nada pra perceber que estávamos indo para a pista de dança. Uma música mais calma acabava de começar, mas não chegava a ser lenta. Zayn me colocou no chão e não sorria como eu, o que me fez imaginar o que seria a “coisa” que ele queria me falar. Apesar disso, não fiquei tensa ou preocupada como teria ficado em qualquer outro dia.
  - Vamos dançar de novo? – Segurei a barra do meu vestido, abrindo-o como se fizesse uma reverência.
  - Estou começando a gostar, sabia? – Riu sem acreditar que estava mesmo falando isso. – É o que dá, namorar uma dançarina.
  - Tem razão! Eu até estou cantando mais... – Entrelacei meus dedos na nuca de Zayn e deixei nossos corpos se moverem no ritmo da canção.
  - Você ficou mais baixa desde a última vez que dançamos? – Parecia confuso com aquilo e olhou os meus pés.
  - Eu tirei os saltos, idiota. – Rolei os olhos. Era só o que me faltava, ser chamada de baixinha! – Quer que eu suba nos seus pés?
  - Sempre quis saber com essas coisas funcionam! – Riu animadamente com a minha proposta e parou de se mexer para que eu fizesse as honras.
  - Ai, Malik, como você é besta. – Um besta que eu amava. Pousei as mãos em seus ombros para ter apoio e subi um pé em cima de cada um dos dele.
  - E agora? – Me olhou em dúvida do que deveria fazer.
  - Agora a gente dança! – Gargalhei, deitando a cabeça em seu ombro. – Você tem que se mexer... Eu não tenho muitas condições pra fazer isso.
  - Oh, certo. – Passar tanto tempo com Harry o deixara mais lerdo que o normal. Demorou um pouco pra pegar o jeito, mas logo começou a se mexer, nos fazendo dançar. – Até que é divertido...
  - Me sinto uma criancinha! – Sorri, deixando um beijo no pescoço de Zayn. – Baby... O que ia me falar?
  - Hoje, quanto a Eleanor chegou... Marco a trouxe até aqui. – Sua respiração pesou na minha orelha, como se não quisesse falar sobre aquilo, mas precisasse. – Nosso “término de mentira” vai ter que acontecer mais rápido do que esperávamos.
  - Quando? – Levantei o rosto para fitar suas orbes. Nossos corpos não paravam de se mexer nem por um segundo.
  - Talvez uns dois dias depois que voltarmos a Londres... – Suspirou. – A matéria já foi redigida e a garçonete já deu a primeira entrevista. Estão esperando que voltemos pra casa pra poder liberar tudo...
   - Nós voltamos pra casa amanhã... – Meu sorriso desapareceu. – O que fazemos agora?
  - Agora a gente dança... – Forçou um sorriso de canto, me abraçando ainda mais. Deitei mais uma vez o rosto em seu ombro. Ele tinha razão, pois aquilo era a única coisa que tínhamos pra fazer... Dançar.

       

Chapter XV

O domingo chegou mais rápido do que todos esperavam, o que queria dizer que logo retornaríamos para Paris e, em seguida, pegaríamos o Eurostar de volta para minha nublada Londres. Por falar em nublada, apesar de ser verão, o dia amanheceu escuro e frio, indicando que uma chuva poderia cair a qualquer momento. Agradeci internamente a mim mesma por ter trazido na mala ao menos um casaco que me protegeria dos ventos frios que rondavam o lado de fora do Chateau. De todos nós, o que mais gostava das baixas temperaturas era , que corria com a boca aberta e a linguona pra fora.
  - Temos um carro e uma van, quem vai onde? – Perguntei ao terminar de arrastar a minha humilde mala pela ponte do castelo-hotel.
  - Harry e eu vamos no carro com a nana. – Louis mostrou a chave que tinha na mão. – Ela ficou enjoada na outra viagem e acha que o problema foi o ônibus...
  - Oh, tudo bem. – Sorri para meu irmão, olhando em volta.
  - Posso ir com vocês? – se ofereceu, carregando sua bagagem até o carro.
  - Não quer vir na van com a gente? – Niall tentou pedir para a sua ex-namorada possível-amiga-colorida ir no mesmo veiculo que ele, mas a ruiva nem ao menos o olhou.
  - Louis, pode abrir pra eu guardar a minha mala aqui? – A menina pediu.
  - Eu vou com você, Nialler. – Me senti mal pelo loirinho, e o bico que apareceu em seus lábios só aumentou aquele sentimento. Como estava perto dele, o puxei pra um abraço. – Não é a mesma coisa, mas é algo...
  - É melhor ainda! – Beijou a minha bochecha, forçando um sorriso. – Vou guardar suas coisas no carro...
  - Obrigada, sweetie. – Lhe passei a minha mala e bolsa de mão. – Pode colocar essa aqui no banco, por favor?
  - Pode deixar. – Piscou, servindo de carregador.
  - Hey, El! – Como Harry e Zayn estavam ocupados com outras malas, resolvi ir até a menina que conversava com Liv. – Marco vem te buscar ou você vem com a gente?
  - Ele ia vir... Mas falei que não precisava, então vou com vocês mesmo. – Eleanor explicou. – Não tem problema, certo?
  - Claro que não! – Toquei o cachecol roxo da menina, que por acaso era adorável. – Já guardaram as suas malas?
   Liv e Eleanor afirmaram que sim com um aceno de cabeça e logo voltaram ao assunto que eu interrompera ao chegar ali. logo cansou de correr e fazer suas necessidades, então caminhou até onde eu estava, lambendo a minha perna. Me abaixei para fazer carinho em seu pelo. “Você precisa de um banho...” Pensei sozinha. Um movimento maior na entrada do hotel começou a se formar, quando a maioria dos convidados que ainda não fora embora caminhou até o estacionamento, formando uma espécie de corredor. Acho que a razão para ainda não termos ido embora estava chegando...
  - O que é isso? – Escutei Liam perguntar.
  - São os noivos! – Vivian respondeu animada, esticando um saco com arroz que sobrara do dia anterior.
  - Eu quero! – Me pus a correr na direção da melhor amiga da minha mãe.
  - Espera por mim! – Zayn correu atrás de mim, obrigando a vir ver o que estava acontecendo.
   Rapidamente eu, Zayn, Liam, Harry, Louis, Niall, , Olivia e Eleanor estávamos divididos e um lado e de outro do corredor de pessoas, todos com punhados de arroz nas mãos. Um fusca azul com várias frases pintadas e latas amarradas em uma corda em sua traseira parou ali perto, também esperando o casal recém casado para levá-los ao aeroporto de onde sairiam para a lua de mel. A gritaria começou quando minha mãe e Dan apareceram na porta do hotel, de mãos dadas e surpresos com aquela recepção. Apesar de ser cedo e da festa da noite anterior ter acabado bem tarde, o visual dos dois estava muito bom. Jay tinha aquele brilho de “sou a mulher mais feliz do mundo” que invejei.
   A verdade era que eu mesma não consegui dormir muito bem depois da festa, pois tinha um nervosismo me consumindo. Em poucos dias teria que fingir terminar o namoro com Zayn e todos sabemos que nunca fui boa atriz. Desistir dele era algo que nem passava pela minha cabeça, mas é claro que eu tinha medo. Não sabia como tudo iria acontecer, não sabia se conseguiria não olhar pra ele durante os eventos que ambos participaríamos... Ou talvez eu fosse ser obrigada a deixar de ir nesses eventos da banda, por culpa dessa manobra publicitária. Segundo Zayn, a Modest! era muito poderosa e poderia controlar o que sai na mídia, mas nenhum de nós sabia se eles usariam esse poder para o bem ou para o mal.
   Voltei para a realidade assim que os noivos passaram correndo na minha frente e joguei o arroz para cima. Duvido que algum dos meus grãos tenha caído sobre eles, mas a bagunça era tão grande que consegui disfarçar. Bem, disfarçar de quase todo mundo, já que Zayn me conhecia como a palma de sua mão. Ele passou um braço pela minha cintura e me olhou preocupado. Fingi um sorriso como se tudo estivesse bem e deixei um beijo curto em sua bochecha. Não precisava falar pra que ele soubesse o que havia de errado.
  - , querida! – Jay me chamava. – Venha cá e traga as suas amigas!
  - Já vou, mum! – Acenei para a mulher e me virei para Zayn. – Leva pro carro, por favor? Acho que já vamos embora...
  - Dê um abraço na sua mãe por mim. – Beijou o topo da minha cabeça e se virou para o cachorro parado ao seu lado. – Vem comigo, Bo!
  - Tia Jay está chamando a gente? – passou o braço pelo meu, cheia de intimidade com a minha mãe.
  - Está sim! – Sorri pra ela, que não tinha nada a ver com o meu baixo astral. – Liv, El, vem cá!
   As outras duas olharam na minha direção e apontei para a minha mãe, que as chamou com um aceno. e eu fomos lado a lado até o carro azul, onde Dan abria o porta-malas. O motorista do carro o ajudava com a bagagem, mas era com outra coisa que a minha mãe estava preocupada. Soltei assim que nos aproximamos e Jay abriu os braços pra mim. Claro que não esperei nada pra me enterrar ali. O que mais precisava naquele momento era o seu colo, a sua proteção. Desejei que nós duas pudéssemos ficar mais um dia ali, só nós duas... Pra que pudéssemos conversar e ela me assegurar que tudo ficaria bem.
  - Você está bem, ? – Perguntou ao meu ouvido, acariciando meus cabelos úmidos devido um banho recente.
  - Só sinto a sua falta. – A apertei ainda mais. Preferi fingir mais um sorriso e olhá-la. – Mas logo nos falaremos de novo! Porque você tem que me contar como foi a lua de mel, ok?
  - Pode ter certeza que sim! – Sorriu como se não tivesse preocupação alguma no mundo, e realmente não tinha. – Me avise quando chegar em Londres, tá bem?
  - Claro que sim. Aproveite Santorine e tire muitas fotos! – A abracei uma última vez, sabendo que minhas amigas também queriam cumprimentá-la. – Danny!
  - ! – Daniel parou o que estava fazendo quando ouviu meu chamado e também abriu os braços. – Não acredito que não vamos ter outra aula de pesca!
  - Vai ser realmente uma pena não aprender a colocar a minhoca no anzol! – Ri com ironia e abracei meu padrasto. – Cuide bem dela, por favor.
  - Não precisa nem pedir, sabe disso. – Beijou a minha testa como um pai faria com a sua filha. – Se cuide também... E cuide do seu irmão, porque você tem mais juízo que ele!
  - Bem, isso é verdade! – Ri novamente, dessa vez achando graça de verdade. – Vamos ficar bem. E espero ver vocês dois em breve!
  - Tenho certeza que vai sim! – Se virou para o porta-malas e tirou de lá uma caixa branca com um laço preto. – Senhora Deakin posso dar o presente das meninas?
  - Você não espera mesmo, não é, Daniel? – Ui, os dois já estavam “discutindo”? – Pode sim! Meninas, é apenas uma lembrancinha por terem sido tão boas no casamento... Um agradecimento.
  - Não precisava, Jay... – Liv agradeceu ao ganhar a sua caixa idêntica a minha.
  - Shiu, Olivia! – se colocou na fila para também receber o seu presente. – Se a tia insiste...
  - Esse é o espírito, ! – Johannah riu, entregando o último presente para Eleanor. – E foi um prazer conhecê-la, El. Saiba que é bem vinda pra visitar a cidade sempre que quiser.
  - Muito obrigada, Jay. – Eleanor abraçou a falsa sogra mais uma vez.
  - Por que sua mãe não falou isso pra mim? – cochichou pra mim.
  - Porque você acabaria se mudando pra casa da minha avó se ela falasse isso. – Ri, levando um tapa fraco no braço. – Outch!
  - , poderia chamar os meninos agora? Também temos algo pra eles...
  - Claro, mum! – Segurando o meu presente em um braço, usei o outro para abraçá-la mais uma vez. – Boa viagem pra vocês dois. E um maravilhoso começo de casamento!
  - Obrigada... – Deu três beijos seguidos na minha bochecha e sorriu animada. – Boa viagem pra vocês também!
   Enquanto minhas três amigas terminavam de se despedir dos recém casados, me afastei por não querer dizer adeus novamente. Torcia para que nos encontrássemos novamente, mas toda despedida é ruim demais para ainda ser prolongada. Passei por Niall e Harry no caminho até a van e avisei para eles que a noiva os chamava. Liam e Lou acabaram escutando, então também deixaram o que estavam fazendo e correram até o fusca azul. O único parado no transporte que me levaria até Paris era Zayn, que ainda tentava convencer a entrar ali. Acabei rindo ao ver a encenação onde meu namorado fingia ser um cachorro e se jogava pra dentro da van preta, se machucando nos braços do banco.
  - Posso saber o que você está fazendo? – Perguntei com uma risada. Teria cruzado os braços, mas a caixa do presente era grande demais.
  - Seu filho não quer entrar no carro! – Sentou no chão do carro, frustrado.
  - Ah, então agora que ele não obedece, é meu filho, mas ontem a noite quanto te obedeceu, era “nosso”? – Arqueei uma sobrancelha. Me virei para o cachorro e o olhei nos olhos. – ! Sobe.
  - Até parece que... EI, COMO VOCÊ FEZ ISSO? – Os lábios de Zayn formaram um perfeito “o” assim que o filhote me obedeceu e pulou para dentro do carro.
  - O que posso fazer? – Coloquei a caixa branca ao lado da minha bolsa no banco do carro antes de eu mesma entrar ali. – Ele sabe quem manda.
  - Sei. – Fez careta entre uma bufada ou outra. – Onde está todo mundo?
  - É verdade, a minha mãe está chamando vocês lá... – Sabia que tinha esquecido de algo! – Corre!
  - E você só me avisa isso agora? – Zayn rolou os olhos e pulou para fora do carro, já começando a correr.
   tentou ir atrás dele, mas segurei a cólera em seu pescoço. Não seria nada bom para o meu ego saber que o meu filho preferia ir atrás do pai do que ficar comigo por ali. Me acomodei na primeira fileira de bancos, perto da janela. Ficaria de costas para a “cabine” do motorista, mas pelo menos conseguiria conversar com os outros que dividiriam aquele passeio comigo. Bo era tão educado que já foi deitando embaixo do meu banco e cobrindo os olhos com as patinhas; tinha mania de fazer isso quando queria dormir e a claridade não permitia. Liv e Eleanor logo se juntaram a mim e imaginei que tivesse ido se acomodar em seu próprio carro. As duas meninas sentaram no banco a minha frente, lado a lado.
  - Podemos abrir? – Olivia perguntou, se referindo ao presente em seu colo.
  - Sim, por favor! – A curiosidade já tomava conta de mim e puxei o laço preto de qualquer jeito, abrindo a caixa. – Que gracinha!
  - Sua mãe é muito legal, ! – El sorriu, abrindo a caixa dela com um pouco mais de delicadeza do que eu. – Harry tem sorte em tê-la como sogra!
  - Você tem namorado, El? – Liv questionou.
  - Tenho sim... – A observei corar. – O nome dele é Max!
  - E ele não se importa com o que você está fazendo?
  - Max trabalha na mesma agência que eu... As vezes o ciúme bate, mas ambos sabemos que nada disso é de verdade.

+++

  - Porque estamos parando? – Liam perguntou ao olhar pela janela embaçada pelos pingos da chuva que caíra recentemente.
  - Senhor Malik, é aqui? – O motorista perguntou na frente do carro, me fazendo despertar do meu quase cochilo.
  - É sim, John, obrigado. – Zayn estava sentado ao meu lado e segurou a minha mão, me deixando sem entender nada quando o veículo parou para que descêssemos. – e eu ainda precisamos fazer uma coisa, mas vocês podem ir na frente. Chegaremos antes do trem sair.
  - Liv, olha o pra mim? – Pedi para a loira, que afirmou que sim com um sorriso.
   Ainda não sabia muito bem o que Zayn estava aprontando dessa vez, mas sabia que logo descobriria. Já havíamos passado rapidamente na casa da minha avó pra pegar o resto das malas e nos despedir. Mais uma vez doeu ter de dizer adeus àquela senhora tão fofa e que eu amava tanto, mas eu já devia estar acostumada, não? , Louis e Harry tiveram que se apertar na van conosco, pois aquele ainda era o carro que nos levaria até a estação de trem. Ou ao menos era... Até Zayn ir para a calçada e me ajudar a fazer o mesmo. Não entendi muito bem o que estávamos fazendo ali mesmo depois de ter reconhecido o lugar.
   Mais uma vez visitávamos a Pont des Arts, mesmo que o cenário estivesse bem diferente do que na véspera do meu aniversário. Com o dia chuvoso e ainda mais por ser um domingo, ninguém além de nós dois estava por ali. O céu escuro tomara o lugar das nuvens brancas e sol brilhante. Era quase como se a natureza entendesse o que estava acontecendo dentro de mim e resolvesse me acompanhar. O menino ao meu lado sorriu com ternura, por mais que não fosse o seu maior sorriso. Entrelaçamos os dedos mais uma vez ao começar a caminhar lado a lado.
  - Por que estamos aqui? – Olhei para a madeira molhada da ponte embaixo de meus pés.
  - Achei que poderíamos nos despedir propriamente de Paris. – Acariciou minha mão com o polegar, sua respiração baixa.
  - Mas estaremos de volta logo. – Tomei coragem de olhar de volta pra Zayn. Até quando as coisas estavam tensas, sua simples contemplação era capaz de me acalmar.
  - Ano passado você pensou em voltar pra cá... – Não precisou especificar exatamente quando aquilo aconteceu, pois eu lembrava bem. Logo após a morte do meu avô eu quase desisti de tudo. – Voltou a pensar assim mais alguma vez?
  - Sim... – Preferi ser sincera ao invés de falar o que ele gostaria de ouvir. Caminhávamos devagar, como se não tivéssemos um trem para pegar em pouco mais de uma hora. – Quando a saudade aperta, eu penso em voltar. É ruim não ver nana todos os dias... Ou a minha mãe. Ainda mais agora que ela vai começar uma vida nova ao lado de Dan e eu gostaria de ver como ela vai se sair com isso. Mas aí eu penso em tudo que tenho em Londres... Você, os meninos... Tenho a Academy e agora a Mulberry... Não posso simplesmente desistir de tudo que lutei pra conseguir. É difícil, mas não estou sozinha. Londres é o meu lugar agora, mas sempre terei Paris aqui me esperando.
  - E está nervosa com a Academy? Quero dizer... Você vai terminar o último período agora. – Sorriu com um pouco mais de vontade. Zayn sabia o quanto isso era importante pra mim.
  - Passou tão rápido que mal posso acreditar! Ainda é bem surreal. – Apertei sua mão na minha inconscientemente. – E é claro que eu estou nervosa! É a minha última chance de aprender... Minha última chance de mostrar que sou boa no que faço. É nesse semestre que todas as companhias estão de olho nos alunos.
  - E eu tenho certeza que muitas delas vão fazer de tudo pra ter você em sua equipe. Não entendo como isso funciona, mas alguém seria louco pra te rejeitar.
  - Espero que esteja certo. – Olhei além da ponte, onde o rio Sena corria agitado. – Por mais que as melhores companhias estejam fora de Londres...
  - Dessa eu não sabia... – Parou de caminhar, encostando na grade da lateral da ponte. Sua expressão se tornou quase assustada, como se eu tivesse acabado de falar que estava indo embora para muito longe. – E... Você tem... Planos?
  - Tenho sim. – Suspirei, apoiando o corpo sobre o dele para abraçá-lo.
  - Qual? – Questionou como se não quisesse saber a resposta, olhando por cima do meu ombro e não diretamente pra mim.
  - Você.
   Segurei delicadamente em seu queixo, trazendo seu olhar de volta para o meu. Sorri com o alivio que estudei em sua expressão, como se um peso muito grande tivesse sido tirado de suas costas. Fechei os olhos instintivamente quando senti a respiração dele se misturar com a minha e bater sob os meus lábios. Encostamos nossas bocas com cuidado, saboreando cada segundo, cada sensação. Aquele não era só um beijo e sabíamos disso. Poderia ser o nosso último beijo em público, sem termos que nos esconder de qualquer um que pudesse ver. Até aquele momento não percebi o quanto isso era importante. Não o tipo de importância necessária, mas aquela que faria falta. Zayn segurou na minha nuca como se para me impedir de me afastar, mal sabia ele que isso era a última coisa que eu faria.
   Aos poucos aprofundamos o beijo, trocando assim milhares de declarações e juras de uma alma para a outra. Eu era completamente apaixonada por aquele menino em meus braços. O amava tanto que seria capaz de passar por qualquer coisa só pra poder continuar dividindo tudo que dividíamos. Podia não ser fácil ou perfeito, mas era o que eu precisava, o que eu não queria ter que aprender a viver sem. Nosso namoro era apenas pra mim e pra ele, não para o resto do mundo. Tudo ficaria bem, eu confiava nisso. Tinha que confiar...
  - Seja forte, Anjo... – Encostou a testa na minha, ainda de olhos fechados. – Seja forte por mim.
  - Serei. Custe o que custar. – Apenas naquele momento percebi que minhas mãos apertavam o casaco do outro com força. – Eu te amo tanto...
  - Não mais do que eu te amo. – Seu tom adquiriu um pouco de diversão, como se fossemos começar uma das nossas discussões bobas de quem ama mais. Vi que ele se mexeu na minha frente e colocou algo na palma da minha mão.
  - O que é isso? – Dei um pequeno passo pra trás, só para olhar o cadeado que segurava. Imediatamente li o que estava escrito: “Star & Zayn. 07/11/2012”, a data do nosso aniversário.
  - Uma promessa que eu posso cumprir. – Aquelas palavras tiveram um peso maior, pois eu sabia o que significavam.
   Zayn encaixou a chave prateada na entrada do cadeado, abrindo-o. Acabei sorrindo quando ele indicou que eu deveria prendê-lo na ponte, em meio aos milhões de outros cadeados já presos ali; uns tão velhos que quase não se podia ler os nomes do casal. Procurei um lugar protegido, onde a chuva e o vento não maltratassem tanto assim a nossa pequena promessa. Ao prender o objeto ali, fiz todos os pedidos possíveis, desejando que a lenda daquela ponte fosse verdadeira e que nós dois ficássemos presos um ao outro da mesma forma que o cadeado. Em seguida, o próprio Zayn jogou a chave no rio abaixo de nós, onde ficaria perdida pra sempre.

+++

  Engraçado como você só percebe o quanto sente falta do seu chuveiro depois de passar um mês tomando banho em lugares estranhos. Não literalmente estranhos, claro, porque me lembro muito bem que os banheiros do Chateau e do Hotel Venice em Los Angeles eram muito bom; apenas não eram o meu banheiro. Com a toalha amarrada nos cabelos molhados, uma roupa confortável para ficar em casa e a escova de dente na boca, encostei-me a bancada e fitei meu reflexo no espelho. Estivera chorando durante o banho, sem conseguir explicar o motivo exato, então meus olhos azuis estavam ligeiramente avermelhados. Eu precisava desse escape, desse momento de deixar tudo sair pra que pudesse me construir mais forte ainda. Com a mão direita, segurei o cabo cor de rosa e continuei a escovar meus dentes enquanto a esquerda destravava a tela do celular. Durante o banho escutara o toque avisando o recebimento de uma mensagem e só lembrara disso agora:

  
“Não sei mais o que fazer!”

  Era a mensagem de Zayn. Franzi o cenho sem entender bem o que ele quis dizer ou se ao menos mandara a resposta para a pessoa certa. Seria possível que ele pretendesse mandar essa mensagem para um dos meninos, mas apertou o meu nome por engano. Enxagüei a boca antes de responder:

  
“Como assim? Essa mensagem era pra mim mesmo? Não seria a primeira vez... Haha”
  “É claro que é pra você! Quero dizer... Parece que não sei mais fazer as coisas sem você ao meu lado. Como vou tomar banho sem esperar encontrar um recado seu escrito no vapor do espelho? Ou te observar da cama enquanto penteia seus cabelos molhados? Acho que você vai ter que vir aqui, .”
  “Também sinto a sua falta, baby, mas vai ser bom passarmos esse tempo afastados. Eu já estava ficando enjoada de você.”
  “Depois dessa vou procurar outra namorada. Você leu tudo que eu falei?! Qualquer uma teria vindo correndo para os meus braços!”
  “Você sabe que estou brincando! Também queria estar aí. Mas vamos nos ver amanhã, certo? Quem sabe você pudesse me mostrar o seu flat...”
  “Amanhã não, minha mãe levou as coisas pra lá, mas ainda tenho que ver se está tudo certo pra te receber. Terça feira talvez.”
  “Estou começando a achar que você não quer me levar lá!”
  “Claro que não quero! Te dei a chave porque você está proibida de me visitar.”
  “De que adianta a chave se não tenho o endereço?!”
  “Touch.”   “Você quis dizer ‘touche’? HAHAHA”
  “Tanto faz. ò_ó O que vão fazer agora?”
  “Idiota. Bem, Lou e Haz saíram em um encontro, então estou sozinha com Li. Acho que vamos assistir TV, pedir uma pizza ou qualquer coisa assim.”
  “Posso levar a pizza pra vocês! E ainda alugo algum filme... Sugestões?”
  “Sugiro que você vá passar um tempo com sua mãe e as meninas. Nada de vir pra cá. Não me obrigue a ligar para a Trisha e pedir pra ela esconder a chave do seu carro.”
  “Eu atravessaria Londres a pé se fosse pra te ver.”
  “Boa tentativa, Zen! Até amanhã e não discuta! <3 xoxoxoxo”

  Exagerei na quantidade de “xos" porque senti como se estivesse dispensando-o. Realmente estava, mas isso é um mero detalhe. Deixei o aparelho sobre a bancada do banheiro, me virando para estender a toalha sobre o vidro do Box e procurei a escova para pentear meus cabelos. Já não estava mais triste e consegui rir de verdade ao receber as duas mensagens de Zayn em resposta a minha.

  
“Eu te odeio.”
  “Você sabe que não odeio. Até amanhã. Boa noite, beautiful.”

  Até que assistir a um filme não seria uma má idéia, principalmente por estar chovendo um pouco do lado de fora e o clima ser perfeito para essa atividade mais calma. Saí do banheiro após guardar o celular no bolso de trás do meu short, indo direto para o criado mudo ao lado da minha cama. Tinha certeza de guardar ali um DVD que Olivia me emprestara, mas que eu nunca tivera muita coragem de assistir sozinha. Liam podia não ser muito fã de filmes de terror, mas com certeza aceitaria o meu pedido. Sentia falta de passar um tempo só com ele, já que meu namorado fez o favor de roubá-lo de mim, então aproveitaria aquela oportunidade para lembrar os velhos tempos.
   Com a caixa de Insidious em mãos e um sorriso no rosto, saí do quarto e demorei dois segundos para parar na porta do meu companheiro. Como estava entreaberta e morávamos juntos a tempo suficiente para que eu tivesse intimidade de entrar sem bater, empurrei a madeira para espiar o que se passava no interior do cômodo. Li estava jogado na cama, trajando apenas uma calça de moletom e sem camisa. Acenou para que eu me aproximasse, mesmo estando com o próprio celular na orelha. Saltitei até o móvel e me sentei no colchão, empurrando os pés do dono do quarto mais para o lado. Sou folgada sim, beijos.
  - É, a acabou de chegar aqui. Aviso sim, Dani, não se preocupe. – Respondeu a sua namorada pelo aparelho. – Ela mandou um beijo...
  - Mande outro! – Assoprei um beijo na direção dele, fazendo-o rir.
  - Ela mandou outro. (...) Até amanhã, então. Bom trabalho... (...) Me liga quando chegar em casa? – Suas bochechas adquiriram um tom avermelhado ao notar que eu o encarava com uma expressão que dizia: “Awwwwn”. – Eu também te amo.
  - Desliga você... Não, desliga você... – Fiz duas vozes diferente, tentando imitar o casal. Por sorte, Liam já encerrara a ligação e por isso Danielle não me escutou.
  - Cala a boca, . – Se sentou e jogou o travesseiro que antes apoiara a sua cabeça em cima de mim.
  - Hey, hey! Eu vim em paz! – Me protegi do ataque com o braço, mas um pedaço do travesseiro ainda atingiu a minha cabeça. – Você vai sair?
  - Eu ia... Mas Dani acabou de cancelar nossos planos. Ficou presa no estúdio.– Fez um bico de lado. Ele devia sentir muita falta da namorada. – Ela pediu pra avisar que vamos sair terça feira. Eu, você, ela e o Z.
  - Ok! E sinto muito... Porém, tenho uma proposta pra fazer! Sei que não sou a sua namorada e a minha companhia não é tão boa assim... – Dramatizei, tentando fazer cara de coitadinha.
  - Você é a minha melhor amiga, . É claro que a sua companhia é perfeita. – Quem consegue fazer drama com uma fofura dessas? – Quais são seus planos?
  - Poderíamos assistir um filme... – Mostrei o DVD em minhas mãos. – É de terror... E preciso de companhia pra assistir.
  - Tudo bem, mas saiba que se algo acontecer, é você que vai me proteger. Está com fome?
  - Só um pouco. – Dei de ombros, me segurando pra não responder “Faminta!”. – Pizza?
  - Leu meus pensamentos. – Já foi pegando o celular para discar. – Domino’s ou Pizza Hut?
  - Pizza Huuuuuut! – Cantarolei, levantando da cama. – Vou fazer chá, ok? Te espero lá embaixo.
   O engraçado é que Liam não perguntara o sabor da pizza, apenas a marca. Ele me conhecia tão bem ao ponto de saber o que eu gostaria de comer ou não. Na verdade, nossos gostos eram praticamente iguais... Vai ver por isso todos me achavam a sua versão feminina. Mais um motivo para Zayn ser tão apegado assim àquele menino. Contanto que ele não preferisse a minha versão masculina, eu estava tranqüila. Peguei a caixa do DVD e me dirigi para o andar de baixo da casa. Até daquelas escadas que costumavam me derrubar durante as manhãs eu senti falta! Viajar era maravilhoso, mas pretendia dar uma pausa e me curar da sensação Homesick. No caminho para a cozinha, vi mordendo um de seus brinquedos tranqüilamente em cima do sofá. Ele também devia sentir falta das suas coisinhas.
   Deixei o filme na bancada americana, me virando para os armários. Era quase como se eu me esquecesse onde cada coisa ficava ali, mas consegui achar a chaleira e os outros objetos que precisava para fazer nosso chá. Antes de mais nada, enchi a chaleira de água da torneira e liguei o objeto na tomada. Enquanto a água esquentava, me coloquei na ponta dos pés para alcançar o armário mais alto e pegar a caixa de Yorkshire Tea que Lou sempre escondia ali. Um barulho vindo das escadas me fez girar e esperar que Liam se juntasse a mim.
  - Bem vindos ao Show do Payne! – Escutei a sua voz, mas ainda não consegui vê-lo.
  - Está falando sozinho de novo? – Perguntei alto para que ele me ouvisse e voltei a me concentrar na minha tarefa, abrindo a caixa de metal para escolher dentre os sabores de chá.
  - Eu não falo sozinho, é mentira dela. – Ainda não falava comigo, o que me obrigou a olhá-lo por cima do ombro.
   – O que você está fazendo, Liam?!
  - Um vídeo para a minha conta no youtube! – Explicou enquanto colocava a câmera que segurava em cima de um tripé apoiado na bancada americana.
  - Achei que você tivesse desistido dessa idéia. – Ri por lembrar da primeira vez que ele mencionou essa loucura, meses atrás.
  - Diga oi para o pessoal, ! – Já sem o objeto em suas mãos, foi para o meu lado e gesticulou para a câmera, me fazendo virar.
  - Oi, pessoal! Pra quem não me conhece, meu nome é ... – Me apresentei, sentindo-me mais a vontade em falar para uma câmera do que para uma web cam durante alguma twittcam dos meninos.
  - E, como podem ver, ela é meio pobre! – Me interrompeu, puxando o meu braço pra mostrar os rasgos no meu sweater. – Não tem dinheiro nem pra comprar um jumper novo!
  - Para a sua informação, Payne, ele é assim mesmo, ok? – Me soltei e girei sem sair do lugar, mostrando meu modelito. – Trouxe de Los Angeles, quando fui visitar esses meninos.
  - Tudo bem, me desculpe. – Olhava para mim e para a câmera e me senti em um programa de TV. – O que vamos fazer hoje, ?
  - Ainda bem que perguntou, Leeyum! Na primeira edição do quadro “Na cozinha com & Liam”, iremos aprender a fazer um verdadeiro chá inglês! – Improvisei para a câmera, gesticulando e mostrando a chaleira. – Volte aqui na próxima semana pra descobrir que novas aventuras culinárias estaremos testando!
  - Então vamos começar, shall we? – Bateu palmas silenciosas e ficou de lado, seguindo a minha linha de pensamento. – Primeiro... Quais são os ingredientes que precisamos?
  - O mais importante é o chá, claro! Pode ser em forma de folhas ou em sachês. Eu particularmente recomendo esse aqui... – Peguei a caixinha de Yorkshire Tea e mostrei para a câmera. – Lou, se você está assistindo isso, me desculpe, mas foi necessário!

+++

  - Ok, isso foi... – Comecei, mas não consegui terminar.
  - É, com certeza... – Liam parecia igualmente chocado.
   O filme que Liv me emprestara era... Assustador, pra falar o de menos. Não que eu fosse ter pesadelos por uma semana, mas levei bastante susto durante toda a sua duração. O menino que me acompanhou também não foi tão diferente assim, já que na metade do filme nós já estávamos abraçados e escondendo o rosto em almofadas; revezando pra constatar se a TV estava segura o suficiente para voltarmos a olhar. A caixa vazia da Pizza descansava tranquilamente sob a mesinha de centro e abaixo de nossas canecas vazias de chá. A câmera onde filmamos o “Na cozinha com & Liam” e mais algumas partes soltas para um possível futuro vídeo estava na estante, salva de qualquer perigo. assistiu o filme conosco e foi o mais corajoso. Ele podia não entender muita coisa, mas quase não desgrudou os olhos da tela. A chuva do lado de fora aumentou exponencialmente, atingindo o telhado e janelas da casa como se de propósito.
  - Nunca mais vou olhar pra cantos de teto da mesma forma. – Liam comentou baixo, comigo ainda em seu colo. Ao menos ele não continuava sem camisa...
  - Né?! A hora que aquele... – Me impedi de terminar a frase por sentir um arrepio de sensação ruim. – Vamos nos distrair, ok? Fazer outra coisa e parar de pensar nesse filme.
  - Boa idéia, quer jogar? – Apontou para o XBOX, mas algo um tanto diferente me ocorreu. – Guitar Hero, COD, GTA...
  - Você é um gênio, Liam! – Pulei para fora do colo dele e me pus de pé no chão. – Vai pegar as velas na gaveta da cozinha?
  - Velas? Pra que?
  - Para o nosso jogo!
   Com um sorriso malicioso e um tanto travesso me dirigi até a escada e subi de dois em dois degraus. A luz do corredor ainda estava acesa, por isso não esbarrei na parede ou na porta do quarto do meu irmão, pois foi ali que entrei. Apesar de não gostar que mexam nas suas coisas, Lou não se importaria em me emprestar o seu jogo. “Onde está?” Olhei em volta, com as mãos na cintura. Aquele quarto era uma tremenda bagunça! Se com ele arrumado já seria complicado encontrar o que eu procurava, imagine com as montanhas de roupas e objetos não identificados espalhados pelo chão e móveis. Liam me chamava no andar de baixo e já devia estar com as velas que eu pedira. Sua inocência não devia fazer nem idéia do que eu estava aprontando.
   Àquela altura a sensação ruim do filme de terror já tinha passado e apenas o nervosismo da próxima atividade era o que acordava as borboletas na boca do estômago. Não em um sentido de “vou beijar o amor da minha vida”, mais como “vou mexer com algo que pode ser perigoso”. Revirei o guarda roupa e algumas gavetas, mas nada de encontrar o que eu procurava. Uma idéia passou rapidamente pela minha cabeça: “Em baixo da cama!” Não custava nada olhar. Fechei tudo que abri e me coloquei de quatro no pé da cama, me abaixando para tentar olhar o mais perto possível. Engraçado como as imagens do filme voltaram exatamente na hora que metade do meu corpo estava embaixo da cama de casal. “Por favor, que não tenha nenhum monstro aqui...”
  - BOO! – Um tapa na minha bunda me fez levantar de uma vez, esquecendo até mesmo que estava embaixo da cama. O barulho que a minha cabeça fez ao bater na madeira foi tão alto que imaginei tê-la quebrado. – STAR! Você tá bem?
  - Mas que porra, Liam! – Reclamei e só escutei suas risadas. – Ficou maluco?!
  - Desculpa, é que foi difícil resistir! – Ainda ria e sentou na cama. Apenas olhei seus pés perto de mim e continuei a minha busca. – Encontrou o que quer que esteja procurando?
  - Acho que sim! – Agarrei uma caixa retangular e um tanto fina. – Pode me ajudar a sair daqui?
  - Pode deixar! – Pelo rangido da cama, senti que ele voltou a se levantar agarrou os meus pés. Segundos depois estava sendo arrastada pelo chão e saindo de baixo do móvel. – O que é isso?
  - Nosso jogo! – Me coloquei de pé e mostrei a caixa de jogo que segurava. – Ouija!
  - Você ficou maluca, ? Depois do filme que assistimos, você quer jogar isso?! – Li deu um passo pra trás, medroso. – Quando dei a idéia de jogarmos, pensei mais em algo... Inofensivo. Como atropelar mafiosos no GTA ou fingir que somos rock stars! Não quero falar com os mortos...
  - Não seja bobo, Leeyum! Quer uma oportunidade melhor do que essa? Está chovendo... Estamos sozinhos em casa... Vai ser divertido! – Segurei sua mão e nos guiei para fora do quarto.
  - Você tem uma idéia muito conturbada do que é divertido.
   Conforme voltamos para o primeiro andar, desliguei as luzes pelo caminho. A única lâmpada que permaneceu acesa foi a da sala, mas isso logo seria resolvido. Liam ainda parecia desconfiado e dividido entre jogar comigo ou não, mas ambos sabíamos qual seria a sua decisão. Deixei a caixa do tabuleiro em cima do sofá e tirei as coisas de cima da mesinha de centro. A caixa de pizza e canecas foram para o chão e me sentei entre a mesa de vidro e o sofá. Enquanto acendia as velas brancas que Liam trouxe da cozinha, o menino desligou o aparelho de DVD e a televisão. Faltava apenas o principal... O tabuleiro de Ouija.
  - Pode apagar a luz! – Pedi enquanto tirava o tabuleiro de madeira de dentro da caixa, colocando em cima da mesa e de frente pra mim.
  - Tem certeza do que está fazendo? – Li me obedeceu e se sentou do outro lado da mesinha, de frente pra mim.
  - Claro que sim! – Rolei os olhos. Com a palheta também de madeira no centro do tabuleiro, suspirei e olhei para o outro. – Sabe brincar, certo?
  - Sei sim... – Colocou as pontas de três dedos de cada mão em uma ponta da palheta.
  - Muito bem... – O imitei, mordendo o lábio inferior. Por mais que estivesse nervosa, queria brincar. O que de mal poderia acontecer? – Se concentre!
  - É você que está mexendo? – Quase instantaneamente a peça embaixo de nossos dedos começou a fazer círculos no tabuleiro. Arregalei os olhos, mas Li escondia um sorriso. – H-I S-W-E-E-T-I-E.
  - Hi sweetie? – Respirei aliviada, mas olhei para Liam com tédio. – Para de brincar!
  - Não resisti! – Riu divertido, ainda com os dedos sobre a palheta. – Agora é você que está brincando!
  - Aham, tá. – O pedaço de madeira continuou a se mexer pelo tabuleiro. Eu ainda estava desconfiada de Liam, mas resolvi entrar na onda. – “Tem alguém aqui com a gente?”
  - Isso não tem graça, . – Li balançou a cabeça, ainda tentando me fazer acreditar que ele achava que eu era quem estava mexendo. Após um tempo, a palheta foi arrastada. – “SIM”.
  - Liam, você jura que não está fazendo isso? – Após nos responder, a madeira voltou a fazer círculos, dessa vez mais rápida.
  - Eu juro! – Até ele parou de rir. Nos entreolhamos sem saber muito bem o que estava acontecendo. Resolvi continuar. – “Se tem mesmo alguém aqui, mande um sinal.”
   Nossas mãos continuaram deslizando em um circulo perfeito por mais um minuto, até que levantou de onde estava deitado tranqüilamente e latiu duas vezes, olhando para o nada. Ele logo se aproximou de mim e voltou a deitar como se nada tivesse acontecido. Não sei se isso poderia ser considerado como um sinal, mas foi como o entendi. Liam parecia tão assustado quanto eu, incerto se devíamos prosseguir ou não.
  - “Quem é você?” – O instinto me fez perguntar. Depois de segundos, a palheta nos deu uma resposta: - J-A-C-K.
  - “O que aconteceu com você?” – Li fez a próxima pergunta, olhando fixamente para o tabuleiro; que nos respondeu ainda mais rápido. – M-E M-A-T-E-I.
  - “Onde?” – A pergunta deixou meus lábios com um suspiro. – A-Q-U-I.
  - “O que você quer?” – Tive vontade de bater em Liam por causa daquilo. Quem pergunta a um possível fantasma o que ele quer?! – E-N-T-R-A-R.
   Antes que eu pudesse perguntar aonde ele queria entrar, o barulho da janela da sala de estar abrindo do outro lado do corredor fez meu sangue congelar. A rajada de vento forte e gelado que percorreu a casa inteira foi o suficiente para apagar as três velas que nos iluminavam e provocar um grito assustado deixar a minha garganta. Liam e eu soltamos a palheta ao mesmo tempo e ela parou de se mover. Senti como se a ponta dos meus dedos tivesse acabado de tocar algo muito quente e pelo olhar que Liam tinha na direção das próprias mãos, sentira o mesmo. voltou a levantar e começou a latir para o nada.
  - Liam, acende a luz! – Pedi aterrorizada, já me colocando de pé e ficando na frente do cachorro, de forma protetora.
  - O que está acontecendo? – Levantou ainda mais rápido e correu até o interruptor. No instante que acendeu a luz, escutamos um pipoco e a lâmpada estourou, me obrigando a cobrir os olhos.
  - Temos que sair daqui...
   Não fazia idéia do que estava acontecendo, mas alguma coisa me dizia que havia algo errado e o mais assustador de tudo... Liam, e eu já não estávamos mais sozinhos naquela casa. Com a adrenalina começando a fazer efeito, chamei e corri para a escada, sendo seguida por Liam. Tentei acender a luz do corredor, mas não tive sucesso algum.
  - A porta não abre! – Liam reclamou. – Nenhuma dessas!
  - Meu quarto também não! – Minha voz saiu quase chorosa enquanto eu tentava com todas as forças abrir a porta do meu quarto, mas era como se ela estivesse trancada. Passei para a de Harry em seguida. – Abre!
  - O que você está vendo, ? – Perguntou rápido para o cachorro parado no topo da escada, latindo para o que quer que estivesse lá embaixo.
  - Bo, sai daí!
   Tentando não pensar no pior, fiz com que o filhote corresse até onde eu estava. Encostei na parede, pedindo para todos os santos e deuses que nos protegessem. Lágrimas ameaçavam sair, mas eu estava com medo demais até pra chorar. Liam pareceu se lembrar do banheiro do corredor, então correu até lá e milagrosamente abriu a porta. Sem perder tempo, me puxou pelo braço até que nós dois estivéssemos ali dentro. nos seguiu e o menino trancou a porta. Ambos entramos na banheira que havia ali e nos abraçamos, um tremendo mais do que o outro. Ótima hora que fui inventar de brincar com o que não devia! Estávamos em um silêncio total quando meus ouvidos captaram um ruído... Alguém subia as escadas e chegava ao corredor. A chave da porta do banheiro girou sozinha, destrancando-a. Foi então que eu comecei a gritar... Mas gritar muito.
  - AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Minha garganta até doeu do tanto que gritei.
  - STAR! STAR, ACORDA! – Alguém me balançou com força, fazendo com que minha cabeça girasse e meus olhos fossem abertos no mesmo instante. – Você só teve um pesadelo...
  - O que aconteceu? – Coloquei a mão sobre o coração que batia disparado em meu peito. Minha respiração estava terrivelmente descompassada. – Eu dormi?
  - Na metade do filme... – Liam e eu ainda estávamos no sofá e ele me abraçou com força, na tentativa de me tranqüilizar. – Shh, já passou...
  - Posso dormir com você hoje?

    

Chapter XVI

“North Row, Mayfair, WK1. ME14 6TJ. 7TA. Hyde Park Gardens; cobertura. Te vejo em meia hora! x PS: O porteiro já foi avisado.”

  Esse foi o convite intimação que me acordou na terça-feira pela manhã. Bem, manhã se você considerar 10hrs como cedo. Aparentemente Zayn finalmente me permitiria conhecer o tão famoso flat onde iria morar. Ou estava morando, já que desde o dia anterior ele terminou a sua mudança oficial e dormiu na cama nova. Sua mãe até me ligou para pedir a minha ajuda e fazer com que o seu único filho homem continuasse em casa. Devia ser difícil pra ela tê-lo sempre viajando por causa do trabalho, mas agora que ele saia de baixo das suas asas era pior ainda. Com essa meia hora que me foi dada, pude apenas jogar uma água no corpo e vestir o primeiro conjunto de roupas que vi pela frente. Por sorte, havia separado na noite anterior o que usaria quando fosse sair com Liam e Dani ainda naquela noite. Se bem conhecesse Zayn, ele não me deixaria voltar pra casa nem pra trocar de roupa. Enfiando tudo que precisaria dentro da bolsa, lembrei de pegar a chave do apartamento que ganhara, rindo sempre que via a foto de Zayn no chaveiro.
   Consegui encontrar o endereço que me foi informado sem nem precisar apelar para o GPS ou para Siri. Já passara por aquela rua muitas vezes no meu caminho de casa para a Oxford Street, onde o escritório da Models One ficava. Se aquele fosse mesmo o prédio de Zayn, era extremamente bem localizado. Próximo ao Hyde Park e ao centro de compras... Será que ele estava tentando me seduzir a morar com ele? Porque estava quase conseguindo. A fachada já me lembrou muito um hotel, então imaginei como seria a parte de dentro. Foi até fácil encontrar um lugar para estacionar na rua, mas algo me dizia que ficaria mais difícil conforme as horas de pique se aproximassem. Um senhor totalmente uniformizado e com um chapéu que me lembrou muito o de um piloto, abriu a porta de vidro para que eu pudesse entrar. Logo informei quem estava visitando e a minha subida foi permitida imediatamente.
   O elevador foi outra coisa que me surpreendeu. Assim que entrei nele, uma voz automática me desejou bom dia, informou a data e a hora. Útil, mas só serviu pra me mostrar que eu estava quinze minutos atrasada. Ali dentro devia caber ao menos dez pessoas tranquilamente e ainda por cima tinha uma visão panorâmica. Apertei o botão para a cobertura, que descobri ficar no vigésimo primeiro andar; alto, sei disso. Me distraí completamente com a vista do lado de fora, quando os prédios iam ficando para trás e o verde do Hyde podia ser observado. No meio do caminho, uma garota de no máximo treze anos também entrou no elevador e ficou me observando até tomar coragem pra falar algo.
  - Você também gosta de One Direction? – Apesar de seu jeito de mascar chiclete ser um pouco irritante, ela parecia amigável. – É o Zayn no seu chaveiro.
  - É, eu sei... – Me toquei que ainda segurava a chave do carro e, automaticamente, a chave do apartamento, com o chaveiro do merchandising. Dei de ombros com um sorriso. – Ele é meu namorado.
  - Meu preferido é o Harry, então ele é o meu namorado! – Comentou animada. Acho que ela não entendeu muito bem o que eu quis dizer, mas deixei passar. – Você é nova no prédio?
  - Eu não moro aqui, só estou visitando uma pessoa. – Pensando bem, era melhor ela não saber que um de seus ídolos estava morando no mesmo prédio que ela. Não que eu fosse má a esse ponto, era só questão de segurança. – Bem, essa é a minha parada. Até logo!
  - Tchauzinho!
   A menina acenou com um sorriso. Sorri de volta, ainda mais quando o elevador fechou e foi embora. O corredor não era muito grande e só tinha uma porta. Pensei em tocar a campainha, mas a possibilidade de pegar Zayn de surpresa – especialmente se estivesse no banho ou trocando de roupa – era tentadora demais. “Ah, eu tenho a chave mesmo...” E assim, eu me deixei entrar, abrindo a porta após girar a chave duas vezes. Uma vez dentro do apartamento, tive que descer dois degraus para então estar no nível do resto do complexo. O primeiro cômodo que vi foi o que devia ser a sala de estar, já que dois sofás (um de quatro lugares e outro de três) estavam de frente para uma televisão de tela plana presa à parede. O chão era todo de cerâmica clara e o bom gosto dos móveis era tremendo. Não entendo muito de decoração de interiores, mas posso dizer que era uma espécie de contemporâneo minimalista. Um tapete branco estava colocado na frente dos sofás pretos e uma mesa de centro também preta sobre ele. As janelas iam do chão até o teto e as cortinas avermelhadas estavam completamente abertas, o que me permitia ver a vista do lado de fora.
   Escutei uma música ter o seu volume aumentado, então minha atenção foi atraída na direção do que quer que fosse. Deixei a minha bolsa pesada em cima de uma mesinha alta que encontrei pelo caminho e segui a melodia. Espiei por um arco que substituía portas e dei de cara com a cozinha. Um balcão alto e comprido servia de bancada americana e tinha um exaustor pendendo do teto sobre si. Ali em cima percebi o fogão ultra tecnológico que nem parecia ter bocas por onde o fogo sairia. Encostada à parede, duas pias e vários armários; sem falar do forno também embutido em um desses armários. Me senti em uma casa do futuro. Assim como a sala, o lugar era extremamente espaçoso. O chão continuou sendo de porcelana branca até determinada altura, onde se transformava em madeira. Na parte de madeira, encontrei uma mesa de jantar um tanto divertida, parecendo ter sido tirada de um restaurante; estofados que lembravam um sofá substituíam as cadeiras.
   Apesar de a cozinha/sala de jantar ser muito bonita e divertida, foi o homem sem camisa que dançava ao som da música enquanto lavava os pratos que chamou a minha atenção. Zayn estava cozinhando e dançando? Uau, isso era algo novo... Nova casa, novos hábitos. Não me importaria de assistir aquilo o dia inteiro, mas estava com saudades dele. Não nos vimos na segunda feira como pretendíamos – culpa daquela bendita mudança -, então precisava da minha dose de beijos diários redobrada. Apenas esperei a música terminar e me aproximei. A plataforma do meu sapato era silenciosa, por isso não fui denunciada quando caminhei até o menino e o abracei por trás.
  - Que cheiro bom é esse? – Apoiei o queixo em seu ombro e beijei o pescoço.
  - A lasanha que fiz para o nosso almoço... – Se assustou um pouco, mas relaxou ao ver que era apenas eu e não um monstro qualquer.
  - Estou falando de você. – O fiz desligar a torneira e se virar pra mim.
  - Ainda bem, porque não tenho tanta certeza quanto à lasanha... – Olhou para o forno ao nosso lado, já que ele ficava na altura do meu busto. – E você está atrasada!
  - Só vinte minutos! Passei os outro cinco olhando a sua sala gigantesca. – Olhei no relógio em meu pulso e pousei uma mão na nuca do outro. – Pelo menos estou aqui. Não é a melhor parte? Aliás, já está cozinhando?
  - Tive vontade de estrear a cozinha... – Sorriu. Zayn parecia mais do que feliz em estar morando sozinho pela primeira vez; estava orgulhoso de si mesmo. E devia estar, já que comprara tudo ali com o próprio trabalho e talento.
  - Tenho uma idéia diferente da sua do que é “estrear” alguma coisa... – Falei em um tom cheio de intenções, sorrindo travessamente.
   Zayn pareceu captar o que eu quis dizer e o seu olhar se tornou um misto de: “gosto mais da sua idéia” e “posso deixar a lasanha queimar e não ligo a mínima”. Ainda com pensamentos pecaminosos, colei o corpo ao dele, aproveitando a altura que meus sapatos me davam. Apertei um pouco a sua nuca com as minhas unhas até que nossos lábios estivessem colados. Tive a boca invadida por um Zayn que sentia tanto a minha falta quanto eu a dele. Movia a minha língua com certa urgência e violência, deitando o rosto para um lado e depois para o outro, tentando explorar tudo que eu podia como se pretendesse encontrar algo novo por ali. Minha cintura foi apertada com força e Zayn deu alguns passos para frente, até que meu corpo estivesse preso entre ele e a bancada maior. Essa foi quase uma forma de mostrar que ele era quem mandava. Ainda atracados como se quiséssemos nos engolir, fui levantada do chão até estar sentada nessa bancada. Teria sido uma cena muito sexy se a minha cabeça não tivesse batido em algo duro que logo foi ao chão.
  - Outch! – Reclamei, acariciando o local atingido.
  - Você bateu a cabeça em uma panela? – Zayn gargalhou, se afastando e pegando o objeto do chão. – Desculpa! As coisas ainda são novas, não me acostumei...
  - Não tem problema... Acho que a culpa foi minha também. – Ri do quão patética eu devia ter parecido, mas ao mesmo tempo não fiquei envergonhada. – É isso que dá, ficar sem camisa por aí.
  - Prefere que eu me vista? – Não me dei nem ao trabalho de responder aquele absurdo e desci da bancada antes que causasse mais algum acidente. – Ei, onde está indo?
  - Nós estamos indo ver o resto do flat. Se bem que isso aqui é grande demais pra ser chamado assim... – Me curvei para tirar os sapatos, sabendo que Zayn me estudava.
  - Mas você gosta de coisas grandes, né? – Assoprou no meu ouvido ao se aproximar rápido demais.
  - Gosto... Mas me contento com você. – Brinquei com uma risada alta, me fazendo ser empurrada por um menino emburrado. – Estou brincando, bobo.
  - Sei disso, baixinha. – Fez uma careta que só conseguiu ser super fofa e indicou o outro arco para que passássemos; arco da sala de jantar, não o primeiro, da cozinha. – O que já viu?
  - Só a sala e aqui... E baixinha é a . – Não gostava daquele insulto, até porque não era baixa!
  - E você. Mas tudo bem, vamos á próxima atração...
   Ao sair da sala de jantar, passamos por um corredor longo e bem espaçoso. Nas paredes, quadros de alguns dos filmes preferidos dele e fotos de familiares e amigos. Liam apareceu em pelo menos quatro das fotos, quando eu em apenas duas! Teria reclamado se não quisesse chegar logo na próxima parada do tour. Zayn abriu a porta de vidro fosco e madeira branca que nos levou ao quarto que devia ser o mais divertido da casa: O quarto de jogos! Posters de filmes e séries de TV enfeitavam as paredes, um colchão que devia ter o dobro de tamanho do meu ocupava toda a parte na frente da TV (que, por sinal, também era maior que a da sala) e uma estante entulhada de DVDs e jogos de vídeo game fechava o pacote. Posters do One Direction também estavam por ali, mas isso era um mero detalhe. No canto oposto ao colchão no chão, um violão preso a parede e mais embaixo uma mini geladeira vermelha com o logo da Coca Cola.
  - Gostou do “quarto dos meninos”? – Zayn tinha os braços cruzados enquanto se apoiava à porta.
  - Quarto dos meninos? – Fiz aspas no ar. Que machismo era aquele?! – Te desafio a ganhar de mim em uma partida de Guitar Hero ou Rock Band!
  - Não vou apostar porque sei que perderia. – Boa escolha. – Que tal “Quarto dos meninos e da ?”
  - Perfeito! Alias, esse apartamento inteiro devia ser “Casa dos meninos e da Tah”, porque não quero mais nenhuma mulher aqui.
  - Você é quem manda, mas a minha mãe vai ficar chateada ao saber disso. – Mudou de posição, colocando as mãos nos bolsos.
  - Tudo bem, ela pode. E as suas irmãs também. E Rach, Lux, ... – Ele tinha razão. Muitas mulheres deveriam ter permissão... – Quer saber? Vou fazer uma lista e depois conversamos sobre isso.
  - Muito bem. – Sorriu e deu um passo para fora daquele quarto. – Vem, ainda tem muito pra ver!
  - Qual é o próximo?!
  - Meu cantinho feliz!
   No final do tour eu estaria bem cansada, disso tinha certeza. Sem falar que demoraria muito pra me acostumar a andar ali sem me perder. Apesar de ser preguiçosa, estava animada em conhecer os outros lugares e esperava que fossem tão legais quanto aquele. Andamos uns dez passos até chegar em outra porta; a qual Zayn não demorou nada para abrir. Pelo tamanho do seu sorriso percebi que aquele realmente devia ser o seu “cantinho feliz”. Eu podia ter esperado por qualquer coisa, menos aquilo. Adentrei o que parecia muito com um estúdio de artes acabei sorrindo também. Boa parte do chão já tinha algumas manchas de tinta que não sairiam nem com macumba. Em um canto, uma mesa velha e de madeira servia de apoio para latas de Spray de todas as cores, moldes de plástico, pinceis e tinta. Fora aquilo, os únicos moveis eram uma cadeira de altura regulável, mesa menor e com rodinhas, um mini estúdio de desenho (com uma daquelas mesas inclinadas e poltrona) e por último alguns tripés de pintar. Telas em branco de todos os tamanhos estavam encostadas a parede da janela.
  - É estranho eu querer MUITO te ver pintando ou desenhando alguma coisa? – Sorri, me virando para olhá-lo.
  - É estranho eu querer que seja a minha musa inspiradora? – É, nenhuma das nossas opções era estranha.
  - O que tem aqui embaixo? – Andei até algo grande que estava coberto por um lençol branco.
  - Pode ver. – Mesmo que não tivesse deixado, eu teria espiado. Tirei o lençol e encontrei um cachorro verde e preto, quase do meu tamanho.
  - Gromit! – Dei a volta no personagem de desenho animado, encantada. – Você fez isso?
  - Já faz um tempo... – Sorriu daquele jeito que fazia quando falava de algo que realmente gostava. – Fiz para o seu pai.
  - Por que você faria um Gromit para o meu pai? – Estranho, muito entranho.
  - Não é pra ele, literalmente, . – Riu. – Fiz para o hospital em que ele trabalha. Para as crianças de lá, sabe?
  - Você é incrível. – Não só por seu talento com arte ou música, mas pelo tamanho de seu coração. – Tenho certeza que vão amar.
  - Ah, é, você tem que falar com ele por mim. – Foi sua fez de fazer careta. – Da última vez que falei com Mark, ele perguntou se você precisava de outra cartela de anticoncepcional.
  - Daaaaaaad. – Escondi o rosto nas mãos. Isso não era o melhor assunto para ter com o namorado da sua filha!
  - Precisa? – Levantou a sobrancelha, desconfiado.
  - Malik! – Gargalhei, mas neguei com a cabeça. – Eu ainda tenho duas das que ele mandou na última vez. Mas podemos continuar?
  - Próxima parada... Quarto principal!
   Foi na frente e o segui, curiosa. A porta do quarto foi aberta e ele entrou primeiro, ficando no meu campo de visão até que eu também me colocasse lá dentro. Por mais que a paisagem das costas de Zayn estivesse perfeita, queria ver o que estava a minha volta! A cama de casal estava no centro do quarto, encostada a parede, e foi difícil me controlar para não pensar em todas as coisas que faríamos ali em cima. Bem em frente à cama, encontrei o quadro que dei de presente pra ele no último natal, o que me fez sorrir. Uma escrivaninha estava no outro canto do quarto, com um computador montado ali. Ao lado dessa escrivaninha, portas de correr que escondiam um closet maior que o meu e abarrotado de roupas e sapatos de todos os estilos. O banheiro principal também tinha a sua entrada ali perto. De volta para o quarto, prestei atenção no mural magnético pendurado na parede ao lado da janela. Encontrei uma quantidade absurda de fotos e eu estava na maioria delas. Ok, talvez Zayn estivesse perdoado!
  - Esse lugar é perfeito, Zayn! Agora entendo porque você estava louco pra se mudar...
  - E você dizendo que eu era louco! – Passou um braço pelos meus ombros, me trazendo pra perto.
  - E é! Mas um louco bom. – Beijei sua bochecha e sorri. – A cama é confortável?
  - Você vai ver isso daqui a pouco... Ainda temos mais pra ver. – Me arrastou para a porta.
  - Mais? Babe, estou começando a achar que isso aqui é uma passagem secreta pra Nárnia...
  - Até que seria legal, mas não. – Caminhamos mais um pouco pelo corredor. – Acho que você deve abrir esse.
  - Por que? O que tem aqui? – Dei meio passo e parei na frente da porta, segurando a maçaneta.
  - O seu quarto. – Respondeu com aquele sorriso orgulhoso aparecendo mais uma vez.
  - Eu tenho um quarto? – Engasguei com o ar, impedindo uma exclamação mais animada de sair.
  - Por que não descobre?
   Era uma boa idéia... Uma ótima idéia! Sem esperar mais nada, abri a porta para me deparar com o meu cantinho naquele apartamento enorme. A janela mais uma vez ia do teto à parede e tomava conta de um lado inteiro. As cortinas eram brancas com algumas flores cor de rosa. Uma mesa de escritório estava de frente para essa janela grande, onde vi um computador igual ao de Zayn, sem falar no abajur, caixinha de lápis e algumas revistas de moda que eu sabia ser as últimas edições. Em outra extremidade, uma arara com alguns cabides vazios, para que eu colocasse peças de roupa. Na parede da porta estava o que mais gostei: Um quadro bem grande com o mapa mundial. Em alguns pontos específicos, fotografias presas por taxinhas coloridas mostravam todos os lugares onde eu já estivera. Londres, Paris, Castle Combe, Roma, Los Angeles... Claro que em todas elas eu estava ao lado do meu namorado. Também encontrei alguns Post-it amarelos colados com frases tais como: “Pra onde vamos na próxima viagem?”, “Que tal aqui?”, “Ouvi dizer que a pizza aqui é muito boa.”
   Um divã cor-de-rosa descansava tranquilamente ali embaixo. Olhei pra cima quase sem acreditar que tudo aquilo era pra mim e dei de cara com estrelas que brilham no escuro espalhadas por todo o teto. Como havia poucos móveis por ali, o espaço vazio era enorme e tinha certa idéia do que isso queria dizer. O espelho de tamanho humano tomava metade de uma parede meio vazia e confirmava as minhas suspeitas. O papel de parede também me deixou muito confortável, já que tinha monumentos de Paris e Londres, um se misturando ao outro.
  - Você é maluco! Não precisava ter feito isso... – O olhei emocionada.
  - Eu só queria que você tivesse um lugar pra fazer as suas coisas... – Deu de ombros, sabendo que eu amara tudo. – Tem bastante espaço pra você dançar e fazer suas coisas de moda.
  - Por falar nisso, você comprou um computador pra mim? – Cruzei os braços, me virando para encará-lo.
  - Talvez. – Sorriu culpado.
  - Você é louco, mas eu te amo! – Ri e corri até ele, me jogando em seus braços.
  - Acho que até mereço um beijo. – Fez bico, o qual eu logo mordi.
  - Merece todos eles. – O enchi de selinhos.
  - Pronta para a última parada?
  - Ainda tem mais? – Perguntei com a voz esganiçada. Aquilo era Nárnia! Só podia ser!
  - Só mais um lugar, eu prometo. – Mordeu meu lábio inferior e o puxou entre seus dentes.
   Depois daquela sedução, preferi não reclamar e o acompanhei para fora do meu quarto. Olha só... Já estou até chamando de meu! Atravessamos o corredor novamente, passando até mesmo por fora da cozinha e passando pela sala. Quando entrei ali pela primeira vez, não notara a cordinha que pendia do teto, em um canto mais afastado do sofá. Observei enquanto Zayn dava um pulo para segurar a corda e a puxar para baixo com cuidado. A tampa abriu devagar, mostrando uma escada de madeira que desceu até estar encostada no chão.
  - Primeiro as damas... – Zayn ofereceu, mas continuei no mesmo lugar.
  - Estou usando saia. Mas tenho certeza que já percebeu isso, não é mesmo? – Sorri de canto, acabando com os planos dele.
  - Valeu a tentativa. – Riu e aceitou ser o primeiro a subir.
   O observei subir, mordendo o lábio inferior. Como a escada era inclinada e tinha um pequeno corrimão, não foi tão difícil fazer esse trajeto e chegar até o segundo andar daquele apartamento que agora se tornava um dupléx. O flat podia não ter uma varanda propriamente dita, mas tinha um terraço! Logo quando terminei de subir a escada, Zayn me ajudou a subir em uma espécie de estufa montada ali em cima. Uma mesinha com algumas cadeiras formava o lugar perfeito para se tomar chá em um dia quente. Toda a cúpula era de vidro, então nos permitia ver o lado de fora. Além disso, abrimos uma porta que nos levava para o lado de fora. O vento forte logo bagunçou os meus cabelos, mas não me importei enquanto explorava o telhado. O chão ali continuava sendo de madeira, o que me agradou muito. Uma churrasqueira estava encostada no canto de uma das paredes do lado de fora da parede de vidro da estufa, mais pra frente: Algumas espreguiçadeiras e um chuveirão para os dias de calor. Fora tudo isso, o que mais me agradou foi a vista. Como disse antes, aquele prédio ficava bem perto do Hyde park e era ele que eu via. Aquele lugar era incrível.
  - , vem cá! – O som da voz de Zayn me alertou.
  - Onde? – Olhei pra trás, mas não o vi.
  - Aqui do outro lado!
  - Tô indo! – resolvi seguir o som de sua risada, atravessado a cobertura até vê-lo na outra ponta. – O que houve?
  - Reconhece aquele prédio ali? – Apontou para algo ao longe, mas consegui enxergar.
  - É a Models One! – Sorri, apertando os olhos pra ver melhor. – Eu sabia que era perto, mas não fazia idéia que dá pra ver daqui... Olha, é a Carine!
  - Você já está exagerando se conseguir ver... A LASANHA!
  - Se conseguir ver a lasanha? – O olhei sem entender, mas pelo seu olhar de preocupação, me lembrei do que se tratava. – A lasanha!

+++

  - Está esperando alguém? – Perguntei enquanto olhava para Zayn e deixava o console do vídeo game de lado.
  - Não... Ninguém tem esse endereço além da minha mãe. – Olhou preguiçosamente na direção da porta. – Vai lá atender?
  - O apartamento é seu, baby. É sua responsabilidade atender a porta... – O olhei como quem diz “sinto muito”, mas só estava com preguiça.
  - Tudo eu! – Bufou e acabou se levantando.
   O nosso almoço não queimou, só pra constar. Apenas tinha notas levemente tostadas! Apesar de Zayn ter cozinhado, estava uma delicia e eu não teria conseguido fazer melhor. Depois de comer, nos retiramos para o quarto de jogos. Começamos tentando assistir um filme, mas ficou chato demais, então resolvemos jogar algo mais emocionante. Por mais que eu quisesse atirar na cabeça de alguns zumbis, Zayn preferiu jogar Mario e acabei deixando. Perdi miseravelmente, mas valeu a pena para ver o sorriso todas as vezes que ele passava uma nova fase e eu morria mais vezes do que as minhas vidas me permitiam. Teríamos continuado naquele lenga lenga se alguém não tivesse tocado a campainha e feito-o levantar. Eu não fazia idéia de quem poderia ser, mas o pensamento de ser alguma fã ou até mesmo aquela menina do elevador vindo atrás de mim por alguma razão me preocupou.
   Desisti de esperá-lo voltar e levantei com dificuldade. Aquele colchão era realmente confortável! Me senti flutuando em uma nuvem até que pisei no chão. A mudança de texturas foi tão grande que estranhei. Ao passar pela porta, olhei para os dois lados do corredor para lembrar para qual deveria ir. Esquerda, isso mesmo! Passei pelos porta-retratos pendurados na parede do corredor e desemboquei na sala, onde Zayn fechava a porta e seguia para o sofá preto. Em suas mãos, um envelope pardo fez todos os pelos em meus braços se eriçarem. Nós dois tínhamos uma experiência ruim com aquele tipo de coisa, principalmente quando chegavam sem aviso.
  - É do Marco. – Explicou assim que me joguei ao seu lado no sofá e me passou o post-it colado na parte de fora. – Um funcionário do prédio acabou de deixar aqui. Disse que era importante.
  - “Eu realmente sinto muito, tentei conseguir mais tempo, mas não me deram ouvidos. Tem que ser hoje; ligue quando souber o local.” – Li em voz alta, enquanto Zayn corria os olhos pelo papel em sua mão. – É o que eu acho que é?
  - Temo que sim... – Suspirou com pesar. – Eu já tinha me esquecido disso.
  - Me deixa ler... – Eu sabia muito bem do que aqueles papeis do envelope se tratavam. Staged Breakup eram as duas palavrinhas infelizes que me perturbavam. O dia chegara mais rápido do que imaginava...
  - Tem certeza? Está bem forte. – Parecia receoso em me deixar ler aquelas matérias.
  - Tenho sim, sei que é tudo mentira. – Forcei um sorriso que não convenceu ninguém.
   Recebi o papel e me afundei ainda mais no sofá, procurando um conforto que não era físico. Antes de ler qualquer coisa, vi as quatro fotos que estavam naquela matéria de site de fofoca. A primeira era minha ao lado de Zayn, que provavelmente tiraram do meu Twitter, pois não era de paparazzis. A segunda era apenas minha, na porta do prédio da Models One. Creio que adicionaram um pouco de photoshop ali, pois eu parecia mais uma modelo do que qualquer coisa. As duas últimas eram de Zayn, dormindo. A qualidade estava horrível, mas ainda assim entendível. Me concentrei para ler a matéria que soltaria a noticia da “traição”.

  
“ZAYN MALIK PEGO TRAINDO SUA NAMORADA STAR TOMLINSON? Se ligue no relatório dessa garota sobre a sua noite com o Bad Boy do One Direction AQUI!
  Oh, Zayn Malik, seu bobo, pequeno canalha!
  Se você não sabe ATÉ AGORA que, se vai pular a cerca da sua dama – e uma dama tão fabulosa quanto Tomlinson -, não pode deixar um RASTRO?
  Por um tempo pareceu que tudo que o boybander do One Direction fazia era ser pego em passeios românticos com a sua It Girl e as coisas estavam ficando sérias... ISSO SE MUITO.
  Em uma nova e explosiva matéria, a garçonete americava Courtney Webb abriu tudo sobre a sua noite com Zayn e revelou que ele a levou para o seu hotel após terminar seu expediente no restaurante/bar Wokano; durante a estadia do garoto em Los Angeles. Tudo na desculpa que ele estava solteiro!   Conforme ela revela:
  “Foi incrível! Quando chegamos à recepção, havia um grande lustre com uma escada em espiral. E o quarto tinha uma vista linda da praia Venice. Zayn tinha carrinhos de controle remoto e skates espalhados pelo quarto, que pensei ser dos outros meninos. Era um quarto legal! Ele foi um garoto muito gentil. Nós conversamos sobre música e escutamos algumas em seu iPad. Ele até me deu um sweater quando eu fiquei com frio por causa do ar condicionado. Ele estava bebendo vodka e nós apenas rimos de tudo. Eu perguntei se ele tinha uma namorada e ele disse que não. Disse que queria aproveitar ter vinte anos. Zayn fez eu me sentir especial... Mas depois do sexo ele falou “Vista as suas roupas e vou te chamar um taxi”.”
  Yessssh! Soa bem correto, por causa de todos os detalhes que ela dá sobre o quarto dele! Claro que ajuda o fato de ela ter feito questão de tirar fotos dele para ter como prova (visto acima)!
  E ela conluiu:
  “Ele é um completo canalha! Como ousa fazer isso – não só comigo, mas com ? Eu não sou fã de One Direction. Não sigo o que eles estão fazendo. Quando descobri que ele tinha uma namorada, fiquei ainda mais zangada. Definitivamente acho que essa não foi a primeira vez que ele fez isso! Eu sinto pena da . Ela não sabe que isso está acontecendo. É errado e tem que parar.”
  Bem, se uma exposição publica sobre tudo que acontece atrás-de-portas-fechadas não o faz parar, nós não sabemos o que vai, guuurl!
  Mas, não que precise falar, nós estamos mais do que curiosos pra saber o que tem pra falar depois de um relatório tão completo como esse! Ainda mais do seu irmão mais velho, ninguém mais ninguém menos que LOUIS TOMLINSON, também da banda One Direction!
  Coisas estão prestes a ficar bagunçadas, pessoal!
  Fiquem ligados.”

  Me senti enjoada ao terminar de ler. O relatório com certeza era bem detalhado... Coisas que só alguém esteve lá poderia saber. Coisas que a Modest! fez questão de detalhar. Respirei fundo, absorvendo todas aquelas informações. Desde a primeira letra a até a última era apenas uma chuva de mentiras atrás de mentiras! Primeiro que Zayn não era um canalha e nunca trataria uma mulher daquela forma. Segundo e mais importante, ele não me trairia! O grupo de empresários exagerou, mas tornou aquilo acreditável, isso tinha que admitir. Por outro lado, sabia que quem nos conhecia de verdade saberia que nada daquilo era real.
  - Isso é nojento. – Joguei o papel sobre a mesinha de centro, abraçando os joelhos contra o peito. – Quando vai sair?
  - Daqui a algumas horas... No site do Perez Hilton. Logo todos estarão sabendo. – Zayn fitava o nada, tão chocado quanto eu. – Onde quer fazer o show?
  - Nós vamos sair com a Dani e o Liam hoje... Se eles não se importarem, prefiro fazer isso ao lado de amigos. – Confessei, tentando deixar a raiva e enjôo de lado.
  - Vou ligar pra eles e avisar ao Marco do endereço. – Se levantou e tirou o celular do bolso, logo começando a digitar.
   Ao mesmo tempo em que tantas coisas corriam pela minha cabeça, eu não pensava em nada. Sabia que Zayn nunca faria algo assim comigo e sabia que tudo ficaria bem. Teríamos que enfrentar uma bagunça no começo, mas tudo ficaria bem depois de um tempo. Certo? A poeira iria baixar. Também acreditava que esse escândalo interferiria no meu trabalho com a Mulberry. Talvez Carine não me quisesse mais como garota propaganda, mas era algo que eu estava disposta a abrir mão por casa de Zayn. O observei andar de um lado para o outro, enquanto explicava para Liam o que aconteceu e deveria acontecer. Não prestei muita atenção em suas palavras, sim nos movimentos que seu corpo fazia; especialmente seus braços ao segurar o celular com força. De uma coisa tive certeza... Eu o queria.
   Passei a ponta da língua por entre os lábios, preferindo dar atenção ao que o meu corpo pedia do que ao que perturbava os meus pensamentos. Em um nível subconsciente, precisava afirmar pra mim mesma que Zayn era meu e mostrar pra ele que, apesar do que quer que fosse que a Modest! jogasse pra cima de nós, ele tinha “dona”. Porque era isso o que eu era, não? A dona de cada centímetro daquele homem que agora me olhava curioso. Com um sorriso travesso, levantei do sofá, passando por cima da mesinha de centro e deixando pra trás toda aquela papelada que me irritara tanto. Liam ainda estava do outro lado da linha e perguntava algo que não consegui entender muito bem, tampouco me importava. Não subi na ponta dos pés para que o meu rosto ficasse da mesma altura do pescoço de Zayn. Arrastei os meus lábios por ali, descendo até o peitoral enquanto as minhas mãos arranhavam seu abdômen de leve, arrancando pequenos arrepios.
  - , o que você... – Parou no meio da pergunta, me fitando com suas orbes amendoadas.
  - Desculpa, Liam, seu amigo acabou de ficar um pouco ocupado. – Tirei o celular da mão de Zayn e desliguei após falar, jogando o aparelho no sofá atrás de nós.
  - Are you gunna be good for me, baby? – Afastou os fios claros da minha franja assim que voltei a deixar alguns beijos curtos em suas tatuagens espalhadas pelo peitoral.
  - Eu vou tomar um banho.
   Quase como se não precisasse da sua companhia, passei por Zayn e caminhei em direção ao corredor, apenas torcendo para encontrar o quarto certo. Meu convite foi entendido e o menino me seguiu, sem nunca me alcançar. Fiz meu trajeto inteiro na ponta dos pés, pois sabia que ele gostava quando eu andava assim. Segundo Zayn, eu tinha pernas bonitas e a minha bunda ficava mais empinada. Homens, vai entender. Como estava disposta a provocar, reforcei os movimentos de meu quadril de um lado para o outro, quase ouvindo a respiração do outro ficar mais pesada. Por força do destino, achei o quarto na primeira tentativa, deixando a minha blusa preta pelo chão.
   Não olhei pra trás ao adentrar o banheiro, sabendo que Zayn também chegara lá só pelo som da fivela do cinto do mesmo sendo aberta. Abaixei o zíper lateral da minha saia e a deixei escorregar pelas pernas. As duas peças restantes também se foram rapidamente, servindo de enfeite para a cerâmica clara do chão. Puxei de qualquer jeito o elástico que mantinha meu cabelo preso e o baguncei assim que soltei completamente. Pelo canto do olho, vi que Zayn me observava com luxuria, mas se controlava o bastante para não me atacar. Abri a porta do Box do chuveiro, apreciando o fato de ele ser um quadrado de vidro totalmente transparente. Não fiquei mais de costas para o outro ao ligar o chuveiro bem em cima de mim.
   Deixei que a água caísse e molhasse os meus cabelos, escorrendo pelo meu corpo. A temperatura estava morna, mas parecia queimar a minha pele, tamanho era o calor que estava sentindo. Zayn parecia petrificado, com exceção da sua mão direita que apertava o membro ainda preso pela boxer branca que relutantemente mantivera no corpo. Lancei meu olhar mais sexy, surpreendentemente sem dificuldade alguma. Passei a ponta do indicador pelos lábios e mordi a pontinha, dando um passo para a frente até que meu busto encostasse no vidro levemente embaçado. Zayn mordeu o lábio inferior com força e desejei que eu mesma o tivesse feito. O fuzilei com o olhar, finalmente chamando-o com o mesmo dedo que tocara a minha boca.
  - Você sabe o que eu quero. – Sorri de canto. – Give it to me.
  - Seu desejo é uma ordem.
   A rapidez de Zayn em tirar a última peça de roupa e entrar no Box comigo foi quase humanamente impossível. Ele envolveu meu quadril com as duas mãos e me pressionou contra a parede gelada, sendo a sua vez de ficar embaixo do chuveiro e deixar seu corpo ser molhado. Minha mão direita foi para a sua nuca, onde puxei até encaixar nossos lábios. Trocamos um beijo intenso desde o primeiro segundo. Como os nossos corpos estavam bem colados, senti a rigidez sendo pressionada na minha barriga, tornando muito difícil não me colocar de joelhos naquele mesmo instante. Passou os dentes pelo meu lábio inferior, prendendo-o ali e mordeu com a mesma força que fizera no próprio, me tirando um gemido. Seu sorriso convencido não tinha preço; foi sua forma de falar “eu sei o que fazer pra de deixar louca”. E realmente sabia.
   Afastando-se minimamente, pegou o pote de sabonete liquido que esperava pacientemente em sua prateleira pendurada na parede. Divertindo-se muito com aquilo, Zayn colocou uma quantidade considerável em uma das mãos e usou a outra para me tirar de perto do chuveiro. Mesmo assim, fui colocada com as costas de encontro à outra parede, desta vez de vidro. Passando uma mão na outra para espalhar o liquido escorregadio, arrastou a língua sobre os meus lábios, permitindo-me chupá-la por apenas alguns segundos antes de recuperá-la mais uma vez. Já com as mãos “preparadas”, tocou meus ombros e os apertou como se fizesse uma massagem, também cobrindo toda a extensão do meu pescoço. Ele se vingava pela provocação que eu fizera primeiro, pois descia as mãos devagar pelo meu busto, até finalmente, com as mãos em forma de concha, tocar os meus seios. Os apertou devagar, mas com certa força; brincando com os biquinhos rijos entre o indicador e o polegar.
   Encostei a cabeça na parede, fechando os olhos e me sentindo completamente entorpecida por todos aqueles toques. Como se não bastasse, colocou a sua perna entre as minhas, me fazendo forçar a minha intimidade ali, em busca de mais prazer. Xinguei baixinho quando Zayn desceu uma das mãos pela minha barriga, mas parando antes de chegar onde eu queria e terminou na minha cintura, apertando e seguindo para as minhas costas. No mesmo instante que encostou os lábios quentes na minha orelha e brincou com o lóbulo, toquei a minha própria pele, melando as mãos com sabão e descendo-as até encontrar o topo do membro que ainda pulsava.    Se Zayn não me dava o que eu queria, teria que conseguir por conta própria. Segurei em sua base, escorregando as duas mãos pra baixo e para cima em um ritmo estável e lento. Ainda estando com o corpo inteiramente molhado, senti o arrepio que veio em resposta ao gemido que escapou da garganta do outro. A proximidade de seus lábios da minha orelha não diminuiu quase nada quando passou a mordiscar meu pescoço e mexendo o quadril quase imperceptivelmente; pedindo silenciosamente para que eu continuasse. O obedeci como a boa menina que sempre fui e fiz questão de dar atenção a todas as partes do membro em minhas mãos, recebendo respostas mais imediatas quando esbarrava em um ponto fraco.
  - Eu quero você de costas. – Foi a vez dele de dar a ordem, com a voz rouca que me derretia.
   Obedeci com um sorriso. Segundos depois já estava de frente para o vidro agora bem mais embaçado e Zayn segurou os meus cabelos. Puxou-os para trás ao encostar o corpo nas minhas costas, escolhendo um ponto do meu pescoço para marcar. As mordidas e sugadas que recebi me deixariam bem marcada e era isso o que eu queria. O membro ensaboado foi para o meio das minhas coxas, onde o homem o manteve até que eu começasse a rebolar e provocá-lo até não agüentar mais. Com a mão livre, apertou a minha bunda e subiu com caricias para as minhas costas, pressionando-me entre ele e o vidro do Box.
  - Não esqueça de gritar o meu nome...
   Esse foi o único aviso que recebi antes que a ereção de Zayn fosse colocada em mim; dessa vez propriamente. Gemi, espalmando as mãos no vidro para ter ao menos um pouco de apoio. Soltou meus cabelos e usou as duas mãos para segurar a minha cintura e ter ajuda em seus movimentos de vai e vem. Sua pele molhada batia contra a minha e fazia um barulho alto e delicioso de ser escutado. Alguns outros gemidos curtos ou mais longos escapavam meus lábios e vez ou outra se misturavam aos suspiros exasperados que ele não conseguia controlar. Queria ainda mais; o máximo que pudesse ter.
  - Não para... – Implorei com a voz trêmula. – Mais forte...

+++

  - Babe, acho que estão ali... – Zayn segurou a minha mão com força, me impedindo de ir para o outro lado.
  - Aquela ali com certeza é a Dani! – Ri, observando uma cabeleira cacheada no fundo do Pub.
   Estávamos um pouco atrasados do horário combinado para encontrarmos nossos amigos no Mayflower Pub, mas era compreensível. Nosso banho demorou mais que o estimado... Principalmente por termos ido experimentar a banheira após estrear o chuveiro. Depois disso ainda passei meia hora olhando entre as jaquetas de Zayn até escolher a minha preferida para usar àquela noite. Ao separar a minha roupa antes de sair de casa, esqueci do pequeno detalhe que a noite de Londres é bem mais fria que o período diurno, mas graças aos céus meu namorado tinha uma coleção de jaquetas/casacos/cardigans super confortáveis e que ficavam muito bem em mim, apesar da nossa diferença de tamanho.
   Aquele Pub era um dos meus preferidos, com certeza. Suas instalações eram bem antigas e quase velhas, mas com bastante charme. Como a faixa etária de quem o freqüentava era mais elevada, raramente fãs escandalosas corriam atrás dos meninos para pedir fotos ou autógrafos, então nunca fomos obrigados a ir embora no meio de um jantar, pela janela do banheiro, como já havia acontecido outras vezes. Sua localização também era bem agradável, próxima ao rio Thames e o centro de Londres. Especialmente no natal aquela região ficava encantadora. Atravessamos de mãos dadas os corredores entre mesas e pessoas que continuaram se comportando como se nem soubessem quem era o homem ao meu lado. Muitas delas provavelmente não sabiam mesmo.
  - Olha quem chegou! – Danielle levantou-se assim que nos viu, vindo me abraçar. – Hey, ! Como vai? Que saudaaaaade!
  - Estou bem, Dani! – A abracei com carinho. Não éramos melhores amigas, mas gostava muito dela. – Pode parar de sumir assim, ok? Você trabalha demais!
  - Não vai falar comigo, Liam? – Zayn parou de braços cruzados na ponta da mesa, onde Liam conversava com uma amiga de Danielle.
  - Você desligou na minha cara! – O menino parecia ofendido, mas se tratando de Liam, não iria durar.
  - Acho que a culpa disso é minha... – Deixei Danielle cumprimentar meu namorado e fui até o dela. – Desculpa, Li.
  - Você eu perdôo, . – Sorridente, se pôs de pé e me envolveu em um abraço. Quase sussurrou as outras palavras pra que só eu pudesse escutar. – Está tudo bem? Como está agüentando?
  - Estou bem, Baba. – Tentei despreocupá-lo, não soando muito convincente. – Ou vou ficar... Só quero acabar logo com isso.
  - Podem sentar! – Dani parecia abstrata daquele assunto, por mais que imaginasse estar por dentro de tudo.
  - Obrigada. – Sorri pra ela e puxei uma cadeira na ponta da mesa, ao lado de Liam. Zayn ocupou o meu outro lado.
  - E você, Z.? – Li olhou para o amigo, que tinha mais dificuldade em fingir estar bem do que eu.
  - Preocupado. – Passou o braço por trás da minha cadeira, me trazendo pra perto. – Não gosto da idéia de deixá-la sair daqui sozinha. Lá fora vai estar abarrotado de paparazzis! Você sabe como eles podem ser.
  - Eu sei me cuidar, baby. – Fiz um meio bico, tentando acalmá-lo. Zayn era super protetor e a imponência que ganhou naquele “plano” devia ser muito frustrante.
  - Tenho certeza que tudo vai dar certo. – Li me apoiou.
   Dani havia pedido sucos pra todo mundo, apesar de ser um bar, e isso incluía Zayn e eu; os quais logo foram servidos. Agradeci mentalmente àquele gesto, pois a minha garganta estava seca. Também aproveitei para roubar algumas batatas fritas que estavam dando sopa em um prato no centro da mesa. Aparentemente os filetes de peixe haviam ido por água abaixo, então me contentei com as chips sem os fishs. Era bom forrar a barriga depois de ter passado o dia inteiro apenas com a lasanha semi-queimada de Zayn. Não era que o novo flat dele estivesse sem comida ou coisa assim, apenas preferi não comer.
   Passamos os vinte minutos seguintes conversando como amigos que não tinham problema algum no mundo e foi bom me sentir assim. Dani me apresentou às suas companheiras de dança e falamos sobre esse assunto que eu gostava tanto. Foi bom me distrair do motivo que me levara até ali, mesmo que ainda soubesse que ele estava quase na esquina, se aproximando rapidamente. Zayn costumava ser quieto quando estava perto de pessoas que não conhecia, mas aquela noite ele estava especialmente quieto. Eu sentia a culpa em seus olhos todas as vezes que nos conectávamos. Era do seu feitio puxar a culpa pra si quando ninguém mais parecia aceitá-la. Me inclinei sobre o seu tronco, relaxando no meu lugar seguro. Ele me abraçou e beijou o topo da minha cabeça, fazendo pequenas caricias nos meus cabelos soltos. Liam nos olhava e em seguida fitava a própria namorada. Talvez agradecendo por não estar passando pelo que nós estávamos; talvez se perguntando se seria o próximo.
   Teríamos continuado com nossos carinhos disfarçados se uma vibração na bolsa em meu colo e um toque vindo do bolso da calça de Zayn não nos atrapalhasse. Nos entreolhamos sem saber exatamente o que aquilo queria dizer, mas cada um pegou o seu celular. Diferentemente da nossa estadia em Los Angeles, ambos adotamos capinhas diferentes, então nunca mais confundimos um com o outro. Abrimos nossos iPhones quase sincronizardamente. A mensagem que recebemos também era a mesma. Apesar de a minha não ter nenhum nome no remetente, soube que era de Marco só pela diversão fora de hora que senti nas palavras:

  
"Show time! Já está tudo pronto. Se preparem para a indicação ao Oscar. ps: , seu celular vai tocar em cinco minutos"

  - Já? - Uma onda de nervosismo me atingiu, mesmo que tentasse me controlar com todas as forças. - Acho que não tem pra onde fugir... Tá na hora.
  - Me prometa que vai ficar bem. - Tentamos não nos mexer muito ou dar na cara que algo estava acontecendo, pois sabíamos que um olheiro já tirava nossas fotos, mas Zayn segurou a minha mão por baixo da mesa. - Vai direto para o flat. E tome cuidado...
  - É claro que sim... - O fitei nos olhos, esperando que aquilo falasse o que meus lábios não podiam mais. Sussurrei: - Eu te amo...
  - Eu te amo, anjo...
   Nos aproximamos rapidamente e nossos lábios se encostaram. Foi pouco, mas me deu um pouco mais de coragem além da que eu tentava juntar. Desde que recebemos a mensagem, Liam e Danielle entenderam que estava na hora. Ambos tentavam não nos encarar, mas estava difícil. Como informado, meu celular começou a tocar. Pedi licença da mesa, tentando entrar na personagem, peguei o celular e o levei a orelha.
  - Hello? - Atendi me afastando um pouco da mesa.
  - Oi, . Marco aqui... Se importaria de virar para o outro lado? Nossa fotografa não está achando interessante fotografar as suas costas. - Relutantemente fiz o que o empresário pediu, ignorando todas as respostas mal educadas que me vieram em mente. - Ótimo! Agora é só fingir que recebeu a pior noticia do mundo e sair. Tem um taxi lhe esperando.
  - Eu só queria que você não ficasse tão feliz falando isso... – Confessei. Não precisava fingir estar triste e irritada, pois essa parte era verdade. – Também sei que você não gosta de mim, mas vai ter que me agüentar. Infelizmente, também estou tendo que agüentar vocês e toda essa confusão, porque não vou desistir, não importa o que façam. Não vão se ver livres de mim.
  - Veremos quanto a isso. – Novamente me senti estar sendo ameaçada e senti uma pontada no estômago. – Agora vá!
  - Tudo bem! – Quase rosnei.
   Desliguei o celular e o coloquei no bolso da jaqueta de couro. Passei as mãos pelos cabelos, exausta. Queria realmente sair dali, mas não porque Marco mandara, e sim porque só queria acabar com tudo de uma vez. Suspirei fundo, olhando para a mesa onde Zayn se preparava para levantar. Mais uma vez seu semblante de culpa me partiu no meio, então a dor que deveria apenas ser fictícia se tornou real.
  - Estou indo embora. – Falei alto e bom tom, para que qualquer um ouvisse.
  - O que houve? – Zayn se levantou quando começamos a passar um texto que revisamos tantas vezes.
  - Você sabe muito bem o que houve, Zayn! – Forcei uma voz chorosa, magoada. Recuperei a minha bolsa de cima da mesa e o menino tentou segurar o meu braço. – Não me toque! Nunca mais me toque!
  - , espera! – Tentou mais uma vez me alcançar.
  - Zayn, deixa ela, cara. – Liam se colocou na frente do amigo, seguindo seu próprio papel.
  - Acabou, está me ouvindo?! – A lágrima que caiu em meu rosto era verdadeira, por mais que todo o resto fosse mentira. Até “brincar” com aquilo parecia sério demais. – Acabou, Zayn...
   Com essas últimas palavras me virei para ir embora. O Pub inteiro parecia ter parado o que estava fazendo para assistir a briga de um casal qualquer. Mas não éramos um casal qualquer. Avistei a mulher que ainda me fotografava, reconhecendo-a vagamente; como se já a tivesse visto antes e não conseguisse lembrar exatamente onde. O que mais me irritou é que ela fez sinal de “jóia” com a mão, como se aprovasse a minha encenação. Será que pra ninguém aquilo era algo sério? Um funcionário qualquer abriu a porta da saída e assim que pisei na calçada, senti os flashes me atingirem.
  - , ! Uma palavrinha aqui?
  - O que acha da traição do seu namorado?
  - Algum comentário?! Olha aqui pra câmera!
  - Zayn ainda está lá dentro? O que aconteceu?
  - Não vou comentar nada! – Não parei de andar pela calçada e tampouco respondi qualquer uma daquelas perguntas feitas por paparazzis.
  - Espera um pouco! – Algum dos fotógrafos gritou e os outros começaram a me seguir. Tudo o que eu queria era achar a porcaria do taxi.
  - Essa aí não é a jaqueta do seu namorado?
  - Ex-namorado. – Foi a única coisa que eu era obrigada a falar. Sim, obrigada, pois recebera instruções específicas pra falar aquilo caso fosse perguntada.
  - Já vai embora? Só por que eu cheguei? – Um homem vestido quase inteiramente de preto parou com a sua moto da mesma cor na minha frente. Congelei de medo e pensei em correr, mas foi só vê-lo afastar o visor escuro de seu capacete que quase relaxei. – Não lembra mais de mim?
  - Josh! – Sorri aliviada em vê-lo. Claro que os paparazzis adoraram tudo aquilo e continuaram a nos bombardear com flashes. – Pode me tirar daqui?
  - Pra onde quer ir? – Já foi soltando o segundo capacete do banco do carona e o entregando pra mim.
  - Qualquer lugar... Só me leva pra longe daqui. – Montei na moto antes mesmo de terminar de colocar o capacete, almejando alívio daquelas luzes incessantes.
  - Melhor se segurar.

Chapter XVII

Passava das sete horas da manhã quando consegui retornar ao Hyde Gardens, prédio onde Zayn agora morava. Josh e eu passamos por lá depois de sair do Mayflower, mas a quantidade de paparazzis que o esperava na porta do edifício era grande demais pra que eu pudesse entrar sem desmascarar toda a nossa encenação. O mesmo aconteceu nos portões do meu condomínio. Por mais que eu pudesse entrar lá, não queria passar pela tempestade de fotografias novamente. Tive que me segurar à esperança de que uma hora todos ficariam cansados e iriam para casa. Joshua me fez companhia e fomos para um lugar totalmente deserto. Até agora não sei exatamente aonde era, só que havia um rio e muitas árvores. Conversamos até o sol nascer, sobre o que acontecera no bar, sobre meu novo semestre na Academy e seu trabalho no X Factor. Foi bom colocarmos o papo em dia e até mesmo mencionei que ele poderia assistir uma das minhas aulas quando as férias acabassem.
   Zayn sabia do meu paradeiro durante a noite inteira, mas isso não o deixou menos preocupado. Quando voltei para casa, já estava dormindo e, como eu estava sem sono algum, preferi não me juntar a ele na cama. Ao invés disso, fui para o meu cantinho naquele apartamento enorme, me sentindo bem em estar rodeada por coisas que eu amava, mesmo não tendo descoberto todos os segredos que aquele escritório/estúdio de ballet escondia. Tirei os sapatos, a jaqueta e a calça jeans, guardando tudo na arara já não tão vazia no canto do cômodo. Abri as cortinas que Zayn devia ter fechado para proteger os eletrônicos do sol e deixei a luz da manhã invadir. Me sentei na cadeira em frente á mesa do computador pela primeira vez, a qual era muito confortável, e liguei a CPU. Fazia tanto tempo que eu não mexia em um computador como aquele que mal lembrava como tudo funcionava.
   Enquanto o objeto era ligado e terminava de carregar, olhei para as revistas de moda que Zayn comprara. Não tinha vontade nem ao menos de folheá-las, então creio que dá pra perceber o quanto eu não estava nada bem. Teria que ligar para Carine e confirmar nossa reunião de terça feira, já que àquela altura todos estavam sabendo do escândalo da traição de Zayn e nosso término, então não tinha como saber se a minha imagem ainda era interessante para a marca. Com a mão direita sobre o mouse, procurei o ícone da internet, mas não antes de ver o pano de fundo do meu novo computador. Zayn realmente pensara em tudo, pois era uma combinação de várias fotos minhas com meus amigos e familiares, não apenas com ele como a do mural do mapa mundial.
   Uma vez que tive conexão com o Wifi, abri o Twitter em uma guia e o Tumblr em outra. Se bem conhecia o fandom da banda, todos estariam malucos com tudo que andou acontecendo e nada melhor do que eles para me mostrar o que saíra na mídia, já que não teria paciência pra ir de site em site e descobrir o que estavam falando de mim. Poderia ter ido no site do Perez Hilton, mas já vira a matéria que sairia lá e não suportaria ler todo aquele absurdo mais uma vez. Antes de ir para as minhas mentions, dei uma rápida olhada na timeline, encontrando os twittes de quem era mais importante pra mim. Liam, Louis e , respectivamente, foram os que pareceram mais irritados.

  
“Fucking paps get a proper job you dicks!”
  “Às vezes esquecem que são pessoas de verdade que vocês estão perseguindo. Não quero saber o que aconteceu, deixem a minha irmã em paz.”
  “Se eu ver alguém falando alguma coisa que for para maltratar a minha @, vão se ver comigo!”

   Aparentemente todos estavam me defendendo. Liam estava irritado com os paparazzis, então algo devia ter acontecido quando ele, Dani e Zayn também deixaram o Pub. Já Louis e pareciam um tanto preocupados com outra coisa. Foi só entrar nas minhas mentions que entendi do que estavam falando. A quantidade de pessoas falando coisas ruins para mim era bem maior do que as que falavam coisas boas. Sempre recebi alguns xingamentos, claro, mas nada que me atingisse. Aparentemente agora que “não estava mais com Zayn”, certos fãs não precisavam mais fingir ir com a minha cara.

  
“ZAYN ESTÁ SOLTEIRO? Finalmente! FESTA NA MINHA CASA, TODOS ESTÃO CONVIDADOS”
  “Não agüentava mais a gorda da ! Ainda bem que acabou.”
  “Ele merece algo melhor do que a @ e agora está vendo isso. Por isso que a traiu.”
  “Aposto que não é a primeira vez que isso acontece e acho bem feito.”
  “Zayn não teria te traído se você soubesse cuidar do seu homem.”
  “Deve ser tão ruim de cama que ele teve que ir procurar na rua.”
  “Se fosse eu, tiraria mais que fotos dele dormindo. Pegava fios de cabelo pra fazer um clone!”
  “Bem feito, vadia.”
  “VacaAaAaAaAaAaAaAaAAAAaA”
  “Eu a conheci um dia e ela foi totalmente mal educada!”
  “@ odeia as directioners”
  “Só quer a fama dos meninos. Será que ninguém mais vê isso?!”
  “@ não está a altura do @ZaynMalik, até que enfim ele acordou!”

  Esses foram apenas alguns dos melhores que eu consegui ler! Certas pessoas tinham a capacidade de falar coisas terríveis. Como assim eu só queria a fama deles? Quando eu os conhecia e os amava quando eram apenas garotos normais? E nunca fui mal educada com ninguém, justamente por saber o quanto seria ruim se fizessem isso comigo. Além dos twittes maldosos, vi várias montagens e fotos que colocavam em um corpo que não era o meu, ou com o rosto cheio de espinhas e essas coisas. Eu sabia que não era perfeita, longe disso! Mas daí exagerar? Acabei mudando e website e entrei no Tumblr, esperando conseguir algum apoio ou coisa do tipo. Cheguei a ver as fotos do dia anterior, quando eu saía do Mayflower. Tive uma visão um pouco mais positiva das coisas, até porque eu não seguia blogs que me odiavam; o que deu certa equilibrada na balança. A maioria dos comentários era positiva:

  
“Não sei se acredito que Zayn faria isso com a . Os dois eram tão perfeitos juntos!”
  “Nunca vi o Zayn sorrir como ele sorri quando está olhando pra , principalmente quando ela não sabe disso!”
  “Além de linda é talentosa. Assisti uma apresentação dela em janeiro e fiquei impressionada! Até em cima dos palcos eles são um par perfeito.”
  “Tenho certeza que é só um rumor falso! & Zayn pra sempre!”
  “Encontrei com os dois no começo do mês! Tudo parecia tão bem... Acho que vou morrer se isso for verdade.”
  “ALGUÉM ME DIZ QUE ISSO É BRINCADEIRA?”
  “I’ll go down with this ship!”
  “Meu OTP não pode terminar! Meu coração de fangirl não agüenta esses feels.”

  É claro que, mesmo sabendo que algumas estavam me apoiando, o lado que mais pesava era o ruim, o que falava mal e me odiava. “Eu não ligo pra isso... Sou mais forte do que esses comentários de quem não me conhece. Não me importo com o que pensam sobre mim, porque sei quem eu sou.” Quem sabe se eu mentisse para mim mesma o suficiente, não acabaria acreditando? Era o que eu esperava. Eu sabia que as coisas iriam mudar e sabia que não seria fácil... Mas nunca pensei que fossem me tratar tão mal assim. O que não conseguia entrar na minha cabeça era: “O que eu fiz para essas pessoas?” Desde o começo, só o que tentei foi ajudar e dar apoio aos meninos, aos meus meninos. Porque eles foram meus antes de se tornarem delas e ainda sim “dividia” meu namorado, meu irmão e meus melhores amigos com todas que se diziam suas “namoradas” e “esposas”. Inveja era a única palavra que poderia fazer algum sentido, mas ainda assim.
  - Morning, sunshine. – Zayn apareceu na porta daquele quarto, me pegando de surpresa. Trazia um olhar cansado e sonolento no rosto e duas xícaras de chá nas mãos. – A cama estava vazia sem você...
  - Bom dia, love. – Foi impossível não sorrir com a aparência bagunçada e inocente daquele menino. Para que ele não visse o mesmo que eu e tivesse seu bom dia arruinado, minimizei tudo e desliguei o monitor. – Não quis te acordar...
  - Eu não estava dormindo... Só cochilei. – Colocou as canecas em cima da mesa e se aproximou de mim, me fazendo levantar para abraçá-lo. – Estava preocupado com você.
  - Pra variar um pouco! – Envolvi seu torço nu durante o abraço, já que ele só usava um calção fino e confortável. – Estou bem, como pode ver. Queria ter voltado mais cedo, mas não deu...
  - Eu sei... – Levantou o meu rosto e fez carinho em minha bochecha. – Só estou feliz que chegou.
  - Fez chá pra gente? – Sorri, passando o nariz pelo de Zayn. Quem se importava com o que todos os haters pensavam quando aquele menino me amava mesmo com todos os defeitos do mundo?
  - Seu preferido. – Pegou a caneca azul e me entregou.
  - Pêssego! – Dei o primeiro gole, fechando os olhos e suspirando. Realmente estava bom.
  - Porque você não pode ir pra cama sem uma xícara de chá! – Sorriu de canto a canto, pegando a própria xícara e passando a mão livre em volta da minha.
  - E quem disse que estou indo pra cama? – Arqueei a sobrancelha, mas o segui.
  - Eu, ué. – Bocejou, ainda lutando contra o sono. – Aliás, nós dois vamos. Ainda é cedo... E você não dormiu nada.
   Parei de discutir simplesmente porque Zayn estava extremamente fofo. Seu rosto continuava amassado e uma linha marcava a sua bochecha direita, denunciando que passara muito tempo em um lado só do travesseiro. Sua voz era calma e baixa, ainda rouca e profunda. Se aquilo era o que eu encontraria todos os dias, começaria a cogitar a possibilidade aceitar o convite e me mudar para aquele flat. Era grande o suficiente para , então essa não era mais uma desculpa que eu poderia usar. Bebericava do meu chá e o assoprava fez ou outra até chegarmos ao quarto. Como já era de prever, a cama estava completamente revirada; até demais para o meu gosto. Ri quando ele foi para o seu lado da cama e tentou arrumar um pouco.
  - Passou um furacão por aqui? – Sentei na cama, no lado que era meu, e continuei com a xícara em mãos.
  - Se você estivesse aí a mais tempo, nada disso teria acontecido. – Bebeu do próprio copo, puxando as cobertas para cima de suas pernas. – Baguncei tudo enquanto te procurava. Eu já falei que não sei mais dormir sem você.
  - Desculpa. – Sorri, estiquei a mão até segurar a dele e entrelaçar nossos dedos. – Como foi sair do Pub ontem?
  - Bagunçado... Liam quase brigou com um paparazzi que ficou mais ousado. – Brincava com os meus dedos e olhava para eles enquanto falava. – Você não quer detalhes, acredite.
  - Realmente não quero... – Já tinha pensamentos demais rondando a minha cabeça. – Mas todos estão bem, certo?
  - Sim! Aliás, vou chamar os meninos para conhecer o apartamento hoje. – Aquele sorriso orgulhoso e independente voltou. – O que acha?
  - Acho ótimo! Quando fizer isso, pede pra algum deles trazer alguma roupa pra mim? Só tenho essa blusa agora...
  - Prefiro quando você fica sem roupa.
  - Tenho certeza que Liam e Niall também vão preferir! – Pisquei pra ele por cima da borda do meu copo.
  - Alguma preferência de roupa? Vestido, calça, blusa de manga? – Riu, mudando de idéia rapidamente. – Melhor pedir pra trazerem todas logo, porque eu não vou te deixar voltar pra casa.

+++

  Tenho certeza que Zayn colocou algo no chá além de folhas e leite. Só isso explicaria o apagão que tive assim que deitei a cabeça no travesseiro e o fato de ter dormido como um bebê. Foi um descanso mais do que necessário, não só para o meu corpo quanto para a minha mente tão lotada de coisas ultimamente. O peso no colchão ao meu lado aumentou consideravelmente em determinado ponto da minha fase de "meio acordada meio dormindo" indicando que alguém se deitara ali. Minha primeira sugestão teria sido Zayn, mas havia algo diferente no cheiro. Meu namorado vinha acompanhado de um aroma mais adocicado e aquele que senti parecia uma mistura de maça verde e manga. Delicioso, mas ainda assim não era o que eu gostaria de ter sentido.
  - Wakey-wakey, sleepyhead. - Uma voz baixa e arranhada me saldou enquanto cachos macios tocavam a lateral do meu rosto.
  - Bom dia, Hazza... - Sorri tentando abrir os olhos devagar. O puxei para um abraço e recebi um beijo na bochecha.
  - Bom dia? Já são duas da tarde, dorminhoca. - Sua voz continuou macia, o que não me obrigava a despertar de uma vez como teria acontecido se fosse Louis em seu lugar. - Estamos só te esperando pra almoçar.
  - Podem começar sem mim, não estou com fome. - Aquela já havia se tornado a minha resposta automática. Me espreguicei na cama, abrindo totalmente os olhos já acostumados com a claridade.
  - Você? Sem fome? Quem é você e o que fez com a minha ? - Começou a se levantar e fiz um bico; queria que ele continuasse ali. - Vamos te esperar mesmo assim, ok? Suas roupas estão aqui.
  - Obrigada, Haz.
   O observei sair do quarto e fechar a porta atrás de si. Voltei a fechar os olhos preguiçosamente, mas foi inútil, já estava acordada. Dizer que estava sem fome não foi muito bem uma mentira, a única diferença é que me sentia nauseada demais pra colocar qualquer coisa na boca. Decidida a levantar, me pus sentada na cama, esperando alguns segundos antes de ficar de pé. Procurei alguma muda de roupa por cima dos moveis do quarto e a única coisa que encontrei foi uma mala. Não literalmente "mala de viagem", mas algo maior que uma mochila ou bolsa normal. "Zayn!" Briguei com ele por pensamento, pois sabia que aquilo era o começo de uma mudança forçada; um quase seqüestro se preferir. Lidaria com aquilo depois, porque no momento o que eu mais precisava com toda certeza era um bom banho.
   Passei direto pelo closet, chegando àquele banheiro que eu já conhecia tão bem. Lembranças da última vez que tomara banho ali me fizeram sorrir, mas ao mesmo tempo algo inconsciente me fez sentir culpada. Me despi das poucas peças que vestia e pulei para dentro do Box; figurativamente, claro. A água ficara mais fria do que eu me lembrava, o que me deu certo trabalho de ajustar uma temperatura agradável, mas por fim acabei conseguindo. Entrei de cabeça embaixo da água, deixando-me ser lavada inteiramente. Fechar os olhos foi tudo que precisei fazer para que as palavras duras que li mais cedo voltassem a me perturbar. E se estivessem com a razão? Desde o começo, sempre soube que a diferença entre Zayn e eu era exorbitante, mas isso nunca pareceu ser um problema. Pra mim não era e pra ele também não, ao menos até onde eu sabia. Mas e se agora que ele era famoso/conhecido e tinha o mundo aos seus pés, percebesse que podia conseguir algo melhor do que eu? Alguém mais magra, mais bonita? Como falaram, e se ele preferisse alguém a sua altura?
   Aquele pensamento me assustou. Não ligar para o que os outros pensam de você é algo mais fácil de ser falado do que feito, com toda certeza. No começo, quando as criticas eram menores ou mais disfarçadas, era fácil me apegar àqueles comentários positivos. Entretanto, pelo que deu pra ver... As coisas não seriam mais assim. E, por culpa da Modest!, eu não teria mais Zayn para me defender. Teria que me virar sozinha. Por mais que tentasse me esconder atrás de uma pose forte e que suporta tudo, por dentro sabia que era “frágil”, sabia que não levava muito pra que eu caísse dentro de mim mesma. Prova disso eram os ataques de ansiedade, ou como quer que sejam chamados, que me aterrorizavam só de pensar em voltar a acontecer.
   Meu banho foi completamente automático, pois era como se eu estivesse mais concentrada no meu emocional do que em meu físico. Quando dei por mim, já tirava o condicionador do cabelo e tentava enxergar direito. Ao menos ali, embaixo daquela cachoeira morna, minhas lágrimas se perderam na água e meus soluços foram abafados pelo som do chuveiro. “Por que? O que eu fiz pra essas pessoas?” Perguntas que não teriam resposta. “Vamos lá, ... Você é melhor do que isso.” Minha consciência tentava me levantar e apertei os olhos com força, passando as mãos pelos cabelos desembaraçados. Precisava sair dali, precisava não ficar sozinha. Assim seria obrigada a forçar um sorriso e aos poucos ele acabaria se tornando verdadeiro.
   Desligando a água do chuveiro, peguei a primeira toalha seca que encontrei, me surpreendendo com o cheiro forte que ela trouxe consigo. Aquele cheiro gritava “Zayn” e era dele que eu realmente necessitava; ficar envolta em sua essência e me enterrar ali até que nada de mim restasse, apenas dele. Com toda a sua perfeição, carinho, proteção. Ele me dava forças até sem saber disso, Zayn era o meu porto seguro no sentido mais puro. Se não fosse por ele, não sei se conseguiria superar tudo. Eu tinha que ser forte, por ele. A idéia de eu estar magoada por sua causa, mesmo que indiretamente, o machucaria ainda mais e isso era o que menos precisávamos. Não me importei em me secar tanto assim e amarrei a toalha preta em volta dos meus cabelos. Escovei os dentes rapidamente, aproveitando que a minha escova já estava por ali mesmo.
   O quarto continuava vazio quando voltei para lá, sem me importar em estar pelada em uma casa com cinco meninos. Talvez estivesse lá também, mas duvidava muito. Peguei a mala com as roupas e a coloquei em cima da cama, agradecendo por não terem se esquecido de embalar calcinhas. A idéia de Louis ou Liam mexendo na minha gaveta de delicadas era um tanto constrangedora, por isso era preferível imaginar que Harry havia escolhido aquela peça rosa de babados e lacinho. Por cima, vesti um short simples com desenhos de âncora e uma camiseta branca com alguma frase qualquer que não me importei em ler. Estava simples e confortável. Resolvi deixar a minha mala dentro do closet, pois ao menos alguém naquele flat tinha que ser organizada, não? Também estendi a toalha no banheiro e apenas passei os dedos para desembaraçar meus fios ondulados.
   Voltando para o quarto, peguei meu celular para ver as horas e acabei me espantando com a data. Dia dezessete de julho! Eu estivera com tanta coisa na cabeça ultimamente que quase esquecera aquela data tão importante. Tom Fletcher nunca me perdoaria por esquecer seu aniversário e muito menos eu. Como a boa fangirl que sempre fui, desejava parabéns todos os anos pelo Twitter, mas claro que nunca fora notada. Agora, por outro lado, tinha a oportunidade de desejar isso por telefone ou até mesmo pessoalmente. É, quem diria. Não agüentava mais ficar sozinha naquele quarto, então enquanto procurava o nome “Tommy F.” na lista de contatos, deixei o quarto, já escutando risadas escandalosas vindo do começo do corredor. Coloquei o iPhone na orelha, caminhando até onde sabia ser o quarto de jogos.
  - Você ligou para Tom Fletcher, mas no momento ele está ocupado demais sendo gostoso e... O QUE MAIS, TOM? – Danny atendeu, tentando imitar uma secretária eletrônica. Não pude escutar a resposta de Tom, mas já comecei a rir. – Tanto faz, é a . Vai atender?
  - Oi, Danny! Não fala mais com os velhos amigos? – Arrisquei chamar a sua atenção, parando na porta do quarto onde Liam e Louis jogavam FIFA no PS3 de Zayn.
  - Tudo bem, ? Faz tempo que não aparece por aqui! – Jones finalmente me deu atenção. – Desculpa não poder falar muito, é que o Fletcher está me fazendo de escravo hoje... Sabe como é. DUDE, VEM LOGO.
  - Entendo perfeitamente! E não se preocupe, vamos nos ver logo...
  - FUCK, TOM! – O barulho de algo sendo derrubado, seguido de duas risadas mais que escandalosas me assustou. Não sei como esses dois não se matavam...
  - ? Ainda está aí?
  - Finalmente o aniversariante aceitou falar com uma mera mortal! – Dei meia volta, rumando para a sala de jantar/cozinha a procura dos outros três. – Feliz aniversário, covinha! Você está ficando tão velho!
  - Obriga-HEY! Velho é a sua bunda! Sou muito gostoso pra ser chamado de velho.
  - É, ouvi o Danny falando dessa parte... – Gargalhei, fazendo Niall e Harry me olharem ao entrar na cozinha. Acenei para ambos, que sorriram. – Mas falando sério... Tudo de bom. Que você viva tantos anos quanto um Time Lord e may the force be with you, always.
  - Não me faça chorar, , isso foi lindo! Obrigado, de verdade.
  - Só eu consigo colocar Doctor Who, Wars e Harry Potter em uma frase de feliz aniversário, sei disso! – Puxei um banco alto para me sentar em frente à bancada americana.
  - Tentamos te esperar, mas você demorou muito! – Harry explicou, colocando um prato de Mac & Cheese na minha frente. Apenas agradeci com um sorriso e balancei a cabeça como se falasse que estava tudo bem.
  - E como você está, pequena? – Sua voz se tornou um pouco mais comedida. – Estamos todos sabendo do que aconteceu...
  - O que acont-, oh, não, Tom... Zayn e eu? Ainda estamos juntos... Nada daquilo era verdade... Mas é muito complicado de explicar por telefone.
  - Ahn, tudo bem... Mas você está bem, certo?
  - Claro que sim! – Ou quase isso. Harry e Niall saíram de lá, me deixando sozinha novamente. Não os culpei, pois só deviam estar tentando me dar um pouco de privacidade. Peguei o garfo ao lado do meu prato de macarrão e furei um pedacinho de massa, relutantemente levando-o à boca. – Aliás, preciso conversar com você...
  - Algo sério? Algum problema?
  - Nada que não possa esperar! Só preciso de um colo amigo e experiente.
  - Well, you know you’ve got a friend...
  - Se começar a cantar You’ve Got a Friend pra mim, vou chorar! Não estou emocionalmente preparada pra isso. – Peguei mais um pedacinho de macarrão após falar, mas brincava mais do que comia. – Quando tiver um tempinho livre, avise e vamos nos ver, ok?
  - Um tempinho livre eu não sei, mas vamos nos ver esse sábado. Aliás, espero que já tenha uma fantasia bem legal.
  - Sua festa de aniversário vai ser a fantasia?! – Recordava levemente dele falar sobre esse assunto, mas em muitos detalhes.
  - Exatamente! As 21hrs, aqui em casa. Você tem o endereço. Chame os meninos também! Aí podemos todos colocar os assuntos em dia...
  - Combinado, Tommy!
  - Te vejo sábado, pequena! Obrigado mais uma vez, só de você lembrar de mim já foi brilhante.
   Com essa nova indireta de Doctor Who, encerramos a ligação. Não, eu não tinha nenhuma fantasia e tinha certeza que os meninos também não. Sábado estava logo ali e com certeza não conseguiríamos arrumar algo revolucionário, mas iria tentar. Depois dessa curta conversa com Tom, meu estômago estava um pouco mais comportado, o que me permitiu comer algumas garfadas. Não cheguei nem perto da metade do prato, mas isso era um mero detalhe; principalmente por Harry ter exagerado na quantidade. Levantei do banco e caminhei até a geladeira cinza e abri as duas portas, sempre esquecendo qual lado era do refrigerador e qual era o da geladeira propriamente dita. Guardei meu prato ali dentro, meio escondido atrás de uma jarra de suco, e peguei uma garrafinha plástica de água mineral.
   Já sabia onde Liam, Louis, Harry e Niall estavam. Mas um garoto em especial ainda estava faltando e ele me fazia bastante falta, por assim se dizer. Enquanto bebericava da minha água com zero calorias, guardei o celular no bolso e coloquei o garfo sujo na pia. Saindo da cozinha, passei a olhar na sala e estiquei o pescoço para averiguar o terraço, pois a escada agora ficava aberta o tempo inteiro. Nada por ali. Continuei pelo corredor espaçoso, mais uma vez passando pelo quarto de jogos e encontrando novamente os quatro meninos distraídos ali. O próximo cômodo que averigüei foi o estúdio de arte, que tinha sua porta fechada; também estava vazio. Minha próxima opção foi o meu quarto, então caminhei até lá com um peso no coração.
  - Baby? – O chamei, parando na porta e encontrando-o sentado na cadeira em frente ao computador. – Os meninos estão jogando... Você não vem?
  - Em um minuto... Anjo, porque você não me disse? – Levantou o olhar e não precisou ser mais direto que aquilo pra que eu soubesse do que se tratava.
  - Em minha defesa, não era pra você ter visto! – Entrei no quarto, indo até ele e deixando a garrafa de água pela metade em cima da mesa branca. Sentei-me em seu colo e meus olhos esbarraram na tela do PC. – E as criticas continuam chegando!
  - Isso é tudo bullshit. – Pelo seu tom, Zayn gostou tanto daqueles insultos quanto eu. Passou os braços em torno da minha cintura e me fitou com aqueles olhinhos cheios de culpa. – Você não acredita em nada disso, certo?
  - Eu não te contei porque sabia que isso iria te magoar... – Preferi mudar de assunto e responder a pergunta anterior. – E também não queria que ficasse triste com as suas fãs e tal.
  - Isso me magoa porque eu me sinto um inútil. Queria falar tudo que essas pessoas que falam mal de você merecem ouvir! – Estava irritado e isso não era bom.
  - Eu sei disso, love, mas você não pode... – Suspirei, mantendo-me a mais calma dos dois. Desliguei o monitor mais uma vez, sem querer ler mais nada ao meu respeito. – E não é porque não quer. Realmente não pode...
  - Eu morreria por você, . – Aquela frase foi séria demais para o meu gosto, me dando um calafrio na espinha.
  - Por que está falando isso? – Toquei a parte de trás de seu pescoço, acariciando-o.
  - Porque quero que saiba que não tem nada que eu não faria por você. – Beijou o meu ombro. Zayn não sorria ainda, mas permanecia terno.
  - Eu sei. – Ergui seu rosto até que nossos lábios quase se tocassem. – Eu também morreria por você.

Chapter XVIII

- Bom dia, ! – Wilfred me saudou ao abrir a porta pesada, me permitindo entrar. – Faz tempo que não vem por aqui!
  - Tudo bem, Will? Como vai a família? – Sorri passando por ele, sem realmente parar para conversar.
  - Com saúde e é o que importa! – Acenou, já prestando atenção nas próximas pessoas que queriam entrar.
   Era sexta-feira de manhã, o que queria dizer que a festa de Tom aconteceria no dia seguinte, mas eu ainda não fazia idéia do que iria vestir. O plano inicial de garimpar algo no meu próprio closet foi por água abaixo ao perceber que a única coisa parecida com uma fantasia era de fato a fantasia de Cisne Negro que usara no último Halloween; o que estava fora de cogitação repetir! Por já ser muito em cima da hora, não adiantaria nem perder tempo e procurar alguma loja para aluguel, pois todas já teriam ido embora. Minha única opção, que, aliás, me fez questionar porque-não-pensei-nisso-antes, era usar meu privilégio de conhecer a supervisora chefe da Models One e trabalhar com a própria na Mulberry para invadir seu closet e pegar algumas peças emprestadas.
   Andei apressada até o elevador, afrouxando a echarpe que protegia o meu pescoço. Não chegava a estar extremamente frio, mas também não estava quente, sendo assim, pude usar roupas quase aquecidas aquele dia. Como não estava indo para uma reunião ou coisa assim, pude me vestir um pouco mais casualmente e confortável, o que não me impediu de ser reconhecida por funcionários que estavam acostumados a me ver em cima de saltos e dentro de um terno feminino. Um grupo de cinco pessoas já esperava o nosso transporte chegar e todos entraram assim que as portas automáticas foram abertas. Apertei o botão para o último andar e me espremi para chegar até o final, acabando por ficar ao lado de um garoto alto que tinha o capuz de seu casaco sobre a cabeça e óculos escuros no rosto.

  
“Quero que conheça Ben, está livre hoje a tarde?”

  Foi a mensagem que recebi de enquanto o elevador fazia o seu caminho para cima, ocasionalmente parando para que as pessoas saíssem. Fiquei meio receosa em responder que sim, pois não sentia vontade alguma de conhecer seu novo namorado, e ao mesmo tempo me sentiria culpada em responder que não. “Você me mandou uma mensagem, ? Desculpa, acho que não recebi...” Fiquei imaginando desculpas na minha cabeça, cogitando qual delas seria a mais acreditável. “Hoje? Não estou me sentindo muito bem. Quem sabe no próximo ano?” O elevador parou no décimo segundo andar e uma menina tão jovem quanto eu saiu dele, me deixando quase sozinha. Guardei o celular novamente em minha bolsa, sem responder, e fitei o chão do elevador.
  - Alguém te viu entrar? – Perguntei para o menino de capuz que permanecia ao meu lado.
  - Tenho certeza que não.
  - Tem algo contra câmeras de elevador?
  - Não se elas não conseguirem captar o meu rosto.
  - Perfeito.
   Levantei o rosto assim que soltei a minha bolsa no chão do elevador. Girei até estar de frente para o garoto misterioso e passei os braços em volta de seu pescoço, o pegando de surpresa, mas ainda assim sem espantá-lo. Fechei os olhos e encostei nossos lábios, tendo a minha cintura apertada com certa força. A língua de Zayn logo pediu passagem e foi concedida no mesmo instante. Não sei, mas acho que toda essa história de ele estar “disfarçado” e “escondido” era um tanto excitante. Obviamente o menino percebeu a mesma coisa, pois trocamos um beijo intenso e rápido, sem nos importar em estarmos sendo filmados por uma câmera no canto do elevador. Tinha certeza que coisas muito piores já aconteceram ali dentro, mas não entraremos em detalhes.
  - ? – Uma voz feminina me fez soltar Zayn de uma vez e cobrir os lábios.
  - Oi, Rebecca... – Olhei a menina que segurava a porta do elevador. Peguei a minha bolsa com uma mão e Zayn com a outra. – Carine está aí?
  - Na sala dela.
   Saí do elevador e trouxe Zayn comigo, deixando a outra menina nos olhando com intriga e curiosidade. Não sei, mas Rebecca nunca foi muito com a minha cara; possivelmente por querer estar onde eu estava. Ela era uma estagiaria na Models One desde que conhecera Carine por intermédio de Rachel e continuava no mesmo posto, enquanto eu já havia sido promovida algumas vezes, se é que podemos chamar assim. Além, claro, de poder ser considerada amiga da mulher. Mas Rebecca devia entender que eu nunca pedi pra trabalhar com a Mulberry, foi algo que apenas aconteceu. Enquanto passávamos pela entrada do grande escritório da agência, muitos acenaram e sorriram pra mim, pois eu já era considerada parte da equipe, então todos me conheciam. Zayn apertava a minha mão como se estivesse tenso e olhava para o chão como se tivesse medo de ser reconhecido.
  - Ah, esqueci de avisar, não precisa se esconder aqui dentro... – O olhei com um sorriso. – Estamos seguros.
  - Tem certeza? – Abaixou o capuz e esperou a minha resposta pra tirar os óculos.
  - Claro que sim! Ninguém aqui vai fazer fofoca que Zayn Malik foi visto com a sua suposta ex-namorada. – Tirei eu mesma os óculos de seu rosto e coloquei no bolso do casaco do mesmo. – Além do mais, você não é tão importante assim aqui.
  - Outch. – Riu, mas percebi que estava bem mais aliviado.
  - E não é como se seu disfarce fosse o melhor do mundo... Sério, babe, você precisa ficar mais criativo. – Acenei para a secretária; que nos deixou passar para o corredor dos escritórios.
  - Me desculpe, da próxima vez usarei um bigode, ou quem sabe uma máscara! – Me seguia e olhava para os lados. Zayn já estivera na Models Onde uma vez, mas em outra área. - Galochas, uma capa de mágico... Bengala, essas coisas.
  - Não vai chamar atenção alguma se vestindo desse jeito. – Gargalhei, parando na frente da porta onde se via uma placa: “Roitfeld C.” – Espero que ela esteja aqui...
   Zayn soltou a minha mão para que eu pudesse bater na porta três vezes e, ao invés disso, pousou a mão sobre o meu ombro. Esperamos alguns segundos até que houvesse barulhos de saltos finos batendo contra o chão. A porta foi aberta e Carine apareceu, com o seu telefone sem fio pendurado na orelha. Ao ver que era eu, sorriu e fez um aceno para que entrássemos. Ambos seguimos e fechei a porta ao passar. Conhecia algumas das manias de Carine e fechar a porta para ter privacidade era uma bem importante. Zayn se distraiu pelo escritório, vendo todas as fotos e matérias de revistas ampliadas, molduradas e penduradas na parede.
  - ! Achei que não a veria até semana que vem. – Conectou o telefone de volta a base e me abraçou, sussurrando as próximas palavras: - Ainda mais com ele...
  - Você ficou sabendo da história, né? – A abracei da forma que você não costuma fazer com sua chefe.
  - Todos ficamos! As noticias correm por aqui.
  - Sendo assim, eu gostaria de ter explicado antes... – Olhei para Zayn, que também me olhou e apontou para a minha foto naquela parede, completamente absorto daquele assunto. – É como você costuma dizer, não devemos acreditar em tudo que querem que acreditemos.
  - E eu sempre tenho razão, não tenho? – Sorriu convencida, mas ela podia. – O que os trás aqui? Infelizmente não tenho muito tempo para ficar conversando... Karl está na cidade e almoçaremos juntos!
  - Lagerfeld? Karl Lagerfeld? – Pisquei devagar algumas vezes. – Você vai almoçar com Karl Lagerfeld?
  - Por que você está tão chocada, ? – Zayn deve ter ouvido o nome masculino e se interessou. – Quem é esse Karl? É importante?
  - Oh, querido, deixe esse assunto para as meninas. Você ficaria perdido. – Carine sorriu para Zayn, mas um sorriso que falava “Se vai perguntar quem Karl Lagerfeld é, melhor não perguntar nada”. – E, sim, , eu vou! Tentarei arrumar uma forma de apresentar vocês dois.
  - Não sei se eu estaria pronta pra isso... – Ri nervosa. – Não vou te atrasar, só viemos pegar a chave do closet emprestada.
  - Ah, claro, está bem aqui... – Foi para trás de sua grande mesa de vidro e abriu algumas gavetas, aproveitando pra pegar seu casaco e bolsa. – Pode colocar aqui de volta quando terminarem.
  - Muito obrigada, Car. – Recebi a chave a observei correr pela porta, sem nem nos esperar sair. – E bom almoço!
  - Au revoir, kiddos! – A loira acenou uma última vez.
  - Onde tirou essa foto? – Zayn voltou a olhar a minha fotografia na parede. – Está linda.
  - No cocktel da LFW, após o desfile. – Segurei a porta aberta para que Zayn passasse primeiro. – Carine gosta de mim... Ela diz que sou interessante.
  - Parece que esse Karl também vai gostar de você...
   Zayn estava sentindo ciúmes de Karl Lagerfeld, o designer da Chanel, Fendi e da sua própria linha. Sem falar que era gay e tinha 79 anos. Preferi deixar que ele continuasse achando que Karl era na verdade um modelo de vinte e cinco que fazia propaganda da Calvin Klein. Seria mais divertido assim. Fechei o escritório de Carine e rumei em direção ao closet que já conhecia tão bem. Diferente da primeira vez, não me sentia mais tão acanhada assim a pegar roupas emprestadas, já que agora sabia que muitas ali não fariam falta pra ninguém. Ao menos eu faria bom uso delas.
   O menino me seguiu até o final do corredor, vez ou outra resmungando coisas que eu não entendia. Acho que a vaidade dele falava mais alto quando estávamos em lugares como aquele, cercados por moda. Se não fosse tão talentoso no ramo da música, tenho quase certeza que sua primeira opção seria tentar a carreira de modelo; pintando e fazendo arte nas horas vagas, claro! Usei a chave para abrir a porta de correr do Closet e acendi a luz, deixando o meu namorado secreto entrar em seguida. Como não queria ninguém curioso nos olhando ou bisbilhotando, voltei a fechar a porta de chave; nos trancando lá dentro.
   Desde o dia em que Rachel me levara ali pela primeira vez, antes do Snow Ball, algumas mudanças foram feitas até que tudo estivesse completamente reformado. Já na entrada, víamos claramente a divisão das quatro estações, seguindo a ordem: Inverno, primavera, verão e outono. Já dentro de cada estação, as subdivisões em coleções, marcas, datas e etc. Quando se era acostumada com essas coisas ficava fácil de entender tudo, mas caso contrário seria simples ficar perdida por ali. Agora, ao invés de araras e cabides, as roupas ficavam organizadas em verdadeiros guarda-roupas de até dois andares. Para resumir, era como se estivéssemos em uma biblioteca, mas com peças de roupa ao invés de livros. Não sei qual dos dois tipos eu preferia, mas vamos deixar isso pra lá.
  - Tem alguma idéia do que estamos procurando? – Zayn perguntou, tirando o casaco enquanto andava até o sofá e mesinha que ainda estavam ali.
  - Mais ou menos... – O segui, deixando a minha bolsa em cima do braço do sofá. – Eu estive pensando... O que acha de irmos como um casal?
  - Mas nós vamos como um casal, não? – Levantou uma sobrancelha. – Tom e os outros são nossos amigos, eles podem sab-
  - Não é disso o que estou falando! Fantasias de casal, sabe?
  - Tipo Fiona e Shrek? – Sorriu mais animado do que eu gostaria.
  - Eu estava pensando mais em Jack e Rose...
  - Sparrow!

+++

  Após conseguir juntar peças o suficiente para formar a minha fantasia e a de Zayn – que, por acaso, não podiam ser mais diferentes -, ele pegou um taxi e foi para seu flat enquanto voltei pra casa no meu próprio carro vermelho. Gostaria de ter dado uma carona pra ele, mas seria perigoso alguém nos ver juntos, ainda mais no meu conversível nada discreto. Talvez fossemos nos encontrar mais tarde naquele mesmo dia, mas agora tínhamos coisas importantes pra fazer. Ele almoçaria com a mãe e irmãs e eu tinha um encontro com um certo peludo hiperativo. Era o dia de dar banho em e isso sempre foi uma tarefa mais difícil do que parecia. O melhor lugar para se fazer isso era no jardim, caso contrário a casa inteira acabaria encharcada. Também coloquei uma vestimenta mais apropriada para as atividades vespertinas.
  - Onde eu coloco, ? – Liam atravessara a lateral da casa, carregando uma banheira de plástico que mais parecia uma piscina desmontável.
  - Junto das outras coisas, por favor! – Apontei para a pequena bacia amarela que guardava os produtos de beleza caninos. – Já estou terminando de prender a mangueira aqui...
  - Posso chamar o Bo? – Tirou a camisa, jogando-a na varanda de casa e ficando apenas com uma bermuda roxa.
  - Liam God Damn Payne... – Ri, comendo-o com os olhos sem nem me importar em disfarçar.
  - ! – Reparou no que eu estava fazendo e se cobriu com os braços. – Está me constrangendo.
  - Então pare de ser tão gostoso. – Mordi o lábio, brincando. Sério, Liam não devia ter nem 1% de gordura no corpo. Assim que a mangueira estava bem presa na torneira do jardim, me aproximei dele e da banheira.
  - Posso falar o mesmo de você. – Piscou com um sorriso malicioso. – Sempre te achei gostosa.
  - OK, podemos parar, por favor? – Sabia que ele estava brincando, mas preferi cortar antes que minhas bochechas estivessem mais vermelhas ainda. – Bo! Vem cá, garoto! Vem cá garoto? Nunca falei isso na minha vida.
  - Vem cá, garoto! Bom menino! – Liam fez uma voz afeminada, tirando uma com a minha cara. Eu também nunca falara aquilo. – Pelo menos funcionou!
  - ! – Sorri e me apoiei com um joelho no chão, deixando-o se aproximar e vir falar comigo. – Hora de tomar banho!
   Quase no mesmo instante em que escutou aquela última palavra, o cachorro ameaçou sair correndo. Como eu já sabia dessa preguiça que ele tinha de tomar banho, o segurei pela coleira, obrigando-o a ficar ali. Reclamando como se fosse uma pessoa de verdade, relutantemente entrou na banheira que Liam montara. Ainda estava seca, então ele pode se sentar. Pedi para que o meu ajudante segurasse o monstrinho enquanto eu fazia a primeira etapa do banho: Desembaraçar o pelo! costumava ser branco e preto, mas aquele dia estava preto e marrom. Acredite, era o dia de tomar banho e ele não iria escapar! Depois de soltar tanto pelo que poderia costurar um casaco, chegou a hora que eu mais gostava, mas ele odiava.
   Peguei a mangueira que estava ao meu lado e apertei o gatilho para testar a velocidade da água; só então começando a molhar o cachorro. A água estava fria, o que era bom pra ele e ruim pra mim, levando em consideração que o dia ainda não estava assim tão quente. Tive cuidado para não molhar a cabeça do filhote ainda, pois era a última coisa que eu daria atenção. Quando ele estava ensopado e me olhando com suas orbes azuladas e pidonas, desliguei a mangueira e peguei o shampoo canino, colocando uma boa quantidade nas minhas mãos. Não era a minha primeira vez dando banho em , por isso fazia tudo automaticamente.
  - Como vai a Dani? – Puxei um assunto qualquer, começando a ensaboar o cachorro.
  - Precisando de férias, mas está bem. – Fazia carinho em para mantê-lo calmo. – Vamos jantar com os pais dela amanhã...
  - Mas amanhã é a festa do Tom! – Fiz bico, olhando-o. – Vocês não vão mesmo, né?
  - Achamos melhor não... Seria estranho. Não somos tão amigos dele assim. – Deu de ombros. – E não tenho nenhuma fantasia.
  - Eu te chamei pra ir até a Models One hoje. – Semicerrei os olhos. Aquilo não era desculpa. Passei a lavar as patas de . – Poderíamos ter encontrado uma fantasia pra você também.
  - Não estou muito no clima pra festa...
  - Há algo errado? – Franzi o cenho.
  - Ainda não... É que eu estou com medo. – Suspirou, sabendo que podia se abrir comigo. – Com tudo que vem acontecendo com você e o Zayn... Lou e Harry... E se formos os próximos? Não sei se Danielle passaria por tudo que você está passando.
  - Vocês não são os próximos, Leeyum. Estar com a Dani é bom para a sua imagem. Além do que, a Modest! não gosta é de mim, então acho que não tem com o que se preocupar. – Aquele era um medo normal, mas sem motivos. Podia ter quase certeza que, depois de El e Louis, Dani e Liam era o casal perfeito. – Dani te ama, claro que ela passaria por algo assim!
  - Não sei... Ela não é como você, sabe? – Senti que aqueles olhos castanhos me fitavam por mais tempo que o considerado normal. – Na verdade acho que ninguém é como você. Ninguém vê o mundo da mesma forma que você e isso é uma pena. Esse brilho nos seus olhos quando fala de algo que ama, a forma quando você faz qualquer um sorrir mesmo quando está triste... Você linda. E nunca vi alguém amar tanto outra pessoa quanto o ama. Queria eu ter essa sorte.
   Não consegui responder. Em parte porque senti algo que não sentia há muito tempo; aquele frio na barriga quando Liam declarava algo e eu sabia que era porque ele gostava de mim mais do que como amiga. Por outra e maior parte, foi porque eu simplesmente não conseguia concordar com ele. Não achava que via o mundo de uma forma tão excepcional assim, não acreditava no brilho em meus olhos e não me achava linda. Apesar disso, fui surpreendida pelos elogios, ainda mais por não esperar nada daquilo. A sorte estava do meu lado, pois fomos interrompidos por um entediado que resolveu quebrar o gelo.
   O cachorro se sacudiu, jogando água e espuma para todos os lados, terminando por me molhar quase inteira e Liam não ficou muito atrás. Ambos rimos um do outro e o clima ficou bem mais leve no jardim. Querendo acabar logo com aquela bagunça, peguei a mangueira mais uma vez e enxagüei os produtos de limpeza do pelo de , que voltou a se sacudir mais algumas vezes, mas agora eu já estava um pouco mais acostumada e avisada. Ao ficar pronto, pulou para a grama e latiu; provavelmente brigando comigo por tê-lo obrigado a tomar banho. É, sou uma mãe terrível!
  - Você não deveria secá-lo com uma toalha agora? – Li se pôs de pé.
  - Se ele deixasse, eu adoraria! Mas é impossível. – Ri, olhando o cachorro continuar a se sacudir e espirrar água para os lados. Apontei a mangueira para Liam e pousei o dedo indicador no gatilho. – Quem é o próximo?
  - , não! Essa água tá gelada! – Se cobriu, dando um passo para trás, mas atirei a água em suas pernas, o fazendo pular. Claro que eu gargalhei dessa cena. – Já brigamos assim e sabemos como isso termina!
  - É, com você encharcado! – Ri mais uma vez, apertando o gatilho e segurando, tentando mirar a água em Liam enquanto ele corria.
  - CUIDADO COM A... – Liam tentou avisar, mas quando percebi quem se aproximava foi tarde demais.
  - Bloody hell, ! – reclamou assim que viu a mancha de água em seu vestido claro.
  - Ops... – Larguei a mangueira e levei as mãos ao rosto, tapando a boca em forma de ‘o’. – Me desculpa, , eu não te vi aí!
  - Acho que você nunca ficou molhada tão rápido assim em um de nossos encontros. – Um ser platinado se fez notado pela primeira vez. Ben.
  - Agora não, Benjamin! – ainda bufava. – , vou pegar uma roupa sua e quero ver reclamar se for lançamento da Mulberry.
  - Pode pegar o que quiser, querida... – Preferi ignorar o namorado da minha amiga, pois ela realmente estava irritada comigo. – Liam, vai lá pegar uma toalha pra ela!
  - E pra mim também!
   O menino correu atrás de e tentou fazer o mesmo, mas meu assovio o fez parar. O cachorro ainda estava bem molhado e eu não queria que a casa inteira ficasse molhada; especialmente por saber que ele pularia direto para a minha cama assim que tivesse a primeira oportunidade. Distraidamente comecei a recolher as coisas que usei para dar banho em , assim como virar a banheira na grama, deixando toda a água ir embora. Quase não notei o garoto que ainda permanecia ali fora; Ben. Levei um pequeno susto ao vê-lo parado na minha frente e o que mais me incomodou foi a forma que ele me olhava. “Ben é namorado da sua melhor amiga, , é só impressão sua!” Tentei me convencer, mas a sensação de ser vigiada não foi embora.
  - Não vai atrás da sua namorada? – Questionei tentando não soar mal educada.
  - Ela não gosta quando fico seguindo. – Deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos. – Animada para a volta as aulas?
  - Com certeza... – Sorri pelo assunto. – Ainda bem que as minhas aulas vão começar mais cedo... Já não agüentava mais.
  - Último semestre também, né? Acho que vamos nos ver logo, pois nossas aulas voltam no mesmo dia. – Também mostrou um sorriso, mas o seu foi um tanto diferente, insinuante. – ainda vai ter uma semana de férias a mais... Muito pode acontecer em uma semana.
  - Suponho que sim. – Não entendi muito bem o que ele queria dizer, mas preferi não prestar atenção.
  - Ei, vocês dois! – apareceu na janela da sala, já com outras roupas. – Dá pra entrar logo? A ainda precisa se arrumar?
  - Me arrumar?! Para o que, exatamente?
  - Ela não te contou? – Ben voltou a falar. – Nós vamos sair!

Chapter XIX

“Namoros terminam! Get over it.”

  Chegando no flat de Zayn, estacionei o meu carro na garagem; na vaga que me fora destinada, ao lado do Volvo prateado. Peguei o elevador com um sorriso no rosto, ansiosa por estar prestes a ver o meu namorado. Além das minhas roupas do corpo, trazia comigo uma bolsa com a minha fantasia para a festa que aconteceria mais tarde e mais algumas coisas que eu poderia precisar pra dormir ali. Enquanto fazia o percurso do subsolo até a cobertura, resolvi causalmente navegar pelo meu Twitter e foi aí que eu vi este tweet em especial. Se algum dos meus amigos ou familiares e até mesmo uma pessoa qualquer tivesse postado-o, não teria problema algum. O caso aqui é que ele apareceu magicamente na MINHA conta. O pior? Eu sabia quem o escrevera.
   O pessoal da Modest! podia estar achando que me fizera um favor ou que assim fariam com que as pessoas deixassem de me mandar coisas sem educação, mas, ao meu ver, eu era que seria vista como mal educada na história; coisa que nunca fui. Ainda mais em um meio tão impressionável quanto uma rede social, onde aquilo estaria gravado para sempre. Mesmo que eu apagasse a frase, já havia respostas, retwetts e etc. Bufei, olhando para o vidro transparente do elevador que me mostrava o lado de fora e – ao longe – o Hyde Park. E pensar que eu acordara feliz e leve! Alguém tinha que aparecer e acabar com a minha manhã. Além do que, eu não fazia idéia de como Marco e sua equipe conseguiram a minha senha. Tá que “McFly123” não é um Código Da Vinci, mas pera lá! Eu já vira várias coisas que os empresários postavam nas contas dos meninos, só não sabia o que EU tinha a ver com isso. Não lembrava de ter assinado um contrato.

  
“Só porque tem o meu nome, não quer dizer que fui eu quem disse.”

  Minha resposta foi simples e não sabia se poderia ser considerada como um bom comeback, mas foi o que eu consegui pensar no calor do momento. Bem na hora em que o elevador abriu as portas para que eu saísse, guardei o celular no bolso de fora da minha bolsa. Tentaria relaxar, pois, afinal de contas, estava prestes a encontrar Zayn e era como se não nos víssemos há dias; mesmo que não passasse nem de 24h. Com a minha chave do apartamento já em mãos, me deixei entrar sem ser anunciada. O menino estava jogado no sofá, lendo algo que parecia muito com um Comic Book; como sempre, sem camisa. Ao me ver, colocou-se de pé e começou a caminhar na minha direção.
  - Você não vai acreditar no que ele fez! – Claro que não agüentaria calada por muito tempo. Larguei minhas coisas na mesinha de canto da sala, só esperando fumaça sair pelas minhas orelhas.
  - Quem fez? – Zayn sorriu. Sim, SORRIU. Acho que ele se divertia quando eu ficava irritada. Não tinha amor a vida, só podia ser.
  - Marco! Ou sei lá quem foi dessa vez! Alguém da Modest! – Pisei forte até onde ele estava, mexendo os braços pra mostrar o quanto estava enfurecida. – Eles invadiram o MEU Twitter pra postar uma porcaria que eu NUNCA teria falado! Como se eu já não estivesse causando intrigas o suficiente, né?! Eu estou tão... Ughhhhhhhh. Que raiva!
  - Babe, você precisa se acalmar. – Segurou de cada lado do meu rosto, me fazendo ficar parada em um lugar só.
  - Ele precisa parar com isso! – Tive meus lábios pressionados pelos de Zayn, o que me fez parar por um instante na tentativa de lembrar o que me irritava. – Não faz isso, eu estou com raiva...
  - Cala a boca. – Sorriu torto.
  - Okay...
   Quem conseguia ficar irritada por mais de dois minutos com um menino como aquele te olhando e sorrindo como se o universo inteiro girasse em torno dele? Zayn me abraçou pela cintura, me obrigando a ficar na ponta dos pés para que não precisasse se inclinar na minha direção, e aproximou nossos lábios em um beijo de bom dia. Para não cair devido à nova falta de apoio sob meus pés, colei o corpo ao dele, mantendo-me segura ali. Primeiramente minhas mãos descansaram em seus braços, mas logo fizeram seu caminho para o norte, terminando na nuca. Como um passe de mágica, meus pensamentos clarearam e tudo estava bem novamente. Rolei os olhos assim que nossos rostos foram separados, porque Zayn conhecia o poder que tinha sobre mim e isso não era bom. Nah, quem se importa?
  - Sabia que eu te odeio? – Ri, querendo dizer exatamente o contrário.
  - Eu te odeio mais. – Beijou a minha bochecha com força, finalmente me deixando voltar a pisar no chão. – Quer chá?
  - Vocês ingleses... Só pensam em chá! – Tirei os sapatos, deixando-os junto com as minhas outras coisas.
  - Então não quer? – Me olhou por cima do ombro, caminhando para a cozinha.
  - Claro que quero! – Entrei na cozinha atrás dele. – Qual sabor?
  - Chá verde e preto. – Foi para trás do balcão, pegando a chaleira que já soltava vapor pelo bico.
  - Você gosta mesmo de misturar as ervas... – Brinquei, recebendo um olhar de “eu sei o que você quis dizer com isso” e pisquei em resposta. Uma cesta embalada com um papel brilhante e transparente em cima da mesa de jantar chamou a minha atenção. – O que é isso? Esqueci seu aniversário ou algo assim?
  - Esqueceu, ! Que namorada ótima que você é. –Zombou de mim, mas eu sabia muito bem que seu aniversário era em janeiro. Até onde eu lembrava, estávamos em julho. – Aparentemente descobriram que eu estou morando aqui, então deixaram essa cesta aí na porta... Mas não sei quem mandou.
  - Talvez se você lesse o cartão, saberia quem foi! – Já estávamos acostumados a ele recebendo presentes de fãs, mas nunca eram entregues diretamente em casa. – Fui eu quem mandou isso? O cartão está dizendo: “Sua futura esposa.”
  - Minha futura esposa que nem sabe o dia do meu aniversário? – Se aproximou com a minha caneca em uma mão e uma garrafa de leite na outra.
  - Idiota. – Ri mesmo sem querer e dei uma cotovelada em suas costelas. Peguei a caneca e derramei uns três dedos de leite ali dentro, junto com o chá. – Obrigada, cheeky.
  - De nada, lovely. – Beijou o topo da minha cabeça enquanto eu dava o primeiro gole naquele chá de combinação estranha. – O que tem aí dentro?
  - Sweets! – Comemorei, abrindo o pacote bem embalado e estudando o conteúdo da cesta. – Uau, tem tudo aqui... Maltesers! Dairy Milk! Smarties! Mars Bars!
  - Pode deixar algum pra mim? – Pediu enquanto caminhava de volta para a bancada e eu enchia minha mão livre de doces.
  - Ainda tem muitos na cesta... – Virei para encará-lo e quase fiquei chocada com o que vi. – Javaad Malik! Não acredito que acabei de ver isso!
  - O que?! – Limpou a boca com as costas da mão, se livrando do bigode de leite que ganhou por ter bebido direto da garrafa.
  - Você não pode fazer isso! É nojento. – Fiz uma careta, deixando meus doces e a minha xícara de chá sobre o balcão onde eu tentara sentar uma vez e batera a cabeça na panela que pendia de um pegador do teto. – Coloque em um copo e aí pode beber! Ew.
  - Não sei do que você está falando, . Você me beija, não é? – Colocou leite na sua própria caneca enquanto eu abria o meu pacotinho de Mars Bars. – É a mesma coisa!
  - Claro que não é a mesma coisa! – Mordi o primeiro pedaço da barra de chocolate. – Beber direto da caixa do leite, ou de qualquer coisa, pra falar a verdade, é nojento. E te beijar é bom, então são duas coisas diferentes.
  - Hm, então me beijar é bom? – Sorriu daquela forma brincalhona e cheia de si.
  - Às vezes. Só não gosto muito quando você faz aquelas coisas com a língua. – Dei de ombros, quase ironicamente. Acredite, não havia nada que ele fizesse com a língua que eu não gostasse. – Mas dá pra ignorar as vezes... Menos quando você tenta me engolir...
   Enquanto ia reclamando do beijo dele, fazia caretas como se sentisse nojo. Zayn parecia realmente acreditar no que eu falava, pois começou a parecer ofendido e um tanto assustado. Segurei o riso, dando de ombros mais uma vez e recolhendo as minhas coisas. Dei as costas pra ele enquanto inventava e numerava milhões de absurdos sobre as coisas que não gostava nele; fosse do cabelo, do físico, do estilo de se vestir... Uma mentira pior que a outra. Deixei a cozinha para trás, passando pelo arco da sala de jantar e atravessando o corredor até o quarto de jogos.
   Por incrível que pareça, tudo ali estava bem arrumado. Não sabia se Zayn tinha esse gênio de limpeza dentro de si ou se os meninos deixaram tudo organizado antes de irem embora. Sinceramente não sei qual das duas opções me parecia mais impossível. Tudo estava bem claro, pois as cortinas estavam abertas e o colchão no chão era bem iluminado. Mas ainda não chegava a estar quente. Sei disso porque subi em cima dele, bebericando do meu chá até que ele estivesse quase na metade. Depositei a caneca no chão, assim como os doces que confisquei, em uma distancia segura de qualquer coisa que pudesse ser estragada caso algum acidente acontecesse.
   Zayn me seguia e parecia já ter terminado seu chá, pois deixou o próprio copo em uma mesinha perto da porta. Em seguida, se jogou no colchão, na ponta contrária de onde eu estava sentada. Seus braços cruzados me mostravam que ele não estava achando graça da minha lista de coisas que mudaria nele.
  - É só isso? – Levantou uma sobrancelha, fitando meu divertimento.
  - Ainda quer mais? – Também cruzei os braços, imitando sua expressão.
  - Não, obrigado. Mas já que você citou o que não gosta em mim, porque não faço o mesmo? – Espera... Não era pra ser assim! – Zayn começou a enumerar nos dedos e senti que ai vinha bomba! – Vejamos... Não gosto de como a primeira coisa que você faz ao chegar em algum lugar onde se sente a vontade é tirar os sapatos. Não gosto como você espalha suas coisas por todos os cantos, ou como a sua primeira reação depois de uma briga é se afastar ou ir embora. Não gosto como você sempre tira algo do lugar e depois esquece de colocar de volta. Não gosto de como afina a voz quando fala com algum animal ou criança, ou como se esforça pra agradar a todos, mesmo quando é impossível. Não gosto de como você gosta de sentar em lugares altos e sua primeira opção vai ser em cima da mesa ao invés de qualquer cadeira. Não gosto de como você é desequilibrada, principalmente ao acordar e descer as escadas. Também não gosto de como sorri olhando para o nada quando pensa que ninguém está vendo. Não gosto quando morde a ponta do dedo por estar ansiosa ou rola os olhos por eu ter falado algo idiota...
  - Nós parecemos um casal de velhos! – O interrompi ao já estar satisfeita em ouvir todos os meus hábitos sendo listados assim.
  - Com a exceção de que são essas as coisas que eu mais amo em você. – Sorriu e vi em seu rosto a mesma expressão boba que eu sabia ter.
  - Como você consegue amar alguém com tantas coisas ruins assim? – Ainda não satisfeita, o instiguei a falar mais. Apesar de seu exterior misterioso, eu sabia melhor do que ninguém o quanto ele era romântico e até filosófico.
  - Não faço a mínima idéia. – Riu ao ponto de seus olhos diminuírem de tamanho e rolei os olhos sem nem perceber o que estava fazendo. – VIU SÓ?
  - Não vi nada!
   Achando que a distância entre nós dois já estava grande demais, engatinhei até o menino e o puxei, fazendo com que nós dois rolássemos no colchão até que ele estivesse sobre mim. Não me importei com o peso de seu corpo sobre o meu e o prendi ali com uma perna em volta de sua cintura. Passei os braços em torno de seu pescoço, deixando que ele encaixasse os lábios ao meu queixo. Ganhei algumas mordidinhas pelo maxilar e quando achei que Zayn fosse continuar pelo meu pescoço, tive meus lábios abocanhados. Como se quisesse me fazer retirar tudo que tinha reclamado sobre ele, fui beijada como se aquilo o desse todo o ar que precisasse para sobreviver. Nossas línguas se chocavam com fervor e ao mesmo tempo muito carinho. Mordisquei seu lábio inferior, escutando a sua risada baixa em meus lábios.
  - Não gosta do que eu faço com a língua, né? – Provocou com o canto direito da boca mais elevado que o outro, num sorriso torto e convencido.
  - Não sei do que está falando! – Ri, empurrando para tirá-lo de cima de mim. – Onde está o meu chocolate?
  - Então o segredo é te dar doces? – Questionou enquanto eu me esticava para pegar a barrinha de chocolate onde a deixara antes. – Faz tempo que não a vejo comer assim, sem ter que ser obrigada.
  - Eu como sempre... Só que uns dias tenho mais fome que os outros. – Expliquei, o que não deixava de ser verdade. – Quer um pedaço?
  - Todo seu. – Se arrumou encostado a uma almofada enquanto eu continuei sentada. – Como foi sair com e Ben ontem?
  - Foi tão estranho! – Com esse assunto eu me empolguei. – Não sei, mas os dois não parecem um casal, sabe? E também não parecem se importar com isso. sente falta de Ni, isso é óbvio. Mas está tentando superá-lo... Depois do que aconteceu em Paris, achei que os dois fossem voltar, mas pelo visto foi só uma coisa de momento mesmo...
  - Achei que fossemos conseguir juntar os dois de novo, mas acho que não... – Suspirou. – Só queria que Niall conseguisse fazer como ela e seguir em frente. Talvez assim os dois consigam colocar um ponto final nesse clima tenso que fica quando os dois estão no mesmo lugar.
  - Achei que conseguiríamos ao menos descobrir o que fez eles terminarem em primeiro lugar!
   Quem sabe um dia conseguiríamos descobrir aquele mistério. De uma coisa já sabíamos... Niall fizera alguma coisa. O problema é que eu não conseguia imaginá-lo fazendo qualquer coisa que pudesse magoar . Se um casal devia ficar junto para sempre, esse casal era Niall e ! Eles eram perfeitos um para o outro e aquela idéia de Zayn sobre fazer nosso irlandês seguir em frente não me agradava. Terminando de comer o meu docinho – aliás, lembre-me de agradecer a quem quer que tenha mandado a cesta – e joguei a embalagem ao lado da minha caneca de chá meio pela metade.
  - Hey, babe... – Chamei a atenção de Zayn. – Quando eu cheguei... O que você estava fazendo com aquele caderno? É onde guarda as suas músicas, né?
  - É sim. Tive um pouco de inspiração essa manhã. – Sorriu orgulhoso. – Depois eu termino.
  - Não deixe a sua inspiração passar! – O balancei pelo joelho, tentando encorajá-lo.
  - Mas e você?
  - Sei que não gosta de mostrar nada que ainda não está terminado, então não vou pedir pra ver... Mas gostaria de te assistir compondo. – Insisti. Não queria que a minha presença o atrapalhasse. – Além do mais, também quero escrever uma música!
  - Você quer? – Como se fosse possível, seu sorriso ficou ainda maior.
  - Trouxe o meu próprio caderno de composições! Não necessariamente músicas, porque isso eu nunca tentei... Na verdade são mais textos sem sentidos ou como me sinto. Mas posso tentar, certo?
  - É claro que sim, ! E eu posso te ajudar... Se quiser, claro. Também podemos criar uma melodia...

+++

  - Baby, c’mon! – Bati na porta do quarto. – Vamos chegar atrasados...
  - Já estou acabando, ...
   Zayn podia não gostar de muitas das minhas manias, mas algo que ele não podia reclamar era da quantidade de tempo que eu levava pra me arrumar, já que o próprio demorava consideravelmente mais do que eu. Segundo o relógio em meu celular, a festa de Tom começaria em dez minutos e a casa dela não era lá perto da cidade, então demoraríamos um pouco na estrada. Trocar de roupa em quartos separados pareceu uma boa idéia até aquele instante, onde eu estava pronta e não podia apressá-lo pelo lado de dentro do quarto. Desistindo de bater na porta, caminhei até a sala, escutando apenas o som dos meus saltos batendo contra o piso. Minha bolsa em forma de cesta estava sobre a mesinha na porta de entrada e o presente de Tom perfeitamente embalado e pronto para ir embora. Isso se o homem da casa fizesse o favor de andar logo.
   Acreditando que o dito cujo ainda iria demorar alguns minutos se embelezando – como se precisasse – me joguei no sofá. Acariciei a minha capa de veludo vermelha, me sentindo a própria Chapeuzinho da história infantil. Claro que a saia que usava era um tanto curta demais pra ser considerada inocente e o espartilho que apertava a minha silhueta se encaixava mais na sessão “sexy”, mas isso são meros detalhes que podemos ignorar. Checando o celular mais uma vez, resolvi me entreter e mandar mensagens.

  
“Vocês não vão mesmo? Ainda dá tempo...”
  “Talvez em uma outra, . ): H. e L.”
  “Acabamos de chegar na casa dos pais da Dani... Se sairmos daqui cedo, daremos uma passada lá, ok? Sem fantasia mesmo! lol”
  “Eu adoraria, , mas falei com os outros meninos e não quero ficar de vela! Mas coma bolo por mim. – Nialler”

  - Imprestáveis. – Disse baixinho enquanto bloqueava a telinha do iPhone.
  - Quem é imprestável? – Zayn parecia finalmente ter saído do quarto e agora estava parado perto do arco da cozinha.
  - I, i, captain. – O olhei e acabei sorrindo por causa da sua fantasia de pirata. Pois é, uma Chapeuzinho Vermelho e um Pirata... Casal perfeito, não? – Onde conseguiu esse chapéu?
  - Lembrei que um amigo meu tinha e passei na casa dele pra pegar emprestado. – Arrumou o chapéu sobre a cabeça. Às vezes eu esquecia que ele tinha outros amigos além de Liam, Lou, Haz ou Ni. – Dou um bom pirata?
  - Você tem as tatuagens pra isso... – Levantei ao ver que ele já abria a porta. – Vamos logo, porque essa Chapeuzinho quer dançar!

+++

  A casa dos Fletcher realmente não ficava perto da cidade, por isso levamos entre meia hora e quarenta minutos para chegar lá. Como o lugar ficava quase no meio do nada, pudemos simplesmente estacionar em qualquer lugar que já não estivesse ocupado e descer do Volvo prateado que um dia pertencera a minha sogra. Zayn não tirara o seu chapéu de capitão Jack Sparrow nem enquanto dirigia, então provavelmente o amigo dele nunca mais o teria de volta. As luzes da casa eram convidativas e personagens de desenhos animados ou filmes famosos entravam e saiam de lá, passeando com copos vermelhos em suas mãos ou comidinhas deliciosas. Com certeza eu não reconheceria metade daqueles convidados nem se estivessem com as suas roupas normais.
   A primeira reação de Zayn foi passar os dedos entre os meus e segurar a minha mão. Ele também não conhecia ninguém ali além dos quatro meninos do McFly, já que não era familiarizado nem ao menos com as namoradas/esposas deles. Ficar perdido naquela casa um tanto grande demais seria ruim para qualquer um de nós dois. Ao menos todos os cômodos eram bem divertidos, já que Tom tinha uma coleção de brinquedos, bonecos de ação, bichinhos de pelúcia, objetos de filmes e etc. Era com toda certeza uma casa divertida e sempre que eu entrava ali, queria ficar para sempre.
  - Gostei dos seus cadarços. – Uma figura masculina e loira, vestida de Batman parou na minha frente.
  - Obrigada, eu os roubei da rainha. – Ri encantada com o fato de Tom lembrar de nosso código secreto. – Tommy! É tão bom te ver!
  - Faz tempo, né? – Me abraçou pela cintura quando o envolvi pelos ombros. – Você está ótima. Gostei do novo cabelo... Ficou bem loira, só não sabia que tinha tanta coragem assim pra mudar.
  - Foi o Sol de Los Angeles! O tom era mais escuro que isso, mas também gostei. – Nos separamos e eu não parava de sorrir. Sempre que via ele ou qualquer um dos outros três demorava alguns segundos pra lembrar que eram meus amigos e não os ídolos intocáveis de uma mais nova.
  - What’s up, mate?! – Tom também abraçou Zayn, mas daquela forma que garotos fazem, com um tapinha nas costas e tudo mais.
  - Alright, bro! Feliz aniversário. – Sorriu, mas ninguém ali estava mais feliz que eu. – Festa legal.
  - Aqui, Tom... Seu presente! – Estiquei a caixa retangular que trouxera para que ele recebesse sua edição especial de Legos da série Doctor Who. Ainda não sabia disso... Mas iria gostar.
  - Obrigado, ! – Pegou o presente e tentou espiar entre as camadas da embalagem. – Vem comigo, vou te dar o seu antes que esqueça... Com licença, Zayn, já devolvo a sua namorada.
  - Sem problemas!
   Zayn me deixou ir, mas seu olhar pedia socorro. Me desculpei com um meio sorriso, tendo o meu pulso carinhosamente envolvido por Tom, que começou a adentrar a própria casa e me levou junto. Não queria ter deixado-o sozinho, mas não pareci ter muita escolha. Claro que a minha consciência pesada foi embora assim que a minha fangirl interior falou mais alto. “ESTOU PRATICAMENTE DE MÃOS DADAS COM TOM FLETCHER! NA CASA DELE!” Por sorte eu já conhecera celebridades o bastante para fingir ter autocontrole na frente delas. Algumas pessoas mascaradas acenaram na minha direção e achei melhor fazer o mesmo ao invés de passar por mal educada só por não conseguir reconhecer quem elas eram.
  - Gi, olha quem chegou! – Assim que entramos em um quarto onde algumas pessoas assistiam um filme de terror que passava na TV, o homem chamou a esposa vestida de Mulher Gato.
  - ! – A morena levantou de onde estava e correu com os braços abertos na minha direção.
  - Gigi. – A abracei com força e demos alguns pulinhos, felizes por estarmos reunidas novamente. – Finalmente! Minha amiga autora! Wow, temos tanto pra conversar...
  - Temos mesmo! Parou de viajar? Porque sempre que eu penso em te chamar pra sair, você está em outro país! – Fofa como sempre, Giovanna olhou em volta como se procurasse algo. – Tom já deu seus presentes?
  - Cheguei! – O loiro voltou, isso porque eu nem o vira se afastar, e trazia três coisas nas mãos. – Abra esse aqui primeiro.
  - Ok... “De: Danny, Tom, Dougie e Harry. Para: Nossa pequena .” Awn, que fofura! – Li o cartão da primeira caixa de presentes. Tirei a tampa com cuidado, encontrando o tal presente que os meninos falaram ter pra mim. – Um macacão de panda!
  - Agora você é uma de nós. – Tom comemorou animado. Seu olhar me dizia que ele já me imaginava dentro daquela roupa, rolando pelo chão assim como ele e os outros meninos faziam. – Esses aqui são da Gi.
  - Obrigada, vocês dois. Não precisava, de verdade! – Não precisava, mas gostei muito da minha cópia de Billy & Me e uma caixinha com um conjunto de brincos, colar e pulseira.
  - Leia a dedicatória! – Gi pediu.
  - “Para a minha querida . Que nossa amizade seja eterna para que outros possam escrever histórias sobre nós.” – Aquela era uma dedicatória muito bonita, visto que vinha de uma autora. – Obrigada, Gi! Não sei nem o que falar...
  - Com licença, meninas, acho que a minha irmã chegou... – Tom avisou e se retirou. Sua fantasia era de Batman, mas ele se comportava como o Flash, correndo de um canto para o outro.
  - Acho melhor guardar essas coisas pra que você não fique carregando a festa inteira, não? – Giovanna sugeriu, lendo os meus pensamentos. – Aliás, adorei a sua cestinha!   - Uma Chapeuzinho Vermelho não estaria completa sem uma cesta! E ela é uma ótima substituta para bolsas... Mas eu adoraria guardar tudo isso.
  - Pode colocar no meu quarto, ninguém vai entrar lá. Ainda lembra onde fica certo? – Afirmei que sim. Não fazia tanto tempo assim que estivera ali pela última vez. – Só cuidado pra não deixar os gatos saírem...
  - Pode deixar, Gi! E eu gostaria de conversar com você, mais tarde...
   Giovanna me acompanhou até a porta daquele quarto, em seguida voltando para as suas outras amigas. Me esquivei de umas pessoas aqui ou ali, principalmente ao chegar na escada, onde uma dançarina de Can-can corria de um Cowboy. Todos estavam se divertindo, mas porque seria diferente? Não demorei nada para encontrar o quarto de Gi e Tom. Mesmo com várias coisas na minha mão, consegui abrir a porta e entrar sem derrubar nada. Em cima de um dos travesseiros, Aurora dormia tranquilamente. Não vi sinal dos outros gatos, mas tinha certeza que logo apareceriam.
   Deixei as minhas coisas em um móvel que encontrei no canto, com todo cuidado para não fazer bagunça. O que Zayn falara sobre eu espalhar as minhas coisas por todos os cantos podia acontecer na minha casa ou em seu flat, mas não em lugares como aquele. Voltando a minha atenção para a princesa que dormia no travesseiro, me pus de joelhos ao lado da cama, me apoiando ali e esticando a não até tocar a gata. Eu até que posso ser uma “dog person”, mas sempre achei gatos muito fofos; especialmente aqueles três que eu vi crescer, ainda que de longe e por fotos. O que?! Que Galaxy Defender nunca babou por Leia, Aurora e Marvin?
  - Hey, girl... Tudo bem? – Falei baixinho, não querendo assustá-la.
   A gata apenas bateu em minha mão com a patinha, como se me pedisse para deixá-la em paz. Ri daquela folgada, ainda mais quando se espreguiçou. Decidi deixá-la em paz de uma vez. O som de patinhas arranhando alguma coisa me fez olhar para a minha própria capa vermelha e encontrar um felino loiro me cumprimentando. Marvin era diferente de sua irmã mais velha, então veio falar comigo. Ele teria feito com qualquer uma, mas gostei de ser sido eu a pessoa a tirá-lo da solidão. Me sentei no chão e o trouxe para o meu colo, vendo-o se desmanchar sobre as minhas penas, na espera de carinho. Era como se ele tivesse falado: “Me acaricie, pesant.” Os pelos amarelados do gatinho eram mais macios que o meu próprio cabelo e isso me frustrou um pouco.
  - Você acha que mummy ou daddy me deixam roubar você pra mim? – Perguntei fazendo um bico, escutando-o ronronar com os meus carinhos.
  - Eu sabia que te encontraria aqui! – Danny Jones entrou no quarto com sua fantasia de índio.
  - Danny! Oh não... Por favor me diga que você não está vestido de Indian Jones... – Levei uma mão ao rosto, perguntando-me porque aquilo já não me surpreendia mais.
  - Você entendeu a piada! – Riu escandalosamente, fazendo Marvin se assustar e sair do meu colo. – Poderia falar isso para o Harry, por favor? Ele estava me enchendo porque disse que ninguém entenderia.
  - Falo sim, pode deixar. – Sorri e recebi ajuda para me colocar de pé, sendo abraçada em seguida. – E parabéns pelo noivado! Nem acredito que meu Ratleg vai se casar!
  - Uau, ninguém me chama assim há anos! – Danny ainda se surpreendia com o meu conhecimento Mcflistico? – Mas obrigado! Também nunca achei que fosse dizer isso.
  - Onde está a noiva? Também preciso parabenizá-la!
  - Acho que ela está lá fora, conversando com a Lara. – Deu de ombros sem ter muita certeza e fiz uma careta mais óbvia do que gostaria. – O que foi?
  - Nada... – Balancei a cabeça negativamente. O observei abrir a porta para que saíssemos do quarto de Tiovanna. – Só acho que ela não vai muito com a minha cara.
  - A Geo? Não seja boba, , ela te adora! – Passou o braço pelos meus ombros, fazendo o meu capuz cair para trás.
  - Não, não Georgia... A Lara. – Comentei baixinho, não deixando ninguém mais nos escutar. – Não sei porque, mas algo me diz que ela não gosta de mim.
  - Não é culpa dela que Dougie tenha tido uma queda por você quando te conheceu. – Danny falou do nada, me obrigando a parar de andar e o encarar com um sorriso travesso no rosto.
  - O que? – Nem ao menos pisquei.
  - O que o que? – Jones não deixava de ser lerdo nem em casos de vida ou morte? Dei um tapa em sua testa, imaginando que isso colocaria os poucos neurônios de sua cabeça no lugar certo. – OUTCH, !
  - Dougie teve uma queda por mim? – Repeti, me divertindo demais com aquilo. – Onde ele está?
  - , você não vai falar pra ele que está sabendo disso, né? – Se tocou do que havia feito e eu neguei com a cabeça, não sendo muito convincente. – Pode ao menos fingir que não fui eu quem te contou?
  - Pode deixar! – O puxei e deixei um beijo estalado em sua bochecha, manchando ali de vermelho.
   Só esperava que ninguém se importasse com isso, mas tinha certeza que Geo não ligaria justamente por ter sido eu. Enquanto passava pela sala a procura de Dougie, aproximei-me de uma mesa com alguns copos e peguei o primeiro que vi, sem nem ao menos saber o que havia ali dentro. Dei alguns goles apreciando o sabor do álcool misturado com alguma bebida de limão. Ok, aquela casa estava cheia e eu não conseguia reconhecer metade daquelas pessoas por baixo de suas fantasias bem elaboradas. Não encontrei nenhuma outra Chapeuzinho Vermelho, então ponto pra mim. Contra a idéia de passar a noite inteira atrás de um garoto que podia estar fantasiado de qualquer coisa, decidi parar a primeira pessoa que passasse por mim.
  - Com licença, sabe me dizer onde Dougie está? – Parei o Superman que passou à minha direita.
  - Ah, só se importa com o viado? – Harry me olhou ofendido.
  - Oh, Gosh! Harry! – Como alguém não reconhece Harry Judd? Como EU não o reconheci? Tentando me redimir, o abracei com força. – Desculpa! Eu ia procurar você em seguida. Juro que ia!
  - Não sei se acredito, . – Me abraçou sorrindo, nem um pouco chateado. – Tudo bem? O que tem aprontado?
  - Nada demais, sou uma menina comportada... – Arrisquei, bebendo mais um gole da minha bebida após nos soltarmos.
  - Se isso é comportada pra você, não quero saber o que não é... – Deu um passo para trás, olhando a minha fantasia curta.
  - Harry! – Briguei com ele um pouco corada, puxando a minha capa para me cobrir. – Não vou nem falar dessa sua roupa colada de Superman!
  - O que é bonito é pra ser mostrado! – Fez uma pose que realçou seus músculos e me fez gargalhar. – E nada que você já não tenha visto antes! Seu irmão me falou que você tem uma cópia da Attitude.
  - Tenho mesmo! E a culpa não é minha se vocês quatro vivem tirando a roupa. – Se ele esperava me constranger com aquilo, não conseguiu. – Não que eu esteja reclamando, claro.
  – Tenho certeza que não. – Piscou. – Estou indo pegar comida para a Izzy. Quer vir junto?
  - Adoraria, Judd, mas ainda quero encontrar o Doug. – Por mais que aquele convite fosse tentador, minha procura ainda não terminara.
  - Acho que ele está lá na varanda...
  - Obrigada. Encontro você mais tarde, ok?
  - Pode apostar. Você ainda me deve uma dança!
   Não se preocupe, Harry Judd, essa era uma divida que eu faria questão de pagar. O deixei seguir seu caminho e virei para o meu próprio. Não havia sinal de Zayn em lugar algum, o que podia ser um bom sinal. Vai ver ele encontrou algum brinquedinho pra ficar distraído enquanto a sua namorada passeava com os ídolos de sua banda preferida. Que nenhum dos outros me escutasse falar isso, mas McFly sempre seria a minha “boy band”. Veja bem, eu não conseguia ver One Direction como uma banda nesse sentido. Eles eram os meus meninos... Era diferente. Nem mesmo quando Tom e Danny escreveram três músicas com eles. Seguindo até a varanda, não demorei nada para encontrar um menino vestido com um macacão de dinossauro, acabando de apagar um cigarro. Aproveitei que não havia mais ninguém ali com ele e preparei a minha melhor encenação.
  - Hello, big boy. – Coloquei a mão que não segurava o copo na cintura, fazendo com a minha capa vermelha não escondesse minha fantasia curta.
  - ... – Me olhou e acabou engasgando com um pouco de fumaça que ainda saia dos seus lábios. – O-oi! Eu estou bem, juro!
  - Desculpa, te assustei? – Enquanto bebia, o olhava por cima da borda do copo. Caminhei até ele e sentei-me ao seu lado, na mureta da varanda. – Um dinossauro tão grande com medo de uma garotinha?
  - Não sou tão grande assim... – Dougie tentou fazer uma piada sobre a sua pouca altura, mas acabei levando no duplo sentido e comecei a rir. Ainda que tentasse se conter, me acompanhou. – Shit, não foi isso o que eu quis dizer... Para de rir, !
  - Desculpa! – Balancei a cabeça, me controlando um pouco mais. Já era a minha tentativa de seduzi-lo. – Como você está, Dougie-boy?
  - Agora que você acha que eu tenho um pênis pequeno, nada bem! – Me fez rir ainda mais. É, eu era uma criança perto dele.
  - Eu sempre soube! – O envolvi de lado em um meio abraço. – Mas ainda te amo, ok?
  - Espero que sim. – Sorriu adoravelmente. Dougie podia ser um idiota nas horas vagas, mas quem negaria que ele era uma graça? – Ainda bem que você veio.
  - Não podia perder a festa do Tom por nada. – Continuei abraçando-o e deitei a cabeça em seu ombro.
  - Uhh. Tom. Você perdeu a minha festa! – Sua reclamação me fez encará-lo.
  - Dougie, em minha defesa, eu não te conhecia no seu último aniversário. – Elevei as sobrancelhas. – Bem, tecnicamente eu te conhecia sim... Você é que não me conhecia, então não me convidou.
  - Detalhes, . Se você tivesse aparecido na porta, com certeza teria deixado você entrar.
  - Claro, porque isso acontece com uma fã! – Cruzei os braços.
  - Você não é como as outras. – Tentou não me olhar ao falar isso, mas minha risada o obrigou. – Você é legal.
  - Achei vocês. – Uma figura vestida de Morticia Adams surgiu na entrada da varanda. – Ouvi dizer que você estava aqui, . Que bom que veio.
  - Obrigada, Lara... Eu tinha que vir ver os meninos. – Até a voz dela era meio esganiçada quando se referia a mim. Fiz questão de passar o braço pelo de Dougie, só pra provocar mais um pouco. – Sinto falta desses bobos.
  - Também sentimos sua falta, . – Dougie confirmou sem se importar com o olhar fuzilador que recebeu de sua namorada.
  - Achei que fosse uma festa a fantasia... – Pensei alto, mas só Dougie me escutou. Por incrível que pareça, ele gargalhou da minha piadinha maldosa.
  - , Giovanna está te chamando lá na cozinha... – Provavelmente era uma forma de me tirar de perto de seu namorado, mas eu precisava mesmo conversar com Gi.

+++

  Passei uma boa meia hora procurando por Giovanna, que não estava na cozinha. Para não me sentir uma namorada tão ruim, encontrei Zayn distraído no salão de jogos, jogando sinuca com uns três meninos que conhecera por lá. Também tirara fotos com fãs de sua banda que também eram amigos de Tom. De qualquer forma, ele estava se divertindo e não se importava em ficar sem mim mais um pouco. Danny e Harry me fizeram companhia e comemos e conversamos sobre tudo que estava acontecendo na vida deles e na minha; sempre rindo muito quando Jones falava algo extremamente idiota e Judd o reprovava e lhe dava um tapa na cabeça. Quando fui encontrar a dona da casa, ela me puxou pelo braço até que estivéssemos em um lugar mais calmo.
  - Acho que podemos conversar aqui, ! – Me guiou até uma mesa de piquenique no meio do jardim do quintal.
  - Tem certeza que não vão precisar de você lá dentro? – Me sentia mal por tirá-la da festa de aniversário do seu marido. – Isso pode esperar...
  - Claro que não. É até bom descansar um pouco as pernas... Sabe quantas vezes já atravessei essa casa? – Riu, sentando-se de frente pra mim. – Mas vamos lá. O que te aflige?
  - Okay, por onde começar? – Perguntei retoricamente sem saber como me responder.
  - Tem alguma coisa a ver com as matérias que eu andei lendo sobre você e Zayn terem se separado depois que ele supostamente te traiu?
  - Exatamente... – Suspirei. – Nada daquilo era verdade, como já deve ter percebido. É só que... A empresa que toma conta dos assuntos da banda está sempre se metendo na vida deles. O que era pra ser algo apenas profissional está invadindo todas as áreas, sabe? Nenhum de nós gosta disso, mas não temos o que fazer, porque assinaram um contrato de três anos... E não há nem um ano ainda. Não sei de quem foi a brilhante idéia de que Zayn e eu deveríamos fingir terminar. Até agora estamos tentando não deixar as coisas muito na cara, mas duvido que consigamos manter isso assim por muito tempo.
  - Na verdade, acho que eu entendo isso melhor do que você imagina. – Gi começou a falar e me calei. – Há alguns anos atrás, Tom e eu “terminamos”. Ou ao menos foi a noticia que saiu por aí. É uma época que eu não gosto nem de lembrar, mas faz parte do nosso passado. E, assim como você e Zayn, não foi nada de verdade. Nós até já morávamos juntos e eu não saí daqui e mudei para outro lugar. Foi muito difícil no começo... Tanto que acabaram desistindo e nós pudemos “voltar”. Claro que são situações diferentes, porque não chegamos a ser obrigados por ninguém. E Fletch é um cara bem legal que sempre quis o bem dos meninos.
  - Eu queria que Marco fosse assim também.
  - , eu também acabei vendo todas as coisas ruins que tem falado sobre você... – Tocou naquele assunto delicadamente, fazendo meu estomago congelar. – Você não os dá ouvidos, né?
  - Eu tento. – Poderia ter dado a resposta que dava a todos: “claro que não!”, mas de que adiantava mentir agora? – Mas é mais difícil do que eu esperava, sabe? Uma coisa é uma, duas, três pessoas não gostarem de você... Mas milhares? Você começa a pensar que o problema pode não ser com eles.
  - Você não podia estar mais errada! Falo por experiência própria, porque isso acontece comigo até hoje. Costumavam reclamar do meu cabelo, do meu peso e aparência... E isso me trouxe muitos problemas de auto-estima. – Aquilo eu não sabia. – Mas sempre tive Tom ao meu lado, meu melhor amigo desde os treze anos de idade. E nada do que falavam era verdade pra ele. Assim como eu tenho certeza que nada do que falam sobre você é verdade pra Zayn.
  - Sei disso... – Sorri por ela estar se abrindo pra mim e me escutando tão atenciosamente. – Mas machuca porque eu acabo vendo que elas podem estar certas e-
  - Pode parar por aí, ! Já se olhou no espelho? Você é uma menina linda! E tão talentosa... Existem vídeos seus na internet, sabia? Onde o mundo inteiro pode ver a bailarina incrível que você é. Além de ser modelo ou seja lá o que você faz para a Mulberry. – Segurou a minha mão em cima da mesa. – Você é divertida, engraçada e tem um coração tão bom... Sabe quantas meninas teriam se aproveitado da fama deles? E até mesmo dessa amizade que você tem com Tom e os outros, mas as suas intenções são puras. Isso mostra o tamanho do seu caráter. Sempre vai existir alguém que queira te dizer o contrário ou te colocar pra baixo, mas você precisa levantar a cabeça e ter certeza de quem você realmente é.

    

Chapter XX

- Obrigada, Javert. – Sorri para o motorista que abriu a porta do carro e me ajudou a descer.
  - Tenha um bom dia, senhorita Tomlinson. – Por mais que eu insistisse em ser chamada de , ele continuava com aquelas formalidades todas.
   Se acha que ter uma reunião nas acomodações da Models One, em plena Oxford Street, ainda é pouca coisa, imagine ser buscada em sua própria casa por um carro executivo e um motorista com sotaque escocês. Carine sempre fazia questão de mandar um veículo buscar todos os funcionários e convidados de suas reuniões, o que facilitava o nosso trabalho na hora de encontrar algum lugar para estacionar, diminuía o estresse no trânsito por nos tirar de trás do volante e poupava o dinheiro da gasolina. Tudo isso para que chegássemos pontualmente e a pleno vapor para enfrentar nossa longa manhã de decisões e assuntos relacionados à moda do mundo.
   Já fora do carro preto e observando Javert voltar para dentro dele, verifiquei se a minha roupa estava corretamente alinhada, pois nesse ramo o que você usa é sim considerado a primeira impressão. O porteiro simpático e conhecido abriu a porta pra mim e desejou um bom dia de trabalho. Interessante, não? Encarar aquilo como um trabalho... Por mais que tentasse, ainda era difícil pra mim pensar no que eu fazia para a Mulberry como um “trabalho”. Ao meu ver, só o que eu fazia era chegar lá e vestir roupas novas, sem ter que me esforçar quase nada para que fosse vista. De quebra, ainda recebia um salário decente e saia em matérias de revista e blogs de moda. Há um ditado, ou algo desse tipo, que diz que no ramo da moda o que importa não é apenas o conhecimento que você adquire na faculdade ou por meio de cursos, e sim a sua visão para a coisa e, principalmente, os seus contatos. Sempre dei muita sorte por ter um contato tão importante como Carine Roitfeld.
  - , segura a porta pra mim! – Rebecca gritou enquanto atravessava o lobby do prédio e eu parei antes mesmo de entrar no elevador que acabara de chegar ao primeiro andar. – Ufa. Achei que teria que esperar mais meia hora pra ele voltar.
  - Bom dia, Rebecca. – Sorri para a menina que entrou na minha frente, meio esbaforada como se acabasse de correr uma maratona. Pelas bandejas de Starbucks que trazia em mãos, era mesmo quase isso o que tinha acontecido. – Uau, Carine começou cedo hoje, hein? Quer alguma ajuda?
  - Não precisa, obrigada. Só aperte o botão, por favor. – Foi para o canto do elevador e atendi o seu pedido, pressionando o botão para o último andar. – Ah, esse aqui da ponta é seu... Pode pegar se quiser.
  - Eu também ganhei um dessa vez? – Usualmente apenas os membros honorários da equipe criativa ganhavam esses mimos. Peguei gentilmente o meu copo grande de café, com todo cuidado para não derrubar o resto. – Café Mocha!
  - Acertei? Por favor, diga que eu acertei. – Rebecca sempre foi preocupada em acertar tudo que fazia, mas naquela manhã ela me pareceu um tanto... Inquieta. – Fui convidada pra assistir a reunião hoje, sabe? Acho que é um bom sinal...
  - Com certeza é um bom sinal! – Então esse era o motivo que a deixava tão tensa e ansiosa. Dei um gole em minha bebida mais uma vez, sentindo o calor me invadir.
   A estagiária podia não ir com a minha cara, mas naquele dia ela tinha coisas mais importantes para fazer do que se preocupar em me irritar ou me tratar mal, por isso sumiu de vista assim que as portas do elevador voltaram a se abrir. Eu não estava atrasada, então não tive que correr. Tirei o crachá do bolso do meu blazer e o pendurei no pescoço; por mais que todos ali já me conhecessem, era preferível que estivesse bem identificada. A secretária da entrada do escritório me saudou com um sorriso amigável e me dirigia até ela, entregando-lhe a sacola com as fantasias que pegara emprestado no closet, para que pudesse dar baixa e conferir se tudo estava em perfeita ordem.
   Logo fui liberada dessa pequena burocracia e pude seguir para a sala de reuniões numero 3C; particularmente a minha preferida. Apesar da longa mesa e cadeiras de couro extremamente confortáveis, sistema de som e iluminação da melhor qualidade, o que mais gostava nela era a quantidade de janelas e a vista do lado de fora. Não necessariamente a vista em si, literalmente falando, mas sim o que eu podia ver a partir dela. Deixei as minhas coisas sobre a cadeira mais afastada, onde eu costumava me sentar, e permaneci apenas com o copo de Mocha em mãos. Foi fácil encontrar a cobertura do flat de Zayn e identificar ali algumas das plantas que enfeitavam o seu terraço. Fora isso, não havia mais nada ali. Não sei o que estava esperando, pois ainda era cedo demais para ele estar acordado, mas seria bom vê-lo acenando pra mim.
  - Bom dia, ! – Carine acabara de entrar na sala, tomando o seu lugar na ponta da mesa, mas ainda sem se sentar.
  - Bom dia, Car! – Deixei as esperanças de ver o meu namorado de lado e me voltei para ela. Caminhei até a minha bolsa e apoiei o copo na mesa para pegar a revista que trouxera. – Tenho algo pra te mostrar...
  - , querida, sente-se mais perto, por favor. – Pediu, indicando a primeira cadeira ao seu lado esquerdo.
  - Uh, mas eu sempre sento aqui atrás... – Falei mais pra mim mesma, não perdendo tempo para juntar tudo que era meu e me mudar para um lugar mais próximo dela. – Tudo bem, você é a chefe.
  - O que queria me mostrar? – Sentou-se e fiz o mesmo, abrindo a Elle francesa que ganhara da minha prima.
  - Não sei se já viu, mas eu saí em uma pequena nota na Elle parisiense desse mês... – Passei o objeto para ela, aberto na página que eu olhara tantas vezes.
  - Pequena nota? , você está em duas páginas! – Riu, mas não soou surpresa. – Já haviam me falado sobre essa surpresinha que minha ex-inimiga Valerie aprontou, mas ninguém conseguiu uma cópia pra mim! Muito obrigada, Rebecca.
  - De nada! – A estagiaria acabara de entrar na sala e não fazia idéia do que Carine falava, por isso mesmo não entendeu a sua ironia. – Mas o que eu fiz?
  - Nada! Apenas se sente e prepare-se pra fazer anotações! – A chefe era dura com ela, mas Rebecca já devia ter se acostumado. Voltou a atenção para o papel em sua frente e continuou a falar comigo. – Você fica bem de amarelo. E com todas as outras cores também. Se importa se eu ficar com essa revista e te devolver em nosso próximo encontro?
  - Claro que não, fique a vontade. – Me acomodei na cadeira, pegando meu copo de café e levando-o até a boca.
  - Pode se preparar também, mas daqui a pouco quero te apresentar a uma pessoa.
   Simples assim, levantou de onde estava sentada e passou pela porta, levando consigo a minha revista. Rebecca se sentou na cadeira a minha frente e pegou um bloquinho de páginas amarelas e uma caneta que trouxera no bolso. Sorri pra ela na tentativa de ser amigável e encorajadora por ela estar em sua primeira reunião oficial da Mulberry e passei a me concentrar nas minhas próprias preparações. Deixei o café de lado um pouco e peguei o meu iPad; que ficava guardado em uma capinha com um caderno embutido e também a caneta que um dia fora de meu avô, mas agora pertencia a mim. O suspiro nada amigável da menina a minha frente quis dizer algo como: “Queria estar mais preparada do que ela!” e ao mesmo tempo: “Como não pensei em algo assim antes?”
   Aos poucos a equipe criativa começou a entrar na sala de reunião, cada um com suas pastas cinzentas e sem graça, assim como painéis de apresentação e coisas que eu nem fazia idéia do que poderiam ser. Assisti enquanto Luella Bartley, Nicholas Knightly, Giles Deacon, Kim Jones, Stuart Vevers e Emma Hill tomaram seus lugares de sempre, sendo que Emma foi obrigada a se sentar ao meu lado, visto que eu tomara o seu. A designer chefe e diretora de criação não se importou e foi simpática como sempre. Carine retornou a sala, acompanhada de alguém que teria me feito cair pra trás se não estivesse sentada. Karl Lagerfeld!   - ... – Me chamou. Carine só podia estar brincando! Era a ele que ela queria me apresentar?! – Venha cá, por favor.   - Claro! – Levei alguns segundos para me situar e me controlar apesar de estar na frente de um ícone tão grande do mundo da moda.   - Então foi dela que você tanto me falou, Carine? – O homem me estudava por baixo de seus óculos escuros que não tirava por nada. Até mesmo seu sotaque difícil de entender me deixou meio insegura.   - É uma honra conhecê-lo, Sr. Lagerfeld. – Me surpreendi pela minha voz ter saído tranqüila e sem gaguejar. .   - Espero poder dizer o mesmo, my dear.    Com um sorrisinho que não entendi ser bom ou ruim, o homem se dirigiu até o fundo da sala, onde ocupou a cadeira na outra ponta da mesa. Veja bem, para um homem que falou que não gostou do rosto de Pipa Midelton e caracterizou Adele como “gorda demais”, ele não ter feito nenhum comentário ao meu respeito foi algo positivo. Me virei para Carine disfarçadamente, que mexia em algo em seu celular.   - Ele vai assistir a reunião? – Cochichei nervosa.   - Não se preocupe, . Só seja você mesma. – Muito fácil de falar.

  

+++

  A reunião seguiu agitada durante a sua primeira hora, onde cada responsável por um departamento fez o seu relatório completo sobre o que havia acontecido na semana que passou e em seus planos para corrigir falhas, melhorar o alcance da marca e etc. Permaneci em meu canto, absorta em anotações e o único barulho que eu fazia era ao virar as páginas do caderno para que pudesse ter mais espaço para escrever. Quando chegamos na etapa de promoção é que eu entrei na jogada. Carine conversava com o publicitário chefe, querendo arrancar dele todas as idéias novas para promover a sua marca.
  - Kim, você conseguiu os convites para o coquetel da In Style, certo? – Carine arrumou seus óculos de grau sobre a ponte do nariz, olhando para o homem na ponta da mesa.
  - Sim, e a já estava lista. – Afirmou, me fazendo levantar o olhar.
  - Está entendendo tudo, ? – A mulher perguntou assim que deu uma olhada na bagunça que eu fizera em meu caderno.
  - Entendendo eu estou, só não concordo muito com essa estratégia... Claro, vai ser ótimo divulgar a Mulberry na In Style, mas eu não acho que isso é ousado o suficiente. – Todos na sala ficaram calados assim que comecei a falar, quase como se achassem que eu perdera a cabeça; não por querer algo ousado, mas sim por discordar de Carine. – Car, sabe que eu te adoro, mas entende porque te tiraram da Vogue? Você é talentosa e é realmente boa no que faz, só que há algo faltando. Você não se arrisca se a probabilidade de sucesso não estiver ao seu lado.
  - Eu espero que você queira chegar em algum lugar com isso, . – Sua postura se tornou tensa. Entendo que aquele assunto não era o melhor a ser tratado, mas era algo que precisava ser dito. Karl se mexeu pelo que pareceu ser a primeira vez desde que se sentara e apoiou o queixo na mão, olhando de sua amiga para mim.
  - O que estou querendo dizer é que ir atrás da In Style seria uma jogada segura, mas acho que precisamos ir atrás de um peixe maior. – Falei na primeira pessoa do plural por já me sentir parte da equipe. De vez em quando, olhava as minhas anotações para ter certeza do que estava dizendo e não perder a linha de pensamento. – Esse sábado, a Glamour vai comemorar treze anos de vida aqui na Inglaterra e a festa já está dando o que falar, porque todos estão esperando um verdadeiro show no tapete vermelho. O que eu acho é que devemos ir atrás da revista número um de audiência.
  - E você espera que Carine simplesmente caminhe lá no meio e que todos os olhares se voltem pra ela? – Kim perguntou, não captando o que eu queria dizer.
  - Eu tive uma idéia... – Olhei de um em um, suspirando como se esperasse que alguém me desse algum apoio. – É arriscado, mas esse é justamente o objetivo.
  - Prossiga. – Carine me fitava com atenção, dando-me permissão para continuar.
  - Já ouviu falar na Coleção de Papel, de Jum Nakao? – Minha pergunta deveria ter sido retórica, mas Rebecca negou com a cabeça. Carine bufou por isso, mas não me importaria de explicar. – Essa coleção consistiu em criar algo precioso, mas ao mesmo tempo frágil como um papel, entende? É como se alguém colocasse em uma obra todos os seus sonhos e desejos, te dando a oportunidade de tocá-lo e tê-lo. Mas quando você menos espera, ele é brutalmente tirado de você; no caso do papel, rasgado em pedaços. É como e fizessem um jogo com o seu desejo e no final da contas você terminaria da mesma forma que começou, com as mãos vazias. A única coisa que ainda resta é o seu sentimento, sua lembrança. Podemos trazer isso à vida na moda conceitual. Não seria precisamente comercial, mas com certeza chamaria a atenção de muita gente. Quem sabe o suficiente para aparecer na Glamour.
  - Você quer criar uma Coleção de Papel. – A afirmação de Carine soou mais como uma pergunta, então afirmei que sim com a cabeça. Seu sorriso de aprovação me pegou de surpresa, ainda mais quando ela se dirigiu à Emma. – Podemos criar um protótipo até sábado?
  - Como falou, é arriscado... Seria preciso vários testes e teríamos que parar com a preparação para a Fashion Week... – A diretora de criação fez uma pausa um tanto longa e em seguida continuou: - Podemos sim, com toda certeza.
  - Então vamos arriscar. – Car sorriu, pegando o celular para digitar algo que nem tentei ler.
  - Carine... – Kim a chamou. – Quem vai ser a modelo? Acho que Cara Delevingne está livre...
  - Eu estava pensando em alguém que já está aqui nessa sala. – A mulher respondeu e Rebecca pareceu se encher de esperança. Eu realmente esperava que fosse ela, pois poderia finalmente ser a chance que tanto aguardara. – Emma, vocês já tem as medidas da , certo?
  - O que? – Quase engasguei ao tentar terminar o meu café e receber aquela noticia. – Carine, eu não sou modelo. E quase ninguém me conhece, então acho que devia ir com a Cara mesmo... Ela até já fotografou pra você!
  - Não foi você que disse pra eu me arriscar? É exatamente isso que estou fazendo. – Usar as minhas próprias palavras contra mim não era algo legal de se fazer! – A Elle criou um mistério a sua volta, quando te colocaram nas duas páginas e não falaram o seu nome. Eles querem te conhecer? Bem, vamos apresentá-la.
   Sem mais nem menos, Carine decidiu o meu futuro e marcou um encontro entre Emma e eu para que fizéssemos a prova do meu “vestido de papel”. Ainda não estava totalmente certa de que era a pessoa certa pra essa tarefa, mas não podia desistir agora. Quem mandou eu ter essa idéia? Todos começaram a se retirar cada vez com mais pressa, precisando voltar para os seus afazeres fashionistas. Carine e Rebecca foram para um canto e conversaram algo que não entendi o que era, mas pela forma que a mais nova anotou coisas rapidamente em seu bloquinho amarelo, devia ser mais coisa que ela deveria ir buscar na rua. Enquanto eu guardava as minhas coisas mais uma vez na bolsa, senti uma presença ao meu lado.
  - Realmente foi uma honra, my dear. – Dessa vez Karl quis dizer alquilo como uma coisa boa. Me deixando ali com um sorriso idiota e orgulhoso no rosto, se virou para ir embora, primeiro parando perto da dona daquilo tudo. – Carine, você estava certa sobre aquela ali.
  - Quando é que eu não estou? – Sorriu para ele, acompanhando-o até o lado de fora.
  - Parabéns, . – Rebecca se aproximou quando ficamos sozinhas na sala. – Espero que esteja feliz consigo mesma.
  - Estou sim, pra dizer a verdade. – Não a deixaria acabar com o meu bom humor.
  - Ah, acho que você tem um stalker. – Apontou para a janela.
   Rebecca saiu antes de me escutar arfar pela possibilidade de ter alguém me seguindo e foi só olhar para a direção em que apontara para descobrir que não era um stalker coisa nenhuma. Eu não sabia há quanto tempo, mas Zayn estava de pé no terraço de sua cobertura. Podíamos estar longe, mas tinha certeza absoluta que era ele enrolado em um edredom. Ri sozinha, procurando o celular na minha bolsa. Aproximei-me da janela e levantei o aparelho, querendo dar a entender que poderia me ligar se quisesse. Não demorou nada para que o assistisse levar algo à orelha e sua fotografia aparecer na tela do meu iPhone.
  - Bom dia, love. – Atendi a ligação sem tirar os olhos dele.
  - Bom dia, Anjo. – Sua voz denunciava que acabara de acordar e desejei estar ao lado dele. – Como foi a reunião?
  - Incrível! Tenho que te contar o que aconteceu, mas prefiro fazer isso pessoalmente. – Não escondi a minha animação e o escutei sorrir. – Tem planos pra hoje a tarde?
  - Por mais que quisesse dizer que não, Marco ligou. Temos uma entrevista com alguma rádio, mas é coisa rápida. – Ao menos Marco não devia estar aprontando nada... – Vai dormir aqui hoje?
  - É o que estou planejando! – Mordi a ponta do dedo mindinho, animada em dormir ao lado dele outra vez. Veja bem, era terça-feira e a última vez que estive em seu flat foi no sábado, após a festa de Tom! – Então verei o que faço essa tarde pra me distrair sem nenhum dos meus meninos. Mas te vejo mais tarde, com certeza.
  - Ok, babe. Harry está na outra linha, acho que já estou atrasado...
  - Melhor correr, bad boy. Porque você ainda tem que tomar banho e nós dois sabemos o quanto demora pra se arrumar. – Ri e fiz sinal com a mão para apressá-lo. – Se cuide.
  - Ainda sinto sua falta.
   Desliguei o celular com o sorriso que não deixava o meu rosto, não importava quantas vezes falasse com Zayn ao telefone ou pessoalmente. Dei meia volta ao ver que ele também saiu da cobertura e peguei todas as minhas coisas. Havia sido a última a sair da sala 3C, então ficou sobre minha responsabilidade fechar tudo e trancar com a chave que já me esperava na fechadura. Caminharia devagar até a recepção se não tivesse visto uma cabeleira ruiva balançando de um lado para o outro, perto da entrada do escritório. “Abi, o que você está aprontando agora?” Corri da melhor forma que pude com meus saltos fazendo mais barulho do que necessário.
  - Me desculpe, se não tem crachá, não pode entrar... – A secretária baixinha tentava explicar na voz mais educada que conseguia fazer.
  - Mas a minha amiga está aí dentro! Conhece Tomlinson? A estrela disso aqui? – exagerou.
  - A estrela disso aqui eu não sei, mas serve eu? – Me anunciei, observando as duas virar em minha direção; a secretária mais aliviada que .
  - ! – A ruiva me puxou para um abraço forte como se não nos víssemos há dias; o que não deixava de ser verdade. – Até que enfim! Estava quase pirando aqui.
  - Porque não me falou que viria? Eu teria avisado... – Beijei sua bochecha e me dirigi à Lana. – Aqui está a chave da 3C... E desculpa se ela causou algum problema.
  - Obrigada, . – Lana sorriu simplesmente, preferindo não reclamar de por amor a sua vida.
  - De que graça teria avisar que estamos te seqüestrando? – Passou o braço pelo meu para que fossemos até o elevador.
  - Estamos? Você e mais quem? – Por favor, Ben não, Ben não...
  - Eu e a loirinha! Liv está lá embaixo no carro, porque não conseguimos um lugar pra estacionar. – Minha melhor amiga explicou e respirei aliviada. – Vamos almoçar!

+++

  

  - Sabe... Quando vocês falaram que me levariam para almoçar, eu achei que fossemos em um restaurante ou coisa do tipo. – Eu caminhava entre Liv e , fazendo o meu melhor para que meu salto não entrasse na grama do Regent’s Park. – Fish’n chips em uma folha de jornal não é a minha idéia de “almoço de amigas”.
  - Quem tem tempo pra restaurantes hoje em dia, ? – falou após dar um gole em sua Coca-Cola.
  - Uh... Nós três? – Ri, melando uma batata frita no molho que tentava equilibrar no papel que embalava a comida toda.
  - Ela tem razão, . – Liv engoliu o que quer que fosse que estivesse mastigando, mudando nosso rumo e dobrando à esquerda. – Nossas aulas só começam mês que vem e a única daqui que tem um trabalho é a , e ela já fez o que tinha que fazer por hoje...
  - Obrigada, Livy. – Sorri por estar sendo defendida.
  - Ah, por favor, meninas! – abriu os braços, querendo que prestássemos atenção à nossa volta. – O verão está acabando e essa pode ser a nossa última chance de aproveitarmos os raios de Sol...
  - também tem razão. – Devíamos saber que Olivia não ficaria do meu lado por muito tempo. Tsc. – Daqui a pouco o outono chega e o Sol vai embora.
  - Obrigada, Livy. – me imitou.
  - De que lado você está? – Olhei para a loira enquanto ela escolhia um lugar para que sentássemos na grama, protegidas da claridade exagerada pela sombra de uma árvore grande e folhuda.
  - Não existem lados nessa história! Somos três amigas que se amam e querem curtir a tarde juntas... – Olivia falou aquilo com tanta calma e paz que poderia ser considerada chapada por quem não a conhecia. – Sentem, sentem...
   Nós três nos sentamos lado a lado na grama, onde poderíamos comer nossas refeições com mais tranqüilidade e sem perigo de algo cair no chão e se perder para sempre. Aquela tarde serviria para passarmos um tempo juntas, algo que não acontecia há algum tempo. Portanto, alguns assuntos estavam proibidos de serem mencionados: Garotos, One Direction, Twitter e problemas. Os quatro andavam juntos, ao menos no meu caso, então agradeci muito por ter uma tarde de paz. Sei que reclamei com por ter não termos ido a um restaurante de verdade, mas aquele clima de liberdade que o parque nos trazia era contagiante e a comida também estava deliciosa.
   Era algo engraçado olhar para nós três, pois com certeza não seriamos o grupo de amigas mais esperado de se juntar. Quero dizer, nós tínhamos coisas em comum, mas as nossas diferenças falavam mais alto até no modo como nos vestíamos. Eu deixara o meu blazer e bolsa no carro de , mas ainda assim estava bem arrumada, digamos assim. sempre usava roupas que favoreciam as suas curvas e com “curvas” eu quero dizer BB. “Busto e bunda”, segundo a própria. Abusava dos decotes e das roupas mais apertadas. Olivia, por outro lado, era completamente leve. Desde as suas blusas soltinhas e saias que iam da cintura até os calcanhares. Enquanto eu preferia tons mais claros e combinados, ia mais para o lado do vermelho e preto, enquanto Liv parecia um arco-íris ambulante.
  - No que você está pensando, ? – Liv questionou, esticando-se na grama.
  - Na gente. – Sorri para ela, escutando a risada de .
  - Que romântico! Quer que as deixe sozinhas? – Provocou.
  - Você está inclusa no “a gente”, tonta. – Expliquei, deixando meu almoço de lado por uns instantes. – Estava pensando em como nós três somos diferentes, mas ainda assim nos damos tão bem.
  - Somos como os quatro elementos. – Liv suspirou como se tivesse passado muito tempo pensando na mesma coisa.
  - Uh, mas nós somos três... – deu uma voada e preferimos ignorá-la.
  - Os quatro elementos, como ar, fogo, terra e água? – Confirmei entre uma mordida ou outra nas batatas.
  - Exatamente, . Estive fazendo alguns estudos astrológicos, contando os nossos planetas e ascendentes... – Ah, ótimo! Aqui vamos nós em mais uma viagem. – Quero dizer, eu já sabia o meu, mas agora sei o de vocês também.
  - E qual é o seu elemento? – Comi o último pedaço de peixe, começando a ficar interessada no assunto.
  - Terra. – Respondeu com um sorriso. – Esse elemento é firme, ligado com o nascimento e a morte. Resistência, paciência. Geralmente as pessoas desse elemento apresentam uma grande afinidade com a natureza.
  - Com certeza é você! – A terceira menina também se animou com aquilo. – E o meu? Aposto que sou fogo!
  - Sem duvida alguma! – Liv afirmou o que ninguém tinha duvidas pra começo de conversa. – Fogo simboliza paixão, entusiasmo, energia, inspiração, fé e idealismo. É você, .
  - E eu? – Por mais que não acreditasse fielmente nessas coisas, gostaria de saber o que meu elemento teria pra falar de mim.
  - Você é água, . – Sorriu satisfeita, fazendo movimentos de ondas com os dedos, me fazendo rir. – Cura, limpeza, purificação... Dizem as lendas que foi o primeiro elemento a surgir e o mais potente, por causa de sua maestria sobre os outros. Assim como você, é um elemento muito sensível, que se adapta muito bem as mudanças. Pode ser uma coisa boa e uma coisa ruim, porque as suas mudanças de humor são daqui pra li.
  - E essas suas mudanças de humor são muito perigosas. – fez uma bolinha com o seu jornal onde o fish’n chips viera embalado e a jogou em mim.
  - Você também pode ser perigosa! – Liv pegou a bolinha antes que pudesse revidar o ataque. – Porque o fogo pode criar ou destruir.
  - Para resumir... Nós três somos poderosas e destrutivas. – Tirei os sapatos dos pés e deitei na grama, relaxando sob o sol. – É, me parece certo.
   A ruiva e a loira também me imitaram, cada uma deitada em uma direção para que as nossas cabeças ficassem próximas e ainda assim pudéssemos nos mexer a vontade. Algumas nuvens claras passaram por cima do Sol; não indicando que começaria a chover, apenas o bastante para proteger nossos olhos. Uma brincadeira de criança não me pareceu tão legal até aquele instante onde passei a prestar atenção nas formas das nuvens brancas e felpudas. A mais interessante era da forma de um esquilo que logo se transformou em um bolo de aniversário. Sim, bolo de aniversário porque tinha até algumas velinhas no topo. Sentir o meu corpo na grama e o vento na minha pele era algo que eu não sabia que precisava até ter. No últimos dias tivera muitas coisas me perturbando e tirando o meu descanso. Tudo que eu precisava era aquele tempo com as minhas duas melhores amigas, em um lugar praticamente deserto onde ninguém nos conhecia.
  - Vocês acham que ainda seremos amigas daqui a dez anos? – deixou o seu lado espevitado de lado, questionando algo que eu nunca parara pra pensar.
  - Eu sei que vamos. – Liv respondeu antes de mim.
  - Andou lendo búzios de novo? – Perguntei com uma risada divertida, mas sem faltar com respeito. Cruzei as pernas e fechei os olhos, me concentrando apenas nas vozes das duas.
  - Não... Eu só sei que vamos ser amigas pra sempre. – A loira parecia estar sorrindo. – Não sei o que vamos estar fazendo, mas estaremos juntas.
  - Disso eu sei... Daqui a dez anos, vai estar casada e ter duas filhas. Gêmeas... Ruivas como ela, mas com olhos azuis como o do pai. – Abri os olhos e deitei o rosto para olhar a ruiva, que sorria enquanto ainda olhava o céu. – Vai ter ganhado vários prêmios por seus papeis de sucesso em séries de TV e um Oscar de “Melhor atriz estrangeira”.
  - Parece bom. – Me olhou de volta, ainda sorrindo. – Liv, você vai ser a presidente do Green Peace, ganhadora do prêmio Nobel da Paz de 2023 e ter um casal de filhos... Mas não vai ser casada. Claro que vai estar com o pai dos seus filhos e vai o amar muito... Mas casamento seria normal demais pra você.
  - Gostei! – Se mexeu na grama, virando de barriga para baixo. – ... Não sei o que você vai estar fazendo daqui a dez anos, mas com certeza vai estar com Zayn.
  - Dez, vinte, trinta anos... Esses dois vão ficar juntos pra sempre. – apertou a minha bochecha, obrigando-me a bater na mão dela por provavelmente ter ficado vermelha.
  - Então eu ainda serei a mulher mais feliz do mundo em dez anos.
  - Awwwwwwwwwn!

+++

  Meu relógio marcava pouco mais de sete horas da noite quando cheguei em casa, mas ainda estava relativamente claro. E quando digo “casa”, me refiro ao flat de Zayn. Havia passado na minha própria casa uma hora antes de pegar o novo caminho para o lugar onde passaria a noite, pois após o dia correndo de patos e alimentando-os – não necessariamente nessa ordem –, precisava urgentemente de um banho. Aproveitando, matei um pouco da saudade que sentia do meu cachorro e pedi desculpas por não poder levá-lo junto comigo. Roupas um pouco menos formais e pijamas também vieram comigo. Tinha certeza de ter várias peças perdidas pelo apartamento do meu namorado, porém, era melhor prevenir do que remediar.
   Entrei no apartamento silencioso demais e desci os degraus para chegar ao nível do resto do lugar e comecei a averiguar. Segundo a última mensagem que recebera de Zayn, ele e os meninos já haviam acabado a entrevista na rádio há algumas horas, então ele deveria estar por ali. A luz da cozinha estava acesa, então era um bom sinal. O quarto de jogos estava vazio, assim como o estúdio de arte. Teria ido verificar o meu próprio quarto, mas o que Zayn estaria fazendo ali? Foi ao escutar uma risada um tanto escandalosa que descobri onde meu namorado estava; e aparentemente acompanhado.
   Peguei o outro caminho do corredor, parando na porta entreaberta da suíte principal. A bolsa em minha mão foi para o chão assim que vi a figura de cabelos longos e loiros parada na ponta da cama, de costas pra mim. Até que ela usava roupas bonitas, mas não favoreciam o seu corpo de jeito nenhum. Com o barulho da minha bagagem caindo no chão, a loira misteriosa virou na minha direção e meu queixo caiu. A risada escandalosa que escutara pertencia à Niall e ele estava deitado sobre a cama de casal que costumava ser metade minha.
  - Que diabos está acontecendo aqui? – Cruzei os braços, querendo entender qualquer coisa que fosse. – Ou melhor... Zayn porque você está vestindo as minhas roupas?! E de onde tirou essa peruca?
  - This is awkward... – O menino parecia um pouco sem ar, como se acabasse de se recuperar de um ataque de risos. Passou as mãos pelos cabelos loiros que cobriam a sua cabeça, arriscando dar um passo na minha direção e quase perdendo o equilíbrio por causa do salto alto que tentava usar. – Uh... Eu posso explicar?
  - Sim, por favor. – O segurei pelos ombros, impedindo-o de cair.
  - , conheça Georgia Rose. – Niall apontou para Zayn fantasiado de mulher.
  - Aquela que vocês comentaram no avião? – Arqueei a sobrancelha. – Por que será que eu não estou surpresa?
  - É culpa do Niall, babe, de verdade. – Zayn riu, arrastando um pé após o outro até estar sentado em sua cama. – Você sabe que as vezes ficamos bem entediados durante photoshots...
   - Há uns meses atrás, quando estávamos fotografando para a Cosmo, encontramos um camarim cheio de roupas... – Niall começou a explicar super animado, se enrolando no próprio sotaque irlandês. – Porque os produtores estavam demorando pra chegar e tal. E não tínhamos nada pra fazer...
  - Então eu peguei algumas roupas femininas e vesti. – Zayn resumiu. – Acabou ficando legal e Louis batizou essa personagem de Georgia Rose! Ta daaaa.
  - Fico tão feliz que você não tenha falado “batizou essa minha segunda personalidade”. – Ri, pois aquilo tudo não passada de uma brincadeira. – As roupas e os sapatos são meus... Mas e essa peruca?
  - Presente da Rach. – Niall me respondeu. Eu devia saber!
  - É errado que eu esteja com muita vontade de te beijar? – Sentei ao lado de Zayn, mordendo o lábio inferior sem entender muito bem o que eu começava a sentir.
  - Tem uma queda por loiras, ? – Afinou a voz, jogando os cabelos para o lado e fazendo bico.
  - Isso é gloss?! – Gargalhei, me tocando de que ele estava usando maquiagem.
  - Ok, acho melhor eu tirar isso tudo agora. – Chegou àquela brilhante conclusão, rolando os olhos da minha diversão as suas custas.
  - É melhor mesmo, blondie. – Niall ainda se encontrava bem acomodado na cama.
   Zayn se colocou de pé e assoprou um beijo para o irlandês, nos obrigando a rir mais uma vez. Tentando se manter de pé sobre meu scarpin, o menino foi para o banheiro e se trancou ali dentro. Terminei por tirar meus próprios sapatos e me arrastar por cima da cama, deitando ao lado de Niall, que sorriu pra mim. Assim como eu passara o dia com Liv e , Niall devia estar ali porque sentia falta do seu melhor amigo. Antes da banda ser formada, os dois eras como os três mosqueteiros (só que com um a menos na equipe, ou dois), mas agora parecia que Liam o havia substituído um pouco. Não era culpa de ninguém que Ziam se desse tão bem, mas a humanidade sentia falta do bom e velho Ziall.
  - E então, Ni... Vai dormir com a gente hoje? – Soei convidativa.
  - Bem no meio de vocês. – Bateu no centro da cama, como se para enfatizar sua resposta.
  - Eu me mexo bastante durante o sono... – Avisei na esperança de que ele mudasse de idéia e preferisse dormir no quarto de hospedes.
  - Ela fala bastante também. – Zayn abriu a porta do banheiro, revelando suas próprias roupas dessa vez.
  - Não falo não! – Quem eu queria enganar? Se alguém conhecia as minhas manias durante o sono, esse alguém era ele. O assisti pular na cama e se posicionar atrás de mim, passando um braço em volta das minhas costelas e deitando o rosto em meu ombro. – Ok, talvez um pouco.
  - Parece divertido. Que tipo de coisas você fala? Segredos e tal? – Niall se interessou.
  - Eu nunca me escutei falando enquanto durmo porque, bom, eu estou dormindo... – Uau, , conclusão épica. Como a respiração calma de Zayn batendo sobre a minha nuca era um tanto desconcertante, me dê um desconto. – Mas não é como se eu tivesse conversas filosóficas.
  - É verdade. Está mais pra “eu preciso pegar o trem! O trem!” – Tentou imitar a minha voz, mas só conseguiu voltar a interpretar Georgia Rose. – Aliás, conseguiu pegar o trem?
  - Espero que sim! Parecia importante. – Ri, deitando com as costas no colchão, deixando Zayn ao meu lado.
  - E como foi a sua reunião hoje, ? – Niall tentava prolongar o assunto, não querendo deixar que eu e seu amigo passássemos muito tempo distraídos nos olhos um do outro.
  - Foi tão boa! – Quando esse tópico chegou, acabei me animando demais e tive que sentar na cama para contar tudo. – Eu dei algumas idéias e eles me escutaram! Até gostaram bastante, pra falar a verdade... E eu vou ter que fazer uma coisa, mas não sei como explicar... Vocês não entenderiam de qualquer jeito... Mas esse sábado, terei um super evento pra comparecer... Vai ser incrível!
  - Ela sempre explica as coisas assim? – Ni riu, perguntando ao outro.
  - Basicamente. – Zayn também riu, me surpreendendo. – Mas eu acho lindo.
  - Você vai vir comigo, certo? – O olhei pidona. – É a festa de aniversário da Glamour. Vocês já deram uma entrevista pra ela.
  - Vai ter fotógrafos, tapete vermelho e essas coisas? – Pareceu meio incomodado com o meu convite.
  - Claro que sim! Mas você já está acostumado, baby. Qual é o problema? – Foi com o olhar que os dois meninos que dividiam a cama comigo que me toquei da besteira que estava falando. Zayn não podia aparecer ao meu lado. – Ah, é...
  - Eu sinto muito, ... – Pousou a mão sobre meu joelho. Seu olhar era cheio de desapontamento e sabíamos que era consigo mesmo.
  - Não é culpa sua, baby. – Forcei um sorriso como se dissesse que tudo estava bem. Então me virei para o loiro. – E você, Ni? Quer ir comigo?
  - É esse sábado? – Confirmei com um aceno. – Eu adoraria, mas já tenho outros planos...
  - Quais planos? Nós não marcamos nada... – Zayn parecia confuso e eu curiosa.
  - Se vocês precisam tanto saber, eu tenho um encontro. – Admitiu e meus olhos aumentaram de diâmetro.
  - Como assim você tem um encontro, Niall Horan?! – Deixei para lá o assunto de quem seria minha companhia na festa, pois aquilo era mais importante. – Com quem? E conheço?
  - É com a Amy, não é? – Zayn perguntou e o olhei com julgamento. Como ele sabia mais do que eu?
  - Quem é Amy?!
  - É com ela sim... – O respondeu sem evitar um sorriso abobalhado. – É uma amiga antiga, . E como Zayn disse que eu devia seguir em frente, a chamei pra sair.
  - Então Zayn disse isso? – Cruzei os braços rente ao peito, olhando-o como quem pede explicações. – Mas e quanto a ?
  - Ela está meio ocupada com o novo namorado. – Ni voltou a falar, parecendo magoado. – Achei que depois do casamento da sua mãe as coisas teriam mudado, mas estava errado. Pra variar.
  - Então nada mais justo do que partir pra outra. – Foi a vez de Zayn me olhar com reprovação. – não esperou por ele, então porque ele deveria?
  - Acho que você está certo. – Suspirei com pesar. Mesmo que quisesse ver o loiro e a ruivinha juntos novamente, não podia pedir para que ele a esperasse acordar. Era meu dever apoiá-lo. – Então onde vai levá-la?
  - Sabe o Pritiraj na Holloway? – Torci para que aquilo fosse alguma brincadeira.
  - Você vai levar ela em uma lanchonete no seu primeiro encontro? – Elevei a sobrancelha direita.
  - Eu te levei em uma lanchonete no nosso primeiro encontro. – Zayn se endireitou na cama.   - Depois de passearmos pelo Jubilee de bicicleta e andar no London Eye. – Era diferente, oras! – Além do que, aquilo não foi um encontro!
  - Um ano depois e você ainda diz isso. – Sorriu da forma que bagunçava meus pensamentos.
  - Alguma sugestão melhor? – Niall preocupou-se.
  - Acho que você devia levá-la em um lugar divertido... Como uma casa de jogos ou um boliche!

    

Chapter XXI

O vento frio que cobria Londres naquele final de manhã era a prova que o verão lentamente nos dava adeus. Logo o chão estaria coberto por folhas alaranjadas e eu poderia tirar meus sweaters do fundo do closet, assim como aquele que estava usando quando desci do meu conversível e caminhei em direção à entrada do London Pediaric Clinic. Por mais que minhas ferias de verão viessem sendo mais que divertidas, esperava que o outono chegasse logo, assim como - principalmente - o meu novo e ultimo semestre na London Royal Academy.
   O hospital conseguia estar ainda mais fresco que o lado de fora; questões higiênicas que não sei explicar. Me obrigando a encolher-me dentro do agasalho branco. Como não era a minha primeira vez ali dentro, apenas caminhei na direção que sabia ser a área de trabalho do meu pai. O segredo era agir naturalmente, se misturar. Pretendia fazer uma surpresa a Mark, por isso não seria legal que me parassem na recepção e me anunciassem. Mantendo a melhor expressão de "não há nada de errado em uma garota de vinte anos caminhar por um hospital pediátrico", segui até o elevador; que por sorte esperava por mim no térreo.
   Uma vez lá dentro, a viagem até o quarto andar foi rápida. Uma saída de ar no teto assoprou uma rajada de vento em cima de mim no mesmo momento em que pisei do lado de fora; além de me assustar, bagunçou meus cabelos nem tão arrumados assim para começo de conversa. Virando a esquerda no corredor branco, logo encontrei Maurice, o secretario e faz tudo do consultório de meu pai. No começo também estranhei um homem trabalhar como secretario, mas igualdade dos sexos, certo?
  - ! Você está tão crescida! - Foi a primeira coisa que o indivíduo de idade questionável disse ao me ver. - Não sabia que a veria hoje.
  - Shhhhhhh, Maurice! - Me inclinei levemente sobre o balcão, pedindo silencio. - Meu pai não sabe que eu estou aqui! Mas bom dia! E também é bom te ver.
  - Oh, desculpa... - Sussurrou exageradamente baixo, me fazendo rir. Eu queria discrição, não que parecêssemos um vendedor de drogas e sua cliente número um. - Deve ser o dia oficial de filhas visitarem os pais...
  - Como assim?
  - Sua irmã e a senhora Teasdale estão aí dentro. - Apontou com a cabeça para a porta de onde se via a placa "Dr. Tomlinson". A "senhora Teasdale" era Rachel, mas como ela não assumira o sobrenome de meu pai após o casamento, era conhecida assim. - Mas elas avisaram que viriam. Perguntaram o horário mais vazio, porque não queriam atrapalhar. Diferente de certas pessoas...
  - Não preciso avisar. A minha presença já é uma honra. - Brinquei com um falso convencimento. - Vou entrar, tá bem?
  - Fique a vontade.
   Com seu sorriso de concordância, acenei um até logo rápido e continuei meu caminho. Eu sabia que minha madrasta e Lux também estariam fazendo aquela visita e sabia o horário que deveria aparecer, justamente para não atrapalhar o trabalho de meu pai. O fato de Maurice não saber disso provava que Mark também estava por fora dessa surpresa, o que era muito bom para meus planos. Bati na porta três vezes, quase soando como uma melodia. Segundos depois, uma voz conhecida me pediu pra entrar.
  - ! - Assim que abri a porta de madeira escura, meu pai levantou de sua cadeira giratória.
  - Daddy! - O homem estava com mais fios brancos em sua cabeça do que recordava. Fiz o resto do caminho até ele, subindo na ponta dos pés para abraçá-lo como fazia durante a infância. - Surpresa!
  - E que surpresa! - Me apertou em si, sorrindo. - Minhas duas filhas preferidas em um dia só?
  - Elas são as suas únicas filhas, Mark. - Rachel não levantou para me cumprimentar, pois tomava conta de sua filha na maca de ultra-som. - É o que eu espero...
  - Hey, Rach. - Sorti para a loira, aproximando-me da maquina. - O que você está fazendo, baby girl?
  - Olha a minha barriga, . - Lux tinha a sua blusa levantada e segurava o instrumento de ultra-som pressionado contra a sua barriga.
  - Ela queria ver se tinha algo ai dentro. - A mais velha comentou com diversão.
  - Tem muita coisa aí... - Sentei na metade da maca, pois como Lux era pequena, suas pernas acabavam no meio do caminho. Cutuquei sua barriga, a fim de fazer cócegas. - Olha aqui... Chocolate, batata frita, pizza...
  - Paaaara! - Gargalhou de forma gostosa, soltando o controle para segurar a minha mão.
  - Tem muita verdura ai dentro também, não é, pequenina? - Meu pai tentou dar uma de pai-que-tem-filhos-saudáveis.
  - Não! - Lux voltou a rir, se divertindo com a minha careta de "ew, verduras".
  - Não se preocupe, baby girl, não vai precisar come verdura alguma hoje! - Pisquei pra ela. - Vai poder comer o que quiser!
  - YAY! - Comemorou adoravelmente.
   Rachel me reprovou com o olhar por causa da minha falta de disciplina alimentar, mas não reclamou ou falou coisa alguma; o que a poupou tempo e saliva, pois não teria lhe dado ouvidos de qualquer forma. Lux passaria o dia comigo no apartamento de Zayn e ambas estávamos animadas para isso - Zayn nem tanto. A pequena voltou a brincar com o gel em sua barriga e investigar o que poderia encontrar ali dentro. Por mais que adorasse a idéia de ver minha irmã mais nova, tinha outros motivos para estar ali. Com isso em mente, levantei da maca e sentei na cadeira em frente à mesa de meu pai. Ele me olhou com um sorriso e também se acomodou, ganhando uma postura de "em que posso ajudá-la?".
  - Hi, daddy. - Apoiei o cotovelo na mesa e o queixo na palma da mão, sorrindo interesseira.
  - De quanto você precisa? - Rolou os olhos, divertindo-se com a minha pose.
  - Não estou aqui pra pedir dinheiro! - Me fiz de ofendida, sabendo que ele tinha experiência suficiente pra saber as minhas táticas de conseguir alguma coisa. - Na verdade, estou aqui a pedido de Zayn.
  - Então de quanto ele precisa? - Sugeriu.
  - Honey, ele é um pop ... Acho que não é de dinheiro que ele precisa. - Rach nos ouvia, então opinou.
  - Não me diga que ele quer mais daqueles pirulitos...
  - Ele não pediu nada! - Meu pai tinha mania de tirar suas próprias conclusões antes de me deixar falar, então eu já estava um pouco acostumada. - Na verdade, o que ele quer é dar... Zayn tem algo pra doar á área infantil. Um Gromit que ele fez.
  - Qualquer coisa é muito bem vinda, . - Mark sorriu com felicidade sincera. - As crianças vão adorar!
  - Ótimo! Vou falar pra ele trazer... Acho que antes do final de semana já vai estar aqui. - Não tinha duvidas de que meu pai aceitaria o presente, mas era bom ter certeza.
  - Dr. Tomlinson? - Maurice chamou no interfone em cima da mesa. - Sua consulta das onze horas está aqui.
  - Obrigado, Maurice. Só um instante, por favor. - Apertou o botão para dar a sua resposta. - Desculpe, , mas tenho que ir agora
.   - Na verdade, nós temos que ir. - O corrigi, pois ele não iria para lugar algum. - Foi bom te ver, pai.
  - Amor, vou te esperar na cafeteira. - Rach anunciou, levantando-se após limpar a barriga de sua filha. - As meninas já vão, mas almoçaremos juntos!
  - Ouviu só, sweetie? Você é minha hoje! - Me juntei as outras duas perto da porta.
  - Nada de verduras, hein? - Segurou a minha mão e se virou para acenar ao nosso pai. – Tchaaaau, dada.
   Nós três deixamos o consultório de meu pai e acenei para Maurice, que sempre era um amor de pessoa comigo com as outras que me acompanhavam. Lux devia estar mesmo com saudades de mim, pois pediu colo. Ela estava crescendo, então estava mais pesada do que costumava ser quando era a bebê da família; ainda assim, carreguei-a com muito gosto, enchendo as suas bochechas com beijos estalados. Fez careta, mas não se importou, distraindo-se com meus cabelos.
  - Nervosa para sábado, ? – Rach puxou o assunto.
  - Sim e não... Estou mais ansiosa. – Sorri para ela, sabendo que falava sobre a festa da Glamour. – Precisarei da sua ajuda. Não tenho idéia do que fazer com o meu cabelo e nem como me maquiar.
  - É pra isso que eu estou aqui! – Fez sinal de ‘jóia’ com a mão, me tranqüilizando. – Já sabe quem vai com você?
  - A Dani! Namorada do Liam. Nenhum dos meninos quis e eu não podia escolher entre e Liv sem que uma delas ficasse chateada.

+++

  - Aí está a minha garota preferida! – Zayn abriu a porta do flat quando toquei a campainha. Por Lux ainda estar no meu colo, era complicado abrir com a chave. – E a irmã mais velha dela também!
  - Zayn! – A pequena voadora se jogou nos braços do menino, o que me foi um alivio muito grande.
  - Meu garoto preferido podia estar aqui também! – Provoquei, dando-lhe um selinho rápido.
   Minha irmã podia estar crescendo, mas sua mãe ainda não a deixava ir para lugar algum sem levar uma mochila com coisas que ela poderia precisar: Fraldas, roupinhas extras, escova e pasta de dente, tolha, brinquedo, chupeta... Certas dessas coisas eram bem úteis, mas outras apenas exagero. Após abraçar o seu amigo, Lux quis ir para o chão e começar a explorar a casa, pois era a primeira vez que o visitava. O menino, então, pegou a mochila que eu trazia no ombro e também a minha bolsa, deixando tudo no canto do sofá. Um cheiro impossível de não reconhecer vinha do que eu sabia ser a cozinha, o que me fez questionar se Zayn testara seus dotes culinários mais uma vez.
  - Você fritou batata? – Questionei Zayn, os olhos de Lux se tornando arregalados ao escutar a última palavra.
  - É o nosso almoço! – Ele respondeu com animação. – Batata frita e Nuggets de frango!
  - Ebaaaaa! – A mais nova bateu palmas e sorriu como se fosse manhã de natal. – Nada de verduras!
  - Nada de verduras. – Desenhou um X sobre o peito, selando seu juramento. Em seguida, foi até a pequena e a segurou pelos bracinhos, jogando-a pra cima de qualquer jeito. Ser cuidadoso não era muito a praia de Zayn, porém ao menos ambos se divertiam. – Estão com fome?
  - Não muita. – Dei de ombros, fazendo a minha irmã me olhar como quem diz “como alguém pode não estar com fome na hora do almoço?”.
  - Ela é assim mesmo, Luxy. – Os dois conversavam como se eu nem estivesse ali. – Mas a gente fica de olho pra ela comer tudo! Trato?
  - Trato. – Afirmou com um aceno de cabeça e foi colocada sobre um dos ombros do homem. – Agora vamos comer!
   O dono da casa liderou o caminho, dando alguns pulos para que a criança em seu ombro se divertisse. Ainda bem que ela não comera nada ainda, caso contrário aquela brincadeira poderia ter acabado um tanto diferente, se é que me entende. Os segui, deixando os sapatos pelo meio do caminho. A porcelana estava gelada, o que me deu uma sensação gostosa abaixo dos pés. Zayn foi até a mesa da sala de jantar e colocou Lux bem acomodada em um dos sofás, me deixando para trás. Fui até a bancada onde o fogão embutido ficava e peguei os dois pratos fundos; um de batata frita e outro de nuggets de frango. Tudo bem que falei que não teríamos uma refeição tão saudável, mas aquilo já era exagero!
   Assim que depositei a comida na mesa, minha irmã mais nova se colocou de joelhos e apoiou um bracinho na mesa para esticar o outro e encher uma mão de batatas fritas. Ri com o seu desespero, como se fossem acabar de uma hora para a outra. Sentei-me ao seu lado, olhando de relance para Zayn, que trazia nossas bebidas. Pela cor... Suco de laranja! Alguma coisa em nossa refeição tinha poucas calorias. Não demoramos muito pra começar a comer e com isso quero dizer que Zayn e Lux atacaram as batatas e petiscos de frango. Claro, nenhum dos dois tinha com o que se preocupar! A loirinha estava em fase de crescimento e era uma criança, então era bom que comesse muito. Zayn tinha um corpo bem firme e bonito – vamos chamar assim para não entrar em detalhes pervertidos, pois há crianças na sala -, ou seja, também não precisava ficar calculando a quantidade de calorias que ingeria.
   Eu, por outro lado, teria uma festa onde seria deliberadamente colocada em frente aos holofotes, dentro de um vestido no mínimo justo. Diferente das vezes que ia a lugares assim com os meninos, a atenção seria totalmente minha e não teria nenhum deles ao meu lado, muito menos poderia me esconder atrás de Zayn e sentir a sua mão apertando a minha com carinho para me passar confiança. Por mais que estivesse ansiosa e animada em ir à uma celebração tão grande da maior revista do Reino Unido, me sentia nervosa e um pouco amedrontada. Modelos, celebridades e figuras importantes e bem mais experientes que eu estariam naquele mesmo tapete vermelho onde eu daria a minha cara a tapa. Além disso, a idéia teria sido minha e a responsabilidade de algo dar errado também cairia sobre os meus ombros. Não era só o meu nome que estava em jogo, era o da Mulberry também.
   Mesmo com Zayn tendo dito que ficaria de olho em mim para ter certeza de que eu comeria – e ele realmente fazia isso – eu não me sentia com tanta fome assim para me empanturrar. Também não estava passando fome, apenas comi o que pode ser considerado pouco. Não queria desmaiar de fome por não comer, mas meu estômago estava tão gelado por causa da pressão que começou a aparecer na minha cabeça que sentia que poderia vomitar se ingerisse alimentos demais. Após um tempo você começa a aprender certos truques para disfarçar que você não está comendo, ou apenas come pouco – o que era o meu caso. Mexer no prato, espalhar a comida, mudar as coisas de lugar... Mas o mais fácil pra mim era “monopolizar” a conversa. Quando se está falando, não dá tempo de comer. Por isso que naquele almoço onde a comida estava em apenas dois pratos onde podíamos ir pegando de acordo com o que comíamos, foi fácil fazer de conta que comi mais do que o real. E ao mesmo tempo, contei sobre o que meu pai falara sobre o Gromit e como foi bom vê-lo depois de bastante tempo.
   O almoço se encerrou tranquilamente, sem que Zayn reclamasse por eu ter comido apenas quatro nuggets, ainda achando que era muito, e fomos até a sala. Os outros dois se jogaram no sofá, um ao lado do outro. Eu deixei as louças sujas dentro da máquina de lavar pratos, por isso fui a última a chegar e fiquei sem espaço para me deitar com eles. Acabei sentando no chão, encostada na janela que tomava conta da parede do fundo, olhando o movimento na rua ali embaixo. Tudo parecia tão pequeno...
  - , eu quero uma. – Zayn chamou a minha atenção com um sussurro. Lux adormecera encostada ao braço do sofá.
  - Você quer essa? – Me arrastei para perto deles, deitando o rosto no ombro de Zayn, que encontrava-se na direção contrária da menor. – Acho que podemos roubá-la e fugir para o Canadá.
  - Eu falo sério! – Fez um meio bico por causa da minha brincadeira. – Eu quero uma família.
  - E você tem uma. – Encostei os lábios aos dele, roubando um selinho. – Você tem a mim e aos outros quatro idiotas. Nós somos a sua família. E você deve aproveitar tudo de bom que está acontecendo com a banda... Depois pensar nessas outras coisas.
  - Sei disso. – Rolou para o chão, sentando-se na minha frente e encostando os joelhos aos meus. – Mas sinto que já estou pronto pra isso, sabe? Você não?
  - Pronta pra ter filhos e essa coisa toda? – Franzi o cenho. – Não mesmo! Crianças e bebês são bonitinhos e engraçados quando não são nossos. Não são bonecos que a gente só pega pra brincar, assim como faço com Lux. Eles choram, ficam doentes, dão trabalho... Não estou pronta pra isso ainda. Tem muita coisa que eu quero fazer, lugares pra conhecer.
  - Isso tem algo a ver com a dança? Tipo, a sua carreira e tal...
  - Em parte, sim. Porque eu quero dançar... Quero trabalhar em uma companhia grande e me apresentar pelo mundo inteiro. Você sabe como é esse sentimento, mas eu também quero descobrir. – Investi para segurar a sua mão entre as minhas. – É nisso que quero me dedicar agora. E quando for ser mãe... Também quero me dedicar inteiramente a isso. Infelizmente não são duas coisas que posso fazer ao mesmo tempo.
  - Você está certa. – Acariciou meus dedos com o polegar. – Quem sabe daqui a alguns anos, quando tudo isso acalmar... A gente e muda pra uma casa fora da cidade, um lugar legal pra criar as crianças.
  - E !
  - Claro, e ! – Riu. Assisti seus olhos se encherem do que me pareceu ser esperança. – Não uma mansão... Só uma casa legal.
  - Com um quarto no sótão onde Niall possa envelhecer.
  - Um quintal grande, com um balanço de pneu na árvore para que eles possam brincar. – Zayn parecia já ter pensado naquilo várias vezes, então resolvi escutar seus planos. – Todos os meninos vão morar perto, então podemos visitar uns aos outros de bicicleta e skate. Louis e Harry vão estar legalmente casados e com o filho que adotaram. Liam e Dani vão estar esperando o primeiro filho nascer, mas não vão querer saber o sexo até o dia do parto...
  - Eu quero essas coisas. – Imitei o seu bico anterior. Crescer podia ser assustador, mas eu queria tudo aquilo que ele acabara de falar.
  - Um dia. – Prendeu o meu dedo mindinho no dele. – Eu prometo.
   Antes que pudéssemos selar essa promessa com um beijo, uma música que aumentava de volume a cada segundo começou a tocar vindo do sofá. Love is Easy do McFly! Só podia ser o toque do meu celular. Tive que me afastar de Zayn, mesmo ele tentando me prender pelas pernas, e cheguei na ponta do sofá onde a mochila de Lux e a minha bolsa de mão estavam. Peguei o aparelho mais rápido do que esperava e olhei um tanto confusa para tela.
  - Trocamos de celular de novo? É a sua mãe... – Voltei a me sentar, observando Zayn tirar o próprio aparelho do bolso e mostrar que estávamos com os celulares certos. Era melhor atender logo. – Hello?
  - ! Ainda bem que você atendeu, sweetheart. Pensei em ligar pra Zayn, mas não sabia se ele já estava sabendo... Parabéns!
  - Obrigada, Trisha... Mas do que você está falando? – Olhei para o filho dela na minha frente, mas ele não parecia mais informado do que eu.
  - Não precisa esconder mais, todas já estamos sabendo! Daqui a pouco vou ligar para a sua mãe. Tenho certeza que ela deve estar muito feliz. Não acredito que terei um neto ou uma neta!
  - Você vai ser avó? – Isso significava que eu teria um sobrinho ou uma sobrinha! Tecnicamente. Não sabia o que a minha mãe tinha a ver com isso, mas quem se importa? – Não acredito que a Dony está grávida!
  - Como é que é?! – Zayn quase engasgou com o ar, começando a mexer algo em seu celular. – Tá de brincadeira.
  - Doniya? Não, ... Estou falando sobre o seu bebê.
  - Meu bebê? Que bebê? – A primeira coisa que se passou pela minha cabeça foi Marco, o criador de mentiras que envolvessem os meninos ou eu. – Trisha, eu não estou grávida...
  - Mas eu não entendo...
  - , você devia dar uma olhada nisso. – Zayn olhava fixamente para o seu celular.
  - Eu realmente não sei o que está acontecendo... – Falei para a minha sogra no telefone e peguei o do outro, vendo os trending topics do Twitter. – Zayn vai falar com você, tá bem?
  - Hey, mum. – O menino pegou o meu celular.
   Não esperei que a mãe dele se despedisse de mim, pois algo mais importante precisava da minha atenção. Era só falar muito nesse assunto que ele vinha me perseguir? O TT do Twitter era claro e ao mesmo tempo confuso pra caramba. “#BabyMalik”, e estava em segundo lugar. Sem querer tirar conclusões precipitadas ou culpar qualquer pessoa que fosse, cliquei no trend, esperando que ele me desse algum tipo de luz. Desde que a noticia que Zayn e eu nos separamos, andava evitando entrar em qualquer rede social que fosse e ler os comentários, mas naquele momento não podia mais fugir.

  
“EU NUNCA ESTIVE TÃO FELIZ! Esse bebê Malik vai ser muito lindo.”
  “Agora os dois vão voltar?”
  “Imagina uma menina que se pareça com o @zaynmalik, mas que tenha os olhos da @?”
  “Agora ela conseguiu o que queria. Um bebê de alguém famoso”
  “Não ligo se Zayn e não é o seu ship, temos que apoiar o nosso bad boy que agora vai ser papai!”
   “Ok, então o boato da vez é que eu estou grávida? Mas de onde saiu isso?”

   A resposta para a minha pergunta veio em seguida, pois um amor de pessoa fez o favor de postar algumas fotos minhas de mais cedo, entrando no hospital pediátrico onde meu pai trabalhava. É claro! Tudo que bastou para que esse fandom começasse um novo drama era isso; fotos tiradas por paparazzis de uma das namoradas da banda entrando em um hospital. Ao menos o assunto era gravidez e não algo pior como já acontecera com Safaa, quando inventaram que ela estava com câncer. Minha avó poderia ter um ataque cardíaco só de escutar essa mentira. Sem perder mais tempo, digitei uma resposta.

  
“Eu não estou grávida!”

   Quando lembrei que estava na conta de Zayn e não na minha, já era tarde demais. Em segundos o Tweet já tinha milhares de respostas, favoritos e retweetes. Apaguei quase na mesma hora em que me toquei desse erro, mas o estrago já estava praticamente feito. O menino continuava falando com a sua mãe, tentando explicar a ela que eu não estava grávida, até porque estava tomando pílulas diariamente para que isso não acontecesse, apesar de sermos sexualmente ativos. Até demais, mas essa não e a hora para discutirmos isso!

  
“Acho que a @ esqueceu de mudar de conta! Kkkkk”
  “Eu sabia que Zayn e ainda estavam juntos! Era tudo armação da Modest!”
  “Modest, continuem tentando.”
  “Como assim? Não vai ter bebê Malik?”
  “Acho que a Modest viu que não acreditamos mais no que eles falam, então inventaram essa história de bebê pra ser mais fácil os dois “voltarem” a assumir o namoro.”

   Acabei rindo com aquelas conclusões que as pessoas estavam tirando, como se começassem a enxergar a verdade. Até mesmo segui a segunda menina e a assisti dar um escândalo por ter sido seguida por Zayn. Quem sabe se déssemos algumas pistas aqui ou ali, mais e mais pessoas passariam a questionar as mentiras contadas pela Modest! e então eles perceberiam que não adianta nada tentar mudar os meninos e desistiriam de controlá-los! Aquilo podia ser um plano. Não sabia como ou quando, mas poderíamos usar isso ao nosso favor. Já disse que as Directioners são muito inteligentes, e agora tinha mais certeza disso do que nunca. O jeito foi inventar um tweet como se fosse Zayn falando:

  
“A criatividade de vocês me assusta. haha Não vou ser pai e a não está grávida”

  Era melhor não deixar espaço para duvidas, porque a próxima coisa que podiam inventar é que eu estava grávida, mas de outro homem. E isso era o que nenhum de nós precisava naquele momento. Ao menos com aquela negação de “Zayn”, esperava que as coisas se acalmassem por um tempo. Observei Lux, que ainda dormia tranquilamente no sofá como se nada estivesse acontecendo, e em seguida o dono daquele flat. Pelo seu suspiro mais calmo ao desligar a ligação, Trisha devia ter entendido que foi tudo um erro de interpretação.
  - Terei mais cuidado ao visitar o meu pai agora... – Comentei. – Explicou pra sua mãe?
  - Eu disse pra ela que o hospital é onde Mark trabalha, então acho que ela entendeu. Mas ficou decepcionada. – Riu como quem diz “viu como não sou o único a querer isso?”. – Babe, você tem uma mensagem.
  - O que diz? – Não precisava pegar o celular para ler, pois ele podia fazer isso por mim.
  - É da Carrie. A irmã do Tom... Tem um endereço e ela falou: “Te vejo daqui a pouco.” – Disse olhando o aparelho. – Ela vai vir aqui?
  - Shit! Eu esqueci completamente! – Olhei a hora em meu relógio e me pus de pé. – Ela não vem aqui, eu é que vou lá! E estou atrasada!
  - O que? Porque? – Também levantou ao me ver juntando as minhas coisas e correndo para calçar o sapato. – !
  - Lembra que eu prometi participar de um vídeo para o canal dela no Youtube? Eu esqueci que era hoje! – Bati na própria testa após trocar de celulares com o menino. – Desculpe, eu tenho que ir!
  - Você não pode ir e me deixar sozinho com a Lux! – Pude sentir o desespero em sua voz.
  - Você não disse que está pronto pra ser pai? Encare isso como um treinamento!

+++

  - Bem vinda ao ItsWayPastMyBedTime! – Carrie me guiou até o seu quarto, onde a magia acontecia.
  - Eu nem acredito que estou aqui! – Comentei animada. Podia ter “esquecido” desse compromisso, mas estava emocionada em estar na casa dos Fletcher. Os originais... Não Tom e Gi Fletcher. – A sua parede! Uau, eu sempre quis ver o que você coloca aqui...
   O quarto de Carrie Hope Fletcher era uma graça e ficava no segundo andar daquela casa. Uma parede era vermelha e outra coberta por fotografias, desenhos, capas de livros e etc. Quando falo “coberta”, quero dizer “completamente coberta”; desde o chão até o teto. Me aproximei dali e estudei cada detalhe como se já fosse de casa. No dia da festa de aniversário de Tom, ele me explicou que o favor que sua irmã queria de mim é que eu participasse de um de seus vídeos, falando sobre a banda dos meninos e como é essa coisa toda de estar perto deles vinte e quatro por dia. Eu teria alegremente chamado-os para participar também, mas aparentemente eram proibidos pela Modest!. HA-HA, grande novidade aí. Por mais que soubesse que era apenas a segunda opção e Carrie falasse que não, estava feliz por estar ajudando.
  - Você não tem medo da câmera, certo? – Me mostrou o objeto que montava no tripé em frente a sua cama.
  - Dessa aí não. – Sorri, virando-me para ela. – Me sinto melhor em saber que não te ninguém atrás dela.
  - Ótimo! Então você vai se sair muito bem. – A garota de cabelos volumosos, loiros e cacheados estava sendo muito simpática, fazendo de tudo para que eu ficasse confortável. – Tire os sapatos, deixe as suas coisas em qualquer lugar! A casa é sua.
  - Obrigada, Carrie! – Agradeci e a obedeci, deixando meus sapatos e bolsa em um canto do quarto.
  - Agora senta aqui do meu lado e vamos conversar! – Jogou-se na cama, de frente para a câmera. – Ainda está desligada, então não tenha medo.
  - Ótimo, porque tenho algumas duvidas, já que é a minha primeira vez fazendo algo assim. – Podia ter gravado vídeos para o canal de Liam, mas Carrie era profissional no assunto. Além do que, não era como se Li fosse realmente seguir em frente com aquela carreira de Youtuber. – Se eu errar ou falar algo que ficar ruim... Você vai me matar? Acho que falo muito.
  - Não se preocupe, eu também falo. – Riu e levantou a mão para que eu batesse com a minha. – Qualquer coisa eu edito no final. Corto tudo que você não quiser postar.
  - Você é quem manda aqui, então fique a vontade pra editar como quiser!
  - Muito bem! Tenho uma pergunta também... Existe algo que você não queira falar? Eu entendo como é ser irmã de alguém de uma banda famosa e não poder comentar sobre alguns assuntos. – Carrie comparou o One Direction com o McFly e me deixou ainda mais confortável. É, ela me entendia. – Eu sei que você e Zayn estão fingindo terem terminado, então não vou falar sobre isso. E Tom me contou sobre Lou e Harry...
  - Francamente, eu responderia qualquer coisa, porque não gosto dessas mentiras, mas também não quero causar problemas pra nenhum dos meninos...
  - Sem problema algum. Se sentir que é melhor não responder uma pergunta ou outra, é só falar que a gente pula e eu edito depois! – Pegou alguns papeis de cima da sua mesinha de cabeceira que pareciam muito com paquinhas de apresentadora de TV. – Vamos começar! É só seguir a minha linha, ok? E se sinta a vontade.
   Fácil pra ela falar isso! Dei uma bagunçada nos meus cabelos e coloquei algumas mechas para a frente dos meus ombros, tentando ficar apresentável. A loira ajoelhou na cama e foi até a câmera, arrumando algumas coisas em sua configuração. Em seguida, voltou para o meu lado e limpou a garganta, fazendo algumas caretas para se aquecer. Aquele movimento me fez lembrar de Nicholas e a primeira vez que ele foi até a minha casa, para me ajudar com o texto de Romeu e Julieta. Aquilo parecia ter acontecido há anos atrás, assim como a saudade que eu sentia dele.
  - Hey, guys! Hoje eu tenho uma convidada especial... TAN DAAAAAN. – Fez um movimento de apresentação e imaginei que fosse editar algum efeito especial ali.
  - Oi, todo mundo! – Acenei com a mão direita, tentando me soltar mais. Ok, talvez eu tivesse medo da câmera. – Pra quem não me conhece, sou Tomlinson.
  - Isso mesmo! Então vamos falar um pouco sobre você... Todos sabem que você é bem ligada a moda, porque sempre que eu a vejo em algum lugar ou em revistas, você está com roupas maravilhosas que muitas vezes nem estão nas lojas ainda... Me diga, o que exatamente você faz para a Mulberry? Como é o seu trabalho com eles? – Aquilo começou a parecer uma entrevista e deixei as coisas rolarem.
  - Meu trabalho com a Mulberry é algo bem divertido, na verdade. Eu nem sei se deveria chamá-lo dessa forma, porque não é trabalho algum usar as roupas e bolsas dessa marca... O que eu faço é divulgar e literalmente vestir as peças, para que mais e mais pessoas possam ver o quanto as coisas são legais. – Dei de ombros, mas não como se não me importasse. Olhava para a câmera e pra ela, como se estivesse conversando com cada um que viria a assistir esse vídeo. – Mas também participo de algumas reuniões, dou idéias... É até engraçado, porque eu não tinha ambição nenhuma de me envolver com essa área, é algo que apenas aconteceu. E eu estou muito feliz com todas as portas que estão se abrindo pra mim por causa disso.
  - E toda essa atenção que você recebe, não só por causa do seu trabalho, mas especialmente dos paparazzis... Isso faz com que você se sinta obrigada a se vestir muito bem todas as vezes que sai de casa?
  - Não é como se eu passasse horas tentando escolher o que usar, sabe? Muitas vezes eu pego a primeira coisa que encontro no closet. Minhas roupas dependem muito do meu humor. Nesses últimos meses, eu tenho certeza que me vesti como uma mendiga todos os dias que tive que ir para a aula, porque meu horário foi extremamente cheio e começava cedo. – Ri por saber que não era exagero. – Com certeza não tenho um bom humor pela manhã.
  - Você estuda ballet clássico na London Royal Academy, correto? Em qual ano está? Como foi entrar em uma escola tão prestigiada?
  - Pra falar a verdade foi bem inacreditável! Desde que me entendo por gente estou em cima de uma sapatilha, dançando por aí, então pode-se dizer que trabalhei a vida inteira pra conseguir entrar em uma boa academia de ballet e sempre fui muito fã da LRA. – Me esforçava pra lembrar de todas as perguntas e não perder a linha de pensamento. – Semana que vem, eu acho... Talvez a próxima... Estarei começando o meu último semestre, então em janeiro estarei me formando!
  - E quais são os seus próximos planos? Já sabe o que vai fazer?
  - Por enquanto estou esperando convites de companhias de ballet... – Olhei para a câmera e pisquei. – Estou livre, huh?
  - Tenho certeza que depois disso muitos vão vir atrás de você! – Riu, trocando suas plaquinhas de ordem. – Acho que chegou a hora que todos esperavam! Podemos falar sobre o One Direction?
  - É pra isso que estou aqui. – Aceitei, me sentindo mais relaxada por não ter que falar mais sobre mim.
  - Primeiramente, como é conhecer uma das maiores bandas da Europa? Especialmente quando você conhece dois deles há tanto tempo? Quero dizer, Louis é seu irmão e Harry seu melhor amigo de infância...
  - Exatamente! Vai fazer nove anos que conheço Haz... Wow, isso é bastante. E Lou... Bom, eu o suporto desde sempre. – Não contive uma risada. – Na verdade é algo bem natural, porque eu não os vejo como a boy band ou os super astros que estão nas paredes de nove a cada dez adolescentes. Pra mim eles são apenas meus melhores amigos. Todo mundo sempre fala aquela coisa de “ah, somos pessoas normais e tal”, o que acaba sendo um tanto clichê, mas é a mais pura verdade. As vezes eu estou largada no sofá com Liam, de pijamas e uma caneca de chá na mão e de repente os cinco aparecem na TV... É bem engraçado, porque nós dois levamos uns segundos pra entender o que está acontecendo.
  - “Largada no sofá com Liam”, é, não estou nem um pouco com inveja! – Cruzou os braços, me olhando com uma expressão engraçada. – Tenho aqui algumas perguntas que fãs deixaram nos comentários, então podemos ir pra essa parte?
  - Claro que sim! Fico um pouco nervosa, mas vamos lá!
  - Você deveria ficar nervosa! – Encarou-me com seriedade, continuando: - A primeira pergunta: “Oi, . Meu nome é Melanie, da Suécia...”
  - Oi, Melanie da Suécia! – Acenei novamente para a câmera.
  - “E eu gostaria que você nos contasse alguma mania que os meninos tem e ninguém conhece!” – Terminou a pergunta, fitando-me na espera de uma resposta.
  - Manias desconhecidas... – Toquei o queixo, pensativa. – Acho que uma mania que ninguém conhece é que Harry pode dormir em qualquer lugar. Literalmente qualquer lugar! E é incrível, porque ele pode adormecer em dois minutos.
  - “Quem é o mais brincalhão do grupo e o mais comportado?”
  - Louis! Sem duvida alguma é o mais brincalhão. Ele sempre está correndo pela casa e fazendo bagunça. Lou com certeza é a pessoa mais barulhenta que eu já conheci. Nenhum deles é comportado, então é isso.
  - Sarah de Glasgow perguntou: “Os defina em apenas uma palavra.”
  - Uma só? Essa vai ser complicada! – Demorei alguns segundos pra pensar em um primeiro adjetivo, mas logo completei: - Niall – Vívido, porque ele é cheio de vida e energia. Harry – Admirável. Louis – Radiante. Liam... Meticuloso.
  - Só falta Zayn! – Deu um sorrisinho que demonstrava “só não babe porque ele é seu namorado”.
  - Pensei em falar “perfeito”, mas não acho que estaria sendo justa o suficiente. – Suspirei, olhando para a minha mão, onde o anel com uma pedra única brilhava. – Ele é extraordinário. Nunca conheci ninguém como ele.
  - Você está tão apaixonada por ele que dá pra ver no seu olhar. – Sua posição mudou e soube que aquele comentário ficaria só entre nós. – Uma pergunta que apareceu várias vezes: “Como é ter que se despedir todas as vezes que eles vão para uma nova viagem ou quando começarem a sair em turnê?”
  - É a pior sensação do mundo, sinceramente! E eles já saíram em uma turnê pequena com o primeiro disco e foi horrível, então não quero nem saber como vai ser quando eles forem passar um ano na estrada! Eu moro com três deles, então quando estão viajando, é uma solidão completa. A sorte é que às vezes tenho a oportunidade de ir com eles. – Parei para respirar. Enquanto explicava, mexia os braços e passeava o olhar de forma descontraída, assim como certos sorrisos que deixava aparecer. – No começo do mês, por exemplo, me juntei a eles em Los Angeles, onde pude ficar por perto e curtir um pouco da cidade, sem falar que sempre que podia me envolvia um pouco nos assuntos da banda. Não foi a primeira vez que viajei com os cinco, mas foi quando passei mais tempo.
  - Então é isso, pessoal! Espero que tenham gostado desse encontro com a , porque eu com certeza gostei! – Já estávamos encerrando? Tão rápido?
  - Eu adorei! Obrigada pela oportunidade, Carrie. – Sorri em agradecimento e acenei para a câmera mais uma vez, dessa vez me despedindo.

    

Chapter XXII

"Holy shit!" Acordar com esse pensamento em pleno sábado a tarde não é a coisa mais legal do mundo, acreditem. Ainda mais depois de um sonho um tanto... Perturbador. Não que houvesse monstros tentando comer o meu fígado ou coisa parecida, mas ainda assim. A lambida que recebi em meu rosto foi o que me trouxe para a realidade. Abri o olho direito antes do esquerdo e demorei um pouco para entender que me desejava bom dia - ainda que o relógio digital na mesinha de cabeceira avisasse que era tarde. Fiz carinho atrás de sua orelha e o observei bocejar, fazendo o mesmo por osmose.
  - Eu tive um sonho tão estranho, Bo... - Comentei com o cachorro.
  - Como foi? - Uma voz rouca no pé da minha cama me fez sentar de uma vez, torcendo para que não estivesse ficando louca e que não tivesse começado a falar.
  - Harold, que porra você está fazendo aí? - Questionei vendo o menino saindo de baixo do edredom que deveria ser somente meu.
  - Lou e eu brigamos... - Coçou os olhos, preguiçoso. - E eu não quis dormir sozinho na minha cama.
  - Então você só decidiu se enfiar na minha? - Encostei-me ao travesseiro, um tanto mais relaxada. - Mas porque os pombinhos brigaram?
  - Sabe que nem me lembro? - Riu baixo, ainda meio adormecido. - Como foi o sonho, afinal?
  - Ugh, foi super estranho! Eu estava nessa piscina ou lago ou sei lá... Só de calcinha e sutiã, o que deixou tudo pior. - Comecei a contar, voltando a ter aquelas imagens vivamente na cabeça. - E Liam estava lá... A gente se beijou! Tipo... Mesmo, sabe?
  - Só que isso não foi um sonho, . - Bocejou ao abraçar o travesseiro que roubara de mim, como se estivesse prestes a pegar no sono. - Deve ser uma lembrança daquela festa, onde os dois trocaram saliva na piscina... Boa noite.
  - Boa noite? Haz, do que você está falando? - Sentei mais uma vez na esperança de obter respostas. - Harry!
   Claro que minhas informações nunca vieram da boca dele. O menino apagou em questão de segundos e me deixou mais confusa do que já era normalmente. Bufei pela inutilidade do meu amigo me joguei para fora da cama. Teria que falar com outra pessoa sobre isso urgentemente. Ok, meu sonho tinha sido bem realista e detalhado, mas isso não significava que era verdade, certo? Infelizmente o frio em minha barriga não foi a resposta que gostaria. Deixei o quarto com o Husky me seguindo e batendo seu longo rabo em qualquer coisa que estivesse no caminho. Naquele andar, todas as portas estavam abertas e ninguém por perto, o queria dizer que os outros moradores da casa estavam no andar de baixo. Pulei alguns degraus pra chegar mais rápido lá embaixo e dei de cara com Louis e o beijoqueiro do meu sonho sentados no sofá da sala.
  - Bom dia. - Ou boa tarde, tanto faz. Caminhei até o pufe de canto e sentei ali, sentindo-o se remodelar embaixo de mim.
  - Bom dia, alegria do meu dia. - Liam me respondeu, mas começou a acariciar o cachorro, então penso que aquele elogio não foi pra mim.
  - Morning, . - Lou forçou um sorriso ao acenar pra mim.
  - Seu namorado está na minha cama... O que houve com vocês dois?
  - Tivemos uma briga estúpida por causa de ciúmes. - Bufou obviamente irritado com aquele assunto. - Terei que sair com a Eleanor hoje, então Harry resolveu fazer o mesmo com um amiguinho dele.
  - O que é completamente normal. - Li intrometeu-se, recebendo olhares mortais de Louis. - C'mon, Lou! Harry e Grimmy são só amigos.
  - Como ele está? - Meu irmão podia ser ciumento e cabeça dura, mas não suportava brigar com seu namorado.
  - Acho que ele ficou maluco de vez... - Podia ser uma boa hora de tocar no meu assunto, por mais egoísta que isso soe. Forcei uma risada antes de falar. - Acredita que ele falou que Liam e eu já nos beijamos? Loucura, huh?
  - Mas vocês dois já se beijaram. - Lou falou com tanta certeza que o frio em minha barriga voltou. Liam se virou em sua direção como se acabasse de ver um fantasma. - Você não se lembra?
  - Me lembro do que?! - Me sentia como se fosse a única a não saber de um assunto e isso incomodava.
  - Você... Você não se lembra. - Lou chegou a essa brilhante conclusão e Liam abaixou a cabeça, apertando as têmporas com o polegar e indicador. - Com licença, vou fazer as pazes com meu namorado. , vem, garoto!
  - Se importaria de me falar o que eu supostamente estou esquecendo? - Insisti para Liam, que ainda não me olhava.
  - Não sei por onde começar... - Parecia genuinamente preocupado.
  - Comece pelo começo. O que o Haz falou... Tem algo de verdade?
  - É completamente verdade. - Seu rosto levantou aos poucos, seu olhar prendendo o meu. - Mas eu não te culpo por não lembrar! Quero dizer, você estava bem bêbada. Tinha acabado de terminar com Zayn e precisava tirar isso da cabeça... Lembra da festa que fomos com a Dani? Antes de começarmos a namorar.
  - Oh Gosh, foi com isso que eu sonhei... - Pensei alto, não sabendo definir o que estava sentindo. - Porque você não me contou nada? Zayn sabe disso?
  - Eu não falei nada porque não queria que você ficasse assim, preocupada com algo que não teve importância. Zayn não sabe de nada.
  - Teve importância pra você. - Impossível seria não lembrar dos sentimentos que Liam surtira por mim naquela época. - Eu sinto muito, Li... Não fazia idéia. Mas você também bebeu bastante... Como não esqueceu?
  - O que posso fazer? Você é difícil de esquecer. - Se aquele assunto já não era constrangedor o bastante, minhas bochechas se tornaram vermelhas como uma maçã após a vibração que senti na voz dele.
  - Espera, essa festa não foi a primeira vez que você e Dani ficaram juntos? - Me senti ainda pior e escondi o rosto nas mãos. - Sou uma pessoa terrível! Como vou olhá-la hoje a noite?
  - Essa pode não ser a melhor hora pra contar isso, mas... Ela não vai poder ir com você hoje... - Aquele devia ser um dos dias que seria melhor não ter acordado.
  - Como é? - minha voz afinou assim que levantei o rosto. - Por que não? Ela me odeia?
  - Ela não te odeia, dramática. - Conseguiu rir do meu sofrimento. - Dani vem se sentindo mal desde a noite passada... Mas ela disse que não vai deixar você ir sozinha, então deve ter pedido pra alguma amiga ir em seu lugar. Você lembra da Lary? Aquela morena?
  - Ótimo! Irei para a festa mais importante da minha vida com uma garota que só vi uma vez. - Deitei as costas no pufe, encarando o teto.
  - Sinto muito, pequena...
  - Você não pode vir comigo? - Levantei o pescoço, prestes a chorar.
  - Desculpa, . Já prometi a Zayn que o faria companhia, já que nossas namoradas iriam sair juntas. - Aquela era a desculpa mais esfarrapada que já ouvira, mas deixei passar assim que a campainha soou pela casa. - Sabe quem é?
  - Acho que é Rachel com o meu vestido e os convites. - Afirmei ao levantar. - Eu preciso trocar de roupa. Se importa em abrir?
  - Qualquer coisa pra você!
   Sei que Liam só fora bonzinho assim porque eu estava passando por grandes emoções, contudo, ainda assim o agradeci com um sorriso e me dirigi até as escadas. Veja bem, eu já havia ido dormir na noite anterior com um frio congelante na barriga por causa dos meus planos para aquele dia, tivera um sonho perturbador só para acordar e descobrir que não fora apenas um sonho e, por último e não menos importante, a minha companhia para a festa da Glamour estava doente e praticamente me deixara nas mãos de uma pseudo-estranha. Não culpava Li por não ter me contado sobre nosso beijo, porque isso poderia ter deixado as coisas complicadas entre nós e, principalmente, entre ele e Zayn. Entretanto, era em mim que colocava a culpa. Como alguém simplesmente esquece que beijou o melhor amigo do seu namorado? Mesmo que fosse “ex-namorado” na época do acontecido...
  - Posso entrar? – Bati na porta do meu próprio quarto, sabendo que Harry e Louis supostamente estavam fazendo as pazes lá dentro.
  - O quarto é seu, . – Lou avisou, mas não me senti muito convencida.
  - Estão decentes? – Abri uma brecha e dei uma espiadinha, encontrando o casal e deitados na minha cama. – Isso mesmo, se comportem quando estiverem nos meus aposentos! E prefiro vê-los assim, juntos e felizes!
  - Boo bear não consegue ficar bravo comigo. – Harry tinha um dos braços em volta de Lou, que apenas riu. Se fosse qualquer outra pessoa, meu irmão teria soltado algum comentário brincalhão ou se defendido, mas como se tratava de Haz, todas as suas barreiras estavam abaixadas.
  - Ninguém consegue, sweetie. – Continuei sorrindo para os dois e atravessei o quarto até entrar no banheiro.
   Não percebera o quanto estava apertada até o momento de começar a fazer a minha higiene matinal. Escovei os dentes pela primeira vez com a minha escova esverdeada, já que a cor-de-rosa ficara no flat de Zayn. Teria tomado banho, mas algo me dizia que os planos que Rachel tinha para mim me obrigaria a tomar outro logo, então preferi esperar. Em minha defesa, a última vez que entrara embaixo do chuveiro fora antes de dormir, então não estava fedendo ou coisa parecida! Encontrei um vestido simples que usara apenas uma vez pendurado no gancho atrás da porta do banheiro e foi ele mesmo que eu peguei para vestir, deixando meu pijama na cesta de plástico embaixo da bancada da pia.
  - , como foi a conversa com Liam? – Lou quase gritou do outro lado da porta, como se eu não tivesse uma audição normal para escutá-lo se falasse normalmente.
  - Acho que podia ter sido pior... – Abri a porta que separava o banheiro do quarto enquanto penteava os cabelos. – Ainda estou um pouco chocada, mas o que posso fazer?
  - Pensei que você fosse ficar um pouco mais... Inquieta. – Haz brincava com os pelos macios de . – Afinal, foi na mesma festa que Dani e Liam ficariam juntos pela primeira vez...
  - O que isso significa exatamente? – Peguei um elástico na minha caixinha de coisas para cabelo e fiz um rabo de cavalo alto.
  - Acho que o que Haz está tentando dizer, é que se não fosse por isso, Dani e Liam teriam ficado juntos há muito mais tempo. – Louis entreviu. – Depois do beijo de vocês, ele teve esperança que fossem ficar juntos. E Liam esperou...
  - Ele está com a Dani agora e é o que importa! – Dei de ombros, encarando o meu reflexo. Não tinha tempo pra isso agora. – Acho que a Rach está lá embaixo.
  - Luxy veio com ela? – Harry se sentou na cama, pronto para levantar.
  - Creio que não. – Dei de ombros com um bico de canto, parando na frente para eles. – Quem vai passear com hoje? Eu já fui ontem!
  - O cachorro é seu, . – Lou meio que reclamou, mas o filhote pulou para o chão e começou a andar de um lado para o outro, já querendo sair de casa. Finalmente meu irmão rolou os olhos e suspirou. – Eu vou.
  - Você é o melhor!
   Assoprei um beijo para os três e saí do quarto, querendo chegar logo ao andar de baixo. A minha madrasta e eu teríamos muito o que fazer aquele dia, então não havia tempo a perder. Além do que, precisava ocupar a minha cabeça com algo que não fosse eu atrapalhando o namoro de um dos meus melhores amigos. Tudo bem que fazia tempo que tudo isso acontecera, mas acho que o fato de eu ter descoberto recentemente deixava mais fresco. Podia apenas torcer para que Liam houvesse superado; o que era bem claro que acontecera, não fosse os comentários que de vez em quando direcionava a mim. “STAR!” Chamei a mim mesma por telepatia. “Esse não é o conceito de ocupar a cabeça com outras coisas!” Era melhor não pensar em nada. Quase tropecei no último degrau da escada, o que não acontecia há um longo tempo, e parei na sala de jantar ao escutar o meu nome.
  - A não comeu. – Liam me dedurava e o peguei no flagra.
  - Isso é bom, porque eu trouxe algo especial pra ela! – Rachel já me vira e mostrou a sacola da Subway que trazia.
  - Ahhn, se eu soubesse que você passaria lá antes de vir aqui, eu não teria comido a gororoba do Lou! – Li cruzou os braços.
  - EI! Eu ouvi isso! – Meu irmão ofendido acabava de passar pelo hall de entrada, com encoleirado ao seu lado.
  - Eu também ouvi você me entregando para a Rach! – Cruzei os braços, fazendo-o se virar pra mim.
  - É bom que os dois tenham escutado mesmo. Bro, é melhor deixar que o Harry cozinhe. – Olhou para o meu irmão e em seguida voltou-se para mim. – E é melhor que você comece a comer. Ou pensa que eu não sei que você foi pra cama sem jantar ontem?
  - Não sei do que você está falando! – Sabia sim, mas era melhor ignorar. Fui até Rachel e a abracei. – Não acredite no que esses meninos falam, ok?
  - Claro que não! Mas aqui está o seu almoço. – Abraçou-me de volta e colocou a comida na minha mão. – Mas só pra ter certeza, vamos ver você comer tudo.
  - Não estou-
  - Não estou com fome. – Liam interrompeu a minha fala, como se me imitasse. – É sempre a mesma história.
  - Eu não ia falar isso. – Cruzei os braços.
  - Awn, é normal que ela se sinta assim, Li. – A loira me envolveu pelos ombros. – Ainda mais em um dia tão importante quanto hoje.
  - Viu?! Ela me entende. – A abracei de lado, estirando a língua para o menino.
  – Mas você ainda tem que comer. – Ela olhou-me de esguelha.
  - Uuuuuugh. – Resmunguei. – Tire esse sorrisinho do rosto, Leeyum!

+++

  E lá estava eu, sentada na cadeira da minha escrivaninha, envolta em um roupão rosa bebê e tendo meus cabelos puxados; digo, escovados. Ter uma madrasta que entende dessas coisas de cabelo & maquiagem vem a calhar mais do que você espera. Passamos o dia inteiro tendo uma espécie de dia de SPA, onde ela me usou de cobaia para suas experiências. Era a primeira vez que testava a sua formula de mascara de argila e admito que tive bastante medo de desenvolver alguma reação alérgica e acabar tendo que ir para a festa com o rosto vermelho, contudo, confiança nos dotes de beleza daquela mulher era o primeiro passo para alcançar a pele macia que todas as mulheres sonham em ter. Admito que alcancei. Minhas imperfeições de pele ainda estavam lá após esse tratamento e logo foram tratadas por um pouco de base aqui, um pouco de corretivo ali... Ainda não vira o resultado final no espelho, porém, tinha certeza que ficaria perfeito.
   Na mão esquerda, segurava a garrafinha de água que fora a minha companhia durante o dia todo. Fui obrigada a comer o sanduíche que Rach trouxera, mas depois disso consegui enganar a policia alimentícia e não precisei comer nada além de uma barrinha de cereal que prometeria me deixar de pé durante a festa. Meu vestido estava delicadamente esticado sobre a cama, pois era bastante delicado; redundâncias a parte. Na direita, por sua vez, meu celular conseguia me distrair quando não tinha muito o que fazer. Não ousei ir em rede social alguma, pois já estava ansiosa demais pra ainda descobrir o que as pessoas estavam falando por aí. Basicamente passei meia hora jogando Flappy Bird na tentativa de passar o recorde de Harry, sem chegar a lugar algum.
  “Babe, babe, babe, babe.”
  “Babe.”
  “Baby! Sunshine. Babe, babe, babe.”
  “Tah, beautiful. HEY HEY HEY.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Vas happening, ?”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
   “What the hell?” O iPhone começou a vibrar na minha mão desesperadamente, me dando um pouco de trabalho até mesmo para destravar a telinha e ver o que Zayn queria tão urgentemente. Ri com aquele escândalo, mas parte de mim acreditava que podia ser algo sério.

  
“Aqui! Estou aqui! O que houve?!”
  “Já falei que você é linda hoje?”
  “Awwwwwn, ainda não!”
  “You’re the most beautiful girl in the world and I wanted you to know.”
  “Você fala isso todos os dias… Começo a achar que é louco.”
  “Eu só quero te fazer sorrir. O que há de louco nisso?”
  “Absolutamente nada. E funcionou!”
  “Sempre funciona. :p Ainda está nervosa?”
  “Agora que estou falando com você, estou um pouco mais calma... Mas ainda sinto frio na barriga.”
  “Vai dar tudo certo, babe. Não fique preocupada, okay?”
  “Sei disso... Aham.”
  “Liam me disse o que houve com a Dani. Já sabe quem vai substituí-la?!”
  “Talvez uma garota chamada Laura... Ou Lary... Que conhecemos no Mayflower aquela noite. Não tenho certeza, mas ainda preferia que você viesse comigo.”
  “Eu também, mais que tudo. Quem sabe se eu usar um bigode?”
  “Acho que a minha amiga Georgia Rose seria mais convincente.”
  “Teria que usar saltos?”
  “E depilar as pernas...”
  “É, talvez em uma próxima oportunidade. lol”
  “Tah, sua companhia está aqui embaixo. - Lou”
  “Já vou, Lou!”
  “Babe, tenho que agilizar aqui... Te mando noticias?”
  “Acho que Liam também chegou aqui, porque o interfone tá tocando. Queria que fosse você no lugar dele. ):”
  “Se divirtam... )): Love you, sweetheart.”
  “Até logo, Anjo. Fique calma e se cuide! I love you lots. x”

  - Awn, como são fofos! – Rach deixou o meu cabelo em paz e aparentemente leu toda a minha conversa com meu namorado.
  - Já estou pronta?! – Travei a tela do aparelho, preferindo não comentar.
  - Yep! Vamos te colocar dentro do vestido e estará pronta pra ir. – Deu uma batidinha no meu ombro, pedindo assim para que eu levantasse da cadeira. – Lou disse que sua companhia chegou, não? Pela hora, seu carro também deve estar quase aqui.
  - Então você leu mesmo a conversa inteira?! – Arqueei uma sobrancelha.
   Rachel riu divertidamente, denunciando que era culpada. Não me importei só porque o assunto das mensagens não fora assim tão constrangedor quanto poderia ter sido. Levantei da cadeira e tirei o roupão, deixando-o de lado e ficando apenas com as roupas de baixo. Rachel deixou o secador de cabelo e outros instrumentos que usou em mim em um canto da cama e pegou o vestido previamente esticado sobre ela. Abriu o zíper até um pouco abaixo da cintura e me ajudou a entrar dentro dele. Enquanto estava de costas pra ela e segurava o cabelo para que não ficasse preso no fecho, pressionei um lábio no outro com o nervosismo e medo de que ele não fechasse. Até mesmo prendi a respiração e só voltei a relaxar após sentir que ele não rasgaria no menor dos meus movimentos. Sendo sincera, era como se ele servisse como uma luva. Pude me mexer e respirar fundo sem escutar o barulho de nada sendo rasgado e sorri satisfeita. Então pular algumas refeições dava certo? Tinha absoluta certeza que esse vestido era do mesmo tamanho daquele que experimentei na loja da Chanel em Los Angeles, o que significava que eu perdera peso! Não da forma mais aconselhada, talvez, mas os fins justificavam os meios.
  - Você está linda! – Rach bateu palminhas silenciosas.
  - Eu me sinto linda. – Sorri, girando sem sair do lugar. – Como isso funciona?
  - Está vendo essas partes aqui? – Tocou em certos cantos do meu vestido que escondiam mecanismos. – É só puxar e tudo solta. Você não mudou de idéia, certo?
  - Claro que não. – Podia estar ansiosa e tensa, mas não podia desistir agora.
  - Então você está pronta pra ir! – Segurava a minha bolsa e dois envelopes. – Calce os sapatos e vá se olhar no espelho. A minha obra de arte está perfeita, modéstia a parte.
   Para obedecê-la, sentei na cama com cuidado e alcancei os sapatos de salto que estavam em algum lugar embaixo da cadeira onde estivera previamente sentada. Apenas agradeci mentalmente por não ser tão alto ou fino, o que me levaria ao chão em dois segundos. Tentei me mexer o menos possível ao calçá-los, temendo causar algum dano ao meu vestido de alta costura, pois sabia o quão frágil ele era. Já de pé sem nenhuma ajuda, entrei no closet e acendi a lâmpada interna, podendo parar de frente para o espelho de tamanho humano que mostrou o meu reflexo inteiro. Rachel estava certa ao falar que sua obra de arte estava perfeita, pois eu quase não parecia a mesma garota de horas atrás, com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo desleixado e vestido velho. Meus cabelos estavam mais lisos e de lado que o de costume, o que dava um pouco de trabalho para manter a franja fora dos meus olhos, porém, valia a pena.
  - Um toque final! – Senti algo sendo espirrado em mim e me virei para que o perfume também batesse em meu pescoço e ombros. – O que achou?
  - Eu me sinto uma atriz de Hollywood! – Coloquei as mãos na cintura, fazendo uma pose qualquer.
  - Na noite que você vai ter hoje, é bom que se sinta assim mesmo. – Passou-me a bolsa que devia guardar tudo que eu precisaria. – Javert está aí na frente.
  - Ele será o meu motorista hoje?! – A acompanhei para fora do closet e do quarto, deixando tudo apagado atrás de nós.
  - Carine achou melhor, por ele já conhecer o caminho até aqui e tal. – Deu de ombros, mexendo em algumas mexas do meu cabelo. – Está tudo bem? Sabe tudo o que fazer?
  - Sim, Rachel! – Ri baixo, segurando no corrimão da escada para não cair durante a descida. – A idéia foi minha, sabe?
  - Eu sei, eu sei! Mas você vai estar sozinha, então fico nervosa! – Aquela preocupação de mãe era norma vinda da minha madrasta.
  - Ela não vai estar sozinha. – Uma figura masculina esperava-me no hall de entrada e só então fora notada. O moreno vestia roupa social dos pés a cabeça e seus olhos estavam mais brilhantes do que eu recordava. – Serei seu fiel escudeiro.
  - Joshua! O que você está fazendo aqui? – Sorri surpresa, demorando a ligar os pontos. – Dani pediu pra você substituí-la?
  - Bingo! – Abraçou-me como se fossemos velhos amigos que não se viam há meses. – Você está muito bonita, senhorita Tomlinson.
  - Merci, monsieur. – Fiz leve reverencia após retribuir seu enlace. – Você também não está nada mal! Na verdade, nenhum de vocês está...
  - Obrigado, eu faço o que posso. – Louis fingiu balançar os cabelos de um lado para o outro, sentindo-se muito bem em seu blazer preto. – Harry acabou de sair, mas você devia ter visto!
  - Vai conosco, Louis? – Josh perguntou a meu irmão.
  - Nah, bem que gostaria, mas tenho que sair com a minha namorada Eleanor. – Até ouvir aquilo parecia estranho.
  - Sou só eu, ou você deveria parecer mais feliz com isso? – O garoto de olhos cinzentos percebeu o mesmo que eu.
  - Eu te explico no carro. – Passei o braço pelo de Josh. – Vamos?

+++

  - Show tiiiiiiiiiime! – Cantarolei, sentindo meu estômago revirar com as milhares de borboletas que resolveram levantar vôo.
  - Fique calma, ! – Josh riu e apertou a minha mão, me obrigando a parar de batucar no banco do carro. – Você está incrível... Vai ser perfeito.
  - Estou tentando! – O bom humor do meu acompanhante me contagiara no mesmo instante em que entramos naquele veiculo. – Já fez algo assim?
  - O tempo inteiro no X Factor! – Às vezes esquecia que Joshua estava envolvido nessa área do showbiz, então só podia esperar que ele me ajudasse.
   Não me entenda errado, eu já estive em tapetes vermelhos sozinha em desfiles ou Fashion Weeks da vida, mas nada com o tamanho daquela festa de aniversário da maior revista do Reino Unido; onde telas e câmeras de todo o mundo estariam apontadas para lá, esperando ver novas tendências e tudo que a nata londrinha teria para oferecer. Acredito que me sentir entregue em uma bandeja é um bom jeito de explicar como estava sendo “oferecida”. Javert, o motorista, estacionou o carro e abriu a porta para que Josh saísse primeiro e fiz o mesmo em seguida. Naquela entrada ainda não havia a multidão de fotógrafos que estava prestes a enfrentar, apenas era o local de encontro onde celebridades e fashionistas desciam de seus veículos igualmente luxuosos e recebiam o seu “guia”. Ok, “guia” não é a melhor expressão, mas era assim