Ballet Shoes II

Ella Souza | Revisada por Isabelle Castro (até capítulo 61) | Angel

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Chapter I

  Ahh, o verão! Nada melhor para relaxar do que o Sol brilhante no céu e a brisa fresca de Londres no mês de junho! Tanto havia mudado desde o começo daquele ano... Quem diria que seis meses seriam o necessário para que a banda dos meus melhores amigos/namorado/irmão caísse na fama nacional. Durante esses seis meses, o One Direction assinou o seu contrato com a Syco Entertainment (gravadora do próprio Simon Cowell em parceria com a Sony), gravou o seu primeiro CD (chamado Up All Night, só pra constar) e conquistou o Reino Unido inteiro. Literalmente inteiro! Os meninos se tornaram o sonho de consumo de todas as meninas e um fenômeno nacional. Sem falar que agora eles tinham empresários de verdade, pois assinaram outro tipo de contrato com a Modest!Management. Eles estavam vivendo o sonho!
   Mesmo com todo o lado bom que a fama e o reconhecimento traziam, também tinha o lado ruim, pois as vezes ficava bem impossível para eles sair pelas ruas tão tranquilamente quanto antes; o que os obrigou a conseguir uma penca de guarda costas. O meu preferido deles se chamava Paul, mas voltaremos a isso mais tarde. O caso é que perdi a conta de quantas vezes tivemos que deixar uma festa mais cedo por causa da invasão de fãs ou de todas as capas de revista fofoca que eu ilustrei – mesmo que aparecendo apenas no plano de fundo. Atualmente os cinco meninos estavam nos Estados Unidos, divulgando o seu trabalho nas terras estrangeiras e trabalhando em algumas músicas para o próximo CD, já que a Syco também tinha uma sede em Los Angeles. Para resumir, eu não os via há mais de um mês inteiro. Por mais que morresse de saudade dos meus idiotas, sabia que fazia parte do trabalho deles e por isso tinha que aceitar. “Mas e a Academy? Niall e Zayn não podem faltar tantas aulas assim!” Aí é que está, cara leitora, eles não estavam mais estudando na Academy; ou em lugar algum, pra falar a verdade. Os dois foram obrigados a deixar a London Royal Academy para se concentrar na banda.
  Mas chega de falar deles! Essa história aqui ainda é minha, certo? Não vou dizer que mudei completamente durante aquele período de seis meses, mas também não era a mesma garota. Principalmente fisicamente falando. Fique calma, não fiz nenhuma plástica ou coisa do tipo! Ainda era a velha com as mesmas inseguranças e manias, apenas um pouco mais madura. Meus cabelos passaram por vários cortes, mas o atual era sem dúvida o meu preferido. Continuei com as minhas ondas selvagens, cortando as pontas claras que me acompanharam por tanto tempo da minha estadia naquela cidade inglesa. Como ainda era a minha melhor amiga maluca, tenha certeza de que ela me obrigou a continuar ousando no quesito salão de beleza. Para ser mais clara, ela conseguiu me convencer a pintar o cabelo todo dessa vez. Ainda era morena, apenas possuía um tom mais claro, tipo caramelo. No começo demorei para me acostumar, mas logo me apaixonei pela coloração artificial das madeixas.
  Naquele dia em questão, estava exatamente no último dia de aula do semestre. A última vez que teria que ir à minha amada escola de dança nos próximos dois meses e pouco. Claro que eu sentiria saudade dos meus novos professores, novos colegas de turma e da mesma diretora Agnes de sempre, mas o Summer Break seria mais que merecido. Pelo visto eu não era a única a estar animada pelas férias de verão, já que todo mundo que passava por mim na escadaria de saída parecia estar com muita pressa de ir embora logo. Isso acabou me fazendo sentar na parte mais afastada dos degraus para não ser pisoteada enquanto aguardava sair de sua aula de teatro. Admito que não era a mesma coisa assistir aulas sem ela, mas estava feliz porque a ruiva finalmente fazia o que gostava.
  - ? Ainda bem que você ainda não foi embora! – Brigitte correu até o meu encontro. Sim, Brigitte. Me chamando pelo apelido. Você leu certo. – Você deixou isso na sala.
  - Obrigada, Brie. – Sorri para a loira ao segurar o cartão postal que ela me entregou. – Não acredito que quase perdi isso!
  - É da professora Holly, não é? – Não chegou a se sentar ao meu lado, mas se manteve próxima enquanto conversávamos.
  - É da Holl sim. – Sorri olhando para a foto que ilustrava o cartão postal: Ela e Nick na frente de um monumento qualquer de Moscou. – Ela e Nick ainda estão tendo trabalho pra se acostumar com o frio todos os dias do ano.
  - Pelo menos nós temos mais sorte que eles! – Riu, olhando para o céu azul. – Tenho que entrar, , só vim lhe entregar isso mesmo.
  - Obrigada novamente. – Acenei com a cabeça. – Boas férias, Brie!
  - Pra você também!
  Antes que você comece a me achar louca, Brigitte e eu não nos tornamos BFF’s. Nem todo o tempo do mundo seria capaz de realizar um milagre tão grande assim. Acontece que, assim que eu saltei de nível, acabamos ficando na mesma sala. As primeiras semanas foram meio complicadas, mas assim que Brigitte viu que eu só estava ali pra estudar, sem ligar para as implicâncias dela, acabou dando um tempo pra me conhecer de verdade. Eu também a deixei “se aproximar” e acabamos nos suportando. De qualquer forma, ela não entrava no meu caminho e muito menos eu. Ao ouvir uma risada conhecida, olhei para trás para ver a minha melhor amiga pendurada no pescoço de um loiro de olhos azuis, tentando fazer duas coisas impossíveis de serem feitas ao mesmo tempo: Beijar e descer as escadas.
  - Uh-hum. – Limpei a garganta, levantando do degrau e pendurando a minha mochila sobre o ombro.
  - ! Você está aí. – A menina fingiu uma falsa timidez e largou o menino que a acompanhava. – Esse aqui é o Benjamin. Ben, essa é a minha amiga .
  - Hey, Benjamin. – Acenei de longe, sem querer ficar tão intima do novo peguete de . Pelo que eu tinha presenciando nos últimos quatro meses, o relacionamento dos dois não iria durar, por isso não tinha importância nos darmos bem ou não.
  - Me espere no carro, ok? – ordenou para o loiro e ele apenas obedeceu, descendo o resto das escadas e partindo em direção ao estacionamento. – Calouros não são uma fofura? Eles fazem tudo que a gente manda!
  - Semana passada você estava falando dos caras do último ano... – Levantei uma sobrancelha, meio desconfiada. – Eu sei que desde que você e o Ni terminaram tem sido complicado controlar os seus hormônios, mas tem mesmo que experimentar todos os tipos de homem?
  - Porque me contentar com um prato, se posso ter o cardápio inteiro?! – Cruzou os braços, querendo dizer: “Estou cansada desse assunto, você já sabe o que eu penso.”
  - Ok, ok. – Dei de ombros. – Podemos ir?
  - Ir onde?
  - Almoçar, ! – A sacudi com uma risada. – Lembra que você prometeu almoçar comigo e Liv?
  - Damn it! Eu sabia que estava esquecendo de algo... – Bateu na própria testa e me olhou com os olhos claros e pidões. – Benjamin ia me levar pra almoçar...
  - Sei bem o almoço que vocês vão ter! – A reprovei com os olhos. – Eu te deixo ir, mas você tem que prometer que vamos nos ver! Ainda faltam algumas semanas para os meninos voltarem e não estou afim de passar as férias sozinha.
  - Eu prometo! – Cruzou o coração. – Vamos fazer algo amanhã, mas agora eu tenho que ir...
  - Vá lá! E usem proteção. Não quero ter um sobrinho ainda; especialmente se o pai for esse aí. – Entortei o nariz e começamos a descer as escadas. – Mas se quiser ter o filho de outro loiro de olhos azuis...
  - Não comece a falar do Niall, . – Pediu com um toque de irritação em sua voz. – Tem noticias dele, aliás?
  - Ontem fiquei sabendo que ele está fazendo sucesso com as americanas. – Provoquei com aquela mentira. – Parece até que não quer mais voltar pra cá.
  - Pois que fique lá! – Bufou. – Te ligo amanhã.
  - Juízo! – Ri.
  Por mais que tentasse fingir que tinha superado completamente a separação com o namorado, ela não me enganava. E ele também não, pra falar a verdade. Todo mundo sabia que eles sentiam falta um do outro, mas nada que falássemos os fazia ponderar a opção de voltarem. Já fazia quatro meses que o loiro e a ruiva não estavam mais namorando e até hoje ninguém além dos dois sabia do que havia causado aquela separação. Ao menos tudo aconteceu de forma pacífica e os dois continuaram “amigos”. Vai entender, né? Foi um choque tremendo, com certeza, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Fiquei observando-a entrar no carro azul-marinho de Benjamin e acenei antes de procurar a chave do Range Rover na minha mochila. Como nenhum dos meninos estava ali para dirigir aquele carro preto, a tarefa de manter o motor em uso sobrava pra mim; me obrigando a intercalar o uso do Range com o meu próprio carro.

+++

  - Querida, chegueeeeeei. – Anunciei a minha chegada assim que entrei no hall de entrada da minha casa.
  - , cuidado! – A voz de Liv vinha de cima das escadas e o latido alto que escutei em seguida me fez entender.
  - Calma, , calma! – Ri, tentando fazê-lo diminuir a velocidade, mas era impossível.
  Eu passava pela mesma coisa todos os dias. estava fazendo seus nove meses e alguma coisa, o que significa que ele ainda não tinha alcançado a sua fase adulta, mas não era mais do tamanho de um filhote. Pra falar a verdade, ele crescera extremamente rápido, tornando impossível que qualquer um o carregasse nos braços. Apesar to seu tamanho grande, ainda tinha aquele espírito de criança, sempre correndo por aí e, principalmente, pulando em cima de mim toda vez que chegava em casa. Aquele dia não foi diferente, pois assisti enquanto o animal majestoso e desengonçado descia a escada com pressa até estar de pé na minha frente, com as patas dianteiras apoiadas na minha barriga para poder lamber o meu rosto.
  - Bo! – Tentei tirá-lo de cima de mim, o que foi quase impossível. Acabei gargalhando e abraçando o meu gigante de volta. – Nem faz tanto tempo assim que a gente não se vê!
  - Almoço, ! – A voz de Dorota chamou o cachorro na direção da cozinha e a palavra mágica “almoço” o fez me deixar de lado e correr atrás da sua comida.
  - Tenha cuidado, menino! – Falei quando quase escorregou no chão de madeira e bateu o quadril na lateral da porta. – Não sei de quem você puxou essa graciosidade toda. Só pode ter sido do seu pai, porque eu não me bato tanto pelos cantos quanto você.
  - Falando mal do Zayn enquanto ele não pode se defender, ? – Liv desceu as escadas finalmente, vindo me abraçar. – Ué, não vinha com você?
  - Ela nos trocou! – Fiz bico depois de abraçá-la de volta. – Já deve saber o porquê.
  - Presença de cromossomo Y? – Riu e eu só afirmei com a cabeça, deixando a minha mochila em uma mesinha que havia por ali. – Pelo menos sobra mais comida pra gente.
  - O que teremos para o almoço? – Perguntei interessada.
  - E depois diz que não sabe a quem o cachorro puxou... – Olivia resmungou.
  - Fiz tacos, minha menina! – Dora nos encontrou na sala de jantar e puxou o meu rosto para dar um beijo estalado na minha bochecha. – Vegetarianos para a minha querida Liv e de frango pra você, .
  - Posso ficar com o da também? Já que ela não veio e tal...
  - , desse jeito não tem corrida que dê jeito! – Olivia sentou-se à mesa e fiz o mesmo, com um novo bico nos lábios.
  Liv se tornara oficialmente a minha personal treiner, vigiando o que eu comia e me arrastando diariamente para fazer uma caminhada pelas montanhas ou correr nos arredores da cidade. Quem mais gostava de todos esses exercícios era , já que o animal parecia nunca se cansar! Também conseguia me distrair bastante quando os meninos estavam ocupados com o trabalho e continuava com o seu novo hobby de colecionar garotos. Dorota saiu da cozinha trazendo consigo dois pratos com os nossos tacos, já que a jarra de suco já estava sobre a mesa. Celebrei quando a comida chegou na minha frente e não fui nada delicada ao começar a comer. Pelo canto do olho, podia ver meu filho atacando a sua tigela de comida; começando a acreditar que tínhamos mais em comum do que gostava de admitir.
  Tão rápido quanto vieram, os tacos se foram. Dorota continuava cozinhando maravilhosamente bem! O taco de acabou indo para a geladeira, já que nem Liv e nem eu agüentávamos mais uma folha de alface que fosse. não saiu dos pés da minha cadeira desde a hora que acabou de comer até que eu fiz o mesmo. Nós éramos assim, grudados o dia inteiro. O cachorro gostava de todos que moravam naquela casa, mas eu era a sua grande paixão. Prova disso é que ele sempre dormia ao meu lado na cama, o que incluía até mesmo os dias que Zayn ficava para passar a noite. Era bem engraçado quando nós dois queríamos ter um tempo “sozinhos”, uma verdadeira luta pra tirar o cachorro do quarto. O pobrezinho não devia entender nada, mas eu também não era louca de deixá-lo nos observando enquanto tínhamos nossos momentos íntimos. Conhecendo-o bem, acabaria achando que estávamos brincando e pularia em cima de nós dois.
  - É o seu celular que está tocando? – Liv perguntou e parei de rir de algo que Dorota falara pra prestar atenção no som que vinha do corredor de entrada.
  - Esse é o toque de mensagem. Deve ser um dos meninos... É nessa hora que eles tem mais folga. – Expliquei para então terminar o meu copo de suco de laranja e levantar. – Estava uma delicia, Dora, como sempre!
  - Obrigada, querida. – Começou a recolher os pratos da mesa. – Gostou dos meus tacos, Olivia?
  - Estavam divinos! – A minha amiga sorriu e me seguiu para fora daquele cômodo.
  - Vamos, . – Chamei o bichinho e ele deu um pulo, batendo as costas na parte de baixo da minha cadeira. – Deus do céu, você tem algum problema, falo sério.
  Ri e o cachorro só ficou me observando com aqueles olhos azuis curiosos, querendo saber para onde iríamos. Por sorte ele era bem forte e agüentava todas as pancadas que levava diariamente. Olivia também riu e foi na frente. Por estar quase todos os dias me fazendo visitas, já não tinha mais nenhum receio de andar por aí, se sentindo na própria casa. A loira foi direto para a sala, sentando-se no sofá em forma de “L” e eu só fiz o mesmo após recuperar a minha mochila da mesinha do hall. Tirei os tênis para ficar mais confortável e coloquei os pés para cima do sofá, dobrando as pernas como os índios. Enquanto eu procurava o celular dentro da mochila, a outra menina também mexia em seu próprio telefone para colocar alguma música pra tocar. Liv não era muito fã de televisão.
  - Zayn me mandou uma foto... – Falei enquanto esperava a imagem carregar, em seguida lendo o que ele escrevera. – “Sentimos muito a sua falta, babe. Tem certeza que não quer vir?” Querer eu quero!
  - E por que não vai? – Olivia perguntou, após escolher uma música que a agradasse.
  - Não posso simplesmente arrumar as malas e ir para o outro lado do planeta, Liv! – A encarei. – Tenho uma bola de pelo pra cuidar e não confio em hotéis para cachorro. E também não posso levá-lo pra Los Angeles!
  - Você confia em mim? – Dorota parecia estar escutando a nossa conversa e apareceu na sala, com um pano de prato em mãos.
  - Claro que confio, mas e daí? – A olhei.
  - Eu posso ficar por aqui, se você quiser. E cuido do enquanto estiver fora... – Sugeriu com um sorriso.
  - Isso é loucura gente! – Ri.
  - Claro que não, ! – Liv concordou com a babá. – E eu moro na rua de trás, então posso sempre passar aqui pra dar uma ajuda ou levá-lo pra passear.
  - Espera, vocês duas estão falando sério? – Perguntei.
  - Você sempre quis ir pra L.A. e essa é uma ótima oportunidade... – Minha amiga deu de ombros, mas seu sorriso tentava me encorajar. – E, que eu saiba, tem passaporte e vistos prontos.
  - Além do mais, você não tem uma frase no seu corpo que diz que a vida é uma aventura? – Dora piscou cheia de intenções. Ela falava sobre a minha tatuagem na costela que falava exatamente aquilo. – Quer uma aventura maior que essa?
  - Então acho que estou indo para Los Angeles então... – Sorri animada, quase pulando no sofá. – Ainda acho loucura, mas confio em vocês...
  - vai ficar bem, , não se preocupe. – A menina ao meu lado no sofá fez carinho no cachorro deitado no chão na nossa frente.
  - Ok, ok... – Respirei fundo para não me desesperar com todas as coisas que eu ainda tinha que preparar para aquela viagem. – Passagens? Quando eu vou? E a minha mala? Tenho roupas pra isso?
  - POR FALAR EM ROUPAS! – Dorota praticamente gritou, assustando todos que estavam ali na sala. – As novas roupas da Mulberry chegaram...
  - Yay! – Exclamei. Agora sim eu teria roupas para viajar.
  Sem falar mais nada, levantei do sofá com um pulo e corri na direção das escadas. Liv e fizeram o mesmo, me seguindo. Lembra da conversa que Carine queria ter comigo, sobre o meu estágio na Models One? Bem, essa conversa acabou se transformando em um conjunto de várias reuniões, onde ela me apresentava às propostas de um plano maluco que ela e a minha madrasta bolaram. As duas pretendiam me transformar em uma espécie de It Girl da nova marca de Carine, a Mulberry. Só o que precisava fazer era usar as roupas da marca por aí, fosse no meu dia-a-dia ou em desfiles de moda que era convidada para assistir por intermédio da agência de modelos e ainda receberia por isso. Com o aumento da atenção em cima de mim por causa da minha ligação com o One Direction, Carine insistiu até que eu acabasse aceitando ser um meio ambulante de divulgação da marca. Claro que não era obrigada a usar apenas as roupas daquela loja, mas gostava bastante do estilo de design da mesma.
  Chegando ao meu quarto, encontrei as caixas e sacolas de embalagem em cima da minha cama. A cada mês eu ganhava uma quantidade diferente de variadas peças. Era um verdadeiro sonho, pra falar a verdade, receber roupas praticamente de graça. morria de inveja e vivia roubando uma pecinha aqui ou ali, mas Liv só ficava feliz pelo que eu tinha, sempre negando os presentes que eu oferecia a ela. A menina arrumou um espaço na minha cama e pegou o meu iPad, juntamente com o meu cartão de crédito dentro da minha carteira. Ela ficou responsável por cuidar da minha passagem de avião – que meu pai pagaria – enquanto eu arrumava a minha mala. Antes de fazer qualquer coisa, pensei em uma resposta para a mensagem de Zayn, não querendo deixar na cara os meus planos de surpreendê-lo.

“Também sinto muita falta de vocês! Mas nos veremos logo, assim que voltarem pra casa. xx .”
  “Como foi seu último dia de aula? Ainda temos alguns minutos de descanso...”
  “Teria sido melhor se você estivesse me esperando na porta. ): Recebi um postal de Holly e Nick. Eles estão bem e mandam lembranças! Ah, está com um ficante novo...”
  “Qual a novidade? Haha Já é o quarto esse mês? Pobre Niall. Não ficou com mais ninguém depois da cabecinha de fogo.”
  “Ele é que está certo! Mas chega de falar de outro casal. Como está tudo por aí? Onde estão agora?”
  “Estamos na van, a caminho de um shopping. Faremos uma apresentação e parece que já tem um grupo relativo de fãs nos esperando.”
  “Então estão fazendo sucesso pelos EUA? Isso é ótimo. Quem sabe assim vocês possam voltar logo.”
  “O público aqui é diferente do daí... É mais calmo. Nós podemos andar pela rua e quase ninguém nos reconhece.”
  “Dê um tempo, baby. Logo vocês vão ser perseguidos do mesmo jeito que são aqui!”
  “Só quero ser perseguido por você! Falo sério, acho que não vou agüentar mais três semanas sem você, .”
  “Você já agüentou quatro! Só mais três não farão diferença...”
  “Escreva isso no meu epitáfio, então. Aliás, a culpa vai ser sua se eu morrer. Boa sorte explicando para a minha mãe.”
  “Acho que Trisha entenderia!”
  “Babe, já tenho que ir. Estamos estacionando agora. Skype na hora de sempre?”
  “Estarei te esperando.”

  - Se eu espremer o seu sorriso agora, tenho certeza que consigo mel. – Liv riu, me olhando.
  - Shh, ok?! – Era impossível não sorrir como uma besta enquanto falava com Zayn, fosse por mensagens, telefone ou pessoalmente. Tanto é que eu já desistira de disfarçar. – Ele não faz idéia que estarei de frente pra ele antes do que imagina!
  - São onze horas de vôo e o seu sai daqui às cinco horas da manha de amanhã, então faça as contas. – Liv sorria satisfeita, mas eu me desesperei mais ainda. – E não esqueça do fuso horário... Você vai chegar lá às oito da manhã!
  - Cinco horas da manhã, Olivia?!
  - Yep. – Me mostrou a tela do notebook, com a compra da minha passagem efetuada. – Melhor você agilizar a sua mala...
  - Pode me ajudar com isso? – Corri para dentro do closet e tirei de lá a minha maior mala de viagem. – Tenho que ligar para Rach... Ela é quem sabe dos detalhes de hotel e essas coisas.
  Olivia se levantou e segurou a minha mala, abrindo-a no chão para começar a fazer a seleção das coisas que eu deveria levar. Confiava no seu senso de moda, mas me mantive de olho nas peças que ela tirava das embalagens da Mulberry e colocava do mesmo jeito dentro da mala. Rachel, agora que não precisava mais ser a empresária dos meninos, se tornara a Bauty Stylist oficial da banda; afinal, tinha feito faculdade para isso. Com a idade chegando, ela aceitou que a sua carreira como modelo não duraria mais tanto tempo assim, então aceitou a primeira oportunidade que teve para mudar de emprego. Dessa forma, tinha que seguir a banda para qualquer lugar que fossem. Nas viagens mais curtas, Lux ficava com Sam, a sua tia por parte de mãe, ou até mesmo comigo. Mas em viagens longas como essa, a minha irmãzinha ia junto. Eu tinha certeza que ela era mimada pela equipe inteira, principalmente pelos cinco meninos que a tratavam como princesa. Disquei o número da minha madrasta, torcendo para que ela estivesse longe dos meninos. Não podia estragar a minha surpresa agora.
  - Rach, sou eu, . Mas se os meninos estiverem perto de você, não fala que sou eu! – Falei rápido demais, esperando que ela entendesse.
  - Fique calma, . – A mulher riu. – Estou com Lux no carro. Ela adormeceu e acabei ficando por aqui... Mas o que houve?
  - Ainda bem! É que vou fazer uma surpresa para os meninos...
  - Você vai vir? – Senti que ela sorria. – Eles vão pirar! Que dia você vem?
  - Vou sair daqui hoje de madrugada, tecnicamente, mas devo chegar aí pela manhã. – Informei, vendo Liv fazer o número oito com as mãos. – Vou chegar às oito da manhã. Bendito fuso horário...
  - Vai ser incrível, ! Você vai poder acordar os meninos! Acredite, eles não saem da cama antes das dez e meia da manhã. Principalmente o seu namorado; ele é o mais difícil de acordar.
  - Eu não vou atrapalhar ninguém, certo? – Perguntei enquanto entrava no closet para tirar de lá as peças que precisava levar.
  - Claro que não, boba. Eles só tem compromissos até o resto dessa semana. Depois disso terão duas semanas de folga pra aproveitarem a cidade!
  - Fico mais aliviada sabendo disso... – Com várias roupas em meu braço, as joguei em cima de Liv, que bufou. apenas ficou sentado na cama, observando tudo atentamente. – Qual é o endereço do hotel?
  - Não se preocupe com isso, , vou pedir que Paul vá lhe buscar!
  - Então já está tudo certo? – Sorri. – Vou arrumar a minha mala agora...
  - Traga roupas curtas, porque aqui está um calor infernal.

+++

  Não eram nem nove horas da noite ainda e eu já estava na cama, com ao meu lado, no travesseiro que costumava ser do meu namorado, e minha xícara da chá na mão. Estava cedo sim, mas eu teria que acordar mais cedo ainda no dia seguinte para pegar um vôo de onze horas, então teria que descansar enquanto pudesse. Dormir na cadeira do avião era uma opção, mas duvidava que fosse tão confortável quanto a minha própria cama. Minhas duas malas consideravelmente grandes estavam na sala, mas a maxi bolsa que eu levaria na mão estava em cima da minha escrivaninha. Eu iria passar algumas semanas em Los Angeles! Mal podia acreditar. É óbvio que coloquei todas as minhas roupas de banho e peças mais curtas na mala, sem querer deixar nada para trás. Liv riu muito quando eu tive que sentar em cima das duas malas pra conseguir fechá-las, mas pelo menos consegui fazer tudo caber sem precisar de uma terceira. Já podia até ouvir as piadinhas de Louis, falando que eu estava planejando me mudar para os Estados Unidos de vez, pela minha quantidade roupas. Mas para os meninos era muito fácil, porque eles podiam dividir suas roupas! Mas eu não, ora bolas. Ora bolas? Ainda se fala isso? Anyway.
  Com o computador aberto na minha frente, eu conferia mais uma vez os documentos que precisaria levar para poder entrar naquele país e fiquei bem tranqüila por já estar com tudo separado dentro de uma pasta na minha bolsa. me olhava tanto que chegaria a ser esquisito se ele não fosse um cachorro. Abri meio sorriso e me inclinei sobre o animal, sentindo o perfume de seus pelos recém lavados. Eu sentiria falta daquele bobão, mas seria por uma boa causa. Recebi lambidas na orelha que me fizeram rir. Eu já havia me acostumado em ser babada, mas as cócegas ainda me pegavam desprevenida. Teríamos começado uma brincadeira se um bipe na tela do computador não tivesse chamado a minha atenção. Era Zayn fazendo uma chamada de vídeo no Skype. Aceitei-a antes mesmo de ver se meus cabelos estavam apresentáveis. A figura de um Zayn sem camisa apareceu e me deixou sem palavras.
  - Boa noite, Anjo. – Ele sorria, apesar do cansaço aparente.
  - Você demorou hoje. – Fiz bico, mas logo tratei de completar com um sorriso maroto: - Mas valeu à pena...
  - Eu sabia que você ia gostar! – Gargalhou e flexionou o bíceps.
  - Agora mais do que nunca eu queria estar aí. – Ri, sentindo meu coração apertar. Eu sabia que estaria com ele em poucas horas, mas qualquer segundo que fosse já parecia longo demais.
  - Esse aí no meu travesseiro é o Bo? – Zayn perguntou e eu mexi o notebook para que fosse focalizado pela câmera.
  - Seu filho também sente sua falta! – Disse após voltar o foco pra mim.
  - Ele está é se aproveitando da minha ausência. Esse ainda é o meu lugar.
  - E vai continuar sendo, mesmo que cuide dele por um tempo. – Sorri, apoiando o cotovelo no joelho e o rosto na palma da mão. – Você está tão lindo...
  - Você é linda. – Sorriu de volta.
  - Falo sério, Zayn! – Ri baixo. – Gosto quando o seu cabelo está baixo assim...
  - Acabei de sair do banho, então não deu tempo de arrumar...
  - Prefiro ele assim. – Dei de ombros, mordendo o lábio quase sem perceber. Imaginá-lo tomando banho não era a coisa mais segura do mundo para se fazer. – Hey, eu estive pensando... Quando vocês ficam de férias?
  - Nossa agenda só vai até esse próximo final de semana e aí estaremos livres. – Puxou um travesseiro para deitar mais confortavelmente. – Mas você sabe como Marco é...
  - Esse seu empresário... – Balancei a cabeça. Marco fazia parte da equipe da Modest!Management e nós não íamos com a cara um do outro.
  - Por que, babe?
  - Porque, bem... O casamento da minha mãe é no final de julho... Então, se fossemos para Paris um pouco antes, poderíamos aproveitar a cidade, já que não fizemos isso da última vez que fomos lá.
  - E ainda poderíamos passar o seu aniversário lá. – Zayn sorriu, lendo os meus pensamentos. Não demorou muito para que ele começasse a bocejar.
  - Babe, vou te deixar dormir agora, ok? Você está caindo de sono!
  - Não estou nada! – Tentou fingir que estava sem sono, mas logo bocejou mais uma vez.
  - Você não me engana, Malik! Já pra cama.
  - Já estou na cama. – Resmungou, se achando muito esperto.
  - Agora desligue o computador e feche os olhos.
  - Quero ficar com você. – Fez um bico enorme.
  - Vai ficar comigo nos seus sonhos! – Disse com um sorriso, querendo abraçá-lo por causa daquela manha toda.
  - Diz que me ama? – Suspirou sonolento, se rendendo.
  - Eu te amo, baby-bear. – Falei e Zayn só riu do apelido. Nós sabíamos que não era dos melhores, mas eu gostava de chamá-lo assim e causava risadas da parte dele, então eram dois por um.
  - Eu te amo, princesa.

Chapter II

  Quatro horas da manhã pode parecer um horário muito cedo pra se estar no aeroporto... E é mesmo. Meu corpo pedia por cama, mas o resto de mim se encontrava bem animado para a viagem dos sonhos. Minhas malas foram despachadas, passagem retirada no check-in e, graças à empresa de câmbio, uma quantia razoável de libras havia sido trocada por dólares americanos. Mesmo com o clima que me esperava em Los Angeles estando quente, Londres ainda estava relativamente fria, apesar de ser verão, por culpa da pouca hora. Isso me obrigou a jogar um casaco aconchegante por cima da minha roupa de viagem. Faltavam dez minutos para que a British Airways começasse o embarque do meu vôo, então me permiti passear pelas lojinhas de “Free Shop”. Eu repetia para mim mesma que não iria gastar nada ali, mas não consegui resistir ao entrar em uma revistaria. “Ah, por favor, né? O vôo é longo e eu preciso de algo pra fazer durante onze horas!” Com esse pensamento, escolhi algumas edições de revistas de moda, que me renderiam longas horas de meditação, e um pacote de M&M’s de chocolate. Nunca gostei daqueles de amendoim!
  - É ela, mummy, eu tenho certeza! – Uma voz infantil chamou a minha atenção, na outra ponta da loja.
  - Filha, se comporte! – A mãe reclamou com a menininha que deveria ter no máximo uns oito anos de idade.
  - Fala com ela, por favoooooor? – A mais nova insistiu, me fazendo rir disfarçadamente. Eu já passara por tantas situações assim que estava acostumada.
  - Tudo bem, mas pare de manha. – Aceitou o convencimento da pequena e se aproximou. – Com licença?
  - Bom dia. – Respondi com um sorriso e acenei para a menininha, que riu envergonhada.
  - Desculpe incomodá-la, mas você conhece uma banda chamada One Direction? – A adulta perguntou. – Minha filha colocou na cabeça que você os conhece...
  - Ela é a namorada do Zayn! – A menininha corrigiu a mãe, cansada de não estar sendo levada a sério. Eu fiquei surpresa por ela ter falado que eu era namorada de Zayn, já que a maioria das meninas preferia me reconhecer como “irmã do Louis”.
  - Sou mesmo. – Sorri para ela e em seguida fitei a mãe da mesma. – Sua filha está mais do que certa.
  - Então ainda bem que não a confundimos! – Riu. – Se não for pedir muito, poderia tirar uma foto com ela?
  - Eu adoraria. – Afirmei e abaixei até ficar quase da mesma altura que a pequena. – Qual o seu nome, sweetie?
  - Amy. – Respondeu e me pegou de surpresa ao me dar um abraço.
  - Então você gosta de One Direction, Amy? – Retribui o abraço e a menina afirmou que sim com a cabeça. – Quem é seu preferido?
  - Ela vive dizendo que vai se casar com aquele dos cabelos cacheados. – A mãe a entregou.
  - Muuuuum. – Amy reclamou, sentindo-se envergonhada.
  - Vai se casar com o Harry? – Perguntei com uma risada. – Porque não tiramos uma foto com o meu celular também, pra que eu possa te mostrar para os meninos? Se não tiver problema com a sua mãe, é claro...
  - Problema algum!
  A adulta tinha preparado a câmera enquanto eu conversava com a sua filha e logo fiquei ao lado da pequena para que a nossa foto pudesse ser tirada. Em seguida, peguei meu iPhone no bolso da calça e pedi para Amy olhar para a câmera do aparelho, também tirando uma foto. A menininha era super adorável e nós conversamos mais um pouco até que a primeira chamada do meu vôo foi escutada. Antes de me despedir das duas, pedi para que esperassem algumas horas caso fossem postar aquela foto em alguma rede social. Eu e os meninos tínhamos sido instruídos a fazer isso sempre que encontrássemos alguma fã que pedisse fotos ou autógrafos; como uma forma de evitar confusão ou a invasão de novos fãs em qualquer lugar que estivéssemos. Aquela manhã, porém, pedi que não postassem ainda porque tinha medo que a minha viagem surpresa fosse desmascarada. As duas entenderam perfeitamente e aceitaram só postar a imagem depois de um tempo.
  Me dirigi até o caixa para pagar pelas minhas duas revistas e pacote médio de M&M’s. Que Liv não me visse com aquele chocolate, caso contrário, teria uma nova dieta me esperando assim que voltasse para a cidade. A balconista do Free Shop foi bem simpática e não enrolou ao embalar as minhas compras, já que viu que eu estava com certa pressa. O bom de estar levando uma bolsa de mão grande é que tudo cabe dentro dela. O ruim, por outro lado, é que torna mais difícil ainda achar qualquer objeto que seja ali dentro daquela entrada alternativa para Nárnia. Enquanto caminhava para a fila de embarque, tratei de pegar a minha passagem, pois era só o que eu precisaria mostrar por ali. Depois que a entrada preferencial teve fim, os passageiros comuns puderam entrar e eu fui atrás. No geral, a fila estava pequena. Comparando ao tamanho do avião internacional, o vôo seria bem vazio.
  Logo mostrei o meu ticket para a aeromoça e ela indicou o corredor que eu deveria seguir. Não olhei para trás em minuto algum, mas me despedi de Londres internamente. Eu estava prestes a embarcar em uma longa jornada que me levaria para um continente completamente diferente e isso me animava. Era a primeira vez que eu pisaria em terras americanas e não podia estar mais ansiosa. Óbvio que queria muito ver os meus meninos – Zayn em especial -, mas isso não significava que não fosse aproveitar o novo país, certo? Com um sorriso enorme, cumprimentei a aeromoça que estava me esperando na entrada da aeronave.
  - Bom dia! – Ela falou. – Posso ver o seu bilhete?
  - Claro... – Já havia mostrado a passagem para a primeira funcionária antes de embarcar, então agora só tinha o canhoto. – Está tudo certo?
  - Houve um pequeno problema na sua seção, senhora... – Disse ao ler o meu bilhete. – Então estaremos lhe transferindo para a primeira classe, para evitar transtornos.
  - Primeira classe? – Repeti animada. – Que tipo de problema foi esse?
  - Sua seção ficava no fundo do avião, certo? Bem... Tivemos um pequeno problema com o banheiro de trás.
  - Ah, entendi. – Fiz uma careta imaginando o que teria acontecido.
  - Queira me acompanhar, por gentileza.
  Afirmei que sim com a cabeça e a aeromoça passou por trás de uma cortina até chegarmos a uma curta escada em espiral que levava até o andar de cima. E pensar que eu nem precisei perguntar o que tinha no segundo andar daquele avião! Quando nós duas já nos encontrávamos na sessão da primeira classe, senti vontade de gritar, mas me contive. Devia fingir que estava acostumada com aquele luxo todo, ao menos na frente dos homens de negócios que não paravam de mexer em seus computadores ou aparelhos telefônicos. As poltronas eram bem espalhadas umas da outras e pareciam extremamente confortáveis. Sem falar na televisão particular que cada “mini-cabine” possuía. “Ok, talvez a minha viagem não vá ser assim tão entediante.”
  - Onde quer sentar? – A aeromoça me ofereceu a escolha.
  - Gosto da janela... – Minha resposta soou mais como uma pergunta e apontei para uma cadeira bem na frente, próxima á janela.
  - Fique a vontade. – Sorriu. – Já voltarei com o travesseiro e cobertor de cortesia. Gostaria de algo para beber?
  - Você tem chá gelado de pêssego? – Questionei, me segurando para não pedir champanhe.
  - Trarei em um instante. – Sorriu mais uma vez e se virou.
  - Isso vai ser bom... – Falei sozinha, me jogando na poltrona.

+++

  A viagem de onze horas e vinte minutos do Heathrow até o LAX pareceu ter durado apenas cinco. A primeira classe era bem mais glamorosa do que os filmes mostram. Bebi chá quase o trajeto inteiro e o banheiro daquela seção também parecia ser maior que o da minha casa. Assisti dois filmes, alguns desenhos, terminei de ler as minhas revistas, comi o café da manhã da companhia aérea e aproveitei os meus M&M’s de sobremesa; claro que não comi tudo, mas enfim. Dormi por seis horas e só fui acordar com o impacto que a aeronave sofreu ao pousar. Demorei uns dois minutos para me situar e entender que tinha chegado a Los Angeles. O relógio em meu pulso marcava onze horas da manhã, o que me fez quase gritar; então a aeromoça legal explicou que, por causa do fuso-horário, ainda era pouco mais de 8h20min em L.A. Não estava tão atrasada assim, pelo menos.
  Já na área de desembarque, mandei uma mensagem para Paul, avisando que só estava pegando a minha mala e já o encontraria na saída daquele salão. Ele infirmou que estava me esperando e que não acreditou muito no singular que usei para definir a minha “mala”. Ele me conhecia tão bem! Logo achei um carrinho e fui para as esteiras, esperando as malas começarem a sair. Como o vôo realmente foi vazio, consegui encontrar as minhas duas com certa facilidade, recebendo ajuda de um homem mais velho que eu para tirá-las da esteira e colocar sobre o meu carrinho; já que eu parecia fraca demais para conseguir carregá-las sozinha. Mesmo ainda estando dentro do aeroporto, pude sentir a diferença de temperatura já me obrigando a tirar o casaco e colocá-lo dentro da bolsa. E, aliás, coube perfeitamente.
  Empurrei o carrinho para o lado de fora da área de embarque e desembarque, dando de cara com centenas de pessoas que estavam ali para esperar seus amigos e parentes que chegavam de vários lugares do mundo. Paul, por outro lado, foi fácil de achar, já que era realmente grande. Tanto para cima quanto para os lados, pois ele era forte e alto, daquele porte normal de seguranças particulares. Mas o guarda-costas era tão fofo e simpático que eu realmente não sabia como alguém podia ter medo dele. Localizei a minha carona, rindo da placa que ele segurava: “Bem-vinda, !” enfeitada com vários desenhos infantis que julguei serem obra de arte de Lux.
  - Pauly! – Fui até ele e larguei o carrinho de qualquer jeito para poder abraçá-lo. – É bom te ver, grandão!
  - Também é bom te ver, baixinha. – Praticamente se curvou para me abraçar de volta. – Os meninos vão ficar loucos quando você chegar lá.
  - É o que eu espero. – Comentei indo pegar o carrinho novamente, mas o homem me impediu.
  - Essa é a sua mala pequena? – Gargalhou, começando a empurrar o objeto para que pudéssemos sair dali.
  - Acredita que ela se multiplicou? – Brinquei, seguindo-o na direção que deveria ser do estacionamento.
  - Claro que sim. – Ironizou. – Quer alguma coisa antes de irmos? Está com fome?
  - Eu comi tanto na primeira classe que não agüento mais nada...
  - Primeira classe? Alguém está mais posh do que eu me lembrava. – Riu.
  - Não sou posh! – Reclamei. – Foi um acaso, pra falar a verdade. Mas me diga... Os meninos estão te dando muito trabalho?
  - Como sempre. – Rolou os olhos, cansado, e passamos pelas portas de vidro que nos levaram ao lado de fora. – Bem vinda a Los Angeles, .
  O primeiro suspiro que soltei serviu para mostrar o quanto eu estava animada de finalmente ter chegado. Olhei em volta, me surpreendendo com as diferenças óbvias entre aquele país e o meu. L.A. já se mostrava bem calorosa, quente, animada e ensolarada. Minhas redundâncias são usadas pra dar ênfase, só pra constar. As palmeiras que eram tão conhecidas por fotografias agora estavam bem ali na minha frente, junto às pessoas de pouquíssima roupa que passeavam por ali. Todos pareciam ser artistas de cinema. Um assovio chamou a minha atenção e descobri que era Paul, já se afastando com velocidade em direção à van preta isolada no estacionamento cheio. Corri até ele, começando a me arrepender por não estar usando shorts. Logo começaria a suar e não era bem isso que eu planejava para o primeiro momento de encontro entre Zayn e eu depois de um mês.
  - Eu estou aqui há vinte minutos e já estou suando! – Ri sem reclamar de verdade. Ao menos sempre usava uma liguinha de cabelo em volta do pulso, tratando de usá-la pra prender minhas madeixas caramelo.
  - Isso porque ainda é cedo! Espere a tarde chegar. – Paul abriu a porta de trás da van, começando a guardar as minhas malas ali dentro. – Quando der três horas da tarde, você não vai querer sair de baixo do ar condicionado.
  - Pelo menos aqui tem praia! – Sorri animada com aquele pequeno grande detalhe. – Não lembro nem quando foi a última vez que mergulhei no mar...
  - Isso vai poder ser resolvido logo, porque o nosso hotel é em frente à praia. – Depois de ter guardado as minhas malas, o homem abriu a porta dianteira do passageiro para que eu pudesse entrar. – Pode avisar a Rachel que já estamos saindo daqui?
  - Aviso sim!
  Dentro do carro, esperei Paul dar a volta e também entrar. Diferente da Inglaterra, o volante ficava do lado esquerdo do carro. Logo quando eu começava a me acostumar a dirigir no lado direito, tinha que voltar para o esquerdo? Mas não vou reclamar! Essa viagem vai ser inteiramente feliz, sem nenhuma reclamação! Como alguém poderia reclamar estando na Califórnia? Eu com certeza não conseguiria. Aproveitando que o meu iPhone continuava no bolso do meu jeans, o peguei e digitei uma mensagem rápida para a minha madrasta:

  
“Pauly conseguiu me achar. Estou oficialmente em terras americanas. WOOHOO!”
  “Perfeito! E já estão vindo pra cá? Os quartos ficam no 7B. Vou avisar na portaria que você pode subir.”

  - Está avisada! – Respondi e travei o celular, pronta para apreciar a vista que passava pelo lado de fora da minha janela. – Os meninos tem a agenda cheia hoje?
  - Durante a tarde sim. – Começou a falar enquanto dirigia. – Vou ter que levá-los ao estúdio e depois a uma reunião com a Modest!.
  - Será que vem bomba por ai? – Perguntei calmamente, sem prestar atenção demais para aquela conversa.

+++

  - Rachel! – Quase gritei para a minha madrasta assim que a vi na ponta oposta do corredor. Eu acabava de sair do elevador no sétimo andar e ela já estava me esperando do lado de fora do quarto.
  - ! – A mulher fez o mesmo a me ver e corremos uma na direção da outra. – Como foi a sua primeira impressão de Cali?
  - Incrível! Parece um sonho e eu nem acredito que estou aqui. É tão... Quente! – Ri ao abraçá-la. – É tudo que eu sempre imaginei e muito mais. E essa praia aí na frente? Ela está me chamando.
  - Você vai ter muito tempo pra curtir a praia... E a piscina desse hotel também não é nada mal. – Sorriu e acenou para Paul que trazia as minhas malas. – Você vai ficar no quarto de Zayn, ok?
  - Sério? Que pena. – Brinquei.
  - Não se ele vai gostar disso, porque estava com um quarto só pra ele desde o começo! – Piscou. - Quem você quer acordar primeiro?
  - Como está a divisão dos quartos?
  - Lou e Haz estão naquele ali... – Apontou para o quarto de número 783B. – E Liam e Niall estão no seguinte. 784B. Você e Zayn vão ficar no fim do corredor, no 790B.
  - Vou pegar as chaves... – Paul explicou, voltando para a área do elevador.
  - Por mais que a tentação seja muito grande, vou começar por Zayn. – Mordi o lábio inferior. Ele odiava ser o primeiro a ter que acordar, mas era por uma boa causa. – Quero ver o meu quarto. Tenho que saber como é tudo, né?
  - Sim, claro! – Não acreditou na minha desculpa e tirou uma série de cartões magnéticos do bolso, procurando um em questão. – Essa é a minha chave reserva. Quando Paul voltar, ele te entrega as suas.
  - Obrigada... – Suspirei, pegando o cartão com o número do quarto do meu namorado. – 790, certo? Fim do corredor?
  - Vá ser feliz! – Riu e a obedeci.
  Mesmo que eu duvidasse conseguir sair do quarto de Zayn depois de acordá-lo, tinha que vê-lo antes dos outros. Não é que eu não estivesse com saudades do meu irmão, cunhado e amigos queridos, mas era do meu namorado que estávamos falando ali! Corri até o final do corredor, parando apenas quando estava de frente para a porta do último quarto. Passei o cartão na fechadura e um pequeno clique a destrancou. Abri com todo cuidado do mundo, espiando pela fresta antes de entrar. O quarto estava frio, comparado ao resto da cidade. O ar condicionado devia ser muito potente, pois quase senti como se estivesse em Londres novamente. Com a pouca luz, não consegui ver muitos detalhes do quarto, mas enxergava nitidamente a figura masculina jogada na cama de casal. Sem conseguir controlar os meus sorrisos, tirei os tênis dos pés e deixei a minha bolsa pelo chão mesmo.
  Caminhei na ponta dos pés até a janela do quarto, me surpreendendo por ela tomar conta de uma das paredes inteira. Abri uma brecha da persiana só para que o que quarto pudesse ser mais iluminado e assisti enquanto Zayn se mexia na cama. Sua parte de cima estava nua e a de baixo era coberta pelo lençol branco. Conhecendo suas manias de dormir, ele só devia estar usando uma boxer; o que tornou muito difícil o meu trabalho de não espiar. Soltei os cabelos para ficar mais confortável e voltei a guardar a liga em volta de meu pulso. Ao menos agora eu não estava mais suando e nem fedendo. A cama do hotel era extremamente convidativa, principalmente quando o menino deitado nela se mexeu e deitou de barriga para cima, revelando a barra de sua cueca. “Bem como eu desconfiava!”
  Cautelosamente e torcendo para não fazer movimentos bruscos, deitei na cama ao lado daquele menino sonolento. Não me importei em me cobrir, apenas fiquei observando-o dormir; hábito que eu realmente sentia falta. O peito tatuado do meu namorado subia e descia tranquilamente enquanto ele respirava, completamente afastado de qualquer preocupação, por menor que fosse. O examinei mexer as pálpebras como se estivesse sonhando e tive pena de acordá-lo. Deslizei a ponta dos dedos pelo torso masculino ao meu lado, dedilhando cada curva, cada subida e descida dos músculos relaxados. Zayn não era do tipo bombado e também não era seco. Pra mim, o resultado perfeito. Achei impressionante que até quando estava dormindo sozinho, Zayn ocupava o lado direito da cama, deixando o esquerdo pra mim. Peguei o travesseiro que estava sobrando e me acomodei, ainda passando os dedos pela pele do menino.
  Subi o indicador até o pescoço de Zayn, rindo baixo quando ele mexeu o rosto. Antes que eu percebesse, o menino passou o braço em cima da minha barriga e me puxou pra perto. Não sei se ele estava sonhando com aquilo ou foi um ato automático, mas tinha certeza que não acordara. Suspirei e me acomodei nos braços daquele menino que eu tanto amava. O olhei de perto e já pude sentir um pouco do seu perfume, sem conseguir resistir por mais muito tempo. Meu rosto estava bem na região de encontro entre o pescoço e o ombro de Zayn, que era mais do que uma tentação. Delicadamente encostei os lábios ali e comecei a distribuir beijos, arrastando a boca até abaixo da orelha dele.
  - Acorda, baby... – Sussurrei manhosa.
  - Hm, hmmm... – Ele resmungou. – Se isso for um sonho, não me acorde...
  - Não é um sonho, Zayn... – Voltei a rir baixo, achando bem engraçado aquela moleza toda. O cutuquei na ponta do nariz devagar. – Abre os olhinhos...
  - Não quero acordar... Se acordar vou ter que te deixar. – Murmurou, apertando os olhos com força.
  - Mas eu estou aqui... – Toquei a lateral de seu rosto e a puxei pra mim, encostando os nossos lábios sem me importar se ele tinha escovado os dentes ou não.
  - ? – Após sentir o meu beijo, Zayn abriu um dos olhos. Seus neurônios estavam tendo um pouco de dificuldade para se situar. – ? Você... Hã? Eu te vi... O que?
  - Você fica tão fofo quando está acabando de acordar. – Ri e o abracei com força, puxando-o pra cima de mim. – Você está em Los Angeles e eu estou aqui também. Cheguei hoje de manhã. Vim te ver. Entendeu?
  - ! – Separou o abraço pra poder olhar pra mim. Aproveitou para me cutucar inteira, tendo certeza de que era eu mesma. – Babe, você está aqui, em carne e osso!
  - Para com isso, Malik! – Gargalhei pelas cócegas que estava sentindo e sentei na cama, sendo puxada para mais um abraço. – Também senti a sua falta...
  - Eu te vi ontem a noite! Como pode estar aqui hoje? – Encheu o meu rosto de beijos, deixando o sono de lado. – Não importa. O importante é que você está aqui! Tenho tantas coisas pra te mostrar!
  - E você vai mostrar, só...
  - Você pintou o cabelo! – Sorriu, sentando na cama e mexendo nos meus fios claros.
  - Baby, você já sabia disso!
  - Eu sei, mas tinha esquecido. Você está linda! – Segurou meu rosto com as duas mãos, me puxando para um beijo mais longo que o primeiro.
  Ele estava feliz ao me ver e não preciso nem dizer que estava da mesma forma. Depois de acordar, Zayn costumava ficar umas duas horas se situando para então agir com sua energia normal. Naquela manhã, porém, ele era movido por baterias, porque deu um pulo da cama e terminou de abrir a cortina. A nova claridade machucou os meus olhos, mas eu o achava lindo demais com aquela animação toda pra me importar. Finalmente pude observar o quarto de hotel que conseguia ser maior que o meu de casa. No canto direito havia uma mini cozinha com frigobar, microondas, fogão pia. Mais para trás, uma pequena sala com um sofá, mesa de centro e uma TV pendurada na parede. À esquerda, um guarda roupa embutido e a porta que dava para o banheiro da suíte. A parede atrás da cama era coberta pela janela, mas assim que a cortina foi aberta totalmente, notei que não era bem uma janela e sim vidros que davam para a varanda do lado de fora. Fiquei de joelhos na cama e me encantei com a vista. Aquele quarto era virado para a praia, então no horizonte só havia o azul do mar e o céu.
  - Zayn, abre essa porta! – Niall bateu na madeira. – Rach disse que tem uma surpresa pra gente aqui.
  - , vai se esconder no banheiro! – Zayn sussurrou com um sorriso sapeca. – Já vou abrir! Só estou... Me vestindo.
  - Shhh... – Falei sozinha, tapando a minha boca para não rir alto e me fechei no banheiro.
  - Pronto, pra que a pressa? – Escutei Zayn abrir a porta e passos corridos entrando no quarto.
  - Cadê a surpresa? – Escutei Liam perguntar.
  - Isso aqui é uma bolsa de mulher?! – Lou deve ter visto a bolsa que esqueci no chão do quarto. – Você passou a noite com alguém, Zayn?
  - Você não faria isso com a ... – Harry soava horrorizado.
  - Desculpa, caras... Não deu pra me segurar. Sou homem, tenho minhas necessidades. – Zayn mentiu. Eu só esperava que nenhum dos meninos batesse nele.
  - Como você pode fazer isso, Zayn?! – Liam começava a se revoltar. – É retardado? Bebeu muita água na banheira?
  - Onde está a vadia? – Louis gritou. Eu começava a me preocupar. – Quero ela fora daqui agora!
  - Está no banheiro. – Zayn falou, sem nenhum pingo de remorso na voz. – Pode sair agora, gata...
  - Gata? – Niall repetiu, chocado.
  Abri a porta devagar, louca pra ver a cara que eles fariam ao ver que era apenas eu. Os quatro meninos esperavam impacientemente a amante de Zayn sair do banheiro e suas expressões foram de “eu vou matar esse menino” para “é o melhor dia da minha vida” em questão de segundos. Abri os braços em uma pose de modelo assim que pude ser vista por todos e os quatro gritaram tantas coisas ao mesmo tempo que não consegui entender nenhum deles. Zayn estava sentado na cama, me olhando com aquele sorriso apaixonado. Falei um “SURPRESAAA” e fui agarrada. Literalmente agarrada. Liam correu até onde eu estava e me envolveu pela cintura, me abraçando tão forte que fiquei um pouco sem ar. Acabei tirando os pés do chão ao ser girada e logo os outros três se juntaram àquele abraço.
  - O que você está fazendo aqui?! – Lou perguntou com um sorriso enorme após eu ser solta.
  - Não eram vocês que passaram semanas insistindo pra eu vir? – Sorri ao arrumar a minha roupa que quase foi arrancada do lugar. – Vim passar um pouco das férias em Cali.
  - Agora vamos poder aproveitar! – Harry me deu mais um abraço e dei uma boa olhada nele.
  - Você está bronzeado! – Ri. – Niall, você está vermelho!
  - Tivemos um tempinho de folga ontem e aproveitamos na piscina. – Ni sorriu, encantado com aquela história toda de eu estar ali.
  - Piscina? Com essa praia linda aí na frente? – Os reprovei com o olhar e me sentei na cama, ao lado de Zayn, sendo envolvida em um abraço de lado.
  - Rachel disse que só podemos ir para a praia depois que ficarmos livres. – Lou fez bico. – Ela está parecendo a madrasta da Cinderela.
  - Hey, ... – Niall me chamou. – Você… Veio sozinha?
  - Desculpa, Ni, não veio comigo. – Fiz um bico de lado.
  - Não estava querendo saber dela... – Tentou disfarçar a sua decepção. – Queria saber se a namorada do Li veio junto.
  - Dani está viajando com a equipe do X Factor. – Liam explicou.
  - Como ela está, aliás? Faz tempo que não nos falamos... – Comentei, recebendo um beijo na bochecha de Zayn.
  - Muito bem. – Sorriu bobo. Ele estava claramente apaixonado pela namorada de três meses.
  - Desculpa acabar com a festa... – Rachel entrou no quarto, trazendo as minhas malas.
  - Vão tomar banho! – Paul vinha atrás, com Lux em seus braços. – Temos que estar no estúdio em uma hora.
  - Paaaaaul... – Louis se jogou na cama de Zayn, escondendo o rosto em um travesseiro.
  - Como acha que vou deixar a minha garota agora que ela acabou de chegar? – Zayn também se escondeu, mas fez isso no meu pescoço.
  - Vão logo, meninos, é sério! – Rach também mandou. – Hoje é sábado e vocês estarão de férias oficialmente na segunda, então deixem de preguiça!
  - vem pro estúdio com a gente, né? – Harry foi o primeiro a se mexer para sair do quarto.
  - Vocês sabem o que o Marco diz... – Minha madrasta mexeu os ombros; ato que queria dizer “não posso ajudar dessa vez”. – Nada de distrações.
  - Poxa. – Fiz bico. – Eu prometo que não atrapalho...
  - Foi mal, , mas você vai ter que ficar. – Paul balançou a cabeça, esticando Lux na minha direção. – E ainda vai ganhar uma filha de presente.
  - Vou ficar com essa princesa? – Sorri, esticando os braços para a menina que ria por estar sendo sacudida no ar. Zayn parecia não querer me soltar, então não pude levantar e ir até ela.
  - , ajuda! – Minha irmã pediu, ainda morrendo de rir.
  - Você não se importaria, certo? – A mãe dela perguntou. – Eu a levaria junto, mas não é bem um ambiente para crianças.
  - Claro que não me importo! – Lutei para conseguir me soltar de Zayn, que fez um barulho de dinossauro ao tentar me manter presa em seus braços. – Podemos ir para a praia, tomar sorvete, nadar...
  - Ah, que ótimo, vocês vão se divertir e nós temos que trabalhar! – Liam resmungou, cruzando os braços.
  - Eu já estou de férias! Vocês não. – Mostrei a língua pra quem quisesse me olhar.

+++

  - Então, Lux, o biquíni rosa ou o azul? – Mostrei pra ela as duas opções que consegui encontrar na gaveta que Rachel me explicara ser das cosias da pequena.
  Eu já estava completamente vestida, mas a minha irmã mais nova parecia não conseguir se decidir. Para uma menina de quase dois anos de idade, ela tinha uma opinião muito forte. Passava das duas e meia da tarde e ambas já havíamos almoçado e esperado uma hora pra poder nadar. A loirinha estava muito animada em ir para a praia, já que Rachel não tivera tempo de levá-la nem do outro lado da rua. Lux passeava pelo quarto quase pelada, usando apenas uma fralda a prova d’água que eu já vestira nela. Apesar disso, ela queria porque queria uma roupa de banho bem bonita pra usar por cima.
  - O rosa. – Depois de muito pensar, escolheu o que iria vestir.
  - O rosa será! – Sorri, ajudando-a a entrar o biquíni infantil.
  - , podemos tomar sorvete? – Perguntou com um sorriso fofo que conseguiria qualquer coisa de mim.
  - Você leu meus pensamentos, Lux. – Ri, passando os bracinhos gorduchos da menina pela parte de cima da roupa. – Quero um bem grande...
  - O meu vai ser maior! – Distanciou uma mão da outra, mostrando o tamanho do sorvete que iria tomar.
  - E de qual sabor você vai querer? – A deixei sentada na ponta da cama e voltei para a gaveta, pegando um vestidinho azul que ela poderia usar por cima.
  - Morango, chocolate, manga, abacaxi... – Foi contando nos dedinhos enquanto falava.
  - Tantos assim? – Ajoelhei de frente pra ela e a fiz levantar os braços mais uma vez. – É melhor eu levar muito dinheiro então.
  - Pede pro Harry. – Lux falou, me surpreendendo. – Ele tem um tantão na carteira...
  - Harry está rico agora, não é? – Ri e fiz cócegas na espertinha. – Pronto. Agora calce o seu sapato e poderemos ir...
  - Cadê?
  Não precisei responder, pois Lux logo correu para um canto do quarto e olhou embaixo da poltrona. Como ela se lembrava de onde deixava os sapatos eu não fazia idéia. Peguei a minha bolsa que continua uma toalha para mim e para Lux, a minha carteira, chaves de todos os quartos e ainda algumas outras coisas básicas que poderíamos precisar. Abri a porta para sair enquanto Lux terminava de calçar as suas sandálias. Minha irmãzinha estava crescendo cada vez mais rápido. Ela não era mais o bebê rechonchudo que eu gostava de apertar. Agora começava a ganhar tamanho e afinar, mesmo que ainda tivesse uma barriguinha muito fofa. Por mais que não gostasse de falar o tempo todo, a criança dominava o vocabulário completo e tinha alguns raciocínios muito inteligentes para a sua idade; como da carteira de Harry, por exemplo.
  Depois de pronta, a menina me seguiu para fora do quarto e segurou a minha mão para atravessarmos o corredor até o elevador. A levantei para que ela conseguisse apertar o botão de chamar o elevador, mas a coloquei no chão em seguida. Com uma personalidade que com certeza puxou de mim, Lux só gostava de ficar no colo quando queria. Imagine o trabalho que daria pra atravessar alguma avenida movimentada com ela. As portas automáticas se abriram rapidamente e nós duas pudemos entrar. Enquanto Lux mexia o seu vestido de frente para o espelho, fui distraída por uma propaganda em um quadro de avisos que havia ali dentro; o qual eu não notara antes. “Summer Fest”, era do que o panfleto se tratava. Aparentemente esse Summer Fest aconteceria no próximo final de semana, com várias atrações para todas as idades. Me aproximei para ler o nome das bandas que estariam se apresentando e levei um susto ao ler o nome de uma em especial: “Emblem3.”
  Sem nem pensar direito no que estava fazendo, chamei Lux para sair do elevador assim que chegamos ao andar do térreo e fui tirando o celular da bolsa. Ela já conhecia aquele hotel melhor do que eu, então segurou a minha mão e nos guiou até a saída enquanto eu torcia mentalmente para ainda ter o número que procurava na agenda. “Wes, Wes, cadê você?!” Me perguntava sozinha até chegar na letra S. Eu me esquecera que o sobrenome dele era Stromberg, caso contrário teria encontrado o que procurava bem mais rápido! Uma vez no lado de fora do hotel, aquela brisa quente bateu no meu corpo e já me senti começando a suar mais uma vez. Segurando firme na mão da minha irmã, caminhamos até a faixa de pedestres mais próxima, para esperar o sinal fechar.
  - Espero que ele atenda... – Pensei alto, levando o iPhone até a orelha.
  - ? – A voz masculina atendeu.
  - Você lembra de mim?! – Perguntei com uma risada. Fazia muito tempo que não nos falávamos.
  - É claro que sim! – Wesley também riu. – Só achei que você nunca mais fosse ligar!
  - Engano seu. – O sinal para os pedestres finalmente foi aberto e pude guiar Lux para atravessar. O policial que estava ali na frente também nos ajudou muito. – Você está em Cali?
  - Yeah, estou em casa. Por que?
  - Bem, você me disse pra ligar quando fizesse uma visita à Califórnia, então...
  - Você está aqui?! Onde?
  - Em L.A! – Comemorei, tendo cuidado para não ser atropelada pelas pessoas que patinavam ou andavam de bike pelo calçadão. – Para ser mais exata, em uma praia chamada Venice. Conhece?
  - Não perde tempo mesmo! – Ele riu. – Estarei aí em trinta minutos.
  - Fala sério?
  - E vou te ensinar a surfar. – Pude sentir a certeza em sua voz, mas eu duvidava muito que fosse aprender alguma coisa. – Keaton, acorda, vamos sair!
  - Pobre Keath! – Balancei a cabeça sozinha. – Vejo vocês em trinta minutos então...
  - Faça vinte.
  Com essa promessa impossível, desligamos a ligação. Eu me lembrava muito bem de Wesley me falando que da casa dele até Los Angeles o trajeto era de quarenta minutos, sem trânsito. Queria saber como ele conseguiria chegar ali em vinte! Guardei o celular na bolsa mais uma vez e olhei para Lux, cujos olhos brilhavam ao olhar para o mar a nossa frente. Passado o calçadão, nossos pés entraram em contato com a areia branca da praia. Nós duas tratamos de tirar os sapatos para sentir a natureza em baixo de nossos pés e a mais nova riu como se estivesse sentindo cócegas. Um homem muito simpático perguntou se gostaríamos de um lugar na areia e logo aceitei, sem saber muito bem do que ele estava falando. Esse senhor nos guiou até um ponto mais afastado da bagunça toda, mas ainda assim a uma distância segura do mar, e montou um guarda sol e duas espreguiçadeiras. Se apresentou como J.C. e informou que se quiséssemos beber qualquer coisa era só avisar que ele providenciaria. Meu sotaque francês falando inglês denunciou que eu era estrangeira e só torcia pra que ele não quisesse me dar algum golpe ou algo do tipo.
  - Chegamos, Luxy! – Sorri sem nem acreditar que estava mesmo ali. Deixei meus sapatos na areia e a bolsa em uma das cadeiras.
  - Quero nadar! – Ela também soltou os chinelos e pulou, se apressando para tirar o vestidinho.
  - Deixa eu te ajudar com isso... – A livrei da peça de roupa, mas a segurei antes que pudesse fugir. – Mas você tem que me esperar! Sua mãe me mata se algo acontecer com você.
  - Anda logo! – Me apressou.
  - Já to indo!
  Ri, tirando a minha camiseta e partindo para o short jeans em seguida. Alguns olhares que recebi ao fazer isso me fez questionar se a dieta e exercícios que vim fazendo sofreram efeito ou se a minha pele branca demais era tão óbvia assim se comparada aos corpos bronzeados das mulheres ao meu redor. Sem querer ficar mais tempo ali para descobrir, olhei para a minha irmã, falando que quem chegasse por último seria a mulher do padre. Já dá pra imaginar a carreira que ela deu em direção à água. A deixei ir na frente, mas não fiquei pra trás por muito tempo, partindo no mesmo caminho. Meus pés afundavam na areia, me fazendo ser mais lenta do que o esperado. Apesar disso, a sensação era maravilhosa. O Sol queimando a minha pele, o sal do mar sendo assoprado para os meus cabelos... Aquilo sim era um verão de verdade.
  - Ganhei! – Lux comemorou ao parar de correr quando a água azul do mar chegou aos seus joelhos. – é a mulher do padre!
  - Não sou não! – Fiz bico e a acompanhei, me abaixando para jogar um pouco de água na menina.
  - Paaaaara! – Riu e tentou fazer o mesmo que eu, mas acabava se molhando mais do que a mim. – Ai...
  - Caiu, baby girl? – Ri ao observá-la cair de bunda na água. – Quer ir mais pro fundo?
  - Quero! – Esticou as mãos para que eu a levantasse. – Você sabe nadar?
  - Sei sim... – Respondi assim que começamos a andar mais para o fundo. A maré estava calma, então as ondas que batiam nos meus calcanhares eram bem fracas.
  - Eu não sei.
  - Mas você vai aprender logo, eu tenho certeza! – Parei de caminhar quando meu joelho já estava submerso e a água batia na metade da barriga de Lux. – Sabe quem também não sabe nadar?
  - Quem? – Ela perguntou e eu me sentei na água, sentindo o meu corpo ser instantaneamente refrescado.
  - Zayn! – Ri, segurando-a nas mãos para que pudesse se abaixar com segurança.
  - Mas ele já é grande! – Tentou sentar também, mas parou quando o nível do mar bateu em seu pescoço. – Eu sou pequenininha.
  - É sim, você é desse tamanho aqui. – Juntei o polegar e o indicador, mostrando o tamanho que ela era.
  Paramos de conversar quando Lux começou a querer mergulhar. Ela tapava o nariz com a mãozinha e fechava os olhos com muita força, temendo que eles ardessem. Ainda segurando uma das mãos da mais nova, a ajudava a voltar para a superfície depois que ela mergulhava. Logo nós duas mergulhamos ao mesmo tempo e era uma delicia sentir o meu corpo inteiramente molhado por aquela água fria, mas que caia perfeitamente com o clima quente de Los Angeles. A nossa volta, pessoas brincavam, nadava, e se divertiam. Mais para o fundo, outros se aventuravam a pegar ondas. Uns se dando bem, mas outros falhando miseravelmente. Eu com certeza seria uma dessas a falhar e só esperava não pagar um mico muito grande.
  Cansada de ficar ali na água e já querendo se distrair com outra coisa, Lux pediu para ir brincar na areia. Obedecendo-a, saímos da água e caminhamos de volta para a nossa “barraca”, sem correr dessa vez. Ela se sentou na areia e me fez fazer o mesmo. Não tínhamos nenhuma pá ou brinquedo de praia, mas fizemos o melhor que pudemos com as nossas próprias mãos. Enquanto Luxy fazia um castelinho de areia meio deformado, eu me concentrava em procurar um tesouro dentro do buraco que estava cavando. Não sabia mais que horas eram – principalmente por ainda estar meio avoada por conta da troca de fuso horário -, porém, sabia exatamente quem eram os dois meninos que se aproximavam por trás de nós e enfiaram duas pranchas de surf ao nosso lado; uma sendo maior que a outra.
  - Cachorrinho! – Lux apontou para o cachorro branco que Wes e Keath trouxeram com eles.
  - Ei, coisa fofa! – Sorri quando o pequeno se aproximou para me cumprimentar.
  - Sampson gosta de você. – Keaton foi o primeiro a falar, já indo cumprimentar a pequena ao meu lado. – E quem é essa princesinha?
  - Essa é a minha irmã Lux. – A apresentei, levantando a tempo de observar Wes tirar a camisa. – Você está mais forte do que eu me lembrava!
  - E você está loira! – Ele riu, me puxando para um abraço.
  - Não estou! – Ri. – É a luz.
  - O que você está fazendo aqui do outro lado do mundo? – Wes perguntou. Aparentemente Keaton tinha se distraído muito com a minha pequena.
  - Os meninos estão aqui pra divulgar a banda e tal. Daí eu aproveitei e vim passar algum tempo nessa terra quente! – Expliquei.
  - Ah, nós os ouvimos na rádio semana passada, lembra? – Falou para o irmão, que mal ouviu. – Acho que perdemos os dois.
  - Lux sempre gosta de ter alguém da idade dela pra brincar. – Alfinetei e fiz Wesley rir. – Aliás, não sabia que cachorros eram permitidos aqui.
  - Se forem pequenos, são sim. – Falou ao se espreguiçar, olhando para o cachorro branco que relaxava embaixo do guarda-sol.
  - Ele é muito fofo! – Sorri, desejando que estivesse ali também. – O meu ficou em casa. Tenho um Husky Siberiano.
  - Huskys são bem legais também! – Keath comentou. – São tão elegantes e majestosos...
  - O meu é um bobão desastrado. – Afirmei e olhei para as pranchas. – Vou aprender a surfar, é?
  - Eu não poderia deixar você vir até a Califórnia e não prender a surfar. – Wes colocou as mãos na cintura de forma mais máscula do que isso soa e sorriu pra mim.
  - Então vamos para a água! – Comemorei com uma dancinha esquisita e rápida, sem nem me importar com os olhares que a minha infantilidade atraía. Antes que eu pudesse ir em direção o mar, o menino me impediu. – O que foi?
  - A primeira fase da aula é na areia. – Explicou enquanto colocava a prancha menor deitada na nossa frente.
  - Weeeee. – Pulei em cima da prancha e fingi estar surfando sobre ela. – Viu? É fácil.
  - ficou doida. – Lux riu, ainda brincando com Keaton e Sampson.
  - Hey! – Cruzei os braços.
  - Vocês passaram protetor solar? – O mais novo perguntou.
  - Antes de sair do hotel... – Respondi e os olhei. – Ela está ficando vermelha?
  - Rosada. – Riu.
  - Tem mais dentro da minha bolsa... Pode passar nela, por favor?
  - Yep.
  - Obrigada. – Sorri, me virando para o irmão mais velho. – Vamos começar? Vou te mostrar como sou boa em cima de uma prancha!
  - Quero ver você dizer isso daqui a meia hora.

+++

  Wes estava certo, porque eu não voltei a repetir aquilo. Se muito, disse exatamente o contrário. Surfar era mais difícil do que parecia, acredite. Não que eu esperasse pegar o jeito em um dia só, mas tinha esperança de ao menos conseguir ficar de pé! Depois da nossa sessão na areia, finalmente consegui arrastar Wes até a água. Ele não pegou a outra prancha, mas me acompanhou a nado mesmo. Na minha primeira tentativa de pegar onda, consegui chegar até a areia ainda em cima da prancha, mas aparentemente estar deitada sobre ela não conta. Na quarta vez, pelo menos, dei conta de ficar de quatro. Não foi uma cena muito bonita de se observar – ou talvez bonita demais, se é que me entende – e algumas pessoas já começavam a se envolver e torcer por mim quando eu chegava nas margens. Demorei mais umas duas tentativas pra conseguir ficar de joelhos, mas esse foi o máximo que eu consegui antes que a minha sessão de quedas começasse. Ao menos era gostoso sentir a temperatura da água na minha pele que já começava a queimar.
  Uma coisa que descobri sobre os paparazzis de Los Angeles... Eles respeitavam mais o espaço das pessoas do que os de Londres. No começo, uns dois fotógrafos apareceram e imaginei que estivessem tirando fotos da paisagem, mas comentário “Como eles nos acharam aqui?” que Wes soltou enquanto ainda estavam na água fez a minha inocência ir embora. Eventualmente outros começaram a se juntar aqueles primeiros e quando fui perceber, todo lado que eu conseguia olhar estava repleto por esses “profissionais” que podem ser muito irritantes as vezes. Pelo lado bom, nenhum deles ficou em cima de nenhum dos integrantes do Emblem3 o que também serviu pra mim.
  - Desculpe por isso... – Wesley comentou ao meu lado quando os paparazzis tiravam fotos nossas ao sair do mar; ele carregando a prancha que eu usara até então.
  - Está tudo bem. – Sorri, já estando acostumada com aquele tipo de atenção. – Só espero que a sua namorada não fique com ciúmes.
  - Não tenho namorada. – Deu de ombros, batendo com a ponta da prancha na minha bunda de propósito, me causando risadas.
  - Então espero que o meu namorado não fique com ciúmes... – Pela primeira vez desde que ligara para Wesley no elevador comecei a pensar naquele pequeno detalhe. “Bem, acho que não adianta me preocupar com isso agora, certo?” Com aquele pensamento em mente, corri o resto do caminho até a minha barraca. – Viu a sua irmã surfando, Luxy?
  - Vi você caindo! – Gargalhou, tirando uma com a minha cara.
  - Engraçadinha. – Sentei embaixo do guarda Sol e a puxei para o meu colo, atacando-a com cócegas.
  - Para, paaaaaaaaaaaara! – Pedia em meio a risadas, mas não a obedeci até ver o canto da sua boca sujo de chocolate.
  - O que é isso, mocinha? – Perguntei quando ela já estava de volta na areia.
  - Ops. – Cobriu a boca com as mãozinhas.
  - Ela nos descobriu, Lux. – Keath bagunçou o cabelo loiro da menina. – Eu dei um sorvete pra ela, , espero que não tenha problema.
  - Problema algum! Eu tinha prometido a ela que tomaríamos sorvete, mas esqueci... – Fiz um meio bico e olhei para Wesley que cumprimentava meninas que não paravam de chegar desde que eu me sentara. – Fiquei distraída e culpo o seu irmão.
  - Ele desperta isso nas garotas. – Keath comentou e percebi o possível duplo sentido na minha frase.
  - Não foi isso o que eu quis dizer... – Tentei me corrigir, mas era tarde. Keaton levantou e foi até o irmão. – Será que eu fiz algo errado?
  - Você mexeu no que não devia? – Lux ainda me escutava.
  - Huh? – A olhei enquanto começava a fazer carinho no cachorro branco que se escondia embaixo de uma das espreguiçadeiras.
  - Mummy sempre diz que é errado mexer no que não deve...
  - Não conta pra ninguém, tá? – Ri, brincando. – Quer dar mais um mergulho?
  - Tenho uma idéia melhor. – Keath havia retornado, dessa vez trazendo Wes.
  - Porque não vamos todos surfar? – O mais alto sugeriu.
  - Claro! Porque não deixo a minha irmã que não sabe nadar subir em cima dessa prancha que quase me afogou? – Perguntei irônica.
  - Por favoooooor, . – Lux já levantara e tentava me convencer. Para ela tudo era seguro.
  - Não estou falando pra ela ir sozinha! – Wes pegou a prancha grande que estivera largada desde então e a segurou embaixo do braço direito. – Essa aqui, é chamada prancha de SUP.
  - Sup? Tipo... Suuup, dude? – Imitei o sotaque americano da melhor forma que pude, mas, assim como no surf, falhei miseravelmente e só provoquei risadas.
  - Não, dude. – Wes esticou a mão na minha direção. – Stand Up Paddle. SUP. Eu vou em pé, remando... E vocês, princesas, vão sentadas. Prometo que vou devagar.
  - Nesse caso... – Sorri e segurei a mão dele, sendo puxada do chão. – Vamos Lux?
  - Eu levo ela. – Keath parecia ter gostado mesmo dela, pois logo a carregou.
  - Quando eu tento carregá-la, a menina quase tem um chilique! – Comentei, reprovando a minha irmã com o olhar. – Acho que é um padrão... Lux também é louca pelo Harry.
  - Ela sabe do que gosta, desde cedo. – Wes riu. – Vem, Sampson!
  Nós cinco – o que também incluía o cachorro – fomos andando em direção ao mar azul. O fuzuê causado pelos dois meninos tinha diminuído bastante, mas algumas pessoas ainda os fotografavam ao longe, provavelmente me pegando em alguma das fotos. Eu teria me preocupado por estar só de biquíni se não estivesse em um país completamente longe do meu e de todo mundo que me conhecia. Ao menos essas fotos não teriam como chegar aos olhos do meu pai. Sem falar que Los Angeles tinha esse toque de liberdade que contagia qualquer um.
  Quando a água bateu em meus joelhos, Wesley deitou a prancha na água e desamarrou um remo que ficava preso embaixo dela. O pobre cachorro vinha nadando atrás de nós e foi o primeiro a subir naquela prancha. Ele logo se sacudiu e espirrou água em todos que estavam por perto. Segurando a prancha para que ela não virasse, o mais alto me ajudou a sentar na parte da frente. Keath logo me entregou Lux, que quis ficar sentada na minha frente e não no meu colo; como planejado. Deixei que ela fizesse como queria, mas a segurei pela cintura. Wes ficou de pé atrás de mim e começou a remar enquanto Keath voltava para a areia para pegar a prancha que estava sobrando.
  - Prontas para a aventura? – O menino atrás de mim perguntou.
  - Siiiiiiim! – Lux bateu palmas.

Chapter III

- Baby, tem certeza que não quer vir?
  Eu tentava convencer meu namorado a levantar da cama antes das nove horas da matina, o que já sabia ser um caso perdido. Mas não podia culpá-lo, afinal, era a primeira manhã de folga que ele teria em longos meses de trabalho duro. Harry e Niall, por outro lado, já estavam de pé e me esperavam do lado de fora do quarto enquanto eu trocava de roupa. Segunda feira não costuma ser um dia muito agradável, mas quando se está de férias qualquer dia parece sexta-feira. Louis, Rachel, Liam e Lux também saíram da cama cedo e foram fazer compras em um shopping próximo ao nosso Hotel. Diferente deles, eu e os dois garotos que me aguardavam pretendíamos curtir as acomodações daquele lugar. Segundo Paul – que já estava na piscina – uma aula de aeróbica começaria em dez minutos e Haz estava louco para participar.
  - Só vou dormir mais algumas horas... – Resmungou sonolento, me olhando terminar de me arrumar. – Logo encontro vocês lá embaixo.
  - Tente não demorar. – Fiz um bico e me ajoelhei no chão, ao lado dele. – Ainda sinto a sua falta, Malik.
  - Vamos passar o resto do dia juntos, prometo. – Sorriu sincero e admito que senti muita vontade de me aninhar embaixo das cobertas com ele. – Se cuide, Anjo. E não deixe ninguém ficar te olhando.
  - Vou me cuidar, mas como não deixarei ninguém me olhar? – Ri, encostando a cabeça no ombro dele. – Se você estivesse lá, pra me proteger...
  - , ANDA LOGO! – Niall gritou da porta.
  - JÁ VOU! – Gritei de volta e me virei para o moreno preguiçoso. – Tenho que ir, ou serei afogada quando chegarmos à piscina.
  - Ou pode ficar aqui na cama comigo, segura e confortável... – Me tentou com um sorriso travesso.
  - Talvez mais tarde. – Pisquei e colei nossos lábios em um beijo de despedida.
  Me levantei e corri em direção à porta, tentando ignorar os chamados de Zayn. Se ele preferia ficar na cama ao invés de aproveitar aquele novo país, teria que ficar sozinho, porque eu com certeza iria. Peguei a minha bolsa na mesinha de canto e coloquei os óculos escuros no rosto. Quando cheguei no corredor, dei de cara com dois garotos já sem camisa e bermuda de banho. Niall ria de alguma coisa que Harry contara e esse segundo parecia bem vermelho. Envolvi os dois pelos ombros e tive que ficar na ponta dos pés para conseguir caminhar entre os dois. Niall até que não era TÃO mais alto que eu; mas Harry era gigantesco. Enquanto íamos na direção do elevador daquele andar, me senti curiosa demais pra não perguntar nada.
  - Qual é a graça, Nillo? – Questionei.
  - Conta pra ela, Harry. – Gargalhou mais alto ainda.
  - Diga-me, Stylo. – O olhei.
  - Harry recebeu reclamações do quarto vizinho! – Niall entrou na frente antes que o de cabelos cacheados pudesse falar qualquer cosa.
  - Por que? – Arqueei uma sobrancelha, soltando os dois para chamar o elevador.
  - Porque estávamos fazendo muito barulho... – Haz respondeu. – Ligaram da portaria, falando que receberam reclamações por estarmos pulando na cama, fazendo com que a cabeceira ficasse batendo na parede que dava para o quarto do lado...
  - Eeeeeeew. – Fiz uma careta ao imaginar o que o meu irmão e ele poderiam estar fazendo pra causar tanto barulho assim. Niall riu ainda mais da minha reação.
  - Imagine se os dois caem da cama?! – O loiro falou, absorto do que havia realmente acontecido.
  - Ni, você sabe que eles não estavam “pulando” na cama, certo? – Perguntei assim que a porta do elevador abriu e ele me olhou confuso. – Tão inocente!
  Harry foi o primeiro a entrar e o segui após pular no pescoço de Niall e o abraçar. O irlandês era tão especial! Mais uma vez a capacidade dele de ver as coisas pelo lado mais inocente me surpreendeu. Apertamos o botão para o subsolo, que era onde a piscina estava instalada, e mais uma vez olhei para o panfleto do Summer Fest preso ao pequeno quadro de avisos. Os meninos acabaram seguindo o meu olhar e também pareceram bem interessados com aquele evento. Antes que pudéssemos comentar qualquer coisa, o elevador voltou a abrir para que pudéssemos sair. Eu nunca havia estado naquele andar antes, pois era um abaixo do lobby do Hotel. Apesar disso, não ficava escondido como se fosse um estacionamento ou coisa assim. O lugar era todo aberto e praticamente ao ar livre. De um lado estava o caminho para o restaurante e do outro, as salas de reunião e festas.
  - Acho que o café da manhã ainda está aberto... – Niall comentou, já caminhando para o lado do restaurante.
  - Traga algo pra mim! – Pedi, mas duvidava que fosse ser atendida.
  - Então somos só nós dois? – Haz me envolveu pelos ombros e passei um braço em volta da cintura dele.
  - Creio que sim, cunhadinho. – O olhei sorrir com aquele apelido. – Então você e Lou estão mesmo arrasando?
  - ... – Arrastou o meu nome, ficando claramente corado. Ele ia indicando o caminho até a área da piscina e eu apenas o acompanhava.
  - Ok, não precisa responder. Eu não gostaria de saber dos detalhes mesmo... – Comentei a última frase um pouco mais baixa, mas ainda assim fui escutada. – Só fico feliz que vocês estejam felizes.
  - Quem não está muito feliz com isso é o Marco. – Olhou para baixo. – Ele acha que se admitirmos o nosso namoro claramente, podemos perder público...
  - Nem tudo é só “público”, “público” e “público”! Ele tem que entender isso. E eu acho que é besteira...
  - Mas nós estamos bem, , só com nossos amigos íntimos e familiares sabendo... Você conhece o seu irmão. Eu sou bem mais aberto pra isso do que ele.
  - Ele te ama, Haz. – Disse com um pequeno sorriso assim que chegamos à área da piscina.
  - E eu o amo. – Também sorriu. – Vem, o Paul está ali...
  Olhei na direção que um homem extremamente forte e grande acenava com um sorriso infantil. Ele estava dentro da piscina enorme e cristalina que brilhava com o reflexo do Sol. Na ponta do fundo, uma cachoeira artificial divertia criancinhas que brincavam por ali. Aos redores da piscina, várias espreguiçadeiras brancas com guarda-sóis maiores ainda davam conforto para quem quisesse deitar ali; tanto para se bronzear ou apenas relaxar enquanto aproveitava os drinks que garçons distribuíam. Uma música com cara de verão também embalava o lugar. Mais a frente, do lado de fora do hotel, tínhamos uma visão privilegiada da praia Venice. Harry e eu seguimos até umas cadeiras que Paul reservara para nós.
  - Harry, a aula de aeróbica já vai começar! – Paul gritou da piscina, apontando para a salva-vidas que se aquecia em uma das bordas e chamava as pessoas para se juntarem a ela.
  - Estou indo! – O menino tentou correr para a piscina após tirar seu chinelo, mas o segurei pelo pulso.
  - Não vai a lugar nenhum antes de passar protetor solar! Não quero que vire um camarão. – Informei e ele fez bico como uma criança mimada. – Não faz essa cara, Harold! Sua mãe pediu pra que eu cuidasse de você.
  - Eu não sou um bebê. – Continuou reclamando enquanto eu pegava o protetor solar na minha bolsa.
  - Você pode ser maior que eu, mas ainda sou a mais velha aqui. – Mostrei a língua, não fazendo muito jus àquela minha afirmação. – Fique quieto e serei rápida!
  Curly me obedeceu, ficando parado como uma estátua. Literalmente... Uma estátua. Ele fez uma pose de modelo e deixou que eu espirrasse o protetor solar em seu peito e abdome tatuado. Se estivesse ali, ela faria piadinhas de que eu estava me aproveitando do corpo firme de Harry, mas nós dois sabíamos que não era verdade. Além de nós dois termos namorados, nosso relacionamento não passaria nunca do sentimento de irmãos. Tirando aquele beijo que trocamos no último natal, nada tão íntimo chegaria a acontecer. Eu era apenas uma irmã mais velha cuidando do pequeno. Sim, usei a palavra “pequeno” aqui de forma totalmente figurativa, já que ele era bem maior que eu. O fiz virar de costas e também espalhei protetor ali e em seu rosto. Ninguém ficaria vermelho sobre a minha vigilância!
  - Quer passar também, Paul? – Ofereci para o guarda-costas. – Aproveita que as minhas mãos ainda estão meladas.
  - Obrigado, . Já passei. – Fez sinal de ok com a mão e correu assim que Harry ameaçou pular em cima dele.
  - Geronimooooooooo. – Harry pulou onde Paul estivera segundos antes e espirrou água nos meus pés.
  - Crianças. – Balancei a cabeça.
  Parando de observá-los brincando de quem afogava quem primeiro, tirei os sapatos antes de tirar o vestidinho branco que me cobria. Deixei-os junto da minha bolsa na mesinha ao lado da cadeira em que deitaria. Aproveitei para espalhar o resto do protetor solar das minhas mãos pelos meus ombros e rosto. Em seguida, usei um pouco de bronzeador só pra dar uma ajudinha aos raios de sol. Não pretendia ficar marrom bombom, mas gostaria de voltar pra Londres com uma cor menos pálida que a minha natural. A minha fase cor-de-rosa passara depois da praia que peguei com Lux, Wes e Keath no sábado, então era hora de arrasar no bronzeado. Limpei as minhas mãos oleosas em uma toalha branca do hotel que estava ali por cima e deitei confortavelmente, com meus olhos ainda protegidos da luz soltar pelos óculos escuros. Antes de me concentrar totalmente na calmaria e relaxamento, peguei o celular para ligar para uma garota não tão relaxada e calma assim.
  - Ainda lembra dos velhos amigos? atendeu, me fazendo rir. – O mar e o Sol ainda não te mudaram?
  - Ai, como eu sinto a sua falta! – Admiti. – Só queria que você estivesse ao meu lado agora.
  - E onde você está?
  - Na piscina... Tomando Sol... Respirando a maresia que vem do outro lado da rua... – Me gabei, sabendo que ela reclamaria.
  - E sabe onde eu estou? Na sua casa! – Me informou. – Continue passando as suas férias na minha cara e não garanto que o seu quarto vá estar como você o deixou quando você chegar!
  - Ok, parei! Mas você iria amar estar aqui. – Apoiei os pés na espreguiçadeira, ficando com os joelhos levemente dobrados.
  - Quem sabe uma outra vez, né? – Senti o pesar em sua voz. Se ela ainda estivesse namorando Niall, com certeza teria vindo junto comigo. – Mas sabe quem está aqui comigo, deitado ao meu lado?
  - , não me diga que você levou algum homem para a minha casa?! – Reclamei, fechando os olhos com força para não imaginar. – E se for aquele Benjamin...
  - Estou te enviando uma foto do meu encontro de hoje a noite! – Ela falou e escutei o barulho de uma mensagem chegando no meu celular.
  - Posso estar com medo de olhar... Espera aí. – Ri baixo ao tirar o telefone da orelha e abrir a mensagem, dando de cara com uma foto de . – Meu Bo!
  - Isso mesmo, mummy. Estou cuidando do seu filho enquanto você e o pai dele saem em lua de mel!
  - Awn, eu estou com saudade do meu bebê. Como ele está? Tem comido direito?
  - Até parece que ele não comeria direito, né? Dora tem feito cada coisa gostosa pra ele... Fico até com inveja. – Gargalhou. – Mas ela me disse que ele só consegue dormir na sua cama e depois que ela coloca alguma roupa sua pra ele cheirar.
  - Ok, estou indo buscar ele agora mesmo! – Fiz bico.
  - OI, ! – Uma voz feminina gritou do outro lado da linha.
  - Liv está aí também? Mande um beijo pra ela.
  - POR FALAR EM BEIJO! – Foi a vez de gritar, me fazendo afastar o telefone da minha orelha. – O convite do casamento da sua mãe chegou hoje! O meu e o de Liv também. Só tenho uma palavra pra você, minha querida, LU-XO.
  - Vai ser muito lindo mesmo... – Sorri, lembrando de todos os planos que minha mãe e Dan tinham feito para esse casamento.
  - Casamentos normais duram um dia só... Mas o da sua mãe vai durar três! – Ela comemorou. – Não acredito que vou passar três dias em Paris!
  - Não é o casamento que vai durar três dias, ruiva... Mas entendo a sua animação. – Até porque, eu também estava animada com isso. – Sabe quem vai estar lá também, não sabe?
  - Sei sim! Seus primos gatinhos que você vai ter que me apresentar!
  - Como você gosta de loiros, tenho um amigo irlandês pra te apresentar... – Que, aliás, estava vindo na minha direção com dois abacaxis em mãos.
  - Vou fingir que nem escutei isso, Tomlinson. – Bufou. – Vou até desligar depois dessa... Liv quer falar com você, mas sou chata e não deixo! Um beijo, meu amor. Vá aproveitar a sua piscina!
  - Vocês duas também aproveitem, porque meu condomínio ainda tinha piscina quando eu saí daí. E cuidem do meu !
  Encerramos a ligação antes que Niall se sentasse na espreguiçadeira ao meu lado. Eu não queria tocar no nome de e estragar aquele clima tão bom que estava nos rodeando aquela manhã. Não sei se o loiro chegou a comer algo no restaurante, mas logo me entregou um dos abacaxis que carregava. Admito que fiz uma cara bem engraçada ao ver aquela coisa sem saber se era comida, bebida, sobremesa ou prato principal. Segurei o meio abacaxi que formava uma espécie de copo. Eu podia sentir que ele estava recheado por um líquido colorido e o topo era coberto por vários pedacinhos de fruta; como manga, morango, uvas verdes e kiwi. Niall então, adicionou um canudo ao topo do meu café da manhã.
  - É pra comer ou pra beber? – Perguntei ao usar o canudo cor de rosa para mexer o conteúdo.
  - Acho que é um pouco dos dois. – Deu um gole e em seguida caçou um pedaço de manga para comer.
  - Hm, nada mal... – Comentei após dar o primeiro gole no líquido. Acho que era um suco resultado da mistura de todas as frutas que estavam ali dentro.
  - Harry estava falando sério mesmo... – Niall apontou para o único jovem entre tantas senhoras que aproveitavam a aula de aeróbica.
  - As vezes ele esquece que só tem dezenove anos. – Ri após engolir um pedacinho de morango e voltei a olhar para o menino ao meu lado. – Hey, Ni... Sabe o que vamos fazer hoje?
  - Ouvi Liam falando que sabe de um Lual hoje a noite...
  - Legal! – Sorri. – Mas ainda queria fazer algo mais turístico.
  - Tipo andar por aí com uma máquina fotográfica no pescoço e camisa floral?
  - Se for preciso! – Gargalhei imaginando nós seis andando por aí com essas roupas típicas de turistas. – Mas falo sério! Não quero voltar pra Londres sem ter andado por Beverly Hills, ou sem ter visto a placa de Hollywood.
  - Porque não pede aos seus amigos americanos pra te levar em um tour? – Fez uma careta após falar.
  - Não acredito nisso, Niall Horan! Tudo bem se o Zayn ficar com ciúmes do Wes e do Keath, mas você não. – Reclamei antes de dar mais um gole no meu super-abacaxi recheado.
  - Você é a única mulher da minha vida, , e eu já tenho que te dividir com mais quatro caras... – Falou como se realmente acreditasse naquilo. – Não preciso de mais concorrência.
  - Por que será que eu sou a única mulher da sua vida? – Deixei meu café da manhã preso entre as minhas pernas para que eu pudesse cruzar os braços e encará-lo. – Você tinha uma namorada antes? Eu não me lembro direito... O que aconteceu mesmo?
  - Já provou esse kiwi? Eu achei que era doce, mas é bem azedo... – Mudou de assunto e me fez bufar.
  - Ugh, que vontade de bater em vocês dois! – Falei mais comigo mesma do que com Niall.
  Eu já devia saber que não adiantaria continuar batendo naquela mesma tecla, pois nenhum dos dois iria me contar o que causou o término do namoro. Se eu quisesse descobrir o que houve, teria que encontrar outra forma de abordar aquele assunto. O loiro terminou de comer as suas frutas e correu direto para a água. Não tive tempo de pedir pra ele passar protetor solar, pois ele foi mais rápido e eu ainda sabia que era feio falar com a boca cheia. Acabei deixando pra lá apenas enquanto eu terminava de beber o meu suco e caçar pedacinhos de morango que viviam fugindo de mim. De vez em quando eu olhava para Harry na sua aula de aeróbica e para Niall e Paul brincando de tubarão, mas o que chamou a minha atenção naquele momento em especial foi quando a parte feminina que se encontrava naquela área encarou um ponto exato ao mesmo tempo.
  Curiosamente, segui a mesma direção que elas. Foi então que eu vi o homem mais lindo que já vira na vida. Para ser sincera, nunca vi alguém mais digno de suspiros do que ele. O menino de cabelos escuros e bagunçados parou na entrada daquela área e tirou a camisa, pendurando-a sobre o ombro. Arrumou os óculos Ray Ban sobre o nariz e pareceu escanear a multidão a procura de alguém. Parecendo encontrar quem queria, o deus grego caminhou em câmera lenta, atraindo cada vez mais olhares na sua direção. Mordi o lábio inferior inconscientemente, protegida pelos meus próprios óculos de ser notada enquanto quase o comia com os olhos.
  - Esse lugar está ocupado? – O menino perguntou, apontando para a espreguiçadeira ao meu lado.
  - Na verdade, está sim. – Respondi com um sorriso travesso, colocando o meu abacaxi vazio na mesinha ao lado da minha cadeira. – Mas eu divido esse aqui com você.
  - Melhor ainda. – Zayn riu enquanto eu dava espaço para que ele se juntasse a mim na espreguiçadeira.
  - O que você está fazendo aqui? A camareira entrou no quarto por acidente de novo? – O puxei para um beijo caloroso, matando qualquer uma de inveja.
  - Acontece que eu percebi que sinto mais saudades de você do que de dormir. – Sorriu, deixando que eu me encostasse ao seu corpo. Logo ficaríamos com calor, mas ninguém se importava. – E também fiquei pensando em você sozinha aqui... Quase sem roupas...
  - Veio ficar de olho em mim, então? – Levantei a sobrancelha.
  - Da última vez que te deixei sozinha, você arrumou dois americanos pra te ensinar a surfar. – Senti um tom de reclamação em sua voz. – Não quero que tentem te ensinar a fazer respiração boca-a-boca agora.
  - Mais um pra reclamar disso hoje?! – Exclamei e Zayn riu, mesmo sem saber do que eu falava. – Não podemos simplesmente curtir um dia no sol?
  - Hey, ! – Alguém me chamava na piscina. – Acha que damos conta desses dois?
  - Tenho certeza! – Ri ao ver que Paul apontava para Niall e Harry; sendo que o primeiro estava sentado nos ombros do seguindo.
  - Vai lá, babe... – Zayn me encorajou a ir brincar depois de ver que eu não me mexi.
  - Mas e você? Vai ficar sozinho aí?
  - Eu posso sentar na borda, com os pés na água... – Fez um biquinho fofo. – Ou posso procurar as bóias de braço da Lux lá em cima...
  - Com certeza elas ficariam lindas em você! – Brinquei, mas acabei levantando.
  - Me deixe orgulhoso.
  Ao falar aquilo, Zayn deu um tapinha na minha bunda que me fez gargalhar. Tirei meus óculos escuros para que ele guardasse na minha bolsa, mas ao invés disso os colocou sobre a própria cabeça, bem orgulhoso de si mesmo por estar usando dois óculos ao mesmo tempo. Sim, Zayn podia ser idiota, mas era o meu idiota. Corri o resto do caminho até a piscina e soltei um pequeno gritinho ao pular na direção da água. Com o meu impacto, sei que levantei algumas ondas que molhariam qualquer pessoa desavisada que passasse por perto naquele instante. Se fosse em Londres ou no meu condomínio, as dondocas teriam reclamado, entretanto, o clima em L.A. era tão tranqüilo que qualquer um podia fazer o que quisesse e não iria incomodar ninguém.
  - Estão prontos pra perder? – Niall falou enquanto praticamente dançava sentado nas costas de Haz.
  - Estamos prontos pra ganhar! – Mostrei a língua pra eles e senti duas mãos segurando a minha cintura e me levantando como se eu fosse um pedacinho de algodão. – Woooow...
  - Desculpa, , te assustei? – Paul me colocou em suas costas, sem o mínimo de esforço.
  - Você está me assustando agora, porque eu não sabia que era tão forte! – Ri e me acomodei ali. – Mas vamos ensinar uma lição à esses meninos!
  - Quem fala “já”? – Harry perguntou embaixo de Niall.
  - JÁ! – O homem embaixo de mim foi quem gritou.
  No final das contas eu acabei gritando também, mas meu grito foi mais de diversão do que tudo. Harry e Paul investiram um contra o outro e Niall veio na minha direção. Ele tentou atacar as minhas costelas, já conhecendo o meu ponto fraco, mas fui mais rápida e agarrei as suas mãos. Quanto mais ele tentava se soltar, mais eu o empurrava para trás, na esperança que isso causasse a sua queda. Harry percebeu a minha tática e começou a andar para trás, me dando duas únicas alternativas: a) Soltá-lo. Ou b) Cair pra frente e perder a batalha. Paul segurava nos meus joelhos, por isso me deu apoio quando escolhi a opção letra ‘a’ e soltei nossos oponentes.
  - Acaba com eles, ! – Zayn torcia sentado na borda da piscina, já sem nenhum óculos na cabeça.
  - Estou tentando! – Respondi sem tirar os olhos de Niall, evitando qualquer distração. – Por que está tão longe, Harry?! Está com medinho?
  - Não! – Respondeu, mas continuou em uma distância segura.
  - Está sim! Não quer perder pra uma garota e para um velho? – Coloquei as mãos na cintura, provocando-o.
  - Hey! – Paul reclamou abaixo de mim.
  - Sem ofensas, Pauly! – Fiz um pequeno carinho na cabeça do segurança. Eu não quis chamá-lo de velho, apenas estava provocando nossos oponentes.
  - Sei. – Fez careta.
  Quase não vi quando Niall se jogou na minha direção, mas Paul foi mais rápido e se esquivou, causando um pequeno desequilíbrio em Harry, que quase tropeçou. Dei uma ajudinha e terminei de empurrar o loiro enquanto o meu parceiro dava uma rasteira no de cabelos cacheados. Aquela manobra super ensaiada causou a queda dos dois e a minha vitória. Paul e eu comemoramos com uma volta semi-olímpica pela piscina, pois no meio do caminho eu acabei caindo de costas e voltando para a água. Harry e Niall brigavam entre si, querendo decidir quem levaria a culpa daquela derrota terrível e Paul se aproximou só pra ter certeza de que nenhum deles acabaria quebrando o nariz do outro. A profissão do segurança se assemelhava bem com a de uma babá, porque ele não podia descansar nem naqueles momentos de lazer.
  Zayn ainda estava sentado na borda, balançando os pés como uma criancinha e usando as mãos em forma de concha pra pegar água e jogar sobre o seu corpo. Ele devia estar morrendo de vontade de entrar na água, mas um pequeno detalhe o impedia. Mergulhei até estar submersa e abri os olhos ali embaixo. Apesar da minha visão embaçada, sabia exatamente o caminho que devia seguir e nadei até o meu namorado com um fôlego só. Ao levantar, fiquei entre as pernas dele e usei a borda de apoio para levantar metade do meu corpo da água e juntar os nossos lábios em um beijo surpresa. O menino riu com o susto que levou e envolveu a minha cintura com as pernas, me impedindo de voltar para a água.
  - Quer entrar? – Perguntei ao roubar mais alguns selinhos. – Essa parte aqui não é funda.
  - Tem certeza? – Soltou a minha cintura, causando a minha queda na piscina mais uma vez. O nível da água batia na altura do meu busto. – Parece bem funda pra mim...
  - Não é! – Dei um tapa no joelho do menino por ele ter me soltado tão abruptamente e só escutei suas risadas em resposta. – Você é mais alto que eu, então não vai ficar tão fundo pra você... Sem falar que eu estou aqui pra te carregar.
  - , o certo é que eu te carregue. – Ponderou, mas eu sabia que ele não negaria um pedido meu.
  - Fora da água! Dentro da água, você é o meu bebê. – Estiquei os braços na direção dele, querendo encorajá-lo. – Não confia em mim? Você deve estar morrendo de calor aí...
  - Ughhhhh. – Resmungou, mas acabou deixando a borda para trás e entrando na piscina.
  - Viu? Você alcança o chão aqui. – Sorri quando ele segurou as minhas mãos. Zayn parecia um pouco tenso, mas começaria a relaxar aos poucos.
  - Isso quer dizer que você não vai mais me carregar? – Fez um pequeno bico e pulou em cima de mim.
  Literalmente pulou em cima de mim! Foi algo bem engraçado, um homem relativamente bem maior do que eu se pendurando nos meus braços para que eu o carregasse como se fosse uma noiva. Se ele fizesse isso fora da água, nós dois teríamos caído no chão no mesmo instante, mas ali o menino estava bem leve. Eu já não sabia mais o que Niall ou Harry estavam fazendo, pois só me importava com o garoto encantador nos meus braços. Zayn me abraçou pelo pescoço e encostou sua barba mal feita na minha orelha, causando respostas imediatas do meu corpo. O arrepio misturado com um suspiro foi disfarçado por uma risada nervosa, pois eu torcia que ninguém tivesse me escutado.
  - Fez cócegas? – Se soltou dos meus braços e mergulhou para molhar os cabelos.
  - Claro... Vamos dizer que foi isso... – Ri quando ele voltou à superfície e foi a minha vez de pular em cima dele; dessa vez abraçando-o pela cintura com as pernas. – Se arrependeu de ter entrado?
  - Não mesmo. – Sorriu, envolvendo-me pelo quadril.
  - Sempre estou certa. – Passei as mãos pelos fios molhados de Zayn, inventando um penteado super maluco. Eu tinha que aproveitar, já que era a única pessoa permitida a fazer isso.
  - Está começando a parecer a ao falar isso. – Beijou o meu queixo, me arrancando novos sorrisos.
  - Por falar na ruiva... – Pousei as mãos em seus ombros quando começamos a passear pela área rasa da piscina. – Liguei pra ela hoje.
  - E como ela está?
  - Animada com o casamento da minha mãe... – Afirmei com a cabeça, fazendo uma expressão engraçada. – Muito animada mesmo. Liv também está.
  - Elas não sabem que vamos uma semana antes, certo? – Franziu o cenho, me balançando devagar de um lado para o outro como se embalasse uma criança.
  - Claro que não! – Soltei os ombros dele e deitei para trás até que meu tronco estivesse encostado na água, minhas pernas ainda bem presas a ele. – Se soubessem iam querer ir com a gente! Os meninos também não sabem.
  - Mas eles vão tirar essa folga pra passar um tempo com a família. – Explicou enquanto segurava os dois lados da minha cintura. – Liam vai pra Wolverhampton, Ni pra Irlanda e Harry vai levar Louis para Cheshire.
  - Você não quer ir pra Bradford? – Levantei o pescoço para observá-lo. – Seu pai deve estar com saudades...
  - Prefiro ficar com você. – Sorriu e senti que ele queria falar mais alguma coisa, mas se proibiu.
  - E Trisha? Já está aceitando a idéia de você se mudar? – Perguntei mesmo já sabendo da resposta.
  - Até parece que você não conhece a minha mãe. – Riu e me puxou pelos pulsos, fazendo com que voltasse a ficar com o corpo junto ao dele. – Por falar nisso...
  - Não, baby, eu não vou me mudar com você. – Falei pouco antes de juntar nossos lábios de uma vez.
  Aquele era um assunto um tanto delicado para tratar com Zayn, pois ele vivia insistindo que eu me mudasse para esse tal apartamento que ele estava querendo comprar. Não é que eu não quisesse exatamente morar com ele, mas simplesmente não podia ir para um apartamento com um Husky Siberiano que viveu a vida inteira em uma casa com espaço pra correr. Quem sabe na sua próxima mudança ele não pensava direito sobre isso e resolvesse ir para uma casa? Mas eu até que o entendia... Agora que tinha o próprio dinheiro e uma vida mais agitada como um pop-, queria ter o seu próprio canto, com as suas próprias coisas. Queria começar a sua vida própria e pra isso o seu primeiro passo seria sair de baixo das asas da sua mãe. Nada melhor pra isso do que um “apartamento de solteiro”, mesmo que a parte do “solteiro” não fosse ser tão verdadeira assim.
  - Já sei disso. – Rolou os olhos da minha teimosia e mordeu o meu lábio inferior como forma de protesto. – Quero saber se você vai me ajudar a escolher entre os dois prédios que eu mais gostei.
  - Qual deles é o mais perto da minha casa? – Arqueei uma sobrancelha.
  - Ok, acho que está decidido.

+++

  - Da próxima vez eu juro que vou primeiro! – Cruzei os braços enquanto observava Zayn voltar para o quarto com a toalha branca do hotel amarrada em volta de sua cintura.
  - Eu ofereci dividir o chuveiro, você é que não quis...
  A partir daí eu comecei a desconfiar que toda a demora de Zayn no banho foi proposital só por eu ter rejeitado o seu convite para tomarmos banho juntos. Havíamos voltado da piscina há mais ou menos duas horas e a minha barriga roncava de fome. Liam e Louis prometeram trazer o almoço quando voltassem das compras, mas estavam demorando demais. Uma batida na porta me fez levantar da cama e ir espiar no olho mágico antes de abri-la. Era apenas Harry, Lux e Niall; os três com roupas limpas e aparentemente de banho tomado. Bufei com raiva de Zayn, mas ambos sabíamos que isso não duraria muito, não é? Olhei o moreno por cima do meu ombro, constatando que ele já vestira uma bermuda cinza e apenas secava os cabelos com a mesma toalha.
  - Qual é a senha? – Abri apenas uma brecha da porta, olhando as três pessoas ali fora.
  - Trouxemos comida. – Niall mostrou as sacolas do McDonald’s que tinha nas mãos.
  - Acertaram em cheio! – Ri e abri espaço para que eles passassem.
  - , Harry comeu uma batata sua! – Lux se jogou nos meus braços e dedurou o menino.
  - Lux! Que parte de “isso é um segredo” você não entendeu? – Curly fez careta para a minha irmã e se jogou na minha cama.
  - Irmãs não tem segredo. – A pequena respondeu, me abraçando pelo pescoço.
  - Nós vamos comer todas as batatas dele! – Sussurrei pra ela, fechando a porta atrás de nós com o pé. – Shhhh.
  - O que vocês estão resmungando aí, hein? – Zayn veio cumprimentar a menina que eu carregava e ela riu pelas cócegas que recebeu.
  - Para, Zayn! – Gargalhou enquanto passava do meu colo para o dele.
  Deixei os dois brincando ali mesmo enquanto fui de encontro com Harry e Niall na cama. Fiquei sentada entre os dois e observei enquanto dividiam os sanduíches, batatas e refrigerantes de todos que estavam por ali. Pelo que entendi, Lou e Liam já haviam chegado e foram direto para o banho – coisa que eu ainda não fizera – e por isso pediram que fossemos comendo antes que eles chegassem. Rach estava com Marco, resolvendo alguma coisa da banda, e depois se juntaria a nós. Eu só torcia pra que apenas ela se juntasse à nossa pequena reunião. Assim que foi solta, Lux correu para a cama e atacou um das embalagens de batata. Se te falarem que todo McDonald’s é igual no mundo inteiro, não acredite, pois eu tenho certeza que nunca vi esse tal de “Double Quarter” em Londres.
  - Por que você não tomou banho antes de comer, ? – Niall questionou enquanto começava a devorar o seu sanduíche.
  - Eu pretendia! – Lancei um olhar mortal para Zayn, que deu de ombros como se não tivesse culpa alguma. – Mas alguém ficou enrolando no banheiro, sabe?
  - Não tenho culpa se tomo banho direito. – Zayn sentou na ponta da cama, ao lado de Lux.
  - Tem culpa se acabar com toda a água do mundo! – Reclamei.
  - Vamos parar de brigar, crianças? – Harry deu uma de adulto e joguei uma batata frita em sua cabeça.
  - ! Pode parar, não admito desperdiçar comida assim! – Niall é quem reclamou dessa vez, também recebendo uma batatada na cabeça; dessa vez vinda de Zayn. – Zayn!
  - Esses dois se merecem. – Haz nos repreendeu com o olhar.
  - Pelo menos ninguém nunca veio reclamar do nosso barulho! – Alfinetei, mordendo um pedaço do meu sanduíche em seguida.
  - Como assim? – Zayn perguntou, já que não sabia daquela história. Foi só Niall lembrar do que eu estava falando que começou a rir escandalosamente novamente.
  - Eu te conto mais tarde. – Pisquei e apontei para Lux. – Quando não tivermos crianças em volta.
  - Não é minha culpa se vocês dois não são tão bons quanto nós dois. – Harry devia estar achando que era algum tipo de competição.
  - Quem fica em cima e quem fica embaixo? – Niall perguntou normalmente, quase me fazendo engasgar com um pedaço de pão.
  - Niall! – Reclamei com os olhos bem abertos.
  - Lux não entende, , não tem problema. – Zayn também queria saber daquilo?
  - Não estou preocupada com ela! – Neguei com a cabeça, tapando os ouvidos da melhor forma que pude. – Estou com medo é que EU fique traumatizada. Lou ainda é meu irmão!
  - Nós revezamos. – Haz respondeu, ignorando meus gritinhos de nojo.
  Realmente não era a melhor imagem do mundo as posições que meu irmão e seu namorado faziam quando estavam na cama, ainda mais durante o almoço. Por outro lado, admito que sempre pensei que Harry seria o ativo... “VAMOS MUDAR DE ASSUNTO. Hm, essa batata frita está divina!” Comecei a comer as batatas uma atrás da outra, como se quisesse me distrair. Os três meninos me olhavam e riam, como se soubessem o que estava passando pela minha cabeça. A única que parecia completamente atônita daquele assunto era Lux, que de vez em quando roubava uma batatinha de qualquer um que se distraísse. Claro que nenhum de nós se importava com a pequena e fingia não estar vendo nada.
  Uma nova batida na porta chamou a nossa atenção. Pelas vozes que vinham do lado de fora, devia ser o resto da banda que terminara de tomar banho e veio para se juntar a nós. Olhei para cada um dos meninos, já sabendo que sobraria pra eu ir abrir a porta e deixá-los entrar. Aliás, deixe-me contar um pequeno detalhe pra vocês: Todos ali tinham a chave do quarto dos outros, então porque é mesmo que NINGUÉM lembrava de trazer a sua quando se tratava do quarto onde EU era a porteira? Sabendo que não adiantaria reclamar, deixei o meu almoço pela metade em cima da embalagem do mesmo e pulei para fora da cama. Corri o resto do caminho até a porta e fiz o mesmo que antes, espiando os dois novos visitantes.
  - Senha? – Arqueei a sobrancelha.
  - Temos presentes pra você. – Li levantou as sacolas que trazia.
  - Todos estão acertando em cheio hoje! – Ri e os deixei passar.
  - Que interesseira! – Zayn riu.
  - Tem pra você também, Zen. – Lou jogou um pacote da marca OBEY na direção do cunhado.
  - Mas como eu ia dizendo, é sempre bom ver os amigos...
  Quem é o interesseiro aqui mesmo? Cof Cof. Depois que Zayn ganhou o presente dele, Liam me entregou o meu próprio. Por um momento esqueci o meu almoço em cima da cama e sentei em uma poltrona pra poder abrir o pacote da Forever 21. Não tive muito cuidado ao tirar a caixinha lá de dentro, sem entender mais nada. Louis era o único que ria ao ver a minha reação. Não sei se era pra ser uma piada dos dois meninos que foram fazer compras ou se realmente houvera uma confusão na loja e os meninos trocaram os pacotes.
  - Obrigada pelas rodinhas, meninos... Mas eu não ando de skate. – Falei, levantando.
  - E obrigada pelo vestido, mas acho que essa cor não combina com os meus olhos. – Zayn brincou, esticando a peça de roupa na minha direção.
  - Você tinha mesmo que fazer isso, não é, Louis? – Liam pressionou as têmporas, sabendo do plano do meu irmão.
  - Qual é? Foi engraçado! – Lou não era mais o único a rir, já que Harry também caiu na gargalhada.
  - Obrigada pelo vestido! – Rolei os olhos para Lou, mas sorri para Li em agradecimento. – Posso usá-lo hoje a noite! Vamos ao Lual mesmo?
  - Sim! – Niall celebrou. – Uhuuuuul. Party in the USA.
  - Ni, não esqueça que você não pode beber aqui... – Cortei o barato dele enquanto guardava o meu vestido dentro do guarda roupa.
  - Por que? É porque eu sou irlandês, não é?! – O loiro parecia chocado.
  - Não, idiota. – Ri, dando meia volta em direção à cama. – É porque a maioridade aqui é vinte e um anos... Então só o Lou pode beber coisas com álcool.
  - , você não acredita mesmo que todo mundo aqui respeita isso, certo? – Zayn questionou com uma sobrancelha arqueada e eu só dei de ombros, voltando a almoçar.
  De uma forma ou de outra, com bebida ou sem bebida, iríamos à esse Lual e seria bem divertido. Lux também perguntou se podia ir e eu não quis ser a pessoa a destruir os seus sonhos, então me concentrei apenas em acabar com o meu sanduíche e batata frita. O termo pode ser fast food, mas eu demorei bastante para comer. Até porque, quando não estava rindo de alguma coisa, tinha que explicar certos costumes americanos para Niall. Não que eu fosse uma expert no assunto, entretanto, Wes havia me dado umas dicas na última vez que nos encontramos.
  Mais uma vez escutamos uma batida na porta, mas ela veio acompanhada do som de um cartão sendo arrastado pela fechadura. Mesmo sem que eu precisasse ir até lá e atender quem quer que fosse, já comecei a levantar e juntar as embalagens vazias de comida, pois todos acabaram de comer e eu não queria atrair formigas para a cama onde eu iria dormir nas próximas semanas. Uma cabeleira loira entrou pela porta e infelizmente Rach estava acompanhada pelo empresário dos meninos. Deixe-me parar um pouco aqui... Eu não odiava Marco. Apenas tinha as minhas razões para não tê-lo como a minha pessoa preferida no mundo! Algo nele não me cheirava bem. Talvez fosse o fato de eu acreditar fielmente que ele pensava que o dinheiro que a banda podia trazer pra ele era mais importante do que os próprios meninos da banda.
  - Vamos aproveitar que todos estão aqui para que possamos tratar de um assunto muito importante! – O homem começou a falar e colocou uma pastinha marrom em cima da cama.
  - E vou aproveitar pra ir tomar banho! – Informei esperando que ninguém se importasse.
  - , espere um minuto... – Marco se importou. – O assunto que tenho a tratar também lhe envolve.
  - Duvido muito. – Falei baixo, mas joguei as coisas que estavam na minha mão na lata de lixo do quarto e voltei a me sentar na cama.
  - Na verdade, o assunto é mais com você do que com eles. – O mais velho apontou para a pasta na minha frente e senti a fisionomia de Zayn ficar tensa. – Porque não me falou que conhece o Emblem3?
  - Não sabia que precisava te contar quem são os meus amigos. – Peguei a pastinha preta e tirei de lá algumas fotos.
  O empresário deixou que tirássemos o nosso tempo para analisar aquelas imagens, uma por uma. Eu era a primeira a ver e logo as passava para Zayn, que se sentou ao meu lado. Esse último ia passando a diante. As fotos em si não tinham nada demais. Eram apenas imagens capturadas por paparazzis no dia em que Lux e eu fomos a praia com Wes e Keath. Todos já sabiam que aquelas coisas iriam acabar saindo na mídia ou em sites de fofoca americanos mais cedo ou mais tarde, mas ninguém entendeu porque Marco tinha uma cópia delas. Eu entendia que era a Modest!Management que controlava a publicidade dos meninos, mas eu não tinha nada a ver com isso. Não assinara um contrato e muito menos possuía uma agência que deveria me fazer ter boa fama.
  - Você tem alguma idéia do tesouro que tem nas mãos, ? – Marco parecia sonhador ao falar. – Imagine só... Emblem3 e One Direction... Vistos juntos pelas ruas de Los Angeles... Ou então: Meninos da Inglaterra fazem amizade com o trio que já conquistou a América...
  - Eu sei o que você está insinuando e a resposta é não. – Fui direto ao ponto, cansada de ouvir aqueles títulos de reportagem. – Eles são meus amigos e não vou usá-los para promover a banda.
  - ... – Rachel ia começar a falar, mas não deixei.
  - Eu sei que é importante para a banda ser divulgada aqui e acho ótimo, só não acho justo usarmos a fama de outros. – Eles não podiam estar falando sério. Olhei para os cinco meninos que olhavam para qualquer canto menos pra mim. – Vocês não podem estar concordando com isso, estão?
  - Seria bom para a banda... – Lou falou baixinho.
  - Vocês podem fazer o que quiserem, mas não contem com a minha ajuda. – Suspirei pesadamente, não acreditando no que estava acontecendo. – Vou tomar banho, porque é o melhor que posso fazer.

Chapter IV

Mesmo que eu não estivesse usando nada além de um short jeans e uma blusa folgada, sentia como se o meu corpo fosse entrar em chamas a qualquer momento. O clima daquela quarta feira em Los Angeles estava sendo de longe o mais quente de toda a minha estadia até aquele dia e, infelizmente, eu não planejava passar o dia na praia ou na piscina. Pra falar a verdade, não era eu quem estava planejando coisa alguma. Niall e Harry seriam nossos guias turísticos e, segundo eles, tinham algo bem divertido para que todos nós pudéssemos aproveitar de uma forma inusitada as atrações daquela cidade; próprias palavras deles. Eu não tinha tanta certeza do que os dois estavam aprontando, mas esperava pra ver.
  Literalmente esperava. No lobby do hotel, ao lado de Louis, ambos jogados no sofá mais próximo do ar condicionado. Nenhum de nós falava coisa alguma, pois até isso parecia fazer o calor piorar. Por trás das lentes dos meus óculos escuros, avistei Liam e Zayn se aproximando enquanto conversavam. A diferença entre os dois era bem clara, pois enquanto Zayn corria as mãos pelos cabelos, completamente sexy e no maior estilo bad boy, Liam sorria adoravelmente como se fosse um menininho. Acho que era justamente por causa dessa diferença toda que os dois acabaram se tornando inseparáveis, melhores amigos de verdade. Todos da banda eram melhores amigos entre si – o que me incluía -, mas aqueles dois eram apaixonados um pelo outro. Não apaixonados como Lou e Harry, mas ainda assim apaixonados.
  - Conseguiu o carro? – Sorri para o meu namorado assim que ele se sentou na poltrona oposta.
  - Yep! – Girou as chaves pretas no dedo indicador.
  - Espero que tenha conseguido uma van, porque não quero ir apertado no banco de trás... – Lou reclamou, mas todos ali concordavam com ele.
  - É melhor que isso, acreditem. – Liam riu.
  - Um ônibus? – Acabei rindo junto.
  - Vamos precisar de mais dois carros... – Harry aparatou com Niall onde estávamos, nos assustando por não tê-los visto chegar.
  - Bom dia, meninos. – Acenei para os dois.
  - Por que mais dois carros? – Zayn indagou, olhando os dois. – Cabem seis pessoas em um só...
  - Mas não vamos todos juntos! – Ni já começava a sorrir animado.
  - Eu sabia que vocês estavam aprontando alguma coisa! – Cerrei os olhos, esperando o que estava por vir.
  - Posso começar a explicar? – Harry aqueceu as mãos.
  - Fique a vontade, Hazza. – Lou afirmou, prestando atenção. Eu agradecia por eles não se chamarem de “pudincup”, “cerejinha” ou derivados.
  - Sabem como a estava louca pra ir conhecer a cidade, pontos turísticos e tudo mais? – Ni questionou e todos afirmaram quem sim com a cabeça. – Bem... Harry e eu andamos pesquisando formas americanas de aproveitar tudo isso...
  - E acabamos chegando em uma brincadeira chamada “Scavenger Hunt”. É como se fosse uma caça ao tesouro... – Haz o interrompeu.
  - Ah, eu sei o que é isso! – O interrompi. – É algo que meninas fazem durante festas do pijama.
  - Não, não... Não só meninas. – Rachel também apareceu ali do nada, com algumas coisas em mãos.
  - De onde as pessoas estão saindo? – Zayn cochichou na minha direção e eu só ri em concordância.
  - Quais são as regras? – Liam parecia ser o mais interessado.
  - Achei que nunca fosse perguntar, Payno. – Niall estava com essa mania de colocar a letra “o” no final dos nossos nomes/sobrenomes/apelidos, o que acabava pegando. – Nossa querida ajudante Rachel escolheu algumas tarefas para realizarmos ao longo do dia e criou algumas listas. São a mesma coisa, mas as ordem estão um pouco diferentes...
  - Isso mesmo. E vocês vão se dividir em duplas e cada dupla receberá uma lista, um marcador, um mapa da cidade e um walkie talkie, para que possam se comunicar uns com os outros. – Rachel explicou e começou a mostrar os sacos transparentes que carregava. – Nessas listas está escrito as coisas que vocês terão que fazer, pegar, lugares pra visitar... Todos estão com as suas câmeras aí, certo?
  - A minha está aqui... – Falei ao olhar a minha Polaroid digital dentro da mochila.
  - Também estou com a minha! – Liam mostrou a câmera digital que tirou do bolso. Não era tão legal quanto a minha, mas daria pro gasto.
  - Tenho câmera no celular. – Lou piscou.
  - Muito bem, então vamos começar a dividir as equipes...
  - Você vai participar também, Rach? – Perguntei, já começando a me animar.
  - Adoraria, mas passarei o dia no SPA do hotel. – Sorriu como se sentisse a própria estrela de cinema. – Paul vai tomar conta da Lux pra mim.
  - Isso eu queria ver. – Zayn riu.
  - Podemos nos concentrar aqui? Não temos o dia inteiro! – Niall reclamou.
  - Sorry, Ni! – Fingi fechar um zíper nos meus lábios e jogar a chave fora.
  - Muito bem! Quem quer ser a dupla número um? – Rach levantou a sacola transparente com o número 1 escrito a caneta.
  - Eu quero! – Levantei a mão antes que qualquer um pudesse fazer isso.
  - Eu fico com ela! – Zayn quis ser a minha dupla e quem podia culpá-lo?
  Liam reclamou que se sentia excluído, mas as regras eram claras: Duplas! Ele acabou se juntando com Niall e o outro casal da banda formou a última dupla. Rachel distribuiu os sacos transparentes, mas fomos proibidos de abri-los antes de estarmos nos nossos carros ou meios de transporte. Zayn e eu ficamos com o carro que já fora alugado, Liam e Niall pretendiam pegar taxis e Harry e Lou tentariam o transporte público. Eu já começava a me sentir ganhadora daquele Scavengers Hunt mesmo sem saber o que teria que fazer ou procurar. Fomos informados que de não seria permitido enganarmos uns aos outros, mentir ou usar o walkie talkie para dar informações erradas. Nosso limite de tempo seria o pôr-do-sol, coisa que naquela época do ano só acontecia às oito horas da noite. O ponto final de encontro seria na praia ali na frente e a primeira dupla a chegar encerraria a brincadeira.
  Nós seis fomos para a saída do hotel e Rachel, a juíza oficial da brincadeira, nos acompanhou até lá para dar a largada. Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos quando nos preparávamos para correr. Por sorte, o nosso carro já estava ali na frente, então não perderíamos tempo procurando o Jeep preto pelo estacionamento. Uma contagem rápida até ‘3’ foi feita e Zayn e eu corremos sem nem esperar pra ver se as outras duplas fariam a mesma coisa. Ele era bem mais rápido que eu, mas como estávamos de mãos dadas, eu acabava acompanhando-o. Apenas nos soltamos quando o menino destravou o carro e pudemos praticamente pular dentro dele. Não havia tempo para cavalheirismos, então abri a minha própria porta.
  - Pra onde vamos primeiro? – Zayn perguntou, já colocando o carro em movimento.
  - Quem amarrou esse saco?! – Joguei a minha bolsa no chão do carro e tentei abrir a sacola transparente, mas eu estava tão nervosa que quase tremia. – Não consigo abrir!
  - Babe... Respira. – Zayn riu, me fazendo parar e olhar pra ele. Com um gesto simples, puxou uma fitinha e a sacola foi aberta como num passe de mágica. – Não vamos correr, ok? Vamos com calma, aproveitando a cidade... Se perdermos a brincadeira não tem problema, porque teremos nos divertido.
  - Você tem razão. – Afirmei com a cabeça, sorrindo e tirando a lista dobrada de dentro daquele recipiente transparente. – Conseguir o menu de um restaurante chinês, tirar uma foto ao lado da estrela do Michael Jackson na calçada da fama... Entrar em um barco? Tem muita coisa aqui...
  - A gente consegue. – Piscou, parando no primeiro sinal vermelho. – Sabe ler mapas?
  - Melhor ainda. – Voltei a pegar a minha bolsa do chão, tirando de lá o meu iPhone. – Sei programar um GPS.

+++

  - Estamos no lugar certo? – Zayn estacionou o carro na primeira vaga livre que encontramos.
  - Eu acho que sim... – Olhei para fora do carro e em seguida para a tela do meu celular. – O GPS está falando que estamos aqui e tem estrelas na calçada... A não ser que tenha outra Calçada da Fama aqui.
  - Vamos descobrir. – Sorriu, pulando do carro e correndo para me ajudar a descer. Aquele Jeep era bem alto. – O que é isso?
  - É uma máquina de estacionamento. Colocamos uma moeda por aqui e não somos multados. – Expliquei, caçando alguma moeda nas profundezas da minha mochila. – Temos isso em Londres também, sabia?
  - Mas lá é azul... Fiquei confuso. – Riu da própria besteira e eu só balancei a cabeça.
  - Azul não é tão diferente assim de verde, baby. – Coloquei as moedas no lugar apropriado e retirei o recibo. – Temos uma hora, vamos correr.
  Correr não era a melhor opção em um dia quente, mas ainda assim era a que tínhamos. Zayn esticou a mão para que eu a segurasse e entrelacei os nossos dedos, sentindo aquela conhecida sensação de eletricidade se espalhando pelo meu corpo inteiro. Estávamos namorando havia um bom tempo, mas mesmo assim essas pequenas coisas que geralmente só duram a primeira fase do relacionamento não tinham ido embora. Eu nunca tive tanta intimidade assim com ninguém na minha vida, nem mesmo com Louis, que morou na mesma casa que eu desde sempre. Eu realmente gostava de conhecer os hábitos mais pessoais de Zayn; como o que ele gostava de ler quando ia ao banheiro, ou quais tipos de comida o deixavam enjoado. Outras pessoas podiam preferir ignorar essas coisinhas, mas eu as abraçava, pois faziam parte daquele menino que eu amava. Fazia parte de sermos um casal. Podíamos não concordar em tudo e termos opiniões próprias, mas era trabalhar nessas diferenças que nos tornava tão unidos.
  O menino foi na frente, me puxando levemente. Não estávamos correndo tão rápido assim, mas era o suficiente para não perdermos tempo. Ainda no carro, eu lera todas as coisas que teríamos que fazer ou conseguir para vencer aquela Scavengers Hunt e por isso olhava a nossa volta, procurando qualquer coisa que pudesse ser riscada da lista. O lugar em si era tudo aquilo que víamos em filme e um pouco mais. Ao menos naquela área da cidade não havia nenhum mendigo pelas esquinas ou cachorros de rua. Skatistas faziam seus caminhos entre as pessoas e ninguém parecia notar. Desde crianças até idosos naqueles carrinhos automáticos passeavam por ali, sem reclamar de nada além do calor. Ao passarmos em frente a um grande cinema no meio daquele quarteirão, parei de correr e automaticamente obriguei Zayn a fazer o mesmo.
  - Encontrou a estrela? – Perguntou enquanto olhava para o chão.
  - Não, mas acho que encontrei outra coisa da lista... – Sorri e comecei a andar em direção à entrada do cinema.
  - Espero que você não esteja pensando no que eu acho que está. – Zayn levantou o boné para bagunçar os cabelos, olhando para os lados, e me seguiu.
  - Onde estão? – Perguntei retoricamente, procurando aqueles cartazes grandes de lançamentos de filmes. – Meu malvado favorito 2? Acho que não... Johnny Depp, é isso!
  - Eu estava com medo que você dissesse isso. – Balançou a cabeça, mas me seguiu quando fui até a imagem em tamanho original do ator, feita em papelão, como propaganda do novo filme “O cavaleiro solitário.” – Me dê a câmera, porque eu me recuso a fazer isso.
  - Sem graça! – Ri, mas já imaginava que Zayn fosse se negar a fazer isso.
  Tirei a câmera fotográfica da mochila e a liguei, entregando para o menino em seguida. Algumas pessoas nos observavam, mas quem nunca fez algo assim? Além do mais, fazia parte das tarefas da lista. Bem... Mais ou menos. Fiquei ao lado do falso Johnny de papelão e passei um braço em volta dele, sorrindo e fazendo uma pose qualquer. Zayn demorou para encontrar um ângulo legal para bater aquela foto, mas logo escutei o barulho característico da câmera e, segundos depois, a foto foi revelada pela lateral. Me juntei ao meu namorado enquanto a imagem clareava e sorri com o resultado. Também retirei a lista dobrada do meu bolso e o marcador preto que ganhamos de Rachel.
  - Tirar uma foto com alguém famoso... – Li enquanto riscava o item da lista. – Check!
  - Você acha que isso vale? – Colocou a fotografia e a câmera na minha mochila enquanto eu voltava a dobrar o papel.
  - Tem uma idéia melhor? – Dei de ombros.
  - Pensei em pegar um mapa daqueles “Endereços das Estrelas” e sair batendo de porta em porta até que alguém tirasse uma foto com a gente. – Brincou. Ou eu esperava que ele estivesse brincando. – Mas vamos. Ainda temos que encontrar a estrela. Tem certeza que não pode ser qualquer uma?
  - Na lista está falando que tem que ser a estrela do MJ. – Passei o braço pelo dele e andamos até a saída. – E podemos levar horas procurando... Já viu o tamanho disso aqui?
  - Com licença... – Zayn parou uma menina que passava por nós. – Sabe onde podemos encontrar a estrela do Michael Jackson?
  - Vocês vão seguir nessa direção e dobrar à direita na primeira esquina... Não devem demorar muito pra achar, geralmente está cheia de flores e homenagens. – A garota com um forte sotaque americano respondeu.
  - Obrigado. – Acenou para ela e virou para mim. – Viu? Fácil!
  - Eu poderia ter pensado nisso. – Fiz careta e ganhei um beijo na ponta do nariz.
  Ao sair do cinema, não voltamos a correr e nem andamos devagar demais. Apenas apreciamos o passeio e aquela cultura diferente da nossa. Em Los Angeles, todos pareciam ser ricos e bonitos. Me senti um pouco constrangida pela falta de curvas óbvias no meu corpo e no excesso delas no corpo de meninas que passavam por Zayn e eu, entretanto, me sentia bem orgulhosa por ter um namorado tão bonito quando aquele garoto ao meu lado. Ele andava olhando para o chão, lendo os nomes das estrelas por onde passávamos. Kristen Stewart, The Beatles, Britney Spears, Marilyn Monroe e Houdini foram algumas das celebridades que lemos os nomes. Dobramos a esquina como a menina nos informou e continuamos andando, sendo interrompidos por alguns vendedores ambulantes que tentavam nos vender suvenires. Admito que não consegui resistir por muito tempo e acabei comprando uma camisa que falava “I <3 L.A” e um bracelete de conchas.
  - Sabe o que eu estava pensando? – Perguntei depois de pagar pelo bracelete e colocá-lo em volta do pulso.
  - No quanto eu sou lindo? – Respondeu com outra pergunta e me fez rir um tanto demais. – !
  - Desculpa, eu não devia estar rindo! – Tapei a boca com uma mão e respirei fundo. Nem havia sido tão engraçado assim! – Eu estava pensando nas siglas MJ... E você é JM.
  - Sou ZM, . – Me olhou com uma cara estranha.
  - Tecnicamente, você é ZJM. Zayn Javaad Malik. – O corrigi. – JÁ SEI! Você podia ser tanto ZJ, o contrário de JZ e JM, o contrário de MJ!
  - Ok, acho que o Sol não está te fazendo bem... – Foi a vez dele de gargalhar e passar o braço em volta dos meus ombros, beijando o topo da minha cabeça. Em seguida, tirou o próprio snapback e o colocou na minha cabeça. – Pronto.
  - Ei, eu estava falando sério! – Fiz bico, mas gostei daquele carinho e arrumei o boné nos meus cabelos. – Olha!
  - Acho que é ali... – Zayn concordou após olhar para onde eu apontara. – Realmente tem muitas flores.
  - Vai, vai, vai! – O soltei para pegar a câmera mais uma vez. – Eu tiro a sua foto dessa vez.
  - Ok! – Sorriu.
  Eu sabia o quanto Zayn era fã do artista, por isso não reclamou em ter que se abaixar até quase ficar de joelhos no chão para que eu pudesse tirar a foto. Preciso dizer que não foi difícil achar uma posição legal para registrar aquele momento? Mesmo com o sorriso aberto que ele deu, ainda ficou parecendo um modelo italiano. Na verdade, eu gostava mais das fotos em que ele sorria do que aquelas que ele parecia seduzir a câmera. Pensando melhor... Eu gostava das duas. É, as duas está bom. Assim que a fotografia foi revelada, a balancei um pouco para clarear mais rápido. Zayn pediu para ver a fotografia e a entreguei pra ele.
  - Meu cabelo está horrível! – O lado vaidoso do menino falou mais alto.
  - Seu cabelo sempre está lindo! Lindo... Lindo... Lindo. – Me joguei nos braços dele, abraçando-o pelo pescoço e roubando alguns selinhos. – Você sabe que gosto mais quando está bagunçado assim.
  - Nunca mais o arrumo se ganhar seus beijos em troca. – Segurou a minha cintura e riu travesso, demorando para soltar os meus lábios dos seus. Senti sua mão escorregar para o bolso de trás do meu short.
  - Está se aproveitando de mim, Malik? – Perguntei com uma risada.
  - Só estou pegando a lista pra riscar... – Levantou as sobrancelhas, esperando que eu acreditasse.
  - Então qual é o próximo item? – Tentei me soltar daquele abraço e quase não consegui, pois Zayn não queria me deixar afastar. – Baby, temos que andar!
  - Ugh, tá bem! – Bufou e choramingou ao mesmo tempo, abrindo a lista que realmente arrancara do meu bolso. – “Todos da equipe devem fazer uma tatuagem.”
  - Você está brincando, certo? – Desejei com todas as forças que ele falasse que sim, mas eu sabia que não estava.
  - Então, o que vamos tatuar? – Perguntou mais feliz do que eu gostaria.
  - Nada! – Balancei a cabeça. – Já estou bem feliz com a única tatuagem que eu tenho.
  - Mas está na lista... – Foi a vez dele de fazer bico. Parecia que precisava de uma desculpa pra fazer alguma tatuagem nova e aquela era a melhor oportunidade.
  - Aí não está falando nada que precisa ser uma tatuagem permanente, certo? – As engenhocas na minha cabeça começavam a funcionar.
  - Não. – Voltou a olhar para a lista e em seguida pra mim. – Está pensando em fazer uma de henna?
  - Melhor! – Peguei o marcador que continuara no meu bolso e o destampei. – O que vai querer?
  - Uma nave espacial bem aqui. – Ficou de lado e apontou para a lateral do braço.
  - Então uma flor será! – Respondi como se fosse isso o que ele pedira e comecei a desenhar a flor mais simples que consegui.
  - Uau, , você tem talento. – Riu enquanto me observava.
  - Eu sei! Nasci pra ser tatuadora. – Também ri e finalizei o desenho com a minha assinatura. – E agora você tem o meu autógrafo!
  - Perfeito! E o que você quer? – Recebeu o marcador e me olhou dos pés a cabeça, como se me analisasse. – Posso escolher o local?
  - Não depois de me olhar assim! – Segurei a barra da minha blusa, temendo que ele quisesse me despir ali no meio da rua.
  - Eu quero desenhar no seu pulso, tonta. – Puxou a minha mão esquerda e me fez rir com o pseudo-xingamento. – Não vale olhar!
  - Ok, seu chato! – Rolei os olhos, ainda rindo, e olhei pra cima. – Eu devia ter medo?
  - Só se você não quiser o desenho das minhas partes íntimas aqui.
  - Zayn! – Reclamei assustada, mas ao olhar para o desenho, não tinha nada daquilo. Era apenas um floco de neve simples, mas fofo. – Que lindo!
  - Mais lindo que as minhas partes íntimas? – Levantou uma das sobrancelhas, porém, me recusei a responder. – Significa inocência.
  - Eu não sou inocente!
  Apesar da minha reclamação, Zayn não concordou comigo e começamos uma pequena discussão de quem era o inocente entre nós dois. Ele alegava que eu via apenas o lado bom nas pessoas e que muitas vezes achava que era só isso o que existia. Falou que eu tinha o meu próprio jeitinho único de ver o mundo, o que o encantava. Nunca tinha parado pra perceber ou pensar nessas coisas, mas deviam ser verdade. Ou então, ao menos, era como ele me enxergava e isso me agradou.

+++

  Já havíamos riscado pelo menos vinte itens da lista e não passava nem das cinco horas da tarde ainda. Almoçamos em um restaurante chinês, compramos uma bandeira dos Estados Unidos, compramos uma refeição para um morador de rua, tiramos fotos abraçando estranhos, compramos um buquê de flores e distribuímos pela rua, conseguimos três guardanapos de restaurantes diferentes, compramos chapéus engraçados e tiramos fotos com eles, conseguimos camisetas de um time local de baseball (Go Dodgers!), Zayn recitou um poema de Shakespeare à uma criança e consegui mais braceletes fofos; entre outras coisas. O último não estava incluído na lista, mas quem se importa? Poderia ser um novo hobby; uma coleção de pulseiras.
  Nós dois estávamos no Jeep, resfriados pelo ar condicionado quase no máximo, e procurávamos novas coisas para riscar na lista. Apesar de grande, Los Angeles não tinha muitas árvores pela rua, o que dificultava bastante a nossa tarefa de encontrar uma grande o bastante para ser escalada. Um chiado estranho chamou a nossa atenção e me fez abaixar o volume do som do carro e procurar o walkie talkie na minha mochila.
  - Time um? Time um? – A voz de Niall chamava por nós. – Aqui é o time dois. Câmbio?
  - Nialler, aqui é a Tommo Girl falando. – Respondi, apertando o botão do dispositivo e colocando-o perto da boca. – Qual o problema? Câmbio.
  - Tem mesmo que falar “câmbio” o tempo inteiro? – Zayn riu.
  - É divertido. – Também ri, me acomodando no banco.
  - Vocês conseguiram encontrar alguém famoso? – Foi a voz de Liam que saiu do walkie dessa vez. – Parece que rodamos essa cidade inteira e ninguém famoso apareceu!
  - Conseguimos sim! – Respondi com a maior segurança que consegui e olhei para Zayn. – Encontramos Johnny Depp na Calçada da Fama...
  - SÉRIO? WOW, ISSO É TÃO LEGAL! – Niall gritou e segurei o riso.
  - Mas e vocês? Fizeram tatuagens? – Zayn perguntou enquanto eu apertava o botão.
  - Niall não quis! Então não tinha motivos pra eu fazer, já que só conta se for os dois. – Li explicou. – Mas soubemos que Lou e Harry fizeram.
  - Ai meu Deus... – Pressionei as têmporas. – Aposta quanto que tatuaram o nome um do outro?
  - Foi o que perguntamos, mas parece que não foi isso. – O loiro do outro time nos contou. – Vocês estão terminando a lista?
  - Ainda não chegamos nem na metade! – Menti. Não queria que eles achassem que estávamos quase terminando e resolvessem se apressar. – Por falar nisso, temos que ir! Até mais tarde, lads.
  - Que vençam os melhores! – Liam desejou. – Zen, eu te amo!!
  - Eu também amo vo... HEY! – Zayn reclamou por eu ter soltado o botão, cortando a sua fala.
  - Não pode amar ninguém além de mim! – Fiz careta e guardei o walkie talkie de volta na mochila. – Achou alguma árvore?
  - Não, mas estou procurando um parque... Vai ser mais fácil assim. – Fizemos uma curva brusca para a esquerda. Zayn ainda estava pegando o jeito com o lado do volante, mas vinha melhorando devagar. – Seu GPS mostra algum?
  - Posso perguntar. – Peguei o iPhone enquanto o menino me observava. – Siri?
  - Como posso ajudá-la, ? – O celular respondeu, fazendo Zayn me encarar mais ainda.
  - Eu gostaria de encontrar um parque, com árvores, grama... – Pedi para o aplicativo, rindo do meu namorado que não conhecia aquele truque.
  - Minha pesquisa mostrou quinze resultados. Dois parques estão perto de você. Gostaria de direções?
  - Sim, para o mais próximo. – Respondi para a voz feminina e computadorizada de Siri. – Obrigada, Siri.
  - Sua satisfação é todo o agradecimento que eu preciso. – Com essa última frase, a tela do celular voltou para o GPS com instruções de como chegar ao parque.
  - Ok, agora eu com certeza vou mudar pra a Apple... – Zayn ainda estava encantado.
  - Seu Android também é legal, baby... – Coloquei a mão sobre a coxa dele, fazendo um pequeno carinho. – Claro que não tão legal quanto o meu, mas... Legalzinho.

+++

  - Só não caia, tá bem? – Zayn pedia enquanto me levantava sobre os seus ombros para que eu pudesse subir na árvore. – Por que a lista tinha que pedir logo a maior árvore do lugar?
  - Justamente pra ser difícil assim! – Agradeci por não estar usando vestido aquele dia e agarrei o galho mais próximo, içando-me para a árvore e fora dos braços do meu namorado. – Não se preocupe, baby, já fiz isso muitas vezes!
  - Muitas vezes? – Pareceu nada convencido.
  - Algumas vezes... – Admiti, subindo um pouco mais naquela árvore. – Mas ainda conta, não é?
  - Eu acho. – Me observava preocupado. – Não precisa subir mais, , aí está bom!
  - Certo... – Ri baixo da preocupação dele. Não por ser engraçado, mas por ser fofo. – Pode tirar a foto, então!
  - Sorria! – Pediu enquanto me focalizava na tela da máquina fotográfica.
  - Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis. – Disse ao exagerar no sorriso, sentando em um galho que parecia seguro.
  - Linda. – Riu ao segurar a foto revelada. Duvidei que estivesse linda mesmo, mas quem se importa? – Pode descer agora.
  - Tá bem... – Me arrastei de volta para o tronco da árvore, mas parei por não conseguir encontrar nenhum ponto de apoio a partir dali. – Ahn, Zayn?
  - Sim, Anjo? – Guardava a máquina e a fotografia na mochila que eu havia deixado na grama e olhou na minha direção.
  - Não consigo descer... – Ri de mim mesma por estar literalmente presa ali em cima.
  - Nós não pensamos direito sobre isso, não é? – Ele também riu, bagunçando os cabelos. – Bem, você vai ter que pular.
  - HA-HA, essa foi boa! – Balancei a cabeça. Era alto demais pra pular!
  - Tem uma idéia melhor?
  - Tenho! Chame os bombeiros pra vire me tirar daqui! – Pedi. – Eles tem aquela escada grande...
  - , você não é uma gata. – Riu e cochichou as últimas palavras: - Bem, não nesse sentido.
  - Zayn, por favor! – Não era hora de ficar fazendo brincadeiras.
  - Pode pular, eu te seguro. – Esticou os braços na minha direção. – Falo sério.
  - Não tenho outra opção, né? – Choraminguei, assistindo-o negar com a cabeça. – Tudo bem, você venceu!
  - No três, ok? – Indicou, os braços ainda levantados para mim. – Um... Dois...
  - Espera, espera! – Fiz parar. – Eu pulo no três? Ou espero você falar o três?
  - Só pula, !
  Com aquela última ordem, não tive muita escolha a não ser me jogar do galho onde estava sentada e torcer para que Zayn conseguisse me pegar. De fato, ele pegou, mas como o meu pulo não foi muito bem avisado ou ensaiado, meu corpo acabou batendo no dele de mau jeito. Com isso, ambos acabamos indo ao chão. Fiquei preocupada, imaginando que teria machucado-o, porém, a risada que escapou de sua garganta mostrou que ele estava bem.
  - Você está bem? – Perguntei só pra confirmar.
  - Estou... E você pulou mesmo. – Riu mais uma vez.
  - Pois é! – Rolei de cima dele e fui para a grama. – E nunca mais vou acreditar que você nunca vai me deixar cair!
  - Mas eu não te deixei cair! – Protestou, levantando e limpando a grama da roupa. – Você é que nos derrubou com o seu peso.
  - Eu não sou tão pesada assim! – Reclamei; minha voz afinando levemente, como se eu fosse começar a dar chilique. – Está me chamando de gorda?
  - Não, não, claro que não! – Esticou a mão pra me ajudar a levantar também, mas tinha um sorriso sapeca nos lábios. – Só estou dizendo que todo esse fast food não está te fazendo bem.
  - Cala a boca, Malik! – Fui retirada do chão, tentando não me importar com aquela brincadeira. – Preciso falar quem o gordo aqui? Porque você bem que ganhou uns quilinhos e...
  Antes que eu pudesse continuar a “insultá-lo”, Zayn usou a mão que prendia a minha para me puxar mais pra perto e calar a minha boca com um beijo. Não resisti nem por um segundo, passando os braços em volta do pescoço dele. Também não impedi a passagem da língua dele para dentro da minha boca, indo direto ao encontro da minha. Nós podíamos estar suados e com calor, mas isso não foi motivo para nos separarmos. O boné de Zayn havia caído da minha cabeça depois da nossa queda na grama e ninguém se importou em pegá-lo de volta. Como meus cabelos já estavam bem bagunçados, nada mais justo do que bagunçar os dele também, certo? Usei os dedos para passear entre os fios negros do menino que agora mordia o meu lábio inferior e o puxava com luxuria.
  - Você tem que parar de fazer isso... – Pedi, sem nenhum tom de verdade em minha voz.
  - De te morder? – Levemente ofegante, escondeu o rosto no meu pescoço, deixando uma mordidinha ali.
  - Não! – Ri devagar, sentindo um pouco de cócegas. – Parar de me interromper no meio de uma discussão.
  - Mas é o meu jeito de ganhar a discussão! – Se defendeu, passando a minha franja para trás da orelha.
  - Quem disse que você ganhou, Malik? – Cruzei os braços, ainda sendo abraçada pela cintura.
  - Vou ter que te interromper de novo? – Questionou com um sorriso torto.
  - Talvez... – Joguei a cabeça para trás, balançando os cabelos e nos separei. – Mas antes temos que continuar com a caçada!
  - Falta muito? – Se contentou em me soltar e recuperou o boné do chão, usando-o dessa vez. Também pegou a minha mochila e a colocou sobre o próprio ombro.
  - Algumas coisinhas... Não muito. – Tirei a lista e o marcador do bolso para riscar a escalada na árvore. – Na verdade, só três coisas.
  - Então vamos!
   Mais do que nunca eu começava a acreditar que ganharíamos aquele Scavenger Hunt. Nenhum dos meninos voltara a bipar nosso walkie talkie e o combinado era que a primeira equipe que chegasse ao ponto de encontro no final da competição deveria avisar os outros. Agora que paramos pra pensar nisso... Não sabia exatamente qual seria o prêmio da equipe vencedora, mas isso pouco importava. O dia estava sendo incrivelmente divertido por duas razões bem simples: a) Eu estava aproveitando a cidade de um jeito que jamais conseguiria se apenas passeasse por aí. E b) Estava com Zayn cada segundo do trajeto. Demos as mãos enquanto caminhávamos e acabei fitando-o por mais tempo que o considerado “casual”.
   Como começar a explicar o que eu sentia quando o olhava? Palavras não são o suficiente, com toda certeza. Sabe o cheiro de pão fresquinho durante a manhã? Ou um longo banho depois de um dia cheio? Descer do avião após uma viagem longa? Todas essas coisinhas pequenas tem um valor enorme pra quem sabe apreciar. Eu lembrava vividamente de todos os dias que passara longe de Zayn por causa do trabalho dele e agora me sentia imensamente feliz por estar ao seu lado. A saudade realmente era o único defeito dessa vida louca que começávamos a viver, mas mesmo assim eu me sentia extremamente orgulhosa de tudo que ele e os meninos vinham alcançando.
  - Sabe quem também está aqui nos EUA? – Quebrou o silêncio, após corar levemente por estar sendo tão observado.
  - Tom, Danny, Harry e Dougie? – Sorri, sabendo que tinha acertado.
  - Eles estão no Texas! – Sorriu de volta. Zayn já não tinha tanto ciúme assim dos quatro meninos que acabaram se tornando nossos amigos com o passar do tempo.
  - Eu sei! Danny me mandou uma foto ontem à noite, de uma aranha, pedindo que eu fosse lá matá-la. – Ri ao lembrar aquela besteira. – Vocês não tem planos pra trabalhar juntos de novo? Eu realmente gosto das músicas que criaram juntos...
  - Eu também gosto, mas acho que não vamos nos juntar de novo nesse CD... – Começou. – Estamos nos focando mais em músicas próprias nossas, sabe? O primeiro CD tinha que ser algo que atraísse o público, por isso tivemos tantas parcerias. Agora queremos fazer algo mais a nossa cara. Não sabemos se a Modest! vai gostar da idéia... Mas estamos tentando.
  - É uma boa idéia. – Afirmei, alternando o olhar entre ele e o parque a nossa volta. – Alguma música que eu já conheça?
  - Vamos colocar a primeira música que eu escrevi pra você! – Me cutucou com o cotovelo e piscou. – Também tem outra sua... O nome é Kiss You.
  - Claro que é! – Ri, beijando o seu ombro. Zayn e os meninos viviam fazendo mistério pra me falar sobre esse novo CD que estavam gravando e sempre inventavam nomes de músicas que não eram reais.
  - Mas é verdade! – Percebeu que eu não estava acreditando e cerrou os olhos.
  - E eu falei que não é? – Me fiz de inocente e olhei para o lago que começava a correr ao nosso lado. – Acho que achei algo pra riscarmos na lista!
  - Beijar o seu namorado? – Tentou, mas neguei com a cabeça. – Essa lista não é nada legal.
  - Você não precisa de uma lista pra pedir um beijo meu. – Assoprei um beijo na direção dele e o puxei para o lado do lago.
  - Me dá um beijo? – Pediu, fazendo corpo mole.
  - Depois de ganharmos essa brincadeira. – O soltei e puxei a cordinha que prendia uma canoa nas margens daquele lado.
  - , o que você está fazendo?!
  - Entrando em um barco! – Respondi como se fosse óbvio. – Tire uma foto antes que os donos cheguem!

+++

  - Hey, losers! Podem parar de tentar, porque Zayn e eu já chegamos na praia! – Comemorei usando a linha central do walkie talkie para falar com as outras duas duplas.
  - Damn it, ! – Louis foi o primeiro a reclamar.
  - Parabéns, eu acho... – Liam estava triste, mas era um bom perdedor.
   Quase uma hora antes do tempo limite, eu e Zayn chegamos à praia Venice e ficamos super felizes ao perceber que mais ninguém estava por ali. Estacionamos o Jeep no hotel e corremos para o ponto final da “corrida”. Enquanto eu avisava os perdedores, Zayn ligava para a juíza vir nos encontrar e fazer a contagem de pontos. Nós dois tínhamos trapaceado algumas vezes – como na tatuagem e fotografia com alguém famoso -, mas torcíamos para que ainda assim pudéssemos ganhar. Largamos a mochila e sacolas com as coisas que coletamos na areia e também nos sentamos ali. Tirei os tênis e Zayn fez o mesmo, enterrando os pés ali. Por ser um dia de semana, mesmo sendo férias, a praia estava mais vazia que o normal; nos dando a oportunidade de relaxar e curtir a maresia.
   Como não tínhamos mais nada pra fazer até a hora em que todos os meninos chegassem, procurei a minha câmera na bolsa para continuar a tirar fotos. Primeiro capturei algumas imagens do oceano a nossa frente, só escolhendo duas para revelar. Como não havia nada mais bonito que o menino ao meu lado, apontei a câmera para Zayn e tirei algumas fotos seguidas, sem que ele percebesse; também revelando as que eu mais gostei.
  - Sabe o que está faltando nessas fotos? – Ele perguntou, ao ver as imagens.
  - Eu acho que estão perfeitas... Mas o que?
  - Você, ao meu lado. – Sorriu. Acho que tirar fotos comigo era um hobby que ele tinha.
  - Selfie time! – Ri e aceitei que tirássemos fotos juntos.
   Meu cabelo estava bem bagunçado, mas não me importei. Eu começava a apreciar aqueles momentos de casal, onde não fazíamos nada além de tirar fotografias bobas e sem sentido. Em Londres mesmo, guardava uma caixa de sapatos lotada de fotos idiotas que tirara com os meninos, , Liv, , Dorota, Lux e mais qualquer pessoa que aparecesse. Não digo que desenvolvera uma paixão por fotografia, mas o que me atraia mesmo era o fato de poder guardar memórias, eternizar momentos que eu poderia sentir falta dali a alguns anos. Não que alguém fosse morrer ou coisa parecida, mas eu sabia que um dia ficaria velha e gostaria de ter aquelas lembranças para me aquecer.
   Zayn pegou a câmera e apontou para nós dois. Na primeira foto, ambos mostravam a língua. Na segunda e terceira, fizemos caretas engraçadas. As que se seguiram foram uma mistura de fofura, romantismo e melosidades de casal: Tiramos fotos sorrindo, nos olhando, rindo de algo que o outro falara e é claro que o clichê não poderia faltar, então nos beijamos para poder fotografar. Bem, não literalmente só para fotografar, se é que me entende. Em seguida, Zayn me pegou de surpresa, capturando o momento que eu parei para olhar o por do sol que começava ali na frente. Não gostando de ser o centro das atenções, escondi o rosto nas mãos, mas quem disse que isso o parou? Mesmo quando levantei e ameacei correr para o mar, ele também se pôs de pé e continuou com os flashes na minha direção.
  - Zayn, chega! – Pedi, andando para trás.
  - Não está acostumada com os paparazzis, Anjo? – Me seguia.
  - Eles costumam ser mais respeitosos! – Coloquei uma mão na direção da lente, torcendo para que tampasse a visão de mim. – Parou?
  - Só mais uma! – Correu até onde eu estava mais rápido do que eu consegui me afastar e enlaçou a minha cintura.
   Com aquela proximidade toda e o contato do meu corpo no de Zayn, não havia força alguma dentro de mim que conseguisse se afastar. Apenas o olhei enquanto sorria e ele fez o mesmo. Acabou deixando a câmera de lado e desistindo de fotografar. Pousei as mãos nos ombros do menino, inspirando e espirando com força, enchendo os pulmões com o cheiro do sal que vinha do mar e do aroma emanado pela pele levemente bronzeada do mesmo. Meu sorriso diminuiu aos poucos, mas não sumiu. Também não falamos mais nada, pois não era o necessário. Os olhos amendoados dele estavam com um brilho alaranjado por causa do Sol dizendo adeus e era como se eu não tivesse visto algo tão imensamente bonito até aquele momento.
   Estiquei a mão direita até encostar a ponta dos dedos na testa do outro, dedilhando um caminho pelo nariz afilado até que chegasse aos lábios cheios. Zayn mordeu meus dedos de leve, me causando risadas calmas. Ele me abraçou ainda mais, destruindo qualquer distância entre nós; por menor que já fosse. Me coloquei na ponta dos pés para que pudesse abraçá-lo sem que precisasse se curvar na minha direção e enterrei o rosto no encontro do seu pescoço com o ombro direito. Respirei fundo, tendo certeza que era a pessoa mais feliz do mundo. Não por estar em um lugar maravilhoso, tendo o melhor verão da minha vida. Também não era por ser amiga de uma banda famosa ou por ter uma família perfeita me esperando em dois países diferentes. Não era por ter a oportunidade de realizar os meus sonhos, conhecer lugares novos e ser a “garota propaganda” de uma marca de luxo. Eu era a pessoa mais feliz do mundo porque tinha aquilo que muitos passam a vida inteira sem encontrar; um amor tão insuperavelmente bonito.
  - ... – O quase sussurro de Zayn me fez olhá-lo. – Você é tudo pra mim.
   Só consegui sorrir ainda mais e encostar a testa na dele. Zayn também sorriu, fechando os olhos devagar para sentir a minha presença ali em seus braços. O apertei ainda mais contra mim até que fosse impossível nos aproximarmos algo além daquilo. Nossas respirações se tornaram uma só enquanto o mundo inteiro desaparecia e o som das ondas falasse tudo que não éramos capazes. Naquele momento eu tive plena certeza de que era com ele que eu queria passar o resto da minha vida.
- Zayn... – Aquela declaração me pegou de surpresa, causando o esquecimento imediato de qualquer coisa que eu pudesse falar.
  - Eu te amo...

    

Chapter V

Ficar a noite inteira conversado na cama com o seu namorado é bom até que você tem que acordar cedo na manhã seguinte pra ir à praia. Ou, nesse caso, acordar e depois mudar de idéia e voltar pra dormir por mais uma hora. Ou quatro. O importante é que eu estava totalmente decidida a passar o dia inteiro na cama e Zayn aceitou me acompanhar. Nossa felicidade, porém, durou muito pouco. Conseguimos ficar dormindo até que uma certa pessoa com menos de um metro de altura começou a pular na nossa cama. Nem tínhamos filhos ainda e já éramos acordados por uma criança. A vida é ótima, não? O que aconteceu é que Zayn prometera levar Lux ao parque e nenhum dos outros meninos estava por perto para substituí-lo.

  Para resumir a história, agora nós três andávamos de mãos dadas lado a lado naquela espécie de praça ao lado do hotel. Não era um lugar muito grande e nem estava muito cheio; apenas o suficiente. O caminho de grama que levava até o parquinho da praça era ladeado por alguns canteiros de flores naturais que exalavam um cheiro maravilhoso. Se no verão a vegetação já estava dessa forma, imagine na primavera! Infelizmente não ficaria naquela cidade tempo suficiente para apreciar todas as estações, mas quem sabe um dia, não? Assim que os brinquedos já podiam ser vistos, Lux começou a nos puxar com mais pressa. Eu teria corrido com ela se o celular na minha bolsa não tivesse começado a tocar.
  - Por que eu nunca encontro essa coisa? – Falei sozinha, a procura do aparelho. – ACHEI!
  - Quem é? – Zayn perguntou após rir da minha batalha.
  - Minha mãe. – Respondi com um sorriso, lendo o nome “Mum” na tela do celular. – Hey, muuuuuuuum. Que saudade!
  - , querida? – Não foi a voz da minha mãe que eu escutei. Minhas bochechas devem ter ficado completamente vermelhas. – É você?
  - Oi, Trisha... – Levei uma mão à testa, morrendo de vergonha. – Desculpa, é que o seu filho inventou de comprar um celular igual ao meu, então acho que confundimos os dois...
  - Não tem problema! Eu queria mesmo falar com você.
  - Sendo assim... Tudo bem? – Tentei manter a voz firme e esquecer esse pequeno mico que acabara de pagar. Zayn ainda ria ao meu lado, pedindo pra apanhar.
  - Eu estou ótima, como sempre! E vocês dois?
  - Estamos muito bem, pra falar a verdade. E não se preocupe, estou tomando conta do seu filho. Ele tem se alimentado direito e não vai para o sol sem passar protetor solar.
  - Eu sabia que podia ficar tranqüila que você cuidaria dele! – Escutei uma voz do outro lado da linha, que julguei ser de Doniya. – Só não deixe que ele escute isso, tá bem? Zayn odeia quando eu me preocupo. Mas ele não entende que sempre vai ser o meu bebê...
  - Não se preocupe, o seu segredo está seguro comigo. – Sorri e afastei Zayn com um abano de mão quando ele tentou escutar a conversa.
  - Hey, ela é minha mãe! – O menino reclamou.
  - Trisha, vou passar o telefone pra ele ou Zayn terá um treco, ok? – Balancei a cabeça.
  - Sem problemas. Até logo, querida. – A mulher se despediu. – As meninas estão te mandando um beijo!
  - Outro pra elas! – Me despedi e entreguei o aparelho para Zayn. – Pronto, toda sua!
  - Obrigado, babe. – Sorriu como se fizesse uma careta, me arrancando uma curta risada. – E aí, mum? (...) Estamos em um parque com a irmã da . (...) Essa mesma, a loirinha fofa...
  - , quero ir brincar... – Lux puxou a barra do meu short pra chamar a minha atenção.
  - Então vamos, pequena! – Segurei a mão dela e acenei para o menino que estava ao telefone.
  Zayn apenas afirmou com a cabeça e deixou que nós duas nos afastássemos em direção aos brinquedos e se sentou em um banco para continuar a conversa com a sua mãe. E, aliás, se Patricia não fosse tão legal e simpática todas as vezes que nos falamos, eu teria ficado muito constrangida em ter atendido a sua ligação da forma que atendi. Lux não estava achando muita graça daquela história toda, então correu para o primeiro brinquedo em que queria ir. Fui atrás dela enquanto subia pela escadinha da entrada.
  - Espera por mim, Lux! – Pedi, fazendo-a parar quando já estava no topo.
  - Você vai brincar comigo, ? – Sorriu.
  - Posso?
  - Vem, veeeeeeem! – Esticou a mãozinha na minha direção.
  - Já vou! Só não me deixe cair, ok? – Antes de começar a subir, verifiquei se o brinquedo era realmente seguro. Bem... Seguro para alguém do meu tamanho.
  - Temos que passar pela ponte... E pelo túnel mágico... – Ia explicando enquanto eu terminava de subir naquela fundação de madeira.
  - Não gosto de túneis, Lux. – Fiz bico e a menina segurou a minha mão para que atravessássemos a ponte. – E essa ponte aqui parece... OH, NÃO! LUX, OLHA!
  - O que? O que? – Segurou com força nas cordas da ponte assim que chegamos ao centro dela. – Onde?
  - Lá embaixo! São jacarés! – Também segurei nas cordas e dei alguns pulinhos para que a ponte balançasse. – Corre, Lux, acho que a ponte está quebrando!
  - Rápido, vamos! – Entrando na brincadeira, correu o mais rápido que pode e parou já na outra parte do brinquedo, segura dos jacarés. – Vem, , não fica parada aí! Os jacarés vão te pegar!
  - Fuja, Lux! Não sei se consigo! – Dramatizei, sem sair do lugar. – Você pode se salvar!
  - Não sem você! – Com isso, a pequena voltou para a ponte e fingiu chutar jacarés imaginários. Ela parecia realmente enxergar os animais e até fazia barulhos de luta. – Vem comigo!
  - Você me salvou! – Segurei a mão dela e ambos corremos até a próxima parte segura do brinquedo. Sentei no chão de madeira como se estivesse cansada após uma longa batalha. – Obrigada, Lux. Eu teria virado picadinho!
  - É o que as irmãs fazem. – Sorriu, se jogando em meu colo pra poder me abraçar. - Vamos para o túnel mágico agora?
  Surpresa com o cuidado que a pequena estava tendo comigo, a segui para a próxima etapa. Lux estava acostumada a ser cuidada e protegida, mas naquela brincadeira, ela era quem estava cuidando de mim; mesmo que não soubesse que era só de brincadeira. Então essa mudança de papeis fez que um novo traço de sua personalidade aflorasse. A loirinha se mostrou extremamente protetora e uma ótima líder, sempre matando os jacarés que apareciam na nossa frente. Até mesmo quando eu fiquei meio em dúvida sobre atravessar um túnel estreito, ela me acompanhou e me apoiou até que eu estivesse do outro lado. Lux continuou na frente, seguindo o caminho até o escorregador mais próximo. Enquanto a seguia, procurei Zayn com o olhar ao notar que ele não estava mais no canto de antes. Ao invés disso, o menino se divertia em um dos balanços do parque. Eu senti que podia ficar observando-o fazer aquilo por horas, pois sua risada era quase inocente; linda.
  - Você não vem mais, ? – Lux perguntava lá de baixo, após ter escorregado.
  - Já estou indo! – Ri e me abaixei para poder fazer o mesmo que ela. Só torci pra não ficar entalada no escorregador. – Weeeeee.
  - Agora vamos na caixa de areia? – Apontou para onde algumas crianças montavam castelinhos.
  - Vá lá, Luxy. – A encorajei. – Tem amiguinhos novos pra você conhecer...
  Mesmo um pouco em dúvida se deveria ir ou não com aqueles estranhos americanos, a menina saltitou em direção ao novo brinquedo. A observei chegar lá em segurança e começar a conversar com uma menina morena de vestido florido para então dar meia volta e seguir para o meu próprio destino. Zayn me estudava enquanto eu caminhava em sua direção, parando de se balançar graduadamente. Ambos sorrimos um para o outro e me sentei no balanço livre ao lado do seu. Dei um pequeno impulso com os pés para que o meu brinquedo se mexesse e meus cabelos logo caíram de meus ombros.
  - Se divertindo? – Perguntei ao observar o menino ao meu lado.
  - Não tanto quanto ela. – Apontou para Lux e sorriu.
  - Acho que ninguém consegue se divertir tanto quanto ela. – Olhei a criança brincar com um balde que provavelmente pertencia á morena do vestido floral.
  - Eu estava pensando... – Começou, ainda olhando a minha irmã.
  - Eu sabia que tinha sentido cheiro de queimado. – Brinquei, interrompendo-o.
  - . – Me olhou sério, mas só me fez rir.
  - Desculpa! – Levantei as mãos e prendi um lábio no outro.
  - Como eu ia dizendo... – Rolou os olhos ao segurar um sorriso e continuou. – Lux se parece com você e com seu pai. Mas não com o Lou...
  - Você acha? – Encarei os meus próprios pés na grama, temendo o rumo que aquela conversa começava a tomar.
  - Cheguei à conclusão que é porque ele puxou a Jay e você e Lux ao Mark. – Deu de ombros. – Porque Lou não parece muito com o seu pai, agora que estou reparando...
  - Sei disso. – Suspirei. Então ele tinha percebido. – É porque Lou não é filho do meu pai. Não biologicamente falando, pelo menos...
  - Como é? – Parou de uma vez de se balançar e me encarou, seus olhos cheios de duvida.
  - Vou te contar a história. – Forcei um sorriso. Não era de fato um segredo, ainda mais por se tratar de Zayn. Finalmente consegui encará-lo para contar a confusão que era a minha família. – Quando a minha mãe conheceu o meu pai, ela já estava grávida do Lou. Mas o pai verdadeiro dele não queria um filho ou uma esposa, então foi embora e abandonou a minha mãe... E foi aí que ela conheceu o meu pai, em uma viagem que fez a Londres. Os dois se apaixonaram perdidamente, essa parte é verdade, e Mark percebeu que seria capaz de fazer qualquer coisa por ela e pelo filho que ainda iria nascer. Então eles se casaram antes mesmo que Lou viesse ao mundo.
  - Eu não fazia idéia... – Zayn absorvia as informações que eu acabara de jogar em cima dele.
  - Nós não gostamos muito de falar sobre isso, na verdade. Quero dizer, meu pai estava lá desde o nascimento de Lou e deu muito mais que um sobrenome. Deu amor... – Aquela história não era de fato triste, apenas... Ruim. – Então Mark é o pai dele. A única diferença é que não tem o mesmo sangue.
  - Você tem razão. E se não me contasse essa história, eu nunca desconfiaria. – Sorriu como se falasse “está tudo bem”. – E esse pai biológico... Vocês o conhecem?
  - Yeah... O nome dele é Troy Austin, mora em uma cidade ao sul de Paris. Nós o conhecemos há alguns anos atrás. – Afirmei, não gostando daquelas lembranças. – Lou encontrou o endereço dele em uma agenda da minha avó, então roubamos o carro de papá e dirigimos até lá.
  - E aí?
  - Bem... Pra ser bem sincera, ele praticamente fechou a porta na nossa cara. E tem uma filha chamada Georgia, que deve ter uns quatorze anos agora e é uma versão piorada da antiga Brigitte.
  - Então deixa ver se eu entendi... Você tem o Lou por parte de mãe e Lux por parte de pai. Lou tem você e essa tal de Georgia... Então a Lux só tem você.
  - Exatamente. – Ri baixo daquela pequena confusão. – E agora teremos as filhas de Dan. Phoebe e Daisy.
  - E eu achava que a minha família era complicada. – Também riu, me olhando com uma expressão divertida no rosto.
  - Agora você sabe onde está se metendo! – Estiquei a mão na sua direção, que logo encontrou com a dele. – Ainda dá tempo de sair dessa.
  - Não, obrigado. – Piscou, entrelaçando os nossos dedos.
  - Por falar nisso, o que a sua mãe queria? – Preferi mudar um pouco o assunto enquanto nos balançávamos de mãos dadas.
  - Saber se o programa que iremos hoje vai ser transmitido lá.

+++

  - , eu sei que você está chateada, mas não pode ao menos tentar ficar feliz por nós? – Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos, me fazendo tirar os olhos da janela do carro e olhar pra ele.
  - Eu estou feliz por vocês, baby, é claro que estou... – Suspirei, me esforçando pra sorrir. Em seguida, olhei para os outros meninos que estavam naquela van. – Eu entendo que esse programa é uma ótima oportunidade pra todos vocês.
  - Mas estamos de “férias”, então não deveríamos trabalhar. – Lou fez aspas no ar, sabendo que era aquilo que eu estava prestes a falar. Ele estava no banco da frente, ao lado de Liam e Ni. – , a gente não se importa. De verdade.
  - É até divertido! – Li se virou um pouco para poder me olhar. – Nós gostamos disso, , não se preocupe.
  - Acho que vocês tem razão. – Afirmei, resolvendo dar o braço a torcer.
  Não é que eu não estivesse animada com a idéia de os meninos se apresentarem pela primeira vez em um programa americano ao vivo, porque estava sim! O que me preocupava é que Marco nem ao menos perguntou o que eles achavam disso. Além de já terem trabalhado bastante nos últimos meses, a Modest! continuava a forçá-los a fazer mais coisas aqui ou ali. Hoje podia ser um programa de TV, mas amanhã seria uma turnê mundial. Eu sabia que os cinco gostavam daquele trabalho e que era o sonho de todos eles, mas eu tinha outras preocupações. Sentia como se eles estivessem sendo explorados agora que estavam no começo de suas carreiras, mas preferia guardar essas opiniões só pra mim.
  “Vamos lá, . Eles estão felizes. É o que importa.” Com esse pensamento, decidi apenas aproveitar o momento. Paul dirigia aquele carro e Rachel estava ao seu lado, mexendo algo em seu celular. Lux dançava em cima do colo de Niall e eu não sabia qual dos dois era o mais novo. Zayn brincava com os dedos da minha mão esquerda e Harry estava à minha direita, olhando pela janela. Desde que entramos no carro, o menino se mostrou mais calado que o normal e agora que eu o olhava com atenção, seu rosto parecia mais pálido que o normal.
  - Haz? – Toquei o seu joelho com a mão livre. – Você está bem?
  - Uh... Estou sim... – Sorriu, mesmo que não tenha me convencido muito. – Só estou um pouco nervoso.
  - Não precisa disso! – Encostei o rosto ao ombro dele e suspirei. – Vocês vão ser perfeitos, como sempre.
  - É só uma música e uma entrevista, nada demais... – Haz parecia falar mais pra si mesmo do que pra mim.
  - Sem falar nas milhões de pessoas assistindo vocês pela TV. – Comentei como se não fosse nada de mais. – Pela internet... Em outros lugares do mundo...
  - Muito obrigado, . – Dessa vez foi Liam quem pareceu ficar nervoso.
  - Sempre que precisar! – Ri.
  - Meninos, acabei de ser informada que não teremos muito tempo antes de entrarem em cena... – Rachel se virou para falar com os meninos. – Então podem começar a aquecer as vozes e fazer aquela baboseira toda.
  - Não é baboseira, pesant. – Lou reclamou.
  - Tá, tá, como quiser. – A mulher riu, sem dar muita importância. – , se lhe perguntarem...
  - Já sei, Rach. Falo que estou usando Mulberry e blábláblá. – Rolei os olhos. – Não é a minha primeira vez.
  - E depois somos nós que trabalhamos demais... – Zayn me reprovou com o olhar.
  - É diferente, ok? – Cerrei os olhos. – Só o que eu tenho que fazer é usar essas roupas bonitas e aparecer na frente das câmeras.
  - É mais ou menos o que nós fazemos também. – Ni riu; e foi o único.
  Todos os meninos pareceram se entreolhar após Niall continuar rindo daquela piada que ninguém conseguia enxergar a graça. Se estivesse ali, eu tinha certeza que ela o teria chamado de idiota e os dois acabariam se beijando no final e tudo ficaria bem. Ah, como eu queria que ela estivesse ali! Sentia falta da minha ruiva e da minha loira, que deviam estar na minha casa agora, cuidando do meu filho. Queria que Liv e pudessem estar indo ao estúdio do Today Show, mas sabia que elas não podiam ter feito essa viagem comigo; mesmo que por razões diferentes. Os cinco logo começaram a fazer baboseira que Rach se referira. Se juntaram em uma voz só e começaram a fazer exercícios de aquecimento para as suas cordas vocais, em um conjunto de “aAaaAaaAs”, “oOoOooOs” e etc. Eu devia estar acostumada, mas ainda morria de rir quando Liam imitava algo que me lembrava muito uma galinha ou quando Louis afinava a sua voz. Lux também se divertia muito e se juntava a eles.
  Assim que Paul estacionou o carro na vaga reservada para nós no estúdio do programa de TV, Liam abriu a porta da van e foi o primeiro a descer. Quase no mesmo instante, gritos puderam ser escutados e nos fizeram olhar em volta. De um em um, fomos descendo até que pudéssemos nos situar do que estava acontecendo ali. Há alguns metros de distância, um grupo razoavelmente grande de fãs se encontrava espremido em grades de ferro, na esperança de conseguir ver os meninos. Mesmo de longe, conseguíamos ler algumas placas que falavam o quanto elas amavam o One Direction e agradeciam por eles estarem naquele país. O sorriso dos meninos era simplesmente enorme. Era a primeira vez naquele país que algo assim acontecia, então é claro que não poderiam deixar passar em branco.
  Como Marco já devia estar dentro do estúdio e longe dali, não poderia reclamar se os meninos fossem cumprimentar suas fãs. Lou olhou para Rach e Paul, como se precisasse de uma espécie de permissão. A loira apenas balançou a cabeça afirmativamente; dando a deixa para que os quatro meninos pudessem correr em direção à grade. Os gritos aumentaram consideravelmente, me fazendo rir. Zayn foi o último a ficar ali, com um braço em volta da minha cintura, até que eu aceitasse ir com ele para perto dos outros. Lux estava com a mãe, mas correu ao nosso encontro assim que viu que eu também iria.
  - Elas querem você, não eu! – Me soltei de Zayn, empurrando-o na direção de um grupo de meninas que pedia uma foto com ele.
  - Eu já volto! – Sorriu e deixou um beijo em meus lábios antes de correr até elas.
  - Awn, vocês dois são tão fofos! – Uma garota falou, fazendo-me corar. – , certo?
  - Sim, certo! – Acenei para ela, segurando a mão de Lux; que também acenou.
  - Essas são as nossas garotas! – Harry, que acabava de tirar uma foto com duas fãs, apontou para mim e Lux.
  - São lindas. – Uma outra garota falou.
  - Tinham que ser minhas irmãs! – Lou se gabou, fazendo com que nós duas nos aproximássemos dele.
  - Vem aqui, ! Tira uma foto com a gente? – A mais baixinha me chamou. – Você também, pequena linda!
  - O que acha, Luxy? – Perguntei à minha irmã, que logo afirmou que sim com a cabeça.
  A peguei no colo e nos aproximamos da primeira menina. Zayn pegou a câmera dela também se juntou para tirar a foto de nós quatro. Depois dessa primeira fã, mais algumas pediram fotos comigo ou com os meninos. Lux não entendia quase nada. Ela podia estar acostumada com esse tipo de atenção, mas em sua cabeça, os meninos ainda eram “pessoas normais”. Também era comum ela receber mais atenção que eu, por ser uma bebê e não namorar com nenhum dos meninos. Eu entendia as fãs, claro. Também nunca ia com a cara das namoradas dos meus ídolos. Um exemplo puro disso era a Lara Jones, namorada do Dougie do McFly. Só cheguei a começar a suportá-la depois que a conheci pessoalmente. E olhe lá! Claro que existiam exceções, como a Gi, por exemplo. Esposa do Tom. Sempre gostei dela e sei que parte disso se devia ao fato de ela sempre ter estado ao lado dele, desde o começo da banda. O que era o meu caso; eu estava ao lado de Zayn desde sempre. Só podia torcer que seria uma exceção também.
  - Love, temos que ir... – Toquei o ombro de Zayn enquanto ele assinava o pulso de uma garota. – Rach está fazendo aquela cara.
  - Aquela cara? – Fez careta e me olhou. – Estamos encrencados.
  - Pode apostar. – Ri e me virei para os outros meninos. – Lads, tá na hora!

+++

  Maquiagens feitas, cabelos arrumados e nervos a flor da pele, todos os meninos estavam prontos para entrar no palco! O intervalo do programa logo seria anunciado pelo apresentador e então eles iriam se preparar para poder aparecer. Cada um dos cinco havia ganhado um daqueles microfones que são escondidos na roupa, além disso, ganhariam outros quando fossem cantar. Harry e Louis se abraçavam, o mais velho tentando acalmar os nervos do mais alto, Liam “meditava” e Ni falava ao telefone com a sua mãe. Péssima hora pra ela ligar, eu sei! Ao menos o irlandês estava calmo. Quem não estava calmo, aliás, era Zayn. Ele vinha se sentindo enjoado desde que avisaram que só teriam dez minutos e ficava andando de um lado para o outro. No começo foi um pouco engraçado, mas agora eu começava a me preocupar.
  - Assim você vai furar o chão! – Me coloquei na frente dele, forçando nossos corpos a se esbarrarem. Diferente do que eu esperava, ele não voltou a se afastar e me abraçou com força. – Baby...
  - Eu estou nervoso, . E se eu esquecer a letra? E se eu desafinar? – Pressionou o rosto em meu pescoço e o envolvi pelos ombros.
  - Você não vai esquecer a letra e nem desafinar! – Tentei acalmá-lo da melhor forma que pude. – Você vai ser ótimo! Todos vão.
  - One Direction, dois minutos. – O produtor do show anunciou.
  - É agora que eu desmaio! – Liam pensou alto.
  - Abraço em grupo! – Puxei Zayn pela mão até que nós dois pudéssemos nos juntar aos outros quatro.
  - Vamos ser incriveeeeeeis! – Niall se forçou entre eu e meu namorado, nos abraçando pelos ombros.
  Ni era o único que não parecia estar nervoso e eu esperava que a sua animação contagiasse os outros meninos. Harry, Lou e Liam se juntaram ao abraço que se tornara uma espécie de ritual entre nós. Mesmo quando eu não podia estar no meio, sabia que eles se abraçavam como uma forma de mostrar que estavam juntos nessa e que não importava o que acontecesse, um teria o apoio do outro. Assim que nos separamos, Zayn me puxou para um beijo de boa sorte (que só eu podia dar, aliás, mesmo que Liam se oferecesse constantemente) e fui me juntar a Rachel. Nós duas tínhamos a opção de ficar ali atrás ou ir assistir o programa na platéia, então escolhemos essa segunda opção.
  Lux preferiu ficar nos braços da mãe dessa vez e nós três seguimos um dos funcionários do Today. Passamos por uma porta e chegamos ao estúdio. O lugar não era tão grande assim e apenas cem pessoas mais ou menos pareciam estar por ali. Isso se ignorássemos todos os telespectadores que estavam assistindo através das cinco câmeras espalhadas que focavam o palco do programa. Descobrimos onde deveríamos sentar e fomos nos juntar a alguns outros convidados que também vieram acompanhar amigos ou familiares que foram ou iriam ser outras atrações daquele show.
  - Mummy, porque estamos aqui? – Lux perguntou ao ser colocada entre eu e a mãe.
  - Vamos ver os meninos! Eles vão entrar ali, oh... – Apontei para uma rampa e as luzes do estúdio diminuíram para em seguida acenderem. – Acho que vai começar! Shh.
  - Estamos de volta com o seu Today Show!! – A apresentadora bem arrumada anunciou, levantando da sua poltrona confortável. Enquanto nós a aplaudíamos, ela olhava em suas plaquinhas. – Como todos estavam esperando, eu gostaria de chamar ao palco esse grupo de cinco britânicos lindíssimos! One... Direction!
  - Yaaaaay! – Gritei no meio de outros gritos e bati palmas.
  - Olha, olha! – Lux ficou louca, apontando para os meninos enquanto eles acenavam e desciam a rampa, bem mais calmos que antes.
  - Tudo bem, L.A.?! – Liam acenou e depois fez uma careta adorável para a câmera.
  - Oi, todo mundo... – Harry acenou para a platéia, que gritou ainda mais.
  - Uau, essa é a recepção que vocês recebem em todo lugar que vão? – A apresentadora perguntou, abraçando de um por um.
  - Geralmente sim! – Lou foi o último a se sentar no sofá que havia ali, por isso quase não coube. – Mas nós amamos. É realmente muito bom receber essa energia toda dos fãs.
  - E como vocês lidam com essas coisas... Do tipo, andar pela rua, pegar um ônibus? – Os ânimos da platéia começaram a diminuir e a entrevista pode ter inicio. – Porque deve ser uma loucura com todas essas garotas gritando por vocês! É possível ainda fazer isso, ou...?
  - Ainda é possível fazer isso, sim... – Lou começou a responder.
  – É mais difícil quando nós cinco estamos juntos. – Liam confirmou.
  - É verdade, quando estamos juntos é mais complicado, ou até mesmo em dupla. – Lou olhou para os meninos, como se perguntasse se podia continuar a responder. – Mas mesmo assim, ainda é possível fazer essas coisas normais. A diferença é que às vezes temos que parar pra tirar fotos ou dar autógrafos.
  - Ainda é um pouco estranho acreditar que somos reconhecidos na rua. – Niall riu, olhando para Lou e em seguida para Chelsea, a apresentadora. Os meninos tratavam meu irmão como se ele fosse o líder, sempre buscando a sua afirmação. – Até ontem nós éramos cinco amigos cantando pra nos divertir e hoje podemos fazer isso como profissão.
  - É bem surreal mesmo. – Zayn abriu a boca pela primeira vez.
  - E quem dos cinco recebe mais atenção? – A loira parecia realmente interessada.
  - Harry Styles! – Os quatro responderam de uma vez, menos Harry, que cobriu o rosto, tímido.
  - Eu acho que é o cabelo... – Liam brincou, bagunçando os cachos de Harry.
  - Harry é charmoso... – Lou suspirou ao olhar o namorado, mesmo que ninguém mais pudesse saber disso.
  - E porque não falam um pouco sobre o primeiro single de vocês? Vamos ouvi-lo daqui a pouco e eu preciso dizer que é bem contagiante.
  - Nós estamos muito felizes com ele, porque mostra bem o que nós queremos passar... – Ni começou. – Ainda mais por ter sido a primeira coisa que escrevemos juntos com uma banda, então é algo bem importante pra todos nós.
  - E vocês tiveram muito trabalho, não é? Filmando o vídeo clipe...
  - Com certeza! Passamos dias na praia... Eu até ganhei uma queimadura do Sol. Terrível! – Li brincou com uma risada. – Não, na verdade foi muito bom gravar esse clipe. Nós nos divertimos muito e a equipe inteira foi simplesmente incrível.
  - Qual foi a praia onde vocês filmaram? – Chelsea se mexeu na cadeira, chegando mais perto dos meninos e cruzando as pernas.
  - Malabami... – Zayn respondeu, causando risadas nos outros meninos. – O que foi?
  - Malibu, Zayn... – Liam o corrigiu e mesmo estando longe, eu podia ver as bochechas dele adquirindo um tom avermelhado.
  - Malibu! Eu não sei porque falei Malabami. – Riu, tentando se desculpar. Mas ele estava sendo tão fofo que eu não acho que alguém tenha se importado com aquele pequeno erro.
  - E o X Factor, huh? Foi uma mudança drástica na vida de vocês!
  - Principalmente por nem sabermos que estávamos concorrendo ao concurso! – Lou falou e me encarou. – Mas muito obrigado a minha irmã, que sempre acreditou que conseguiríamos.
  - De nada. – Sussurrei com um sorriso, sabendo que não seria escutada por ninguém.
  - Então acho que é a ela que suas fãs em que agradecer, não?
  - Com toda certeza! – Liam sorriu. – Mas foram os fãs que votara pra que ganhássemos e são eles que nos dão apoio e tornam tudo isso possível, então somos nós que devemos agradecê-los!
  - Awn, como são lindos! – A apresentadora riu e trocou a ordem das fichas em suas mãos. – Bem, logo teremos que seguir com o show, mas temos tempo para mais uma pergunta! Essa é a que vocês estavam esperando, meninas.
  - Ah, não... – Harry riu. – Estou com medo!
  - Tenha medo mesmo, Harry! – Chelsea também riu. – Vamos ao que interessa! Quem... De vocês... Está... Namorando?
  - Zayn e Liam! – Niall foi o primeiro a responder, apontando para os dois. Harry e Lou se entreolharam e trocaram um sorrisinho rápido, mas me doeu porque eles não podiam admitir o próprio relacionamento.
  - Mas não um com o outro! – Liam gargalhou, mal podendo se mexer naquele sofá apertado demais para os cinco. – Minha namorada se chama Danielle.
  - A minha garota se chama e ela é a melhor namorada do mundo. – A resposta de Zayn me fez corar, ainda mais porque ele estava olhando pra mim ao falar isso. – Eu não seria nada sem ela.
  - Temos um romântico aqui, pessoal! – A mulher sorriu, olhando para uma câmera. – E não é difícil ter esses relacionamentos quando vocês estão sempre na estrada e longe de casa?
  - É difícil, mas não impossível. Quero dizer... Vale a pena lutar, sabe? E quando estamos juntos de novo, é muito melhor. Parece que damos mais valor aquilo que nós temos. – Zayn podia ter ficado calado durante a maioria da entrevista, mas agora falava tão naturalmente que até fiquei impressionada. – Claro que é muito bom quando as nossas namoradas podem nos acompanhar em viagens e essas coisas.
  - E elas fazem isso muitas vezes? Sempre acompanham vocês?
  - A minha irmã nos acompanhou em algumas viagens curtas pela Europa, mas é a primeira vez que ela vem em uma mais longa... – Lou apontou pra mim na platéia. – Ela é a .
  - Minha namorada. – Zayn reforçou.
  - Oi... – Falei meio sem jeito, acenando para todos que olhavam pra mim.
  - Ela não é linda? – Harry piscou pra mim.
  - Maravilhosa! – Chelsea exagerou e eu sabia disso. – Bem, porque não vamos logo ao principal? Cantam What Makes You Beautifil pra gente?
  - Claro!

+++

  - Vocês o acharam? – Perguntei um tanto afobada após sair do hotel e encontrar Louis e Liam na calçada.
  - Ali... – Liam apontou para um menino sentado na areia da praia na frente do hotel. Mesmo de longe era possível ver que ele estava de cabeça baixa. - Acho que alguém devia ir falar com ele.
  - Só uma pessoa. – Louis afirmou, dando um passo a frente. – Eu vou.
  - Lou, por favor. – O segurei pelo braço, impedindo que andasse mais. – Me deixa ir?
  - ... – Suspirou, louco pra dizer não.
  - Eu sei que ele é seu namorado, mas Harry foi meu melhor amigo antes de ser o seu. – Meu motivo era bem melhor do que qualquer um que ele pudesse ter.
  - Tudo bem. – Bufou baixo, mas sabia que eu tinha razão. – Só... Me avisa, ok?
  - Claro que sim. – Sorri fraco e afirmei com a cabeça. – Pode ficar tranqüilo.
  Tranqüilo era a última coisa que Louis ficaria naquele momento. Na verdade, era a última coisa que qualquer um de nós ficaria naquele momento. Havíamos voltado do Today Show havia pouco mais de duas horas e durante mais da metade desse tempo, Harry sumira. O pior era que todos nós sabíamos o motivo que o levara a se afastar e ficar sozinho ali na praia, a poucos minutos do pôr-do-sol. A apresentação dos meninos de What Makes You Beautiful foi ótima, claro, mas Haz encontrou um pouco de dificuldade durante o seu solo. O que aconteceu na verdade foi apenas uma falta de fôlego que poderia ter acontecido com qualquer um. Ou seja, Haz quase não conseguiu cantar o seu solo e por isso ficou decepcionado consigo mesmo, acreditando que tinha estragado tudo. É claro que não estragou nada, mas por mais que falássemos isso pra ele, o menino não conseguia mais sorrir.
  Foi difícil assistir aquela “falha” do meu melhor amigo e não poder fazer nada. O mesmo foi o que li no olhar dos outros quatro meninos. Todos sabiam o que devia estar se passando na cabeça de Harry no momento que as palavras não saiam de sua boca por causa da falta de ar que ele estava sentindo. Ninguém do programa ou da platéia falou coisa alguma e todos aplaudiram de pé quando a música terminou, porém, isso também não foi o suficiente para acalmar os nervos do menino em questão. Atravessando a rua sem esperar o sinal de pedestres abrir, corri com meus saltos nas mãos. Não tivemos tempo de trocar de roupa, por isso eu ainda estava com aquele vestido curto, mas não dava a mínima.
  - Posso sentar? – Anunciei a minha chegada devagar.
  - Uhum. – Harry não levantou a cabeça para me olhar, mas limpou o rosto como se tentasse esconder lágrimas. Na sua outra mão estava o celular, que ele também tentou esconder.
  - O que você tem aí? – Perguntei com calma, sem obrigá-lo a me mostrar. Finalmente me sentei na areia e estiquei as pernas na minha frente, deixando meus sapatos de lado.
  - Eu só estava pesquisando... – Respondeu com a voz embargada. – Vendo o que estão falando sobre a apresentação de hoje...
  - E o que achou? – O olhava mesmo que fugisse de meu olhar. Sem falar nada, apenas me entregou o aparelho para que eu mesma pudesse ler. – “Harry Shit”? Harry, porque você pesquisou isso?
  - É como me sinto. – Deu de ombros e eu vi seus olhos verdes brilharem por causa de novas lágrimas que ele lutava pra segurar.
  - Você não pode ler apenas as coisas ruins, Haz... Tem gente falando coisas boas também... – Tentei.
  - Se tem três pessoas falando que eu sou incrível... Por que eles estão falando isso? Porque são fãs... – Harry começou, se permitindo me fitar com suas orbes esverdeadas. – Mas se tem uma pessoa falando: “Eu te odeio”... Por que você me odeia? Entende? Eu quero saber porque me odeiam... O que eu fiz? Eu sei ser criticado, com certeza. Mas se é tipo “eu não gosto de você”, eu quero saber por que não gostam de mim.
  - Eu te entendo... – Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Me partia o coração ver aquele menino que costumava ser tão alegre e adorável falar aquelas coisas com tanta dor. Era simplesmente horrível.
  - Eu sempre quis ser uma daquelas pessoas que não se importa com o que as pessoas falam... – Respirou profundamente, deixando as lágrimas caírem em suas bochechas. – Mas eu acho que não sou.
  - Você é tão incrível, sweetie. Sinceramente. Você tem um coração enorme que mal cabe dentro de você. Você é doce, tem um jeito de ver o mundo que ninguém mais tem. Você é bom, você importa. – Fechei a área de pesquisa do celular e me concentrei apenas em Harry, colocando uma de suas mãos no meio das minhas. – Acima de tudo, você está cercado por pessoas que te amam. Você tem a mim, aos meninos, ao Lou... Sua família, a minha família... E você tem milhares de pessoas que nem conhece, mas que te amam também. O que aconteceu hoje? Não é nada comparado ao que você já fez por aí ou o que ainda vai fazer.
  - Mas eu falhei... – Soluçou.
  - Não falhou coisa nenhuma! – Balancei a cabeça, falando sério. – Você só perdeu o ar e isso acontece. É apenas um problema que teremos de lidar. E eu trouxe algo pra você.
  - O que? – Secou os olhos mais uma vez enquanto eu tirava algo do bolso interno do meu vestido.
  - Digamos que é uma velha amiga. – Sorri fraco ao passar uma bombinha de asma para ele.
  - Onde você achou isso? – Arqueou uma sobrancelha, levando o remédio até a boca e acionando-o.
  - Lou sempre carrega uma dessas na mala, quando vocês dois tem que viajar. – Admiti, contando aquilo que devia ser um segredo. – Só por precaução.
  - Ele me conhece...
  - Mais do que você imagina. – Sorri, abrindo os braços pra que ele pudesse entrar ali.
  - Obrigado, . – Fungou mais uma vez, seu choro começando a diminuir.
  - Sempre que precisar, curly.

    

Chapter VI

Sábado chegou e trouxe com ele todo aquele agito de final de semana. Tendo isso em mente, alguém precisava explicar para Marco o conceito de “férias”. Estar de férias significa relaxar, aproveitar seu tempo livre fazendo coisas que apenas lhe agradam, não estudar, não trabalhar. Principalmente: Não ir a uma reunião que estava demorando mais pra acabar do que eu demorei pra nascer. Não estou sendo dramática – não muito, pelo menos. Pra você ter uma pequena noção do que eu estou falando, passava das quatro horas da tarde e os meninos haviam “sumido” desde as sete e meia da manhã. Tudo culpa desse empresário de araque que não respeitava o espaço que Zayn, Harry, Louis, Liam e Niall precisavam para recuperar as energias da maratona que vinham enfrentando a um bom tempo. Algo que me incomodava bastante era que eu parecia ser a única a perceber isso. Não sei se era o meu sexto sentido feminino ou se existia algum clausula no contrato com a Modest!Management que os proibia de reclamar.
  Sentei na cama, bufando de tédio. Não estava afim de ir a praia sozinha e nem de voltar para a piscina, já que ela apenas conseguiu me distrair durante algumas horas naquela manhã. Ir passear pelas lojinhas da área comercial do hotel também estava fora de cogitação. Nem ao menos Paul pode ficar ali pra me fazer companhia! Pelo que eu entendera, todos que estavam relacionados a banda eram obrigados a comparecer pontualmente àquela reunião nos estúdios da Syco Entertainment. Desconfiava que até mesmo Simon fosse dar uma passadinha lá antes de ir para a gravação do novo episódio do X Factor americano. Rachel e Lux também foram convocadas (bem, mais Rach do que Lux, mas enfim), o que me deixou extremamente excluída dessa história toda. Tudo bem, eu não trabalhava com a banda, mas era praticamente a fundadora! Deveria no mínimo ganhar um monumento como o de Abraham Lincoln em Washington DC.
  Deixando meu drama momentaneamente de lado, estiquei a mão para recuperar o meu celular do criado mudo ao lado daquela cama de hotel. “Nenhuma mensagem nova.” Repeti na minha cabeça. Me chame de grudenta se quiser, mas é errado uma namorada pedir noticias para o seu namorado que prometera voltar na hora do almoço? Também achei que não. Tudo bem que doze mensagens pode ser um pouco de exagero, mas sabia que Zayn não se importaria. Se qualquer coisa, ele gostaria de ver que eu sentia sua falta. Antes de poder digitar a minha décima terceira mensagem, senti o aparelho vibrar sobre os meus dedos, avisando que eu recebia uma ligação. O nome que apareceu na tela não era de nenhum dos meninos raptados, mas me senti igualmente feliz ao aceitá-la.
  - Bonjour, nana. – Saudei, voltando a me acomodar nos travesseiros de pena de ganso.
  - , minha neta preferida! – Jolene falou do outro lado e só a sua voz já foi capaz de acalmar o meu humor.
  - Sou sua única neta, vó. – Ri, mesmo sabendo que seria a sua preferida mesmo entre milhares de outras. – Como a senhora está? Faz tempo que não nos falamos.
  - Tempo demais! Eu sabia que você devia estar se divertindo aí do outro lado da lagoa, então não quis te atrapalhar... Mas eu estou bem, minha querida. E você?
  - Melhor agora que estou escutando a voz da minha nana! – Soei infantil, mas quem se importava? – Fico feliz que tenha ligado.
  - Estou ligando pra confirmar o dia que você vem... Não mudou de idéia quanto a vir antes do grande dia da sua mãe, certo?
  - Claro que não! Na verdade, estou mais certa do que nunca. Vou levar dois amores comigo, tudo bem?
  - Oh, que ótimas noticias! Zayn virá com você?
  - Ele não perderia a sua comida por nada. E também vai gostar muito da senhora.
  - Vou preparar um banquete pra quando vierem! Já tem uma data mais ou menos certa? Só pra que eu possa me organizar...
  - Se organizar? Nana, eu morava aí, ok? – Segurei mais um riso. Não queria ser tratada como visita na minha própria casa.
  - Ora, então não quer a sua torta de maçã com canela? Tudo bem...
  - Nana, nana! Quem disse isso? – Me desesperei. Aquela ameaça era golpe baixo. – Só um minuto, tá bem? Tenho certeza que Zayn anotou essas coisas em algum lugar...
  Prendi o celular entre a orelha e o ombro enquanto levantava da cama e corria até uma mesinha no fundo do quarto. Meu namorado podia ser organizado quando se tratava das suas roupas, mas em relação ao resto ele era uma completa negação. Todos nós estávamos com as nossas passagens de volta marcadas para dali a mais ou menos uma semana, mas eu queria ter certeza. Escutei a risada doce da minha avó enquanto revirava alguns papeis até encontrar o que estava procurando.
  - Achei! – Afirmei, voltando a segurar o iPhone com a mão direita e o papel na esquerda. – Dia sete de julho dá em um domingo... É quando voltaremos pra Londres. Então acho que na segunda feira já estaremos por aí!
  - Vai passar o seu aniversário conosco? – Minha avó parecia ter recebido a melhor noticias de todas. – Já tenho tantos planos...
  - Nana, eu não quero nenhuma festa. – Tinha certeza que a decepcionaria, mas não seria a mesma coisa sem meu avô para me lembrar de fazer um pedido antes de apagar as velas. – Só quero passar o dia com vocês... Mas não negarei a minha torta.
  - É uma escolha sua, . Mas eu não me importaria de organizar uma reuniãozinha...   - Quando eu chegar aí, nós decidimos, tá bem? – Não me sentiria bem negando de uma vez, ainda mais pelo telefone. Minha avó gostava de fazer aquelas coisas por mim e pelo meu irmão.
  - Claro, ma chère. Escute, devo ir agora. Já está tarde e o sono está começando a me vencer...
  - Sono? – Levei alguns segundos para me tocar que em Paris era quase meia noite. Maldito fuso horário! – Oh, é verdade! Nos falamos logo, nana. Bonne nuit!
  - Bonne nouit, dear.
  Eu nunca parava de sentir saudades da minha avó, mas acho que depois de quase um ano morando longe de Paris, já havia me acostumado relativamente a conviver com aquele aperto no coração que me atormentava sempre que nos falávamos pelo telefone. Desencostei da poltrona onde sentara após achar os papeis com as datas de viagem e caminhei de volta para a cama, me preparando para voltar a ficar entediada. Ainda com o aparelho celular na mão, reparei em um pequeno envelope que não estava ali antes. “Uma mensagem!” Mas novamente não era Zayn.

  
Ainda vai vir ao Summer Fest? Wesley quer te ver, mas não diga a ele que eu falei isso. xx – K.”
  “Se ele quer me ver, porque é você que está me mandando essa mensagem? Haha. xx – .”
  “Perguntei a mesma coisa, mas quem o entende? Só sei que ou eu mandava, ou corria o risco de ser atirado do palco!”
  “Espero que ele esteja lhe pagando muito bem por esses serviços de carteiro!”
  “Penso seriamente em aumentar o meu preço. Mas então, vai vir? Ele vai morrer se não receber uma resposta...”
  “Eu não sei... Admito que esqueci que era hoje. Tinha combinado de ir com os meninos, mas eles me abandonaram aqui sozinha!”
  “Está sozinha? Mais uma razão pra vir. Aqui tem comida, brinquedos, montanha russa...”
  “Começou a me convencer! Haha Mas ainda não sei...”
  “Quer mesmo gastar um sábado inteiro trancada em um quarto? Venha dizer oi para o Sol!”

  Keaton tinha bons argumentos. Aquele seria o meu último sábado antes da véspera da minha viagem de volta para Londres. Minha amada e nublada Londres. Onde eu não tinha praia, um céu extremamente azul ou temperaturas elevadas. É, Keath tinha argumentos muito bons! Sem falar que o Summer Fest prometia ser muito divertido. A única coisa que me deixava com um pé atrás era a minha desconfiança de que talvez Wesley não quisesse apenas me “ver”. “Pare de pensar besteira. Ele sabe que você tem namorado.” Isso mesmo, consciência. Além do mais... O que teria de errado em ir me divertir um pouco?

  
“Estarei no píer em vinte minutos.”
  

+++

  Ok, posso ter demorado um pouco mais que vinte minutos para trocar de roupa, arrumar o meu cabelo em uma trança de lado, sair do hotel, encontrar um taxi na rua e finalmente chegar ao Píer de Santa Monica onde o Summer Fest tinha se iniciado. Segundo o motorista amigavelmente informativo que me dirigiu até ali, o festival desse ano estava acontecendo naquele dia por culpa do solstício de verão; o dia mais longo do ano. Geralmente este fenômeno acontece em junho, mas por culpa do efeito estufa ou qualquer outra coisa desse estilo que não prestei muita atenção durante as minhas aulas de ciências, o dia atrasou consideravelmente a chegar. De qualquer forma, todas as pessoas que passavam por mim pareciam muito felizes e animadas por estar ali. Apesar do calor, ninguém parecia ter preocupação alguma no mundo inteiro.
  Diferente de mim, que tinha uma única apreensão: Encontrar Wes, Keath ou Drew. Como naquele dia em especial não era preciso comprar ingresso para entrar no pequeno parque de diversões montado em cima do píer, apenas atravessei a catraca e tentei sair do caminho das pessoas já acompanhadas que corriam para os primeiros brinquedos de suas pequenas aventuras. Preferi me esconder em uma sombra atrás de uma placa decorativa que dizia “End of the Road” e peguei o celular para ligar ou apenas mandar uma mensagem para qualquer um dos três meninos que deveriam estar me esperando ali.
  - Achei que você tivesse se perdido! – Antes mesmo que eu digitasse qualquer coisa, escutei uma voz não muito íntima, mas mesmo assim conhecida, atrás de mim.
  - Hey, Drew! – Sorri, me colocando na ponta dos pés para abraçá-lo. Porque todo mundo tinha que ser mais alto que eu? – Não me perdi, só tive um pouco de trabalho pra encontrar o que vestir.
  - Fez um bom trabalho. – Senti suas mãos quentes em volta da minha cintura nua. Ok, talvez eu devesse ter escolhido uma blusa que escondesse mais da metade da minha barriga. Mas as pessoas de LA não pareciam se importar em mostrar um pouco mais de pele, então porque eu deveria? – Nós nos dividimos pra te procurar! Como eu te encontrei, ganhei o prêmio.
  - Qual é o prêmio? – Perguntei realmente curiosa, andando ao lado do loiro enquanto ele mostrava o caminho que deveríamos seguir.
  - Você vai ver. – Piscou, mas não com segundas intenções. – Ali estão eles!
  O menino apontou para os dois irmãos que se penduravam em uma das cercas de madeira que cercavam o píer. Para alguém que deveria estar me procurando, nenhum dos dois parecia fazer um bom trabalho. A não ser, é claro, que imaginassem que eu chegaria nadando pelo mar que pacientemente se movia lá embaixo. Drew não se importou em tocar os meus ombros enquanto andávamos, da forma que eu tinha certeza que Wes faria, e nos juntamos aos outros dois que ainda não haviam notado a minha chegada, apenas a do terceiro garoto.
  - Alguma sorte procurando ela aí embaixo? – Drew perguntou, assustando os dois.
  - Não estamos procurando a aqui, jerk. – Wes o xingou em tom de brincadeira, se virando na nossa direção.
  - Por mais que ele ainda ache que ela é uma sereia... – Keath confessou, me fazendo rir. Meu som fez com que os outros dois finalmente me olhassem e suas expressões foram mais engraçadas ainda. – Oh... Você está aí...
  - Não ligue para o que ele falou, ... – Wes podia ser bem bronzeado, mas ainda fui capaz de encontrar resquícios de um pequeno rubor em suas bochechas.
  - Eu nem sei do que está falando. – Preferi ignorar o pseudo-elogio e apenas sorri, deixando que o menino me abraçasse. – É bom te ver, Wes! Ainda quero novas aulas de surf.
  - É só marcar. – Sorriu de volta, separando-se de mim.
  - É impressão minha, ou você está mais loira do que da última vez que nos vimos? – Keath foi o último a me abraçar, me fazendo bufar com aquele comentário.
  - Não estou loira! – Reclamei, rolando os olhos. – É culpa desse sol que está clareando a cor, mas ainda é um tom castanho caramelizado...
  - Pra mim é loiro. – Wes provocou, cruzando os braços.
  - Querem parar com isso?! – Bati o pé, mas não consegui ficar brava por muito tempo. A atmosfera daquele lugar era boa demais. – Quanto tempo vocês tem antes de subir ao palco?
  - O bastante. – Drew se espreguiçou, flexionando os músculos e fazendo um grupinho de meninas que passava por nós trocar sussurros e gritinhos nada discretos. – Quem está lá agora é a banda We The Kings, conhece?
  - Não por nome... Essa música que está tocando é de lá? – Achei impressionante que a música que estava sendo tocada ao vivo no palco no fundo daquele píer pudesse ser escutada dali. Claro que eu via as caixas de som espalhadas, mas ainda assim. – O sistema de áudio deve ser muito bom...
  - Vamos mesmo ficar conversando sobre tecnicalidades ou podemos ir nos divertir?! – Keath meio que me interrompeu, mas não achei ruim. – Isso é um festival, for God’s sake!
  - , quer escolher o primeiro lugar aonde vamos? – Wes ofereceu.
  - No way! – Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Drew se colocou na minha frente. – Eu a achei. O combinado era que eu escolheria primeiro.
  - O que aconteceu com “primeiro as damas”, Chadwick? – Keath cruzou os braços, mas algo me dizia que ele estava se divertindo com aquilo tudo.
  - Não tem problema... Ele ganhou, então tem direito. – Coloquei uma mão no bolso e dei de ombros. – E quero andar em todos os brinquedos, então não me importo muito...
  - Então está feito! – O mais loiro dos três sorriu satisfeito pela sua vitória. – Vamos à Casa Maluca.
  Eu tinha um bom conhecimento de Casas Malucas, principalmente por costumar me perder dentro delas, mas esperava que ali nos Estados Unidos as coisas fossem um pouco mais fáceis. De qualquer forma, Drew tinha o direito de escolher e mesmo que eu tivesse sentido um pequeno frio na barriga ao me imaginar perdida em um labirinto de espelhos, seria obrigada a acompanhá-los. Os olhares cresciam conforme adentrávamos o festival e eu sabia que o motivo disso era os meninos que estavam ao meu lado. Ao menos ali não havia nenhum paparazzi e nenhuma garota os parou para tirar fotos ou pedir autógrafos. Acho que em um parque de diversões, as atrações principais não eram eles.
  Andamos por um pouco mais de três minutos – não, eu não estava cronometrando – e pude enxergar a tal casa maluca. A instalação de três andares era tão brilhante e colorida que meus olhos tiveram que se acostumar com aquele excesso de informações. Incrivelmente não havia fila alguma esperando para entrar no brinquedo, então qualquer um que chegasse ali podia simplesmente começar a se divertir. O som que vinha lá de dentro era uma mistura de portas batendo, gritos, risadas e mecanismos pesados sendo acionados; sem falar de um barulho realmente alto que eu não conseguia identificar ainda, mas me assustava cada vez que eu o ouvia. Drew e Keaton nem ao menos esperaram que eu e Wesley o acompanhássemos e correram em disparada para o primeiro andar e primeira fase daquela casa, literalmente, maluca.
  - Está nervosa? – Wes me olhou, parado na minha frente e impedindo a nossa entrada na casa. – Pode segurar a minha mão, se quiser...
  - Obrigada pela oferta... – Sorri travessa, mas neguei. Ao invés de segurar a mão dele, o ultrapassei e corri para a esteira rolante que girava na direção contraria a que eu deveria ir. – Mas acho que estou bem!
  - Ei, espera!
  Não parei de correr, pois se fizesse isso, acabaria indo ao chão. A esteira parecia aumentar embaixo de meus pés na medida em que eu me aproximava do seu final. Também não me atrevi a olhar para o menino que devia estar vindo atrás de mim. Já em um ponto seguro daquele primeiro andar, vi os dois outros que estavam mais adiantados que eu e me pus a correr mais uma vez, dessa vez tentando acompanhá-los. Tive que passar por cima de alguns troncos falsos e me arrastar pelo chão para passar por muros de cabeça para baixo. Quase caí ao pisar em falso em uma placa de metal que começou a tremer assim que subi em cima dela. Minha sorte é que Wesley apareceu do nada para salvar a minha vida e me deu um pouco mais de apoio ao segurar o meu cotovelo. O agradeci com um sorriso e dessa vez não corri dele.
  - Taa-lvez ee-u preci-iisee mesmooo da su-uaa aju-uda... – Gaguejei por causa da tremedeira e pulei para frente e fora daquela placa. – Pare de rir, Wesley!
  - Desculpa, mas você falou engraçado! – Gargalhou alto e pisou onde eu estivera segundos antes. – Pr-raa oonde-e agoo-ra?
  - Como é? – Foi a minha vez de rir por ele gaguejar. – Pra onde vamos?
  - Exatamente. – Veio para o meu lado e observou as duas portas na nossa frente, que eram nossas únicas opções. – Direita ou esquerda?
  - Você vai pela direita e eu pela esquerda!
  Podia não ser a idéia mais inteligente que nos separássemos, mas que mal teria? Quero dizer, aquela casa não poderia nos matar, certo? Wes afirmou que aceitava aquele meu plano e foi engolido pela porta direita. Esperei alguns segundos para seguir meu próprio caminho e assim que entrei na porta esquerda, me senti em um verdadeiro aquário. A única diferença é que não havia água ali dentro. Eu estava dentro de um retângulo cercado por paredes de vidro foscas, que não me permitiam ver nada do lado de fora. O teto era escuro e o chão formado por quadrados que me lembravam muito um tabuleiro de campo minado. Aquele pensamento me deu um pequeno arrepio, porque eu não queria nada explodindo sobre os meus pés.
  Dei o primeiro passo, pisando em um quadrado vermelho. No mesmo instante, um jato de água foi lançado acima da minha cabeça, me fazendo recuar instintivamente. Não fiquei encharcada, apenas um pouco úmida na região dos braços e topo da cabeça. Sem falar no grito que acabei soltando com o susto. “Ok, eu deveria ter ido pela direita.” Analisei as minhas opções. A) Sair correndo e chegar até o fim daquele pequeno corredor. B) Calcular uma estratégia que me permitiria chegar seca ao outro lado. Respirei fundo, escutando o meu nome sendo chamado do outro lado. Wes já devia ter passado pelo seu desafio! Se eu continuasse parada ali, ele provavelmente pensaria que segui em frente sem ele; o que me deixaria sozinha e acho que nós podemos concordar que essa realmente não era uma boa idéia. Não em um lugar daqueles.
  - Oh, fuck it.
  Xinguei não tão alto assim e respirei fundo antes de voltar a correr. Acabei pisando em todos os quadrados que escondiam armadilhas, me odiando por não ter escolhido outra seqüência de corrida. Para resumir, levei novos jatos de água, vento, algo que parecia muito com penas de galinha e, por último, mas não menos importante, espuma! Quando consegui atravessar a nova porta, já tinha gritado muito e agora só conseguia rir. Wes ainda estava ali e, acredite se quiser, estava mais molhado do que eu.
  - Eu odeio essa parte. – O menino balançou a cabeça, mas eu ainda ria tentando tirar a espuma do meu cabelo.
  - Eu gostei. – Afirmei e recebi uma careta em resposta. – Ah, podia ser pior...
  - Se você diz... – Tirou algumas penas que acabaram ficando presas na minha trança. – Vamos?
  - Yep!

+++

  Após mais ou menos duas horas correndo pra cima e pra baixo, indo nos mais variados brinquedos, era de se esperar que eu estivesse com fome, sede e suada. Fora isso, me sentia... Viva! Todas as atrações faziam a adrenalina correr pelas minhas veias e liberar aquela felicidade que só sentimos quando estamos com amigos em um lugar tão divertido quanto um parque de diversões sob um píer em Los Angeles. Meu relógio marcava sete horas da noite, mas o céu falava três horas da tarde. Era um pouco confuso e você acabava ficando um pouco perdida, mas ainda assim era bem divertido. O que não estava sendo tão divertido, porém, é que nem Drew, Wes ou Keath pareciam querer me deixar escolher a próxima atração que iríamos visitar. Já havíamos repetido alguns brinquedos e mesmo assim o único que eu realmente queria andar ainda parecia distante demais.
  - O que vocês vão comer? – Drew parou na entrada da área de alimentação, mesmo que eu estivesse relutante a seguir em frente.
  - Aqui ainda tem bagles, certo? – Keath esfregou uma mão na outra, como se fosse louco por aquilo que eu não fazia idéia do que poderia ser.
  - Vão indo na frente, ok? Ainda preciso andar em um brinquedo antes de encher o estômago. – Se eles não me acompanhavam, eu iria sozinha mesmo. – Encontro com vocês daqui a pouco...
  - Você ainda quer ir ao balanço, ? – Wes perguntou, puxando uma das pontas dos meus cabelos clareados. Depois do terceiro brinquedo, meu cabelo já estava tão bagunçado que acabei sendo obrigada a desfazer a trança.
  - Muito... – Usei de artilharia pesada e fiz um bico bem grande.
  - Okay, frenchy, você venceu. – Bufou com um meio sorriso, se virando para os outros dois em seguida. – Vou acompanhar a estrangeira no balanço e encontramos vocês depois.
  - Yaaaaay! – Comemorei com um pulinho sem sair do lugar. – Merci, Wes!
  - É, isso mesmo. – Afirmou e desconfiei que ele não entendia nem o básico de francês.
  Simplesmente acenei para os dois meninos que separaram de nós e dei meia volta. Não precisaria ser guiada até aquele brinquedo que estava de olho desde que cheguei àquele festival. Não sei qual era a banda que estava se apresentando agora, mas a música que tocava era meio inde e meio pop; uma combinação inusitada de letra e melodia que acabou dando muito certo. O calor também parecia ter amenizado um bocado e uma brisa gostosa trazia o cheiro da maresia direto para os meus pulmões e o gosto de sal para os meus lábios. Apesar de Keath soltar uma indireta aqui ou ali que dissesse respeito à Wes ter uma “crush” por mim, ele não tentou nada e até perguntou sobre o meu namorado; provando que a minha consciência estava certa e que eu não deveria me preocupar com nada. Com isso, o clima estava super leve e tranqüilo e não me importei de estar passeando apenas com um garoto charmoso e atraente.
  Mais rápido do que eu esperava, mas ainda assim não rápido o suficiente, chegamos ao brinquedo que não parecia tão popular quanto os outros. O carrossel gigante chamava o meu nome! Ao invés de animais que subiam e desciam conforme o brinquedo girasse, havia balanços pendurados! Eu nunca andara naquele chamado “Swing Ride”, mas já sabia que iria adorar. Wesley ficou um pouco atrás de mim, obviamente nervoso, entretanto, ainda assim me seguiu quando a fila andou e a nossa vez de entrar chegou. O brinquedo tinha balanços de dois lugares ou apenas um. Antes que meu acompanhante pudesse ter qualquer idéia, fui mais rápida e sentei em um solitário. Não que eu me importasse de sentar ao lado do meu mais novo amigo, é só que aquilo era algo que eu queria fazer sozinha. O funcionário do parque logo passou para travar os acentos e me informou que eu poderia guardar os sapatos e bolsa em um compartimento abaixo do meu e assim o fiz.
  - Tem medo de altura? – Perguntei com uma risada, olhando para o menino que ocupou um balanço mais atrás de onde eu estava.
  - Tenho medo de cair! – Respondeu enquanto checava pela terceira vez a trava de segurança.
  - Bom argumento! – Não conseguia parar de sorrir. Meus pés descalços balançavam livremente e logo voltei a olhar pra frente. – Here we go!
  Acabei rindo sozinha quando o carrossel começou a girar. Era quase como um balanço comum, com a exceção de que só íamos para frente. Como se já não bastasse, o mecanismo central do brinquedo pareceu se elevar alguns metros e rodopiar ainda mais rápido. Não era o suficiente para me deixar tonta, apenas fazia com que o meu balanço fosse inclinado levemente e meus cabelos fossem jogados para trás. No começo, enquanto ganhava confiança, mantive as minhas mãos segurando as correntes que prendiam o banco. Como se fosse impossível, a velocidade e altura voltaram a aumentar até que o ritmo foi estabilizado. Olhei para baixo e só o que meus olhos captaram era o borrão de cores formado por outros brinquedos e pessoas.
  O vento lambia o meu rosto e era gentil, como se me acariciasse e me convidasse pra voar. Aceitando o convite, fechei os olhos e respirei fundo. Entrelacei os calcanhares para trás e aos poucos fui soltando as mãos. Precisei de força para abrir os braços, e assim que consegui, os mantive naquela posição. De repente, só o que encostava no banco do balanço era um pedaço das minhas costas e a minha bunda. Fora isso... Eu estava voando! Poderia ser uma cena ridícula pra quem estava de fora, mas pra mim era uma sensação libertadora; bem como eu gostava. Respirei fundo aquele cheiro de praia como se quisesse prendê-lo dentro de mim para quando não estivesse mais naquele país. Sentia falta de Londres, da minha casa e das minhas coisas... Mas sentiria ainda mais falta daquela cidade maluca de vendedores ambulantes, transito terrível, praias belíssimas, pessoas famosas e corpos banhados pelo sol.
  Abri os olhos só para enxergar o céu azul brilhando na minha frente. Eu me sentia como um pássaro e, só pra brincar, bati os braços como se fosse um. O barulho de algo sendo explodido chamou a minha atenção e me assustou até que eu vi que era uma nova queima de fogos, comemorando o Solstício de Verão e o último dia do mês de junho. A cada meia hora/quarenta minutos um daqueles espetáculos de foguetes agradavam todo o público que curtia o festival, mas foi estando ali em cima que eu realmente pude apreciar. Era como se eu pudesse esticar a mão e tocar aquela chuva de gliter.
  Tudo que é bom dura pouco, mas até que aquelas voltas duraram bastante. Ou pelo menos o suficiente. Da mesma forma que começou a girar, o brinquedo parou. Diminuindo a altura e velocidade devagar até que nos acostumássemos com aquela nova rotação. Ninguém vomitou, então era um ponto positivo. Antes de pisar no chão, recuperei meus sapatos e bolsa, recebendo ajuda de Wes para soltar a trava de segurança. Ele parecia um pouco pálido e seus lábios levemente secos. Acho que alguém sentiu um pouco de medo. Preferi não comentar a péssima aparência que ele estava, pois ao menos ele me acompanhara até ali.
  - Isso foi tão legal! – Vibrei enquanto saíamos do brinquedo. – Eu realmente amei!
  - Sério? Eu não fazia idéia! – Ironizou, voltando a cor normal. – Acho que escutaram as suas risadas lá em Londres.
  - Me deixe ser feliz, Wes. Sempre quis andar em um brinquedo desses... – O cutuquei com o cotovelo, ainda sorrindo e sem me importar com a bagunça que meu cabelo deveria estar. – Eu amo voar.
  - Já pulou de pára-quedas? – Me deu a mão para que eu pudesse descer a escada que nos levaria pra fora daquela atração.
  - Eu disse que gosto de voar, não de cair.
  - Bem pensado. – Riu e paramos de andar, olhando em volta. – O que quer fazer agora?
  - Estou com fome... – Como já andara no Swing Ride, podíamos comer!
  - Gosta de Corn Dogs?
  - Por favor, me diga que Corn Dog é um primo distante do Hot Dog... – Pedi, realmente preocupada. – E me diga que vocês não comem cachorros de verdade aqui... Com milho.
  - Você nunca comeu um Corn Dog? – Riu da minha ingenuidade. – Vem comigo. Não posso deixar você sair daqui sem comer um.
  Como eu não teria escolha, segui Wesley pelo caminho contrário ao que eu sabia ser o da área de alimentação. Não sabia mais onde nos encontraríamos com Drew e Keath, mas o outro menino não parecia se importar muito. O número de pessoas aumentou consideravelmente conforme as horas do dia foram passando e ali no final do píer parecia mais um formigueiro gigante. A maioria dela era adolescentes que curtiam o festival perto do palco que crescia na minha frente. Mais uma vez eu não conhecia a banda que se apresentava, mas mexi a cabeça no ritmo da música enquanto andava.
  Não demoramos muito pra chegar até um carrinho ambulante que não me parecia ser muito seguro – higienicamente falando -, mas ninguém por ali se importava com isso. Várias pessoas formavam filas e gritavam para o senhor atendê-las. Senti pena por ele estar sozinho e não ter nenhuma ajuda para dar conta de todos aqueles pedidos. Conhecendo Los Angeles como eu achava que conhecia, aquele agito todo já deveria ser normal pra ele pelo menos. Preferindo me deixar a uma distância segura daquela bagunça, Wes me pediu para esperar na sombra enquanto se afastava para comprar nossos tais Corn Dogs.
  Enquanto me mantinha protegida dos raios de sol, dei uma rápida olhada no meu celular. Ainda não tinha nenhuma mensagem, ligação não atendida ou sinal de vida de nenhum dos meninos ou de Rachel. Aquela demora toda estava começando a me irritar, mas como dizem que noticia ruim chega logo, tentei relaxar. Se algo tivesse acontecido, eu já teria ficado sabendo. A música que tocava aos poucos foi diminuindo até que acabou completamente e a platéia aplaudiu aquela banda uma última vez. Fiz o mesmo, claro. Informaram uma pequena pausa de dez minutos e mesmo assim quem estava por ali não se dispersou muito. Parei de encarar o palco assim que Wesley apareceu no meu campo de visão. Em cada não ele segurava um palito de picolé, com a exceção de que aquilo não se parecia nada com um sorvete e muito menos doce. A comida parecia uma coxinha de frango, daquelas que encontramos em lanchonetes de comida brasileira, mas era mais comprida e estava enfada no palito de picolé.
  - Um Corn Dog no capricho! - Sorriu ao me entregar o meu palito.
  - Obrigada... – Fiquei observando o meu lanche, sem saber exatamente como começar a comê-lo. – Eu acho.
  - Não é tão ruim depois que você se acostuma! – Um homem que até então eu não notara, estendeu a mão na minha direção, sorrindo simpático. – , certo?
  - Sim, eu mesma! – Aceitei aquele comprimento, sorrindo da mesma forma que ele.
  - Ouvi muito ao seu respeito. – O homem continuou falando, mas arrisquei e dei uma mordida no Corn Dog.
  - Esse é Jared, . – Wes respondeu antes mesmo que eu pudesse perguntar o nome dele. – Nosso empresário.
  - É um prazer! – Falei sincera após engolir o pedaço que mastigava.
  - Gostou? – Wes se referia a comida.
  - É... Interessante. – Ri fazendo uma careta. – Parece cachorro quente, mas mais...
  - Salgado? – Jared opinou.
  - Gorduroso. – Afirmei com uma nova careta. Não era ruim, apenas... Diferente. – Mas eu gostei!
  - Não precisa comer, se não quiser. – Wes riu, mas é claro que eu terminaria de comer. Reclamar seria a mesma de alguém ir pra Londres e não gostar do nosso Fish ‘n Chips.
  - Está ótimo. – Dei uma nova mordida e Jared tocou no ombro de Wes, que o olhou.
  - Tenho que deixar sozinha agora, ... – Meu amigo começou. – Vamos subir ao palco agora.
  - Os outros dois já estão no backstage! – Jared explicou. Pessoas estavam com mania de me responder antes mesmo que eu perguntasse.
  - Não tem problema! Eu vou adorar assistir!
  Desejei boa sorte, mesmo que soubesse que não precisava, e abracei Wes, pedindo que ele também abraçasse os outros meninos por mim. Jared se despediu e os dois me deixaram ali sozinha. Bem... Não tão sozinha, já que eu ainda tinha meu Corn Dog pela metade. O gosto realmente não era tão ruim depois que você se acostumava. Sem falar que as minhas mãos começavam a ganhar uma textura meio engordurada. Ew. De qualquer forma, foi vendo aqueles dois se afastarem que percebi o quanto o relacionamento dos meus meninos com Marco não era dos melhores. Jared e Wesley pareciam a vontade na presença um do outro. Pareciam amigos de verdade.
  Terminei o meu lanche o mais rápido possível e caminhei até uma lata de lixo para jogar o palito vazio fora. Aproveitei para limpar as mãos em um lencinho perfumado que trazia na bolsa e dei muita sorte de encontrar uma pastilha de cereja que seria perfeita para tirar o gosto do Corn Dog da boca. Esse meio tempo foi o necessário para que o Emblem3 subisse ao palco e novos gritos começassem. Pelo menos eu podia dizer que conhecia uma banda a se apresentar no Summer Fest de Los Angeles! Os três pareciam bem a vontade na frente de todas aquelas pessoas, acenando para Deus e o mundo e sorrindo mais que tudo! Senti falta de também subir em um palco e fazer algo um pouco diferente... Dançar!
  - WHAT’S UP, LA? – Drew gritou, cumprimentando a platéia. – Vamos esquentar isso aqui?!
  - Então vamos lá! – Keath foi o segundo, apertando a mão de algumas meninas que se espremiam perto do palco. – Wes, quer anunciar essa primeira música?
  - Será um prazer! Queremos começar o show com uma homenagem a uma pessoa muito especial. – Wes começou e, mesmo eu estando mais no fundo, olhava pra mim. – É a nossa forma de lhe das as boas vindas ao Sunset Boulevard.

  
Let's take a trip to Sunset Boulevard,
  (Vamos passear no Sunset Boulevard)
  In the city of stars.
  (Na cidade de estrelas)
  The city of blinding lights and starry eyes.
  (A cidade de luzes que cegam e olhos de estrelas)
  I said now welcome to the city of angels! Woah oh oh oh
  (Eu disse, bem vinda à cidade de anjos)
  City of angels! Woah oh oh oh
  (Cidade de anjos)

  A música começou e a banda os acompanhou. Os três meninos andavam e pulavam pelo palco, animando a platéia e fazendo com que eles balançassem os braços no mesmo ritmo. Wes puxou o primeiro trecho que funcionava como uma introdução. Como a boa fã que era dos três meninos, eu conhecia aquela música e arrisquei cantar uma parte ou outra. Era impossível ficar parada, então quando fui perceber, já estava dançando sem sair do lugar.

  
I said I love my women like I love my juice, naked.
  (Eu disse, eu gosto das minhas mulheres como do meu suco, nuas)
  All natural, no preservatives or fakeness.
  (Tudo natural, sem preservatives ou falsidade)
  I like my ladies like I like my Brady's, in Bunches.
  (Gosto das minhas senhoritas como gusto dos Brady, em muitos)
  I've got the six pack, I ain't talking 'bout the crunches.
  (Tenho o six pack e não estou falando dos abdominais)
  Hit it 'til I quit it like Tyson's punches.
  That's how you gotta rock if you wanna run shh...
  (É assim que você precisa fazer se quiser corer)
  Sweat make it less fizzy.
  (Suor torna isso menos efervescente)
  Buzzkill Betty got me dolly dolly dizzy.
  Lost In her eyes, like oh my God, where is she?
  (Perdido nod olhos dela, tipo ai meu Deus, onde ela está?)
  Down here in SoCal, boy we gettin busy in the city.
  (Aqui no sul da California, boy, estamos ficando ocupados na cidade)
  We're getting busy in the city!
  (Estamos ficando ocupados na cidade!)

  Drew entrou com o rap, que era a parte mais difícil para eu acompanhar; me obrigando a desistir. Keaton entrava de vez em quando e acompanhava o amigo. O publico pulava, incluindo eu. Talvez “principalmente eu”, mas isso é detalhe. De vez em quando os meninos apontavam pra mim, o que me rendia bons olhares curiosos e de inveja. Sinceramente eu já não me importava com isso. Só queria aproveitar e me divertir com a homenagem que eu nem sabia que estaria recebendo.

  
Let's take a trip to Sunset Boulevard,
  (Vamos passear pelo Sunset Boulevard)
  In the city of stars.
  (Na cidade de estrelas)
  The city of blinding lights and starry eyes.
  (A cidade de luzes que cegam e olhos de estrela)
  I said now welcome to the city of angels. Woah oh oh oh
  (Eu disse, bem vinda à cidade de anjos)
  City of angels. Woah oh oh
  (Cidade de anjos)

  Nesse refrão, os três meninos se juntaram e me permiti cantar a letra a plenos pulmões. Claro que minha voz não seria diferenciada – até porque quase todos ali pareciam conhecer a música -, mas os cantores ficaram felizes por ver que eu estava me divertindo. Wes pulou em uma caixa de som na frente do palco e as mulheres foram a loucura, tentando agarrá-lo. Se não fossem os seguranças para protegê-lo, não sei o que aconteceria. Apesar disso, o menino não aparentava estar preocupado.

  
I said a bright future reflect off my aviators.
  (Eu disse, um future brilhante refletido nos meus óculos de aviador)
  Here's a peace sign going out to all my haters.
  (Aqui está um sinal da paz para todos os meus inimigos)
  High five, Keaton, no hurt hand when we…
  (High five, Keaton, não machuque a mão quando nós...)
  Get samples at yogurt land and we…
  (Pegamos amostras na Yougurt Land e nós...)
  Chill smooth, talk about Betty Blonde-B.
  (Relaxar suave, falar sobre Betty Blonde-B)
  Kill brews, play Call of Duty: Zombies. Yeah…
  (Matar bebidas, jogar Call of Duty: Zumbis.)
  She's startin' to get the best of me.
  (Ela está começando a ter o melhor de mim)
  While she makes her mind up whether she wants me or Wesley…
  (Enquanto se decide se quer eu ou Wesley)

  Mais uma vez Drew arrasou no rap, fazendo um High Five com Keath e empurrando Wesley de brincadeira quando mencionou os dois. Acabei rindo daqueles três palhaços, preferindo pensar que a música serviria apenas para me dar as boas vindas à cidade e que não tivesse realmente que escolher entre Drew ou Wesley, até porque a minha decisão já estava tomada: Zayn.

+++

  Uns vinte minutos haviam se passado e show do Emblem3 seguia cada vez mais divertido. Não tive mais nenhuma surpresa ou homenagem, mas os três meninos continuaram fazendo de tudo para que, não só eu como todo o resto do público, estivesse aproveitando ao máximo. Eles faziam brincadeiras em cima do palco, falavam conosco e contavam piadas que muitas vezes nem eram tão engraçadas assim, mas que continuavam nos matando de rir. Mesmo sem conhecer ninguém que estava na platéia, eu pulei, dancei, cantei e aproveitei de verdade o primeiro show daquela banda que eu assistia. Eu os conheci como pessoas antes de conhecê-los como banda e sinceramente não havia muita diferença. Em cima do palco ou fora dele, os três eram extremamente charmosos ou, como falamos em Londres, cheeky.
  - Adivinha quem é... – Uma voz masculina sussurrou ao meu ouvido enquanto tampava os meus olhos com as mãos.
  - ZAYN! – Praticamente gritei e me virei tão rápido que mal dei tempo pra ele pensar se eu havia acertado a adivinhação. Me joguei nos braços dele e o apertei contra mim, pretendendo nunca mais soltar.
  - Ainda bem que sou eu mesmo... – Riu baixo, retribuindo o abraço com a mesma necessidade de mim que eu tinha dele. – Não queria ver você agarrando outra pessoa assim.
  - Eu sabia que era você, idiota. – O segurei pelas laterais do rosto e tasquei um beijo em seus lábios. Pode ter doído um pouco, por causa da força que usei, mas nenhum de nós se importou. – Reconheceria a sua voz em qualquer lugar. Seu cheiro... Seu toque... Seu corpo tão encostado ao meu...
  - Hm... – Suspirou e apertou a minha cintura, gostando até demais do que eu estava falando. – Fale mais...
  - Melhor não. – Mordi o lábio inferior. Se continuasse pensando no corpo escultural que Zayn escondia embaixo daquelas roupas, acabaria me animando demais. – Eu senti sua falta...
  - Também senti a sua, Anjo. – Acariciou o meu rosto com o polegar e sorriu daquele jeito adorável que só ele conseguia. – Desculpa ter demorado tanto. A reunião durou bem mais do que esperávamos...
  - E como foi, huh? – Brinquei com a gola baixa da regata preta que ele usava.
  - Cansativa! – Plantou um beijo no topo da minha cabeça, sem me soltar de seus braços. – Podemos falar sobre isso mais tarde?
  - Claro que sim! – Sorri. Zayn realmente aparentava cansaço, então a última coisa que desejava era falar sobre aquele assunto. O soltei para poder voltar a assistir o show, mas entrelacei os dedos aos do meu namorado. – Onde estão os outros?
  - Deixa eu ver... Niall está na barraquinha de tiro ao alvo, Louis e Liam foram ao banheiro... E Harry está com Lux em algum brinquedo infantil. – Explicou, dividindo a sua atenção entre o palco e eu.
  - E você está com fome? Comeu alguma coisa durante o dia?
  - , eu estava em uma reunião, não preso em um calabouço! – Riu jogando a cabeça pra trás. – Tivemos tempo pra comer!
  - Mas ainda assim não pode me mandar uma noticia sequer. – O soltei para cruzar os braços próximos ao corpo, encarando-o séria.
  - Eu sei, eu sei... – Envolveu meus ombros e me puxou para um novo abraço, onde encostei a cabeça em seu peito. – Marco confiscou todos os nossos celulares e só devolveu quando saímos de lá.
  - Eu não gosto desse cara! – Bufei, me deixando relaxar e envolver o menino pelas costelas.
  - Sei disso. – Riu e começou a brincar com meus cabelos. Ou tentar, já que ele devia estar um ninho de rato.
  - Não, não! – Levantei a cabeça para fitá-lo. – Você sabe que eu não gosto dele. Mas eu realmente não gosto dele!
  - Não sou fã de algumas decisões que ele tem, mas você sabe que não podemos fazer nada. – Um dos cantos de seus lábios foi repuxado em uma espécie de biquinho.
  - Porque vocês tem um contrato e blábláblá. – Já conhecia essa história. – Isso é que dá não ler os Termos e Condições.
  - Podemos parar de falar sobre isso? Quero curtir a minha namorada. – Mordeu a ponta do meu nariz, me fazendo rir. – E tenho uma idéia que não envolve falar coisa alguma.
  - Gosto de idéias assim! – Sorri travessa.
  Realmente não falamos mais nada, pois Zayn logo segurou meu rosto com as duas mãos e o aproximou do dele. Trocamos alguns sorrisos curtos que diziam o quanto aquele dia separados havia sido difícil, mas que estávamos felizes por finalmente estarmos juntos. Acabei agarrando o tecido da camisa dele e minhas unhas se arrastaram levemente sobre a pele do peito do menino, fazendo-o arfar. Não tive muito tempo de apreciar aquela reação, pois logo fui obrigada a fechar os olhos e deixar que Zayn envolvesse os meus lábios com os dele. Um sacrifício muito grande, eu sei! Aparentemente não era só eu que gostava da minha blusa curta, pois o menino em meus braços soltou o meu rosto e pousou as duas mãos na parte baixa das minhas costas, em contato direto com a minha pele. Ele acariciava devagar enquanto perseguia a minha língua com a sua e girava o rosto de um lado para o outro, me fazendo imitá-lo. Infelizmente e contra toda a minha vontade, aquele beijo não durou tanto quanto eu desejava.
  - O que houve? – Recuperei um pouco do meu fôlego, fitando Zayn. Após tirar os lábios dos meus, ele encarou o palco como se esperasse algo.
  - É isso aí, pessoal! – Drew parecia ter começado a se despedir. – Essa é a nossa última música! Mas ainda não vão embora, pois teremos mais uma surpresa pra vocês!
  - Você perdeu o show! – Fiz um bico de lado, sabendo que ele não estava se importando muito com isso. – Por que você está tão sério?
  - ... – Apontou com a cabeça para um ponto mais na nossa frente. – Por favor, não fica brava...
  - Não estou entendendo... – Acenei para Harry, Niall, Lou e Liam, que estavam onde Zayn apontara. – Por que eu ficaria brava?
  - Só não fique... – Seu semblante ainda mostrava preocupação quando beijou o topo da minha cabeça mais uma vez. – Eu tenho que ir ali.
  “Uh... Alguém me explica algo?” Olhei enquanto Zayn ia de encontro aos meninos, que pareciam tão preocupados quanto ele. Quando os cinco começaram a se afastar, os segui mesmo sem ter sido convidada. Me mantive um pouco afastada, mas ainda o suficiente para não perdê-los de vista. O show do Emblem3 estava acabando, mas nem por isso o publico parecia ir embora. Acho que todos estavam ansiosos pela tal “surpresa” que eles tinham prometido. Eu também estava, até que meu namorado e meus amigos começaram a agir de forma estranha. Duas meninas entraram na minha frente quando eu passava, nos fazendo esbarrar. Elas estavam, como posso dizer? Bêbadas? Isso era pouco para definir. As duas se desculparam por quase terem me feito cair, mas apenas sorri e afirmei que não tinha problema algum.
  Quando pude passar por elas e voltar a minha perseguição, não consegui mais encontrar os cinco meninos. Olhei em volta, procurando uma cabeleira cacheada. Como Harry era o mais alto, seria mais fácil encontrá-lo primeiro, mas não havia nem sinal de que ele ao menos passara por ali! Também ameacei pegar o meu celular para ligar para Zayn e pedir alguma explicação, mas fiquei congelada ao ver a última – bem, talvez não tão literalmente assim – pessoa que esperava encontrar no Summer Fest. Marco conversava com um homem mais alto, que logo reconheci como sendo Jared; o empresário do Emblem3. Preferi continuar imaginando que não tinha motivo algum para me preocupar, já que as duas bandas (One Direction e Emblem3) eram assinadas pela mesma empresa então os dois podiam apenas ser dois conhecidos conversando, ainda que os empresários não tivessem nada a ver com a Syco E. Foi quando eles riram de alguma coisa e olharam na direção do palco que eu realmente me preocupei.
  - Até a próxima, pessoal! Vocês foram ótimos! – Keath acenava em despedida.
  - Estamos indo embora, mas vamos deixar vocês com mais uma surpresa. – Wes disse, após beber um gole de uma garrafa de água que segurava. – Por favor, dêem as boas vindas aos nossos amigos do ONE DIRECTION!
  - Tá brincando com a minha cara... – Pensei alto, olhando os cinco meninos subir no palco.
  “Nossos amigos”? Que porra é essa? Que eu saiba, eles só se falaram três vezes, no máximo! Sem falar que os meus meninos tinham muito ciúme dos outros três. Olhei para o sorriso satisfeito no rosto de Marco, sentindo o meu interior esquentar. Wes, Keath e Drew deviam ter feito aquilo por mim. Digo... Marco deve ter pedido para Jared, que falou com os meninos. Mas era óbvio que o Emblem3 só aceitara essa publicidade porque sabia que eram meus amigos. Eu não estava surpresa por Marco ter passado por cima da minha palavra quando disse que não iria usar minhas amizades para promover o One Direction, mas todos os cinco meninos sabiam como eu me sentia sobre isso! Zayn pediu para que eu não ficasse brava, mas estava sendo muito difícil me controlar.
  Bufando e sentindo o olhar do meu namorado em cima de mim, dei meia volta. Precisava sair dali. Podia estar fazendo drama em copo d’água, ou seja lá qual for a expressão, mas achava isso errado. Acabei esbarrando em outras pessoas enquanto fugia para fora daquele píer. Dessa vez a culpa foi inteiramente minha, mas estava tão desesperada para ir embora que nem ao menos tentei me desculpar. Pelos auto-falantes espalhados pelo parque de diversões, eu podia escutá-los começando a cantar, tentando com todas as forças ignorar. Não, eu não pretendia fazer um escândalo ali no meio do festival, mas não agüentava mais escutar What Makes You Beautiful. Eles tinham tantas músicas além daquela! O que custava mudar o repertório de vez em quando?
  Ao passar pela entrada do píer, jurei ter escutado o meu nome sendo chamado. A voz era feminina, então provavelmente era Rachel com Lux, mas não esperei para confirmar minhas suspeitas. Apenas quando pude sentir a areia fofa embaixo dos meus pés é que percebi que estivera quase correndo. Olhei pra frente, onde o Sol finalmente começava a se pôr. Era a primeira vez que eu assistia um pôr do Sol as 22h30min da noite, então acabei sorrindo, mesmo que de forma fraca. Como estava distante o bastante para não escutar mais nenhuma das vozes angelicais dos meninos, decidi ficar por ali para assistir aquele espetáculo da natureza. Tirei os sapatos e pisei na areia quente, andando até um lugar mais afastado de casais que também apreciavam a mesma coisa que eu. O mar estava baixo e fraco, então as ondas silenciosas que banhavam a praia eram extremamente relaxantes. Mal consegui respirar fundo até que senti alguém se aproximando atrás de mim.
  - O show foi tão ruim assim? – Wes se jogou ao meu lado na areia, abraçando os joelhos no peito. – Nunca vi alguém sair dele com tanta pressa!
  - Vocês foram incríveis, Wes, de verdade. – Sorri verdadeira, virando levemente na direção dele. – E obrigada pela surpresa.
  - Então o problema foi o One Direction? É, também não gosto muito deles... – Brincou com uma piscadinha, esperando que eu achasse aquilo mais engraçado do que realmente achei. – Sério, , qual é o problema?
  - Eu não queria estar usando vocês assim... – Admiti, voltando a encarar apenas o oceano e o céu que ganhava um tom alaranjado. – Considero você, o Drew e o Keath como amigos. Não acho justo que a banda dos meus outros amigos aproveite essa nossa proximidade para se divulgar, sabe? É errado!
  - Você acha que está nos usando? – Riu, me deixando bem confusa.
  - Você deixaria eles encerrarem o seu show se não fossem meus amigos? – Rebati, séria.
  - Provavelmente não...
  - Tá vendo?! – O interrompi. – Essa é a definição de “usar os amigos”.
  - Você não sabe nada sobre o show business, né? – Aquela pergunta soou um pouco retórica, mas a respondi mesmo assim.
  - Não. Mas sei o que é certo e errado!
  - Também não sabe deixar os outros terminarem de falar! – Brigou, mas tinha um sorriso no rosto. Eu devia ter contado uma piada e não sabia. – O que estou querendo dizer é que isso acontece no mundo do espetáculo, ou seja, bandas que já estão mais populares por aí, ajudam novas bandas que estão começando. Se não fossemos nós, outra banda teria deixado-os encerrar o show. O que acha que fomos fazer em Londres quando conheci você? Demi nos levou pra lá pra divulgar a banda pelo UK. Vocês estão fazendo isso pelo EUA.
  - Eu não sei... – Até que fazia um pouco de sentido o que Wes falava, mas pra mim ainda era errado. – De qualquer forma, eu só queria que eles tivessem me avisado antes de subir ao palco.
  - Bem, isso já não é comigo. – Me cutucou com o cotovelo. Acho que aquele gesto seria a nossa piada interna. – Mas desamarre erra cara! Olhe em volta. Olhe onde você está. E depois de um dia tão incrível como o de hoje, você vai mesmo ficar assim?
  - Ugh, você tem razão! – Ri. Talvez eu estivesse mesmo fazendo drama demais. – Obrigada, Wes. Por tudo. Eu gostei muito do dia de hoje.
  - Não seja por isso! – Me abraçou de lado e encostei em seu corpo levemente suado após um show bem animado.
  - Ew! – Gargalhei ao tentar afastá-lo e só conseguir ser mais agarrada ainda. – Sai, Wesley!
  - Um pouco de contato humano nunca é ruim. – Também riu, mas me soltou. – Vou voltar pra lá, ok? Te chamaria pra vir, mas acho que já tem companhia...
  Observei o menino se levantar e logo entendi o que ele quis dizer. Zayn estava parado a alguns metros de nós e não tirava os olhos de mim. Pelas linhas tensas em seu rosto, notei que ele não estava com ciúmes do que poderia ter visto, e sim preocupado. Devia saber que eu me chateara com o que aconteceu. Assim que fui deixada sozinha na areia, Zayn começou a se aproximar. Quebrei o nosso olhar e levantei, deixando os meus sapatos e bolsa onde estivera sentada. Não caminhei até Zayn, e sim na direção contrária, em direção ao mar.
  - Não vá muito fundo, eu ainda não sei nadar. – Tentou brincar, me seguindo.
  - Só vou molhar os pés. – Informei ao parar, deixando as ondas lamberem até o meu calcanhar. O olhei por cima do ombro, ainda com receio de se aproximar de mim. Acabei sorrindo. Ficar chateada com ele era mais difícil do que eu me lembrava. – Vem também?
  - Não precisa pedir duas vezes! – Se apressou para tirar os tênis e correu ao meu encontro. Zayn passou os braços em volta da minha cintura e pude me acomodar em seu peito, olhando pra frente. – Você ficou brava?
  - Claro que sim! – Respondi sem nem pensar, sentindo-o ficar tenso atrás de mim. – Mas não estou mais... Só não me esconda mais nada, tá bem?
  - Eu prometo. – Beijou a minha bochecha. – Também posso te pedir uma coisa?
  - Qualquer coisa. – Sorri, olhando-o de lado.
  - Me ensina a dançar? – Rolou os olhos enquanto pedia.
  - Como é? – Tive que olhá-lo de frente para ver se era uma brincadeira ou coisa assim. Acabei rindo e soltando um pequeno gritinho. – Está falando sério?
  - Não quero que me ensine a dançar ballet, então pode apagar esse sorrisinho. – Gargalhou da minha animação. – É que o casamento da sua mãe está chegando... E eu não quero fazer feio, sabe?
  - É claro que eu ensino!

    

Chapter VII

Eu estava gostando cada vez mais daquela estadia nos Estados Unidos, isso era claro. Apesar de ter feito de tudo, ainda havia uma atividade em especial que não poderia faltar na minha lista turística de coisas pra fazer. Não, não estava falando de assistir um filme em um daqueles estacionamentos gigantes, nem andar de bicicleta pelo calçadão ou visitar a placa de Hollywood. O invés disso, resolvi ocupar a minha manhã de terça-feira com uma atividade que agradaria qualquer mulher: COMPRAS! Tudo bem que as marcas daquele país não eram totalmente diferentes das que tínhamos em casa, mas o preço era consideravelmente mais barato. Deve ser por causa da taxa de importação ou algo do tipo...
  De qualquer forma, me vesti confortável o suficiente para aquela maratona fashion e pedi à minha querida Siri que me levasse até o melhor ponto de compras da cidade. Zayn ainda ficava impressionado com toda aquela tecnologia e eu só conseguia rir. Acabamos chegando ao centro de Beverly Hills; chocante, eu sei. Mas ao invés de procurarmos um Shopping Center gigantesco, preferimos parar em uma galeria, onde várias lojinhas estavam dispostas lado a lado, chamando o meu nome e o meu cartão de crédito. Fui a primeira a descer do Jeep preto, desejando que aquela galeria possuísse algum tipo de refrigeração interna, pois julho com certeza chegara com força total. E com “força” eu quero dizer “amostra grátis de inferno”. Ao menos no sentido de calor.
  - Por que você me arrastou até aqui mesmo? – Zayn resmungou, coçando os olhos. Ele não estava mal humorado, apenas sonolento. – Porque não chamou qualquer um dos outros meninos, ou até mesmo Rach?
  - Porque eu pretendo gastar o seu dinheiro, é claro. – Rolei os olhos como se não fosse óbvio o suficiente e coloquei as mãos na cintura.
  - Eu sabia! – Me imitou com as mãos na cintura, parecendo mais gay que o necessário. – Todas aquelas meninas no Twitter estavam certas no fim das contas? Que você só estava atrás do meu dinheiro e da minha fama?
  - Oh, não! Você descobriu o meu plano. – Dramatizei, levando uma mão a testa. Zayn deu meia volta, querendo retornar ao carro, fingindo estar bravo. – Para de ser idiota e vem logo! Você não vai escapar, Malik.
  - Valeu à tentativa. – Deu de ombros e riu, aceitando segurar a minha mão assim que a estiquei na direção dele.
  - Mas e essa história aí de meninas do Twitter... – Arqueei uma sobrancelha. Eu sabia que uma parte do fandom dos meninos não ia com a minha cara, mas era muito raro eu sentar e ler tudo o que falavam de ruim sobre mim. – O que tem falado?
  - O de sempre. – Zayn também não se importava tanto. Pra falar a verdade, o único motivo que ele tinha pra entrar no Twitter era postar fotos dos seus desenhos e, ocasionalmente, algumas fotos nossas. – Mas sabe que não precisa se importar, né?
  - E você sabe que eu não me importo. – Sorri enquanto passávamos pelos portões da galeria, escolhendo ir pelo o lado esquerdo. – O engraçado dessas pessoas que mandam mensagens me xingando é que elas só ficam na internet... Todas as que encontramos pelas ruas sempre são educadas e nunca me tratam mal. Enquanto continuar assim, não irei me importar. Uma coisa é se esconder atrás de uma tela de computador e achar que é melhor do que eu, outra coisa é vir me agredir quando eu não fiz absolutamente nada pra merecer.
  Acho que minha atitude de encarar o ódio que às vezes recebia era a mais saudável. Não finjo que era totalmente “que se foda”, mas também não sentia como se precisasse dar ouvidos a quem não gostava de mim. Eu era quem eu era e Zayn me fez ver que isso era o suficiente pra ele; então seria o suficiente pra mim também. A maioria das coisas que eu lia ao meu respeito em redes sociais não era ruim, então enquanto continuasse assim, eu sabia que estava fazendo algo certo. Meu rosto podia não ser o mais bonito do mundo e meu corpo não era de nenhuma modelo, mas eu estava confortável com o que tinha. Tudo bem, tenho que admitir que – por mais que ainda estivesse enjoada dessa música – What Makes You Beautiful me ajudou a entender que eu era bonita mesmo que não soubesse. Vai ver era por isso que o One Direction estava fazendo tanto sucesso... Por mostrar a garotas inseguras como eu que elas são o suficiente.
  - Podemos entrar nessa loja? – Zayn pediu animado, me tirando de meus devaneios.
  - Pra quem não queria nem vir, você escolheu uma loja muito rápido!

+++

  Convidar Zayn para fazer compras comigo seria uma decisão que não voltaria a tomar nem tão cedo. A companhia dele ainda era incrível e nós podíamos conversar sobre qualquer coisa ao olhar as vitrines das mais diferentes lojas, mas o problema mesmo começava quando entrávamos em uma dessas lojas. Sabe aquelas propagandas de TV ou cenas de filme onde um casal vai passear no shopping e a mulher passa horas dentro do provador, trocando de roupa milhões de vezes e o marido/namorado fica esperando como se pudesse morrer a qualquer momento? Bem, minha manhã com Zayn naquele centro comercial estava sendo exatamente assim. Claro, com a pequena diferença que ele era a mulher trancada no provador e eu o marido entediado.
  Eu adorava dar opiniões sobre o que ficava bom ou não no meu namorado, escolhendo peças que eu mais gostava e às vezes ele nem tanto. Entretanto, enquanto saíamos da terceira loja que Zayn pedira pra entrar, o menino carregava cinco sacolas só com coisas que ele comprara; enquanto eu me resumia a apenas uma. Não que eu não gostasse das marcas que ele escolhia, só que acho meio complicado encontrar algo que fique bem em mim em lojas de departamento masculino. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde eu acabaria confiscando uma camisa ou outra do guarda-roupa de Zayn, com o seu consentimento ou não.
  - Você lembra que o nosso objetivo aqui hoje não é renovar o seu guarda-roupa, certo? – Perguntei assim que voltamos a caminhar pelo meio da galeria, fora de qualquer loja. – E sabe que se voltarmos para Londres sem um presente para , Liv e suas irmãs, nenhuma delas vai falar conosco.
  - Eu acho que esqueci desse detalhe... – Riu, deixando que eu passasse o braço pelo seu.
  - Além do mais... Acho que nem cabe tudo isso no seu guarda-roupa! – Fiz questão de dobrar à direita dessa vez, saindo daquela área que só parecia ter coisas para homens.
  - Podia não caber no meu guarda-roupa antigo. – Piscou, animado. – Mas o guarda-roupa do novo apartamento é maior que o seu closet.
  - Assim ficarei com inveja. – Brinquei. Eu estava adorando vê-lo animado com aquela mudança, mesmo não conseguindo arrancar muitas informações sobre o ap. – Novo apartamento, novo guarda-roupa, novas roupas...
  - Novas vizinhas... – Cantarolou, me fazendo encará-lo com uma sobrancelha erguida. – Possivelmente uma nova namorada...
  - Eu tinha me esquecido desse pequeno detalhe! – Cocei o queixo, forçando uma expressão pensativa.
  - Que eu terei uma nova namorada? – Insistiu, claramente divertido.
  - Não... Que você terá novos vizinhos pra eu conhecer quando for te visitar. – Sorri dissimulada, torcendo para conseguir inverter aquele jogo.
  - Epa... – Parou para pensar no mesmo que eu e todo o seu entretenimento desapareceu. – Pensando melhor, quem precisa de um apartamento, não é? Estou muito bem morando com a minha mãe e três irmãs pentelhas.
  - Boa tentativa. – Ri, beijando o ombro do menino só porque não conseguia passar muito tempo com os lábios longe dele. – Oh, não...
  - O que houve? – Seguiu a direção do meu olhar, parando na vitrine de um Pet Shop. – Saudade?
  - Muita saudade! – Meu bico aumentou assim que paramos de frente para a loja. Vários filhotes brincavam ou dormiam em suas gaiolas. – Liv me manda noticias todos os dias, mas ainda fico preocupada... Será que está bem?
  - Tenho certeza que ele está ótimo. – Passou todas as sacolas pra uma mão só, podendo me envolver pelos ombros em um meio abraço. – Quer que eu peça a minha mãe pra ir lá conferir?
  - Não precisa. Eu confio em Liv e , se algo tivesse acontecido, elas não conseguiriam esconder. – O olhei com um sorriso e em seguida voltei a olhar o filhote de Labrador que tentava morder os meus dedos apesar do vidro. – Além do mais, Dora está lá...
  - Ele gosta de você. – Apontou para o bichinho que “brincava” comigo. – Eu quero um.
  - Um Labrador? – Alerta vermelho!
  - Um cachorro... Agora que vou sair da casa da minha mãe, não terei mais o Boris. As meninas nunca me deixariam levar ele embora. – Explicou, batendo de leve no vidro da loja. – Talvez um cachorro pequeno...
  - Baby, não quero ser chata... Mas acha que arrumar um cachorro agora seria a coisa mais esperta a se fazer? – O segurei pela mão para que continuássemos o nosso passeio. – Agora você está de férias, mas sabe como a sua rotina é complicada quando está trabalhando. As reuniões, viagens da banda e tudo mais.
  - Sei que você está certa. – Deu um meio sorriso de lado, me seguindo. – Mas não quero que o apartamento fique vazio, sabe?
  - Acha mesmo que isso pode acontecer? – Gargalhei. – Conhecendo o Liam, ele vai passar mais tempo com você do que em casa. Sem falar que eu e também iremos te visitar sempre...
  Zayn pareceu tirar aquela idéia de comprar outro cachorro momentaneamente da cabeça. Mesmo assim, não me espantaria nada em encontrar uma penca de filhotes ao chegar no tal apartamento. Enquanto passeávamos e estudávamos novas vitrines, eu ia tentando arrancar novos detalhes sobre a futura moradia do meu namorado; como por exemplo: O número de quartos, andar, tipo de decoração... Mas só o que consegui descobrir é que se tratava de uma cobertura e que eu iria gostar do lugar. Ele mesmo não tinha estado lá, mas a sua corretora de imóveis havia feito vários tours por meio de webcam e Skype. Essa tecnologia de hoje... Juro que as máquinas ainda vão se unir para controlar o mundo. Escreva o que estou falando.
  Deixando minhas teorias de lado, avistei o paraíso. Um corredor repleto com as minhas lojas preferidas. Sephora, Chanel, H&M, Juice Couture, entre muitas outras. Enquanto eu sorria em animação, Zayn choramingava ao meu lado. Agora ele teria que me agüentar fazendo compras! Quase saí correndo até a primeira loja, mas me contive.

+++

  Lembra quando eu reclamei do número de sacolas que Zayn carregava? Retiro tudo que disse. Agora era eu quem tinha muitas sacolas de compras e o menino até mesmo me ajudava a levar todas elas. Que culpa eu tinha? Absolutamente nenhuma. Tinha o emprego dos sonhos e ainda recebia por ele, então nada mais justo do que gastar naquele shopping em Beverly Hills. Não tinha mais noção de tempo havia algumas horas e o meu estômago já começava a reclamar de fome. Talvez eu conseguisse convencer Zayn a ir comer uma pizza ou passar no McDonald’s mais próximo. Só precisava provar umas peças que selecionara naquela loja Chanel e iríamos comer!
  - Podemos ir agora? – Zayn perguntou, sentado em um sofá próximo do provador.
  - Só vou experimentar esses aqui e já iremos. – Sorri com um mesclado de agradecimento por ele estar passando por aquilo por mim e remorso por deixá-lo tão entediado.
  - Tudo bem. – Suspirou, olhando para a pilha de roupas nas minhas mãos. – Está com o vestido vermelho aí?
  - Claro que sim! – Pisquei, seguindo a funcionária que me guiaria até o meu provador.
  O vestido que Zayn se referia era curto e um pouco decotado, mas, além disso, bem justo ao corpo. Ele mesmo o escolhera e afirmava que eu ficaria muito bem nele. Claro que essas não foram as palavras exatas que ele usou, mas me sinto um pouco constrangida em usar o termo “gostosa pra caralho”. Anyway. Segui a moça educada e simpática chamada Alison até o cubículo nem tão pequeno assim. Ela me ajudou a colocar as minhas peças de roupa em cima de uma mesa branca – assim como todos os outros móveis ali dentro – e me disse para ficar a vontade. Deixei a bolsa pendurada em um gancho na parede e já fui tirando os sapatos. Quase fui cegada quando algumas luzes nas laterais do espelho acenderam automaticamente. Assim, além da lamparina que pendia do teto, também tinha aquelas novas luzes para iluminar o que quer que eu quisesse ver. Os designers que organizaram aquela parte da loja deviam estar querendo que as suas clientes observassem as roupas nos mínimos detalhes.
  Deixei de prestar atenção no espaço ao meu redor e me despi, deixando as minhas próprias peças junto com a bolsa. Claro que começaria pelo vestido! Talvez até chamasse Zayn para ver o resultado! Retirei a peça vermelha do cabide com cuidado e abri o zíper das costas. Nunca sabia se deveria entrar por cima ou por baixo, mas resolvi que a segunda opção era a mais sensata. Joguei o vestido por cima de meus braços e tive um pouco de trabalho para puxá-lo até que meu corpo estivesse totalmente coberto. “Meus peitos aumentaram de tamanho?” Ri sozinha, terminando de arrumar a peça avermelhada no lugar certo. Em seguida, comecei a deslizar o zíper para cima, encontrando mais dificuldade do que esperava.
  “Vamos lá, Coco Chanel... Ajude uma conterrânea!” Apelei para a criadora da marca, que também possuía a mesma nacionalidade que eu, mas ela devia estar se revirando no tumulo. Após uns bons três minutos tentando fechar aquela porcaria, acabei desistindo. Não sei o que aconteceu, mas meu humor foi de dez para zero em dois segundos. Ou talvez até soubesse, mas preferia não colocar em palavras a minha decepção. Respirei fundo ao me olhar no reflexo do espelho. Já não sorria mais, apenas me estudava. Balancei a cabeça, começando a tirar a peça que ficara pequena demais pra mim. Eu me esquecera de como era horrível esse sentimento que a gente ganha após algo assim acontecer. Chame de besteira, futilidade ou do que quiser, mas me senti bem ruim ao não conseguir entrar naquele vestido tão bonito.
  Quando o tecido tocou o chão, meu olhar foi preso diretamente naquela garota que estava parada na minha frente. De repente tudo pareceu feio. Minhas coxas, meu quadril, até mesmo os meus joelhos! Acho que a minha barriga foi a pior parte. Apertei a minha pele, puxando-a entre o polegar e o indicador. Um pneuzinho. Ok, isso também pode parecer nada de mais, mas pra mim era. Veja bem, sou uma bailarina! Não posso estar acima do peso. “Não exagere, você não está acima do peso!” Shh! Podia não estar acima do peso agora, mas quem me garantia que isso não aconteceria dali alguns meses? Ainda faltava muito tempo até o próximo espetáculo da Academy, mas eu ainda pretendia conseguir o papel principal. Seria o meu último semestre e por isso deveria ser o melhor de todos. Mais do que nunca, eu precisava ser perfeita.
  Engraçado como as coisas funcionam, não? Naquele mesmo dia eu estava me sentindo linda e blábláblá. Mas agora, de frente para aquelas luzes que teimavam em deixar cada um dos meus defeitos mais visíveis que o normal, me sentia realmente mal. Não começaria a chorar, nem faria um escândalo, mas meu ego estava machucado. Quando consegui parar de me encarar, voltei a guardar o vestido no cabide, sem ter muita certeza se pretendia experimentar as outras coisas que selecionara.
  - ? – Zayn me chamou do lado de fora, sem abrir a portinha de madeira que nos separava. – Tudo bem aí? Você entrou já faz um tempo.
  - Estou bem. – Respondi com a maior segurança que pude. – Já vou sair...
  - Não tem problema, é só que acabei de receber uma mensagem de Liam. – Era ele que soava preocupado e por isso tratei de voltar a me vestir. – Estão precisando da gente lá.
  - Tem algo errado? – Tentei não imaginar nada de ruim, mas era meio impossível. Pendurei a bolsa sobre o ombro e destravei a porta do provador. – Estão todos bem?
  - Pelo que entendi, nada aconteceu, mas acabaram de ter uma conversa com Marco e... – Se interrompeu ao ver a minha expressão de descrença.
  - O que ele aprontou agora?
  - Não sei direito... Não vai nem levar o vestido?
  - Temos que ir. – Me apegaria a essa desculpa. Doeria menos do que falar que não coube dentro dele.
  - Dá tempo de passar no caixa. – Ele sorriu, recolhendo as nossas sacolas das outras lojas.
  - Não, Zayn. É sério. – Insisti para que fossemos logo. – Não ficou bem em mim, de qualquer forma.
  - Impossível. – Me olhou como se realmente não acreditasse que algo poderia ficar ruim em mim; o que doeu mais um pouco. – Mas se você não quer, vamos embora.
  - Obrigada... – Forcei um sorriso, aliviada por ele não ser do tipo que insiste em causas perdidas.

+++

  Assim que voltamos ao Hotel Venice, entregamos todas as nossas sacolas de compras para um funcionário que ficou encarregado de levar as nossas coisas até o quarto. Nós mesmos teríamos feito isso, mas hotel cinco estrelas é outra coisa. Após isso, seguimos na direção da área da piscina, exceto que viramos à direita assim que vimos a placa “Sala de Reuniões”. Estranhei estarmos indo naquele caminho, mas Zayn me informou que Liam explicara que os quatro estavam por ali, na primeira sala. Ou seria segunda? Não sabia dizer. Durante todo o trajeto de volta para nossa habitação temporária, me mantive calada e pensativa, apenas escutando Zayn e respondendo sim ou não quando perguntava alguma coisa. Ele respeitou o meu espaço mais uma vez, acreditando que eu só estava preocupada com o que poderia ter acontecido com nossos amigos. Não chegava a ser mentira, mas eu também me preocupava com coisas um pouco mais pessoais.
  Acertei ao ter pensado que a primeira sala era a que deveríamos procurar, pois os quatro meninos e Rachel estavam por ali. A sala tinha um carpete esverdeado cobrindo o chão e paredes com uma pintura terrosa mais para o lado do pastel. Não encontrei muitas janelas naquele lugar, mas as poucas que haviam estavam cobertas por um plástico escuro, impedindo a entrada de muitos raios de Sol. Um ar condicionado potente cuidava para que ninguém morresse de calor ali dentro e uma mesa de mogno comprida cortava a sala de reuniões. Rachel estava sentada na cadeira da ponta direita, como se fosse a dona de uma grande empresa que fazia uma conferência ali. Ao lado dela, Louis olhava alguns papeis. Harry estava ao lado do namorado, mas os dois não estavam tão próximos quando o de costume. Niall sentava em cima da mesa, sem nenhuma compostura, e Liam levantou de onde estava assim que nos viu entrar.
  - Viemos o mais rápido que conseguimos. – Zayn informou ao nosso amigo e os dois quase se abraçaram.
  - Não tem problema! – O menino sorriu, mas havia algo a mais em seus olhos. – Espero não ter atrapalhado vocês...
  - Não atrapalhou, Li. – Me coloquei na ponta dos pés para beijar a sua bochecha e segui até os outros meninos. – Niall, onde estão seus modos?
  - No mesmo lugar que o meu almoço! – Rebateu, quase deitando em cima da mesa. – Mas você está vendo ele por aqui? Nem eu!
  - Eu juro que se ouvir você reclamar que está com fome mais uma vez... – Liam ameaçou, vindo se juntar a nós, com Zayn o seguindo.
  - Por favor, Haz... – Lou, que estava excluído de qualquer um de nossos assuntos, pediu para Harry, que mal o olhava. – Só escolha uma.
  - Não consigo, Lou. Por mim tanto faz... – Curly respondeu simplesmente, evitando olhar para os papeis que meu irmão lhe empurrava.
  - O que é isso? – Puxei uma poltrona para me sentar, mas fiquei de joelhos sobre ela e me inclinei em cima da mesa. – Estamos comprando pessoas agora?
  - Mais ou menos... – Rachel respondeu, sem entender que era uma piada.
  - Sério, quem são essas? – Minha curiosidade aumentou quando Lou me passou os cinco papeis que pareciam mais com currículos do que qualquer coisa.
  - Não contou pra ela? – Liam sussurrou para Zayn, mas nenhum dos dois era muito discreto.
  - O que está acontecendo? – Franzi o cenho ainda sem entender nada, procurando com o olhar alguém que pudesse me explicar qualquer coisa que fosse.
  - , você conhece o conceito de “beard”? – Rachel se propôs a falar.
  - Só o que cresce no rosto de homens, mas sinto que não é bem disso que estamos falando aqui.
  - Não é mesmo. – A loira voltou a falar. Eu estava acostumada com o seu alto astral, alegria e até loucura, mas agora ela estava séria; profissional. – “Beard” é uma gíria que quer dizer... “Cover up”. Um disfarce, entende? Podem ser homens ou mulheres que são contratados para fazer um papel de namorado ou namorada de alguém famoso. É mais comum do que imagina...
  - E você sabe como Lou e Haz não podem simplesmente falar que estão juntos pra qualquer um que quiser ouvir... – Liam completou o pensamento.
  - Por que a Modest! não quer. – Acrescentei.
  - Não é só a Modest!, . – Lou balançou a cabeça negativamente. Sua voz saiu fraca. – Eu não sei se estou pronto... Uma coisa é os nossos amigos e familiares saberem da minha “opção”, outra coisa é o mundo inteiro... Desculpa, Haz...
  - Não precisa. Eu entendo. – O menino de cachos bagunçados segurou a mão do meu irmão em cima da mesa. Era claro que ele estava magoado, mas entendia. Todos nós entendíamos; prova disso foi o silêncio que encobriu a sala.
  - Mas espera, estão querendo contratar namoradas pra eles? – Perguntei a Rach, mas olhava o casal na minha frente. – Por que não podem só fingir que não tem nada demais entre eles?
  - As pessoas estão começando a perceber. – Zayn foi quem falou, se acomodando na cadeira ao meu lado. – Então a Modest! está começando a achar que é um problema.
  - Então nós estávamos pensando que talvez fosse uma boa idéia... – Rach voltou a falar, mas o olhar que recebeu de mim mostrava que eu não concordava. – Tudo bem, Marco estava pensando... Mas eu concordo com ele, . Ao menos dessa vez. Então contrataremos um disfarce. Uma namorada de mentira para um dos dois.
  - Pra mim. – Lou levantou a mão, se voluntariando. – A culpa não é do Harry, então não é justo que ele tenha que passar por isso.
  - A culpa também não é sua... – Haz tentou, mas a decisão parecia ter sido tomada.
  Era como se nenhum de nós soubesse mais o que falar. Eu realmente não conseguia nem imaginar como seria ver Zayn fingindo namorar outra pessoa. Entendia que seria só pra publicidade, só na frente das câmeras, então Louis e a tal garota não precisariam se agarrar ou conviver sobre o mesmo teto, mas ainda assim era estranho. Além de que deveria ser uma situação um tanto constrangedora para os dois. A contratada deveria saber o que fazer e ter sido bem treinada, caso contrário, duvido que desse uma boa cobertura.
  Olhei para todos ali antes de voltar a me concentrar nos papeis que anda estavam em minhas mãos. Niall não voltara a falar de comida e parecia distante; talvez distante até demais, em outro continente. Louis encarava a madeira da mesa e Harry o fitava com pesar. Liam tinha o rosto escondido nas mãos e os cotovelos apoiados no objeto em sua frente. Zayn tentava ler o que passava pela minha cabeça e eu tinha certeza que conseguia. Aquilo era errado. Aquele mundo era errado. Eu não conseguia entender porque os dois não podiam simplesmente andar de mãos dadas por aí, ou porque isso era tão errado! Mas aceitava. Novamente não tinha outra escolha a não ser aceitar e ajudar.
  Comecei a folhear aquelas cinco páginas e as coloquei lado a lado na minha frente. Ninguém conhecia meu irmão melhor do que eu, então talvez pudesse escolher uma garota que não fosse ser tão difícil assim de conviver com ele; pelo tempo que fosse. As cinco eram muito bonitas, isso tenho que admitir. E também tinham estilos bem diferentes, mas uma coisa em comum: Todas eram estudantes e possuíam aquele estereótipo de “pessoa normal”. Talvez a Modest! estivesse pretendendo mais do que apenas encobrir o relacionamento de dois membros da banda, porém, teria que esperar pra ver.
  - Essa aqui. – Empurrei o currículo da escolhida na direção de Lou e Haz.
  - Eleanor Calder? – Meu irmão começou a analisar e, em seguida, olhou para o namorado. – O que acha?
  - Ela é bonita. – Haz sorriu. Não o suficiente pra mostrar a sua covinha, mas pra mostrar que concordava. – Boa escolha, .
  - Obrigada. – Tentei me animar e sorri de volta.
  - Não sei se é a hora certa, mas... – Ni chamou nossa atenção. – Podemos ir comer agora?

    

Chapter VIII

- WOOOOOOOOO-HOOOOOOOO! FELIZ QUATRO DE JULHO! – Gritei pela janela da van, sem me importar com as mãos que tentavam me puxar para dentro do carro.
  - , para com isso! – Liam gargalhava enquanto eu escapava de suas mãos.
  - Vocês são muito chatos, sabia disso? – Reclamei, mas estava animada demais pra me controlar.
  - Ao menos pare de gritar? – Dessa vez foi Paul quem pediu, sem parar de dirigir. – Já estamos chegando à marinha...
  - Ok. Sorry, daddy. – Fiz bico e me acomodei no banco.
  - Você sabe que não é americana, certo? – Zayn perguntou do banco da frente, mas estava de joelhos sobre ele para poder conversar com quem estava atrás.
  - Falou o Capitão América! – Liam me defendeu, apontando para a estampa na camisa do meu namorado. Acabei gargalhando daquilo.
  - Obrigada, Baba! – O abracei de lado.
  - Larga ele! – Zayn praticamente se jogou em cima de nós, quase caindo no chão do veículo.
  - Eu devia ter ficado no hotel com Rachel... – Paul resmungou lá na frente.
  Liam e eu fomos obrigados a nos soltar. O grande problema aqui é que eu não sei se Zayn estava com ciúmes de Liam ou da própria namorada. Acabei rindo ainda mais quando se apertou entre eu e nosso amigo, fazendo com que Niall – que estava no final do banco – fosse jogado no pequeno corredor da van. Harry e Louis continuaram na frente, conversando sobre qualquer coisa melosa demais para chamar a minha atenção. A semana havia começado um pouco tensa sim, por causa da nova namorada-de-mentira do meu irmão, mas naquele dia ninguém se deixaria perturbar. Sabe por que? ERA QUATRO DE JULHO! YAY!
  “Você sabe que não é americana, certo?” Ok, isso podia até fazer sentido. Não, eu não era americana, mas aquele país parecia amar o feriado e dia de sua independência; até porque a liberdade parecia ser o maior motivo de orgulho para os EUA. Ou seja: Todos que nós víamos nas ruas, em lojas e até no próprio hotel estavam comemorando aquele feriado. Eu não podia ficar de fora, então me vesti apropriadamente. Também ganhamos algumas bandeirinhas americanas em miniatura e as ruas pareciam estar cobertas de azul e vermelho.
  - Chegamos! – Paul anunciou, fazendo algumas manobras para estacionar o carro.
  - Yay, yay! – Comemorei, olhando em volta.
  Aquela marinha não era tão diferente das que eu conhecia. Era um verdadeiro porto, com várias embarcações estacionadas ali; umas maiores que as outras. Várias rampas saiam daquele estacionamento meio improvisado e levavam a outros caminhos e mais barcos. Fora isso, a água do mar que brilhava ali perto de nós servia como um convite que eu tentadoramente desejava aceitar. O segurança/babá/daddy estacionou com sucesso e foi o primeiro a descer, abrindo a porta para que fizéssemos o mesmo. Niall foi o primeiro, ainda acariciando o cotovelo que machucou durante a sua queda. Lou e Harry o seguiram e eu e os outros dois fizemos o mesmo.
  - Alguém vai me ajudar aqui? – Haz pediu, pegando algumas mochilas na mala do carro.
  - Já estou com a minha! – Apontei para as minhas costas, mas era só uma desculpa.
  - Eu ajudo... – Li prontamente correu até o menino e eles dividiram o peso.
  - Hopped off the plane in the LAX, with a dream in my cardigan. Welcome to the land of fame excess. Am I gonna fit it? – Niall começou a cantar e dançar desengonçadamente, atraindo diversos olhares. - Jumped in the cab, here I am for the first time. Look to my right and I see the Hollywood sign…
  - Essa é a esquerda… - O corrigi quando olhou para o lado errado.
  - Tinha que ser. – Paul fechou o carro quando já estávamos com tudo e riu disfarçadamente. – Por aqui, pessoal.
  - This is all so crazy. Everybody seems so famous! – Lou continuo a cantar, envolvendo Ni pelos ombros. Todos seguimos Paul pela primeira passarela. - My tummys turnin' and I'm feelin' kinda homesick. Too much pressure and I'm nervous. That's when the taxi man turned on the radio…
  - And a Jay Z song was on! – Arrisquei cantar junto, mesmo sabendo que a minha voz não soava bem junto com a deles.
  - Não acredito que vocês vão cantar essa música inteira. – Zayn resmungou. Ele estava um pouco na minha frente, já que a passarela era estreita e não podíamos todos andar lado a lado.
  - Pare de ser chato, Zayn! – Lou reclamou, empurrando-o de leve.
  - Deixa o meu emburradinho em paz! – O defendi, correndo até o menino e me jogando sem suas costas. – Ele só está um pouco irritado porque teve que acordar cedo, não é, my love?
  - Exatamente. – Zayn acabou sorrindo ao passar os braços pelos meus joelhos e me acomodar pendurada em suas costas. O envolvi pelos ombros e descansei ali. – Principalmente por causa da forma que vocês me acordaram!
  - O que você tem contra uma boa música de manhã? – Harry parecia inconformado.
  - Nada! Mas contra vocês pulando na cama até que eu caísse no chão? Tudo! – Meu namorado reclamou e eu acabei rindo ao lembrar da cena. Por sorte, já estava acordada quando eles nos atacaram. – Eu podia estar pelado, sabia?!
  - Acha que nunca te vimos pelado antes? – Niall gargalhou atrás de nós.
  - É verdade. A é uma garota de sorte. – Li estava ao nosso lado e me olhou com uma cara de safado que me deixou corada.
  - Hey, essa é a minha irmã, ok? – Lou o reprovou. – Não quero saber se ela tem sorte por causa do tamanho do...
  - Até parece que você não se gaba do Harry! – Zayn rebateu, interrompendo-o, e foi a minha vez de reclamar.
  - Podemos mudar de assunto?! – Pedi quase desesperada. – Pauly, controle seus filhos!
  - Eu queria saber como! – Ele respondeu com uma risada. – HEY, BRAD!
  - É nisso aí que vamos andar? – Meu queixo quase caiu.
  Nosso segurança quase correu até um homem meio careca e bem bronzeado, até que se abraçaram. Pelo que eu sabia, aquele tal de Brad era um amigo antigo de Paul e, assim que soube que estávamos por perto, convidou a todos nós para passar o dia em seu Iate. Eu só não esperava que a embarcação fosse ser tão grande e luxuosa. Mesmo ali da plataforma eu já podia ver que o lado de dentro era tão bem cuidado quanto o de fora. Os dois andares pareciam ser equipados com os melhores moveis e eletrodomésticos. Sem falar dos quatro Jet-Skis presos à lateral do barco. Tive que descer das costas de Zayn quando Paul começou a nos apresentar ao homem.
  - Estes são Harry, Louis, Liam, Zayn, Niall... – Foi apontando e apresentando cada um dos meninos, olhando pra mim por último. – E . Ela é a patroa.
  - Oi... – Os meninos falaram quase ao mesmo tempo.
  - Então é você que manda? – O homem quase ignorou os meninos e deu um passo na minha direção, esticando a mão.
  - É um prazer, Brad. – Aceitei a mão dele e nos cumprimentamos. Sorri por estar me sentindo super importante. – Eu é que mando sim. Todos me obedecem!
  - Aham, tá. – Louis gargalhou, mas não me importei.
  - Sendo assim, senhorita, você escolherá nosso destino hoje. – Não soltou a minha mão após nos cumprimentarmos e me guiou até a entrada do barco. Ele estava sendo super cavalheiro e ajudou a subir sem tropeçar. – Para onde quer ir?
  - Me surpreenda! Qual é o lugar mais bonito que você já encontrou por acaso? – Sorri misteriosa; mania que peguei de Zayn.
  - Já sei exatamente para onde vamos. – Afirmou mais rápido do que eu esperava e também subiu ao barco. – Todos a bordo!
  Com aquele convite, os meninos foram subindo de um em um. Enquanto faziam isso, eu me permiti explorar aquele andar. Segui pelo corredor na lateral da embarcação me levou até o fundo do barco, onde fiquei surpresa com o que vi. Mais para o fundo havia uma pequena plataforma de madeira que podia ser abaixada ou erguida, formando uma doca de mergulho. Antes dela, um sofá bem grande parecia extremamente confortável. Ali fora também avistei uma churrasqueira e outras coisinhas que serviriam para fazer o nosso almoço. À esquerda, vi que uma cozinha bem equipada também estaria à nossa disposição. Uma pequena escada em espiral me levaria até o andar de cima, mas senti que seria curiosidade demais se eu simplesmente fosse subindo sem nem pedir licença. Logo eu não estava mais sozinha, pois Brad chegou com os meninos e indicou um lugar na sombra onde podíamos deixar as nossas coisas.
  - Antes de partirmos, tenho alguns avisos que sempre falo para os meus marinheiros. – O dono do Iate começou. Paul se colocou ao lado dele, com aquela posição de segurança e olhar que dizia: “É melhor que prestem atenção”. – Sintam-se em casa! O lugar é de vocês. Aqui temos a cozinha... No andar de baixo se encontra o banheiro e um quarto, caso alguém queira dormir ou se sinta enjoado demais pra ficar por aqui. Lá em cima é mais um lugar pra relaxar e também está liberado pra vocês.
  - Agora, meus avisos... – Paul tomou a palavra. – Nada de correr molhados por aí, ou vão acabar caindo e morrendo! Se eu falar não, é não. Se eu falar pare, vocês param. Entendido?
  - Sim, daddy! – Respondemos em coro, causando risadas em Brad.
  - Quem é a patroa mesmo? – Perguntou retoricamente, olhando para o amigo. Paul acabou rolando os olhos e fez uma posição afeminada. – Então pronto! Podemos partir!
  - Vamos nessa! – Harry comemorou.
  - Só mais uma coisa... – Brad parou antes de se virar em direção à sua cabine. – Alguém aqui não sabe nadar?
  Todos nós paramos e olhamos para Zayn, mas ele não falou nada. Talvez estivesse envergonhado pra falar que não sabia nadar, então preferiu ficar calado. Ninguém se atreveu a fazer diferente, dando a entender que todos sabiam nadar como peixinhos. Estiquei a mão até que encontrei a de Zayn e entrelacei nossos dedos, sorrindo compreensiva. O careca deu meia volta e sumiu pelo caminho que tínhamos vindo. Imaginei que a cabine ficasse na frente da embarcação, pois antes de sumir, ele informou que sentiríamos um pequeno tranco ao começar a andar. Também disse tinha cerveja na geladeira e Niall foi o primeiro a correr até lá.

+++

  Tirando Paul e Brad dessa contagem, era até agradável ver tantos meninos sem camisa e de bermudas “curtas” andando ao meu redor. Eu era a única que ainda estava vestida, apesar do calor. Ser a única mulher no meio de sete homens me deixava um pouco intimidada, mas sabia que mais cedo ou mais tarde teria que me despir. Ao menos para entrar na água. Estávamos navegando há quase quarenta minutos e tudo que eu podia ver a minha volta era água. Ainda não sabia para onde estávamos indo, mas se a paisagem continuasse sendo tão bonita quanto já era ali, não me importaria de viajar por mais tempo ainda. Harry e Louis temperavam pedaços de carne enquanto Niall e Brad cuidavam do fogo da churrasqueira. Paul só relaxava ao meu lado no sofá e curtia o sol. Nunca gostei muito de cerveja, mas aquela Heineken estava tão gelada que eu arriscava alguns goles de vez em quando.
  - Alguém quer que eu ligue o som? Tenho um CD bem legal que a minha sobrinha esqueceu aqui. Acho que vão gostar! – Brad ofereceu.
  - Sim, por favor! – Pedi. Era exatamente isso que estava faltando ali... Música e dança.
  - Só um minuto... – Afirmou com um aceno de mão.
  - Vocês dois aí vão fazer algo? – Harry perguntou à Liam e Zayn, que só conversavam em um canto.
  - Eles vão dançar comigo! – Informei, mas os dois em questão não pareciam concordar muito com aquela idéia.
  - Psiu, ... – Paul me chamou, com seu sotaque irlandês bem carregado. – 5 pounds que você não consegue fazer eles dançarem com você.
  - Você tem uma aposta.
  Aceitei e apertamos as mãos para selar o nosso acordo. Eu sabia bem como seria difícil convencê-los, mas não impossível. Eu tinha uma arma secreta que não gostaria de usar, mas o faria se fosse preciso. Paul continuou bebericando a própria cerveja, divertindo-se e torcendo para que ficasse cinco libras mais rico. Brad logo voltou com um controle remoto preto e apertou alguns botões apontando para o nada. Quase como mágica, uma música com uma batida bem legal começou a tocar. O homem perto de mim levantou a garrafa em sua mão como se brindasse ao meu fracasso, mas retribui o favor. Bebi dois goles seguidos da minha própria bebida e me levantei.
  - Hey, meninos... – Me aproximei das minhas duas vitimas. – Querem dançar comigo? Por favor?
  - Babe... – Zayn fez uma careta, querendo dizer não.
  - Pode ser depois? Estamos conversando... – Liam também negou.
  - Poxa. – Coloquei as mãos na cintura, nada surpresa. A risada que veio de Paul serviu para me encorajar a usar a minha arma secreta. – Tudo bem...
  - Talvez mais tarde?
  Zayn ainda tentou oferecer, mas já tinha me virado de costas pra ele. Caminhei até mesa mais uma vez e Paul esticava a mão, como se me cobrasse. Balancei a cabeça negativamente e pedi para que ele esperasse. Eu podia sentir o olhar de Zayn em cima de mim e, talvez, Liam também estivesse me encarando. Meu namorado me conhecia o suficiente para saber que eu não desistiria tão fácil assim de algo que envolvesse qualquer tipo de dança, por isso sabia que tinha algo errado. Aproveitei aquela atenção toda para colocar meu plano em prática.
  Comecei tirando os sapatos e agradecendo mentalmente pelo chão de madeira não estar tão quente. Em seguida, me livrei da blusa e a joguei em cima do sofá. Ainda estava um pouco insegura quanto à minha forma, mas me sentia bem a vontade rodeada por aquelas pessoas em questão. Para tirar o short, fiquei de costas para os meninos de propósito, mexendo o quadril para que o jeans escorregasse pelas minhas coxas. Já tinha passado muito tempo no Sol para que a minha pele mudasse do tom “Noiva Cadáver” para “Malibu Barbie”. Joguei os cabelos para o lado, fazendo ainda mais charme. Recuperei a minha garrafa de cerveja e me virei, ficando bem satisfeita pelo olhar que recebia dos meninos. Não só Liam e Zayn, mas também de Niall e Harry.
  - Acho que terei que dançar sozinha, então... – Caminhei na ponta dos pés, como uma modelo desfilando. Dei um gole na bebida e olhei cada um nos meninos enquanto fazia isso.
  - Droga. – Paul reclamou.
  - Pensando melhor... – Zayn começou, me segundo pela lateral do barco.
  - Quem precisa conversar? – Liam também veio atrás.
  Culpe a cerveja se quiser, mas eu culpava o sol, o mar, o verão e todo esse clima de festa. A música podia ser escutada pelo barco inteiro, graças às caixas de som espalhadas por tudo que é lugar, então minha trilha sonora não foi cortada quando cheguei à frente do barco. Os meninos ainda me acompanharam, mas não começaram a dançar do nada. Ali na proa, o chão não era mais de madeira, e sim de um estofado branco e bem confortável, que serviria muito bem como uma cama ou lugar para passar horas só aproveitando o passeio. Liam foi o primeiro a se jogar no meio e se acomodar, olhando pra mim; curioso com o que eu pudesse fazer. Zayn, por outro lado, encontrou apoio encostado no barco, me devorando com os olhos.
  - Não vão dançar? – Perguntei entre um gole ou outro, mexendo o corpo de um lado para o outro.
  - Estou bem, admirando a vista... – Liam falou na maior cara dura. Se ele não estivesse namorando Danielle, poderia jurar que ainda tinha sentimentos por mim.
  - Payne! – Zayn reclamou, finalmente com ciúmes de mim. Eu acho. – Ela é minha.
  - E mesmo assim você não está dançando comigo, não é? – Rebati, sem parar de dançar. – Vem aqui, babe...
  - Chamando assim. – Sorriu torto e deu alguns passos na minha direção, parando antes de encostar em mim. – Anjo...
  - Sim? – Mordi o lábio inferior, não me proibindo de olhá-lo dos pés a cabeça. Era meu mesmo, que mal teria?
  - Dança pra mim.
  Aquele pedido soou mais como uma ordem e algo me dizia que eu não teria muita escolha a não ser atendê-lo. Não que eu pretendesse fazer o contrário, mas enfim. Virei a minha cerveja nos lábios, sem conseguir terminá-la por completo. Ainda assim foi o suficiente e deixei a garrafa no chão, um pouco mais afastada de mim. Zayn continuou parado ali na frente e Liam ainda estava bem atento a tudo que acontecia. Esse meio tempo de preparação foi o necessário para que a música mudasse. Dei uma voltinha sem sair do lugar, mexendo o quadril em alguns rebolados. Por mais que ballet fosse a minha praia, não seria nada sensual começar a fazer Grand Jetés ali em cima, então me resumi a embalar o meu corpo de um lado para o outro. Ora ou outra, apoiava as mãos na cintura e mexia os ombros. Meus pés também se moviam, me aproximando e afastando de Zayn, que levantava as sobrancelhas sempre que achava que eu iria tocá-lo.
  Acabei rindo da decepção dele quando negava seus toques. Por fim, eu mesma quase não conseguia resistir àquele menino tão bonito e tão... Na falta de uma palavra melhor: Gostoso! Eu já devia estar acostumada a vê-lo sem camisa, mas era simplesmente impossível. Ele me deixava completamente louca com apenas um olhar, um beijo. Dei as costas pra ele e rebolei até o chão, escutando um arfar exasperado vindo de Zayn. Ao levantar, senti a minha cintura sendo agarrada com força e o meu corpo sendo encostado ao dele com urgência. O melhor de tudo? Senti um volume não tão pequeno assim sendo pressionado contra mim. Ele me prendia com tanta vontade que minha pele poderia ficar avermelhada. Me deixei ser tomada e relaxei, sentindo a minha respiração pesar. Fechei os olhos ao sentir o hálito quente do outro batendo na minha orelha.   - Viu o que você faz comigo? – Ele sussurrou cheio de intenções.
  - Na verdade, estou sentindo. – Sorri travessa, mexendo o quadril devagar; só pra provocar.
  - É todo pra você... – Continuou naquele tom de voz, o que era bom para não sermos escutados, mas ruim para a minha sanidade.
  - LIAM? – Gritei por ele.
  - Meu nome é Zayn. – Pareceu desconfiado.
  - Shh, Zayn! – Ri daquela pseudo-confusão. – Liam, pode sair daqui, por favor?
  - Não precisa pedir de novo... – Ele devia ter entendido o recado e por isso foi embora. Não o olhei em quanto fazia isso, mas pelo barulho de seus passos, foi correndo.
  - Porque pediu pra ele sair? – Zayn voltou a ter aquele tom mal intencionado. Ele sabia os meus motivos, mas queria me ouvir falar.
  - Por que se ele estivesse aqui... – Em um movimento rápido, me virei de frente pra ele. Sem pudor algum, arrastei as unhas pela barriga de Zayn até chegar ao cós da bermuda. Arrisquei um pouco mais até que a minha mão encostasse-se à protuberância que parecia querer fugir da sua roupa. – Eu não poderia fazer isso.
  - Fuck. – Xingou em meio a um suspiro pesado.
  - Não gosta? – Continuei a mexer a mão, apertando um pouco. Meu sorriso era de satisfação, mas o dele era pura luxuria. – Quer que eu pare?
  - Não pare! – Falou quase desesperado, apertando a minha cintura com mais força. – Continua.
  - Vou te mostrar o quanto te quero. – Meu sussurro o fez abrir os olhos que estiveram fechados até então.
  Sem falar mais nada usei a mão livre para segurar em sua nuca e acabar com a distância entre nossos lábios. Nosso beijo começou intenso e o calor só aumentou. Nossas línguas pareciam travar uma verdadeira batalha dentro de nossas bocas e os dentes também entravam em ação, deixando mordidas nos lábios. Naquele momento a última coisa que passava pela minha cabeça era que tinha mais gente naquela embarcação. Só torcia para que Liam impedisse qualquer um de ir nos atrapalhar. Também mal pudemos notar que o barco havia parado de se mexer. Minha mão direita ainda acariciava o membro rijo por cima das roupas de Zayn e eu quase podia senti-lo pulsar. Por experiência própria, sabia que ele não agüentaria ficar só naquela provocação por muito tempo. Logo precisaria de algo mais e eu estava disposta a dar – sem trocadilhos.
  Nossas bocas não se desencaixaram quando Zayn começou a andar para trás, me levando junto com ele. Quando me dei por mim, estava sendo deitada no estofado branco e minhas mãos foram presas acima da minha cabeça por apenas uma das dele. Meus joelhos foram afastados com violência, dando espaço para que o outro se deitasse entre as minhas pernas e pressionasse a sua intimidade contra a minha. Minha respiração estava completamente descompassada e um gemido baixo acabou escapando, dando a Zayn toda a permissão que quisesse. Minhas mãos foram soltas e tratei de agarrar os cabelos bagunçados dele, puxando com certa força. Como vingança, meu pescoço foi atacado pelos lábios e dentes de Malik, que tratou de morder e chupar um lugar só; tendo certeza de que me marcaria. O prendi pela cintura com as pernas e um de meus seios fora apertado pela mão ágil que eu tanto amava que me acariciasse daquela forma.
  - OLHA A ONDA. – Um grito quase assustado nos fez parar por um segundo até que fossemos atingido em cheio por pelo menos três litros de água.
  - Que porra é essa? – Zayn se exaltou, olhando em volta. Ele tinha se molhado mais do que eu, por estar por cima de mim como um escudo. – NIALL, SEU FILHO DA PUTA.
  - O que? – Ainda demorei mais um pouco para entender que o irlandês que ria no andar de cima era o causador daquela pausa. – Tá de brincadeira...
  - Eu vou matar esse duende! – Meu namorado estava claramente irritado e isso até que era excitante, mas com Niall nos observando, nada aconteceria.
  - Nós vamos nadar, pombinhos! – O intruso avisou.
  - Pode se afogar, por favor? – Pedi, escondendo o rosto com a mão.
  - Eu mesmo o afogarei. – Zayn rosnou. – Se importaria de ir na frente e começar a fazer isso?
  - Oh, claro... – Comecei a me levantar e com isso Niall começou a correr.
  Zayn ainda deveria ficar um tempo sentado ali, para que... Bem, para que você-sabe-o-que abaixasse e voltasse ao normal. Enquanto isso, eu teria que me vingar sozinha daquele menino que nos atrapalhara na pior hora. O moreno quase bufava de raiva e por um momento tive medo do que ele faria quando alcançasse Niall. Terminei de arrumar meu biquíni no lugar e pude começar a correr em busca da criatura que também corria de mim. Passei por Louis e Harry na cozinha, que me olharam como se não entendessem nada. Apenas perguntei onde o infeliz estava e ambos apontaram para o lado de fora. Continuei minha perseguição e observei quando Niall empurrava Liam da plataforma de madeira, fazendo-o cair na água.
  - AÍ ESTÁ VOCÊ! – Gritei quando já estava perto o bastante para que ele não tivesse mais pra onde fugir. Pulei em cima de Niall e ambos caímos na água, perto de Li.
  - Você vai matar ele! – Liam ria.
  - Eu sei! – Respondi ao tentar me manter na superfície, empurrando-o para baixo.
  - Socorro! – Se debatia, tentando respirar. Mais rápido do que eu imaginava, Niall tomou posse dos meus pulso e me puxou para baixo junto com ele. Tive que prender a respiração e fechar a boca para não engolir água.
  Tudo aconteceu bem rápido, mas ainda assim consegui me situar. Senti quando Liam se aproximou e agarrou Niall para que nós dois nos soltássemos. Ele sabia que estávamos brincando, mas seu instinto protetor o guiou. A água levemente fria refrescava a minha pele e encharcava os meus cabelos, mas era azul e clara o suficiente para que eu pudesse enxergar embaixo dela. Me afastei daqueles dois meninos ao nadar para o fundo e para o lado, seguindo o volume do barco. Só levantei quando não tinha mais fôlego e já estava longe de Niall e Liam.
  - ? – Niall gritou, sem ver que eu tinha me afastado. – Liam cadê a ?
  - Ela estava aqui... – Olhou em volta, mas me escondi na lateral do Iate. – ELA MORREU? ZAYN VAI ME MATAR?!
  - Ela está aqui, bando de patetas. – Paul me denunciou, ainda ressentido por causa da aposta que perdera.
  - Uau, Paul, muito obrigada!

+++

  Harry acelerava o Jet-Ski e eu tinha que segurar em sua cintura para que não fosse jogada pra fora. Pra falar a verdade, tinha que abraçá-lo com força, mas o menino não se importava. Estávamos a alguns metros do Iate, onde os outros meninos ainda bebiam e se divertiam sozinhos. Harry e eu estávamos mais sóbrios que os outros, por isso nos arriscamos a dar aquele passeio pelo mar. Vez ou outra, o piloto fazia uma curva mais brusca e passava por cima da própria onda criada por aquele movimento, fazendo com que saltássemos. Eu acabava soltando um gritinho de susto e escutava Harry gargalhar na minha frente. Ambos usávamos coletes salva-vidas para o caso de algum acidente acontecer, mas acho que nenhum de nós se afogaria caso caíssemos na água.
  - Hazza, pode parar aqui? – Perguntei elevando a voz para ser escutada apesar do som do motor do Jet-Ski.
  - Yep! – Girou o freio e paramos com um tranco, forçando o meu corpo ainda mais contra o dele.
  - Geez, Harry! Vai com calma. – Ri, sentindo o objeto parar devagar.
  - Você perguntou se eu podia parar aqui, ué. – Girou a chave para desligar o veículo e só o que nos mexia era a correnteza tranqüila do mar. – Está passando mal?
  - Não é isso. Só quero nadar. – Consegui me equilibrar de pé no Jet, começando a abrir o meu colete. – Olha como a água é mais clara aqui...
  - É meio fundo... – Olhou em volta ainda sentado.
  - Para de ser frouxo! – Deixei minha proteção em cima do banco e saltei para o mar. – Weeeeee.
  No momento em que meu corpo tocou a água, um “splash” pode ser escutado e tenho certeza que Harry foi atingido por meus respingos. O calor de Los Angeles parecia ter aumentado ali no meio do oceano e eu não conseguia ficar muito tempo longe da água. Naquele ponto mais afastado do Iate, a temperatura era ainda mais fria, mas isso não me assustou ou impediu que eu nadasse. Meus cabelos flutuavam levemente atrás de mim quando comecei a bater as pernas devagar para que eu fosse em direção ao fundo do mar. A água ali era tão clara que eu conseguia enxergar perfeitamente. Bem, perfeitamente se levarmos em conta o embaçado natural de quando abrimos os olhos embaixo d’água. Sempre gostei de nadar e sempre fui muito boa nisso. Não tinha um pulmão de ferro, mas me garantia alguns segundos ali no fundo. Pela perturbação na água, notei que Harry deixara de frescura e se juntara a mim.
  Quando meu corpo começava a dar sinais de falta de ar, me impulsionei de volta para a superfície, procurando meu amigo com os olhos. Ele ainda se mantinha próximo ao Jet-Ski, mas ao menos estava sem o colete salva-vidas. Mexi as pernas para me manter ali em cima sem afundar. Aquele estava sendo o melhor verão de todos, sem duvida alguma! Eu sabia que nada disso seria possível se os meninos não estivessem fazendo tanto sucesso, mas isso não queria dizer que eu estava me aproveitando deles, certo?
  - Hey, Haz... – Comecei, me aproximando um pouco mais dele. – Agora que estamos sozinhos, posso fazer uma pergunta?
  - Você vai perguntar mesmo se eu falar não, então vá em frente. – Manteve sua atenção em mim, arriscando se soltar do Jet-Ski.
  - Você está chateado? Quero dizer... Com essa história de namorada de mentira, você e Lou tendo que se esconder e tal...
  - Eu desconfiava que seria sobre isso que você iria perguntar. – Harry riu nervoso. – Não vou mentir e falar que estou feliz com isso, porque não estou... Mas Louis está certo, nós precisamos fazer isso. Você mesma já falou que eu sou muito mais aberto quanto a minha sexualidade do que o Lou, então não é como se tivéssemos outra escolha. Eu tenho que protegê-lo.
  - Você sabe que vai ser difícil, né? – Não estava querendo soar pessimista, apenas encarar a realidade.
  - Eu demorei muito tempo para tê-lo assim, . Não vou desistir agora. – Sorriu fraco. – Você desistiria do Zayn?
  - Você está certo.
  Afirmei com outro sorriso e o dele aumentou. Não tinha duvida alguma na minha mente de que eu seria capaz de passar por qualquer coisa por Zayn. Infelizmente, Harry teria que se submeter a ver o namorado com outra pessoa, mesmo que de mentira, mas era preciso. Por mais que não gostasse de quase nenhuma das decisões da Modest!, compreendia o que estavam tentando fazer. De um jeito meio egoísta e conturbado, esse plano acabaria “protegendo” o meu irmão. Todos nós só podíamos torcer para que essa tal de Eleanor entendesse a realidade e também nos ajudasse.
  - Acho que devemos voltar! – Harry anunciou.
  - Minha vez de dirigir!
  Não pedi, apenas informei que seria a nossa piloto. Meu amigo pareceu não se importar muito e me ajudou a montar no Jet-ski. Tive um pouco de dificuldade para me içar para fora da água, mas assim que dominei a minha força, pode subir e me sentar na frente, com uma perna de cada lado daquele banco amarelo. Graças a Poseidon o Sol não esquentou tanto o meu assento então a minha pele não foi cozinhada. Quase esqueci do colete salva-vidas, mas Harry o entregou pra mim assim que vestiu o próprio. O agradeci com um sorriso e voltei a girar a chave na ignição, fazendo o motor roncar quase como se fosse um carro. Dei partida um pouco mais lentamente do que Harry. Não estava com pressa, apenas passeava e curtia o vento soprando os meus cabelos. Haz também não precisou segurar em mim e até arriscou levantar e abrir os braços, se sentindo o dono do mundo.
  As ondas que batiam contra a parte de baixo do Jet-Ski respingavam no meu rosto e pernas, mas nada que pudesse me atrapalhar. Quando nos aproximamos do Iate, diminui a velocidade para que não batêssemos e Brad, que estivera sentado na mesa do deck com Paul e os outros meninos, desceu para a plataforma de madeira e nos ajudou a “estacionar”. Usou uma corda para prender o objeto ao Iate e ofereceu a mão para nos ajudar a saltar. Neguei aquela ajuda e, ao invés disso, o entreguei meu colete salva vidas e pulei na água mais uma vez. Não cheguei a ficar muito tempo nadando, apenas dei um mergulho rápido para me refrescar enquanto os dois homens iam de encontro com aos outros.
   Quando já estava com um pouco menos de calor, subi na plataforma de madeira e balancei os cabelos na esperança de tirar metade da água que ele sugara. Sabe aquela impressão de que você está atrapalhando alguma coisa? Foi isso o que senti ao subir as escadas para o deck da embarcação e todos os meninos pararam de conversar para me olhar. Brad já voltara para o seu lugar no sofá ao lado de Paul, Liam era o seguinte e na ponta mais afastada estavam Zayn e Lou. Harry estava se enrolando em uma toalha quase na entrada da cozinha. Foi ao olhar novamente para o meu namorado que notei o que ele tinha em mãos. Um cigarro. Não era só ele quem fumava, pois meu irmão também tragava aquela coisa que eu odiava.
  - Quando você voltou a fumar? – Perguntei a Zayn, tentando não soar chata demais.
  - Não estou fumando o tempo todo... – Se defendeu, com a voz baixa. Cauteloso por medo da minha reação. – Só quando fico ansioso ou nervoso...
  - Está nervoso agora? O que aconteceu? – Franzi o cenho, preocupada.
  - Uh, não... – Olhou para Liam como se pedisse ajuda.
  - Ele só está com saudade da família, . – Li se intrometeu. – É normal.
  - Oh... Okay... – Aceitei calmamente aquela explicação. Não concordava com aquela forma de relaxamento, mas o que podia fazer, não é? – Bem, vocês sabem como me sinto sobre isso.
  - Quer comer alguma coisa, ? – Brad mudou de assunto, em uma tentativa frustrada de melhorar os humores. – Você mal tocou na comida durante o almoço. Estou achando que não gostou dos meus dotes culinários!
  - Não estou com fome, Brad, mas obrigada! – Menti, forçando um sorriso. Não queria comer. – Só vou subir um pouco e relaxar lá em cima...
  - Não quer ficar aqui embaixo com a gente? – Paul ofereceu.
  - Ela não gosta do cheiro. – Lou o respondeu no meu lugar, dando mais uma tragada em seu fumo.
  Eu não o culpava por estar fumando, já que devia estar atormentado com o que aconteceria quando voltássemos para Londres em alguns dias, com essa nova garota que seria sua “namorada” e, principalmente, preocupado em perder Harry. Ele estava certo em procurar uma forma de alivio, por mais que aquela em questão não fosse a mais saudável. Apesar disso, eu não seria a irmã mais nova chata que fica tentando controlá-lo. Zayn, por outro lado... Já tivera problemas com cigarro. Ele não chegou a precisar ir para a rehab ou coisa parecida, mas estava começando a ficar dependente daquele vicio. Antes mesmo de me conhecer, havia parado com esse hábito – ao menos era o que Niall me contara -, mas agora parecia estar voltando com ele. Eu sempre fui completamente contra, mas também não podia simplesmente proibi-lo de fazer o que queria. Com um pai médico você acaba aprendendo que aquelas coisas fazem mais mal do que se imagina.
  Como ninguém mais quis me impedir de me afastar, recuperei a minha mochila e rumei em direção às escadas em espiral. Harry estava na cozinha, colocando algo no forno, e acenou, abstraído de qualquer coisa que não fosse os seus cupcakes comemorativos. Subi com certa pressa, pois sentia o olhar de Zayn queimando as minhas costas. Ou talvez fosse o Sol... Mas quem sabe dizer a diferença? Ao chegar lá em cima, a primeira coisa que vi foi o balde que Niall usara para atrapalhar meu momento íntimo, e o coloquei de lado. Subi naquele colchão branco que ocupava todo o segundo andar, que, aliás, era bem menor que o de baixo, e fui para um dos cantos, me jogando sobre uma almofada igualmente branca. Sem perder tempo, abri um guarda sol que havia ali do lado, para me proteger do Sol. Sim, eu queria ganhar uma corzinha mais bronzeada, mas não pretendia morrer de calor.
  Peguei a minha mochila e tirei de dentro dela uma camisa preta de mangas compridas. Incrivelmente, aquela peça não era quente, pois parecia mais uma rede de pesca, totalmente furada. O tecido era bem confortável e não me incomodaria. Era masculina, mas quem disse que eu me importava com isso? Primeiramente fora de Harry, mas a encontrei no meio das coisas de Zayn; o que comprovou a minha teoria de que eles dividiam roupas. Talvez fizessem uma mala só durante as viagens, com coisas que todos os cinco pudessem gostar. Mal sabiam eles que eu também iria me inserir nessa brincadeira. Ainda com a mochila aberta, peguei meu celular para ver as horas, mas acabei notando uma mensagem não lida.

  
“Ainda lembra que tem família? (x)”
  “Baby Bo. ): Pode me ligar? Estou tão estressada! Olha que vista feia: (x)”

  Sabia que ficaria com inveja pela foto que mandei, mas não me importei. Ri sozinha, me acomodando naquela almofada grande e confortável. Como a sombra do guarda-sol protegia o meu rosto, não sofria com a claridade e podia aproveitar todo paraíso que me rodeava. Era como se fossemos os últimos seres na face da terra, sem nenhum problema nos perturbando. Eu só queria que essa última parte fosse verdade. Não demorei muito para sentir a primeira vibração do aparelho em minha mão e a foto de uma ruiva fazendo careta apareceu na tela.
  - What’s up, bitch? – Atendi com o melhor sotaque americano que consegui forçar.
  - Heeeey, honey! – Também tentou fazer o mesmo que eu, mas sua tentativa foi bem pior que a minha. – Ah, fuck it. Que saudade de você!
  - Também estou com saudades, cabecinha de fogo! – Ri, mesmo estando com um aperto no coração. – Como você está?!
  - Não estou melhor que você, isso é verdade. – Lá vinha a reclamação! – Está na praia? Onde é essa foto que me mandou?
  - Estou em um Iate! Paul tem um amigo americano que nos convidou para passar o feriado em alto mar. – Expliquei animada, olhando para o horizonte. – Estão todos aqui...
  - Feriado? Esqueci de alguma coisa?
  - Não é feriado mundial, anta. – Gargalhei da lerdeza dela. – É dia quatro de julho. Aniversário da independência do país, ou algo assim...
  - Ah, claro! Eu não tinha obrigação de saber, não é? Não estou em terras, ou melhor, em águas estrangeiras pra saber o que acontece no dia quatro de julho!
  - Não está aqui porque não quer. Conheço um menino que adoraria a sua presença...
  - Não comece, . Aliás, vou encontrar o Ben em trinta minutos.
  - Quem? – Fiz uma careta, tentando lembrar quem exatamente era esse Ben. Só lembrava do meu primo, mas ele era novo demais pra ela.
  - Benjamin! Aquele que você conheceu na escada, no último dia de aula...
  - Ah, o loiro de testa grande! – É claro! – Então vocês dois estão juntos mesmo, hein? Pra você não ter arrumado outro em duas semanas...
  - Muito obrigada por me chamar de vadia, . – Bufou, me fazendo rir ainda mais. – Mas até que tem razão. E como está o badboy de Bradford?
  - Estranho, eu acho... – Falei sem pensar, me apressando para me corrigir. – Quero dizer... Ele está bem, mas as vezes fica meio aéreo, sabe? Às vezes me olha como se quisesse falar algo, mas continua calado. Não sei, se fosse importante ele teria me falado.
  - Espero que ele esteja bem...
  - , tenho tanto pra te contar! – Levei uma mão à testa, só então percebendo o quanto sentia falta de fofocar com a minha melhor amiga.
  - Pode contar agora?! – Quase gritou, super curiosa.
  - Não em trinta minutos.
  - Nah, Ben pode esperar um pouco. Conta!
  - Coitado. – Balancei a cabeça negativamente. Mas desde quando me importo com esse garoto? – Anyway. Lembra do Marco, certo?
  - WeyHey! – A cabeça flutuante de Niall apareceu na escada, me assustando. – , vamos andar de Jet. Quer vir?
  - Não, Nialler, obrigada! – Falei sem tirar o aparelho de telefone da orelha propositalmente.
  - Tudo bem! – O menino se foi tão rápido quanto apareceu.
  - Hm. resmungou para chamar a minha atenção. – Sim, eu lembro quem é Marco. O magricelo de cabelo castanho e óculos.
  - Esse mesmo! – Teria perturbado-a mais se o assunto que estávamos prestes a tratar não fosse tão mais importante. – Ele quer que o Louis tenha uma namorada falsa. Pra disfarçar o relacionamento com Harry, sabe?
  - No way! Louis ficou uma fera, eu aposto! Ele não gosta de se sentir controlado pela Modest!.
  - Muito pelo contrário! – Comecei a explicar, assistindo o primeiro menino sair de Jet-Ski. – Ele aceitou, porque não...
  Perdi a fala ao reconhecer o menino em cima do objeto que aumentava de velocidade cada vez mais rápido: Zayn. O pior? Ele não estava usando nenhum tipo de proteção, muito menos estava acompanhado. Aquele menino devia estar ficando maluco! Pra começo de conversa, estava com algumas garrafas de cerveja no sangue e algo me dizia que o que ele fumara não era um cigarro “normal”. Em segundo lugar, ele não sabia nadar! Como se eu estivesse adivinhando, assisti em câmera lenta a cena que mais poderia ter me assustado. O Jet-Ski deu uma guinada um tanto violenta quando o motorista fez a volta para retornar na direção do Iate e, com o impacto de uma onda, Zayn foi jogado contra a água azul do mar.
  - ZAYN! – Gritei desesperada.
  Eu sabia que os meninos pulariam na água para ir atrás dele, mas nenhum era tão bom nadador quanto eu. Larguei o celular de qualquer jeito e levantei, pisando na borda do barco e pegando o máximo de impulso que consegui. Em segundos eu já estava na água e remava com toda a força de meus braços e pernas. Pela minha cabeça a única coisa que passava era: “Tenho que chegar até ele.” Escutei mais corpos se jogando na água, mas eu ainda era a mais adiantada. Zayn se debatia como um peixe fora d’água (sem trocadilhos +1) e engolia água quando tentava gritar por ajuda. Eu mal conseguia ver seus braços na superfície, apenas a sua cabeça tentando lutar por ar. Sem deixar meu desespero me dominar, acelerei ainda mais a velocidade em meus movimentos, ignorando a dor que causava ao meu próprio corpo. Ao chegar perto o bastante de onde Zayn estivera segundos antes, o assisti começar a afundar.
  Gritei por ajuda antes de mergulhar e afundar atrás dele. O peso do menino parecia estar puxando o seu corpo inconsciente para baixo. “Ele só entrou em choque e desmaiou. Não pense besteira.” Briguei comigo mesma ao pensar no pior e ignorei a minha própria falta de fôlego, indo em busca daquele menino até que a ponta dos meus dedos tocasse na sua cabeça. Xinguei os meus olhos por estarem tão embaçados, mas consegui firmá-lo em meus braços e empurrá-lo para cima. Tudo o que eu queria era tirar seu rosto da água para que ele voltasse a respirar. Zayn era mais pesado do que eu, o que me deu mais trabalho para mantê-lo ali em cima quando eu mesma não tinha nenhum apoio maior. Sentia que iria começar a chorar, mas engoli essa vontade assim que Liam e Harry conseguiram nos alcançar. Brad também estava com eles e trazia uma bóia vermelha, daquelas de salva vidas mesmo.
  O mais velho parecia saber o que fazer, porque tirou Zayn de meus braços – por mais que eu tivesse resistido no começo – e o colocou dentro da bóia; de forma que ficasse bem preso e com o rosto para fora da água. Ainda assim, meu namorado não voltou a abrir os olhos, o que me preocupou anda mais. Liam envolveu a minha cintura, me dando o apoio que eu mesma precisava. Harry fez um sinal com os braços e Paul, que continuara no barco, começou a puxar a corda que fora amarrada à bóia de Zayn. Logo o menino chegaria ao barco e tudo ficaria bem...
  Harry foi recuperar o Jet-Ski ligado, que se afastava bem devagar como se nada tivesse acontecido. Liam e eu começamos a nadar em direção ao Iate mais uma vez, com um pouco mais de calma. Podíamos ver Zayn sendo carregado para fora da água por Paul e levado até o deck, onde sumiu da nossa visão. Sem agüentar mais um segundo sem saber o que estava acontecendo, acelerei graças a adrenalina e até mesmo Liam acabou ficando pra trás. Ao chegar no Iate, Brad tentou vir me ajudar a subir mais uma vez, mas consegui ser mais rápida e logo estava de pé, subindo até o primeiro andar. Só porque eu era uma menina pequena, não queria dizer que eu não era capaz de fazer coisas grandes.
  - Como ele está? – Minha voz saiu mais engasgada do que eu esperava.
  - Ele precisa de espaço! – Paul pediu, deitando o corpo quase sem vida do menino no chão. Louis, Niall e todos os outros que estavam ali se afastaram.
  - Zayn... – Ignorei os pedidos de me afastar e me ajoelhei ao lado dele.
  Vendo o desespero em meus olhos, Paul não pediu para que eu saísse de perto dele. Também não queria atrapalhar, então apenas segurei uma das mãos de Zayn e a levei até o meu peito. O segurança surpreendeu a todos nós quando soube exatamente o que fazer. Primeiro colocou a cabeça do menino inconsciente para trás, de maneira que permanecesse reta. Em seguida, tentou escutar a respiração do mesmo, sem perder tempo e já assoprou ar para dentro da boca de Zayn, usando a própria.
  - , preciso que me ajude. – Falou rapidamente, puxando as minhas duas mãos e colocando-as em cima do peito de Zayn. – Quero que você aperte e conte até cinco, entendeu?
  - Sim... – Me coloquei de joelhos ao lado de Zayn para conseguir mais apoio e pressionei a caixa torácica dele enquanto contava. – 1, 2, 3, 4, 5...
  - De novo.
  Quando eu terminava de apertar e contar, Paul assoprava mais ar para dentro da boca dele. Eu esperava para voltar a apertar o peito abaixo de mim com força, tentando estimular os movimentos dos pulmões. “Vamos, Zayn, respira...” Eu pedia silenciosamente, já com as lágrimas escapando pelos meus olhos. Depois que eu e Paul repetimos aquela manobra mais três vezes, o menino abriu um pouco os olhos e teve uma crise de tosse, cuspindo tanta água que eu mal sabia como era possível. Fiquei tão aliviada que era como se um caminhão tivesse sido tirado de mim e acabei caindo sentada no deck, tirando alguns fios molhados do meu rosto.
  - Agora sim! – Paul foi o primeiro a comemorar em voz alta, ajudando-o a se sentar. – Você está bem?
  - Eu acho... – Balançou a cabeça, ainda ofegando.
  - Eu tive tanto medo! – Cansei de esperar e me joguei nos braços de Zayn, o abraçando talvez um pouco forte demais.
  - Foi você, não foi? – Zayn falava baixo, me apertando de volta.
  - Sim, Zayn, a te salvou... – Liam parecia em choque com tudo que acontecera bem na frente dos seus olhos.

+++

  Acho que posso dizer com toda certeza que nosso feriado foi mais animado do que o de muita gente por aí. Com isso em mente, é bem fácil de acreditar que todos nós fomos para a cama antes mesmo da meia noite. Após o acidente de Zayn, todos achamos melhor voltar para o hotel e terminar o dia na segurança de terra firme. Claro que ele se sentiu super culpado, pensando que estragara o passeio de todo mundo, mas fiz o que pude para que ele não pensasse assim. Lux e Rachel também tiveram um dia muito animado, no hotel mesmo. A mais velha das duas contou que o Venice Hotel desenvolveu várias atividades para pessoas de todas as idades, até mesmo fazendo caça ao tesouro na praia ali da frente. Minha irmãzinha estava tão morta de cansaço que nem quis comer o cupcake que trouxemos para ela.
  Depois de ter tomado banho e com uma camisola um tanto quanto fofa e confortável, adormeci nos braços de Zayn. Segura por saber que ele estava bem ali. Devia passar das três horas da manhã quando algo começou a perturbar o meu sono. Me mexi na cama de casal, com medo de chutar o menino ao meu lado, mas ainda assim com vontade de encontrá-lo. Não era pra menos que algo tivesse me acordado... Eu estava com frio e não tinha o corpo de Zayn bem grudado em mim para me aquecer. Resmunguei qualquer coisa humanamente desconhecida e comecei a tatear a cama, encontrando o espaço ao meu lado completamente vazio.
  - Baby? – Chamei por ele com a voz bem amassada; ou algo que faça mais sentido.
  Não obtive resposta, então deixei meu olhar se acostumar com o escuro do quarto. Ironicamente, havia uma fresta de luz que vinha do lado de fora; na direção da varanda. A luz lá de fora não estava acesa, mas a porta que dava passagem àquele local estava entreaberta, permitindo a entrada da luz fraca que vinha da rua. Cocei os olhos e afastei o resto de sono que ainda me consumia. Me colocar sentada e levantar daquela cama confortável só foi fácil porque meu namorado não estava ali. Arrastei um pé após o outro, atravessando o quarto até chegar ao meu destino final. Empurrei a porta com cuidado, espiando à procura de Zayn. Ele não estava em nenhuma das cadeiras dali, mas arrisquei averiguar mais profundamente e o vi encostado à parede, de frente para o vidro da varanda que nos deixava ver a praia do outro lado da rua.
  - Love? Está tarde, volta pra cama... – Minha voz ainda saia fraca por causa da sonolência.
  - Eu já vou entrar. – O som que deixou seus lábios não foi tão diferente do meu, me fazendo entrar na varanda e caminhar devagar até ele.
  - Você está bem? – Não precisei de convite para também me sentar ali no chão, ao lado de Zayn.
  - Estou bem, não se preocupe. – Era mais fácil falar. Me olhou com um meio sorriso, tentando me tranqüilizar, mas não fui convencida. – Só tive um pesadelo...
  - Sobre o que? Quer me contar? – Ambos encostamos as costas na parede, deixando nossos ombros se encostarem. Segurei a mão dele e entrelacei nossos dedos.
  - Sonhei que estava me afogando de novo. – Suspirou, olhando as nossas mãos juntas e começando a brincar com os meus dedos. – Mas você não estava lá pra me salvar dessa vez.
  - Eu sempre vou estar lá pra te salvar, sweetie. – Acariciei as costas da mão dele com meu polegar, me virando levemente para poder fitá-lo melhor. – Só foi um sonho ruim. Agora já passou...
  - Eu sei. É que é difícil fechar os olhos e não imaginar... Não lembrar como eu me senti quando... – Parou de falar no meio da frase.
  Não sabia exatamente como era a sensação de estar se afogando, de tentar respirar, mas não conseguir... Só sabia que devia ser a experiência mais terrível do mundo. Pior, talvez, só assistir a pessoa que você mais ama passar por isso. Zayn ficou calado, olhando pra frente. O céu estava escuro, mas algumas estrelas faziam companhia à Lua cheia que brilhava em cima de nós. A expressão de Zayn parecia tranqüila e seu corpo estava bem relaxado; eram seus olhos que falavam o contrário. Também não falei coisa alguma, apenas o assisti abraçar os joelhos no peito e deitei a cabeça em seu ombro. Recebi um beijo na testa e pude escutar a voz baixa de Zayn mais uma vez.
  - Você nunca me perguntou porque eu não sei nadar.
  - Sempre achei que você me contaria quando estivesse pronto. – Levantei a cabeça para poder vê-lo, mas mantive o queixo apoiado no mesmo lugar. Não era da minha personalidade insistir em saber coisas sérias, pois entendia que cada pessoa tinha seu tempo para conseguir se abrir ou falar sobre certos assuntos.
  - Quando eu era pequeno, em Bradford ainda... Tinha um amigo chamado Mike. Um dia, nós estávamos brincando perto desse lago... – Começou a contar, mais uma vez evitando o meu olhar. Eu, em compensação, mal piscava ao olhar pra ele. Tinha medo de como essa história poderia terminar. – Nossas mães sempre falavam pra não ficarmos muito próximos, mas sabe como crianças são. Mike caiu... Nenhum de nós sabia nadar ainda, então eu corri para pedir ajuda... Mas foi tarde demais...
  - Não foi sua culpa... – Estava realmente surpresa com aquela história, sem saber muito bem o que falar.
  - Desde aquele dia, eu nunca mais consegui chegar perto águas abertas. – Admitiu baixo. – Não até hoje, pelo menos.
  - Mas não era você. Quero dizer, você tinha bebido... – Afastei o rosto do ombro dele para poder ler todas as suas reações. – E aquilo que estava fumando com o Lou... Não era só cigarro, certo?
  - Não.
  - Eu sabia. – Ri baixo, sem graça alguma. Voltei a encostar na parede e Zayn finalmente me olhou.
  - Sinto muito... – Preferia que ele continuasse sem me encarar, pois a dor que senti em seu olhar me quebrou.
  - Não sinta. – Foi a minha vez de olha pra frente. – Você fez o que queria, então não pode se arrepender disso.
  - Eu te desapontei.
  - Um pouco.
  - Eu não pretendia... É só que... – Encostou o rosto aos joelhos, fechando os olhos com força. – Eu tenho tantas coisas na cabeça.
  - Então porque você não me conta? Você costumava me contar tudo, mas agora eu sinto como se sempre estivesse um passo atrás.
  Não pretendia jogar aquelas coisas em cima dele e ainda piorar a confusão da cabeça dele, mas tinha medo. Zayn e eu costumávamos contar tudo um para o outro, saber de tudo sobre o outro. Meu medo era que não fosse mais assim. Como eu falara pra mais cedo, sentia que ele estava estranho. Não o tempo inteiro, é claro, mas algumas vezes. E não saber o que estava acontecendo era pior do que qualquer noticia que ele poderia me dar. Vendo que a minha última pergunta não seria respondida, balancei a cabeça em frustração e suspirei baixo. O silêncio era tão forte naquela varanda que cogitei poder ouvir até uma formiga andando por ali. Para quebrar o gelo, Zayn desarmou o abraço em suas pernas e virou até estar de frente pra mim.
  - Anjo.
  - Hm? – Dessa vez eu o olhei.
  - Você ainda me ama? – Aquela pergunta me surpreendeu mais do que posso explicar.
  - Sim. – Minha resposta foi simples, mas não podia ser mais verdadeira. – O que te faz pensar que eu não amaria?
  - Tanta coisa mudou. Eu mal estou em casa, sempre tenho o trabalho me mantendo ocupado, Modest! está sempre se intrometendo... – De certa forma eu sentia que aquilo era Zayn finalmente se abrindo e me deixando entrar. – Meu rosto está em três de cada cinco revistas, todos os dias tem um novo boato...
  - Zayn, eu não comecei a te amar porque você estava sempre em casa, ou porque os únicos boatos eram os que Brigitte inventava. – Segurei sua mão, querendo tranqüilizá-lo; ao menos sobre aquilo. – Você significa mais pra mim do que sabe.
  - Eu te amo tanto... – Abaixou o olhar, mas levantei seu rosto com cuidado.
  - Eu sei. – Sorri, juntando nossos lábios de uma vez por outra. Nosso pequeno beijo foi simples e não durou muito, mas era o bastante.
  - Você sabe que as coisas vão mudar quando voltarmos pra casa, não sabe? – Encostou a testa à minha. – As coisas em Londres não são tão quietas como são aqui.
  - Especialmente com a Modest! querendo controlar tudo que vocês fazem. – Teria rolado os olhos se eles não estivessem fechados. – Com a Eleanor e tal.
  - É... – Senti a respiração de Zayn pesar. Ele devia ter as mesmas preocupações que eu.
  - Mas ainda teremos Paris! E o casamento da minha mãe. – Acabei sorrindo e levantando do chão, esticando a mão para que ele fizesse o mesmo. – Vem. Vamos pro quatro.
  - Está com sono? – Aceitou minha ajuda e levantou.
  - Não. Mas quero terminar algo que o Niall interrompeu.

    

Chapter IX

- Eu não vou! – Choraminguei, me agarrando ao banco no fundo da van.
  - , nós temos que ir... – Meu irmão ria do lado de fora, esticando a mão na esperança que eu saísse de lá.
  - Podem ir! Vou ficar por aqui mesmo. – Cruzei os braços, forçando os pés no chão, me prendendo ali.
  Passava das sete horas da noite, mas o céu ainda estava claro como se fosse de manhã. Eu sentiria falta desses dias de verão americanos... Não! Não sentiria falta, porque não iria embora. Ficaria para sempre naquela van preta. Talvez Brad me deixasse morar com ele. Ou até me emprestar o Iate por uns meses. Isso! Ah, quem eu estava querendo enganar? No fim das contas eu acabaria saindo daquele carro e aceitaria entrar no LAX para pegar o avião que me levaria de volta para a terra da rainha. Um lado de mim estava bem animado em ver as minhas meninas e , mas o outro lado queria continuar naquela cidade quente e maluca. No lado de fora da van, Paul tirava as nossas bagagens do porta-malas e os meninos buscavam carrinhos para guardá-las. Os únicos que me esperavam sair eram Louis e Liam.
  - Alguém arranca ela daí, por favor? – Rachel pediu, com Lux em seus braços.
  - Deixa comigo. – Li se ofereceu, deixando de lado o plano que meu irmão tinha de me tirar dali apenas com conversa. Assisti Liam entrar e se sentar ao meu lado. – Oi, .
  - Oi, Leeyum. – Arqueei uma sobrancelha, me mantendo atenta a qualquer movimento brusco.
  - Por que não quer sair? Não quer ver a ? Seu bebê? deve estar com tanta saudade de você... – Começou, apelando para o meu emocional. – Sem falar que o casamento da sua mãe é em algumas semanas...
  - Eu ligo pra ela e explico. E posso pedir pra alguém ir buscar . também pode vir me visitar aqui. – Fiz bico, olhando pra fora da janela. – Você e os meninos podem ir! Sei que está com saudades da Dani, então não te culpo em querer ir embora o mais rápido possível. Pode me deixar aqui!
  - Eu nunca iria embora sem você. – Liam falou tão adoravelmente que acabei olhando pra ele e sorrindo. – Você quer ficar mais um tempo? Podemos tentar...
  - Eu quero! Awn, você é um amor! – Comemorei, deixando a minha inocência tomar conta da minha racionalidade. Acabei envolvendo Liam pelo pescoço e o abraçando.
  - AHÁ! – O enlace em minha cintura foi mais forte do que eu esperava. – Peguei ela!
  - O que?! Você me enganou? – Tentei me soltar, mas foi inútil.
  Liam era ridiculamente forte. Tão forte que conseguiu me carregar como se eu fosse um pedacinho de algodão; e, ainda por cima, eu estava esperneando e me comportando como uma criancinha de três anos. Até Lux estava mais quieta que eu! Assim que saímos do carro, fui colocada no chão, mas Liam e Louis passaram os braços pelos meus. Parecíamos apenas bons amigos aos olhares de quem passava por nós, mas eu sabia que estavam se assegurando de que eu não fugiria ou coisa assim. Brad viera conosco, para poder levar a van de volta para a concessionária de onde a alugamos, e também para se despedir de Paul. Eu já me despedira dele e não gostaria de passar pela mesma situação novamente, então apenas acenei quando ele entrou no veículo e desejou boa viagem para nós.
  - Hey, olha quem resolveu vir com a gente! – Zayn sorriu, trazendo um carrinho para perto de mim.
  - Não foi por espontânea vontade, pode ter certeza. – Fiz um bico maior que eu e suspirei.
  - Não fique assim, babe... Vai ser bom voltar, você vai ver. – Tentou fazer com que eu me sentisse melhor, mas nem ele mesmo parecia certo daquilo. – Quer uma carona?
  - Achei que nunca ia perguntar! – Rolei os olhos com um sorriso e os meus carcereiros me deixaram sentar na única mala preta que estava em cima daquele carrinho cinza.
  - Está tudo pronto? – Rach questionou, olhando para todos os carrinhos e todas as pessoas que estavam ali no portão do aeroporto.
  - Os outros já estão lá dentro. – Paul afirmou com a cabeça e pegou o carrinho mais cheio de bagagem.
  - Então vamos! – A loira só carregava Lux e a sua maxi bolsa, indicando o nosso caminho.
  - Quem são os outros? – Perguntei apenas para Zayn, torcendo para não parecer lerda demais.
  - Marco e o resto da equipe. – Respondeu ao começar a empurrar nosso carrinho.
  - Marco? “O” Marco? – Minha discrição toda chamou a atenção de Lou e Ni, que passaram a nos olhar. – Está me dizendo que eu terei que passar doze horas presa dentro de um avião, a milhares de metros do chão, com esse cara?
  - Acho que só um sobrevive. – Niall gargalhou bem do jeitinho dele.
  - Vinte libras que é a . – Lou esticou a mão para selarem a aposta.
  Os cinco meninos também arrastavam carrinhos cheios de malas. O de Zayn era o mais vazio, mas como eu estava em cima dele, continuava bem pesado. Parecíamos um verdadeiro exercito se preparando para a guerra; ou ao menos uma viagem muito longa. Se eu já viera para os Estados Unidos com duas malas, estava voltando com três. Sim, tive que comprar mais uma para que todas as minhas compras coubessem em algum lugar. Da próxima vez eu só levaria uma mochila de costas para poder comprar tudo que precisasse! De qualquer forma, conseguimos entrar no LAX – que estava mais cheio e movimentado do que no dia em que cheguei – e tive que descer do carrinho.
  Preston, um novo funcionário da Modest! que aparentemente teria a mesma função que Paul, se encarregou de levar todas as malas para o balcão do nosso checkin; com a ajuda de funcionários do próprio aeroporto, claro. Rachel deixou a filha com Harry e foi com Paul resolver as questões dos nossos vistos, passaportes, passagens e toda essa burocracia chata. Como não tínhamos muita coisa pra fazer, seguimos para alguns bancos estofados que acabavam de ficar vazios. Haz foi o primeiro a sentar, brincando com a minha irmã. Louis sentou ao seu lado e os dois praticamente se abraçaram, parecendo um casal com a sua primeira filha. Os outros meninos também se acomodaram por ali e eu me sentei nos braços da cadeira que ligava a de Zayn à de Niall.
  - , você sabe que a viagem é longa, não sabe? – Niall questionou enquanto Zayn encostava a cabeça à minha coxa.
  - Sei... Por que? – Ri por sentir cócegas do ato de meu namorado, mas fitava o loiro com curiosidade.
  - Você não parece muito confortável nessas roupas... – Concluiu seu pensamento, me estudando dos pés a cabeça. – Salto, blazer e tudo mais.
  - Vou tirar tudo isso no avião, não se preocupe! – Expliquei, pousando a minha bolsa no chão à minha frente. – Mas você tem o seu trabalho, e eu tenho o meu também.
  - Às vezes esqueço que você é uma modelo agora. – Zayn mordeu a minha perna de leve, me causando novos risos. – E depois voltaremos à essa história de tirar as roupas.
  - Eu não sou modelo! Não do jeito que você pensa, pelo menos. – Acariciei seus cabelos, preferindo ignorar a última parte de sua fala. – Só uso algumas roupas da Mulberry por aí...
  - Como funciona esse seu trabalho? – Nunca imaginei que Niall fosse se interessar por esse assunto, mas ficaria feliz em lhe explicar.
  - Bem... Antes de uma coleção nova ser lançada, eu recebo algumas peças pra usar por aí e ser vista. Não só por pessoas “normais”, digamos assim, mas também por formadores de opinião. Ou seja, editores de moda, blogueiros e todo o tipo de pessoas envolvidas com o mundo da moda. E, acredite, eles estão em toda parte! Geralmente recebo vários convites para eventos ou desfiles que tem tapete vermelho e essas coisas... Então tenho que estar usando a marca Mulberry. – Era um erro me perguntar sobre aquele assunto, pois eu realmente me empolgava e começava a falar muito. – Não tenho um salário fixo, porque só recebo quando trabalho. Quero dizer... Recebo quando vou a eventos, ou quando faço propaganda da marca, da forma que for.
  - Mas você não pode usar outra marca? – Liam, que eu nem sabia que também prestava atenção no assunto, perguntou.
  - Esse é o bom, eu posso usar o que eu quiser. – O olhei, me sentindo o centro das atenções. – A única coisa que eu não posso fazer é divulgar outras marcas, entende? Não posso ir até tal loja e tirar uma foto com a logo marca aparecendo. Nem posso postar alguma coisa no Twitter falando que a minha marca preferida é a TOPSHOP, por exemplo. Porque tenho um contrato com a Mulberry.
  - Você é tão linda. – Zayn falou, me encarando tão profundamente que até me assustou.
  - O que? – Sorri verdadeiramente com aquela declaração inesperada.
  - Só estava pensando alto. – Pareceu voltar a realidade e gargalhou, passando os braços em volta da minha cintura. – É só que eu nunca te vi falando assim de alguma coisa... Com tanta paixão, sabe? Talvez só de ballet.
  - Eu realmente gosto do que estou fazendo. – Sempre gostara de moda, mas parecia que agora eu fazia parte do seu universo e ela do meu. Se dependesse de mim, eu não sairia nunca mais.
  - O que o Simon está fazendo aqui? – A voz de Louis chamou a atenção de nós quatro. – SIMON! AQUI!
  - Ele deve ter vindo se despedir. – Niall levantou e começou a acenar.
  Simon Cowell acabava de entrar pelos portões do aeroporto, seguido por dois seguranças particulares. Todos pareciam reconhecê-lo. Alguns acenavam e tiravam fotografias e outros só cochichavam com suas companhias algo que deveria ser mais ou menos assim: “Ai, meu Deus, esse não é aquele cara do X Factor? Que era do Idols?” Sim, meus caros, era ele mesmo! O homem que só parecia ter camisas acinzentadas e calça jeans em seu guarda roupa avistou o irlandês acenando em sua direção e logo caminhou até onde estávamos. Tirou os óculos escuros do rosto e os guardou no bolso, abrindo os braços e sorrindo como se fosse um pai ao ver seus filhos. Fui a segunda a levantar e sorri para abraçá-lo.
  - Tio Simon! – Ri aquele apelido, sendo envolvida pelo homem que parecia tão severo, mas que comigo sempre foi um verdadeiro amor. – O que está fazendo aqui?
  - Gostei do seu cabelo loiro, . E vim me despedir de vocês, não é óbvio? – Também riu, me soltando em seguida.
  - Tio Simon! – Niall e Liam pularam em cima do mais velho ao mesmo tempo, quase levando os três ao chão.
  - Ela é a única que pode me chamar assim, lads. – “Reclamou” e foi cumprimentar os outros meninos. – Talvez Lux também possa...
  - É bom te ver, Simon! – Zayn o abraçou de forma mais comportada, mas ainda assim carinhosa.
  - Trouxe mais algumas pessoas que queriam se despedir. – Simon fez um sinal para os seguranças e os dois gigantes abriram espaço.
  - SURPRESA! – Três meninos gritaram ao mesmo tempo.
  - Não acredito que vocês estão aqui! – Levei as mãos ao rosto, literalmente surpresa por ver Wesley, Drew e Keaton parados na minha frente.
  - Não achou mesmo que deixaríamos você ir embora sem se despedir, né? – Wes abriu os braços, me convidando.
  - Eu torcia pra que sim! – Nunca gostei de despedidas, então quanto menos eu precisasse dizer adeus, melhor. Dei alguns passos até poder abraçar o primeiro menino. – Não queria ir! Não queria me despedir!
  - Você só está indo para o outro lado do mundo, não precisa ficar assim... – Me apertou com força, beijando a minha bochecha. – Iremos nos ver de novo.
  - Uau, isso me deixou muito melhor! – Ri, mas sentia meus olhos começarem a arder. – Me prometa que vai me visitar.
  - Eu prometo, . – Nos soltamos relutantemente.
  - Vocês dois também! – Me virei para Keaton e Drew, abraçando o mais novo primeiro. – Keath, vou sentir falta dos seus bagles e conversas sobre gatos.
  - Também vou sentir sua falta, . – Riu, me abraçando com tanta força quanto o irmão. Ao menos ele era da minha altura. – E prometo ir te visitar.
  - Eu prometo também, se é que se importa! – Drew já me esperava de braços abertos.
  - Claro que me importo! – O abracei pelas costelas, tendo meus ombros envolvidos. Segurando o choro, tentei manter a vos firme. – Ainda quero que me ensine a fazer rap!
  - Pode deixar. – Bagunçou os meus cabelos com carinho.
  Doeu ter que abraçar aqueles três meninos pelo que pareceu ser a última vez. Eu os conhecia desde o ano anterior, mas foi nessa viagem de quase três semanas que passamos a nos conhecer melhor, que pudemos conversar cara a cara, sem ter que ser por meio de mensagens ou ligações rápidas. Aprendi coisas com cada um e tenho certeza que eles também aprenderam bastante comigo. Mais do que nunca queria poder ficar mais tempo, ou ao menos prolongar aquela despedida. Eu tinha certeza que os veria novamente, mas não sabia quando. Poderia ser nas próximas férias, mas também poderia ser dali a anos! Nós quatro nos tornamos amigos e a idéia de não poder ir à praia com eles sempre que sentisse vontade me incomodava. Eu já estava com algumas lágrimas escapulindo pelas laterais dos meus olhos e tentava ignorá-las. Não chorei compulsivamente, apenas o suficiente para que todos ali percebessem o quanto meus mais novos amigos eram importantes e o quanto me incomodava ter que dizer adeus.
  Infelizmente, Rachel e Paul logo retornaram com os nossos documentos e permissão para embarcar. Simon disse que ir até ali não tinha apenas o objetivo de se despedir, como também o de fazer uma última surpresa. Sendo assim, nos acompanharia mais um pouco. Preston chegou também, para o meu desespero, e poderíamos nos encaminhar para o portão de embarque. Wes, Drew e Keath não podiam vir com a gente, então senti o coração apertar mais ainda. Eles se despediram dos outros meninos – de quem não eram tão íntimos assim, mas gostavam bastante – e evitavam olhar pra mim, por medo que meu choro piorasse. Wes foi o único que me abraçou mais uma vez, ainda mais forte do que antes. Funguei algumas vezes antes de nos separarmos pela última vez e notar que seus olhos não estavam muito diferentes dos meus. Antes de me virar e ir embora, observei o menino tirar do pescoço a corrente que usava desde que eu o conhecera em Londres, nos estúdios do XF. Tentei negar, mas foi impossível. Deixei que ele colocasse no meu próprio pescoço e agradeci deixando um beijo em sua bochecha. A última coisa que escutei dele foi: “Nos veremos em breve.”

+++

  Lembra da surpresa do tio Simon? Quero dizer... Do Senhor Simon Cowell? Bem, essa surpresa não poderia ter sido melhor! Ele emprestou o jatinho particular para que pudéssemos viajar. Ainda tinha que agüentar Marco no mesmo lugar que eu, mas talvez pudesse superar e ignorar essa parte. Além de nosso trajeto ser bem mais confortável em um jatinho, chegaríamos ao aeroporto Heathrow duas horas antes do previsto! Nossa viagem ainda seria longa, mas qualquer hora que eu pudesse retirar já seria muito boa. Ainda estava tristonha por ter que ir embora, mas como não tinha escolha, queria que isso acabasse logo!
  Aquela aeronave era bem menor que os aviões comerciais de viagens internacionais que eu estava acostumada, mas era como se fosse inteiramente da primeira classe. O jatinho particular era dividido em duas metades, a da frente e a de trás – obviamente – e, sendo assim, também nos dividimos. As crianças na metade de trás e os adultos na metade da frente. Imagine a minha felicidade ao descobrir que podíamos nos fechar ali atrás e deixar que os três funcionários da Modest! conversassem sobre coisas chatas com Paul e Rach lá na frente. O interior do jatinho era muito luxuoso, diga-se de passagem. Seis poltronas de couro macio estavam destinadas para nós, sendo três de um lado e três de outro, e como se já não bastasse o seu tamanho e conforto, elas ainda davam giros de 360º; nos permitindo colocá-las na posição que bem quiséssemos. O chão era de um carpete limpo e muito fofo, o que me “obrigou” a tirar os sapatos altos assim que pisei ali. Estávamos voando há algumas horas, então o escuro da noite finalmente aparecera, fazendo com que a atmosfera da cabine ficasse mais aconchegante ainda.
  Zayn estava sentado na última cadeira da esquerda, atrás de mim e ao lado de Harry. Eu estava ao lado de Lou e o último na minha frente era Liam, que estava ao lado de Niall. Confuso, eu sei, mas viramos as nossas poltronas para que ficássemos todos de frente uns para os outros e assim pudéssemos conversar. A televisão no centro da cabine estava ligada e quem quisesse assistir o filme só precisava pegar os headphones no braço de sua cadeira e escutar. Mas é claro que ninguém se interessou pelo clássico em preto e branco. Lux estava ali atrás conosco também, mesmo que não tivesse uma cadeira só para si, então ficava indo de colo em colo até que ficasse entediada. Nesse momento, ela estava no colo de Liam, que lhe contava uma história qualquer sobre soldadinhos de chumbo.
  - Psiu, gente... – Cochichei para chamar a atenção dos outros, abaixando um pouco o edredom azul que me aquecia. – Acho que o Harry dormiu...
  - Finalmente! – Niall comemorou com um pulo da cadeira, mas manteve-se quieto.
  - Nem pense nisso! – Lou tentou proteger o namorado, mas seria inútil.
  - Ah, por favor, Louis! Você vive colocando coisas na boca dele o tempo inteiro, porque não podemos fazer isso uma vez que seja? – Ri baixo, tentando não pensar no que havia acabado de falar. Acontece que Harry sempre adormece com a boca aberta, o que era um convite e tanto para pessoas mal comportadas como nós. Ele não chegava a roncar, mas era uma tentação colocarmos coisas dentro da sua boca.
  - Façam o que quiserem, só não quero ser parte disso. – Meu irmão levantou os braços como se lavasse as mãos, figurativamente falando. Se fosse com qualquer um dos outros, ele teria sido o primeiro a aprontar, mas já que se tratava de Harry, a história era outra.
  - , ainda guarda aquele lápis de olho na bolsa? – Zayn perguntou e eu li seus pensamentos.
  - Sim! – O olhei maleficamente e comecei a procurar o objeto dentro da minha bolsa enorme que estava apoiada no chão. – Aqui...
  - O que vocês acham? – Zayn já levantara da própria cadeira e se ajoelhara perto do adormecido. – Estilo Hitler ou algo mais sofisticado?
  - Harry é meio hipster, então nada mainstream. – Ni também se juntou a nós, rodeando o curly. Tenho certeza que ele não fazia idéia do que mainstream queria dizer.
  - Desenha aquele bigode bonitinho... O que o Liam tem na estampa de uma camisa, sabe? – Opinei.
  - Sei, mas é pra ser engraçado, não bonitinho... – Zayn rolou os olhos e lhe entreguei o lápis.
  - Você escolhe então! Quem sabe desenhar é você. – Dei de ombros.
  - Já sei! – Meu namorado sussurrou mais uma vez e se inclinou sobre Harry.
  - Ni, o que você vai colocar na boca dele? – Me virei para o loiro.
  Nossa brincadeira tinha algumas regras, claro. A graça da brincadeira era que cada um escolhesse um objeto para colocar na boca de Harry, mas não podia ser pequeno o bastante para ser engolido e nem grande demais para não machucá-lo. Nós, então, tirávamos par ou impar para estabelecer a ordem dos jogadores. Cada um ia colocando o seu objeto na ordem, e se Harry acabasse acordando na sua vez, você estaria desclassificado. Se ele não acordasse em nenhuma das vezes dos jogadores, o último objeto a cair ou ser descoberto pelo menino que eventualmente iria acordar, era o do vencedor.
  - Terminei aqui! – Zayn se levantou para que pudéssemos ver a sua obra de arte e tive que cobrir os lábios para não rir alto demais.
  - Ficou ótimo! – O bigode fazia voltinha na ponta e Zayn colocara tanto capricho que parecia de verdade e daria trabalho pra limpar.
  - Obrigado. – Sorriu galanteador e roubou um selinho. – Quem vai começar?
  - Acho que as damas deveriam ir primeiro, sabe? – Pisquei os olhos tentando parecer sedutora.
  - Não podia concordar mais. – Zayn sorriu pra mim, mas se virou para Niall. – Pode começar.
  - Hey! Se alguém vai ser dama garota aqui, acho que seria você, Georgia Rose. – Ni rebateu, fazendo Louis e Liam rirem atrás de nós.
  - Niall, você prometeu que nunca contaria isso pra ninguém! – Zayn se exaltou, quase pulando em cima do amigo.
  - Não tenho certeza se quero saber... – Fiz uma careta. – Eu começo!
  Por mais que estivesse bem curiosa em saber que história era essa de Georgia Rose, deixaria passar; ao menos por agora. Olhei em volta pensando no que colocar na boca de Harry, até que meus olhos bateram em uma colher perdida por ali. Não, colheres não estavam magicamente aparecendo em nossa volta. Acontece que a aeromoça do jatinho tinha nos servido pudim de chocolate, então assumi que aquela colher em questão havia sido a que Liam jogou para longe ao resolver comer sua sobremesa com os dedos. A peguei e limpei com a minha blusa, sem querer colocar a colher suja na boca do meu querido cupcake.
  - , assim ele vai engasgar! – Lou reclamou depois que eu finalmente encontrei uma posição boa para colocar aquele talher.
  - Mas ontem a noite eu escutei você falando que gosta quando ele engasga. – Niall o olhou como quem apronta e fiz uma nova careta ao entender o que ele quis dizer.
  - Ai, Deus, não. – Fechei os olhos e balancei a cabeça para tirar aquela imagem. – Quem é o próximo? Por favor, alguém seja o próximo!
  - ... – Lux se aproximou e chamou a minha atenção ao puxar o tecido da minha calça.
  - Hey, baby girl, o que houve? – Dei a mão pra ela e a afastei dos meninos para que nosso barulho não acordasse Haz.
  - Tô com... – Sua frase foi interrompida por um bocejo e logo entendi o que ela queria dizer.
  - Está com sono? – Confirmei e ela balançou para falar que sim. – Vem cá, vou te colocar pra dormir.
  Ela esticou os bracinhos para que eu a carregasse e assim o fiz, trazendo-a para a minha cadeira em meu colo. Sentei e a acomodei em meus braços. Lux podia estar crescendo e tornando-se uma mocinha – como dizem por aí -, mas sempre seria a minha bebê e caberia no meu colo. Voltei a pegar o meu edredom azul e nos envolvi. Podíamos estar no verão, mas ali nas alturas a temperatura aumentava consideravelmente, sem falar no ar condicionado interno no jatinho. A criança deu um beijo em minha bochecha e se aninhou nos meus braços, fechando os olhos e suspirando. Em poucos minutos ela já estaria dormindo um sonho tão profundo que só acordaria quando chegássemos à Londres. Ou era o que eu esperava.
   Levantei o olhar para assistir Zayn e Niall colocando mais coisas na boca de Haz, mas foi o olhar de Lou que encontrei. Ele estava sorrindo. Sorrindo de verdade... Um sorriso que eu não vira tão constantemente nos últimos dias. Correspondi da mesma forma e observei suas orbes tão azuladas quanto as minhas descerem até a nossa irmã. Lou nos amava e eu sentia que seria capaz de qualquer coisa para nos proteger. Milhões de coisas deviam estar passando pela sua cabeça naquele momento, todas as coisas que ele teria que passar e superar, para o bem da banda e da “imagem” que teria que sustentar. Mas Lou não teria que passar por isso sozinho. Eu e todos os outros estaríamos ao lado dele.
  Um pequeno ronco chamou a minha atenção e me fez rir. Lux já estava perfeitamente adormecida no meu colo e parecia absorta em seus sonhos infantis mais belos. Os meninos também terminaram de se divertir às custas do novo bigodudo do pedaço e voltaram para os seus lugares. Liam já estava dormindo há uns bons vinte minutos e Niall parecia querer fazer o mesmo, pois se enrolou em um casulo no próprio edredom e arrumou o travesseiro na cabeça. Zayn, por outro lado, não parecia querer dormir antes que eu fizesse isso. Acabei sorrindo quando ele fez um bico gigante e me convidou para me aproximar dele. Devagar e sem querer acordar a minha criança, levantei e deitei Lux com cuidado de volta à cadeira. Ela se mexeu um pouco para se acomodar, mas não acordou.
  Suspirei aliviada quando ela se cobriu até o pescoço com o edredom e continuou a sonhar. Antes de ir me juntar à Zayn, fui até a traseira do avião, onde a aeromoça mostrou o painel de controle das luzes, e diminuí ainda mais a iluminação. Todos eram levados pela calma e sono, então ninguém reclamou. Ao voltar para perto de Zayn, ele já havia se acomodado na cadeira levemente inclinada, deixando o espaço que eu precisaria pra me encaixar ali. Arrumar uma posição confortável no colo de Zayn foi uma tarefa bem fácil, já que nossos corpos pareciam ter sido feitos um para o outro. Ele me envolveu com os braços quase da mesma forma que fiz com Lux. Encostei o rosto sobre o seu peito e minha mão pousou em cima de seu coração. Nada me relaxava mais do que senti-lo bater tão perto.
  - Quer escutar alguma música? – Perguntou ao começar a brincar com meus cabelos, referindo-se ao fone conectado ao braço da cadeira do avião.
  - Uhum. – Aceitei, mas ao vê-lo se esticar para pegar os fones de ouvido, o parei. – Quero ouvir você.
  - Quer que eu cante? – Sorriu nem um pouco surpreso. – Escolha uma música.
  - Não quero uma música conhecida. Quero uma que você escreveu... Mas que ainda não me mostrou. – Pedi manhosa, deixando alguns beijos pelo pescoço dele, só para não deixar nenhuma chance de escapatória.
  - É meio complicado quando você é a primeira que escuta quando eu escrevo algo novo. – Riu baixo no meu pé do ouvido. – Tudo bem, acho que já sei. Não está pronta ainda, mas posso tentar...

  
Am I asleep, am I awake, or somewhere in between?
  I can’t believe that you are here and lying next to me.
  Or did I dream that we were perfectly entwined?
  Like branches on a tree, or twigs caught on a vine.

  Like all those days and weeks and months I tried to steal a kiss.
  And all those sleepless nights and daydreams where I pictured this.
  I’m just the underdog who finally got the girl.
  And I am not ashamed to tell it to the world.

  Me acomodei ainda mais nos braços de Zayn quando ele começou a cantar baixinho, só pra mim. Senti-me a única mulher no mundo inteiro, com o namorado mais perfeito de todos. A voz dele mudara desde que nos conhecemos. Não como se ele estivesse passando por uma segunda puberdade, é claro, mas agora parecia que ele aprendera novas técnicas de como impor as suas cordas vocais. Todo esse treinamento diário e trabalho também deviam ter a sua parte de culpa de aperfeiçoamento musical. Fechei os olhos, esperando ouvir mais daquela música nova que ele estava me permitindo escutar. Ao perceber que ele parara de cantar, o encarei com uma sobrancelha arqueada.
  - Por que parou? Eu estava gostando...
  - É só isso. Só tenho até aí. – Mexeu os ombros de forma despreocupada.
  - E essa música vai estar no novo CD? – Continuei desconfiada até que ele afirmou que sim com a cabeça. Lembrava da melodia e desconfiava de ter escutado sua versão no piano. – E ainda não terminou? Poxa, você já foi melhor nisso. Está devagar, hein, Malik?
  - Você sabe que eu posso ser rápido quando pede... – Seu sorriso travesso que eu tanto amava voltou a brincar em seus lábios e, antes que eu percebesse, atacou o meu pescoço com beijos e mordidas, me fazendo gargalhar.
  - Zayn, para! – Tentava manter a voz baixa para não acordar ninguém, mas quase não conseguia parar de rir.
  - Retire o que disse! – Continuou com aquele ataque, deixando mordidinhas doloridas na minha pele.
  - , posso falar com você? – Uma voz nos fez parar com que estávamos fazendo e olhar para aquele homem magro parado na nossa frente.
  - O que você quer, Marco? – O abraço de Zayn em meu corpo pareceu ficar mais apertado, quase tenso.
  - Só quero falar com ela, Zayn. – O empresário falou casualmente, mas eu ainda tinha um pé atrás.
  - O que quer que você queira falar, pode ser na frente dele. – Avisei, sem querer me afastar do meu namorado.
  - Prefiro falar só com você, se não se importar. – Agora sim eu estava preocupada e, pelo suspiro de Zayn, não era a única.
  - Tudo bem, baby, nós só vamos conversar. – Afirmei para o menino embaixo de mim e tive um pouco de trabalho para levantar.
  - Não demore... – Pediu ao ver que eu realmente teria que ir com Marco.
  - Por aqui, por favor. – O dono de meu quase-ódio indicou o caminho até a próxima cabine.
  Eu estava com tantos pés atrás que mais parecia um polvo. Que diabos Marco podia querer comigo? E porque Zayn parecera tão defensivo e preocupado com a conversa que iríamos ter? Que eu soubesse, a única ali que não ia com a cara do empresário era eu. Passamos pela cortina que dividia as áreas do avião e, antes de chegarmos a outra, o homem fechou mais uma, nos deixando no centro do jatinho, protegidos entre duas cortinas. Coloquei as mãos nos bolsos traseiros da minha calça, tentando parecer descontraída e ignorar o clima tenso que se instalou.
  - Olha, , eu sei que você não gosta de mim, Ok? – Começou assim que viu que eu não falaria nada. – Mas quero que saiba que eu me importo com os meninos sim. Se algumas das minhas decisões não lhe agradam, ou se você não concorda com elas, é porque não conhece o mundo em que esses meninos estão. Não quero o mal de nenhum dos cinco, só sei o que é melhor para a carreira deles.
  - Exatamente, Marco, você sabe o que é melhor para a carreira deles. – Era só o que me faltava, ter que escutar que ele era preocupado com os meninos! – Mas às vezes se esquece que os cinco são jovens e são humanos, não máquinas. Eles têm sentimentos e ficam cansados de vez em quando, então precisam de descanso.
  - Eu entendo. E vou prestar mais atenção nisso. – Não se defendeu, o que eu estranhei bastante. – E também gostaria de contar com a sua ajuda. Como sabe, irão conhecer a Eleanor quando chegarem ao aeroporto. Vamos fingir que eles namoram há alguns meses e...
  - E ela não agüentava mais de saudades, então teve que ir recebê-lo no aeroporto. Onde alguns paparazzis vão estar esperando, “por acaso”. – O interrompi e fiz aspas no ar, já tendo escutado aquela história várias vezes. – Você acha mesmo que alguém vai acreditar nisso?
  - Espero que sim. – Sorriu com a própria manobra publicitária. – E é por isso que te chamei aqui. Seria muito bom se você se aproximasse dela, . Sabe como é, ela vai ser a namorada do seu irmão...
  - Namorada de mentira, não se esqueça. – Rolei os olhos, mas ele tinha razão. – Tudo bem, eu sei o que tenho que fazer.
  - Eu sabia que podia contar com você! – Esticou a mão para apertar a minha.
  - Não estou fazendo por você, e sim pelo meu irmão. – Não aceitei aquele cumprimento e me virei de frente para a cortina cinza, querendo sair dali. – Já terminou?
  Marco afirmou que sim com a cabeça e me deixou sair de lá. Zayn estava de pé no corredor e andava de um lado para o outro, perto de sua cadeira. Ao me notar ali, seu rosto mostrava pura preocupação. Minha expressão também não devia estar lá essas coisas todas, pois eu não confiava nesse Marco, mas que outra escolha tinha a não ser fazer o que ele pedira? Se quiséssemos que aquela mentira fosse convincente, todos teriam que fazer a sua parte, o que incluía a minha pessoa. Eu era a irmã de Louis, então nada mais óbvio do que ser amiga da “namorada” dele. Só esperava que a garota fosse legal mesmo. Caminhei apressada até a cadeira vazia que pertencia ao meu namorado e me joguei lá.
  - O que ele queria? – Zayn perguntou, ainda nervoso.
  - Basicamente, me pedir para ser amiga da Eleanor.
  - Só isso? – Se ajoelhou ao meu lado, sua feição começando a relaxar.
  - Ainda queria mais? – Arqueei a sobrancelha, mas foi uma pergunta retórica.
  - Não mesmo. – Sorriu. – Chega mais pra lá, ainda temos que dividir esse banco!
  - Vou fingir que você não me chamou de gorda! – Ri e deixei que ele se juntasse à mim. – Mas só porque estou com sono...

+++

  Dormir por seis horas seguidas em um avião foi uma tarefa mais fácil de ser realizada do que eu jamais esperaria. Por mais que tivesse dormido praticamente em cima de Zayn, meu corpo estava completamente relaxado e pronto pra outra viagem longa. Por mais que tivesse gostado muito daquele jatinho particular de Simon, fiquei bastante grata quando pudemos sair dele e esticar as pernas. “Estou em Londres!” Era o pensamento de comemoração que corria na minha cabeça. Já estava com saudades de Los Angeles, mas era bom estar em casa. A temperatura ambiente ainda estava quente, se compararmos ao inverno daquela cidade, mas levando em consideração o clima dos estados unidos, eu senti frio. Logo me acostumaria novamente, então tudo ficaria bem. Não que não estivesse tudo bem... Mas você entende o que eu quero dizer.
  Estávamos na área de desembarque do aeroporto, onde deveríamos pegar as nossas malas. Eu teria ajudado de bom grado a carregar as minhas, mas fomos informados de que toda a nossa bagagem seria levada pela saída de trás do aeroporto e nós teríamos que sair pela frente como se nada estivesse acontecendo. Preferia ter ido por trás também, saindo à francesa – sem trocadilhos – de forma bem mais discreta, mas é claro que isso iria contra todos os planos de Marco. Ainda não podíamos ver o lado de fora do aeroporto, mas eu sabia que paparazzis e fotógrafos contratados pela Modest! estariam nos esperando.
  - Daddy! – O grito de Lux chamou a atenção de todos por ali. A loirinha se soltou da mão de Rachel e correu até um homem que se abaixava para pegá-la.
  - Luxy! – Meu pai a carregou e em seguida jogou-a para o ar, fazendo-a rir.
  - Pai! – Sorri ao vê-lo ali e também corri ao seu encontro.
  - Minhas duas princesas! – Mark encaixou Lux em um de seus braços e me envolveu com o outro. – Onde está o Boo Bear?
  - Tem mesmo que me chamar assim? – Louis rolou os olhos, entediado, mas acabou sorrindo e se juntando á nós. – Senti a sua falta, pai.
  - Eu também, Lou. De todos vocês. – Meu pai sorria mais que qualquer um e beijou a cabeça de cada um de seus filhos.
  - Sentiu a minha falta também? – Rachel estava parada atrás de nós, com os braços cruzados ao peito.
  - É claro que sim! – O homem sorriu galanteador, soltando eu e Louis, apenas mantendo a mais nova em seus braços.
  Preferi não olhar enquanto ele e a minha madrasta trocavam carinhos depois de meses sem se ver e me virei para os outros meninos, que assistiam ao nosso pequeno encontro familiar. Eu sabia que Niall e Liam eram os que mais sentiam falta de suas famílias, pois eram as que estavam mais longe. Zayn sempre fora apegado as suas irmãs e mãe, então não estava muito distante disso. Paul falava ao telefone com alguém que eu não tinha como descobrir quem era e Marco sumira de vista, assim como os outros da sua equipe. Aquilo era um mau sinal. Louis andou até Harry e o abraçou como se precisasse de coragem para dar continuidade ao plano que teria que realizar em alguns instantes.
  - Não se acanhe, Eleanor, vou te apresentar a todos. – A voz de Marco soou mais animada do que de costume, atraindo meus olhares.
  - Tudo bem... – Uma menina com mais ou menos a minha altura, cabelos longos e um sorriso tímido estava parada ao lado dele.
  - ? – O empresário me chamou e eu já sabia do que se tratava.
  Me separei dos meninos e escutei o solado de meus saltos batendo contra o chão enquanto caminhava até aquela menina. Tentei não julgá-la pela aparência, mas não foi algo muito fácil de se fazer. Naquela primeira impressão que tive dela, pude perceber que estava tão constrangida em estar ali quanto qualquer um de nós. Não sabia o que a levava a ter aceitado esse tipo de trabalho, mas ainda não era a hora de perguntar detalhes. Eleanor mantinha seus braços para trás do corpo, sem ter muita certeza do que deveria fazer. Ao notar a minha aproximação, abriu um sorriso doce e tímido, arrumando os cabelos como se tentasse se acalmar.
  - É um prazer conhecê-la, Eleanor. – Estiquei a mão em sua direção, sendo verdadeiramente simpática. As coisas já seriam complicadas demais por si só para eu ainda ser chata com a menina que não tinha culpa de nada. – Me chamo . Sou irmã do Lou.
  - Também é um prazer. – Aceitou a minha mão e sorriu um pouco mais tranqüila.
  - Vem comigo, eu vou te apresentar a todo mundo. – Retribui seu sorriso e passei o braço pelo dela, sem querer forçar a barra, mas sim deixá-la à vontade.
  Eleanor me acompanhou de bom grado enquanto voltávamos para o semicírculo formado pelos cinco meninos, meu pai, Marco, Paul e Preston. Eu desconfiava que ela já soubesse os nomes de cada um, pois, se aquele era o seu trabalho, ela devia ter sido informada sobre tudo que precisaria fazer. Zayn notou que eu estava tentando amenizar os nervos ali e foi o primeiro a se apresentar. Não falou apenas o nome e sobrenome, como também disse que era meu namorado. Em seguida, Liam e Niall fizeram o mesmo, deixando apenas Harry e Louis por último. Meu irmão estava na frente de Harry, mas como esse último era bem alto, podia ver a menina claramente.
  - Oi. – Harry apenas acenou para ela. – Sou o Harry.
  - Louis... – Lou forçou um sorriso.
  - Eu sei. – Eleanor também se esforçou para sorrir, olhando o casal. – E também sei que deve estar sendo muito difícil pra vocês dois, ter que fingir que não estão juntos, então quero que saibam que eu só quero ajudar. No que for preciso.
  - Obrigado... – Harry segurava nos ombros de Lou e sorriu para a morena.
  - Vocês terão tempo de conversar mais depois... Muito tempo, na verdade. – Marco tocou no meu ombro e no de Eleanor, rindo. Me irritava a forma que ele conseguia ver graça em qualquer coisa. – É a hora do show!
  - . – Zayn me chamou, entrelaçando a mão na minha.
  Entendi o que queria dizer e mantive perto dele. Quando tínhamos que passar por fotógrafos, paparazzis ou em qualquer aparição publica que pudesse ter um número grande de pessoas, Zayn se mostrava super protetor. Nunca largava a minha mão e sempre prestava atenção no que falavam pra mim. Com ele por perto, as pessoas tendiam a ser mais educadas e não começar a me xingar do nada, mas, caso isso acontecesse, tenho certeza que ele me defenderia com unhas e dentes. Eu não acreditava que precisava de toda essa proteção exagerada, mas gostava do cuidado que Zayn tinha comigo. Era quase como se eu fosse uma boneca de porcelana que precisa de total atenção.
  Marco pediu para que fossemos todos juntos para o lado de fora da sala de desembarque, onde passaríamos por um grupo de imprensa logo na entrada do salão do aeroporto. Não podíamos parar e nem responder pergunta alguma. Em seguida, apenas seguiríamos para uma van que já estava nos esperando do lado de fora. Também fomos informados que um pequeno grupo de fãs estava esperando a chegada dos meninos, mas que não havia com o que nos preocuparmos. Pra variar, nenhum tinha permissão de parar para tirar fotos ou dar autógrafos. Formamos uma espécie de fila, onde Preston foi na frente, seguido por Harry e Liam. Logo atrás, vieram Louis e Eleanor, que foram obrigados a dar as mãos. Paul, Zayn, eu e Niall viemos logo atrás, sendo que o irlandês seria o último. Meu pai ficaria por ali mais um pouco, esperando Lux e Rachel voltarem do banheiro, mas nos encontraríamos logo.
  Confirmando que todos sabiam o que fazer, o empresário deu um sinal para que as portas de vidro fosco fossem abertas. No mesmo instante em que um movimento pode ser notado, vários flashes de câmeras fotográficas profissionais ou não nos atingiram. As luzes eram tão fortes e brilhantes que cogitei a possibilidade de ficar bronzeada. Os meninos começaram a andar e acenar para os fotógrafos. O aperto de Zayn em minha mão aumentou quando também começamos a andar e eu tentava manter a cabeça baixa para proteger os meus olhos do clarão. Meu namorado olhava pra mim o tempo inteiro, querendo ter certeza de que eu estava bem. Todos conseguiram passar por aquela quase coletiva de imprensa e Paul e Preston afastavam os mais ousados que tentavam vir atrás de nós.
  Então o bombardeamento de perguntas começou: “Louis, quem é essa menina com você?”, “É a sua namorada?”, “Liam, onde está Danielle?”, “Harry, Harry, uma palavrinha aqui, por favor?”, “Como foi a viagem aos Estados Unidos?”, “Já tem planos para um segundo CD?”, “Star, como foi viajar com o One Direction?”, “Zayn, é bom ter a sua namorada ao seu lado o tempo todo? Você não fica cansado?”. Essas foram apenas as perguntas que consegui entender, já que uma verdadeira confusão de vozes e gritos encheu os meus ouvidos. Mesmo se não fosse obrigada a permanecer calada, teria ignorado aquelas questões. Algumas delas não tinham sentido algum! Eu sabia que a privacidade era algo impossível de se ter àquela altura, mas já era demais. Paul pediu para que se afastassem, pois teríamos que ir e eles pareceram obedecer. Na verdade, obedeceram até rápido demais. Alguns deles até mesmo começaram a correr na direção contrária à nossa.
  Foi aí que a verdadeira confusão começou. Chegamos à metade do saguão do Heathrow e tivemos que parar. Um verdadeiro formigueiro de gente começou a entrar pelas portas automáticas do aeroporto, literalmente invadindo o lugar. Muitas pessoas que estavam ali apenas para viajar ou retornando de suas viagens começaram a correr para longe da multidão. Demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Essa multidão inteira gritava pelo nome da banda e dos meninos, levantando cartazes que diziam coisas como “Marry me, Harry!” ou “Bem vindos à sua casa.”. Se fosse apenas um grupo de fãs querendo dar as boas vindas à banda não teria problema algum, mas não era bem isso o que aquele ataque parecia. Paul olhou para trás, desesperado. “Fiquem juntos!” Foi o que consegui ler em seus lábios.
  Na falta de uma palavra melhor, estávamos sendo assediados. Tudo aconteceu rápido demais. Quando me dei por mim, estava correndo puxada por Zayn em direção à saída do aeroporto. A confusão ficou maior ainda, pois meninas e meninos surgiam de todos os lados, querendo pegar um pedaço dos meninos só pra eles. Por mais que Paul tentasse se colocar na nossa frente, a multidão era grande demais. Não tínhamos seguranças o suficiente e isso foi desesperador. Quase não consegui mais andar, pois me vi espremida entre aquele numero exorbitante de pessoas. Senti alguns puxões em meus cabelos e roupas, mas não adiantaria reclamar. Os gritos daquelas fãs eram altos demais para que a minha voz conseguisse se sobressair. Ao menos a van realmente estava nos esperando ali fora. Por cima das cabeças na minha frente, pude ver a porta do veículo se abrindo e algumas pessoas entrando nele. Ao menos alguns dos meninos estavam a salvo.
  Olhei para trás ao lembrar que Niall era o último da fila e me desesperei ainda mais ao ver o horror em sua expressão. Ele estava tentando andar atrás de nós, mas o número de meninas que tentava agarrá-lo era grande demais. O loiro abraçava o próprio corpo e tinha os olhos bem fechados. Eu lembrava claramente de uma conversa que tivera com ele, onde fiquei sabendo de sua claustrofobia. Não era nada que o impossibilitasse de entrar em elevadores ou coisas assim, mas acho que aquele caso era bem mais desesperador. Eu precisava fazer algo! Me esquivei das mãos de Zayn, que me olhou assustado, e voltei no caminho. Tive praticamente que nadar naquele mar de pessoas, recebendo cotoveladas e pisadas de pé. Ao chegar o perto o bastante do meu amigo, o abracei.
  - Niall, sou eu! – Avisei em seu ouvido para que ele não se desesperasse mais.
  - Niall está assustado! – Reconheci a voz de Zayn. Ele não conseguia se aproximar de nós, mas tentava chamar a atenção de qualquer um que pudesse ajudar. – PAUL!
  - , me tira daqui. – Ni praticamente me implorou.
  - Cheguei, estou aqui. – Paul veio o mais rápido que pode, parando de frente para nós dois.
  - Onde está o Zayn? – Perguntei rápido, olhando em volta e não conseguindo vê-lo.
  - Já está no carro, vamos logo! – O segurança sabia que não tínhamos tempo a perder, então falava tão rápido quanto eu.
  - Paul, carrega o Niall. – Pedi, ajudando o loiro a chegar até o mais alto. Quase tropecei, mas consegui me equilibrar.
  - , se eu carregá-lo...
  - Eu sei, Paul! Carrega ele! – Pedi o mais rápido que pude.
  Aceitando meu pedido, Paul puxou Niall pelos braços e o colocou no colo. Logo os dois me deram as costas e voltaram a fazer o caminho até a van. Tentei com todas as forças ir atrás dele, mas foi impossível. Eu sabia o que Paul iria dizer quando o interrompi. Se ele estivesse carregando Niall, não teria como me proteger também. Fui deixada para trás, mas ao menos tinha certeza de que meu amigo estaria bem. Posso ter me sacrificado por ele, mas faria isso quantas vezes fosse preciso, por qualquer um dos meus amigos. Era como se as meninas ao meu lado tivessem percebido que a banda que tanto amavam estava quase indo embora, então aquela seria a sua última chance de chegar perto deles. Com isso, a confusão aumentou e fui cada vez mais apertada por corpos que tentavam se fundir ao meu. Recebi tapas, mais puxões de cabelo, cotoveladas e socos; propositais ou não.
  Como se as coisas ainda pudessem piorar, senti o espaço ao meu redor diminuindo. Não apenas por estar esmagada no meio de o que pareceu ser milhões de pessoas, mas o meu corpo pareceu começar a ser comprimido dentro de si mesmo. “Não, não, não, aqui não...” Pedi para mim mesma, na esperança de conseguir me acalmar, mas foi inútil. Por mais que eu tentasse puxar o ar para dentro dos meus pulmões, ele não vinha. Senti as minhas mãos e pernas começarem a tremer e um bolo se formar na minha garganta. Eu conhecia muito bem esse sentimento e agora sabia o que estava acontecendo melhor do que na última vez que passara por isso, no meu quarto, meses atrás. Louis saberia exatamente como me acalmar, mas ele não estava ali agora. Ninguém estava ali agora. Eu estava sozinha!
  Agarrei a minha bolsa com todas as minhas forças, como se fosse meu em mais precioso. Não por estar com medo de ser roubada, mas porque – em algum nível do meu subconsciente – sabia que ali dentro estava o meu celular; minha única forma de pedir ajuda. Meus olhos ficaram turvos e entendi que estava chorando. Não apenas um choro assustado, mas prantos de terror. Meu coração estava batendo tão rápido que eu podia senti-lo sendo comprimido nas minhas costelas. Eu olhava para os lados na tentativa de saber o que fazer, mas a minha cabeça era uma confusão completa. Eu sentia um pânico tão grande crescer dentro de mim que os gritos à minha volta pareceram desaparecer. Eles apenas se tornaram um eco, como se estivessem ali, mas não estivessem ao mesmo tempo.
  Comecei a gritar com todas as minhas forças, pois eu sentia que era a única coisa que eu realmente conseguia fazer. Estava paralisada, mas as pessoas que me empurravam cada vez mais conseguiam me tirar do lugar. Escutei algumas meninas chamarem o meu nome, provavelmente sabendo quem eu era, mas até pra elas era difícil fazer alguma pra me ajudar. Minha garganta doía por causa da força que eu colocava em meus gritos e logo pude sentir gosto de ferrugem. Sangue? Um par de mãos fortes envolveu os meus ombros por trás e quando me dei conta, estava sendo tirada do chão. Olhei para o lado e dei de cara com olhos azuis extremamente reconfortantes. Abracei o meu pai com tanta força que o fiz arfar por não conseguir respirar. Felizmente, papai não estava sozinho. Um grupo de policiais tipicamente britânicos o acompanhava, tratando de dispersar parte da multidão.
  - Tudo está bem, . Respire...

    

Chapter X

- LADS! – O grito de Harry fez não só eu me assustar, mas também , que pulou da cama e correu na direção do som. – Estamos na TV... CALMA, !
  Não sei se saí correndo mais por causa do aviso de estarem na televisão ou pelo barulho de algo caindo no chão logo após Haz pedir calma para o meu cachorro. Havíamos chegado a Londres no dia anterior, mas eu mal teria tempo de aproveitar aquela cidade, já que minha nova viagem para Paris estava marcada para dali a algumas horas. Minha única mala – acredite se quiser – já estava pronta e aguardava calmamente no canto do quarto. As coisas de também estavam em uma mala menor, já que dessa vez o meu bebê viria junto. Mesmo sem saber disso, o cachorro já estava super animado só por estar comigo mais uma vez. Imagine se soubesse que visitaria um novo país pela primeira vez?
  Quase esbarrei em Liam no corredor, quando ele também resolveu ir atender o grito de Harry, e acabamos rindo um do outro. Lou havia sido mais rápido que nós dois e já estava sentado na cama de seu namorado. Encontrei lambendo as bochechas de um Harry caído no chão, tentando levantar, mas sem muito sucesso. A televisão estava ligada em um canal de noticias e consegui ver claramente que as imagens retratavam o acontecimento do dia anterior, no aeroporto Heathrow. A câmera devia ter gravado tudo de dentro de um helicóptero, pois o vídeo mostrava uma visão panorâmica do ataque. Só o que eu conseguia ver era milhares de pontinhos coloridos tentando entrar no aeroporto.
  “Estamos acompanhando essas imagens incríveis do ataque que a boyband do momento, One Direction, sofreu na tarde de ontem, ao retornar de sua viagem de divulgação pela América. Nossas fontes confirmaram que mais de três mil fãs ficaram loucas e tentaram invadir o Heathrow, na esperança de conseguir chegar perto de seus ídolos.”
  O apresentador do telejornal anunciou. As imagens iam e voltavam, mostrando vários momentos. Liam segurou a minha mão, indicando o espaço no colchão ao lado dele para que eu pudesse me sentar. O agradeci com um sorriso e me acomodei. correu até onde eu estava e deitou a cabeça na minha perna, deixando que eu acariciasse a sua cabeça. Logo voltei a atenção para a tela da TV, onde a câmera dava um zoom em cada um dos meninos. Pude assistir o momento em que Preston ajudou Harry, Louis e Eleanor a entrar na van. Liam chamando o nome de Zayn no momento em que nos separamos... E, por fim, eu correndo até Niall para ajudá-lo.
  “Kim, o que você acha disso? Tomlinson, deixando a pouca segurança que tinha para ir atrás do companheiro de banda de seu irmão.” – O primeiro apresentador perguntou para sua co-host.
  “Eu achei uma prova de amizade, Cliff! Sem falar que acho muito errado o que esses fãs fizeram. Tudo bem tentar conseguir uma foto ou um autógrafo, mas isso já foi passar dos limites. Muito deselegante.” – A tal Kim respondeu.
  “Hum, essa pode não ser a hora pra isso, pessoal, mas deram uma olhada nas roupas que estava usando?” – Uma terceira apresentadora começou a falar e algumas fotos minhas ao lado de Zayn, ainda no aeroporto, começaram a ser mostradas. – “Ela sempre está linda! Tive a oportunidade de conhecê-la na última Fashion Week. Um verdadeiro amor de pessoa. Não merecia nada do que aconteceu ontem a tarde.”
  “Bem observado, Claire!” – Kim voltou a falar. – “Acho que ela trabalha para a Mulberry, não é? Acredito que essa menina vai se tornar um ícone fashion mais rápido do que imaginamos. Sem falar que tem um namorado como o Zayn Malik!”
  - Pelo menos essa confusão inteira teve uma coisa boa... – Comentei amargamente, já deixando de assistir ao programa. – Carine vai ficar muito feliz em saber que a sua marca foi falada até em um jornal da BBC.
  - Isso não é engraçado, . – Lou me repreendeu. – Você teve um ataque de pânico. Se nosso pai não estivesse lá, não sei o que teria acontecido.
  - Mas nada aconteceu, então vamos parar de falar disso, por favor. – Não quis soar rude, apenas não queria mais lembrar de nada daquele assunto. – Só quero me concentrar na nossa viagem de hoje, não é, Bo?
  - Rouff. – Liam latiu ao meu lado, como se fosse respondendo à minha pergunta.
  - Por falar nisso, Louis e Harry... Quando vão viajar? – Baguncei os cabelos de Li como faria com meu filhote e encarei meu irmão na outra ponta da cama.
  - Amanhã de manhã vamos para Cheshire. – Harry informou.
  - Mas não se preocupe, iremos para Paris a tempo do casamento. – Louis acrescentou.
  - Eu sei que vão. – Levantei da cama assim que a campainha no andar de baixo começou a tocar, fazendo meu cachorro correr em disparada para ver quem era. – E você, Li?
  - Eu e Dani iremos até a casa dos meus pais... – Sorriu bobo, totalmente apaixonado. – Mas também voltaremos antes do casório.
  - É bom mesmo! E tem certeza que ela não pode ir à Paris também?
  - Infelizmente não. – Li respondeu com um meio bico e a campainha tocou novamente, fazendo latir.
  - Vou lá embaixo abrir a porta antes que os vizinhos venham reclamar do barulho. – Suspirei, caminhando até a porta. – Deve ser Zayn!
  Cantarolei enquanto descia as escadas em uma corrida animada. Realmente acreditava que era Zayn com o nosso transporte até a estação de trem. Chegando ao primeiro andar da casa, o cachorro preto e branco parou de girar em círculos e tentar morder o próprio rabo para me observar caminhar até a porta. Juro que não sei o que se passa pela cabeça desse cachorro. Às vezes acreditava que se Harry e Niall tivessem um filho, ele seria como . Girei a chave na fechadura e encontrei a figura baixinha e ruiva parada na varanda.
  - Até que enfim você abriu a porta, ! – reclamou, mas se jogou em cima de mim e me abraçou com força. Havíamos nos visto no dia anterior, mas a saudade ainda não parecia ter passado. – Já estava torrando aqui fora.
  - Não sabia que te veria hoje, ruivinha. – A abracei de volta, quase gritando quando vi por cima de seu ombro o que ela trouxera consigo. – , o que são essas coisas aí?
  - O que? – Perguntou confusa enquanto se abaixava para cumprimentar meu cachorro. – Ah, sim, são as minhas malas, ué.
  - Pra que você precisa de malas? – Não, não, não. Ri meio sem graça, torcendo para que ela falasse que apenas estava se mudando para a minha casa.
  - Pra ir à Paris, bobinha! – Apertou as minhas bochechas com uma risada. – Vamos hoje, não é?
  - Como você sabe?
  - Quando deixei Zayn em casa ontem, ele me contou que vocês iriam viajar hoje, então me convidei para ir junto! – celebrou, quase pulando sem sair do lugar.
  - Ah, Zayn te disse... – Então era ele quem eu deveria matar? Ok.
  - Sim! E ele já deve estar quase chegando. Não vai trocar de roupa?
  - Claro, vou sim...
  Eu estava feliz por essa surpresa de , já que sentia falta da minha melhor amiga e adoraria mostrar a minha cidade e o meu país para ela. Acontece que Zayn e eu estávamos planejando uma viajem um pouco mais romântica do que seria agora que ela estaria vindo conosco. Acabei rindo com a dificuldade que a baixinha estava tendo em arrastar as suas malas pra dentro de casa. “Talvez não seja tão ruim assim. Preciso de uma babá pra de qualquer forma.” Antes que apanhasse por estar rindo, resolvi subir as escadas e trocar de roupa. Ela estava certa... Zayn já devia estar chegando.

+++

  - PARIS. PARIS! EU ESTOU EM PARIS! – foi a primeira a descer do taxi e já correu para o jardim de entrada da casa da minha avó. – DÁ PRA ACREDITAR QUE EU ESTOU EM PARIS?
  - Ela vai ficar rolando na grama o dia inteiro. – Sussurrei pra Zayn, ao esticar as pernas por estar finalmente fora do carro. – Você está bem?
  - Estou sim, o enjôo já passou. Da próxima vez viajamos de avião! – O menino já havia saído do carro antes de mim e acabara de tirar de sua caixinha de viagem.
  - Pode deixar! – Não sabia se ria da minha amiga girando e dançando pelo jardim ou de , que cheirava tudo bem curioso. – É bom estar de volta...
  - Estou feliz em ter vindo com você. – Zayn envolveu a minha cintura por trás, encostando-se à mim. – Dessa vez por um motivo mais feliz...
  - Sei disso. – Sorri com um pouco de nostalgia.
  Na última vez que estivemos naquele mesmo jardim de entrada, estávamos tristes por ter que dar adeus a papá. Agora, porém, os motivos que me traziam de volta ao meu lar de infância eram bem melhores. Aproveitando que e estavam distraídos, virei para ficar frente a frente com meu namorado. Passamos por tantas coisas juntos naquela casa... Era maravilhoso poder voltar. Zayn colocou a minha franja para o lado, tirando-a da frente dos meus olhos. O sol brilhava sobre ele, iluminando seus cabelos e pele bronzeada. Naquele momento, Zayn voltou a parecer o ser celestial que eu sabia que era. Ele não tinha mais o semblante preocupado que vinha perseguindo-o por tanto tempo, não estava tenso ou ansioso. Eu sentia como se aquele lugar também fosse uma casa para ele, assim como era pra mim; um porto seguro.
  - Quer ir avisar à Leene que chegamos? – Deixou um beijo na minha bochecha enquanto eu ria por causa daquele novo apelido de minha avó. Leene? Desde quando o apelido de “Jolene” é “Leene”? – Vou ajudar o motorista a terminar de tirar as nossas malas.
  - Mas, babe... Você não fala francês. – A maioria da população de Paris falava inglês, mas aquele senhor em questão não sabia nem o básico.
  - Eu me viro! – Soltou nosso abraço e dobrou as mangas da camisa que usava. – Sei que você está louca pra entrar.
  - Tudo bem... – Acabei sorrindo. Estava mesmo com saudade da minha nana. – Mas qualquer coisa me chame, ok?
  - Fique tranqüila! – Praticamente me expulsou dali.
  - Já entendi, já entendi! – Dei meia volta, pegando uma das malas de que já estavam fora do veículo. – Hey, ruiva! Dá pra se comportar? Não quero que a minha avó pense que a minha melhor amiga é uma chimpanzé!
  - Já vamos entrar? – Parou de cheirar as flores do jardim da casa e levantou, arrumando a roupa que usava e correndo atrás de mim. – Não acredito que vou conhecer a minha primeira francesa!
  - EU sou francesa! E você já conhece a minha avó. – Rolei os olhos, pegando a coleira de e trazendo-o para perto de mim. – Quer conhecer a vovó, pequeno?   - Você não conta, . E não sei onde esse cachorro é pequeno. Já viu o tamanho dele?
  - Não fale assim do meu bebê. – Ri enquanto o animal cheirava curioso a madeira da porta da casa. – Se comportem, os dois!
  Agarrei a maçaneta redonda da casa e tentei girar. Trancada. Isso era novidade, mas já que a minha avó passava mais da metade do tempo sozinha ali dentro, o melhor era estar segura mesmo. Conseguia escutar passos no interior da casa, então nana estava ali. Como eu perderia muito tempo procurando a minha chave dentro da bolsa, resolvi tocar a campainha. conhecia esse tipo de som, mas geralmente estava do lado de dentro, então assistiu curioso e balançando o longo rabo enquanto a senhora de meia idade abria a porta para finalmente nos receber.
  - Nana! Ravie de te voir! – Mal dei tempo para ela entender o que estava acontecendo e abracei a minha avó com força, me intoxicando com seu cheiro de roupa limpa e grama recém cortada.
  - Vous enfin arrivé! – Me abraçou de volta, beijando as minhas bochechas várias vezes. – Oh, mon Dieu! Qu'est-ce que c'est?   - Pardon, nana! C'est mon chien. – Tive que segurar , já que ele tentava pular em cima da minha avó para lamber-lhe o rosto.
  - Se importaria em manter o idioma que eu entendo? – sorria sem graça e foi aí que percebi que só estávamos falando em francês.
  - Desculpa! – Quando consegui acalmar o meu filhote, comecei com as re-apresentações. – Nana, você se lembra da minha amiga . E esse é !
  - É um prazer revê-la, ! – Nana abraçou a minha amiga.
  - O prazer é todo meu, senhora Darling. Espero que não tenha problema eu ter vindo hoje... – retribuiu o abraço e começou a falar demais. – Sabe... Sempre quis conhecer essa cidade maravilhosa, mas nunca tive a oportunidade. Mesmo com a minha melhor amiga tendo nascido aqui... Por falar nisso, imagine o meu desespero ao só finalmente vir aqui depois de quase um ano...
  - , calma! – Meio que a repreendi. Minha avó apenas ria daquela energia toda.
  - E onde está o meu querido Zayn? – Era uma coisa boa mudarmos de assunto.
  - Está terminando de pegar as nossas malas... – Olhei na direção do taxi. – E tendo um pouco de dificuldade com o nosso idioma.
  - Nesse caso é melhor eu ir ajudar. – “Leene” se ofereceu, saindo da própria casa. – Você já conhece tudo, querida, porque não mostra a casa para a sua amiga?
  - Pode deixar, nana. – Afirmei, me virando para a ruiva que já entrava e começava a explorar. – Hey, me espera!
  - Não acredito que estou em uma casa francesa! – A segunda menina comemorou.
  - É só uma casa, ! – Era impossível não rir do exagero de .
  Mas quer saber? Ela tinha razão. Aquela casa não era “só uma casa”. Era mais do que isso... Em cada canto, em cada móvel, em cada ranger de tabuas do assoalho havia memórias esperando para serem descobertas. Eu passara grande parte da minha vida ali e, mesmo depois de meses distante, ainda conhecia cada espaço e cada segredo melhor do que eu conhecia a mim mesma. No escuro, seria capaz de atravessá-la inteira sem bater ou esbarrar em nada. O cheiro amadeirado, o vento fresco que entrava por todas as janelas abertas... Tudo que queria dizer “lar”. nem ao mesmo me esperou servir de guia e foi se aventurando pela sala, cozinha, escadas...
  Soltei quando seguimos atrás dela para o segundo andar da casa. Felizmente o cachorro já não corria em disparada quando era solto e sempre atendia os meus chamados. Se não fosse assim, eu teria deixado-o em Londres para começo de conversa. Naquele corredor, duas das quatro portas estavam abertas: A porta do meu quarto e a de Louis. As outras duas representaram as portas do banheiro e da suíte principal. Enquanto estudava o quarto do meu irmão, segui para o meu próprio. As coisas estavam um pouco diferentes do que eu me lembrava, mas ainda era o meu quarto. O guarda roupa de madeira clara agora tinha alguns adesivos colados aleatoriamente, minha cama tinha novos lençóis e travesseiros, meus brinquedos antigos estavam em prateleiras de vidro nas paredes...
  - N’Sync, ? – gargalhou atrás de mim, parada no pé da porta.
  - Por que ninguém para de reparar nisso? – Cruzei os braços, olhando para o pôster ao lado da minha cama. – Eles já foram famosos um dia, sabia?!
  - Sem duvida. – Dessa vez foi Zayn quem gargalhou, arrastando algumas malas para dentro do meu quarto. – Mas ainda acho que precisa pendurar o pôster de uma boyband mais recente, sabe?
  - Concordo... – Sentei na ponta da cama, deixando pular pra cima dela. – Mais tarde podemos ir à uma banca de revista, pra que eu possa procurar um pôster novo do The Wanted.
  - Ha-ha, tão engraçada, . – Zayn fez uma careta e vi o seu bom humor indo embora. – Depois dessa vou até me mudar para o outro quarto.
  - Baby, não! – Ri, levantando da cama para ir atrás dele. – Volta aqui.
  - Yay, festa do pijama todas as noites! – comemorou, colocando as nossas malas no canto do meu quarto. – Deixa ele pra lá, . Você pode dormir comigo.
  - Boa sorte descobrindo o que ela gosta ou não, ! – Zayn gritou do quarto do meu irmão. – Levei duas semanas só pra encontrar o ponto...
  - Shhhhh! – Gargalhei ao pular sobre Zayn e tapar a sua boca com a minha mão. – Ela não precisa saber disso e muito menos a minha avó!
  - Só estava dividindo o quanto foi difícil... – Zayn também riu, me segurando pela cintura. Ele estava se divertindo com o meu embaraço.
  - Não foi difícil coisa nenhuma! – Me esquivei quando ele tentou roubar um beijo, ainda tímida com aquele assunto.
  - Tem razão. Na primeira noite eu já te fiz gritar... – Continuou, abrindo um sorriso malicioso.
  - Cala a boca!
  Eu não sabia se ria por estar nervosa ou se por saber que era verdade. Zayn não demorara nada para entender as coisas que eu gostava ou não gostava, se é que me entende. Se bem que, se tratando de Zayn Malik, eu gostaria de qualquer coisa que ele fizesse. Decidida a encerrar aquele assunto antes que qualquer um de nós ficasse animado demais, passei um braço em volta do pescoço do homem e o trouxe mais pra perto, colando os nossos lábios. Ainda sorrimos enquanto o beijo começava, mas isso só o tornou mais divertido ainda. Zayn envolveu a minha cintura e espalmou as mãos nas minhas costas. Nossos lábios foram encaixados perfeitamente até que eu tomei posse do inferior dele e o puxei. Recebi uma reclamação misturada com um suspiro de satisfação e logo tive minha boca grudada contra a dele mais uma vez.
   devia estar tão cansado da nossa viagem que nem veio atrás de mim. também pareceu ter entendido que um casal precisava de um tempo sozinho, então nos deixou em paz, por mais que eu tivesse certeza que ela pudesse nos observar pela porta do meu quarto. Me pegando desprevenida, Zayn apertou o abraço em volta de mim e levantou os meus pés do chão. Tive que me agarrar em seus ombros para conseguir mais segurança e a próxima coisa que senti foi a risada quente do menino ao meu pé do ouvido. Não sei o que ele pretendia ao me jogar na cama do meu irmão e praticamente pular em cima de mim.
  - Muito bem, isso já é demais! – apareceu. Ou talvez já estivesse ali antes que eu a notasse... – Eu estava disposta a deixar vocês se divertirem um pouco, mas se vão se comer, ao menos fechem a porta!
  - Por que ela veio com a gente mesmo? – Zayn saiu de cima de mim apenas para se deitar ao meu lado.
  - Por que alguém não consegue manter a língua dentro da boca! – Me acomodei no colchão, tirando os sapatos e jogando-os no chão de qualquer jeito.
  - Hey, você gosta da minha língua! – Ao falar isso, Zayn lambeu a minha bochecha como se fosse um gatinho, me fazendo gargalhar e gritar com certo nojo.
  - Para com isso, Malik! – O empurrei, mas isso só fez com que ele me abraçasse mais ainda.
  - Os dois podem parar, por favor? – puxou um pufe alaranjado que estava largado no canto do quarto e se sentou.
  - Até parece que se Niall estivesse aqui, os dois não estariam da mesma forma! – Falei meio sem pensar, observando o semblante da minha amiga ficar tenso. – Desculpa...
  - Não precisa. – tentava se fazer de forte, mas eu sabia que meu comentários havia sido desnecessário. – Se Ben estivesse aqui, nós poderíamos estar assim como vocês dois...
  - Ben? O primo da ? – Zayn fez uma careta estranha. Devia estar achando que nossa amiga pirou de vez.
  - Não, baby... Benjamin. Um cara lá da Academy. Você saiu antes dele entrar, então acho que não o conhece. – Tentei explicar o “rolo” mais recente da minha amiga, pois me recusava em chamá-los de “namorados”. – É a mais nova vitima da nossa cabecinha de fogo.
  - E não o convidaram para o casamento?
  - Não mesmo! – respondeu mais rápido do que eu esperava. – Quero dizer, eu gosto dele e tudo mais... Mas as vezes fica muito grudento, sabe? Preciso de um descanso! Sem falar que não queria acabar com as minhas chances de arrumar um francês pra me pagar um macaron.
  - Então tá, né... – Olhei para Zayn, que devia estar pensando no mesmo que eu. Niall estaria no casamento.
  - Por falar nisso, vocês assistiram o jornal hoje de manhã? – Meu namorado se mexeu na cama, ficando apoiado no cotovelo. – Filmaram o nosso ataque de ontem.
  - Harry me mostrou. A Modest! deve estar furiosa, porque estão prestando mais atenção em mim do que na Eleanor.
  - Essa menina é legal? – perguntou.
  - Ainda não tivemos tempo de conversar com ela direito, mas acho que podia ser pior... – Comentei, procurando o apoio de Zayn.
  - Ela parece ser uma boa pessoa. – Deu de ombros. – Mas não se preocupe, . Próximo sábado você vai conhecê-la para tirar suas próprias conclusões.
  - Ela virá para o casamento? – A ruiva não podia parecer menos desinteressada.
  - Eu a convidei. Se teremos que fingir que somos cunhadas, é melhor que eu a conheça. – Sorri ao sentir Zayn voltando a deitar e encostar o rosto em meu ombro. – Mas ela só quis vir para a cerimônia... Achou que seria abusar passar o final de semana com a gente.
  - Meninos, o almoço está servido! – A voz da minha avó pode ser ouvida do andar debaixo e parecia que nós três estávamos apostando corrida pra ver quem chegaria primeiro.

+++

  Mais ou menos uma hora após o almoço, começou a me perturbar. Ela alegava que estava em Paris pela primeira vez e por isso queria aproveitar cada instante tinha naquela cidade para conhecer tudo o que pudesse. No final das contas, nana acabou emprestando as chaves do carro de papá e deixou que fossemos passear. Qual é a primeira coisa que turistas de meia viagem querem conhecer ao chegar à França? A Torre Eiffel, é claro! Por mais que a minha amiga fosse a que mais pedisse para irmos até lá, no fundo eu sabia que Zayn também estava morrendo de vontade de conhecê-la. E quem estamos querendo enganar? Eu também queria. Quando se mora em Paris, esses monumentos e atrações acabam se tornando comuns, mas naquele dia... Eu estava louca para visitar a torre!
  Estacionei o carro de coloração esverdeada/azulada (ninguém conseguia definir) na Av. Pierre Loti propositalmente. Dessa forma, seriamos obrigados a atravessar o bairro afim de chegar até a Eiffel. Estávamos caminhando há pouco mais de cinco ou sete minutos, aproveitando a paisagem e as pessoas que passeavam por ali. Muitos turistas tentavam tirar fotos como se estivessem com a torre na palma da mão, mas falhavam miseravelmente. Eles estavam perto demais! E havia apenas um ângulo certo para que essa fotografia desse certo. Eu sabia disso porque passara uma tarde inteira procurando o ponto exato para tirar essa foto, quanto tinha mais ou menos quinze anos. Nessa época, Pâmela ainda era minha amiga, então ela me acompanhou fielmente.
   andava de um lado e Zayn do outro, ambos segurando as minhas mãos. Não falo pelos dois, mas eu não parecia uma turista. Parecia que vivera ali a minha vida inteira e não me mudara para Londres há quase um ano atrás. Era fácil olhar pra mim e dizer que eu era parisiense. Talvez pela minha postura, meu físico ou até mesmo pela minha áurea. Pode ser exagero, mas eu sentia que mudava quando estava em Paris. Não para melhor e nem pra pior... Apenas mudava. Como fiz questão de entrar no parque, o chão logo mudou de calçada para grama. Muitos casais ou famílias com crianças faziam piquenique ali, ou almas solitárias procuravam sossego para terminar seus livros. Era algo bem bonito de se ver.
  - Vamos parar aqui... – Pedi, procurando um lugar vazio para que pudéssemos sentar.
  - Não vamos até a torre? – fez bico.
  - Ninguém vai até a torre, ... – Ri, sentando primeiro e puxando os dois para fazer o mesmo. – Não a essa hora, pelo menos. Ainda está fechada. E se chegarmos mais perto, não vamos conseguir enxergar o topo.
  - É um monumento muito bonito. – Zayn comentou, nem esperando para já deitar na grama e encostar a cabeça na minha coxa.
  - Quem diria que um dia eu estaria em Paris com os meus dois melhores amigos? – A ruiva sorria como uma criancinha que acabou de ganhar um doce.
  - Você falou. – Fitei-a com um sorriso nostálgico em meus lábios. – Lembra de uma das primeiras coisas que me disse quando nos conhecemos?
  - Eu falo tanta coisa! – Gargalhou, também deitando na grama, se apoiando nos cotovelos.
  - É verdade. – Zayn soou baixo, fechando os olhos quando comecei a passar os dedos entre seus fios escuros.
  - Shut up, Zayn! – A outra reclamou.
  - Enfim! , você disse que eu te traria um dia... E que nós passearíamos de vespa!
  - Eu me lembro disso! – Deu um pulo para ficar sentada mais uma vez. – Uau, por falar nisso, não vi nenhuma vespa desde que chegamos aqui... Fui enganada pelos programas de turismo! Propaganda enganosa!
  - Não fique assim... Nós andamos de vespa. É só que essa mania é mais vista em Roma do que aqui. – Me senti uma francesa de raiz e Zayn percebeu.
  - “Nós” andamos de vespa? – Ele riu.
  - Oui, Malik. Nós, parisienses! – Joguei os cabelos para o lado, fazendo bico.
  - Você mal é parisiense, ! – Era melhor Zayn estar brincando. – Seu sotaque já é britânico, babe. Você é inglesa.
  - Prreferrre qui eo fale assssim? – Puxei o sotaque francês, querendo dar ênfase ao meu caso. – E suis metadê frrrancesa, oui.
  - Zayn está certo, . – se intrometeu. – Seu sotaque não é mais aquele fofo de quando te conheci.
  - Meu sotaque não é mais fofo? – Cruzei os braços com um bico.
  - É claro que é! – Zayn segurou o meu rosto, me fazendo inclinar em sua direção até que nossos lábios se encostassem.
  - Ugh, é a minha hora de ir... – Senti que se levantava. – Vocês podem ficar aí o quanto quiserem, mas vou tirar algumas fotos por aí... Naquela fonte!
  - Tenha cuidado, ! – Pedi.
  - É melhor que os franceses tenham cuidado com ela... – Zayn saiu do meu colo para que eu também pudesse deitar na grama.
  - Contanto que ela não me apareça aqui com um...
  Zayn sorriu imaginando a minha reação se voltasse com um namorado francês, mas eu realmente me preocupei. A menina era bonita e atirada – ao menos atualmente -, então não era impossível! Me deitei na grama verde de verão, ao lado do menino. Agradeci por estar de short, então pude relaxar as pernas na natureza fresca. O sol estava na direção contrária à nossa, então podíamos olhar para o céu com tranqüilidade, por mais que meu namorado olhasse mais pra mim do que para a torre Eiffel na nossa frente. Conversamos sobre algumas coisas sem importância, mas também escutei sobre as vezes que Zayn encontrou Niall chorando em seu quarto de hotel. Aparentemente ele sentia mais falta da ex-namorada do que imaginávamos. Isso me partia o coração, mas o que eu podia fazer? O que qualquer um podia fazer se não soubéssemos o que levou a separação do casal?
  - Quando Lou e eu éramos pequenos e nana nos trazia aqui, costumávamos brincar de Peter Pan e fingir que tínhamos que subir até o topo da torre... – Apontei enquanto explicava, tendo as imagens na minha mente como se fosse ontem. – E de lá encontraríamos a segunda estrela à direita e direto ao amanhecer!
  - Você sabe que Peter Pan se guia pelo Big Ben, não é? – Prestava atenção na minha história e pegou a minha mão para brincar com meus dedos.
  - Sei sim. – Fiz careta, pouco me importando se ele veria ou não. – Mas nós não morávamos em Londres ainda e, se ainda não percebeu, o Big Ben fica em Londres!
  - Tudo bem, desculpa! – Gargalhou de forma gostosa. – Não está mais aqui quem falou!
  - Eu adorava fingir que era a Wendy. – O olhei, ainda deitada na grama.
  - Eu poderia ser o seu Peter? – Sorriu brincalhão, também me olhando.
  - Claro que não! – Arqueei uma sobrancelha. – Meu irmão é o Peter, já discutimos sobre isso. De qualquer forma, você está mais pra garoto perdido.
  - Garoto perdido, é? – Aproximou o rosto do meu e senti que ele aprontava algo. – Faz sentido... Porque sempre fico perdido nos seus olhos.
  - Ai, essa foi terrível! – Estraguei o momento galanteador de Zayn quando comecei a rir quase escandalosamente. Adorava quando Zayn usava essas cantadas, pois sempre me faziam rir.
  - Ei, qual é? – Ele não ria nada e até se sentou para me encarar com os braços cruzados. – Muitas mulheres por aí se derreteriam com algo assim, ok?
  - Tenho certeza que sim! – Ainda ria, mas juntei todas as minhas forças pra me levantar e ficar de joelhos, pousando as mãos nos ombros de Zayn. – Mas não sou como muitas mulheres por aí.
  - Tem razão, você não é. – Com um puxão em minha cintura, fez com que eu caísse sobre seu colo. – Você é chata, irritante, teimosa, ciumenta, medrosa, desajeitada... Chata! Já falei chata?
  - Já sim! – Voltei a rir, mesmo tentando me fazer de ofendida. – Três vezes, aliás!
  - Porque você é triplamente chata. – Me prendeu em seu abraço, fazendo um caminho com beijos do meu ombro até a minha orelha, onde sussurrou: - Mas é a minha chata.
  - Essa parte é verdade. – Já não gargalhava mais, apenas sorria. – Eu te amo, Zayn.
  - E eu amo você, Anjo. – Roubou um selinho que foi mais do que retribuído.
  Ficamos mais uns cinco minutos apenas trocando beijos e declarações silenciosas. Eu continuava sendo sincera ao falar que o amava e senta a mesma coisa vindo dele; talvez até mais intensamente do que antes. Eu entendia que Zayn ficava preocupado com as coisas que estavam mudando, mas eu gostava de provar a cada oportunidade o quanto eu não seria coisa alguma se não o tivesse ao meu lado. Lembrava de todas as vezes que passeara por ali, olhando para os casais na grama, e me perguntava se um dia eu encontraria alguém que me beijasse sem razão alguma, ou que ficasse satisfeito apenas em me ter por perto. E agora eu tinha tudo aquilo e muito mais. Só queria poder falar para o meu eu do passado: “Fique calma, você vai encontrar o que procura. Ou melhor... Ele vai encontrar você.”
  Duas meninas passaram pela nossa frente, perto demais se considerarmos todo o espaço que elas tinham para passear, e logo mais três fizeram o mesmo. E mais outras e outras... Até que Zayn e eu nos entreolhamos, mais uma vez pensando a mesma coisa. “Fomos descobertos.” Olhei em volta disfarçadamente para confirmar e encontrei um grupo um tanto grande de meninas que tentava disfarçar, mas apontava as câmeras do celular na mossa direção. Ao menos não estávamos sento atacados, certo? Não demorou muito para que uma primeira criatura vencesse o medo e se aproximasse. Era sempre assim, uma menina vinha perguntar se ele era mesmo o “Zayn do Onde Direction”. Gostaria de saber o que aconteceria se ele respondesse que não... Mas como todo bom ídolo, ele respondia que sim e logo novas meninas se aproximavam até que estivéssemos rodeados por fãs.
  - Pode tirar uma foto comigo?
  - Também quero uma foto!
  - Autografa aqui pra mim?
  - A minha irmã também é sua fã, pode mandar um recado pra ela?
  - Zayn, Zayn!
  - Ele é tão mais bonito pessoalmente!
  - Calma, pessoal, vou tirar fotos com todas... – Zayn tentava dar atenção ao máximo de pessoas que podia, mas eram tantas que ficava até difícil entender quem falava o que.
  - , vocês estão aqui em Lua de Mel? – Uma garota loira com mechas azuis me perguntou.
  - O que? Não, não... – Ri, meio sem graça. – Minha mãe vai se casar nesse final de semana, então viemos para a cerimônia...
  - Vocês dois são tão fofos juntos! – Ela continuou. – Zayn, porque não pede ela em casamento logo?
  - Acha que eu já não fiz isso? – Zayn me olhou travesso entre uma fotografia ou outra. – O que acha que esse anel na mão dela é?
  - Zayn! – O repreendi, escutando os vários gritos que se seguiram após aquele comentário. Senti que muitas meninas, inclusive a de mexas azuis, encaravam o anel de brilhantes que eu usava desde que Zayn me dera no último fim de ano. Não era um anel de noivado literalmente. – É brincadeira dele, gente, não estamos noivos...
  - Porque ela não quer! – O menino continuou. – Eu tento. Podem falar pra ela aceitar, por favor?
  - Aceita, sua boba!
  - Ela deve ser maluca por não aceitar casar com você!
  - Vocês dois são o meu ship preferido!
  - É verdade que o Liam gostava de você, ?
  - Ele teve uma queda por ela no inicio, mas acredito que escolheu o melhor homem. – Zayn respondeu antes que eu pudesse.
  - Claro que não! Liam e eu sempre fomos apenas bons amigos... – Menti, tentando não prolongar aquele assunto. Zayn sabia dos sentimentos que Liam um dia dirigira a mim, mas agora era tarde demais pra se falar nisso.
  - E a namorada do Louis? Vocês gostam dela?
  - Eleanor? Sim, ela é um verdadeiro amor de pessoa. Os dois estão super apaixonados... – Imaginei que a minha voz fosse quebrar ao confirmar aquela nova mentira, mas que outra escolha eu tinha?
  - , tira uma foto com a gente?
  Também era sempre assim. Depois de conseguirem fotos boas o suficiente com o boybander Zayn Malik, elas tentavam conseguir uma com Tomlinson, a irmã de Louis. Matariam dois coelhos com uma cajadada só, não? É claro que eu aceitei tirar quantas fotos fossem pedidas, muitas vezes não sabendo nem pra onde olhar, já que as câmeras triplicavam na minha frente. Era uma confusão ainda maior quando o instinto protetor de Zayn atacava e ele me puxava para perto de si, obrigando os fãs a tirarem fotos com nós dois juntos. Não que reclamassem, mas eu podia ver algumas meninas entortando o nariz o falando coisas feias em francês, imaginando que eu não fosse entender. Estava com Zayn ao meu lado, então pra que diabos eu iria me importar em ser chamada de feia ou vadia? Ele sabia que eu não era nada disso e pra mim era o que importava.
  - Empresária passando, por favor, saiam de cima! – fez seu caminho entre o grupinho de meninas, até que pode segurar no meu pulso e no de Zayn. – Temos que ir para uma entrevista urgentíssima. Sinto muito, meninas, mas Zayn tem que ir embora, ok?
  - Foi um prazer conhecê-las! – Ele acenou enquanto éramos arrastados pela falsa empresária.
  - Obrigada, , - Agradeci num sussurro.
  - Por nada. – Piscou. – Mas temos que ir mesmo, não sei como os paparazzis franceses funcionam, mas alguém avisou que estamos aqui. Daqui a pouco vai virar um inferno!

+++

  O ruim de a casa de meus avós ser tão pequena, é que três pessoas tinham que dividir um banheiro só. Se com Louis já era complicado, imagine quando ficava atrás de mim na fila do banho. Em minha defesa, Zayn fora o primeiro e demorar mais que ele... Ninguém consegue! Então a ruiva não estava irritada apenas por causa da minha demora e sim pelo total de minutos que ela teve que esperar no meu quarto, praticamente entediada. Apenas saí do banheiro quando estava vestida apropriadamente com um short qualquer e a primeira camisa que encontrei dentro da mala. Tive muito trabalho pra fazer tudo caber dentro de uma bagagem só, então não estava afim de destruir tudo aquilo em cinco minutos.
  - Pelo amor de Deus, . Juro que vou primeiro na próxima vez! – Acho que falava mais consigo mesma do que comigo, pois logo se trancou no cômodo e não me esperou responder.
  - Não tenho culpa alguma, ok? – Tentei me defender, mas era tarde demais.
  Escutei o som do chuveiro sendo ligado e isso me provou que ela realmente não iria mais me escutar. Bufei divertida, passando os dedos pelos cabelos molhados, desembaraçando-os. Era tarde demais para tentar voltar ao banheiro e pegar a escova, a não ser que eu quisesse ser mordida por uma ruiva raivosa. Passei no quarto que costumava ser meu e em seguida no de Louis – que atualmente pertencia ao meu namorado -, mas não havia sinal de mais ninguém naquele andar. Do topo da escada pude assistir uma criancinha loira atravessando o corredor lá embaixo. Então, se eu não estivesse tendo uma alucinação, alguém deveria ter vindo visitar a minha avó. A risada masculina que escutei só fez aumentar a minha curiosidade. “Então Zayn está se divertindo, huh?”
  Desci com rapidez, atravessando até chegar à sala. A criancinha que vi correndo já parecia ter voltado sem que eu percebesse, pois uma menina completamente adorável de cabelos loiros na altura dos ombros estava sentada ao lado de Zayn no sofá e os dois pareciam muito entretidos. Olhando com mais atenção, percebi que aqueles dois não eram os únicos na sala. Minha mãe e Dan me encaravam como se esperassem ser notados. Não fazia tanto tempo assim que eu não os via, mas ambos estavam bem diferentes. O cabelo da minha mãe estava mais longo e mais liso, como se ela tivesse passado por um tratamento de estrelas de cinema. Também estava mais cheinha, diga-se de passagem. Dan estava mais bronzeado e eu me lembrava de alguns fios brancos em sua cabeça, porém, agora ele estava bem mais loiro. O mais importante: Ambos nunca pareceram tão felizes.
  - Aqui estão os noivos! – Sorri quase emocionada, correndo até a minha mãe e abraçando-a com força.
  - Calma, filha... – Levantou-se a tempo de me abraçar de volta. – Mas também estou feliz em lhe ver.
  - Você está incrível! – Me afastei da mulher para obrigá-la a dar uma voltinha sem sair do lugar. – Seu cabelo, sua pele... E essas curvas! Uau, o casamento realmente está te fazendo bem.
  - Obrigada, ... – Passou as mãos pelos meus cabelos, quase como se quisesse retribuir os elogios.
  - Cof cof. – Dan fingiu tossir para chamar a minha atenção.
  - Dan! Hey! Não esqueci de você. – Me virei para o meu futuro padrasto e o abracei quando fui convidada. – Você também está muito bem!
  - Obrigado, mas já sei disso. – Piscou e escutei a risada da menininha loira. – Daisy, eu escutei!
  - Desculpa, papai! – Continuou rindo, praticamente se sentando no colo de Zayn.
  - É a sua filha? – Acenei para a pequena.
  - Uma das. – Sorriu orgulhoso, procurando a outra pela sala. – Phoebe?
  - Aqui, papai... – Uma segunda menina que era a cópia da primeira surgiu na entrada da sala.
  - Uau, vocês são iguais. – Ri com a minha total inteligência ao lembrar que eram gêmeas.
  - Eu sou mais bonita. – A que eu soube que se chamava Daisy mexeu nos cabelos. – Não concorda, Zayn?
  - Ugh. – Phoebe resmungou, preferindo ignorar a irmã.
  - A duas são lindas. – Zayn deu a sua melhor resposta.
  - Ah, é, esqueci de falar... – Dan voltou a recuperar a minha atenção. – Daisy é meio apaixonada pelo One Direction.
  - E o preferido dela é o seu namorado. – Minha mãe acrescentou.
  - E quem é o seu preferido, Phoebe? – Me virei para a segunda loirinha.
  - Liam! – Respondeu com um sorrisinho.
  - Liam também é meu preferido! – Retribui seu sorriso, escutando Zayn resmungar no fundo da sala.
  - Sweetheart, você e a sua amiga farão alguma coisa amanhã pela manhã? – Jay voltou a se sentar ao lado do noivo e fiz o mesmo, acomodando-me ao seu lado.
  - Só dormir. – Respondi com uma risada, achando a minha piada realmente boa. – Por que?
  - Bem... É que todos já provaram as roupas para o casamento, menos vocês duas e a sua outra amiga que também virá. A Olivia. E terei que ir buscar o meu vestido na loja amanhã, então porque não vem junto?
  - Claro que sim! – Essa era a parte que mais me deixava curiosa: Ver o vestido da minha mãe. Por mais que eu estivesse por dentro de todos os detalhes do casório, aquele era o único que ela mantinha em segredo.
  - Sua prima Charlotte também chegou hoje, então acho que ela também nos acompanhará!
  - Lottie está aqui?!

    

Chapter XI

e eu tivemos que acordar cedo naquela manhã de terça-feira. Zayn, por outro lado, pode ficar em casa com a minha avó; dormindo, claro. Como a minha mãe informara na noite anterior, ela deveria ir fazer a última prova e pegar o seu vestido na loja, então nós duas fomos juntas, já que éramos as únicas que ainda não sabiam o que iriam usar no casamento que aconteceria no próximo sábado. Minha prima Charlotte também estaria lá e eu realmente sentia saudades dela. Aquela manhã seria repleta de afazeres femininos e por isso não tinha sentido o meu namorado nos acompanhar. Mais uma vez nana emprestou o carro - que agora era seu - para que fossemos encontrar com a minha mãe na loja, ao invés de ela ter que dar uma volta maior só para nos buscar.
  Pontualmente às nove horas da manhã, a ruiva e eu estávamos descendo do nosso veículo e indo de encontro à minha mãe e Vivy, uma mulher de quem eu me lembrava vagamente, mas era a melhor amiga dela. ficou encantada com o tamanho do lugar onde nos encontrávamos. A Kleinfeld era simplesmente a melhor loja da cidade quando se tratava de vestidos de noiva e derivados. Nós tínhamos hora marcada para dali a cinco minutos, mas como o movimento estava bem calmo, pudemos ser atendidas assim que entramos.
  - Por aqui, por favor... – A mulher que estava destinada a nos atender, nos guiou por dentro do estabelecimento classe A. – Já pedi para levarem os vestidos que a senhorita pediu pra separar para uma sala. Gostaria que elas fossem na frente enquanto você prova o seu próprio? Para o caso de ainda precisarmos fazer algum ajuste, claro...
  - Mãe, quero ver o seu vestido também... – Me virei para Jay, meio que ignorando a atendente.
  - Sei disso, querida, mas vocês também devem experimentar o de vocês. – Minha mãe tentava calcular um jeito de que tudo coubesse no prazo de uma hora que teríamos até que nosso tempo acabasse.
  - Será que posso opinar? – Viv parecia ter a solução para todos os problemas da minha mãe. Era como se ela fosse para Jay o que era pra mim. Um pouco mais centrada e calma, claro... – Vocês duas podem começar a provar seus vestidos, porque sei como adolescentes podem demorar com essas coisas. E enquanto isso, ajudarei a sua mãe a entrar no vestido, porque, acreditem, é uma tarefa muito complicada! E quando estiver tudo pronto, eu as chamo.
  - Brilhante! – Minha mãe sorriu animada com aquela idéia; ou talvez com toda a idéia de se casar novamente. – Acho que já conheço o caminho... Pode levar as meninas até a sala delas?
  - Oui, mademosielle. – A atendente aceitou aquela tarefa com um sorriso.
  - , se importaria em traduzir tudo que está acontecendo? – Não me surpreendia que estivesse calada o tempo inteiro! Nossa conversa fora em francês, então a coitada não estava entendendo nada.
  - Sorry... Bem, basicamente vamos provar os nossos vestidos enquanto Viv ajuda a minha mãe a entrar no vestido dela. – Expliquei em inglês dessa vez.
  - Ah, claro, só estava confirmando!
  Aham, sei! Ri com a minha amiga fingindo ter entendido aquele idioma que ela só conhecia algumas palavras. Nos dividimos, indo duas para cada lado. Minha mãe e sua amiga foram para a esquerda, enquanto eu e a minha amiga fomos para a direita, seguindo a mulher que logo descobri se chamar Camille. Essa última parecia ser nova demais para trabalhar em uma loja como aquela, onde tinha que agüentar noivas nervosas e querendo que tudo saísse perfeitamente do jeito que sempre sonharam. Eu olhava para os lados, suspirando sempre que via um vestido ou véu que chamava a minha atenção. Toda a loja era repleta por araras com não só vestidos, mas também conjuntos de duas peças; como saias e blusas, por exemplo. Além disso, não ficávamos só no branco comum, como encontrei outras cores que variavam to bege até o azul mar. Um modelo era mais bonito que o outro, isso era óbvio.
  Nunca fui daquelas garotas que planeja o seu casamento desde os doze anos de idade, mas creio que todas nós temos bem dentro da gente uma idealização do que seria o nosso vestido perfeito, nossa festa perfeita e nosso marido perfeito. Pelo menos desses três, eu sabia que tinha ao menos um. Tudo bem que Zayn não era meu marido e estava longe de se tornar meu noivo, mas não vou dizer que nunca imaginei nós dois nos casando. Eu sabia que ele brincava muito com aquele assunto e, conhecendo-o, devia ter um fundo de verdade. O “problema” é que ele tinha muitas coisas acontecendo em sua vida naquele momento e as coisas provavelmente só ficariam mais agitadas dali pra frente. Sendo assim, sabia que fosse com ele que eu viesse a me casar no futuro, essa oficialização só seria feita em cinco, oito ou dez anos...
  - Aqui estamos! – Camille abriu uma porta grande de madeira branca, revelando a “nossa” sala. permaneceu calada, sem entender coisa alguma que saísse de sua boca. – Esses aqui são os que sua mãe separou para que você escolhesse. Aqueles do outro canto são os das damas de honra... Que acho que incluem a sua amiga. De qualquer forma, as etiquetas estão nomeadas. Caso queiram ver mais algum modelo ou tamanho diferente, não se acanhem em me chamar, ok?
  - Merci de votre appui, Camille. – Sorri em agradecimento, deixando que ela saísse e fechasse a porta atrás de si.
  - Merci de votre... Merci... – cochichava baixinho, me imitando.
  - Está praticando, ruiva? – Deixei a minha bolsa de ombro em cima de uma mesinha que havia ali na sala.
  - Preciso saber ao menos o básico pra me virar, não é? Porque agora é que eu me toquei que o casamento vai ser em francês. – Fez o mesmo que eu com a sua própria bolsa.
  - Isso é verdade...
  Por mais que ao menos a maioria dos meus familiares falasse inglês tão bem quanto francês, a cerimônia seria realizada em nosso idioma original. Não podia falar sobre a família de Dan, mas como ele e as suas filhas entendiam o idioma natal de , tinha quase certeza que também eram bilíngües. Assim que Camille nos deixou a vontade, dei mais uma olhada na sala. Seu chão era de porcelana branca e as paredes possuíam um papel de parede na cor salmon. Um espelho ia do chão até o teto, na parede do fundo, e abria como as portas de um guarda roupa, permitindo a observação de mais ângulo. Um pouco a frente desse espelho, havia uma espécie de tablado na altura de um degrau de escada comum, usado para que as noivas pudessem subir e observar seu vestido com perfeição. Em um lado da sala estava uma arara com pouco mais de sete modelos de vestidos com a mesma tonalidade, algo que parecia um tom abaixo do rosa, mas pro pastel. No lado contrário, outra arara com vestidos do mesmo modelo e mesma cor, apenas tamanhos diferentes.
  - Acho que o seu é esse aqui, . – Chamei pela minha amiga ao pegar o cabide de onde se via uma etiqueta com o nome dela. Um daqueles iguais, mas de tamanhos diferentes.
  - Então eu não posso usar esse? – Fez um bico gigantesco ao me mostrar a peça de um ombro só que chamara a sua atenção.
  - Acho que não. – Trocamos de cabides. – As damas de honra tem que usar o mesmo modelo. Ali também estão os vestidos da Liv e da Lottie.
  - Essa Lottie, aliás... Quem é a peça? – questionou, começando a se despir das próprias roupas para provar o vestido rosa.
  - Minha prima! Ela se mudou para a Alemanha quando ainda éramos novas, mas de vez em quando voltava pra visitar e nós não nos desgrudávamos. – Acabei sorrindo com aquelas lembranças, pendurando o cabide que eu segurava de volta na arara. Comecei a mexer entre os tecidos na minha frente. – Ela é bem legal, , nem invente ficar com ciúmes.
  - Você sabe como eu sou. Posso ficar com ciúmes no começo, mas logo me acalmo... Prova disso somos eu e Liv. – Tinha razão em seu argumento, pois eu ainda lembrava de ficar assustada assim que Olivia e começaram a se tornar amigas. – Mas a sua família é bem internacional, não? Vocês tem uma pessoa em cada país!
  - Aqui na Europa não é tão difícil assim de mudar de um país pro outro, então isso ajuda muito. – Afastei os cabelos do rosto, tirando o primeiro vestido que chamou a minha atenção. – O que acha desse?
  - Você vai ser a madrinha de casamento, ou uma das freiras? – Arqueou ambas as sobrancelhas, julgando o meu vestido só porque ele era um tanto comportado. – Pode me ajudar aqui?
  - Esse vestido não é tão ruim assim, vai... – Tentei defender a peça, deixando-a de lado para seguir até a minha amiga e ajudá-la a fechar o zíper.
  - Cuidado com a minha pele!
  - Eu terei cuidado se parar de se mexer! – Falei entre dentes, subindo o zíper com tanta facilidade que senti inveja. – Pronto.
  - Vamos ver como eu estoooou! – Saltitou cantarolando até subir na plataforma em frente ao espelho. Ela realmente estava bonita dentro daquele vestido, mesmo descalça e sem maquiagem alguma. – Serei a mais bonita de todas as damas de honra, não acha?
  - Não sei... A minha prima é bem bonita também. – Provoquei, segurando o riso.
  - Ugh, começou a puxar saco! – Me atirou um olhar mortal pelo reflexo do espelho e ficou emburrada. – Acha que devo provar o da Liv também? Somos do mesmo tamanho, então podemos ter uma noção...
  - Faça o que quiser, mas ninguém é do seu tamanho. – Continuei a curtir mais um pouco com a cara dela. – A não ser anões de jardim...
  Cochichei aquelas últimas palavras, mas sabia que fora ouvida por causa do xingamento que levei. Torcia sinceramente para que ninguém fora daquele cômodo pudesse nos escutar. Enquanto se recusava a receber minha ajuda para abaixar seu zíper, voltei para a minha própria arara de roupas, sem encontrar nenhum que fizesse meus olhos brilharem. Todos eram muito bonitos e delicados, claro, mas a sua grande maioria era um tanto justa ao corpo. Ou seja, marcaria os meus defeitos. Acima de tudo, eu não queria passar mais uma vez pela situação de quando provei o vestido vermelho em Los Angeles. Vez ou outra eu tirava um vestido mais soltinho do cabide e o encostava ao meu corpo, tentando imaginar se ficaria realmente tão ruim assim. pareceu perceber que havia algo errado, pois logo se juntou a mim e começou a olhar as minhas opções.
  - Talvez esse aqui... – Puxei um bem fluído e nada marcado, sabendo que teria que começar a provar em algum momento.
  - O que há de errado com você? – Fez careta para aquela peça.
  - Como assim? Não tem nada de errado em usar vestidos soltos. – Fui para a frente do espelho, tentando me ver dentro daquela roupa. – E se sentir confortável...
  - Você quer mesmo se sentir confortável no dia do casamento da sua mãe? – Cruzou os braços, dentro do vestido que devia pertencer a Olivia.
  - Talvez... – A assisti tirar o vestido solto das minhas mãos. – Hey!
  - Aqui. Tente este. – Trocou o vestido que eu gostara por um mais marcado.
  - Não vai caber. – Encarei o chão ao admitir meu medo. Não adiantava mentir para .
  - Como não vai caber, ? – Riu, talvez por não perceber que eu falava sério. – Pode ao menos tentar?
  - Eu não quero. – A olhei com um muxoxo.
  - A que eu conhecia não tinha medo de mostrar um pouco de curvas...
  - Talvez as pessoas não estivessem esperando tanto da que você conhecia. – Minha última declaração a deixou sem saber como responder por alguns minutos, por isso decidi que era melhor continuar. – Talvez eu devesse provar aquele mesmo.
  - Por favor, . Prova esse? Se não couber, tudo bem. Eu nunca mais te peço nada. – Aquela proposta era tentadora demais pra recusar sem nem pensar sobre o assunto.
  - Tudo bem! Mas nunca mais pede nada!
  Bufando baixo, desabotoei a minha saia e a deixei cair em minhas pernas. Em seguida, tirei a minha camiseta e também a joguei no chão, parecendo uma criança birrenta. ria da minha relutância toda, mas ainda segurava o vestido para que eu o provasse. Evitava com todas as forças me olhar no espelho enquanto usava apenas as roupas de baixo. Finalmente fez algo de útil e abriu o zíper da peça rosada para que eu pudesse entrar embaixo dele. Este vestido era realmente muito bonito, mas eu ainda achava que não caberia. Ele tinha praticamente duas camadas. A de baixo, que ficava junto ao corpo, era uma espécie de tubinho que ia até a metade das minhas coxas. A segunda camada era um tanto transparente e saía da parte debaixo do meu busto, criando um pouco de volume que me daria movimento ao dançar, cobrindo o tal tubinho completamente.
  - E então? – Perguntei impaciente ao colocar o tecido no lugar certo e esperar a minha amiga sofrer para fechá-lo.
  - Me diga você mesma. – Me fez subir ao tablado, cruzando os braços com um sorriso satisfeito demais para o meu gosto.
  - Não vai fechar o zíper? – Tentei olhar por cima de meu ombro, constatando que ele já estava fechado. – Como você fez esse milagre?
  - Não fiz milagre algum, sua tonta. – Gargalhou, pulando para o tablado e se colocando ao meu lado. – Sabe o que eu vejo?
  - O que? – Nos fitei pelo espelho na nossa frente.
  - Eu vejo uma jovem forte, confiante e muito bonita... – Ela sorria e logo eu fiz o mesmo. – Oh, olha, você está aí também!
  - Ai, idiota! – A empurrei dali de cima, rindo daquela piadinha. – Vou fingir que você não roubou esse diálogo do filme da Rapunzel.
  - Belles filles! – Camille retornou, abrindo a porta devagar enquanto ainda “brigávamos”. – Vejo que provaram os vestidos!
  - Sim... Todos são lindos, mas acho que fico com este. – Sorri para a mulher, segurando na barra da minha roupa. – E também provou o dela... Serviu como uma luva.
  - Merci. – arriscou, mesmo sem saber do que falávamos. – Falei certo?
  - Sim, . – Rolei os olhos. Ela não tinha errado tanto assim... – Minha mãe está pronta?
  - Está sim! Vim buscá-las.
  - Minha mãe está pronta, ! – Traduzi para a menina, quase pulando de animação.
  Não me importei em trocar de roupa e muito menos , que devia estar adorando andar com aquele vestido pra cima e pra baixo. Também não nos importamos em calçar nossos sapatos mais uma vez. Camille deixou a porta aberta e nos esperou passar. Atravessamos um pequeno corredor, sem voltar para o centro da loja, onde novas possíveis noivas entravam. A sala onde a minha mãe e Viv estavam era um pouco parecida com a nossa. As portas já estavam abertas a nossa espera e pude ver o mesmo tipo de espelho e batente para dar altura a quem quer que subisse ali. Vivian estava em um canto, desfrutando de uma taça de champanhe e sentada em um sofazinho vermelho que não possuía uma réplica na nossa sala particular. Como já era de se esperar, a minha amiga foi logo procurando onde poderia conseguir uma pra ela.
  Eu, porém, estava com os olhos grudados na mulher que se dizia ser a minha mãe. Johannah estava simplesmente incrivelmente linda. Seu vestido seguia a silhueta de seu corpo e abria na parte de baixo, seguindo com uma longa cauda como se ela fosse uma sereia. Toda a sua superfície era coberta por uma renda trabalhada e delicada, sem falar que era tomara-que-caia e mostrava os lindos braços da noiva dentro dele. Seu cabelo ainda estava amarrado em um rabo de cavalo desleixado, mas o véu que fora preso improvisadamente no topo de sua cabeça a fazia se parecer ainda mais com uma criatura de outro planeta.
  - Mum... Você parece uma princesa! – Caminhei até ela para tocar em seu vestido e véu, fazendo-a dar uma voltinha.
  - Eu sei! – Ela sorriu com os olhos brilhando. – Não acha que isso é demais? Ou que o vestido é exagerado? Ou que esse casamento é exagerado? Oh, meu Deus, estou exagerando, não é? Quero dizer, não sou uma garotinha...
  - Pode ir parando! Você merece isso e muito mais, mãe. – Eu mesma tentava não chorar. – Esse casamento é o seu dia. Você só tem que estar feliz.
  - E eu estou feliz, filha. – Beijou o topo da minha cabeça, só então percebendo o que eu estava usando. – Uau! Esse é o escolhido?
  - É o que mais gostamos... – Sorri, passando as mãos sobre o meu próprio tomara que caia. – E também já provou o dela e o de Liv...
  - Ficou do jeitinho que eu imaginava! – Jay acenou para , que bebia a segunda taça de champanhe.
  - A senhora está linda, tia Jay! – acenou de volta.
  - Bem, acho que podemos tirar essas roupas e ir! – A mais velha acenou para a própria melhor amiga para que a ajudasse a se despir.
  - Mas onde está a Lottie? – Questionei. Achava que a minha prima nos encontraria ali.
  - Oh, ela está nos esperando para o brunch.

+++

  Mais uma vez estacionei o carro em uma das primeiras vagas que encontrei. Estávamos na parte sul de Paris e eu geralmente não dirigia sozinha até ali, por isso agradeci bastante por estar seguindo o carro de minha mãe. andou o caminho inteiro com a cabeça para fora da janela, observando os prédios baixos e antigos, me obrigando a ter muito cuidado para não passar perto de nenhum poste ou outro carro que pudesse decapitá-la. No final das contas, ela estava completamente descabelada quando paramos em frente ao L’Avenue, uma das melhores delicatessens da cidade. Não era a melhor por ser a mais cara ou a mais cheia, e sim por ter as comidas mais gostosas que eu já provara; tirando as da minha avó, é claro. O lugar não estava lotado e nem vazio demais. A maioria das pessoas gostava mais de ficar em uma das mesinhas espalhadas pela calçada, aproveitando o verão francês.
  - ! – Escutei meu nome ser chamado e observei uma garota mais ou menos da minha altura correr na minha direção.
  - CHARLOTTE! – Retribui o grito, também correndo até ela.
  - Finalmente! – Me abraçou apertado assim que teve a primeira chance. – Que saudade, prima!
  - Nem me fale! Uau, você está linda! – Demorei um pouco para poder soltá-la. – Berlin realmente te fez bem!
  - Não vou nem comentar do que Londres fez com a senhorita. Está até saindo em revistas! – Comentou bem animada.
  - Eu sei... Devo tudo isso à banda do Lou.
  - O que? Não estou falando sobre essas revistas de fofoca... – Fez uma cara engraçada, me deixando mais confusa. – De qualquer forma, podemos falar sobre isso mais tarde! Onde está o seu namorado? Estou ansiosa para conhecê-lo.
  - Zayn ainda estava dormindo, mas liguei pra ele antes de sairmos da Kleinfeld. – A deixei passar o braço pelo meu, nos guiando até a mesa em que ela já estava sentada. – Deve chegar aqui em uma meia hora.
  - Bem, espero que chegue logo! – Foi a primeira a se sentar, puxando a cadeira pra que eu fizesse o mesmo ao seu lado. – Me conte! Como estão as coisas lá no seu reino encantado?
  - Tudo está perfeito! Eu não sei nem por onde começar. A London Royal Academy é perfeita e mês que vem estarei retornando para o meu último período no curso de ballet... – Comecei a despejar informações. – E também tenho vários convites para assistir os desfiles da próxima fashion week.
  - Que sonho! – Lottie deu um gole em seu café.
  - Imagine se fosse me esquecer... – se juntou a nós na mesa, junto com a minha mãe e Viv. Eu realmente me esquecera dela... Oops.
  - ! Mon Dieu! Uh, Lottie, essa é a minha melhor amiga no mundo inteiro... Minha segunda metade e irmã de alma. – Tentei me redimir, apresentando as duas. – E, , essa é a minha prima Charlotte.
  - É um prazer conhecê-la, ! – A menina de cabelos extremamente claros sorriu simpática.
  - Igualmente. – Sorriu de volta, se virando pra mim com uma careta. – E boa tentativa.
  - Valia a pena arriscar. – Ri baixo, observando-a se sentar na minha frente.
  - O que vamos comer? – pegou um dos cardápios que estavam postos em cima da mesa e o levantou na altura dos olhos, me impedindo de continuar com nosso contato.
  - Tomei a liberdade de fazer nossos pedidos. – Lottie informou. – Acho que não deve demorar muito...
  Charlotte não era literalmente a minha prima de sangue, já que minha mãe era filha única. Mas a mãe dela era prima da minha mãe, então isso nos tornava primas por osmose, ou algo parecido. De qualquer forma, nos tratávamos dessa forma e ninguém nunca reclamou. Ela tinha longos cabelos platinados e olhos castanhos como uma noz. Uma combinação um tanto diferente, mas que a fazia se destacar entre as pessoas daquela cidade. pareceu ter se chateado com o meu pequeno esquecimento, mas logo deixou isso de lado quando a nossa garçonete apareceu com os pedidos que Lottie fizera. Minha mãe e sua amiga estavam tão entretidas em um assunto qualquer que mal falavam conosco no canto da mesma mesa.
  Uma bandeja de três andares foi colocada no centro da mesa e a minha amiga ruiva só faltou babar. No primeiro andar, um conjunto de bolinhos das mais diversas coberturas me fez salivar. Em baixo, alguns croissants. Na última bandejinha, tortilhas de frutas tais como morango, blueberry e manga. Além disso, a moça que nos servia também deixou novas xícaras de café na frente de cada uma que estava sentada na mesa e uma cestinha com torradas e pequenos potes de geléia. Tudo parecia extremamente delicioso e familiar.
  - Se há uma coisa que deveria existir em Londres são essas Pâtisseries. – Comentei, esticando o braço para pegar a minha primeira tortinha de morango. – Hm, hm, hmmmmm.
  - Acho que você quis dizer: “Le magnifique!” – Lottie riu e acabou fazendo o mesmo.
  - Seja lá o que isso queira dizer, eu concordo. – Minha amiga falou quase com a boca cheia, atacando os bolinhos de açúcar. – me contou que você mora na Alemanha...
  - Em Berlin, pra ser mais exata. – Afirmou que sim com a cabeça. – Estudo arte. Mas não o tipo de vocês... Arte do tipo pintura e essas coisas.
  - Deve ser muito divertido. – Podia estar sendo apenas simpática, pois eu lia em seu semblante que ela devia achar aquilo a maior chatice. – te contou que eu estudo teatro?
  - Ela tinha mencionado que vocês estudavam juntas, mas não contou o curso. – Enquanto minha prima falava com ela, me distrai com o nosso brunch e minha xícara de café. – Também vai para o último semestre?
  - Estou indo para o segundo semestre, na verdade. – Rolou os olhos por estar tão mais atrasada do que eu, mesmo tendo entrado na Academy antes. – É uma longa história. Primeiro eu estava em ballet clássico porque era obrigada pela minha mãe, mas pude ser transferida para o curso de teatro, que é o que eu sempre sonhei.
  - Isso sim deve ser muito divertido!
  - Até que é, sim. – se serviu de café, sem nem ao menos reclamar que não era chá. – Mas de qualquer forma, a está mais adiantada porque é muito talentosa.
  - Você também é talentosa, ! – Me intrometi.
  - Não seja modesta, . - Minha prima tocou o meu braço, quase esquecendo da comida. – Eu posso não me lembrar de muita coisa da nossa infância, mas se tem uma coisa que eu não esqueço é de todas as vezes que você tentava a me ensinar a dançar. Claro que eu falhei miseravelmente todas as vezes...
  - Você não era tão ruim assim... – Foi a minha vez de deixar a comida de lado para poder rir. – Lembra quando até o Louis conseguiu fazer uma pirueta melhor que você?
  - Tento esquecer desse trágico dia. – Também riu. Em seguida, arregalou os olhos e sorriu como acabasse de ter uma lembrança melhor que aquela. – ! Amanhã é o seu aniversário, não é?!
  - Eu sabia que você não iria esquecer! – O sorriso que apareceu em meus lábios foi tão grande que meu rosto poderia ter se dividido em dois. – É sim!
  - Por que você teve que lembrar disso?! – bufou. – Cometi o erro de mencionar isso ontem e ela quase não conseguiu dormir. E pra piorar, quase não ME deixou dormir!
  - Eu não sabia, desculpa! – Lottie riu, dando um gole em seu café em seguida.
  Ok, talvez eu ficasse um pouco animada demais com o meu aniversário, mas que culpa tinha? Absolutamente nenhuma, muito obrigada. Antes que pudesse me defender, um celular começou a tocar perto de nós, fazendo com que todas olhassem sem suas devidas bolsas. Fiz o mesmo com a minha, escutando a música aumentar assim que segurei o meu aparelho. Vi a foto que eu tirara de Zayn enquanto ele dormia aparecer na telinha que piscava. Levantei, deixando a bolsa na minha cadeira.
  - É o Zayn... – Olhei para as mulheres que me questionavam com o olhar. – Com licença.
  - Agora ela nunca mais volta. – Escutei falar, mas ela nem ao menos se deu ao trabalho de cochichar!
  - Baby? Já está vindo? – Atendi a ligação, olhando para os lados na esperança de encontrar o meu namorado.
  - Eu estava! Mas acho que fiquei meio perdido... – Zayn parecia quase desesperado. – Estou com o endereço que você me deu, mas acho que peguei o metrô errado. E ninguém fala inglês aqui...
  - Zayn, porque não pegou um taxi?! – Tive que rir, por mais preocupada que estivesse. – Deixa pra lá! Isso não é importante... Onde você está?
  - Em uma ponte... – Ótimo! Ajudou bastante. Paris quase não tinha pontes! – Não passam carros por aqui, se isso melhora as coisas. E não sei porque, mas tem vários cadeados nas grades...
  - Cadeados? – Uma lâmpada se acendeu sobre a minha cabeça. – Ok, acho que sei onde você está, britânico-perdido-em-Paris. Fique aí, vou te buscar.
  - Obrigado, ...
  - Não demoro. – Avisei e encerrei a ligação, fazendo o meu caminho de volta para a mesa.
  - E aí, conhecerei o famoso Zayn? – Lottie parou o que estava fazendo e me encarou.
  - Talvez mais tarde. – Uma pequena risada escapou meus lábios, enquanto eu pegava a minha bolsa mais uma vez e guardava meu celular. – Ele se perdeu ao tentar vir pra cá, então vou buscá-lo. , você vem?
  - Mas ainda tem comida aqui... – Choramingou, apontando para a bandeja de três andares.
  - Eu posso deixá-la em casa, , não se preocupe. – Charlotte se ofereceu. – Estou com a minha lambreta.
  - LAMBRETA? – quase gritou. É, ela estava em boas mãos.

+++

  Demorei no máximo vinte minutos para chegar onde Zayn deveria estar. A ponte onde encontrávamos “cadeados nas cercas e carros não passavam” era chamada Pont des Arts e atravessava o rio Sena, ligando a esquerda de Paris com o Louvre. Um lugar que costumava estar bem cheio de casais durante o ano inteiro, mas ficava pior no inverno. Não sei porque, só ficava. Passei pelos arcos de entrada, olhando de um lado para o outro. A madeira embaixo de meus pés mexia, mas nada assustador ou alarmante. Encontrar Zayn não foi a tarefa mais difícil do mundo, já que a sua beleza o destacaria mesmo entre uma multidão. Ele estava apoiado nas grades da direita, inclinado e relaxado, olhando os movimentos do rio embaixo de nós. Eu pagaria fortunas só pra saber o que se passava pela cabeça dele naquele momento.
  Enquanto caminhava até aquele garoto, notei que atraia a maioria dos olhares femininos. Quem poderia culpá-las? Não era todos os dias que se via um deus grego andando as ruas de Paris. E olhe que aquela cidade tinha muitos homens bonitos. Permitindo as minhas íris a brincar mais um pouco sobre o corpo do meu namorado, reparei no que ele vestia: Calça preta um tanto justa, camiseta de mangas compridas dobradas até os cotovelos em um jeans azulado e fino. Uma conjunto simples, mas lindo! Sem falar que o seu topete de sempre estava impecavelmente de pé.
  - Escolheu um lugar interessante pra ficar perdido. – Comentei enquanto ainda me aproximava, conseguindo sua atenção e sorriso. – Aqui é lindo.
  - Chegou rápido, Anjo. – Segurou o meu rosto com ambas as mãos assim que ficamos próximos o suficiente e juntou nossos lábios em um beijo rápido. – Atrapalhei o seu brunch?
  - Estava chato sem você. – Não era uma completa mentira. Com a bolsa pendurada em meu ombro, pude segurar as mãos dele, sentindo que uma delas não estava vazia. – O que é isso?
  - Você é rápida! – Riu, mostrando o pacote esverdeada que carregava. – Trouxe isso pra você.
  - Quando você passou no Ladurée? – Meus olhos brilharam ao entender o que aquilo seria. Caminhei até um banco de madeira próximo, para que pudesse abrir o meu presente com calma. – As pessoas costumam ficar horas na fila!
  - Digamos que eu tinha tempo... – Me seguiu com um olhar que denunciava mais do que devia. Zayn se sentou no mesmo banco que eu, aproveitando que ele não tinha apoio de costas para ficar com uma perna de cada lado.
  - Você não ficou perdido de verdade, ficou? – Arqueei ambas as sobrancelhas, desconfiada.
  - Talvez não. – Admitiu. Eu deveria saber! – Sua avó me deu algumas dicas do que você gostava...
  - Sou tão inocente. – Suspirei, mas resolvi me concentrar em abrir o meu presente.
  Tirei o pequeno lacre que mantinha o pacote fechado e logo tirei de lá uma caixa cor de rosa. Ladurée é a mais famosa loja de confeitaria do país inteiro, por isso mesmo seus clientes eram obrigados a enfrentar horas na fila só para experimentar suas delicias. Apesar disso, ninguém reclamava da espera, pois valia muito à pena. Fiquei impressionada com a boa vontade de Zayn para enfrentar tudo isso só pra comprar aquilo pra mim. Tirei um novo lacre da abertura dessa caixa cor de rosa, podendo abri-la. Minha avó deveria ter um dedinho naquilo, pois ela sabia que macaron era o meu doce preferido. Zayn riu, então percebi que devia estar quase babando.
  - Obrigada, baaaaaaaby! – Minha voz provavelmente saiu mais esganiçada que o normal, fazendo-o rir ainda mais. – Eu amei!
  - Tudo para a futura aniversariante. – Se inclinou para ganhar um beijo e acabou recebendo vários deles. Viu? Zayn não era como . Ele me deixava ser feliz! – Posso provar um?
  - Claro! – Havia muitos macarons na minha caixinha, então um só não faria diferença. – Quer de que?
  - Eu não sabia os sabores, então pedi os mais coloridos. – Aquela confissão causou um sorriso a aparecer no meu rosto. – Não sei... Esse aqui é de que?
  - Pétalas de rosa. – Expliquei ao ver o que ele apontava na caixinha. – Falo sério, não me olhe com essa cara.
  - Não sei se gostaria desse. Tem algo menos afeminado aí?
  - Esse aqui é daquele que você gosta! – Tirei um macaron verde com pontinhos pretos e ofereci para ele morder. – É de alpiste.
  - Pistache? – Mordeu não só o macaron, como também o meu dedo. – Uhunhom.
  - Como é? – Gargalhei, comendo o pedaço que sobrou.
  - Eu disse... “Uhunhom”. Não é óbvio? – Rolou os olhos, limpando os cantos da boca. – É muito bom.
  - Agora sim! – Peguei outro macaron, que eu sabia ser de sidra. Mordi metade e ofereci o resto. – Quer?
  O presente era pra mim, mas ele acabou aproveitando o mesmo tanto. Aqueles docinhos pareciam biscoitos, mas eram mais cremosos no recheio e não tão crocantes. Era algo dos céus, com toda certeza. Nós dois não chegamos a comer tanto assim, pois eu queria guardar pra depois e também ficaríamos enjoados logo. Sem falar que eu já comera um pouco no brunch e tinha certeza que a minha avó não deixaria Zayn sair de casa sem um delicioso café da manhã. Voltei a guardar a caixinha rosa dentro da sacola verde e a deixei de lado, me aproximando ainda mais de Zayn. Ele me abraçou pela cintura e encostou o queixo no meu ombro, já que eu estava de frente para o rio e ele de lado pra mim; ainda com uma perna em cada lado do banco.
  - Qual é a de todos esses cadeados? – Perguntou ao deitar a cabeça em meu ombro para observar a mesma direção que eu.
  - Achei que nunca fosse perguntar! – Inclinei a cabeça sobre a dele, deixando minhas mãos acariciarem os braços que me envolviam. – Casais de todas as partes do mundo vem aqui com seus próprios cadeados e muitas vezes escrevem seus nomes neles ou frases de amor... E então prendem o cadeado a uma parte da grade. Em seguida, jogam as chaves no rio Sena... Assim, ele fica preso ali pra sempre, sabe? É como se fosse uma promessa de ficarão juntos pra sempre também.
  - Isso é romântico. – O olhei e percebi que estava sorrindo. – Já colocou um cadeado aí?
  - Já sim, com meu ex. Prometemos ficar juntos pra sempre, porque ele era bem desse tipo, sabe? – Nunca fui tão irônica na minha vida, mas Zayn pareceu enciumado mesmo assim. – Claro que não, besta. E são só lendas, de qualquer forma. Meus pais colocaram um cadeado aí, mas isso não os impediu de se separarem.
  - Algumas lendas são legais. – Desemburrou, me apertando mais contra si.
  - Sabe outra lenda que essa ponte tem? – Mordi meu lábio inferior, olhando para ele. Ao assisti-lo afirmar negativamente, continuei. – Dizem que se um casal trocar um beijo verdadeiro sobre ela, os dois terão felicidade eternamente.
  - Esse é o meu tipo preferido de lendas.
  O sorriso travesso que apareceu nos lábios daquele menino não tinha preço. Zayn envolveu a minha nuca com uma mão e a outra permaneceu em volta da minha cintura. Fechei os olhos assim que o hálito quente e gostoso dele invadiu os meus lábios previamente entreabertos. Suspirei, inclinando-me ainda mais na direção do outro e pousando as mãos sobre os ombros do mesmo, agarrando o tecido de sua camisa antes mesmo que eu percebesse. Zayn riu baixo, me provocando. Ele sabia o quanto eu era louca pelos seus lábios vermelhos e cheios, por isso se demorou a roçá-los sobre os meus. Não agüentei aquela brincadeira por muito tempo e investi, praticamente abocanhando-o.
  Toda a minha vontade foi retribuída agradecidamente, pois Zayn prendeu ainda mais a minha nuca e inclinou o rosto para o lado contrário do meu. Nossas bocas foram encaixadas e a minha língua rebelde invadiu a dele na procura da outra. Não demorei muito para encontrá-la, então começamos a nossa dança mais bonita. Por um momento desejei que a lenda realmente fosse verdadeira, e não algo que as pessoas inventavam para atrair outros casais e aumentar o turismo naquele lado da cidade. Por um momento desejei ser feliz pra sempre ao lado de Zayn, como em um conto de fadas. Por um momento... Deixei que a cidade do amor me contagiasse e me fizesse acreditar ainda mais que poderíamos ficar juntos até o último dia de nossas vidas. Nos separamos devagar e fui a primeira a abrir os olhos, só pra poder admirá-lo.
  - O que foi? – Não sorria, mas ainda assim parecia sereno. Suas orbes passeavam pelo meu rosto.
  - Como você consegue ser tão lindo? – Deslizei as mãos, que antes estiveram em seus ombros, até que elas parassem nas pernas que quase estavam em volta do meu corpo.
  - É a genética. – Riu divertido, dando de ombros. Em seguida, olhou para o lado. – O que é isso?
  - O que? – Segui a direção do olhar dele, onde uma menininha segurava um buquê de tulipas vermelhas.
  - Pour vous... – A menininha de vestido estendeu o buquê até que eu o pegasse e então saiu correndo.
  - Ok, não entendi nada! – Olhei na direção em que ela desaparecera, mas apenas vi uma mulher que devia ser a sua mãe lhe dar a mão para que fossem embora. – Você sabe o que foi isso?
  - Não faço idéia. – Ele riu. – Mas tem um cartão...
  - Pelo menos isso. – Apesar de estar bem confusa, admito que adorei ter recebido aquelas flores que eram as minhas preferidas. Peguei o pequeno cartão dobrado ao meio para ler o que estava escrito.

  
“Feliz pré-aniversário, babe.
   Com amor, seu Zayn.”
  - Foi você! – Levantei os olhos mais uma vez, encontrando aquele sorriso travesso que parecia ter virado permanente.
  - Culpado. – Zayn se superava cada vez mais.
  - Não vou nem perguntar como você fez isso. – Cheirei as minhas novas flores. – Mais uma vez... Eu amei. E porque está fazendo tudo isso? Meu aniversário só é amanhã...
  - Você não quis uma festa de aniversário, então esse é o único jeito que eu tenho pra te mimar. – Colocou uma mecha de meu cabelo para trás da minha orelha.
  - Ainda tem mais alguma surpresa? – Sinceramente eu não sabia mais o que esperar.
  - Só mais uma. – Aquele comentário me fez sorrir ainda mais, ansiosa. – E ela está vindo bem ali...
  Olhei para todos os lados, imaginando ver algum dos meninos se aproximando, mas nem sinal deles. Claro, o que eu esperava? Niall estava na Irlanda, Harry e Lou em Cheshire e Liam em Wolverhampton. Foi olhando mais atentamente que fitei algo incomum: Três homens vestidos exatamente iguais, com calças vermelhas, blusas listradas e chapéus de palha amarela. Além de trazerem instrumentos e balões de gás hélio vermelhos em formato de coração. Cada um segurava um instrumento diferente; tambor, saxofone e violão. Eu tinha medo de acreditar que aquela surpresa era pra mim. Os três andavam na nossa direção e então notei que Zayn já estava de pé e acenava para eles. Para terminar a caminhada, como se não estivessem chamando atenção o suficiente, começaram a tocar Bon anniversaire.

  
Bon anniversaire, nos vœux les plus sincères.
  Que ces quelques fleurs vous apportent le bonheur.
  Que l'année entière vous soit douce et légère.
  Et que l'an fini, nous soyons tous réunis.
  Pour chanter en chœur:
  "Bon Anniversaire”

  Imagine o meu desespero ao receber total atenção na minha direção. Ainda mais sem estar esperando por nada daquilo. A hora em que cantam parabéns pra você é algo realmente constrangedor, pois você não sabe bem o que deve fazer. Não sabe se bate palmas e canta junto, ou se apenas fica ali, sorrindo sem graça. Levantei do banco e tentei fingir que não era comigo, mas não deu nada certo. Zayn começou a apontar pra mim e mais pessoas que estavam na ponte pararam o que estavam fazendo e começaram a bater palma juntos, outros até tiravam fotos. Pela primeira vez em muito tempo, senti que aquelas fotografias não eram tiradas porque Zayn era famoso e coisa e tal. O publico que nos rodeava apenas queria registrar aquela homenagem que um namorado estava fazendo para o seu amor na Pont des Arts.
  - Você é louco, sabia disso? – Deixei a minha bolsa, minha caixinha de macarons e minhas flores em cima do banco e me atirei nos braços de Zayn, recebendo mais aplausos e gritinhos em comemoração.
  - Tudo vale á pena pra ver esse sorriso no seu rosto. – Me abraçou pela cintura e fez com que meus pés deixassem o chão. Não senti medo de cair nem quando ele começou a me girar no ar.
  - Joyeux anniversaire, mademoiselle. – Um dos três cantores me entregou os balões em formato de coração. Como eles estavam amarrados em algo mais pesado, não iriam sair voando por aí.
  - Merci beaucoup, monsieur. – O agradeci assim que fui posta no chão, encantada com tudo aquilo.
  O homem logo voltou a se juntar aos seus companheiros e eles pareceram conversar sobre alguma coisa que eu não pude escutar. Algo me dizia que estava aprontando alguma coisa. Olhei para Zayn, que parecia distraído brincando com os meus balões. Algumas das pessoas na ponte voltaram a se dispersar, mas outras permaneceram ali para também esperar o que estava para acontecer. Deixei meus balões junto aos meus outros presentes e comecei a escutar uma música calma e levemente conhecida.
  - Pronto para a sua próxima aula de dança? – Perguntei com um sorrisinho, já segurando a mão dele e o arrastando até a frente daquela “banda” que tocava para nós.
  - Aqui? – Olhou em volta meio sem graça.
  - Por que não? – O soltei apenas para fazer uma reverência.
  - Só por você...
  Aquele último comentário saiu mais como um sussurro secreto. Em seguida, ele mesmo fez uma reverência e esticou a mão direita, esperando que eu a aceitasse. Um conjunto de “Awwwwwwwwn” foi escutado assim que aceitei tal convite e fui guiada suavemente até estar com o corpo encostado ao de Zayn. Ele, então, usou a mão livre para envolver a minha cintura. Eu já havia mostrado alguns ritmos de dança que lhe viriam a calhar, mas o que ele mais parecia interessado era a valsa, então foi nela que nos concentramos. Naquela amostra publica de seus dotes dançantes é que eu percebi o quanto era uma boa professora, ou ao menos tinha um bom aluno.
  Zayn me guiou com tamanha perfeição, sem ser tremendamente lento, mas também sem me deixar tonta. Demos algumas voltas e eu quase não conseguia tirar os olhos dele. Muitas vezes acabava ficando na ponta dos pés para que ele me girasse por baixo de seu próprio braço e logo voltasse a me puxar para perto de si mais uma vez. Para quem não sabia dançar nada, meu namorado parecia um verdadeiro príncipe e eu era sortuda o bastante para ser sua princesa.

+++

  Já estava escuro quando nana se despediu e foi dormir. A casa estava em um completo silêncio, já que nem e nem Zayn quiseram assistir à televisão no primeiro andar. Não os culpo, pois se tivesse que assistir à algum canal onde a programação era completamente em um idioma que eu não conhecesse, também iria preferir ficar conversando com os meus amigos. Meu namorado foi para o quarto de Louis, que estava sendo o seu, porque não queria escutar “conversa de garota”, e pediu para que eu ficasse com ela só mais um pouco, enquanto me contava como fora seu dia com Lottie.
  As duas passearam de lambreta, o que sonhava desde que chegara ali. Ou melhor... Desde que nós nos conhecemos. Não chegaram a ir muito longe, apenas ficaram percorrendo as ruas magníficas da minha cidade. Ela estava cada vez mais encantada com tudo que via e seria bem difícil voltar ali sem ela. Não que eu me importasse, claro... Amava dividir aquelas coisas com ela. Também contei como fora o meu dia após deixá-la no L’Avenue, o que ela não teria acreditado se eu não mostrasse os presentes que trouxe de volta para casa. Não sei se eu era tão entediante assim ou se a ruiva estava cansada demais após o seu dia de aventuras, mas ela acabou dormindo no meio do meu discurso.
  Fiquei com duas opções no fim das contas: Apagar a luz e dormir ali mesmo, ou me aventurar com a esperança de que Zayn ainda estivesse acordado. Com um namorado tão dorminhoco quanto o meu, era bem possível que ele já estivesse no terceiro sono. Mesmo com essa probabilidade muito alta, levantei da cama com cuidado e apaguei a luz para deixar a minha amiga continuar a dormir tranquilamente. Fechei a porta quando eu já estava do lado de fora e, antes de ir ao meu destino, passei na porta do quarto de minha avó. Não queria incomodá-la, apenas ter certeza de que tudo estava bem. Abri a porta dela com cuidado, deixando meus olhos se acostumarem com a falta de claridade.
  Nana estava dormindo tranquilamente, mas fazia isso no lado que costumava ser de meu avô. Ela sentia muita falta dele, isso era óbvio. Todos nós sentíamos falta dele, era verdade, mas ninguém seria capaz de desejar que ele ainda estivesse vivo como a minha avó deveria desejar. Eles ficaram juntos por mais da metade da vida dela, então devia ser muito difícil ter que aprender a continuar sozinha. Ao menos ela estava tentando, não é? Sem querer acabar acordando-a por estar ali, fechei a porta tão silenciosamente quanto a abri. Passei pelo corredor com mais cuidado ainda, sabendo que as tábuas do chão poderiam me denunciar a qualquer momento.
  Abri a porta do quarto do meu irmão, ignorando o pôster do Busted que ainda estava ali. A luz do quarto estava apagada, mas a janela estava aberta, o que permitia a entrada de alguns raios de luz dos postes do lado de fora da casa. Zayn também não estava dormindo, então pontos pra ele! Ao invés disso, mexia em meu iPad. Não me lembrava de ter deixado o aparelho com ele, mas não tinha medo do que ele pudesse fazer. No máximo tiraria algumas selfies e isso não seria nada ruim. Eu simplesmente amava ter milhões de fotos dele que ninguém mais tinha, principalmente agora que todas as adolescentes do reino unido pareciam tê-lo em seus computadores e telefones.
  - Cabe mais uma nessa cama? – Perguntei retoricamente, fechando a porta do quarto e correndo até o móvel confortável.
  - Se não couber, fazemos caber. – Não sei se aquilo fazia muito sentido, mas me enfiei debaixo das cobertas com ele. Fiquei extremamente feliz ao descobrir que a única peça de roupa que ele usava era uma bermuda de dormir.
  - O que está olhando aí? – Me acomodei em seu abraço, deixando que ele continuasse a mexer no iPad que ganhei de presente de natal.
  - Niall mandou uma foto do sobrinho dele. – Explicou enquanto procurava. – Filho do Greg e da Denise.
  - Já nasceu?! – Mantive os olhos na tela, quase gritando ao ver a foto do bebê. – QUE GRACINHA!
  - Nasceu ontem! Não quis te esperar pra terem o mesmo aniversário. – Fez um bico de lado, mas logo voltou a sorrir. – Ni disse que o nome dele é Lil’craic.
  - Claro que disse! – Gargalhei, talvez mais do que o normal. – Ao menos não é Crazy Mofos, né?
  - Tem razão, podia ser pior!
  - Os outros meninos deram noticia também? – Questionei, logo me ocupando em dar beijos calmos pelo seu ombro nu.
  - Lou mandou uma foto de Harry e Gemma... Dizendo que estava tudo bem. – Continuou, mas sua voz tremeu um pouco. – Liam é que ainda não deu sinal de vida.
  - Ele está com a namorada, baby... Deixa ele. – Me virei um pouco na cama, continuando com os beijos.
  - Mas eu estou com saudades! – Resmungou com um choramingo, me fazendo rolar os olhos e aumentar os beijos.
  - Acho que posso pensar em uma forma de fazer você esquecê-lo...
  Consegui fazê-lo deixar o iPad de lado antes que começasse a digitar um email de coração partido para o seu marido Liam Payne. E ele sinceramente achava que macaron de pétalas de rosa era muito afeminado? Tá certo. De qualquer forma, comecei a aumentar a intensidade de meus beijos, seguindo até o pescoço livre de Zayn, sabendo que alguns deixariam marcas por ali. O menino pareceu finalmente entender o que eu queria e segurou a minha cintura com força, me fazendo ficar completamente em cima dele. Como eu estava usando uma camisola um tanto curta, não foi difícil para que ele subisse as mãos pelas minhas coxas até parar na altura da minha bunda. Senti seu aperto e com isso mordi a região entre o maxilar e a orelha, que era onde a minha boca brincava.
  Sorri com aquela provocação e aproveitei para colar meu quadril ao dele, me surpreendendo com o volume que começava a deixar aquela bermuda que Zayn usava um tanto apertada. Ao notar que fora descoberto, abriu um sorriso torto e cheio de intenções. Eu tinha quase certeza que sabia o que ele queria e estava mais do que disposta a atender seu pedido silencioso. Antes de fazer qualquer coisa, o segurei pelas laterais do pescoço e juntei nossos lábios com violência. Fui retribuída de uma forma tão urgente que o calor naquele quarto pareceu crescer consideravelmente. Zayn continuou a me tocar, subindo ambas as mãos pelas minhas costas, trazendo consigo a minha camisola que agora só parecia atrapalhar.
  Me separei dele de uma vez, fazendo-o soltar uma reclamação baixa. Minha camisola foi obrigada a voltar para o lugar pela gravidade, mas logo agarrei a barra do tecido e comecei a levantá-la devagar, sentindo o olhar dele me queimar a cada centímetro de pele que era revelado. Não que ele já não conhecesse cada pedacinho do meu corpo, claro. Primeiro deixei que ele visse a renda clara da minha calcinha, seguindo pela minha barriga e parando pouco abaixo do meu busto. Pela primeira vez em algum tempo eu já não me sentia insegura quanto à minha falta de forma ou coisa parecida, pois era encarada com tanto desejo que me sentia a mulher mais gostosa do mundo inteiro. Por fim, acabei tirando a peça de seda inteira, deixando-a cair no chão do quarto.
  Zayn pulsou embaixo de mim, se é que me entende. Ele deslizou os dedos pela minha pele levemente bronzeada, fazendo um caminho pelo centro da minha barriga até que estivesse tocando os meus seios livres de qualquer peça de roupa. Fechei os olhos e mordi o lábio inferior inconscientemente, conhecendo as maravilhas que ele conseguia fazer com aqueles mesmos dedos que agora brincavam com os meus biquinhos. Abri os olhos para vê-lo levantar as costas da cama até estar sentado; comigo ainda em seu colo. Zayn podia parecer um anjo na maior parte do dia, mas quando estávamos sozinhos e seguros de qualquer interrupção, ele se transformava em algo diferente. Algo mais escuro, quase perigoso.
  Tive meu pescoço tomado pelos dentes afiados do menino que se transformava embaixo de mim. Não fui delicada e fiz questão de passar as unhas pelas costas dele com força, sabendo que mais uma vez deixaria as minhas marcas. Como resultado, Zayn apertou anda mais a pressão dos dentes contra o meu pescoço, se impedindo de soltar um murmúrio. Em seguida, com a mão livre, agarrei os cabelos um pouco úmidos do menino, o que explicava o seu cheiro de banho tomado. Não deixei que eles escapassem entre meu dedo assim que os puxei com força, obrigando-o a soltar minha pele entre seus dentes. Só relaxei um pouco o meu puxão quando tive os olhos dele bem presos aos meus. Estava sendo dominante, papel que geralmente era dele, por isso enfrentava certa relutância da parte dele, porém, isso não dizia que o homem não estava gostando.
  - Eu te quero. – As palavras dele saíram como raios, me deixando arrepiada.
  - Eu sei. – Respondi convencida no mesmo tom, com um sorriso até mais torto que o dele.
  - Eu te quero agora. – Enfatizou, me fitando com certa raiva pela minha demora toda a dar o que ele almejava. Só o que isso me fez fazer foi rir divertida, não necessariamente por estar achando graça.
  - Vejamos o que eu posso fazer por você... – Meu tom se tornou baixo, meio arranhado.
  Sem esperar por uma resposta, o forcei de volta na cama, mexendo o quadril para aumentar aquela tortura toda. Voltei a abaixar o corpo na direção dele, mas meu destino dessa fez não foi a sua boca. Dei uma leve mordida no queixo do outro para descer não só o rosto, como também meu corpo inteiro. O caminho que fiz com a minha língua pelo torço daquele menino tão descontrolado mostrou bem qual era o meu objetivo. Minhas mãos arranharam mais um pouco a sua pele, deixando linhas avermelhadas quando passavam pela barriga tonificada. Por fim, agarraram o elástico daquela bermuda enquanto meus dentes brincavam pela parte baixa do abdômen masculino. Ele não era o único excitado ali, pois eu me sentia latejar e o calor aumentar, se espalhando pelo meu corpo inteiro.
  - ... – Chamou o meu nome, mas era mais um delírio.
  Um suspiro alto encheu o quarto quanto abaixei a bermuda dele até que ela estivesse junto à minha camisola. Voltei a morder o meu lábio ao ver que estivera certa ao pensar que aquela peça de roupa era a única que ele usava, já que agora a sua ereção descansava sobre a sua barriga, apenas esperando por mim. Segurei em sua base, observando enquanto o peito de Zayn subia e descia conforme a sua respiração acelerava. Selei meus lábios em volta de seu topo, sentindo o gostinho salgado do primeiro líquido que acabara de sair. Deixei as minhas pálpebras pesarem, fazendo movimentos leves de sobe e desce com a minha mão que ainda o segurava, enquanto deixava a minha língua passear e acariciá-lo do jeito que eu já sabia que Zayn gostava.
  - Olha pra mim, babe... – Seu pedido tinha quase uma imploração escondida nas entrelinhas.
  O atendi e abri os olhos mais uma vez para poder fitá-lo. Entreabri a boca um pouco mais, deixando-o invadi-la. Dessa vez, Zayn não foi capaz de impedir um gemido rouco escapar de sua garganta, me deixando ainda mais decidida ao fazer meus movimentos. Com a mão trabalhando um pouco mais rápido devido á saliva que escorria por toda a extensão do membro rijo, meus lábios também aumentaram a sua velocidade. Fazendo certa pressão com as bochechas e protegendo-o dos meus dentes, comecei a sugá-lo com mais intensidade. Logo a minha cabeça estava subindo e descendo enquanto Zayn quase se contorcia na cama, agarrando o lençol preso ao colchão. Sem que eu esperasse, tive meus cabelos agarrados e presos em sua mão grande, me mantendo onde estava.
  Acabei engolindo-o um pouco mais, sentindo-o tocar a minha garganta. Se continuasse com os olhos abertos, acabaria lacrimejando, então fui obrigada a fechá-los com força. A sensação de estar engasgando era bem incômoda, mas os meus esforços por ar pareciam agradar demais àquele homem. Logo tive os cabelos puxados mais uma vez para que o meu canal fosse desobstruído e eu pudesse voltar a respirar, ofegando por ar. O sorriso de Zayn era intocável e vez ou outra ele mordia os lábios com tanta força que eu tinha certeza que machucaria. Usei ainda mais vontade na minha mão direita, que ainda o dava prazer enquanto eu me recuperava, logo recebendo ajuda da esquerda.
  - Se você continuar, eu vou... Ugh, fuck... – Xingou com um aviso, não me impedindo de continuar.
  - Eu sei. – Voltei com o meu tom convencido, adorando o sentimento de estar com ele em minhas mãos. Literal e figurativamente. – E eu quero isso.
  - Não, babe, você sabe... – Pareceu juntar todo o seu auto controle para se colocar sentado mais uma vez e tomar meus pulsos em suas mãos. – Primeiro as damas.
  Lá estava aquele sorriso travesso e até um pouco arrogante de quem recuperava o controle da situação. Senti todo o meu poder ir para o ralo quando tive meu corpo tirado de onde estava e sendo jogado no meio da cama. Zayn não me segurou ali por muito tempo, pois precisou das suas mãos para deslizar a minha última peça de roupa por baixo das minhas pernas. Sem esperar por mais nada e como se tivesse pressa, me fez separar os joelhos e me invadiu por completo. Foi impossível segurar o meu gemido longo e um tanto alto. Me olhou como se pensasse o mesmo que eu... Não estávamos sozinhos naquela casa e a porta permanecera destrancada depois que eu entrara no quarto. Mas, ao contrário de mim, ele não estava preocupado ou com medo; estava satisfeito e até mesmo orgulhoso de si mesmo.
  Minha única saída foi agarrá-lo com força, encostando os lábios na divisão do ombro e pescoço do homem em cima de mim. Prendi minhas pernas em volta de sua cintura, sentindo as suas investidas aumentarem, assim como a minha falta de ar. Estávamos no quarto do meu irmão e na casa de meus avós, onde eu crescera e passara quase toda a minha adolescência. Saber disso de alguma forma aumentou a adrenalina e, de um jeito meio distorcido, aumentou a minha excitação. Zayn entrava e saia de mim com tamanha facilidade que me assustava todas as vezes que ele voltava a penetrar profundamente, murmurando obscenidades ao meu pé do ouvido.
  Agarrei suas costas em um abraço e não me impedi de fincar as unhas contra a pele do mesmo. Dessa vez fui um pouco mais violenta, mas tinha as minhas razões. Zayn pareceu entender o que eu queria dizer com os espasmos curtos que meu corpo começava a dar. Prova disso é que seus movimentos diminuíram de velocidade, mas aumentaram de intensidade; tornando-se mais fortes. Quase não consegui me segurar de gritar o nome dele a plenos pulmões quando o que parecia muito com pequenos choques elétricos percorrendo o meu corpo inteiro. Também comecei a tremer, mas de um jeito gostoso. Meus olhos reviraram e joguei a cabeça pra trás involuntariamente. Um formigamento percorreu as minhas coxas e parou nos meus pés, me fazendo estralar os dedos e suspirar mais uma vez.
  Como se me invejasse e também não agüentasse mais, Zayn se retirou de dentro de mim e segurou a própria ereção da mesma forma que eu fizera antes. Ainda sem conseguir me mexer muito, o observei chegar ao clímax e também jogar a cabeça pra trás, quase como eu fizera segundos antes. Seu líquido branco e cremoso foi de encontro a minha barriga e não podia ter me incomodado menos. Zayn estava lindo, parecendo um anjo novamente. A luz da janela batia diretamente em sua lateral, fazendo com que seus olhos amendoados brilhassem. Tão extasiado quanto eu, jogou-se na cama ao meu lado, passando o braço em minha volta e respirando fundo; totalmente relaxado.
  - Eu já falei que você é incrível? – Perguntou em uma respiração só.
  - Todas às vezes... – Comentei com um sorriso brincalhão nos lábios.
  - Bem, você é. – Riu baixo, beijando o topo da minha cabeça.
  - Você também não é nada mal... – Fechei os olhos, suspirando. – E precisamos de um banho.

       

Chapter XII

Após os momentos agitados da noite passada era de se esperar que eu estivesse com sono e pretendesse dormir a manhã inteira. Apesar do cansaço, meu corpo inteiro estava relaxado e eu tinha certeza que até a minha pele deveria estar mais brilhante. Eu não me importava com qual dia pudesse ser e nem ao menos lembrava se era sábado, domingo ou quinta feira. Só o que queria era dormir enrolada naquele lençol fino que me envolvia. Após Zayn e eu tomarmos banho juntos e aproveitar o segundo round de nossas “brincadeiras”, tive que vestir a mesma camisola que deixara no chão do quarto, já que não queria entrar no quarto onde e dormiam, por medo de acordá-los. Também fui obrigada a dormir com os cabelos molhados, pois não usaria o secador barulhento as duas horas da manhã.
  Claro que, como a maioria dos meus planos, aquele de permanecer por mais tempo na cama não deu certo. Eu teria continuado com meu sonho de que estava brincando em um carrossel infinito se não fosse pela melodia baixa e tranqüila que vinha do travesseiro ao lado do meu, onde Zayn devia estar. Me mexi mais devagar ainda até que a minha mão encontrou o que logo descobri ser o meu iPad. Tentei inutilmente desligar o alarme sem ter que abrir os olhos, mas não consegui. Abri apenas o olho direito, demorando um pouco para focalizar a tela. Quando consegui, pude ler o que estava escrito na frase do alarme:
  “Hora de acordar, aniversariante.”
  Foi aí que tudo me atingiu de uma vez. Eu não podia ficar dormindo! Era meu aniversário! Eu sabia que não teria uma festa ou algo assim para me deixar ansiosa, mas o dia do meu nascimento devia ser celebrado de qualquer forma, não? Abri meu outro olho, fazendo uma pequena careta enquanto os dois se ajustavam e fui logo procurar Zayn. Ele não estava mais na cama e nem no resto do quarto. Eu sabia que o meu alarme havia sido programado por ele, mas gostaria de saber se deveria esperá-lo por ali ou descer para o primeiro andar. Ficar sozinha ali é que eu não iria!
  - É meu aniversáaaaaaaaaaaaaaaaaa... – Tentei comemorar, mas esqueci que a cama de Louis era menor do que eu estava acostumada, então acabei indo ao chão antes mesmo de levantar. – Eu estou bem...
  Acalmei mais a mim mesma do que qualquer um que tivesse escutado o barulho do meu tombo. Ótima maneira de começar o seu aniversário! Caindo da cama. Yay! Acabei rindo sozinha e me levantando com um pulo. “Ágil como um gato!” Como era o meu dia, me permiti fazer piadinhas sem graça e ri mais ainda. Corri até a porta e abri de uma vez, esperando já encontrar alguém no corredor. Ninguém por ali. Em três passos grandes, cheguei até o meu antigo quarto. Abri a porta de uma vez, torcendo para que ainda estivesse dormindo e eu pudesse acordá-la. Ao invés disso, a encontrei mexendo na minha mala de roupas.
  - É MEU ANIVERSÁRIO! – Gritei, assustando-a um pouco.
  - É SEU ANIVERSÁRIO! – Ela gargalhou, deixando as minhas coisas de lado e correndo para me abraçar. – Feliz aniversário, minha little kitty!
  - Obrigada, minha super gigante! – Pulei de animação enquanto ainda a abraçava.
  - Aproveitando que é o seu aniversário, eu não vou nem reclamar pelo barulho que você e Zayn fizeram ontem. – Me olhou com aquele sorrisinho.
  - Nós te acordamos? – Senti as bochechas esquentarem, mas não dei muita atenção.
  - Você não ME acordaram, mas acordaram o e ele me acordou... – Comentou enquanto me dava as costas e ia buscar alguma coisa em suas próprias coisas. – Você sabe que cachorros são muito bons em escutar barulhos mais... Agudos.
  - Oh, Gosh. – Ri meio sem graça, escondendo o rosto com uma mão. – Desculpa por isso.
  - Não tem problema! – Se virou com uma caixinha azul em suas mãos. – Quer abrir o seu presente?
  - Eu ganhei presente?! – Sorri quase arrancando o embrulho das mãos dela.
  - O que seria um aniversário sem presentes, ?!
   ria de mim enquanto eu rasgava o embrulho de qualquer jeito e o deixava cair no chão. Abri a tampa da caixinha que foi revelada e soltei um pequeno gemido de fofura ao ver que ganhara um bracelete daqueles personalizados com vários pingentes. O tirei da caixa para poder observar melhor e sorri ao ver quais eram os pingentes: Uma réplica em miniatura do relógio do Big Ben, a torre Eiffel, um par de sapatilhas de ponta, um microfone, uma câmera fotográfica, um ultra mini manequim, uma xícara, uma pena e uma patinha de cachorro; não necessariamente nessa ordem. No centro do bracelete, metade de um coração com a palavra “Best” gravada.
  - A outra metade está aqui. – Esticou o próprio braço, onde vi um bracelete parecido com aquele, mas com bem menos pingentes.
  - É lindo, ! Muito obrigada! – Tive um pouco de trabalho, mas consegui colocá-lo em meu pulso direito sem precisar pedir ajuda.
  - É só pra te lembrar que você pode estar do outro lado do mundo, ou apenas do outro lado do corredor, mas sempre vai poder contar comigo. – “Não vou chorar!” – Porque somos melhores amigas pra sempre!
  - Awwwwwwn, eu te amo, ruivinha! – A puxei para um novo abraço.
  - Chega de melação, porque você já deve estar atrasada! – Retribuiu o abraço, mas o fez ser mais curto do que eu esperaria.
  - Atrasada pra que? – A encarei questionadoramente.
  - Se eu te contar, seu namorado me mata. – Segurou nos meus ombros, me empurrando para o lado de fora do quarto. Eu devia saber que Zayn estaria aprontando algo. – Vá escovar os dentes, lavar o rosto e fazer o que mais precisar. Depois volte, porque eu já escolhi a sua roupa!
  Então era isso que ela estava fazendo quando a peguei mexendo na minha mala! Não seria a primeira vez que escolheria minhas vestimentas, então eu não estava preocupada. Também não reclamei com as suas ordens e não fiquei enchendo-a de perguntas sobre o que Zayn estava escondendo. Corri para o banheiro do corredor e já fui pegando a minha escova de dentes cor de rosa enquanto fazia o resto da minha higiene matinal. É claro que toda minha curiosidade não me permitiu demorar mais do que cinco minutos para fazer tudo. O que mais me deu trabalho foi pentear os cabelos que ficaram mais embaraçados do que o normal. “É isso aí, nunca mais durmo com eles molhados.”
  Ao voltar para o meu quarto como um furacão, fiquei feliz por não estar mais por lá. Não que eu me importasse de me trocar na frente dela, é só que eu sabia que Zayn deixara algumas marcas onde o Sol não bate e seria melhor que permanecessem em segredo. Sem falar no círculo roxo em meu pescoço, feito pelos dentes e lábios do meu namorado tão adorável. Só podia torcer para que a minha avó não o notasse e que meus cabelos fossem capazes de escondê-lo, pois nem toda a maquiagem do mundo taparia o estrago. Deixando as minhas preocupações de lado, encarei a roupa em cima da cama. Eu estava guardando aquele vestido para usar no casamento da minha mãe – não necessariamente na cerimônia -, mas acho que o meu aniversário era uma ocasião igualmente especial, não?
  Me despi da camisola de seda que usava desde ontem e coloquei o sutiã que deixara separado. Em seguida, entrei no vestido. Mesmo se ele tivesse botões ou um zíper ao invés de elástico, eu não teria me preocupado. Não por já ter superado a minha pequena insegurança quanto a não caber em certas roupas, apenas decidi que aquele dia seria livre de preocupações ou pressão em cima das minhas costas. Eu seria apenas eu, sem ter que agradar fashionistas, paparazzis ou fãs malucas que me cobravam no mínimo a perfeição por estar ao lado de Zayn. Este último pensamento me deixou um pouco triste, pois nenhum dos outros meninos estava ali para curtir o aniversário ao meu lado. Fora isso, tinha certeza que todos ligariam para ao menos me parabenizar.
  Fiquei pronta em dez minutos, o que deve ter batido algum recorde, com toda certeza. Pensei em pegar uma bolsa e colocar meu celular, mas como não mexera nisso, achei que a minha surpresa não incluía meios de comunicação tão tecnológicos quanto o meu iPhone. Deixei o quarto para trás, descendo as escadas enquanto arrumava o meu Fedora sobre a minha cabeça. Ninguém na sala e ninguém na cozinha... “Ok, isso está começando a ficar realmente entranho.” Eu estava esperando ao menos um café da manhã caprichado feito somente pela minha avó, mas não encontrei nada disso. Ao escutar uma risada gostosa seguida por um latido vindo do lado de fora da casa, corri para a entrada e saí da casa.
  Todos estavam lá. Minha avó, , Zayn e . ainda de pijamas, sem se importar por estar sentada na grama. Minha avó com um de seus conjuntinhos estampados de saia e blusa. correndo e cheirando tudo que encontrava... E por último, Zayn. Esse usava uma bermuda preta e camiseta com uma estampa de NY, sem falar na camiseta xadrez que usava por cima dessa última peça de roupa, totalmente aberta. Nos pés, tênis pretos. Lindo, como sempre. O que mais chamou a minha atenção foram seus cabelos bagunçados. Isso mesmo, bagunçados! Não com aquele topete perfeitamente montado que demorava meia hora pra ficar pronto. Estavam bem do jeitinho que eu gostava mais.
  - Olha quem chegou! – me avistou, fazendo com que os outros três olhassem pra mim. – Cuidado com o !
  - Calma, Bo! – Tentei fazê-lo diminuir de velocidade, mas foi meio inútil. O cachorro correu e preferi me abaixar antes que ele pulasse em cima de mim e nós dois acabássemos caindo no chão. – Eu sei, você também quer me dar os parabéns!
  - Também quero fazer isso! – Ouvi Zayn reclamando lá na frente.
  - Primeiro eu! – Minha avó se aproximou com os braços abertos quando pareceu se aquietar um pouco. – Feliz aniversário, ... Que os seus sonhos continuem a se realizar e que você tenha muitos outros aniversários, sempre com saúde, pois é o que importa.
  - Obrigada, nana... – A abracei com carinho, deixando meu rosto descansar em seu ombro.
  - Seu avô também estaria desejando a mesma coisa. – A senhora sorriu, beijando o meu rosto. – Mas ele usaria palavras mais complicadas...
  - Sei disso. – Ri, tentando não ficar deprimida por aquele ser o meu primeiro aniversário sem meu avô.
  - Ei, ainda tem mais gente querendo falar com a aniversariante. – Zayn me esperava no meio do jardim, com sentado comportadamente ao seu lado.
  - Já estou indo! – Meu sorriso aumentou e corri para os braços do meu namorado, abraçando-o com toda vontade. – Baby! Obrigada pela música no alarme... Demorei um pouco pra entender que era Irresistible.
  - Tão lerda quando acorda! – Gargalhou ao meu ouvido, mas me apertou mais ainda. – Feliz aniversário, Anjo.
  - Obrigada! – Mordi o lábio inferior, olhando pra ele. – disse que eu estava atrasado pra algo...
  - Hoje é o seu dia. Você não está atrasada... É o mundo que está adiantado. – Gostei de ouvir aquilo e tinha certeza que seria o meu novo lema de vida. – Mas de qualquer forma, obrigado, !
  - Sempre que precisar! – A ruiva acenou após levantar da grama. – Só aconselho irem logo...
  - Pra onde estamos indo? – Perguntei curiosa. Ninguém me dizia coisa com coisa.
  - Só vamos dar uma volta. – Zayn piscou, me fazendo rolar os olhos.
  O menino riu da minha impaciência e se afastou, voltando para perto da casa. Só então percebi o que ele estava desencostando da parede de fora: Duas bicicletas. Uma era minha e a outra era de Lou, mas eu me lembrava vividamente de que ao menos uma das duas estava quebrada. Bem, alguém devia tê-las concertado e a minha intuição me dizia que eu já sabia quem. Primeiro o menino me entregou a feminina, de cor azul bebê e com o aro um pouco mais baixo. Sem falar nas flores de plástico e na cestinha presa à frente. Em seguida, pegou a sua própria e o ajudou a amarrar uma cesta marrom no banco do carona.
  - Vamos fazer um piquenique? – Dei um pulinho, vendo se o meu banco estava regulado.
  - É meio difícil fazer uma surpresa quando você não pode esconder nada em uma bicicleta. – Zayn parecia meio decepcionado por eu ter descoberto o seu plano super bolado, mas não me importei com isso. – Mas você teria que descobrir isso mais cedo ou mais tarde, porque eu não conheço um bom lugar pra fazermos esse piquenique.
  - Eu contei pra ele do campo aqui perto, ... – Nana trazia um violão de dentro da casa. – Você ainda conhece o caminho?
  - É claro que sim! – Afirmei ao assistir meu namorado colocar o instrumento no mesmo banco improvisado onde a cesta já estava presa. – Quer ajuda com algo?
  - Você vai levar o ! – Zayn anunciou, jogando a coleira azul do bebê na minha direção.
  - Yay! Vem, Bo!
  Com meu chamado, veio correndo. Ele parecia entender tudo, pois ficou de pé ao meu lado para que eu prendesse a guia na coleira em seu pescoço. Nesse meio tempo, Zayn terminou de se arrumar e já montou na bicicleta de Louis, pedalando até a rua nada movimentada na frente da casa de minha avó. Terminei de me assegurar que estava seguro e amarrei a outra ponta da coleira no guidão da minha própria bicicleta. Sei que não era uma boa idéia prender o meu Husky hiper-ativo ao meu meio de transporte, mas ainda era melhor do que prendê-lo à minha mão. Acenei uma despedida rápida para nana e , que logo acenaram de volta e desejaram um bom passeio.
  Não esperei as duas voltarem para dentro de casa para começar a pedalar e guiar o caminho. Sorri para Zayn com a lembrança da primeira vez em que andamos de bicicletas juntos; em nosso primeiro encontro. Essa é a hora que eu penso em todas as coisas que mudaram naquele período enorme de tempo. No ano anterior, quando saímos sozinhos pela primeira vez, eu não estava tão certa se deveria confiar nele ou deixá-lo entrar na minha vida. Mas naquela manhã, no meu aniversário... Eu confiava nele com a minha própria vida e deixá-lo se aproximar foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Parecendo ler meus pensamentos, o menino piscou, se mantendo na minha direita, sem ir mais rápido ou diminuir a velocidade.
  Inspirei profundamente, voltando a olhar para o caminho na nossa frente. O vento bagunçava os meus cabelos, mas não era forte o suficiente para tirar o chapéu da minha cabeça. Meu vestido também deixava as minhas pernas subir e descer nos pedais na medida em que eu pedalava com mais força, mesmo assim continuando comportada como uma verdadeira dama. O céu estava bem claro, só algumas nuvens brincalhonas, e o sol brilhava forte acima de nós. Apesar disso, o clima não estava extremamente quente e a brisa fresca nos refrescava. corria na minha frente, com a grande língua cor-de-rosa para fora e os pelos ao vento. Pelo visto nós três estávamos nos divertindo muito.
  Rodamos por mais ou menos vinte minutos e me surpreendi pela facilidade que tive para lembrar aquele caminho. Como estávamos basicamente nos subúrbios de Paris, não passamos por transito ou tivemos que parar por algum sinal vermelho. No máximo, um carro ou outro passava ao nosso lado, mas foi só nos afastarmos de vez da cidade que tudo o que podíamos ver era a estrada de terra embaixo de nossos pedais e as árvores que cercavam aquela espécie de trilha secreta. Em todos os meus anos de aventura, nunca vi outra pessoa passar por aquele lugar, então acreditava fielmente que era o meu lugar especial; que eu só dividira com Louis porque ele me seguiu até ali. Zayn me mostrara o seu lugar preferido quando me levou para ver estrelas, então agora era a minha vez.
   se comportou durante todo o nosso passeio e fiquei bem surpresa quando eu pedia para ele ir mais devagar e tinha o pedido atendido. Até mesmo quando avistei a cerca de entrada para onde deveríamos ir, pedi para que ele parasse de andar em frente e o animal parou, olhou para os lados e latiu como se perguntasse: “E agora o que?”. A cerca em si tinha a aparência bem mais nova do que realmente era. Um aviso de “Fique fora” afastava possíveis invasores, mas nunca conseguiu me impedir de entrar. Fui a primeira a pular da minha bicicleta, encostando-a levemente na madeira, fazendo Zayn me olhar meio desconfiado.
  - Porque sinto que a minha namorada é uma vândala? – Também desceu do seu veículo e me acompanhou.
  - Não sou uma vândala! Só sei as horas certas pra quebrar as regras... – Dei de ombros, soltando a corrente de ferro que mantinha a abertura da cerca bem “fechada”.
  - Tem certeza que isso é uma boa idéia? – Só me fitava arrastar a porteira pela grama alta.
  - Para de ser medroso e vem logo! – Ri, soltando e pegando a bicicleta para guiá-la até a parte de dentro do terreno.
  - Se formos presos, eu serei deportado? – Terminou me acompanhando, mesmo relutante.
  - É meu aniversário... Não vamos ser presos! – Continuei nosso caminho a pé, sem me dar ao trabalho de montar na bike mais uma vez.
  - Tem razão. – Sorriu torto, me surpreendendo por ter concordado tão rapidamente.
  Zayn me acompanhou a pé, empurrando a sua bicicleta que devia estar mais pesada do que a minha, devido a nossa cesta de piquenique e o violão de Louis. O espaço entre a estrada de terra, a grade e a floresta que se aproximava era bem curto, portanto logo estávamos rodeados por uma cadeia de vegetação alta. Aquele bosque não era grande o suficiente para ser chamado de floresta, mas também não chegava a ser pequeno como um parque. A grama ali de dentro era rasteira, quase como se alguém a aparasse todos os meses. Talvez fadinhas e elfos... Apesar de bem agradável para passar horas lendo ou fugindo do mundo de fora, aquelas matas não guardavam nada de especial. Nem animais selvagens e nem vaga-lumes que apareciam ao crepúsculo, apenas algumas flores que conseguiam sobreviver até a primavera.
  - Acho que aqui é um bom lugar pra parar, não acha? – Sorri alegremente quando paramos em um espaço mais aberto.
  - Perfeito! – Encostou a sua bicicleta em um lado da árvore onde eu encostara a minha própria. – Agora vamos montar o nosso piquenique!
  - Minha parte preferida! – Comemorei, parando ao lado dele para receber a cesta. Apesar de ser meu aniversário, ele preferiu me entregar o violão. – Eu podia cuidar disso aí...
  - E perder a sua cara de surpresa? Pode deixar que eu mesmo cuido dessa parte. – Carregou o contêiner de nossas comidas e me entregou uma toalha quadriculada. – Pode estender isso aqui.
  - Tudo bem! – Fiz meio bico, mas ainda estava feliz. Não “feliz por ao menos ajudar” e sim “feliz por estar aqui, feliz por ser meu aniversário e feliz por ter um namorado tão atencioso”. – , volta aqui!
  - Ele não pode ir longe... Só quer marcar seu território.
  Meninos... Sempre ficam do lado um do outro! Tsc. Resolvi relaxar e deixar que o meu cachorro explorasse, tendo certeza que ele acharia o caminho de volta. Não que tivesse saído da minha vista, é que as vezes sou super protetora em relação ao meu Bo. Abri a toalha de mesa que eu já conhecia bem e a estendi sobre a grama, na região onde alguns raios de sol conseguiam atravessar as camadas de folhas das árvores altas. Tirei os sapatos antes de pisar no pano e me sentar, observando Zayn fazer o mesmo e se acomodar na minha frente. Colocou a cesta ao seu lado enquanto eu arrumava o meu vestido sobre as minhas pernas. O violão também foi colocado na grama cuidadosamente.
  - O que será que temos aqui? – Perguntou retoricamente, abrindo a tampa e não me deixando espiar.
  - Uau, já estou sentindo o cheiro daqui... – Inspirei fundo com os olhos fechados, me inclinando levemente na direção dele. – Torta de maçã com canela!
  - Você está mesmo estragando todas as minhas surpresas hoje, . – Me reprovou com o olhar e tirou a primeira coisa ali de dentro: A torta!
  - Desculpa! – Cobri o rosto com as mãos, deixando uma brecha entre os meus dedos para espiá-lo sorrir. – Ficarei calada agora!
  - Muito bem! – Balançou a cabeça negativamente, tirando da cesta uma garrafa de vinho. – Nada melhor para comemorar um dia tão especial, não acha?
  - Com certeza. – Mordi o lábio inferior. Álcool+Zayn+lugar deserto= Nada bom.
  Zayn continuou a tirar as coisas de dentro da cesta e eu comemorava cada vez que uma coisa nova aparecia. Além do vinho, ele trouxe suco de laranja em uma garrafa térmica, duas taças, água para , pedaços de baguete cortados perfeitamente na diagonal, três tipos de queijo, patê de frango, croissant de chocolate para a sobremesa, um pote com uvas e morangos, mel, geléia de ameixa, panquecas que permaneceram milagrosamente quentes e queijo quente. Um café da manhã mais do que digno, preciso acrescentar.
  - Ah, só mais uma coisa... – Zayn me olhou quase misteriosamente, tirando a última coisa de dentro da cesta de piquenique. – Isso aqui é pra você...
  - A chave do seu coração? – Segurei o chaveiro de uma única chave com um riso no rosto.
  - Melhor. – Cerrou os olhos, orgulhoso por dessa vez conseguir manter a surpresa. – A chave do meu apartamento.

+++

  - Falo sério, Zayn! Como você conseguiu fechar esse negócio em um dia? – Girei o chaveirinho com uma foto de Zayn pendurada em volta do dedo. Ele ser de uma banda famosa tinha suas regalias, pois onde eu iria encontrar algo tão brega fofo assim?
  A comida voou e quase não sobrou nada. Claro que meu cachorro tinha um pouco de culpa nisso, já que apareceu sorrateiramente e roubou duas metades de um queijo quente. Não terminamos a garrafa de vinho, mas duas taças também se foram. O suco de laranja acabou completamente, assim com as panquecas, a sobremesa, queijos e etc. Parecia até que eu não comia direito havia dias! Ok, talvez essa parte fosse verdade... Depois de tanta gordisse, só conseguimos afastar as tigelas e potes vazios e deitar na toalha de mesa, sentindo a grama abaixo de nossas costas. Deitados lado a lado, ora olhávamos para o céu acima de nós, conseguindo enxergar algumas nuvens que flutuavam calmamente, ora fitávamos um ao outro. Passarinhos cantavam ao longe e o vento balançava os galhos das árvores, fazendo a nossa trilha sonora. Se tinha um assunto que eu não conseguia deixar de lado era aquele de que Zayn usara o único dia que passamos em Londres para assinar o contrato de compra da sua cobertura.
  - Sou eficiente, , diferente de você. – Riu, me cutucando na barriga.
  - O nome disso é loucura, não eficiência! – Bati na mão dele, fazendo-o a afastar. – Sério, você só teve um dia pra conhecer o lugar...
  - Você está reclamando porque não conheceu o flat. É perfeito! – Virou o rosto para me olhar. – Além do mais, se eu quisesse estar com ele pronto assim que voltássemos para a cidade, teria que assinar o mais rápido possível...
  - Ainda acho que poderia ter feito isso com mais calma. E se eu não gostar? Agora você já comprou! Olha, se eu não gostar, não coloco os pés lá, Malik! – Àquela altura eu já estava sendo chata de propósito.
  - Quer saber?! Não quero mais que você tenha a chave! – Se sentou, me olhando um pouco sério, mas comecei a rir. – Pode me devolver, !
  - Não devolvo! Se ferrou, agora está preso. – Gargalhei, segurando o chaveiro com mais força. – Vou fazer cópias e distribuir por aí... Porque como eu não gosto desse flat mesmo, não me importo que roubem as suas coisas...
  - Quem é a louca agora? – Acabou rindo do meu exagero, daquele jeito que sua cabeça caía pra trás e seus olhos ficavam bem pequenos. – Devolve logo! Você está proibida de entrar no prédio. Vou colocar a sua foto na portaria, com a legenda: “Stalker maluca, proibida a entrada. Se avistada, chamar a policia imediatamente.”
  - Esqueceu do “Aproximar com cuidado”. – Gargalhei ainda mais alto, sem querer, o que fez Zayn me olhar como se eu realmente estivesse ficando maluca. Também me sentei, colocando a mão que segurava o chaveiro para trás do meu corpo. – Você quer mesmo a chave de volta?
  - Claro que sim! – Continuou com a brincadeira, estendendo a mão para que eu lhe entregasse.
  - Tudo bem, eu devolvo... Mas vai ter que me pegar primeiro!
  Parecendo uma garotinha, o empurrei pra trás e levantei para começar a correr. Zayn se desequilibrou por ter sido pego de surpresa, o que me deu alguns segundos de diferença para me afastar o máximo que eu conseguisse. notou nosso movimento e se colocou de pé, também correndo atrás de mim. Eu não sabia se ele estava do meu lado ou do lado do pai, porém, logo fui perseguida pelos dois meninos. Zayn tinha as pernas um pouco mais compridas do que as minhas, então logo me alcançaria. Eu poderia subir em alguma das árvores que desviava ao correr se não estivesse com aquele bendito vestido! Não tive muito tempo para pensar em um plano de fuga, pois logo tive a cintura agarrada, me fazendo cair na grama e levar Zayn junto comigo. latiu alto como se comemorasse e começou a lamber o meu rosto.
  - , sai! – Tentava proteger meu rosto daquelas lambidas ao deitar de costas na grama e sentir Zayn subir em cima de me mim e prender as minhas mãos.
  - Ataca ela, Bo! Bom menino! – Me manteve presa pelos pulsos enquanto até o meu nariz era lambido. Zayn se divertia mais do que deveria!
  - Malik, me solta! – Abrir a boca pra falar era algo perigoso.
  - Peguei as chaves! Mwuahaha. – Arrancou o chaveiro da minha mão e me soltou, guardando o objeto em seu bolso. – Pode parar .
  - Finalmente! – O cachorro não o obedeceu, mas assim que recuperei meus movimentos, pude afastá-lo. – Não acredito que você pegou a minha chave!
  - Não acredito que você ainda acha que consegue ser mais rápida do que eu. – Sorriu convencido e saiu de cima de mim. Agora que conseguira o que queria, me deu as costas e fez seu caminho de volta para o nosso piquenique.
  - Baby... – Choraminguei. Tinha que recuperar a minha chave. Levantei e arrumei o meu vestido bagunçado, saltando baixo para ir atrás dele. – Por favor...
  - Sem chance! – Virou na minha direção, mas continuou andando para trás. Fez alguns movimentos estilo gangster e um bico de lado. – Perdeu... Já era... Não vai poder entrar...
  Aproveitei aquela chance de tê-lo de frente pra mim e me coloquei na ponta dos pés descalços, praticamente pulando em volta de seu pescoço. Não, não iria cometer um assassinato, por mais que aquele lugar fosse um tanto perfeito pra isso. Juntei meus lábios aos de Zayn, torcendo para deixá-lo distraído o suficiente. Claro que ele não demorou nada pra me abraçar pela cintura e dar passagem para a minha língua. Aquele beijo precisava ser de tirar o fôlego, mas não precisei me esforçar muito. Era só ter uma pequena iniciativa que Zayn se empolgava e seguia a minha deixa. Não que eu odiasse beijá-lo, mas naquele momento tinha outros objetivos além de matar a minha vontade dele. Enquanto a minha mão esquerda permaneceu em sua nuca, a outra foi deslizando quase imperceptivelmente pela lateral do corpo masculino. Meus dedos leves encontraram o bolso onde a chave estava guardada e consegui tirá-la dali com sucesso. Interrompi o beijo para olhá-lo com o sorriso travesso que aprendera com ele.
  - Ainda não vou te devolver a chave. – Tentou sair por cima naquela situação, mas meu sorriso não se desfez.
  - Não precisa. – Foi a minha vez de lhe dar as costas, mais uma vez girando o meu chaveiro no dedo indicador.
  - HEY! Como é que... Hã? ! – Ficou confuso e me seguiu de volta para a toalha. – Me sinto usado.
  - Talvez eu deixe você me usar mais tarde... – Pisquei pra ele, me sentando. se deitou ao meu lado, na grama mesmo, e coloquei o meu chapéu (que estava caído por ali) em sua cabeça. Claro que ele não deixou que o enfeite ficasse ali por mais de cinco segundos.
  - O aniversário é seu, mas quem ganha o presente sou eu! – Depois dessa até desistiu de pegar a chave de volta. Aproveitei essa distração para guardá-la na cesta de piquenique.
  - Por falar nisso! – Enquanto ele se sentava, puxei o violão para o meu colo. – O que vai cantar pra mim?
  - Eu esperava que você fosse cantar pra mim... – Fez um biquinho enquanto me escutava dedilhar as cordas. Eu sabia alguns acordes que os meninos me ensinaram, mas nada que desse pra tocar uma música complicada.
  - Podemos cantar juntos depois, mas primeiro você tem que cantar pra mim. – Sorri tranqüila, sem me apavorar com aquela idéia de cantar fora do chuveiro. – Aqui...
  - Algum pedido em especial, senhorita aniversariante?
  - Me surpreenda!
  Ok, primeiro eu fico curiosa com as surpresas que ele faz e depois peço para que ele me surpreenda? Muito bem, , assim o menino não vai ficar nem um pouco louco. Zayn começou a afinar o violão antigo do meu irmão e me perdi em seus movimentos. A forma como ele passou de brincalhão para profissional em dois segundos sempre me pegava desprevenida. Não demorou muito com aquele aquecimento e limpou a garganta, estralando os dedos em seguida. Me arrumei onde estava sentada, afastando meus cabelos loiros – sim, admiti que estava loira, me julgue – para não perder nenhum movimento daquele menino. Me olhando como se perguntasse se podia começar, Zayn segurou fundo e segurou a primeira nota pra começar a tocas.

  
Her head is on my chest, the sun comes rolling in.
  (A cabeça dela está no meu peito, o sol entra Rolando)
  We’re lost in these covers and all I feel is skin.
  (Estamos periods nesses leçóis e tudo que eu sinto é pele)
  I slowly kiss your face, beautiful in every way.
  (Eu beijo o seu rosto devagar, lindo em todos os jeitos)
  You are, you are...
  (Você é, você é…)
  See I’m a man that don’t believe in much.
  (Veja, eu sou um homem que não acredita em muito)
  But I’ll be damned if I don’t believe in us.
  (Mas estarei condenado se não acreditar em nós)
  And how we play a fight up in the bathroom…
  (E como brincamos de brigar no banheiro)
  Next thing you know I’m making love to you.
  (A próxima coisa que sei, estou fazendo amor com você)
  Girl, promise me you’ll never change…
  (Garota, me prometa que nunca vai mudar)

  Começou a cantar e tocar o violão, em uma versão acústica daquela música que eu não conhecia. Será que algum dia eu deixaria de ficar surpresa com a voz dele? Duvidava muito. Apoiei uma das mãos na toalha, mudando de posição e dobrando os joelhos para o outro lado. Zayn só tirava os olhos de mim de vez em quando, quando tinha que se concentrar para mudar o acorde.

  
She ain’t perfect, but she’s worth it.
  (Ela não é perfeita, mas vale a pena)
  Every breath I breathe for the life I’m in.
  (Toda a respiração é pela vida que estou dentro)
  And I know I might not deserve it…
  (E sei que posso não merecê-la)
  But she loves me, and it’s simply amazing.
  (Mas ela me ama, e é simplesmente incrível)
  Simply amazing, uh, simply amazing. Whoa.
  (Simplesmente incrível, simplesmente incrível)
  And she loves me, and it’s simply amazing…
  (E ela me ama, e é simplesmente incrível)
  Amazing, amazing.
  (Incrível, incrível)

  Foi impossível não sorrir depois de ouvir aquela letra. Zayn também sorriu, sem nem ao menos parar de cantar. Eu não seria capaz de falar coisa alguma, pois mal podia pensar. Os passarinhos pareciam também ter parado de cantar para escutar àquele menino que colocava o coração em suas notas. Ele cantava e era assim que eu me sentia... Simplesmente incrível.

  
The girl’s a work of art and I can’t help but stare.
  (Essa garota é uma obra de arte e eunão consigo evitar encarar)
  Got the smile like the sunset and the ocean is her hair…
  (Tem o sorriso como o por do sol e o oceano é seu cabelo)
  What she do ain’t fair.
  (O que ea faz não é justo)
  And she know me better than I know myself.
  (E ela me conhece melhor do que eu me conheço)
  There is nothing in this world that can keep me away from you.
  (Não há nada nesse mundo que possa me manter longe de você)
  And ain’t nobody who could ever compare to you…
  (E ninguém poderia ser comparada a você)

  Parou de tocar o violão, deixando que apenas a sua voz preencher o espaço entre nós e aquele bosque. Eu não podia ter imaginado um jeito mais perfeito de encerrar aquela minha canção de aniversário. Eu devia estar próxima daqueles dias, pois era a única razão para eu estar tão sensível! Só sei que meus olhos teimaram em se encher de lágrimas, mas não permiti que elas caíssem. Tive que piscar algumas vezes para que minha visão se tornasse menos embaçada.
  - Mas como é mole! – Zayn riu do meu sentimentalismo e preferi rir junto do que chorar ou reclamar. Ele tinha razão.
  - Não tenho culpa se você tem esse efeito sobre mim! – Estirei a língua pra ele e franzi o nariz, ouvindo mais risadas. – E juro que se não estivesse no One Direction, seria um ótimo artista R&B.
  - Concordo plenamente, babe. – Sorriu torto. – Mas não seria a mesma coisa.
  - Claro que não! Estava escrito nas estrelas, vocês se juntarem... – Suspirei.
  - Sua vez de cumprir o trato, antes que comece a chorar. – Riu da minha careta que se seguiu e voltou a apoiar o violão sobre o colo. – O quer cantar?
  - You and I! – Respondi simplesmente, pois ele saberia do que eu estava falando.
  - Não sei porque ainda pergunto! – Balançou a cabeça, com seu velho sorriso sem deixar o seu rosto. – E já que estamos falando sobre isso, você seria uma cantora Indie.
  - Obrigada! – Segurei a barra do meu vestido, fazendo uma meia reverência. – Sendo assim, vamos fazer direito!
  Peguei uma pequena flor solitária na grama e a coloquei atrás da minha orelha. O que seria de uma cantora Indie sem flores no cabelo? Nadinha! Levante e fiz movimentos para que Zayn fizesse o mesmo. Ele me observava como quem diz “Tenho mesmo?” e resolveu levantar antes que eu tivesse que obrigá-lo. Olhei para e também fiz um movimento para que ele se pusesse de pé. Ou de quatro... Enfim. Zayn começou a dedilhar aquela música que eu tanto gostava e o obrigara a aprender a tocar. E com “obrigara” eu quero dizer que o comprara com beijos.
  - Don't you worry there, my honey. We might not have any money, but we've got our love to pay the bills. (Não se preocupe, meu querido, podemos não ter dinheiro, mas ainda temos nosso amor pra pagar as contas) Maybe I think you're cute and funny. Maybe I wanna do want bunnies do with you, if you know what I mean… (Talvez eu ache que você é fofo e engraçado. Talvez eu queira fazer o que coelhos fazem, com você, se é que me entende) - Voltei a segurar a barra do meu vestido, começando a cantar. Pisquei pra ele na última parte, rindo um pouco. não entendia coisa alguma, mas me seguia balançando o rabo quando dava alguns passos. - Oh lets get rich and buy our parents homes in the south of France. (Oh, vamos ficar ricos e comprar a casa de nossos pais, no sul da França) Let’s get rich and give everybody nice sweaters and teach them how to dance. (Vamos ficar ricos e dar sweaters para todo mundo e ensiná-los a dançar) Let’s get rich and build a house on a mountain making everybody look like ants from way up there, you and I, you and I… (Vamos ficar ricos e contruir uma casa no topo da montanha, fazendo todo mundo parecer formigas lá de cima. Você e eu, você eu)
  - Well you might be a bit confused and you might be a little bit bruised, but baby how we spoon like no one else. So I will help you read those books if you will soothe my worried looks. And we will put the lonesome on the shelf. (Bem, você pode ser um pouco confisa e você pode ser um pouco machucada, mas baby, como dormimos de conchinha como ninguém. Então eu te ajudarei a ler aqueles livros se você aliviar minha aparência preocupada. E colocaremos a solidão na estante)
– Foi a vez do solo de Zayn, que ria da forma que eu estava me divertindo, dançando em círculos e balançando as mãos como se fosse uma dançarina de Jazz. Ele me seguia pela grama, se mexendo de um lado para o outro. - Lets get rich and buy our parents homes in the south of France. Let’s get rich and give everybody nice sweaters and teach them how to dance…
  - Let’s get rich and build a house on a mountain making everybody look like ants from way up there… - Cantamos juntos o refrão, quase perfeitamente afinados. É, eu estava melhorando nisso. - You and I, you and I...

+++

  Nosso trajeto de volta para a casa da minha avó foi um pouco mais lento do que o de ida. Além de estarmos com preguiça de correr, cansados dos nossos “esforços” no bosque e simplesmente aproveitar o vento em nossos corpos, estava tão cansado que quase andou o processo inteiro. Ao virarmos a esquina de casa, a rua que estivera vazia mais cedo naquela mesma manhã agora estava um pouco mais cheia de carros estacionados. Alguém devia estar dando uma festa ali por perto! Achei ruim não ter sido convidada, mas teria sido tenso cantar parabéns para outra pessoa no meu próprio aniversário. Diminui ainda mais a velocidade quando pedalei até a calçada em direção ao jardim de entrada da minha avó. Zayn me seguiu, saltando de sua bike tão rápido que até me assustei. Enquanto ele soltava a cesta de piquenique quase vazia e o violão, encostando-as á parede da casa, também desci da minha e soltei a coleira de .
  - O que é isso? – Pela primeira vez percebi a trilha de balões coloridos que iam até os portões baixos que levavam até o quintal.
  - Não faço idéia... – Zayn levantou as mãos como se não tivesse nada a ver com aquilo. – Devemos fazer o que a placa manda?
  - “Siga os balões.” Acho que sim... – Li em voz alta uma plaquinha pendurada em um dos primeiros balões que voavam quase livremente.
  Um pouco desconfiada, segui a tal trilha de balões com Zayn e ao meu encalço. Rapidamente passei pela cerca branca que dividia o lado da frente com o lado de trás da casa, encontrando mais balões ainda. Àquela altura eu já estava sorrindo com as minhas teorias de o que poderia estar acontecendo. Finalmente no quintal, levei as mãos até a boca ao ver o que estava acontecendo por ali. Vários outros balões coloridos estavam cheios e presos em árvores e outros cantos mais baixos, como cadeiras e pedrinhas. Uma mesa havia sido montada no fundo e, mesmo um pouco longe, eu conseguia ver um bolo de aniversário e doces. No canto direito, Dan comandava uma churrasqueira improvisada. No esquerdo, um grupo de cinco crianças brincava no balanço de pneu amarrado ao galho mais forte da árvore mais alta. Realmente estava acontecendo uma festa de aniversário... A minha festa de aniversário.
  Todos pareceram perceber a minha chegada e pararam o que estavam fazendo. Não chegaram a gritar “SURPRESA!”, mas bateram palmas animadamente. Minha lista de convidados não podia ser melhor: Minha mãe, seu noivo e filhas, Charlotte e a sua mãe, minha avó, , meu “primo” James, seus pais, outras amigas da minha mãe que me viram crescer e alguns parentes que não eram tão presentes assim, mas deviam estar felizes ao me ver. Não era um conjunto muito grande de pessoas, mas eu me sentia a vontade com todos que estavam ali. Claro que ainda faltavam quatro garotos e uma loirinha para que os convidados estivessem perfeitos, mas entendia que Ni, Lou, Haz, Li e Liv estavam ocupados.
  - Achou mesmo que deixaríamos você fazer vinte anos sem uma festa de aniversário? – Zayn tinha as mãos nos bolsos, sorrindo orgulhoso.
  - Eu devia saber! – Ri, vendo correr na minha direção. Ela não estava mais de pijamas, então era um avanço.
  - A idéia foi minha! – A ruiva pulou nos meus braços, quase me derrubando. – Gostou? Quero te mostrar tudo... Essa foi a primeira festa que eu organizei, então estou muito orgulhosa. Ah, quase esqueci! Aqui.
  - Outch, ! – Reclamei quando ela arrancou o chapéu da minha cabeça e o entregou para Zayn. Em seguida, colocou outro chapéu um pouco mais colorido em meus cabelos.
  - O que seria de uma festa de aniversário sem um chapéu de aniversário?! – A baixinha comemorou. – Agora vem, porque tenho muitas coisas pra te mostrar...   - , não acha que ela devia falar com os convidados primeiro? – Zayn se intrometeu, fazendo a menina resmungar algo inescutável.
  - Porque não vai colocar pra dentro e guardar as coisas que vocês levaram no piquenique? – Foi meio rude, mas Zayn já devia estar acostumado.
  - Se ela te maltratar, dê um grito. – Beijou o topo da minha cabeça e mostrou a língua para .
  - Pode deixar... – Ri, olhando a minha mãe acenar para que eu fosse até ela. – , não quero ser chata...
  - A CÂMERA! EU JÁ VOLTO!
  Alguém deu café pra essa menina? Ou talvez tequila, porque o pulo que ela deu seguido por uma correria para dentro de casa, não era normal. Ao menos a minha amiga estava feliz. Aproveitei aquele momento que fui deixada sozinha para poder ir cumprimentar os meu convidados, pois Zayn estava certo. Primeiro fui até a minha mãe, que me abraçou com força e desejou todas aquelas coisas que mães desejam para as suas filhas nessas datas especiais. Em seguida, fui até Dan, que conseguiu me usurpar um pedacinho de carne, mesmo que ainda não estivesse na hora da refeição ser servida. Phoebe e Daisy também me abraçaram e eu me tornava cada vez mais encantada pela educação daquelas duas meninas. Minha avó veio logo em seguida, falando que o presente dela estava junto com os outros que eu recebera, então mais tarde poderíamos abrir todos. Meu lado curioso me obrigou a procurar com os olhos a mesa redonda onde uma pequena montanha de presentes esperava por mim.
  Meu primo de segundo grau James também veio me abraçar e desejar feliz aniversário. Ele estava mais alto do que eu me lembrava e a sua altura passava até mesmo da minha. Qual o problema desses meninos mais novos que inventam de ficar mais altos que nós? A puberdade o fez muito bem, tenho que admitir. Seus cabelos estavam mais compridos que o tamanho considerado normal para um garoto, mas não chegava a tocar seus ombros. Seus olhos tinham uma mistura de verde com âmbar, o que o deixava muito charmoso. Nunca nos demos muito bem enquanto crescíamos, mas naquele dia ele parecia ter deixado para trás tudo que tinha contra mim. Cumprimentei seus pais em seguida, passando para outros e outros e outros convidados, até que minhas bochechas estivessem cansadas de tanto sorrir e meus braços quase não suportassem mais abraçar pessoa alguma.
   já retornara com a câmera fotográfica e começou a capturar vários momentos daquela festa surpresa de aniversário. Não apenas enquanto eu cumprimentava um ou outro, mas também quando estava sozinha, andando por aí. Ela devia estar brincando de fotógrafa, era a única explicação! Aproveitando que estava tendo um pouco de paz, reparei na decoração. Tudo era muito colorido, mas incrivelmente combinando. Os balões tinham cores vivas e brilhavam com os raios do Sol, a toalha da mesa do bolo era de um tom azul claro e o bolo cor de rosa, coberto por chantilly desenhado como se fosse botões de rosas. Algumas balas de goma – como dentaduras, ursinhos de gelatina, minhocas azedinhas e etc - estavam distribuídas em potinhos que pareciam agradar todas as crianças.
  Na ponta dessa mesa, alguns jarros de geléia estavam cheios com um líquido rosa e gelo. Muito tentada a descobrir que bebida era aquela, peguei um jarro pra mim e dei um primeiro gole no canudo. “Limonada cor-de-rosa! Eu devia saber.” Sorri ao fechar os olhos, bebendo mais alguns goles daquela bebida adocicada. Tinha o mesmo gosto que eu me lembrava! Gosto de infância.
   Olhei em volta, procurando o meu próximo destino. Charlotte acenava freneticamente em uma mesa mais afastada e me perguntei se ela tinha algo importante para me contar ou se só queria me dar os parabéns. Para ter a resposta daquela pergunta, comecei a caminhar até a minha prima. mais uma vez sumira, mas não dei muita importância.
  - Gostando da festa? – Lottie levantou, me abraçando. – Feliz aniversário, !
  - Obrigada, Lottie! – Sorri aliviada por nosso abraço não ter durado tanto e pude me sentar com ela. – Você já sabia disso?
  - me contou após você deixar o brunch... Também soube das surpresas de Zayn na Pont des Arts. – Roubou um gole da minha limonada. – Ainda não o conheço, mas preciso dizer que estou com inveja! Inveja boa, é claro.
  - Ele é um namorado perfeito. – Suspirei, espiando o que ela tinha em cima daquela mesa. – Essa é a nova edição da Elle?
  - É sim! Eu a comprei assim que cheguei aqui. E era disso que eu estava te falando... – Começou a folhear as páginas na revista como se procurasse algo. Fiquei ali sem entender nada, apenas esperando.
  - Achei vocês! – se juntou à nossa mesa, deixando a sua câmera de lado por uns instantes. – O que estamos vendo?
  - Estou procurando... Aqui! – Empurrou a revista aberta na minha direção. – Eu disse que você estava em uma revista! E não qualquer revista...
  - Se importariam de traduzir? – pediu, mas eu estava surpresa demais pra lembrar como passar o idioma francês para o inglês.
  Puxei aquela revista para a minha frente, tentando entender o que eu estava fazendo na última edição da Elle Paris. Já tinha aparecido em algumas revistas inglesas menores, geralmente em notas curtas ou fotos de rodapé que Carine tinha dado um jeitinho de me inserir. Mas duas páginas? Em uma revista tão grande quanto a Elle? Essa era a primeira vez. Havia várias fotos minhas por ali, em diferentes ocasiões. É claro que eu me lembrava de cada uma delas, sendo que a maioria era em desfiles de lançamento de coleções, mas também vi outras onde eu simplesmente andava pelas ruas de Londres; fosse saindo de uma Starbucks ou atravessando a rua para chegar ao prédio de . Claro que em todas elas eu vestia ao menos uma peça da Mulberry, mas algo que dizia que dessa vez Carine não teve que pagar ninguém para me promover/promover a sua marca.
  - “Radar Londres.” – Lottie começou a traduzir para , lendo o título daquela matéria. – É uma parte da revista onde fazem tipo um resumo do mês sobre o que tem sido tendência em outras partes do mundo, sabe? Tem o Radar Londres, Nova York, Rio de Janeiro, Milão... Geralmente não passam de uma página só, mas dessa vez Londres ficou com duas.
  - ficou com duas! – quase subiu em cima de mim pra ver as fotos mais de perto. – Uau, você sabe que eu amo todas as suas roupas, mas essas aqui... Lottie, pode traduzir isso aqui? Acho que a morreu.
  - Claro... – Também se espremeu ao meu lado para ler o pequeno trecho que apontara na página da revista. – “Você conhece essa garota?” é o titulo... Uh... “É impossível não ficar de boca aberta com a moda diversificada que se encontra nas ruas de Londres, mas recentemente uma garota tem chamado a atenção dos fashionistas. O que ela tem de tão especial? Não se sabe, mas ficou claro que a nossa “menina misteriosa” tem em mente qual é o seu estilo, desfilando por aí com peças-desejo da Mulberry; a marca debute de Carine Roitfeld.”
  - Até que faz sentido... – Finalmente falei algo, mas foi mais um pensamento alto. As duas meninas me encararam como se esperassem alguma explicação maior que aquela. – É da Elle que estamos falando... Quem é a inimiga número um dessa revista? A Vogue!
  - Porque ela está falando isso como se devêssemos saber de algo? – perguntou para Lottie, mas rolei os olhos.
  - Carine trabalhava na Vogue Paris antes de ir pra Londres, , eu já te contei isso. Agora quem está trabalhando lá é a Emmanuelle Alt. – Voltei a explicar, tentando fazer com que as duas seguissem o meu raciocínio. – O que seria uma provocação maior para a Vogue do que ter a sua ex editora chefe sendo promovida na sua maior concorrente? Eles provavelmente só estavam procurando alguém que usasse a marca. Sinceramente, quem usa mais Mulberry do que eu?
  - Como você sabe de tudo isso? – parecia espantada com o meu conhecimento do assunto. – Também leio revistas de moda, mas nunca teria captado isso.
  - Se importa se eu ficar com essa revista? – Pedi para Lottie, ignorando .
  - Claro que não! É sua.

+++

  A minha festa de aniversário de vinte anos foi um sucesso! Mesmo se eu soubesse dela e tivesse planejado, não teria sido tão divertida. Eu estava errada em não querer uma festa de aniversário e devia agradecer eternamente á e minha avó por terem feito tudo por baixo dos panos. Sem falar de Zayn, que me distraiu perfeitamente durante a manhã, me mantendo fora de casa enquanto a festa era montada. O churrasco de Dan durou até o começo da noite, servindo de almoço, lanche e jantar. Os docinhos também se foram, mas tenho certeza que vi surrupiando alguns aqui ou ali. Adorei ter passado o dia com a minha família e meus dois melhores amigos no mundo todo! Claro, sem falar dos presentes...
  Ah, os presentes! Nesse exato momento o meu quarto estava mais coberto por papeis de embalagem do que qualquer outra coisa. Eu até que tentei abri-los calmamente, mas mesmo que o embrulho sobrevivesse às minhas mãos desesperadas, os atacava assim que tinha a primeira oportunidade. Os outros três ocupantes daquela casa também assistiam enquanto a minha criança interior se revelava para ver todas as coisas legais que ganhei. Lottie tinha que me dar algo relacionado á moda, então trouxe uma bolsa diretamente da Alemanha. Minha mãe me deu uma carteira nova e seu noivo um perfume. James me presenteou com uma cestinha de sais naturais para banho, Viv, a amiga de minha mãe, um conjunto de colar e brincos. Fora isso, ganhei algumas blusas, vestidos, maquiagem e essas coisas que damos para qualquer menina quando não somos tão íntimos para pensar em um presente mais elaborado.
  O presente que mais “aqueceu o meu coração”, digamos assim, foi o de nana. Ela encontrara uma boneca de porcelana que costumava ser minha e mandou restaurá-la para que ficasse novinha em folha! Seu vestidinho azul agora estava limpo e rebordado, seus cachos loiros perfeitamente penteados e os braços não estavam mais quebrados como antes. Sinceramente amei ter revivido minhas lembranças com aquela boneca que com toda certeza iria para a minha prateleira em Londres, onde ficaria segura de crianças tão desastradas quanto eu fui um dia.
  Assim que todos os meus presentes estavam abertos e eu parecia não ter mais nada pra fazer, meu celular começou a tocar. Nana saiu do quarto, talvez para me dar mais privacidade, e começou a estudar as minhas roupas novas; torcendo para que alguma coubesse nela. Zayn, por outro lado, não se mexeu. Continuou na ponta da cama, me observando procurar o aparelho desesperada. É, eu devia ter deixado-o na mesinha de cabeceira e não no meio de todos esses papeis de embrulho! Louis, Harry, Liam e Niall já haviam ligado para me parabenizar, então devo ter “perdido” o iPhone durante a confusão que eles criaram. Os quatro devem ter combinado em ligar no mesmo horário só pra me deixarem maluca! Finalmente agarrei o objeto que vibrava e atendi a ligação antes mesmo de ver quem era.
  - Ellô... – Àquela altura eu já não sabia mais se falava francês ou inglês.
  - Happy birthday to you. Happy birthday to youuu... – Quatro vozes começaram a cantar juntas, mas um menino fazia cada coisa diferente. Danny ria mais do que tudo, Dougie afinava a voz e puxava um coro, Harry tentava ser normal e Tom, como sempre, parecia comandar a harmonia. – Happy birthday, dear ... Happy birthday... To... YooooUUUUuUuUuUUUUUU.
  - Ai, meu Deus, o que é isso?! – Ri, sentindo o meu coração disparar. Não é todo dia que a sua banda preferida canta parabéns no seu aniversário! – Obrigada!
  - Você está no speaker, . – Tom avisou.
  - Oi, meninos... – Os saudei; meu sorriso deixando Zayn curioso e enciumado.
  - OI, . – Harry Judd gritou.
  - E AÍ, PEQUENA? – Danny Jones o acompanhou.
  - RAAAAAAWR. – É claro que Dougie Poynter tinha que fazer algo estranho.
  - Estamos te ligando pra desejar um feliz aniversário, já que você não está aqui pra receber seu presente. – Tom anunciou, agindo como o mais adulto dos quatro.
  - Obrigada! Mas não precisavam se incomodar... – Era verdade, mas já fiquei mega curiosa.
  - Na verdade, é um presente só de nós quatro, mas acho que vai gostar muito. – Harry explicou.
  - Não crie muita expectativa, porque não é um lagarto. – Dougs parecia desapontado. – Eles não deixaram...   - Não tem problema, pessoal, sério. – Ri, imaginando o bico do mais novo.
  - Gi também tem um presente pra você, . – O marido da minha amiga voltou a falar.
  - Só aceito se for uma cópia autografada de Billy & Me.
  - Tudo bem, ela tem dois presentes pra você. – A risada que Tom deu foi tão gostosa que me peguei pensando em sua covinha. – Agora que os losers já falaram com você, vou te tirar do viva-voz, ok?
  - Tudo bem, Tom. – A pronuncia daquele nome fez Zayn descobrir quem era e fazer cara de nojo. Os dois eram amigos, mas nós podíamos ficar conversando por horas, o que não agradava meu namorado. – TCHAU, MENINOS...
  - TCHAU, . WE LOVE YOU. VOLTA LOGO! SAUDADES! – Os três gritaram ao mesmo tempo, quase me deixando confusa. Se não tivesse passado anos da minha vida estudando as suas vozes, não teria reconhecido quem falou o que.
  - Pra você ver as coisas que eu tenho que agüentar. – Apenas Tom falava comigo agora. Eu amava Danny, Harry e Dougie, mas era com aquele jedi loiro que eu realmente me entendia.
  - Você ama esses idiotas, Tom. – Gargalhei. Como não amá-los? – Queria falar a sós comigo?
  - Mais ou menos. Quando você e os outros meninos voltam pra Londres?
  - O casamento da minha mãe acaba no domingo, então todos voltaremos na segunda, se tudo der certo. Não se preocupe, estarei aí para o seu aniversário!
  - Era sobre isso mesmo que eu queria falar! Farei uma festa aqui em casa, mas só vai ser na sexta-feira... Quando você voltar conversamos sobre os detalhes.
  - Ótimo! Está combinado. – Já fui aceitando o convite. Zayn rolou os olhos e fingiu vomitar, me fazendo segurar o riso. Não agüentando ficar por lá, acabou levantando e indo para o quarto do outro lado do corredor.
  - Também tenho um favor pra te pedir. Não é bem pra mim, e sim pra minha irmã... Mas também conversamos sobre isso quando estivermos no mesmo país.
  - Carrie quer um favor meu? Devo ficar preocupada?
  - Se tratando dela... Bem, sim. – Riu. – Mas eu te protejo, se for preciso.
  - Mister covinha, ao resgate! – Tente imitar uma voz de narrador de desenho animado, mas isso também não deu certo.
  - Sempre, super . Mais uma vez, feliz aniversário! Você merece.
  - Obrigada, Tom. Espero te ver logo.

    

Chapter XIII

Naquela sexta-feira eu acordei cedo... Provavelmente cedo demais. Era o dia em que o casamento da minha mãe começaria, então antes do meio dia todos deveríamos estar na estrada, mas ainda tinha uma coisa que eu precisava fazer em Paris. Antes de mais nada, deixe-me explicar as etapas que do casamento que me levara até aquele país. Para resumir, a minha mãe queria que fosse um verdadeiro conto de fadas. Já que se casou às pressas com o meu pai – principalmente por causa do bebê em sua barriga – ela nunca teve aquele casamento que todas as mulheres sonham em ter. Dan estava disposto a mudar isso, então o que seria melhor que um casamento em um castelo? Talvez um casamento em dois castelos, mas isso não vem ao caso. Há mais ou menos uma hora de Paris e antes de Versalhes havia este Chateau que um dia fora um castelo de verdade, mas hoje em dia servia de hotel. Como se não fosse o bastante, meu futuro padrasto reservou todos os hectares para o casamento; então eu, meus amigos e os familiares dos noivos poderiam desfrutar de todo esse luxo pelo final de semana inteiro!
  O primeiro dia seria cheio de atividades ao ar livre, com muita liberdade para todos os primeiros convidados chegarem e se acomodarem em uma das sessenta e três suítes disponíveis, e a noite o “Jantar de ensaio” seria a primeira celeridade que envolveria o casamento. A cerimônia em si aconteceria no sábado ao fim da tarde e em seguida a recepção. Por último, teríamos o domingo para nos recuperar da possível ressaca e os noivos partiriam para a sua Lua de Mel. Particularmente invejei aquela parte, já que minha mãe e Dan estariam indo passar uma semana em Santorini, na Grécia. Tudo seria perfeito e eu tinha certeza disso. Minha avó devia ter partido com Jay, seu noivo e as gêmeas, quando Zayn, , e eu iríamos no carro que agora era dela. Niall, Liam, Louis e Harry iriam até Esclimont no ônibus destinado a levar não só eles, mas também o resto dos familiares e amigos íntimos dos donos da festa. Mesmo assim, só deveriam chegar no fim do dia.
  Voltando ao assunto, eu não podia deixar a minha cidade sem fazer uma visita ao meu avô. Mesmo que em um cemitério, me senti bem em prestar aquela homenagem. Levei peônias até o seu túmulo que já estava completamente coberto pela grama mais verde que a do meu próprio jardim. Conversamos e trocamos segredos, mesmo que eu não obtivesse resposta alguma. Contei de tudo que estava acontecendo e pedi para que ele assistisse o casamento de sua filha. Seria difícil para a minha mãe estar no altar sem ele, mas eu torcia para que a presença de papá pudesse ser sentida por ela.
  Preferi ir até lá de taxi, devido às poucas horas do dia, porém retornei para casa de metrô. Teria ido de carro, mas preferi deixá-lo lá para o caso de Zayn e começarem a guardar as malas que arrumamos na noite anterior. Nenhum de nós levaria a mesma quantidade de coisas que trouxemos, por isso nossa bagagem estava relativamente menor do que a original; principalmente a de , se é que me entende. Prova de que fiz a escolha certa é que quando dobrei a esquina a pé encontrei meus dois amigos arrumando o veículo para que pudéssemos sair. Pelos seus sorrisos, deveriam ter tomado café da manhã. Acredite, o único jeito de colocar um bom humor naquelas duas criaturas pela manhã é dando comida para os dois. Eu particularmente não comera nada, mas também não sentia fome. Ok, talvez um pouco de fome. Ainda pretendia caber no meu vestido de madrinha de casamento e tinha certeza que engordara algumas gramas desde o meu aniversário.
  - Olha quem chegou! – apenas acenou, fechando a porta do motorista depois de verificar se tudo estava às ordens.
  - Está tudo pronto? – Sorri acariciando a cabeça do cachorro que veio me cumprimentar.
  - Quase. – Zayn parecia tão feliz ao fechar o porta-malas que quase questionei se ele aprontava algo. – Só tem mais uma coisa que falta guardar. Acho que está no sofá da sala, pode ir buscar, por favor?
  - Posso sim. Aproveito e pego a minha bolsa... – Afirmei, deixando me seguir. – Baby, você vai dirigindo?
  - Yep, sua avó me deu um mapa com o endereço. – Encostou no carro enquanto eu atravessava o jardim de entrada. – Mas qualquer coisa temos a Siri.
  - Quem é Siri?
   não entendeu o que ele disse e muito menos porque eu comecei a rir da nossa piadinha interna. Os dois ficaram para trás enquanto eu abria a porta destrancada. “Tenho que lembrar de fechar e levar a chave!” Bem lembrado. Dei uma espiada na cozinha, averiguando se tudo estava desligado e no lugar. Não seria legal viajarmos e encontrar a casa pegando fogo ao retornar. “Tudo ok por aqui...” Onde estava mesmo o que eu tinha que levar para o carro? No sofá! Segui distraída para a sala de estar e pareceu perder o interesse em mim, pois correu para o lado de fora. Por sorte, ele estava comportado e não saía correndo por aí como fazia quando era menor. Dei uma boa olhada no sofá e quase gritei de susto ao ver a figura sentada sobre ele.
  - LEEYUM! – Arregalei os olhos enquanto ele se levantava. Não perdi mais tempo e corri até pular em seus braços. Estava de vestido, mas quem se importava?
  - Pequena! – Parecia igualmente feliz em me ver e me deu o apoio que eu precisava para dobrar os joelhos e tirar os pés do chão. – Senti sua falta, !
  - Eu também senti, baba! O que você está fazendo aqui? Quando chegou? Os outros meninos estão aqui? – Não quis soltar ele de jeito nenhum, mesmo já pisando no chão.
  - Ah, então só a minha presença não é o suficiente pra você? – Me soltou de uma vez como se estivesse ofendido.
  - É claro que é, não seja besta. – Segurei em sua mão, ainda sorrindo. Uma semana sem vê-lo era demais pra mim.
  - Cheguei faz uma meia hora... Zayn e também não sabiam que eu viria. Fiz uma surpresa e Lou me deu o endereço pra que eu não me perdesse. – Explicou e fazia bastante sentido. – Os outros vão direto para o hotel, mas ainda devem demorar.
  - Entendi... E como foi em Wolverhampton? Dani está bem? E seus pais? – Teria continuado a bombardeá-lo de perguntas se alguém não tivesse buzinando do lado de fora.
  - Acho que temos que ir. – Me entregou a minha bolsa que estava no braço do sofá. – E eu vou contar como foi tudo, não se preocupe.
  - Pode acreditar que vai!
  Nos abraçamos de lado, podendo sair da casa. Não esqueci de trancar tudo e guardar a chave na bolsa que pendurei em meu ombro. Liam ora beijava o meu rosto, ora me apertava em seus braços. Nós dois sempre fomos muito unidos e íntimos, mas agora que ele não tinha mais nenhum sentimento mal resolvido para com a minha pessoa, nós nos tornamos ainda melhores amigos do que antes. Eu não tinha mais medo de passar a idéia errada pra ele e ele não dava indiretas que me deixavam tímida. Ou algo perto disso. Zayn, e já estavam dentro do carro, apenas nos esperando pra partir. Meu namorado estava no assento do motorista e a ruiva e o cachorro iam no banco de trás. Liam e eu também ocupamos nossos lugares, sendo que ele se juntou à menina e ao filhote enquanto meu lugar por direito era ao lado do meu namorado.
  Não perdemos mais nenhum segundo e o motorista deu partida no carro. Roadtrip, aqui vamos nós! Zayn dirigia extremamente bem, levando em consideração que não estava acostumado com o volante no lado esquerdo do carro. Liam começou a comentar sobre a sua viagem e como sentia falta de casa e dos seus pais, incluindo o quanto todos se deram bem com Danielle, mas eu quase não prestei atenção. Meus olhos estavam presos nos movimentos que o meu homem fazia ao mudar a marcha do carro ou girar o volante. Ele mal percebia que eu o encarava e isso o deixava ainda mais bonito. Seu sorriso natural por estar achando graça das coisas que seu melhor amigo falava, o movimento constante de sua língua umedecendo os lábios quando se concentrava para fazer uma curva... Era simplesmente de perder o ar.
  - , quer um babador? – estava sentada no banco atrás de Zayn, por isso devia estar me vendo quando quase me afoguei em minha própria baba.
  - Não, obrigada. Eu estou bem. – Rolei os olhos um pouco tímida por ter sido flagrada, mas sorri quando Zayn entendeu o que tinha acontecido. Para encontrar algo pra fazer e disfarçar, comecei a abrir todos os vidros do carro. – Sou a única que está com calor?
  - Não mesmo. Pode abrir tudo! – Liam concordou comigo, já colocando a cabeça para fora da janela.
  - Não dê uma idéia para , porque ele é bem capaz de cair do lado de fora. – Zayn gargalhou, olhando algo pelo retrovisor.
  - Sabe o que está faltando aqui? – perguntou, mas senti que o fez retoricamente. Me virei para fitá-la. – Música!
  - Quer que eu ligue o rádio?
  - Não precisa, . Tenho algo melhor! – Entregou-me uma caixa transparente de CD.
  - “Músicas para escutar na estrada.” – Li o título escrito no CD com marcador preto. – Yay, nossa própria trilha sonora!
  - Dani não pode mesmo vir com a gente? – Zayn se referia ao amigo e eu colocava o disco no aparelho do carro.
  - Ela queria, mas tinha trabalho. Vão começar os ensaios para a nova turnê que ela vai participar. – Chegou mais pra frente quando falou e encostou a cabeça no meu banco. – , ela disse que Josh tem perguntado por você.
  - Josh? Quem é Josh? – O menino ao meu lado quase rosnou, passando a prestar mais atenção em mim do que na rua. O CD carregava, por isso não tocava ainda. Carro antigo é assim mesmo.
  - Josh? – Eu mesma demorei um pouco para me lembrar de quem estavam falando. – Josh! O da festa, né? Uau, faz tempo...
  - , que festa? E que porra de Josh? – Meu namorado começava a se irritar.
  - É um amigo da Dani, babe. Você lembra dele! O conheceu no Open Mic quando cantei com Ed... – Confesso que achei aquele ciúme todo bem divertido.
  - Não gosto de lembrar daquela época, mas acho que lembro sim. – Pareceu relaxar minimamente, mas eu também não gostava de lembrar de quando nós dois terminamos. – É o urubu.
  - Urubu? – gargalhou. – Eu quase havia me esquecido desse apelido!
  - Hey, ele não é nenhum urubu, ok?
  Preferi não defendê-lo muito, pois o olhar repreendedor que recebi de Zayn foi tudo menos amigável. Para melhorar os ânimos, o CD finalmente começou a rodar e a primeira música começou a tocar. Reconheci como sendo C’mon da Ke$ha e torci para que todas as tracks fossem tão animadas quanto aquela, pois a estrada pode ser bem entediante de vez em quando e eu prometera à Zayn que não iria dormir dessa vez. Levamos dez minutos para sair da cidade e chegar à rodovia. Não era tarde e nem cedo demais, então aquele caminho com poucas curvas estava bem vazio, permitindo ao motorista aumentar a velocidade até 170 km por hora.
  - Ei, Little Mix! – Zayn apontou comentou assim que a nova música começou a tocar.
  - Quem? – Estava distraída tirando os sapatos que nem dei muita importância.
  - As ganhadoras do X Factor, . Aquela banda de quatro meninas... – Liam tentou me ajudar, mas não conseguia formar uma imagem de nenhuma delas na minha cabeça.
  - A banda daquela loira que deu em cima do Zayn. – Aquela simples informação dada pela minha amiga fez tudo se encaixar.
  - Ah, claro. – Foi a minha vez de encará-lo.
  - Perrie não deu em cima de mim, ! – Sorria quase satisfeito, sem nem me olhar. Eu sentia que ele estava orgulhoso por ter virado o jogo.
  - Ah, então a loira tem um nome? – Fui irônica, quase fazendo careta.
  - Não tem nada de mais, ... E elas são boas.
  - Seu gosto musical já foi melhor, Malik. – Sem esperar mais nenhum refrão, mudei de música. Não teria que ficar agüentando aquilo!
  - É bom, né? – Só ele e eu falávamos, já que os dois do banco de trás assistiam nossa “discussão”. Cometi o erro de olhá-lo e vi seu sorriso travesso.
  - Cala a boca.
   Eu sabia que ele estava brincando, por isso não cheguei a dar um piti de ciúmes, mas ainda preferia quando eu estava na frente do jogo. Uma música qualquer da Selena Gomez substituiu a antiga e comecei a relaxar. Nós quatro ficamos apenas escutando a melodia e aproveitando a viagem. Encostei no banco e apoiei os pés no painel na minha frente. O vento que entrava por todas as direções bagunçava os meus cabelos, mas realmente não me importava. Senti a mão de Zayn acariciando a minha coxa e o olhei meio desconfiada. O sorriso impecável em seus lábios me dizia tudo que eu precisava saber: “Eu sou seu, .”

+++

  “Eu, com toda certeza, poderia me acostumar a morar em um lugar assim!” Pensava pela quinta vez, deixando a minha bolsa em cima da espreguiçadeira. Havíamos chegado ao Chateau havia pouco mais de meia hora e eu já estava encantada com tudo. Sinceramente parecia um castelo de contos de fadas, ou mais. A área de lazer era simplesmente gigantesca e o interior do lugar não ficava muito longe disso. Claro que não tive tempo de conhecer todos os quartos ou salas, restaurantes, salões de baile e etc, mas os poucos lugares que vi já me deixaram de queijo caído. Tetos altos, detalhes em ouro, lustres esplendorosos, banheiros maiores que o meu próprio quarto... Era tudo um sonho. O quarto em que Zayn e eu ficaríamos foi o meu preferido, mas chegaremos a essa parte mais tarde.
  Fomos uns dos primeiros a chegar e minha mãe estava simplesmente radiante. Ela ainda estava em uma reunião com a organizadora do casamento, mas pudemos nos cumprimentar durante uns cinco minutos. Não havia sinal de Dan ou suas filhas, mas a minha avó já estava na cozinha, conversando com o chef que faria as nossas refeições e eu tinha certeza que ela estava tentando conseguir alguma receita nova.
  Enquanto Liam e Zayn rumaram para a academia na esperança de fazer algo mais másculo, minha pequena ruiva e eu fomos para a piscina. Aquele lugar conseguia ser maior do que a área do hotel que ficamos em Los Angeles. A água azul era um convite e tanto, ainda mais em um dia tão quente quanto aquele. Várias espreguiçadeiras rodeavam as bordas da piscina e uma cascata fazia algumas ondas baixas na sua superfície inteira. Por mais que gostasse da companhia dos outros dois, precisava de um tempo a sós com a minha melhor amiga.
   ocupou a cadeira ao meu lado e foi logo tirando a sua roupa e começando a passar bronzeador. Ela ainda estava branca como um fantasma, mas a minha pele continuava um pouco bronzeada. Por essa razão, a imitei, mas passei protetor solar ao invés daquele produto. Não conseguia ver quase ninguém a nossa volta; as únicas exceções eram os funcionários que passavam de um lado para o outro ao longe, mas nenhum parecia prestar atenção nas duas jovens que aproveitavam o verão. Aliás, também parecia curtir o sol, pois ele lodo deitou no chão e virou de barriga para cima.
  - É isso que eu chamo de verão! – arrumou os óculos sobre a ponte do nariz e deitou na sua cadeira.
  - Achei que iria passar um bom tempo sem ver uma piscina, mas creio que estou errada. – Comentei distraída, espalhando o creme branco em meus ombros. – Você devia ter ido pra LA comigo, ... Foi incrível.
  - Imagino que tenha sido. – Ela sorria, mas eu a conhecia melhor que isso. – Quem sabe na próxima? Porque pelo jeito que você fala, vai ter próxima!
  - É claro que vai! – Meu sorriso foi um pouco mais verdadeiro. Peguei a toalha branca que ganhara de um funcionário e a estiquei na minha espreguiçadeira, só então me deitando. – E como vai o Ben?
  - Não sei... Tenho ignorado as suas ligações. – Estava de óculos escuros, mas eu podia jurar que ela rolara os olhos.
  - Eu não entendo, ... Como você pode estar com um cara que, quando ele liga ou faz algum esforço pra falar com você, é ignorado. – Comentei calmamente. Sabia onde queria chegar com aquele assunto, mas não podia falar de uma vez. – É como se você só estivesse com ele por causa da parte física.
  - E é. – Admitiu mais rápido do que pensei e acabei olhando-a impressionada. – Não quero me envolver com mais ninguém, sabe, ? Só quero curtir... Se apegar é para os fracos. Sem ofensas, claro.
  - Não ofendeu. – Forcei um sorriso, me virando para a minha bolsa e pegando a revista que deixara ali dentro. – Mas você não sente falta de poder contar com alguém? Saber que você não está sozinha e que alguém se importa com você?
  - Eu tenho você, não?
  - É claro que sim! Você tem a mim e à Liv e sempre vai ter. – Folheei a revista, sabendo que ela não queria sentir o meu olhar agora. – Mas é diferente, não? Porque eu tenho o Zayn e Liv pode arrumar um namorado... Logo você pode...
  - Ficar sozinha? Ser abandonada? É isso o que você está dizendo? – Depois disso eu tive que mudar a minha direção de olhar.
  - Não, tonta. Eu ia falar que você pode ter necessidades que nem eu e nem ela podemos suprir. – Expliquei, mas ela tentou me interromper de novo. – E eu não estou falando de sexo!
  - Onde você quer chegar com isso?
  - O que estou tentando dizer é que... – Parei por um momento, estudando-a com as minhas orbes. Por mais que estivesse curiosa e chateada com o término sem explicação do namoro dela com o meu irlandês preferido, não era legal ficar questionando sobre esse assunto. Por esse motivo, mudei meu discurso. – Quero que saiba que eu sempre vou estar ao seu lado. Seja pra conversar, rir, chorar ou até pra achar um novo namorado. Eu só quero que você seja feliz.
  - Obrigada, ... – Agora sim ela sorriu de verdade.
  Fomos interrompidas por uma moça fardada formalmente que carregava uma bandeja de prata. Ela se apresentou como Allie e entregou um copo para mim e outro para , ambos cheios com um líquido avermelhado e algumas pedras de gelo. Também nos informou que se quiséssemos comer ou beber qualquer outra coisa devíamos apenas chamá-la. Claro que ela falou tudo em francês e, assim que foi embora, traduzi tudo para a minha amiga. Naquela altura comecei a questionar a possibilidade de dar a ela um dicionário inglês-francês. Mexi o que acreditei ser um suco pelo canudo e dei o primeiro gole. “Cranberry!” Sim, era um suco! E dos mais gostosos, diga-se de passagem. Enquanto eu apenas folheava a revista em meu colo e bebericava de meu suco, tirava fotos de sua bebida, suas pernas ou sua amiga; no caso, eu!
  - Ainda lendo essa revista? – esticou o pescoço na minha direção. – Você já deve ter decorado todas as matérias!
  - Elle é uma revista muito boa. – A respondi após mais um longo gole no suco. – E estou estudando.
  - Estudando? Ok, que escola é essa, porque quero mudar!
  - Estudando sim, ! Tenho uma reunião com a equipe da Mulberry nas próximas semanas, então tenho que estar a par das novidades.
  - Mas seu trabalho não é só estar bonita e desfilar por aí com as roupas que ganha? – Quis saber enquanto mordia seu canudinho. – Não precisa “estudar” pra isso.
  - Sei disso, mas gosto de dar opiniões. Não posso fazer isso se não souber do que estou falando, né? – Dei de ombros, parando um pouco para ler um comentário de Dominique Forest.
  - Acho que sim. – Mexia no celular, provavelmente vendo quantos likes suas fotos ganhavam no Instagram. – Como são essas reuniões?
  - Sabe aquelas cenas de filme onde uma sala de vidro com uma mesa comprida no centro está cheia por pessoas de paletó? – Tentei criar um cenário e a esperei assentir para poder continuar. – É tipo isso. A Carine dá as idéias que tem e pergunta o que os outros acham... O problema é que todos parecem ter medo dela. Como eu não tenho, acabo sendo escutada.
  - Você cresceu. – Soltou de uma vez. Tive que me virar pra ela e ter certeza de que ainda falava comigo.
  - Hã? – Ri, ainda sem entender.
  - É... Você não é mais aquela menininha que não sabia o caminho pra sala na Academy. – suspirou. – Agora é uma mulher que aparece em revistas como um ícone fashion, vai a reuniões e realmente sabe do que está falando... Você é uma adulta!
  - Eu ainda sou a mesma, boba! – Acabei sorrindo com o que ouvi. Ainda era a mesma, mas ela tinha razão. Eu cresci.
  Uma música animada qualquer começou a tocar, nos fazendo olhar em volta. Pelo relógio em meu próprio celular, passava das onze horas da manhã. O som vinha de umas caixas de som penduradas nos postes de luz que rodeavam aquela área. Minha mãe devia ter saído de sua conferência com a organizadora e pedira para que a festa começasse. Ela sabia que e eu estávamos ali, então também devia ter sido a responsável pelas nossas bebidas. Deixei a minha revista de lado, voltando a me concentrar em meus pensamentos. Dei alguns goles longos no meu suco que começava a ficar aguado devido ao gelo derretido. Suspirei fundo, olhando para a água brilhando na minha frente, mas sem dar muita atenção assim.   - Cheguei, bitches! – Uma loira limpou a garganta e parou na nossa frente, cruzando os braços e sorrindo como se fosse a manhã de natal.
  - OLIVIA! – Fui a primeira a reconhecê-la.
  - AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – soltou um daqueles gritinhos agudos que meninas de quinze anos dominam.
  - EU SEEEEEEEEEEEEEEEEI! – Liv gritou de volta. – Não ganho um abraço?
  Com aquela pergunta, tanto quanto eu levantamos ao mesmo tempo e corremos em sua direção. Tudo aconteceu calmamente, só que não. A mais baixa não teve cuidado algum ao pular em cima de Liv, então nós três acabamos perdendo o equilíbrio completamente. Como resultado, fizemos um tremendo SPLASH ao cair na água. Mesmo assim, não nos soltamos até ficarmos sem ar. Ao subir para a superfície em busca de oxiênio, comecei a rir, querendo matar a menor por ser tão desajeitada. Pelo menos estávamos bem. Menos as roupas de Liv, que ficaram encharcadas instantaneamente. A menina era tão pacifica que nem reclamou por causa daquela recepção um tanto agitada.
  - Também senti a alta de vocês, meninas! – Liv ainda sorria, começando a se dirigir para a borda da piscina. – Sabe quem também não via a hora de chegar? Harry e Louis!
  - ELES ESTÃO AQUI? – Foi a minha vez de gritar como uma adolescente. É claro que eles deviam ter chegado!
  - Acho que são eles vindo pra cá... – apontou para um ponto mais afastado. Como tudo ali era longe das outras coisas, tive que apertar os olhos para enxergar os dois meninos que caminhavam de mãos dadas pela grama, na nossa direção.
  - BOO BEAR E CUPCAKE! – Gritei pra eles, recebendo acenos em resposta.

+++

  Apesar de Haz e Lou terem vindo no mesmo transporte que Liv, ainda faltava uma pessoa em especial para chegar. Não estou falando do resto dos meus familiares, mesmo que eles também sejam especiais... Mas Niall ainda não chegara ao Chateau. Pelo que entendi, o seu vôo da Irlanda para Paris atrasou um pouco mais do que devia e por isso ele seria obrigado a vir com o segundo grupo de convidados. De acordo com a última mensagem sua que recebi, ele deveria chegar em cinco minutos. É claro que já fazia meia hora desde que eu recebera essa mensagem, então podemos deduzir que ele não é o melhor no quesito calcular tempo.
  Claro que não queria esperar por ele junto a mim e aos outros meninos no salão principal do “castelo”, mas não a culpei. Fazia no mínimo três meses que o ex-casal não se via e algo me dizia que a ruiva pretendia continuar assim. Liam e Zayn estavam sentados em um sofá no canto e desfrutavam de biscoitos que algum funcionário qualquer os ofereceu. Harry estava parado próximo à parede, estudando atenciosamente algumas pinturas famosas penduradas ali. Não tinha certeza se eram replicas ou originais, mas recordava ler sobre elas em livros de história na escola. Louis e eu andávamos de um lado para o outro, já preocupados com a demora. O som de um veiculo maior que um carro sendo estacionado ali perto chamou a nossa atenção.
  - Deve ser ele... – Lou foi o primeiro a falar, se virando para a porta. – Hey, Lotts!
  - Essa recepção inteira é só pra mim? – Charlotte atravessava a ponte que ligava o lado de fora com a entrada do hotel. – Louis!
  - Faz tempo que eu não te vejo! – Meu irmão abraçou a nossa prima e a deixou passar.
  - A culpa é sua! Porque não foi pra Paris junto com a ? – Lottie o deixou e veio me abraçar em seguida. – Já estava aproveitando a piscina sem mim?!
  - Não sabia que você demoraria tanto! – Usei essa desculpa por ainda estar usando minhas roupas de banho. Não saí por aí desfilando de biquíni, mas o vestido claro que usei por cima deste não escondia muito bem meu traje. – Como foi a viagem?
  - Foi rápida! E teria sido melhor se Niall não reclamasse a cada minuto que estava com fome. – Rolou os olhos, mas não parecia zangada.
  - Você o conheceu? – Ri. Pelo que ela falou, com certeza era o mesmo Niall que eu esperava chegar.
  - Ele é bem legal. Está lá fora tentando trazer nossas malas... – Lottie afirmou, olhando por cima do próprio ombro e sorrindo de uma forma que falava: “Tem algo aí”. - Uma graça...
  - Melhor ir ajudá-lo. – Louis nos deixou ali e correu pelo caminho que nossa prima chegara.
  - Se eu não te conhecesse, Lottie, diria que está interessada no pequeno duende... – Passei o braço pelo dela para que pudéssemos atravessar o grande salão até onde os outros meninos estavam.
  - E me conhecendo, o que você diz? – Mordeu o lábio, acabando com todas as minhas duvidas. – Ele é uma graça, ... E não deu em cima de mim como muitos teriam dado. Já deu uma olhada no meu decote?!
  - Acho que ninguém não deu uma olhada no seu decote. – Completei com uma risada nervosa. Charlotte seria uma boa namorada para Niall, mas ele já tinha dona; mesmo que os dois estivessem separados no momento. – Mas falamos sobre isso mais tarde, me deixe te apresentar aos meninos...
  - Hey, Charlotte! – Zayn virou o rosto assim que nossos passos puderam ser escutados e se levantou para abraçar a minha prima. É, ele já se sentia parte da família. – Teve uma boa viagem?
  - Foi a melhor, com certeza. – Se jogou nos braços do meu namorado, não da forma que eu fazia, mas ainda assim.
  - Esse aqui é o Liam... – Puxei o menino do sofá para que ele também a cumprimentasse. As vezes aquele menino era muito tímido! – E aquele vindo ali é o Harry, namorado do Lou.
  - Uau, ele é muito fofo! Olhe esse cachinhos! – Lottie abraçou Liam com um pouco menos de intimidade e passou para Harry.
   Enquanto todos terminavam de se cumprimentar e se conhecer, observei o motivo de minha espera entrar pelas portas extremamente altas e trabalhadas no maior estilo barroco. Niall usava um snapback vermelho que trouxera de Los Angeles, regata com a bandeira dos EUA e uma bermuda preta; sem falar no seu tênis branco de sempre. Com certeza ele achava que estava no país errado! A mala que carregava era cor de rosa e tinha algumas flores desenhadas em preto, mesmo assim, só o que denunciou que a dona daquela bagagem era na verdade a minha prima foi a etiqueta exorbitantemente grande com o apelido “LOTTIE”. Meu irmão vinha mais atrás, com a verdadeira mala do irlandês.
  - Aqui está, Charlotte. – Niall parecia ignorar todos os amigos, pois parou na frente de Lottie e deixou a mala calmamente na frente da dona.
  - Você é um amor, Niall! Muito obrigada. – Minha prima deixou um beijo na bochecha do menino e cruzei os braços.
  - Com licença... – Liam cruzou os braços.
  - Sem querer atrapalhar... – Zayn fez o mesmo, parando ao lado do amigo.
  - Mas já atrapalhando... – Harry seguiu a brincadeira, cruzando os braços igualmente e parando perto dos outros dois.
  - Ah, que se dane, vem cá, Ni! – Eu podia ter brincado também, mas sentia muita saudade daquele loiro dos olhos azuis. O puxei para um abraço antes mesmo que terminasse de se virar. – Nunca mais passe tanto tempo longe de mim, ok?!
  - Desculpa! – Gargalhou como só ele fazia e me apertou pela cintura. Lottie ficaria com ciúmes, lalala. – Mas eu tinha que ir ver o Lil’ Craic.
  - Por falar nisso! Me diga que você o trouxe... Eu queria conhecer seu sobrinho! – O apertei um pouco mais e fiz um meio bico ao lembrar do bebê que eu ainda não sabia o nome e torcia pra que não fosse “Craic”.
  - Ele não coube na... – A frase de Niall foi interrompida pelo barulho de algo sendo derrubado com raiva no chão. - ...Mala?
  - Ainda bem que não! – Foi só olhar para o olhar de Louis após soltar a mala de Niall com raiva que deu pra perceber que ele algo não estava certo. – O que houve, Lou?
  - Marco está lá fora. – Meu irmão esbravejou, fechando as mãos em punho. – E trouxe fotógrafos.
  - Que tipo de fotógrafos? – Fui a única que conseguiu quebrar o silêncio, já que os outros três meninos não conseguiram reagir.
  - Você sabe bem que tipo de fotógrafos. – Louis foi grosso, o que fez Zayn dar um passo a frente e segurar os meus ombros, apesar disso, não me importei. Já enfrentara meu irmão irritado antes.
  - Ele acha que é uma boa idéia deixar os paparazzis contratados pela Modest! circularem por aí e tirar algumas fotos... – Niall começou a explicar, mas parecia tão feliz com isso quando qualquer um ali. – Principalmente amanhã, quando a Eleanor chegar para o casamento.
  - Alguém tem que fazer alguma coisa. – Liam pareceu pensar alto, deixando uma Lottie mais confusa ainda.
  - O que está acontecendo? – A loira questionou, mas ninguém a deu ouvidos.
  - Mas o que?! Nós não podemos falar nada e nem reclamar! – Louis atravessou até o sofá, onde sentou e abaixou a cabeça, respirando fundo em uma tentativa de se controlar. – Isso se não quisermos um processo!
  - Lou está certo, vocês não podem falar nada. – Minha cabeça começava a doer e minha barriga ficou gelada de repente. – Mas eu posso.
  - , o que você vai fazer? – Zayn ficou tenso atrás de mim, sua super proteção falando mais alto.
   Não respondi nem a ele e nem aos outros meninos que tentaram me chamar. Eu já estava, na falta de uma palavra melhor, puta da vida com Marco e os seus planos pra criar manobras publicitárias! Uma coisa era querer fotografar os meninos em bares, festas ou saindo pra almoçar fora. Outra completamente diferente era ir até ali, achando que tinha qualquer tipo de autoridade. Ah, mas ele estava muito enganado! Passei como um furacão pelo salão de entrada e segui pela ponte. Não demorei nada pra encontrar o motivo da minha raiva, pois Marco estava conversando animadamente com os dois “fotógrafos”. Ele fazia gestos e sorria como se fosse a pessoa mais feliz do mundo. Mal sabia ele que eu pretendia acabar com aquela felicidade toda.
  - ! Que bom que apareceu. – O empresário se virou pra mim e pousou uma mão em meu ombro. – Onde acha que as primeiras fotos ficariam melhores?
  - Do lado de fora do portão! – Me desfiz de seu toque. – O que acha que está fazendo aqui?
  - Do lado de fora? Isso seria ilógico! – Cruzou os braços, ainda sem me entender.
  - Não ligo para a sua lógica, Spock! Quero que esses dois saiam daqui imediatamente. – Já estava me exaltando e me virei para os dois paparazzis. – Nada pessoal, sei que só estão fazendo o seu “trabalho” ou seja lá o que quiserem chamar.
  - , você não entende. Isso é importante. – Marco voltou a falar, mas levantei o indicador como se pedisse silêncio.
  - Não, Marco, é você quem não entende. O que acha que estamos fazendo aqui? Duas pessoas estão prestes a se unir para toda a eternidade na frente de Deus ou de quem quer que você queira acreditar. Isso aqui não é uma bagunça que você pode simplesmente se infiltrar e achar que pode participar. – Falei tudo em uma respiração só, puxando o ar para conseguir continuar. – Isso aqui é uma celebração. Algo que a minha mãe vem sonhando a muito tempo antes mesmo de você aparecer na vida dos meninos e eu não vou permitir que estrague. É algo para os familiares, algo intimo. Você quer fotos do casamento? Certo, eu ficarei mais do que feliz em lhe dar uma foto ou duas quando o fotógrafo contratado para o casamento puder revelar essas fotos. Ou tenho certeza que Harry ficaria mais do que feliz em postar algo no Instagram ou vídeos no Vine, mas isso porque ele gosta e não porque está sendo obrigado por você.
  - Ok... Entendi... – O homem nem ao menos chegou a piscar, quanto mais tirar aquele sorriso condescendente dos lábios, o que acabou me irritando mais ainda.
  - Espero que sim, porque os meninos não podem falar nada, mas eu estou aqui pra alguma coisa. Agora queira mandar esses dois embora ou chamarei o segurança. – Não liguei a mínima se estava sendo dramática ou criando um barraco. Nem mesmo sabia que tinha tanto fogo dentro de mim para mandá-los embora como estava fazendo. – Eu entendo que a minha mãe lhe convidou porque acredita que você é importante para o meu irmão, mas fique sabendo que não é bem vindo aqui.
  - Não se preocupe, vamos embora. – Apertou o meu queixo com quase carinho, me deixando chocada e sem entender mais nada. – Aproveite enquanto ainda pode.
   Senti um arrepio percorrer a minha espinha, pois tinha certeza de que aquilo fora uma ameaça. Os dois fotógrafos também devem ter percebido isso porque se entreolharam com expressões espantadas. Tentei tirar aquilo da cabeça, pois pelo menos eles estavam indo embora. Antes de partir, Marco passou por mim e caminhou até onde os cinco meninos assistiam tudo de camarote. Niall era o que mais se divertira com o meu show, pois ria e batia palmas lentas enquanto me olhava. Louis sorria em agradecimento e Liam encarava Marco. Esse último caminhou até o meu namorado e cochichou algo em sua orelha. Pela frieza que senti quando conectei o olhar ao de Zayn, não era coisa boa.

+++

  “TOC TOC TOC.” Três batidas consecutivas na porta do meu quarto me fizeram revirar na cama. A suíte destinada à mim e Zayn era grande demais, então não adiantaria gritar ou pedir para quem quer que estivesse do lado de fora entrar sozinho. Alguém teria que ir abrir! Niall estava deitado ao meu lado, tomando mais espaço na cama do que eu mesma. Harry ocupava o espaço abaixo de nossos pés, o que ainda era muito se parássemos pra pensar no tamanho do colchão. era o menos folgado de todos, por incrível que pareça, pois foi o primeiro a levantar do sofá onde estivera deitado e correu para atender quem batia na porta... Se ao menos ele tivesse polegares.
  - Niall, você chegou por último, tem que ir abrir a porta... – O empurrei devagar, quase com manha.
  - Exatamente! Tive uma longa viagem e estou cansado, . – Resmungou sem nem ao menos se mexer.
  - Você ainda tem aqueles docinhos? – Harry cutucou o meu pé.
  - Tenho! Niall, se você for abrir a porta, eles são seus.
  Sim, essa foi uma proposta muito difícil de ser recusada, ainda mais por Niall que não comera quase nada desde que saíra do aeroporto de Paris. Com um pulo, o irlandês saiu da cama e correu até a porta. No começo ele mancou um pouco por causa do seu joelho defeituoso, mas conseguiu deixar a nossa visitante entrar. pulou em cima da minha prima e lambeu o seu rosto como se lhe desse as boas vindas. Charlotte não se importou, mas quase caiu pra trás devido a altura de seus saltos. Uma característica daquela menina era essa: Usava salto alto até antes de ir dormir.
   Harry e eu nos entreolhamos e parecíamos pensar a mesma coisa. O olhar mortal que a loira lançou na direção do outro seguido pelo sorriso abobalhado do mesmo gritava “tem alguma coisa aí” e, por mais que fossemos a favor do Team & Niall, queríamos saber onde isso poderia acabar. Lottie praticamente rebolou até a minha cama, me fazendo sentar e dar espaço para ela também se acomodar ali. Harry engatinhou até o espaço vazio ao meu lado e voltou a se deitar, encostando o rosto à minha coxa. Niall foi o último a se juntar a nós, já que voltou para o seu sofá.
  - Por que vocês não estão lá fora? – Lottie tirou os sapatos e cruzou as pernas sobre a cama. – Todos estão tomando o chá da tarde no jardim.
  - Por mais que eu goste de chá, lá fora está muito quente. – Expliquei pra ela enquanto começava a acariciar os cachos de Harry.
  - E aqui é mais confortável... – Ni deu uma batidinha no colchão e deu alguns pulinhos pra cima e pra baixo, fazendo a cama toda balançar. – E essa cama parece fazer todo o trabalho.
  - Todo o trabalho de que, Niall? – Harry perguntou em um bocejo. Não sei se era lerdo ou inocente.
  - Não se preocupe, Harry, acho que Louis vai te mostrar o que ele está falando. – Lottie comentou com um risinho sacana, mas eu fiz cara de nojo. – Talvez possamos testar o meu também, Niall. O que acha?
  - Uau, querem que a gente saia daqui pra vocês dois ficarem sozinhos? – Ri, pegando o meu celular no bolso do meu short. – Aliás, Lotts, você está sozinha?
  - Solteira sim, sozinha nunca.
  - Bom saber. – Niall arrumou o boné sobre a cabeça.
  - Não foi isso o que eu quis dizer. – Revirei os olhos, deixando meus dedos se perderem nos fios bagunçados do meu cunhado. – Você está sozinha em um quarto?
  - Ah, sim! Não, estou com a e aquela sua outra amiga. – Eu já sabia disso, mas queria que Lottie mencionasse , quase como uma indireta para o ex-namorado dela. – Aliás, Niall, qual é a parada entre você e a ruivinha elétrica?
  - ? Uh... – O menino pareceu meio desconcertado com aquele assunto, mas nem eu nem Harry nos intrometemos no assunto. – Nós namoramos por um ano, mas não estamos mais juntos. Acho que não deu certo.
  - E por que não deu certo? – Três meses depois da separação dos dois e eu ainda não sabia a causa.
  - Pra falar a verdade, eu não sei. simplesmente terminou tudo... E nem ao menos me deu uma explicação. – Suspirou, pegando todos de surpresa. Eu tinha certeza que algo acontecera, mas nem mesmo Niall sabia o quê?
  – Talvez tenha sido a fama... Vai ver ela não soube muito bem como lidar com tudo isso. – Lottie sorriu como se o apoiasse, mas devia estar morrendo de vontade de mudar de assunto.
  - Pode ser. – Harry se pronunciou, saindo do meu colo e sentando. – Mas ela nunca se envolveu muito com a banda. A é que sempre foi a nossa companheira pra essas coisas.
  - Gosto de pensar que sou a protetora de vocês. – Sorri para ele.
   Não deixava de ser verdade. Se eu sempre estava ao lado dos meninos, fosse em viagens de divulgação ou em lançamentos, festas e entrevistas, não era porque eu queria aparecer ou aproveitar o que a fama proporcionava a eles. É claro que eu gostava de tudo isso, entretanto, meu objetivo sempre foi cuidar daquelas cinco crianças. Em um mundo onde todos querem se aproveitar de você, o importante é manter aqueles confiáveis e importantes o mais próximo possível. Era muito fácil sentir falta da família e amigos quando se está na estrada, então meu papel era amenizar essa saudade, ao menos um pouco. Sem falar que acabara de descobrir a minha voz contra a Modest! e Marco.
   Enquanto os outros três começaram um assunto qualquer de qual não me importei muito em participar, olhei para o aparelho telefônico em minhas mãos. Quase me esquecera do que queria com o celular e não demorei para abrir a minha pasta de mensagens. parecia cansado do sofá, então pulou sobre a cama e passou por cima de todos até chegar em cima de mim. Literalmente em cima de mim, pois só faltou sentar no meu colo. Ri pelo cachorro nem sempre lembrar o seu próprio tamanho e o empurrei até que estivesse apenas sentado ao meu lado. Voltando ao meu objetivo principal, digitei:

  
“Abi, onde você está?”

  Enquanto esperava pela minha resposta, fiz carinho no meu Husky. Sabia que estava em falta com ele, pois sempre estava saindo ou deixando-o com outra pessoa. Mesmo assim, o amor que recebia de sua parte era incondicional. podia ser desengonçado e atrapalhado, mas era a criatura mais leal que existia.

  
“Eu e Liv estamos correndo! Você devia vir. Quer que te esperemos?”
  “VOCÊ? CORRENDO? Vai chover! HAHA Não precisa me esperar, mas não esqueçam do jantar...”
  “Não se preocupe, não vamos! Também temos alguns planos pra depois, mas SHHHH.”
  “Que tipo de planos, ?”
  “Você vai ver. :3 Todos estão aí com você?”
  “Lou, Li e Zayn estão no quarto de algum deles... Mas Niall, Lottie e Harry estão aqui comigo.”
  “Eu não deixaria Zayn muito tempo com Liam. Esses dois vão acabar se casando. Quem diria?”
  “Pois é, quem diria?! Por falar nisso! Estou sentindo um clima entre Niall e Charlotte...”
  “Ok.”
  “Ok? É só o que tem a falar sobre isso?”
  “O que mais quer que eu fale? Quero dizer... Gosto da Lottie, só acho que ela merece algo melhor. Ei, o que é aquilo? Um cavalo? TCHAU, .”
  “Vai fugindo!”

  - ? ! – Niall devia estar me chamando há algum tempo, mas e demorei um pouco para escutá-lo.
  - Oi? Eu! – O encarei um pouco assustada, deixando o meu celular de lado.
  - Você prometeu! – Fez um biquinho enorme, mostrando a revista que tinha em mãos. – Eu a trouxe especialmente por sua causa!
  - Tenho certeza que sim, Ni. – Gargalhei, vendo a foto dele e dos meninos na capa da nova KISS irlandesa. – Tenho mesmo que fazer isso?
  - Tem! – Ele e Harry responderam ao mesmo tempo. Apenas Lottie parecia estar tão entediada quanto eu.
  - Tudo bem! “Que integrante da banda One Direction você namoraria?” – Niall começou lendo o título do teste. Ele estava mais animado com aquilo do que deveria, não me deixando ver a revista ou as perguntas. Tinha uma caneta na mão esquerda para marcar as minhas respostas. – Primeira pergunta: Qual é o perfil do seu gato ideal?
  - Tá brincando comigo?! – Me manter séria foi impossível e Lottie me acompanhou na risada.
  - Quais são as opções? – Minha prima balançou a cabeça negativamente como se não acreditasse que estava perguntando aquilo.
  - A) Quietos chamam mais a sua atenção. Dá um certo mistério. B) Tem de ter papo e atitude. C) Tem de ser maduro. Garotos mais sérios combinam com você. D) Segue o tipo conquistador, aquele garoto que todas as meninas querem e comentam. – Niall narrou, até mesmo fazendo uma voz mais afinada. Não sabia se era pra ser engraçadinho ou se realmente estava interessado. Harry gargalhava tanto que seus olhos ficaram bem menores e até mesmo bateu palmas.
  - E então, ? – Lottie perguntou.
  - O pior é que eu não sei! – Como um teste de revista me deixava indecisa? Passei as mãos pelos cabelos embaraçados pelo cloro, tentando me decidir. – Uhhh, letra A!
  - Interessante resposta! Próxima: Qual dessas características físicas é mais marcante em você? – O entrevistador continuou com a entrevista após marcar algo com a caneta. – A) É morena. B) Tem olhos verdes. C) Tem olhos azuis. Ou D) Tem cabelo claro. Acho que podia ser C e D! De qual gosta mais?
  - Dos meus olhos azuis, com certeza!
  - Qual estilo o seu namorado deve seguir? – Fomos para a terceira pergunta e Harry ainda ria. – A) Urbano, com tênis esporte e jaqueta varsity. B) Casual, com calças e camisetas lisas e com cores neutras. C) Certinho, com calça jeans escura e camiseta pólo. D) Colegial, com blazers que lembram uniformes de escolas inglesas.
  - Bem, meu namorado usa jaquetas, então...
  - Não pode responder pensando no seu namorado, ! – Lottie entrou na onda e me reprimiu. – Esse teste é pra descobrir com quem da banda One Direction você namoraria!
  - Mas eu namoro alguém da banda One Direction!
  - Ei, ei, deixem ela escolher! Já falou letra A! – Ni marcou mais alguma coisa com a caneta, parando com aquela discussão toda.
  Continuamos aquele teste com mais dez perguntas, mas levamos meia hora para terminá-lo. Niall se empolgava com as perguntas e Harry morria de rir com as mais idiotas, como por exemplo: “Qual o seu encontro ideal?”. Sério, quem cria essas coisas? Pelo menos rimos e nos divertimos muito. Lottie parecia cada vez mais apegada a Niall, não só por desejar o seu corpo nu, mas porque os dois pareciam se dar realmente bem.
  - Fala logo o resultado! – Insisti pela terceira vez, mais curiosa do que eu gostava de admitir.
  - Seu gato dos sonhos, é... – Niall bateu no colchão como se fossem tambores. – HARRY!
  - ESTOU AQUI! – Haz respondeu, mais uma vez não entendo.
  - Sério?! – Cobri a boca com as mãos para não gritar alto demais.
  - Com licença, meninos... – Minha mãe abria a porta devagar, apenas colocando a cabeça pra fora. – O jantar começará em uma hora. É melhor se arrumarem...
  - Obrigado, tia! – Não foi a sobrinha dela que respondeu, e sim Harry.
  - Já estamos indo, mum. – Sorri para Johannah. Não havíamos passado muito tempo juntas desde que chegamos ali, mas eu estava feliz por vê-la tão sorridente.
  - Podem avisar aos outros meninos também? e Olivia já estão sabendo. – Jay acenou um “tchau” rápido e se retirou.
  - Bem, acho melhor ir avisar aos meninos que eles estão solteiros. – Arrisquei fazer uma piadinha, já esperando que Harry não a entendesse. Para a minha surpresa, ele voltou a rir.
  - Isso mesmo, . E vamos anunciar nosso noivado no jantar da sua mãe. – Harry piscou.
  Foi a minha vez de voltar a rir. Se levarmos em consideração o natal passado, Harry e eu já havíamos nos beijado. Eu com certeza o considerava bonito e algumas fãs nos consideravam um casal bonito. Não teria nada de errado em namorarmos ou ficarmos noivos... A não ser a pequeníssima questão de ele ser o namorado do meu irmão! E eu a namorada do melhor amigo dele, claro. Mas enfim. me deixou levantar cama sem me seguir e permaneceu deitado. Lottie e Niall também se mexeram, provavelmente para começarem a se arrumar para o jantar. Eu só esperava que os dois fizessem isso separadamente...
  Não estava exagerando quando falava que devia me arrumar para o jantar, porque não seria simplesmente um “jantar” qualquer. Seria o jantar de ensaio para o casamento. Segundo a organizadora que estava cuidando de todas as coisas relacionadas à cerimônia e etc, era nesse jantar que algumas tradições seriam efetuadas, como os primeiros agradecimentos dos noivos e discursos de quem quisesse se arriscar. Eu particularmente já estava nervosa o suficiente com o discurso que teria que dar no dia seguinte, graças a minha posição como madrinha de casamento, portanto não planejava falar nada ao microfone naquela noite em especial.
  Deixei o quarto para trás, na esperança de encontrar os meninos logo. Sei que ter ligado seria muito mais simples, mas confesso que estava com saudades dos braços do meu namorado. Sem falar que pessoalmente seria mais fácil convidá-lo para tomar banho comigo; se é que me entendem, cof cof. Passei pelo corredor daquele andar, me perdendo em toda a perfeição das paredes e janelas altas. O único lado ruim de se morar em um castelo como aquele deveria ser a complicação para limpar tudo ou a preguiça de caminhar 1km só pra chegar ao banheiro! Exageros a parte, chequei o primeiro quarto à direita do meu, que devia ser de Liam e Niall. Vazio.
   O próximo quarto pertencia ao meu irmão e meu “namorado perfeito da banda One Direction”. Apesar de ainda estar um pouco claro, eu podia ver pela fresta embaixo da porta que a luz estava acesa, então os meninos deviam mesmo estar ali dentro. Uma idéia passou pela minha cabeça e um plano de assustá-los começou a ser bolado inconscientemente. Agarrei a maçaneta redonda e dourada com certa força, girando-a o mais devagar que consegui, tentando não chamar a atenção de ninguém. Prendi os lábios um ao outro com força, evitando risadas que teimavam escapar. Como imaginei, os três restantes estavam ali. Zayn era o único de pé e andava de um lado para o outro, de costas pra mim. Liam e Louis sentavam na ponta da cama, sérios.
  - Mas, Zayn, é a ... – Liam falou, me fazendo congelar e parar onde estava.
  - Eu sei que é! E o problema é justamente esse! – Zayn passou uma mão pelos cabelos, não como fazia ao querer bagunçá-los; mas da forma que mostrava que estava preocupado com algo.
  - Você tem que contar pra ela. – Lou pediu, olhando do chão para o menino de pé. – Antes que...
  - Me contar o que? – Cansei de ficar ali escutando e abri mais a porta, me fazendo ser notada.
  - ... – Zayn parecia ter visto um fantasma quando se virou pra me encarar. Eu, no entanto, tentava não tirar conclusões precipitadas.
  - E então? – Cruzei os braços, andando pelo quarto até estar perto dos três meninos. – O que tem pra me contar?
  - Uh... Acho melhor irmos dar uma volta... – Louis falou ao começar a se levantar e Liam fez o mesmo.
  - Fiquem aí. – Não foi um pedido, estava mais pra uma ordem. Liam e Louis voltaram a sentar rapidamente e voltei a me virar para Zayn, aguardando uma resposta.
  - Ok, ok... Tudo bem! – Aparentemente ele adquirira a minha mania de repetir as palavras ao ficar nervosa. – Tudo bem, eu conto... Só... Me escuta, por favor. A Modest! está com um plano novo... Bem, eles querem criar rótulos para nós cinco, sabe? Niall, o adorável que sempre está de bem com a vida e não se importa com nada... Louis, o líder responsável que namora uma garota normal. Liam, o “paizão” que leva as coisas a sério. Harry, aquele que flerta com todas e é um womanizer. E, bem, eu... O bad boy.
  - Estereótipos que não tem nada a ver com a realidade! – Descruzei os braços pra colocar as mãos na cintura. Eu devia saber que algo assim logo aconteceria. – Eles estão cada vez mais loucos.
  - Tem mais... – Voltou a falar. – Eles não acham que vai ser bom pra essa imagem que eles querem criar de mim... Eu ter uma namorada. Querem que eu apareça solteiro.
  - O que? – Quase não tive forças pra falar. Querer “criar uma imagem” era uma coisa, mas obrigá-lo a terminar comigo era outra. Meu estômago revirou enquanto esperava por mais informações.
  - Nós não vamos terminar, Anjo, claro que não! – Deu um passo na minha direção, me acalmando um pouco mais. – Eu sairia da banda se esse fosse o preço. Só... Fingir. Marco disse que isso se chama “staged breakup”. É quando um casal finge se separar, mas só por causa da mídia.
  - Menos mal... Eu acho... – Na verdade não achava nada. Aquilo ainda me pegara de surpresa e eu mal conseguia colocar meus pensamentos no lugar. – A gente faz o que tiver que fazer... Aquele Marco nunca gostou de mim! Tenho certeza que ele está adorando tudo isso. Argh, eu estou com tanta raiva!
  - Eu também fiquei com muita raiva, ! – Zayn me abraçou. Podia sentir meu sangue ferver, mas apenas o contato de seu corpo serviu para colocar um pouco de serenidade em minhas ações. – Tive que me segurar muito pra agüentá-lo durante o resto da nossa viagem em Los Ang...
  - Espera... – Dei um passo para trás, me soltando de seus braços. – Há quanto tempo você sabe disso?
  - Ficamos sabendo no dia daquela reunião que durou o dia todo, logo quando você chegou...
  - Mas isso foi há três semanas. – Minha voz quebrou. Apertei os braços junto ao corpo, quase como uma forma inconsciente de me proteger do que quer que fosse. – E você só me contou agora? Isso porque eu escutei a conversa!
  - Talvez... Devêssemos ir... – Foi a vez de Liam tentar escapar.
  - Já falei pra ficar! – O olhei brava, obrigando-o a sentar.
  - Eu tive medo! Eu tive tanto medo da sua reação, ou do que você pudesse fazer quando descobrisse isso. – Zayn mexia os braços como se não conseguisse ficar parado. Já eu, mal me movia pra respirar. – Eu pensei que...
  - Isso é ainda pior, Zayn, você não percebe? – Minhas orbes arderam, mas lutei contra a urgência de lacrimejar. Às vezes eu queria não ser tão sentimental! – Foi sobre isso que eu falei com você, na noite da varanda... Eu sinto que você não me conta mais as coisas, como se estivesse me afastando. E não costumava ser assim. Eu era a primeira pessoa pra quem você corria, fosse por coisas boas ou ruins. Você devia ter falado comigo antes, para que pudéssemos conversar e entender juntos tudo o que teríamos que fazer pra lidar com isso. Juntos, entende?
   Como sempre que alguma coisa assim acontecia, minha primeira reação foi dar as costas para Zayn e me afastar em direção à porta. Eu não estava chorando, mas queria liberar aquela frustração que apertava o meu peito de qualquer forma. Várias coisas nebulavam meus pensamentos e o que falava mais alto era a dúvida: “Como foi que isso aconteceu? Quando nos tornamos assim?” Zayn e eu sempre fomos tão perfeitos um para o outro que descobrir que ele começara a esconder certas coisas de mim me incomodou. Não é como se eu quisesse saber de tudo tudo, apenas o que era importante e necessário que eu soubesse.
  - , me desculpa! Eu devia ter te falado antes, não sei como fui tão idiota. – A sua voz me fez parar antes de chegar à porta e dar meia volta. – Eu pensei que isso fosse demais pra você... Tive medo que pudesse desistir.
  - Eu? A pessoa que esteve do seu lado em todos os momentos, te apoiando em todas as suas decisões? Quem sempre acreditou cegamente no seu potencial até mesmo quando nem você acreditava nisso? – Passei as mãos pelo rosto como uma reação irracional, mas da qual eu estava completamente consciente. – É isso que você vê em mim? Zayn, eu te amo! E não desistiria disso que nós temos por nada, muito menos por uma decisão da Modest!. E pensar que você achou isso... É como se não me conhecesse mais.
  - Baby... – Sussurrou. Seus olhos estavam cheios de culpa e o corpo um pouco curvado. Ele sentia muito.
  - Desculpa, eu preciso ir. – Com a voz embargada, retornei para a porta. – Está quase na hora do jantar, é melhor se arrumarem.

+++

  O jantar de ensaio foi simplesmente lindo! A minha mãe e Dan estavam radiantes, sorrindo o tempo inteiro! Até mesmo faziam brincadeiras um com o outro e era fácil ver Jay gargalhando e atraindo os olhares de todos que estavam por ali. O salão de jantar onde a refeição foi servida também era incrivelmente lindo; ficava na parte sul do castelo, em um lugar extremamente grande. Como todos os outros cômodos, a decoração me lembrava muito a renascença francesa e acho que esse era o objetivo. Apenas uma mesa de banquete estava no centro, assim como aquelas que vemos em filmes antigos. A decoração era da mesma cor do tema do casamento: Rosa, azul e verde, todas bem claras. Mais quadros que retratavam cenas históricas ou apenas paisagens enfeitavam as paredes absurdamente altas.
   A comida também estava maravilhosa e o que foi bom pra mim, deixou Niall decepcionado. Como todas as porções eram gourmet, vinham em pouca quantidade, o que me agradou, já que eu não teria conseguido comer mais do que aquilo. Niall, por outro lado, reclamou constantemente que as porções não o encheriam de jeito nenhum. Minha mãe escolheu um cardápio requintado e ao mesmo tempo delicioso, o que incluía: Crudités, Navarin d’agneau e cheesecake com cobertura de frutas vermelhas. Também é óbvio que, do meu grupo de amigos, eu era a única que realmente sabia pronunciar aqueles nomes. Nem mesmo Louis que dominava a língua francesa tão bem quanto eu parecia conseguir!
   Admito que a noite teria tudo para ter acabado tão bem quanto o dia começou, se não fosse a discussão que tive com Zayn horas antes. Mesmo com o banho longo que tomei para relaxar e com o vestido roxo lindo que eu pude usar, meu humor não melhorou nem um pouco desde que deixara o quarto de meu irmão. Prova disso é que nem ao menos fiz questão de me sentar ao lado de Zayn, ocupando uma cadeira entre James, meu primo, e Phoebe. Claro que, mesmo assim, nossos olhares acabavam se cruzando e os dele me falavam o que sua voz nunca confessaria. Ele estava triste e arrependido de não ter me contado nada por tanto tempo e eu também não devia ter “fugido” daquela maneira, porém, estava chateada e tinha esse direito.
   Acima de tudo, sentia medo. Medo de que isso continuasse e de que ele passasse a me esconder coisas ainda mais sérias. Temia que Marco continuasse a se intrometer na vida dos meninos como se controlasse até mesmo quando eles respiram ou não. E não devia ser assim... Vida profissional é uma coisa, mas a vida pessoal de cada um dos cinco é algo completamente diferente! Além do que, porque diabos seria melhor passar uma imagem falsa para o público quando as personalidades verdadeiras dos meninos eram tão perfeitas? Não sei, realmente não sei.
   Enquanto conversava com James sobre qualquer coisa desinteressante dos seus planos para o futuro, senti a minha bolsa de mão vibrar sobre o meu colo. Ok, pode ter sido estranho ser a única pessoa com uma bolsa durante aquele jantar, mas que culpa tenho se meu vestido maravilhoso não tinha bolso? Carregar meu celular na mão é que não dava! Pedi licença e aproveitei que os pratos começavam a ser retirados para levantar e me afastar da mesa. Podia ser Carine ligando, então eu teria que atender.

  
“Patch se soltou e está aterrorizando o vilarejo.”

  Essa foi a mensagem que li e vinha de . Levantei o rosto para procurá-la com os olhos e a encontrei do outro lado do salão, também fora da mesa. Levantei as mãos como se falasse que não entendi absolutamente nada e a enxerguei balançar a cabeça em negação, logo encarando o próprio celular e digitando mais alguma coisa. Não seria mais fácil vir falar comigo?

  
“Liv acabou de passar pelo seu quarto e disse que a porta estava aberta! Nenhum sinal de . Estamos nos dividindo pra cobrir todo o perímetro. Você tem que ir procurar no Salão A.”
  “Estou indo!”

  Enquanto a respondia, praticamente corri em direção à porta do salão de jantar. Zayn devia ter deixado a porta aberta ao sair, já que foi o último a se arrumar para mini-festa. Por um lado estava tranqüila, porque tinha certeza que meu filhote não tão pequeno assim saberia fazer o seu caminho de volta se não saísse de dentro do hotel. Por outro, ele ficaria perdido se chegasse ao lado de fora e se aventurasse nos vários campos da propriedade. Eu tinha que achá-lo! Não só eu, mas qualquer pessoa. Antes de sair, dei uma última olhada em , que falava algo com Liam. Só os dois ainda estavam naquele lugar, o que me fez acreditar que todos os outros já procuravam pelo nosso mascote.
   Minha mãe me viu saindo, mas não falou nada. Estava feliz demais para se preocupar com qualquer coisa. “Salão A, Salão A...” Onde ficava mesmo esse salão?! Direita! Segui a direção apenas depois de ter certeza que não me perderia. Por sorte, não estava muito longe daquele lugar onde a cerimônia de casamento seria realizada. Torcia fielmente para que estivesse lá, mas que todos os enfeites e decorações ainda estivessem inteiros. O pior que poderia acontecer àquela altura era ter que refazer todo o trabalho que os funcionários tiveram para arrumar tudo minuciosamente. O som de conversas e brindes ia ficando pra trás conforme eu avançava no corredor que não acabava nunca.
   Chegando ao meu destino, a porta entreaberta me alarmou. Não era um espaço muito grande, mas qualquer animal, por maior que fosse, poderia passar por ali tranquilamente. Empurrei a madeira para poder passar e parei um pouco, estudando tudo que estava montado por ali. Não chegava a ser uma igreja ou coisa assim, apenas uma grande sala digna de bailes de contos de fadas, com um tapete branco comprido que atravessava de ponta a ponta, servindo de Ave. Fileiras de cadeiras de madeira igualmente brancas estavam arrumadas dos dois lados e no dia seguinte todas seriam ocupadas por amigos e familiares dos noivos. Ainda acima da ala onde Dan e Jay fariam sua última caminhada antes de se tornarem marido e mulher, galhos claros e retorcidos faziam uma espécie de telhado sobre o túnel. Era simplesmente mágico.
  - ? Bo, vem cá... – Resolvi me concentrar na minha tarefa e começar a procurar o ser perdido. – Bebê, não faz isso com a mummy, cadê você?
  - Esse lugar está incrível, não é? – Uma voz confortavelmente inesperada surgiu das sombras.
  - Você devia vê-lo com as luzes acesas. – Evitei olhar pra o menino que caminhava na minha direção tão rápido quanto uma tartaruga. – O que você está fazendo aqui, Zayn?
  - O mesmo que você... Procurando o Bo. – Parou no meio da Ave, respeitando o meu espaço caso eu não quisesse a sua aproximação.
  - Claro... ... Não acredito que caí nessa. – Ri sem muito humor, me sentindo idiota por ter caído nessa armação. Eu devia saber que ele pediria a ajuda da minha melhor amiga pra conseguir ficar a sós comigo.
  - A intenção dela foi boa...
   Queria ver se eu fizesse algo assim, trancando-a em um quarto com Niall, se também seria por uma boa intenção! Zayn continuou parado, iluminado apenas por alguns raios de luz que entravam pelas janelas laterais e pela porta aberta atrás de mim. Não sei porque, mas gostava de vê-lo tão vulnerável como naquele momento. As mãos enfiadas nos bolsos, o olhar maravilhado como se a pessoa em sua frente fosse a mais interessante do mundo... Simplesmente lindo. Toda a minha pose defensiva me deixou e minhas expressões relaxaram. Era Zayn que estava ali, por Deus! Pra quê ter hostilidade? Andei o resto do caminho até ele, parando com a diferença de uma cadeira entre nós dois. Deixei a minha bolsa de mão sobre um assento próximo e suspirei sem saber ao certo o que falar.
  - Não posso esperar pra te ver andando em um corredor como esse. – Comentou quase despreocupado, sem tirar os olhos amendoados de mim.
  - Bem, você está com sorte! – Tentei imitar o tom do outro. – Amanhã Lou e eu estaremos desfilando na passarela!
  - Você sabe o que eu quis dizer, . – Ficou um pouco mais sério.
  - Sei, mas e você? – Puxei o ar com força. Não queria voltar a me descontrolar e nem fugir daquela conversa. – Com tudo que a Modest! tem feito pra controlar você e os meninos, acha mesmo que eles não te impediriam de fazer qualquer coisa que você quiser?
  - Não se o que eu quiser for você.
  - Zayn, as coisas não são tão simples assim e-
   Fui impedida de terminar a minha frase, pois duas mãos prenderam a minha cintura e lábios quentes e familiares foram pressionados aos meus. Resisti pelo que pareceu um segundo inteiro até me derreter nos braços daquele garoto. Era assim que as coisas deveríamos ser, nós dois encaixados, sem preocupação alguma. Por todo o tempo que aquele beijo surpresa durou, eu esqueci de qualquer coisa fora daquele salão. Apenas Zayn existia e ele era tudo que me importava.
  - Você tem que parar de fazer isso! – Tentei reclamar assim que nossos lábios se separaram, mas meu sorriso me denunciou.
  - Parou de funcionar? – Ergueu uma sobrancelha, sorrindo presunçoso. Juntou nossas bocas mais uma vez antes de me deixar responder.
  - Nem um pouco. – Acariciei seu rosto com a ponta dos dedos.
  - Eu realmente sinto muito... E você estava certa em tudo que falou.
  - Sei que estava. Só não me esconda mais nada...
  - Não vou, eu prom... – O interrompi, colocando o indicador sobre seus lábios. Zayn me observou confuso.
  - Promessas tem um peso muito grande pra mim, então não prometa o que não puder cumprir. – Tive meu dedo beijado, por isso sorri. – Não fale nada.
  - Eu te amo.
   Ok, isso ele podia falar! Como estava de salto alto, não precisei ficar na ponta dos pés para abraçá-lo; por mais que gostasse disso. Tudo ficaria bem. Tudo estava ficando bem. Apertei os braços em volta de Zayn, querendo sentir o corpo dele bem junto ao meu, seu coração batendo tranqüilo e o aroma de seu perfume. Fui enlaçada com a mesma necessidade e até recebi alguns beijos pelo ombro e pescoço. Nos soltamos com um pouco de relutância e demos as mãos. Imaginei que fossemos voltar para o jantar, mas fui pega de surpresa quando o menino nos guiou até a ponta contrária do salão, no final da Ave, onde um palanque com três degraus bastante largos foram colocados especialmente para o casamento. Zayn sentou no do meio e eu fiz o mesmo, mantendo-me ao seu lado.
  - Como vai ser tudo? – Não tinha certeza se queria saber, mas precisava saber.
  - Primeiro você precisa saber que a Modest! é muito maior que só o Marco, . É uma equipe gigantesca de mais de vinte pessoas que estão espalhadas por aí, em vários setores que nós nem imaginamos. – Não soltou a minha mão em momento algum, acariciando-a com o polegar. Estava calmo, assim como eu. – E eles são poderosos. Se você soubesse tudo que eles controlam...
  - Eu devia ficar com medo? – Não fui irônica, pois sentia isso.
  - Não enquanto eu estiver ao seu lado. – Sorriu com ternura, me atraindo para encostar a cabeça em seu ombro. – A Modest! controla tudo que sai na mídia sobre nós. Todas as revistas, entrevistas, programas de TV... Eles tem uma lista enorme sobre o que podemos falar ou não. Apenas esses blogs independentes é que tem controle sobre as próprias coisas que escrevem, já que não tem muita credibilidade.
  - Como o Blind Gossip? – Prestava atenção em todas as informações que recebia, ligando uma coisa à outra. – Eles já postaram tanta coisa sobre vocês! Mas quase ninguém acredita...
  - Exatamente. São esses sites que acabam mostrando a realidade. – Deitou a cabeça sobre a minha, sua respiração pesando. – “As mentiras bonitas e verdades feias.” Vão se aproveitar de todo esse poder que tem sobre a mídia pra espalhar um boato... Sobre a gente. Que, supostamente, vai nos fazer terminar. E teremos que criar uma “cena” e tornar isso acreditável.
  - Qual boato? – Levantei a cabeça para olhar suas expressões. Zayn fez o mesmo e seu olhar perguntava: “Quer mesmo saber?” – Pode falar, por favor...
  - O boato é que eu te traí. – Quase senti a dor em suas palavras.
  - Mas como não vão desconfiar que é uma... Manobra publicitária? – Mordi o lábio inferior, sentindo o estômago revirar. – Quero dizer, vocês tem fãs maravilhosos e parece que eles trabalham para o FBI, porque sempre descobrem algo aqui ou ali...
  - Esse é justamente o caso. A Modest! não quer deixar vestígios. Eles já tem todo um plano arquitetado...
  - E como é esse plano?
  - Contrataram uma mulher... Ela trabalhava como garçonete em um restaurante onde eu e os meninos fomos algumas vezes, antes de você chegar em L.A.. – Encarou o espaço vazio na nossa frente, mas não prestava atenção em nada. – E, bem... Ela vai “soltar a bomba”. Afirmando que uma noite a levei para o hotel e...
  - Não sei se quero detalhes. – Ri baixo, tentando amenizar o clima que começava a pesar.
  - Claro que não! – Sua atenção se tornou novamente minha. – Para resumir, ela é mais uma fantoche da Modest!
  - E, quando “terminarmos”... O que acontece? Não podemos mais ser visto juntos. – A última frase foi uma afirmação, mas soou mais como uma pergunta.
  - Como eu disse, a Modest! controla a mídia no que é relacionado a nós. Não vão poder falar nada e nem mostrar fotos nossas juntos, mesmo que nos vejam passeando de mãos dadas no Hyde. Só não podemos ser óbvios demais, porque as pessoas na rua não podem ser processadas caso postem coisas assim.
  - A gente consegue. – Foi só o que eu consegui falar.
  - Disso eu nunca duvidei.

  

Chapter XIV

- Olha quem resolveu descer para o café da manhã! – acenou incessantemente, apontando a cadeira vazia entre ela e Zayn.
  - Morning, my babies.Comprimentei todos os meus amigos com um sorriso.
   Não passava nem das nove horas da manhã e Louis, Liam, Harry, Niall, Zayn, Olivia, e Charlotte estavam reunidos em uma das várias mesas espalhadas pelo jardim do Chateau. A maioria dos outros convidados estava por ali também, se deliciando com o café da manhã requintado e saboroso. Pelo que pude ver, todas as mesas tinham a mesma coisa: Porções com todo tipo de coisa, fossem doces ou salgados. Eu prometera a mim mesma que não iria comer muito aquele dia, para que pudesse caber perfeitamente no meu vestido de madrinha de casamento, mas essa tarefa seria muito difícil porque até mesmo o cheiro que pairava naquele jardim parecia querer me torturar.
   Assumi o lugar entre o meu namorado e a minha melhor amiga, deixando um beijo nos lábios desse primeiro antes de me servir de chá. Era certo milagre todos estarem reunidos e eu gostava de ser cercada por todos eles. Claro que Niall e estavam o mais longe possível um do outro e não trocavam palavra alguma, mas ao menos estavam suportando ficar no mesmo lugar que o outro. Devo culpar o casamento da minha mãe pelo clima gostoso que parecia contagiar o hotel inteiro! A cerimônia aconteceria em poucas horas e a festa viria logo em seguida. Não posso falar por mais ninguém, mas eu pretendia dançar até o sol nascer.
  - O que te tirou da cama tão cedo? – Enquanto todos ali pareciam conversar entre si, puxei assunto com Zayn, que sorriu imensamente por ter a minha atenção.
  - Eu senti vontade de sair pra caminhar... Aproveitar a manhã. – Deu de ombros, pegando um mini donut na mesa. – Acho que são os ares do campo.
  - Uau, quem diria? Zayn Malik acordando cedo pra caminhar... – Achei aquilo difícil de acreditar, mas sabia que ele não esconderia nada de mim em um bom tempo. – Se você morasse em uma fazenda, seria daqueles que acorda cedo pra ordenhar a vaca e pegar ovos no galinheiro pra ter um café da manhã fresco.
  - Só se você estivesse esperando pra cozinhar esses ovos. – Piscou após engolir o pedaço do doce que mastigava. – Por falar nisso, provou esses ovos Benedite?
  - Ovos Benedict? – Gargalhei, mas desconfiava fielmente que Zayn errara o nome de propósito, só por saber que eu iria rir disso. – Já sim. Só não estou com fome agora...
  - , você tem que provar isso aqui! – segurou um pãozinho recheado com algo branco e coberto por um pó que parecia farinha. – É divino! Pelo menos prove!
  - Tudo bem... – Fiz uma pequena careta, ainda com as minhas desconfianças, mas seria mais fácil provar um e acabar logo com isso. Peguei o pãozinho e dei uma mordida. – Hmm... Nada mal...
  - Acho que você se sujou um pouco. – Zayn colocou o braço nas costas da minha cadeira. Me virei em sua direção pra perguntar onde estava sujo e fui impedida por um beijo. – Pronto, agora está limpa!
  - Obrigada, mon amour. – Não sei se agradecia pelo beijo ou por ter sido limpa.
   Terminei de comer aquele pãozinho e também a minha xícara de chá. não foi a única a tentar me empurrar coisas pra comer, porque Olivia e Lottie também me encheram de coisas pra provar. Tudo estava uma delicia, isso preciso admitir. Vez ou outra, Harry piscava pra mim e mandava beijos, irritando o meu irmão sempre que fazia isso. Zayn, por outro lado, ria junto comigo ou apenas ignorava. Eu poderia passar mais duas horas sentada naquela mesa, dando atenção para cada uma das pessoas, e provavelmente teria, se Dan não tivesse se aproximado.
  - O que vocês pretendem fazer agora, crianças? – O noivo da minha mãe olhava de mim para Louis.
  - Eu estava pensando em jogar Polo de Jardim, sabe? – respondeu, fazendo todos olharem pra ela.
  - Acho que ele estava falando com a e o Lou, ... – Liam a fez se tocar.
  - Estava sim, mas se quiser jogar, sugiro que peça ao James, primo deles. Ontem a tarde nós dois jogamos algumas partidas e ele tem bastante técnica! – Daniel sorriu para a ruiva e voltou a sua atenção para mim. – E então?
  - Bem, eu tenho um casamento no final da tarde, mas por agora estou livre! – Sorri.
  - Eu também tenho um casamento hoje! – Louis deu uma batidinha na mesa, fingindo estar surpreso. – Acho que devíamos ir juntos.
  - Ótimo! Eu gostaria de passar um tempo com vocês, quero dizer... Eu vou me casar com a mãe de vocês hoje, não é?
  - Três casamentos em um dia? Qual seria a chance disso acontecer? – Meu irmão continuou.
  - Nós adoraríamos, Dan. – Aceitei por nós dois, fazendo o nosso futuro padrasto sorrir.
  - Maravilha! Vou buscar o carro, então. – Fez sinal de “ok” com os dedos e se virou.
  - Psiu, . – sussurrou, não tão discreta assim. – Esse James... É bonito?
  - É sim, . E menor de idade. – Era só o que me faltava, ela querer ficar com o meu primo de dezessete anos.
  - Idade é só um número. – Ela rebateu.
  - Diga isso para a policia. – Zayn jogou uma bolinha de guardanapo em cima dela.
  - Você vai se comportar enquanto eu estiver longe? – Deixei a ruiva de lado, me virando para o moreno.
  - Eu sempre me comporto. – Seu sorriso travesso comprovava que aquilo era mentira.
  - Acho bom! – Fiz de conta que acreditei naquilo.
  - Provavelmente só vou sair pra correr com o . Precisamos deixá-lo cansado, se não quisermos que ele fique entediado e resolva destruir o quarto enquanto estivermos no casamento.
  - Posso te acompanhar? – Harry se ofereceu. – Já que a minha namorada vai sair...
  - Eu volto logo, honeybuns. – Mandei um beijo para o menino de olhos verdes.
  - Não estou gostando dessa história... – Dessa vez Zayn reclamou.
  - O que posso dizer? O resultado do teste foi claro. – Segurei o riso, fazendo uma cara séria. – Harry e eu somos almas gêmeas.
  - , Dan chegou. – Lou me chamou, já levantando de sua cadeira.
  - Ok, eu tenho que ir. Tchau, baby. – Antes de também levantar, selei meus lábios aos de Zayn uma última vez. – Tchau, Hazza-bear. Até mais tarde, pessoal!
   Quando Dan falou que ia “buscar o carro”, imaginei que ele falasse um carro de verdade, por isso não contive uma risada ao ver que ele dirigia um carrinho de golfe. Até que fazia sentido, pois aquele era o melhor transporte para andar dentro dos perímetros do Chateau e, com poucas horas para o casamento, a melhor opção seria não ir muito longe. Lou deu um beijo no namorado e acenou para o restante, assim como eu fiz, e correu até o carrinho de golfe, ocupando o seu lugar ao lado do motorista. Não me importei por ter sido obrigada a me sentar no banco de trás, que iria de costas para os dois outros homens ali; conseqüentemente de costas para o caminho. Contanto que eu não ficasse enjoada, tudo ficaria bem.
   Acenei para a minha mãe assim que ela fez o mesmo. Seu sorriso não tinha preço! Ela parecia muito feliz por estar vendo os seus dois filhos indo passar um tempo com o homem que amava e era justamente por isso que eu aceitara aquele convite de Dan sem nem pensar direito sobre o assunto. Me sentei confortavelmente ao lado de uma maleta de ferramentas um pouco grande e três objetos compridos que pareciam varetas. Meu futuro padrasto deu partida no carro e tive que me segurar no ferro ao meu lado, caso contrário teria caído.
  - Tudo bem aí atrás, ? – Lou riu do grito que soltei ao quase escorregar do banco.
  - Estou bem! – Me virei para olhá-los. – Hey, Dan, vamos pescar?
  - Encontrou as varas, não foi? – O mais velho continuou dirigindo em frente, mas fez isso com calma. – Sim, vamos pescar!
  - Elas são meio difíceis de não ver...
  - Não se isso foi uma boa ideia, Dan. – Meu irmão comentou divertido. – A tem medo!
  - Não tenho nada! – Meu tom saiu mais afinado do que eu gostaria, me fazendo soar como uma menina birrenta de cinco anos de idade. – Só não gosto de tirar os peixes do anzol. Eles nunca param de se mecher!
  - Não se preocupe, , eu posso fazer isso por você. – O homem sorriu pelo retrovisor. – A mãe de vocês ainda está olhando?
  - Provavelmente... – Louis se virou para trás, tentando espiar a pequena multidão que ficara pra trás. – Mas estamos longe demais pra poder ver qualquer coisa.
  - Finalmente! – Não entendi porque aquilo era uma coisa boa até o mais velho nos olhar com um fogo infantil em suas orbes. – Se segurem, crianças.
   Aquele aviso veio mais tranqüilo do que eu teria esperado. Logo em seguida, Dan pisou com tudo no acelerador, fazendo o carrinho de golfe dar uma arrancada bruta, mais uma vez me obrigando a segurar com força na grade ao meu lado. Dessa vez tive que ficar completamente de costas para meu irmão e futuro padrasto, caso contrário não teria apoio; meus cabelos sendo jogados contra o meu rosto e a minha tiara quase saindo voando. Não fui a única a gritar, pois Louis soltou um “WOHOOO” que se misturou ao meu “AHHHH, SOCORRO”. Dan não desacelerou nem quando passamos por uma espécie de colina baixa, fazendo o nosso veículo dar um pequeno salto nada delicado. Agora além de me segurar, tinha que proteger a caixa de ferramentas e as varas de pescar! Perfeito.
   Não demorei muito pra começar a rir e me divertir com aquela corrida maluca. Era a primeira vez que passávamos um tempo sozinhos com aquele homem, portanto só então descobrimos esse lado divertido que ele escondia. Rapidamente os seus gritos se tornaram mais altos e animados que os nossos, se é que isso era possível. Continuamos naquela velocidade alta até avistarmos o lago onde a nossa pescaria se passaria. Ao menos assim não acabaríamos caindo na água! O lugar era tão lindo quanto qualquer outro naquele terreno, mas o contato com a natureza ficara ainda mais forte. Grama continuou sendo o tapete que cobria o chão inteiro e apenas algumas árvores grandes e folhosas estavam espalhadas por aqui e por ali, nos protegendo do Sol de verão. O lago era igualmente verde e limpo, até mesmo convidativo, diga-se de passagem. Ah, se eu estivesse com biquíni por baixo do vestido e sem tênis...
   Fui a primeira a descer do carrinho assim que estacionamos. Ao invés de vir me ajudar a pegar as nossas ferramentas de pesca, Lou preferiu caminhar até o lago e explorar o lugar à nossa volta. Dan, por outro lado, se colocou ao meu lado, pegando as coisas mais pesadas e deixando apenas a vara que escolhi como sendo minha para que eu carregasse. Andamos lado a lado até certo ponto na grama, onde os objetos foram colocados e o futuro-padrasto se sentou. Fiz o mesmo, sem saber ao certo no que ajudar. Lou não demorou para se juntar a nós, já tirando os sapatos e deitando na grama.
  - , essa aqui já está pronta, só falta colocar a isca. – Dan ofereceu a vara de pescar azul que segurava em troca da minha. – E você vai fazer isso!
  - Okay, Dan! Você é que manda. – Apoiei o objeto azul em meu colo e tomei liberdade para abrir a caixa de ferramentas e procurar algum pote com salsicha ou pão, que era o que eu já havia usado para pescar antes. – Onde estão?
  - Bem aqui. – Tirou de dentro de lá uma caixinha verde de metal, mais pesada do que eu esperava. – Prenda bem, certo? Caso contrário os peixes vão roubar a nossa isca.
  - Espera... Não, não, não, não, não... – Quase joguei a caixinha para o lado quando vi as dezenas de minhocas se contorcendo ali dentro. – Eca, eca, eca, eca.
  - Vamos lá, ! – Louis se sentou ao ver o meu desespero e começou a rir. – Encare isso como um ritual de passagem!
  - Eu não quero! – Não conseguia parar de fazer careta e entortar o nariz. – Lou, faz isso pra mim!
  - Ele vai fazer outra coisa! – Dan estava querendo me torturar, era a única explicação. – Louis, consegue trocar o anzol dessa aqui?
  - Deixa comigo. – Ainda ria de mim e pegou a vara restante.
  - Ok, muito bem, , você consegue fazer isso... – Falei sozinha, lembrando da minha resolução de fim de ano. – Ousar mais, isso mesmo. Ainda que seja muito, muito nojento.
  - É assim que se fala! – Dan encostou o cotovelo no meu braço como incentivo.
  - Aham, sei. – Fiz cara de brava, semi-cerrando os olhos. Respirei fundo algumas vezes e apenas abri um dos olhos para pegar uma minhoca. Seria melhor se ela fosse pequena e fina, mas era comprida, gordinha e gelada. – Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah... Aaaaaaaaaaaaaaah...
  - E então, Lou? One Direction, huh? – Dan resolveu ignorar o meu piti e começou a falar com Louis. – Deve ser incrível passar por tudo isso. Todos os fãs querendo tirar fotos, autógrafos... Milhões de pessoas gritando a onde quer que vocês vão.
  - É realmente incrível, Dan! Subir em um palco e ver todas aquelas pessoas cantando junto com você... – Lou sorriu enquanto falava, quase me distraindo de minhas próprias reclamações de nojo. – Há alguns momentos que você só para e pensa: “Uau, olha onde eu estou! Esse é o meu trabalho, é o que eu tenho que fazer todos os dias.” É inacreditável.
  - Isso parece perfeito! – O segundo comentou enquanto eu tentava dar um nó com a minhoca no anzol.
  - É claro que há o lado ruim disso... Quero dizer, quase não temos privacidade alguma e a pressão em cima de nós é muito grande. Sem falar que devemos obedecer todas as decisões dos nossos empresários. – Meu irmão não parecia triste ao falar sobre aquele assunto, o que me surpreendeu. Soltei um gritinho quando a minha minhoca caiu em minha perna, mas ninguém pareceu se dar conta. – É o preço que pagamos, mas meio que vale a pena. É como se pra ter todas as essas coisas boas, devemos ter algumas ruins. E eu estou disposto a isso.
  - É um jeito de ver as coisas. Até porque... , o que você está fazendo? – Dan se interrompeu ao olhar pra mim. – Não é assim que se coloca!
   O adulto pegou o anzol e a minhoca das minhas mãos, o que me fez agradecer mentalmente. Limpei as mãos no meu vestido enquanto Dan enfiava o verme propriamente no anzol, com uma facilidade que eu nunca teria. Lou voltou a rir da desgraça dos outros – nesse caso, a minha – e pegou outra minhoca para prender em seu próprio anzol. Apenas fiquei ali observando os dois homens fazerem seus trabalhos de homens. O meu trabalho deveria ser só iluminá-los com a minha humilde presença, ou dar apoio moral, não melecar as mãos por causa de um bicho nojento que não parava de se contorcer! Admito que me senti mal pela minhoquinha quando o noivo de minha mãe a prendeu no anzol como se a vestisse ali como uma meia.
  - Pronto, . – Esticou a vara pronta e com a isca presa na minha direção. – Agora você sabe o que fazer, certo?
  - Minha parte preferida! – Me coloquei de pé antes de pegar a vara e logo fui para a perto das margens do lago. Mesmo ali na frente, já dava pra ver que era bem fundo.
  - Só tenha cuidado com a gente... – Meu irmão pediu ao me ver destravar o molinete e balançar para trás e para a frente, jogando o meu anzol o mais longe possível. – Wooooow, essa foi boa!
  - Eu disse que era a minha parte preferida! – Os olhei por cima do ombro, adorando o olhar surpreso no rosto de cada um.
  - Lou, só mais uma coisa... Não diga para as meninas que eu pedi isso, ok? Bem, Phoebe e Daisy são muito fãs do One Direction, então se não fosse pedir muito...
  - Qualquer coisa, Dan! Fotos, autógrafos, uma temporada em nossa casa em Londres... Você é que manda. – Meu irmão sorriu.
  - Mesmo? Uau, elas vão ficar tão felizes! – O segundo comemorou. – Só não quero que pense que estamos nos aproveitando ou coisa assim...
  - Nah, não se preocupe, Dan. De irmã aproveitadora eu entendo.
  - HEY! Eu ouvi essa. – Reclamei, sentando mais uma vez e segurando a vara com firmeza. – Mas sabe quem vai gostar das meninas? A Lux!
  - É a sua outra imã, não é?
  - Sim... Ela vai fazer dois anos em setembro, mas é muito esperta. – Quase pude ver o sorriso bobo nos lábios de Lou. – É a filha do nosso pai e da Rach, que também é nossa stylist.
  - Eu gostaria de conhecer o pai de vocês. – Dan e Louis já estavam com suas iscas prontas e se aproximaram de onde eu estava. – Sua mãe sempre fala dele. Ela me contou o que... Bem, tudo que ele fez. Só um grande homem faria isso.
  - Ele é um grande homem sim. – Lou sentou à minha direita. Ele devia tantas coisas ao nosso pai...
  - Mas você também é um grande homem, Dan. – Olhei para o outro à minha esquerda. – Você mudou tudo quando apareceu na vida da minha mãe. A transformou em outra pessoa... Alguém extremamente feliz.
  - Jay é o amor da minha vida.

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  Demoramos um pouco mais que o esperado para retornar da nossa pescaria, por isso todos já haviam almoçado e nós três tivemos que comer qualquer coisa na cozinha mesmo. Ninguém se importou, além de mim claro. Não por eu me achar boa demais pra comer por ali, mas estava simplesmente encharcada! Meu querido irmão fez o ótimo favor de ME JOGAR DENTRO DO LAGO! E, pra piorar, não consegui fazer o mesmo com ele. Por mais que isso tivesse me refrescado bastante, duvido que alguém fosse gostar de andar por aí com um vestido de algodão colado ao corpo, sem falar na bagunça que o meu cabelo ficou!
   Por outro lado, encontrei uma pequena surpresa ao adentrar o Chateau. Todos haviam sido separados em dois grupos: Homens e mulheres. Sendo assim, o grupo em que eu estava selecionada passaria o resto da tarde em um SPA, ao lado da minha mãe que teria o seu “Dia de Noiva”. E o outro grupo faria... Não faço idéia. Provavelmente fariam coisas de garotos, talvez uma despedida de solteiro improvisada. Preferi não pensar em Zayn em um clube de strip, mas isso não vem ao caso agora. Assim que tomei um rápido banho para tirar o cheiro de lago da minha pele e cabelo, vesti um biquíni simples e um roupão branco que me foi entregue por uma funcionária.
   Assim que desci para encontrar as minhas amigas no SPA, desejei ter conhecido aquela parte do castelo mais cedo. Diferente dos centros de beleza que eu conhecia, aquele em questão ficava no ultimo andar, com uma vista maravilhosa que era proporcionada por todas as paredes de vidro que cercavam a sala. No lado direito, a minha avó e sua filha aproveitavam uma massagem com pedras quentes que deviam fazer milagres. Encontrei Liv e perto de uma parede, ambas deitadas em cadeiras de pedra e pelas expressões de prazer em seus rostos, algo devia estar acontecendo. Lottie também captou o meu olhar, acenando com a mão livre, pois a outra estava no colo de uma manicure. A música que embalava o ambiente era calma e relaxante, o que obrigava todas as mulheres dali a ficarem caladas ou conversarem bem baixo.
   Sem saber muito bem onde queria ir primeiro, olhei em volta mais uma vez, constatando as dezenas de opções que me aguardavam. Foi nessa segunda olhada que reconheci uma garota de cabelos presos por uma trança e roupão felpudo como o meu. Ela estava sozinha e parecia ser ignorada por todas. Não propositalmente, creio eu, apenas por não ter intimidade com ninguém. Eu sabia quem ela era e por isso fiquei meio em duvida se deveria ir atrás dela ou não. Meu lado bondoso acabou falando mais alto – que surpresa, não? haha – e caminhei até ela, com um sorriso simples, mas amigável.
  - Eleanor, você chegou! – Fizemos aquilo de dar um beijo em cada bochecha, sem realmente encostar, e nunca vi algo tão desajeitado.
  - Sim! Eu devia ter chegado mais cedo, mas não quis incomodar... Acabei enrolando na cidade, mas acho que ainda cheguei cedo demais. – Sorriu de canto, tímida, escondendo as mãos no bolso.
  - Você não está incomodando ninguém, acredite! – Eu podia não gostar da idéia de ela ter que fingir ser a namorada do meu irmão, mas não era sua culpa. O que custava ser legal com a menina? – Se importa em ter a minha companhia?
  - Não mesmo! Eu iria adorar. Estou meio sozinha aqui... – Seu sorriso se tornou um pouco mais animado.
  - Ótimo! Por onde devemos começar? – Olhei em volta, captando uma banheira de hidromassagem vazia. – Pode ser ali?
  - Você é que escolhe!
   Desde que vi aquela menina pela primeira vez no aeroporto, tive a impressão de que ela era quieta e calma; o que ainda permanecia até aquele momento. Talvez se nos tornássemos colegas ela poderia deixar de ter um pé atrás e se abrir. Nós duas caminhamos até a banheira de hidro e fui a primeira a tirar o roupão e entrar na água. A menina pareceu um pouco acanhada ao me imitar e, para a sua sorte, não podia ver as caretas que fazia do outro lado da sala enquanto nos observava. A reprovei com o olhar, não gostando nada dessa atitude e Liv me compreendeu, pois deu um tapa em sua cabeça. Um tapa fraco demais, só pra constar.
  - Então, El... Posso te chamar assim, certo? – Me sentei em uma ponta da banheira, encontrando uma espécie de banquinho. Eleanor afirmou que sim com a cabeça e voltei a falar. – O que você faz?
  - Bem, atualmente estou terminando o segundo ano na Manchester University... Onde estudo política e sociologia. – Segui a direção de seus olhos quando uma funcionária vestida de branco se aproximou da nossa banheira com um balde de madeira na mão. – Não é tão divertido ou artístico quanto ballet...
  - Mas se é o que você gosta de fazer, não tem nada de errado com isso. – Política e sociologia? Uau, ela devia ser muito inteligente! A mulher começou a despejar o conteúdo do balde dentro da banheira, o que parecia ser um pó branco que deixou a água com aquela mesma coloração. Era como se estivéssemos nadando em leite. - Eu não sabia que você morava em Manchester...
  - Nasci e fui criada em Londres, mas tive que me mudar por causa da UNI. – Explicou enquanto éramos banhadas por pétalas de rosas e fatias de laranja e limão. – É por causa disso que trabalho com o que trabalho... Sei que você devia estar morrendo de vontade de perguntar! Preciso me manter.
  - Só um pouco de vontade... – Ri, brincando com algumas bolhas que se formavam na água turva e cheirosa. – Mas se precisa se manter... Porque não procurou um emprego mais... Normal?
  - Esse era o plano, na verdade. Fiz algumas campanhas como modelo da Hollister e foi aí que eu conheci o pessoal da empresa de coverups. Eles me encantaram com toda essa idéia de conhecer pessoas famosas... E o pagamento também não era nada mal! – Foi me contando como se estivesse um pouco envergonhada de suas escolhas. – Não sei, pareceu uma boa idéia na época.
  - Imagino que sim. – Não precisei forçar um sorriso. Eleanor não era tão ruim quanto poderia ser, quero dizer, ela só era uma garota normal que aceitou as oportunidades que precisava aceitar.
  - Não me ofereci pra ser a beard do Louis pra me aproveitar, pode ter certeza! Eu era fã da banda desde a época do X Factor, então se pode dizer que conheço um pouco dele. – Deitou um pouco em seu banco assim que uma moça tocou os seus ombros para começar uma massagem. – E me importo com ele e com Harry... Quero o mesmo que você, que tudo fique bem.
  - Obrigada, El. – Não sabia exatamente pelo que agradecia. Podia ser por ela estar me contando tudo aquilo, ou simplesmente por estarmos no mesmo lado de batalha. Outra moça veio até mim e também se ocupou de meus ombros.
  - Eu é que tenho que lhe agradecer, . Por ser sempre tão legal comigo. – Eleanor fechou os olhos, tranquila. – É meu primeiro trabalho assim, mas conheço meninas que sofreram muito...
  - Não se preocupe, ok? Tenho certeza que todos vão te adorar quando tiverem a chance de te conhecer.

+++

  O tratamento de SPA veio com uma espécie de pacote de salão de beleza, que incluía: Cabelo, maquiagem, manicure, pedi-cure e outras coisinhas do tipo! Quando todas terminaram a tarde de beleza, já estávamos prontas e vestidas! Eu particularmente me sentia muito bem dentro do meu vestido, que coube perfeitamente! Valeu à pena passar algumas horas sem comer ou comendo pouco. E o melhor é que eu não sentia como se fosse desmaiar, então ponto pra mim. Minha mãe foi a única que ganhou um quarto reservado só para si, o que impediu que eu e as outras convidadas a víssemos antes da hora. Consegui, também, fazer com que Eleanor conversasse com , Olivia e Charlotte. A minha prima foi a que mais a acolheu, visto que não estava tão por dentro dos dramas com a Modest! quanto as outras duas amigas. El ainda se sentia mais a vontade comigo, mas a noite seria longa...
   Os familiares e convidados “normais” já haviam tomado os seus assentos no lugar onde a cerimônia iria acontecer; no salão onde eu e Zayn fizemos as pazes na noite anterior. Ainda não vira o resto das decorações ou como aquele salão ficava na luz do dia e por isso estava super curiosa! As portas que separavam o corredor daquele último destino estavam fechadas, mas ainda era possível escutar um murmúrio vindo do lado de dentro. Todos pareciam estar nervosos, já que ninguém ali fora – onde eu estava – parecia sustentar uma conversa por mais de cinco minutos. , Lottie e Liv vestiam a mesma coisa, com a exceção dos sapatos e bijuterias; também carregando um mini buquê de flores brancas.
   O único menino ali fora era meu irmão e eu nunca o vira tão radiante. Não usava gravata com o seu blazer, porém, não havia muita necessidade. Ele passava uma mão na outra na tentativa de se manter calmo. Ao menos não bagunçava o cabelo como teria feito em outras ocasiões; seu topete estava perfeito demais para que fosse destruído antes mesmo do casamento. Tentei caminhar até ele para que pudéssemos nos acalmar mutuamente, mas fui interrompida pela minha avó. Jolene informou que a minha mãe queria falar comigo antes sair, então tive que correr até uma sala menor ao lado do salão principal, onde a noiva estava “escondida”.
  - Mum? – Abri a porta devagar, sem bater. Espiei o interior do quarto, encontrando-a facilmente. – Mon Dieu...
  - ... – A mulher sorriu ao escutar a minha voz, se virando para me olhar. Eu já a vira dentro daquele vestido antes, mas hoje estava especialmente e incrivelmente de tirar o fôlego.
  - Não sei nem o que dizer... – Acho que a palavra que mais me definia naquele momento era “hipnotizada”. Caminhei até aquela mulher que agora mais parecia uma princesa. – Você é a noiva mais bonita que eu já vi...
  - Não me faça chorar! – Riu com a voz embargada, mas acho que seria justo, já que eu mesma estava lutando contra algumas lágrimas. – Você também está linda, querida.
  - Não tanto quanto você! – Segurei a mão dela, ficando completamente arrepiada. – Nervosa?
  - Muito! Não lembrava que o frio na barriga era tão grande assim...
  - Mas é um frio bom, certo? Quero dizer... Você está se preparando pra passar o resto da sua vida ao lado do homem que ama... – Suspirei, acariciando sua mão na minha. Por mais que nunca tivesse passado por uma emoção como aquela, imaginava a sensação.
  - Será? Quero dizer, não seria a primeira vez que algo dá errado... Eu não consigo passar por outra separação, . – Jay olhou pra baixo, visivelmente com medo daquilo.
  - Não pense assim, por favor. Eu amo o meu pai, você sabe disso, mas ele não era o homem certo pra você. – A toquei no ombro com uma mão e usei a outra para arrumar seu véu transparente. – Dan é a pessoa certa pra você e tenho certeza que vão ficar juntos para todo o sempre! É completamente normal sentir um pouco de duvida, mas você não duvida que o ama, certo? E é isso o que importa. Agora no salão aqui ao lado, tem um homem lhe esperando e ele quer te dar tudo que você sempre sonhou. Prova disso é esse castelo digno de uma princesa! Agora vá lá e se torne uma rainha.
  - Quem diria que eu estaria recebendo conselhos da minha própria filha no meu casamento? – Foi uma pergunta retórica, já que uma pequena lágrima rolou de seu olho antes de nos abraçarmos com força.
  - As damas de honra já entraram e a cerimônia está começando... – A voz da organizadora soou na porta, não sendo o suficiente para fazer com que nos separássemos.
  - A noiva sempre se atrasa! – Falei, ainda agarrando a minha mãe. Quase senti como se ela estivesse indo para longe e aquela fosse nossa despedida. – Je T’aime, mummy.
  - Eu te amo mais, meu amor. – Ela parecia tão relutante em me soltar quanto eu.
  Apesar de a noiva sempre se atrasar, nós tínhamos que ir. Ri ao ver que ambos os nossos rostos estavam molhados e agradeci com todas as forças pelas nossas maquiagens serem a prova d’água, pois algo me dizia que aquela não seria a única vez que eu choraria nas próximas horas. Secamos as lágrimas umas das outras e Jay deu uma última olhada em seu reflexo no espelho, arrumando um fio ou outro de seu cabelo que saíra do lugar. Apesar disso, estava mais que perfeita. Demos as mãos para caminhar até a saída daquela sala, onde apenas Louis, Phoebe, Daisy e a organizadora nos aguardavam. As damas de honra e os outros realmente já haviam entrado e uma musica suave podia ser ouvida. A noiva recebeu o seu buquê de rosas brancas.
   A reação de Lou foi basicamente igual a minha, pois também mal conseguiu expressar o quanto a nossa mãe estava linda. Nossas futuras meio irmãs também a elogiaram bastante, cada uma segurando seus devidos objetos. A menina que eu acreditava ser Daisy segurava uma cestinha com pétalas de rosas vermelhas e a outra levava uma almofadinha com as alianças. As duas estavam lindas, é claro, com seus vestidos de cor um tom abaixo do meu próprio. As portas se abriram rapidamente só pra que ambas pudessem passar e fazer o que foram treinaras para fazer.
  - Venham quando estiverem prontos. – A organizadora que eu sabia se chamar Kali, ou algo assim, nos informou e também passou porta a dentro.
  - Tem certeza que quer fazer isso? – Lou perguntou para a noiva. – Ainda dá tempo de desistir...
  - Louis! – O repreendi. Vai ver era por isso que ela pedira pra falar comigo e não com ele!
  - O que? Só quero que ela saiba que tem essa opção!
  - Obrigada, Lou, mas estou certa disso. – A mais velha riu. – Vá em frente, .
  - Okay... Boa sorte!
   Antes de me virar para a porta, dei um último abraço apertado na mulher que estava prestes a se casar e também um beijo em Louis. Seria possível que eu estivesse nervosa? O casamento nem era meu! Passei as mãos pelo vestido, confirmando se estava tudo no lugar. Com um pequeno aceno, informei que iria entrar e por isso os outros dois se afastaram um pouco. Dessa forma, quando as portas fossem abertas, não poderiam ser vistos ainda. Como madrinha, eu teria que andar sozinha e só podia torcer para que o meu salto alto não prendesse no chão e causasse a minha queda. “Muito bem, , pensamento positivo, é isso aí.”
   Foi só girar um pouco a maçaneta que as portas foram abertas por quem quer que estivesse do lado de dentro. A música mudou quase instantaneamente, onde uma mulher cantava ao microfone, acompanhada por uma pequena banda. Todos estavam ali... Os convidados levantaram de suas cadeiras, olhando na minha direção, Dan no altar, esperando a sua princesa entrar, Liv, Lottie e mais ao lado, também de pé e viradas para mim... Até mesmo Zayn estava no altar, representando o meu irmão na posição de padrinho. Sabia que se olhasse muito pra ele, acabaria esquecendo o que devia fazer.
   Um sorriso tomou conta do meu rosto quando comecei a caminhar. Realmente era algo totalmente diferente ver aquele salão com a luz natural do fim da tarde. Os raios de Sol entravam pela direita, onde as janelas abertas deixavam que a suave brisa nos embalasse. O cheiro das rosas, também brancas que enfeitavam alguns cantos daqui e dali, enchia os meus pulmões. Era algo realmente inspirador. O tapete branco que me guiaria até o altar estava repleto das pétalas vermelhas que uma das gêmeas havia espalhado e era impossível não pisar em algumas ao caminhar.
   Levantei o rosto e meu olhar acabou conectando-se ao de Zayn, que parecia ter esquecido de como respirar. Imaginei o rubor que tomara conta de minhas bochechas quentes e preferi ignorá-lo. Algo que sempre gostei em casamentos era o primeiro olhar que o noivo tinha de sua futura esposa, um misto de emoção e deslumbramento. O casamento podia não ser meu, mas tinha certeza que a forma que Zayn me olhava estava muito próxima do que eu imaginava que seria esse primeiro olhar. Meu sorriso só aumentou quando ele percebeu a mesma coisa que eu. Dan esticou a mão na minha direção assim que já estava perto o bastante dele e aceitei aquele gesto. Tive as costas da minha mão beijada e em seguida pude me posicionar ao lado de Zayn no altar.
   A estrela da noite demorou o que pareceu uma eternidade para aparecer na porta, ao lado esquerdo de meu irmão. Ele era mais baixo que ela, mas ninguém se importou com isso, visto que ele estava fazendo um ótimo trabalho em substituir papá. “Oh, God, lá vem as lágrimas de novo...” Tentei me controlar, mas isso se tornava cada vez mais impossível. Johannah parecia ainda mais bonita agora que era iluminada apenas pelos raios de Sol. Olhei para Dan, que levara uma mão até os lábios. Seus olhos falavam claramente o quanto ele estava encantado, quase que sob um feitiço. Minha mãe também quase chorava mais uma vez, porém, ela tinha mais força que eu. Todos os convidados estavam de pé, inclusive nana, que estava na primeira fileira para ter uma vista privilegiada.
   Zayn permanecera ao meu lado e a ponta dos seus dedos encontrou as minhas, querendo me passar possivelmente duas coisas: A) Está tudo bem chorar agora. E B) Não precisa chorar ainda, a cerimônia vai ser longa. Não prestei muita atenção em nenhuma das duas, apenas me contentando com o seu toque quente. Minha mãe logo se juntou a seu noivo no altar, me passando o buquê que segurava e beijando Louis no rosto para que ele então pudesse seguir até o seu lugar ao lado da nossa avó.
  - Queridos amigos, estamos reunidos aqui hoje... – O mesmo padre que fizera a cerimônia de despedida do meu avô celebraria aquela nova. – Para celebrar a união de Johannah e Daniel...

+++

  - Eu achei que você nunca ia parar de chorar! – riu.
  - Cala a boca! – Fiz careta pra ela, me aninhando ainda mais nos braços de Zayn, que me envolvia com carinho.
   A cerimônia toda havia sido a coisa mais linda que qualquer pessoa poderia sonhar. O padre não ficou meia hora fazendo um discurso chato, apenas disse o que era pra ser dito e foi direto para os votos de casamento, onde a Jay e Dan juraram todas aquelas coisas de “na doença e na saúde”. Não era de se estranhar que eu tivesse chorado praticamente o tempo inteiro! Não fui a única, já que todas as amigas e familiares dos dois noivos – agora marido e mulher – choraram também; ao menos um pouco. Os “Aceito”s também foram trocados e jogamos arroz enquanto os dois principais corriam para fora daquela sala.
   A Recepção estava quase começando, mas ainda havia alguns detalhes que deveriam ser tirados do caminho antes que pudéssemos curtir a festa. Um em particular me deixava bem nervosa. O jardim onde o brunch de mais cedo havia sido servido parecia um lugar completamente diferente agora! Ainda era completamente coberto por grama, com a exceção do tablado baixo que fora colocado em frente ao palco onde a banda tocava, improvisando perfeitamente uma pista de dança. O palco em si não era muito alto, com pouco mais de um metro de altura. Mesas compridas e quase eternas estavam montadas nas laterais, com seus enfeites e arranjos de flores e pratos limpos e vazios, esperando o banquete de jantar ser servido.
   As luzes ainda eram completamente naturais, já que o pôr do Sol estava quase começando e vários potes de vidro estavam espalhados por aí, pendurados com velas acesas em seu interior. Me senti em um jardim onde fadinhas e seres místicos moravam. Ali, ao lado do palco, apenas eu, Louis, Zayn e esperávamos o que estava por vir. Por mais que acreditasse que estava ali apenas para me perturbar, gostei de tê-la por perto. Harry, Liam e Niall estavam igualmente arrumados com seus blazers e gravatas, mas foram para a frente do palco, reservando seu lugar de honra. O resto dos convidados, incluindo Eleanor e as famílias que acabavam de se juntar. Os noivos também estavam ali na frente, abrindo a primeira garrafa de champanhe.
  - Deixa a minha pequena em paz, cabecinha de fogo. – Zayn beijou o topo da minha cabeça. Ele era o único que entendia o quanto eu estava emocionalmente abalada.
  - Nesse caso eu também vou defendê-la, . – Lou passou um braço em volta da baixinha. – Ela tem que ficar tranqüila, porque vai subir ao palco em... Cinco minutos.
  - Já?! – Senti o sangue congelar, escondendo o rosto no pescoço do meu namorado.
  - Não fique assim, babe... Você já sabe o que falar, não?
  - Sei sim... – Saber eu sabia, mas isso não facilitava nada.
  - Aliás, vai ser em inglês ou francês? – A ruiva perguntou algo realmente importante dessa vez.
  - Falei com a minha mãe e ela deixou que eu falasse tudo em inglês, pra que vocês pudessem entender... – Ergui o rosto. – Já basta a cerimônia que vocês perderam.
  - , estão prontos pra você. – Kali retornou, esticando a mão para que eu pudesse subir ao palco.
  - Boa sorte! – Zayn roubou um beijo antes de me soltar.
  - Você vai arrasar, ! – Minha melhor amiga me apoiou.
  - Ok, ok, eu já fiz pior que isso... – Falei sozinha. – Já representei Julieta na frente de três mil pessoas, posso fazer um pequeno discurso...
  - É assim que se fala! – A organizadora me ajudou a subir ali.
   Assim que viram algum movimento, a platéia que me aguardava bateu palmas. Todos já estavam com suas taças de champanhe e ganhei a minha assim que ocupei meu posto em frente ao microfone. Minha mãe era a que mais sorria, curiosa com o que eu tinha preparado para falar, apesar de não segurar copo agum. Dan também era só sorrisos, não largando a sua esposa de forma alguma. O fotógrafo contratado estava por ali também, registrando não só os convidados, como eu também. O nervosismo foi passando aos poucos. Por mais que estivesse com tudo anotado em um papel, preferi deixá-lo no quarto e falar o que eu já havia decorado. Limpei a garganta disfarçadamente e dei mais um passo para me aproximar do microfone.
  - Antes de começar, eu gostaria de dizer, mum, você está absolutamente linda! E, Dan, você também não está nada mal! Para aqueles que não me conhecem, meu nome é e sou a filha de Jay. Vocês também podem me reconhecer como a que estava chorando mais... – Ri da minha própria piada e não fui a única, já que todos ali pareciam ter achado graça. Logo meus nervos foram se acalmando e obtive mais confiança para continuar. – Quando Johannah me contou, preste atenção, ela me contou e não me pediu, que eu fizesse um discurso, eu imaginei que esse fosse o seu jeito de se vingar de qualquer coisa que eu possa ter feito enquanto crescia. Recentemente eu percebi que é na verdade uma honra estar aqui na frente, falando com todos vocês! Porque vocês são as pessoas que Jay e Dan mais amam. Eles lhes convidaram porque este dia não seria o mesmo sem cada um. Em nome da minha família, eu gostaria de agradecer a todos por virem. – Fui obrigada a dar uma pausa, já que recebi aplausos e gritinhos de todos. – Eu também gostaria de tirar um momento para lembrar de pessoas muito importantes para os noivos que não puderam estar aqui hoje, mas que amariam ter visto os dois se casarem e sempre estarão em nossos pensamentos. Charles, o pai da noiva, e Ellie, irmã mais velha de Dan. – Outra pausa foi feita, dessa vez para que todos ficassem em silêncio. Mais uma vez os olhos de minha mãe se encheram de lágrimas e me controlei para não acabar da mesma forma. – Não existem palavras que possam explicar o relacionamento entre a minha mãe e eu, mas acho que isso resume um pouco: “você não é somente a minha mãe, como foi a minha primeira amiga”. E ela se parece muito com a minha melhor amiga, conversadora, divertida e sempre me colocando em encrenca! Muitas pessoas vêem-na como uma segunda mãe, doce, cuidadosa e carinhosa. Mas como sua filha, eu a vejo de forma um pouco diferente. Como a maioria de vocês sabe, Jay é uma pessoa muito artística, sempre criando e fazendo arte, no sentido mais literal da palavra. Mas algo que eu me lembro vividamente é que ela sempre costumava sair cantando pelos cantos da casa. Sim, mum, você não perdia uma oportunidade de cantar, não é? Uma coisa boa é que Louis não herdou o talento dele de você! – Outra piadinha que os fez rir, é eu estava me saindo bem! – Eu não conheci Dan antes que a minha mãe o fisgasse de vez, por isso não posso contar histórias engraçadas a seu respeito, que provavelmente o deixaria envergonhado, mas eu posso falar pra vocês que o acho a pessoa perfeita para a minha mãe. Ele é amável, adorável e o melhor de tudo... Tem um coração enorme. Sendo assim, gostaria de dizer que você é mais do que bem vindo à nossa família, assim como Phoebe e Daisy, essas duas princesas que já considero como irmãs. Mas, Dan... Tenho alguns conselhos pra você, já que conheço a sua nova esposa há vinte anos. Primeiramente, ela sempre está certa. Segundo, ela sempre precisa de roupas novas! Terceiro, ela nunca parece gorda em nada! E por último, mas mais importante... Se ela está certa, admita. Se não está… Não fale nada. – Uma onda de risadas encheu o jardim e me senti mais orgulhosa ainda. – Para finalizar, eu gostaria de propor um brinde à Dan e Jay. Que sua vida juntos seja cheia de amor, risadas, saúde e que vocês vivam felizes para sempre! Cheers!
   Encerrei o meu brinde, podendo respirar tranqüila. Elevei a minha taça de champanhe e todos fizeram a mesma coisa. Em seguida, recebi mais aplausos gerais e Jay e Dan sorriam tanto que poderiam rasgar as bochechas a qualquer momento. Todos os meninos estavam rindo e levantavam as taças na minha direção. Minhas meninas também pareciam orgulhosas e juro que vi secar uma lágrima de seus olhos, torcendo para que eu não visse isso. Dei um gole na bebida fria e senti as bolhas fazerem cócegas na minha língua. Olhei para a minha esquerda, onde Louis me aguardava.
  - Agora eu gostaria de chamar ao palco, o padrinho... Também conhecido como Louis! Meu irmão. – Estiquei o braço para que Lou fosse até ali. – Obrigada mais uma vez!
  - Boa tarde a todos! – Lou ficou no meu lugar, tirando o microfone do pedestal. – Como não sou tão bom em discursos como a minha querida irmã, pensei em algo um tanto diferente para oferecer como homenagem aos noivos. Por favor, queiram abrir espaço na pista de dança, para que Dan e Jay possam ter a primeira dança como casal.
  - Como eu fui? – Perguntei a Zayn, que me esperava ainda ao lado palco.
  - Incrível! Acho que o seu discurso devia entrar pra história. – Segurou na minha cintura quando pulei para o chão, fazendo a minha decida ser bem mais graciosa. – Agora vem, tem que ver a dança...
  - Desde quando dança te deixa tão animado? – Ri enquanto era puxada pela mão quando o menino correu para que nos juntássemos ao circulo de pessoas que também se preparava para assistir.
  - Você vai ver. – Piscou misterioso.
  - Como é a tradição, os pais do noivo e da noiva devem ser os primeiros a dançar com seus respectivos filhos. – Lou voltou a falar assim que o espaço havia sido liberado, deixando apenas os noivos ali no centro. – Senhora Lucile, poderia acompanhar o seu filho, por favor?
  - Vem cá. – Zayn mais uma vez me puxou pela mão, nos guiando entre as pessoas enquanto a mãe de Dan ia se juntar a ele no centro da pista.
  - Hey, ! – Liam me abraçou assim que chegamos perto dele e de Niall. – Ótimo discurso!
  - Obrigada! Você está lindo. – Beijei a bochecha do mais alto e em seguida, assoprei um beijo para o loiro. – Você também, Ni.
  - Isso é óbvio! – Jogou os cabelos invisíveis ara o lado.
  - E para dançar com a rainha da noite, senhor Zayn Malik, queira fazer o favor de se apresentar! – Lou chamou o menino, causando todos olharem na direção deste último.
  - Volto logo! – Zayn era o menos surpreso entre nós, por isso sorriu enquanto me deixava com nossos amigos.
   Meu queixo caiu assim que ele fez uma reverência para a minha mãe e esticou a mão para que ela aceitasse o seu convite. Aquela dança também seria de papá e mais uma vez ele era substituído perfeitamente. Claro que nunca seria a mesma coisa, mas Jay estava tão feliz com o seu casamento, com a sua festa, que não se importou nada em ter que dançar com o namorado de sua filha. Li me olhou como se perguntasse: “Você sabia disso?” e eu só balancei a cabeça de um lado para o outro. A banda contratada para fazer a música da recepção já estava por ali, em seus devidos instrumentos, e Lou deu um sinal para que começassem a tocar.

  
Wise men say only fools rush in
  But I can't help falling in love with you
  Shall I stay
  Would it be a sin
  If I can't help falling in love with you

  Louis começou a cantar com todo o seu coração e sua voz macia foi o que Zayn precisou para trazer a minha mãe para perto de si e ambos começarem a valsar pela pista. Sem as minhas aulas particulares, aquilo teria sido um verdadeiro desastre! O menino devia saber dos planos de meu irmão desde que me pedira para ensiná-lo a dançar e eu nem ao menos desconfiei! Como sempre, Zayn me surpreendera completamente. Liam passou o braço em volta de meus ombros quando funguei, ameaçando começar a chorar novamente. “Se controle, !” Briguei comigo mesma e ainda assim foi complicado me manter centrada.

  
Like a river flows surely to the sea
  Darling so it goes
  Some things are meant to be
  So take my hand, and take my whole life too
  Cause I can't help falling in love with you

  A dança dos dois não durou muito, pois os noivos ainda eram o centro das atenções. Dan envolveu a minha mãe como se fossem duas metades se encaixando depois de muito tempo. Todos bateram palmas e gritaram assim que ele a girou por baixo de seu braço. Meu irmão sorria em cima do palco. Era estranho vê-lo lá em cima sozinho, quando seus quatro companheiros não o acompanhavam, mas mesmo assim era lindo vê-lo e escutá-lo. Zayn mais uma vez me surpreendeu ao tirar nana pra dançar. A mãe de Dan também dançava com o pai dele, então acho que fazia sentido. Os três casais flutuavam calmamente na frente daquela multidão que estava ali só por causa de Jay e Dan.

  
Like a river flows so surely to the sea
  Oh my darling so it goes
  Some things are meant to be
  So won't you please just take my hand,
  and take my whole life too
  Cause I can't help falling in love
,   in love with you

  Liam entrelaçou os dedos aos meus, desfazendo nosso abraço. O olhei surpresa quando nos juntamos aos outros casais na pista de dança. Apenas um casal de amigos da minha mãe nos imitou, porém, isso não me impediu de aceitar o convite silencioso de Li. Minha mão direita foi para seu ombro e a esquerda encontrou a dele. Liam usou a mão livre para segurar as minhas costas e liderar a dança. Desde quando ele aprendera a dançar bem? Foi fácil imaginar Zayn passando pra ele as lições que eu mesma o ensinara, o que me fez rir. Liam sorriu sem entender muito bem os motivos de minhas risadas, só que isso não o parou.
   Assim que a música chegou ao seu fim, todos bateram palmas tanto para Louis quando para o casal que acabara de ter a sua primeira dança como casal. Por enquanto, os afazeres cerimoniais haviam acabado, então todos estavam liberados para fazer o que quisessem. Pelo canto do olho, vi Lou pular do palco e abraçar Harry, que o esperava ali embaixo. Os vocalistas da banda eram um casal, o que daria uma diversidade muito grande às musicas que tocariam, pois não ficaria preso a um gênero só. Prova disso foi o novo clássico que começou a embalar quem ainda estava na pista de dança.
  - Posso roubar essa dama? – Zayn apareceu e fez com que Liam desse um passo para trás e me deixasse ser tomada pelo menino.
  - Cuide bem dela. – Liam beijou a minha mão, galanteador.
  - Acho que estou em boas mãos. – Afirmei para o meu ex-par e entrelacei os dedos aos do novo. – Ótimas mãos...
  - Ótimas mãos, lábios, olhos, corpo... – A humildade em pessoa me orientou até o meio da pista de dança. O Sol já estava bem mais baixo e agora as velas eram o que mais nos iluminavam. – Como dancei?
  - Perfeitamente! – O abracei pelo pescoço e fui enlaçada pela cintura, deixando-me ser conduzida pela canção e por ele. – Não sei como não desconfiei antes!
  - Sou bom em fazer surpresas. – Sorriu galanteador. – Mas foi idéia da sua mãe...
  - Ela sempre teve boas idéias. – Fui levantada do chão por alguns segundos e rodopiada em seguida. – Prova disso é que foi idéia dela ter uma segunda filha!
  - Essa com certeza foi a melhor idéia de todos os tempos, com toda certeza! – Beijou os meus lábios assim que fui presa em seu corpo mais uma vez. – E o seu discurso? De onde tirou as idéias pra escrevê-lo?
  - Sabe que eu não sei? A inspiração só veio pra mim. – Sorri. Ainda estávamos falando sobre isso? Ótimo! – Acho que é um novo talento.
  - Vai me ajudar a escrever o meu?
  - Você não precisa fazer um discurso, baby... Acho que dançar com a minha mãe já foi o suficiente.
  - Não estou falando desse casamento. – Rolou os olhos como se me chamasse de lerda. – Estou falando do discurso no nosso casamento.
  - É claro que não vou te ajudar! – Não era uma boa idéia falar sobre aquele assunto enquanto meu emocional estava tão abalado quanto naquele momento, mas Zayn sempre arrumava um jeito de tocar na questão, então pode-se dizer que eu estava acostumada. – Se quiser ajuda, peça ao Tom. Aliás, boa sorte pra superá-lo. Já te mostrei o vídeo do discurso dele?
  - Algumas vezes. – Rolou os olhos mais uma vez, dessa vez com certo tédio. – Meu discurso vai ser melhor que o dele, pode apostar.
  - Acho bem difícil. – Brinquei, querendo irritá-lo. Logo tive meu corpo girado mais uma vez e dessa vez parei de costas para Zayn.
  - Sabe que gosto de te surpreender. – Cochichou ao meu ouvido, fazendo com que um choque elétrico percorresse todo o meu corpo.
  - ZAYN, OS MENINOS ESTÃO TE CHAMANDO! – Um grito feminino chamou a nossa atenção. Claro que tinha que ser !
  - O que será agora? – Paramos de dançar e ri, olhando-a dançar totalmente fora do ritmo.
  - Não sei, mas é melhor ir lá antes que ela faça algum escândalo. – Me girou uma última vez, dessa vez ficando frente a frente, e roubou um beijo demorado. – Não some.
  - Não sairei daqui! – Relutantemente deixei que ele se fosse.
  - Estão prontos pra começar a festa? – O vocalista da banda perguntou e foi respondido com vários gritos, inclusive o meu.
   Os casais foram se desfazendo devagar, enquanto a maioria ia se sentar ou pegar bebidas e comidas nas mesas reservadas para isso. Minha mãe e Dan continuaram ali, ignorando o resto do mundo. Braços leves envolveram os meus ombros e o cabelo dourado denunciou Olivia. A abracei com um sorriso, puxando-a pra dançar comigo. A nova música que a banda tocava era animada, então logo nos deixamos contagiar. Liv tinha o jeito pacífico, mas gostava de dançar quase tanto quanto eu. Demos as mãos e começamos a girar, cada uma fazendo peso para um lado. Tive medo de cair ou escorregar, por causa do meu salto fino, e tentei não me preocupar com isso.
  - Estou tonta! – Liv também gargalhou e paramos de girar.
  - Para de ser fraca! – Ainda segurando as mãos dela, arrisquei alguns passos dos anos setenta, dando passinhos para um lado e para o outro, sendo acompanhada perfeitamente por ela.
  - Se eu cair, te levo junto! – Jogou os braços pra cima quando foi solto e deu alguns pulinhos. Passo que gostei de chamar de “minhoca maluca.”
  - Já começou a beber? – Sabia muito bem que Olivia não bebia, mas qualquer um que a visse assim iria duvidar muito da sua sobriedade.
  - Nunca parei! – Brincou, se contendo um pouco ao ver que recebia olhares de um menino moreno e alto; o dito cujo devia ser da família de Dan, pois eu não o conhecia. – Uhhh...
  - Está fazendo sucesso, Liv. – Cochichei pra ela, dando pacinhos de um lado para o outro. – Por que não vai lá falar com ele?
  - Estou aqui com a minha amiga, não vou trocá-la por um garoto.
  - Você e são mesmo opostos... Ela teria corrido na hora. – Dei uma voltinha sem sair do lugar, deixando meu vestido esvoaçar.
  - Por falar nisso, ela se comportou ontem? – Fez movimentos de onda com as mãos.
  - Como assim? – Joguei os ombros de um lado para o outro. Não dançava em sincronia, apenas queria me divertir.
  - No seu quarto, ontem. – Ainda não entendia onde Liv queria chegar. – Ela dormiu lá, não foi?
  - Não...
  - Tem certeza?
  - Eu acho que sei quem dorme no meu quarto ou não! – A abracei pela cintura, dando algumas voltas rápidas, fazendo-a rir.
  - , vai me derrubar! – Esse era o objetivo! Ou quase. – Bem, disse que ia dormir no seu quarto, por causa de uma briga entre você e Zayn... Mas se ela não dormiu lá, onde passou a noite?
  - Quarto é o que não falta por aqui... Vai ver ficou perdida e escolheu um quarto vazio pra passar a noite.

+++

  - , você não vai mesmo? – Haz questionou, sentado no colo de meu irmão apesar de ser maior que ele.
  - É claro que não! Não quero ser pisoteada hoje muito obrigada. – Cruzei os braços, encostando na mesa reservada para nós.
  - Todas as garotas estão lá. – Liam sugeriu, desamarrando a gravata de seu pescoço. – Não quer ser a próxima a se casar?
  - Eu sei que não vou ser a próxima a me casar. – Ri. Eles não iriam desistir?
  - Como pode ter tanta certeza? – A pergunta de Zayn soou mais como um desafio.
  - Tá vendo aquela garota de vestido preto? – Apontei discretamente para uma baixinha ruiva que não era . Todos os meninos olharam na direção dela e toda a minha descrição se tornou inútil. – Ela vai se casar em dezembro. Zayn, se você me disser que eu serei a próxima, aí sim eu vou tentar pegar esse buquê.
  - Vamos levá-lo pra casa. – O menino não perdeu um segundo pra pensar. Ou ele não acreditava que eu pegaria esse buquê, ou casaria comigo antes de dezembro.
  - Lembre-se disso, Malik. – Pisquei e dei as costas para os quatro meninos parados ali.
  - Mate, acho que você acabou de ficar noivo. – Liam deu tapinhas no ombro do amigo que podiam dizer tanto “boa sorte” ou “parabéns”.
   Eu já havia dançado tanto que não aguentava mais andar em cima dos saltos, por isso passara a última hora descalça. Por mais que fosse arriscado enfrentar aquele mar de mulheres desesperadas, pretendia continuar assim. Zayn era louco, isso todas nós sabemos, mas me desafiar a pegar aquele buquê em troca de nos casarmos antes do fim do ano já era demais! Corri até a pista de dança, me emaranhando entre as mulheres solteiras ou comprometidas que também queria tentar a sorte. e Liv estavam bem na frente, mas eu não arriscaria chegar perto delas. Acabei encontrando Eleanor perdida entre as mulheres, rindo de qualquer coisa que Niall falara. Espera... Niall? Olhei de novo, confirmando que o loiro irlandês estava mesmo ali.
  - Todos querem se casar, huh? – Me pus entre os dois.
  - , weyhey! – Niall celebrou a minha chegada, um pouco alegre demais.
  - Fui obrigada a vir aqui! – El já estava mais solta do que quando chegara e Niall era o culpado por aquilo. – E você?
  - Digamos que estou aqui por causa de uma aposta. – Dei de ombros. – Se eu pegar, vou me casar antes do fim do ano.
  - Wow, Zayn ficou maluco? – Ni gargalhou.
  - Muito obrigada pela parte que me toca, seu ingrato! – Pensei em empurrá-lo, mas fazê-lo esbarrar em qualquer mulher não seria nada legal.
  - Shh, ela vai jogar! – Colocou o indicador sobre os lábios.
  - Ele está bêbado? – El cochichou pra mim.
  - Pior que não...
   Ambas rimos e nos concentramos na mulher vestida de branco que subia ao palco. Jay continuava com seu vestido longo, mas deixara o véu comprido para trás. A gritaria foi geral quando ela levantou o buquê de rosas e se virou de costas para todos nós. Ela ainda sorria muito e com certeza era quem mais estava aproveitando a sua festa. Dan tentou brincar e ficar na frente daquele grupo de mulheres, mas quase foi assassinado, preferindo se afastar mais uma vez. Uma contagem rápida e lenta ao mesmo tempo fez o meu coração disparar. Não percebi até aquele momento que uma parte de mim realmente acreditava na pseudo-promessa de Zayn. Por um lado não era esse o noivado que eu sonhava, mas por outro... Estar com ele para sempre era sim o que eu sonhava.
  - UM, DOIS, TRÊS! – Todas gritaram em uma voz só.
   Tudo aconteceu rápido demais, o que acabou sendo compreendido em câmera lenta, ao menos pra mim. Um vulto branco foi lançado para trás, em direção ao amontoado de pessoas do sexo feminino. Mais gritos perfuraram o meu ouvido quando as flores caíram nas mãos de alguém na frente do grupo. As esperanças se acenderam assim que o buquê voltou a escapar das mãos de sua segunda dona e cair no meio, onde eu estava. Estiquei as mãos e tentei pular, mas um mar de fios loiros se colocou na minha frente. Niall pulara mais alto do que a Shamu no Sea World. Outras garotas que estavam tão desapontadas quanto eu, resolveram pular em cima do menino para tentar brigar pelas flores. O resultado disso foi um irlandês desesperado e tentando correr. Como estávamos cercados, ele acabou se desequilibrando – culpo o joelho ruim dele – e foi ao chão. Como se não bastasse, me levou junto, usando-me de escudo.
  - Alguém ajuda a ! – Eu tinha certeza que escutara gritar.
  - Gente, acabou, eles pegaram! – Eleanor foi uma peça fundamental para dispersar as perdedoras.
  - Elas foram embora? – Choraminguei, mesmo estando com vontade de rir.
  - Filha, você está bem? – Jay terminou de afastar suas convidadas, preocupada comigo.
  - Ninguém se importa comigo?! – Niall reclamou, me empurrando para sair de cima dele.
  - Outch! – Caí novamente, de costas no chão dessa vez, e comecei a rir. – Niall!
  - Desculpa, ! – O menino riu, levantando devagar e ainda com o buquê em mãos. – SEREI O PRÓXIMO A ME CASAR!
  - Isso é muito injusto. – Resmunguei, recebendo uma mão amiga para me levantar também. – Obrigada, .
  - Você está bem? – A ruiva arrumou o meu vestido.
  - Estou sim! Graças à El. – Sorri para a morena em agradecimento e ela fez o mesmo, extremamente terna.
  - Obrigada por salvar a minha amiga, Eleanor. – também sorriu para a menina.
  - Vocês teriam feito o mesmo por mim. – Deu de ombros como se não fosse grande coisa.
  - ... – Qualquer pessoa poderia ter chamado a minha amiga que eu não teria me importado, mas foi só reconhecer a voz de Niall que parei até de respirar. O menino esticou as flores na direção da ruiva. – Peguei pra você.
  - Obrigada... – Aceitou as flores e meus olhos se expandiram tanto que até doeu. – Eu acho.
  - Não seja por isso. – O menino piscou com um sorriso malicioso e se afastou. Já não entendia mais nada.
  - Então vocês estão se falando de novo? – Perguntei tão rapidamente que Eleanor até se assustou.
  - Não! – voltou a ficar emburrada como fazia sempre que Niall estava por perto, mas dessa vez parecia culpada.
  - NÃO ACREDITO! – Agora tudo fazia sentido! Levei as mãos à boca e ainda assim gritei. – , onde você dormiu ontem?
  - Em um quarto! – Cruzou os braços, já sabendo onde eu chegaria. – Com licença, El, preciso calar a boca dessa menina...
   me puxou pelo braço e começou a correr assim que eu ameacei soltar novos gritos. Ela não estaria tão preocupada em ser escutada se não tivesse coisa aí. Era meio impossível não deixar a minha imaginação navegar por todas as coisas que poderiam ter acontecido. Nos afastamos consideravelmente de qualquer ouvido curioso e ela parou de correr. se encostou a uma árvore e respirou fundo, tentando não olhar para as flores em sua mão, mas eram como um imã.
  - Então... Em que quarto você dormiu? – Preferi não ir direto ao ponto. era mestra em fugir daquele assunto.
  - Não tinha dono... Estava vazio. – Respondeu baixo; é, eu estava chegando perto.
  - Com quem você dormiu? – Mordi o lábio inferior, evitando mais um grito.
  - Como se você não soubesse. – Rolou os olhos, balançando as flores. – Foi um momento de fraqueza, ok?! Era pra ser uma coisa de uma noite só! E foi! Não sei o que ele quis dizer com essas flores, mas não querem dizer nada!
  - Eu sabia, eu sabia! – Sorri e bati palmas, animada. – Você ficou com ciúmes da Lottie, não foi? Por causa do jeito que ela estava se atirando pra cima dele...
  - Eu sabia que você tinha um plano! – Me reprovou com o olhar, me culpando pela sua recaída.
  - Agora vocês podem acabar com essa besteira toda e voltar a namorar! – Dei um pulinho, comemorando.
  - Não é tão simples assim, ! Não posso esquecer o que ele fez assim tão... – Prestou atenção no que estava falando e se calou. – Enfim. Vou comer. Quer algo?
  - Então ele fez alguma coisa?! – Por um momento achei que fosse descobrir o motivo da separação. – O que ele fez?
  - Pergunte pra ele. – Entregou-me o buquê, voltando pelo caminho que fizemos pra chegar até ali.
  - Mas ele também não sabe! – Tentei acompanhá-la, mas estava rápida demais e eu não queria correr. – Algum dia eu vou saber?
  - Talvez!
   Simplesmente assim ela me deixou! Bufei cansada de tudo aquilo. Como alguém termina o namoro de um ano sem mais nem menos? E ainda por cima não conta o motivo para a melhor amiga? Eu sabia que esse motivo não era simplesmente o “amor ter acabado”, porque era só olhar para os dois pra ver que ainda gostavam um do outro como se nada tivesse mudado. Sem falar que essa noite que os dois passaram juntos mais do que comprovava minha teoria. Ao menos eu estava com o buquê de flores nas mãos... E um cabelo extremamente bagunçado, mas quem se importava?
   Olhei na direção da mesa onde os meninos ainda estavam. Niall conversava com Eleanor e Louis em uma ponta, Harry e Liv riam de qualquer coisa e Zayn se encontrava de costas pra mim, conversando com seu melhor amigo. Sorri e corri na ponta dos pés até os meus amigos. A noite havia chegado e com isso alguns postes com lamparinas foram acesos, dando uma ajudinha para as velas que derretiam extremamente devagar. Não demorei muito para me aproximar dos meninos e pular nas costas de Zayn, permanecendo na ponta dos pés. Como as flores estavam na minha mão, praticamente as enfiei no rosto do meu namorado.
  - Você pegou?! – Zayn pareceu mais feliz do que eu esperava.
  - Peguei! – Menti, deixando-o se virar na minha direção. O sorriso no rosto dele era maior do que eu esperava, por isso acabei me sentindo mal. – Nah, foi o Niall... Ele deu pra e ela me deu. Tecnicamente não conta.
  - Pode contar se você quiser. – Me abraçou pelas costelas e me pendurei mais uma vez em seu corpo, levantando os pés do chão.
  - Depois a gente conversa sobre isso! – Deixei um beijo estalado em sua bochecha. Estava feliz demais pra ficar nervosa com aquele assunto.
  - O que quis dizer com “Niall deu pra Abi”? – Liam pareceu tão surpreso por aquilo quanto eu.
  - Você ouviu! – Zayn me colocou no chão e entreguei as flores para Li. – Ou você não notou que ele não dormiu no seu quarto ontem?
  - Isso eu notei, mas achei que ele tinha ficado com a Lottie... – Cochichou, pois os outros estavam próximos. – Oh... My... God.
  - Também incorporei a Janice quando soube disso. – Gargalhei e Liam fez o mesmo, deixando um Zayn confuso.
  - Janice? – Questionou.
  - É coisa de F.R.I.E.N.D.S, você não entenderia. – Li esnobou o amigo, que estirou a língua pra nós dois.
  - De quem é isso aqui? – Peguei uma taça com um liquido vermelho de cima da mesa.
  - É minha! – Harry acenou de onde estava.
  - Hm... Arrrrrrgh. – Cometi o erro de provar e fiz uma careta. Quase parecia álcool puro! – Sinto que já estou bêbada!
  - Então é melhor eu te falar uma coisa logo!
   Zayn tirou o copo da minha mão e o devolveu para a mesa. Liam também experimentou a bebida e fez uma careta ainda pior que a minha, me fazendo rir. Zayn praticamente me carregou para longe dali. Não por eu não conseguir andar ou não querer acompanhá-lo, apenas gostava de me jogar em seus braços e saber que não cairia. Não importava quanto tempo passasse, ele continuava sendo forte o bastante para me segurar como se eu pesasse menos que um travesseiro. Não demorei nada pra perceber que estávamos indo para a pista de dança. Uma música mais calma acabava de começar, mas não chegava a ser lenta. Zayn me colocou no chão e não sorria como eu, o que me fez imaginar o que seria a “coisa” que ele queria me falar. Apesar disso, não fiquei tensa ou preocupada como teria ficado em qualquer outro dia.
  - Vamos dançar de novo? – Segurei a barra do meu vestido, abrindo-o como se fizesse uma reverência.
  - Estou começando a gostar, sabia? – Riu sem acreditar que estava mesmo falando isso. – É o que dá, namorar uma dançarina.
  - Tem razão! Eu até estou cantando mais... – Entrelacei meus dedos na nuca de Zayn e deixei nossos corpos se moverem no ritmo da canção.
  - Você ficou mais baixa desde a última vez que dançamos? – Parecia confuso com aquilo e olhou os meus pés.
  - Eu tirei os saltos, idiota. – Rolei os olhos. Era só o que me faltava, ser chamada de baixinha! – Quer que eu suba nos seus pés?
  - Sempre quis saber com essas coisas funcionam! – Riu animadamente com a minha proposta e parou de se mexer para que eu fizesse as honras.
  - Ai, Malik, como você é besta. – Um besta que eu amava. Pousei as mãos em seus ombros para ter apoio e subi um pé em cima de cada um dos dele.
  - E agora? – Me olhou em dúvida do que deveria fazer.
  - Agora a gente dança! – Gargalhei, deitando a cabeça em seu ombro. – Você tem que se mexer... Eu não tenho muitas condições pra fazer isso.
  - Oh, certo. – Passar tanto tempo com Harry o deixara mais lerdo que o normal. Demorou um pouco pra pegar o jeito, mas logo começou a se mexer, nos fazendo dançar. – Até que é divertido...
  - Me sinto uma criancinha! – Sorri, deixando um beijo no pescoço de Zayn. – Baby... O que ia me falar?
  - Hoje, quanto a Eleanor chegou... Marco a trouxe até aqui. – Sua respiração pesou na minha orelha, como se não quisesse falar sobre aquilo, mas precisasse. – Nosso “término de mentira” vai ter que acontecer mais rápido do que esperávamos.
  - Quando? – Levantei o rosto para fitar suas orbes. Nossos corpos não paravam de se mexer nem por um segundo.
  - Talvez uns dois dias depois que voltarmos a Londres... – Suspirou. – A matéria já foi redigida e a garçonete já deu a primeira entrevista. Estão esperando que voltemos pra casa pra poder liberar tudo...
   - Nós voltamos pra casa amanhã... – Meu sorriso desapareceu. – O que fazemos agora?
  - Agora a gente dança... – Forçou um sorriso de canto, me abraçando ainda mais. Deitei mais uma vez o rosto em seu ombro. Ele tinha razão, pois aquilo era a única coisa que tínhamos pra fazer... Dançar.

       

Chapter XV

O domingo chegou mais rápido do que todos esperavam, o que queria dizer que logo retornaríamos para Paris e, em seguida, pegaríamos o Eurostar de volta para minha nublada Londres. Por falar em nublada, apesar de ser verão, o dia amanheceu escuro e frio, indicando que uma chuva poderia cair a qualquer momento. Agradeci internamente a mim mesma por ter trazido na mala ao menos um casaco que me protegeria dos ventos frios que rondavam o lado de fora do Chateau. De todos nós, o que mais gostava das baixas temperaturas era , que corria com a boca aberta e a linguona pra fora.
  - Temos um carro e uma van, quem vai onde? – Perguntei ao terminar de arrastar a minha humilde mala pela ponte do castelo-hotel.
  - Harry e eu vamos no carro com a nana. – Louis mostrou a chave que tinha na mão. – Ela ficou enjoada na outra viagem e acha que o problema foi o ônibus...
  - Oh, tudo bem. – Sorri para meu irmão, olhando em volta.
  - Posso ir com vocês? – se ofereceu, carregando sua bagagem até o carro.
  - Não quer vir na van com a gente? – Niall tentou pedir para a sua ex-namorada possível-amiga-colorida ir no mesmo veiculo que ele, mas a ruiva nem ao menos o olhou.
  - Louis, pode abrir pra eu guardar a minha mala aqui? – A menina pediu.
  - Eu vou com você, Nialler. – Me senti mal pelo loirinho, e o bico que apareceu em seus lábios só aumentou aquele sentimento. Como estava perto dele, o puxei pra um abraço. – Não é a mesma coisa, mas é algo...
  - É melhor ainda! – Beijou a minha bochecha, forçando um sorriso. – Vou guardar suas coisas no carro...
  - Obrigada, sweetie. – Lhe passei a minha mala e bolsa de mão. – Pode colocar essa aqui no banco, por favor?
  - Pode deixar. – Piscou, servindo de carregador.
  - Hey, El! – Como Harry e Zayn estavam ocupados com outras malas, resolvi ir até a menina que conversava com Liv. – Marco vem te buscar ou você vem com a gente?
  - Ele ia vir... Mas falei que não precisava, então vou com vocês mesmo. – Eleanor explicou. – Não tem problema, certo?
  - Claro que não! – Toquei o cachecol roxo da menina, que por acaso era adorável. – Já guardaram as suas malas?
   Liv e Eleanor afirmaram que sim com um aceno de cabeça e logo voltaram ao assunto que eu interrompera ao chegar ali. logo cansou de correr e fazer suas necessidades, então caminhou até onde eu estava, lambendo a minha perna. Me abaixei para fazer carinho em seu pelo. “Você precisa de um banho...” Pensei sozinha. Um movimento maior na entrada do hotel começou a se formar, quando a maioria dos convidados que ainda não fora embora caminhou até o estacionamento, formando uma espécie de corredor. Acho que a razão para ainda não termos ido embora estava chegando...
  - O que é isso? – Escutei Liam perguntar.
  - São os noivos! – Vivian respondeu animada, esticando um saco com arroz que sobrara do dia anterior.
  - Eu quero! – Me pus a correr na direção da melhor amiga da minha mãe.
  - Espera por mim! – Zayn correu atrás de mim, obrigando a vir ver o que estava acontecendo.
   Rapidamente eu, Zayn, Liam, Harry, Louis, Niall, , Olivia e Eleanor estávamos divididos e um lado e de outro do corredor de pessoas, todos com punhados de arroz nas mãos. Um fusca azul com várias frases pintadas e latas amarradas em uma corda em sua traseira parou ali perto, também esperando o casal recém casado para levá-los ao aeroporto de onde sairiam para a lua de mel. A gritaria começou quando minha mãe e Dan apareceram na porta do hotel, de mãos dadas e surpresos com aquela recepção. Apesar de ser cedo e da festa da noite anterior ter acabado bem tarde, o visual dos dois estava muito bom. Jay tinha aquele brilho de “sou a mulher mais feliz do mundo” que invejei.
   A verdade era que eu mesma não consegui dormir muito bem depois da festa, pois tinha um nervosismo me consumindo. Em poucos dias teria que fingir terminar o namoro com Zayn e todos sabemos que nunca fui boa atriz. Desistir dele era algo que nem passava pela minha cabeça, mas é claro que eu tinha medo. Não sabia como tudo iria acontecer, não sabia se conseguiria não olhar pra ele durante os eventos que ambos participaríamos... Ou talvez eu fosse ser obrigada a deixar de ir nesses eventos da banda, por culpa dessa manobra publicitária. Segundo Zayn, a Modest! era muito poderosa e poderia controlar o que sai na mídia, mas nenhum de nós sabia se eles usariam esse poder para o bem ou para o mal.
   Voltei para a realidade assim que os noivos passaram correndo na minha frente e joguei o arroz para cima. Duvido que algum dos meus grãos tenha caído sobre eles, mas a bagunça era tão grande que consegui disfarçar. Bem, disfarçar de quase todo mundo, já que Zayn me conhecia como a palma de sua mão. Ele passou um braço pela minha cintura e me olhou preocupado. Fingi um sorriso como se tudo estivesse bem e deixei um beijo curto em sua bochecha. Não precisava falar pra que ele soubesse o que havia de errado.
  - , querida! – Jay me chamava. – Venha cá e traga as suas amigas!
  - Já vou, mum! – Acenei para a mulher e me virei para Zayn. – Leva pro carro, por favor? Acho que já vamos embora...
  - Dê um abraço na sua mãe por mim. – Beijou o topo da minha cabeça e se virou para o cachorro parado ao seu lado. – Vem comigo, Bo!
  - Tia Jay está chamando a gente? – passou o braço pelo meu, cheia de intimidade com a minha mãe.
  - Está sim! – Sorri pra ela, que não tinha nada a ver com o meu baixo astral. – Liv, El, vem cá!
   As outras duas olharam na minha direção e apontei para a minha mãe, que as chamou com um aceno. e eu fomos lado a lado até o carro azul, onde Dan abria o porta-malas. O motorista do carro o ajudava com a bagagem, mas era com outra coisa que a minha mãe estava preocupada. Soltei assim que nos aproximamos e Jay abriu os braços pra mim. Claro que não esperei nada pra me enterrar ali. O que mais precisava naquele momento era o seu colo, a sua proteção. Desejei que nós duas pudéssemos ficar mais um dia ali, só nós duas... Pra que pudéssemos conversar e ela me assegurar que tudo ficaria bem.
  - Você está bem, ? – Perguntou ao meu ouvido, acariciando meus cabelos úmidos devido um banho recente.
  - Só sinto a sua falta. – A apertei ainda mais. Preferi fingir mais um sorriso e olhá-la. – Mas logo nos falaremos de novo! Porque você tem que me contar como foi a lua de mel, ok?
  - Pode ter certeza que sim! – Sorriu como se não tivesse preocupação alguma no mundo, e realmente não tinha. – Me avise quando chegar em Londres, tá bem?
  - Claro que sim. Aproveite Santorine e tire muitas fotos! – A abracei uma última vez, sabendo que minhas amigas também queriam cumprimentá-la. – Danny!
  - ! – Daniel parou o que estava fazendo quando ouviu meu chamado e também abriu os braços. – Não acredito que não vamos ter outra aula de pesca!
  - Vai ser realmente uma pena não aprender a colocar a minhoca no anzol! – Ri com ironia e abracei meu padrasto. – Cuide bem dela, por favor.
  - Não precisa nem pedir, sabe disso. – Beijou a minha testa como um pai faria com a sua filha. – Se cuide também... E cuide do seu irmão, porque você tem mais juízo que ele!
  - Bem, isso é verdade! – Ri novamente, dessa vez achando graça de verdade. – Vamos ficar bem. E espero ver vocês dois em breve!
  - Tenho certeza que vai sim! – Se virou para o porta-malas e tirou de lá uma caixa branca com um laço preto. – Senhora Deakin posso dar o presente das meninas?
  - Você não espera mesmo, não é, Daniel? – Ui, os dois já estavam “discutindo”? – Pode sim! Meninas, é apenas uma lembrancinha por terem sido tão boas no casamento... Um agradecimento.
  - Não precisava, Jay... – Liv agradeceu ao ganhar a sua caixa idêntica a minha.
  - Shiu, Olivia! – se colocou na fila para também receber o seu presente. – Se a tia insiste...
  - Esse é o espírito, ! – Johannah riu, entregando o último presente para Eleanor. – E foi um prazer conhecê-la, El. Saiba que é bem vinda pra visitar a cidade sempre que quiser.
  - Muito obrigada, Jay. – Eleanor abraçou a falsa sogra mais uma vez.
  - Por que sua mãe não falou isso pra mim? – cochichou pra mim.
  - Porque você acabaria se mudando pra casa da minha avó se ela falasse isso. – Ri, levando um tapa fraco no braço. – Outch!
  - , poderia chamar os meninos agora? Também temos algo pra eles...
  - Claro, mum! – Segurando o meu presente em um braço, usei o outro para abraçá-la mais uma vez. – Boa viagem pra vocês dois. E um maravilhoso começo de casamento!
  - Obrigada... – Deu três beijos seguidos na minha bochecha e sorriu animada. – Boa viagem pra vocês também!
   Enquanto minhas três amigas terminavam de se despedir dos recém casados, me afastei por não querer dizer adeus novamente. Torcia para que nos encontrássemos novamente, mas toda despedida é ruim demais para ainda ser prolongada. Passei por Niall e Harry no caminho até a van e avisei para eles que a noiva os chamava. Liam e Lou acabaram escutando, então também deixaram o que estavam fazendo e correram até o fusca azul. O único parado no transporte que me levaria até Paris era Zayn, que ainda tentava convencer a entrar ali. Acabei rindo ao ver a encenação onde meu namorado fingia ser um cachorro e se jogava pra dentro da van preta, se machucando nos braços do banco.
  - Posso saber o que você está fazendo? – Perguntei com uma risada. Teria cruzado os braços, mas a caixa do presente era grande demais.
  - Seu filho não quer entrar no carro! – Sentou no chão do carro, frustrado.
  - Ah, então agora que ele não obedece, é meu filho, mas ontem a noite quanto te obedeceu, era “nosso”? – Arqueei uma sobrancelha. Me virei para o cachorro e o olhei nos olhos. – ! Sobe.
  - Até parece que... EI, COMO VOCÊ FEZ ISSO? – Os lábios de Zayn formaram um perfeito “o” assim que o filhote me obedeceu e pulou para dentro do carro.
  - O que posso fazer? – Coloquei a caixa branca ao lado da minha bolsa no banco do carro antes de eu mesma entrar ali. – Ele sabe quem manda.
  - Sei. – Fez careta entre uma bufada ou outra. – Onde está todo mundo?
  - É verdade, a minha mãe está chamando vocês lá... – Sabia que tinha esquecido de algo! – Corre!
  - E você só me avisa isso agora? – Zayn rolou os olhos e pulou para fora do carro, já começando a correr.
   tentou ir atrás dele, mas segurei a cólera em seu pescoço. Não seria nada bom para o meu ego saber que o meu filho preferia ir atrás do pai do que ficar comigo por ali. Me acomodei na primeira fileira de bancos, perto da janela. Ficaria de costas para a “cabine” do motorista, mas pelo menos conseguiria conversar com os outros que dividiriam aquele passeio comigo. Bo era tão educado que já foi deitando embaixo do meu banco e cobrindo os olhos com as patinhas; tinha mania de fazer isso quando queria dormir e a claridade não permitia. Liv e Eleanor logo se juntaram a mim e imaginei que tivesse ido se acomodar em seu próprio carro. As duas meninas sentaram no banco a minha frente, lado a lado.
  - Podemos abrir? – Olivia perguntou, se referindo ao presente em seu colo.
  - Sim, por favor! – A curiosidade já tomava conta de mim e puxei o laço preto de qualquer jeito, abrindo a caixa. – Que gracinha!
  - Sua mãe é muito legal, ! – El sorriu, abrindo a caixa dela com um pouco mais de delicadeza do que eu. – Harry tem sorte em tê-la como sogra!
  - Você tem namorado, El? – Liv questionou.
  - Tenho sim... – A observei corar. – O nome dele é Max!
  - E ele não se importa com o que você está fazendo?
  - Max trabalha na mesma agência que eu... As vezes o ciúme bate, mas ambos sabemos que nada disso é de verdade.

+++

  - Porque estamos parando? – Liam perguntou ao olhar pela janela embaçada pelos pingos da chuva que caíra recentemente.
  - Senhor Malik, é aqui? – O motorista perguntou na frente do carro, me fazendo despertar do meu quase cochilo.
  - É sim, John, obrigado. – Zayn estava sentado ao meu lado e segurou a minha mão, me deixando sem entender nada quando o veículo parou para que descêssemos. – e eu ainda precisamos fazer uma coisa, mas vocês podem ir na frente. Chegaremos antes do trem sair.
  - Liv, olha o pra mim? – Pedi para a loira, que afirmou que sim com um sorriso.
   Ainda não sabia muito bem o que Zayn estava aprontando dessa vez, mas sabia que logo descobriria. Já havíamos passado rapidamente na casa da minha avó pra pegar o resto das malas e nos despedir. Mais uma vez doeu ter de dizer adeus àquela senhora tão fofa e que eu amava tanto, mas eu já devia estar acostumada, não? , Louis e Harry tiveram que se apertar na van conosco, pois aquele ainda era o carro que nos levaria até a estação de trem. Ou ao menos era... Até Zayn ir para a calçada e me ajudar a fazer o mesmo. Não entendi muito bem o que estávamos fazendo ali mesmo depois de ter reconhecido o lugar.
   Mais uma vez visitávamos a Pont des Arts, mesmo que o cenário estivesse bem diferente do que na véspera do meu aniversário. Com o dia chuvoso e ainda mais por ser um domingo, ninguém além de nós dois estava por ali. O céu escuro tomara o lugar das nuvens brancas e sol brilhante. Era quase como se a natureza entendesse o que estava acontecendo dentro de mim e resolvesse me acompanhar. O menino ao meu lado sorriu com ternura, por mais que não fosse o seu maior sorriso. Entrelaçamos os dedos mais uma vez ao começar a caminhar lado a lado.
  - Por que estamos aqui? – Olhei para a madeira molhada da ponte embaixo de meus pés.
  - Achei que poderíamos nos despedir propriamente de Paris. – Acariciou minha mão com o polegar, sua respiração baixa.
  - Mas estaremos de volta logo. – Tomei coragem de olhar de volta pra Zayn. Até quando as coisas estavam tensas, sua simples contemplação era capaz de me acalmar.
  - Ano passado você pensou em voltar pra cá... – Não precisou especificar exatamente quando aquilo aconteceu, pois eu lembrava bem. Logo após a morte do meu avô eu quase desisti de tudo. – Voltou a pensar assim mais alguma vez?
  - Sim... – Preferi ser sincera ao invés de falar o que ele gostaria de ouvir. Caminhávamos devagar, como se não tivéssemos um trem para pegar em pouco mais de uma hora. – Quando a saudade aperta, eu penso em voltar. É ruim não ver nana todos os dias... Ou a minha mãe. Ainda mais agora que ela vai começar uma vida nova ao lado de Dan e eu gostaria de ver como ela vai se sair com isso. Mas aí eu penso em tudo que tenho em Londres... Você, os meninos... Tenho a Academy e agora a Mulberry... Não posso simplesmente desistir de tudo que lutei pra conseguir. É difícil, mas não estou sozinha. Londres é o meu lugar agora, mas sempre terei Paris aqui me esperando.
  - E está nervosa com a Academy? Quero dizer... Você vai terminar o último período agora. – Sorriu com um pouco mais de vontade. Zayn sabia o quanto isso era importante pra mim.
  - Passou tão rápido que mal posso acreditar! Ainda é bem surreal. – Apertei sua mão na minha inconscientemente. – E é claro que eu estou nervosa! É a minha última chance de aprender... Minha última chance de mostrar que sou boa no que faço. É nesse semestre que todas as companhias estão de olho nos alunos.
  - E eu tenho certeza que muitas delas vão fazer de tudo pra ter você em sua equipe. Não entendo como isso funciona, mas alguém seria louco pra te rejeitar.
  - Espero que esteja certo. – Olhei além da ponte, onde o rio Sena corria agitado. – Por mais que as melhores companhias estejam fora de Londres...
  - Dessa eu não sabia... – Parou de caminhar, encostando na grade da lateral da ponte. Sua expressão se tornou quase assustada, como se eu tivesse acabado de falar que estava indo embora para muito longe. – E... Você tem... Planos?
  - Tenho sim. – Suspirei, apoiando o corpo sobre o dele para abraçá-lo.
  - Qual? – Questionou como se não quisesse saber a resposta, olhando por cima do meu ombro e não diretamente pra mim.
  - Você.
   Segurei delicadamente em seu queixo, trazendo seu olhar de volta para o meu. Sorri com o alivio que estudei em sua expressão, como se um peso muito grande tivesse sido tirado de suas costas. Fechei os olhos instintivamente quando senti a respiração dele se misturar com a minha e bater sob os meus lábios. Encostamos nossas bocas com cuidado, saboreando cada segundo, cada sensação. Aquele não era só um beijo e sabíamos disso. Poderia ser o nosso último beijo em público, sem termos que nos esconder de qualquer um que pudesse ver. Até aquele momento não percebi o quanto isso era importante. Não o tipo de importância necessária, mas aquela que faria falta. Zayn segurou na minha nuca como se para me impedir de me afastar, mal sabia ele que isso era a última coisa que eu faria.
   Aos poucos aprofundamos o beijo, trocando assim milhares de declarações e juras de uma alma para a outra. Eu era completamente apaixonada por aquele menino em meus braços. O amava tanto que seria capaz de passar por qualquer coisa só pra poder continuar dividindo tudo que dividíamos. Podia não ser fácil ou perfeito, mas era o que eu precisava, o que eu não queria ter que aprender a viver sem. Nosso namoro era apenas pra mim e pra ele, não para o resto do mundo. Tudo ficaria bem, eu confiava nisso. Tinha que confiar...
  - Seja forte, Anjo... – Encostou a testa na minha, ainda de olhos fechados. – Seja forte por mim.
  - Serei. Custe o que custar. – Apenas naquele momento percebi que minhas mãos apertavam o casaco do outro com força. – Eu te amo tanto...
  - Não mais do que eu te amo. – Seu tom adquiriu um pouco de diversão, como se fossemos começar uma das nossas discussões bobas de quem ama mais. Vi que ele se mexeu na minha frente e colocou algo na palma da minha mão.
  - O que é isso? – Dei um pequeno passo pra trás, só para olhar o cadeado que segurava. Imediatamente li o que estava escrito: “Star & Zayn. 07/11/2012”, a data do nosso aniversário.
  - Uma promessa que eu posso cumprir. – Aquelas palavras tiveram um peso maior, pois eu sabia o que significavam.
   Zayn encaixou a chave prateada na entrada do cadeado, abrindo-o. Acabei sorrindo quando ele indicou que eu deveria prendê-lo na ponte, em meio aos milhões de outros cadeados já presos ali; uns tão velhos que quase não se podia ler os nomes do casal. Procurei um lugar protegido, onde a chuva e o vento não maltratassem tanto assim a nossa pequena promessa. Ao prender o objeto ali, fiz todos os pedidos possíveis, desejando que a lenda daquela ponte fosse verdadeira e que nós dois ficássemos presos um ao outro da mesma forma que o cadeado. Em seguida, o próprio Zayn jogou a chave no rio abaixo de nós, onde ficaria perdida pra sempre.

+++

  Engraçado como você só percebe o quanto sente falta do seu chuveiro depois de passar um mês tomando banho em lugares estranhos. Não literalmente estranhos, claro, porque me lembro muito bem que os banheiros do Chateau e do Hotel Venice em Los Angeles eram muito bom; apenas não eram o meu banheiro. Com a toalha amarrada nos cabelos molhados, uma roupa confortável para ficar em casa e a escova de dente na boca, encostei-me a bancada e fitei meu reflexo no espelho. Estivera chorando durante o banho, sem conseguir explicar o motivo exato, então meus olhos azuis estavam ligeiramente avermelhados. Eu precisava desse escape, desse momento de deixar tudo sair pra que pudesse me construir mais forte ainda. Com a mão direita, segurei o cabo cor de rosa e continuei a escovar meus dentes enquanto a esquerda destravava a tela do celular. Durante o banho escutara o toque avisando o recebimento de uma mensagem e só lembrara disso agora:

  
“Não sei mais o que fazer!”

  Era a mensagem de Zayn. Franzi o cenho sem entender bem o que ele quis dizer ou se ao menos mandara a resposta para a pessoa certa. Seria possível que ele pretendesse mandar essa mensagem para um dos meninos, mas apertou o meu nome por engano. Enxagüei a boca antes de responder:

  
“Como assim? Essa mensagem era pra mim mesmo? Não seria a primeira vez... Haha”
  “É claro que é pra você! Quero dizer... Parece que não sei mais fazer as coisas sem você ao meu lado. Como vou tomar banho sem esperar encontrar um recado seu escrito no vapor do espelho? Ou te observar da cama enquanto penteia seus cabelos molhados? Acho que você vai ter que vir aqui, .”
  “Também sinto a sua falta, baby, mas vai ser bom passarmos esse tempo afastados. Eu já estava ficando enjoada de você.”
  “Depois dessa vou procurar outra namorada. Você leu tudo que eu falei?! Qualquer uma teria vindo correndo para os meus braços!”
  “Você sabe que estou brincando! Também queria estar aí. Mas vamos nos ver amanhã, certo? Quem sabe você pudesse me mostrar o seu flat...”
  “Amanhã não, minha mãe levou as coisas pra lá, mas ainda tenho que ver se está tudo certo pra te receber. Terça feira talvez.”
  “Estou começando a achar que você não quer me levar lá!”
  “Claro que não quero! Te dei a chave porque você está proibida de me visitar.”
  “De que adianta a chave se não tenho o endereço?!”
  “Touch.”   “Você quis dizer ‘touche’? HAHAHA”
  “Tanto faz. ò_ó O que vão fazer agora?”
  “Idiota. Bem, Lou e Haz saíram em um encontro, então estou sozinha com Li. Acho que vamos assistir TV, pedir uma pizza ou qualquer coisa assim.”
  “Posso levar a pizza pra vocês! E ainda alugo algum filme... Sugestões?”
  “Sugiro que você vá passar um tempo com sua mãe e as meninas. Nada de vir pra cá. Não me obrigue a ligar para a Trisha e pedir pra ela esconder a chave do seu carro.”
  “Eu atravessaria Londres a pé se fosse pra te ver.”
  “Boa tentativa, Zen! Até amanhã e não discuta! <3 xoxoxoxo”

  Exagerei na quantidade de “xos" porque senti como se estivesse dispensando-o. Realmente estava, mas isso é um mero detalhe. Deixei o aparelho sobre a bancada do banheiro, me virando para estender a toalha sobre o vidro do Box e procurei a escova para pentear meus cabelos. Já não estava mais triste e consegui rir de verdade ao receber as duas mensagens de Zayn em resposta a minha.

  
“Eu te odeio.”
  “Você sabe que não odeio. Até amanhã. Boa noite, beautiful.”

  Até que assistir a um filme não seria uma má idéia, principalmente por estar chovendo um pouco do lado de fora e o clima ser perfeito para essa atividade mais calma. Saí do banheiro após guardar o celular no bolso de trás do meu short, indo direto para o criado mudo ao lado da minha cama. Tinha certeza de guardar ali um DVD que Olivia me emprestara, mas que eu nunca tivera muita coragem de assistir sozinha. Liam podia não ser muito fã de filmes de terror, mas com certeza aceitaria o meu pedido. Sentia falta de passar um tempo só com ele, já que meu namorado fez o favor de roubá-lo de mim, então aproveitaria aquela oportunidade para lembrar os velhos tempos.
   Com a caixa de Insidious em mãos e um sorriso no rosto, saí do quarto e demorei dois segundos para parar na porta do meu companheiro. Como estava entreaberta e morávamos juntos a tempo suficiente para que eu tivesse intimidade de entrar sem bater, empurrei a madeira para espiar o que se passava no interior do cômodo. Li estava jogado na cama, trajando apenas uma calça de moletom e sem camisa. Acenou para que eu me aproximasse, mesmo estando com o próprio celular na orelha. Saltitei até o móvel e me sentei no colchão, empurrando os pés do dono do quarto mais para o lado. Sou folgada sim, beijos.
  - É, a acabou de chegar aqui. Aviso sim, Dani, não se preocupe. – Respondeu a sua namorada pelo aparelho. – Ela mandou um beijo...
  - Mande outro! – Assoprei um beijo na direção dele, fazendo-o rir.
  - Ela mandou outro. (...) Até amanhã, então. Bom trabalho... (...) Me liga quando chegar em casa? – Suas bochechas adquiriram um tom avermelhado ao notar que eu o encarava com uma expressão que dizia: “Awwwwn”. – Eu também te amo.
  - Desliga você... Não, desliga você... – Fiz duas vozes diferente, tentando imitar o casal. Por sorte, Liam já encerrara a ligação e por isso Danielle não me escutou.
  - Cala a boca, . – Se sentou e jogou o travesseiro que antes apoiara a sua cabeça em cima de mim.
  - Hey, hey! Eu vim em paz! – Me protegi do ataque com o braço, mas um pedaço do travesseiro ainda atingiu a minha cabeça. – Você vai sair?
  - Eu ia... Mas Dani acabou de cancelar nossos planos. Ficou presa no estúdio.– Fez um bico de lado. Ele devia sentir muita falta da namorada. – Ela pediu pra avisar que vamos sair terça feira. Eu, você, ela e o Z.
  - Ok! E sinto muito... Porém, tenho uma proposta pra fazer! Sei que não sou a sua namorada e a minha companhia não é tão boa assim... – Dramatizei, tentando fazer cara de coitadinha.
  - Você é a minha melhor amiga, . É claro que a sua companhia é perfeita. – Quem consegue fazer drama com uma fofura dessas? – Quais são seus planos?
  - Poderíamos assistir um filme... – Mostrei o DVD em minhas mãos. – É de terror... E preciso de companhia pra assistir.
  - Tudo bem, mas saiba que se algo acontecer, é você que vai me proteger. Está com fome?
  - Só um pouco. – Dei de ombros, me segurando pra não responder “Faminta!”. – Pizza?
  - Leu meus pensamentos. – Já foi pegando o celular para discar. – Domino’s ou Pizza Hut?
  - Pizza Huuuuuut! – Cantarolei, levantando da cama. – Vou fazer chá, ok? Te espero lá embaixo.
   O engraçado é que Liam não perguntara o sabor da pizza, apenas a marca. Ele me conhecia tão bem ao ponto de saber o que eu gostaria de comer ou não. Na verdade, nossos gostos eram praticamente iguais... Vai ver por isso todos me achavam a sua versão feminina. Mais um motivo para Zayn ser tão apegado assim àquele menino. Contanto que ele não preferisse a minha versão masculina, eu estava tranqüila. Peguei a caixa do DVD e me dirigi para o andar de baixo da casa. Até daquelas escadas que costumavam me derrubar durante as manhãs eu senti falta! Viajar era maravilhoso, mas pretendia dar uma pausa e me curar da sensação Homesick. No caminho para a cozinha, vi mordendo um de seus brinquedos tranqüilamente em cima do sofá. Ele também devia sentir falta das suas coisinhas.
   Deixei o filme na bancada americana, me virando para os armários. Era quase como se eu me esquecesse onde cada coisa ficava ali, mas consegui achar a chaleira e os outros objetos que precisava para fazer nosso chá. Antes de mais nada, enchi a chaleira de água da torneira e liguei o objeto na tomada. Enquanto a água esquentava, me coloquei na ponta dos pés para alcançar o armário mais alto e pegar a caixa de Yorkshire Tea que Lou sempre escondia ali. Um barulho vindo das escadas me fez girar e esperar que Liam se juntasse a mim.
  - Bem vindos ao Show do Payne! – Escutei a sua voz, mas ainda não consegui vê-lo.
  - Está falando sozinho de novo? – Perguntei alto para que ele me ouvisse e voltei a me concentrar na minha tarefa, abrindo a caixa de metal para escolher dentre os sabores de chá.
  - Eu não falo sozinho, é mentira dela. – Ainda não falava comigo, o que me obrigou a olhá-lo por cima do ombro.
   – O que você está fazendo, Liam?!
  - Um vídeo para a minha conta no youtube! – Explicou enquanto colocava a câmera que segurava em cima de um tripé apoiado na bancada americana.
  - Achei que você tivesse desistido dessa idéia. – Ri por lembrar da primeira vez que ele mencionou essa loucura, meses atrás.
  - Diga oi para o pessoal, ! – Já sem o objeto em suas mãos, foi para o meu lado e gesticulou para a câmera, me fazendo virar.
  - Oi, pessoal! Pra quem não me conhece, meu nome é ... – Me apresentei, sentindo-me mais a vontade em falar para uma câmera do que para uma web cam durante alguma twittcam dos meninos.
  - E, como podem ver, ela é meio pobre! – Me interrompeu, puxando o meu braço pra mostrar os rasgos no meu sweater. – Não tem dinheiro nem pra comprar um jumper novo!
  - Para a sua informação, Payne, ele é assim mesmo, ok? – Me soltei e girei sem sair do lugar, mostrando meu modelito. – Trouxe de Los Angeles, quando fui visitar esses meninos.
  - Tudo bem, me desculpe. – Olhava para mim e para a câmera e me senti em um programa de TV. – O que vamos fazer hoje, ?
  - Ainda bem que perguntou, Leeyum! Na primeira edição do quadro “Na cozinha com & Liam”, iremos aprender a fazer um verdadeiro chá inglês! – Improvisei para a câmera, gesticulando e mostrando a chaleira. – Volte aqui na próxima semana pra descobrir que novas aventuras culinárias estaremos testando!
  - Então vamos começar, shall we? – Bateu palmas silenciosas e ficou de lado, seguindo a minha linha de pensamento. – Primeiro... Quais são os ingredientes que precisamos?
  - O mais importante é o chá, claro! Pode ser em forma de folhas ou em sachês. Eu particularmente recomendo esse aqui... – Peguei a caixinha de Yorkshire Tea e mostrei para a câmera. – Lou, se você está assistindo isso, me desculpe, mas foi necessário!

+++

  - Ok, isso foi... – Comecei, mas não consegui terminar.
  - É, com certeza... – Liam parecia igualmente chocado.
   O filme que Liv me emprestara era... Assustador, pra falar o de menos. Não que eu fosse ter pesadelos por uma semana, mas levei bastante susto durante toda a sua duração. O menino que me acompanhou também não foi tão diferente assim, já que na metade do filme nós já estávamos abraçados e escondendo o rosto em almofadas; revezando pra constatar se a TV estava segura o suficiente para voltarmos a olhar. A caixa vazia da Pizza descansava tranquilamente sob a mesinha de centro e abaixo de nossas canecas vazias de chá. A câmera onde filmamos o “Na cozinha com & Liam” e mais algumas partes soltas para um possível futuro vídeo estava na estante, salva de qualquer perigo. assistiu o filme conosco e foi o mais corajoso. Ele podia não entender muita coisa, mas quase não desgrudou os olhos da tela. A chuva do lado de fora aumentou exponencialmente, atingindo o telhado e janelas da casa como se de propósito.
  - Nunca mais vou olhar pra cantos de teto da mesma forma. – Liam comentou baixo, comigo ainda em seu colo. Ao menos ele não continuava sem camisa...
  - Né?! A hora que aquele... – Me impedi de terminar a frase por sentir um arrepio de sensação ruim. – Vamos nos distrair, ok? Fazer outra coisa e parar de pensar nesse filme.
  - Boa idéia, quer jogar? – Apontou para o XBOX, mas algo um tanto diferente me ocorreu. – Guitar Hero, COD, GTA...
  - Você é um gênio, Liam! – Pulei para fora do colo dele e me pus de pé no chão. – Vai pegar as velas na gaveta da cozinha?
  - Velas? Pra que?
  - Para o nosso jogo!
   Com um sorriso malicioso e um tanto travesso me dirigi até a escada e subi de dois em dois degraus. A luz do corredor ainda estava acesa, por isso não esbarrei na parede ou na porta do quarto do meu irmão, pois foi ali que entrei. Apesar de não gostar que mexam nas suas coisas, Lou não se importaria em me emprestar o seu jogo. “Onde está?” Olhei em volta, com as mãos na cintura. Aquele quarto era uma tremenda bagunça! Se com ele arrumado já seria complicado encontrar o que eu procurava, imagine com as montanhas de roupas e objetos não identificados espalhados pelo chão e móveis. Liam me chamava no andar de baixo e já devia estar com as velas que eu pedira. Sua inocência não devia fazer nem idéia do que eu estava aprontando.
   Àquela altura a sensação ruim do filme de terror já tinha passado e apenas o nervosismo da próxima atividade era o que acordava as borboletas na boca do estômago. Não em um sentido de “vou beijar o amor da minha vida”, mais como “vou mexer com algo que pode ser perigoso”. Revirei o guarda roupa e algumas gavetas, mas nada de encontrar o que eu procurava. Uma idéia passou rapidamente pela minha cabeça: “Em baixo da cama!” Não custava nada olhar. Fechei tudo que abri e me coloquei de quatro no pé da cama, me abaixando para tentar olhar o mais perto possível. Engraçado como as imagens do filme voltaram exatamente na hora que metade do meu corpo estava embaixo da cama de casal. “Por favor, que não tenha nenhum monstro aqui...”
  - BOO! – Um tapa na minha bunda me fez levantar de uma vez, esquecendo até mesmo que estava embaixo da cama. O barulho que a minha cabeça fez ao bater na madeira foi tão alto que imaginei tê-la quebrado. – STAR! Você tá bem?
  - Mas que porra, Liam! – Reclamei e só escutei suas risadas. – Ficou maluco?!
  - Desculpa, é que foi difícil resistir! – Ainda ria e sentou na cama. Apenas olhei seus pés perto de mim e continuei a minha busca. – Encontrou o que quer que esteja procurando?
  - Acho que sim! – Agarrei uma caixa retangular e um tanto fina. – Pode me ajudar a sair daqui?
  - Pode deixar! – Pelo rangido da cama, senti que ele voltou a se levantar agarrou os meus pés. Segundos depois estava sendo arrastada pelo chão e saindo de baixo do móvel. – O que é isso?
  - Nosso jogo! – Me coloquei de pé e mostrei a caixa de jogo que segurava. – Ouija!
  - Você ficou maluca, ? Depois do filme que assistimos, você quer jogar isso?! – Li deu um passo pra trás, medroso. – Quando dei a idéia de jogarmos, pensei mais em algo... Inofensivo. Como atropelar mafiosos no GTA ou fingir que somos rock stars! Não quero falar com os mortos...
  - Não seja bobo, Leeyum! Quer uma oportunidade melhor do que essa? Está chovendo... Estamos sozinhos em casa... Vai ser divertido! – Segurei sua mão e nos guiei para fora do quarto.
  - Você tem uma idéia muito conturbada do que é divertido.
   Conforme voltamos para o primeiro andar, desliguei as luzes pelo caminho. A única lâmpada que permaneceu acesa foi a da sala, mas isso logo seria resolvido. Liam ainda parecia desconfiado e dividido entre jogar comigo ou não, mas ambos sabíamos qual seria a sua decisão. Deixei a caixa do tabuleiro em cima do sofá e tirei as coisas de cima da mesinha de centro. A caixa de pizza e canecas foram para o chão e me sentei entre a mesa de vidro e o sofá. Enquanto acendia as velas brancas que Liam trouxe da cozinha, o menino desligou o aparelho de DVD e a televisão. Faltava apenas o principal... O tabuleiro de Ouija.
  - Pode apagar a luz! – Pedi enquanto tirava o tabuleiro de madeira de dentro da caixa, colocando em cima da mesa e de frente pra mim.
  - Tem certeza do que está fazendo? – Li me obedeceu e se sentou do outro lado da mesinha, de frente pra mim.
  - Claro que sim! – Rolei os olhos. Com a palheta também de madeira no centro do tabuleiro, suspirei e olhei para o outro. – Sabe brincar, certo?
  - Sei sim... – Colocou as pontas de três dedos de cada mão em uma ponta da palheta.
  - Muito bem... – O imitei, mordendo o lábio inferior. Por mais que estivesse nervosa, queria brincar. O que de mal poderia acontecer? – Se concentre!
  - É você que está mexendo? – Quase instantaneamente a peça embaixo de nossos dedos começou a fazer círculos no tabuleiro. Arregalei os olhos, mas Li escondia um sorriso. – H-I S-W-E-E-T-I-E.
  - Hi sweetie? – Respirei aliviada, mas olhei para Liam com tédio. – Para de brincar!
  - Não resisti! – Riu divertido, ainda com os dedos sobre a palheta. – Agora é você que está brincando!
  - Aham, tá. – O pedaço de madeira continuou a se mexer pelo tabuleiro. Eu ainda estava desconfiada de Liam, mas resolvi entrar na onda. – “Tem alguém aqui com a gente?”
  - Isso não tem graça, . – Li balançou a cabeça, ainda tentando me fazer acreditar que ele achava que eu era quem estava mexendo. Após um tempo, a palheta foi arrastada. – “SIM”.
  - Liam, você jura que não está fazendo isso? – Após nos responder, a madeira voltou a fazer círculos, dessa vez mais rápida.
  - Eu juro! – Até ele parou de rir. Nos entreolhamos sem saber muito bem o que estava acontecendo. Resolvi continuar. – “Se tem mesmo alguém aqui, mande um sinal.”
   Nossas mãos continuaram deslizando em um circulo perfeito por mais um minuto, até que levantou de onde estava deitado tranqüilamente e latiu duas vezes, olhando para o nada. Ele logo se aproximou de mim e voltou a deitar como se nada tivesse acontecido. Não sei se isso poderia ser considerado como um sinal, mas foi como o entendi. Liam parecia tão assustado quanto eu, incerto se devíamos prosseguir ou não.
  - “Quem é você?” – O instinto me fez perguntar. Depois de segundos, a palheta nos deu uma resposta: - J-A-C-K.
  - “O que aconteceu com você?” – Li fez a próxima pergunta, olhando fixamente para o tabuleiro; que nos respondeu ainda mais rápido. – M-E M-A-T-E-I.
  - “Onde?” – A pergunta deixou meus lábios com um suspiro. – A-Q-U-I.
  - “O que você quer?” – Tive vontade de bater em Liam por causa daquilo. Quem pergunta a um possível fantasma o que ele quer?! – E-N-T-R-A-R.
   Antes que eu pudesse perguntar aonde ele queria entrar, o barulho da janela da sala de estar abrindo do outro lado do corredor fez meu sangue congelar. A rajada de vento forte e gelado que percorreu a casa inteira foi o suficiente para apagar as três velas que nos iluminavam e provocar um grito assustado deixar a minha garganta. Liam e eu soltamos a palheta ao mesmo tempo e ela parou de se mover. Senti como se a ponta dos meus dedos tivesse acabado de tocar algo muito quente e pelo olhar que Liam tinha na direção das próprias mãos, sentira o mesmo. voltou a levantar e começou a latir para o nada.
  - Liam, acende a luz! – Pedi aterrorizada, já me colocando de pé e ficando na frente do cachorro, de forma protetora.
  - O que está acontecendo? – Levantou ainda mais rápido e correu até o interruptor. No instante que acendeu a luz, escutamos um pipoco e a lâmpada estourou, me obrigando a cobrir os olhos.
  - Temos que sair daqui...
   Não fazia idéia do que estava acontecendo, mas alguma coisa me dizia que havia algo errado e o mais assustador de tudo... Liam, e eu já não estávamos mais sozinhos naquela casa. Com a adrenalina começando a fazer efeito, chamei e corri para a escada, sendo seguida por Liam. Tentei acender a luz do corredor, mas não tive sucesso algum.
  - A porta não abre! – Liam reclamou. – Nenhuma dessas!
  - Meu quarto também não! – Minha voz saiu quase chorosa enquanto eu tentava com todas as forças abrir a porta do meu quarto, mas era como se ela estivesse trancada. Passei para a de Harry em seguida. – Abre!
  - O que você está vendo, ? – Perguntou rápido para o cachorro parado no topo da escada, latindo para o que quer que estivesse lá embaixo.
  - Bo, sai daí!
   Tentando não pensar no pior, fiz com que o filhote corresse até onde eu estava. Encostei na parede, pedindo para todos os santos e deuses que nos protegessem. Lágrimas ameaçavam sair, mas eu estava com medo demais até pra chorar. Liam pareceu se lembrar do banheiro do corredor, então correu até lá e milagrosamente abriu a porta. Sem perder tempo, me puxou pelo braço até que nós dois estivéssemos ali dentro. nos seguiu e o menino trancou a porta. Ambos entramos na banheira que havia ali e nos abraçamos, um tremendo mais do que o outro. Ótima hora que fui inventar de brincar com o que não devia! Estávamos em um silêncio total quando meus ouvidos captaram um ruído... Alguém subia as escadas e chegava ao corredor. A chave da porta do banheiro girou sozinha, destrancando-a. Foi então que eu comecei a gritar... Mas gritar muito.
  - AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Minha garganta até doeu do tanto que gritei.
  - STAR! STAR, ACORDA! – Alguém me balançou com força, fazendo com que minha cabeça girasse e meus olhos fossem abertos no mesmo instante. – Você só teve um pesadelo...
  - O que aconteceu? – Coloquei a mão sobre o coração que batia disparado em meu peito. Minha respiração estava terrivelmente descompassada. – Eu dormi?
  - Na metade do filme... – Liam e eu ainda estávamos no sofá e ele me abraçou com força, na tentativa de me tranqüilizar. – Shh, já passou...
  - Posso dormir com você hoje?

    

Chapter XVI

“North Row, Mayfair, WK1. ME14 6TJ. 7TA. Hyde Park Gardens; cobertura. Te vejo em meia hora! x PS: O porteiro já foi avisado.”

  Esse foi o convite intimação que me acordou na terça-feira pela manhã. Bem, manhã se você considerar 10hrs como cedo. Aparentemente Zayn finalmente me permitiria conhecer o tão famoso flat onde iria morar. Ou estava morando, já que desde o dia anterior ele terminou a sua mudança oficial e dormiu na cama nova. Sua mãe até me ligou para pedir a minha ajuda e fazer com que o seu único filho homem continuasse em casa. Devia ser difícil pra ela tê-lo sempre viajando por causa do trabalho, mas agora que ele saia de baixo das suas asas era pior ainda. Com essa meia hora que me foi dada, pude apenas jogar uma água no corpo e vestir o primeiro conjunto de roupas que vi pela frente. Por sorte, havia separado na noite anterior o que usaria quando fosse sair com Liam e Dani ainda naquela noite. Se bem conhecesse Zayn, ele não me deixaria voltar pra casa nem pra trocar de roupa. Enfiando tudo que precisaria dentro da bolsa, lembrei de pegar a chave do apartamento que ganhara, rindo sempre que via a foto de Zayn no chaveiro.
   Consegui encontrar o endereço que me foi informado sem nem precisar apelar para o GPS ou para Siri. Já passara por aquela rua muitas vezes no meu caminho de casa para a Oxford Street, onde o escritório da Models One ficava. Se aquele fosse mesmo o prédio de Zayn, era extremamente bem localizado. Próximo ao Hyde Park e ao centro de compras... Será que ele estava tentando me seduzir a morar com ele? Porque estava quase conseguindo. A fachada já me lembrou muito um hotel, então imaginei como seria a parte de dentro. Foi até fácil encontrar um lugar para estacionar na rua, mas algo me dizia que ficaria mais difícil conforme as horas de pique se aproximassem. Um senhor totalmente uniformizado e com um chapéu que me lembrou muito o de um piloto, abriu a porta de vidro para que eu pudesse entrar. Logo informei quem estava visitando e a minha subida foi permitida imediatamente.
   O elevador foi outra coisa que me surpreendeu. Assim que entrei nele, uma voz automática me desejou bom dia, informou a data e a hora. Útil, mas só serviu pra me mostrar que eu estava quinze minutos atrasada. Ali dentro devia caber ao menos dez pessoas tranquilamente e ainda por cima tinha uma visão panorâmica. Apertei o botão para a cobertura, que descobri ficar no vigésimo primeiro andar; alto, sei disso. Me distraí completamente com a vista do lado de fora, quando os prédios iam ficando para trás e o verde do Hyde podia ser observado. No meio do caminho, uma garota de no máximo treze anos também entrou no elevador e ficou me observando até tomar coragem pra falar algo.
  - Você também gosta de One Direction? – Apesar de seu jeito de mascar chiclete ser um pouco irritante, ela parecia amigável. – É o Zayn no seu chaveiro.
  - É, eu sei... – Me toquei que ainda segurava a chave do carro e, automaticamente, a chave do apartamento, com o chaveiro do merchandising. Dei de ombros com um sorriso. – Ele é meu namorado.
  - Meu preferido é o Harry, então ele é o meu namorado! – Comentou animada. Acho que ela não entendeu muito bem o que eu quis dizer, mas deixei passar. – Você é nova no prédio?
  - Eu não moro aqui, só estou visitando uma pessoa. – Pensando bem, era melhor ela não saber que um de seus ídolos estava morando no mesmo prédio que ela. Não que eu fosse má a esse ponto, era só questão de segurança. – Bem, essa é a minha parada. Até logo!
  - Tchauzinho!
   A menina acenou com um sorriso. Sorri de volta, ainda mais quando o elevador fechou e foi embora. O corredor não era muito grande e só tinha uma porta. Pensei em tocar a campainha, mas a possibilidade de pegar Zayn de surpresa – especialmente se estivesse no banho ou trocando de roupa – era tentadora demais. “Ah, eu tenho a chave mesmo...” E assim, eu me deixei entrar, abrindo a porta após girar a chave duas vezes. Uma vez dentro do apartamento, tive que descer dois degraus para então estar no nível do resto do complexo. O primeiro cômodo que vi foi o que devia ser a sala de estar, já que dois sofás (um de quatro lugares e outro de três) estavam de frente para uma televisão de tela plana presa à parede. O chão era todo de cerâmica clara e o bom gosto dos móveis era tremendo. Não entendo muito de decoração de interiores, mas posso dizer que era uma espécie de contemporâneo minimalista. Um tapete branco estava colocado na frente dos sofás pretos e uma mesa de centro também preta sobre ele. As janelas iam do chão até o teto e as cortinas avermelhadas estavam completamente abertas, o que me permitia ver a vista do lado de fora.
   Escutei uma música ter o seu volume aumentado, então minha atenção foi atraída na direção do que quer que fosse. Deixei a minha bolsa pesada em cima de uma mesinha alta que encontrei pelo caminho e segui a melodia. Espiei por um arco que substituía portas e dei de cara com a cozinha. Um balcão alto e comprido servia de bancada americana e tinha um exaustor pendendo do teto sobre si. Ali em cima percebi o fogão ultra tecnológico que nem parecia ter bocas por onde o fogo sairia. Encostada à parede, duas pias e vários armários; sem falar do forno também embutido em um desses armários. Me senti em uma casa do futuro. Assim como a sala, o lugar era extremamente espaçoso. O chão continuou sendo de porcelana branca até determinada altura, onde se transformava em madeira. Na parte de madeira, encontrei uma mesa de jantar um tanto divertida, parecendo ter sido tirada de um restaurante; estofados que lembravam um sofá substituíam as cadeiras.
   Apesar de a cozinha/sala de jantar ser muito bonita e divertida, foi o homem sem camisa que dançava ao som da música enquanto lavava os pratos que chamou a minha atenção. Zayn estava cozinhando e dançando? Uau, isso era algo novo... Nova casa, novos hábitos. Não me importaria de assistir aquilo o dia inteiro, mas estava com saudades dele. Não nos vimos na segunda feira como pretendíamos – culpa daquela bendita mudança -, então precisava da minha dose de beijos diários redobrada. Apenas esperei a música terminar e me aproximei. A plataforma do meu sapato era silenciosa, por isso não fui denunciada quando caminhei até o menino e o abracei por trás.
  - Que cheiro bom é esse? – Apoiei o queixo em seu ombro e beijei o pescoço.
  - A lasanha que fiz para o nosso almoço... – Se assustou um pouco, mas relaxou ao ver que era apenas eu e não um monstro qualquer.
  - Estou falando de você. – O fiz desligar a torneira e se virar pra mim.
  - Ainda bem, porque não tenho tanta certeza quanto à lasanha... – Olhou para o forno ao nosso lado, já que ele ficava na altura do meu busto. – E você está atrasada!
  - Só vinte minutos! Passei os outro cinco olhando a sua sala gigantesca. – Olhei no relógio em meu pulso e pousei uma mão na nuca do outro. – Pelo menos estou aqui. Não é a melhor parte? Aliás, já está cozinhando?
  - Tive vontade de estrear a cozinha... – Sorriu. Zayn parecia mais do que feliz em estar morando sozinho pela primeira vez; estava orgulhoso de si mesmo. E devia estar, já que comprara tudo ali com o próprio trabalho e talento.
  - Tenho uma idéia diferente da sua do que é “estrear” alguma coisa... – Falei em um tom cheio de intenções, sorrindo travessamente.
   Zayn pareceu captar o que eu quis dizer e o seu olhar se tornou um misto de: “gosto mais da sua idéia” e “posso deixar a lasanha queimar e não ligo a mínima”. Ainda com pensamentos pecaminosos, colei o corpo ao dele, aproveitando a altura que meus sapatos me davam. Apertei um pouco a sua nuca com as minhas unhas até que nossos lábios estivessem colados. Tive a boca invadida por um Zayn que sentia tanto a minha falta quanto eu a dele. Movia a minha língua com certa urgência e violência, deitando o rosto para um lado e depois para o outro, tentando explorar tudo que eu podia como se pretendesse encontrar algo novo por ali. Minha cintura foi apertada com força e Zayn deu alguns passos para frente, até que meu corpo estivesse preso entre ele e a bancada maior. Essa foi quase uma forma de mostrar que ele era quem mandava. Ainda atracados como se quiséssemos nos engolir, fui levantada do chão até estar sentada nessa bancada. Teria sido uma cena muito sexy se a minha cabeça não tivesse batido em algo duro que logo foi ao chão.
  - Outch! – Reclamei, acariciando o local atingido.
  - Você bateu a cabeça em uma panela? – Zayn gargalhou, se afastando e pegando o objeto do chão. – Desculpa! As coisas ainda são novas, não me acostumei...
  - Não tem problema... Acho que a culpa foi minha também. – Ri do quão patética eu devia ter parecido, mas ao mesmo tempo não fiquei envergonhada. – É isso que dá, ficar sem camisa por aí.
  - Prefere que eu me vista? – Não me dei nem ao trabalho de responder aquele absurdo e desci da bancada antes que causasse mais algum acidente. – Ei, onde está indo?
  - Nós estamos indo ver o resto do flat. Se bem que isso aqui é grande demais pra ser chamado assim... – Me curvei para tirar os sapatos, sabendo que Zayn me estudava.
  - Mas você gosta de coisas grandes, né? – Assoprou no meu ouvido ao se aproximar rápido demais.
  - Gosto... Mas me contento com você. – Brinquei com uma risada alta, me fazendo ser empurrada por um menino emburrado. – Estou brincando, bobo.
  - Sei disso, baixinha. – Fez uma careta que só conseguiu ser super fofa e indicou o outro arco para que passássemos; arco da sala de jantar, não o primeiro, da cozinha. – O que já viu?
  - Só a sala e aqui... E baixinha é a . – Não gostava daquele insulto, até porque não era baixa!
  - E você. Mas tudo bem, vamos á próxima atração...
   Ao sair da sala de jantar, passamos por um corredor longo e bem espaçoso. Nas paredes, quadros de alguns dos filmes preferidos dele e fotos de familiares e amigos. Liam apareceu em pelo menos quatro das fotos, quando eu em apenas duas! Teria reclamado se não quisesse chegar logo na próxima parada do tour. Zayn abriu a porta de vidro fosco e madeira branca que nos levou ao quarto que devia ser o mais divertido da casa: O quarto de jogos! Posters de filmes e séries de TV enfeitavam as paredes, um colchão que devia ter o dobro de tamanho do meu ocupava toda a parte na frente da TV (que, por sinal, também era maior que a da sala) e uma estante entulhada de DVDs e jogos de vídeo game fechava o pacote. Posters do One Direction também estavam por ali, mas isso era um mero detalhe. No canto oposto ao colchão no chão, um violão preso a parede e mais embaixo uma mini geladeira vermelha com o logo da Coca Cola.
  - Gostou do “quarto dos meninos”? – Zayn tinha os braços cruzados enquanto se apoiava à porta.
  - Quarto dos meninos? – Fiz aspas no ar. Que machismo era aquele?! – Te desafio a ganhar de mim em uma partida de Guitar Hero ou Rock Band!
  - Não vou apostar porque sei que perderia. – Boa escolha. – Que tal “Quarto dos meninos e da ?”
  - Perfeito! Alias, esse apartamento inteiro devia ser “Casa dos meninos e da Tah”, porque não quero mais nenhuma mulher aqui.
  - Você é quem manda, mas a minha mãe vai ficar chateada ao saber disso. – Mudou de posição, colocando as mãos nos bolsos.
  - Tudo bem, ela pode. E as suas irmãs também. E Rach, Lux, ... – Ele tinha razão. Muitas mulheres deveriam ter permissão... – Quer saber? Vou fazer uma lista e depois conversamos sobre isso.
  - Muito bem. – Sorriu e deu um passo para fora daquele quarto. – Vem, ainda tem muito pra ver!
  - Qual é o próximo?!
  - Meu cantinho feliz!
   No final do tour eu estaria bem cansada, disso tinha certeza. Sem falar que demoraria muito pra me acostumar a andar ali sem me perder. Apesar de ser preguiçosa, estava animada em conhecer os outros lugares e esperava que fossem tão legais quanto aquele. Andamos uns dez passos até chegar em outra porta; a qual Zayn não demorou nada para abrir. Pelo tamanho do seu sorriso percebi que aquele realmente devia ser o seu “cantinho feliz”. Eu podia ter esperado por qualquer coisa, menos aquilo. Adentrei o que parecia muito com um estúdio de artes acabei sorrindo também. Boa parte do chão já tinha algumas manchas de tinta que não sairiam nem com macumba. Em um canto, uma mesa velha e de madeira servia de apoio para latas de Spray de todas as cores, moldes de plástico, pinceis e tinta. Fora aquilo, os únicos moveis eram uma cadeira de altura regulável, mesa menor e com rodinhas, um mini estúdio de desenho (com uma daquelas mesas inclinadas e poltrona) e por último alguns tripés de pintar. Telas em branco de todos os tamanhos estavam encostadas a parede da janela.
  - É estranho eu querer MUITO te ver pintando ou desenhando alguma coisa? – Sorri, me virando para olhá-lo.
  - É estranho eu querer que seja a minha musa inspiradora? – É, nenhuma das nossas opções era estranha.
  - O que tem aqui embaixo? – Andei até algo grande que estava coberto por um lençol branco.
  - Pode ver. – Mesmo que não tivesse deixado, eu teria espiado. Tirei o lençol e encontrei um cachorro verde e preto, quase do meu tamanho.
  - Gromit! – Dei a volta no personagem de desenho animado, encantada. – Você fez isso?
  - Já faz um tempo... – Sorriu daquele jeito que fazia quando falava de algo que realmente gostava. – Fiz para o seu pai.
  - Por que você faria um Gromit para o meu pai? – Estranho, muito entranho.
  - Não é pra ele, literalmente, . – Riu. – Fiz para o hospital em que ele trabalha. Para as crianças de lá, sabe?
  - Você é incrível. – Não só por seu talento com arte ou música, mas pelo tamanho de seu coração. – Tenho certeza que vão amar.
  - Ah, é, você tem que falar com ele por mim. – Foi sua fez de fazer careta. – Da última vez que falei com Mark, ele perguntou se você precisava de outra cartela de anticoncepcional.
  - Daaaaaaad. – Escondi o rosto nas mãos. Isso não era o melhor assunto para ter com o namorado da sua filha!
  - Precisa? – Levantou a sobrancelha, desconfiado.
  - Malik! – Gargalhei, mas neguei com a cabeça. – Eu ainda tenho duas das que ele mandou na última vez. Mas podemos continuar?
  - Próxima parada... Quarto principal!
   Foi na frente e o segui, curiosa. A porta do quarto foi aberta e ele entrou primeiro, ficando no meu campo de visão até que eu também me colocasse lá dentro. Por mais que a paisagem das costas de Zayn estivesse perfeita, queria ver o que estava a minha volta! A cama de casal estava no centro do quarto, encostada a parede, e foi difícil me controlar para não pensar em todas as coisas que faríamos ali em cima. Bem em frente à cama, encontrei o quadro que dei de presente pra ele no último natal, o que me fez sorrir. Uma escrivaninha estava no outro canto do quarto, com um computador montado ali. Ao lado dessa escrivaninha, portas de correr que escondiam um closet maior que o meu e abarrotado de roupas e sapatos de todos os estilos. O banheiro principal também tinha a sua entrada ali perto. De volta para o quarto, prestei atenção no mural magnético pendurado na parede ao lado da janela. Encontrei uma quantidade absurda de fotos e eu estava na maioria delas. Ok, talvez Zayn estivesse perdoado!
  - Esse lugar é perfeito, Zayn! Agora entendo porque você estava louco pra se mudar...
  - E você dizendo que eu era louco! – Passou um braço pelos meus ombros, me trazendo pra perto.
  - E é! Mas um louco bom. – Beijei sua bochecha e sorri. – A cama é confortável?
  - Você vai ver isso daqui a pouco... Ainda temos mais pra ver. – Me arrastou para a porta.
  - Mais? Babe, estou começando a achar que isso aqui é uma passagem secreta pra Nárnia...
  - Até que seria legal, mas não. – Caminhamos mais um pouco pelo corredor. – Acho que você deve abrir esse.
  - Por que? O que tem aqui? – Dei meio passo e parei na frente da porta, segurando a maçaneta.
  - O seu quarto. – Respondeu com aquele sorriso orgulhoso aparecendo mais uma vez.
  - Eu tenho um quarto? – Engasguei com o ar, impedindo uma exclamação mais animada de sair.
  - Por que não descobre?
   Era uma boa idéia... Uma ótima idéia! Sem esperar mais nada, abri a porta para me deparar com o meu cantinho naquele apartamento enorme. A janela mais uma vez ia do teto à parede e tomava conta de um lado inteiro. As cortinas eram brancas com algumas flores cor de rosa. Uma mesa de escritório estava de frente para essa janela grande, onde vi um computador igual ao de Zayn, sem falar no abajur, caixinha de lápis e algumas revistas de moda que eu sabia ser as últimas edições. Em outra extremidade, uma arara com alguns cabides vazios, para que eu colocasse peças de roupa. Na parede da porta estava o que mais gostei: Um quadro bem grande com o mapa mundial. Em alguns pontos específicos, fotografias presas por taxinhas coloridas mostravam todos os lugares onde eu já estivera. Londres, Paris, Castle Combe, Roma, Los Angeles... Claro que em todas elas eu estava ao lado do meu namorado. Também encontrei alguns Post-it amarelos colados com frases tais como: “Pra onde vamos na próxima viagem?”, “Que tal aqui?”, “Ouvi dizer que a pizza aqui é muito boa.”
   Um divã cor-de-rosa descansava tranquilamente ali embaixo. Olhei pra cima quase sem acreditar que tudo aquilo era pra mim e dei de cara com estrelas que brilham no escuro espalhadas por todo o teto. Como havia poucos móveis por ali, o espaço vazio era enorme e tinha certa idéia do que isso queria dizer. O espelho de tamanho humano tomava metade de uma parede meio vazia e confirmava as minhas suspeitas. O papel de parede também me deixou muito confortável, já que tinha monumentos de Paris e Londres, um se misturando ao outro.
  - Você é maluco! Não precisava ter feito isso... – O olhei emocionada.
  - Eu só queria que você tivesse um lugar pra fazer as suas coisas... – Deu de ombros, sabendo que eu amara tudo. – Tem bastante espaço pra você dançar e fazer suas coisas de moda.
  - Por falar nisso, você comprou um computador pra mim? – Cruzei os braços, me virando para encará-lo.
  - Talvez. – Sorriu culpado.
  - Você é louco, mas eu te amo! – Ri e corri até ele, me jogando em seus braços.
  - Acho que até mereço um beijo. – Fez bico, o qual eu logo mordi.
  - Merece todos eles. – O enchi de selinhos.
  - Pronta para a última parada?
  - Ainda tem mais? – Perguntei com a voz esganiçada. Aquilo era Nárnia! Só podia ser!
  - Só mais um lugar, eu prometo. – Mordeu meu lábio inferior e o puxou entre seus dentes.
   Depois daquela sedução, preferi não reclamar e o acompanhei para fora do meu quarto. Olha só... Já estou até chamando de meu! Atravessamos o corredor novamente, passando até mesmo por fora da cozinha e passando pela sala. Quando entrei ali pela primeira vez, não notara a cordinha que pendia do teto, em um canto mais afastado do sofá. Observei enquanto Zayn dava um pulo para segurar a corda e a puxar para baixo com cuidado. A tampa abriu devagar, mostrando uma escada de madeira que desceu até estar encostada no chão.
  - Primeiro as damas... – Zayn ofereceu, mas continuei no mesmo lugar.
  - Estou usando saia. Mas tenho certeza que já percebeu isso, não é mesmo? – Sorri de canto, acabando com os planos dele.
  - Valeu a tentativa. – Riu e aceitou ser o primeiro a subir.
   O observei subir, mordendo o lábio inferior. Como a escada era inclinada e tinha um pequeno corrimão, não foi tão difícil fazer esse trajeto e chegar até o segundo andar daquele apartamento que agora se tornava um dupléx. O flat podia não ter uma varanda propriamente dita, mas tinha um terraço! Logo quando terminei de subir a escada, Zayn me ajudou a subir em uma espécie de estufa montada ali em cima. Uma mesinha com algumas cadeiras formava o lugar perfeito para se tomar chá em um dia quente. Toda a cúpula era de vidro, então nos permitia ver o lado de fora. Além disso, abrimos uma porta que nos levava para o lado de fora. O vento forte logo bagunçou os meus cabelos, mas não me importei enquanto explorava o telhado. O chão ali continuava sendo de madeira, o que me agradou muito. Uma churrasqueira estava encostada no canto de uma das paredes do lado de fora da parede de vidro da estufa, mais pra frente: Algumas espreguiçadeiras e um chuveirão para os dias de calor. Fora tudo isso, o que mais me agradou foi a vista. Como disse antes, aquele prédio ficava bem perto do Hyde park e era ele que eu via. Aquele lugar era incrível.
  - , vem cá! – O som da voz de Zayn me alertou.
  - Onde? – Olhei pra trás, mas não o vi.
  - Aqui do outro lado!
  - Tô indo! – resolvi seguir o som de sua risada, atravessado a cobertura até vê-lo na outra ponta. – O que houve?
  - Reconhece aquele prédio ali? – Apontou para algo ao longe, mas consegui enxergar.
  - É a Models One! – Sorri, apertando os olhos pra ver melhor. – Eu sabia que era perto, mas não fazia idéia que dá pra ver daqui... Olha, é a Carine!
  - Você já está exagerando se conseguir ver... A LASANHA!
  - Se conseguir ver a lasanha? – O olhei sem entender, mas pelo seu olhar de preocupação, me lembrei do que se tratava. – A lasanha!

+++

  - Está esperando alguém? – Perguntei enquanto olhava para Zayn e deixava o console do vídeo game de lado.
  - Não... Ninguém tem esse endereço além da minha mãe. – Olhou preguiçosamente na direção da porta. – Vai lá atender?
  - O apartamento é seu, baby. É sua responsabilidade atender a porta... – O olhei como quem diz “sinto muito”, mas só estava com preguiça.
  - Tudo eu! – Bufou e acabou se levantando.
   O nosso almoço não queimou, só pra constar. Apenas tinha notas levemente tostadas! Apesar de Zayn ter cozinhado, estava uma delicia e eu não teria conseguido fazer melhor. Depois de comer, nos retiramos para o quarto de jogos. Começamos tentando assistir um filme, mas ficou chato demais, então resolvemos jogar algo mais emocionante. Por mais que eu quisesse atirar na cabeça de alguns zumbis, Zayn preferiu jogar Mario e acabei deixando. Perdi miseravelmente, mas valeu a pena para ver o sorriso todas as vezes que ele passava uma nova fase e eu morria mais vezes do que as minhas vidas me permitiam. Teríamos continuado naquele lenga lenga se alguém não tivesse tocado a campainha e feito-o levantar. Eu não fazia idéia de quem poderia ser, mas o pensamento de ser alguma fã ou até mesmo aquela menina do elevador vindo atrás de mim por alguma razão me preocupou.
   Desisti de esperá-lo voltar e levantei com dificuldade. Aquele colchão era realmente confortável! Me senti flutuando em uma nuvem até que pisei no chão. A mudança de texturas foi tão grande que estranhei. Ao passar pela porta, olhei para os dois lados do corredor para lembrar para qual deveria ir. Esquerda, isso mesmo! Passei pelos porta-retratos pendurados na parede do corredor e desemboquei na sala, onde Zayn fechava a porta e seguia para o sofá preto. Em suas mãos, um envelope pardo fez todos os pelos em meus braços se eriçarem. Nós dois tínhamos uma experiência ruim com aquele tipo de coisa, principalmente quando chegavam sem aviso.
  - É do Marco. – Explicou assim que me joguei ao seu lado no sofá e me passou o post-it colado na parte de fora. – Um funcionário do prédio acabou de deixar aqui. Disse que era importante.
  - “Eu realmente sinto muito, tentei conseguir mais tempo, mas não me deram ouvidos. Tem que ser hoje; ligue quando souber o local.” – Li em voz alta, enquanto Zayn corria os olhos pelo papel em sua mão. – É o que eu acho que é?
  - Temo que sim... – Suspirou com pesar. – Eu já tinha me esquecido disso.
  - Me deixa ler... – Eu sabia muito bem do que aqueles papeis do envelope se tratavam. Staged Breakup eram as duas palavrinhas infelizes que me perturbavam. O dia chegara mais rápido do que imaginava...
  - Tem certeza? Está bem forte. – Parecia receoso em me deixar ler aquelas matérias.
  - Tenho sim, sei que é tudo mentira. – Forcei um sorriso que não convenceu ninguém.
   Recebi o papel e me afundei ainda mais no sofá, procurando um conforto que não era físico. Antes de ler qualquer coisa, vi as quatro fotos que estavam naquela matéria de site de fofoca. A primeira era minha ao lado de Zayn, que provavelmente tiraram do meu Twitter, pois não era de paparazzis. A segunda era apenas minha, na porta do prédio da Models One. Creio que adicionaram um pouco de photoshop ali, pois eu parecia mais uma modelo do que qualquer coisa. As duas últimas eram de Zayn, dormindo. A qualidade estava horrível, mas ainda assim entendível. Me concentrei para ler a matéria que soltaria a noticia da “traição”.

  
“ZAYN MALIK PEGO TRAINDO SUA NAMORADA STAR TOMLINSON? Se ligue no relatório dessa garota sobre a sua noite com o Bad Boy do One Direction AQUI!
  Oh, Zayn Malik, seu bobo, pequeno canalha!
  Se você não sabe ATÉ AGORA que, se vai pular a cerca da sua dama – e uma dama tão fabulosa quanto Tomlinson -, não pode deixar um RASTRO?
  Por um tempo pareceu que tudo que o boybander do One Direction fazia era ser pego em passeios românticos com a sua It Girl e as coisas estavam ficando sérias... ISSO SE MUITO.
  Em uma nova e explosiva matéria, a garçonete americava Courtney Webb abriu tudo sobre a sua noite com Zayn e revelou que ele a levou para o seu hotel após terminar seu expediente no restaurante/bar Wokano; durante a estadia do garoto em Los Angeles. Tudo na desculpa que ele estava solteiro!   Conforme ela revela:
  “Foi incrível! Quando chegamos à recepção, havia um grande lustre com uma escada em espiral. E o quarto tinha uma vista linda da praia Venice. Zayn tinha carrinhos de controle remoto e skates espalhados pelo quarto, que pensei ser dos outros meninos. Era um quarto legal! Ele foi um garoto muito gentil. Nós conversamos sobre música e escutamos algumas em seu iPad. Ele até me deu um sweater quando eu fiquei com frio por causa do ar condicionado. Ele estava bebendo vodka e nós apenas rimos de tudo. Eu perguntei se ele tinha uma namorada e ele disse que não. Disse que queria aproveitar ter vinte anos. Zayn fez eu me sentir especial... Mas depois do sexo ele falou “Vista as suas roupas e vou te chamar um taxi”.”
  Yessssh! Soa bem correto, por causa de todos os detalhes que ela dá sobre o quarto dele! Claro que ajuda o fato de ela ter feito questão de tirar fotos dele para ter como prova (visto acima)!
  E ela conluiu:
  “Ele é um completo canalha! Como ousa fazer isso – não só comigo, mas com ? Eu não sou fã de One Direction. Não sigo o que eles estão fazendo. Quando descobri que ele tinha uma namorada, fiquei ainda mais zangada. Definitivamente acho que essa não foi a primeira vez que ele fez isso! Eu sinto pena da . Ela não sabe que isso está acontecendo. É errado e tem que parar.”
  Bem, se uma exposição publica sobre tudo que acontece atrás-de-portas-fechadas não o faz parar, nós não sabemos o que vai, guuurl!
  Mas, não que precise falar, nós estamos mais do que curiosos pra saber o que tem pra falar depois de um relatório tão completo como esse! Ainda mais do seu irmão mais velho, ninguém mais ninguém menos que LOUIS TOMLINSON, também da banda One Direction!
  Coisas estão prestes a ficar bagunçadas, pessoal!
  Fiquem ligados.”

  Me senti enjoada ao terminar de ler. O relatório com certeza era bem detalhado... Coisas que só alguém esteve lá poderia saber. Coisas que a Modest! fez questão de detalhar. Respirei fundo, absorvendo todas aquelas informações. Desde a primeira letra a até a última era apenas uma chuva de mentiras atrás de mentiras! Primeiro que Zayn não era um canalha e nunca trataria uma mulher daquela forma. Segundo e mais importante, ele não me trairia! O grupo de empresários exagerou, mas tornou aquilo acreditável, isso tinha que admitir. Por outro lado, sabia que quem nos conhecia de verdade saberia que nada daquilo era real.
  - Isso é nojento. – Joguei o papel sobre a mesinha de centro, abraçando os joelhos contra o peito. – Quando vai sair?
  - Daqui a algumas horas... No site do Perez Hilton. Logo todos estarão sabendo. – Zayn fitava o nada, tão chocado quanto eu. – Onde quer fazer o show?
  - Nós vamos sair com a Dani e o Liam hoje... Se eles não se importarem, prefiro fazer isso ao lado de amigos. – Confessei, tentando deixar a raiva e enjôo de lado.
  - Vou ligar pra eles e avisar ao Marco do endereço. – Se levantou e tirou o celular do bolso, logo começando a digitar.
   Ao mesmo tempo em que tantas coisas corriam pela minha cabeça, eu não pensava em nada. Sabia que Zayn nunca faria algo assim comigo e sabia que tudo ficaria bem. Teríamos que enfrentar uma bagunça no começo, mas tudo ficaria bem depois de um tempo. Certo? A poeira iria baixar. Também acreditava que esse escândalo interferiria no meu trabalho com a Mulberry. Talvez Carine não me quisesse mais como garota propaganda, mas era algo que eu estava disposta a abrir mão por casa de Zayn. O observei andar de um lado para o outro, enquanto explicava para Liam o que aconteceu e deveria acontecer. Não prestei muita atenção em suas palavras, sim nos movimentos que seu corpo fazia; especialmente seus braços ao segurar o celular com força. De uma coisa tive certeza... Eu o queria.
   Passei a ponta da língua por entre os lábios, preferindo dar atenção ao que o meu corpo pedia do que ao que perturbava os meus pensamentos. Em um nível subconsciente, precisava afirmar pra mim mesma que Zayn era meu e mostrar pra ele que, apesar do que quer que fosse que a Modest! jogasse pra cima de nós, ele tinha “dona”. Porque era isso o que eu era, não? A dona de cada centímetro daquele homem que agora me olhava curioso. Com um sorriso travesso, levantei do sofá, passando por cima da mesinha de centro e deixando pra trás toda aquela papelada que me irritara tanto. Liam ainda estava do outro lado da linha e perguntava algo que não consegui entender muito bem, tampouco me importava. Não subi na ponta dos pés para que o meu rosto ficasse da mesma altura do pescoço de Zayn. Arrastei os meus lábios por ali, descendo até o peitoral enquanto as minhas mãos arranhavam seu abdômen de leve, arrancando pequenos arrepios.
  - , o que você... – Parou no meio da pergunta, me fitando com suas orbes amendoadas.
  - Desculpa, Liam, seu amigo acabou de ficar um pouco ocupado. – Tirei o celular da mão de Zayn e desliguei após falar, jogando o aparelho no sofá atrás de nós.
  - Are you gunna be good for me, baby? – Afastou os fios claros da minha franja assim que voltei a deixar alguns beijos curtos em suas tatuagens espalhadas pelo peitoral.
  - Eu vou tomar um banho.
   Quase como se não precisasse da sua companhia, passei por Zayn e caminhei em direção ao corredor, apenas torcendo para encontrar o quarto certo. Meu convite foi entendido e o menino me seguiu, sem nunca me alcançar. Fiz meu trajeto inteiro na ponta dos pés, pois sabia que ele gostava quando eu andava assim. Segundo Zayn, eu tinha pernas bonitas e a minha bunda ficava mais empinada. Homens, vai entender. Como estava disposta a provocar, reforcei os movimentos de meu quadril de um lado para o outro, quase ouvindo a respiração do outro ficar mais pesada. Por força do destino, achei o quarto na primeira tentativa, deixando a minha blusa preta pelo chão.
   Não olhei pra trás ao adentrar o banheiro, sabendo que Zayn também chegara lá só pelo som da fivela do cinto do mesmo sendo aberta. Abaixei o zíper lateral da minha saia e a deixei escorregar pelas pernas. As duas peças restantes também se foram rapidamente, servindo de enfeite para a cerâmica clara do chão. Puxei de qualquer jeito o elástico que mantinha meu cabelo preso e o baguncei assim que soltei completamente. Pelo canto do olho, vi que Zayn me observava com luxuria, mas se controlava o bastante para não me atacar. Abri a porta do Box do chuveiro, apreciando o fato de ele ser um quadrado de vidro totalmente transparente. Não fiquei mais de costas para o outro ao ligar o chuveiro bem em cima de mim.
   Deixei que a água caísse e molhasse os meus cabelos, escorrendo pelo meu corpo. A temperatura estava morna, mas parecia queimar a minha pele, tamanho era o calor que estava sentindo. Zayn parecia petrificado, com exceção da sua mão direita que apertava o membro ainda preso pela boxer branca que relutantemente mantivera no corpo. Lancei meu olhar mais sexy, surpreendentemente sem dificuldade alguma. Passei a ponta do indicador pelos lábios e mordi a pontinha, dando um passo para a frente até que meu busto encostasse no vidro levemente embaçado. Zayn mordeu o lábio inferior com força e desejei que eu mesma o tivesse feito. O fuzilei com o olhar, finalmente chamando-o com o mesmo dedo que tocara a minha boca.
  - Você sabe o que eu quero. – Sorri de canto. – Give it to me.
  - Seu desejo é uma ordem.
   A rapidez de Zayn em tirar a última peça de roupa e entrar no Box comigo foi quase humanamente impossível. Ele envolveu meu quadril com as duas mãos e me pressionou contra a parede gelada, sendo a sua vez de ficar embaixo do chuveiro e deixar seu corpo ser molhado. Minha mão direita foi para a sua nuca, onde puxei até encaixar nossos lábios. Trocamos um beijo intenso desde o primeiro segundo. Como os nossos corpos estavam bem colados, senti a rigidez sendo pressionada na minha barriga, tornando muito difícil não me colocar de joelhos naquele mesmo instante. Passou os dentes pelo meu lábio inferior, prendendo-o ali e mordeu com a mesma força que fizera no próprio, me tirando um gemido. Seu sorriso convencido não tinha preço; foi sua forma de falar “eu sei o que fazer pra de deixar louca”. E realmente sabia.
   Afastando-se minimamente, pegou o pote de sabonete liquido que esperava pacientemente em sua prateleira pendurada na parede. Divertindo-se muito com aquilo, Zayn colocou uma quantidade considerável em uma das mãos e usou a outra para me tirar de perto do chuveiro. Mesmo assim, fui colocada com as costas de encontro à outra parede, desta vez de vidro. Passando uma mão na outra para espalhar o liquido escorregadio, arrastou a língua sobre os meus lábios, permitindo-me chupá-la por apenas alguns segundos antes de recuperá-la mais uma vez. Já com as mãos “preparadas”, tocou meus ombros e os apertou como se fizesse uma massagem, também cobrindo toda a extensão do meu pescoço. Ele se vingava pela provocação que eu fizera primeiro, pois descia as mãos devagar pelo meu busto, até finalmente, com as mãos em forma de concha, tocar os meus seios. Os apertou devagar, mas com certa força; brincando com os biquinhos rijos entre o indicador e o polegar.
   Encostei a cabeça na parede, fechando os olhos e me sentindo completamente entorpecida por todos aqueles toques. Como se não bastasse, colocou a sua perna entre as minhas, me fazendo forçar a minha intimidade ali, em busca de mais prazer. Xinguei baixinho quando Zayn desceu uma das mãos pela minha barriga, mas parando antes de chegar onde eu queria e terminou na minha cintura, apertando e seguindo para as minhas costas. No mesmo instante que encostou os lábios quentes na minha orelha e brincou com o lóbulo, toquei a minha própria pele, melando as mãos com sabão e descendo-as até encontrar o topo do membro que ainda pulsava.    Se Zayn não me dava o que eu queria, teria que conseguir por conta própria. Segurei em sua base, escorregando as duas mãos pra baixo e para cima em um ritmo estável e lento. Ainda estando com o corpo inteiramente molhado, senti o arrepio que veio em resposta ao gemido que escapou da garganta do outro. A proximidade de seus lábios da minha orelha não diminuiu quase nada quando passou a mordiscar meu pescoço e mexendo o quadril quase imperceptivelmente; pedindo silenciosamente para que eu continuasse. O obedeci como a boa menina que sempre fui e fiz questão de dar atenção a todas as partes do membro em minhas mãos, recebendo respostas mais imediatas quando esbarrava em um ponto fraco.
  - Eu quero você de costas. – Foi a vez dele de dar a ordem, com a voz rouca que me derretia.
   Obedeci com um sorriso. Segundos depois já estava de frente para o vidro agora bem mais embaçado e Zayn segurou os meus cabelos. Puxou-os para trás ao encostar o corpo nas minhas costas, escolhendo um ponto do meu pescoço para marcar. As mordidas e sugadas que recebi me deixariam bem marcada e era isso o que eu queria. O membro ensaboado foi para o meio das minhas coxas, onde o homem o manteve até que eu começasse a rebolar e provocá-lo até não agüentar mais. Com a mão livre, apertou a minha bunda e subiu com caricias para as minhas costas, pressionando-me entre ele e o vidro do Box.
  - Não esqueça de gritar o meu nome...
   Esse foi o único aviso que recebi antes que a ereção de Zayn fosse colocada em mim; dessa vez propriamente. Gemi, espalmando as mãos no vidro para ter ao menos um pouco de apoio. Soltou meus cabelos e usou as duas mãos para segurar a minha cintura e ter ajuda em seus movimentos de vai e vem. Sua pele molhada batia contra a minha e fazia um barulho alto e delicioso de ser escutado. Alguns outros gemidos curtos ou mais longos escapavam meus lábios e vez ou outra se misturavam aos suspiros exasperados que ele não conseguia controlar. Queria ainda mais; o máximo que pudesse ter.
  - Não para... – Implorei com a voz trêmula. – Mais forte...

+++

  - Babe, acho que estão ali... – Zayn segurou a minha mão com força, me impedindo de ir para o outro lado.
  - Aquela ali com certeza é a Dani! – Ri, observando uma cabeleira cacheada no fundo do Pub.
   Estávamos um pouco atrasados do horário combinado para encontrarmos nossos amigos no Mayflower Pub, mas era compreensível. Nosso banho demorou mais que o estimado... Principalmente por termos ido experimentar a banheira após estrear o chuveiro. Depois disso ainda passei meia hora olhando entre as jaquetas de Zayn até escolher a minha preferida para usar àquela noite. Ao separar a minha roupa antes de sair de casa, esqueci do pequeno detalhe que a noite de Londres é bem mais fria que o período diurno, mas graças aos céus meu namorado tinha uma coleção de jaquetas/casacos/cardigans super confortáveis e que ficavam muito bem em mim, apesar da nossa diferença de tamanho.
   Aquele Pub era um dos meus preferidos, com certeza. Suas instalações eram bem antigas e quase velhas, mas com bastante charme. Como a faixa etária de quem o freqüentava era mais elevada, raramente fãs escandalosas corriam atrás dos meninos para pedir fotos ou autógrafos, então nunca fomos obrigados a ir embora no meio de um jantar, pela janela do banheiro, como já havia acontecido outras vezes. Sua localização também era bem agradável, próxima ao rio Thames e o centro de Londres. Especialmente no natal aquela região ficava encantadora. Atravessamos de mãos dadas os corredores entre mesas e pessoas que continuaram se comportando como se nem soubessem quem era o homem ao meu lado. Muitas delas provavelmente não sabiam mesmo.
  - Olha quem chegou! – Danielle levantou-se assim que nos viu, vindo me abraçar. – Hey, ! Como vai? Que saudaaaaade!
  - Estou bem, Dani! – A abracei com carinho. Não éramos melhores amigas, mas gostava muito dela. – Pode parar de sumir assim, ok? Você trabalha demais!
  - Não vai falar comigo, Liam? – Zayn parou de braços cruzados na ponta da mesa, onde Liam conversava com uma amiga de Danielle.
  - Você desligou na minha cara! – O menino parecia ofendido, mas se tratando de Liam, não iria durar.
  - Acho que a culpa disso é minha... – Deixei Danielle cumprimentar meu namorado e fui até o dela. – Desculpa, Li.
  - Você eu perdôo, . – Sorridente, se pôs de pé e me envolveu em um abraço. Quase sussurrou as outras palavras pra que só eu pudesse escutar. – Está tudo bem? Como está agüentando?
  - Estou bem, Baba. – Tentei despreocupá-lo, não soando muito convincente. – Ou vou ficar... Só quero acabar logo com isso.
  - Podem sentar! – Dani parecia abstrata daquele assunto, por mais que imaginasse estar por dentro de tudo.
  - Obrigada. – Sorri pra ela e puxei uma cadeira na ponta da mesa, ao lado de Liam. Zayn ocupou o meu outro lado.
  - E você, Z.? – Li olhou para o amigo, que tinha mais dificuldade em fingir estar bem do que eu.
  - Preocupado. – Passou o braço por trás da minha cadeira, me trazendo pra perto. – Não gosto da idéia de deixá-la sair daqui sozinha. Lá fora vai estar abarrotado de paparazzis! Você sabe como eles podem ser.
  - Eu sei me cuidar, baby. – Fiz um meio bico, tentando acalmá-lo. Zayn era super protetor e a imponência que ganhou naquele “plano” devia ser muito frustrante.
  - Tenho certeza que tudo vai dar certo. – Li me apoiou.
   Dani havia pedido sucos pra todo mundo, apesar de ser um bar, e isso incluía Zayn e eu; os quais logo foram servidos. Agradeci mentalmente àquele gesto, pois a minha garganta estava seca. Também aproveitei para roubar algumas batatas fritas que estavam dando sopa em um prato no centro da mesa. Aparentemente os filetes de peixe haviam ido por água abaixo, então me contentei com as chips sem os fishs. Era bom forrar a barriga depois de ter passado o dia inteiro apenas com a lasanha semi-queimada de Zayn. Não era que o novo flat dele estivesse sem comida ou coisa assim, apenas preferi não comer.
   Passamos os vinte minutos seguintes conversando como amigos que não tinham problema algum no mundo e foi bom me sentir assim. Dani me apresentou às suas companheiras de dança e falamos sobre esse assunto que eu gostava tanto. Foi bom me distrair do motivo que me levara até ali, mesmo que ainda soubesse que ele estava quase na esquina, se aproximando rapidamente. Zayn costumava ser quieto quando estava perto de pessoas que não conhecia, mas aquela noite ele estava especialmente quieto. Eu sentia a culpa em seus olhos todas as vezes que nos conectávamos. Era do seu feitio puxar a culpa pra si quando ninguém mais parecia aceitá-la. Me inclinei sobre o seu tronco, relaxando no meu lugar seguro. Ele me abraçou e beijou o topo da minha cabeça, fazendo pequenas caricias nos meus cabelos soltos. Liam nos olhava e em seguida fitava a própria namorada. Talvez agradecendo por não estar passando pelo que nós estávamos; talvez se perguntando se seria o próximo.
   Teríamos continuado com nossos carinhos disfarçados se uma vibração na bolsa em meu colo e um toque vindo do bolso da calça de Zayn não nos atrapalhasse. Nos entreolhamos sem saber exatamente o que aquilo queria dizer, mas cada um pegou o seu celular. Diferentemente da nossa estadia em Los Angeles, ambos adotamos capinhas diferentes, então nunca mais confundimos um com o outro. Abrimos nossos iPhones quase sincronizardamente. A mensagem que recebemos também era a mesma. Apesar de a minha não ter nenhum nome no remetente, soube que era de Marco só pela diversão fora de hora que senti nas palavras:

  
"Show time! Já está tudo pronto. Se preparem para a indicação ao Oscar. ps: , seu celular vai tocar em cinco minutos"

  - Já? - Uma onda de nervosismo me atingiu, mesmo que tentasse me controlar com todas as forças. - Acho que não tem pra onde fugir... Tá na hora.
  - Me prometa que vai ficar bem. - Tentamos não nos mexer muito ou dar na cara que algo estava acontecendo, pois sabíamos que um olheiro já tirava nossas fotos, mas Zayn segurou a minha mão por baixo da mesa. - Vai direto para o flat. E tome cuidado...
  - É claro que sim... - O fitei nos olhos, esperando que aquilo falasse o que meus lábios não podiam mais. Sussurrei: - Eu te amo...
  - Eu te amo, anjo...
   Nos aproximamos rapidamente e nossos lábios se encostaram. Foi pouco, mas me deu um pouco mais de coragem além da que eu tentava juntar. Desde que recebemos a mensagem, Liam e Danielle entenderam que estava na hora. Ambos tentavam não nos encarar, mas estava difícil. Como informado, meu celular começou a tocar. Pedi licença da mesa, tentando entrar na personagem, peguei o celular e o levei a orelha.
  - Hello? - Atendi me afastando um pouco da mesa.
  - Oi, . Marco aqui... Se importaria de virar para o outro lado? Nossa fotografa não está achando interessante fotografar as suas costas. - Relutantemente fiz o que o empresário pediu, ignorando todas as respostas mal educadas que me vieram em mente. - Ótimo! Agora é só fingir que recebeu a pior noticia do mundo e sair. Tem um taxi lhe esperando.
  - Eu só queria que você não ficasse tão feliz falando isso... – Confessei. Não precisava fingir estar triste e irritada, pois essa parte era verdade. – Também sei que você não gosta de mim, mas vai ter que me agüentar. Infelizmente, também estou tendo que agüentar vocês e toda essa confusão, porque não vou desistir, não importa o que façam. Não vão se ver livres de mim.
  - Veremos quanto a isso. – Novamente me senti estar sendo ameaçada e senti uma pontada no estômago. – Agora vá!
  - Tudo bem! – Quase rosnei.
   Desliguei o celular e o coloquei no bolso da jaqueta de couro. Passei as mãos pelos cabelos, exausta. Queria realmente sair dali, mas não porque Marco mandara, e sim porque só queria acabar com tudo de uma vez. Suspirei fundo, olhando para a mesa onde Zayn se preparava para levantar. Mais uma vez seu semblante de culpa me partiu no meio, então a dor que deveria apenas ser fictícia se tornou real.
  - Estou indo embora. – Falei alto e bom tom, para que qualquer um ouvisse.
  - O que houve? – Zayn se levantou quando começamos a passar um texto que revisamos tantas vezes.
  - Você sabe muito bem o que houve, Zayn! – Forcei uma voz chorosa, magoada. Recuperei a minha bolsa de cima da mesa e o menino tentou segurar o meu braço. – Não me toque! Nunca mais me toque!
  - , espera! – Tentou mais uma vez me alcançar.
  - Zayn, deixa ela, cara. – Liam se colocou na frente do amigo, seguindo seu próprio papel.
  - Acabou, está me ouvindo?! – A lágrima que caiu em meu rosto era verdadeira, por mais que todo o resto fosse mentira. Até “brincar” com aquilo parecia sério demais. – Acabou, Zayn...
   Com essas últimas palavras me virei para ir embora. O Pub inteiro parecia ter parado o que estava fazendo para assistir a briga de um casal qualquer. Mas não éramos um casal qualquer. Avistei a mulher que ainda me fotografava, reconhecendo-a vagamente; como se já a tivesse visto antes e não conseguisse lembrar exatamente onde. O que mais me irritou é que ela fez sinal de “jóia” com a mão, como se aprovasse a minha encenação. Será que pra ninguém aquilo era algo sério? Um funcionário qualquer abriu a porta da saída e assim que pisei na calçada, senti os flashes me atingirem.
  - , ! Uma palavrinha aqui?
  - O que acha da traição do seu namorado?
  - Algum comentário?! Olha aqui pra câmera!
  - Zayn ainda está lá dentro? O que aconteceu?
  - Não vou comentar nada! – Não parei de andar pela calçada e tampouco respondi qualquer uma daquelas perguntas feitas por paparazzis.
  - Espera um pouco! – Algum dos fotógrafos gritou e os outros começaram a me seguir. Tudo o que eu queria era achar a porcaria do taxi.
  - Essa aí não é a jaqueta do seu namorado?
  - Ex-namorado. – Foi a única coisa que eu era obrigada a falar. Sim, obrigada, pois recebera instruções específicas pra falar aquilo caso fosse perguntada.
  - Já vai embora? Só por que eu cheguei? – Um homem vestido quase inteiramente de preto parou com a sua moto da mesma cor na minha frente. Congelei de medo e pensei em correr, mas foi só vê-lo afastar o visor escuro de seu capacete que quase relaxei. – Não lembra mais de mim?
  - Josh! – Sorri aliviada em vê-lo. Claro que os paparazzis adoraram tudo aquilo e continuaram a nos bombardear com flashes. – Pode me tirar daqui?
  - Pra onde quer ir? – Já foi soltando o segundo capacete do banco do carona e o entregando pra mim.
  - Qualquer lugar... Só me leva pra longe daqui. – Montei na moto antes mesmo de terminar de colocar o capacete, almejando alívio daquelas luzes incessantes.
  - Melhor se segurar.

Chapter XVII

Passava das sete horas da manhã quando consegui retornar ao Hyde Gardens, prédio onde Zayn agora morava. Josh e eu passamos por lá depois de sair do Mayflower, mas a quantidade de paparazzis que o esperava na porta do edifício era grande demais pra que eu pudesse entrar sem desmascarar toda a nossa encenação. O mesmo aconteceu nos portões do meu condomínio. Por mais que eu pudesse entrar lá, não queria passar pela tempestade de fotografias novamente. Tive que me segurar à esperança de que uma hora todos ficariam cansados e iriam para casa. Joshua me fez companhia e fomos para um lugar totalmente deserto. Até agora não sei exatamente aonde era, só que havia um rio e muitas árvores. Conversamos até o sol nascer, sobre o que acontecera no bar, sobre meu novo semestre na Academy e seu trabalho no X Factor. Foi bom colocarmos o papo em dia e até mesmo mencionei que ele poderia assistir uma das minhas aulas quando as férias acabassem.
   Zayn sabia do meu paradeiro durante a noite inteira, mas isso não o deixou menos preocupado. Quando voltei para casa, já estava dormindo e, como eu estava sem sono algum, preferi não me juntar a ele na cama. Ao invés disso, fui para o meu cantinho naquele apartamento enorme, me sentindo bem em estar rodeada por coisas que eu amava, mesmo não tendo descoberto todos os segredos que aquele escritório/estúdio de ballet escondia. Tirei os sapatos, a jaqueta e a calça jeans, guardando tudo na arara já não tão vazia no canto do cômodo. Abri as cortinas que Zayn devia ter fechado para proteger os eletrônicos do sol e deixei a luz da manhã invadir. Me sentei na cadeira em frente á mesa do computador pela primeira vez, a qual era muito confortável, e liguei a CPU. Fazia tanto tempo que eu não mexia em um computador como aquele que mal lembrava como tudo funcionava.
   Enquanto o objeto era ligado e terminava de carregar, olhei para as revistas de moda que Zayn comprara. Não tinha vontade nem ao menos de folheá-las, então creio que dá pra perceber o quanto eu não estava nada bem. Teria que ligar para Carine e confirmar nossa reunião de terça feira, já que àquela altura todos estavam sabendo do escândalo da traição de Zayn e nosso término, então não tinha como saber se a minha imagem ainda era interessante para a marca. Com a mão direita sobre o mouse, procurei o ícone da internet, mas não antes de ver o pano de fundo do meu novo computador. Zayn realmente pensara em tudo, pois era uma combinação de várias fotos minhas com meus amigos e familiares, não apenas com ele como a do mural do mapa mundial.
   Uma vez que tive conexão com o Wifi, abri o Twitter em uma guia e o Tumblr em outra. Se bem conhecia o fandom da banda, todos estariam malucos com tudo que andou acontecendo e nada melhor do que eles para me mostrar o que saíra na mídia, já que não teria paciência pra ir de site em site e descobrir o que estavam falando de mim. Poderia ter ido no site do Perez Hilton, mas já vira a matéria que sairia lá e não suportaria ler todo aquele absurdo mais uma vez. Antes de ir para as minhas mentions, dei uma rápida olhada na timeline, encontrando os twittes de quem era mais importante pra mim. Liam, Louis e , respectivamente, foram os que pareceram mais irritados.

  
“Fucking paps get a proper job you dicks!”
  “Às vezes esquecem que são pessoas de verdade que vocês estão perseguindo. Não quero saber o que aconteceu, deixem a minha irmã em paz.”
  “Se eu ver alguém falando alguma coisa que for para maltratar a minha @, vão se ver comigo!”

   Aparentemente todos estavam me defendendo. Liam estava irritado com os paparazzis, então algo devia ter acontecido quando ele, Dani e Zayn também deixaram o Pub. Já Louis e pareciam um tanto preocupados com outra coisa. Foi só entrar nas minhas mentions que entendi do que estavam falando. A quantidade de pessoas falando coisas ruins para mim era bem maior do que as que falavam coisas boas. Sempre recebi alguns xingamentos, claro, mas nada que me atingisse. Aparentemente agora que “não estava mais com Zayn”, certos fãs não precisavam mais fingir ir com a minha cara.

  
“ZAYN ESTÁ SOLTEIRO? Finalmente! FESTA NA MINHA CASA, TODOS ESTÃO CONVIDADOS”
  “Não agüentava mais a gorda da ! Ainda bem que acabou.”
  “Ele merece algo melhor do que a @ e agora está vendo isso. Por isso que a traiu.”
  “Aposto que não é a primeira vez que isso acontece e acho bem feito.”
  “Zayn não teria te traído se você soubesse cuidar do seu homem.”
  “Deve ser tão ruim de cama que ele teve que ir procurar na rua.”
  “Se fosse eu, tiraria mais que fotos dele dormindo. Pegava fios de cabelo pra fazer um clone!”
  “Bem feito, vadia.”
  “VacaAaAaAaAaAaAaAaAAAAaA”
  “Eu a conheci um dia e ela foi totalmente mal educada!”
  “@ odeia as directioners”
  “Só quer a fama dos meninos. Será que ninguém mais vê isso?!”
  “@ não está a altura do @ZaynMalik, até que enfim ele acordou!”

  Esses foram apenas alguns dos melhores que eu consegui ler! Certas pessoas tinham a capacidade de falar coisas terríveis. Como assim eu só queria a fama deles? Quando eu os conhecia e os amava quando eram apenas garotos normais? E nunca fui mal educada com ninguém, justamente por saber o quanto seria ruim se fizessem isso comigo. Além dos twittes maldosos, vi várias montagens e fotos que colocavam em um corpo que não era o meu, ou com o rosto cheio de espinhas e essas coisas. Eu sabia que não era perfeita, longe disso! Mas daí exagerar? Acabei mudando e website e entrei no Tumblr, esperando conseguir algum apoio ou coisa do tipo. Cheguei a ver as fotos do dia anterior, quando eu saía do Mayflower. Tive uma visão um pouco mais positiva das coisas, até porque eu não seguia blogs que me odiavam; o que deu certa equilibrada na balança. A maioria dos comentários era positiva:

  
“Não sei se acredito que Zayn faria isso com a . Os dois eram tão perfeitos juntos!”
  “Nunca vi o Zayn sorrir como ele sorri quando está olhando pra , principalmente quando ela não sabe disso!”
  “Além de linda é talentosa. Assisti uma apresentação dela em janeiro e fiquei impressionada! Até em cima dos palcos eles são um par perfeito.”
  “Tenho certeza que é só um rumor falso! & Zayn pra sempre!”
  “Encontrei com os dois no começo do mês! Tudo parecia tão bem... Acho que vou morrer se isso for verdade.”
  “ALGUÉM ME DIZ QUE ISSO É BRINCADEIRA?”
  “I’ll go down with this ship!”
  “Meu OTP não pode terminar! Meu coração de fangirl não agüenta esses feels.”

  É claro que, mesmo sabendo que algumas estavam me apoiando, o lado que mais pesava era o ruim, o que falava mal e me odiava. “Eu não ligo pra isso... Sou mais forte do que esses comentários de quem não me conhece. Não me importo com o que pensam sobre mim, porque sei quem eu sou.” Quem sabe se eu mentisse para mim mesma o suficiente, não acabaria acreditando? Era o que eu esperava. Eu sabia que as coisas iriam mudar e sabia que não seria fácil... Mas nunca pensei que fossem me tratar tão mal assim. O que não conseguia entrar na minha cabeça era: “O que eu fiz para essas pessoas?” Desde o começo, só o que tentei foi ajudar e dar apoio aos meninos, aos meus meninos. Porque eles foram meus antes de se tornarem delas e ainda sim “dividia” meu namorado, meu irmão e meus melhores amigos com todas que se diziam suas “namoradas” e “esposas”. Inveja era a única palavra que poderia fazer algum sentido, mas ainda assim.
  - Morning, sunshine. – Zayn apareceu na porta daquele quarto, me pegando de surpresa. Trazia um olhar cansado e sonolento no rosto e duas xícaras de chá nas mãos. – A cama estava vazia sem você...
  - Bom dia, love. – Foi impossível não sorrir com a aparência bagunçada e inocente daquele menino. Para que ele não visse o mesmo que eu e tivesse seu bom dia arruinado, minimizei tudo e desliguei o monitor. – Não quis te acordar...
  - Eu não estava dormindo... Só cochilei. – Colocou as canecas em cima da mesa e se aproximou de mim, me fazendo levantar para abraçá-lo. – Estava preocupado com você.
  - Pra variar um pouco! – Envolvi seu torço nu durante o abraço, já que ele só usava um calção fino e confortável. – Estou bem, como pode ver. Queria ter voltado mais cedo, mas não deu...
  - Eu sei... – Levantou o meu rosto e fez carinho em minha bochecha. – Só estou feliz que chegou.
  - Fez chá pra gente? – Sorri, passando o nariz pelo de Zayn. Quem se importava com o que todos os haters pensavam quando aquele menino me amava mesmo com todos os defeitos do mundo?
  - Seu preferido. – Pegou a caneca azul e me entregou.
  - Pêssego! – Dei o primeiro gole, fechando os olhos e suspirando. Realmente estava bom.
  - Porque você não pode ir pra cama sem uma xícara de chá! – Sorriu de canto a canto, pegando a própria xícara e passando a mão livre em volta da minha.
  - E quem disse que estou indo pra cama? – Arqueei a sobrancelha, mas o segui.
  - Eu, ué. – Bocejou, ainda lutando contra o sono. – Aliás, nós dois vamos. Ainda é cedo... E você não dormiu nada.
   Parei de discutir simplesmente porque Zayn estava extremamente fofo. Seu rosto continuava amassado e uma linha marcava a sua bochecha direita, denunciando que passara muito tempo em um lado só do travesseiro. Sua voz era calma e baixa, ainda rouca e profunda. Se aquilo era o que eu encontraria todos os dias, começaria a cogitar a possibilidade aceitar o convite e me mudar para aquele flat. Era grande o suficiente para , então essa não era mais uma desculpa que eu poderia usar. Bebericava do meu chá e o assoprava fez ou outra até chegarmos ao quarto. Como já era de prever, a cama estava completamente revirada; até demais para o meu gosto. Ri quando ele foi para o seu lado da cama e tentou arrumar um pouco.
  - Passou um furacão por aqui? – Sentei na cama, no lado que era meu, e continuei com a xícara em mãos.
  - Se você estivesse aí a mais tempo, nada disso teria acontecido. – Bebeu do próprio copo, puxando as cobertas para cima de suas pernas. – Baguncei tudo enquanto te procurava. Eu já falei que não sei mais dormir sem você.
  - Desculpa. – Sorri, estiquei a mão até segurar a dele e entrelaçar nossos dedos. – Como foi sair do Pub ontem?
  - Bagunçado... Liam quase brigou com um paparazzi que ficou mais ousado. – Brincava com os meus dedos e olhava para eles enquanto falava. – Você não quer detalhes, acredite.
  - Realmente não quero... – Já tinha pensamentos demais rondando a minha cabeça. – Mas todos estão bem, certo?
  - Sim! Aliás, vou chamar os meninos para conhecer o apartamento hoje. – Aquele sorriso orgulhoso e independente voltou. – O que acha?
  - Acho ótimo! Quando fizer isso, pede pra algum deles trazer alguma roupa pra mim? Só tenho essa blusa agora...
  - Prefiro quando você fica sem roupa.
  - Tenho certeza que Liam e Niall também vão preferir! – Pisquei pra ele por cima da borda do meu copo.
  - Alguma preferência de roupa? Vestido, calça, blusa de manga? – Riu, mudando de idéia rapidamente. – Melhor pedir pra trazerem todas logo, porque eu não vou te deixar voltar pra casa.

+++

  Tenho certeza que Zayn colocou algo no chá além de folhas e leite. Só isso explicaria o apagão que tive assim que deitei a cabeça no travesseiro e o fato de ter dormido como um bebê. Foi um descanso mais do que necessário, não só para o meu corpo quanto para a minha mente tão lotada de coisas ultimamente. O peso no colchão ao meu lado aumentou consideravelmente em determinado ponto da minha fase de "meio acordada meio dormindo" indicando que alguém se deitara ali. Minha primeira sugestão teria sido Zayn, mas havia algo diferente no cheiro. Meu namorado vinha acompanhado de um aroma mais adocicado e aquele que senti parecia uma mistura de maça verde e manga. Delicioso, mas ainda assim não era o que eu gostaria de ter sentido.
  - Wakey-wakey, sleepyhead. - Uma voz baixa e arranhada me saldou enquanto cachos macios tocavam a lateral do meu rosto.
  - Bom dia, Hazza... - Sorri tentando abrir os olhos devagar. O puxei para um abraço e recebi um beijo na bochecha.
  - Bom dia? Já são duas da tarde, dorminhoca. - Sua voz continuou macia, o que não me obrigava a despertar de uma vez como teria acontecido se fosse Louis em seu lugar. - Estamos só te esperando pra almoçar.
  - Podem começar sem mim, não estou com fome. - Aquela já havia se tornado a minha resposta automática. Me espreguicei na cama, abrindo totalmente os olhos já acostumados com a claridade.
  - Você? Sem fome? Quem é você e o que fez com a minha ? - Começou a se levantar e fiz um bico; queria que ele continuasse ali. - Vamos te esperar mesmo assim, ok? Suas roupas estão aqui.
  - Obrigada, Haz.
   O observei sair do quarto e fechar a porta atrás de si. Voltei a fechar os olhos preguiçosamente, mas foi inútil, já estava acordada. Dizer que estava sem fome não foi muito bem uma mentira, a única diferença é que me sentia nauseada demais pra colocar qualquer coisa na boca. Decidida a levantar, me pus sentada na cama, esperando alguns segundos antes de ficar de pé. Procurei alguma muda de roupa por cima dos moveis do quarto e a única coisa que encontrei foi uma mala. Não literalmente "mala de viagem", mas algo maior que uma mochila ou bolsa normal. "Zayn!" Briguei com ele por pensamento, pois sabia que aquilo era o começo de uma mudança forçada; um quase seqüestro se preferir. Lidaria com aquilo depois, porque no momento o que eu mais precisava com toda certeza era um bom banho.
   Passei direto pelo closet, chegando àquele banheiro que eu já conhecia tão bem. Lembranças da última vez que tomara banho ali me fizeram sorrir, mas ao mesmo tempo algo inconsciente me fez sentir culpada. Me despi das poucas peças que vestia e pulei para dentro do Box; figurativamente, claro. A água ficara mais fria do que eu me lembrava, o que me deu certo trabalho de ajustar uma temperatura agradável, mas por fim acabei conseguindo. Entrei de cabeça embaixo da água, deixando-me ser lavada inteiramente. Fechar os olhos foi tudo que precisei fazer para que as palavras duras que li mais cedo voltassem a me perturbar. E se estivessem com a razão? Desde o começo, sempre soube que a diferença entre Zayn e eu era exorbitante, mas isso nunca pareceu ser um problema. Pra mim não era e pra ele também não, ao menos até onde eu sabia. Mas e se agora que ele era famoso/conhecido e tinha o mundo aos seus pés, percebesse que podia conseguir algo melhor do que eu? Alguém mais magra, mais bonita? Como falaram, e se ele preferisse alguém a sua altura?
   Aquele pensamento me assustou. Não ligar para o que os outros pensam de você é algo mais fácil de ser falado do que feito, com toda certeza. No começo, quando as criticas eram menores ou mais disfarçadas, era fácil me apegar àqueles comentários positivos. Entretanto, pelo que deu pra ver... As coisas não seriam mais assim. E, por culpa da Modest!, eu não teria mais Zayn para me defender. Teria que me virar sozinha. Por mais que tentasse me esconder atrás de uma pose forte e que suporta tudo, por dentro sabia que era “frágil”, sabia que não levava muito pra que eu caísse dentro de mim mesma. Prova disso eram os ataques de ansiedade, ou como quer que sejam chamados, que me aterrorizavam só de pensar em voltar a acontecer.
   Meu banho foi completamente automático, pois era como se eu estivesse mais concentrada no meu emocional do que em meu físico. Quando dei por mim, já tirava o condicionador do cabelo e tentava enxergar direito. Ao menos ali, embaixo daquela cachoeira morna, minhas lágrimas se perderam na água e meus soluços foram abafados pelo som do chuveiro. “Por que? O que eu fiz pra essas pessoas?” Perguntas que não teriam resposta. “Vamos lá, ... Você é melhor do que isso.” Minha consciência tentava me levantar e apertei os olhos com força, passando as mãos pelos cabelos desembaraçados. Precisava sair dali, precisava não ficar sozinha. Assim seria obrigada a forçar um sorriso e aos poucos ele acabaria se tornando verdadeiro.
   Desligando a água do chuveiro, peguei a primeira toalha seca que encontrei, me surpreendendo com o cheiro forte que ela trouxe consigo. Aquele cheiro gritava “Zayn” e era dele que eu realmente necessitava; ficar envolta em sua essência e me enterrar ali até que nada de mim restasse, apenas dele. Com toda a sua perfeição, carinho, proteção. Ele me dava forças até sem saber disso, Zayn era o meu porto seguro no sentido mais puro. Se não fosse por ele, não sei se conseguiria superar tudo. Eu tinha que ser forte, por ele. A idéia de eu estar magoada por sua causa, mesmo que indiretamente, o machucaria ainda mais e isso era o que menos precisávamos. Não me importei em me secar tanto assim e amarrei a toalha preta em volta dos meus cabelos. Escovei os dentes rapidamente, aproveitando que a minha escova já estava por ali mesmo.
   O quarto continuava vazio quando voltei para lá, sem me importar em estar pelada em uma casa com cinco meninos. Talvez estivesse lá também, mas duvidava muito. Peguei a mala com as roupas e a coloquei em cima da cama, agradecendo por não terem se esquecido de embalar calcinhas. A idéia de Louis ou Liam mexendo na minha gaveta de delicadas era um tanto constrangedora, por isso era preferível imaginar que Harry havia escolhido aquela peça rosa de babados e lacinho. Por cima, vesti um short simples com desenhos de âncora e uma camiseta branca com alguma frase qualquer que não me importei em ler. Estava simples e confortável. Resolvi deixar a minha mala dentro do closet, pois ao menos alguém naquele flat tinha que ser organizada, não? Também estendi a toalha no banheiro e apenas passei os dedos para desembaraçar meus fios ondulados.
   Voltando para o quarto, peguei meu celular para ver as horas e acabei me espantando com a data. Dia dezessete de julho! Eu estivera com tanta coisa na cabeça ultimamente que quase esquecera aquela data tão importante. Tom Fletcher nunca me perdoaria por esquecer seu aniversário e muito menos eu. Como a boa fangirl que sempre fui, desejava parabéns todos os anos pelo Twitter, mas claro que nunca fora notada. Agora, por outro lado, tinha a oportunidade de desejar isso por telefone ou até mesmo pessoalmente. É, quem diria. Não agüentava mais ficar sozinha naquele quarto, então enquanto procurava o nome “Tommy F.” na lista de contatos, deixei o quarto, já escutando risadas escandalosas vindo do começo do corredor. Coloquei o iPhone na orelha, caminhando até onde sabia ser o quarto de jogos.
  - Você ligou para Tom Fletcher, mas no momento ele está ocupado demais sendo gostoso e... O QUE MAIS, TOM? – Danny atendeu, tentando imitar uma secretária eletrônica. Não pude escutar a resposta de Tom, mas já comecei a rir. – Tanto faz, é a . Vai atender?
  - Oi, Danny! Não fala mais com os velhos amigos? – Arrisquei chamar a sua atenção, parando na porta do quarto onde Liam e Louis jogavam FIFA no PS3 de Zayn.
  - Tudo bem, ? Faz tempo que não aparece por aqui! – Jones finalmente me deu atenção. – Desculpa não poder falar muito, é que o Fletcher está me fazendo de escravo hoje... Sabe como é. DUDE, VEM LOGO.
  - Entendo perfeitamente! E não se preocupe, vamos nos ver logo...
  - FUCK, TOM! – O barulho de algo sendo derrubado, seguido de duas risadas mais que escandalosas me assustou. Não sei como esses dois não se matavam...
  - ? Ainda está aí?
  - Finalmente o aniversariante aceitou falar com uma mera mortal! – Dei meia volta, rumando para a sala de jantar/cozinha a procura dos outros três. – Feliz aniversário, covinha! Você está ficando tão velho!
  - Obriga-HEY! Velho é a sua bunda! Sou muito gostoso pra ser chamado de velho.
  - É, ouvi o Danny falando dessa parte... – Gargalhei, fazendo Niall e Harry me olharem ao entrar na cozinha. Acenei para ambos, que sorriram. – Mas falando sério... Tudo de bom. Que você viva tantos anos quanto um Time Lord e may the force be with you, always.
  - Não me faça chorar, , isso foi lindo! Obrigado, de verdade.
  - Só eu consigo colocar Doctor Who, Wars e Harry Potter em uma frase de feliz aniversário, sei disso! – Puxei um banco alto para me sentar em frente à bancada americana.
  - Tentamos te esperar, mas você demorou muito! – Harry explicou, colocando um prato de Mac & Cheese na minha frente. Apenas agradeci com um sorriso e balancei a cabeça como se falasse que estava tudo bem.
  - E como você está, pequena? – Sua voz se tornou um pouco mais comedida. – Estamos todos sabendo do que aconteceu...
  - O que acont-, oh, não, Tom... Zayn e eu? Ainda estamos juntos... Nada daquilo era verdade... Mas é muito complicado de explicar por telefone.
  - Ahn, tudo bem... Mas você está bem, certo?
  - Claro que sim! – Ou quase isso. Harry e Niall saíram de lá, me deixando sozinha novamente. Não os culpei, pois só deviam estar tentando me dar um pouco de privacidade. Peguei o garfo ao lado do meu prato de macarrão e furei um pedacinho de massa, relutantemente levando-o à boca. – Aliás, preciso conversar com você...
  - Algo sério? Algum problema?
  - Nada que não possa esperar! Só preciso de um colo amigo e experiente.
  - Well, you know you’ve got a friend...
  - Se começar a cantar You’ve Got a Friend pra mim, vou chorar! Não estou emocionalmente preparada pra isso. – Peguei mais um pedacinho de macarrão após falar, mas brincava mais do que comia. – Quando tiver um tempinho livre, avise e vamos nos ver, ok?
  - Um tempinho livre eu não sei, mas vamos nos ver esse sábado. Aliás, espero que já tenha uma fantasia bem legal.
  - Sua festa de aniversário vai ser a fantasia?! – Recordava levemente dele falar sobre esse assunto, mas em muitos detalhes.
  - Exatamente! As 21hrs, aqui em casa. Você tem o endereço. Chame os meninos também! Aí podemos todos colocar os assuntos em dia...
  - Combinado, Tommy!
  - Te vejo sábado, pequena! Obrigado mais uma vez, só de você lembrar de mim já foi brilhante.
   Com essa nova indireta de Doctor Who, encerramos a ligação. Não, eu não tinha nenhuma fantasia e tinha certeza que os meninos também não. Sábado estava logo ali e com certeza não conseguiríamos arrumar algo revolucionário, mas iria tentar. Depois dessa curta conversa com Tom, meu estômago estava um pouco mais comportado, o que me permitiu comer algumas garfadas. Não cheguei nem perto da metade do prato, mas isso era um mero detalhe; principalmente por Harry ter exagerado na quantidade. Levantei do banco e caminhei até a geladeira cinza e abri as duas portas, sempre esquecendo qual lado era do refrigerador e qual era o da geladeira propriamente dita. Guardei meu prato ali dentro, meio escondido atrás de uma jarra de suco, e peguei uma garrafinha plástica de água mineral.
   Já sabia onde Liam, Louis, Harry e Niall estavam. Mas um garoto em especial ainda estava faltando e ele me fazia bastante falta, por assim se dizer. Enquanto bebericava da minha água com zero calorias, guardei o celular no bolso e coloquei o garfo sujo na pia. Saindo da cozinha, passei a olhar na sala e estiquei o pescoço para averiguar o terraço, pois a escada agora ficava aberta o tempo inteiro. Nada por ali. Continuei pelo corredor espaçoso, mais uma vez passando pelo quarto de jogos e encontrando novamente os quatro meninos distraídos ali. O próximo cômodo que averigüei foi o estúdio de arte, que tinha sua porta fechada; também estava vazio. Minha próxima opção foi o meu quarto, então caminhei até lá com um peso no coração.
  - Baby? – O chamei, parando na porta e encontrando-o sentado na cadeira em frente ao computador. – Os meninos estão jogando... Você não vem?
  - Em um minuto... Anjo, porque você não me disse? – Levantou o olhar e não precisou ser mais direto que aquilo pra que eu soubesse do que se tratava.
  - Em minha defesa, não era pra você ter visto! – Entrei no quarto, indo até ele e deixando a garrafa de água pela metade em cima da mesa branca. Sentei-me em seu colo e meus olhos esbarraram na tela do PC. – E as criticas continuam chegando!
  - Isso é tudo bullshit. – Pelo seu tom, Zayn gostou tanto daqueles insultos quanto eu. Passou os braços em torno da minha cintura e me fitou com aqueles olhinhos cheios de culpa. – Você não acredita em nada disso, certo?
  - Eu não te contei porque sabia que isso iria te magoar... – Preferi mudar de assunto e responder a pergunta anterior. – E também não queria que ficasse triste com as suas fãs e tal.
  - Isso me magoa porque eu me sinto um inútil. Queria falar tudo que essas pessoas que falam mal de você merecem ouvir! – Estava irritado e isso não era bom.
  - Eu sei disso, love, mas você não pode... – Suspirei, mantendo-me a mais calma dos dois. Desliguei o monitor mais uma vez, sem querer ler mais nada ao meu respeito. – E não é porque não quer. Realmente não pode...
  - Eu morreria por você, . – Aquela frase foi séria demais para o meu gosto, me dando um calafrio na espinha.
  - Por que está falando isso? – Toquei a parte de trás de seu pescoço, acariciando-o.
  - Porque quero que saiba que não tem nada que eu não faria por você. – Beijou o meu ombro. Zayn não sorria ainda, mas permanecia terno.
  - Eu sei. – Ergui seu rosto até que nossos lábios quase se tocassem. – Eu também morreria por você.

Chapter XVIII

- Bom dia, ! – Wilfred me saudou ao abrir a porta pesada, me permitindo entrar. – Faz tempo que não vem por aqui!
  - Tudo bem, Will? Como vai a família? – Sorri passando por ele, sem realmente parar para conversar.
  - Com saúde e é o que importa! – Acenou, já prestando atenção nas próximas pessoas que queriam entrar.
   Era sexta-feira de manhã, o que queria dizer que a festa de Tom aconteceria no dia seguinte, mas eu ainda não fazia idéia do que iria vestir. O plano inicial de garimpar algo no meu próprio closet foi por água abaixo ao perceber que a única coisa parecida com uma fantasia era de fato a fantasia de Cisne Negro que usara no último Halloween; o que estava fora de cogitação repetir! Por já ser muito em cima da hora, não adiantaria nem perder tempo e procurar alguma loja para aluguel, pois todas já teriam ido embora. Minha única opção, que, aliás, me fez questionar porque-não-pensei-nisso-antes, era usar meu privilégio de conhecer a supervisora chefe da Models One e trabalhar com a própria na Mulberry para invadir seu closet e pegar algumas peças emprestadas.
   Andei apressada até o elevador, afrouxando a echarpe que protegia o meu pescoço. Não chegava a estar extremamente frio, mas também não estava quente, sendo assim, pude usar roupas quase aquecidas aquele dia. Como não estava indo para uma reunião ou coisa assim, pude me vestir um pouco mais casualmente e confortável, o que não me impediu de ser reconhecida por funcionários que estavam acostumados a me ver em cima de saltos e dentro de um terno feminino. Um grupo de cinco pessoas já esperava o nosso transporte chegar e todos entraram assim que as portas automáticas foram abertas. Apertei o botão para o último andar e me espremi para chegar até o final, acabando por ficar ao lado de um garoto alto que tinha o capuz de seu casaco sobre a cabeça e óculos escuros no rosto.

  
“Quero que conheça Ben, está livre hoje a tarde?”

  Foi a mensagem que recebi de enquanto o elevador fazia o seu caminho para cima, ocasionalmente parando para que as pessoas saíssem. Fiquei meio receosa em responder que sim, pois não sentia vontade alguma de conhecer seu novo namorado, e ao mesmo tempo me sentiria culpada em responder que não. “Você me mandou uma mensagem, ? Desculpa, acho que não recebi...” Fiquei imaginando desculpas na minha cabeça, cogitando qual delas seria a mais acreditável. “Hoje? Não estou me sentindo muito bem. Quem sabe no próximo ano?” O elevador parou no décimo segundo andar e uma menina tão jovem quanto eu saiu dele, me deixando quase sozinha. Guardei o celular novamente em minha bolsa, sem responder, e fitei o chão do elevador.
  - Alguém te viu entrar? – Perguntei para o menino de capuz que permanecia ao meu lado.
  - Tenho certeza que não.
  - Tem algo contra câmeras de elevador?
  - Não se elas não conseguirem captar o meu rosto.
  - Perfeito.
   Levantei o rosto assim que soltei a minha bolsa no chão do elevador. Girei até estar de frente para o garoto misterioso e passei os braços em volta de seu pescoço, o pegando de surpresa, mas ainda assim sem espantá-lo. Fechei os olhos e encostei nossos lábios, tendo a minha cintura apertada com certa força. A língua de Zayn logo pediu passagem e foi concedida no mesmo instante. Não sei, mas acho que toda essa história de ele estar “disfarçado” e “escondido” era um tanto excitante. Obviamente o menino percebeu a mesma coisa, pois trocamos um beijo intenso e rápido, sem nos importar em estarmos sendo filmados por uma câmera no canto do elevador. Tinha certeza que coisas muito piores já aconteceram ali dentro, mas não entraremos em detalhes.
  - ? – Uma voz feminina me fez soltar Zayn de uma vez e cobrir os lábios.
  - Oi, Rebecca... – Olhei a menina que segurava a porta do elevador. Peguei a minha bolsa com uma mão e Zayn com a outra. – Carine está aí?
  - Na sala dela.
   Saí do elevador e trouxe Zayn comigo, deixando a outra menina nos olhando com intriga e curiosidade. Não sei, mas Rebecca nunca foi muito com a minha cara; possivelmente por querer estar onde eu estava. Ela era uma estagiaria na Models One desde que conhecera Carine por intermédio de Rachel e continuava no mesmo posto, enquanto eu já havia sido promovida algumas vezes, se é que podemos chamar assim. Além, claro, de poder ser considerada amiga da mulher. Mas Rebecca devia entender que eu nunca pedi pra trabalhar com a Mulberry, foi algo que apenas aconteceu. Enquanto passávamos pela entrada do grande escritório da agência, muitos acenaram e sorriram pra mim, pois eu já era considerada parte da equipe, então todos me conheciam. Zayn apertava a minha mão como se estivesse tenso e olhava para o chão como se tivesse medo de ser reconhecido.
  - Ah, esqueci de avisar, não precisa se esconder aqui dentro... – O olhei com um sorriso. – Estamos seguros.
  - Tem certeza? – Abaixou o capuz e esperou a minha resposta pra tirar os óculos.
  - Claro que sim! Ninguém aqui vai fazer fofoca que Zayn Malik foi visto com a sua suposta ex-namorada. – Tirei eu mesma os óculos de seu rosto e coloquei no bolso do casaco do mesmo. – Além do mais, você não é tão importante assim aqui.
  - Outch. – Riu, mas percebi que estava bem mais aliviado.
  - E não é como se seu disfarce fosse o melhor do mundo... Sério, babe, você precisa ficar mais criativo. – Acenei para a secretária; que nos deixou passar para o corredor dos escritórios.
  - Me desculpe, da próxima vez usarei um bigode, ou quem sabe uma máscara! – Me seguia e olhava para os lados. Zayn já estivera na Models Onde uma vez, mas em outra área. - Galochas, uma capa de mágico... Bengala, essas coisas.
  - Não vai chamar atenção alguma se vestindo desse jeito. – Gargalhei, parando na frente da porta onde se via uma placa: “Roitfeld C.” – Espero que ela esteja aqui...
   Zayn soltou a minha mão para que eu pudesse bater na porta três vezes e, ao invés disso, pousou a mão sobre o meu ombro. Esperamos alguns segundos até que houvesse barulhos de saltos finos batendo contra o chão. A porta foi aberta e Carine apareceu, com o seu telefone sem fio pendurado na orelha. Ao ver que era eu, sorriu e fez um aceno para que entrássemos. Ambos seguimos e fechei a porta ao passar. Conhecia algumas das manias de Carine e fechar a porta para ter privacidade era uma bem importante. Zayn se distraiu pelo escritório, vendo todas as fotos e matérias de revistas ampliadas, molduradas e penduradas na parede.
  - ! Achei que não a veria até semana que vem. – Conectou o telefone de volta a base e me abraçou, sussurrando as próximas palavras: - Ainda mais com ele...
  - Você ficou sabendo da história, né? – A abracei da forma que você não costuma fazer com sua chefe.
  - Todos ficamos! As noticias correm por aqui.
  - Sendo assim, eu gostaria de ter explicado antes... – Olhei para Zayn, que também me olhou e apontou para a minha foto naquela parede, completamente absorto daquele assunto. – É como você costuma dizer, não devemos acreditar em tudo que querem que acreditemos.
  - E eu sempre tenho razão, não tenho? – Sorriu convencida, mas ela podia. – O que os trás aqui? Infelizmente não tenho muito tempo para ficar conversando... Karl está na cidade e almoçaremos juntos!
  - Lagerfeld? Karl Lagerfeld? – Pisquei devagar algumas vezes. – Você vai almoçar com Karl Lagerfeld?
  - Por que você está tão chocada, ? – Zayn deve ter ouvido o nome masculino e se interessou. – Quem é esse Karl? É importante?
  - Oh, querido, deixe esse assunto para as meninas. Você ficaria perdido. – Carine sorriu para Zayn, mas um sorriso que falava “Se vai perguntar quem Karl Lagerfeld é, melhor não perguntar nada”. – E, sim, , eu vou! Tentarei arrumar uma forma de apresentar vocês dois.
  - Não sei se eu estaria pronta pra isso... – Ri nervosa. – Não vou te atrasar, só viemos pegar a chave do closet emprestada.
  - Ah, claro, está bem aqui... – Foi para trás de sua grande mesa de vidro e abriu algumas gavetas, aproveitando pra pegar seu casaco e bolsa. – Pode colocar aqui de volta quando terminarem.
  - Muito obrigada, Car. – Recebi a chave a observei correr pela porta, sem nem nos esperar sair. – E bom almoço!
  - Au revoir, kiddos! – A loira acenou uma última vez.
  - Onde tirou essa foto? – Zayn voltou a olhar a minha fotografia na parede. – Está linda.
  - No cocktel da LFW, após o desfile. – Segurei a porta aberta para que Zayn passasse primeiro. – Carine gosta de mim... Ela diz que sou interessante.
  - Parece que esse Karl também vai gostar de você...
   Zayn estava sentindo ciúmes de Karl Lagerfeld, o designer da Chanel, Fendi e da sua própria linha. Sem falar que era gay e tinha 79 anos. Preferi deixar que ele continuasse achando que Karl era na verdade um modelo de vinte e cinco que fazia propaganda da Calvin Klein. Seria mais divertido assim. Fechei o escritório de Carine e rumei em direção ao closet que já conhecia tão bem. Diferente da primeira vez, não me sentia mais tão acanhada assim a pegar roupas emprestadas, já que agora sabia que muitas ali não fariam falta pra ninguém. Ao menos eu faria bom uso delas.
   O menino me seguiu até o final do corredor, vez ou outra resmungando coisas que eu não entendia. Acho que a vaidade dele falava mais alto quando estávamos em lugares como aquele, cercados por moda. Se não fosse tão talentoso no ramo da música, tenho quase certeza que sua primeira opção seria tentar a carreira de modelo; pintando e fazendo arte nas horas vagas, claro! Usei a chave para abrir a porta de correr do Closet e acendi a luz, deixando o meu namorado secreto entrar em seguida. Como não queria ninguém curioso nos olhando ou bisbilhotando, voltei a fechar a porta de chave; nos trancando lá dentro.
   Desde o dia em que Rachel me levara ali pela primeira vez, antes do Snow Ball, algumas mudanças foram feitas até que tudo estivesse completamente reformado. Já na entrada, víamos claramente a divisão das quatro estações, seguindo a ordem: Inverno, primavera, verão e outono. Já dentro de cada estação, as subdivisões em coleções, marcas, datas e etc. Quando se era acostumada com essas coisas ficava fácil de entender tudo, mas caso contrário seria simples ficar perdida por ali. Agora, ao invés de araras e cabides, as roupas ficavam organizadas em verdadeiros guarda-roupas de até dois andares. Para resumir, era como se estivéssemos em uma biblioteca, mas com peças de roupa ao invés de livros. Não sei qual dos dois tipos eu preferia, mas vamos deixar isso pra lá.
  - Tem alguma idéia do que estamos procurando? – Zayn perguntou, tirando o casaco enquanto andava até o sofá e mesinha que ainda estavam ali.
  - Mais ou menos... – O segui, deixando a minha bolsa em cima do braço do sofá. – Eu estive pensando... O que acha de irmos como um casal?
  - Mas nós vamos como um casal, não? – Levantou uma sobrancelha. – Tom e os outros são nossos amigos, eles podem sab-
  - Não é disso o que estou falando! Fantasias de casal, sabe?
  - Tipo Fiona e Shrek? – Sorriu mais animado do que eu gostaria.
  - Eu estava pensando mais em Jack e Rose...
  - Sparrow!

+++

  Após conseguir juntar peças o suficiente para formar a minha fantasia e a de Zayn – que, por acaso, não podiam ser mais diferentes -, ele pegou um taxi e foi para seu flat enquanto voltei pra casa no meu próprio carro vermelho. Gostaria de ter dado uma carona pra ele, mas seria perigoso alguém nos ver juntos, ainda mais no meu conversível nada discreto. Talvez fossemos nos encontrar mais tarde naquele mesmo dia, mas agora tínhamos coisas importantes pra fazer. Ele almoçaria com a mãe e irmãs e eu tinha um encontro com um certo peludo hiperativo. Era o dia de dar banho em e isso sempre foi uma tarefa mais difícil do que parecia. O melhor lugar para se fazer isso era no jardim, caso contrário a casa inteira acabaria encharcada. Também coloquei uma vestimenta mais apropriada para as atividades vespertinas.
  - Onde eu coloco, ? – Liam atravessara a lateral da casa, carregando uma banheira de plástico que mais parecia uma piscina desmontável.
  - Junto das outras coisas, por favor! – Apontei para a pequena bacia amarela que guardava os produtos de beleza caninos. – Já estou terminando de prender a mangueira aqui...
  - Posso chamar o Bo? – Tirou a camisa, jogando-a na varanda de casa e ficando apenas com uma bermuda roxa.
  - Liam God Damn Payne... – Ri, comendo-o com os olhos sem nem me importar em disfarçar.
  - ! – Reparou no que eu estava fazendo e se cobriu com os braços. – Está me constrangendo.
  - Então pare de ser tão gostoso. – Mordi o lábio, brincando. Sério, Liam não devia ter nem 1% de gordura no corpo. Assim que a mangueira estava bem presa na torneira do jardim, me aproximei dele e da banheira.
  - Posso falar o mesmo de você. – Piscou com um sorriso malicioso. – Sempre te achei gostosa.
  - OK, podemos parar, por favor? – Sabia que ele estava brincando, mas preferi cortar antes que minhas bochechas estivessem mais vermelhas ainda. – Bo! Vem cá, garoto! Vem cá garoto? Nunca falei isso na minha vida.
  - Vem cá, garoto! Bom menino! – Liam fez uma voz afeminada, tirando uma com a minha cara. Eu também nunca falara aquilo. – Pelo menos funcionou!
  - ! – Sorri e me apoiei com um joelho no chão, deixando-o se aproximar e vir falar comigo. – Hora de tomar banho!
   Quase no mesmo instante em que escutou aquela última palavra, o cachorro ameaçou sair correndo. Como eu já sabia dessa preguiça que ele tinha de tomar banho, o segurei pela coleira, obrigando-o a ficar ali. Reclamando como se fosse uma pessoa de verdade, relutantemente entrou na banheira que Liam montara. Ainda estava seca, então ele pode se sentar. Pedi para que o meu ajudante segurasse o monstrinho enquanto eu fazia a primeira etapa do banho: Desembaraçar o pelo! costumava ser branco e preto, mas aquele dia estava preto e marrom. Acredite, era o dia de tomar banho e ele não iria escapar! Depois de soltar tanto pelo que poderia costurar um casaco, chegou a hora que eu mais gostava, mas ele odiava.
   Peguei a mangueira que estava ao meu lado e apertei o gatilho para testar a velocidade da água; só então começando a molhar o cachorro. A água estava fria, o que era bom pra ele e ruim pra mim, levando em consideração que o dia ainda não estava assim tão quente. Tive cuidado para não molhar a cabeça do filhote ainda, pois era a última coisa que eu daria atenção. Quando ele estava ensopado e me olhando com suas orbes azuladas e pidonas, desliguei a mangueira e peguei o shampoo canino, colocando uma boa quantidade nas minhas mãos. Não era a minha primeira vez dando banho em , por isso fazia tudo automaticamente.
  - Como vai a Dani? – Puxei um assunto qualquer, começando a ensaboar o cachorro.
  - Precisando de férias, mas está bem. – Fazia carinho em para mantê-lo calmo. – Vamos jantar com os pais dela amanhã...
  - Mas amanhã é a festa do Tom! – Fiz bico, olhando-o. – Vocês não vão mesmo, né?
  - Achamos melhor não... Seria estranho. Não somos tão amigos dele assim. – Deu de ombros. – E não tenho nenhuma fantasia.
  - Eu te chamei pra ir até a Models One hoje. – Semicerrei os olhos. Aquilo não era desculpa. Passei a lavar as patas de . – Poderíamos ter encontrado uma fantasia pra você também.
  - Não estou muito no clima pra festa...
  - Há algo errado? – Franzi o cenho.
  - Ainda não... É que eu estou com medo. – Suspirou, sabendo que podia se abrir comigo. – Com tudo que vem acontecendo com você e o Zayn... Lou e Harry... E se formos os próximos? Não sei se Danielle passaria por tudo que você está passando.
  - Vocês não são os próximos, Leeyum. Estar com a Dani é bom para a sua imagem. Além do que, a Modest! não gosta é de mim, então acho que não tem com o que se preocupar. – Aquele era um medo normal, mas sem motivos. Podia ter quase certeza que, depois de El e Louis, Dani e Liam era o casal perfeito. – Dani te ama, claro que ela passaria por algo assim!
  - Não sei... Ela não é como você, sabe? – Senti que aqueles olhos castanhos me fitavam por mais tempo que o considerado normal. – Na verdade acho que ninguém é como você. Ninguém vê o mundo da mesma forma que você e isso é uma pena. Esse brilho nos seus olhos quando fala de algo que ama, a forma quando você faz qualquer um sorrir mesmo quando está triste... Você linda. E nunca vi alguém amar tanto outra pessoa quanto o ama. Queria eu ter essa sorte.
   Não consegui responder. Em parte porque senti algo que não sentia há muito tempo; aquele frio na barriga quando Liam declarava algo e eu sabia que era porque ele gostava de mim mais do que como amiga. Por outra e maior parte, foi porque eu simplesmente não conseguia concordar com ele. Não achava que via o mundo de uma forma tão excepcional assim, não acreditava no brilho em meus olhos e não me achava linda. Apesar disso, fui surpreendida pelos elogios, ainda mais por não esperar nada daquilo. A sorte estava do meu lado, pois fomos interrompidos por um entediado que resolveu quebrar o gelo.
   O cachorro se sacudiu, jogando água e espuma para todos os lados, terminando por me molhar quase inteira e Liam não ficou muito atrás. Ambos rimos um do outro e o clima ficou bem mais leve no jardim. Querendo acabar logo com aquela bagunça, peguei a mangueira mais uma vez e enxagüei os produtos de limpeza do pelo de , que voltou a se sacudir mais algumas vezes, mas agora eu já estava um pouco mais acostumada e avisada. Ao ficar pronto, pulou para a grama e latiu; provavelmente brigando comigo por tê-lo obrigado a tomar banho. É, sou uma mãe terrível!
  - Você não deveria secá-lo com uma toalha agora? – Li se pôs de pé.
  - Se ele deixasse, eu adoraria! Mas é impossível. – Ri, olhando o cachorro continuar a se sacudir e espirrar água para os lados. Apontei a mangueira para Liam e pousei o dedo indicador no gatilho. – Quem é o próximo?
  - , não! Essa água tá gelada! – Se cobriu, dando um passo para trás, mas atirei a água em suas pernas, o fazendo pular. Claro que eu gargalhei dessa cena. – Já brigamos assim e sabemos como isso termina!
  - É, com você encharcado! – Ri mais uma vez, apertando o gatilho e segurando, tentando mirar a água em Liam enquanto ele corria.
  - CUIDADO COM A... – Liam tentou avisar, mas quando percebi quem se aproximava foi tarde demais.
  - Bloody hell, ! – reclamou assim que viu a mancha de água em seu vestido claro.
  - Ops... – Larguei a mangueira e levei as mãos ao rosto, tapando a boca em forma de ‘o’. – Me desculpa, , eu não te vi aí!
  - Acho que você nunca ficou molhada tão rápido assim em um de nossos encontros. – Um ser platinado se fez notado pela primeira vez. Ben.
  - Agora não, Benjamin! – ainda bufava. – , vou pegar uma roupa sua e quero ver reclamar se for lançamento da Mulberry.
  - Pode pegar o que quiser, querida... – Preferi ignorar o namorado da minha amiga, pois ela realmente estava irritada comigo. – Liam, vai lá pegar uma toalha pra ela!
  - E pra mim também!
   O menino correu atrás de e tentou fazer o mesmo, mas meu assovio o fez parar. O cachorro ainda estava bem molhado e eu não queria que a casa inteira ficasse molhada; especialmente por saber que ele pularia direto para a minha cama assim que tivesse a primeira oportunidade. Distraidamente comecei a recolher as coisas que usei para dar banho em , assim como virar a banheira na grama, deixando toda a água ir embora. Quase não notei o garoto que ainda permanecia ali fora; Ben. Levei um pequeno susto ao vê-lo parado na minha frente e o que mais me incomodou foi a forma que ele me olhava. “Ben é namorado da sua melhor amiga, , é só impressão sua!” Tentei me convencer, mas a sensação de ser vigiada não foi embora.
  - Não vai atrás da sua namorada? – Questionei tentando não soar mal educada.
  - Ela não gosta quando fico seguindo. – Deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos. – Animada para a volta as aulas?
  - Com certeza... – Sorri pelo assunto. – Ainda bem que as minhas aulas vão começar mais cedo... Já não agüentava mais.
  - Último semestre também, né? Acho que vamos nos ver logo, pois nossas aulas voltam no mesmo dia. – Também mostrou um sorriso, mas o seu foi um tanto diferente, insinuante. – ainda vai ter uma semana de férias a mais... Muito pode acontecer em uma semana.
  - Suponho que sim. – Não entendi muito bem o que ele queria dizer, mas preferi não prestar atenção.
  - Ei, vocês dois! – apareceu na janela da sala, já com outras roupas. – Dá pra entrar logo? A ainda precisa se arrumar?
  - Me arrumar?! Para o que, exatamente?
  - Ela não te contou? – Ben voltou a falar. – Nós vamos sair!

Chapter XIX

“Namoros terminam! Get over it.”

  Chegando no flat de Zayn, estacionei o meu carro na garagem; na vaga que me fora destinada, ao lado do Volvo prateado. Peguei o elevador com um sorriso no rosto, ansiosa por estar prestes a ver o meu namorado. Além das minhas roupas do corpo, trazia comigo uma bolsa com a minha fantasia para a festa que aconteceria mais tarde e mais algumas coisas que eu poderia precisar pra dormir ali. Enquanto fazia o percurso do subsolo até a cobertura, resolvi causalmente navegar pelo meu Twitter e foi aí que eu vi este tweet em especial. Se algum dos meus amigos ou familiares e até mesmo uma pessoa qualquer tivesse postado-o, não teria problema algum. O caso aqui é que ele apareceu magicamente na MINHA conta. O pior? Eu sabia quem o escrevera.
   O pessoal da Modest! podia estar achando que me fizera um favor ou que assim fariam com que as pessoas deixassem de me mandar coisas sem educação, mas, ao meu ver, eu era que seria vista como mal educada na história; coisa que nunca fui. Ainda mais em um meio tão impressionável quanto uma rede social, onde aquilo estaria gravado para sempre. Mesmo que eu apagasse a frase, já havia respostas, retwetts e etc. Bufei, olhando para o vidro transparente do elevador que me mostrava o lado de fora e – ao longe – o Hyde Park. E pensar que eu acordara feliz e leve! Alguém tinha que aparecer e acabar com a minha manhã. Além do que, eu não fazia idéia de como Marco e sua equipe conseguiram a minha senha. Tá que “McFly123” não é um Código Da Vinci, mas pera lá! Eu já vira várias coisas que os empresários postavam nas contas dos meninos, só não sabia o que EU tinha a ver com isso. Não lembrava de ter assinado um contrato.

  
“Só porque tem o meu nome, não quer dizer que fui eu quem disse.”

  Minha resposta foi simples e não sabia se poderia ser considerada como um bom comeback, mas foi o que eu consegui pensar no calor do momento. Bem na hora em que o elevador abriu as portas para que eu saísse, guardei o celular no bolso de fora da minha bolsa. Tentaria relaxar, pois, afinal de contas, estava prestes a encontrar Zayn e era como se não nos víssemos há dias; mesmo que não passasse nem de 24h. Com a minha chave do apartamento já em mãos, me deixei entrar sem ser anunciada. O menino estava jogado no sofá, lendo algo que parecia muito com um Comic Book; como sempre, sem camisa. Ao me ver, colocou-se de pé e começou a caminhar na minha direção.
  - Você não vai acreditar no que ele fez! – Claro que não agüentaria calada por muito tempo. Larguei minhas coisas na mesinha de canto da sala, só esperando fumaça sair pelas minhas orelhas.
  - Quem fez? – Zayn sorriu. Sim, SORRIU. Acho que ele se divertia quando eu ficava irritada. Não tinha amor a vida, só podia ser.
  - Marco! Ou sei lá quem foi dessa vez! Alguém da Modest! – Pisei forte até onde ele estava, mexendo os braços pra mostrar o quanto estava enfurecida. – Eles invadiram o MEU Twitter pra postar uma porcaria que eu NUNCA teria falado! Como se eu já não estivesse causando intrigas o suficiente, né?! Eu estou tão... Ughhhhhhhh. Que raiva!
  - Babe, você precisa se acalmar. – Segurou de cada lado do meu rosto, me fazendo ficar parada em um lugar só.
  - Ele precisa parar com isso! – Tive meus lábios pressionados pelos de Zayn, o que me fez parar por um instante na tentativa de lembrar o que me irritava. – Não faz isso, eu estou com raiva...
  - Cala a boca. – Sorriu torto.
  - Okay...
   Quem conseguia ficar irritada por mais de dois minutos com um menino como aquele te olhando e sorrindo como se o universo inteiro girasse em torno dele? Zayn me abraçou pela cintura, me obrigando a ficar na ponta dos pés para que não precisasse se inclinar na minha direção, e aproximou nossos lábios em um beijo de bom dia. Para não cair devido à nova falta de apoio sob meus pés, colei o corpo ao dele, mantendo-me segura ali. Primeiramente minhas mãos descansaram em seus braços, mas logo fizeram seu caminho para o norte, terminando na nuca. Como um passe de mágica, meus pensamentos clarearam e tudo estava bem novamente. Rolei os olhos assim que nossos rostos foram separados, porque Zayn conhecia o poder que tinha sobre mim e isso não era bom. Nah, quem se importa?
  - Sabia que eu te odeio? – Ri, querendo dizer exatamente o contrário.
  - Eu te odeio mais. – Beijou a minha bochecha com força, finalmente me deixando voltar a pisar no chão. – Quer chá?
  - Vocês ingleses... Só pensam em chá! – Tirei os sapatos, deixando-os junto com as minhas outras coisas.
  - Então não quer? – Me olhou por cima do ombro, caminhando para a cozinha.
  - Claro que quero! – Entrei na cozinha atrás dele. – Qual sabor?
  - Chá verde e preto. – Foi para trás do balcão, pegando a chaleira que já soltava vapor pelo bico.
  - Você gosta mesmo de misturar as ervas... – Brinquei, recebendo um olhar de “eu sei o que você quis dizer com isso” e pisquei em resposta. Uma cesta embalada com um papel brilhante e transparente em cima da mesa de jantar chamou a minha atenção. – O que é isso? Esqueci seu aniversário ou algo assim?
  - Esqueceu, ! Que namorada ótima que você é. –Zombou de mim, mas eu sabia muito bem que seu aniversário era em janeiro. Até onde eu lembrava, estávamos em julho. – Aparentemente descobriram que eu estou morando aqui, então deixaram essa cesta aí na porta... Mas não sei quem mandou.
  - Talvez se você lesse o cartão, saberia quem foi! – Já estávamos acostumados a ele recebendo presentes de fãs, mas nunca eram entregues diretamente em casa. – Fui eu quem mandou isso? O cartão está dizendo: “Sua futura esposa.”
  - Minha futura esposa que nem sabe o dia do meu aniversário? – Se aproximou com a minha caneca em uma mão e uma garrafa de leite na outra.
  - Idiota. – Ri mesmo sem querer e dei uma cotovelada em suas costelas. Peguei a caneca e derramei uns três dedos de leite ali dentro, junto com o chá. – Obrigada, cheeky.
  - De nada, lovely. – Beijou o topo da minha cabeça enquanto eu dava o primeiro gole naquele chá de combinação estranha. – O que tem aí dentro?
  - Sweets! – Comemorei, abrindo o pacote bem embalado e estudando o conteúdo da cesta. – Uau, tem tudo aqui... Maltesers! Dairy Milk! Smarties! Mars Bars!
  - Pode deixar algum pra mim? – Pediu enquanto caminhava de volta para a bancada e eu enchia minha mão livre de doces.
  - Ainda tem muitos na cesta... – Virei para encará-lo e quase fiquei chocada com o que vi. – Javaad Malik! Não acredito que acabei de ver isso!
  - O que?! – Limpou a boca com as costas da mão, se livrando do bigode de leite que ganhou por ter bebido direto da garrafa.
  - Você não pode fazer isso! É nojento. – Fiz uma careta, deixando meus doces e a minha xícara de chá sobre o balcão onde eu tentara sentar uma vez e batera a cabeça na panela que pendia de um pegador do teto. – Coloque em um copo e aí pode beber! Ew.
  - Não sei do que você está falando, . Você me beija, não é? – Colocou leite na sua própria caneca enquanto eu abria o meu pacotinho de Mars Bars. – É a mesma coisa!
  - Claro que não é a mesma coisa! – Mordi o primeiro pedaço da barra de chocolate. – Beber direto da caixa do leite, ou de qualquer coisa, pra falar a verdade, é nojento. E te beijar é bom, então são duas coisas diferentes.
  - Hm, então me beijar é bom? – Sorriu daquela forma brincalhona e cheia de si.
  - Às vezes. Só não gosto muito quando você faz aquelas coisas com a língua. – Dei de ombros, quase ironicamente. Acredite, não havia nada que ele fizesse com a língua que eu não gostasse. – Mas dá pra ignorar as vezes... Menos quando você tenta me engolir...
   Enquanto ia reclamando do beijo dele, fazia caretas como se sentisse nojo. Zayn parecia realmente acreditar no que eu falava, pois começou a parecer ofendido e um tanto assustado. Segurei o riso, dando de ombros mais uma vez e recolhendo as minhas coisas. Dei as costas pra ele enquanto inventava e numerava milhões de absurdos sobre as coisas que não gostava nele; fosse do cabelo, do físico, do estilo de se vestir... Uma mentira pior que a outra. Deixei a cozinha para trás, passando pelo arco da sala de jantar e atravessando o corredor até o quarto de jogos.
   Por incrível que pareça, tudo ali estava bem arrumado. Não sabia se Zayn tinha esse gênio de limpeza dentro de si ou se os meninos deixaram tudo organizado antes de irem embora. Sinceramente não sei qual das duas opções me parecia mais impossível. Tudo estava bem claro, pois as cortinas estavam abertas e o colchão no chão era bem iluminado. Mas ainda não chegava a estar quente. Sei disso porque subi em cima dele, bebericando do meu chá até que ele estivesse quase na metade. Depositei a caneca no chão, assim como os doces que confisquei, em uma distancia segura de qualquer coisa que pudesse ser estragada caso algum acidente acontecesse.
   Zayn me seguia e parecia já ter terminado seu chá, pois deixou o próprio copo em uma mesinha perto da porta. Em seguida, se jogou no colchão, na ponta contrária de onde eu estava sentada. Seus braços cruzados me mostravam que ele não estava achando graça da minha lista de coisas que mudaria nele.
  - É só isso? – Levantou uma sobrancelha, fitando meu divertimento.
  - Ainda quer mais? – Também cruzei os braços, imitando sua expressão.
  - Não, obrigado. Mas já que você citou o que não gosta em mim, porque não faço o mesmo? – Espera... Não era pra ser assim! – Zayn começou a enumerar nos dedos e senti que ai vinha bomba! – Vejamos... Não gosto de como a primeira coisa que você faz ao chegar em algum lugar onde se sente a vontade é tirar os sapatos. Não gosto como você espalha suas coisas por todos os cantos, ou como a sua primeira reação depois de uma briga é se afastar ou ir embora. Não gosto como você sempre tira algo do lugar e depois esquece de colocar de volta. Não gosto de como afina a voz quando fala com algum animal ou criança, ou como se esforça pra agradar a todos, mesmo quando é impossível. Não gosto de como você gosta de sentar em lugares altos e sua primeira opção vai ser em cima da mesa ao invés de qualquer cadeira. Não gosto de como você é desequilibrada, principalmente ao acordar e descer as escadas. Também não gosto de como sorri olhando para o nada quando pensa que ninguém está vendo. Não gosto quando morde a ponta do dedo por estar ansiosa ou rola os olhos por eu ter falado algo idiota...
  - Nós parecemos um casal de velhos! – O interrompi ao já estar satisfeita em ouvir todos os meus hábitos sendo listados assim.
  - Com a exceção de que são essas as coisas que eu mais amo em você. – Sorriu e vi em seu rosto a mesma expressão boba que eu sabia ter.
  - Como você consegue amar alguém com tantas coisas ruins assim? – Ainda não satisfeita, o instiguei a falar mais. Apesar de seu exterior misterioso, eu sabia melhor do que ninguém o quanto ele era romântico e até filosófico.
  - Não faço a mínima idéia. – Riu ao ponto de seus olhos diminuírem de tamanho e rolei os olhos sem nem perceber o que estava fazendo. – VIU SÓ?
  - Não vi nada!
   Achando que a distância entre nós dois já estava grande demais, engatinhei até o menino e o puxei, fazendo com que nós dois rolássemos no colchão até que ele estivesse sobre mim. Não me importei com o peso de seu corpo sobre o meu e o prendi ali com uma perna em volta de sua cintura. Passei os braços em torno de seu pescoço, deixando que ele encaixasse os lábios ao meu queixo. Ganhei algumas mordidinhas pelo maxilar e quando achei que Zayn fosse continuar pelo meu pescoço, tive meus lábios abocanhados. Como se quisesse me fazer retirar tudo que tinha reclamado sobre ele, fui beijada como se aquilo o desse todo o ar que precisasse para sobreviver. Nossas línguas se chocavam com fervor e ao mesmo tempo muito carinho. Mordisquei seu lábio inferior, escutando a sua risada baixa em meus lábios.
  - Não gosta do que eu faço com a língua, né? – Provocou com o canto direito da boca mais elevado que o outro, num sorriso torto e convencido.
  - Não sei do que está falando! – Ri, empurrando para tirá-lo de cima de mim. – Onde está o meu chocolate?
  - Então o segredo é te dar doces? – Questionou enquanto eu me esticava para pegar a barrinha de chocolate onde a deixara antes. – Faz tempo que não a vejo comer assim, sem ter que ser obrigada.
  - Eu como sempre... Só que uns dias tenho mais fome que os outros. – Expliquei, o que não deixava de ser verdade. – Quer um pedaço?
  - Todo seu. – Se arrumou encostado a uma almofada enquanto eu continuei sentada. – Como foi sair com e Ben ontem?
  - Foi tão estranho! – Com esse assunto eu me empolguei. – Não sei, mas os dois não parecem um casal, sabe? E também não parecem se importar com isso. sente falta de Ni, isso é óbvio. Mas está tentando superá-lo... Depois do que aconteceu em Paris, achei que os dois fossem voltar, mas pelo visto foi só uma coisa de momento mesmo...
  - Achei que fossemos conseguir juntar os dois de novo, mas acho que não... – Suspirou. – Só queria que Niall conseguisse fazer como ela e seguir em frente. Talvez assim os dois consigam colocar um ponto final nesse clima tenso que fica quando os dois estão no mesmo lugar.
  - Achei que conseguiríamos ao menos descobrir o que fez eles terminarem em primeiro lugar!
   Quem sabe um dia conseguiríamos descobrir aquele mistério. De uma coisa já sabíamos... Niall fizera alguma coisa. O problema é que eu não conseguia imaginá-lo fazendo qualquer coisa que pudesse magoar . Se um casal devia ficar junto para sempre, esse casal era Niall e ! Eles eram perfeitos um para o outro e aquela idéia de Zayn sobre fazer nosso irlandês seguir em frente não me agradava. Terminando de comer o meu docinho – aliás, lembre-me de agradecer a quem quer que tenha mandado a cesta – e joguei a embalagem ao lado da minha caneca de chá meio pela metade.
  - Hey, babe... – Chamei a atenção de Zayn. – Quando eu cheguei... O que você estava fazendo com aquele caderno? É onde guarda as suas músicas, né?
  - É sim. Tive um pouco de inspiração essa manhã. – Sorriu orgulhoso. – Depois eu termino.
  - Não deixe a sua inspiração passar! – O balancei pelo joelho, tentando encorajá-lo.
  - Mas e você?
  - Sei que não gosta de mostrar nada que ainda não está terminado, então não vou pedir pra ver... Mas gostaria de te assistir compondo. – Insisti. Não queria que a minha presença o atrapalhasse. – Além do mais, também quero escrever uma música!
  - Você quer? – Como se fosse possível, seu sorriso ficou ainda maior.
  - Trouxe o meu próprio caderno de composições! Não necessariamente músicas, porque isso eu nunca tentei... Na verdade são mais textos sem sentidos ou como me sinto. Mas posso tentar, certo?
  - É claro que sim, ! E eu posso te ajudar... Se quiser, claro. Também podemos criar uma melodia...

+++

  - Baby, c’mon! – Bati na porta do quarto. – Vamos chegar atrasados...
  - Já estou acabando, ...
   Zayn podia não gostar de muitas das minhas manias, mas algo que ele não podia reclamar era da quantidade de tempo que eu levava pra me arrumar, já que o próprio demorava consideravelmente mais do que eu. Segundo o relógio em meu celular, a festa de Tom começaria em dez minutos e a casa dela não era lá perto da cidade, então demoraríamos um pouco na estrada. Trocar de roupa em quartos separados pareceu uma boa idéia até aquele instante, onde eu estava pronta e não podia apressá-lo pelo lado de dentro do quarto. Desistindo de bater na porta, caminhei até a sala, escutando apenas o som dos meus saltos batendo contra o piso. Minha bolsa em forma de cesta estava sobre a mesinha na porta de entrada e o presente de Tom perfeitamente embalado e pronto para ir embora. Isso se o homem da casa fizesse o favor de andar logo.
   Acreditando que o dito cujo ainda iria demorar alguns minutos se embelezando – como se precisasse – me joguei no sofá. Acariciei a minha capa de veludo vermelha, me sentindo a própria Chapeuzinho da história infantil. Claro que a saia que usava era um tanto curta demais pra ser considerada inocente e o espartilho que apertava a minha silhueta se encaixava mais na sessão “sexy”, mas isso são meros detalhes que podemos ignorar. Checando o celular mais uma vez, resolvi me entreter e mandar mensagens.

  
“Vocês não vão mesmo? Ainda dá tempo...”
  “Talvez em uma outra, . ): H. e L.”
  “Acabamos de chegar na casa dos pais da Dani... Se sairmos daqui cedo, daremos uma passada lá, ok? Sem fantasia mesmo! lol”
  “Eu adoraria, , mas falei com os outros meninos e não quero ficar de vela! Mas coma bolo por mim. – Nialler”

  - Imprestáveis. – Disse baixinho enquanto bloqueava a telinha do iPhone.
  - Quem é imprestável? – Zayn parecia finalmente ter saído do quarto e agora estava parado perto do arco da cozinha.
  - I, i, captain. – O olhei e acabei sorrindo por causa da sua fantasia de pirata. Pois é, uma Chapeuzinho Vermelho e um Pirata... Casal perfeito, não? – Onde conseguiu esse chapéu?
  - Lembrei que um amigo meu tinha e passei na casa dele pra pegar emprestado. – Arrumou o chapéu sobre a cabeça. Às vezes eu esquecia que ele tinha outros amigos além de Liam, Lou, Haz ou Ni. – Dou um bom pirata?
  - Você tem as tatuagens pra isso... – Levantei ao ver que ele já abria a porta. – Vamos logo, porque essa Chapeuzinho quer dançar!

+++

  A casa dos Fletcher realmente não ficava perto da cidade, por isso levamos entre meia hora e quarenta minutos para chegar lá. Como o lugar ficava quase no meio do nada, pudemos simplesmente estacionar em qualquer lugar que já não estivesse ocupado e descer do Volvo prateado que um dia pertencera a minha sogra. Zayn não tirara o seu chapéu de capitão Jack Sparrow nem enquanto dirigia, então provavelmente o amigo dele nunca mais o teria de volta. As luzes da casa eram convidativas e personagens de desenhos animados ou filmes famosos entravam e saiam de lá, passeando com copos vermelhos em suas mãos ou comidinhas deliciosas. Com certeza eu não reconheceria metade daqueles convidados nem se estivessem com as suas roupas normais.
   A primeira reação de Zayn foi passar os dedos entre os meus e segurar a minha mão. Ele também não conhecia ninguém ali além dos quatro meninos do McFly, já que não era familiarizado nem ao menos com as namoradas/esposas deles. Ficar perdido naquela casa um tanto grande demais seria ruim para qualquer um de nós dois. Ao menos todos os cômodos eram bem divertidos, já que Tom tinha uma coleção de brinquedos, bonecos de ação, bichinhos de pelúcia, objetos de filmes e etc. Era com toda certeza uma casa divertida e sempre que eu entrava ali, queria ficar para sempre.
  - Gostei dos seus cadarços. – Uma figura masculina e loira, vestida de Batman parou na minha frente.
  - Obrigada, eu os roubei da rainha. – Ri encantada com o fato de Tom lembrar de nosso código secreto. – Tommy! É tão bom te ver!
  - Faz tempo, né? – Me abraçou pela cintura quando o envolvi pelos ombros. – Você está ótima. Gostei do novo cabelo... Ficou bem loira, só não sabia que tinha tanta coragem assim pra mudar.
  - Foi o Sol de Los Angeles! O tom era mais escuro que isso, mas também gostei. – Nos separamos e eu não parava de sorrir. Sempre que via ele ou qualquer um dos outros três demorava alguns segundos pra lembrar que eram meus amigos e não os ídolos intocáveis de uma mais nova.
  - What’s up, mate?! – Tom também abraçou Zayn, mas daquela forma que garotos fazem, com um tapinha nas costas e tudo mais.
  - Alright, bro! Feliz aniversário. – Sorriu, mas ninguém ali estava mais feliz que eu. – Festa legal.
  - Aqui, Tom... Seu presente! – Estiquei a caixa retangular que trouxera para que ele recebesse sua edição especial de Legos da série Doctor Who. Ainda não sabia disso... Mas iria gostar.
  - Obrigado, ! – Pegou o presente e tentou espiar entre as camadas da embalagem. – Vem comigo, vou te dar o seu antes que esqueça... Com licença, Zayn, já devolvo a sua namorada.
  - Sem problemas!
   Zayn me deixou ir, mas seu olhar pedia socorro. Me desculpei com um meio sorriso, tendo o meu pulso carinhosamente envolvido por Tom, que começou a adentrar a própria casa e me levou junto. Não queria ter deixado-o sozinho, mas não pareci ter muita escolha. Claro que a minha consciência pesada foi embora assim que a minha fangirl interior falou mais alto. “ESTOU PRATICAMENTE DE MÃOS DADAS COM TOM FLETCHER! NA CASA DELE!” Por sorte eu já conhecera celebridades o bastante para fingir ter autocontrole na frente delas. Algumas pessoas mascaradas acenaram na minha direção e achei melhor fazer o mesmo ao invés de passar por mal educada só por não conseguir reconhecer quem elas eram.
  - Gi, olha quem chegou! – Assim que entramos em um quarto onde algumas pessoas assistiam um filme de terror que passava na TV, o homem chamou a esposa vestida de Mulher Gato.
  - ! – A morena levantou de onde estava e correu com os braços abertos na minha direção.
  - Gigi. – A abracei com força e demos alguns pulinhos, felizes por estarmos reunidas novamente. – Finalmente! Minha amiga autora! Wow, temos tanto pra conversar...
  - Temos mesmo! Parou de viajar? Porque sempre que eu penso em te chamar pra sair, você está em outro país! – Fofa como sempre, Giovanna olhou em volta como se procurasse algo. – Tom já deu seus presentes?
  - Cheguei! – O loiro voltou, isso porque eu nem o vira se afastar, e trazia três coisas nas mãos. – Abra esse aqui primeiro.
  - Ok... “De: Danny, Tom, Dougie e Harry. Para: Nossa pequena .” Awn, que fofura! – Li o cartão da primeira caixa de presentes. Tirei a tampa com cuidado, encontrando o tal presente que os meninos falaram ter pra mim. – Um macacão de panda!
  - Agora você é uma de nós. – Tom comemorou animado. Seu olhar me dizia que ele já me imaginava dentro daquela roupa, rolando pelo chão assim como ele e os outros meninos faziam. – Esses aqui são da Gi.
  - Obrigada, vocês dois. Não precisava, de verdade! – Não precisava, mas gostei muito da minha cópia de Billy & Me e uma caixinha com um conjunto de brincos, colar e pulseira.
  - Leia a dedicatória! – Gi pediu.
  - “Para a minha querida . Que nossa amizade seja eterna para que outros possam escrever histórias sobre nós.” – Aquela era uma dedicatória muito bonita, visto que vinha de uma autora. – Obrigada, Gi! Não sei nem o que falar...
  - Com licença, meninas, acho que a minha irmã chegou... – Tom avisou e se retirou. Sua fantasia era de Batman, mas ele se comportava como o Flash, correndo de um canto para o outro.
  - Acho melhor guardar essas coisas pra que você não fique carregando a festa inteira, não? – Giovanna sugeriu, lendo os meus pensamentos. – Aliás, adorei a sua cestinha!   - Uma Chapeuzinho Vermelho não estaria completa sem uma cesta! E ela é uma ótima substituta para bolsas... Mas eu adoraria guardar tudo isso.
  - Pode colocar no meu quarto, ninguém vai entrar lá. Ainda lembra onde fica certo? – Afirmei que sim. Não fazia tanto tempo assim que estivera ali pela última vez. – Só cuidado pra não deixar os gatos saírem...
  - Pode deixar, Gi! E eu gostaria de conversar com você, mais tarde...
   Giovanna me acompanhou até a porta daquele quarto, em seguida voltando para as suas outras amigas. Me esquivei de umas pessoas aqui ou ali, principalmente ao chegar na escada, onde uma dançarina de Can-can corria de um Cowboy. Todos estavam se divertindo, mas porque seria diferente? Não demorei nada para encontrar o quarto de Gi e Tom. Mesmo com várias coisas na minha mão, consegui abrir a porta e entrar sem derrubar nada. Em cima de um dos travesseiros, Aurora dormia tranquilamente. Não vi sinal dos outros gatos, mas tinha certeza que logo apareceriam.
   Deixei as minhas coisas em um móvel que encontrei no canto, com todo cuidado para não fazer bagunça. O que Zayn falara sobre eu espalhar as minhas coisas por todos os cantos podia acontecer na minha casa ou em seu flat, mas não em lugares como aquele. Voltando a minha atenção para a princesa que dormia no travesseiro, me pus de joelhos ao lado da cama, me apoiando ali e esticando a não até tocar a gata. Eu até que posso ser uma “dog person”, mas sempre achei gatos muito fofos; especialmente aqueles três que eu vi crescer, ainda que de longe e por fotos. O que?! Que Galaxy Defender nunca babou por Leia, Aurora e Marvin?
  - Hey, girl... Tudo bem? – Falei baixinho, não querendo assustá-la.
   A gata apenas bateu em minha mão com a patinha, como se me pedisse para deixá-la em paz. Ri daquela folgada, ainda mais quando se espreguiçou. Decidi deixá-la em paz de uma vez. O som de patinhas arranhando alguma coisa me fez olhar para a minha própria capa vermelha e encontrar um felino loiro me cumprimentando. Marvin era diferente de sua irmã mais velha, então veio falar comigo. Ele teria feito com qualquer uma, mas gostei de ser sido eu a pessoa a tirá-lo da solidão. Me sentei no chão e o trouxe para o meu colo, vendo-o se desmanchar sobre as minhas penas, na espera de carinho. Era como se ele tivesse falado: “Me acaricie, pesant.” Os pelos amarelados do gatinho eram mais macios que o meu próprio cabelo e isso me frustrou um pouco.
  - Você acha que mummy ou daddy me deixam roubar você pra mim? – Perguntei fazendo um bico, escutando-o ronronar com os meus carinhos.
  - Eu sabia que te encontraria aqui! – Danny Jones entrou no quarto com sua fantasia de índio.
  - Danny! Oh não... Por favor me diga que você não está vestido de Indian Jones... – Levei uma mão ao rosto, perguntando-me porque aquilo já não me surpreendia mais.
  - Você entendeu a piada! – Riu escandalosamente, fazendo Marvin se assustar e sair do meu colo. – Poderia falar isso para o Harry, por favor? Ele estava me enchendo porque disse que ninguém entenderia.
  - Falo sim, pode deixar. – Sorri e recebi ajuda para me colocar de pé, sendo abraçada em seguida. – E parabéns pelo noivado! Nem acredito que meu Ratleg vai se casar!
  - Uau, ninguém me chama assim há anos! – Danny ainda se surpreendia com o meu conhecimento Mcflistico? – Mas obrigado! Também nunca achei que fosse dizer isso.
  - Onde está a noiva? Também preciso parabenizá-la!
  - Acho que ela está lá fora, conversando com a Lara. – Deu de ombros sem ter muita certeza e fiz uma careta mais óbvia do que gostaria. – O que foi?
  - Nada... – Balancei a cabeça negativamente. O observei abrir a porta para que saíssemos do quarto de Tiovanna. – Só acho que ela não vai muito com a minha cara.
  - A Geo? Não seja boba, , ela te adora! – Passou o braço pelos meus ombros, fazendo o meu capuz cair para trás.
  - Não, não Georgia... A Lara. – Comentei baixinho, não deixando ninguém mais nos escutar. – Não sei porque, mas algo me diz que ela não gosta de mim.
  - Não é culpa dela que Dougie tenha tido uma queda por você quando te conheceu. – Danny falou do nada, me obrigando a parar de andar e o encarar com um sorriso travesso no rosto.
  - O que? – Nem ao menos pisquei.
  - O que o que? – Jones não deixava de ser lerdo nem em casos de vida ou morte? Dei um tapa em sua testa, imaginando que isso colocaria os poucos neurônios de sua cabeça no lugar certo. – OUTCH, !
  - Dougie teve uma queda por mim? – Repeti, me divertindo demais com aquilo. – Onde ele está?
  - , você não vai falar pra ele que está sabendo disso, né? – Se tocou do que havia feito e eu neguei com a cabeça, não sendo muito convincente. – Pode ao menos fingir que não fui eu quem te contou?
  - Pode deixar! – O puxei e deixei um beijo estalado em sua bochecha, manchando ali de vermelho.
   Só esperava que ninguém se importasse com isso, mas tinha certeza que Geo não ligaria justamente por ter sido eu. Enquanto passava pela sala a procura de Dougie, aproximei-me de uma mesa com alguns copos e peguei o primeiro que vi, sem nem ao menos saber o que havia ali dentro. Dei alguns goles apreciando o sabor do álcool misturado com alguma bebida de limão. Ok, aquela casa estava cheia e eu não conseguia reconhecer metade daquelas pessoas por baixo de suas fantasias bem elaboradas. Não encontrei nenhuma outra Chapeuzinho Vermelho, então ponto pra mim. Contra a idéia de passar a noite inteira atrás de um garoto que podia estar fantasiado de qualquer coisa, decidi parar a primeira pessoa que passasse por mim.
  - Com licença, sabe me dizer onde Dougie está? – Parei o Superman que passou à minha direita.
  - Ah, só se importa com o viado? – Harry me olhou ofendido.
  - Oh, Gosh! Harry! – Como alguém não reconhece Harry Judd? Como EU não o reconheci? Tentando me redimir, o abracei com força. – Desculpa! Eu ia procurar você em seguida. Juro que ia!
  - Não sei se acredito, . – Me abraçou sorrindo, nem um pouco chateado. – Tudo bem? O que tem aprontado?
  - Nada demais, sou uma menina comportada... – Arrisquei, bebendo mais um gole da minha bebida após nos soltarmos.
  - Se isso é comportada pra você, não quero saber o que não é... – Deu um passo para trás, olhando a minha fantasia curta.
  - Harry! – Briguei com ele um pouco corada, puxando a minha capa para me cobrir. – Não vou nem falar dessa sua roupa colada de Superman!
  - O que é bonito é pra ser mostrado! – Fez uma pose que realçou seus músculos e me fez gargalhar. – E nada que você já não tenha visto antes! Seu irmão me falou que você tem uma cópia da Attitude.
  - Tenho mesmo! E a culpa não é minha se vocês quatro vivem tirando a roupa. – Se ele esperava me constranger com aquilo, não conseguiu. – Não que eu esteja reclamando, claro.
  – Tenho certeza que não. – Piscou. – Estou indo pegar comida para a Izzy. Quer vir junto?
  - Adoraria, Judd, mas ainda quero encontrar o Doug. – Por mais que aquele convite fosse tentador, minha procura ainda não terminara.
  - Acho que ele está lá na varanda...
  - Obrigada. Encontro você mais tarde, ok?
  - Pode apostar. Você ainda me deve uma dança!
   Não se preocupe, Harry Judd, essa era uma divida que eu faria questão de pagar. O deixei seguir seu caminho e virei para o meu próprio. Não havia sinal de Zayn em lugar algum, o que podia ser um bom sinal. Vai ver ele encontrou algum brinquedinho pra ficar distraído enquanto a sua namorada passeava com os ídolos de sua banda preferida. Que nenhum dos outros me escutasse falar isso, mas McFly sempre seria a minha “boy band”. Veja bem, eu não conseguia ver One Direction como uma banda nesse sentido. Eles eram os meus meninos... Era diferente. Nem mesmo quando Tom e Danny escreveram três músicas com eles. Seguindo até a varanda, não demorei nada para encontrar um menino vestido com um macacão de dinossauro, acabando de apagar um cigarro. Aproveitei que não havia mais ninguém ali com ele e preparei a minha melhor encenação.
  - Hello, big boy. – Coloquei a mão que não segurava o copo na cintura, fazendo com a minha capa vermelha não escondesse minha fantasia curta.
  - ... – Me olhou e acabou engasgando com um pouco de fumaça que ainda saia dos seus lábios. – O-oi! Eu estou bem, juro!
  - Desculpa, te assustei? – Enquanto bebia, o olhava por cima da borda do copo. Caminhei até ele e sentei-me ao seu lado, na mureta da varanda. – Um dinossauro tão grande com medo de uma garotinha?
  - Não sou tão grande assim... – Dougie tentou fazer uma piada sobre a sua pouca altura, mas acabei levando no duplo sentido e comecei a rir. Ainda que tentasse se conter, me acompanhou. – Shit, não foi isso o que eu quis dizer... Para de rir, !
  - Desculpa! – Balancei a cabeça, me controlando um pouco mais. Já era a minha tentativa de seduzi-lo. – Como você está, Dougie-boy?
  - Agora que você acha que eu tenho um pênis pequeno, nada bem! – Me fez rir ainda mais. É, eu era uma criança perto dele.
  - Eu sempre soube! – O envolvi de lado em um meio abraço. – Mas ainda te amo, ok?
  - Espero que sim. – Sorriu adoravelmente. Dougie podia ser um idiota nas horas vagas, mas quem negaria que ele era uma graça? – Ainda bem que você veio.
  - Não podia perder a festa do Tom por nada. – Continuei abraçando-o e deitei a cabeça em seu ombro.
  - Uhh. Tom. Você perdeu a minha festa! – Sua reclamação me fez encará-lo.
  - Dougie, em minha defesa, eu não te conhecia no seu último aniversário. – Elevei as sobrancelhas. – Bem, tecnicamente eu te conhecia sim... Você é que não me conhecia, então não me convidou.
  - Detalhes, . Se você tivesse aparecido na porta, com certeza teria deixado você entrar.
  - Claro, porque isso acontece com uma fã! – Cruzei os braços.
  - Você não é como as outras. – Tentou não me olhar ao falar isso, mas minha risada o obrigou. – Você é legal.
  - Achei vocês. – Uma figura vestida de Morticia Adams surgiu na entrada da varanda. – Ouvi dizer que você estava aqui, . Que bom que veio.
  - Obrigada, Lara... Eu tinha que vir ver os meninos. – Até a voz dela era meio esganiçada quando se referia a mim. Fiz questão de passar o braço pelo de Dougie, só pra provocar mais um pouco. – Sinto falta desses bobos.
  - Também sentimos sua falta, . – Dougie confirmou sem se importar com o olhar fuzilador que recebeu de sua namorada.
  - Achei que fosse uma festa a fantasia... – Pensei alto, mas só Dougie me escutou. Por incrível que pareça, ele gargalhou da minha piadinha maldosa.
  - , Giovanna está te chamando lá na cozinha... – Provavelmente era uma forma de me tirar de perto de seu namorado, mas eu precisava mesmo conversar com Gi.

+++

  Passei uma boa meia hora procurando por Giovanna, que não estava na cozinha. Para não me sentir uma namorada tão ruim, encontrei Zayn distraído no salão de jogos, jogando sinuca com uns três meninos que conhecera por lá. Também tirara fotos com fãs de sua banda que também eram amigos de Tom. De qualquer forma, ele estava se divertindo e não se importava em ficar sem mim mais um pouco. Danny e Harry me fizeram companhia e comemos e conversamos sobre tudo que estava acontecendo na vida deles e na minha; sempre rindo muito quando Jones falava algo extremamente idiota e Judd o reprovava e lhe dava um tapa na cabeça. Quando fui encontrar a dona da casa, ela me puxou pelo braço até que estivéssemos em um lugar mais calmo.
  - Acho que podemos conversar aqui, ! – Me guiou até uma mesa de piquenique no meio do jardim do quintal.
  - Tem certeza que não vão precisar de você lá dentro? – Me sentia mal por tirá-la da festa de aniversário do seu marido. – Isso pode esperar...
  - Claro que não. É até bom descansar um pouco as pernas... Sabe quantas vezes já atravessei essa casa? – Riu, sentando-se de frente pra mim. – Mas vamos lá. O que te aflige?
  - Okay, por onde começar? – Perguntei retoricamente sem saber como me responder.
  - Tem alguma coisa a ver com as matérias que eu andei lendo sobre você e Zayn terem se separado depois que ele supostamente te traiu?
  - Exatamente... – Suspirei. – Nada daquilo era verdade, como já deve ter percebido. É só que... A empresa que toma conta dos assuntos da banda está sempre se metendo na vida deles. O que era pra ser algo apenas profissional está invadindo todas as áreas, sabe? Nenhum de nós gosta disso, mas não temos o que fazer, porque assinaram um contrato de três anos... E não há nem um ano ainda. Não sei de quem foi a brilhante idéia de que Zayn e eu deveríamos fingir terminar. Até agora estamos tentando não deixar as coisas muito na cara, mas duvido que consigamos manter isso assim por muito tempo.
  - Na verdade, acho que eu entendo isso melhor do que você imagina. – Gi começou a falar e me calei. – Há alguns anos atrás, Tom e eu “terminamos”. Ou ao menos foi a noticia que saiu por aí. É uma época que eu não gosto nem de lembrar, mas faz parte do nosso passado. E, assim como você e Zayn, não foi nada de verdade. Nós até já morávamos juntos e eu não saí daqui e mudei para outro lugar. Foi muito difícil no começo... Tanto que acabaram desistindo e nós pudemos “voltar”. Claro que são situações diferentes, porque não chegamos a ser obrigados por ninguém. E Fletch é um cara bem legal que sempre quis o bem dos meninos.
  - Eu queria que Marco fosse assim também.
  - , eu também acabei vendo todas as coisas ruins que tem falado sobre você... – Tocou naquele assunto delicadamente, fazendo meu estomago congelar. – Você não os dá ouvidos, né?
  - Eu tento. – Poderia ter dado a resposta que dava a todos: “claro que não!”, mas de que adiantava mentir agora? – Mas é mais difícil do que eu esperava, sabe? Uma coisa é uma, duas, três pessoas não gostarem de você... Mas milhares? Você começa a pensar que o problema pode não ser com eles.
  - Você não podia estar mais errada! Falo por experiência própria, porque isso acontece comigo até hoje. Costumavam reclamar do meu cabelo, do meu peso e aparência... E isso me trouxe muitos problemas de auto-estima. – Aquilo eu não sabia. – Mas sempre tive Tom ao meu lado, meu melhor amigo desde os treze anos de idade. E nada do que falavam era verdade pra ele. Assim como eu tenho certeza que nada do que falam sobre você é verdade pra Zayn.
  - Sei disso... – Sorri por ela estar se abrindo pra mim e me escutando tão atenciosamente. – Mas machuca porque eu acabo vendo que elas podem estar certas e-
  - Pode parar por aí, ! Já se olhou no espelho? Você é uma menina linda! E tão talentosa... Existem vídeos seus na internet, sabia? Onde o mundo inteiro pode ver a bailarina incrível que você é. Além de ser modelo ou seja lá o que você faz para a Mulberry. – Segurou a minha mão em cima da mesa. – Você é divertida, engraçada e tem um coração tão bom... Sabe quantas meninas teriam se aproveitado da fama deles? E até mesmo dessa amizade que você tem com Tom e os outros, mas as suas intenções são puras. Isso mostra o tamanho do seu caráter. Sempre vai existir alguém que queira te dizer o contrário ou te colocar pra baixo, mas você precisa levantar a cabeça e ter certeza de quem você realmente é.

    

Chapter XX

- Obrigada, Javert. – Sorri para o motorista que abriu a porta do carro e me ajudou a descer.
  - Tenha um bom dia, senhorita Tomlinson. – Por mais que eu insistisse em ser chamada de , ele continuava com aquelas formalidades todas.
   Se acha que ter uma reunião nas acomodações da Models One, em plena Oxford Street, ainda é pouca coisa, imagine ser buscada em sua própria casa por um carro executivo e um motorista com sotaque escocês. Carine sempre fazia questão de mandar um veículo buscar todos os funcionários e convidados de suas reuniões, o que facilitava o nosso trabalho na hora de encontrar algum lugar para estacionar, diminuía o estresse no trânsito por nos tirar de trás do volante e poupava o dinheiro da gasolina. Tudo isso para que chegássemos pontualmente e a pleno vapor para enfrentar nossa longa manhã de decisões e assuntos relacionados à moda do mundo.
   Já fora do carro preto e observando Javert voltar para dentro dele, verifiquei se a minha roupa estava corretamente alinhada, pois nesse ramo o que você usa é sim considerado a primeira impressão. O porteiro simpático e conhecido abriu a porta pra mim e desejou um bom dia de trabalho. Interessante, não? Encarar aquilo como um trabalho... Por mais que tentasse, ainda era difícil pra mim pensar no que eu fazia para a Mulberry como um “trabalho”. Ao meu ver, só o que eu fazia era chegar lá e vestir roupas novas, sem ter que me esforçar quase nada para que fosse vista. De quebra, ainda recebia um salário decente e saia em matérias de revista e blogs de moda. Há um ditado, ou algo desse tipo, que diz que no ramo da moda o que importa não é apenas o conhecimento que você adquire na faculdade ou por meio de cursos, e sim a sua visão para a coisa e, principalmente, os seus contatos. Sempre dei muita sorte por ter um contato tão importante como Carine Roitfeld.
  - , segura a porta pra mim! – Rebecca gritou enquanto atravessava o lobby do prédio e eu parei antes mesmo de entrar no elevador que acabara de chegar ao primeiro andar. – Ufa. Achei que teria que esperar mais meia hora pra ele voltar.
  - Bom dia, Rebecca. – Sorri para a menina que entrou na minha frente, meio esbaforada como se acabasse de correr uma maratona. Pelas bandejas de Starbucks que trazia em mãos, era mesmo quase isso o que tinha acontecido. – Uau, Carine começou cedo hoje, hein? Quer alguma ajuda?
  - Não precisa, obrigada. Só aperte o botão, por favor. – Foi para o canto do elevador e atendi o seu pedido, pressionando o botão para o último andar. – Ah, esse aqui da ponta é seu... Pode pegar se quiser.
  - Eu também ganhei um dessa vez? – Usualmente apenas os membros honorários da equipe criativa ganhavam esses mimos. Peguei gentilmente o meu copo grande de café, com todo cuidado para não derrubar o resto. – Café Mocha!
  - Acertei? Por favor, diga que eu acertei. – Rebecca sempre foi preocupada em acertar tudo que fazia, mas naquela manhã ela me pareceu um tanto... Inquieta. – Fui convidada pra assistir a reunião hoje, sabe? Acho que é um bom sinal...
  - Com certeza é um bom sinal! – Então esse era o motivo que a deixava tão tensa e ansiosa. Dei um gole em minha bebida mais uma vez, sentindo o calor me invadir.
   A estagiária podia não ir com a minha cara, mas naquele dia ela tinha coisas mais importantes para fazer do que se preocupar em me irritar ou me tratar mal, por isso sumiu de vista assim que as portas do elevador voltaram a se abrir. Eu não estava atrasada, então não tive que correr. Tirei o crachá do bolso do meu blazer e o pendurei no pescoço; por mais que todos ali já me conhecessem, era preferível que estivesse bem identificada. A secretária da entrada do escritório me saudou com um sorriso amigável e me dirigia até ela, entregando-lhe a sacola com as fantasias que pegara emprestado no closet, para que pudesse dar baixa e conferir se tudo estava em perfeita ordem.
   Logo fui liberada dessa pequena burocracia e pude seguir para a sala de reuniões numero 3C; particularmente a minha preferida. Apesar da longa mesa e cadeiras de couro extremamente confortáveis, sistema de som e iluminação da melhor qualidade, o que mais gostava nela era a quantidade de janelas e a vista do lado de fora. Não necessariamente a vista em si, literalmente falando, mas sim o que eu podia ver a partir dela. Deixei as minhas coisas sobre a cadeira mais afastada, onde eu costumava me sentar, e permaneci apenas com o copo de Mocha em mãos. Foi fácil encontrar a cobertura do flat de Zayn e identificar ali algumas das plantas que enfeitavam o seu terraço. Fora isso, não havia mais nada ali. Não sei o que estava esperando, pois ainda era cedo demais para ele estar acordado, mas seria bom vê-lo acenando pra mim.
  - Bom dia, ! – Carine acabara de entrar na sala, tomando o seu lugar na ponta da mesa, mas ainda sem se sentar.
  - Bom dia, Car! – Deixei as esperanças de ver o meu namorado de lado e me voltei para ela. Caminhei até a minha bolsa e apoiei o copo na mesa para pegar a revista que trouxera. – Tenho algo pra te mostrar...
  - , querida, sente-se mais perto, por favor. – Pediu, indicando a primeira cadeira ao seu lado esquerdo.
  - Uh, mas eu sempre sento aqui atrás... – Falei mais pra mim mesma, não perdendo tempo para juntar tudo que era meu e me mudar para um lugar mais próximo dela. – Tudo bem, você é a chefe.
  - O que queria me mostrar? – Sentou-se e fiz o mesmo, abrindo a Elle francesa que ganhara da minha prima.
  - Não sei se já viu, mas eu saí em uma pequena nota na Elle parisiense desse mês... – Passei o objeto para ela, aberto na página que eu olhara tantas vezes.
  - Pequena nota? , você está em duas páginas! – Riu, mas não soou surpresa. – Já haviam me falado sobre essa surpresinha que minha ex-inimiga Valerie aprontou, mas ninguém conseguiu uma cópia pra mim! Muito obrigada, Rebecca.
  - De nada! – A estagiaria acabara de entrar na sala e não fazia idéia do que Carine falava, por isso mesmo não entendeu a sua ironia. – Mas o que eu fiz?
  - Nada! Apenas se sente e prepare-se pra fazer anotações! – A chefe era dura com ela, mas Rebecca já devia ter se acostumado. Voltou a atenção para o papel em sua frente e continuou a falar comigo. – Você fica bem de amarelo. E com todas as outras cores também. Se importa se eu ficar com essa revista e te devolver em nosso próximo encontro?
  - Claro que não, fique a vontade. – Me acomodei na cadeira, pegando meu copo de café e levando-o até a boca.
  - Pode se preparar também, mas daqui a pouco quero te apresentar a uma pessoa.
   Simples assim, levantou de onde estava sentada e passou pela porta, levando consigo a minha revista. Rebecca se sentou na cadeira a minha frente e pegou um bloquinho de páginas amarelas e uma caneta que trouxera no bolso. Sorri pra ela na tentativa de ser amigável e encorajadora por ela estar em sua primeira reunião oficial da Mulberry e passei a me concentrar nas minhas próprias preparações. Deixei o café de lado um pouco e peguei o meu iPad; que ficava guardado em uma capinha com um caderno embutido e também a caneta que um dia fora de meu avô, mas agora pertencia a mim. O suspiro nada amigável da menina a minha frente quis dizer algo como: “Queria estar mais preparada do que ela!” e ao mesmo tempo: “Como não pensei em algo assim antes?”
   Aos poucos a equipe criativa começou a entrar na sala de reunião, cada um com suas pastas cinzentas e sem graça, assim como painéis de apresentação e coisas que eu nem fazia idéia do que poderiam ser. Assisti enquanto Luella Bartley, Nicholas Knightly, Giles Deacon, Kim Jones, Stuart Vevers e Emma Hill tomaram seus lugares de sempre, sendo que Emma foi obrigada a se sentar ao meu lado, visto que eu tomara o seu. A designer chefe e diretora de criação não se importou e foi simpática como sempre. Carine retornou a sala, acompanhada de alguém que teria me feito cair pra trás se não estivesse sentada. Karl Lagerfeld!   - ... – Me chamou. Carine só podia estar brincando! Era a ele que ela queria me apresentar?! – Venha cá, por favor.   - Claro! – Levei alguns segundos para me situar e me controlar apesar de estar na frente de um ícone tão grande do mundo da moda.   - Então foi dela que você tanto me falou, Carine? – O homem me estudava por baixo de seus óculos escuros que não tirava por nada. Até mesmo seu sotaque difícil de entender me deixou meio insegura.   - É uma honra conhecê-lo, Sr. Lagerfeld. – Me surpreendi pela minha voz ter saído tranqüila e sem gaguejar. .   - Espero poder dizer o mesmo, my dear.    Com um sorrisinho que não entendi ser bom ou ruim, o homem se dirigiu até o fundo da sala, onde ocupou a cadeira na outra ponta da mesa. Veja bem, para um homem que falou que não gostou do rosto de Pipa Midelton e caracterizou Adele como “gorda demais”, ele não ter feito nenhum comentário ao meu respeito foi algo positivo. Me virei para Carine disfarçadamente, que mexia em algo em seu celular.   - Ele vai assistir a reunião? – Cochichei nervosa.   - Não se preocupe, . Só seja você mesma. – Muito fácil de falar.

  

+++

  A reunião seguiu agitada durante a sua primeira hora, onde cada responsável por um departamento fez o seu relatório completo sobre o que havia acontecido na semana que passou e em seus planos para corrigir falhas, melhorar o alcance da marca e etc. Permaneci em meu canto, absorta em anotações e o único barulho que eu fazia era ao virar as páginas do caderno para que pudesse ter mais espaço para escrever. Quando chegamos na etapa de promoção é que eu entrei na jogada. Carine conversava com o publicitário chefe, querendo arrancar dele todas as idéias novas para promover a sua marca.
  - Kim, você conseguiu os convites para o coquetel da In Style, certo? – Carine arrumou seus óculos de grau sobre a ponte do nariz, olhando para o homem na ponta da mesa.
  - Sim, e a já estava lista. – Afirmou, me fazendo levantar o olhar.
  - Está entendendo tudo, ? – A mulher perguntou assim que deu uma olhada na bagunça que eu fizera em meu caderno.
  - Entendendo eu estou, só não concordo muito com essa estratégia... Claro, vai ser ótimo divulgar a Mulberry na In Style, mas eu não acho que isso é ousado o suficiente. – Todos na sala ficaram calados assim que comecei a falar, quase como se achassem que eu perdera a cabeça; não por querer algo ousado, mas sim por discordar de Carine. – Car, sabe que eu te adoro, mas entende porque te tiraram da Vogue? Você é talentosa e é realmente boa no que faz, só que há algo faltando. Você não se arrisca se a probabilidade de sucesso não estiver ao seu lado.
  - Eu espero que você queira chegar em algum lugar com isso, . – Sua postura se tornou tensa. Entendo que aquele assunto não era o melhor a ser tratado, mas era algo que precisava ser dito. Karl se mexeu pelo que pareceu ser a primeira vez desde que se sentara e apoiou o queixo na mão, olhando de sua amiga para mim.
  - O que estou querendo dizer é que ir atrás da In Style seria uma jogada segura, mas acho que precisamos ir atrás de um peixe maior. – Falei na primeira pessoa do plural por já me sentir parte da equipe. De vez em quando, olhava as minhas anotações para ter certeza do que estava dizendo e não perder a linha de pensamento. – Esse sábado, a Glamour vai comemorar treze anos de vida aqui na Inglaterra e a festa já está dando o que falar, porque todos estão esperando um verdadeiro show no tapete vermelho. O que eu acho é que devemos ir atrás da revista número um de audiência.
  - E você espera que Carine simplesmente caminhe lá no meio e que todos os olhares se voltem pra ela? – Kim perguntou, não captando o que eu queria dizer.
  - Eu tive uma idéia... – Olhei de um em um, suspirando como se esperasse que alguém me desse algum apoio. – É arriscado, mas esse é justamente o objetivo.
  - Prossiga. – Carine me fitava com atenção, dando-me permissão para continuar.
  - Já ouviu falar na Coleção de Papel, de Jum Nakao? – Minha pergunta deveria ter sido retórica, mas Rebecca negou com a cabeça. Carine bufou por isso, mas não me importaria de explicar. – Essa coleção consistiu em criar algo precioso, mas ao mesmo tempo frágil como um papel, entende? É como se alguém colocasse em uma obra todos os seus sonhos e desejos, te dando a oportunidade de tocá-lo e tê-lo. Mas quando você menos espera, ele é brutalmente tirado de você; no caso do papel, rasgado em pedaços. É como e fizessem um jogo com o seu desejo e no final da contas você terminaria da mesma forma que começou, com as mãos vazias. A única coisa que ainda resta é o seu sentimento, sua lembrança. Podemos trazer isso à vida na moda conceitual. Não seria precisamente comercial, mas com certeza chamaria a atenção de muita gente. Quem sabe o suficiente para aparecer na Glamour.
  - Você quer criar uma Coleção de Papel. – A afirmação de Carine soou mais como uma pergunta, então afirmei que sim com a cabeça. Seu sorriso de aprovação me pegou de surpresa, ainda mais quando ela se dirigiu à Emma. – Podemos criar um protótipo até sábado?
  - Como falou, é arriscado... Seria preciso vários testes e teríamos que parar com a preparação para a Fashion Week... – A diretora de criação fez uma pausa um tanto longa e em seguida continuou: - Podemos sim, com toda certeza.
  - Então vamos arriscar. – Car sorriu, pegando o celular para digitar algo que nem tentei ler.
  - Carine... – Kim a chamou. – Quem vai ser a modelo? Acho que Cara Delevingne está livre...
  - Eu estava pensando em alguém que já está aqui nessa sala. – A mulher respondeu e Rebecca pareceu se encher de esperança. Eu realmente esperava que fosse ela, pois poderia finalmente ser a chance que tanto aguardara. – Emma, vocês já tem as medidas da , certo?
  - O que? – Quase engasguei ao tentar terminar o meu café e receber aquela noticia. – Carine, eu não sou modelo. E quase ninguém me conhece, então acho que devia ir com a Cara mesmo... Ela até já fotografou pra você!
  - Não foi você que disse pra eu me arriscar? É exatamente isso que estou fazendo. – Usar as minhas próprias palavras contra mim não era algo legal de se fazer! – A Elle criou um mistério a sua volta, quando te colocaram nas duas páginas e não falaram o seu nome. Eles querem te conhecer? Bem, vamos apresentá-la.
   Sem mais nem menos, Carine decidiu o meu futuro e marcou um encontro entre Emma e eu para que fizéssemos a prova do meu “vestido de papel”. Ainda não estava totalmente certa de que era a pessoa certa pra essa tarefa, mas não podia desistir agora. Quem mandou eu ter essa idéia? Todos começaram a se retirar cada vez com mais pressa, precisando voltar para os seus afazeres fashionistas. Carine e Rebecca foram para um canto e conversaram algo que não entendi o que era, mas pela forma que a mais nova anotou coisas rapidamente em seu bloquinho amarelo, devia ser mais coisa que ela deveria ir buscar na rua. Enquanto eu guardava as minhas coisas mais uma vez na bolsa, senti uma presença ao meu lado.
  - Realmente foi uma honra, my dear. – Dessa vez Karl quis dizer alquilo como uma coisa boa. Me deixando ali com um sorriso idiota e orgulhoso no rosto, se virou para ir embora, primeiro parando perto da dona daquilo tudo. – Carine, você estava certa sobre aquela ali.
  - Quando é que eu não estou? – Sorriu para ele, acompanhando-o até o lado de fora.
  - Parabéns, . – Rebecca se aproximou quando ficamos sozinhas na sala. – Espero que esteja feliz consigo mesma.
  - Estou sim, pra dizer a verdade. – Não a deixaria acabar com o meu bom humor.
  - Ah, acho que você tem um stalker. – Apontou para a janela.
   Rebecca saiu antes de me escutar arfar pela possibilidade de ter alguém me seguindo e foi só olhar para a direção em que apontara para descobrir que não era um stalker coisa nenhuma. Eu não sabia há quanto tempo, mas Zayn estava de pé no terraço de sua cobertura. Podíamos estar longe, mas tinha certeza absoluta que era ele enrolado em um edredom. Ri sozinha, procurando o celular na minha bolsa. Aproximei-me da janela e levantei o aparelho, querendo dar a entender que poderia me ligar se quisesse. Não demorou nada para que o assistisse levar algo à orelha e sua fotografia aparecer na tela do meu iPhone.
  - Bom dia, love. – Atendi a ligação sem tirar os olhos dele.
  - Bom dia, Anjo. – Sua voz denunciava que acabara de acordar e desejei estar ao lado dele. – Como foi a reunião?
  - Incrível! Tenho que te contar o que aconteceu, mas prefiro fazer isso pessoalmente. – Não escondi a minha animação e o escutei sorrir. – Tem planos pra hoje a tarde?
  - Por mais que quisesse dizer que não, Marco ligou. Temos uma entrevista com alguma rádio, mas é coisa rápida. – Ao menos Marco não devia estar aprontando nada... – Vai dormir aqui hoje?
  - É o que estou planejando! – Mordi a ponta do dedo mindinho, animada em dormir ao lado dele outra vez. Veja bem, era terça-feira e a última vez que estive em seu flat foi no sábado, após a festa de Tom! – Então verei o que faço essa tarde pra me distrair sem nenhum dos meus meninos. Mas te vejo mais tarde, com certeza.
  - Ok, babe. Harry está na outra linha, acho que já estou atrasado...
  - Melhor correr, bad boy. Porque você ainda tem que tomar banho e nós dois sabemos o quanto demora pra se arrumar. – Ri e fiz sinal com a mão para apressá-lo. – Se cuide.
  - Ainda sinto sua falta.
   Desliguei o celular com o sorriso que não deixava o meu rosto, não importava quantas vezes falasse com Zayn ao telefone ou pessoalmente. Dei meia volta ao ver que ele também saiu da cobertura e peguei todas as minhas coisas. Havia sido a última a sair da sala 3C, então ficou sobre minha responsabilidade fechar tudo e trancar com a chave que já me esperava na fechadura. Caminharia devagar até a recepção se não tivesse visto uma cabeleira ruiva balançando de um lado para o outro, perto da entrada do escritório. “Abi, o que você está aprontando agora?” Corri da melhor forma que pude com meus saltos fazendo mais barulho do que necessário.
  - Me desculpe, se não tem crachá, não pode entrar... – A secretária baixinha tentava explicar na voz mais educada que conseguia fazer.
  - Mas a minha amiga está aí dentro! Conhece Tomlinson? A estrela disso aqui? – exagerou.
  - A estrela disso aqui eu não sei, mas serve eu? – Me anunciei, observando as duas virar em minha direção; a secretária mais aliviada que .
  - ! – A ruiva me puxou para um abraço forte como se não nos víssemos há dias; o que não deixava de ser verdade. – Até que enfim! Estava quase pirando aqui.
  - Porque não me falou que viria? Eu teria avisado... – Beijei sua bochecha e me dirigi à Lana. – Aqui está a chave da 3C... E desculpa se ela causou algum problema.
  - Obrigada, . – Lana sorriu simplesmente, preferindo não reclamar de por amor a sua vida.
  - De que graça teria avisar que estamos te seqüestrando? – Passou o braço pelo meu para que fossemos até o elevador.
  - Estamos? Você e mais quem? – Por favor, Ben não, Ben não...
  - Eu e a loirinha! Liv está lá embaixo no carro, porque não conseguimos um lugar pra estacionar. – Minha melhor amiga explicou e respirei aliviada. – Vamos almoçar!

+++

  

  - Sabe... Quando vocês falaram que me levariam para almoçar, eu achei que fossemos em um restaurante ou coisa do tipo. – Eu caminhava entre Liv e , fazendo o meu melhor para que meu salto não entrasse na grama do Regent’s Park. – Fish’n chips em uma folha de jornal não é a minha idéia de “almoço de amigas”.
  - Quem tem tempo pra restaurantes hoje em dia, ? – falou após dar um gole em sua Coca-Cola.
  - Uh... Nós três? – Ri, melando uma batata frita no molho que tentava equilibrar no papel que embalava a comida toda.
  - Ela tem razão, . – Liv engoliu o que quer que fosse que estivesse mastigando, mudando nosso rumo e dobrando à esquerda. – Nossas aulas só começam mês que vem e a única daqui que tem um trabalho é a , e ela já fez o que tinha que fazer por hoje...
  - Obrigada, Livy. – Sorri por estar sendo defendida.
  - Ah, por favor, meninas! – abriu os braços, querendo que prestássemos atenção à nossa volta. – O verão está acabando e essa pode ser a nossa última chance de aproveitarmos os raios de Sol...
  - também tem razão. – Devíamos saber que Olivia não ficaria do meu lado por muito tempo. Tsc. – Daqui a pouco o outono chega e o Sol vai embora.
  - Obrigada, Livy. – me imitou.
  - De que lado você está? – Olhei para a loira enquanto ela escolhia um lugar para que sentássemos na grama, protegidas da claridade exagerada pela sombra de uma árvore grande e folhuda.
  - Não existem lados nessa história! Somos três amigas que se amam e querem curtir a tarde juntas... – Olivia falou aquilo com tanta calma e paz que poderia ser considerada chapada por quem não a conhecia. – Sentem, sentem...
   Nós três nos sentamos lado a lado na grama, onde poderíamos comer nossas refeições com mais tranqüilidade e sem perigo de algo cair no chão e se perder para sempre. Aquela tarde serviria para passarmos um tempo juntas, algo que não acontecia há algum tempo. Portanto, alguns assuntos estavam proibidos de serem mencionados: Garotos, One Direction, Twitter e problemas. Os quatro andavam juntos, ao menos no meu caso, então agradeci muito por ter uma tarde de paz. Sei que reclamei com por ter não termos ido a um restaurante de verdade, mas aquele clima de liberdade que o parque nos trazia era contagiante e a comida também estava deliciosa.
   Era algo engraçado olhar para nós três, pois com certeza não seriamos o grupo de amigas mais esperado de se juntar. Quero dizer, nós tínhamos coisas em comum, mas as nossas diferenças falavam mais alto até no modo como nos vestíamos. Eu deixara o meu blazer e bolsa no carro de , mas ainda assim estava bem arrumada, digamos assim. sempre usava roupas que favoreciam as suas curvas e com “curvas” eu quero dizer BB. “Busto e bunda”, segundo a própria. Abusava dos decotes e das roupas mais apertadas. Olivia, por outro lado, era completamente leve. Desde as suas blusas soltinhas e saias que iam da cintura até os calcanhares. Enquanto eu preferia tons mais claros e combinados, ia mais para o lado do vermelho e preto, enquanto Liv parecia um arco-íris ambulante.
  - No que você está pensando, ? – Liv questionou, esticando-se na grama.
  - Na gente. – Sorri para ela, escutando a risada de .
  - Que romântico! Quer que as deixe sozinhas? – Provocou.
  - Você está inclusa no “a gente”, tonta. – Expliquei, deixando meu almoço de lado por uns instantes. – Estava pensando em como nós três somos diferentes, mas ainda assim nos damos tão bem.
  - Somos como os quatro elementos. – Liv suspirou como se tivesse passado muito tempo pensando na mesma coisa.
  - Uh, mas nós somos três... – deu uma voada e preferimos ignorá-la.
  - Os quatro elementos, como ar, fogo, terra e água? – Confirmei entre uma mordida ou outra nas batatas.
  - Exatamente, . Estive fazendo alguns estudos astrológicos, contando os nossos planetas e ascendentes... – Ah, ótimo! Aqui vamos nós em mais uma viagem. – Quero dizer, eu já sabia o meu, mas agora sei o de vocês também.
  - E qual é o seu elemento? – Comi o último pedaço de peixe, começando a ficar interessada no assunto.
  - Terra. – Respondeu com um sorriso. – Esse elemento é firme, ligado com o nascimento e a morte. Resistência, paciência. Geralmente as pessoas desse elemento apresentam uma grande afinidade com a natureza.
  - Com certeza é você! – A terceira menina também se animou com aquilo. – E o meu? Aposto que sou fogo!
  - Sem duvida alguma! – Liv afirmou o que ninguém tinha duvidas pra começo de conversa. – Fogo simboliza paixão, entusiasmo, energia, inspiração, fé e idealismo. É você, .
  - E eu? – Por mais que não acreditasse fielmente nessas coisas, gostaria de saber o que meu elemento teria pra falar de mim.
  - Você é água, . – Sorriu satisfeita, fazendo movimentos de ondas com os dedos, me fazendo rir. – Cura, limpeza, purificação... Dizem as lendas que foi o primeiro elemento a surgir e o mais potente, por causa de sua maestria sobre os outros. Assim como você, é um elemento muito sensível, que se adapta muito bem as mudanças. Pode ser uma coisa boa e uma coisa ruim, porque as suas mudanças de humor são daqui pra li.
  - E essas suas mudanças de humor são muito perigosas. – fez uma bolinha com o seu jornal onde o fish’n chips viera embalado e a jogou em mim.
  - Você também pode ser perigosa! – Liv pegou a bolinha antes que pudesse revidar o ataque. – Porque o fogo pode criar ou destruir.
  - Para resumir... Nós três somos poderosas e destrutivas. – Tirei os sapatos dos pés e deitei na grama, relaxando sob o sol. – É, me parece certo.
   A ruiva e a loira também me imitaram, cada uma deitada em uma direção para que as nossas cabeças ficassem próximas e ainda assim pudéssemos nos mexer a vontade. Algumas nuvens claras passaram por cima do Sol; não indicando que começaria a chover, apenas o bastante para proteger nossos olhos. Uma brincadeira de criança não me pareceu tão legal até aquele instante onde passei a prestar atenção nas formas das nuvens brancas e felpudas. A mais interessante era da forma de um esquilo que logo se transformou em um bolo de aniversário. Sim, bolo de aniversário porque tinha até algumas velinhas no topo. Sentir o meu corpo na grama e o vento na minha pele era algo que eu não sabia que precisava até ter. No últimos dias tivera muitas coisas me perturbando e tirando o meu descanso. Tudo que eu precisava era aquele tempo com as minhas duas melhores amigas, em um lugar praticamente deserto onde ninguém nos conhecia.
  - Vocês acham que ainda seremos amigas daqui a dez anos? – deixou o seu lado espevitado de lado, questionando algo que eu nunca parara pra pensar.
  - Eu sei que vamos. – Liv respondeu antes de mim.
  - Andou lendo búzios de novo? – Perguntei com uma risada divertida, mas sem faltar com respeito. Cruzei as pernas e fechei os olhos, me concentrando apenas nas vozes das duas.
  - Não... Eu só sei que vamos ser amigas pra sempre. – A loira parecia estar sorrindo. – Não sei o que vamos estar fazendo, mas estaremos juntas.
  - Disso eu sei... Daqui a dez anos, vai estar casada e ter duas filhas. Gêmeas... Ruivas como ela, mas com olhos azuis como o do pai. – Abri os olhos e deitei o rosto para olhar a ruiva, que sorria enquanto ainda olhava o céu. – Vai ter ganhado vários prêmios por seus papeis de sucesso em séries de TV e um Oscar de “Melhor atriz estrangeira”.
  - Parece bom. – Me olhou de volta, ainda sorrindo. – Liv, você vai ser a presidente do Green Peace, ganhadora do prêmio Nobel da Paz de 2023 e ter um casal de filhos... Mas não vai ser casada. Claro que vai estar com o pai dos seus filhos e vai o amar muito... Mas casamento seria normal demais pra você.
  - Gostei! – Se mexeu na grama, virando de barriga para baixo. – ... Não sei o que você vai estar fazendo daqui a dez anos, mas com certeza vai estar com Zayn.
  - Dez, vinte, trinta anos... Esses dois vão ficar juntos pra sempre. – apertou a minha bochecha, obrigando-me a bater na mão dela por provavelmente ter ficado vermelha.
  - Então eu ainda serei a mulher mais feliz do mundo em dez anos.
  - Awwwwwwwwwn!

+++

  Meu relógio marcava pouco mais de sete horas da noite quando cheguei em casa, mas ainda estava relativamente claro. E quando digo “casa”, me refiro ao flat de Zayn. Havia passado na minha própria casa uma hora antes de pegar o novo caminho para o lugar onde passaria a noite, pois após o dia correndo de patos e alimentando-os – não necessariamente nessa ordem –, precisava urgentemente de um banho. Aproveitando, matei um pouco da saudade que sentia do meu cachorro e pedi desculpas por não poder levá-lo junto comigo. Roupas um pouco menos formais e pijamas também vieram comigo. Tinha certeza de ter várias peças perdidas pelo apartamento do meu namorado, porém, era melhor prevenir do que remediar.
   Entrei no apartamento silencioso demais e desci os degraus para chegar ao nível do resto do lugar e comecei a averiguar. Segundo a última mensagem que recebera de Zayn, ele e os meninos já haviam acabado a entrevista na rádio há algumas horas, então ele deveria estar por ali. A luz da cozinha estava acesa, então era um bom sinal. O quarto de jogos estava vazio, assim como o estúdio de arte. Teria ido verificar o meu próprio quarto, mas o que Zayn estaria fazendo ali? Foi ao escutar uma risada um tanto escandalosa que descobri onde meu namorado estava; e aparentemente acompanhado.
   Peguei o outro caminho do corredor, parando na porta entreaberta da suíte principal. A bolsa em minha mão foi para o chão assim que vi a figura de cabelos longos e loiros parada na ponta da cama, de costas pra mim. Até que ela usava roupas bonitas, mas não favoreciam o seu corpo de jeito nenhum. Com o barulho da minha bagagem caindo no chão, a loira misteriosa virou na minha direção e meu queixo caiu. A risada escandalosa que escutara pertencia à Niall e ele estava deitado sobre a cama de casal que costumava ser metade minha.
  - Que diabos está acontecendo aqui? – Cruzei os braços, querendo entender qualquer coisa que fosse. – Ou melhor... Zayn porque você está vestindo as minhas roupas?! E de onde tirou essa peruca?
  - This is awkward... – O menino parecia um pouco sem ar, como se acabasse de se recuperar de um ataque de risos. Passou as mãos pelos cabelos loiros que cobriam a sua cabeça, arriscando dar um passo na minha direção e quase perdendo o equilíbrio por causa do salto alto que tentava usar. – Uh... Eu posso explicar?
  - Sim, por favor. – O segurei pelos ombros, impedindo-o de cair.
  - , conheça Georgia Rose. – Niall apontou para Zayn fantasiado de mulher.
  - Aquela que vocês comentaram no avião? – Arqueei a sobrancelha. – Por que será que eu não estou surpresa?
  - É culpa do Niall, babe, de verdade. – Zayn riu, arrastando um pé após o outro até estar sentado em sua cama. – Você sabe que as vezes ficamos bem entediados durante photoshots...
   - Há uns meses atrás, quando estávamos fotografando para a Cosmo, encontramos um camarim cheio de roupas... – Niall começou a explicar super animado, se enrolando no próprio sotaque irlandês. – Porque os produtores estavam demorando pra chegar e tal. E não tínhamos nada pra fazer...
  - Então eu peguei algumas roupas femininas e vesti. – Zayn resumiu. – Acabou ficando legal e Louis batizou essa personagem de Georgia Rose! Ta daaaa.
  - Fico tão feliz que você não tenha falado “batizou essa minha segunda personalidade”. – Ri, pois aquilo tudo não passada de uma brincadeira. – As roupas e os sapatos são meus... Mas e essa peruca?
  - Presente da Rach. – Niall me respondeu. Eu devia saber!
  - É errado que eu esteja com muita vontade de te beijar? – Sentei ao lado de Zayn, mordendo o lábio inferior sem entender muito bem o que eu começava a sentir.
  - Tem uma queda por loiras, ? – Afinou a voz, jogando os cabelos para o lado e fazendo bico.
  - Isso é gloss?! – Gargalhei, me tocando de que ele estava usando maquiagem.
  - Ok, acho melhor eu tirar isso tudo agora. – Chegou àquela brilhante conclusão, rolando os olhos da minha diversão as suas custas.
  - É melhor mesmo, blondie. – Niall ainda se encontrava bem acomodado na cama.
   Zayn se colocou de pé e assoprou um beijo para o irlandês, nos obrigando a rir mais uma vez. Tentando se manter de pé sobre meu scarpin, o menino foi para o banheiro e se trancou ali dentro. Terminei por tirar meus próprios sapatos e me arrastar por cima da cama, deitando ao lado de Niall, que sorriu pra mim. Assim como eu passara o dia com Liv e , Niall devia estar ali porque sentia falta do seu melhor amigo. Antes da banda ser formada, os dois eras como os três mosqueteiros (só que com um a menos na equipe, ou dois), mas agora parecia que Liam o havia substituído um pouco. Não era culpa de ninguém que Ziam se desse tão bem, mas a humanidade sentia falta do bom e velho Ziall.
  - E então, Ni... Vai dormir com a gente hoje? – Soei convidativa.
  - Bem no meio de vocês. – Bateu no centro da cama, como se para enfatizar sua resposta.
  - Eu me mexo bastante durante o sono... – Avisei na esperança de que ele mudasse de idéia e preferisse dormir no quarto de hospedes.
  - Ela fala bastante também. – Zayn abriu a porta do banheiro, revelando suas próprias roupas dessa vez.
  - Não falo não! – Quem eu queria enganar? Se alguém conhecia as minhas manias durante o sono, esse alguém era ele. O assisti pular na cama e se posicionar atrás de mim, passando um braço em volta das minhas costelas e deitando o rosto em meu ombro. – Ok, talvez um pouco.
  - Parece divertido. Que tipo de coisas você fala? Segredos e tal? – Niall se interessou.
  - Eu nunca me escutei falando enquanto durmo porque, bom, eu estou dormindo... – Uau, , conclusão épica. Como a respiração calma de Zayn batendo sobre a minha nuca era um tanto desconcertante, me dê um desconto. – Mas não é como se eu tivesse conversas filosóficas.
  - É verdade. Está mais pra “eu preciso pegar o trem! O trem!” – Tentou imitar a minha voz, mas só conseguiu voltar a interpretar Georgia Rose. – Aliás, conseguiu pegar o trem?
  - Espero que sim! Parecia importante. – Ri, deitando com as costas no colchão, deixando Zayn ao meu lado.
  - E como foi a sua reunião hoje, ? – Niall tentava prolongar o assunto, não querendo deixar que eu e seu amigo passássemos muito tempo distraídos nos olhos um do outro.
  - Foi tão boa! – Quando esse tópico chegou, acabei me animando demais e tive que sentar na cama para contar tudo. – Eu dei algumas idéias e eles me escutaram! Até gostaram bastante, pra falar a verdade... E eu vou ter que fazer uma coisa, mas não sei como explicar... Vocês não entenderiam de qualquer jeito... Mas esse sábado, terei um super evento pra comparecer... Vai ser incrível!
  - Ela sempre explica as coisas assim? – Ni riu, perguntando ao outro.
  - Basicamente. – Zayn também riu, me surpreendendo. – Mas eu acho lindo.
  - Você vai vir comigo, certo? – O olhei pidona. – É a festa de aniversário da Glamour. Vocês já deram uma entrevista pra ela.
  - Vai ter fotógrafos, tapete vermelho e essas coisas? – Pareceu meio incomodado com o meu convite.
  - Claro que sim! Mas você já está acostumado, baby. Qual é o problema? – Foi com o olhar que os dois meninos que dividiam a cama comigo que me toquei da besteira que estava falando. Zayn não podia aparecer ao meu lado. – Ah, é...
  - Eu sinto muito, ... – Pousou a mão sobre meu joelho. Seu olhar era cheio de desapontamento e sabíamos que era consigo mesmo.
  - Não é culpa sua, baby. – Forcei um sorriso como se dissesse que tudo estava bem. Então me virei para o loiro. – E você, Ni? Quer ir comigo?
  - É esse sábado? – Confirmei com um aceno. – Eu adoraria, mas já tenho outros planos...
  - Quais planos? Nós não marcamos nada... – Zayn parecia confuso e eu curiosa.
  - Se vocês precisam tanto saber, eu tenho um encontro. – Admitiu e meus olhos aumentaram de diâmetro.
  - Como assim você tem um encontro, Niall Horan?! – Deixei para lá o assunto de quem seria minha companhia na festa, pois aquilo era mais importante. – Com quem? E conheço?
  - É com a Amy, não é? – Zayn perguntou e o olhei com julgamento. Como ele sabia mais do que eu?
  - Quem é Amy?!
  - É com ela sim... – O respondeu sem evitar um sorriso abobalhado. – É uma amiga antiga, . E como Zayn disse que eu devia seguir em frente, a chamei pra sair.
  - Então Zayn disse isso? – Cruzei os braços rente ao peito, olhando-o como quem pede explicações. – Mas e quanto a ?
  - Ela está meio ocupada com o novo namorado. – Ni voltou a falar, parecendo magoado. – Achei que depois do casamento da sua mãe as coisas teriam mudado, mas estava errado. Pra variar.
  - Então nada mais justo do que partir pra outra. – Foi a vez de Zayn me olhar com reprovação. – não esperou por ele, então porque ele deveria?
  - Acho que você está certo. – Suspirei com pesar. Mesmo que quisesse ver o loiro e a ruivinha juntos novamente, não podia pedir para que ele a esperasse acordar. Era meu dever apoiá-lo. – Então onde vai levá-la?
  - Sabe o Pritiraj na Holloway? – Torci para que aquilo fosse alguma brincadeira.
  - Você vai levar ela em uma lanchonete no seu primeiro encontro? – Elevei a sobrancelha direita.
  - Eu te levei em uma lanchonete no nosso primeiro encontro. – Zayn se endireitou na cama.   - Depois de passearmos pelo Jubilee de bicicleta e andar no London Eye. – Era diferente, oras! – Além do que, aquilo não foi um encontro!
  - Um ano depois e você ainda diz isso. – Sorriu da forma que bagunçava meus pensamentos.
  - Alguma sugestão melhor? – Niall preocupou-se.
  - Acho que você devia levá-la em um lugar divertido... Como uma casa de jogos ou um boliche!

    

Chapter XXI

O vento frio que cobria Londres naquele final de manhã era a prova que o verão lentamente nos dava adeus. Logo o chão estaria coberto por folhas alaranjadas e eu poderia tirar meus sweaters do fundo do closet, assim como aquele que estava usando quando desci do meu conversível e caminhei em direção à entrada do London Pediaric Clinic. Por mais que minhas ferias de verão viessem sendo mais que divertidas, esperava que o outono chegasse logo, assim como - principalmente - o meu novo e ultimo semestre na London Royal Academy.
   O hospital conseguia estar ainda mais fresco que o lado de fora; questões higiênicas que não sei explicar. Me obrigando a encolher-me dentro do agasalho branco. Como não era a minha primeira vez ali dentro, apenas caminhei na direção que sabia ser a área de trabalho do meu pai. O segredo era agir naturalmente, se misturar. Pretendia fazer uma surpresa a Mark, por isso não seria legal que me parassem na recepção e me anunciassem. Mantendo a melhor expressão de "não há nada de errado em uma garota de vinte anos caminhar por um hospital pediátrico", segui até o elevador; que por sorte esperava por mim no térreo.
   Uma vez lá dentro, a viagem até o quarto andar foi rápida. Uma saída de ar no teto assoprou uma rajada de vento em cima de mim no mesmo momento em que pisei do lado de fora; além de me assustar, bagunçou meus cabelos nem tão arrumados assim para começo de conversa. Virando a esquerda no corredor branco, logo encontrei Maurice, o secretario e faz tudo do consultório de meu pai. No começo também estranhei um homem trabalhar como secretario, mas igualdade dos sexos, certo?
  - ! Você está tão crescida! - Foi a primeira coisa que o indivíduo de idade questionável disse ao me ver. - Não sabia que a veria hoje.
  - Shhhhhhh, Maurice! - Me inclinei levemente sobre o balcão, pedindo silencio. - Meu pai não sabe que eu estou aqui! Mas bom dia! E também é bom te ver.
  - Oh, desculpa... - Sussurrou exageradamente baixo, me fazendo rir. Eu queria discrição, não que parecêssemos um vendedor de drogas e sua cliente número um. - Deve ser o dia oficial de filhas visitarem os pais...
  - Como assim?
  - Sua irmã e a senhora Teasdale estão aí dentro. - Apontou com a cabeça para a porta de onde se via a placa "Dr. Tomlinson". A "senhora Teasdale" era Rachel, mas como ela não assumira o sobrenome de meu pai após o casamento, era conhecida assim. - Mas elas avisaram que viriam. Perguntaram o horário mais vazio, porque não queriam atrapalhar. Diferente de certas pessoas...
  - Não preciso avisar. A minha presença já é uma honra. - Brinquei com um falso convencimento. - Vou entrar, tá bem?
  - Fique a vontade.
   Com seu sorriso de concordância, acenei um até logo rápido e continuei meu caminho. Eu sabia que minha madrasta e Lux também estariam fazendo aquela visita e sabia o horário que deveria aparecer, justamente para não atrapalhar o trabalho de meu pai. O fato de Maurice não saber disso provava que Mark também estava por fora dessa surpresa, o que era muito bom para meus planos. Bati na porta três vezes, quase soando como uma melodia. Segundos depois, uma voz conhecida me pediu pra entrar.
  - ! - Assim que abri a porta de madeira escura, meu pai levantou de sua cadeira giratória.
  - Daddy! - O homem estava com mais fios brancos em sua cabeça do que recordava. Fiz o resto do caminho até ele, subindo na ponta dos pés para abraçá-lo como fazia durante a infância. - Surpresa!
  - E que surpresa! - Me apertou em si, sorrindo. - Minhas duas filhas preferidas em um dia só?
  - Elas são as suas únicas filhas, Mark. - Rachel não levantou para me cumprimentar, pois tomava conta de sua filha na maca de ultra-som. - É o que eu espero...
  - Hey, Rach. - Sorti para a loira, aproximando-me da maquina. - O que você está fazendo, baby girl?
  - Olha a minha barriga, . - Lux tinha a sua blusa levantada e segurava o instrumento de ultra-som pressionado contra a sua barriga.
  - Ela queria ver se tinha algo ai dentro. - A mais velha comentou com diversão.
  - Tem muita coisa aí... - Sentei na metade da maca, pois como Lux era pequena, suas pernas acabavam no meio do caminho. Cutuquei sua barriga, a fim de fazer cócegas. - Olha aqui... Chocolate, batata frita, pizza...
  - Paaaara! - Gargalhou de forma gostosa, soltando o controle para segurar a minha mão.
  - Tem muita verdura ai dentro também, não é, pequenina? - Meu pai tentou dar uma de pai-que-tem-filhos-saudáveis.
  - Não! - Lux voltou a rir, se divertindo com a minha careta de "ew, verduras".
  - Não se preocupe, baby girl, não vai precisar come verdura alguma hoje! - Pisquei pra ela. - Vai poder comer o que quiser!
  - YAY! - Comemorou adoravelmente.
   Rachel me reprovou com o olhar por causa da minha falta de disciplina alimentar, mas não reclamou ou falou coisa alguma; o que a poupou tempo e saliva, pois não teria lhe dado ouvidos de qualquer forma. Lux passaria o dia comigo no apartamento de Zayn e ambas estávamos animadas para isso - Zayn nem tanto. A pequena voltou a brincar com o gel em sua barriga e investigar o que poderia encontrar ali dentro. Por mais que adorasse a idéia de ver minha irmã mais nova, tinha outros motivos para estar ali. Com isso em mente, levantei da maca e sentei na cadeira em frente à mesa de meu pai. Ele me olhou com um sorriso e também se acomodou, ganhando uma postura de "em que posso ajudá-la?".
  - Hi, daddy. - Apoiei o cotovelo na mesa e o queixo na palma da mão, sorrindo interesseira.
  - De quanto você precisa? - Rolou os olhos, divertindo-se com a minha pose.
  - Não estou aqui pra pedir dinheiro! - Me fiz de ofendida, sabendo que ele tinha experiência suficiente pra saber as minhas táticas de conseguir alguma coisa. - Na verdade, estou aqui a pedido de Zayn.
  - Então de quanto ele precisa? - Sugeriu.
  - Honey, ele é um pop ... Acho que não é de dinheiro que ele precisa. - Rach nos ouvia, então opinou.
  - Não me diga que ele quer mais daqueles pirulitos...
  - Ele não pediu nada! - Meu pai tinha mania de tirar suas próprias conclusões antes de me deixar falar, então eu já estava um pouco acostumada. - Na verdade, o que ele quer é dar... Zayn tem algo pra doar á área infantil. Um Gromit que ele fez.
  - Qualquer coisa é muito bem vinda, . - Mark sorriu com felicidade sincera. - As crianças vão adorar!
  - Ótimo! Vou falar pra ele trazer... Acho que antes do final de semana já vai estar aqui. - Não tinha duvidas de que meu pai aceitaria o presente, mas era bom ter certeza.
  - Dr. Tomlinson? - Maurice chamou no interfone em cima da mesa. - Sua consulta das onze horas está aqui.
  - Obrigado, Maurice. Só um instante, por favor. - Apertou o botão para dar a sua resposta. - Desculpe, , mas tenho que ir agora
.   - Na verdade, nós temos que ir. - O corrigi, pois ele não iria para lugar algum. - Foi bom te ver, pai.
  - Amor, vou te esperar na cafeteira. - Rach anunciou, levantando-se após limpar a barriga de sua filha. - As meninas já vão, mas almoçaremos juntos!
  - Ouviu só, sweetie? Você é minha hoje! - Me juntei as outras duas perto da porta.
  - Nada de verduras, hein? - Segurou a minha mão e se virou para acenar ao nosso pai. – Tchaaaau, dada.
   Nós três deixamos o consultório de meu pai e acenei para Maurice, que sempre era um amor de pessoa comigo com as outras que me acompanhavam. Lux devia estar mesmo com saudades de mim, pois pediu colo. Ela estava crescendo, então estava mais pesada do que costumava ser quando era a bebê da família; ainda assim, carreguei-a com muito gosto, enchendo as suas bochechas com beijos estalados. Fez careta, mas não se importou, distraindo-se com meus cabelos.
  - Nervosa para sábado, ? – Rach puxou o assunto.
  - Sim e não... Estou mais ansiosa. – Sorri para ela, sabendo que falava sobre a festa da Glamour. – Precisarei da sua ajuda. Não tenho idéia do que fazer com o meu cabelo e nem como me maquiar.
  - É pra isso que eu estou aqui! – Fez sinal de ‘jóia’ com a mão, me tranqüilizando. – Já sabe quem vai com você?
  - A Dani! Namorada do Liam. Nenhum dos meninos quis e eu não podia escolher entre e Liv sem que uma delas ficasse chateada.

+++

  - Aí está a minha garota preferida! – Zayn abriu a porta do flat quando toquei a campainha. Por Lux ainda estar no meu colo, era complicado abrir com a chave. – E a irmã mais velha dela também!
  - Zayn! – A pequena voadora se jogou nos braços do menino, o que me foi um alivio muito grande.
  - Meu garoto preferido podia estar aqui também! – Provoquei, dando-lhe um selinho rápido.
   Minha irmã podia estar crescendo, mas sua mãe ainda não a deixava ir para lugar algum sem levar uma mochila com coisas que ela poderia precisar: Fraldas, roupinhas extras, escova e pasta de dente, tolha, brinquedo, chupeta... Certas dessas coisas eram bem úteis, mas outras apenas exagero. Após abraçar o seu amigo, Lux quis ir para o chão e começar a explorar a casa, pois era a primeira vez que o visitava. O menino, então, pegou a mochila que eu trazia no ombro e também a minha bolsa, deixando tudo no canto do sofá. Um cheiro impossível de não reconhecer vinha do que eu sabia ser a cozinha, o que me fez questionar se Zayn testara seus dotes culinários mais uma vez.
  - Você fritou batata? – Questionei Zayn, os olhos de Lux se tornando arregalados ao escutar a última palavra.
  - É o nosso almoço! – Ele respondeu com animação. – Batata frita e Nuggets de frango!
  - Ebaaaaa! – A mais nova bateu palmas e sorriu como se fosse manhã de natal. – Nada de verduras!
  - Nada de verduras. – Desenhou um X sobre o peito, selando seu juramento. Em seguida, foi até a pequena e a segurou pelos bracinhos, jogando-a pra cima de qualquer jeito. Ser cuidadoso não era muito a praia de Zayn, porém ao menos ambos se divertiam. – Estão com fome?
  - Não muita. – Dei de ombros, fazendo a minha irmã me olhar como quem diz “como alguém pode não estar com fome na hora do almoço?”.
  - Ela é assim mesmo, Luxy. – Os dois conversavam como se eu nem estivesse ali. – Mas a gente fica de olho pra ela comer tudo! Trato?
  - Trato. – Afirmou com um aceno de cabeça e foi colocada sobre um dos ombros do homem. – Agora vamos comer!
   O dono da casa liderou o caminho, dando alguns pulos para que a criança em seu ombro se divertisse. Ainda bem que ela não comera nada ainda, caso contrário aquela brincadeira poderia ter acabado um tanto diferente, se é que me entende. Os segui, deixando os sapatos pelo meio do caminho. A porcelana estava gelada, o que me deu uma sensação gostosa abaixo dos pés. Zayn foi até a mesa da sala de jantar e colocou Lux bem acomodada em um dos sofás, me deixando para trás. Fui até a bancada onde o fogão embutido ficava e peguei os dois pratos fundos; um de batata frita e outro de nuggets de frango. Tudo bem que falei que não teríamos uma refeição tão saudável, mas aquilo já era exagero!
   Assim que depositei a comida na mesa, minha irmã mais nova se colocou de joelhos e apoiou um bracinho na mesa para esticar o outro e encher uma mão de batatas fritas. Ri com o seu desespero, como se fossem acabar de uma hora para a outra. Sentei-me ao seu lado, olhando de relance para Zayn, que trazia nossas bebidas. Pela cor... Suco de laranja! Alguma coisa em nossa refeição tinha poucas calorias. Não demoramos muito pra começar a comer e com isso quero dizer que Zayn e Lux atacaram as batatas e petiscos de frango. Claro, nenhum dos dois tinha com o que se preocupar! A loirinha estava em fase de crescimento e era uma criança, então era bom que comesse muito. Zayn tinha um corpo bem firme e bonito – vamos chamar assim para não entrar em detalhes pervertidos, pois há crianças na sala -, ou seja, também não precisava ficar calculando a quantidade de calorias que ingeria.
   Eu, por outro lado, teria uma festa onde seria deliberadamente colocada em frente aos holofotes, dentro de um vestido no mínimo justo. Diferente das vezes que ia a lugares assim com os meninos, a atenção seria totalmente minha e não teria nenhum deles ao meu lado, muito menos poderia me esconder atrás de Zayn e sentir a sua mão apertando a minha com carinho para me passar confiança. Por mais que estivesse ansiosa e animada em ir à uma celebração tão grande da maior revista do Reino Unido, me sentia nervosa e um pouco amedrontada. Modelos, celebridades e figuras importantes e bem mais experientes que eu estariam naquele mesmo tapete vermelho onde eu daria a minha cara a tapa. Além disso, a idéia teria sido minha e a responsabilidade de algo dar errado também cairia sobre os meus ombros. Não era só o meu nome que estava em jogo, era o da Mulberry também.
   Mesmo com Zayn tendo dito que ficaria de olho em mim para ter certeza de que eu comeria – e ele realmente fazia isso – eu não me sentia com tanta fome assim para me empanturrar. Também não estava passando fome, apenas comi o que pode ser considerado pouco. Não queria desmaiar de fome por não comer, mas meu estômago estava tão gelado por causa da pressão que começou a aparecer na minha cabeça que sentia que poderia vomitar se ingerisse alimentos demais. Após um tempo você começa a aprender certos truques para disfarçar que você não está comendo, ou apenas come pouco – o que era o meu caso. Mexer no prato, espalhar a comida, mudar as coisas de lugar... Mas o mais fácil pra mim era “monopolizar” a conversa. Quando se está falando, não dá tempo de comer. Por isso que naquele almoço onde a comida estava em apenas dois pratos onde podíamos ir pegando de acordo com o que comíamos, foi fácil fazer de conta que comi mais do que o real. E ao mesmo tempo, contei sobre o que meu pai falara sobre o Gromit e como foi bom vê-lo depois de bastante tempo.
   O almoço se encerrou tranquilamente, sem que Zayn reclamasse por eu ter comido apenas quatro nuggets, ainda achando que era muito, e fomos até a sala. Os outros dois se jogaram no sofá, um ao lado do outro. Eu deixei as louças sujas dentro da máquina de lavar pratos, por isso fui a última a chegar e fiquei sem espaço para me deitar com eles. Acabei sentando no chão, encostada na janela que tomava conta da parede do fundo, olhando o movimento na rua ali embaixo. Tudo parecia tão pequeno...
  - , eu quero uma. – Zayn chamou a minha atenção com um sussurro. Lux adormecera encostada ao braço do sofá.
  - Você quer essa? – Me arrastei para perto deles, deitando o rosto no ombro de Zayn, que encontrava-se na direção contrária da menor. – Acho que podemos roubá-la e fugir para o Canadá.
  - Eu falo sério! – Fez um meio bico por causa da minha brincadeira. – Eu quero uma família.
  - E você tem uma. – Encostei os lábios aos dele, roubando um selinho. – Você tem a mim e aos outros quatro idiotas. Nós somos a sua família. E você deve aproveitar tudo de bom que está acontecendo com a banda... Depois pensar nessas outras coisas.
  - Sei disso. – Rolou para o chão, sentando-se na minha frente e encostando os joelhos aos meus. – Mas sinto que já estou pronto pra isso, sabe? Você não?
  - Pronta pra ter filhos e essa coisa toda? – Franzi o cenho. – Não mesmo! Crianças e bebês são bonitinhos e engraçados quando não são nossos. Não são bonecos que a gente só pega pra brincar, assim como faço com Lux. Eles choram, ficam doentes, dão trabalho... Não estou pronta pra isso ainda. Tem muita coisa que eu quero fazer, lugares pra conhecer.
  - Isso tem algo a ver com a dança? Tipo, a sua carreira e tal...
  - Em parte, sim. Porque eu quero dançar... Quero trabalhar em uma companhia grande e me apresentar pelo mundo inteiro. Você sabe como é esse sentimento, mas eu também quero descobrir. – Investi para segurar a sua mão entre as minhas. – É nisso que quero me dedicar agora. E quando for ser mãe... Também quero me dedicar inteiramente a isso. Infelizmente não são duas coisas que posso fazer ao mesmo tempo.
  - Você está certa. – Acariciou meus dedos com o polegar. – Quem sabe daqui a alguns anos, quando tudo isso acalmar... A gente e muda pra uma casa fora da cidade, um lugar legal pra criar as crianças.
  - E !
  - Claro, e ! – Riu. Assisti seus olhos se encherem do que me pareceu ser esperança. – Não uma mansão... Só uma casa legal.
  - Com um quarto no sótão onde Niall possa envelhecer.
  - Um quintal grande, com um balanço de pneu na árvore para que eles possam brincar. – Zayn parecia já ter pensado naquilo várias vezes, então resolvi escutar seus planos. – Todos os meninos vão morar perto, então podemos visitar uns aos outros de bicicleta e skate. Louis e Harry vão estar legalmente casados e com o filho que adotaram. Liam e Dani vão estar esperando o primeiro filho nascer, mas não vão querer saber o sexo até o dia do parto...
  - Eu quero essas coisas. – Imitei o seu bico anterior. Crescer podia ser assustador, mas eu queria tudo aquilo que ele acabara de falar.
  - Um dia. – Prendeu o meu dedo mindinho no dele. – Eu prometo.
   Antes que pudéssemos selar essa promessa com um beijo, uma música que aumentava de volume a cada segundo começou a tocar vindo do sofá. Love is Easy do McFly! Só podia ser o toque do meu celular. Tive que me afastar de Zayn, mesmo ele tentando me prender pelas pernas, e cheguei na ponta do sofá onde a mochila de Lux e a minha bolsa de mão estavam. Peguei o aparelho mais rápido do que esperava e olhei um tanto confusa para tela.
  - Trocamos de celular de novo? É a sua mãe... – Voltei a me sentar, observando Zayn tirar o próprio aparelho do bolso e mostrar que estávamos com os celulares certos. Era melhor atender logo. – Hello?
  - ! Ainda bem que você atendeu, sweetheart. Pensei em ligar pra Zayn, mas não sabia se ele já estava sabendo... Parabéns!
  - Obrigada, Trisha... Mas do que você está falando? – Olhei para o filho dela na minha frente, mas ele não parecia mais informado do que eu.
  - Não precisa esconder mais, todas já estamos sabendo! Daqui a pouco vou ligar para a sua mãe. Tenho certeza que ela deve estar muito feliz. Não acredito que terei um neto ou uma neta!
  - Você vai ser avó? – Isso significava que eu teria um sobrinho ou uma sobrinha! Tecnicamente. Não sabia o que a minha mãe tinha a ver com isso, mas quem se importa? – Não acredito que a Dony está grávida!
  - Como é que é?! – Zayn quase engasgou com o ar, começando a mexer algo em seu celular. – Tá de brincadeira.
  - Doniya? Não, ... Estou falando sobre o seu bebê.
  - Meu bebê? Que bebê? – A primeira coisa que se passou pela minha cabeça foi Marco, o criador de mentiras que envolvessem os meninos ou eu. – Trisha, eu não estou grávida...
  - Mas eu não entendo...
  - , você devia dar uma olhada nisso. – Zayn olhava fixamente para o seu celular.
  - Eu realmente não sei o que está acontecendo... – Falei para a minha sogra no telefone e peguei o do outro, vendo os trending topics do Twitter. – Zayn vai falar com você, tá bem?
  - Hey, mum. – O menino pegou o meu celular.
   Não esperei que a mãe dele se despedisse de mim, pois algo mais importante precisava da minha atenção. Era só falar muito nesse assunto que ele vinha me perseguir? O TT do Twitter era claro e ao mesmo tempo confuso pra caramba. “#BabyMalik”, e estava em segundo lugar. Sem querer tirar conclusões precipitadas ou culpar qualquer pessoa que fosse, cliquei no trend, esperando que ele me desse algum tipo de luz. Desde que a noticia que Zayn e eu nos separamos, andava evitando entrar em qualquer rede social que fosse e ler os comentários, mas naquele momento não podia mais fugir.

  
“EU NUNCA ESTIVE TÃO FELIZ! Esse bebê Malik vai ser muito lindo.”
  “Agora os dois vão voltar?”
  “Imagina uma menina que se pareça com o @zaynmalik, mas que tenha os olhos da @?”
  “Agora ela conseguiu o que queria. Um bebê de alguém famoso”
  “Não ligo se Zayn e não é o seu ship, temos que apoiar o nosso bad boy que agora vai ser papai!”
   “Ok, então o boato da vez é que eu estou grávida? Mas de onde saiu isso?”

   A resposta para a minha pergunta veio em seguida, pois um amor de pessoa fez o favor de postar algumas fotos minhas de mais cedo, entrando no hospital pediátrico onde meu pai trabalhava. É claro! Tudo que bastou para que esse fandom começasse um novo drama era isso; fotos tiradas por paparazzis de uma das namoradas da banda entrando em um hospital. Ao menos o assunto era gravidez e não algo pior como já acontecera com Safaa, quando inventaram que ela estava com câncer. Minha avó poderia ter um ataque cardíaco só de escutar essa mentira. Sem perder mais tempo, digitei uma resposta.

  
“Eu não estou grávida!”

   Quando lembrei que estava na conta de Zayn e não na minha, já era tarde demais. Em segundos o Tweet já tinha milhares de respostas, favoritos e retweetes. Apaguei quase na mesma hora em que me toquei desse erro, mas o estrago já estava praticamente feito. O menino continuava falando com a sua mãe, tentando explicar a ela que eu não estava grávida, até porque estava tomando pílulas diariamente para que isso não acontecesse, apesar de sermos sexualmente ativos. Até demais, mas essa não e a hora para discutirmos isso!

  
“Acho que a @ esqueceu de mudar de conta! Kkkkk”
  “Eu sabia que Zayn e ainda estavam juntos! Era tudo armação da Modest!”
  “Modest, continuem tentando.”
  “Como assim? Não vai ter bebê Malik?”
  “Acho que a Modest viu que não acreditamos mais no que eles falam, então inventaram essa história de bebê pra ser mais fácil os dois “voltarem” a assumir o namoro.”

   Acabei rindo com aquelas conclusões que as pessoas estavam tirando, como se começassem a enxergar a verdade. Até mesmo segui a segunda menina e a assisti dar um escândalo por ter sido seguida por Zayn. Quem sabe se déssemos algumas pistas aqui ou ali, mais e mais pessoas passariam a questionar as mentiras contadas pela Modest! e então eles perceberiam que não adianta nada tentar mudar os meninos e desistiriam de controlá-los! Aquilo podia ser um plano. Não sabia como ou quando, mas poderíamos usar isso ao nosso favor. Já disse que as Directioners são muito inteligentes, e agora tinha mais certeza disso do que nunca. O jeito foi inventar um tweet como se fosse Zayn falando:

  
“A criatividade de vocês me assusta. haha Não vou ser pai e a não está grávida”

  Era melhor não deixar espaço para duvidas, porque a próxima coisa que podiam inventar é que eu estava grávida, mas de outro homem. E isso era o que nenhum de nós precisava naquele momento. Ao menos com aquela negação de “Zayn”, esperava que as coisas se acalmassem por um tempo. Observei Lux, que ainda dormia tranquilamente no sofá como se nada estivesse acontecendo, e em seguida o dono daquele flat. Pelo seu suspiro mais calmo ao desligar a ligação, Trisha devia ter entendido que foi tudo um erro de interpretação.
  - Terei mais cuidado ao visitar o meu pai agora... – Comentei. – Explicou pra sua mãe?
  - Eu disse pra ela que o hospital é onde Mark trabalha, então acho que ela entendeu. Mas ficou decepcionada. – Riu como quem diz “viu como não sou o único a querer isso?”. – Babe, você tem uma mensagem.
  - O que diz? – Não precisava pegar o celular para ler, pois ele podia fazer isso por mim.
  - É da Carrie. A irmã do Tom... Tem um endereço e ela falou: “Te vejo daqui a pouco.” – Disse olhando o aparelho. – Ela vai vir aqui?
  - Shit! Eu esqueci completamente! – Olhei a hora em meu relógio e me pus de pé. – Ela não vem aqui, eu é que vou lá! E estou atrasada!
  - O que? Porque? – Também levantou ao me ver juntando as minhas coisas e correndo para calçar o sapato. – !
  - Lembra que eu prometi participar de um vídeo para o canal dela no Youtube? Eu esqueci que era hoje! – Bati na própria testa após trocar de celulares com o menino. – Desculpe, eu tenho que ir!
  - Você não pode ir e me deixar sozinho com a Lux! – Pude sentir o desespero em sua voz.
  - Você não disse que está pronto pra ser pai? Encare isso como um treinamento!

+++

  - Bem vinda ao ItsWayPastMyBedTime! – Carrie me guiou até o seu quarto, onde a magia acontecia.
  - Eu nem acredito que estou aqui! – Comentei animada. Podia ter “esquecido” desse compromisso, mas estava emocionada em estar na casa dos Fletcher. Os originais... Não Tom e Gi Fletcher. – A sua parede! Uau, eu sempre quis ver o que você coloca aqui...
   O quarto de Carrie Hope Fletcher era uma graça e ficava no segundo andar daquela casa. Uma parede era vermelha e outra coberta por fotografias, desenhos, capas de livros e etc. Quando falo “coberta”, quero dizer “completamente coberta”; desde o chão até o teto. Me aproximei dali e estudei cada detalhe como se já fosse de casa. No dia da festa de aniversário de Tom, ele me explicou que o favor que sua irmã queria de mim é que eu participasse de um de seus vídeos, falando sobre a banda dos meninos e como é essa coisa toda de estar perto deles vinte e quatro por dia. Eu teria alegremente chamado-os para participar também, mas aparentemente eram proibidos pela Modest!. HA-HA, grande novidade aí. Por mais que soubesse que era apenas a segunda opção e Carrie falasse que não, estava feliz por estar ajudando.
  - Você não tem medo da câmera, certo? – Me mostrou o objeto que montava no tripé em frente a sua cama.
  - Dessa aí não. – Sorri, virando-me para ela. – Me sinto melhor em saber que não te ninguém atrás dela.
  - Ótimo! Então você vai se sair muito bem. – A garota de cabelos volumosos, loiros e cacheados estava sendo muito simpática, fazendo de tudo para que eu ficasse confortável. – Tire os sapatos, deixe as suas coisas em qualquer lugar! A casa é sua.
  - Obrigada, Carrie! – Agradeci e a obedeci, deixando meus sapatos e bolsa em um canto do quarto.
  - Agora senta aqui do meu lado e vamos conversar! – Jogou-se na cama, de frente para a câmera. – Ainda está desligada, então não tenha medo.
  - Ótimo, porque tenho algumas duvidas, já que é a minha primeira vez fazendo algo assim. – Podia ter gravado vídeos para o canal de Liam, mas Carrie era profissional no assunto. Além do que, não era como se Li fosse realmente seguir em frente com aquela carreira de Youtuber. – Se eu errar ou falar algo que ficar ruim... Você vai me matar? Acho que falo muito.
  - Não se preocupe, eu também falo. – Riu e levantou a mão para que eu batesse com a minha. – Qualquer coisa eu edito no final. Corto tudo que você não quiser postar.
  - Você é quem manda aqui, então fique a vontade pra editar como quiser!
  - Muito bem! Tenho uma pergunta também... Existe algo que você não queira falar? Eu entendo como é ser irmã de alguém de uma banda famosa e não poder comentar sobre alguns assuntos. – Carrie comparou o One Direction com o McFly e me deixou ainda mais confortável. É, ela me entendia. – Eu sei que você e Zayn estão fingindo terem terminado, então não vou falar sobre isso. E Tom me contou sobre Lou e Harry...
  - Francamente, eu responderia qualquer coisa, porque não gosto dessas mentiras, mas também não quero causar problemas pra nenhum dos meninos...
  - Sem problema algum. Se sentir que é melhor não responder uma pergunta ou outra, é só falar que a gente pula e eu edito depois! – Pegou alguns papeis de cima da sua mesinha de cabeceira que pareciam muito com paquinhas de apresentadora de TV. – Vamos começar! É só seguir a minha linha, ok? E se sinta a vontade.
   Fácil pra ela falar isso! Dei uma bagunçada nos meus cabelos e coloquei algumas mechas para a frente dos meus ombros, tentando ficar apresentável. A loira ajoelhou na cama e foi até a câmera, arrumando algumas coisas em sua configuração. Em seguida, voltou para o meu lado e limpou a garganta, fazendo algumas caretas para se aquecer. Aquele movimento me fez lembrar de Nicholas e a primeira vez que ele foi até a minha casa, para me ajudar com o texto de Romeu e Julieta. Aquilo parecia ter acontecido há anos atrás, assim como a saudade que eu sentia dele.
  - Hey, guys! Hoje eu tenho uma convidada especial... TAN DAAAAAN. – Fez um movimento de apresentação e imaginei que fosse editar algum efeito especial ali.
  - Oi, todo mundo! – Acenei com a mão direita, tentando me soltar mais. Ok, talvez eu tivesse medo da câmera. – Pra quem não me conhece, sou Tomlinson.
  - Isso mesmo! Então vamos falar um pouco sobre você... Todos sabem que você é bem ligada a moda, porque sempre que eu a vejo em algum lugar ou em revistas, você está com roupas maravilhosas que muitas vezes nem estão nas lojas ainda... Me diga, o que exatamente você faz para a Mulberry? Como é o seu trabalho com eles? – Aquilo começou a parecer uma entrevista e deixei as coisas rolarem.
  - Meu trabalho com a Mulberry é algo bem divertido, na verdade. Eu nem sei se deveria chamá-lo dessa forma, porque não é trabalho algum usar as roupas e bolsas dessa marca... O que eu faço é divulgar e literalmente vestir as peças, para que mais e mais pessoas possam ver o quanto as coisas são legais. – Dei de ombros, mas não como se não me importasse. Olhava para a câmera e pra ela, como se estivesse conversando com cada um que viria a assistir esse vídeo. – Mas também participo de algumas reuniões, dou idéias... É até engraçado, porque eu não tinha ambição nenhuma de me envolver com essa área, é algo que apenas aconteceu. E eu estou muito feliz com todas as portas que estão se abrindo pra mim por causa disso.
  - E toda essa atenção que você recebe, não só por causa do seu trabalho, mas especialmente dos paparazzis... Isso faz com que você se sinta obrigada a se vestir muito bem todas as vezes que sai de casa?
  - Não é como se eu passasse horas tentando escolher o que usar, sabe? Muitas vezes eu pego a primeira coisa que encontro no closet. Minhas roupas dependem muito do meu humor. Nesses últimos meses, eu tenho certeza que me vesti como uma mendiga todos os dias que tive que ir para a aula, porque meu horário foi extremamente cheio e começava cedo. – Ri por saber que não era exagero. – Com certeza não tenho um bom humor pela manhã.
  - Você estuda ballet clássico na London Royal Academy, correto? Em qual ano está? Como foi entrar em uma escola tão prestigiada?
  - Pra falar a verdade foi bem inacreditável! Desde que me entendo por gente estou em cima de uma sapatilha, dançando por aí, então pode-se dizer que trabalhei a vida inteira pra conseguir entrar em uma boa academia de ballet e sempre fui muito fã da LRA. – Me esforçava pra lembrar de todas as perguntas e não perder a linha de pensamento. – Semana que vem, eu acho... Talvez a próxima... Estarei começando o meu último semestre, então em janeiro estarei me formando!
  - E quais são os seus próximos planos? Já sabe o que vai fazer?
  - Por enquanto estou esperando convites de companhias de ballet... – Olhei para a câmera e pisquei. – Estou livre, huh?
  - Tenho certeza que depois disso muitos vão vir atrás de você! – Riu, trocando suas plaquinhas de ordem. – Acho que chegou a hora que todos esperavam! Podemos falar sobre o One Direction?
  - É pra isso que estou aqui. – Aceitei, me sentindo mais relaxada por não ter que falar mais sobre mim.
  - Primeiramente, como é conhecer uma das maiores bandas da Europa? Especialmente quando você conhece dois deles há tanto tempo? Quero dizer, Louis é seu irmão e Harry seu melhor amigo de infância...
  - Exatamente! Vai fazer nove anos que conheço Haz... Wow, isso é bastante. E Lou... Bom, eu o suporto desde sempre. – Não contive uma risada. – Na verdade é algo bem natural, porque eu não os vejo como a boy band ou os super astros que estão nas paredes de nove a cada dez adolescentes. Pra mim eles são apenas meus melhores amigos. Todo mundo sempre fala aquela coisa de “ah, somos pessoas normais e tal”, o que acaba sendo um tanto clichê, mas é a mais pura verdade. As vezes eu estou largada no sofá com Liam, de pijamas e uma caneca de chá na mão e de repente os cinco aparecem na TV... É bem engraçado, porque nós dois levamos uns segundos pra entender o que está acontecendo.
  - “Largada no sofá com Liam”, é, não estou nem um pouco com inveja! – Cruzou os braços, me olhando com uma expressão engraçada. – Tenho aqui algumas perguntas que fãs deixaram nos comentários, então podemos ir pra essa parte?
  - Claro que sim! Fico um pouco nervosa, mas vamos lá!
  - Você deveria ficar nervosa! – Encarou-me com seriedade, continuando: - A primeira pergunta: “Oi, . Meu nome é Melanie, da Suécia...”
  - Oi, Melanie da Suécia! – Acenei novamente para a câmera.
  - “E eu gostaria que você nos contasse alguma mania que os meninos tem e ninguém conhece!” – Terminou a pergunta, fitando-me na espera de uma resposta.
  - Manias desconhecidas... – Toquei o queixo, pensativa. – Acho que uma mania que ninguém conhece é que Harry pode dormir em qualquer lugar. Literalmente qualquer lugar! E é incrível, porque ele pode adormecer em dois minutos.
  - “Quem é o mais brincalhão do grupo e o mais comportado?”
  - Louis! Sem duvida alguma é o mais brincalhão. Ele sempre está correndo pela casa e fazendo bagunça. Lou com certeza é a pessoa mais barulhenta que eu já conheci. Nenhum deles é comportado, então é isso.
  - Sarah de Glasgow perguntou: “Os defina em apenas uma palavra.”
  - Uma só? Essa vai ser complicada! – Demorei alguns segundos pra pensar em um primeiro adjetivo, mas logo completei: - Niall – Vívido, porque ele é cheio de vida e energia. Harry – Admirável. Louis – Radiante. Liam... Meticuloso.
  - Só falta Zayn! – Deu um sorrisinho que demonstrava “só não babe porque ele é seu namorado”.
  - Pensei em falar “perfeito”, mas não acho que estaria sendo justa o suficiente. – Suspirei, olhando para a minha mão, onde o anel com uma pedra única brilhava. – Ele é extraordinário. Nunca conheci ninguém como ele.
  - Você está tão apaixonada por ele que dá pra ver no seu olhar. – Sua posição mudou e soube que aquele comentário ficaria só entre nós. – Uma pergunta que apareceu várias vezes: “Como é ter que se despedir todas as vezes que eles vão para uma nova viagem ou quando começarem a sair em turnê?”
  - É a pior sensação do mundo, sinceramente! E eles já saíram em uma turnê pequena com o primeiro disco e foi horrível, então não quero nem saber como vai ser quando eles forem passar um ano na estrada! Eu moro com três deles, então quando estão viajando, é uma solidão completa. A sorte é que às vezes tenho a oportunidade de ir com eles. – Parei para respirar. Enquanto explicava, mexia os braços e passeava o olhar de forma descontraída, assim como certos sorrisos que deixava aparecer. – No começo do mês, por exemplo, me juntei a eles em Los Angeles, onde pude ficar por perto e curtir um pouco da cidade, sem falar que sempre que podia me envolvia um pouco nos assuntos da banda. Não foi a primeira vez que viajei com os cinco, mas foi quando passei mais tempo.
  - Então é isso, pessoal! Espero que tenham gostado desse encontro com a , porque eu com certeza gostei! – Já estávamos encerrando? Tão rápido?
  - Eu adorei! Obrigada pela oportunidade, Carrie. – Sorri em agradecimento e acenei para a câmera mais uma vez, dessa vez me despedindo.

    

Chapter XXII

"Holy shit!" Acordar com esse pensamento em pleno sábado a tarde não é a coisa mais legal do mundo, acreditem. Ainda mais depois de um sonho um tanto... Perturbador. Não que houvesse monstros tentando comer o meu fígado ou coisa parecida, mas ainda assim. A lambida que recebi em meu rosto foi o que me trouxe para a realidade. Abri o olho direito antes do esquerdo e demorei um pouco para entender que me desejava bom dia - ainda que o relógio digital na mesinha de cabeceira avisasse que era tarde. Fiz carinho atrás de sua orelha e o observei bocejar, fazendo o mesmo por osmose.
  - Eu tive um sonho tão estranho, Bo... - Comentei com o cachorro.
  - Como foi? - Uma voz rouca no pé da minha cama me fez sentar de uma vez, torcendo para que não estivesse ficando louca e que não tivesse começado a falar.
  - Harold, que porra você está fazendo aí? - Questionei vendo o menino saindo de baixo do edredom que deveria ser somente meu.
  - Lou e eu brigamos... - Coçou os olhos, preguiçoso. - E eu não quis dormir sozinho na minha cama.
  - Então você só decidiu se enfiar na minha? - Encostei-me ao travesseiro, um tanto mais relaxada. - Mas porque os pombinhos brigaram?
  - Sabe que nem me lembro? - Riu baixo, ainda meio adormecido. - Como foi o sonho, afinal?
  - Ugh, foi super estranho! Eu estava nessa piscina ou lago ou sei lá... Só de calcinha e sutiã, o que deixou tudo pior. - Comecei a contar, voltando a ter aquelas imagens vivamente na cabeça. - E Liam estava lá... A gente se beijou! Tipo... Mesmo, sabe?
  - Só que isso não foi um sonho, . - Bocejou ao abraçar o travesseiro que roubara de mim, como se estivesse prestes a pegar no sono. - Deve ser uma lembrança daquela festa, onde os dois trocaram saliva na piscina... Boa noite.
  - Boa noite? Haz, do que você está falando? - Sentei mais uma vez na esperança de obter respostas. - Harry!
   Claro que minhas informações nunca vieram da boca dele. O menino apagou em questão de segundos e me deixou mais confusa do que já era normalmente. Bufei pela inutilidade do meu amigo me joguei para fora da cama. Teria que falar com outra pessoa sobre isso urgentemente. Ok, meu sonho tinha sido bem realista e detalhado, mas isso não significava que era verdade, certo? Infelizmente o frio em minha barriga não foi a resposta que gostaria. Deixei o quarto com o Husky me seguindo e batendo seu longo rabo em qualquer coisa que estivesse no caminho. Naquele andar, todas as portas estavam abertas e ninguém por perto, o queria dizer que os outros moradores da casa estavam no andar de baixo. Pulei alguns degraus pra chegar mais rápido lá embaixo e dei de cara com Louis e o beijoqueiro do meu sonho sentados no sofá da sala.
  - Bom dia. - Ou boa tarde, tanto faz. Caminhei até o pufe de canto e sentei ali, sentindo-o se remodelar embaixo de mim.
  - Bom dia, alegria do meu dia. - Liam me respondeu, mas começou a acariciar o cachorro, então penso que aquele elogio não foi pra mim.
  - Morning, . - Lou forçou um sorriso ao acenar pra mim.
  - Seu namorado está na minha cama... O que houve com vocês dois?
  - Tivemos uma briga estúpida por causa de ciúmes. - Bufou obviamente irritado com aquele assunto. - Terei que sair com a Eleanor hoje, então Harry resolveu fazer o mesmo com um amiguinho dele.
  - O que é completamente normal. - Li intrometeu-se, recebendo olhares mortais de Louis. - C'mon, Lou! Harry e Grimmy são só amigos.
  - Como ele está? - Meu irmão podia ser ciumento e cabeça dura, mas não suportava brigar com seu namorado.
  - Acho que ele ficou maluco de vez... - Podia ser uma boa hora de tocar no meu assunto, por mais egoísta que isso soe. Forcei uma risada antes de falar. - Acredita que ele falou que Liam e eu já nos beijamos? Loucura, huh?
  - Mas vocês dois já se beijaram. - Lou falou com tanta certeza que o frio em minha barriga voltou. Liam se virou em sua direção como se acabasse de ver um fantasma. - Você não se lembra?
  - Me lembro do que?! - Me sentia como se fosse a única a não saber de um assunto e isso incomodava.
  - Você... Você não se lembra. - Lou chegou a essa brilhante conclusão e Liam abaixou a cabeça, apertando as têmporas com o polegar e indicador. - Com licença, vou fazer as pazes com meu namorado. , vem, garoto!
  - Se importaria de me falar o que eu supostamente estou esquecendo? - Insisti para Liam, que ainda não me olhava.
  - Não sei por onde começar... - Parecia genuinamente preocupado.
  - Comece pelo começo. O que o Haz falou... Tem algo de verdade?
  - É completamente verdade. - Seu rosto levantou aos poucos, seu olhar prendendo o meu. - Mas eu não te culpo por não lembrar! Quero dizer, você estava bem bêbada. Tinha acabado de terminar com Zayn e precisava tirar isso da cabeça... Lembra da festa que fomos com a Dani? Antes de começarmos a namorar.
  - Oh Gosh, foi com isso que eu sonhei... - Pensei alto, não sabendo definir o que estava sentindo. - Porque você não me contou nada? Zayn sabe disso?
  - Eu não falei nada porque não queria que você ficasse assim, preocupada com algo que não teve importância. Zayn não sabe de nada.
  - Teve importância pra você. - Impossível seria não lembrar dos sentimentos que Liam surtira por mim naquela época. - Eu sinto muito, Li... Não fazia idéia. Mas você também bebeu bastante... Como não esqueceu?
  - O que posso fazer? Você é difícil de esquecer. - Se aquele assunto já não era constrangedor o bastante, minhas bochechas se tornaram vermelhas como uma maçã após a vibração que senti na voz dele.
  - Espera, essa festa não foi a primeira vez que você e Dani ficaram juntos? - Me senti ainda pior e escondi o rosto nas mãos. - Sou uma pessoa terrível! Como vou olhá-la hoje a noite?
  - Essa pode não ser a melhor hora pra contar isso, mas... Ela não vai poder ir com você hoje... - Aquele devia ser um dos dias que seria melhor não ter acordado.
  - Como é? - minha voz afinou assim que levantei o rosto. - Por que não? Ela me odeia?
  - Ela não te odeia, dramática. - Conseguiu rir do meu sofrimento. - Dani vem se sentindo mal desde a noite passada... Mas ela disse que não vai deixar você ir sozinha, então deve ter pedido pra alguma amiga ir em seu lugar. Você lembra da Lary? Aquela morena?
  - Ótimo! Irei para a festa mais importante da minha vida com uma garota que só vi uma vez. - Deitei as costas no pufe, encarando o teto.
  - Sinto muito, pequena...
  - Você não pode vir comigo? - Levantei o pescoço, prestes a chorar.
  - Desculpa, . Já prometi a Zayn que o faria companhia, já que nossas namoradas iriam sair juntas. - Aquela era a desculpa mais esfarrapada que já ouvira, mas deixei passar assim que a campainha soou pela casa. - Sabe quem é?
  - Acho que é Rachel com o meu vestido e os convites. - Afirmei ao levantar. - Eu preciso trocar de roupa. Se importa em abrir?
  - Qualquer coisa pra você!
   Sei que Liam só fora bonzinho assim porque eu estava passando por grandes emoções, contudo, ainda assim o agradeci com um sorriso e me dirigi até as escadas. Veja bem, eu já havia ido dormir na noite anterior com um frio congelante na barriga por causa dos meus planos para aquele dia, tivera um sonho perturbador só para acordar e descobrir que não fora apenas um sonho e, por último e não menos importante, a minha companhia para a festa da Glamour estava doente e praticamente me deixara nas mãos de uma pseudo-estranha. Não culpava Li por não ter me contado sobre nosso beijo, porque isso poderia ter deixado as coisas complicadas entre nós e, principalmente, entre ele e Zayn. Entretanto, era em mim que colocava a culpa. Como alguém simplesmente esquece que beijou o melhor amigo do seu namorado? Mesmo que fosse “ex-namorado” na época do acontecido...
  - Posso entrar? – Bati na porta do meu próprio quarto, sabendo que Harry e Louis supostamente estavam fazendo as pazes lá dentro.
  - O quarto é seu, . – Lou avisou, mas não me senti muito convencida.
  - Estão decentes? – Abri uma brecha e dei uma espiadinha, encontrando o casal e deitados na minha cama. – Isso mesmo, se comportem quando estiverem nos meus aposentos! E prefiro vê-los assim, juntos e felizes!
  - Boo bear não consegue ficar bravo comigo. – Harry tinha um dos braços em volta de Lou, que apenas riu. Se fosse qualquer outra pessoa, meu irmão teria soltado algum comentário brincalhão ou se defendido, mas como se tratava de Haz, todas as suas barreiras estavam abaixadas.
  - Ninguém consegue, sweetie. – Continuei sorrindo para os dois e atravessei o quarto até entrar no banheiro.
   Não percebera o quanto estava apertada até o momento de começar a fazer a minha higiene matinal. Escovei os dentes pela primeira vez com a minha escova esverdeada, já que a cor-de-rosa ficara no flat de Zayn. Teria tomado banho, mas algo me dizia que os planos que Rachel tinha para mim me obrigaria a tomar outro logo, então preferi esperar. Em minha defesa, a última vez que entrara embaixo do chuveiro fora antes de dormir, então não estava fedendo ou coisa parecida! Encontrei um vestido simples que usara apenas uma vez pendurado no gancho atrás da porta do banheiro e foi ele mesmo que eu peguei para vestir, deixando meu pijama na cesta de plástico embaixo da bancada da pia.
  - , como foi a conversa com Liam? – Lou quase gritou do outro lado da porta, como se eu não tivesse uma audição normal para escutá-lo se falasse normalmente.
  - Acho que podia ter sido pior... – Abri a porta que separava o banheiro do quarto enquanto penteava os cabelos. – Ainda estou um pouco chocada, mas o que posso fazer?
  - Pensei que você fosse ficar um pouco mais... Inquieta. – Haz brincava com os pelos macios de . – Afinal, foi na mesma festa que Dani e Liam ficariam juntos pela primeira vez...
  - O que isso significa exatamente? – Peguei um elástico na minha caixinha de coisas para cabelo e fiz um rabo de cavalo alto.
  - Acho que o que Haz está tentando dizer, é que se não fosse por isso, Dani e Liam teriam ficado juntos há muito mais tempo. – Louis entreviu. – Depois do beijo de vocês, ele teve esperança que fossem ficar juntos. E Liam esperou...
  - Ele está com a Dani agora e é o que importa! – Dei de ombros, encarando o meu reflexo. Não tinha tempo pra isso agora. – Acho que a Rach está lá embaixo.
  - Luxy veio com ela? – Harry se sentou na cama, pronto para levantar.
  - Creio que não. – Dei de ombros com um bico de canto, parando na frente para eles. – Quem vai passear com hoje? Eu já fui ontem!
  - O cachorro é seu, . – Lou meio que reclamou, mas o filhote pulou para o chão e começou a andar de um lado para o outro, já querendo sair de casa. Finalmente meu irmão rolou os olhos e suspirou. – Eu vou.
  - Você é o melhor!
   Assoprei um beijo para os três e saí do quarto, querendo chegar logo ao andar de baixo. A minha madrasta e eu teríamos muito o que fazer aquele dia, então não havia tempo a perder. Além do que, precisava ocupar a minha cabeça com algo que não fosse eu atrapalhando o namoro de um dos meus melhores amigos. Tudo bem que fazia tempo que tudo isso acontecera, mas acho que o fato de eu ter descoberto recentemente deixava mais fresco. Podia apenas torcer para que Liam houvesse superado; o que era bem claro que acontecera, não fosse os comentários que de vez em quando direcionava a mim. “STAR!” Chamei a mim mesma por telepatia. “Esse não é o conceito de ocupar a cabeça com outras coisas!” Era melhor não pensar em nada. Quase tropecei no último degrau da escada, o que não acontecia há um longo tempo, e parei na sala de jantar ao escutar o meu nome.
  - A não comeu. – Liam me dedurava e o peguei no flagra.
  - Isso é bom, porque eu trouxe algo especial pra ela! – Rachel já me vira e mostrou a sacola da Subway que trazia.
  - Ahhn, se eu soubesse que você passaria lá antes de vir aqui, eu não teria comido a gororoba do Lou! – Li cruzou os braços.
  - EI! Eu ouvi isso! – Meu irmão ofendido acabava de passar pelo hall de entrada, com encoleirado ao seu lado.
  - Eu também ouvi você me entregando para a Rach! – Cruzei os braços, fazendo-o se virar pra mim.
  - É bom que os dois tenham escutado mesmo. Bro, é melhor deixar que o Harry cozinhe. – Olhou para o meu irmão e em seguida voltou-se para mim. – E é melhor que você comece a comer. Ou pensa que eu não sei que você foi pra cama sem jantar ontem?
  - Não sei do que você está falando! – Sabia sim, mas era melhor ignorar. Fui até Rachel e a abracei. – Não acredite no que esses meninos falam, ok?
  - Claro que não! Mas aqui está o seu almoço. – Abraçou-me de volta e colocou a comida na minha mão. – Mas só pra ter certeza, vamos ver você comer tudo.
  - Não estou-
  - Não estou com fome. – Liam interrompeu a minha fala, como se me imitasse. – É sempre a mesma história.
  - Eu não ia falar isso. – Cruzei os braços.
  - Awn, é normal que ela se sinta assim, Li. – A loira me envolveu pelos ombros. – Ainda mais em um dia tão importante quanto hoje.
  - Viu?! Ela me entende. – A abracei de lado, estirando a língua para o menino.
  – Mas você ainda tem que comer. – Ela olhou-me de esguelha.
  - Uuuuuugh. – Resmunguei. – Tire esse sorrisinho do rosto, Leeyum!

+++

  E lá estava eu, sentada na cadeira da minha escrivaninha, envolta em um roupão rosa bebê e tendo meus cabelos puxados; digo, escovados. Ter uma madrasta que entende dessas coisas de cabelo & maquiagem vem a calhar mais do que você espera. Passamos o dia inteiro tendo uma espécie de dia de SPA, onde ela me usou de cobaia para suas experiências. Era a primeira vez que testava a sua formula de mascara de argila e admito que tive bastante medo de desenvolver alguma reação alérgica e acabar tendo que ir para a festa com o rosto vermelho, contudo, confiança nos dotes de beleza daquela mulher era o primeiro passo para alcançar a pele macia que todas as mulheres sonham em ter. Admito que alcancei. Minhas imperfeições de pele ainda estavam lá após esse tratamento e logo foram tratadas por um pouco de base aqui, um pouco de corretivo ali... Ainda não vira o resultado final no espelho, porém, tinha certeza que ficaria perfeito.
   Na mão esquerda, segurava a garrafinha de água que fora a minha companhia durante o dia todo. Fui obrigada a comer o sanduíche que Rach trouxera, mas depois disso consegui enganar a policia alimentícia e não precisei comer nada além de uma barrinha de cereal que prometeria me deixar de pé durante a festa. Meu vestido estava delicadamente esticado sobre a cama, pois era bastante delicado; redundâncias a parte. Na direita, por sua vez, meu celular conseguia me distrair quando não tinha muito o que fazer. Não ousei ir em rede social alguma, pois já estava ansiosa demais pra ainda descobrir o que as pessoas estavam falando por aí. Basicamente passei meia hora jogando Flappy Bird na tentativa de passar o recorde de Harry, sem chegar a lugar algum.
  “Babe, babe, babe, babe.”
  “Babe.”
  “Baby! Sunshine. Babe, babe, babe.”
  “Tah, beautiful. HEY HEY HEY.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Vas happening, ?”
  “Babe.”
  “Babe.”
  “Babe.”
   “What the hell?” O iPhone começou a vibrar na minha mão desesperadamente, me dando um pouco de trabalho até mesmo para destravar a telinha e ver o que Zayn queria tão urgentemente. Ri com aquele escândalo, mas parte de mim acreditava que podia ser algo sério.

  
“Aqui! Estou aqui! O que houve?!”
  “Já falei que você é linda hoje?”
  “Awwwwwn, ainda não!”
  “You’re the most beautiful girl in the world and I wanted you to know.”
  “Você fala isso todos os dias… Começo a achar que é louco.”
  “Eu só quero te fazer sorrir. O que há de louco nisso?”
  “Absolutamente nada. E funcionou!”
  “Sempre funciona. :p Ainda está nervosa?”
  “Agora que estou falando com você, estou um pouco mais calma... Mas ainda sinto frio na barriga.”
  “Vai dar tudo certo, babe. Não fique preocupada, okay?”
  “Sei disso... Aham.”
  “Liam me disse o que houve com a Dani. Já sabe quem vai substituí-la?!”
  “Talvez uma garota chamada Laura... Ou Lary... Que conhecemos no Mayflower aquela noite. Não tenho certeza, mas ainda preferia que você viesse comigo.”
  “Eu também, mais que tudo. Quem sabe se eu usar um bigode?”
  “Acho que a minha amiga Georgia Rose seria mais convincente.”
  “Teria que usar saltos?”
  “E depilar as pernas...”
  “É, talvez em uma próxima oportunidade. lol”
  “Tah, sua companhia está aqui embaixo. - Lou”
  “Já vou, Lou!”
  “Babe, tenho que agilizar aqui... Te mando noticias?”
  “Acho que Liam também chegou aqui, porque o interfone tá tocando. Queria que fosse você no lugar dele. ):”
  “Se divirtam... )): Love you, sweetheart.”
  “Até logo, Anjo. Fique calma e se cuide! I love you lots. x”

  - Awn, como são fofos! – Rach deixou o meu cabelo em paz e aparentemente leu toda a minha conversa com meu namorado.
  - Já estou pronta?! – Travei a tela do aparelho, preferindo não comentar.
  - Yep! Vamos te colocar dentro do vestido e estará pronta pra ir. – Deu uma batidinha no meu ombro, pedindo assim para que eu levantasse da cadeira. – Lou disse que sua companhia chegou, não? Pela hora, seu carro também deve estar quase aqui.
  - Então você leu mesmo a conversa inteira?! – Arqueei uma sobrancelha.
   Rachel riu divertidamente, denunciando que era culpada. Não me importei só porque o assunto das mensagens não fora assim tão constrangedor quanto poderia ter sido. Levantei da cadeira e tirei o roupão, deixando-o de lado e ficando apenas com as roupas de baixo. Rachel deixou o secador de cabelo e outros instrumentos que usou em mim em um canto da cama e pegou o vestido previamente esticado sobre ela. Abriu o zíper até um pouco abaixo da cintura e me ajudou a entrar dentro dele. Enquanto estava de costas pra ela e segurava o cabelo para que não ficasse preso no fecho, pressionei um lábio no outro com o nervosismo e medo de que ele não fechasse. Até mesmo prendi a respiração e só voltei a relaxar após sentir que ele não rasgaria no menor dos meus movimentos. Sendo sincera, era como se ele servisse como uma luva. Pude me mexer e respirar fundo sem escutar o barulho de nada sendo rasgado e sorri satisfeita. Então pular algumas refeições dava certo? Tinha absoluta certeza que esse vestido era do mesmo tamanho daquele que experimentei na loja da Chanel em Los Angeles, o que significava que eu perdera peso! Não da forma mais aconselhada, talvez, mas os fins justificavam os meios.
  - Você está linda! – Rach bateu palminhas silenciosas.
  - Eu me sinto linda. – Sorri, girando sem sair do lugar. – Como isso funciona?
  - Está vendo essas partes aqui? – Tocou em certos cantos do meu vestido que escondiam mecanismos. – É só puxar e tudo solta. Você não mudou de idéia, certo?
  - Claro que não. – Podia estar ansiosa e tensa, mas não podia desistir agora.
  - Então você está pronta pra ir! – Segurava a minha bolsa e dois envelopes. – Calce os sapatos e vá se olhar no espelho. A minha obra de arte está perfeita, modéstia a parte.
   Para obedecê-la, sentei na cama com cuidado e alcancei os sapatos de salto que estavam em algum lugar embaixo da cadeira onde estivera previamente sentada. Apenas agradeci mentalmente por não ser tão alto ou fino, o que me levaria ao chão em dois segundos. Tentei me mexer o menos possível ao calçá-los, temendo causar algum dano ao meu vestido de alta costura, pois sabia o quão frágil ele era. Já de pé sem nenhuma ajuda, entrei no closet e acendi a lâmpada interna, podendo parar de frente para o espelho de tamanho humano que mostrou o meu reflexo inteiro. Rachel estava certa ao falar que sua obra de arte estava perfeita, pois eu quase não parecia a mesma garota de horas atrás, com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo desleixado e vestido velho. Meus cabelos estavam mais lisos e de lado que o de costume, o que dava um pouco de trabalho para manter a franja fora dos meus olhos, porém, valia a pena.
  - Um toque final! – Senti algo sendo espirrado em mim e me virei para que o perfume também batesse em meu pescoço e ombros. – O que achou?
  - Eu me sinto uma atriz de Hollywood! – Coloquei as mãos na cintura, fazendo uma pose qualquer.
  - Na noite que você vai ter hoje, é bom que se sinta assim mesmo. – Passou-me a bolsa que devia guardar tudo que eu precisaria. – Javert está aí na frente.
  - Ele será o meu motorista hoje?! – A acompanhei para fora do closet e do quarto, deixando tudo apagado atrás de nós.
  - Carine achou melhor, por ele já conhecer o caminho até aqui e tal. – Deu de ombros, mexendo em algumas mexas do meu cabelo. – Está tudo bem? Sabe tudo o que fazer?
  - Sim, Rachel! – Ri baixo, segurando no corrimão da escada para não cair durante a descida. – A idéia foi minha, sabe?
  - Eu sei, eu sei! Mas você vai estar sozinha, então fico nervosa! – Aquela preocupação de mãe era norma vinda da minha madrasta.
  - Ela não vai estar sozinha. – Uma figura masculina esperava-me no hall de entrada e só então fora notada. O moreno vestia roupa social dos pés a cabeça e seus olhos estavam mais brilhantes do que eu recordava. – Serei seu fiel escudeiro.
  - Joshua! O que você está fazendo aqui? – Sorri surpresa, demorando a ligar os pontos. – Dani pediu pra você substituí-la?
  - Bingo! – Abraçou-me como se fossemos velhos amigos que não se viam há meses. – Você está muito bonita, senhorita Tomlinson.
  - Merci, monsieur. – Fiz leve reverencia após retribuir seu enlace. – Você também não está nada mal! Na verdade, nenhum de vocês está...
  - Obrigado, eu faço o que posso. – Louis fingiu balançar os cabelos de um lado para o outro, sentindo-se muito bem em seu blazer preto. – Harry acabou de sair, mas você devia ter visto!
  - Vai conosco, Louis? – Josh perguntou a meu irmão.
  - Nah, bem que gostaria, mas tenho que sair com a minha namorada Eleanor. – Até ouvir aquilo parecia estranho.
  - Sou só eu, ou você deveria parecer mais feliz com isso? – O garoto de olhos cinzentos percebeu o mesmo que eu.
  - Eu te explico no carro. – Passei o braço pelo de Josh. – Vamos?

+++

  - Show tiiiiiiiiiime! – Cantarolei, sentindo meu estômago revirar com as milhares de borboletas que resolveram levantar vôo.
  - Fique calma, ! – Josh riu e apertou a minha mão, me obrigando a parar de batucar no banco do carro. – Você está incrível... Vai ser perfeito.
  - Estou tentando! – O bom humor do meu acompanhante me contagiara no mesmo instante em que entramos naquele veiculo. – Já fez algo assim?
  - O tempo inteiro no X Factor! – Às vezes esquecia que Joshua estava envolvido nessa área do showbiz, então só podia esperar que ele me ajudasse.
   Não me entenda errado, eu já estive em tapetes vermelhos sozinha em desfiles ou Fashion Weeks da vida, mas nada com o tamanho daquela festa de aniversário da maior revista do Reino Unido; onde telas e câmeras de todo o mundo estariam apontadas para lá, esperando ver novas tendências e tudo que a nata londrinha teria para oferecer. Acredito que me sentir entregue em uma bandeja é um bom jeito de explicar como estava sendo “oferecida”. Javert, o motorista, estacionou o carro e abriu a porta para que Josh saísse primeiro e fiz o mesmo em seguida. Naquela entrada ainda não havia a multidão de fotógrafos que estava prestes a enfrentar, apenas era o local de encontro onde celebridades e fashionistas desciam de seus veículos igualmente luxuosos e recebiam o seu “guia”. Ok, “guia” não é a melhor expressão, mas era assim que eu visualizava os funcionários que tinham placas com o nosso nome, para nos guiar pelo tapete vermelho e etc; sem eles, todos ficariam perdidos por aí, sem saber o que fazer.
  - , ali! – Josh segurou o meu pulso, andando até uma mulher que notei segurar uma placa com a minha foto e o nome “Star Tomlinson”. – Você usa óculos?
  - Não, por que? – O segui, estranhando aquela pergunta.
  - Porque acho que a moça estava acenando pra você há vinte minutos. – Que jeito mais sutil de me chamar de cega! Teria dado-lhe uma cotovelada, mas temi amassar seu blazer; não queria um desarrumado ao meu lado!
  - Shut up. – Sussurrei entre dentes. Fomos de encontro à nossa guia e a cumprimentei com um sorriso. – Hey! Sou e esse é meu acompanhante.
  - É um prazer conhecê-la! Os dois, na verdade. – A mulher parecia mais nova do que eu e se mostrou um pouco intimidada por Josh; seus olhos parecendo perfurá-la até a alma. – Me chamo Hope. Queiram me acompanhar, por favor...
  - Claro. – Josh a respondeu, já sem me segurar. – Não sei muito o que fazer quando chegarmos lá na frente...
  - Já fez algo assim? O tempo inteiro no X Factor! – Reencenei nossa conversa de antes, segurando o riso. Hope sorriu, mesmo sem entender a graça.
  - É pra isso que estou aqui! Primeiro vocês vão andar pelo tapete separados. Devem parar de vez em quando para serem fotografados e eu vou ajudar pra não demorarem ou serem rápidos demais. – A jovem explicou, liderando o caminho. Dali já era possível começar a escutar o barulho das pessoas e máquinas fotográficas. – Se alguém quiser entrevistar vocês, vão falar comigo e eu os guiarei. Só não me percam de vista... Alguma duvida?
  - Nenhuma, obrigada! – Fechei as mãos em punho, com minha bolsa presa em meu braço. O nervosismo parecia não ter limite.
   O toque de Joshua em meu ombro era pra ser confortante, mas não surtiu muito efeito. Se fosse Zayn em seu lugar, eu esqueceria até mesmo do meu nome. Pensar nele, porém, facilitou um pouco o meu trabalho de andar em linha reta e parar de tremer. Meu acompanhante sorriu, achando ser o causador daquele pouco de calma que tomou conta de mim. Continuamos atrás de Hope até passar por um arco de ferro, onde canhões de luz giravam e apontavam para todos os lados. “OMG, AQUELA É A RITA ORA!” Por dentro eu gritava, mas por fora me comportava como uma verdadeira dama. A cantora britânica loira estava a poucos metros de mim, fazendo a sua entrada triunfal pelo tapete vermelho. Sua guia fez um sinal para a minha, que apenas assentiu com a cabeça e sorriu para nós como se estivesse tudo sobre controle. Ela pediu para segurar a minha bolsa e entreguei-lhe na mesma hora, sabendo que era de praxe.
   Alguns segundos que pareceram minutos passaram e Hope adentrou a área do tapete, fazendo com que Josh e eu a seguíssemos. Ela andava devagar e nos deixou fazer o que quiséssemos. A passarela devia ter uns seis metros de largura era coberta pelo mais delicioso veludo cor de sangue, suas laterais continham grades cobertas por banners de propagandas e patrocinadores, onde programas de TV, radio, outras revistas e milhares de fotógrafos se espremiam para conseguir vislumbres de todos que prometiam passar por ali. Mais uma vez aquele sentimento de importância como se fosse uma atriz de Hollywood me atingiu, causando a menininha dentro de mim começar a sorrir muito; o que ultrapassou a minha superfície.
   Dei os primeiros passos para longe de Josh assim que ele parou na frente de um primeiro grupo de fotógrafos para fazer poses. Olhei de um lado para o outro, executando a caminhada que passara algumas horas ensaiando com Rachel durante o dia. Passei a mão pelos cabelos, bagunçando um pouco e um pé ia para a frente do outro; a jogadinha leve de quadril apimentou e deu um pouco mais de charme até que parasse na direção que Hope disfarçadamente indicara. Diferente de todas as vezes que fui flagrada com Zayn ou qualquer um dos meninos da banda, aqueles fotógrafos respeitavam o meu espaço – especialmente por estarem separados de mim por grades -, o que me deixou mais confiante. Uma mão foi para a minha cintura enquanto a outra pousava na lateral do meu corpo. Com os pés próximos e o joelho esquerdo levemente dobrado, deixei que os flashes viessem na minha direção.
   Não demorei muito para virar de costas e espiar por cima do ombro, deixando que notassem todos os ângulos do meu vestido. Arrisquei certas poses novas, ficando bem descontraída e encontrando sorrisos aqui ou ali; fossem por trás das câmeras ou de outras pessoas que passavam por mim no Red Carpet. Assoprei um beijo para os fotógrafos, me sentindo bem boba por isso, o que me fez rir sozinha. Bem... Não tão sozinha, já que ao olhar para o lado, encontrei um Josh risonho, esperando para se juntar a mim. Andamos alguns metros até pararmos lado a lado. Creio que tenho um pouco de sorte com isso, pois sempre estou cercada por garotos que estão na profissão errada e poderiam ser modelos. Joshua passou o braço pela minha cintura e apoiei uma mão em seu ombro, tocando a ponta frontal do salto no tapete ao dobrar um pouco mais o joelho. Ambos sorriamos, mas o meu era um pouco mais aberto que o dele.
   Seguindo a chuva de flashes que poderia ter me cegado ou até mesmo bronzeado a minha pele, Hope parou perto de nós e pediu para que eu olhasse à direita. Fiz o que pediu e encontrei com um homem relativamente mais velho que eu, de cartola e bengala de lobo, com seus cabelos brancos presos em um rabo de cavalo baixo. Apesar dos óculos escuros, Karl Lagerfeld me olhava de volta. Perto dele, uma mulher de algum programa de TV fazia o mesmo e segurava um microfone como se houvesse acabado de fazer uma pergunta e esperasse a resposta. Karl usou o indicador para pedir que eu fosse até lá e quem seria louco de negar? Não eu.
  - Então é dessa aqui que você estava falando, Karl? – A apresentadora perguntou e, pelo seu crachá, era da BBC.
  - Você está magnífica, . – Tocou meu ombro e me cumprimentou com o que teria sido um beijo em cada bochecha se estivesse realmente encostado. – Nos vemos lá dentro, darling.
  - Obrigada, Karl. – Não sei quando ficamos amiguinhos assim, porém, sabia que ele devia estar fazendo isso como um favor para Carine e segui sua deixa. – Até logo!
  - Então, nós perguntamos a ele em quem deveríamos ficar de olho essa noite. – Assim que o homem se foi, a repórter falou comigo e deduzi que seria entrevistada. Por conta do barulho, tive que me inclinar um pouco em sua direção e próximo da grade. – E ele disse que devemos ficar de olho em você!
  - Isso é muito gentil da parte dele! Mas acho que Karl sabe do que está falando... – Respondi assim que o microfone veio para mim, tentando criar um pouco de mistério.
  - E do que ele está falando? – Insistiu por mais informações.
  - Vocês vão ter que esperar pra ver! No final da festa, então aconselho que fiquem até o fim. – Pisquei para a câmera que me filmava; logo minhas bochechas começariam a doer por causa de todas as vezes que sorria.
  - Tenho certeza que muitas devem estar se perguntando em casa, , então me diga... Quem você está usando?! – Ah, essa pergunta que nunca falhava! – Esse vestido é maravilhoso!
  - Mulberry, é claro! – Apoiei as mãos na cintura, dando uma volta completa sem sair do lugar.
  - Muito bem! Obrigada por falar conosco e tenha uma ótima festa! – Se despediu ao ver que Hope já vinha me chamar para ir. – Estaremos de olho em você!
  - Obrigada! – Sorri e acenei tanto para ela quanto para a câmera.
   Quer saber? Eu me daria bem com essa vida de celebridade. Sendo paparicada e elogiada aqui e ali... Uau. Havia algo faltando e eu sentia isso dentro de mim, mas estava feliz em caminhar pelo tapete vermelho. Hope ia à frente, passando da metade do carpete. Josh entendia que eu era a única de nós três que realmente usava saltos altos, por isso me esperou e estendeu a mão na minha direção; que logo aceitei na esperança de conseguir andar um pouco mais rápido. Os shots não cessaram e até mesmo tenderam a aumentar quando nos juntamos, mesmo que fotógrafos revezassem entre nós e os outros convidados que chegavam cada vez mais.
   O tapete foi afunilando até o momento que passamos por um arco parecido com o da entrada, sendo que esse era um tanto menor e mais justo, permitindo que poucas pessoas passassem de cada vez. Não era como se houvesse um transito enorme de pessoas, portanto logo estávamos na próxima etapa desse passeio. Agora estávamos em uma espécie de corredor, onde um paredão de fotógrafos estava na frente de uma parede coberta por novas propagandas de patrocinadores e, principalmente, com o nome da Glamour. Bem no estilo que assistimos pela TV ou internet em premiações de músicas ou filmes, sendo que de perto tudo era ainda melhor.
  - Essa é a equipe da Glamour. – Hope explicou quando chegamos perto de uma câmera de vídeo em cima de um tripé e um repórter nos esperava. – Vou esperar por vocês no fim do corredor.
  - Obrigada, Hope. – Afirmei que entendera tudo e ela se foi, deixando que Josh e eu fossemos para a nossa próxima entrevista.
  - Estamos aqui com mais uma convidada! Tomlinson. – O apresentador anunciou quando paramos ao seu lado. – Tomlinson! De onde conheço esse sobrenome?
  - Provavelmente do meu irmão, Louis Tomlinson do One Direction. – Expliquei com um sorriso.
  - É claro! A boyband do momento, One Direction! Algum dos meninos está por aqui também?
  - Eu adoraria que estivessem, mas infelizmente tinham outros compromissos... Coisas da banda, você sabe. – Aquela área era um pouco mais reservada, por isso podíamos nos entender sem gritar. – Mesmo que nada possa ser maior do que uma festa como essa!
  - Exatamente! – Riu descontraído, ajeitando o ponto que usava na orelha, provavelmente recebendo instruções do que me perguntar. – Então você está aqui representando a Mulberry de Carine Roitfeld, correto?
  - Sim! Carine e eu somos boas amigas e ela infelizmente não poderia vir hoje, então vou fazer o que puder para estar a sua altura. – Puxar um pouco de saco nunca é mal pra ninguém, não é? – Porque é caro que nós da Mulberry não poderíamos deixar de privilegiar essa data tão importante para a Glamour.
  - Você parece tão jovem, mas fala como se estivesse nesse meio há anos! Sei que não se deve perguntar isso para uma dama, mas quantos anos tem?
  - Acabei de fazer vinte no inicio do mês. – Não sabia bem o que isso tinha a ver com qualquer coisa, mas não me senti embaraçosa em responder.
  - Preciso dizer que vocês dois formam um casal muito bonito. Qual é o seu nome? – Se referiu a Josh.
  - Joshua Antony Brand, é um prazer. – Apertou a mão do apresentador com um sorriso de fazer meninas se derreterem.
  - E nós não somos um casal... – Tratei de corrigi-lo e brinquei: – Por mais que ele quisesse!
  - Quem não ia querer? – O jornalista estava flertando comigo? – Vou deixá-los ir agora, Joshua e . Foi um prazer conhecê-los e espero que tenham uma festa muito divertida.
  - Obrigada! Até logo. – Acenamos.
   A segunda parte das fotografias estavam por vir e dessa vez Josh e eu fomos juntos para a frente dos paparazzis, ficando entre eles e a parede que continha todas as logos. Tentamos não demorar muito ali e apenas fizemos três ou quatro poses. Quando o repórter que até agora não descobri o nome comentou que formávamos um casal bonito, me senti um pouco constrangida, mas o que senti ao posar ao lado do meu companheiro foi um tanto diferente. Aquele era um momento grande pra mim e queria poder olhar para o lado e encontrar Zayn. Era a mão dele que eu queria estar segurando e era com ele que eu gostaria de estar abraçada. Poderíamos até arriscar um beijo ou outro, vendo os flashes ir a loucura... Mas esse era um sonho distante, já que não podíamos ser vistos juntos.
  - Você está bem? – Sussurrou na minha orelha, envolvendo meus ombros para seguirmos ao final do corredor.
  - Estou ótima. – Afirmei com um pouco de mentira, forcei um sorriso e segui em frente. – Let’s party!
  - Estava esperando por isso a noite toda! – Josh se afastou alguns passos e levantou a mão para que batesse em High Five. – Quero dançar.
  - Uau. – Suspirei surpresa. Pelo visto eu encontrara alguém que não resmungaria sempre que eu chamasse pra dançar. – Esqueci que você era como eu.
  - Como você? Sou muito melhor. – Se gabou, mas sabia que era uma piadinha infame e de mau gosto que o rendeu um belo tapa no ombro. – C’mon, , já discutimos isso antes.
  - Shut up. – O empurrei de leve, sendo que não o fiz nem ao menos sair do lugar.
  - Aqui está a sua bolsa, . Meu trabalho termina por aqui. – Hope sorriu e acenou um tchau tímido.
  - Você foi ótima, muito obrigada. – Acenei de volta.
   Então era isso... Metade dos meus afazeres ali estavam cumpridos! A segunda metade só viria no final, então tinha bastante tempo para aproveitar a festa! O nervosismo fora embora e agora a única emoção elevada que sentia era a vontade incessante de entrar logo no salão daquela casa de festas gigantesca. Seguranças guardavam a entrada, mas nenhum deles nos parou, claro, apenas abriram a porta coberta por uma lona preta, nos deixando espiar o lado de dentro. Várias pessoas já se divertiam aqui e ali, outras já aparentavam sinais de alcoolismo. Josh deixou o cavalheirismo de lado ao passar primeiro e me deixar pra trás.
   O tema da festa era algo fácil de ser notado: Fogo. A decoração era praticamente em laranja, vermelho e cores mais quentes. Ao fundo podíamos ver uma cabine de DJ em cima de um palco, onde alguém muito bom agitava a multidão que pulava e mexia os corpos do mesmo ritmo. Resolvemos sair da entrada e explorar. Em uma das laterais, um bar colorido guardava as bebidas de todos os tipos, onde baristas jogavam garrafas e faziam malabarismos com copos cheios e vazios. No teto alto, alguns contorcionistas dançavam e se enrolavam em tecidos elásticos, o que era algo bem bonito de se ver. Telões espalhados pelas paredes mostravam chamas de fogo dançando, intercaladas com cenas do que acontecia em qualquer lugar daquele salão. Logo reconheci Ellie Goulding dançando com Calvin Harris.

+++

  - Ai. Meu. Deus. – Acabávamos de chegar em um canto mais afastado do salão onde ninguém podia nos ouvir. – Não acredito que acabamos de conhecer a Rachel Weisz!
  - Não acredito que você acabou de pedir pra tirar uma foto com ela! – Joshua ria, mas isso era o que ele havia feito praticamente durante as duas horas inteiras que passamos naquela festa; isso e beber.
  - Você lida com isso de conhecer celebridades bem melhor do que eu. – O reprovei com os olhos. – Não esqueça de me passar todas as fotos depois, ok?   - É só você pegar no meu Twitter, já estou postando todas as lá. – Deu de ombros naturalmente. Como eu escolhera deixar a minha bolsa no armário da casa de festas, esquecera o meu celular dentro dela. Por sorte, Josh trazia o seu no bolso, então foi meu fotografo sempre que encontrávamos alguma celebridade que eu tivesse coragem de pedir pra tirar fotos.
  - Você está postando fotos minhas no seu Twitter? – Isso podia dar errado.
  - Yeah... Qual o problema? – Deu um gole na sua bebida azul.
  - Eu sou um problema. – Sentei em um banco vermelho que tinha o formato de uma mão virada pra cima. – Sério, tem muito drama girando em volta de mim no Twitter, por causa da banda...
  - Isso explica o número de followers que acabei de ganhar... – Sentou-se ao meu lado, olhando algo em seu celular. – E eu não me importo. Você não é um problema, .
  - Ainda assim... Não quero que falem pra você as mesmas coisas ruins que falam pra mim. – Suspirei. Era só o que faltava, meus amigos serem machucados por minha culpa.
  - , olha em volta. Olha onde você está! Ou então se olhe no espelho. Se alguém falar algo ruim pra você, olhe o quanto a sua vida é incrível. – Abriu os braços com exagero, me fazendo rir por quase ter caído do banco. – Eu sei que as coisas estão difíceis desde que Zayn e você “terminaram”, ou esqueceu quem te salvou de moto aquele dia? Mas se importar com isso é besteira.
  - É mais fácil falar do que fazer. – Dei de ombros simplesmente, sem querer entrar em detalhes com aquele assunto. – Chega de fotos por hoje?
  - Quase. – Levantou e ofereceu o braço pra mim. – Você prometeu!
  - Prometi? Quando?! – Fiz corpo mole, mas preferi levantar. Caso contrário, Josh me arrastaria.
   Na primeira meia hora da festa, encontramos uma cabine de fotografias. Josh me fez prometer que iríamos nessa Photobooth assim que a fila diminuísse e eu sinceramente esperava que isso fosse demorar mais do que o que realmente demorou. Fizemos o caminho mais longo para lá, passando por mais pessoas famosas ou desconhecidas, todas tendo a noite de suas vidas. Tenho quase certeza que apareci nos telões uma ou duas vezes, mas não prestei muita atenção. Aproximadamente cinco minutos depois de levantar da cadeira em forma de mão, chegamos até a cabine, onde conseguíamos ver as pernas de duas garotas por baixo da cortina que ia até a metade da porta. As risadas que vinham lá de dentro também eram facilmente escutadas.
  - Estão esperando há muito tempo? – A mesma Rita Ora que vira na entrada acabava de sair da Photobooth.
  - Acabamos de chegar. – Expliquei, também vendo Cara Delevingne sair dali.   - Hey, eu te conheço! – Cara me abraçou, praticamente tropeçando nos próprios pés. – Você é a queridinha da Carine, não é?
  - Acho que sim... – Ri meio desconcertada por causa daquela intimidade toda. Cara era modelo dos catálogos da Mulberry, por isso sabia quem eu era. – É um prazer finalmente conhecê-la em pessoa.
  - Ela me disse que você estaria aqui! – Segurou na mão de Rita com carinho, mas ainda falava comigo. – Nos vemos por aí, sim?
  - Vamos dançar, babe... – A outra loira a puxava em direção a pista de dança e acenou um tchau para mim e Josh.
  - Elas estão... Uhn... – Joshua parecia não saber como terminar sua pergunta e apenas afirmei que sim com a cabeça.
  - É o que parece... – Dei de ombros com um sorriso que mostrava a minha animação com essa nova descoberta. – Vamos fazer isso ou não?!
  - Claro que sim, apressada. – Deixou seu copo pela metade na mesa mais próxima e entrou primeiro na cabine.
  - Vai mais pra lá, vai, vai! – Ri, empurrando-o para poder caber sentada ao seu lado. – E agora, o que fazemos?
  - Olha quantas coisas legais!
   Joshua parecia uma criancinha em um parque de diversões ao encontrar uma cesta de acessórios embaixo de nosso banco. Peguei uma coroa de rainha bem maior que a minha cabeça, mas consegui equilibrá-la. Também encontrei uma espécie de espeto com um bigode papel preto colado na ponta, então era só segurar em cima da minha boca que pareceria real... Ou quase isso. Josh se enfeitou com uma echarpe lilás e um chapéu de policial. Brinquei que ele estava fazendo um teste para entrar no Village People e ele se sentiu ofendido, mas eu comecei a rir. Algum de nossos movimentos deve ter acionado os mecanismos da Photobooth, pois o primeiro flash nos pegou de surpresa e foi aí que descobrimos que não éramos nós quem controlava a velocidade.
   Demorei segundos preciosos pra descobrir o cronometro no canto da tela, que marcava de cinco em cinco segundos na tela em nossa frente que servia como um espelho, então a segunda foto capturou o momento em que eu apontei para lá, com a boca entreaberta. Josh tinha as sobrancelhas erguidas e seus olhos quase fechados, o que o deixou meio vesgo. A partir daí conseguimos fazer poses para nossas últimas duas fotografias. Fizemos caretas na próxima e a última imitamos expressões assustadas. Como mais ninguém esperava pra usar a cabine, acabamos ficando por ali mais do que esperávamos. Dessa fez, escolhendo poses mais comportadas; como apenas sorrindo um ao lado do outro, ou experimentando novos adereços, como óculos de grau, ou outras coisas para cabelo.
   No final das contas, acabamos com quatro cartelas para cada um de nós e quatro fotos em cada... O que deu um total de dezesseis fotografias diferentes e divertidas, uma mais ridícula que a outra. Josh não perdeu a oportunidade de passar na minha cara que as idéias dele eram as melhores por eu ter gostado tanto daquela brincadeira. Talvez eu o apresentasse à e os dois se dariam bem. Seria melhor ele do que Ben. O moreno guardou as cartelinhas em seu bolso e prometeu não me deixar esquecer de pegar quando fossemos embora.
  - What’s Up, London?! – Um sotaque francês chamou a minha atenção quando saímos da Photoboot. A música havia parado e o DJ falava ao microfone. – O momento que... Bem, nenhum de vocês estava esperando...
  - Aquele é o David Guetta? – Josh perguntou ao meu lado.
  - Eu sabia que o vira em algum lugar! – Falei sozinha, pois o menino começou a andar em direção à pista, sem nem me esperar.
  - Uma apresentação surpresa que só seria possível em uma festa como essa! – David continuou e todas as luzes foram diminuindo consideravelmente, deixando apenas um foco no centro palco vazio.
  - O que será?! – Alcancei meu amigo no centro da pista de dança, ficando ao lado de, acredite se quiser, Sarah Jessica Parker.
  - Acho que alguém vai cantar! – A loira de cabelos cacheados me respondeu, mesmo que não fosse dirigida a ela a minha pergunta.
  - Senhoras e senhores... O único... Justin Timberlake!
   A gritaria foi geral, inclusive a minha. Como assim, Justin Timberlake? Bati palmas desesperadamente quando um homem vestido de preto dos pés à cabeça e com um chapéu bem característico surgiu no meio do palco como se fosse um passe de mágica. Uma música impossível de esquecer começou a tocar e preencher o salão inteiro. Um microfone totalmente vintage descia do teto e parou apenas ao chegar na altura exata para que Justin pudesse cantar, permanecendo ali. Sensualmente, o cantor levantou a aba de seu chapéu até que pudéssemos ver seus olhos e sorriu pelos novos gritos que recebeu.

  
I'm bringing sexy back.
  The other boys don't know how to act.
  I think you're special, what's behind your back?
  So turn around and I'll pick up the slack.
  Dirty babe, you see these shackles.
  Baby, I'm your slave I'll let you whip me if I misbehave.
  It's just that no one makes me feel this way.
  - Take'em to the chorus -
  Come here girl. Come to the back.
  VIP. Drinks on me.
  Let me see what you twerking with.
  Look at those hips! You make me smile. Go ahead child.
  And get your sexy on…

  Seu pudesse escolher apenas uma música para vê-lo cantar ao vivo, seria aquela. Bringing Sexy Back! Talvez por ter sido a primeira música que escutei dele depois da separação do Nsync que abalou o meu mundo; por mais nova que eu fosse. Justin dançava e a única pessoa que conseguia chegar aos seus pés era Josh ao meu lado, que praticamente o imitava, tamanha era a sua habilidade na pista de dança. Ok, talvez ele fosse melhor dançarino que eu, mas isso não me impediu de me jogar na dança. “Se Liam estivesse aqui, ele ficaria louco!”

  
Now, if I wrote you a love note and made you smile with every word I wrote?
  Would that make you want to change your scene?
  And wanna be the one on my team? See, what's the point of waiting anymore?
  Cause girl I've never been more sure.
  This ring here represents my heart and everything that you've been waiting for (Just say it "I do").
  Yeah, because I can see us holding hands.
  Walking on the beach, our toes in the sand.
  I can see us on the countryside, sitting on the grass, laying side by side.
  You could be my baby, let me make you my lady. Girl, you amaze me.
  Ain't gotta do nothing crazy. See, all I want you to do is be my love.

  E de repente, tudo mudou. A atmosfera, o ritmo... Outra música começou; My Love. Novos dançarinos entraram no palco e pelo olhar de Joshua, soube que queria estar lá em cima. O segurei pela mão e me enfiei entre as centenas de celebridades que assistiam aquela mesma apresentação do presidente do pop. Paramos ao estar quase colados no palco, onde outras pessoas dançavam na pista; não tão bem quanto o cantor, mas você entende o que quero dizer. Diferente do que achei, Joshua não prestou mais atenção nas seqüência de passos que Justin fazia, e sim em mim. Tive meu pulso direito envolvido e meu corpo puxado contra o do moreno. Deixei que a batida um tanto lenta tomasse conta do meu corpo e me permiti dançar com ele; nossos corpos se esbarrando em sincronia.

  
I be on my suit and tie, shit tied, shit tied.
  I be on my suit and tie, shit tied, shit.
  Can I show you a few things? A few things, a few things, little baby cause…
  I be on my suit and tie, shit tied, shit
  Let me show you a few things
  I can't wait 'til I get you on the floor, good-looking. Going hot so hot, just like an oven.
  And owww burned myself, I just had to touch it…
  But it's so fire and it's all mine.
  Hey baby, and we don't mind all the watching, 'Cause if they study close, real close,
  They might learn something.
  She ain't nothing but a little doozie when she does it.
  She's so fire tonight

  Mais uma vez tudo mudou e uma música mais recente começou. Suit & Tie? Era tortura! Josh e eu não paramos de dançar, apenas nos adaptamos ao novo ritmo. Vez ou outra, dava uma volta e era puxada mais uma vez pelo meu parceiro que deslizava os pés pelo chão como se rodinhas patins estivessem presas na sola de seu sapato. Justin era ainda mais bonito de perto. Aquele devia ser o aniversário da minha fangirl interior, pois era muita emoção para uma noite só. Para falar a verdade, era quase demais. Meu coração batia acelerado, mas passava do que seria considerado “normal para a situação”. Minhas pernas falharam momentaneamente e teria ido ao chão se não fosse pelo apoio que recebi de Josh.
  - Você está bem? – Perguntou pela trigésima vez aquela noite. – Não pode estar bêbada, porque você não bebeu nada além de água...
  - Eu estou bem, Josh. – Afirmei não tão convincentemente.
  - Quer sentar?
  - Depois da apresentação, ok? – Minha teimosia falava mais alto, ainda mais pela nova música que começou.

  
Aren't you something to admire? Cause your shine is somethin' like a mirror.
  And I can't help but notice you reflect in this heart of mine.
  If you ever feel alone and the glare makes me hard to find,
  Just know that I'm always parallel on the other side.
  Cause with your hand in my hand and a pocket full of soul.
  I can tell you there's no place we couldn't go. Just put your hand on the glass.
  I'll be tryin' to pull you through. You just gotta be strong.
  Cause I don't wanna lose you now I'm lookin' right at the other half of me.
  The vacancy that sat in my heart is a space that now you hold.
  Show me how to fight for now.
  And I'll tell you, baby, it was easy Coming back into you once I figured it out.
  You were right here all along.
  It's like you're my mirror… My mirror staring back at me.

+++

  - , você não está bem! – Joshua me obrigou a encostar na parede do lado de fora da casa de festas. – Você está gelada...
  - Sou uma vampira! – Tentei brincar, mas minha risada falhou. – Eu tenho que fazer isso, Josh. Não vai demorar nada, eu prometo.
  - Você é tão cabeça dura! – Bufou frustrado. Me sentia mal por preocupá-lo, mas não podia fazer muita coisa para mudar a situação. – Em que posso ajudar?
  - Apenas tenha certeza que o carro vai estar me esperando na porta... – Pedi, fitando-o com um misto de “me desculpe” e “eu realmente preciso que faça isso por mim”.
  - Certo... Venha rápido. – Como um ato terno e inesperado, segurou o meu rosto com uma mão e beijou a minha bochecha.
   Josh aproveitou para levar a minha bolsa de mão, pois meus planos não contavam com ela. O observei passar pelo segundo corredor de fotos, sendo que agora ele estava totalmente vazio. O único que ainda possuía paparazzis era o Red Carpet principal e era nele que eu teria o meu Grand Finale. Passei as mãos pelos cabelos, desejando que a festa que estava acabando não tivesse destruído-o completamente. Respirei fundo tentando me concentrar. Queria desesperadamente tirar os sapatos, pois sentia que iria cair a qualquer momento, mas segurei com tudo que tinha nos últimos segundos de força que me restavam. “Acho que já deu tempo de preparar o carro...” Era hora de ir.
   Dei batidinhas nas bochechas na esperança de conseguir parecer mais viva do que me sentia. Puxei o ar com dificuldade enquanto caminhava até o arco menor, sabendo do que me esperava do lado de fora. Era uma das primeiras pessoas a sair, o que poderia ser algo bom ou ruim; teria que esperar pra ver. Chequei mais uma vez os mecanismos que Rach me explicara o funcionamento e torci para que tudo desse certo, pois era só o que me restava a fazer. “Desfilando”, adentrei o corredor maior, provocando certo alvoroço da mídia em levantar de onde estavam sentados e preparar as câmeras para documentar a minha saída. Com o melhor sorriso que vinha guardando durante a festa toda, acenei alguns “tchaus” aqui e ali, sem querer correr até a saída, mas também sabendo que não agüentaria ficar ali por muito tempo.
   Chegando pontualmente ao centro do carpete vermelho, parei. Coloquei as mãos na cintura e olhei de um lado para o outro, despertando a curiosidade daqueles que não sabiam o que eu pretendia fazer. Esperei até que todas as câmeras estivessem viradas pra mim e quase foi possível cortar a tensão no ar com uma faca. Segurei o lacinho no centro do meu vestido e o puxei com tudo, literalmente querendo rasgar a peça. Milhares de pedrinhas e bolinhas que antes estiveram costuradas com delicadeza e perfeição caíram aos meus pés, se espalhando a minha vota. Em seguida, as abas que davam volume à lateral da minha cintura tiveram o mesmo destino assim que as arranquei e joguei em qualquer lugar.
   Ainda mais do que antes, os abutres da moda, digamos assim, foram a loucura. Não fiquei maluca de uma hora pra outra ou estava bêbada... Esse fora o plano o tempo inteiro, destruir algo que parecia perfeito, algo que muitos desejariam. Aquele era o meu conceito. Transformar um sonho em um pesadelo. Não tinha como saber se a mensagem seria captada ainda, então precisava esperar. Meus ouvidos se encheram de perguntas e chamados, mas não conseguiria ficar ali respondendo qualquer um que fosse. Assoprei um beijo de despedida e caminhei com meu vestido semi destruído até o arco maior que me guiou até o estacionamento.
  - Você é louca! – Josh cumprira o que prometera e estava com o carro pronto para que partíssemos. – Mas foi incrível.
  - Obrigada. – Forcei um sorriso, recebendo a mão dele para ter apoio e poder entrar no carro. – Podemos ir embora...
  - É claro! – Assim que garantiu que eu estava bem acomodada no bando de trás, foi para o banco do passageiro na frente e fez o mesmo. – Javert, pisa fundo!
  - A senhorita vai pra casa? – O motorista deu partida no carro, mas fitou-me pelo retrovisor.
  - Na verdade, não... Tem um prédio perto da Models One chamado Hyde Gardens, conhece? – Fechei os olhos, pois sabia que ficaria tonta se olhasse a paisagem passando rápido pela janela.
  - Logo estaremos lá.

+++

  Ter fechado os olhos não adiantou muita coisa, pois só o movimento do carro foi o necessário para me deixar tonta e enjoada. Não o bastante para que não conseguisse descer sozinha do carro ao chegar na porta do prédio de Zayn, mas o suficiente para me obrigar a quase sentar no chão elevador durante o trajeto tão longo até o último andar da cobertura. Por sorte a minha, Rachel colocara as minhas chaves na bolsa, por isso pude entrar no flat sem ter que acordar Zayn. Me sentei nos degraus da entrada na minha primeira oportunidade, deixando todas as minhas coisas pelo chão. Tirei os sapatos e os joguei de lado, encostando a testa nos joelhos. Minha respiração havia melhorado só por eu estar em um lugar onde me sentia segura, mas ainda passava mal.
   Sentindo que não agüentaria segurar por muito tempo, me arrastei até conseguir ficar de pé e parti em disparada até o banheiro mais próximo, que ficava no corredor, entre o meu quarto e o estúdio de Zayn. Fiz o máximo de silêncio que consegui, pois a última coisa que queria naquele momento era acordá-lo. Não sabia se Liam fora embora ou resolvera passar a noite, porém não tinha tempo de investigar. Minha falta de coordenação motora na hora de abrir a porta fez com que ela abrisse subitamente e fosse de encontro à parede. Xinguei baixinho pelo barulho causado e praticamente caí de joelhos no chão. Engatinhei até o vaso sanitário e quase não tive tempo de levantar a tampa para que tudo começasse a sair pela minha garganta, me sufocando.
   O pior de tudo é que eu ficara sem comer praticamente o dia inteiro, então a única coisa que podia sair do meu estômago era a água que não fora absorvida pelo meu corpo tão fraco e frágil. Do jeito que dava, afastei os cabelos do rosto, pois ao menos isso conseguia fazer. Lutei para puxar o ar contra meus soluços e ataques de tosse até ter certeza que mais nada podia sair. Limpei a boca nas costas da mão, ciente do quão nojento aquilo era. Fechei a tampa, o que acionou a descarga automática. Encostei-me a parede mais próxima, começando a sentir os olhos arderem.
  - ? É você? – A voz sonolenta de Zayn vinha do corredor.
  - Não vem aqui! Eu estou horrível. – Pedi enquanto tentava chegar até a porta para fechá-la.
  - Anjo, o que aconteceu com você? – Parou na entrada do banheiro, sendo obrigado a acordar devido ao susto que levou ao ver-me naquele estado.
  - Zayn... – A felicidade que senti ao vê-lo provocou a saída das lágrimas que se formaram em meus olhos. – Eu não sei... Eu estava bem, mas comecei a passar mal... Não sei porque estou chorando! Ugh!
  - Shh, eu estou aqui com você agora. – Curvou-se sobre mim até passar um braço por baixo de meus joelhos e em minhas costas. – Vai ficar tudo bem.
  - Me desculpa... – Não sabia pelo que pedia desculpas, mas deixei que ele me carregasse.
   Aninhei-me aos seus braços, deixando minhas lágrimas molharem sua camisa cinza de algodão. Sentia-me frustrada por alguma coisa que não conseguia explicar o que era e sufocada pelas lágrimas que borravam a minha maquiagem. A noite havia sido tão divertida... Simplesmente não entrava na minha cabeça que motivos eu teria pra estar tendo um ataque como aqueles. Só percebi o quanto apertava Zayn ao escutar seu arfar ao meu ouvido. Percebi que entramos em seu quarto, só que não paramos até estarmos no banheiro. Fui colocada sentada sobre a bancada da pia. O menino afastou os cabelos sujos e molhados do meu rosto, secando minhas lágrimas em seguida. Beijou a minha testa sem falar ou perguntar coisa alguma. Fechei a boca com força, incomodada. Ao notar isso, pegou a minha escova de dentes ao lado da sua e passou um pouco de pasta.
   Enquanto limpava a boca e tentava segurar o choro, ele me deu as costas e se dirigiu até a banheira, abrindo-a em uma temperatura elevada, pois um pouco de fumaça saia da torneira, mas nada que pudesse me queimar. Após enxaguar a boca e tirar aquele gosto amargo, desci da bancada e quase tropecei. Zayn não me pedia explicações, apenas cuidava de mim. Eu via a preocupação em seus olhos e, principalmente, medo. Medo do que poderia estar acontecendo comigo e do que se passava pela minha cabeça por me fazer chorar tanto. O meu vestido rasgado, apesar de não mostrar a minha pele mais do que quando ainda estava inteiro, foi algo que o alarmou. Tratei de negar que algo pior acontecera comigo e deixei que ele me despisse.
   Todas as minhas peças de roupa estavam no chão. O que antes teria sido visto de outra forma, agora era apenas carinho e cuidado. Zayn não me olhava com desejo, apenas como se quisesse tirar de mim toda a dor que eu estava sentindo. Ainda com sua ajuda, fui colocada dentro da banheira e pude sentar com os joelhos abraçados ao peito. Um calafrio me fez tremer por causa da diferença enorme que a temperatura da água causou na minha pele. Zayn sentou-se ao meu lado, mas do lado de fora, e começou a – literalmente – me dar banho. Com as mãos em concha, ele pegava um pouco de água e deixava que caísse devagar sobre meus cabelos. Meu queixo batia como se eu ainda estivesse com frio e as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ao menos não estava soluçando tão alto quanto antes.
  - O que aconteceu com você, ? – Pensou alto em um suspiro e o olhei.
  - Não sei... – Neguei com a cabeça, encarando as minhas mãos na superfície da água.
   Mais do que em qualquer momento antes, senti ali que Zayn cuidaria de mim e me protegeria de qualquer perigo que fosse; ainda que não soubesse qual perigo poderia ser. Aos poucos consegui parar de chorar, mas a dor em meu estômago apertou, assim como a fraqueza no resto do meu corpo. Era como se meus músculos houvessem parado de funcionar e me senti sem chão. O menino lavou meus cabelos com cuidado, assim como ensaboou o resto de mim e se certificou de que, no final do banho, eu estivesse limpa e sem nenhum resquício de sabão ou creme no cabelo. Fui praticamente carregada para fora da banheira e secada com mesmo esmero.
   Voltamos para o quarto e sentei na cama, enrolada na toalha dele, enquanto Zayn procurava algo para eu vestir em seu closet. Me ajudou a vestir uma de suas calças de pijama e também uma das suas camisetas preferidas. Como ainda estava com frio, ganhei um de seus casacos de moletom. Meu peito subia e descia devagar e meus olhos azuis fechavam e demoravam para voltar a abrir. O meu anjo da guarda puxou seu edredom para a ponta contrária da cama e me deitou no lugar que era meu por direito. Em seguida, deitou ao meu lado e nos cobriu novamente, em silêncio. Era disso que eu precisava. Dele, bem junto a mim. Só assim saberia que o que quer que fosse iria passar e eu ficaria... Inteira.

    

Chapter XXIII

Considerando a forma que fui dormir, a tranqüilidade que me envolvia no momento em que acordei era extremamente atraente. Mesmo sem abrir os olhos, sabia que estava na cama de Zayn, por causa da forma que o colchão me acomodava. Por mais que amasse a minha própria cama, havia algo diferente. Talvez porque a minha cama era "minha" e a cama de Zayn era "nossa". Meu corpo ainda falava que estava cansado, mas o sono fora embora há alguns minutos; ainda que tentasse segura-lo, seria inútil. Abri os olhos o mais calmamente que consegui e desejei ter feito isso antes. Meus azuis encontraram os castanhos de Zayn, que me protegia dos raios que entravam pela janela atrás de si. Ele parecia tão angelical com essa combinação de luz e sombra que esqueci como se respira por alguns segundos. O menino estava tão distraído com os meus lábios que só percebeu que eu despertara após ver meu sorriso se formar.
  - Morning, princess. - Juntou os lábios aos meus como se esperasse por isso há algum tempo.
  - Morning... - Minha voz saiu mais arranhada que o esperado. - Que horas são?
  - Ainda é cedo, não se preocupe... Não passa das nove e meia. - Se mexeu na cama, afundando o rosto no travesseiro.
  - Está acordado há muito tempo? - Cobri os lábios para reprimir um bocejo.
  - Algumas horas. - Aquela resposta me surpreendeu. - Não consegui dormir muito bem depois que você chegou em casa.
  - Desculpa... Eu realmente não sei o que aconteceu. - Agora que estava descansada, sentia-me envergonhada, mas por ser Zayn ali na minha frente, não me importei.
  - Você falou enquanto dormia... - O que seria algo normal ganhou certa atenção devido a entonação usada; do tipo: "e tem mais".
  - O que eu falei? - Puxei o edredom até o pescoço, me protegendo da manhã fria.
  - Meu nome... E pedia ajuda. Era como se estivesse assustada. - Passou o braço por baixo de seu travesseiro para que a mão alcançasse meus cabelos. - O que me assustou também, por não saber como ajudar.
  - O que você fez? - Seu carinho me relaxava e eu poderia ficar ali por horas.
  - Eu cantei pra você.
  - O que você cantou? - Eu acordei cheia de perguntas e Zayn pensou a mesma coisa, por isso riu.
  - Quer escutar de novo? - Sugeriu antes mesmo que eu começasse a insistir.
  - Quando eu já neguei te ouvir cantar, baby?
  - Era só pra ter certeza. - Puxou um sorriso de canto e apoiou o cotovelo na cama, limpando a garganta para começar: - Am I asleep, am I awake or somewhere in between?
   O deixei cantar e quase não me mexi, por medo de perder algum detalhe que fosse. A forma que os lábios de Zayn se mexiam era no mínimo convidativa, os longos cílios batendo sob o topo de suas bochechas na medida em que piscava. A combinação perfeita se dava com a voz magnífica. E pensar que aquele era um lado dele que só eu conhecia... Por mais que o mundo inteiro estivesse de olho em Zayn, eu era a única que realmente o enxergava. Ultrapassava o exterior misterioso e até mesmo duro e chegava em sua essência incrível.
  - Você terminou... - Reconheci a música que ele começara a cantar na nossa viagem de volta à Londres.
  - Pra você. - Sorriu e se sentou na cama.
  - Eu amei!
  - E eu amo você. - Inclinou-se sobre mim, passando o nariz no meu e roubando um beijo. - Agora, vai me contar como foi a festa?
   Só a menção daquele assunto fez o resto do sono que me acompanhava ir embora. Por mais que o final da noite tenha sido conturbado, seu inicio foi algo que eu não esqueceria tão cedo. Contei detalhadamente como foi a sensação de caminhar pelo tapete vermelho e ser entrevistada por pessoas que respeitavam o meu espaço. Também comentei extensamente sobre todas as celebridades que conheci e tirei fotos, sobre a decoração de fogo, telões espalhados, dançarinas no teto e o que não podia faltar... A apresentação histórica de Justin Timberlake. Essa foi a parte preferida de toda a história que contei. Zayn ficou um pouco enciumado por eu ter ido acompanhada de outro homem - ainda mais por ser um que representava uma "ameaça" -, mas preferiu se atentar aos detalhes bons. Expliquei também o Grand Finale e o porque de eu ter chegado toda rasgada.
  - Da próxima vez você me avisa quando algo assim for acontecer... - Zayn permaneceu na cama quando levantei para usar o banheiro.
  - Eu tentei, mas não sabia muito bem como explicar. - Preparei a escova de dentes e a levei a boca. - Eu sinto muito, baby. O que achou que tinha acontecido?
  - Não pensei bem no que poderia ter acontecido, e sim no que eu faria com qualquer um que te fizesse mal. - Apareceu na porta do banheiro. - Eu odeio não poder te proteger.
  - Mas você protege... Só não é sempre que pode me acompanhar assim. - O olhei pelo reflexo do espelho, com cuidado para não acabar babando.
  - Eu estava bem perto de ligar pra Marco e pedir pra sair da banda. - Confessou, me pegando de surpresa.
  - Você não pode fazer isso e sabe disso. - Terminei de escovar os dentes e o olhei séria. - E além do mais... Nada aconteceu.
  - Mas se algo acontecesse... – Aquela era uma verdadeira preocupação para Zayn e eu sabia disso. – Você sabe como as fãs são. Algumas podem ser bem loucas. Já foi ameaçada algumas vezes e eu não se-
  - Baby, não se preocupe com isso! – Fui ao seu encontro e segurei em seus ombros. – Você tem fãs loucas sim, mas elas também são medrosas e se escondem atrás de perfis na internet. Não podem fazer nada comigo.
  - Seria mais fácil se eu pudesse estar com você a todo instante. – Seu peito descia e subia pesadamente conforme respirava. Zayn não sorria e estava quase irritado. – Não só quando estamos escondidos aqui dentro.
  - Veja esse esconderijo como um lugar seguro. – Me obriguei a sorrir. Não que eu não quisesse sair por aí de mãos dadas com ele, mas tinha que aceitar o veredicto. Aumentei nosso abraço, entrelaçando as mãos atrás de seu pescoço. – Podemos ser nós mesmos aqui dentro, então não é tão ruim assim.
  - Como você consegue ser tão positiva? – Deixou um sorriso escapar e segurou nas laterais da minha cintura.
  - Tá brincando? É algo natural do meu ser! – Brinquei com uma risada baixa.
  - A não ser quando você acorda cedo... – Deu de ombros, olhando para o outro lado como quem não quer nada.
  - Olha só quem fala! – Gargalhei ainda mais.
   Minhas risadas não duraram muito, pois Zayn fez questão de encostar os lábios aos meus, por mais que ambos continuássemos sorrindo. Não aprofundamos o beijo, apenas trocamos carinhos que aliviaram um pouco a tensão criada pelo nosso assunto anterior. Estaria mentindo se dissesse que as ameaças de algumas fãs não me assustavam nem um pouco, mas assassinato ainda era um crime, portanto me mantinha esperançosa de que todas estavam cientes de que estar atrás das grades não aumentaria as suas chances de casar com qualquer um dos cinco meninos. Fomos separados assim que a campainha soou no flat inteiro e fitei Zayn na espera de alguma informação.
  - Está esperando alguém?
  - Eu não, mas você está. – Sorriu travesso, aprontando algo.
  - Não estou não... – Franzi o cenho, quebrando o abraço.
  - Só vá atender, por favor? – Cruzou os braços, desobstruindo a porta do banheiro e me deixando passar.
  - Eu não devia ter medo, certo? – Atravessei o quarto, indo ao corredor.
  - Provavelmente sim, especialmente por ainda estar de pijamas. – Seguiu-me, parando apenas ao encostar-se ao sofá da sala.
   De que outra forma eu deveria estar se não de pijamas? Em primeiro lugar, acabara de acordar! Segundo, não tinha plano algum para aquele domingo a não ser aproveitar um tempo com meu namorado. Ainda assim, saltei os degraus até a entrada e girei o meu chaveiro que continuava na porta. Não conseguia lembrar de trancar tudo na noite anterior, mas Zayn provavelmente cuidara disso. Sorri ao ver quem eu supostamente estava esperado: ! A ruiva usava um vestido que ia até o meio de suas coxas e parecia um tanto justo, mas ainda assim continuava linda. A puxei para um abraço apertado, feliz em tê-la ali.
  - Mon amour!
  - Minha pequena gigante! – Me abraçou de volta. Gigante? Só porque eu era maior que ela não quer dizer que era tão grande assim. – Tudo bem? E porque ainda está de pijamas?! Seu namorado imprestável não avisou que vamos sair?
  - Eu posso te escutar, . – Zayn comentou.
  - Ele não define suas prioridades muito bem. – A deixei entrar em casa.
  - Sério, ninguém pode me ver aqui?! – O menino cruzou os braços.
  - Pra onde vamos? – Questionei curiosa. Ainda estava cedo para ir a uma balada, mas era para uma ocasião assim que a outra se vestira.
  - Vou te levar pra almoçar! – Sorriu, tocando as pontas do meu cabelo. – Na verdade, tenho reserva para nós três, então vão se arrumar!
  - Nós três? – Zayn coçou a nuca.
  - Z. é só um almoço... Não vai haver paparazzis lá. – estava bem ciente da nossa condição e parecia não ver problema em sairmos juntos.
  - Não tem nada de mal em um almoço com duas amigas... – Tentei convencê-lo. – Por favorzinho?
  - Ah, por que não? – Aceitou o convite e comemorei.

+++

  Entre Zayn e eu, quem mais demorou pra trocar de roupas foi ele, mas pela primeira vez, seu cabelo não foi a causa de seu atraso, e sim eu. Como nos trocamos no mesmo quarto, foi muito difícil pra ele manter os olhos longe de mim. Não que fosse fácil pra mim, de qualquer forma, mas eu sim sabia priorizar minhas tarefas! Ao menos conseguimos chegar a tempo de não perder a reserva no Nando’s. Sei o que está pensando... “O restaurante preferido de Niall, blábláblá!” Achei um tanto intrigante ter escolhido nosso destino por este mesmo motivo, mas ela devia ter suas razões. Talvez desejasse ter a sorte de encontrá-lo lá; o que também explicaria toda a sua produção para apenas ter um almoço entre amigos.
  - Eu andei vendo umas fotos suas, ... – puxou o assunto, parando para dar um gole em seu suco. – Da festa de ontem. Você estava linda.
  - Obrigada! – Após pousar meu garfo no prato, agradeci o elogio. – Ainda não vi as fotos do Red Carpet... Estou me guardando para a próxima reunião com a Mulberry pra ver tudo de uma vez.
  - Está brincando? Então ainda não viu tudo que estão falando sobre você? – até deixou o seu almoço de lado para prestar atenção no que dizia.
  - O que estão falando? – Zayn perguntou. Ele estava sentado ao lado de e em minha diagonal, pois não quisemos abusar da sorte e sentar lado a lado.
  - Os críticos falaram que você foi a melhor parte do tapete vermelho, ! Aquele final... Eu posso não entender nada disso, mas WOW! – Se animou e acabou falando alto demais, atraindo alguns olhares. – Mal posso esperar pra que os vídeos saiam! Se nas fotos já estava incrível, imagine quando puder ver o momento que você rasgou tudo! Oh my God!
  - Isso é um bom sinal, eu acho... – Não deixei de sorrir, dando uma garfada em meu frango em seguida. – Estava preocupada em ser interpretada de forma errada, mas pelo visto deu tudo certo.
  - E aquele cara que foi com você... – Zayn tentou parecer desinteressado, mas vi um toque de ciúmes em sua voz. – Ele tem namorada?
  - Está interessado? – alfinetou.
  - Na verdade eu não sei... – Ri do comentário maldoso da minha melhor amiga. – Nunca perguntei, até porque eu não estou interessada. E Josh sabe de tudo, então nunca tentou nada.
  - Ah, é. Ele estava no dia do bar. – O menino balançou a cabeça positivamente e quase pude ver engenhocas se mexendo dentro de sua cabeça. – Que engraçado, não? Ele sempre aparecendo pra salvar o dia. Primeiro no bar, pra te levar embora... Depois na festa, quando você não tinha mais ninguém pra lhe acompanhar...
  - Aonde quer chegar com isso? – Já estava na metade da minha refeição e começava a me sentir satisfeita.
  - Nenhum lugar. – Deu de ombros, não convencendo nem mesmo a formiguinha que passeava no chão. – Só acho que ele é bem... Conveniente.
  - E você é bem ciumento. – A ruiva esticou o braço para roubar uma das batatas fritas do menino, mas recebeu um tapa na mão. – Hey! É só uma.
  - Pode pegar das minhas, . – Ofereci.
  - Não quero as suas. – Negou, ocupando-se em beber o suco.
  - Por que não? – Eu ainda batatas que seriam o suficiente para nós duas. – Elas têm o mesmo gosto que as dele, sabia?
  - Quer saber? Eu é que devia ter comido as minhas mais devagar. – Rejeitou mais uma vez. – Obrigada, .
   Já achei estranho demais a menina ter se negado a pegar da minha comida, sendo que aquilo era um ato normal pra ela, que costumava sempre achar as minhas refeições mais gostosas que as dela, mesmo que fossem iguais. Vai entender? Dei de ombros e parti uma ou outra ao meio, levando preguiçosamente até a boca e demorando mais que o necessário para mastigá-la. Zayn e se entreolharam e em seguida focaram em mim. Era como se o restaurante inteiro soubesse de algo e eu não, o que incomodou mais do que pode imaginar.
  - Ok, gente, o que está acontecendo? – Pousei os talheres na lateral do prato.
  - Como assim, ? Nada está acontecendo. – era péssima atriz. Irônico.
  - Não querem me contar? Tudo bem. – Dei de ombros, ficando emburrada. Não como uma criança, mas fechei a cara.
  - Estamos preocupados, Anjo. – Zayn quebrou o silêncio após alguns poucos minutos.
  - Preocupados com o que?
  - Temos reparado que você não tem o mesmo apetite de antes. – ponderou delicadamente. – Às vezes você nem come...
  - Não é como se eu estivesse fazendo greve de fome. – Expliquei um tanto incomodada com o assunto.
  - Não, claro que não! – Zayn a corrigiu. – Só não queremos que você tenha problemas por causa disso, entende?
  - Eu não tenho problemas! – Posso ter me alterado um pouco demais, afinal, eles só mostravam preocupação porque gostavam de mim. – Desculpa. Prestarei mais atenção nisso, ok?
   Afirmaram que sim com a cabeça e cada um voltou a se concentrar em seus próprios pratos. O de Zayn foi o primeiro a ficar vazio, ao contrário do meu; que perdeu a corrida em último lugar. Cheguei ao ponto de querer não comer mais e falar que estava cheia, mas isso só daria mais motivos para eles acharem que eu tinha algum problema ou coisa parecida, pensamento que não podia ser mais equivocado. Sendo assim, acabei comendo até o último pedacinho de frango e batata frita; um sacrifício nem tão grande assim. Permanecemos quietos, apenas aproveitando a companhia um do outro e o prazer de estar em um lugar público com Zayn sem ter que me preocupar em estar sendo fotografada ou seguida por paparazzis. Assim que minhas orbes pararam na ruiva, notei que havia algo errado.
  - Quem é aquela? – Soou aborrecida, sua atenção presa em algum lugar atrás de mim.
  - Aquela é... – Olhei para trás, vendo uma cena que pegara todos nós de surpresa.
  - Amy. – Zayn completou meu pensamento.
  - Who the fuck is Amy? rosnou, ainda sem tirar os olhos de Niall e uma garota morena que acabavam de entrar no restaurante. – Eu tenho que sair daqui.
  - Eu vou com você. – Olhei para Zayn enquanto a menina levantava da cadeira. – Te esperamos no carro.
  - Não vou demorar... – Ele ainda tinha que pagar a conta, por isso não nos seguiu.
  - , espera! – A chamei baixinho, não querendo chamar muita atenção para nós.
   Minha intenção foi boa, mas não serviu pra muita coisa. estava tão desesperada em deixar o Nando’s que saiu cortando caminho entre as mesas da lateral, acabando por não ver um garçom desavisado que acabava de tirar os pratos vazios de uma mesa. Pratos estes que logo estavam espatifados pelo chão. A menina bufou um “me desculpe” e correu o resto do caminho. Olhei na direção de Niall a tempo de captar a sua expressão surpresa e confusa ao mesmo tempo. Sem perder mais tempo, ajudei o garçom a se levantar e pedi mil desculpas para só então ir em busca da fugitiva. Encontrei-a no estacionamento, encostada no Volvo prateado, roendo as unhas inquieta.
  - O que você sabe daquela garota? – Interrogou, seu sotaque ficando mais forte agora que estava alterada.
  - Não sei muita coisa. Nunca a conheci! – Foi como se estivesse me defendendo. – Só sei que se chama Amy e é uma velha amiga de Niall. Eles saíram juntos ontem a noite...
  - Ah, claro! Saíram juntos, dormiram juntos e agora vão almoçar juntos! – Começou a andar de um lado para o outro, obviamente magoada. – Como ele pode trazê-la aqui? Justamente aqui? Eu apresentei esse restaurante a ele! O Nando’s era o nosso restaurante... Acho que não é mais.
  - Eu sinto muito, ... – A fiz parar de andar e a abracei.
  - Eu só quero ir pra casa.

+++

  O pedido de foi atendido, pois Zayn nos levou até a casa dela. Por mais que nós quiséssemos passar o resto do domingo juntos, minha amiga precisava mais de mim do que ele, por isso aproveitei que o senhor e a senhora estavam viajando e me convidei para dormir na casa dela. O trajeto do Nando’s até o apartamento foi super silencioso, pois nenhum de nós três sabia o que falar. Foi uma surpresa tão grande para quanto fora para mim e Zayn, já que – apesar de sabermos do encontro de Niall e Amy -, não tínhamos idéia de como tudo havia ocorrido e muito menos que os dois já estariam saindo novamente no dia seguinte. Pela reação da ruiva, devia estar esperando que Ni permanecesse solteiro para sempre, esperando que ela mudasse de idéia quanto ao término. Pra falar a verdade, eu também gostava mais daquela idéia, mas não seria justo ela seguir em frente com Ben e todos os outros que vieram antes dele e Niall permanecer sozinho.
   A dona do apartamento passou como um furacão pela entrada da casa, indo direto para o seu quarto e quase atropelando o pobre Félix, que miou alto ao ter seu rabo felpudo esmagado. A segui, sem me importar em fechar a porta. Como estávamos sozinhas naquele lugar, ninguém poderia nos escutar. Observei a menina largar suas coisas em qualquer lugar e se enterrar na montanha de travesseiros que cobria parte de sua cama. Me juntei a ela após tirar os tênis, sentando ao seu lado e acariciando seus cabelos de fogo. Saber o que falar para consolá-la era complicado justamente por não fazer idéia do que exatamente acontecera entre ela e Ni, então foi aí que eu decidi começar.
  - , você confia em mim? – Cruzei as pernas, olhando-a tirar uma almofada do rosto.
  - É claro que eu confio! Que pergunta é essa agora? – Também se sentou, abraçando a mesma almofada de antes. – Você é a minha melhor amiga...
  - Então porque não me conta o que houve entre vocês dois? – Não precisei especificar, pois ela saberia do que eu falava. – Falo sério, estou cansada de não poder ajudar por não saber o que aconteceu. Se eu sou mesmo a sua melhor amiga, tenho o direito de saber.
  - Chantagem nunca foi o seu forte, . – Sorriu de canto, balançando a cabeça. – Mas você está certa. Tem o direito de saber. É só que eu fico envergonhada.
  - Sabe que não precisa disso. Sou eu.
  - Eu sei, eu sei... – Respirou fundo, encarando os próprios dedos como se tentasse decidir um novo nome para a cor de seu esmalte. – Niall... Niall me traiu.
  - Como é?! – De todas as coisas que passaram pela minha mente, aquela seria a última. – Ele te contou?!
  - Não precisou contar, porque eu descobri! – Levantou o rosto, sua expressão irritada voltando a aparecer. - Nunca fui de xeretar nas coisas dele, você sabe que não sou assim! Mas no dia que terminamos, eu encontrei um guardanapo no bolso da calça dele... Tinha um recado de uma garota.
  - Mas como sabe que ele a traiu só por causa disso? Todos os meninos vivem recebendo coisas assim de fãs, mas isso não significa que ele fez algo com ela... O que ele falou sobre isso?
  - Não falou. Ele não sabe que eu descobri. – Bem, isso explicava o fato de Ni não saber por que o deixara, mas ainda era estranho. – E eu cogitei a possibilidade de ter sido uma fã, mas o recado era: “Gostei muito dessa noite, Ni. Devemos repetir a dose um dia desses. xx” E “PS: A sua marca de nascença é muito fofa.”
  - Ainda não vejo o que isso tem de mais... – Ok, eu não gostaria de encontrar algo assim no bolso de Zayn, mas ainda não provava nada.
  - A marca de nascença dele fica em um lugar não tão fácil de se ver, se é que me entende. – Oh. – Embaixo da cueca. E as fãs podem ser loucas, mas ele nunca mostrou essas coisas por aí.
  - Bem, isso muda as coisas. – Talvez fosse verdade... – Tinha mais alguma coisa? Um número de telefone?
  - Só o nome. – Bufou e fez uma careta. – Georgia Rose.
  - O que?! – Arregalei os olhos. Só podia ter escutado errado. – Ge-or-gia Ro-se?
  - Quer que eu escreva pra você? – Rolou os olhos. – Não existe um nome mais biscate que esse.
  - , , concentra aqui, por favor. – Estalei os dedos para chamar a sua atenção e a fazer parar. Segurei a barra da minha roupa e a levantei até a minha tatuagem de asas estar a mostra. – A letra escrita no guardanapo se parecia com essa?
  - SIM! – Respondeu como se acabasse de marcar bingo e levou alguns segundos para ficar confusa de vez. – Espera... Hã?
  - Essa é a letra do Zayn. – Expliquei, mas só piorei tudo.
  - Então esse filho da puta sabia de tudo e ainda escreveu o recadinho pra essa Georgia Rose?!
  - Não. Zayn é Georgia Rose. – Agora tudo fazia sentido e eu não sabia se ficava aliviada ou se batia em por ter feito aquela confusão toda. – , Niall nunca te traiu! Georgia Rose é uma personagem que os dois criaram quando estavam entediados, ou algo assim... Ela não é real! É uma brincadeira!
  - Impossível, . – Suas palavras descordavam, mas a expressão em seu rosto começava a enxergar a verdade. – Os dois devem ter... Devem ter inventado isso pra você...
  - Eu o vi vestido de Georgia. Pode perguntar à Rachel também, ela até deu uma peruca de presente pra Zayn. – Levei uma mão à testa, sem saber o que fazer. – ...
  - Então nós terminamos por nada? E ele nem sabia o porquê... – A ruiva já era clara, mas agora parecia que todo o sangue deixara seu corpo. – , o que foi que eu fiz?
  - Eu sinto muito... – Era só o que eu podia falar. “Poderia ter me contado antes!”, mas não era hora pra isso.
  - E agora é tarde demais! – Levantou da cama, passando as mãos pelos cabelos. Pela primeira vez vi a minha amiga naquele estado, perdida. – Ele está com aquela Amy... E a culpa é toda minha... Se eu não tivesse sido tão idiota... Se...
  - Não adianta pensar nisso agora... Já foi. – Mordi o lábio com medo de falar besteira. Levantei e segurei uma de suas mãos. – Vamos dar um jeito nisso, tá bem?
  - Como, ? – Seus olhos claros estavam marejados. Vê-la assim me doía muito. – Ele está com outra. E eu estou com o Ben...
  - Esquece esse cara, ! Não é ele quem você ama.
  - Eu não posso pensar nisso agora! – Cobriu o rosto com as mãos. – Não sei o que fazer, não sei o que pensar!
  - Queridas, chegueeeeei. – Após o som da porta do apartamento sendo aberta, uma voz feminina nos saudou.
  - O que é isso? – interrogou.
  - Exatamente o que você precisa. – Sorri travessa.
   Mesmo antes de saber que teria essa super revelação de , entendia que ela precisava se distrair, pensar em outras coisas e, principalmente, de companhia feminina. Por essa razão, mandei uma mensagem para Olivia quando ainda estávamos no carro, pedindo para que ela viesse me ajudar nessa pequena “intervenção”. Ela aceitara o meu convite e por isso logo chegou ao apartamento e foi entrando sem nem pedir licença. sorriu em agradecimento, sabendo das minhas intenções, e passou o braço pelo meu. Fomos até a sala, onde Liv nos esperava com o seu bom humor de sempre. A menina segurava algumas sacolas com certa dificuldade, então a ajudei com essas coisas para que as outras duas pudessem se abraçar.
  - Como você está, honeybuns? – Liv apertou a mais baixinha em seus braços.
  - Eu vou ficar bem. – Suspirou, se escondendo no abraço. – Tenho as minhas melhores amigas aqui, então tenho tudo que preciso.
  - Não me faça chorar! – Choraminguei, apoiando as sacolas que Liv trouxera em cima da mesa de vidro. – Uh, pelo visto não são só as suas melhores amigas que você tem...
  - Por que? O que tem aí dentro? – As duas se separaram e logo se juntou a mim para averiguar o que quer que estivesse ali.
  - Eu trouxe o que todas as garotas precisam para uma noite do pijama perfeita. – Olivia foi a última a chegar na mesa e começou a tirar as coisas. – Girly movies...
  - Meninas Malvadas e Diário de uma Paixão? – Segurei os DVDs. É, seria uma noite engraçada e cheia de lágrimas.
  - Sorvete! – segurou os três potes que Liv lhe entregou. – Isso são picles?
  - Pra colocar nos olhos! – Olivia explicou. – Junto os milhares de cremes que você tem. Ah, ... Passei na sua casa e trouxe o que você pediu.
  - Obrigada! – Recebi uma bolsinha que devia conter um pijama e escova de dentes. – Vamos começar essa festa!

+++

  Meninas Malvadas estava na TV e a sala de foi transformada em uma sala de cinema, onde ao invés de poltronas, colchões cobriam o chão. Substituindo a pipoca, uma caixa de pizza vazia estava largada no canto e cada uma tinha um pote de sorvete particular. Eu ganhara o de brownies e creme, o de banana split e, por último, Liv ficou com o de trufa e frutas vermelhas. Achei bom poder relaxar com as minhas amigas e poder comer sem me preocupar. No dia seguinte a minha consciência iria pesar, mas aquela intervenção iria funcionar pra mim também. Olivia estava na ponta direita, com rodelas de picles nos olhos e mascara de abacate no rosto e pescoço. , entre nós, pintava as minhas unhas dos pés de azul. Eu? Apenas aproveitava o meu sorvete e deixava Félix dormir em meu colo, vestida com o pijama que Liv trouxera da minha casa.
  - , dá pra parar de rir? – Abri brigou ao borrar uma unha. – Você está tornando o meu trabalho muito difícil aqui, sabia?
  - Desculpa, mas não consegui segurar! – Ri mais uma vez, apontando para a televisão com a colher. – Você viu o susto que eles levaram quando a Cady entrou?! Foi na mesma hora do filme que eles estavam assistindo!
  - Eu não vi isso! – Liv resmungou, levantando uma das rodelas de seus olhos. – Ugh, estou perdendo tudo. De quem foi essa idéia de colocar picles nos olhos?
  - Sua! – A respondemos ao mesmo tempo.
  - Bem, eu desisto. – A mais loira de nós se sentou no colchão e jogou uma das rodelas na boca.
  - Ew! – Fiz careta, olhando-a comer aquilo.
  - Que foi? É gostoso! – Me ofereceu a outra, mas neguei com a cabeça.
  - Estou bem com meu sorvete de muitas calorias, obrigada. – Falar aquilo doeu um pouco, mas enfiei os sentimentos de culpa em uma gaveta no fundo da minha cabeça.
  - Se alguém está marcando a pontuação, eu também desisto. – fechou a tampa do esmalte após ter pintado apenas o meu pé direito. – Quem nós seriamos das meninas malvadas?
  - Eu sou a Regina George! – Levantei a mão, reservando o papel de malvada mor. – Acho que você seria a Gretchen, .
  - É, ela tem orelhas legais... – Não sei de onde tirou isso, mas voltou para o meu lado, recuperando seu sorvete que estivera largado enquanto ela trabalhava no meu pé.
  - Então isso faz de mim a Karen! – Liv sorriu. – Temos algo em comum...
  - O cabelo loiro? – Arrisquei.
  - Nós duas conseguimos falar quando está chovendo. – Sua seriedade ao falar aquilo me fez rir mais uma vez, dessa vez acordando Félix, que reclamou com um miado.
  - Precisamos arrumar uma Cady. – A ruiva ponderou. – O que acham da Eleanor?
  - Se isso quer dizer que vocês querem transformá-la em uma vadia, então não! – A defendi. – El é muito boa pra isso.
  - Até demais... – rolou os olhos com uma risadinha.
  - O que você quer dizer com isso? – Arqueei a sobrancelha.
  - Nada, ué... É só que... Você não acha que ela é meio sem graça?
  - Não! – Parando pra pensar, até que podia ser. – Talvez... Quero dizer, ela é na dela, só isso. Acho que é só porque não a conhecemos direito.
  - Vi umas fotos dela com o Louis hoje de manhã. – Liv não parecia ter uma opinião no assunto de ela ser sem graça ou não, mas contribuiu com aquelas informações.
  - Eles saíram juntos ontem, então acho que a Modest! os encheu de paparazzis. – Dei de ombros, sem dar muita importância. – Acho que foram em um aniversário de uma amiga dela, ou coisa parecida.
  - Uhh, todos tiveram encontros ontem. – A ruiva comentou com tristeza, lembrando de Niall e Amy. – Mas sabemos que só um se deu bem.
  - Na verdade, não sabemos disso. Quem garante que Niall e Amy dormiram juntos? – Arrisquei melhorar os ânimos. – Ele não é o tipo de cara que dorme com a garota no primeiro encontro. E se isso aconteceu, significa que era só uma coisa de momento, então os dois não vão ter nada sério.
  - Você vai falar com ele? – Olivia estava por dentro de tudo que acontecera e pensava assim como eu.
  - E dizer o que? “Hey, Ni, eu terminei com você do nada e nem te dei chances de explicar, mas foi tudo um mal entendido, então estamos bem?” – Zombou, enchendo a boca de sorvete.
  - Você podia começar pedindo desculpas. – Acariciei o pescoço de Félix, olhando para a dona dele.
  - Você podia começar terminando tudo com Ben. – A loira tinha razão, mas a expressão que ganhou nos deixou em duvida. – Você vai terminar com ele, né?
  - Eu ainda estou pensando sobre isso... – Aquilo era quase um ‘não’ bem grande. – E se Niall estiver mesmo com essa garota? Ele não vai largá-la por mim, não depois de tanto tempo que ele vem atrás de mim e eu nem dou ouvidos.
  - Você também não sabe disso. – Terminei meu sorvete e deixei o pote de lado. – O que aconteceu não foi certo, ok, mas vocês dois se amam.
  - ... Você pode falar com ele? – Aquela pergunta me surpreendeu.
  - Eu vou amar ajudar, mas não posso fazer isso se você continuar com Ben. – Simplesmente não seria certo. – Sei que não gosta de ficar sozinha e a possibilidade de Niall não querer... É um risco a ser corrido.
  - Vamos ver o filme. – não gostava de estar errada, por isso preferiu mudar de assunto e se concentrar na TV como se a sua vida dependesse disso.

    

Chapter XXIV

Era terça-feira de manhã e eu acabava de entrar na Models One, pronta para a minha reunião semanal com a equipe da Mulberry. Dessa vez, porém, estava mais nervosa do que na última vez que aparecia por ali, sabendo que em poucos minutos receberia o feedback da minha aparição na festa de aniversário da revista Glamour. Acenei para a secretária na entrada e empurrei as portas brancas e pesadas que me deixaram entrar no grande escritório da empresa de modelos e – provisoriamente – da marca para qual eu trabalhava. Como de costume, o som da madeira sendo arrastada atraiu alguns olhares, porém, eles continuaram em mim. Acenei para todos que acenaram primeiro e recebi uma curta salva de palmas daqueles que já me conheciam e, pelo visto, sabiam do que eu tinha feito.
  - , você estava incrível! – Emma Hill, a designer que criou o vestido que eu usara e destruíra no sábado foi a primeira a se aproximar. – Carine vai falar com você, mas queria ser a primeira a lhe dar os parabéns.
  - Obrigada... – Sorri verdadeiramente. É, pelo visto as criticas foram tão boas quanto falara. – Eu estava muito nervosa, mas fico feliz que tenha terminado tudo bem!
  - Terminou mais do que bem, acredite! – Me acompanhou até a porta da nossa sala de reuniões, mas não entrou. – Tenho que ir agora, pois ainda não terminei a coleção Outono – Inverno e o lançamento está quase aí! Até logo, .
  - Tchau, Emma! – Acenei para a loira enquanto ela se afastava. Dei leves batidas na porta do salão onde deveria entrar, temendo atrapalhar alguma coisa.
  - Pode entrar. – A voz da minha chefe saudou e a obedeci, abrindo a porta devagar.
  - Bom dia... Estou atrasada? – A sala estava vazia, com a exceção de Carine e uma morena que não lembrava conhecer.
  - Bom dia, minha preferida! – Uau, alguém estava de bom humor. Car se levantou e me abraçou com força. – Temos tanto a conversar! E não está atrasada coisa nenhuma, não se preocupe. Nossa reunião de hoje vai ser só entre nós três.
  - Uh, tudo bem! – Ri daquela animação toda e acenei para a estranha após ter sido abraçada. – Hi! Meu nome é .
  - Alexia Campbell. Mas todo mundo me chama de Lexy. – Sorriu de volta, bem simpática. – É um prazer, . Já ouvi bastante sobre você.
  - Só coisas boas, eu espero. – Tomei meu lugar na poltrona ao lado da de Carine e de frente para Lexy.
  - Já que estamos todas aqui, vamos começar! – Carine tornou-se mais centrada e pegou uma pasta fina e preta antes de voltar a se sentar. – Primeiramente, , gostaria de lhe parabenizar pelo seu desempenho este sábado. Admito que estava com um pouco de pé atrás quanto à sua idéia, mas esse é um erro que não vou mais cometer. Porque, bem, foi realmente uma ótima idéia...
  - Então deu certo? – Cruzei os dedos embaixo da mesa, torcendo para escutar um sim.
  - Veja por você mesma. – Tirou de dentro do envelope preto uma revista virada de cabeça para baixo e a empurrou para mim.
   Por conta do nervosismo, demorei um pouco para desvirar a revista, mas prendi a respiração assim que o fiz. Aquela era uma edição especial da Glamour. Não a edição mensal que iria para as bancas dali a algumas semanas, e sim uma “edição de aniversário”, que mostraria os melhores momentos da festa. O que eu não esperava era aparecer na capa dessa revista! Não ocupava a capa inteira, é claro, mas no canto esquerdo, em um quadrado que chamava a atenção, lá estava eu; posando no tapete vermelho com os dizeres: “Destaques quentes, pg 26”. Abri nessa tal página 26, começando a sorrir. Era como se tivessem feito uma colagem de várias fotos minhas durante o passeio pelo tapete vermelho, desde a minha chegada até a hora que fui embora e rasguei o vestido. Josh também apareceu em uma ou outra e sei que ele ficaria tão feliz quanto eu.
   “Nada dura para sempre, mas as vezes podemos controlar.” Era o titulo da matéria. Um texto no centro da página falava sobre a marca Mulberry, quem era sua dona, o momento em que surgiu e etc. Também contava um pouco sobre mim, mas nada substancial demais. O meu objetivo não era ficar conhecida, e sim chamar atenção para o lugar onde trabalhava, então acho que deu certo. Continuei lendo e encontrei comentários de convidados que estiveram na festa ou apenas ícones que ficaram sabendo do acontecido:

  
“Dizem que algo tão pequeno quanto o bater das asas de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo. Ela mostrou coragem e abraçou o caos ao fazer isso. Nos pegou de surpresa e deixou a sua marca. É disso que a moda se alimenta, não é?” – J. W. Anderson.
  “É nela [ Tomlinson] que vocês devem prestar atenção. Gosto de garotas que sejam animadas, mas ao mesmo tempo educadas e bem criadas, então acho que é a It Girl moderna. Ela é diferente.” – K. Lagerfeld.
  “Eu acho que pessoas são mais importantes que roupas. As roupas são apenas envelopes bonitos, mas a carta dentro do envelope é mais importante.” – C. Roitfeld.

  - Isso é incrível... – Pensei alto, deixando a revista de lado e recebendo o resto das coisas que Carine tirara do envelope. – O que é isso?
  - Cópias de matérias que saíram em sites. – Car explicou. – Pode ler em casa, com mais calma. O que importa é que conseguimos o que queríamos!
  - Isso é bom para a Mulberry, certo? Quero dizer, consegui passa um pouco da mensagem e-
  - , é perfeito! – Interrompeu-me. – Pode relaxar, você não fez papel de boba. Já recebemos várias ligações de pessoas querendo saber mais sobre a marca e, principalmente, sobre você.
  - Sobre mim? – Eu não era modelo, então cheguei a pensar que meu trabalho ali estava feito. Pelo visto não.
  - Exatamente. Você foi apresentada ao mundo, como queríamos, mas algo que ninguém previu era que o mundo iria querer se apresentar de volta. – Aquilo foi quase profundo e me fez prestar mais atenção. – Por isso é que Alexia está aqui hoje. Temos uma proposta pra você.
  - Carine acha que a hora de você ter uma publicista. – Lexy entrou na conversa, curvando-se sobre a mesa. – Alguém que possa cuidar da sua agenda, da sua imagem... Que vá atrás de meios para que você seja vista e apareça cada vez mais. Como seu objetivo não é assinar um contrato com uma agência de modelo ou coisa desse tipo, não precisa de uma agente ou empresária...
  - Mas uma publicitária é algo indispensável, . Você pode estar perdendo oportunidades e dinheiro por não ter ninguém focado inteiramente em você. – A loira explicou pacientemente, pois sabia que aquela não era a minha praia, portando eu não entendia muito bem desses detalhes burocráticos. – Estou ciente dos seus medos, pelo que acontece com a banda dos seus amigos e os empresários, não esqueci das nossas conversas... Mas Alexia não vai ter esse tipo de poder sobre você.
  - Não quero controlá-la, , apenas cuidar para que tudo aconteça da melhor forma, tanto pra você quanto para a Mulberry. – As duas mal me deixavam falar, querendo explicar tudo antes que eu falasse não. – O que você acha?
  - Acho que não é tão má idéia assim... – Dei de ombros. Não pensara muito bem sobre isso, mas confiava em Carine. Ela não me meteria em uma roubada. – Talvez assim eu pudesse ficar mais tranqüila quanto às minhas prioridades... Quero dizer, semana que vem as minhas aulas vão começar e eu terei que me focar na dança. Então se alguém puder cuidar dessa outra parte da minha vida, melhor.
  - Bem, isso foi mais fácil do que eu pensava! – Carine riu. – Lexy e eu somos amigas há anos, então sei que estará em boas mãos.
  - Tenho certeza que sim. – Afirmei, sentindo-me bem importante.
  - Por que não conversamos melhor durante o almoço? – Lexy olhou em seu relógio, juntando alguns papeis que tinha em sua frente. – Conheço um restaurante japonês aqui perto que é uma delicia.
  - Eu adoraria! – Aceitei o convite, olhando para Carine em seguida. – Vem conosco?
  - Infelizmente vocês terão que ir sem mim. Ainda tenho que supervisar a nova coleção, então não sairei daqui tão cedo. – Suspirou. – Pode levar a revista e as matérias, . Tenho cópias no meu escritório.
  - Obrigada, Car. – Reuni meus papeis dentro da pasta preta. – Quer que eu lhe traga algo?
  - Não se preocupe comigo, pedirei à Rebecca que busque o meu almoço!

+++

  Minhas férias não eram as únicas a estar acabando, pois os cinco meninos que ocupavam mais da metade do meu coração também estavam voltando ao batente. Ou a pegar no batente... De um jeito ou de outro, eles estavam participando de um Photoshoot para a revista GQ e era pra lá que eu estava indo. Tudo bem que Zayn e eu não podíamos nos comportar como o casal que éramos, mas não haveria mal algum em que ele e os outros quatro recebessem uma visita minha, não é? Assim que desci do taxi preto e paguei pela minha viagem, enviei uma mensagem para Rachel, informando que estava na porta da casa onde supostamente estava tudo acontecendo.
   “Casa” é modo de falar, pois mais parecia uma mansão. Aliás, eu teria agradecidamente pego um ônibus ou metrô, mas aquele lugar era tão afastado que nenhuma linha chegava até ali. E meus sapatos não eram feitos para uma caminhada de meia hora no mínimo. Não mesmo. Minha madrasta demorou pouco menos de dois minutos para sair pela porta e acenar para que eu fosse ao seu encontro. Demorei ainda menos para chegar até lá e cumprimentá-la com um beijo na bochecha.
  - Você está tão linda, ! – A loira disse ao brincar com a ponta da minha trança desfiada. – Como foi a reunião com Carine?
  - Obrigada! – Fiz uma reverência, acompanhando-a para dentro da mansão. – A reunião foi muito boa, Rach... Adivinha só!
  - O que?! – Notou a minha animação e começou a ser contagiada.
  - Agora eu tenho uma publicista! – Comemorei assim que viramos em um corredor. – Acabamos de almoçar juntas e o seu nome é Lexy... Ela é bem legal.
  - Meus parabéns! – Abraçou-me de lado, soando bem orgulhosa de sua enteada. – Está virando profissional, huh?
  - Algo assim. – Brinquei. Não me via como profissional, mas vai saber, né? – Como os meninos estão?
  - Você vai ver. – O olhar que recebi foi um tanto estranho, o que me deixou confusa. – Eles estão fotografando aqui, vem...
   A segui por uma nova porta, entrando dessa vez em um quarto extenso e cheio de coisas. No centro e fundo, os cinco estavam de frente para um fotógrafo que tentava capturar suas imagens de baixo pra cima, por isso deitara no chão. Cada um estava mais bonito que o outro, porém, todos vestiam preto. Mas não um pretinho básico com peças charmosas e estilizadas... Um preto sóbrio, o que sugava toda a luz natural que eles emanavam naturalmente. Olhei para Rachel, entendendo o que ela quis dizer anteriormente. Perto de algumas araras de roupas e o local de trabalho da mais velha – a área de embelezamento, maquiagem e cabelo – um pequeno sofá de três lugares nos convidava.
   Enquanto passava pela parte de trás do cômodo, voltei a olhar para os meninos. Capturei o momento em que Harry cochichou algo para Zayn e esse ultimo olhou na minha direção, abrindo um sorriso enorme. Mexi os lábios em um “oi” discreto e sorri de volta, contando com toda a minha força de vontade interior para me segurar e não correr até ele. Os outros meninos não foram tão delicados quanto nós dois, pois começaram com a bagunça que sempre faziam ao estar juntos.
  - Wey hey, olha quem chegou! – Niall acenou.
  - ! – Louis gritou como se comemorasse um gol.
  - -bear! – Haz mandou um beijo.
  - Hey, guys! – Apenas acenei e fui me sentar, nem um pouco afim de ser expulsa dali por acabar com a ordem.
  - Meninos, por favor, já estamos acabando... – O fotografo pediu e pelo seu tom de voz cansado não era a primeira vez que pedia a colaboração deles.
   Fazendo caretas ou dando risadas e conversando entre si, os cinco pareceram retomar a concentração e voltaram a sua pose inicial. Eles estavam bem próximos uns dos outros, sendo que Niall e Harry dividiam um banco de madeira, Liam agachava no chão e os outros dois de pé, atrás de tudo, mas inclinados na direção dos outros. A foto poderia ter ficado melhor se eles não estivessem tão sérios. Quando falo “sérios” quero dizer “sérios como se estivessem em um funeral”. Eu já visitara photoshoots da banda antes, mas nada como aquele; e isso não era algo bom. Me acomodei junto a Rachel no sofá, cruzando as pernas e cochichando para ela:
  - Qual o tema desse ensaio? – Indaguei. – Parece que eles estão gritando por dentro...
  - Você devia ter visto as sessões individuais. – Cobriu os lábios ao falar, não querendo que ninguém nos ouvisse. – Eles pareciam estar sofrendo.
  - Sinto falta dos velhos tempos, quando eles podiam fazer o que quisessem. – Suspirei, recebendo olhares de Zayn. – Aliás, onde está Marco?
  - Ele não veio hoje. Está vendo aquele ali? – Apontou discretamente para um homem alto e magro no canto do quarto, de pé e observando o photoshoot com cuidado. – O nome dele é Pablo. Também é da Modest! e está substituindo Marco.
  - E ele é melhor ou pior? – Continuei olhando-o e tentando decifrar se era bom ou ruim.
  - Acho que, perto dele, você vai gostar do Marco...
  - Esse Pablo é Satan? – Fiz a outra rir e me segurei para não fazer o mesmo.
   Seguimos fazendo piadinhas sobre os funcionários da Modest!Management de quem não gostávamos – cof todos cof – até o fotografo gritasse “That’s a wrap!” e encerrasse o ensaio fotográfico. Todos bateram palmas e Harry agradeceu a toda a equipe que esteve envolvida. Pablo chamou Zayn em um canto antes que pudesse ir para qualquer outro lugar e o menino o atendeu. Tive um mau pressentimento, mas o rosto sorridente de Liam andando na minha direção me distraiu um pouco. Levantei para abraçá-lo, pois ele não teria essa atitude primeiro. Desde que eu descobri do nosso “beijo na piscina”, Li se mostrou bem preocupado com a reação que eu teria se ele se aproximasse demais. Não que eu estivesse tratando-o de forma diferente, claro que não.
  - Gostou do que viu? – Li perguntou após nosso enlace.
  - Hm... Claro... – Tentei soar convincente, mas não colou. – Vocês estavam lindos!
  - Também achou que parecíamos estar sofrendo? – Sussurrou e afirmei desesperadamente que sim. – Foi estranho.
  - Todos aqui, por favor... – Uma voz feminina chamou e imaginei que falasse apenas com os meninos.
  - Vem. – Liam não me deixou voltar ao sofá, então tive que segui-lo.
  - Meu nome é Marisa e sou eu quem vai fazer a entrevista com vocês. – A mulher que nos chamou se apresentou. Ficamos em um circulo e Zayn deu um jeito de ficar ao meu lado. – Pablo, como podemos fazer isso? Posso entrevistá-los individualmente.
  - Não temos muito tempo, então vamos dividir os cinco em dois grupos. Você tem quinze minutos com cada grupo. – Pablo não parecia estar ali para negociar. – Harry, Zayn e Louis, vocês vão primeiro.
  - E eu tiver seis minutos com cada um? – Marisa tentou.
  - Não. – É, talvez ele fosse pior que Marco...
  - Tudo bem, os três primeiro então. – Rolou os olhos quando o homem não estava olhando e apontou para Lou, Zayn e Haz. – Venham comigo.
  - Não tão rápido. – Pablo os fez parar e tirou do bolso da camisa um pedaço de papel. – Tem certos assuntos que eles não vão discutir. Então você não perguntar sobre o X Factor, ex relacionamentos, quem é o melhor amigo na banda, o que fariam se não estivessem na banda, Zayn não vai falar sobre a acusação de traição... E não pergunte sobre ela.
  - Eu? – Até então me sentira invisível, mas foi só Pablo apontar pra mim que todos me olharam. Zayn segurou a minha mão protetoramente, mas como estávamos bem próximos lado a lado, ninguém pareceu notar.
  - Você é a garota da festa! – Marisa me olhou com um sorriso. – Eu sabia que te conhecia de algum lugar!
  - Ela também é a minha irmã. – Lou explicou o que seria uma boa razão para não falarem de mim na entrevista.
   Após isso, os cinco se separaram nos dois grupos e Pablo pareceu relaxar. Rachel acenou para que eu acompanhasse o primeiro grupo em sua entrevista e chamou o empresário para distraí-lo enquanto eu seguia os meninos que se dirigiam para a saída do quarto. Sabia que com todas as celebridades era assim, que existiam assuntos que não podiam ser questionados, mas aqueles eram um tanto bobos. Quero dizer, o que tem de mais em falar sobre o X Factor? Foi por causa desse programa que a banda foi criada! Essa era uma das poucas razões que eu não conseguia entender nada que a Modest! inventava. Quando percebeu que eu iria acompanhá-los, Zayn sorriu e voltou a segurar a minha mão. Ficamos mais para trás enquanto a entrevistadora guiava o caminho e só nos separamos quando chegamos ao destino.
   Ter que esconder os nossos toques era pior do que parecia. Sempre que ficamos perto um do outro, gostamos de nos tocar. Seja por meio de abraços, beijos ou o simples segurar de mãos, então aquela história toda de “finjam ser ex-namorados” não era a tarefa mais fácil do mundo. Agora sim eu sabia o que Louis e Harry tinham que agüentar a muito mais tempo. O novo cômodo onde entramos era parecido com o primeiro na questão de tamanho, mas a mobília era bem diferente. Dois sofás foram colocados lado a lado em forma de “L” e uma poltrona menor estava de frente para os mesmos. Meu irmão e Harry se sentaram no primeiro sofá, deixando que Zayn e eu nos acomodássemos no segundo. Marisa não pareceu se importar com a minha presença ali; pra falar a verdade, não aparentou nem notar.
  - Vamos começar! – Tirou de uma pasta um gravador de voz e o apoiou na mesinha de madeira entre a sua poltrona e os sofás. Também pegou um bloquinho de papel e uma caneta azul. – Vocês são pop stars, sempre no estúdio ou pulando de entrevista para entrevista... Esse trabalho fica mais fácil?
  - Eu não acho que fica fácil de jeito nenhum. O medo disso se transformou em adrenalina. Definitivamente nos primeiros shows, entrevistas e ensaios você fica assustado e é aí quando todos os erros acontecem. – Harry respondeu e a entrevistadora olhava dele para o papel em sua mão, rabiscando uma coisa ou outra. – Depois que você se acostuma, você passa a saber o que está fazendo e aí é capaz de aproveitar.
  - O que você tem a dizer a respeito dos rumores de você e Nick Grimshaw? – Marisa atirou do nada, indo para o lado pessoal em um estalar de dedos. Louis se mexeu desconfortável no sofá e Zayn me olhou preocupado.
  - Que rumores seriam esses? – Haz mal se mexeu.
  - De que vocês estão juntos...
  - Oh, mesmo? Eu nem sabia desse. – Riu descontraído, tentando não dar importância ao assunto. – Nós não estamos juntos, não. Somos apenas amigos.
  - Então você não é bissexual?
  - Ela tá falando sério? – Sussurrei para Zayn.
  - Bissexual? Eu? – Harry voltou a responder, levando algum tempo para pensar no que falar. – Eu acho que não. Eu tenho bastante certeza que não.
  - Você sabe com quantas pessoas você dormiu?
  - Eu sei o numero de pessoas com quem eu dormi, sim. – Já não parecia mais tão disposto a responder aquelas perguntas. Marisa estava sendo desrespeitosa.
  - Qual é esse numero? – Perguntou cheia de presunções.
  - Eu definitivamente não vou te contar! – Se ajeitou no sofá, aproximando-se de Louis, que mordia a língua pra não começar uma briga.
  - Fale “sim” ou “não”. Menos de 100?
  - Não! – Negou-se a responder.
  - Então mais de 100? – Tentou enganá-lo, o que me fez bufar.
  - Não. Com certeza é menos de 100. – Balançou a cabeça com cansaço.
  - Menos de 50?
  - Eu não vou fazer isso! Você está me encurralando!
  - Vamos lá, você é um Rock ! OK, menos de dez.
  - Sim. Duas pessoas. Eu só fiz sexo com duas pessoas. – Pressionou as têmporas.
  - Eu não acredito em você. – Como essa mulher tinha coragem de ser tão indelicada?
  - Bem, essa é a minha resposta. Entenda como quiser. – Haz deu de ombros e já não sorria mais como fizera no começo da entrevista.
  - Mudando de assunto... – Finalmente! – Como o One Direction vai ser lembrado?
  - Eu quero que construam monumentos em Bradford na nossa homenagem! – Zayn tomou a palavra, tentando descontrair o ambiente.
  - Como uma boy band que não dança! – Lou o acompanhou, deixando que Haz não falasse mais nada.
  - Zayn, você teve a criação muçulmana... O que seus familiares acham, em relação a isso e ao seu trabalho?
  - Eu não gosto de falar sobre a minha religião. – Todo o esforço que ele fizera para amenizar os humores foi por água abaixo depois de ouvir aquela pergunta. Passei o braço pelo seu, querendo mostrar que estava ao seu lado, justamente por saber que aquele assunto era delicado.
  - Por que não? – Marisa insistiu e a olhei irritada.
  - Eu só não gosto de falar sobre isso. – Zayn não deixaria ela fazer com ele o que fizera com Harry.
  - Justo. – Pareceu se conformar, mas eu sabia que não terminava por aí. – Para aqueles com namoradas... É difícil se manter monógamo quando milhares de garotas se jogam aos seus pés todos os dias?
  - Eu não acho que é. – Louis respondeu e Zayn entrelaçou os dedos aos meus. Já não nos importávamos em sermos notados fazendo isso. – O tipo de garota que dormiria com você em um piscar de olhos não é o tipo de garota que eu levaria pra casa de qualquer jeito.
  - Okay, nossos quinze minutos acabaram. – Sorriu como se estivesse orgulhosa de si mesma. – Podem chamar os outros, por favor?
  - Boa sorte pra eles. – Lou alfinetou.

+++

  Depois do que eu me recuso a chamar de "entrevista", Zayn e eu fomos com Niall até seu apartamento sob a promessa de que ele faria uma de suas refeições de dez minutos - a partir do livro de receitas que eu lhe dera no ultimo Natal. Os outros três foram convidados a se juntar a nós, mas aparentemente tinham coisas mais legais pra fazer. Se o plano era ir direto para a cozinha depois de chegarmos ao ap do irlandês, não iríamos comer nem tão cedo, já que ficamos pela sala, assistindo um canal onde só passavam videoclipes. Com toda a minha folga, tirei os sapatos que apertavam os meus pés e deitei no mesmo sofá em que Zayn estava sentado, usando sua perna de travesseiro. O dono da casa estava em uma cadeira, mexendo em seu computador, mas nos dava mais atenção que ao próprio eletrônico.
  - I need your love, I need your time. When everything's wrong. You make it right. - Cantei quando um novo clipe começou, ouvindo a risada de Zayn.
  - Ugh, Ellie Golding é linda! - Ni pareceu até frustrado ao dizer isso e girou com a cadeira pra ver a TV.
  - Eu a conheci, sabia? - Me gabei.
  - Serio, ?! Me apresenta?! - Pediu desesperado, seu sotaque ficando mais difícil de entender. - Por favor, eu faço o que você quiser!
  - Eu disse que a conheci, não que somos amigas! - Ri e me levantei. - Se você tivesse me acompanhado na festa de sábado, teria conhecido-a também...
  - Eu sabia que ia me arrepender disso. - Soltou o ar com força e me encarou de forma engraçada quando sentei em seu colo. - O que você está fazendo?
  - Me aproveitando de você. - Brinquei, fazendo a cadeira que suportava nós dois se aproximar do computador novamente.
  - Não podem nem esperar eu sair do cômodo? - Zayn cerrou os olhos, mas nem se mexeu.
  - Perdeu, mate. - O loiro me abraçou pela cintura e só rolei os olhos.
  - Presta atenção, Horan! - Bati em seu braço, querendo que deixassem de "coisas de menino" e se concentrasse no que tentava lhe mostrar na tela do computador. - Olhe a minha amiga Ellie!
  - Você disse que não eram amigas! - Choramingou, olhando o álbum de fotos do Twitter de Josh, onde as minhas fotos com as celebridades estavam. - Está até abraçadinha com ela!
  - A culpa ainda é sua. - Saí de suas pernas, mas ele continuou vendo aquelas fotos.
  - Você conheceu o Conor Maynard? - Ni estava quase chorando, passando as fotos.
  - Sim! E nós ainda conversamos por uma meia hora... - Voltei para o sofá com Zayn, dessa vez permanecendo sentada e com as pernas dobradas para cima. - Ele é bem legal.
  - Trocaram telefones? - Meu namorado perguntou com um toque de ciúmes em sua voz.
  - Josh e ele sim... - Passei o braço em volta de seus ombros. Beijei sua bochecha e vi que ele esperava algum tipo de declaração. - Eu não estava com o meu celular em mãos pra anotar o número dele.
  - Que pena, não é? - Negou meu abraço e me empurrou para o outro lado do sofá.
  - Outch, baby! - Gargalhei, me acomodando mais uma vez deitada no sofá.
  - Acho que não é com ele que você precisa se preocupar. - Niall se virou, saindo de frente da tela do computador e deixando que víssemos a nova foto.
   Zayn foi o primeiro a levantar do sofá, correndo até o amigo. Curiosa com o que poderia ser, o segui com calma. Niall levantou e imaginei que fosse finalmente ir até a cozinha, mas ele apenas ocupou nosso lugar no sofá. Enquanto isso, o moreno bufava ao ver as duas cartelas de fotografias que Josh scaneou e postou ali. As mesmas que tiramos na Photobooth. Sorri inconsciente por lembrar de todas as risadas que demos ali dentro, mas Zayn não gostou nada disso. Ao mesmo tempo, não reclamou, por saber que eu só fora com Josh porque ele não pode ir comigo. Ao menos a legenda só falava "Loucuras após a meia noite".
  - You're insecure, don't know what for... You're turning heads when you walk through the do-o-or. - Niall cantou de frente para a TV, onde o clipe de What Makes You Beautiful começava.
  - Don't need makeup to cover up. Being the way that you are is eno-o-ough.
  - Awwn, a minha musica! - Sentei no braço do sofá, assistindo Ni interpretar o próprio single.
  - Todas as nossas musicas são suas. - Zayn parou atras de mim, com os braços a minha volta.
  - Sou a garota mais sortuda do mundo! - Encostei-me em seu corpo, sabendo que ele não me deixaria cair. Zayn beijou meu rosto, tornando impossível não rir. - Quando vão gravar outro clipe?
  - Semana que vem! - Agora Niall dançava ao som de Plain White T's.
  - Como é? - Olhei para Zayn com espanto. - E vocês não me falam nada?
  - Devia ser uma surpresa. - Fuzilou o amigo com o olhar.
  - E qual é a música? - Deixei a curiosidade falar mais alto.
  - Kiss You. - O loiro pareceu cansar e sentou no chão. - Um single do novo CD. O único que já está pronto, pelo menos.
  - Você me falou sobre essa música! - Lembrava de Zayn comentar ainda quando estávamos em Los Angeles.
  - Quer aparecer no clipe? - Ofereceu, apoiando o queixo em meu ombro. - Você pode ser o meu par...
  - Obrigada, mas não preciso de mais motivos pra ser odiada. - Por mais que fosse tentador aceitar. Dei uma pequena volta, ajoelhando em uma almofada e passando os braços pelo se pescoço. - Além do mais... Teria que falar com a minha publicista primeiro.
  - Vai ficar se achando agora!
   Zayn riu daquele jeitinho lindo, onde seus olhos diminuiam e sua língua ficava entre os dentes. Além do som que saia de sua garganta que era simplesmente encantador. Se ele fosse reagir assim todas as vezes que me gabasse por ter uma publicista, isso viraria um hobby. Ousei ao apoiar os joelhos no braço do sofá, aumentando a minha altura em relação à dele. Nosso contato ficou maior e os lábios do outro foram para o meu pescoço, onde deixou alguns beijos e me fez rir baixo com o roçar de sua barba malfeita contra a minha pele. Niall teria brigado conosco por estarmos deixando-o de vela, mas a campainha da casa tocou, obrigando-o a ir atender. Como não estávamos esperando mais ninguém, devia ser importante.
   Continuei nos braços de Zayn, apenas me virando um pouco para ver quem resolvera visitar o irlandês àquela hora. Minha primeira opção foi Amy, que poderia estar com saudades do seu ficante, e torcia para que fosse qualquer um menos ela. Por consideração à Niall, eu teria que ser simpática com a menina, o que também seria uma traição em reação à . Para resumir, eu ficaria entre a cruz e a espada. Felizmente, não era ela que acabava de chegar ali.
  - Greg! Denise! – Niall abraçou o casal que tocara na porta. – O que vocês estão fazendo aqui?!
  - É assim que você cumprimenta seu irmão? – O mais alto bagunçou os cabelos do irmão. Então era daí que vinha a semelhança!
  - Viemos fazer uma visita surpresa! – A mulher que devia se chamar Denise sorriu, empurrando o carrinho que deixara no corredor para dentro do apartamento. – Theo sentiu falta do tio Ni.
  - Não sabíamos que teria visitas! – Greg acenou para Zayn e eu, que já estávamos de pé e comportados. – Boa noite, pessoal.
  - Vocês se lembram de Zayn. – Apontou para o amigo, que acenou de volta. – E essa é , a namorada dele.
  - É uma prazer conhecê-los! – Fui até o mais velho dos irmãos Horan e apertei sua mão; abraçando amigavelmente sua esposa em seguida. – Niall fala de vocês o tempo inteiro.
  - Também já ouvimos bastante sobre você. – A loira foi simpática e se virou para o carrinho onde um bebê pequenino dormia tranquilamente. – Esse aqui é o Theo.
  - Ele é tão fofo... – Fiz um biquinho enquanto falava, nem notando esse ato involuntário. Me abaixei na direção do pequeno, encantada com a sua fofura. – Quanto tempo ele tem?
  - Cinco semanas. – O pai respondeu com orgulho.
  - Ni tinha razão... Ele é o bebê mais fofo do mundo. – Sorri. Sim, eu estava babando pelo pequeno Theo.
  - Obrigado. – O próprio se gabou, como se o sobrinho fosse a sua cara. – Eu estava indo fazer algo pra comer... Vocês devem estar com fome.
  - Nós estávamos pensando em ir naquele restaurante que você adora... – Denise começou, me deixando com o bebê no carrinho. – Como é o nome mesmo? Fernandos?
  - Nando’s. – Zayn a corrigiu com uma risada.
  - Esse mesmo! – A mulher deixou as suas malas e do marido em um canto da sala.
  - Queria, Theo está dormindo... – Greg disse aquilo como se fosse um empecilho para saírem.
  - Por que vocês não vão jantar e Zayn e eu ficamos com ele? – Ofereci. Não esperava que aceitassem aquela proposta, mas valia a tentativa.
  - É uma boa idéia! – Claro que Ni não iria negar uma ida ao Nando’s! – A é muito boa com crianças, bro. Não tem problema algum, podem confiar.
  - Seria só por algumas horas... – Greg parecia concordar. – Tudo bem pra você, Zayn?
  - E não vou estar sozinho, então tudo bem! – Zayn ainda estava meio traumatizado por causa da ultima vez em que eu o deixara a sós com Lux.
  - Acho que não faria mal... – Denise pareceu ser convencida pela minha carinha de anjo. – Tudo bem, podemos ir!

+++

  Antes de saírem para jantar e enquanto Niall tomava banho, Denise me mostrou onde estavam as coisas de Theo e algumas rotinas que ele tinha ao acordar. Zayn tentou prestar atenção, mas fugiu assim que o assunto "trocar a fralda" apareceu. E isso porque ele estava "pronto para ter filhos"! Aham, tô vendo. Assim que o dono da casa saiu do banheiro, a mãe do bebê pôde arrumar uma espécie de berço na cama do cunhado para que Theo pudesse continuar dormindo com um pouco mais de conforto dessa vez.   Zayn e eu não o deixaríamos sozinho, por isso deitamos um de cada lado da cama, com ele entre nós. Não sei ao certo quem de nós dois estava mais encantado, mas o ranking era bem próximo. Theo se mexia muito pouco durante o sono, mas suas bochechas faziam movimentos como se estivesse chupando a própria língua; o que tornava o uso da chupeta desnecessário. Seu tamanho ia da minha mão fechada em pulso até o cotovelo, se muito! Sem falar nos dedinhos... Ou nos pés... Ou no narizinho...
  - Eu quero. - Fiz bico, sussurrando as palavras. Passava os dedos entre os poucos fios da cabeça do neném.
  - Não era você que dizia que não estava na hora e blabla? - Usou minhas palavras contra mim na maior cara dura. - Se mudou de idéia, podemos providenciar um agora. O quarto de hospedes está livre e acho que temos uns quinze minutos até que ele acorde...
  - Quinze minutos?! - Tentei rir baixo. - Uau, você é rápido.
  - Eu sou bom. - Piscou enquanto mordia o lábio, tornando muito difícil recusar aquela proposta maluca.
  - Ainda assim, babe. - Neguei com a cabeça.
  - Chata. - Mostrou a língua, emburrado. Ri mais uma vez. Porque eu queria um bebê quando já tinha Zayn?
  - Por falar nisso! - Me mexi na cama, ficando sentada.
  - Lá vem fofoca. - Balançou a cabeça como se me reprovasse. É, ele já conhecia a minha linguagem corporal o bastante pra saber como reagia a assuntos.
  - Idiota. - O insultei com carinho, rolando os olhos. - Falo sério! Conversou com Niall?
  - Uh, ... Nós passamos o dia juntos. É claro que eu conversei com ele. E com Louis, Harry, Liam... - Exagerou na lerdeza, me obrigando a levar a mão a testa. - Ahh, você quer dizer... Sobre a ?
  - Ainda bem que você é bonito, Malik.
   - Obrigado. - Aceitou aquilo como um elogio, mas o que mais eu podia esperar? - Anyway, não conversei com ele sobre a cabecinha de fogo, mas parece que as coisas com Amy estão indo bem.
  - Bem como? - Bem como amigos? Eu esperava que sim.
  - Ela vai ao FunkyBuddah com a gente. - Zayn já sabia de toda a história da separação dos nossos amigos e confirmou a sua autoria do bilhete que encontrara. - Já chamou ?
  - Não, mas eu ia chamar. - Fiz careta, sabendo que sobraria pra mim. - O que eu faço?
  - Você sabe que só uma das duas pode ir...
  - Muito obrigada pela ajuda, Zayn!
   Mas ele não tinha culpa de nada. Na verdade, nem eu mesma tinha culpa alguma nessa história, mas acha que entenderia isso? Ela iria achar que eu estava preferindo a nova cerejinha de Niall ao invés dela. E ao mesmo tempo que contar dos nossos planos para sexta iriam magoa-lá, seria ainda pior não contar nada. É, eu estava encurralada mais uma vez. Durante essa batalha interior para descobrir o que fazer em relação ao casal vinte, alguém que não tinha nada a ver com a história começava a despertar.   Theo começou mexendo os pézinhos protegidos por meias e em seguida abriu os olhos com dificuldade, quase como se tivesse passado os últimos cinco minutos tentando despertar. O mais engraçado é que ele não começou a chorar da mesma forma que outros bebes tão novos assim fariam. Theo apenas encarou Zayn como se perguntasse quem ele era.
  - Hey, pequenino! - O saudou, mexendo a ponta dos dedos próximo ao rosto do menor. Algo nesse ato o incomodou, pois começou a chorar; finalmente. - O que? O que eu fiz?
   - Acho que alguém não gosta de você, babe... - Não sei se ri mais do acontecido ou da reação assustada de Zayn. - Esse homem mau te assustou, Theo? Vem cá com a tia...
  - Isso não é justo! - Sentou na cama ao me observar pegar Theo no colo. - Foi a minha voz? A minha mão?
  - Vai ver ele só não foi com a sua cara. - Teria dado de ombros ao provocá-lo, mas estava ocupada com um neném chorão em meus braços. - Acho que ele está com fome...
  - Lux não tem medo de mim! Acha que é porque ele é menino? - Claro, Zayn, tudo que te deixar tranqüilo. Ele parecia não querer deixar aquele assunto acabar.
  - Sim! Ele se sente amedrontado pela sua beleza. - Levantei e passei a embalar Theo devagar de um lado para o outro, assim como costumava fazer com minha irmã. - Agora pode ir esquentar a mamadeira dele, por favor?
  - Claro, Anjo. - Mostrou serviço ao ir até a porta, mas parou antes de sair. - No microondas, certo?
  - Errado. - Mordi os lábios para não rir. - Eu te ajudo.
   Aquela seria uma noite longa...

    

Chapter XXV

Verão, ah o verão... Porque você tinha que ir embora tão rápido? Os raios de Sol, os dias mais longos... Eu sentiria falta dessa vibe. Não sei se acabava de descobrir uma paixão por essa estação ou se os últimos meses forão tão agitados e divertidos que queria que continuassem dessa mesma forma até o final do ano. Mesmo ainda querendo curtir o “calor” de Londres, sentia que o outono não ficaria para trás. Ainda assim, pretendia aproveitar aquela última sexta-feira de Summer Break. Na próxima segunda eu retornaria à Academy e nada melhor que voltar com tudo, certo? Por isso mesmo é que chamei a minha equipe embelezadora para me ajudar a retocar o bronzeado, mas apenas metade dela pode comparecer. Liv tinha que ir assistir a uma apresentação de violino de Scott, seu irmão mais novo, então apenas apareceu para salvar a minha pele, literalmente.
   Como lugar melhor para se bronzear do que uma piscina só mesmo uma praia, foi para a área de lazer do meu condomínio que fomos. Cogitei a possibilidade de utilizar a piscina do prédio de Zayn, mas não me sentiria tão a vontade assim; principalmente agora que meio mundo descobriu o seu endereço e podia nos espiar da janela. Por falar no dito cujo... postou em seu Twitter que passaria o dia na piscina ao meu lado, então ele descobriu nosso plano infalível e apareceu de surpresa. Claro que não admitiria que seu propósito era me ver – não que precisasse de um de qualquer forma -, então usou como desculpa. O resultado disso foi nós três torrado embaixo dos últimos raios de Sol que conseguiriam ultrapassar a neblina inglesa em muito tempo, com deitado na grama sem preocupação alguma.
   Zayn já tinha o tom de pele um pouco mais escuro que o meu devido às suas raízes, e isso era uma das coisas mais charmosas que eu via nele, mas ainda parecia querer ficar mais bronzeado, pois estava sem camisa, deitado em uma espreguiçadeira e com Ray Bans nos olhos. Um charme. usava um biquíni azul em minha homenagem e pendurava-se na escada da piscina, metade fora dela e metade dentro. Eu, por outro lado, estava perto da ducha, com alguns dos cremes que trouxera, também de biquíni. Peguei um pouco do esfoliante cor de rosa de sal do Himalaia e lavanda orgânica e espalhei na superfície da esponja natural. Sou diva, sei disso.
  - O que você está fazendo, ? – continuou onde estava, me olhando com curiosidade.
  - Esfoliando a pele, para que as células mortas vão embora e eu possa receber o novo bronzeado. – Expliquei enquanto passava a esponja pela pele, esfregando, mas não com muita força para não machucar ou arranhar.
  - Awn! É como se eu não precisasse te ensinar mais nada! – Sorriu orgulhosa como se fosse sua criação.
  - Obrigada, vermelhinha. – Assoprei um beijo em sua direção. – Quer também?
  - Achei que não fosse oferecer! – Como se precisasse, não é? A menina saiu da piscina para vir até onde eu estava.
  - Aqui. – Entreguei-lhe a esponja e o pote de esfoliante. – É só lavar e vai estar novinha em folha!
  - Valeu, bro. – Baixou a gangster e fez sinal de paz com os dedos. – Sabe que teremos que fazer isso de novo na próxima sexta, né?
  - Por que? – Resmunguei quase preguiçosa, testando a temperatura da água do chuveirão que acabava de abrir.
  - Porque você não é a única que quer voltar arrasando para as aulas! – Fez cara de metida. – E ainda tenho uma semana antes de você e O QUE É ISSO?
  - Geez, ! – Seu grito não chegou a me assustar, apenas me aquietou. – O que?!
  - Isso aqui! – Deixou as coisas que segurava na cadeira que eu usava como porta-produtos-de-beleza e segurou um pote roxo que eu tentara esconder. – Blonde Care? Resolveu abraçar o loiro?
  - Por que não? – Dei de ombros com um sorriso, deixando a água do chuveirão lavar o meu corpo. – Já estou loira mesmo, só não queria admitir. Rach recomendou esse creme à base de limão que deve dar mais vida e brilho ao loiro, então resolvi testar.
  - Contanto que você não fique igual à Brigitte, tudo bem. – Me entregou o pote fechado após cheirar. – As duas já estão amiguinhas demais para o meu gosto.   - Não estamos amiguinhas... – Fiz careta ao imaginar nós duas fazendo compras juntas ou coisa parecida. Passei um pouco do Blonde Care na palma da minha mão e comecei a espalhar pelo cabelo. – Apenas nos suportamos mais porque estamos na mesma sala. Eu não esqueci tudo que ela aprontou comigo.
  - Tem tido noticias de Nick e Holly? – Um assunto puxava o outro.
  - Faz um tempo que eles não me mandam cartões postais, mas sempre trocamos emails e tal. – Senti uma pequena pontada no coração, pois sentia falta do meu parceiro de dança e da melhor professora que já tivera. – Nick me deu vários conselhos nesse sentido de esconder um namoro.
  - Mas você sabe que não é a mesma coisa, né? – Foi para o meu lugar embaixo d’água. – Quero dizer, eles só precisavam esconder de algumas pessoas... Vocês tem que esconder do mundo.
  - E é por isso que eu não peço conselhos pra você. – Comentei.
   A deixei fazendo caretas, lavando o corpo e tirando o excesso de esfoliante que permanecera na sua pele. Juntei todas as minhas coisas e as levei de volta para a mesinha baixa entre a minha espreguiçadeira e a de Zayn, que permanecia na mesma posição que estivera desde a última vez que prestara atenção. , por outro lado, levantou e veio até onde eu me sentei. Ele estava tão grande que era quase difícil de acreditar que aquela bolinha de pelos que um dia tinha medo de descer as escadas agora era mais forte que eu! Além de bem mais obediente do que fora um dia. Puxei seu rosto com carinho para que ele se aproximasse e cocei atrás de sua orelha, fazendo-o mexer o rabo gigante.
  - Zayn, você está dormindo? – Perguntei ao cansar de esperar uma reação da sua parte. – Ok, acho que vou ter que espalhar o bronzeador sozinha...
  - I’m up, I’m up! – Como se tivesse escutado uma palavra mágica, Zayn despertou e se sentou na espreguiçadeira, vindo a bocejar alguns segundos depois. – O que ia dizendo?
  - Perguntei se você quer me ajudar a passar o bronzeador... – Soltei e peguei o outro pote, com uma coloração dourada dessa vez.
  - Você sabe que sim. – Tirou os óculos do rosto e veio para a minha cadeira, sentando atrás de mim. – Eu dormi por muito tempo?
  - Então você estava mesmo dormindo?! – Ri, prendendo os cabelos de creme com uma piranha. Lhe passei o produto e me preparei para relaxar. – Só uns quinze minutos no máximo, não se preocupe.
  - VEM, ! – gritou ao pular na piscina e foi só o que o cachorro precisou pra ir atrás dela.
  - HEY! É você que vai dar banho nele depois disso! – Reclamei, mas ninguém me levou a sério. Nem eu mesma. Estava quente e precisava se refrescar, oras.
  - Adivinha quem vai sair com a gente hoje! – Zayn falou baixo para que não nos escutasse. Suas mãos meladas de óleo de bronzear tocando o centro das minhas costas.
  - Não sei... Quem? – Respirei fundo enquanto seus dedos massageavam a minha pele.
  - Paul! – Nós dois rimos baixo. – Preston também vai, mas quero ver Paul dançando.
  - Vai ser a melhor despedida de férias. – Balancei a cabeça imaginando a cena. – Mas achei que você queria me ver dançando.
  - Sempre, Anjo. – Notei que aproximou o corpo do meu, sua respiração batendo repentinamente na minha nuca. A voz baixa veio em seguida. – Você vai dançar pra mim?
  - O que vou ganhar com isso? – Me mantive firme, dando uma de menina difícil.
  - Tenho certeza que podemos pensar em algo...
   As mãos de Zayn foram para a lateral do meu corpo, onde ele apertava devagar ao espalhar o bronzeador. Se fosse só isso tudo bem, o problema é que seus lábios tocaram a minha nuca, deslizando até a lateral do pescoço. Irracionalmente, inclinei-o para o lado contrário, fechando os olhos. Fazia um tempinho que nós não tínhamos momentos íntimos, sendo que nem conseguia me lembrar o porquê disso, mas esse pequeno contato foi o preciso para acender uma fogueira dentro de mim. Minha respiração tornou-se pesada e meu peito subia e descia com força. Se eu bem o conhecia, Zayn estava sorrindo travesso quando arrastou os dentes pelo meu ombro, me provocando.
  - Eu sei que você a ama, bro, mas não precisa tocar a minha irmã assim na minha frente. – Louis resolveu aparecer para estragar o clima.
  - Falo o mesmo pra você e Harry! – Rebateu, deixando um último beijo no meu rosto.
  - O que eu fiz?! – Curly acabava de chegar e já era culpado de algo. Tsc.
  - Nada, sweetie, esses meninos é que são muito bobos. – Levantei, pois era melhor sair de perto de Zayn enquanto ainda agüentava ficar vestida.
  - Babe, eu ao terminei de passar o bronzeador em você... – Tentou me chamar de volta.
  - É mais seguro eu terminar sozinha. – Afirmei, recuperando o pote dourado. – Talvez mais tarde você possa me ajudar de novo...

+++

  A melhor decisão que poderíamos ter tomado foi que todos deveriam se reunir em um lugar só e ir juntos para o tal Funky Buddha. Isso facilitaria muito o trabalho de Paul e Preston, que seriam os únicos seguranças a nos vigiar. Levando em conta que éramos nove pessoas, eles teriam algum trabalho. Também tivemos a brilhante idéia de chamar um carro - que mais parecia um ônibus - para irmos todos de uma vez. Além de mais sensato, Zayn gostou mais daquela idéia do que de me deixar chegar sozinha em um outro veiculo qualquer; e com "sozinha" eu quero dizer "longe dele", já que não poderíamos entrar de mãos dadas como ambos gostaríamos. Sim, a super proteção dele estava atacando.   Nos últimos bancos da pseudo van estávamos eu, Zayn e Harry, da direita para a esquerda respectivamente. Na nossa frente, Louis, Liam e Dani e por ultimo: Amy, Niall e Eleanor.
   Uma turma bem grande, sei disso. Alias, a tal da Amy parecia ser bem simpática e divertida, mas meu contrato de amizade com não me permitia gostar muito da garota. Os vidros do carro eram bem escuros, não nos permitindo ver o lado de fora, mas a parada tranqüila e o desligar do motor nos mostrou que havíamos chegado em algum lugar.
  - Já chegamos? - Questionei, fazendo uma cabaninha com as mãos na janela e o rosto próximo da mesma na tentativa de enxergar o lado de fora.
  - Você perguntou isso todas as vezes que paramos em algum sinal vermelho. - Lou comentou como se estivesse cansado de responder uma criança.
  - Não é minha culpa que estou ansiosa! Quero dançar, quero beber, quero me divertir... - A animação em mim era obvia. - Quero beber...
  - Acho que alguém está planejando ficar doida hoje! – Escutei a risada de Niall vir lá da frente.
  - Isso mesmo! Não é, baba? – Teria bagunçado os cabelos do menino, mas ele estava usando um snapback, então apenas balancei a sua cabeça.
  - Yeeeeeeah! – O menino dividia a mesma animação que eu.
  - Woooooohoooooooo! – Gritei e balancei os braços, já entrando no clima de festa. – Além do mais, é meu último dia de férias. Eu mereço aproveitar!
  - Isso mesmo, babe! – Zayn tomou o meu lado na discussão. – Você pode beber e dançar em cima da mesa e fazer o que quiser. Sério, fique a vontade. Eu não me importo nem um pouco.
  - Claro que não! – Ri das intenções do menino. – Mas obrigada.
  - Eu achava que Liam não podia beber... – Eleanor indagou.
  - E não podia mesmo. – O próprio respondeu. – Mas agora que o meu rim voltou a funcionar, posso recuperar o tempo perdido!
  - Isso é possível? – Harry se pronunciou, tendo a mesma dúvida que o resto de nós. – Acho que foi um milagre divino, Liam.
  - Ou um presente dos céus pra mim! – Sorri sapeca. – Devem ter visto que eu precisava de uma companhia pra beber.
  - Hey! – Niall se ofendeu. – E eu?!
  - Sorry, Ni! Mas eu preciso de alguém que beba e não vire um bobo da corte depois de dois copos.
   Eu adorava os momentos de risadas idiotas de Niall, mas uma garota precisa de um menino que beba e fique agitado em outro sentido. Não, também não é nesse sentido. Acontece que quando Liam bebia, ele adquiria uma personalidade bem louca, se por assim dizer. Começava a fazer passos de dança que nem eu mesma teria conseguido ensiná-lo, perdia um pouco de equilíbrio, por isso vivia tropeçando nos próprios pés sem realmente cair e, a minha parte preferida, acreditava fielmente que era o Batman. Zayn era bem o oposto... Se normalmente ele já era calmo e relaxado, ao ficar bêbado era a paz em pessoa. A única diferença é que ele começava a falar e conversar mais que o normal, o que deixava seu sotaque ainda mais puxado.
   A porta do carro foi aberta e apenas a cabecinha de Paul apareceu ali. Todos pararam de conversar para prestar atenção no que o nosso babá tinha pra falar. Preston já devia estar do lado de fora, pois na cabine da frente, apenas o motorista continuava em seu lugar. Com o veículo aberto já era possível ouvir o barulho que vinha do lado de fora. Gritos, conversas, e o principal: Aquele som de câmeras fotográficas sendo preparadas para atacar.
  - Pessoal, prestem atenção aqui. – Paul pediu, fazendo contanto visual com o menino que mais demorava pra entender o que a expressão “preste atenção” queria dizer: Louis. – As coisas estão meio loucas aqui fora, já que descobriram que vocês viriam hoje. Por culpa de uma pessoa que não vou dizer o nome...
  - Valeu, Niall. – Se Paul não falaria, Zayn faria isso por ele.
  - Eu só fiz um comentáriozinho no Twitter... – O irlandês tentava se desculpar.
  - Foi o necessário pra virem atrás de vocês. – O segurança voltou a falar, fazendo Ni se encolher no banco. – Já sabem o esquema. Fiquem juntos e andem rápido. Vocês são nove e nós somos dois, mas como tem mais seguranças nas portas, não vão tentar nada. Cuidem das suas damas, cavalheiros. , você vem comigo agora.
   Não tive tempo de pensar naquilo, pois Zayn me empurrou devagar para que eu levantasse e fosse até o segurança. Todos ali me esperaram passar e me acompanharam com o olhar. Até que fazia sentido, Paul pedir para que eu fosse com ele... As outras meninas seriam protegidas por seus acompanhantes, mas o meu não poderia me proteger assim. Não em frente às câmeras, pelo menos, e, graças à Niall, o lado de fora do carro estava cheio delas. Ainda ficava um pouco nervosa ao pensar que teria que passar novamente pelo corredor de paparazzis que tentariam conseguir alguma manchete maldosa, mas tudo aconteceria rápido e Paul estaria ao meu lado pra me ajudar a entrar na boate sã e salva. Pauly me deu as mãos para que eu conseguisse saltar para o chão em segurança e o flashes começaram. Preston segurava alguns dos mais ousados, criando uma barreira.
   Depois daí, tudo foi do jeito que já esperávamos; rápido. Paul manteve um braço em volta dos meus ombros e o outro ia empurrando e tirando tudo que pudesse aparecer na minha frente. Mantive a cabeça abaixada, pois aqueles flashes eram mais fortes e constantes do que os que eu me acostumara a receber durante meus trabalhos para a Mulberry. Meu nome foi chamado e perguntas inconvenientes foram gritadas aos meus ouvidos, como “Star, como se sente indo para uma festa com seu ex-namorado?” ou “Onde está o seu novo rolo? Ele já entrou?” Que novo rolo?! Ao menos o assunto “gravidez” não foi tocado. Eu ainda tinha que explicar para algumas pessoas de que esse rumor não passava de um mal entendido.
   Em questão de segundos os seguranças da boate estavam abrindo as portas para que Paul e eu pudéssemos entrar e ficar a salvo. Recebi alguns olhares feios de quem esperava na fila, pois provavelmente estavam ali há horas e talvez nem fossem conseguir entrar. Aparentemente, éramos VIP’s. Bem... Os meninos eram VIP. Nós acabávamos indo no embalo por estarmos com eles, mas enfim. Atrás de nós, Liam e Danielle foram os próximos a entrar, seguidos por Amy e Eleanor. O lugar onde estávamos devia comportar, no máximo, vinte pessoas por vez. Sendo que duas delas já estavam sentadas na mesa da recepção, olhando em computadores e separando as entradas.
  - Zayn pediu pra você fazer isso, não foi? – Perguntei ao segurança, que olhava para a porta, checando se tudo ocorria bem.
  - O que? Cuidar de você como se a minha vida dependesse disso? – O sorriso cúmplice que ele abriu ao terminar foi toda a confirmação que eu precisava. – Fique aqui, ok? Vou ajudar Preston.
  - Ok! – Bati continência, indo me juntar ao meu casal de amigos.
  - Liam, my man! – Alguém acabava de passar pela mesa da recepção. Um homem, aliás, bem baixinho e de olhos puxados. – Ouvi dizer que você viria aqui hoje! Lá embaixo está bombando.
  - Hey, Mike! Thank Funk It’s Friday! – Liam o abraçou, falando o que parecia ser uma piada interna da boate. – Essa é a minha garota ... E a Dani você já conhece. O outros devem estar chegando...
  - É um prazer conhecê-la, ! – Mike apertou a minha mão. – É a sua primeira vez aqui no meu recinto?
  - Você é o dono daqui? É a minha primeira vez sim! – O cumprimentei.
  - Tenho certeza que vai gostar! – Se virou para as meninas da recepção. – Joy, por favor, me dê as pulseiras especiais.
  - Claro, Sr. – Joy o obedeceu, entregando-lhe uma cartela com pulseiras destacáveis na cor rosa.
  - Só o melhor para o meu melhor cliente!
   Mike distribuiu as pulseiras conforme o nosso grupo foi chegando. “Pretty in Pink” foi o que li ao terminar de prender a minha no pulso. Aquele devia ser o tema da festa, o que explicava a cor da pulseira. Ajudei Dani e El com as delas, ignorando Amy disfarçadamente. Niall acabou por ajudá-la quando chegou, então a minha consciência continuou tranqüila. Zayn e Harry foram os últimos a entrar e esse último se juntou à mim assim que conseguiu atravessar a recepção e pegar a sua própria pulseirinha. O ajudei a prendê-la no pulso e me demorei um pouco mais ao brincar com seus dedos até que estivessem entrelaçados. Sabíamos que não poderíamos ficar assim por muito tempo, mas foi bom deixar o mundo para trás por alguns segundos.
   Quando todos nós mostramos que estávamos com nossas entradas bem seguras em nossos braços, o próprio dono do Funky Buddha resolveu nos guiar até o lugar reservado para nós. Finalmente eu iria conhecer a boate que Liam parecia ser tão afeiçoado! Mike foi na frente até uma parte da parede, empurrando uma porta secreta para o lado e revelando uma escada que ia para o andar de baixo. Fizemos uma fila para descer e Zayn ainda não quis me soltar, por isso fomos juntos. A atmosfera iluminada e a música baixa que conseguia ouvir já me faziam querer começar a dançar ali mesmo. Preston estava no final da fila e Paul no começo, atrás de Mike.
   A nova porta foi aberta e dessa vez chegamos ao local onde a magia acontecia. A gritaria foi geral quando os meninos foram vistos, mas ninguém começou a se jogar aos pés deles; pelo menos isso! Acertei ao pensar que o tema da festa era o cor-de-rosa, pois as luzes internas eram todas dessa tonalidade, o que ainda mantinha uma atmosfera baixa e misteriosa. O DJ estava em sua bancada a um nível um pouco maior do que a pista de dança e anunciou: “One Direction in the house!” assim que os viu também, acabando com qualquer duvida de que fossem eles mesmos a chegar. Todos acenaram e Zayn finalmente soltou a minha mão, usando-a para segurar a minha cintura. Não sei se aquele era o ato mais sensato, mas ele não parecia se importar com olhares que atraímos, então porque eu me importaria? Sorri pra ele e continuamos nosso caminho até a área VIP.
   O lugar onde ficaríamos não estava vazio, mas reconheci as duas pessoas que estavam ali: Nick Grimshaw, amigo de Harry, e Andy, amigo de Liam. A área VIP nada mais era do que uma extensão da boate, mas no mesmo nível da cabine do DJ, uns quarenta centímetros acima do normal. Ficava paralela a pista de dança e conectada ao bar em uma pequena parte na lateral, o que nos permitiria pegar bebidas, dançar e aproveitar a festa sem termos realmente que sair dali e nos juntar ao “povão” que se apertava na nossa frente. Uma grade de vidro que ia até a altura do meu quadril separava a pista principal e aquele nosso espaço, sem falar nos seguranças próximos à escadinha de poucos degraus que nos levava até ali. Mais ao fundo avistei um sofá de vários lugares e uma mesinha ao centro. O chão devia ter vindo dos anos oitenta, pois parecia ser de vidro e piscava com cores diferentes, mas sempre voltava ao rosa.
  - Então, o que você acham? – Nosso grupo começou a se espalhar pelo nosso espaço, mas Liam, Zayn e eu continuávamos próximos.
  - É legal... – Zayn me abraçava pela cintura, atrás de mim.
  - Você poderia ao menos tentar fingir que não preferia estar em casa? – Li lançou um olhar feio ao amigo, que apenas sorriu em resposta.
  - Não liga pra ele, Leeyum, esse lugar é sick! – Estávamos um pouco ao fundo, afastados da grade onde Niall cumprimentava fãs, então permanecíamos seguros de olhares curiosos. Me deixei encostar no corpo de Zayn, relaxando em seus braços. – Aquele ali conversando com a Dani é o Andy, certo?
  - É sim. O chamei pra vir também, espero que não tenha problema...
  - Claro que não! – Sorri para o menino, colocando seu boné virado para trás. – Você o conhece, Zen?
  - Não muito... – Zayn olhou para trás, onde nossa “cunhada” conversava com um loiro alto. – Devemos ir lá?
  - Ótima idéia! – Liam me tirou dos braços de Zayn para fazê-lo virar e ir de encontro à seu amigo. – Você vai na frente e já chegamos!
  - Espera, o que?! – Zayn pedia socorro, mas acabou indo em frente. Receoso, mas ainda assim. – ?
  - Já vou, baby! Mas deixa isso aqui no canto do sofá... – Acenei para encorajá-lo, joguei minha bolsa em sua direção e olhei para Liam. – O que houve?
  - Nada, ainda... – Seu sorriso era enorme. – Mas se queremos aproveitar a noite, temos que começar em algum lugar, não?
  - Shots!
   Comemorei e passei o braço pelo dele, desviando de Louis que passou correndo por nós, sendo seguido por um Harry sorridente. Os dois eram tão fofos juntos que acabamos nos entreolhando e sorrindo. Passamos para a lateral da área VIP, descendo dois degraus, mas sem sair dela. Apenas chegamos até a ponta do bar, na parte conectada àquele local. A música bombava nos nossos ouvidos, mas todos a nossa volta pareciam entorpecidos demais pra reclamar da altura ou qualquer coisa que fosse. O lado de fora do bar estava cheio, mas como éramos prioridade, um homem logo chegou para nos atender.
  - Liam! – O cara acenou para o meu amigo. Mas seria possível que todos ali o conheciam bem? – O que posso fazer por vocês hoje?
  - Nós queremos começar com o pé direito! O que você sugere? – Debruçou-se sobre o balcão.
  - Quero algo rosa! – Apoiei um cotovelo na bancada, deixando o tema da festa me contagiar.
  - Tenho exatamente o que vocês precisam. – Fez sinal de OK e se virou para ir buscar algo no meio do bar.
  - Eu não sabia que você tinha um cartão fidelidade dessa boate. – Brinquei, sentando sobre um banco que encontrei ali próximo. – Todo mundo aqui te conhece... E não me diga que é por causa da banda.
  - Digamos que eu já vim aqui algumas vezes... – Riu, sem entrar em muitos detalhes. – Não é minha culpa se seu namorado é hippie.
  - Ele não é hippie! – Bati em seu braço, mas não consegui reprimir um riso. – Ele só gosta de ficar em casa, ouvindo música, conversando... Acho que essa vida de festas não é pra ele. Mas estamos aqui hoje, não é?
  - Espero que não seja a sua primeira visita e última! – Dedilhou o meu joelho descoberto pelo vestido que parava na metade da coxa; se muito. – Dani também gosta muito daqui, tenho certeza que ela vai te arrastar pra cá.
  - Quando tivermos uma nova Girls Night Out, vou chamar ela e pra vir aqui! – Mexi os ombros no ritmo da música. – E umas amigas dela também, pra fazermos uma verdadeira revolução na dança dessa boate!
  - E vai chamar Josh também? – Interrompeu os meus planos com uma pergunta daquelas. – Já que tocou nesse assunto, como vai Josh?
  - Você tocou nesse assunto, Liam. – Cerrei os olhos. Devia ser pra perguntar isso que Liam despachara Zayn para outro lado. – Não sei como ele está, não nos falamos desde a festa.
  - Então... Ele não te liga, nem coisa assim? – Me senti em um interrogatório. – Você sabe... Pra te chamar pra sair... Escondida do seu namorado...
  - Liam, que perguntas são essas? – Terminei rindo de toda aquela besteira. – Josh e eu somos SÓ amigos. Pra falar a verdade, ele é o único que eu tenho certeza que nunca daria em cima de mim.
  - Todos temos a nossa “fase Star”.
  - Só porque você teve, não quer dizer que outros vão ter! – Cruzei os braços. Não era do meu feitio usar aquilo contra ele, mas foi necessário.
  - Touchê. – Levantou o boné e fez uma reverência. Ponto pra mim!
  - Aqui estão as bebidas... – O bartender retornou com dois copinhos de dose única; ambos na cor rosa. – Querem que eu acenda?
  - Sim, por favor! – Respondi, virando o banco para ficar de frente à ele.
  - Acender o que? – A resposta de Liam ficou sem resposta, pois o homem tirou um isqueiro do bolso e tocou fogo em nossas bebidas. – Ah, isso.
  - Aqui estão os canudos!
   O barman tirou do bolso do avental dois canudos e os deixou ao lado das tacinhas de dose. Liam ainda se perguntava como deveria beber aquilo, já que o canudo derreteria assim que tocasse o fogo; soube disso ao ler sua expressão preocupada. Amadores. Tsc. me ensinara a beber shots acesas, por mais que só tenhamos feito uma vez, na nossa última noite do pijama. Liv quase queimou o cabelo, mas isso não vem ao caso agora; prometo que voltaremos a esse assunto depois. A chama do meu copo estava alta, o que delatava o teor alcoólico da bebida misteriosa. Segurei a dose por baixo, sabendo que o vidro estaria quente, assoprei o fogo com força, fazendo-o se extinguir e finalizei jogando-o goela abaixo. O fogo fez o gosto da vodka ficar mais forte e queimar menos ao descer pela garganta, por mais irônico que isso pareça.
  - Woooooooooo! – Gritei e sacudi a cabeça, pousando o copo de volta na bancada. Os dois homens me olhavam quase sem piscar.
  - Isso aí, garota! – O barman levantou a mão para bater na minha. – Merece passar para a segunda rodada.
  - Yay! O que eu ganhei? – Pulei do banco para o chão, dando uma dançadinha rápida.
  - Ainda não tem nome, porque acabei de inventar, mas... – Tirou de debaixo do balcão uma taça que fez meus olhos brilharem. – Acho que vai gostar. E você, Liam? Vai espera a bebida queimar?
  - Eu não sabia que ela podia queimar...
  - Liam, foi uma piada! Bebe logo pra ver se fica menos lerdo. – Rolei os olhos, dando um pequeno gole pra provar da minha bebida nova. – Shot, shot, shot!
  - Tenho que assoprar? E o canudo?
   É, pelo visto Liam não seria a melhor companhia pra beber. Deixei um beijo em sua bochecha e acenei para o bartender que fora tão gentil conosco, mas sentia que passaria a festa inteira ali esperando Liam parar de drama e beber logo. Não era nem tão complicado assim! Assopra e bebe! Pronto! Dei meia volta, me distanciando do bar e voltando a subir os degraus para a área VIP. Escaneei o lugar com os olhos, na intenção de descobrir o que todos estavam fazendo. Zayn conversava sozinho com Andy e parecia ter deixado a sua vergonha pra trás, pois segurava uma garrafa de cerveja e mexia os braços durante suas falas. Eleanor e Amy estavam no sofá. Era de se esperar que elas se dessem bem, pois foram as últimas a se juntar ao grupo e não eram lá tão bem vindas assim; por mais que eu gostasse mais de El do que da outra. Lou e seu namorado dançavam de qualquer jeito, mas bem próximos, o que me fez sorrir. Niall era quem distraia Grimmy enquanto seu amigo estava ocupado demais. Para terminar, Dani dançava perto da grade de vidro como se ninguém estivesse olhando.
   Uma nova música começou e senti vontade de gritar que aquela era a minha batida. Teria gritado isso para qualquer outra música, mas isso também não vem ao caso agora. O importante é que deixei as luzes que piscavam no teto e o chão embaixo de meus pés me conduzirem, assim como o ritmo que o DJ comandava de sua cabine. Dei mais um gole na bebida, mordendo um pedacinho do sal grudado nas bordas. O pirulito de morango girava ali dentro e absorvia um pouco do álcool, mas me preocuparia com ele depois. De onde eu estava podia ver o pessoal pulando na pista de dança e sorri simplesmente pela energia que aquele lugar emanava.
   “C'mon 'cause I know what I like. And you're looking just like my type.” Cantei na minha cabeça, levantando o copo como se brindasse com alguém invisível. Meu quadril ia de um lado para o outro conforme eu rebolava e a mão livre passeava pelos meus cabelos recém clareados, bagunçando-os. Foi então que senti o meu corpo sendo tomado por outro um pouco maior. Zayn acabara de segurar a minha cintura, não demorando pra me fazer virar de frente pra ele. Sem se importar se estaríamos sendo observados ou não, juntou nossos lábios em um selinho rápido, aproveitando pra roubar um pouco do gosto da minha bebida.
  - Podem estar olhando... – Falei com os lábios ainda próximos aos dele, observando seu olhar passear demoradamente pelo meu decote e lábios.
  - Eu não ligo, Babe. – Sorriu travesso, atacando o meu pescoço em seguida. – Você é minha.
  - Nunca falei que não era. – Joguei a cabeça pra trás, abraçando-o enquanto tinha meu pescoço carinhosamente mordiscado.
  - Eu já te falei alguma vez que você é linda? – Voltou a me olhar, fazendo-me sorrir.
  - Só todos os dias. – Seria possível que ele ficara bêbado mais rápido do que eu? – E obrigada.
  - Eu te amo, . – Beijou a minha bochecha com força, me fazendo gargalhar.
  - Ok, o que você bebeu? – O encarei desconfiada.
  - Andy e eu apostamos quem agüentaria tomar mais shots de tequila em um minuto... – Isso explicava tudo! – Eu ganhei!
  - Estou vendo isso! – Balancei a cabeça em negação, porém, estava me divertindo com tudo aquilo. – Vem, vou te deixar sentado antes que acabe caindo... E a festa mal começou!
  - Só se eu cair nos seus braços! – Passou o braço em torno de meus ombros durante a minha tentativa de arrastá-lo até o sofá. – Não gostaria disso, babe?
  - Claro, claro! – O apoiei pela cintura, tendo que equilibrar um homem em uma mão e uma bebida em outra. – Só vamos sentar um pouco, ok?
  - Opa... – Quase tropeçou ao investir para o sofá, me fazendo rir de sua falta de equilíbrio. – Vai sentar comigo?
  - Claro que sim, baby! Que tipo de namorada seria eu se te largasse aí? – Me acomodei ao seu lado, observando a minha bolsa e das outras meninas perto de uma almofada. – Hey, Lou!
  - O que? – O menino parou de dançar com Harry para me olhar.
  - Pode pegar uma garrafa de água, por favor? – Apontei para o semi-bêbado ao meu lado, sabendo que ele precisava se hidratar.
  - Pode deixar. – Teve a mesma reação que eu e riu.
   - Eu gosto dessas luzes... – Zayn quase deitou no sofá, encarando o teto.
  - Ok, tenho uma coisa pra você e é melhor te entregar logo antes que fique impossível termos uma conversa sensata... – Estiquei o braço para recuperar minha bolsa.
  - Você tem algo pra mim? – Sorriu e me olhou como se estivesse se esforçando demais para prestar atenção em tudo que eu fazia.
  - Já faz um tempo que quero te dar esse presente, então resolvi parar de enrolar! – Rolei os olhos para mim mesma e tirei da bolsa uma caixa quadrada. – Espero que goste...
  - É claro que vou gostar! – Aceitou o meu presente e não perdeu tempo para abrir a caixinha e tirar de lá o bracelete de prata. – Wow... Que dá hora!
  - Desde quando você fala “da hora”? – Ri, mas Zayn parecia ter gostado. – Tem o seu nome gravado na parte de dentro!
  - Como você fez isso? – Leu a frase “جواد زين مالك” gravada, que era seu nome em árabe.
  - Posso ter tido uma ajudinha da minha sogra. – Dei de ombros, sendo descoberta.
  - Mein tumse pyar karta hoon. – Fiz uma careta estranha ao escutar aquelas palavras, mas o sorriso fofo que veio de seus lábios mostrava que não era conversa de bêbado.
  - Qu'est-ce que c'est? – Franzi as sobrancelhas.
  - Isso quer dizer “Eu te amo” em urdu. – Explicou, parecendo mais orgulhoso do que devia por eu não ser mais a única bilíngüe ali.
  - Awwwwwwn. – O puxei devagar pela nuca até colar os nossos lábios.

+++

  Após cinco drinks diferentes, mas todos coloridos, era de se esperar que eu estivesse um tanto animada. Ainda não trocava um pé pelo outro ou falava besteira, mas gritava e cantava as músicas que o DJ tocava a plenos pulmões, mesmo que não conhecesse a música. Dani estava ao meu lado, perto da grade de vidro, e dançávamos uma com a outra, sabendo que atraíamos olhares da porcentagem masculina na pista de dança abaixo de nós. Nenhuma das duas dava muita atenção, mas vez ou outra comentávamos uma no ouvido da outra que estavam acenando para a gente ou coisa do tipo. Zayn bebera muita água e fora no banheiro algumas vezes, o que fez com que sua quase bebedeira passasse ao menos o suficiente para que não precisasse passar a festa inteira sentado do no sofá. Ele também não começou a dançar como Liam e Niall, mas já era algo.
  - Zayn? Zayn Malik, você está aí? – O DJ chamou ao microfone, diminuindo o volume da música que acabava.
  - Estou aqui... – Ele levantou a mão para acenar, sem realmente sair do seu lugar próximo à parede.
  - O que está acontecendo? – Perguntei baixinho à Dani.
  - Esse tipo de coisa acontece aqui, , não fique brava... – Me abraçou com força pelos ombros, mas tratei de me soltar dela para tentar entender alguma coisa.
  - Essa moça aqui gostaria de dedicar a próxima música a você. – O DJ continuou, apontando para uma morena que parecia ter sido embalada a vácuo, já que seu vestido de piranha devia estar prestes a arrebentar.
   Então a tal música começou. Eu mesma me recusei a dançar, então apenas parei encostada ao vidro. Dani fez o mesmo, em consideração à mim. Olhei para trás, assistindo Zayn acenar para a morena com o sorriso mais desconfortável que poderia criar. Sei que foi apenas por educação e eu devia estar acostumada com essas coisas, até porque ele recebia pedidos de casamento todos os dias, então culpo o álcool em meu sangue por ter me deixado irritada. Rolei os olhos mais uma vez e voltei a encarar a biscate de vestido justo. Ela tinha um sorrisinho satisfeito no rosto, achando que viraria o centro das atenções do meu homem. Coitadinha, tão enganada. Tentei pensar pelo lado de ela estar achando que Zayn estava solteiro, já que era isso o que todos deveriam pensar, mas assim que seu olhar se prendeu no meu, senti como se a mulher estivesse fazendo isso de propósito.
  - , onde você vai? – Danielle se virou ao me ver passar por ela com pressa.
  - Não vou deixar uma vadiazinha me provocar. – A música estava alta, então só ela me escutaria ter ataque de ciúmes.
  - Você não está mesmo irritada com uma menina daquelas, está? – Me seguiu. – Ela só está tentando chamar atenção e aparecer em alguma fofoca amanhã.
  - Ela está tentando chamar a atenção do meu namorado. – Bufei, descendo as escadas que levavam ao bar. – Mas vamos ver quem faz melhor.
  - Uhh, o que você vai fazer? – Sorriu confidente, mas eu não lhe contaria nada.
  - Você vai ver Dani-bear. – Parei de andar e a olhei. – Por enquanto, vá cuidar do seu namorado antes que ele resolva abrir outra garrafa de 1.8 milhões de libras.
  - O que? – Olhou para o namorado e a garrafa com pedrinhas de diamantes incrustados que tinha nas mãos. – Ah, não, de novo não!
  - Pelo menos ele sabe festejar...
   Ri sozinha, relaxando um pouco mais. Não o suficiente pra me fazer desistir da idéia, mas ainda assim. Terminei o caminho até o bar e sentei no mesmo banco de antes, dessa vez tendo um pouco mais de dificuldade de me sentar sobre ele. “Esse banco está girando mais rápido ou é impressão minha?!” Batuquei na bancada distraidamente, observando as pessoas pegarem as suas bebidas do outro lado do bar. Uma loirinha sorriu pra mim e acenou. Não de um jeito desdenhoso ou mal educado... Apenas um aceno de “olá”. Fiz o mesmo em resposta, também sorrindo. Isso foi tudo que ela precisou para afastar algumas pessoas e se aproximar de mim, ainda que fossemos separadas pela quina do bar, já que eu estava na área VIP e ela na área normal.
  - Oi, ! – A loirinha aumentou o volume da voz por causa da música. – Não liga para aquela garota! Ela só quer o que você tinha.
  - Sei disso... – Fingi dar de ombros como se não estivesse me importando com nada. – E obrigada.
  - Você é linda! Não sei como Zayn... Bem, você sabe. – Parou no meio da frase, como se percebesse que ia falar besteira. – Anyway, vocês formavam um casal perfeito.
  - Eu também acho! – Concordei, querendo contá-la que ainda éramos um casal perfeito.
  - Vou te deixar em paz agora. – Acenou mais uma vez. – Obrigada por falar comigo!
  - Sempre que quiser. – Lhe dei o meu melhor sorriso. Porque mais fãs não podiam ser como ela?
  - O que posso te dar agora, ?! – Bobby, o barman, bateu na bancada em minha frente, pronto para me servir.
  - Quero outra daquela com o pirulito, uma caneta e um pedaço de papel. – Numerei nos dedos, temendo esquecer algo.
  - Aqui está uma caneta e um papel... – Tirou a caneta preta que guardava no bolso e um guardanapo, entregando-os pra mim. – Já volto com a bebida!
   Agradeci silenciosamente, pegando a caneta e desenhando uma bolinha no canto do guardanapo para testar. Em seguida, me concentrei para lembrar como se escreve e por fim anotei ali o nome de uma música. Já fizera algo assim antes, quase um ano atrás, mas agora era diferente. Antes a minha intenção era chamar a atenção de Zayn, e agora era provar que eu já tinha essa atenção e não pretendia deixar isso mudar. Dobrei o papel assim que terminei de escrever e desenhei um coração na ponta, mais por mania do que por qualquer coisa. Bobby retornou com a minha bebida e lhe devolvi a caneta com um sorriso. Tirei o pirulito de dentro da taça, virando o conteúdo e bebendo até a última gota, sem esquecer de alguns pedacinhos de sal da borda. Em seguida, coloquei o pirulito de morango na boca.
   Fiz o banco girar e desci do mesmo, balançando a cabeça para todos os lados. Subi as escadas de volta para a área VIP, passando pelos olhares curiosos de Niall, Liam, Zayn, Eleanor e Amy. O terceiro era o que parecia mais interessado, pois até parou de conversar com Harry para prestar atenção em mim. Segui novamente até a grade de vidro, ficando um pouco mais perto da mesa de DJ dessa vez, acenando até conseguir chamar a sua atenção. Me inclinei ao esticar o braço e consegui entregar-lhe o papel, perguntando “Pode tocar essa música?” apenas com os movimentos da boca, tendo o pirulito na mão direita. Sua resposta foi positiva, então era só esperar a música da piranha acabar e a minha começaria. Não a dediquei para ninguém, até porque não havia necessidade.
   Olhei em volta, notando que Zayn voltara para o sofá e mantinha os olhos em mim – especialmente nas minhas pernas -, como se me pedisse para ir me juntar a ele. Andy e Liam também sentaram ali, porém, fizeram isso na ponta mais distante de Zayn. Sorri por ele estar usando o bracelete que eu lhe dera, lembrando da promessa de que nunca o tiraria do braço. Mexi nos cabelos, colocando o pirulito na boca. Antes do que eu esperava, a minha música começou. Girei em cima dos saltos, ficando de costas para Zayn e de frente para a pista de dança, apoiando as duas mãos na grade de vidro. Deixei o corpo cair enquanto dobrava os joelhos, levantando devagar. Fiz questão de fitar a morena que oferecera a música à Zayn, como quem diz “é assim que se faz”. Mais rápido que antes, dei mais uma voltinha, encontrando o olhar de Zayn com o meu. Ele continuava sentado no sofá e foi até lá que eu segui.
   Desfilei até ele com um pé em frente ao outro, jogando o quadril pra lá e pra cá no ritmo da música. Podia ter mais pessoas prestando atenção em mim, mas a minha era de um só. Parei com a mesinha baixa entre nós dois e subi na mesma, deixando o ritmo da música me mexer como se fosse uma correnteza me levando para outro lugar. Rebolei de um lado para o outro, sempre flexionando os joelhos para ter essa brincadeira de sobe e desce, sabendo exatamente onde as orbes de Zayn se fixariam. Brinquei com a língua pelo pirulito, enchendo meus lábios com o pouco de álcool que se perdera dentro dele misturando com o morango. Joguei os cabelos para trás, deslizando as mãos pela lateral do corpo, parando apenas na barra do vestido. Na medida que comecei a descer rebolando mais uma vez, levantei-o um pouco pelas coxas; apenas o suficiente para mostrar um pouco mais de pele e instigar a curiosidade.
   Juntei e afastei os pés, arrastando-os pela mesa enquanto balançava da esquerda para a direita. Minhas mãos fizeram seu caminho de volta para cima, passando pela barriga e busto, terminando no pescoço. Afastei uma perna da outra, curvando o corpo para frente, encostando as mãos no topo da mesa, deixando meus cabelos caírem na frente de meu rosto. Em seguida, os joguei de volta para trás ao levantar o tronco de uma vez, girando os ombros em uma direção só e jogando o quadril para o lado contrário. Com uma mão na cintura e a outra segurando o pirulito, o tirei da boca e arrastei pelos lábios, mordendo o inferior em seguida. Quase conseguia ver o que se passava pela cabeça de Zayn só pelo jeito que ele mal piscava ao me assistir. Se mexeu no sofá como se estivesse se segurando para não me atacar.
   Esquecendo de onde estava, juntei um pé ao outro, voltando a prender o pirulito entre os dentes. Rebolei em círculos, também deixando os joelhos próximos enquanto abaixava mais uma vez, dessa vez só parando quando estava realmente próxima do vidro. Apoiei as mãos no objeto, paralelamente ao meu corpo, ficando de joelhos sobre a superfície. Não deixei de balançar no ritmo lento e sensual da música que me embalava, terminando por sentar na mesa e passar os pés para encostar no chão. Joguei a cabeça para trás, fazendo-a girar como se estivesse alongando o pescoço e mantive as mãos apoiadas nos joelhos, sem esquecer de mexer o quadril de forma lenta, mas com certa intensidade.
   A próxima coisa que senti foi a mão de Zayn envolvendo a minha nuca assim que ele chegou mais para frente no sofá. Lentamente e com cuidado, me trouxe pra perto, obrigando-me a apoiar os joelhos no chão e sair de vez de cima da mesa. Apoiei as mãos sobre as suas pernas e fechei os olhos deixando nossas respirações se misturarem. Tive os cabelos segurados com força quando Zayn encostou os lábios aos meus com urgência, sua língua invadindo a minha boca violentamente ao procurar a minha própria. Precisávamos um do outro o mais perto possível, por isso não demorei nada para estar com o corpo grudado ao dele, por mais que estivesse no chão e ele ainda no sofá. Suas mãos passearam pelas minhas costas, seguindo para a minha cintura, onde apertou com força, me obrigando a arfar.
  - Eu te quero. – Foi o que ele sussurrou contra meus lábios.
  - Então vem comigo. – Pedi em uma respiração só, me colocando de pé e puxando-o pela mão.
  - Não consigo esperar até chegarmos em casa. – Já de pé, Zayn me agarrou mais uma vez. Sua frase teve mais ênfase assim que senti a rigidez contida pela sua calça jeans.
  - Quem falou algo sobre ir pra casa? – Mordisquei seu pescoço, notando que já não tinha mais o pirulito.

    

Chapter XXVI

Eu já falei o quanto odeio ficar de ressaca? Sim, eu odeio! Por sorte tive o sábado e domingo inteiro para me recuperar, caso contrário não conseguiria nem ter levantado da cama naquela segunda feira de manhã. O problema maior é que desobedeci os conselhos de minha mãe e dormi com os cabelos molhados na noite anterior ao meu primeiro dia de aula, por isso tinha quase certeza que contraíra um resfriado. Apesar do nariz entupido e do cansaço em meu corpo, me senti bem em voltar para a Academy após pouco mais de um mês. Como apenas os Seniors voltavam para as aulas mais cedo que o resto dos alunos, a academia de artes estava completamente vazia quando estacionei o conversível na minha vaga de sempre no estacionamento. Apenas quando deixei o bainheiro vestindo o uniforme de ballet é que cruzei com alguns colegas pelos corredores.
   Fui a primeira a chegar à sala de aula do quinto andar, sem perder tempo para deixar as minhas coisas no canto e começar a me alongar. Sabia que estava fora de forma devido ao tempo enorme que passara sem dançar, principalmente em cima da ponta. Não podia fazer feio e o meu resfriado já tiraria demais a minha concentração para que eu ainda deixasse a falta de prática me atrapalhar. Estava no último semestre, na última oportunidade que teria para aprender o que aquela escola tinha para me ensinar e, acima de tudo, a última chance de impressionar os professores e diretores de companhias para conseguir um convite. Quem diz que escola de artes não é a mesma coisa que universidades e faculdades não sabe o que está falando! A pressão para se formar e conseguir um bom emprego ao sair para o mercado de trabalho é a mesma. Mas ao invés de conseguir um trabalho em escritórios, nós procurávamos ingressar em companhias de ballet; o que acabava sendo ainda mais difícil. Não que trabalhar em um escritório, por exemplo, seja fácil! Entretanto, no ramo do ballet, quanto mais jovem você for ao entrar em uma companhia boa, melhor e mais extensa a sua carreira vai ser.
   Tentei deixar as minhas preocupações de lado e caminhei até o aparelho de som da sala, confiando que já haveria um CD de músicas clássicas ali dentro. Apertei play para que qualquer uma começasse a tocar e me deliciei com o ritmo calmo, perfeito para uma sessão de alongamentos. Com a sapatilha sem pontas, fui até a barra presa a uma das paredes e apoiei a perna direita na mesma, esticando-a a tocando o joelho com o queixo. Repeti a mesma coisa com a esquerda e fiz alguns pliés. Em seguida, passei para o chão, fazendo aberturas em todas as direções e forçando o meu corpo de pouco em pouco. Não queria acabar na enfermaria logo no primeiro dia de aula! De pé mais uma vez, fiz algumas piruetas para treinar o equilíbrio e só parei porque tinha que espirrar.
  - Saúde! – Ben estava aparado na porta sabe-se lá há quanto tempo. – Precisa de ajuda? Vi que estava se alongando...
  - Obrigada... Mas não, obrigada. – Ele seria a última pessoa de quem eu aceitaria ajuda. – Já havia terminado, de qualquer forma.
  - Que bom! Então eu não estou atrapalhando. – Se convidou para entrar na sala e apoiou o braço na barra. – Como vai, ? Tudo em cima?
  - Estou bem. – Sorri falsamente. Se não era amigável com Amy, não podia ser com Benjamin.
  - Bom, bom. Isso é bom. – Devia sentir a minha falta de vontade de interagir com ele, mas tentava prolongar o assunto. – Tem planos para o almoço hoje?
  - Por que? Você e vão almoçar juntos? – Se a ruiva fosse me obrigar a agüentar um almoço inteiro ao lado desse namorado novo...
  - Não, não... Só estava pensando que talvez pudéssemos nos conhecer melhor e tudo mais.
  - Esse garoto está te perturbando? – Brigitte acabara de entrar na sala, com seus saltos plataforma e o cabelo de quem acaba de sair de um salão de beleza. Seu tom de voz que costumava me ofender agora me defendia.
  - Não se preocupe, Brie, ele já está de saída. – Torcia para que com aquela indireta ele se tocasse e fosse embora.
  - Te vejo mais tarde, . – Ben piscou e se retirou, me dando vontade de vomitar. Além de ser namorado da minha melhor amiga, ainda dava em cima de mim?! Porque aquilo era dar em cima de alguém.
  - Ugh, você não podia ter um admirador pior. – Brigitte nem o esperou sair da sala para começar a falar. – Bom dia, . Como foram as suas férias?
  - Bom dia. – Sorri um pouco mais aliviada agora que Benjamin fora embora. – Foram ótimas, pra falar a verdade. Realmente ótimas.
  - Awn, que bom, amiga! – Amiga? Desde quando?! Caminhou até o fundo da sala, onde estavam as minhas coisas, e começou a se arrumar para a aula. – Soube do que aconteceu entre você e Zayn, então fico feliz que esteja tão positiva.
  - Ah, claro, é... Foi uma pena mesmo... – Demorei alguns segundos para me tocar do que ela queria dizer. – Mas ainda somos amigos.
  - Sei, sei. Por causa da banda e tal! – Quase soava interessada. – Eles estão ficando grandes! Sabia que o número de inscrições triplicou esse semestre?
  - Sério? Por que? – Enquanto a menina se arrumava, resolvi voltar para a barra e fazer mais alguns exercícios. Outros alunos começaram a chegar aos poucos e fazer o mesmo que ela.
  - Por causa de Zayn e Niall, é claro! Todos querem estudar no mesmo lugar que eles. – Sentiu-se muito importante ao falar aquilo, como se ela mesmo se orgulhasse de estudar na Academy por razões além das óbvias. – E, bem... Por sua causa também. Sabe quantas garotas vão querer tentar ser amigas da Tomlinson? Seu sobrenome agora tem peso. Ainda mais por causa do nosso passado com Zayn.
  - É, acho que sim. – Preferi não focar no “nosso” e apenas me concentrar em respirar pela boca, pois fazer isso pelo nariz estava quase impossível. – Mas como sabe o número de inscrições?
  - Passei algumas semanas do verão ajudando Agnes a organizar as fichas dos alunos, então estive presente durante os testes de inscrição. – Disse aquilo como se não tivesse importância, mas por dentro devia estar se sentindo a rainha do mundo. Ainda mais por ser quem era... – Tenho que te contar, algumas pessoas nem se importaram em disfarçar que só queriam entrar aqui pra tentar te conhecer!
  - Isso é ruim. – Comentei no meio de um Adágio, onde a perna direita permanecia na posição normal e a esquerda era estendida no ar, voltando ao seu lugar suavemente e devagar. – Não a parte de você ter ajudado a diretora... Isso é bem legal.
   Paramos de conversar assim que o murmúrio na classe se tornou maior. Eu conhecia aquela turma, pois era a mesma que estudara comigo no semestre passado, mas parecia um pouco menor. A sala de quarenta alunos agora estava cortada na metade. Não sabia o que tinha acontecido exatamente, mas algo me dizia que nem todos conseguiram passar no teste de fim de semestre, já que seria muito difícil terem dividido a turma em duas salas. O engraçado é que havia exatamente dez homens para dez mulheres, o que formava os pares exatos. Não fui a única a chegar pronta na sala de aula, pois uma mulher extremamente magra e de postura elegante foi a última a entrar e fechar a porta atrás de si. Ela tinha cabelos castanhos arrumados em um coque alto e todos os fios presos para trás com gel de cabelo. Nos pés, sapatilhas de ponta com a aparência bem velha, mas perfeitas para a dança. Até os seus passos ao andar pela sala eram suaves, quase como se flutuasse. Não era Holly, mas ainda assim.
  - Bom dia, turma. Serei sua professora esse semestre. – A mulher foi ao centro da sala e parou em terceira posição. Todos os alunos dividiram-se intercalados pela sala, com a atenção voltada a ela. – Me chamo Bartira, tenho trinta e cinco anos, dos quais passei vinte dançando para a New Zeland Academy of Dance. Viajei um longo caminho para chegar até aqui e sei que terá valido a pena. É a minha primeira fez ensinando na LRA, mas acompanho o trabalho de vocês há algum tempo. Te vejo aí atrás, Julieta.
  - Oi... – Falei baixinho, apenas acenando em cumprimento. Fazia algum tempo que não me chamavam assim.
  - Todos já se aqueceram? Podemos começar a aula? – Bartira perguntou, com as mãos na cintura.
  - Com licença... – Um homem baixinho batia na porta.
  - Sim? – A professora o permitiu entrar na sala.
  - Tenho uma entrega para... – Continuou metade dentro da sala e metade fora, olhando em um pedaço de papel que tirara do bolso. – Tompson? Tomlinson! Tomlinson.
  - Oh, God. – Me assustei, pois era a primeira vez que algo era entregue a mim na academia e não em casa. – Com licença...
  - Pode ir, querida. – Bartira permitiu a minha saída, mas isso não chegou a me tranqüilizar.
   Só esperava que parar a aula por minha culpa não virasse rotina. Aproveitei para fungar disfarçadamente e limpar a garganta enquanto saía da sala, torcendo para que o resfriado não virasse gripe. O entregador já não estava mais na porta, e sim no corredor. Foi difícil não notar o buquê de rosas vermelhas de cabo longo que o seu ajudante segurava, então comecei a ter uma idéia do que aquilo se tratava. Sorri encantada com a certeza de que Zayn era o responsável pela surpresa. O primeiro entregador, redundâncias a parte, entregou uma caixinha fina de couro preto. A abri para descobrir um colar de ouro; não havia nenhum pingente, apenas o fio dourado, e era perfeito. Em seguida, ganhei as rosas, me esforçando para cheirá-las apesar do nariz congestionado. O pequeno cartãozinho preto preso a uma das rosas dizia:

  
“Feliz primeiro dia de aula, Anjo. Te vejo em algumas horas. Love, Z.”
  

+++

  - Baby, cheguei... – Anunciei assim que consegui abrir a porta do flat sem precisar colocar as minhas flores no chão.
  - Hey, beautiful! Achei que tinha escutado algum barulho na porta. – Zayn apareceu no corredor com uma mascara branca pendurada no pescoço, denunciando que ele estava em seu estúdio. – Gostou das flores?
  - Se eu gostei?! Eu amei! E o colar também. – Deixei a minha mochila no degrau de entrada junto com as flores. O envolvi pelo pescoço em um abraço que queria dizer tanto “obrigada por ser o melhor namorado do mundo” quanto “eu senti sua falta a manhã inteira”. – Obrigada, sunshine.
  - Então, como foi o primeiro dia de aula?! – Tentou roubar um selinho, mas neguei. – O que houve?
  - Estou ficando doente e não quero que você pegue... – Expliquei antes que ele achasse que era algo pessoal.
  - Por isso a sua voz está diferente. – Riu do meu tom nasalado e fez carinho em meu rosto, beijando meus lábios apesar do meu aviso. – Prefiro ficar doente também ao ter que estar perto dos seus lábios e não poder aproveitar.
  - Eu não te mereço. – Sorri, sentindo-me a mulher mais sortuda do mundo.
  - Não seja boba, . – Se afastou apenas para me entregar o buquê de flores mais uma vez. – Agora vamos colocar essas flores na água e eu cuidarei de você.
  - Yay! – Comemorei e ri ao ser carregada do chão. – Você é maluco, Malik!
   Zayn beijou a minha bochecha e rumamos para a cozinha, onde não fui colocada de volta no chão, e sim em cima da mesa de madeira, para que ele pudesse pegar o vaso com água onde colocaríamos as minhas rosas. Fiquei balançando as pernas, pois não encostava os pés no chão, e o observei fazer tudo com cuidado. Inclusive tirou a mascara do pescoço e a deixou perto da pia. As marcas de tinta em seus braços e camiseta branca mostravam que ele estivera grafitando alguma coisa. Perguntaria isso a ele depois. Aproveitando que estávamos na cozinha, colocou a chaleira para esquentar e desconfiei que fossemos tomar chá, pra variar. Quando as flores estavam lindas e se hidratando, o menino voltou a me carregar, mostrando que levava o sentido de “cuidar” ao pé da letra. Não me importei nem um pouco com aquele mimo todo, muito menos de passar meus braços em volta de seus ombros enquanto caminhávamos até o quarto.
  - Eu ainda tenho roupas aqui, certo? – Pergunta idiota, mas ok.
  - Claro que sim. No seu lado do closet. Por que? – Me deixou sentada na cama e continuou me olhando com suas orbes brilhantes.
  - Estou com frio... Acho que vou procurar algo mais confortável pra vestir. – Ameacei levantar, mas ele me impediu e fez isso no meu lugar. – Baby, eu não estou morrendo!
  - Mas está de cama. – Respondeu de dentro do closet. Além da sua voz, ouvi cabides sendo arrastados no ferro que os suportava. – Ordens do Dr. Malik.
  - Só pra você saber... Essa história de brincar de médico não me excita. – Fui tirando os sapatos e o cardigan que começava a me espetar. – Ter um pai que realmente é “doutor” estragou isso pra mim.
  - Então só banheiros de boate te excitam? – Voltou ao quarto com o sorriso mais travesso que consegui sustentar.
  - Não vou nem responder. – O olhei de cara feia, reprimindo o riso.
  - Não precisa, babe. Acho que ninguém que estava no Funky Buddha no sábado tem alguma dúvida quanto a isso. – Ele estava mesmo querendo apanhar! Ao menos me entregou uma muda de roupas quentinhas e confortáveis. – Vou tomar banho e tirar esse cheiro de tinta, não demoro.
  - Eu não me importo! – Avisei, mas ele já tirava a camisa e caminhava até a porta do banheiro. Se não estivesse doente, veria aquilo como um convite. – Não consigo sentir cheiro nenhum de qualquer jeito.
   Mesmo assim, Zayn se trancou no banheiro para tomar banho. Note que quando digo “se trancou” quero dizer que ele deixou a porta aberta para que eu pudesse observá-lo se lavar. Ao menos o Box não era diretamente na frente da porta, caso contrário não havia gripe que me impedisse de ir me juntar a ele. Tirei as roupas que usara no primeiro dia de aula, incluindo o collant escondido debaixo da blusa. O sutiã também se foi, pois não estava afim de nada me apertando. A camisa       de Zayn ficava folgada pra mim, mesmo assim me sentia ultra sexy quando estava dentro dela. Também vesti a calça, sweater e meias que me foram entregues. Guardei minhas roupas sujas em uma cadeira no canto do quarto e olhei para a cama... O lençol branquinho me chamava, mas algo na cozinha era mais urgente.
   Soltei meus cabelos ao desfazer o coque enquanto saia do quarto. Zayn era meio avoado, então provavelmente esqueceria da chaleira que deixou ligada. Não sei como esse menino nunca colocou fogo na casa, sinceramente. Chegando no maior cômodo da casa – com exceção do terraço – separei os ingredientes que usaria para fazer nosso chá. Duas canecas, a caixinha onde guardávamos os saquinhos de chá, leite na geladeira e o açúcar. Tirei a chaleira da tomada assim que fumaça começou a sair de sua abertura e tive cuidado para não me queimar ao colocar a água nas canecas. Escolhi fazer chá verde para nós dois, então também coloquei um saquinho em cada uma. Ambos gostávamos de nossos chás preparados de formas diferentes e eu o conhecia o suficiente para preparar o seu com perfeição. Enquanto o chá se espalhava pela água quente, adicionei o leite e, para finalizar, três cubos de açúcar no meu e apenas um no de Zayn.
   No meu caminho de volta para o quarto com as xícaras em mãos, cogitei a possibilidade de dar uma passadinha no estúdio de grafite de Zayn, mas não achei que seria justo invadir o seu espaço sem pedir primeiro. Tenho certeza que ele não se importaria em dividir o que fazia ali dentro comigo, mas ainda era o seu “cantinho feliz”, então preferia ser convidada a entrar a me convidar sozinha. O som do chuveiro não era mais escutado, o que queria dizer que Zayn terminara o seu banho. Sua figura deitada na cama provou que eu estava certa.
  - Eu não te falei que estava de cama, Tomlinson? – Tentou parecer bravo, mas não deu muito certo.
  - Não tenho culpa se você esqueceu do chá, Malik. – Fiz o mesmo que ele, lhe passando sua caneca para então me juntar a ele na cama.
  - Achei esse remédio pra você. – Me passou uma cartelinha com comprimidos amarelos. – Mummy sempre me faz tomar ele quando fico assim.
  - Mummy? Awwwwwwn. – Ri por ele ter parecido uma criancinha ao falar daquele jeito. – Obrigada, sweetheart.
  - Qualquer coisa pra te ver bem. – Sorriu angelicalmente e bebeu um gole de seu chá. – Hm, perfeito.
  - Fico feliz que o chá esteja de seu gosto. – Usei o meu próprio para engolir o remédio.
  - Você não me contou como foi seu dia hoje... – Deitou de lado para escutar o que quer que eu tivesse pra falar.
  - Foi muito bom! Diferente dos outros semestres, ainda não tivemos aquela palestra de boas vindas e tal, então foi como se eu nunca tivesse saído de lá. A Academy fica MUITO vazia sem os outros alunos, mas gostei disso. Os corredores não ficaram uma bagunça total. – Comecei a contar, sabendo que ele estava interessado. Vez ou outra parava para bebericar do chá. – Conheci minha professora nova! O nome dela é Bartira... Um amor de pessoa quando a aula não começa e um general durante ela. Pelo que percebi, ela vai nos cobrar ao máximo. Só espero que ela tenha percebido que não fui tão boa hoje porque estou doente...
  - Ainda assim, tenho certeza que foi a melhor da sala. – Sorri porque ele realmente acreditava naquilo. – Brigitte continua dando trabalho?
  - Não da forma que você esperaria. – Parei para tossir, sentindo que minha garganta se partiria no meio. – Ele está amigável demais, até. É bem estranho. Prefiro quando ela tentava me drogar.
  - Tá aí uma coisa que nunca esperei ouvir. – Concordou com um aceno de cabeça, assoprando sua caneca.
  - E como foi a sua manhã? Os meninos me falaram que vocês teriam uma conversa sobre o clipe novo... – Era a minha vez de sentar e escutar.
  - Tivemos uma reunião com Vaughan Arnell, o diretor do vídeo, pra saber como vai ser tudo! Teremos três dias pra filmar em um estúdio... – Animou-se ao dividir aquilo comigo. – Vai ser algo bem divertido! Teremos vários cenários diferentes... Você tem que ver!
  - Eu verei se vocês deixarem. – Fiz bico por ter sido excluída dos últimos vídeo clipes da banda. – Ou melhor, se Marco deixar.
  - Ah, tem mais uma coisa também... Marco não gostou tanto da nossa saída no sábado. Algumas fotos nossas vazaram. – A alegria do assunto quase foi embora quando chegamos àquele não tão pequeno detalhe. – Não tinha nada demais nas fotos, mas os sites de fofoca estão falando que fizemos as pazes.
  - Tenho certeza que a Modest! vai inventar alguma desculpa pra encobrir isso. – Dei de ombros, já sabendo que podia esperar qualquer coisa vinda deles. – Não duvido nada que apareçam com uma mulher muito parecida comigo e digam que é minha irmã gêmea.
  - Eu não me importaria em você ter uma irmã gêmea. – Aquilo teria me deixado com ciúmes, mas lembrei de algo que viraria o jogo.
  - Por falar nisso, acho que o namorado da deu em cima de mim hoje. – Comentei casualmente, deixando a minha caneca quase vazia na mesinha de cabeceira do meu lado.
  - Como é? – Seu tom de voz foi alterado drasticamente.
  - Ele apareceu lá na sala quando eu estava me alongando e perguntou se eu tinha planos para o almoço.
  - Foi por isso que você demorou pra chegar aqui? Estava almoçando com esse filho da puta, ?
  - Sim, Zayn, foi com ele que eu almocei! – Irônica? Imagine. – Eu te disse que ia almoçar com a Rachel! Mas isso não importa! Eu devia contar a ?
  - Devia contar que ela vai ficar sem namorado se esse otário não se colocar em seu lugar. – Fechou a mão vazia em punho como se esforçasse para manter a calma.
  - Quem sabe assim ela largue ele de uma vez e vá falar com o Ni... – Eu falava de um assunto e ele de outro, mas esperava que nos encontrássemos no meio. – Eu devia falar com ele! É, eu vou falar com ele.
  - Não vai não. – Viu? Nos encontramos.
  - Não vou não. – Admiti. – Por mais que queira ajudar os dois, não posso me meter... Mas talvez...
  - Não! Nem me olhe assim, . – Puxou o cobertor para cima da sua cabeça após terminar a bebida em sua caneca. – Eu não vou falar com ele!
  - Porque não? – Tentei puxar o edredom, mas foi quase inútil. – Você conhece os dois a mais tempo do que eu! E culpa disso tudo é sua!
  - Minha? Como é que a culpa disso é minha? – Se descobriu pra me encarar. Soava como se estivéssemos brigando, mas não era tão sério assim.
  - Se você não tivesse dado uma de Georgia Rose pra cima do Niall, não teria achado bilhetinho nenhum! – Cruzei os braços. – Aliás, como é que você sabe que da marca de nascença que ele tem na bunda?
  - Niall gosta de gravar pelado. – Deu de ombros com aquela explicação ótima. – Ainda mais quando está quente.
  - Então é por isso que vocês nunca me deixaram ir ao estúdio em L.A?
   Zayn só devia estar tentando proteger a minha inocência, claro! Isso fazia todo sentido do mundo. Ou talvez fosse o remédio me deixando maluca. Me enterrei embaixo das cobertas e o menino me puxou para o seu peito. Desejei mais do que nunca poder respirar normalmente, pois almejava sentir o seu cheiro, ainda mais assim, tão pertinho de mim. Recebi cafuné nos meus cabelos e suspirei pela boca, sentindo meu corpo começar a relaxar depois das longas horas de dança que tivera durante a manhã. Ninguém se importaria se adormecesse ali, certo?
  - Eu nunca vou encontrar bilhetinhos de outras mulheres nas suas coisas, né? – Perguntei enquanto dedilhava a sua tatuagem de asas que aparecia pela gola de sua camisa.
  - Claro que não, babe... – Beijou a minha testa. – Eu sei esconder bem essas coisas.
  - HA–HA, hilário.

+++

   Já estava escuro quando acordei do que deveria ter sido apenas um cochilo para recarregar as forças e mesmo assim me sentia pior do que quando fora dormir. Minha garganta estava seca e meus lábios ardiam, respirar pelo nariz se mostrara ainda mais impossível do que antes, meu estômago revirava e o frio que sentia era quase insuportável. Puxei o edredom ainda mais, deixando apenas o rosto de fora. Abri os olhos com cuidado, encontrando o quarto bem escuro, com a exceção da luz acesa do banheiro e a porta entreaberta. Zayn caminhava no canto do quarto, com seu celular preso à orelha. Sua camiseta sem mangas provava que a única pessoa com frio ali era eu, então o problema não era no aquecedor interno na casa. Para não atrapalhar a sua ligação, fiquei apenas olhando-o de onde estava.
  - Já entendi, vou pedir esses remédios... Ok... Sim, pode deixar... – Zayn falava baixo para não me atrapalhar, mas ainda era possível escutá-lo. – Obrigado, Mark... Desculpa te atrapalhar no escritório, mas eu não sabia mais o que fazer... Tudo bem, eu aviso... Até logo.
  - Estava falando com meu pai? – Minha voz estava rouca, o que me obrigou a me esforçar para falar.
  - Hey, gorgeous. – Assim que encerrou a ligação, sentou na ponta da cama, acariciando os meus pés por cima do cobertor. – O bom de ter um sogro médico é que quando a sua namorada fica doente, você tem pra quem ligar. Como está se sentindo, princesa?
  - Já estive melhor. – Forcei um sorriso, não querendo preocupá-lo mais do que já estava. – Minha garganta está seca, mas a dor de cabeça passou... Acho que estou com febre.
  - Seu pai falou que está mandando alguns remédios pra cá, então vamos esperar um pouco, certo? – O cuidado que ele tinha comigo era algo que me deixava melhor mesmo sem remédio algum. – Enquanto isso, tem uma banheira te esperando lá no banheiro.
  - Eu não quero tomar banho! – Choraminguei, me enterrando ainda mais nas cobertas.
  - Quer ficar suja, mocinha? – Zayn me tratava como uma criança e era assim que eu me comportava. – Não vai discutir comigo. Vem, ...
  - Naaaahnnm. – Resmunguei, mas acabei esticando a mão para que me ajudasse a levantar.
  - Acho que esse é o mesmo som que Lux faz ao ter que tomar banho! – Riu da minha má vontade e me pegou no colo mais uma vez.
  - Somos irmãs, o que você queria? – Fiz um bico enorme, mas me aninhei em seus braços. Será que ao invés de tomar banho eu não podia ficar ali?
  - Boba. – Beijou a minha bochecha.
   Eu estava sendo boba mesmo, mas quem se importava? Certamente eu é que não. Fui colocada no chão calmamente, pois Zayn entendia que meu corpo estava dolorido por causa do resfriado que mais parecia uma gripe terrível. Fechou a porta, nos deixando protegidos de qualquer vento que viesse do lado de fora do banheiro, e foi checar a temperatura da água da banheira. Um pouco de fumaça saía de sua superfície, mas nada que pudesse nos queimar. Sem querer dar mais trabalho ainda, me despi sozinha, precisando de ajuda apenas para tirar as meias, já que sentia dores se me curvasse demais. Depois disso, Zayn encontrou um prendedor de cabelo perdido pela bancada de mármore e juntou os meus cabelos com todo cuidado. O resultado foi algo bem torto e bagunçado, porém, a sua intenção era linda.
   Também com seu auxílio, entrei na banheira devagar, deixando meu corpo se acostumar com a temperatura. Apesar da água estar quente, sentia frio em minha pele, por isso praticamente afundei até estar com o pescoço submerso. Zayn sentou-se no chão do banheiro, ao meu lado, encostou o queixo na borda e ficou me olhando. Meu queixo tremeu um pouco, devido a um calafrio e tentei disfarçar com um novo sorriso. Me sentia grata por ter um namorado tão perfeito que não se importava em me ver nos piores momentos. Aproximei nossos rostos até encostar na sua testa com minha. Sua mão foi para as costas da minha nuca e permaneceu ali, acariciando com ternura.
  - O que você está olhando? – Sussurrei ao estudar a direção de seu olhar.
  - As sardinhas que você tem... – Sorriu, mas afastei o rosto e cobri as bochechas com as mãos.
  - Eu não tenho isso! – Ou ao menos preferia ignorá-las.
  - Tem sim, bem aqui... – Tirou as minhas mãos do rosto e tocou o alto das maçãs do meu rosto. – São lindas.
  - Não gosto delas. – Abracei os joelhos no peito, olhando para a água. – E achava que não dava pra ver... São tão pequenas.
  - Talvez não dê pra outras pessoas verem, mas eu presto atenção em tudo em você. – Com aquela frase, voltei a fitá-lo com atenção. Tive certeza que Zayn enxergava todas as minhas falhas, mas gostava delas. – Como os seus olhos.
  - O que tem os meus olhos? – Pisquei devagar, deixando-o olhar dentro deles.
  - Qualquer um pode ver que são azuis, mas só se parar pra prestar atenção vai perceber que em volta da pupila tem algumas manchinhas cinza. – Explicou o que nem eu mesma sabia. – Você é tão linda, .
  - E você é tão bobo... – Suspirei. Não tinha mais certeza se era o banho ou a presença dele que me fazia melhorar. Já não sentia mais tanto frio como antes. – But I love you so much...
   Zayn me dar banho estava se tornando um hábito que eu realmente gostaria de dar continuidade. Passou a esponja com sabonete por todas as partes do meu corpo até que estivesse limpa e cheirosa. Ou como ele mesmo falou “livre dos germes malvados”. Ao sair da banheira e me secar, encontrei novas peças de roupas que o menino separara pra que eu usasse. Apenas quando o fiz ter certeza de que estava forte o suficiente para trocar de roupa sozinha é que ele foi atender a porta, pois a campainha já tocara umas boas três vezes e devia ser o entregador que meu pai mandara com os remédios.
   Após me vestir e dar um jeito no cabelo embaraçado com uma escova de cabelos potente, escovei os dentes e lavei o rosto. Minha aparência devia estar melhor do que quando acordei, mas ainda tinha pequenas olheiras embaixo dos olhos e meus lábios brancos e secos. Precisava urgentemente beber água! Dobrei a manca do casaco e procurei a rolha no fundo da banheira, deixando que toda a água fosse ralo a baixo; com sorte, minha gripe iria embora também. Apaguei a luz do banheiro, passei pelo quarto e tentei encontrar com Zayn no corredor ou sala, mas ele não estava mais por lá. O som do filtro de água sendo aberto e fechado mostrou seu paradeiro na cozinha e usei o arco da sala de jantar para chegar até lá.
  - Está cozinhando, babe? – Arrastei os pés pelo chão, abraçando-o pelas costas. – O cheiro deve estar muito bom.
  - Aceitarei isso como um elogio aos meus dotes culinários. – Estava parado em frente ao balcão do fogão, mexendo uma panela de conteúdo amarelado. – Mesmo que a receita não seja minha.
  - E de quem é? – O deixei cozinhar em paz e fui de encontro à sacola plástica com o logo do hospital onde meu pai trabalhava.
  - Da senhora Darling, é claro. – Sorriu de canto a canto. – Também conhecida como nana. Liguei pra ela e perguntei o que você gostava de comer quando ficava doente. E ela disse sopa de galinha-
  - E milho. – O interrompi para completar sua frase. – Com pedacinhos de frango cortados em cubos?
  - Algo assim. – Melou as costas da mão com a colher que usava pra mexer e em seguida lambeu. – Hm, acho que está boa... Não sei ver a quantidade de sal. Ok, talvez meus dotes culinários não sejam tão bons assim.
  - Tenho certeza que está uma delicia, Zen. – Ri do olhar de decepção pessoal que ele sustentou.
  - Por que você me chama de “Zen”? Os outros meninos já me chamaram assim também... – Desligou a chama do fogão, tampando a panela.
  - Esse é o seu nome, não? – Sorri de canto, mas ele não entendeu coisa alguma. – Por causa do seu sotaque... Você não se apresenta como “Za-yyn” e sim como “Zen”.
  - É assim que eu sôo? – Levou a mão à boca, fazendo-me rir mais uma vez.
  - Eu acho fofo. Meu Zen.
   Seu sotaque de Bradford era uma graça e não me importava que algumas palavras fossem diferentes ao sair da boca dele e da minha. Sabia que o pouco do sotaque francês que ainda restava em mim também encontrava dificuldade em pronunciar certas palavras do dicionário britânico. Zayn foi até o armário para pegar os pratos de sopa, mas não antes de me passar um copo de água para ajudar a tomar os remédios que papai mandara. Abri a sacola e encontrei lá alguns tipos diferentes de medicamentos: Solução nasal para desentupir o nariz, comprimidos para febre e mal estar, xarope para tosse e spray para a garganta. Fiz careta ao olhar todos eles, sabendo o gosto seria a parte ruim de ingeri-los. Por outro lado, estava acostumada com aquela medicação, então sabia que funcionariam.
   Engoli um comprimido e aproveitei a água para empurrá-lo. Em seguida, usei o remédio para o nariz e fiz um verdadeiro escândalo. Com “escândalo” lê-se: Fiz careta até não poder mais e tossi assim que o gosto amargo chegou à minha garganta. Passei longe do xarope e do spray, pretendendo evitá-los até não poder mais. Bebi mais alguns goles d’água na tentativa de melhorar o sabor em meus lábios, mas seria mais difícil que isso. Durante minha crise infantil, Zayn tivera tempo suficiente de preparar dois pratos fundos com sopa e encher dois copos de suco de laranja e colocar tudo em uma bandeja colorida.
  - Não estou com tanta fome assim! Comi muito durante o almoço com Rach. – O segui para fora da cozinha.
  - Sério? Engraçado... – Arqueou as sobrancelhas, indo em direção à sala de estar. – Falei com Rachel e ela me falou algo completamente diferente.
  - As pessoas têm que parar de me dedurar! – Cruzei os braços, sendo a primeira a me jogar no sofá. – Eu só não estava com fome...
  - Você nunca está com fome, , esse é o problema. – Colocou a bandeja na mesinha de centro e a arrastou para perto de nós. – Mas hoje você está doente e precisa comer pra ficar forte. Nem que eu tenha que te dar na boca a sopa inteira.
  - Pode ser que eu goste dessa última opção. – Dei o braço a torcer, vendo que não escaparia de mais aquela refeição.
   Apesar de ter aceitado ser servida na boca, peguei a colher sozinha e comecei a comer. Zayn estava certo... Ele não sabia ver a quantidade sal, pois era como se não tivesse colocado nem um pouco naquela sopa, mas estava saborosa. Não que eu conseguisse sentir muito o gosto de nada, mas continuei comendo. Ligamos a TV em um canal qualquer, apenas pra ter algum som enquanto fazíamos a nossa refeição. Vez ou outra olhava para Zayn, que comia a sua sopa como fosse o seu prato preferido. Vai ver ele gosta de comida sem sal...
  - Uh, babe... – Chamei sua atenção.
  - Yep?
  - O que você estava fazendo mais cedo? – Questionei entre uma colherada e outra. – No seu estúdio.
  - Nada, ué! – Sua resposta rápida foi, acima de tudo, suspeita. – Quero dizer, nada importante... Só pichando um pouco mais a parede.
  - De novo? Você desenhou um Batman gigante lá! – Esperava o dia que a minha sogra veria aquilo. – Deixou um pedaço pra mim?
  - Você tem uma parede inteira lhe esperando lá. – Sorriu com o quase convite. – Só me avise quando quiser pintar. Tenho que escon- guardar algumas coisas primeiro.
  - Claro...

    

Chapter XXVII

Se alguém disse que descanso e cuidados não curam gripe, esse alguém não descansou e nem teve cuidados tão bons quanto os de Zayn. Na quarta feira daquela mesma semana eu já estava quase cem por cento boa, a única coisa que ainda faltava melhorar era a minha voz nasalada, mas isso eu podia superar. Consegui até melhorar o meu desempenho na Academy e não estava completamente sem ar ao terminar das aulas. me seqüestrou na hora do almoço para que tivéssemos a nossa refeição juntas e, mesmo ainda não tendo terminado o namoro com Ben, fugiu dele o tempo inteiro que esteve nas proximidades da academia. O mesmo que eu fiz durante os dois últimos dias, nem um pouco afim de agüentar suas pseudo-cantadas. Também não encontrei um bom momento pra tocar nesse assunto com ela, mas pretendia fazê-lo rápido.
   Tive tempo de ir em casa para trocar de roupa antes de ter que encontrar com Zayn. A convidei e aceitou ir junto. Claro que não lhe falei que ao encontrá-lo, também veria os outros quatro meninos, o que incluía seu ex-namorado e possível-futuro-namorado. Como sempre, Rachel foi quem nos ajudou a entrar escondidas de Pablo e Marco no estúdio onde o vídeo clipe da música Kiss You estava sendo filmado. O que eu não contava é que o “estúdio” era um estúdio de cinema de verdade, e não daqueles fotográficos que já estava acostumada. Dá pra imaginar a minha animação ao entrar no galpão gigantesco com vários sets diferentes só para aquela super produção dos meninos. Diferentemente dos funcionários da Modest! os produtores e auxiliares de cena – seja lá como forem chamados – foram muito legais com nós duas e mostraram algumas câmeras e equipamentos de filmagem enquanto os meninos gravavam uma parte do clipe, onde os cinco usavam roupa de marinheiro e cantavam em um cenário com areia.
   Foi só uma pausa ser anunciada que os cinco idiotas começaram a correr por aí. Louis e Harry se encarregaram de jogar areia em Paul e outro homem desavisado que passou por ali enquanto o segurança era atacado. Niall e Zayn vieram nos cumprimentar e Liam foi o único que obedeceu os chamados de Caroline Watson, a responsável pelas mudanças de roupas da banda; não só para aquela gravação, mas em todas as aparições dos meninos, o que deixava Rachel apenas encarregada dos cabelos e makeup. Foi clara a felicidade de Ni ao ver ali, ainda mais por ela ter sido super simpática com ele, diferente das últimas vezes que os dois estiveram juntos no mesmo cômodo.
  - Hey, , estou louco pra te mostrar uma coisa! – Com essa desculpa, Zayn entrelaçou os dedos aos meus e me tirou de perto dos dois.
  - Estarei por aqui... – avisou, nem um pouco interessada em nos seguir.
  - Não se percam! – Acenei para os dois e apressei o passo ao lado do meu namorado. – Vai ver assim eles se entendem...
  - Espero que sim! Niall está pensando em chamar Amy pra sair de novo, mas se falar com ele, pode ser que desista dessa idéia. – Notei preocupação em sua voz. Talvez “sair com Amy” não fosse a única intenção do irlandês para aquela noite. – Mas vamos deixar os dois se virarem.
  - Exatamente! – Paramos de correr e o puxei para os meus braços. – Hi, baby.
  - Hello, sweetcheecks. – Abraçou-me pela cintura e pressionou nossos lábios juntos.
  - Senti sua falta. – Disse entre um beijo ou outro, não querendo desfazer aquele abraço.
  - Estou vendo isso. – Começou a andar em alguma direção, me arrastando junto. – Como foi o dia na Academy hoje? Algo interessante aconteceu?
  - Não muito... – Dei de ombros, me soltando dele para não acabar caindo. – Aquele lugar fica muito vazio sem você e o Ni. Antes eu tinha a ruiva, mas a vaca ainda está de férias... E depois que Ed saiu pra ir atrás da carreira como cantor, não tenho mais nada pra fazer durante o intervalo!
  - Então você não fica com a sua nova BFF durante o intervalo? – Se referiu à Brigitte daquela forma pra me provocar.
  - Isso não é engraçado, Malik! A menina parece querer grudar em mim... Não sei porque, mas ela me acha muito interessante agora. – Bufei cruzando os braços, Zayn envolvendo-me pelos ombros.
  - Não se irrite, babe. Vamos andar de moto! – Beijou a minha bochecha e correu.
  - Moto?! Zaaaaaaayn...
   Minha única alternativa foi sair correndo atrás dele. Ainda bem que a minha bolsa estava com Rachel, caso contrário teria me atrapalhado. Desviei de algumas caixas enormes e pulei o que parecia ser uma espécie de trilhos de trem. Aquele menino devia ter perdido a cabeça! O intervalo deles não seria tão grande assim pra que tivéssemos tempo de andar de moto! Além do que, ele podia até ser bom em dirigir carros, mas moto? “Não é preciso uma habilitação específica ou coisa assim?” Meus devaneios foram interrompidos quando descobri de qual moto ele estava falando. Um cenário um pouco maior que o da praia estava montado com um telão esverdeado, um carro avermelhado e uma moto pareados lado a lado. Em cima da moto estava o menino na maior pose de Badboy.
  - Precisa de uma carona, babe? – Piscou e sorriu torto.
  - Até onde pode me levar? – Caminhei até ele, parando ao lado direito da moto, já que um carrinho estava preso ao esquerdo.
  - To the moon and back. – Tinha mais segundas intenções em seu convite do que eu esperava, o que me fez corar levemente.
  - Eu dirijo! – Fiz sinal para que ele abrisse espaço para me sentar na sua frente.
  - Mas eu cheguei primeiro! – Fez birra, não permitindo que eu o empurrasse.
  - Deixa a menina dirigir, Zayn! – Liam reapareceu, vestindo apenas uma bermuda azul, e pulou no carrinho preso à moto.
  - Obrigada, Leeyum! – Cruzei os braços me sentindo importante por ter mais alguém me apoiando.
  - Estou me sentindo traído! – Zayn fez uma careta exagerada, indo para o banco de trás da moto.
  - Weeeee, todos a bordo! – Usei toda a minha destreza de bailarina para montar no veículo e ainda assim quase chutei Liam e derrubei Zayn.
  - Isso não é um navio, . – O menino chegou mais perto e pousou as mãos em meu quadril.
  - Pode ser um navio se eu quiser! A não ser que queira ir pra água, é melhor ficar quieto e obedecer a capitã. – O olhei feio, mas o menino ria.
  - Eu nem sei nadar! – Fez um bico enorme me agarrou, prendendo-se em mim e descansando o queixo em meu ombro. – Se isso vai ser um navio... Posso ser um pirata?
  - Vocês são fofos. – Quase esquecera que Liam estava ali também.
  - Não entendo a sua fixação por piratas... – Pensei alto, segurando no volante da moto e mexendo-o de um lado para o outro. – Guys, isso aqui não é de verdade, certo? Não vou sair destruindo tudo por aí...
  - Depois do acidente com a van em What Makes You Beautiful, acho que não vão mais nos deixar dirigir... – Lou foi quem me respondeu, aparecendo no set com a mesma roupa que Liam. – Então todos os veículos aqui são de mentira.
  - Zayn, Carol está te chamando. – Niall vinha atrás do meu irmão, sua bermuda sendo diferente da dos outros dois; branca com estampa floral.
  - Sempre eu, sempre eu! – Desceu da moto resmungando. – Não fuja com um navio inimigo!
  - Ai ai, captain! – O observei se afastar e em seguida voltei a encarar Lou. – E que história é essa de acidente com a van?!
  - Louis quebrou o motor da van que usamos na gravação do clipe! – Niall o dedurou, sentando no lugar do passageiro do carro vermelho, já que Louis estava no banco do motorista.
  - Como se quebra um motor?! – Tudo bem que Lou podia ser bem... Inquieto, mas aí já era demais.
  - Eu não quebrei nada! O motor quebrou sozinho, o que posso fazer? – Se defendeu, sendo que ninguém lhe deu ouvidos.
  - E ainda foi parado pela policia duas vezes por andar muito devagar... – Niall se divertia contando os podres de Lou e fazia todos nós rir, enquanto mexia no visor do carro. – OUTCH.
   Sua reclamação tinha motivo e tive sorte de assistir o momento em que o loiro fechou o visor com mais força do que devia e acabou batendo em si mesmo. Dessa vez era Louis quem ria da desgraça do amigo e eu não estava muito atrás, pois sentia lágrimas molharem os meus olhos do tanto que estava rindo. Liam foi o único que, além de rir também, se preocupou com o menino. Infelizmente não pudemos ficar por ali por muito tempo, pois uma voz masculina usou um megafone para chamar a banda de volta ao trabalho, dessa vez se referindo ao “set das pranchas”. Mesmo que não fosse da banda, segui os três na direção que eles pareciam conhecer bem.
   Abracei Niall durante nossa caminhada, começando a me preocupar com a manchinha avermelhada que apareceu embaixo de seu olho direito. Fui perdoada por rir e ganhei até um beijo na cabeça, pois a bolinha de raios de Sol irlandesa não conseguia ficar brava comigo por muito tempo. Na realidade, nenhum dos cinco meninos conseguia. No geral, era a única pessoa no mundo que podia demorar mais de uma hora pra me perdoar por qualquer coisa. Descobri isso porque precisei ficar no seu pé durante duas horas inteiras só pra que ela me perdoasse por ter dito que “Amy não é tão chata assim”. Por falar na ruiva, a avistei sentada na cadeira do diretor, conversando com Harry, que também usava a bermuda azul.
   O set das pranchas era chamado assim porque era um cenário que imitava uma praia e tinha cinco pranchas no lugar que deveria ser a água. Zayn já estava em cima da sua prancha e tinha a mesma quantidade de roupas que os outros meninos e o mesmo modelo de Niall. O que me fez rir em seu figurino é que ele tinha bóias de criança presas aos braços, exatamente por não saber nadar. O diretor de nome difícil mandou os meninos tomarem seus lugares e levantou de onde estava sentada preguiçosamente para vir ao meu encontro.
  - Okay, lads, vamos tentar fazer rápido dessa vez... – O diretor pediu ainda pelo megafone, como se implorasse que os idiotas se comportassem como pessoas normais. Pobrezinho, tão inocente. – Louis, deixa Liam em paz!
  - Olha ele, olha ele! – Li já estava em cima de sua prancha e Lou tentava derrubá-lo como se estivessem em um brinquedo de guerra de canudos.
  - C’mon, lads! As garotas estão aqui... – O diretor apontou pra mim e , que assistíamos tudo. – Não querem fazer bonito pra elas?
  - Eu estou bonito, ? – Zayn mandou beijo pra mim e fingi pegá-lo no ar.
  - É o mais bonito! – Respondi de volta.
  - E eu, ? – Niall flexionou os bíceps, se exibindo para a ruiva.
  - Lindo como sempre, Ni... – Ela mesma parecia estar emocionada com toda a atenção que nunca imaginou voltar a receber.
  - Isso mesmo, então vamos lá! 3... 2... – O diretor sentou em seu lugar de direito à frente de uma telinha de TV que mostrava os meninos pelo ponto de vista da câmera. – Playback!
  - Como foi a conversa com Niall? – Não perdi tempo em puxar um pouco mais pra trás e comentar sobre aquele assunto.
  - Não conversamos sobre nada demais... Ele perguntou como estão as aulas e expliquei que ainda estou de férias... – Foi falando em um volume baixo, também sem querer atrapalhar a gravação. – Perguntou como estão as coisas com Ben e eu disse que terminamos...
  - Espera... Você e Ben terminaram? – Meus olhos brilharam com aquela informação.
  - Não... Mas shhhhhh. – Fez sinal de silêncio com o indicador. – Mas o que eu devia responder? Que ainda estou com Ben até descobrir quais são as intenções dele com a Amy?
  - Você sabe o que eu acho que devia falar! – A reprovei. – Não vou mais comentar sobre esse assunto, você é cabeça dura demais.
  - Eu sei o que estou fazendo!
   Duvidava muito que ela soubesse o que estava fazendo, mas não havia nada que eu pudesse fazer. O relacionamento não era meu para que tentasse resolver tudo e só iria me irritar se continuasse dando pitaco naquele assunto. podia ser ótima em dar conselhos, mas quando se tratava de segui-los ela conseguia ser pior do que quando se achava certa sobre tudo. Voltamos para perto do diretor e dos outros que observavam os meninos se divertirem em cima de pranchas de surf falsas quando o assunto morreu. Resolvi me concentrar na música que escutava pela primeira vez. Kiss You tinha uma batida dançante e não consegui ficar parada por muito tempo, pois logo estava mexendo o corpo de um lado para o outro. Não me comportei como se estivesse em uma boate, mas dava pra ver que estava me divertindo.
   O sorriso no rosto dos cinco meninos mostrava que estavam tendo uma experiência positiva com aquela gravação, apesar de todas as horas que passaram dentro do set. A coreografa estava no lado oposto ao meu e começou a fazer alguns movimentos com os braços e os meninos a imitaram quase perfeitamente. Zayn se embolou um pouco no tempo de mudar de um movimento para o outro, mas sei que isso não o atrapalharia em nada. Na minha frente, um ventilador enorme foi ligado e um homem pegou um balde de água e uma esponja, onde usava o vento e esse último objeto para mandar gotas de água na direção dos meninos. Assim que a música chegou ao seu final, o diretor Vaughan levantou e bateu palmas.
  - Corta! – Sua ordem fez todos pararem o que estavam fazendo. – Acho que essa é a primeira cena que conseguimos gravar de primeira! Muito bem, meninos.
  - Somos profissionais! – Lou bateu na mão de Liam em forma de High Five.
  - Garotas, espero que vocês fiquem durante a gravação inteira, porque só assim eles se comportam. – Vaughan fez sinal de positivo para mim e .
  - Vou adorar ajudar. – sorriu, mas olhava para Niall.
  - Vamos em frente, então. Zayn, só vou precisar de você pra fazer uma chamada rápida. – Apontou para o moreno ainda em cima da prancha. – Os outros, tirem cinco minutos de descanso.
  - Por que eu? – Fez bico, sem sair do lugar até receber novas instruções.
  - Porque é você que está usando as bóias. – O diretor recebeu uma estaca de madeira no formato de uma barbatana de tubarão. – Essa parte vai ser divertida! Alguém quer ser o tubarão?
  - Eu quero! – Levantei a mão ao pedir permissão.
  - Muito bem! Pode vir aqui. – Vaughan acenou para que me aproximasse e o obedeci. – Vocês dois podem ir ali atrás, entre aquelas duas ondas... Zayn, você vai fingir estar nadando com medo do tubarão, ok?
  - Se o tubarão for tão lindo quanto ela, acho mais fácil ele correr de mim. – O menino brincou, descendo da prancha.
  - Get a room, vocês dois! – Rachel brincou, recebendo um olhar feio de Marco. Ela não se importou.
  - Shhhh! – Ri para a minha madrasta, também pouco me lixando para o empresário. Recebi a barbatana do tubarão e quase a derrubei. – Uh, isso é pesado...
  - Tenha cuidado pra não se machucar... – O diretor alertou.
  - Não se preocupe, estou bem! – Agradeci a preocupação com um sorriso e fui me juntar a Zayn entre as duas ondas cenográficas.
  - Preparada, babe? – Zayn me olhava encorajador.
  - Finalmente vou estar em um dos seus vídeo clipes! – Comemorei com uma dancinha, levantando e abaixando a minha barbatana. – E o melhor é que ninguém nunca vai saber disso!
  - Nós vamos saber. – E era só o que importava, assim como em todas as outras coisas.
  - Atenção, equipe... AÇÃO!
   Com seu aviso, a música começou a tocar mais uma vez e me abaixei, deixando apenas que o objeto em minhas mãos aparecesse por cima da onda. Zayn saiu correndo em câmera lenta enquanto batia os braços ao fingir fugir de mim. Fui atrás dele e a minha tentativa de não rir durou menos de cinco segundos. Ao menos não fui tão escandalosa e conseguimos terminar o percurso de uma ponta à outra. Na hora de fazer a volta, o garoto fez cara de mal e começou a me perseguir. Me assustei por ter sido pega de surpresa e corri na direção contrária à dele, gritando baixo e ainda rindo bastante. Tive a cintura agarrada e a placa de madeira que até então eu segurava foi ao chão e fez um barulho tremendo.
  - CORTA! – O diretor ordenou novamente. – Foi ótimo, meninos!
  - Você me assustou! – Me debati até pisar no chão mais uma vez, sendo virada para encarar o que me capturou.
  - Eu disse que você é que deveria correr de mim. – Fez um caminho de beijos que ia do meu queixo até os lábios, os quais retribui em meio a risadas.
  - Idiota. – Rolei os olhos, o envolvendo pelo pescoço. – O que eu faria sem você?
  - Muitas coisas, provavelmente... – Brincou, mordendo a ponta do meu nariz. – Mas nada tão divertido, isso é óbvio.
  - Você é sempre metido assim ou só quando está fazendo coisas da banda? – Continuei em seus braços, preferindo não pensar que ele estava apenas de bermuda.
  - Metido? Por estar falando a verdade? – Riu ao se fazer e inocente. – Babe, não queria te falar nada, mas acho que a sua perna está tremendo.
  - O que? Ah! Não é a minha perna, é meu celular... – Tive que desfazer o abraço para pegar o iPhone no bolso da minha calça. – É a Lexy!
  - Quem? – Tentou espiar meu celular, mas ainda não tinha foto alguma dela em seu número de contato.
  - Minha publicista! Shhh! – Pedi silêncio por estar nervosa com aquela primeira ligação que recebia dela e me preparei para atender. – Hello? Alexia?
  - Oi, ! Tudo bem? Estou atrapalhando alguma coisa?
  - Tudo ótimo! Claro que não está atrapalhando nada. – A respondi e fiz careta quando Zayn fez mímica dizendo que atrapalhara sim. – Há algum problema?
  - Muito pelo contrário! Tenho noticias muito boas pra te dar. Está em casa? Tem como nos encontrarmos agora?
  - Agora? Não estou em casa, mas acho que posso te encontrar... – Olhei em volta como se isso fosse me dar as respostas que precisava. – Estou no Elstree Studios, pra falar a verdade, então é um pouco longe...
  - Sei onde é. Tem alguma lanchonete aí por perto onde possamos conversar?
  - Sim, sim... Tem uma Starbucks algumas quadras daqui, podemos nos encontrar lá. – Alexia devia ter noticias realmente importantes para se dispor a atravessar a cidade só pra me ver.
  - Perfeito. Te encontro lá em quarenta minutos?
  - Combinado! – Aceitei o nosso encontro e encerrei a ligação. Zayn ainda me esperava ali. – Parece que eu tenho um encontro com a minha publicista!
  - Você acha que é alguma coisa boa? Outro convite pra uma festa? – Segurou a minha mão, animado com as coisas boas que poderiam acontecer pra mim.
  - Parece que é algo bom sim! – Mordi o lábio tentando não pensar em todas as possibilidades. – Descobrirei em quarenta minutos.
  - Na Starbucks aqui perto, né? Eu te levo lá. – Começou a andar em direção aos camarins, mas o impedi de continuar.
  - Não senhor! – Não saí do lugar, tampouco soltei sua mão. – Você não pode me levar lá.
  - , estamos no meio do nada! Ninguém vai nos ver, muito menos paparazzis!
  - Não estou preocupada com paparazzis! – Na verdade, a minha preocupação em sermos vistos juntos era mínima. – Mas você ainda tem um clipe pra gravar aqui.
  - Ah, é... Tem razão. – Pareceu decepcionado. – Mas vá com cuidado.
  - Sempre. – O aproximei para trocarmos um beijo demorado.
  - Mas só por precaução, Paul vai com você. – Decidiu aquilo como se eu não tivesse escolha.
  - Hã?!

+++

  Agradeço aos deuses por existirem Starbucks a cada duas esquinas! Essas cafeterias vinham a calhar quando se queria uma bebida para começar o dia ou para quando sua publicista telefona para marcar uma reunião relâmpago. Zayn não mentiu quando disse que Paul me acompanharia até meu destino, pois o segurança me seguiu fielmente como se houvesse o perigo de alguém me seqüestrar durante a minha caminhada de dois quarteirões inteiros! Pauly tinha mania de andar atrás de quem quer que fosse que estava sobre os seus cuidados, mas eu não suportava isso, então o fiz andar ao meu lado para que pudéssemos conversar. Eu não o via como um guarda-costas e sim como um tio forte que trabalhava de babá nas horas vagas. Ele, por sua vez, via os meninos, eu e como sobrinhos queridos, sendo que eu era a sua preferida por ser a mais comportada! Tudo bem que ele nunca admitiu isso em voz alta, mas eu lia em seus olhos.
   As folhas de outono não haviam começado a cair ainda, mas a coloração das árvores já mudava devagar. O verde que enfeitava os parques e ruas de Londres foi embora e o amarelo alaranjado tomava o seu lugar de direito na nova estação. Era uma mudança drástica e bonita de se acompanhar. O vento frio estava mais presente pela manhã e a tarde era banhada por poucos raios de Sol que aproveitavam enquanto a época de chuvas ainda não chegava. Algumas abóboras enfeitavam o lado de fora da fachada de pedra da Starbucks, talvez uma prévia do Halloween, e Paul abriu a porta para que eu pudesse entrar primeiro.
  - Obrigada, jovem cavalheiro. – Segurei na barra do meu sweater como se fosse um vestido e passei por ele ao fazer uma reverência.
  - Obrigado você, por me chamar de jovem. – Riu e seus olhos se comprimiram minimamente.
  - Você é jovem, Paul! De espírito e aparência. – O esperei me seguir até o interior da cafeteria vazia e ambos paramos na frente do balcão; eu olhando o cardápio escrito com giz no quadro negro preso à parede. – O que você vai querer?
  - Não posso beber, , estou trabalhando. – Parou de pé ao meu lado, com os braços cruzados e encarando o lado oposto ao que eu estava. Como gostávamos de chamar; Paul “checava o perímetro”.
  - Estou te oferecendo café, não whisky. – Eram tantas opção que eu mesma não sabia o que pedir. – Além do mais, seu trabalho é cuidar das cinco crianças, não de mim. Então, tecnicamente, não está trabalhando.
  - Quando você é o bem mais precioso de um dos meus clientes, sim, eu estou trabalhando ao cuidar de você. – Um sorriso escapou ao ouvir aquilo, mas me controlei.
  - Paul Higgins, se você não me disser o que quer beber, vou escolher qualquer coisa no menu. – A única pessoa com coragem de falar com ele daquela forma além de mim devia ser a sua esposa, pois até Marco e os outros tinham medo dele.
  - Ugh, tudo bem, Tomlinson. – Finalmente se virou para olhar na mesma direção que eu. Ele bufava, mas escondia um sorriso debaixo de sua expressão carrancuda. – Sabia que você é igual ao seu irmão?
  - Também sou uma Tommo. – Sorri com orgulho e dei um passo até o caixa, parando na frente da atendente que nos observava há algum tempo. – Boa tarde!
  - Boa tarde, senhorita. – Sorriu de volta com a educação inglesa que todos naquele país possuíam de berço. – Já sabe o que vai querer?
  - Demorei um pouco pra decidir, porque gosto de tudo... – Se estivéssemos no centro da cidade, onde a correria do dia-a-dia falava mais alto, não poderia ter começado a conversar tão tranquilamente com a moça. – Só vou querer um Frappuccino de morango e creme e esse senhor vai querer um de chocolate e dois Raspberry Muffins, por favor!
  - Ei! – Paul reclamou, mas eu avisei que se ele não escolhesse, eu mesma faria isso.
   Paguei por tudo e não precisei dar nossos nomes para que ela os anotasse, pois como a cafeteria estava vazia, nossos pedidos não seriam confundidos com os de mais ninguém. Na verdade, apenas uma senhora estava na loja além de nós, mas ela estava sentada na mesa mais afastada e parecia tão envolta no livro que lia que possivelmente não escutava mais nada a sua volta. A moça adoravelmente educada ficou do meu lado e não desfez o pedido apesar das reclamações de Paul, que logo se cansou de discutir comigo e foi se sentar em uma das mesas perto das janelas/paredes de vidro alto. Fiquei esperando enquanto nossas bebidas eram separadas e namorei os docinhos dentro do vidro de exposição, lembrando de uma época não tão distante assim quando eu e comíamos vários deles como se não houvesse amanhã.
  - Prontinho... – Cantarolei, equilibrando as duas bebidas e um prato com os dois muffins. – Bon apetit!
  - Uau. Eu não sabia que estava com fome até agora... – Deixou a vergonha de lado e se serviu de um dos bolinhos, me fazendo sorrir por ter acertado em cheio.
  - Você estava naquele set desde a manhã... Sei que os meninos comeram, porque Rachel tem mania de controlar as refeições das pessoas, mas não tinha tanta certeza assim se você também comeu... – Dei de ombros. Eu me preocuparia com qualquer outro da equipe, mas tinha um apresso especial por Paul.
  - Obrigawdo. – Agradeceu com a boca cheia, mas colocou a mão na frente ao pronunciar.
  - Hm... – Bebi um gole da minha delicia de morango e o imitei. – Dwe nadwa.
  - ? – Senti um toque em meu ombro e me virei na direção da voz feminina. – Demorei muito?
  - Lexy! – Levantei para cumprimentá-la. – Não demorou quase nada, também acabamos de chegar. Este é Paul... Um amigo que quis me acompanhar. Paul, esta é Alexia, minha publicista preferida.
  - Vou fingir que não sou a única que você conhece, ok? – Sorriu simpática e apertou a mão de Paul, que se levantou para doar seu lugar a ela. – Muito prazer, Paul.
  - É todo meu, Alexia. Já ouvi muito ao seu respeito. – Pegou o seu prato de muffins e sua bebida achocolatada. – Vou lhes dar privacidade para conversarem, mas estarei logo ali... Bem ali...
  - Obrigada, Paul. – Acenei pra ele, voltando a me sentar.
  - É impressão minha ou seu amigo tem um quê de “estou de olho em você”? – Alexia se acomodou, pousando na mesa a sua própria garrafa de inox.
  - Não podia estar mais correta! – Ri por ela ter definido exatamente a impressão que o homem passava em todo mundo. – Sem querer ir direto ao assunto, mas já indo... Você me deixou bem curiosa quanto ao assunto desse nosso encontro. Preciso ter medo?
  - Você precisa ficar feliz! Vamos lá, , confie em mim! – O auto-astral de Lexy era empolgante e ela quase não parava de sorrir. – Ok, é o seguinte... Você sabe como a sua aparição na festa da Glamour deu o que falar e até hoje é assunto em blogs e outros meios virtuais. Hoje de manhã eu recebi uma ligação muito interessante da revista e temos um convite pra você...
  - Que tipo de convite? – Beber o meu frappuccino deveria me acalmar, mas as borboletas em meu estômago pareciam se alimentar dele.
  - Querem que você participe de um ensaio fotográfico! – Tive a impressão que o seu rosto se partiria ao meio se tentasse sorrir um pouco mais.
  - Sério?! Uau! Isso é incrível! – Me animei, conseguindo sorrir ainda mais que a outra. – Quero dizer, já participei de outros ensaios na Models One, mas poderia aprender tão mais com a Glamour... Quem é que vão fotografar?
  - Acho que não fui bem clara aqui... , eles querem que você seja a fotografada. – A partir dali eu já não entendia muita coisa. – Um photoshoot seu, entende?
  - Na verdade não entendo. Quero dizer... E-eu não sou modelo e realmente nunca fiz algo assim... Uma coisa é ser fotografada na rua ou em eventos de moda, porque todo mundo é fotografado nesses lugares... Ma-as... Um ensaio fotográfico? Com fotógrafos e... – Percebi que estava falando rápido demais e parei pra respirar.
  - Eu conversei com a Sandra, que foi quem me ligou pra fazer essa proposta, e falei que justamente por você não ter treinamento de modelo, eles não podem esperar um comportamento profissional nesse sentido, ou exigir demais. – Lexy me tranqüilizava porque eu sabia que ela me compreendia. – Bem, ela disse que é exatamente isso o que eles querem. Um rosto novo, alguém que quebre esses paradigmas que todos estão acostumados a ver na capa de revistas. Você não é um robô ou cabide para as roupas e é isso que estão procurando. Pra você tenha uma idéia, estão dispostos a mudar todos os planos que vem fazendo há meses pra conseguir te encaixar ainda na edição desse mês.
  - Eu realmente não sei o que falar. – Brincava com o canudo da bebida sem prestar atenção nesse ato e olhava fixamente a madeira da mesa, como se encontrasse ali a minha decisão. – Você é a minha publicista... E o seu trabalho é me aconselhar e dizer o que é melhor pra mim... Eu devia fazer isso?
  - Eu acredito cem por cento que você devia fazer isso sim. – Sorriu, mas aquela resposta era óbvia. – O que te preocupa?
  - O que me preocupa é o que pode acontecer se isso não terminar do jeito que eles esperam que aconteça. Quero dizer... Não sei quem faz a pesquisa de campo da Glamour, mas eles devem saber que eu não sou a pessoa mais querida do mundo. Todos os boatos que já existem ao meu respeito por causa da minha conexão com o One Direction...
  - Me deixe te interromper bem aqui. É perfeitamente normal se sentir insegura quanto ao seu primeiro trabalho, mas quando Sandra conversou comigo, ela não mencionou uma vez sequer o seu contato com a banda do seu irmão. Eles querem você como pessoa, como a imagem que você passou assim que rasgou um vestido de onze mil libras no meio do tapete vermelho. Eles sabem que podem correr risco, mas não é nisso mesmo que você acredita?
  - Usar as minhas próprias palavras contra mim não é algo legal. – Sorri por conhecer aquele discurso. – Tudo bem.
  - Tudo bem? Poxa, eu já tinha outro discurso preparado, achando que demoraria mais pra te convencer!
  - Sim, tudo bem! Vamos fazer isso. Estou nervosa, claro, mas acredito que pode ser algo legal.
  - Ótimo! – Tirou o celular da bolsa e mexeu em alguma coisa. – Vou passar os seus contatos para Sandra e ela te mandará um email com tudo que precisa saber. Ah, mas uma coisa... Como você tem aula em dias de semana, o único dia que podem marcar para fazer a sessão de fotos é esse sábado e domingo. Está meio em cima da hora, mas, como eu disse, farão de tudo pra te encaixar na edição desse mês, que vai às bancas na próxima sexta-feira.
  - Tenho certeza que vai dar tempo. – Pensamento positivo! – Mal posso esperar pra contar aos meninos!

    

Chapter XXVIII

Era um dia de semana e eu devia estar na aula naquele momento, mas algo mais importante, ou quase isso, me impediu de ir até a Academy naquela quinta-feira. Zayn fora chamado a participar do programa de radio de Nick Grimshaw – The Breakfast Show, na BBC Radio One -, mas o convite foi apenas direcionado a ele, o que meio que impedia os outros meninos de ir junto. Não era egoísmo da parte da rádio, porque os outros quatro também teriam seus dias específicos para fazer o mesmo que Zayn, ele apenas foi o escolhido para ir primeiro. Apesar de ser amigo/conhecido de Grimmy, se sentira amedrontado justamente por ter que fazer algo que nunca praticara sem o resto da banda. Por esse motivo, me pediu que o acompanhasse. Claro que aceitei na mesma hora sem nem pensar duas vezes, sabendo que ele precisava de todo o apoio que pudesse ter. Eu podia não ter respostas inteligentes quanto as de Liam ou saber concertar besteiras como Louis, mas tinha duas mãos para ele segurar. Além do mais, diferentemente do que aconteceria em um programa de televisão, eu não seria vista por ninguém que não pudesse saber do relacionamento secreto – mas não tão secreto assim – que nós escondíamos.
     Pontualmente as sete horas da manhã Zayn e eu entravamos no estúdio da BBC; mais precisamente na sala que sediava o programa de sucesso de Grimmy. Cedo demais, eu sei. Mas, do nosso grupo, quem mais parecia estar com sono era Paul, nosso fiel escudeiro. Meu namorado não soltou a minha mão desde que nos encontramos dentro do carro e parte disso era por proteção e a outra parte por estar nervoso. Sempre que trocávamos olhares, eu sorria para ele como se afirmasse que tudo ficaria bem e não havia nada pra se preocupar. No momento em que avistamos a área acústica onde o programa de rádio era gravado e acenamos para Grimmy por trás do vidro, ele já parecia bem mais descontraído.
    - Vou estar ali se precisarem de algo. – Paul nos informou e apontou para um sofá vazio no canto da sala maior, onde produtores e outros auxiliares passeavam e faziam seus trabalhos.
    - Obrigado, tio Paul. – Zayn sorriu para ele e em seguida fitou uma mulher loira e baixinha que nos acompanhara desde a entrada.
    - Acho que o bloco já está acabando e ele vai chamar você, Zayn. – Ela gentilmente informou. – Se quiserem água ou alguma coisa é só me avisar.
    - Obrigada, April. – Foi a minha vez de agradecer.
    - Como sabe o nome dela? – Zayn perguntou com um muxoxo após ela também se afastar.
    - Foi a primeira coisa que ela falou ao nos receber. – Acariciei a mão dele com a minha, encostando o rosto em seu ombro. – Você não estava prestando muita atenção...
    - Viu só? É por isso que eu preciso de você aqui. – Beijou a minha testa. – Pra me dizer o nome das pessoas quando eu não presto atenção.
    - Então sou a sua secretária agora? – Ergui o rosto para que ele percebesse meu olhar de discordância.
    - Uma secretária sexy. – Piscou.
    - Preciso de um aumento. – Dei de ombros como se agüentar Zayn fosse um trabalho árduo. – Olha, Grimmy está chamando...
    - Podem entrar, vocês dois. – O próprio apresentador abriu a porta de vidro e me incluiu no convite.
     Nick Grimshaw tinha uma personalidade bem energética e sempre fazia todos a sua volta se sentirem a vontade, apesar de poderem ser escutados por centenas de pessoas pelo país. Talvez por isso é que seu programa fazia tanto sucesso, fosse pelo ponto de vista dos ouvintes ou dos seus convidados. Ele abraçou Zayn e em seguida me cumprimentou da mesma forma, indicando as cadeiras que deveríamos sentar. Aquela sala de vidro dentro do estúdio era bem interessante. Uma mesa redonda na cor branca tomava boa parte dela e microfones saiam do seu centro. Na frente do host, havia duas telas de computador, um teclado normal e outro que parecia muito com aqueles de estúdios de gravação, com a quantidade absurda de botões que eu mesma não possuía a mínima idéia do que faziam.
     Zayn se acomodou na cadeira de frente para um microfone que tinha o seu nome escrito em um post it amarelo e eu me sentei ao seu lado, ciente de que teria que passar vários minutos calada, com cuidado até com a minha própria respiração. Nick estava a par de toda a situação com a Modest!, por ser amigo pessoal de Harry, e mesmo assim não queria que eu deixasse de aproveitar aquela oportunidade de entender como a gravação de um programa de radio ao vivo funciona.
    - Estão vendo aquela luz vermelha ali na parede? – Apontou para algo que tinha o formato de uma sirene. – Ela está desligada agora, então quer dizer que os microfones estão desligados e uma música está tocando. , pode ficar a vontade pra falar quando não estivermos no ar.
    - Obrigada! – Ergui o polegar, sabendo que seria um desafio não poder abrir a boca a manhã inteira.
    - Ou então pode falar e admitir que está namorando com Zayn Malik ou tem um caso com Niall Horan, eu realmente não me importo. – Brincou. – Até apreciaria uma noticia exclusiva.
    - Posso falar do caso de Liam e Zayn, o que acha? – Cruzei as pernas, regulando o tamanho do encaixe dos headphones que recebi.
    - Isso era pra ser segredo! – Zayn fez careta, levando a mão direita ao peito, já com seus fones de ouvido presos à cabeça.
    - Muito bem, pessoal... Estamos prontos? – Nick arrumara o próprio microfone e fez sinal de ok para alguém do outro lado do vidro. Fingi passar um zíper nos lábios, mostrando que ficaria calada. O host fez uma contagem regressiva a partir do número três com os dedos e a luz vermelha de antes acendeu. – Bom dia, Londres, estamos de volta com o seu programa preferido e adivinhem quem está aqui comigo! Zayn Malik, do One Direction! Só na BBC Radio One. Olá, Zayn!
    - Hi, Grimmy! Hello everybody. – Zayn falou ao microfone, totalmente relaxado e a vontade.
    - Você já fez um programa de rádio antes, Zayn? – O trabalho do apresentador era não deixar o assunto morrer, justamente por estarmos no rádio.
    - Uhm... Não, essa é a minha primeira vez em um programa de rádio. Sem o resto dos garotos, eu quero dizer. – Respondeu naturalmente. – É um pouco estranho, mas estou animado!
    - Vai ser bom! Sabe por quê? Pela primeira vez eu vou poder te ouvir. Quando os outros vem aqui é sempre aquela gritaria, um falando em cima do outro e eu só pensava: “DEIXEM ZAYN FALAR!” – Grimmy movimentava os braços ao falar.
    - Yeah, é sempre uma loucura com esses meninos. – Estava sorrindo tanto que era como se sentisse saudade dos seus band-mates.
    - Great! Estou animado pra passar essa hora com você, Zayn. Vamos poder conversar, responder algumas perguntas de fãs... Também tenho algumas músicas que você escolheu pra tocar aqui hoje... Vai ser uma manhã divertida. – Nick mexeu em alguns botões na sua mesa e uma melodia começou a tocar em um volume baixo pelo meu headphone. – Já voltamos com mais Zayn Malik! Quer anunciar essa primeira música?
    - Okay, uh... Vamos ouvir agora Moves Like Jagger, do Maroon Five. Só na Radio One. – Anunciou com simplicidade, mas tenho certeza que fez muitos fãs gritarem do outro lado. A música em questão começou e a luz vermelha voltou a apagar mais uma vez. Não era tão ruim assim! Zayn estava com a postura mais relaxada do que quando chegamos ali e sorriu na minha direção com orgulho de si mesmo, por estar se virando tão bem sem os meninos. Era a sua chance de brilhar! Como nossas cadeiras eram de rodinhas, ele arrastou a dele e segurou a minha pelo apoio de braço, literalmente me puxando mais pra perto.
    - Sei que os fãs devem ser diferentes em cada país, mas algo constante é a quantidade de gritos que recebem por todos os lugares que passam. Quero dizer, seus fãs são MUITO barulhentos e sei disso por experiência própria pelas vezes que saí com vocês... – Voltamos ao ar e a “entrevista” começou. – Isso não cansa? Ou você já está acostumado, Zayn? Porque pelo que dá pra ver, você é um cara muito calmo.
    - Não acho que é uma coisa que a gente se acostume, porque ainda é meio surreal. Somos apenas cinco garotos normais e ver pessoas gritando os nossos nomes é bem estranho... Mas depois de um tempo, você quase nem os escuta mais, sabe? Dependendo do lugar, esses gritos viram um zumbido, algo unificado.
    - Vocês estiveram em L.A. mês passado... Como foi essa experiência de ir aos Estados Unidos?
    - Foi algo muito legal, sem duvida nenhuma. Ficamos um pouco espantados pelo tamanho do país e mesmo sabendo que existe internet e essas coisas, nós não esperávamos ter recebido uma reação tão boa ao chegar lá. Ao mesmo tempo foi bom sair e aproveitar a cidade... – Olhou pra mim, que estava sorrindo de volta. – Foi inesquecível, com certeza.
    - Ah, a nova edição da GQ Magazine foi para as bancas essa manhã... E nós do Breakfast Show conseguimos um exemplar de cada capa. Vocês que estão escutando, após o nosso programa, podem ir na banca de revistas mais próxima e colecionar as cinco capas, uma de cada membro da banda.
     Enquanto fazia propaganda da GQ, tirou de uma gaveta cinco revistas, realmente cada uma com uma capa diferente. Ugh, eu me lembrava plenamente do photoshoot que acompanhara, onde os cinco pareciam estar saindo de um enterro, e da entrevistadora audaciosa que perguntava coisas sem cabimento. Grimmy me deixou pegar uma e folhear até as páginas em que eles apareciam. Além das entrevistas, a mulher escrevera uma verdadeira dissertação narrando como foi o seu dia ao lado da banda. Até aí estaria tudo bem se ela não tivesse sido tão ofensiva em algumas expressões. A primeira chamada já era assim:

  

   “Os meninos do One Direction estão no caminho para se tornar os maiores pop stars do planeta, os rostos de um império comercial de £50 milhões e o foco das fantasias fervorosas de milhões de adolescentes. Mas, pergunta a GQ, e a música? O nosso grupo mais ambicioso pode lançar hits “sólidos como ouro” que os transformarão de um negócio para uma banda? Leia a nossa entrevista mundialmente exclusiva com Harry, Liam, Louis, Niall e Zayn sobre sucesso, sexo e celebridades da edição de Agosto da British GQ.”
     E continuava: “Em ordem do mais para o menos pegável, One Direction consiste de cinco homens que estão acima da idade permitida pela lei, chamados: Harry, Zayn, Liam, Niall e Louis.” Isso não era jornalismo. Não li a matéria inteira, porque acabaria tomando o microfone de Zayn e falando tudo que pensava sobre essa revista. Além de tentarem passar mais uma vez a imagem de que Harry era o mais importante da banda – culpa de seu charme natural e da forma que ele conseguia agir com maturidade apesar de ser o mais novo -, ainda voltaram com aquela idéia de que ele era um mulherengo. Só porque o menino tinha várias amizades e autoconfiança o suficiente para fazer brincadeiras ou falar coisas mais “ousadas” não queria dizer que ele ia para a cama com qualquer uma!
     E ainda tem mais. A mulher fez questão de narrar o momento da entrevista, o que incluía as recomendações de Pablo:

  

  “As regras da entrevista foram claras como cristal antes mesmo de me reunir com os meninos para começar: Dois períodos de quinze minutos, com os cinco divididos em dois grupos – Liam e Niall, seguidos por Louis, Zayn e Harry. Um pedido para uma conversa adulta de verdade com cada um dos meninos foi negada pelo agente publicitário escrupulosamente eficiente. “Não há tempo.” Como eu sei o perigo de se entrevistar membros de bandas juntos – suas joviais e desajeitadas “piadas internas” sempre entrando na frente e atrapalhando qualquer sinal de uma resposta séria – sugeri entrevistar cada um dos membros por seis minutos sozinhos. Sem chance. O que faz qualquer jornalista se perguntar se o talento tem algo a esconder ou, na verdade, nada para mostrar. Além das restrições de tempo, fui informada de áreas proibidas para a nossa conversa. Coisas que ao meu ver eram bem idiotas, como por exemplo: A passagem da banda pelo X Factor, o escândalo de traição envolvendo Zayn Malik e, o que mais me intrigou, a chegada de uma garota misteriosa que todos conhecem como a irmã do mais velho da banda. Sabendo das minhas proibições, eu e o primeiro grupo – Zayn, Louis, Harry e a pequena Tomlinson; que se mostrou inseparável de um certo moreno de olhos castanhos – nos preparamos para começar a entrevista que você verá a seguir.”

  

  Todos sabem como foi essa entrevista, pois infelizmente eu estava lá. Me recusei a ler mais uma vez as perguntas sem profissionalismo que Marisa fizera e voltei a me concentrar no que realmente era importante ali: A conversa entre Nick e Zayn. Como o próprio apresentador fora mencionado na revista como possível caso de Harry, era esperado que ele fosse comentar alguma coisa sobre o assunto geral.
    - A entrevistadora é bem específica quanto aos detalhes que rondaram o momento dela com você os outros meninos. O que me interessou foram os assuntos que o seu agente não deixou ela perguntar. – Grimmy olhou de mim para Zayn. – Você sabe por que o X Factor estava fora de cogitação? Quero dizer, vocês surgiram lá...
    - É algo bem sem importância, na verdade. – “Estamos sendo controlados pela Modest! mande ajuda!” – Tem alguns assuntos que não são discutidos por causa dos fãs. Eles querem saber coisas novas e sempre somos perguntados as mesmas coisas, então essa é uma forma de mudar um pouco o ritmo das entrevistas e tal, pra que possamos falar de coisas novas e não repetir a mesma coisa o tempo inteiro.
    - Okay, por enquanto é só! – Também não parecia tão convencido por aquela resposta ensaiada, mas seguiu em frente. – Vamos com mais uma música?
    - Você é que manda.

  

+++

  

  - Boys, mama is home! – Abri a porta de casa esperando uma recepção calorosa dos meus três roomates, mas o único que correu ao escutar a minha voz foi . – Baby bo! Sentiu minha falta, pequeno? Mummy também sentiu a sua...
    - ! Vem cá, boy! – Zayn ainda caminhava pelo jardim, mas ao escutar sua voz, o cachorro me ignorou e correu até o pai. – Viu isso, ? Ele quer ser meu!
     Pelo visto não adiantou deixar Zayn para trás e correr para dentro de casa na tentativa de ter mais atenção do MEU cachorro do que o garoto. Os reprovei com os olhos enquanto um corria atrás do outro pelo jardim. Por mais que eu passasse metade do meu tempo no flat de Zayn, o filhote devia gostar mais de mim! Era na minha cama que ele dormia e era às minhas ordens que ele obedecia. Pelo silêncio na casa, nem Liam, Lou ou Harry estavam por ali. A cozinha também soava vazia, então nem sinal de Dorota. Eu devia saber que os seus dias de trabalho na semana não incluíam quintas, sextas e finais de semana, mas ainda tinha esperanças de comer do seu macarrão.
     Acredite se quiser, eu estava com desejo de massa. Ainda que sem querer, acabei percebendo um certo comportamento da minha parte que com certeza não teria importância alguma. Meu apetite, ou ao menos “vontade de comer”, tinha certo padrão. Havia dias que eu não queria ver comida na minha frente, pois sentia que engordava vinte quilos só de olhar pra ela; já em outros, era um poço de autoconfiança e comia o que me desse vontade, sem me importar se eram besteiras ou salada. Me sentia em uma montanha russa semanal e não tinha muito o que fazer. Todos tem rotinas e aquela devia ser a minha.
     Deixei a porta aberta para que as crianças entrassem quando cansassem de brincar e tirei a jaqueta ao passar para a sala. Abandonei-a em qualquer lugar, assim como a minha bolsa. Sentando no braço do sofá, tirei os sapatos que me apertaram durante as três horas passadas e também o enfeite em minha cabeça. Estava em casa depois do que parecia ser um mês, então só desejava ficar confortável e aproveitar a calmaria que teria sem os três meninos que dividiam o mesmo teto que eu. Minto se não falar que começava a cogitar a possibilidade de aceitar o convite insistente de Zayn e me mudar de vez para o seu apartamento, até porque metade das minhas coisas já estavam por lá mesmo... O que ainda me prendia àquela casa eram as memórias escritas em tinta invisível pela parede. Não estava pronta para deixar Liam, Harry e muito menos o meu irmão.
    - Sabia que seu cachorro corre? – Zayn parou na entrada da sala, encostado à parede. Sua respiração descompassada era o troféu de . Tirou seu próprio agasalho e o deixou junto ao meu; assim como os tênis e meias.
    - Então agora ele é meu? – Escorreguei para o meio do sofá, batendo na almofada à minha esquerda para que o animal pulasse ali. – Muito bem, Bo. Me deixe orgulhosa.
    - Eu também quero esses beijos. – Ocupou o lugar à direita, com inveja por estar ganhando todos os meus carinhos.
    - Então devia ter ganhado a corrida. – Dei de ombros, colocando os pés em cima da mesinha de centro. – Baaaaaaaabe... Pega o controle da TV, por favooooor?
    - O que ganho com isso? – Levantou mais uma vez e caminhou até a estante, capturando o objeto que eu pedira.
    - Um beijo. – Sorri torto, sabendo que ele não resistiria.
    - Um beijo bom? – Se jogou na parte do sofá que formava o ‘L’, mantendo o controle remoto para longe de mim.
    - Meus beijos são ruins?! – Até mesmo a minha postura mudou depois de ouvir aquilo.
    - Não no geral... É só que ultimamente você não tem empenhado tanto.
    - Vou te mostrar o empenho!
     Encarei aquilo como um desafio e rolei no sofá, parando quando estava sentada em seu colo. O sorriso de Zayn mostrava que ele sabia exatamente que essa seria a minha reação ao escutar suas provocações. O amparei pela nuca, colando os lábios nos dele já entreabertos. Dessa maneira não perdemos tempo para chocar uma língua contra a outra e dar inicio ao beijo que o faria se arrepender de ter ofendido as minhas técnicas! Suas mãos pousaram no meu quadril, prendendo-me contra ele. Investiu contra os meus lábios como se para falar “eu é que mando”, mas não fiquei pra trás. Mordi o lábio inferior do menino e baguncei seus cabelos, suspirando pesadamente ao sorrir por ainda tê-lo entre meus dentes; demorando para soltar devagar.
    - E é por isso que você nunca deve insultar o beijo de uma francesa! – Disse ao provar o meu ponto, voltando para o meio do sofá.
    - Ou a prova de que eu preciso fazer isso mais vezes. – Gracejou ao me entregar o controle remoto, massageando a boca. – Mas acho que você machucou o meu lábio.
    - Da próxima vez terá certeza. – Fiz “pernas de índio”, me acomodando na almofada. Liguei o aparelho a nossa frente, feliz por não precisar mapear os canais para encontrar algo bom. – Bling Ring! Eu amo esse filme.
    - Essa aí é a Emma Watson? – Prestou atenção à TV, pouco interessado. – Nunca vi... Está no começo?
    - Acho que já está na metade. É assim... Um grupo de adolescentes fascinado por celebridades e esse mundo de moda e glamour ficam entediados com as próprias vidas e passam a entrar nas casas de famosos e simplesmente roubar as coisas deles! – Já assistira aquele filme tantas vezes que explicar a sinopse foi fácil. Zayn balançou a cabeça em afirmação como se estivesse impressionado. – É um bom filme, mas o jeito que as meninas falam me irrita... “Oh my Gwad. O que ela está usando?!”
    - Você acabou de imitar o sotaque americano? – Gargalhou inclinando a cabeça para trás. – Aposto que vai falar assim também, depois que ficar famosa com seus ensaios fotográficos e tudo mais...
    - Claro que não, besta! – O empurrei com força, mas não surti tanto efeito. Sorri por ter lembrado do photoshoot para a Glamour e Zayn percebeu. – O que?!
    - Seus olhos brilham quando tocamos nesse assunto. – Beijou o meu ombro, passando a cabeça por ali como se um gatinho pedisse carinho. resmungou em um latido baixo, ciumento como o pai. – Você está amando tudo isso.
    - É tão óbvio assim? – O deixei se acomodar em meu abraço, passeando os dedos por seus fios desembaraçados. – Eu devia estar mais nervosa, mas estou me sentindo uma princesa. Não sei se terei essa oportunidade novamente, então decidi aproveitar!
    - Tenho certeza que o seu ensaio vai ser melhor que o nosso... – A verdade era que, por mais que se mantivesse tranqüilo por fora, não gostou nada do resultado da GQ e tinha medo da reação dos fãs ao ler o mesmo que nós.
    - Baby, não fique pensando nisso... Eu não disse que vai ficar tudo bem? – Beijei o topo de sua cabeça. – E sempre estou certa.
    - , é você? – Me olhou com um sorrisinho.
    - Para a sua sorte, não. – Comecei a me levantar, mas com ele escorado em mim era meio complicado. – Preciso ir lá em cima, baby...
    - Por que?! Aqui está tão bom... – Fechou os olhos, me abraçando pela cintura de vez.
    - Lexy disse que eu receberia um email de uma mulher chamada Sandra, com alguns detalhes do photoshoot... Eu tenho que ver se ele chegou. – Beijei o seu bico demoradamente até que fosse solta. – Não demoro. Só vou pegar meu notebook.
    - Então vou procurar algo pra gente comer. – Se espreguiçou em cima de , que o lambeu. – Se ficar aqui vou acabar dormindo.
     Vi os dois meninos preguiçosos no sofá e sorri inconscientemente. Meu trajeto até o segundo andar foi bem rápido e entrar no meu quarto também não levou muita coisa. Parando pra pensar, minha vida estava bem agitada. Era como se eu precisasse me dividir em três ao mesmo tempo: A bailarina, a It Girl e a ‘mascote’ da banda. Ou seja, me dedicava ao ballet, ao mundo da moda e a tudo que acontecia em torno do One Direction. Ao mesmo tempo que era uma só e as vezes achava que ficaria louca com tudo que precisava fazer, gostava dessa animação e dessa falta completa de monotonia. Tantas outras pessoas gostariam de ter metade do que eu tinha, então reclamar seria a última coisa que eu faria.
     Meu quarto mais parecia um canil devido à quantidade de brinquedos que deixara espalhado pelo chão e principalmente na nossa cama. Ele podia ser destrambelhado e bagunceiro, mas uma coisa eu tinha que dar o braço a torcer: nunca destruíra moveis, roupas ou qualquer coisa que tivesse mais valor que seus próprios brinquedos. Encontrei meu notebook em cima da escrivaninha e só torci mentalmente para que estivesse carregado. Deixei o cômodo com a mesma velocidade que entrei e logo estava na sala mais uma vez, onde uma cena inusitada acontecia.
    - Porque meu cachorro está usando um boné? – Nem sabia mais porque ainda perguntava.
    - Esse snapback é do Niall, não? – Estivera ajoelhado no chão, com seu iPhone na mão, e levantou, me mostrando a fotografia que tirara de . – Vou mandar pra ele.
    - Ni deve ter esquecido aqui... Ou um dos meninos o trouxe por engano. – Abri meu computador em cima da mesinha de centro e o deixei ligar enquanto me acomodava sentada no chão. – Não sei como vocês ainda sabem de quem é o que, porque estão sempre dividindo as roupas.
    - Antigamente era mais fácil... Lou usava as listradas com suspensórios, Harry tinha aqueles blazers e camisas sociais e Liam só usava xadrez. – Deitou no sofá, abraçado com , esquecendo do nosso almoço. – Eu sempre fui o mais estiloso de todos, pode admitir.
    - Você ainda é, baby. – Apoiei a cabeça no estofado do sofá. – Agora Harry usa todas as roupas que tem de uma vez, sem falar nas coisas que ele tem arranjado pra colocar na cabeça! E Li com aquelas coisas amarradas na cintura... Acho sexy.
    - Ridículo, babe. A palavra que você está procurando é “ridículo.”
    - Se você diz. – Ri, deixando isso pra lá. Zayn ainda era o mais sexy de todos. Abri o ícone de emails no meu computador, torcendo para que tivesse uma nova mensagem.
     E tinha:

  

  “Bom dia, .
    É um prazer enorme saber que você aceitou o nosso convite e mal posso esperar pra trabalhar com você. Sua publicista Alexia já conversou comigo sobre os detalhes do nosso contrato de Uso de Imagem e creio que no sábado mesmo ele já vai estar pronto para que o assine. Não precisa se preocupar, pois só queremos o mais prático para todas as partes. Qualquer dúvida, pode me ligar pelo número que disponibilizei no final do email.
    Aqui vão algumas recomendações, já que é a sua primeira vez participando de um editorial como este:
    Se tiver tempo, pratique e teste suas expressões faciais na frente um espelho. Teremos um profissional no dia da sessão de fotos para lhe auxiliar, mas será melhor se você já se conhecer.
    Durma bastante! Ao menos oito horas por noite nos três dias que antecedam o grande dia. Ninguém quer olheiras difíceis de cobrir!
    Dê preferência a roupas mais soltas, para que a sua pele não fique marcada ou inchada. Salto alto nem pensar!
    Evite bebidas alcoólicas!
    Não se preocupe com cabelo ou maquiagem antes de chegar no local do photoshoot, apenas esteja com o rosto e cabelos limpos. Preferencialmente nenhum esmalte, ou apenas uma cor nude. Se houver necessidade, uma manicure será levada ao estúdio.
    Se hidrate e relaxe!
    É só isso, . Boa sorte se preparando e fico ansiosa para lhe conhecer pessoalmente. Nos vemos em breve.
    Atenciosamente, Sandra K.
    Glamour Magazine UK”

Chapter XXIX

- Você ainda está nervosa, ? – estava sentada na minha frente, mas eu não conseguia vê-a, por estar de olhos fechados.
  - Nem tanto... Já estou mais calma do que quando chegamos aqui. – Sorri, sentindo a maquiadora terminar os meus olhos. – Hey!
  - O que? – A ruiva se fez de inocente, escondendo o celular atrás de si. – Só estou deixando o seu namorado atualizado, oras.
  - Ele poderia estar aqui, não tenho culpa se não veio! Agora só vai ver esse ensaio no dia que a revista sair. – Queria saber como estava a minha maquiagem e cabelo também, mas estar de costas para o espelho tornava tudo um pouco complicado. voltou a digitar algo no meu celular e fiz uma careta. – !
  - Sem estresse, meninas... – A mulher que cuidava da minha beleza devia estar cansada de reclamar conosco. Eu deveria estar parada para que nada borrasse, porém, a ruiva não facilitava a minha tarefa.
  - Sinto muito por ela, Lisa. Eu deveria ter escolhido uma acompanhante melhor. – Reprovei a minha amiga com o olhar, esticando a mão para receber o aparelho de volta.
  - Também sinto muito... Vou me comportar. – Deve ter lembrado que aquilo era algo importante pra mim e estava ali pra me apoiar, não me atrapalhar. – Aqui, o seu celular.   - Obrigada. – Trocamos um sorriso confidente.
   O dia do ensaio fotográfico para a Glamour chegou mais rápido do que se viesse de avião. Os três dias que tive para descansar foram extremamente relaxantes e não passei por estresse algum, o que me rendeu uma pele brilhante e alma leve no momento em que acordei aquela manhã e peguei o carro para dirigir até um lugar bem próximo à saída da cidade. O local do editorial me lembrou bastante o Chateau onde minha mãe se casou, mas não era tão grande assim. seria a minha dana de companhia, pois eu sabia que ela me deixaria calma, segura e ainda conseguiríamos trocar algumas risadas. Por ser a minha primeira vez fazendo algo daquele tamanho, preferi não ir sozinha, porém, toda a equipe gigante que trabalharia na produção do photoshoot estava sendo super legal e cuidadosa; fazendo de tudo para que ficasse a vontade.
   Tive sorte de a cadeira em que estava sentada ser confortável, pois passei quarenta minutos inteiros plantada ali, tendo meu cabelo e maquiagem preparados. Um puxão aqui, um spray ali... Tudo pra me dar a sensação de ser uma modelo profissional. Já tirara as roupas que usara para chegar ali e agora usava um roupão de seda preto e a minha própria langerie por baixo. Naquele quarto de preparação, homens não entravam justamente para me dar mais segurança e calma. O que deveria ser uma sala de jantar agora estava cheia de caixas e mais caixas com as mais diversas ferramentas de luz, fumaça, móveis que poderiam ser usados nas fotos e, é óbvio, roupas. Sei que não usaria nem metade daquelas peças, mas a editora de moda Sophie Cooper devia ter as suas razões. Uma vibração na minha mão me fez lutar contra a minha vontade de não abrir a mensagem de Zayn, mas foi inútil.

  
“Abi, cadê você? Onde estão as minhas noticias?”
  “Abigail foi assassinada por estar atrapalhando o trabalho da maquiadora!”
  “Oh, shit! Quem vai contar ao Niall?”
  “Acho que Amy adoraria contar. Haha.”
  “Hi, baaaaaabe.”
  “Vas happening, Zen?! Estou com saudade. xx Já está com Marco? Blergh”
  “Ele deve estar chegando... Preferia estar aí com você. ):”
  “Só falta você aqui pra tudo ficar perfeito. Daqui a pouco vamos começar a fotografar e espero não desmaiar!”
  “Por falar nisso, porque só me enviou fotos de produtos de maquiagem e de comida?”
  “Acho que ela tirou foto da maquiagem pra salvar o nome e comprar depois. E tomamos café da manhã aqui, então ela ficou muito animada com essa parte.”
  “Eu devia imaginar! Alguém está na porta, babe. Acho que é Marco. Me liga quando sair daí?”
  “Boa reunião! ): Até mais tarde, love. xx”
  “Me deixe orgulhoso, Anjo.”
  

Era o que eu pretendia! Não só deixá-lo orgulhoso, como todas as outras pessoas que esperavam algo próximo à perfeição de mim. Sandra, Lexy, Carine, , Liv, Ni, Li, Lou, Haz, Rach, meus pais, nana e até mesmo Lux, que nem sabia o que estava acontecendo. Todos ficaram muito felizes quando contei sobre o convite, por isso não queria fazer feio. Assim que levantei o olhar do celular, estava do outro lado do quarto, falando alguma coisa em frente à uma câmera de vídeo. Apenas rolei os olhos, sabendo que se tratava da gravação de “por trás das câmeras” que geralmente são postadas no site da revista logo depois que a edição vai para as bancas. Os meninos possuíam vários desses vídeos, então eu já entendia mais ou menos como deveria me comportar: Naturalmente.
  - Sophie, já terminamos aqui! – Lisa deu mais uma mexida no meu cabelo e sorriu pra mim. – Quer ver o resultado?
  - Mais que tudo! – Celebrei, deixando a minha cadeira ser girada. Por fim pude me olhar no espelho. A maquiagem não estava pesada, mas estava perfeita. Minhas sardinhas claras ficaram mais evidentes, o escuro natural que todos tem embaixo dos olhos e outras imperfeições desapareceram. Meu cabelo claro fora jogado de lado e suas pontas formavam cachos grandes. – Essa sou eu?!
  - Ah, por favor, , eu nem fiz muita coisa! – Me ajudou a levantar. – Pode ir com a Lis trocar de roupa... Nos encontramos daqui a pouco de novo.
  - Obrigada!
   Me perdi um pouco ao tentar lembrar quem era Lisa entre as outras três mulheres que passeavam e mexiam nas roupas espalhadas pela sala. se sentara sobre um sofá vitoriano e recebeu meu celular quando passei por ela. A editora me aguardava perto de uma mesa mais alta, onde um vestido verde e alguns acessórios estavam separados e cogitei a possibilidade de aquela ser a minha primeira prova de roupa. Lisa me recebeu com um sorriso encorajador que dizia “está na hora!” e estendeu a peça esverdeada para que eu entrasse dentro dela com cuidado. Deixei meu roupão para trás e passei por baixo do vestido, deixando-o se adaptar ao meu corpo por não ter nenhum fechamento. Fui obrigada a tirar o sutiã pelo decote nas costas ser muito profundo, mas não foi problema algum.
  - Está confortável? – Lisa perguntou enquanto ajoelhava para me ajudar a calçar os saltos.
  - Super! Esse vestido é lindo. – Balancei a saia, me sentindo bem dentro dele. – É Prada?
  - Acertou em cheio. – Atacou as alças em meus tornozelos. – Está com alguma jóia?
  - Só essa... – Mostrei a pedrinha única no meu anelar, presente de Zayn. – Mas eu nunca tirei do dedo desde que ganhei... Tem problema se fotografar com ela?
  - Claro que não, querida. – Segurou a minha mão para observar de perto. – É um anel de noivado?
  - Bem... Meu namorado é que me deu, mas não é um anel de noivado. – Minha barriga esfriou por tocarmos naquele assunto e um sorriso escapou. – Ao menos ainda não...
  - Que linda, você está corando! – Riu, prendendo uma pulseira na mesma coloração do vestido em meu braço. – Aqui estão os brincos.
  - Obrigada! – Eu agradecia muito, tô sabendo. Coloquei os brincos com facilidade e estava pronta!
  - Marcie vai te levar até onde vão fotografar.
   Marcie, uma morena alta com cabelos presos por uma bandana me esperava perto da porta. também se levantou e me acompanhou até fora do cômodo que vou chamar de guarda-roupa. Balancei o vestido enquanto andava porque praticamente corri para alcançar a mulher que guiou o caminho. Ela não estava sendo mal educada em não me esperar, porque eu entendia que nosso tempo era curto e essas coisas de photoshoot demoravam com modelos profissionais, ainda mais comigo que era iniciante. parecia não dividir o mesmo entendimento, pois fez careta de cansaço pelas costas da mulher. Atravessamos um corredor inacabável até chegar ao nosso destino.
   A luz da manhã entrava pelas janelas altas e extensas, iluminando o quarto inteiro. Literalmente “quarto”. Era como se uma princesa dormisse ali dentro, pois os móveis pareciam ter saído de um conto de fadas. O estilo rococó estava presente nos detalhes minuciosos em ouro e estampas do lençol magenta que cobria a cama. No canto perto de uma janela, uma mesa estava enfeitada com vários docinhos: Macarrons, muffins com coberturas coloridas, morangos, bolinhos... Tudo bem delicado e delicioso. O fotografo já havia sido apresentado à mim e se chamava David Oldham. Mesmo que superficialmente, conhecia seus trabalhos para outras revistas e sabia que seria um privilégio ser fotografada por ele. O cômodo estava bem organizado e refletores de luz canalizavam bem a fonte luminosa que entrava pela janela.
  - Vamos começar! – O britânico tinha uma câmera profissional pendurada no pescoço. – Está pronta?
  - Nasci pronta! – Encarei uma falsa coragem e afirmei que sim, topando tudo que viesse pela frente. – Pra onde vou?
  - Vamos começar aqui... – Foi até a mesa de sweets e pegou uma caixinha baixa de madeira, colocando-a no chão. – Pode sentar na mesa.
  - Aqui no meio? – Usei o batente improvisado para subir e me sentei entre duas bandejas.
   Um assistente de cenário correu até onde eu estava e separou alguns pâtisseries, de forma que ficassem organizados e as fotos pudessem ter o foco que o fotografo quisesse. David não perdeu tempo e já começou a disparar sua câmera em minha direção. No geral, fiquei bem livre para testar as caras e bocas que treinara nos dias anteriores, mas também recebi instruções, como cruzar ou descruzar as pernas e inclinar para frente enquanto olhava para a direita.
  - Pode pegar esse bolinho cor de rosa... – Me entregou um muffin com cobertura e um morango no topo, guiando o meu braço na direção que ele queria que ficasse. – Seus olhos são lindos.
  - Obrigada. – Já estava agradecendo mais uma vez. Com o muffim próximo ao meu rosto e a câmera bem em frente à ele, olhei para a lente, sorrindo em uma foto e piscando ao fazer bico em outra.
  - Tem certeza que essa é a sua primeira vez modelando? – Olhou o resultado no visor, mas não me deixou fazer o mesmo. Mexeu na configuração visual da câmera e mudei a pose: Dessa vez deixando o muffin de lado e sentando na diagonal, olhando-o por cima do ombro. – Work it, girl!
  - I’m working it! – Ri por achar graça naquilo e balancei um pouco os cabelos.
  - Tá arrasando, ! – aplaudiu enquanto o assistente me ajudava a ficar de pé sobre a mesa. Coloquei as mãos na cintura e separei um pouco os pés, jogando o quadril para a direita.
   Eu me sentia bem fazendo aquelas poses e sendo fotografada. Abaixei na mesa, com meus joelhos próximos e escondidos pelo vestido, deixei os braços também aproximados e com os cotovelos virados para baixo. Olhei para diversas direções, tendo infinitas fotos sendo tiradas a cada respiração. Em seguida, pude descer da mesa de docinhos e fui até a parede branca que também tinha refletores posicionados propositalmente. Segurei a barra do vestido, abrindo-o, e entortei os pés, juntando os joelhos em uma nova pose. Ora sorria, ora estava séria... Fazia tudo que aquele vestido e aquela cor clara me permitiam. Eu estava me divertindo bastante e as aprovações discretas de mostravam que não era só coisa da minha cabeça.
  - Vamos tirar os sapatos... E pode ir para a cama. – David solicitou, fazendo seu assistente correr para mudar os refletores de lugar.
  - Okay... – Corri até o móvel, me apoiando nele para me livrar dos saltos. Os entreguei para o assistente e fiquei de joelhos no colchão. – O quer que eu faça?
  - Me surpreenda. – Sorriu, já olhando no enquadramento menor da câmera.
   Aceitei aquele desafio e fiquei de pé. O colchão era bem duro, então me permitiu ficar na ponta dos pés. Meus braços permaneceram na lateral do meu corpo, um pouco afastados do tronco, claro, e inclinei a cabeça. Depois disso foi só brincadeira... Comecei a pular na cama, fazer bagunça, deitar e colocar as pernas pra cima... Ficar sem rir foi complicado.

+++

  Quatro horas depois e eu ainda estava no local do photoshoot, sendo fotografada como se não houvesse amanhã. Perdi a conta na número cento e cinqüenta e ainda assim parecíamos longe de terminar. Mesmo que no máximo seis fotos fossem ser selecionadas para aparecer na revista, era bom ter várias opções para escolher. Apesar da demora, eu já me sentia bem mais a vontade em frente à câmera e a todos que assistiam o photoshoot. Finalmente conheci Sandra pessoalmente quando ela resolveu aparecer para averiguar o andamento do editorial e também uma mulher chamada Scarlett Russel, que iria escrever a matéria sobre mim.
   A sessão de fotos foi dividida em dois blocos, pretendendo analisar “dois lados da mesma moeda”, ou seja: O lado bom versus o lado ruim. No sábado estávamos cobrindo o lado bom e no dia seguinte seria o restante. Não que pretendessem mostrar o meu “lado negro”, como o meu mau humor pela manhã ou a bagunça do meu quarto. Segundo David, seu objetivo era mostrar dois lados do meu dia-a-dia; a delicadeza de uma bailarina contra a ferocidade e audácia da garota que ia às ruas e chamava atenção em tapetes vermelhos. Naquele primeiro bloco usei mais dois looks além do verde. O segundo foi o meu preferido. Não necessariamente pela roupa, mas fotografamos em um salão bem aberto e sem móvel algum, o que me fez aproveitar o espaço que eu tinha. Girei com balões cor de rosa, fiquei em cima do parapeito da janela, deitei no chão... Foi algo realmente divertido de se fazer. até entrou em algumas fotos comigo, mesmo sabendo que aquelas não iriam para a revista.
   O último look me fez sentir como se fosse a própria Cinderela! Dessa vez estávamos fotografando em um banheiro, o que reduziu a equipe de criação em quatro pessoas: Eu, David, e Scarlett. Naquele momento estava dentro da banheira sem água, bem deitada e com as pernas dobradas para o lado de fora. David já não me dava mais tantas direções como antes, apenas me deixava seguir com o que quer que me desse vontade de fazer. Também comecei a desenvolver mais segurança para conversar entre uma foto ou outra, facilitando o trabalho da jornalista que tinha algumas perguntas para me fazer.
  - Parece que você nasceu pra isso, ! – já não dava mais trabalho, apesar de estar sentada na bancada de pedra da pia.
  - Sou uma diva, sei disso! – Ri, jogando a franja para o lado. – Só estou aproveitando.
  - Você já pensou em se modelo profissional? – Scarlett aproveitou aquela deixa para perguntar.
  - Tipo desfilar e tal? Eu não sei... Acho bonito e adoro ir em eventos assim, mas não sei se seria algo pra mim. Acho que esse tipo de modelo tem que ser muito centrada e eu com certeza não conseguiria ficar séria na passarela. – Mudei de posição, apoiando na borda da banheira e “deitando” de barriga para baixo, com um braço para o lado de fora, encostando no chão. Mantive o olhar baixo, sem sorrir.
  - E quanto à modelo fotográfica? Você claramente leva jeito.
  - Você acha? Obrigada! Com certeza é algo que eu aceitaria fazer de novo, ainda que não seja nisso que quero focar a minha carreira. Ballet é o caminho pra mim, profissionalmente falando, mas desde que uma coisa não atrapalhe a outra, não vejo porque não tentar algo nesse sentido. – Sorri para a ruiva, não tão ruiva quando minha melhor amiga.
  - Você tem algum ícone fashion? Talvez Paris Hilton, Audrina... – Acabei fazendo careta ao ouvir aqueles nomes, mudando de pose mais uma vez. – Ok, nenhuma dessas!
  - Não é que eu ache que elas não são ícones de moda... Só prefiro alguém mais como a Sarah Jessica Parker, que pude conhecer na festa da Glamour, ou a Jennifer Lawrence. O que as torna ícones é mais a sua personalidade do que as roupas que usam em si e eu gosto disso.
  - E você se inspira nela pra escolher as suas roupas? – Anotou algo em um papel que tinha nas mãos.
  - Gosto de pensar que não me inspiro em ninguém pra ter o meu próprio estilo. Eu uso o que me dá vontade, o que me deixa confortável ou o que eu gosto... A vida é muito curta e muito bonita pra nos preocuparmos em combinar tudo. – Modéstia a parte, eu estava me saindo muito bem. Mudei de pose uma milésima vez, dessa vez ficando em pé dentro da banheira.
  - Acho que isso é meio bobo de perguntar, porque todas as mulheres gostam de ser elogiadas... – Abriu um sorriso, tirando os olhos de seus rabiscos. – Mas agora que você está mais visível na mídia, deve receber vários elogios, com certeza! Gosta disso? De tantas pessoas falando o quanto você é bonita ou que gostariam de ser você?
  - Eu acredito que um dos melhores elogios que você pode dar alguém é “você é interessante”. Todos são bonitos, todos podem ser gentis, engraçados, amáveis... – Apoiei o pé direito na borda do objeto, parando um pouco para ser fotografada. – Mas não é todo mundo que consegue capturar a sua atenção e ser infinitamente fascinante.
  - Nesse caso, você é interessante! – David se meteu, me fazendo sorrir com aquele elogio. – E acho que acabamos por aqui!
  - Já?! – Relaxei o corpo, sentindo meus músculos relaxarem.
  - Não se preocupe, amanhã tem mais! – O fotografo levantou, pois estivera de joelhos. – Na mesma hora de hoje, tá bem? Acho que Sandra vai te explicar tudo...
   David me ajudou a sair da banheira e a primeira coisa que fiz foi tirar os sapatos. Trocar de um salto para o outro era mais complicado do que parecia, pois quando me acostumava com um, tinha que ir para o próximo e assim por diante. Apesar do grande cansaço que tomava conta de mim, estava satisfeita com a manhã de trabalho duro. também parecia ter se divertido, já que não reclamou de nada. A baixinha passou o braço em volta dos meus ombros e me acompanhou para fora do banheiro. Scarlett se despediu, falando que achava que tinha tudo que precisava, mas nos veríamos no dia seguinte. David continuou no cômodo, auxiliando seu assistente a desmontar as coisas.
  - Opinião honesta... Como eu fui? – Acabávamos de entrar no “guarda-roupa”.
  - Como eu disse... Parece que você nasceu pra isso. – sorriu verdadeiramente. – E as suas respostas para Scarlett... É como se estivesse fazendo isso há anos.
  - Não sabia que levava jeito pra isso, mas admito que gostei. – Dei um pulinho de animação. – Está vendo Lisa por aí?
  - Ela deve ter ido ao banheiro ou alguma coisa. – Deu de ombros, me arrastando até um sofá esverdeado. – Uh, estou cansada!
  - Você deve estar cansada mesmo... Fez tanta coisa hoje! – Cruzei os braços, ironizando-a.
  - Da próxima vez vamos trocar e você vai ver que acompanhantes também se cansam, vossa alteza. – Cruzou as pernas, desmontando no estofado. – Você vai pra casa?
  - Não... Acho que vou ficar por aqui mesmo. – Abri o zíper lateral do vestido, querendo me adiantar. Sabia que queria dizer, mas me divertia às suas custas.
  - Para de ser idiota, !
  - Sorry, hon! Não precisa se estressar. – Ri me fazendo de inocente, vestindo as minhas próprias roupas. – Não sei se vou pra casa ou se passo no flat de Zayn primeiro... Vou ligar pra ele.
  - Claro, porque eu não te perguntei isso com a intenção de te chamar pra minha casa ou coisa assim. – Semi-serrou os olhos pra mim. – Aqui, o seu celular.
  - Obrigada, Boo! – Assim que fiquei pronta com as peças que trouxera de casa, me joguei no sofá, passando as pernas para cima das dela. – Você quer que eu vá para a sua casa?
  - Agora que sou segunda opção, não quero mais! – Passou o iPhone pra mim. – Zayn, Zayn, Zayn e mais Zayn!
  - Até parece que você nunca me trocou pelo Ni-Ni. – O número de Zayn estava na discagem rápida, por isso só apertei o seu número e levei o aparelho à orelha.
  - Sisters before misters! – Estalou os dedos formando a letra Z no ar. – Por favor, ... Vamos comer algo!
  - Não estou com fome. – Usei a minha resposta automática, ainda com o aparelho na orelha. Logo caiu na caixa de mensagens por ele não ter atendido. – Babe, já terminei o photoshoot... Você deve estar com Marco agora, então boa sorte. Vou almoçar com , mas espero te ver mais tarde. Byeeeee.
  - Então agora vai almoçar comigo?!

+++

  Logo depois que e eu saímos para almoçar, nós duas fomos para a sua casa e fiquei brincando com Félix até sentir falta do meu próprio bichinho de estimação e resolver ir pra casa. Tomei um banho de meia hora e vesti as maiores roupas que encontrei no closet, sabendo que precisava descansar para o dia seguinte, onde teria a segunda etapa do photoshoot. Apesar disso, fiquei mais do que contente ao receber uma visita inesperada; ainda que ela não fosse destinada exatamente a mim. Gemma, a irmã mais velha de Harry, apareceu para ver o seu irmãozinho e os velhos amigos. Nós sempre fomos muito amigas e muito intimas, não como Haz e eu, mas ainda assim. Podíamos passar meses sem nos ver e ao nos reunir novamente era como se nunca tivéssemos nos separado. Enquanto Lou e Haz saíram para comprar os ingredientes da nossa pizza caseira e Liam dormia, a menina estava ao meu lado na cama do meu quarto, com entre nós.
  - Nós somos irmãs? – Questionei enquanto acariciava atrás da orelha do cachorro. – Quero dizer... Meu irmão e seu irmão estão juntos... Então isso nos torna irmãs pela lei ou algo assim?
  - Não sei se é assim que a lei funciona... – Riu, mas seu olhar falava “você bebeu alguma coisa pra criar essa teoria”. – Mas eu gostaria disso.
  - Então vamos interpretar a lei assim mesmo. – Não estava bêbada, apenas cansada. Ofereci o dedo mindinho. – Sisters!
  - Sisters! – Passou o próprio mindinho pelo eu e juramos ser irmãs. – Vamos tirar uma foto pra selar a nossa irmandade.
  - Com certeza! – Gargalhei enquanto já tirava o celular da bolsa e já o apontava na nossa direção. – Xiiiiiiiiiis!
  - Yaaaaaaaaaaaaaas. – Aproximamos nossos rostos, mas eu sorri e ela fez careta. O resultado ficou bem engraçado. – Qual legenda eu coloco?
  - Vai postar em algum lugar? – Já comecei a me preocupar. – Eu não faria isso se fosse você...
  - Por que não?!
  - As pessoas não gostam muito de mim em redes sociais. – Dei de ombros, aceitando os fatos.
  - Espera, onde está aquela menina que não se importava com o que pensavam sobre ela? – Parecia a décima vez que alguém me fazia aquela mesma pergunta.
  - Pessoas começaram a olhar pra ela. – Brinquei com o rabo peludo de , desfazendo alguns nós. – Nunca fui acostumada a ter tantos olhares em cima de mim e isso me deixa insegura.
  - Mas você é modelo agora... Ou algo assim! Não te vejo insegura quando está desfilando pelo tapete vermelho.
  - É diferente, sabe? Não sei o que acontece na minha cabeça, mas sinto insegurança quando sei que vou ser vista pelas pessoas que me conhecem por causa dos meninos. Acho que é porque, nesse caso, elas não gostam de mim por eu ser quem eu sou. Quando se trata da moda, não gostariam de mim pelas roupas que eu uso e isso eu posso trocar. – Suspirei com o olhar vago. – Mas não posso trocar quem eu sou.
  - E nem deve. Na verdade, não pode se importar com o que falam ou escrevem sobre você. Não quero te ver deixando de curtir as coisas boas que acontecem só por medo do que alguns invejosos possam achar! – Balançou o meu ombro na tentativa de me acordar para a vida. – Quer saber o meu segredo pra não ficar sofrendo com isso?
  - Sim, por favor! – Sorri, sabendo que Gemma me entendia. Ela também era a irmã de um dos membros do One Direction, apenas não namorava nenhum deles.
  - I don’t give a damn. – Deu de ombros. Aquela seria uma resposta boa para tudo. – E agora que somos irmãs, você deve fazer o mesmo.
  - Okay, vou tentar. – Afirmei com a cabeça.
  - Acho que os meninos chegaram...
   E estava certa. Após o som da porta sendo aberta, Louis gritou que haviam chegado e precisavam das suas ajudantes na cozinha. não entendeu bem o convite, mas levantou da cama, nos batendo com o rabo, e pulou por cima de mim para correr até o tio. Tenho certeza que até Liam acordou depois do chamado de Lou, mas não iria lá conferir. Gemma e eu nos entreolhamos, uma mais preguiçosa que a outra, e acabamos levantando. A esperei na porta para descermos juntas, mas a loira teve uma idéia um tanto diferente da minha e pulou nas minhas costas. A segurei pelos joelhos, rindo por quase ter nos levado ao chão, e consegui andar.
  - Gems, sabe que se cairmos pela escada e eu quebrar alguma coisa, você é que vai ter que explicar ao pessoal da Glamour. – Desci um degrau após o outro com cuidado.
  - Se você morrer posso fotografar no seu lugar? – Me abraçou pelo pescoço, se segurando.
  - Haaaaaaaazza. – O chamei. – Sua irmã está querendo me matar!
  - Gemma! – Harry reclamou, vindo ver o que estava acontecendo.
  - Se ela morrer, é meu! – Louis celebrou a ameaça de morte à própria irmã.
  - Eu não mataria a minha sis! – Saltou para o chão, mas continuou me abraçando. – Eu te amo, !
  - Sis? – Curly achou entranho, mas sua expressão mostrava que ele já desistira de nos entender. – Ah, é... Esqueci que é de vocês que estamos falando.
  - Me convidem para o casamento. – Seguimos Lou até a cozinha, onde ele começou a espalhar os ingredientes para as pizzas.
  - Talvez possamos fazer um casamento duplo. Vocês dois e nós duas. – Envolvi-a pelos ombros como se fossemos namoradas. – Harry, Louis, Gemma e Styles Tomlinson!
  - Hey, porque Tomlinson vem por último?! Ninguém falar o nome inteiro, então só vão usar esse. – Haz reclamou.
  - Já conversamos sobre isso, cheeky. – Meu irmão beijou a testa de seu namorado, precisando subir na ponta dos pés pra isso.
  - Hm... Mas não é justo, porque você me pegou em um momento despreparado e enfiou a língua na minha garganta!
  - O que é isso aqui? – Peguei uma caixinha que encontrei em cima da mesa, desejando desesperadamente mudar o rumo da conversa.
  - Marco trouxe aqui essa manhã. – Lou despertou meu interesse.
  - Falando nisso, vocês sabem o que ele queria com Zayn? – Tive dificuldade em abrir a caixinha, mas chegaria lá.
  - Nada... Por que? – Harry separou uma bacia e começou a medir a quantidade de farinha que colocaria na sua receita.
  - Por causa da reunião que tiveram...
  - Marco não teve uma reunião com Zayn, . Nós saberíamos. – Continuou negando, mas devia estar enganado. – Ele até almoçou com a gente.
  - Zayn me disse que os dois tiveram uma reunião essa manhã. – Insisti.
  - Acho que não. – O cozinheiro negou, mas seu namorado o interrompeu com uma tosse nada discreta.
  - Marco pode ter passado no flat antes de vir pra cá. – Lou sugeriu e era nisso que eu iria acreditar. – Abriu a caixa?
  - Consegui abrir! – Gemma estava tão curiosa quanto eu e terminou o meu trabalho de abrir o objeto.
  - V Fest? – Meus olhos brilharam. – ALGUÉM ME DIZ QUE ISSO SÃO CONVITES PARA O V FESTIVAL?
  - Eu disse que ela ia gritar. – Louis riu para Harry. – Marco conseguiu pra gente... Temos acesso VIP e tudo mais!
  - Oh my God, oh my Gooooooood! – Tirei os bilhetes, crachás e pulseirinhas da caixa, achando difícil de acreditar. – Espera, só tem cinco aqui!
  - Somos cinco na banda, . – Harry não sentia a minha dor.
  - O queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee? Então eu não voooooooooou? – Choraminguei quase com lágrimas nos meus olhos. Peguei um papel com a programação, cogitando a possibilidade de começar a chorar. – E esse ano está tão bom! Beyoncé, Jessie J, Fun, Conor Maynard, Kings Of Leon, Olly murs, Jason Mars, Rita Ora, Emeli Sandé, Ellie Goulding, McFly!
  - Eu quero também! – Gemma bufou. Essa sim me compreendia, diferentemente do seu irmão. – Damn it, damn it!
  - Podem ficar com os nossos ingressos. – Louis resolveu parar de nos ver sofrer. O olhei séria, disposta a matá-lo se aquilo fosse brincadeira. – Harry e eu já tínhamos combinado de ir visitar Anne em Cheshire.
  - YAY! – Dei um pulo, separando logo as minhas entradas antes que ele mudasse de idéia. – NÓS VAMOS PARA O V FEST!
  - SORRY, MUM! – Gemma também celebrou, fazendo o mesmo que eu. – Vamos escrever os nossos nomes antes que alguém tente roubar!
  - Nós temos os melhores irmãos do mundo! – Depois de garantir que aqueles tickets tinham o meu nome, com certeza agarraria Louis e Harry para mostrar meu agradecimento.

    

Chapter XXX

A segunda etapa do photoshoot foi ainda melhor do que a primeira no sábado. Acho que, por eu já saber como as coisas funcionavam e estar bem mais a vontade com a equipe inteira, as coisas andaram mais rápido e naturalmente. O local do ensaio, porém, foi um pouco mais bagunçado que o do dia anterior. Como deveríamos retratar a parte corrida da minha vida, quando eu realmente saia de casa e me mostrava para o mundo, nada melhor do que escolher um cenário tão urbano quanto o Picadilly Circus, a Times Square de Londres. As roupas também foram totalmente o oposto das primeiras: Nada de vestidinhos claros ou enfeites leves, mas muito preto, couro, spikes e transparência. O que era doce e adorável tornou-se agressivo e sexy. Algo que gostei dessa sessão ao ar livre é que centenas de pessoas passaram por nós e ficaram olhando tudo que acontecia, tentando entender o que se passava. Turistas até mesmo tiraram fotos só pelo fato de não saberem o que estava acontecendo.
Porém, algo que não estava me deixando tão tranqüila quanto eu gostaria era uma pessoa costumava ser o centro da minha calmaria: Zayn. Apesar de meu irmão ter tentado limpar a sua barra, afirmando que a reunião com Marco poderia ter acontecido antes do empresário ir até a nossa casa, ainda sentia que tinha algo estranho nessa história toda. Especialmente quando Zayn negou mais uma vez o meu convite de assistir o photoshoot é que fiquei com a pulga atrás da orelha. Aproveitando que meu trabalho encerrou horas antes do esperado, decidi fazer uma surpresa ao meu namorado que supostamente estava em um encontro com seu empresário. Ficar desconfiada de Zayn era algo novo que não me agradava, por isso sabia que se estivesse enganada, teria que lutar contra a minha consciência pesada. O celular em minha mão piscou, mostrando a chegada de uma nova mensagem.

“Também sinto a sua falta, babe! Marco está um pé no saco hoje... Queria você aqui.”
“Sinto muito, sweetheart! Ele está na sua casa agora? ):”
“Está sim. Me olhando com cara feia, por sinal. Preciso ir. Venha pra casa logo! xo”

Como estava no corredor de Zayn há algum tempo e não escutara nada além de passos vindos do lado de dentro, senti o coração apertar por ter quase cem por cento de certeza que Marco nunca dera as caras por ali. Esperei um pouco para acalmar os nervos e os pensamentos, sabendo que deveria existir alguma explicação sensata para aquelas informações não tão verdadeiras quanto gostaria. Girei a chave na fechadura ao reunir coragem e entrei no flat, pegando-o sentado no sofá, com seu caderno de rabiscos no colo. Sorri por ele estar usando óculos de grau, mas foi só não encontrar o empresário em lugar algum que logo desapareceu. A expressão de Zayn tinha uma mistura de surpresa e espanto ao mesmo tempo.
- Surpresa! – Desci os dois degraus enquanto ele levantava.
- Babe! Surpresa mesmo... – Sua voz tremeu um pouco, mas tentou disfarçar. Tentou beijar meus lábios, mas virei o rosto levemente.
- Pensei em vir e te salvar de Marco... Mas onde ele está? – Mantive o tom cínico, largando a minha bolsa na mesa de centro.
- Ah, ele acabou de sair! Se chegasse cinco minutos antes teria encontrado-o. – Coçou a nuca. Sua linguagem corporal falava mais alto que suas palavras.
- Eu não sabia que ele aprendeu a voar! – Forcei uma risada, sentando no sofá e cruzando as pernas.
- Como assim? – Franziu o cenho, permanecendo em pé.
- É só que eu estava atrás daquela porta pelos últimos vinte minutos, então se Marco acabou de ir embora, deve ter saído pela janela. – Minha expressão tornou-se séria e a dele pálida. Eu estava mais confusa do que brava. – Por que você mentiu pra mim, Zayn?
- Não foi a minha intenção... – Finalmente decidiu parar de me enrolar.
- Se você não queria ir comigo ao photoshoot poderia ter só me falado. – Eu teria aceitado. Machucada, mas ainda aceitaria. Não me exaltei ou levantei a voz, apenas evitei olhar pra ele. – Eu sei que seria chato pra você, ir a um photoshoot onde você não é quem está em frente as câmeras, mas ok.
- Não é isso, . Como pode pensar algo assim? – Sentou na minha frente, usando a mesinha de centro como apoio.
- Então o que quer que eu pense? – O encarei.
- Eu não fui com você porque tive medo. – Suspirou com pesar, pressionando as têmporas. – Medo de que o mesmo que aconteceu com a GQ se repetisse, mas ao invés da aparição da irmã mais nova de Louis Tomlinson, fosse a do amigo de banda e ex-namorado.
- Eu não me importaria com isso. – Tentei ver algum sentido naquilo que ouvia.
- Nem eu, é claro! Quero mais é que saibam de uma vez que estamos juntos e sempre foi assim. – Levantou mais uma vez, mostrando ser impossível ficar parado. – Mas tive medo por você. Não quero a Modest! veja você ou a sua carreira como uma ameaça aos planos deles. A essa altura nós já sabemos do que eles são capazes de fazer.
- Só que não fizeram nada depois que a GQ falou todas aquelas coisas horríveis sobre vocês.
- Porque foi bom pra eles. Depois do lançamento da revista, os fãs reclamaram. Mandaram até ameaças para a redação...
- Eu entendo. – Suspirei, tirando os sapatos e me acomodando no sofá.
- Entende? – Sentou ao meu lado dessa vez.
- Acho que sim... – Dei de ombros, abraçando os joelhos. – Queria que tivesse me falado isso antes, como sempre, mas entendo. E gosto de quando você usa óculos...
- Eu estava desenhando. – Sorriu, apontando para o caderninho.
- Pra variar. – Imitei seu sorriso, me arrastando para mais perto dele.
- Quando a sua revista vai ser lançada? – Puxou minhas pernas para cima da das suas e praticamente subi em seu colo.
- Na sexta-feira. O que é bom, porque vamos pra Essex no sábado. – Nem ao menos questionei aquela decisão.
- Vamos? Okay...
- Ganhamos entradas para o V Fest no próximo final de semana! – Comemorei mais uma vez com aquele assunto. – Eu, Gemma, Liam e Niall vamos... Se você quiser, pode vir junto.
- Ah, posso? Você deixa? – Riu, abraçando a minha cintura.
- Só se você não tiver nada mais interessante pra fazer. – Passei o braço em volta de seus ombros. – O que eu acho bem difícil, porque.. Bem... É o V Fest... A Beyoncé vai cantar! A Queen B!
- Não podemos perder essa chance! – Não estava tão animado quanto eu, mas concordou em ir. – Você quer ir pra acampar?
- E ainda pergunta?! É claro que sim! Acho que os meninos vão para um hotel, mas a graça é poder acampar.

+++

Muitas coisas mudaram na Academy no passar dos semestres, mas algo que os diretores apreciavam no começo de cada nova etapa de aulas era a tal palestra de boas vindas! Seria a minha terceira vez escutando as mesmas coisas e deveria estar tão entediada quando sentada ao meu lado, mas por ser a última vez na vida que eu iria escutá-las, iria aproveitar como se fosse a primeira vez. Era o começo das aulas, por isso não só a ruiva, mas todos os velhos e novos alunos começavam a popular o auditório; que, aliás, nunca esteve tão cheio. Nós duas estávamos na oitava fileira de cadeiras, contando da frente para trás, e Ben dormia ao lado dela. Literalmente dormia... Quase roncava. Tive medo de que ele começasse a roncar e aí seriamos conhecidas como “as amigas do menino que adormeceu” ao invés de “Abigail e , as melhores alunas que a academia já viu”.
Lembrava claramente da primeira vez que entrara naquele auditório: Não conhecia ninguém e tinha acabado de esbarrar em Brigitte e assinar meu próprio nome em sua lista negra. Também foi o local onde vi Zayn pela primeira vez, sentado em algumas fileiras mais para o fundo. Inconscientemente olhei para trás, procurando a sua figura ali, mas foi em vão. Ele nunca mais estaria ali. Ao invés disso, meu olhar encontrou o de duas garotas que me encaravam descaradamente, mas tentaram disfarçar ao serem flagradas. “Oh, no. São elas as meninas que Brie disse terem entrado só por minha causa?” Mesmo não gostando do termo, sabia que era popular na Academy e tinha costume em conhecer todo mundo e ter até mesmo meninas que se espelhavam em mim, porém, aquelas duas me deram um mau pressentimento.
Uma salva de palmas foi puxada por um garoto ao leste do auditório e obrigou o assunto que e eu discutíamos a parar. Olhamo-nos sem entender nada até ver um baixinho acenar em resposta ao público próximo ao palco. A iluminação ali dentro não era das melhores, mas reconheci os cabelos ruivos e bagunçados de um homem que não esperava encontrar ali. Ed Sheeran, o ex-professor de música e atual artista com um contrato assinado, parecia sem graça por ter sido reconhecido tão calorosamente em um lugar onde era tratado quase como um ninguém. Meu estômago congelou de emoção, mas não pelo cantor Ed Sheeran e sim pelo meu amigo Ed, de roupas descombinadas e inspiração incrível.
- O que ele está fazendo aqui? – teve que ficar de joelhos na cadeira para poder ver. – ? Aonde você-
Não escutei mais suas perguntas, pois já havia levantado e deixado as minhas coisas na cadeira e começado a correr rampa abaixo, em direção ao começo do palco. Sei que ela bufou, mas pouco me importei. Sentia saudades daquele homem que sumia e passava meses sem retornar ligações. Nosso encontro mostrou que ele se sentia da mesma forma ao meu respeito. Ed conversava com o diretor Gavin, companheiro de Agnes, mas o deixou falando sozinho ao atravessar o gargarejo do palco para me encontrar. Não falei nada, apenas o envolvi pelos ombros em um abraço bem apertado. O ruivo era bem awkward quando se tratava de ter intimidade com mulheres, mas comigo era diferente. Me orgulho de dizer que éramos amigos de infância que só se encontraram no meio da vida.
- Seu feio! – Bati em seu braço após nos soltarmos. – Não atende mais o telefone e não responde mais minhas mensagens?!
- Outch, outch... Ei! Preciso desse braço pra tocar! – Riu se protegendo dos outros tapas que se seguiram.
- Sei disso! E eu estou tão orgulhosa de você, por finalmente estar conseguindo fazer o que sempre quis! – Pulei sem sair do lugar, dando ênfase a minha felicidade. Assim que parei, o bati mais uma vez. – E você saberia disso se desse sinal de vida!
- Desculpa! Desculpa! – Segurou meus pulsos, temendo apanhar mais. – As coisas estão sendo meio corridas ultimamente! Vivo no estúdio... Gravar o primeiro álbum dá trabalho!
- Mas vale muito a pena, não é? – Podia ver em seus olhos o quanto estava orgulhoso de si mesmo. – Mal posso esperar pra ouvir.
- Você já ouviu algumas músicas dele. – Colocou as mãos nos bolsos. – Pode deixar que farei com que você tenha uma das primeiras cópias.
- Autografada, por favor. – Exigi, cruzando os braços. – “Para ... Aquela que sempre acreditou que eu deveria estar fazendo isso.”
- É verdade, eu lembro de você falar isso. – Sorriu, olhando em volta. – Nunca pensei que fosse entrar aqui e ser aplaudido assim... Imagino como os meninos são recebidos.
- Niall e Zayn não vem muito aqui. As vezes aparecem pra me levar pra almoçar, mas aí ficam escondidos no carro. – Dei de ombros, sabendo da confusão que fariam se entrassem ali. – Mas o que você está fazendo aqui? Sente falta dos alunos?
- Sinto falta dos amigos. Sinto falta das nossas aulas e ensaios...
- Awn! Assim eu até começo a pensar em te desculpar por sumir. – Acariciei seu braço onde batera antes.
- Olá, . – Gavin se aproximou, me cumprimentando. – Vou pedir para que tomem seus lugares agora, pois temos que começar...
- Já estou indo! – Sorri para o diretor e em seguida para Ed. – Não vá embora sem falar comigo!
- Nos encontramos depois da palestra, não se preocupe. – Prometeu.
Acenei para os dois homens e voltei a correr, dessa vez até o meu lugar. Algumas pessoas me olharam fazer o caminho de volta, então achei que teria que começar a me acostumar com esses olhares. As portas do auditório foram fechadas e os alunos que permaneciam de pé procuraram seus lugares a meio dos outros e por fim se sentaram. Fui ao meu próprio canto a tempo de assistir empurrar o cotovelo de Benjamin para fora do braço da cadeira, tirando o seu apoio e fazendo-o acordar com um susto. Cobri os lábios para não rir tão descaradamente, ainda mais depois do “Desculpa, querido” que ela atuou. Voltei a minha concentração para o palco, onde Gavin foi o primeiro a aparecer e recebeu as palmas de todos. Acredito que fui uma das que mais aplaudiu, por ter um apresso enorme pelo senhor de bigode tingido.
- Isso aí, galera! Vamos começar a festa! – O senhor devia ter feito algo muito bom durante as férias, pra voltar com aquela animação toda. Só faltava começar a correr pelo palco. – Bem vindos à London Royal Academy! Gostaria de iniciar dando as boas vindas a todos os nossos alunos novos! E para aqueles que estão chegando agora... Espero que encontrem aqui o que estavam procurando. Que esta seja a sua segunda casa...
- Que nossos professores tenham as ferramentas que levarão vocês ao sucesso! – completou a sua frase baixinho, acertando em cheio o que o diretor ia falar. – O discurso não muda?
- Shhhh! – A reprovei.
- E para aqueles que já são da casa... Vamos continuar o bom trabalho e seguir em frente! – Mais uma salva de palmas e Gavin esperou todos se acalmarem. – Por fim, gostaria de dar parabéns especiais a todos aqueles alunos que se formarão no final desse ano. Foi um prazer enorme todos esses dois anos que passamos juntos. Ou um ano e meio, para algumas pessoas especialmente talentosas...
- Esse foi pra você, aluna prodígio. – sussurrou, me fazendo corar.
- Mesmo depois que vocês estejam fora daqui, seguindo suas carreiras brilhantes... Quero que lembrem da sua estadia nessa academia. Quero que recordem cada bom momento, cada amizade, cada amor, cada aprendizado... – Gavin andava de um lado para o outro e já sentia meus olhos arderem. – Cada um de vocês nos deixou extremamente orgulhosos de dizer que fizemos parte da sua caminhada para o sucesso. Acima de tudo... Peço para que não esqueçam que aqui, essas paredes altas e brancas... Também é a sua casa.
- Isso foi lindo! – Falei só para a ruiva ouvir enquanto o auditório se enchia de palmas.
- Agnes, é com você! – O diretor chamou sua companheira para o palco. – Obrigado, pessoal!
- Bom dia, estudantes. – A senhora falou ao seu microfone. Eu sentiria falta dessa mulher seca e nada emocional.
As mesmas regras foram listadas, formas de avaliação explicadas e tudo aquilo que eu já sabia de cor. Pude me distrair um pouco, olhando para os alunos a minha volta, especialmente aqueles que eu não reconhecia. Olhares de esperança e animação, misturados à ansiedade do desconhecido. Assim como eu, tantos lutaram a vida inteira para conseguirem sua vaga na melhor escola de artes do Reino Unido. Tantas pessoas ali formariam casais e conheceriam amigos para a vida toda... Pensava isso por experiência própria. A Academy me dera mais do que eu poderia sonhar. Essa escola foi mais que um degrau, foi metade da escada. E, definitivamente, uma casa pra mim. Sequei uma lágrima solitária que escapara pelo canto do olho. Eu sentiria falta de tudo aquilo.
- É extremamente proibida a entrada em qualquer classe depois de quinze minutos após a chegada do professor. Alunos que forem pegos com bebidas alcoólicas ou cigarros e derivados nos perímetros da academia serão detidos e até expulsos. Brigas os levarão direto para seus diretores. E o principal... Não será aceito o coito dentro de salas, banheiros, corredores, jardins, ou qualquer lugar da Academy. – Agnes adorava aquele discurso decorado.
- Bullshit. – Sussurrei sozinha, sentindo uma onda de nostalgia me dominar.
- Queria que eles ainda estivessem aqui... – passou o braço pelo meu, deitando no meu ombro.
- Eu também, cabecinha de fogo... – Me inclinei nela, agradecendo internamente por ainda termos uma à outra. – Eu também.
- Uma salva de palmas para nossa querida Agnes, pessoal! – Pela primeira vez na história, o diretor voltou ao palco. – Já vou deixar vocês irem para as suas aulas, mas primeiro gostaria de dar mais um aviso que com certeza vai lhes animar. Como a maioria de vocês deve saber, nesse período estaremos desenvolvendo um espetáculo de fim de semestre. Então, porque não revelar o nome da peça agora?
- Como é? – Meu queixo caiu. COMO ASSIM JÁ IRIAM REVELAR A PEÇA? Agarrei a mão de e quase a cortei com as minhas unhas.
- Shit, ! – Não sei se me xingou pelo aperto em sua mão ou pela noticia.
- É com um prazer enorme que anunciamos que a nossa peça será o incrível...
- Por favor, fale Lago dos Cisnes... – Fechei os olhos e cruzei os dedos. Ah, qual é? Toda bailarina sonha em ser a Swan Queen!
- Quebra Nozes! – Anunciou e a gritaria foi geral. Não era o Lago dos Cisnes, mas seria a minha segunda opção. – E os testes acontecerão amanhã, então boa sorte!
- What the fuck? – Até arrumei a minha postura na cadeira. Ao invés de gritos, reclamações foram ouvidas. – Amanhã?
- Estão liberados. – Agnes nos liberou, mas sentia que não conseguia me mexer. – Suas aulas de hoje foram canceladas devido à reunião dos professores.
- Não comece a pirar agora, ! – me balançou. – Se você conseguiu o papel de Julieta antes, vai conseguir o de Clara agora.
- Mas como vou me preparar? – Puxei o ar com força.
- Vamos pra casa agora e poderemos relaxar pra amanhã...
- Ir pra casa? Não mesmo. – Nos levantamos assim que o fluxo começou a se dirigir para a saída. – Vou aproveitar que estou aqui e vou treinar...

+++

foi embora vinte minutos depois de termos sido liberadas. Agora que fazia teatro e não dança, sentia-se bem mais segura do próprio talento de interpretação, por isso encontrava-se a pessoa mais calma do mundo, apesar de nossos testes estarem marcados para acontecer no dia seguinte. Eu, por outro lado, tinha em mente que passara o verão inteiro sem treinar uma coreografia que fosse e a primeira semana de aula com certeza não fora lá tudo isso. Além de ter faltado um dia, fiquei doente durante dois. Pois é, , começou com o pé direito. As aulas dos seniors devem ter começado mais cedo para que tivéssemos essa chance maior de conseguir os melhores papeis do que os outros que já chegaram em cima dos testes. E parecia que, ainda assim, eu tinha menos chances que todos eles.
Sim, eu estava me punindo e me preocupando mais do eu devia e possuía plena consciência disso, apenas não via uma forma de mudar meus pensamentos. Fui a única aluna que realmente ficou na Academy para treinar, visto que até mesmo os meus colegas de classe preferiram ir para casa. Cogitei essa possibilidade, mas só foi lembrar do que me esperava lá para desistir. Nenhum dos meninos e muito mesmo me deixariam ter a concentração que eu precisava. Minha sala preferida ficava no último andar e era nela que eu costumava passar horas após a carga horária normal de aulas, portanto, foi lá que passei os últimos trinta minutos; divididos entre alongamentos e giros. Além de ser a segunda maior sala (perdendo apenas para o salão no primeiro andar, onde todas as turmas se reuniam religiosamente todas as segundas feiras com o professor Hofstheder), era a que tinha o melhor sistema de som. Apesar do piano de cauda preto na extremidade direita, era das caixas de som que eu me aproveitava. Mesmo porque, não sabia tocar. Não que conseguiria tocar e dançar ao mesmo, mas você me entendeu.
Se há algo que posso confirmar com toda certeza era o quanto eu gostava de dançar na ponta dos pés. Até mesmo de ficar em pé sobre a ponta... Não sei, mas me sentia mais elegante, mais alta e até mesmo mais delicada. Se pudesse, não desceria dela por nada. Meus dedos começavam a doer depois de uma hora, adormecendo completamente após a segunda, mas valia completamente à pena. Girei pelo chão de madeira perfeitamente encerado, trocando um pé pelo outro e mantendo meus braços ora elevados sob a cabeça, ora em frente ao corpo em perfeita circunferência. Olhava meu reflexo no espelho da parede em minha frente e não gostava do que via. Sim, minhas piruetas eram impressionantes para alguns professores e alunos, mas ainda não eram boas o bastante para mim.
Bufei impaciente pela minha falta de inspiração. Esperei a música que tocava no aparelho de som acabar, culpando-a pelos meus movimentos vazios. “Concentre-se, ! Vamos lá, o teste é amanhã. Não quer conseguir o papel principal?” No primeiro semestre eu me sentia nervosa, mas ainda entendia que minhas chances de conseguir o papel de Julieta eram poucas, então aceitaria qualquer um menor. Agora, porém, conhecia a minha capacidade e, pior ainda, outros também a conheciam. A pressão em cima de mim estava muito maior, pois era o meu último semestre. “Por que é que eu fui pular de nível, huh?! Podia estar começando o terceiro semestre e nada disso aconteceria!” Quando fui ver, estava de frente para a barra, com as mãos apoiadas na mesma e os olhos fechados com força. Puxei o ar pelo nariz e o soltei pela boca, esquecendo até de como fazer os exercícios de respiração que meu avô sempre fizera comigo quando uma daquelas crises atacava.
- ? Você está bem? – Não sabia dizer a quanto tempo Ed estivera me observando, mas ele estava parado próximo ao piano preto.
- Ah! Ótima. – Passei as mãos pelo rosto, secando umas gotas de suor e as limpei na saia.
- Você não parece... Ótima. – Me olhava sem acreditar nem por um minuto. – Foi pega de surpresa pelo anuncio, huh?
- É, acho que pode chamar desse jeito. – Sorri para o ruivo pelo reflexo do espelho. – Achei que você já tivesse ido embora...
- Sem dizer tchau? Não mesmo! – Atravessou a sala, aproximando-se do aparelho de som. – Estava conversando com Agnes e o professor que vai me substituir e lembrei que você tem paixão por essa sala.
- Obrigada por vir assistir meu sofrimento! – Fiz gesto de ‘ok’ com a mão, não querendo ser mal humorada de propósito. – O que está fazendo? Eu ainda na-
- Sei que ainda não acabou! – Me interrompeu e de quebra desligou o aparelho que tocava. – Mas vi que estava tendo dificuldade, então vou ajudar.
- Vai me ajudar a dançar, Ed? – Virei na direção dele, acabando por rir daquela idéia.
- Por mais que meu bailarino interior seja muito talentoso... Não. – Também riu, passando para o outro lado da sala mais uma vez. – Mas posso tocar pra você. Sei que fica mais inspirada com música ao vivo.
- Eu adoraria isso, Ed, de verdade... Mas você deve ter coisas mais importantes pra fazer e não quero ficar no seu caminho...
- Aceitar a minha ajuda não vai ser ficar no meu caminho, ! Não esqueci das tardes que você passou comigo na sala de música até que eu conseguisse finalizar a letra de Everything Has Changed. – Sentou-se ao piano, abrindo a tampa e pressionando algumas teclas para se aquecer. – E você até se apresentou comigo na cafeteria... Essa pode ser a minha forma de pagamento.
- Não esqueça do seu sumiço! – Apoiei as mãos na cintura, mexendo os pés em círculos para alongar os calcanhares. – Tudo bem, aceito seu pagamento.
- Então vamos lá! O que quer que eu toque? – Sua postura era ereta em frente ao instrumento.
- Me surpreenda!
Caminhei até o centro da sala. Talvez com a ajuda do músico eu pudesse me inspirar e conseguir algo melhor do que alguns giros sem graça. Alonguei, também, o pescoço, os ombros e cintura enquanto aguardava que a música tivesse inicio. Não comecei a dançar no exato momento em que a melodia encheu a sala, pois tirei os primeiros acordes para espirar e inspirar com calma, permitindo que meu corpo criasse vida própria. Logo fiquei na ponta dos pés mais uma vez, com as pernas perfeitamente estendidas. Dobrava o joelho na medida que em marchava de lá para cá, arqueando os braços atrás de meu corpo. A partir daí foi mais fácil. Ed acertou em cheio ao falar que música ao vivo era o que me inspirava mais, prova disso eram os rodopios e saltos elaborados que enfeitaram minha performance improvisada. Ainda sentia falta de um parceiro, até porque, depois que Nick foi embora, nenhum outro deu conta da tarefa. Uns ficavam amedrontados e outros simplesmente não conseguiam me acompanhar. Pois é, vida difícil. Entretanto, devia torcer para que essa nova peça me rendesse um novo par.

Chapter XXXI

Ed foi mais que um ajudante; mais parecia um anjo da guarda. Nós dois vimos o Sol ir embora pelas janelas extensas da sala de ballet e ele só aceitou ir embora quando eu me sentisse segura o suficiente para o teste que aconteceria na manhã seguinte, ou o mais perto disso. Fizemos uma pausa para comer algo no refeitório e aproveitei para mostrar-lhe a música que me aventurara a escrever. Aquela que comecei a rabiscar na casa de Zayn, mesmo sem tê-lo mostrado uma estrofe sequer. “É sobre Zayn, não é?” Foi a primeira coisa que Sheeran disse ao passar os olhos pela folha de caderno já um tanto amassada. “Você deveria cantá-la”, foi a última. Eu não achava que a letra era lá essa coisa toda, mas levando em conta que foi a minha primeira tentativa de composição, estava bem orgulhosa comigo mesma. Não tinha plano algum de fazer um show e apresentá-la, mas quem sabe um dia?
   Uma vez em casa, me tranquei no quarto precisamente as oito horas da noite. Precisava dormir o máximo que pudesse. Liam foi outro anjo na minha vida, pois me fez chá para que eu dormisse bem. Apesar de seus cuidados, minha consciência estava agitada demais para desligar e me deixar descansar. Foi só apagar a luz e fechar os olhos que devaneios assolaram a minha mente, questionando o significado da vida e o porquê de o céu ser azul. Eventualmente fui vencida e pude adormecer pelo que pareceram eternos cinco minutos. One Thing de uma banda chamada One Direction começou a tocar em cima do criado mudo, me acordando com um suspiro. “Já, despertador?” Perguntei internamente, com meu nível de sonolência tão alto que esperei de verdade receber uma resposta. Tateei desajeitada a madeira e esbarrei os dedos em várias coisas antes de encontrar o celular. Abri apenas o olho direito, procurando o botão de soneca, mas o que achei foram as opções “atender” ou “ignorar”. Era uma ligação, no fim das contas.
  - Oi, é a . – Atendi com a voz mole, em uma saudação que nunca teria usado se estivesse acordada de verdade. – Quem fala?
  - Babe? Desculpa te acordar... – Era Zayn. Eu tive vontade de sorrir, imaginando que aquela pudesse ser uma das suas ligações no meio da noite para dizer que sentia a minha falta, afinal, passamos o dia inteiro separados, mas a sua voz me disse outra coisa. – Eu não tinha mais ninguém pra procurar...
  - O que houve? – Como se um balde de água fria fosse derramado na minha cabeça, senti o sono se esvair e a consciência acordar.
  - Você po-pode vir aqui? – Sua voz falhou da forma que fazia quando estava prestes a quebrar. Zayn ia chorar.
  - É claro... – Empurrei as cobertas para o outro lado, terminando por enterrar , que reclamou com um resmungo. – Eu não demoro, baby...
  - Obrigado...
   Não o questionei por não ter recebido informação alguma, apenas concordei em dirigir até lá. Zayn não me chamaria no meio da madrugada – vi no relógio do iPhone que era pouco mais de quatro horas da manhã – se não fosse algo sério. A adrenalina e preocupação foram o que me guiou até o banheiro. Fiz uma higiene apressada, molhando o rosto com água fria para me sentir mais acordada. Não seria legal pegar o carro com parte de mim ainda um pouco adormecida. Não pensei em trocar de roupa, então apenas enfiei os pés no primeiro TOMs que encontrei e agarrei a mochila que arrumara antes de dormir. não entendeu nada, apenas sentou na cama, me observando correr para o lado de fora.

+++

  Acho que nunca dirigi tão rápido na minha vida inteira. Não liguei para o perigo de atravessar sinais vermelhos quando os cruzamentos ou avenidas ou receber alguma multa por excesso de velocidade. Poderia até mesmo aparecer em um daqueles programas de perseguição policial, mas ao menos cheguei rapidamente ao apartamento de Zayn. A pior parte foi esperar o elevador cooperar e me levar até o último andar. As câmeras me filmaram de pijamas, porém, quem se importava? Eu certamente não. As chaves do flat estavam apertadas na palma da minha mão que suava e tremia, mas ao conectá-la à fechadura, descobri que já estava aberta. Encontrei o dono do apartamento no mesmo instante em que entrei, sentado nos degraus e com o rosto abaixado, apoiado nos joelhos. Fiquei sem reação até que ele levantou e simplesmente me abraçou, sem falar mais nada.
   Passei os braços em volta de seus ombros, de forma protetora, e ele escondeu o rosto entre meus cabelos ligeiramente bagunçados próximos ao pescoço. Sua respiração estava ofegante, mas ao se enterrar em meus braços, ela se tornou pesada, mas ligeiramente mais calma. Seu peito subia e descia pressionado contra o meu. Sua pele cheirava a sabonete e cigarro. Uma combinação de aromas inebriante. Deixei a minha mochila e a chave escorregar por entre os meus dedos e beijei o seu ombro com carinho, querendo provar a ele que estava ali e qualquer coisa que estivesse acontecendo iria passar.
  - O que há de errado? Alguém... – Sibilei baixo, não conseguindo terminar a frase. Tive medo que alguém em sua família tivesse sofrido algum acidente ou coisa assim e falar em voz alta só pioraria as coisas.
  - Não, ninguém... – Levantou o rosto para olhar no meu. Seus olhos brilhantes encontravam-se vermelhos, mas ainda com aquela beleza de sempre. – É melhor você ver, porque eu não sei como falar.
  - Ver o que? – Fechamos a porta e Zayn me guiou até o sofá, onde seu notebook estava aberto na mesinha de centro. – Não estou entendendo...
  - Olhe os Trending Topics.
   Ao falar isso, sentou-se na ponta mais afastada do próprio computador. Com medo do que poderia encontrar, sentei no chão, tirando os sapatos que começavam a machucar meus pés. Também pudera... Aquele tênis não era meu, e sim de Louis, que – aparentemente – tinha o pé bem menor que o meu. Mexi na área do mouse, ativando a tela que estivera escura até então. O Twitter de Zayn estava aberto e meus olhos correram diretamente aos TTs. No mesmo instante, encontrei o motivo que me levou até ali. “#ZaynMalikTerrorist” estava em primeiro lugar. A boca do meu estômago revirou em uma ânsia difícil de segurar. Foi pior ainda quando cliquei ali e a chuva de coisas ruins começou a cair.

  
“Já prenderam esse cara? #ZaynMalikTerrorist”
  “Saia do @OneDirection, você está estragando a banda #ZaynMalikTerrorist”
  “Manda #ZaynMalikTerrorist de volta pra onde saiu!”
  “Foi #ZaynMalikTerrorist que causou o 11 de setembro, não foi?”
  “E o ataque de Boston também! HAHA #ZaynMalikTerrorist”
  “Não sabe nem cantar! A banda estaria bem melhor sem esse #ZaynMalikTerrorist”
  “Ninguém gosta desse muçulmano. #ZaynMalikTerrorist”
  “O Bin Laden é seu tio? #ZaynMalikTerrorist”

  Foi aí que eu parei de ler. Limpei uma lágrima da minha bochecha esquerda com a garganta seca. Como todas essas pessoas podiam estar falando aquelas coisas terríveis? Sim, ele era de uma religião não tão conhecida naquela região, mas só porque você não conhece uma coisa não quer dizer que tem o direito de reclamar ou falar qualquer coisa. Zayn era um menino de ouro, muito mais que a sua criação ou seus credos. Eu podia não entender muita coisa sobre o Paquistão, Islã e a cultura Muçulmana em geral, mas respeitava da mesma forma que respeitaria qualquer outra. Ele nunca fizera mal para nenhuma pessoa por acreditar no que acreditava, então porque elas estavam fazendo exatamente o contrário? Fechei a tela do computador, fazendo-o desligar automaticamente. Não queria mais olhar para nada daquilo e muito menos que ele o fizesse.
  - Como isso começou? – Me arrastei até o sofá, sentando ao lado de Zayn e segurando sua mão entre as minhas.
  - Meu pai me ligou hoje mais cedo... Ele disse que alguns dos nossos familiares de Bradford estão achando ruim toda essa atenção que eu estou recebendo por causa da banda. Acham que eu saí do caminho, por não estar demonstrando seguir os mandamentos... – Sua voz tremia na medida que ele falava. A mão livre passava pelo próprio rosto e cabelos enquanto tentava se controlar para não desabar. – Mas é difícil seguir fielmente quando se trabalha com o que eu trabalho!
  - E você segue! – Apertei a sua mão, afirmando por todas as vezes que o vi concentrado em algum canto da casa, sabendo que estava rezando; ou como quer que fosse chamado esse ato. – Baby, eles não tem do que reclamar...
  - Você não conhece esse lado da família. Eles não são como a minha mãe, que cresceu cristã. – Entrelaçou os dedos aos meus. Ainda não entendia o que essa ligação tinha a ver com o Twitter. Como se lesse meus pensamentos, continuou: - Tentando melhorar as coisas, eu postei “Feliz ramadan”, pra todos aqueles que estão jejuando... E foi que as ameaças começaram. Falaram que eu devia morrer, ...
  - Eu não sei o que falar. – “Não dê atenção a essas pessoas” parecia pouco.
  - Não precisa falar nada. – Puxou minha mão até seus lábios, onde beijou com carinho. – Só fica aqui?
  - Eu não estava planejando ir embora.
   O canto de meu lábio tremeu no que deveria ter sido um sorriso. O puxei mais para perto e acabamos deitando no sofá. Fiquei mais perto das almofadas e ele usou o meu peito de travesseiro. Ficamos entrelaçados e o escutei chorar baixinho contra a blusa do meu pijama. Ver Zayn daquela forma era como se mil facas de cozinha fossem espetadas na minha pele repetitivamente. Eu não podia dizer que sabia o que estava sentindo, pois seria uma mentira. Como católica, ou perto disso, nunca sofri com racismo. Mas eu compreendia e pegava as suas dores pra mim. Qualquer um podia dizer que eu era feia, gorda ou que não merecia o que tinha... Mas quando as coisas se invertiam e Zayn era o alvo? Aí as coisas iam longe demais. Ele não seria capaz de fazer mal à uma mera formiguinha! Quanto mais ser acusado de todas aquelas coisas terríveis?
  - Baby, você é tão bom... – Comecei, sentindo-o me apertar mais ao escutar as minhas palavras. Acariciei o topo de sua cabeça, entrelaçando ainda mais as minhas pernas entre as dele. – Seu coração é enorme e eu só queria que mais pessoas pudessem ver isso. Você se importa com os outros, às vezes mais até do que com você mesmo. Você salvou vidas ao doar para o Red Nose Day no inicio do ano e continua salvando vidas pelo mundo inteiro com as suas músicas... Você é um exemplo para todos os menininhos que sofrem ou sofreram bullying, porque você passou por isso. Sweetheart, você é tão forte! Segurou a sua casa quando seu pai foi embora e cuidou de quatro mulheres sozinho. Sempre vai ter alguém tentando nos colocar pra baixo, mas é só porque eles gostariam de estar no nosso lugar. Eu te amo tanto que você não faz idéia.
  - Se algo acontecesse comigo... Você ficaria bem? – Em um soluço quase imperceptível, estremeceu. Não sabia o que ele queria dizer com aquilo, mas senti vontade de apertá-lo em mim e nunca mais soltar.
  - No francês, não temos uma forma exata de falar “eu sinto a sua falta”, então falamos “tu me manques”. O que traduz como: “Você está faltando em mim”. – Levantei seu rosto na minha direção, usando o polegar para secar seu rosto. - Você é uma parte de mim, você é essencial para a minha existência. É como um membro, um órgão ou sangue. Eu não funciono sem você.

+++

  - , onde diabos você se meteu?! – praticamente gritou na minha orelha assim que atendi suas chamadas após o que parecia ser a quinta. Ou décima. – Estou te ligando desde as sete horas da manhã! Você morreu? Porque é a única explicação pra não estar aqui!
  - , por favor. – Pedi com seriedade ao fechar a porta do meu quarto no flat. Zayn finalmente adormecera no sofá quando o relógio marcou perto das dez horas da manhã. – Eu sei que deveria estar aí.
  - O que foi? Sua voz não está nada boa...
  - Eu não vou participar do teste... E-eu não posso... – Fui para trás da mesa e preferi sentar no chão perto da janela do que na cadeira de rodinhas. – Estou no flat.
  - Zayn está bem?!
  - Agora sim... Nada aconteceu... Nenhum acidente, quero dizer. – “Nada aconteceu” soava muito ‘não-importante’. – Ele precisava de mim.
  - É por causa das coisas no Twitter, não é? Eu esperava que ele não fosse ver...
  - Exatamente isso. – Estiquei as pernas no chão gelado, sabendo o que deixava escapar entre os meus dedos.
  - Mas você se esforçou tanto...
  - Já fez seu teste? – A interrompi, sem querer ouvir aquilo que sabia como terminaria.
  - Sou a próxima. – Senti certo sorriso em sua voz. – Vou conseguir o papel principal... Por nós duas, tá bem?
  - Tenho certeza que vai. – Abri um sorriso amargo.
  - Talvez eu pudesse falar com a Agnes... Ou Gavin. Ele está aqui, sabia?
  - Não precisa, ruiva. Eu não quebrei o pé ou algo assim, então não tenho desculpas pra ter faltado hoje. – Ainda que não poder deixar sozinho fosse um motivo enorme, os diretores nunca iriam entender. – Sei o que estou arriscando aqui.
  - Tudo. – Soou com simplicidade, apesar da força naquela palavra. – Mas sei que não adianta falar nada agora, porque você não vai sair daí.
  - Isso é verdade. – Balancei a cabeça sozinha. – Se você encontrar com Ed por aí... Pede desculpas a ele por mim?
  - Você não precisa se desculpar com ninguém. Está fazendo o que acredita ser certo.
  - E esse é o certo, não? Zayn precisa de mim ao seu lado...
  - Então cuide dele, minha grandona. Tenho que ir agora...
  - Quebre a perna, linda! E me deixe orgulhosa.
  - Irei, não se preocupe. Te ligo quando acabar, ok?
  - Ficarei esperando!
   Com aquela promessa, desligamos. Eu tinha certeza que se sairia muito bem em seu teste e, se não fosse eu a ganhar o papel principal, que fosse ela. Fiquei olhando a tela do meu celular até que ele apagasse. Onze horas da manhã. A ruiva deveria ser a última a se apresentar, provavelmente por estar me esperando chegar na Academy para podermos entrar juntas no auditório e fazer nossos testes. Eu realmente queria ter ido me partia o coração não poder fazer o teste para O Quebra Nozes, mas doía ainda mais ver Zayn sofrer. Como ele dissera poucas horas atrás, eu era a única pessoa que ele realmente tinha para se abrir e conversar sobre aquelas coisas. Com suas próprias palavras, ninguém o conhecia da mesma forma que eu o conhecia. Uma batida na porta me fez levantar o olhar e me recompor.
  - Anjo?
  - Estou aqui, baby. – Me pus de pé e fui abrir a porta. – Já acordou?
  - Não consegui dormir mais... – Já não chorava mais e até arriscava um sorrisinho. – Te atrapalho?
  - Claro que não. Só estava avisando a que não vou á Academy hoje. – Mostrei o celular em minha mão como se não houvesse importância.
  - Te fiz perder algo importante? – Segurou a minha mão, levando-me para fora dali.
  - Não. – Os cantos dos meus lábios se ergueram e lutei contra mim mesma para não responder “não, não”, o que me denunciaria. – Era só uma aula chata...
  - Então valeu a pena dirigir até aqui de pijama? – Riu com a expressão relaxada.
  - Qualquer coisa pra te ver. – Ao contrário do que imaginava, não voltamos para a sala. – O que estamos fazendo aqui?
  - Você não disse que queria pintar comigo? – Abriu a porta do seu estúdio e me deixou passar primeiro.
   Aquele Grafitti Room estava um tanto diferente do que eu me lembrava. O chão estava coberto por vários lençóis que um dia foram limpos, e apenas duas das quatro paredes estavam em branco. Os móveis foram afastados para longe dessas paredes e percebi que era ali que iríamos “pintar”. Uma cestinha com várias latas de spray com as mais variadas cores estava a nossa disposição, assim como duas mascaras brancas; daquelas que já o vira usar ao sair desse mesmo quarto. Algo que chamou a minha atenção foi uma tela enorme guardada no canto, coberta por papelão, protegendo o que quer que estivesse desenhado ali. Zayn foi até as mascaras e me ajudou a colocá-la no rosto após prender meus cabelos rebeldes.
  - Qual das duas você quer? – Sua voz ficava opaca por causa da masca que cobria seus lábios, mas o entendi perfeitamente.
  - Estou me sentindo uma médica. – Ri ao escutar a minha própria voz e revi as minhas opções. – A da direita. Gosto da luz que bate nela vindo da parede!
  - Então mãos a obra. – Dobrou as mangas da camisa preta que usava por baixo da T-Shirt e se inclinou para a cestinha de tintas em spray.
  - Só isso? Quero dizer... Não há nenhuma preparação? – Me ajoelhei na sua frente.
  - Esperava uma seção de relaxamento ou movimentos de yoga? – Não pude ver seu sorriso por baixo da máscara, mas o enrugado nas laterais dos seus olhos o delatou. – É só isso, . Pegamos a tinta e começamos a sujar tudo!
  - Esperava uma música ambiente ou algo assim... – Dei de ombros, retribuindo o sorriso. Era bom vê-lo fazendo piadas depois de uma madrugada de clima tão pesado. Mexi nas latas da cesta escolhi a que usaria. – Rosa!
  - Cuidado, a tampa dessa est- - Sua frase foi interrompida pelo jato de spray que atingiu o centro de sua camisa. – Está solta...
  - Oops... – Tentei não rir do meu estrago, mas não foi possível. – Desculpa, baby! Foi sem querer...
  - Tudo bem, eu deveria ter avisado antes... – Olhou a própria roupa, estupefato. – Ela estava mesmo precisando e mais uma cor...
  - Acho melhor eu usar outra lata mesmo. – Comecei a me sentir culpada, sabendo que a mancha não sairia jamais. – O azul está funcionando?
  - Perfeitamente. – Encontrou a cor que eu indicara e me entregou. – Só... Tente usá-la na parede dessa vez. A não ser que queira um namorado Avatar.
  - Seria legal... Todo o poder com o ar e tal... – Comentei distraída, balançando a lata e levantando para ir até a minha parede. – Só não sou muito fã da falta de cabelo...
  - Seria muito legal voar naquele pássaro gigante. – Estávamos de costas um para o outro, cada um começando sua obra de arte.
  - Eu não acho que aquele animal é um pássaro... Parece mais um búfalo gigante... Ou algo assim. – Testei a tinta perto demais da parede, o me rendeu respingos azuis na mão.
  - Do que você está falando?!
  - Do que você está falando? – Ao me virar, percebi que ele também me encarava.
  - Avatar? O filme do cara azul e bem grande? – Tinha uma sobrancelha arqueada.
  - Achei que você estava falando do último mestre do ar. – Balancei a cabeça me sentindo mais lerda que o normal. – Mas até que faz sentido, porque o meu Avatar não é azul.
  - Tonta. – Gargalhou de forma gostosa, voltando a desenhar. O que me surpreendeu e até irritou um pouco é que ele tinha um rosto desenhado como se fosse uma caricatura e eu só desenhara um círculo azul.
   Resolvi deixar de papo e me concentrar de verdade. Ainda não tinha uma idéia exata do que queria fazer, mas esperava que a inspiração fluísse em mim como parecia fazer em Zayn. Já dominando um pouco mais a intensidade e distancia dos jatos, consegui pintar um quadrado irregular no meio da parede. E com irregular eu quero dizer “torto”, mas me sinto melhor usando palavras difíceis. Queria ter pintado a parede inteira, mas meu braço começou a doer e minha altura média não tinha nada a ver com isso, é. O azul claro da minha tinta me lembrou um céu azul, então, como um estalar de dedos, descobri o que queria fazer.
   Ao me virar para pegar outra cor de tinta, prendi as íris em Zayn. O menino estava tão concentrado que foi difícil não parar pra assistir. Ele estava encostado à parede, com uma caneta esferográfica, corrigindo detalhes que o spray era muito grosseiro para fazer. Sua máscara estava pendurada no pescoço para que ele pudesse segurar a tampa do objeto com os dentes e os óculos de grau de armação oldschool sob a ponte do nariz. Além do charme nerd que eu amava ver nele, a sua paixão pelo que fazia era bem óbvia pela forma que seus traços eram deixados por onde a tinta da caneta passava e seu maxilar movia-se devagar. Prestando bastante atenção, e excluindo os ruídos aleatórios, compreendi que ele estava cantando. Não cantando por assim dizer... Cantarolando. Não cheguei a decifrar que música era aquela, mas não me importaria que ele o fizesse um pouco mais alto.

+++

  Depois do almoço, também conhecido como “o que sobrou da última visita de Niall e Harry”, insisti para que Zayn tentasse dormir, pois ele estava mais cansado do que eu. O senhor teimosia se negou até adormecer no quarto de jogos, onde assistíamos à um filme qualquer. Tentei fazer o mesmo que ele e adormecer, mas não consegui. Pela minha cabeça só passava a decepção que meus professores deveriam estar sentindo ao perceber que eu deliberadamente faltara aos testes para a peça de fim de semestre. Por mais que tenha sido tudo avisado acima da hora, isso não era desculpa. Ao menos tinha certeza que conseguiria o papel principal e isso acalmava o meu espírito.
   Como ficar parada não ajudaria em nada, deixei o meu anjinho dormir tranqüilo e fui arrumar a casa. Podia ser preguiçosa o quanto fosse, mas o importante era me distrair. Não que houvesse algo realmente bagunçado – o que confirmava as minhas desconfianças de que ele contratara uma empregada pelas minhas costas – então tive que me resumir a dar um jeito na cozinha e nas coisas que sujamos ao comer. Em seguida, arrumei a geladeira de formas diferentes até que me sentisse bem com o resultado. Coloquei roupas para lavar na máquina de lavar, o que incluía o meu pijama sujo de tinta, e em seguida as estendi na área da lavanderia; no fundo do flat, atrás da cozinha. Passei pano no chão e nas bancadas... Me sentindo a própria coelhinha da playboy por ter feito tudo isso apenas de calcinha e sutiã. Fui interrompida pelo toque do interfone, que me fez bater a cabeça em uma das portas do armário que eu deixara aberta.
  - Sim? – Atendi enquanto massageava o local atingido.
  - Uh, um senhor Malik está aqui embaixo... Ele disse que é visita.
  - Pode perguntar o nome dele, por favor? – Não podia simplesmente mandar qualquer um que alegasse ser da família Malik subir assim. Questões de segurança, você sabe.
  - Ele disse que é Ya... Ser? Yasser?
  - Yasser?! – Arregalei os olhos. Não podia ser... Olhei para mim mesma, desejando desesperadamente estar mais bem vestida. – Ele é alto e moreno?
  - Sim, senhorita.
  - Pode mandar subir, por favor!
  - Agora mesmo, obrigado.
  - De nada... – Minha voz não foi a única a tremer, pois quase não consegui colocar o interfone de volta no gancho. – Okay...
   Sabendo que não tinha mais tempo a perder, deixei a cozinha como estava e corri até o quarto onde Zayn ainda dormia. Me doeu ter que acordá-lo, mas não tinha outra opção. Eu não iria simplesmente abrir a porta para o homem que nunca conhecera pessoalmente. Lembrava de ter falado com ele uma vez ou outra, mas não passou de um oi envergonhado, quanto mais ter que fazer companhia a ele enquanto seu filho não acorda? Só os deuses sabiam quando isso poderia acontecer. Uma vez dentro do quarto de jogos, me ajoelhei no colchão, observando o menino abraçar uma almofada.
  - Baby? Zayn, acorda... – Pedi com carinho, apesar do desespero. O elevador não era tão lento assim.
  - Hm? Tá na hora de ir pra escola? – Tentei não rir daquela sonolência toda.
  - Desculpa te acordar, sweetie... Mas seu pai está subindo...
  - Hmmm? – Resmungou, abrindo os olhos de uma vez e em seguida piscando assustado. – Meu pai? De Bradford?
  - A não ser que tenha outro pai... – Afirmei que era ele mesmo e levantei. – Ele já deve estar subindo! E eu preciso trocar de roupa!
   Falando aquilo, a campainha tocou. Ao menos Yasser não entrou sem bater, pois não seria legal a primeira visão que meu sogro teria de mim ser uma menina descabelada, correndo sem roupas pelo corredor. Ignorei o comentário infame de Zayn sobre a minha bunda ficar bonita quanto eu corria e só respirei aliviada ao me trancar no quarto principal. “Aliviada” nesse contexto quer dizer que eu não queria pular da janela ainda, mas estava bem nervosa. Afinal... Conheceria o pai do meu namorado, mas não era só isso. Naquela mesma manhã Zayn me contara o quanto ele era rígido e o tópico “religião” ainda estava fresco em nossas memórias. Meu medo era que ele implicasse por eu não seguir as mesmas crenças que ele.
   Afastei aqueles pensamentos e corri para o banheiro. Tomar um banho seria uma boa chance de adiar nosso encontro, mas eu não tinha tanta certeza do que o homem acharia de a namorada do filho estar tomando banho no apartamento dele. Trisha era bem tranqüila e mente aberta neste sentido, mas eu não tinha informações o suficiente para afirmar isso em relação ao seu ex-marido. Escovei os dentes, reforcei o desodorante e um perfume básico, limpei a tinta dos meus braços e arrisquei um lápis de olho e rímel; já pensava no que poderia usar.
   Sinceramente, eu precisava levar roupinhas apresentáveis para aquele apartamento, pois não tinha quase nenhuma mais arrumada do que caça jeans e camiseta. Fui obrigada a optar por um vestido floral de cores fortes e uma sapatilha rosa. Não era a combinação ideal, mas teria que servir. De qualquer forma, duvidava que Yasser entendesse de moda ou se importasse com ela o suficiente para me julgar naquele sentido. Dez minutos deviam ter passado, mas pareceram duas horas. Respirei fundo, resolvendo deixar a segurança do quarto e enfrentar meus medos. Encontrei os dois homens na sala, sentados no sofá. A semelhança era óbvia, não só no tom da pele, mas como nos ângulos do rosto e especialmente nos olhos.
  - Aí está ela! – A versão mais velha de Zayn me viu primeiro e levantou.
  - Pai, essa é . – Não acho que apresentações fossem tão necessárias, mas não reclamei. Zayn parecia ter algo o incomodando. – , meu pai.
  - É um prazer finalmente conhecê-lo pessoalmente... – Passei as mãos pelo vestido, secando o suor que começava a aparecer por causa do nervosismo.
  - Preciso dizer, você é bem mais bonita do que Zayn me contou. – Diferente do que eu esperava, não apertou a minha mão, me puxando para um abraço como se nos conhecêssemos desde sempre.
  - Bom saber disso. – Olhei feio para meu namorado, que forçou um sorriso culpado. – E obrigada.
  - Imagine. Sente-se conosco! Vamos conversar. – Como se o apartamento fosse dele, voltou para o sofá, onde o filho já estava. – Você parece cansado, Z.
  - Eu estava dormindo. – Passou a mão pelos cabelos, afim de verificar se estavam tão bagunçados quanto imaginava. – Pai, porque você está aqui? Sei que não é só uma visita familiar.
  - Eu posso deixar vocês à sós... – Ofereci, sentindo que a conversa não seria pra mim.
  - Não, Anjo, você pode ficar. – Virou-se para mim e segurou meu joelho. Senti um “por favor” implícito naquela frase e não saí do lugar, sorrindo pra ele em concordância.
  - Bem... – Yasser suspirou, olhando do filho para mim e voltando para ele em seguida. – Depois da nossa conversa ontem a noite, eu me senti culpado. As coisas que eu te disse... Você não precisava ter ouvido.
  - Não problema, pai. – Sua voz dizia que não tinha problema, mas a sua postura alegava o contrário.
  - É claro que tem Zayn. – O homem aparentava ter um espírito leve e brincalhão, mas naquele momento era centrado e sério. – Você está vivendo o seu sonho. Está fazendo o que queria fazer desde que era criança e ganhou o primeiro microfone de brinquedo. E eu e toda a família devemos te apoiar, não importando o que isso signifique. Você é um menino forte, sei que sabe o que faz. Perdão, filho. Você sabe que eu te amo e sou muito orgulhoso de você.
  - Eu também te amo... – Zayn sorriu de canto, seus ombros relaxando em um suspiro.
  - Acho que vocês deveriam se abraçar agora. – Não contive uma pequena risada, estudando meu namorado rolar os olhos. – C’mon, babe!
  - Vamos lá, badboy de Bradford! Dê um abraço no velho pai. – O homem levantou e abriu os braços, esperando.
  - Vaaaai, Zen! – O encorajei com um empurro leve nos ombros.
  - Tudo bem, vocês venceram! – Bagunçou os próprios cabelos e se pôs de pé, dando no pai um abraço rápido, mas que quis dizer muita coisa. – Só espero que não se juntem contra mim.
  - Nunca! – Yasser piscou pra mim, deixando que o filho fosse libertado. A seguir, abriu o bolso de fora da mala preta que trouxera; a qual eu não notara até então, e tirou de lá um embrulho de presente. – Isso é pra você, .
  - Pra mim? – Franzi o cenho. Era a primeira vez que nos encontrávamos e eu já ganhava presente? – Não precisava, de verdade...
  - Não deu trabalho algum! Vamos, aceite. – O entregou a mim e tive que aceitar.
   Zayn parecia meio desconfiado, observando-me abrir cuidadosamente o pacote. Vi em seus olhos o desespero enquanto eu procurava a ponta da fita adesiva, já que ele preferia a maneira mais prática de se abrir presentes: rasgando de uma vez. Mas como o presente era meu, demorei o que foi preciso para abrir sem destruir e deixei o tecido azul claro cair no meu colo. Estendi aquele véu semitransparente, encantada com a sua delicadeza. Parecia deslizar nos meus dedos e os mínimos detalhes como acabamento em viés dourado e pequenas pedrinhas intercaladas por toda a sua extensão eram um verdadeiro mimo.
  - É lindo! – Sorri para meu sogro, me perguntando internamente por que estivera tão nervosa em conhecê-lo. – Obrigada!
  - Você não precisa usar isso, . – Zayn ainda parecia incomodado com algo, mas não entendia o que era.
  - Como assim? – O reprovei com o olhar. Era um presente de seu pai, porque ele agia dessa forma?
  - Isso é um hijab. Um véu que as mulheres da nossa religião usam. – Yasser explicou e liguei os pontos. – Mas não te dei isso pra que você use ou mude seus costumes... Só achei que iria gostar.
  - Eu gostei, de verdade. – Fiquei tranqüila ao lembrar que Trisha também não era da religião do ex-marido, então ele devia entender o que era o filho ter um relacionamento como o que tinha. – E acho bonito quem usa o hijab. Quero dizer... Hoje em dia tudo é tão banal. Vemos mulheres semi-nuas em propagandas nas ruas ou na TV. Não há mais aquele mistério todo, porque todo mundo já viu tudo. Não digo que vou mudar a forma como fui criada, mas respeito e admiro quem pensa diferente.
  - Você encontrou uma boa. – Yaser sorriu, cutucando o filho com o cotovelo.
  - Encontrei uma perfeita. – Zayn segurou a minha mão e a acariciou com o polegar, aliviado por eu não ter me ofendido com aquele presente.
  - Agora, porque não vai tomar um banho e tirar essa cara amassada enquanto a e eu preparamos um jantar? – O outro deu a idéia e Zayn sorriu.
  - Acho uma ótima idéia. – Apesar do meu olhar de “não se atreva a me deixar sozinha com ele”, o mais novo aceitou.
  - O que me diz, suchef? – Yaser levantou mais uma vez, esperando alguma iniciativa da minha parte.
  - Sou terrível na cozinha, mas posso tentar...
   Vendo que não teria escapatória, levantei e fui atrás do homem, guiando-o até a cozinha. Zayn se despediu, alegando que não demoraria, mas não comprei aquele peixe. O sorriso em seus lábios mostrava que todo o desconforto de ter o seu pai pela primeira vez em seu flat havia ido embora e agora dava lugar a diversão de ver a sua namorada e ele criando laços; ou algo perto disso. Tive certo orgulho de mim mesma pelo estado exemplar que a cozinha se encontrava. Yasser não fez cerimônia e andou até a geladeira, averiguando o que poderíamos usar para preparar o nosso jantar. Sem saber muito bem o que fazer e esperando mais instruções, encostei-me à bancada do fogão, observando meu sogro juntar algumas folhas e verduras.
  - Como vocês dois se conheceram? – Me olhando por cima do ombro, o homem irrompeu o silêncio. Sua voz não tinha vibração de interrogatório, apenas curiosidade paterna.
  - Estudamos na mesma academia de artes. Quando ele ainda fazia o curso de música, entrei no de ballet clássico. – Expliquei suavemente, distraída em tocar a superfície do fogão desligado.
  - E ele te conquistou logo de cara, huh? – Riu como se conhecesse os charmes do filho.
  - Na verdade, demorei um pouco pra ser conquistada. – Levantei o olhar até ele, sorrindo culpada. – Dei trabalho a Zayn. Mas ele nunca desistiu, então acho que fiz algo certo.
  - Zayn sempre gostou de um desafio. – Me acompanhou na bancada, arrumando ali tudo o que encontrara de ingredientes. – Principalmente quando o prêmio vale a batalha.

Chapter XXXII

A semana passou bem rápido após a visita de Yasser; que ficou hospedado no flat do filho até o dia anterior. Na sexta feira pela manhã foi embora, mas não pude me despedir por ter aula naquele mesmo período. Todo o meu nervosismo em relação ao homem foi embora depois da primeira meia hora que passamos juntos na cozinha, pois ri tanto que só faltei cair e rolar no chão. Com certeza Zayn puxara o seu lado cômico a ele. Fora isso, na Academy, ninguém comentou comigo sobre a audição perdida, quase como se eu tivesse participado dos testes. Pensei em falar com Agnes e explicar de alguma forma o que acontecera, mas sentiria como se estivesse pedindo uma segunda chance e não seria justo. Maldita consciência de fazer o que é certo!
   Bartira, minha professora fixa de ballet, também parecia incrivelmente inspirada. Talvez por ser sexta-feira e poder descansar no dia seguinte, ou simplesmente por gostar daquele trabalho. A minha inspiração tinha outra razão em particular, mas chegaremos a isso mais tarde. O velho CD com músicas clássicas tocava sem pausar enquanto a mulher habilidosa nos dividia em pares. Como sempre, fui a última a ser escolhida. Se é que podemos chamar de “escolhida” ser a única opção restante para David Hellberg, que se distraíra com a bunda de Brigitte no momento em que os alunos começaram a se dividir. Ele não reclamou por ter que se juntar a mim, mas pude ver que não seria a sua primeira opção. Se ser boa no que eu fazia tinha que possuir um lado ruim, era aquele; amedrontar possíveis parceiros.
   Como a sala era espaçosa e os alunos poucos, pudemos nos dividir pelo lugar sem que esbarrássemos um no outro. Meu par, um loiro de cabelos mais longos que o da maioria masculina, ficamos no canto esquerdo do fundo da sala. Ele foi simpático comigo após se contentar com seu destino e me contentei que poderia ser pior. Contentamentos descontentes a parte, a morena na frente da classe começou a dar as primeiras informações sobre o tema da nossa aula: Levantamento. Comemorei internamente por já ser familiarizada com aquelas técnicas, graças a Nick e todos os nosso ensaios juntos, onde ele me mostrava o que aprendera em suas próprias aulas.
  - Vocês tendem a acreditar que levantar uma pessoa é algo esforçado e isso só acontece quando o peso não é alinhado corretamente. Devemos lembrar que quando levantamos nosso parceiro ou parceira, viramos um objeto em comum. Com um centro de gravidade em comum e temos uma base de suporte em comum. – Bartira andava de um lado para o outro na frente do espelho, fitando a todos nós e gesticulando ao falar. – Levantamento não condiz com força ou peso, e sim técnica. Então meninas, vocês podem levantar os seus parceiros e vice versa. Com o passar das nossas aulas vocês vão entender que fica mais fácil. Preciso de um ajudante! Steve?
  - É pra já! – O menino se desvencilhou da namorada que também estudava naquela sala e foi até a professora.
   Bartira começou demonstrando as técnicas base de lifting. Mostrou que muitas pessoas sofrem para pegar o jeito porque tendem inclinar o corpo para frente ao pegarem outra no colo, quando na verdade deveriam ir para trás até encontrar seu ponto de equilíbrio em comum. Enquanto ela e Steve demonstravam a forma correta, os pares da sala os imitavam, o que incluía David e eu. Ora ele me carregava como uma noiva, ora eu fazia o mesmo. Ainda que ele fosse maior que eu em altura e massa muscular, fui capaz de tirá-lo do chão sem muita dificuldade – após a primeira ou segunda tentativa, sabe como é. Em seguida, a docente passou o nosso primeiro levantamento sério, chamado “Pulo Assistido”.
  - Okay, vamos fazer isso! – David levantou a mão para que eu completasse um high Five.
  - Está preparado? – Após deixá-lo feliz por bater em sua mão com a minha, me afastei. Arrumei o collant preto no lugar, sentindo falta da saia de seda que esquecera de trazer, e dei alguns pulos sem sair do lugar.
  - Pode vir. – Afastou um pé do outro e esticou os braços para frente.
   Corri três passos em sua direção, esperando que ele segurasse o meu quadril na hora em que peguei impulso no chão e saltei para seus braços. Em vez disso, segurou a minha cintura, o que não me deu o suporte necessário para completar o levantamento. Acabei batendo com a coxa em seu peito e sendo solta segundos depois.
  - Desculpa! – Falamos ao mesmo tempo.
  - Meninos, deixem-me ajudar. – A professora assistia as duplas e parecia ter notado nossa tentativa desastrosa. – David, você precisa dobrar os joelhos ao segurá-la, isso vai fazer suas mãos irem da cintura para o quadril, o que é o certo.
  - Entendi. – O menino respondeu, já flexionando os joelhos.
  - Vamos lá, a é boa. Ela vai tornar fácil pra você.
  - Eu vou tentar. – Sorri na tentativa de passar confiança.
   Prontos para tentar novamente, dessa vez com a professora nos assistindo, David e eu nos olhamos intensamente. Não no sentido de estarmos atraídos um pelo outro, mas focados na nossa tarefa de acertar aquele primeiro levantamento. Respirei fundo e parti em direção ao outro. Após me segurar pelo quadril, suas mãos longínquas escorregaram para a minha coxa, dando-me estabilidade para encostar a parte baixa do abdome em seu ombro direito e estender a perna livre perfeitamente para trás, com os braços esticados diagonalmente para o alto.
  - Muito melhor. Continuem treinando, porque podem parar de tremer mais. – Bartira bateu uma única palma sonora e David me pousou no chão.
  - Isso foi muito bom. – Dei um tapinha em seu ombro.
  - É, acho que não vai ser tão ruim fazer par com você. – Não sei se era para aquilo ser um elogio ou insulto.
  - Porque seria ruim? – É, não aceitei como um elogio.
  - Uh... Você sabe o que dizem por aí... – Se enrolou nas palavras como que se tocando de que falara besteira.
  - Não, não sei. – Cruzei os braços. Estavam falando algo de mim por aí?
  - Bem, isso é desconfortável. – Suspirou, olhando para qualquer lugar menos pra mim. – A palavra nos corredores é que você já está com a vida ganha, por causa do One Direction. Então estão com medo que você não leve isso aqui com seriedade.
  - Isso é ridículo. – Toda a minha felicidade se foi ao escutar aquilo. – Eu não estou com a vida ganha! E vou provar a você e a todos eles que estão errados.
  - Hey, não fui eu quem começou com isso! – Levantou as mãos, se colocando na defensiva. – Mas eu te ajudo.

+++

  - Onde você está, loira? tentava fazer aquele apelido pegar, mas por mais que meus cabelos estivessem consideravelmente mais claros, não me via como “loira”.
  - No terceiro andar! – Respondi com o aparelho na orelha. – A caminho da sala antiga dos meninos. Acho que está vazia e tem umas coisas que preciso fazer...
  - Sei que sente falta deles, , mas ir todos os dias para aquela sala não vai fazer o tempo voltar... Mesmo que eu fosse gostar disso.
  - Não é por isso que eu vou pra esta sala, ! – Rolei os olhos, parando perto da porta e espiando pelo vidro. – Gosto de brincar com os instrumentos.
  - E também gosta de fugir da comida do refeitório! Mas eu não te culpo. Esse semestre está realmente ruim. EI, VAI PRO FIM DA FILA! – Sua última frase foi gritada para outra pessoa, me obrigando a afastar o aparelho da orelha para não ficar surda. – Anyway, tenho que ir antes de ser assassinada. Me prometa que nos veremos no final da aula?
  - Prometo. See ya, boo. Love you.
   Declarei e ri ao desligar o aparelho. O coloquei no bolsinho de fora da minha mochila e entrei na sala vazia, sentindo a primeira onda de nostalgia me atingir. As memórias das visitas que eu fizera à Niall e Zayn e tardes de ensaio com Ed Sheeran ainda estavam frescas, causando um sorriso dolorido a aparecer na superfície de meu rosto. Deixei meus dedos pressionarem algumas teclas do piano, mesmo que não soubesse tocar nada além de Parabéns Pra Você nesse instrumento. Era como se um pedacinho dos meus amigos ainda estivesse por ali, me observando e me fazendo sentir a vontade. Eu não conhecia o novo professor de música que substituíra Ed, o que era estranho levando em conta que as minhas visitas à última sala do terceiro andar eram bem constantes. Entretanto, achava melhor assim. Dessa forma, aquele lugar continuava sendo nosso.
   Caminhei até o tablado e deixei minhas coisas ali em cima, indo até a parede e escolhendo o violão que sofreria na minha mão e o tirei da parede. Uma vez sentada ao lado dos meus pertences, apoiei o instrumento em meu colo. Podia não ser tão boa quanto Niall ou qualquer um dos outros meninos, mas vinha praticando alguns dos acordes que eles me ensinavam em casa. Além do que, achava lindo tê-lo em meu colo e deslizar os dedos pelas cordas, pois não gostava muito de usar palhetas em minhas tentativas normalmente frustradas de conseguir arrancar algum som. Tirei da mochila meu caderninho de capa dura onde escrevia meus pensamentos, inspirações e rascunhos de letras de música. A maioria não estava terminada e eram apenas duas as quais eu realmente me orgulhava de ter criado. A que mostrara a Ed e uma segunda que requeria mais atenção que a anterior.
   Abri a página desta música em especial e a deixei ao meu lado. Cantarolei a letra em algumas melodias diferentes, tentando criar um ritmo que não ficasse estranho, mas era mais difícil do que parecia. Resolvendo brincar um pouco mais, marquei o acorde G na mão esquerda e usei a direita para dedilhar as cordas, uma de cada vez. O som daquilo me agradou e tentei outros acordes que conseguia me lembrar; D, Am e C. “Espera, acho que posso trabalhar com isso...”, pensei, alternando um acorde com o outro. Não foi complicado encontrar uma ordem e em seguida olhar para a letra solitária no papel. “Eureca!” A coisa mais difícil de encontrar na mochila foi um lápis, mas depois de três minutos procurando consegui segurá-lo entre os dedos e começar a rabiscar no caderno.
   Em quinze minutos já era possível ver o começo de uma música se formando. Não tinha passagens ousadas e muito menos rápidas, visto que usei uma seqüência única para ela inteira, mas era o melhor que eu fizera até aquele momento. Até mesmo cantei a letra, me interrompendo sempre que precisava trocar de acorde. Fazer as duas coisas ao mesmo tempo mostrava a necessidade de uma coordenação motora que eu não tinha, mas não queria desistir. Não depois de ter conseguido o que deveria ser a parte mais difícil. O barulho de uma porta sendo aberta me fez levantar o olhar, mas quando encarei a entrada da sala, não havia nada lá.
  - Desculpa, eu não sabia que teria aula aqui agora. – A voz veio do lado contrário, me assustando. Demorei alguns segundos para lembrar do estúdio de bateria no fundo da sala, que também tinha uma porta. Ao menos não estava imaginando coisas... – E desculpa te assustar!
  - Não precisa se desculpar! Também achei que a sala estaria vazia. – Me virei na direção certa dessa vez, encontrando os olhos claros e covinhas nas bochechas do menino extremamente alto. – E não tenho aula aqui... Não sou nem do curso de música.
  - É claro! Você é a , não? – Sentou ao meu lado sem esperar ser convidado e coloquei o violão de lado.
  - Você me conhece?
  - Quem não te conhece?! – Riu, deixando as covinhas ainda mais aparentes. – Oh, é, meu nome é Ashton, aliás.
  - Oi, Ashton. – Ri pela forma que ele sempre sorria. Tipo... O tempo todo. – Não acho que já tenha te visto aqui...
  - Meu primeiro semestre. – Deu de ombros como se não fosse algo importante. – Me mudei pra Londres no início de julho, com três amigos. Direto da Austrália!
  - Uau, você veio de longe. Seus amigos estudam aqui também? – Não sei por que, mas me senti instigada a saber mais sobre aquele menino estranho.
  - Nah, só eu. Mas temos uma banda! – Comentou com um misto de orgulho e animação. – Five Seconds of Summer! Já ouviu falar?
  - Desculpa, não ouvi...
  - Não tem problema, ainda estamos começando. – Sorriu mais uma vez. Ou ele era filho de dentista e tentava fazer propaganda ou os australianos eram realmente de bem com a vida. – Faremos o nosso primeiro show hoje. Não é bem um show... Tá mais pra uma apresentação em troca de alguns trocados.
  - Mesmo assim, é algo legal! Onde vai ser? – Apoiei o cotovelo na perna e o queixo na mão.
  - Não faço idéia! – Gargalhou divertidamente. Ashton era a coisa mais fofa que eu já vira em bastante tempo. – Espera, acho que tenho um papel...
  - Uh, okay... – Ri ao vê-lo levantar e começar a procurar desesperadamente algo em seus bolsos.
  - AHÁ! Eu sabia! – Desdobrou um folder amassado e me entregou. – Está tudo aí. Hora, endereço...
  - Espera, sua banda é estilo punk? – Franzi a testa ao ler a propaganda que ganhara.
  - Por que o espanto?!
  - Não sei... Esperava algo mais alegre de alguém usando uma camiseta com o desenho da My Little Pony... – Apontei para a roupa dele; minha vez de rir.
  - Apareça lá hoje a noite e posso te provar errada.
  - Sou difícil de impressionar, já aviso...
  - Aceito o desafio.

+++

  Após a aula, me arrastou para um restaurante novo que abrira a alguns dias na Mayflower e Liv nos encontrou lá. Mais um almoço entre amigas, sabe como é. Assim como todas as outras vezes, rimos mais do que comemos e quase fomos expulsas do recinto por causa das bagunças da ruiva. Em seguida, dei carona à outra loira pacifica que morava no mesmo condomínio que eu e fomos para casa. disse que não poderia nos acompanhar por ter “problemas” para resolver, mas prometeu entrar em contato antes que eu fosse para Essex no dia seguinte, pois tinha certeza que não haveria recepção de celular na área do festival. Olivia foi para a própria casa, alegando ter trabalhos da faculdade pra fazer, e só agradeci a minha formação superior por não ter nada daquele tipo; ainda que os exames de fim de semestre fossem tão estressantes quanto as semanas de prova.
   Estacionei o meu carro vermelho atrás de um Volvo prateado, denunciando a visita mais que especial do meu namorado. As janelas estavam abertas no primeiro andar, o que me deixou observar as cabeçinhas sentadas no sofá, assistindo uma programação qualquer na televisão. Caminhei apressadamente, querendo evitar pegar o chuvisco que antecedia uma chuva de outono, aproveitando que a porta não estava trancada para entrar de uma vez e encontrar meu amor peludo no meio do hall de entrada. correu desesperado na minha direção, ficando de pé com as patas apoiadas nos meus braços e lambendo o meu pescoço. Esse cachorro não parava de crescer!
  - Também senti a sua falta, Bo! – Balancei seu rosto de forma brincalhona, me rendendo uma mordida no pulso, mas sem força alguma.
  - Ela chegou! – Harry saia da sala de jantar e me abraçou assim que voltou a pisar no chão com as quatro patas. – !
  - Hazza! – Fui levantada do chão, sem entender o motivo daquela recepção tão calorosa. Eu dormira em casa no dia anterior, então não era como se ele sentisse a minha falta. – O que é isso?
  - Minha irmã linda! – Louis fez o mesmo que o namorado, porém, sua altura não o permitiu me levantar. – Você vai ficar tão feliz!
  - Feliz com o que? – Assim que fui solta por Lou, um par de braços fortes me envolveu por trás. As setas tatuadas em um dos antebraços denunciaram o dono deles. – Baba!
  - Oi, ! – Beijou a minha bochecha, só me soltando quando Zayn parou na nossa frente.
  - Você pode me explicar o que é tudo isso? – Pode-se dizer que eu estava ficando tonta por ser levada de um lado para o outro.
  - Não. – Respondeu com um sorriso, me abraçando pela cintura e juntando nossas bocas em um beijo de saudação. – Mas posso te mostrar.
   Nós cinco e fomos até a sala, onde a televisão já estava desligada. Na mesinha de centro encontrava-se um buquê de rosas coloridas em um vaso com água e a nova edição da revista Glamour, onde a cantora Jessie J estampava a capa. Só faltei gritar e soltei tudo o que segurava no chão, correndo para o sofá. Primeiramente, peguei o cartãozinho pendurado entre duas rosas. Ele era branco e tinha os dizeres “I ♥ GLAMOUR” e dentro dele, um recado escrito à caneta: “Obrigada por colaborar conosco. Até a próxima. xx Ass: Equipe Glamour”. Eu era só sorrisos e os meninos se empoleiraram no sofá, ao meu redor. Peguei a revista e a levei para o meu colo, começando a folhear em busca das minhas páginas.
  - Página 84. – Liam informou.
  - Vocês já viram? – Esperava ser a primeira a ver aquela revista, mas pelo visto já era a última. Rolei os olhos, animada demais pra me importar. – Não sei porque ainda pergunto!
  - Olha logo, ! Ficou muito bom. – Harry me apressou.
   Desconfiei que eles queriam ver a minha reação ao encontrar as minhas fotografias nas páginas de uma revista tão enorme quanto aquela; eu também estava. Demorei segundos para abrir na página de número oitenta e quatro, que ficava à esquerda da oitenta e cinco; ou seja, a matéria já começava com páginas duplas. A primeira foto estava na página da direita, onde eu girava com o look rosa, segurado balões de gás hélio da mesma coloração. A página da esquerda era uma continuação do cenário, mas sem muita nitidez. Por cima do embaçado, estavam o título e subtítulo: Uh, la la. De París para o mundo! E a primeira chamada da matéria vinha logo embaixo:

  
“Star Tomlinson chegou ao photoshoot da GLAMOUR em leggings e um sweater da TOPSHOP. Levemente desgrenhada com traços delicados e madeixas loiras despenteadas, ela é o resumo do francês “sexy cool”. “Ballet é o caminho pra mim, profissionalmente falando, mas desde que uma coisa não atrapalhe a outra, não vejo porque não tentar algo nesse sentido.” Ela responde quando a questiono sobre tornar-se modelo fotográfica, graças a sua desenvoltura em frente às câmeras. Ela é considerada um ícone fashion, mas , 20, fica surpresa com isso. “Gosto de pensar que não me inspiro em ninguém pra ter o meu próprio estilo. Eu uso o que me dá vontade, o que me deixa confortável ou o que eu gosto.” Ela ri. “A vida é muito curta e muito bonita pra nos preocuparmos em combinar tudo.”
  Apesar de ter presença marcada na primeira fila de desfiles de moda, ela é mais que uma It Girl da atualidade. Sua participação no espetáculo de sucesso no início desse ano Romeu e Julieta lhe rendeu boas criticas ao conseguir o papel principal mesmo ao ter acabado de entrar na tão prestigiada London Royal Academy. Não é apenas no universo fashion que ela se destaca, pois nós da Glamour temos certeza que várias companhias de Ballet lutarão para conseguir um contrato com essa estrela em ascensão. “Eu me senti honrada em participar de uma peça tão icônica. E eu amei os figurinos! Eles eram tão bonitos e frágeis (...).”
  Quando se trata de designers, ela ama Ellie Saab e Chanel, mas também é fã do estilo britânico. “Parisienses tem um jeito de combinar uma roupa cuidadosamente, mas fazer com que pareça fácil.” Ela diz. “Mas britânicos são mais brincalhões.” Fashonista, bailarina e Brit fan – o que não amar em ?”

  Falar que eu amei tudo aquilo que foi falado sobre mim era pouco. A melhor parte é que o One Direction e a Mulberry não foram mencionados, então tudo que foi exaltado era mérito meu. Eu conseguira, eu era, eu possuía. Fossem as minhas palavras e respostas tranqüilas ou meus cabelos bagunçados. Minha essência fora retratada de forma legitima, sem outras pessoas falarem o que esperavam de mim ou o que eu deveria ser por ser ligada com a maior boyband da Europa. Passei para a próxima página; número 86. Nesta em especial, eu estava agachada sobre a mesa de doces, segurando o muffin cor-de-rosa e com o vestido verde; com um quote: “Todos são bonitos, todos podem ser gentis, engraçados, amáveis...” Na página 87: A minha foto na banheira com o vestido azul, de joelhos no meio dela e o cotovelo direito apoiado em sua borda. Meu rosto pousava delicadamente sobre o indicador e fitava a direção oposta, olhar baixo e lábios minimamente afastados. Mais uma citação: “...Mas não é todo mundo que consegue capturar a sua atenção e ser infinitamente fascinante.”
   Passei mais uma página e encontrei a segunda etapa do photoshoot; a que fomos as ruas. Novamente uma foto só ocupava as duas páginas. Estava deitada na escadaria do monumento de Eros do Picadilly Circus, com uma perna esticada e a seguinte levemente flexionada, evidenciando o salto que se destacava contra o resto da roupa preta. Meus olhos estavam abertos e olhavam diretamente para a câmera, um tom de azul que nem eu mesma esperava ter. Uma frase no topo das páginas dizia: “Ela é uma bagunça deslumbrante e você vê isso em seus olhos.” Página 90: Uma imagem que pegava na metade da minha cintura até pouco acima da minha cabeça, dando um close e desfocando todo o fundo, mostrando apenas o vulto das pessoas que passavam por trás. Eu sorria, mas era um sorriso travesso. Por um momento invejei aquela menina na foto, pois ela parecia inabalável, quase feroz. Tão diferente de como eu me sentia na maioria do tempo.
   Página 91 e última foto: Minhas pernas extremamente nuas devido ao novo look curto enquanto eu atravessava a rua de costas e olhava pra tas, onde a câmera capturava o momento em que literalmente todos a minha volta, inclusive quem estava dentro dos carros, olhava pra mim. Poderia dizer que estava apenas curiosos com o que quer que estivesse acontecendo, mas agora deixarei a modéstia de lado: Eu realmente estava incrível. Não só neste encerramento, mas em cada imagem, cada página. Não sei se foram os efeitos da luz ou ângulos explorados por um fotógrafo talentoso, mas era daquela forma que eu gostaria de ser vista. Assim não teria insegurança de calçar meu salto e aparecer. Muitos me criticariam após aquele ensaio, mas eu me sentia preparada pra isso. Eu me sentia como a menina nas fotos.
  - Incrível, não é? – Zayn não desgrudara os olhos do meu rosto por nem um instante desde que eu abrira aquela revista. – E eu nem acredito que tudo isso é meu. Estamos tão orgulhosos de você, .
  - E eu não acredito que tudo isso sou eu! – Sorri, passando a mão pelo rosto. – A revista já foi às bancas? Ou a internet? Mum e nana já viram?
  - Todo mundo já viu, . – Louis levantou e pegou algo que reconheci ser seu iPad. – E fiz o favor de selecionar as melhores reações pra que você veja.
  - Eu estou preparada pra isso? – Não queria ver coisas ruins, não quando meu humor conseguiu voltar para o alto.
  - Não. Mas vai gostar. – Harry trocou um sorriso confidente com os outros meninos e até parecia estar mais por dentro daquilo que eu. – Vá em frente!
   Aceitei o aparelho da Apple, encontrando o Safari aberto na página do Twitter, mas na seção de favoritos de Louis. Ele realmente selecionara os melhores. Não sei o que estava esperando, mas com certeza não era aquilo. Aparentemente, a revista saíra pela manhã, quando eu estava na aula, então todos os assinantes e mais viciados em Issues de moda já estavam com a sua cópia em mãos na hora que cheguei ao restaurante com Liv e . É, eu fui mesmo a última a ver a matéria.

  
@JohannahDarling: “Mãe orgulhosa! Abençoada pelos meus filhos @Louis_Tomlinson e @ que hoje teve seu primeiro ensaio em uma revista! Nana manda beijos.”
  @tommcfly: “Feliz pela pequena @ Apesar de roubar os cadarços da rainha, está mais linda que nunca na nova edição da Glamour. Os meninos também mandam parabéns”
  @mrsgifletcher: “Tom já falou, mas vale reforçar! Orgulhosa de ser amiga da @. Much love, ! Ansiosa pra te ver amanhã xx”
  @EmblemThree: “Estamos com saudade @! Vimos suas fotos na internet, mas aceitamos uma entrega especial de uma cópia autografada. Você tem nosso endereço. – Wes.”
  @CarineMulberry: “Querida @ arrasando no editorial da @GlamourUK de agosto! Compre já sua edição nas bancas.”
  @GlamourUK: “Mais do que felizes com o lançamento da nova Issue Ago-13. @ dando um show de naturalidade como se nascesse pra isso! Foi ótimo trabalhar com você. – Scarlett”
  @TrishaM: “Um grande beijo à minha amiga @. Simplesmente perfeita! Eu não podia pedir uma melhor. As meninas também adoraram as fotos!”
  @AnneCox: “@ linda como sempre! Missing you. <3”
  @: “Chego em casa e encontro a minha mãe olhando as fotos da @! Quase caí pra trás. Amiga perfeita. <3”
  @Gemma_Styles: “Me preparando para viajar com a super estrela @ amanhã! Ainda pensando se peço autógrafo ou não. lol Love you.”
  @Rachel_Tomlinson: “Lux já se desenhou em todas as fotos da revista, ao lado da irmã @. Todos sentimos sua falta e orgulho define.”
  @Dani_Peazer: “Apaixonada pelas fotos da @!”
  @NiallOficcial: “Já mostrei a todo mundo que sou amigo da @! Antes que a fama suba a cabeça e ela esqueça dos velhos amigos. HAHA Me liga, gata. ~wink wink~”

+++

  - Onde você conheceu esse cara mesmo? – Zayn e eu acabávamos de entrar no bar ao norte de Londres, ambos correndo para escapar da chuva que caia do lado de fora.
  - Eu já te disse, baby! Na Academy. Ele é um aluno novo do curso de música. – Senti como se fosse a milésima vez que explicava isso pra ele.
  - Ah, claro. – Não pareceu tão convencido com o meu convite para ir assistir àquele show da tal banda Five Seconds Of Summer, mas preferiu me acompanhar à me deixar ir sozinha.
   Particularmente me senti bem feliz por ele ter ido comigo, já que o local onde o show aconteceria era um tanto suspeito. Ok, vou tentar não julgar nada! É só que o Snooker não era lá o tipo de lugar que eu estava acostumada a freqüentar. Não era um Pub e sim um bar, sem seguranças ou filas na porta, onde qualquer um podia simplesmente entrar e fazer o que quisesse. Pelo som de bolas de bilhar sendo chocadas uma contra a outra, assumi que o segundo andar era repleto por mesas de sinuca, onde bêbados apostavam quantias maiores do que poderiam pagar no final da partida. A decoração continha uma mistura... Peculiar de elementos que iam desde quadros de mulheres pinups a cabeças de animais empalhados e troféus de algum esporte que eu não conseguia identificar. Pelo lado positivo, me senti bem por ter optado por calça jeans ao invés de algum vestido que mostrasse demais.
   De forma protetora, assim que alguns homens mais velhos e barbudos perto da entrada olharam para nós por tempo demais, Zayn envolveu-me pelos ombros e praticamente me espremeu contra si; algo que dizia “ela está comigo” ou “não mexa com o que não deve”. No fundo do bar, uma espécie de palco improvisado fora montado e dois homens mexiam em fiações e instalavam pedestais para comportar microfones. Não conhecia os companheiros de banda de Ashton, mas duvidava que fossem aqueles.
  - Este lugar é adorável. – Comentou enquanto passávamos por um casal ou outro que brigava, mas terminava se agarrando ali mesmo. Apesar da ironia, senti um fio de graça em sua voz.
  - É uma banda punk, o que você esperava?! – Rebati com um riso abafado. – Vamos sentar ali!
  - Aquela é a ? – Parou de caminhar na direção que eu informara como se estranhasse eu ter convidado a minha melhor amiga pra se juntar a nós.
  - Eu a chamei pra vir... Algum problema? – Arqueei as sobrancelhas, acenando de volta quando a ruiva nos chamou pra ir até lá.
  - Se eu soubesse que ela viria, não teria chamado o Niall... – Aquilo explicava.
  - Você chamou o Niall?! – Me virei completamente para ele, conhecendo o talento secreto de em ler lábios. – Não sei se isso é bom ou ruim...
  - Acho que vamos ter que descobrir. – Me segurou pelos ombros, fazendo-me virar mais uma vez. – É melhor irmos logo, porque ela já está fazendo careta.
  - Tudo vai ficar bem, você não sabia disso... – Comentei baixo.
  - Acha mesmo que ela não vai brigar comigo? – Caminhávamos em uma velocidade razoável, considerando que éramos interrompidos por pessoas que entravam na nossa frente sem aviso.
  - Eu estava falando comigo mesma, você está ferrado. – Sou uma ótima namorada, sei disso. – Ruivaaaaaaaaaaaaa!
  - Até que enfim a minha modelo chegou! – Desceu do banco giratório que substituía cadeiras normais e quase tropeçou devido à altura do seu salto. – Um dia eu aprendo a descer dessa coisa.
  - Te fizemos esperar muito? – A abracei após recuperar seu equilíbrio.
  - Só um pouco, mas não se preocupem. Já ganhei duas bebidas do careca perto do bar. – Se auto bajulou, mesmo que ambas soubéssemos que ele não tinha chance alguma com ela. – Então valeu a espera.
  - Você é louca, ? E se ele tivesse colocado algo aí dentro? – A reprovei, olhando discretamente para o homem que praticamente babava pelas pernas descobertas pela sainha que minha amiga trajava.
  - Por favor, ! Essas coisas só acontecem em filmes. – Me ignorou e passou para cumprimentar meu namorado. – Whatup, Zboy?
  - Como vai, cabecinha de fogo? – Enquanto os dois se abraçavam, escolhi um dos bancos e me aventurei a sentar sobre ele de forma que tivesse uma boa visão do palco.
  - Não podia estar melhor! – A baixinha voltou para seu lugar de origem, provando que subir era mais fácil que descer e Zayn ocupou o meu outro lado. – Mas falaremos sobre isso depois, porque hoje temos que comemorar o sucesso da !
  - Obrigada, obrigada. – Acenei como uma miss universo para fãs imaginários e Zayn pousou a mão na minha coxa, despretensioso. – As fotos ficaram realmente melhores do que eu esperava.
  - Eu vi todo mundo comentando no Twitter! E aquele recado da sua mãe, Z... Não podia estar mais na cara que ela ama de ter a como nora. – bebericou da sua bebida vermelho-sangue. – Não fiquei pra ver o mundo cair, mas as directioners devem ter percebido a mesma coisa que eu.
  - Podemos não falar de dramas, por favor? – Antes que Zayn pudesse falar qualquer coisa, interrompi e encostei o corpo ao dele. – Só quero aproveitar essa noite.
  - Você é que manda, babe. A noite é sua. – Beijou a minha bochecha e arrastou os lábios até meu pescoço, me causando um arrepio no corpo inteiro.
  - Última pergunta eu juro! – chamou nossa atenção novamente. – Vocês não estão “casalzinho” demais pra um lugar público?
  - Não acho que ninguém aqui nos conhece o suficiente pra questionar se estamos juntos ou não. – Zayn deu de ombros, sem se mover um centímetro que fosse, apenas me olhou antes de prosseguir. – Ótimo lugar que esse seu amigo toca.
  - Pelo menos ele toca. – Alfinetei. Zayn podia saber tocar, mas na banda só o que fazia era cantar, então não contava muito.
  - Burn. – A outra colocou lenha na fogueira, fazendo-o bufar.
  - Se vou ter que escutar isso, preciso de uma bebida. – Cerrou os olhos com um último olhar na minha direção antes de saltar do banco. – já está com a bebida drogada... , quer algo?
  - Uma lata de refrigerante, por favor. – Sorri mostrando os dentes. – E tenha certeza de que estava fechada mesmo antes de te entregarem.
  - E se eu quisesse alguma coisa?! – reclamou, mas ele já estava longe.
  - Tenho certeza que o Professor Xavier lá no bar mandaria outra bebida. – Me inclinei sob a mesa de madeira escura, olhando a expressão confusa tomar conta do rosto da outra.
  - Você o conhece? – Arregalou os olhos. – Ele não tem cara de professor pra mim...
  - Oh, gosh. – Ri da sua lerdeza. – Foi uma piada, ok? X-men? Nada?
  - Pare de ser geek, . As pessoas podem ouvir. – Praticamente sussurrou e olhou em volta. – Que horas esse show começa?
  - Não sei. – Rolei os olhos, insultada. – Acho que aquele ali é o Ashton... Quer que eu te apresente?
  - Não precisa. Pela sua cara, você vai lá falar com ele e eu não estou afim de levantar de novo.
  - Me conhece tão bem. – Pisquei e a entreguei a minha bolsa. – E nem pense em fazer ciúmes em Zayn...
  - Me conhece tão bem! – Assoprou um beijo dissimulado.
   A ignorei facilmente, cortando um caminho entre as pessoas que festejavam sua sexta-feira a noite após uma semana de trabalho duro. Isto é, assumindo que alguém ali tinha um trabalho semanal. Tive certeza que era o meu companheiro acadêmico perto do gargarejo do palco assim que escutei a sua risada. Por Deus, esse menino já estava rindo?! Me aproximei sorrateiramente, tendo uma primeira visão dos três que agora sim deviam pertencer à banda. O mais alto era loiro e tinha olhos tão azuis quanto os meus, mas um ar de inocência que mostrava a sua pouca idade. O segundo tinha cabelos pretos e uma camisa do Nirvana. O último que eu prestei atenção tinha um cabelo mais brilhante que o meu futuro. É, foi uma piada. Acontece que o menino tinha cabelo azul! Não era um azul qualquer... Parecia fluorescente.
  - Hey, punk-rocker. – Parei atrás de Ashton, sem saber muito bem como o cumprimentar.
  - O que? ! Você veio! – Estava realmente surpreso em me ver ali, mas é óbvio que sorriu tanto que suas covinhas só não eram mais profundas que a voz de Harry.
  - Eu precisava ver que tipo banda punk tem um baterista que usa camisa do My Little Pony. – Brinquei, acenando para os outros meninos, esperando ser apresentada. – Hey, aussies.
  - Então você é a garota imaginária do Ash? – O mais alto foi o primeiro a se pronunciar. – Eu sou o Luke e estes são Calum e Michael.
  - Não sou tão imaginária assim. – Dei de ombros, colocando as mãos nos bolsos da calça. – Anyway... Não quero atrapalhar a concentração de vocês antes do show, então só vim desejar boa sorte.
  - Obrigado, . – Preciso dizer o que Ashton fez? Sorriu! – Nos falamos depois do show? Quero saber o que achou.
  - Claro que sim. Mas não espere coisa boa. – Fingi uma severidade inexistente. – Então tá... Boa sorte! Foi um prazer, meninos.
   Os quatro acenaram e escutei por alto Ash reclamando com Michael e Calum por não terem falado coisa alguma. Eu os entendia, porém. Deviam estar nervosos com o primeiro show de suas carreiras em um país completamente distante do seu e uma garota com falso sotaque britânico puxado para o francês aparecia do nada para se apresentar! Ao menos Ashton sabia que eu estaria na platéia, então eles teriam ao menos um interessado entre aquele mar de pessoas que deviam estar ali apenas pelas bebidas baratas e mesas de jogos no andar de cima. Já na metade do caminho até a minha mesa, notei que algo estava errado. olhava para o celular como se sua vida dependesse disso e Zayn ocupava o banco que antes era meu. “Não, não, não...”
   Meu pior pesadelo parecia estar prestes a se tornar realidade, pois quando cheguei perto o suficiente da mesa desconfortável, encontrei Niall ao lado de Zayn. O grande problema é que ele não estava sozinho. Uma morena vestida de “amarelo-chegay” praticamente atirava-se pra cima do loiro, marcando território ou simplesmente sendo grudenta. O olhar do meu namorado encontrou o meu, de forma que falava que agora nós dois estávamos ferrados.
  - Boa noite, pessoal. – Sorri para Niall, sem querer ser gentil demais com o casal recém-chegado e nem mal educada.
  - Achei que tinha ido embora ao me ver, ! – Niall sorriu de volta, tentando se soltar de Amy para vir me abraçar, mas desistiu ao ver que era uma missão impossível.
  - Não seria uma má idéia. – rolou os olhos, mas só eu e Zayn a escutamos.
  - Olha só o show vai começar! – Avisei aliviada quando quatro australianos subiram ao “palco”. Isso seria uma distração; ao menos momentânea.

+++

  Depois das duas primeiras músicas, não era mais só a minha mesa que estava curtindo o show. Muitos da platéia paravam o que estavam fazendo para cantar junto alguns dos covers da banda de Ashton, assim como arriscar o refrão de suas músicas próprias. Ainda que não quisesse admitir, Five Seconds of Summer era boa. Claro que tinha algumas coisas que precisavam de melhorias, como a harmonia entre as vozes em determinadas partes ou talvez abaixar um pouco o volume dos instrumentos em relação aos microfones, mas considerando ser o primeiro show dos quatro, estavam de parabéns. Ashton finalmente parara de sorrir, deixando a concentração aparecer em seu rosto enquanto ele tocava sua bateria no fundo do palco. Calum tocava baixo e Michael e Luke tocavam guitarra, sendo que os quatro meninos cantavam. Muito bem, por sinal.
   Na mesa onde eu estava sentada com meus queridos amigos, o clima não podia ser mais tenso. Zayn e eu conversávamos na tentativa de amenizar os humores, mas quase não conseguia parar de encarar Amy, que percebia isso e agarrava Niall de propósito. Falo sério, estava vendo a hora uma pular em cima da outra até que apenas uma restasse. Minhas apostas estavam na ruiva. A nova música foi anunciada por Luke ao microfone: Heartbreak Girl; e eu quase não conseguia me conter sentada no banco. Gritava e dançava sem sair do lugar. Zayn, ao meu lado, apenas ria da minha animação. Ele devia estar imaginando o meu estado ao vê-lo em cima dos palcos. Isso porque não sabia que eu era muito pior quando se tratava dele e dos outros meninos.
  - Eles são bons, né? – Perguntei um pouco alto, tentando ser escutada acima dos outros gritos e da música.
  - Todos são da Academy? – Niall me respondeu com uma nova pergunta.
  - Só Ash, o baterista! – Sorri, apontando para o menino que acabara de girar a baqueta entre os dedos da mão direita. – Não sei porque os outros não entraram também, porque são muito bons!
  - Alguém está mais animada do que devia... – brincou, mas Zayn nem a escutou. Ele também estava gostando do show.
  - Preciso ir ao toilê. – Amy anunciou, obviamente entediada com tudo. Mas que diabos era um toilê?! Torci para que aquilo não fosse uma deformação do francês toilettes. – Nini, me acompanha até lá?
  - Vou vomitar. – cochichou pra mim, em tom de nojo pelo apelido “Nini”.
  - É bem ali, Amy, você não vai se perder. – Niall informou, indiferente. Não que não se importasse com a menina, apenas não via perigo nenhum em ir sozinha até o banheiro. Niall era Niall, simples assim.
  - Uhn, tudo bem. Com licença! – Mostrando uma fachada inabalável, Amy levantou e se aventurou entre os estranhos.
  - Não precisa nem voltar. – falou entre dentes enquanto sorria e acenava um tchauzinho falso. Teria reprovado-a se não entendesse o quanto aquela noite inteira deveria estar sendo difícil pra ela.
  - Então, , como vai seu namorado? – Zayn soltou e o encarei como se perguntasse “o que você está fazendo?!”.
  - Benjamin? – Olhou para ele, mas meu olhar foi para Ni. – Nós terminamos.
  - Sinto muito... – O irlandês comentou, mas podia jurar que vi algo se acender atrás de seus olhos.
  - Eu não! Ele era um idiota, . Você pode conseguir alguém tão melhor do que ele. – Comentei com um sorriso. Aquilo sim era boa noticia.
  - Eu sei que posso. – Deu um gole em sua bebida, fitando o menino à sua frente descaradamente, fazendo-o sorrir como se nem lembrasse o nome de Amy.
  - Devemos sair daqui? – Sibilei para só Zayn ouvir, mordendo o canudo da minha latinha de Coca-cola.
  - Pode ser uma boa idéia. – Riu, beijando o meu rosto. – E aproveitamos pra seqüestrar Amy antes que ela volte do banheiro...
  - O que eu perdi? – A menina chegou antes de colocarmos o plano em prática e se empoleirou ao lado de Nini.
  - Na verdade nada, nem deu tempo de sentirmos sua falta! – vibrou, dando um sorrisinho venenoso para Amy, que não tinha tanta culpa de estar no meio da situação.
  - Que bom, eu... Eu acho... – Olhou para as próprias mãos, em um drama mais falso que o sorriso de .
  - Eu senti sua falta... – Niall apenas falou aquilo por se sentir mal por Amy, que sorriu de canto, satisfeita.
  - Vamos dançar, . – notara o mesmo que eu, então agarrou a minha mão e quase me derrubou do bando.
   Impulsivamente, olhei para Zayn, que balançou a cabeça de forma a me permitir ir com ela e o deixar ali entre os outros dois. bufava enquanto empurrava as pessoas para tirá-las do nosso caminho e só me restava pedir desculpas por ela. Paramos apenas na frente do palco, onde algumas meninas pareciam saber cantar aquele cover que os meninos acabavam de começar a cantar. Passeei os olhos pelo palco, procurando pela atenção de Ash. Ele logo sorriu ao ver o sinal de positivo que fiz com os dedos. Luke piscou na minha direção, mais como brincadeira do que como se estivesse dando em cima de mim.
  - Talvez devêssemos ir lá pra trás. – recuperou a minha atenção, cruzando os braços.
  - Desculpa, sou toda sua!
  - Você viu o que Amy fez, não viu? Ela se fez de inocente só pra que Niall sentisse pena dela! – Bateu o pé no chão, seu rosto se tornando tão vermelho quanto os próprios cabelos.
  - Vi sim. Mas não vamos resolver isso hoje, . Nem agora. Você sabe que precisa conversar com ele a sós, quando nenhum de nós estiver por perto. E, por Deus, não aqui! – A balancei devagar pelos ombros, tentando fazê-la relaxar. – Podemos apenas aproveitar o show?
  - Você está certa, desculpa. – Fez bico. – Ainda é a sua noite, né?
  - Exatamente! – A puxei para um abraço, querendo fazer o melhor que podia para deixá-la bem. – Vai ficar tudo bem, pequenina.
  - Eventualmente. – Me abraçou com tanta força e fungou que pensei que fosse chorar.
  - Você disse que iríamos dançar!
   Dançar podia não ser a solução para todos os problemas, mas era o que eu tinha para aquele momento. Ao menos por uns minutos eu queria tirar a cabeça da ruiva daquele casal que estava há poucos metros de nós. Fazendo corpo mole, resmungou que não queria dançar, mas acabou dando o braço a torcer quando comecei a rodeá-la com passos desleixados e divertidos. Nós duas acabamos rindo, pois ela sabia que eu bancava a idiota para vê-la feliz; o que era um favor muito grande, se parar pra pensar que mais pessoas podiam nos ver. A música trocou novamente e eu também não a conhecia. Apesar disso, enrolei as palavras como se soubesse de trás pra frente e me imitou. Fizemos interpretações e mímica da letra, nos divertindo como se não houvesse amanhã. As lágrimas deixaram os olhos da minha melhor amiga e o aperto saiu do meu coração.
  - Ei, babe, posso dançar com você? – O careca do bar aparatou ao nosso lado, tentando segurar a mão de .
  - Desculpa, não estou interessada. – Se desvencilhou do homem, mas ele continuou no mesmo lugar.
  - Não seja assim, linda. – Deu um passo na nossa direção, ligeiramente amedrontador pelo seu tamanho relativamente maior que o nosso. – Eu te mandei aquelas bebidas, tá lembrada?
  - Só porque você paga uma bebida pra alguém, não quer dizer que ela te deve alguma coisa. – Me coloquei na frente de , que ainda estava menor que eu, apesar de seu salto. Sentia que não podia deixar aquele cara chegar perto dela. – E ela já falou que não está interessada.
  - Fique fora disso, loirinha. – Uma sombra negra passou pelos seus olhos quando segurou em meu braço com força e me tirou do caminho. Não necessariamente por eu ser fácil de empurrar e sim por ele ser muito forte. – Acho que deveríamos sair daqui, princesa.
  - Eu não vou a lugar nenhum com você. – Sua voz tremeu, caminhando lentamente pra trás; o medo estampado em seus lábios secos.
  - Acho que você não entendeu. Isso não foi uma pergunta. – O careca a segurou pelo pulso, mas passei o braço em volta da minha amiga quando consegui voltar para perto deles.
  - E eu acho que você deveria sair daqui agora. – Me mantive firme, dessa vez não o deixaria me arrastar.
  - Você ainda está aí? – O homem rolou os olhos, em seguida fez um sinal para alguém atrás de nós. Me arrepiei ao olhar naquela direção e encontrar mais dois homens igualmente grandes vindo em minha direção.
  - O que está acontecendo aqui? – Zayn chegou na hora certa, parando atrás de mim e de , a qual ainda tinha o pulso entre os dedos que mais pareciam salsichas do careca assustador.
  - Só estamos conversando com as nossas amigas. – O mal encarado soltou . Apesar da postura rígida de Zayn, duvido que tenha ficado amedrontado.
  - Acontece que não somos suas amigas. – Respondi aborrecida. Com meu namorado ali, já me sentia mais segura. Segurei a mão de Zayn e encarei o outro como um aviso. – E estamos acompanhadas.
  - Muito bem, loirinha. Você está com esse aí... – O careca rosnou e Zayn apertou ainda mais nossos dedos juntos, não gostando nada do meu novo apelido. – Mas e quanto a você? Não vejo mais ninguém aparecendo pra te proteger.
  - Ela está comigo. – Niall apareceu logo depois, passando o braço em volta dos ombros de , que nunca esteve tão grata em vê-lo.
  - Se é assim, vou embora. – Do nada, virou de costas para se afastar e por um momento pensei que falasse sério. A sua pausa, no entanto, logo me provou errada. – Mas espera... Eu não me importo com isso.
   O careca se virou como um animal e partiu para cima de Niall, acertando-o com um soco na maçã do rosto. A partir daí, a bagunça que começou foi tremenda. Gritos e mais pessoas entraram na briga, o incluía Zayn. O moreno me soltou e pediu para que eu levasse para o lado de fora. Puxei a menina pelo braço para tirá-la do meio do campo de batalha e só então notei que a música havia parado de tocar. Olhando de relance para o palco, assisti os quatro meninos saírem de lá e se juntarem à briga, servindo de apoio a Niall e Zayn. Escutei barulho de tecido sendo rasgado e fiquei sem muita reação ao ver meu namorado cambalear para trás, mas sem nenhum machucado aparente. Ele logo se recuperou e acertou um dos amigos do careca em cheio; tive certeza de ver seu nariz indo para o outro lado do rosto.
  - Não fiquem aí paradas! – Ashton correu seu caminho até nós duas e nos segurou entre seus braços.
  - Eu não vou embora sem eles! – Tentei lutar para voltar, finalmente sendo capaz de fazer algo mais que simplesmente ficar olhando estupefata.
  - Seu namorado me pediu pra te tirar daqui. – Como estava sendo mais cooperativa do que eu, Ash a soltou e se abaixou até segurar as minhas pernas. – Desculpa por isso.
  - O que vo- - Minha frase foi interrompida pelo grito que saiu da minha garganta.
   Por um momento achei que fosse cair no chão, mas ao invés disso, fui acomodada sobre os ombros do baterista, de modo que meu tronco caísse por suas costas. pegou a minha bolsa assim que ela ameaçou se perder pelo chão e seguiu o caminho que o nosso salvador fez entre a multidão de curiosos que se interessara pela briga. Esperneei tentando me soltar, mas o abraço em meus joelhos me impedia de conseguir algum sucesso. “Eu conheço um atalho!” foi a última coisa decifrável que escutei deixar a boca de Ash. Tentei esticar o pescoço para ver a direção que estávamos indo, mas estranhei ao notar que a porta ficava exatamente do lado contrário ao que estávamos seguindo. Meu coração acelerado se tornou a trilha sonora para aquela fuga, já que qualquer som externo se tornara um zumbido confuso e distante.
   Tudo ficou escuro e pensei que fosse desmaiar, só então percebendo que não estávamos mais em um bar e sim no que parecia ser um armário ou algo do tipo. Nossa passagem por ali também foi rápida, pois o menino que me carregava encontrou o que procurava e conseguiu abrir uma nova porta. Antes do esperado, fui colocada no chão mais uma vez, cambaleando até ir com as costas de encontro com uma parede fria e molhada. Olhei para os dois lados, entendendo que estávamos no beco atrás do bar. Uma luz oscilante vinha de um único poste solitário e iluminava apenas as nossas silhuetas. Não sei se estava com mais medo no meio da briga ou ali fora. O vento era frio e ricocheteava em nossas peles, trazendo consigo pingos da chuva que conseguiam entrar por cima e pelas laterais do beco estreito. Me encolhi em minha jaqueta, ainda tentando assimilar tudo que acontecera ali dentro.
  - Vocês estão bem? – Ashton quebrou o silêncio, fechando a porta corta-fogo atrás de si.
  - Nós temos que voltar lá! – Tentei passar por ele para ir até a porta, mas fui impedida.
  - Não temos não. – Ash me fez parar onde estava. Havia preocupação em seu rosto, mas não consegui decifrar a sua causa. – Seus amigos vão ficar bem. Daqui a pouco eles vão aparecer aqui. Deveria ver a sua amiga, porque ela sim não parece bem.
  - Como assim? – Por um momento esqueci de e me virei à sua procura. Ela estava sentada no chão, encolhida e com o rosto apoiado nos joelhos. – , você está bem?
  - Não! – Levantou o olhar quando me ajoelhei ao seu lado. Apesar da pouca luz, vi que seu rosto estava molhado de lágrimas. – Niall... Foi tudo culpa minha... Ele... Se ele se machucar...
  - Ele vai ficar bem... Não ouviu o que Ash falou? Eles vão estar aqui logo... – Minha própria voz tremia, mas eu tentava acreditar naquelas palavras tanto quanto ela.
  - Você estava certa... Eu não podia ter aceitado aquelas bebidas... – Segurou a minha mão para que ela mesma tentasse parar de tremer.
  - Shh, não adianta falar nisso agora... – Tirei a jaqueta, porque mesmo que estivesse com frio, precisava dela mais do que eu. – Tenta ficar calma...
  - Meninas, acho que estou escutando alguma coisa... – Ashton nos fez virar em sua direção e eu levantei.
   Ele não estava errado, porque um garoto de cabelos azuis foi o primeiro a passar pela porta da saída de emergência, dando espaço para que Zayn fosse o segundo a surgir. O menino correu até o meu encontro e nos abraçamos como se ele acabasse de chegar de uma guerra. O apertei, mas o gemido que saiu de seus lábios mostrou que aquilo o machucara. Olhei para o seu rosto, encontrando seu lábio inferior com um corte médio, mas era na sua costela que minha preocupação pousou, pois ele tocou o local e fez uma pequena careta. Imaginei que pudesse ter quebrado alguma coisa, mas o importante é que estava ali, na minha frente. Vivo. Não o soltei por hipótese alguma, sentindo que ele também desejava o mesmo.
  - Niall! – A voz de o chamou.
   O loiro foi o último a chegar ao beco, o que devia ter deixado a menina maluca de vez. Juro que nunca vi tão preocupada e desesperada em vê-lo. Mas já era de se esperar, pois ela o amava. Sempre o amou e sempre iria amar. Não existia sem Niall ou Niall sem . Era algo estranho, errado. Graças aos deuses eu estava olhando para os dois quando a ruiva levantou, pois não gostaria de ter perdido aquela cena. Niall tinha o olho roxo e mancava, mas foi capaz de segurar a menina assim que ela pulou em seu pescoço. O que se seguiu foi bem simples de explicar: Os dois se beijaram como se esperassem por aquele reencontro há anos. Não havia nem sinal de Amy, mas quem se importava com ela, não é mesmo? e Ni podiam estar voltando a namorar, ou apenas indo de acordo com o calor do momento, mas naquela noite, ao menos por uns instantes... Tudo estava onde deveria estar.

Chapter XXXIII

“Zayn Malik e Niall Horan (One Direction) brigam por uma garota misteriosa.
  O galã saído de catálogos Ralph Lauren (Z.M) foi visto deixando o pronto socorro de um hospital conhecido no centro de Londres nesta última madrugada, tentando esconder a sua mão quebrada e enfaixada. Apesar do acidente, o boybander não parecia nada triste ao entrar em seu carro ao lado de uma garota com o rosto coberto por um capuz (foto 1). Alguns minutos depois, Horan também deixou o mesmo hospital; sozinho (foto 2). Apesar de não aparentar ter algo quebrado, o olho roxo do irlandês fala por si só.
  Nenhum dos dois fez comentário algum sobre o acontecido, mas continue ligado na página da SUGARSCAPE para mais informações.”

  Na minha humilde opinião, os resultados da noite anterior poderiam ter sido muito piores! Alguém poderia ter filmado a briga no bar e colocado no Youtube, o que resultaria em um email bem mais zangado de Marco do que aquele que incluiu o link da nova reportagem da Sugarscape e as fotos de paparazzis freelancers que continham a minha pessoa e a de Zayn saindo juntos do hospital. Minha identidade não era revelada em nenhuma delas, mas o empresário sabia muito bem que era eu e isso o irritou pelo “perigo que corremos”. Apesar disso, o homem alegou que “qualquer publicidade era boa publicidade”, então tentariam contornar a situação. Além disso a reportagem do site de fofocas não podia estar mais equivocada. Zayn não quebrara a mão, apenas torcera dois dedos e por isso o médico de plantão preferiu enfaixá-los, mas nada que permaneceria por mais uma semana. Niall, por outro lado, tinha sim um olho roxo, mas não estava sozinho.
   ficou ao lado do ex-namorado durante todo o tempo que passamos naquele hospital, cuidando dele e tendo certeza de não fugiria caso precisasse levar alguma injeção ou coisa do tipo. Por sorte, nada de mais acontecera com nenhum dos meninos heróicos. O único lado ruim de não ter esperado o pseudo-possível-quase-casal é que nem eu nem Zayn sabíamos como a história deles havia se desenrolado, nem ao menos se algo havia desenrolado. Por ainda ser cedo demais, não atendia as minhas ligações e Niall não parava de comer do café da manhã na sala de jantar para que minha curiosidade pudesse interceptá-lo.
   Consciência pesada é pouco para o que eu estava sentindo em relação a banda de Ashton, pois a briga que acabamos arrumando encerrou o seu show antes do previsto e ainda os fez se meter em uma causa que não era deles. Os quatro meninos foram super legais quanto a isso, aliás, alegando que fora o melhor encerramento que poderia ter acontecido, mas cogitei ser o espírito punk australiano falando. No caminho para o hospital, os seis meninos (contando com Ni e Z.) conversaram sobre música como se não tivessem acabado de sair de uma briga que rendera alguns machucados a todos.
   O relógio da sala marcava dez minutos para as nove horas da manhã, então tínhamos dez minutos até a hora que deveríamos sair de casa. Deixei o notebook de Louis fechado sobre a mesinha de centro, após ler lido a matéria enviada por Marco e repetido para mim mesma que não deixaria aquilo acabar com o meu dia. Nem precisei repetir isso muitas vezes, pois estava rindo a toa. Não, não comecei o dia bebendo! É só que em pouco mais de uma hora eu estaria com os meus melhores amigos no maior festival da Inglaterra; o V-Festifal. Esse acontecimento anual era famoso por reunir atrações internacionais, não apenas em seus quatro palcos, mas também passeando por aí, curtindo a boa música e a companhia dos amigos. Seria a minha primeira vez realmente comparecendo a esse festival, mas a terceira que eu acompanhava. Minha mochila de costas já estava no carro, assim como a de Gemma e dos outros meninos que viriam conosco. Prometemos uns aos outros que não levaríamos muita bagagem, até porque iríamos dormir em barracas e o espaço estaria limitado. Tinha como ficar melhor?
  - Olha o que eu encontreeeeeeei! – Gemma cantarolou enquanto descia as escadas, mirando o objeto que segurava na minha direção. – Diga Xis!
  - Xiiiiiiiiiiiiiiis. – Fiz careta, escutando o barulho que a Polaroid de Liam fazia ao começar a revelar a foto tirada.
  - Linda, . – Abanou-se com o pedaço de papel que antes era preto, mas agora começava a clarear.
  - Shake it, sha-shake it like a Polaroid Picture! – Cantei a música mais antiga que eu, mas que todos conheciam, vendo-a dançar no mesmo ritmo.
  - Eu nunca vi vocês duas mais animadas! – Harry parou no hall, olhando para a irmã e em seguida para mim, que já saíra do sofá.
  - Graças a você, meu irmão preferido! – A loira se jogou nos braços do irmão, que conseguia ser maior que ela, mesmo sendo mais novo. Bem mais novo. – Que resolveu ir viajar para a cidade natal e deixar que nós fossemos no seu lugar!
  - Acho que você até merece um beijo! – O abracei pelo outro lado, sorrindo travessa.
  - Ah, não, não comecem... Eu sei o que vocês querem... – Permaneceu com um braço em volta de cada menina, mas levantou o rosto como se fosse capaz de escapar. – LOUIS! LOU! ME SALVA!
  - Mwaaaaaaa! – O beijei em uma bochecha e Gemma fez o mesmo na outra; como costumávamos fazer para irritá-lo anos atrás.
  - Desculpa, prefiro não me envolver nisso. – Louis acabara de descer a escada, mas prestava mais atenção no meu cachorro que em seu namorado.
  - HAHA! – Gem gargalhou ao soltar seu irmão. – Desculpa, criança, mas parece que nem ele está do seu lado.
  - Vou lembrar disso mais tarde. – Haz limpou as bochechas babadas pelos beijos carinhosos que deixamos nelas.
  - LOUEEEEEEEEEH. – Ainda super agitada, fui atrás do meu irmão e do Husky Siberiano que o seguiu para a sala. – Me prometa que você vai ficar de olho nele! Cheshire é um ótimo lugar pra se perder...
  - , Harry já é grandinho. Não acho que ele vá se perd-
  - Louis, eu estou falando de . – Rolei os olhos. Não poder levá-lo comigo até o V-Fest já era ruim; imagine então ter que ficar preocupada com ele sob os cuidados de Lou e Haz em uma cidade estranha.
  - Eu sei, idiota. Só estava brincando! – Checou a coleira azul no pescoço do cachorro que não entendia mais nada, em seguida prendendo-a na guia. – E já prometi isso quatro vezes. Se perguntar mais uma vez, o deixo lá quando voltar.
  - Louis William Tomlinson. – Ameacei no mesmo instante que mãos frias fizeram seu caminho para dentro dos meus bolsos traseiros.
  - Quando ela usa esse tom não é coisa boa, bro. Se fosse você, não brincava com isso. – A sabedoria de Zayn me dava orgulho. Ele apoiou o rosto em meu ombro e prendeu as mãos nos meus bolsos. – Estamos prontos, babe.
  - V-FEEEEEEEEEST! – Comemorei, assustando Zayn com o meu grito e fazendo Louis rir. – Só vou pegar meu sweater, mas podem ir na frente.
  - Não demore! – Avisou como se me conhecesse melhor que eu mesma.
   Eu não pretendia demorar, é só que me despedir do meu Bo podia ser mais trabalhoso do que eu imaginava. Me abaixei para fazer um último carinho em e explicar pra ele que não era minha culpa ter que deixá-lo para trás, mas também disse que ele se divertiria muito com Tio Lou e Tio Harry. Óbvio que ele apenas me olhou com seus olhos de piscina e balançou o rabo como se tivesse acabado de falar o quanto ele era lindo e o quanto eu o amava. Escutando a buzina vindo do lado de fora da casa, resolvi apressar as coisas. Dei um beijo rápido em meu irmão e peguei meu sweater preto no puffe da sala. Acenei para Harry e corri para o lado de fora, devidamente pronta para a aventura.

+++

  - Os meninos já chegaram lá! – Gemma mostrou o próprio celular, onde a foto que Harry acabara de enviar pra ela podia ser vista.
  - “Patch ainda está seguro e bem, não se preocupe.” Lou acabou de mandar pra mim... – A olhei, no porta malas do carro, e também mostrei a minha fotografia.
  - Como é que eles conseguiram chegar antes da gente?! – Niall, que estava no assento da frente, ao lado do motorista Liam, bufou. Ele era outro que estava animado para chegar logo.
  - Talvez se não tivéssemos parado pra pedir informações, já estaríamos lá! – Liam olhou feio para o loiro que usava óculos escuros para esconder seu olho roxo.
  - Qual é a de garotos não gostarem de pedir informações? – Gem pensou alto.
  - Se o seu senso de direção fosse melhor que o de uma mosca, nós não precisaríamos ter parado. – Ni o insultou, mas prestei mais atenção ao que passava pelo lado de fora da janela.
  - ALI! Estou vendo os portões! – Apontei para a minha direita, onde um letreiro impossível de não notar piscava em vermelho: “V-FESTIVAL. AQUI.”
  - Agora isso sim é eficiência! – Liam aprovou a minha ajuda pelo retrovisor e fez o retorno com o carro.
  - Babe, chegamos... – Balancei Zayn com cuidado.
   Ele podia dizer que eu tinha mania de dormir quando viajávamos de carro, mas naquela manhã quem dormiu foi o próprio! Quem podia culpá-lo? O trajeto levou mais que o esperado e ainda havíamos ido dormir tarde, por causa da briga e da nossa visita ao hospital. Aos poucos, foi despertando e se juntou a nós quatro para comemorar a nossa chegava ao festival. Todos colocaram seus crachás e passes em volta do pescoço, tendo um pouco de dificuldade para arrumar todos os cinco cartões de forma que não atrapalhassem os movimentos ou aproveitamento do dia que prometia ser muito divertido.
   Seguimos as placas e sinalizações até encontrar a entrada da área VIP. Fomos atendidos na portaria, onde Liam abaixou o vidro do carro, deu nossos nomes e mostrou o ticket do carro que tinha o nosso número de estacionamento. Outro funcionário em cima de uma moto nos guiou até onde deveria ser a nossa vaga; que felizmente não ficava longe da verdadeira entrada para o festival. Cada um pegou a sua mochila de costas e Liam ajudou Zayn com o violão que inventaram de trazer. A mão direita de Zayn estava coberta por uma bandagem branca e dois dedos estavam presos juntos, mas ele ainda parecia achar que tinha condições de tocar alguma coisa... Vai entender. Formamos uma fila, onde Gemma passou o braço pelo meu e fomos lado a lado. Zayn ficou à minha direita, de forma que pudesse usar a mão boa para segurar minha cintura. Liam e Niall foram à frente, tendo mais conhecimento das instalações do que nós.
   Por estarmos com nossos passaportes pendurados no pescoço, ninguém nos parou quando cruzamos as catracas de ferro para entrar no Hylands Park, de Essex. A cidade inteira parecia um parque ambulante, pois era praticamente formada por verde e árvores, que começavam a amarelar por causa do outono, mas tinham um pouco do espírito de verão. Se continuássemos em frente, chegaríamos a feira de atrações que lembravam muito um parque de diversões, mas decidimos dobrar à esquerda e procurar as nossas barracas e nos instalar primeiro, antes de começar a nos divertir. Ainda não podia ver o “povão”, digamos assim, mas pela altura dos gritos que vinham de algum lugar ali perto, era claro que não estavam longe.
   O lugar em si era muito colorido e divertido, com pessoas correndo de lá pra cá e de roupas mais diferentes possíveis. Até mesmo um grupo de amigos fantasiados passou por nós! O clima que pairava no ar era descontraído e realmente único. Todos estavam ali por uma paixão em comum: A boa música. Não importava a raça, religião, sexualidade ou gosto. Todos pertenciam à um grupo só, uma tribo só. Ninguém se julgava ou criticava os outros pelas suas escolhas diferentes das próprias. O importante ali era a diversidade. Quase uma Woodstock com menos sexo e drogas. Ao menos por enquanto.
   Após cinco minutos caminhando, o cenário mudou. Continuava colorido e coberto por grama, mas agora barracas de camping nos cercavam. Algumas já ocupadas e outras ainda esperando por seus donos. O bom da área VIP é que cada uma daquelas barracas era reservada previamente e você não precisava trazer a sua própria e ter trabalho para montar, correndo o risco de ainda fazer isso errado. As que ainda não tinham seus donos, continham plaquinhas de papelão presas por um ferro fino enfiado na terra, com o nome dos ditos cujo. Todos os grupos de barracas eram bem afastados uns dos outros, o que faria com que um não incomodasse o outro. Ainda quer mais? Cada um desses aglomerados tinha suas próprias decorações, como banheiras vazias, almofadas e tapetes indianos ou bancos de bambu.
  - Acho que encontrei! – Liam estava mais afastado de nós e gritou, acenando para que fossemos nos juntar a ele.
  - Isso é o que eu chamo de eficiência! – Brinquei, segurando cada um dos meus acompanhantes pelas mãos, já que Niall correu como se não importássemos mais.
  - Quanto tempo acha que ele vai levar pra ir procurar o bar? – Zayn disse em tom de aposta.
  - 10 pounds em quinze minutos. – Gem entrou na onda.
  - Aposto que ele vai beber algo em cinco minutos. – Quinze era tempo demais. – Baby?
  - Vou dizer dez minutos, pra ficar no meio. – Após pensar por uns instantes, ponderou.
  - Só tem um problema... – Escutei Liam falar quando nos aproximamos. – Somos cinco, mas só temos três barracas.
  - Por que isso é um problema, Li? – Zayn devia estar fazendo as divisões na sua cabeça, mas Gemma passou na sua frente e escolheu a maior barraca.
  - Muito bem, eu e a ficaremos nessa... – A menina decidiu, me olhando de um jeito que falava que eu não tinha muita escolha. – Vocês se dividem com o resto.
  - Espera aí! – O da mão quebrada a levantou, pedindo atenção. – É isso mesmo, ?
  - Vocês a escutaram, garotos. – Dei de ombros, passando por cima das bóias vermelhas de plástico que eram a nossa decoração.
  - O show da Beyoncé nem começou ainda, mas já estão achando que comandam o mundo. – Niall sorriu com sua própria piada, mas Li e Zayn não acharam engraçado. Tirou a mochila das costas e tirou uma garrafa do seu interior. – Alguém aceita uma pint?
  - Aceito o meu dinheiro. – Minha vez de sorrir satisfeita por ter ganhado a aposta. Podia não ter relógio para marcar os cinco minutos, mas todos ali sabiam que nem dez nem quinze haviam se passado.
  - Que dinheiro? – Li estava perdido, mas já colocava sua mochila dentro da barraca á direita da minha, junto com a de Niall.
  - Não importa agora. – Pisquei pra ele. – E acho que você está sozinho, Zen...
  - Ótimo. – Largou sua própria bagagem na tenda que sobrou.
  - Não fique irritado... – Entreguei minhas próprias coisas para Gem, esperando que as guardasse em nossa barraca. – É melhor que você fique sozinho.
  - Sou uma companhia tão ruim assim? – Sentiu a minha aproximação, relaxando aos poucos.
  - O caso não é esse. Só acho que vai ser mais fácil escapulir para a sua barraca se você estiver sozinho. – Murmurei a última frase, entrelaçando as mãos por trás de sua nuca.
  - Uhhh. – Cerrou os olhos, seguindo a minha linha de pensamento e beijando a minha testa em seguida.
  - Ei, casal. Podemos ir explorar ou temos que ficar aqui? – Gemma se acomodou em uma das bóias que teriam mais utilidade em uma piscina.
  - O cara da moto disse que ia pedir pra alguém vir aqui entregar nossas chaves... Acho que devemos esperar. – Zayn a respondeu, me abraçado pelo pescoço. – As chaves das barracas, aliás. Pra podermos deixar as coisas aí dentro e tal.
  - Entendi! – Gem sorriu e levantou o dedo polegar em agradecimento. Pegou o celular e me lembrou de algo que eu também precisava fazer.
  - Com licença, baby... – Tentei me soltar do menino que me abraçava, mas ele só fez careta. – Preciso ligar pra Gi! Prometi que ia avisar quando chegássemos aqui.
   Relutante, acabou me soltando após um selinho rápido e foi se juntar aos meninos que bebiam das suas garrafas de cerveja. Garrafas de plástico, aliás, pois vidro não era permitido ali dentro. Me joguei na poltrona vermelha ao lado da outra menina, me espantando com o seu conforto. Poderia ficar sentada ali o dia inteiro. Tirei o celular no bolso do short e procurei o nome “Gigi Fletcher” na lista de contatos. Feliz por ter área de celular por ali, levei o iPhone ao ouvido e esperei.
  - Oi, ! – A menina alegremente atendeu.
  - Tudo bem, Gi?! – Sorri sozinha, ouvindo o barulho familiar do outro lado da linha. – Alguém morreu?
  - Ainda não! Mas Dougie vai morrer se continuar vestindo as roupas intimas de Jaz. – A imagem de Dougie Poynter nas roupas da irmã me fez gargalhar.
  - Aceito fotos. E já chegamos ao V-fest... Onde vocês estão?
  - Sério?! Que bom! Estamos na casa da mãe do Doug... Acho que os meninos vão querer ficar hospedados aqui hoje. Mas vamos até aí te ver, é claro.
  - Não vão acampar?! Onde está o espírito aventureiro de vocês? – Gemma me olhava com curiosidade e mexi a boca para lhe explicar com quem eu falava.
  - Tom é o único que está gostando dessa idéia de se aventurar, mas eu e as meninas não estamos tão positivas assim. Acho que vou deixá-lo aí com você. – A escutei rir, mas gostei muito daquela idéia.
  - Já estou com três crianças aqui, mais uma não vai fazer diferença. – Ri. – As meninas estão aí com você?
  - Só a Geo e a Izzy. Lara teve alguma coisa de arte que não lembro o nome, mas amanhã já deve chegar também.
  - A turma inteira reunida! – Cruzei as pernas, não entendo o olhar que recebi da menina sentada ao meu lado. – Espero que vocês venham logo, porque estou com saudades.
  - Também sentimos sua falta, ! E você precisa autografar a minha Glamour. Eu trouxe a revista só por causa disso.
  - Vou pensar no seu caso. – Me senti a própria estrela, deixando meus olhos seguirem a direção que Gemma indicou. – Que porra essa menina tá fazendo aqui?
  - Uh, ?
  - Sim, oi, Gi... Não foi com você... – Respondi ao telefone, mas minha atenção estava fixa na loira platinada que acabara de chegar acompanhada de mais três meninas. – Desculpa, tenho que ir! Mas nos vemos mais tarde, certo?
  - Algo aconteceu e mais tarde você vai me falar o que foi! Bye, !
   “Fique calma, . Não tem nada de mais essas meninas estarem aqui. Elas ganharam o último X Factor, então devem ter sido convidadas. Apenas vieram dizer oi.” Respirei fundo na tentativa de acreditar na minha própria explicação de o porquê a Little Mix acabava de chegar na nossa área de barracas e conversava com os meninos como se fossem velhos amigos. Eu suportava as suas músicas e sabia que as quatro cantavam bem. Não tinha absolutamente nada contra Jesy, Leigh Anne e Jade, mas algo em Perrie me incomodava. Talvez o seu jeito de se vestir que me lembrava o da minha avó quando era jovem, ou seu excesso de maquiagem, mas desconfiava que fosse os olhares que lançava em direção ao meu namorado. Desde a primeira vez que a vi pessoalmente na final do programa.
  - Elas são de uma banda, não? – Gemma perguntou com cuidado, esticando-se para perto de mim.
  - Yep. Devemos ir dizer oi? – Meu tom de voz era seco. Não esperei uma resposta e levantei. – Acho que devemos dizer oi.
  - Vamos dizer oi, então. – Me imitou e veio atrás quando segui para perto das intrusas.
  - Oie! – Oie? Comecei bem, aham.
  - Oh, olá! – Jade, a de cabelos levemente avermelhados sorriu e acenou, parecendo uma criancinha. As outras apenas sorriram.
  - Não vão nos apresentar às suas amigas? – Olhei para os meninos, mais precisamente: Zayn.
  - Claro que sim... Essas são Jade, Leigh, Jesy e Perrie. – Zayn as apresentou e fingi ser a primeira vez que escutava seus nomes. – E essas duas são Gemma, a irmã de Harry, e ... Irmã do Lou.
  - Hey. – Gemma nem ao menos acenou, só forçou um sorriso e balançou as sobrancelhas. Por fim, olhou decepcionada para meu namorado. – É, somos só as irmãs dos amigos deles.
  - Com licença. – Pedi, sentindo um bolo se formar na minha garganta. – Vamos até o bar.
   Gemma colocou uma mão em meu ombro e nós duas demos as costas àquelas pessoas. Provavelmente fomos na direção errada em relação ao bar, mas eu só queria sair dali. Não era a primeira vez que Zayn me apresentava como algo além de “sua namorada”, porque não eram todos que podiam saber do nosso verdadeiro status, então fiquei confusa com a minha própria reação, me perguntando internamente o motivo que realmente me incomodou tanto. Não ia vomitar ou ter um ataque, apenas preferi me afastar do grupinho de amigos.

+++

  Acho que estávamos oficialmente naquela época do ano onde pela manhã faz um frio gostoso, mas após o almoço você derrete se estiver usando algo mais que uma camiseta. Por esse motivo, fui obrigada a tirar o sweater e amarrá-lo na cintura até que pudéssemos voltar às barracas e guardá-lo lá dentro. Gemma era igual a Harry, tentava te fazer rir mesmo quando você estava a ponto de matar alguém. Por isso mesmo em dez minutos de caminhada, já estávamos rindo até ficar sem ar. A partir das 14hrs da tarde, não foi só o calor que começou. Os shows e atrações dos palcos menores também foram sendo intercalados e, conforme andávamos pelo gramado do V-Fest, escutávamos pedaços de um e de outro, sem nenhum prender a nossa atenção o bastante para nos fazer enfrentar a platéia gigantesca que pulava e cantava com suas bandas preferidas.
   Minha acompanhante e eu não fizemos muita coisa além de andar por aí e beber água ou refrigerante, mas não perdemos a oportunidade de ir na barraquinha de pintura corporal e fazer desenhos em nossa pele com tinta colorida. Gems optou por algo mais sóbrio, como um coração pequeno na bochecha e alguns detalhes menores pelo pescoço e ombros. Já eu, resolvi brincar. Duas listras (azul+rosa) na bochecha esquerda me deixaram parecida como uma índia, na outra, três setas finas na cor verde abaixo do olho. No topo do braço direito, um coração. No esquerdo, o símbolo da paz. Niall com certeza sentiria vontade de se pintar também e eu esperava passar na cara dele que poderia ter ido conosco se não preferisse ficar com suas novas amiguinhas.
  - ! – Alguém gritou o meu nome, fazendo-nos parar entre duas barracas quaisquer.
  - De onde veio isso? – Olhei em volta, mas não reconheci ninguém. – Você ouviu também, né?
  - Achei que sim... – Gemma aparentava tanta confusão quanto eu. – Pode ser essa tinta. Tenho certeza que senti um cheiro estranho naquela barraca.
  - Exatamente! Não quis dizer nada porque podia ser só impressão minha! – Voltamos a caminhar e discutir sobre a possível droga misturada em nossa tinta corporal.
  - Com licença! – Senti um toque em meu ombro e virei na direção da pessoa bem real a me chamar. – , certo?
  - Sim, sou eu... – Afirmei, chocada por reconhecer quem era.
  - Meu nome é Connor... Não sei se lembra. Nos conhecemos em uma festa a algumas semanas atrás...
  - Eu sei quem você é, Connor Maynard. – Ri. Ele era a celebridade ali, não eu. – Essa aqui é a minha amiga Gemma. Gemma, Connor.
  - Muito prazer! – Apertou a mão da menina e voltou a me encarar com um sorriso simpático. – Vocês estão aqui há muito tempo? Estão gostando?
  - Faz umas horas que estamos andando por aí... – Gema o respondeu. Se não a conhecesse, diria que rolou um clima. – Tem algumas coisas bem interessantes, mas estou ansiosa pelos shows do palco central!
  - Eu li o seu nome na programação! Vai cantar também, não?
  - Em algumas horas. – Explicou. – Acabei de voltar da passagem de som, mas me perdi dos meus amigos.
  - Awn, isso é uma pena! – Gemma inclinou a cabeça, seus olhos falando exatamente o contrário. – Pode andar com a gente, se quiser! Estamos indo até a nossa barraca pra guardar o agasalho da , mas você é bem vindo.
  - Mesmo? Não tem problema? – Buscou também a minha aprovação e não vi porquê não.
  - Problema algum. – Acenei para voltarmos a andar. – Aliás, gostaria de te apresentar a um amigo. Ele viu nossa foto da festa e quase me matou.
  - Não era aquele que estava com você na festa, é? – Ficou entre Gem e eu.
  - Não, aquele é Josh. Quero te apresentar ao Niall.
   Deixei que Gemma e Connor terminassem a conversa, enquanto eu apenas balançava a cabeça em afirmação ou negação, andando lado a lado com os dois. Não queria dar uma de cupido, mas formariam um casal bonito, se parássemos pra pensar. Pelo visto não era só a mim que ela fazia rir, pois no meio do caminho já era como seu nem estivesse mais ali. Que Harry não aparecesse ali de surpresa, pois quando ele resolvia dar uma de irmão mais velho ciumento, ninguém o controlava; ainda que não fosse o irmão mais velho. Louis, por outro lado, era bem relaxado quanto a essas coisas hoje em dia. Provavelmente por meu namorado ser um de seus melhores amigos, o que não vem ao caso agora.
   Ao chegarmos onde as nossas barracas estavam localizadas, encontramos o lugar vazio e as tendas trancadas com cadeado. Além de não poder guardar meu casaco, ainda tive que agüentar a idéia de Zayn e Perrie no mesmo lugar, conversando ou fazendo sabe-se lá o que. Connor e Gemma se sentaram em duas bóias sem sentir falta de mais ninguém e joguei meu sweater em cima dela, como forma de tentar chamar sua atenção ou simplesmente parar de carregar aquilo que começava a me esquentar demais. Cruzei os braços no peito, olhando em todas as direções, esperando encontrar algo que me fosse familiar. Duas mãos envolveram meus olhos, uma enfaixada com ataduras e a outra normal, o que não surtiu um efeito tão bom quanto o esperado.
  - Vem comigo. – Zayn sussurrou ao meu ouvido, desistindo de esconder quem era e procurou a minha mão com a sua boa.
  - Onde estamos indo? – Apenas sorri, aceitando acompanhá-lo.
  - Para qualquer lugar que quisermos. – Retribuiu o sorriso como se ficasse surpreso por eu não ter brigado pela cena de mais cedo. – O mundo é nosso.
   Sem nos despedir do casal que nos notara juntos, saímos correndo entre as tendas de acampamento. Pulando alguns enfeites que entravam no caminho e nos sentindo verdadeiras crianças em um playground gigantesco. Zayn parecia conhecer o caminho que seguíamos, pois não parou pra respirar ou, que Liam me desculpe, pedir informações. Resolvi deixar de lado o assunto “Little Mix”, apenas por não valer a pena. Estávamos no V-fest, rodeados por pessoas felizes... Porque não poderíamos ficar felizes também? Depois de muito correr e escutar gritos de comemoração como se estivéssemos ganhando uma maratona, paramos. Entendi onde Zayn queria me levar ao ver o colorido da feira de atrações e estandes de patrocinadores do festival, como, por exemplo, Coca-cola e seus jogos temáticos.
   Na extensão de recreação da área VIP não havia brinquedos grandes como a montanha russa ou roda gigante da outra área, mas como Zayn tinha medo de altura e eu não me importava em continuar com os pés no chão, preferimos continuar ali dentro mesmo e aproveitar do que podíamos. Andamos em um corredor largo, rodeado dos dois lados por barraquinhas com jogos de tiro ao alvo, pescaria, “acerte a argola” e todas essas brincadeiras para crianças de todas as idades. Procurei algum carrinho de algodão doce, mas permaneci no zero a zero. Acabei rindo quando Zayn tentou coçar a testa e acabou se arranhando com a ponta do ferro no interior da atadura que prendia seus dedos.
  - Que ajuda aí? – Ofereci ao me sentir mal por ter rido.
  - Nah, estou bem. – Piscou os olhos com força, se concentrando em algo que não fosse o arder do arranhão. – Ok, talvez um pouco de ajuda...
  - Muito bem, pare de ser teimoso. – Parei em sua frente, soltando a mão que segurava a minha. Ao invés de deixá-lo usar a mão boa, eu mesma fiquei na ponta dos pés e assoprei o novo machucado, deixando um beijinho ali em cima. – Melhorou?
  - Melhorou muito. Obrigado. – Sorriu em gratidão e olhou para os lados. – Onde quer ir primeiro, princesa?
  - Podemos ir no escorregador?
  - Podemos ir aonde você quiser! – Não que estivesse forçado, mas o Zayn normal faria um pouco mais de drama antes de me deixar escolher o brinquedo, não importando qual fosse.
  - Sabe que não precisa me tratar assim só pelo que aconteceu mais cedo, né? – Cruzei os braços, andando em direção ao escorregador e tendo-o ao meu lado.
  - Não?! Niall disse que precisava...
  - Niall? O mesmo Niall que deixou a namorada terminar tudo sem exigir uma explicação? O mesmo Niall que a beijou ontem e ainda não sabe o que fazer a respeito? – Uma de minhas sobrancelhas se ergueu. – Vai escutar conselhos dele?
  - Você está certa. Ele não é o melhor exemplo pra essas coisas. – Aceitou seu erro com um balanço de cabeça. – Mas de qualquer forma... Me desculpa?
  - Pelo quê, exatamente? – Instiguei. A sua demora pra responder me fez continuar: - Viu? Não tem motivos pra pedir desculpas. Você fez o que tinha que fazer. Não conhecemos aquelas meninas. Não podemos sair contando tudo da nossa vida.
  - Então não estou encrencado? – Sua expressão ficou iluminada.
  - Claro que não. – Rolei os olhos, empurrando-o com o ombro.
  - Então ótimo, porque não quero ir no escorregador.
   Segurou meu pulso e deu meia volta, me tirando do rumo que seguia. Resmunguei um xingamento baixo por não ter mais a minha vontade atendida e fui obrigada a segui-lo até uma barraquinha bem próxima, onde duas meninas escolhiam o prêmio que receberiam por ter derrubado devido número de garrafas. Não tive tempo de protestar, pois logo o responsável por aquele jogo se livrou delas e nos atendeu. Seu ajudante correu para montar as pirâmides de garrafa novamente e fiquei distraída com os bichinhos de pelúcia presos ao telhado daquela instalação. Três tentativas por dez libras. Eu não teria pago, mas como meu namorado era um boybander rico, deixei que ele me fizesse esse mimo. Momento Brigitte off.
  - Qual você quer, babe? – Apontou para os prêmios.
  - Aquela coruja! – Apontei para o animal de pelúcia mais ao fundo.
  - Aqui estão as bolas, mate. – O funcionário colocou três bolinhas pretas na frente de Zayn e saiu do caminho.
  - Confio em você, Zen! Consiga a coruja pra mim. – Fiquei ao seu lado, observando-o tentar segurar a primeira bola com a mão enfaixada e falhar terrivelmente. – Uh oh.
  - Nada de uh oh! Eu consigo jogar com a mão esquerda. – Trocou de mão, impedindo seu orgulho de ceder. Juntando toda a sua concentração, atirou.
  - Quase! – Gargalhei pelo lançamento ter sido pior do que eu poderia esperar. – Sabe que tem que acertar as garrafas, né?
  - Sei, . – Me reprovou, mas não com raiva. Ao menos não raiva de mim. Tentou mais uma vez. – Damn it!
  - Última chance... – Ainda não parara de rir.
  - Ok, quer tentar? – Se irritou com a minha diversão e ofereceu a última bolinha preta.
  - Olhe e aprenda, babe. – Aceitei o desafio.
   Uma coisa que Zayn não sabia – e nunca iria descobrir – é que eu realmente era boa naquele jogo. Não que fosse um talento, mas no começo de julho, quando estávamos em Los Angeles e fomos até o Summer Festival, Wesley passou uma boa meia hora só me ensinando táticas para vencer todos esses tipos de jogos de Arcádia e eu realmente peguei o jeito. Zayn se afastou e cruzou os braços, torcendo para que eu errasse. Tanto o ajudante quanto o dono da bancada também prestaram bastante atenção aos meus movimentos. Respirei fundo e brinquei com o objeto redondo na minha mão, estudando seu peso. Ao decifrar a forma de jogar, respirei fundo e me concentrei no que queria fazer. Segundos depois, lancei a bola com mais precisão do que força. O barulho das garrafas caindo no chão me alegrou bastante, provando que eu fui uma boa aluna.
  - A sua coruja. – O homem me entregou o prêmio e a abracei.
  - Obrigada. – Me voltei para um Zayn emburrado. – O que achou?
  - Deveríamos ter ido no escorregador.

+++

  - , se você ficar menos aminada que isso depois do nosso show amanhã, eu juro que a nossa amizade acaba aqui. – Danny andava ao meu lado direito e chutava uma pedrinha de cascalho perdida pela grama.
  - Estou falando sério! Esse show mudou a minha vida! Eu já tinha visto a Queen B pela TV, mas não é a mesma coisa! – Me defendi, ainda encantada com o show da Beyoncé que acabávamos de assistir de camarote. – Tom, me ajude aqui! Vocês viram o cabelo dela?! Ele não ficava parado por nenhum minuto!
  - Acredito na nossa teoria de que a roupa dela tem pequenos ventiladores, como aqueles que a gente compra na Disney. – Tom estava um pouco mais na frente e dividia o mesmo encanto que eu. – Também adorei o show.
  - Obrigada!
   Era quase oito horas da noite e, mesmo que shows de artistas como Jessie J e The Script ainda estivessem acontecendo, metade do nosso grupo desistiu de enfrentar a bagunça e preferiu voltar para o acampamento e aproveitar o pôr do sol que não demoraria a acontecer. Enquanto Gemma e Niall se mostraram bem festeiros, Fletcher, Jones, Malik e Payne me acompanharam pelo caminho de barracas vazias e trancadas. Quando a noite começou a cair, a temperatura baixa voltou mais uma vez. Todos tomaram uma ducha no banheiro improvisado pelos organizadores do festival – que se mostrou bem melhor que o esperado – e me livrei da tinta na pele que começara a secar e descascar com o passar do dia. Por sorte eu havia embalado uma calça legging na mochila e não passei frio. Fui obrigada a usar o mesmo par de botas e sweater por cima da blusa limpa do Ramones, mas no fim das contas fiquei super confortável.
   Diferente do que havia me prometido, Giovanna não deu as caras no primeiro dia do V-Fest, mas ao menos seu marido e Danny se juntaram a nós; dando para matar um pouco da saudade que tinha dos meus ídolos e amigos queridos. O bar não servia apenas álcool e refrigerante, pois a lista de cafés e bebidas quentes também era enorme. Meu chocolate quente com leite estava simplesmente divino e ajudava muito o meu corpo a se manter aquecido. Zayn estava a minha esquerda, me abraçando pelos ombros, e também bebia uma mistura de cappuchinno descafeinado com latte de caramelo. Pra mim, uma combinação um pouco enjoativa, mas ainda conseguia ser melhor que o Milk Shake de Nutella e Ferrero Rocher que Jones escolhera.
   Passamos por várias barracas onde pessoas dormiam e agradeci internamente por perto das nossas três tendas não haver ninguém. Dessa forma não precisaríamos nos preocupar com o barulho que eventualmente acabaríamos fazendo. Tom foi pegar algo em sua própria mochila guardada na minha barraca após pegar a chave comigo e ajudei os outros meninos a arrumar as cinco poltronas de plástico em uma espécie de circulo, de forma que pudéssemos sentar e conversar devidamente acomodados. Ocupei a minha própria, de costas para as barracas. Zayn desta vez ficou à minha direita, Liam ao lado dele, Danny, e Tom por último; fechando o círculo e sentando do meu lado esquerdo. Enquanto Li ajudava Danny a acender uma lamparina que faria o papel de nossa fogueira, observei o que Tom tinha em seu colo.
  - O ukulele rosa! – Apontei com um sorriso, quase queimando a língua com o chocolate quente.
  - Ótimo! Todo mundo pode tocar menos eu. – Zayn fez careta, encarando a própria mão.
  - O que aconteceu com você, dude?! Estou querendo perguntar isso desde que chegamos. – Tom me passou o instrumento para que pudesse estudá-lo e então se voltou para meu namorado.
  - Não foi nada demais... – Deu de ombros. – Machuquei em uma briga de bar. Nem sei direito como aconteceu, mas não está quebrado. Só uma pequena torção e acharam melhor imobilizar.
  - Você devia ver o outro cara. – Me gabei das habilidades de Zayn como se aquilo fosse algo bonito. – Zayn quebrou o nariz dele!
  - Então você estava lá, quando a briga aconteceu? – Danny conseguira acender a luz e a deixou no centro do nosso circulo, indo para o seu lugar.
  - A briga foi culpa dela. – Zayn acusou com uma risada.
  - Hey!
  - Mulheres, huh?! – Tom me olhou com desapontamento, mas no canto dos lábios havia um sorriso.
  - Shut up! – Devolvi o ukulele e cruzei os braços, prendendo o copo de chocolate entre as minhas pernas.
  - Como vai a banda, caras? – Liam estava praticamente deitado em sua cadeira vermelha.
  - Não podia estar melhor! – Danny o respondeu. – Comemoramos dez anos mês que vem!
  - Wow. Isso pede uma grande comemoração, não? – Foi a vez de Zayn falar.
  - Estamos planejando uma coisa grande... – Tom arrumou a touca em seus cabelos com um sorriso de quem apronta. – Não se preocupem, vocês estarão incluídos!
  - Meu aniversário está chegando, como vocês devem saber... – Liam conseguiu nossa atenção novamente. – E estou querendo comemorar, mas nosso empresário disse que é perigoso fazer uma festa no dia.
  - As pessoas não vão invadir a sua festa! – Disse entre um gole e outro na minha bebida. – É seu aniversário de vinte anos... Não pode passar em branco.
  - Disse a menina que não queria comemorar. – Zayn ponderou, me obrigando a sorrir por lembrar do meu último aniversário.
  - Ainda bem que meu namorado não acreditou nisso...
  - Não se preocupe, , eu vou comemorar! – Li sorriu entusiasmado. – Só não farei isso no dia.
  - Assim você vai ter dois aniversários! – Danny se incluiu na conversa.
  - Onde pretende fazer essa festa? – Tirei os sapatos e coloquei os pés com as meias para cima da bóia. – Se disser Funky Buddha, vou me desconvidar agora.
  - O que você tem contra o Funky, ?! – Tom afinava o ukulele, mas parou como se tivesse escutado uma blasfêmia.
  - Nada! Mas Liam vai lá quase toda a semana, então acho que deveria mudar um pouco os ambientes...
  - Não estava pensando no Funky Buddha. – O aniversariante me tranqüilizou. – Lembra onde fizemos o aniversário surpresa do Lou? O hotel, quero dizer. Estou pensando em fazer lá.
   Era uma boa idéia! Não no restaurante onde o jantar formal fora dado, mas sim em um dos salões que facilmente seriam transformados em uma boate ou no que quer que Liam estivesse pensando em fazer. Mesmo sem ter muita certeza da data que realizaria o seu aniversário, convidou Tom, Danny e os outros meninos para a festa. Prometi que os passaria mais informações assim que tudo estivesse decidido e comecei a me animar com aquela história toda. Os assuntos pareciam não morrer nunca, o que tirava a impressão que os meninos tinham que Danny e Tom eram somente meus amigos e os tratavam bem por conta disso.
   Com o ukulele devidamente afinado, Tom se posicionou e começou a tocar qualquer coisa. A luz da lamparina tremia quando o vento batia sobre o vidro, mas não chegava a apagá-la. Zayn arrastou a sua bóia para perto da minha e passou o braço pelas costas da mesma. Me aninhei em seu corpo após deixar a embalagem vazia do chocolate quente no saquinho que trouxemos para colocar o lixo. O vocalista do McFly que estava com seu instrumento rosa limpou a garganta e começou a cantar uma música que eu sabia de trás pra frente. O céu amarelado á nossa volta dava o clima perfeito de cinco amigos curtindo uma noite de outono. Senti falta dos outros meninos que não estavam por ali, mas todos devam estar bem entretidos com as suas próprias atividades. Senti um beijo em minha testa e sorri. Nunca estive tão calma e em paz como naquele momento.
  - Little has got big blue eyes. I could die lying in her arms where castles are made of sand… - Tom trocou o nome Joanna pelo meu, transformando meu sorriso emu ma risada. – We start to dance, but only the music is bleeding when crickets replace the band…
  - She will always be my sun kissed trampoline. She goes up and down in my heart, turned into jelly beans. – Danny o acompanhou, deixando sua linda voz me arrepiar. – And I'm starting to believe that dangers never near… When is here!
  - Isso foi lindo, meninos! – Bati palmas assim que terminaram a música em minha homenagem. – Eu amo essa música!
  - Você ama todas as nossas músicas... Mas ok. – Danny se gabou.
  - Eu gosto de música, o que quer que eu faça?! – Levantei as mãos, culpada. Me desvencilhei de Zayn e olhei em cada rosto em volta de mim. – Posso tocar uma coisa pra vocês?
  - Você? – Liam parecia surpreso.
  - É claro que pode! – Zayn foi o primeiro a me encorajar.
  - Não sabia que você toca. – Danny me passou o violão dos meninos que estava deitado na grama ao seu lado.
  - Porque eu não toco. – Ri para disfarçar o nervosismo. – Ou toco uma música... Só prometam que não vão rir!
  - Palavra de escoteiro. – Tom bateu continência.
  - Essa eu quero escutar! – Liam se endireitou na cadeira.
  - Vá em frente, Anjo. – Zayn sorria de canto a canto, curioso.
  - Ok, ok... – Com o violão em meu colo e meus dedos desajeitados sobre os primeiros acordes, respirei fundo. – É a primeira vez que eu tento algo assim, então dêem um desconto!

  
Oh ooh… Yeah, yeah…
  You can be the peanut butter to my jelly.
  You can be the butterflies I feel in my belly.
  You can be the captain and I can be your first mate.
  You can be the chills that I feel on our first date.
  You can be the hero and I can be your side kick.
  You can be the tear that I cry if we ever split.
  You can be the rain from the cloud when it's storming.
  Or you can be the sun when it shines in the morning…

  Tive vontade de rir ao começar a cantar, então a minha voz tremeu de forma estranha, mas segui em frente. Decorar aquela letra foi mais fácil porque eu mesma a criei, mas trocar os acordes teria sido difícil se fossem mais de quatro. Meus dedos soltavam as cordas que deveriam segurar por causa dos meus nervos, mas respirei fundo e me acalmei assim que ninguém começou a rir ou fez algum comentário maldoso. Meus dedos da mão direita brincavam com as cordas, subindo e descendo devagar.

  
Don't know if I could ever be without you, cause boy you complete me.
  And in time I know that we'll both see that we're all we need.
  Cause you're the apple to my pie.
  You're the straw to my berry.
  You're the smoke to my high.
  And you're the one I wanna marry…

  No primeiro refrão, consegui levantar o olhar dos próprios dedos e olhar para Zayn. Afinal de contas... Essa música era pra ele. Me senti bem em cantar aquilo, pois era uma troca de papeis. Zayn costumava escrever músicas pra mim e eu simplesmente derretia. Dessa vez, era ele quem era surpreendido por algo de que eu realmente me orgulhava. Foi bom ver o seu sorriso se expandir tanto por culpa minha. Danny puxou palmas no ritmo da música e Liam e Tom o acompanhou. A letra podia ser boba comparada às que qualquer um deles já escrevera, mas era de coração.

  
You can be the prince and I can be your princess.
  You can be the sweet tooth I can be the dentist.
  You can be the shoes and I can be the laces.
  You can be the heart that I spill on the pages.
  You can be the vodka and I can be the chaser.
  You can be the pencil and I can be the paper.
  You can be as cold as the winter weather.
  But I don't care as long as we're together…

  Dos cinco, eu era a que cantava pior, entretanto, estava relaxada e segura conforme as estrofes iam passando, o que era percebido na minha voz. Não era como se eu fosse trocar de profissão, mas gostaria de fazer aquilo como hobby. Zayn mal piscava, mas agora eu também olhava para os meus outros amigos que eram surpreendidos por mim.

  
I love the way that you smile and maybe in just a while
  I can see me walk down the aisle.
  ‘Cause you’re the one for me, for me.
  And I'm the one for you, for you.
  You take the both of us, of us.
  And we're the perfect two…
  Baby, me and you…
  We're the perfect two.

  Encerrei a música quase no mesmo instante em que o Sol se foi completamente no horizonte. Todos os quatro bateram palmas e assobiaram alto, me deixando ainda mais corada do que já estava. Não sei que reação estava esperando, mas gostei muito daquela. Deitei o violão nas minhas pernas e cobri o rosto com as mãos, ainda rindo.
  - Você escreveu essa música? – Tom deu tapinhas encorajadores no meu ombro.
  - A segunda que eu escrevi na vida! – Espiei entre os dedos.
  - Achei incrível, ... – Zayn me abraçou de lado, quase me esmagando. – Vamos gravar e colocar no CD?
  - Com certeza!

    

Chapter XXXIV

Era o segundo e último dia de V-Fest, o que significava que eu assistiria o show do McFly, mas ao mesmo tempo queria dizer que em poucas horas teríamos que ir embora e voltar para a realidade. Não que a realidade fosse ruim, mas depois de passar o dia anterior sem lembrar das palavras “paparazzi”, “fofoca” e sem ouvir um oi sequer de pessoa alguma da Modest!, a gente acaba se apegando a liberdade que parecia perdida desde que o One Direction surgiu oficialmente. Sem falar que aquele festival estava sendo muito divertido. Como prometido, Louis e Harry deram noticias, não só deles, mas também do meu Bo. Todos estavam se divertindo e muito bem. Anne só achou ruim sua filha e eu não termos ido visitá-la e nos fez prometer que iríamos na próxima vez.
   O que deveria ser uma chuvinha matinal se transformou em uma tempestade que encharcou todos que não estavam em suas barracas ou em áreas cobertas. Os pobres Zayn e Liam, que quiseram ficar dormindo quando eu, Ni e Gemma levantamos, agora estavam presos em suas barracas; porque só um louco sairia de lá sem capas de chuva. Eu e os outros dois que acordaram cedo estávamos a salvo dos pingos gelados por estarmos no backstage do palco Arena. Não era tão grande quanto o palco principal, mas fora o mesmo em que Rita Ora se apresentou na noite anterior e naquele momento a loira Ellie Goulding deixava seu coração pra fora. Os quatro meninos do McFly estavam se preparando no camarim, pois seriam os próximos a se apresentar, mas isso não impedia que eu, Gemma e Gi andássemos por aí, explorando. Niall logo se distraiu com uma das meninas do The Saturdays, de cabelos ruivos. Desconfiei que ele tivesse uma queda por essa cor de cabelo, mas o deixei se divertir, pois era fã da girlband.
  - Eu não vi a Frankie por aqui... – Comentei para as minhas meninas, após outra Saturday nos ultrapassar.
  - Ela não veio. Está de licença maternidade. – Gi explicou. – O que é bom, se é que me entende...
  - Entendo. – Encerrei aquele assunto, já que nos trazia lembranças.
  - Como estão você e o Zayn? – Perguntou com um sorriso. – Anda mais calma do que na última vez que nos vimos?
  - Muito mais... Não está sendo ao difícil quanto eu imaginava, sabe? – Afirmei com um movimento de cabeça. – Claro que não é a melhor coisa ter que me esconder o tempo inteiro, mas dá pra agüentar.
  - Eu não conseguiria. – Gems ofereceu um pedaço do brownie que comia e aceitei uma mordida. – Não importa o quanto eu ame uma pessoa... Acho que a pior coisa do mundo seria ter que esconder.
  - Melhor pensar duas vezes antes de falar algo assim. Se os empresários do Connor forem como Marco... – Soltei uma pequena indireta, quase falando com a boca cheia pra não perder o timing.
  - Connor? – Giovanna estava por fora e Gemma fez careta.
  - Maynard. Ele e Gemma estão bem amiguinhos... – Insinuei.
  - ! Nós só trocamos telefones... Nada de mais. – Deu de ombros, tirando a importância daquilo.
  - Vocês serão um bom casal. – Bom saber que os Fletcher sempre ficavam do meu lado.
  - Eu sei. – Desistiu de drama e sorriu, revelando uma covinha como a do irmão. – Mesmo que Niall também queira ser um casal com ele...
  - Eu te falei que Niall ia ficar doido quando o conhecesse. – Ri, mas isso acendeu uma lâmpada em minha cabeça. – Preciso falar com ele, por falar nisso... Com Niall, não Connor.
  - Há ago errado? – Gi me olhou quando parei de andar.
  - Sim... Mas nada preocupante. – Olhei o backstage até encontrar Niall sozinho, com as mãos nos bolsos e olhando algo no teto. – Eu volto logo, ok? Mas não precisam esperar!
  - Ok! Gemma, onde encontrou esse brownie?!
   Eu não faria falta, pelo visto! Mas aquele brownie estava realmente bom, então só me arrependi de não ter pedido para que pegassem um pra mim também. Naquela manhã eu tomara uma decisão. Iria fazer algo que estava evitando há dias; me meter onde não era chamada. Niall continuava olhando pra cima como se um disco voador estivesse prestes a passar. Já não usava mais óculos escuros, pois seu olho roxo diminuíra consideravelmente após algumas horas – e depois de ser coberto por maquiagem. Como estava de costas pra mim, aproveitei aquela oportunidade para pegá-lo de surpresa.
  - CUIDADO, NIALL! – Me atirei em suas costas, ficando pendurada em seus ombros.
  - FUCK, ! – Xingou após tremer com o susto. – Ficou maluca de vez?!
  - Sorry, Ni! – Beijei sua bochecha e o soltei, olhando na direção que ele prestava atenção anteriormente. – O que estava olhando lá em cima?
  - Não sei... Só estava distraído. – Colocou as mãos dentro do casaco para se proteger do frio. – Onde estão os caras?
  - Se preparando pra subir ao palco.
  - Ah, claro... Porque se eles estivessem desocupados, você não estaria comigo agora. – Aquilo era ciúme?
  - Não seja bobo, Horan! – O reprovei. – É você que fica fazendo amizade com essas celebridades e me deixa de lado.
  - Nunca! – Colocou as mãos sobre o peito, dramaticamente.
  - Então, Ni...
  - Oh, no. – Deu passo para trás. – Quando você começa assim...
  - Exatamente, já sabe que o negócio é sério. – Não sério o bastante pra me impedir de sorrir, mas o bastante pra não fazer piada. – Sexta feira, quando Zayn e eu saímos do hospital, você e ...
  - Nada aconteceu. – Foi direto ao ponto. – E nada vai acontecer, se quer saber. Eu só a deixei em casa.
  - Você não sente mais nada por ela? – Nada iria acontecer? Era o que íamos ver.
  - É claro que eu sinto, . É a , né? – Suspirou, sentando em uma caixa de som que havia perto de nós. – Mas não quero que o mesmo que aconteceu no casamento da sua mãe se repita. Não quero ter esperanças a toa.
  - Eu juro que estava me segurando pra não falar nada, mas está sendo impossível, porque vocês dois são cabeça dura demais pro meu gosto! – Pensei alto, causando confusão em Ni. – foi uma tonta ao terminar com você, ainda mais por não ter te contado nada! SHHH, EU NÃO TERMINEI! Ela achou um bilhete no seu bolso e pensou que você estivesse a traindo, por isso fez o que fez. Mas agora que descobriu a verdade, está se sentindo envergonhada de falar com você, até mesmo porque sabe que errou e você mais do que ninguém entende o quanto ela ODEIA estar errada. nunca gostou de Ben e sei que você não ama a Amy! Então, por favor, pode parar com essa história de que nada vai acontecer? Ela te beijou na sexta feira porque te ama e sente a sua falta, não porque foi no calor do momento.
  - Oh. – Depois de todo o meu discurso que me tirou o ar, tudo que Niall conseguia falar era “oh”?! – E-eu... Que bilhete... Ben... Amy...
  - Sweetie, eu sei que você é lerdo, mas vamos rodar essas alavancas aí dentro e tomar uma atitude, por favor. – Estava em sua frente, com as mãos na cintura.
  - Olá! Desculpa incomodar, mas já incomodando... – Uma mulher feliz demais para o meu gosto apareceu do nada com um microfone na mão. – Você é Niall Horan, do One Direction, certo?
  - Niall? – O loiro repetiu o próprio nome, demorando pra se tocar.
  - É ele sim! – Dei uma cotovelada no loiro, fazendo-o voltar para a Terra.
  - Sou eu sim! – Acordou.
  - Posso ter uma pequena entrevista com você? – A mulher sorria sem parar.
  - Yeah, claro. – Horan pulou de volta para o chão, deixando a caixa de som de lado.
  - Com licença, não vou atrapalhar... – Dei um passo para trás e encarei o irlandês. – Nossa conversa não terminou!

+++

  Aquele podia não ser o meu primeiro show do McFly, mas de longe fora o melhor. Eu não estava espremida entre as centenas de Galaxy Defenders na pista só pra conseguir uma visão melhorada dos meninos e nem precisava entrar no tapa para conseguir pegar uma palheta; só precisaria pedir. Minha visão podia ser da lateral, porém, isso não me impediu de pular, gritar e cantar junto com aqueles três meninos que corriam pelo palco e Harry que torturava a bateria – da melhor forma possível, aliás. Gi estava quase tão animada quando eu, dançando e acenando para o marido. Gemma e Niall foram os mais comportados, tirando o fato de o irlandês não parar de beber cerveja desde que descobriu o bar no camarim da banda.
   A chuva começava a ir embora e as pessoas que curtiam o festival tiravam as suas capas de proteção. Como o palco era coberto, a única coisa que escorria pelos meninos era suor. A última música tocada foi Love is Easy e Danny apontou pra mim, como se a dedicasse à minha pessoa. Ninguém da platéia tinha como me ver no “sidestage”, mas ainda assim me senti muito bem comigo mesma e teria essa lembrança na memória para sempre: A minha banda preferida dedicando uma música especialmente pra mim. Não ficaria surpresa se estivesse rouca no final do dia.
   Os quatro meninos se juntaram no centro do palco para um último agradecimento e Harry beijou a bochecha do baixista como se fossem namorados. Quando é que os dois não pareciam ter um relacionamento secreto mesmo? Nesse meio tempo, Georgia e Izzy apareceram como mágica e esperavam os respectivos homens na parte de trás do palco. Ainda nenhum sinal de Lara, para a minha alegria. Gi passou o braço pelo meu e fomos de encontro as outras duas loiras, mas não tivemos tempo de falar algo mais que um oi rápido.
  - As dorminhocas acordaram?! – Harry foi o primeiro a sair do palco e correu até a esposa.
  - Não dormimos tanto assim! – Izzy bocejou, dedurando a sua mentira.
  - Gostou do show, ?! – Era Dougie quem vinha em minha direção, com os braços abertos como quem espera um abraço.
  - Ainda pergunta? Foi incrível! – Ainda que tivesse tentado evitar aquele encontro, o menino foi mais rápido e me abraçou pelo pescoço como uma criança, me molhando com o seu suor. – EEEEEW, POYNTER!
  - Eu não estou fedendo nem nada. – Gargalhou, mas até que tinha razão.
  - Espera, você está usando sutiã? – Ao tentar empurrá-lo para longe, notei algo em se peitoral que não devia estar ali.
  - Dougie! – Geo o repreendeu, causando-o a me soltar. – Se Jazzie descobrir que você roubou isso dela, você é um homem morto.
  - Te mostro o meu se mostrar o seu. – Ignorou a Miss e piscou pra mim.
  - Sorry, dude, mas ela não vai te mostrar nada. – Uma voz que me fez sorrir no instante que tocou os meus ouvidos surgiu pela direção da escada que levava ao backstage.
   Zayn e Liam finalmente pareciam ter se livrado da chuva e a expressão no rosto desse último indicava que no próximo ano traria um guarda-chuva na mochila. Pela falta de espelhos e produtos de beleza, o cabelo de Zayn estava totalmente bagunçado, o que o dava um toque ainda mais charmoso do que já tinha normalmente. Os dois andavam na nossa direção, mas foram interrompidos assim que a mulher que conversara com Niall duas horas atrás se colocou entre nós.
  - Você vem, ? – Tom tinha um braço em volta dos ombros de Giovanna, me chamando de volta para a realidade. – Estamos indo pro camarim.
  - Podem ir, eu encontro com vocês depois. – Agradeci o convite com um sorriso e me virei para Dougie, que ainda estava na minha frente. – Você devia tomar um banho.
  - Já falei que não estou fedendo! – Cheirou embaixo do braço e fez uma careta. – Mas banho não mata ninguém.
  - Exatamente o que pensei. – Cruzei os braços, inquieta para ir escutar o que a mulher sorridente de dentes brancos perguntava ao meu namorado.
  - Vocês já vão embora? – O loiro tirou o pedaço de pano que segurava seus cabelos no lugar; ou quase isso. – Mais tarde vamos a uma pizzaria que eu conheço aqui...
  - Podemos ir todos juntos. Ainda temos que arrumar as nossas coisas na barraca, mas tenho o seu número... Qualquer coisa eu te ligo.
   Com aquela deixa o baixista se retirou, sorrindo como bobo. Não do tipo “bobo apaixonado”, mas “bobo alegre”. Gemma estava segurando uma garrafa de cerveja que devia ser de Niall, observando os três membros do One Direction conversar com a repórter.
  Segui até ela e parei ao seu lado, cruzando os braços sem precisar me esforçar muito para escutar o que os três meninos respondiam. Ou melhor, o que Niall e Liam respondiam, já que Zayn ficava a maior parte do tempo calado e ocasionalmente balançava a cabeça em afirmação a algo que os amigos falavam.
  - Então, Zayn... – A mulher parecia desesperada para conseguir uma resposta do dito cujo. – Vimos que está com a sua ex-namorada aqui! Devo perguntar... Estão juntos novamente? É apenas um “caso de festival” para lembrar dos velhos tempos? Será o nosso segredinho!
  - Tenho certeza que a câmera ali não vai contar pra ninguém! – Niall, levemente embriagado, apontou para o objeto que filmava cada um de seus movimentos. – E estamos ao vivo!
  - não é só a minha ex-namorada. Ela é minha amiga e amiga dos meninos, irmã de um membro da minha banda. Não há nada de estranho em estarmos juntos aqui. – O moreno respondeu automaticamente, como Marco o ensinara a fazer em situações assim.
  - Você não respondeu a minha pergunta, Zayn! Está querendo escapar? – A mulher riu como se fosse uma comediante.
  - Somos bons amigos, só isso. – Mesmo de longe, notei o rubor crescer em suas bochechas. Ele me olhou de relance, preocupado por saber que eu o escutara.
  - Eu te amo. – Apenas mexi os lábios, esperando que aquilo o tranqüilizasse.

+++

  - Vocês já vão embora? – Tom parou na porta da pizzaria, de onde eu observava Liam, Niall e Zayn fazer uma vistoria pelo carro que nos levaria de volta pra casa.
  - Já está escuro e não queremos que fique muito tarde pra pegar a estrada. – Fiz bico, as mãos no bolso do short.
  - Tem certeza que não querem passar a noite aqui? – Gi ofereceu. – Tem bastante espaço na casa da Sam... Tenho certeza que ela não se importaria.
  - Eu tenho aula amanhã cedo, então não podemos ficar. – Meu bico cresceu. Rejeitar passar a noite na casa da mãe de Dougie Poynter ia contra todos os meus princípios de fangirl.
  - Eu já sinto a sua falta! – Giovanna abriu os braços, me convidando para um abraço. – Mas te perdôo se prometer que não vamos demorar pra nos ver de novo!
  - E eu não te perdoaria se não pedisse isso! – A abracei demoradamente, já com saudade daquela baixinha. – Pode ir chamar a Gemma pra mim? Acho que ela ainda está comendo...
  - Tudo bem. – Brincou com meus cabelos e sorriu. – Vou falar para os outros virem se despedir também.
  - Obrigada, Gi! – Acenei enquanto ela se distanciava.
  - Não seja uma estranha! – Tom me abraçou em seguida, com mais força que a esposa. – Não esqueça de avisar os detalhes do aniversário de Liam.
  - Não esquecerei, não se preocupe. – Baguncei os cabelos molhados do menino.
  - E passe lá em casa qualquer dia desses. Marvin sente a sua falta. – Riu, mostrando a covinha solitária.
  - Não se preocupe, passarei. – Aceitei com a cabeça, mudando a direção do meu olhar. Gem, Danny, Harry e Dougie vinham se despedir.
  - Não vai embora sem falar com a gente! – Danny praticamente desmoronou sobre os meus ombros ao me envolver. Ele conseguira beber ainda mais que Niall. – Tenha uma boa viagem, -.
  - Terei, Danny-boy. – Quase caí pra trás, rindo da falta de equilíbrio do maior.
  - Se cuide, pequena! – Harry tirou Jones de cima de mim e me abraçou pela cintura. Usou a força para me levantar do chão e fiquei na ponta dos pés. – Não esqueça da gente.
  - Nunca. – Beijei a sua bochecha. Harry e eu podíamos nunca ter passado muito tempo sozinhos juntos, mas nosso relacionamento era como o de irmãos. – Cuide da Izzy! E mande um beijo pra ela.
  - Mandarei. – Me devolveu ao chão e acenou ao sair da pizzaria; indo até os meninos que já começavam a entrar no carro.
  - Foi divertido te ver esse final de semana, . – Dougie não me abraçaria por iniciativa própria, então eu mesma o puxei.
  - Digo o mesmo, Dougster. Seja um bom menino, ok? E tome banho de vez em quando... Nada de cabelo sujo a semana inteira.
  - Okay, mum. – Rolou os olhos, se divertindo com minhas reclamações.
  - Podemos ir, ? – Gemma já tivera suas devidas despedidas e me aguardava pacientemente. – Lou ligou... Eles já estão em Londres.
  - Certo... Vamos antes que eu mude de idéia. – Ofereci a mão para a menina que logo a aceitou. – Tchau, guys!
  - Tchau, girls. – Tom, Danny e Dougie disseram ao mesmo tempo.
   De mãos dadas, Gemma e eu fizemos o mesmo caminho que Judd, descendo as escadas e correndo pelo estacionamento escuro e vazio. Uma coisa que aprendi naquela minha primeira visita à Essex é que a cidade era bem menor e vazia do que eu imaginava. Tirando a área do festival, quase não encontrávamos outras pessoas pela rua ou nos estabelecimentos que visitávamos. Apesar disso, tinha verde para todos os lados, o que tornava o ar mais puro que o de Londres; ainda mais sem a correria do dia-a-dia.
   O Ranger preto nos esperava de portas abertas, onde Liam ocupava o lado direito da cabine, atrás do volante. Niall se acomodara no porta malas espaçoso e Zayn esperava no banco de trás. Harry ajudou Gemma a entrar ao lado de Liam e me juntei ao meu namorado no banco. Judd fechou as portas e acenou um até logo exagerado, lembrando o motorista que eu tinha o número de telefone de todos os meninos, então deveria convidá-los para a festa de aniversário que prometia agitar Londres. Ao menos de acordo com o próprio aniversariante.
   Sem mais delongas, o veículo foi colocado em movimento e estávamos a caminho de casa. Eu sentia falta de Harry e Lou, mas era que estava louca pra ver. Não demorei para tirar os sapatos, meias e colocar os pés pra cima do banco. Zayn aparentava cansaço e preguiça, logo segurando a minha mão e puxando-me para cima de si. Tivemos um pouco de trabalho, mas conseguimos deitar juntos ali atrás.
  - Liam, tem algum CD por aqui? – Gemma mexeu no aparelho de som do carro.
  - Nada de Little Mix, por favor. – Comentei com tédio.
  - Mas elas são boas... – Niall comentou atrás de nós, pedindo pra apanhar.
  - não gosta delas. – Zayn respondeu, mostrando que aprendia rápido.
  - Tenho meus motivos. – Dei de ombros, usando o peito do moreno de travesseiro. Ainda que não tivesse motivos de verdade, algo naquelas quatro garotas me incomodava. – Acho que Lou guarda um CD do The Fray no porta luvas.
  - Achei! – Gemma comemorou e escutei o barulho da caixinha sendo aberta.
   Não sabia até aquele momento o quanto estava cansada e meu corpo precisava relaxar. Passamos dois dias sentando em bóias de piscina, dormindo em barracas e andando o dia inteiro, sem falar do quanto pulamos em shows e apresentações. Apesar disso, valeu tanto a pena que não podia esperar até o próximo ano para repetir a dose. O garoto embaixo de mim deslizava os dedos pelos meus cabelos bagunçados e despenteados, não se importando com o trabalho que tinha para colocá-los no lugar. Com um beijo em minha testa, disse:
  - Gostou do V-Fest?
  - Mais do que podia imaginar. – Levantei o rosto, encontrando seus olhos amendoados. – Foi bom escapar um pouco. Ficar longe de tudo.
  - Pronta pra voltar à realidade? – Essa nova pergunta soou mais pesada que a primeira.
  - Você já me perguntou isso antes. – Passei dos olhos para o lábios do menino, sem nem ao menos tentar resistir e juntei nossos lábios em um beijo demorado. – Qualquer realidade com você é uma boa realidade.
  - E... Vamos ter a festa do Liam pra aproveitar! – Riu como se fosse um verdadeiro party-boy. – Tenho algo que você pode usar na festa.
  - Zayn, eu te disse, não vou usar aquela coisa de oncinha! – Minha revelação causou risadas escandalosas em Niall e Gemma. Liam preferiu apenas se concentrar na estrada.
  - Não é isso! Mas bom saber que não mudou de idéia. – Fez careta.
  - Nesse caso, eu uso o que você quiser.
   Voltei a encostar a cabeça no peitoral coberto e tatuado do menino, sentindo-o subir e descer de acordo com a respiração tranqüila. Um movimento no banco me fez olhar pra cima e encontrei o rosto sorridente de um irlandês que nos observava. Sorri de volta com a sobrancelha levantada, mas não falei coisa alguma. Apenas abracei Zayn e fechei os olhos, sentindo o sono chamar o meu nome. A viagem de Essex à Londres demoraria pouco mais de uma hora, o que daria um ótimo cochilo.
  - Só pra avisar... Vou dormir. – Murmurei.
  - Durma tranqüila. Eu cuido de você. – Exagerando na fofura, beijou o topo da minha cabeça pela segunda vez.
  - Owwwwwn. – Foi Niall que exclamou. – Vocês dois são adoráveis. Eu quero o que vocês tem.
  - Você tinha isso, Ni. – Zayn estava mais disposto a manter aquela conversa do que eu sonolenta. – E pode ter de novo.
  - Eu e nunca tivemos... Bem, isso. Era bom, mas, nosso namoro não se comparava ao seu. – Podia ser a bebida falando, mas o loiro abria o coração com revelações inéditas. – Eu a amo, Zayn. E estou disposto a tê-la de volta. Mas quero o que você e têm. Vocês dois são melhores amigos, se completam...
   Gostaria de ter escutado mais, mas o sono estava tão pesado que

    

Chapter XXXV

Uma chuva leve assolava a manhã Londrina, pingos batendo como pedrinhas no vidro da janela da sala vazia onde eu ensaiava. Fomos liberados no segundo horário devido à manhã de check-ups na enfermaria e fui uma das primeiras a ser atendida por Mary, por isso usei o tempo “livre” da mesma forma que fazia sempre; ocupando uma das salas de ballet e dançando sozinha de frente para o meu reflexo no espelho. Naquela mesma manhã, a turma de veteranos de ballet clássico recebeu uma noticia pela qual alguns de nós estava esperando desde o começo do semestre.
   A professora Bartira trouxe a ata oficial com a data do nosso recital. Esta apresentação seria a última oportunidade para os formandos mostrarem a assessores, diretores e donos de companhias importantes o nosso talento e possivelmente conseguir um convite e proposta de trabalho quando o curso terminasse. Tínhamos a opção de nos apresentar em dupla, trio ou individualmente. Em uma turma de dez alunos (após desistências e transferências da outra metade da turma), onde cinco eram homens e cinco mulheres, pensei que seria fácil encontrar um parceiro para a minha apresentação. Já tinha até a rotina perfeita formada na minha cabeça... Mas, pra variar, eu estava errada.
   Os casais se formaram e o menino que sobrou, e supostamente deveria se juntar a mim, formou trio com Brigitte e o seu parceiro. Apesar de desapontada, já devia esperar por isso. Se nas aulas normais era assim, para o recital não poderia ser diferente. Eu só podia contar comigo mesma, tanto na vitória quanto no fracasso. Teríamos perto de um mês para criar a apresentação mais importante das nossas vidas até aquele momento. Como nunca fui desesperada com essas coisas e não dava a mínima para meu futuro como bailarina – cof cof – comecei naquele mesmo instante.
   A pior parte é que eu não tinha mais Holly ou Nick para me dar opiniões ou direções daquilo que eu poderia mudar ou adicionar aos meus passos. ficaria mais do que feliz em me assistir, mas não teria a base clássica para formular uma crítica construtiva. O mesmo valia para os meninos, pois um seria pior que o outro na hora de dar conselhos de ballet. Mais uma vez eu estava sozinha e dependia inteiramente do meu talento. Como se precisasse de mais pressão e insegurança...
   Já me aquecera e fazia alguns movimentos aleatórios de frente para o espelho, improvisando um exercício para soltar o corpo e a imaginação. A sapatilha cor de rosa nos pés dobrava durante a descida e subida da ponta, suor escorrendo pela testa. Estava disposta a passar o dia inteiro ali até conseguir pensar em algo que me agradasse. “Calma, , você tem tempo.” Pelo que parecia a primeira vez, minha consciência entrou em modo preservativo e tentou me acalmar. Eu sabia que tinha tempo, o problema não era esse! Apenas... Não estava sentindo. Não estava sentindo a dança.
  - Finalmente te encontrei! Sabe quantas salas tem aqui dentro? Eu te digo quantas! Muitas. – Um menino abriu a porta que eu deixei fechada e se convidou para largar a própria mochila perto da minha e tirar o casaco que escondia duas roupas de dança. – E porque você tinha que estar logo no último andar?
  - Josh, que diabos você está fazendo aqui? – Me virei para o invasor, não deixando de rir da sua calça de moletom extra larga.
  - Não foi você que disse que eu podia aparecer qualquer dia? – Sorriu satisfeito, estudando a sala de aula.
  - Bem, sim... Mas achei que fosse avisar com antecedência... Eu iria falar com a diretora e perguntar se você poderia vir... Você não pode simplesmente entrar sem mais nem menos...
  - ! Calma. – Arregalou os olhos, segurando meus ombros assim que chegou perto o suficiente. – Não é como se eu fosse te fazer ser expulsa. Você precisa relaxar.
  - Eu sei! Desculpa. – Como uma criancinha que precisa de colo, envolvi as costelas do outro, abraçando-o. – Meu dia não começou muito bem hoje.
  - Quer falar sobre isso, bebê urso? – Abraçou meus ombros, balançando de um lado para o outro como se me ninasse. Teria sido fofo se eu não começasse a rir.
  - Bem, papai urso... – Rolei os olhos de mim mesma por entrar na onda dele. – Descobrimos hoje a data para o recital... O problema é que ninguém quis fazer dupla comigo, então estou sozinha...
  - Você parece uma menininha de dois anos que ficou sozinha no parquinho. – Puxou meu rosto e apertou minhas bochechas. – Só não entendo qual é a parte ruim de apresentar algo sozinha...
  - É exatamente isso! Eu vou me apresentar sozinha. Essa apresentação é a minha última chance de impressionar essas pessoas, já que eu não vou participar da peça de fim de semestre. – Bufei baixinho, arrependida de ter faltado as audições. Apesar disso, se voltasse no tempo, faria a mesma coisa. – E sou mais forte Pas de deux.
  - Eu posso dançar com você? – Ofereceu, desfazendo nosso abraço e fazendo uma pose desengonçada de ballet.
  - Eu adoraria, Josh. – Sorri para agradecê-lo pela oferta. – Mas esse recital é apenas para alunos do último ano... E, por mais que você tenha invadido a Academy, não é um aluno aqui.
  - Detalhes. – Voltou para sua posição normal, olhando em volta. – Se eu puder ajudar em outra coisa, então...
  - Eu te aviso, tenha certeza. – Levei as mãos à cintura, onde a saia de seda costumava ficar amarrada. – Agora, você veio até aqui pra ter uma aula de ballet, certo?
  - Não necessariamente... – Fez cara de assustado, o que contradisse meu sorriso divertido.
  - Para de ser mole, Josh! Já pra barra.
   Podia não ser uma má idéia dar uma de professora. Ainda devia pensar no recital, mas tinha tempo, não é? Joshua tinha razão, eu precisava relaxar. Pra isso, nada melhor do que mandar em um menino que não sabia o básico do básico do treinamento clássico. O empurrei para a barra na frente do espelho e mostrei as primeiras posições que ele deveria imitar. Ele não usava sapatilhas, o que complicava um pouco, mas as substituiu por meias. Pra pegar leve, lhe ensinei passos que aprendera na Baby Class, assim que comecei a dançar. Pliés, grand pliés e fondus depois, desistiu das minhas instruções. Ainda por cima disse que aquilo era “chato”.
  - Vou te ensinar a dançar de verdade. – Alegou, fazendo sinal para que eu esperasse ali enquanto caminhou até a sua mochila. – Aliás, tem gente na porta.
  - Hã? – Olhei na direção dita e encontrei três cabecinhas femininas uma em cima da outra na parte de vidro da porta. – Oh... Podem entrar!
  - Com licença... – Uma menina morena e com os olhos puxados adoravelmente passou a cabeça para dentro, vestindo um uniforme de ballet parecido com os que eu usava no primeiro semestre: totalmente rosa. – Não estamos atrapalhando?
  - Claro que não. Vão ter aula aqui agora? Achei que estaria vazia...
  - Ah, não! – Uma segunda menina, ainda mais baixa que a primeira, acompanhou a japonesinha e puxou a última para fazer o mesmo. – Não viemos aqui por causa disso.   - Nós queríamos saber... – A terceira começou a falar, meio sem jeito. – Se você poderia assinar as nossas revistas...
  - Revistas? – Franzi o cenho, mais lerda que o normal.
  - Temos cópias da Glamour. – A primeira sorriu, tirando da bolsa “A revista”, que continha meu photoshoot.
  - Oooh! – Sorri de canto a canto, tendo certeza que minhas bochechas adquiriram um tom rosado. – Eu adoraria assinar pra vocês! Tem caneta?
  - Temos sim. – A mais baixinha segurava a sua revista e uma caneta preta, me oferecendo ambos.
  - Não sabia que era assediada até aqui! – Josh colocara uma música mais animada para tocar baixo e parou ao meu lado. – Daqui a pouco vão ter que colocar seguranças circulando por aqui.
  - Já deveriam ter colocado, na verdade. – O reprovei com os olhos. – Seja útil, Josh, sirva de apoio.
  - Outch, heeeeey! – Reclamou quando o virei de costas pra mim, usando-o de mesa. – Cuidado!
  - Qual foto quer que eu assine? – Ignorei o moreno e fitei a loirinha. – E não liguem pra ele, por favor.
  - Pode ser essa aqui? É a minha preferida! – Abriu na página onde a fotografia em que eu usava o vestido cor de rosa estampava o espaço inteiro.
  - Você é quem manda. – Sorri como se soubesse o que estava fazendo, mas não tinha idéia. – Desculpa, qual é o seu nome?
  - Nina. – Deu um pulinho de excitação.
  - Tudo bem... “Nice to meet you, Nina! Love, . Xx” – Fiz careta ao ler o que escrevia. Estaria brega? Estaria fofo? Quem sabe?! – Aqui!
  - Eu sou Aisha. – A japonesinha trocou a revista dela pela da aminha, tão animada quanto. – Pode assinar a da escadaria?
  - Pode deixar... – Novamente usei as costas de Joshua de apoio, que deu trabalho pra ficar parado. “Adorei o seu uniforme! Keep on dancing! . <3 x” – E a próxima?
  - Obrigada! – Aisha abraçou a revista contra o peio. Em seguida, aparentou tomar coragem para perguntar: - Ele é o seu novo namorado?
  - Não! – Respondi com uma risada, fazendo Joshua virar o rosto ofendido. – Somos só amigos...
  - Ainda bem! – A última menina comentou. – Sem ofensas! É só que ainda não consigo aceitar o termino de você e Zayn... Me chamo Ali, por falar nisso.
  - Zayn ainda é um bom amigo... – Forcei um sorriso, assinando a fotografia que Ali escolheu. – Nós não nos odiamos, não se preocupe.
  - Ele disse a mesma coisa em uma entrevista no V-Fest, não sei se você viu... Mas Zayn ainda olha pra você como quem está apaixonado. – Aisha mordeu a ponta do dedo.
  - Desconfio que sejam directioners... – Fechei a revista ao terminar e a devolvi junto com a caneta.
  - Desde o X Factor! – Aisha se orgulhou. – Você até me segue no Twitter há um bom tempo!
  - Os meninos seguem vocês? – Ao escutar aquela minha pergunta, as três arregalaram os olhos.
  - Nós bem que tentamos! Mas é impossível conseguir a atenção deles quando tantas outras querem a mesma coisa... – Nina poderia começar a chorar a qualquer momento.
  - Você disse que eu te sigo, certo? Me manda uma DM com o Twitter de todas e eu farei com que eles sigam vocês. – Aquilo era alo simples pra mim, mas o sorriso que apareceu no rosto das três não tinha preço. – Recebo muitas, mas vou procurar a sua!
  - O-M-G! – Ali gritou e abraçou Nina.
  - Eu disse que ela era legal! – Aisha disse para as outras duas, me fazendo rir. Josh apenas observava tudo com atenção. – Mandarei agora mesmo! Onde está o meu celular?! O deixei no carro... Droga! Mas vou mandar, não esqueça!
  - Não irei. – Prometi.
  - Obrigada, ! Obrigada, obrigaaaaaaada! – Nina não se agüentou e me abraçou. Ainda que surpresa, retribui. Àquilo sim eu estava acostumada: Lidar com fãs dos meninos.
  - De nada! – Gargalhei, recebendo abraços coletivos.
   Ainda pulando e abraçando suas revistas, as três se despediram de mim e Josh e rumaram para a saída. Tenho certeza absoluta que só foram embora porque tinham aula, caso contrário teriam uma entrevista comigo a respeito de sua banda preferida. Não que me importasse em responder todas elas, mas não queria ser expulsa da Academy por atrapalhar o rendimento de outros alunos.
  - Isso que você fez foi legal. – Josh me empurrou de lado, brincalhão.
  - Hoje em dia são poucas as fãs de 1D que gostam de mim, então tento mantê-las. – O empurrei de volta, tendo um pouco mais de dificuldade que o mesmo. – E não custa nada ser legal!

+++

  “Star, , !”, “AAAAAAAAHHHH, É A !” Algumas fãs conseguem ser barulhentas, por Deus! Infelizmente, as que encontrei sentadas na calçada do Bush Studios eram bem... “Altas”, se é que me entendem. Até tentei dar a volta no quarteirão e entrar pela porta dos fundos, mas ela simplesmente não existia. O jeito foi estacionar por ali mesmo e enfrentar as câmeras de celular e chamados que não pude responder. Apenas acenei e tentei sorrir. Algo que eu odiava na Modest! é que, além de controlar os meninos, ela tentava controlar a mim e a quem tinha relações com qualquer um dos cinco. Quando estávamos perto deles ou indo encontrá-los em algum lugar, eu, Dani, e até mesmo Eleanor éramos proibidas de tirar fotos e parar pra conversar com fãs. Algo a ver com segurança, mas chamo isso de frescura.
   Fui seguida – perseguida – até subir as escadas e abrir a porta de vidro que me permitiu entrar na empresa. Uma menina mais ousada tentou fingir que era minha amiga e se infiltrar ali dentro, mas um segurança que estava esparramado no sofá a deteve. Paul a expulsou delicadamente e a garota foi embora reclamando e rindo ao mesmo tempo. Vai entender o que se passava na cabeça dela. Agradeci ao homem com um abraço apertado.
  - , porque não me avisou que estava chegando? Eu teria te buscado no carro! – Brigou com um sorriso no rosto.
  - Não gosto de dar trabalho. E já disse que você é a babá dos meninos, não a minha. – Brinquei, acenando para Preston, que lia uma revista calmamente e fez o mesmo.
  - Muito engraçada. – Rolou os olhos, sabendo que era verdade. – Eles vão ficar felizes em te ver.
  - Espero que sim! Mas só vim buscar o Liam. Posso ir espiar?
  - Você sabe o caminho. – Piscou. – Aproveite que Marco saiu.
  - Perfeito!
   Festejei erguendo o polegar. A secretária da recepção parecia mais interessada em lixar as suas unhas do que em qualquer coisa a sua volta, por isso não me impediu de passar pela porta automática do elevador do prédio de seis andares. Sabendo que o estúdio onde os meninos costumavam fazer suas gravações ficava no segundo andar, foi pra lá que me encaminhei. Não demorei mais de um minuto para me encontrar no corredor comprido e quase infinito daquele patamar. Desejei ter escutado alguma coisa, mas todas as paredes eram a prova de som, então se mais alguma banda conhecida estivesse por ali, eu não saberia.
   Procurei a porta 2B, indo para o lado direito. Não precisei bater para entrar justamente pelo fato de Marco não estar lá dentro. A primeira coisa que senti foi frio. O ar condicionado do estúdio se assemelhava as noites de inverno da cidade, o que me causou um arrepio de choque térmico. Quatro dos cinco meninos estavam naquela primeira parte, onde um sofá marrom e confortável descansava no canto. Um painel com milhares de botões, teclas e derivados controlavam o ritmo, tom e outras centenas de coisas que, mesmo que tentasse, não conseguiria entender.
   De frente para este painel, Zayn e Louis brincavam com os botões, fingindo saber o que estavam fazendo. Liam girava em uma poltrona com rodinhas e Niall bebia água no fundo da sala. Na frente do painel, um vidro espesso nos separava do verdadeiro estúdio de gravação, onde Harry escutava algo em headphones gigantescos e balançava a cabeça pra frente e pra trás. O primeiro menino a me notar foi Zayn, que sorriu com a língua entre os dentes. Os outros três só me encontraram quando a porta bateu atrás de mim.
  - Oi, crianças! – Se Paul era a babá, eles eram suas crianças.
  - Babe. – Zayn se arrastou ainda em cima da cadeira, segurando a minha mão e me puxando para o seu colo. – Você não disse que viria!
  - Eu achei que Liam fosse avisar vocês. – Acariciei sua nuca com as unhas, fazendo-o inclinar o rosto para cima até encontrar os meus lábios com os seus.
  - Eu quis fazer uma surpresa, ué! – Li se defendeu, levantado da poltrona para vir me cumprimentar. Apesar da sua boa intenção, estava tonto demais para dar dois passos antes de cair no sofá marrom.
  - Oi, ! – Niall ocupo o lugar do amigo, apenas sorrindo.
  - Sup? – Lou fez um símbolo gangster com os dedos, causando risadas em Zayn. Assoprei um beijo para meu irmão e olhei para o que faltava.
  - Porque Haz está acenando como um louco? – Perguntei enquanto o menino apontava para a própria boca e depois balançava os braços no ar.
  - Ah, é! – Ainda comigo em seu colo, Zayn voltou para perto do painel e apertou uma tecla que ficou vermelha com seu toque.
  - OI, ! – Harry me cumprimentou assim que seu microfone foi aberto.
  - Oi, cupcake! – Mandei beijo pra ele também. – O que vocês estão aprontando? Achei que o novo álbum já estivesse pronto...
  - Demos os toques finais hoje. – Liam desistiu de andar e deitou de vez no sofá. – Então já está prontinho pra ir as lojas mês que vem.
  - Tenho certeza que vai estar perfeito, aliás.
  - Sua cópia já está na minha mochila. – Lou comentou entediado. Sim, eu insistira muito em escutar o CD antes do lançamento.
  - Obrigada, boo! – Fiz uma espécie de dancinha animada. – O que Harry está fazendo ali dentro, então?
  - Estamos brincando um pouco... – Zayn deu de ombros, como se não tivesse importância. – Tem algumas músicas que nós gostamos muito, mas os empresários não quiseram colocar nesse álbum...
  - Falaram que seria mudar o estilo demais. – Niall completou, cabisbaixo. – Só que não entendem que esse é o nosso estilo.
  - Posso escutar? – Mordi o lábio.
  - S-O-M-L? – Lou perguntou a Zayn, que assentiu. – Em seguida, pegou um microfone e falou com Harry. – Story Of My Life, Hazza. Pode ser?
  - Tô preparado. – O de cabelos cacheados fez que sim com a cabeça e arrumou os headphones sobre a orelha.
   Os dois meninos ao painel começaram a mexer nos botões e mudaram configurações no quadro digital. Logo uma música a base de violão encheu a sala. Era realmente algo diferente do que eu já escutara antes, vindo dos meninos... Mas parecia certo. Era aquilo que eu sentia em seu futuro, mesmo que isso não fizesse tanto sentido naquele momento. Todos os olhares pareciam estar em mim, como se quisessem saber a minha reação. Algo me dizia que eu era a primeira pessoa “de fora” a escutar aquele som. Harry começou, com a voz gravada de Liam vindo logo depois:

  
Written in these walls are the stories that I can't explain.
  I leave my heart open, but it stays right here empty for days.

     She told me in the morning she don't feel the same about us in her bones.
  It seems to me that when I die, these words will be written on my stone.
  

+++

  - Como foi a procura de vocês pelo local da festa? – Dani, que acabara de chegar ao flat de Zayn, sentou ao lado de seu namorado no sofá de dois lugares; paralelo ao em que eu e meu próprio namorado descansávamos.
  - Foi melhor do que esperávamos. – Comecei, recebendo um balanço de cabeça positivo de Liam. Zayn mexia em meus cabelos com a mão do braço que envolvia meus ombros. – Kendra, a moça que nos atendeu no Claridge’s foi muito simpática. Nos mostrou vários salões e quartos, caso quiséssemos algo menor.
  - Você fala como se fosse sua festa também. – O moreno mais próximo riu.
  - Tinha que ver ela conversando com a organizadora de eventos! – Liam o imitou. – “Eu quero isso, eu quero aquilo, eu não gosto disso...”
  - Leeyum! – Cruzei os braços. – Você disse que não se importou!
  - Só estou brincando, chatinha. – Piscou, entrelaçando os dedos aos de Danielle. – Você deu várias idéias bem legais. Não sei o que faria sem a sua ajuda.
  - Assim está melhor. – Desfiz a cara amarrada. Estava sendo legal, passarmos aquele tempo em casais. Desde que e Niall tiveram fim, não pudemos mais ter encontros duplos até lembrar que Liam tinha uma namorada.
  - É o mesmo hotel onde Louis teve o último aniversário? – Danielle questionou. – Sei que não fui convidada... Mas vi as fotos e parecia um bom lugar.
  - Você não foi convidada porque eu ainda não te conhecia. – Li rolou os olhos, dramático. – E não é. Bem que tentamos, né, ?
  - A gente ligou pro Manor, tentando agendar uma visita, mas estavam com todos os salões reservados. – Completei o pensamento. – Demos sorte de ter achado o Claridge’s.
  - Já passei na frente desse hotel e está sempre muito cheio. – Zayn possuía um tom preocupado.
  - Não se preocupe, eles trabalham com discrição total. Ninguém vai ficar sabendo. – Li o tranqüilizou.
  - Sua mãe e suas irmãs vem também, Li? – Dani.
  - Minha mãe, eu não sei. Mas Nic e Ruth com certeza!
   Tudo estava encaminhado. O local da festa fora decidido e reservado, assim como a decoração e o DJ contratado. Liam e eu não tivemos que nos preocupar muito com esses detalhes menores, pois a organizadora Kendra tinha vários pacotes flexíveis que já incluíam todas essas coisinhas que podem ser chatas e difíceis de decidir. Estávamos todos bem ansiosos para esta festa de aniversário de vinte anos de Liam e a aproveitaríamos até o Sol nascer. A única coisa que ainda faltava era a lista de convidados, mas isso seria fácil de resolver.
  - Ai, meu Deus! – Dani sentou ereta, com as mãos na lateral do rosto.
  - O que houve, Dan? – O namorado a perguntou, preocupado assim como o resto de nós.
  - Eu não tenho nada pra usar! – Reclamou, me encarando como se pedisse ajuda.
  - Posso te ajudar com isso, fique calma! – Os meninos se entreolharam tediosamente, mas, por ser uma garota, eu a compreendia. – Podemos ir procurar alguma coisa na Oxford. Conheço lojas bem legais.
  - Ah, ainda bem! – Respirou fundo, sorrindo aliviada. – Obrigada, .
  - Por falar nisso... – Zayn se desencostou do sofá. Como estava apoiada nele, fui obrigada a fazer o mesmo. – Pode vir comigo um instante?
  - Claro... – Aceitei a intimação um pouco tensa por não saber do que se tratava.
  - Se querem ficar sozinhos, é só pedir! – Liam provocou. Em seguida, o interfone da cozinha começou a tocar.
  - Acho que é a comida. – Zayn segurou a minha mão casualmente quando ambos estávamos de pé. – Pode cuidar disso?
   Dito e feito. Liam prontamente correu na direção do cômodo de onde vinha o som, sendo até mais rápido que Zayn e eu ao atravessar a sala. Dani não se importou em ficar sozinha ali, logo se levantando e indo espiar a vista do lado de fora da janela. O céu estava escuro como a noite, então as luzes das ruas e prédios foram acesas, transformando o horizonte em algo realmente lindo de se observar. Já mais calma pelos carinhos que recebia nas costas da mão, segui o dono do flat pelo corredor até que ele abriu a porta do quarto principal e me deixou entrar primeiro.
   Brincalhona, esperei-o fechar a porta para nos dar privacidade e me atirei contra os seus braços. O menino sorriu e segurou na lateral do meu quadril, não demorando nada para encostar os lábios aos meus. Tudo bem que Liam estava brincando ao insinuar que queríamos ficar sozinhos por motivos nada inocentes, mas aquele terminou sendo o caso. Com os braços em volta de seu pescoço, dei continuidade ao que começara como um simples pressionar de lábios. A língua de Zayn escorregou pelo meu inferior, fazendo seu caminho para dentro até se chocar contra a minha própria. Deitei a cabeça para um lado e ele fez o mesmo para o outro, puxando-me cada vez mais pra perto.
  - Liam estava certo... Deveríamos ter pedido pra ficar sozinhos. – Ri baixo, ainda com o rosto próximo ao dele, assim que interrompemos o beijo.
  - Não foi pra isso que te chamei aqui, mas admito ser uma boa idéia. – Beijou a minha bochecha com um sorriso torto.
  - O que é, então? – Coloquei as mãos no bolso único do sweater que ia de um lado até o outro, encontrando-as no meio. Zayn não perdeu aquele sorriso até se ajoelhar próximo à cama.
  - Eu disse que tinha ago pra você usar na festa de aniversário. – Tateou o espaço embaixo do móvel e seu sorriso aumentou ao encontrar o que procurava. – Ahá!
  - É um presente?! – Pulei sem sair do lugar, encontrando a caixa de tamanho médio em preto com o logo da Chanel no topo.
   - Acho que vai gostar. – Sentou na cama, me convidando para fazer o mesmo ao seu lado.
  - Eu poderia dizer que não precisava ter feito isso, mas é Chanel, então... Obrigada! – Ri, me acomodando de lado na cama.
   Tirei a fita de cetim branco que mantinha a caixa fechada e a deixei de lado, assim como a tampa. O papel fino que protegia o conteúdo também se foi, deixando apenas aquele tecido vermelho sangue dobrado perfeitamente. Eu reconhecia aquele vestido vermelho. Era o mesmo que me apaixonara em Los Angeles, na loja daquela mesma marca. Mesmos detalhes, mesmos acabamentos, mesmo tamanho... Zayn me olhava como se estudasse a minha reação e ao mesmo tempo estivesse orgulhoso de si mesmo, por me fazer aquela surpresa. Tive que sorrir. Por um lado, senti uma pontada no estômago por recordar o motivo que me impedira de comprá-lo. Apesar disso... O menino fora tão atencioso em lembrar o quanto eu gostei da peça que foi impossível sentir outra coisa que não fosse gratidão.
  - Você voltou à loja? – Estendi o vestido na minha frente, vendo-o balançar.
  - Eu sei que você o queria e não pode comprar porque precisamos voltar para o hotel. – Deu de ombros, diminuindo o seu feito. – Agora já tem o que usar no sábado.
  - Tenho mesmo. – Suspirei nervosa, o que disfarcei com um sorriso. – Obrigada, baby.
  - Sem chances de pedir pra provar ele pra mim agora? – Fez bico, pidão.
  - Poderia tentar, mas a resposta seria a mesma. – Ri, inclinando em sua direção e beijando seu bico com ternura. – Nossos amigos estão lá fora. Não seria legal demorarmos aqui... Podem pensar coisas.
  - Chatinha. – Cerrou os olhos enquanto eu guardava o vestido de volta à caixa.
  - Até você, Zen? – Rolei os olhos. O apelido “chatinha” não podia pegar!
   Rindo, Zayn me seguiu para fora do quarto, onde meu presente descansava seguramente em cima da cama. A passagem pelo corredor também foi rápida, pois o menino estava com fome e a voz que escutamos ao abrir a porta do quarto queria dizer que, no interfone, realmente era a entrega de comida chinesa que chegara ao prédio. Entramos pelo arco da sala de jantar conjunta à cozinha, mas o casal não estava ali. Saímos em direção à sala de estar e novamente não encontramos nossos amigos.
  - Eles foram embora? – Não me esperava mais e começou a revirar as almofadas do sofá como se pudesse encontrar Liam e Danielle por ali.
  - Babe... – Cruzei os braços, assistindo-o.
  - E levaram o nosso jantar! – Passou para espiar entre as cortinas. – Vamos morrer de fome, ! Não tem nada aqui, porque não fomos ao supermercado!
  - Babe! – Rolei os olhos, me apoiando ao corrimão da escada inclinada que levaria ao terraço.
  - Nós vamos morrer! – Fez careta, seriamente desesperado.
  - Ou, talvez... Eles estejam lá em cima. – Ironizei, ainda que estivesse me divertindo com aquele ataque do menino.
  - Eu sabia disso. – Parou por uns segundos, analisando minha descoberta. Em seguida, me seguiu.
   Rolei os olhos por ter certeza que Zayn não sabia de coisa nenhuma, mas o deixei pensar que me enganava. No meio da escada, já sentia a brisa fria vindo da área ao ar livre do apartamento, assim como escutei as risadas de Liam e Danielle. O tapa brincalhão que recebi em minha bunda me fez gargalhar pelo susto e me apressei a chegar até a estufa de vidro com plantas bem cuidadas. Do lado de fora, o casal esticara um cobertor fofo e montara uma espécie de piquenique a luz das estrelas. Quero dizer, fazendo de conta que podíamos ver alguma estrela no céu nublado de Londres. Duas caixas de comida chinesa aguardavam fechadas por mim e o menino que me acompanhava, assim como nossas latinhas de refrigerante e hachis.
  - Achei que não viriam mais! – Dani bateu no espaço ao seu lado, me convidando.
  - Zayn teve um pequeno ataque lá embaixo, mas conseguimos subir. – Ri, olhando meu namorado estirar a língua de soslaio.
  - Não sei do que estão falando. – Deu de ombros, sentando-se na minha frente e ao lado de Li.
  - Claro que não! – Alfinetei com ironia mais uma vez e o garoto só sorriu.
  - Podemos começar a comer? – Liam interrompeu. – Estou com fome e Dani não me deixou começar sem vocês...
  - Pelo menos a sua namorada tem modos! – A abracei de lado enquanto estalava os dedos formando a letra “Z” no ar.
  - Hm... Isso está delicioso... – Zayn, por outro lado, já atacava seu jantar, desligado de tudo a sua volta.
   Com a iniciativa do dono da casa e anfitrião, cada um abriu a sua própria caixinha e começou a comer. Dani tinha tanta habilidade com os hachis que fiquei com vergonha. Ao menos Zayn e Liam eram tão desengonçados quanto eu. Depois de muitas tentativas, consegui arrumar os pauzinhos com o dedo indicador e polegar, segurando um pedaço de frango no meio de fios de Yakissoba. A noite estava linda, sem chuva, e o clima frio de outono se instalara oficialmente. Ainda mais por estarmos no topo de um prédio de mais de vinte andares, a brisa varria todo o terraço, bagunçando meus cabelos e tornando a refeição mais complicada que já seria normalmente.
  - Começamos a fazer a lista de convidados, . – Liam tirou o celular do bolso, mexeu em alguns botões e o passou pra mim.
  - A parte mais divertida! Deixa eu ver... – Pousei minha caixinha no lençol onde sentávamos e observei os poucos nomes na tela digital. – Danielle, Zayn... Eu sou a terceira?
  - O que? – Li quase engasgou.
  - Dani é sua namorada, então tudo bem... Mas eu sou a terceira?
  - Zayn é meu namorado! – O aniversariante se defendeu.
  - Awwwwn. – Zayn olhou para o menino com um sorriso angelical; quase gay.
  - Idiotas. – Balancei a cabeça negativamente. Os deixei de lado para digitar mais nomes na lista além dos que já estavam ali. – Tom, Danny, Dougie e Harry, cada um “mais um”. e Liv já estão aqui... Babe, vai chamar as suas irmãs?
  - Pra elas ficarem em cima de mim? Não mesmo! – Respondeu de boca cheia.
  - É uma festa, Z. Duvido que fiquem em cima de você. – Dani ficou do meu lado.
  - Eu vou pensar! – Cortou o assunto.
  - Já as coloquei na lista. – Anunciei após digitar.
  - Posso chamar alguns amigos? – Danielle pediu ao dono da festa. – Da minha equipe de dança...
  - Claro que pode, Dans. Faça como a , finja que a festa é sua. – Tenho quase certeza que aquilo era um insulto, mas não o recebi assim.
  - Obrigada! , coloca aí Sara, Emily e Josh, por favor?
  - Josh? Meu Josh? Se for, eu já coloquei... – Mostrei-a a lista após adicionar os nomes das garotas.
  - Oh, é! Às vezes eu esqueço que vocês são amigos. – A compreendia, pois eu mesma tendia a esquecer aquele detalhe. – Você sabe se ele está doente? Não o vi no ensaio hoje de manhã...
  - Ele me disse que não tinha ensaio! Eu o vi sim... A criatura apareceu na Academy hoje. O ensinei alguns passos de ballet e depois ele me levou pra almoçar. – Comentei naturalmente, notando o semblante de Zayn endurecer.
  - Hey, bro... – O moreno comentou com Liam exageradamente insinuante. – Sabe aquilo que estávamos conversando ontem? Sobre contratar strippers para a festa? Mudei de idéia. Acho que devemos fazer isso.
  - Eu realmente não sei do que você está falando... – Liam olhava Zayn como se o achasse maluco.
  - Obrigado por seguir a minha deixa. – O primeiro bufou.
  - Boa tentativa, Malik.

    

Chapter XXXVI

A quinta-feira prometia ser um dia cheio pra mim. De manhã tive aula na Academy e no fim todos estavam suados e sem ar; o que me causou um sentimento tremendo de satisfação, mas isso não vem ao caso. Uma vez em casa, passei um tempo com Louis, e Harry – pois eram os únicos lá – até o momento em que me ligaram do escritório da Mulberry. Supostamente estavam passando por um desafio e precisavam da minha ajuda. Não sei bem o que quiseram dizer com isso, mas quem era eu pra negar ajuda, não é? Carine não estava na cidade, mas ainda assim pediu para me chamarem.
   Mal tive tempo de tomar um banho rápido e jogar roupas quentes por cima do corpo quase molhado. Choveu o dia inteiro. Não que seja alguma novidade ou que eu esteja reclamando, claro. Por problemas de memória (esquecer de colocar gasolina), não pude ir com o meu carro para o encontro, então Lou me emprestou o Range preto. Por ser mais novo e mais potente, cheguei no meu destino mais rápido do que pretendia, o que foi algo bom, já que o elevador demorou mais que tudo pra subir até a cobertura.
   Uma vez no escritório, passei direto pela secretária conhecida e simpática e um funcionário novo abriu a porta branca pra que eu encontrasse a verdadeira bagunça. Diferente dos dias de desfile ou ensaios fotográficos, não era com roupas ou equipamentos digitais que as pessoas passavam para lá e para cá. O segundo rosto conhecido que avistei no escritório foi o de Rachel. Ela levava uma caixa de papelão para cima de uma mesa branca comprida colocada no canto daquele mesmo cômodo. Também sobre a mesa estavam potes, bandejas e uma batedeira com um conteúdo cor de rosa.
  - , você chegou! – A madrasta entregou o que carregava para outra funcionária e correu até onde eu estava como uma criancinha que acabara de comer muito doce. – Oi! Lux, olha quem chegou!
  - O que está acontecendo aqui? – Ri ao abraçá-la. – A Models One foi transformada em uma padaria?
  - ! – Uma cabecinha loira correu no mesmo ritmo da mãe e abraçou as minhas pernas com força. – Qué bolo?!
  - Lux-face! – A peguei pelos bracinhos e a apoiei em meu colo, mordendo sua bochecha. – Você fez bolo?
  - Aham! – Afirmou com um balanço de cabeça e um sorriso maior que ela mesma.
  - Estamos participando do Bake-Off anual da revista Elle. A Mulb está concorrendo com as outras marcas! – Sua mãe explicou. – Foi idéia da Luella fazermos uma torta de amoras!
  - Por isso me chamaram aqui? – Lux tirou o meu chapéu e colocou sobre a própria cabeça, mas não me importei.
  - Esse foi um dos motivos. Precisamos da sua ajuda pra decorar os cupcakes... Mas, primeiro, tem alguém te esperando na sala de reuniões.
  - Carine voltou de viagem? – Arqueei as sobrancelhas, estranhando.
  - Não é a Carine, boba. É sua publicista. – Rolou os olhos ao esticar os braços pra tirar Lux dos meus braços. – Vem, porquinha.
  - Não! – Agarrou meu pescoço com tanta força que me fez tossir. – Quero a .
  - Pode deixar ela comigo. – Fiz careta ao ter que puxar o ar pra respirar. – Lux vai se comportar, não é, pequenina?
  - Vou sim... – Olhou a mãe com olhar pidão, ainda que não convencesse nem a si mesma.
  - Tudo bem. Mas eu vou estar bem aqui! – Bagunçou a franja loira de Lux e nos liberou.
   Esperneando para ir ao chão, minha irmã mais nova se soltou dos meus braços, mas manteve a mão presa a minha, temendo que a mãe a obrigasse a ficar com ela. Todos naquele escritório conheciam a menina até mais do que me conheciam, por isso a mimavam e não se importavam com suas correrias pra cima e pra baixo. Por esse motivo, deduzi que o que a fizera querer ficar comigo e não bagunçando por aí era a saudade que sentíamos uma da outra. A deixei guiar o caminho como se soubesse exatamente pra onde deveríamos ir, imitando uma pequena adulta.
   Por baixo da porta, vi a luz acesa na sala de reuniões que já estava acostumada a passar horas com Carine e os outros da equipe da Mulberry e Models One. Lux ficou na ponta dos pés para abri-la e se soltou da minha mão para correr até uma das cadeiras altas e grandes demais pra ela, onde começou a brincar. Fechei a porta atrás de mim para que Rach não a descobrisse a tempo de ver Alexia desligar uma ligação que parecia importante. Não devia ser a sua única cliente, mas senti que tinha algo a ver com aquilo.
   Na última vez que nos falamos, a mulher conseguira pra mim um photoshoot na revista Glamour... Sinceramente não sabia o que esperar daquela conversa que iríamos ter. A morena elegante me abraçou e deixou beijinhos em minhas bochechas. Em seguida, riu para a pequenina que nos olhava sem entender quase nada. Indicou duas cadeiras próximas uma a outra e ocupou a própria.
  - Então, ! Como está tudo? – Começou como se fossemos duas amigas se encontrando para um chá.
  - Muito bem, obrigada... – Sorri para espantar o nervosismo. – A revista teve uma recepção muito boa, então fiquei muito feliz! Obrigada por isso, aliás.
  - É só o meu trabalho, não tem que agradecer! Mas de nada.
  - Você está fazendo o seu trabalho muito bem, então! – Me encostei na cadeira e espiei Lux, que logo ficaria entediada. – Conhece a minha princesa?
  - A conheci lá fora! Ela é a sua cara. Vocês tem os mesmos olhos. – Lexy acenou para a criança, que mordia o dedo.
  - Lux é meu orgulho. – Me gabei, tirando da bolsa o iPad e abrindo algum aplicativo que pudesse distrair a menor. – Mas eu presumo que não foi pra colocar o papo em dia que me chamou aqui.
  - Digamos que tenho algumas novidades... – Sorriu de lado, entrelaçando os dedos. Fiquei atenta, deixando-a a falar o que quisesse sem interromper. – Como você deve saber, a temporada de semanas de moda estão começando agora... E Carine já está em New York, preparando os últimos detalhes para o desfile de lançamento da Mulberry na América, junto com a designer.
  - Emma está lá também? Achei que ela só ia semana que vem... – Comentei.
  - As duas foram juntas, na verdade. Só falta você. – Como se contasse uma piada que eu não sabia que estava ouvindo, soltou uma risadinha.
  - Só falta eu o que?
  - Em New York, ! – Me balançou pelos ombros. – Carine me ligou hoje de manhã, desesperada! Ela precisa de você lá.
  - Eu? Na fashion week de New York?! – Pulei na cadeira. Lexy riu com a minha animação e não dei a mínima.
  - E a Mulberry está disposta a cobrir todas as suas despesas e burocracia de viagem. Como você esteve em Los Angeles em Julho, assumo que tenha passaporte, certo?
  - Sim, é claro! Mas meu visto espirou... Eu usei o que ganhei por causa da banda, por isso não tive problema.
  - Cuidarei disso pra você. Também cuidarei da sua passagem e hotel...
  - Parece perfeito! Quando viajo?
  - Essa é a parte complicada. – Deu uma pausa, pegando a sua agenda dentro da bolsa. – O desfile é esse sábado... Então você teria que ir amanhã. E voltaria na segunda, pra não perder dias de aula.
  - Amanhã?! – Por Deus, eu só descobria que ia viajar um dia antes da tal viagem? Era uma nova tradição? Primeiro Los Angeles e agora Nova York? Foi aí que algo me ocorreu. – Espera, o desfile é no sábado? Droga!
  - O que há de errado? – Sua animação foi de 80 a 8 em um segundo.
  - Tenho um compromisso muito importante no sábado... – O aniversário de Liam! Mas, como aquele não seria um motivo tão importante assim para a minha publicista, omiti esse detalhe. – Não acredito nisso...
  - Não diga não agora, ... Pense um pouco. Esse convite não aparece duas vezes. – Riscou algo na agenda.
  - Claro que vou pensar! Só tenho que falar com algumas pessoas primeiro... Posso te dar uma resposta mais tarde?
  - Até as dez horas? – Questionou e assenti. – Porque ainda preciso desse tempo pra reservar sua passagem e hospedagem...
  - Pode deixar, Lexy! Obrigada.

+++

  - Baby? Cheguei!
   Fechei a porta e a tranquei depois de ter entrado. Deixei a minha chave com o chaveiro divertido por ali mesmo e tirei os sapatos. Estava em casa, então deveria me sentir confortável, não? Desci os degraus com pulinhos, esperando alguém aparecer para me receber. A noite caíra e a luz da sala estava acesa, o que indicava que Zayn ainda não fora dormir. Ele podia não saber da minha visita àquela noite, mas nem mesmo o dorminhoco dormiria tão cedo.
   A verdade é que eu tinha planejado passar a note com Harry, Louis e Liam em casa, como nos velhos tempos. Mas certa proposta que recebi da minha publicista me fez mudar de idéia. Eu precisava conversar com aquela pessoa que iria me aconselhar da melhor forma e me apoiar em qualquer decisão que eu viesse a tomar. Tinha prometido para Li e todos os nossos amigos que estaria na sua festa de aniversário no próximo sábado, tanto é que participara de cada etapa para a organização da mesma. Sem contar com o fato de que verdadeiramente queria comparecer. Entretanto, o que Lexy falara ficou ecoando na minha mente. Viajar para New York com tudo pago era um convite que não aparecia duas vezes...
   Ainda sem encontrar o morador do flat na sala ou cozinha, passei pelo corredor. Primeiro olhei no quarto de jogos e ele estava vazio. A segunda opção era o estúdio de grafite, mas o som que escutei vindo do quarto de Zayn mudou meu percurso. Era a voz de uma mulher. Ou duas... Três? Abri a porta assim que meus dedos tocaram a maçaneta. O moreno realmente estava ali dentro; deitado na cama e ocupando todo o espaço.
  - Eu sabia que tinha escutado alguma coisa! – Sorriu surpreso e não se levantou. Ao invés disso, abriu espaço na cama.
  - E eu estou aliviada por não ter mais ninguém aqui com você. – Ri, encarando a televisão recém instalada na parede em frente à cama. Tirei o chapéu e o cachecol, deixando tudo na mesinha de cabeceira antes de pular para a cama. – Pelo visto, as televisões da sala e do quarto de jogos não eram suficientes...
  - Às vezes eu fico entediado aqui... – Deu de ombros, abraçando minha cintura e me puxando para cima de si.
  - Ah, é? – Ergui a sobrancelha direita, acomodando-me sobre o corpo do outro. – Só espero que eu não seja a culpada disso.
  - Deixe-me corrigir... – Riu, beijando o meu queixo. Deslizou até a minha orelha e mordiscou. – Fico entediado quando você não está aqui.
  - Assim está melhor. – Fechei os olhos, me segurando para não me render àquelas provocações.
  - Não precisaria de nenhuma TV se você morasse aqui. – Fitou meus olhos azuis, denunciando sua tentativa de me persuadir.
  - Continue tentando. – Segurei seu rosto pelas laterais e juntei nossos lábios em um beijo rápido. Sentei-me sobre seu quadril, com uma perna de cada lado. – Como foi o seu dia, sweetie?
  - Great! – Arrumou o travesseiro abaixo da cabeça e segurou as minhas mãos, brincando com os dedos. – Assistimos o vídeo clipe de Kiss You hoje. Vai ser lançado na terça-feira!
  - Isso é ótimo! Tenho certeza que está perfeito. – Assim que minhas mãos foram liberadas porque as dele seguraram as minhas coxas, distraí-me com a barra da camisa que Zayn vestia. – O CD todo está incrível. Só senti falta de alguma música com o estilo de SOML.
  - Talvez no próximo. – Segurou minha mão direita mais uma vez, arrastando-a até os lábios, pressionando-os contra os nós dos meus dedos. – E como foi o seu dia, babe?
  - Eu vi a Lux! E passei a tarde enfeitando cupcakes com bolsas de biscuit na Models One. – Contei com um sorriso, quase chegando na parte divertida.
  - Por isso você está cheirando a morango? – Sentou, apertando os braços na minha costela e cheirando o meu pescoço.
  - Isso é um perfume novo. – Ri com o arrepio que nasceu daquele carinho. – Baby, tem mais!
  - Mais que um perfume novo? – Voltou a me olhar. – Tem algo novo aqui por baixo também?
  - Malik! – Bati em sua mão quando tentou espiar embaixo do meu sweater. – É sério!
  - Tudo bem! Desculpa! – Rendeu-se, erguendo as mãos. – Pode contar.
  - Eu falei com Lexy hoje... E querem que eu vá pra NY. – Mordi a unha do polegar, esperando a reação do outro.
  - Fazer o que?! – Seu sorriso não desapareceu.
  - Assistir ao desfile da Mulberry na Fashion Week, ajudar Carine, fazer algumas entrevistas... Essas coisas. – Deixei as mãos sobre seus ombros.
  - Parece ótimo! Quando? – Vi em seu rosto a mudança de “minha namorada vai para NY!” para “minha namorada vai para NY...”.
  - Amanhã... – Chegamos na parte complicada.
  - Mas o aniversário do Liam é sábado... E poderíamos ficar juntos lá. Juntos, juntos. Como um casal. – Seu resmungo não foi tão adorável quando gostaria.
  - Eu sei disso...
  - Você não está pensando em aceitar o convite, está? – O tom de julgamento me fez deslizar de volta para a cama e sair do seu colo.
  - Na verdade, eu estou sim. – Me vi na defensiva. Aquela conversa estava tomando um caminho totalmente diferente do esperado. – Eu sei que é um dia importante e eu gostaria que essa viagem pudesse ser em outro dia, mas-
  - Não acredito que você está sendo tão egoísta! – Acusou, se colocando de pé. – Você sabe o quanto estávamos esperando por isso.
  - EU estou sendo egoísta? – Fiz o mesmo que ele, deixando a cama entre nós dois. – Você percebeu que ultimamente eu tenho feito de tudo pra seguir a sua agenda? Pra te seguir? Seja em entrevistas de rádio ou Photoshoots... Quando eu fiz algo além de dar apoio? Todos esses meses, tudo tem sido sobre você! E sim, eu não podia estar mais orgulhosa. Mas agora que eu achei algo que eu realmente gosto... EU estou sendo egoísta?
  - Sim, você está. – Zayn mal se mexia, me escutando colocar tudo pra fora. – Porque essa é uma das poucas chances que podemos estar juntos sem ninguém reclamar!
  - Você consegue se ouvir?! – Passei as mãos pelos cabelos, exasperada. Era isso. Eu não queria mais ficar ali.
  - Onde você está indo? – Exigiu assim que me lancei para a porta.
  - Estou indo pra casa. Onde eu não poderia ir se morasse aqui! – Acusei.
  - Típico. Você só vai fugir. – Riu sem humor.
  - Eu vou fazer as malas.
   Esperando causar impacto, mas pensando em apenas sair de lá, bati a porta do quarto ao sair. Não me surpreendi quando Zayn não veio atrás de mim. Nossa conversa me pegou de surpresa completamente, pois esperava que ele me apoiasse da mesma forma que eu fazia com ele. Um dos motivos que mais incomodava era o fato de ser apenas um aniversário! Nem mesmo a data era a certa, pelo amor dos deuses! Só torcia pra que Zayn voltasse à realidade e percebesse o que havia feito. Passei bufando pelo corredor, agarrando as minhas coisas perto da porta e abrindo-a para sair do apartamento.
   Era melhor não pensar em todas as coisas que eu fizera ou deixara de fazer por causa daquele garoto que me chamara de egoísta na cara dura. Eu faltara a audição para o último espetáculo da Academy que eu poderia participar! Era o meu último período e ainda assim eu deliberadamente faltara incontáveis dias de aula só pra estar ao lado de Zayn quando ele precisava! E agora que eu tinha a oportunidade de conhecer uma cidade tão linda como New York, ele reagira negativamente.
   Uma vez do lado de fora, me joguei no chão para calçar mais uma vez os sapatos enquanto esperava o elevador subir até aquele andar. Resmunguei com raiva por aquela ter se tornado uma tarefa quase impossível de se fazer e acabei vencendo a briga no final das contas. Bem a tempo de engatinhar para dentro do elevador com a alça da bolsa presa entre meus dentes, peguei o celular no bolso e procurei o número de Lexy. Lembrando que existiam câmeras ali dentro, me coloquei de pé.
  - Lexy? – Prendi o celular na orelha enquanto arrumava as roupas no lugar.
  - Oi, ! Tem a minha resposta? – A mulher parecia sorridente.
  - Pode avisar a Carine que eu vou.
  - Uh, parece decidida... Mas eu já sabia que aceitaria. – Riu, sem perceber que eu estava irritada e não “decidida”. – Estou com a sua passagem reservada! Car separou algumas coisas pra você levar na viagem. Continuo na Models One, poderia passar aqui pra buscar?
  - Estou bem perto... Chego aí em cinco minutos.

+++

  Minha parte preferida de trabalhar para a Mulberry era a quantidade de roupas que eu ganhava da marca em si e de outras amigas e aliadas, mas aquilo já era ridículo! As seis sacolas pesadas e de tamanhos diferentes equilibradas em meus braços continham mais do que o que eu precisaria na minha viagem de três dias! Também ganhei uma mala muito fofa e pratica para levar aquilo tudo; a qual eu arrastava com dificuldade pela escada de casa. Não encontrei nenhum dos meninos na sala, por isso fiquei sozinha com aquele trabalho árduo.
   Apesar de ter ganhado diversos presentes incríveis, meu humor não estava lá tão leve assim para que eu deixasse as sacolas delicadamente sobre a cama. Ou seja, larguei tudo no chão de qualquer jeito, bufando por estar livre daquele peso todo. Creio que o barulho das coisas caindo acordou o cachorro que dormia tranqüilo embaixo da cama. A cabeça de apareceu embaixo do lençol que encostava o chão e acabei sorrindo.
  - Hey, Bo. – Falei com o cachorro, sentando no chão para que ele viesse até o meu colo. – Desculpa te acordar.
   O pequeno gigante bocejou e agachou para sair do seu esconderijo, caminhando preguiçosamente até sentar na minha frente. Nossas alturas estavam praticamente igualadas, já que o filhote de onze meses crescia diariamente. Fiz carinho atrás de sua orelha, obrigando-o a fechar os olhos com calma e balançar o longo rabo. Passei a acariciar o seu pescoço branco e olhou para a minha mala, entendendo o que aquilo significava.
  - Awn, não faz essa cara! Mummy vai viajar, mas volta logo. – Fiz bico, desejando poder levá-lo na bolsa de mão. Recebi uma lambida na bochecha e fiz careta. – Também vou sentir sua falta, bobão.
   Puxei-o para um abraço e ele espirrou por causa do meu perfume. Balancei a cabeça negativamente e finalmente o larguei, deixando-o deitar no pé da cama para descansar mais uma vez. “Desde quando você é tão mole?” Em outra ocasião ele teria, literalmente, fuçado em todas as minhas coisas até achar ago que poderia virar brinquedo. “Patch pode dormir agora, mas eu não!” Tirei os sapatos antes de levantar, assim como o casaco. O quarto já estava uma bagunça mesmo. Uma peça de roupa a mais no chão não faria diferença alguma.
   Tirei a mala de viagem nova e a abri em cima da cama, ficando chocada com todo o espaço e divisões dentro dela. Eu precisava colocar ali tudo que iria levar para New York, mas sentia no fundo da alma que não era uma boa idéia fazê-lo sozinha. Acabaria esquecendo uma coisa ou outra. Pensei em chamar , mas ela demoraria demais pra chegar. Em casa, o mais propenso a ajudar era Harry, por incrível que pareça. Dei as costas à cama, ficando de frente para porta do outro lado do corredor, agora com uma mascara do Batman presa por um prego. Liam...
   Seis passos foi só o que precisei para alcançar a maçaneta da porta e girar com cuidado. Pra que bater, né? O interior estava escuro, a não ser pela luz das estrelas fluorescentes coladas no teto. Uma figura deitada na cama se mexeu devagar. Ameacei voltar a trás, mas sua voz sonolenta me impediu.
  - Pode entrar, .
  - Te acordei? – Cochichei, aceitando o convite e voltando a encostar a porta atrás de mim.
  - Acordei com um barulho no corredor... – Bocejou, encostando-se à parede e dando espaço pra mim na cama.
  - É, então eu te acordei. – Ri, não me dando ao trabalho de levantar o cobertor antes de deitar.
  - Não... Foi um barulho zangado. Como se tivessem jogado algo no chão...
  - Fui eu, Liam! – Meus olhos começaram a se acostumar com a pouca claridade. – Estou “zangada”!
  - Você não consegue ficar zangada. – Ele riu, apertando minha bochecha.
  - É porque me acalmou, mas isso não vem ao caso! – Bati em sua mão, o que o fez rir mais ainda.
  - O que houve, então?
  - Eu preciso te contar uma coisa. – Inquieta por não saber mais que tipo de reação receberia, sentei.
  - Precisa de ajuda pra esconder um corpo? – Assonorentado, o menino ficava ainda mais bobo que o normal.
  - Só o seu, se não me deixar falar! – Ameacei e o menino fingiu passar um zíper entre os lábios. – Eu não vou poder ir ao seu aniversário, Li... Desculpa.
  - Hã? Por que não?! – Não chegou a sentar, mas ergueu o tronco e o apoiou com o cotovelo no colchão. – Já enviei os convites!
  - Sei disso, Li, e não quero que cancele nada! É só que... Eu fui convidada pra ir à New York. – Contei a última parte devagar. – E meu vôo é amanhã.
  - New York?! Isso é muito bom, ! – Finalmente sentou na própria cama. – Ahh, você vai amar! Não esqueça de ir no Central Park... Ou no topo do Empire State!
  - Você não está bravo? – Franzi o cenho.
  - Bravo? Claro que não. Estou triste, sim, porque a minha chatinha não vai estar na festa... – Se protegeu de um possível tapa que poderia ganhar por usar aquele apelido, mas não me mexi. – Mas é algo importante pra você! Então estou feliz por isso. E pela caneca do Central Perk que você vai me trazer de presente.
  - Obrigada, Baba! – O abrace pelo pescoço e beijei a sua bochecha com força. – Por que o seu namorado não pode ser assim também?
  - Zayn? Ele não gostou de você ter que viajar? – Esticou o braço até o interruptor na cabeceira da cama e acendeu a luz do teto.
  - Nós brigamos. – Balancei os ombros, tentando parecer indiferente.
  - Tenho certeza que não vão ficar assim por muito tempo. – Apertou meu ombro, carinhoso. – Zayn é super protetor quando se trata de você, . Sabe disso. Ele já fica louco quando não pode ir com você nos eventos aqui em Londres... Imagine quando estiver em outro continente?
  - Espero que tenha razão. – Disse simplesmente, mesmo que na minha cabeça milhões de negações estivessem se formando. Se tudo aquilo era medo de não poder me proteger, pra quê me chamar de egoísta? Me acusar quando só o que fazia era ficar ao lado dele e dos outros? – E tenho mais um favor pra te pedir!
  - Sim, eu te levo ao aeroporto.

Chapter XXXVII

- Você sabe que vai passar sete horas em um avião, não sabe? – me olhou dos pés à cabeça pela terceira vez. – Tudo bem que você diz não sentir dor ao usar salto, mas aí já é exagero.
  - Eu gostaria de viajar de chinelo, mas não esqueça que o avião vai me levar à Nova York. Não posso chegar parecendo uma mendiga! – Não conseguia entender o que havia de tão errado na minha escolha de roupas para aquela jornada.
  - Você está linda, . – Eleanor estava ali também, no segundo andar do Heathrow Airport, onde observávamos a chuva leve bater na parede de vidro que nos permitia ver a pista de pouso e decolagem.
  - Obrigada, El! – A menina podia estar ali por ordem da Modest!, mas eu gostava dela.
  - Não acredito que você está indo mesmo... – A ruiva fez bico.
  - Não estou indo pra guerra! E volto na segunda, então pare de ser boba. – Segurei-a pela lateral do rosto, apertando suas bochechas.
  - Me promete que vai se cuidar? – Como minha mãe estava longe, fazia o seu papel.
  - Você sabe que eu vou me cuidar.
   Prometi, segurando as duas meninas pelos braços. Carinhosamente as arrastei para um banco de três lugares ali perto. Louis e Liam estavam demorando demais pra voltar com a minha passagem e ticket da bagagem que se ofereceram para despachar tão gentilmente. Ainda era cedo – pouco mais de sete e meia da manhã -, então duvido que um grupo muito grande de fãs os tenha parado no meio caminho para pedir fotos e autógrafos. Talvez três ou quatro pessoas, mas nada que justificasse a demora. Eleanor e sentaram-se lado a lado, bem mais “amigas” do que na última vez que se viram, e ocupei a ponta.
  - Por que Zayn não está aqui? – Inocentemente, a morena perguntou baixo para o caso de alguém nos escutar.
  - A gente meio que brigou... – Considerando a prévia vez que contara aquele mesmo ocorrido, me sentia mais calma.
  - Ainda não se falaram? – estava por dentro do assunto.
  - Não desde que eu saí do flat. Zayn é muito orgulhoso pra vir atrás e eu não fiz nada de errado. – Encarei minhas unhas recém pintadas, sabendo no âmago que passara a noite inteira me segurando pra não ligar pra ele.
  - Oh... Tenho certeza que quando você chegar em NY e o seu celular tiver área, vai receber o aviso de uma ligação perdida. – El afagou meu ombro em uma tentativa de consolo.
  - Quem sabe? – Sorri fraco, erguendo o rosto ao escutar uma risada conhecida.
   Liam e Louis andavam lado a lado, rindo de um algo qualquer. Minha mala não estava com eles, então acreditei que era um bom sinal. Eleanor foi a primeira a se levantar, encarando meu irmão, seu “namorado de mentira”. me fitou com uma risadinha e ambas levantamos em seguida. Liam arrumou seu boné de aba reta mais por mania do que por necessidade e terminaram a caminhada ao nosso encontro.
  - Uau, vocês foram rápidos. – Ri, irônica.
  - Tínhamos esperança de fazer você perder o vôo. – O mais alto brincou.
  - Aqui estão os seus documentos, . – Lou me devolveu a pasta onde eu os guardava e logo coloquei tudo dentro da bolsa pra não correr o risco de perder nada. – Que horas você deve embarcar?
  - Acho que... Agora. – Olhei de relance no relógio em meu pulso, sentindo um frio na barriga. – Oh, boy...
  - Você está bem? Parece meio verde... Mudou de idéia? Quer ficar? – me abraçou com força e duvidei até que fosse soltar.
  - Estou ansiosa, só isso. – Deixei minha bolsa cair no banco e a abracei de volta. Será que três dias me fariam sentir falta dela? – Se cuide, ruivinha. Me mantenha informada de tudo, ok?
  - Pode deixar, sweetheart. – Ficou na ponta dos pés para beijar meu rosto. – Me liga quando chegar lá?
  - Prometi a Harry que avisaria a ele, então ele avisa o resto de vocês... – Ri com preguiça de ter que ligar para todos e dizer a mesma coisa. Em seguida, passei a me despedir de Eleanor. – Tchau, El! Não vou esquecer do que pediu.
  - Só se não for muito incômodo... – Me abraçou mais calmamente que a primeira.
  - É claro que não. – Sorri, balançando a cabeça. Eu já traria de volta camisetas de “I ♥ NY” para todos os outros, uma a mais não seria problema.
  - Sabe que se algo acontecer mum me mata por te deixar ir, né? – Louis tinha as mãos enfiadas preguiçosamente no moletom que o protegia do frio.
  - Pela décima vez, nada vai acontecer comigo! – De salto, fiquei ainda mais alta que meu irmão e isso foi mais óbvio quando o abracei pelo pescoço. – E você não “me deixou ir”. Se eu morrer, diga isso a ela.
  - ! – Horrorizada, estava prestes a me acorrentar ao braço do banco e me impedir de subir no avião.
  - Eu cuido dela, não se preocupe. – Beijou a minha testa protetoramente e se referiu a . – Aproveite NY!
  - Não demore pra voltar, chatinha. – Li praticamente me tirou dos braços de Lou para que ele mesmo pudesse me abraçar. – Vamos sentir a sua falta desse lado do planeta.
  - Digo o mesmo! – Dessa vez quem não quis soltar fui eu. – Se divirta amanhã, okay?
  - Não vai ser o mesmo sem você. – Seus olhos castanhos encararam os meus azuis. A última chamada para o meu vôo me fez apressar as coisas.
  - Li... – Comecei, mas parei, sem ter certeza de como falar o que queria.
  - Eu tomarei conta dele. – Leu meus pensamentos.
  - Obrigada. – Abracei-o mais uma vez. – Ok, eu tenho que ir! New York, here I come...

+++

  

  ~Sete horas e meia depois~

  Então era isso. Eu estava em New York, finalmente! Só percebi o quanto estava animada com essa viagem quando o piloto anunciou a permissão para pousar. Dessa vez não fui de primeira classe, mas o avião internacional em si já era tão grande que dormi durante as três últimas horas de viagem. A parte mais chata foi ao pegar a mala e ter que enfrentar uma fila de meia hora pra mostrar o visto e etc. Sorte a minha é que a Mulberry cuidara de toda a burocracia necessária para a minha entrada naquele país e não houve problema algum.
   Eleanor foi simpática o bastante ao dizer que eu teria uma ligação perdida no meu celular assim que pousasse nos EUA, mas a inquietação no meu estômago durante as primeiras horas de vôo pensando sobre aquilo foi terrível. Imagine então a frustração de ligar o celular na área permitida do JFK e encontrar apenas uma mensagem:

  
“Star, porque você não deu sinal de vida ainda?”

  Claro que aquela mensagem desesperada era de ! Ri, apreciando a sua preocupação, mas ainda não era para ela que eu queria dar noticias. Zayn não estaria preocupado também? Ou ao menos com saudade? Aparentemente eu só saberia disso ao voltar para Londres, dali a três dias. “Não adianta ficar pensando sobre isso agora, ...” Aconselhei a mim mesma, sabendo que tinha coisas mais importantes para ocupar a mente naquele momento. Como, por exemplo, encontrar a pessoa indicada a me receber naquele aeroporto. Sem falar que estava na cidade mais agitada do mundo, apenas a horas distante de assistir desfiles da maior Fashion Week. É, meu final de semana seria animado.
   Resolvendo deixar a Europa para trás, guardei o celular no bolso interno da minha bolsa de mão e a pendurei na curva do cotovelo. Por ter pouca bagagem, não me importei em pegar um carrinho para me ajudar a carregar tudo. Diferentemente de mim, várias garotas passavam ao meu lado com malas gigantescas empilhadas umas sobre as outras e seus cachorros em miniatura dentro de bolsas especiais e... Bem, bregas. Teria que me acostumar com aquela cena, pois nem todos têm o mesmo senso de moda; especialmente em uma cidade diversificada como New York.
   De uma forma ou de outra, elas sabiam andar por ali melhor que eu, portanto, acreditei que a decisão mais sensata fosse segui-las pela rampa que se assemelhava a uma escada rolante, com a pequena diferença que não subia ou descia, mas ia em frente, poupando os meus pés doloridos de atravessar aquele corredor infinito. Ao meu lado, pessoas mais apressadas corriam com suas bagagens menores como se estivessem atrasadas para a reunião de suas vidas. Tudo era incrivelmente fascinante. Desde as pinturas da cidade na parede até o cheiro inigualável. Podia ser cedo pra dizer... Mas eu estava me apaixonando.
   Absorvida pelo novo mundo a minha volta, quase tropecei quando a esteira rolante chegou ao fim, mas ninguém precisa saber disso. Puxei a minha humilde grande mala comigo ao passar pelas portas automáticas de vidro. Ali fora, pessoas se abraçavam e se despediam, assim como se cumprimentavam depois do que poderia ser dias ou anos. Homens com buquês de flores, mulheres com cartazes de boas vindas... Cada um tinha sua história, seus segredos. Era estranho pensar que eu nunca mais veria nenhum deles novamente e nunca saberia do que escondiam por trás de seus sorrisos ou lágrimas.
   O lado de fora do aeroporto estava consideravelmente mais quente que o de dentro, mas nada nem perto do calor de Los Angeles, com certeza. O que era bom, já que a falta de praia de New York seria um problema. Lexy me instruíra a procurar a área de desembarque, onde os carros podiam estacionar para esperar quem quer que fosse e dei sorte de ter saído exatamente naquela ala. O que menos precisava àquela altura era passar mais meia hora atravessando o aeroporto me atrasar para os planos do dia.
  - ? ! – Escutar meu nome sendo chamado me fez parar de andar. Era uma garota esguia de cabelos escuros que me chamava. Seu estilo era meio rocker com um toque delicado dado pelo salto alto verde claro que tinha nos pés. Era ela que eu devia encontrar, disso tinha certeza. Além do fato de saber o meu nome, claro. – Carine me mandou te buscar! Quase não te reconheci! Pela foto que ela me mostrou, seu cabelo parecia mais escuro.
  - Eu clareei recentemente. – Sorri abertamente, indo ao encontro da outra menina. – Desculpa, qual o seu nome?
  - Kylie! Kylie Insworth. – Estendeu a mão. – Carine não te falou sobre mim, huh?
  - Pra ser sincera, ela não falou nada sobre nada... A minha publicista também não sabia de muitos detalhes. – Rolei os olhos, notando então o quanto aquilo poderia ter dado errado. – Mas você me achou! É o que importa.
  - Sou boa em achar pessoas. – Piscou, já pegando a minha mala. – Podemos ir?
  - Você será a minha guia, então podemos ir quando quiser. – Tentei parecer contida, por dentro estava gritando de felicidade.
  - Como sua guia, a nossa primeira atividade será pegar um taxi amarelo até o hotel! – Indicou o caminho, levando consigo a minha bagagem. – Acredite em mim, você vai A-MAR o hotel!

+++

  - Enjoy! – Minha guia particular abriu a porta de madeira e entrou primeiro no quarto que seria meu.
   No começo, achei que o que Kylie falou sobre o hotel era exagero, mas isso mudou assim que o vi com meus próprios olhos. Pelo lado de fora você não dava muita coisa, mas logo no loby a propaganda de ser o hotel com a melhor vista da cidade era uma pequena preparação para o que estava por vir. Meu quarto ficava em um dos últimos andares, por isso o elevador demorou uma eternidade para chegar ao seu destino, mas valeu à pena. Fiquei meio sem reação, o que pareceu agradar a morena na minha frente. Ela deixou a minha mala em um canto qualquer e foi para outro lugar que não prestei muita atenção.
   Simplesmente não existiam paredes ali dentro. Tudo era de um vidro grosso que me deixava ver a cidade inteira. Não muito longe dali, o Central Park. Tentei deixar a minha bolsa em cima de um móvel, mas ela foi ao chão e não me importei minimamente. Deixando a vista de lado por uns instantes, reparei nos móveis. Tudo era uma mistura de branco e preto envernizado, brilhando com o luxo. Com meu salário de It Girl não conseguiria alugar aquela suíte, devia agradecer á Carine assim que a visse. No centro do quarto, uma cama de casal me esperava como se fosse o meu pedaço particular do céu. Uma porta ao lado dela me levaria ao closet. Foi um chute, mas sabia que estava certa. A placa com a palavra “closet” pendurada na mesma foi só uma dica do que se tratava.
  - O que achou? – Kylie apareceu mais uma vez.
  - É... – Me interrompi sem conseguir pensar em um elogio que chegasse a altura do quarto.
  - Foi o que pensei. – Apoiou as mãos na cintura. – Deixei a banheira ligada pra você. Tenho certeza que quer relaxar depois de uma viagem tão longa. Se instale e me encontre lá embaixo quando estiver pronta. Carine tem uma surpresa pra você.
  - Tudo bem... Obrigada... – Me sentindo mais boba que o normal, assenti com a cabeça.
  - Aproveite o paraíso, .
   Dizendo isso, a menina saiu por onde entramos e fechou a porta, deixando-me sozinha. Não perdi tempo e me joguei na cama, que me acolheu como se esperasse a minha reação. Por sorte estava em um andar muito alto e não haviam prédios ao redor, pois assim ninguém podia me ver rolando pela cama, bagunçando-a toda e rindo como uma criança. Ganhei três travesseiros arrumados lado a lado, cada um com um chocolate de sabor diferente em cima. O primeiro foi comido no mesmo instante em que foi notado.
  - A banheira!
   Tirei os sapatos e o larguei pelo meio do caminho. Agarrei a bolsa na corrida que fiz para o banheiro. Me enganei ao pensar que não poderia me surpreender mais com aquele hotel. Assim como o quarto, as paredes que rodeavam o cômodo eram de vidro. A banheira que deveria comportar três pessoas ficava bem próxima a uma dessas paredes, com vista para o Empire State. Suspirei, sabendo que só haveria uma forma de deixar aquilo mais perfeito. Desliguei a torneira da hidromassagem assim que o nível da banheira estava alto o suficiente e tirei o celular da bolsa, deixando-o na mesinha de madeira ao lado do lugar onde tomaria banho. Um potinho com uma areia cor de rosa chamou a minha atenção. Peguei um pouco daquele pó mágico e o espalhei pela água, ficando encantada ao assisti-lo se transformar em espuma.
   Tão rápido quanto tirei os sapatos, me livrei do resto das roupas sem vergonha alguma, apesar de todo o cômodo ser transparente. Como uma criança que entra sozinha em uma piscina pela primeira vez, me acomodei e sentei na espécie de banco que comportou o meu corpo como se feito para ele. Sabia que não podia demorar, mas resistir àquilo tudo era humanamente impossível. Encostei a nuca no apoio de cabeça e estiquei a mão até que meus dedos esbarraram no iPhone. Ainda tinha que avisar que estava viva.
  - Harreeeeeeeeeeeeh.
  - LADS, É A . – Harry gritou antes de me responder. – Oi, ! Chegou bem? Como está tudo aí?
  - Da próxima vez tire o celular da boca quando for gritar, Haz, me sinto meio surda. – Ri, leve demais pra me importar. – Está tudo ótimo. A viagem foi tranqüila. Pode avisar à que eu não morri.
  - , ela mandou falar que não morreu. – Dessa vez lembrou de afastar o aparelho. – Não! Eu ainda quero falar... HEY, !
  - What’s up, hot stuff? – Pelo visto a ruiva roubara o aparelho do menino.
  - ELA É MINHA PRIMEIRO. – Consegui escutar o menino choramingar do outro lado.
  - Boo hoo, vai chorar com o seu namorado. desdenhou e pela diminuição dos ruídos, ou ela se afastou, ou Harry a obedeceu. – Voltando ao assunto...
  - Já sinto saudade de vocês. – Era verdade. – Onde estão?
  - Na sua casa. , Lou, Li e Harry precisavam de uma nova mulher no comando. – Dessa vez ela riu também. – Liv está vindo pra cá e Eleanor foi embora depois do almoço. Você nunca me disse que a lasanha da Dora era tão gostosa!
  - Dora está aí? Agora sim estou com inveja. – Estiquei as pernas na banheira, apoiando os pés na borda.
  - Você não ligou pra falar de mim. – Ela se interrompeu antes de falar algo. – Onde você está?
  - Na banheira do hotel... Olhando para a vista mais linda do mundo. – Me gabei.
  - Aposto que vai voltar se achando a rainha!
  - E você está com inveja.
  - Estou mesmo! – A imaginei fazendo bico. – Mas você merece e blábláblá.
  - Obrigada, pequena ruiva. – Sorri, me distraindo ao olhar a tela do celular para checar a hora. – Damn it! Já demorei demais...

+++

  Uma coisa boa é que quando saí do banho já tinha na cabeça a roupas que iria usar para o que quer que fosse que Kylie e Carine estivessem planejando, caso contrário, teríamos nos atrasado com toda certeza. Apesar de ter gostado de andar no taxi amarelo cartão postal da cidade, quem nos levou até o local de almoço foi um carro executivo preto, parecido com o que eu usava em Londres, mas um pouco mais espaçoso. Não saber onde estávamos indo não me impediu de ficar com os olhos grudados no vidro do veículo para prestar atenção em tudo que passava ao meu lado. O trânsito conseguia ser pior que na Inglaterra e nem isso me incomodou. Na minha opinião, era apenas mais tempo ganho para observar todas as luzes brilhantes e propagandas da Times Square.
   Kylie se mostrava cada vez mais simpática e amigável, portanto não me senti constrangida durante nossos passeios de carro ou quando o silêncio se instalou na subida do elevador do restaurante SKT, onde, aparentemente, Carine nos esperava. Não fomos até a cobertura como eu achava, parando e saindo do elevador no sexto andar. O restaurante em si estava cheio, o que acontecia com a cidade inteira, se parássemos pra pensar. Kylie foi na frente, dando nossos nomes para o metre que indicou o caminho até a mesa de Carine.
   Recebemos olhares ao atravessar o estabelecimento e me preocupei mais com a área mais afastada onde entramos do que em reconhecer qualquer um dos rostos que viraram na minha direção. Passamos por uma porta de vidro que nos levou até um terraço reservado e logo descobri o porquê. Era quase como se um coquetel de boas vindas estivesse acontecendo ali. Reconheci pessoas da equipe da Mulberry e de outras mais desconhecidas que só via em revistas ou blogs de moda. Uma mulher de cabelo loiro escuro, ou castanho claro dependendo da posição do Sol, levantou e bateu palmas assim que me notou.
  - ! – Carine saltitou com graça em cima dos próprios saltos. – Achei que não viria mais! Pessoal, essa é a ! Alguns de vocês já a conhecem...
  - Oi! – Acenei para todos, sentindo minhas bochechas queimarem. – Claro que eu não perderia esse convite por nada, Car.
  - Você vai amar o desfile amanhã! – A dona e criadora da marca me abraçou extremamente animada. – E eu estarei mais tranqüila sabendo que você vai estar na platéia!
  - Vai dar tudo certo! Não se preocupe. – Eu entendia seu nervosismo, mesmo que não soubesse explicá-lo.
  - Venha, vamos sentar! Kylie já foi... – Me guiou até a mesa própria, onde um garçom já me esperava para auxiliar com a cadeira.
   Kylie ocupou a cadeira ao meu lado, Carine sentou na minha frente e as outras duas cadeiras pertenciam a Karl e uma garota que eu não conhecia pessoalmente, mas era leitora assídua de seu blog, o The Blond Salad. Os dois sorriram pra mim em cumprimento e o homem da mesa serviu duas taças de champanhe para mim e Ky. Sua presença ainda era algo difícil de assimilar, mas costume vem com a prática, não? E eu não sentia vontade de gritar, então era uma coisa boa.
  - Já conhece a Chiara, ? – Karl perguntou.
  - Não pessoalmente... Mas adoro o seu blog! – Admiti e a loira sorriu.
  - Mesmo? Obrigada! Eu adorei a sua matéria para a Glamour. Bem elegante e divertida... – Após ouvir aquilo, quem sorriu fui eu.
  - A primeira de várias, tenho certeza. – Kylie me cutucou com o cotovelo como se fossemos amigas há anos.
  - , Chiara começou como você. E hoje ela é uma das queridinhas da moda. – Carine piscou.
  - Pra ser sincera, eu gostaria de ter começado como ela! – Chiara riu, modesta. – Demorei dois anos pra aparecer na minha primeira revista. E, se estou certa, você está no ramo há menos de um ano, certo?
  - Algo assim. – Assenti. Seis, sete meses? Quase um ano, sim. – E sinceramente não entendo porque a Glamour quis fotografar comigo...
  - Ela ainda não entende. – Karl comentou com Carine. – Querida, você é um rosto novo. Mais que isso, uma personalidade nova. É fácil gostar de você, porque você tem conteúdo ao abrir a boca. Não entendo porque Carine te escondeu por tanto tempo!
  - Estava com medo que a roubassem de mim! – Car se defendeu.
   Por mais que eu quisesse agradecer o que acabara de escutar, não consegui falar nada. Não conseguia me ver como um ícone fashion ou um modelo para outras pessoas e era justamente aquilo que Karl tentava me mostrar que eu era. Felizmente, um garçom nos interrompeu, trazendo consigo pratos com o nosso almoço. Eu não cheguei a pedir nada, mas quem quer que tenha escolhido o meu macarrão com camarões acertou em cheio!
  - Está gostando de NY, ? – Chiara quis saber.
  - Essa cidade é um sonho! É a única forma que eu posso descrever. Só estou aqui há algumas horas e já estou triste por ter que ir embora no domingo. – Furei um camarão com o garfo, demorando para levá-lo até a boca.
  - Você já vai embora no domingo? Tão rápido?
  - Tenho aula na segunda... E realmente não posso faltar. – “Tenho aula na segunda”, que motivo ótimo para sair de New York, não?
  - Sou formada em direito, então sei como é ter que se concentrar nos estudos. – Chiara bebia mais do que comia e conversava comigo. – Você faz faculdade de que?
  - Não estou em nenhuma faculdade... Na verdade, estudo em uma academia de artes. – Em uma cidade tão “artística” quando NY, falar aquilo tinha seu valor. – Último semestre do curso de ballet clássico.
  - Eu fiz ballet quando era pequena, sabia? Mas não levava muito jeito e desisti...
  - Porque não continuou? A prática literalmente leva a perfeição. Eu sempre gostei muito de dançar, então imagino a minha vida sem isso.
  - Quando nós vamos poder te ver dançar, darling? – Para minha surpresa, Carine escutava a conversa com interesse.
  - Uh... – “No espetáculo de fim de ano!”, pensei em dizer, mas me impedi. – Terei um recital no próximo mês. Se quiser, posso conseguir um convite pra você...
  - Nesse caso, também gostaria de um. – Karl sorriu.
  - Feito! E você, Kylie? Pensa em ir nos visitar em Londres? – Me virei levemente para a garota ao meu lado.
  - Eu estarei lá para a London Fashion week! – Fez sinal de positivo com a mão.
  - Kylie é modelo, . – O homem informou. – Você também deveria ser... Só estou dizendo.
  - Se o ballet não der certo, quem sabe? – Brinquei. Apesar de ter sorrido, não imaginava uma vida onde o ballet não desse certo pra mim.
  - Você devia se mudar pra cá! – Kylie segurou a minha mão como se fizesse planos. – Há tantas oportunidades que você não iria acreditar! E poderíamos dividir um apartamento! Já imaginou o quanto iríamos nos divertir?
  - Muito, tenho certeza! – Tentei não soar falsa, mas, diferentemente de , ela não era do tipo te conquistava rápido. – Quer entrar no trio, Chiara?
  - Guardem um quarto pra mim! – A loira também brincou.
  - Eu poderia dançar no New York City Ballet... – Sonhei alto.
  - Viu? Está decidido! Você vai se mudar pra cá assim que terminar o curso. – Ky levantou sua taça de champanhe, propondo um brinde àquele novo plano.
   Ela sabia que eu estava brincando. Não sabia? Pra falar a verdade, não havia pensado ainda no que faria se recebesse um convite para o NYCB. Ou para qualquer outra companhia fora de Londres. Eu torcia para ser convidada por companhias e escolas grandes, mas nunca pensara de fato nas conseqüências que esse convite traria. Pra ser mais sincera ainda, preferia não pensar.

    

Chapter XXXVIII

Era o meu segundo dia em New York e a diferença entre os fusos horários me fez acordar mais cedo do que eu faria se estivesse em Londres. Kylie tinha a última prova de roupas para o desfile que aconteceria na noite daquele mesmo dia, por isso não pode me levar pra conhecer nenhum lugar animado ou ponto turístico. Testando o meu conhecimento em seriados e filmes americanos, resolvi me aventurar pelas ruas da cidade sozinha mesmo. Tinha o nome do hotel e dólares na carteira, então conseguiria pegar um taxi e voltar se me perdesse ou fosse parar em um bairro “barra pesada”. Se é que em 2013 ainda usassem esse termo.
   O clima também estava com mais cara de outono do que no da anterior. Nada frio demais pra me impedir de usar um vestido, e nada quente ao ponto de me fazer reclamar que ele tinha mangas compridas. Admito agora que meu plano de simplesmente vagar pela selva de pedras foi uma mentira, pois preferi pegar um taxi amarelo e chegar sã e salva ao Central Park. Como não tinha certeza se Kylie, Chiara ou Carine aceitariam o meu convite de ter uma manhã ao ar livre, preferi ir sozinha e aproveitar os ares que a natureza tinha a me oferecer.
   New York realmente era uma cidade que nunca dormia. Em meu quarto de hotel, fiquei algumas horas sentada de frente às paredes/janelas, assistindo aos carros passando nas ruas e as luzes de prédios, tão altos quanto os meus, demorarem a apagar. Mas, ali no meio do parque, senti como se estivesse em uma cidade completamente diferente. Não precisei de mapa ou GPS para encontrar o que eu estava procurando. Passeei tranquilamente por uma trilha cercada por árvores de folhas verde-escuras e alaranjadas, observando-as cair lentamente. Ali, cercada por natureza, o único som que eu escutava era o do canto de passarinhos e do farfalhar do vento batendo nas folhas.
   Pra variar, o dono dos meus pensamentos não demorou pra dominar a minha mente mais uma vez. Eu não deveria ter viajado sem acertar as coisas entre nós. Sim, essa oportunidade podia ser única e importante, mas Zayn também era importante. Ele era até mais importante que qualquer emprego ou qualquer convite. E aqueles dois dias sem ouvir a sua voz estavam me matando. Sem seu cheiro, sem a sua pele contra a minha... E, claro, a dúvida que me consumia de dentro pra fora. Será que ele sentia a minha falta como eu sentia a dele? Será que ainda tinha raiva de mim pela forma que deixei a Inglaterra?
   Só pude suspirar e tentar me distrair com outra coisa. Prestei atenção no tocador de sax que encantava a todos que passavam por ele com um jazz gracioso. Não deixei de sorrir e por uns instantes me senti em Londres novamente, no Jubilee. De volta ao primeiro encontro que tive com Zayn. O que eu não daria para tê-lo ali comigo, no Central Park? Passeando de mãos dadas, rindo dos esquilos que atravessavam correndo na minha frente. “Damn it, Zayn!” Dessa vez meu suspiro soou mais frustrado que anteriormente. Dobrei à direita, seguindo o caminho que um esquilinho fez e me senti leve de repente.
   Na minha frente, estava uma das pontes incrivelmente bonitas que cruzava um dos rios que cortava o parque. É claro que eu teria que atravessá-la! Não tive pressa, olhando de um lado para o outro, me sentindo em um verdadeiro filme de romance. Eu era a mocinha que sonha com o amor da sua vida e ele acaba encontrando-a ali em cima. Os dois teriam uma cena musical e ficariam juntos para sempre! Apesar desse devaneio, não encontrei ninguém conhecido ao chegar à metade da ponte. Me aproximei de uma das bordas, encarando o lago esverdeado e os patinhos que se banhavam por ali. Desejei ter comprado uma pipoca para alimentar-los, mas já era tarde demais pra voltar agora.
   Um barulho estranho vindo da minha bolsa me fez parar de apreciar a vista e procurar o celular como uma louca pela bolsa pequena. Eu estaria atrasada? Carine precisava de mim? Apenas com o iPhone na mão, vi que era a imagem de Liam na tela, em um convite do FaceTime.
  - Leeyum! – Aceitei a chamada, segurando o celular na minha frente e vendo o rosto sorridente do menino encher a tela.
  - Baby, you’re in New York! Concrete jungle where dreams are made of, there's nothing you can't do! – Começou a cantar tão alto que olhei para os lados, temendo ser tida como louca. - Now you're in New York! These streets will make you feel brand new, big lights will inspire you. Hear it for New York…
  - Quanto tempo você esperou pra poder cantar isso? – Gargalhei, encantada.
  - Pra ser sincero, desde que você me contou que iria viajar! – Riu junto, arrumando a touca em sua cabeça. – Amando NY, chatinha?
  - “Amando” é pouco! Essa cidade é incrível, Li! – Tive vontade de pular, mas me contive. Afastei um pouco o celular, querendo que ele visse a paisagem atrás de mim. – Sabe onde eu estou?
  - Você está no Central Park! – Comemorou como se fosse uma pergunta e se sentou. Pelo que pude ver, estava em seu quarto. – Acho que foi nessa ponte que gravaram uma das minhas cenas preferidas do filme Homem Aranha!
  - Porque você não veio pra cá comigo mesmo? – Fiz bico.
  - Porque você não deixou! – Reclamou, conseguindo criar um bico maior que o meu. – O dia parece lindo aí...
  - E está mesmo. – Abaixei o celular um pouco até conseguir sentar na borda da ponte. – Como anda a minha Londres?
  - Chorando por sentir a sua falta! – Riu mais uma vez. – Está chovendo desde que acordei.
  - Que horas são aí? Estou bem perdida.
  - Duas da tarde, mais ou menos. – Deu de ombros, bocejando. – Tentei dormir, mas está dando uma festa no seu quarto, então-
  - Ei, ei! Como assim? – O interrompi no meio da frase. – Volto amanhã e quero todas as minhas coisas inteiras, por favor!
  - Não se preocupe, fui um pouco exagerado... Olivia, e Dani estão usando o seu quarto de salão de beleza, se arrumando para a festa de hoje. Só isso! Nada vai estar quebrado.
  - É melhor mesmo! – Lancei-lhe um olhar ameaçador, mas não obtive efeito algum. – Animado pra hoje a noite?
  - Estava mais animado quando você estava aqui. A organizadora já me ligou pra acertar os últimos detalhes e eu não fazia idéia de qual cor de guardanapo seria melhor...
  - Pretos ficariam legais...
  - Tá vendo só? É por isso que preciso de você aqui, . – Choramingou.
  - Que cor você disse?
  - Bege! – Sua careta não teve preço.
  - Payne! – Reclamei, não segurando risadas escandalosas. – Vocês ficam perdidos sem mim!
  - Em outras novidades, você recebeu uma carta. – Balançou o envelope branco com um número muito excessivo de selos. – Diretamente da Rússia!
  - Nick e Holly? – Comemorei com pulinhos sentada. – O que está esperando? Abre, abre!
  - Okay, okay, calminha! – Deixou o celular em cima do colo, me fazendo encarar o teto do quarto. Ao menos vi as estrelinhas coladas ai. – Pronto. Aqui...
  - Você sabe que eu não consigo ler daqui, certo? – Rolei os olhos, assistindo-o aproximar o papel da câmera do celular.
  - Er, claro que sei! – Seu rosto apareceu mais uma vez no enquadramento. – Posso ler?
  - Sim, Liam. – Assenti com paciência e um sorriso de saudade no rosto.
  - Tudo bem, aqui vai... Uh... “Hey, ! Como está tudo aí na terra dos ônibus vermelhos e relógios gigantes? Eu com certeza sinto falta de tudo isso. E, claro, Holly e eu sentimos sua falta também, por isso resolvi escrever essa carta. Te conhecendo, você deve estar pensando “Poxa, Nicholas, nunca ouviu falar de uma coisa chamada email?” E, justamente por te conhecer, sei que gostou mais de receber essa carta oldfashion do que se eu mandasse um email sem graça e nada pessoal. – Liam começou a ler, usando entonação e tudo.

   “Tem gostado dos cartões postais que nós mandamos? Com certeza gostamos dos seus! Holly particularmente gostou dos cartões de Paris. As coisas por aqui estão frias, mas Moscou é uma cidade bonita. Quando vai vir nos visitar? Não em um tempo próximo, eu imagino. Com a sua vida atarefada de modelo... Vimos suas fotos pela internet. Eu sempre soube que você seria descoberta por agências desse tipo. Também temos acompanhado o One Direction! Acredita que a música deles chegou aqui?
   “Ontem mesmo, quando fui à padaria na esquina de casa, vi uma menininha com uma camiseta com a foto dos meninos! Eu senti muita vontade de contar pra ela que os conhecia. Claro que essa vontade passou quando lembrei que as únicas palavras em russo que conheço são “oi - привет” e “frio – холодный”. Falando nisso, como eles estão? Mande lembranças a todos. Zayn tem te dado trabalho? Qualquer coisa me avise. Tenho bons contatos com as forças militares daqui, se é que me entende.
   “Como andam as coisas na Academy? Temos uma aposta pra ver quem chega viva no fim do semestre, você ou Brigitte. Tenho certeza que já devem ter entrado nos tapas ao menos três vezes! HA-HA Você tem uma professora chamada Bartira, certo? Adivinha só, ela é prima da Holly! Por isso não ache estranho se ela gostar de você logo de cara. Olly falou muito bem de você pra ela. Bartira geralmente nos manda noticias do que está acontecendo por aí e ficamos muito felizes ao saber o novo tema do espetáculo! Tenho certeza que você conseguirá o papel principal, como sempre. Ainda que não tenha o melhor parceiro do mundo pra dançar ao seu lado, claro.
   “Ih, a folha está acabando! Tenho que ir. Se cuide, . Mais uma vez, sentimos muito a sua falta e sei que também sente a nossa. Como seria diferente, não é? Continue dançando, porque se existe alguém boa nisso, é você. Não esqueça dos amigos. Amamos você, Forever Juiet. Ass: Nick H.”

  - Awwwwwwwwn!- Durante toda a leitura me concentrei nas palavras, desejando estar com o papel nas minhas próprias mãos. – Obrigada por ler, Li.
  - Estou surpreso que não tenha chorado. – O menino voltou a usar sua própria voz e não viu quando sequei uma pequena lágrima no canto do olho.
  - Sinto falta dos dois! – Emburrei. Sentia falta de Nick e Holly, sentia falta de Liam e do resto dos meninos e meninas. Estava longe de todos e isso era horrível! – Ugh, quero ir pra casa.
  - Vamos mudar de assunto... – Li percebeu o rumo que nossa conversa estava tomando e parou. – Você não me contou como foi o teste para essa peça que o Nick mencionou.
  - E você devia mudar para um assunto melhor! – Resmunguei baixo, esperando que ele não me ouvisse. Cruzei as pernas, olhando para qualquer lugar que não fosse a câmera. – Alguém ficaria sabendo mesmo, é melhor que seja você... Liam, eu não fiz o teste para a peça.
  - Posso perguntar por que não? – Não tinha julgamento em sua voz, por isso acabei olhando de volta pra “ele”.
  - Não fui eu que não quis fazer a audição... Eu queria! E treinei bastante pra isso... Mas Zayn precisava de mim... Então eu não pude ir ao teste... – Explicar o acontecido era ainda pior do que repassá-lo na minha cabeça. – Eu só não pude ir... Se fosse em outro dia...
  - Você se arrepende? – Sua pergunta era calma. Liam compreendia.
  - De certa forma, eu acho... – Suspirei. – Mas faria de novo, se ele precisasse de mim.
  - Isso é o amor. Dói, mas faríamos as mesmas escolhas se pudéssemos voltar no tempo.
  - Acho que precisava ter essa conversa, ainda que não soubesse disso. – Ri baixo. – Não conta pra ele, certo?
  - Juro de mindinho. – Ofereceu o dedo mindinho, aproximando-o da tela.
  - I love you, Baba. – O imitei e nós dois rimos como os dois bobos que éramos.
  - E eu amo você, chatinha.

+++

  Quando retornei ao hotel após a minha caminhada pelo Central Park e almoço no McDonald’s mais próximo, encontrei uma encomenda me esperando na recepção. O cartão tinha o logo da Mulberry e apenas uma carinha desenhada à caneta azul. Algo me dizia que era um presente de Carine, para que eu usasse no desfile. Após tanto tempo conhecendo-a, já não estranhava mais todas aquelas surpresinhas generosas, pois aprendera que não era só eu quem ganhava essas regalias. Não que Car esbanjasse dinheiro e saísse oferecendo peças exclusivas das suas coleções para qualquer um, mas mimava quem merecia.
   Meu palpite tornou-se correto ao chegar ao quarto e abrir a caixa consideravelmente grande, encontrando o vestido feito pra mim sob medida; o qual vesti após tomar um banho relaxante. É claro, em uma banheira enorme e com uma vista perfeita, o banho não poderia ser de outra forma. Dentro da caixa, encontrei também um crachá que serviria de passe para os bastidores do desfile, para que eu pudesse conferir em primeira mão o que Carine planejara para aquela noite. Um novo bilhete explicava a hora que um carro passaria na porta do hotel para me buscar e me levar até a galeria na Madison Avenue onde o desfile estava marcado para acontecer.
   Ao chegar até o local, perto das seis horas da noite, me surpreendi por não terem fotógrafos ou imprensa alguma na entrada. Claro, ainda não era a hora certa e os convidados mais importantes só chegariam dali duas horas, portanto era compreensível. Até mesmo gostei de entrar despercebida, pois algo - que ainda não sabia o que era – estava me incomodando; o que menos precisava naquele momento era ter que sorrir como se não tivesse aborrecimento algum no mundo.
   Graças à boa sinalização, encontrei meu caminho até o backstage com facilidade. A cena do que acontecia ali atrás já me era familiar: Modelos em suas peças íntimas fazendo as últimas provas de roupa de um lado, outras sentadas nas cadeiras da área improvisada por quatro maquiadores e cabeleireiros diferentes, estagiários correndo de um lado para o outro, organizando as peças do desfile na ordem em que cada modelo a vestiria... Um pesadelo! Um pesadelo bom, de meses de preparo e ansiedade e que deixava gostinho de quero mais quando chegava ao fim.
   Kylie conversava com um modelo masculino com tanta desenvoltura que mal parecia notar estar apenas usando calcinha e sutiã. O menino também não se importava nada com isso, é claro. Me perdi alguns segundos no corpo da morena. Não que questionasse a minha opção sexual, apenas tinha inveja. Seu corpo era fino e elegante, mas ao mesmo tempo com curvas nos lugares certos. Como se sentisse que era observada, a menina lançou o olhar na minha direção, ignorando completamente o que o garoto falava. Sorri educada e acenei de longe, como se dissesse: “Não quero atrapalhar o que quer que isso seja”, mas não adiantou. Quando me dei por mim, a menina baixinha que ganhara altura por causa de seus saltos corria na minha direção.
  - Ainda bem que chegou, ! – Me abraçou, praticamente grudando seu corpo semi-nu ao meu. – Achei que ia perder toda a diversão!
  - A banheira do hotel é mais difícil de resistir do que você me avisou. – Resolvi ignorar as vestimentas da outra. Se ela não ligava, porque eu deveria?
  - KYLIE! – A Carine mais estressada que eu já vira apareceu atrás de uma cortina daquelas de provador de loja de departamento. – Venha já pra cá!
  - Só estava conversando com a ! – Apesar de ser modelo e, supostamente, trabalhar para a mulher, Kylie não tinha medo ou parecia se abalar pela reclamação que escutara.
  - Oi, querida! – Sorriu na tentativa de me tratar bem e fuzilou a morena perto de mim com o olhar. – Kylie!
  - Melhor eu ir. – Rolou os olhos. – Não suma, okay?
  - Essa garota não tem jeito. – Uma mulher alta e, dessa vez, vestida completamente parou ao meu lado, sorrindo para a pequena que corria até a empresária. – Boa noite, .
  - Boa noite. – Sorri de volta, dando atenção à Emma Hill, designer criativa e responsável pela grande maioria das peças da marca. – Carine deve estar ficando louca...
  - É a vez dela de ficar louca e a minha de ficar tranqüila. – Deu de ombros, como se me contasse um segredo. – Meu trabalho acabou ontem, quando finalizei esse mesmo vestido que você está usando.
  - Você fez esse vestido? – Passei as mãos com cuidado pela saia do vestido incrivelmente trabalhado. – É perfeito!
  - Carine gosta de você em rosa, mas eu prefiro azul. – Cruzou os braços, orgulhosa. – Combina com os seus olhos.
  - Não conte pra ela, mas azul é a minha cor preferida. – Confessei.
  - Eu adoraria contar pra ela! – Gargalhou, mas negou com a cabeça. – Ficarei quieta. Quer ver como estão as coisas lá fora?
  - Posso?!
   Minha pergunta se tornou retórica ao não receber uma resposta própria mente dita. Com um aceno de mão, Emma guiou o caminho. Passamos pela área de beleza e também pela cortina onde Kylie desaparecera ao ir atrás da dona da Mulberry. Percebi claramente quando o mesmo modelo que conversara com ela anteriormente mexeu nos cabelos ao me encarar com tanta atenção que pareceu querer adivinhar o que eu usava por baixo do vestido azul. O ignorei com completo desinteresse, o que causou risadas em seus “amigos”. O cara era bonito e tal, mas não chegava aos pés do meu modelo particular, o mesmo que estava em casa me esperando. Ao menos era o que eu torcia.
   Quase perdi Emma de vista quando ela entrou em uma árvore e demorei segundos para assimilar que a “árvore” era uma amoreira cenográfica que levava até a runway. Ou seja, o caminho por onde as modelos passariam ao entrar na passarela. Sem saber o que esperar, segui a designer no tronco escuro até que a luz chegou. Era como se eu estivesse em um verdadeiro jardim. A passarela fora coberta por um gramado artificial que parecia real. Salpicadas aqui e ali, folhas envelhecidas para lembrar o outono. De um lado e de outro da passarela, bancos de madeira. A primeira fileira tinha sacolinhas de presentes para os convidados mais especiais e plaquinhas com o nome de cada um para que não houvesse confusão.
  - Você está bem aqui, . – Enquanto eu me distraia com a decoração, Emma se adiantou a achar o meu lugar. – Entre Chiara Ferragni e Liv Tyler. Conhece alguma das duas?
  - Conheço a Chiara! – Sorri. Sabia quem Liv Tyler era, mas não a conhecia além da TV e revistas. – E esse lugar está lindo.
  - Você tem que ver com as luzes e música. – Emma girou sem sair do lugar, olhando tudo. Devia ser emocionante pra ela assistir o desfile de algo que se dedicou tanto pra criar.
  - Atenção, favor, liberar a passarela. – Uma voz do além me assustou. – Vamos abrir as portas.
  - Temos que ir! – Emma me tocou no ombro.
  - Eu não deveria tomar o meu lugar?
  - Não, querida. Você ainda nem viu os filhotes.
   Curiosa como só eu, segui-a mais uma vez. Tivemos um pouco mais de pressa, porém. Outros técnicos e funcionários da galeria fizeram o mesmo, liberando a passarela. Estava quase na hora! Os últimos detalhes a serem arrumados deveriam ser feitos com rapidez. Era quase o “agora ou nunca”. Uma vez no backstage, Carine estava encostada em uma parede branca, bebendo algo que eu duvidei muito que fosse água ou café. Tive muita vontade de consolar-lhe ou dizer que tudo ficaria bem, mas temia pela minha vida me aproximar demais.
  - O que há de errado, minha amiga? – Emma não tinha o mesmo medo que eu.
  - Emma! Você viu a Cara por aí? – Carine avançou na designer. – Ela é quem vai abrir o desfile e ainda não apareceu! Nem atende as minhas ligações!
  - Você a conhece, Car. Pode ser que chegue atrasada, mas chega... – Não sei se aquilo deveria ser um consolo. – Não se estresse com isso...
  - Não estou estressada! – Jogou os braços pra cima, derramando gotas de sua bebida transparente. – Se ela não vier, você vai abrir o desfile, !
  - Huh? – Engasguei com o vento, mas não obtive resposta. – Ela vai chegar...
  - ! – Kylie já estava com a sua primeira troca de roupas no corpo e agarrou o meu braço como se tivesse a melhor novidade do mundo pra me contar. – Nós fomos convidadas para uma festa depois do desfile!
  - “Nós” fomos? – Ri da forma que Carine, já sem paciência alguma, preferiu se afastar da modelo.
  - Tudo bem, EU fui... Mas você é minha acompanhada aqui em NY, então é praticamente o meu dever não deixar você ir embora sem aproveitar uma noite de festa. – Bateu o pé como se não me deixasse outra escolha a não ser aceitar ir a tal festa. – O que me diz? Animada ou super animada?
  - Adoraria, Ky, mas não tenho vinte e um anos... – Usei aquela desculpa para tentar escapar.
  - Detalhes, hun. – Tirou o celular do bolso do casaco que usava e o ergueu até a altura do meu rosto, capturando uma foto. – Resolvido. Sua identidade nova sai em meia hora.
  - Você é maluca! – Abanei o celular, tirando-o do meu rosto quando já era tarde demais. – E mesmo assim. Eu volto pra Londres amanhã e não seria legal passar sete horas em um avião com ressaca.
  - Caso mude de idéia, sabe onde me encontrar! – Beijou a minha bochecha como uma menininha e deu meia volta.
   Comecei a questionar a possibilidade de Kylie também estar bebendo algo mais forte que água. Será que eu também podia? Comprovando a tese de que eu não seria deixada sozinha em hipótese alguma, Emma retornou ao nosso ponto de encontro e não estava sozinha. Se eu não estava certa do que ela falara ao usar o termo “filhotes” em sua frase ao deixarmos a passarela, agora compreendia perfeitamente. A designer trazia três filhotes de cachorro nos braços, de raças diferentes: Um Yorky, um Maltês e um Pug. Ao parecer demais pra uma pessoa só carregar, peguei o que mais se mexia, o pequeno Yorky. Sem trocadilhos com a cidade, aliás.
  - Por favor, me diga que também são brindes e que eu posso levar esse aqui pra casa! – Abracei o pequenino, que não gostou e tentou escapar, mas só me fez sorrir com a sua fofura.
  - Bem que eu gostaria de poder falar isso! – Cheirou os dois próprios filhotes. – Eles são pet-models! Vão entrar na passarela com as modelos.
  - Todos gostam de cachorrinhos! – Que não soubesse, mas eu estava amando aquele bebê que cabia em meus braços.
  - ! – Meu nome fora chamado mais uma vez, me obrigando a olhar na direção da dona da voz. – Preciso de você aqui!
  - Já estou indo! – Meu estômago congelou ao imaginar que aquilo poderia ser Carine me pedindo para substituir Cara. – Posso te devolver essa coisa fofa depois?
  - Estarei por aqui!
   Emma permitiu que eu ficasse mais um tempo com o filhote, o que seria até uma desculpa a mais, caso Carine quisesse que eu experimentasse alguma roupa para o desfile. Com o cachorro se aninhando em meu braço direito, segui até onde vira a cabecinha de Car me chamando. Ela estava perto da árvore que dividia o salão e o backstage e não encontrava-se sozinha. Uma mulher com o crachá de imprensa tinha um microfone em mãos e o seu parceiro segurava uma câmera desligada sob ombro.
  - Aqui está ela! – Carine sorriu quando cheguei. – Pode perguntar a ela o que quiser. Estou meio ocupada agora, então a melhor pessoa pra me substituir é essa francesa.
  - Poderia te entrevistar, então? Nada muito demorado... – A mulher sorria e Carine esperava uma reação. Eu queria dizer que não e que Emma seria bem mais indicada àquilo do que eu. Ao mesmo tempo, não podia fazer isso com Car e deixá-la na mão no dia do lançamento da sua marca na América do norte. – Meu nome é Nancy, aliás.
  - Tomlinson, muito prazer. – Acabei aceitando, ainda que sem estar tão certa do que seria perguntada.
  - Obrigada, querida. – A mulher sussurrou pra mim antes de sair.
  - Não se preocupe, será algo bem natural, ok? – Nancy pareceu compreender que eu fora pega de surpresa e pegaria leve. Em seguida, virou-se para a câmera e empunhou o microfone. – Estamos agora mesmo nos bastidores do primeiro desfile da Mulberry! Vamos tentar pegar alguns sneakpeaks, só aqui, no E! , o que devemos esperar desse primeiro desfile? Já pudemos ver pelo lado de fora que a produção está caprichada.
  - Quando se trata da Mulberry acho que podem esperar qualquer coisa. Toda a equipe passa meses procurando formas de inovar e surpreender a cada coleção. No caso desse primeiro desfile, é justamente isso que a marca quer. Não vai ser apenas mais um desfile, como tantos que veremos nessa semana que só está começando... – Deixei as palavras fluírem, só torcendo para não falar besteira. – A Mulberry vai deixar a sua marca e fazer questão de não ser esquecida. Pelo que eu já vi da coleção, a proposta vai ser algo mais conceitual, então não é o que vemos todos os dias nas ruas, mas ainda assim tenho certeza que vai encantar muita gente.
  - Estamos ansiosos! O que fez a marca sair da Europa e vir pra cá?
  - Que marca não sonha em expandir o seu mercado pra cá? A Mulberry já é bem grande e forte pela Europa, principalmente em Londres. Então com essa proposta de abranger um público maior, nós pensamos... Por que não arriscar? Hoje Nova York não é apenas uma cidade... É um mundo a parte.
  - Você é de Londres também? Seu sotaque parece um tanto diferente do britânico...
  - Estou em Londres há um ano, mas sou naturalmente francesa! – Sorri um pouco mais aliviada. Se as perguntas passassem a ser sobre mim, seria fácil responder. – E estou pensando seriamente em virar metade nova-iorquina.
  - Tenho certeza que seria bem vinda! – Piscou e acariciou o cachorro em meu colo. – A razão disso, se é que me permite perguntar... Algum americano conquistou o seu olhar? Estou vendo vários modelos sem camisa passeando aí atrás.
  - Bem que tentaram! – Me gabei em tom de brincadeira, rindo por saber que estava bem mais envergonhada com aquilo do que deixava aparecer. – Mas não! Eu já tenho um inglês me esperando em casa.
  - Uhh, amor à distância! Gosto disso. – Um apito baixo a interrompeu, aviando que seria hora de ir. – Hora de sentar! Muito obrigada, ! Bom desfile.
  - Obrigada! Pra vocês também. – Acenei para a câmera como se soubesse exatamente quem estava ali por trás.
   Hora do desfile! E eu ainda precisava entregar o cachorro de volta pra Emma! Deixei Nancy se despedindo de quem quer que fosse e voltei para o backstage, procurando a designer com os olhos. As modelos começavam a formar uma fila e Cara Delevingne era a primeira delas, recebendo retoques em sua maquiagem. Avistei quem eu procurava e caminhei com pressa ao seu encontro. Enquanto isso, a minha bolsa de mão pendurada no ombro começou a vibrar. “Isso é hora de receber uma ligação?” Mas com a esperança de que pudesse ser alguém importante, tirei o celular de seu esconderijo de qualquer jeito.
  - Sim? – Respondi nervosa, sem ler o nome na tela antes de levá-la a orelha.
  - , quer saber se pode usar o seu Miu Miu azul. – Era Harry. Pelo seu tom entediado, estava sendo obrigado a fazer aquela ligação. – E eu nem sei o que é um Miu Miu.
  - Desde quando ela pede permissão? – Ri, ainda que desapontada. Dei um último beijo no filhote e o devolvi à Emma.
  - Ela deixou, ! – Respondeu à ruiva, mais uma vez se esquecendo de tirar o aparelho da boca.
  - Estão indo para a festa? – Mordi o lábio. Devia ser perto da meia noite em Londres.
  - Lou e eu estamos esperando as meninas se arrumarem... – Bufou entediado mais uma vez.
  - E o resto? – Mordi o lábio com mais força.
  - Liam e Zayn já foram. – Meu estômago deu um pulo ao escutar aquilo. – Zayn disse que precisava começar a beber e Liam tinha que recepcionar os convidados.
  - Oh. – Falei simplesmente, quase perdendo o chão embaixo dos meus pés.
  - FINALMENTE! Podemos ir agora? – Haz falou com alguém do outro lado da linha. – Tenho que ir, . We luuuuuuuuuuuuuuuuuv you.
  - Eu... – Tentei dizer o mesmo, mas ligação foi cortada.
   Então Zayn “precisava começar a beber”. Me conhecendo, isso ficaria na minha cabeça a noite inteira. Onde Carine estava escondendo a sua “água” mesmo? Agora é que precisava dela. Pensando melhor... Guardei o iPhone na bolsa, correndo até a fila de modelos, esperando encontrar quem procurava o mais rápido possível.
  - Hey, Ky! Que horas é a festa?

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  O desfile foi um sucesso! Desde os looks até a trilha sonora e os efeitos especiais. Ainda que nada fosse novidade pra mim, por eu ter acompanhado alguns processos de criação, ver tudo ganhando vida na passarela era uma emoção completamente diferente. Todos ficaram de pé quando Carine e Emma entraram na runway para receber seus merecidos aplausos. As duas estavam relaxadas e contentes com o resultado. Eu podia não ser da equipe criativa, mas sentia aquele gostinho de “dever cumprido”. Sem falar que troquei algumas palavras com Liv Tyler. “AAAAAAAAH”, meu pensamento durante esses momentos.
   Quando o desfile chegou ao fim e pude voltar ao backstage, encontrei uma Kylie triplamente animada para a festa daquela noite. Ela não tardou a me contar que convidara mais duas amigas pra vir conosco e não me importei. Quanto mais gente melhor, certo? Claro! Principalmente quando essas duas “amigas” eram Cara, a modelo, e sua “esposa” Rita Ora, que viera para New York apenas para assistir seus desfiles. Me senti particularmente bem quando nós fomos ao meu hotel para trocar de roupa e todos no lobby encararam as quatro mulheres mais poderosas da cidade.
   Diferente do que eu achava, Cara não era séria, e sim muito doce e divertida. O mesmo valia para Rita, que parecia ter saído de um conto de fadas. Todos os seus gestos eram de uma princesa com o toque travesso de uma “bruxa má”. Durante todo o processo de subida no elevador eu estava rindo de algo que uma das outras falava. Rita não precisava trocar de roupas, pois já fora produzida para o desfile, com um vestido de renda transparente preto e um bodysuit por baixo na mesma cor. Kylie, com suas segundas intenções, levara um conjunto de saia e blusa em sua mochila, então apenas mudou de roupa. Cara, por outro lado, fora pega desprevenida pelo convite e fui generosa ao ponto de emprestar um de meus vestidos novos. A roupa ficou um pouco maior pra ela do que ficaria em mim, mas continuava linda.
   Enquanto as três se distraiam com a caixa de maquiagem em cima da cama, me tranquei no banheiro para trocar as minhas próprias roupas. O vestido azul fora deixado em um cabide no canto do cômodo e a peça vermelha foi deslizada com cuidado pelas minhas pernas. O vestido que ganhei de presente de Zayn viera escondido na mala, pois nem eu mesma me lembro de ter colocado-o lá dentro. Eu o descobrira na noite anterior, ao procurar um pijama, mas apenas decidi usá-lo após a última conversa com Harry. O “Zayn disse que precisa beber” realmente ficou na minha cabeça e me deu nos nervos. Eu não esperava que ele fosse deixar de ir na festa de Liam só porque eu não estaria lá e muito menos que não bebesse uma gota de álcool, mas quando os meninos bebiam, as coisas tendiam a ficar loucas! Portanto, o meu lado de namorada ciumenta tinha todo direito de ficar incomodado.
   “Então esse vestido vai mesmo ser usado nesse sábado...” Pensei ironicamente ao passá-lo pelo quadril e braços. Tinha o reflexo no espelho a minha frente, porém, a preocupação maior ficava nas costas. Na primeira e única vez que experimentara aquele vestido, meses atrás em Los Angeles, ele não fechou. Desde aquele dia tive meus altos e baixos e tudo só pioraria se a maldita peça não fechasse de novo! Mas já estava tão nervosa com outras coisas que tomei uma coragem absurda pra fazer o teste. Dessa forma, agarrei o zíper na parte baixa das costas, respirei fundo e murchei a barriga.
   “Fechou? FECHOU!” Ri sozinha, pulando na cerâmica do banheiro. Dei uma voltinha, ainda me sentindo orgulhosa de mim mesma. Era verdade! O vestido havia fechado, finalmente! O que significava que todas as refeições puladas ou mal terminadas valeram a pena! Meu sorriso era simplesmente enorme e a garota que me olhava de volta no espelho estava linda. O vestido marcava a minha silhueta e cintura de bailarina. Seu comprimento era até a metade das coxas, revelando uma quantidade generosa de pernas. Zayn iria amar aquele vestido! Mas não era hora de pensar nele e sim na festa para qual eu já estava bem mais animada de ir.
   Uma vez de roupas trocadas, pude voltar para o quarto. Kylie estava na parte direita da cabeceira da cama e Rita ao seu lado. Cara sentara perto de uma das janelas, usando o seu reflexo de espelho para passar a maquiagem. Pulei na ponta da cama, olhando as duas mais próximas, que sorriram.
  - Ky... Quem exatamente nos convidou pra essa festa? – Quis saber, apoiando o cotovelo no colchão.
  - Brandon? Landon... Aquele modelo que estava conversando comigo quando você chegou! – Explicou. Ou algo bem perto disso... – Ele gostou muito de você, aliás... BRIAN!
  - Ele é gostoso? – Rita me encarou com um sorriso torto.
  - Bonitinho... – Dei de ombros. – Mas eu tenho namorado.
  - Aquele que estava com você na festa da Glamour, não é?! – Cara se pronunciou sem se virar.
  - Na verdade, aquele era Josh... Meu amigo. – Neguei, preferindo não explicar quem era meu namorado. – Você se lembra de mim lá?
  - Como não? Eu quase derramei a minha bebida em você quando estava saindo do photobooth! – A loira sorriu pelo reflexo, embaraçada. – Lembra, Riri?
  - Eu sabia que era você! – Rita bateu na cama, como se provasse algo. – Também te vi no V-Fest!
  - Sim! Era eu! – Ri, surpresa por ser reconhecida.
  - Você estava lá com o One Direction, não? – Sua memória era melhor do que eu imaginava.
  - Sou irmã de um dos meninos da banda... E me dou muito bem com os outros. – “Me dou muito bem”, é podia dizer isso.
  - Tudo faz sentido... – Falou sozinha, encarando o teto. – Zayn é seu namorado!
  - Malik? – Kylie expeliu com rapidez. – Ele sim é gostoso... Com todo respeito, .
  - Estou acostumada com mulheres chamando ele de gostoso. – Ri baixo, mais preocupada com a descoberta de Rita. – Mas como você sabe?
  - Eu vi vocês dois no backstage! – A loira platinada se inclinou pra frente como se prestes a contar um segredo. – Os olhares... A forma como roçavam os dedos quando ninguém estava olhando...
  - Sabemos bem como é ter que esconder. - Cara terminou seu trabalho.
   A modelo se pôs de pé, me entregando a caixa de maquiagem. Havia espaço na cama, mas ela preferiu sentar no chão e apenas apoiar os braços ali em cima, perto das pernas de Rita. Sempre achei que houvesse algo entre as duas e agora minhas desconfianças só aumentaram. Não que fosse algo ruim! Como se lembrasse de algo que esquecera há horas, Ky levantou com um pulo e correu até bolsa que deixara na mesa perto da porta.
  - Onde é o incêndio?! – Cara brincou.
  - Na Cielo, mas isso não vem ao caso. – Riu, tirando um cartãozinho da carteira. – Aqui, ! Agora seu nome é Ruth Miller.
  - Kylie, eu vou ser deportada! – Segurei a identidade falsa perfeitamente executada e com a minha própria foto.
  - Não seja tão dramática! – A morena riu, ainda sem sentar. – Posso usar seu banheiro?   - Fique a vontade. – Assenti. – E nada mal, aliás...
  - Deixa eu ver! – Rita ficou de joelhos na cama, pegando a identidade da minha mão. – Nada mal mesmo! Mas, sweetie, você não pode usar o mesmo penteado da foto!
  - Mas está tão fofo! – Toquei meus cabelos cuidadosamente presos. – E não é minha culpa se Ky tirou essa foto uma hora atrás!
  - Acho que posso dar um jeito nisso. – Cara levantou e sentei na cama. – Posso?
  - Não tenho muita escolha, né?
   Não, não tinha! Cara ficou atrás de mim e mexeu no meu cabelo, procurando entender o mecanismo que o deixava naquela posição. Logo mexas começaram a cair sobre os meus ombros. Rita nos olhava com tanta curiosidade quanto eu tinha de ver o resultado do meu novo penteado. O som da porta sendo aberta mostrou que Kylie retornara e devia ser hora de ir.
  - Vamos?
  - Estamos prontas! – Cara anunciou, e afastando. Dei meia volta pra poder me enxergar no reflexo da janela. – O que achou?
  - Você é incrível. – O penteado continuava com a trança no topo, mas o resto dos fios brincavam soltos e bagunçados. – Isso sim quer dizer “balada”.
  - Então vamos! – Rita foi a segunda a se levantar. – , não vai levar seu celular?
  - Pode deixar aí carregando... – Neguei com a cabeça enquanto enfiava os sapatos nos pés. – Está sem bateria alguma, então não faria diferença.
  - iPhones, huh? A bateria não dura nada. – Cara compreendia meu sofrimento. – Prontas?
  - Pronta!

+++

  - , isso aqui tem gosto de morango pra você? - Cara ofereceu seu copo com um liquido vermelho.
  - Não, Cara! - Rita reclamou, mas não antes de eu provar. - O meu é de morango e o seu de raspberry.
  - Na verdade esse aqui com certeza é de morango. - Devolvi a bebida da modelo e peguei a da cantora, também provando. - Honey, não sei do que a sua é, mas não tem berry nenhuma. E que diferença faz? Vocês vão misturar tudo daqui a pouco mesmo!
  - Você é terrível. - Cara gargalhou alto pelo que dei a entender. - Eu gosto disso.
   A Cielo, boate em que Kylie nos levara, era simplesmente incrível. Se Liam a descobrisse, trocaria o Funkybuddah. Ou quase isso. Luzes que desafiavam o arco íris brilhavam no teto desde a recepção até o banheiro. O chão da pista de dança era daqueles que muda quando você pisa. Com a confusão de uma pista de dança quentíssima, a paleta de cores tinha inveja daquelas combinações. Volta e meia Rita, Cara e eu deixávamos o bar e nos perdíamos nos badalos de sábado a noite. Apesar de ser open bar, não me aventurei tanto quanto poderia; meu vôo seria tecnicamente cedo e o que disse sobre não passar sete horas na aeronave de ressaca continuava valendo.
   Kylie sumiu dez minutos depois de termos entrado na boate. Ela não foi abduzida ou coisa do tipo, mas encontrou Brandon, Landon... Ou Brian junto com outras amigas modelos e se distraiu ao ponto de esquecer das três convidadas que trouxe. Cara e Rita sentavam lado a lado nos bancos giratórios do bar e eu estava entre elas. Não no sentido de estar "bloqueando-as", mas minha pose em cima do balcão do bar fazia com que meus joelhos terminassem entre as duas. As semi-bêbadas pareciam nem notar esse empecilho, pra ser sincera.
  - Você tem mesmo que ir embora amanhã? - Rita segurou a minha mão em um muxoxo. - Nós três poderíamos nos divertir tanto!
  - Vocês é que deviam voltar pra Grã Bretanha comigo! - Deixei minha latinha de redbull de lado e segurei a mão de Cara com a que estava livre. - Poderíamos nos divertir no avião! E na cidade, porque podemos ser vizinhas e não sabemos!
  - Seria legal, mas ainda tenho desfiles aqui... - Cara fez uma careta exagerada. - Mas como você disse, podemos ser vizinhas! Vai ser fácil nos encontrarmos lá.
  - Sorriam! - Rita tirara o celular da bolsa e levantou, ficando de costas para nós.
  Entendi que aquilo era uma fotografia ao nos ver enquadradas na tela. Rita sorriu como se ficar bonita na foto fosse tão simples quanto respirar. Cara fez um bico exagerado que também lhe fez ficar bem. Ao lado de duas mulheres tão fotogênicas, só o que me restou fazer foi colocar a língua pra fora e piscar um dos olhos. Pela reação de Rita ao olhar o resultado, a foto ficou boa.
  - "Minhas novas garotas preferidas!" - Leu enquanto digitava a legenda. - , qual o seu instagram?
  - @. Meu Twitter é esse também. - Lancei uma pequena indireta, dando os últimos goles no energético.
  - Te seguindoooo. - Riri cantarolou.
  - Oh my GOD! - Exclamei quando houve uma mudança na trilha sonora. - THIS IS MY JAM!
  - Arrase, Ruth Miller! - Cara se afastou para que eu pudesse descer do balcão.
   O nível de álcool nas minhas veias não estava tão elevado assim, mas foi o bastante pra me fazer demorar alguns segundos pra lembrar que eu era “Ruth Miller”, já que aquele era o nome que me pertencia; segundo minha nova identidade, pelo menos. Não tropecei ao pular para chão porque Rita me segurou pelo braço. Não precisei me preocupar em deixar as duas a sós porque desconfiava internamente que aquilo era justamente os que estavam esperando desde o começo da noite.
   A pista da Cielo era enorme, então todos os dançarinos provisórios podiam curtir a festa sem serem pisoteados ou morrerem de calor, mas também não o suficiente pra tirar aquela atmosfera de “estamos todos juntos curtindo a mesma coisa em uma vibe animada”. O equilíbrio perfeito, se por assim dizer. A música que tocava alta nas caixas de som da boate atraiu um número bem grande de pessoas, então precisei me apressar para chegar até o meio, onde o fluxo e entrada e saída era quase nulo. O que mais me agradou é que, diferente dessas musicas mais atuais, aquela em questão não fora remixada, mas continuava com a sua versão original e rock’n roll, do jeito que Grace Potter desejaria.
   Acho que toda garota tem aquela música em especial que acorda a sua stripper interior e “Paris” era a minha. Não necessariamente pelo nome da música ser o mesmo da minha cidade natal, apenas gostava da sua batida sensual que me consumia como uma garrafa do melhor champanhe. Antes de perceber já estava dançando de um lado para o outro, ocasionalmente jogando os braços pra cima. Fechei os olhos, sendo transportada para uma festa diferente, em um continente diferente, onde eu preferia estar naquele momento.
   Zayn estaria sentado em um canto, conversando com Niall e Louis e uma bebida na mão de cada um. Eu teria chamado-o pra dançar comigo, mas fora rejeitada – como de costume – e mesmo que ele alegasse não saber ou não gostar de dançar, não conseguiria tirar os olhos de mim. Sabendo disso, o encararia ao rebolar até o chão, jogando o quadril de um lado para o outro tão devagar que tudo pareceria estar em câmera lenta. Mais lenta ainda tornaria a subir, dessa vez olhando para baixo com um sorriso travesso que mostraria o quão ciente eu estaria do controle que tinha nas mãos. A essa altura, Niall estaria falando sozinho, pois Zayn não escutaria nada além da música de fundo e Louis se afastaria com o pensamento: “Não posso assistir a minha irmã dançando assim.”
   Certa de querer fazer meu namorado se arrepender de não ter aceitado o meu convite, o daria as costas, como se desse atenção à um outro garoto qualquer que aparecesse na minha frente. Não demoraria nada pra sentir as mãos grandes e macias de Zayn na minha cintura, me abraçando protetoramente como se dissesse “essa aqui tem dono, sai fora”. Ele não iria dançar muito, apenas mexer os pés e fazer com que nossos corpos se encaixassem perfeitamente. Estaríamos cercados por pessoas, mas apenas nós dois existiríamos. O olharia nos olhos e cantaria:
  - If I was from Paris... I would sing: Oooh la la, la la la la la.
   Abri os olhos quando a música chegou ao fim, sendo trazida de volta à minha realidade. Um sorriso melancólico tomou conta do meu rosto, onde eu brigava internamente com a vontade de estar ao lado de Zayn “agora” e o saber que não demoraria muito pra voltar à Londres. Honestamente eu entrara naquela boate pelos motivos errados e via isso agora. Não tinha nenhuma segunda intenção ou planos, mas querer “dar o troco” por Zayn me passar ciúmes inconscientemente era infantil demais, até pra mim que não queria crescer. “Quero ir embora.”
   Não esperava que as meninas parassem de festejar por minha causa, mas avisaria que estava indo embora. Era o mínimo que eu poderia fazer, não? Olhei de volta para o bar: Cara e Rita não estavam mais por ali. Ao invés disso, enxerguei o garoto que supostamente nos convidara até ali: Brian. Sim, este era seu nome certo, eu perguntei. Brian ergueu sua garrafa de cerveja na minha direção quando estranhou o tempo que passei encarando-o. Mal sabia ele que só estava tentando lembrar o seu nome. De qualquer forma, me esquivei de pessoas que entravam na minha frente, tendo até mesmo que empurrar uma ou outra que estivesse bêbada demais.
  - Ruth! – Brian me cumprimentou.
  - É , na verdade. – Tentei parecer simpática com um sorriso. – Você viu a Kylie?
  - Ela está no banheiro com as outras modelos. Retocando a maquiagem ou fofocando... Quem sabe a diferença? – Riu, mas acho que não quis dizer aquilo de forma ruim. – Quer uma bebida?
  - Claro! Só vou perguntar uma coisa à Ky e já volto, certo? – Menti, não esperando a sua resposta para me afastar.
   Brian sorriu como se eu tivesse acabado de aceitar passar a noite ao seu lado. O escutei falar algo que parecia muito com “vou esperar”, mas a música e a pressa estavam mais altas. “Banheiro, banheiro...” Me afastei do bar, seguindo na direção que acreditava ser o banheiro. Acho que a fila de meninas que esperava pra entrar dentro de um cubículo era a prova que eu precisava pra saber que aquele lugar era o que eu procurava. A travessia teria sido tão mais fácil se bêbados andassem rápido!
  - Com licença... Eu poderia só ver se a minha amiga está aí dentro? – Perguntei a primeira menina da fila, que rolou os olhos.
  - Pode tentar, mas duvido que te deixem entrar. – Ao falar isso, ela bateu com força na porta fechada. – HEY!
  - O que é agora? – Uma outra garota extremamente alta abriu uma fresta da porta, como se fosse uma segurança.
  - Kylie está aí dentro? – Elevei a voz, torcendo para que alguém me desse uma luz.
  - Você é amiga dela? – Ergueu a sobrancelha. Quando afirmei que sim, a garota abriu a porta e me deixou passar.
   Chegando no interior do banheiro, não entendi porque a fila do lado de fora estava tão grande. O cômodo era do tamanho do meu quarto na Inglaterra e todos os boxes não estavam sendo usados. Ao invés disso, um grupo de cinco garotas descansava no sofá no canto ou nas bancadas da pia. Antes de falar qualquer coisa, procurei Ky, encontrando o que parecia ser as suas pernas, já que ela estava inclinada sobre uma torneira e uma ruiva tapava a minha visão. A fim de decidir se era mesmo a procurada antes de chamar o seu nome, dei um passo para o lado. Como se tivesse descoberto a cura do câncer, fiquei paralisada.
   Antes a razão desse choque fosse tão boa assim! De fato era Kylie inclinada na pia, mas o problema não era esse. A morena segurava o que parecia uma nota de cem dólares enrolada em uma espécie de tubo e o usava para sugar com o nariz um pó branco arrumado em linhas retas. Ninguém me encarou como se eu fosse uma ameaça e desejei que isso me fizesse sentir mais segura. Não fez.
  - ! – Kylie limpou o nariz, meio surpresa, mas nada envergonhada. – Quer um pouco?
  - Não... – Minha voz tremeu. – Já estou indo embora. Viajo amanhã.
  - Quer que eu te acompanhe até a porta? – Sorriu como se não houvesse nada de errado ali.
  - Não precisa, de verdade. Sei o caminho. – Com um sorriso amarelo, me apressei para sair.

    

Chapter XXXIX

Felizmente o hotel não tinha nenhuma política que exigisse o uso de sapatos em seus elevadores, caso contrário, eu teria que subir até o meu quarto pelas escadas. Após andar meia hora de um lado para o outro pela avenida mais próxima à Cielo tentando chamar a atenção de qualquer taxi, meus pés já estavam latejando dentro do salto alto que eu usava pela primeira vez. “Anotar: Estrear um sapato em uma boate de NY – Péssima idéia.” Depois de muito xingar, finalmente consegui chamar a atenção de um motorista bondoso e fui levada até o hotel.
   Uma vez no corredor, enfrentei nova luta ao tentar encaixar a chave em forma de cartão na fechadura eletrônica. Talvez eu tivesse bebido mais do que imaginava, mas não me encontrava embriagada. Apenas levemente alcoolizada. Ocasionalmente consegui abrir a porta e larguei os sapatos que segurava pelo chão, assim como a jaqueta e bolsa de mão; as duas últimas foram para a cama mais ou menos arrumada. Olhei aquele berço confortável e branco, me chamando para dormir. Foi difícil dizer não e só fiz isso porque estava me sentindo suja. O suor de dançar a noite inteira misturado com o cheiro de fumaça de cigarro não era a coisa mais agradável do mundo. Meu cabelo então... Tinha medo até de olhar.
   Segui para o banheiro me desfazendo das jóias e roupas pelo caminho. Por mais que a banheira tivesse seus atrativos, achei melhor ficar apenas com o chuveiro. Com o sono que estava, acabaria dormindo dentro dela. Algo que todas as garotas do mundo gostam são os cremes e shampoos doados pelo hotel como cortesia e encontrei um novo conjunto deles sobre a bancada da pia, pois os primeiros já estavam guardados em uma sacolinha dentro da mala. Não seria roubo se eles viessem de brinde, certo? Assim como os chocolates na cama e um dos travesseiros que era gostoso demais para ser deixado pra trás.
   Tentei não demorar mais que o necessário no banho e me peguei distraída com a vista a minha volta. Eu estava pelada em frente a uma parede de vidro e se alguém passasse de helicóptero poderia me ver, mas quem estaria passeando por ali em plenas três horas da manhã. A cidade nunca dormir é uma coisa, ser cheia de pervertidos é outra. Por o céu continuar escuro, conseguia enxergar algumas estrelas aqui ou ali. Assim como em Londres, aquela cidade grande não tinha o céu tão estrelado quanto no interior. Culpa da poluição intensa, com toda certeza. Todo o desenvolvimento e tecnologia da cidade tinham o seu preço e infelizmente era aquele. Apesar disso, um pedaço da Lua brilhava lá no alto.
   Era impossível olhar para a Lua, não importando em qual fase estivesse, e não recordar meu avô. Engraçado como o tempo passa rápido, não? E ao mesmo tempo, era como se na semana passada eu tivesse atendido a ligação que mudaria tudo. Atualmente não pensava mais tanto no ocorrido, apenas aquela saudade que pessoas queridas deixam quando partem em uma longa viagem. Mas Louis e eu tentávamos pensar que papá estava bem e que nos encontraríamos novamente algum dia. Além disso, aprendi a valorizar o momento. Por falar nisso, estava na hora de planejar uma viagem a Paris para visitar as duas mulheres que continuavam lá.
   Após o banho que durou mais que o esperado por motivos importantes, sequei o corpo e o cabelo o máximo que a toalha me permitiu, sem per paciência para usar o secador. Vesti o mesmo pijama que usara na noite anterior e me enfiei embaixo das cobertas. Com o interruptor da luz do teto ao lado da cama e bem perto do botão que acionava as cortinas automáticas, deixei o quarto ficar escuro. O silêncio e a paz que aquilo me trouxe era algo que me faria dormir assim que descansasse os olhos.
   Tateei a mesinha de cabeceira a procura do celular que deixara carregando antes de sair, a fim de colocar o alarme despertador para as nove horas da manhã. Apesar de estar com sono, era meu último dia em NY e até agora não comprara nenhum dos presentes que prometi levar de volta à Inglaterra. Deslizei o dedo distraidamente para desbloquear a tela e meu coração parou. “Zayn. Chamada perdida” foi o que consegui ler. Apenas isso. Uma chamada perdida. Nenhuma mensagem de voz ou texto. Chequei o horário: Duas da manhã em Londres, nove horas da noite em New York. “Ele deve ter ligado quando o celular apagou de vez por causa da bateria... Se eu não tivesse falado com Harry, o iPhone teria agüentado!” Me critiquei internamente. Como eu iria adivinhar? Devia ser perto das dez horas da manhã em Londres agora, mas conhecendo Zayn, ele estaria em um sono pesado. Minha única opção tentadora foi digitar uma mensagem:

  
“Abi, me liga quando acordar. <3 xx”
  

+++

  

  Se três dias era realmente pouco tempo para conhecer qualquer cidade, quem diria Nova York? Cada cantinho da cidade tinha suas histórias pra contar e monumentos pra conhecer! Ainda mais se você fosse tão louca por “lembrancinhas” quanto eu era. Acabei acordando antes mesmo do despertador naquela manhã de domingo, pegando a minha bolsa mais leve, tênis mais confortáveis e câmera fotográfica para bater perna pela cidade. Minha primeira – e única – parada turística foi pegar um barco e ir visitar a estátua da liberdade. Incomodei diversos passageiros do passeio, pedindo para que eles tirassem fotos minhas enquanto tentava posar segurando a estátua na palma da mão. Isso é que dá viajar e sair sozinha!
   A segunda parte da manhã foi bem divertida: Compras! Com a quantidade de roupas que já ganhava diariamente pela Mulberry e outras marcas que me mandavam produtos para experimentar, seria exagero demais comprar ainda mais; sendo que provavelmente não chegaria a usar metade delas. Nessas condições, minhas aquisições foram um tanto diferentes do que se esperaria de uma garota de vinte anos. Após passar na loja da Apple para procurar capinhas novas para meu celular, acabei pegando uma rua errada ao procurar uma sorveteria que me foi recomendada e cheguei ao verdadeiro paraíso: FAO SCHWARZ. Uma loja de brinquedos do tamanho de um shopping Center. Criancinhas corriam de um lado para o outro e eu estava quase fazendo o mesmo.
   Meu lema era: Não compre nada que puder encontrar em Londres; o que não fez tanta diferença quanto eu esperava. Terminei levando legos, Barbies e bonecas para Lux, bichinhos de pelúcia, bonecos de ação, vídeo games e outras besteiras que sabia que minhas crianças de casa iriam gostar. Acharia difícil dar todos os meus brinquedos, mas faria um esforço. Até mesmo coisinhas de bebê para Theo estavam na sacola. Já sabendo que não conseguiria fazer as coisas novas caberem na mala que eu já tinha, fui obrigada a comprar uma nova. Aí sim é que fiquei parecendo uma louca ao andar pelas ruas com a mala enorme da Betty Boop cheia de marcas de beijo com batom vermelho. Uma coisa que me pediram pra levar de volta foram as tais camisas de ‘I love NY’ e achei que fossem dar mais trabalho para serem encontradas. Literalmente em cada esquina que passei encontrei barraquinhas com essas camisas, chaveiros e tudo que expressasse amor por aquela cidade maravilhosa.
   De volta no hotel, me confundiram com uma nova hospede – devido à mala – e um funcionário se ofereceu para me ajudar a fazer o check in e levar a bagagem ao quarto. Eu podia ser a rainha da preguiça, mas aceitei ir sozinha até o quarto. A mala tinha rodinhas pra algo, não? Mas foi ao chegar no meu andar que realmente me surpreendi. Kylie estava sentada no chão, encostada à porta e com óculos escuros. Apesar da forma que nos vimos pela última vez, ela não parecia nada abalada.
  - Ky? – Chamei seu nome, pois meus passos não foram suficientes.
  - Bom dia, ! – Sorriu, aceitando a minha mão para levantar. – Achei que fosse demorar mais...
  - Bem que eu queria! Mas viajo em algumas horas e ainda tenho muita coisa pra arrumar. – Tentei não encará-la, procurando o cartão do quarto na bolsa. – O que você faz aqui?
  - Vim buscar as mochilas que Cara e eu deixamos aqui antes da festa. – Sorriu alegremente, colocando as mãos no bolso. – E podemos conversar?
  - Acredito que sim. – Era normal eu estar desconfortável após o que presenciei no banheiro, não? Abri a porta e a deixei entrar primeiro. – Desculpa a bagunça!
  - Você devia ver o meu! – Riu e se sentou na cama. – , quanto à ontem...
  - Não se preocupe, Ky, não contei pra ninguém o que vi. – Fechei a porta e fui me juntar a ela. – E nem vou contar...
  - Eu sei! Não é isso. – Toda a sua áurea animada e energética diminuiu pela metade. – Não quero que pense algo errado de mim.
  - Kylie, as escolhas sãos suas. Não tenho o que pensar...
  - , eu não uso drogas porque quero. É porque eu tenho que usar. – Suspirou, olhando pra baixo. – Você não sabe como essa vida de modelo é difícil... Não conhece o lado negro.
  - Mas... O que usar drogas tem a ver com isso? – Resolvi dar uma chance para escutá-la.
  - Cocaína acelera o metabolismo, o que ajuda a queimar calorias, e suprimi o apetite. – Explicou. – Eu uso pra continuar magra. É a minha única escolha. Eu não danço como você, ... Nunca fui boa na escola! Minha família não tem nada. Preciso da minha forma pra... Bem, pra viver!
  - Esse é um caminho perigoso, Ky. Vale a pena passar por isso?
  - Eu não uso sempre! Só de ver em quando. – Deu de ombros, tentando convencer mais a si mesma do que a mim. – E você não pode me julgar. Eu vi como você se comportou no almoço com Carine e Karl quando chegou aqui. Mexendo a comida pra ninguém perceber, conversando o tempo inteiro... Quem fala não come. Mas eu te entendo, hun. Uma garota tem que fazer alguns sacrifícios.
  - Só me preocupo com você. – Aquele comentário de Kylie me incomodou. Era diferente... Eu não estava passando fome. Não era a mesma coisa! A única coisa que queria era entrar um vestido. Estabeleci uma meta e fui atrás, só isso!
  - Não precisa se preocupar. Ah, quase esqueci! Tenho algo pra você... – Ao falar aquilo, procurou algo dentro de seu casaco. – Aqui. Acho que você precisa disso.
  - O que é isso... Exatamente? – Segurei o frasco alaranjado com tampa branca, fazendo as pílulas dentro dele dançarem.
  - Não são drogas nem nada do tipo, não se preocupe! – Riu, voltando a ser agitada como antes. – Você toma uma pílula uma hora antes das refeições e a “gula” vai embora! Você só come o necessário pra continuar saudável e ainda manter a boa forma.
  - Obrigada, Ky! – Forcei um sorriso por educação, sabendo que nunca usaria aquilo. – Mas não tenho nada pra você.
  - Não precisa me dar nada, boba! Sua amizade é o bastante. – Levantou, procurando as próprias coisas com os olhos. – Já tenho que ir! Estou atrasada para o desfile de hoje. É uma pena que você não poderá nos assistir... Cara e Rita também estarão lá.
  - Nos veremos semana que vem, em Londres. Posso esperar. – Fiz o mesmo que ela, indo direto ao armário onde guardara as mochilas das meninas. – Aqui está.
  - Boa viagem, ! – Me abraçou de surpresa e senti seus ossos me apertarem. – Até logo.
  - Se cuide, Kylie. Adorei te conhecer, de verdade.
   Nos despedimos novamente e a levei até a porta. Kylie parecia saudável e a única coisa que poderá ser considerada problemática era a finura de seu pescoço e braços, mas ela não deixava de ter um corpo e rosto bonito. Isso somado ao seu talento na passarela e dentro de roupas de marca ela teria uma carreira longa pela frente. Era só uma pena que o preço fosse tão caro. A americana tinha o gênio semelhante ao de , por isso desenvolvi um apresso muito grande por ela em tão pouco tempo. Não gostaria de ver a minha melhor amiga se envolvendo com drogas e também não gostava de ter descoberto que Kylie estivesse nesse meio.
   Gostei muito menos da insinuação de que eu não estivesse comendo porque tivesse algum problema... Porque foi isso o que Ky deu a entender com seu comentário. Por outro lado, ela não disse aquilo por mal e até me deu um “presente”. Quase que pra provar a mim mesma que não tinha problema nenhum em comer, me joguei na cama ao tirar os tênis dos pés e peguei o telefone e o folder ao lado dele, mostrando o número da cozinha do hotel e o cardápio que me ajudaria a pedir meu almoço.
   O hotel era tão tecnológico que não precisei falar com ninguém. Foi só apertar os botões conforme a voz automática ia dando as instruções e cinco minutos depois meu almoço fora pedido. Agora era só esperar! Devolvi o telefone ao gancho e o papel à mesa. As minhas coisas estavam bagunçadas e espalhadas pelo quarto e banheiro, me encarando como se julgassem minha etiqueta feminina. Ao invés de usar aquele tempo para começar a refazer as malas, fui até o frigobar ao lado da TV e tirei de lá uma lata de Coca-cola.
   Teria voltado pra cama se não escutasse o toque do meu celular me chamando dentro da bolsa. Após um gole no refrigerante, deixei a lata no criado mudo e puxei a bolsa de cima da nova mala da Betty Boop. Segui o som para encontrar o aparelho de capa nova e vi a foto de preencher a tela e atendi a ligação.
  - Isso são horas de acordar?!
  - Fala baixo, ! Minha cabeça vai explodir a qualquer momento. – Resmungou. – E eu não acordei agora, para sua informação. Só não estava sozinha...
  - ! – Gritei com animação, tapando a boca ao lembrar que ela estava de ressaca. – Desculpa! Vou falar baixo... Só me diga... Quem?
  - Quem você acha? – Tinha um sorriso em sua voz.
  - Niall? Me diga que era o Ni...
  - Era o pudincup sim. – Riu adoravelmente. – Mas antes que você comece... Nós não estamos juntos novamente. Quero dizer... Mais ou menos... Nós conversamos ontem e decidimos tentar de novo, mas estamos indo com calma.
  - Finalmente! – Comemorei, sentando confortavelmente no meio da cama. – Então a festa ontem foi boa, huh?
  - Foi incrível, ! A decoração, as músicas... Tudo bem a sua cara. Liam me contou que você organizou praticamente tudo.
  - Tive um toque especial nos detalhes, só isso. – Dei de ombros, tentando não odiar o fato de eu não ter ido. – Vai me contar os babados?
  - Achei que nunca perguntaria! – Ouvi o som de palmas vindo do outro lado da linha. adorava essa parte. – Harry e Louis não se soltaram a festa inteira! Eleanor estava lá também, com o verdadeiro namorado. Ele se chama Max e é uma gracinha. Se alguém a visse com ele, nunca acreditariam que Louis era seu namorado.
  - Eu gostaria de conhecê-lo! El tinha me falado sobre ele antes...
  - Max é bem legal mesmo. AH! Dani levou as amigas dançarinas e elas fizeram uma apresentação em homenagem ao Li. Foi bem legal. Josh estava lá também, perguntando de você o tempo todo.
  - Josh! Eu esqueci de avisar que não ia...
  - Tom e os outros McGuys também foram. Estão com raiva de você, aliás.
  - QUÊ? – Senti uma pontada no estômago.
  - Estou brincando, idiota, mas, por favor, não grita mais...
  - Besta. – Rolei os olhos, balançando a cabeça negativamente. – Algo mais que eu deva saber?
  - AH AH AH AH! Você não vai ACREDITAR em quem apareceu na festa.
  - Quem? – Àquele ponto acreditaria em qualquer coisa, mas soava tão espantada que me preocupei.
  - Marco. Acredita nisso? E ele não estava sozinho! Aquelas quatro meninas que você não gosta estavam com eles. Little Mix, o nome da banda. – Parou de falar, esperando uma reação. Ao ver que eu não falaria coisa alguma, prosseguiu: - Aparentemente elas também trabalham com a Modest!, por isso estavam lá. Não sei se Marco está tentando aumentar a publicidade delas imitando uma falsa amizade entre as duas bandas... Mas elas pareciam tão felizes em estar lá quando você estaria de vê-las entrando. Acho que ninguém gosta da Modest!.
  - Você viu Zayn? – Preferi perguntar de uma vez, ao invés de ficar enrolando e esperando que ela captasse as indiretas.
  - Eu conversei com ele ontem. Durante horas! Ele sente sua falta, . Parece que não se viam há meses. não mentiria pra mim, mas ouvir aquilo não me deixou tão aliviada quanto eu esperava. – Claro, ele não deixou o bar por um minuto. E não ficou muito tempo também. Antes das duas horas da manhã já tinha ido embora.
  - Eu volto hoje... Então acho que tudo vai ficar bem.
  - Tem que voltar mesmo! Estou saudades da minha loira. – Riu de uma forma que me fez querer abraçá-la. – Que horas é seu vôo?
  - Às cinco da tarde. Daqui, não daí... Antes que você esqueça da diferença de fuso horário!
  - Ainda bem que falou, eu já ia brigar com você! – Riu mais uma vez da própria besteira. – ALIÁS, TOMLINSON!
  - O que eu fiz, ?
  - Desde quando você é uma das garotas preferidas da Rita Ora? – Enquanto dava seu chilique, alguém batia na porta.
  - Como Harry postou ontem... A little party never killed nobody. – Deslizei para for a da cama, quase tropeçando nos sapatos largados pelo chão. – Só um minuto, .
  - Pra onde está indo? Não pense que vai fugir desse assunto! – Reclamou. Apoiei o celular no ombro para deixar as mãos livres, e abri a porta. – Ni, tem almoço na cozinha...
  - Niall ainda está aí, ? – Ri e acenei para o funcionário do hotel que trouxera a minha comida. – Oi... Obrigada!
  - Pode ficar com o carrinho. Só o deixe aqui fora quando terminar e alguém virá buscar. – O menino de mais ou menos a minha idade sorriu. Seu sotaque americano era bem puxado, diferente do meu. – Bom apetite.
  - Obrigada... De novo. – Enquanto ele deixava o carrinho próximo à cama, tirei uma nota de cinco dólares que tinha no bolso da calça. – Aqui, sua gorjeta.
  - Obrigado, senhorita.
  - Niall não está aqui... Eu é que estou aqui. – Comentou como se devesse fazer sentido. - Quem estava aí?
  - Serviço de quarto. Meu almoço acabou de chegar. Vou te colocar no viva voz. – Tirei o aparelho da orelha e fiz o que disse, deixando o celular na cama de frente pra mim quando voltei para ela. – Diga ao Ni que mandei um beijo.
  - O que pediu, ? – A voz do loiro me respondeu. – Ah, você também está no viva voz aqui.
  - Ah, ótimo! – Agradeci por não ter falado nada demais, já que não sabia que estava no speaker o tempo todo. – Pedi hambúrguer com extra cheddar e bacon... E bata frita, claro.
  - Oh, tortura! – O irlandês resmungou.
  - Shh, vocês dois! , você ainda não me respondeu... Desde quando conhece a Rita?
  - A conheci ontem, no desfile da Mulberry... Depois nós duas, Cara e Kylie, uma outra modelo, fomos à uma festa aqui. Foi bem legal. – Trouxe os pratos com meu almoço para a cama, logo enchendo a boca de batas. – Rita é um amor, . Cara também! Vamos nos encontrar quando forem à Londres semana que vem.
  - Eu teria ciúmes se não soubesse que você vai me levar junto. E isso não é uma pergunta. Você vai me levar junto!
  - Claro que vou! – Concordei, dando mais um gole na Coca-cola.
  - Aliás, todo mundo na Academy já está sabendo que você está em NY. O grupo no Facebook está indo à loucura! O assunto principal era o resultado dos testes, que saem essa semana, mas foi só as suas fotos aparecerem na Fashion Week que você virou o foco!
  - Não, não, não! Não era pra ninguém saber! Agora Brigitte vai viver atrás de mim! – Choraminguei, já imaginando as suas perguntas. – “Você conheceu alguém famoso? Aposto que ganhou várias roupas novas! Se não quiser alguma, pode me dar!”
  - Sorry, . – Gargalhou.
  - Tudo bem, ruivinha, eu vou falar pra ela que você estava aqui comigo.
  - Pode falar isso pra qualquer um, por favor!
  - Pode deixar. Tenho que ir agora... – Comi mais um pouco de batatas. – Tenho que terminar de almoçar e arrumar a mala. As malas...
  - Cuidado com meus presentes, ok?
  - Você queria presentes? Ops...
  - Nem brinque com uma coisa dessas, !

+++

  Fechar a mala foi mais complicado do que bagunçá-la. Era sempre assim... No começo da viagem, tudo estava em perfeito estado, no final... O verdadeiro caos! Em uma vagem de apenas três dias, quem diria que a bagunça poderia estar tão grande assim, não? Eu diria! Mas enfim. O problema é que a maioria dos presentes que comprei para os meninos eram itens de colecionador e não podiam ser tirados da caixa, portanto, ocupavam mais espaço do que deveriam. Fora isso, ao chegar ao aeroporto, tive que pagar uma taxa por excesso de peso na bagagem.
   A jornada de sete horas de New York para London também foi pior na volta do que na ida, pois passei mal do momento em que começamos a voar ao instante em que as rodas tocaram o chão da chuvosa cidade. Não vomitei ou coisa parecida, mas meu estômago tentava duelar consigo mesmo dentro do meu corpo. Uma beleza! Ainda com as roupas confortáveis que usara, o desconforto foi terrível. Na hora de pegar as minhas malas foi outro pesadelo... Uma das minhas bagagens foi a primeira a sair, o que me fez correr ao lado da esteira até que conseguisse capturá-la momentos antes de sumir pelo vão preto que a levaria de volta ao avião. A segunda foi simplesmente a última a aparecer, o que me fez ficar esperando enquanto todos iam embora com suas bagagens.
   O atraso no vôo por conta de uma tempestade em Atlanta (onde foi a minha conexão) fez a minha chegada na Grã Bretanha acontecer às uma e quarenta da madrugada. Ou seja, além de continuar passando mal, teria pouco tempo para dormir até a minha aula na segunda feira de manhã. Ou dali algumas horas, se pararmos pra pensar. Depois de muito lutar para conseguir equilibrar as duas malas uma sobre a outra, pude seguir para o lobby do aeroporto, onde torcia para encontrar quem me levaria de volta pra casa.
   Imaginei que fosse encontrar Liam ou Louis me esperando na saída da sala de desembarque, mas, oh como eu estava enganada. Nenhum dos meus amigos deu as caras por ai; ainda que eu tivesse avisado do atraso do meu vôo. O jeito seria enfrentar o trânsito e frio no banco de trás de um táxi. Sem falar no preço que pagaria por causa do horário e da distância até meu condomínio. “Será que dá pra piorar?” Minha pergunta foi respondida pelo trovão que fez o salão piscar e o chão embaixo de meus pés tremer. Começaria a chover! Ótimo. Tudo que eu precisaria pra pegar um táxi ainda mais rápido!
  {Coloque para tocar}
   Reclamando das conspirações do universo contra mim, atravessei as portas automáticas do salão de embarque/desembarque, olhando para cima e lendo a placa que me indicaria o caminho para a saída mais próxima. Foi ao abaixar o olhar que vi a pessoa que estava me esperando. Parado, há alguns metros de mim, um homem com capuz sobre a cabeça e óculos escuros, apertava um lábio contra o outro, como se discutisse com a própria consciência o que deveria fazer em seguida.
   Se Zayn não ia fazer nada, eu ia! Saí de trás do meu carrinho, deixando para trás todas as coisas. Ao me ver correndo em sua direção, ele deu um passo para frente e abriu levemente os braços, dando o espaço que eu precisava pra me atirar ali. Com os pés flexionados para ganhar altura, o abracei pelo pescoço sem pensar em soltar nunca mais. Com a mesma necessidade, segurou a minha cintura com força, deslizando as mãos para as minhas costas. Enterrei o rosto em seu pescoço, inalando aquele perfume que eu tanto amava. Fácil assim, o enjôo e qualquer coisa que me incomodasse foram embora. Eu estava de volta e, mais que isso, estava nos braços do homem que dava sentido a tudo.
  - Eu senti sua falta. – Sussurrou na minha orelha.
  - Estou aqui agora. – Sorri, olhando-o. – E não pretendo mudar isso.
  - Quem disse que eu deixaria? – Sorriu, levando uma mão até a minha nuca e puxando meu rosto até que nossos lábios grudassem um ao outro. – Eu sinto muito, Anjo.
  - Não sinta. Acho que nós dois temos culpa nisso. – Estávamos juntos e era o importante. – Agora cala a boca e me beija.
   Com uma risada baixa e cheia de divertimento, Zayn me aproximou mais uma vez. Nossas bocas se encaixaram do jeito que provava que foram feitas uma para a outra. Esses três dias que passei sem beijos foram torturantes o bastante para me deixar com mais vontade de Zayn do que já tinha naturalmente. Esqueci que estava em um aeroporto cheio de pessoas que nos olhavam curiosos. Não distanciei o corpo do outro, querendo grudá-los cada vez mais. Nossas línguas se esbarravam como se competissem pra ver quem ganharia a batalha e, nesse caso, não haveria perdedores.
  - Eu te amo, Zayn. – Sorri mais do que fizera o fim de semana inteiro.
  - Eu te amo mais. – Imitou-me e beijou a minha testa. Desfez o abraço pra passar o braço em volta dos meus ombros e andar na direção do carrinho que eu abandonara. – Vamos. Vou te levar pra casa.
  - Qual casa? – Ergui uma sobrancelha, desconfiada que aquilo pudesse ser um seqüestro.
  - A que tem o nosso quarto. – O flat!
  - Babe, eu tenho aula amanhã... – Mas me peça pra faltar e teremos um trato! – Não tem problema, posso ir de trem.
  - O que? Eu te levo até a Academy, . E você tem sapatilhas lá em casa e essas coisas fluflu que usa na aula. – Segurou o carrinho com uma mão, sem querer tirar a outra de perto de mim.
  - Você vai acordar cedo só pra me levar lá? – Ri. Aquilo era uma prova de amor maior do que ter aparecido no aeroporto.
  - Não soe tão surpresa. – Riu por saber que era verdade.
  - Não pergunto mais. – Gargalhei, ajudando-o a empurrar o carrinho. – Que disfarce é esse, Zen?
  - Gostou? – Sabia que eu me referia ao capuz e óculos. – Ninguém me notou!
  - Claro, porque usar óculos escuros às duas horas da manhã não chama a atenção de ninguém!
  - Tive medo de usar um bigode e você não me reconhecer. – Me fez rir com aquele comentário.
  - Eu realmente senti sai falta.

    

Chapter XL

Zayn falou sério ao alegar que me levaria até a Academy na segunda feira e me surpreendeu ainda mais ao conseguir acordar primeiro e preparar nosso café da manhã. Omelete de queijo e café com leite. O namorado perfeito, não? Mais perfeito ainda por ter me acordado com beijos e um botão de rosa vermelha. Era como se não tivéssemos passado dias sem nos falar, tamanha era a nossa ligação. Apenas na hora que eu trocava de roupa após o banho é que ele deu trabalho, me fazendo propostas de faltar a aula e ter um dia preguiçoso ao seu lado. Disse que poderíamos ficar na cama, assistindo filmes e que queria escutar novamente como foi a viagem. Não sabia que dizer não pra aquele plano poderia ser tão difícil.
   Apesar disso, fomos em seu novo carro para a Academia. Um Jeep preto, parecido com o que alugamos em Los Angeles, mas consideravelmente mais tecnológico e futurista. Pelo que entendi, ele o comprou na sexta feira, para se distrair do fato de que eu estaria indo embora. Isso é o que eu chamo de “fazer compras pra esquecer os problemas”. Zayn estacionou na entrada da Academy. Eu pedi para que ele parasse na esquina e eu andaria o resto do caminho, mas nada feito! Meu maior medo era que Aisha, Nina ou outras fãs do One Direction que estudavam ali o encontrassem e fizessem um pequeno escândalo. Sem falar nas perguntas que fariam por nos ver juntos.
  - Tenha uma boa aula, beautiful. – Zayn desligou o carro, mas não o destravou. Pela falta de botões nas portas, não pude sair.
  - Obrigada. – Sorri, tirando o cinto, mas continuando acomodada no banco. – O que você vai fazer?
  - Voltar a dormir. – Suspirou sonhador. – Mas estarei aqui na porta quando acabar a aula.
  - Uau, não vou mesmo voltar pra casa. – Cruzei os braços.
  - Qual o problema nisso? – Praticamente deitou no banco, o rosto virado na minha direção.
  - Eu tenho um filho, Malik.
  - Harry pode ir te visitar! – Brincou, sabendo exatamente de quem eu falava. – Posso passar no condomínio e buscar ... Por favor, . Você já disse que queria fazer o teste! Ver como ele se comporta no apartamento...
  - Tudo bem... Mas e ele fizer sujeira, é você quem vai limpar! – Não faria mal testar, certo? – E isso não quer dizer que estou aceitando morar com você.
  - Ainda não. Mas sei esperar. – Inclinou para frente, pedindo beijo com os olhos.
  - Espere sentado. – Ao menos fiz uma das coisas que ele queria e toquei em seu rosto para trocarmos um beijo rápido.
  - HEY! – Uma batida no vidro do carro fez Zayn saltar no banco e me soltar depressa. – OIEEE.
  - Ashton! – Zayn o reconheceu e respirou mais aliviado. Apertou um botão que abriu a janela e segui seus movimentos.
  - Sabia que era vocês! Tudo bem, cara? – O australiano sorria como se nem percebesse o que interrompera.
  - Na boa... E você? Os outros estão aí também? – Zayn apertou a mão dele pela janela. Vi um botão que parecia o que eu procurava e o apertei. – ! Onde você...
  - Até mais tarde, baby. – Mandei um beijo no ar, conseguindo abrir a porta e sair do Jeep.
   Apesar das reclamações de Zayn, passei pela frente do carro com um sorriso no rosto. Eu pagaria por aquilo mais tarde e temia gostar do preço. Ashton me olhou alegre como já era normalmente e me acompanhou quando o puxei pelo braço. Os dois meninos se despediram de longe e passei o braço pelo de Ash. Zayn não ficaria com ciúmes como faria se fosse Josh no lugar do loiro. Não sei como essas coisas funcionam na cabeça dos homens, mas o primeiro não representava uma “ameaça”.
  - Como vai a banda, Ash? – Subimos a escadaria lado a lado.
  - Ótima! Não conseguimos outro show e não temos uma gravadora, mas temos músicas novas. – Não soou irônico. Acreditava fielmente que aquilo era “ótimo”. - Como foi a viagem?
  - Incrível! – Sempre respondia aquela pergunta da mesma forma porque era a única que eu conhecia. – Mas como você sabe?
  - Facebook. As noticias correm rápido por lá. – Deu de ombros, soltando o braço do meu para abrir a porta e me deixar passar. – Você é a noticia da semana!
  - Não exagere. – Ri, mas temia ser verdade.
   Ambos entramos na academia, onde os corredores já estavam cheios de alunos andando de um lado para o outro. Uns atrasados para suas aulas e outros simplesmente conversando e aproveitando seus períodos livres. O número de olhares que recebi estava maior do que conseguia recordar ter quando parti na sexta feira. Era quase como se eu fosse uma vaca dentro de uma churrascaria! Ou algo que faça mais sentido que isso, pelo menos. As pessoas mais conhecidas acenavam e sorriam, desejando bom dia ou elogiando a minha aparência. Outras só cochichavam coisas entre si e eu não conseguia decifrar se eram boas ou ruins. Apenas quando uma morena de cabelos escuros passou por mim e entortou o nariz é que tive certeza do que, ao menos ela, pensava.
  - Não gosto dessa garota. – Ashton comentou quando ela foi embora.
  - Eu nunca a vi aqui antes... – A deixei pra lá, prosseguindo em meu caminho inicial. – Não importa. Tem aula agora?
  - Infelizmente. No terceiro andar. – Tirou suas baquetas do bolso e as bateu no meu ombro, como se eu fosse a própria bateria. – Você?
  - Minha primeira aula hoje é aqui nesse andar... Mas te acompanho até a sala. – Sorri simpática. Porque não tornar Ash um amigo?
  - Não precisa, . – Negou, mas já estávamos perto do elevador.
  - Eu insisto! E onde está a sua camisa da My Little Pony?
  - Aquela não é a única que eu tenho, sabia? – Riu. Não tive a chance de lhe responder, pois as portas do elevador foram abertas.
  - ! – saiu do elevador e, literalmente, pulou em cima de mim.
  - ! – A abracei, olhando Ash por cima do ombro. – Fica pra próxima...
  - Vejo vocês depois! – O menino acenou alegremente.
  - Quando chegou? Porque não me ligou antes? – A ruiva quis saber.
  - Hoje de madrugada... O vôo atrasou e não quis te acordar. – Beijei sua bochecha e nos soltamos. – Zayn me trouxe aqui.
  - Eu sabia que ele ia te buscar! – Sorriu confidente. – E eu também lhe disse que tudo ficaria bem.
  - Tudo está mais que bem. – Assenti e olhei em meu relógio. – Por falar nisso, mocinha, não está na hora da sua aula?
  - Desde quando você é porta voz da diretora? – Fez careta. – E também não está na hora da sua?
  - Eu sei disso... Mas Brigitte vai estar lá. Não tenho certeza se estou com tanta paciência pra ela hoje.
  - Boa sorte, . Você vai precisar. – Riu maleficamente e me abraçou uma última vez. – Te vejo depois da aula?
  - Te encontro na nossa escadaria.

+++

  - Você estava ótima na aula, hoje, . – Bartira, que agora eu sabia ser prima de Holly, me encontrou na saída do banheiro, onde eu entrara para trocar de roupa.
  - Obrigada. Eu realmente gosto de improvisação e estava inspirada... – Admiti.
  - É porque ela estava em NYC, professora. – Brigitte, que me seguia desde que me vira no começo da manhã, também saiu do banheiro. – Quem não ficaria inspirada em uma cidade como aquela?
  - Bem, continue assim! – A professora sorriu e acenou. – Até amanhã, meninas.
   A aula realmente foi muito boa. Quase não fizemos exercícios na barra e nenhum em dupla! Não que eu tivesse algo contra em ser escolhida por último pelo menino azarado que ficasse sobrando! Quem teria algo contra isso? ha ha. A fim de nos ajudar com a coreografia para o recital, a professora nos deixou improvisar rotinas e depois deu dicas do que gostava ou não. Impressionantemente, gostou de tudo que eu fiz; o que não foi o meu caso. Gostei da aula e do resultado dela, mas não era o que eu queria apresentar no recital. Não era bom o suficiente! E isso só piorou o meu nervosismo em relação ao grande dia.
  - , aquelas não são as irmãs do Zayn? – Brie chamou a minha atenção para um lugar na nossa frente.
  - O que elas estão fazendo aqui? – Ninguém me avisou que Waliyha e Safaa estariam me visitando! As duas estavam tirando fotos com um grupinho de meninas que sabiam quem elas eram.
  - Estranho... Elas nunca vieram aqui quando você ainda namorava com o irmão delas. – Brigitte criava teorias em sua cabeça.
  - Estranho mesmo. – Forcei um olhar de “você tem toda razão!”
  - Droga, esqueci minha revista na sala! – Parou de andar e agradeci internamente. – Até amanhã, !
  - Não se eu puder evitar... – Falei baixo enquanto fingia sorrir.
   Honestamente preferia quando ela derrubava latas de lixo na minha cabeça e me odiava. Pelo menos naquela época ela não ficava me seguindo como se eu fosse a nova Regina George do pedaço. Desde que suas duas seguidoras leais foram reprovadas e convidadas a sair da Academy, Brie percebera que precisava “se comportar” para continuar no curso e nada melhor para a sua carreira ali dentro do que andar comigo.
  - ! – Safaa me viu e veio correndo na minha direção.
  - Que surpresa é essa? – Me abaixei para poder abraçá-la com força. – Você está linda, Saa.
  - Viemos te buscar! – Ficou na ponta dos pés para beijar a minha bochecha.
  - Oi, . – Waliyha seguiu a irmã, me abraçando assim que a mais nova soltou.
  - Beleza é de família, só pode ser. Vocês duas estão mais bonitas do que na última vez que as vi. – Abracei as duas pelos ombros. – Como faço pra ter esses genes?
  - Acho que não é assim que funciona. – Wal riu, bem mais solta ao estar comigo do que no começo do meu namoro com seu irmão.
  - Mas seus bebês vão se parecer com a gente! – A pequena soltou.
  - Safaa! – Waliyha a repreendeu, mas eu não me importei.
  - Eu espero que sim! – Concordei, passando pelas portas de saída. – Se nossos filhos puxarem a mim, eu ficarei muito brava.
  - Mas você é linda, . – Saa olhou pra cima sorrindo.
  - Concordo com você, filha! – Patricia esperava por nós no fim da escada. Atrás dela, o Volvo prata que voltara a ser seu. – Ela é linda.
  - Boa tarde, Trish! – Soltei as meninas para ir abraçar a minha sogra. – Que surpresa boa ter vocês aqui.
  - Eu ia levar as meninas até o flat e Zayn me disse que tinha que te buscar aqui, então me ofereci pra fazer isso! – A mulher explicou enquanto as meninas corriam para entrar no banco de trás do carro. – Pronta pra ir?
  - Eu ia encontrar aqui fora, mas ela já foi... Então acho que estou pronta!

+++

  - Obrigada pelo almoço, Trish. – Levantei da mesa da sala de jantar do flat, trazendo comigo uma pilha de pratos sujos. – Tudo estava uma delicia.
  - Imagine, . Frango à parmegiana é minha especialidade! – A mulher me seguiu, trazendo os copos para a pia.
  - Mummy, posso ir brincar com ? – Safaa segurava uma mão na outra e olhava a mãe de jeito pidão.
  - Claro que pode, querida. – Assentiu. – Wal, não quer ir com ela?
  - Já estou indo! – Waliyha sentava no colo de Zayn, ainda na mesa, e ele não a deixava sair. – Me solta, Zayn!
  - Só não brinquem no quarto de jogos, tá bem? – Pedi. – Bo faria muita bagunça e tenho certeza que Zayn não cumpriria sua promessa de arrumar tudo.
  - Hey, eu ouvi isso! – O homem da casa estava de pé, colocando a irmã sobre o ombro.
   O teste de adaptação de no apartamento estava sendo mais fácil do que eu imaginava. O flat em si era bem grande, então o cachorro ainda tinha bastante espaço para correr. A única coisa era a falta de um segundo andar que ele pudesse explorar, portanto, deixamos a entrada para o terraço bem fechada. Safaa e Wal se apaixonaram por ele completamente e desconfiei que pudessem querer roubar o meu bebê. Zayn, por outro lado, estava adorando o fato de a minha única desculpa para não me mudar de vez para o apartamento ia embora pelo ralo. Trisha ainda não sabia dos planos terríveis do filho para me seqüestrar, mas, se soubesse, com certeza ficaria ao lado dele.
   Uma vez que reuni toda a louça suja em uma pilha na bancada da pia, me dispus a lavar tudo. Minha sogra, educada como era, não perguntou se eu queria ajuda e simplesmente dobrou as mangas da blusa e começou a enxaguar o que eu ensaboava.
  - Você não precisa fazer isso! Já cozinhou, agora é a minha vez de lavar. – Tentei.
  - Eu quero ajudar! Não é problema nenhum. Além do mais, podemos conversar enquanto trabalhamos. – Sorriu, tocando meu braço com o cotovelo por ter as mãos ocupadas. – Zayn me contou que você conheceu o pai dele...
  - Ele ficou uns dias aqui com a gente. – Concordei, deixando-a ajudar. – Yasser não era nada como eu imaginava! Estava nervosa em conhecê-lo, mas tudo ocorreu bem.
  - Ele é muito tranqüilo. Acho que Z. puxou isso dele.
  - O que eu fiz? – Zayn entrou na cozinha mais uma vez, sem Waliyha em suas costas.
  - Puxou ao seu pai. – O olhei por cima do ombro, não conseguindo esconder um sorriso. Não tinha motivos específicos... Apenas sorria sempre que o via. Talvez fosse a sua pose relaxada por estar rodeado de pessoas que amava, ou os cabelos bagunçados e ainda úmidos do banho. – Alguém me ligou?
  - Você recebeu uma mensagem da Lexy. – Explicou, balançando o celular em sua mão. – “Boa tarde, . Como foi a viagem? Estou te mandando um link e acho bom você dar uma olhada... Me ligue quando puder, precisamos conversar. Tenho novidades! Beijos.” Me diga que ela não vai te mandar para o Equador agora!
  - Duvido muito. Mas não digo que iria achar ruim... – Brinquei com um pingo de verdade. Tive que deixar os últimos pratos sujos na pia e secar as mãos em um pano. – Anyway... Deve ser importante. Se importa em ajudar a sua mãe aqui, babe?
  - Não precisa, , já estou acabando. – Trisha negou, mas aquela conversa não rolava comigo.
  - Ele vai te ajudar, Trish. – Decidi, olhando Zayn fazer careta. – Be good, Malik!
  - Eu sempre sou bom. – Franziu o cenho e colocou as mãos pra trás do corpo, escondendo meu celular. – E estou com medo do que Lexy esteja querendo com você.
  - Não deve ser nada demais. – Estiquei a mão, esperando receber o aparelho. Ao invés disso, o menino ergueu o celular, sabendo que eu não o alcançaria. – Zen!
  - Vai ter que pular pra pegar! – Claramente se divertia com a nossa diferença de alturas.
   Sabendo que precisava tomar uma atitude drástica, o segurei pela gola da camisa e o aproximei até que nossos lábios se chocassem. Mordi seu inferior e o puxei entre meus dentes com força, sugando-o em seguida. Quase sem perceber, abaixou minimamente o braço, o que me deu a chance de agarrar o aparelho e tirá-lo da sua mão. Me afastei ao conseguir o que queria e deixei Zayn entorpecido, como se ainda tentasse assimilar o que acabava de acontecer. A risada de Trisha me deixou um tanto envergonhada, mas ela também era mulher, conhecia nossas táticas.
   Saí do cômodo pelo arco na sala de jantar e já saí direto no corredor. Poderia olhar o site pelo celular mesmo, mas no computador a resolução seria melhor e, ainda que tenha tentado tranqüilizar Zayn, também temia em saber qual era o conteúdo do link. Andei até chegar ao meu espaço particular naquele apartamento, onde já tinha colocado uma foto que tirara em NY com a câmera Polaroid no mapa que continha lembranças de todas as minhas viagens. Sentei na cadeira em frente ao computador e apenas mexi o mouse para ligar o monitor. Safaa estivera jogando ali mais cedo, portanto já estava tudo ligado, o que me poupou bastante tempo.
   Abri uma nova guia e digitei o link do Sugarscape. Batuquei na mesinha branca enquanto esperava o site carregar. Aquele era um dos maiores canais de fofocas que eu conhecia, mas tinha sua cota de coisa verdadeiras x falsas. Nem sempre tinham as fontes mais confiáveis, mas de vez em quando criavam teorias bem próximas a verdade. Ao menos em relação ao One Direction e tudo que os envolvia. Por exemplo, uma semana falava o quanto Eleanor e Louis pareciam apaixonados um pelo outro e na próxima já alegavam um casamento secreto entre Lou e Harry. Sem falar que divulgaram como loucos “detalhes” de quando Zayn teve um caso com a garçonete em Los Angeles, nos fazendo terminar o namoro.
   “SHE’S EVERYWHERE!” Era o título gritante e em letras garrafais que continha a chamada para a matéria. Correndo os olhos rapidamente pela página e não foi difícil perceber que a pequena matéria era sobre mim! E, por incrível que pareça, não falava mal:
   “Vamos falar sobre it girls: Milão tem, Paris tem, Nova York tem... E Londres ganha uma nova - melhorada e mais forte que a primeira. Quer saber o seu nome? Você provavelmente já a viu por ai, em blogs, revistas ou na primeira fileira de Fashion Weeks (como na foto acima, onde foi vista ao lado de outras duas princesas da moda, no lançamento da Mulberry em territórios americanos). Tomlinson é a garota para ficar de olho; palavras de Sir. Lagerfeld. E se Karl gosta dela... Nós já a amamos. Não se deixe enganar pelos olhos azuis e rosto angelical! Essa menina sabe do assunto.
   Tudo é uma questão de contatos! O que começou com uma amizade com a belíssima Carine Roitfeld, transformou-se em uma parceria de dar inveja. Além de ganhar o amor do diretor de estilo da Chanel, dizem por ai que Elie Saab está tentando colocar as mãozinhas na garota e trazê-la para as passarelas da Fashion Week de Paris. Nada foi confirmado ainda, mas torcemos para que seja verdade.
   Já dizia o ditado: Diga-me com quem andas... E anda bem acompanhada! Sua mais nova amiga Rita Ora não poupou carinhos ao postar uma foto em seu Instagram, onde as duas apareceram ao lado do seu romance de toda vida Cara Delevingne (ver foto ao lado) enquanto curtiam uma festa em NYC no ultimo fim de semana.
   O brilho em frente as câmeras deve ser de família, pois seu irmão mais velho é ninguém menos que Louis Tomlinson, da banda mais quente do momento One Direction! E a nossa bonequinha não tem história apenas com o líder da banda! Além de ser amiga de infância de Harry Styles, ganhou o coração do badboy Zayn Malik antes mesmo da formação da banda! Infelizmente o relacionamento de oito meses acabou no fim de julho, após acusações de traição por parte do gato quando a banda divulgava o seu trabalho em Los Angeles.
   Mas isso não a deixou chorando pelos cantos. Além de ser vista em festa com garotos fofíssimos, recentemente declarou a uma repórter americana que tinha alguém especial lhe esperando em Londres! Nossas fontes conseguiram capturar uma imagem (abaixo) do reencontro de e seu príncipe encantado enquanto trocavam beijos apaixonados no saguão do aeroporto essa madrugada, quando voltou para casa. Ainda não temos a sua identidade, mas estamos trabalhando nisso!”
   “Acho que podia ser pior...” Pensei, sem estar muito certa daquilo. Não li uma palavra sequer sobre a minha carreira de bailarina e era quase como se eu possuísse uma vida dupla. A bailarina x a It Girl. Preferia não pensar em qual das duas estava ganhando, mas não era um placar justo. Tirando isso, as fotos que apareceram no site estavam bem legais... E ninguém me chamava de vadia nos comentários, então darei pontos à Sugarscape por isso. Era impressão minha ou Elie Saab me queria em seu desfile na PFW? Eu já comentara que gostava do design da marca e das peças conceituais, mas nunca me passou pela cabeça que alguém ficaria sabendo disso e pensaria em uma parceria! Eu precisava ligar para Lexy.
   Com o celular já em mãos, apenas apertei para “ligar para contato” e levei o aparelho até a orelha. Bem a tempo, Zayn apareceu na porta, com aos seus pés. O cachorro tinha a língua pra fora, resultado de toda a correria pela sala ao brincar com Wal e Saa. Levantei da cadeira, dando espaço para o garoto sentar no meu lugar e poder ler a matéria.
  - ? Como vai?! – Lexy atendeu. – Viu a mensagem que te mandei?
  - Acabei de ler a matéria, Lex... Não sei como processar. – Ri, andando de um lado para o outro no quarto.
  - Eu achei justo! Claro que podiam ter adicionado alguns detalhes, mas fica pra próxima...
  - O que falaram sobre Paris... É verdade?
  - Prefiro falar sobre isso pessoalmente, , mas posso adiantar que tenho planos pra você!
  - Ótimo! Não aumentou em nada a minha curiosidade. – Bufei com uma pequena risada.
  - Tenha paciência! Podemos nos encontrar essa quarta feira?
  - Estou livre a tarde e a noite inteira. Diga o horário e local e estarei lá. – Concordei, atraindo olhares curiosos de Zayn.
  - É o que eu gosto de ouvir. Te enviarei os detalhes do nosso encontro amanhã pela manhã.
  - Até logo, Lexy. – Me despedi e encerrei a ligação. Minhas perguntas não foram respondidas, mas era um começo.
  - Minha namorada é famosa. – Zayn levantou da cadeira com as mãos nos bolsos da calça.
  - Meu namorado também é! – Guardei o iPhone no bolso e o abracei pelas costelas, sendo envolvida pelos ombros em retorno. – E tem uma pequena possibilidade de que eu precise ir até Paris em algumas semanas.
  - Paris não é tão longe assim... E seria apenas por alguns dias, certo? – Apertava meus braços em forma de carinho.
  - Certo. Eu já estava planejando visitar nana e minha mãe mesmo... – Afirmei, sorrindo pela diferença entre a conversa onde falei sobre NYC em comparação àquela. – Mas por falar em mãe... Já entregou os presentes que trouxe para as suas irmãs?
  - Você nem me deu os meus! Não é justo. – Fez careta.
  - Só posso entregar o seu quando os outros meninos estiverem junto!

+++

  - Acho que ganhei pontos com a Saa. – Comemorei ao passar o lápis de olho preto nas pálpebras. – Você viu como ela gostou da casinha de bonecas?
  - Waliyha também adorou a maquiagem... – Zayn respondeu do quarto, abotoando a própria camisa social.
  - Não que ela precise de maquiagem! – Diferente de mim, que tinha que passar uns bons quinze minutos antes do espelho para me transformar em apresentável. – Suas irmãs são lindas, Zayn. Dony está incluída nisso, aliás. Porque ela não veio?
  - Acho que ela está em Bradford... Não tenho certeza. – Isso porque era a irmã dele. – Já volto, babe.
  - Tudo bem... – Terminei a maquiagem e guardei o que havia espalhado dentro da caixa que levara para NY. – Hey, você viu meus sapatos?
  - Você não precisa de sapatos. – Foi a única coisa que ouvi antes da porta do quarto ser fechada.
  - Como assim não preciso de sapatos? – Rolei os olhos, bagunçando os cabelos com a mão. Ao não receber resposta, saí do banheiro e entrei no quarto. – Baby?! Zayn!
   Antes mesmo de as três visitantes irem embora, Zayn anunciou que me levaria pra jantar. Por isso mesmo, nós dois tomamos banho e nos arrumamos. O menino ficou pronto em dez minutos, o que devia ser um tipo de recorde. Eu, por outro lado, demorei um pouco mais e ainda por cima consegui perder os sapatos que gostaria de usar. Não sabia para onde iríamos, mas de acordo com a roupa “formal” de Zayn, não era uma lanchonete da esquina. Optei por um vestidinho preto básico com detalhes em transparência.
   A fim de procurar meus sapatos perdidos, fui abrir a porta que o dono do flat fechou, mas girei a maçaneta e nada aconteceu. Girei mais uma, duas, três vezes para aceitar que havia sido trancada ali dentro. Zayn estava cheio de brincadeirinhas aquele dia! Qual era a graça de me trancar no quarto?! Se perdêssemos a reserva no restaurante a culpa seria toda dele. Bati algumas vezes, mas a sombra do outro lado da porta mostrava que ele estava ali. Ou talvez pudesse ser ... Mas era cumprida demais, até mesmo para um Husky.
  - Zayn, abre essa porta! – Bati mais uma vez. – Isso não tem a mínima graça! Baaaaaabe!
   O som de algo sendo arrastado me fez olhar pra baixo e, em seguida, a sombra sumiu e tudo ficou escuro do lado de fora. Na ponta dos meus pés, uma chave prateada deslizou até que eu a erguesse. Se alguém pulasse em cima de mim com uma mascara na hora que eu abrisse a porta, Zayn estaria encrencado. Coloquei a chave na fechadura, destrancando o quarto e finalmente conseguindo ficar livre. Na porta, preso por um pedaço de fita adesiva, um bilhete:

  
“Siga o caminho.”

  Olhando para o chão mais uma vez, entendi do que se tratava. Um caminho formado por velas redondas e pequenas seguiam como serpente pelo corredor. No meio desse caminho e entre as velas, pétalas de rosas vermelhas formavam um tapete. “Zayn!” Sem saber o que pensar ou o que dizer, obedeci o pedido do bilhete e fui em frente, pisando com cuidado sobre as pétalas e entre a pouca luz gerada pelas velas. Será que mesmo depois de todo esse tempo, Zayn não cansava de me surpreender? Eras coisas assim que me faziam cair de amores por ele novamente todos os dias. O pior de tudo é que eu não fazia idéia de como ele conseguira tempo pra arrumar aquilo tudo sem que eu percebesse. Se fiquei trancada no quarto por cinco minutos foi muito!
   O caminho de pétalas terminou na escada que levava até o terraço e, em cada degrau, duas velas acesas continuavam a ditar a direção. Dessa vez sem ter medo de que algo cairia na minha cabeça, subi com certa pressa até o andar de cima. No topo da escada, uma mão me aguardava para auxiliar a subida. Entretanto, não era Zayn que me esperava... Era Louis. A estufa estava repleta de novas velas para nos ajudar a andar sem pisar ou bater o pé em nada. Assim como meu namorado, Lou se vestira impecavelmente e não compreendi mais nada.
  - Boa noite, senhorita. – Lou disse, ainda sem soltar a minha mão. Estava claro em seu rosto que tentava não rir. – O cavalheiro a aguarda.
  - Obrigada, Sir Lou. – Não tive tanto auto controle quanto o outro e comecei a rir.
   Saímos da estufa e meus pés descalços bateram no chão de pedra da cobertura, mas aquilo não me incomodou. Mais a frente, uma espécie de tenda fora improvisada. Ao invés de um teto, luzes pisca-pisca das que se coloca em árvores de Natal ajudavam as velas a fazer a iluminação. No centro dela, uma mesa com duas cadeiras fora arrumada impecavelmente. Um arranjo de flores cor de rosa pastel, pratos de porcelana branca, talheres de prata e taças de vinho. Ao lado de uma dessas cadeiras, Zayn esperava por mim de pé.
  - Tudo isso pra mim? – Perguntei por ser a única coisa que consegui formular.
  - Você merece tudo e mais. – Zayn se aproximou e recebeu a minha mão quando meu irmão reverenciou. Aquilo ainda era estranho, mas quem seria eu de julgar? – Gostou?
  - Isso não é um pedido de casamento, certo? – Quis confirmar, não tendo tantas duvidas de como responderia.
  - Você aceitaria? – Me guiou até a mesa, puxando a cadeira para que eu sentasse.
  - Provavelmente não. – Brinquei, acomodando-me.
  - Vamos ver se vai continuar pensando assim no final do jantar. – Sentou na minha frente, com um sorriso que brilhava mais que as luzes acima de nós. – Louis, por favor.
  - Sim, senhor. – Quanto meu irmão estaria recebendo pra fazer aquilo?
   Sem saber – pra variar – do que se tratava, olhei Lou voltar para a estufa. O sorriso de Zayn se tornou travesso, como se ansioso para ver o que eu acharia de alguma coisa. Tirei o olhar do seu quando uma melodia de violão começou na direção onde meu irmão desaparecera. A próxima coisa que assisti foi Niall entrando ali com seu instrumento em mãos e Liam atrás, cantando a letra da música. Zayn segurou a minha mão em cima da mesa e entrelaçou nossos dedos. Levei a mão livre aos lábios, dividida entre sorrir e arfar surpresa. Os dois meninos foram até dois bancos altos que até então eu não notara e se sentaram. É, aquilo seria um show.
  - I can’t take my eyes off of you... – Zayn cantarolou baixinho. Em outra ocasião eu teria dito que aquilo tudo era demais, ou até brega. Por saber disso, ele riu. – Você está linda.   - Eu me sinto linda sempre que estou com você. – Acariciei a sua mão com o polegar.
  - Então estou cumprindo o meu dever. Que é que provar todos os dias que você é a mulher mais linda do mundo. – Apesar de ter o costume de ouvir aquelas coisas dele, minhas bochechas ruborizaram.
  - Posso servir as bebidas? – Louis retornara com uma jarra de inox em mãos.
  - Sim, por favor. – O respondi. Porque não aproveitar a minha noite de princesa?
  - Eu mesmo fiz. – Lou serviu meu copo primeiro, enchendo-o de algo pastoso e marrom.
  - O que é isso? – Soltei Zayn para segurar a taça e levá-la à boca. – Milk shake de Nutella? Não acredito!
  - Seu preferido. – O menino à minha frente também bebeu do dele.
  - Mal posso esperar pra saber o que iremos comer! – Admiti, falando a verdade.
  - Já trarei o jantar. – Mais uma vez, Louis se foi. Devido a dança da noite, Harry devia estar na cozinha.
  - Onde está ? – Perguntei enquanto encolhia na cadeira devido uma rajada de vento mais forte que varreu a cobertura.
  - Não se preocupe, ele está bem. – Começou a tirar a própria jaqueta. – Aqui, Anjo...
  - Não precisa, eu estou bem. – Sorri tocando a pétala da flor em minha frente.
   A primeira música acabou, então bati palmas para Liam e Niall, que sorriram. A verdade é que não os vira desde a última sexta feira e morria de vontade de levantar abraçá-los. Ao mesmo tempo, entendia a atmosfera que Zayn tentara criar com aquele jantar e consegui me segurar sentada, apenas sorrindo para os dois e acenando um oi terno. Teria bastante tempo depois daquele encontro para matar as saudades e dividir os presentes; o que devia ser a principal razão para todos terem concordado com aquilo tudo. Os dois músicos se entreolharam, como se para decidir qual seria a próxima música e bebi do meu milk shake enquanto isso.
  - Não vai tirar a dama pra dançar, Zayn? – Niall perguntou, dedilhando as primeiras notas da nova música.
  - É claro que sim! – Surpreendendo até a si mesmo, Zayn se pôs de pé e estendeu a mão.
  - Obrigada, Ni. – Pisquei para o loiro, aceitando o convite.
   Zayn me ajudou a levantar e nos guiou até poucos metros de distância da mesa e já não éramos mais cobertos pelas luzes que piscavam como se fossem estrelas. Colocou as mãos nas laterais do meu quadril e começou a balançar lentamente de um lado para o outro, enquanto eu o tocava pelos ombros. Achei o incrível o fato de ele não precisar ter sido coagido a dançar comigo e ter aceitado tudo de bom grado.
   Como se o céu dividisse as mesmas duvidas que eu, um balde de água foi derramado sobre nossas cabeças. E com “balde de água” quero dizer “chuva torrencial”. A rajada de vento que senti anteriormente deveria ter sido um aviso, mas todos estavam distraídos demais com todo romantismo e nem ao menos percebemos o fenômeno da natureza que se aproximava. E quando o fizemos, porém, era tarde demais. Liam ficou louco e pulou do banco, gritando algo como “as luzes!” e “vamos ser eletrocutados!”. Niall foi atrás, com medo de estragar seu violão. Zayn e eu nos entreolhamos quando nossa dança foi interrompida tão drasticamente, mas ele parecia desapontado.
  - Tá brincando comigo?! – Reclamou, olhando enquanto as velas começavam a ser apagadas pelos pingos grossos. – Agora está tudo estragado! A surpresa foi destruída.
  - Não foi não! – O virei de frente pra mim novamente, impedindo-o de ir até a mesa. – A surpresa foi perfeita...
  - Mas o jantar foi arruinado! – Bufou.
  - Não tem problema, babe... – Segurei a lateral do seu rosto molhado. – Eu sinceramente amei. E está chovendo! Você sabe o quanto eu amo a chuva... Você e os outros meninos estão aqui... A noite está perfeita.
  - Mas eu queria fazer algo especial pra você, Anjo. – Seu olhar estava realmente triste. Parecia até que aquele era o nosso aniversário de namoro, mas era apenas um dia qualquer...
  - E você fez! Sinceramente. – Sorri, o puxando para um abraço apertado e ensopado. – É só que ainda não consegue controlar o tempo.
  - Aparentemente não. – Soou com raiva, rindo em seguida. – Eu te amo, pequena.
  - Claro que ama! – Gargalhei, levantando o rosto para olhá-lo. – Aliás... A resposta ainda é não, eu não aceitaria casar com você.
  - Isso não é justo. O que eu tinha planejado foi por água abaixo! Literalmente, pelo visto.
  - ABRAÇO EM GRUPO! – Uma cabecinha loira saiu correndo da estufa e logo estava com os braços envolta de Zayn e eu.
  - Nialler! – O abracei com força, finalmente podendo fazer isso.
  - ! – Harry, o chef culinário da noite, apareceu com um avental branco.
  - Hazza! – Me esquivei dos dois homens que continuaram se abraçando apaixonadamente e abracei o de cabelos cacheados. – O que fez para o nosso jantar?
  - Você vai adorar. – Riu, abraçando meu corpo bem mais molhado que o dele.
  - A idéia do cardápio foi minha. Só pra deixar isso claro! – Louis estava parado um pouco atrás, seu cabelo liso começando a grudar em seu rosto.
  - Obrigada, Boo bear. – Soltei um namorado e fui para os braços do outro. Meu irmão relutou um pouco a me abraçar, mas fui mais grudenta que isso.
  - De nada! – Apertou-me até me fazer reclamar por estar sem ar. Era como se tivéssemos cinco e seis anos de novo.
  - Todos vocês vão ficar doentes. – Liam era o único menino que restava na estufa, protegido da chuva.
  - Não seja bobo, Leeyum! – Assim que fui solta, corri atrás dele.
  - Eu não quero me molhar! – Estendeu a mão como se acreditasse realmente que aquilo iria me parar. – !
  - Quem é o chatinho agora? – Consegui abraçá-lo, fazendo questão de molhá-lo o máximo que consegui. – E não se esqueça que posso não dar os seus presentes.
  - Presentes? – Niall pulou com a palavra mágica. – Quero presentes!
  - Vamos lá pra baixo, então! – Anunciei, atraindo os meninos para a escada.
  - Ei! O jantar primeiro! – Harry veio por último. – Deu trabalho cozinhar tudo!

    

Chapter XLI

Então era isso. O grande dia havia chegado! O dia que todos esperavam ansiosos... Bem, todos menos eu. Em algum momento do dia, a diretora Agnes andaria até o quadro de avisos e prenderia ali a lista com os resultados das audições do espetáculo de fim de semestre. Todos da minha classe estavam super animados, tendo certeza de que conseguiriam os papeis que esperavam. Eu, por outro lado, torcia para ao menos conseguir uma vaga em uma das danças em grupo. Poderia até ser um floquinho de neve e ganharia a manhã.
   Devido aos ânimos e assunto unânime que percorria os corredores, a professora Bartira tirou a primeira parte da aula para explicar a história do Quebra-Nozes. Não que algum de nós não a conhecesse, claro. Ela explicou que o ballet se passava em uma noite de natal, onde uma família muito importante da cidade dava a sua festa anual e recebia vários convidados. No correr da noite, seus dois filhos, Clara e Fritz, ganham diversos presentes. Clara, em especial, ganha o melhor presente de todos de seu padrinho Drosselmeyer, um quebra-nozes! A festa chega ao fim e os convidados vão embora. A menina acaba adormecendo com o quebra-nozes em seus braços, embaixo da árvore de natal e é acordada quando o relógio bate à meia noite. No entanto, ela percebe que encolheu e sua casa está sendo atacada por um exército de camundongos, liderado pelo Rei Rato. O quebra-nozes lidera os outros brinquedos contra o Rei e salva Clara de suas garras. Então, o soldado transforma-se em príncipe e leva Clara para uma terra da fantasia, onde vivem incríveis aventuras até que ela acorda e percebe que tudo não passou de um lindo sonho!
   Frustrante, eu sei. Mas era uma história linda e eu ainda não acreditava que perderia a oportunidade de ser parte dela. Após a primeira meia hora de explicação e conversas sobre o espetáculo, mas ainda sem sair do espírito, começamos a ensaiar uma rotina. A professora nos dividiu em dois grupos de cinco cada um, e Brigitte – quem diria? – ficou no meu. Para começo, cada um recebeu um tema e teve que criar uma coreografia que pudesse transmitir a mensagem ou o significado do que quer que fosse. Nosso tema era fogo e do outro grupo, água. Particularmente preferia o outro tema, mas o que podia fazer? Nada a não ser ajudar meus colegas a desenvolver a tarefa.
   Brie foi bem legal ao falar para todos calarem a boca e escutarem o que eu tinha a dizer ao invés de ignorarem a minha presença como faziam quase todas as aulas; palavras suas. Apesar da sua clara falta de sutileza, todos obedeceram e nos primeiros quinze minutos do tempo estimado que a professora disponibilizou, tínhamos a nossa rotina criada e aperfeiçoada. Até mesmo com uma trilha sonora em mente!
  - Primeiro grupo, podem começar. – Bartira permitiu e meu grupo foi para o centro da sala, pronto para se apresentar.
  - OS RESULTADOS ESTÃO NO QUADRO! – Uma garota qualquer abriu a porta e interrompeu qualquer coisa.
  - Deixa pra lá... – Bartira desistiu do que seria impossível de dar continuidade e todos os alunos correram porta a fora. – Estão liberados... Acha que alguém me escutou?
  - Duvido muito. – Ri, sendo a única que permanecera na sala. – Mas posso avisar a eles...
  - Obrigada. – Sorriu, indo desligar o aparelho de som. – Você não parece tão desesperada pra ver os resultados...
  - É porque não estou mesmo. – Confirmei, juntando as coisas de volta na bolsa e vestindo a calça jeans por cima do uniforme. – Sei que não consegui um bom papel.
  - Não existem papeis pequenos... Só atores pequenos. – Repetiu a frase que eu já sabia ter escutado antes. – Ou, nesse caso, bailarinos pequenos. O que eu sei que você não é.
  - Holly costumava falar isso. – Me enfiei no sweater cinza e pendurei a mochila nas costas.
  - Aprendi com ela. – Piscou. Da turma, eu era a única a saber do parentesco das duas. – Você também deveria.
  - ! – Uma ruiva sem ar deslizou até conseguir parar na porta. – Sabia que você ia estar aqui ainda! Anda, vamos ver os resultados!
  - Estou indo! – Ri da animação da outra. Podia ser um caso perdido, mas isso não queria dizer que eu não podia ficar feliz por .
   Acenei para a professora, que desejou boa sorte, e andei de encontro à minha amiga. Como aquela sala ficava no primeiro andar, não demoraríamos muito pra chegar até o painel de avisos, próximo ao auditório. A nossa volta, pessoas seguiam o caminho oposto, já sabendo dos resultados bons ou ruins que adquiriram. Uma menina baixinha era a mais escandalosa chorando nos braços do amigo. “Essa serei eu em alguns minutos...” Comentei internamente, pois se o fizesse em voz alta, me bateria. Um semicírculo fora formado em volta do quadro de avisos e um silêncio mortal se instalara em todo corredor. A única coisa que ouvi antes da aglomeração se abrir foi um grito feminino.
  - COMO É QUE ELA CONSEGUIU ESSE PAPEL? – Sabe o que disse sobre a menina baixinha ser a mais escandalosa? Deixa pra lá. – Nem fez o teste! E porque é que EU tenho que ser a sua substituta? Devia ser o contrário!
  - O que está acontecendo? – Perguntei para , que me puxava entre as pessoas até que tivéssemos uma boa visão de tudo.
  - Você! – A menina de pele bronzeada e cabelos amarrados em um rabo de cavalo rígido, apontou o dedo comprido e de unha vermelha na minha direção. – Não sei com quem você dormiu pra ganhar o papel principal, mas vou descobrir.
  - Do que você está falando? – A antiga eu teria se curvado ou começado a falar francês por conta do nervosismo, mas aquela nova eu endureceu a pose e encarou a maluca.
  - Não se faça de sonsa, . É por causa da bandinha que você conhece? Eles pagaram alguém? – Colocou as mãos na cintura. Estreitando os olhos.
  - ... – havia andado até o quadro lera os resultados. – Você é a Clara.
  - Não por muito tempo. – A morena deu um passo a frente, tentando me intimidar. Em seguida, falou para que só eu escutasse: - Deixe-me explicar como as coisas vão ocorrer, okay? Você não é mais a “estrela internacional” dessa academia. E seu reinado aqui também não vai durar muito. É o seguinte... Você vai desistir desse papel e se contentar com qualquer outro que não seja o que eu mereço.
  - Ou então o que? – A desafiei e acabei rindo. Quem era essa menina mesmo? E alguém precisava ligar para o manicômio mais próximo, porque uma paciente conseguiu escapar.
  - Ou farei da sua vida aqui dentro um inferno. – Disse como se esperasse que eu ficasse com medo.
  - Tenho novidades pra você, queridinha... Já estive no inferno. E era frio demais pra mim. – Não sei de onde tirei aquilo, mas me senti bem orgulhosa de mim mesma. Os murmúrios crescentes em volta de mim só aumentaram.
  - Algum problema aqui? – O tumulto todo deve ter atraído a diretora Agnes, pois ela apareceu bem ao nosso lado.
  - Claro que não, diretora. – A morena sorriu como se fosse um anjo. – Eu só estava parabenizando a minha colega!
  - E nós estávamos indo embora. – passou o braço pelo meu, me tirando do meio da bagunça. – Tenho que te tirar daqui.
  - Por que? O que aconteceu? – Fui arrastada por ela e não resisti.
  - Eu te conheço, . Pra você dar meia volta e falar para a diretora que realmente não merece o papel principal é um segundo!
  - Eu consegui mesmo o papel principal? – Parei de andar, tentando absorver os últimos acontecimentos. – Mas não entendo! Eu realmente nem fiz o teste...
  - Gosto mais de você quando está a flor da pele e fala aquelas coisas de ter ido ao inferno. – Pensou alto. – Não comece com crises existenciais, por favor. Já passamos por isso uma vez.
  - Estou bem, . – Rolei os olhos. – Quem era aquela menina, aliás?
  - Helena Simoa. Acabou de ser transferida da Escócia e está no terceiro período de dança. – Ashton surgiu sorrateiramente, passando os braços pelos ombros de e eu. – Te falei que não gosto dela.
  - Me parece mais com Brigitte 2.0, se quer saber. – resmungou.
  - Não... Ela é pior. Brigitte fazia as coisas por baixo do pano. Helena tem mais veneno...   - É como dizemos na minha terra... Vamos esperar ela morder a língua. – Ash recitou como se fosse algo realmente inspirador, o que causou risadas em nós duas. – É sério!

+++

  - Podemos falar de negócios? – Lexy deu o primeiro gole em seu café.
  - Finalmente! – Afirmei com a cabeça, segurando a colher para começar a comer minha sobremesa que acabava de chegar.
   Diferente dos nossos outros encontros, Lexy não quis ir até uma cafeteria ou à agência de modelos. Ao invés disso, nos encontramos em um restaurante e almoçamos juntas. Por mais que estivesse morrendo de curiosidade para saber o que a publicista tinha para me falar, Alexia enrolou a refeição inteira. Apenas foi convencida a contar tudo quando o garçom chegou com seu café preto sem açúcar e o meu bolo de chocolate com sorvete e cobertura dupla. Eu podia acabar com diabetes depois de tamanha sobremesa, mas com a manhã estressante que tive por culpa de uma certa escocesa, precisava me aliviar em doces.
  - Bem, primeiramente, tenho que te falar que a sua aparição em New York fez muito bem para a sua imagem. Deu pra perceber com aquele site que eu lhe mandei, não?
  - Sim, eu acho! – Estava tão ansiosa que preferi falar menos e ouvir mais.
  - Você não faz idéia de quantas ligações eu já recebi por sua causa. Convites de desfiles, coquetéis, matérias para blogs... Todo tipo de mídia está atrás de você. – Lexy era realmente boa no que fazia, isso todos têm que concordar. – Chegamos a um ponto que eu precisei filtrar a sua agenda, caso contrário você não teria tempo pra nada.
  - Já falei que te amo?
  - Não precisa, querida, eu sei disso! – Riu, bebendo outro gole do café. – De qualquer forma... Semana que vem começa a fashion week de Londres e eu já te consegui entradas para to-dos os desfiles! Então poderá escolher os que mais gosta e ir! E leve os acompanhantes que quiser.
  - Obrigadaaaa! – Cantarolei, engolindo uma colherada de sorvete.
  - Já havia conversado com Carine sobre isso e ela quer que você participe do desfile. – Piscou. – Mais precisamente, quer que você abra e o encerre.
  - Na passarela? Desfilando? – Arqueei as sobrancelhas. – Okay!
  - Não se preocupe, vão te preparar e te dar dicas e- espere aí, você disse okay? – Se interrompeu como se escutasse algo maluco. – Podia jurar que seria mais difícil te convencer!
  - Estamos falando da Mulberry, não? Eu vou estar em casa. E a essa altura, confio em você. Sei que não me falaria pra fazer algo que fosse acabar mal. – Dei de ombros. – Car me conhece o bastante pra saber no que eu seria boa ou não. Podemos tentar.
  - Esse é o espírito, garota! – Parecia uma mãe orgulhosa. – Ainda não conversamos sobre valores, mas acho que consigo estabelecer-
  - Espera, Lexy... Eu não quero receber nada pra desfilar para a Mulberry. – Neguei com a cabeça, pousando a colher no prato. – Carine e todos da equipe são meus amigos. Eu não teria nada das coisas que estão acontecendo agora se não fosse por ela. Farei o que ela precisar sem aceitar um pound.
  - Entendo perfeitamente e não falaremos sobre isso novamente. – Se virou levemente para pegar o celular na bolsa. – Próximo tópico que preciso resolver com você... Ah, Paris!
  - Oh, Paris, mon cité, mon amour! – Suspirei com uma paixão surreal pela minha cidade.
  - Sim, sim, isso mesmo! Depois da London Fashion Week teremos um intervalo para a fashion week de Milão. – Mexia no celular enquanto falava. – Mas intervalo não quer dizer descanso. No link que eu te mandei, eles falaram sobre Elie Saab. O que achou disso?
  - Elie é um dos meus designers preferidos... Eu sou absolutamente apaixonada pelo trabalho dele.
  - Então você vai amar saber disso! O pessoal dele me ligou. É verdade, estão querendo te levar para Paris, pra desfilar a coleção outono-inverno 2014 de alta-costura.
  - Não posso acreditar!
  - Mas antes de fechar qualquer coisa, eles querem te conhecer, conversar... Fazer alguns testes na passarela pra ver como você se sai. – Aquilo era bem natural, visto que Elie Saab não sabia nada sobre mim, já que meu primeiro desfile ainda iria acontecer. – Estão oferecendo mil e quinhentos euros, mas esse é um preço baixo, na minha opinião.
  - Baixo? – Quase engasguei. – Tem algo nesse café?
  - Sweetheart, você não entende... O seu lindo rosto está em alta. É quase uma celebridade do mundo da moda!
  - Gosto desse tipo de celebridadismo. – Isso é uma palavra de verdade? Anyway. – Você é reconhecida nos lugares certos... E ainda assim ninguém corre atrás de você no meio da rua. Como eu falei... Confio em você. Me diga aonde devo estar e a hora que eu estarei lá, com saltos nos pés e sorriso no rosto.
  - Você é a melhor cliente que eu já tive, . Tão fácil de lidar! – Pôs a mão no peito, emocionada. – Quando for uma grande estrela e me esquecer, sentirei sua falta.
  - Você vai estar comigo pra sempre, Lexy. – Ri.

+++

  - Eu preciso de um closet maior! – Pulei sem sair do lugar, arrancando três cabides do ferro que os segurava e joguei as peças na pilha que começava a se formar em cima da cama. – Se Harry se mudasse para o quarto do meu irmão, eu poderia abrir essa parede aqui e transformar o quarto dele em um closet maior...
  - Porque é que os dois não dividem um quarto, aliás? – Liv averiguava as roupas que eu estava “descartando”.
  - Os dois dormem juntos praticamente todas as noites, mas acho que cada um gosta de ter o seu espaço, as suas coisas... – Encostei na porta do closet, olhando a outra loira. – O que é uma pena, de verdade.
  - Entendi! E acho ótimo que você queira doar todas essas coisas pra caridade. – Sorriu orgulhosa da minha atitude humanitária.
  - Eu tenho mais bolsas do que preciso, sapatos que nem cabem mais nos meus pés e roupas que não vou usar novamente. Por que não fazer algo bom pra outras pessoas? – Me virei para encarar o closet que começava a ficar mais arrumado. – Você pode pegar o que quiser, aliás.
  - Yay! Sempre amei essa bolsa! E esses sapatos... E essa blusa! – Levantou, começando a juntar as coisas que queria e, ainda assim, sobraria muita coisa para doação. – não vai querer te matar por não estar aqui?
  - Provavelmente, mas já separei as coisas que ela iria gostar. Acho até que já roubou algumas coisinhas... – Fui até o fundo do cubículo e tirei do meio de outras roupas um tecido branco como nuvem. – Uau, fazia tempos que eu não via esse vestido...
  - Ele é lindo, ! – Me encontrou na porta e tocou na peça com delicadeza. – Onde o usou?
  - No último Snow Ball da Academy. – Parecia ter passado anos desde o dia do baile. – Não me sinto bem doando esse vestido, porque foi um presente da Models One, quando a Mulberry ainda nem existia... Mas eu não vou usá-lo de novo. Mas é Marchesa...
  - Posso ficar com ele? – Liv pediu, um tanto envergonhada. – Prometo que vai ser bem cuidado.
  - Claro que pode. – Afirmei, deixando-a tirá-lo dos meus braços. Era difícil dizer adeus, mas tinha que deixá-lo ir. Depois disso, voltei para os interiores do closet. – Existem tantos vestidos de festa aqui! O que usei no Bolshoi, minha fantasia do último Halloween... Sem falar nos que eu não posso doar, como o vestido que usei no casamento da minha mãe ou os feitos sob medida das primeiras coleções da Mul.
   Minha tarefa de conseguir mais espaço no closet se tornava mais difícil a cada minuto, pois eram decisões e mais decisões que precisava tomar. De uma coisa tinha certeza, não doaria nenhuma das minhas coisas de ballet. Não por egoísmo, mas sentia que eram parte de mim e da minha carreira, quase como um portfólio. Fora isso, doar peças antigas e ainda em bom estado foi uma tarefa bem fácil ao lembrar que pessoas precisavam daquilo mais do que eu. Ao menos tinha certeza de uma coisa... Não seria uma daquelas mulheres que estocam milhares de roupas no armário e dizem que não tem o que usar para sair.
   Liv continuava olhando as peças que eu pretendia doar, tirando da pilha uma coisa ou outra que gostaria para si. Enquanto matava a saudade do vestido que usara na primeira apresentação dos meninos em frente as câmeras do X Factor, o mundo desabou no primeiro andar. Pelo menos foi o que pareceu, já que o som de pratos e outras coisas atingindo o chão fez com que eu e Olivia nos entreolhássemos espantadas. “Patch!” foi meu primeiro pensamento. O cachorro estava lá embaixo com os meninos, o que já não era uma combinação tão perfeita assim. Especialmente quando Niall se convidara para dormir conosco.
   Como a minha amiga estava mais perto da porta do quarto do que eu, foi a primeira a correr e só me restou ir atrás. Como estava descalça, desci como um furacão pelas escadas, pulando os últimos degraus. Liv fora para a sala, mas não encontrou nada. Em seguida, ambas acabamos na sala de jantar, onde encontramos os meninos e, o cachorro, comportadamente sentado, apenas observando os bagunceiros. Louis estava abaixado no canto da parede, com as mãos escondendo o rosto ao fingir chorar escandalosamente. Liam estava de pé ao lado da mesa de madeira e ria tanto quanto Niall. Em cima da mesa, louças, copos e talheres derrubados, assim como o chão nas proximidades da mesma.
  - Eu quero saber? – Perguntei com uma careta.
  - Eu não vou arrumar nada. – Harry chegou atrás de mim, com as mãos na cintura como uma mãe.
  - Louis acabou de perder a aposta! – Niall gargalhou, encostando-se à parede por rir demais.
  - O que apostaram? – Liv já ria.
  - Sabe quando fazem aquela coisa de puxar a toalha da mesa e deixar o que estava em cima no mesmo lugar? – Liam tentou explicar da melhor forma que pôde e acho que deu pra entender. – Louis apostou que conseguia fazer isso! Obviamente estava errado.
  - Sorry, Lou! – Gargalhei. – E o que ele vai ter que fazer?
  - Apostamos que o perdedor teria que depilar a perna com cera. – Li olhou para meu irmão com pena, mas foi o único.
  - Eu pego a cera! – Liv se pronunciou com um sorriso maléfico.
  - Embaixo da pia do meu banheiro! – Avisei, batendo palmas. – Vamos para a sala, Lou, lá é melhor.
  - Porque vocês estão tão animadas com isso? – A vitima levantou o rosto, mortificado de nervosismo.
  - Garotas tem que passar por isso a vida toda. Quando conseguimos fazer algum homem sentir na pele o quanto dói, tendemos a apreciar o sentimento. – Andei até ele e o puxei pelo braço. – Para de fazer corpo mole!
  - Já estou indo, ! – Bufou com raiva, o que só me fez rir mais. – Você me paga, Liam.
  - A idéia foi sua! – Liam e os outros meninos seguiram quando o perdedor e eu entramos na sala de casa.
  - Chegueeeeeeei! – Liv cantarolou, segurando a minha caixinha de depilação. – Para de fazer careta, Louis! Não é como se fossemos depilar uma parte mais sensível.
  - É isso o que garotas fazem lá embaixo? – Niall sentou na curva do sofá, deixando a maior parte para Louis se deitar. O irlandês soou chocado.
  - É a melhor opção, pelo menos. – Afirmei, sem querer entrar em muitos detalhes.
  - E não dói? – Liam tapou a boca com as mãos, reação que teria ao escutar uma história de terror.
  - Mais do que qualquer coisa na vida. Mas é um preço a se pagar. – Recebi a caixinha e sentei no chão, na altura das pernas de Lou. – É melhor do que usar lâmina...
  - Ew, podemos parar com esse assunto, por favor? – O menino deitado fez cara de nojo.
  - Louis eu sei que você é gay, mas não precisa ter aversão a partes femininas. – Rolei os olhos, fazendo os outros quatro meninos rirem. Enquanto eu preparava as tiras de cera, esquentando-as nas mãos, Liv dobrava a calça do nosso paciente.
  - Não tenho aversão a partes femininas. – Imitou uma voz enjoada, passando as mãos pelo rosto. Louis suava frio. – Só as suas partes.
  - C’mon, as partes da não podem ser tão ruins assim... – Niall comentou inocentemente, me fazendo arregalar os olhos pra ele. – Perguntarei ao Zayn.
  - Eu já perguntei. – Liam deu de ombros e mudei a direção do olhar, mas a expressão chocada foi a mesma. – Ele disse que é-
  - SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – O fuzilei com uma ameaça no olhar.
  - Se tivéssemos mudado o assunto quanto falei, você não teria que escutar isso. – Louis retalhou.
  - Já entendi! Agora vamos ao que interessa. – Sacudi a cabeça pra afastar aqueles pensamentos e abri a primeira tira de cera, deixando a que não usaria ainda em cima da mesinha de centro atrás de mim. – Pronto?
  - Não! – Arfou quando grudei a cera em sua perna altamente cabeluda. – Vai doer muito? Muito mesmo?
  - Vai doer, mas como eu nunca tive uma perna tão cabeluda quanto a sua, não posso falar o nível de dor... – Passei a mão sobre a “cera” para esquentar novamente. – Talvez se conversarmos sobre algo interessante, você não sinta tanto.
  - Souberam da novidade da ? – Liv pulou no meio da conversa.
  - Sobre o papel principal na peça? – Li sorriu de canto a canto. – Não era novidade pra ninguém que ela conseguiria!
  - Minha irmã é uma- AAAAAAAAAAAAAAAAAH, FUCKING CUNT! – Louis não conseguiu terminar sua frase pelo escândalo que fez ao ter os pelos arrancados da perna.
  - Obrigada, irmãozinho. – Gargalhei maleficamente. – Um pedaço já foi... Agora só falta o resto.
  - Me mate... Me mate agora...
  - Covarde.

+++

  - ? Pssss... ... -... – Alguém sussurrava perto do meu rosto. – Eu sei que você está me ouvindo...
  - O que é, Louis? – Desisti de fingir estar morta, mas virei o rosto para o lado contrário.
  - Não consigo dormir. – Por um momento achei que éramos crianças de novo e ele tentava se infiltrar na minha cama.
  - E aí? Você tem um namorado, vá acordar ele. – Me arrastei para a outra ponta da cama, mas Lou entendeu aquilo como um convite e sentou ali.
  - Hazza está dormindo... E você sabe como ele é difícil de acordar. – Pulou sentado, fazendo a cama balançar.
  - Sei como é ter um namorado assim... – Suspirei entre um bocejo ou outro e desisti de dormir. – Você venceu.
  - Quer saber? Vou deixar você dormir... Tem aula amanhã. – Levantou e deu um passo em direção à porta.
  - Tommo! Agora você vai ficar! – Lancei o primeiro travesseiro que consegui na direção do outro, mas o objeto terminou indo ao chão.
  - Okay! O que vamos fazer? – Pulou novamente na cama e a próxima coisa que vi foi um lobo preto e branco saindo do chão e fazendo o mesmo. – , coisinha fofa! Quem é o bebezão, quem é?
  - Aparentemente é você, que chorou pra se depilar. – Ri com a lembrança, esticando a mão para fazer carinho no cachorro que não entendia absolutamente nada, mas adorava. – Você morreria se fosse uma garota.
  - Fico feliz que não seja. – Voltou a usar a voz normal, diferente da que tinha com . – Já pensou no que vamos fazer?
  - Na verdade, sim... – Puxei o celular da cômoda, checando a hora. – São uma hora e quarenta da manhã do dia vinte e nove de agosto.
  - E?
  - Louis! É o aniversário do seu melhor amigo! Leeyum! – O sacudi. Não pretendia ter acordado tão cedo, mas já que era assim, tinha um plano.
  - É VERDADE! Vamos acordá-lo! – Levantou com um pulo e ficou em pé na cama, se convidando pra vir junto.
  - Eu vou acordá-lo... Preciso que você acorde os outros meninos e prepare as bicicletas.
  - Não sei o que está planejando, mas te conheço a tempo bastante pra não discutir e apenas fazer o que pediu. – Aceitou as condições e saiu do quarto.
   pulou da cama, mas não saiu do quarto e ficou me olhando com o rabo indo de um lado para o outro. Pelo visto teria que levá-lo conosco. Sentindo o sono se esvair aos poucos, saí da cama e enfiei os pés no primeiro par de chinelos que encontrei pelo chão do quarto. Antes de sair, peguei a coleira do cachorro em cima da escrivaninha. Pelas vozes que escutei, Niall estava de pé e tentava acordar Harry. Pela luz acesa no andar de baixo, Louis devia estar cuidando da segunda etapa do meu pedido.
   Tinha que cuidar da minha etapa! Não bati na porta, mas a abri com cuidado. permaneceu comportadamente no corredor, segurando a própria coleira entre os dentes. Liam estava esparramado na cama com o lençol branco cobrindo do quadril pra baixo. Estava de costas, mas desconfiava que dormisse pelado. Minha curiosidade gritava e me contive braviamente. Ao invés de espiar, ajoelhei não chão ao lado da cama e fiz carinho nos cabelos bagunçados do menino. Liam suspirou e se mexeu levemente, sorrindo inconsciente como se fosse um filhotinho.
  - Li... Está na hora de acordar... – Murmurei sem querer assustá-lo.
  - ? – Abriu um dos olhos. – Que horas são?
  - Hora de acordar. – Ri. Era só disso que ele precisava saber. – Vamos sair em uma aventura.
  - Mais uma das suas aventuras da meia noite? – Desconfiava do que se tratava, mas era só isso. – Posso trocar de roupa?
  - Você conhece as minhas aventuras da meia noite, Liam. Temos que ir de pijamas. – Beijei sua testa e saí do chão.
  - Eu sei... Er... Mas não estou usando nada...
  - Eu sabia! – Ponto pra mim! – Quero dizer... Não demore. Estaremos te esperando lá embaixo.
  - Os outros também vão? – Sorriu.
  - Até vai!
   Afirmei com um sorriso maior que o dele e deixei o quarto. não estava mais no corredor e Harry e Niall fora do quarto. Desci as escadas, passando direto pela porta aberta e terminando na varanda de casa. Louis sentou na grama gelada, conferindo as rodinhas do próprio skate, Niall e Harry – ambos com cara de sono – arrumavam duas das três bicicletas que tínhamos em casa. Éramos cinco e apenas tínhamos três bicicletas e um skate. Nada que não pudesse ser resolvido com um pouco de criatividade. O Husky andava de um lado para o outro, já com a correia da coleira presa no lugar certo. Fora seus passos na grama, nada mais era escutado. O condomínio encontrava-se em um silencio mortalmente delicioso.
  - Quem vai me dar uma carona? – Desci os degraus, indo para o caminho de pedra.
  - Eu posso te levar, . – Harry ofereceu e olhei para outro lado.
  - Mais alguém? – Coloquei as mãos na cintura.
  - Eu te levo! – Liam apareceu e fechou a porta da casa.
  - Obrigada, Li! Achei que teria que ficar. – Sorri para o menino, oferecendo a mão.
  - Heeeeeeeey. – Haz reclamou.
  - Não lembra do que aconteceu da outra vez, H.? – Lou emitiu com um sorriso engraçado. – Os dois caíram e ela ralou o joelho.
  - É sério? – Li esperou minha confirmação, aceitando a minha mão estendida.
  - Infelizmente. O que acha que causou aqueles rasgos na altura do joelho na calça dele? – Fui até a bicicleta que sobrou e esperei Liam montar nela e arrumar a altura do banco de acordo com seu gosto.
  - Mas já estou melhor nisso agora... – O acusado se sentiu ofendido, montando na própria bike.
  - , você vem comigo. – Meu irmão foi para o asfalto e subiu no skate, esperando o mascote ir ao seu encontro.
  - Onde estamos indo, aliás? – Liam questionou, me ajudando a montar na bicicleta na sua frente.
  - Não temos destino... As ruas são nossas. Vamos fazer memórias... – Abri os braços, inspirada. Bem, inspirada e surpresa por não ter perdido o equilíbrio.
  - Vocês a ouviram! – Harry começou a pedalar rua abaixo. – Let’s make midnight memories!
  - Segura, .
   Aquele foi o último aviso de Liam antes de imitar o amigo cacheado e seguir em direção à saída do condomínio. Eu estava sentada no guidão e tinha os pés apoiados em um ferro que atravessava o meio da roda fronteira. Liam era mais alto que eu normalmente e conseguia enxergar perfeitamente o caminho em nossa frente, o que me fez apenas aproveitar o passeio. Louis era o mais folgado de todos nós, pois segurou a coleira de e deixou que o cachorro corresse para puxá-lo. Niall era o mais lento, olhando para os lados e aproveitando o ar livre.
   Como Harry continuou na frente, falou com o porteiro para abrir o portão e o resto de nós pode passar pela entrada/saída com velocidade. Foi ao chegarmos na verdadeira rua que a aventura começou. Os postes de luz iluminavam o nosso caminho e a falta de carros nos permitia deslizar de um lado para o outro da rua, rindo sem motivo algum. O vento batia diretamente nas minhas pernas, pois a única coisa que usava era um short de algodão e um moletom do mesmo material. Ainda assim, deixei os cabelos ao vento voarem com tranqüilidade. O dia havia sido cheio e até comprido demais, mas não era de uma boa noite de sono que eu precisava, era daquilo.
   Devagar e atenta a manter o equilíbrio, fui erguendo os braços até que estivessem abertos completamente. Fechei os olhos, sentindo como se estivesse voando bem alto no céu. Inspirar e espirar se tornou a coisa mais fácil de se fazer. Ergui o queixo, me sentindo invencível. E ali, naquele momento, cercada por amigos, eu era. “Ah, se Zayn pudesse me ver agora...” Infelizmente não podia. Sua irmã mais velha voltou de Bradford naquele dia, portanto Zayn foi pra casa curtir a família, então estava perdendo a nossa aventura. Uma risada gostosa de se ouvir soou atrás de mim. Era Liam se divertindo as minhas custas.
  - Fica em pé, . – Falou alto o bastante para só eu ouvir.
  - Tá maluco, Li? – Voltei a segurar na bicicleta, abrindo os olhos. Girei o pescoço para vê-lo, que sorria com um brilho no olhar. – Eu cairia.
  - Eu prometo que não vai. – Afirmou com tanta certeza que parecia dizer: “confie em mim”.
  “Não acredito que estou fazendo isso!” Ri com nervosismo, voltando a olhar pra frente. Fixei os pés com segurança no ferro liso, desejando estar de tênis, e comecei a erguer o corpo. Ainda segurava no guidão ao ficar com as pernas esticadas. Liam dirigia com apenas uma mão, pois usou a outra para tocar as minhas costas e dar mais apoio que o que tinha antes. Com uma onda de segurança dominando meu corpo, soltei as mãos devagar, afastando-as do corpo levemente. Eu estava de pé! O vento continuava se chocando contra a minha pele e a sensação era libertadora.
  - Olhem pra mim! Eu consigo voaaaaaaaaaaar! – Gritei, batendo os braços como se fossem asas de um pássaro. Um lindo pássaro alado.
  - Voe, , voeeeeeeeeeee. – Niall passou pedalando ao nosso lado, também com os braços abertos como os meus.
  - Segura. – Liam, que já não me tocava mais, aumentou a velocidade.
   Gritei com o susto ao quase voltar a sentar, mas consegui me segurar com uma mão a tempo. Liam pedalou com força até estar lado a lado com Ni, que permanecera com os braços abertos. Os dois falaram alguma coisa que não consegui escutar, mas o loiro ao meu lado ofereceu a sua mão. Segurei-a prontamente com força, estabelecendo algum tipo de equilíbrio físico. Harry ocupou o outro lado, também esticando a mão. Sem receio, segurei a sua também. Aquilo poderia acabar muito mal, especialmente se algum carro aparecesse em qualquer uma das esquinas que cruzávamos com tanta velocidade. Apesar de todos esses poréns, continuamos de mãos dadas, conectados. Éramos um movimento, uma energia, um brilho.
   Louis estava bem na nossa frente, com , que não se cansava apesar de toda a corrida que fizera desde que deixamos a casa. Ele olhava pra trás de vez em quando, sorrindo com a cena que assistia. Pra ser bem sincera, éramos apenas cinco malucos que faziam bagunça nas ruas depois da meia noite e cada um de nós sabia disso. Mas quem se importava mesmo? Eu é que não.
  - Vamos virar aqui! – O skatista anunciou.
   A curva era pequena demais para três bicicletas irem lado a lado, então soltei os outros dois meninos e voltei a sentar, sem conseguir limpar o sorriso do rosto. Liam se inclinou pra frente e beijou meu ombro. Não com segundas intenções, apenas carinhoso como sempre era; especialmente comigo. Viramos na direção que Louis indicou e parecíamos um coro ao gritar algo como “woooooooooooo”. Era o aniversário de Liam e estávamos fazendo a festa dele bem ali. Só porque não pude estar no dia da “festa de comemoração” não queria dizer que eu não iria fazer de tudo pra transformar aquele dia certo bem mais especial que o outro. Queria dizer bem o contrário!
   Aproximadamente cinco minutos depois de tanto pedalar, chegamos ao que deveria ser o destino que Lou planejara para nós. Um circulo enorme que servia como rotatória nos dias de maior trânsito e não chegava a ser uma praça ou parque propriamente dito. Sua principal atração era uma fonte gigantesca com a escultura de uma mulher ao centro e peixes aos seus pés, cuspindo águas para lados opostos. Lou foi o primeiro a chegar lá e sentar na grama, com indo direto beber da água da fonte. Niall e Harry foram os primeiros a jogar as bicicletas na grama e fazer o mesmo que o líder. Como Liam tinha uma garota em cima da sua, a estacionou delicadamente e me deu tempo para descer.
  - Meninos, eu tenho que falar uma coisa! – Corri até chegar no lugar que eles deitaram.
  - Lá vamos nós. – Lou rolou os olhos, soltando a coleira do meu cachorro.
  - Hey, não fale assim! Eu não sou o Harry com uma das suas histórias. – Me defendi, sentando na borda da fonte.
  - Você me odeia? É isso mesmo? – Haz olhou na minha direção com dor no olhar. Dor que não durou mais de três segundos.
  - Eu te amo, sweetie. – Assoprei um beijo em sua direção e ele sorriu até fechar os olhos.
  - Eu também te amo, .
  - Anyway, é o seguinte... – Ponderei, aguardando os quatro meninos se virarem na minha direção. – Vocês escreveram aquela música, Story Of My Life, que tem uma batida completamente diferente das que estão acostumados... Não queria ser a pessoa a dizer isso, mas vamos lá! SOML é tão melhor que What Makes You Beautiful. E sei que trabalharam duro no novo CD Take Me Home, ma estou sentindo que-
  - Não é o som certo pra nós? – Li questionou como se já soubesse a resposta.
  - É apenas uma forma de conseguir a atenção de crianças de dez e onze anos sem nada na cabeça? – Louis indagou.
  - Gruda na cabeça e não tem mensagem alguma? – Niall finalizou.
  - Bem... É. – Já não me sentia tão mal assim em ter falado aquilo. – Esperem... Não me digam! Modest?
  - Como tudo de bom na nossa vida. – Lou deitou a cabeça no colo de Harry e descansou ali. – Tentamos falar com Marco e mostrar o novo material, não é, Liam?
  - Temos duas ou três músicas no mesmo estilo... E foram todas rejeitadas. – Li confirmou. – Não apenas por Marco, mas pela gravadora. Nos disseram que era “diferente demais da imagem do One Direction”.
  - One Direction não é uma imagem. – Cruzei as pernas, tentando ficar calma. Meu ódio pela mentalidade da Modest! era grande demais. – É uma banda de cinco homens.
  - Não sei como as coisas funcionam no ballet ou na moda, , mas é diferente. – Ni falou e não me ofendi. – Não podemos simplesmente não fazer o que eles querem e fazer o que nós queremos...
  - Está me dizendo que eles são seus donos?
  - De certa forma. – Lou não parecia satisfeito com aquilo, mas sentia-se de mãos atadas. – Está com sede?
  - Hã? – De onde aquilo saíra? – SOCORRO.
   Louis havia segurado atrás do meu calcanhar e puxou com força. Como eu estava com as pernas cruzadas, perdi qualquer equilíbrio e caí dentro da fonte. A água, além de suja, estava gelada! Levantei o mais rápido que consegui, ficando de pé ali dentro e tirando o cabelo grudado do rosto. Não perdi tempo em pensar em uma vingança, pois comecei a atirar ondas de água na direção dos meninos. Meu objetivo era atacar Louis, mas não tinha culpa se acertasse os outros três; o que acabou sendo o caso.
  - Não fui eu quem te empurrou aí dentro! – Harry levantou após ter sido bem molhado.
  - E daí? – Joguei mais água em sua direção, o que acabou acertando Niall, que passava em sua frente. – Ops.
  - ! – O irlandês me olhou como se eu acabasse de traí-lo. – Você vai ver!
  - O que- - Minha pergunta não chegou a ser completada, pois precisei correr do menino que entrou na fonte por vontade própria e começou a correr na minha direção. – Shit.
  - , não! – Era Liam.
   O cachorro gostou da nossa brincadeira e pulou na fonte, dando sorte de conseguir dar pé ali. Ele sabia nadar, claro, mas me sentia mais segura sabendo que não poderia se afogar. Antes que eu pudesse perceber, Harry, Lou e o próprio Liam acabaram entrando na fonte e começamos uma guerra de água. Niall passou o pé por baixo dos meus, me fazendo cair e levar quem estava mais perto de mim. Pra variar, minha vitima foi Liam. Caímos lado a lado e o frio misturado com a situação nos fez rir.
  - Feliz aniversário, Baba!

    

Chapter XLII

- Baby? Zayn, tá tudo bem? – Apoiei o celular entre o ombro e a orelha, caminhando entre as pessoas da cafeteria até achar uma mesa vazia. – Malik, você sentou em cima do celular de novo?
  - Não, eu estou aqui! – Sua risada sonolenta foi algo delicioso de escutar pela manhã. – Bom dia, beautiful.
  - Bom dia. – Sorri sozinha, me acomodando na poltrona da Starbucks e dando um gole em meu café.
  - Está na Academy?
  - Ainda não. Estou morrendo de sono e precisava de café! Estou na Starbucks da esquina. – Bocejei só de pensar nas poucas horas de sono que tive após voltar pra casa na madrugada anterior. – Mas e você? O que está fazendo acordado às oito da manhã? Sei que não acordou pra me desejar bom dia antes da aula...
  - Por que não? Eu podia ser um namorado dedicado... – Gargalhei ao ouvir aquilo. Ele era um namorado dedicado... Só não dos que acorda mais cedo. – Isso não é engraçado, ! Mas você está certa. Eu acordei com o interfone tocando. Deixaram uma mesa aqui, ...
  - Ótimo! É para a festa de hoje a noite. – Batuquei na tampa do café, ansiosa. – Pode deixá-la pela sala e eu arrumo tudo quando chegar. Enquanto isso, vá dormir! Você precisa.
  - Não tem mais nenhuma entrega pra chegar? Odeio ter que acordar... – Fez uma pausa e riu mais uma vez. – É, eu ouvi o que acabei de falar.
  - As decorações estão no meu carro e vou pegar o bolo antes de ir até aí... O bufê só vai chegar a tarde, então você está livre até lá.
  - Obrigado, babe. Liam vai ficar muito feliz com tudo que você está fazendo.
  - Tenho certeza! – Bebi alguns goles do café e balancei a cabeça para acordar. – Nos vemos logo, ok?
  - Não demore. Love you, .
  - Love you too, bye-bye.
   Por mais que festas-surpresa fossem uma tradição entre a nossa “família”, Liam sabia que teríamos uma reunião no flat de Zayn para comemorar seu aniversário; dessa vez na data certa. Só não imaginava como seria tudo, então acho que conta como a parte de “surpresa” da história toda. Pra variar, eu estava cuidando dos detalhes. Além do mais, era de Liam que estávamos falando! Seria a minha obrigação tornar o seu dia especial. Ou talvez essa obrigação pertencesse à Dani... Mas isso não vem ao caso. Ainda era do meu Baba que estávamos falando.
   Terminei o café com certa pressa, querendo chegar logo na Academy e encontrar para confirmar a presença dela na festa. Levantei da mesa e peguei a minha mochila de volta e a pendurei sobre o ombro. Pronta para deixar a cafeteria, ouvi uma voz enjoada e mesquinha me chamando:
  - Não tão rápido, . – O pior é que o tom de voz que Helena usou não era grosso ou autoritário. Era até simpático demais. – Você esqueceu uma coisa.
  - O que? – Me virei para encará-la, desconfiada.
  - Seu café. – Sorriu de canto, dissimulada. Olhei para a mão da menina, que continha um copo cheio de café, mas não me pertencia.
  - Já tomei meu café, obrigada. – Dei-lhe as costas e fiquei parada no mesmo lugar quando algo molhado escorreu pela minha cabeça, descendo para as roupas.
  - Quem disse que era pra beber? – Helena riu, passando por mim e andando até a saída.
  - Ai meu Deus, você está bem? – Uma senhora que assistira tudo se aproximou desesperada. – O café estava quente?
  - Estou bem... – Respondi-a, querendo sair dali e atacar a vadia que derramara seu café em mim. – Com licença.
   Para evitar os olhares direcionados á mim, fitei o chão e fui em direção ao banheiro. Ainda processava o que acabara de acontecer e só pude chegar a uma conclusão: A menina era maluca! Literalmente maluca... Mais do que eu já achava. Era a segunda vez que nos encontrávamos na vida e segunda vez que ela demonstrava sua falta de estabilidade mental. Ok, eu compreendia que ela ficara desapontada por não conseguir o papel principal na peça, mas não era a única, já que todas as meninas sonhavam com isso. Sem falar que ainda estava no terceiro período! Teria outras oportunidades para brilhar quando eu já estivesse bem longe da sua cara enjoada.
   Invadi o banheiro particular – que por sorte estava vazio – e tranquei a porta. Deixei a mochila no chão, mais preocupada em lavar o rosto, já que pingos de café tentavam entrar nos olhos. Bati na banca de madeira com raiva, sentindo vontade de gritar. O universo do ballet é muito competitivo, mas aquilo ali já era um nível completamente perturbado! E o que Helena esperava? Que eu fosse alérgica e morresse? Que ficasse cega? Que meus cabelos caíssem? Fisicamente sabia que iria sobreviver e o único dano seria o cheiro da bebida no cabelo. Emocionalmente, um sentimento não tão legal explodiu na minha mente. Os flashbacks de quando as amigas de Brigitte viraram a lata de lixo na minha cabeça e todo o desastre que foi aquele final de festa. O cheiro do lixo, as risadas, a vergonha... Tudo voltou como se fosse um trauma.
   Lavei o rosto e usei pedaços de papel molhados para tentar tirar um pouco do estrago em meu cabelo loiro. Olhando para o reflexo no espelho, notei que começaria a chorar. A raiva se misturava com a vergonha e a falta de entendimento do que eu poderia ter feito pra essa menina colocar o meu nome em sua lista negra. Respirei fundo, juntando tudo dentro de uma bolha e empurrando para longe. Eu não iria chorar. Era mais forte que isso e tinha plena consciência de tal. Dei uma boa olhada na blusa que usava: Manchada. Espiei o colant cor de rosa que tinha por baixo: Arruinado.
  - Damn it! – Xinguei em voz alta, esperando me sentir melhor. Não me senti. – Não posso ir à aula assim...

+++

  Perto das três e meia da tarde eu terminava o quarto banho para ver se conseguia tirar o cheiro de café do cabelo. Estava no apartamento de Zayn desde que deixei a Starbucks, pois não tinha condições de fazer aula com aquelas roupas manchadas e mesmo que trocasse de uniforme e voltasse para a Academy, chegaria atrasada e daria viagem perdida. No flat, ao menos, pude começar a arrumar as coisas para o aniversário de Liam enquanto Zayn dormia.
   Tirei a mesinha de centro da sala e a guardei no estúdio de grafitti – que era o único cômodo que ficaria trancado durante a noite – e coloquei a mesa grande alugada encostada à parede da televisão. Como o sofá de quatro lugares já estava próximo à parede oposta, não precisei mexer nele, apenas arrumei o segundo de forma que o cômodo ficasse mais espaçoso. Estaríamos recebendo trinta pessoas mais ou menos e minha segunda prioridade era fazer com que todos aproveitassem ao máximo. O bolo já se encontrava na cozinha, protegido do Sol que resolveu dar as caras e entrava pelas janelas da sala. O bufê confirmara os serviços e chegariam logo.
   Encontrei Zayn na sala, sentado no sofá e abrindo os pacotes de balões pretos e roxos; cores tema da festa. Fiquei parada encostada a parede enquanto penteava os cabelos molhados, namorando-o de longe. Ele estava tão concentrado no que fazia... Simplesmente lindo. Ri baixo, o que ainda foi o suficiente para chamar a sua atenção. Ao erguer o rosto, um sorriso se formou e iluminou o apartamento inteiro.
  - Que cheiro de café é esse? – Adquiriu um semblante sério, me fazendo parar de sorrir e estirar a língua.
  - Muito engraçado! – Rolei os olhos, joguei a escova de cabelos no menino, que se esquivou e gargalhou por saber que merecia. – Acho que consegui tirar tudo dessa vez...
  - Eu estava brincando, só sinto cheiro de corações e tardes de verão. – Exagerou na fofura, mas até que gostei de ouvir aquilo. – Como é o nome da menina que vez isso com você?
  - Helena. – Respondi com nojo.
  - Eu realmente não gosto dela. – Deixou os balões de lado, levantando um pouco para puxar a minha mão e me atrair para seu colo. – Posso dar um jeito nessa menina? Se é que me entende.
  - Eu adoraria, babe, mas acredito que já vai fazer isso quando souber do que acontecer. – Me sentia uma bonequinha sentada sobre as pernas dele, nossos troncos encostados. – Ou talvez fale com Brigitte. Ambos sabemos que ela gosta dessas coisas.
  - Eu só queria ter estado com você hoje de manhã. – Balançou a cabeça de um lado para o outro, quase se culpando pelo acontecido. – Podia ter evitado tudo isso!
  - Acredite, Zayn, teria sido pior. Não sabemos do que essa louca é capaz, então o melhor a se fazer é evitá-la. – Fiz carinho em sua nuca, a fim de amenizar os ânimos. – Vamos, temos muito a fazer!
  - Ei, ei! – Me puxou de volta quando tentei levantar. – Não tão rápido!
   Zayn prendeu a minha cintura com os braços, dificultando a fuga. Não que eu quisesse fugir... Mas enfim. Ri, jogando a cabeça pra trás; mania que pegara inconscientemente do próprio menino. Aproveitando aquela brecha, colocou os lábios na curva entre meu pescoço e ombro, fazendo seu caminho até embaixo do maxilar. Recebi beijos e mordidas ternas, a barba mal feita arranhando-me a pele até causar arrepios. Fechei os olhos e mordi o lábio inferior como forma de autocontrole. Ainda estava sentada de lado, mas o puxei pela nuca, mudando a direção dos seus lábios e obrigando-os a encontrar os meus.
   Comecei um beijo que foi acompanhado no mesmo instante, talvez até com mais intensidade que o esperado. Escorregou a ponta dos dedos por baixo da minha blusa, entrando em contato direto com a pele escondida. A partir dali, mudei de posição, girando e deixando uma perna de cada lado do corpo do outro, segurando em seu pescoço com as duas mãos e deitando a cabeça para o lado contrário. Senti que, se dependesse de Zayn, iríamos pra o quarto e simplesmente esqueceríamos de todos os planos e preparações. Seria difícil pra mim, mas precisava ser forte e me concentrar. Interrompi o beijo devagar, já escutando-o reclamar com um grunhido emburrado.
  - Pode voltar a encher os balões! – Mandei, observando seu olhar que falava “está de brincadeira”. Sorri e roubei um selinho rápido. – Vou arrumar a mesa.
  - Tenho escolha? – O vi rolar os olhos quando saí de seu colo.
  - Claro que tem. Pode arrumar a mesa enquanto eu encho os balões.
  - Não foi isso o que eu quis dizer! – Reclamou.
   Seria muito ruim de minha parte falar que estava me divertindo com aquela má vontade de Zayn? Sabia que ele estava brincando, ou algo perto disso, e não se importava em me ajudar. Afinal de contas, era de seu amigo que estávamos falando. O deixei cuidando dos balões e andei até a mesa que arrumara mais cedo e a cobri com a toalha branca de bordas pretas que separara para forrar o lugar onde o bolo e as comidinhas ficariam dispostas, sem contar com as que seriam servidas pelo garçom. O perfeccionismo falou mais alto e repeti a arrumação na mesa até que um lado estivesse igual ao outro.
   Dei meia volta, seguindo o caminho até a cozinha, encontrando o bolo de dois andares do Batman que Louis e eu escolhemos. Com cuidado para não derrubá-lo, trouxe de volta para a sala. O coloquei no centro da mesa, mas voltaria a arrumá-la assim que o resto das coisas chegasse. Me virei como se me perguntasse o que mais poderia adiantar e foi aí vi o que Zayn estava fazendo. Ele continuava a encher os balões e já estava no quinto, até aí tudo bem.
  - Baby! Porque você não está usando a bombinha? – Lerdo, lerdo, lerdo! – É bem mais fácil do que ficar sem ar depois de encher os cem balões.
  - Qual bombinha? – Olhou-me com um meio bico, quase me dando pena.
  - Essa aqui... – Voltei a sentar no sofá, dessa vez em uma distância segura. Na sacola plástica onde os pacotes de balão estavam guardados, havia uma bombinha vermelha e a mostrei para Zayn. – Quer?
  - Não sei usar isso. Sou mais rápido com a boca.
  - Tenho que concordar. – Segundas intenções a parte, apoiei a bombinha entre as pernas e encaixei um balão ao bico. – Vou te ajudar.
  - Aqui... – Zayn foi tentar me passar um dos pacotes de balão, mas o segurou pelo lado errado, causando a queda de todo o seu interior no sofá. – Ops.
  - Adora bagunçar. – Ri porque a cena foi realmente engraçada e não era nada demais. Comecei a bombear para encher a bexiga em minha mão, ainda usando as pernas para segurar a base.
  - É errado que isso esteja me excitando? – Apesar do sorriso, não estava brincando. Percebi os movimentos que estava fazendo e me interrompi.
  - O que deu em você hoje? – Tirei o balão e o amarrei, jogando para o chão junto aos outros. – E por mais que adoraria resolver o seu problema, só temos meia hora até a chegada do bufê... E o aniversário do Baba tem que ser perfeito!
  - Não lembro de você assim no meu aniversário... – Com aquele comentário, me fez parar tudo.
  - Você se lembra do que aconteceu no seu aniversário? – Não quis falar “estávamos separados” para não trazer memórias ruins, porém, ele entendeu o que eu quis dizer.
  - Não é só isso. Você não estava tão preocupada com o aniversário de Louis, ou até de Harry... E o aniversário de Niall é em algumas semanas, mas também não acho que você vá estar assim.
  - Zayn, Liam é... Liam! Nós dois temos uma amizade que eu não consigo explicar. É diferente do que tenho com Harry, Ni e até mesmo Lou... – Não entendia o porquê tinha que explicar aquilo àquela altura do campeonato. – É só isso.
  - Tem certeza que é só isso? – Agora eu começava a entender do que tudo aquilo se tratava.
  - Você está com ciúmes dele, Malik? – Soltei a bombinha e me acomodei melhor no sofá, virando de frente pra ele.
  - Estou com ciúmes de você. – Também soltou os balões que segurava. – Não é novidade pra ninguém que ele era apaixonado por você. Deus sabe o que já aconteceu entre os dois quando eu não estava na jogada! Como quer que eu me sinta?
  - Esqueceu que ele tem uma namorada agora? As coisas não são como antes.
  - E onde está ela agora? Porque Danielle não está aqui ajudando a decorar o apartamento? Porque não escolheu um bolo com o personagem preferido do namorado? – Passou a mão direta pelos cabelos, sinal que começava a ficar nervoso. – Você gosta dele, ? É por isso que nunca aceitou se mudar pra cá? Por causa dele.
  - Zayn, você não faz idéia do quanto eu te amo, não é? O quanto deixei de aproveitar em NY porque não estava com você, ou quanto te via em cada canto que olhava? Se eu passo um dia sem te ver é um dia perdido. Sem ao menos ouvir a sua voz ou receber uma mensagem boba que me faz rir. Você é tudo. Eu adoro Liam, mas não tem comparação a você. A nós. – Assisti o rosto do outro se acalmar e o ombros abaixarem delicadamente. – E a única razão pela qual eu nunca aceitei me mudar pra cá é porque tenho medo. Tudo está tão bom entre nó dois. Às vezes acredito que não é justo uma pessoa ser tão feliz como eu sou quando estou com você e tenho medo que algo ruim aconteça pra estragar isso. Não é como se tivéssemos os melhore exemplos. Nós dois somos tão jovens! Você tem a sua carreira começando agora, o mundo aos seus pés... Não vai querer chegar cansado em casa, após um dia de trabalho e encontrar a mesma mulher todos os dias reclamando por estar de TPM. Ou encontrar as minhas meia-calças penduradas no vidro do Box do seu banheiro quando só o que queria era tomar um banho e dormir!
  - Eu não vou voltar pra casa e encontrar a mesma mulher... Vou encontrar a minha melhor amiga. Quero ficar conversando até tarde e finalmente pegar no sono ao seu lado, sabendo que vai continuar lá quando eu acordar. Sair pra tomar sorvete às três horas da manhã, vestindo pijamas e nada mais, só porque bateu vontade. Quero que brigue comigo por me pegar bebendo leite direto da caixa e quero reclamar quando deixar cabelo em cima da pia do banheiro. Quero te carregar pra cama quando estiver cansada demais após uma festa. Quero queimar almoços e fingir que você cozinha muito bem! – Era como se ele soubesse tudo o que eu queria ouvir antes mesmo que eu soubesse. A sinceridade em sua voz era tão honesta que minha respiração quase parou. – Eu quero você. Não estou dizendo que precisamos casar semana que vem, mas eu sei que é com você que eu tenho que estar. Eu te amo tanto, . Só o que eu quero é estar ao seu lado o máximo que puder. Isso é tão errado assim? Se for, não quero estar certo.
  - Okay... – Sussurrei em um sopro.
  - O que quer dizer? – Respirou fundo após seu discurso.
  - Eu quero morar com você. Quero tudo que você acabou de falar. – Era uma decisão mal pensada e impulsiva, mas o que poderia dar errado? Eu já passava metade to tempo ali mesmo.
  - Não está com medo?
  - Aterrorizada! – Gargalhei, causando o mesmo efeito no outro. – Mas de um jeito bom.
  - Então nós vamos mesmo fazer isso? – Sorriu até que seus olhos diminuíssem de tamanho.
  - Sim, nós vamos! – Quase soltei um gritinho animado e pulei no pescoço do meu novo roommate. – Nós três vamos nos divertir tanto!
  - Três? – Me abraçou com força.
  - Eu, você e , é claro!

+++

  Zayn e eu decidimos não contar para os meus últimos companheiros de casa sobre os nossos planos de morar juntos; ao menos não enquanto mudanças ainda precisavam ser feitas no apartamento para comportar mais dois moradores. A idéia de morar com meu primeiro namorado sério após apenas nove meses de relação me parecia meio “não pensada”, mas decidi ignorar esse detalhe e culpei o medo de algo ruim acontecer por estar me perturbando. Zayn estava certo, ele era meu melhor amigo e já éramos provados a conseguir conviver bem um com o outro. Já conhecíamos nossas manias diárias, portanto, ninguém faria uma descoberta drástica que acabaria com a boa convivência no flat que agora era nosso.
   Ao mesmo tempo, saber que acordaria e deitaria ao seu lado todos os dias e noites era mais tranqüilizador do que perturbador. Cuidaríamos um do outro da melhor forma que sabíamos, sem falar em todas as risadas que dividiríamos. Eu o amava com todo coração e sentia na alma que era recíproco. Sentiria falta de morar sob o mesmo teto que Haz, Li e Lou, mas desconfiava que um dos três se convidaria pra morar no quarto de hospedes. Talvez os três pudessem revezar e cada um passar uma semana. Quase como se fosse um rodízio. Sempre me preocupei em como seria quando os meninos começassem a se mudar e eu fosse deixada sozinha no condomínio e agora era a primeira a sair de lá.
   Em outras novidades, a festa de aniversário que passamos a tarde inteira arrumando estava ótima! Os balões terminaram de ser inflados e estavam amarrados em cachos em lugares estratégicos. Dois garçons passeavam pelo apartamento, um distribuindo os canapés e comidas de festa, e outro com as bebidas geladas. A mesa do bolo estava particularmente linda: O bolo do Batman no centro e cupcakes do mesmo tema e outros docinhos que davam água na boca só de olhar. Falo por experiência própria que os bombons morango estavam divinos.
   A maioria dos convidados chegou pontualmente na hora marcada. Alguns amigos e amigas do aniversariante ainda estavam a caminho, mas os principais estavam ali. Ed Sheeran, Tom e Gi Fletcher, Danny Jones, Gemma Styles, , Liv e o resto dos companheiros de banda do aniversariante são apenas alguns exemplos de todos que vieram privilegiá-lo naquele dia. Entretanto, o próprio Liam e a namorada estavam demorando pra chegar. Todos estavam arrumados e lindos, o que me incluía no pacote.
  - Você quer que eu saia daqui? – Perguntei a após disfarçadamente olhar por cima do ombro e descobrir com quem ela trocava olhares a cada dois minutos. – Sinceramente, porque os dois não vão conversar logo?
  - Shh, . – Reclamou, pegado dois copos em cima da bandeja do garçom que passava por nós. – Ni e eu decidimos ir devagar... Pra ser diferente do que tínhamos antes. Hoje estou trabalhando no “sorrir à distância”. É um charme.
  - É estranho. – Provei do líquido na bebida que ganhei. – Só estou feliz que estejam se acertando do jeito que for. Eu não gostava de Ben ou Amy.
  - Ben não era tão bom assim... – Confessou. Não tinha certeza se queria ouvir aquilo, mas tudo bem. – Ele é bem desprovido de tamanho, se é que me entende.
  - ! – Gargalhei pela maldade da ruiva.
  - Sou sincera. – Deu de ombros com um sorrisinho venenoso.
  - Até demais. – A reprovei com um balanço de cabeça. Levantei o olhar para ver quem atravessava a sala rindo de alguma coisa e acabei me perdendo na luz que parecia emanar de Zayn. Sorri inconscientemente, escutando uma tosse vindo de . – O que? Ele é meu namorado. Eu posso!
  - E eu falei alguma coisa? – Abriu a boca em forma de ‘o’, imitando espanto.
  - Eu preciso te contar uma coisa. – Bebi dois goles seguidos e puxei-a para um canto mais afastado. – Você tem que prometer guardar segredo por enquanto.
  - Você está grávida! – Deduziu um tanto alto demais, me preocupando.
  - Hã?! Não. – Fiz cara de espanto, também desejando mandá-la calar a boca. Duas garotas próximas a nós acabaram escutando-a, por isso repeti com ênfase. – Não estou grávida!
  - Só estava conferindo. – Se desculpou, dando um passo em minha direção para cochichar. – O que é, então?
  - Eu vou morar aqui. – Revelei de uma vez, sabendo que não adiantaria enrolar.
  - ... Desculpa e falar isso, mas você mora aqui há um ano.
  - Não “aqui” em Londres. “Aqui”, nesse apartamento! – Rolei os olhos, sentindo um frio na barriga após falar aquilo em voz alta. – Zayn e eu vamos morar juntos.
  - Oh my God! – Pulou sem sair do lugar, com um sorriso enorme. – Isso é algo grande! Vocês vão-
  - Não vamos casar. Só morar juntos. – A corrigi antes mesmo que tivesse aquela idéia na cabeça.
  - Bem, é quase a mesma coisa se parar pra pensar. Tem essa coisa toda de ver a pessoa o tempo todo e tal.
  - Você está me deixando bem calma, , muito obrigada. – Terminei a bebida em meu copo, deixando-o de lado. – Como se eu já não estivesse nervosa antes.
  - Não fique assim, amiga. – Colocou o próprio copo junto ao meu e me abraçou. – Vocês dois... Dão certo, entende? Não tem como ser diferente. Tudo vai ser perfeito, você verá.   - Espero que sim. – Sorri para tranqüilizar a mim mesma. – Os meninos não sabem ainda, então bico fechado!
  - Oh, no... Liam! Ele vai ficar arrasado. – Levou as mãos à lateral do rosto. – Agora ele perdeu de vez.
  - Perdeu? , não comece. Já ouvi essa conversa hoje. – Rolei os olhos, desejando ainda ter álcool em meu copo. Pelo olhar confuso da menina, fiz algo de que sabia que me arrependeria e expliquei: - Zayn estava com ciúmes dele hoje de manhã. Falou de como somos um com o outro e blábláblá.
  - Ele sabe do beijo? – Sussurrou.
  - Se sabe ou não, não deveria importar. Não é como se não pudesse saber, entende?
   Eu nunca receberia uma resposta, pois um bater de palmas nos interrompeu. Olhei para a porta do apartamento, vendo Liam entrar de mãos dadas com a sua namorada. Todos os convidados gritavam e celebravam, desejando feliz aniversário e etc. Deixei para trás, cortando a sala até me juntar à Harry e Niall, que esperavam para cumprimentá-lo. O menino estava tão feliz que quase chorava. Não era uma festa surpresa, mas com certeza mais do que ele esperava. Pronto, meu trabalho estava pago! Era só aquilo que eu queria, vê-lo irrefutavelmente feliz.
  - Feliz aniversário, Payno! – Niall gritou e bateu uma mão na outra causando um barulho alto.
  - Foi você não foi? – Se soltou de Dani, que não se importou, e nos surpreendeu quando ignorou Niall e me abraçou com força. – Eu sei que foi.
  - Sou um pouco culpada. – Fechei os olhos ao abraçá-lo de volta, reconhecendo seu cheiro como sendo do perfume que trouxera pra ele de NY. – Feliz aniversário, Baba. Você sabe que eu te desejo tudo de bom e do melhor. Você merece toda a felicidade do mundo.
  - Obrigado. – Me apertou mais um pouco até beijar a minha bochecha e nos soltar. – Nialler!
  - Parabéns, mate! – O irlandês abraçou o aniversariante e começou a pular.
  - Babe! – Chamei Zayn, estendendo a mão em sua direção para que se aproximasse.
  - Estou aqui. – Sorriu, mas estava claramente incomodado com algo que preferi fingir não saber o que era. Ao invés disso, o abracei pelo pescoço, ignorando tudo a nossa volta.
  - Eu contei a . – Sorri, sabendo que ele entenderia. – Ela ficou bem feliz por nós.
  - Você está feliz? – Retribuiu o sorriso com um pouco mais de boa vontade.
  - Mais do que qualquer outra coisa. – Juntei nossas bocas em um beijo rápido e inesperado. – Agora vá falar com o seu melhor amigo. É o aniversário dele afinal de contas.
  - Tom estava te procurando. Acho que está no terraço. – Roubou outro beijo e aceitou ir falar com Li.
   Deixei meus quatro meninos e abraçando e batendo no aniversariante e me afastei. Batendo carinhosamente, quero dizer. Os meninos tinham uma forma única de demonstrar seu amor e parabenizar uns aos outros em qualquer conquistas que viessem a ter. Sem falar na tradição de “enfiar a cara no bolo”, que logo tirei da jogada ao encomendar um bolo enfeitado e duro demais pra que isso pudesse acontecer. A minha grande sorte é que em meu próprio último aniversário, Zayn era o único que estava ao meu lado, por isso não se atreveu a empurrar a minha cabeça em cima do bolo feito com tanto cuidado. Sábia escolha.
   A cobertura parecia tão cheia quanto o andar de baixo. Tanto em uma extremidade quanto na outra, pessoas pareciam se divertir e curtir a presença umas das outras, fosse encontrando novos colegas ou velhos amigos. Tom e Giovanna estavam em um sofá que geralmente era guardado na estufa, mas que agora estava perto de um dos parapeitos, e Danny acabava de sentar no colo do amigo.
  - Como você consegue dividir o marido assim? – Sentei ao lado de Gi, cruzando as pernas.
  - Acho que me acostumei. – Riu, rolando os olhos.
  - Ele era meu primeiro. – Danny abraçou Tom parecendo uma menininha.
  - Gays. – Brinquei, o que só piorou a troca de afeto.
  - E ele foi meu primeiro! – Giovanna se defendeu e tinha razão.
  - Não importa, ele vai ser meu último. – Pisquei para o loiro na tentativa de parecer sedutora.
  - Depois dessa vou até pegar algo pra comer. – Gi levantou e parou pra olhar o amante do marido. – Me acompanha?
  - Se cuide, meu amor. – Danny beijou a bochecha de Tom, que fez careta.
  - Finalmente a sós. – Tom escorregou no sofá, ocupando o lugar que pertencera à G.
  - Você sabe que eu estava brincando, né? Quero dizer, Dougie e eu temos um clima e tal. Eu não poso fazer isso com ele.
  - Uau, isso doeu. – Fez careta e procurou algo no bolso interno do casaco. – Talvez Dougie deva te entregar isso aqui, então.
  - O que é isso?! – Tirei o envelope preto laminado das mãos do loiro.
  - O seu convite e dos meninos para o show de aniversário da banda, no dia 19. – Sorriu. – Vai ser no Albert Hall e teremos um camarote para a família e os amigos. Achei que gostaria de ir.
  - Tá brincando? É claro que eu vou amar ir! – O abracei pelo pescoço. O que seria mais surreal: Estar abraçando o meu ídolo adolescente ou ser convidada especial no show de aniversário da minha banda preferida? – Os meninos também, é claro. Obrigada!
  - Tom, quando me disse que queria falar com a minha garota, achei que só ia falar com ela. – Zayn sentou ao meu lado, passando o braço em volta de meus ombros possessivo.
  - Sou difícil de resistir. – Tom se gabou, mas parecia mais um menino inocente que um galã de cinema.
  - E você não tem concorrência. – Encostei no corpo do meu namorado e puxei seu rosto para trocarmos um beijo rápido.
   Teria esquecido do mundo e prestado atenção apenas naquele menino que me queria só pra si. Não só durante aquela festa, mas todos os dias e meses do ano. Era nesses momentos que eu tinha certeza que morar juntos era sim a melhor idéia e que tudo daria certo. Os meninos apareceram ali na cobertura, cada um trazendo um dos banquinhos de madeira que costumavam ficar na cozinha; Harry trazia dois, que assumi serem dele e de Zayn. O aniversariante era só sorrisos e ficou no meio do que começava a ser um círculo de convidados. De onde estávamos, Zayn, eu e Tom podíamos assistir perfeitamente o que quer que fosse acontecer.
  - Boa noite, pessoal. Gostaria de agradecer a todos por estarem aqui, dividindo essa noite tão importante pra mim! – Liam começou a fazer um discurso e todos pararam para escutá-lo. – Sabem... Eu nunca tive muitos amigos no colégio e as crianças gostavam de pegar no meu pé. No meu aniversário de dezesseis anos, nenhum dos convidados apareceu. Se alguém me dissesse um ano atrás que hoje eu estaria comemorando com pessoas tão importantes, eu não acreditaria. Obrigado.
  - Você merece, bro. – Louis puxou uma salva de palmas e todos o acompanharam.
  - Obrigado a vocês, por me agüentarem todos os dias! – Se virou para os três meninos atrás dele e para Zayn ao meu lado. – Obrigado à minha linda namorada, Danielle...
  - Eu te amo, Li! – Dani assoprou um beijo na direção do menino.
  - Claro que eu não poderia esquecer da pessoa a quem eu devo tudo isso! Não apenas essa festa incrível, mas tudo que eu tenho hoje. A banda, meus quatro irmãos... E uma irmãzinha mais nova, . – Liam caminhou até o sofá, se ajoelhando na minha frente, e segurou a minha mão. – Obrigado, .
  - De nada. – Sorri e baguncei os cabelos dele com a mão livre.
  - Agora, pra agradecer de verdade, eu gostaria de pedir ajuda aos meus amigos. – Me soltou e ficou de pé, dessa vez estendendo a mão para Zayn, que a aceitou. – Quem quer ouvir uma música nova?
  - Eu quero! – saiu de trás da multidão, atravessando o espaço vazio. Esperou Zayn liberar o espaço ao meu lado e se sentou.
  - Vamos lá. – Zayn abraçou Liam de lado e os dois foram falar com os outros bandmates.
   encostou o braço ao meu, deitando a cabeça em meu ombro. Não precisei olhar para ela pra saber que estava sorrindo na direção do ex-namorado e futuro-marido. Niall tentava se concentrar no que os outros meninos falavam, mas só conseguia encarar a ruiva. Apenas quando um violão preto lhe foi entregue é que ele e a palavra “Happily” foi dita. Todos os meninos se sentaram em seus bancos na seguinte ordem: Harry, Louis, Liam, Zayn e Niall. Banda formada e instrumentos prontos, a melodia começou devagar. Primeiramente imaginei que a “música nova” pertencia ao próximo CD a ir para o mercado, Take Me Home, mas me assustei ao não reconhecer a música.

  
You don't understand, you don't understand…
  What you do to me when you hold his hand.
  We were meant to be, but a twist of fate made it so we had to walk away.

  Harry começou a cantar, sua voz rouca e mais macia para os ouvidos do que eu conseguia me lembrar. Todos os meninos pareciam orgulhosos daquela canção e eu podia entender o porque. Assim como Story Of My Life, ela tinha um ritmo mais divertido e até dançante, porém, diferente das músicas chiclete que eram associadas à boybands. Enquanto Niall tocava, os outros meninos batiam os pés no banco ou batia palmas, substituindo os outros instrumentos que faltavam.

  
'Cause we're on fire, we're on fire.
  We're on fire now.
  'Cause we're on fire, we're on fire.
  We're on fire now.

  Zayn puxou a entrada do refrão e em seguida começou a estalar os dedos.

  
I don't care what people say when we're together.
  You know I wanna be the one who hold you when you sleep.
  I just want it to be you and I forever.
  I know you wanna leave, so come on baby.
  Be with me so happily.

  Finalmente o refrão chegou e, particularmente, a minha parte preferida. Era nesse momento que as vozes de Louis e Harry se tornavam uma só. Uma harmonia, um coração; por mais brega que isso soe. Olhando em volta não havia uma pessoa se quer que estivesse parada. Uns balançavam a cabeça, batiam palmas e outros mais entusiasmados como eu, mexiam o corpo inteiro em uma espécie de dança.

  
It's 4am, and I know that you're with him.
  I wonder if he knows that I touched your skin
  
  And if he feels my traces in your hair,
  I'm sorry, love, but I don't really care.

  Liam e Louis dividiram essa parte, cada um cantando uma estrofe respectivamente. Liam soou incrivelmente bem, como acontecia sempre que abria a boca. Ele encarou o chão ao recitar sua frase, quase que se distanciando do mundo. Louis, por outro lado, ergueu o rosto, cantando com altivez. Senti tanto orgulho do meu irmãozinho que precisei abafar um gritinho com as mãos. Eu era a maior fã do One Direction.

  
I don't care what people say when we're together.
  You know I wanna be the one who hold you when you sleep.
  I just want it to be you and I forever.
  I know you wanna leave so come on, baby be with me so happily.
  So happily...
  1, 2, 3, 4
  Oh, oh, oh
  Oh, oh, oh
  We're on fire now.

  Não seria uma música deles se Harry não gritasse “wow” ou não contasse até quatro em algum ponto. Ri sozinha daquele pensamento e bati palmas quando a música chegou ao fim. Todo o resto da platéia fez o mesmo e Tom parecia impressionado. Os cinco acabaram com aquela imagem de meninos que não tinham conteúdo algum, pois a letra era linda e tinha significado. Era exatamente por isso que, na madrugada daquele mesmo dia, eu fiquei com tanta raiva da Modest! por não deixá-los se expressar como gostariam.
  - Eu devia ir lá? – questionou.
  - Claro que sim! Vamos. – Levantei, não esquecendo o meu convite, e a puxei pela mão. – Vou guardar isso aqui no quarto e você finge que vem comigo. Daí, como passaremos ao lado de Ni, você finge tropeçar e tudo fica bem.
  - Uau. – Fez careta, nada impressionada. – Como você conquistou Zayn é uma coisa que nunca vou entender.
  - Eu provavelmente teria caído de verdade. – Gargalhei, tomando uma atitude e indo em frente.
   Não sabia se a ruiva aceitaria a minha dica e faria o que a aconselhei, mas fomos em frente. Andy, o amigo de Liam, acenou um “oi”, já que não havíamos nos cumprimentado antes, e o retribui com um sorriso, tampouco me preocupando em ir abraçá-lo ou coisa parecida. Estava mais preocupada em ver o que iria fazer na hora que passássemos ao lado do irlandês. Imagine a minha surpresa quando ela não precisou fazer nada.
   Niall entregou a guitarra para meu irmão e segurou no pulso da menina, trazendo-a para seus braços e lhe dando um beijo que demonstrava o quanto um sentia falta do outro. Por mais que eu quisesse ficar ali e assistir os dois se acertarem, entrei na estufa e desci as escadas. Aquele convite em minhas mãos era importante e precioso demais para que eu o deixasse em qualquer lugar e acabasse esquecendo. Ou pior, outra pessoa poderia pegá-lo por engano e aí a minha vida estaria acabada! Dramas a parte, era muita consideração de Tom ter convidado à mim e aos outros para ir ao show de aniversário do McFly. Com certeza eles tinham amigos mais antigos que eu que também se importariam muito em ir ao camarote, mas infelizmente não haveria espaço para todos.
   Já que a maioria dos convidados estava no andar de cima, pude atravessar a sala sem nenhum empecilho e cheguei ao corredor que me levou ao quarto que agora era meu também. Apesar de ser um apartamento masculino, seria fácil dar alguns toques femininos. Talvez eu pudesse trazer a minha mesinha de cabeceira e trocar a que ficava no meu lado da cama... E colocar meus quadros pequenos com pinturas de Paris. E também precisaria de um lugar pra colocar as fotos que ficavam atrás da cama. “Deus, tem tanta coisa pra fazer!” Sem falar que Zayn teria que abrir espaço no closet para as minhas coisas, pois ambos tínhamos roupas demais!
  - O que está fazendo, babe? – Zayn entrou no quarto e fechou a porta, abafando o som que vinha da sala.
  - Vim guardar esse convite. – E pensando seriamente em desistir da mudança por culpa da preguiça, mas ele não precisava saber disso. – O que você está fazendo aqui?
  - Você não disse nada depois da nossa música, achei que tinha algo errado. – Sorriu, fazendo seu caminho até mim e segurando em meus ombros.
  - Eu amei a música! Quem a escreveu?! – Deixei o convite sobre a mesinha e segurei na cintura do menino.
  - Nós cinco a escrevemos a um tempo atrás. – Aproveitando que estava segurando meus ombros, abraçou-me por ali.
  - E porque eu só a escutei hoje? – Minha voz foi um pouco abafada quando fui sufocada por seu pescoço e não me importei nada, aproveitando pra deixar uma mordida ali.
  - Você não estava merecendo. – Falou na cara dura, com uma risada que vinha do fundo da garganta.
  - Malik! Vou te mostrar o que eu mereço. – Briguei, lutando para me soltar daquele abraço. Quando Zayn me largou, dei um passo para trás e perdi o equilíbrio por culpa do salto, caindo de costas na cama e provocando o belo de um sorriso travesso no garoto.   - Uh, babe... Eu sei o que você merece.
   Esperando por aquela oportunidade o dia inteiro, Zayn deu mais um passo na direção do móvel e levantou as minhas pernas levemente, jogando meus sapatos no chão. Tamanha era a intensidade em seu olhar que não soube muito como reagir, apenas permanecendo parada ali. Era uma preza fácil. Percebendo o seu poder, subiu na cama, em cima de mim, e levou os lábios até o pedaço descoberto do meu colo. Emaranhei os dedos em seus cabelos puxando com força no instante em que senti o arranhar da sua barba contra a pele.
  - Zayn! – Arfei o seu nome, misturando o “eu quero mais” com “não podemos fazer isso agora”.
  - Isso, fale o meu nome. – Lambeu meu pescoço, arrastando até a minha orelha, onde sussurrou: - Você sabe que eu gosto.
   Rolei os olhos com aquela provocação baixíssima. Com seus cabelos entre meus dedos, puxei seu rosto até abocanhar seus lábios com os meus. O peguei de surpresa, mas de forma esperada. Logo estávamos lutando um contra o outro, ambos querendo a sua fatia de dominação. Perdi no momento em que ele deslizou uma mão pela minha coxa e a levou para baixo da saia, apertando a minha parte de trás. Mordi seu lábio inferior como reação à força que ele usou e não tive resultados negativos. Prendi as pernas em volta da sua cintura, sentindo-o entre as pernas. Apesar da calça jeans que usava, era clara a sua excitação por baixo da roupa.
  - , você- SHIT! – Tão rapidamente quanto abriu, a porta se fechou.
  - Quem era? – Zayn levantou o rosto um pouco abobalhado, já eu, “mortificada” era a palavra certa.
  - . – Respirei fundo ao constatar que era só ela. – JÁ ESTOU INDO!
  - Acha que ela gostaria de participar? – Questionou sério demais pro meu gosto e fui obrigada a empurrá-lo para longe de mim.
  - Shut up. – Rolei os olhos, tentando me recompor ao sair da cama. – Vou ver o que ela quer... Venha quando “puder”.
  - Isso não acabou aqui! – Reclamou, ainda deitado na cama de barriga para baixo.
  - Sei disso. – Pisquei, terminando de calçar os sapatos, e percebi que algo em minha blusa estava frouxo demais. – Como é que você conseguiu abrir meu sutiã tão rápido?
  - Não foi a minha primeira vez.

    

Chapter XLIII

- Zayn, eu acho que tem alguém aqui! – Após o segundo barulho que escutei vindo da sala, desisti de voltar a dormir e sentei na cama, assustada.
  - Hmn hmnhmn. – O menino apenas grunhiu, cobrindo a cabeça com o travesseiro.
  - Oh, for fuck’s sake.
   Eu teria que nos salvar do provável invasor ou seqüestrador, pelo visto. Tinha certeza que apenas nós dois dormimos no apartamento e os únicos a ter a chave, portanto, não seria nenhum dos nossos amigos fazendo bagunça na sala. O dorminhoco se mexeu na cama, mas não fez mais nada além disso. Pulei para o chão, lembrando de vestir alguma roupa antes de sair do quarto. “Onde é que a minha calcinha foi parar?!” Procurei pelo chão, mas só fui encontrá-la em cima do abajur do outro lado do quarto. A vesti e, por cima do corpo, um sweater que pertencia à Zayn.
   Um novo barulho me alertou. Realmente havia alguém ali! Dividida entre a bravura de quem acaba de acordar e não pensa direito e o medo de enfrentar alguém perigoso, corri até a porta e a abri devagar. Espiei com segurança e só saí dali ao ter certeza que os dois lados do corredor estavam vazios. Na ponta dos pés, corri como uma verdadeira espiã da Scottland Yard até me esgueirar pelo arco da sala de jantar e escorregar até a cozinha. No meu campo de visão, ninguém aparecera ainda, porém, um barulho de ranger nos degraus da escada gritava “você não está sozinha”. Me abaixei atrás do balcão da cozinha, abrindo as gavetas até encontrar a maior faca que havia na casa. Eu precisava de uma proteção, não?
   O som de algo sendo arrastado pelo chão me alertou como uma raposa escuta os caçadores. O invasor estava ali! “Pensa, , o que os escoteiros fazem quando estão em uma situação dessas?” Perguntei internamente, mas não fazia idéia de qual era a resposta. “Como vou saber? Nunca fui escoteira!”. Talvez fosse loucura, resolvi enfrentar meus medos. Firmei a faca na mão e levantei, apontando-a para qualquer um que fosse.
  - PARADO!
  - Meu Deus amado! – Uma senhora vestida de camareira derrubou o que tinha na mão, causando um barulho alto e vidro se espatifou no chão.
  - Shoot! Me desculpa! Eu pensei que fosse um ladrão! Você está bem? – Me senti horrível e coloquei a faca afiada no balcão. – Eu sinto muito mesmo!
  - Não tem problema, Sra. Malik. Não venha aqui, por favor, tem vidro por toda parte! – Tentou sorrir, obviamente controlando a respiração descompassada.
  - O que aconteceu aqui?! – Zayn deve ter pulado da cama ao escutar o vidro quebrar e só teve tempo de amarrar o lençol escuro em volta da cintura. – Marie, você está bem?
  - Eu quase a matei com uma faca, mas acho que vamos ficar bem. – Brinquei, esperando melhorar o clima no cômodo.
  - Foi um mal entendido, de verdade. – Marie tirou de seu carrinho uma pá e algo bem semelhante à uma vassoura em miniatura.
  - Me deixe lhe ajudar com isso. – Dei um passo a frente, mas as duas outras pessoas levantaram a mão em sinal de ‘pare’.
  - Você está descalça, , tenha cuidado. – Zayn advertiu.
  - Não precisa me ajudar, de verdade. Uma pessoa tão desastrada quanto eu já está acostumada com essas coisas. – A senhora se abaixou e começou a juntar os caquinhos com a pá. – Podem ir descansar. Sei que ainda está cedo. Prometo que farei menos barulho.
  - Pode trabalhar a vontade, Marie. Não acho que vamos dormir agora. – O menino que já a conhecia sorriu para a mulher de forma que, se fosse mais nova, me deixaria enciumada.
  - Novamente, mil desculpas... – Apesar de sua aparência simpática, ser recebida com uma faca não devia ser nada agradável.
   Zayn apenas riu da situação toda, mal sabia ele da forma que eu me sentia envergonhada. Preferi pensar pelo lado que a culpa não era minha, e sim dele por não ter me avisado anteriormente, ou até mesmo quando avisei que tínhamos um invasor na casa. Por outro lado, minhas suspeitas foram correspondidas, ele tinha mesmo uma doméstica ou como quiser chamar. Meu novo roommate não era tão sujo e bagunceiro quanto meu irmão, mas também não fazia o tipo que acorda cedo pra fazer faxina. Especialmente em um flat tão grande quanto aquele.
   Abracei-o de lado quando chegamos ao corredor e fomos para o nosso quarto, pressionando as pontas dos dedos levemente sobre sua pele mal coberta. Apenas quando estávamos seguros de qualquer par de ouvidos que não fossem os nossos próprios, resolvi tirar as minhas últimas dúvidas.
  - Marie, huh? – Tentei pescar informações.
  - Ela trabalha no prédio. – Fechou a porta do quarto e fiz meu caminho para a cama. – Vem aqui uma vez por semana, ou quando há festas.
  - Você devia me falar quando outra mulher for aparecer aqui. Eu podia tê-la matado. – Imitei uma falsa seriedade, me aconchegando na cama.
  - Claro, porque você é super capaz de matar uma pessoa. – Gargalhou e pulou na cama, sem se importar em tirar a saia improvisada.
  - Eu venceria os Jogos Vorazes, fique ligado. – Estava preguiçosa demais pra fingir brigar, então ao invés disso, me aninhei em seus braços, com a cabeça em seu peito.
  - Só porque ninguém teria coragem de te matar. – Passou o braço em volta dos meus ombros e começou a alisar meus cabelos. – O que seria um desperdício.
  - Na verdade, algumas das suas fãs adorariam tentar... – Ri do que não era engraçado.
  - Continuam pegando no seu pé? – Notei seu tom preocupado e me arrependi de ter tocado no assunto.
  - Não tanto quanto antes... E eu também não tenho procurado. Há tanta coisa legal acontecendo que me preocupar com essas ameaças seria perda de tempo. – Deslizei os dedos sobre o torço tatuado do menino.
  - Eu não entro no twitter desde... Aquele dia. – Beijou o topo da minha cabeça, completamente calmo.
  - Não que precise entrar... A Modest! já posta tudo pra você. – Sorri irônica e exageradamente, causando risadas no outro.
  - O que eu faria sem você? – Me olhou de forma apaixonada. Era nesses momentos que eu me sentia a pessoa mais importante do mundo.
  - Absolutamente nada. – Beijei seu queixo, arrastando as unhas pelo abdômen e parando embaixo do umbigo; senti seus músculos se contraindo embaixo do meu toque. – Sabe qual a minha parte preferida em você?
  - Tenho uma idéia, pelo caminho que está fazendo. – Fechou os olhos e suspirou fundo.
  - Bobo. – Rolei os olhos, descendo beijos pelo pescoço e ombro. – Eu gosto da sua cintura. Dessas linhas, da sua lateral... Gosto especialmente dessa tatuagem aqui. “Don’t think I won’t”. Acho que finalmente sei o que ela significa.
  - Sério? E o que é? – Levantou as pálpebras, sem saber o que esperar.
  - “Não pense que eu não vou”, ou “não pense que eu não farei”... É como se você estivesse desafiando o desafio. Querendo provar a qualquer um que você é capaz de qualquer coisa e ninguém deve duvidar de você. – Eu mesma estava surpresa com aquela teoria.
  - É melhor do que a minha explicação. – Riu, fazendo seu peito subir e descer. – A partir de hoje, usarei a sua.
  - Obrigada. – Ri baixo, continuando a tocar a tatuagem.
  - Você devia fazer uma nessa região também. – Comentou pensativo.
  - O que eu escrevo? – Mordi o lábio inferior inconscientemente. – Propriedade de Zayn Malik?
  - Ótima idéia! Posso agendar com Ami? – Perguntou positivo demais.
  - Só se você fizer uma no pulso: “Propriedade de Star”. – Levantei o rosto, mas a expressão de “eu poderia fazer isso” me assustou. – Nem pense nisso, Mailk!
  - Não pense que eu não faria! – Piscou.
  - Eu sei que faria! – Saí dos braços do menino e caminhei até o banheiro bem a tempo de escutar a campainha tocando. – Marie atende?
  - Provavelmente, mas vai vir nos chamar aqui... – Choramingou, preguiçoso.
  - É melhor você trocar de roupa então. – Não, eu não o deixaria passar o dia na cama.
   Fechei a porta e escutei passos atravessando o quarto. Só esperava que ele me ouvisse e vestisse algo além daquele lençol; por mais sexy que a visão fosse. Sem pressa alguma, fiz minha higiene matinal, escovei os dentes, lavei o rosto e penteei os cabelos. Fui obrigada a deixá-los soltos, pois não tinha nenhum prendedor por ali. Já fora do banheiro, cacei entre as coisas de Zayn um de meus shorts e o vesti. O menino não estava mais no quarto, então provavelmente atendera quem quer que fosse que nos visitava as dez horas da manhã.
   Torcendo para encontrar Harry na sala, com uma bandeja dos seus cupcakes de red velvet, saí do quarto. Infelizmente não era o menino alto e de olhos verdes, também conhecido como meu cunhado. Passei pelo corredor, desembocando direto na cozinha, onde um homem moreno estava sentado à mesa, de costas pra mim. Na sua frente, Zayn parecia sério. Sem saber se deveria entrar ou deixá-los a sós, encostei ao arco de entrada até que os dois me notassem. Podendo ver o seu rosto, reconheci quem era o visitante e tenho que comentar que sua aparência também não estava nada boa.
  - Bom dia, . – Marco forçou um sorriso, o que foi muito mais do que já tinha feito até ali no sentido de ser simpático comigo.
  - Oi. – Balancei a cabeça, preparada pra voltar ao quarto. – Vou deixar vocês a sós...
  - Fique, por favor. Eu gostaria que você ouvisse o que eu tenho pra falar. – O empresário insistiu.
  - Vem... - Zayn estava tão surpreso quanto eu e me deu espaço para sentar ao seu lado no estofado que usávamos de cadeira.
  - Estou começando a ficar preocupada. – Quando Marco aparecia sem avisar era porque tinha demandas da Modest! a serem cumpridas ao pé da letra, ou seja, não era boa coisa. – Já estamos “separados”, o que vocês querem agora? Que eu não seja mais irmã do Lou?
  - Babe. – Me repreendeu, mas Marco apenas riu. Não aquela risada irônica, mas uma risada legitima. Que manhã estranha...
  - Não tem problema, Zayn, ela tem motivos. – Agora ele estava ao meu lado? Eu ainda estava dormindo? – De qualquer forma, não foi a mandado da Modest que eu vim aqui hoje. Pra falar a verdade... É bem o contrário. Eu estou saindo da empresa. Pedi demissão hoje mesmo e estou cumprindo aviso.
  - O que?! Por que?! – Zayn questionou o que eu não consegui pronunciar.
  - Eu não agüento mais. Há mais coisas erradas acontecendo lá do que vocês imaginam. – O ex-empresário não parecia ter acabado de perder o emprego, parecia... Leve. – E eu gosto da banda, dos cinco como pessoas. Não quero ser parte disso, porque nenhum merece esconder quem é pelo bem do retorno monetário.
  - Eu não fazia idéia que você pensava assim. – Essa era eu começando a me sentir mal por todas as vezes que lhe tratei com indiferença ou sem educação.
  - A razão pra eu ter vindo aqui primeiro é porque eu terei que desaparecer por um tempo, assim que realmente cortar todos os laços com a empresa, e há algumas coisas que vocês precisam saber. – Seu tom era misterioso e chegou até mesmo a me assustar quando falou sobre “ter que desaparecer”. Coisas assim só vi em filmes de máfia italiana. – Já ouviram falar de uma garota chamada Rebecca Ferguson? Ela estava na mesma temporada em que o One Direction ganhou o concurso e assinou um contrato com a Modest assim como vocês e as meninas da Little Mix.
  - Eu me lembro dela. – O menino ao meu lado afirmou e apenas continuei a escutar.
  - Rebecca é uma ótima garota e estava sofrendo a mesma coisa que vocês. Os empresários controlando tudo que fazia e tudo que dizia... E, principalmente, enchendo-a de trabalho, o que tirava seu tempo com a própria filha. Por isso ela se cansou e resolveu sair antes do contrato acabar.
  - É possível fazer isso? – Minha vez de perguntar, quase como se fosse uma luz no fim do túnel.
  - Claro que sim. Mas há um preço... Ao fazer isso, Rebecca está desistindo da sua carreira. Modest! vai pagar muito dinheiro nesse processo e perder dinheiro é tudo que eles mais odeiam. Trabalhei lá tempo suficiente pra saber como as coisas são. – Suspirou, assoprando a vela que iluminara o meu túnel por um minuto. – Eles vão, literalmente, fechar todas as portas do mercado pra ela. Mas Rebecca está fazendo isso pela filha, então vale a pena, sabe?
  - Por que você está nos explicando isso? – Zayn pousou a mão sobre a minha coxa, carinhosamente alisando-a com o polegar.
  - Porque vocês precisam saber que enfrentar esses processos na justiça é um jeito... Mas não o único jeito de sair. – Pausou dramaticamente, olhando de um para o outro. – Pelo menos não pra vocês.
  - Estamos ouvindo. – Afirmei.
  - Me deixem explicar como o seu contrato funciona... Quando a Syco foi atrás de vocês no inicio do ano, oferecendo a proposta de gravação, estava estipulado que deveriam automaticamente assinar com a Modest! Management. E vocês eram novos na industria, não entendiam nada, então que mal isso poderia causar, certo? Por que não? E ambos os contratos serão encerrados em 2015. Dessa vez, quando lhes abordarem pra renovar o contrato, poderão assinar somente a Syco e estarão livres para procurar novos empresários.
  - Mas isso é daqui a dois anos. – Um aperto de leve em minha perna demonstrou a alteração do mais novo, por isso toquei sua mão com a minha.
  - Eu não estou pedindo pra você sentar e esperar! Estou falando pra lutar. Não agüentar calado e abaixar a cabeça pra tudo que eles lançarem na sua direção! – Agora Marco soava como um revolucionário.
  - Se lutar é uma opção, porque Rebecca não fez isso ao invés de destruir sua carreira? – Usei a mão livre de auxílio para tirar a franja dos olhos.
  - Porque o One Direction tem algo que ela não tinha. – Moveu as sobrancelhas com rapidez, como se estivesse esperando pra falar a melhor parte da conversa inteira. – Você.
  - Eu? – É isso aí. Ainda estava dormindo e isso era só um sonho muito estranho.
  - Rebecca nunca teve alguém tão próximo com o “por baixo dos panos” desde o começo. Especialmente com o ódio tão apaixonado que você tem pela Modest. – Riu e Zayn me olhou como se concordasse com ele em algum nível. – Você pode ser uma saída.
  - Não sei se estou entendendo. – Zayn tirou a mão da minha perna e passou o braço por trás dos meus ombros, protetoramente.
  - O que eu posso fazer? – Não tinha certeza do que aquilo significava, mas se eu pudesse ajudar, ou ao menos minimizar o poder que a Modest exercia sobre os meninos, eu o faria.
  - Com essa parte eu não serei de grande ajuda. Quando deixei a Modest, amarrei as mãos. Tudo que posso falar com certeza é esse é o momento perfeito pra fazer alguma coisa. – Agora Marco olhava somente pra mim. – Você está sob os holofotes, você é importante. Modest! não pode te tocar.
  - Se eu sou tão boa, porque eles não nos deixam voltar a namorar publicamente? – Possivelmente nunca fiz tantas perguntas em uma conversa antes.
  - Porque o cara que quebrou o seu coração ainda é melhor do que o que te conquistou de volta. – Explicou, fazendo Zayn bufar. – Não estou justificando, apenas falando como eles pensam.
  - Vamos bolar alguma coisa. – Afirmei, querendo passar segurança a meu namorado.
   Apesar de Zayn ter a aparência forte, especialmente por ser tão bonito e ter pose de quem é seguro de si, por dentro essa não era a verdade completa. Ele deixava a pressão subir à sua cabeça. Por ter um coração tão bom, não tinha tanta dificuldade em lidar com a fama, pois era legitimamente ele mesmo. Mas ficava nervoso e tinha seus medos e inseguranças. De certa forma, eu sentia como se fosse a sua fraqueza. Por meio daquela conversa que acabávamos de ter com Marco, sua maior preocupação era comigo. Apenas pela forma que me abraçou de lado já deu pra entender o seu medo de me ter enfrentando a Modest! de frente. Ele achava que eu era frágil... Mas ele me fazia forte.
   Marie, que ainda limpava o flat, entrou na cozinha, trazendo duas canecas que eu lembrava ter visto pela última vez em nosso quarto. Marco, em seguida, se levantou, afirmando que precisava pegar alguns documentos antes da sua “viagem”. Ele deve ter falado sério quando mencionou que desaparecia por um tempo, só não imaginava para quão longe ele desapareceria. Zayn e eu fizemos o mesmo que o homem, mas cada um seguiu uma direção diferente. Ele acompanhou Marco até a saída e eu me dirigi à senhora, ainda constrangida pelo nosso primeiro encontro.
  - Posso lhe ajudar com alguma coisa, dear? – A moça ofereceu.
  - Estou bem, obrigada. – Sorri, encostando à bancada da pia. – Só queria me desculpar mais uma vez pelo que aconteceu antes...
  - Já fui recebida de formas piores. – Riu, provavelmente tendo um flashback. – Uma vez, uma mulher pensou que eu fosse a amante do marido! E aí foi um Deus nos acuda.
  - E o que aconteceu?! – Gargalhei. Marie usava expressões engraçadas.
  - Ela fez um verdadeiro escândalo, atirando o material de limpeza pela janela! A sorte é que ninguém foi atingido. – Terminou de secar as canecas e as guardou no lugar certo. – Imagine o que sairia no jornal... Eu nunca mais conseguiria um emprego.
  - Ou ficaria famosa. – Dei de ombros. Marie parou pra pensar naquela possibilidade por alguns segundos e sorriu.
  - Eu devia ter aproveitado a minha chance. – Mexeu a cabeça, encarando o vazio. Olhou em volta e suspirou. – Até que pra um lugar onde aconteceu uma festa na noite anterior, a faxina foi fácil de fazer! Já acabei por aqui. Eu só não sabia o que fazer com a mesa que está na sala...
  - Não se preocupe com isso, é alugada. Os donos vão vir buscar mais tarde. – Acompanhei a outra para fora da cozinha. – Obrigada, Marie! Acho que vamos nos ver mais vezes.
  - Eu espero que sim. – Sorriu sincera. Seu carrinho de limpeza, semelhante ao de camareiras de hotel, estava por ali. – Encontrei um casaco atrás do sofá e o deixei em cima da mesa. Alguém deve ter esquecido.
  - Procurarei o dono, pode deixar.
   Marco já fora embora e Zayn estava bem jogado no sofá espaçoso, sentado de lado e ocupando metade dele. Marie acenou e sorriu em sua direção e ele respondeu da mesma forma. Uma vez que a sala voltou a ser trancada, ficamos sozinhos no nosso apartamento. Pois é, eu estava me acostumando com isso mais rápido do que esperava e estava gostando. Zayn inclinou a cabeça, observando todos os meus passos. Desfilei até ele no sentido mais simples da palavra e sentei em seu colo, com uma perna de cada lado do seu corpo. O casaco que Marie encontrou me lembrou de algo que eu queria comentar.
  - Babe, posso te fazer uma pergunta? – Apoiei as mãos nos ombros dele.
  - Sim, você é a mulher mais linda do mundo. – Rolou os olhos, fingindo estar cansado de repetir a mesma coisa.
  - Não é isso, idiota. – Fiz careta, mas acabei roubando um beijo pra não ser tão chata. – Eu estava conversando com a Gems ontem na festa e ela me contou que continuou trocando mensagens com Connor após o V-Fest, mas que achava que não ia pra frente por causa da agenda lotada dele...
  - Não. , não... Eu já ouvi isso antes. – Seus dedos brincavam com a barra do meu sweater.
  - Shhhhh! – O calei com outro beijo para então continuar. – Eu estava pensando... E se a apresentássemos à Ash?
  - Você está com aquele brilho nos olhos. – Arqueou uma das sobrancelhas. – O que fala que você já pensou muito sobre isso e não vai mudar de idéia, não importa o que eu ache.
  - Sabia que ia concordar. Vamos chamar os dois pra jantar aqui hoje. – Sorri satisfeita, abraçando-o pelo pescoço e juntando nossos lábios, dessa vez em um beijo demorado.

    

Chapter XLIV

- Pronto, estou aqui na frente... Onde você está? – Apoiei o celular na orelha, procurando a pessoa que deveria me encontrar ali.
  - Estou te vendo! – cantarolou, mas ainda nem sinal dela.
  - Onde?! – Olhei para os lados e depois para a escadaria atrás de mim. – , eu passei cinco horas em cima da ponta dos pés, para de me enrolar!
  - Já entendi, já entendi! Estou na pracinha na sua frente, encostada na maior árvore. Estou acenando. Me viu agora?
  - Obrigada! – Rolei os olhos, encerrando a ligação. – Foi tão difícil assim?
   Atravessei a rua pouco movimentada que separava a calçada da Academy e a pracinha onde me esperava. Podia contar nos dedos quantas vezes estivera ali pra passar o tempo e estranhei o porquê de a ruiva querer me encontrar ali, mas depois de tanto tempo você aprende a não questionar. O clima outonal se instalara de vez e o chão era coberto por folhas secas que quebravam sobre os pés deliciosamente. Poucos passos depois, já conseguia definir as formas da minha melhor amiga e o menino que a acompanhava naquele comecinho de tarde, o mesmo com quem eu jantara na noite de sábado.
  - Aí está o meu raio de sol! – abriu os braços, esperando um abraço.
  - Aí está a menina que me faz andar por quinze minutos antes de falar onde está! – Desdenhei, fingindo estar irritada. – Boa tarde, Ash, querido.
  - Hey, . – Meu apelido em seu sotaque australiano ainda era engraçado demais.
  - Com ele você é simpática. – A ruiva estreitou os olhos.
  - Sou simpática com quem merece. – Sentei ao lado dos dois, não me importando em molhar a calça jeans com a grama úmida. – Mas você sabe que eu te amo.
  - Eu também te amo, coisa fofa. – Me puxou para receber aquele abraço mesmo sem a minha boa vontade. – Taaaaanto!
  - Alguém está feliz hoje... – Ri, lutando para me desfazer de seu aperto. – O que aconteceu?
  - Nada! É só que Niall e eu tivemos nosso primeiro encontro ontem...
  - Eu não entendo. – Ash coçou o queixo, tentando juntar peças na sua cabeça. – Achei que vocês eram namorados... Pelo menos por causa do jeito que você o agarrou depois do nosso show.
  - Não tente entender... É uma história muito complicada. – Ri e apenas rolou os olhos, sabendo que eu estava certa. – Vamos só dizer que eles eram namorados, mas se separaram por um tempo... E agora estão começando de novo.
  - Os dois são um casal bonito. Eu aprovo. – O loiro sorriu até mostrar suas covinhas.
  - Por falar em casal e aprovação... – Ri e segurei o braço de , chamando sua atenção pra mim. – Sabe quem é a nova namorada dele?
  - ! Pode parar. – Cobriu o rosto, envergonhado. – Não tenho namorada, pare de ser exagerada. Eu conheci a menina antes de ontem!
  - Quem?! – , que amava uma fofoca, ignorou o menino.
  - Gemma! – Denunciei, escutando um muxoxo vindo na direção de Ashton. – Zayn e eu demos um jantar para apresentar os dois...
  - E o que aconteceeeeeeu?
  - NADA ACOTECEU! – Ash descobriu o rosto finalmente, revelando suas bochechas rosadas. – Como a falou, nós só fomos apresentados. E eu não sabia que era pra ser um encontro duplo, aliás, muito obrigado por não avisar nada, .
  - Ei! Um cupido trabalha de maneiras misteriosas, okay?! No caso, eu. – Tentei me defender. – Vai dizer que não gostou dela?
  - Claro que gostei! Quer dizer... Ela é bonita. Engraçada...
  - Está apaixonado! – levou as mãos ao coração.
  - Vocês não me escutam! – Ash começou a se frustrar conosco, mas acabou rindo.
   O jantar foi um sucesso, pra ser sincera. Tanto Gemma quanto Ashton pareceram gostar um do outro; ainda que não soubessem dos meus planos de apresentar os dois até que chegassem lá. Zayn também acabou dando o braço a torcer e concordando comigo. Ash era novo na cidade, então não faria mal ter mais de duas amigas. E Gemma... Bem, ela estava solteira a tempo demais. Não que estar solteira fosse algo tão terrivelmente ruim, mas sabemos que ter alguém ao seu lado também não é algo ruim. Eu e Zayn éramos prova disso. continuou enchendo Ash de perguntas e me distraí quando meu iPhone apitou dentro da mochila que largara na grama. Era uma mensagem de Zayn. Bem, uma das:

  
“Babe. x)”
  “Babe?”
  “Baaaaaaabe.”
  “Star?”
  “Já passou do meio dia, então sua aula acabou. Se não me responder em cinco minutos, vou considerar que você morreu.”
  “Então é isso, você morreu. Vou avisar a sua família.”

  Gargalhei com aquele drama, olhando a tela do celular. Torci para que ele realmente não tivesse avisado a minha família. Antes que algo acontecesse, digitei a primeira mensagem:

  
“Juro que não morri! Ainda estou na Academy com e Ash, estamos na pracinha, então não escutei o celular. Sorry, baby.”
  “Abi também não respondeu as minhas mensagens, então isso explica muita coisa. Hiiiiii.”
  “Oi, Zen!”
  “Quando você vem pra casa? Preciso da sua ajudaaaaa.”
  “Não vou demorar. O que aconteceeeeeu?”
  “Temos visita hoje. (x)”
  “Awwwwwwn! Essa é a Brooklyn? Não sabia que Carol tinha voltado das férias!”
  “Minha afilhada veio passar o dia com a tia . Mas a tia não está em casa!”v   “Diga a ela que a ‘tia Tah’ está chegando. xx”
  

+++

  - Onde está a coisa mais linda dessa casa?! – Anunciei a minha entrada no apartamento, deixando a mochila e sapatos nos degraus da escada.
  - Estou aqui, é claro! – Zayn, cheio de si, levantou do sofá e veio me cumprimentar.
  - Não era bem de você que eu estava falando... – Esse era um abraço que eu nunca negaria, então me enterrei em seus braços. – Você está com cheiro de bebê!
  - Sempre, . – Riu, roubando selinhos curtos. – Brook está ali.
  - Ela está tão grande! – Olhei para onde o menino apontou. A bebê estava dentro de um cercadinho colorido e estofado, sentadinha e rodeada por brinquedos. – Sinto falta de quando Lux era desse tamanho!
  - Luxy está gigante! Quando ela fará dois anos?
  - Dois dias antes de Niall, acredita? – O deixei para trás e fui falar com a pequenina que parecia perdida. – Oi, Brook... Você lembra de mim?
  - Niall já vai fazer dois anos?! Uau, como o tempo passa rápido... – Sentou no braço do sofá, se achando bem engraçado por ter feito aquela piadinha.
  - Você me entendeu, idiota. – Ri contra a minha vontade e peguei Brook no colo. Ela também estava mais pesada do que eu lembrava! – Porque as bochechas dela estão molhadas? Malik, você a deixou chorar?
  - Não deixei! Mas acho que ela está com fome... O problema é que a mamadeira que Caroline deixou aqui não funciona. – Andou com pressa até a mala cor de rosa com desenhos infantis, de onde tirou uma mamadeira da mesma cor e líquido branco. – Já está quente, mas não sai nada!
  - Baby, você tentou tirar a tampa de dentro? – Amadores! Ainda com a pequena no colo, tentei ajudá-lo a resolver esse problema técnico. – Você tem que tirar o bico pra achar a tampinha. Ela impede o vazamento na bolsa e você tem que tirar antes de dar a ela.
  - Me assusta que você saiba disso. – Fez o que mandei e encontrou a tampinha que impedia o leite de descer para o bico.
  - Denise me mostrou quando nos deixou com Theo aquele dia. – Sentei no sofá, arrumando Brook nas minhas pernas. Ela seguiu a mamadeira com o olhar, provando que estava com fome. – E, claro, tenho meus próprios filhos.
  - Por que nunca os conheci? – Desafiou, querendo saber se eu continuaria com aquela brincadeira. Sentou ao meu lado, entregando-me a mamadeira. – Você sabe que eu adoro crianças.
  - Sei, mas acho que o pai deles não gostaria dessa idéia... Ele não sabe sobre você. – Balancei a cabeça, apreciando a careta que Zayn fez. – Seria estranho. Meu marido saber sobre o meu namorado...
  - Para com isso, ! – Sabia que era brincadeira, mas cruzou os braços, emburrado.
  - Pelo menos agora você pode entender por que eu não posso casar com você! Já sou casada. – Apoiei a mamadeira quando Brook começou a beber. – Me sinto bem melhor agora.
  - Nem brinque com isso. – Deixou a brincadeira de lado e sorriu. – Eu sei que você é só minha. Vejo isso no seu olhar.
  - O que vê agora? – Fechei os olhos, sabendo que era muito boba por fazer isso.
   Acreditei que receberia uma resposta mais boba ainda até que senti os lábios dele sendo pressionados contra os meus. Não aprofundamos o beijo por eu ainda estar com uma criança no colo, que poderia engasgar se me distraísse demais, mas conseguimos aproveitar. Quando nos separamos, a bebê rejeitou a mamadeira e Zayn a pegou no colo. Ambos levantaram e foi engraçado assisti-lo tentar fazê-la arrotar.
   Brooklyn fazia parte do time de bebês que cercava a banda. Caroline Watson, sua mãe, era a responsável pelas roupas que os meninos usavam em eventos, programas de TV e praticamente em todas as situações que seriam filmados e/ou fotografados. Rachel era sua parceira, onde uma cuidava dos cabelos e maquiagem enquanto a outra os vestia. Uma era mãe de Lux e a outra de Brooklyn. Theo era o mais novo desse time de criaturinhas fofas. Com a mamadeira quase vazia ainda em mãos, levantei e fui até a bolsa para guardá-la e aproveitei para pegar uma chupeta.
  - Carol deu alguma recomendação?
  - Ela falou que Brook geralmente dorme após o almoço... – Zayn explicou enquanto faria caras engraçadas para divertir a menininha em seus braços, que tocou seu rosto e riu sonoramente. – Quer fazer isso?
  - Sou terrível em fazer crianças dormirem. Geralmente deixo Lux mais acordada do que com sono. – Me acomodei no sofá, pronta para assisti-lo continuar com seu trabalho de babá, após entregar-lhe a chupeta.
  - Tudo bem, mas você troca a fralda quando ela acordar. – Deu de ombros, adorando aquele acordo. – Sabia que eu costumava fazer Safaa dormir?
  - O que você fazia? – Sorri com aquela imagem mental.
  - Eu cantava pra ela. – Brooklyn deitou nos braços do maior, já sabendo o que estava por vir. – Quer ouvir?
  - Acho que nós duas queremos. – Abracei as pernas, apoiando o queixo sobre o joelho.
  - Deep in the meadow, under the willow, a bed of grass, a soft green pillow. Lay down your head and close your eyes. And when they open, the sun will rise… - Zayn andava de um lado para o outro, ninando Brook em seu colo. Sua voz era baixa, mas o bastante para eu escutar do sofá. Aquilo parecia tão fácil pra ele... Era só abrir a boca e a mais bela voz saía. - Here it's safe and here it's warm. Here the daisies guard you from every harm. Here your dreams are sweet and tomorrow brings them true. Here is the place where I love you…
   Antes mesmo de perceber, comecei a me mover de um lado para o outro no sofá. Era a primeira vez que escutava aquela canção de ninar, mas não seria a última, pois pretendia obrigá-lo a cantar pra mim mais vezes. Mais ou menos dez minutos depois, Brooklyn dormia tranqüila e a chupeta quase caia de sua boca pequena devido seus suspiros. Zayn a colocou com cuidado no cercadinho, tirando os brinquedos que pudessem machucá-la. Até que ficar de babá não seria a pior coisa do mundo, especialmente com uma criança tão quieta como ela.
   O menino observou-a dormir por instantes antes de se juntar a mim no sofá. Pegou o controle remoto da TV e colocou os pés descalços em cima da mesinha de centro. Antes que eu fizesse isso por vontade própria, me puxou pelo pulso até que estivéssemos abraçados. Apoiei a cabeça sobre o seu ombro, sentindo que adormeceria em segundos.
  - Baby, ela está dormindo... A TV pode acordá-la.
  - Mas está passando Scooby Doo 2! – Fez bico, como se aquilo fosse uma boa justificativa. – Olha, sou eu!
  - Você não é o Fred... Talvez o Salsicha seja mais o seu nível. – Ri, apontando para a TV. – Eu sim sou a Daphne.
  - Se eu sou o Salsicha, você tem que ser o Scooby. – Demandou. – Ou nada feito.
  - Vou pensar no seu caso. – Insisti.
  - Eu quero uma Máquina Mistério. – Fitou-me e ergui o rosto para conectar nossos olhares. – Me dá uma?
  - Claro que sim! – Sorri e toquei seu nariz com a ponta do dedo. – Você quer dizer uma em miniatura, certo?

  
+++

  Brooklyn dormiu por duas horas, o que nos deu tempo de assistir o filme inteiro e ainda dois episódios de Bob Esponja. Acredito honestamente que teria dormido por mais tempo se eu não tivesse gargalhado tão alto por uma coisa que o Lula Molusco falou, mas isso é algo que nunca admitirei. A menina logo quis brincar e, assim que ganhou confiança em tudo a sua volta, não quis ficar nos braços de ninguém e engatinhou pela casa inteira; obrigando Zayn e eu a segui-la pra cima e pra baixo. Apesar disso, era muito fácil fazê-la rir, então nós três nos divertimos muito.
   Eu estava sentada no chão e a pequena tentava se manter de pé sozinha, usando minhas mãos de apoio quando o interfone começou a tocar e Zayn correu para atender-lo. A televisão estava ligada em um canal de música e tanto eu quanto Brooklyn dançávamos ao som de Lady Gaga.
  - Ela pode subir sim. – Ouvi a voz de Zayn vindo da cozinha.
  - Será que a mummy chegou, B.? – Levantei, ainda segurando Brook pelas mãos. – Vamos ver, vem!
  - Obrigado, Sr. – Era Zayn desligando. – ?
  - Estamos aqui! – Carreguei Brooklyn um pouco contra a sua vontade. – A Carol está subindo?
  - Está sim! A mummy veio buscar a princesinha... – Zayn voltou a falar daquele jeito engraçado e juntou as mãos, chamando-a para o seu colo. – Depois você vem nos visitar de novo, não é? Claro que veeeeem!
  - Não sei se você é mais bobo com ela ou com ... – Cruzei os braços ao vê-lo jogá-la pra cima, que ria como se sua vida dependesse disso.
  - Como não ser bobo com essa coisinha lin- - Sua frase foi interrompida assim que o jantar de Brooklyn voltou pelo mesmo caminho onde entrou, terminando no cabelo escuro do menino. – Eeeeeeeeeew, não!
  - Oops! – Fiz cara de nojo, recuperando a menina. – Acho que devia ter avisado que ela acabou de comer...
  - Talvez sim. – Torceu o nariz, dividido entre a vontade de tocar em seu cabelo melecado ou não. – Vou cuidar disso... Você a entrega pra Carol.
  - Pode deixar. – Ri, limpando a boca da menina com o pano que tinha pendurado no ombro. – Ao menos você não se sujou, não é, Brook?
  - Bom saber de que lado você está. – Zayn riu à distância, sua voz quase sendo abafada pelo som da campainha.
  - Mummy chegooooou! – Comemorei em direção à porta. – Carol?
  - Eu mesma! – A voz conhecida anunciou enquanto destrancava o flat para deixá-la entrar. – Minha fadinha!
  - Ela nem sentiu a sua falta! – Brinquei, entregando a criança para sua mãe. – Mas eu senti! Como foi a viagem?
  - Foi incrível, ! – Abraçou-me com o braço livre. – Depois temos que nos encontrar pra eu te mostrar as fotos.
  - Claro que sim! Quer entrar?
  - Fica pra próxima... Tenho que correr. Meu marido está lá embaixo e é proibido estacionar.
  - Vou pegar as suas coisas, então! – Dei meia volta, procurando a bolsa com as coisas de Brooklyn e o cercadinho já desmontado.
  - Onde está Zayn? Ele não te largou sozinha com a afilhada, né? – Continuou parada na porta, pendurando a bolsa da filha sobre o ombro.
  - Ele está no banho! Não se preocupe, ele me ajudou em tudo. Menos em trocar fraudas, claro. Que foram muitas...
  - Então Brook lhe deu muito trabalho.
  - Não mais que o normal. Ela é mais comportada que Lux! – Entreguei todas as coisas que não me pertenciam e dei um último beijo na bochecha da bebê. – Tchau, pequenina!
  - Tchau, tia . – Caroline a balançou devagar para que se despedisse. – Foi bom te ver!
  - Igualmente, Carol.
   Nos abraçamos mais uma vez e a esperei entrar no elevador para então fechar a porta. A casa estava uma bagunça! O sofá fora do lugar e a cozinha nem se fala. Entretanto, eu estava com preguiça demais para arrumar qualquer coisa que fosse naquele momento, então apenas me dirigi para o quarto. A porta do banheiro estava aberta, o que enchia o quarto com o cheiro de sabonete e um pouco do vapor do chuveiro ligado. Me senti particularmente tentada por aquele convite de me juntar a ele no banho, mas estava com preguiça até pra isso. Preferi me jogar na cama espaçosa, esticando as pernas e os braços, no cúmulo da folga. Ameacei fechar os olhos, mas o toque de um celular me impediu.
  - Baaaaaabe, seu celular está tocando! Quer que eu atenda? – Perguntei alto.
  - , meu celular está tocando! Pode atender, por favor? – Gritou de volta, me fazendo rir.
  - Claro! Porque eu não pensei nisso antes? – Rolei os olhos, alcançando o aparelho semelhante ao meu. – Celular de Zayn Malik, em que posso ajudar?
  - Uau, Zayn tem uma secretária pra atender o próprio celular... Ainda bem que você atendeu! Estou tentando falar com ele há uma semana e ninguém me atende! Já estava pensando que tinha o número errado! – Uma voz feminina e simpática falou ao outro lado da linha.
  - É o número certo sim! – Ri do desespero da menina. – Desculpa, quem está falando?
  - Meu nome, claro! Uh, me chamo Aly! Não sei se ouviu falar de mim... – Riu de si mesma. – Zayn está aí?
  - Ele está meio ocupado agora. Posso ajudar em algo?
  - Acho que sim... Uh, isso é embaraçoso... Gostaria de perguntar a ele se, uh... Por um acaso encontrou a minha jaqueta. Tenho certeza que a esqueci em seu apartamento.
  - Sim, claro! Você estava aqui na festa de sexta, certo? – Não lembrava de Aly alguma, mas também não conhecia todas as amigas do aniversariante.
  - Sexta? Uh, não, não... Tenho certeza que a festa foi em um sábado. – Explicou. Meu olhar apenas seguiu o menino que entrava no quarto, já vestido com uma camiseta e bermuda. – No Clarige’s Hotel? Uh, fomos para o apartamento dele depois da festa e devo ter esquecido meu casaco aí. Não é a primeira vez que esqueço algo assim, sabe? Minhas amigas vivem reclamando sobre isso! Mas não vou tomar o seu tempo... Você sabe se a agenda dele está livre para amanhã a noite? Talvez pudéssemos sair pra jantar... Claro, só se não tiver nenhum compromisso com a banda...
  - Por que não pergunta a ele? – Minha mão que segurava o telefone começou a tremer. Meu estômago pesou de repente e temia ter entendido bem o que a tal de Aly estava falando. Estiquei o iPhone na direção do dono antes que o derrubasse. – Zayn.
  - Quem é? – Aceitou o aparelho, estranhando a minha reação. Levou-o à orelha e seu semblante ficou pálido como uma folha de papel. – Eu te falei pra não me ligar mais!
   Aquela era toda confirmação que eu precisava. Senti o mundo pesar e a cama onde estava sentada poderia me engolir a qualquer instante, pois eu estava diminuindo. Diminuindo até ficar bem pequena, do tamanho de uma formiguinha insignificante. Em câmera lenta, Zayn soltou o telefone já apagado no colchão e levantou os olhos amendoados lentamente até o meu rosto. Passou a mão direita pela testa e cabelos molhados, visivelmente suando frio.
  - ... – Foi o primeiro a falar, me trazendo de volta à realidade.
  - Nem tente. – Me coloquei de pé na cama, preferindo atravessá-la por cima ao ter que passar perto de Zayn.
  - Espera! Não!
   Ignorei seus chamados, correndo porta a fora. Então era isso, ele tinha... Me traído... Meus joelhos fraquejavam, podendo ceder a qualquer instante, mas me mantive de pé. Claro que o menino correu atrás de mim, desesperado e tentando segurar o meu pulso, mas fui mais rápida. Parti em direção à porta, agarrando a mochila e sapatos que estavam ali perto. Minha primeira reação era fugir, sair de perto e não olhar para trás. Sabia que se ficasse ali, seria mais magoada do que já estava. Me encontrava em estado de choque, tendo dificuldade em assimilar as palavras de Aly e a reação de Zayn, mas não era muito difícil juntar as peças. O choque me pegara despreparada demais para que eu conseguisse chorar, ainda que sentisse que estava prestes a desmoronar.
  - , não vá embora! Pare! – Demandou, como se ainda tivesse algum direito de pedir qualquer coisa. – Eu quero falar sobre isso!
  - Oh, okay! Você quer falar sobre isso? – Bati a porta com força e soltei todas as coisas no chão, partindo pra cima dele como um furacão e parando a poucos passos de distância. – Vamos falar! Como ela era? Ela era boa?
  - Não! – Negou, estupefato pela minha ferocidade. Ele devia ter me deixado ir embora. – Porque ela não era você!
  - Você dormiu com ela? – Cruzei os braços com força, sem perder a respiração. Minhas perguntas eram automáticas.
  - É claro que não! Nós só... – Não soube como terminar a frase, tampouco precisava.
  - Então nem valeu a pena?! Você jogou fora o que nós tínhamos por nada?!
  - Eu não queria! Só... Aconteceu! – Tentava se justificar, mas acabava piorando tudo.
  - Como algo assim “apenas acontece”, Zayn? – Elevei a voz, não chegando a gritar. Dei as costas a ele, segurando as laterais do próprio rosto. Minha cabeça ia explodir a qualquer momento. – “Ooooops, o que você está fazendo no meu sofá, sua mulher louca?”
  - Nós brigamos e eu não sabia o que pensar! Eu não queria pensar! – Tocou o meu braço, me fazendo virar na direção contrária para me esquivar. – Eu bebi demais, não sabia o que estava fazendo!
  - Então sempre que brigarmos eu devo esperar algo assim? – Minha voz tremeu, demonstrando sinais de fraqueza. – Casais brigam, sabia? Mas isso não lhe dá o direito de trair!
  - Eu só conseguia te imaginar em Nova York, com outras pessoas, se divertindo, conhecendo outros caras... Eu fiquei louco.
  - Agora a culpa é minha por ter ido atrás de algo importante pra mim? – Parei de andar e apenas fiquei ali, olhando para o menino que me teve nas mãos e agora deixava cair. Respirei fundo, segurando com força a barra do sweater que usava pra parar de tremer.
  - Não, é claro que não... – Aproveitando que abaixei a guarda, parou na minha frente, tentado em me tocar, porém, se conteve. – Só estou dizendo que... Se você tivesse feito algo assim em NY, eu entenderia. Porque nós dois dissemos coisas que não queríamos, nós dois estávamos chateados.
  - Bem, então essa é a diferença entre nós dois. – Dei de ombros, levantando o olhar para encará-lo. – Eu nunca faria algo assim.
   Olhar seus olhos foi um erro que desejei não ter cometido. Eu odiava aquela mágoa, aquele pedido de desculpas que me senti desesperada em aceitar. Zayn prometeu nunca me magoar, mas aquela não era a primeira vez que quebrava a sua promessa. Sem saber mais o que falar, ambos permanecemos em silêncio, sentindo o cômodo ficar pesado. Com alguns passos para trás, caminhei até o sofá e passei direto. Ao invés de sentar, fui até o vidro da janela, querendo olhar para as luzes de Londres que sempre me acalmavam. Ao invés disso, encontrei meu próprio reflexo. Olhos azuis cheios de mágoa, brilhando como um mar agitado no meio de uma tempestade.
   Atrás de mim, Zayn continuou parado no mesmo lugar. Mão fechadas em punho, irritado consigo mesmo. Diferente das outras vezes, ele não derramara uma lágrima sequer. Era pior... Seu rosto mostrava apenas uma emoção: Arrependimento. E isso me consumia por dentro e por fora. Fechei os olhos, esperando que a cena se desfizesse. Realmente se desfez, mas foi substituída por algo muito pior... A imagem de Zayn e Aly no sofá, trocando beijos e carinhos... Ela estava no meu lugar! Fazendo o que só eu podia fazer. Mesmo que apenas por algumas horas, ela teve o amor da minha vida em mãos. Ela sentiu o que ninguém além de mim podia sentir. Tinha certeza que minha mente deixava tudo pior, mas era daquela forma que eu sentia.
   O choro começou com um soluço que escapou e a partir daí não consegui mais controlar. Sem ser capaz me manter de pé, escorreguei pelo vidro até encontrar o chão. Cobri o rosto com as mãos, desejando ser deixada sozinha na sala. As mangas da minha roupa logo ficariam encharcadas e me afogar ali não seria uma das piores coisas. O choque foi embora e deixou em seu lugar a destruição. O frio na boca do estômago e a vontade de vomitar a própria alma. A certeza de que tudo estava bem há horas antes e agora o chão aos meus pés se abria. A incerteza do futuro, sem saber sequer se haveria um futuro...
  - Eu sinto muito... Por favor, por favor, não me deixe... – Seu pedido era baixo, suplicante. Quando voltei a olhar para ele, estava na minha frente, ainda de pé. – , eu juro... Eu não posso... Por favor, me perdoe...
  - Eu não posso, Zayn. Eu não posso te perdoar agora. – Novos soluços engoliram meu ar e me vi lutando para conseguir respirar. Com a força que não sabia que tinha, obriguei-me a levantar. – Por que você sempre tem que fazer algo? Porque você sempre estraga tudo?
  - Eu não sei. Tem algo muito errado comigo... – Passeava os olhos pelo meu rosto, seguindo o caminho que uma lágrima acabava de traçar.
  - E você nem ao menos me contou. Eu só descobri porque ela ligou. – Enxuguei a lágrima, suspirando alto.
  - Eu queria. Eu realmente queria. Eu sou um covarde. – Seu lábio inferior começou a tremer, então o pressionou com o de cima. Os olhos amendoados que eu tanto amava agora estavam escuros e molhados. – Eu estava com medo de te perder. Eu não quero que você vá embora.
  - Eu devia! Não percebe? – Lágrimas voltaram a cair e, por mais que odiasse-as, parei de me importar. – Era disso que eu tinha medo. Eu sabia que algo ruim aconteceria.
   E pensar que passamos o final de semana inteiro planejando a minha mudança para aquele apartamento. Zayn já começara a desocupar gavetas e a minha metade no guarda roupa... E agora eu não queria nem voltar àquele lugar tão cedo. “Como ele conseguia? Olhar nos meus olhos, sabendo que traíra a minha confiança... E ainda conseguia agir como se nada estivesse acontecendo?” O que mais doía era ter descoberto daquela maneira, por outra pessoa. E pelo jeito que Aly falou comigo ao telefone, ela nem ao menos devia imaginar que ele tinha uma namorada. Assim como o resto do mundo, não? Para todos, Zayn Malik, o badboy do One Direction, não tinha namorada. Mas então o que era eu? Porque eu o colocava sempre em primeiro plano e agora me sentia em último?
  - Você já estava em um hotel. Se queria ficar com ela, porque não alugou um quarto? Por que a trouxe aqui? – Sibilei, dividida entre a mágoa e a raiva de ser enganada.
  - Eu não planejei ficar com ela. – Não sei que resposta estava esperando, mas não era aquela. Por impulso, ergui a mão e a lancei contra o rosto dele, sentindo a palma queimar após o tapa. Zayn não fez nada, apenas encarou o chão. – Eu mereci isso.
  - Eu te odeio, Zayn! Eu te odeio, eu te odeio! – Comecei a soluçar novamente, socando o peito do menino, desejando machucá-lo. Infelizmente, não tinha força alguma.
  - Não, não odeia... – Segurou as minhas mãos, me puxando para si. Aquela proximidade acabou comigo.
  - Não odeio... Eu te amo tanto, Zayn... – Desabei mais uma vez, como se já não fosse o bastante. Encostei a testa em seu ombro, deixando-o me abraçar. – Mas eu não queria.
   Estranho que a pessoa que me machucava era, ao mesmo tempo, a única que poderia fazer toda aquela dor ir embora. Lentamente ergui os braços, passando-os em volta do pescoço de Zayn. Meu rosto estava escondido na curva de seu ombro e lágrimas salgadas molhavam a sua roupa. Braços fortes prendiam a minha cintura pequena comparada ao seu tamanho. Talvez pudéssemos ficar assim pra sempre. Ele me protegeria... Seria capaz de me deixar inteira de novo. Era sempre assim, não? Naquele momento, como se não fosse claro antes, entendi o quanto era comandada por aquele amor.
  - Preciso ficar sozinha. – Pedi ao me separar daquele abraço tão familiar.
  - Quer ir para o nosso quarto? – Segurou ambas as minhas mãos e as levou aos lábios, beijando delicadamente. – Eu posso ficar aqui na sala...
  - Não é mais o nosso quarto, Zayn. – Soltei-o, dando alguns passos para trás. – Fique onde quiser. Eu vou subir, preciso de ar fresco.
   Dizendo isso, o deixei para trás. Vi que ele sentou no sofá e provavelmente ficaria ali me esperando descer, o que era exatamente o que eu não queria. Pra falar a verdade, a única coisa que eu queria era voltar no tempo e fazer com que aquele dia simplesmente não existisse. Mas isso seria impossível, tinha plena consciência disso. Subi as escadas para o terraço, sentindo o vento frio bagunçar meus cabelos que já não estavam tudo isso para começo de conversa. Apesar de vestir apenas um short e ter as pernas descobertas, não me incomodei com as baixas temperaturas. Tinha maiores dores do que aquelas causadas pelo clima. Tampouco acendi a luz, preferindo ficar no escuro. Sentei em uma espreguiçadeira e me preparei para a noite que tinha pela frente. Pensar era o que não queria fazer, mas me conhecia o bastante para ter certeza que seria meu único afazer.

  

Chapter XLV

Zayn’s POV

  

  Não sei de que horas peguei no sono, mas pelas dores em meu corpo não daria nem cinco minutos. Acordei com a luz entrando pelas janelas da sala, já que esqueci de fechar as cortinas antes de deitar no sofá. Minha cabeça explodiria a qualquer momento e a boca seca tinha gosto de álcool, o que explicava bem as três garrafas de cerveja derrubadas na mesinha de centro. Abri os olhos devagar, sentindo a cabeça girar quando tentei me situar e descobrir que horas eram ou pelo menos o que acontecera pra me fazer adormecer na sala.
   Desejei amargamente ter continuado desnorteado, pois assim que lembrei de tudo que acontecera na noite passada uma vontade enorme de quebrar o vidro em minha frente me consumiu. “Star.” Seu nome estalou em meus pensamentos e a sua imagem no canto daquela mesma sala me perseguiria pelo resto da vida. Seu corpo tão pequeno e frágil, curvada sobre si mesma, suas lágrimas escorrendo pelos olhos que sempre amei. Ela estava magoada e a culpa era inteiramente minha. Mesmo depois de ter prometido tantas vezes que nunca a machucaria, eu fui idiota o bastante para repetir o mesmo erro, apenas de forma diferente.
   “Se Alyssa não tivesse ligado como a pedi pra fazer!” Bati com a mão fechada em minha própria perna, infligindo a dor que merecia sentir. A culpa não era de Alyssa, pois ninguém a obrigou a vir pra casa comigo. A culpa não era do bartender que continuou me servindo doses após meus inúmeros pedidos de “outra”. A culpa não era de , que me deixara sozinho no bar, depois de me aconselhar ir para casa. A culpa não era de por não ter me atendido quando a liguei de madrugada, desejando ouvir a sua voz para me impedir de fazer uma besteira. A culpa era minha, totalmente minha. Se fui homem o suficiente para trair a melhor coisa que já me aconteceu, seria homem agora para agüentar as conseqüências.
   Onde ela estava? Tinha plena consciência de que não queria ser visto, mas não podia simplesmente me esconder. Não quando cada fibra do meu corpo pedia por ela. Pelo seu cheiro, ou ao menos pela visão da minha garota adormecida, tranqüila. era tão linda! E merecia alguém melhor do que eu. Sei que era tarde demais pra culpar tudo no medo de perdê-la, mas se pudesse, o faria. Eu a amava e qualquer um podia saber disso, era só me olhar enquanto estava ao seu lado. Nunca fui bom ator e essa foi uma das minhas maiores preocupações quando Marco nos obrigou a fingir terminar o namoro, não conseguir convencer ninguém de que aquilo realmente acontecera e terminar criando problemas maiores para a banda toda.
   Subi as escadas para a cobertura, onde a vira pela última vez. Atravessei de um canto ao outro, esperando encontrá-la adormecida, mas ali só estava o cobertor que eu usara para cobri-la no meio da noite, quando subi para checar como estava. Dessa vez foi diferente, ela não fugiu de mim e ficou quando lhe pedi para ficar. Sim, era uma coisa boa, mas ainda me assustava. Especialmente por não saber o que viria depois. Dando a viagem como perdida, voltei para o andar de baixo, onde me protegeria do frio. Sempre gostei de temperaturas baixas, mas aquele dia ela se voltara contra mim.
  - ? – Chamei.
   Em um universo paralelo ela estaria saindo da cozinha, com duas canecas de chá, usando uma de minhas roupas e pedindo para que eu assistisse desenhos com ela. Seu sorriso infantil e ao mesmo tempo extremamente sexy conseguiria o que quisesse de mim e ela sabia disso. Tinha certeza que usava isso ao seu favor, mas quem se importaria? Eu poderia passar a vida inteira sem me importar. Naquele universo em questão, porém, ela não saiu de lugar nenhum. Na verdade, o apartamento estava quieto demais e era como se nunca tivesse pisado ali dentro. Suas coisas também não estavam nos batentes da entrada, onde ela costumava deixar tudo assim que chegava da aula ou de qualquer outro lugar. Eram essas pequenas coisas que me encantavam diariamente, me deixando louco por ela.
   No quarto também não havia nem sinal da sua presença. Seus cabelos dourados não estavam no meu travesseiro e seu lado da cama completamente arrumado. Me senti desesperado ao passar pelo banheiro aberto e não encontrar sua bolsinha de maquiagem espalhada pelo balcão, assim como sua escova de dentes cor-de-rosa. Era como se ela fosse um fantasma da minha imaginação. Como se eu tivesse fantasiado a sua presença todos esses meses. Meu celular estava em cima da cama, onde o deixara no começo de nossa briga, e senti a garganta fechando. Precisava de alguma prova que ela era real, que existia.
   Loucura ou não, sentei no chão. Costas apoiadas na madeira da cama e iPhone na mão. Usei a senha para destravar o aparelho e pude suspirar aliviado quando vi a imagem de fundo. Era uma foto nossa e nunca esqueceria de quando a tiramos. Havíamos acabado de voltar de Los Angeles e eu comprara aquele celular novo justamente por ser igual ao dela, mas ainda precisava de uma foto para usar como wallpaper. insistiu que estava desarrumada, então não queria aparecer. Claro que não a dei ouvidos, então fingi mudar de idéia e esperei ela estar distraída para beijar a sua bochecha e capturar a imagem. Ela apareceu rindo e terminou gostando do resultado. Depois de três semanas.
   Automaticamente abri a agenda de contatos, correndo os olhos pelos nomes. Parei quando li o nome que colocara pra ela “Missis”. insistia que era bobo demais, mas esse era eu! Bobo por ela e por tudo que fazia. Meu dedo coçou para clicar em seu número e ligar, mas algo me impediu. Bufei sozinho e subi um pouco para outro nome. Precisava falar com alguém ou ficaria louco.
  - Mate, você sabe que horas são? – Um Liam rabugento atendeu depois do terceiro toque.
  - Sei que é cedo, desculpa. – Limpei a garganta, quase engasgando com o próprio ar. – Escuta, a está aí?
  - Aconteceu alguma coisa? – Era só escutar o nome dela que Liam acordava direito. – O quarto dela está vazio...
  - I fucked up, Liam. – Admiti, sentindo todo ar deixar meus pulmões.
  - O que você fez, Zayn? – Sua voz se tornou áspera, mas ele ainda tentava me escutar antes de tirar as próprias conclusões. Payne era meu melhor amigo, mas também gostava de . Mais até do que eu costumava admitir.
  - Lembra da garota com quem eu estava conversando, no seu aniversário? Na festa do hotel.
  - Alyssa? Ela é uma das amigas da Dani. O que tem ela?
  - Ela veio pra casa comigo aquela noite. – Se tentasse enrolar, acabaria não falando, então cuspi tudo de uma vez.
  - Você fez o que?! Zayn, perdeu a cabeça?! sabe?
  - Ela descobriu ontem a noite... – Pressionei as têmporas, sentindo a dor de cabeça aumentar.
  - Você é muito idiota, sabia disso? Sabe o que eu daria pra-
  - Pra o que, Liam? Pra estar no meu lugar?! – Talvez ligar pra ele não tenha sido a melhor opção no final das contas.
  - Deixa pra lá. – Escutei seu suspiro no outro lado da linha. – O que vai fazer agora?
  - Eu não sei. Eu não faço a mínima idéia.

+++

  Star’s POV

  

  Se o tempo passa rápido quando você se diverte, minha manhã foi a mais tediosa do mundo. Após deixar o flat as cinco horas da manhã, fui direto para a Academy e dei sorte de encontrar o zelador em sua casinha nos fundos e pedi para ele abrir as portas pra mim. Em seguida, fui direto para a minha sala e simplesmente dancei. Era disso que eu precisava para tirar da cabeça todos os problemas e preocupações. Não digo que foi fácil ignorar o gosto amargo e os lábios secos, ou a falta de concentração em giros e saltos, mas depois de um tempo a música conseguiu me contagiar e trazer aquela pequena calmaria tão conhecida.
   Depois da aula, só o que eu queria era sumir. Encontrar uma casa vazia onde eu pudesse me esconder embaixo das cobertas e dormir até o Natal. Ainda que se tenha um coração partido, a vida continua. Aquela tarde seria tão ocupada quanto a manhã já havia sido, afinal de contas estávamos na Fashion Week e dali a dois dias eu teria meu primeiro desfile em uma passarela de verdade. Carine marcou minha prova de roupas para depois do almoço e, como não conseguiria comer nada mesmo que tentasse, decidi chegar mais cedo e ver no que dava. Sem querer encontrar nenhum dos meninos – que saberiam que algo estava errado só de olhar na minha cara – usei o banheiro da academia para trocar de roupa. Já a maquiagem que usei para esconder olheiras e sinais de cansaço, passei no carro; onde todas as minhas coisas esquecidas no apartamento agora estavam guardadas.
   Enquanto subia o elevador para a cobertura da Models One/Mulberry, fiz o que passei a manhã inteira tentando evitar: Olhar o celular. Não sei se estava mais preocupada em encontrar chamadas não atendidas de Zayn ou a falta delas. Encontrei três chamadas dele, uma de Liam e duas mensagens de . Destravei o iPhone e senti um frio na barriga assim que meus olhos encontraram o papel de parede. Era uma foto antiga, de quando Zayn e eu viajamos juntos pela primeira vez, para passar o fim de ano em Castle Combe. Tudo era tão mais simples naquela época, talvez até inocente. Fui obrigada a olhar pra cima para impedir lágrimas de escapar. “Não é hora disso, !” Olhar as mensagens de me pareceu mais seguro do que mergulhar em memórias do passado:

  
“Vamos almoçar juntas hoje. Ashton está reclamando que não teve uma refeição propriamente inglesa ainda! Pensei em irmos àquele restaurante Fish n’Chips que fomos com a Livy! PS: Quando ele entrou no nosso grupinho mesmo?”

  E

  
“Tá tudo bem, ? Você correu da gente a manhã toda! Me liga. xx”
  “Eu não corri de vocês! Só estou meio ocupada hoje... Acabei de chegar à Mulberry. Nos falamos mais tarde. <3”

  Digitar no celular e andar não é a melhor combinação, mas se não o fizesse as portas do elevador teriam sido fechadas e demoraria outros cinco minutos passeando ali dentro. Não que isso fosse me atrasar, mas enfim. Apertei ‘enviar’ e desejei ter olhado pra onde ia antes, porque teria visto a pessoa desavisada que cruzava meu caminho e não teria esbarrado nela, derrubando o iPhone e os papeis dela.
  - Eu sinto muito, sinto muito! – Envergonhada, ajoelhei no chão e juntei todos os papeis de quem quer que fosse.
  - , fique calma! – Rebecca abaixou-se na minha frente e me ajudou. – São só alguns papeis... Você está bem?
  - Estou bem sim. – Menti, forçando um sorriso. Era bom me acostumar a dar aquela resposta. Recebi o celular e o guardei na bolsa. – Só me distraí um pouco.
  - Eu imagino como deve estar ansiosa. Depois de amanhã é o grande dia, não? – Sorriu simpática, me ajudando a levantar.
  - É sim. Vim para a prova de roupas... – Afirmei, olhando em volta. As coisas ali no escritório estavam calmas demais para o meu gosto.
  - Carine está almoçando, mas acho que Emma e os outros estão trabalhando. – Parou pra pensar, tocando o próprio queixo. – Vem comigo, eu te levo lá.
  - Obrigada. – Aceitei com um balanço de cabeça.
  - Já ouviu as boas noticias? – Rebecca foi na frente, virando em minha direção para falar. – Fui efetivada! Adeus cafezinho e buscar encomendas!
  - Isso é ótimo, Rebecca! Parabéns. – Me esforcei pra ficar feliz por ela. – Você agüentou muita coisa. Isso é o mínimo que merece.
  - Obrigadinha. – Riu, abraçado os papeis contra o peito. – Elas estão aqui... Pode entrar.
  - Obrigada mais uma vez. – Acenei um até logo quando a menina indicou a porta que eu deveria passar e correu na direção contrária.
   Agora que Rebecca fora efetivada, devia ter mais coisas a fazer do que já tinha antes, por isso não a culpei por não ter me acompanhado para dentro da sala. Me senti genuinamente feliz pela menina, pois ela enfrentara muita coisa na mão de Carine durante o um ano que passou estagiando na empresa. Não que a mulher fosse uma chefe ruim, eu sabia bem que não, mas Carine tinha essa coisa de querer te puxar ao máximo. Abri a porta da sala indicada e coloquei apenas a cabeça para dentro, torcendo para não atrapalhar ninguém. Ali dentro encontrei várias araras com as roupas que seriam usadas no desfile, um painel preso à parede com vários papeis e post-it colados, além de uma mesa com um notebook aberto, uma câmera Polaroid e conjuntos de cadernos, canetas e marcadores. Incrivelmente comecei a me sentir muito bem ali dentro.
  - Com licença...
  - ? Querida o que está fazendo aqui tão cedo? – Emma Hill saiu de trás do computador e veio me cumprimentar.
  - Atrapalho? Sei que minha hora não é agora, então posso voltar mais tarde... – “Por favor, não me peça pra ir embora!”
  - Nunca atrapalha, não seja boba. – Esticou a mão, me pedindo pra entrar. – Não estamos fazendo nada mesmo... Vamos começar!
  - Ótimo. – Tirei a bolsa do ombro e a deixei em uma mesa de canto, assim como meu casaco e chapéu. O lado de fora podia estar frio, mas ali dentro estava bem aconchegante. – Boa tarde Kim, Luella.
  - Tarde, ! Você está maravilhosa hoje! – Kim acenou, gay como sempre. Luella apenas sorriu em cumprimento, pois costurava algo que precisava de sua total atenção.
  - Você também, Kim. – O sorriso forçado voltou. Acompanhei Emma até as araras, curiosa para saber qual daqueles looks seria o meu. – Ems, por onde começamos? Essa é a minha primeira vez!
  - Sei disso! E não se preocupe, terá toda assistência do mundo. Carine nos mataria se você ficasse desconfortável. – Riu, sabendo que era verdade. – Vamos começar provando as duas roupas que você usará no desfile... Vejamos. Esse aqui é o primeiro! Já sabe o tema?
  - Não faço idéia. – Segurei o cabide que continha o vestido branco.
  - A idéia foi minha! Escute só: “Winter Fairytale”! Vimos os sketches da passarela e está simplesmente incrível. Será um verdadeiro conto de fadas. – Tocou meu ombro, me guiando até uma das paredes da sala, perto da mesa onde suas coisas estavam. – Começaremos no branco e terminaremos no vermelho, então você tem peças dessas duas cores. Tem algum problema em trocar de roupa na frente de outras pessoas?
  - Claro que não. – “Sim, eu tenho, mas serei profissional aqui e direi que não”, pensei após responder.
  - Não se preocupe, todos os modelos estão acostumados com isso e toda a equipe também. É normal. – Pegou o cabide de volta e o colocou em cima da mesa. – Pode tirar a roupa!
  - Ainda bem que decidi usar minha calcinha boa hoje. – Olhe só pra mim, fazendo piadinhas!
  - Você é engraçada. – Kim gargalhou do outro lado da sala.
   Não me sentia engraçada. Na verdade, não me sentia coisa alguma. Só cansada. Muito cansada. Tirei os sapatos e as meias, partindo para a calça e camisa. Três pessoas estavam ali e uma delas era um homem. Eu deveria ter ficado vermelha ou acanhada por estar com um conjunto de peças íntimas de renda cor da pele, mas estar com roupas por cima ou não, não fez diferença alguma. Emma me ajudou a colocar a peça que se adaptou ao meu corpo quase que perfeitamente. O tecido era confortável e a saia rodava conforme os movimentos. O top do vestido, apesar de conter um pouco de transparência, bem delicado. A parte de trás tinha um decote bem grande e era fechado por apenas um botão de pérola.
  - Oh! Exatamente como imaginamos. – Emma comemorou. – Olhem, pessoal!
  - Lindo! – Kim bateu palmas. – Olhe que princesa, Lu!
  - Incrível! – Apesar de bem ocupada, Luella levantou o olhar e sorriu.
  - Só acho que podemos apertar um pouco mais aqui na cintura... – Emma ficou atrás de mim, mexendo no vestido. – Você emagreceu desde a última vez que tiramos suas medidas.
  - Ótimo. – Pensei alto, atraindo olhares de todos.
  - Honey, você não precisa se preocupar com isso. – Luella advertiu. – Não seja como essas modelos que contam todas as calorias que ingerem.
  - Não sou.
  - Fique aqui perto da parede, por favor. Vou tirar a sua foto. – Emma pediu, pegando a Polaroid de cima da mesa. – Fazemos isso como meio de controle. Todas as modelos são fotografadas assim. Aliás, acho que não poderá usar sutiã na hora do desfile... O decote das costas é muito profundo pra isso.
   Não disse nada e apenas fiz uma pose qualquer perto da parede. Poderia me acostumar com todas aquelas pessoas me chamando de “modelo” e adoraria passar o dia provando roupas tão fabulosas quanto aquela. Emma entregou a foto recém tirada para Kim, que a prendeu com uma taxinha no painel. Escreveu o meu nome e “look 1” do lado. Comecei a tirar aquele primeiro vestido enquanto a diretora de criação procurava o segundo. A peça era vermelha como sangue e bem mais volumosa que a primeira e igualmente perfeita.
  - Também daremos um pontinho nesse vestido pra diminuir a cintura, nada que leve mais de cinco minutos. – A mais velha levantou a câmera mais uma vez. – Sorria!
  - Yay! – Balancei a saia do vestido, posando para a segunda foto, mas não necessariamente sorri.
  - Ai. Meu. Deus! Você está perfeita, ! – Carine havia acabado de entrar na sala e parecia adorar o que via. – Preciso ter cuidado, ou vão te roubar de mim depois desse desfile!
  - Isso se eu não cair e quebrar o pé no meio da passarela. – Não era pra ter sido uma piada, mas todos riram como se fosse.
  - Não se preocupe, trouxe uma professora pra te dar aulas de Catwalk. – Carine voltou para a porta, olhando para algo no fundo do corredor. Enquanto isso, eu vestia minhas roupas normais. – Ela está aqui!
  - Quem está aí? – Estiquei o pescoço, esperando a própria Tyra Banks aparecer.
  - MEEEEEEEEEEEEE. – Uma menina com touca preta no cabelo, camisa de banda e calças largas entrou correndo na sala. Quem olhasse para Cara naquele momento duvidaria que era uma das modelos mais bem pagas e requisitadas do mundo.
  - Caaaaaaaz! – Sua animação me contagiou e nos encontramos no meio do caminho, uma se jogando nos braços da outra. – Quando você chegou?!
  - Ontem, para o desfile da Burberry. – Me abraçou daquele jeito que as duas pessoas ficam balançando de um lado para o outro, o que me fez rir. – Eu ia te ligar, mas Carine pediu pra fazer uma surpresa!
  - Sempre gostei de surpresas, especialmente quando elas vem em botas de combate. – Dei um passo para trás afim de ver seu modelito mais uma vez. – Vai me ensinar a ser modelo?
  - Vou tentar. – Segurou minha mão e a apertou. – Vamos nos divertir tantooooo!
  - Espero que sim... Estou precisando. – Suspirei. Cara franziu o cenho, mas deixou passar.
  - C’mon, não podemos perder tempo.
   A menina me puxou pela mão para fora da sala, dando tempo apenas para pegar minhas coisas e os sapatos que usaríamos no desfile. Era fácil gostar de Cara. Aquela era a terceira ou quarta vez que nos víamos e já sentia como se fossemos boas amigas. Tinha algo confiável na sua energia. Era confortável ficar ao seu lado e, se alguém podia me ensinar a desfilar, esse alguém era ela. Muitos costumavam julgá-la de certa forma pelo seu exterior, mas não entendiam que era preciso ser “forte” para suceder nesse ramo; o que era algo que eu só estava aprendendo. Atrás das câmeras e entre amigos ela era simplesmente adorável.
   Não devia ser a primeira vez de Cara pisava naquele escritório, pois sabia exatamente aonde ir e em que portas entrar. Terminamos em um dos estúdios fotográficos desocupados, com espaço o bastante para fazermos o que tínhamos que fazer. Acendi a luz enquanto a loira começou a afastar móveis de produção, equipamentos fotográficos, rebatedores e etc, demarcando o espaço que usaríamos de passarela. Melhor deixar com a profissional! Ao invés de ajudá-la, sentei no chão e troquei meus sapatos pretos pelo salto dourado que deveria me equilibrar na passarela lisa. Já enfrentara saltos maiores, então não deveria ter problema com aquele... Certo?
  - Me mostre o que você sabe. – Cara encorajou, me ajudando a levantar do chão.
  - Assim, do nada? – Fui para o começo da passarela, ainda incerta do que fazer.
  - Não pode ser tão difícil assim. É só andar. – Riu, posicionando-se na lateral.
  - Só andar... Uau, Caz, você faz soar bem fácil. – Respirei fundo e andei em linha reta. Não era grande coisa, mas era um começo. – Ta-dah.
  - Completamente horrível! – Cara levou as mãos ao rosto, chocada com a minha falta de talento. – Vou falar com Carine agora mesmo pra lhe substituir!
  - Heeeeeey. – Cruzei os braços. – Nunca fiz isso, não espere que eu seja uma Gisele da vida.
  - Estou brincando, sua tonta! Não foi tão ruim assim... Talvez um pouco. – Foi para o começo da passarela improvisada, pronta pra me mostrar como se faz. – Vamos por partes, okay? Primeiro: Cabeça! Você não pode olhar pra baixo, pra cima ou para os lados. Olhe para frente. Escolha um ponto na parede, uma pessoa ou até mesmo olhe para as câmeras. Ombros! Mantenha sempre uma postura impecável. Curvar os ombros? Nem pensar! Tente deixar o tronco um pouco inclinado para trás, pra que as suas pernas cheguem primeiro. Quadril. Você quer que eles tenham movimento e naturalidade. Não comece a rebolar e nem incorpore um robô. Por último, pés. Trace uma linha reta na sua mente, como se fosse uma corda bamba, e ande sobre ela. Um pé em frente ao outro. Entendeu tudo? Podemos ir para o desfile?
  - Calma, calma! – Ri, tentando captar todas as informações. Era algo bom encher a cabeça com aquelas coisas, pois me distraía de outros problemas. – Ok, me deixa tentar!
   Quase a empurrei da minha passarela, pronta pra tentar mais uma vez. Cabeça erguida, quadril solto, pés em linha reta. Não podia ser tão difícil assim... Mas era. A preocupação de seguir toda aquela receita tirava toda a naturalidade da coisa, o que era exatamente aquilo que não queríamos. Ao chegar na ponta da passarela fiz careta e retornei para o começo, tentando relaxar um pouco mais.
  - Pensando melhor, pode pedir a Carine pra me substituir. – Escondi o rosto com as mãos.
  - Por que?! Essa vez já foi bem melhor que a outra! Você só precisa de um pouco mais de atitude e eu sei o que pode te ajudar. – Piscou, tirando o celular do bolso da calça. – Uma boa trilha sonora!
  - I’m too sexy for my shirt, I’m so sexy it huuuurts! – Cantarolei e tentei uma dancinha ridícula.
  - Quase. – Escolheu nossa trilha sonora e encheu o estúdio de música. – Você é sexy, poderosa, todos estarão lá pra te assistir. E sabe disso. Agora me mostre como se desfila!
   A trilha sonora ajudou mais do que esperava que fosse. Estava me sentindo a mulher mais gostosa do mundo e mostrei isso em meu caminhar. Até arrisquei colocar a mão na cintura e fazer uma pose ao chegar ao final da passarela, mandando beijos para os fotógrafos invisíveis. Girei na ponta dos saltos para fazer a volta e terminar o desfile. Meus pés pisavam com firmeza, não chegando a fazer barulho. As palmas de Cara provaram que eu fizera um bom trabalho.
  - Guuuuuuurl! É disso que eu estou falando! Ande como se tivesse três homens atrás de você.

+++

  
  
“Hey, ! Acabei de chegar em casa... O dia foi cheio hoje, então só quero tomar um banho e apagar. Quer carona amanhã? Passo aí as 7hrs. x”

  Imaginei que mentir para a minha melhor amiga por meio de mensagem seria mais fácil do que por uma ligação. O dia foi cheio sim e eu estava cansada, mas chegara em casa horas antes do que dissera. Ela com certeza saberia que havia algo errado na minha voz e não descansaria até ter o relatório completo do que acontecera e eu não estava pronta pra isso. Ainda mais quando se tratava da menina que rompera com seu namorado de um ano por causa da suspeita de traição. Eu tivera a confirmação e ainda assim não conseguia me ver terminando com Zayn, não importando o quão magoada eu estivesse por dentro.
   Ao chegar em casa, o único me esperando era . Não sabia onde os outros três estavam e aproveitei esse tempo sozinha para fazer o que mais precisava no momento: Comer o último pote individual de sorvete do freezer e escutar músicas deprimentes. As horas que passei na Mulberry com Cara me deixaram ocupada o bastante para tirar a “crise” no meu relacionamento da cabeça por um tempo, mas agora que estava sozinha, não tinha pra onde correr. O cachorro percebeu que havia algo errado e seu próprio ânimo estava baixo. Não correu pela casa atrás de brinquedos e deitou ao meu lado pacientemente aceitando meus abraços solitários.
   Enquanto esperava uma resposta de , por que não confirmar os planos para o final de semana? Além do mais, nunca era ruim falar com a sua mãe; nem que fosse pra falar “Ei, estou viva!” Levei o iPhone à orelha, aguardando os bipes se transformarem na voz de Jay.
  - Mum?
  - Meu amor! – Atendeu, mas não demorou para afastar o telefone da orelha e gritar para outra pessoa: - Dan, adivinha quem lembrou que tem mãe!
  - Olá, ! – Daniel gritou de volta.
  - Mande oi pra ele... – Ri. – E para as meninas também.
  - Ela mandou oi pra todo mundo! – Fez o que pedi e voltou a atender a ligação como uma pessoa normal. Ou quase. – Ainda bem que ligou. Eu estava prestes a fazer isso... Posso saber por que a minha filha é a estrela de um desfile e eu tenho que ficar sabendo disso pela vizinha?
  - Qual vizinha?
  - O nome dela é Nicole, você não a conhece... Uma menina adorável. É amiga de Phoebe e Daisy e é super fã sua e dos meninos, então acompanha tudo que acontece! Eu só esperava que ela tivesse avisado antes, porque todos iríamos lhe ver no desfile...
  - Desculpa, mãe... Não foi por má vontade que não avisei. – Ótimo. Como se eu precisasse de mais razões pra me sentir mal! – Mas, se serve de consolo... Terei outro desfile na segunda feira. E nesse vocês poderão ir, porque é em Paris!
  - Isso é maravilhoso! Dan, separe seu paletó e aquele meu vestido preto!
  - Muuum! Não grite na minha orelha! – Ri fraco. Ela era uma mãe muito escandalosa, diga-se de passagem. – O desfile é na segunda, mas eu estou pensando em ir sexta-feira. Passar o final de semana com vocês, matar a saudade da minha cidade e da minha família.
  - Ohhh! A melhor noticia que recebi a semana inteira! Venha sim. E traga seu irmão junto, tenho uma grande noticia pra contar. Sem falar que a sua avó vai ficar muito feliz em vê-los! Temos tanto pra colocar em dia. Você precisa ver o DVD e álbum do casamento. O fotógrafo fez um trabalho incrível.
  - A festa foi perfeita, então não sei como poderia ser diferente. – Suspirei, me obrigando a ficar feliz por ela.
  - O que me lembra, Zayn vem com vocês? Tenho algo pra ele também.
  - Acho que não. – “Tenho certeza que não, porque essa viagem é uma oportunidade de ficar o mais distante dele possível.” – Mum, tenho que ir agora. Estão me chamando...
  - Está certo, . Não se esqueça de avisar quando vem, para que possamos lhe buscar na estação. Nós te amamos!
  - Também amo vocês!
   Desligamos com outra mentira e me senti tão mal quanto ao mentir para . levantou as orelhas, seus olhos azuis me encarando com cuidado. Sorri de canto, ou que chegou mais perto disso, e acariciei sua cabecinha peluda. Porque homens não podiam ser mais como cachorros? Fieis ao ponto de sentir o mesmo que você e ficar ao seu lado mesmo depois de colocá-los de castigo por roer seu sapato preferido. Soltei o celular no colchão, incerta do que fazer a seguir. O sorvete havia acabado e me sentia preguiçosa demais para descer atrás de chocolate.
   Fiquei encarando o teto por dez minutos, até que ouvi barulhos vindos do andar de baixo. Em outras ocasiões, teria corrido pra ver quem acabava de chegar em casa, mas naquela noite ele nem se mexeu. Apesar de Harry ter chamado o seu nome, não respondeu. Murmúrios no primeiro andar mostravam que os três moradores haviam chegado de onde quer que tivessem ido.
  - Liam, onde pensa que está indo? – Era meu irmão que o chamava.
  - Preciso ir ao banheiro, já volto! – Correu escada a cima, mas parou no pé da minha porta. – Você está aqui!
  - Quer usar o meu banheiro? – Arqueei as sobrancelhas.
  - O que? Ah, não. – Deu um passo para dentro e fechou a porta, nos dando mais privacidade. – Vim ver como você está.
  - Estou ótima! – Forcei o pior sorriso. Liam não o comprou. – Você... Você sabe, não é?
  - Ele me ligou essa manhã... – Inclinou a cabeça para o lado, como se tentado a falar “awwn”, mas não o fez. Ao invés disso, tirou os sapatos e sentou ao meu lado. – Vamos tentar de novo. Como você está?
  - Estou... Quebrada. Perdida, confusa, vazia, derrotada, frágil... – Dei de ombros, sentindo as lágrimas que lutara o dia inteiro pra segurar teimando para vir a tona. Aquele ali era Liam me perguntando como eu me sentia. Alguém que genuinamente se importava e não acreditaria em mentiras vazias. – Como se a pessoa que me prometeu tudo, fosse a única a me deixar sem nada. Existe uma palavra que defina tudo isso?
  - Não sei, ... Mas sei de uma coisa. Você não está sozinha. – Segurou a minha mão e a acariciou com os dedos.
  - Sei disso. – Afirmei com a cabeça, sentindo o caroço na garganta crescer. Com os olhos embaçados, sabia que daí pra frente segurar seria impossível. – É difícil...
   Liam não disse mais coisa alguma. Apenas se inclinou na minha direção e me abraçou. Um abraço que eu não sabia que precisava até recebê-lo. Era um abraço de amigo, confidente e protetor. Não era o de Zayn e nunca seria, o que me fez chorar ainda mais forte. Mas era o que eu tinha naquele momento e não faria de conta que não importava coisa alguma, pois essa mentira seria maior do que qualquer uma que contara o dia inteiro. Seria injusto fazer comparações, ainda que minha consciência teimosa acreditasse no contrário. Além de tudo, ainda tinha que me manter silenciosa o bastante para Louis e Harry não me escutassem. Li sabia e já era o suficiente. Por mim, ele seria o único além de Zayn e eu.

       

Chapter XLVI

- E um e dois e um e dois...
   Bartira marcava os tempos enquanto andava pela sala. O resto de nós, mortais, desenvolvíamos exercícios na barra. Eu me encontrava na frente de Brigitte e atrás de David, particularmente desatenta pelo nervosismo do que me aguardava mais tarde naquele mesmo dia. Apesar de tentar me concentrar nos movimentos que a professora pedia, não queria ter que pensar! Eu era tão apaixonada pelo ballet justamente por toda essa liberdade que ele me dava de criar e me expressar por meio da imaginação e nada mais. Não estava com cabeça pra ligar o nome ao movimento e Bartira percebia isso.
  - . – Chamou a minha atenção depois de eu ter errado a seqüência pela segunda vez. A olhei com decepção do meu próprio fracasso. – Poderia me acompanhar aqui fora um instante, por favor?
  - Claro. – Ser chamada para uma conversa em particular com a professora não era legal, então meus colegas de classe olharam na minha direção com julgamento interno.
  - E pegue as suas coisas. – Sua ordem era mais que clara. Eu seria dispensada da aula. Ótimo, era tudo o que eu precisava! – O resto de vocês, continue.
   Abaixei a cabeça ao cruzar a sala em direção ao meu banquinho de sempre, o que foi só uma parada no meu corredor da morte. Bartira já me esperava do lado de fora da sala, completamente vazio e silencioso. Bem, se eu fosse ser expulsa da Academy, ao menos ninguém estaria assistindo. Por mais que Helena fosse adorar o espetáculo, me sentiria feliz em poupá-la. A professora sorriu quando fechei a porta, o que supostamente deveria me acalmar.
  - O que há com você hoje? – Não havia nada de ruim em sua voz, apenas legitima preocupação. – Geralmente tira de letra esses exercícios de aquecimento.
  - Eu sinto muito. – Era verdade. Olhei para o chão, encarando as sapatilhas de ponta que serviam meus pés tão bem. – Essa semana está sendo bem cheia pra mim. Sei que não é desculpa, mas tenho esse grande desfile hoje a noite e estou nervosa demais pra me concentrar.
  - Tenho certeza que o desfile vai ser ótimo e fico ansiosa pra ver as fotos do resultado. – Sorriu, tocando meu ombro com leveza. – Mas entende que não posso lhe liberar da aula, não é?
  - Absolutamente! E nem quero. Especialmente quatro semanas antes do recital, quando não tenho a mínima idéia do que vou apresentar.
  - O que eu acho que você deve fazer é encontrar a sua inspiração. Tem feito isso a vida inteira, então não deve ser difícil. Minha única sugestão é que saia da rotina... Quem sabe a inspiração não vai estar em um cemitério à meia noite?! Espera, esquece que eu falei isso. Não quero que vá a um cemitério a noite...
  - Acho que entendi o que quis dizer. – Afirmei com mais certeza aparente do que interna.
  - Ótimo. Agora quero que ande por aí. Observe, tome notas se for preciso. Seja como um fantasma, espiando pelo vidro das salas. Talvez isso seja a luz que você precisa.
  - Obrigada... – Ainda não era a minha idéia de treinar, mas teria que servir.
   Bartira era realmente uma professora incrível, comparando-se apenas a Holly. Ambas tinham essas idéias malucas e métodos de ensino nada convencionais, mas que tinham seu valor. Era só não encontrar com a diretora Agnes no meio do meu “passeio” e tudo ficaria bem. Assisti a mulher elegante votar para a sala e me envolvi no casaco que escolhera usar aquela manhã de aula. Também enfiei as pernas em calças jeans e troquei as sapatilhas por tênis, ainda que as considerasse mais confortável que qualquer coisa. Loucura? Pode ser.
   Estava no quarto andar atualmente e não costumava passar tanto tempo assim por ali, visto que minha única aula no mesmo era às quintas feiras. Sabia que Ashton estaria tendo aula no andar de baixo, mas também tinha plena consciência de que ele me distrairia mais que o devido. Comecei a caminhar pelo corredor, espiando as salas sem saber exatamente o que procurava. Uma, duas, três se passaram e nada me prendera de fato. Algumas pessoas cantavam, outras dançavam e seguintes ainda tocavam os mais diversos instrumentos. Foi ao chegar na última sala que escolhi o que ia assistir.
   Era uma aula de teatro, disso eu sabia. Apenas uma aluna estava de pé, enquanto todos os outros a assistiam encantados. Cheguei depois do começo da encenação, mas consegui acompanhar. Ela fugia pelo que parecia ser uma floresta, pois, além de representar ela mesma, simulava as árvores que cresciam no meio do seu caminho, fazendo-a mudar de curso. Sua expressão facial era tão vívida que cheguei a acreditar que era outra pessoa completamente diferente daquela que eu conhecia. Sempre apoiei em todas as vontades e no seu desejo de ser uma atriz, mas nunca - até aquele instante – cheguei a saber o quão incrivelmente talentosa ela realmente era.
   Já vira minha melhor amiga em cena antes, todos sabem que até contracenamos juntas, mas nunca reparara de verdade no fato de ela ter nascido para aquilo. Devia ser terrível ter passado um ano inteiro em um curso que tanto detestava, por vontade dos pais que não viam a atriz poderosa que era sem nem ao menos se esforçar. Me peguei sorrindo quando sua apresentação chegou ao fim e morri de vontade de aplaudi-la, ainda que de longe. Minha intrusão não passou despercebida, pois um garoto logo anunciou para o professor que alguém estava na porta. Disposta a correr e me esconder, pude ficar parada assim que correu em direção à saída, sem pedir permissão a ninguém.
  - A que devo a honra da sua visita? – era só sorrisos, devidamente surpresa com sua platéia inesperada. – Está fugindo? Se me der cinco minutos eu te acompanho. Só preciso enrolar o professor...
  - Nem comece a criar planos de escapada, ! – A reprovei, sabendo bem do que seria capaz. – Estou em um passeio de campo. Minha tarefa é observar e abstrair.
  - Isso parece legal. Queria eu que o chato aí dentro me deixasse só andar por aí.
  - Não é só “andar por aí”. – Rolei os olhos. – Por falar em chato, ele está te olhando com cara feia...
  - A cara dele é assim mesmo, não se preocupe. – Riu da própria piada, olhando na direção de onde viera. – Ao menos não é o velho Hofstheder.
  - Não se preocupe, tenho certeza que ainda terá muito tempo com o Sr. Hofstheder quando os ensaios para a peça começarem. – Nunca fui de rogar praga, mas aquilo seria algo que eu adoraria assistir. – Anyway, volte ao seu trabalho e eu voltarei ao meu.
  - Foi bom te ver. – Afirmou e me deu um abraço apertado. Ela continuava sem saber o que acontecera entre Zayn e eu, mas pressentiu que eu precisava daquele carinho de BFF. – Quer almoçar lá em casa hoje? Minha mãe disse ontem mesmo que sente a sua falta.
  - Eu adoraria, , mas tenho que chegar cedo à galeria onde acontecerá o desfile hoje... Todas as “modelos” devem chegar antes das uma. – Fiz aspas no ar ao falar a palavra modelos, sem me considerar uma. Além do mais, a minha falta de apetite constante levantaria suspeitas. – Você vai assistir o desfile, não? Seu nome está na lista.
  - Você sabe que eu acho essas coisas chatas demais... – Bufou baixo. – Eu te aviso! Agora tenho que voltar mesmo ou começarão sem mim. Boa sorte na grande noite!
  - Vou precisar! – Era impossível não rir com ela.
   Dei meia volta, parando próxima a janela do corredor antes de seguir em meu passeio. Usei o celular para checar a hora e confirmar que o relógio não adiantou sozinho e o desfile já havia acontecido sem mim. Dramas a parte, ainda era perto das nove e quarenta da manhã. Entretanto, não foi isso que me provocou malditas – ou benditas, dependendo do ponto de vista – borboletas no estômago. E sim uma simples mensagem que não há necessidade de informar seu remetente. Três palavras que me assombrariam pelo resto do dia:

  
“Sinto sua falta.”
  

+++

  Um dos melhores conselhos que Cara me deu em nossa tarde de treinamento foi no que vestir quando chegasse ao backstage. Deveria ir preparada pra passar horas de pé ou andando de um lado para o outro, fazendo o que me pedissem; fosse ajudando as outras modelos ou provando as roupas mais uma vez. Portanto, enquanto as garotas desavisadas andavam por aí de salto alto e roupas coladas, eu e a minha nova amiga estávamos bem casuais e confortáveis. O fato de eu ser amiga, também, da dona da marca me permitiu andar descalça por aí e a única tarefa que recebera foi “não bagunçar o cabelo e maquiagem que os profissionais de beleza passaram uma hora arrumando”. Já dá pra imaginar que isso não agradou nada as bitches que se achavam melhores do que eu só por estar na profissão a mais tempo. Ou por estar na profissão e ponto final.
   Enquanto todos estavam ocupados com seus próprios trabalhos e Cara era embelezada pelo maquiador, não tive opção além de sentar em cima de uma caixa de papelão vazia e torcer para que o tempo passasse rápido. Os nervos de ter que desfilar uma coleção de inverno na frente de pessoas importantes e câmeras de todos os países tomava conta do meu estômago, congelando-o por inteiro e me deixando bem inquieta. Sentia quase como se estivesse prestes a dançar na Opera House mais uma vez e só torcia para que o gostinho de satisfação no final de tudo fosse o mesmo.
  - Mummy, me sooooolta. A está ali! – A voz infantil de Lux era impossível de não reconhecer. Levantei o rosto e assisti-a soltar-se da mãe e correr na minha direção.
  - Minha porquinha! – Abri os braços, esperando-a. – O que está fazendo aqui?
  - Tio Niall queria te ver, então a gente veio! – Sorriu angelical, tocando a ponta dos meus cabelos ridiculamente arrumados.
  - Niall? Ele está aqui? – Levantei da caixa, segurando a mão da minha irmã. – Ni!
  - Ali está ela! – O irlandês fez escândalo na ponta contrária do corredor. – Eu falei pra você me avisar se a encontrasse, Lux!
  - Ops. – A menor levou a mãozinha aos lábios.
  - Que visita ótima! – Sorri para ele e só soltei Lux para abraçá-lo. – Alguém está super loiro...
  - Rachel acabou de retocar. – Niall piscou galanteador, passando os dedos pelos cabelos pintados. – Gostou?
  - Da surpresa ou do cabelo? Adorei os dois. – O estudei, dividida entre a dúvida de ele estar ali pra checar como eu andava por pedido de Zayn ou pela boa vontade de seu coração. – Onde Rach está?
  - Conversando com o maquiador... Aquela ali é a Cara Delevingne? – Cochichou a última parte.
  - É sim. Somos amigas. – Me gabei enquanto pegava Lux no colo e beijava-lhe a bochecha. – Mwaaaahh!
  - Para, ! – Reclamou, empurrando meu rosto para o outro lado.
  - Linda. – Ri, me segurando pra não morder suas bochechas gordinhas. – Quer ir ver como está lá fora? Você vai amar. Parece um conto de fadas!
  - Quero! – Começou a pular nos meus braços, quase se soltando. – Tio Ni pode vir junto?
  - Se não preferir ficar aqui conhecendo as modelos... – Dei de ombros, começando o caminho para fora do backstage.
  - Já tenho uma modelo, obrigado. – Nos seguiu, referindo-se a .
  - Sabe se ela vai vir hoje a noite? – Coloquei Lux no chão quando nos aproximávamos da entrada da passarela.
  - Acredito que sim. Todo mundo vem te ver hoje, . Por isso arrumei os cabelos... Preciso estar no seu nível. – Gargalhou achando mais graça naquilo do que realmente havia. – É por aqui que vocês passam?
  - Sim, Ni, é por aqui que entramos na passarela.
   Nós três fizemos o caminho que eu faria sozinha dentro de algumas horas. Não só Lux ficou impressionada com a decoração, mas Niall também perdeu a fala. A passarela ia em linha reta e era de um vidro totalmente transparente, o que nos permitia ver o que havia embaixo: Um material muito semelhante a neve fofa, flores douradas espalhadas aqui e ali e bichinhos como caracóis e borboletas da mesma cor que lembrava o outro. Nas laterais, tiras gigantes do mesmo material também imitavam um chão de inverno e novas plantas douradas e elegantes davam um toque mágico ao universo de Winter Fairytale que a Mulberry queria levar os seus convidados. Uma raposa vermelha, filhotes de veado, coelhinhos peludos e esquilos eram os bichos empalhados que pareciam ganhar vida e brincar pela neve.
  - O que acham? – Deixei Lux ir averiguar tudo e não demorou para sentar perto de um coelho e o pegar no colo.
  - Feels like snow in September, but I always will remember… - Cantou como se a passarela fosse um palco.
  - Ni, você não pode usar a sua própria música como um quote. – Coloquei as mãos na cintura e saí da passarela para ler os nomes reservados na primeira fileira de assentos. – Você está bem aqui. Existem cinco placas com o nome “One Direction”, então acho que os cinco podem sentar aqui...
  - O que tem nessas sacolas? – Animou-se com os “brindes” que Carine daria para todos os convidados.
  - A primeira fila vai ganhar um chaveiro de estrela ou coração, uma carteira, um perfume da próxima linha de cosméticos, uma agenda do próximo ano, dois esmaltes e um cartão de 20% de desconto durante um ano. – Nada mal, não? Bati em sua mão quando tentou abrir uma das sacolas. – Você terá a sua na hora do desfile! Aliás, seus esmaltes são meus.
  - Você não vai ganhar uma dessas? – Massageou a mão por causa do meu tapa. – Sua unha está grande, isso machuca!
  - Desculpa. – Ri, mas foi bem feito. – Já ganhei a minha, mas os esmaltes são todos de cores diferentes!
  - Já entendi. Vai roubar todos os nossos. – Niall era tão esperto!
  - ATENÇÃO, TODOS PARA A PASSARELA.
   Uma voz masculina anunciou ao microfone. Era Kim que acabava de passar pela entrada. Além de estar na equipe criativa ao lado de Emma, aquela tarde adquirira a posição diretor criativo. Era seu dever repassar com todos o que cada um deveria fazer durante o desfile, o que incluía as trocas de modelos na passarela, as luzes e trilha sonora. Apesar de conhecê-lo, Lux se assustou e soltou o coelhinho. Levantou e correu até onde Niall e eu estávamos, abraçando as minhas pernas e escondendo o rosto. A equipe de maquiadores, estagiários, Carine, Emma, Luella, Rachel, modelos e praticamente todos que estavam no backstage começaram a aparecer e foram pegando lugares na platéia; claro, com muito cuidado para não bagunçar o que já estava arrumado e pronto.
  - Vem cá, baby girl, Kim só vai falar algumas coisas. – Peguei a criança no colo e Niall foi na frente, sentando-se ao lado de Rachel.
  - Oi, ! – Rach sorriu de canto a canto e acenou.
  - What’s uuup? – Sentei entre Niall e Cara, sentando Lux no meu colo e abraçando-a pela cintura.
  - Quem é essa princesa? – A modelo ao meu lado perguntou.
  - Lux, minha irmã mais nova. – Contei. – Fala oi, Lux-Face.
  - Oiii.
  - Que linda! Dá vontade de apertar essas bochechas! – Cara fez careta, divertindo Lux.
  - Todos estão aqui? – Kim ocupou o centro da passarela, nos olhando. – Vamos começar! Bem, Carine me pediu pra vir aqui e dar um discurso motivacional pra vocês, mas todos sabem que sou horrível nisso! Então, ao invés de mudar a vida de todos com minhas palavras incríveis, preferi vir aqui e agradecer. Então obrigado a todos que tiveram algo a ver com essa coleção. Desde a minha querida Emma, que teve a idéia desse tema fenomenal, até as passadeiras que deixaram todos os looks que serão exibidos hoje impecáveis. É isso aí, pessoal! Chegou o grande dia. Em apenas algumas horas críticos e amantes da moda estarão entrando por essas portas ali atrás, esperando um show. E vamos dar esse show a eles, não é?!
  - SIIIIIIM! YEEEEEAH! – A maioria gritou em concordância. Até mesmo Niall que não tinha nada a ver com o assunto.
  - Parabéns a todos nós e agora é a hora de sentar e aproveitar! – Para o que não devia ser um discurso motivacional, aquilo estava nos motivando muito. – Gostaria de chamar à passarela as modelos fabulosas, para um rápido ensaio do que farão essa noite! Depois iremos lanchar!
  - Niall, pode segurá-la, por favor? – Passei Lux para o menino.
  - Vamos, Boo. – Cara levantou e segurou a minha mão.
  - Saibam a ordem que vocês devem entrar! – Kim pediu. – , Cara, vocês são as primeiras...

+++

   Uma hora para o começo do desfile, uma hora! Agora é que todos estavam com os nervos a flor da pele, inclusive eu. Tivemos as maquiagens e cabelos retocados e vestimos o primeiro look que seria usado no desfile. Cada modelo tinha a sua própria estagiária como ajudante na hora de mudar de roupa e a minha era uma japonesinha muito simpática, que conseguia estar mais nervosa que eu. Niall, Lux e Rachel foram embora depois do lanche, prometendo que só iriam se arrumar e logo voltariam. Carine estava em uma sala especial, dando uma entrevista para qualquer site de moda, e outras pessoas da imprensa que possuíam passe VIP para o backstage conversavam com outros da equipe. Entrevistas por aqui e por ali e eu estava quase pulando sem sair do lugar por causa do nervosismo. Para que nenhuma câmera captasse imagens das roupas antes da hora, usávamos um roupão de seda preta que escondia bastante.
  - , calma! – Cara me sacudiu. Pra ela era fácil falar, já que era o seu milésimo desfile! – Você está me deixando nervosa!
  - Não consigo! – Ri e a sacudi de volta. – O que você faz pra se acalmar quando está assim?
  - Eu danço. – Afirmou. Huh, simples assim? – Dança comigo!
  - Hã? Não, Caz! – Em outras oportunidades eu teria sido a primeira a começar a dançar, mas não queria. – Paaaaaaaara!
  - Você é dançarina, não devia ser tão difícil assim! – Agarrou meus pulsos e começou a dançar de forma desinibida e estranha. – Solta tudo!
  - Você é louca. – Mexi o corpo de um lado para o outro, sem mexer os pés. – Já me sinto melhor, obrigada.
  - Eu sabia que daria certo. – Parou de dançar e me soltou, finalmente.
  - Hey, Caz... – Olhei em volta, só me tocando de algo naquele momento. – Não era pra Kylie estar aqui também?
  - Ela deveria, mas teve alguns problemas no aeroporto por possessão de... Vamos só dizer que Ky tinha materiais ilícitos na mala. E por isso não conseguiu embarcar.
  - Oh! Ela está bem? – Tinha uma leve idéia do que aquilo podia se tratar.
  - Está sim! Só não pôde vir. – Deu de ombros, o que provou não ser algo tão ruim quanto poderia. – Preciso de água! Quer?
  - Não, mas pode ir.
   Agradeci a oferta com um sorriso e a menina se virou para ir atrás de sua bebida. Praticamente saltitou, acenando para todos que conhecia. Queria estar leve como ela, sem preocupação alguma. Minha sorte é que meu celular estava dentro da bolsa desde que eu chegara, trancado em um armário. Caso contrário, teria checado-o a cada cinco minutos, esperando alguma mensagem ou ligação que acabaria não respondendo ou atendendo no final das contas.
  - Olhe quem achei aqui! – Uma mulher vestida impecavelmente se aproximou, seguida por uma câmera e empunhando um microfone. – Tomlinson! Tudo bem?
  - Ellow! – Nem sei porque forcei um sotaque britânico, mas a fiz rir. Acenei para a câmera, sabendo que estava ao vivo. – Estou bem! Um pouco nervosa... E você?
  - Estamos todos ansiosos pelo desfile! O que você também deve estar, é claro. Como acha que o seu primeiro desfile vai ser?
  - O salão está lindo e as roupas são mais bonitas ainda... Acho que vai ser algo interessante. Se eu pudesse escolher alguma marca pra perder a virgindade de desfiles, com certeza seria a Mulberry, então me sinto sortuda. – Mode profissional, on. Começava a achar que puxei ao meu irmão esse lado de ficar confortável em frente às câmeras, o que era muito bom.
  - Sabemos que você sempre está em fashion weeks, e agora está do outro lado. Como isso aconteceu? Assinou um contrato como modelo?
  - Não, não, de forma alguma! Eu sempre gostei muito de moda e dei sorte de fazer amigos nesse ramo. Carine me convidou para tentar desfilar e foi um voto de confiança muito grande da parte dela. Como você disse, sempre estive do outro lado disso tudo, na platéia. Com certeza é uma experiência nova que eu não podia deixar passar... – Respondi ao microfone. Cometi o erro de levantar o olhar e encontrei Cara fazendo caretas. Resultado? Comecei a rir. – Desculpa! Cara está fazendo caras engraçadas ali atrás...
  - Vocês duas são amigas, huh? – A repórter perguntou, fazendo sinal para Cara se juntar a nós.
  - Irmãs separadas na maternidade. – A menina que era da mesma altura que eu passou o braço em volta dos meus ombros. – É tão fofo! Eu tenho que ensinar tudo pra ela. Parece minha irmã mais nova mesmo.
  - Yep. Tenho a melhor professora do mundo. – A abracei pela cintura.
  - Seu circulo de amigos é de dar inveja, não? – A mulher comentou. – Sabia que o One Direction inteiro está aí? Foram os primeiros a chegar.
  - É fácil gostar dela, então não podia ser diferente. – Cara respondeu por mim, o que veio a calhar. One Direction inteiro? Isso queria dizer que Zayn também estava lá. Eu sabia que os outros meninos viriam assistir o desfile, mas não ele... – Eles é que tem sorte de conhecê-la, assim como eu também tenho.
  - Awwwwwn, você é tão fofa. – Não tinha idéia que Cara se sentia assim, então fiquei legitimamente surpresa.
  - O que? Estou recebendo informações aqui... Entendi... – A mulher nos interrompeu, tocando no ponto preso a sua orelha. – Parece que vai começar! Temos que tomar os nossos lugares agora. Obrigada, meninas! Tenham um bom show!
  - Aproveitem! – Cara tomou a frente mais uma vez, pois eu estava paralisada. – . ?
  - E-eu. Aqui. – A olhei, garganta começando a secar.
  - Não se desespere... Mas temos que tomar nossos lugares... Respira...
  - Estou bem, estou bem.
   “Não, não estou!” Se estar bem queria dizer hiper-ventilação, mãos suadas, tremedeira nas pernas e boca seca, então eu estava bem sim. Cara me arrastou até onde pôde, mas sua estagiária a roubou de mim. Fui de encontro à minha própria ajudante, que me esperava com os sapatos abertos para que eu só enfiasse os pés e ela pudesse fechá-los. Assim o fiz, abrindo o roupão preto e o deixando de lado. Estava alta, linda e poderosa. Todos estavam me esperando, ansiosos pelo começo do desfile. Respirei fundo, ergui o rosto. Estava nervosa, mas ninguém precisava saber disso. “É só andar!”
  - Modelos, venham para a fila, por favor! – Kim chamou, dessa vez sem o microfone.
  - , você está linda. – Carine me acompanhou até o começo da fila que se formava logo antes da passagem para a runway. – Como se sente?
  - Como se o mundo estivesse aos meus pés. – Sorri confiante.
  - Era isso que eu queria ouvir! – Bateu palmas. – Assim que voltar, sua assistente vai estar te esperando para a troca de roupa. Brilhe, !
  - Pode deixar. – O frio na barriga ainda era tremendo, mas tentava enganá-lo.
  - Muito bem, , pode esperar aqui... – Kim me posicionou na entrada da passarela, que era fechada por um lençol de seda branca. Ele sussurrava e eu já não falava mais nada. – As luzes vão diminuir, a música vai começar, a cortina vai cair e você sai. Assim como combinamos.
  - Obrigada. – Mexi os lábios.
   “Muito bem, é isso aí. Vamos lá. Está na hora.” Como minha amiga Tyra Banks diria, sorriso nos olhos e pose de matar. Ok, talvez Tyra não falasse exatamente isso, mas enfim. Joguei o quadril para o lado e coloquei a mão na cintura. Pés apontando pra frente e queixo erguido. Todos a minha volta aguardavam à distância, esperando o mesmo que eu. Através do tecido, percebi que as luzes foram diminuindo consideravelmente. Com isso, também, os murmúrios ansiosos da platéia chegaram ao fim. A trilha sonora teve início e em câmera lenta o manto que me separava da passarela chegou aos meus pés.
   Sei que modelos devem ficar sérias na passarela porque o foco não está nelas, e sim na roupa, mas aquela música somada aos aplausos que meu irmão puxou foi demais pra uma pessoa normal como eu agüentar. Me permiti sorrir e abri o desfile, bem como Cara ensinara. Rosto pra frente, pernas primeiro, jogo de quadril. Bingo! Todo o nervosismo e medo de cair foi embora assim que o primeiro floco de neve falso caiu do teto, seguido por vários outros. Estava chovendo na runway e era algo mágico. A passarela era mais comprida do que parecia, mas cheguei ao seu fim com estilo. Na ponta, flashes e mais flashes piscavam sem sincronia alguma, querendo captar cada detalhe. Parei com o quadril para direita e o mesmo braço na cintura. Joguei o peso do corpo para o outro lado e dei meia volta trazendo o pé para trás. Assim como no ballet, meu rosto foi o último a virar.
   Ninguém aplaudia mais, mas sabia que meus amigos estavam sorrindo. Não olhei para pessoa alguma, sabendo que procuraria um rosto em particular no meio de todos os outros e aí toda a minha vibe poderosa iria por água abaixo. Quando cheguei ao meio da passarela, a segunda modelo entrou. Cara sibilou a palavra “hot” e também sorriu, sentindo-se tão a vontade quanto eu. Ri e assoprei um beijo em resposta. Ao sair pelo lado contrário ao que entrei e voltar para o backstage, encontrei Carine; que assistia tudo por uma TV instalada ali atrás.
  - Muito bem, ! – Bateu palmas silenciosas, animada com o próprio sucesso. – Continue com essa energia, pode se soltar. Agora vá trocar de roupa!
  - Já voooou! – Cantarolei, me esquivando de pessoas que apareciam na frente.
  - Estou aqui, ! – Minha assistente acenou.
   Assim que a avistei, saí correndo em sua direção. Era a última em uma fila de trinta, mas ainda assim tinha que ser rápida. Com ajuda da estagiária que ainda não descobrira o nome, me despi do vestido branco. Estava sem sutiã por pedido das designers, mas a adrenalina era tão grande que não estava nem aí. O sapato seria o mesmo, então esse não precisei tirar. Pulei dentro do último vestido vermelho e segurei os cabelos para que a menina fechasse os botões das costas. Tive que trocar os brincos, anel e bolsa, porém, o enfeite de cabelo era o mesmo. A quantidade de modelos que voltava para o backstage após a sua segunda troca de roupa começou a me assustar. Pelo visto tinha menos tempo do que imaginava.
  - , estamos entrando na terceira música! – Kim movia os braços com ferocidade, me chamando com pressa.
  - Tão rápido?! – Isso queria dizer que os quinze minutos de desfile estavam se completando. Como eu era a última, devia fechá-los. – Estou pronta!
  - Assim que Cara for por lá, você pode ir! – O homem mal se agüentava no próprio corpo. – Kill it!
   Me posicionei, pronta pra ir a qualquer momento. Minhas mãos tremiam, mas era uma tremedeira boa dessa vez. Vontade de andar na passarela mais uma vez e receber os flashes que estavam ao meu lado, figurativamente falando. Sem aviso algum, Cara passou na minha frente, o que significava que a passarela estava vazia pra mim mais uma vez. Ao som da nova música, a iluminação mudou. Ao invés de luzes focadas na pista, elas começaram a piscar. Não o suficiente para deixar alguém tonto, mas o que era preciso para dar uma idéia divertida a todo aquele “conto de fadas”.
   Nesse novo andar, não segurei a cintura, mas joguei o cabelo para trás em um charme a mais. Não sorri, tampouco fiquei séria. Meu olhar falava “sou melhor que você e sei disso”. Me perdi no momento, deixando tudo ali. A passarela estava bem mais coberta por flocos de neve que continuavam a cair do teto e eram tão leves que voavam quando eu pisava no chão. No fim do caminho, assoprei beijos para todas as câmeras, que adoraram. Virei de costas e os olhei por cima do ombro, esperando que fotografassem os detalhes do vestido. Em seguida, terminei de vez o desfile, partindo para o backstage.
   Lá atrás, as modelos fizeram uma nova fila e só esperavam eu sair para voltar à passarela. Diferentemente da primeira vez, elas foram uma atrás da outra e batiam palmas, agradecendo a todos que assistiam. Claro que a platéia ficou de pé e fez a mesma coisa. A mentora de tudo isso e Emma estavam prestes a entrar e me chamaram. Fui até as duas, com uma mínima idéia do que estava acontecendo. No momento dos agradecimentos que encerravam um desfile, a pessoa responsável pelo show devia sair e receber seus devidos aplausos. Geralmente essa pessoa era acompanhada pela modelo chefe ou cara da marca. Naquele caso, eu seria a pessoa a levar as duas.
   Ótimo, mais uma chance de voltar lá fora! Sem perder mais um segundo, corri até estar entre Emma e Carine. Nós três entramos lado a lado, passando pelo corredor de modelos que se abriu para nós. Era o momento das mulheres brilharem, portanto, assim como o resto, bati palmas e sorri para ambas. O que senti aquela noite foi algo inexplicável. Por ser muito nova quando comecei a dançar, não lembrava exatamente o sentimento de subir ao palco e dançar na frente de outras pessoas pela primeira vez, mas algo me dizia que era bem parecido com o que senti ao receber aqueles aplausos que, em parte, eram meus também.
   Nosso passeio foi bem rápido e em segundos já me vi fazendo a volta. Agora que estava tudo acabado senti como se um peso enorme deixasse os meus ombros. Distraída, olhei para a primeira fileira de pessoas e conseqüentemente a mais próxima. Dentre dezenas de rostos, meu olhar captou um em particular. Zayn estava ali, de pé, com as mãos dentro dos bolsos da calça. Parecia ter ficado ainda mas bonito durante esses dias que passei sem vê-lo e a minha primeira idéia foi correr para os seus braços, mas o nó em minha garganta me trouxe de volta a realidade. Seu olhar preso ao meu não era o de quem estava orgulhoso pela namorada e sim o de quem temia nunca vê-la novamente. Senti uma vontade tremenda de chorar, desejando que ele não estivesse ali. Ou, pelo menos, que o meu Zayn estivesse ali. Não aquele garoto que parecia não conhecer.
  - , onde está indo? – Chegamos ao backstage e Cara estranhou a minha pressa.
  - Só vou trocar de roupa!
   Em parte era verdade, pois eu estava desesperada pra trocar aqueles saltos por tênis confortáveis. Sentia que ia cair a qualquer instante e necessitava estar o mais perto do chão possível quando isso acontecesse. Outras garotas também retornavam para fazer o mesmo que eu. Mais uma vez a jovem me auxiliou a tirar o sapato, vestido, jóias e tudo que pertencia à Mulberry. Com as minhas roupas normais separadas em um cabide, foi fácil me vestir. Procurei com o olhar a saída mais próxima, caso precisasse de uma fuga estratégica. Não era hora de ter um ataque, mas a falta de ar repentina, somada ao backstage lotado me preocupou. Agradeci à japonesa que me foi de tanta ajuda e sentei no chão, embaixo da arara onde ela pendurara meus vestidos em seus devidos cabides.
  - Por que a minha modelo está escondida aí embaixo?
  - Daddy! – Pulei até estar de pé e abracei meu pai, surpresa por ele estar ali. – Eu não sabia que você estava lá fora!
  - Eu não perderia por nada. – Agora é que eu sentia vontade de chorar. Por causa dos plantões no hospital, nunca fui acostumada em tê-lo me apoiando em apresentações ou coisas do tipo. – Você estava linda. Foi a mais linda de todas.
  - Claro que estava linda! É minha irmã, ué. – Louis também entrara no backstage?
  - Boo Bear! – Troquei de pessoa e o abracei. Lou também estava super arrumado e lindo. – Vocês gostaram?
  - Você foi ótima, . – Harry esperou um abraço, mas o resto da banda estava ao seu lado. Se eu o abraçasse, teria que fazer o mesmo com todos.
  - Hey, Guys. – Cara parou ao meu lado, também com suas roupas normais. – Vão para a festa de comemoração com a gente? Carine disse que você pode escolher um dos vestidos pra usar, pra não ter que passar em casa antes!
  - Eu poderia ir a uma festa. – Niall aceitou o convite.
  - Estamos dentro. – Lou olhou pra Harry e também aceitou pelos dois. – Liam?
  - Por que não? – Li deu de ombros.
  - Não estou com muito clima pra festa, Caz. Cólica, sabe como é. – Menti.
  - Também vou pra casa. – Zayn enunciou pela primeira vez, causando arrepios em todo o um corpo. Como eu sentia falta da sua voz.
  - Vocês estão de carro? Tenho mais algumas amigas que vão e poderíamos nos dividir... – Cara se votou para os garotos.
  - Eu poderia levá-las... – Meu pai ofereceu educadamente. – Só preciso do endereço.
  - Ou vocês podem levar o meu carro. – Tive uma idéia melhor. – Zayn pode me dar uma carona?
  - É claro que sim. – Me olhou com o olhar cheio de esperança. Os meninos se entreolharam sem entender coisa alguma. Sabiam que havia algo errado.
  - Só vou pegar a bolsa no armário...

+++

  Foi algo bom a distância entre meu condomínio e a galeria ser grande, pois isso me deu bastante tempo para pensar no que iria falar pra Zayn quando o carro parasse de andar. Olhei pela janela durante todo o trajeto, encolhida no banco e aproveitando aquele perfume que fazia mais falta do que eu me dava conta. Ele também não falou coisa alguma, embora os seus olhos pousassem em cima de mim constantemente. Apenas quando o Jeep preto teve seu motor desligado é que tirei a atenção do vidro e a prendi nele. O moreno abriu a boca para falar algo, mas fui mais rápida e o interrompi antes mesmo de começar a falar.
  - Eu não consigo fazer isso, Zayn. Estou cansada de te evitar. Cansada de ignorar suas ligações e não responder suas mensagens... – Suspirei, mantendo os olhos azuis conectados aos dele.
  - Também não gosto disso. – Tirou o próprio cinto de segurança, mas permaneceu do mesmo jeito que eu.
  - Precisamos dar um tempo. Preciso de um tempo sozinha e você precisa de um tempo pra pensar... – Pela forma que suas pupilas dilataram, minha decisão o pegava de surpresa. Mais até que o meu pedido de carona. – Por mais que eu gostaria de somente fingir que nada acontece, eu não posso. Eu realmente não posso.
  - Eu não preciso de tempo pra pensar, . – Ecoou magoado.
  - Mas você precisa. Não vê? Você precisa pensar no que quer, porque eu não acho que ainda seja eu. Eu sei que você me ama, não é isso que estou dizendo. Eu lhe falei isso antes, você tem o mundo aos seus pés e eu entendo se quiser ir aproveitá-lo. – Me doía ter que falar tudo isso, por isso soei embargada. Água começando a molhar meus olhos. – Não me diga que não é verdade, porque se não fosse você não teria levado aquela garota pra casa.
  - Então o que você quer? Não posso mais falar com você? Devo fingir que você está em outro país?
  - De certa forma eu vou estar. Estou indo pra Paris amanhã, com Louis, Harry e Liam. Vamos voltar na terça, então veremos o que acontece. – Nenhum dos meninos parecia ter contado isso a ele, pois mais uma vez seu semblante era de surpresa. – Eu não estou terminando com você, Zayn, nós dois sabemos que eu não sou capaz disso. Só precisamos desse tempo.
  - Eu te amo... Não esquece, okay?
  - Okay. – Afirmei, só então abrindo a porta para sair. – Eu também te amo.

    

Chapter XLVII

Desde quando Paris é mais fria que Londres? Saímos da Inglaterra ao meio dia e chegamos na França às duas horas da tarde e foi como se estivéssemos entrando em uma geladeira! Pobre Louis e Liam escolheram roupas leves para viajar, acreditando que o Sol estaria brilhando em minha cidade natal, mas Harry e eu acertamos em cheio. Claro que meu irmão tinha seu namorado de dois metros de atura para aquecê-lo e Liam tentava esquentar as mãos em meus bolsos. O passeio no Eurostar foi tranqüilo como sempre, apesar de estarmos vários metros embaixo d’água em um túnel bem antigo.
  - Arrêtez ici, s'il vous plaît. – Oh, como eu sentia saudade de falar francês! – Au la maison soixante-dix neuf...
  - Estamos aqui! – Harry bateu nas costas do meu banco, visto que eu estava ao lado do taxista e os três meninos espremidos no banco de trás. – Será que nana está em casa?
  - Espero que sim... Ou essa surpresa vai ter sido horrível. – Comentei, tirando da bolsa algumas notas para pagar nosso trajeto da estação para casa.
  - Todo mundo chama Jolene de nana? – Liam esticou o pescoço, aparecendo ao meu lado.
  - Basicamente. – Ri, soltando o cinto de segurança. – Ela não se importa, então pode chamá-la assim também.
  - Não sei se temos intimidade o suficiente. – Assim que o carro parou de andar, os meninos foram os primeiros a descer.
  - Pourriez-vous l'avertisseur sonore? – Pedi para o motorista buzinar, na esperança de chamar a atenção de quem quer que estivesse dentro da casa.
  - Sans doute. – O senhor sorriu, simpático demais para alguém obrigado a passar meia hora em um carro com três crianças fazendo bagunça no banco de trás.
  - Merci! – Finalmente desci do carro, sem nenhuma intenção de ajudar os homens a pegar nossas bagagens.
   Alguém que também não mexeu um músculo pra ajudar foi Louis. A rainha de Vans, barba mal feita e cabelo liso parou ao meu lado, mãos nos bolsos e sorriso nostálgico no rosto. Dividimos aquele sorriso que queria dizer tanta coisa. Estávamos em casa novamente! Sempre que visitávamos nossa família era a mesma coisa, nossos corações eram cheios por aquela sensação de nunca ter ido embora. Podíamos passar meses longe, mas ao voltar, tudo estava do mesmo jeito. O mesmo cheiro, a mesma grama perfeitamente aparada, a mesma mancha de tinta amarela no portão da garagem – de quando papá tentou mudar a pintura, mas desistiu dentro de cinco minutos.
  - Vocês chegaram?! – Dan saiu da casa, mas parou no meio do caminho, gritando: - Jay, Jo, os meninos chegaram!
  - Hey, Daaan! – Louis foi cumprimentá-lo depois de me empurrar com o ombro.
  - Tommo, my maaaaan. – O homem chegou ao jardim e abraçou-o. – , linda como sempre.
  - Gostei do cabelo! – Elogiei meu novo padrasto, recebendo um aperto na bochecha em resposta.
  - Sua mãe tem uma surpresa enorme pra vocês... – Dan parecia realmente animado com aquilo, o que só aumentou a minha curiosidade.
  - Onde estão os meus filhos? – Era a voz de Johannah, então automaticamente olhamos para a porta.
  - Mum... – Meu queixo caiu assim que a vi. – Você...
  - Por favor, me diga que você comeu uma melancia. – Louis estava tão chocado quanto eu, mas sorria como se fosse natal.
  - Não, Lou. – Nossa mãe saiu da casa, alisando a barriga enorme. – Mas vocês vão ter irmãozinhos ou irmãzinhas.
  - Ai meu Deus! – Ainda em choque, tampei a boca para não gritar.
  - Parabéns! – Meu irmão quase pulava sem sair do lugar e foi abraçar Jay. – Gêmeos?!
  - Sim! Dois bebês! – A mulher estava radiante, por assim dizer.
  - Você está enorme! – Harry correu para abraçar a sogra e não surpreendeu ninguém ao começar a falar com a barriga. – Hi, babies... Tudo bem aí dentro?
  - Harry, querido, como é bom vê-lo.
  - Eu quero um, Louis. – O de olhos verdes segurou a mão do namorado, que fez careta.
  - Hey, ela vai ter dois... Pode pedir um.
   Louis fez careta porque sabia que Harry ficaria com aquilo na cabeça por muito e muito tempo. Não que pretendesse de fato roubar um dos filhos da minha mãe, mas ainda assim. Liam cumprimentou os novos pais, Lou e Harry levaram as malas para dentro de casa e eu continuei parada no meio do gramado, associado uma coisa a outra. Eu seria irmã novamente. De duas crianças. Gêmeas. Sim, já conhecia o sentimento, por ser a irmã mais velha de Lux, mas seria diferente. Quando Rachel ficou grávida da filha, Jay e ela ainda não se davam muito bem. Portanto, não pude estar tão próxima da gravidez ou da recém nascida quanto gostaria. Agora, era diferente. A minha mãe estava grávida. De gêmeos! Dois bebês de uma vez...
  - Alguém vai lá buscar a ? – Foi o grito de Louis que me fez acordar do transe.
  - Estou bem! – Corri até entrar em casa. – Parabéns, mum e Dan. Vocês vão ser os melhores pais.
  - Foi exatamente isso que eu falei! – A senhora de blusa floral e cabelos brancos acabava de descer a escada.
  - Nana! – Harry jogou os braços para o alto, pronto para atacá-la.
  - Parado, Styles! – Ordenei, sendo mais rápida. – Minha nana.
  - Tem nana pra todo mundo, . – A senhora aceitou meu abraço apertado. Ela era tão pequena e tão... Minha.
  - Minha, minha e minha. – Que ótimo exemplo eu seria para os bebês. Continuei abraçando a minha avó, inalando seu cheiro. – Por que você está cheirando a cookies?
  - Acabei de colocar uma bandeja no forno. Sabia que vocês chegariam com fome!
  - Porque não levam as coisas lá pra cima e se instalam? – Dan ofereceu. – Tenho que ir ao mercado comprar algumas coisas com a sua mãe, já que alguém disse que só chegariam a noite!
  - Me desculpe por tentar fazer uma surpresa! – Coloquei as mãos na cintura, só então lembrando do que deveria estar nelas. – Essa não! Esqueci meu chocolate quente no táxi!
  - Eu lembrei de pegá-lo, . – Liam esticou o copo térmico desenhado que me fizera esperar dez minutos na fila da Starbucks só para consegui-lo.
  - O que eu faria sem você, Baba? – Dei um gole no chocolate que continuava quente. – Vamos subir, boys?
   Harry já era de casa, portanto foi o primeiro a subir as escadas, carregando a própria mala e a de Louis. Liam só estivera ali uma vez e nem ficara tanto tempo assim, então sentia-se um pouco mais acanhado e me esperou passar primeiro. Louis veio logo atrás e o último trouxe as malas restantes. O de cabelos cacheados foi direto para o quarto do meu irmão, onde passaria o final de semana. Eu fui para o meu, reconhecendo uma peça de roupa bem dobrada em cima do meu travesseiro. Não precisei chegar mais perto pra descobrir que era um sweater de Zayn, provavelmente esquecido por ele ali no último verão. A vontade de cheirá-lo estava enorme, mas não faria bem para a minha sanidade.
  - Por que você tem um pôster do N’sync na parede? – Liam estava parado na porta, braços cruzados.
  - Você também vai reclamar? – Arqueei a sobrancelha. – Também tenho um do One Direction!
  - Tem algo errado com esse pôster. – Deixou as malas próximas à cama e atravessou o quarto para examinar o pôster mais de perto. – E vou descobrir o que é.
  - Eu sei o que é. – Sentei na cama, pousando minha bebida no criado mudo, e tirei os sapatos. – Vamos lá, Liam, é fácil.
  - A covinha de Harry está do lado contrário, não é? – Fez uma cara pensativa e até coçou o queixo. – Tenho certeza que é.
  - Não, não é. – Ri e fiquei de joelhos na ponta da cama para enxergar o papel colado à parede. – Última chance, Li, você consegue.
  - É o cabelo do Harry? – Bufou frustrado.
  - Oh, for fuck’s sake, Leeyum! – Fui obrigada a ir ao chão e apontar para o pescoço dele na imagem. – Não vê nada faltando aqui?
  - Minha marca de nascença! – Tocou a marca no pescoço e fez careta. – O que eles têm contra marcas de nascença?
  - Não sei. – Dei de ombros, examinando-o com os olhos. – Eu acho que é linda.
  - Você é linda. – Prendeu o meu olhar com o seu e me esqueci de qualquer coisa que fosse falar. Ergueu a mão para arrumar uma mexa de cabelo que escapou da minha touca e a passou para trás da orelha, deixando a ponta dos dedos roçarem pelo meu rosto demoradamente.
  - Cof cof. – Louis limpou a garganta descaradamente. – Liam, Harry está te chamando lá embaixo.
  - Harry? Estou indo! – Podia jurar ter visto um rubor nas bochechas dele, mas tentei me convencer de que era impressão minha. O menino passou por Louis e saiu do quarto.
  - Uau. – Lou tinha um sorrisinho de canto e sentou-se à cama. – Eu não sei o que está acontecendo entre você e Zayn, mas qualquer um entenderia o que está acontecendo aqui...
  - Não sei o que você está falando. – Balancei a cabeça e me joguei ao lado do meu irmão mais velho.
  - ... – Me encarou com a sobrancelha erguida, como quem diz “você não me engana”. – Eu poderia cortar a tensão sexual aqui com uma faca.
  - Andou batendo a cabeça na porta de novo? Porque você está louco. – O empurrei de lado, revidando o que fizera mais cedo.
  - Outch! – Alisou o ombro.
  - Fresco. – Rolei os olhos.
  - Como é? – Reconheci aquele olhar. O olhar que me deixaria arrependida de ter nascido.
   Ou ao menos era o que ele significava quando éramos pequenos. Lou fingiu avançar na minha direção, o que me assustou e me fez levantar. O menino gargalhou maleficamente e fez o mesmo, mexendo os dedos como ameaça. Ele faria cócegas em mim! Tinha duas opções: Correr pela minha vida ou ficar ali e enfrentar meus medos. Quem sabe outro dia, certo? Passei por baixo de seus braços quando tentou me segurar e corri para fora do quarto, mantendo o mesmo ritmo ao passar pela escada, pulando os últimos degraus. Gritei por quase ter caído ao ingressar na sala e Louis riu histericamente de mim.
  - Meninos, meninos! – Nana nos assistiu correr. – Vocês não são mais crianças!
  - Fale isso pra ele! – Apontei para o menino, parando na ponta do sofá oposta à que ele estava.
  - Eles faziam isso quando eram pequenos? – Liam parou ao lado de nana.
  - Mais do que você imagina. – Ela suspirou, deixando um sorriso escapar. – Os cookies estão prontos...
  - COOKIES! – Louis e eu gritamos ao mesmo tempo. Ok, agora eu via o que nana queria dizer.

  

+++

   Paris é conhecida como a cidade mais romântica do mundo e a culpa disso eram as ruas de pedra, cafés rústicos, parques belíssimos e, claro, o rio Sena. Gostaria de ter considerado tudo isso ao resolver caminhar pelas margens do rio na companhia do casal do ano. Assim que chegamos à passarela de pedra coberta aqui e ali por folhas de outono, Harry e Louis deram as mãos e fingiram estar em um mundo completamente diferente do de Liam e eu. Ficaram vários passos atrás de nós dois, o que me agradou muito, pois não precisava de nenhum casalzinho perfeito passando isso na minha cara. Tirando a inveja boa que tinha dos meus dois amores, a tarde era perfeita para aquele nosso passeio.
   O clima continuava bem frio, mas nada do que nossos agasalhos não nos protegessem. O rio corria calmo ao nosso lado, vez ou outra jogando gotículas de água aos pés de quem passava. Passarinhos passavam voando e cantando suas belas melodias, jovens andavam de bicicleta na rua acima de nós e turistas passeavam de barco. De sobra, as leis de privacidade no país eram das mais severas, ou seja, paparazzis não podiam nos perseguir. Seria o melhor lugar para Zayn e eu sermos nós mesmos... Se, é claro, não estivéssemos em crise, ou seja lá como quiserem chamar.
  - Sabia que até os anos setenta só existiam duas espécies de peixe nesse rio? – Comentei com Liam, sabendo que ele era a única pessoa na face da Terra que não se entediaria com aqueles fatos. – Até que fizeram uma despoluição completa e hoje em dia há vinte e três espécies.
  - Uau. Existem tubarões aí? – Perguntou sério, olhando para a água. – Tubarões de rio, quero dizer.
  - Não... Só peixes pequenos e médios. – Ri, querendo saber se ele realmente achava que existiam tubarões em Paris. – Se quiser ver tubarões, terá que ir ao LA’Aquarium.
  - Entendi... É que a Turquia fica aqui do lado e lá existem tubarões, então imaginei... – Liam falou aquilo tão naturalmente que precisei parar de andar. – O que foi?
  - A Turquia não fica aqui do lado... – Pressionei um lábio ao outro na tentativa de não rir, mas foi mais forte que eu. – Como é que você conseguiu passar em geografia?
  - Eu consegui um B, mas não sei onde nada fica! – Levou as mãos à cabeça. Podia tanto estar envergonhado pelo erro ou admitindo o erro.
  - Você podia ter falado Itália e não estaria tão errado. – Continuei rindo, apoiando as mãos na barriga. – Oh, Baba... Preciso lhe dar algumas aulas.
  - LIAAAAAAAAAAAM. – Louis gritou, chamando o amigo. – VEM AQUI!
  - Acho que algumas fãs encontraram vocês. – O grupinho de meninas que rodeava Lou e Haz tornava isso bem claro. – Vá lá. Eu espero aqui.
  - Tem certeza?
  - É claro! Elas querem ver vocês, não eu. – Insisti.
   Olhando para os dois amigos e depois para mim novamente, Liam se foi. Provavelmente pensando em onde no mapa a Turquia ficava. Ri sozinha com esse pensamento e olhei em volta. Estava tranqüila demais pra quem brigou com o namorado recentemente, especialmente levando em consideração a semana chorosa que tive. Mais uma vez culpo Paris e seus ares de outono. Como três quintos do One Direction ainda ia demorar sua interação com as fãs francesas, me aproximei das margens do rio, escolhendo uma parte mais seca para poder me sentar. Quis que estivesse ali para me fazer companhia, mas imaginei o quanto devia estar se divertindo com , sua babá pelo final de semana.
  “É isso aí, estou entediada.” Rolei os olhos para mim mesma. Deixara a bolsa em casa, mas o celular estava no bolso para o caso de emergências e aquela era uma emergência. O peguei e levei um susto ao perceber que a imagem de fundo da tela principal havia sido mudada. No seu lugar, uma foto de Louis e Harry, que deviam ter feito essa “surpresinha” quando estávamos no trem e eu acabei adormecendo com o rosto colado na janela. Apesar de tudo, era bem fofa e me deu uma idéia. A Modest! queria briga, não é? Agora eu já sabia como brigar. Entrei no Twitter e postei a foto dos dois com a seguinte legenda:

  
“Paris é uma cidade romântica e acho que esses dois concordam. (x)”

  Pronto! Minha legenda não estava obrigando os dois a tornar seu relacionamento público, apenas implicava que também achavam que Paris era uma cidade romântica, ué. Mas com um fandom inteligente como o deles, Directioners entenderiam o recado. Eu estava tão orgulhosa de mim mesma por ter entendido o que Marco dissera que nem percebi a pessoa se aproximando até que ela estivesse parada ao meu lado.
  - Excusez-moi, cette place est-elle prise? – Um garoto que aparentava ser alguns anos mais velho que eu perguntou se podia sentar ao meu lado. Sua pergunta foi tão formal e educada que me senti constrangida em negar. Afirmei que sim com a cabeça e ele o fez, sorrindo. – Você é a , certo? Minha irmã não gosta de você.
  - Oh... – O olhei meio sem entender seu propósito. Sentou ao meu lado porque a irmã dele não gostava de mim? Ia me empurrar no rio?
  - Não quis falar isso como algo ruim... Você é a namorada do preferido dela. Ou era... Não importa. – Tentou se corrigir após a minha primeira reação e tentei sorrir. – Porque não começamos de novo? Oi, meu nome é Adrien.
  - É um prazer, Adrien. – Apertei sua mão estendida. – Me chamo .
  - O prazer é meu. – Sorriu mais uma vez, amigavelmente. – O que faz sozinha na beira do Sena?
  - Acho essa paisagem inspiradora, não concorda? – Olhei pra frente, onde um barquinho acabava de passar. – Além do mais, estou esperando meus amigos terminarem de falar com meninas que não gostam de mim.
  - Touché. – Riu, mas minha intenção não era ser mal educada. – Você não se cansa?
  - De não gostarem de mim? Nah, acho que já me acostumei. Tive a vida toda de treinamento... Quero dizer, não sou muito gostável.
  - Teremos que concordar em discordar. – Olhava na mesma direção que eu, perdido no horizonte. – Mas não é disso que estou falando. Não cansa de quer que ficar aqui esperando? De serem reconhecidos a onde quer que vão?
  - Uau... Pra alguém que acabou de me conhecer, você faz perguntas bem difíceis. – O encarei, sem ter certeza do que responder. – Acho que não fico cansada. Eles estão vivendo o sonho de uma vida e realmente amam todas as fãs que tem. Só estou feliz em poder ser parte disso.
  - Cute. – Não parava de sorrir e me perguntei se suas bochechas não começavam a doer.
  - , precisamos ir. – Liam me chamou, se aproximando rápido.
  - Aonde?! – Franzi o cenho, não entendendo sua pressa.
  - Você sabe aonde. – Parou atrás de mim, mas eu não sabia aonde iríamos. Antes que eu percebesse, estava segurando os meus braços.
  - Já estooooou, okay, entendi... – Fui colocada de pé a força e Adrien levantou por vontade própria. – Tenho que ir, Adrien.
  - Entendo. – Colocou os braços para trás, comportado. – Antes de ir... Eu poderia ter o seu número?
  - Não vai rolar, pal. – Liam respondeu no meu lugar, ainda segurando os meus braços.
  - Liam! – O reprovei. Tinha boca e podia eu mesma me livrar de pervertidos. – Desculpa, mas acho que não seria apropriado lhe dar o meu número. Pode me procurar no Twitter, tenho certeza que a sua irmã sabe como me achar.
  - Já é um começo. – O menino agradeceu sem nem olhar para Liam, que continuava parado como meu próprio guarda-costas. – Até mais.
  - O que foi isso? – Li não se importou em ser discreto.
  - O que foi isso pergunto eu. – Cruzei os braços após me soltar.
  - Você ainda tem um namorado. – Começou a me dar uma lição de moral. – E ele é meu melhor amigo.
  - Bem, esse seu melhor amigo levou outra garota pra casa, então acho que eu conversar com outra pessoa que acabei de conhecer não é a pior das coisas que eu poderia estar fazendo. – Fui obrigada a cochichar, pois Harry e Louis nos esperavam ali perto.
  - Vocês vêm ou não? – Haz chamou. – Queremos sorvete.
  - Não está meio frio pra tomar sorvete? – Deixei Liam para trás, indo até os outros dois.
  - Você só está com preguiça porque sabe que a sorveteria que eu gosto fica longe. – Louis me conhecia bem demais.
  - Eu te dou uma carona. – Harry, por outro lado, me conhecia melhor. – Pode subir.
  - Até que um sorvete cairia bem! – Assim que Harry flexionou os joelhos e virou, peguei impulso e subi em suas costas. Ele passou os braços por baixo dos meus joelhos e o abracei pelo pescoço.
  - Interesseira. – Louis me reprovou.
  - Só está com ciúmes porque sou eu quem está montando o seu namorado! – Teria mostrado a língua como uma criancinha, mas entendi minha própria piada. – Ew. Ew. Imagem mental, eeew!

+++

  Cookies, sorvetes, jantar da nana e torta de maçã com canela. Aquele final de semana começou bom! Tirando o fato de ter um desfile de alta costura na próxima segunda feira, pretendia matar a saudade de todas essas comidinhas que não encontrava em Londres. Após a última refeição da noite, Harry e Louis foram para o quarto deles e prefiro não pensar no que fariam antes de dormir. Os dois juntos eram a coisa mais fofa do mundo, mas o que faziam entre quatro paredes deixariam qualquer irmã mais nova traumatizada. Jay e seu marido voltaram com as compras, mas foram embora antes de voltarmos de nossa voltinha no Sena, mas fomos informados que no dia seguinte pela manhã iríamos conhecer a casa onde os dois estavam morando e as gêmeas também estariam lá.
   Tomei banho no banheiro do corredor e vesti pijamas confortáveis, pois não pretendia sair de casa naquela noite; apenas um short de algodão cinza e uma camiseta cor de rosa do mesmo material. Como não estava com sono ainda, deitei na cama, mas fiquei escutando música distraída. Liam não demorou para entrar no quarto, com a bermuda que usaria pra dormir e uma toalha nas mãos, secando o cabelo recém lavado. Estava sem camisa, mas nenhum de nós se importou.
  - Sua avó tem um bom chuveiro aqui. – O menino comentou, encarando o seu colchão no chão, ao lado da minha cama.
  - É ótimo no inverno. – Concordei, mais interessada no jogo Temple Run em meu celular do que na conversa. – Bem quente.
  - Bom, isso é bom...
  - Aham. – A verdade é que ainda estava incomodada pela forma que ele me tratou mais cedo, como se eu fosse uma menininha indefesa.
  - , escuta...
  - Não posso, estou ocupada. – Não tirei os olhos da telinha.
  - Você não vai conseguir bater o meu recorde aí. – Sentou na ponta da cama, balançando meu joelho.
  - Então foi você?! Achei que tivesse sido o Louis. – Bufei, sendo comida pelo macaco que acabara de me alcançar. – Okay, pode falar. Esse jogo é inútil mesmo.
  - Eu queria pedir desculpas por hoje a tarde. – O olhei finalmente. – Não foi justo eu ter entrado em um assunto que não era meu.
  - Você estava preocupado com o seu amigo, acho que é normal. – Desci da cama, indo até o guarda roupa. – Hoje vai fazer frio, vou pegar mais um cobertor pra você...
  - A verdade é que eu fiquei mais irritado com aquele cara do que preocupado com Zayn. – Estendeu a toalha molhada na cadeira da escrivaninha vazia. – Você merece coisa melhor.
  - Eu não ia ficar com aquele cara, Li, pode ficar calmo. – Abri a porta do guarda-roupa, tentando lembrar onde estavam guardados.
  - Não estou só falando dele. Estou falando de Zayn também. Ele foi um idiota por ter te traído, .
  - Sei disso, Liam. – Engoli em seco. Queria ouvir qualquer coisa menos aquela palavra. Achei o cobertor e o tirei da gaveta.
  - E você merece alguém melhor. Alguém que nunca vá te magoar.
  - Por que você está falando essas coisas?! – O encarei, começando me irritar.
  - Eu te mostro porque estou falando essas coisas.
   O menino fechou a porta do guarda-roupa por mim e agarrou meus ombros, me jogando contra ela. A dor que senti pela pancada me agradou tanto quando seu aperto. A última coisa que vi antes de fechar os olhos foi o rosto de Liam se aproximando com velocidade até que seus lábios estivessem colados com força contra os meus. O cobertor escapou entre as minhas mãos sem reação e chegou aos meus pés descalços. O homem deslizou as mãos dos ombros para a lateral do quadril, me prendendo completamente entre ele e a madeira fria. Entreabri os lábios antes do que imaginei que faria, agradando o outro, que aprofundou o beijo com a mesma velocidade que o iniciou.
   Eu queria aquilo tanto quanto ele, sentia isso na vontade de não me afastar nunca. Com vontade própria, minhas mãos arranharam seu torço descoberto e terminaram na nuca do mesmo. Foi aí que tentei roubar o controle do beijo, inclinando o pescoço para o lado contrário e brincando com a língua na dele. Puxei seus cabelos, recebendo um aperto forte na cintura, onde Liam tocava por baixo da minha blusa fina. Tive o lábio mordido da mesma forma e abri os olhos para encontrar os dele cheios de um fogo desconhecido. Aquela conexão durou poucos segundos, pois foi o que ele levou pra arrastar os lábios para meu pescoço, onde marcou com uma mordida.
  - Shit... – Ofeguei. Quando abri os olhos novamente, encontrei o escuro.
   Demorei longos segundos para me situar. Passei as mãos pelos cabelos, confusa, e olhei em volta. Liam estava deitado no colchão, dormindo como um anjo, e eu estava na minha própria cama. “Tenho que parar de ter sonhos assim!” Desconcertada e com vergonha do meu próprio inconsciente, escondi o rosto no travesseiro. A gente não controla esse tipo de coisa, certo? “Isso não queria dizer que eu me sinta atraída por Liam, de forma alguma! Já fui atraída por Liam e saberia se esse fosse o caso.” Sim, claro que sim! Nem as roupas que eu usei no sonho eram reais, pois na realidade eu vestia uma calça de moletom e... O sweater. O sweater que Zayn esquecera ali. A mesma peça que me aquecia, tão encharcada pelo seu cheiro.
   Agora eu recordava tudo. Liam e eu tivemos sim uma conversa antes de dormir, mas ela terminou de forma totalmente diferente. No lugar de falar que eu merecia coisa melhor, afirmou que ligara pra Zayn enquanto eu estava no banho, para ter noticias, e o escutou chorar. Segundo Li, ele estava com medo de como esse “tempo” entre nós iria terminar, pois acreditava que eu perceberia o que todos já tinham percebido: Justamente que eu merecia algo melhor. Mas não queria “algo melhor”. Todos também já perceberam que eu era completamente apaixonada por Zayn, ao ponto de esquecer todas as mágoas que ele pudesse me infringir, pelo simples preço de poder ver o seu sorriso todos os dias.
   Ótimo, não conseguiria dormir nem tão cedo! Sentei na cama, decidida a não ficar mais por ali. Acabaria me mexendo naquela cama não tão silenciosa e acordaria Liam; que não tinha nada a ver com meus problemas. O mais devagar possível, fui até a porta na ponta dos pés. Nana com certeza estava dormindo, mas isso não me impediria de voltar no tempo entrar em sua cama, em busca de um colo amigo. Naquela época ainda teria papá pra me fazer carinhos na cabeça e essa memória só me deixou com mais saudade.
   Abri a porta do quarto, também cuidadosamente, e me surpreendi ao encontrar duas pessoas ali. Pelo perfume que senti, delirei por um momento e imaginei Charles deitado ao lado da esposa. Infelizmente, era só Louis. Percebendo a minha entrada, Lou levantou a cabeça sem falar coisa alguma e deu espaço para que eu entrasse embaixo das cobertas com ele. Com um sorriso fraco, encontrei meu caminho ainda no escuro, deitando entre nana e ele. Não perguntei porque Louis estava ali, tampouco era necessário. Saudade, insônia, os motivos eram inúmeros. Mais surpresa ainda fiquei quando ele começou a acariciar meus cabelos, da forma que papá fazia.

Chapter XLVIII

- Meus queridos, é hora de acordar... – A voz suave de nana e o pouco de luz que começou a entrar no quarto me fez despertar. – O café está na mesa, seus amigos estão esperando vocês...
  - Que horas são? – Bocejei com preguiça, abrindo um olho só.
  - Nove horas, . Dan vai nos buscar daqui a pouco. – Nana avisou, limpando seus óculos de grau.
  - Não consigo mexer meu braço. – Lou resmungou, mais dormindo do que acordado.
  - Acho que a culpa é minha...
   Levantei o tronco até estar sentada na cama. Acabei dormindo em cima do meu irmão, por isso seu braço devia estar bem dormente naquele momento. Bocejei e passei a mão pelos cabelos, tentando dar um jeito na juba que ele devia estar. Abri os dois olhos devagar, encontrando o sorriso de Jolene. A senhora estava ao meu lado e se inclinou para beijar a minha bochecha. Em seguida, saiu do quarto tranquilamente; apesar de seus avisos para descermos logo para comer. Com ela por perto seria muito difícil alguém deixar de comer ou comer mal, pois isso era algo em que realmente prestava atenção.
   Lutando contra a vontade de voltar a dormir por mais alguns minutinhos, joguei uma perna após a outra para fora da cama. Estiquei os braços e subi na ponta dos pés, me espreguiçando propriamente para começar o dia com o pé direito. Louis parecia um cadáver na cama e só o seu peito subia e descia conforme sua respiração. A cama de nana era sim muito gostosa, mas tínhamos que ir! Nossa mãe devia estar ansiosa para nos mostrar a nova casa, já que na última vez em que estivemos na cidade, ela ainda estava sendo construída.
  - Se eu não tomar café da manhã, posso dormir por mais meia hora? – O dorminhoco perguntou.
  - Como se nana fosse deixar você sair sem comer nada. – O olhei, parada na porta. – Anda logo, Lou. Não me faça te acordar com um balde de água fria.
  - Pentelha.
   Rolei os olhos para aquele “elogio” e entrei na primeira porta do corredor. Até que a minha cara não estava tão amassada quanto o esperado. Minhas coisas estavam naquele banheiro, então fiz a higiene matinal sem precisar ir para o quarto, o que agradou a minha preguiça mais do que pensei. Juntei os fios claros em um lado só, arrumando uma trança rápida e desfiada, mas chamaria aquilo de estilo pelo bem do visual. Não passara nem cinco minutos ali dentro e já escutava batidos na porta, pelo desespero já sabia quem era.
  - , eu preciso usar o banheiro! – Agora ele estava com pressa? – Anda logo!
  - Nana tem um banheiro no quarto dela, sabia? – Abri a porta e fui praticamente jogada para fora do cômodo. – Lerdo.
  - Eu também te amo! – Disse já com a porta fechada.
   Nosso relacionamento de amor e ódio cresceu nos últimos vinte anos, se tornando o que tínhamos agora. Um não viveria sem o outro e ao mesmo tempo poderiam se matar por causa de um banheiro. Sem intenção alguma de esperá-lo, ouvi a madeira ranger quando desci para o primeiro andar. Os outros dois meninos estavam sentados à mesa da cozinha, já se servindo do café da manhã que cheirava tão bem. A variedade de coisas era tremenda, como em todo bom brunch francês. Tortinhas, torradas, baguetes, croissants, geléia, tinha de tudo! E nem Harry ou Liam se acanharam para começar a comer sem esperar por mim.
  - Bom dia, Payno. Bom dia, Hazza. – Beijei cada um na bochecha e sentei no banco desocupado entre os dois.
  - Dia, . – Harry sorriu com comida na boca. Liam apenas balançou a cabeça, bem mais educado que o primeiro.
  - Aqui, querida. – Nana serviu um copo de café com leite e o colocou na minha frente.
  - Obrigada! – Peguei um croissant de queijo e presunto e dei uma mordida generosa, quase gemendo por estar tão bom. – Hmmmmm.
  - Cadê o Lou? – Harry, dessa vez com a boca vazia, perguntou.
  - No banheiro. Já deve estar vindo. – Respondi, deixando de lado detalhes sobre sua lerdeza e falta de educação com a irmã. – Uh, nana... Porque Dan tem que vir nos buscar? Porque não vamos com o carro de papá?
  - Sua mãe não falou? Nós vendemos o carro... – Jolene falou quase cuidadosamente. – Não fazia sentido deixá-lo parado na garagem. Eu mesma não dirijo... Ele acabaria estragando por falta de uso.
  - Oh...
   Não vou dizer que aquela noticia não me pegou de surpresa, porque estaria mentindo. Racionalmente falando, fazia todo sentido que ela tivesse vendido o automóvel que nem era tão novo assim. Porém, querendo ou não, era algo que pertencera ao meu avô, portanto tinha o seu valor emocional. Todas as horas que Charles passou concertando-o quanto tinha algum defeito e todo o cuidado de mantê-lo sempre impecável... Bem, acho que agora já era tarde demais pra dizer qualquer coisa, não? “Era só um carro.” E ao mesmo tempo, nunca seria só um carro.
   Continuei a refeição em silêncio, dividida em mordidas e goles daquela comida e bebida com sabor de casa. Louis não demorou para se juntar a nós e ocupou o banco ao lado do namorado, na ponta da mesa. Ambos trocaram alguns beijos de bom dia e Liam fingiu vomitar, o que me fez rir tanto que quase cuspi o café com leite. Minha avó, que crescera com outros valores e em outro tempo, demonstrou completa aceitação, sorrindo para os dois e pedindo para Liam “deixar o amor ser livre”. Ela só não sabia que nós dois tínhamos que agüentar aquilo vinte e quatro horas por dia.
  - , porque Zayn não veio com vocês dessa vez? – Nana perguntou inocentemente. O nó em minha garganta tornou difícil engolir o que estava mastigando.
  - Ele tinha coisas pra fazer em Londres. – Liam respondeu em meu lugar, soando mais natural do que eu conseguiria. – Mas mandou lembranças para a senhora.
  - É uma pena. – Jolene se serviu de mais café, pronta para deixar aquele assunto de lado.
  - Tem algo acontecendo entre os dois? – Louis, por outro lado... – Vocês estão estranhos ultimamente.
  - Não sei do que você está falando. – Balancei os ombros na tentativa de parecer desinteressada.
  - É verdade... – Haz concordou. – Você até passou a semana inteira dormindo em casa. O que é bem estranho, já que costumava passar mais tempo no apartamento dele do que com a gente.
  - Eu tenho um cachorro, sabe? É estranho que eu queira passar um tempo com ele? Ou com vocês? – Depositei o resto do croissant no prato, desistindo de comer.
  - Não, mas isso nunca te impediu antes. Achávamos que até que ia se mudar de vez... – Meu irmão não conseguia ver o quanto aquela conversa começava a me incomodar.
  - Bem, eu não vou. – Olhei para meus próprios dedos, onde o anel continuava a brilhar.
  - Ele não mora mais com a adorável Patricia? – Nana perguntou. – Ela deve sentir tanta falta dele! Zayn é um menino muito bom.
  - Com licença. – Forcei um sorriso e levantei da mesa sem olhar pra ninguém.
  - Aonde vai, querida? – Se preocupou.
  - Trocar de roupa. Dan deve estar chegando e sou a única que ainda está de pijamas.
   Minha desculpa pareceu ser o bastante e ninguém me impediu de sair da cozinha. “Muito bem, , ótimo jeito de lidar com a situação.” Depois dessa fuga e más explicações, tinha certeza absoluta que Louis e Harry ficariam com a pulga atrás da orelha e passariam a questionar Zayn, esperando conseguir mais do que comigo. Eu não podia ficar na mesa, escutando o quanto ele fazia falta e como deveria estar ali conosco. Como deveria estar comigo.
   Não era uma total mentira, porque eu realmente precisava trocar de roupa. Meu lado inglês não permitia atrasos e até Louis já vestira uma roupa antes de descer para o café. Subi as escadas e me tranquei em meu quarto; figurativamente, pois aquela porta não tinha chave. Ou tinha, mas não a víamos há muito tempo. A mala da Betty Boop que trouxera de NY estava deitada no chão do quarto arrumado e a falta do colchão de Liam no meio do espaço me permitiu ir até ela para procurar algo pra vestir. Tentei a sorte e tirei de lá duas peças quaisquer, que terminaram sendo duas blusas.
   Me desfiz do sweater de Zayn, confortável demais, e também da calça do pijama. Escolhi um sutiã dor de rosa e o vesti, ainda considerando qual das duas blusas iria usar. O som da maçaneta sendo girada me assustou e congelei, sem saber o que fazer além de me cobrir com a primeira peça de roupa que alcancei.
  - ? Ops, desculpa. – Era Harry, mas voltou atrás assim que percebeu a minha falta de vestimentas.
  - Que susto, Harry! Achei que era Liam. – Respirei mais tranqüila, tocando a testa com as costas da mão. – Pode entrar.
  - Então só porque namoro o seu irmão posso te ver trocando de roupa? – Soou quase ofendido, mas assim o fez. – Eu também gosto de garotas, sabia?
  - Sei que também gosta de garotas. – Ri daquela birra que o mais novo fazia. – Mas eu não sou uma “garota”. Sou quase sua irmã. Seria estranho... Anyway, qual das duas?
  - Nenhuma das duas. – Negou com a cabeça, fazendo cara de nojo. – São horríveis!
  - Um simples “não” bastaria. – Joguei as blusas em cima dele de propósito, assim que sentou na cama. – Mas o que eu esperava? Pedi a opinião de um garoto que usa todas as roupas que tem ao mesmo tempo e um lenço na cabeça.
  - Heeeeeeeey! – Colocou ambas as mãos na cabeça, preocupado com o sentimento do seu apetrecho. – Se quer ajuda... Gosto daquele vestido ali.
  - Isso também é uma blusa, mas acho que posso fazer funcionar. – Dei o braço a torcer, pegando o “vestido” que ele apontara. – Agradecida.
  - Disponha. – Sorriu de canto, olhando para algo em meu corpo. – Sua tatuagem está se comportando bem. Não envelheceu nada.
  - Eu sei! Isso é ótimo. – Olhei as asas em minha costela e em seguida entrei no vestido recém descoberto. – Mas não foi pra falar sobre a minha tattoo que você veio aqui, certo?
  - Certo. Porque eu vim aqui? – Parou pensativo, encarando o nada. É, ele era o namorado perfeito para o meu irmão. Um casal de lerdos. – AH! Gemma!
  - Onde? – Me odiei por ter olhando em volta e nós dois rimos. Ok, eu não podia falar dos dois. – Quero dizer... O que tem a Gems?
  - Nos falamos ontem a noite e ela contou que tem um encontro hoje a noite. – Tentou não soar enciumado, mas o peixe estava vendido. – E sei que as duas são amigas, então queria saber se você conhece o sujeito.
  - Isso depende. – Escondi um sorriso, sentando no chão para vestir meias que subiam até o joelho. – Ela disse o nome?
  - Ashton, ou algo assim.
  - Não acredito que eles vão sair juntos! – Aquela era a melhor noticia que recebera a manhã inteira. Levantei após também ter calçado sapatos. – Eu o conheço sim. Fui eu quem os apresentou!
  - Você o que?! – Levantou da cama. Teria me assustado com sua altura se a aparência não fosse tão inofensiva.
  - Qual o problema? Ash é meu amigo... E Gemma merece um pouco de ação. – Para terminar de me arrumar, vesti a jaqueta jeans que encontrei na ponta da cama.
  - Mas eu não o conheço! Tenho que proteger a minha irmãzinha. – Cruzou os braços. O som de uma buzina de carro mostrou que não tínhamos mais tempo a perder.
  - Ela é mais velha que você, Harry. – Rolei os olhos, abrindo a porta do quarto. – Se isso te faz se sentir melhor, posso apresentá-lo a você quando voltarmos pra casa.
  - Pra falar a verdade, me sinto melhor sim. – Me seguiu para fora do quarto. – E eu pretendia usar essa jaqueta!
  - Fica melhor em mim!

+++

  Paris é dividida em vinte “arrondisements”, ou vizinhanças. Começando no centro e desenvolvendo-se como um caracol. Enquanto a casa de nana ficava no número treze, à esquerda do rio que corta a cidade, o lar de Dan e Jay ficava no dezessete, à direita e quase na saída da cidade. Ambas as áreas eram bem calmas e distantes do centro cultural e turístico, mas a diferença é que o novo lar de minha mãe e seu marido ficava em uma parte relativamente mais cara. Fui a primeira a descer do carro azul marinho do meu padrasto, para então os outros três poderem fazer o mesmo. Nana estava na frente, ao lado de Dan, o que fez o resto de nós ficar espremido no banco de trás. O colo de Harry estava confortável, mas gostei de esticar as pernas e poder levantar a cabeça sem bater em nada.
  - Essa é a casa? – Liam estava impressionado. – É linda.
  - Jay escolheu o projeto. – Dan ajudou a sogra a descer e trancou o carro. – Eu só assinei os cheques.
  - Que parecem ter sido muitos, aliás. – Lou sorriu, sendo o primeiro a ir até a porta.
  - Espero ter um quarto pra mim aí dentro. – Brinquei, esperando o dono da casa.
  - Não achou que te esqueceríamos, não é? – O homem passou o braço em volta dos meus ombros. – Podem entrar, a porta está aberta.
  - Ô de caaaaaasa.
   Louis fez as honras, abrindo a porta e se perdendo no interior da casa. Harry, nana e Liam o seguiram. Dan e eu fomos os últimos, mas não me importei, pois estudei cada detalhe daquele jardim, paredes e até mesmo a cerca que protegia a área de lazer na lateral. O interior da casa, porém, conseguia ser mais bonito e bem cuidado ainda. Talvez por ser uma casa nova, tudo estava em seu devido lugar. O chão de madeira encerado brilhava e dava até pena de pisar ali dentro com sapatos. A sala de convivência, onde entramos, era gigantesca. Uma lareira embutida na parede estava ligada, servindo de aquecedor para o cômodo inteiro. Um sofá branco e felpudo estava perto da parede, sobre um tapete da mesma cor. Nas paredes, diversos quadros que possuíam a assinatura da minha mãe; muitos deles que lembrava tê-la visto pintando.
   Jay saiu de onde deveria ser a cozinha, novamente acariciando a barriga gigantesca. Ela sorria como nunca a vira sorrir antes, leve, tranqüila e extremamente feliz por estar cercada de todas as pessoas que amava. Harry, o menino mais educado do mundo, foi atendê-la, perguntando se queria sentar ou se precisava de algo. Ela, por outro lado, recusou-se a ser tratada diferente e apenas o abraçou. Em seguida, abraçou a mãe e fui a última. Ainda sem acreditar que haviam dois bebês em sua barriga, coloquei a mão por cima, sorrindo ao sentir um pequeno movimento ali dentro.
  - Você sentiu isso? – Arregalei os olhos, assustada.
  - Dan, os bebês estão chutando! – Minha mãe parecia tão em choque quanto eu. – É a primeira vez que isso acontece!
  - Eles gostaram de você, . – Dan parou ao meu lado, também tocando a barriga onde os dois filhos se mexiam quase imperceptivelmente.
  - Nem nasceram ainda e já sou a irmã preferida! – Fiz questão de olhar pra Louis ao falar aquilo. Claro que ele rolou os olhos, discordando.
  - Ou eles não gostaram de você! Podem ter chutado pra te mandar embora. – Cruzou os braços.
  - Tenho certeza que eles vão gostar de vocês dois. – Nana interrompeu nossa discussão, substituindo minha mão na barriga de Jay com a dela.
  - Podemos ir ver o quarto deles? – Sempre gostei de quartos de crianças e bebês e Harry dividia aquele sentimento.
  - Ótima idéia, . – Haz parou atrás de mim, com as mãos em meus ombros.
  - Vamos lá. – Jay concordou.
  - Eu também quero ir! – Liam aqueceu uma mão na outra. De todos nós, ele era quem mais sofria com o frio.
   Não foi difícil encontrar as escadas no fundo da sala, coberta por uma espécie de tapete vermelho que seguia as formas dos degraus perfeitamente. Como o teto era bem alto, a escada era longa. Jay foi a última a subir, sabendo que demoraria mais por culpa de seu novo peso. Dan a ajudou e nana preferiu ficar no andar de baixo, descansando no sofá. Ninguém a culpava, pois ele parecia muito confortável. O corredor era longo e ao invés de quadros nas paredes, encontramos fotografias. Phoebe e Daisy moravam metade do tempo com a mãe e a outra metade naquela casa, mas a maioria das fotografias penduradas eram de Louis e eu. Desde quando éramos pequenos até fotos mais recentes. Em um porta retratos duplo, de um lado estava Louis em um dos photoshoots que fizera para alguma revista e do outro uma foto de eu mesma, também tirada do único photoshoot que fizera para a glamour. Jay falava sempre que era orgulhosa de nós dois, mas aquilo comprovava mais que qualquer palavra.
  - Aqui é o quarto dos bebês. – Dan abriu a porta larga, deixando todos entrarem.
  - Posso morar aqui? – Ri. O quarto era simplesmente lindo. Não era totalmente azul e nem totalmente rosa, fugindo dos padrões sociais sem optar pelo amarelo. Ao invés disso, marrom claro, um tom acima do bege. – Já sabem o sexo?
  - Não queremos saber. Para nós só importa que tenham saúde, no resto pensaremos depois. – Jay sentou na poltrona no canto do quarto, próxima a janela. – Temos roupinhas de cama de todas as cores, então podemos trocar após o nascimento.
  - E se for um menino que goste de rosa, será rosa. Ou o contrário. – Dan mostrou seu apoio às diferenças de forma natural e sem encarar Harry ou Louis, portando o aplaudo por isso.
  - E Deus sabe como tive sorte tanto com um menino quanto como uma menina, então tanto faz. – A mãe orgulhosa dos filhos mais velho sorriu para nós dois. – A única coisa que espero, é que eles sejam unidos ao menos a metade do que vocês são.
  - Awn, mummy. – Sorri, sentando no braço da poltrona para poder abraçá-la.
  - É verdade, . Dan e eu estávamos conversando sobre isso um dia desses... Você e Louis sempre foram amigos de verdade. – Esticou a mão para Lou, convidando-o a também se aproximar. – Sei que não tiveram uma infância tranqüila, mas isso foi justamente o que fez vocês crescerem unidos. Um cuidando do outro. Assim nunca estavam sozinhos.
  - Mamma, pare com isso. – Lou sentou no outro braço. Nossa mãe, chorosa, no meio de nós dois. v   - Eu quero ser uma boa mãe para esses dois bebês, porque sei que fiquei em falta com vocês dois. Mas não é o suficiente, porque nunca vou poder compensar pelas vezes que não assisti suas partidas de futebol ou apresentações de ballet... Esses são momentos que nunca poderei ter de volta. – Jay limpou uma lágrima que escorreu pela bochecha e ninguém no quarto sabia o que falar. – O que me deixa tranqüila é que vocês sempre tiveram um ao outro. Só espero que saibam que eu os amo muito, vocês dois. E sempre serão meus primeiros bebês.
  - A gente sabe. – Minha mãe tinha a desculpa de estar sob um nível alto de hormônios, mas qual eu tinha para ter começado a lacrimejar?
  - Você está presente agora, mãe. É o que importa. – Louis também se controlava para não explodir em prantos.
  - Parem com isso, vocês três! – Harry tinha os olhos vermelhos, participando daquele momento de reunião familiar.
  - Não seja bobo, Hazza. – Lou levantou e foi até o namorado, se escondendo nos braços do mais alto. Pra falar a verdade, precisava daquilo tanto quanto o outro.
  - O que está acontecendo hoje? – Ri com a voz embargada, secando os olhos. – Alguém muda de assunto, por favor?
  - Jay, desculpa a pergunta... Mas com quantos meses você está? – Liam foi o salvador da pátria. – Porque sua barriga está grande demais... E não estava assim dois meses atrás, no casamento.
  - Estou com dezessete semanas. Pra falar a verdade, já estava grávida durante o casamento.
  - Não contamos a ninguém porque dá azar falar antes do terceiro mês. – Daniel não me parecia do tipo supersticioso, mas era compreensível.
  - Daddy, estamos em casa! – Uma voz de criança gritou do corredor.
  - Venham ver quem está aqui... – Dan chamou as filhas, que logo apareceram no quarto.
  - Oi, meninas! – Acenei para as duas, sem conseguir decifrar quem era Phoebe e quem era Daisy. As duas eram idênticas!
  - Dan tem muita sorte com gêmeos. – Liam admitiu o que todos estávamos pensando. – High Five!
  - Oi, Liam! – Uma das loiras foi abraçar o menino. Aquela era Phoebe, pois eu lembrava que Li era seu preferido.
  - Zayn não está aqui? – E o preferido de Daisy era o meu namorado.
  - Eu estou aqui! – Harry se ajoelhou e abriu os braços, esperando que a menina lhe desse atenção.
  - Sei que não estou em nenhuma banda ou coisa do tipo, mas também mereço um pouco de amor! – Levantei de braços cruzados. Ambas podiam ser fãs do One Direction, mas eu não era tão entediante assim. – Sou meio irmã de vocês.
  - Você merece muito amor. – Phoebe, a mais carinhosa, deixou Liam de lado e também me abraçou.
  - E essa janela na sua boca? A fada dos dentes passou por aqui? – Com meu comentário, Phoebe sorriu para mostrar o dente que arrancara.
  - Eu também tenho, olha! – Daisy, para competir com a irmã, abriu a boca.
  - Mas essa fada fez um bom negócio vindo aqui! – Acariciei os cabelos das duas.
  - Papai, podemos ir mostrar eles à Nicole? Por favoooooor. – Phoebe juntou as mãos, implorando a ele. – Ela nem vai acreditar!
  - Se não tiver problema pra eles... – Dan olhou para os meninos, que nunca negariam.   - Vamos lá. – Harry fez movimentos exagerados com o braço.
   Cada menina segurou a mão de um dos meninos e o que sobrou foi no meio de tudo. Devia ser legal... Você ser fã de uma banda e de repente seu pai se casar com a mãe de um dos membros. É, as duas eram bem sortudas! Dan também saiu do quarto, mas foi na direção contrária a que as meninas partiram. Jay segurou a minha mão com carinho, e a ajudei a se levantar. Nana ainda estava no andar de baixo, então foi para lá que andamos.
   A senhora estava bem sentada no sofá, descansando os olhos, quase adormecendo. Era impossível não sorrir todas as vezes que a pegávamos naquele estado. Nana era uma mulher adorável que se preocupava com todos a sua volta, até mais do que com ela mesma. Se alguma pessoa não tinha inimigos no mundo esse alguém era Jolene. Simplesmente por ser impossível não gostar dela. Sentei com cuidado ao seu lado, mas foi o suficiente para que nana abrisse os olhos. Ao notar que era só eu, tocou meu joelho com carinho e sorriu docemente. Deitei o rosto em seu ombro e ganhei um beijo na testa.
  - Ansiosa para o desfile segunda, filha? – Jay sentou a minha esquerda. – Já separamos nossos melhores vestidos.
  - Estou sim! Mas estou mais animada do que nervosa. Graças ao desfile da Mulberry, já tenho um pouco de experiência, eu acho. – Sorri. Agora que nana e minha mãe estariam na platéia, me sentiria honrada e ao mesmo tempo emocionada. Nada poderia dar errado!
  - Vimos as fotos de quinta feira. Você estava linda, . Parecia super confortável e a vontade. – Nana concordou.
  - Acho que só fica assim quando está dançando. – Jay tocou meus cabelos amarrados em trança, brincando com a ponta. – Você é muito talentosa, filha, não importa o que queira fazer.
  - Alguém falou em fotos do casamento? – Dan desceu as escadas com animação, carregando uma caixa branca maior e duas caixas pequenas por cima daquela.
  - Ninguém, querido, mas chegou em boa hora. – Sua esposa sorriu. Conhecendo minha mãe, ela olhara aquelas fotos tantas vezes que decorara a sua ordem.
  - Eu estava louca pra ver essas fotos! – Bati palmas, me arrumando no sofá que parecia me engolir. – Me dá, me dá!
  - O fotografo era muito talentoso. Todas as fotos estão perfeitas. – Dan abriu a caixa maior e me passou o álbum com detalhes em dourado.
   O álbum já começava com uma foto do casal bem na capa. Passei para a primeira página, sorrindo por ver a minha mãe olhando o seu reflexo no espelho, enquanto suas amigas faziam os últimos acabamentos no véu e vestido. Parecia que estivemos no Chateau na semana passada, tamanha era a rapidez que o tempo estava passando. Continuei a folhear com cuidado para não amassar nada, vendo mais fotos das preparações, tanto da noiva, quanto do noivo. Como não estava no salão antes do começo da cerimônia, não pude ver o quanto Dan parecia nervoso ao altar, esperando a sua futura esposa. Agora, porém, aquele sentimento era claro nas imagens. Os meninos estavam ao seu lado em algumas das primeiras fotos, assim como nana e outros familiares e amigos.
   O fotografo capturou o momento do primeiro beijo e eu apareci de fundo, chorando; só pra variar. Ri algumas vezes, apontando as minhas fotos preferidas. Mais algumas páginas pra frente, chegamos à festa. Havia fotografias do meu discurso, da música que Louis cantou, da primeira dança do casal, do momento em que o buquê foi atirado para as solteiras famintas... E, obviamente, muitas fotos dos convidados. A madrinha e as damas de honra (eu, , Liv e Lottie), Louis e os meninos, eu e todos os cinco meninos, os cinco mais eu e as meninas e por aí vai! Claro que as últimas fotos pertenciam a mim, Lou e nossa família. Gostei de uma em particular onde as gêmeas se juntaram a nós quatro e Dan tocava a barriga de Jay. Agora tudo fazia sentido, pois eles já sabiam que duas pessoinhas estavam ali dentro!
  - Posso ter um casamento como o de vocês? Foi épico! – Fechei o álbum, devolvendo para a minha mãe. – E as fotos não poderiam ser diferentes.
  - O DVD não está aqui, porque emprestamos para a mãe do Dan, se não também poderíamos assistir. Ainda me emociono com tudo que você falou em seu discurso. – Jay se abanou.
  - Não, querida, não comece a chorar de novo... – Dan beijou a mão da mulher. – É o dia inteiro assim, . Ontem ela chorou porque calçou uma meia de cada cor!
  - Não me lembre disso! – Tirou um lencinho do bolso e secou os olhos. – Agora me fez lembrar disso!
  - Ela era assim quando estava grávida de mim? – Perguntei a nana.
  - Pior. – Sorriu em confidência.
  - Pelo visto eu terei que dar o seu presente eu mesmo! – O homem pegou uma das suas caixinhas menores e me entregou.
  - O que isso?! – Sorri, tirando a tampa e levantando os papeis de seda que protegiam o conteúdo.
   Era um porta-retratos em acrílico branco, onde uma imagem me pegou despreparada. Uma fotografia de Zayn e eu, tirada no dia do casamento. O enquadramento pegava nossos ombros e cabeças, onde apenas olhávamos um para o outro e sorriamos como as duas pessoas mais felizes do mundo. Recebi arrepios instantâneos, sentindo quanto amor um demonstrava pelo outro com o poder daquele olhar. Nem eu mesma sabia que o olhava daquela forma, quem diria a forma que ele me mirava de volta. Sem dúvida alguma éramos um casal bonito e isso estava claro. Aquele porta-retratos foi um presente e tanto, mas me deu medo. Medo de não ter mais aquele amor tão forte e intenso quanto o das pessoas na foto.
  - Temos uma cópia pra Zayn também. – Dan apontou para a outra caixinha, igual à minha. – Acho mágica a forma que um olha para o outro, ainda que sejam tão novos.
  - Obrigada... Pelo presente... É realmente lindo. – Mereço um prêmio por não ter gaguejado. Tampei a caixa, sentindo a mão tremer. – Com licença... Posso ir conhecer o quintal?
  - Claro, querida, é só passar pela cozinha e vai encontrar a porta de vidro para o lado de fora. – Minha mãe pressentiu que havia algo acontecendo, então não permitiu ninguém me seguir.
   Deixei meu presente perto da bolsa, no sofá. Não o esqueceria ali de forma alguma. Segui pelo caminho que Jay explicou, entrando na cozinha de móveis brilhantes em marrom e branco, onde uma porta de correr de vidro permitia a visão do lado de fora. A casa era grande, mas ainda me sentia claustrofóbica. O jardim do fundo da casa era tão bem cuidado quanto o da frente e um montinho de folhas secas empilhadas em um canto mostrava que até os mínimos detalhes deveriam estar arrumados o tempo inteiro. Havia uma piscina de tamanho médio ali atrás, coberta por uma lona azul que protegia sujeira de entrar. Também perto das folhas estava uma árvore alta, onde um balanço de madeira estava pendurado solitário.
   Sentei no banco com cuidado, não ficando tão surpresa assim em descobrir que ele agüentava o meu peso. Toquei o casaco que estava usando, tentando sentir o que estava dentro do bolso interno. Tirei de lá o celular de Harry, já que a peça de roupa era dele, fazia sentido que o aparelho estivesse ali. Antes que mudasse de idéia, disquei o número que lutara bravamente para não ligar até então. O levei até a orelha e a cada chamada sentia meu coração pulando dentro do peito. Um barulho do outro lado da linha me fez começar a tremer novamente e segurei o celular com força, caso contrário o derrubaria.
  - Harry? – Zayn atendeu. Sua voz estava rouca e o sotaque de Bradford forte ainda que em uma simples palavra. – Haz? Alou? Você sentou em cima do celular de novo! Okay, vou desligar.
  - Espera. – Pedi, declarando a minha identidade. Ouve-se silêncio por longos segundos pesados.
  - A-anjo? , é você?
  - Eu queria ouvir a sua voz. – Admiti, encarando meus pés na grama seca.
  - É bom ouvir a sua também. – Soou quase aliviado. Como se estivesse com uma grande dor há muito tempo e agora recebia descanso. Percebendo que eu permaneceria calada, voltou a falar. – Como estão as coisas por aí? Nana, Jay... Estão todos bem?
  - Nana está ótima, mas ninguém está melhor que a minha mãe. – O canto de meus lábios foi erguido em um meio sorriso. – Ela está grávida de novo. De gêmeos!
  - Que irado! Fico feliz por ela e Dan. Os dois vão ser ótimos pais.
  - O que você fez hoje? – Inconscientemente comecei a balançar pra frente e pra trás.
  - Tive um encontro com Ami lá na loja. Ele perguntou por você.
  - Você fez alguma nova tatuagem? – Lembrava de Ami e como ele fizera a minha primeira e única tattoo nas costelas.
  - Começamos uma cobra no ombro direito. Voltarei lá mais tarde pra terminar...
  - Legal. Ami tatua bem.
  - Posso te mandar uma foto quando estiver pronta, se quiser.
  - Tenho que ir, Zayn. – Não teria coragem de negar e ao mesmo não poderia aceitar como se fosse normal. Ainda estávamos dando um tempo.
  - Gostei de te ouvir. Eu sinto a sua falta, o tempo todo.

+++

  No fim da tarde e um pouco antes do Sol se por, voltamos para casa de nana. Minha mãe continuava se sentindo hormonal demais e pediu para que Jolene passasse a noite com ela, e claro que seu pedido nunca seria negado. O resto de nós podia perfeitamente pegar o metrô, mas Dan foi legal e insistiu em nos dar uma carona até o nosso lado da cidade. Quando chegamos na vizinhança, porém, encontramos algo inesperado pelo gramado. Um grupo de no mínimo quarenta meninas. Todas com cartazes, câmeras e camisetas com estampas temáticas do One Direction; fosse o rosto deles ou pedidos de casamento. A bagunça era tão grande que Dan precisou ficar mais do que o esperado, controlando o encontro das fãs com os meninos.
   Foi algo um pouco assustador no começo, pois durante o trajeto do carro até a entrada na garagem, as mais aventureiras bateram nos vidros e gritaram como se a vida delas dependesse daquilo. Liam se preocupou com a segurança delas, mas eu estava mais interessada em entrar em casa com vida. Após esse “ataque”, o grupo só aceitou se dispersar quando os três band members tiraram fotos e distribuíram autógrafos, o que levou boas duas horas. Particularmente achei aquela invasão de privacidade demais, até mesmo para fãs tão radicais. Elas vieram até nossa própria casa, onde nana podia estar dormindo, e gritaram até incomodar os vizinhos, obrigando-os a chamar a policia! E tudo que queríamos era um pouco de tranqüilidade.
   Depois que tudo se acalmou, as meninas foram embora e Dan fez o mesmo. Harry sumiu no andar de cima para tomar banho, Louis e Liam sentaram no chão da sala para jogar um jogo qualquer de tabuleiro e eu ocupei o sofá, distraída com uma edição da Elle francesa. Não havia nada ali que eu já não soubesse, mas gostava de olhar as figuras. Entediada, pousei a revista sobre as pernas e olhei para os dois meninos.
  - Já pensaram no que faremos amanhã? – Me senti um papagaio, repetindo aquela pergunta pela quinta vez.
  - Não pensamos há cinco minutos, não pensamos agora. – Lou rebateu e comemorou sua jogada no Monopoly.
  - Acho que devíamos ir á uma delicatesse e provar uma dessas comidas típicas de cada lugar. Já imaginou comer rã ou lesmas? Acho que podemos fazer isso! – Liam optou, entusiasmado demais com aquela idéia. – Vocês topam?
  - Porque tem que ir logo para as lesmas? Não podemos começar com macarrons ou vinho e queijo? – Tentei não partir o coração do menino, mas fiz careta. – Podemos ir a um vinhedo, se quiser.
  - Harry queria ir ao Louvre. – Lou esticou a mão na minha direção, com o dado em sua palma.
  - De novo?! Sempre que vem aqui, Haz quer visitar o museu! – Assoprei os dados como sinal de boa sorte.
  - Eu não me importo. – É claro que não! Lou era o melhor namorado do mundo.
  - Então Liam quer comer lesmas, você e Haz querem ir ao museu. – Contei as opções nos dedos. – Minhas opções são ótimas.
  - Hey, lads. – Harry descia as escadas com o celular na mão. Torci para que não estivesse checando as últimas ligações. – Nana ainda tem a BBC?
  - Acho que sim. Por que? – Lou bufou ao tirar um número baixo, arruinando sua jogada.
  - Rach me mandou uma mensagem. Parece que vamos aparecer em um programa... – Haz não vestia nada além de uma boxer do super homem, mas nada que nos espantasse.
  - Vamos ver... – Deixei a revista oficialmente de lado e sentei no sofá, dando espaço para Haz se juntar a mim. Com o controle na mão, procurei o canal. – 202HD.
   Louis e Liam deram uma pausa em seu jogo e, sem que o oponente percebesse, meu irmão mau exemplo pegou algumas notas do dinheiro que pertencia ao “banco” e adicionou ao próprio montinho. Contra aquelas trapaças, dei um tapa em sua cabeça, que o fez reclamar com um chiado e continuar com seu roubo. Após algumas propagandas de papel higiênico e pasta de dente, o noticiário voltou a passar na TV. Não era um jornal propriamente dito, estava mais para programa de entretenimento, onde um casal de repórteres contavam sobre os últimos acontecimentos do fim de semana. Não dei muita importância até que começaram a falar sobre os meninos.
  - Londres é agitada demais durante o final de semana? Porque não dar uma escapadinha para a capital francesa? Ao menos foi isso o que três membros da banda One Direction fizeram, não é mesmo, Lana? – O homem começou com a chamada, sentando em uma espécie de poltrona amarela.
  - Precisamente, Ryan. Liam Payne, Harry Styles e Louis Tomlinson foram avistados passeando às margens do Cena, como vemos nessas imagens fornecidas por próprios fãs que gravaram tudo! – Até a entonação de Lana gritava “fofoca quentíssima”. Na tela da TV pudemos ver claramente a imagem de nós quatro, com sorvete nas mãos, fazendo o caminho da sorveteria para a estação de metrô. – Parece que os ingleses são a prova de frio, pois os quinze graus que sofremos ontem não os impediu de aproveitar uma sobremesa gelada!
  - Quem é essa garota com eles? Namorada de algum? Eu diria que Harry está de olho nela. – Ryan voltou a falar e a imagem mudou, pegando o momento em que Haz pediu para provar do meu sabor de sorvete e é claro que eu permiti. Mal sabiam eles que o menino estava de olho é no meu irmão. – Sabemos o currículo que ele tem com garotas bonitas. Falo sério, o que é que ele tem e eu não tenho?
  - Pelo menos ele disse que você é bonita. – Harry não se importava muito com aquele tipo de comentário, o que geralmente nos fazia esquecer que tinha apenas dezenove anos, tamanha era sua maturidade.
  - Prefiro não responder! Mas se ele me olhasse com esses olhos verdes, esqueceria até meu nome! – A mulher riu forçadamente, achando-se uma verdadeira comediante. – Em relação a sua primeira pergunta, ela é a irmã mais nova de Louis. Tomlinson. O que faz sentido, porque os meninos estão aqui para apoiá-la no desfile de segunda-feira.
  - Ela é modelo? Quem diria? Não tem muito o perfil pra seguir essa carreira. Quero dizer,   eu também esqueceria meu nome se me olhasse com esses olhos azuis, mas não parece ter o corpo de uma Kate Moss. – Alfinetou e tentei não parecer abalada quando todos olharam na minha direção.
  - Você assistiu o desfile da Mulberry nessa última quinta-feira? É claro que não! É um homem! O importante é dizer que ela estava quente! E olhe que desfilou ao lado de Cara Delevingne. As duas parecem até ser amigas. – Lana me defendeu, porém, não me senti muito melhor.
  - Como chegamos nesse assunto mesmo? – Ryan gargalhou tão falsamente quanto a primeira.
  - Só estava defendendo o meu gênero! Garotas tem que se juntar, certo? – Olhou diretamente para a câmera e piscou. – Ainda falando de One Direction, Zayn Malik foi visto saindo de um estúdio de tatuagem e foi perseguido por paparazzis. Uh, isso não parece tão legal. Temos as imagens!
   Lana e Ryan finalmente se calaram, mas desejei que continuassem falando. Assim não precisaria ouvir o que ouvi. Uma cena de confusão tomou conta da tela grande, onde Zayn lutava para passar por uma multidão de homens com câmeras na mão, sem se acanhar ao invadir seu espaço pessoal. Preston e Paul estavam ao seu lado, o que deveria ter me tranqüilizado um pouco, e o ajudaram a entrar no Jeep. Não antes que ele recebesse xingamentos sem cabimento e fosse obrigado a escutar perguntas sem educação que ofendiam tanto ele quanto a sua família e amigos. Zayn não agüentou ficar calado e começou a xingar de volta, gritando “Fuck you, man! And fuck you too” enquanto apontava para eles. Nunca o vi tão alterado e com tanta raiva como naquelas imagens.
  - Vou ligar pra ele. – Liam levantou e subiu as escadas. Eu tinha o indicador entre os dentes e ruía a unha até quebrá-la completamente.
  - Já chega. – Harry pegou o controle remoto e desligou a TV. – Você está bem? ?
  - O que? Sim, estou bem sim. – Voltei para a realidade, encarando a televisão desligada por tempo demais.
  - Você sabia que ele estava indo ao estúdio hoje? – Lou desistira de jogar e começou a guardar tudo.
  - Sabia. Zayn disse que estava fazendo uma cobra no ombro. – Consegui falar seu nome sem travar, o que era um ponto a mais.

    

Chapter XLIX

Uma coisa que eu sentia muita falta de Paris era como todos se arrumavam para sair de casa. Podia ser seis horas da manhã ou dez horas da noite, todo mundo parecia ter acabado de sair de um desfile de moda. Isso não queria dizer só usar roupas de marca que custavam mais que um salário mínimo, pois os franceses conseguiam dar o truque com peças básicas encontradas em qualquer guarda roupa. Não que em Londres as pessoas andassem desarrumadas, era apenas diferente. Pensando nisso, apesar de ainda ser manhã, me arrumei para orgulhar o sangue francês que corria em minhas veias e praticamente separei o que os meus três companheiros usariam. Liam foi o mais fácil e meu irmão estava no meio, já que seu gosto para roupas não era lá esse terror todo. Já Harry, me deu um pouco de trabalho. Nossa maior luta foi eu convencê-lo a deixar o pseudo-turbante que vinha usando na cabeça e usar o cabelo longo bagunçado de lado. Fora isso, deixei que usasse o único par de jeans apertado e rasgado que tinha e as botas que tanto amava.
   Moda se tornara uma parte importante em minha vida, portanto era natural que me interessasse nas escolhas estilísticas de quem estava a minha volta. Zayn nunca me deu esse tipo de trabalho, já que seu senso de moda era afiadíssimo; podendo competir com o meu de igual pra igual. Mas ainda é cedo pra começar a falar no amor da minha vida que não saía dos meus pensamentos nem por cinco minutos.
   Dada a falta de idéias de Lou e Li quanto aos nossos planos para aquele dia, decidi eu mesma bolar o nosso itinerário. Harry queria cultura? Ele o teria. Liam queria escargot? Feito. Lou estaria feliz com qualquer coisa? Melhor ainda. Eu queria macarons? Fácil! Juntei tudo em um plano só, apenas com algumas paradas estratégicas antes de nosso destino final. Era nessas horas que agradecíamos o sistema de metrô da França ser tão organizado. Primeiro passamos no Ladurée, onde fui deixada na fila com Harry, e Liam e Louis procuraram o próprio café da manhã no restaurante no fim da rua. Nos encontramos no meio do caminho, cada um com sua sacolinha de refeição “pra viagem”.
   O Jardin Des Tuileries podia ser muito grande e cansativo de se percorrer, mas com dois guias tão bons quanto Lou e eu, encontramos um lugar calmo e afastado de tudo, mas ainda com uma vista privilegiada para o palácio. A queda das folhas de outono infelizmente nos impedia de sentar na grama, nada que não fosse resolvido pelas cadeiras confortáveis espalhadas e a disposição do público. Cada qual pegou a sua própria e fizemos um círculo meio quadrado, onde fiquei na diagonal de Liam e Harry, praticamente de frente para meu irmão.
  - Tem certeza que podemos tirar essas cadeiras do lugar? – Liam, como sempre, se preocupava demais com tudo. – Não quero ser deportado!
  - É só lembrar de onde elas estavam e correr dos policiais, caso apareçam. – Louis o assustou, causando risadas no namorado.
  - Quer saber? Sento no chão mesmo, não tem problema. – Ameaçou devolver a cadeira, mas o interrompi.
  - Apenas sente, Baba! Lou está brincando com você. – Avisei, já bem sentada e de pernas cruzadas. – Você pode levar as cadeiras pra onde quiser.
  - Se formos presos, você será a mentora do crime. – Relutava, mas acabou sentando de uma vez.
  - Não sei o que é desses crepes franceses... Mas são muito bons. – Harry já se servia de seu crepe de banana e chocolate. – Você devia aprender a fazer pra mim, Lou.
  - Sou um desastre na cozinha, Haz. Já tentei cozinhar pra você e não deu muito certo. – Meu irmão sorriu. – Posso tentar.
   Com a iniciativa do meu cunhado, começamos o nosso café da manhã. Abri cuidadosamente a minha caixa de doze macarons sortidos e usei o celular para mandar uma foto para , querendo deixá-la com um pouco de inveja. Seria assassinada se esquecesse de levar pra ela uma encomenda maior que aquela, detalhes a parte. Comi o primeiro de morango, sem deixar migalha alguma escapar. Louis aproveitava seus waffles com mel e coco e Harry quase terminava os crepes. Liam, por outro lado, olhava seu prato de escargots com receio.
  - O que foi, Payno? – Louis se segurava pra não fazer comentários maldosos. – Com medo que seu café saia andando?
  - Não! Eu só não sei como se come isso. – Pegou um caracol pelo casco e o examinou. Só essa visão já me fez franzir o nariz. – Essa parte se come também?
  - Acho que você tem que tirar a lesminha de dentro com o garfo. – Harry explicou, claramente entendendo mais que o resto de nós. – Só cuidado pra não quebrar. Elas são meio moles.
  - Blaaaaaaaaaargh. – Olhei para o lado contrário, com nojo, apesar de interessada em descobrir se ele iria levar aquilo em frente.
  - Okay, acho que entendi os mecanismos dessa coisa. – Ele mesmo tentava não fazer cara de nojo enquanto cutucava a comida. – É só puxar aqui e... Jeez!
  - LIAM! – Louis gritou, afinando a voz pelo susto que levou ao ser atingido pelo caracol que escapuliu da casca.
  - “LIAM.” – Imitei-o forçando um tom agudo, rindo mais do que devia.
  - Have you quite finished? – Lou bufou, irritado pela minha gozação.
  - Consegui, consegui! – Liam comemorou, mostrando a coisinha marrom na ponta do garfo. – Tenho mesmo que comer?
  - Encare isso como se fosse sua dignidade, Liam. – Harry filosofou, fora da briga entre os irmãos.
  - Lá vai, lá vai... – Respirou fundo algumas vezes e só levou o garfo a boca quando fechou os olhos com força.
  - Qual o gosto da sua dignidade? – Meu terceiro macaron tinha um gosto muito bom, diga-se de passagem.
  - Não tão bom quanto eu esperava. – Mastigava de um lado para o outro, caretas aumentando de proporção. – É meio esponjoso. Ughh.
  - Ew. – Olhei para outro lado mais uma vez.
  - Alguém aceita? Tenho mais quatro. – Li esticou o prato na nossa direção, mas ninguém aceitou.
  - Aqui... – Ofereci minha própria caixa de doces. – Pra tirar o gosto ruim.
  - Thanks, love. – Pegou um de baunilha, comendo com pressa.
  - Sem problemas. – Esse era o bom, ou ruim, de macarons. A não ser que você estivesse com MUITA vontade de comê-los, enjoaria após o quarto. Meu café da manhã estava terminado!
   Em cinco minutos todos os macarons estavam esgotados. Minha oferta para Liam se estendeu para os outros dois e tive que lutar para ganhar mais um. Se soubesse que todos comeriam os meus bombons, teria comprado a caixa com vinte e cinco! Ou pedido pra eles comprarem os próprios. Se me acha egoísta agora é porque nunca provou os macarons do Ladurée. E se não os provou, coloque na lista de “fazer antes de morrer”.
   O vento frio rondava o jardim, fazendo folhas voarem e os esquilinhos se esconderem no topo das árvores, o que, por sua vez, fazia mais folhas caírem e por aí vai. Ah, como eu amava o outono!
   Louis foi o primeiro a levantar, o que levou Harry a fazer o mesmo. Li e eu nos entreolhamos, preguiçosos, mas fomos cogitados a também nos colocar de pé. Aparentemente íamos caminhar! Lou passou o braço pelo do namorado e Harry passou o livre pelo meu, que prendi Liam. Éramos quatro bobos andando lado a lado como macaquinhos, e estávamos felizes. Pra falar a verdade, sentia-me de uma forma que podia jurar que demoraria meses pra voltar a sentir. Ainda sentia saudade de Zayn e medo do fim que poderíamos ter, mas aos poucos aquilo deixava de ser tão desesperador. E sabia que o motivo daquilo eram os três idiotas que agora tentavam sincronizar nossos passos.
  - Awn, eu sentia falta de passar um tempo com vocês! – Apertei os braços dos meninos aos meus em um tipo de abraço estranho. – Estou me divertindo muito.
  - Também sentimos a sua, , mas não fomos nós que deixamos de sair com você. – Harry comentou à minha direita. – Desde que Zayn apareceu, você passa mais tempo com ele do que conosco. E a gente não reclama, porque entende.
  - Isso pareceu uma reclamação. – Ri porque sabia que ele tinha razão. – E sei disso. Sinto muito. Mas as coisas vão mudar, quando voltarmos pra casa. Não quero ser o tipo de garota que troca os amigos pelo namorado. Se algo acontecesse entre Zayn e eu... Seria com vocês que eu poderia contar.
  - Se algo acontecesse, eu seria o primeiro a dar um jeito no Malik. – Lou deu uma de irmão mais velho protetor e gostei do que ouvi. – Ninguém machuca a pequena Tommo e sai ileso.
  - Somos seus três mosqueteiros. – Li me cutucou com o cotovelo, sabendo mais do que devia.
  - Isso é música que eu escuto com meus ouvidos? – Harold mudou de assunto completamente, olhando pra frente.
  - Bem, meus ouvidos dizem que sim, caro amigo. – Liam entrou na onda.
   Olhei para Louis e nós dois já sabíamos do que se tratava. Em finais de semana, apesar de ser fora da temporada de férias, era comum nos parques e jardins haver bandas tradicionais de rua tocando músicas alegres. Nem sempre era em troca de dinheiro, pois muitas vezes recebiam patrocínio de alguma empresa para distribuírem felicidade. Haz avistou o grupo de quatro homens vestidos iguais e me soltou para poder apontar a direção em que deveríamos ir. A partir daí, começamos a correr cada um por si. Incrivelmente, Liam ficou para trás durante a corrida.
   Algumas pessoas apreciavam a música a distância, outras começavam a se aproximar, mas foi o de olhos verdes e cabelo cacheado que começou a dançar. Não “dançar” do jeito que eu dançava, e sim do seu jeitinho especial de ser. Harry balançava os braços e mexia as pernas compridas demais. Meu irmão entrou na onda, dançando em volta do namorado. Duvido que qualquer um dos dois fosse se atrever a fazer isso se não estivessem ao lado um do outro. Harry queria impressionar Louis, fazê-lo sorrir nem que tivesse passar por um papel ridículo como meio de consegui-lo. Já Lou, dançou só para vez Harry feliz. Fiquei parada, assistindo os dois inventarem passos de dança complicados demais para que qualquer um dos dois conseguisse fazê-los funcionar, até que senti uma mão segurando a minha.
  - Dança comigo. – Liam pediu, parando de frente pra mim.
  - Não mesmo! – Neguei com a cabeça. Huh, então era assim o sentimento de negar uma dança?
  - Não foi uma pergunta. – Sorriu de canto, me obrigando a sair de onde estava e ir para a frente dos músicos; os quais continuaram tocando com animação.
  - Você está tentando se vingar de mim por todas as vezes que te fiz dançar comigo? – Imaginei que se olhasse apenas para Liam e não para os outros, a vergonha diminuiria.
  - Claro que não. Eu sempre gostei de dançar com você. – Segurou minhas duas mãos e começou a demonstrar um movimento. – Me imite, ok? É fácil. Um passo pra trás e outro pra frente. Pisa, trás, pisa, frente... E quando estiver com o pé na frente, encaixe ao meu pé...
  - Assim? – Rir e dançar não devia ser tão difícil assim. O imitei, deixando que guiasse nossos passos. Quando Liam pisava atrás, eu fazia o mesmo, encontrando nossos pés no centro em seguida. – A única coisa faltando são mãozinhas de jazz e estaremos em Paris nos anos vinte.
  - Ótima idéia! – Soltou-me e começou a balançar as mãos, sem parar de repetir aquele passo de dança. – Vamos, !
  - Eu estava brincando!
   Continuei rindo apesar de imitá-lo naquela dança. Sentia-me boba e várias pessoas deviam estar achando aqueles quatro jovens bem idiotas, mas não conseguia me importar. Parei por um segundo e assisti Liam girar sem sair do lugar. Ele era uma pessoa tão boa! E se importava mais com os outros do que consigo mesmo. No dia anterior, por exemplo, ele fez questão de tirar fotos com todas as meninas em frente de casa e preocupou-se com a sua segurança por estar escuro quando elas foram embora. Se pudesse, alugaria um ônibus e levaria cada uma em sua própria residência. Só fui interrompida dos meus devaneios quando Harry chegou pelas minhas costas e segurou as minhas mãos. Me fez abrir os braços e ir de um lado para o outro naquela valsa inversa.
   Louis, pra não ficar de fora, tirou Liam para dançar e os dois conseguiam ser mais desengonçados que nós dois. Olhei para trás, encontrando o sorriso de Haz, que também não fazia idéia do que estava fazendo. Quando a banda terminou aquela música, nós batemos palmas e eles também. Temendo ser obrigada a dançar mais uma vez, puxei os meninos para longe dali. Meu irmão correu até a fonte do tamanho de meio campo de futebol e Li, Harry e eu não pudemos ficar para trás. Foi a minha vez de ser a última a chegar onde eles estavam, mas tive a desculpa de ter me atrasado ao procurar a máquina fotográfica dentro da bolsa.
   Os três sentaram na borda da fonte, onde atrás deles criancinhas apostavam corrida de barcos movidos por controle remoto, garotas jogavam moedas para fazer pedidos e um cachorro matava a sua sede. Tirei algumas fotografias de longe, escolhendo as que seriam impressas e guardei essas no bolso do sobretudo. Harry percebeu o que eu fazia e começou a posar como se fosse um modelo.
  - Hey, porque parou de me fotografar? – Cruzou os braços ao me avistar abaixando a câmera.
  - Porque eu também quero aparecer em alguma, se não for pedir muito. – Empurrei Louis e Haz para abrir espaço e sentar entre os dois. Então, entreguei a câmera para Liam. – Baba, pede pra alguém tirar uma foto de nós quatro?
  - Você sabe que eu não falo francês, né? – Sem conseguir negar meu pedido, se afastou para procurar alguém que poderia nos fazer aquele favor.
  - , já percebeu que ele faz tudo que você pede? – Harry falou à minha orelha.
  - Isso se chama ser um bom amigo. – Sorri. Não importava o que eles falassem, eu sabia que Liam só queria ser um bom amigo. – E olha! Ele conseguiu pedir para aquela mulher!
  - Eu sou demais, sei disso. – Li correu de volta para a fonte, sentando ao lado de meu irmão.
   Abracei os dois meninos que alcancei e todos sorriram para a fotografia. Ou ao menos era o que eu achava! Assim que a moça me devolveu a Polaroid e revelei a fotografia, estudei as expressões faciais em cada um. Eu era a única sorrindo! Louis fazia uma careta onde arregalava os olhos e erguia o queixo, Harry tinha a língua pra fora e Liam fazia algo engraçado com as sobrancelhas. Não era bem o que eu estava esperando, mas o resultado estava bem fofo. Guardei tudo no bolso e levantei. Não agüentava mais ficar sentada, mas aparentemente era a única. Sem controlar meus passos, comecei a andar perto da borda da fonte, olhando as criancinhas que perderam a corrida de barco reclamar enquanto um menino de sardinhas comemorava. “Awn, sinto falta de Niall!”
  - Pardon me? – Um leve toque em meu ombro me assustou. – ?
  - Oui? – Virei de frente para a menina que reconheci em dois segundos.
  - Lembra de mim? Pamela! – Abriu um sorriso que quase me enganou. Sim, eu sabia quem ela era. – Irmã de Anttonie...
  - Oh! É claro! Quase esqueci. – Forcei uma risadinha. – Como vai a vida?
  - Vai bem... Estou trabalhando meio período naquela cafeteria perto da escola. Lembra? Costumávamos ir lá o tempo todo! – Eu lembrava de ir até a cafeteria e sentar sozinha, enquanto assistia Pam, seu irmão e as outras meninas rirem de algo que provavelmente era dito sobre o meu respeito. – E você?! O que está fazendo aqui? A vida em Londres não deu certo?
  - Pelo contrário! Só estou aqui porque vou desfilar amanhã, para o Elie Saab, na coleção de inverno. Lembra como costumávamos amar assistir esses desfiles? E agora pensar que eu estarei na passarela... Ah, como o tempo passa! – Sabia que tinha veneno escorrendo do canto dos meus lábios, mas não consegui evitar. Pamela era do tipo de garota que, se tivesse um chiclete a mais que você, passaria na sua cara. Aquilo funcionou como uma vingança que, apesar de não ser muito bonito da minha parte, era deliciosa. – Perdão, Pam, querida, meu namorado está me esperando ali.
  - Tudo bem, amiga! Não deixe-o esperando. – Aproximou-se para dar aqueles beijinhos de dondoca sem realmente encostar em mim. – Foi maravilhoso lhe ver. Vamos tentar nos encontrar!
  - Talvez. – Forcei um novo sorriso.
   Assim que passei por ela e a dei as costas, rolei os olhos com cara de nojo. Sabia que seria observada até ser perdida de vista e só pude torcer para não ser seguida. Ainda que parte de mim se sentisse mal por ter feito exatamente o que ela fizera anos atrás, a outra metade estava orgulhosa. Orgulhosa da mulher que não abaixou a cabeça ao enfrentar seus fantasmas do passado. Apenas Li e Haz continuavam no lugar onde eu os deixara e tive que fazer uma escolha rápida. Quem seria um namorado melhor?
  - Harry, mon amour! – Sentei em seu colo, provocando um choque em ambos os garotos. – Sentiu a minha falta?
  - Uh-o que você está fazendo, ? – Haz abraçou a minha cintura, mas me encarava cheio de perguntas.
  - Aquela garota com quem eu estava conversando, ainda está olhando? – Cochichei para Liam, abraçando Harry pelo pescoço. – Finja que é meu namorado!
  - Ela vai passar aqui do lado... – Li compreendeu o sentido de “discrição” e não a encarou. – Sim, não tira o olho de vocês dois.
  - Ah, entendi! – Harry me empurrou com delicadeza, me tirando do seu colo. Em seguida, parou de frente pra mim e se ajoelhou. – Louise Tomlinson...
  - O que você está fazendo? – Sussurrei entre dentes, tampando os lábios para não rir. – Harry!
  - Estou improvisando. – Respondeu da mesma forma, tirando um dos anéis que usava. Aumentando o tom de voz, continuou. – Aceitaria se casar comigo?
  - Uau. – Dividido entre achar graça e interpretar, Liam começou a bater palmas, o que chamou a atenção de mais pessoas que começaram a fazer o mesmo.
  - Sim! É claro que sim! – Aceitei tanto o pedido de casamento quanto entrar na peça de teatro mais maluca do mundo. Estiquei a mão esquerda, deixando que ele colocasse ali o seu anel. – Oh, Harry!
  - Eu te amo, ! – O menino levantou e me abraçou com um romantismo exagerado. Sussurrou: - Gostou?
  - Você é maluco! – Gargalhei, seguindo com o abraço. – Agora podemos sair daqui?

+++

  
  
“Gems! Como foi o encontro ontem?”
  “Omg, Ash te contou? O que ele disse??”
  “Acalme-se, garota! Ash não me contou nada... Ainda. Foi o seu irmão.”
  “Oh... É, eu sabia. Bem, foi bom. Nós fomos jogar boliche.”
  “Só isso? Por favor, você consegue me contar mais que “fomos jogar boliche”.”
  “O que quer que eu diga? Que ele é um cara legal e com certeza há um clima? Porque é verdade, mas não quero me apressar!”
  “AWWWWWWWWWWWWN. EU SABIA!”

  - E então? – Harry insistiu.
  - Ela disse que se divertiu no encontro, só isso. – Diminuí as coisas, guardando o celular na bolsa mais uma vez.
   Aquela seria a nossa última noite em Paris e não poderíamos ir embora sem ver as luzes da cidade. Seu apelido não era “cidade das luzes” a toa. Depois do pedido de casamento de Harry, certo público começou a ser atraído e soubemos que estava na hora de sair do jardim. Não voltamos para casa, mas passeamos por lugares mais calmos, como o Mercado de Pulgas, onde encontramos barraquinhas de tudo que se pode imaginar, desde roupas usadas até livros em latim. Cada um de nós comprou coisas que julgou interessante, como por exemplo, o toca discos portátil de Liam e meu gravador de fitas.
   Escolhemos um restaurante sem caracóis ou pernas de rã para o almoço e visitamos um museu de arte moderna. Não era o Louvre, mas Harry se divertiu da mesma forma. Pulando de uma atração para outra quando os meninos começavam a ser reconhecidos, terminamos no jardim do Trocadéro, mais precisamente no começo das escadarias do Palais de Chaillot.
  - Relaxa, Haz. Sua irmã só está conhecendo o garoto. – Louis começou a subir os degraus, liderando nossa subida.
  - Bem, claramente alguém não lembra como ficou quando a própria irmã estava conhecendo o garoto que se tornou seu namorado. – Harry denunciou. Louis se preocupou quando conheci Zayn? Isso era novidade.
  - Eu não “fiquei” de jeito nenhum. – Lou bufou. – Era apenas preocupação de irmão! Porque conheço o currículo dela quando se trata de garotos.
  - Eeeeeei! – Cruzei os braços. – Eu estou bem aqui, sabia?
  - nunca foi muito boa em escolher os namorados, mas Gemma também não é! – Harry escolheu um degrau no meio da escadaria e se sentou.
  - Ninguém está me vendo aqui? – Balancei os braços na esperança que parassem de falar de mim como se eu não estivesse ali.
  - Acho que ela só precisa pensar melhor nas escolhas que faz. – Liam completou e eu soltei um suspiro exasperado.
  - Seriously? – Coloquei as mãos na cintura, batendo o pé. Os três meninos me olharam com sorriso cúmplices e rolei os olhos. – Bloody idiots.
   - , eu gostaria de ter meu anel de volta. – Haz mudou de assunto quanto me sentei no degrau acima do seu. – Quando puder...
  - Desculpa, mas não devolvo meu anel de noivado! – Fechei a mão como se ele fosse arrancar o anel do meu dedo.
  - Anel de noivado? – Louis era o único a permanecer de pé, pois Liam sentou no mesmo degrau que eu, mas um pouco afastado de mim.
  - Longa história. – Dei de ombros, lembrando de algo que queria perguntar. – Aliás, Lou, onde você foi quando estávamos na fonte?
  - Ah, é! Pablo ligou. – Respondeu com tédio. – Não disse muita coisa, só que Eleanor estará chegando aqui amanhã pela manhã... E que eu devia perguntar a você o porquê.
  - Eu? – Franzi o cenho enquanto todos me encaravam. – Oh...
  - O que você fez, ? – Liam perguntou por todos.
  - Okay, não pirem! É o seguinte... Quando Marco pediu demissão, ele foi até o flat e falou algumas coisas para Zayn e eu. Contou histórias de pessoas que estavam quebrando o contrato com a Modest! porque estavam sofrendo o mesmo que vocês estão. Mas ele também falou que processos não são o único caminho. – Expliquei, apertando o cachecol em volta do pescoço para diminuir o frio. – Marco disse que devemos lutar e eu achei que tinha entendido o que ele quis dizer. Vocês não podem parar de fazer o que eles esperam ou se rebelar de uma vez. Mas é com pequenas coisas...
  - Até agora tudo bem, mas o que Eleanor tem a ver com isso? – Louis tinha os braços cruzados ao peito.
  - Lembram da foto que tiraram no meu celular? Quando estávamos no trem pra cá. Eu meio que a postei no Twitter com uma legenda fofa. – Mordi o dedo inconscientemente, temendo suas reações. – Na hora pareceu uma boa idéia, mas agora não sei mais. Vão mandar a El até aqui pra amenizar os ânimos, eu acho. Pra acalmar as pessoas que acreditam que vocês dois estão juntos. Eu sinto muito.
  - Não tem problema, , você só estava querendo ajudar. – Lou sorriu, compreensivo. Confesso que aquilo me aliviou um pouco.
  - Porque vocês estão falando como se estivéssemos derrotados? – Liam agora falava como um general. – Podemos ter perdido a batalha, mas não a guerra! Era de se esperar que Pablo fosse pensar em algo pra contornar a fotografia. Mas não podemos desistir!
  - Liam Payne, o revolucionário! – Harry gargalhou. – Vamos pensar em algo, . Não fique preocupada com isso. El não é chata...
  - Isso porquê não é você que tem que sair em encontros com ela. – Meu irmão encarou o chão.
  - Podemos pensar nisso depois? – Puxei Lou pela mão, inquieta. – Olhe a hora!
  - Quase oito da noite. – Olhou no relógio em seu pulso e sorriu. – O show vai começar.
   Liam e Harry pareciam confusos por não saber que tipo de show poderia acontecer no meio de uma escada, mas Lou e eu sabíamos. Desde pequenos era um de nossos passa-tempos preferidos, sentar naquela escada com papá e esperar a torre Eiffel acender. O Sol se punha e a hora exata se aproximava. Lou sentou na minha frente, ao lado do namorado, e o abracei pelos ombros. Nós dois sabíamos o quando aquilo nos trazia boas lembranças. Toda a população que também sentou nos degraus para esperar as luzes ficou em silêncio. O único ruído era dos carros passando nas ruas lá embaixo e do vento que chacoalhava as árvores.
   Aos poucos, a torre começou a ganhar vida de baixo pra cima. Primeiro seus pés, até que o topo estivesse brilhando. Era algo realmente mágico de se assistir! Como se ainda não bastasse, vários pontinhos azuis piscando deram inicio à sua dança que se repetiria a noite inteira, com a passagem das horas. O silêncio foi preenchido por palmas e gritinhos de quem assistia o show pela primeira vez e daqueles que nunca deixavam de achar graça. Liam ao meu lado parecia completamente encantado, como se fosse a primeira vez vendo algo tão belo.
  - Londres pode ter o Big Ben marcando as horas, mas ele não brilha desse jeito. – Toquei seu braço com o cotovelo.
  - Uau... Só... Uau.

    

Chapter L

- Já era tempo de alguém lembrar que tem uma melhor amiga! – atendeu a minha ligação.
  - Tem razão, eu não lembrei de você ontem quando comprei doces franceses pra você. Ou quando lhe mandei fotos da Eiffel acesa... Ou qua-
  - OK, OK, JÁ ENTENDI! – A menina riu, me cortando. – Doces, é? Que tipo de doces?
  - Doces com açúcar! Você vai ver quando eu chegar amanhã. – Coloquei as pernas pra cima no sofá da casa de minha mãe. – Mas por agora, como foi o dia na Academy? Perdi alguma coisa?
  - Nada demais... AH! Espera... Hoje foi a primeira reunião da peça. Seu nome foi chamado no palco, junto com os outros principais e eu. – Aquela noticia me fez congelar por dentro. – Adivinha quem fez drama falando que ela não faltaria aula se ganhasse o papel principal?
  - Helena, é claro! Damn it!
  - Mas não se preocupe, eu peguei o seu roteiro e a sua professora falou que sabia que você faltaria. Comentou algo sobre ter ido assistir à algum grupo francês de ballet... Então se eu fosse você, traria um chaveiro do arco do triunfo pra bruxa.
  - Pode deixar... E obrigada por cobrir por mim e pegar meu roteiro. Descobriram quem é o diretor de produção?
  - Seu amado Colin, é claro! Ele estava ansioso pra te ver.
  - Awn, Colin! Sinto falta dele... – Sorri sozinha, assistindo Harry esticar uma peça de roupa infantil na minha frente. Bela hora quando Jay decidiu mostrar a ele as roupas que comprara para os gêmeos. – Onde você está? Meu Bo está por aí?
  - Talvez. Mas você não vai falar com ele!
  - Claro que não ia pedir pra falar com , ! – Menti.
  - Sei... Estou na sua casa, com Niall e Dorota. Ela fez uma lasanha TÃO deliciosa! Zayn veio almoçar aqui também, mas já foi embora.
  - Uhh, Niall está aí? Achei que os dois estavam indo devagar... – Ainda sentia saudade de Niall!
  - Você ouviu o que eu falei? ZAYN estava aqui! – Repetiu como se fosse surda. – Ele estava meio estranho... Mas deve ser saudade da namorada.
  - Também sinto saudade dele. – Admiti, segurando a respiração para não suspirar. – Espera... Sim, Daisy?
  - Nana está te chamando no quarto dela, . – A loirinha havia descido as escadas pra me dar aquele aviso, então devia ser importante.
  - Obrigada, banguelinha. Já estou indo. – A respondi e voltei a falar ao telefone. – Ruiva, tenho que ir. Você a escutou. Nana me chama.
  - Mas eu ainda sinto a sua falta! – Devia estar fazendo bico do outro lado.
  - Não sente não! Só está com esperanças de descobrir quais doces eu estou levando pra você. – Levantei do sofá, encontrando Louis saindo da cozinha. – Tchau, sweetie.
  - Byeeeeeeeee.
  - Nana quer falar com você também? – Lou me aguardava para subir as escadas. – Estamos encrencados.
   Não lembrava do que podíamos ter feito de errado e nossa avó nunca foi de brigar mesmo quando bagunçávamos a casa inteira; o que era mais comum do que se imagina. Subimos a escada nos chocando e empurrando um ao outro de propósito. Não me surpreenderia se alguém acabasse caindo. Passamos pelo corredor onde, de um lado, Jay e Harry arrumavam as coisas dos bebês, e do outro Liam brincava de chazinho com as gêmeas. O quarto de nana ficava entre o do casal e o quarto de hospedes, que fora nominado como “quarto de Louis e Star”. A porta estava aberta e a senhora sentada no meio de sua cama de casal anatômica.
   O quarto seguia a mesma decoração da casa, branco no marrom claro. As paredes tinham quadros ou pinturas nelas mesmas, o que descontraia um pouco o ambiente. Em frente à cama, uma mesa e duas cadeiras, caso a mulher quisesse ler ou até mesmo comprar um notebook e navegar com conforto. No fundo, uma porta que levava ao banheiro de porcelana e um guarda-roupa singelo no canto oposto. Entramos sem bater, mas paramos no tapete ao lado da cama.
  - Sentem-se, meus amores. – Nana nos chamou, batendo no colchão. – O que acharam do quarto?
  - É bem bonito, nana. – Lou pulou na cama primeiro, indo para uma de suas pontas e me permitindo ocupar a outra. – Bem a sua cara.
  - Fico feliz que ache isso, Boo. – Sorriu, tirando os óculos e o colocando na mesinha de cabeceira onde um porta retrato com a foto de papá descansava. – Tenho algo que preciso lhes contar...
  - Tem algo errado? – Me preocupei antes mesmo de saber o que era.
  - Deixa ela falar! – Louis odiava quando eu tirava conclusões precipitadas, mas era mais forte do que eu.
  - Não há nada errado, . – A senhora riu de nós dois, mas me tranqüilizou. – Acho que não tem forma fácil de falar isso, então vou direto ao assunto. Estou pensando em vender a casa... A minha casa, quero dizer.
  - Por que?! – Meu queixo caiu.
  - Querida, aquela casa é grande demais pra uma senhora como eu. E minha aposentadoria e o seguro de seu avô ajudam, mas as despesas ainda são grandes. – Explicou sem alterar o tom compreensivo e calmo de sempre. – Além do mais, sua mãe precisará da minha ajuda quando os bebês chegarem... Vai ser bom eu estar mais perto.
  - Você não pode fazer isso... Nós crescemos naquela casa. – Não conseguia ficar brava com Jolene, mas aquela noticia doía. – Não pode simplesmente vender pra qualquer pessoa...
  - Eu só queria falar com vocês antes de confirmar, mas a verdade é que já existem compradores interessados. – Vi em seu olhar que aquela não era a forma que ela esperava que a conversação andasse. – Sei que têm muitas memórias naquela casa, mas talvez seja a hora de novas famílias fazerem as suas.
  - E a gente? Quando viermos visitar, devemos ficar em um hotel? – Cruzei os braços.
  - Há um bom quarto para os dois aqui, não se preocupem. – Nana sorriu, como se resolvesse todos os problemas do mundo. – Daremos um jeito se trouxerem seus amigos.
  - Lou, fala alguma coisa! – Apelei para meu irmão, calado até então.
  - É a melhor solução, nana, nós entendemos. – Não era aquilo que eu esperava ouvir.
  - Fale por você. – Bufei, me empurrando para fora da cama.
   Como qualquer um poderia esperar que eu ficasse bem com aquela noticia? Depois de tudo que vivemos na casa, devia simplesmente me desapegar de uma hora para a outra? Corri pelo corredor, mantendo o mesmo ritmo ao descer as escadas. Não sabia pra onde ir, mas não queria ficar ali dentro. Não conseguiria chamar aquela habitação de “lar”. Pelos deuses, eu ainda me perdia quando tentava achar o banheiro! Passei pela sala sem parar nem pra calçar os sapatos e corri para fora. Meus pés sentiram a grama umedecida pela chuva daquela manhã.
   Não conhecia nada pela vizinhança, então também não tinha pra onde correr! Perfeito. Sem muitas opções, sentei no meio-fio, abraçando os joelhos e descansando o queixo ali. Tantas coisas estavam mudando tão rápido! Já era difícil o bastante não ter papá por perto para nos aconselhar, agora também teria que perder tudo que me lembrava dele? Não teria mais o seu banco no jardim, a pilha de ferramentas dentro de um armário que ele mesmo montara na garagem ou o seu cheiro nas paredes do banheiro desde quando Louis quebrou um perfume ali dentro. Era injusto! Quase egoísta.
   O som de passos atrás de mim me alertou, alguém andava pela grama. Dando a forma como deixei a casa, poderia ser qualquer pessoa, mas minha intuição achava que era meu irmão. Não me mexi nem quando ele se sentou ao meu lado e me encarou com seus olhos azuis levemente esverdeados. Enquanto os meus tinham um toque prateado como o de meu pai, os deles puxavam para o verde. Mas como chegamos nesse assunto mesmo?
  - Por favor, me diga que você não vai começar a cantar A House is Not a Home. – O olhei de esguelha, pegando uma pedrinha que encontrei na rua.
  - Vai dizer que agora não seria o momento perfeito? Canta comigo, eu começo. – Limpou a garganta e o fitei sem saber se falava sério. – A chair is still a chair even when there’s no one sitting there...
  - Louis.
  - But a chair is not a house. And a house is not a home… - Continuou, inspirado. – É agora que você entra… When there’s no one there to hold you tight. And there’s no one there you can Kiss goodnight...
  - Louis! – Reclamei. Não era hora pra palhaçada.
  - C’mon, Tah… Você não canta tão mal assim. – Me cutucou, sorrindo de lado.
  - Ainda estou me sentindo traída! Você não ficou do meu lado. – Joguei a pedrinha na rua, que quicou algumas vezes no asfalto.
  - Eu não fiz nada disso... – Esticou as pernas curtas em sua frente e desejei por um momento que um carro passasse por ali. – Você realmente não entende, não é?
  - Entende o que? – Ergui as sobrancelhas.
  - O que nana está fazendo. – Lou suspirou e olhou para frente. – Já imaginou como é viver com o amor da sua vida, seu melhor amigo desde os dezesseis anos... E de repente não tê-lo mais por perto? Ter que aprender a fazer tudo sozinha, sem ninguém pra ler o jornal enquanto você prepara o café, ou sem ter alguém pra conversar antes de dormir?
  - Não. – Imaginar nana passando por tudo aquilo me deu vontade de chorar e não há novidade nisso.
  - Nana precisou aprender a viver sem sua melhor companhia. Não surpreende que ela queira se afastar que tudo que lembra nosso avô. – Esse era um dos poucos momentos que Lou mostrava ser o irmão mais velho. – Enquanto você gosta de se apegar à essas pequenas coisas, ela prefere se afastar... Mas não quer dizer que nana dê menos valor. É só o jeito dela de lidar com o dia-a-dia.
  - Não tinha pensado por esse lado. – Parabéns, , foi muito maduro da sua parte ter reagido daquela forma. – Agora estou me sentindo tão mal! Acha que ela me desculpa?
  - É da nana que estamos falando. – Sorriu, olhando para o começo da rua. – Tem um carro vindo, é melhor levantar.
  - Aquele é o carro do Dan.
   Com ajuda de Louis, levantei. O veículo azul diminuiu a velocidade enquanto se aproximava até parar em sua vaga. Lou segurava a barra do casaco, mais tenso do que ansioso. Dentro do carro, além de nosso padrasto, estava a “namorada” dele. O trem de Eleanor atrasou, por isso sua chegada demorou mais que o previsto. Assim que a menina saiu do carro com sua mochila de viagem, sorriu docemente, mas não se mexeu. Não sei se ainda esperava que meu irmão fizesse alguma coisa e ele pareceu congelar na grama. Dan estava ciente do trabalho de Eleanor, mas também estranhou a falta completa de química entre o casal.
  - Oi, El. – A cumprimentei com um abraço. – Como foi a viagem?
  - Cansativa. – Continuou sorrindo. – Fiquei na estação desde as dez horas da manhã em Londres... Oi, Louis.
  - Oi. – Meu irmão falou simplesmente, até que o reprovei com o olhar. – Você deve estar com fome. Vou procurar algo pra você comer. Me acompanha?
  - É claro! Obrigada. – Arrumou os cabelos para trás da orelha, nervosa, e o seguiu para dentro de casa.
  - Como é que alguém consegue acreditar que esses dois estão juntos? – Dan parou ao meu redor, olhamos na mesma direção.
  - Não tenho idéia. – Coloquei as mãos no bolso, achando graça. – Aliás, Dan... Cuide bem da minha avó, okay?
  - Como se fosse a minha própria mãe. – Fitou-me curioso. – Ela te contou?
  - Yeah. Vai ser melhor assim... – Torci pra acreditar em minhas próprias palavras. – Já pensaram em nomes para os bebês?
  - Felicity e Doris, se forem duas meninas e Charles e Ernest se forem meninos. – Contou, me fazendo ganhar um sorriso no rosto.
  - Fizzy e Charlie. – O acompanhei de volta pra casa. – Gostei.
  - Fizzy? Huh, é um apelido fofo. – Abriu a porta pra mim.
   Ainda que quisesse imitar os pais dos novos bebês da família, sentia certo desejo em ter um novo irmão e uma nova irmã só para ter aqueles nomes. Também temia que Lux fosse ficar enciumada se eu aparecesse com uma irmãzinha mais nova... De uma forma ou de outra, começava a me animar com essa história toda. Dentro de casa, Liam e Harry estavam sentados no sofá e pelas vozes vindas da cozinha, Jolene e Jay estavam lá. Louis e El não tardaram a aparecer, vindo da mesma direção. Harry era quem devia se sentir constrangido perto da namorada de aluguel do namorado, mas era de longe o mais confortável.
  - Sente-se conosco, El! – A chamei quando eu mesma fiz isso perto dos meninos. – Já comeu?
  - Sua avó está preparando... – Atendeu meu pedido, educadamente sentando-se perto de mim. – Uh, Louis... Pablo pediu pra avisar que espera a sua ligação...
  - É claro que espera. – Meu irmão tocou no próprio bolso. – Já volto.
  - Sinto muito. – El mordeu o lábio. Ela realmente sentia muito.
  - Não tem problema, já esperávamos isso. – Harry sorriu, abraçando uma almofada.
  - É verdade... Hey, El... – Peguei meu próprio celular de onde o deixara no sofá, tendo uma idéia. – Posso tirar uma foto sua?
  - Pode, eu acho... – Ficou surpresa, mas não negaria meu pedido.
  - O que você está fazendo, ? – Liam estranhou tanto quanto a fotografada. – Oh não... Você está com aquele olhar!
  - Shh, Leeyum. – Segurei o celular em frente à Eleanor, capturando a imagem. – “Olhem quem encontrei na porta.” Muito forçado?
  - Achei fofo! – El sorriu ao ver o resultado. – Adorei esse efeito...
  - Adoro uma garota com um plano. – Li começou a captar a mensagem.
  - Oh, Baba, então você deve me amar...

+++

  Depois que Louis ligou para Pablo, descobriu os planos que ele e sua ‘namorada’ teriam para a tarde. Um belo passeio pela Rue de la Paix, rua conhecida pelas suas lojas de jóias, onde casais procuram diariamente anéis de noivado grandes e caros. Além de terem contratado paparazzis para seguir os dois, a Modest! torcia para conseguir manchetes em jornais parisienses e rumores de noivado entre Louis Tomlinson e sua linda namorada Eleanor Calder. Nenhum de nós sabia quem realmente compraria aquela história, mas Pablo esperava que fosse o mundo todo.
   Ao saber que aquela segunda-feira seria a última vez que eu poderia estar na casa onde cresci, nana, o resto dos meninos e eu fomos para lá. A senhora subiu para seu quarto para tirar uma soneca e Harry, Liam e eu ficamos pela sala. Haz estava no sofá, brincando com o iPad de Lou e Liam fazia abdominais no canto. Eu, por outro lado, fazia alongamentos de ballet para não perder o jeito. Usando a estante como barra, deixei uma mão sobre ela e a outra auxiliava a perna esquerda a subir até que estivesse totalmente erguida.
  - Baba, você consegue me levantar? – Abaixei a perna e minha pergunta fez Liam parar os exercícios e levantar.
  - É claro que sim. Pra onde quer ir? – Passou o braço direito por baixo dos meus joelhos e quando vi já estava em seus braços.
  - Assim não! E uau, você é muito forte... – Me soltei dele, ainda impressionada com sua facilidade de me carregar. – Preciso que você deite no chão.
  - Aposto que nunca imaginou ela falando isso... – Harry pensou alto, deitado no sofá.
  - Shut up, Harold. – Li fez o que eu pedi, deitando de costas no chão. – E agora?
  - Dobre os joelhos... E encaixe os pés aqui no meu quadril... – Enquanto explicava nossas manobras, me inclinei para cima dele, que entendeu bem o que fazer. Quando demos as mãos e me senti bem apoiada, o menino esticou as pernas, me erguendo. – Isso é divertido!
  - Já podem ir para o circo. – O de cabelos cacheados comentou, ainda que tentasse parecer desinteressado.
  - Não segurei as minhas mãos, vou tentar fazer uma coisa... Apenas deixe as palmas abertas. – Pedi para Liam, ignorando Harry. – Olha isso!
   Já estava com as pernas esticadas até a ponta dos pés quando Liam me levantou. Em seguida, respirei fundo e flexionei o abdômen criando um suporte maior para o resto do corpo. Liam manteve as mãos abertas como eu pedi, o que me permitiu abrir os braços. Era como se eu estivesse voando! Já vira Bartira fazer isso com um dos alunos, mas era a minha primeira vez tentando. Senti-me orgulhosa de ter conseguido de primeira. Minha base humana sorria impressionada quando me ajudou a voltar para o chão e aceitou uma mão para se levantar.
  - Isso foi legal. Aprende coisas assim na Academy?
  - Temos uma aula chamada Partnering, que é voltada pra esse tipo de coisa. Aprendemos a confiar no parceiro, a levantar e trabalhar como equipe. – Expliquei. Não era sempre que alguém se interessava por esse assunto. – Quer aprender alguma coisa?
  - Tá brincando?! É claro! – Imaginei que fosse negar, então sua animação me surpreendeu de uma forma boa. – Manda!
  - Esse é um pouco mais difícil, mas acho que você consegue. – Segurei-o pelo pulso e o trouxe para o meio da sala. – Você colocar essa perna pra trás, e a esquerda pra frente, flexionando levemente o joelho... A perna de trás pode ficar esticada e mantenha o peso do corpo na perna da frente.
  - Assim? – Seguiu minhas instruções perfeitamente, mas quase perdeu o equilíbrio.
  - Pode aproximar um pouco mais as pernas, ou vai acabar caindo. – Ri, apontando para onde a perna direita dele deveria ir. – Eu vou fazer de conta que darei uma cambalhota, mas ao invés de tocar o chão, usarei a sua coxa que está na frente de apoio. Você vai segurar a minha cintura e me levantar, e quando fizer isso, traga o pé que está atrás, pra frente... Acha que consegue?
  - Essa vai ser boa. – Harry tirou a atenção do tablet e a depositou em nós dois.
  - Acho que consigo. – Liam aceitou o desafio com confiança e não saiu de posição.
  - Eu confio em você.
   Confiar em Liam era uma coisa, mas confiar em suas habilidades com a dança era completamente diferente. Só iria saber se tentasse e fui em frente. Mergulhei com o corpo no espaço entre as pernas separadas do garoto e abracei a sua perna frontal. Ergui minhas próprias pernas como se estivesse plantando bananeira e meu corpo ficou colado ao dele. Liam segurou a minha cintura e deixei as pernas caírem sobre o seu ombro. Em seguida, ele deslizou as mãos até segurar as minhas e voilá! Eu estava sentada sobre o seu ombro.
  - OLHA, HARRY, OLHA! – Liam se empolgou e Harry já estava olhando. – E agora?!
  - Agora é só me colocar no chão. – Ri do menino, vendo a hora em que ele começaria a pular de animação.
  - Como eu faço isso? – Me olhou, confuso. – Pela frente ou por trás?
  - Isso é outra coisa que você nunca imaginou que falaria. – Harry comentou mais uma vez.
  - O que há com você hoje? – Li terminou decidindo me ajudar a escorregar pelas suas costas e logo estava no chão.
  - Não liga pra ele, Leeyum. – Sentei no braço do sofá e Harry rolou os olhos. – Haz só está assim porque o namorado está procurando um anel de noivado com a namorada.
  - Blablabla. Quando você tem que estar no desfile mesmo? – Estalou, irritado.
  - Só daqui à uma hora e meia. – Rebati com um sorrisinho de canto.
  - Guys...
  - Eleanor é bem legal. Não seria tão ruim se ela estivesse namorando Lou de verdade... – Li sentou na minha frente.
  - Hey, guys! – Hazza nos chamou, mas não era pra reclamar. – Escuta isso...
   Liam e eu olhamos para Harry, esperando o que quer que fosse que ele queria que escutássemos começar. Então, o de olhos verdes aumentou o volume do iPad e uma canção conhecida começou." Hey girl I'm waiting on ya, I'm waiting on ya. C'mon and let me sneak you out. And have a celebration, a celebration. The music up the windows down.” A voz de Liam era clara, cantando a música que não deveria ser lançada até a semana que vem. Os meninos se entreolharam com dúvidas e eu não estava muito diferente. Era a única a ter uma cópia do novo CD além do que estava na gravadora e eu não a postei em lugar algum!
  - Isso não está certo... – Li apertou os olhos. – Onde você encontrou essa música?
  - Todo mundo está falando sobre ela! Parece que vazou... Encontrei em um Tumblr, mas está em todo lugar! - Sentou-se no sofá, passando a mão pelos cabelos. – Vou ligar para Pablo e perguntar se ele sabe algo sobre isso.
  - É melhor mesmo. – O outro menino sentou de lado e, como eu estava sentada no braço do sofá, teria caído se ele não tivesse segurado as minhas pernas e as prendido em volta de si. – Coloque no viva voz.
  - Não falem que eu estou aqui! – Pedi, escutando o primeiro bipe da chamada.
  - Pode falar, Harry. – Pablo atendeu sem muita demora, o que era algo bom. – Como vai?
  - Tudo bem, man... Liam está aqui comigo.
  - Oi, Liam! Qual o motivo dessa conferência? – Pablo até soava um pouco simpático quando não sabia que eu estava por perto.
  - Estávamos na internet agora e notamos algo estranho... Live While We’re Young vazou? Não sabíamos que o lançamento estava adiantado. – Li perguntou.
  - Ah, é verdade… Não, o lançamento ainda está marcado para a semana que vem sim, Liam. O que aconteceu é que precisamos de uma distração, pra tirar a atenção da foto de Louis e Harry e colocar em outro lugar.
  - Mas Eleanor já estava vindo pra cá. – Harry tentou.
  - Sei disso, mas ela só podia ir hoje... Precisávamos de algo imediato. Eu sinto muito que tenha chegado a esse ponto, sei que estavam ansiosos pelo lançamento do single. Foi até bom vocês ligarem. Lembrem-se de avisar aos outros meninos sobre não comentar sobre esse vazamento. Tudo vai correr como se nada tivesse acontecido.
  - Tudo bem, Pablo, obrigado. – Liam agradeceu não sei pelo quê e Harry desligou. – Bem... O que acham disso?
  - Bullshit! – Xinguei, não sendo surpresa pra ninguém. – Eu sei o que eles estão fazendo! Estão querendo estar um passo a nossa frente!
  - Aqui está ela, , a revolucionária. – Haz riu, mas não fiz o mesmo.
  - Eles não são os únicos que podem vazar uma música. – Cruzei os braços.
  - O que você vai fazer? – Li olhou-me por cima do ombro.
  - Nada, por enquanto. Eles estariam esperando.
    

Chapter LI

- , anda loooooooogo! Eu estou morrendo de fome. – choramingava, sentada em cima da bancada do banheiro do primeiro andar da Academy. Éramos as únicas duas ali dentro, então ela podia ser escandalosa.
  - E eu vou morrer de frio se você não me deixar terminar de trocar de roupa! – Já havia vestido a calça jeans e calçado os tênis, agora só precisava colocar a blusa por cima do collant e o casaco. – Parece até que o inverno chegou.
  - Nisso você tem razão... – Suspirou, ajudando-me a encontrar o buraco onde a minha cabeça deveria entrar. – Acho que começará a nevar antes do natal!
  - É o que estou torcendo para que aconteça. Precisamos de um natal branquinho esse ano. – Soltei os cabelos do coque, transformando-o em um rabo de cavalo. – Acho que estou pronta.
  - O refeitório já está cheio mesmo, não sei nem se vale a pena irmos até lá. – Resmungou, descendo do banco improvisado.
  - Eu não estou com fome, então a escolha é sua. – Dei de ombros, pendurando a mochila nas costas.
  - Está pensando no que aquele cara falou na TV? Sobre você não ter “corpo de modelo”? – Fez aspas no ar e duvidei seriamente se deveria levar aquilo como uma consolação ou provocação.
  - Agora estou! – Fiz careta, abrindo a porta do banheiro e saindo para o corredor.
  - Agora está o que? – Ashton nos esperava encostado à parede.
  - Nada! – Respondi encarando , esperando que ela entendesse o recado. – Desculpa ter te deixado esperando.
  - Não tem problema. Só achei que alguém tinha morrido aí dentro. – O australiano brincou. – Vamos comer?
  - ATENÇÃO, ALUNOS. – A voz da diretora Agnes saiu das caixas de som no corredor. – FAVOR TODOS SE DIRIGIREM ATÉ O AUDITÓRIO... CALMAMENTE.
  - É isso. Eu vou morrer por desnutrição! – passou o braço pelo meu, se pendurando como se estivesse fraca demais até pra andar.
  - Quando chegarmos ao auditório eu te dou seus docinhos. – Ofereci e seu aperto só aumentou.
  - Eu te amo, !
   Claro que amava! Ash me ajudou a carregar a dramática pelo corredor. Como estávamos no primeiro andar, chegaríamos ao auditório rapidamente. Não fazia idéia do que poderia ser, mas torcia para ter uma nova reunião do elenco da peça de fim de semestre. Nada compensaria pela minha falta no dia anterior, porém, seria um bom começo. O roteiro era consideravelmente menor que o de Romeu e Julieta e estava na minha mochila. Com a pequena olhada que dei no seu conteúdo quando o entregou a mim já percebi que a dança seria bem mais constante do que interpretações propriamente ditas e isso me alegrou.
   O auditório ainda estava começando a encher quando chegamos nele, o que nos daria total liberdade de escolher onde iríamos sentar. Se dependesse de , esse lugar seria bem ao fundo e Ashton seguiria seu pedido, me restando nenhuma escolha a não ser fazer as suas vontades. Porém, algo naquele salão parecia diferente, quase entranho. Foi então que eu descobri do que se tratava. Em frente ao palco de cortinas fechadas estava um homem grande e forte, vestido em preto. “O que ele está fazendo aqui?” Sorri com o que aquilo significava e me pus a correr em sua direção.
  - , onde você está indo?! – me chamou, mas não parei.
  - Vem também! – A chamei. O som de minha voz fez o homem alto me olhar e abrir um sorriso tão grande quanto os braços que me aguardaram. – Pauly!
  - Aqui está a minha garota! – Paul me suportou quando pulei em seus braços e tirei os pés do chão. – Faz tempo que não a via.
  - O que você está fazendo aqui?! – Fui colocada no chão, ainda animada com a sua presença em minha academia. – Os meninos estão aí?
  - Estão se arrumando... Vieram fazer uma surpresa! – Aquilo significava que eu veria Zayn em poucos minutos. Só gostaria de saber como eu me sentia sobre isso. – ! Faz mais tempo ainda que eu não lhe vejo.
  - Oi, Paul. – A menina apenas sorriu, claramente não tão íntima do segurança quanto eu.
  - Você sabia disso? – Questionei a minha amiga. – Eu não tinha idéia!
  - Ninguém me disse nada. – A ruiva também sabia daquilo tanto quanto eu. – Vamos sentar antes que peguem nossos lugares.
  - Nos falamos depois, Pauly. – Deixei um beijo em sua bochecha e me afastei.
   Ashton mostrara a sua funcionalidade ao sentar no meio da primeira fila e guardar lugares para e eu. Ele estava no centro, a sua esquerda e eu a direita. Assim teríamos uma visão completa do palco, da mesma forma que quem estava no palco poderia nos ver. Minha melhor amiga ficou tão animada por estar prestes a ver o “namorado” que esqueceu completamente a fome e os doces que eu lhe prometera. Mais rápido que o de costume, o auditório se encheu. Alguns gritinhos que meninas soltavam ao também reconhecer Paul mostrava que nós duas não éramos as únicas a descobrir que os meninos estavam ali. Se pararmos pra pensar, não era tão difícil de se esperar que dois ex-alunos da academia viessem se apresentar depois de estar fazendo tanto sucesso. A diretora arrumou-se dos pés à cabeça aquela manhã, orgulhosa por seus pupilos estarem ali. Usando a escada na lateral, Agnes subiu ao palco e foi até o meio, onde as cortinas se encontravam. Procurou algo ali dentro e retornou com o microfone.
  - Bom dia, queridos alunos. – Nem para falar aquilo a mulher sorriu. – É com muito orgulho que hoje vos trago uma apresentação muito especial! A banda de dois dos nossos melhores alunos. A prova de que, se vocês se esforçarem, conseguirão tudo o que quiserem. Como a maioria de vocês deve conhecê-los... Eu peço uma salva de palmas para o One Direction!
   Simples assim, o espaço inteiro foi preenchido por palmas e gritos de fãs ou alunos que foram na onda da animação. Também bati palmas, o que facilitou o controle das minhas mãos que tremiam. Sabia que teria que ver Zayn mais cedo ou mais tarde e a grande parte de mim pedia pra que fosse logo! Mas precisava ser tão logo? Liam, Harry, Louis e eu chegamos a Londres às duas horas da manhã, já que deixamos Paris logo após o desfile, à meia noite, e com isso quase não dormi nada. Sem mais delongas, as cortinas foram abertas e os meninos entraram, saindo da coxia. Pablo os acompanhava, mas sentou em um banco mais afastado dos outros cinco enquanto os meninos vieram até a frente para agradecer os aplausos e acenar.
  - Obrigado, obrigado! – Niall foi o primeiro a falar em seu microfone, assoprando um beijo para . Foi difícil, mas os gritos se contiveram. – É uma grande felicidade estarmos aqui mais uma vez. Parece que foi ontem que estávamos na sala do terceiro andar, aprendendo a afinar um violão. Não é, Zayn?
  - Absolutamente. – Respondeu simplesmente. Sua voz me deixou arrepiada, mas tentei esconder.
  - Muito bem, meninos, vamos começar? – Pablo também ganhara um microfone e com seu pedido, os cinco foram para seus acentos. – Hoje eles irão cantar duas músicas do novo CD, especialmente pra vocês! E, claro, responder algumas perguntas. Harry, porque não introduz essa primeira música?
  - Ficarei feliz em fazer isso. – Curly sentou com os pés cruzados para trás. – Esta se chama, Live While We’re Young. Niall, hit it.

  
Hey girl I'm waiting on you
  I'm waiting on you
  C'mon and let me sneak you out
  And have a celebration, a celebration
  The music up the windows down
   Niall começou a tocar a música no violão e Liam puxou o primeiro verso. A versão acústica era bem diferente da que eu tinha no CD e sinceramente achei bem melhor. Não que a do disco fosse ruim, mas com apenas um violão dando a melodia era bem mais fácil escutar as vozes e harmonias dos cinco garotos. Uns olhavam para os outros, sorriam e faziam brincadeirinhas que ninguém daquela platéia entenderia. Ninguém além de e eu. Chegava a ser estranho assisti-los ali em cima enquanto estava ao lado de fãs que cantavam e dançavam atrás de mim. Era nessas horas que eu lembrava que agora eles eram famosos, além de serem meus meninos.

  
Yeah, we'll be doing what we do
  Just pretending that we're cool
  And we know it too
  Yeah, we'll keep doing what we do
  Just pretending that we're cool, so tonight.
  Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
  I know we only met but let's pretend it's love
  And never never never stop for anyone
  Tonight let's get some
  And live while we're young
  And live while we're young

  Zayn foi o Segundo a cantar e esqueci de como se respire. Já era tortura o suficiente estar ali de frente pra ele e escutar a sua voz tão macia e deliciosamente afinada e ele ainda tinha que ficar me encarando. Tentei evitar o seu olhar em cima de mim, mas o magnetismo que me puxava a ele era forte demais. Quando me dei por vencida e o fitei de volta, assisti sua mão que segurava o microfone tremer um pouco, não o impedindo de atingir sua última nota.

  
Hey girl it's now or never, it's now or never
  Don't over a thing, just let it go.
  And if we get together, yeah get together
  Don't let the pictures leave your phone ooooh
  Yeah, we'll keep doing what we do
  Just pretending that we're cool, so tonight

  Niall pegou o próximo verso, mas o dividiu com Zayn. Não lembrava de na versão original ele ter tantas estrofes assim ou se fazia aquilo porque queria me matar do coração de uma vez. A vontade que senti de subir naquele palco e agarrá-lo era demais! Mas era nesse momento que eu lembrava o motivo bem grande pelo qual eu não podia fazer isso e um frio tomava conta do meu estômago, me fazendo agradecer não ter comido nada.

  
And girl
  You and I
  We're about to make some memories tonight
  I wanna live while we're young
  We wanna live while we're young
  Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
  I know we only met but let's pretend it's love
  And never never never stop for anyone
  Tonight let's get some
  And live while we're young

  Os cinco encerraram a música e tentei não estudar o seu significado. Ela falava exatamente sobre o argumento que eu usara ao pedir um tempo pra Zayn; que ele era jovem e por isso poderia aproveitar a vida e as coisas que agora estavam ao seu fácil acesso. Apertei a mochila em meus braços, esperando que isso substituísse o aperto no estômago.
  - , você está bem? – estranhou a minha reação e apenas afirmei com a cabeça, incapacitada de falar.
  - Obrigado! – Liam agradeceu os novos aplausos e ninguém se levantou.
  - Podemos ir ás perguntas agora? – Pablo perguntou e com isso várias mãos foram ao ar. – Você aí, a de verde! Pode perguntar.
  - Eu gostaria de saber o que vocês gostam de fazer no tempo livre... E dizer que eu amo vocês, tipo, demais! – A menina ficou de pé para perguntar e pulou sem sair do lugar.
  - Também te amamos! – Liam riu ao microfone, tomando a liderança pra responde primeiro. – Acho que posso por todos nós... Somos bem tediosos, na verdade. Gostamos de ficar em casa, passar um tempo com os amigos, assistir filmes. Essas coisas.
  - Próxima pergunta... Você no fundo!
  - O que ganhar o concurso do X Factor representou pra vocês? – Uma menina do curso de música quis saber.
  - Honestamente, tudo! E nós seremos eternamente gratos a todos que votaram e continuam nos apoiando quase um ano depois. Não seriamos nada sem os fãs e começar em um programa tão grande como o X Factor é mais do que qualquer um de nós sonhou. – Louis respondeu a essa pergunta que acreditei ser um tanto óbvia demais.
  - Eu tenho uma pergunta! – Um dos meninos do curso de ballet levantou, abanando a mão no ar. – Qual de vocês está solteiro?
  - Zayn, Niall e Harry estão solteiros no momento. – Pablo respondeu no lugar deles, prevenindo qualquer erro.
  - Eu estou solteiro, mas não por muito tempo. – Niall falou, causando murmúrios na platéia. – Estou de olho em uma ruivinha sentada na primeira fileira.
  - Uhhhhhhh. – Ash puxou, cutucando .
  - É ele? – Harry mexeu os lábios para que eu entendesse sua pergunta silenciosa.
  - É sim! – Sussurrei de volta. Cutuquei Ashton e apontei para Harry, que o encarava de longe. – Ash, aquele ali é o irmão da Gemma...
  - Oh... – Senti a postura do menino endurecer ao acenar para o irmão da pretendente.
  - Tenho uma pergunta para Zayn. – A voz mais enjoada que já escutei se pronunciou. Era Helena. – O que você vai fazer mais tarde?
  - Vou descansar em casa... – Ele respondeu, sem ter tanta certeza.
  - Se mudar de idéia, me avise. – Deu em cima dele descaradamente e tenho certeza que foi de propósito.
  - Ugh. – Resmunguei baixo, fazendo cara de nojo e encarando o nada.
  - , tem alguma coisa brilhando na sua mochila. – Ash me cutucou, apontando para o objeto em meu colo.
  - É meu celular. – Imediatamente ergui os olhos para o palco e encontrei Zayn com o próprio aparelho em mãos.

  
“Pode me encontrar antes de voltar para a aula?”
  “Sabe onde me encontrar.”
  

+++

  Então era isso, a hora da verdade. Após a apresentação um tanto curta do One Direction, despistei e Ash facilmente, porque os dois foram até o backstage acompanhados de Paul; por razões diferentes, mas ainda assim. Subi até o último andar pelas escadas, porém, esse não foi o motivo de ter ficado se ar ao chegar ao terraço. A qualquer momento Zayn iria passar por aquela porta que agora era aberta pelos dois lados e seriamos obrigados a conversar. Não “conversar” sobre qualquer coisa, mas “conversar” no sentido mais pesado da palavra. Ali em cima correntes de ar corriam por todo espaço, mas não era de frio que eu tremia, e sim de nervosismo.
   Caminhei devagar até o parapeito, soltando a mochila até que ela caísse em meus pés. Lá embaixo, folhas eram arrastadas tranqüilas pela grama e essa direção de olhar me deixou tonta. Virei de costas, encarando a porta. Peguei impulso no chão e me sentei sobre o parapeito, pousando as mãos no colo e tentando escondê-las dentro das mangas do casaco. O som de ferro sendo arrastado me arrepiou. Zayn acabava de chegar ali em cima e agora caminhava na minha direção. Ele não sorria tampouco chorava. Pela primeira vez não consegui ler seu olhar e aquilo me assustou.
  - Você queria me encontrar? – Pergunta idiota, .
  - Tem muitas coisas que eu gostaria de te falar agora, mas não tenho idéia de como fazer isso. – Soou frustrado, correndo os dedos pelos fios escuros. – Posso cantar pra você?
   Apenas afirmei com um balanço de cabeça e foi resposta o suficiente. Zayn se aproximou alguns passos e seu olhar atravessou o meu peito. Permaneci sentada ali, sem saber pra onde olhar. Ele parecia tão... Vulnerável. Quase frágil; a ponto de quebrar a qualquer momento. Apertei uma mão na outra quando ele limpou a garganta, se preparando para começar.

  
So your friends been telling me, you’ve been sleeping with my sweater.
  (Então, seus amigos tem me falado que você tem dormido com o meu suéter)
  And that you can’t stop missing me…
  (E que você não consegue parar de sentir a minha falta)
  Bet my friends been telling you I’m not doing much better.
  (Aposto que meus amigos tem te falado que eu não estou muito melhor)
  Cause I’m missing half of me.
  (Porque está faltando uma parte de mim)
  Being here without you is like I’m waking up to…
  (Estar aqui sem você é como acordar para…)
  Only half of blue sky. Kind of there but not quite.
  (Apenas metade de um céu azul, mais ou menos lá, mas não muito)
  I’m walking around with just one shoe, I’m half a heart without you.
  (Estou andando por aí com apenas um sapato, sou metade de um coração sem você)
  I’m half a man at best. With half an arrow in my chest.
  (Sou metade de um homem, se muito. Com a metade de uma flecha em meu peito)
  I miss everything we do, I’m half a heart without you.
  (Sinto fata de tudo que fazemos. Sou metade de um coração sem você)

  Por não ter nada além da sua voz, a canção se tornou crua. Como se ele estivesse nu na minha frente, abrindo o coração e despejando tudo que havia ali dentro. Zayn colocava em versos o que não conseguiria falar em um discurso e tinha razão em fazer isso. Eu entendia exatamente o que ele estava falando, o que queria dizer.

  
Forget all we said that night…
  (Esquece tudo que falamos naquela noite...)
  No, it doesn’t even matter, ‘cause we both got split into two.
  (Não, isso nem importa, porque nós nos dividimos em dois)
  If you could spare an hour or so we go for lunch down by the river…
  (Se você puder gastar uma hora ou duas, vamos almoçar perto do rio)
  We can really talk it through.
  (Nós podemos conversar sobre isso)

  Aproximou-se ainda mais, podendo me tocar se esticasse o braço, mas não o fez. Apenas continuou ali, me afogando com suas palavras. Com seu pedido de desculpas. Na música, pedia para esquecermos tudo que falamos na última noite, mas não era só isso. Queríamos esquecer tudo de ruim que já aconteceu, desde o começo. E em seu lugar, colocar todas as lembranças. Todas as boas memórias. Não importava o que ele fizera, não importava o que nós fizemos... A verdade, o que importava no final das contas, era que nenhum de nós ficava completo sem o outro. Éramos um só coração e se ele fosse separado ficaria pela metade.

  
Though I tried to get you out of my head the truth is I got lost without you.
  (Ainda que eu tente te tirar da minha cabeça, a verdade é que fiquei perdido sem você)
  Being here without you is like I’m waking up to…
  (Estar aqui sem você é como acordar para…)
  Only half of blue sky. Kind of there but not quite.
  (Apenas metade de um céu azul, mais ou menos lá, mas não muito)
  I’m walking around with just one shoe, I’m half a heart without you.
  (Estou andando por aí com apenas um sapato, sou metade de um coração sem você)
  I’m half a man at best. With half an arrow in my chest.
  (Sou metade de um homem, se muito. Com a metade de uma flecha em meu peito)
  I miss everything we do, I’m half a heart without you.
  (Sinto fata de tudo que fazemos. Sou metade de um coração sem você)
  I’m half a heart without you.
  (Sou a meade de um coração sem você)
  Without you, without you…
  (Sem você, sem você)

  A essa altura eu já estava com os olhos ardendo por segurar as lágrimas. As coisas não precisavam ser tão complicadas. Eu sentia a sua falta e ele obviamente sentia o mesmo. Tudo que fazíamos, tudo que vivemos não podia ser jogado fora assim, sem luta. A vida não deve ser fácil, certo? Caso contrário, não teria graça alguma. Zayn terminou a música, pois sua voz já estava rouca e embargada demais pra que ele conseguisse falar qualquer coisa. Seus olhos brilhavam, porque também se segurava.
   Pulei para fora do parapeito, chocando os pés contra o concreto duro. Teria perdido o equilíbrio e tropeçado, mas encontrei os braços de Zayn. Me escondi ali, sentindo todos os problemas começarem a se distanciar. Prendi-o pelas costelas e tive os ombros envolvidos e a sua respiração próxima à orelha. Apertei o seu casaco com as unhas, tamanho era o medo de que ele escapasse entre meus dedos como água e se desfizesse no ar. Sua necessidade de mim estava sendo demonstrada na maneira em que seu peito subia e descia contra o meu, acelerado.
  - Eu tive muito tempo pra pensar, imaginando que você estava certa e que esse período separados nos ajudaria a descobrir o que há de errado... E foi um inferno. Porque desde o primeiro momento eu sabia exatamente o que é. – Interrompeu nosso abraço abruptamente, cedo demais. E senti como se o chão escapasse dos meus pés. – Sou eu. Não sei porque, mas eu sempre tenho medo, como você mesma já falou. Estou sempre assustado, achando que posso não ser o suficiente e minha reação é fazer exatamente o contrário do que deveria. Eu desisto, eu fujo. Então acabei chegando a uma conclusão. Babe... Babe, você merece algo melhor.
  - Como é? – Minha boca se tornou seca e lágrimas caíram pelo canto dos olhos. Zayn tocou a minha bochecha, um toque quente, e secou as que conseguiu. – Não...
  - Você merece alguém que não vá te magoar tantas vezes quanto eu já te magoei. E eu não sou essa pessoa e posso nunca ser. Então eu preciso lhe deixar ir... – Escorregou a mão para o meu ombro, apertando. Zayn estava prestes a chorar e eu já desistira de bancar a forte há muito tempo. – É a coisa certa a se fazer, mas eu... Eu não consigo. Eu queria ter a força pra fazer isso, mas não tenho! E se isso faz de mim um covarde, então tudo bem! Eu posso viver com isso. O que eu não posso viver com é a idéia de que tive tudo que eu sempre quis e fui tão inacreditavelmente estúpido ao ponto de deixar isso ir embora. De deixar você ir.
  - Então não deixe. – Meu coração queria escapar pelas costelas de tão rápido que batia. Segurei o rosto de Zayn com as duas mãos, encostando a testa à dele. – Lute. Lute por mim e eu lutarei por você.
  - Você é a melhor coisa que já me aconteceu, , e se tiver que mudar quem eu sou pra não te perder, eu mudo! – Beijou o topo das minhas bochechas, enxugando as lágrimas.
  - Zayn, mas é exatamente isso. Eu não quero que você mude nada. Eu te amo! Você. Com todos os seus defeitos, porque eles se encaixam aos meus. – Acariciei seu rosto com a ponta dos dedos, deslizando-as da testa para os cabelos. – E você não precisa ter medo... Eu quero ficar com você.
   Zayn não falou palavra alguma, apenas ergueu meu queixo, juntando nossos lábios tão delicadamente que parecia o nosso primeiro beijo. Fechei os olhos, permitindo que outros sentidos se aguçassem. Aquele gesto selava nossas promessas silenciosas. Eu não estava esquecendo a mágoa que ainda me perseguiria por algum tempo, mas estava disposta a trabalhar nisso. E Zayn lutaria por mim, pela minha confiança arranhada. Éramos Zayn e , nunca poderia ser diferente. Um não funcionaria sem o outro, não importa o quanto tentemos. Mas ninguém queria tentar. Eu era desesperadamente devota àquele homem e o seu amor.
  - Me deixa te levar pra casa. – Suplicou.

+++

  - Vem, , ele está aqui... – Zayn me chamou animado, após entrarmos em casa.
  - Tenho certeza que um dragão não vai fugir, baby. Calma. – Pendurei a mochila e o casaco em um dos novos quatro ganchos na parede da entrada e tirei os tênis e as meias.
   Zayn falara o caminho inteiro da Academy para o flat sobre ter uma surpresa e quando eu perguntava o que era, tudo o que ele respondia era “temos um dragão em casa”. Imaginei que fosse um dragão de brinquedo ou até mesmo que ele pudesse ter pintado na parede e era tão bom vê-lo sorrindo e animado que o deixei continuar insistindo para que eu andasse logo. O segui pelo corredor até o nosso quarto, procurando qualquer coisa que pudesse ter asas ou soltar fogo. Ao invés disso, Zayn ajoelhou próximo a uma mesa que continha um aquário no canto da parede.
  - O que é isso? – Aquele aquário não tinha água ou peixes, mas um tronco e areia. – Zayn, você comprou um lagarto?
  - Sempre quis um! – Bateu no vidro devagar e o bicho mexeu a cabeça. – Pode chegar mais perto.
  - Se você queria um novo animal de estimação, porque não conseguiu um gato ou coelho? Gatinhos são fofos... – Não é que eu não gostasse de lagartos, só os achava um pouco... Blergh.
  - Arnie é mais másculo que isso. – Me olhou e segurei o riso.
  - Arnie? Você o chamou de Arnie? – Cruzei os braços e sentei na ponta da cama.
  - Estou sentindo um pouco de rejeição da sua parte. – Ergueu as sobrancelhas, sem parecer se importar tanto. – Ele é tão fofo... Já percebeu o jeito que ele olha pra você?
  - Yeah... Como se planejasse a minha morte. – Havia algo naqueles olhos pretos e esbugalhados que pareciam ler meus pensamentos.
  - Você está com medo de um lagartinho fofo? – Zayn riu e foi até a abertura na tampa do aquário, colocando o braço lá dentro para pegar o bicho. – Ele não faz nada, viu?
  - Não tenho medo dele contanto que fique longe de mim! – Sem saber explicar o porquê, uma onda de agonia tomou conta do meu corpo, como se o lagarto estivesse subindo pelo meu braço. – Zayn, não!
  - Só toca nele... Aqui. – O lagarto estava em sua mão e mal se mexia. Zayn aproximou-o de mim e dei um pulo da cama, me assustando.
  - Você acha que ele sente o cheiro de medo? – Tive uma completa aversão àquele lagarto, ainda que sua coloração amarelada fosse bonita. – Por favor, coloca ele de volta no aquário...
  - Quer ver ele andar? – Me ignorou completamente, ameaçando soltá-lo no chão.
  - ZAYN MALIK!
   Gritei parecendo uma garotinha fresca e corri. Assim que virei de costas, imaginei que Arnie estava vindo atrás de mim e morderia os meus pés a qualquer momento, então entrei no banheiro, fechei a porta e girei a chave. Meu inconsciente amedrontado acreditava que o lagarto pudesse escalar a madeira e girar a maçaneta. Escutei as risadas de Zayn vindo do quarto e não o culpava. Ele não tinha nojo dessas coisas. A cobra tatuada que tinha em seu ombro era prova viva do seu gosto por répteis e animais nada convencionais.
  - Sai daí, babe... – Bateu na porta.
  - Não até você colocar... Arnie ou sei lá o quê de volta no aquário e fechar a tampa! – Ameacei ficar ali dentro pra sempre e estava disposta a fazer isso para salvar a minha vida.
  - Ele não consegue sair sozinho mesmo que a tampa esteja aberta, não seja boba. – Insistiu.
  - Ou é isso o que ele quer que você pense! – Me abracei involuntariamente, buscando proteção. – Colocou ele lá?
  - Sim! Pode sair, eu prometo que o lagarto malvado está na jaula. – Sua promessa não era das mais confiáveis, por isso abri apenas um centímetro da porta, espiando o quarto. – Viu? Não está comigo. Arnie só queria um beijinho.
  - Eu beijo você, não o lagarto. – Tá aí uma coisa que sentia falta, os beijos de Zayn.
   Sentei ao seu lado na cama e o menino já se inclinou na minha direção, fazendo bico. Parecia uma criancinha, o que me fez rir antes de tocar a sua nuca e trazer seu rosto pra mim. Nos olhamos longamente antes que ele fizesse as honras e capturasse meus lábios com os dele. Não foi um beijo de cinema, mas era calmo e terno, tudo que eu precisava naquele momento. Estava com Zayn e devagar as coisas voltariam para o seu lugar. O menino usou os dedos para tocar o meu ombro, o que me assustou e me fez bater em sua mão com um grito. Ele gargalhou porque sabia que eu pensara que Arnie estava subindo em mim e me senti mais tola do que antes.
  - Desculpa, babe. Você realmente tem medo?
  - Não é medo... – Fiquei de joelhos na cama, indo para o meio dela e me jogando nos travesseiros. – Okay, talvez um pouco. Não me importo que você tenha um lagarto, contanto que eu não precise pegar nele.
  - Não precisa. Mas quem sabe não comece a se acostumar com ele... – Tirou os sapatos e o casaco e fez o mesmo que eu, deitando ao meu lado.
  - Espera... O aquário não vai ficar aqui... No quarto, certo? – Ergui uma sobrancelha, desconfiada.
  - Onde mais eu o deixaria? Na sala? Ele vai se sentir sozinho lá. – Fez bico na esperança de me amolecer. – Arnie não faz barulho algum, você nem vai lembrar que ele está aqui.
  - Zayn, deixe-me explicar melhor. – Sentei para parecer mais séria. – Se Arnie for dormir aqui, eu não durmo.
  - Ugh, tá bem! Eu levo ele para o quarto de jogos... – Bufou e eu sorri vitoriosa. – Só pra constar, quando você vier morar aqui, eu nunca mais vou ganhar essas discussões?
  - Quando é que você já as ganhou? – Apertei suas bochechas, obrigando-o a fazer um bico, o qual beijei repetidas vezes.
  - Se esse for o preço a se pagar... – Sorriu com os beijos e colocou as mãos nas minhas costas, acariciando por baixo da blusa. – Você ainda não me contou como foi a viagem...
  - Paris é linda nessa época do ano! Vimos as luzes da torre, Liam comeu escargot... Minha mãe está grávida, mas isso eu já te contei. – Pensei no que mais poderia contar agora que precisava atualizá-lo. – E o desfile foi bem legal! Não foi como o da Mulberry, porque eu não estava tão confortável, mas ainda gostei. Eu posso te mostrar o vídeo, se quiser. Aposto que está na internet...
  - Eu assisti ao desfile. – Admitiu com um sorriso enorme que me surpreendeu. – Você parecia um bolo de aniversário.
  - Não parecia nada! – Gargalhei, batendo em seu peito. – O vestido era volumoso sim, mas muito bonito, okay?!
  - Nunca falei que era feio! – Se defendeu, segurando as minhas mãos para não apanhar mais. – Especialmente com aquelas flores gigantescas no seu ombro...
  - Shut up, Malik. – Rolei os olhos. A roupa que me foi destinada era com certeza a mais espalhafatosa do desfile, o que quer dizer que foi a que chamou mais atenção... Mas isso não necessariamente devia ser algo ruim. – Ah! Adivinha... Nana está vendendo a casa.
  - A casa dela? A que você cresceu? – Viu só? Zayn me entendia! – Como você se sente sobre isso?
  - Eu recebi a noticia bem mal... – Afirmei com um aceno de cabeça. – Mas depois Lou conversou comigo e explicou que ela só está fazendo isso porque as lembranças são demais. Até porque ela morava ali desde que se casou com papá.
  - Nana vai morar com sua mãe e Dan agora? – Apoiou a cabeça no meu colo, como um filhote pede carinho.
  - Yep! Vai ser bom para as duas, porque minha mãe precisará de ajuda com os gêmeos... Mas vai ser ruim não poder voltar ao lugar onde cresci, ao meu quarto. – Me distraí acariciando seus cabelos em um cafuné calmo.
  - Hey... – Afagou a minha bochecha. – Esse aqui é o seu quarto agora. Você ainda vai vir morar aqui... Não vai?
  - Tenho escolha? – Sorri, pensando em fazer alguma piadinha sobre ter que ficar de olho nele, mas ainda era cedo demais. – Vou começar a trazer as minhas coisas pra cá essa semana.
  - Yaaaay! – Comemorou com um sorriso que diminuiu seus olhos amendoados. Simplesmente adorável. – Aí poderemos ir ao supermercado juntos... E você vai brigar por eu só colocar doces no carrinho... E aí vou te beijar no meio do corredor de cereais.
  - É um plano. – Gostei de vê-lo mais empolgado do que antes com a nossa mudança. Ou a minha mudança, no caso. – Acho melhor só trazer pra cá depois que estiver instalada... Ou ele fará mais bagunça que o necessário.
  - Acha que o pequeno vai gostar de Arnie? Os dois são irmãos agora!
  - Não sei quem é a mãe do seu lagarto, mas não sou eu! – Quis deixar bem claro. – Por falar em repteis, você não me deixou ver a sua tatuagem até agora!
  - Babe, se queria que eu tirasse a camisa era só pedir. – Sentou e puxou a camisa pela gola em uma velocidade que me impressionou. – Preciso passar a pomada... Quer ajudar?
  - Babe, se queria que eu esfregasse óleo em você era só pedir. – Ele não era o único a captar indiretas. – Onde está?
  - Aqui... Em algum lugar. – Revirou a gaveta na mesinha de cabeceira do seu lado da cama até encontrar um tubo de Bicitracin e me entregou. – Ahá! Devagar, porque ainda está irritado.
  - Não é a minha primeira vez tomando conta de uma tatuagem sua, Zayn! – Eu sabia o que estava fazendo. Sentei ao seu lado, melando dois dedos com a pomada. – Posso perguntar o que aconteceu no dia que você fez essa tatuagem?
  - Sei que você vai perguntar de qualquer jeito. – Riu, abaixando a cabeça. Comecei a cobrir a cobra devagar com a pomada, espalhando com cuidado. – Um grupo de paparazzis estava me esperando na porta... E as coisas acabaram ficando um pouco quentes.
  - Quentes? Eu nunca te vi tão bravo... – Pela relutância de Zayn, senti que era um assunto delicado, mas insisti. – O que eles falaram?
  - O de sempre. Me ridicularizaram por estar em uma “boyband” e essas coisas. – Não era algo bom de se escutar, mas também não era a primeira vez que paps faziam esse tipo de comentário. – Mas eu perdi a cabeça quando começaram a falar de você...
  - De mim? – Estranhei, fazendo movimentos circulares com os dedos. – O que... Exatamente?
  - Coisas que eles queriam fazer com você.
  - Coisas ruins? Me ameaçaram?
  - Não nesse sentido... – Me olhou significativamente, mas eu não sabia o que queria dizer. – ... Pensa um pouco.
  - Oh... Oh! Ew, não! – Fiz cara de nojo após entender o que os paparazzis disseram que queriam fazer comigo. – Não importa o que falem... Só você pode fazer essas coisas comigo.
  - Eu sei. – Concordou, me deixando beijar sua bochecha. – Mas não quer dizer que você não precisa ter cuidado.

    

Chapter LII

- Chegamos! – Bati palmas silenciosas, animada por estar novamente ao estúdio de tatuagem de Ami.
  - É bem limpinho... – era quem me acompanhava. Estávamos paradas na porta e a ruiva espiava pela parede de vidro. – Pode entrar primeiro, eu só vou ver-
  - Não vai ver coisa nenhuma, vem logo. – Agarrei-a pelo pulso, obrigando-a a subir as escadas e entrar na loja.
   A manhã na Academy foi bem calma. Tivemos a primeira metade de aulas e a segunda foi preenchida pelos testes médicos e checkups de sempre. Por eu ter sido uma das primeiras a ser examinada pela enfermeira Mary e conseguiu mais uma vez se esconder e escapar, nós duas fomos liberadas pra ir pra casa ou fazer o que quiséssemos. Eu pretendia aproveitar essa oportunidade para começar a minha mudança, mas a ruiva tinha idéias melhores. Para ser mais precisa, ela me perturbou a manhã inteira, afirmando que criou coragem para fazer a primeira tatuagem e tinha a idéia perfeita. Como a boa amiga que sou, liguei para o estúdio e marquei um encontro para nós duas. Agora que nos aproximávamos na hora H, ameaçava dar pra trás.
  - Tá bem, estou aqui, já entrei! Não precisa arrancar a minha mão fora. – Sussurrou para não chamar atenção de quem já estava ali dentro esperando para ser atendido. – O que fazemos agora?
  - Vamos avisar que chegamos. – Expliquei como se fosse óbvio, apontando para o balcão da recepção. Ri, mas imaginei se eu estava daquela forma antes de ter a minha primeira tatuagem. – Bom dia...
  - Olá, meninas. Em que posso ajudar? – Uma mulher diferente da que eu já conhecia sorriu amigável.
  - Temos hora marcada com Ami... – A informei, esperando que fizesse algum sentido. Da última vez, Zayn era quem cuidara dessa etapa de explicações.
  - Ouvi o meu nome? – O tatuador sorridente e ainda careca apareceu do outro lado do balcão. – ! Heeey, é bom te ver. Zayn não veio com você?
  - Não, hoje somos só nós duas. – Apertei a sua mão estendida, feliz por ter sido reconhecida. – Essa é , esse é Ami.
  - Oi. – Acenou de longe, como se ao tocar nele já seria atacada com uma máquina de tinta.
  - É só você que vai fazer uma tatuagem hoje? – Ami se debruçou sobre o vidro da mesa, nos estudando.
  - Na verdade, eu farei a minha segunda também. – Admiti. Na minha cabeça, uma voz falava “foi assim que Harry e Louis começaram”.
  - Já era hora! Faz quase um ano que você fez a sua. – Comemorou. O tatuador devia adorar aquilo, além de ser a sua forma de ganhar dinheiro. – Vamos lá, quem vai fazer comigo? , por ser a sua primeira?
  - A minha tattoo vai ficar em uma área meio complicada... Eu prefiro fazer com uma mulher. – A encarei ao escutar aquilo, pensando em todos os lugares que poderia colocar o seu laço. – Não me olhe assim, pervertida! Eu quero um tipo de cordão, dando a volta na minha coxa e amarrando na frente com um lacinho. Mas estou usando calça jeans, então acho que terei que tirá-la...
  - Não se preocupe, é normal. Megan, pode chamar a Kat, por favor? – O homem pediu à sua recepcionista, que afirmou com a cabeça pegou o telefone. – E você, ? Veio fazer uma cobra também, pra combinar?
  - Já é complicado acordar com uma cobra me encarando, não preciso de outra em mim. – Ri, só então entendendo o duplo sentido e minhas bochechas enrubesceram. Tirei o celular da bolsa, procurando a fotografia do que queria. – Aqui. É uma frase em árabe. Quero colocá-la na parte baixa da barriga, ao lado direito.
  - Uh, gostei. O que ela significa? – Segurou o meu celular, estudando a tatuagem.
  - Não posso falar. – Neguei, escutando bufar. Ela também não sabia o significado. – É segredo.
  - Tudo bem! Posso levar o seu celular? Pra poder desenhar no stencil. – O homem era mais compreensivo do que a minha amiga. – Já volto. Kat, a menina de cabelos de fogo é sua!
  - Acho que sou eu! – acenou, suas mãos suando.
   Enquanto Kat e conversavam sobre a primeira tatuagem da ruiva, dei alguns passos para trás, distraída. Observei mais uma vez as paredes e fotografias presas a ela, onde exemplos de tatuagens e imagens de seus clientes. Zayn estava ali ao menos três vezes, o que me fez sorrir. Como é que aquele menino com tantas tatuagens e um lagarto conseguiu me conquistar? Eu gostaria de saber. Após o que pareceram ser dez minutos, Ami apareceu na recepção mais uma vez.
  - , estou pronto pra você. – Acenou em um chamado. – Pode vir.
  - Já chego aí. – Fui até e a abracei de lado. – Nos vemos daqui a pouco?
  - Se eu sobreviver. – Fingiu chorar, mas eu sabia que estava animada.
  - Boa sorte, coisa fofa. – Beijei a sua bochecha em um estalo.
   Megan, a recepcionista, abriu a portinha que separava a frente da loja com o lado de trás, onde ficavam os tatuadores e suas macas, cadeiras e etc. Já sabia o caminho para a cabine de Ami e o homem me esperava sentado em sua cadeira. Antes de mais nada, devolveu-me o celular e o guardei no bolso da calça. Subi na maca e me deitei, erguendo a blusa para mostrar onde queria a tatuagem. Seria do tamanho aproximado ao da tattoo que Zayn tinha naquela mesma região, mas no lado contrário. O tatuador entendeu bem o recado e marcou a minha pele com o stencil e conferimos se estava perfeitamente alinhado, pois eu não queria andar por aí com uma tatuagem torta. Essas coisas são permanentes, sabia?
  - Vou fazer uma linha pra você lembrar como é... – Estava usando óculos dessa vez, e luvas plásticas. Aproximou a agulha da pele e senti o arranhar. Nada que já não tivesse sentido antes e até menos dolorido do que na costela.
  - Como esquecer disso? – Me esforcei para mexer o mínimo possível. – Pode continuar.
  - Ótimo. – Se concentrou, seguindo com o contorno da primeira palavra. – Sei que é um segredo, mas tenho que perguntar... É uma tatuagem pra Zayn, mas não é o nome dele, certo?
  - Certo, não é o nome dele. – Acomodei a cabeça no pseudo-travesseiro, fitando o teto. – É algo mais profundo que isso!
  - Bom, bom! Você não imagina a quantidade de tatuagens assim que já precisei cobrir. Não estou falando que você e Zayn vão ter o mesmo destino que esses casais, mas é minha responsabilidade como tatuador alertar que são permanentes. – Ami não se distraia ao conversar enquanto tatuava. E eu até preferia assim, porque tirava a atenção da dor para responder às suas perguntas.
  - Essa tatuagem é mais que o nome dele. É uma promessa. Engraçado como às vezes uma coisa ruim tem que acontecer pra você meio que acordar... E perceber que algumas coisas precisam mudar. Não só em quem cometeu o erro, mas na outra pessoa também. – Não sabia se estava fazendo sentido, tampouco conseguiria explicar a história toda. – Um relacionamento é uma rua de duas mãos e se começa a não dar certo, a coisa mais fácil a se fazer é largar ou desistir... E essa tatuagem é uma promessa de “hey, eu não vou desistir! Eu vou lutar se você lutar comigo”. É um jeito de entender as dificuldades e saber que nem sempre as coisas serão perfeitas, mas, no fim do dia vale à pena porque estamos juntos.
  - Tenho que dizer, eu a vi em dezembro do ano passado e você continua tão apaixonada quanto antes. Até mais! – Sorriu, trocando algo na máquina que pintava a minha pele. – Eu conheço Zayn há alguns anos e ele precisa de alguém como você ao seu lado. Especialmente agora que é famoso! Que loucura, não?!
  - Eu estou tão orgulhosa dele e dos outros meninos! – Tive medo de me mexer, mas não contive um sorriso. – Mas é verdade, isso tudo é uma loucura... Eles estão tão felizes!
  - E quanto a você? É muito reconhecida? – Chegou a uma parte mais sensível da pele, onde já passara um tempo trabalhando, então doeu. – Eu mesmo ganhei alguns clientes novos depois da última visita de Zayn.
  - Parece que você precisará cobrir o nome dele em outras pessoas... – Ri nervosa, fazendo careta por culpa da dor. – Tenho sido reconhecida sim, mas não é nada demais. Às vezes fãs deles me encontram na rua, geralmente querendo saber se os meninos estão comigo. Nunca fui perseguida ou coisa assim. Só é assustador quando eles estão juntos, porque aí as coisas podem ficar agitadas.
  - Essa está doendo um pouco mais do que a primeira, não é? – Ami parou um pouco e ergueu o olhar.
  - Um pouco mais? – Como ele havia parado de tatuar, pude rir e escondi o rosto com as mãos, suando frio.
  - Se isso ajuda, falta pouco... Só mais quinze minutinhos. – Afirmou e respirei fundo.
  - Eu sou forte! Agüento mais quinze minutos. – Tentei convencer a mim mesma do que falava. – Esse lugar é mais sensível que as costelas?
  - Acho que você é a prova viva de isso muda pra cada pessoa. Conheço homens com o dobro do seu tamanho que choraram ao ser tatuados na costela... E você agüentou firme e forte. – Voltou a torturar a minha pele com aquela maquininha que não parava de fazer barulho. – Por ser uma região próxima ao osso, é mais sensível que onde há tanto músculo protegendo. Está indo bem, , não desmaiou nem nada.
  - Obrigada! – Duvidei muito, mas ok. – Será que está se comportando tanto quanto eu?
  - A sua amiga está fazendo na coxa, não é? Ainda mais por ser a primeira... Ugh, vai doer um pouquinho sim. – Trocamos olhares e tive pena da minha amiga. Outch. – Quase acabando, ...
   “Quase acabando” eram as palavras que eu queria ouvir. Toda a dor iria embora logo e o trabalho teria valido a pena assim que visse o resultado. Da mesma forma que aconteceu com a primeira tatuagem. A diferença, porém, é que com as asas, eu passara semanas pensando e cogitando a possibilidade de mudar de idéia ou me arrepender. Já com aquela segunda, tivera a idéia em cinco minutos, pedira para Trisha traduzir as palavras e no mesmo dia já estava marcando-as na pele. Confiava no talento de Ami e tinha certeza que o lado estético da tattoo ficaria perfeito. Meu maior medo era que Zayn achasse falta de respeito por eu não ter a mesma criação que ele e introdução ao idioma ou religião a que era relacionada. Minha sogra, por outro lado, adorou.
   Em menos de quinze minutos a tatuagem estava terminada. Fiquei orgulhosa de mim mesma, pois não chorei ou gritei em momento algum! Ami me auxiliou a descer da maca e andei até o espelho, olhando pela primeira vez o resultado. O que começou como uma loucura impulsiva terminou como uma obra de arte. A pele estava um pouco suja de tinta sangue, mas o desenho impecavelmente perfeito. Estava algo delicado e ao mesmo tempo de fácil leitura. Quero dizer, pra quem sabia ler árabe. Agora mais do que nuca me interessava por aquela cultura tantas vezes mal compreendida e ao mesmo tempo fascinante de tantas outras formas.
  - Eu amei, Ami! Obrigada! – O abracei após ter a tatuagem coberta pelo curativo.
  - Lembra dos cuidados ou preciso repetir? – Retribuiu o abraço, dando tapinhas nas minhas costas como faria com um amigo. – Não pode tirar o curativo por no mínimo cinco horas, ao lavar, nada de esfregar, sol, apenas depois de dois dias... E aplique um pouco do gel que seu namorado tem quando sentir a pele começar a irritar.
  - Eu lembro de tudo! – Bati continência, sabendo que não poderia mostrá-la a ninguém antes de algumas horas e os cuidados seriam enormes; nada que já não tivesse vivido antes.
   Nos despedimos e Ami me acompanhou até a saída daquela área de trabalho. Pensei em ir visitar , mas ela estava em uma sala privada e não queria que ninguém entrasse. Provavelmente estava... Indecente! Imagino que começamos as nossas tatuagens com poucos minutos de diferença, mas a dela era mais complicada do que a minha, portanto, iria demorar. Pensando em ir até a esquina e comprar um daqueles milk shakes que Louis comprou da outra vez que esteve ali comigo, voltei para a recepção. Meus planos foram por água abaixo assim que o primeiro clic capturou os meus ouvidos.
   Dez homens com câmeras fotográficas esperavam por mim na calçada, tentando conseguir imagens através do próprio vidro da loja. Alguns gritavam coisas indecifráveis, mas não cheguei a prestar muita atenção. Se saísse dali agora, seria perseguida até o final da rua e voltar seria mais difícil ainda. Megan pediu desculpas, afirmando que na fazia idéia de como mandar paparazzis embora. Não era culpa dela, no final das contas. Devem ter ficado de olho naquela região na esperança de que Zayn Malik do One Direction retornasse e desse mais um showzinho como o de sábado passado. Para aqueles parasitas, a sua ex-namorada não era a melhor coisa, mas daria para o gasto. Acenei para as câmeras ironicamente. Talvez se fosse simpática, eles retribuiriam a gentileza. Como se adivinhasse, o celular em meu bolso começou a tremer.
  - Hi, babe! – Virei de costas para o vidro, atendendo a ligação.
  - Frango ou peixe? – Que ótima forma de cumprimentar a namorada, Zayn!
  - Se está pensando em comprar outro bichinho, um peixe dourado é a melhor opção. – Ri, passando a mão livre pelos cabelos.
  - Não, ! Descobri esse ótimo site de receitas e estou tentando decidir o que fazer. – Soou como um marido dedicado. – Estou em dúvida entre frango e peixe.
  - Você gosta mais de frango, então faça isso... – Duvidei que a receita fosse ficar boa de qualquer forma, mas nunca falaria isso pra ele. – Não vou almoçar em casa...
  - Como é? Por que não? – Era como se toda sua vontade de cozinhar fosse embora.
  - está me obrigando a ir até a casa dela. Desculpa, baby!
  - Hm, tudo bem, eu acho... Posso passar no Ni e ver se ele fez alguma coisa. Vem pra casa a tarde?
  - Não acredito que você esqueceu que dia é hoje, Zayn! – Reclamei. – Não vou pra casa a tarde, porque temos o aniversário da minha irmã!
  - Mas Louis só faz vinte e dois no natal... – Brincou e riu mais do que eu. – Claro que eu não esqueci o aniversário da minha anjinha.
  - Aham, acredito. – Balancei a cabeça, andando de um lado para o outro. – O convite está no vaso da sala, caso “não tenha esquecido” o endereço.
  - Viu? Somos um time! E onde está gora? Escuto barulhos...
  - quis fazer uma tatuagem! Estamos no estúdio de Ami. Acabei de fazer a minha! – Comentei animada, tocando o curativo por cima da blusa.
  - Por que não me contou?! Eu teria acompanhado vocês!
  - E correr o risco de você querer fazer mais? Não mesmo. – Neguei com a cabeça. Distraída, olhei para as paredes de vidro, onde os paparazzis faziam plantão. – Também não seria a melhor idéia. Tenho companhia do lado de fora.
  - Paps? Babe, você tem que tomar cuidado! – Alterou-se, preocupado. – Você sabe como eles são! Quer que eu vá buscar vocês? Chego aí em sete minutos. Oito, dependendo do trânsito.
  - Zayn, não! – Falei um pouco alto demais e me alertei. – Nós ficaremos bem. Estou com , eles é que deviam ter medo dela.

  

+++

  Precisei esperar uma hora inteira até que estivesse livre e sua tatuagem pronta. Com suas próprias palavras, doeu mais do que perder a sua virgindade, mas valeu mais a pena. Tratando-se de , aquele era o melhor elogio que a tattoo poderia ter. Não pude ver a dela da mesma forma que não pude mostrar a minha, mas ambas éramos pacientes; eu mais que ela. Sua mãe ficou super feliz em me ver, alegando que eu estava sumida. Fez um almoço delicioso e ainda tentou nos empurrar uma torta de abóbora inteira. Tivemos uma hora para descansar e fofocar no quarto da ruiva até que chegou a hora de nos prepararmos para a festa de aniversário de Lux.
   Precisamente às quatro da tarde chegamos ao Funcadia, uma casa de festas infantis com todos os tipos de jogos possíveis; fossem máquinas de pinball até escorregadores infláveis e pula-pula. Liam, Harry e Louis já estavam lá, descalços e correndo pra cima e pra baixo, se divertindo mais do que a própria aniversariante que usava um conjuntinho azul e orelhas de Minnie Mouse – o tema da festa. Rachel estava linda, super orgulhosa da filha que fazia dois anos naquele dia. Meu pai não estava em nenhum lugar que pudesse ser visto e a única opção imaginável é que ele ainda estivesse no trabalho.
  - , você chegoooooooou! – Lux deixou Heidi pra trás ao correr para me cumprimentar.
  - Parabéns, aniversariante! – Ajoelhei no chão, prendendo a pequena em meus braços. – Suas orelhinhas são lindas! Virou a Minnie?
  - São cor de rosa como o seu cabelo. – Tocou as minhas pontas pintadas temporariamente por um giz que ganhei de presente de , impressionada.
  - Vem logo, Lux! – Ben, meu primo, esperava a sua vez de brincar no Bate-bate. Louis e Harry estavam na fila também. – Vamos entrar!
  - Brinca com a gente, ? – A loirinha insistiu, pulando.
  - Vai com ela. Você está se segurando mesmo. – insistiu, esticando as mãos para que eu lhe entregasse as minhas coisas. – Vou procurar uma mesa pra sentar...
  - Obrigada, ruivinha! – Me apressei para tirar os sapatos, o casaco e entregar para ela junto com o presente de Lux e minha bolsa. – Vamos, baby girl.
  - , eu não sou uma baby. – Reclamou, correndo para a fila.
  - , não! – Louis brigou quando entrei no ringue do brinquedo.
   Não havia fila, pois o Funcadia estava reservado apenas para convidados que nem eram tão numerosos assim, e eu não passei na frente de ninguém. O problema é que Louis sabia o quanto eu era boa – ou o quanto ele e o namorado eram ruins – e temia ser humilhado na frente de criancinhas. Harry ocupou um carrinho com Heidi, Louis juntou-se a Ben e Lux escolheu o carrinho amarelo para nós duas. Entrei no lado do motorista e a ajudei a sentar ao meu lado. Coloquei o cinto de segurança em nós duas e ri do quanto a minha irmã mais nova estava animada em brincar. Tudo pra ela devia estar sendo maravilhoso, ainda mal compreendesse o que estava acontecendo.
  - Jogue limpo, ! – Harry pediu como em uma ameaça.
  - Eu sempre jogo limpo! É você que é ruim demais. – Gritei de volta, esperando o funcionário ligar os mecanismos que fariam o brinquedo andar. Virei para Lux, cochichando. – Nós vamos ganhar deles, não vamos?
  - Siiiiiiim. – Bateu palmas com o primeiro solavanco do carro.
  - Segura! – Pisando no acelerador, girei o volante totalmente para dar ré. – Lá vamos nós!
  - Espera, esse carro não está funcionando! – Harry estava desesperado, girando o próprio volante para todos os lados sem conseguir resultado nenhum. – Não está funcionandooooooo!
  - Anda Harry, anda! – Heidi brigava. – Ughh.
   Comecei a rir da lerdeza de Harry que continuava sem saber como sair do lugar. Louis também ria do namorado, mas deu a volta para se aproximar do carro e tentar ajudar. Eu, por outro lado, tinha intenções de atrapalhar. Já dera uma boa passeada pela pista livre e era hora de começar o jogo. Acelerei mais uma vez, acertando a traseira do carrinho do meu irmão, que foi de encontro à lateral de Harry em uma pancada que finalmente o tirou do lugar. Lux bateu palmas mais uma vez, comemorando.
  - Heeeeeeey! – Harry esperneou, figurativamente.
  - Eu falei pra você não deixar ela brincar. – Louis reclamou com Ben, que também fez careta pra mim.
  - Bu-huuu. – Estirei a língua para quem não tinha espírito esportivo.
   Demos ré mais uma vez e Lou desistiu de ajudar Harry e canalizou toda a sua força de vontade para se vingar de mim. A pista era grande o suficiente para que eu fugisse e levando em conta a falta de habilidade do menino não deveria ser muito complicado. Lux olhava pra trás e gritava “ele está vindo!” o que aumentava o meu nível de adrenalina. Corríamos de um lado para o outro, tentando despistar Louis, mas ele nos acompanhava. A única alternativa era um tanto arriscada, porém, o tiraria de trás de mim. Pedi a Lux que se segurasse como pudesse e fui em linha reta. A poucos centímetros da borda, fingi que iria para a direita e guiei o carro para a esquerda. Confuso, Lou não teve tempo de desviar e foi em cheio para a mureta, levando outra pancada.
   Àquela altura, Harry conseguira fazer o carrinho pegar e começou a girar sem sair do lugar. Ele e Heidi morriam de rir, então estavam se divertindo. Da mesma forma que o jogo foi ligado, foi desligado. Nossos cinco minutos passaram muito rápido e Lux reclamou que queria mais. Sua mãe a esperava na saída para cumprimentar os outros convidados, mas ela não quis sair mesmo depois de eu ter tirado o seu cinto de segurança.
  - Vem, Miss Piggy! – Rach a chamou pelo apelido carinhoso.
  - Não! – Cruzou os braços, fazendo bico.
  - Não quer ir a outro brinquedo, Luxy? – Saí do carrinho, recebendo um empurrão no ombro de nosso irmão.
  - Chuck está aqui! – Rachel falou e Lux mudou de idéia quanto a ficar no carrinho. – Eu sabia.
  - Quem é Chuck? – Harry parou do meu lado.
  - O namorado dela. – Respondi, puxando-o em direção à saída. – E meu namorado está ali também!
   Zayn conversava com Liam perto da mesa de hóquei aéreo, mas estava de frente pra mim e viu quando saí do brinquedo. O chão estava gelado em comparação ao interior do carrinho, causando pequenos calafrios. Louis e Harry saíram para cumprimentar Niall, que chegou com Zayn, e corri ao encontro desse último. O sorriso que meu namorado abriu ao me ver ficou maior quando olhou para os meus pés e notou que estava descalça como uma criança de sete anos. Nem os meus primos estavam sem sapatos! Eu era um ótimo exemplo de adulta. Li olhou na direção que o amigo sorria e teve a mesma reação.
  - Meus amores! – Abracei os dois ao mesmo tempo, me sentindo mal se cumprimentasse um antes do outro.
  - Babe! – Zayn, porém, praticamente me puxou só pra si e juntou nossos lábios em um selinho demorado. Alguém estava marcando território. – Onde está a tatuagem?
  - Escondida... – Me recusei a levantar o vestido ali, ainda que a tattoo já estivesse sem o curativo.
  - Qual tatuagem? Você fez uma nova? – Liam ficou curioso, olhando os meus braços a procura dela. – Não me falou que queria uma!
  - Eu não sabia até hoje de manhã. Foi idéia da irmos ao estúdio. Ela fez uma também. – Denunciei. A ruiva estava meio com pé atrás sobre fazer a sua, já que Niall não tinha nenhuma e podia achar ruim e blábláblá, mas no final das contas esse acabou sendo o motivo de ela ir em frente com a idéia. – A dela é na coxa e a minha é na barriga.
  - Naquele lugar? – Zayn lembrava da nossa conversa e sorriu.
  - Do outro lado. – O abracei, encostando a cabeça em seu peito.
  - Okay... Acho que devo deixar o casal sozinho. – Liam coçou a nuca, embaraçado. – Vou estar nos vídeo games, se precisarem de mim.
  - Baba... – Tentei pará-lo, mas Zayn me impediu. – O que há com ele?
  - Acho que está tendo problemas com a namorada. – Deu de ombros, sem ter muita certeza. – Mas chega de falar nele. Pelo telefone você não me contou o que era a tatuagem...
  - E nem vou contar. – Entrelacei as mãos atrás de sua nuca. – Você vai ver mais tarde.
  - Então vai dormir em casa hoje? – Ergueu a sobrancelha e sorriu travesso, roubando um beijo.
  - Ah, é verdade! Não posso ir pra nossa casa, tenho que ir para a minha. – Destruí seus sonhos da mesma forma que os criei. – Ainda tenho que contar aos meninos.
  - Por que não contamos aqui?!
  - Aqui? – Olhei em volta. A conversa que pretendia ter não se encaixava a uma Arcádia. – Você está com medo que eu mude idéia, não está?
  - É óbvio que não. Só acho que vamos começar uma nova fase na nossa vida e é importante dividirmos isso com os nossos amigos. – Quase me convenceu por um momento, até que admitiu. – É, eu estou com medo sim.
  - Tudo bem, podemos contar pra eles. – Concordei, desfazendo o abraço. – No meu país, temos esse ditado que diz “dividir e conquistar”. Eu falo com Louis e você com Harry!
  - Não foi o rei da Macedônia que falou isso? – Franziu o cenho. – E porque eu não posso falar com Louis?
  - Porque ele é meu irmão. – Localizei meu irmão brincando com Harry em uma daquelas máquinas de doce. – E Harry pode chorar, então boa sorte com isso. Hey, Lou!
  - Tá be- Ei, espera!
   Caminhei até o meu irmão, tirando-o de perto da máquina de doces. O fiz derrubar o que conseguiu pegar depois de muito tempo, mas não me importei. Se ele queria uma barrinha de Mars, eu tinha uma na bolsa. Me xingou, mas me acompanhou até outro brinquedo. Paramos na fila do trem aéreo, um brinquedo muito parecido com um foguete que atravessava a casa de festas preso em trilhos no teto. Não era a melhor opção para quem tinha medo de altura, por sorte não era o nosso caso. Subimos as escadas que levavam à estação e chegamos a uma pequena fila de três crianças.
  - O que foi isso? – Louis me encarou.
  - Sh sh shhh. Ainda não! – Se fosse explicar a forma que o seqüestrei, teria que explicar tudo.
  - Podem entrar... – O controlador da aeronave abriu a primeira cabine e deixou as crianças entrarem. – Querem ir com elas?
  - Preferimos uma cabine particular. – Pedi, recebendo um olhar estranho do homem. – Somos irmãos! Não vamos fazer nada do que está pensando.
  - Se soubessem quantas vezes já ouvi isso... – Rolou os olhos, entediado com o próprio trabalho, mas acabou abrindo a cabine de trás. – Podem entrar.
  - Ele é gay! – Apontei para Lou, sendo a primeira a entrar.
  - ! – Reclamou, pra variar, e me seguiu. Sentou na minha frente e cerrou os olhos. – Você não precisa contar pra todo mundo a minha opção sexual, sabia?!
  - Desculpa, mas acho que ele gostou de saber disso. – Pisquei com uma risada, sendo atirada no estofado atrás de mim quando o brinquedo começou a andar. – Outch.
  - Bem feito. – Cruzou as pernas e arrumou o cabelo. – Agora pode me explicar o que está acontecendo?
  - Precisamos conversar. – Toquei os joelhos, começando a me sentir nervosa.
  - Eu já sei, . – Louis segurou a minha mão e a acariciou com o polegar. – Sou o primeiro pra quem você está contando?
  - foi a primeira... Mas como você sabe? – Retirei a mão da dele, assustada com sua possível clarividência.
  - Mum e nana me contaram.
  - Como elas sabiam que eu vou morar com Zayn? – Imaginei que ele tivesse contado pra elas, mas se fosse o caso eu ficaria sabendo.
  - Você vai morar com Zayn? Uau! Mas até que faz sentido, com o bebê no caminho e tal. – Aceitou numa boa. Espera... Bebê?
  - Qual bebê? – Que eu soubesse, minha mãe teria dois bebês, mas não tinha intenção alguma de me dar um deles.
  - Seu bebê, ! Não precisa mais esconder. Nós já sabemos. – O trem balançou, mas só sentia o frio na boca do estômago. – E estamos felizes!
  - Eu não estou grávida, Louis! – Cruzei os braços. Esse era o jeito deles falarem que eu estava gorda?
  - Tem certeza? – Seu semblante era confuso. – Nana nunca erra sobre essas coisas. E até que faz sentido... Suas mudanças de humor, emoções a flor da pele... Liam viu quando você acordou pra vomitar. E explicaria a tensão entre você e Zayn nesses últimos dias. Sem falar que você nunca brigou com nana e parecia um furacão ao descobrir que ela ia vender a casa.
  - Sim, eu tenho certeza! – Estava quase ofendida e toquei a barriga. – E-eu saberia se estivesse grávida...
  - Olhe nos meus olhos e me diga que não há nem 1% de chance. – Apoiou os cotovelos nas pernas para curvar as costas e chegar mais perto.
  - Se você precisa saber, às vezes esquecemos de usar proteção... Mas eu tomo pílula, então não tem problema. – Olhei pela a janela, vendo Zayn e Harry se abraçando no andar de baixo.
  - , nosso pai trabalha com essas coisas. Crescemos escutando que nenhum método contraceptivo é 100% seguro. Há sempre uma possibilidade. – Qual era a de Louis e porcentagens naquele dia? – O único método seguro é o meu...
  - Idiota. – Acabei rindo daquele comentário, ainda que com uma pulga atrás da orelha.    Eu não estava grávida! Não podia estar. Não que fosse odiar ter um bebê, mas ainda era cedo. Ainda tinha coisas pra fazer, ainda tinha sonhos a realizar, danças para aprender... E uma criança mudaria tudo. Mas não havia possibilidade de estar grávida... Havia? Louis estava certo, nana nunca errava naquele quesito. “Há a primeira vez pra tudo!” Eu tomava uma pílula anticoncepcional que fazia o ciclo menstrual acontecer apenas a cada três meses, o que me deixava bem livre de TPM, cólicas e tudo relacionado, o que incluía gravidez! Por tomar desde dezembro do ano passado, o meu sistema estava acostumado a esse medicamento e automaticamente protegido!
   Odiaria Louis para sempre por ter colocado aquilo na minha cabeça. Ainda que estivesse certa de que era loucura, ao mesmo tempo não tinha cem por cento de certeza e isso me deixou nervosa. Sem falar mais nada, terminamos o passeio de aeronave que demorou uma eternidade para acabar. Descemos as escadas e logo pisei no chão firme e seguro, o que era bom, pois se eu fosse desmaiar, preferia já estar perto da Terra. Meu irmão beijou-me a testa e sorriu. “Na pior das hipóteses eu terei o apoio dele... Não! Não há mais de uma hipótese!”
  - Como foi a volta de foguete? – Zayn me surpreendeu por trás e dei um pulinho de susto.
  - Assustadora. – Não consegui olhá-lo nos olhos, mas forcei um sorriso. – Ele nos apóia... Não importa o que aconteça.
  - Você tinha razão, Harry chorou. Mas também está feliz! – Me abraçou, beijando a minha bochecha. – Agora só falta Liam! Quer contar juntos?
  - É a melhor opção. – Concordei, sentindo-me mais tranqüila por estar em seus braços. – Pode me dar licença um minutinho? Preciso falar com .
  - Claro, Anjo... Não suma. – Juntou nossos lábios e me deixou ir.
   ", cadê você?” A avistei do outro lado do salão, em um jogo de carros que você senta em uma cadeira e controla o veículo com volante, marcha e etc. Niall estava ao seu lado, mas teria que ir embora. Passei por familiares que me cumprimentavam e adoravam o meu cabelo. Até mesmo vovô Keith gostou das pontas rosas. Infelizmente não estava com cabeça para explicar que eram temporárias e só afirmei tudo que perguntavam. O casal de namorados ou sei lá a nomenclatura que estavam usando, riam e se atrapalhavam de propósito, uma gracinha.
  - Niall, preciso que vá comer alguma coisa e me empreste a ruiva. – Entrei no meio dos dois, segurando ambos os volantes.
  - Você já teve ela a manhã inteira, . – O loiro emburrou. – Agora é minha.
  - Pudincup, parece importante. – entendeu meus olhares. – Você me terá durante a noite mesmo...
  - Yesss! – Comemorou, só assim me dando o seu lugar. – Estou de olho, em ?!
  - Não farei nada que ela não vá gostar. – Brinquei, sentando no carrinho, mas nem um pouco afim de jogar.
  - Muito bem, o que está na sua mente, Boo? – Começou um novo jogo, não se importando que eu não fizesse o mesmo.
  - Nós começamos a tomar o Sesonale no mesmo dia, certo? – Mordi o dedo indicador, nervosa. – Você lembra o mês?
  - Junho. – Respondeu em uma respiração, sem tirar os olhos da tela do jogo. – Por que?
  - Então nossa menstruação deve vir esse mês? – A respondi com outra pergunta.
  - A minha veio mês passado. – Ouvi um barulho alto de freio, seguido de uma batida. me encarava. – ... Por que? E a sua?!
  - Não... – Minhas mãos começaram a tremer, assim como meu lábio inferior. – Eu posso estar grávida.
  - Bloody hell... – Seu queixo caiu e olhos arregalaram. – Está tudo bem... Nós vamos dar um jeito nisso, juntas. Quer que eu vá procurar uma farmácia e compre um teste? Podemos fazer no banheiro daqui mesmo...
  - , não! Não quero me preocupar com isso agora. É aniversário da minha irmã... Vamos aproveitar, sem pensar em nada. Sem pensar nisso! – Mas só o que eu conseguiria pensar seria isso. – Pode nem ser verdade.
  - Pode ser um atraso normal, isso é verdade. – Tentou me acalmar. – Mas já imaginou? Bebês com os seus olhos e o maxilar de Zayn? Eu tenho que ser a madrinha.
  - ! – Eu estava assustada e ela fazia brincadeiras?
  - Você vai contar ao pai? Tenho certeza que ele vai ficar muito feliz. – Nisso ela tinha razão, Zayn adoraria saber disso. – Olha ele ali, com um bebê no colo! Irônico, não?
  - Aquela é a afilhada dele, Brooklyn. – Olhei na direção que ela apontava, mas me enterrei mais uma vez na cadeira do carro. – Não vou contar até ter certeza.
  - Já pensou no nome? – Encarou a distância, esperançosa. – se for uma menina... E Niall se for menino.
  - Shut up, ! – Não sei o que esperava de uma melhor amiga louca como ela, mas queria alguém que me dissesse “não se preocupe, deve ser normal”. – Vou falar com ele... Não sobre isso!
   Pretendia esquecer esse assunto até ser obrigada a lidar com isso. Ainda tinha esperanças de estar enganada. Assim como Louis, nana e minha mãe. Todos enganados! Zayn devolveu Brook para a mãe e se afastou para atender uma ligação. Dividida entre a vontade de ir atrás dele e respeitar seu espaço, fui atrás. Não por desconfiar da fonte daquela ligação, apenas queria estar perto dele. Como sempre, não? Por sorte, o menino não se escondeu ou foi pra longe. Apenas escolheu um lugar mais quieto para poder escutar quem quer que fosse do outro lado.
  - Tem certeza? – O ouvi falar. Zayn me encontrou e sorriu como se acabasse de receber uma ótima noticia. – Obrigado por avisar! (...) Quando vocês vêm? (...) Estaremos esperando!(...) Okay. (...) Obrigado de novo!
  - Atrapalhei? – Perguntei quando a ligação foi encerrada.
  - Nunca. – Me abraçou forte, ainda com aquele sorriso. – Teremos um bebê em casa.
  - Quem te disse? – Senti o coração acelerar. – Era a minha mãe no telefone?!
  - Jay? Não... Era o meu primo Amer. – Mexeu no celular, procurando algo. – Eu não queria te falar antes de ter certeza que conseguiríamos adotá-la, mas ele acabou de avisar que ela é nossa!
  - Quem é nossa? – Continuei sem entender. Foi então que ele me mostrou a foto. – Zayn!
  - Ela não é linda? Achei que precisava de uma irmã. – Celebrou como se ganhasse na mega cena.
  - Ela é uma princesa! – Algo naqueles olhos pretos me tirou todas as preocupações. – Já tem nome?
  - Depois do que você falou sobre Arnie, não darei nome a nenhum dos nossos próximos bichinhos. – Guardou o celular no bolso.
  - Próximos bichinhos? – Ri. – Dois cachorros e um lagarto não são o bastante pra você?
  - Gosto de ter uma casa cheia. – Ainda bem, Zayn...

    

Chapter LIII

- Sunshine, seja um cavalheiro e pegue um carrinho, por favor. – Trisha pediu e Zayn obedeceu no mesmo instante, nos deixando entrar primeiro.
   Era sexta-feira de manhã e a Academy fora fechada para dedetização, então as aulas foram suspensas até segunda ordem. Na quinta-feira após a aula, passei o dia inteiro dirigindo de um lado para o outro da cidade, cuidando da minha mudança para o flat de Zayn e faltavam poucas coisas para que tudo estivesse em meu novo lar. Os meninos não ajudaram em nada e até atrapalharam bastante, ainda que estivessem todos felizes por nós dois. O único detalhe ainda pendente era a cozinha. Morando em seu apartamento de solteiro, Zayn costumava pedir comida fora e eu dependia dos dotes culinários de Harry e não teria mais essa mordomia agora que estava me mudando. Como a comida caseira faz uma grande diferença, meu roomate e eu decidimos aceitar esse desafio e tentar aprender a cozinhar.
   Trisha, como a mãe coruja que era, fez questão de nos acompanhar naquela manhã de compras. Com a minha própria mãe morando em outro país, aquela mulher era o mais próximo de conselheira que teria, então não neguei a sua oferta, muito menos Zayn. Nós três entendíamos os riscos de sair juntos em plena luz do dia, onde qualquer um nos veria, mas não podíamos e não queríamos deixar de fazer coisas normais na vida de qualquer pessoa. Trisha e eu entramos no ASDA lado a lado, bem mais acostumadas com a presença uma da outra do que na primeira vez em que nos conhecemos. Zayn correu logo atrás de nós, pendurado no carrinho como se fosse um skate.
  - Estou muito feliz por vocês dois, . – A mulher falou. – Zayn sabe o quanto sempre disse que vocês combinam.
  - Ele já me disse isso, mas não sabia se devia acreditar. – Ri e Zayn fez careta ao meu lado, quase insultado. – Baby, você sabe ser bem persuasivo quando quer...
  - Viu só, mum? Minha própria namorada não acredita em mim. – Continuou empurrando o carrinho quando entramos no primeiro corredor.
  - Tenho as minhas razões! – Alfinetei. Trisha apenas olhava de mim para ele com um sorriso encantado no rosto. – Bem, por onde começamos?
  - Costumo começar pelas verduras e frutas. – Trisha deu uma dica, mas Zayn e eu nos entreolhamos. – Pensando melhor, porque eu não cuido dessa parte e vocês enchem o carrinho de doces e besteiras?
  - Você é a melhor mãe do mundo! – Zayn segurou a minha mão em uma e o carrinho em outra, nos levando pra longe da mulher.
   Ainda bem que Trisha estava ali e não nos deixaria sem uma parcela de alimentos saudáveis em nosso carrinho de compras. Zayn sabia o caminho do nosso corredor preferido, mas o parei antes de chegarmos aos biscoitos e doces. Se pretendíamos aprender a cozinhar, deveríamos ter o básico em casa. Me arrependi de não ter trazido uma lista de compras como nana sempre fazia, mas tentei lembrar do que ela e Harry costumavam comprar. Entramos no corredor de mercearia e já bati o olho no básico. Dentro do carrinho, coloquei um pacote de arroz, farinha de trigo, feijão, milho de pipoca... E Zayn só me seguia com o carrinho.
  - Você é boa nisso. – Comentou com um sorriso de canto.
  - Estou improvisando. – O olhei com dois pacotes diferentes de macarrão nas mãos. – Talharim ou espaguete?
  - Espaguete. – Apontou para a minha mão direita.
  - Gosto mais do talharim. – Comparei os dois pensativa. – Huh, chegamos a nosso primeiro impasse.
  - Levaremos os dois. – Resolveu o problema em um segundo. – Resolvi o nosso primeiro impasse!
  - Somos um time e tanto! – Coloquei os dois pacotes da melhor marca no canto do carrinho. – Merece até um beijo!
  - Estava demorando. – Saiu de trás do carrinho, segurando a minha cintura com uma velocidade assustadora. Em seguida, avançou em meus lábios com os seus. – Qual é o próximo?
  - Açúcar. – Me separei dele, indo até o outro lado do corredor. - Marrom ou branco?
  - Os dois. – Trouxe o carrinho para perto e já esperou seu prêmio.
  - Baby, não podemos comprar dois de cada o tempo inteiro! – O olhei, novamente com um produto em cada mão.
  - Marrom. – Decidiu. – Porque é o que a minha mãe usa pra fazer brownies.
  - Sério? E se quisermos colocar no chá? – Permaneci lendo os rótulos, em dúvida. – Vamos levar os dois.
  - Mulheres. Tão complicadas... – Vi que ele rolou os olhos.
  - Shush, Malik.
   Peguei um vidrinho de extrato de baunilha e uma caixinha de bicarbonato de sódio. Não sabia pra quê serviam, mas achei a embalagem fofa. Em outro corredor, Zayn me deixou tomando conta e empurrando o carrinho enquanto ele escolhia o que comprar. Dois tipos de cereal, calda para panquecas e waffles, mel, granola e outros grãos do tipo. Tudo que Zayn fazia, até a forma que arrumava tudo no carrinho era encantador. “Como alguém pode amar outra pessoa da mesma forma que eu te amo, garoto?” Ele só teria me escutado se lesse pensamentos e ainda assim não teria problema algum.
  - Adoro comida de café da manhã. – Colocou uma lata de café em pó junto das outras mercadorias.
  - Engraçado, porque você nunca acorda na hora do café da manhã... – Comentei com uma risada maléfica.
  - Alguém está afiada hoje! – Me reprovou. – E quem é que nos proíbe de comer waffles durante a tarde?
  - Essa é a graça de café da manhã, baby. Acontece durante a manhã... – Senti-me esperta demais com aquele comentário.
  - Quero ver quem é que vai me impedir de comer waffles de madrugada! – Bateu o pé, cruzando os braços.
  - Tecnicamente, madrugada é o começo da manhã... – O irritei.
  - Cala a boca, . – Arfou e me puxou pela nuca.
   Zayn falou sério ao dizer que me agarraria no meio do corredor, pois foi exatamente isso que ele fez. Nossa discussão não era grave e me diverti bastante ao irritá-lo com algo tão bobo. Gostei especialmente da forma que ele usou para me calar; um beijo. Não neguei seu carinho e agarrei a gola de seu casaco, puxando-o na minha direção. Teríamos permanecido mais tempo nos agarrando se a voz de Trisha não viesse do final do corredor.
  - Trouxe tudo que precisam pra fazer uma boa salada! – A mulher colocou sacos plásticos de verduras e frutas no carrinho. – Atrapalhei alguma coisa?
  - Sim! – Zayn reclamou da falta de atenção da mãe e bati em seu braço.
  - Claro que não, Trish. – Neguei. A mulher só estava querendo ajudar!
  - Precisamos das coisas da Lola. – Lembrou.
  - Quem é Lola? – Patricia ocupou a direção do carrinho, nos acompanhando.
  - Nossa nova filhote! – Sorri, olhando para Zayn. – Eu escolhi o nome.
  - É um nome adorável, . – Dobrou à direita com o carrinho e a seguimos. – Qual é a raça?
  - Pomeranian. A cadelinha da Aaroosa teve filhotes e ela nos deu um. – Zayn falou sobre a prima. – Ela e Amer vem trazê-la aqui amanhã, de Bradford.
  - Que bom! Assim sabem que não foram vitimas de nenhum tráfico ou coisa parecida...
  - Acho que é por aqui... – Indiquei o corredor.
   E não podia estar mais errada! Ainda assim, entramos no corredor de higiene e meu olhar foi diretamente nas fraldas, lado a lado com absorventes de todas as cores. Irônico, não? No mesmo instante senti um frio na barriga que ainda não sabia decifrar se era bom ou ruim. Continuava sem ter coragem para fazer o teste, que foi a próxima coisa que vi na prateleira, chamando o meu nome. Ainda torcia para que fosse um simples engano e meu útero continuasse vazio, porém, aquela possibilidade tornava-se cada vez mais clara em minha mente e as datas de todas a vezes que esqueci de tomar a pílula apareciam como um calendário.
   Apressei o passo para sair daquele corredor e ainda tentei não parecer estranha. Já tinha shampoo, sabonete e essas coisas básicas em casa e esperava não ter que voltar àquele lugar tão cedo. Zayn segurava a minha mãe e continuou imerso em devaneios, ausente do inferno que tomava conta da minha cabeça. Mais alguns passos e chegamos à área de cuidados para animais. Gosh, como aquele supermercado era gigante!
  - O que acham dessa caminha? – Trisha apontou para uma almofada cor de rosa na prateleira mais alta. – Sunshine?
  - Já sei. – Me soltou e se esticou para pegar a cama. – O que acha, babe?
  - Tem estampa de coroas! É perfeita para a nossa princesinha. – Toquei o objeto que ele segurava. – E é bem confortável...
  - Lola vai ser mimada, não é? – Patricia levou a caminha para o carrinho.
  - Como a mãe. – Zayn me abraçou pelas costas, o que foi bom porque isso o impediu de ver as minhas bochechas enrubescerem.

+++

  Sexta-feira, além de dia de fazer compras, também era uma data muito especial para o nosso irlandês preferido. Niall completava vinte anos, o que tornava Harry o único adolescente do nosso grupo. Ao invés de dar uma festa gigantesca como Liam, preferiu reunir os amigos mais íntimos em seu apartamento para estrear a churrasqueira que instalou na varanda. A tarde era chuvosa, o que nos vez agradecer Ni por também ter instalado janelas ali fora. Zayn e eu trouxemos o carvão, Louis e os outros meninos trouxeram as carnes e cuidou das bebidas, o que queria dizer: Duas garrafas de vodka, algumas frutas e um barril de cerveja. Eu, ela e Dani éramos as únicas garotas ali e ainda assim parecíamos ditar as ordens. Sentávamos no sofá espaçoso enquanto os homens tentavam temperar e assar o jantar.
  - Aqui, babe. – Zayn interrompeu nosso assunto qualquer para me entregar um copo vermelho de bebida com cheiro forte.
  - O que é isso? – Sorri e perguntei antes de beber.
  - Batida de morango. Sei que gosta. – Beijou a minha testa antes de se afastar e voltar para conversar com os amigos.
  - Troca. – veio logo depois, tirando o copo da minha mão e colocando outro igual em seu lugar. – É suco de morango.
  - Obrigada... – Não podia beber por motivos óbvios, ainda que esses motivos não estivessem confirmados.
  - O que está acontecendo? – Dani não sabia e nem podia saber da minha possível gravidez. Confiava nela e tinha um apresso enorme por sua pessoa, mas quanto menos pessoas soubessem melhor.
  - Tenho um problema com bebidas. – admitiu, fazendo soar como se fosse alcoólatra.
  - E você a apóia, ? – Danielle me encarou, sem acreditar que eu faria algo assim com a minha própria amiga.
  - Uh... – Bebi um longo gole do suco para ter tempo de pensar em uma resposta. – Eu prefiro que ela beba perto de mim do que escondida.
  - Acho que faz sentido. – Deu de ombros, bebendo o próprio copo de cerveja que Liam lhe trouxera instantes antes.
  - Dani, nos daria licença? – A ruiva levantou, esperando que eu fizesse o mesmo.
  - Fiquem a vontade.
   Só levantei depois que Dani confirmou e desejei internamente que não tivesse o feito. tentara me levar para um canto e me encher de perguntas desde que cheguei à casa do loiro artificial, mas tive êxito em enrolá-la até aquele instante. tocou as minhas costas, me guiando até o corredor como se estivesse doente. Abriu a porta do quarto principal, onde as nossas bolsas e casacos estavam guardados. Assim que ambas entramos, ali, fechou a porta e passou a chave. Pelo visto nossa conversa seria séria.
  - Senta aqui, . – Pediu, após fazer o mesmo e pegar sua bolsa. – Tenho algo pra você.
  - E nem é o meu aniversário! – Me acomodei no colchão, recebendo o pacote de papel branco. Coloquei a mão em seu interior e puxei a caixa retangular. – !
  - Você precisaria de um teste de gravidez, . – Falou mais alto do que eu gostaria. – E sei que não teria coragem de comprar você mesma, então ao invés de esperar a sua ligação de madrugada pedindo ajuda, me poupei o trabalho e já comprei hoje.
  - Obrigada... – Até que naquilo tinha razão, mas me poupou calafrios. Enfiei o teste mais uma vez no pacote e o guardei apressada na bolsa. – Mas ainda não estou psicologicamente preparada pra isso.
  - É muito fácil... Eu comprei dois e fiz o meu hoje de manhã. Não corria os mesmo riscos que você, mas estava curiosa pra saber como funcionava! – tratava aquele assunto como piada e eu achava que essa era a sua forma de lidar com os problemas sem perder a cabeça. – Literalmente tudo que você faz é xixi no palito, espera dois minutos e VOILÁ! Se aparecerem duas barrinhas, você tem um pãozinho no forno!
  - Dois minutos? – Nunca passei por uma situação daquelas, não é de se espantar que estivesse assustada com a rapidez dos resultados. – A vida da pessoa pode mudar em dois minutos...
  - É a tecnologia de hoje em dia. – concordou. – Então, o que me diz? Quer que eu distraia os meninos pra ninguém notar a sua ausência?
  - , eu não vou fazer esse teste aqui! É aniversário de Niall! – Cochichei, não querendo ser ouvida, mas minha vontade era de gritar.
  - E daí? Ele adoraria ter um novo sobrinho...
  - ? Você está aí? – Era a voz de Liam atrás da porta e congelei, temendo que pudesse ter escutado algo.
  - Ela está ocupada, Liam. – gritou e eu levantei da cama.
  - Não estou não. – Arrumei o vestido para me livrar de qualquer amassado e destranquei a porta. – Já acabamos por aqui.
  - Por enquanto. – A menina passou por mim com um olhar que dizia “não acabamos por aqui” e saiu do quarto.
  - Me procurando, Baba? – Encostei na porta, com um sorriso que fingia que tudo estava bem.
  - Na verdade, Louis está. – Tinha as mãos nos bolsos da jaqueta, descontraído. – A comida está começando a sair e ele insistiu em te chamar pra comer.
  - Então vamos lá. – Passei o braço pelo de Li.
   É claro que Louis estava preocupado com a minha alimentação! Segundo ele e as mulheres da nossa família, eu deveria comer por dois agora. Esse pensamento fez meu estômago embrulhar, ou talvez fosse o cheiro de carne crua que vinha da parte leste da varanda. Um sofá menor que o da sala ocupava o lado oposto à churrasqueira e Harry e Louis estavam sentados ali enquanto Zayn estava de pé próximo ao vidro da janela, bebendo cerveja, com Niall ao seu lado. Nada discreto, Louis obrigou o namorado a se levantar para me dar um lugar pra sentar. Estando grávida ou não, gostava de toda aquela bajulação. Se ao menos não houvesse nenhum lado ruim nisso...
  - Pode comer, . – Liam foi até a mesa de plástico ao lado da churrasqueira e pegou uma asinha de frango pra mim.
  - Obrigada. – Agradeci e encarei Louis interrogativamente. Balançando a cabeça em negação, Louis respondeu que Li não sabia de nada. Era apenas dedicado.
  - Está muito bom. – Zayn pegou um pedaço para ele e começou a comer.
  - Já veio temperado? – Mordi para tirar o primeiro pedacinho, olhando para Harry.
  - Nós encontramos uma lojinha bem simples perto do condomínio e lá vende todos os tipos de tempero. – Explicou. – Depois eu te passo o endereço.
  - Por favor. Isso aqui está realmente gostoso. – Fui sincera, não perdendo tempo para comer mais. – Gosto de páprica.
  - Zayn, o que você fez pra transformá-la em uma dona de casa? – Niall cuidava do fogo e participava da conversa. – Preciso que faça isso com .
  - Em seus sonhos, meu amor. – A ruiva escutou seu nome e entrou na varanda, abraçando-o de lado. – Não posso ser domada.
  - E eu não fui transformada em uma dona de casa! – Me defendi, quase com a boca cheia de frango. – Espero ter puxado os dotes culinários de nana, se for o caso.
  - Leeeeeeyum! – Zayn parecia ter lembrado de alguma coisa e se virou para o amigo beirando desespero. – me disse que você comeu lesmas! Como foi?!
  - Não comi lesmas, comi escargot, o que descobri ser muito diferente. – Pontuou e só na menção daquela refeição me fez lembrar o cheiro da comida. – Foi nojento, bro. Não me arrependo, porque foi parte da experiência. Mas não faria de novo.
  - Qual é o gosto? – Niall estava dividido entre a diversão e vergonha alheia. – É verdade que dizem que parece com frango?
  - Ugh. – Olhei para o meu próprio espetinho de frango. Iria enjoar. Vendo o olhar na minha face, Louis tomou a iniciativa e tirou a comida da minha mão.
  - Nahh, pra mim pareceu um gummy bear gigante, salgado e amanteigado. – Liam criou uma imagem mental tão boa em todos nós que não fui a única a fazer caretas.
  - Muito bem, acho que é hora de cantar parabéns... – se separou do amor de sua vida só para trazê-lo para a sala.
   Aos poucos, fomos nos dirigindo para a sala, onde Dani arrumara a mesa para sustentar o bolo que nem o próprio aniversariante sabia que ganharia. o encomendou na mesma loja onde fizemos o de Liam, então estava perfeito e seria delicioso. O tema era um trevo de quatro folhas verde, no topo do bolo branco e com laterais alaranjadas. Mais irlandês impossível. A mesa em si não era grande, então tivemos que nos apertar para caber em volta dela. Fiquei entre Harry e Zayn, que passou o braço em volta das minhas costas.
  - Antes de começarem a cantar... Eu tenho uma coisa a fazer. – Niall nos parou antes mesmo de dar inicio. – No meu último aniversário, eu tive o melhor aniversário da minha vida. E a razão pra isso é que eu tinha uma pessoa especial como minha namorada. E a única forma de esse ano conseguir ser melhor que o ano passado, é se for o ano em que eu consegui essa garota de volta. Com isso em mente... , minha cerejinha... Você aceita ser a minha namorada mais uma vez?
  - Awwwwwn! – Abracei Zayn com força, comovida por aquela cena. Me segurei pra não chorar.
  - É claro que sim, pudincup! – A ruiva se jogou nos braços do namorado e eles trocaram um beijo apaixonado enquanto o resto batia palmas.

  
Happy Birthday to you.
  Happy Birthday to you.
  Happy Birthday, dear Nialler.
  Happy Birthday to you.

  Aquela foi a nossa deixa para começar a cantar a música tema de aniversários. não soltou Niall nem por um segundo, mas cantou para ele. Niall sorria da forma que nenhum de nós o via sorrir a tempos. Ele ganhara aquele brilho que tinha quando o conheci e o nome desse brilho era . Senti vontade de estourar um champanhe para brindar, porque tudo estava voltando para o lugar certo, tratando-se do casal mais fofo do Reino Unido. A música terminou e os meninos se entreolharam. No contar de três, todos gritamos:
  - Breithlá Sona! – Tenho certeza que errei a pronuncia daquele “feliz aniversário” em irlandês, meu sotaque não sendo de grande ajuda, mas a intenção é o que vale.
  - Go raibh maith agaibh! – Foi a sua resposta, mas assumimos que estava agradecendo.

  

Chapter LIV

O quarto estava escuro quando acordei pela quinta vez após curtos cochilos naquela madrugada/manhã de sábado. O mesmo sonho me perseguira durante todos eles, com apenas finais diferentes. Geralmente ele começava com um quarto branco e apenas um móvel em seu centro: Um berço. Em um sonho, um bebê adorável dormia tranqüilo em seu interior. No próximo, o berço se encontrava vazio. Ambas as opções eram igualmente assustadoras. Abri os olhos desistindo de uma vez por todas de tentar dormir mais uma vez. Zayn dormia ao meu lado, com um braço em cima do meu estômago. Estiquei os dedos até tocar o aparelho telefônico em cima da minha mesinha de cabeceira, checando as horas: 09hrs03min.
   Já estava perto da hora em que o alarme começaria a tocar, então o sono não foi tão perdido assim. “Diga isso ao cansaço!” Falei sozinha dentro da minha cabeça, sentindo-me ridícula imediatamente. Respirei fundo, lembrando da promessa que me fizera antes de deitar na cama; fazer o teste de gravidez que tão gentilmente comprara pra mim. Olhei mais uma vez para Zayn, tão tranqüilo com seus próprios sonhos. “É isso aí. Pra onde eu corro?” Tracei por longos minutos planos de fuga, mas nenhum deles me tiraria do meu próprio corpo. Lentamente tirei o braço dele de cima de mim e escapei para fora da cama. Quase pisei em que dormia ali embaixo e escapei de seu rabo, mas não de seu assovio de bom dia.
  - Anjo? – A voz sonolenta de Zayn chamou meu apelido enquanto procurava por mim na cama.
  - Shh, você ainda pode dormir mais um pouco. – Segurei a sua mão sem voltar para o colchão. Seria tentação demais. – Perdi o sono cedo...
  - Não vá longe... – Bocejou sem saber o que falava e voltou a dormir em um sopro.
  - Claro que não. – Ri sozinha, me abaixando para acariciar o Husky que se recusava a dormir naquela cama, igualmente a sair do meu lado.
   Preguiçoso como Zayn, não me seguiu para o closet quando me afastei. Ali dentro e no escuro, tateei as araras e gavetas, ainda precisando me acostumar com a nova arrumação das coisas. Consegui, por fim, encontrar uma camiseta e um short jeans que dariam para o gasto. Também peguei a bolsa que usara no aniversário de Niall no dia anterior, conferindo se o pacote branco continuava quieto em seu lugar, bem escondido de olhos curiosos. Tropecei em um par de sapatos que não consegui decifrar se pertenciam a Zayn ou a mim e xinguei baixo pela dor em meu dedinho.
   Me reprovei silenciosamente, correndo para o banheiro e me trancando ali. O cômodo estava bem claro, pois a janela no canto não tinha cortina alguma, o que não impedia a luz da manhã de queimar os meus olhos. Bocejei enquanto colocava as peças de roupa em cima bancada da pia, juntamente com a bolsa. Disposta a prolongar aquele nervosismo, escovei os dentes e os cabelos antes de sequer tocar na caixa. Rasguei o papel branco por acidente, tamanha era a tremedeira em minhas mãos. “Calma, ! Respira.” Puxava o ar, mas na hora de soltá-lo vinha em pedaços. “Você nem parece grávida!” Me encarei no espelho, olhos sobre a barriga. Levantei a blusa do pijama, virando em todas os ângulos possíveis. Se estivesse grávida de um mês, estaria aparecendo! Certo?
   “Vamos acabar logo com isso.” Rasguei a abertura da caixa e tirei de lá o palito branco que marcaria o meu futuro. “O que eu faço agora? Onde enfio isso?” Estudei o teste caseiro e a telinha em branco onde o resultado apareceria. A voz de surgiu na minha cabeça, falando que eu deveria fazer xixi ali. Retirei a tampinha, só torcendo pra ter uma boa mira. Fui até o vaso sanitário, tomada pelo pouco de coragem que fingia ter, sentei e fiz o que precisava fazer. “Isso mesmo, está feito. É agora ou nunca.” Levantei quando terminei e deixei o teste em cima da caixinha. Lavei as mãos e olhei a bancada, procurando o celular para marcar os dois minutos que levaria para descobrir o resultado.
   Enquanto esperava, usei esse tempo para me vestir, lavar o rosto algumas vezes, tentar penteados novos, tirar o esmalte das unhas, andar de um lado para o outro... Estava ciente de que mais de dez minutos se passaram durante essa brincadeira, mas não consegui me controlar. Terminei sentando na borda da banheira, contando quantos ladrilhos haviam no chão. Perdi a conta no número cinco. Nunca fui boa em matemática mesmo.
  - Babe, você está bem aí dentro? – Zayn bateu na porta. Sua voz já sem sono algum me fez pensar em quanto tempo eu devia ter passado ali.
  - Estou sim... – Esperei soar convincente. – Já vou sair, love.
  - Só pra avisar, meus primos estão chegando. Mas leve o tempo que precisar... – Por morar com quatro mulheres a vida inteira, ele sabia respeitar o tempo de uma no banheiro.
   Se eu não fizesse isso agora, enrolaria por mais meia hora e infelizmente não tinha esse tempo a perder. Engolfada por um momento de adrenalina, levantei da banheira e marchei até o teste, segurando-o não tão firmemente, mas já sendo um começo. As palavras de me iluminaram mais uma vez: “Duas barrinhas = estou grávida.” Então era isso, o resultado estava na minha frente. Um peso que eu não esperava ter envolveu o meu coração, esmagando-o ali dentro. Senti vontade de chorar, ainda que não soubesse o motivo. Juntei todo o lixo e o joguei no lugar apropriado, tomando cuidado suficientes para não deixar nada a mostra. Peguei o celular e digitei para uma simples palavra que ela saberia exatamente o que significava:

  
“Negativo.”

  Guardei o aparelho no bolso de trás do short e abri a porta. Zayn me esperava sentado na ponta da cama, já com roupas mais apresentáveis que a bermuda que usou pra dormir. Notou em meu olhar que havia algo errado ou, no mínimo, estranho e levantou. Minha primeira reação foi abraçá-lo com força. O gesto de carinho deveria ser de comemoração, eu não estava grávida, não teria que mudar todos os planos de uma vida da noite pro dia. Apesar disso, não me sentia... Aliviada. “Como posso sentir falta de algo que nunca tive?” Zayn continuou me abraçando sem perguntar nada, confortando-me até que a campainha soou. Dessa vez levantou e foi correndo para a sala.
  - Nossa princesa chegou. – Beijou os meus lábios docemente e me fez sorrir.
  - Finalmente! – Teríamos um bebê no fim das contas. – Minha Lola!
  - Vamos lá! Você vai adorar os meus primos.
   Zayn segurou a minha mão e fomos juntos para a sala. estava sentado perto do sofá, com seu rabo balançando de um lado para o outro, esperando que abríssemos a porta. Fui para perto dele, acariciando seu pelo. O cachorro já tivera contato com outros animais e nunca apresentou nenhuma reação negativa. Meu maior medo era o fato de que não tinha muita noção de seu tamanho e poderia querer brincar com Lola e acabar machucando-a sem querer. Meu namorado abriu a porta e deixou que seus primos entrassem, abraçando-os intimamente. Aaroosa, a menina, carregava a gaiola de plástico em que a filhote era guardada e veio me cumprimentar.
  - Não acredito que estou conhecendo a famosa . – Ela deixou a caixinha no chão, que tratou de cheirar curioso, e me abraçou. – Todos falam tão bem de você que tive que vir conhecer pessoalmente.
  - Mesmo? – A abracei de volta, chocada por terem ouvido falar de mim. – É um prazer!
  - , esse aqui é o Ameer, meu primo. Irmão da Aaroosa que você já conheceu. – Zayn nos apresentou com um sorriso orgulhoso, como sempre fazia ao me apresentar a alguém da família. – Onde está a pequenina?
  - Oi, Ameer! – Apertei a mão que ele estendeu na minha direção, um pouco menos íntimo que a irmã.
  - Aqui está ela... – Zayn havia tirado Lola da caixinha e a tinha nos braços. Pessoalmente ela era ainda menor que na foto. – É a sua irmã, !
  - Ela é tão linda! – Fiquei ao lado do homem, acariciando a pequenina pela primeira vez. – O pelo dela é tão macio! Estou apaixonada. Obrigada... Sei que deve ser difícil dar filhotes assim. Podem vir visitá-la quando quiserem.
  - Seu pai estava certo, Zayn. – Aaroosa sorriu para o primo e fez carinho em quando ele foi cheirá-la. – é adorável.
  - Sei disso! – Me entregou Lola, que não parava de balançar o rabo minúsculo. – Alguma recomendação? Cuidados e manias?
  - Não querem sentar? – Interrompi Zayn, afinal, seus primos ainda estavam de pé.
  - Não podemos ficar, infelizmente. – Aaroosa se desculpou. – Nossa mãe está esperando no carro, nossa viagem não termina aqui. Estamos indo à Brighton! Só viemos entregar a pequenina.
  - Demos trabalho a vocês, não? – Sorri para os dois, grata pelo presente. A filhote se mexia nos meus braços, olhando para todos os lados e curiosa para conhecer a sua nova casa.
  - Não tem problema. Não poderíamos ficar com ela de qualquer jeito, então foi melhor vir até aqui do que dá-la pra alguém suspeito. – Ameer acariciou a pequena uma última vez antes de voltar para a porta. – Aaros, você não tinha feito uma lista de coisas que eles precisam saber?
  - Oh! É verdade. – Procurou algo pela bolsa e entregou um papel dobrado a Zayn. – Trouxemos algumas coisas pra ela na cestinha. Um paninho com o cheiro da mãe, um brinquedinho que gosta de morder... É bom vocês terem outro cachorro em casa, porque assim ela não vai sentir tanta falta dos pais.
  - Obrigado! – Zayn agradeceu pelo papel, levando os primos até a porta. – Vão com cuidado, okay? E não sumam.
  - Leve a em Bradford qualquer dia desses. Tem muita gente querendo conhecê-la. – Aaroosa acenou em despedida e foi para o corredor.
  - Até mais, Zaynie. – Os primos se abraçaram.
   Zaynie? Comecei a imaginar toda a família o chamando assim quando era pequeno e o apelido acabou por permanecer até depois de grande e adulto. Fui até o meio da sala e sentei no chão. me seguiu, interessado na filhote em meus braços. Apesar de sua clara curiosidade, ele não tentou subir em cima de mim ou pegá-la como se fosse um brinquedo, apenas deitou ao nosso lado e seguiu Lola com os olhos assim que a soltei na minha frente. Ela era simplesmente pequena demais! Seu comprimento era um pouco maior que a minha mão e seu peso parecia uma pena de passarinho. Ainda assim, conseguia pular e se mexer com rapidez, prova que começou a pular em cima do Husky, cheia de energia e tentando morder a sua orelha. permanecia parado sem se importar, olhando-me como se pedisse: “Mãe, tira esse rato de cima de mim.”
  - Alguém vai se cansar... – Zayn sentou na minha frente, mexendo os dedos na frente de Lola e fazendo-a persegui-los. – Aqui a lista, babe...
  - Obrigada. – Desdobrei o papel, encontrando símbolos que não fazia idéia do que significavam. – Não entendo essa língua, Zaynie.
  - Está em... Oh. – Pegou a lista de volta, rindo da minha falta de “trilinguidade”. – Vou traduzir.
  - Não sei como você consegue ler isso. – Reclamei com um bico, sentindo-me excluída. – Eu é que sou a internacional nesse relacionamento. Só eu posso traduzir!
  - Que mimada! – Gargalhou jogando a cabeça para trás. Puxando os meus pés e me arrastando pelo chão, derrubou-me de costas. Por um momento, esquecemos que dois cachorros estavam ali conosco. – É você que tem uma tatuagem de “eu amo sopa” na barriga!
  - Como é?! – Levantei a blusa para encarar a minha tatuagem mais recente. – É isso o que está escrito aqui?!
  - Claro que não, tonta. – Deitou perto de mim, apoiado ao cotovelo. O rosto na altura da tattoo. – Devia ter visto a sua cara.
  - Idiota. – Rolei os olhos, permanecendo deitada. Senti seus lábios pressionarem a parte baixa da minha barriga. – Você sabe o que está escrito aí?
  - Sei... – Sussurrou, arrastando a boca pela minha pele com pequenos beijos. – Half a heart...
  - E sabe o que significa? – Relaxei completamente no chão, acariciando a sua nuca para que não parasse.
  - Que você é a metade de um coração... – Continuou com os beijos, dessa vez subindo. – E eu sou a outra metade. Juntos estamos completos...
  - Entendeu perfeitamente. – Sorri orgulhosa da tatuagem. – Sei que não é o seu nome me marcando, mas-
  - Conheço outras formas de te marcar. – Em um piscar de olhos já estava com o rosto na altura do meu, sorriso travesso estampado.
   Tomou conta da minha boca com a sua, a mão direita aventurando-se pela lateral do meu corpo embaixo da blusa quase completamente erguida. O beijo não durou quase nada, pois Zayn tinha outros planos. Mordeu meu lábio inferior, puxando-o com os dentes. Em seguida, desceu para o meu pescoço. A barba mal feita arranhando-me não foi nada comparada à mordida que recebi um pouco acima do encontro entre o ombro e o pescoço. Senti os dentes sendo cravados em minha pele e apertei os braços de Zayn como reclamação, mas não o parei. Como se não fosse o suficiente, sugou o local da mordida até ter certeza de que deixaria a sua marca. Pensando em revidar o favor, o escutei rir e se distanciar.
  - Para com isso, ! – O menino voltou a sentar, afastando o cachorro que lambia a sua orelha. – Obrigado por estragar o clima!
  - Lola, não aprenda com o seu irmão. – Olhei para onde vi a pequena pela última vez e congelei. – Lola? Zayn, a Lola sumiu!
  - Lola! – O menino se levantou tão rápido quanto eu e chamou a filhote que ainda não reconhecia aquele como o seu nome. – Ela está aqui por vinte minutos e já a perdemos!
  - Você a perdeu! A culpa foi sua de ter me distraído. – Olhei embaixo dos sofás e nada. – Procure na cozinha, eu vou olhar nos quartos...
   Zayn foi para um lado e eu para o outro, desesperados em achá-la. Lola era uma pequena Pom perdida em um apartamento gigante e estranho. Sem falar em todos os fios de eletrodomésticos e coisas pesadas que poderiam cair em cima dela. não sabia o que estava acontecendo, mas se juntou à correria, pensando ser alguma brincadeira. Fui ao quarto de jogos primeiro, olhando em baixo das almofadas e atrás dos brinquedos e estante de TV. O grito de Zayn informou que ela não estava na cozinha e respondi com um pedido de continuar procurando. Segundos depois, a campainha tocou e ele avisou que iria atender. Corri para o quarto, vendo a bola de pelos entre o meu travesseiro e o de Zayn.
  - Lola! – Respirei aliviada e sentei na ponta da cama. Com a minha chegada, ela saiu do seu ninho e veio morder a minha mão. – Como é que você conseguiu subir aqui sozinha?!
  - Encontrou?! , você a encontrou? – Zayn gritou do corredor e não vinha sozinho.
  - Sim, ela está comigo! – Avisei para acalmá-lo e carreguei Lola em meus braços. – Quem chegou?
  - Eeeeeeeeeeeeu! – Encontrei no corredor, com uma garrafa de vinho nas mãos. – Vim comemorar...
  - Comemorar o que? – Meu namorado nos esperava na sala e Niall estava ao seu lado, com uma sacola nas mãos.
  - A chegada da Lola, é claro. – Respondi antes que desse com a língua nos dentes e cheirei a filhote em meus braços. – Contei à que ela chegaria hoje.
  - É claro! – A ruiva foi na onda e fez seu caminho para a cozinha. – E também pensamos em estrear a nova cozinha.
  - Eu moro aqui há mais de um mês, . – Zayn e o amigo também mudaram de cômodo. – Vocês dois já vieram aqui... Já estreamos a cozinha.
  - Mas não com a como moradora. – Niall colocou as próprias compras no balcão da cozinha, concordando com os planos da namorada.
  - É uma boa idéia, baby. Eles podem nos ajudar a fazer o almoço. – Sentei no banco alto perto do balcão de madeira que continha o fogão elétrico, ocupando a parte mais distante do eletrodoméstico por estar com Lola.
  - Tudo bem, mas você sabe que vamos ter que cozinhar sozinhos algum dia. – Parou ao meu lado, roubando a filha de mim. – Deixaremos as duas cuidando disso... E nós vamos para a sala. Ni, me acompanha?
  - É claro que sim. – O loiro também quis se safar dos afazeres domésticos e fugiu quando a primeira oportunidade foi dada.
  - Ao menos coloque a ração das crianças! – Pedi.
   Batendo continência, Zayn deu meia volta e foi até o armário no fim da cozinha, onde guardávamos os potes de ração. Serviu a tigela grande de com a ração própria para jovens e encheu a cor de rosa que compramos para Lola com a mesma que seus primos avisaram que deveríamos comprar; que demos sorte de encontrar no ASDA no dia anterior. O Husky almoçou pela cozinha, no canto em que deveria se acostumar a ter as refeições. Já a filhote, foi levada pelo pai para a sala juntamente com a sua tigelinha e comida gosmenta.
   Enquanto isso, lavei as mãos e voltei para o meu banco, tirando da sacola que Niall trouxera todos os ingredientes para o nosso almoço surpresa. Encontrei ali dentro uma caixinha com quatro ovos, salsa, molho de tomate e algumas folhas para fazer salada; nada do que não tivéssemos na geladeira ou dispensa, mas fiquei calada. Desconfiada de que tivesse mesmo um problema com álcool, a assisti encher duas taças de vidro até a metade e me entregar uma delas.
  - Obrigada... – Agradeci ao receber a minha e dei o primeiro gole. – Então assumo que recebeu a minha mensagem?
  - Recebi! Nada de baby Malik-Tomlinson. – Guardou a garrafa da bebida na geladeira, triste pelo resultado do meu teste. – Só pra constar, eu teria vindo comemorar da mesma forma se fosse positivo.
  - Sei disso, mas ainda bem que não foi o caso. – Ergui a taça, brindando. – Por enquanto, o único teste em que pero passar é no da Academy.
  - Esse é o espírito! – Bateu a taça na minha e olhou para os ingredientes em minha frente. – Muito bem, o que podemos fazer para o almoço?
  - Salada... E Trish me ensinou a fazer filé a parmegiana, que posso tentar. – Dei de ombros, torcendo para que não esperassem muito de mim.
  - Delicioso! Então vamos fazer assim... Eu cuido da salada, e você do resto! Ok? Ainda bem que concorda. – Tirou as folhas da minha frente e se preparou para começar a lavá-las.
  - Não mesmo, , você vai fazer mais que isso. – Fui até a geladeira cheia, procurando o que precisava para cozinhar. – Depois que a salada estiver pronta, descasque essas batatas. Podemos temperá-las com a salsa.
  - Eu sabia que devia ter trazido comida pronta do Nando’s. – Resmungou, aceitando as batatas que lhe entreguei.

+++

  Após o almoço que eu acabei tendo que fazer quase inteiramente sozinha, fomos para o quarto de jogos, onde Zayn mostrou Arnie para e Niall. O menino adorou o lagarto, mas preferiu Lola. Depois disso, nos acomodamos no colchão grande o suficiente para nós quarto e os meninos começaram a jogar FIFA no Xbox de Zayn. preferiu se afastar de toda a confusão e foi tirar um cochilo embaixo da cama, enquanto Lola se envolveu em uma bolinha e adormeceu pressionada contra as minhas costelas. Segundo Zayn, a batida do meu coração lembrava o da mãe dela e isso a acalmava. Não acreditei naquele papo, mas ainda achei fofo demais ele ter se dado ao trabalho de inventar algo assim.
  - O que Pablo achou de vocês estarem morando juntos? – quase adormecia com a cabeça na minha coxa.
  - Ele não gostou nada... – Zayn a respondeu, sem tirar os olhos da tela.
  - Disse que temos que tomar cuidado, porque podem me ver entrando e saindo do prédio, ou passando por essa rua com freqüência e ligar os pontos. – Completei. – Mas como a Mulberry fica aqui perto, temos essa desculpa.
  - Pelo menos eles não podem proibir onde ou com quem vocês moram.
  - E o que ele disse ao saber que vocês estão juntos de novo? – Olhei para , que levantou a cabeça e encarou o namorado.
  - O que ele disse quando você contou, Ni? – Ela perguntou. O menino nem ao menos piscou em resposta. – Você não contou?! Niall!
  - Desculpa! Eu só achei que fosse melhor esconder por um tempo... Porque sabemos como ele é. Acha defeito em tudo! – Pausou o jogo, fazendo Zayn reclamar. – Pensei que pudéssemos ir com calma. Não quero passar por tudo que esses dois passam.
  - Hey! – Foi a minha vez de reclamar. – Se querem saber, tudo que a Modest! nos fez passar, só nos deixou mais unidos e eu não mudaria... A quem eu estou querendo enganar? Ni está certo.
  - Obrigado, . – Fez sinal de positivo com a mão.
  - No entanto... Quando estava com Amy, falou para Marco na primeira ocasião. – Pensei alto e me olhou chocada antes de levantar bufando e sair do quarto.
  - Obrigado, ! – Dessa vez Niall usou ironia e correu atrás da namorada. – Cerejinha, volta aqui!
  - Essa foi terrível, . – Zayn olhou pra mim, com a sobrancelha erguida.
  - Tinha outra idéia pra tirar eles daqui? – Cuidadosamente me afastei de Lola e passei as pernas para a lateral do corpo dele, sentando em seu colo.
  - Não sabia que você era um gênio do mal. – Deixou o console de lado e segurou a minha cintura.
  - Uso meus poderes quando preciso. – Tentei soar misteriosa, mas acabei me saindo como boba.
  - Por que você queria tirá-los daqui, então? – Instigou como se já não soubesse a resposta.
   Se esse fosse o caso, eu estava mais do que disposta a mostrá-lo por que queria nos deixar sozinhos no quarto. Nada mais do que retribuir o belo favor que ele deixara em meu pescoço. O chupão ganhara uma cor avermelhada que lentamente começou a se transformar em roxo e não iria embora tão cedo, o que me obrigaria a ir para a aula na segunda-feira com a prova de que meu final de semana foi “animado”. Não que isso já não tivesse acontecido antes, claro. Apenas gostava de evitar olhares curiosos e cochichos pelo corredor o máximo que pudesse.
   Zayn me olhava com suas orbes amendoadas, estudando cada um de meus traços e mínimos detalhes com tanta intensidade que me senti nua. Ele passou os meus cabelos para trás e fora dos meus ombros, deslizando a ponta dos dedos de um ombro até o outro. Naquele momento esqueci completamente que era a minha vez de dominá-lo e marcar território. O moreno sorriu porque sabia ler meus pensamentos. Subiu o polegar pelo pescoço, terminando sobre meus lábios. Segurei a lateral de seu rosto e investi na mesma direção, somente roçando nossas bocas de leve. Fechei os olhos depois de assisti-lo fazer o mesmo e permiti que minha língua vagasse lentamente em procura da dele.
   Tomou posse da minha nuca, puxando alguns fios de cabelo no caminho, e modelou nossas bocas juntas, com aquele encaixe que só nós dois tínhamos. Minha mão que permanecia livre passou por baixo da camiseta de Zayn, arrastando as unhas até o peitoral e fazendo o mesmo caminho para baixo. Ele interrompeu o beijo ao entreabrir os lábios para suspirar com aquela provocação que eu sabia surtir efeito todas às vezes. Ainda sem cansar dos lábios do outro, capturei seu inferior e o suguei, escorregando para o queixo. Submerso pelo clima criado, levou ambas as mãos para a base das minhas costas, me trazendo admiravelmente mais para perto de si. Lambi de um lado para o outro de seu pescoço, sentindo a respiração em seu peito pesar.
  - Mais tarde você é meu. – Sussurrei em sua orelha, me desfazendo de seus toques e levantando.
  - Hã? Mas... ! – Reclamou ao descobrir o meu plano de deixá-lo querendo mais. – Gênio do mal de fato!
  - Vamos, Lola. – A filhote podia não entender que aquele era o seu nome, mas aprendi que a sua raça era mais atenta do que a de .
   Enquanto o meu primeiro filho levou dois meses para começar a vir quando o chamava, Lola o fez na primeira tentativa. Pelas poucas horas que havia passado ao seu lado já tinha certeza de que nos daríamos muito bem. Girl Power dominaria a casa onde antes a maioria era masculina. Não que não tomaria o meu lado contra Zayn, se entendesse o que isso queria dizer, mas deu pra entender. No começo do corredor, avistei Niall e abraçados no sofá. Já deveriam ter feito as pazes, o que tirou a minha consciência pesada. Antes de ir até eles, mudei de direção por ter escutado o interfone tocar.
  - Acho que é o meu sorvete, . – Niall falou.
  - Quem pede entrega de sorvete?! – Franzi o cenho, duvidando da sua capacidade de pedir algo tão simples quanto ir até a sorveteria da esquina por telefone. – Yaloou.
  - Senhorita , há uma garota aqui em baixo... – Alec, meu porteiro preferido, começou a falar. Então não era a entrega no final das contas! – Ela disse que se chama Alyssa. Posso mandá-la subir?
  - Passe o interfone pra ela, por favor. – Pedi simpática, mas na minha cabeça só passava uma coisa: “O que essa vadia está fazendo aqui?”
  - Oi? – Sua voz era mais fina do que eu lembrava.
  - Oi, querida, não sei se lembra de mim, mas nos falamos no telefone...
  - É claro que eu lembro! A secretária de Zayn, certo? – Me interrompeu. – Eu estou tentando ligar pra ele, mas a mensagem que recebo é que o número mudou! Tenho certeza de que algo deve ter acontecido, por isso preferi vir aqui de uma vez. Eu poderia subir pra buscar a minha jaqueta?
  - Não se preocupe, a sua jaqueta vai chegar até você! – Forcei uma risada mais assustadora do que natural. – Fique na frente do apartamento, sim?
  - Ohh, Zayn vai descer? Tudo bem, eu espero!
   Não, Zayn não iria descer! Mas Alyssa teria a sua jaqueta sim, não precisava se preocupar. Bati o telefone de volta no gancho ao invés de colocá-lo delicadamente como merecia. Como Alyssa tinha coragem de voltar? Claro que na cabeça dela Zayn estava solteiro quando conheceu seu apartamento, mas eu trataria de fazê-la entender o recado. Saí da cozinha e Zayn estava na sala com os amigos. Eu estava tão composta por adrenalina que meu rosto devia estar vermelho e fumaça saindo pelo nariz.
  - O que aconteceu? – me encarou, achando graça.
  - Alyssa está lá embaixo. – Informei Zayn cinicamente com um sorriso venenoso.
  - Quem? – A ruiva continuou com sua curiosidade.
  - Não se preocupe, ela só veio buscar algo que esqueceu aqui. – Não respondi a pergunta da minha amiga, mas a que Zayn questionava com os olhos. – E eu irei entregar.
  - , espera!
   Zayn tentou me parar, mas esquivei de seu toque e me abaixei na meia estante embaixo da TV, abrindo a sua última gaveta e tirando de lá a jaqueta marrom com um cheiro insuportável de perfume barato. Em seguida, subi com pressa as escadas para o terraço. Sem entender coisa alguma, os três subiram com a mesma velocidade que eu, mas pararam quando me aproximei do parapeito. Olhei para a queda livre, procurando a pessoa que eu pedi para esperar na frente da fachada do prédio. Não sabia como Alyssa era, mas imaginei que fosse o pontinho preto parado, diferente das outras pessoas que iam de um lado para o outro, seguindo com as suas próprias vidas.
   A próxima coisa que fiz foi soltar a jaqueta de mau gosto e observá-la cair. Não foi exatamente em linha reta, por causa do vento, mas chegou lá embaixo. Foi parar no meio da rua e alguns carros passaram por cima, distanciando-a ainda mais da dona que correu para tentar recuperá-la. Ri, limpando as mãos. Não era uma vingança elaborada, mas me seguraria por agora. Me voltei para a estufa uma última vez e os olhares em cima de mim não tinha preço. sorria orgulhosa do que quer que fosse que eu tivesse feito e Niall parecia resolver uma equação aritmética por pensamento. Zayn era o único a se saber do que aquilo se tratava e parecia assustado pra descobrir qual seria a minha próxima reação. Sair de casa? Passar mais uma semana sem falar com ele?
   Não dessa vez. Corri ao seu encontro, envolvendo o pescoço com os braços na mesma intensidade em que juntei as nossas bocas. Impetuosa, o agarrei ali mesmo, precisando do seu beijo que foi retribuído urgentemente. Era isso o que importava não? Era eu quem estava em seus braços no final das contas, era eu que tinha o direito de acordar ao seu lado todos os dias e saber dos seus segredos mais profundos. Não uma qualquer que ele conheceu em uma festa. Eu era e as pessoas sabiam o meu nome. Melhor que isso, eu sabia que era melhor que ela. Senti o gosto de sangue e percebi que cortara o lábio de Zayn por culpa da força que depositei naquele beijo e ele gostou.
  - Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui? – Niall não encontrou o resultado da sua equação.

    

Chapter LV

Segunda feira, comecei o dia com a minha aula menos preferida de todas: A aula em grupo, onde todas as classes eram reunidas em uma só. No entanto, boa parte dela estava faltando, já que a equipe do terceiro período saiu em uma excursão com a professora Bartira para assistir algum espetáculo de proporções pequenas que eu nem ao menos ouvira falar. O professor Hofstheder adorava suas aulas mais lotadas, porém, tinha certeza que naquela em particular ele abusaria da perfeição. Tinha pena dos primeiranistas que nunca tiveram uma sessão um a um com o professor como eu e por isso não sabiam o que deviam esperar.
   Estudava sem no mesmo curso que eu há ao menos um semestre e meio e ainda assim não tinha nenhum amigo ali. No máximo Brigitte, ainda que não me sentisse confortável em chamá-la de “amiga”. Alisha e suas duas amigas participavam daquela classe e gostavam de me observar, entretanto, faziam isso como se eu fosse uma celebridade, o que me incomodava. Não me importava em responder as suas perguntas sobre a banda dos meninos ou até mesmo sobre escolhas de moda e desfiles, mas naquele ambiente eu estava focada totalmente na dança; que era o que eu realmente sabia e queria fazer.
   Vestida dos pés à cabeça como uma bailarina protegida do frio por um casaquinho curto, me alongava sozinha em uma barra mais afastada. O docente estava demorando demais para chegar e por ser o professor mais rígido de toda a academia era difícil enxergar um motivo suficientemente importante para isso. “Ops, retiro o que disse...” Para me provar errada, o homem entrou na sala como um tufão, assustando todos aqueles que estavam fazendo nada ou conversavam alto demais. Seu atraso foi compensado por não vir desacompanhado. Atrás dele, Colin entrou animado, correndo os olhos pela sala.
  - Buongiorno, buongiorno a tutti! – O homem continuava com sua mania de falar italiano, ainda que não fosse da Itália! Acenava para todos que lhe cumprimentavam e parou quando me viu. – Ora, buongiorno, mia bella!
  - Buongiorno, mi caro! – Meu sotaque francês se adequava melhor ao italiano do que ao inglês, portanto soei quase profissional. Abracei o homem que não via há bons oito meses.
  - Então quer dizer que hoje você resolveu aparecer? Na segunda passada eu vim te surpreender, mas você fugiu! – Segurou meus ombros, mas não comentou como reclamação. – Parece até que cresceu alguns centímetros...
  - Você continua o mesmo de sempre e isso é um elogio. – Sorri, ainda me perguntando por que Hofstheder não nos interrompera ainda para começar a sua aula.
  - Por favor, parem de pensar que não me enganam e façam alguma coisa! – O professor gritou para um grupo de alunos que conversava em um canto. – Liberem o centro da sala e guardem essas barras, andem!
  - O velho Hofs continua a mesma coisa. – Um jovem com olhos azuis, cabelos de tamanho médio e tom claro não passou despercebido ao meu olhar quando se aproximou do diretor.
  - , este é-
  - Sergei Polunin. – Interrompi Colin, sabendo perfeitamente de quem se tratava. Não conseguia tirar os olhos do ex-aluno da Academy. – Eu já vi a sua foto no corredor. E também a sua última apresentação no British Royal Ballet... Pode-se dizer que sei quem você é.
  - Uma fã. – Arqueou a sobrancelha, não aceitando a mão que lhe ofereci como cumprimento.
  - Tomlinson. – Colin acrescentou, me pedindo desculpas com o olhar. – Ela será a sua parceira até o fim do semestre, Sergei. Pode chamá-la de Clara.
  - Então está é a menina prodígio? – O bailarino me rodeou como um tubarão prestes a devorar a presa. – Não era o que eu esperava.
  - O que isso quer dizer? – Cruzei os braços, pronta para enfrentá-lo.
  - Nada. – Sorriu como se aquela reação fosse exatamente a que esperava. – Vamos nos divertir muito nos próximos meses.
  - Vocês vão se dar bem. – Colin arriscou, assistindo Sergei se afastar.
  - Duvido muito. – Bufei, já podendo ver claramente todo o estresse que sofreria. Só porque o cara era um bom bailarino achava que era melhor que qualquer um? – Já sinto falta de Nick.
   Quando pude olhar em volta para os outros alunos, notei que estavam sentados nas laterais da sala, com seu centro já totalmente liberado. O professor Hofstheder mais a frente, conversando com Sergei; que me olhava com um sorrisinho esnobe no canto do rosto. Ameacei ir me sentar junto aos colegas, mas Colin me impediu, dizendo que aquilo me interessaria e logo descobri o porquê. O professor apresentou o meu “parceiro” como sendo o dono do papel de Quebra-Nozes. Contou um pouco do seu currículo como formando da academia desde os dezessete anos e era interrompido pelo dito cujo sempre que deixava de fora algum detalhe sem importância como todas as cidades que já dançou pelo mundo, em turnês com o Royal Ballet.
   Não nego que a sua trajetória de sucesso era de se ter inveja, mas pelos cinco minutos que tive em sua presença soube que o talento era igualmente grande à sua antipatia. Quando eu chegasse ao seu nível de “fama”, tornaria o meu maior objetivo continuar sendo simpática e gentil com os outros; especialmente aqueles que dançariam ao meu lado durante os próximos longos e demorados meses. Além de encher lingüiça, Hofstheder pediu uma rápida demonstração de dança para o menino. Colin e eu sentamos em um banco na frente do espelho para assistir àquele “show”. Show de horrores, eu esperava.
   Querendo nada mais que impressionar os alunos mais jovens e sem quase experiência alguma, Sergei pediu uma música do espetáculo rápida e dinâmica. A próxima coisa que vimos foram os seus pulos em uma altura absurda e disciplina até nos movimentos mais simples. A força em seus músculos era extrema ao ponto de se sustentar na ponta dos pés descalços e sorrir como se não fizesse esforço algum. Em passos mais ousados, arrancava suspiros da platéia, mas eu me recusei a soltar um “uau” que fosse. Quando a música aproximava-se do seu fim, o homem deu piruetas em volta da sala, contornando-a. Como se ainda achasse pouco, terminou o círculo precisamente na minha frente, com um joelho apoiado ao chão e braços abertos como se pedisse por aplausos. Enquanto a sala inteira o congratulou, permaneci de braços cruzados, falsamente não impressionada.
  - O que achou, Colin? – Perguntou para o diretor, mas seu olhar estava em mim.
  - Meraviglioso, como sempre. – O homem respondeu.
  - Não era o que eu esperava. – Usei um tom seco para dar a entender que, como a sua própria frase, não era um elogio.
  - Obrigado por essa demonstração, Sergei. – Hofstheder tomou o centro mais uma vez. – Realmente impressionante.
  - Minha parceira poderia demonstrar algo? – O bailarino já encontrava-se de pé. – Para que eu possa conhecer o seu... Talento?
  - Não vejo por que não. – O professor adorava um desafio e pressentiu a rixa entre nós dois. – não se importaria, não é?
  - Claro que não. – Sim, eu me importava! Não havia preparado nada e estava prestes a dançar na frente de quase cem alunos, mais o professor e Colin. Infelizmente minha única opção além dessa era perder a batalha contra Sergei.
  - Posso sugerir uma música? – Colin ofereceu quando fiquei de pé. Hofstheder assentiu com a cabeça e ele prosseguiu: - Creio que Dance Of The Sugarplum Fairy será uma boa.
  - Está será. – O professor voltou ao aparelho de som digital, procurando a faixa escolhida. – Quando quiser, Tomlinson.
  - Estou pronta. – Tirei o casaco de algodão e o entreguei ao diretor, ocupando minha marca no centro da sala com os pés em terceira posição, um em frente ao outro, e os braços ao lado do corpo.
   Nem mesmo respirações eram escutadas a minha volta quando a música foi liberada. Eu conhecia a canção e já a vira ser apresentada diversas vezes, mas era a minha primeira dançando-a. Teria que improvisar! Comecei a dança com os braços lentamente sendo erguidos até formar uma oval sobre a minha cabeça; um por vez. Ergui o corpo sobre a ponta das sapatilhas e sempre que os sininhos eram escutados na trilha sonora, movia os pés em sincronia. Um em frente ao outro, me movi pela sala, braços em movimentos leves e suaves.
   Quando houve a subida do tempo, girei sobre um pé só, dei mais alguns paços curtos e girei mais uma vez. Meus movimentos eram rápidos e precisos, quase não fazendo barulho algum pelo chão. Recusei-me a olhar para Serguei, porém, daria tudo para assistir sua reação. Aquela podia não ser uma apresentação digna de um Oscar, mas para alguém que não esperava muita coisa de mim, seria um bom começo. Saltei esticando as pernas completamente em ângulo de 180º em um Grand Jeté primoroso. Terminei em Arabesque, levantando o corpo para a ponta novamente. Serguei sabia girar? Bem, não era o único!
   Propositalmente, dancei o meu caminho até a diagonal da sala, dando início à uma série de piques em círculo. Na medida em que meus giros foram ganhando velocidade, a música fez a mesma coisa. Chegando no meu ponto de partida, usei saltos simples para chegar ao centro da sala mais uma vez, encarando o espelho. Me preparei para fazer uma pose de finalização, esticando a perna direita à minha lateral e com os braços em V. Porém, fui surpreendida pelas mãos que deram apoio à minha cintura e panturrilha erguida, içando-me no ar. Em busca de apoio, dobrei a perna esquerda até formar o numeral quatro e palmas preencheram o lugar da música de fundo.
  - Mal posso esperar pra ver vocês dois dançando juntos! – Colin correu para nos congratular.
  - Pode me colocar no chão agora. – Pedi um tanto rude, já que Seguei ainda me levantava como um troféu.
  - Quer ir à outra sala para nos conhecermos melhor? – O homem me abaixou sem delicadeza alguma.
  - Ótima idéia. – Colin estava do lado do bailarino. – Vou com vocês! Tenho certeza que Hofstheder não se importa.
  - Eu me importo! – Cruzei os braços, nada afim de passar o resto da manhã ao lado daquela bolha de gentileza. Mas é claro que ninguém me escutou! – Ei! Ao menos esperem por mim...

+++

  - , my darling! – Alexia atendeu a ligação.
  - Hey, Lexy! Desculpa não ter atendido antes... – Sentei no sofá da sala de reuniões, fazendo Louis também sentar; ao invés de ficar deitado como estivera até então. – Estava longe do celular.
  - Não tem problema! Onde você está? Pode me encontrar agora? Tenho algo pra você. – A mulher anunciou e fiquei animada, imaginando o que poderia ser.
  - Estou em uma conferência de imprensa com os meninos, então não posso sair daqui. Mas ficarei no backstage, então você pode vir, se quiser.
  - Ótimo! Me mande o endereço por mensagem, ok? Chego aí em vinte minutos.
  - Te vejo quando chegar!
   Desliguei, digitando o endereço para a mulher. Estávamos em um dos escritórios da Modest! onde aconteceria o anúncio do novo CD do One Direction, Take me Home. Para isso, os empresários convidaram meios de comunicação vindos de todos os cantos da cidade e Europa. Até mesmo ouvi dizer que alguns franceses estavam a procura de um interprete/tradutor e pensei em me candidatar, mas Pablo cortou as minhas asinhas e disse que Louis faria esse papel, se fosse preciso. A sala era bem grande, visto que devia conter toda a equipe e ainda e eu.
   Paul e os seguranças estavam perto da máquina de café, conversando entre si. Rachel dava os últimos retoques ao cabelo de Harry, dando aquele look alto e cacheado (impedindo-o de usar um de seus headbands improvisados). e o namorado dividiam uma poltrona e se agarravam como nos velhos tempos, sem se importar com nossos comentários ou onomatopéias de nojo. Zayn acabava de entrar na sala, com uma coleira preta e Lola na ponta oposta à que ele segurava. Tentei chamar a pequena pra vir na minha direção e fui ignorada.
  - Já voltaram? – Declarei o óbvio, levantando do sofá, mas deixando o casaco e a bolsa guardando meu lugar.
  - Tem alguns paps lá fora. – Liam me respondeu, vindo logo atrás de Zayn.
  - Oh... – Me abaixei para pegar a filhote nos braços e Zayn nos abraçou com força. – Falaram algo?
  - Nada. Só tive medo que os flashes a assustassem. – Beijou a minha bochecha, mas virei o rosto, obrigando-o a encontrar meus lábios.
  - Tem uma criança aqui, sabia? – Liam tirou Lola dos meus braços, preocupado com a impressão que nossos beijos causariam na pequena como se ela fosse uma criança de verdade. – Vocês deviam ter vergonha!
  - É só ela não olhar! – Uma vez com os braços livres, envolvi o pescoço do meu namorado e trocamos selinhos entre sorrisos.
  - Tem certeza que Lola é o problema, Li? – havia se aproximado sem aviso, pois Niall fora intimado por Rachel. – Acho que alguém está com inveja.
  - É verdade... Não era pra Dani estar aqui também? – Sem me soltar, Zayn apoiou o queixo no topo da minha cabeça.
  - Não acho que ela vá estar nos nossos próximos eventos. – Li cruzou os braços, olhando de Zayn para , que pegou Lola.
  - Os ensaios do X Factor estão pesados? – Arrisquei.   - Um pouco, mas não é isso. Nós meio que terminamos. – Deu de ombros, encarando o chão. – Está tudo bem, ainda somos amigos.
  - Baba... Porque não disse nada? – Me desfiz de Zayn e abracei Liam, imaginando como ele podia estar se sentindo. Acabei de juntar um casal e já tinha outro pra cuidar? – Não importa! Você vem pra casa com a gente. Alugaremos um filme, pediremos comida... Vai ser uma verdadeira festa do pijama. Certo, Zen?
  - Com certeza. – Meu namorado deu um tapinha nos ombros do amigo, naquele tipo de apoio entre garotos. – Você sabe que tem seu quarto no nosso ap.
  - CINCO MINUTOS! – Paul anunciou.
   levou Lola ao ir se despedir de Niall. Harry e Louis também estavam de pé e se abraçavam, sabendo que durante a conferência, seriam obrigados a ficar o mais distante um do outro possível. Liam beijou a minha testa e foi se juntar aos amigos. Zayn era o único sobrando e estava parado na minha frente, com os braços pra trás e olhinhos que gritavam: “sou um filhote e acabei de cair do caminhão de mudança”. Rolei os olhos com um sorriso de canto, conhecendo-o demais para saber o que queria.
  - Isso não é um show. – Cruzei os braços, divertindo-me com seu sofrimento.
  - Mas, ... – Arrastou meu apelido, aumentando o bico.
  - Zayn, dois minutos. – Paul voltou a chamar. Os meninos estavam em fila atrás da porta que daria para o local da conferência.
  - É a . – Me culpou, fazendo o segurança me olhar com cara feia.
  - Vai logo, Malik! – Decidi parar de fazer jogo duro antes que fosse proibida de ir àqueles eventos. Dei um passo para frente e segurei nas laterais do rosto do menino, juntando nossos lábios em um beijo de boa sorte. – Eu estarei esperando bem aqui.
  - Foi tão difícil assim? – Roubou outro beijo rápido e saiu correndo exageradamente estranho, fazendo careta e falando em outra língua que só Lou parecia entender.
   Assisti os cinco meninos deixarem o escritório e recebendo aplausos de quem os esperava do lado de fora. O barulho logo foi interrompido quando as portas foram fechadas e poucas pessoas permaneciam onde eu estava. Me joguei no sofá ao lado de e Lola estava dormindo entre nós duas, embolada no meu casaco. Nunca pensei que fosse me tornar uma mulher que carrega seu filhote pra cima e pra baixo dentro da bolsa, mas tive medo de deixá-la sozinha em casa com . Os dois ainda estavam se acostumando um com o outro e o husky era um verdadeiro monstro perto dela.
  - O que você está fazendo? – Cruzei as pernas, encarando mexer no celular e levá-lo à orelha.
  - Shhhhh. – Levantou o indicador, me mandando calar a boca menos delicadamente do que se falasse “cale a boca”. – Dani? Oi! É a aqui...
  - , o que você está fazendo?! – Sussurrei depressa.
  - É, eu soube! Sinto muito, de verdade. Vocês eram tão fofos... – Sentia a sinceridade em suas palavras, mas odiava ser ignorada. – Ele não está nada bem. (...) Mesmo? Posso perguntar o motivo? (...) Uau, isso é pesado. (...) Claro que entendo! (...) Não se preocupe, ainda vamos sair juntas sim. (...) Claro, pode ir! Um beijo...
  - Você oficialmente passou do nível aceitável de loucura. – Balancei a cabeça negativamente, reprovando seu comportamento intrometido.
  - Liam não chegou a explicar o que aconteceu... – Tentou se defender ou justificar. – Então precisei perguntar ao outro lado da história.
  - E Dani explicou? – Ainda que contra os meios nada convencionais de , que mal faria perguntar?
  - Ela disse que, apesar de ter sido uma decisão dos dois... Foi ela quem terminou com Liam.
  - That bitch! – Minha voz afinou inconscientemente.
  - Tem mais! – Bateu no meu joelho, louca pra contar a última parte. – Dani disse que terminou com Liam porque ele gosta de outra pessoa.
  - Aqui vamos nós. – Não tinha certeza de como deveria processar aquela informação, mas conhecia a ruiva bem até demais.
  - ! Você sabe o que isso significa?! – Tampou a boca pra evitar um grito que provavelmente traumatizaria Lola para o resto da vida.
  - Não, não sei! – Sabia sim. Levantei, lançando um olhar para que esperava que encerrasse o assunto. – E você também não sabe. Quer café? Ótimo!
   Minha melhor amiga assentiu com um aceno de cabeça e ficou no sofá com Lola, puxando a pequena para o próprio colo e acariciando-a atrás da orelha. Não queria ter soado dura com , mas ela tinha uma imaginação fértil e boca solta demais para receber qualquer tipo de encorajamento. Zayn e eu começamos a morar juntos há pouco tempo, depois de uma possível crise e tudo o que não precisava era que ele ficasse paranóico com os sentimentos que o melhor amigo poderia ter por mim.
   Rachel passou por mim na minha caminhada até a mesa onde comidas e bebidas eram repostas a cada dez minutos – tudo para agradar os meninos – e piscou como cumprimento. Sorri em resposta e não vi para onde ela foi, mas o barulho da porta sendo aberta e fechada era bem claro. A sala em que estávamos era grande, por isso o silêncio fora quebrado repentinamente pelo som da cafeteira quando escolhi o tipo de café que queria. Preston, um dos poucos que ficaram ali, se assustou e saiu de seu cochilo, olhando para mim assustado.
  - Sou só eu... Desculpa. – Ri, levantando a mão em sinal de paz. – Quer café? Acho que você precisa mais do que eu.
  - Não, eu estou... – Tentou negar quando ofereci o café que seria meu, mas bocejou antes de conseguir me convencer. – Obrigado, .
  - Não por isso. – Sorri satisfeita e, enquanto esperava meu novo café ficar pronto belisquei em um biscoitinho de leite. – Será que está tudo bem lá fora?
  - Tenho certeza que sim. Paul teria me bipado por reforços se alguém tivesse tentado agarrá-los. – Mostrou o walkie talkie no bolso da camisa. – Você queria estar lá fora, não é?
  - Um pouco. – Dei de ombros, claramente tentando me enganar. Todos da equipe conheciam a minha situação com Zayn e o quanto a Modest! me adorava, então eu não precisava fingir nada. – Pablo só mandaria me matar, se eu saísse daqui, nada de mais.
  - Nunca deixaríamos que ele fizesse isso. – Preston me assegurou e tirei os olhos dele para colocar açúcar no meu café, mas sorria. – Todo mundo gosta de você. E da também, depois que você se acostuma...
  - Bom saber. – Meu sorriso só fez aumentar.
   Eu gostava de todos da equipe que não pertenciam à Modest!, como os seguranças, produtores, motoristas e etc, mas nunca realmente parei pra pensar se eles sentiam a mesma coisa por mim. Talvez apenas Paul, com quem eu tivera mais contato por assim dizer. Fiquei feliz por descobrir que não era apenas a namorada de um de seus clientes, ou alguém que devia ser importante por causa de seus contatos. Eu era eu e era vista assim, como um indivíduo de quem, aparentemente, todos gostavam.
   Terminei o café antes mesmo de Preston conseguir fazê-lo, talvez porque o homem falava mais do que bebia. Joguei nossos copos térmicos descartáveis no lixo e me virei para roubar um último biscoitinho de leite a tempo de ver a madrasta mais legal do mundo voltando para a sala com o braço em volta de uma mulher exageradamente mais alta que ela e com os cabelos castanhos como madeira.
  - Olha quem eu encontrei vagando pelo saguão! – Rachel anunciou, soltando Alexia para que a minha publicista pudesse vir me abraçar.
  - Vocês se conhecem?! – Não sei porque ainda me surpreendia, naquele ramo todos pareciam se conhecer. – Lexy! Parece que não nos vemos há meses!
  - Só algumas semanas, querida, mas também acho bom te ver. – Deixou alguns beijinhos no ar e apertou os meus ombros. – Como você está?
  - Ótima! Já conheceu a minha amiga? – Virei de lado, mostrando para a mulher, que acenou sorridente. – Aquela no colo dela é a minha bebê, Lola.
  - Uma graça, as duas. – Lexy acenou de volta, exibindo os seus dentes brancos.
  - Quer sentar? Aqui não é bem como o lugar que geralmente temos nossos encontros... – De repente me senti nervosa. Alexia costumava ir direto ao ponto e até agora não tocara no assunto trabalho.
  - Não precisa, eu não vou demorar muito. Só vim mesmo lhe entregar isso aqui... – Abriu a maxi bolsa que tinha pendurada no ombro e revirou-a vigorosamente até encontrar um envelope branco. – Aliás, se pode gritar aqui? Pelo que entendi, uma conferência está acontecendo aí fora.
  - Por que eu gritaria? – Recebi a carta que tinha o meu nome impresso em letras douradas na parte de fora e delicadamente rompi o lacre para ver o seu conteúdo. – “British Fashion Awards 2013. London Coliseum, ST Martins Lane, London WC2N 4ES. Sexta-feira, quatro de...” Eu fui convidada para o BFA?!
  - Não é só isso! – Rachel segurou a minha mão livre, apertando-a em entusiasmo. – Posso contar a ela? Posso?
  - Espera, eu não sei se consigo não gritar! – Ri mais por nervosismo do que por achar graça daquilo tudo, minha mão ainda tremendo com o convite.
  - Você foi nominada em uma categoria! – A madrasta parecia Lux com sua risada infantil e pulinhos. – No Red Carpet Award. É um prêmio para aqueles que estão chamando mais atenção em tapetes vermelhos.
  - Mas eu não sou inglesa... – Minha cabeça estava um completo vazio. Não conseguia entender como aquilo poderia ter acontecido, não comigo!
  - Seu pai é. E você está sendo nominada pelo que fez na festa da Glamour, que foi aqui. – Lexy explicou. – Está concorrendo com Lily Donaldson, Sienna Miller e Rita Ora.
  - O que eu vou vestir?! – Toquei a testa, legitimamente preocupada. Era óbvio que eu não iria vencer, então ao menos queria estar o mais bonita possível quando a câmera parasse em mim pra mostrar a reação de decepção.
  - É isso que estou indo resolver agora, querida! Quando a lista dos concorrentes foi liberada essa manhã, os designers começaram a sua corrida por clientes e o seu nome está bem quente. Tenho algumas reuniões, recolherei alguns modelos e falo com você depois. – Alexia acariciou meus cabelos de forma amigável e sorriu. – Acredito que Rach fará seu cabelo e maquiagem?
  - Quer pintar o cabelo?! Você ficaria tão bem de cabelo lilás... – É claro que a beauty stylist interior de Rachel me atacaria eventualmente.
  - Vamos com calma! É muita informação para a minha cabeça.

+++

  - Zayn, não fica assim... – Pedi pela quarta vez, terminando de amarrar o meu cabelo em uma trança de lado.
  - Sério, , o que eu tenho feito de errado? – Balançou a cabeça, andando de um lado para o outro. – Minhas roupas são limpas demais? Combinam demais?
  - Talvez eles só gostem de homens que se vestem como piratas ou usam botas com furos na sola e só tem duas calças. – Dei de ombros. Não é que eu não ligasse para seus “problemas”, apenas não tinha mais argumentos. – Baby, é uma premiação onde eu estou concorrendo em uma categoria. Claramente tem algo muito errado com esse pessoal.
   Estávamos no quarto de jogos, onde eu e minhas duas “crianças” ( e Lola) ocupávamos o colchão no chão e Zayn tentava cavar um túnel com os pés. Com Arnie, o lagarto, em seu ombro como uma estátua que ainda me assustava muito, Zayn não aceitara bem a noticia de que Harry havia sido nominado para o British Style Award e ele não. Eu particularmente também não entendia como aquilo podia ter acontecido, mas, como já disse antes, se eu acima de qualquer pessoa estava concorrendo, alguma coisa estava bem errada.
   Uma voz cantarolante nos fez parar de discutir o assunto e olhar em direção à porta. Liam, que vestia um Onesie cinza com desenhos geométricos e zíper branco, entrou com nossa comida. Sua roupa era bem parecida com a que eu e meu namorado usávamos, sendo que a de Zayn era vinho escuro e sem desenhos e eu usava o Onesie que ganhara de presente de aniversário de Tom e dos outros meninos; com o desenho de um panda e orelhas no capuz. Imerso de nossas preocupações, ele voltou a cantar para quebrar o silêncio.
  - I love KFC... Woh oh oh ohoh. – Li conseguiu arrancar uma risada de Zayn e não duvidaria que eles pudessem parar tudo e realmente começar a escrever uma música sobre Kentucky Fried Chicken. – Baby, you tell me, why the chicken crossed the street?
  - I’m hungry, hungy, hungry... – Zayn completou e suspirei com um sorriso. É isso que dá, viver cercada por cantores. – Achei que você nunca fosse voltar, Leeyum!
  - O KFC mais próximo é no fim da rua, não demorei tanto assim. – Ao pisar no colchão, acordou Lola, que saiu de seu caminho para que o menino sentasse ao meu lado. – , seu Krushem.
  - Eu te amo, Baba! – Exagerei, segurando o melhor Milk Shake do mundo e fechando os olhos para tomar um longo gole. Zayn tentou se sentar conosco e quase engasguei. – Zayn Jawaad Malik, o que você pensa que está fazendo? Guarde esse lagarto de volta no aquário e lave as mãos.
  - Mas, baaaaaaaaabe. – Fez bico, mas no final das contas acabou obedecendo. – Não gosto quando Liam está aqui.
  - Já vi quem segura às rédeas nessa casa. – Liam gargalhou dos resmungos do amigo e deixou o balde de pedaços de frango na nossa frente. - Hey, Toy Story!
   Liam apontou para a TV, só então notando o filme que eu colocara no DVD. Ele havia acabado de sair de um relacionamento, independente dos motivos que levaram a esse ponto, e precisava estar cercado de tudo que amava. Não era nada demais deixar que ele assistisse a seu filme preferido pela milésima vez, enquanto comíamos uma de suas comidas preferidas! Afinal, Liam ficava simplesmente encantador demais quando não tirava os olhos da tela e nossas mãos esbarravam ao tentar pegar o mesmo pedaço de frango. “Zayn, hora de voltar!”
  - Sabe o que eu acabei de lembrar? – Zayn leu meus pensamentos e entrou no quarto como um furacão, se jogando no colchão e acordando Lola mais uma vez. Dessa vez a pequena ficou irritada e resolveu deixar o quarto; como o bom irmão mais velho, a seguiu.
  - O que foi agora? – Retirei a mão do balde de comida e me concentrei apenas no milk-shake.
  - Graças ao Pablo e suas idéias geniosas, eu não posso te acompanhar ao BFA. Então você provavelmente vai chamar aquele cara que foi na outra festa com você. – Enciumado, fez careta ao contar o que tinha em mente. – Jonathan.
  - Joshua. – Liam o corrigiu, recebendo um olhar traído de Zayn. – O que?! Desculpa!
  - Na verdade, eu estava pensando em ir com Harry. – Me senti inteligente demais ao perceber que fui a primeira a pensar naquilo. – Quero dizer, ele já vai à premiação de qualquer jeito... E duvido que possa levar Lou mais do que eu possa levar você.
  - É por isso que eu te amo, sabia? – Mais relaxado, Zayn começou o seu jantar.
  - Tá bem... Você me ama porque eu prefiro sair com um dos seus amigos do que com outro cara atraente e que não te deve nada. – Falei sem pensar, me acomodando a uma almofada.
  - Atraente, Louise Tomlinson? – Soltou o frango e se sentou, seus olhos escurecendo. Ou talvez fosse só a sombra de Liam que batia em seu rosto.
  - Por que todo mundo pensa que esse é o meu nome do meio? – Murmurei. Deixando o copo no chão, pulei em cima de Zayn, fazendo-o cair pra trás; comigo sobre seu corpo. – Josh não é tão atraente quanto você...
  - Você não está melhorando as coisa para o seu lado, .
  - Eu te amo, seu idiota. – Segurei seu rosto com as duas mãos e era como se estivéssemos sozinhos no mundo. Acabei com a distância entre nossas bocas e não obtive resistência, como esperado.
  - Oh, get a room!

    

Chapter LVI

Dois dias haviam se passado desde a conferência de imprensa e as coisas na Academy andavam bem depressa. Os corredores estavam sempre cheios de conversas e cochichos, não importando o horário do dia. Alunos dividiam-se em três grupos: O primeiro era composto por antigos colegas de Niall e Zayn e fãs em geral do One Direction, que mal podiam esperar para o lançamento do novo CD dali alguns dias. O segundo era das meninas e meninos mais fashionables que descobriram da minha nominação para o BFA e constantemente desejavam boa sorte; não que realmente acreditassem que eu fosse realmente ganhar, mas era gentil da parte deles. O terceiro grupo continuava com suas atividades normais como se nada estivesse acontecendo, simplesmente por não ligar para nenhum desses dois assuntos.
   Na minha mente, porém, uma só preocupação dominava. O grande e decisivo Recital seria dali à oito dias e eu não tinha uma coreografia preparada. Não por descuido ou por estar mais atenta a outras coisas, a inspiração apenas não estava vindo. No dia anterior, por exemplo, fiquei na academia até que o zelador me mandasse embora por ser a hora de fechar e, apesar de ter conseguido pensar em algumas coreografias, nenhuma delas era A Coreografia. Naquele momento eu gostaria muito de estar trancada em uma sala tentando novamente ou ao menos assistindo a aula da professora Bartira, mas havia sido convocada pelo diretor Colin a me encontrar com ele no auditório. Aparentemente ele precisava testar algum equipamento antes de começarmos os ensaios.
  - Você não devia estar na aula, Ash? – Perguntei, me acomodando com a cabeça em seu colo enquanto deitava no mini sofá perto do quadro de avisos do primeiro andar. Apesar de adorar a sua companhia enquanto esperava, não conseguia ignorar a sensação de estar lhe atrapalhando.
  - Devia, mas não estou com vontade. Sabe aqueles dias que você se olha no espelho e pensa: “Eu não devia ter saído da cama hoje.”? – O loiro usava uma touca nos cabelos e só um pouco de sua franja escapava pela testa.
  - Isso se chama TPM. Acho que está andando demais com e eu, nossos ciclos devem ter sincronizado. – Ri, imaginando que seria mandada calar a boca, mas Ashton parecia cogitar a possibilidade. – Anyway, porque você não vai pra casa, então? Não é como se aqui houvesse algum tipo de controle de faltas ou coisa do tipo.
  - É dia de faxina lá em casa. Se eu aparecer, terei que limpar a piscina. – Esfregou os olhos com preguiça e entendi o seu lado. – O que seria justo, já que fui eu que comi Vegemite dentro dela...
  - O que é... Vege-mite? – Estiquei o pescoço ao olhar para cima e ele olhou pra baixo, me encarando estarrecido.
  - Você nunca comeu Vegemite?!
  - Bem, você nunca comeu Toad-In-The-Hole! – Dois podiam jogar aquele jogo de comidas típicas de países distantes. – Só come cangurus e coalas...
  - É assim que você imagina que os australianos são? – Riu por fim, seus dedos longos brincando com mexas do meu cabelo. – Vamos fazer o seguinte, você vai jantar lá em casa esse final de semana. Os meninos vão adorar.
  - Luke, Calum e Michael, certo? Qual é o de cabelo azul?
   Eu gostava de Ashton, mais do que achava que iria gostar. Ele era legitimo e até mesmo inocente; nunca me pediu favor algum, ainda que soubesse dos meus amigos que tinham uma banda de sucesso. e eu o acolhemos da mesma forma que a ruiva me acolheu no meu primeiro semestre e gostava de pensar que Ash seria tão grato a nós quanto eu era a ela. Ash continuou contando sobre seus três melhores amigos e disse que conseguiram marcar o segundo show do 5SOS, o qual prometi comparecer, mas dessa vez não levaria para arrumar brigas e acabar com tudo.
  - Aí está ela! – Colin se interrompeu antes de entrar no auditório quando me viu e parou de andar. Ele usava um cachecol de tricô que o fazia parecer não ter pescoço e um casaco tão pesado que eu só ousaria usar no inverno. – Desculpe a demora, bella. Nos distraímos um pouco durante o café da manhã... Já venho chamar vocês, preciso ver se está tudo pronto...
  - Eu devia saber que a culpa era sua. – Levantei da minha posição super confortável enquanto Colin falava sozinho e sumia para dentro do auditório. Serguei, no entanto, continuou parado na minha frente com seu sorriso superior e irritante. – Colin nunca se atrasa.
  - Não vou me desculpar por ser uma companhia tão interessante. – Mal piscou ao se vangloriar e mostrou uma caixinha de padaria que cheirava muito bem. – Ao menos trouxe isso pra você.
  - Não precisava. – Meu lado mais educado quis agradecer. Espiei dentro da caixa, encontrando um croissant dourado e três macarons coloridos. – Só porque sou francesa, você assume que é isso o que eu como?
  - Todo mundo gosta de croissants. – Colocou as mãos nos bolsos do casaco, sem ligar por eu ter gostado ou não do seu presente. – Você não?
  - Na verdade, eu odeio.
   Me comportava como uma menina de cinco anos e não me orgulhava disso. Meu novo parceiro de dança irritantemente desagradável colocou uma mexa do meu cabelo para o lado certo, sorriu e foi embora. Ash devia ter tirado-o do lugar enquanto se distraía pra passar o tempo e me senti ridícula imaginando que estava toda desarrumada. Assim que as portas voltaram a bater e fiquei mais uma vez sozinha do lado de fora, me virei para o loiro que permanecera sentado o show inteiro.
  - Ele é uma coisa, não? – Indicou o caminho de Serguei com a cabeça.
  - Só não quero saber o quê. – Dei de ombros, recuperando minha mochila do chão. – Divida isso com ... Ela adora macarons. Diga que fui eu quem mandou. A não ser que estejam envenenados, nesse caso pode falar que foi você.
  - Lovely.
   Me despedi do loiro puxando a sua touca pra baixo e o cegando por alguns segundos. Apoiei a mochila nas costas e respirei fundo, me preparando para a manhã que tinha pela frente. Corajosamente cruzei a porta do auditório e meus olhos se adaptaram à pouca luminosidade do salão. Colin e Serguei já estavam em cima do palco conversando com um homem que eu nunca vira na vida e decidi que agora eu quem estava atrasada. Desci a rampa até a primeira fileira de cadeiras e deixei as minhas coisas ali: Mochila, sapatos e casaco. Enquanto calçava a sapatilha sem ponta e amarrava o cabelo em um simples rabo de cavalo, comecei a estudar o que não podia ver de longe.
   Pendendo do teto acima do palco, um conjunto de fios e cabos era testado pelo homem desconhecido. Serguei tinha um par deles preso em cada lado de sua cintura e Colin falava coisas que eu não conseguia escutar e apontava pra cima. Ninguém usava uniforme de dança, então continuei com a minha confortável calça jeans e subi no palco com um impulso. O diretor me ajudou a ficar de pé e me apresentou ao outro homem.
  - Sebastian, essa é . É dela que eu estava lhe falando.
  - Ouvi muito bem ao seu respeito. – Apertou a minha mão e balançou com força.
  - Colin costuma exagerar... é um prazer. – Tentei permanecer centrada, mas tendo o meu braço sendo sacudido daquela forma era meio complicado.
  - Sem querer ser indelicado, , mas quanto você pesa? – Sebastian soltou, me fazendo dar um passo para trás inconscientemente.
  - Eu diria uns 60 kg. – Serguei se intrometeu e eu engasguei com o vento.
  - Eu não peso sessenta! – Cruzei os braços sobre o estômago. Não seria nada demais pesar aquilo para uma bailarina saudável, mas eu não era só isso. – Eu diria cinqüenta e cinco, no máximo.
  - Ótimo, estamos prontos pra você, então.
   Sebastian tocou meu ombro, me levando para a outra ponta; o mais longe possível de Serguei. Colin continuou conversando com o chato, que aparentemente era seu novo preferido, enquanto o amigo tirou de uma sacola preta no chão um cinto cor da pele mais para o lado do branco e me ajudou a vesti-lo. Em seguida, encaixou algumas faixas da mesma cor passando por baixo da minha perna. Ei, eu tive infância! Sabia que aquilo era um equipamento de tirolesa. Só não entendia aonde Colin queria que eu escorregasse! Olhando para Serguei, vi que ele usava o mesmo mecanismo que eu preso ao seu quadril e os cabos de aço logo foram atados ao meu cinto também.
  - Apertado? Não? Ok. – Não cheguei a responder Sebastian, mas tudo bem. Estava confortável. Ou mais perto disso que eu podia ficar dentro daquele apetrecho. – Alguns avisos básicos... Não toque nesses cabos, porque eles tem pequenos aros que podem cortar a sua pele. Isso também vale para o cabelo, mas como o seu está preso, não tem tanto perigo. Pra girar ou parar, use os braços... Você vai entender melhor quando estiver lá em cima. Alguma duvida?
  - Não... Quero dizer, lá em cima aonde? – O homem não me respondeu, apenas piscou e desceu do palco com um sorriso indecifrável.
  - Os dois estão prontos? Segurem-se! – Estava com um controle remoto enorme nas mãos e apertava alguns botões. – Serguei, você primeiro.
  - Eu não posso morrer, tenho um show pra ir hoje a noite... – Pedi, como se alguém fosse me escutar.
   Simples assim, o menino foi içado para o alto, permanecendo alguns bons metros acima do chão. Ah. Aquilo parecia ser divertido. Ou era o que eu achava até ser a minha vez ser erguida. Serguei foi levantado com tanta suavidade que fazia parecer fácil. Já eu, apenas mexia as pernas em busca de equilíbrio e por não saber onde me segurar, inclinei o corpo pra frente e dei uma meia cambalhota, terminando de cabeça pra baixo e sem saber como levantar.
  - , você está bem? – Colin segurava a risada quando parou embaixo de onde eu pendia desesperadamente. – Serguei, ajude-a, por favor?
  - Não estamos nem ensaiando e já tenho que salvá-la. – O garoto não era tão delicado quanto o professor, então não poupava risadas. Como se já tivesse prática, ele escorregou pelo ar até estar ao meu lado, agarrou o meu pé e me virou mais uma vez. – Tudo bem aí?
  - Eu podia me virar sozinha, muito obrigada. – Tirei a franja dos olhos, me recompondo.
  - Olha só! Acho que é a primeira vez que escuto um agradecimento vindo de você. – Sorriu de canto, segurando o gancho no meu cinto. – Esse equipamento é fácil de dominar, até você pode usar.
  - O que quer dizer com isso? E o que está fazendo?! – Em seguida, eu estava sendo arremessada para o outro lado do palco com velocidade. – Serguei!
  - Me dê a sua mão! – Como em um efeito bumerangue, da mesma forma que fui, estava sendo mandada de volta. O menino esticou a mão e pela primeira vi algo parecido com sinceridade em seu olhar. – Confie em mim.
   Ainda sem saber se deveria, notei que não teria outra opção a não ser confiar nele. Dançaríamos juntos, eu querendo ou não, então deveria confiar nele de olhos fechados. Era difícil, sim, mas tinha que tentar. Sabendo que me arrependeria, estiquei o braço até que nossos dedos esbarrassem e Serguei tomasse posse da minha mão com firmeza. Ao invés de continuar deslizando com o meu impulso, ele usou força para o lado oposto e começamos a girar em círculos. O que começou desajeitado tornou-se algo delicado e elegante.
  - Vejo que já estão se divertindo! – Colin bateu palmas lentas.

+++

  “Será que eu estou no lugar certo?! O carinha da portaria falou que era por aqui...” Tudo parecia igual em um corredor circular com paredes brancas, carpete vermelho e retratos de bandas famosas pendurados aqui e ali. Era possível sentir a vibração de milhares de fãs do McFly tomando seus lugares para o show de aniversário que começaria dali a mais ou menos uma hora e eu ainda não conseguira chegar ao lugar onde a pré-festa estava acontecendo. Os meninos que vieram comigo assistir ao show (Louis, Liam, Harry, Niall e Zayn, é claro) entraram pela porta da frente, preparada especialmente para receber os convidados mais especiais com paparazzis e meios de imprensa. Eu preferi evitar todo o drama e usei a entrada lateral, mal sinalizada e quase completamente vazia. Ao menos consegui chegar ao andar que pensava ser o certo.
   “Aquele é o...?” Me interrompi internamente, vendo Tom saindo do que deveria ser a sala que eu procurava, acompanhado por Fletch e um baixinho que reconheci ser Dougie. Esperando surpreendê-los e desejando não estar tão atrasada assim, corri pelo corredor, espantando-me com a finura do chão embaixo de mim e com o barulho que meu salto alto fazia ao se chocar contra ele. Uma figura comprida e usando blazer me interrompeu com um olhar perigoso.
  - Não era pra você estar aqui, senhorita. – Educado, mas sério, o segurança estava prestes a me mandar embora.
  - Eu os conheço! – Argumentei, mas sabia que ele já ouvira aquilo antes.
  - Sim, claro, todas falam isso. Andando, mocinha. – Como se perdesse a paciência, bloqueou a minha passagem.
  - TOOOOOOOOOOOOOM! – Minha única saída foi gritar a plenos pulmões, torcendo para ser ouvida.
  - ? – Dougie foi quem se virou, atordoado como se estivesse delirando. – HEY, ELA TÁ COM A GENTE!
  - Você a conhece? – O segurança notou a comoção no baixista e continuou me olhando estranho. – Ok, pode ir... Dessa vez.
  - Obrigada. – Forcei um sorriso, ignorando sua ameaça.
   Arrumando a roupa, mais por nervosismo que por necessidade, terminei a minha corrida até os dois meninos que pareciam ansiosos e entusiasmados a ponto de vomitar a qualquer instante. Tom foi o primeiro a vir me encontrar, com seu sorriso enorme, covinha e óculos redondos.
  - Gostei do seu cadarço! – Disse nossa saudação, mas não havia tempo pra isso.
  - Hoje não, Tom! – O puxei para um abraço forte. – Parabéns pelos dez anos! São apenas os primeiros de uma eternidade. Eu juro que tinha um discurso inteiro preparado, mas agora não sei o que falar.
  - Obrigado, . Só você estar aqui já fala tudo. – Beijou a minha bochecha, me deixando abraçar o outro.
  - É bom te ver, . – Dougie conseguia ser mais baixo que eu quando usava salto, mas não deixava de ter um abraço gostoso.
  - Você está muito cheiroso essa noite, Poynter. – Brinquei com aquela verdade e também o apertei em meus braços. – Parabéns pelos dez anos!
  - Eu pareço ter dez anos ao seu lado. – Em seguida, cruzou os braços e fez bico. – Suas pernas é que parecem ser eternas.
  - Considerarei isso um elogio. – Coloquei as mãos na cintura, posando para fotógrafos imaginários. – Onde está o cantor de ópera e o dançarino?
  - Já estão na concentração. – Tom apontou para o fim do corredor, onde Fletch os esperava com uma aparência apressada. – Na verdade, estávamos indo pra lá agora...
  - Vão! Eu não quero atrapalhar esse momento. Falem pra eles que mandei boa sorte... E nos vemos depois do show. – Deixei um beijo na bochecha de cada um, mandando-os embora. – Vão logo! Fletch está parecendo meio avermelhado.
   E com essa nota, os dois acenaram despedidas em línguas diferentes e correram para onde o empresário os esperava. Quando me encontrei finalmente sozinha naquele corredor, levei as mãos ao rosto, pronta pra gritar. Estava no Royal Albert Hall como convidada especial do show de comemoração dos dez anos da primeira banda que me apaixonei. A que continuava sendo a minha preferida até aquele momento. Era pra lá de surreal! Dei alguns pulinhos sem sair do lugar e dei voltinhas animadas. O segurança de antes havia voltado e me encarava com a sobrancelha arqueada, o que me pegou de surpresa. “Ops.”
   A porta de onde Dougie e Tom saíram não ficava muito longe e eu sabia que era pra lá que eu tinha que ir. Sem querer esperar ser expulsa de uma vez, atravessei-a e logo estava rodeada por pessoas conhecidas, mas não tão íntimas assim. Os familiares dos quatro meninos, amigos íntimos que eu conhecera em festa e Giovanna ao lado de Izzy e Georgia. Todos se divertindo com bebidas na mão e conversas animadas que não me sentiria confortável em interromper. Adentrei a pré-festa, procurando o que achasse primeiro: Um de meus amigos ou um garçom com champanhe. Estava com desejo de algo borbulhante.
  - Eu já falei que você está muito gostosa? – Um braço envolveu a minha cintura e me prendeu contra algo firme que percebi ser o seu corpo quente.
  - Só algumas vezes. – Mordi o lábio para conter um sorriso torto e me virei para abraçar o meu namorado. Quem diria? Fui achada antes de encontrar o que procurava. – Isso é champanhe?
  - Talvez. – Zayn tentou me negar o seu copo, mas consegui tirá-lo de sua mão para terminar a bebida. – Eu ainda estava tomando, mas tudo bem. v   - Sempre tão cavalheiro, pegando bebidas para a sua dama. – Ironizei, devolvendo o copo vazio e agradecendo com um pequeno beijo no canto dos lábios. – Onde estão os outros?
  - Não tenho a mínima idéia... Mas Lou estava te procurando. – Deu de ombros, não muito disposto a me soltar. Aproximou os lábios da minha orelha e continuou: - Quer se perder pelos corredores comigo?
  - Tentador... Mas tem um segurança mal encarado por lá. – Fiz careta e ele riu, ainda que não entendesse.
  - Com licença... – Gi obrigou Zayn a me soltar, mas ele continuou com uma mão em meus ombros protetoramente. – ! Vi você entrando, está tão linda!
  - Oi! – A abracei ternamente, sabendo que havia algo diferente. – Uau, você está... Brilhando! Seu cabelo está maravilhoso.
  - É a grande noite do meu marido... – Tentou me distrair, mas eu sabia que tinha mais do que ela queria contar. – Fique de olho nela essa noite, Zayn.
  - A seguirei para o banheiro se for preciso. – Me senti uma criança que precisa de babá, porém, sabia das intenções do garoto.
  - Muito bem. Agora tenho que ir falar com os outros convidados, mas nos vemos depois do show! – Deu beijinhos em Zayn e eu e se preparou para se afastar. – Oh, , Carrie está aqui. Ela adoraria te ver!
   Assenti em concordância, mas Zayn deslizou os dedos pelo meu braço e segurou a minha mão. Um gesto que na nossa linguagem significava “você não vai a lugar nenhum”. Quando Gi já não podia mais ser vista, ele me levou até uma área mais afastada da porta. Havia alguns sofás por ali, mas todos estavam ocupados, então continuamos de pé. Assim que Zayn me olhou novamente, ele estava sorrindo. Um sorriso despretensioso e genuinamente feliz. Nós sabíamos onde estávamos. Entendíamos que vários shows importantes aconteceram ali, peças e espetáculos de ballet. Mais que isso, era um sorriso grato por não precisarmos nos preocupar. Ali não teríamos os gritos de Pablo pedindo pra sermos discretos não teríamos medo de alguém pegar uma câmera e nos perseguir. Podíamos agir como um casal normal. Normal... Não sabíamos o significado disso há um bom tempo.
  - Seu quadril ainda dói? – Pousou a mão na lateral do meu corpo, onde me ouvira reclamar o dia inteiro sobre a dor causada pelo equipamento de Sebastian.
  - Está melhorando aos poucos. – Zayn era atencioso, então era a quarta vez que perguntava isso e recebia a mesma resposta. – Obrigada.
  - . . . – Louis surgiu ao meu lado como um papagaio. Niall estava atrás dele e parecia tenso, roendo as unhas. – Adivinha quem está aqui!
  - Lou, já viu quantas pessoas tem aqui? – Olhei em volta, esperando que ele fizesse o mesmo. – Não temos tempo pra isso.
  - JB e Matt, . – Ni disparou, passando as mãos por todo o rosto.
  - J... NÃO! – Exclamei alto demais, atraindo alguns olhares de quem estava ao sofá e cobri a boca com a mão. – James? Bourne... Oh, dear...
  - Quem é James Bourne? – Zayn me estudava um tanto assustado e eu não conseguia responder. Nem mesmo se a pergunta fosse “qual é o seu nome?”
  - James Bourne e Matt Willis, do antigo Busted. – Meu irmão contou. – Ela era apaixonada por ele.
  - Nós devíamos nos casar... – Sonhei alto, mirando o infinito. – Onde ele está? Podemos ir falar oi? Por favor, Looooooou.
  - Estávamos só te esperando. – Awn, Louis era sim um bom irmão! Apontou a direção que deveríamos ir, mas Zayn ocupou a passagem.
  - Sem querer atrapalhar, só acho que vale lembrar que você tem um namorado. – Cruzou os braços, erguendo as sobrancelhas. – E ele está bem aqui. Eu. Oi.
  - Não seja bobo! Eu sei que você... Desculpa qual é o seu nome mesmo? – Brinquei e Zayn rolou os olhos, mas me deixou passar. – Eu te amo!
  - Aham, claro. – Bateu o ombro no meu quando passei por ele para seguir Niall e Louis.
   Tenho quase certeza que o irlandês e meu irmão só me esperaram até aquele momento porque achavam que, como eu era amiga dos amigos de Matt e James, poderia apresentá-los. Mal sabiam eles que assim que James Bourne entrou no meu campo de visão, apenas alguns metros na minha frente, eu perdi o controle sobre meu próprio corpo. Niall tinha a mão no meu cotovelo, o que me obrigava a continuar andando, mas era só isso. Os dois membros do Busted estavam conversando sozinhos, próximo ao bar, e se viraram quando Louis limpou a garganta; nada delicado.
  - Hey, vocês são do One Direction, certo? – Matt os reconheceu. Queria ter visto a cara de felicidade dos dois, mas meus olhos não conseguiam sair de James.
  - Niall e Louis. – Lou os apresentou, apertando a mão dos dois. – Somos grandes fãs, desde o Busted! É um prazer.
  - Não acredito que conheci vocês! – Niall foi o segundo, o rosto vermelho como o de um pimentão em contraste com os olhos bem azuis.
  - Como é o seu nome? – James Bourne falou comigo. James Bourne falou comigo! Se ao menos eu soubesse a resposta para aquela pergunta, não teria ficado parada lá, como uma tonta. – Você está bem?
  - . – Consegui formular a resposta depois que Lou deu uma cotovelada em minhas costelas. Minhas bochechas queimavam e eu sabia que estava passando vergonha. Ao menos James sorriu. – Des-uh... Desculpa. Não consigo acreditar que estou conhecendo vocês!
  - Sem problemas... Mas não somos nada demais. – Matt riu.
   O moreno começou a responder alguma coisa que Louis perguntara e Niall entrou na onda. James, por outro lado, parecia intrigado com algo. Provavelmente era a minha falta de desenvoltura e me senti boba. Nem quando conheci os McGuys me comportei daquela forma! James foi meu amor de infância, por assim dizer, desde os meus doze anos. Olhar pra ele agora era estranho, mas tremendamente confortável. Naquela época ele tinha vinte e dois anos, um homem e eu uma criança. Agora, porém, a diferença não parecia tão grande. Notei que estava encarando-o por tempo demais, então abaixei a cabeça.
  - Na verdade, eu me lembro de você. – O menino na minha frente quebrou o silêncio desconfortável entre nós dois e o olhei com a testa franzida. – Não... Quero dizer, sei que a gente nunca se conheceu. Mas já vi uma foto sua com os guys. Esteve no V-FEST, certo?
  - Sim! Uau... Incrível que você se lembre. Deve ter memória fotográfica, ou coisa parecida. – Consegui sorrir junto, parecendo mais humana do que robótica, o que já era um começo. – Você deveria ter ido, então estaria na foto também.
  - Poderíamos tirar uma foto agora! – Ni se intrometeu, mas sua idéia era válida. – Se não se importarem, claro...
  - Claro que não! – Matt, o novo amiguinho de meu irmão, aceitou e tocou no ombro de uma menina que passava por ali. – Com licença, pode nos fazer um favor?
   Niall já tirava o celular do bolso e abria a câmera enquanto o resto de nós fazia uma espécie de muro para posar para a foto. Por ser a única menina, fui oferecida a posição do meio e os quatro se arrumaram a minha volta. À direita, James com o braço em volta da minha cintura e Louis na ponta. Do outro lado, Matt me abraçando pelos ombros e Niall quase pulando em cima desse último. A funcionária do Royal Albert Hall foi uma simpatia e tirou mais de uma foto, ainda que não tivéssemos mudado a ordem da fila.
   Nos separamos e agradeci aos dois pelas fotografias, olhando significativamente para Niall, que entendeu o recado e logo iria me mandar todas. Uma comoção podia ser vista em direção a porta, com grupinhos que começavam a sair dali, o que só podia indicar que o show estava prestes a começar. Cruzei os braços como que para proteger-me do frio, porém, esse frio estava dentro do corpo. Mais precisamente na boca do estômago. Estava prestes a assistir minha banda preferida tomar conta do palco de um dos maiores anfiteatros do país em um show que seria transmitido para o mundo todo pela internet.
  - Vocês vão sentar com a gente? – James puxou assunto mais uma vez. – Ou estão esperando outra pessoa?
  - Adoraria... – Respondi sonhadora, da mesma forma que faria se aquilo fosse um pedido de casamento.
  - Não está se esquecendo de nada? – Lou cochichou no meu ouvido e o olhei em confusão.
  - Ai, meu Deus... Zayn!

+++

  Tem alguma coisa em shows ao vivo capaz de revitalizar o espírito. Não sei se são todas as vozes em um som só, ou se os corações de todos estão sincronizados, mas é algo incrivelmente forte e emocionante. O show começara há umas dez músicas e eu cantara todas a plenos pulmões, causando risadas em Zayn ao meu lado e Liam atrás de mim. A banda reservara boa parte dos camarotes do meio da casa de show, começando da ponta esquerda e mais perto do palco, de forma que havia gente em cima de nós (na arquibancada superior) e um mar de cabecinhas pulantes na parte de baixo (arquibancada inferior e pista). Em cada camarote haviam doze cadeiras, arrumadas de duas em duas, sendo que havia seis de cada lado. Os primeiros quatro camarotes eram preenchidos pelas famílias dos aniversariantes, o quinto era onde as esposas, noivas e melhores amigos dos mesmos e na próxima era de onde eu e meus amigos assistíamos tudo. Terminamos não ficando na mesa cabine que Matt e James, mas eles estavam ao nosso lado e a interação entre os camarotes era bem livre.
  - Eu amo essa música! – Os meninos acabaram de fazer brincadeirinhas no palco, procurando pela “cabine real”, geralmente reservada para a rainha, e introduziram a próxima música. Com o calor me dominando, tirei o casaco e o deixei na cadeira. Mal sentara e já estava levantando pra dançar mais um pouco.
  - Você disse isso em todas as outras! – Zayn denunciou com uma risada. Ele estava me apoiando muito naquela noite, sabendo o que tudo significava pra mim.
  - Mas eu amo todas as músicas! – Podíamos não estar tão próximos quanto no V-FEST, mas a visão ainda era privilegiada. – If this is love, then love is easy!
  - Essa eu conheço! – Harry levantou da própria cadeira ao lado do meu irmão e passou o braço nas minhas costas. O abracei de lado e começamos uma dancinha pra lá e pra cá, como duas criancinhas. – Lembra quantas vezes você nos obrigou a escutar essa música quando ela foi lançada?
  - Nunca obriguei ninguém! – Minha voz afinou, entrei na defensiva. – Quando eu fiz isso, Styles?
  - Você escutou tantas vezes com o volume tão alto que era meio difícil não acabar aprendendo junto! – Seu argumento era inválido. Me soltou e se virou para Li e Niall. – Payno, estou mentindo?
  - Desculpa, , mas dessa vez ele tem razão. – Liam me entregou.
  - Bom saber que não sentem a minha falta naquela casa! – Coloquei as mãos na cintura, tentando soar ameaçadora. – Aposto que até transformaram o meu quarto em uma academia.
   Harry me fez calar a boca ao me puxar pra dançar. Ele podia ser desengonçado, mas tinha boa vontade. Quando me girava, eu podia ver que Louis e Zayn se olhavam e captei algo que soava muito com: “Foi por esses aqui que a gente se apaixonou?” Os dois preferiam estar em um show do Drake ou Kanye West, posando de bad boys e não ali, enquanto seus respectivos amores dançavam como idiotas. A música Love is Easy eventualmente chegou ao fim e o telão voltou a acender, onde alguém tinha uma mensagem especial para a banda. Para a surpresa de todos, quem apareceu foi o próprio Matt, que conheci meia hora atrás.
   Olhei para o camarote ao meu lado, procurando-o com os olhos. Ao invés disso, dei de cara com duas cadeiras vazias. Harry tomou seu lugar e abraçou Louis, que tentou lutar no começo, mas acabou se derretendo. Zayn segurou o cós do meu short e me puxou. Tropecei em suas pernas e caí sentada em seu colo, descobrindo que aquele era o seu objetivo o tempo todo. Permaneci ali, assistindo as luzes no palco acenderem, com letras brilhando e formar a palavra “McBUSTED”. Todos gritaram, o incluía Harry, eu, Niall e – incrivelmente – Louis.
   Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, os seis estavam no palco, cantando Year 3000. Tantas guitarras, tantos baixos, tantas cordas! Meu irmão voltou à adolescência e levantou da cadeira pra cantar; ao menos aquela música ele conhecia. Puxou meu pulso, me obrigando a fazer o mesmo e Niall entrou na onda. Logo nós três estávamos gritando a plenos pulmões e pulando em um ritmo só. “I've been to the year three thousand.
  Not much has changed but they lived under water.” Continuamos assim pelas próximas duas músicas. Duas bandas se colidiram em uma só e o resultado foi épico.
   Luzes apagaram mais uma vez, mas os ânimos continuavam em alta. Quando alguém voltou para o palco, esse alguém era Danny e ele estava sozinho. Os meninos voltaram a sentar e tomei seu exemplo, dessa vez ocupando a minha cadeira própria, e encostei no braço de Zayn, que bebia água. A música começou e arrepios percorreram meu corpo.
  - Que calor! – Reclamei com uma pequena risada. – Onde você conseguiu isso?
  - Eu fui lá fora buscar. – Entrelaçou os dedos aos meus e levou a garrafa até os meus lábios, onde dei longos goles. – Não que você tenha ao menos notado, ou lembrado que eu estava aqui...
  - De onde esse drama está vindo, love? – Limpei a gota que escorrera pelo canto da boca e me inclinei mais pra perto dele.
  - Só estou brincando. – Sorriu de volta e beijou meu ombro nu. – Esse lugar é incrível, não?
  - É de tirar o fôlego. – Olhei ao redor e a iluminação do show era feita puramente pelo flash de câmeras e luzes de celular. Um verdadeiro oceano de vaga-lumes azuis e brancos. – Imagine quando você estiver no palco, de frente pra algo assim...
  - Você acha que nós vamos conseguir encher um lugar desse tamanho? – Continuou olhando a multidão, mesmo quando virou o foto da minha completa atenção. – Em dez anos, quero dizer.
  - Um lugar maior. – Deslizei a ponta do indicador por sua bochecha, admirando seu perfil. – Em menos tempo. E eu vou estar aqui, gritando do mesmo jeito.
  - Não sei. – Quando me olhou, tinha a sobrancelha erguida e os olhos amendoados cheios de desconfiança. – Você parecia animada demais quando seu amiguinho James estava lá embaixo.
  - Ele não era o único no palco! – Zayn estava com ciúmes e eu não podia culpá-lo. Toda aquela história de eu ser apaixonada pelo meninos, ainda que anos atrás, não era o que meu namorado gostaria de ouvir.
  - Ele já deve estar voltando, aliás. – Olhou para o camarote ao lado do nosso, mas não fiz o mesmo. – Você... Você quer... Ir, ficar... Ficar com ele? Quero dizer, sabe que pode, não é? Por uma noite, eu não me import- me importaria sim, mas não criaria problemas...
  - Você não está falando isso de verdade. – Puxei seu rosto de volta para a minha direção, obrigando-o a me olhar. Apesar do que acabara de ouvir, minha voz permaneceu serena. – Não é uma competição, Zayn. Só porque você fez algumas coisas que não me agradaram, não quer dizer que tenho o direito de fazer o mesmo pra ficarmos quites.
  - Não? – Algo se acendeu atrás de seus olhos, como se aquele fosse um assunto que o preocupava, mas tinha medo de colocar pra fora.
  - Além do mais... Só tem uma pessoa que eu quero beijar essa noite.
   Sorrimos ao mesmo tempo e toquei a lateral do seu rosto, trazendo-o pra perto. Nossos lábios se encaixaram e abri os meus no instante em que a língua dele pediu passagem. Aos poucos o som em nossa volta tornou-se apenas um pequeno zumbido e estávamos sozinhos em um mundo particular. Zayn deve ter soltado a garrafa de água, pois sua mão gelada pressionou a pele descoberta entre o short e top. Suspirei pesadamente e em resposta, tive o lábio mordiscado. A noite só estava melhorando...

       

Chapter LVII

- O que você achou do meu quarto de menina grande? – Lux estava no sofá comigo, animada por ter finalmente deixado o berço para trás e começado a dormir em uma cama infantil. O móvel ainda tinha uma cerca baixa, mas ela já conseguia subir e descer sozinha.   - Absolutamente lindo, Luxy! E tão cor de rosa... – Sua pose era esguia e ela tentava cruzar as pernas como eu. – Vai me deixar dormir lá com você?
  - Não na minha cama. Você é grande demais, . – Se esticou e tocou o topo da minha cabeça, medindo com a ponta do meu pé.
   Com a manhã livre de aulas ou compromissos, dormi até as dez horas da manhã, quando acordei para ir ao banheiro. Ao invés de voltar a dormir, fiquei relembrando a noite anterior, o show, o jantar depois do show... Algo inesquecível, com certeza. Só tive coragem de levantar de novo quando recebi a mensagem de Rachel, me pedindo para visitá-la imediatamente. Tive tanta pressa que só joguei uma roupa por cima do corpo e deixei um recado pra Zayn na geladeira. Imagine a minha surpresa ao chegar ao apartamento de meu pai e descobrir que, o que pensei ser uma emergência, era apenas Alexia que aparecera pra tomar chá. A campainha interrompeu a conversa que eu e Lux mantínhamos e correu para ver quem era.
  - Eu atendo, eu atendo! – Vi apenas a sua cabecinha pulando pra enquanto trotava até a porta. – Harry!
  - Princesa Lux, que honra encontrá-la! – A voz rouca de meu cunhando encheu a sala ampla. – Chegueeeeeeei!
  - Harry, querido, já estamos indo... – Rachel gritou do corredor.
  - O que você está fazendo aqui? – O de cabelos cacheados trazia Lux em seus braços e me notou pela primeira vez.
  - Bom dia pra você também, Harold. – Rolei os olhos, acenando.
  - A razão para eu ter chamado vocês dois aqui é simples! – Minha madrasta voltara para a sala, trazendo uma arara de ferro com várias peças de roupa masculina. – Já que decidiram inteligentemente ir juntos ao BFA, nada mais sensato que combinem as roupas que vão usar.
  - Sorte de vocês que somos amigas, então tornaremos tudo muito fácil. – Lexy fez o mesmo caminho que a loira, mas trazia dezenas de sacos de lavanderia que protegiam vestidos perfeitos em seus interiores. – Vamos começar a festa?
  - Poderiam ter me avisado! – Harry se jogou ao meu lado no sofá e Lux voltou para o chão, querendo olhar entre as roupas.
  - Porque você iria fugir. – Respondi, resolvendo o mistério. – Eu, por outro lado, só teria me preparado melhor se soubesse...
  - Agora você sabe, sweetie. – Rachel afastava móveis e separava as áreas que cada um teria pra se trocar. – Agora andem logo, vamos. Tirem as roupas!
  - Se você não estivesse namorando o meu irmão, eu exigiria um camarim particular! – Fingi uma falsa timidez, apontando para Harry. Levantei e comecei a me despir.
  - Até parece! Eu te vejo pelada há muito tempo. – Me imitou, mas sua frase não teve o sentido que gostaria. – Posso ter soado um pouco psicótico agora...
  - Sempre soube que você espiava pela fechadura. – Pronto! Estava de sutiã e calcinha na frente de todos e não me sentia minimamente constrangida. – Harry, o que você está fazendo?! Não precisa tirar a cueca também!
  - Oh. – Voltou a subir as peças íntimas e se ‘ajustou’, o que causou uma crise de riso em todas nós. Até mesmo Lux, que não entendera nada.
  - Mummy, eu vi a bunda do Harry! – A pequena delatou, dando inicio à uma nova onda de risadas.
  - É fofa, não? – Pisquei para Lux, que ficou vermelha.
  - Linda, agora podemos começar? Não quero ficar aqui a manhã toda! – Com as mãos abanando o ar, Lexy tomou o meu lado e empurrou Harry para fora de seu caminho. Nos braços, tinha a primeira muda de roupa. – , esse é Oscar de La Renta.
   O zíper de trás do vestido já havia sido aberto e eu só precisei esticar os braços para que ele entrasse. A peça era totalmente amarela, mas em um tom bonito da cor. Tomara que caia e justo até o quadril, de onde caía em ondas bufantes. Me senti uma princesa dentro de um bolo de noiva. Lexy fechou o zíper e me deixou ir para a frente do espelho de corpo inteiro pendurado na parede. Dei voltas, balancei a saia... Era bonito, só não era o ideal.
  - Harry, você não vai rasgar essa calça! – Rach reclamou com o menino.
  - Só aqui nos joelhos. – Ele continuava sem camisa e vestia jeans pretos. – Ninguém vai notar.
  - Não! Tente esta... – A mulher lhe entregou um novo par de calças. – E veja como a está linda.
  - O que achou, huh? – Lexy estudava a minha reação.
  - Lindo, mas não. – Voltei para meu lugar, esperando que ela o abrisse mais uma vez. – Acho que o meu vestido deve ser algo inesquecível...
  - Meus pensamentos exatos. – Disse Rachel, que ajudava Harry a entrar em calças de alfaiate. – Mostre a ela o Vera Wang.
   O modelo que Lexy tirou do saco protetor era cor de rosa e tinha alça em um ombro só. O vesti com facilidade por estar tendo ajuda e logo fui para frente do espelho. Ele era firme até a cintura e uma confusão de faixas entrelaçadas se abriam com cuidado. A movimentação não era prejudicada, embora não fosse tão volumoso quanto o anterior. Vera Wang era incrível, mas aquele também não era o look que eu procurava.
  - O que vocês acham? – Me virei para todos, com as mãos na cintura.
  - Você parece uma princesa! – Lux tinha sentado no chão para me assistir brincar de boneca; onde eu era a própria boneca.
  - Eu sairia com você. – Harry piscou, abotoando a camisa de pontinhos pretos no tecido branco. – E como eu estou?
  - Blargh. – Lux fez careta, desaprovando o look social demais.
  - Você está lindo, mas não parece você. – Traduzi e olhei para a publicista. – E também não gostei desse... Estou boazinha demais.
  - Tenho um preto aqui que pode servir. É Alexader McQueen...
   Era tudo que eu precisava saber. Tirei o vestido cor de rosa que agora parecia uma nuvem de tecido e me preparei para entrar no próximo. A terceira roupa era bem menos escandalosa que os dois primeiros, mesmo comprimento e completamente justo. Mangas compridas até os pulsos e não tinha volume ou decote algum. Simples, mas incrivelmente lindo. Por ser McQueen devia custar uma fortuna. Estar sendo oferecida a peça dessa forma era um lisonjeio. Não conseguia prestar atenção no que Harry estava vestindo agora, mas notei que ele e Rachel discutiam por causa do aparelho celular de um dos dois.
  - Gostei mais deste do que dos outros... – Admiti, ainda incerta. – O que está acontecendo aí?
  - Rach, dessa vez não é o Lou. – Harry soava tenso, amedrontado. – Viu? Esse é o número do Pablo.
  - Coloca no viva-voz! – Rachel pediu, afirmando que podia atender. Virou-se para Lexy e eu, pedindo silêncio. – Shhh! Lux, vá brincar no seu quarto...
  - Pablo? Oi, Harry aqui. – Assim que a pequena deixou a sala, ele aceitou a ligação. – Tudo bem?
  - Tudo bem?! O que você espera que esteja bem depois de ontem? – O homem do outro lado da linha rugia. Todos param, olhando para Haz e o aparelho em sua mão.
  - Pablo, aqui é a Louise. Estou aqui também... O que houve exatamente? – Rachel usava o nome do meio no trabalho, o que já era estranho por si só. Além de usar o sobrenome de solteira: Teasdale.
  - Fico feliz que esteja aí, Louise, assim pode colocar um pouco de juízo na cabeça da sua enteada, porque dessa vez ela passou dos limites! – Dessa vez os olhares estavam em mim e eu não fazia idéia do motivo. – ficou maluca! Ela pode fazer o que quiser e ir em quantos shows quiser, mas não pode levar Zayn como seu acompanhante e ficar agarrando-o como se fossem namorados!
  - Mas eles são namorados. – Harry falou antes que eu o fizesse.
  - E ninguém pode saber disso, se lembra?! E o show não era só de vocês! Estavam cercados por pessoas. Pessoas que sabem quem Zayn Malik e Tomlinson são. Me espanto que vocês estejam tão surpresos com o que estou contando. A FOTO ESTÁ POR TODA A INTERNET! E estará em todas as bancas de revista na semana que vem.
  - Que foto? – Voltou a insistir por mais informações.
  - A foto da sua queridinha e Zayn, “reatando o namoro” em rede nacional! Pois é, a câmera que estava transmitindo o livestream do show captou o momento de romance. – Tapei os lábios para não gritar e tive que sentar no sofá e respirar fundo. – Não tenho idéia de como iremos encobrir essa bomba! Mas não vai ficar assim, Harry, não dessa vez. Ela foi longe demais.
   E assim a ligação foi encerrada e deixou três pessoas sem saber o que fazer ou o que falar. Tentavam não olhar pra mim, temendo que eu caísse em prantos, e era o que eu sentia vontade de fazer. Não pensei nem por um instante em minhas ações na noite anterior ou em quão inconseqüente pudessem ter sido. Em um primeiro momento, me senti ultrajada e com raiva. Pablo pensava que podia nos controlar e seu maior desejo devia ser me mandar para bem longe. Porém, assim que tudo começou a fazer sentido dentro da minha cabeça, senti medo. Medo do que Zayn teria que ouvir dos empresários, do que pediriam que ele fizesse. Poderiam acabar com a carreira dos cinco meninos em um piscar de olhos! Perderiam muito dinheiro, claro, mas poderia acontecer.
   Sentei no sofá, revirando as minhas roupas a procura do celular. Três chamadas não atendidas de Zayn, duas de Liam e uma de . O mundo estava acabando e eu brincando de boneca! Além da ligação de , ela também enviara uma foto em particular, que logo me fez entender o tamanho da confusão. A imagem mostrava o momento do show do McFly em que Danny tinha seu solo e todos estavam prestando atenção. Entretanto, em um telão gigantesco, a câmera que devia estar mostrando o que acontecia na arena capturou o instante em que Zayn e eu trocamos um beijo apaixonado. Eu tinha a mão em seu rosto e ele me abraçava ternamente. As tatuagens em seu braço escapavam pela manga da camisa, acabando com qualquer dúvida.
  - Shit. – Disquei o número com a mão tremendo e levei o aparelho à orelha. Segundos me consumindo como horas. – Zayn?!
  - Bom dia, babe... Acabei de ler seu bilhete. – Sua voz calma me encheu de uma paz que em um momento de pânico imaginei nunca mais sentir. – Rachel está bem?
  - Todo mundo está bem... Já falou com Pablo hoje? – Mordi a unha, não querendo ser a pessoa a contar pra ele sobre o que explodira.
  - Uh... Já. Pablo me acordou. Ele ligou pra você? Pensei ter sido claro ao falar que te queria fora disso. – Não se alterou, mas seu lado protetor gritava. – Desculpa, babe, ele foi grosso?
  - Não, eu não falei com ele... Na verdade, Pablo ligou pra Harry e nós ouvimos tudo.
  - Harry? O que ele está fazendo aí?
  - Estamos provando roupas para a premiação. – Resumi. – Como você está? Eu sinto muito... Devia ter tomado mais cuidado!
  - Ei, ei, ei, pare com isso. Não é sua culpa. E daí que algumas pessoas nos viram juntos? Estou cansado de esconder. – Suspirou com pesar.
  - Também estou cansada, mas não somos nós que decidimos quando parar de esconder. – Descansei o corpo no sofá, fechando os olhos e apertando a testa. – A Modest! vai fazer da sua vida um inferno.
  - Sei disso. – Desejei estar ao seu lado para poder abraçá-lo. – Mas se pudesse repetir a noite de ontem... Não mudaria nada. Você está feliz, ?
  - Feliz? – Parei pra pensar. Como ficar algo diferente de feliz quando se tinha tudo o que eu tinha? – Sempre.
  - Eu também estou feliz. É o que importa. No final do dia, estou ao seu lado.
  - Eu te amo tanto. – Sorri de leve.
  - Eu te amo mais. Em outro assunto... Como vai a prova de roupas?
  - Um dia eu encontro o vestido perfeito. – Ri do tom de reclamação que usei e olhei para meu parceiro. – Harry, por outro lado, virou a Cruella de Vil.
  - Pintou o cabelo?!
  - Vou te mandar uma foto... – Afastei o aparelho e Harry se deixou fotografar com o casaco de pele falsa. – O que achou?
  - Você não pode usar esse casaco? Só o casaco, quero dizer... – Gargalhou e em minha mente, vi seus olhos diminuindo de tamanho e sua cabeça jogada para trás.
  - Ótima idéia, Zayn. Talvez pudesse usar a Lola como bolsa de mão.
  - Vou levar ela e pra passear agora. Aviso se encontrar algum gato pra você usar como boina.
  - Obrigada, love. – Foi a minha vez de rir. – Tenho que ir... Lexy está começando a me assustar. Me dê noticias se algo acontecer.
  - Você também.
   Guardei o aparelho na bolsa, bem mais despreocupada do que antes. Alexia estava dançando pela sala com um vestido dentro da capa protetora parecia estar em um sonho na Disney. Deduzi que seria o meu próximo a provar e me livrei do pretinho básico que se mostrou mais confortável que o previsto.
  - Tenho certeza que você vai amá-lo! – Lexy comemorou e parou de girar, começando a abrir o pacote. – É o nosso preferido.
  - Estávamos deixando para o final, mas pra quê enrolar? – Rachel sentou onde eu estivera segundos atrás, pronta pra assistir. – Olhe como Harry está charmoso.
  - Ta daaaaaaaaa. – O menino fez uma pose nada sexy, mas realmente estava lindo. Felizmente, desistiu do casaco da Cruella. – Ainda queria rasgar os joelhos, maaaaaaaaaas...
  - Boo hoo, Harry! – Lexy o reprovou, segurando o vestido aberto para que eu entrasse por cima.
   “É esse... Tenho certeza, é esse!” O vestido era azul escuro e brilhava como um céu estrelado. Era diferente de todos os que eu já tinha visto e provado. Ele tinha mangas compridas, mas transparentes e de tecido leve, todo bordado à mão com pedras da mesma cor e um decote que terminava um palmo acima do meu umbigo. Além de ser sensual com certa sutileza na parte de cima, seguia as voltas do corpo até se arrastar no chão elegantemente. Caminhei na ponta dos pés, imaginando o salto alto que usaria e parei na frente do espelho. Não notara antes, mas a partir do quadril, as laterais eram totalmente transparentes, assim como parte da frente. Qualquer um poderia olhar e me ver semi-nua. Simplesmente incrível!
  - É esse. – Sorri, virando de costas e encontrando mais transparência. – Tenho certeza que é esse.
  - Você precisa estar na sua melhor forma pra usar esse vestido! – Lexy comentou inocente. – Ele mostra muito.

+++

  - Querida, chegueeeeeeei. – Só ali percebi o quanto sentia saudades de entrar na casa que chamara de lar durante o último ano. – Lou? Li? Vocês tem visita...
  - Desde quando você é visita? – Harry estava atrás de mim, trancando a porta.
  - Hey! Ainda lembra o caminho?! – Liam vinha da sala, vestindo um pijama que falava: “decidi que não farei nada hoje”. – Oi, !
  - Shush, baba. – O abracei com força, recebendo o mesmo carinho de volta e um beijo no ombro. – Essa sempre vai ser a minha casa.
  - Você está linda. Cansou do loiro? – Li brincou com meus cabelos recém tingidos e Harry partiu em direção à cozinha.
  - Rach achou que era uma boa idéia, pra tentar ajudar Pablo a criar uma desculpa e alegar que a loira beijando Zayn não era eu. – A voz de Harry soava alta, ainda que não estivesse ali.
  - Mas Niall não postou aquela foto de vocês com Matt e James? E você estava loira... – Liam segurava o meu ombro, me mantendo perto de si, e não sei nem se ele mesmo percebia isso.
  - Além de twittar pra mim, nossos empresários também deletam coisas. – Louis resolveu recepcionar a própria irmã, descendo as escadas sem pressa alguma. – O que você está fazendo aqui, ?
  - Não posso ter sentido falta dos meus amigos? – Pendurei a bolsa no gancho da parede assim que o toque de Liam cessou. Ninguém sabe falar “oi” hoje e dia?!
  - Pode. – Deu de ombros, passando a mão nos cabelos já não tão curtos. – Só não acredito que isso não tenha nada a ver com os trinta paparazzis acampados na frente do seu prédio, esperando algum sinal seu, entrando ou saindo do “flat de Zayn Malik”.
  - Você falou com ele? – Abracei a mim mesma, seguindo-o para a sala. Haz e Li fizeram o mesmo.
  - Acabamos de sair do telefone, ele está bem... Não precisa se preocupar. – Sorriu sincero, o que me tranqüilizou. Lou não mentiria pra mim sobre aquilo. – Lola é quem está sentindo a sua falta.
  - Não! – Um muxoxo escapou de meus lábios e um bico enorme se formou ali.
  - Onde vai, Boo? – Meu cunhado enfiou as mãos no bolso, ignorando minha preocupação com a minha filha. Louis pegou a chave do seu carro na mesinha de centro, levantando mais perguntas que respostas.
  - Oh, é... Tenho novidades. – Como se esperasse ser questionado aquilo desde que chegamos, Lou arrumou a jaqueta nos ombros e nos fez sentar no sofá antes de voltar a falar. Seu sorriso era enorme e iluminado. – Eu... Fui... Uh...
  - Louis, desembucha! Até parece o Harry. – Tive que reclamar, pois aquele mistério estava me deixando louca. – Sem ofensas, Hazza.
  - Eu concordo com você. – Tendo dito isso, Louis riu do namorado.
  - Okay! Eu fui convidado pra participar de uma partida de futebol. É um jogo beneficente, então não é nada muito sério nesse sentido, mas ainda assim. – Para alguém que não achava isso “sério” por não ser um “jogo de verdade”, ele estava ultra feliz. E eu também. – É uma boa causa e fico feliz em poder ajudar.
  - Você não engana ninguém... Louis! Você vai jogar! Em um campo de verdade... Contra um time de verdade! – Bati palmas, tentando fazê-lo acordar e perceber o tamanho daquilo. – Você sonhava com isso desde pequeno, for God’s sake. Sempre te ouvi falar que se não terminasse como cantor, seria jogador de futebol! Ou ator, mas isso não vem ao caso.
  - Eu concordo com ela, Lou. Não é só um jogo... É a sua chance de realizar um sonho. E ainda fazer algo bom com isso. – Harry tinha os olhos verdes brilhando e o sorriso mais bobo estampado no rosto. – Além do quê, poderei torcer pelo meu namorado jogando futebol!
  - Eu estava tentando deixar os pés no chão, mas a quem quero enganar? – Voltando alguns anos no passado, meu irmão começou a pular como uma criança.
   Harry foi o primeiro a entrar na festa e pular junto com o namorado, abraçando-o com força e mostrando todo seu orgulho. Liam não esperou o momento ternura acabar e se enfiou entre os dois. Já eu, consegui um pedacinho do jogador de futebol e me pendurei em seus ombros, quase levando nós dois ao chão. Era bom receber uma noticia assim depois de ter passado a manhã inteira preocupada com “O Beijo”. Zayn podia estar calmo, mas isso era de seu temperamento. Ambos sabíamos que provavelmente estávamos encrencados e lembrar que ainda podia aparecer uma luz no fim do nosso túnel era agradável. Contanto que não fosse a luz de câmeras de paparazzis.
  - Agora tenho que ir até o estádio pra assinar alguns papeis e descobrir mais sobre o jogo. – Isso sim explicava a chave do carro e vestes arrumadas. – Querem ir?
  - Ainda estou na fase um do término. Pijamas o dia inteiro, séries de TV e sorvete. – Liam negou o convite. – Vou ficar por aqui mesmo.
  - Não estou passando por fases, mas também vou ficar por aqui. – Abracei as costelas de Li e olhei para meu irmão. – Além do mais, alguém precisa ficar de olho nessa criança aqui. Vai ver que ele decide ir jogar pedras em janelas alheias.
  - Obrigado, . – Ironizou, rolando os olhos.
  - Eu vou com você. – Mal chegou e Harry já pretendia sair de novo. – Mas você dirige.
  - Com prazer. – Piscou para o namorado e não sei se gostaria de saber o que aquilo significava. – Comportem-se, crianças.
  - Tchau, sweeties. – Acenei para os dois, que saíam da sala.
   Voltei para o sofá, dessa vez tirando os sapatos, meias e sweater. Liam me seguiu, mas não se despiu de nada. A televisão estava ligada e um episódio de Downtown Abby passava sem som. Olhando para Li com atenção, era fácil perceber que ele não parecia estar passando por um fim de relacionamento. Ou talvez fosse só eu que ganhava olheiras e não conseguia levantar da cama, porém, sabia que não era bem assim. O menino deve ter se interessado pela série que assistia e aumentou o volume. Como nos velhos tempos, nós dois esparramados na sala assistindo qualquer coisa. Tirei o celular do bolso, lembrando que estava no modo silencioso e encontrei uma mensagem:

  
“Babe, Lola não quer sair de baixo da cama...”
  “Você soltou Arnie de novo? Sabe que ela tem medo dele.”
  “Claro que não! Até está tentando chamar ela pra brincar. ):”
  “Quero ir pra casa... Estou preocupada.”
  “Não precisa, gorgeous. e eu vamos conseguir distrair a pequena. É só saudade da mãe, mas logo ela te esquece.”
  “ha-ha Agora é que eu consigo ficar longe mesmo. Não quero que ela me esqueça!”
  “Estou brincando, tonta. É impossível te esquecer.”
  “Boa tentativa, gênio. Continuam aí em baixo?”
  “Os parasitas? Sim... Posso chamar a polícia? É assim que a lei funciona?”
  “Infelizmente não, baby. Estão na calçada que, tecnicamente, é um lugar público. A policia só poderia fazer alguma coisa se tentassem entrar no prédio.”
  “Porcaria de tecnicalidades.”
  “Sorry. ): Acho que vou dormir por aqui mesmo. Ainda tenho um quarto e algumas roupas que deixei no closet.”
  “Lou já foi resolver os detalhes do jogo?”
  “Acabou de sair com o Haz. Li ficou aqui comigo.”
  “É claro que ficou. Ha-ha.”
  “Nada de ha-ha!”
  “Encontrou o vestido?”
  “ENCONTREI! Mas não, você não pode ver antes. Só digo que é lindo.”
  “Qualquer coisa fica linda em você.”

  - ? – O chamado de Li me alarmou. – Posso te mostrar?
  - Sempre. – Abaixei o celular e sorri. – Onde está indo?
  - Aonde pensa que estou indo? Meu violão está no quarto. – Correu de meias para as escadas e me perguntei se deveria segui-lo ou se retornaria. – Ainda conhece o caminho, certo?
   “Como esquecer?” Guardei o celular novamente no bolso, seguindo-o escada a cima. Desejei ter prestado mais atenção no que ele falara e de fato ter escutado o seu começo, pois agora era tarde demais pra saber exatamente o que era que ele queria me mostrar. Tudo bem que só há um número de coisas que possam ser relacionadas a um violão, mas e daí? Era um modelo novo? Um adesivo? Uma nova palheta? Uma música? Quem poderia saber? Eu é que não.
   Cheguei depois do dono do quarto que continuava da mesma forma que eu conhecia. Liam sentou-se à cama, deixando espaço pra mim e apoiando o violão na perna. Sentei em sua frente, observando seus movimentos ágeis e cuidadosos ao conferir a afinação do violão. Em uma primeira instância, não tinha nada errado com o instrumento acústico. Tirou um caderninho de perto do abajur preto em cima da mesinha de cabeceira e abriu na página marcada por uma fotografia em preto e branco.
  - Como eu disse, não é uma obra terminada, mas estou bem otimista. – Avisou, claramente nervoso. – Pode ser cem por cento honesta, ok?
  - Você sabe que eu sou! – Balancei a cabeça. Ah, então era isso!
  - Ela começa mais ou menos assim... – Com a mão direita, dedilhava as cordas e mudava os acordes com a esquerda. - One day, you'll come into my world and say it all./ You'll say we'll be together even when you're lost./ One day, you'll say these words I thought but never said. / You'd say we're better off together in our bed.
  - Por que parou? – Depois da primeira estrofe, Liam abaixou o violão e interrompeu a canção como se algo em sua garganta engolisse as palavras antes que pudessem sair.
  - Aqui... Talvez fosse melhor que você lesse. A melodia ainda não está como eu gostaria. – Forçou um sorriso e empurrou o caderno aberto na minha direção.
   Segurei-o em meu colo, também sorrindo. A letra dele era legível, mas mostrava que teve pressa a colocar todas as suas idéias naquele papel. Frases ou palavras riscadas, setas e até desenhos enfeitavam tudo de cima a baixo. Queria ter a liberdade de folhear o caderno inteiro e descobrir um pouco do mundo dentro da cabeça de Liam, mas um passo de cada vez. Finalmente me concentrei para ler a música de uma vez.
  

“One day, you'll come into my world and say it all.
  (Um dia você vai entrar no meu mundo e dirá tudo)
  You'll say we'll be together even when you're lost.
  (Você vai dizer que ficaremos juntos mesmo quando você está perdida)
  One day, you'll say these words I thought but never said.
  (Um dia você vai dizer essas palavras que eu pensei mas nunca disse)
  You'll say we're better off together in our bed.
  (Você vai dizer que estamos melhor na nossa cama)
   /
  {I want you here with me.
  (Eu quero você aqui comigo)
  Like how I pictured it.
  (Como eu imaginei)
  So I don't have to keep imagining.
  (Para que eu não tenha que continuar imaginando)
  Come on, jump out at me.
  (Vamos, pule em mim)
  Come on, bring everything.
  (Vamos, traga tudo)
  Is it too much to ask for something great?
  (É pedir muito querer algo maravilhoso)}
  /
  The script was written and I could not change a thing.
  (O roteiro foi escrito e eu não pude mudar coisa alguma)
  I want to rip it all to shreds and start again.
  (Eu quero rasgar em pedaços e começar de novo)
  One day, I'll come into your world and get it right.
  (Um dia eu irei para seu mundo e farei certo)
  I'll say we're better off together here tonight.
  (Eu direi que estamos melhor juntos aqui esta noite)
  {Refrão}
  {I want you here with me.
  (Eu quero você aqui comigo)
  Like how I pictured it.
  (Como eu imaginei)
  So I don't have to keep imagining.
  (Para que eu não tenha que continuar imaginando)
  You're all I want.
  (Você é tudo o que eu quero)
  So much it's hurting.
  (Tanto que está machucando)
  You're all I want.
  (Você é tudo o que eu quero)
  So much it's hurting.
  (Tanto que está machucando)

  - É perfeita, Li… - Minha voz saiu mais baixa do que eu conseguia controlar. Por alguma razão, era como se uma mão de gelo tivesse posse do meu coração e o apertasse sem pena. – Como você... Quando você...
  - Isso é melhor do que a reação que eu esperava. – Liam gargalhou, delicadamente tirando o caderno de minhas mãos. – Acho que nunca te vi sem palavras.
  - Eu só gostei muito da música. – As risada acalmou meus nervos e senti os ombros relaxarem. – Obrigada por me mostrar.
  - Posso cozinhar pra você?

+++

  O que eu tinha na cabeça quando disse que “adoraria” que Liam cozinhasse pra mim? E pior ainda... O que eu poderia ter dito pra responder sua pergunta de forma diferente sem magoar os seus sentimentos? “Pare, ! Até parece a colocando o carro na frente dos bois!” Não havia nada de mais em dois amigos jantando juntos. Principalmente quando os dois moraram juntos por mais de um ano e você é a namorada do melhor amigo dele. Acontecimentos e paixões a parte, é claro.
   Soltei os cabelos pintados de castanho mais uma vez e os penteei, aproveitando que a escova que Rachel fez continuava intacta apesar de meu banho quente e vaporizado. Tinha que descer e enfrentar o que pretendia evitar qualquer custo. Não queria deixar o comentário de Lexy entrar na minha cabeça, querendo que eu ficasse em forma por causa do vestido nada discreto ou os da minha madrasta; a qual inocentemente fez questão de repetir que todos os olhos estariam em mim naquela noite. Sentia-me com fome e sabia que não conseguiria resistir à comida de Liam ou qualquer uma que Louis e Harry trouxessem quando retornassem de seu passeio. Queria comer, mas não podia!
   Dessa vez não era pra entrar em um vestido que não coubera ou para parar de me olhar torto no espelho... Eu precisava estar em forma porque era o mínimo que esperavam de mim. Eu fui indicada a um dos maiores prêmios da noite e devia honrar essa nomeação. Não apenas àqueles que me escolheram como uma das quatro candidatas, mas a todos que gastavam seu tempo comigo, fosse Lexy, Carine, Emma ou até mesmo aos produtores da Glamour que fizeram meu primeiro photoshoot. Sentia como se fosse minha obrigação, o mínimo que eu poderia fazer para mostrar que nada foi em vão e que eu não faria feio no tapete vermelho. Era mais que vaidade, era um dever.
   Não queria, porém, voltar a pular refeições. Sabia que era um método que já se mostrara efetivo, mas ao fazer isso, preocupei todos a minha volta. Agora que morava com Zayn e as coisas da banda andavam relativamente calmas, tínhamos a maioria de nossas refeições juntos, ele perceberia e ficaria consternado. Não valia a pena passar por todas as desculpas e confrontos novamente, não com amigos como os meus, que seriam capazes de me amarrar à cama e apenas soltar depois que eu comesse. Foi então que eu a ouvi... Uma voz disfarçada em forma de flashback.
   “Aqui. Acho que você precisa disso.” Era a voz de Kylie. “Você toma uma pílula uma hora antes das refeições e a “gula” vai embora! Você só come o necessário pra continuar saudável e ainda manter a boa forma.” Na época pareceu algo fora de cogitação, agora nem tanto. Ouvir conselhos de alguém que usa drogas para se manter magra não é o melhor caminho, mas escolhi confiar em suas palavras. Percebi que me locomovera até o banheiro e começara a revirar as gavetas a procura das vitaminas – era isso o que Ky explicara que eram – e só fui encontrar o potinho alaranjado no fundo da terceira. Não havia muitas coisas por ali, o que facilitou bastante o meu trabalho.
   Apoiei o corpo na bancada, tirando o lacre e abrindo o pote de pílulas. Elas tinham um cheiro de remédio misturado com algodão, nem desagradável nem o contrário. “Posso experimentar hoje e se não me sentir bem, jogo o resto fora... Só acho que vale a tentativa.” Convenci a mim mesma e usei um copo de vidro que sempre deixava por ali e o enchi de água da torneira. Logo estava usando essa mesma água para empurrar o comprimido garganta abaixo. Era tão pequeno que nem o senti descer até o estômago.
  - , estou te esperando lá embaixo... – A voz de Liam veio do corredor, através da porta fechada do quarto.
   Não senti a necessidade de responder, pois assim que voltei a tampar as vitaminas e apagar a luz, saí do quarto que ainda gostava de ainda chamar de meu. Li não estava mais por ali e o segundo andar estava quase todo apagado. Apenas as luzes que iluminavam a escada permaneciam acesas e me ajudaram a não tropeçar, visto que a sala e hall de entrada encontravam-se um breu total. A sala de jantar, por outro lado, estava um pouco mais clara. Candelabros com velas acesas foram arrumados estrategicamente sobre a mesa e a mesma posta para dois. Em duas taças de vidro, um líquido avermelhado lembrava sangue. Foi vendo Liam que meu senso de moda apitou. Ele estava lindo e bem arrumado, look completamente diferente do que usava mais cedo. Jeans e uma camiseta preta marcavam seus músculos, sem falar no cabelo com gel em um topete perfeito. Eu, por outro lado, me senti completamente desarrumada.
   Vestia o mesmo short jeans de quando deixara o flat e só jogara por cima uma camiseta de alguma banda de rock que Harry acidentalmente misturou às minhas coisas. Liam levou uma das taças até mim, a qual tive receio em aceitar.
  - Não sei se deveria beber hoje...
  - Você não vai dirigir hoje, . – Insistiu com um sorriso inocente, tornando impossível lhe dizer não. – Sente-se, por favor.
  - Obrigada. – O perfeito cavalheiro puxou a cadeira pra mim e em seguida sentou-se a minha frente. – É agora que você diz que esteve me esperando esse tempo todo e me pede pra fugir com você, apesar de ter matado o meu pai e ter um psicológico perturbado?
  - Não... Esse é o roteiro de Stolker. – Bateu o copo devagar ao meu e o tilintar encheu a sala. – Mas gosto de como você pensa.
  - Grande noticia que recebemos de Louis hoje, huh?! – Já havia dado três goles no vinho que se mostrou doce como mel. – Ele ficou tão feliz!
  - Você viu o olhar no rosto dele? Só o vi assim quando estávamos prestes a entrar no palco do X Factor. – Tinha o cotovelo apoiado na mesa e o rosto na mão.
  - Aposto que vai ser melhor ainda quando estiver no campo e ver que é tudo verdade. – Meu sorriso foi diminuindo aos poucos. – Baba, você acha que vão me deixar ir? Assistir o jogo, quero dizer...
  - Tenho certeza absoluta que sim. Você é irmã dele, , é completamente normal. – Não havia um pingo de dúvida em seu tom de voz ou olhos penetrantes. – Não tenho tanta certeza quanto à Harry...
  - Também pensei nisso. E pensar que ele ficou tão feliz, imaginando como seria torcer para o namorado jogando futebol...
  - Yeah... – Suspirou e bebeu mais um pouco. – Sinceramente acho que Harry sabe que há essa possibilidade tanto quanto nós, mas prefere manter-se positivo.
  - Ele faz o que Louis precisa que ele faça. Meu irmão nunca aceitaria esse convite se pensasse que poderia magoar Harry de qualquer forma, ainda que sem querer.
  - Só podemos esperar pra ver. – Sorriu e terminou seu vinho a tempo de escutar o timer apitar na bancada americana da cozinha. – O jantar está pronto!
   O segui com os olhos quando se abaixou perto do fogão e tirou do forno um prato de vidro fundo com luvas de proteção contra o calor. Tive que lembrá-lo de colocá-las nos primeiros meses que passamos juntos naquela casa e ele parecia ter aprendido por fim. Colocou a macarronada com almôndegas e molho vermelho entre nós dois e voltou a se sentar. Deixou que eu me servisse primeiro e, apesar de o cheiro estar maravilhoso, não me senti tentada a encher o prato. Era como se já tivesse jantado aquele mesmo cardápio minutos atrás e agora repetia por educação.
   Me servi sem fazer cerimônia, não precisava disso quando estava com Liam, e em seguida passei o pegador para ele. Usei um garfo e uma colher para provar a macarronada e fechei os olhos para mostrar que ele tinha a minha aprovação. Por alguma razão, me lembrava muito a macarronada da minha avó e só o que faltava era uma folha de manjericão por cima.
   Comemos em silêncio, mas vez ou outra Liam fazia barulhos de orgulho próprio. Aposto que nem ele esperava que a comida estivesse tão gostosa assim. A primeira taça de vinho se foi assim como a segunda e na metade do meu prato já me senti satisfeita e parei. Li não percebeu ou fingiu não perceber, mas continuou comendo e até repetiu. Enquanto comia, contei sobre a manhã que tivera com Harry e Lux no apartamento de meu pai, os vestidos que provei e as roupas que fizemos Harry experimentar. Ele escutava tudo com atenção e ria das minhas piadinhas sem graça. Ficou animado quando falei que Lux começaria a pré-escola em breve e riu ainda mais quando contei a tentativa de Rachel em pintar meu cabelo de lilás ao invés do castanho natural que acabou vencendo no fim das contas.
  - O jantar estava delicioso, Baba. – Recolhi nossos pratos e os deixei na pia. O resto da macarronada foi descansar na bancada americana. Estava cheia demais para arrumar qualquer coisa agora. – Já pode casar.
  - Não sei com quem. – Brincou, mas não levantou de onde estava, me instigando a voltar para o meu lugar na sua frente.
  - Preciso te fazer uma pergunta... – Não era a minha primeira vez pensando sobre aquilo, mas o vinho me deu o empurrãozinho de que eu precisava. Liam assentiu com a cabeça e fui em frente. – Por que... Por que você e Dani terminaram, de verdade?
  - Você quer mesmo saber? – Sua voz não vacilou, mas meus batimentos cardíacos sim. Aquele era o tipo de pergunta que queria dizer que não se quer mesmo saber a resposta. - Eu não podia ficar com ela, sabendo que não era o que eu realmente queria. Não seria justo com ela ou comigo.
  - Eu achava que era o que você queria... Você sempre estava sorrindo perto dela. – O copo vazio estava na minha frente e eu rodeava a sua borda com o dedo indicador.
  - Dani era... É uma boa amiga. Mas não chegava a muito mais que isso. – Li tinha ambas as mãos embaixo da mesa agora e os ombros tensionados. – Ela sabia que nunca seria você, e eu também.
  - Oh. – A exclamação escapou antes que pudesse pensar no que fazia.
  - Você me perguntou algo, agora é a minha vez. – Não alterou a postura ou sequer a respiração. O que uma vez me acalmou, agora me deixava nervosa. - Por que você me beijou aquele dia?
  - Estávamos em uma festa... Eu tinha bebido um pouco demais e... – “Não sabia o que estava fazendo”, seria o final da frase, mas entendia que o machucaria ouvir aquilo.
  - Não é desse dia que estou falando. – Negou com a cabeça, espantadoramente sereno. – No aquário, quando fomos ao Zoológico. Eu te beijei. E você me beijou de volta.
  - Eu não sei o que você quer que eu diga, Liam... – Sentia um nó se formar na garganta. Lembrava claramente daquele dia, o mesmo dia em que meu avô nos deixou. Mais que isso, lembrava o toque dos lábios de Liam pressionados tão cuidadosamente contra os meus. – Eu tenho Zayn, sabe disso. E eu o amo e sempre vou amar...
  - Mas?
  - Mas... Eu estaria mentindo se dissesse que nunca senti que algo pudesse acontecer entre nós dois. Algo lindo. – Lembrei de quando nos conhecemos e eu tive quase certeza de que ficaríamos juntos se Zayn não tivesse aparecido; e talvez tivéssemos mesmo. – Não posso falar que não me importo com você ou que não penso em você... Eu te amo. Só não sou apaixonada por você. Ainda assim, seremos você e eu.
  - Acho que todos temos essa paixão impossível de esquecer e você é a minha. – Sorriu, quebrando todas as minhas expectativas prévias. – A namorada do meu melhor amigo.
  - Me desculpa? – Não tinha certeza do que me desculpava por, mas havia alguma coisa.
  - “Mesmo que não deva, eu tendo a ansiar por um amor não correspondido de maneira muito apaixonada. E mesmo que eu saiba que você é apenas mais uma tragédia desoladora, não pude resistir à luz dentro de seus olhos ou ao calor do seu sorriso. Creio que estou desesperadamente enfeitiçado por você.”

       

Chapter LVIII

Com a Academy fechada no sábado de manhã, não tive muitas opções do que fazer pra sair de casa. Na noite anterior, Liam e eu não precisamos esperar Harry e Louis por muito tempo, o que nos poupou de um silêncio incômodo e constrangedor. Agora, porém, não tinha tanta certeza de contar com a mesma sorte. Não queria que nossa relação mudasse e tampouco estava disposta a deixar isso acontecer, apenas precisava de um tempo para compreender tudo que escutara e dissera.
   Pensei em ligar para , mas ainda era cedo e ela me mataria se a tirasse de seu sono de beleza. Olivia não atendeu a chamada e minhas opções estavam acabando. Juntei um bom número de peças no closet e tentei arrumá-las em algum look respeitável e escapuli da casa, dirigindo sem rumo até que um endereço em questão surgiu na mente. Torci para que ele estivesse em casa e estacionei na calçada, tirando o celular do bolso.

  
“Hey, Ash! O que está fazendo agora? Sei que disse que jantaria com você e os meninos hoje, mas surgiu um imprevisto. My bad.”
  “Nada demais, só jogando Fruit Ninja com os caras. Quer se juntar a nós?”
  “Não vou atrapalhar? Ótimo, estarei aí em três segundos. Beijossssss”
  “Eu vi o seu carro chegando, . hahahaha Luke está indo abrir a porta.”
  “Thank youuuuu.”
   “Da próxima vez tentarei ser mais discreta.”

  Saltei do carro e subi a capota antes de correr para a entrada e esperar Lucas vir me receber. Para um dia da última semana de setembro, o céu estava bem aberto e ensolarado, por isso passei o caminho sentindo o vento no rosto e Sol na pele. A porta foi aberta com rapidez e o menino de dois metros de altura me fez entrar com um sorriso infantil. Luke continuava do mesmo jeito que eu me lembrava, alto, loiro e completamente amigável.
  - G’day, mate! – Era oficial, eu estava na casa de australianos. Tentava não me apegar a pré-conceitos quando se tratava de Ashton e seus amigos, mas isso se torna uma tarefa difícil quando há uma bandeira do seu país e coalas de pelúcia espalhados pela sala. – Vamos entrando, os outros estão no quintal.
  - Bom dia! – O segui, desviando de meias jogadas no chão ou pratos e copos fora do lugar. – Bonita casa...
  - Não ligue para a bagunça, era o dia de Ashton limpar a sala. – Agora estava tudo explicado. – Você não costumava ser loira?
  - Essa é a minha cor natural, na verdade. – Quando ele me conheceu, eu já tinha o cabelo claro. Assim como os outros três também. – Gosto de pintar o cabelo.
  - Vai se dar bem com Mikey, então. – Abriu a porta de vidro ao arrastá-la para o lado e me deixou passar primeiro. – Guys... chegou.
  - FRUTA!
   O aviso veio do além e consegui captar com o olhar uma bola verde voando para o outro lado do quintal, onde um menino de pele bronzeada e cabelos escuros segurava um facão de cozinha e se atirou contra seu alvo. A bola verde terminou sendo um limão que ficou preso a faca e provocou risadas e gritos de reprovação nos outros meninos. Ash acabava de sair da piscina e sacudia os cabelos molhados. Ameaçou me abraçar, mas o interrompi.
  - Quando você disse que estavam jogando Fruit Ninja, não era bem isso o que eu tinha em mente...
  - Nós australianos temos essa mania de transformar coisas legais em mais legais ainda. – Michael me passou um facão afiado e perigoso. – Não precisa se preocupar, são frutas que já estavam indo para o lixo de qualquer jeito. Quer tentar?
  - Okay! – Segurei a faca, mas tirei a jaqueta jeans e a bolsa, entregando tudo para Calum, que se dispôs a guardar. – Quem vai ser o meu pitcher?
  - Pitcher? – Ashton estava abaixado em um cesto de frutas, escolhendo a minha.
  - Sim, pitcher. Baseball? É como são chamados os que lançam as bolas... – Expliquei, indo para o X marcado no chão com fita adesiva vermelha. – Na verdade, não sei nem como eu sei disso.
  - Geek. Eu jogo pra você. – Com uma banana duvidosa em mãos, Ashton foi para o outro X paralelo ao meu. – Pronta?
  - Acho que sim! – Separei os pés e segurei a arma com as duas mãos, impedindo-a de voar longe e atingir alguém. – FRUTA!
  - Não é você que grita isso! – O loiro gargalhou com diversão e atirou a banana. – FRUTA!
   Acompanhei o alvo amarelo com manchas pretas e cortei o ar com a faca afiada, que fez o mesmo com a banana que caiu em dois pedaços na grama. Era como se eu tivesse nascido pra isso! Fui aplaudida, mas não demorou muito pra Ash começar a atirar mais frutas na minha direção. Cortei o que era parecido com um tomate, mas perdi a maçã e alguns morangos. O próximo alvo era uma melancia redonda que se aproximava rápido demais. Como nos filmes japoneses, gritei o que deveria ser um “ayaaaaaa” e ataquei a fruta que explodiu em pequenos pedaços por todo o quintal, atingindo os meninos e até eu mesma. Havia melancia no meu cabelo e decote.
  - Como você fez isso? – Mike tinha os olhos arregalados e segurava um pedaço de melancia.
  - Uma ninja nunca revela seu segredo. – “Só bati na melancia com o cabo da faca ao invés da lâmina, por acidente, mas nunca vou contar isso.” – Acho que está claro quem é a verdadeira Fruit Ninja por aqui.
  - Tá mais pra Jedi com um sabre de luz. – Gostei de como Calum pensava.

+++

  O ruído na rua parecia um zumbido de moscas. Fotógrafos ainda de plantão, com suas câmeras de focinho longo e óculos escuros como se aquilo os fosse fazer se camuflar às pessoas normais que seguiam suas vidas imersas em próprios assuntos mais importantes. Nunca pensei que ir para a minha própria casa seria tão complicado a ponto de ter que me abaixar no banco de trás de um carro enquanto meu amigo dirigia pela avenida até que estivéssemos seguros no escuro da garagem. Ashton fez o favor de me dar essa carona e ficaria com o meu carro até a segunda feira, quando o levaria até a Academy. Como eu chegaria até lá para pegar o carro era outro detalhe que eu ainda tinha que resolver.
   Estava com saudades dos meus cachorros e, principalmente, de Zayn. Já estava acostumada com nossa rotina diária, por isso um dia que passasse longe dele era um dia perdido. Assim que entrei no apartamento, já sem Ash, fui recebida por lambidas e mordidas. Lambidas de , que me derrubou na primeira oportunidade que teve, e mordidas de Lola, que ainda se acostumava com os dentinhos em crescimento.
  - Calma vocês dois! – Tentei tirá-los de cima de mim e foi com muito custo que consegui levantar de novo. – Também senti saudades! Papai tem cuidado de vocês?
   Esperei ver Zayn aparecer pelo corredor, curioso com a comoção situada na sala, mas não vi nem sinal do garoto. Olhando em volta, tudo estava arrumado e calmo. Nem a TV estava ligada! Mas ele teria me avisado se fosse sair, não? Difícil saber. Cansada com toda a bagunça, Lola foi beber água na cozinha e atacou o primeiro brinquedo que encontrou pelo chão. Pelo visto a minha presença na casa não era mais tão importante assim. Deixei as coisas que carregava pelo sofá e me aventurei pelos interiores da cobertura. Nada na sala de jogos e nada no estúdio de grafitti.
   Foi quando entrei em nosso quarto que sorri involuntariamente. Ali estava ele, jogado na cama como se acabasse de adormecer. Sobre o peito, um Comic Book do Thor e na mão esquerda um boneco de ação do mesmo super herói. Era engraçado imaginar um menino de vinte anos lendo histórias em quadrinhos e encenando os acontecimentos com seu boneco. Fechei a porta devagar, nos concedendo um pouco de privacidade, e me aproximei na ponta dos pés descalços.
   Com o coração acelerado e olhar encantado, deitei ao seu lado, apoiando o cotovelo no colchão. Eu o amava tanto que chegava a parecer ser um crime. Ele podia estar ali na minha frente, a distância de um sopro, e ainda assim eu sentia a sua falta. Pensei em Liam e como eu me sentia em relação a ele e a nossa conversa da noite anterior... Precisamente em quando ponderei que, se Zayn não tivesse aparecido em meu caminho, nós dois poderíamos ter ficado juntos. Realizava agora que isso não seria possível. Ainda que eu nunca tivesse conhecido-o, ainda que nunca tivesse saído de Bradford, eu nunca teria me envolvido a esse nível com Liam. Ou com qualquer outro, pra falar a verdade. Tentaria, mas sempre haveria algo faltando, um pedaço de mim que nunca sequer conheci.
   Era esse pedaço que encontrei em Zayn e que encaixou-se perfeitamente ao pedaço que restava em mim. “I’m half a heart without you.” Sem conseguir decifrar a quanto tempo o estava encarando, deslizei a ponta do indicador por sua testa, afastando fios de cabelo rebeldes. Deixei um pequeno beijo ali, a testa fria em contraste com meus lábios quentes. Zayn suspirou e se mexeu, despertando do cochilo rápido. Ainda naquele estado meio dormindo meio acordado, levantou o olhar para o meu rosto. Um pouco de confusão passou por seus olhos amendoados.
  - Estou sonhando com você de novo? – Voz arrastada e cenho franzido, Zayn tocou o meu queixo com a ponta dos dedos. O boneco caindo na cama.
  - Se você estivesse sonhando... Eu poderia fazer isso? – Abaixei minha altura e espalmei a mão direita em sua nuca, juntando nossas bocas em um beijo curto e delicado.
  - Geralmente é só isso que você faz em meus sonhos. – Sorriu torto, já bastante acordado e consciente. Passou a franja pra trás de minha orelha e me puxou para deitar em seu abraço. – Bem... Não só isso, mas é assim que começa. Se é que me entende.
  - Entendo. – Ri baixo, afastando o Comic Book e tudo que pudesse quebrar ou amassar, e me aninhei ali.
  - Está aqui há muito tempo? – Bocejou contra a própria vontade e continuou seus carinhos pelo meu rosto e cabelos. – Podia ter me acordado antes.
  - Cheguei agora. – Beijei a sua pele onde alcançava, sem ser capaz de soltá-lo ou me afastar. – E eu nunca conseguiria te acordar. Você estava cansado depois da batalha em Asgard.
  - Você viu o boneco, né? – Me fitou um tanto desconfiado. Incerto se deveria ficar envergonhado ou se eu já o conhecia o suficiente para não ficar surpresa. – E desde quando você sabe o que é Asgard?
  - Eu conheço a história de Thor, ok? E também de muitos outros super-heróis! É algo que você gosta, então eu me interesso por isso. – Expliquei e ele se sentou, erguendo uma sobrancelha. – E, é claro, Tom Hiddelston é Loki, o que ajuda um pouco na hora de assistir o filme...
  - Eu sabia! – Gargalhou divertido. Ao menos não teve ciúmes ou coisa do tipo. – Niall deixou o DVD do segundo filme aqui. Quer assistir?
  - Depooooooois. – Resmunguei, puxando-o de volta para o meu lado. Desde quando Zayn não queria passar o dia na cama ao meu lado? – Não vai falar nada sobre o meu cabelo?
  - Ah, é verdade! – Apoiou a cabeça no travesseiro mais uma vez e tirou algo preso entre meus fios castanhos. – Porque tem um caroço de melancia aqui?
  - Eu joguei Fruit Ninja essa manhã, mas não é disso que estou falando! – Bati em sua mão, perdendo o caroço preto em algum lugar pelo chão. – Não notou nada mais?
  - Claro que sim. – Coçou a nuca, me estudando com cuidado. – Seu cabelo está mais liso que o normal.
  - É, é só isso. – Rolei os olhos, arrastando as pernas para fora da cama. Tinha mudado a cor do cabelo completamente, como ele podia não ter notado?
  - Babe, volta aqui! – Me chamou, rindo. Abri a porta do quarto, pronta pra sair quando braços fortes prenderam a minha cintura. – Eu falei pra você voltar!
  - Eu escutei.
  - Vai ficar irritada agora? – Ainda ria, claramente se divertindo com meu chilique. – Você sabe que eu sempre preferi você morena.
  - Então você notou? – Eu devia saber que ele estava brincando. Me senti boba por ter caído em seu jogo.
  - Assim que abri os olhos. – Beijou a minha bochecha, desfazendo o abraço e pegando a minha mão. – Vem ver o que comprei para o Arnie...
   Arnie? O lagarto? Quando me dei conta disso já era tarde demais, Zayn me arrastava pelo corredor até a sala de jogos, onde o aquário do Bearded Dragon passou a ficar depois que o expulsei do nosso quarto. Lola esperava na sala e correu em nossa direção quando notou movimento, assim como fazia sempre. A peguei no colo, usando-a como pretexto para não ser obrigada a pegar Arnie, se fosse isso o que Zayn pretendia fazer ao abrir a tampa do aquário e alisar a cabecinha do bicho como se fosse um hamster. Arnie só ficou parado em seu tronco, sem fazer nada além de piscar.
  - O que você comprou, sweetheart? – Observei-o pegar uma caixinha menor de papelão do chão e a colocar dentro do aquário, para então tirar a tampa e despejar seu conteúdo ali.
  - Grilos! – Comemorou. Só assim Arnie se mexeu e começou a correr atrás do almoço. Minha primeira reação foi entortar o nariz, mas Zayn estava tão genuinamente feliz que não tive coragem de decepcioná-lo. – O que achou?!
  - Awn, Arnie está tão feliz! – Não era mentira. Até Lola tentou se soltar e ir brincar com os grilos que tentavam fugir da fera. – Ele gostou mais do que quando você trouxe aquelas larvas.
  - Arnie gosta quando eles correm! – Apontou para o Hunger Games que acontecia em nosso próprio apartamento, o sorriso sem deixar o rosto.
  - Ele gosta de lutar pela comida. – Deixei Lola ir para os braços de Zayn e caminhei pelo quarto, olhando tudo e sem prestar atenção em nada.
  - Sabe quem me ligou hoje? – Mudou o assunto, como se acabasse de lembrar algo importante. – Dani.
  - Dani? Danielle? – Não conhecíamos muitas Dani, então era fácil saber de quem ele estava falando. – O que ela queria?
  - Não sei se entendi bem... – Tinha a expressão confusa quando soltou Lola no chão. – Só disse que Liam gosta muito de mim. E que eu devia lembrar disso se ele fizesse algo que me magoasse.
  - Ela só devia querer noticias dele. me disse que foi ela quem terminou tudo com ele, então é fácil saber por que Dani não ligou diretamente pra ele. – Tentei não fazer algo grande daquilo. Voltei para perto de Zayn agora que ele estava sem grilos.
  - te disse? Como sabe disso?
  - Do que não sabe? – Foi uma pergunta retórica e ambos sabíamos disso. – Podemos parar de falar em outros casais?
  - Por que não parar de falar de uma vez?
   Segurou meu rosto com ambas as mãos, puxando meu rosto pra si. Não o esperei encostar os lábios aos meus e avancei em sua direção, puxando seu lábio entre os meus dentes até que ele escorregasse para a liberdade. Acordando de um transe, Zayn abaixou as mãos para a minha cintura e acabou com toda distância entre nós. O envolvi pelo pescoço e encaixamos nossas bocas em sincronia.

+++

  Zayn realmente estava cansado, pois pela primeira vez na história da humanidade adormeceu enquanto assistíamos a um filme da Marvel. Tentei fazer o mesmo, mas nunca conseguiria dormir às dez horas da noite em um sábado. Pois é, ainda tem gente que diz que vida de popstar é animada! Festas todo final de semana e blábláblá. E ali estávamos nós, um dormindo e outra entediada. Por esta razão, decidi sair do quarto e fazer algo útil; como dançar e treinar, por exemplo. Afinal, só tinha seis dias até o grande recital – o que me deixava enjoada só de lembrar. continuou dormindo e roncando ao lado de Zayn, mas Lola me acompanhou até o meu escritório.
   Não vesti o uniforme completo de ballet, mas me equipei com uma calça de yoga, meias e sapatilhas de ponta. A filhote ficou sentada no pequeno sofá ali dentro enquanto eu me alongava em frente ao meio espelho e treinava algumas piruetas. Liguei o computador e procurei uma das minhas playlists de música clássica e coloquei pra tocar, esperando a inspiração que nunca vinha. Minha segunda tentativa foi procurar sites de dança na esperança que gif e vídeos curtos despertassem o que continuava adormecido dentro de mim.
   Olga Smirnova, Vladimir Shklyarov, Evgenia Obraztsova, Mathilde Froustey e vários outros dançarinos sempre chamaram a minha atenção com seus passos perfeitos e rotinas incríveis. Quando mais nova, sonhava em crescer e me tornar igual a eles, ou até melhor – em sonhos mais ambiciosos. Dançar nunca é fácil, não importa a modalidade. Ballet sempre veio naturalmente pra mim, desde a primeira vez que calcei meias com desenho de bailarina. Por essa razão eu estava tão frustrada por não conseguir montar uma coreografia. O que devia ser simples, transformava-se em um bicho de sete cabeças.
   O mesmo texto repetia-se na minha cabeça várias e várias vezes seguidas até que ela começasse a doer: “Essa é a minha única chance de impressionar os diretores de companhias de dança. Estarei sozinha no palco, todos os olhares e expectativas estarão apenas em mim. Meu passado e futuro se resumirão em apenas uma noite. Essa noite.” Não era de se espantar que eu estivesse tão preocupada, porém, não me importaria de ver um pouco dessa mesma preocupação em qualquer um dos meus colegas de classe.
   Passeando por um de meus Tumblrs preferidos de ballet, esbarrei em um vídeo que capturou o meu olhar no mesmo instante em que reconheci um dos nomes de quem estava nele: Serguei Polunin. Meu parceiro, o Quebra-Nozes para a minha Clara. O inconseqüente, arrogante, sarcástico, cínico e eu poderia continuar por horas e ainda assim não seria o suficiente para descrevê-lo. Sabendo que tinha grandes chances de me odiar por fazê-lo, apertei play e segundos depois o vídeo carregou e teve inicio.
   Aquilo se tratava de um por trás das cenas de um photoshoot para a revista Garage, onde Serguei e Kristina Shapran dançavam como se não houvesse câmeras em cima dos dois, capturando todos os seus movimentos. Apoiei o queixo nas mãos, meus olhos estudando os dois com mais atenção do que esperava. Serguei e Kristina eram lindos. Todos os seus moimentos premeditados, fortes, delicados e suaves. Senti como se o Sol e a Lua se encontrassem em um eclipse total. Honestamente, os dois pareciam apaixonados, tamanha era a química entre eles. Tive inveja daquela conexão. Queria que fosse eu nos braços dele. Queria ter toda a técnica e graciosidade de Kristina e sabia que ela não se desesperaria por causa de uma apresentação, por mais importante que fosse.
  - Bem, você não vai conseguir nada se continuar sentada sem fazer nada...
   Desliguei o vídeo, aumentei o volume da música e me coloquei de pé. Lola continuava na mesma posição, minha própria miniatura de líder de torcida. Subi na ponta dos pés, tentando qualquer coisa para apertar o gatilho da minha inspiração. Continuei nesse vai e vem por um bom tempo, girando, pulando, movimentando os braços em todas as direções possíveis e ainda assim continuava na mesma. Todos os meus passos eram bem executados. Consegui saltar e pousar dentro do meu espaço limitado, o que já era uma grande proeza por si só. O grande problema era juntar todos esses passos em uma dança contínua e que fizesse algum sentido. O importante pra mim era passar uma mensagem, contar uma história, e não apenas “dançar” de forma crua.
   Se apenas Nick estivesse no mesmo país que eu, poderia me dar dicas e treinar ao meu lado. O mesmo valia pra Holly.
   Mais tempo se passou e eu já começava a soltar grunhidos de raiva e frustração. O suor escorria pela minha testa e não importava o quanto eu tentasse enxugá-lo com um pano, ele tornava a voltar cinco minutos depois. Meu calcanhar doía e o dedo mindinho do pé direito parecia que ia explodir a qualquer instante. Eu estava tentando! Vinha tentando há mais de um mês e agora o medo estava intensificado porque meu tempo estava se esgotando.
   Com uma pirueta fatal, fui ao chão. Lola se assustou e se colocou em posição vigilante. Resmungando de dor, arranquei a sapatilha do pé; lágrimas escorrendo até o queixo e se perdendo. Tirei a meia e o protetor de ponta estava sujo de sangue. “Ótimo! Era só o que eu precisava agora.” Meu dedo mindinho estava sangrando, resultado de uma bolha prematura que acabou estourando depois de tanto esforço. Tirei a outra sapatilha e joguei o par longe, em uma tentativa de diminuir a raiva de mim mesma.
   O choro continuou aumentando até que soluços se atropelassem ao sair da minha garganta. Meu pé não doía tanto assim, mas o choro tinha outros motivos. Sentia que tinha falhado com a única pessoa que não podia falhar, eu mesma. Bati no chão com a mão em punho, começando a me sentir sem ar. Meu peito subia e descia com violência e o coração batia desesperado. Queria gritar e som nenhum saía.
  - Babe? – Zayn abriu a porta, me assustando. Me procurou pelo quarto e só me encontrou quando olhou pra baixo. – , o que houve?
  - Sou uma droga. – Não adiantava tentar esconder.
  - É claro que não é uma droga, pequena... – Quando me dei por mim, ele estava sentado ao meu lado, me puxando para o seu colo. – Estava dançando?
  - Tentando. – Resmunguei, abraçando-o como um bebê faria ao buscar proteção. – Ainda não tenho idéia do que fazer no recital.
  - Baby, você é um pássaro... – Beijou a minha testa, alisando meus cabelos. Não sei aonde Zayn queria chegar com aquilo, mas me sentia bem apenas estando em seu abraço. – Só precisa se deixar voar.
  - Ainda está dormindo, Zayn? – Levantei o rosto molhado, mas dessa vez sorria entre as lágrimas.
  - Shh. – Erguei meu queixo mais um pouco e roubou um beijo. – Ei, o que aconteceu com o seu pé? , precisamos ir ao hospital!
  - Wow, calminha. Era só uma bolha. Bailarinas tem isso to tempo todo. – Enxuguei as lágrimas com as costas das mãos e Zayn puxou meu pé mais pra perto. – Só preciso lavar e colocar um curativo.
  - Então vamos fazer isso. – Pensei em levantar, mas Zayn cuidou disso por nós dois. Levantou em um impulso e com facilidade me pegou em seu colo.
  - Malik! – Esperneei com uma risada, completando meu pape de criancinha. – Você vai me derrubar!
  - Eu nunca te derrubei, Tomlinson, pare de reclamar.
   Deixando a luz acesa e computador ligado, Zayn me carregou até o nosso quarto. continuava apagado na cama, mas sua irmã continuou me seguindo. Ligou a luz do banheiro com o cotovelo e me pousou cuidadosamente sobre a bancada da pia. Abriu a torneira e a água corria gelada, respingando em minha pele. Fiz bico, sabendo que aquilo arderia, mas Zayn ainda assim pegou o meu pé e o colocou embaixo d’água. Logo todo o sangue escorreu pelo ralo, mas ainda doía bastante. Peguei um lencinho e limpei o rosto e o nariz. Meu namorado apenas me olhava, mais aliviado do que antes.
  - Boa menina. Nem reclamou nem nada. – Secou meu pé com a toalha branca, sem ligar para a pequena mancha de sangue ainda novo que deixava o meu dedo.
  - Ouvi dizer que se não reclamar, ganho beijo depois da consulta. – Mordi o lábio e abri o pequeno Band-Aid para que ele o colocasse em mim.
  - Não sei quem te disse isso, mas não podia estar mais certo. – Assim que terminou o curativo em meu dedo, deixou um beijo ali e me ajudou a descer. – Se sente melhor?
  - Me sinto perfeita. – Atirei os braços em torno de seu pescoço. – O que é algo que não tenho sentido há um bom tempo.
  - Eu te amo, Tomlinson. – Me abraçou com força pela cintura. – Se quiser o mundo, eu vou te dar.

    

Chapter LIX

Nunca pensei que uma terça-feira de outono pudesse ser tão fria quanto aquela. Todo o Sol do último sábado foi embora quando as nuvens de chuva tomaram conta do céu de Londres, nos obrigando a voltar a andar com uma sombrinha embaixo do braço, só por precaução. Meu dedinho ainda doía e eu era obrigada a trocar o curativo durante os intervalos de aula, mas nada que não conseguisse suportar com um sorriso forçado. Ainda assim, agradeci mentalmente à professora Bartira por ter diminuído os exercícios na ponta naquela manhã e relembrando alguns levantamentos em dupla; o que me deixava fora do chão por um tempo bem apreciado.
   Depois do intervalo que passei com e Ashton na sala de música que costumava ser de Zayn e Niall, os Seniors –alunos do último ano de ballet – foram convocados até o auditório, para os últimos toques que deveriam ser decididos o mais rápido possível. O recital seria em pouco menos de três dias e era de se esperar que todos já estivessem preparados e ensaiados. “HAHAHAHA.” Minha consciência andava bem sarcástica ultimamente e com razão. No dia anterior acabei tendo algumas idéias que poderia usar como plano B, caso eu realmente não tivesse mais nada para apresentar, mas ainda não chegava a ser a epifania que esperava receber dos céus a qualquer momento. “Ouviram isso? A qualquer momento... Pode ser agora, também, estou esperando.”
   Para meu desespero, a diretora Agnes acompanhava todos os movimentos dos alunos, fazendo caras e bocas ao escutar o que eles pretendiam apresentar, sem nunca opinar ou reclamar. O que podia ser bom ou ruim, dependendo da sua interpretação. O técnico de luz e som também estava por ali, anotando detalhes que cada apresentação em questão iria usar: Luzes de cores diferentes, instrumentos que deveriam estar disponíveis e etc. Ele chamava todos de um em um e eu temia que chegasse a minha vez. O que eu iria pedir?
   Ora ou outra, era visualizada pela diretora, que provavelmente se perguntava porque eu estava tentando me esconder em uma das cadeiras do auditório sem falar nada. Logo eu, que sempre tinha algo pra falar! Na fileira de acentos em minha frente, Brigitte conversava com David, o menino com quem eu costumava dançar as aulas em dupla. Já devia ter roído todas as minhas unhas de nervosismo e evitava qualquer tentativa de conversa. Meu olhar estava perdido pelo palco, onde eu imaginava até instalar uma piscina com pétalas de rosa. Só não sei pra quê, mas isso é um detalhe quase insignificante. Queria estar com Zayn ao meu lado, pois ele saberia como me acalmar. “Você é um pássaro... Só precisa se deixar voar.”
  - É isso... – Pensei alto, atraindo os olhares de Brie.
  - Isso o que? – Achou que eu tivesse falado com ela.
  - Sou um pássaro... Sou um pássaro! – Sussurrei para o nada, perdida em meu próprio mundo.
   Brigitte devia achar que eu ficara louca de vez, por isso voltou a conversar com seu amigo. Saquei o celular da bolsa com tanta pressa que quase o derrubei. Acendi uma lâmpada em um quarto escuro e sem janelas que era a minha mente. Precisava resolver tantas coisas que poderia ficar louca se demorasse muito. Procurei o número de Colin pela agenda telefônica, não totalmente certa de que tinha o seu número. “Isso! Colin, aqui.”

  
“Buongiorno, Colin! Sei que ainda é cedo, mas preciso do número de Serguei... Acha que pode me passar? .”

   Agora era só cruzar os dedos! Logo o aparelho estava vibrando na minha mão e mordi o lábio com força.

  
“Claro, ! Eu tinha combinado com ele de irmos até a Academy hoje, mas soube do seu recital, então suspendi todas as nossas reuniões por essa semana. Você já deve estar muito ocupada. Aqui está: 07517 123456.”
  “Obrigada, você acabou de me salvar!”

   Adicionei o contato à minha agenda e digitei uma nova mensagem, não sabendo ao certo como parecer educada e profissional quando se tratava de um homem que só me irritava.

  
“Bom dia, Serguei. Mudança de planos novamente... Pode me encontrar na Academy o mais rápido possível? É urgente. Meu celular ficou sem bateria, então estou usando o de um colega. Espero sua resposta. -Colin.”

  Mentir pode não ser a opção mais honesta na maioria das vezes, mas sempre será a mais fácil. Não estava orgulhosa daquilo, mas explicaria tudo depois. Ou nunca.
  - ! Você está bem hoje? – Brigitte voltara a falar comigo e eu nem notara.
  - Estou... Do que você precisa? – Notei o bloquinho que ela tinha nas mãos e quase me senti mal por obrigá-la a repetir o que eu devia ter escutado antes.
  - Quantos convites você quer? – Esperou pacientemente pela resposta enquanto escrevia o meu nome no papel. – Agnes me pediu pra sair perguntando... Ela precisa ter esse controle.
  - Claro, claro... – Comecei a contar nos dedos, desejando ter pensado nisso antes. – Preciso de... Quinze? Isso, quinze.
  - Oh, uau... Esqueci que você é famosa e conhece muitas pessoas. – Impressionada, anotou o número 15 ao lado do meu nome. – Só preciso de três.
  - Acho que sim... – Não prestei muita atenção na loira, pois acabava de ler a resposta de Serguei: “Estou bem perto daí, na verdade. Não vai ser problema nenhum. Chego em cinco.” – Hey, Brie... Preciso dar um pulinho lá fora. Consegue me cobrir?
  - Deixa comigo! Se eu fosse você, sairia agora, porque Agnes está bem distraída.
  - Obrigada!
   Fiz sinal de ok com os dedos e puxei minha mochila de qualquer jeito, ainda com o celular em mãos. Corri pela minha vida, sem olhar para trás até estar fora do auditório. Teria que voltar logo, pois o técnico me procuraria para saber do que eu precisava. Provavelmente ficaria espantado com tudo que eu lhe pediria, mas não era mais problema meu. A diretora deixou tudo à nossa disposição, o que incluía cenários e objetos de cena usados em espetáculos e apresentações passadas.
   Atraí olhares ao passar correndo pelo corredor do primeiro andar, o que não era diferente do que acontecia quando eu apenas caminhava. Brigitte devia estar certa... Eu era “famosa”, ou algo perto disso. Não gostava de pensar nisso, mas não adiantava negar que chamava mais atenção do que em meu primeiro semestre ali. Olhei em volta quando sentei em um banco próximo à porta de entrada, preocupada em dar de cara com um de meus professores. Por enquanto a barra estava limpa.
   Eu tinha tanto a fazer que estava prestes a arrancar os cabelos. Ao invés disso, apenas passei a mão por eles, bagunçando o que um dia fora um coque alto e arrumado. Tinha uma leve idéia do que usaria como “efeitos especiais” e sabia a música que queria usar, só precisava saber se meus planos dariam certo e convites seriam aceitos. “Shit, o que vou vestir?!” Ainda precisava de um figurino. Estava muito em cima da hora pra ir em qualquer loja que vendesse ou alugasse esse tipo de coisa e não podia simplesmente usar alguma roupa de apresentações passadas. Com o celular sendo apertado com força contra a minha palma, sabia que teria que fazer o que prometera para mim mesma que nunca faria: Usar meus contatos do mundo da moda para resolver um problema do mundo da dança. Não tinha como manter essas duas partes separadas, tinha? Quero dizer, ambas eram parte de mim e eu era uma só...
  - Rebecca? Oi, sou eu, ... – Liguei para o escritório da Models One, vulgo temporário da Mulberry e me surpreendi por ela ter atendido, e não a secretária de sempre. – Tudo bem? Sabe me informar se Emma está por aí?
  - Oi, ! Emma está aqui sim... Você deu sorte, porque ela está de férias, mas não consegue sair do escritório. – Senti que forçava certa simpatia inexistente e não reclamei. – Quer que eu transfira a ligação?
  - Sim, por favor... – Minha atenção era dividida entre o telefone em minha orelha e a porta que deveria abrir a qualquer momento. Escutei a música automática até que alguém falou do outro lado da linha.
  - ! Quanto tempo.
  - Emma, minha designer preferida! – Imaginei se dessa vez era eu quem soava forçada, mas pela risada que recebi da mulher era apenas preocupação desimportante. – Sei que está de férias, mas... Meio que preciso de uma ajudinha sua... E não estaria pedindo se não fosse a minha última opção.
  -
  - Espera, Emma! – Ri de seu desespero e neguei com a cabeça. – Não preciso de um vestido de casamento! Só de algo parecido... Preciso de um figurino para uma apresentação de ballet.
  - Nunca fiz nada parecido, mas há sempre uma primeira vez, não?! Ótimo. Quando é a apresentação?
  - Sexta-feira.
  - Oh. – Parou para pensar e imaginei que Emma fosse negar o meu pedido. – Então temos que ser rápidas, honey. Pode passar aqui ainda hoje para discutirmos modelos, cores e tecidos?
  - É claro! Só tenho que resolver mais umas coisinhas por aqui, mas consigo chegar aí antes das dez e meia.
  - Estamos esperando por você.
   Deveria estar me sentindo folgada e interesseira, talvez até um pouco aproveitadora, mas Emma e o resto da equipe eram tão legais e honestos que teriam me falado se eu não pudesse fazer aquele tipo de pedido. Mal tive tempo de respirar ou me preocupar com aquilo, pois Serguei acabava de entrar na Academy, despreocupado e olhando para todos os lados a procura de Colin.
  - Bom dia. – Levantei, enfiando o celular de qualquer jeito no bolso da calça jeans.
  - Olha só, ela sabe falar coisas agradáveis. – Sorriu pretensioso, com os braços dobrados. – Bom dia! Sabe onde Colin está?
  - Sei sim... Na casa dele, provavelmente. – Assenti com a cabeça. “No que eu estava pensando ao mentir?”
  - Mas é impossível... Eu recebi uma mensagem dele há pouco tempo, pedindo para que o encontrasse aqui.
  - Yeah... Eu mandei aquela mensagem. Desculpa, eu realmente precisava falar com você e sabia que não viria se eu dissesse isso. – Falei tudo rápido demais.
  - Você não tem idéia do que eu faria se você me pedisse. – Soltou os braços, nada impressionado pela minha atitude.
  - Eu realmente preciso de um favor seu. – Repeti a mesma coisa que provavelmente falaria pelo resto do dia.
  - Uau. Não faz nada além de me ignorar por duas semanas e de repente precisa de um favor meu? – Ergueu uma sobrancelha e não se parecia nada com o bailarino que assisti no vídeo. – Estou curioso.
  - Você disse que eu preciso confiar em você, não? – Muito bem, use as palavras dele contra ele mesmo. – Bem... Esse é o meu jeito de fazer isso.
  - Capturou o meu interesse, continue.
   O levei para o mesmo banco que eu estivera sentada anteriormente e contei tudo o que estava acontecendo, até mais do que esperava. Falei sobre o recital na próxima sexta e como eu passara todo esse tempo sem saber o que fazer, mas agora parecia ter tido uma idéia que poderia ser a diferença entre ser convidada para entrar em uma grande companhia ou ter a carreira arruinada antes mesmo de terminar o ano letivo. E era ali que ele entrava. Contei o que eu precisava que ele fizesse e estava praticamente me colocando em suas mãos. Abaixei a guarda, pois sabia que não adiantaria manter uma atitude desagradável quando eu precisava dele mais do que Serguei precisava de mim. Para a minha surpresa, ele fez a mesma coisa, ouvindo tudo que eu tinha pra falar e gostou bastante das minhas idéias potencialmente malucas.
  - Então... O que acha? – Minha perna direita fazia movimentos inconscientes de espasmo ao subir e descer com pressa.
  - Pode dar certo. Pode dar muito certo... – Balançou a cabeça positivamente. – Mais uma vez não acredito que você conseguiu pensar nisso sozinha. Estou surpreso.
  - Te surpreender está se tornando meu esporte preferido. – Levei aquilo como uma brincadeira e consegui um sorriso sincero. – Topa me ajudar?
  - É claro. – Apertou a minha mão, fechando nosso contrato. – Eu já participei desse recital, como deve saber. E fiquei conhecido como a melhor apresentação de todos os tempos. Se meu título vai ser retirado de mim, quero ao menos fazer parte disso.
  - Yay! Te devo várias... – Comemorei, pensando seriamente em abraçá-lo.
  - Tenho que ir fazer algumas ligações, graças a você. – Levantou e fiz o mesmo, sabendo que também precisava voltar ao auditório. – E agora que tenho o seu número... Te ligo quando tiver novidades.
   Me arrependeria se não mostrasse um pouco da minha gratidão, então deixei a timidez de lado e o abracei. Não tive muita retribuição por tê-lo pego de surpresa e na mesma rapidez que o agarrei, o larguei. Incerto do que fazer a seguir, Serguei se recompôs e se afastou, me deixando mais vermelha que um morango. “Okay, okay... E agora o que?” Comecei a andar na direção do auditório, pensando em fazer uma última ligação.
  - Pode fazer um favor a uma amiga? – Fui direto ao assunto, tendo liberdade pra isso.
  - Pra você? Sempre. O que manda? – Ed aceitou prontamente.
  - Vai estar livre nessa sexta a noite?

  

+++

     
“Louis Tomlinson: O segredo de família da estrela do One Direction tem esperanças de se resolver.
  

  O pai, Troy Austin, falou pela primeira vez sobre o orgulho de seu filho ao crescer para a fama e sucesso com a boyband do topo das tabelas.
   Louis Tomlinson tem uma família distante que está desesperada para fazer parte de sua vida.
   O pai e a meio-irmã do arrasador de corações choravam ao ver a performance de Louis pela primeira vez em cima do palco no começo do verão deste ano... Depois de comprarem os próprios ingressos.
   Troy disse que a irmã de Louis, Georgia, 15, é uma grande fã da banda desde o começo e estava impressionada quando assistiu o irmão no palco, em um show pequeno, mas que teve os ingressos esgotados em poucas horas.
   Troy, 44, perdeu o contato com seu filho quando se separou de sua mãe, Johannah, 40, quando ele ainda era um bebê. A última vez que o viu foi três anos atrás, quando Louis entrou em contato para conhecê-lo. Troy disse: “Ver Louis no palco foi incrível. Ele está na maior boyband do país e eu sou o pai mais orgulhoso do mundo. Só espero que ele saiba disso.”
   O engenheiro levou Georgia para a última conferência de imprensa da banda, onde anunciariam seu novo CD “Take me Home” na última semana e esperaram por horas ao lado de dezenas de fãs que gritavam tanto quanto ela para ver os meninos. Eles tinham a esperança de ir ao backstage depois da reunião, mas foram informados que a banda tinha que “voar”. Troy disse: “Foi uma pena que não pudemos ver Louis e dizer o quão impressionados estávamos dele, mas eu sei que ele e o resto dos meninos são muito ocupados. Georgia estava derrotada – Ela é sua meio-irmã, afinal de contas.” E continuou. “Eu não estive por perto pela maior parte de sua vida, então entendo que não sou uma de suas prioridades.”
   “Ele sabe que estávamos lá e agora eu quero dizer o quanto estou orgulhoso dele.” Louis também viu Georgia quando pai e filho foram reunidos depois que Louis entrou em contato com seu pai. “Eu e sua mãe nos separarmos quando ele era tão pequeno. Não foi culpa de ninguém... Eu sei que foi difícil pra ele.” “Ver o rumo que ele tomou com a própria vida me deixa muito feliz. Eu sei que as pessoas vão pensar que só estou interessado em ser parte de sua vida porque ele é rico e famoso, mas não é isso. Eu sou o seu pai. Somos carne e sangue e nada pode mudar isso. Estou tão orgulhoso que podia explodir.”
   “É claro, eu adoraria vê-lo de novo e ter um relacionamento com ele. Que pai não gostaria? Mas isso depende dele. Eu quero que ele saiba que acho que ele é fantástico – e que Georgia é sua maior fã.”
  Ainda sobre a irmã de Louis, Troy contou: “Ela é uma adolescente e seu irmão está na sua banda preferida. É claro que ela quer contar para o mundo todo e quer ser parte de sua vida. Tudo que ela quer é ser uma irmã verdadeira pra ele.”
   Georgia conheceu Louis quando ela tinha doze e ele dezenove. Johanna e Louis voltaram para Paris de Doncaster, onde moravam com o padrasto de Louis, Mark Tomlinson. Troy disse: “Eu não o vi por todo esse tempo, mas nos falávamos por telefone. Quando ele se mudou para a Inglaterra, a distância tornou difícil manter contato. Eu acho que deveria ter feito mais esforço para me aproximar. Acho que a vida nem sempre age como gostaríamos.”
   Apesar de morar na mesma cidade novamente, Troy e Louis não voltaram a entrar em contato. “Eu continuei recebendo noticias de sua mãe e avô, mas todos tinham novas vidas.”
   Agora Troy ajuda a comandar um pequeno hotel com seu irmão Dean e fotografias de Louis e do One Direction estão penduradas na parede. “Nossos clientes acham maravilhoso que eu seja o pai de Louis. Eu amo demais... Só espero que ele saiba.””

   Depois de passar horas trancada em um escritório Emma e Luella decidindo o modelo do vestido perfeito, ergonomia e alterações necessárias para que tudo desse certo, só queria ir para o apartamento e contar para Zayn a novidade e acalmá-lo. Infelizmente, assim que entrei pela porta, fui obrigada a fazer o mesmo caminho para o lado de fora. Harry mandara uma mensagem com o endereço de um site e nos pediu pra parar o que estivéssemos fazendo e corrêssemos para o condomínio. Durante a travessia de carro até o outro lado da cidade, li em voz alta a matéria do The Mirror, onde o “pai verdadeiro” de Louis declarava o quanto estava orgulhoso de seu filho e o quanto queria desesperadamente fazer parte de sua vida.
   Os humores dos três meninos – Niall, Liam, Harry - que estavam na sala quando chegamos era terrível. Ninguém falava nada e até as respirações eram controladas. Louis se trancara no quarto desde que encontraram a matéria e a chuva de mensagens de conhecidos ou não começou. Quase ninguém sabia sobre o ‘drama’ envolvendo a paternidade do meu irmão, por isso foi um verdadeiro choque. Uma bomba que explodira, digamos assim. Lou não queria ver ninguém e isso não se aplicava a mim. Nem que eu tivesse que arrombar a porta.
  - Lou, eu estou sozinha aqui... Pode abrir a porta. – Bati devagar, sem querer assustá-lo. – Você me conhece há vinte anos, sabe melhor que isso que eu não vou desistir.
  - A porta nem está trancada. – Resmungou, mas abriu a porta pra mim. – Satisfeita?
  - Mais ou menos.
   Lou não estava chorando, como eu teria feito se estivesse em seu lugar, mas tampouco sorria ou soltava fogos de artifício. Tínhamos uma coisa em comum, ambos guardávamos muita coisa por dentro e era difícil desabafar antes que fosse tarde demais e estourássemos em cima da primeira pessoa que aparecesse. Porém, gostávamos de nos sentir seguros e que alguém falasse “Hey, estou aqui! Você não está sozinho.” Lou me encarava como se perguntasse se eu iria me sentar ou ficar ali parada mesmo. Não fiz nenhuma das duas coisas e o abracei. No mesmo instante, ele retribuiu meu carinho. Com a plataforma pequena de meus sapatos, fiquei delicadamente mais alta que o mais velho e isso o permitiu esconder o rosto na curva de meu pescoço.
  - Estou aqui, Boo. Sempre.
  - Você leu? – Suspirou, afrouxando o abraço e me encarando com seus olhos igualmente azuis.
  - Sim. Sinto muito... – O que mais podia dizer? – O que Troy fez foi horrível. Ele não tinha o direito de falar nada, muito menos inventar mentiras. Eu mesma quase liguei para o The Mirror no caminho pra cá e contei minha própria versão dos fatos.
  - Não adianta. Eu ainda seria o filho mimado que não aceitou a reaproximação do pai perfeito e que sempre tentou uma reconciliação. – Sentou na cama com força, fazendo-a chacoalhar. – Como ele teve a capacidade de fazer isso?! Porque eu tenho certeza que foi ele quem procurou os jornalistas. Passou a vida toda me evitando e agora que eu sou importante resolve vir atrás contando historinhas? Ah, vai a merda.
  - Você não é o filho mimado! Eu estava lá, eu fui com você até a casa dele... Nossa família sabe a verdade, nossos amigos sabem a verdade... Desde quando se importa com o que o resto das pessoas pensa?
  - Não me importo. – Abraçou o próprio corpo. Seu rosto estava vermelho de irritação. – Dizem que quando se tem a vida exposta e vigiada desse jeito, não se pode ter segredos. Acho que esse durou até demais.
  - Pode ser verdade que segredos não conseguem ser guardados por muito tempo, mas essa não era a única forma de vir a tona.
  - Eu só queria olhar pra ele agora e mandá-lo se foder. – Xingou, apoiando a mão em punho no joelho.
  - Se é isso mesmo que quer... – Sentei ao seu lado, cautelosa. – Você pode.
  - Hã? – Me encarou sem entender nada.
  - Troy está lá embaixo. – Não sei o que esperava que Lou fosse fazer e ele permaneceu como estava. – Ele veio te ver... Os meninos queriam mandá-lo embora, mas eu não deixei. Essa decisão é sua e de ninguém mais. Se não quiser vê-lo, eu vou mandá-lo embora agora mesmo.
   Louis pareceu pensar por um tempo e me perguntei se devera voltar a falar qualquer coisa que fosse para conseguir uma resposta do que deveria fazer. Deitou o rosto nas mãos, curvado pra frente até que sua voz saiu abafada.
  - O que você acha que eu devo fazer?
  - Lou... – Estava prestes a dizer que o que eu achava não era importante, pois era um assunto dele. Fui interrompida pelo olhar acusador do outro, que me obrigava a falar algo. Suspirei e balancei a cabeça em diversas direções. – Eu acho que Troy não tem o menor direito de vir até aqui e te pedir pra escutar o que quer que seja. E nem você é obrigado a falar com ele ou aceitá-lo de volta na sua vida. Por outro lado... Essa pode ser a chance que você estava esperando todos esses anos. A chance de fazer todas as perguntas que sempre quis fazer, mas nunca teve a oportunidade. Então você pode andar em frente e colocar uma pedra em cima desse assunto ou enfrentá-lo de uma vez por todas. Pode não gostar do que ouvir, mas ao menos não passará mais anos se perguntando o que teria acontecido.
  - Quem diria? – Forçou um sorriso entre todos os traços de raiva em seu rosto. Endireitou o corpo e segurou a minha mão. – Minha irmã mais nova me dando conselhos. Hoje está sendo um dia estranho...
  - Todos sabem que sou a mais inteligente. – Dei de ombros, arrancando mais um sorriso. – Vamos?
  - Acho que é o jeito.
   Ainda de má vontade, Lou se pôs de pé e só assim soltou a minha mão. Foi na frente, abrindo caminho pelo corredor e escada, espiando de soslaio para checar se eu ainda estava ali. Na sala, Troy era o único sentado no sofá, pois os meninos estavam encostados na parede claramente desconfortáveis com a sua mera presença. Georgia estava na parede oposta, com o celular na mão enquanto fingia jogar um jogo qualquer, mas na verdade tirava fotos de sua “banda preferida”. Claro que eles não percebiam... Eram garotos!
   Louis limpou a garganta anunciando a sua chegada. Foi para a frente do pai, deixando a mesa de centro entre os dois. Troy se levantou e algo parecido com comoção tomou conta de suas feições, combinado com suspiros forçados que deveriam mostrar a emoção em estar frente a frente com o filho precioso depois de anos. Parei um pouco atrás, sozinha no canto e mais perto de Georgia do que dos meus amigos. Zayn me encarou como se questionasse porque eu não fora na direção dele, mas em seguida olhou a outra menina que vigiava todos os meus movimentos. Se ela era tão fã do One Direction quanto diziam, devia saber da nossa história completa; ao menos o que a Modest deixava que soubesse.
  - Louis... Meu filho. Olhe só pra você, está um verdadeiro homem. – Fingiu limpar uma lágrima do canto do olho. – Esperei tanto por esse momento... Imaginei que nunca fosse chegar.
  - Algum de vocês poderia levá-la lá pra fora? – Lou evitou o olhar do pai e procurou o dos amigos, acenando com a cabeça na direção da meio-irmã. – Precisamos ter uma conversa séria.
  - Ela é sua irmã, Louis. – Troy entrou na defensiva, como se Lou acabasse de mandar matar a menina.
  - Não. Ela é a minha irmã. – Apontou na minha direção e pela primeira vez o mais velho reconheceu a minha presença. – Por favor?
  - Vamos ver o jardim, Georgia. Esse é o seu nome, não? – Liam chamou os outros meninos para acompanhar os dois e Georgia aceitou o convite sem pestanejar.
  - Venha também depois que terminar esses assuntos chatos, Lou. – Acenou para o menino como se o conhecesse a vida toda. Como se estivesse no meu lugar.
   A atmosfera da sala só fez pesar mais ainda quando nós três ficamos sozinhos ali. Teria seguido os outros se não me sentisse tão preocupada com meu irmão. Não seria capaz de deixá-lo sozinho nem se pedisse e dei sorte por esse não ser o caso. Troy votou a se sentar confortavelmente no sofá e Lou se jogou no pufe mais próximo, ombros tensos e maxilar flexionado.
  - É uma bonita casa que você tem aqui, filho. – Tentou fazer conversinha, dando ênfase à ultima palavra que ainda soava estranha ao deixar sua boca fina. – Parece a que eu tinha com a sua mãe em Bordeaux, se lembra?
  - É óbvio que não tenho idéia do que você está falando. – Louis respondeu friamente.
  - Claro que não! Você era apenas um bebê. Aposto que não se lembra de nada. – Riu como se fossem dois amigos de longa data que colocavam os assuntos em dia.
  - Como vou me lembrar de algo que nunca aconteceu? – Ironizou retoricamente, se mexendo no acento. – Eu sei o que você está tentando fazer aqui, Troy. Está tentando me convencer de qualquer coisa que o favoreça. Da mesma forma que deu aquela entrevista ao The Mirror e a única explicação que tenho pra isso é que perdeu a cabeça completamente.
  - Falei com o The Mirror porque foi a única forma que tive pra chamar a sua atenção, filho, entenda. Eu não tinha o seu telefone porque a sua mãe sempre foi muito protetora e os seus empresários também não facilitaram muito. Georgia conseguiu esse endereço com um fã clube ou coisa parecida...
  - Por que agora?! – Levantou com uma reclamação, apertando os olhos. – Por que não quando eu era mais novo?! Não sei se você se lembra, mas eu fui atrás de você. EU! E aposto que também não consegue lembrar do que me disse. Você me mandou embora, Troy! E me disse que não queria nada comigo. O que mudou?! Hein?! É dinheiro que você quer? Fama? Aposto que já conseguiu tudo isso com aquela matéria de merda.
  - Não é nada disso, filho...
  - Fuck you! – Gritou, me fazendo estremecer encolhida em meu canto. – Eu não acredito em você! Porra!
  - Você não pode falar comigo assim, eu ainda sou o seu pai! – Levantou da cadeira e também elevou a voz.
  - Você não é meu pai, você é um COVARDE! – Não se deixaria chorar na frente dele, mas eu sabia que estava prestes a desabar. – Só um covarde abandona o filho antes mesmo de nascer!
  - Eu não... Louis, o que... Você não sabe, não é?
  - Sei de que, Troy? – Lou apoiou o antebraço na parede, exausto daquela conversa que já devia passar de sua primeira meia hora. – Na verdade, só quero que você vá embora.
  - Lou, espera. Deixa ele falar. – Me intrometi e Lou me olhou traído. Afirmei com a cabeça, esperando ser compreendida. Troy podia ser uma máquina de mentiras, mas nossa maior defesa seria ter argumentos para combater todas elas e não simplesmente ignorar.
  - Você sempre foi uma menina esperta, . – Sorriu como se eu tivesse passado para o seu lado, mas me aproximei de Lou quando voltou a se jogar na poltrona.
  - Não tente me ganhar, Troy. Eu ainda não concordo com os seus meios de aproximação. – Era melhor deixar aquilo bem claro. – Só acredito em ouvir antes de tirar conclusões.
  - Muito bem. Não sei o que vocês pensam que aconteceu, mas eu não te abandonei, Louis. Eu te vi nascer. Eu estava lá. – Sentou, enfiando a mão no bolso da calça e tirando de lá a carteira. A abriu e esticou um pedaço quadrado de papel amassado e velho. – Aqui, se não acredita.
   Lou mal olhou para o homem e eu mesma peguei a entrega, sentindo o coração palpitar ao ver que se tratava de uma fotografia. Minha mãe estava em uma mesa de hospital, com lágrimas nos olhos e um bebê nos braços. Eu já vira fotos o suficiente de meu irmão quando bebê para reconhecê-lo ali. O mais estranho era que os dois não eram os únicos na foto. Troy estava ali também, quando supostamente deveria ser o meu pai, Mark. Sem querer correr em conclusões, virei a foto que continha uma legenda na parte de trás: “Mummy & Daddy com o mais novo membro da família Louis Troy Austin. 24/12/91.”
  - Louis Troy Austin. – Pensei alto, tendo a fotografia arrancada da mão por Lou.
  - Esse era o seu nome. Até os dois anos de idade, quando sua mãe e eu nos separamos. – Pra variar, Troy parecia estar sendo sincero uma vez na vida. – Você era muito pequeno, então não deve se lembrar, mas eu estive ao seu lado pelos dois primeiros anos da sua vida. Não é muito, comparado à sua idade hoje, admito.
  - Dois anos? Isso é impossível... – Dois anos mais ou menos era diferença de idade entre nós dois. Escorreguei para o chão por ser o acento mais próximo.
  - Não é, ... Sim, você poderia muito bem ser minha filha. – Concretizou em palavras o que eu temia pensar. Se isso fosse verdade, toda a minha vida teria sido uma mentira. – Quando eu e sua mãe nos separamos, ela já estava grávida de você. E se não se parecesse tanto com seu pai, teria certeza de que era minha também.
  - Como a minha mãe poderia estar grávida de outro homem enquanto era casada com você? – Minha voz saia esganiçada, sem conseguir envolver a minha mente na idéia de que Johannah o havia traído.
  - Precisa mesmo que eu responda isso? Vocês conhecem Johannah, sabem como ela era. Inconseqüente, impulsiva... Louis tem muito dessa parte da personalidade da mãe. Eu também não fui nenhum santo, mas a amava. Por isso a deixei ir quando descobriu que teria uma filha com o homem que conheceu em uma viagem de uma semana à Londres. – Olhou para as próprias mãos enquanto contava a história. – Eu estava disposto a assumi-la como minha, , e poderíamos ser a família perfeita que Jo sempre sonhara. Mas ela estava apaixonada pelo outro e não me deu escolha a não ser me afastar dos três.
  - Ainda assim, Troy, você teria direitos por lei. Se quisesse, poderia ter mantido contato. – Tantas informações, tantas perguntas! Louis tentava entender tanto quanto eu. – Como você mesmo gosta de repetir... Ainda era o meu pai.
  - Johanna me impediu. Ela disse que eu não era o exemplo de homem que você precisava na sua vida, Louis, e acho que tinha razão. Eu estava envolvido com coisas erradas e com a separação esses vícios só fizeram piorar. – Parou por uns segundos, com a garganta seca. – Ela também nunca foi muito equilibrada e pensei que Mark fosse ajudá-la. Pensei que quando você nascesse, , ela se dedicaria mais aos filhos do que ao trabalho. Ele lhe deu um novo nome, Louis, e foi um pai verdadeiro para a sua irmã. Fiquei espantado quando os dois se separaram anos depois e entrei na justiça. Estava disposto a lutar por vocês dois, ainda que, na época, não fosse mais que um estranho. Um tio que mandava cartões todos os anos no natal. Seus avós fizeram o mesmo e ganharam o processo, ficando com a sua custódia. Foi aí que desisti de tentar, me afastei e comecei uma nova família com a mãe da Georgia. Quando vocês dois apareceram na minha porta aquele dia terrível... Não acreditei que estivessem prontos para saber de toda essa verdade, ainda eram muito novos.
  - E por isso nos mandou ir embora e nunca mais voltar. – Louis concluiu, descrente.
  - Pensei que estava fazendo a coisa certa. Não só para a minha filha, mas pra vocês dois também. Infelizmente, quando percebi o erro já era tarde demais.
  - Nisso você acertou. É mesmo tarde demais. – Meu irmão se levantou e passou direto para o andar de cima, deixando eu e Troy encarando o espaço vazio onde estivera.
   Permaneci durante cinco minutos inteiros encolhida no chão, tentando assemelhar tudo que acabara de escutar com os fatos que convivi desde pequena. Era difícil negar ou aceitar qualquer coisa, pois você começa a duvidar de suas próprias memórias quando se trata de algo que aconteceu quando era tão nova e inocente para o mundo. As duas versões da história eram completamente diferentes, mas podiam ser verdadeiras. Apenas uma investigação propriamente dita seria capaz de provar o que aconteceu e não sabia se queria ir a fundo nisso.
  - Obrigado por escutar. E desculpe por todo esse transtorno. – Levantou-se e recuperou a foto que fora largada na mesinha de centro. Em seu lugar, deixou um cartão comercial que continha seus contatos. – Sei que é muita coisa pra se ouvir de uma vez só, então vou indo. Me liguem, se precisarem. Sempre irei atender.
  - Tá... – Sem pretensão de acompanhá-lo até a porta, continuei imóvel.
  - Ah, e, ... – Parou para uma última coisa antes de se perder no hall. – Sua mãe deve estar muito orgulhosa de você. Ela sempre sonhou em ter uma filha.

  

+++

  

  Niall e Liam tinham deixado a casa há algumas horas. Eles foram ao aniversário da filha mais nova de Paul e, tecnicamente, o resto de nós também deveria ter ido. Louis e eu não estávamos com ânimo para nada e nossos respectivos namorados ficaram para nos fazer companhia. Nós quatro estávamos no quarto de meu irmão, aninhados em uma grande bagunça em cima de uma cama só. Zayn agia como se temesse me soltar e Harry se sentia da mesma maneira com Louis. Levamos quase uma hora pra contar para os dois tudo que escutamos na conversa com Troy e eles ficaram tão estupefatos quanto Lou e eu.
   Ainda àquela altura eu não sabia como me sentia ou o que deveria pensar. Minha cabeça doía e eu estava fisicamente cansada. Cheguei a ter febre, mas escondi isso de todos, sem querer aumentar a pilha de preocupações do dia. Louis encarava o nada, perdido em pensamentos. Já eu, preferia olhar pra Zayn e encontrar seu apoio. “E eu que achava que a minha família era complicada”, ele dissera um dia. “Sempre soube que a minha família era uma bagunça, mas agora...”
  - Quero ligar para a mum. – Lou sentou, investindo para pegar o celular no criado mudo quando Harry o impediu. – O que é? Ela vai saber dizer se é verdade ou não! Já passou muito tempo fugindo disso. Estou cansado.
  - Tem certeza que é a melhor idéia? – Harry andava sobre cascas de ovos.
  - Não pode fazer isso, Lou. Mum está grávida... E na idade dela, a gestação já é arriscada por si só. Não precisa desse novo choque. – Queria ter explicado com mais veracidade, mas estava fraca demais pra isso. – Revirar o passado não vai mudar nada.
  - O que quer dizer com isso? Que devemos viver sem saber quem somos?
  - Nós sabemos quem somos. Descobrir o que quer se seja a verdade, vai mudar a forma como você olha para Mark? Ou como você se sente em relação a nossa mãe? – Não sentia vontade de chorar, mas pequenas lágrimas escorreram de meu rosto. – Vai deixar de me ver como irmã? Serei a culpa da separação entre os seus pais. Por que fui eu, não foi? Se nossa mãe não tivesse engravidado de novo, os dois ainda estariam juntos... Oh, meu Deus!
  - Babe, não pense assim... – Zayn me apertou com mais força.
  - Mas é verdade! Louis, você sabe que é verdade. – Silenciosamente chorando, supliquei para o mais velho. – Me diga que não me odeia...
  - Eu nunca conseguiria te odiar, . – Separou-se de Harry e me recebeu de braços abertos quando procurei seu colo. – Você é e sempre vai ser a minha irmã. Não meio-irmã. Nem se descobrirmos que sou adotado e vim da China. E tem razão nesse ponto... Não adianta mexer no que já foi feito. Isso só traria mais sofrimento a todos.
   Não respondi com nada além de soluços. Lutava contra lufadas de ar que demoravam pra encher meus pulmões, mas que fugiam rapidamente. Deixar uma pedra por cima do assunto teria sido a melhor opção, por isso não se deve escutar as irmãs mais novas! A umidade em meu ombro mostrava que Lou também chorava baixinho. Eu o amava tanto. Nas lembranças que conseguia ter certeza serem verdadeiras, ele estava presente em cada uma. Não importava aonde nascemos ou quem estava por perto ou quais casamentos foram destruídos... Nós dois continuávamos sendo Louis e , cúmplices até durantes as brigas de irmãos.
  - Você vai voltar a falar com Troy, Boo? – Harry acariciou seus cabelos. – Ele deixou o telefone...
  - Ele não é o meu pai. Tudo que ouvi hoje não muda nada. O que eu preciso saber já está bem aqui. – Beijou a minha testa com cuidado.

    

Chapter LX

- Chegueeeeeeei! – Cantarolei enquanto decida do auditório com certa pressa. – Quer dizer, volteeeeei!
  - Achei que você tinha se afogado na chuva. – aproveitava que não tinha quase ninguém ali dentro para ocupar três cadeiras da primeira fileira. – Por que demorou tanto?
  - Rebecca demorou um pouco pra encontrar o endereço...
   Era a véspera do grande recital, o que queria dizer que a turma do último nível de ballet estava cuidando dos últimos preparativos para a grande noite. Dessa vez, eu estava incluída entre essas pessoas. Um pouco mais calma, impressionantemente. Durante a manhã, o auditório estava completamente impossível de se usar. Não sei como dez pessoas podiam ocupar um espaço tão enorme, mas preferi resolver últimos detalhes pela rua e voltar a tarde. E era exatamente isso o que eu estava fazendo agora.
   saiu pra almoçar e voltou em seguida, prometendo me fazer companhia. Eu até teria ido com ela, mas a última vitamina que tomei quando acordei ainda me mantinha cheia. Ashton comeu qualquer coisa no refeitório e também voltou logo, isolando-se em uma das últimas cadeiras com um pedaço de papel. O técnico de efeitos especiais estava em sua folga e não tinha previsão de volta, mas ele era uma de minhas últimas preocupações. A pessoa que mais me ajudaria já estava em seu posto, mexendo em cabos e fiações, querendo deixar tudo pronto para o dia seguinte.
   Depositei a caixa que guardava o meu novo figurino feito sob medida na poltrona ao lado da que guardava a minha mochila e sapatos, já que eu estava descalça. Mamãe brigaria comigo se visse algo assim, mas pretendia descansar os pés o máximo possível. tentou espiar, mas bati em sua mão, proibindo-a de estragar a surpresa. Ela, assim como meus outros quatorze convidados, já havia recebido seu convite oficial no dia anterior ou, no mais tardar, naquela manhã mesmo. Duvidava da presença de alguns desses convidados e teria que esperar pra ver.
  - , vá para o palco, por favor. – A voz de Serguei veio do fundo do auditório, na cabine de controle localizada na parte superior do mesmo. – Precisamos checar a iluminação.
  - Desde quando vocês são amigos? – A ruiva levantou de vez, arrastando-se para perto do palco, onde eu agora subia. – Quando conferi pela última vez, você ainda o achava um chato.
  - Uh... Eu consigo te ouvir daqui, sabia? – Serguei rebateu.
  - Sabia. Por isso falei “chato” e não a palavra que ela usou. Duh.
  - ! Se não vai ajudar, não atrapalha. – Bati o pé, ficando no centro do palco. – Ela só está brincando... OUTCH.
  - O que achou dessa luz? – Como que para se vingar do insulto, acionou o holofote mais potente diretamente em meu rosto.
  - Se eu quisesse ficar cega durante a apresentação estaria perfeita. – Cobri o rosto com as mãos. – Quem sabe uma mais suave... Misteriosa. Lembre-se das velas.
  - Que velas? – acordou com a pulga atrás da orelha aquela manhã. Queria saber de tudo!
  - Ah, as velas... – O homem refletiu e trocou o holofote. – Perfeito.
  - Agora sim! – Comemorei com um aceno e virei de costas para o fundo do palco. Dei uma volta completa, averiguando se tudo estava no lugar. – É isso aí...
   Conferi mais algumas vezes, ainda que não entendesse da maior parte da arrumação do palco, se as coisas estavam em ordem. Sabia que Agnes mandaria sua equipe de limpeza dar um trato em tudo. Não era pra menos, já que pessoas importantes do mundo inteiro viriam à Academy só por esta noite.
  - Nervosa, ? – estava parada atrás de mim e nem a ouvi chegar.
  - Ansiosa. – Sorri em resposta. A ruiva me conhecia melhor que isso. – Okay, estou morrendo por dentro!
  - Tudo vai ficar bem, sweetcheeks. – Me abraçou exageradamente forte. – Eu estarei aqui pra te pegar se você cair!
  - Se eu cair, eu morro. Literalmente. – Ri sozinha da minha própria piada interna.
  - Coitadinha. Está delirando. – Tocou a minha testa para verificar a temperatura, mas não tinha febre desde terça-feira; por motivos emocionais. – Oh! Onde você vai deixar o piano?
  - Não usarei piano. – Admiti. Ela voltou a sentir a minha temperatura.
  - Mas você ama...
  - Sei disso. Mas quero fazer ago diferente dessa vez. Muito diferente...

  

+++

  

   Perdi a conta das horas no instante em que Serguei, e Ashton foram embora e fiquei sozinha no auditório. Um pequeno som portátil e um CD de músicas clássicas variadas era a minha trilha sonora e única companhia além da inspiração. Se eu já ensaiava mais que o necessário quando tinha muito tempo até o dia da apresentação, agora que estávamos na véspera, eu ficava louca. Principalmente por ter tido apenas três dias para pensar e criar tudo. Recebi ajuda de vários lados e mais uma vez me sentia muito sortuda por ter amigos verdadeiros; do que seria eternamente grata.
   Me preparava para repetir a rotina quando o cansaço deu seus primeiros sinais de presença. Sabendo que não podia parar, sentei no chão e fiz alguns exercícios de alongamento. Estiquei as pernas para todos os lados, flexionei, relaxei e fiz tudo outra vez. Alonguei os pés, os braços e o tronco... Exercícios de respiração entraram na jogada também. Deitei de barriga para baixo, resmungando por estar obrigando a mim mesma a fazer flexões que não chegaram nem ao número três completo.
  - Sabia que te encontraria aqui! – Olhei diretamente para o corredor do auditório, sorrindo ao ver que Zayn resolvera me visitar. – Eu não disse, Lou?
  - Heeeeeey! O que vocês estão fazendo aqui? – Sentei com as pernas esticadas, esperando meu irmão e namorado se aproximarem.
  - Viemos te levar pra casa. – Lou foi o último a chegar, por estar mais pra trás. – Sabemos que só sairia daqui se fosse arrastada.
  - Que exagero, Lou! Eu já estava me arrumando pra ir... – Menti, secando o rosto e pescoço com uma toalha pequena que levara até ali.
  - A gente viu. – Zayn foi irônico. Usou os braços para se impulsionar pra cima do palco e sentou por ali. – Desde quando faz flexões?
  - Só estava tentando uma coisa nova. – Abanei o ar com uma risada. – Onde vocês foram? Os dois estão tão arrumados...
  - Estávamos na Syco, autografando alguns CDs pra rádios que vão fazer sorteios ou promoções, aquela coisa de sempre. – Lou apoiou os braços na madeira, mas não chegou a subir como Zayn. – Os outros estão lá fora também.
  - Não quiseram entrar? – Comecei a desamarrar as sapatilhas, sabendo que teria que ir embora. Com a minha pergunta, os dois que estavam ali se entreolharam. – O que aconteceu?
  - ... Nana me ligou. – Lou começou e meu coração foi ao pescoço. – Ela está bem, fique calma! Mum e os bebês também.
  - Então o que?
  - A casa... A casa foi vendida. Fecharam o contrato com os novos donos essa manhã. –Explicou cauteloso. – Sei o quanto você estava odiando tudo isso...
  - O que aconteceu com os móveis? – Mordi a ponta do dedo indicador.
  - Nana levou algumas coisas para a casa de Dan e outros foram vendidos junto com a casa.
  - Você está bem? – Zayn esticou a mão.
  - Estou sim. – Sorri fraco, aceitando seu carinho. – Acho que só esperava que demorasse um pouco mais pra isso acontecer.

    

Chapter LXI

“Minha garrafa de água?” Contava nos dedos as coisas que teria que levar para a Academy em pouco tempo por medo de acabar esquecendo de algo no caminho e não poder voltar pra buscar. Ainda era cedo, mal fizera quatro horas da tarde, e eu tinha tempo. Tudo daria certo! Ou era o que Zayn esperava que eu acreditasse. Como já era de se esperar, eu estava uma pilha de nervos! Todas as aulas foram suspensas graças ao Recital. A equipe de limpeza e organizadores contratados precisavam do espaço livre para arrumar o local para as apresentações e o coquetel de comemoração que seria servido em seguida. Não sabia se tinha mais medo do recital em si ou do que viria depois. Seria durante esse coquetel que teríamos a oportunidade de conversar com os convidados mais importantes; ou seja: os donos e diretores de companhias de dança, justamente aqueles que estávamos querendo impressionar. “Ah, na geladeira!”
   Zayn me observava sentado na cama, ainda de pijamas. Podia ser à tarde e isso não queria dizer nada pra ele, que tirara o dia de folga. Literalmente. Eu já tinha atravessado o quarto inteiro trinta vezes, procurando coisas que nem ao menos sabia o que era. Talvez se encontrasse algo pelo caminho, lembraria que precisava levar para o aquecimento. Da mesma forma que no espetáculo de fim de semestre do ano passado, todos que iriam dançar deveriam chega mais cedo para a preparação. Camarins estariam a nossa disposição, mas qualquer um que preferisse, poderia ir pra casa e voltar perto da hora de começar as apresentações. Tinha planos de ficar por lá mesmo e usaria os banheiros da academia para tomar outro banho e terminar de me arrumar.
   A bolsa preta Louis Vuitton aberta em cima da cama foi presente do meu namorado e esta seria a oportunidade perfeita para estréia-la. A guardava para uma viagem que poderíamos fazer juntos no futuro, mas o momento parecia perfeito agora. Três estojos diferentes e a minha caixinha de jóias já se encontravam em seu interior, arrumados entre as duas outras caixas que continham os dois vestidos que eu usaria essa noite: Um para a apresentação e o segundo para o coquetel.
  - Onde está a minha garrafa de água?! – Me desesperei ao não encontrá-la dentro da bolsa. – Eu a deixei bem aqui!
  - Está na geladeira, . – Sorriu com simpatia pela minha preocupação. Antes de suas apresentações, ele reagia do mesmo jeitinho. – Você já conferiu três vezes...
  - Vou ver se está na geladeira... – Não o queria ignorar, entretanto, passei por ele e saí do quarto até a cozinha. – E porque não chegou até agora?
  - Porque você marcou com ela às quatro e meia. São quatro e três. – Me seguiu, ainda que com calma. – Babe, você precisa relaxar.
  - Cadê a... – Abri a geladeira e corri os olhos pelas prateleiras até encontrar a garrafa térmica. – Ainda bem que está aqui.
   Mãos masculinas seguraram ambos os lados do meu quadril, me deixando imóvel. Meus cabelos estavam presos em um penteado frouxo, dando a Zayn a liberdade para colar os lábios à minha nuca e beijar. Aquele ato me desmanchou, nem lembrava mais o meu nome. Fechei os olhos e mexi os dedos dos pés inconscientemente, respirando fundo. Deixei a porta da geladeira voltar para sua posição inicial e entendi o que ele queria dizer com “relaxar”. Aproximou o corpo ainda mais do meu, arrastando os lábios para meu ombro, distribuindo pequenas mordidas; nada que marcasse ou causasse dor. Seus dedos brincavam com a barra da minha blusa, escapando para dentro da mesma. Meus joelhos amoleceram e consegui equilíbrio no corpo atrás de mim.
   Ele continuou erguendo as mãos até encaixá-las em meus seios livres de qualquer peça íntima. Brincou com os bicos entre os polegares e fez movimentos circulares. A barba por fazer roçava e arranhava a minha pele, acabando com qualquer controle que eu pudesse manter sobre meu corpo e entreabri os lábios com um gemido.
  - Vou te fazer relaxar. – Sussurrou em minha orelha, onde passou a língua como provocação.
   Deu um passo para trás, tirando as mãos de mim e envolvendo meu pulso. O olhei sem reclamar, continuava entorpecida por seus gestos anteriores e expectativa pelo que estava por vir. Nos guiou até a sala, onde parou de frente para o sofá e afastou a mesa de centro. Não sabia se deveria sentar ou se ele me queria de pé. Precisava de ordens, o mantive em completo controle. Zayn acariciou meu rosto ao segurá-lo de ambos os lados. Mordeu meu lábio inferior e o chupou, só soltando quando tomou a minha boca em um beijo ardente. Retribuí com o mesmo fogo, tocando seu peitoral mesmo que por cima da camiseta. Suas mãos deixaram o meu rosto e escorregaram pelas costas até tomar posse da minha bunda. Apertou-a com força, erguendo-me para a ponta dos pés.
   Fui arrancada de seus lábios quando as mesmas mãos que me apertavam se firmaram embaixo de meus joelhos e os ergueram, me derrubando no sofá atrás de mim. A adrenalina da queda inesperada acelerou ainda mais o meu coração que batia com força no peito. Zayn mordia o lábio inferior, me vendo naquela posição entregue e vulnerável. Logo estava ajoelhado na minha frente, abrindo as minhas pernas para se encaixar entre elas. Ergui o tronco, indo de encontra com o dele. Zayn ergueu a minha blusa, jogando-a pra trás. Tocou a minha cintura com a mão direita e traçou um caminho de beijos pela minha barriga até entre os seios, prosseguindo a abocanhar um deles enquanto apertava o outro desejosamente.
   Joguei a cabeça para trás, perdida de qualquer pensamento ou preocupação. Passaria o resto do dia ali se fosse preciso. Arranhei os braços dele, subindo até meus dedos se perderem por seus fios de cabelo já bagunçados. Zayn fez o caminho contrário e mordeu a parte baixa da minha barriga, por cima da tatuagem mais recente, a que apenas nós dois conhecíamos o significado por trás. Me obrigou a deitar as costas na almofada do sofá e o soltei, apertando os meus seios pra ter algo pra fazer com as mãos enquanto ele puxava o short para baixo de minhas pernas. O ajudei a se livrar da peça e passei a ponta do pé por seu braço. Zayn o segurou e apoiou minha perna em seu ombro, o que, automaticamente, fez seu rosto se juntar com a minha coxa. Beijou a parte interna da mesma, aproximando-se perigosamente da parte mais sensível de meu corpo que pulsava por ele.
   Notando a súplica em meu olhar, Zayn passou os dedos pela barra de minha calcinha e continuou com os beijos em minha pele alva que contrastava tão bem com a sua. Subi a mão direita para meus cabelos, puxando em reação involuntária. Sentia-me bêbada de prazer e mexi o quadril, instigando-o a chegar ainda mais perto. Lambeu os lábios tentadoramente e soltou a minha perna para se livrar daquela última peça que já se encontrava úmida por sua culpa.
   Para a minha perdição, Zayn não ficou enrolando e colocou a boca em mim. Sua língua era quente contra a minha intimidade e no período de um suspiro pesado, começou a mexê-la. Levar de cima a baixo e voltando com uma calma desconcertante. Eu rebolava da mesma forma e meu tronco era contorcido por todo o prazer que me consumia aos poucos. Gemidos ecoavam pelas paredes da sala que guardariam aquele segredo luxurioso. Como se a sua boca me sugando já não fosse o suficiente, deslizou dois dedos pela entrada já bem molhada por sua saliva e meu próprio líquido.
   Conforme seus movimentos continuaram a ganhar velocidade e intensidade, perdi o controle completamente, gritando o seu nome e implorando por mais. Zayn soltava a respiração pesada e gemidos roucos passavam por sua garganta combinados com xingamentos e profanidades. Não demoraria muito para que eu atingisse o ápice e, sabendo disso, Zayn se empenhou ainda mais. Fui obrigada a respirar pela boca, fora de controle. Minhas mãos firmavam-se nas costas do outro, fincando as unhas em sua pele e puxando seus cabelos.
   Num ultimo espasmo, senti o mundo explodir em faíscas. Choques elétricos percorreram minhas pernas até a pontinha dos dedos, que se contorceram mais uma vez. Abri os olhos que só então descobrira os ter fechado e Zayn estava passando a mão pelo queixo e abaixo do lábio. Seu sorriso era travesso e orgulhoso de si mesmo, sempre conseguindo o que queria.
  - Se sente bem? – Ergueu o corpo até ter o rosto próximo ao meu.
  - Perfeita... – Ofeguei.

  

+++

  

  - Tem certeza que não quer ajuda, ? – terminou de trancar seu New Beetle amarelo e veio ao meu encontro na escada, onde eu a esperava com a bolsa preta e duas caixas.
  - Se quiser, pode levar as caixas... Não estão muito pesadas. – Sorri, oferecendo-as para a ruiva.
  - Você está bem? – Após guardar o chaveiro no bolso da calça, pegou o que lhe ofereci.
  - Claro que sim. Por quê? – Com ela ao meu lado, terminei de subir e abri as portas pesadas de madeira que haviam sido fechadas para mostrar que as aulas estavam suspensas.
  - Porque a que eu conheço, reclamaria por eu não estar ajudando a carregar suas coisas e não... Espera um pouco. Você fez sexo! – Acusou alto e risonha. – Por isso se atrasou!
  - , shut up! Não fiz nada disso. – Reclamei pela sua falta de descrição, mas ela me conhecia mais que isso.
  - Fez sim! Olha só pra você, está leve, brilhando! – Empurrou meu ombro em brincadeira. Não sabia que voltamos à sexta série. – Zayn não perde tempo.
  - Cala a boca. – Dei o braço a torcer e ri junto com ela.
   A diretora Agnes saiu de seu escritório quase no mesmo instante em que passamos na frente das portas de vidro. Sua presença nos fez parar de rir instantaneamente, como se o assunto da conversa tivesse entrado na sala figurativa. Ela usava um conjunto de terninho e saia de mesma cor e um pequeno salto nos pés, bascamente o uniforme em que a víamos todos os dias. A diferença é que, nesse dia, Agnes usava maquiagem nos olhos e um batom sóbrio na boca; o qual era um desperdício, pois ela nunca sorria.
  - Boa tarde, Srta. e Srta. Tomlinson. – Acenou com a cabeça, interrompendo nossa tentativa de “fuga despercebida”.
  - Boa tarde, diretora. – Respondemos em um só som.
  - , preciso que confirme o seu endereço, por favor. – Estendeu a prancheta transparente com diversos papeis e uma caneta em minha direção, ignorando a bolsa suficientemente pesada que eu já carregava. – Preste muita atenção, pois é por meio desse endereço que você irá receber seus resultados de hoje a noite.
  - Claro! – Deixei tudo que carregava no chão e apoiei a prancha em meu ante-braço. Com “resultados de hoje a noite”, Agnes queria dizer que os convites chegariam pelo correio; se eu recebesse algum. Mas essa última parte estava subentendida. Concentrada para não errar, escrevi os dois endereços onde me encontrariam: O apartamento na Mayfair e a casa no condomínio. De uma forma ou de outra, chegariam até mim. – Prontinho.
  - Obrigada. – Cordial, recebeu seus objetos e voltou a andar, esperando que a seguíssemos. – Suponho que sua amiga não vá ficar muito...
  - vai fazer o meu cabelo. – Expliquei, me apressando para pegar a bolsa e acompanhar seus passos rápidos e despreocupados. – Então ficará o tempo que for preciso, mas logo irá embora. Também precisa se arrumar para vir assistir o espetáculo.
  - Compreendo. – Nos olhou por cima do ombro com certo desprezo. Já éramos acostumadas com sua frieza, então era o de menos. – Bem, acredito que vão encontrar o seu camarim com facilidade. Terá que dividir com outra aluna, receio eu. Ninguém recebeu tratamentos especiais dessa vez.
  - Perfeitamente.
   “Wow, Agnes, um pouco de veneno está escorrendo pelo canto da sua boca.” Olhei para a minha amiga e rolei os olhos. Recebi aquele comentário com alarme. Ela queria dizer que não seria como em tantas outras ocasiões que eu fora favorecida. Fosse ganhando um camarim particular por ser Julieta ou conseguindo um novo papel principal mesmo sem fazer o teste. “Cuidado para não morder a língua.”
   Acompanhamos a bruxa pelo corredor até entrar no auditório. Ela continuou em frente e subiu para a sala de máquinas, provavelmente para tratar de assuntos com o técnico. Tudo teria que ser perfeito! Era mais que a carreira dos alunos que estava em jogo. Era a sua própria reputação, o nome da academia e o título de melhor escola de artes do país. Já e eu, continuamos descendo até a porta na lateral do auditório, caminho que levaria até os camarins. A última vez que passara por ali foi quando Margot tirou as minhas medidas para ter noção de como fazer as minhas fantasias para a peça Romeu & Julieta.
   Três alunos da minha sala estavam por ali e um deles era David, que conversava com Bartira em um canto. Nós passamos por um corredor estreito e descemos as escadas que levavam ao andar subterrâneo, quase abaixo do próprio palco. Sabia como as coisas eram dispostas por ali, apesar de nunca ter ficado muito tempo nas “catacumbas”, como e Niall costumavam chamar. Os camarins eram uma linha reta de seis salas dispostas lado a lado. Cada um tinha um papel impresso grudado à porta com o nome das duas pessoas que seriam seus donos pela noite. O primeiro estava sem placa alguma e só encontrei o meu nome no último camarim: Tomlinson e Jones.
  - Quem é “Jones”? – estava mais desocupada e abriu a porta para nós duas. Acendeu a luz interna pelo interruptor e escolheu a penteadeira que seria nossa. Quero dizer, minha.
  - Não queira saber. – Neguei com a cabeça, pousando a bolsa pesada sobre a poltrona ao lado da minha penteadeira.
   O camarim era bem grande, considerando que fora construído para abrigar duas pessoas de cada vez. Dividido ao meio, tinha duas penteadeiras paralelas entre si, cada uma encostada à sua própria parede. A minha era a oposta a porta. À direita dessa mesinha espelhada, ficava um guarda roupa antigo de duas portas com alguns cabides e gavetas. Acendi as luzes do espelho da penteadeira para testar e desliguei logo em seguida. sentou-se na cadeira em frente ao móvel e comecei a arrumar as minhas coisas.
   Guardei os dois vestidos dentro do guarda roupa e os sapatos ainda dentro das caixas nas gavetas. Maquiagens e produtos de cabelo foram para a superfície da mesa e a ruiva mexeu em cada um. Secador de cabelo, mousse, gel, presilhas, grampos e outras coisas que eu nem chegaria a usar estavam ali também. Quinze minutos se passaram até que tudo estivesse arrumado e pude me jogar na poltrona agora livre de qualquer coisa. Sem batida ou aviso, a porta se abriu e uma loira de salto alto entrou no camarim.
  - No way. – me lançou um olhar furioso por eu não ter lhe falado antes que Brigitte dividiria o camarim conosco.
  - Shh. – A repreendi, sorrindo forçadamente para a menina que acabara de chegar.
  - ! Você está aqui. – Arrastou sua mala de rodinhas até perto da mesa livre e deixou ali a embalagem de Starbucks para viagem que carregava. – Não é bom que tenham atendido o meu pedido de nos deixar juntas?
  - Você ped-... Claro, é muito bom, sim! – Apesar de nosso passado obscuro e agora Brigitte estar forçando sua amizade pra cima de mim, creio que foi melhor termos ficado juntas do que se fosse largada com uma das meninas que nunca foram com a minha cara. – também vai nos fazer companhia hoje.
  - Adorável! – A loira sorriu e acenou com a ponta dos dedos. – Trouxe isso pra você, ... Desculpa, , mas não sabia que estaria aqui, então não tenho nada pra você.
  - Não tem problema. – Negou com a cabeça quando ganhei um copo da Starbucks, sussurrando para que só eu ouvisse as próximas palavras: - Deve estar envenenado mesmo...
  - É muita gentileza sua, Brie, obrigada. – Chutei que continuava um amor de pessoa como sempre. – Caramelo? É meu preferido. Como sabia?
  - Tenho meus contatos. – Piscou.
   Brie colocou a mala em cima da própria poltrona e dispôs a fazer o mesmo que eu fizera minutos antes de sua chegada; arrumar tudo. olhou no relógio e se levantou da cadeira em frente à penteadeira, sinalizando que eu deveria ir para o meu lugar. Chequei no celular o horário e estava perto das seis horas na noite. Algumas horas até o começo do Recital, mas ainda era menos tempo do que eu tinha antes.
  - O que quer que eu faça com o seu cabelo? – prendera o próprio e agora tocava meus fios úmidos de quem acaba de sair do banho.
  - Preciso que o deixe liso. Sei que prefere ondas, mas terei que prender de qualquer jeito, então não adiantaria muita coisa. – A informei, tirando o casaco. O camarim não chegava a estar quente ou frio, apenas termicamente confortável.
  - Mãos a obra, então. – Sorriu para o meu reflexo no espelho. podia ter seus momentos irritantes, mas era uma boa amiga. A melhor delas. Pegou o protetor térmico e o espalhou com cuidado pelos meus cabelos antes de ligar o secador silencioso na tomada.
  - Meninas, se importam se eu colocar alguma música pra tocar? – Brie questionou. – Me ajuda a relaxar.
  - Fique a vontade. – Afirmei, sentindo os puxões suaves em minha cabeça.
   Brigitte conectou seu celular à um aparelho de som portátil movido à pilha e o som de cliques mostrava que ela estava escolhendo a música que queria ouvir. Esperava que fosse colocar alguma música clássica ou coisa do tipo e não podia estar mais errada. They Don’t Know About Us começou a tocar e e eu trocamos olhares estranhos pelo espelho. Quero dizer, ela sabia que éramos amigas da banda que cantava aquela música, certo? O CD fora lançado a pouco tempo e Brigitte já sabia cantar aquela música.
  - They don’t know about the things we do. They don’t know about the “I love you"s. But I bet you if they only knew, they would just be jealous of us. – Cantarolou como se estiesse sozinha no quarto. – Essa é a minha música preferida desse novo album.
  - A minha também. – Admiti, olhando-a pelo espelho, que se virou com um sorriso compreensivo. They Don’t Know About Us tinha uma letra pessoal que falava com sinceridade tudo que Zayn e eu estávamos passando, tendo que esconder nosso relacionamento e etc. Além dos vocais do meu namorado estarem potencialmente perfeitos.
  - Vocês sabem qual dos meninos a escreveu? – Falou “meninos” da mesma forma que e eu falávamos, com intimidade.
  - Zayn e Harry. – escovava meu cabelo enquanto falava. – Ambos entendem do assunto.
  - Zayn principalmente, não? – A loira continuou pescando por informações. – É como se ele estivesse passando por algo assim na vida real... Escondendo coisas... Não acha, ?
  - Eu não teria como saber. – Tentei soar despreocupada, concentrando-me em tomar meu café.
  - É claro que não. – Nada convencida, Brigitte pegou a escova de cabelo para cuidar dos próprios. – E a história de Romeu e Julieta nuca termina.
   Ela desconfiava de alguma coisa, tenho certeza. apertou meus ombros para chamar a minha atenção e seu olhar era claro: “Não liga pra isso.” Assim o fiz. Os minutos se passavam e o recital se aproximava com a velocidade da luz. Logo tinha terminado minha bebida e o meu cabelo. Naturalmente, minhas mexas não eram lisas ou cacheadas. Uma mistura de ondas e círculos nas pontas. Entretanto, pela quantidade de química que aplicara nos últimos dias, ele precisava ser modelado para ficar de um jeito ou de outro. Nunca fui expert em cabelos, mas tinha uma madrasta formada no assunto e uma melhor amiga com paixão para a coisa.
   “TOC TOC TOC”, fez o barulho na porta. acabava de jogar meu copo vazio na lixeira única do camarim e era a pessoa mais próxima da porta, portanto, a abriu. A professora Bartira entrou e trouxe consigo um carrinho parecido com os de supermercado; ao invés de compras, comportava buquês de flores variadas que perfumaram o cômodo em segundos.
  - Oi, professora. – Virei a cadeira na direção da outra.
  - As flores começaram a chegar! – Brigitte bateu palminhas e correu para ler os destinatários nos cartões. Ficou decepcionada ao não achar o que procurava. – Todas... Todas são pra você, .
  - Fala sério? – Havia pelo menos cinco buquês por ali e me espantei por serem destinados a mim.
  - Pode conferir. São pra você! – já retirava o primeiro do carrinho, me entregando para ler o cartão.
   O arranjo era uma mistura de rosas cor-de-rosa e orquídeas brancas embaladas em um papel manteiga lilás. O cartão com detalhes em dourado abria ao meio e dizia com as letras quase ilegíveis de médico: “Não podíamos estar mais orgulhosos de você. Contando os minutos pra lhe ver dançar. Love, Dad, Rach e Lux.” Aquelas poucas palavras queriam dizer muito pra mim. Depois de crescer sem o meu pai na platéia em minhas apresentações, saber que ele estaria naquela adicionava ao nervosismo.
   continuou me passando as flores e deixando-as de lado na medida em que eu lia os cartões. O segundo buquê viera de Niall, peônias azuis, com o cartão: “Have a good craic, . -Horan” Simples, mas me fez rir. Só de ter se importando em mandar aquelas flores já significava demais. O terceiro era de Louis e com certeza tinha as flores mais escandalosas. Todas eram de cores e tipos diferentes, mas o resultado ficou lindo. “Você sempre esteve lá pra me dar apoio, hoje é a minha vez. Love you, little sis. – Boo Bear.” O quarto Buquê veio de Carine. Soube disso antes mesmo de ler o cartão, pois o arranjo era o mais sofisticado; anêmonas brancas de miolo preto: “Sonhos são apenas sonhos até que se dê o primeiro passo para torná-lo realidade. Je crois em toi. Carine R.”
   O quarto e penúltimo buquê eram Copos-de-leite brancos e a única coisa mantendo-os juntos era uma fita preta com o logo da Chanel na ponta. fez uma cara estranha, mas eu entendia o que aquilo significava. Não acreditava, mas entendia. O cartão dizia: “Permaneça fabulosa, de salto ou sapatilha. – Karl L.” Quando estive em NY no mês anterior, falei sobre esse recital e Karl disse que gostaria de ir. Entreguei o seu convite para Carine junto ao dela, mais por educação do que por achar que um dos dois abriria espaço em suas agendas lotadas para vir me assistir. Pelo visto viriam.
   O último buquê era feito de rosas vermelhas em um papel verde e o seu cheiro conseguia ser mais forte que dos outros. O cartão veio dentro de um envelope sem assinatura o abri com pressa. “Você é toda razão, toda esperança, e todo sonho que eu já tive. E não importa o que aconteça conosco no futuro, todos os dias que estamos juntos é o melhor dia da minha vida. – Seu Baba.” Sentei na cadeira mais uma vez, com as flores em meu colo e cartão na mão. Liam mandara as flores e fizera questão de colocar uma citação do filme Diário de Uma Paixão, que sabia ser o meu preferido. pegou o cartão pra ler e em seguida me olhou:
  - Você sabe que está encrencada, não sabe?

     
+++
  

  Pessoas passavam por mim indo e vindo, com sorrisos no rosto ou prestes a vomitar. Cada um tinha o seu jeito de lidar com a pressão e o nervosismo e eu conseguiria cortar com uma faca a tensão do understage. Eram oito e meia da noite e a maioria dos alunos já tinha se apresentado, deixando apenas os últimos quatro solos para o final; e eu estava incluída nisso, pois seria a última. Todos os meus convidados chegaram cedo e conseguiram bons lugares na segunda fila. A primeira estava reservada apenas para os professores e pessoas mais importantes que deveriam assistir tudo de perto.
   Eu já estava vestida dos pés à cabeça e com a maquiagem suave no rosto. fez um bom trabalho ao cuidar de meu cabelo, pois consegui prendê-lo sem a ajuda de tanto gel ou grampos quanto esperava e a coroa dourada completava o penteado. Me sentia linda, isso era verdade. O vestido de Emma excedeu expectativas e todos que passavam por mim o elogiavam. Meu nervosismo retornou assim que o efeito de Zayn foi embora e nem ao menos podia ligar pra ele e escutar a sua voz, pois, no início do recital, todos os celulares foram obrigatoriamente desligados. Só iria receber a ligação da pessoa que deveria ter entrado em contato comigo vinte minutos atrás, mas Serguei não dava sinais de vida.
  - , seu celular está piscando... – Bartira estava próxima a escada que levaria ao andar de cima, diretamente no backstage.
  - Oh, obrigada! – Me afastei até a porta do meu camarim, mas não cheguei a entrar. – Serguei! Onde você estava? Eu estou ficando louca aqui...
  - Respira, inspira, não pira. – Citou algo que Colin repetia sempre. – Estou aqui na sala de luzes, não se preocupe. Tudo vai dar certo. Estou com o controle na mão e meu amigo aqui já deixou que eu cuidasse dos efeitos quando for a sua vez.
  - Graças a Deus! – Apoiei as costas na porta, sentindo o peso de um tijolo sendo retirado de meu peito. – Vai ser tudo como combinamos, não é?
  - Melhor. – Senti animação no timbre de sua voz e olhei em volta. Mais por mania do que por outra coisa. – Encontrei o vídeo perfeito para as suas luzes.
  - Mesmo?! – Quis gritar e repreendi essa vontade.
  - Na verdade, um amigo meu trabalha com computação gráfica, então foi bem fácil...
  - Obrigada. – Sussurrei, sincera. – Uhn, Serguei... Por que você está fazendo isso tudo por mim? Quero dizer, eu sei que te pedi um favor... Mas já fez até demais.
  - Estou te ajudando porque já estive no seu lugar e gostaria que tivessem me ajudado também.
  - Nunca vou esquecer isso. – O motivo dele era o suficiente pra mim.
  - Pare antes que eu comece a chorar! – Imitou um tom choroso e apenas ri. – Quebre a perna. I got your back.
   Desliguei o celular e corri para dentro do camarim onde Brigitte já trocava o figurino pelo vestido do coquetel e trocava a maquiagem por algo mais natural do que olhos e boca preta. Não cheguei a assistir sua apresentação, mas – segundo ela mesma – foi sensacional. Não tinha a intenção de passar muito tempo ali dentro, apenas entrei para guardar meu celular e dar um gole em minha garrafa de água que permanecia gelada. Me olhei no espelho, conferindo se tudo estava no lugar e Brie me chamou.
  - , o que acha melhor, solto ou preso? – Erguia e abaixava o cabelo ao se olhar no espelho.
  - Gosto do seu cabelo preso de lado. Ele tem um bom volume. – Sorri e toquei a barriga. Sentia aquele frio na boca do estômago que chegava a ser gostoso.
  - Obrigada!
  - , você tem que subir. – A professora Bartira entrou no camarim com certa pressa, o que me desesperou.
  - Estou atrasada? Está na hora? – Corri atrás dela, que guiou o caminho.
  - Você tem tempo! Mas tem uma pessoa que está aqui para vê-la. – Apontou para a escada, indicando que eu deveria subir sem ela.
   “Se Zayn entrou aqui, eu estarei morta!” Corri escada acima, com cuidado para não prender a sapatilha nos vãos largos de degraus curtos. No andar de cima devia se fazer mais silencio ainda, pois há poucos metros uma menina se apresentava ao som de Beethoven. Outros alunos que quisessem assistir das coxias tinham permissão, contanto que permanecessem calados e não atrapalhassem a entrada ou saída de ninguém. Esfreguei uma mão à outra por conta do frio. Ou talvez fosse eu. Procurei qualquer rosto conhecido que pudesse ser a pessoa que queria me ver não pude acreditar quando a encontrei.
  - Holly! – Exclamei e corri em sua direção.
  - Aqui está você! – A melhor professora do mundo aceitou o meu abraço e me apertou contra si com força. Uma onda de segurança tomou conta de mim na mesma hora. – Parece tão diferente! E continua a mesma, ao mesmo tempo.
  - O que você está fazendo aqui?! – Não a via há um bom tempo e a última noticia que recebi era que ela estava na Rússia. – Nick veio também?
  - Ele não pode vir, infelizmente. Está doente e não pode viajar de avião... Mas não é nada sério! A Rússia só é exigente demais. – Holly estava com o cabelo mais curto, quase na nuca. E mais linda do que nunca! Era tão bom vê-la que nem conseguia me expressar. – Vim acompanhar o meu diretor e não podia deixar de vir lhe dar um abraço antes da sua vez.
  - Isso é incrível. Uau... – Sorte seria se eu não começasse a chorar ali mesmo. – Holl, o que é isso no seu dedo?!
  - Oh, essa pedrinha? – Ergueu a mão esquerda, mostrando o anel cintilante. – Pois é, tenho novidades...
  - Vocês estão noivos?! – A abracei novamente. – Parabéns! Já tem a data? O vestido? Onde está o meu convite?
  - Ainda não temos a data, mas é claro que você será uma convidada de honra.
   Tinha tantas perguntas a fazer, tantas coisas pra contar que me desesperei por saber que não daria tempo. Clarisse, a garota que acara de dançar e receber seus aplausos, saiu do palco quando a cortina foi fechada. “Oh, shit! Sou a próxima.” A diretora Agnes já sabia de alguns dos meus pedidos para a apresentação, portanto não perdeu tempo e pediu a dois meninos que estavam de bobeira para ajudar a funcionária contratada para este tipo de serviço. Vendo meu rosto perder a cor gradualmente, Holly desvendou que eu precisava me preparar.
   Como uma boa amiga faria, me acompanhou até o palco com silêncio, onde duas pessoas faziam uma fileira de velas brancas na borda do palco, de uma ponta à outra e um menino as acendia com cuidado para não tocar na cortina fechada e incendiar o lugar todo de vez. A ajudante confirmou que estaria me esperando na terceira coxia quando eu precisasse dela.
  - ! – Ed Sheeran correu até onde eu estava no palco, me dando um último abraço. Aquela fora uma das poucas vezes que o vira usando paletó e gravata e penteara os cabelos. – Somos os próximos, certo?
  - Positivo. Está nervoso? – Ele tinha o violão nas costas e suas feições despreocupadas.
  - Eu é que devia lhe perguntar isso, não?
  - Tudo pronto. Quando quiserem... – Agnes usou o seu tom de “se começarem agora, agradecerei” e entendemos o recado.
  - Quebre a perna! – Desejamos um ao outro ao mesmo tempo.
   O palco foi liberado e ocupei a minha posição em seu centro. Ed foi para a primeira coxia do lado direito, empunhou o violão e passou pela extremidade da cortina, onde havia uma escada. Os próximos segundos passaram em câmera lenta e senti que iria vomitar. Tudo girou e meus joelhos fraquejaram. “Você só precisa respirar, .” Era a voz de meu avô falando em minha mente. Obedeci o seu pedido, puxando o ar e enchendo o peito. O sangue voltou a correr em minhas veias e o coração a bater controlado.
  - Para encerrar a noite... – Uma voz masculina e desconhecida soou de trás das cortinas. – Tomlinson.
   Várias palmas foram ouvidas e respirei fundo mais uma vez. Deixei os braços suavemente descansando ao meu lado e os pés posicionados em oitava. A cabeça erguida e postura perfeita. As cortinas puderam ser finalmente abertas e Ed começou a dedilhar o seu violão e a cantar. Sempre gostei daquela música por causa de seu peso emocional. Era impossível escutá-la e não sentir arrepios. Escolhi o violão como único instrumento porque queria dar um toque íntimo, simples e trazer todos da platéia para o palco comigo. O telão atrás de mim era totalmente preto como uma noite escura e um único holofote apontava para mim.
   Não consegui distinguir nenhum rosto na platéia, tampouco precisava. Minha dança teve início suavemente como o som do violão. Dei um passo para frente e o braço oposto á perna estendida, subia e descia como se estivesse dentro d’água, suavemente. O próximo passo também foi dado e desta vez subi na ponta do pé e estiquei a outra perna para trás. Uma força tomou conta do meu corpo e comandou todos os meus movimentos. Fui de um lado para o outro da frente do palco com giros suaves e, quando parei, me curvei para trás e com os braços abertos e flexionados. Atrás de mim, no mesmo telão preto, uma pequena luz surgiu e subiu docemente, se aproximando cada vez mais até que as formas de uma Lanterna-Voadora pudesse ser discernida. Ela continuou seu trajeto amarelado até sumir no topo do telão.
   Em diagonal para o fundo do palco dancei com graça, ora descendo da ponta e ora subindo. Ao chegar lá, porém, a força que me guiava foi embora. Parei por uns segundos e tomei a direção contrária. Precisava encontrá-la novamente. Uma pequena neblina de gelo seco formou-se onde eu estava, cobrindo um pedaço do chão. Como se aquilo fosse veneno, corri até o outro lado. No meio da corrida, saltei para o ar, jogando a perna direita para cima e para frente. A esquerda foi em seguida e a física fez com que meu corpo inteiro girasse em um círculo de 360º onde – na metade do giro – estendi ambas as pernas para direções contrárias, abrindo uma escala no ar.
   Pousei com os joelhos flexionados para amortecer a queda e os braços se fecharam em volta de mim, formando um escudo protetor. Ergui-os até o topo da minha cabeça e endireitei o tronco anteriormente curvado. Cada vez mais luzes passavam pelo telão, uma de cada vez, todas sumindo ao chegar ao topo. Com o esforço apenas dos pés, voltei para a ponta e em passos curtos, porém rápidos, andei para trás, encontrando meu ponto inicial. Usando a ponta esquerda como apoio, retirei a direita do chão, erguendo-a ao meu lado. Senti os músculos arderem, tamanho era o esforço que aqueles movimentos exigiam. Já em uma posição de noventa graus, não parei por aí e levantei a perna um pouco mais. E continuei levantando até o máximo que me era humanamente possível. Investi o corpo para frente, com um braço apontando na mesma direção, e girei em uma pirueta que terminou com as duas pernas novamente uma ao lado da outra.
   Com os braços formando uma oval acima da minha cabeça, dobrei o joelho e imitei o número ‘4’. Nesta posição girei em piruetas precisas, cada vez mais rápido. Máquinas de fumaça agora mandavam neblina de todos os lados. Parei de girar quando estava prestes a ser engolida por este nevoeiro. Precisava fugir para qualquer lugar. Olhei em volta, correndo para a primeira coxia. Fiz o mesmo caminho ao contrário quando mais gelo seco foi acionado. Tentei o outro lado, a mesma coisa aconteceu. Dessa vez, na terceira coxia, demorei mais um pouco enquanto, longe dos olhos do público, Holly e a ajudante de Agnes prendiam ganchos à minha roupa.
   Voltei para o palco em três segundos e Ed começava o seu coro de “Hallelujah”. Todo o chão era agora dominado por essa neblina e não me restava outra opção a não ser escapar. Olhei para um lado e para o outro, terminando por encarar o público à minha frente. Comecei a correr e, na borda do palco, onde estavam as velas, saltei sem medo. Diversas exclamações de susto e quase horror vieram da platéia durante a minha queda. Foi então que uma nova força presa às laterais do meu quadril me ergueu, impedindo que eu mergulhasse contra os espectadores.
   Fui puxada de volta para o palco, mas dessa vez estava voando graças aos cabos presos ao cinto de segurança que usava por baixo da roupa com pequenas aberturas de cada lado. Alguns gritos e até palmas juntaram-se à música e voz de Ed, mas se interromperam logo. Como eu estava no alto, a paisagem mostrada no telão também mudou. Todas as luzes que subiram no começo da música agora estavam ali em cima. Era um verdadeiro universo de estrelas, todas flutuando com tanta perfeição que realmente me senti dentro de outro mundo. Numa experiência tridimensional.
   Controlando melhor aquele mecanismo que na semana anterior, deslizei de um lado para o outro em giros e saltos nas nuvens. Rodopiei para trás, batendo os braços como asas, e dei cambalhotas. Ainda que estivesse me divertindo e valsando pelos ares, a música chegava ao fim. Me preparei para descer e Serguei, que me assistia do estúdio, fez sinal atrás do vidro. Ganhei a mesma posição que tinha quando a música começou até meus pés voltarem a tocar o chão. A fumaça estava mais baixa e fina, o que me permitiu despencar devagar e sentar sobre os pés, com os joelhos dobrados, e apoiar as mãos na minha frente. Tinha a cabeça e tronco curvados para frente. Contei até três e joguei o corpo para trás no instante em que a música terminou e uma catarata de faíscas caiu do teto acima de mim.
   Pensei que ficaria surda, tamanho foi o barulho que as palmas que recebi fizeram. Saí do personagem que criara, sorrindo com a recepção calorosa que a minha apresentação recebera. “É isso aí, nós conseguimos!” Uma emoção incontrolável apoderou-se de meu peito e soltei-me dos cabos. Segundos se passaram permaneci como o centro das atenções. As cortinas não se fecharam e andei até a frente do palco, reverenciando e agradecendo àquele carinho. Todos estavam de pé, desde a primeira fileira até a última. Lágrimas já caiam de meus olhos por orgulho próprio, o saber que fizera um bom trabalho.
   Avistei meu pai na platéia, gritando coisas irreconhecíveis. Lux no braço da mãe, encantada. Louis limpando lágrimas iguais as minhas, Harry, Niall, Liam, , Zayn... Todos ali. Um pouco mais atrás, Lexy, Carine e Karl acenavam. Ed, ao lado do palco, aproveitava os aplausos tanto quanto eu, mas também aplaudia. Em uma última reverência, fui escondida quando as cortinas finalmente foram fechadas.
   Levei as mãos ao rosto, sem acreditar no que acabara de acontecer. Me sentia feliz, sabia que tinha sido perfeita. Vários braços me envolveram e ergui a cabeça para ver meus colegas de turma me parabenizando sem poupar elogios. Ficava difícil até pra entender quem falava o que, mas percebi que todos assistiram das coxias.
  - Por que ela está chorando? – Brigitte perguntou no fundo do círculo que se formara ao meu redor.
  - Por que ela sabe que fez bem. – Holly atravessou os ex-alunos e me abraçou propriamente. – Em toda a minha vida, nunca me senti mais orgulhosa de uma aluna.

  

+++

  

  Ser a última a me apresentar tinha o lado bom e o lado ruim. O bom é que pude fechar o espetáculo com chave de ouro, uma vez que não falhei miseravelmente ou caí no palco. Já o lado ruim é que fui a última a ficar pronta para o coquetel. Quando todos já deviam estar conversando com os diretores convidados, eu me encontrava nas catacumbas, mudando a maquiagem, roupa e até cabelo. Além das jóias em meu pulso, orelha e dedos, coloquei em volta do pescoço a corrente de ouro que ganhara de Zayn no primeiro dia de aula. O resto de minhas coisas já estava bem arrumado em um canto do camarim e só voltaria ali embaixo quando fosse levar tudo para o carro. Havia flores demais para me aventurar agora, ainda mais sozinha.
   Uma suave batida na porta que eu trancara previamente me fez levantar e guardar o batom vermelho que terminava de retocar na bolsa de mão que levaria lá pra cima. Atravessei o camarim e girei a chave, encontrando Zayn parado à soleira. Lindo como sempre, vestia um blazer preto aveludado e camisa social na mesma cor. Seu cabelo estava alto e os lábios rosados como se o estivesse mordendo antes que eu abrisse a porta. Tirou a mão que escondia nas costas e revelou o buquê de tulipas vermelhas, minha flor preferida.
  - Hi there. – Tinha o sorriso impecável no rosto.
  - Hi, you. – Recebi as flores, aproximando-as do rosto para sentir seu perfume. É claro que Zayn não as mandaria por outra pessoa, tinha me entregar pessoalmente. – Obrigada, baby, são lindas.
  - Você é mais. – Avançou para frente, me tomando em seus braços. – Você foi maravilhosa lá em cima. Não consegui tirar os olhos de você... Acho que ninguém conseguiu. E quando você pulou... WOW! Pode perguntar ao seu pai, quase levantei pra tentar te segurar. Podia ter me avisado que ia fazer aquilo, sabe?! E Lux gritou!
  - Desculpa! – Gargalhei com o primeiro feedback que recebia de alguém que estivera na platéia. – Se eu contasse não teria graça, não concorda?
  - Se eu tivesse problema no coração, você ficaria sem namorado. – Riu também, beijando a minha testa. – Mas entendo porque fez isso. Sempre fazendo coisas inesperadas... Essa é você.
  - Considerarei isso como um elogio. – Me afastei para colocar as novas flores junto as outras. – Aliás, viu a sua ex-namorada?
  - Brigitte? Vi... Ela me trouxe até aqui. – Adentrou o camarim, olhos vidrados na quantidade de flores que eu recebera além das suas. – Disse que ficou muito feliz quando descobriu que ainda estamos juntos. Não sabia que tinha contado a ela...
  - Porque eu não contei. – Brigitte era mais esperta do que a dávamos crédito. Desde que falou sobre They Don’t Know About Us tentava conseguir mais informações e foi jogando verde com Zayn que teve tudo que queria. – Pelo menos ela não tentou cortar meus cabos essa noite.
  - Ela não faria isso... Okay, faria sim. – Aquele assunto não era motivo de piada, mas acho que nós dois tínhamos que lidar com tantas coisas diariamente que Brigitte e seus esforços para nos separar não chegavam a ser grande ameaça.
  - Interrompo? – Um loiro agitado e ofegante aparentava ter corrido até ali, mas parou ao ver que eu não estava sozinha.
  - VOCÊ! – Exclamei e saltitei na ponta dos saltos até abraçá-lo com força. Seguei merecia metade do crédito de minha apresentação, pois sem ele nada seria possível. Me ensinou a controlar o mecanismo de levitação, tomou conta do controle remoto que o erguia e abaixava, instalou as máquinas de fumaça, conseguiu o vídeo com as luzes e muitas outras coisas. – Obrigada por tudo.
  - Não vim aqui pra ser agradecido! Você é quem merece os elogios essa noite, . Nunca a vi dançar daquele jeito, nem nos ensaios. – Serguei ignorou Zayn e suas caretas, sorrindo pra mim de uma forma que nunca pensei que pudesse sorrir.
  - Ela é maravilhosa mesmo. – Em tom rude, Zayn passou o braço por meus ombros em um abraço protetor e me afastou do outro quase me fazendo tropeçar. – É de você que nunca ouvi falar.
  - Zayn. – O repreendi. Em resposta, nem olhou pra mim; era como se eu tivesse ficado calada.
  - Também nunca ouvi falar de você. – Serguei cruzou os braços, se divertindo as custas dele. – Como é mesmo seu nome? Zayn?
  - Oh, dear. – Suspirei. Aquilo não acabaria bem. Zayn enrijeceu ao meu lado, tenso pelo ciúme. – Zayn, esse é Serguei. Vamos dançar juntos em O Quebra Nozes e ele me ajudou com a apresentação de hoje. Serguei, esse é meu namorado. Já te falei dele.
  - Tenho certeza que não falou nada sobre ter um namorado. – Provocou. Tudo era uma brincadeira pra ele. – De qualquer forma... Vim te chamar pra subir. Está na hora do show.
  - Vai dançar de novo? – Ainda incerto se devia se preocupar ou deixar aquilo passar, Zayn enlaçou a mão na minha.
  - Não... Dessa vez é outro tipo de show. – Indiquei a porta e me mantive entre os dois meninos para sairmos dali. – Tenho que falar com os diretores. Conversar, responder perguntas, mostrar que também entendo do assunto na teoria. A parte mais fácil já passou, acredite.
  - É agora que ela precisa ganhar todos com seu charme. – Serguei sorriu torto. – O que não vai ser algo muito difícil.
   Serguei nunca agira daquela forma, geralmente era cínico e arrogante. Agora, porém, fizera de seu hobby irritar Zayn. Zayn, por sua vez, se comportava como um verdadeiro cavalheiro. Eu via que estava se moendo por dentro, mas ele sabia que eu não precisava dos seus ciúmes para me deixar ainda mais nervosa ou adicionar suas reclamações à minha pilha de preocupações. Subimos todos juntos até o auditório que já estava vazio. As velas que utilizei na apresentação ainda estavam no palco, apagadas, é claro.
   O coquetel estava arrumado nos corredores do primeiro andar. Onde antes ficavam sofás de convivência, estavam mesas com comes, bebes e um castelo de taças de champanhe borbulhante. A paredes com quadros de antigos alunos – o que incluía um retrato de Serguei – estavam extra iluminadas para chamar a atenção e emanar prestígio. Arranjos altos de flores e um tapete vermelho cobria o chão. Mal parecia a academia onde eu estudava diariamente.
   Em um canto mais afastado o grupinho formado por grandes nomes do Ballet e professores conversavam em sua reunião que ninguém se atrevia a interromper. Huh, não estava tão atrasada quanto pensava! Os alunos conversavam com suas famílias e tratei de procurar a minha. Seguei encontrou um amigo pelo meio do caminho e me deixou sozinha com Zayn, que finalmente relaxou e abaixou a guarda. Fizemos um caminho diferente do que eu pretendia seguir e me deixei levar ao ver todos os meus amigos e familiares que conversavam entre si. O primeiro a me ver foi meu pai.
  - Aí está a princesa! – O abracei com tanta força que pensei que iria começar a chorar novamente. – Você dançou lindamente, filha. Foi a melhor de todos!
  - Dad, não era uma competição... – Lutei contra a emoção e sorri agradecida.
  - Não uma muito justa, pelo menos. – Rachel brincou, me puxando para deixar um beijo em minha bochecha. – Seu pai está certo, sabe disso.
  - Viu, Lux? Eu disse que ela estava bem... – Harry carregava a minha irmã, ambos sorrindo.
  - É verdade, Lux ficou assustada quando você começou a voar. – Sua mãe riu e meu coração apertou. O que menos desejava era assustar a pequena que não fazia idéia do que estava acontecendo.
  - Desculpa, baby girl! – A abracei ainda nos braços do menino. – Eu só estava voando... Foi bonito, não foi?
  - Posso voar também? – Aceitou meus beijos e apertos em sua bochecha com um olhar curioso.
  - Eu te ensino, okay? – Recebi um abraço da minha irmã mais nova e Harry entrou no meio. – Você também, Haz.
  - Não sei, parece meio perigoso... Deixo essa parte pra você. – Sorriu como congratulação e antes que eu pudesse reclamar, Niall e vieram em seguida.
  - Me ensina também? – Niall se atirou em cima de mim sem nenhuma calma.
  - Alguém achou o champanhe... – Gargalhei quando ele e me apertavam em um sanduíche estranho. – Dois alguém.
  - Quer que eu pegue uma taça pra você, pumpkin? – beijou a minha bochecha e tenho certeza que a marcou com seu batom rosa.
  - Acho que vou ficar sóbria essa note. – Neguei com a cabeça, me soltando do casal do ano.
  - Escolha sábia, visto que você sobe na mesa e começa a dançar quando fica bêbada. – Atraindo olhares espantados de nosso pai, Lou me puxou pelos ombros e me prendeu no que deveria ser um abraço de irmão mais velho. – Perfeita como sempre, irmãzinha. , Rach e Harry estavam chorando no final da sua apresentação.
  - Não vou nem negar. – Harry riu ao longe, dançando com Lux ao som do jazz que emanava das caixas de som.
  - Posso ter chorado um pouco também. – Liam estava atrás de mim e pulei em seus ombros quando o vi. Ele apertou a minha cintura e me erguei do chão, enterrando o rosto em meus cabelos. – Você foi genuinamente magnífica.
  - Obrigada, Baba. E obrigada pelas flores também. – Voltei para o chão e o sorriso de Li irradiava o corredor inteiro. – Estou tão feliz! E pensar que quase fiquei doente de preocupação...
  - Por que é boba. Sempre te dissemos que você conseguiria. – Zayn se aproximou quando a multidão de amigos que vieram me parabenizar diminuiu. – Você merece muito mais.
  - Eu amo vocês! – Queria dizer aquilo a todos, mas Liam e Zayn eram os únicos que conseguiriam me escutar. Beijei cada um na bochecha, marcando-os de vermelho.
  - Que trio mais lindo. – Carine usava um tubinho preto que acentuava sua forma esguia. Atrás dela vinham Karl Lagerfeld e Alexia, igualmente elegantes. – Querida, você estava brilhante.
  - Obrigada, Car... E muito obrigada por terem vindo, foi uma honra dançar para uma platéia tão ilustre. – Troquei beijinhos no ar com cada um.
  - Eu é que agradeço pelo convite, mon cher. – Karl se pronunciou. Era noite, mas ainda assim ele não se livrava dos óculos escuros ou luvas. – Simplesmente inspiradora... Falo sério. Desenhei uma nova coleção em minha mente enquanto a assistia.
  - Não esqueça de me mostrar quando passar esses desenhos para o papel. – Já podia ver, no próximo desfile da Chanel em Paris, as modelos sendo obrigadas a desfilar na sapatilha de ponta.
  - Nunca imaginei que você fosse tão boa. – Lexy bateu palmas quietas. – Já a vi na passarela e em frente ás câmeras, não pensei que alguém pudesse ser tão boa em coisas tão diferentes.
  - Bondade sua, Lex.
  - Olá, olá... – Holly nos interrompeu e me abraçou de lado, desculpando-se por interromper. – Preciso roubá-la por uns instantes, se me dão licença.
   Acenei educadamente para os três e também para os outros meninos que esperavam que me juntasse a eles. A noite começou agitada e pelo visto continuaria assim. Sabia que Holly queria me apresentar ao seu diretor, não era segredo pra ninguém. Olhando em volta, a bolha de pessoas importantes se desfizera e não podia dizer quanto tempo perdera. Passamos por Brigitte, que ria com uma taça de champanhe na mão, tocando o braço insinuante de Gábor Keveházi, diretor artístico da Hungarian National Ballet.
  - , este é Yuri Grigorovich. Diretor da companhia Bolshoi. – A mulher me empurrou levemente como quem fala “vá em frente”. O homem era careca no topo da cabeça e um cabelo ralo crescia na parte de trás. – Yuri, Tomlinson.
  - Encantado em conhecê-la, . – Yuri falava inglês, mas seu forte sotaque russo o tornava difícil de entender. – Ouvi muito bem ao seu respeito.
  - Tenho certeza que Holly exagerou em algumas coisas. – Sorri simpática, tendo a minha mão direita beijada cordialmente.
  - Não era dela que eu estava falando. – Olhou por cima do ombro significativo, onde Agnes e o professor Hofstheder conversavam. – Com que idade começou a dançar? Se não se importa que pergunte.
  - É claro que não, fico feliz em responder. – Lembrei do Serguei falara sobre charme joguei os cabelos para o lado. Bem mais sutil que Brie, vamos concordar. – Queria falar aquele velho “comecei a dançar antes mesmo de aprender a andar”, como tenho certeza que vai escutar muitas vezes essa noite. Entrei em uma escola de ballet em Paris, minha cidade natal, quando completei três anos. A idade mínima era quatro anos, mas consegui convencer a diretora na época a me deixar fazer um teste para entrar na equipe.
  - E crianças tão novas precisavam fazer testes para entrar nessa escola? – Yuri estava legitimamente interessado.
  - Aí é que está... Não precisavam. Apenas quando vinham de fora e queriam entrar em níveis mais avançados. Ainda assim, fui a primeira pessoa com menos de quatro anos a fazer o teste. – Tentando não soar metida e ainda conseguir impressioná-lo, contei a minha história. – Imagine, uma criança de três anos de idade dançando na frente de uma banca de jurados... Não sabia o que estava fazendo, mas consegui encantar alguns corações.
  - sempre foi a minha melhor aluna. – Holly estava disposta a advogar em meu favor. – Não era apenas a bailarina com mais técnica e disciplina, mas a mais dedicada. Quando encontrava dificuldades, se prendia até conseguir superar.
  - Sempre quero ser melhor. – Olhei para ela e em seguida para o homem que me avaliava. – Não melhor que os outros, pois acredito em trabalho em equipe, mas melhor do que eu mesma. Tenho essa fome por mais... Por querer me superar. Hoje estou feliz com a minha apresentação, mas amanhã já começarei a pensar no que mais poderia ter feito.   - Você deve sim ficar feliz pela apresentação dessa noite. Foi realmente impressionante. – Sorriu e beijou a minha mão mais uma vez. – Com licença... Holly, me acompanha?
  - Te ligo mais tarde... – A mulher sussurrou em meu ouvido ao se aproximar para beijar meu rosto. – E Peter, da New York City Ballet, não tira os olhos de você. Vá se apresentar!
  - Okay!
   A assisti se afastar e virei de costas para a direção que ela seguiu com Yuri. “Peter, Peter...” Procurei o homem com os olhos e o encontrei sozinho próximo à janela. Ele estava mesmo me observando e ergueu a taça como se pedisse para me aproximar. Peter Martins, um dinamarquês que agora comandava a NYC Ballet. Conhecido pela carreira como bailarino e agora como coreógrafo, arrancava suspiros de muitas de suas dançarinas pelo charme e cabelos loiros contrastando com os olhos claros por trás de óculos de grau. Fiz meu caminho até ele. “Um já foi... Mais nove pra ir.”

    

Chapter LXII

- Max, estique esses tendões. – Bartira comandava nosso aquecimento antes de começar a aula. Ela andava pela sala, entre os alunos sentados no chão.
  Era segunda-feira e o clima na academia estava bem mais calmo; ao menos para os formandos de ballet clássico. O curso de música seria o próximo a ter seu recital e o de teatro seria o último. Eu tinha amigos em ambos os cursos, mas como nenhum deles estava no último semestre (nem de perto), e Ash estavam tranqüilos. Eu me encontrava no meu canto de sempre, afastada de todos, mas mais próxima de Brigitte. Tinha as pernas estendidas e flexionadas na minha frente. Abaixava até tocar os joelhos com o nariz e voltava para a posição inicial.
  - Agora vamos ao que interessa! Sobre o recital... Todos estão de parabéns. Cada um, sem exceção, deu um verdadeiro show. Me senti a professora mais orgulhosa do mundo, sentada na plateia e assistindo o resultado de ensaios, aulas e dedicação. – Era o primeiro semestre da professora conosco, mas ela falava aquilo com sinceridade. – Espero poder assisti-los novamente em palcos ainda maiores, quando estiverem dançando em companhias novas. Uma salva de palmas pra vocês! Vamos lá, façam barulho!
  - Woooooow! – David gritou e puxou a salva de palmas para nós mesmos.
  - O recital passou, mas o ano não acabou e não pensem que vou facilitar para o lado de vocês. – A professora riu maleficamente. – Agora quero dedicação total ao espetáculo. Todos aqui têm papeis grandes e vamos mostrar ao que viemos. Sem mais delongas, levantem e começaremos a aula. Chop chop.
  - Chop chop? – Clarisse estava de ótimo humor aquela manhã e riu como se escutasse uma piada.
  Fui uma das primeiras a levantar por ter terminado a sessão de alongamento e arrumei as polainas em minhas canelas, puxando-as até pouco abaixo do calcanhar. A manhã Londrina estava fria – pra variar -, portanto optei por um uniforme que aquecesse mais os meus músculos que simples collant e meia calça. Sem saber o que a professora preparara para a nossa aula daquela manhã, todos os alunos começaram a se espalhar pela sala em filas intercaladas. Grupinhos de amigas conversavam sobre novidades do final de semana e meninos comentavam sobre o último vídeo game lançado.
  - Quase esqueci! ... ? – Bartira repetiu o meu nome duas vezes e a olhei assustada. Estava tão distraída que não ouvi nada além da música instrumental que saía do aparelho de som. – Poderia repetir aquele Developpé maravilhoso de sua apresentação, por favor? Eu gostaria de fazer algumas observações.
  - Uh... Claro. – Por que não? Meus colegas se afastaram, dando espaço para que fosse ao meio da sala e formaram um semicírculo. Subi na ponta esquerda e, com calma, ergui a perna direita até tê-la em uma boa altura e com os músculos tensionados para não cair.
  - É isso que muitos de vocês precisam dominar, compreendem? – Tocou a minha cintura e pressionou meu abdômen. – Só de olhar dá pra ver a força que ela faz aqui. Max, já se olhou no espelho? Você tem tanquinho e pode usá-lo para conseguir isso e não só garotas. Obrigada, .
  - Sempre que precisar. – Sorri, pousando a perna novamente ao chão. Max faria caretas para a professora por tas de suas costas. Contra a minha vontade, ri.
  - Estou vendo os dois pelo espelho, sabiam? - Bartira nos flagrou e senti as bochechas esquentarem. – Se são tão amiguinhos, por que não formam a primeira dupla de hoje?
  - Mas é a minha dupla! – David reclamou, o que seria a primeira vez.
  - Pensei que ela pudesse dançar comigo hoje... – Outro menino cujo nome eu não conseguia decorar entrou na briga.
  - Ela escolhe com quem vai dançar. O resto de vocês, se espalhem pela sala em duplas. – Bartira caminhou até seu ponto na frente do espelho. – Homem com homem, mulher com mulher, não importa.
  - Na verdade... – Interrompi antes mesmo que os meninos começassem a falar. Sempre era escolhida por último, quando era escolhida, e agora seria disputada? Era o fim do mundo ou o quê? – Como ninguém nunca quis ser meu par, chamei um amigo pra acompanhar a aula hoje. Se não houver problema...
  - Não vejo porque não. – Bartira alongava os pés e sorriu insinuante para os meninos que precisaram encarar suas antigas parceiras com reações furiosas. – Aprendam, meninos, se não dão valor agora, podem se arrepender depois.
   Piscou pra mim e me senti defendida. Assim como sua prima Holly faria, Bartira compreendia o quanto era difícil ser ignorada durante as aulas, sempre deixada por último ou para o final. Naquele dia, porém, dei o troco. Mesmo que sem ter a intenção. Corri até a porta da sala e coloquei a cabeça para fora. Serguei me esperava ali, sentado no chão com os joelhos dobrados. Acenei para que entrasse e dei espaço para ele passar. Todos conheciam Serguei por sua reputação e fama no mundo da dança, mas a única interação que tiveram com ele foi no dia em que fomos apresentados. Ainda assim, não houve oportunidade de conversa, o que fazia do garoto uma personalidade ilustre. O espanto foi maior ainda por me verem pareando com ele em algo tão natural quanto uma aula. Brigitte até respirou pesado quando nós dois passamos por ela para tomar meu espaço de sempre.
  - Meninas, parem de babar, ele é só um garoto. – A professora bateu o pé no chão, que causou um barulho extremo.
  - Gostei daquela loirinha. – Seguei prendia os cabelos médios em um rabo de cavalo, ficando mais parecido com Harry do que eu imaginava. Apontou para Brigitte discretamente.
  - Ela é bonita, eu acho. Se você gosta do tipo perseguidora e psicótica. – Dei de ombros, preferindo não entrar em detalhes e explicar que ela era a ex do meu atual namorado. Conhecendo-o o pouco que eu já conhecia, era fácil adivinhar que faria piadinhas sobre aquilo pelo resto da aula.
  - Meu tipo preferido. – Brincou.
  Ao menos esperava que ele estivesse brincando. Era só o que me faltava, ter que apresentar os dois e depois ter que ficar aguentando-a falando todos os dias de como ele era um sonho e em nossos ensaios particulares escutar Serguei comentando do que ela fazia ou deixava de fazer quando estavam a sós. Não, obrigada. Resolvi concentrar-me na aula e esquecer esse pesadelo antes que se tornasse realidade.
   Bartira começou a falar e em seu discurso disse o quanto era importante a sincronia entre parceiros. Quando se dança em dupla, o chamado Pas de Deux, a atenção tem que ser dividida igualmente. Um não pode brilhar mais que outro, senão seu objetivo seria perdido. Um bailarino dependia da sua bailarina e vice-versa. Para a perfeita execução, há a necessidade de sincronia, seja em um braço, uma perna ou um salto. Com a presença de Serguei na sala, um menino ficou sobrando e virou o ajudante da professora enquanto ela demonstrava alguns movimentos.
   Meu parceiro fez jus a seu perfil de bagunceiro, pois quase não prestava atenção no que a professora falava. Serguei estava achando que eu era a sua boneca de pano particular. Fui erguida e rodopiada tantas vezes que via a hora de ser expulsa da sala. Quando o momento foi dado e as duplas deviam treinar a sincronia de passos, Serguei falou uma sequência de movimentos, ficou ao meu lado e exclamou “já”. Nos embolamos antes de chegar ao terceiro, reprovando sua teoria relâmpago de aprendizagem.
  - Podemos ir com calma, por favor? – Finalmente era a minha vez de pedir calma depois de dias escutando “você precisa relaxar, .” Com um pé em frente ao outro sobre a ponta, apontei para o que estava fazendo e estendi a mão para o outro. – Me imite, acho que tive uma ideia.
  - Todas as boas ideias começam com “acho que tive uma ideia”. – Sarcástico até os ossos, puxou a mão que ofereci.
  Passei por baixo de seu braço quando rodopiei e senti seu joelho atrás dos meus, derrubando o meu tronco contra o chão. Fui impedida de cair, porém, quando seu braço estendido amparou as minhas costas e me obrigou a encará-lo. Terminei com o rosto a centímetros de distância do meu e a respiração ofegante.
  - O que o seu namorado diria agora? – Ergueu a sobrancelha, um sorriso maroto no canto do lábio.
  - Que você é maluco. – O obriguei a me reerguer e tirei seus braços de mim. – E que a professora vai te proibir de vir aqui.
  - Não sou aluno, então tecnicamente não posso ser proibido de fazer qualquer coisa. – Cruzou os braços como quem tem razão. – E já que estou aqui como convidado...
  - Okay, já entendi! Você é o senhor sabe tudo! – Rolei os olhos, decidindo que não iria dar corta para suas infantilidades. – Só podemos, por favor, tentar fazer o que está sendo pedido? Isso é importante pra mim.
  - Por que não falou isso antes?

  

+++

  Após a aula, Serguei me levou para almoçar em um restaurante perto da Academy, pois teríamos um encontro com Colin a tarde, então não faria sentido voltar pra casa e depois ter que sair de novo. E com “almoçar” quero dizer: “Serguei comeu como uma vaca enquanto eu assistia”. Via a hora em que ele cairia no chão com indigestão, mas aguentou nosso ensaio com cabeça erguida e sorriso exibido no rosto. Não que fosse uma má pessoa, seu gênio forte demais apenas batia contra o meu; que não o deixava se safar de situações em que estava acostumado a sair ganhando. O diretor se divertia sempre que começávamos a brigar como cão e gato e terminávamos no entendendo e resolvendo como adultos, qualquer que fosse o motivo da discussão em primeiro lugar.
  Precisei sair mais cedo quando Niall e Harry chegaram para me buscar, pois tínhamos um compromisso importante naquela tarde e chegar atrasados estava fora de cogitação. Era finalmente o grande dia do meu irmão, sua partida beneficente de futebol! Louis estava no clube do Celtic desde a manhã, para treinamento e concentração. O público só poderia começar a entrar as quatro e meia da tarde e estávamos pontualmente no portão da lateral, onde Pablo nos esperava com camisas oficiais.
  Além de Harry, Niall e eu, Eleanor também assistiria o jogo, porém, faria isso da arquibancada com algumas amigas. Nós três e o empresário conseguimos permissão para ficar na lateral do campo, onde a visão seria muito melhor e também a interação com os jogadores mais fácil. No começo, achei que eu é quem seria mandada para a arquibancada e não a “namorada” de Louis, mas Pablo acordara de bom humor e me deixou ficar. Ou vai ver entendeu que eu não estava ali pra causar problemas, apenas queria prestigiar meu irmão mais velho em um dia importante.
   Quando faltavam dez minutos mais ou menos para a entrada dos jogadores no campo, o estádio estava lotado e pessoas começavam a gritar e cantar os hinos dos dois times. O estádio era lindo! E enorme, tão enorme! Além de ter a grama mais verde que eu já vira em Londres. Tudo era bem cuidado e nada parecia estar fora do lugar. Câmeras de emissoras esportivas eram montadas atrás de barreiras de propagandas, escolhendo lugares estratégicos (como atrás das redes do gol, por exemplo) e disputavam com fotógrafos que não queriam perder um lance. Estava sentada na ponta do banco de madeira que dividia com Harry e Niall, não que pretendêssemos ficar sentados quando o jogo começasse. Ni falava de jogos de futebol que considerava “épicos” – todos do seu time, Derby, por sinal – e Haz fingia entender do assunto. A vibração em minha perna me salvou de participar da conversa e tirei o celular do bolso, vendo que era uma mensagem de Zayn:
  

“Ainda está com seu amiguinho?”
  “Estou com dois amiguinhos! Niall e Harry me seqüestraram. Estamos no estádio, só esperando o jogo começar. [WOHOO]”
  “É um alivio, certamente. Hehe Como é aí?”
  “Tão grande... O que vemos pela TV não é nada. Pablo conseguiu que ficássemos na lateral do campo. Acho que ele está morrendo e queria fazer a última boa ação.”
  “Sabe o que seria uma boa ação ainda melhor? Me deixar ir assistir o jogo com vocês. ):”
  “Eu também queria muito que você estivesse aqui. )))): Mas sabe que ele nunca deixaria nós dois virmos...”
  “Sei sim, babe. E prefiro que seja você. Ele é seu irmão, afinal de contas. Liam está vindo pra cá, vamos assistir juntos pela TV. Sabe se ainda temos cerveja?”
  “Como é que eu vou saber, Zen? Deixa de preguiça e vá olhar.”
  “Mas está dormindo em cima de mim, não posso me mexer. ):”
  “Você mima esse cachorro demais.”
  “Olha só quem fala! Hahaha”
  “O jogo vai começar! Tenho que ir. GO... Qual é o time mesmo?”
  “Celtic, tonta. Bom jogo pra vocês! Volte logo. xx”
  “GO CELTIC! WOOOHOOO”
  Harry e Niall levantaram e fiz o mesmo, guardando o celular em seu lugar origem. O time que jogaria contra o do meu irmão usava uniformes amarelos, então seria fácil de diferenciar os jogadores correndo pelo campo. Os amarelinhos foram os primeiros a entrar no campo, com crianças que podiam ser seus filhos em mãos. Formaram uma fila no lado esquerdo do campo. Eu olhava em volta, sem saber por onde Louis entraria. Era meu primeiro jogo de futebol de verdade, em um estádio de verdade, então me espantei com a altura dos gritos e palmas de torcedores. Tiinha certeza que sairia dali com a audição comprometida.
  - OLHA ALI, OLHA ALI! – Niall gritou, pulando uma altura incrivelmente alta para alguém com problema no joelho.
  - LOUIS! – Harry também gritou, mas não chegou a pular. Seu rosto inteiro estava aceso com uma mistura de orgulho e amor.
  - GO, TOMMO! – Pulei e bati palmas, tendo certeza que nenhum de nós seria escutado, mas a animação era grande demais para ficarmos quietos. – Aquela ali com ele é Lux?
  - Não sabia que ela e Rachel viriam também... – Niall andava de um lado para o outro. – Mas lembro que Pablo falou sobre uma surpresa. Acho que era isso.
  - Ela está tão linda! – O olhar de Harry dizia tudo que suas palavras não podiam. “Parece um pai carregando a nossa filha.” – Os dois estão...
  - Um dia, Harry. Um dia. – Segurei a sua mão, compreensiva, e beijei seus dedos.
  - Eu sei. – Sorriu e me abraçou como agradecimento.
  - Shhh, vão cantar o hino! – Ni se posicionou com a mão no coração, interrompendo a troca de carinhos.
  - Niall, você é irlandês. – O reprovei.
  - E você é francesa. – Ergueu a sobrancelha. Ele levava aqueles assuntos muito a sério. – Vai me dizer que não sabe cantar God Save The Queen?
  - God save our gracious Queen. Long live our noble Queen. God save the Queen! – Harry era um exemplo de patriotismo, sua voz se misturando a tantas outras que também cantavam. - Send her victorious, happy and glorious long to reign over us. God save the Queen!
  Apenas o primeiro verso foi o suficiente para dar inicio ao jogo. Lou demorou um pouco, mas nos viu e acenou com vigor. Mostrou a Lux onde estávamos e a mandou correr até nós. Enquanto a pequena atravessava o campo grande demais para as suas perninhas, os jogadores de um time apertaram as mãos dos outros. Louis até mesmo era abraçado por alguns bem suspeitos e Harry estremecia de ciúmes. Para ajudar a minha irmã, Niall correu até Luxy e a trouxe para junto de nós em seu colo. Seus cabelos loiros foram amarrados em um rabo de cavalo alto e ela usava um casaco pesado e botas cor-de-rosa.
  Cumprimentos feitos, os jogadores se espalharam pelo campo e o apito do juiz ecoou pelo campo. Vibrei e gritei, batendo palmas, já completamente inserida ao universo do esporte. Peguei o celular novamente e tirei diversas fotos do meu irmão correndo pelo canto, seus cabelos voando enquanto perseguia a bola. Estava bastante frio, mas dentro dos primeiros quinze minutos do primeiro tempo, ele já estava suado e eu não sentia que iria congelar a qualquer momento. Harry corria de um lado para o outro também, dentro do espaço permitido, claro. Niall e Lux, que ainda não fazia ideia de onde estava ou do que acontecia, pulavam sempre mais alto. Além de surda, eu ficaria rouca.
  Não entendia metade das regras de futebol, por isso reclamava quando o jogo era interrompido logo que o time do meu irmão se aproximava para fazer um gol. Também gritava xingamentos em francês todas as vezes que uma falta era cometida contra o Celtic. Louis estava se divertindo bastante e ainda por cima era por uma boa causa. Fãs da banda estavam na arquibancada com cartazes de apoio e gritavam como loucas todas as vezes que ele tinha o domínio da bola.
  Rachel logo chegou onde estávamos com Pablo a acompanhando. Pela primeira vez o vi distraído e realmente aproveitando o que estava acontecendo. Devia ser um fã muito grande de futebol. A loira se aproximou e colocou protetores de ouvido em Lux, os mesmo que usava em shows dos meninos. “Talvez eu devesse perguntar se ela tem outro desses sobrando...” Minha madrasta veio me dar um beijo e pudemos comemorar o primeiro gol do time de Lou. Não tinha sido um gol dele, mas ainda era cedo.
  - ... – Rach me chamou, colocando um aparelho celular na minha mão. – Eu estava tomando conta pro Lou... Olha o que chegou.
  Fiz o que mandou, lendo a mensagem de um número desconhecido:
  “Estou na arquibancada com sua irmã. Entendo que só vai ver isso depois do jogo, mas quero que saiba que estamos te apoiando. Eu te amo, filho.”
  - Eu não sabia o que fazer... – Rach conhecia toda a história com Troy e nosso pai. Ao menos a parte da história que nós crescemos acreditando.
  - Não vamos falar sobre isso. – Deletei qualquer rastro da mensagem e devolvi o celular à mulher, que concordou.

  

+++

  - Você tinha que ter visto, Zayn! – Coloquei seu prato em cima do meu e me afastei da mesa. – O jeito que ele chutou... E GOL! O gol da vitória! Foi incrível.
  - Eu vi, . Pela TV, mas vi... – Permaneceu sentado onde estava, bebericando de sua garrafa de cerveja. – Quase tive um ataque cardíaco quando foram para os pênaltis. Não sabia que ele jogava tão bem.
  - Lou sempre foi bom em esportes. Pelo menos nesse. – Raspava os restinhos de comida dos pratos no lixo. – Sempre gostou. Fico feliz por poder fazer as duas coisas que mais gosta. Jogar e cantar.
  - Assim como a irmã. – Sorriu sem mostrar os dentes, seus olhos diminuindo de tamanho. – Por falar nisso... Já recebeu alguma resposta do recital?
  - Ainda é cedo. Os resultados não vão aparecer até pelo menos a semana que vem. – Coloquei os pratos e copos sujos dentro da lavadora de louça e despejei um pouco do sabão no local apropriado. – Agora tenho que me preocupar com o British Fashion Awards, que é nessa sexta.
  - Tinha me esquecido. – Me observava dos pés a cabeça, particularmente grato por eu estar usando uma camisola de seda que moldava meu corpo tão perfeitamente. – Isso é bom. Você tem o ballet e agora tem moda... Lou tem a banda e o futebol...
  - Hey, o que é isso? – Caminhei até ele de braços cruzados. – Você também tem a banda.
  - E o que mais? – Zayn abaixou a cabeça, encarando a garrafa em sua mão. – Harry sabe fazer bolos, pães e muitas outras coisas. Liam costumava correr e até ganhou medalhas por isso. Niall joga golfe como ninguém. E eu? Só canto bem!
  - Zayn Malik, não estou escutando isso. – O olhei descrente. – Você canta, toca, escreve letras maravilhosas... E, não se lembra, mas tem um quarto cheio de desenhos e pinturas que dariam inveja a muita gente.
  - É. – Deu de ombros, terminando a cerveja e levantando para descartar o vidro.
  - Baby, não acredito que você não percebe quantas vidas tocou. O exemplo que você é pra tanta gente. Não só por estar seguindo os seus sonhos e usando o talento que tem para o bem... Mas você é tão forte. Quantos garotos da sua religião passam pelo mesmo que você passou? Ainda passa... Todo esse preconceito de pessoas ignorantes que julgam sem conhecer? – O obriguei a virar de frente pra mim. – Você é um modelo pra eles. Uma prova de que é possível seguir em frente, ser maior que tudo isso.
  - Eu estava tentando criar uma cena, você não precisava aumentar minha auto-estima tão rápido. – Abriu seu sorriso lindo novamente. Deslizou as mãos pelos meus braços e as pousou sobre meus ombros, mexendo os dedos com carinho. – Escolhi a pessoa certa.
  - A pessoa certa pra quê? – Tranquila por tê-lo bem de novo, subi na ponta dos pés e roubei um beijo curto.
  - Pra dividir isso tudo. Pra me levantar quando estou pra baixo. – Segurou meu rosto e retribuiu o favor, demorando mais com os lábios nos meus.
  - É o meu trabalho. – Sorri satisfeita. Minha garrafa de chá gelado estava em cima do balcão da cozinha e a recuperei antes de virar em direção ao quarto principal.
  - Por falar nisso, algumas revistas chegaram pra você. – Me seguia de perto, então seu corpo se chocou contra o meu quando pare de repente. – Outch.
  - Como você não me falou isso antes?
  Girei na ponta dos pés, o empurrando de leve para que saísse de meu caminho e passei voando pelo arco que desembocava na sala. Costumávamos guardar as correspondências um do outro na mesinha próxima à escada para o andar de cima e me repreendi por não ter notado as novas edições da Vogue e Elle que me esperavam ali quando entrei. Devia estar mesmo com vontade de contar tudo sobre o jogo desta tarde, que terminou em 4x3, depois de um longo empate.
  Com as revistas em um braço e garrafa de chá na outra mão, chamei e Lola com um barulho de que eles já conheciam. Zayn estava apoiado na parede da entrada do corredor. Braços cruzados e sorriso de canto. Usava uma calça de moletom preta e uma regata de algodão branco com desenho de algumas caveiras. Lindo e extremamente convidativo. Passei por onde ele estava e voltei a ser seguida, dessa vez por meus três amores. Abri a porta do quarto e foi o primeiro a pular na cama, ocupando seu espaço de sempre.
   Ajudei Lola a subir, pois devido a seu pouco tamanho, nunca seria capaz de subir ou descer sozinha. Ela se enfiou no buraco entre meu travesseiro e o de Zayn. Liguei o abajur na minha mesinha de cabeceira e deixei tudo que carregava por ali enquanto sentava e puxava as cobertas para cima das pernas. Depois de apagar as luzes do corredor, Zayn fez o mesmo que eu. Ao invés de ligar seu abajur, pegou o controle da televisão em frente à cama e a ligou.
  - O que está fazendo? Pensei que fosse assistir Family Guy comigo. – Fez biquinho, me assistindo pegar a primeira revista.
  - Preciso estudar, baby. Tenho que saber dessas coisas... – Ótima desculpa, . Parei pra pensar e depois o olhei novamente. – Percebeu que parecemos casados?
  - E temos dois filhos. – Riu acariciando o pelo de Lola. – Gosto disso.
  - Nunca pensei que você fosse ser do tipo familiar. – Não antes de conhecê-lo, pelo menos. Abri a revista, folheando devagar e lendo as chamadas.
   Zayn riu como se escutasse a coisa mais engraçada do mundo. Confusa, olhei em sua direção e vi que nem era em mim que ele prestava atenção. Tinha os olhos presos na televisão, por trás dos óculos de armação quadrada. Sorri sozinha e balancei a cabeça. “Esse é o meu homem. Meu amor.” Parecíamos até uma família de verdade, nós dois, e Lola. Uma família feliz. “Calma, . Não vá começar a chamar ele de marido.” Mas éramos quase casados de verdade, não? Quero dizer... Morávamos juntos, dividíamos tudo; só o que faltava era um pedaço de papel.
  “Por falar em papel, essa revista não vai se ler sozinha.” Interrompi meus devaneios, passando mais algumas folhas da Vogue. Propaganda, tendências para o inverno e mais propaganda. Uma matéria interessante aqui e ali... Até que li um título que me interessou muito. “Fashion Week: Veja tudo que aconteceu nas semanas mais quentes de setembro.” A reportagem falava de semana em semana, os highlights das FW mais famosas. Começando por NY. Várias fotografias de desfiles de marcas famosas e, o que não podia faltar, foto de quem estava na primeira fila. Nomes como Anna Wintor, Blake Lively e Katy Perry. No pé da segunda página, uma imagem que, se não tivesse prestado atenção, não teria visto. Eu mesma, entre Chiara e Liv Tyler; durante o desfile da Mulberry. A legenda falava: “Belezas diferentes e uma coisa em comum, o título de It Girl. Chiara Ferragni (26), Tomlinson (20), Liv Tyler (36), assistem o lançamento da marca britânica Mulberry pela primeira vez nos EUA.”
  Virei a página mais uma vez e encontrei uma nova foto da minha pessoa, dessa vez maior e não apenas com uma notinha na legenda. Se tratava de uma imagem capturada enquanto eu estava na passarela do desfile da Mulberry, usando o vestido vermelho. Lia-se: “Entre flocos de neve caindo dos céus, Tomlinson pegou fogo. Nova queridinha de Carine Roitfeld, rosto de uma das maiores marcas da atualidade (Mulberry), compartilha a posição com a grande amiga Cara Delevigne. As duas princesas da moda inglesa dividem a passarela e dão o que falar.”
  - Baby, olha, sou eu! – Já na página que falava sobre a Paris Fashion Week, mostrei a terceira imagem onde eu estava presente. No desfile da marca Elie Saab.
  - Heeey, olha você! Com o vestido da Carmem Miranda. – Gargalhou como eu sabia que faria. – Tão linda.
  - HA-HA. Obrigada, de qualquer forma. – Rolei os olhos e fechei a revista. – De que horas tenho que estar em casa amanhã?
  - Não vai almoçar comigo? – Diminuiu o volume da TV, me fitando cheio de perguntas.
  - Só tenho trinta minutos de intervalo entre a aula e minha sessão com Colin. Com o transito pra chegar aqui, só teremos dois minutos juntos. – Segurei a sua mão e entrelacei nossos dedos. – Mas chegarei a tempo de irmos até o encontro com Simon, não se preocupe.
  - Tudo bem... – Suspirou. Não estava nada bem, mas ele entendia que eu não tinha escolha. – Só pensei que pudéssemos ir àquele restaurante perto do Tamisa.
  - Desculpa, love. – Dessa vez, eu fiz bico. Sentia falta de sair para almoçar com ele, até mesmo de esperar meia hora pra conseguir uma mesa em seu restaurante preferido.
  - Bem, acho que terei que te dar o presente agora mesmo, se é assim. – Sorriu por meu aperto em sua mão.
  - Presente?! O que você fez agora, Zayn? – Adorava ser mimada por ele, mas não precisava de um presente novo toda semana.
  - Se não quiser, podemos vender. – Deu de ombros e já pensei que iria ganhar um jatinho particular ou uma ilha no Pacífico. Ele se esticou até a mesa de cabeceira de seu lado e tirou algo da gaveta. – Aqui.
  - Chaves... – Segurei o chaveiro com mais dúvidas do que respostas. – O que essas chaves abrem?
  - A sua casa.
  - Se esse for o seu jeito de me pedir pra sair daqui...
  - Claro que não, idiota. – Gargalhou, jogando a cabeça para trás. – É a sua casa em Paris.
  - Você- ZAYN! Você... Foi você! – Gaguejei sem conseguir terminar nenhuma frase. – Você comprou a casa da minha avó, não foi?
  - Agora é sua. Bem, nossa. – Exclamou quando pulei em cima dele e quase rolamos para o chão. – Vejo que gostou...
  - Obrigada, obrigada, obrigada! – Sentei em seu colo e segurei seu rosto, enchendo-o de beijos. – Você é louco, mas obrigada!

    

Chapter LXIII

- , antes que a gente saia... – Fechei a porta do carro assim que Niall e Zayn se afastaram. Eles nos espiavam pela janela escura com olhares confusos. – Gostaria de conversar com você.
  - O que foi? – Também ergueu a sobrancelha.
  - Sei que somos amigos do Simon... E você também vai ser! Mas não esqueça que ele também é Simon Freaking Cowell, chefe dos meninos. – Disse aquilo com carinho, temendo a reação que pudesse vir dela. – Então, se puder... Ir com calma.
  - Esse é seu jeito de pedir pra eu me comportar? – Riu, não me dando razão. Abriu a porta em seu próprio lado e saltou. – Não precisa se preocupar. Sou grandinha, .
  - Espero que sim. – Falei sozinha dentro do carro.
  Havíamos estacionado em frente a mansão de Simon no Holland Park, bairro afastado do centro da cidade e repleto por casas de porte como aquele ou até maiores. Os cinco meninos, e agora , subiram os degraus de entrada até a porta e me esperavam para tocar a campainha. Saí do carro e arrumei as roupas que saíram do lugar durante o trajeto, só então seguindo ao encontro com meus amigos. A casa era linda e se via sofisticação até nas janelas. Com três andares e fachada de tijolos, a mansão de Simon nos levava ao período vitoriano com toque elegante de modernidade.
  Liam era o mais próximo à porta, então, tocou a campainha que soou estridente. Pouco tempo depois, uma mulher baixinha e fardada nos atendeu. Recordava-me levemente dela, mas não arriscaria falar o seu nome. Abriu a porta, nos deixando passar com um sorriso educado. Em fila e comportados, Liam, Louis, Harry, Zayn, Niall e , respectivamente, entraram e me deixaram por último. O corredor era comprido e largo, mais à frente podíamos ver o começo das salas de convivência. No chão, e com pequenos latidos, dois cachorrinhos pouco maiores que Lola vieram correndo nos cumprimentar.
  - Eu lembro de vocês! – Harry se ajoelhou no chão para ser cheirado pelos bichinhos.
  - Squiddly e Diddly! – Exclamei, apenas me curvando para chamar a atenção dos dois. O casaco que usava era comprido, mas a saia curta demais me impossibilitava de agachar.
  - Quem nomeia cachorros de Squiddly e Diddly? – perguntou como se fosse uma piada, mas todos olharam com espanto para a ruiva.
  - Este seria eu. – Simon Cowell estava parado no fim do corredor, não apreciando nada aquele comentário sobre seus dois maiores amores. – Aposto que você é . Pablo me falou sobre você.
  - É um prazer conhecê-lo, senhor... – Notando a gafe que cometera, o rosto de estava mais vermelho que os cabelos. Virou-se pra mim e cochichou: - Agora entendi o que estava falando.
  - Oi, tio Si! – Após olhar feio para a minha amiga, atravessei o corredor na esperança de amenizar o estrago. – Obrigada por nos convidar pra vir até aqui.
  - ! Quase não a reconheço. Sempre que lhe vejo está com o cabelo diferente? Parece até a Demi. – Abraçou-me, abrindo um sorriso. – Vá entrando, já conhece a casa. Vocês chegaram na hora certa! Maude acabou de servir o chá no jardim.
  Enquanto Simon cumprimentava os outros, fui em frente e tentei me encontrar. Só porque conhecíamos a casa, não queria dizer que tinha um mapa dela dentro da cabeça. Notando que eu me perderia, Maude – que eu agora sabia o nome – foi na frente e guiou o caminho até o jardim. Não me acanhei em olhar toda a decoração de gosto impecável. Tudo era minimalista e pelo visto o dono da casa não tinha cinza apenas no guarda-roupa. Cruzamos três salas diferentes, uma mais encantadora que a outra, e terminamos no jardim imenso.
  Desejei ter escolhido outro tipo de sapatos, pois com o clima úmido, a grama ficaria macia e o perigo de cair ou torcer o pé seria maior. Pela falta de muitas árvores, ou até pelo número de empregados que aquela casa tinha, não havia folhas de outono espalhadas por aí, apenas uma ou outra trazida pelo vento. Um caminho de pedra, que me agradou muito, levava até uma área mais extensa do mesmo material, onde uma mesa comprida e com várias cadeiras estava posta com o mais tradicional chá da tarde. Por morar em uma das últimas casas do bairro alto, a visão de Simon era ampla e sem prédios próximos. Uma piscina ficava na parte mais extrema da colina e tinha uma das bordas feita de vidro grosso, o que dava a impressão de que poderia cair a qualquer momento no morro abaixo.
   Logo Maude e eu não éramos mais as únicas ali, pois os outros passaram pelas portas de vidro e me seguiram até a mesa. Esperei o dono da casa se sentar e fiz o mesmo em seguida, enquanto todos escolhiam seus lugares. Simon ficou na ponta e ocupei a sua esquerda. Zayn estava ao meu lado e Harry na minha frente, seguido por Louis, Liam, e Niall e um pouco mais afastados. Scones quentinhos, sanduíches de patê de presunto, frango e queijo, biscoitinhos doces caseiros, waffle com calda de blueberry, bolo e muffins cobriam a toalha bordada da mesa.
  - Não façam cerimônia, sirvam-se! – Acolhedor e sorridente, Simon liberou o banquete. Niall, por outro lado, já estava atacando um bolinho antes mesmo disso.
  - Vocês se merecem. – Zayn riu para e seu namorado. Em seguida, tirou a xícara de cima do prato e apontou para a bandeja de sanduíches. – Babe, pode me passar um?
  - Esses aqui são de presunto... – Avisei, sabendo que ele não comia porco. – Aqueles na frente do Li são de frango.
  - Aqui, bro. – Liam escutava nossa conversa e trocou as bandejas.
  - Como vai o bebê, Si? – Meu irmão perguntou após nos servir de chá.
  - Muito bem, obrigado. Ainda não acredito que serei pai. – O homem riu e pegou um scone.- Soube que sua mãe também está grávida, não?
  - De gêmeos! – Me intrometi, já que o assunto era a minha mãe.
  - Lux é que não vai gostar muito disso, não é? Ela é muito apegada a vocês dois.
  - Ela sempre vai ser nossa pequena preferida. – Lou declarou.
  - É claro! Mas também falaremos isso para os novos bebês. – Beberiquei de meu chá.
   Como almocei pouco para não passar mal durante o ensaio a tarde, me servi apenas de meio sanduíche, um scone e alguns biscoitinhos. Tudo estava uma delicia e ninguém parava de comer. Até mesmo o frio nos abandonou momentaneamente. Simon falou sobre o X Factor americano, do qual era um juiz esse ano, e de seus favoritos. Previa que um de seus grupos iria ganhar e ficou feliz quando eu disse que acompanhava noticias e que Alex & Sierra eram meus preferidos, seguidos por Jeff. Disse, também, que tinha se encontrado com o Emblem3 pouco antes de viajar para Londres e que os três meninos perguntaram por mim.
   Comi mais alguns biscoitinhos e as outras comidas começaram a desaparecer. O próprio Simon comeu bastante e encheu a minha xícara pelo menos mais duas vezes. Maude reapareceu, querendo saber se precisava repor alguma coisa, mas todos estavam satisfeitos demais para que repetir. Ao invés disso, começou a recolher os pratos e talheres sujos.
  - Com licença. – Zayn afastou a cadeira da mesa. – , quer olhar a vista comigo?
  - Claro. – O imitei. Zayn usara o tom de voz que fala “venha comigo, preciso falar com você”. – Espera por mim...
   Zayn parou de andar ao perceber que a minha demora era culpa da grama que engolia o meu salto e riu, esticando a mão para me dar apoio. Segurei o seu braço e o abracei, deitando a cabeça em seu ombro. Assim diminuímos a velocidade, mas me senti segura o suficiente para andar ao redor da piscina. Chegamos ao ponto mais distante em relação à mesa onde os outros ainda conversavam e paramos.
  - Esse lugar é lindo, não? – Olhava pra frente, onde céu se aproximava do crepúsculo.
  - Hã? Ah, é. É sim. – Minhas duvidas se confirmaram, ele estava mesmo querendo falar comigo e não apenas apreciar a vista.
  - O que houve, baby? Está preocupado com alguma coisa? – Ainda com a cabeça apoiada em seu ombro, ergui o olhar.
  - Você sabe que Simon não nos chamou aqui hoje só pra tomar chá não é?
  - Percebi isso quando vi o carro de Pablo lá fora. – Afirmei, assistindo seu maxilar travar em surpresa.
  - Pablo? É, acho que devia imaginar. – Balançou a cabeça devagar, soltando meu aperto em seu braço para passá-lo em volta dos meus ombros. – Aposto que quando voltarmos para a mesa, Simon vai querer falar de negócios.
  - E o que te preocupa, huh? – O prendi pelas costelas e beijei a sua bochecha. – Simon adora vocês. Tenho certeza que tem boas noticias para a banda.
  - Não é com a banda que me preocupo. E sim com você. – Me olhou. Seus olhos de avelã pequeninos como a noz. – Sabe que ninguém ficou feliz com o nosso beijo em cadeia mundial. E agora para o próprio Simon Cowell querer nos ver...
  - Deixe que reclamem. – Dei de ombros. – Só podem ir até um certo ponto. Mesmo que queiram, não vão me mandar para a prisão ou conseguir uma ordem de restrição pra você. Não importa qual seja o drama da vez, ao vão nos separar. A não ser... A não ser que não pense assim.
  - Hey, é claro que concordo com você. – Colocou a mão na lateral do meu rosto. – Por isso te chamei aqui. Porque quero que saiba que, se falarem algo sobre você, vou te defender. Você é a minha prioridade, sabe disso.
  - Sei sim. – Juntei nossos lábios em um beijo demorado. – Mas não faça nenhuma besteira... Primeiro escute o que tem a dizer. Pode ser que nem lembrem que eu existo.
  - Hey, guys. – Harry gritou e acenou, nos chamando.
  - Vamos acabar com isso e poder ir pra casa. – Roubei um novo beijo, dessa vez pra dar boa sorte.
  - Está com pressa? – Começamos a andar bem devagar, enrolando pra chegar até os meninos.
  - Sei que tenho ficado presa na Academy mais que antes, então pensei que pudesse te compensar. – Sorri de canto. – Vou faltar amanhã e pensei que pudéssemos abrir uma garrafa de vinho hoje.
  - Essa conversa tem que ser rápida!
  - Ah, como não vou poder participar dessa reunião...
  - Eu te conto tudo. – Interrompeu meu plano perfeito, o que me fez rolar os olhos.
  - Tenho uma ideia melhor. – Desfiz nosso abraço e peguei o celular em minha bolsa e dele em seu bolso. – Vou te ligar... Agora você deixa o celular no bolso da camisa, está no viva-voz. Não se preocupe, não vou fazer barulho algum.
  - Nunca teria pensado nisso. – Franziu o cenho, surpreso pela minha inteligência. – Já pensou em trabalhar para a Scottland Yard?
   Ri daquela pergunta e demos as mãos para fazer o caminho de volta à área de madeira. Como já sabíamos, Simon os convocara para uma conversa de homens. O que excluía e eu do assunto. A ruiva não entendeu muito bem, mas ficou pra trás comigo quando os seis se afastaram. O dono da casa nos ofereceu total liberdade para usar um dos quartos e assistir TV ou o que mais quiséssemos, mas preferi ficar por ali mesmo. Levei até um conjunto de móveis de jardim confortáveis e coloridos, cogitando a opção de dividir com ela meu plano ou não.
  - , se eu te pedisse pra não fazer barulho algum nos próximos minutos, você conseguiria? – Sentei em uma poltrona, com o celular na mão.
  - Depois do mico que paguei com os cachorros? Farei tudo que mandar. – Concordou, o que me deixou bem aliviada.
  - Tudo bem. Vamos escutar a conversa com Simon... – Revelei, deitando o celular em conexão com o de Zayn na mesa de vidro entre nós duas e fiz sinal de silêncio com o indicador sobre os lábios.
   entendeu rápido o que estávamos fazendo e sorriu de um canto ao outro. Assim como eu, odiava ser deixada de fora. Liguei também o meu viva-voz para que nós duas pudéssemos escutar e esperei. Os primeiros barulhos eram irreconhecíveis e deduzi que ainda estavam andando ou se sentando antes de começar a falar em trabalho.
  - Gostaram do chá? – A voz de Pablo veio alta, perto de Zayn. Ele devia ter sentado ao lado do empresário para podermos ouvir melhor pelo celular escondido. Esperto, pontos pra ele.
  - Você não veio aqui pra nos perguntar sobre chá, certo? – Louis, porém, estava distante.
  - Só estava tentando começar uma conversa amigável, me desculpe por tentar! – Pablo não se desculpava de verdade, não mesmo. – Sr. Cowell, gostaria de começar?
  - Sim, claro. Bem, meninos, quando eu olhei pra vocês pela primeira vez, pensei: “Uau, acho que eles vão ser grandes.” E isso mudou. – Simon entrou em seu lado profissional e sério. – Hoje em dia, olho pra vocês e penso: “Uau, tenho certeza que eles vão ser grandes!”. E não costumo errar esse tipo de coisa. Então, quero que saibam... Vocês vão ser gigantes! Nós da Syco e Modest!Management estamos dispostos a fazer de tudo para vê-los dominando o mundo.
  - Como o Pinky e o Cérebro! – Niall pensou alto e levou a mão ao rosto, constrangida.
  - Estamos falando de uma linha de material escolar, perfumes, cosméticos, maquiagem, bonecos, um filme... O céu não vai ser o limite. – Simon ignorou o irlandês e continuou. – Todos vão saber o seu nome. É o que querem, não?
   É claro que sim! Ninguém respondeu em voz alta, mas deveriam ter balançado a cabeça, pois Simon voltou a falar:
  - Vamos por partes... Primeiramente, Take Me Home Tour. Uma turnê em escala mundial! Quero dizer Japão, Irlanda, Estados Unidos, Espanha, México, Austrália... Lugares que vocês nem imaginavam que iriam conhecer.
  - Quando? Partimos amanhã?
– Liam exclamou com animação.
  - Vai ser muito legal, cara. – Zayn estava sorrindo, senti isso em sua voz. – Aaaaaaah! Wow.
  - A turnê está prevista pra começar ano que vem, no final de janeiro.
– Pablo falou. – O que dá a vocês alguns meses de preparação. Fiquem sabendo que, com isso, sua rotina vai mudar. Temos um personal trainer que vai treinar com cada um de vocês individualmente. Como terão shows todos os dias, viajando de cidade em cidade, precisam estar em forma pra aguentar o tranco. Claro, vão conhecer um coreógrafo que os ajudará bastante...
  - Coreógrafo?!
– Zayn engasgou.
  - A equipe que vocês já conhecem vai continuar, com apenas algumas modificações e adições. Paul será o gerente, cuidará da agenda de vocês e ficará de olho para que façam tudo certo. Preston estará na frente da segurança e cada um de vocês terá o próprio guarda-costas. Louis, sua madrasta Louise continuará como beauty stylist e Caroline Watson a responsável pelas roupas. – Simon explicava tudo com uma calma que falava “prestem atenção, porque não vou repetir”. – O primeiro show, porém, será em novembro. Pra dar um gostinho ao que está por vir e, claro, corrigir a tempo o que não der certo. Um show Beta, se por assim dizer.
  - Um show beta na O2 Arena.
– Pablo comentou como se não fosse nada.
   Os meninos foram a loucura, comemorando o tamanho daquelas novidades. e eu também sorriamos ainda incrédulas, mas extremamente orgulhosas. Tive que tapar a boca pra não fazer barulhos e ser descoberta. Sentia vontade de pular. A O2 Arena era enorme e conhecida pelo número de estrelas que se apresentaram em seu palco. Começar uma turnê mundial assim era além de impressionante.
   Simon e Pablo, então, começaram a falar sobre coisas técnicas, como o setlist que achavam ser o melhor, como imaginavam que o palco seria montado e etc. O mais impressionante é que perguntavam a opinião da banda e realmente escutavam o que eles tinham a dizer. Parecia que as coisas estavam mudando, mas não podíamos nos deixar enganar. A conversa começava a ficar entediada e estava prestes a encerrar a ligação quando escutei uma pergunta inusitada:
  - O que acham sobre ir à New York semana que vem? – Pablo perguntou como quem quer saber as horas.
  - Tá falando sério?! – Liam ofegou.
  - Por quanto tempo? – Harry quis saber.
  - Partiremos na sexta-feira e voltaremos no domingo, porque vamos anunciar a turnê na semana seguinte e vocês precisam estar aqui. – O empresário falava. – Querem vocês como atração musical no Saturday Night Live.
  - Niall, eu estou sonhando? Isso é verdade? – Zayn perguntou ao amigo.
  - Eu te beijaria, mas não sou a . Então desculpe por isso... – Fez-se silêncio até Zayn reclamar de dor.
  - Ai, por que você me beliscou?!

  

+++

  - Baby, já falei o quanto estou feliz por você?! Oh, ops... – Ri por ter derramado algumas gotas de MGM Pinot Noir 2011 na mesa, errando a mira do copo.
  - Só todas as vezes que enche a taça de novo. – Também riu, ainda que não houvesse graça, e bebeu de seu vinho. – E aí diz que precisamos comemorar...
  - Precisamos comemorar! – Bati no tampo da mesa após essa brilhante idéia. – Um brinde... Ao futuro!
   Zayn e eu nos aproximávamos do fim da primeira garrafa de álcool e eu me encontrava levemente embriagada, pra não falar bêbada. Já tinha planos de passar a noite com ele, fazendo qualquer coisa divertida, após o chá na casa de Simon e todas as boas noticias envolvendo o One Direction é que me empenhei em tornar a noite especial. Não é todo dia que se fica sabendo de uma turnê mundial, certo? Os outros meninos e quiseram ir para um restaurante, mas Zayn e eu preferimos voltar para casa e abrir a garrafa de vinho que vínhamos guardando para uma oportunidade como aquela.
  - Ao futuro. – Sorriu, batendo o a taça de vidro contra a minha erguida no ar. – E a nossa viagem à NY semana que vem.
  - Isso! – Levantei ao som de Norah Jones, deslizando os pés pelo chão da cozinha. – Vai ser incrível, baby! Não acredito que dessa vez vamos estar juntos a cidade mais bonita do mundo.
  - Você fala a mesma coisa sobre Londres e Paris. – Apoiou o cigarro sobre os lábios e usou a mão em forma de concha para acendê-lo. Normalmente não ficaria satisfeita, mas naquele momento a ação me pareceu um tanto quanto sexy. – Mas tem razão. Estaremos juntos na grande pêra.
  - Maçã... Se chama A Grande Maçã. – O corrigi com uma risada, dançando com meu Pinot.
  - Acho melhor começar a saber diferenciar essas peculiaridades de cada país. – Tragou e deixou a fumaça branca escapar pelos lábios. – Agora que vou passar por muitos deles...
  - Pode ir esnobando, Zen. – Estreitei os olhos em sua direção. – Só porque vai passar um ano viajando... Um ano inteiro... Na estrada.
  - O que houve, babe? – Notou a queda em minha animação e tentei negar.
  - Nada! – Disse com a voz chorosa. “Ok, chega de vinho!” Pousei a taça na bancada do meio da cozinha e abracei meus próprios braços. – Onde está com mais vontade de ir?
  - Japão, com certeza. E Austrália. Outras cidades dos Estados Unidos também... – Contava com o olhar sonhador, pousando o cigarro no cinzeiro vez ou outra. – Sabe a melhor parte? Vou poder fazer o que gosto em todos esses lugares. E com meus melhores amigos!
  - Lembra quando estávamos no Albert Hall? E você me perguntou se eu acreditava que vocês iriam tocar em um lugar como aquele? – A quem estava querendo enganar? Voltei a beber de meu vinho, virando o líquido até a metade. – Não é por nada não, mas a O2 Arena é ainda maior.
  - Se eu não estava nervoso antes. – Gargalhou e, em seguida, tragou seu cigarro mais uma vez.
   Zayn estava completamente relaxado. Sua pele ainda cheirava a sabão de baunilha e seus cabelos macios secavam naturalmente. Ele usava uma bermuda preta e camisa estampada de algodão. Quando não estava com o cigarro nos lábios, bebia o vinho que fazia caminho pela sua garganta. O movimento de suas bochechas ao tragar e a neblina que preenchia o ar, delicadamente escorrendo pela abertura de seus lábios... Simplesmente impossível de desviar os olhos.
   Sem pensar, me livrei de meu copo e marchei na direção do menino que virou a cabeça ao me ver. Zayn tentou falar alguma coisa que foi totalmente ignorada e passei a perna para seu outro lado, ficando apertada entre a mesa e seu corpo. Me acomodei em seu colo e o puxei pelos cabelos, guiando sua boca de encontro à minha. O gosto do cigarro era apagado pelo vinho terroso e doce que se misturou ao meu. Nossas línguas se chocaram e lábios brigavam por dominância. Suas mãos, já livres de qualquer coisa, pousaram em minha cintura, apertando com surpresa. Nunca me cansaria daquele frio na barriga que me dominava todas as vezes que o beijava, ainda que repetisse todos os dias; nunca ficaria monótono. Pra falar a verdade, ele era a minha droga e meu vício só aumentava.
  - O que foi isso? – Ofegante, Zayn afastou meus cabelos do rosto para poder ter uma visão melhor.
  - Algo pra você lembrar de mim, quando estiver viajando por um ano. – Suspirei. Não queria tocar naquela parte do assunto para não chateá-lo, mas o álcool em meu sistema falou mais alto.
  - Como assim, babe? Você vai vir comigo. – Tinha minhas mãos em seu ombro e o apertei de leve ao escutar aquilo, nenhum sorriso aparecendo em meu rosto. – Você não vai vir comigo...
  - Sweetheart, e-eu não posso... Essa é a sua vida. E eu sou feliz em fazer parte dela, juro. Mas não posso largar tudo; não posso seguir o seu sonho, porque ele não é pra mim. – Estava imóvel enquanto seus olhos passavam por diversas emoções enquanto me escutava. Nós falávamos sobre nosso futuro, mas nunca falávamos sobre o futuro. Na verdade, não sabia nem o que se tinha pra falar. – Não sei o que vou fazer depois da Academy, não sei se o recital ajudou em alguma coisa... Mas eu simplesmente não posso...
  - Eu sei. Sempre soube disso, eu acho. – Pegou a minha mão direita e a beijou, brincando com o anel em meu dedo. – Ainda que você fique, não vamos passar um ano inteiro sem nos ver. Certo? Quero dizer, eu vou votar e... Você pode ir me encontrar algumas vezes, por alguns dias. Um fim de semana que seja...
  - É claro, baby, é claro! – Encostamos as testas, entorpecidos pela presença um do outro. – Vamos dar um jeito, assim como fizemos antes, quando fui pra L.A.
  - Exatamente! Viu só? Não precisa se preocupar. – Forçou um sorriso, o qual não foi retribuído.
  - Só queria não estar sentindo que você vai ser arrancado de mim a qualquer momento. – Com o coração apertado, levantei seu rosto.
  - Sabe que sempre vou ser seu, não sabe? – Lendo meus pensamentos mais íntimos, Zayn ficou sério. – Posso estar do outro lado do mundo, mas meu pensamento e meu coração estarão com você.
  - E você vai estar levando o meu. – Assenti. Inclinei a cabeça, juntando nossos lábios em um toque simples, mas valioso.
   Sempre soubemos que a banda seria grande e eu turnês mundiais iriam acontecer em questão de tempo. Só não sabia que levaria tão pouco tempo para termos que dizer “tchau”. Não me sentia assim apenas por Zayn. Também por Harry, Lou, Liam, Niall... Até mesmo Rachel iria com eles e, muito provavelmente, Lux. O que eu faria sem eles? Já estava mais que acostumada a dormir e acordar com Zayn, a assistir filmes colada as suas costelas, rir de piadas sem graça e das palhaçadas de sempre. Quem eu iria encontrar desenhando de madrugada depois que ele se fosse? O apartamento era grande demais para uma pessoa só. Lola e se acostumaram com essa ausência? O mais doloroso era saber que qualquer beijo, qualquer abraço, poderia ser o último.
  - Você confia em mim?
  - Você sabe que sim.

    

Chapter LXIV

- Harry, o chuveiro está livre! – Cantarolei, saindo do banheiro enrolada em uma toalha. – Tem tudo pra você em cima da pia, toalha, sabonete... Pode escolher.
  - Obrigado, . – Passou por mim e me puxou para beijar a minha bochecha antes de se trancar lá dentro.
   Meu quarto e de Zayn estava quase irreconhecível. Uma estação de beleza fora montada em cima da mesa onde o computador de Zayn costumava ficar e produtos de maquiagem ou cabelo estavam espalhados por aí. Sapatos femininos e masculinos pelo chão, caixas de jóias e bolsas dentro de caixas de papelão. Tudo para que Harry e eu ficássemos perfeitos para a festa de gala que teríamos essa noite. Apesar de saber como tapetes vermelhos funcionavam, era a minha primeira premiação de qualquer tipo. E, além de tudo, ainda fui nominada para um prêmio!
   Rachel estava deitada na minha cama com Lola em seu colo. Ela cuidaria do nosso cabelo e maquiagem e nos ajudaria a trocar de roupa. Ainda era um pouco cedo para começarmos a arrumação, então Haz e eu estaríamos liberados depois que tomássemos banho. Essa parte do trato eu já cumprira e esperava poder sentar. Rach mexeu entre as minhas coisas no closet e deixou separada pra mim um conjunto preto de langerie sem costuras, que não marcariam a pele. Troquei a toalha por essas peças quando o quarto ficou seguro de olhares masculinos e vesti o robe de seda cor de rosa, estilo Victoria’s Secret.
   Chamei minha madrasta para me seguir até a sala, mas ela preferiu esperar por Harry ali dentro mesmo. Lola continuou com sua avó adotiva e peguei meu celular na tomada antes de abrir a porta. Tinha pantufas de pelúcia nos pés para mantê-los limpos e confortáveis até que fosse obrigada a subir no salto. O maior desafio era convencer de que eram sapatos e não brinquedos que ele podia destruir. Minha grande sorte é que ele estava ocupado demais servindo de cavalinho para minha irmã de dois anos para notar a minha passagem ao seu lado.
  - Do que estamos falando? – Interrompi o assunto de Zayn e Louis, me jogando no sofá entre os dois com sutileza.
  - Sobre a banda de abertura que vai nos acompanhar na turnê. – Meu irmão respondeu, mexendo em seu celular. – Recebi uma lista dos candidatos agora a pouco, mas não conhecemos metade deles.
  - E a outra metade? Algum bom? – Olhava de um para o outro. Tirei as pantufas e coloquei os pés em cima da mesinha de centro.
  - Tem uma banda que é até... Boa, ou algo assim. – Zayn coçou a nuca. Mal sinal. – Mas não tem muito a ver com a gente.
  - Simon acha que seria uma boa ideia, mas não queremos. – Lou também enrolava pra falar o nome da tal banda e temia já saber o porquê.
  - Querem que a Little Mix abra pra vocês, não é? – Deduzi. – Faz sentido. Quero dizer, as duas bandas tem a mesma gravadora e mesma empresa por trás... Sem falar que saíram do mesmo X Factor, ainda que vocês façam mais sucesso que elas.
  - Então você concorda? – Zayn enrolava o dedo em fios molhados do meu cabelo.
  - Nunca disse isso. – Me defendi. Não queria que ele passasse o próximo ano mais perto de meninas interessadas do que de mim. – Pra falar a verdade, sou totalmente contra.
  - Então é melhor que esse Union J seja bom. – Ergueu a foto da banda em seu celular. – Mas esse cara parece o Harry em 2012.
  - E se... Vocês pudessem sugerir uma banda? – Comecei eu mesma a mexer meu aparelho telefônico. – Simon parecia disposto a ouvir suas idéias para a turnê...
  - Que banda você sugere? – Zayn provavelmente sabia no que eu estava pensando.
  - Okay, não comecem a negar sem me escutar, por favor. – Pedi, encontrando o que procurava. – Ou melhor, escutem isso.
  Coloquei a mais nova música da banda de Ashton, 5 Seconds Of Summer, pra tocar. Apesar de não terem uma gravadora, contrato ou qualquer coisa do tipo, a qualidade da música demo era perfeita porque foi gravada na Academy. Esperava que Zayn ou pelo menos Louis reclamassem, falando que eu estava maluca, porque a banda deles era pop e 5SOS um pouco mais para o lado rock/punk. Lou ficou realmente impressionado, balançando a cabeça no ritmo da música. Zayn não se mexeu, mas sorria. Ele gostava de Ashton, Niall gostou da banda quando fomos ao primeiro show e Harry seria praticamente cunhado do baterista. Não tinha porque não dar certo!
  - Conheço os quatro meninos e Zayn e Niall também. Se chamam Luke, Calum, Mike e Ash. Ashton estuda na Academy, aliás. – Comecei a minha propaganda básica. – O nome da banda é Five Seconds Of Summer e eles tocam seus próprios instrumentos. São australianos, mas estão aqui há alguns meses.
  - Consegue gravar essa música em um CD pra gente? Podemos tentar conversar com Simon e ver no que dá. Eu gostei. – Lou deu de ombros, mas eu sabia que gostara mais do que deixava parecer. – Não prometo nada, mas vale a pena tentar.
  - Isso! Obrigada, Boo Bear! – Abracei meu irmão com força. Queria contar a Ash e aos outros, mas ainda era cedo, principalmente se não desse certo.
  - Lux também gostou. – Zayn apontava para a minha irmã, que dançava ao som do finzinho da música.
  - , Rach está te chamando para começar seu cabelo. – Harry estava parado na entrada do corredor. Usava uma toalha amarrada na cintura e seu torço brilhava pela água do chuveiro.
   Levantei depois de calçar as pantufas mais uma vez e segui o menino. Louis ainda boquiaberto por ver o namorado em poucos trajes passou por mim e foi mais rápido. Zayn veio logo atrás, com Lux em seu colo e seguindo a comoção de pessoas. Lola dormia na cama, mas Rachel não estava mais perto dela. Ao invés disso me aguardava com uma cadeira giratória em nosso pequeno salão de beleza. Em cima da mesa, um secador de cabelo, bobs e dezenas de frascos contendo produtos de beleza.
  - Vocês vão arrumar tudo isso antes de sair, certo? – Zayn conseguiu um pedaço livre e sentou na cama, admirando a bagunça em seu quarto.
  - Não tenho nada a ver com isso! – Sentei na poltrona e ergui as mãos, me livrando de qualquer culpa.
  - Deixarei tudo limpo, Zen. – Rach apontou pra ele com uma escova de cabelo redonda, quase ameaçadora. – Quando você me viu deixar algum lugar bagunçado?
  - Tem razão... Foi mal. – Sorriu como desculpa e puxou Lux para o seu colo. – Mummy é brava assim mesmo, Luxy?
  - Eu sou mais. – Franziu o cenho e fez bico, fingindo estar brava.
  - Que medo! Não me olha assim! – Zayn tapou os olhos com uma mão, mas espiava entre dois dedos, brincalhão. A risada de Lux encheu o quarto.
   Meu cabelo estava pesado, tamanha era a quantidade de produtos que Rachel colocava para que ele agüentasse a festa inteira na posição que queríamos. Segundo ela, em meia hora eu deveria começar a senti-lo mais natural. Por enquanto, ficaria preso com bobs para que os cachos se formassem com segurança. Deixei a sua cadeira para que Harry pudesse ter os cabelos arrumados e depois retornaria para começar a maquiagem. Na cama, Zayn e Louis pareciam entediados até ligar a televisão e se distraírem com um programa qualquer.

  

+++

  Quando Harry e eu estávamos maquiados e de cabelos prontos, Zayn e Louis foram expulsos, pois era hora de trocar de roupa! O menino conseguia se vestir sozinho, ainda que sua calça jeans fosse mais apertada que qualquer uma em meu guarda-roupa, então Rachel ficou responsável apenas em me auxiliar. Ainda que estivesse disposta a tentar, nunca conseguiria entrar em meu vestido de gala sozinha. Ele era delicado demais e complicado demais. Enquanto Haz pulava para subir a calça até o quadril, Rachel tirou meu vestido de dentro da capa protetora e me livrei do robe cor-de-rosa. Segurei nos ombros da minha madrasta para passar uma perna de cada vez para dentro do vestido e deixei que ela guiasse meus braços nos buracos das mangas.
  - Lexy não devia estar aqui agora? – Preocupada, senti enquanto ela subia o zíper até abaixo das minhas omoplatas. – Não podemos nos atrasar.
  - Calma, . Ela também precisa entrar em um vestido desse, sabia? – Riu, prendendo o botão único que fechava o cinto fino em volta da minha cintura. – Aliás, você tem uma facilidade enorme pra perder peso, hein? Olha como o vestido está menos justo do que na primeira vez que o provou...
  - Está ruim? – Olhei para baixo, deslizando as mãos pelo tecido bordado.
  - Está perfeito. – Sorriu, mas seu olhar queria dizer mais que isso. – Só um problema... Não acho que pode usar sutiã com esse vestido.
  - Oh! Já tinha esquecido. – Virei de costas para ela, pedindo para que desatacasse. – Só não quero ficar pelada no meio da festa.
  - Eu aviso se algo estiver aparecendo. – Harry saia do banheiro, dobrando um pedaço de pano ao meio.
  - Harry! O que pensa que está fazendo? – Rach me deixou sozinha e correu até o menino, arrancando o tecido de sua mão. – Não, não, não. Ficou maluco?
  - Mas é meu estilo... – Resmungou, cruzando os braços. – Por favor? , me ajuda!
  - Não vou te ajudar a convencê-la de te deixar usar essa bandana na cabeça. – Neguei, sentando com cuidado na cama. – Já basta a echarpe que você está usando no pescoço.
  - Isso mesmo. – A mulher pegou o spray de laquê e retocou o topete do menino.   - Além do mais, você está lindo. – Calcei os saltos finalmente e levantei.
   Caminhei até o banheiro e me encarei no espelho. Estava linda! O colar em meu pescoço pousava sobre as clavículas, brincos delicados nas orelhas e a maquiagem feita por Rach iluminava meus traços e escondia imperfeições. Passaria horas pra tirar tudo, mas naquele momento me sentia livre de qualquer insegurança, pronta pra ir. Voltei para o quarto, onde Harry também terminava de calçar suas botas de veludo preto. Formávamos um casal engraçado. Eu era mais velha, porém mais baixa. Ele era tipicamente britânico e eu tinha características francesas.
  - Ei, por que a porta está trancada? – Zayn tentou girar a maçaneta, mas foi frustrado. – Lexy está com o carro lá embaixo...
  - Temos que ir, Harry! – O apressei, assistindo-o se olhar meticulosamente do espelho. – Rach! Onde estão nossos convites?
  - Os dois estão na sua bolsa, junto com o seu celular e o que mais precisar. – Pegou o objeto preto brilhante em cima da cadeira e me entregou. – Eu mesma chequei.
  - Okay, obrigada. – Abracei a mais velha, querendo agradecer por tudo. – Te conto tudo quando voltar.
  - Boa sorte na premiação! Vocês dois. E cuidem um do outro, ok? – Beijou a minha bochecha e passou para a de Harry, que assentiu com a cabeça.
   A loira destrancou a porta, mas Zayn não estava mais por ali. Harry e eu entrelaçamos os braços como um casal de rei e rainha que se prepara para entrar no baile. Uma vez na sala, nossos namorados estavam em pé próximos a porta aberta do apartamento. Ao me encontrar, Zayn passeou os olhos diversas vezes por mim. Tentou falar algo, mas se interrompeu, como se não fosse o suficiente para demonstrar o que ele estava pensando. Soltei Harry e parti para abraçá-lo, minha forma particular de pedir desculpas por não poder levá-lo como meu acompanhante.
  - Você está... Hipnotizante. – Beijou o meu pescoço, inalando longamente meu perfume. –Honestamente nunca a vi mais bonita. E sexy! Harry, não deixe ninguém chegar perto dela.
  - Obrigada, mas não seja bobo. – Ri, puxando-o para um beijo rápido. – Tem jantar pra você na geladeira, só precisa colocar no forno. As crianças já comeram, então não se preocupe. Não precisa esperar acordado, porque não sei que horas voltamos...
  - , vá se divertir. – Segurou minhas mãos, associando a tagarelice com nervosismo. – E traga o prêmio pra casa.
  - Os dois vão ganhar. – Louis acabava de se despedir de Harry e me abraçou também. – Você realmente está linda, .

  

+++

  A limusine parou na parte coberta do estacionamento e o valet abriu a porta de trás para que pudéssemos sair. O primeiro foi Harry, que não usava um vestido complicado. Lexy recebeu sua ajuda e também pulou para fora do carro. Eu era de longe a mais delicada, no sentido de estar usando uma roupa cheia de pedrinhas e costuras que poderiam se desfazer a qualquer momento. Harry também me auxiliou e ficou ao meu lado. Durante o passeio de carro, minha publicista nos encheu de dicas e explicou como tudo funcionaria. Por ela estar nos acompanhando, seria nossa guia pelo tapete vermelho. Fiquei muito mais tranqüila que uma amiga me falaria pra onde olhar e não uma pessoa qualquer que só estava interessada em receber seu cachê.
   Várias câmeras já zumbiam na frente do tapete vermelho, tentando capturar um pedacinho dos convidados que ainda chegavam. Para não ser uma bagunça total, os “porteiros” que conferiam os convites só deixavam uma determinada quantidade de convidados entrarem por vez, então precisamos esperar cinco minutos até sermos liberados. Harry foi na frente. De acordo com a experiência de Alexia, cada um de nós deveria entrar no “labirinto” (como ela chamava os corredores de imprensa) sozinho. Para dar oportunidade a todos de conseguir um bom destaque. Depois, é claro, poderíamos nos encontrar e posar juntos.
   Meu acompanhante andou um pouco e parou em sua pose comportada, sorrindo para as câmeras que disparavam flashes e tentavam chamar a atenção de seu olhar. Quando já estava em uma distância boa, fui em frente, sabendo que seria a minha vez. Aquele primeiro corredor possuía uma grande cerca viva verde e saudável, que segurava o nome da premiação em dourado. “É oficial, estou no British Fashion Awards!” Meu vestido azul escuro contrastava com a cor do tapete, me dando um bom destaque. A parte de trás tinha uma pequena cauda que era arrastada quando andava. A parte da frente, para a minha sorte, não era tão comprida – impedindo tropeços -, mas ainda cobria meus pés, deixando apenas a pontinha do salto de fora.
   “! ! Aqui, por favor.” “Você está muito gostosa!” “Aquele é o seu novo namorado?” “Quer colecionar pop stars?” “Boa sorte essa noite com a premiação!” Ouvia de tudo parada ali, posando com a mão na cintura e sorrindo de canto a canto. Não deixaria perguntas mal educadas mexerem comigo, ainda era cedo pra isso. Vi o olhar de Harry em cima de mim, quando ele me esperava um pouco mais adiante. Não esperei a permissão de Lexy para me juntar a ele.
  - Isso aqui é maior do que imaginei. – Devido à gritaria, se aproximou da minha orelha para ser escutado.
  - Ainda temos dois corredores no labirinto! – Não conseguia parar de sorrir. Parecia um sonho do qual eu não queria acordar.
  - Você parece estar se divertindo. – Riu como se eu fosse uma criança feliz por construir um castelinho na areia.
   Fiquei à sua direita, então ele se inclinou levemente em minha direção e sorriu para as novas câmeras. Fiz o mesmo, olhando entre Harry e a parede de fotógrafos na nossa frente. O BFA não era o tipo de evento que Harry costumava ou gostava de freqüentar, mas parecia feliz por estar comigo ali. Eu estava radiante, sem dúvida alguma. Antigamente costumávamos nos juntar para assistir premiações de música ou filmes, quando a data coincidia com minhas férias em Londres, e fingíamos estar participando de verdade. Tudo bem que o Fashion Awards não tinha a proporção dos Grammy’s, mas podíamos fingir.
  - Vamos, vamos, não temos a noite toda. – Lexy nos chamou disfarçadamente, guiando o caminho.
  - Como estamos indo? – Harry perguntou, oferecendo o braço como o cavalheiro que era.
  - Você pode andar um pouco mais devagar. – A publicista nos olhou por cima do ombro. – , você pode ser mais rápida.
  - Desculpa, Lexy, mas quero me divertir! Não vou ficar pensando se estou correndo ou se Harry é uma lesma paralítica. – Me rebelei, sem causar uma cena. Para as câmeras, éramos apenas três amigos conversando. – Já ouvimos tudo que você falou no carro, sabemos como nos virar. Obrigada, mas aproveite a noite você também!
  - Em minha defesa, a lema paralitica aqui é você. – Harry me empurrou de lado, logo me segurando novamente para que não caísse.
  - Poxa. – A morena fez bico, fingindo estar chateada. No fundo eu sabia que ela preferia relaxar do que ficar como babá de dois adultos. – Posso ao menos te dizer com que imprensa deve falar?
  - Claro que pode. Mas relaxe!
   Alexia sorriu em resposta e se distanciou um pouco, posando e assoprando beijos para todos os lados. Era a própria rainha e aquela era a sua festa de coroação. Eu gostava muito dela, só por isso consegui falar naquele tom mandatório. Caso contrário, teria apenas obedecido de cara feia. Harry também se afastou, pois chegamos a um ponto onde o público também tinha seu espaço para espiar a premiação. Várias celebridades estavam agendadas para aparecer e seus fãs não poderiam perder. Harry começou a tirar fotos com meninas que o conheciam e assinava papeis ou fotos do One Direction que elas trouxeram de casa.
  - Hi, hot stuff! – Uma mulher loira e de vestido prateado beliscou a minha bunda, me fazendo soltar um gritinho de susto.
  - Rita! – Ri mais aliviada por ser apenas Rita Ora. Quando a fase assustada passou, nós duas começamos a pular como duas amigas de infância fazem ao se ver depois de muito tempo separadas. – Você está TÃO linda!
  - Bem, o que posso fazer? – Apontou para o próprio decote avantajado pelo vestido tomara que caia. – Você é que está glamorosa. Competição acirrada essa noite, huh?
  - Pare com isso, você vai ganhar. Não tenho dúvida alguma. – Acreditava piamente nisso. – Estou torcendo pra você.
  - Igualmente. – Sorriu.
  - Com licença! Oi. – Harry estava novamente perto de mim e beijou a mão oferecida por Rita. – Preciso roubar essa moça.
  - Claro, claro, não podemos parar pra conversar aqui. Te vejo lá dentro, ! – A loira e eu trocamos beijinhos.
  - Boa sorte hoje a noite! – Acenei.
   Pelo visto, Harry já estava com a mão doendo de tanto autografar, mas suas fãs continuavam gritando da mesma forma de antes. Ou talvez fossem gritos para Rita... Quem sabe? Harry passou o braço em volta dos meus ombros como fazia sempre e o abracei pela cintura. Meu vestido era praticamente transparente e o tecido fino nessas partes não me protegia do ar frio que corria o tapete vermelho. Um toldo branco cobria boa parte do espaço, para o caso de chuvas Londrinas sem previsão de queda, mas nada impedia o vento de varrer o espaço todo. Harry, então serviria de aquecedor.
   Lexy continuava a posar para fotos que não se cansavam do seu belo rosto e poses divertidas. Notando-nos, porém, pudemos nos preparar para o próximo corredor do labirinto. Demos uma pequena parada antes de dobrar a bifurcação e a mulher colocou um fio do meu cabelo para o lado contrário ao que estava. Arrumou o lenço em volta do pescoço de Harry e sorriu.
  - Agora vamos para a parte mais agitada. – Avisou com uma animação excessiva. – Entrevistas! Não vão ser longas, não se preocupem. Cada um geralmente faz três perguntas e passa para o próximo. Harry, você recebeu alguma instrução sobre com quem falar?
  - Geralmente falo com quem está sorrindo mais... – Deu de ombros.
  - Adorável. – Sorriu e se voltou para mim. – E você, senhorita-quero-me-divertir, vai falar com quem eu achar que é uma boa ideia falar.
  - Sei que você só quer o melhor pra mim, então vou tentar te obedecer. – Rolei os olhos, concordando.
  - Alguma dúvida?
  - OH! Quem eu estou usando? – O menino se tocou de algo muito importante.
  - Armani. – Lexy e eu respondemos ao mesmo tempo.
   Dobramos o corredor e uma longa grade de ferro nos separava de repórteres com câmeras de vídeo que cobriam a premiação ao vivo. A arrumação era bem parecida com a anterior, mas cada programa e emissora parecia ter o seu próprio espaço delimitado e nenhuma invadia o espaço da outra. Podia ser mais agitado por serem mini-entrevistas, mas era mais organizado, com certeza.
   Harry ficou pelo caminho enquanto Lexy me guiava para a minha primeira entrevista. Todos ali pareciam saber quem eu era, o que mostrava que fizeram seu dever de casa ao estudar todos os nominados a prêmios. A publicista acenou para uma mulher alta que usava um vestido cor de rosa até os joelhos, adoravelmente sorridente. As duas deviam se conhecer e entendi que era com ela com que eu deveria falar. Lexy me deixou andar sozinha o resto do caminho e ergui o vestido levemente para andar mais rápido.
  - Aqui está ela! Eu disse que conseguiria falar com Tomlinson, não disse? – A mulher baixinha, ainda que usasse saltos, falou para a câmera e em seguida me cumprimentou com um sorriso.
  - Olá! – Sorri de volta e acenei para a câmera.
  - Uma coisa que estou perguntando a todos essa noite e gostaria de perguntar você, que é tão jovem... Onde surgiu a sua paixão por moda?
  - Sempre tive esse costume de ler revistas de moda quando era pequena, pra saber do que todas as meninas da escola estavam falando. E lembro de brincar pelo guarda roupa da minha avó ou transformar as camisas de meu avô em vestidos fofos. – A lembrança fez um sorriso borbulhar em meu rosto. – Mas só foi mais tarde que descobri que a moda também é uma forma de expressão e, como bailarina, sou totalmente a favor disso.
  - E como você consegue conciliar seu trabalho com o treinamento dedicado que o ballet exige? – Continuou com suas perguntas.
  - Até agora tenho conseguido fazer as duas coisas facilmente. Ballet sempre foi a minha prioridade, é claro, mas nunca pensei que esse novo mundo pudesse ser tão divertido e fosse se tornar uma parte tão importante na minha vida. Eu amo fazer as duas coisas, de verdade.
  - Uma última coisa, , e vou te deixar ir. Sei que terá uma longa noite. – Falava ao microfone. – Planos para o futuro?
  - Vou continuar fazendo o que eu gosto enquanto isso me fizer feliz. Se meu caminho está na dança ou nas passarelas, só o tempo vai dizer.
   Não podia dizer que iria dançar e ponto final, pois isso seria pisar no prato em que estava comendo. Nos despedimos cordialmente e segui em frente. Lexy não podia ser vista em lugar algum e me senti um tanto desesperada. Muitas equipes de imprensa tentavam falar comigo e não sabia se podia simplesmente escolher quem sorria mais, assim como Harry. Encontrei, então, uma face conhecida entre tantas câmeras. Era a mesma repórter que falara comigo em Nova York no desfile da Mulberry.
  - Yohoo, ? Está me vendo, querida? – A mesma mulher me chamou.
  - É claro que sim! – Saltitei ao seu encontro e fui abraçada.
  - Uau, você está maravilhosa! Olhem só pra isso. – Falou para a câmera e coloquei a mão na cintura, dando uma voltinha para mostrar o vestido. – Me deixe fazer a grande pergunta! Quem você está usando? Você escolheu esse vestido sozinha?
  - Esse vestido aqui é Ziad Nakad. Simplesmente me apaixonei pelo trabalho dele. – Mexi na saia, fazendo-a brilhar ainda mais. – Posso dizer que escolhi sim... Quero dizer, a minha publicista e a minha stylist me deram alguns vestidos pra provar, mas com esse foi amor a primeira vista.
  - Boa escolha, definitivamente! Você também está concorrendo a um prêmio essa noite... Pensamento positivo? – Todas as entrevistadoras tinham este tom simpático, como se te conhecessem de verdade.
  - Estou positiva de que NÃO irei ganhar esse prêmio. - Nós duas rimos, mas o dela foi mais forçado que o meu. – Mas não tem problema. Estou feliz só de estar aqui e tenho certeza que a vencedora vai ser muito merecida.
  - Espero que você ganhe, ! Não pense assim. – Tinha certeza que falaria isso para todas as outras concorrentes, mas sorri por sua boa vontade. – Quando nos vimos pela última vez em NY, você disse que tinha uma pessoa especial te esperando em casa... Agora que estamos na sua “casa”...
  - Ele está aqui! – Confirmei. Não podia falar que essa pessoa era Zayn, mas qual problema teria em admitir que tinha um amor em Londres?
  - Desejo tudo de bom pra vocês essa noite, querida. – Trocamos beijos no ar, sabendo que seria liberada para continuar meu passeio.
  - Obrigada!
   Acenei para ela mais uma vez, trocando a bolsa de mão. Já estava ficando cansada e minhas bochechas doíam de tanto sorrir. Lexy deu sinais de vida, mas a encontrei de costas pra mim, subindo as escadas que dariam na entrada do Coliseum, onde a premiação começaria em pouco menos de uma hora. Pelo visto ela decidira deixar que eu me divertisse mesmo. Olhei em volta, sabendo que Harry não teria entrado sem mim e eu muito menos o abandonaria ali fora.
   Caminhei como quem não quer nada e encontrei seu corpo alto e longo se destacando de tantos outros menores. Harry conversava com uma mulher loira e respondia suas perguntas do jeito que só ele sabia. Diferente das outras, esta tinha uma aparência mais oficial, até mesmo podendo ficar do lado de dentro do cercadinho de ferro e andar até quem quisesse entrevistar. Parei alguns metros longe deles, mas ainda conseguia escutá-los perfeitamente.
  - Harry, podemos dizer que você tem uma, digamos, reputação ao seu respeito. Que, bem, você leva jeito com as mulheres. – Tocou o ombro dele, basicamente lançando uma cantada nada sutil. – Está procurando alguém pra levar pra casa hoje a noite? Alguém chamou a sua atenção?
  - Eu só poderia ir pra casa com uma pessoa hoje e foi com ela que eu cheguei aqui. – Declarou, olhando para os lados como se me procurasse. – E, vamos falar sério, já olhou pra ela? é a mulher mais bonita aqui hoje.
  - Já vi e estou olhando pra ela agora mesmo! está escutando, não? – Fui flagrada. Harry se virou na direção que a mulher apontou e me chamou com um aceno. – Vem aqui, garota!
  - Fui descoberta, não? – Fiz o pedido, minhas bochechas corando. Harry deixou que o abraçasse e agradeci internamente por dar uma pausa ao frio.
  - E o que tem a dizer sobre essa declaração, huh? Sobre ganhar o título de “mulher mais bonita da noite”.
  - Eu o paguei pra falar isso. Não, estou brincando... Harry é meu bebê, ele sabe disso. – Encontrei seus olhos verdes, nós dois sorriamos.
  - Você pode dizer o mesmo sobre ele?
  - Não sei não... Jamie Campbell Bower está aqui também, mas ainda não vi. – Brinquei, piscando para ela. – Claro que Harry é o homem mais bonito aqui! Esses olhos verdes e cachinhos...
  - Bom saber! Boa sorte para os dois essa noite e obrigada por falarem conosco...
  - Obrigado você. – Harry me soltou para se despedir dela.
  - Até logo! – Novos beijinhos aéreos.
   Harry foi em frente primeiro e diminuiu ao ver que eu não o alcançaria com meu vestido e saltos. É, talvez eu fosse a lesma paralitica da história. Hora de entrar!

  

+++

  Uma vez dentro do London Coliseum, pude descansar os braços e as bochechas, pois só sorria naturalmente e só acenava para dizer ‘oi’ a pessoas conhecidas. O lugar estava arrumado impecavelmente, com mesas espalhadas por todo salão. Cada mesa possuía bancos estofados ao invés de cadeiras, sendo dois bancos de três lugares e um de quatro. Diferente de outras premiações que vemos pela TV, o BFA não seguia a risca um cronometro com hora pra começar e terminar, o que permitia uma pequena pausa de dez a quinze minutos entre a entrega de prêmios que geralmente era feita de três em três.
  Na minha mesa próxima ao palco, Harry estava ao meu lado no banco de quatro lugares, seguido por Nick Grimshaw e Alexa Chung. No meu outro lado, Carine, Cara e Lexy dividiam o assento e, na outra ponta, o marido de Carine, Poppy Delevingne e Daniel Sharman repartiam o último. Nos sentíamos em uma grande família e todos já conseguiam conversar entre si depois dos primeiros vinte minutos.
   Edie Campbell acabava de agradecer o seu prêmio de modelo do ano e saia pelas coxias, indicando mais uma pausa para que os garçons pudessem completar nossas taças de champanhe e servir canapés típicos e outras comidinhas de festa. Carine folheava seu caderninho com a programação da noite com tanta atenção que ninguém ousava interrompê-la. Engoli um pouco do champanhe em meu copo e notei que Cara olhava em volta.
  - Procurando a Rita? – Perguntei.
  - Sim. Ela disse que consegue ver a gente... – Com essa informação, também comecei a procurá-la na plateia atrás de mim. – Ali! Está mandando beijos.
  - Oiiiiiii. – Ergui o braço para também brandir para a loira, que parecia uma louca se balançando toda em um simples aceno. – É uma pena que ela não possa sentar com a gente.
  - A culpa é sua. – Cara me culpou sem a menor sutileza. – Duas competidoras da mesma categoria não podem sentar juntas.
  - Pelo menos quando ela ganhar vai passar por aqui. E a abraçaremos! – Fiz careta para a loira, que pareceu concordar ao sorrir.
  - Por falar nisso, sua categoria é a próxima, . – Carine ergueu os olhos do papel. – E a de Harry logo em seguida.
  - Ouviu isso, Hazza? – Afaguei seu braço. Sabia que ele iria ganhar e minha torcida estava grande. – Você é o próximo! Já sabe o que falar seu discurso?
  - Obrigado à minha amiga , porque sem a minha amiga eu não estaria aqui hoje e esse prêmio é dedicado à minha amiga . – Riu, repetindo o que eu pedira pra que ele falasse em seu discurso de aceitação do prêmio. – Esqueci alguma coisa?
  - Um beijo para a minha amiga . – O abracei de lado, deixando um beijo em sua bochecha.
   Grimmy puxou um novo assunto com o menino que dividamos aquela noite e fui deixada de lado. Chequei meu celular algumas vezes e só encontrei mensagens da minha mãe. Aparentemente ela e todos de nossa família em Paris havia se reunido para assistir a premiação em um telão no jardim, com direito a pipoca, sorvete e refrigerante. Todas as vezes que eu aparecia, nem que fosse no pano de fundo, ela mandava mensagens do tipo: “LINDA!!!” ou “Os bebês mexeram quando te vi na tela.” Adorável, de verdade. Sabia que era exagero de mãe, mas me sentia feliz todas as vezes que lia uma nova.
  - Já falou pra ela, Car? – Carine se debruçou sobre a mesa, olhando pra mim com expectativa.
  - Me falou o quê? – Curiosa como só eu, prestei atenção na mulher.
  - Sobre quem vai estrelar a nossa campanha 2014 primavera/verão. – Depois de encerrar sua bebida, Carine pousou a taça vazia e segurou a minha mão.
  - Sério?! Parabéns, Carrie. Mas você é a melhor, com certeza. Já vi suas campanhas antigas. Simplesmente perfeita. – Congratulei a minha amiga. Campanhas de uma marca tão grande quanto aquela pesavam bastante no currículo de uma modelo.
  - Ela não está falando de mim, idiota. – Cara rolou os olhos. – Está falando de nós duas! Não quer fazer a campanha ao meu lado?
  - Claro que sim! – Não precisava pensar no assunto ou em suas conseqüências. Sabia que me divertiria fotografando, que era algo que gostava de fazer mais do que desfilar. – Quando fazemos? Onde assino?
  - Eu disse que ela aceitaria no mesmo instante. – Lexy escutava tudo e entrou no assunto. – Marcaremos uma reunião na segunda feira, okay?
  - Ótimo! Yay. Obrigada, Car! – Me inclinei para frente, abraçando Carine sem precisar levantar. – Vamos trabalhar juntas de novo, Carrie!
  - Yaaaaaaay! – Ergueu a mão e bati nela com a minha. Fizemos um pouco de barulho, mas apenas quem estava na mesa nos escutou.
   Com o passar do tempo, aprendi a confiar em Carine e em sua consciência profissional. Caso achasse que eu não era capaz ou que não seria a pedida certa para a nova campanha, não teria me convidado. Eu sabia que fotografar esse tipo de coisa era diferente de um simples photoshoot, mas estava tranqüila por saber que não o faria sozinha. Cara estaria ao meu lado e tiraria as minhas dúvidas, igualmente daria dicas sobre o que fazer ou o que não fazer.
   As luzes do salão diminuíram até que a única iluminação viesse das lâmpadas nas mesas e no holofote que iluminou o palco. Pouco tempo depois, um homem alto e esguio, com cabelos dourados e porte travesso atravessou o palco. Jamie Campbell Bower segurava um troféu branco, o prêmio que tantos outros vencedores haviam recebido naquela noite. Em sua outra mão, um envelope dourado. O murmúrio chegou ao fim e todos se concentraram para assistir a nova entrega.
  - Boa noite, senhoras e senhores. É uma honra poder estar aqui hoje e apresentar um dos maiores prêmios da noite. Claro que um homem tão charmoso quanto eu também deveria estar concorrendo nesta categoria, mas não acho que seria justo. Para as outras pessoas, é claro. – Brincou, causando risadas na platéia. – Aqui estão os indicados para o Red Carpet Award.
   O telão atrás dele se acendeu assim como meu coração que batia acelerado. Sabia que não iria ganhar, mas não adiantava explicar isso para meu estômago. A voz masculina no auto falante começou a chamar os nomes por ordem alfabética dos sobrenomes: “Lily Donaldson.” E seu rosto apareceu no telão; ela cruzou os dedos em forma de boa sorte. “Sienna Miller.” Foi a segunda. A atriz mal olhou em direção a câmera, mas sorria. “Rita Ora”, mostrou a língua e em seguida piscou no telão. “ Tomlinson.” Fui a última e demorei para encontrar a direção da câmera, o que me fez rir e acenar, tentando ignorar as bochechas vermelhas de vergonha. Assim que cada nome era chamado, novas salvas de palmas individuais começavam.
  - E o prêmio vai para... – Pousou o troféu em cima do palanque de vidro e abriu o envelope dourado. - ... Tomlinson! Parabéns, !
   “Espera aí... O que aconteceu?” Esperei ver Rita atravessando o corredor ao meu lado para receber seu prêmio, mas ninguém se mexeu e todos olhavam pra mim, aplaudindo. Não conseguia definir rostos, pois tudo ficou borrado. Meus ouvidos só conseguiam captar algumas palavras por vez: “Eu sabia! Parabéns, !” ou “Vá receber o seu prêmio, você merece!” Só quando Harry me empurrou de leve e me ajudou a levantar é que voltei à mim mesma e consegui sorrir; uma mescla de surpresa com felicidade recém descoberta.
   Uma vez de pé, fui abraçada pelo meu amigo, que sussurrou que sabia disso o tempo inteiro. Minha mão estava tremendo, mas Harry a segurou com a sua, me acompanhando até as escadas do palco. Além disso, subiu os primeiros degraus ao meu lado, amparando a minha subida. A combinação de salto alto e um vestido tão longo mais escada não resultaria em algo agradável de se ver ou viver. No palco, Jamie veio me cumprimentar e me abraçou, sussurrando parabéns mais uma vez. Entregou, então, meu prêmio lindo e mais pesado do que aparentava. “Muito bem, hora de fazer seu discurso. Oh, shit. O que vou falar?”
  - Uau, isso é muito surreal! Uh... Eu gostaria de começar agradecendo à Carine, Emma Hill e Alexia, por me darem primeira oportunidade de entrar nesse mundo, apesar da minha completa falta de experiência. Eu realmente sinto como se não merecesse este prêmio, mas só agora descobri o quanto o queria. – Comecei a falar, só torcendo para não gaguejar ou me embolar toda, o que seria bem possível, considerando a velocidade de meus batimentos cardíacos. – Segundo, gostaria de agradecer à Harry, que está aqui comigo hoje. Obrigada por me aguentar provando vinte vestidos diferentes, pedindo sua opinião em cada um e rejeitando todas. À meus familiares e amigos em casa, muito obrigada por todo o apoio que sempre recebi, não importa o que eu queira fazer. Esse prêmio aqui não é só meu, é de todos vocês. Obrigada!
   Bem a tempo de a música começar a tocar, terminei meu discurso improvisado e recebi novos aplausos. O prêmio em minha mão era tão lindo que mal podia acreditar que era meu. Tive que checar meu nome gravado na medalha de ouro incrustada ao topo três vezes para que a ideia começasse a entrar na minha cabeça. Jamie me acompanhou até a lateral do palco, em direção ao backstage. Ali, os ganhadores precisavam posar com seus prêmios em frente à um painel com logotipos de todos os patrocinadores da noite.
   Fiz o que era de praxe, com o maior sorriso no rosto, mas tive pressa para sair de lá. Tudo bem que eu só poderia voltar para o meu lugar durante o novo intervalo, mas consegui me esgueirar para as coxias e assistir a entrega do próximo prêmio, que era a categoria em que Harry estava concorrendo. Alexa Chung estava no palco e a voz do além anunciara os concorrentes. Perdi o início, mas a parte mais importante estava para acontecer.
  - E o British Style Award vai para... Harry Styles.

    

Chapter LXV

Se depois do recital meus colegas de classe passaram a me aceitar como “parte da turma”, após o British Fashion Awards, o resto da Academy entendeu o recado. Ainda quem não chegou a assistir a transmissão ao vivo, ficou sabendo do meu prêmio e passou a me parabenizar e alguns até mesmo passaram a querer tirar fotos comigo. Não neguei nenhuma, mas ainda achava estranho. Eu estava lá todos os dias! Todo mundo me conhecia... Eu não merecia tratamento diferente só por causa de um troféu. entendia isso perfeitamente e não facilitou nada para o meu lado no começo da manhã. Roubou meu café com chantilly e disse que teria uma surpresa pra mim após a aula. Eu só não estava certa se podia ou não confiar nessa “surpresa”.
   Depois do primeiro horário, onde tivemos aula em conjunto com todos os outros níveis, Bartira nos mandou para nossa sala de sempre e pediu para que esperássemos por ela lá, já alongados e prontos para começar a aula. Enquanto metade da turma apenas conversava, deitada no chão de barriga pra cima, a outra metade me acompanhava em exercícios na barra. Geralmente eu faria aquilo sozinha, mas agora uma fila de quatro pessoas imitava todos os meus movimentos. Chegava a ser engraçado até.
  - Uau, Max. Eu não conhecia esses exercícios de alongamento. – A professora entrou na sala e o menino foi o único que não disfarçou a preguiça. – Vá para o canto e se alongue até eu dizer que pode parar.
  - Mas, professora... – Tentou argumentar, mas o olhar da mulher era definitivo. – Damn it!
  - Isso mesmo, ande logo. – Balançou a cabeça e tentou esconder um sorrisinho. – O resto de vocês, venha cá, por favor.
   Bartira carregava uma caixa de papelão e a colocou no centro da sala. Me afastando da barra, juntei-me ao círculo eu se formava em volta da professora e a assistia abrir a caixa. Um conjunto de fitas coloridas presas à varetas de metal quase pularam pra fora quando cada aluno pegou a sua. Escolhi uma de cor vermelha e a desenrolei com cuidado. Sabia que aquilo era usado como objetos de cena, pois era comum utilizá-los em Paris. Em Londres, porém, era a primeira vez que eu as via.
  - Teremos uma aula muito divertida hoje! – Já de bom humor, Bartira pegou a própria varinha. – O primeiro que conseguir fazer um coração, ganha.
  - O que eu ganhei? – Me afastei de todos e em dois segundos manejei a fita para que ela formasse um coração desenhado no ar.
  - Eu deveria saber. – Bartira cruzou os braços, escondendo um novo sorriso. – está fora da competição, porque claramente tem experiência. Vamos, se divirtam!
   Decepcionada por ter sido excluída, mas entendendo o seu ponto de vista, me afastei. Todos fizeram o mesmo, cada um ocupando seu espaço na sala comprida. Dos nove anos aos onze, fiz de minha meta pessoal dominar aquela arte que parece tão fácil, mas requer treinamento e dedicação. A professora mandou que nos divertíssemos e era minha obrigação como aluna obedecê-la. Voltando à minha infância, comecei a girar, fazendo desenhos variados com a fita no ar. Girei em um lugar só, subindo na ponta e dando uma pirueta dupla enquanto erguia a fita para o alto, que se desenrolava em arcos à minha volta. Me sentia uma artista e aquele era meu pincel.
  - Brigitte, desligue o celular, não é hora disso! – Bartira mandou ao ver a menina com o celular na orelha.
  - Só um minuto, isso é importante! – Brie podia ser maluquinha e se achar demais, mas não era de seu feitio desafiar as autoridades. Colocou a mão sobre a boca para falar, mas ainda podia ser ouvida. – Mãe, tem certeza que é isso o que está escrito?
  - Brigitte, estou falando sério. – Àquela altura, todos já haviam parado o que faziam para poder assistir.
  - Obrigada, mãe! – Encerrou a ligação e se virou para o resto da turma. – EU RECEBI! MINHA CARTA... O CONVITE... O RECITAL...
  - Respire, querida, ninguém consegue te entender. – Bartira continuou.
  - Minha carta chegou! Fui convidada para dançar para a Hungarian National Ballet! Vou para a Hungria! – Vibrou, comemorando o próprio sucesso.
   A próxima coisa que vi foram fitas coloridas sendo jogadas no chão e pessoas correndo para todos os lados, em direção aos celulares guardados nas mochilas. Aparentemente os resultados do recital começavam a chegar pelo correio. Bartira apenas jogou os braços pra cima, desistindo de controlar sua turma. Fui até a minha própria mochila e sentei no chão, segurando iPhone vazio de qualquer mensagem ou ligação. Alguém teria me avisado se algo tivesse chegado pra mim, não? Digitei duas rápidas mensagens, enviando-as para Zayn e Liam:
  “Bom dia, sunshine. Já acordou? Poderia ligar para a portaria e perguntar se alguma correspondência chegou pra mim? Te explico depois. Love you. <3”
  “Baba, urgente! Chegou alguma carta pra mim? Qualquer uma, por favor.”
   Enquanto esperava a minha resposta dos meninos e mais uma menina começava a gritar, comemorando seus resultados. David entraria na Bavarian State Ballet no final do semestre e os outros dois foram convidados para dançar para o New York City Ballet. Com o coração na mão, recebi minhas duas respostas quase que no mesmo instante. A primeira era de Zayn:
  

“Nada chegou, babe. Algo errado?”
  “Não, não... Só queria saber. Estou na aula agora, te ligo depois. x”

  E a segunda:
  
“Só propagandas, . Aviso se algo mais aparecer...”

  

+++

  Depois da primeira meia hora de euforia, Bartira conseguiu que os ânimos se neutralizassem e deu inicio à aula novamente. No total, quatro pessoas de dez receberam seus convites, o que era uma boa porcentagem, considerando que eu estava dentro da metade maior; a que não recebera nem ao menos uma carta de rejeição. Ainda era cedo e apenas o começo da semana. Não era o fim do mundo... Então porque eu tinha um frio tão ruim na boca do estômago? Toda a animação causada pelas fitinhas coloridas desapareceu completamente.
   Ao menos eu tinha uma razão pra ficar feliz. Em pouco mais de uma hora estaria em uma cobertura da Oxford Street, conversando sobre o contrato e dias que fotografaria a campanha primavera/verão para a Mulberry. Tentava me manter positiva, de que – se não recebesse convite algum – ainda teria um trabalho. Se ao menos isso pudesse me acalmar. Deixei o banheiro após trocar de roupas e me preparar para a reunião, sabendo que deveria procurar e a sua surpresa.
   Preguiçosa demais para ir até a sua sala, torci para que, como eu, estivesse liberada e me esperasse nas escadas; como nos velhos tempos. Passei pelo corredor do primeiro andar o mais escondida possível, apesar de não saber do quê ou quem estava me escondendo. Me esgueirei pela porta de madeira, mas não estava lá fora, para a minha infelicidade. Por outro lado, quem encontrei deveria ter noticias da ruiva. Niall estava no pé da escada, conversando com um casal.
  - Nialler! – O chamei. Admito que procurei Zayn aos redores, mas não havia sinal dele.
  - Weyhey, ! – O irlandês se virou e saltou os degraus até me encontrar na metade da escadaria. – não está com você?
  - Esperava que ela estivesse com você. – O abracei com força, só então olhei por cima de seu ombro e vi quem era o casal que esperava na calçada. – Mas já deve estar vindo pra cá.
  - Niall, se continuar pulando assim, vai ter que fazer a cirurgia! – Greg, o irmão de Niall, reclamou. – Alou, .
  - Olá! – Terminei de descer a escada, sorrindo para ele e Denise. – O que estão fazendo aqui?
  - O pequeno Theo sentia falta do tio Niall e tia . – Denise sorriu, trazendo o carrinho com o filho para mais perto.
  - Lil’ Craic! Ele está tão grande! Olha o tamanho dessas bochechas... – Minha voz mudou de tom e parecia que estava falando com meus filhotes. Theo estava maior e com mais cabelo do que na última vez em que o vira. Loiro e de olhos azuis, se parecia cada vez mais com o pai e o tio. Claro que puxara a cor de cabelo da mãe, mas ainda assim. – Tão gordinho! E olha como sorri!
  - Ele gosta de você. – Denise riu. – Geralmente só sorri assim quando gosta de quem fala com ele.
  - Awwwwn! – Levei as mãos ao rosto, transbordando com a sua fofura.
  - Viemos visitar e agora vamos ao médico com Ni. – Greg tocou o irmão no ombro. – Ver o que há de errado com esse joelho problemático, mas acho que já sei qual é o problema.
  - Com a turnê se aproximando, Pablo acha melhor descobrir o que causa as dores e o que fazer pra cuidar, sabe como é. – Ni se abaixou perto do carrinho do sobrinho, brincando com um pequeno urso de pelúcia.
  - Também esperamos conhecer . Niall fala dela o tempo inteiro. – Denise sorriu de canto, ansiosa. – Ela vai ao hospital conosco também.
  - E vão levar o pequeno junto? – Hospitais não eram lugares muito apropriados para se levar bebês com baixa imunidade. Ao me escutarem, Greg e Denise se entreolharam.
  - Uh, você e Zayn cuidaram tão bem dele aquela noite... – A mulher começou. – Se não estiver ocupada, gostaríamos de saber se poderia fazer isso de novo. Só por algumas horas, enquanto acompanhamos Ni durante a consulta.
  - Claro que sim! – Sabia que logo teria a reunião, mas não podia negar. – Vou adorar ser babá dele. E não se preocupem... Depois da consulta, vão se divertir! Sei que deve ser difícil pra vocês encontrar um tempo livre quando se tem um bebê. Vão passear, conhecer . Ela é uma pessoa adorável.
  - Sou mesmo. – Olhamos novamente para a escada que descia como uma verdadeira princesa. De salto nos pés e uma roupa super arrumada para um dia de aula normal, surpreendeu até mesmo o namorado. – Vocês devem ser Greg e Denise.
   Niall foi cumprimentar a namorada e Greg foi junto, deixando sua esposa ainda comigo. Ela se curvou no carrinho e desamarrou Theo, que agarrou seus cabelos, mas não chegou a puxar.
  - Poderia segurá-lo, por favor? – Me passou o bebê que também estava mais pesado do que na última vez. – Vou soltar a cadeirinha e Greg pode instalar no seu carro, pra que possa levá-lo.
  - Ótimo! Já estava pensando em pedir pra Zayn vir nos buscar. – Ri só por ser impossível ficar séria com Theo nos braços. Ele fazia pequenos barulhos e parecia querer conversar. – Meu carro é esse vermelho aí na frente. Aqui está a chave.
   Fizemos uma troca. Greg pegou a chave do meu carro e a cadeirinha das mãos da esposa. Denise, por sua vez, foi cumprimentar a cunhada e levei Theo para também conhecer a titia. Dez minutos e não fizera nenhum comentário. Estava me assustando. Para seu azar e minha animação, Theo não sorriu quando a conheceu. Tampouco começou a chorar. “Sou a tia preferida!”
  - Prontinho. – Greg terminou de instalar a cadeirinha e pegou o filho mais uma vez, para colocá-lo dentro do carro. – Você vai passear com a tia hoje...
  - Meninos, temos que ir ou chegaremos atrasados. – Denise chamou Niall e , que se abraçavam mais uma vez. – , aqui está a bolsa do Theo. Tem comida, leite, fraldas e duas roupinhas limpas, caso precise. Também anotei algumas coisas em um bloquinho, caso tenha dúvidas. Mas pode me ligar a qualquer momento...
  - Não leve para o lado pessoal, ela também é assim quando o deixa com a minha mãe. – Niall comentou, pegando a chave do próprio carro no bolso.
  - Nós ficaremos bem, não se preocupe. – Pendurei a bolsa de criança no ombro. – Não é a minha primeira vez como babá. Esqueceu?
  - Claro que não. – Denise me abraçou, sua forma de dizer obrigada. – Amor, guardou o carrinho?
  - Sim, querida. Está na mala. – Por fim, Greg me devolveu a chave do carro.
   Fui até meu conversível enquanto os dois casais iam até o próprio transporte. Nos despedimos e o carro deles foi o primeiro a partir. Sentei e fechei a porta, colocando a bolsa de Theo no banco ao meu lado. Olhei para trás e assisti a criança começar a morder o próprio dedo, como se nada estivesse acontecendo. “Eu poderia te morder, sabia?” Pensei com um sorriso, brincando com seu pézinho. “Lux é que gostaria de brincar com você.”
   Antes de apresentá-lo à minha irmã, precisava decidir o que faria a seguir. Tinha uma reunião em meia hora e não podia levar um bebê, podia? Saquei o celular, digitando o número de Zayn com a rapidez do hábito. Alguns toques depois, obtive resposta. O que ouvi foram algumas risadas e a voz masculina pedindo licença. Gradualmente, o barulho foi diminuindo como se ele se afastasse de sua fonte.
  - Hey, babe! Achei que não fosse mais ligar. – Sua voz era animada, do tipo que denunciava algumas garrafas de cerveja. – Saiu da aula?
  - Acabei de entrar no carro... Onde você está?
  - Estou na casa da minha mãe. Vem pra cá!
  - Estão dando uma festa? – Ri, tranquila por saber que estava bem e seguro no ninho da mãe.
  - Mais ou menos... Meus primos voltaram de viagem e estamos nos reunindo aqui antes que voltem pra Bradford. Minha tia quer te conhecer! – Exclamou, afastando o telefone do rosto pra falar algo que não escutei. – Ainda não me disse se vai vir!
  - Mais tarde passo aí, baby, prometo. Agora preciso ir até a Mulberry, resolver detalhes do contrato... – Olhei para Theo pelo retrovisor. Não podia deixá-lo com Zayn. Não sem atrapalhar a comemoração e seu tempo em família, principalmente sabendo o quanto aqueles momentos eram importantes pra ele. – Só liguei pra avisar.
  - Só pra isso é que ligou? – Sabia que estava fazendo bico do outro lado.
  - Também liguei pra ouvir a sua voz. – Rolei os olhos, sorrindo sozinha. – Você nem ao menos acordou essa manhã pra me dar bom dia!
  - Eu te disse pra me acordar! – Se defendeu, mas sabia que eu tinha razão. – Prometa que vem logo após a reunião.
  - Eu prometo! Agora tenho que ir. Já estou atrasada. – Girei a chave, escutando o leve ronco do motor. – Eu te amo, Zen.
  - Amo você, babe. Boa sorte!
   Desligamos e coloquei o sinto de segurança. Chequei os retrovisores e em seguira olhei para meu companheiro mais uma vez. “É, vamos passear, pequenino.”

  

+++

  - Aqui é onde eu trabalho, Theo... Mais ou menos. – O bebê estava em meu colo e eu lutava para empurrar o carrinho pela entrada do escritório. Ele segurou o crachá em meu pescoço e puxou para tentar morder. – Geralmente é preciso um desses pra entrar aqui, mas acho que você está seguro.
  - Ownt, meu Deus! É seu filho, ? – Fui interrompida de minha caminhada por uma menina morena e de óculos redondos no rosto. Tentei recuperá-la em minha memória, mas tinha certeza de que nunca a vira antes. – Tem os seus olhos azuis!
  - Obrigada. – Assenti delicadamente. Daria trabalho demais corrigi-la. – Desculpe, não sei o seu nome...
  - Me chamo Gracie. Trabalho aqui agora... Sou a nova estagiária. – Se apresentou. Então ela era a substituta de Rebecca. – Posso lhe oferecer alguma coisa? Um café? Posso correr até a Starbucks...
  - Só uma água, por favor. Tomei um remédio e ele não desceu bem pela garganta. – Sorri. Pontos para Gracie, que se dispôs a fazer o que Rebecca mais odiava.
  - É pra já!
   A menina saltitou para longe. Me peguei observando-a partir. Aparentava ser tão nova... Enfim. Theo deitou a cabeça em meu ombro e abraçou meu pescoço, tornando difícil a minha mobilidade. Devia ter deixado-o no carrinho, mas o pobrezinho passou o tempo todo no carro deitado que achei que pudesse gostar de um pouco mais de contado humano. Devagar, arrastei o carrinho e levei o bebê até o interior do escritório. Carine logo me viu, deixando de lado dois exemplares de bolsas e veio me atender.
  - Quem é essa criatura gorducha, ? Um novo acessório de que nunca ouvi falar? – Trocamos beijinhos na bochecha e ela acariciou a cabecinha de Theo.
  - É o filho de um casal de amigos. Me pediram pra cuidar dele hoje e não pude dizer não... – Agradeci com um suspiro que ela tenha se encarregado de levar o carrinho, me deixando apenas com o bebê. – Espero que não tenha problema em ter trazido-o.
  - Claro que não. Ele parece ser um anjinho. – Sim, porque estava dormindo! – Vamos, Lexy e o advogado já estão aqui. Podemos começar a reunião.
  - Advogado? Estou sendo processada? – Espantada, fiquei para trás.
  - Não seja boba, . Claro que não! – Acenou para que me apressasse. – Temos um novo contrato pra tratar, mais complicado que o antigo. É costumeiro que se tenha um advogado presente, pra que tudo esteja em pratos limpos.
  – Acho que a expressão é panos limpos... Não importa.
   Carine abriu a porta da S3, onde já éramos acostumadas a ter aquelas reuniões. O tal advogado tinha aparência velha, mas emanava experiência. Cabelos grisalhos e arrumados com gel, contrastando com o lábio inferior curto, deixando à mostra seus dentes que não sabia dizer serem verdadeiros ou não. Ele se levantou e apertou a minha mão, não deixando de exibir seu olhar de espanto curioso por me ver chegar com um bebê no colo. Alexia continuou sentada, ainda que me olhasse com o cenho franzido.
   Abaixei o bebê adormecido em seu carrinho, cobrindo-o com o cobertor felpudo e aconchegante. Tinha certeza de que ele dormiria por algumas horas, o que era bom. O advogado chamado Richard voltou a sentar-se na cabeceira da mesa. Sentei ao seu lado direito, com Carine na minha frente e Lexy perto de mim. Ele retirou da pasta de executivo três cópias de um mesmo conjunto de papeis grampeados; que descobri ser o contrato. Uma cópia era minha, outra de Carine e a última pertencia a ele próprio. Dei uma folheada rápida, sabendo que não entenderia metade dos termos legais inscritos ali.
  - O que faremos aqui hoje é bem simples, . Repassaremos os termos e condições deste contrato de aliciação entre você e a marca Mulberry. – Começou a explicar e colocou os óculos de meia lua sobre a ponte do nariz. – Sra. Roitfeld e sua publicista estão aqui para ajudá-la a entender e retirar todas as suas dúvidas. Sinta-se a vontade para me parar a qualquer instante.
  - Tudo bem, entendi. – Sorri com certo nervosismo e Lexy afagou meu braço.
  - Bem, este contrato é sumamente a respeito da sua participação na campanha mundial Primavera-Verão. Que alega que você estará permitindo o uso de sua imagem em divulgação via televisão, revistas, jornais e derivados, contanto que não a ofenda ou tenha o propósito de denegri-la. Lembrando que não vale apenas para o Reino Unido, mas em todas as províncias com filiais da Mulberry. – Corria sua caneta ainda tampada pelo papel, parando quando achava importante falar algo. – Consta aqui na clausula dois, artigo um, o pedido de exclusividade. Carine, gostaria de explicar?
  - O termo “exclusividade” é auto explicativo, mas vamos lá. O que queremos com isso, querida, é um voto de fidelidade, digamos assim. Se aceitar, estará concordando em não vender a sua imagem, digamos assim, para outra marca. Não poderá fazer campanhas como esta ou mesmo desfilar, ainda que este não seja seu maior objetivo. – Carine se inclinava sobre a mesa, as unhas batendo levemente no tampo de madeira.
  - Isto lhe tornaria o rosto da marca, como é chamado. – Lexy salientou.
  - Mas e quanto Cara? – Escutava tudo com atenção. Gostava de me considerar inteligente, então entendia tudo até agora. – Ela não era o “rosto da marca”?
  - Sim, no começo, porque não tínhamos encontrado outra pessoa que incorporasse tão bem o espírito e a ideia do que queremos passar. Até você entrar em nossas vidas! – Carine sorriu de canto a canto, o que acabou me fazendo sorrir também. – Richard e eu tentamos discutir este mesmo contrato com ela, mas não seria uma boa ideia e ela sabia disso.
  - Veja bem, a Srta. Delevingne é uma modelo profissional. É tudo o que ela faz. Já está no ramo há anos e tem um dos maiores pagamentos entre as modelos. Ela faz, no mínimo, dez campanhas por ano, para empresas diferentes. – Richard voltou a tomar a voz. – Então para ela não faria sentido assinar exclusividade nem com essa ou com outra marca qualquer. Pra você é diferente, porque isso lhe daria estabilidade. Uma certeza de trabalho, quero dizer.
  - Ah, sim... – Estabilidade era uma palavra que não sabia mais o significado. Antes tivera certeza de que seria uma das primeiras a receber os resultados do recital, mas começava a pensar o contrário.
  - Antes de você chegar, Carine e eu conversávamos sobre a sua outra profissão. O ballet, uma das primeiras coisas que você me disse quando nos conhecemos foi que não o deixaria de lado. – Lexy segurou a minha mão, me assegurando. – E depois do que vi na sua apresentação, não deveria nunca! Então pedimos a Richard para colocar mais uma... Como é o nome?
  - Clausula. – Richard a ajudou. – Uma clausula.
  - Isso! Uma clausula que afirma não interferir em sua carreira como bailarina. – Carine balançou a cabeça. – É até bom para a marca, sabe? Mostrar que é possível sonhar e se empenhar para conquistar seus objetivos. Tem nosso total apoio.
  - Esse contrato me soa muito bom para o meu lado. O que há nele para a Mulberry?
  - Você. – Richard me olhou como se eu fosse uma marciana que terminou por cair na Terra.
  - Não se preocupe, Richard, ela é assim mesmo. Não sabe o valor que tem. – Carine riu e me senti excluída de uma piada interna. – , você é linda. Mais que isso, fotografa super bem! Especialmente para alguém sem experiência. E ganhou um BFA, pelo amor de Deus!
  - Posso assinar? – Sorri. Sentia que estava fazendo a coisa certa, então por que não?
  - Não precisa assinar agora, querida, leve pra casa, leia mais uma vez. Mostre aos seus pais, se quiser. Não quero que pense que a estamos forçando a nada. Antes de negócios, somos amigas. – Mas pense sobre o assunto, porque vamos fotografar a campanha neste próximo sábado.

  

+++

  Passei todo o caminho de ida até a casa da mãe de Zayn com apenas um pensamento na mente: “Como falo pra Zayn que não vou com ele pra NY?” Se a gravação da campanha fosse acontecer no próximo sábado, como eu viajaria com ele e os outros na sexta? Impossível! Além de estar chateada por perder a aventura, tinha medo de como a nossa conversa poderia acabar. Na última vez em que disse que precisava deixar de fazer algo com ele por causa de trabalho (o que, ironicamente, também incluía New York), brigamos feio e quase terminamos. O contrato estava em minha bolsa e teria que juntar coragem para tratar daquele assunto o mais rápido possível.
   Ainda era o começo de tarde quando estacionei o carro na rua sem saída atrás do Jeep de meu namorado. Nossos veículos não eram os únicos ali, o que mostrava que a festinha de familiares ainda estava rolando e eu estava prestes a invadi-la, com um bebê no colo. É, talvez devesse ter avisado a Zayn que estava com Theo. Equilibrando as duas bolsas em um ombro só, tirei Theo de sua cadeirinha no banco de trás e não me preocupei em pegar o carrinho na mala, principalmente pelo trabalho que deu para montá-lo e desmontá-lo na Mulberry.
   A criança sobre meus cuidados acordou antes que eu deixasse o escritório e Lexy trocou a sua fralda enquanto eu esquentava seu almoço. Quando chegamos na casa da minha sogra, ele estava confortável e elétrico, olhando tudo e brincando com as pedrinhas na gola de minha blusa. Atravessamos o gramado e quanto mais me aproximava da porta, mais altas ficavam as risadas. Sabendo que se demorasse demais, mudaria de ideia, toquei a campainha e esperei.
   As risadas cessaram e alguém correu para abrir a porta. A mulher com mechas loiras e um piercing no nariz fez festa ao ver que era eu e me puxou para um abraço, só então notando o loirinho que eu segurava.
  - Querida, como é bom vê-la. – Me deu espaço para entrar. – Estão todos lá na sala, pode entrar.
  - Obrigada, Trish. – Deixei-a me ajudar com a bolsa do bebê, diminuindo o peso.
  - Zayn, sua namorada está aqui! – Gritou, querendo chamá-lo. – E tem algo que eu precise saber?
  - Esse aqui é Theo, sobrinho do Niall. Fiquei de babá hoje. – Expliquei, vendo seu olhar de “vovó coruja” desaparecer. – Fala oi, bebê.
  - Posso segurar? – A mulher bateu palmas silenciosas, chamando-o para o seu colo. – Vem com a tia, vem!
  - Ele acabou de comer, então cuidado... – Avisei, seguindo-a pelo corredor.
  - Babe, você chegou!
   Zayn nos encontrou no meio do caminho, seus olhos apenas encontrando os meus. Passamos o dia inteiro afastados, praticamente, e a saudade apertava em ambos. Se era assim depois de apenas um dia, como seria quando ele estivesse longe por meses? A mão gelada voltou a apertar meu coração ainda que tentasse ignorar esse pensamento. Me atirei em seus braços, envolvendo-o pelo pescoço sem a intenção de soltar. Ele apertou minhas costelas, unindo nossos troncos. Zayn fizera a barba pela manhã, soube disso pela sua maciez quando colei meus lábios em sua bochecha, arrastando-os até a boca. O que deveria ser um simples “olá” se transformou em uma troca de carinho no meio do corredor.
   Sua mão subiu até a minha nuca, como se pretendesse nos fundir um ao outro de forma que não tivesse volta. E eu estava disposta a permitir. Qualquer coisa pra que não precisássemos nos afastar. Queria gritar que o amava, que era dele e que iria até o fim do mundo pra provar isso. O beijo eventualmente chegou ao fim e meu lábio inferior formigava de leve. Quando voltei a abrir os olhos, Zayn estava sorrindo. Como se não acreditasse que eu estava mesmo ali; um sorriso que me fez sentir a única mulher no mundo.
  - Oi. – Notei que não o cumprimentara com palavras e arrumei a franja que teimava em cobrir meus olhos. – Senti sua falta.
  - Não mais do que eu senti a sua. – Juntou nossos lábios mais uma vez. – Posso te apresent-
  - Zaynie! Você disse que sua namorada era bonita, mas eu não esperava que fosse tanto assim. – Um homem de barba quadrada nos interrompeu. Era tão baixinho que mal o vi se aproximar. – Um prazer, . Me chamo Sid. Sou tio desse garotinho.
  - O prazer é todo meu! Ele me falou bastante sobre você. – Apertei sua mão e Zayn migrou para as minhas costas, me abraçando por ali. – Zaynie.
  - Vai me chamar assim o tempo inteiro agora, não vai? – Riu e beijou a minha bochecha, sem dar muita importância. – Valeu, tio.
  - Ainda nem comecei a contar pra ela as suas histórias de quando era criança!
  - Sid, não faça isso! – Uma mulher que lembrava um pouco o menino atrás de mim veio pelo mesmo caminho que Trisha sumira. – Não se preocupe, querido, ficarei de olho nele.
  - Tia, essa é a . – Me apresentou para a tia que mal havia me olhado. – , minha tia Zileh.
  - Oi, . – Zileh sorriu, sem querer me abraçar ou coisa do tipo. – Não ligue pra mim, viu? Ainda estou tentando me acostumar com a ideia de que meu Zaynie está namorando. E te abraçando desse jeito, ele não está ajudando!
  - Eu sei como é, não se preocupe... – Não sabia, mas tentei fingir algo em comum. Também tentei me soltar de Zayn, mas ele só apertou o abraço.
  - Não vamos ficar aqui pra sempre, não é? Vamos, seus primos também querem conhecê-la. – A mulher se virou e abanou o ar, querendo nos chamar pra ir junto.
  - Uh, baby, posso falar com você antes? – Me virei para ele, que captou a mensagem.
  - Tio, nós já chegamos lá, tá bem?
   Sid balançou a cabeça, afirmando que sim, e saiu para a sala. Zayn partiu o abraço, mas segurou a minha mão. Subimos as escadas em um caminho que não fazíamos há tempos.
   O quarto de Zayn parecia o mesmo, com exceção da falta de objetos pessoais que agora estavam em nosso apartamento. A primeira coisa que fiz foi me jogar na cama bem arrumada e deixar minha bolsa de lado. Zayn tentou deitar em cima de mim, mas o empurrei com uma risada.
  - Não foi pra isso que me chamou aqui? – Reclamou. – Pensei que nosso código para “quero uma rapidinha” fosse “posso falar com você?”. Me sinto enganado.
  - Idiota. – Gargalhei de sua brincadeira e voltei a sentar. O assunto era sério demais pra ficar tão confortável. – Tive uma reunião importante com Carine hoje.
  - Oh, é verdade! Como foi? – Apoiou os cotovelos no colchão, prestando atenção.
  - Bem legal, pra falar a verdade. Um advogado estava lá, e explicou o contrato e tal. Carine quer exclusividade e eu não vejo porquê não. Só estou disposta a fazer essas coisas por ela mesmo... Não pretendo ser modelo. – Disse, lembrando do que Lexy falou durante nossa conversa, que “assim que assinasse o contrato, não poderia mais dizer que não era uma ‘modelo’”. – Sem falar que não me apresentam nenhum risco quanto ao ballet.
  - Isso é ótimo, babe! Já assinou? Temos que comemorar!
  - Ainda não assinei, porque queria falar com você antes. – Puxei um meio sorriso. Agora é que a coisa ficava séria. – É sobre a viagem de New York.
  - Por quê? O que tem? – Ergueu a sobrancelha.
  - Se eu assinar esse contrato, acho que não poderei viajar com você e os meninos. – Olhei para meus dedos, sem querer encará-lo. – A campanha está agendada para esse sábado e não podem mudar, eu perguntei. Já reservaram o lugar e contrataram fotógrafos.
  - Não tem problema. Eu gostaria que viesse? Mais que tudo... Mas é o seu trabalho, babe, não tem discussão. – Içou meu rosto com o indicador em meu queixo. Me pegou de surpresa, com certeza. – Então dessa vez você vai estar aqui e eu em NY...
  - Pelo menos Liam não está dando nenhuma festa dessa vez. – Brinquei. Mas Zayn pareceu perder a cor. Finalmente se tocou do que viera me preocupando. – Mesmo que estivesse... Eu não iria sem você.
  - Sei disso... Mas poderia. – Insinuou. Não como uma acusação, mas com permissão. – Se quiser...
  - Cala a boca... Zaynie. – O interrompi e resolvi calar sua boca com um beijo. Bem mais eficaz!

    

Chapter LXVI

Quem diria que a semana voa quando se quer que ela passe devagar? Em um piscar de olhos era a véspera da viagem de Zayn e ele precisava arrumar a bagagem que iria levar. Eu estaria fazendo o mesmo, se fosse acompanhá-lo. Como não era o caso, apenas o ajudava para que não esquecesse coisa alguma. Sua mala preta estava no canto do quarto, aberta para pegar um ar. Enquanto isso, suas coisas eram empilhadas em cima da cama, onde eu acabara de sentar para dobrar as camisas que me eram entregues. Zayn parecia querer levar o guarda-roupa inteiro para usar em três dias.
  - Zayn, você pegou duas camisas iguais! – Ergui ambas as peças brancas e lisas. – Só precisa de uma.
  - Mas e se algo acontecer com uma delas? Eu não vou ter a outra! – Argumentou do closet.
  - Aí você uma das outras que está levando. Além do mais, está indo para NY. Se for o caso, tenho certeza de que pode comprar outra em qualquer loja. – Levantei para guardar uma das camisas de volta à sua gaveta. – Está levando casacos? Não está nevando ainda, mas está muito frio...
  - A jaqueta preta está em cima da cadeira. – Afastava cabides e pendurava um ou outro que achava interessante sobre o ombro.
  - Baby! – Reclamei, batendo o pé no chão.
  Zayn me olhou confuso, sem entender o seu erro. Tive vontade de mandá-lo sentar e deixar que eu mesma arrumasse a sua bagagem. Rolei os olhos e o ignorei, me juntando a ele para averiguar o que tinha guardado no closet. Qualquer peça que eu achasse bonita ou útil, pegava e levava para a cama, onde dobrava de forma que passasse a ocupar pouco espaço quando fosse para dentro da mala. Zayn, então, passou para as calças jeans. Separou quatro, das quais descartei duas sem que ele percebesse. Quem usa quatro modelos de calça quando se viaja por três dias incompletos?
   Mais uma vez no closet, escolhi dois casacos pesados e quentes que fariam seu propósito de mantê-lo aquecido e protegido. Voltei para o quarto e olhei para a grande quantidade de coisas em cima da cama que não iriam sozinhas para dentro da bagagem.
  - Ainda não acredito que não vou com vocês. – Suspirei. Arrastei a mala de rodinhas até colocá-la no espaço vazio na ponta da cama. – Estou com inveja.
  - Você foi sem a gente antes, babe. Isso se chama vingança! – Gargalhou maleficamente, ganhando uma bola de meias atirada em sua cabeça. – Hey, eu vou levar isso, tonta!   - Não se atreva! – Recebi o mesmo favor e a bola me atingiu no centro da testa, ainda que tivesse tentado me proteger. – Zayn!
  - Você começou. – Deu de ombros. Guardei o resto das meias no compartimento com zíper e desisti da guerra. – Não acho que vá perder muita coisa por não estar indo...
  - Por que não? – Olhava das roupas que arrumava na mala para ele, sem entender aonde queria chegar. – New York tem muita coisa pra fazer.
  - Não vamos ter tempo, . Vamos chegar na sexta à tarde e iremos direto para o SNL passar o som e ensaiar. No sábado de manhã, uma apresentação no Good Morning America. A noite, o SNL ao vivo... E no domingo voltamos. – Explicou, saindo do closet e entrando no banheiro. Se ajoelhou no chão e abriu o armário embaixo da bancada da pia. Tirou de lá um estojo de couro. – Sabe quem vem também?
  - Quem? – Minha madrasta? Meu irmão? Meus melhores amigos? Não era uma quantidade suficiente de pessoas me abandonando? Só falava ele falar que também viajaria. – Lola? ?
  - Posso levar Lola? – Seu semblante se iluminou. Ao escutar seu nome, a filhote saiu de baixo da cama, mas a segurei antes que fosse até ele.
  - Não mesmo! – Abracei a pequena em meus braços e beijei sua cabecinha peluda. – Dei banho nela hoje de manhã. Está tão felpuda!
  - , você está mudando de assunto! – Riu, fechando o estojo após guardar suas coisas de higiene pessoal. – Não se preocupe, quem vai viajar com a gente é Mark.
  - Meu pai? – Meu queixo caiu e Lola pulou para a cama.
  - Oh, seu pai também se chama Mark... Não esse Mark. Mark Jarvis. Nosso treinador? O que eu te falei ontem. – Ocupou minha posição e continuou a arrumação em sua mala. Pulei sobre os travesseiros e sentei no meio deles para apenas assisti-lo. – Teremos seções de exercícios todos os dias até o começo da turnê. Vou ficar forte!
  - Você já é forte, love. – Sorri. Pra mim ele já era perfeito ao ponto de não precisar fazer mais nada. – Conheço duas pessoas que não devem estar nada feliz com isso.
  - Niall e Louis? – Confirmou minhas suspeitas. – Niall escapou por causa do joelho, mas não acho que Lou consiga correr de Jarvis por muito tempo.
  - Acho que ninguém consegue correr de Jarvis... Já viu o tamanho dele?!
   O treinador era do tipo bombado que passa vinte e quatro horas por dia na academia. Tive oportunidade de conhecê-lo na terça feira, quando foi até o condomínio para estudar o espaço que teria para trabalhar com Louis, Liam e Harry, que não eram chegados em ir à uma academia de verdade quando podiam usar a do local em que moravam. Apesar do porte largo e assustador, Jarvis era simpático e engraçado. Ao menos pra mim, que não estava em sua lista de aprendizes.
  - Por falar nisso, hoje é meu dia particular com ele... Daqui a pouco deve chegar por aqui. – Terminou de colocar as coisas dentro da mala e olhou em volta. – Estou esquecendo alguma coisa?
  - Pegou o carregador do celular? Separei seu passaporte e documentos naquela pasta... – Apontei para a pasta em cima da mochila de costas que ele levaria no avião. – Sua escova de dentes é a última coisa que vai guardar aqui, então acho que não está esquecendo nada.
  - Ah, lembrei o que é! – Me ignorou e apontou para algo em meu tronco. – Preciso dessa camisa.
  - Baby, não acho que ela cabe em você... – Olhei para a camiseta com o desenho de uma fadinha que usava. Zayn fechou a mala e a colocou no chão com um estrondo.
  - Não, mas tem o seu cheiro. – Segurou meus pés e me arrastou pela cama até que estivesse perto dele. – Posso levar?
  - Sim... – Fiquei de joelhos na cama, igualando nossas alturas. – Mas tem que tirar primeiro.
   Suas mãos foram para as minhas pernas, onde descansaram até que eu segurasse em seu rosto e o puxasse para junto do meu. Uni nossos lábios, entreabrindo os meus devagar e minha língua deslizasse sobre os dele. Ainda com os olhos nos meus, Zayn mordeu a pontinha e a sugou. Só então deitei a cabeça para o lado e minhas pálpebras pesaram, deixando que o beijo tivesse início. Subiu as mãos pela lateral do meu short de algodão e agarrou a borda da camiseta. Pensei que fosse rasgá-la ao meio, mas, ao invés disso, interrompeu o beijo e procurou algo no bolso.
  - Damn it. – Segurou o celular que só agora vi que tocava.
  - Precisa atender? – Despenquei na cama, deitando de barriga para cima e o encarando.
  - O número é bloqueado. Acho que não... – Me lambeu com os olhos.
  - Pode ser Jarvis pra avisar que não vem mais. – Sugeri com um sorriso travesso. – E aí teremos que inventar outra forma de te exercitar.
  - Jarvis? – Levou o celular à orelha com tanta velocidade que me provocou uma risada. – Oh...
   Pela cara que fez ao atender, não era Jarvis e sim uma pessoa que não esperava que fosse. De cenho franzido, me olhava cheio de dúvidas. Apontou pra mim e depois para o celular, querendo saber onde estava o meu aparelho. Fiz sinal de que estava desligado, só não entendi o propósito daquilo.
  - Só um minuto, ela está aqui sim. – Rolou os olhos e me entregou o telefone. – Pra você.
  - Sim? – Levei o iPhone até a orelha e um grito quase me deixou surda. Um grito impossível de não reconhecer. Um grito que me perseguiria em pesadelos. Encarei Zayn com os olhos arregalados, me perguntando como ele me entregava daquela forma. – Oi, Brigitte...
  - Eu sabia que a encontraria com Zayn! OH MY GOD! Espero não ter atrapalhado nada... Por isso você estava com o celular desligado? Posso ligar outra hora...
  - Não tem problema, não atrapalhou nada. – Bati a cabeça contra o travesseiro, sentindo todo o calor deixar o meu corpo. – Pode falar.
  - Só estou ligando pra saber como você está! Parecia tão mal hoje de manhã na Academy...
  - Ah, sim... – Sentei por impulso, passando a mão pelos cabelos. – Estou bem sim, Brie, obrigada por se preocupar.
  - Não precisa agradecer, sei que faria o mesmo por mim. – Sabia mesmo? – Também acabei de falar com Max. Ele te desejou melhoras...
  - Max? Por quê?
  - Oh, honey... Você não soube? – Fez uma pausa e quase a matei por isso. Não sabia do quê? – Ele recebeu dois convites hoje. Das duas companhias que faltavam.
  - Então... – Minha voz falhou. Abracei os joelhos e descansei o queixo ali. Zayn começava a se preocupar. – Todos já foram entregues?
  - Temo que sim, . Eu sinto muito.
   Então era isso. Este era o fim. Cada um dos meus colegas de classe recebeu seus convites para ingressar em companhias. E cada um dos diretores convidados enviava as cartas pelo correio ao mesmo tempo, então não faria sentido se a minha ainda estivesse a caminho. Eu não fui convidada e a verdade era essa. Fui rejeitada pelas melhores academias de ballet do mundo inteiro e agora não tinha mais nada que pudesse fazer. O recital fora criado para nos ajudar, mas parecia querer me atrapalhar. Se não tivesse participado, poderia fazer testes individuais para as companhias e, quem sabe, ser aceita. Agora que o recital substituíra estes testes, ainda que tentasse fazê-lo, não seria nem ao menos assistida. Se uma bailarina faz o teste e não é aceita, não pode simplesmente voltar no ano seguinte e tentar de novo. Seu nome fica na lista de rejeitados e só por um milagre consegue uma nova chance. Agora meu nome estava lá também.
  - Eu... Eu tenho que ir... Até logo. – Encerrei a ligação e o aparelho escorregou de minha mão, caindo no colchão.
  - O que houve, ? – Zayn estava por dentro do assunto “resultados” e sabia o quanto eu passara a semana inteira me revirando por dentro e por fora por causa disso. – O que ela disse?
  - Acabou. – Sentia-me entorpecida. Queria chorar, mas nada saía. – O último da minha sala recebeu seu convite. Todos foram entregues.
  - Babe...
  - Não diga que sente muito. – Pedi, olhando a parede vazia.
  - Não ia falar isso. – Se arrastou para perto de mim e me abraçou pelos ombros. – Talvez sua carta chegou na casa dos meninos. Você disse que deu os dois endereços, não?
  - Alguém teria me avisado a essa altura. Todos lá estão de plantão. Até o porteiro sabe que é algo urgente. – Sabia que ele me abraçava, mas não o sentia. Não sentia nada. – Nunca pensei que fosse terminar assim.
  - Esse não é o fim. Deve ter alguma coisa que possamos fazer... É impossível! Você foi fenomenal... O que esse pessoal quer mais? – Zayn incorporava a raiva que eu não conseguia ter.
  - Eles querem perfeição. Tudo que eu não fui. – O olhei, mas estava vazia.
  - Você ainda pode tentar entrar em outra companhia... Uma que não seja tão grande quanto essas. – Tentava ajudar sem muito sucesso.
  - Se não for a melhor é a pior.
   Me desvencilhei de Zayn e arrastei os pés até o banheiro. Prendi os cabelos de qualquer jeito e abri a torneira para molhar o rosto. Esperava que a água gelada me tirasse deste transe e me fizesse sentir qualquer coisa. Preferia chorar do que continuar naquele vácuo. Meu namorado me seguiu e ficou parado na porta, me assistindo. Ele faria qualquer coisa por mim, até mesmo desistiria da sua viagem no dia seguinte, só pra poder ficar ao meu lado naquele momento difícil. E eu não poderia permitir isso, não estragaria o sonho dele só porque o meu estava arruinado. Não sabia o que faria dali pra em diante, mas entendia que a vida seguia em frente.
  - Quer um copo d’água? – Ofereceu.
  - Não, babe, obrigada. – Forcei um sorriso e o abracei. – Eu estou bem. Não se preocupe.
  - Tem certeza? – Me apertou, alisando meus cabelos.
  - Claro que sim! – Beijei seu pescoço e o fitei. – Jarvis já deve estar chegando. Não acha que devia trocar de roupa?
  - Vem comigo? Não trocar de roupa... Quero saber se desce comigo quando ele chegar. – Riu de si mesmo e me soltou. – Mas se quiser trocar de roupa comigo, também pode.
  - Claro que posso. – Gargalhei e retirei a camiseta de fadinha. – E isso é seu.

  

+++

  Qual é o melhor caminho pra tirar algo da cabeça? Ocupá-la com outra coisa, claro! Quando cheguei na academia do prédio, Zayn estava correndo na esteira ao lado de Harry, que também corria. O treinador estava entre os dois e regulava as velocidades. Era a minha primeira vez ali embaixo e fiquei encantada com todo equipamento de primeira que o condomínio vertical oferecia. Pesos, máquinas que eu nem sabia o que faziam, esteiras e bicicletas estavam espalhados pelo espaço quase tão grande quanto nosso apartamento. Os meninos estavam sem camisa e brilhavam de suor, mas eu vestia roupas de ginástica da época que costumava correr com Liv.
  - Boa tarde, lads! – Anunciei minha chegada, deixando as coisas que trouxera junto as deles.   - ! Veio se juntar à nossa malhação? – Jarvis ergueu a mão no alto, para que eu tivesse que pular para bater. – Poderia usar alguns músculos aí.
  - Me chamou de fraca, mas vou deixar passar. – Ri do jeito que Harry corria em cima da esteira, quase desengonçado. – Não vou atrapalhar vocês, podem fingir que não estou aqui.
  - Você não atrapalha, . – Harry me notou rindo e lançou um olhar vingativo. – Jarvis, você bem que poderia criar uma seção de work out pra ela também, não acha?
  - Hã? Nã-
  - Sim! Ótima ideia, Harry! Sempre quis treinar uma dançarina. – Sorriu e em seus olhos vi o meu futuro. – Sempre que Zayn treinar comigo, você pode vir junto!
  - Como sabe que sou uma dançarina? – Ergui a sobrancelha, mais curiosa do que preocupada com os planos que Jarvis tinha pra mim. – Zayn te disse?
  - Não disse nada! – Ofegante por causa da corrida, Zayn se defendeu. – Mas ele tem jeito pra adivinhar essas coisas.
  - Eu acertei, então? Você tem esse jeito, não sei. A forma que anda. – Pontos pra ele! Jarvis foi até as esteiras começou a diminuir a velocidade dos meninos, que lutavam pra respirar. – Mas chega de papo! Alongamento, senhorita.
   Quem seria eu pra negar as ordens do meu novo personal trainer? Fui para o canto comecei a me alongar de baixo para cima. Primeiro estiquei as pernas, toquei o chão com os dedos, puxei cada perna para o alto, praticamente me dobrei ao meio. Os meninos ora ou outra me encaravam como se estivesses se perguntando “como ela faz isso?”. Jarvis era o menos impressionado e eu desconfiava que já soubesse da minha flexibilidade adquirida por meio de anos de treino de ballet.
   O personal escolheu quatro pesos e entregou os mais pesados pra Zayn e os que sobraram para Harry. Ambos começaram levantar e abaixar os pesos, flexionando os braços até que as veias saltassem. Em seguida, e quando terminei meu alongamento, me levou até uma máquina estranha que eu não aprenderia a usar sozinha. Minha cintura ficava apoiada no estofado preto e meu pé direito descansava em uma plataforma que eu usaria para levantar o peso da perna em um movimento de abre e fecha.
  - , o que acha sobre seu namorado lutar boxe? – Jarvis vigiava os dois para que não o enganassem com os exercícios.
  - Contanto que não chegue em casa todo roxo e coberto de sangue. – Dei de ombros. Ou teria dado se conseguisse mexer algo mais que a perna direita.
  - Claro que não! – Riu da ideia, rejeitando-a. – Treinarei ele e Liam juntos. Não é brilhante?
  - Sim, sim... – Liam e Zayn lutando boxe juntos? O que poderia dar errado nisso?
  - Quem acha que ganharia uma luta entre nós dois? – Zayn me olhou pelo reflexo do espelho. – Liam ou eu?
  - Não quero responder isso... – Virei de costas, trocando de perna.
  - Está fugindo, hein. – Harry instigou.
  - Shut up, Harry! – Os espiei por cima do ombro e Zayn cerrava os olhos. – Okay, se querem tanto saber o que eu acho! Liam é mais forte...
  - Não acredito que disse isso. – Meu namorado parou de levantar os pesos que segurava.
  - Posso terminar? – Também parei os meus exercícios e fiquei de frente pra ele. – Liam é mais forte... MAS! Você é mais motivado. Se o prêmio for algo importante, você vai até o fim pra consegui-lo. Supera até a força bruta.
  - E não é que ela conseguiu inverter o jogo? – Harry pousou os pesos no chão, rindo da minha lábia.
  - Shut up, Harry! – Repeti e o menino gargalhou.
  - tem razão. Se pode fazer piadinhas é porque não tem nada mais interessante pra fazer. – Jarvis guardou os pesos do menino no lugar onde ficavam guardados. – Vamos para a escada.
  - Nããããão... – Resmungou e abraçou uma máquina qualquer. – Odeio ficar subindo e descendo...
  - Devia ter pensado nisso antes. – O treinador era forte e ameaçou tirá-lo de lá na marra. – Quanto a vocês dois... Continuem.
   Os dois homens saíram da academia em direção à escada do prédio e deixaram Zayn e eu sozinhos com nossos exercícios. Meu namorado continuou com sua série de levantamento de peso e me virei para voltar para meu próprio mecanismo até que senti sua mão em meu braço, me parando. Desci da máquina e o fitei interrogatória.
  - O que foi? – Esperando um confronto pelo que falei de Liam anteriormente, forcei um sorriso.
  - Você vai me ajudar. – Sorriu de canto, tão tranquilo que eu mesma relaxei.
  - Tá bem... O que preciso fazer? – Deixei que me guiasse até o centro vazio da academia, onde havia mais espaço.
  - Pode começar deitando no chão. – Disse com simplicidade, pensando que me enganava. – É sério, !
  - Sei que é sério! Não sei é se você precisa da minha ajuda pra malhar ou o quê. – Acabei obedecendo e deitei no chão, olhando-o de baixo. – E agora?
  - Agora você fica parada.
   Assim, também se deitou e fez isso em cima de mim. Apoiou a palma das mãos no chão, na altura dos meus ombros. Seus pés também estavam no chão e o corpo erguido. Zayn faria flexões e eu seria sua motivação. Ri enquanto ele abaixava o peso do corpo lentamente até que o rosto estivesse a apenas centímetros do meu. Por fim, ele sorriu e roubou um beijo antes de voltar a se erguer. Repetiu as flexões e toda vez que fazia isso, seus lábios demoravam mais em contato com os meus. Se Jarvis e Harry não voltassem logo, seria melhor nem voltarem!

    

Chapter LXVII

Dizer adeus dói mais quando se sabe que não se vai dizer olá outra vez. Então porque estava doendo tanto me despedir de Zayn naquela tarde chuvosa e fria de sexta-feira? Nos veríamos novamente em três dias e parecia três meses. Meu coração estava apertado e a garganta seca, não só por ele, mas também pelos outros. Era quase a hora de ir e estávamos no saguão mais afastado, reservado para os meninos e sua equipe de viagem. Depois de sermos atacados quando voltamos de L.A, os gerentes do Heathrow acharam melhor que houvesse o mínimo de tumulto possível envolvendo qualquer banda em seus corredores.
   Ainda que Gemma e eu tenhamos sido permitidas ali dentro, era o máximo que poderíamos acompanhá-los. Quando seguissem pela escada rolante que apenas subia, nós duas seriamos deixadas sozinhas. Eu estava sentada ao lado de Zayn em uma poltrona, abraçando-o de lado com uma força capaz de machucar ambos. Gemma vez ou outra bagunçava o cabelo de seu irmão, sentado na minha frente, mas não tinha intenções de impedi-lo de viajar; o que eu considerava seriamente. Louis descansava ao lado do namorado, com nossa irmã mais nova cochilando em seu colo. Liam e Niall conversavam na ponta da fileira de bancos e bebericavam em copos de café.
  - Me promete que vai se cuidar? – Acariciei a lateral do rosto de Zayn, que já olhava pra mim.
  - O tempo todo. – Encostou os lábios em minha desta com demora. – E te ligarei todos os dias.
  - Não precisa se preocupar com isso, aproveite a sua viagem... Só ligue se tiver tempo. – Roubei um beijo igualmente comprido. – Mas também não me esqueça.
  - Impossível te esquecer, pensei que já soubesse disso. – Sorriu. – Eu te amo, Anjo.
  - Eu te amo mais. – Senti seu nariz gelado sobre o meu e retribuí o sorriso.
  - Por que não podemos ser assim? – Gemma falou alto, abraçando o irmão com exagero. – Eu te amo, Hazzaaaaaaa!
  - Gemma! – Haz resmungou, tentando se livrar do aperto. Uma cena que os outros passaram a assistir e rir. – Ugh.
  - Vou sentir sua falta, little bro. – Acabou por soltá-lo, mas o sentimento era verdadeiro. – Ficarei sozinha enquanto você viaja, porque meus amigos decidiram fazer a mesma coisa!
  - Por que não fica comigo? – Lancei a ideia e Niall gargalhou. O olhei com o cenho franzido e Zayn só rolou os olhos.
  - Vocês vão ficar, é? Posso assistir? – O irlandês se achou engraçado demais.
  - Muito maduro, Niall. – Gemma o lançou um olhar decepcionado e prosseguiu a me responder. – Fala sério, ?
  - Sim! Você pode passar o fim de semana lá em casa. Eu também iria ficar sozinha de qualquer forma... – Dei de ombros. Isso não diminuiria a saudade que sentiria de Zayn, mas me manteria distraída. – Tenho a seção de fotos amanhã, mas pode vir comigo. Vai ser legal!
  - Ótimo! Preciso passar no dormitório pra pegar as minhas coisas, mas depois te encontro no apartamento. – Fez sinal positivo com os dedos e descansou em sua cadeira.
   Pela porta automática de vidro, Paul e Rachel entraram no salão, ambos se encolhendo em seus casacos grossos. Eles haviam ido averiguar se o vôo atrasaria por causa da chuva, mas a companhia aérea londrina já era acostumada com aquele tipo de coisa. O olhar no rosto de Paul na direção de Gemma e eu fez meu estômago revirar. A aproximação de Rachel, cautelosa como um tigre, também não serviu para me acalmar.
  - Lads, precisamos ir... – Minha madrasta acordou a filha no colo de Lou, que bocejou e ficou de pé. – Meninas, melhor começar as despedidas.
  - Eu realmente odeio essa parte. – Resmunguei quando Zayn levantou e me puxou para fazer o mesmo. – E prometi a mim mesma que não ia chorar!
  - Você não chora há um bom tempo, então acho que só uma lágrima não vai fazer mal. – Zayn riu, mas fiquei séria.
  - Tenho medo que se começar a chorar não vou conseguir parar. – Balancei a cabeça.
   Me despediria dele por último, então fui atrás de Harry, que era o mais próximo. O abracei com força, engasgando com um sentimento conhecido. Odiava me despedir dele quando precisava voltar à Paris no final das férias e aquilo era algo que eu nunca conseguiria me acostumar, não importa quantos anos tivéssemos de prática. Dessa vez, porém, ele não precisaria se despedir de Louis. Pedi num sussurro que cuidasse bem de meu irmão e Haz assentiu.
   Em seguida, Louis se deixou abraçar e o salto que eu usava o deixava levemente mais baixo que eu. Era quase como se fosse a mais velha na relação e não o contrário. Ele tentava manter a postura inabalável, mas seu peito tremia ao me abraçar, denunciando sua respiração cortada. Beijei a sua bochecha e sussurrei da mesma forma que fizera com Harry, pedindo que cuidasse de nosso cupcake.
  - Um pouco de amor pra mim? – Niall esperava ao lado de Rachel, sorrindo com as mãos no bolso.
  - Por que não veio até aqui pra se despedir? – Deixei meu irmão e abracei o loiro, apertando-o com ternura. – Também não a vi na Academy hoje.
  - Ela tinha alguns assuntos pra resolver em casa, mas nos despedimos antes de vir pra cá. – Só porque não era meu irmão ou meu namorado não queria dizer que nosso abraço fosse durar menos. – Vou sentir sua falta, .
  - Vocês voltam logo... – Tentava acreditar naquilo mais do que fazê-lo acreditar. – Certo, Luxy?
  - Não vou voltar. – A pequena declarou com naturalidade.
  - Mostrei algumas fotos do Central Park a ela... Má ideia. – Rach explicou. – Fique bem, . É uma pena não poder vir com a gente.
  - Eu seeeeei. – Choraminguei, trocando de idades com Lux. Abracei a madrasta e beijei minha irmã. – Voltem logo, criaturinhas.
  - Tchau, . Vou trazer um presente pra você. – Lux também beijou a minha bochecha e sorriu com o rosto inteiro.
   Liam aguardava mais atrás, próximo à escada rolante onde os meninos se organizavam e conferiam os passaportes e passagens com Paul. Primeiro me despedi do segurança e fui assegurada de que todos ficariam bem e voltariam sem um arranhão. Particularmente estava preocupada com os arranhões que ele iria levar. Cuidar de cinco crianças quase sozinho não era uma tarefa fácil. Liam tinha os olhos vermelhos e tentava disfarçar. Vê-lo naquele estado tornou mais difícil ainda me despedir, mas teríamos que ser fortes. Se não conseguíssemos fazer aquilo por apenas três dias, como seria quando tivessem que partir em turnê? Liam chorava porque sabia que o pior ainda estava por vir.
  - Baba... – Tentei falar algo que não sabia nem ao menos o que era. – Eu sei.
  - É bom que saiba. – Riu em meio a um fungado, jogando os braços ao meu redor. - Baby, you don’t have to worry. I’ll be coming back for you.
  - Vocês realmente precisam parar de usar as próprias músicas como dialogo. – O repreendi, mas não antes de sorrir.
   Nos separamos e pensei que meu coração fosse se partir quando vi que Zayn era o único que faltava. Rachel, Lux, Paul e Niall já eram levados para o andar de cima pela escada rolante e Gemma dava um último abraço no irmão. Corri até Zayn, apertando-o pelo pescoço enquanto tinha minhas costelas envolvidas. Fui levantada levemente do chão e escondi o rosto no ombro do menino. Respirei fundo, gravando o seu cheiro na memória. Nossos corpos se encaixavam, nossos corações batiam em uma sincronia acelerada e eu não queria deixá-lo ir.
  - Eu estou indo, mas você sabe o que está ficando com você. – Falou ao meu ouvido.
  - Sei. – Segurei em seu rosto, estudando uma última vez cada detalhe de seu rosto, como se fosse possível esquecer algum. – I’m half a heart without you.

  

+++

  {PS: Para melhor experiência, escutar: http://www.youtube.com/watch?v=2-qnBxzUv4g}
   Desde a ida ao aeroporto com Zayn o meu carro fazia barulhos estranhos, como se algo estivesse fora do lugar e batesse contra o metal sempre que houvesse uma curva ou tivéssemos que parar. Imaginei que fosse a bagagem batendo no porta malas e Zayn também não deu importância, ou vai ver nem estava escutando. Na volta para casa, porém, eu estava sozinha e não havia bagagem alguma que pudesse causar o barulho novamente. Algo estava errado e eu já começava a pensar em que mecânico levaria meu conversível na próxima segunda feira.
   Gemma estava dirigindo o carro de Harry e era com ele que iria para o meu apartamento depois de pegar as suas coisas. Dirigimos juntas pela estrada no começo, mas fiquei presa em um sinal vermelho e nos perdemos. A chuva ainda caía e aumentava com o passar dos minutos. Seus pingos fortes faziam barulho no capô do carro e os respingos tornavam difícil a visualização da pista, me obrigando a ir mais devagar. Quando um raio atravessou o céu e atingiu o chão com um estrondo, tremi no banco. O bom é que o aeroporto não ficava tão perto da cidade, então aquele trecho de estrada estava bem vazio e quase nenhum carro passava ao meu lado.
   Como ironia do destino por este meu último pensamento, o painel do carro, até então aceso, piscou algumas vezes, dando sinal de que poderia parar a qualquer instante. Girei a chave na ignição, imaginando que fosse apenas mau contato, mas o mesmo voltou a acontecer. Xinguei baixo. O carro iria morrer ali mesmo, no meio do nada. O limpador de pára-brisa estava a todo vapor, travando vez ou outra, mas ainda me auxiliou a dirigir até o encostamento. Desliguei o carro, escutando um barulho semelhante a um “puff”.
   Olhei para os lados, incerta do que fazer. Não entendia nada de automóveis e não tinha seguro. Até cheguei a ter, mas quando minha ainda casa era Paris. Em Londres esta opção nunca me pareceu necessária. Até agora. “Mantenha a calma, . Você já assistiu muitos filmes onde coisas assim acontecem.” E nesses filmes, as mocinhas sempre saem do carro para checar o motor. Talvez, se abrisse o tampo do carro, poderia encontrar alguma peça fora do lugar e simplesmente concertar. Não podia ser nada demais!
   Estiquei o braço para trás, pegando meu guarda-chuva no chão do carro, e abri a porta. Assim que pisei no chão, senti um desequilíbrio e quase tropecei. O asfalto estava coberto por pedrinhas, que dificultariam meu andar com aquele salto tão fino.   - Sapato idiota. – Reclamei em voz alta, quase não sendo escutada por mim mesma, tamanho era o barulho da chuva.
   Apoiei-me ao capô para tirar os saltos e os joguei de qualquer jeito para dentro do veículo. Meus pés doeriam mais, claro, mas a probabilidade de cair seria consideravelmente menor. O topo da minha cabeça começava a ficar encharcado e, acreditando que ajudaria, abri o guarda chuva. Um segundo depois ele foi arrancado da minha mão pelo vento com um efeito pára-quedas e fui cegada pelo meu próprio cabelo. Resmunguei em uma nova reclamação. “Ah, fuck it!” Me concentrei em resolver o maior problema: O carro!
   Com a mão na frente dos olhos para conseguir enxergar alguma coisa, caminhei até a frente do meu transporte vermelho e tive um pouco de dificuldade para abrir o tampo. Sabia que ele deveria estar quente, mas a chuva que nos molhava era tão fria que resolveu essa parte pra mim. Uma vez que consegui ver o motor, uma neblina de cheiro forte me fez tossir e abanar o ar em busca de ar limpo. “Em filmes isso não acontece!” Caminhei para trás, as roupas grudadas completamente em meu corpo e cabelos pingando. Estava tremendo de frio e meus pés doíam cada vez mais.
   Esperei até que toda a fumaça fosse embora, abraçando a mim mesma na esperança de minimizar os efeitos do fenômeno natural que estava contra mim naquela tarde. Uma vez conseguindo achar e olhar o motor e outra quantidade absurda de peças e mecanismos que eu não fazia ideia do que fariam, procurei algum botão ou tampa que pudesse ter saído do lugar, causando aquele estrago todo. Nada! Meu queixo tremia e meus dentes se chocavam. Constantemente tinha que enxugar os olhos por causa da chuva. Algo chamou o meu olhar no interior do tampo do carro. Um papel amarelo dobrado, colado ali com fita adesiva. Sabendo que podia esperar qualquer coisa àquela altura, o arranquei.
  “Surprise, bitch! I win! – H.”
   O bilhete em minha mão logo ficou molhado, mas não antes de eu ler e reler, até que a ameaça fizesse sentido. H? Harry? Claro que não, ele nunca faria aquilo. Então, seu rosto veio à minha mente... “Helena.” A garota que ficou revoltada quando perdeu o papel principal pra mim, a mesma que jurou fazer da minha vida um inferno. “Ela fez alguma coisa com o meu carro hoje de manhã, só pode ser!” Fechei a tampa do motor com força e raiva, enfiando o bilhete de qualquer jeito no bolso. Um carro preto ia passando, o primeiro que eu via desde que meu carro apagou, e corri para acenar. Talvez pudesse me dar uma carona até o ponto de taxi mais próximo, ou quem sabe um mecânico. Qualquer coisa que não me deixasse presa em um carro onde o aquecedor parou de funcionar.
   Por um momento realmente acreditei que o carro fosse parar, mas ele apenas se aproximou o suficiente para correr a roda por cima de uma poça de água e lançar uma onda em cima de mim. Como se eu já não estivesse molhada o suficiente! “Fucking cunt!” Mostrei o dedo do meio para o motorista, sem me importar se seria vista ou não. De repente fui tomada por uma vontade enorme de chorar, vontade essa que não conseguiria controlar nem com muito esforço.
   Pensei em Zayn e no quão longe ele estava agora. Nas alturas, indo para mais longe ainda. Lembrei de papá e em como ele saberia o que havia de errado com meu carro em um simples olhar. Pensei na Academy, em Helena, no recital... Na felicidade de meus colegas ao receber suas cartas e em como eu, que nunca pensei que isso pudesse acontecer, não poderia dançar depois que o semestre acabasse. Pra mim aquele era o fim. Helena estaria certa, então? Teria ganhado?
   Em prantos, escorreguei pela porta do carro até estar sentada no chão. Se me espremessem, teriam água pra curar a seca no deserto. Fios e mais fios castanhos se prendiam ao meu pescoço e bochechas. Eu gritava, mas não conseguia ser mais alta que os trovões. Me enrolei em uma bolinha, escondendo o rosto nos joelhos. Queria ficar por ali pra sempre. Esperar a chuva passar, ou vagar para o meio da rua onde um carro qualquer pudesse me atingir.
   “Pare de ser dramática, !” Briguei comigo mesma. Me assustei por uma parte de mim ainda querer lutar. Tinha pessoas que precisavam de mim. Meus amigos, minha família. Meus irmãos que ainda nem tiveram tempo de nascer. Eu sabia que não podia desistir, tinha consciência disso. O que não tinha eram forças para levantar ou pensar no que fazer. “Entre no carro, já é um começo.” Minha parte racional pediu e me arrastei para abrir a porta e me trancar ali dentro. Minhas roupas molhadas encharcavam o banco e apertei a buzina longas vezes, tentando aliviar a frustração, raiva, decepção, tudo junto.
   Finalmente deixava tudo sair, tudo que prendia há muito tempo. Lágrimas ainda caíam e agora mesclavam-se a dor de cabeça que fazia a minha mente latejar. Estava desconfortável naquela calça, no casaco gelado e o carro não estava muito diferente. Quando dei por mim, minha mão criava vontade própria e procurava o celular no interior da bolsa. Gemma não podia estar longe... Seria só fazer a volta e voltar pra me buscar. Bem fácil. Difícil, porém, seria não assustá-la comigo chorando desse jeito.
   Respirei fundo diversas vezes, me concentrando em manter a voz calma ou pelo menos contínua. Levei o celular à orelha e aguardei alguns toques até que a menina atendesse.
  - ? Oi! Já estou aqui na UNI. Mais dez minutos e chego por aí. Quer que eu leve alguma coisa? Tem uma locadora de filmes aqui perto... – O que seu irmão tinha de lento ao falar, ela tinha de rápida.
  - Na verdade, preciso que você venha me buscar. – Funguei e minha voz tremeu. – Uh... Meu carro quebrou... Ainda estou perto do aeroporto. Não perto, mas na estrada.
  - Você está bem?! Não bateu em nada, certo? Ai, ai, ai! Já estou indo! Sabe qual é o segmento?
  - Não tenho ideia. Acho que se você vier na direção que foi embora, vai ver meu carro no encostamento.
  - Estarei aí o mais rápido possível, Baby Cakes. – E como o irmão, conseguia inventar nomes fofos para me chamar. – Fique aquecida.
  - Tentarei...

  

+++

  Gemma chegou dentro de vinte minutos e, considerando a chuva e a distância que estávamos uma da outra, foi super rápida. Tivemos que deixar o meu carro onde estava, pois só um guincho o tiraria dali e todos os que encontramos nas páginas amarelas se recusaram a atender durante aquele temporal. Retirei todos os meus pertences do veículo, mas doeu muito deixar o meu bebê sozinho no meio do nada, onde qualquer um pudesse roubá-lo. Depois de concertá-lo, mas ainda assim.
   Fomos para o apartamento e fui obrigada a tomar banho e ter os cabelos enxugados com o secador. Minha babá estava certa em se preocupar com aqueles detalhes, pois amanhã seria a seção de fotos para a campanha e eu não poderia aparecer gripada. Já basta a chuva que levei somada ao vento frio. Horas se passaram, nós duas jantamos, fizemos uma ligação de Skype para Anne e Robin, brincamos com e Lola e vestimos pijamas quentinhos para nos preparar para dormir. Não sem antes passar por certos rituais.
  - Já é quase meia noite! Eles não deviam ter ligado? – Dividia o banheiro com Gemma. Ela escovava os dentes e eu começava a espalhar a máscara de lama no rosto.
  - Tenho certeza que teriam ligado se pudessem. Fique calma, . Ainda devem estar voando. – Tentava me acalmar, pois sabia que aquilo era apenas saudade. – Posso passar isso aí também?
  - Pode sim. – Respirei fundo, checando o celular mais uma vez com a mão limpa. – Já lavou o rosto com o gel que te falei?
  - Yep! Limpa e refrescante. – Amarrou os cabelos com uma faixa que segurava sua franja clara. – Agora é só espalhar?
  - Isso. Não precisa de muita força e tente não cobrir os olhos ou a boca. – Me olhei no espelho e tive vontade de rir. Meu rosto estava roxo e logo começaria a endurecer por causa da máscara. – Ser mulher é difícil.
  - Nem me fale. – Rolou os olhos, cobrindo a pele com o creme lilás. – Sempre que vou sair com Ashton tenho que fazer as unhas, porque ele nota quando o esmalte está diferente!
  - Ash é um fofo mesmo. – Lavei as mãos, orgulhosa de mim mesma por ter juntado o casal. – Por falar nisso, está na hora!
  - Hora de quê? – Imitou meus atos e me seguiu para o quarto, apagando a luz.
  - Girl talk!
   Comemoramos como duas menininhas do ginásio que estavam prestes a falar sobre os garotos que achavam bonitos e fofocar sobre as meninas más. Pulei na cama, propositalmente ocupando o lado que costumava ser de Zayn. Gemma enterrou-se nas cobertas à minha esquerda e ajudou Lola a subir. ficou de pé, apoiando ambas as patas no colchão e me olhando como se perguntasse se podia participar.
  - Não, não! É uma conversa pra garotas. – O repreendi. , então, uivou baixo e sentou no chão, com olhos tristes e caídos. – Você sabe que estou brincando, Bo! Vem cá!
  - Você tem cachorros muito lindos, sabia? – Gemma tinha Lola nos braços e acariciou enquanto o gigante se encaixava entre nossos pés. Sinto falta da minha gata.
  - Acho que sua mãe precisa mais de Dusty do que você. Suas crianças foram embora, ela precisa de alguém pra mimar. – Ri quando ameaçou morder a minha meia como um brinquedo. – A não ser que faça como a minha mãe e engravide de novo.
  - Deixa ela com a gata mesmo. – Fez careta do mesmo jeito que eu fazia ao imaginar a mesma situação que antes parecia tão distante. – Mas quando tiver a minha própria casa, acho que adotarei um cãozinho também.
  - Você se forma esse ano, não? Já sabe onde vai morar? – Arrumei travesseiros em uma pequena montanha e me encostei.
  - Minha primeira opção é voltar pra Cheshire...
  - E não morar mais em Londres? Ficou maluca? – Teria erguido o cenho, mas meu rosto estava duro.
  - O que mais posso fazer? Ainda não tenho um emprego em vista e no way que vou deixar a minha mãe ou Harry pagarem pra me sustentar. – Gem era orgulhosa e eu entendia o porquê nunca aceitaria morar com o irmão mais novo.
  - Você pode morar aqui. – Sorri do jeito que consegui. – Zayn não vai se importar, ele te adora. Além do mais, temos um quarto de hóspedes que ninguém usa.
  - , você é que ficou maluca! Não posso... Vocês dois moram juntos pra não ter que dividir nada com ninguém... – Tentava achar uma razão para negar, mas não conseguia.
  - E ele está indo embora por um ano. – Dei de ombros, tentando não tornar aquela frase mais dolorosa do que já era. – Vou ficar sozinha aqui.
  - Pelo menos converse com ele antes de eu me mudar pra cá? – Apertou Lola, perto de aceitar.
   Não seria má ideia! Sua presença não diminuiria a falta que Zayn fazia, mas disfarçaria o silêncio. Seria bom ter com quem conversar, alguém com quem dividir aqueles momentos de beleza. Seu irmão ia pirar ao ficar sabendo disso e eu queria muito estar por perto quando Gem lhe desse a notícia. Conferi o celular mais uma vez, por um lado querendo ver as horas e por outro checando se meu namorado dera algum sinal de vida. Ainda não.
  - Como é morar com Zayn? – Apoiou a lateral do corpo na cama. Lola se viu livre e correu para o meu colo.
  - É como ter uma festa do pijama todos os dias com o seu melhor amigo. – Escutara essa expressão antes e só agora entendia seu verdadeiro significado. – Nunca fui tão feliz.
  - E acha que um dia vão se casar? Porque já vivem como se fossem casados... – Prestava atenção, seus olhos verdes me estudando.
  - Tenho certeza que sim. Mais por Zayn do que por mim. – Sabia que estava sorrindo e mascara de lama alguma seria capaz de impedir isso, não quando o assunto era aquele. – Não que eu não queira me casar! Mas como você disse, já vivemos como se fossemos casados. E as coisas estão ótimas assim. Zayn... Ele é muito familiar. Ele gosta dessas coisas... Desses títulos. Sei que, quando o dia chegar, vai gostar de me chamar de esposa.
  - Vocês dois são seriamente adoráveis. – Balançou a cabeça afirmando. – O jeito que ele olha pra você... Hoje no aeroporto, por exemplo! Quase chorei ao assistir a sua despedida. Pensei que ele fosse desistir de viajar.
  - Nah, Zayn leva o trabalho a sério. E sabe que estaria deixando os meninos pra baixo, porque não seriam uma banda sem-
  - . – Me interrompeu. – Zayn faria qualquer coisa por você.

    

Chapter LXVIII

Pela minha falta de carro próprio, peguei o Jeep de Zayn para dirigir até o set de filmagem da nova campanha da Mulberry, que seria estrelada por mim! Toda a chuva do dia anterior deixou o céu limpo e tranqüilo na manhã de sábado e o bom clima só aumentou na medida em que Gemma e eu deixávamos Londres em direção à região rural do país. Mais precisamente Oxfordshire, um condado repleto de verde e campos abertos a apenas uma hora da capital.
   Encontrar a Shotover Hause foi mais fácil do que esperávamos, já que todos na pequena cidade pareciam ter ficado sabendo sobre a equipe da marca famosa que invadiria suas propriedades para fotografar ali, então conseguir informações foi algo bem simples. Estacionei o carro na entrada da mansão vitoriana reservada, entre dois furgões que transportavam os equipamentos e etc. Gemma foi a primeira a descer, sacando a sua câmera digital e capturando imagens do lugar inteiro. Ela dizia que era mero interesse em coletar recordações, mas eu desconfiava que levava ao pé da letra o pedido de Zayn de “mantê-lo informado de tudo”.   - ! Oi! – Uma garotinha de óculos grandes demais para o seu rosto desceu as escadas com pressa. Tinha um caderno apoiado no braço e caneta na ponta dos dedos. – Você chegou!
  - Nessie... Certo? – Arrisquei. Reconheci a estagiária, mas seu nome me fugiu. – Estou atrasada?
  - Gracie, quase. – Riu, se recompondo ao terminar de descer. – Não está atrasada! Carine e Cara ainda nem chegaram!
  - Ainda bem. – Arrumei o chapéu em minha cabeça para que saísse do meu raio de visão e olhei para Gem. – Essa aqui é uma amiga minha, Gemma. Gems, Gracie.
  - Oi! Muito prazer. – A estagiária acenou com timidez. – , serei a sua ajudante hoje! Não é legal?
  - É sim! Mas o que isso significa exatamente? – Fiz menção de subir a escada e as outras duas me acompanharam.
  - Se quiser de alguma coisa só precisa pedir e eu consigo pra você. – Tomou a frente, guiando o caminho. – Qualquer coisa.
  - Qualquer coisa? – Gemma insistiu. – Tipo... McDonald’s ou uma viagem para a China?
  - Eu demoraria um pouco pra chegar à cidade mais próxima, porque Oxfordshire não tem McDonald’s, mas sim. – Gracie a olhou com um sorriso eficiente. – Qualquer coisa.
  - Bem, tem uma coisa... – Chegamos ao topo da grande escadaria e parei. – E eu gostaria muito que me ajudasse.
  - Pode falar. – Se virou e empunhou a caneta e o caderno.
  - Ontem o meu carro quebrou no meio da rua e tive que deixá-lo lá, porque nenhum serviço de guincho quis trabalhar naquela chuva... Então queria que você conseguisse alguém pra levar o carro até algum mecânico. – Não teria pedido se não fosse tão importante. – Eu posso anotar o endereço pra você, e também o modelo do carro.
  - Será um prazer ajudar. – Esticou o caderno e a caneta.
  - Tem certeza de que não estou dando muito trabalho? – Anotei a rodovia em que deixara meu bebê e o modelo do conversível europeu. – Eu teria resolvido isso mais cedo, mas tive que vir pra cá.
  - Claro que não, . Tenho um primo que entende de carros, ele deve conhecer alguém. – Leu as minhas anotações e tirou um celular do bolso. – Vou ligar pra ele agora. Vocês podem ir na frente. O pessoal está lá no fundo, é fácil de achar.
   Agradeci a menina que, em cinco minutos, fora de maior ajuda do que Rebecca em todo o tempo que a conheci. Gemma passou o braço pelo meu como quem quer dizer: “Não me deixe sozinha, só conheço você aqui” e fomos juntas para o jardim dos fundos. Ou deveria dizer “campo dos fundos”? Passamos por arcos de pedras e paredes altas do mesmo material, desembocando em um espaço verde gigantesco, do tamanho aproximado de pelo menos dois campos de futebol.
   Nós duas suspiramos ao mesmo tempo. Aquilo ali era lindo. Grama verde coberta por folhas do fim de outono, árvores distantes em uma coloração que variava do vermelho ao dourado e, mais adiante ainda, um lago coberto por uma rasa neblina. Não havia nada ali que dissesse “gravação de uma campanha”, apenas uma equipe de cinco ou seis pessoas vestidos com o mesmo uniforme e o que, a primeira vista, pareciam seus bichinhos de estimação. Um pônei branco, três cachorros e dois pássaros. Os cachorros corriam soltos, mas o pônei e os outros dois animais se comportavam juntos aos “donos”.
   Enquanto escolhia com quem falar, Emma Hill saiu das sombras segurando um guarda-sol colorido. A abracei, feliz por ver uma nova cara conhecida, e logo a apresentei para Gemma. Minha segunda atitude foi perguntar se estávamos invadindo um Zoológico. Emma explicou que aqueles “amiguinhos”, como chamava, seriam meus companheiros de cena. O tema da campanha era uma Tea Party e nada mais Mulberry do que ter convidados inusitados e fofos como aqueles.
  - Ivor, William e Fraser são os cachorros, Spud é a cacatua e o pelicano se chama Percy. Ah, o pônei é conhecido como Dusty e é um verdadeiro amor. – Emma explicava com um sorriso amoroso. – Podem ir conhecê-los, meninas.
  - Eles não mordem? – Gemma tinha um pé atrás.
  - Para de ser medrosa. – A puxei pela mão, correndo pela grama. – Esse é o Spud, certo?
  - Ou Príncipe Spud, como gosta de ser chamado. – O treinador tinha o pássaro no antebraço e acariciava as suas penas brancas. – ?
  - Isso. E essa é Gemma. – Apresentei a minha amiga que quase se escondia atrás de mim.
  - Querem segurá-lo? – Ofereceu Spud.
  - Estou bem aqui. Longe do bico afiado... – Gemma negou, o que foi bom pra mim.   - Eu quero!
   Aceitei o bichinho e o treinador ergueu o próprio braço até a altura do meu ombro. Spud testou o terreno com a patinha e subiu ao sentir segurança. Encontrou um pouco de trabalho por causa da aba do meu chapéu, mas logo encontrou um jeito de se abaixar e roçar a cabecinha macia em minha bochecha. Ri e tomei coragem para acariciar o seu peito, escutando barulhinhos de aprovação.   - Viu como ele é bem dócil? – O homem olhava o pássaro com orgulho. – De todos os animais aqui, é o mais comportado.
  - Gemma, a hora de você estar tirando fotos é agora! – Ainda que com a cacatua em meu ombro, conseguia me mexer devagar.
  - Ah, certo! – Empunhou a câmera novamente, enquanto eu posava com Spud no ombro. – Até que ele não é tão amedrontador assim.
  - É um fofuxo, isso sim. – Continuei a acariciar a cacatua enquanto ela mordia meu chapéu.
  - Meninas, acho que estão chamando vocês... – O treinador apontou para o casarão atrás de nós.
  - Acho que aquela é Carine. – Olhei na direção em que uma mulher de cabelos escuros acenava atrás do vidro de uma janela no segundo andar. – Tenho que subir. Você pode ficar aqui se quiser, Gem.
  - Na verdade, não posso. Tenho que cuidar de você, ordens do patrão. – Negou e eu também acreditava que não quisesse ficar perto de animais que pudessem potencialmente mordê-la.
   Zayn exagerou ao pedir que ela ficasse de olho em mim e não estranharia que me seguisse até o banheiro. O treinador de Spud pegou o bichinho de volta e nos deixou partir com a promessa de que nos veríamos logo, já que Cara e eu fotografaríamos ao lado de todos os animais. Carina parara de acenar, mas agora falava ao telefone e ainda assistia enquanto Gemma e eu cruzávamos o jardim de vota à Shotover House.
   Não havia sinal de Gracie, mas esperava que meu pedido não tivesse sido tão grande assim. Ela tinha boas intenções e disposição pra ajudar em qualquer coisa, o que não significava que pudéssemos abusar. O interior da casa era incrível. Uma escadaria gigantesca desembocava em dois caminhos ao chegar na altura do segundo andar. Soubemos que estávamos no caminho certo quando Carine cruzou o corredor, ainda com o celular na orelha. Ela acenou para nós duas, mas não interrompeu seu assunto importante.
   Sabia que se a perdesse de vista, passaria longos minutos até revistar todos os quartos da mansão em busca dela. A solução foi correr escada a cima em busca da empresária. Dessa forma, chegamos ao quarto onde a estação de beleza estava montada. Uma mesa com espelho e maquiagem, outra com coisas para cabelo e por último um sofá e araras com roupas que deveriam ser mostradas na campanha.   - Pelo menos uma de vocês chegou. – Luella entrou atrás de nós e me abraçou pelo ombro. – Sua cadeira a espera!
  - Cara sempre se atrasa... – Ri, entregando a minha bolsa para Gemma. Sabia que era hora de começar a trabalhar. Se é que podia chamar assim, “trabalho”. – Vim com o cabelo molhado, como pediram.
  - Vai ser mais fácil assim, não vamos mexer muito. Queremos um look natural. – Uma das maquiadoras que conheci no desfile que participei estava em pé perto da cadeira, aguardando por mim. – Sua amiga quer fazer algo? Temos dois stylists aqui. Eu cuidarei de você, mas Jim não tem nada pra fazer.
  - O que acha, Gemma? – Me acomodei na cadeira próxima a Mia e o homem indicou a outra á Gem.
  - Só vim acompanhar a . Não quero dar trabalho. – Deixou a própria bolsa e a minha no sofá, sobre os cuidados de Luella. – Mas não vou negar se insistirem.
  - Nesse caso, eu insisto! – Jim brincou e a menina correu para sentar ao meu lado.    Tirei o chapéu da cabeça e o deixei sobre o meu colo. Mia pegou uma escova e começou a repartir o meu cabelo em pequenas metades. Gemma conversava com seu stylist dobre o que poderiam fazer e as primeira idéia foi pintá-lo de azul. Ela sabia, assim como eu, que se pintássemos ou cortássemos os cabelos com alguém que não fosse Rachel, ela nos mataria. Depois que meu cabelo virou uma verdadeira bagunça de presilhas e grampos, a cabeleireira/maquiadora colocou o babyliss na tomada improvisada e começou a cachear a ponta das mechas.
  - Aqui estão vocês. – Gracie entrou pela porta, ofegante e com o caderno embaixo do braço. – , preciso falar com você.
  - Não posso levantar, mas estou aqui. – Acenei pelo espelho e a menina caminhou devagar. – É algo com o meu carro? O encontraram?
  - Uh, sim, encontraram. – Era uma noticia boa, não? Então por que Gracie não sorria?
  - Qual o problema?
  - Bem... Seu carro não estava bem onde você descreveu. – Gracie enrolava. Mia também notou isso, então girou a cadeira para que eu ficasse de frente para a estagiária. – A chuva de ontem... A chuva arrastou o seu carro, , eu sinto muito. E ele caiu da ponte. Agora está no lago... Pelo menos metade dele está no lago.
  - Tem certeza que é o meu? – Toquei o rosto com as mãos. – Não, não, não!   - O número da placa é J23 SLT. E o modelo bate com o que você me passou... Foi perda total.
   Demorei longos minutos até entender o que aquilo queria dizer. Meu carro... Destruído. No fundo de um lago. Ele podia não ser o modelo mais novo ou coisa parecida, mas era o meu bebê. Foi praticamente com ele que aprendi a dirigir! Cruzei os braços, sem saber o que falar ou o que fazer. Não que houvesse de fato algo que pudesse ser feito, não é? Precisava ser positiva. Positiva e forte o suficiente para não matar Helena na próxima vez que a visse na Academy. Talvez se encontrasse o bilhete que ela deixou no carro, poderia mostrar para a diretora; que expulsaria a menina na mesma hora! “Não vale a pena...” Balancei a cabeça devagar para não atrapalhar Mia, que continuava a encaracolar meu cabelo. “Expulsá-la só vai fazer mal. Não terei meu carro de volta.” Maldita consciência! Pensaria depois no que faria a respeito dela; talvez me ajudasse com isso, pois era sua especialidade.
   Gemma ganhou um penteado trançado que a deixou parecida como uma verdadeira princesa grega. Mia terminou de cachear o meu cabelo; nada muito volumoso, apenas cachos naturais e firmes. Teria começado a me maquiar, mas alegou não saber o que Carine decidira quanto àquele assunto. Ao invés disso, Luella me ajudou a entrar na minha primeira roupa: Um vestido branco, justo e de alfaiataria. Lindo. Enquanto Cara não chegasse, não precisaria subir nos saltos plataforma, mas usaria os meus próprios.
  - Cara pode se atrasar sempre, mas nunca demorou tanto assim... – Luella mexia no celular. – E onde está Carine, hein?
  - Posso ir procurá-la, se quiser. – Ofereci, esticando as pernas. – Preciso dizer oi de qualquer forma.
  - Faria isso, darling? Preciso separar as jóias da sua próxima roupa.
  - Faria sim. – Assenti com a cabeça. Gemma teve intenção de me seguir, mas a parei. – Gem, eu ficarei bem, sério. Posso ir sozinha.
  - Direi isso à Zayn, se algo acontecer. – Apenas sorriu.
   Livre da minha babá, deixei a sala onde os nervos começavam a ficar a flor da pele pela demora da minha co-estrela. No corredor, tinha duas opções. Direita ou esquerda. Francamente seria uma escolha baseada em palpites, pois os dois lados eram exatamente iguais. Piso de madeira, portas fechadas e um caminho infinito. Começaria pela direita e iria votando. Uma porta, nada, duas portas, também nada. Na terceira, escutei vozes. O pequeno vão me deixava escutar claramente a voz de Carine e de um homem que eu não conseguia ligar à um rosto ou pelo menos um nome. Querendo me certificar de que não interromperia nada, esperei um pouco.
  - Como assim, Carine?! – O homem soava exaltado.
  - Como assim o quê, Sal? Que parte não entendeu? – Carine, por outro lado, calma como sempre. – Cara não vem mais e usaremos apenas . Não é tão difícil-   - Usaremos apenas... Carine! – Geralmente este seria o momento em que eu deixaria de escutar conversas alheias e iria embora, mas aquela em particular me interessou. – Você só pode ter bebido Mimosas demais no café da manhã. Cara e tudo bem, uma dupla de peso. Mas só ?
  - Por que não? – Car riu, o que obviamente irritaria Sal.
  - Tudo bem, a garota é bonita e magra, mas isso não faz dela uma modelo! Principalmente uma modelo importante e forte o suficiente para carregar uma campanha mundial! – Não conseguia ver o homem, mas o imaginava agitando os braços e andando de um lado para o outro. – Pode ser que você não se lembre, Carine, mas é com essa campanha que a sua marca vai entrar em países como a Canadá e Japão. Acha mesmo que ela-
  - Eu consigo. – Minha mão empurrou a madeira da porta e dei um passo para frente. – A campanha... Posso fotografar sozinha.
  - Você estava escutando a nossa conversa? – Sal era baixinho e barrigudo, com uma sombra sobre os lábios que era indício de um bigode.
  - Não de propósito, acabei de chegar. – Me toquei do que havia feito, mas não podia dar pra trás agora. Aquela gravação iria acontecer. Eu não deixara de viajar com o meu namorado para NY por nada! – Posso fazer a campanha. Sei que não sou o que estavam esperando e que não sou tão experiente ou conhecida quanto Cara, mas estou aqui e disposta a fazer o que quiserem.
  - Está ouvindo isso, Carine? – Inserto se eu falava sério ou não, Sal encarou a mulher.
  - Vocês podem esperar pra fazer essa campanha outro dia e perder tudo o que já está montado aqui, ou podem me usar e arriscar.
  - Sempre gostei de arriscar. – Carine sorriu triunfante e me segurei para não fazer o mesmo quando Sal bufou, vencido.
  - Se isso der errado, a culpa é sua. – O baixinho apontou para a mulher e avançou pra cima de mim. Tive que sair do lugar e liberar a porta pra não ser atingida.
  - E se der certo, a culpa é dela! – Car gritou, vindo para perto de mim. – Não ligue pra ele, querida. É meu sócio. Podemos começar?

  

  

+++

     - Vas happening, baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaabe?
  - Zayn! Ugh, é tão bom ouvir a sua voz. – Apertei o celular contra a orelha, já que não podia apertá-lo contra mim. – Te acordei? Que horas são aí?
  - Não me acordou. Ligou bem a tempo, na verdade. Acabamos de sair do Good Morning America, estamos no carro, indo para o hotel. – Sabia que sorria da mesma forma que eu. Chutava algumas folhas no chão de pedra enquanto seguia Gemma, que também falava ao telefone. – Sinto tanto a sua falta.
  - Sabe que queria estar aí. – Suspirei, levantando o rosto para olhar a paisagem que nunca seria tão bela quando a voz do menino com quem eu conversava. – Como foi no GMA?
  - Normal, legal... Cantamos duas músicas e falamos com os fãs o que é sempre bom. – Também escutava um murmurinho perto dele, que deduzi ser dos outros meninos. – Parece que nosso público aumentou desde que estivemos aqui em junho! Inacreditável. E sabiam cantar as músicas do começo ao fim! Você devia ter visto.
  - Vou procurar no Youtube quando chegar em casa, não se preocupe! – Ri de sua felicidade. Estava tão orgulhosa! – E assistirei o Saturday Night Live essa noite, Gemma encontrou um site que vai reproduzir ao vivo.
  - Ótimo! Farei questão de piscar para a câmera e saiba que é pra você. – Gargalhou de forma tão gostosa que nem o vento frio que atingiu as árvores me fez tremer. – Agora é a sua vez! Como foi a sua manhã? E a campanha?
  - Divertida, como sempre que estou com o pessoal da Mulberry. Me sinto em família, então ocorreu bem. Mas Cara não foi, precisei fotografar tudo sozinha. – Expliquei. – Foi uma nova experiência, bem diferente do photoshoot que fiz com a Glamour.
  - Então essa campanha é só sua?! Você é a estrela... Uau. Isso quer dizer muita coisa, sabe disso.
  - Obrigada por me deixar mais nervosa! – Balancei os cabelos, o que bagunçou alguns cachos. – Sei sim! Não sou profissional, mas gostei muito do resultado. Acho que as fotos ficaram boas.
  - Gostei do que vi, menos daquele pássaro que não saía de cima de você.
  - Eu sabia! Gemma estava te mandando fotos, não estava? – Olhei na direção da menina que escutou seu nome e deu meia volta para acenar.
  - Talvez! Só fico mais tranqüilo que ela esteja aí com você. Estão indo pra casa?
  - Ainda não. O trabalho já terminou, mas resolvemos ficar mais um pouco por aqui e conhecer a cidade. – Parei no muro da ponte que atravessávamos e olhei para os barquinhos ancorados ali embaixo. – Estamos indo conhecer o mercado de pulgas! Aliás, seu carro é muito mais fácil de estacionar que o meu, sabia?!
  - Isso se chama tecnologia, babe. Mas porque está com o meu carro? – Aquela pergunta não soava como uma reclamação. Zayn apenas sabia do amor que eu tinha pelo meu próprio carro.
  - Oh... Esqueci de te contar. Ern... – Enrolei bastante. Sabia que ele ficaria mais que preocupado ao escutar a história toda. – Ontem, depois que deixei vocês no aeroporto e estava dirigindo pra casa, meu carro falhou. Tentei de tudo, mas não consegui fazê-lo pegar de novo. Aparentemente a chuva aumentou bastante e conseguiu arrastar o carro até derrubá-lo de uma ponte.
  - ! Como você esquece de me contar uma coisa dessas?! Você está bem? Alguém te ajudou?
  - Eu não estava dentro do carro, fique calmo! Quando vi que não teria jeito, liguei pra Gemma e ela voltou pra me buscar. Fiquei sabendo hoje do que aconteceu... Foi perda total. – Fiz bico e resmunguei algo indecifrável. – Pra resumir, não tenho carro. Mas estou usando o seu.
  - Sem problemas. Fique com ele até eu voltar e daremos um jeito nisso. – Com aquilo ele queria dizer “quando eu chegar, compraremos um carro novo pra você”.
  - , temos que ir. – Gemma parou ao meu lado. – OI, ZAYN!
  - Oi, Gemma! – Ele a escutou pelo telefone. – Harry disse oi também!
  - Diga pra ele tomar banho. – Brincou. – Agora diga tchau para a sua namorada, porque estamos perto do mercadinho.
  - Ela está falando sério, babe? Vai me deixar?
  - Temo que me derrube daqui se eu não obedecer. – Rolei os olhos e deixei que me puxasse pelo pulso em direção à saída da ponte. – Mas, ei... Nos encontramos amanhã! E te assistirei hoje a noite.
  - Amanhã parece tão distante. Ah, e ligue pra Liam, quando puder. Ele quer falar com você. Algo sobre... O marido da Phoebe? Mike. Não entendi direito, ele não para de tentar roubar o meu celular.
  - Se comportem, meninos! Ligo pra ele depois. Amo todos vocês.
  - Eu te amo mais que todos, sabe disso.
   Sorri com essa última frase de meu namorado, mas fiz careta ao ver que Gemma me imitava. Muito mal, diga-se de passagem. Soltei o celular dentro da bolsa de qualquer jeito e fui arrastada pelo caminho de pedra. Oxfordshire era um verdadeiro paraíso, bem calmo e pacifico. Passarinhos voavam ao nosso redor, cantando suas melodias e batendo as asas coloridas. Eu não conseguiria morar ali, não, de jeito nenhum. Ainda que fosse um condado maior que Castle Combe, era muito parado. Quase silencioso demais. Um lugar para se relaxar, de fato, não pra passar o dia-a-dia.
   Mais cinco minutos de caminhada e o amassar de folhas sob os nossos pés não era mais o único som que escutávamos. O mercado de pulgas estava repleto de pessoas que conversavam, compravam e vendiam produtos um tanto quanto inusitados. Entrelaçamos os braços para que ninguém se perdesse e Gemma escolheu o lado que queria ir. Várias barraquinhas estavam alinhadas, uma sem conexão alguma com a seguinte. Eram vendidas comidas, bijuterias, caixas e móveis antigos... Até mesmo fotografias de desconhecidos. E justamente esse era o fator que tornava o mercado de pulgas tão útil. Coisas que passariam despercebidas no fundo da gaveta, ali se tornavam o tesouro de outra pessoa.
  - Vamos ver aqueles anéis! – Gem me puxou novamente até a barraquinha com os tais anéis. – E cada um custa dois pounds? Isso é muito barato, !
  - Eu sei! – Ri da sua animação. Claramente era a primeira vez de Gemma em um mercado como aquele. – Tudo aqui é bem barato. Olha esse aqui...
   Peguei um anel de pedra azul, testando em todos os dedos até que coubesse em um. A senhora que tomava conta da barraca estava em uma cadeira de balanço atrás da mesa em que os anéis estavam expostos, bem tranqüila e despreocupada. O clima da cidade devia tê-la contagiado àquele ponto. Gemma testava vários anéis e segurava os que mais gostava, me fazendo correr se ainda quisesse algum pra mim. Escolhi três de pedras diferentes, um de lacinho e o último com orelhas de gato. Alguns dos anéis já se encontravam desgastados pelo tempo, o que era um charme a mais. Andei pela barraca, procurando qualquer coisa que chamasse a minha atenção.
   Na mesa em diagonal à que Gemma ainda se divertia provando anéis, encontrei outras jóias como aquelas sendo que em modelos masculinos. Meu primeiro pensamento foi Zayn, é claro. Tive pena por não ter a medida de seu dedo, mas passara tanto tempo com eles entrelaçados aos meus que estava confiante. Achei tantos modelos que sabia que iria gostar que logo a minha mão esquerda não seria o suficiente para segurar tudo que compraria naquela barraquinha.
  - , se Ashton for me pedir em casamento, fale pra ele que quero um anel assim. – Mostrou a mão esquerda, onde um anel de pedra preta descansava.
  - Anotado. – Afirmei, voltando para o seu lado. – Não sabia que estavam... Nesse nível.
  - Sabe que estou brincando. – Rolou os olhos, devolvendo o anel para a pilha. Me deu as costas e foi ver os colares pendurados na extremidade da barraca. – Estamos saindo, mas quero ir com calma. Temos todo tempo do mundo.
  - Gem... – Peguei o anel preto, escondida, e o juntei aos meus.
  - Posso embrulhá-los pra você? – A senhora se levantou ao ver a minha dificuldade de segurar tudo.
  - Por favor... – Entreguei para ela, sacando a carteira da bolsa para pagar.
  - Sim? – Gemma escolhera dois colares idênticos e imaginei que um fosse para o irmão.
  - Tem uma coisa que acho que você precisa saber. – Estiquei a nota para a senhora, que devolveu uma sacola com meus anéis.
  - Ele está saindo com outra pessoa não é? – Seus olhos verdes aumentaram de tamanho e as sobrancelhas erguidas. – Por isso nunca disse que quer algo sério!
  - Ash é novo aqui, Gem, ele não sabe como as inglesas funcionam. Está com medo de te assustar! Mas não, boba, ele não está saindo com mais ninguém. – Guardei as compras em minha bolsa espaçosa e Gemma não pareceu muito convencida. – Estou falando sério!
  - Então o que é? – Pagou e pudemos partir para a próxima barraca.
  - Zayn e Lou entregaram um CD do 5SOS para Simon... Ou Pablo, não sei... Enfim, o caso é que, se gostarem do som deles, há uma grande chance de que a banda de Ash seja o Opening Act da turnê.
  - Isso seria muito bom pra eles. – Não conseguiu me olhar nos olhos e mexeu os ombros devagar. – Por que está me contando agora?
  - Porque pode ser que não tenham todo tempo do mundo.
   Notei que Gemma entendeu o meu recado e sorri de canto. Não queria me meter demais nos assuntos amorosos de outro casal, mas eles precisavam de um empurrãzinho. Ash era “australiano demais” e Gemma estava solteira a “tempo demais”; podia muito bem ter esquecido como as coisas funcionam. Escolhi um novo caminho quando percebi que aquele que seguíamos só tinha espelhos e cadeiras. Passamos por uma barraquinha que vendia cabritinhos como animais de estimação e nós duas paramos pra fazer carinho neles e tirar fotos.
   Em seguida, ironicamente, casacos de pele eram vendidos por menos da metade do preço que valeriam em uma loja na Oxford Street. Gemma teria se aproximado, mas ficou com medo do vendedor mau encarado e preferiu se afastar. Ainda por cima me bateu quando fiquei rido. Encontrei uma barraca interessante no fundo daquela linha de vendinhas: Mesas repletas de câmeras de todas as idades e modelos. Ainda ali, filmes para máquinas analógicas. Mexi entre as caixinhas até achar o que queria.
  - Você tem uma Polaroid? – Gem espiou pelo meu ombro. – Eu só conhecia aquela pequena, que levou para o V-Fest.
  - Só tenho aquela mesmo. – Respondi, checando se tudo estava inteiro nas três caixas de filme, assim como o modelo. – Esses aqui são para a câmera de Liam. Dei pra ele no natal passado uma Polaroid 600, mas não sabia como era difícil achar filme!
  - Então ele deu sorte por virmos aqui. – Passou os dedos pelas câmeras penduradas. – Qual é o lance entre vocês dois, afinal, huh?   - É uma longa história. – Ri pelo nariz, procurando dinheiro dentro da bolsa. – Longa até demais. E confusa.
  - Meu tipo preferido de história! – Deixou as máquinas fotográficas de lado e começou a se afastar. – Vou comprar sorvete pra gente e aí você me conta tudo!
  - Não está um pouco frio pra sorvete? – O que queria dizer na verdade era: “Tenho mesmo que contar tudo?”

  

  

+++

  

  - Eu não devia ter tomado aquele sorvete. – Gemma tossiu pela décima vez nos últimos vinte minutos.
  - Eu avisei. – Pisquei, ligando a chaleira na tomada. – Mas como sou uma boa amiga, estou fazendo chá pra você.
  - Você parece o Lou, sempre oferecendo chá. – Estava sentada no sofá, com Lola em seu colo. me fazia companhia na cozinha.
  - Se estiver reclamando, vai ficar sem! – Abri a geladeira e tirei de lá uma garrafa de suco de laranja. – Se eu faço chá como Lou, você devia fazer cupcakes como Harry. Estou com desejo por algo doce...
  - Eu não negaria um cupcake agora...
   Pena que nenhuma de nós duas sabia fazer cupcakes respeitáveis! Tirei do armário um copo de vidro e me servi do suco. Era o mais perto de algo doce que chegaríamos. “Se nana estivesse aqui, a geladeira estaria cheia de doces!” Devaneei, sonhando com a torta de maçã com canela. “Talvez pudesse pedir à minha sogra que fizesse um pouco de seu Bal Mithai... Se não fosse quase uma hora da manhã.” Droga! Pelo visto eu ficaria sem a minha sobremesa. Não costumava ser tão necessitada de açúcar assim, mas culpava a comida extra salgada que Gemma inventara para o nosso jantar.
  - , deixaram isso aqui embaixo da porta. – Gem abraçava Lola e esticou um envelope parto na minha direção. – Não tem nome nem nada.
  - Isso é coisa da Modest!. – Zayn e eu costumávamos receber correspondências assim, sem muitas informações; apenas o nosso nome e o número do apartamento. – O que será que aconteceu agora?
   Esqueci o suco na bancada e apertei o papel entre os dedos. Caminhei até a sala, com meu fiel Husky me seguindo até o sofá. Tudo de possível e impossível varreu a minha mente como um furacão. Zayn estava longe, não poderia me dizer que tudo ficaria bem se o que estivesse ali dentro fosse uma noticia ruim. Tampouco estava sozinha, já que Gemma sentara ao meu lado para também descobrir o que estava dentro do envelope. Como sempre, algumas páginas impressas em alta qualidade: Uma nova matéria do The Mirror, mas dessa vez Louis não era o foco. Eu era.

  

“A Fama Muda as Pessoas...
  ...E às Vezes É Pra Melhor.

     

Quem não conhece Tomlinson? Queridinha das passarelas, irmã de Louis Tomlinson, ex-namorada de Zayn Malik... E, claro, a dona de belíssimos olhos azuis e sorriso estonteante. Ao olhar para essa princesa de apenas vinte anos, ninguém imagina que, no seu passado, as coisas não eram tão brilhantes assim. Francesa de sangue azul, nasceu em Paris. E foi para lá que o The Mirror mandou a repórter Marina Miller, para descobrir mais um pouco sobre a pequena Tomlinson. Acompanhe a seguir:
   “Cheguei à cidade francesa neste último domingo, acreditando que seria difícil encontrar antigos amigos de e conhecidos que pudessem querer falar comigo. Desde a última matéria do TM que dizia respeito à família da menina, preferi me manter longe de linhas de sangue, o que não significava que eu não fosse encontrar o que procurava.
   E de fato encontrei. Foi em uma praça próxima à casa onde e Louis cresceram que Pamela aceitou conversar comigo. Como melhor amiga de desde a pré-escola, abriu o coração e admitiu o quanto sente saudade de sua “”. “Lembro como se fosse ontem, quando nós duas nos encontramos no fundo da sala de aula; ambas querendo a massinha de modelar cor-de-rosa. Foi aí que nasceu a nossa amizade que dura até hoje.” Ela conta. Quando a questiono sobre como a amiga era no período da adolescência, Pamela pensa um pouco e continua: sempre foi uma menina muito tímida. Nunca começava uma conversa ou se importava em mantê-la por mais de cinco minutos. Gostava de ficar em seu canto, introvertida. Nos trabalhos em grupo, era a que menos falava. Por seu jeitinho calado, costumava receber olhares pelo corredor quando passava e era assunto das rodinhas de banheiro.” Com o olhar triste, relembra os momentos down da amiga. “Claro que eu sempre estava ao lado dela, apoiando, protegendo... Tinha como a minha irmã e faria de tudo para vê-la feliz. Ainda faço!”
   Pamela não era a única amiga de ! Ela tinha a proteção e cuidados de Anttonie, um jovem que também tive a oportunidade de conhecer, um pouco depois de conversar com Pamela. Primeiro namorado de , o galã francês admitiu que nunca conseguiu esquecer a menina de verdade e que, mesmo quando mudou de país, ela ainda era a dona de seus pensamentos. foi meu primeiro amor e gosto de pensar que fui o dela. Nos conhecemos por meio da minha irmã Pamela, e fiquei encantado no momento em que pousei os olhos na menina de cabelos castanhos que cobriam o seu rosto. Fo amor à primeira vista. Crescemos juntos, descobrimos coisas juntos...” Neste ponto, as bochechas de Anttonie ganharam um tom cor-de-rosa (como a massinha de modelar haha), e entendi que o assunto estava prestes à esquentar. “Nunca vou esquecer aquela noite. Seus avós estavam viajando e Louis deixara a casa só para nós. Sempre tivemos o apoio dele, desde o começo. foi a minha primeira até nisso, e fui o dela. Acordei no dia seguinte com o maior sorriso no rosto, tendo certeza de que era com ela que eu pretendia passar o resto da minha vida.”
   Infelizmente – para ele! – sabemos que não foi bem assim. e Anttonie viram o seu fim prematuro poucos dias depois da “noite especial”, como conta o loiro: “Não sei bem o que aconteceu, mas se afastou de mim. Fui atrás dela, levei flores, mas ela não quis me ver. Parecia que quanto mais eu tentava, mais ela me expulsava de sua vida. Depois de um tempo, respeitei a sua decisão e lhe dei o espaço que queria. Ela tinha dezesseis anos na época e pensei que quando nós dois ficássemos mais velhos, as coisas poderiam mudar.”
   E como mudaram! arrumou as malas e foi embora para o reino encantado que a tornaria princesa três anos depois de sua primeira vez desastrosa. Posso afirmar que ela passou de camponesa e foi para o trono em um agitado ano. Seu irmão não apenas formou a banda mais quente que há no mercado hoje em dia, como também a apresentou à todos os contatos que a sugaram para o mundo da moda. Mas não foi só o holofote que Lou dividiu com ela, mas também o seu melhor amigo. Zayn Malik foi o segundo na lista de . Menina de bom gosto, temos que admitir! O relacionamento também durou pouco, mas desta vez a explicação era bem clara.
   “Quando descobriu a traição de Zayn, ficou arrasada! Nunca vi a minha amiga tão triste. O que mais me doía era estar tão longe e não poder abraçá-la.” Conta Pamela. “Ela me ligou de madrugada em prantos e conversamos até o Sol nascer. Eu disse o quanto ela especial e encontraria o seu amor verdadeiro. Torcia para que ela e meu irmão se entendessem, mas não podia forçá-la a nada. Principalmente depois de se mudar para Londres. Não foi apenas de namorado que ela trocou, mas de comportamento. Nunca a vi tão forte, cheia de personalidade. Dizem que a fama muda as pessoas... E as vezes é pra melhor.”
   não ficou sozinha por muito tempo. Depois de superar o rompimento abrupto com Malik, foi vista com vários meninos, mas nenhum deles conseguiu ganhar seu coração. Até, ao que parece, mês passado. Nossa princesinha é a prova viva de que histórias de amor de filme podem vir a se tornar realidade. Harry Styles é um nome também conhecido por sua fama de amor não correspondido e namoradas passageiras. Amigo de desde os doze anos a fez encontrar o amor quando tudo parecia perdido.
   e Harry se conheceram quando os pais dela se divorciaram e seu pai, Mark, voltou para Londres, onde morava antes de conhecer Johannah. Os dois se conectaram imediatamente. Ela precisava de um amigo no país e ele precisava... Dela.” Diz uma fonte que não quis ser identificada. “Os dois passavam as férias inteiras juntos, quando ela vinha visitar o pai. E, quando não, trocavam cartas; das quais ele guarda até hoje.” (A foto abaixo mostra e Harry em um momento carinhoso e inocente). “Não demorou muito para que ele começasse a visitá-la também. Logo estava indo passar os meses de verão em Paris e voltava cheio de histórias para contar. Cada uma delas envolvendo , é claro.”
   Pamela também falou um pouco sobre Harry e a amiga: “O conheci na primeira vez em que veio visitá-la, mas não era a primeira vez que ouvia falar dele. Harry sempre foi louco por ela, nunca parava de sorrir e a olhava como se fosse a pessoa mais importante do mundo. E tenho certeza que é assim até hoje. Naquela época eu já sabia dos sentimentos de Anttonie por , mas não havia nada que eu pudesse fazer, não enquanto Harry ainda estivesse na jogada. Ela o amava, só não sabíamos o quão grande esse amor pudesse ser.” Anos passaram e essa amizade continuou a florecer.
   Apenas recentemente os dois pombinhos se entenderam e passaram a sair juntos em encontros muitas vezes captados apenas por fãs do menino, que bombavam nas redes sociais. Morando embaixo do mesmo teto, ficou difícil para que Harry escondesse seu carinho por ela e o verde dos olhos dele se misturasse ao azul dos dela. “Ela me ligou de madrugada novamente, mas dessa vez com noticias boas. Harry a pedira em namoro e aceitou no mesmo momento. Ao invés de chorar, nós duas rimos a noite inteira. Se ela não ficaria com Anttonie, eu estava feliz que fosse com Harry.”
   As fotos abaixo mostram um momento mais que especial, quando o dono de cachinhos castanhos se abaixou em um joelho só e fez a grande pergunta que toda menina sonha em escutar. O pedido de casamento foi feito em meio ao Tuileries, em frente à fonte mais romântica do lugar. Não sabemos quanto tempo o casal pretendia manter o noivado em segredo, mas nada escapa o The Mirror! O casal foi visto juntos mais uma vez durante o British Fashion Awards deste ano, onde ambos ganharam prêmios em categorias diferentes e agradeceram um ao outro em seus discursos de aceitação. Deveriam ganhar um prêmio de casal mais bonito, isso sim! Dá pra imaginar os bebês desses dois?
  Até a próxima! - Marina”
   “Como é que é? Não sei se entendi direito...” Deixei que Gemma terminasse de ler a matéria assim que fiz isso primeiro e levantei. Estava agitada demais pra ficar sentada. Sabia que o The Mirror gostava de pegar no pé da minha família e inventar coisas, mas aquilo ali já era demais. Mentiras mescladas em pontas de verdade eram a saída perfeita para que seu site ganhasse milhares de acessos. “Estou noiva do namorado do meu irmão.” Minha cabeça doía e mais do que nunca queria Zayn na minha frente, me dizendo o que fazer. Me ensinando como se respira.
   Me sentia nua. Aquela tal de Marina pegara a minha vida pessoal e a expusera para todos que quisessem ler. Não tinha o direito de espalhar aos quatro ventos que perdi a virgindade aos dezesseis anos, com meu primeiro namorado. Ainda mais invertendo a história para que eu ficasse como a vilã, a menina que usou o menino inocente e depois se afastou. Quando foi ele que fez isso comigo! E Pamela nem se fala. Agora mais do que nunca eu tinha nojo da menina. Como ela podia falar tudo aquilo e não pensar em como eu me sentiria?
  - Essas fotos estão bem reais... – Gemma mantinha mais a calma do que eu, que queria voar para Paris e cometer assassinatos. – Principalmente essas do noivado. Não parecem photoshop.
  - Porque não são. – Escondi o rosto nas mãos, ainda andando de um lado para o outro. – Nessa parte eu tenho culpa. Encontrei essa Pamela no parque aquele dia... E pra fazer inveja, disse que Harry era meu namorado. Ele entrou na brincadeira e me pediu em casamento.
  - Oh... Bem, isso complica. – Deixou os papeis na mesinha de centro, como se fosse a coisa mais natural do mundo. – Eu sinto muito, . Pela imagem que o The Mirror criou de você.
  - Estou com raiva, mas estou me sentindo invadida e vulnerável ao mesmo tempo... O que e faço? – Perguntei retoricamente e encarei o teto. – Vou receber ameaças de morte! GEMMA! A campanha da Mulberry... Não posso causar um escândalo!
  - Vou ter que te bater?! – Levantou e me segurou pelos braços. – Eu sei que isso é horrível. E também sei que não sei como você está se sentindo... Mas não é hora de pirar. Os meninos voltam amanhã e tenho certeza que tudo vai se resolver. Eles vão saber o que fazer. E você vai falar com Carine, sei que ela vai entender, porque te conhece. E sabe da verdade.
  - Ma-
  - Ainda que o mundo inteiro pense que você está noiva do meu irmão, nós sabemos que não é assim. Sua família, seus amigos. As pessoas que realmente importam. – Huh, então é assim que é ter uma irmã mais velha? Meus batimentos se acalmavam devagar. – As outras podem acreditar no que quiserem.
   Apenas a abracei. Precisava daquilo, ainda que não fosse Zayn. Agradecia por tê-la ali comigo para me acalmar. Não sei o que faria se estivesse sozinha ao ler a matéria. Perdi um pouco do equilíbrio nos joelhos e tropecei nos próprios pés, vendo tudo girar. Gem percebeu e me olhou preocupada.
  - Você está bem?!
  - Estou sim, só fiquei um pouco tonta... – Sorri para não balançar a cabeça e sentei no sofá com um pequeno baque desequilibrado. – Pode pegar o suco que deixei na cozinha?
  - Agora mesmo! – Correu cozinha adentro. – E vamos esquecer dessa matéria, porque está quase na hora do SNL!

    

Chapter LXIX

Quando saí do quarto para entregar Lola e para Timmy – o menino que passeia com os cachorros do prédio duas vezes por dia e os leva até o Pet Shop nos dias de banho – Gemma ainda dormia. Ao menos uma de nós duas conseguia fazer isso! Não consegui pregar os olhos a noite inteira por causa da matéria do The Mirror. Tive apenas duas horas de sossego enquanto assistíamos os meninos no Saturday Night Live, mas foi só isso. Zayn me ligou logo quando o programa acabou e não agüentei fingir que tudo estava bem.
   Parabenizei a ele e aos outros, obviamente, mas ele notou que a minha voz estava estranha. Foi só o que levei pra despejar tudo que sentia no telefone. Teria lido a matéria novamente, mas me conhecia o bastante pra saber que a raiva só iria aumentar. Como Gem falou, ele só me acalmou e disse que tudo ficaria bem. Prometeu que conversaria com Pablo pra saber o que fariam a respeito disso e me retornaria assim que possível.
   Encarava a tela do celular, esperando noticias, quando a luz verde da chaleira acendeu, indicando que a água estava fervendo e poderia fazer meu chá. Servi a caneca e abri o sache de sabor maçã e o coloquei na água o saquinho que começou a boiar. O vidro de leite estava ao meu lado e derramei alguns mililitros só porque gostava dessa mistura. Enquanto Zayn não dava sinal de vida (provavelmente por ser três horas da manhã em NY), procurei outra pessoa na agenda telefônica. Era cedo em um domingo, mas Carine já devia estar acordada.
  - Alou?
  - Minha querida noiva! Só tenho duas perguntas pra você... Por que não me contou? E a segunda, qual é o tamanho do anel?! – Carine estava acordada até demais. – Esqueça a primeira, não é importante.
  - Então acho que você leu a matéria... – Passava os dedos pela fumaça que deixava o copo de chá.
  - Não de primeira, mas Gracie me mostrou. Achei que você estivesse com Zayn...
  - E estou! O The Mirror não é uma fonte muito confiável quando se trata dos Tomlinson. – Suspirei. Peguei impulso no chão e sentei sobre a bancada. – É justamente por isso que estou te ligando agora. Porque não quero que pense que eu esconderia algo assim de você. Harry é namorado do meu irmão, já te contei isso. E todas as outras coisas que Pamela e Anttonie falaram... A maioria também é mentira.
  - Fico genuinamente feliz em saber que você e Zayn ainda estão juntos. Formam um casal adorável, sabe que eu penso isso.
  - Sei sim. – Consegui abrir um sorriso e dar um gole na bebida quente. – De qualquer forma, fiquei preocupada com a campanha.
  - Por que, querida? – Sua calma chegava a ser desconcertante as vezes.
  - Porque... Bem, por minha causa. Não sei se entendeu bem a matéria, mas ela praticamente me chama de vadia. “ foi vista com vários homens quando terminou com Zayn.” – Recitei sem saber se a frase era assim mesmo ou não. – É um escândalo! O que vão pensar?
  - Desde quando você se importa com o que os outros pensam? – Uma leve risada bateu no celular como um sopro. – Escute, se eu achasse que essa matéria interferiria no sucesso da campanha, não teria acabado de mandar as fotos para edição. É oficial. Em janeiro você vai estar em vitrines da Oxford St., na lateral de ônibus... Não dá pra voltar atrás agora. E mesmo se desse, eu não voltaria.
  - Obrigada, Car. Eu te devo tanto.
   Sentia que um peso fora tirado de meus ombros e me sentia um pouco melhor. Não o suficiente pra voltar a dormir, mas o bastante pra parar de passar os dedos pela borda do copo. Conversamos mais um pouco até que o meu chá fosse reduzido pela metade. Carine contou com detalhes o quão lindas as minhas fotos ficaram e disse que era uma pena não poder mostrá-las para o mundo antes do lançamento oficial. Morria de curiosidade para vê-las, mas Gemma me mostrou a que tirou com o celular e, se fossem parecidas com as originais, a campanha estaria linda.
   Me tranqüilizava saber que eu não era o foco das fotos, e sim as roupas. Fui meramente um cabide, se quiser colocar assim. Encerramos a ligação com a promessa que almoçaríamos juntas na próxima semana e desci da bancada da cozinha, trazendo meu chá comigo quando passei pelo corredor. Precisei ir até o quarto de jogos e alimentar Arnie, já que o seu dono estava longe. Não me atrevi a tocar nos grilos e dei sorte de achar a ração caseira que Zayn guardava em um pote no armário. Nunca perguntei o que tinha ali dentro por medo de vomitar se descobrisse que tocava em larvas.
   Abrir o aquário pra derramar a ração no pote de comida do lagarto era a pior parte. O bichinho não chegava a se mexer quando me aproximava das suas coisas, o que não necessariamente tranqüilizava meus nervos de ter a mão partida ao meio por uma mordida. Depois que o aquário estava seguramente fechado pela tampa furada, Arnie ia investigar e tinha seu banquete; que eu ainda não gostava de assistir, porém, já não sentia mais náuseas. Um avanço, de qualquer forma.
   Nem sinal de Gemma e não tinha intenções de acordá-la ou assistir TV naquele quarto. Levando o celular em uma mão e o copo de chá na outra, fui para o meu “escritório”, ou o mais perto disso que tinha ali. As cortinas abertas deixavam uma luz branca entrar pela janela, resultado da altura do prédio mais o pouco sol que ultrapassava as nuvens do céu. Ainda não havia necessidade de acender a luz quando liguei o computador e me acomodei na cadeira estofada. Bebericava do líquido com gostinho de maça e brincava com o mouse até a setinha aparecer na tela.
  - Muito bem, Twitter, vamos ver o estrago!
   Já logada na minha conta, foi fácil abrir a minha página. Os primeiros tweets não eram nada importantes, apenas conhecidos vivendo as suas vidas normalmente. Coisa que, naquele momento, também quis fazer. Se queria saber o que estava acontecendo no momento, o lugar que eu devia procurar era nos Trending Toppics. Meu nome vez ou outra aparecia por ali, mas foi a primeira que o li desta maneira: Tomlinson-Styles. Tinha certa sonoridade à ele, mas não era pra mim. Sabia que ia me arrepender, mas cliquei no tópico mesmo assim.
   É, muita gente tinha lido a matéria do TM. Pelo que li, passando os olhos rapidamente pelos tweets “mais relevantes”, a noticia do noivado foi um choque e tanto. Talvez por nunca nem desconfiarem que Harry e eu tínhamos algum envolvimento, talvez por começarem a achar que Zayn e eu estávamos namorando novamente. Havia o lado daqueles que estavam animados com a noticia e o lado que achava tudo loucura. Uma minoria até culpava a Modest!, o que me fez sorrir por lembrar que eu não estava sozinha ao odiá-los.
  “Harry só tem dezenove anos, não pode casar! E é mais velha que ele!”
  “A bitch não se contentou só com Zayn?! Tem que roubar o Hazza também?”
  “Ontem foi o pior dia da minha vida. Descobri que meu ídolo vai se casar!”
  “Não ligo pra . Se Harry estiver feliz, eu estarei feliz. Parabéns para os dois.”
  “AMO A ! Não podia estar mais animada para um casamento. E não é nem o meu. SAGUSHAUSGAS”
  “Mais fotos do pedido no meu blog, pessoal!”
  “ Tomlinson Styles? Nope! Malik, isso sim!”   “Continue tentando, Modest! Acha que engana quem? #LarryIsReal”
  “Gente, parem de fazer drama! E daí que ele está noivo?! Harry não deve nada a ninguém. A vida é dele!”
  “Enquanto vocês ficam fazendo confusão por causa de um noivado, deve estar olhando o prêmio que ganhou no BFA! HAHAHA #OlhaORecalque”

   Acho que podia ser pior. Pelo menos não vi ninguém dizer que entraria na igreja com uma arma e me mataria ali mesmo. “Não vai haver igreja! Não é de verdade!” Tinha que me lembrar disso constantemente. Voltei para a página inicial, sabendo que se dependesse da Modest! para acabar com aquela mentira, nada iria acontecer. Aliás, Pablo devia estar adorando tudo isso! Chegava a ser brilhante. Um noivado era tudo que a banda precisava. “Harry Styles larga a vida de mulherengo e tem a benção do melhor amigo para se casar com a irmã de Louis Tomlinson.” Sem contar que esse furo tirava o foco de Zayn & e Harry & Louis; os casais verdadeiros que os empresários queriam esconder. Dois coelhos com uma cajadada só, realmente genial.
   Cliquei na caixinha de diálogo na lateral esquerda. Queria falar tanta coisa que não caberia em 140 caracteres e muito menos conseguiria colocar tudo em palavras digitadas. Postar que Harry e eu não estávamos noivos soaria muito falso e difícil de acreditar, ainda mais quando fotos provavam o contrário. “Situações desesperadas pedem medidas desesperadas.” Pensei, encontrando o que queria digitar:
  “Vou fazer uma twitcam em cinco minutos. Quem quiser a verdade só precisa assistir.”    Em segundos minha única frase estava cheia de respostas e retweetts. Muito mais do que achei que teria, afinal de contas era manhã em um domingo! Bem... Quanto mais pessoas ouvissem o que eu tinha pra falar, melhor. Estava usando pijamas e meu cabelo não era lá essas coisas. Algumas ondas resistiram do dia anterior, mas era só isso. Ciente de que desistiria se passe muito tempo pensando no assunto, entrei no site e fiz o login mais uma vez. Quando aceitei liberar o acesso à minha câmera e microfone, o aplicativo mandou um tweett com o endereço do meu chat ao vivo e o número de viewers aumentou como os segundos em um relógio.
   “Oh, shit. Já estão me vendo?” Apareci na tela do computador, assim como um retângulo com comentários de quem assistia. Uns falavam oi e eram educados, mas outros começavam a me xingar de tudo que era possível. Infelizmente, estava mais acostumada com isso do que o considerado normal para uma simples garota de vinte anos.
  - Oi, todo mundo... – Acenei para a câmera, desejando ter pensado melhor no que iria falar antes de começar. – Sei que é cedo, mas a gente precisa conversar.
   Manter as coisas casuais, como se estivesse conversando com amigos, era a melhor saída.
  - Eu estava com saudade de fazer twittcams! Claro que nas outras vezes os meninos estavam comigo... Lembro de você sim, 1DUpdates! Lembro de outras de vocês também... –Li alguns comentários de meninas que costumavam assistir as twittcams desde o inicio da banda. Sorri, já não tão nervosa. – Okay, vamos começar a festa! Eu estou aqui pra falar sobre o artigo do The Mirror. Tenho certeza que todos vocês leram e pensam que Harry e eu estamos noivos...
   Com esse comentário, a caixa de comentários explodiu mais uma vez. Se fosse ler tudo, me perderia dentro da própria cabeça e esqueceria o discurso.
  - Harry e eu... Somos só amigos. Bons amigos, mas amigos! Sim, nos conhecemos desde os doze anos e precisávamos um do outro... Ainda precisamos. Porque somos melhores amigos, mas nossa história só vai até aí. – Minha garganta ficou seca, então bebi um pouco do chá que já estava morno. – Claro que vocês podem acreditar no que quiserem, mas essa é a verdade. Eu nunca fui tão honesta quanto estou sendo agora. Por isso, preciso contar a vocês... Eu estou apaixonada. Mas não por Josh ou Anttonie ou Harry... Estou apaixonada pelo ballet. Pelo meu trabalho, pelos meus amigos, minha família! Sou apaixonada por viver cada dia como se fosse o último.
   Passei as mãos pelo rosto como um ato involuntário. Abri uma torneira e sabia que seria difícil de fechá-la.
  - Estou cansada de me preocupar em ser aceita por todos, em agradar a todos! Isso é impossível e demorei tempo demais pra perceber. Eu não sou perfeita e nunca vou ser... – Lembrei de algo que nunca de fato esquecia; em ter falhado no recital, em não ter sido perfeita. Agora aceitava que nunca poderia ser. – Mas eu sou eu! E é isso que vou ser. Eu quero ser feliz e quero que as pessoas a minha volta sejam felizes. Então, por favor... Por favor, parem de pedir à mim e, principalmente, aos meninos o que eles não podem lhe dar. Eles não podem se casar com todas vocês, por mais que quisessem!
   Não queria partir os sonhos de ninguém, mas alguém precisava falar um pouco de realidade.
  - As vezes eles não podem parar pra tirar fotos ou dar autógrafos, mas não é culpa deles! Nunca é culpa deles. Se pudessem, fariam isso todos os dias e dariam atenção especial a cada uma de vocês. Eles amam vocês! Mais do que podem imaginar. E ficam tristes quando pensam que não conseguem mostrar isso. Cada uma significa o mundo para os cinco. Sabem disso, não sabem? Os meninos trabalham tudo, vivem enfurnados no estúdio, criando músicas pra vocês, que vocês vão gostar. Mas também são humanos, né? Então precisam de um descanso. São jovens, estão vivendo o sonho de uma vida inteira! E precisam de vocês do lado deles. São um time, uma família.
   Me mexi na cadeira, sentindo a bunda ficar dormente por passar muito tempo em uma posição só. Pensei que fosse receber uma chuva de reclamações, que fossem me chamar de maluca ou de metida por conhecer e ser íntima da banda. Mas não. Os comentários pararam por alguns segundos, como se a maioria estivesse refletindo as minhas e até mesmo concordando.
  - É isso, já falei tudo que tinha pra falar. E entendo que muitas de vocês não gostam de mim e o caramba, porque não vou ser amada por todo mundo, sei disso agora. – Amarrei os cabelos pra ter o que fazer com as mãos. – Mas não esqueçam que estou do seu lado. Eu sei o que é ser fã, sei como é amar seus ídolos a um ponto que se sente que os conhece à vida toda. E talvez conheçam. Okay, estou enrolando agora... Uh, certo... Alguém tem alguma pergunta?
  “Como vai o ballet, ?”
  “Onde os meninos estão?”
  “Pode ligar pra eles?”
  “Quando vai desfilar de novo? Sempre te achei tão linda.”
  “Olha, quero te pedir desculpas em nome do lado negro do fandom!”
  “Você e Zayn sempre vão ser o melhor dos ships!”

  - Vou tentar responder algumas, mas é impossível responder todas... Primeiro, o ballet ainda me completa. Adoro as aulas e ma posso esperar pra voltar à Academy amanhã. Os meninos estão em Nova York... – Olhei no relógio em meu pulso, sem saber porque não fiz isso na tela do computador. – Acho que é perto das quatro horas da manhã agora, então devem estar dormindo. Não sei se vou chegar a desfilar de verdade, em uma passarela... Mas terei algumas surpresas pra vocês! Em janeiro vão saber do que estou falando. Não precisam pedir desculpas, eu entendo que as vezes é bem difícil essa vida de fã!
  “Qual é o horário do vôo dos meninos? Podemos ir recebê-los no aeroporto?”   - Não sei se posso falar nesse assunto... O problema é que da última vez que voltamos dos Estados Unidos, foi uma confusão tão grande que fico com medo de que o mesmo se repita. Devem se lembrar. E não foi legal. Os meninos ficaram assustados, Niall quase teve uma crise de claustrofobia. – Mordi a ponta do dedo. Se eu revelasse o horário do vôo para que fossem recebê-los, ganharia alguns votos de confiança. Isto, no entanto, poderia acabar muito mal. – Mas se vocês ajudassem e não fizessem confusão, os meninos poderiam até falar com vocês, tirar algumas fotos... Pra isso, precisarão da compreensão e calma.
  “A gente entende!”
  “Vamos ajudar.”
  “Tive uma idéia, gente!!! PRESTEM ATENÇÃO! Vamos criar o movimento PROTEGENDO 1D. Vamos manter a ordem e não deixar que comecem a bagunça como aconteceu da outra vez!”

  - Ótima idéia... Okay, acho que entramos em um acordo.
   Em uma epifania, compreendi o que Marco queria desde o começo. Ele disse que eu era uma arma secreta contra a Modest! e pensei que deveria lutar, bater de frente... Quando, o tempo todo, deveria lutar ao lado da verdade, ao lado dos fãs. Porque eles sim eram uma arma muito maior do que qualquer coisa que pudesse fazer sozinha.

  

  

+++

  

  “Vou te ver hoje no aeroporto? Você podia passar aqui pra irmos juntas. xx”
   ligou duas vezes enquanto eu tomava banho e quando retornei as ligações, ela não me atendeu. Mandei a mensagem na esperança de que respondesse logo, mas nada feito. Me sequei e vesti um short jeans e camiseta preta só pra ficar dentro de casa, ainda esperando que a minha ruiva preferida desse sinal de vida. Nope. Escovei os dentes e tomei o remédio pra dor de cabeça que deixara separado na bancada, sentindo-o arranhar a minha garganta.
   Sentia aquelas dores há algumas horas, mas pelo menos a tontura que a acompanhava foi embora depois do almoço. Não deixei Gemma cozinhar novamente, pois aprendera a lição no dia anterior. Penteei os cabelos ainda molhados. O banheiro ficava tão vazio sem a escova de dentes de Zayn. Ainda restavam perfumes diferentes, desodorante e etc, mas o simples objeto deixava um buraco na rotina. Quase enviei uma nova mensagem pra ele quando a batida na porta me interrompeu.
  - , você recebeu novas entregas. – Gemma sussurrou contra a madeira. Eu sabia que tinha escutado a campainha!
  - O que foi agora? – Rolei os olhos. Seria um novo ataque? Nova matéria? Eu era amante de Niall agora?
  - Você vai gostar... – Soava positiva demais para que fosse uma entrega da Modest!.
   Poderia ser... Alguma carta? A esperança se acendeu em meu peito e deixei a escova cair no chão. Destranquei a porta e praticamente me atirei em Gemma. Era um envelope vermelho, o qual abri antes de ver o remetente. A menina ganhou certo espanto com o meu desespero, mas não sabia nem metade do quanto eu esperava por algo assim. As palavras deslizavam no papel, em uma escrita rápida e manual:
  “É natal? Porque você acabou de ganhar presentes! Tenho certeza que vai adorar todos. Os recebi há alguns dias, mas só tive tempo de lhe entregar agora, . Desculpe por isso. Não, ninguém pensa que é o seu aniversário! Vou explicar... Agora que é importante (sempre foi importante, mas sabe o que quero dizer) vai receber produtos que não conhece de marcas que nunca ouviu falar. Chame de amostras, se quiser. Você ganha presente e eles ganham publicidade com “o produto que Tomlinson usa”. A troca perfeita, não acha? Bem, me fale se achar algo que eu possa gostar.
  BEIJOSSSSSS, Lexy.
  PS: Não machucaria postar fotos do que ganhou em seu Twitter ou Insta; só pra agradecer, sabe como é.”

  - Eu deveria ter entendido isso? – Levantei os olhos do papel para Gemma. Não era uma carta de companhia alguma, e sim de minha publicista.
  - Acho que fará mais sentido depois que ver isso. – Tirou uma grande caixa o chão e a colocou sobre a cama. – Tem que ver quantas coisas você ganhou.
  - Adoro amostras! – Precisei forçar o sorriso após a decepção. – Tem algo mexendo aí...
   Sentei no meio da cama e Gemma fez o mesmo. Abri a tampa da caixa e uma bolinha de pelos pulou pra fora. Lola! Devia ter entrado ali enquanto Gemma se distraía. Ela e já estavam em casa há algumas horas, ambos cheirando a lírios e chocolate. Adorava quando meus filhotes voltavam do Pet Shop, porque seus pelos ficavam mais macios que uma pluma. Puxei a pequena para o meu colo e ela logo repousou a cabeça em minha coxa, usando-a de travesseiro.
   Gemma espiava dentro da caixa e bati na sua mão quando tentou pegar alguma coisa. Ela reclamou com um chiado que me fez rir de verdade. Dentro da caixa, encontrei várias outras caixas que variavam em tamanhos e cores. Todas com pequenos cartões e o meu nome escrito à caneta. O caixote do topo tinha um coração cor-de-rosa desenhado no topo e as palavras “Your Tea”. Não foi uma surpresa tão grande ao abrir e encontrar dezenas de saches de chá da mesma cor do coração.
  - Isso é fofo... – Cheirei a caixa e me senti no meio de uma plantação.
  - Isso aqui é mais fofo ainda! – Tinha uma nova caixa em mão e me entregou. – Quero tudo emprestado.
  - Gel de banho? Essa é nova! – A floresta deu lugar à um jardim florido com meus presentes do The Body Shop.
   O que eu tinha feito pra merecer tantas coisas não sabia, tampouco iria reclamar se quisessem mandar mais. Uma caixa atrás da outra, e eu me encantava cada vez mais com os produtos de boa qualidade e embalagens femininas. Ganhei mais cremes para o corpo, maquiagem, produtos para o cabelo que já vira Rachel usar, amostras em miniatura de vários perfumes... A carta de Lexy fazia total sentido agora. O natal chegou mais cedo naquele apartamento! Lembraria de agradecer à todos que foram tão gentis em me mandar aquelas coisas, mas primeiro atenderia o celular que começava a tocar.
  - No banheiro! – Gemma anunciou ao perceber que eu esquecera onde o deixara.   - Isso! Eu sabia. Obrigada. – Pulei da cama com cuidado para não chutar nada espalhado por ali e Lola reclamou com um latido baixo. – Já vou, já vou, não pare de tocar! Oi? aqui...
  - Oi, . – Giovanna Fletcher saudou como um raio de Sol na minha vida. – Você está bem? Parece ofegante.   - Eu estava correndo, sabe como sou. Adoro me exercitar. – Menti e Gemma me reprovou com o olhar. – E como você está? Parece feliz...
  - Você não faz idéia... Vou te colocar no speaker. Tom está aqui também.
  - Tudo bem! – Voltei para o quarto, curiosa para descobrir do que aquilo se tratava.
  - Whatup, ?! – Tom praticamente gritou.
  - Whatup, Tommy?! – O imitei no maior estilo “Tenho amigos muito idiotas e não fico pra trás”.
  - Estamos ligando porque temos uma noticia importante! E queremos que você seja uma das primeiras a saber. – Gi falou.   - AI, MEU DEUS, VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA! – Sabia que devia ter me contido, mas a exclamação foi mais rápida que eu. – EU SABIA! PARABÉNS!
  - Uau, você é sem graça. – Tom gargalhou, o que só confirmou minhas suspeitas. – MAS YAAAAAY! Vou ser pai!
  - O melhor pai! – Gemma me olhava pular pelo quarto. – E, Gi, você vai ser a melhor mãe! O melhor? Já tem vários brinquedos pela casa.
  - Sim, meus brinquedos! Que não vou dividir com ele ou com ela! – Tom emburrou.

  

  

+++

     

Pela primeira vez em muito tempo não me sentia nervosa ou até mesmo temerosa por estar prestes a encontrar fãs e até mesmo paparazzis. Depois da conversa quase unilateral que tivera naquela manhã, sentia-me bem mais segura e tranqüila. Acreditava que tinha mostrado que não estava contra ninguém e, principalmente, estava do mesmo lado em que eles. Sabia, porém, que sempre existiriam os dois lados da moeda e que muitas ainda ficariam contra mim. Só que estava disposta a ignorar esse lado obscuro.
   Gemma me acompanhava como minha fiel escudeira, já que também não quisera vir receber o namorado. Temia que estivessem passando por uma nova crise e a interrogaria sobre isso no dia seguinte; quando nos encontrássemos na Academy. Nervosamente mexia na pulseira amarela que tinha no braço e encarava o relógio na parede do salão de embarque/desembarque. Geralmente as pessoas que iam até o Heathrow para receber amigos e familiares que voltavam de viagem precisavam esperar no saguão do aeroporto. Entretanto, Gemma e eu não éramos “pessoas comuns”, ou algo bem perto disso; ao menos na visão do gerente do aeroporto, que fez questão de nos deixar esperar pelos meninos naquele salão enorme e de paredes de vidro que davam visão à pista de pouso e decolagem.
  - Dá pra parar? Daqui a pouco você não vai ter mais unha nenhuma! – Gem segurou a minha mão, afastando-a do meu rosto. – Relaxe! Ele já está chegando.   - Se fosse o seu namorado, você estaria assim também. – Bufei, mas sabia que ela tinha razão.
  - Graças a você, em breve será o meu namorado que estará voltando de uma viagem à outro continente. – Cruzou as pernas e se acomodou no banco, falando tão baixo que mais parecia um pensamento.
  - Gem... Isso é sobre o que eu falei? Sobre a banda de abertura? – Olhava pra ela, que fugia.
  - Claro que não, eu só... Talvez. – Revirou os olhos, puxando os fiapos do rasgo em seu jeans. – Não é culpa sua. Me fez perceber que o tempo passa e as vezes as oportunidades vão junto.
  - Você realmente gosta dele, não é? – Um sorriso se formou na curva do meu rosto. As bochechas da menina ganharam um tom avermelhado, a entregando. – Só me responde uma coisa! Você esperaria por ele?
  - Essa pergunta é complicada, ! Ele vai estar viajando o mundo inteiro. Conhecendo outras mulheres de todos os tipos... – Deslizou os dedos pelos fios claros, remoendo-se por dentro. – E não somos você e Zayn, nem nos conhecemos há tanto tempo.
  - Não perguntei nada disso! – A reprovei. – Além do mais, antes de começar a pirar, lembre que pode ser que eles nem viagem! E você está se preocupando a toa. Vamos pensar no dia de hoje? Ou melhor... No dia de amanhã?
  - Por que amanhã? – Fez uma leve careta, enrugando o nariz.
  - Devia checar o seu celular. – Dei de ombros simplesmente, como quem não quer nada.
   Os olhos esverdeados de Gemma foram alargados e um pouco de cor deixou o seu rosto. Murmurou coisas indecifráveis, mas soavam muito com perguntas do que eu aprontara ou o que queria dizer com aquilo. Ela quase derrubou a bolsa no chão ao revirá-la atrás de seu celular e quase que ele próprio foi para o chão. “Ash, eu só espero que tenha feito o que disse que ia fazer...”
  - Ele quer me ver amanhã! , ele quer me ver amanhã! – Agarrou meu ombro, quase machucando. – O que isso quer dizer? O QUE VOCÊ SABE?
  - Shhhh, estamos em um lugar público! – Gargalhei, ignorando todos que nos olhavam. – A única coisa que sei é que você parece uma menininha de quinze anos antes do primeiro encontro!
  - Eu disse que também quero vê-lo amanhã... Espera, ele não sabe sobre o CD e a possibilidade de abrirem o show, não é?
  - Positivo.
  - Vôo AY4012 vindo de Nova York – JFK, desembarque sendo realizado pelo portão número três. O Heathrow lhes deseja as boas vindas à Londres. – A voz feminina, simpática e computadorizada anunciou no auto falante e meu estômago revirou, mas de uma forma boa.
  - Eles chegaram! – Levantei em um pulo, procurando o número três em todos os portões.
  - Mandei a resposta... Será que ele vai responder? – Gemma continuava em seu mundinho, olhos grudados no celular.
  - Vem, Gemma!
   Ironicamente, o portão de número três ficava na ponta oposta à que estávamos. Assisti as portas de vidro serem abertas e os passageiros do vôo do meu namorado começarem a sair. Levavam apenas os pertences de mão, porque nem ao menos passaram pela sala de retirada de bagagens. Se Gemma não me acompanharia, eu iria sozinha. Com o estômago gelado e o coração acelerado, comecei a andar. Até que isso não foi mais o suficiente. Logo estava correndo e chamando mais atenção que o esperado. “O que foi?! Nunca viram uma mulher apaixonada?”
   Ali estava ele... Atrás de um casal de senhores e na frente de Paul; que era grande o suficiente para esconder qualquer um que viesse depois. Zayn usava jeans, botas de combate e um moletom azul por baixo de um casaco estilo College. Lindo e confortável. Queria chegar até ele o mais rápido possível. Três dias incompletos e eu já não conseguia esperar mais um minuto sem seus braços em minha volta. Paul tocou o ombro de meu namorado e falou algo em seu ouvido, apontando para frente. O sorriso que abriu ao me enxergar era quase maior que o meu.
   Nossa distância se resumiu a metros e nossos movimentos foram espelhados. Soltei a bolsa no chão e Zayn largou a mochila. Pulei em seus braços, o envolvendo pelo pescoço e prendendo as pernas em volta de sua cintura. Escutei que ele tentou falar alguma coisa, mas fui mais rápida. Não era hora de falar nada! Segurei na lateral do seu rosto e o puxei até encaixar nossas bocas em um beijo melhor que qualquer frase de boas vindas. Ele me abraçava com força pela cintura. Viramos uma bagunça, pois nem um nem outro conseguia parar de sorrir.
   Gritinhos de nossos amigos e Paul me fizeram acordar e lembrar que estávamos no meio de um aeroporto; provavelmente atrapalhando a passagem. Relutante, fui para o chão, o que não queria dizer que tivesse intenção de soltar meu namorado. Abri os olhos e agradeci por Louis ter cuidado de tirar nossas coisas do chão.
  - Tem alguma idéia do quanto senti a sua falta? – O tocava o tempo todo, me assegurando de que estava mesmo ali.
  - Não mais do que eu senti a sua. – Beijou o meu rosto inteiro. – Você ficou mais bonita.
  - Aham, sei! – Apertei os braços em volta de suas costelas, tendo noção de que começávamos a andar no ritmo da correnteza de pessoas. – Se é assim, você ficou mais alto.
  - Não fala com seu noivo, ? – Harry passou os braços em volta dos ombros de Zayn. Como ele conseguia se divertir com aquilo eu não sei.
  - Estou ocupada com meu marido! – Tirei os pés do chão quando meu namorado prendeu a minha cintura, disposto a me carregar.
  - Então vamos oficializar?

  

Chapter LXX

A noite passada foi o que se pode chamar de maravilhosa. Recebi meus amigos, matei um décimo da saudade que tinha de Zayn e Lux me deu uma coroa de espuma da estátua da liberdade. Um grupo de cinqüenta fãs mais ou menos também os esperavam na porta do aeroporto; diferentemente da última vez, eram todos civilizados e não agarraram ninguém. Continuaram gritando e batendo palmas com a mesma veracidade de sempre, mas esperaram pacientemente a sua vez de tirar fotos ou pedir autógrafo. Pablo não estava por lá e os paparazzis eram poucos. Não precisei me esconder ou ficar a mil metros de distância de Zayn, contanto que não o agarrasse ali mesmo – por mais que minha vontade fosse exatamente essa.
   Dormir ao lado do meu namorado depois de alguns dias longe foi maravilhoso, especialmente sabendo que Harry, Lou, Liam, Niall e Gemma estavam do outro lado da porta, espalhados pelos quartos do apartamento. Pra falar a verdade, dormi tão bem que quase perdi a hora. O “quase” transformou-se em “com certeza” quando cheguei à garagem e lembrei que não tinha carro. Cogitei pegar o Jeep, mas lembrei da conversa de Niall e Zayn na noite anterior. “Não acredito que vou operar o joelho amanhã!”, a voz de Niall ecoou. “Não se preocupe, mate. Eu vou com você. Posso te levar e ainda trago de volta depois.” Zayn era prestativo demais para o meu gosto.
   Resultado: Fui coagida a ir de ônibus e relembrar os três quarteirões que separavam o ponto e a Academy. Especialmente embaixo de uma chuva que não chegava a ser torrencial, mas molhou o topo de minha cabeça e meus braços. Antes mesmo de correr escada acima, cogitando se ainda valia a pena tentar entrar na aula do professor Hofstheder ou não, comecei a me despir das roupas úmidas e amarrar o cabelo em um coque fajuto.
  Empurrei as portas com o quadril, tropeçando nos próprios pés, quase derrubando uma menina que tentava sair.
  - Hey, cuidado! Oh, ... Oi. – Para a minha sorte, era apenas .
  - Foi mal, , não te vi aí! – Dei um beijo rápido em sua bochecha e passei por ela. Talvez ainda pudesse chegar à sala de aula e entrar despercebida. Eram muitos alunos, não podia ser tão difícil.
  - , espera! Posso conversar com você? – Me chamou mais uma vez e não parei, meramente lhe lancei um olhar de desculpas. – É importante...
  - Sinto muito... Estou atrasada agora! Podemos falar mais tarde? – Por educação, virei de frente pra ela, andando de costas. Estava sem blusa e começava atirar a calça; com o uniforme por baixo.
  - Você sempre está ocupada! – usou um tom que nunca direcionara pra mim. Não estava com humor ou tempo para seus ataques de TPM.
  - , por favor! – Supliquei, tentando me livrar daquela situação. apenas balançou a cabeça para os lados e continuei em meu caminho.
  - Meus pais estão se divorciando! – Não chegou a ser um grito, apenas uma exclamação que me fez congelar.
  - O que? – Novamente estava de frente para ela, atônita. Bons metros nos separavam, mas notei pela primeira vez as bolsas escuras embaixo de seus olhos.
  - Pois é. Minha mãe foi embora esse final de semana. – Pisando forte e causando ecos contra as paredes, encurtou aquela distância. – Mas acho que você está ocupada demais pra conversar sobre isso.
  - Eu sinto muito... Não fazia idéia... – Um nó apertou a minha garganta. E pensar que eu estivera preocupada em me atrasar para uma aula!
  - É claro que não! É como se nem fossemos mais amigas! – Reparando melhor em , seus cabelos ruivos não tinham mais aquele brilho resultado por milhões de cremes especiais que tanto idolatrava.
  - O que você quer dizer com isso? – Abracei meu próprio corpo, sentindo no âmago o peso daquelas palavras.
  - Você sabe o que eu quero dizer, ! Você costumava ser a primeira pessoa que notava quando havia algo errado. E era pra mim que corria quando algo acontecia, mas agora sou a última a saber. E não é nem por você que fico sabendo! – Ela estava prestes a chorar e eu compreendia que tinha culpa naquilo. Logo ... Uma menina tão forte. – Mas eu entendo, sabe? Você é diferente agora. Tem uma nova vida, novos amigos. Cara, Rita, Tom... Eu entendo porque você não pensa mais em mim.
  - Você está sendo boba, ... É a minha melhor amiga!
  - Não. Você é a minha melhor amiga. Eu sou somente uma amiga. – Limpou uma lágrima com força. Sabia que ela estava odiando aquela cena toda. – Porque eu sei tudo que acontece na sua vida, mas você não sabe nada da minha. Sei que meus problemas não envolvem grandes campanhas ou premiações...
  - ! – O novo grito veio de trás de mim. – Você em idéia do quanto está atrasada?
  - Seguei, agora não... – O espiei por cima do ombro, assistindo correr na minha direção. – Só mais cinco minutos.
  - Tchau, . – Foi a vez de se afastar.
  - , não! Precisamos conversar... – Corri atrás dela, mas Serguei prendeu meu braço.
  - Não em cinco minutos. – Tive tempo de receber um último olhar magoado.
  - Vamos...
   Serguei não era burro, notou que havia interrompido algo importante. Porém, não acho que e eu poderíamos ter resolvido qualquer coisa naquele momento. Me deixei ser guiada pelo menino, já que não lembrava para onde deveria ir. estava certa, eu vinha sendo uma péssima amiga nos últimos dias. Quando não foi se despedir de Niall na sexta feira, eu tinha obrigação de ir atrás do motivo. Ela nunca faltaria se não fosse por algo realmente importante. E a separação dos pais é algo que se encaixa perfeitamente nesta seção. Eu antes de qualquer pessoa sabia o quanto aquilo doía e o quanto poderia alterar a sua vida. Tudo muda, literalmente tudo, depois que um dos pais sai de casa. era completamente ligada à mãe e devia estar arrasada por vê-la partir.
   O peso em meu ombro foi retirado e só então percebi que Serguei pegara a minha mochila. Estávamos na sala de aula e dezenas de bailarinos se aqueciam nas barrar no centro da sala. O professor entortava o nariz e batia nas canelas de bailarinas do primeiro semestre que deveriam melhorar a linha de seus movimentos. De inicio percebi que ele não estava deixando nada passar e eu precisava me concentrar se pretendesse assistir o resto da aula.
   Em um dia qualquer eu teria fugido dali, simplesmente por não estar com ânimo ou inspiração. No entanto... Aquilo era tudo que eu tinha. Meu último semestre na Academy seria a última oportunidade de dançar sobre a direção de um professor de nível tão alto como Hofstheder. A peça O Quebra-Nozes seria a minha última grande produção. Nauseada ou não, deveria fazer cada aula valer.
  - Srta. Tomlinson, pensei que a minha aula não fosse importante. – Cínico, o professor cortou a sala em direção à Serguei e eu. Fazendo questão de elevar a voz para ser escutado por todos. – Só por este motivo chegaria atrasada à minha aula.
  - Espero que não tenha tido problemas com o carro... – Dissimulada, Helena fez cara de quem sente muito. Ia sentir é o meu pé em sua garganta!
  - Cadela! – Meu primeiro instinto foi partir pra cima dela, mas Serguei ainda segurava em meu ombro e me impediu.
  - O que disse, senhorita? – Hofstheder escutara alto e claro o meu insulto, elevou as sobrancelhas e cruzou os braços.
  - Canela. – Seguei se intrometeu. – Mais alguém está sentindo o cheiro de canela?
  - Eu estou! – Brigitte levantou a mão, não tão longe de nós.
  - Ainda não é razão para ter se atrasado para a minha aula. – O docente, porém, não queria deixar aquele assunto morrer.
  - Ela estava ocupada com Colin, sabe como ele pode ser quando se empolga. Não para de falar. – O garoto ao meu lado se dispôs a me defender mais uma vez.   - A culpa é minha, professor. Ela me pediu pra lhe avisar que chegaria um pouco depois do começo da aula, por razões de poder maior. – Brie o apoiou. – Questões da peça não podem ser discutidas.
   Um murmúrio tomou conta da sala, onde vários alunos se colocaram atrás de Brigitte e à minha volta. Eu era defendida sem merecer e tinha plena consciência. Queria que parassem, queria que deixassem o professor me retirar da sala; me suspender por causar um tumulto tão grande! A náusea retornou, aliciada a uma tontura que me fazia querer sentar. Girei o rosto pra tentar encontrar um banco e isso só fez com que uma cortina de chuviscos cegasse meus olhos como uma televisão que começa a falhar. Segundos depois veio a calma... A calma da escuridão que me engolia.

  

  

+++

     

Acordei com meu corpo reclamando de dor, gritando que acabara de ser atropelado por um caminhão. O cheiro forte e a claridade também tiveram um pouco de crédito no meu despertar. Meu nariz ardeu quando tentei respirar fundo e o odor de cloro misturado à desinfetante usado em exagero me causou uma careta e quase tosse. Abri os olhos com cuidado, algum ponto da minha mente ainda desejava que eu estivesse errada quanto ao palpite que tinha de onde estava.
   Uma cama dura e travesseiros brancos. Lençol da mesma coloração limpa cobria as minhas pernas, mas sentia que ainda vestia collant e meia calça. Meu braço direito doeu ao mexer, mas não tinha nenhuma agulha presa à ele, apenas um curativo redondo com uma clara mancha de gota de sangue; resultado de alguma injeção. Infelizmente não estava na enfermaria da academia, e sim em um hospital de verdade. Pelo emblema pintado na parede em frente à minha cama, o mesmo hospital onde meu pai trabalhava como plantonista.
   À minha esquerda, um sofá servia de berço para a última pessoa que eu esperava encontrar ao meu lado. Ela me olhava com incerteza e alivio. Se levantou e caminhou até estar mais perto de mim. Pisquei algumas vezes, forçando meu corpo para cima até estar mais sentada que antes.
  - O que você está fazendo aqui? – Sussurrei por acidente. Minha voz saiu esganiçada e irritante.
  - Querida, você deveria perguntar “o que eu estou fazendo aqui?”. – quase riu. – Mas sabemos que suas prioridades sempre foram um pouco conturbadas, então até que faz sentido.
  - Tudo bem... O que eu estou fazendo aqui? – Achava que sabia a resposta, mas queria estender aquela conversa.
  - Você desmaiou durante sua aula! Uma ambulância teve que te buscar na Academy e todo mundo viu... Foi um ótimo jeito de começar a semana, deu o que falar. Muitos estão achando que você morreu. – Disse aquilo com uma naturalidade que só ela. – Até mesmo Helena ficou preocupada! Depois lembrou que era sua substituta na peça e voltou a ser a chata de sempre.
  - Helena ficou preocupada? Tá bem, acredito. – Rolei os olhos. Só ouvir o nome da menina me dava nos nervos.
  - Okay, eu fiquei preocupada e ela só gostou da chance de ser a Clara.
   Deu de ombros e apertou a minha bochecha devagar como se não tivéssemos brigado a momentos antes. Ela poderia ter esquecido, mas eu duvida que conseguisse pensar em outra coisa.
  - , sobre o que aconteceu mais cedo...
  - Esquece, . – Sacudiu os ombros, querendo deixar o assunto de lado.
  - Por favor, me deixa falar. Você estava certa, sabe? – Suspirei, querendo segurar a mão da outra sem saber se devia. – Tenho estado tão centrada em mim mesma e perdida no meu mundo que esqueci completamente tudo a minha volta. Tem tanta coisa acontecendo... Não fiz de propósito ou por maldade. Eu sinto muito que tenha a feito se sentir menos importante do que realmente é.
  - Ainda assim eu não precisava falar com você daquele jeito. – Sentou na ponta da cama e acariciou meu braço. – Estava estressada e irritada e descontei em você. Também sinto muito.
  - Fico feliz que esteja aqui. – Sorri mais aliviada. – Não queria acordar aqui sozinha.
  - AH! Eu acho melhor ir avisar aos meninos que você acordou! Eles estão aí fora...
   Não, não, não! Deviam estar tão preocupados! Teriam o anúncio da turnê em breve, não podiam encher a cabeça com meus problemas! pulou para o chão e correu porta a fora. Toquei meus cabelos soltos tentando dar uma melhorada no visual e perder a cara de morta, mas sabia que estava com a aparência terrível. A ruiva deixou a porta aberta, o que me deixava ver parte do corredor vazio e escutar quando passos agitados se aproximavam. Dois garotos tentaram entrar ao mesmo tempo e acabaram por ficar presos enquanto se engalfinhavam. Eu teria rido se não fossem Zayn e Sergei.
  - Babe! – Bufando ao se soltar do arque-inimigo correu para o meu leito. – Como você está? Precisa de alguma coisa?
  - Que susto me deu, . – Serguei o imitou, parando ao meu outro lado. – Não sabe o alivio que é te ver acordada.
  - Eu fiquei ainda mais assustado, claro. Porque você é minha namorada. – Zayn rebateu. Começaria uma discussão ali mesmo. Segurou a minha mão, assegurando seu território.
  - Não vamos começar, por favor. – Olhei de um para o outro. – Baby, eu sinto muito. Não queria te preocupar. E, Serguei... Não sei nem como te agradecer pelo que fez hoje. Me cobrir daquele jeito.
  - De que jeito?! – Meu namorado aumentou a força do aperto em minha mão.
  - Não precisa agradecer. Eu faria de novo. – Sorriu de canto, provocando Zayn.
  - Isso é o que eu chamo de tensão. – Louis entrou um pouco depois e parou na ponta próxima aos meus pés. – Sempre procurando saídas dramáticas, não é, irmãzinha? O que poderia tornar uma segunda-feira mais interessante do que um desmaio?
  - Louis! Isso não tem graça. Poderia ser sério. – Harry estava ao se lado, legitimamente preocupado. – Estamos aqui agora, ...
  - Ela está bem, não vê? – Lou se preocupava também, mas no fundo sabia que eu odiava incomodar qualquer um.
  - ! Você está viva! – Um Liam agitado irrompeu o quarto de hospital e empurrou Serguei por acidente, me abraçando com força. – Pensei que fossemos te perder!
  - Ai, meu Deus, porque todos vocês são tão exagerados?! – Ri. Tudo bem, ter a minha cama rodeada por homens querendo o meu bem não era das piores coisas. – Eu estou bem!
  - Isso é pra você. – Liam amarrou um balão que flutuava calmo no formato de um ursinho com a frase “melhore logo” escrita em sua barriga. – Eles não tinham ursinhos de verdade na loja do hospital, então tive que improvisar.
  - Obrigada, Baba. Mas não precisava. – Brinquei com a perninha do balão, que soou como um sininho.
   Uma batida na porta fez todos os murmúrios e conversa cessarem. O homem que entrou no quarto a seguir era alto e gordinho, com cabelos brancos e bem arrumados. Um jaleco branco como os dentes que mostrava em seu sorriso amigável. Sua presença ali dentro me preocupou. Esperava que uma enfermeira viesse me checar e me liberar. Queria ir pra casa, aquele cheiro ainda irritava o meu nariz.
  - , você tem uma grande comissão aqui. – O homem sabia o meu nome, mas era mais do que se um de meus amigos o tivesse informado. – Me chamo Dr. Robinson e sou amigo do seu pai. Ele me pediu pessoalmente pra cuidar de você.
  - É um prazer. – Apertei a sua mão quando fez os meninos deixaram a lateral direita da cama e se reunirem à esquerda. – Posso ir pra casa agora?
  - Quase... Precisamos conversar primeiro. – Seu tom de voz não chegava a ser preocupante; o que, vindo de um médico, era altamente preocupante. Dr. Robinson olhou em volta por cima da lente dos óculos. – Uh... Todos são família aqui?
  - Quase todos. – Zayn encarou Serguei e os outros fizeram o mesmo.
  - Já entendi... Estou indo. – Apesar de estar sendo praticamente expulso dali, Serguei ainda sorria. – Tenho mesmo que avisar a Colin que você esta bem. A essa altura ele já deve estar sabendo o que houve.
  - Obrigada de novo, Serg. – Lancei-lhe um sorriso. – Eu te ligo mais tarde...
  - Sei disso. – Beijou a minha mão. – Se cuide. E, doutor, não precisa pegar leve. Ela é mais forte do que aparenta.
   Recebendo olhares feios de Zayn e Liam e risadinhas de , Serguei deixou o quarto e fechou a porta ao passar. Os meninos se apertaram no sofá, mas Zayn permaneceu em pé ao meu lado, acariciando o meu ombro. Dr. Rob, como eu queria chamar, tirou uma prancheta de dentro do bolso interno do jaleco e arrumou o óculos sobre o nariz quadrado. Leu algumas coisas e olhou em volta uma segunda vez.
  - Tem certeza que não quer que conversemos em particular? – Todas as atenções estavam em mim. Como eu iria mandar alguém sair? – Já conversei com seu pai sobre o que vou tratar com você.
  - Pode falar o que tiver pra falar na frente deles também. – Agarrei a ponta do lençol, secando as mãos que começavam a suar.
  - Não é nenhum bicho de sete cabeças, mas pode ser bem grave se não cuidarmos de você agora. – Avisou antes de chegar direto ao assunto. Não queria ficar nauseada, mas àquele ponto era involuntário. – , achamos que você tem o que chamamos de Transtorno Alimentar. Compreende o que quero dizer com isso?
  - Você está errado. – Neguei com a cabeça, mais ríspida do que soei dentro da minha cabeça. – Eu não vomito depois que como ou passo fome pra emagrecer!   - Estes não são os únicos sintomas deste tipo de problema. E, claro, só teria certeza da sua condição com um acompanhamento maior e conversas com uma psicóloga. – Devia estar acostumado à lidar com ataques de pacientes sem se exaltar. Era filha de um médico, sabia como essas coisas funcionavam. – Infelizmente, tenho razões fortes para acreditar que este é o caso. Transtornos alimentares são mais comuns do que se pensa, especialmente na sua idade. Seu pai me disse que você é modelo e bailarina... O conjunto perfeito para cair nas inseguranças impostas pela sociedade.
  - Poderia falar quais são as suas razões? – Zayn estava ao meu lado, sentado na cama de hospital, com o braço em volta do meu e a mão segurando a minha.   - Fizemos alguns testes com o seu sangue enquanto você estava aqui, exames de praxe, rotina. E os resultados foram muito esclarecedores. Primeiramente por causa do seu desmaio. Desmaios acontecem devido a uma queda brusca do fluxo sanguíneo ou fornecimento de glicose ao cérebro, que foi o que ocorreu com . – Pousou seus papeis na mesinha ao lado da cama. – E também encontramos a presença de uma substância chamada efedrina. Este tipo de substância é conhecida por causar uma aceleração no metabolismo, o que a ajuda a perder peso rápido. É uma droga extremamente viciosa, geralmente encontrada em pílulas de dieta. Tem alguma idéia do que estou falando?
  - Sim... – Dessa vez meu sussurro foi proposital. Senti o queimar do olhar de Zayn em mim e das minhas bochechas rubras.
  - Estas pílulas tem alguns nutrientes, o que pode causar a idéia deque são boas pra você. Mas enquanto elas tem o excesso de umas, faltam outros, o que faz o seu corpo entrar em colapso. O que ocorreu com você hoje, , foi um exemplo disso. Foi o jeito que o seu corpo encontrou para lhe mostrar que há algo errado.
  - O que fazemos agora? – Louis compreendeu que era mais sério do que pensava. E eu também.
  - Minha maior preocupação é que ela está cinco quilos abaixo do peso ideal. O aspecto mais perigoso desta condição é que não queremos forçar o coração dela. O coração é um músculo, como qualquer outro, e precisa de força. – O silêncio no quarto chegava a ser duro. Zayn levantou da cama, soltando a minha mão, e foi para o canto do quarto. Encostou-se à parede e lá permaneceu, sem me olhar. – Nesse primeiro momento, precisamos que você ganhe peso. A vaidade é algo que pesa nessas horas, mas nada é mais importante que a sua saúde. E também precisamos deixar que a efedrina seja eliminada do seu organismo, precisa parar de tomar as pílulas imediatamente.
  - Eu entendo isso. Não sou maluca. Não sabia de nada disso... – Sem o calor de Zayn, senti frio. Solidão.
  - Quando você comprou as pílulas, não te explicaram como elas funcionam? – Dr. Rob não julgava, disso eu sabia.
  - Eu não as comprei. – Embargada, abracei meus próprios braços. Era como se estivesse sendo acusada de um crime que não cometi. – Uma amiga... Colega, me deu. Disse que era outra coisa. Que só tiraria a parte exagerada da fome e eu não comeria mais que o necessário.
  - Parece perfeito, não? – Sorriu automático. –Sinto muito que isso tenha acontecido com você, . Agora vamos trabalhar pra reverter a situação.
  - Obrigada.
  - Quando podemos levá-la pra casa? – Liam se pôs de pé e ocupou o lugar que antes era de Zayn. Beijou a minha testa e sorriu pra mim, querendo dizer: “estou ao seu lado, chatinha”.
  - Quero que ela fique mais umas horinhas por aqui, em observação. E daqui a pouco mandarei uma nutricionista vir conversar com você, . Tirar dúvidas e montar uma dieta que você precisará seguir em ordem de sair do baixo peso. – Assenti ao escutar o que o doutor falava. – Infelizmente, o horário de visitas acabou há alguns minutos. Então vocês terão que sair... Ela precisa descansar, sei que entendem isso.
  - Vou ficar sozinha aqui? – Agarrei a camisa de Liam involuntariamente.
  - Você pode escolher uma pessoa pra ficar com você. Um acompanhante. Mas é só.   - Está mais que decidido. Eu fico! – se levantou, acenando um até logo para todos.

  

  

+++

     

A conversa com a nutricionista foi melhor do que esperava. Pra começar, eu ainda estava espantada com a conversa que tivera com o médico e só pensar que eu poderia ter o começo de um Transtorno Alimentar era o suficiente para me deixar paralisada. Não conseguia formular frases muito longas e começava a analisar todos os meus passos, todas as dicas que meu organismo vinha jogando na minha direção. Mostrando que havia algo errado. Segundo a doutora, o primeiro passo para sair da beira do abismo que eu estava prestes a me jogar era aceitar que eu tinha um problema. Mas como se aceita algo de que não se tem conhecimento?
   Falamos por horas e não saiu do meu lado enquanto tirava minhas dúvidas mais ridículas. No final das contas, fui dada uma lista completa de alimentos que deveriam ser incluídos no meu dia-a-dia e no novo cardápio de engorda. Nunca pensei que fosse chegar a isso e admito que me encontrava séptica a respeito de todo o discurso do Dr. Rob. Porém, ao lembrar da frieza de Zayn ao escutar as mesmas palavras que eu, sabia que teria que mudar. Esta era a minha única certeza.
   Ele me levou para o nosso apartamento e durante todo o caminho que ficamos sozinhos dentro do carro, ele não trocou uma palavra que fosse, muito menos me olhava. Eu o decepcionara e decepcionara a mim mesma. Tudo começou com um vestido vermelho e agora terminava com uma atmosfera vermelha. Dolorida. Uma vez no apartamento, Zayn não abriu a porta pra mim como sempre fazia. Ao invés disso, passou direto pelo corredor, sumindo na esquina do nosso quarto.
   Me sentia cansada e fraca. Precisava colocar toda a minha força em cada passo dado. Dr. Robinson explicou que isso aconteceria devido à necessidade que o meu corpo sentia dos remédios que eu vinha tomando diariamente. Conforme o efeito da última pílula começasse a passar, meu organismo pediria por mais. Apenas esperava que fosse demorar mais para me sentir baleada e a ponto de cair. Pra piorar, não acreditava que Zayn fosse me segurar dessa vez.
   e Lola vieram me cumprimentar, especialmente tentando pegar o balão de ursinho presente de Liam. Deixei que ele voasse até o teto, distraindo o Husky o suficiente para não pular em cima de mim. Na situação em que estava, cairia como uma pedra. Lola apenas se deixou ser acariciada e deitou. Tinha as pastas da nutricionista embaixo do braço quando caminhei pelo corredor, usando as paredes de apoio. A porta do quarto estava entreaberta o que não era um convite muito menos uma proibição. Meu imã interno pedia por Zayn, pedia por proximidade, exigia que me aproximasse dele.
   Mordi o lábio inferior duvidosa. Ele estava sentado no seu lado da cama, de costas pra mim. Em pequenos passos, fiz meu caminho até o objeto que parecia grande demais entre nós dois. Deixei os papeis em cima da minha mesinha de cabeceira, eram a última coisa que queria ver naquele instante. Com cuidado para não anunciar a minha presença, sentei devagar na ponta do colchão, encarando a parede na minha frente. Preparada para passar a noite inteira naquele silêncio desconfortável, o som da voz de Zayn foi um raio de luz ultrapassando nuvens negras.
  - Me desculpe, . Eu falhei com você. – Sua fala era macia e quieta, nada do que eu aguardava.
  - Hu... – Virei o tronco para pousar a íris sobre ele, que permanecia cabisbaixo. – Como você pode dizer isso?
  - Talvez por não ter notado que algo estava errado. Talvez por não te dizer todos os dias o quanto você é linda. Pra que você não achasse que precisava mudar. – Levantei com os pés descalços, arrastando-os pelo carpete até me colocar de frente a Zayn. – Me perdoe.
  - Zayn, você nunca foi o problema. – Toquei a lateral de seu rosto e ele olhou para o outro lado. Escorregava aos meus toques de maneira auto-destrutiva. Com aquilo, não pretendia me punir mais do que punia a si mesmo. Queria se castigar pelo que acreditava ser sua culpa. – Eu sou o problema, vejo isso agora. Não queria acreditar, mas há algo errado comigo e tem estado por um longo tempo. Eu tenho essa necessidade de agradar as pessoas, de ser o que esperam que eu seja...
  - Não vê? É exatamente esse o problema. Eu devia lhe mostrar que a única pessoa que precisa agradar é você mesma. Precisa ser quem você já é. – Escorreguei para o chão, me ajoelhando à sua frente. Em parte para procurar seu olhar e em outra porque não conseguia ficar de pé. – Eu deveria lhe fazer enxergar que é perfeita.   - Ninguém é perfeito sozinho. – Segurei suas mãos e dessa vez ele permitiu. – E eu consigo ser perfeita com você.
  - Quando eu te conheci, cheia de maravilhas sem fim e infinitas possibilidades, eu tive certeza de que nunca amei ninguém antes de você. E sabia que se me aproximasse, nunca seria capaz de amar outra pessoa da mesma forma. – Entrelaçou nossos dedos em uma mão e pousou a outra em minha bochecha. – Se eu te perdesse... Se eu te perdesse, eu não teria nada. Entende que você, , é tudo pra mim? Minha vida inteira.
  - Você não vai me perder... – Engasguei. E se fosse o contrário? E se Zayn desmaiasse e fosse parar no hospital? Eu estaria da mesma forma que ele. Destroçada.
  - Eu quase perdi. Esse transtorno, ou como quiser chamar, mata pessoas. Você teria tirada de mim. – Os olhos de Zayn estavam apoderados pelo medo, escuros e sem brilho. – E a culpa seria minha.
   Fui erguida do chão com carinho e sentada na cama, onde Zayn fez de seus braços o meu lar. Deitei com a cabeça em seu peito. Como pudera ser tão estúpida? Pensar que estava me privando de uma coisa tão simples quanto comida, engolindo cápsulas que tomavam poder do meu próprio corpo... E ainda por cima crer que não magoaria ninguém ao meu redor. E se eu morresse? A possibilidade existia, ainda estava lá, espreitando como abutres, esperando um último sopro de vida. O que faria com meus irmãos? Meus pais? Zayn... Todos sofreriam, mas, um dia, lembrariam de mim com saudade. Quanto à Zayn eu não tinha tanta certeza assim. Ele precisava me ter ali.
  - Quando tudo ficou tão bagunçado? – Tinha a orelha pressionada contra seu coração, de muitas formas isso me acalmava. – Eu só queria dançar...
  - Ainda pode. – Nossos olhares se conectaram. Quis dizer que não, que minha chance passou, mas fiquei calada. – Me deixe ser o seu palco. Sua platéia, seus aplausos.
  - Você pode me ajudar? – Voltei a sentar com a coluna ereta e levei sua mão até meu lábios, beijando as articulações.
   Afirmou que sim com um aceno e meio sorriso. Sabia o que precisava fazer agora, pra mostrar a ele que estava disposta a mudar. Seria difícil, mas ninguém disse que era fácil. Levantei da cama e ele fez o mesmo. Via que eu estava fragilidade, também ouviu a conversa sobre tirar a efedrina da minha corrente sanguínea. Passou os braços pela minha cintura, me auxiliando a andar para o banheiro. Ficou parado próximo ao Box enquanto eu procurava o frasco laranja entre minhas gavetas.
   Entreguei a ele, que examinou o rótulo e seu conteúdo. Não fez careta ou reclamou sobre a minha loucura de tomar algo que não tinha certeza do que era. Entendia. Estava nos holofotes também, sabia melhor que eu o que era ser julgado por qualquer movimento em falso, qualquer tropeço. Segurou a minha mão após abrir o frasco e assistimos juntos enquanto as pílulas que restavam caiam na privada e deixavam de uma vez as nossas vidas.

Chapter LXXI

Os primeiros dias da dieta foram os mais difíceis. Não necessariamente por eu era obrigada a comer algo a cada duas horas, mas por causa da falta que as “vitaminas” faziam. Agora entendia na pele o quão difícil devia ser para alguém viciado largar drogas pesadas. Se eu já me sentia fraca e não conseguia andar tanto, muito menos dançar, imagine que era viciado há anos. Não apareci na Academy desde o desmaio, por ordens médicas, e me mantinha informada de tudo que acontecia por lá. Helena ainda não pegara o meu papel, mas ao mesmo tempo muitos ainda acreditavam que eu tinha morrido; ou entrado em um coma.
   Em breve os meninos teriam que partir para a nova conferência de imprensa, onde revelariam o “anúncio surpresa” que vinham mantendo como segredo nos últimos dias. Eu sabia que esse anúncio era a turnê mundial, mas era hora de contar para os fãs. Enquanto esperava, descansava no sofá da casa no condomínio ao lado de Liam. Ou em cima dele, se parar pra pensar melhor. Li tinha um braço em volta de meus ombros e eu descansava a cabeça em seu peito, escutando detalhes sobre a turnê.
  - Vamos começar pelo Reino Unido, Escócia, Irlanda... E depois vamos para o resto da Europa. – Li espiava em seu celular a lista que continha estas informações. – Depois França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Alemanha, Suíça, Itália, Espanha e Portugal. Ficaremos aqui até maio.
  - Sinto falta da Itália. – Fiz bico. Harry acabava de sair da cozinha e trazia um potinho de yogurte pra mim. – Obrigada, Hazza.
  - Me avise se quiser mais alguma coisa. – Sorriu mostrando os dentes e sentou na curva do sofá.
  - Depois vamos para o México, US e Canadá. – Liam continuou. Para tomar meu segundo lanche da tarde, precisei sentar e me desvencilhar dele. – 32 shows na América do Norte.
  - Um atrás do outro? – Dei um longo gole no doce de morango. – Vão ficar cansados...
  - Temos alguns dias de descanso depois de três ou quaro shows. – Passou o polegar no canto dos meus lábios, limpando um pouco do yogurte que eu não notei que derramara. – Sairemos de lá em agosto.
  - E a próxima parada... Austrália! – Louis comemorou, descendo as escadas. Acabava de vestir a camisa e balançando os cabelos molhados por causa do banho. – Sei de alguém que vai querer nos visitar quando estivermos lá.
  - Eu mesma, é claro. – Terminei o yogurte e deixei a garrafinha em cima da mesinha. – Também quero conhecer a Nova Zelândia.
  - Você pode passar outubro com a gente, . – Harry ofereceu. – E aí te seqüestramos até novembro, para os últimos shows no Japão.
  - Ainda que isso dê certo... Ficarei sem vocês até outubro. – Dobrei os pés para cima do sofá, cruzando os braços.
  - Vou sentir a sua falta todos os dias. – Li brincou com a ponta de meus cabelos e me puxou para um novo abraço. – Quero dizer... Nós vamos.
   Harry e Louis se entreolharam, mas não me importei. Desistira de me importar com estes carinhos que recebia de Liam. Eu gostava de recebê-los e, contanto que não esquecesse que eu era a namorada de seu melhor amigo, não teria problema algum. Bocejei; outro efeito colateral da minha abstinência: Sono exagerado. Baba destacou o celular novamente e leu a Track List da turnê: Up All Night, I Would, Heart Attack, More than This, Loved You First, One Thing, C’mon C’mon, Change My Mind, One Way or Another (Cover), Last First Kiss, Moments, Back for You, Summer Love, Over Again, Teenage Dirtbag (Cover), Rock Me, She's Not Afraid, Kiss You, Live While We're Young, What Makes You Beautiful.
   Contei todas as músicas que eu ajudara como inspiração, encontrando um total de sete faixas. Nada mal, huh? Liam continuou animado com as datas da turnê, tentando encontrar dias mais livres de shows que ele os outros pudessem voltar para a Inglaterra e ver os familiares e amigos. Harry e Louis conversavam entre si com uma linguagem de sinais que só os dois sabiam o que significava. Sinceramente, preferia não saber o que queria dizer, pelo bem da minha sanidade.
  - Zayn está demorando demais. – Espiei o relógio na parede da sala. – Ele não devia estar aqui?
  - A culpa deve ser de Niall. Agora que está andando de muletas é muito devagar. – Lou tirou os olhos do namorado para me responder.
  - Já devem estar chegando. – Liam brincava com a touca que cobria parte dos meus cabelos. – Você vai vir com a gente?
  - Não... Ficarei com o Jeep de Zayn e vou buscar pra darmos uma volta. – Bocejei mais demoradamente. – Lucy vai terminar de pegar suas coisas e não quer estar lá.
  - Acho que você precisa de um café primeiro. – Haz me imitou bocejando.
  - Provavelmente é uma boa idéia. – Ri de seu exagero e me obriguei a sentar. Liam era uma cama improvisada confortável demais. – Hey, hey, hey...
  - I know you want it. – Lou incorporou Robin Thicke e suas Blurred Lines.
  - Shut up, quero fazer uma pergunta! – Joguei uma almofada nele antes que subisse no sofá para dançar. Não seria a primeira vez. – E a banda de abertura?
  - Saberemos na semana que vem, quando tivermos o primeiro ensaio da turnê. – Li levantou para esticar as pernas e colocar o celular pra carregar na estante da sala. – Não que eu entenda por que precisamos ensaiar.
  - Psiu. – Uma batida na janela atrás de nós me fez pular de susto. – Venham aqui fora!
  - Malik! O que você está aprontando? – Não cheguei à vê-lo, por causa das cortinas fechadas, mas escutei sua voz.
  - Vem logo!
   “O que foi agora?” Harry e Louis foram os primeiros a correr, curiosos. Eu teria feito o mesmo, mas cairia no meio do caminho. Não era de café que eu precisava e sim de um energético poderoso. Talvez pernas novas que conseguissem me sustentar. Li foi o único que ficou pra trás e me ajudou a sair de casa. Niall estava no jardim de entrada também, com muletas o mantendo de pé. Ele deveria usar aquilo por pelo menos três semanas, devido à sua operação. Ao menos tudo ocorreu bem e sua recuperação seria simples. Éramos amiguinhos de enfermidade.   - O que é isso?! – Meu queixo caiu. Atrás de Zayn, um carro preto que eu nunca vi na vida estava na calçada, com um laço de presente gigantesco preso ao teto. – O que você fez?
  - É um Range Rover Discovery 4 2014. Tem total conforto e segurança, motor de 155kW (211PS) LR-TDV6, automático e... – Começou a explicar em termos que eu não conseguia entender e percebeu isso com meu olhar impaciente. Bufou e começou de novo. – Você precisava de um carro e eu tive a manhã livre.
  - Você disse que ia visitar a sua mãe essa manhã! – Balancei a cabeça, nada convencida daquela desculpa. – Esse carro é gigante!
  - Cinco acentos normais e dois extras atrás... Todos cabem! – Louis investigava o meu carro e espiava pelas janelas. – , se você não quiser, eu fico com ele.   - Shh, é claro que eu quero! – Uma surpresa assim vindo de Zayn não era tão espantadora. O abracei com força e ele descansou o queixo em meu ombro. – Obrigada, baby. Ainda acho loucura, porque sou uma pessoa pequena, mas ele é lindo.
  - Podemos ver o lado de dentro agora? – Harry também se interessara pelo meu novo bebê.
  - Vá em frente. – Zayn colocou um pequeno controle na minha mão.
   Não havia uma chave presa ao controle como nos outros carros que eu conhecia e os botões também não explicavam muita coisa. Me aproximei do carro e, quando o controle estava perto o suficiente, escutei um suave clique. Segurei a maçaneta da porta e ela estava aberta. Louis soltou um gritinho afeminado, cantarolando algo sobre o carro ser totalmente automático e abrir com a proximidade do controle. O interior do Discovery era incrível. Me senti em um avião, cercada por botões e funções que nem sabia que existiam.
   Sentei no banco do motorista no lado direito; outro fator que eu teria que me acostumar. Deixei a porta aberta e comecei a observar tudo. Não precisava colocar a chave no painel para ligar ou desligar o motor, apenas apertar um botão. No volante, controlaria o rádio ou CDs e poderia conectar o carro com o meu celular, recebendo ligações por meio dele. Por ser automático, não possuía marchas, apenas um novo botão que controlava a liberação das rodas. No centro do painel, um pequeno quadro digital para que eu escolhesse funções por meio do toque. Gps embutido e câmeras nas laterais e traseiras do carro. Eu não estava em um avião, sim em uma espaçonave.
  - Esse carro é incrível! – Olhei para Zayn que estava parado ao meu lado. Considerando a altura do carro onde eu sentava, estava mais alta que ele. – Não preciso de chave! Só um botão pra fazer tudo ligar!
  - E outro botão pra estacionar. – Apontou para o pequeno “P” em cima de um botão redondo na lateral de onde ficaria a marcha. – Isso que é tecnologia, huh?
  - Eu costumava dizer que só ficaria impressionada quando carros começassem a voar... Estava enganada. – O puxei para um beijo rápido e urgente. – Meu carro é melhor que o seu. É melhor que o de todos vocês!
  - Não precisa passar na cara. – Louis se fingiu ofendido.
  - Você merece o melhor. Esse carro é muito seguro. Nada funciona sem o controle, então ninguém vai poder abrir o capô sem que você permita. – Sutilmente disse que Helena não poderia tocar no carro sem a minha permissão. – Tração nas quatro rodas, oito air bags e nem uma tsunami poderia derrubá-lo de uma ponte.
  - Sem falar que é lindo! – Meus olhos brilhavam.
  - E tem seguro! Daqui, dessa vez. – Beijou meu ombro, que estava na sua altura – E suporte técnico vinte e quatro horas.

  

  

+++

  

  - Não acredito que a minha melhor amiga vai estrelar um filme da Warner! – Usava o copo de café na minha mão para me esquentar, então empurrou a porta giratória de vidro para sairmos da Starbucks.
  - Não acredito que você não escutou a parte que eu falei que é só um teste para um filme da Warner! – Tentava não ter esperanças demais e contar vantagem antes do tempo; por sorte me tinha pra fazer isso em seu lugar. – Mas sei como se sente.
  - Sei que é um teste, mas já te vi atuando. É claro que vai conseguir o papel.
   contara que um de seus professores era amigo de um primo do diretor escalado para dirigir o filme Heart Of Sea, marcado para chegar aos cinemas em 2015, e conseguira pra ela um teste. O papel seria pequeno, mas ainda assim o primeiro passo para que ela começasse a tão sonhada carreira cinematográfica. Fiquei mais do que animada e teria pulado de alegria se tivesse forças.
   Andávamos pela Regents St., olhando as vitrines de algumas lojas espalhadas por ali. Passara meia hora sentada na cafeteria e agora precisava me exercitar. Já comera um bolinho de amora e agora e tomava meu café, então estaria liberada de comer qualquer outra coisa por mais duas horas. Fui distraída momentaneamente pelas bandeiras do Reino Unido que balançavam no alto dos prédios, não notando quando parara de andar ao meu lado.
  - ! Ficou surda de repente? – Estava a bons metros de mim, acenando para que me juntasse à ela na frente de uma nova vitrine. – Vem cá.
  - Planejando a lua de mel com Ni? – Apontei para os cartazes na vitrine da Agência de Viagens. – Ibiza ou Santorini?
  - Não é nisso que estou pensando. – Continuava lendo os destinos e pacotes de viagem. – E não vou casar.
  - Wow, e Niall sabe disso? – Encontrei apoio na parece pedra.
  - Niall e eu não somos como você e Zayn. Somos modernos. – Piscou e bateu no vidro com a unha. – Por que nunca viajamos juntos? Nós sete.
  - Fomos a Paris, no casamento da minha mãe. E Los Angeles, mas você não quis ir.
  - Essas viagens não contam. Foram a trabalho... Ou a casamento. – Mexeu na própria franja. cortara o cabelo na altura dos ombros e uma franjinha que a irritava bastante. – Estou falando sobre uma viagem só nossa. Sem adultos.
  - Você está com cara de quem já planejou uma viagem inteira. – Ri, cruzando os braços e bebendo café. – No que está pensando? Grécia?
  - Me confundiriam com Afrodite, não seria uma boa idéia. – Se vangloriou, sorrindo de canto a canto e jogando os cabelos curtos para o lado. – Adorei essas fotos de montanhas nevadas...
  - Eu amo esquiar! – Concordei. As imagens eram realmente de tirar o fôlego. – Vamos para a Suíça!
  - Você sabe esquiar?! – Me encarou com olhos arregalados. – E tem medo de patins?
  - A neve é fofa! Tente cair no gelo pra você ver.
  - Suíça será. – Pousou a mão sobre a porta, pronta para empurrar e entrar na agência.
  - Espera... Pensei que estivéssemos só brincando!
   Tarde demais. entrara na loja e me deixara sozinha ali fora. A segui e também entrei, sentindo a diferença de temperaturas graças ao aquecedor abençoado da Agência. No fundo da sala, vários funcionários atendiam casais ou pessoas sozinhas que agendavam suas férias de fim de ano. Perto de nós, um conjunto de poltronas amarelas cercava uma mesinha de vidro com vários panfletos e revistas turísticas. estava sentada em uma das poltronas e acabara de pegar uma revista com o título: Destinos de inverno.
  - Vamos mesmo fazer isso? –Sentei ao seu lado, mantendo a voz baixa para não atrapalhar quem trabalhava ali perto.
  - Por que não? A Bélgica fica muito longe daqui? – Não tirou os olhos da revista. Pelo visto ela falava sério mesmo.
  - Uma hora e meia de viagem pelo Eurostar, mas as estações de Ski não são tão boas. Conheço uma na França que é ótima. Harry e Louis também já foram lá e-   - Não, não! Nada disso! França está descartada, nós já fomos lá. Quero algo diferente. – Olhou pra frente e fechou a revista. – Vamos, é a nossa vez!
   O casal que acabava de passar por nós parecia muito feliz, o que acabou me animando também. Joguei o copo de café vazio no lixo ao lado da poltrona e segui a minha amiga até a mesa de uma agente de viagens loira e bem sorridente. A mulher se levantou, mas não saiu de trás da sua bancada. Apertou as nossas mãos e se apresentou como Krist.
  - Sentem-se, por favor. – Indicou as duas cadeiras na nossa frente. – Posso perguntar os nomes de vocês?
  - Sou e a minha amiga se chama . – Nos apresentou e foi a primeira a sentar. – É com você que falamos pra agendar uma viagem, certo?
  - Sim, estão no lugar certo. – Voltou a se sentar e anotou nossos nomes em uma folha de caderno. – Tem idéia do destino? Pensam em continuar no país, ou talvez ir pra fora...
  - Queremos esquiar. Mas não pensamos em ir para a França ou Bélgica. Não temos problema em deixar o Reino Unido. – Expliquei, recebendo um sorriso de aprovação da ruiva. – E, na verdade, não é uma viagem só pra nós duas... Vamos em um grupo de sete pessoas.
  - Muito bem. E já possuem uma data em mente? – Começou a digitar algo em seu macbook rápido demais para conseguir ler o que era.
  - Não pensamos sobre isso. – me olhou. – Quando os meninos estão livres?
  - Só um instante. – Pedi para Krist e tirei o celular da bolsa. Tinha a minha agenda e dos meninos salva ali, com todos os compromissos. Mais para não deixar que Zayn se esquecesse do que por controlar sua vida. – Essa semana não dá... E na próxima tem ensaio e algumas reuniões. Mas na semana depois dessa estão livres a partir da quinta. E eu também!
  - Então a viagem é pra já? Isso é bom, porque estão fora de temporada, então nenhum lugar vai estar muito cheio. – Sorriu de novo, digitando outras coisas. – Posso sugerir um destino?
  - Claro que sim! – esticou o pescoço pra tentar enxergar a tela do computador e não precisou fazer muito esforço, pois Krist o virou em nossa direção.
  - Zermatt. Uma vila nos Alpes Suíços. É cercada pela montanha Matterhorn, uma das mais fotografadas no mundo. – Fala enquanto mostrava algumas fotos oficiais. O lugar era realmente incrível. - Os hotéis e restaurantes são de classe mundial e área de esqui não é apenas a mais alta dos Alpes - também é uma das mais desenvolvidas no mundo, garantindo experiências esportivas emocionantes. O clima é de excelente qualidade: com 300 dias de sol por ano, há menos chuva do que em qualquer outro lugar na Suíça. O céu em Zermatt é claro, limpo e seco, porque, desde 1947, apenas carros elétricos sem um motor de combustão estão autorizadas a operar na aldeia. As coisas são um pouco diferentes em Zermatt. Zermatt é um mundo próprio.
  - Parece perfeito... – Suspirei. Sonhava com fogões à lenha, chocolate quente e um céu estrelado. – O que acha, ?
  - Por mim iríamos agora!
  - Ótimo. – Anotou mais algumas coisas em seu caderno. – Quanto tempo pretendem passar lá?
  - Podemos ir na quinta e voltar segunda. Teremos que faltar algumas aulas, mas é por uma boa causa, não? – Dei de ombros. Tecnicamente estava suspensa devido à minha saúde, ainda que pudesse ir à Academy quando me sentisse bem. Mas o atestado médico me daria cobertura.
  - Se fossem só vocês duas, eu recomendaria um hotel. Mas como vão em um grupo grande, o que pensam sobre alugar um chalé? – Voltou a digitar e procurou algo em suas gavetas. – Tenho contatos com os donos de uma casa maravilhosa na própria montanha. É um lugar enorme e, por ficar no alto, tem a vista da Matterhorn e da vila de Zermatt.
  - Pensei nisso também. Teremos muito mais liberdade do que se ficássemos em um hotel ou pousada. – sorriu cheia de si.
  - Eu concordo plenamente, . – Krist escreveu no caderno e continuou com a caneta em mãos. – Transportes... Tem algum problema com aviões?
  - Não. – Sempre preferia andar de trem, mas sabia que seria meio impossível.
  - Aconselho que peguem um avião até Berna e de lá vão de trem até Zermatt. É uma viagem fácil de duração de uma hora no máximo. Posso agendar tudo e reservo assentos pra vocês-
  - Adoro viagens de trem! – interrompeu a moça. Olhou pra mim quando viu meu sorriso e sussurrou: - Encare isso como uma aventura!

    

Chapter LXXII

Ahh, o dia dezoito de outubro! Chegou tão rápido que mal percebi que um ano passaria tão depressa. Acordei com o barulho de panelas caindo no chão da cozinha e, ao invés de ficar assustada que alguém pudesse estar nos assaltando, soube que era Zayn preparando nosso café da manhã. Pulei da cama, não literalmente, e me tranquei no banheiro. Lavei o rosto, escovei os dentes, utilizei o toilet e passei o perfume que Zayn mais gostava. Penteei os cabelos e estava pronta pra sair. Nenhum cachorro ter me cumprimentado era sinal de que estavam passeando e Zayn e eu teríamos a casa só pra nós dois.
   Passei pelo corredor na ponta dos pés, sem fazer barulho algum. Zayn estava perto da geladeira, colocando o leite em uma jarra de vidro. Ele tinha os cabelos bagunçados e torço livre de qualquer camisa. Combinava comigo, que usava apenas uma blusa de algodão. O assisti ir até a mesa e arrumar meticulosamente tudo o que havia preparado: Brownies de chocolate, panquecas, torradas, bacon (que não comia, mas sabia que eu amava), ovos mexidos, bananas, amoras, morangos, laranjas em pedacinhos, pão, manteiga, molho... Um café da manhã de heróis para só duas pessoas. Bem, mais pra mim do que pra ele. Apenas eu estava de regime de engorda.
   Encurtei a distância e ele me olhou com m sorriso enorme. Pronto para desejar bom dia, o interrompi primeiro. Segurei seu rosto e juntei nossos lábios, tornando o selinho em um beijo completo. Toquei seus ombros com a ponta dos dedos, afagando até a nuca e deslizando-os pelo cabelo macio. Zayn cheirava à mel, creme e xarope de baunilha. Ele passeava as mãos pelas minhas costas, brincando com a barra da blusa. Não havia nada de luxurioso naqueles atos, mas a gratidão de estarmos nos braços um do outro.
  - Bom dia, sunshine. – Desejei com os olhos ainda próximos aos dele.
  - Um ano atrás, eu beijei esses lábios pela primeira vez. – Tocou a minha boca com o indicador. – E soube que eram eles que eu queria continuar beijando pelo resto da vida.
  - Um ano atrás a essa hora, eu achava que estava cometendo um erro... Acabei descobrindo que não podia ter acertado mais. – O abracei na ponta dos pés, distribuindo beijos pelo seu pescoço.
  - Quer comer? – Pergunta complicada que veio acompanhada de uma pequena oscilação.
  - Quero. Estou faminta! – Não estava, mas como falaria aquilo para Zayn depois de ter prometido que melhoraria? Pousei os calcanhares no chão e segurei sua mão para examinar a mesa. – Você fez tudo isso?
  - Duvida dos meus dotes culinários? – Deixou que eu sentasse primeiro e fez o mesmo na minha frente.
  - Na primeira vez que cozinhou pra mim, só sabia fazer ovos mexidos... Virou um chef profissional de lá pra cá? – Arqueei a sobrancelha, me servindo de suas panquecas e cobrindo-as de manteiga derretida.
  - Minha mãe pode ter me ensinado algumas coisas. Você não sabe. – Colocou leite no meu copo e adicionou três colheres de chocolate em pó. Em seguida, fez isso no próprio. – Está gostoso?
  - Tudo está perfeito. – Mastiguei e usei o garfo para pegar um pedacinho de morango. – Terá que cozinhar assim quando estivermos na Suíça.
  - Acha mesmo que Harry vai me deixar chegar perto da cozinha? Depois que você mostrou as fotos do chalé em que vamos ficar, ele já está pensando em levar temperos e ingredientes! – Riu, colocando cereal em sua tigela.
  - Estou tão feliz que tenham gostado da idéia!
   No dia anterior, quando e eu contamos para os meninos que tínhamos reservado uma viagem para a Suíça para todos nós, Zayn, Liam e Niall foram os primeiros a aceitar. Louis e Harry, por outro lado, tinham lembranças vívidas do passado, quando fomos junto com meu pai para uma estação de esqui em Courchevel. Papai e eu fomos os únicos que conseguimos aprender a esquiar. Eles... Conseguiram cair. Uma vingança merecida, já que eu não sabia patinar no gelo e eles sim.
   Terminei minhas duas panquecas e peguei um pedaço de torrada, cobrindo-a de tiras de bacon que Zayn preparara tão carinhosamente pra mim. Adicionei garfadas de ovo mexido e comecei a comer. Não deixava de reparar que a cada mordida que eu dava, os ombros de Zayn relaxavam e um pequeno sorriso se formava no canto de seus lábios, estivesse ele mastigando ou não. Exatamente ao contrário do que acontecia quando eu usava desculpas de que “já almoçara na Academy” ou “estava sem fome”. A atmosfera do cômodo estava leve, agradável. Se era aquela a reação que receberia de Zayn sempre que me alimentasse direito, estaria em um peso ideal até o final do mês.
   Só paramos de comer quando tudo estava revirado e sujo. Algumas coisas ainda sobraram, mas cuidaríamos daquilo depois. Zayn se levantou e pegou a minha mão. Deixamos a cozinha e, antes que eu sentasse no sofá, ele mostrou o real caminho que queria seguir. Me deixou subir as escadas para o terraço primeiro e teve paciência com toda a minha demora. Minhas coxas ardiam quando cheguei ao andar de cima, mas bem menos do que teriam doído três dias atrás. Me abraçou pelos ombros e beijou o meu rosto.
   Guiou o caminho até o lado esquerdo, onde o colchão verde claro esperava por nós. Ali em cima sempre ventava, então um cobertor pesado estava arrumado entre algumas almofadas. Era um verdadeiro ninho de passarinhos! Não achávamos que iria chover e ao menos naquela manhã o Sol conseguia se mostrar.
  - Pensei que pudéssemos ficar aqui hoje e aproveitar o sol... – Zayn me levou até o colchão, onde deitou. O imitei e nos cobri com o cobertor, as cabeças apoiadas na mesma almofada grande. – E pensar no que estamos comemorando hoje.
  - Se o dia de hoje, que é nosso aniversário de primeiro encontro, é assim não consigo nem imaginar o que faremos no nosso aniversário de namoro. – O olhava com carinho, sorrindo o tempo inteiro. – Parando pra pensar... As coisas sempre foram exageradas com a gente.
  - Como assim? – Ergueu as sobrancelhas com uma risada sonora.
  - Estamos juntos há um ano e eu já moro com você há mais de um mês. – Segurei sua mão direita e brinquei com seus dedos. – Tem gente por aí que namora por sete anos antes de começar a falar sobre o assunto.
  - Encontramos em um ano o que muitos passam a vida procurando. Porque não aproveitar isso?
  - Quando você soube? – Aproximei a mão dele do meu rosto, sentindo seu calor. – Quando soube que me amava? Não estou falando de paixão ou de ter uma queda... Mas amor mesmo.
  - Falar que foi amor a primeira vista não vale, certo? – Adorava esses momentos que tinha com Zayn. Ele era o tipo de homem que não escondia seus sentimentos ou desconversava ao ser questionado a respeito deles. – Certo! Uh... Okay. Lembra o dia que teve um ataque de TPM?
  - Preciso de mais que isso, não é como se ela tivesse um ataque desses uma vez por ano... – Rolei os olhos.
  - No dia em que fugimos para o terraço da Academy e ficamos presos. Começou a chover e tivemos a nossa primeira briga porque você não estava ajudando a pedir ajuda e depois subiu no muro como uma louca e começou a pular. – Explicou e o meu sorriso só aumentou. É claro que eu me lembrava!
  - Você me chamou de idiota e eu fiquei com muita raiva! – Ri alto, comentando a memória. – Comecei a tentar te bater, mas é claro que não tive efeito nenhum! E você começou a rir de mim!
  - Sim. Eu ri porque soube naquele momento que te amava. – Apertou o meu queixo devagar e minhas bochechas ganharam cor. – Eu estava pensando: “Não acredito que amo essa menina com estrelas nos olhos e que sorri pra tudo”.
  - Como eu te encontrei? – Me arrastei para mais perto, deitando em seu peito e sendo abraçada de volta. Entrelaçamos as nossas pernas e Zayn puxou o cobertor até os meus ombros. – Você acredita quando eu falo que te amo mais a cada dia que passa? Nunca achei que encontraria alguém que me completa tão bem quanto você.
  - Faço das suas palavras as minhas, babe.
   Ergui o rosto, encontrando um sorriso no dele. Encostei nossos narizes gelados pelo vento e seu hálito quente bateu contra os meus lábios. Fechei os olhos e toquei nossas bocas devagar, deixando ali beijos quietos. Dedilhava a lateral de seu rosto recém barbeado, a pele lisa como de um bebê. Zayn estava um ano mais velho do que aquele pelo qual eu me apaixonei, mas ao tempo continuava o mesmo bobo de sempre. Tentando me fazer rir o tempo todo e conseguindo me fazer a mulher mais feliz do mundo.

  

  

+++

     

Foi idéia minha refazer o mesmo passeio que em nosso primeiro encontro não-oficial. Tirando a parte das bicicletas, claro. Aquele outubro estava sendo bem mais frio que o passado, prova de que nós dois precisamos nos aquecer com casacos e roupas compridas. Fomos ao Jubilee Gardens com o meu carro, pois ele era desconhecido pelos paparazzis e queríamos um dia normal de casal, chamando o menor número de atenção possível. Caminhávamos de braços dados no caminho de pedra ao lado das margens do rio Tamisa. Um vento suave brincava com as pontas do meu cabelo e eu abraçava Zayn cada vez mais forte.
   Era bom sair de casa, ver a paisagem e o movimento nas ruas. Sempre haveria aquela preocupação de sermos descobertos ou fotografados, mas até quando? Não podíamos virar prisioneiros de nossa relação; não quando era algo tão puro e tão bonito. Zayn estava cansado de me esconder e fingir que estava bem sem mim. Eu também estava cansada de responder que “ficaria bem” quando alguém que não sabia da verdade se aproximava para dizer como sentia muito por eu ter sido traída. E não era só isso, começava a me cansar de tudo. Pra jogar os braços para o alto e contar a verdade para o mundo faltava pouco!
  - Babe, aquele ali é...? – Zayn apontou disfarçadamente para o homem que se apoiava na borda do rio, olhando para baixo. Tinha um violão encostado ao seu lado e roupas quentes, limpas e arrumadas.
  - Jack! É sim. – Sorri, tirando os óculos do rosto e pendurando-os na gola da camisa. – Não sabia que ele ainda estava aqui... Vamos falar com ele.
  - Ele parece bem, não? – Andamos lado a lado até o homem. Jack tinha a barba feita e um novo corte de cabelo. Já não lembrava mais o capitão Jack Sparrow, a não ser pelos seus movimentos. – Com licença, senhor?
   Zayn brincou, tocando delicadamente no ombro do homem. Não deixei de sorrir pelo susto que Jack levou ao se virar e ver o amigo e eu.
  - Zayn, my man! – Os dois se abraçaram como velhos amigos. Em seguida, me reverenciou e beijou a minha mão. – Mademoiselle.
  - Você está ótimo, Jack! – O olhei por completo. Até mesmo seus sapatos estava brilhando de limpos.
  - está certa. É muito bom te ver assim. – Zayn concordou, me abraçando pelos ombros.
  - Ora bolas, e é a você que eu tenho que agradecer. – Colocou as mãos nos bolsos, todo sorridente. – Depois da sua generosa doação, Zayn, consegui montar uma escolinha de música no meu bairro. Não é nada demais, mas é um começo. Dou aula de violão agora, e tudo está indo bem!
  - Por que nunca me disse isso? Queremos ir visitá-lo! – Zayn deu tapinhas comemorativos no ombro dele.
  - Sei que você é muito ocupado, Zayn, não queria que perdesse tempo com um velho como eu. – Jack curvou os ombros, um movimento que falava “não se preocupe com algo tão bobo”. – Parabéns para a sua banda, aliás! Sempre soube que conseguiria.
  - Obrigado, mate. Mas falo sério, quero ir te visitar. – Insistiu.
  - Nós dois queremos. Talvez eu possa dar uma aula experimental de ballet lá... – Sabia que era uma boa idéia e os olhos de Jack se iluminaram. Zayn balançou a cabeça concordando. – Tenho certeza que as suas crianças iriam adorar.
  - Vocês dois sempre fazem muito por mim. Me sinto até sem saber como agradecer. – Coçou o queixo e buscou um cartão em seu bolso. – Aqui está o telefone e endereço...
  - Pode deixar que iremos ligar. – Zayn pegou o cartão e me entregou para guardar na bolsa.
  - Vocês dois, huh? Juntos até hoje. – Cruzou os braços, deitando a cabeça levemente para a direita. – Parece que foi ontem que vocês estavam dançando por aqui, se apaixonando aos poucos.
  - Na verdade, hoje faz um ano exato que fizemos isso. – Olhei de Jack para Zayn, que fez o mesmo e beijou minha testa. – Por isso viemos aqui. Meio que estamos celebrando!
  - Nesse caso, parabéns! – Jack abraçou nós dois ao mesmo tempo. – Não quero ficar no seu caminho, vão em frente! Vão passear!
  - Nos falamos em breve, okay? – Ri quando fui praticamente espremida pelo homem. – Não esqueceremos de você!
  - Até mais, mate. Continue com a luta! – Os dois se abraçaram uma última vez, dessa vez mais propriamente.
  - Sempre lutando, sempre em frente. – Algo me dizia que aquele era o seu lema de vida. – Vocês dois são muito sortudos em terem um ao outro, não se esqueçam disso.
   Nunca esqueceríamos. Acenei “até logo” e Zayn segurou a minha mão para voltarmos a caminhar. Não sei se iríamos andar no London Eye novamente, já que a fila estava gigantesca e não queria que precisássemos usar a frase “sou Zayn Malik” pra conseguir passar na frente de pessoas que estavam ali há horas; muitas delas, turistas que visitavam a roda gigante pela primeira vez. Ao invés disso, aproveitávamos a companhia um do outro. Eu queria que todos os dias fossem assim. Que pudéssemos nos misturar às pessoas, não passando de um casal comum em meio a tantos outros. E o que seria mais comum do que tirar fotos um do outro?
  - Zen, tive uma idéia! – Parei de ir em frente e o levei novamente para as margens do Tamisa. – Acha que consegue posar como se estivesse com as costas apoiadas no Big Ben?
  - Você não está falando sério. – Gargalhou como se fosse uma piada, mas se controlou quando tirei o celular do bolso com um olhar duro. – Ops, está sim.
  - Por favor! É divertido... – Juntei as mãos em um pedido e fiz bico com os lábios.
  - Tudo bem! – Atirou os braços para o alto, rendido. Ficou de lado, levemente inclinado para trás. – Estou longe?
  - Sim! Especialmente porque a torre está do outro lado! – Ri, batendo na minha própria testa por vergonha alheia. – Se empenhe, Malik!
  - E agora? – Virou para o outro lado, fazendo poses e mandando beijos para a câmera. – Huh? Huh?
  - Perfeito! – Precisava ser rápida ao clicar na tela do celular, caso contrário o perderia. Algumas imagens ficaram borradas, mas ele continuava lindo. – Minha vez!
  - Já? – Trocamos de lugar e o entreguei meu celular. – Quando eu começava a ficar bom na coisa?
  - Você sempre foi bom em aparecer bonito nas fotos. – Estudei o relógio e tentei posar diferente do primeiro modelo.
  - Isso é óbvio! – Se achando engraçado demais, virou o celular em sua direção e tirou fotos de si mesmo, me ignorando. – Mas vá em frente, senhorita-fotografei-uma-campanha-internacional-sozinha, fale que não fica bonita em fotos. Eu a desafio.
  - Nunca disse isso. – Estava fazendo papel de boba, isso sim. Desisti do Big Ben e fui para o lado do meu namorado. – Só quis dizer que ninguém é mais fotogênico que você.
  - Isso é mais óbvio ainda. Já olhou pra mim? – Ergueu as sobrancelhas e forçou um biquinho natural. Lindo, realmente.
  - Idiota. – Risadas escaparam de ambos os nossos lábios e Zayn passou o braço pelo meu pescoço. Dessa vez a câmera estava virada para nós dois.
   Adorava essas pequenas seções de fotos que tinha com Zayn por toda a naturalidade que nós dois adquiríamos. Podíamos fazer caretas e aparecer os mais feios possíveis que ainda amaríamos a foto. Batava sermos nós mesmos. Não era um photoshoot de divulgação de uma banda ou gravação de uma campanha para revistas de moda. Ninguém chegaria a ver aquelas fotografias a não ser nós dois. Era um pequeno tesouro para a nossa grande coleção.
  - Aonde quer ir agora, babe? – Deixou que guardasse meu celular e roubou alguns beijos.
  - Podemos sentar um pouco? – Me sentia uma velha de oitenta anos, mas Zayn me entendia.
  - Vem, tem um banco aqui perto. – Passou meu braço por seus ombros e o seu braço em minha cintura. Quase me carregava, o que melhorava um pouco o cansaço em minhas pernas.
   Andamos uma boa distância se parássemos pra pensar, então era normal que eu me sentisse cansada. Em relação aos dias anteriores, começava a sentir que não seria impossível limpar o meu corpo por completo e voltar ao meu estado ativo de sempre; dessa vez sem pílulas ou qualquer coisa do tipo. Outra pessoa em meu lugar poderia ter sentido raiva de Kylie, afinal de contas, ela me enganou ao me fazer acreditar que o remédio para emagrecer não passava de vitaminas para a fome. Entretanto, a única coisa que senti foi pena. Eu estava cercada de amigos que me amavam e me ajudariam dar a volta por cima. Kylie já estava em um ponto tão baixo que seria ainda mais complicado pra que ela fizesse o mesmo.
  - Oi... Com licença... – Uma garota loira, no máximo um ano mais nova que eu, nos parou. Olhava de Zayn pra mim como se quisesse falar alguma coisa, mas não conseguia formar uma frase exata. – Não acredito nisso! É você!
  - Sim, sou eu. – Zayn sorriu simpático, com o tom que usava ao falar com fãs.
  - Você? Ai, que vergonha... Não... Uh, eu estava me referindo à ela. – Educadamente inclinou a cabeça para mostrar que era de mim que falava. Precisei morder os lábios pra não rir. Zayn notou sua confusão e sorriu amarelo. – Tomlinson! Sou uma grande fã! Você é, tipo assim, a minha maior inspiração! Eu já te vi dançando e... Nossa, não sei nem como definir.
  - Obrigada... É muita bondade sua. – Primeiro pensei que estava ali por causa de Zayn, depois por causa da Mulberry ou desfiles... Quando entendi que falava de ballet, me senti ainda mais estupefata.
  - Posso tirar uma foto com você? – Segurava o celular, esperançosa.
  - Claro que sim! – Me virei pra Zayn, sorrindo convencida. Ah, como as coisas mudam! – Se importa?
  - Será um prazer. – Cerrou o olhos, mas pegou o celular da menina.
   A loira substituiu Zayn ao meu lado e me abraçou como se fossemos melhores amigas. Não me importei, encantada demais pra estranhar qualquer coisa. Zayn tirou duas fotos, devolveu o celular e se virou. Simplesmente andou sozinho até o banco enquanto eu me despedia da garota. Estava com ciúmes porque eu fora reconhecida e ele não? Agora que podia rir tranqüila, o segui.
   Zayn estava sentando no meio do banco de madeira e descansei ao seu lado. O menino olhou para o lado contrário e cruzou os braços. Estava emburrado e com ciúmes! Rolei os olhos, ainda achando graça demais pra falar qualquer coisa. Sentei de lado, deslizando as unhas pelo ombro até o pescoço do menino, onde acariciei de leve. Ainda assim, não me olhou, mas lhe arranquei um arrepio. Chegando mais perto ainda, encostei os lábios na curva do ombro com o pescoço. Distribuí pequenos beijos que se transformavam em mordidas.
   O garoto pousou a mão em minha coxa e a apertou. Finamente me olhou a tempo de me assistir fechar os olhos e inclinar a cabeça. Roubei um beijo que logo foi retribuído como forma de vingança pelas minhas provocações em seu pescoço. Zayn colocou as mãos por baixo dos meus joelhos, puxando as minhas pernas pra cima das suas. Sorri entre o beijo, com plena consciência de que estava praticamente sentada em seu colo. Ele atacou meus lábios com os seus, usando cada vez mais veracidade e premência. Prendeu meu lábio entre os dentes e puxou, me fazendo reclamar com um muxoxo baixo. Não que eu realmente estivesse reclamando...
  - Por que você é tão irresistível? – Sussurrou contra meus lábios.
  - Porque se não fosse, teria te perdido meses atrás. – Encostei a testa à dele, acariciando sua bochecha.
  - Nunca me perderia, . Nem antes, nem agora, nem nunca.

    

Chapter LXXIII

- Só você consegue transformar short jeans e camiseta em um look arrumado. – continuava impressionada com minha escolha de roupas.
   Tive o final de semana inteiro para me recuperar mais um pouco e juntar forças e coragem para ir até a Academy. Meus ensaios vespertinos continuavam suspensos, mais por decisão de Colin e Serguei do que minha, mas ainda podia assistir aulas normais e comparecer às reuniões do espetáculo. A equipe principal de atores, cantores e bailarinos, foi convocada pelo diretor até o auditório, onde tratou de algumas questões como marcações básicas e espaçamento. , como a Snow Queen, estava lá também. Já conversara com Colin para tirar algumas dúvidas, mas no momento dividia uma fileira de bancos com Ashton – que, sinceramente, só estava por ali pra nos fazer companhia.
   Eu estava na fileira de trás e na mesma linha de cadeiras, o que me permitia conversar com os dois. Por sua vez, o que irritava Seguei. Ele estava na minha frente (ou no banco ao lado do meu, já que eu estava sentada de lado). Deveríamos estar revisando o texto, mas eu era facilmente distraída.
  - Ela não está linda, Ashton? – cutucou o loiro que digitava sem parar em seu celular.
  - Desculpem, senhoritas... Sou um homem comprometido agora. – Se gabou. Foi só o que precisei para levantar os olhos do papel e encará-lo com espanto.
  - Finalmente! Conta tudo! – Bati em seu ombro com mais força que o planejado.
  - , pela última vez! – Serguei bateu o pé. – Vou falar com Colin.
  - Não! Desculpa... Vamos continuar. – Levantei o roteiro na altura do rosto e fiz careta por trás das páginas. gargalhou e Ash foi um pouco mais discreto.
  - Muito maduro. – Serguei forçou meus papeis pra baixo, fazendo cara feia.
  - Eu estava brincando, Serg, falo sério. – Abracei o roteiro contra o peito, fazendo bico. – Podemos continuar...
  - Ei, acho que estão te chamando ali... – David estava algumas cadeiras na frente de e falou alto o suficiente para que meu parceiro o escutasse.
  - Ugh. Você escapou... Por enquanto. – O menino se levantou e me deu as costas.    Eu começava a gostar de sua presença e me acostumar com seu egocentrismo, por incrível que pareça. Entendia que cada dia que ele passava na Academy, era um dia que perdia no Royal Ballet e seria eternamente grata por isso. Tinha que me agüentar reclamando de cansaço no fim de nossos dias de ensaio e encobrir meus atrasos em aulas comunais. Não era mesma coisa que ter Nick comigo, mas era o melhor que podia fazer. Devaneios deixados de lado, espiei por cima do ombro de Ash, lendo a seguinte mensagem que ele enviara pra Gemma: “Faz jantar pra mim hoje? X)” Deveria ser um pedido romântico, mas a resposta que recebeu não foi nada delicada: “Faça você mesmo, preguiçoso!”
  - Você e Gemma, huh? – Gargalhei pelo carinho entre o casal.
  - Enxerida! – Escondeu o celular, se alterando depois do susto. – Não fico lendo as mensagens que você e Zayn trocam.
  - E nem deveria! É traumatizante, acredite. – se intrometeu. – Há coisas que nem todo álcool do mundo pode ajudar a esquecer.
  - Em minha defesa, Zayn estava viajando e já fazia um tempo... – Apesar da vergonha, tentei me defender.
  - Nem eu e Niall já fizemos aquilo que você disse que-
  - SHUT UP! – Tapei a sua boca. – , aqui não é o lugar!
  - Sorry! – Lambeu a minha mão para que a soltasse e fiz careta de nojo. – Então vamos almoçar juntos hoje? Ash aproveita e conta sobre como as coisas andam com Gemma.
  - Não vai dar. Tenho planos de almoço com Carine hoje. Ela estava meio eufórica quando me convidou ontem, então não tenho coragem de desmarcar. – Folheei o roteiro para ter o que fazer com as mãos e acabei rindo sozinha com desenhos a caneta de Zayn. – E depois vou encontrar os meninos no galpão onde estão tendo o primeiro ensaio da turnê. Você não deveria ir também?
  - Deveria, mas minha mãe quer me levar ao shopping essa tarde... – Rolou os olhos, apoiando o queixo no encosto da cadeira. – Acha que pode comprar meu carinho com presentes.
  - Ela não devia precisar comprar o que já é dela. Lucy ainda é sua mãe e não vai deixar de ser só porque as coisas entre ela e seu pai mudaram. – Me segurava pra falar isso desde que soubera da história toda e aquele parecia o momento certo. – Não me olhe como se estivesse escolhendo o lado dela ao invés do seu. Sabe que estou certa, você só é teimosa demais pra admitir.
  - Talvez. – Fez olhar de desdém, rabugenta. – Mas não vou negar um par de sapatos novo. Se bem que preciso de um carro novo, isso sim.
  - O que há de errado com o seu? – Mordi a ponta da unha, arrancando uma lasquinha quebrada.
  - Não é tão legal quanto o seu. – Admitiu a inveja e riu. – Vou sentir falta de andar no banco de trás, com os cabelos ao vento, mas Zayn acertou em cheio...
   Quando cheguei na academia pela manhã, os portões ainda estavam fechados, o que me deu uma pequena platéia ao estacionar meu Discovery novinho em folha. Os que pensavam que eu estava morta foram os mais espantados. Infelizmente, Helena não estava por ali pra assistir meu retorno triunfante. Nos dias que me ausentei, Serguei foi apresentado à minha substituta e, em suas próprias palavras: “Ela não passava de uma exibida que tinha a boca maior que o talento”, coisa que me agradou muito.
  - Ash, tenho uma coisa pra você! – Uma lâmpada acendeu em cima da minha cabeça e comecei a revirar o interior da minha bolsa. – Aqui!
  - Obrigado, ! Mas não acho que seja bem o meu estilo... – Tentou encaixar o anel preto nos dedos, mas não passou da metade.
  - Não é pra você, nugget. – Bati em sua testa. – Gemma adorou esse anel e não sabe que eu o comprei. Então estou te dando pra dar pra ela.
  - Mas não agora... Ou vai parecer desesperado. – levantou uma boa questão.
  - Nem demore demais, ou ela pode achar que é só uma coisa passageira. – Apoiei os joelhos no encosto de braço da antiga cadeira de Serguei.
  - Já sei! – pulou na cadeira e ficou de joelhos em seu assento. – Pode dar o anel pra ela antes de saírem em turnê!
  - Ela vai viajar com o irmão? – Franziu o cenho.
  - . – Congelei por dentro. Não era pra ter falado aquilo.
  - Não ela, bobinho, você. 5 Seconds Of Summer...
  - ! – Tentei mais uma vez.
  - Vão viajar com os nossos meninos! – Deu de ombros como se fosse a coisa mais fácil do mundo de se revelar.
  - Sinta o tom de voz, ! – A belisquei.
   Finalmente pareceu voltar para si e colocou as duas mãos sobre a boca. Olhou pra mim com os olhos arregalados e depois para Ashton, que também tentava processar a informação. Tocava as têmporas com a ponta dos dedos, chocada com a falta de controle da minha melhor amiga. Não era pra ele saber disso ainda. Ashton levantou e deu alguns passos de um lado para o outro, antes de retornar e me procurar com perguntas.
  - O que ela disse?
  - Okay, okay, não pire... – Matei com o olhar. Não podia mentir agora. – Vou explicar. O One Direction precisava de uma banda de abertura para a turnê, mas as opções que eles tinham eram muito fracas. Então eu entreguei aquele demo que você me deu no mês passado para eles mostrarem o som de vocês para os chefes...
  - Holy dooly! – Deslizou os dedos pelo cabelo. – E eles... E você... E os... E eu...
  - Sim, eles adoraram! E querem que vocês os acompanhem na turnê mundial! – Comemorei, ficando de pé para abraçá-lo. – Vão fazer o convite oficial essa semana, mas ficamos sabendo ontem!
  - Eu não sei nem o que falar! – Aceitou meu abraço e fechou o sanduíche. – Isso é insano!
  - Vocês merecem! – beijou a cabeça dele.
  - Tenho que contar à Gemma! – Pulou pra cima e pra baixo, atraindo olhares da multidão no auditório. – O QUE ESTÃO OLHANDO? MINHA BANDA VAI SAIR EM TURNÊ MUNDIAL EM JANEIRO!
  - Talvez você devesse falar com Cal, Luke e Mike primeiro... – Indiquei entre todas as palmas de congratulação que recebeu.
  - Eles vão ficar malucos! – Pulou de novo.

  

  

+++

     

Quando recebi a mensagem de Carine com as direções de onde iríamos almoçar, pensei em ir pra casa e vestir algo mais elegante. A única coisa que me impediu de fazer isso foi que a Mayfair ficava ligeiramente do lado contrário ao que eu seguiria se fosse passar em casa primeiro. Além de insistir que eu estava linda, não que pudesse dizer outra coisa sendo minha melhor amiga. O restaurante Foyer, no hotel Claridge’s, era disputadíssimo e só pessoas importantes conseguiam reservas. Fazer Carine esperar por mim seria um desrespeito.
   Com coragem e confiança, entrei no salão como se pertencesse ao lugar. O segredo é justamente esse. Já estivera no hotel com Liam, quando viemos ver o espaço para sua festa de aniversário, mas no restaurante em si era a minha primeira vez. O metre de paletó, gravata borboleta e cabelos brilhando de gel se aproximou cordialmente para me receber. Perguntou se eu tinha uma reserva de mesa e lhe disse com toda formalidade possível que era esperada por Carine Roitfeld.
   Notei certa surpresa em seu olhar, até mesmo uma postura impressionada. Sem falar mais nada em minha direção, pediu que um de seus ajudantes me levasse até o meu destino. Atravessamos o belíssimo restaurante e tentei me controlar para não suspirar de encantamento com a sua arquitetura. As pareces eram altas com detalhes em gesso branco. Portões entre algumas colunas com a função de enfeite mais do que de separar nada de lugar nenhum.
   Carine ocupava uma das duas cadeiras de uma mesa quadrada e tomava pequenos goles de o que imaginei ser vinho branco. Aparentava tranqüilidade e não checava o relógio o tempo todo, o que provou que eu não estava tão atrasada quanto imaginei. Ao me ver, se colocou de pé e abriu um enorme sorriso. O garçom permaneceu próximo à mesa, mas aguardava o que devia ser uma cena comum pra ele chegar ao fim.
  - Estou tão feliz em vê-la, dear. – Carine e eu trocamos beijinhos. – É ótimo que tenha aceitado vir almoçar comigo.
  - Obrigada pelo convite. – Sorri. O garçom ajudou nós duas a sentar, puxando as cadeiras e colocando-as no lugar.
  - Posso trazer algo para a senhorita beber? – O homem tinha uma das mãos nas costas e seu corpo inclinado levemente em minha direção.
  - Eles tem uma das melhores seleções de vinhos aqui, . – Acertei na mosca o que ela bebia.
  - Não, obrigada, Car, estou dirigindo. – Recusei e escaneei rapidamente as mesas ao nosso redor. Não queria ter que pedir o cardápio ou arriscar pedir algo que não era servido ali. – Ficarei com uma limonada rosa.
  - Claro, senhorita. – Em uma quase reverência, o homem virou e saiu.
  - Não te fazem sentir como uma princesa aqui? – Carine cobriu os lábios para sussurrar. – Aliás, já pedi vieiras de entrada. Gosta de peixe?
  - Adoro. – Não era mentira. Carine me convidara para o almoço, então eu comeria qualquer entrada que ela quisesse. – Também adorei o seu corte de cabelo! É algum trend que eu perdi? Todo mundo está ficando com cabelos curtos!
  - Sou uma nova mulher! – Balançou o corte de cabelo Chanel. – Dizem que toda mulher tem uma fase de cabelos curtos. Quem diria que a minha chegaria aos cinqüenta e nove?
  - Você não pode ter tudo isso! Está em melhor forma que eu! – Cruzei os braços. Cinqüenta e nove anos e ainda era uma diva. – Vou pensar sobre isso. Vai que resolvo picotar o cabelo também.
  - Não faça isso, querida, o seu cabelo é lindo assim! Não que cabelo curto ficaria feio em você. Ou qualquer coisa, pra falar a verdade.
  - Agora é você que está exagerando.
   Fomos interrompidas pelo homem que retornou com uma bandeja em mãos. Colocou a taça de vidro com um líquido rosa pastel ao meu lado. Em seguida, pousou dois pratos com as entradas em frente à cada uma de nós. A entrada era composta por três pedaços de vieiras cordatos em círculos, acompanhados por tiras de verduras e molho. Tive pena de desfazer o prato até provar a primeira garfada. Não sei como demorara tanto tempo para visitar o restaurante, mas agora não tardaria a voltar.
  - Como vai o namorado? – Puxou um novo assunto, terminando seu primeiro pedaço de peixe. Precisei beber um gole da limonada para lhe responder.
  - Bem demais, até. Vou vê-lo quando sair daqui. – Acabei sorrindo pela menção de Zayn. – Começaram hoje os ensaios para a turnê, então ele está super animado.
  - Você não está pensando em fugir com ele quando a tour começar, está? – Dividia seu tempo entre comer e beber do vinho que logo foi reposto.
  - Eu adoraria, é verdade. Mas não. Preciso fazer algo por mim... E só acompanhá-lo não seria o bastante. Preciso me ocupar. – Toquei o lábio superior com a ponta da língua. – E o que seria da Mulberry sem mim? Não posso simplesmente ir embora.
  - Eu estava prestes a dizer isso, mas pensei que fosse ser egoísta demais da minha parte. – Riu com vontade. Não que visse muita graça, mas o álcool deixa tudo mais doce. – Só acho uma pena... Vocês vão sentir tanto a falta um do outro.
  - Essa é a pior parte. Vamos dar um jeito. Ele pode voltar quando tiver folgas e eu também posso passar uns dias com ele e os meninos. – Infelizmente, minha entrada chegou ao fim. – É trabalho, né? Não há muito o que ser feito.
   Aperitivos foram embora e o que sobraram foram pratos vazios que logo foram retirados pelo garçom que nos atendia. Logo retornou com cardápios para que pudéssemos, então, escolher nossos pratos principais. Não haviam muitas fotos, o que dificultava um pouco minha tarefa de escolher o que eu iria comer, já que todos os nomes me soavam deliciosos demais para que excluísse algum prato. Por fim, me decidi pelo Salmão Grelhado Escocês com purê de batatas, salada Ceasar e molho Béarnaise. Carine escolheu os mesmos acompanhamentos que eu, com a viela como prato principal. O garçom anotou tudo e se retirou mais uma vez. Carine apoiou o queixo na mão e ficou me observando com inspiração.
  - O que foi? – Envergonhada, escondi o rosto com a mão, deixando apenas frestas entre meus dedos.
  - Vejo tantas coisas boas no futuro pra você. – Suspirou, sorrindo com a minha gracinha.
  - Diz isso porque é minha amiga. – Ergui o copo até meus lábios. – Obrigada, de qualquer forma.
  - Tenho uma pergunta pra você. – Entrelaçou os dedos, continuamente sustentando o sorriso. – O que acharia... De ter um emprego permanente na Mulberry?
  - Fazendo o quê, exatamente? – Descansei na cadeira, erguendo uma sobrancelha.   - Não sei se já temos um nome pra isso. – Riu sonoramente. – Mas eu gosto das suas idéias, do jeito que você pensa. Gosto de ter você ao meu lado antes de tomar decisões, porque você me lembra de uma eu mais nova. Uma eu destemida que gosta de correr riscos e destruir vestidos de alta costura no meio de tapetes vermelhos.
   Ri com a lembrança, sem saber se devia interpretar aquilo como um elogio ou uma brincadeira.
  - Espera... Então você está falando sério?
  - O mais sério possível. Com direito à um escritório e tudo mais. Você sabe que estamos mudando a sede da Mulberry para um lugar só nosso, porque agora somos grandes demais para dividir o espaço com a Models One. – Terminou o que devia ser sua segunda taça de vinho. – Então eu quero você na equipe oficial. Posso até jogar uma assistente pessoal no pacote, pra melhorar a proposta.
  - Uau... Uh...Eu não sei nem o que dizer. – Belisquei a minha perna por baixo da mesa pra saber se estava sonhando ou não. – Estou lisonjeada, de verdade.
  - Você não precisa falar nada agora, eu sei que tem muito acontecendo no momento. – Compreensiva como uma mãe, Carine esticou a mão na mesa em busca da minha. – Mas pense nisso, okay?
  - Sim, é claro! Vou pensar. – Aceitei seus afagos em minha mão, com um sorriso surpreso e alegre.

  

  

+++

     

Quando cheguei ao galpão afastado da humanidade onde o One Direction começava a ensaiar para a Take Me Home–Tour, fui recebida por pelo menos cinqüenta novos rostos. Todos eram adições à equipe que viajaria com eles por todos os continentes do planeta. Alguns montariam e desmontariam o espaço, palco e etc, outros lidariam mais diretamente com a banda... No fim do dia, faziam todos parte de um pacote só. No final do espaço amplo do galpão estava a banda. Marcações foram feitas no chão com fita adesiva branca e caixas de som intercaladas delimitavam o tamanho do “palco improvisado”.
   Sandy (baixo), Josh (bateria), Dan (guitarra) e a última edição: Jon, nos teclados, estavam em suas devidas posições. Os meninos tinham seus microfones próprios e todos ensaiavam uma versão mais reggae de Last First Kiss. Diferente da original e surpreendentemente muito boa. Rondando-os, porém, dois homens filmavam tudo que eles faziam, sem seguir um roteiro certo. Estranhei e tentei chamar o menos de atenção possível para mim mesma. Paul os assistia de braços cruzados e o sorriso de sempre no rosto, me convidando para ficar junto dele.
  - Oi, Pauly. – O abracei e fiquei em silêncio. Ou ao menos tentei. – Quem são esses dois?
  - O que está sem a câmera é Ben Winston. – Explicou baixo, só para eu ouvir. – Ele vai acompanhar os meninos agora... Gravando tudo. Foi idéia de Simon e Pablo. Acho que querem fazer um documentário ou algo do tipo.
  - Interessante.
   E de fato era. Pela falta de ventilação ou janelas ali dentro, me vi começando a ficar com calor. Tirei o blazer e deixei-o junto à bolsa em cima da mesa de vidro onde Paul estava encostado. Não era a única a sentir as temperaturas altas, pois Zayn vestia apenas uma bermuda até os joelhos e regata. Harry estava com um short ainda mais curto e sem camisa. Os cinco faziam palhaçadas e agiam como os idiotas que eram; meus idiotas. A música chegou ao fim e um homem de aparência simpática, cabelos curtos e tipo físico magro levantou a mão em sinal de pausa.
  - Cinco minutos, mates. Vão beber uma água e ensaiaremos a coreografia de novo. – Ele disse. Coreografia? Essa eu tinha que ver.
  - Minha namorada está aqui! – Zayn correu de forma estranha, exagerando ao dobrar os joelhos. Só consegui pensar que estava feliz em me ver.
  - O que você está fazendo?! Vá ensaiar! – Podia tentar fugir, mas seria inútil. Zayn me abraçou pela cintura, levantando meus pés do chão por alguns segundos. – Você está todo suado!
  - Sou um homem. Esse é o meu estado natural. – Fez um caminho de beijos pela minha bochecha até os meus lábios. – Oi.
  - Oi. – Ri, retribuindo todos os beijos. – As coisas estão animadas por aqui, huh? De onde saíram todas essas pessoas?
  - Turnê mundial, babe. Não é pra qualquer um. – Piscou e segurou a minha mão. – Quero te apresentar à Ben.
  - Quem é essa, Zayn? Sua namorada? Ninguém ouviu falar dela o dia intero. – O homem fez sinal para que a câmera fosse desligada e o pobre cameraman pôde descansar. Tirou os óculos de grau do rosto e apertou a minha mão. – , certo? Zayn tagarelou sobre você o dia inteiro.
  - Tudo que falei era verdade. – O menino ao meu lado me olhava com algo semelhante à orgulho.
  - E você é Ben. É um prazer. – Balancei sua mão da forma que adultos fazem e olhei em volta. – Pablo também deve ter lhe dado algumas instruções ao meu respeito...
  - Um pouco. – Olhou de mim para Zayn, buscando apoio ou reafirmação. – Mas nunca fui bom em seguir ordens.
  - Ben é legal, . – Seu tom de voz tinha algo implícito. Um “pode confiar” e “conversaremos mais depois”.
  - Minha namorada não veio com você? – Niall caminhou até nós três, querendo saber de .
  - Não, Niall Horan, mas me pediu pra ficar de olho em você. – Cruzei os braços, encarando-o de frente. O menino (assim como Ben e Zayn) deu um passo para trás, assustado. – Caso esquecesse que acabou de fazer uma operação no joelho e ainda precisa usar as muletas!
  - Sabia que estava esquecendo alguma coisa. – Bateu na própria testa e procurou Zayn como apoio para erguer o joelho operado. – Isso bem explica o incômodo que estava sentindo.
  - Precisa ter cuidado, Ni! Assim não vai poder viajar até a Suíça conosco. – Já soava mais preocupada do que zangada. Ben foi chamado ao longe e precisou nos deixar.
  - Desculpa. – Fez cara de coitadinho e Liam trouxe as muletas do amigo.
  - Oi, Baba. – Abracei o recém chegado, que estava tão suado quando Zayn.
  - , você tem que ver o protótipo do nosso palco! – Liam parecia um cachorrinho que acabou de acordar e quer brincar.
  - É verdade! Está, tipo, muito sick. – Zayn concordou.
   Quando vi, já estava sendo guiada pelos dois meninos que fizeram questão de me abraçar de lado. Fomos quase pelo menos caminho que fiz ao entrar, mas paramos antes de chegar à porta. Em cima de algumas caixas empilhadas estava a maquete do que seria o palco usado na turnê. Ainda era todo branco e com riscos à caneta, mas dava pra entender mais ou menos o que cada coluna representava.
  - O palco tem dois andares. Estou preocupado com essas escadas, mas talvez fiquem menores quando sair do papel. – Li apontou para duas escadas em cada extremidade do palco, ambas levando ao segundo andar. – Tudo isso vai ser de telão digital, com desenhos ou montagens que a equipe gráfica está criando.
  - O que são esses quadrados desenhados aqui? – Perguntei. Estava impressionada com a magnitude de tudo e mal podia esperar pra ver o resultado.
  - Minha parte preferida! Vão ser buracos no palco... Literalmente. – Zayn sorriu tanto que eu nariz engelhou. – A gente vai poder surgir por eles!
  - Ou pular dentro e desaparecer! – O outro completou.
  - OLHA A CABEÇA! – Era Louis gritando. Nós três olhamos em sua direção e abaixamos a tempo de uma bola de futebol passar raspando. – SORRY!
  - Ele tem feito isso o dia inteiro. – Zayn comentou do desdém, mas eu sabia que era o primeiro a embarcar nas travessuras de meu irmão.
  - Não estou surpresa. – Encarei meu irmão com o que chamada de olhar reprovador. – Eu vi um ônibus vermelho lá fora...
  - É o nosso ônibus! – Zayn só faltou pular de animação. Era tudo muito novo, tudo novidade. Claro que qualquer um estaria assim no lugar dele! – Quer ir conhecer?
  - Eu não vou te causar problemas? Já passaram mais de cinco minutos...
  - Dou cobertura. Podem ir. – Liam tocou em nossos ombros e soubemos que nada daria errado.
  - Seremos rápidos. – Zayn abraçou o amigo, mais por animação do que gratidão. – Iremos com a Segway de Ni.
   Louis se aproximara de nós para recuperar a sua bola e Liam correu para tentar tomá-la. Zayn me levou até o lado de fora, onde algumas bicicletas e skates estavam estacionados. Pensei que fosse brincadeira e que estivessem se referindo à um patinete, não uma Segway de verdade! Levei um susto ao ver o meio de transporte esperando por nós, contra a parede externa do galpão.
  - Niall comprou uma Segway?!
  - Segundo ele é por causa do joelho. – Zayn subiu primeiro, ligando o “brinquedo” e dando uma volta em si mesmo para se exibir. – Mas eu acho que sempre quis uma.
  - Ele deve torcer pra não descobrir. – Com sua ajuda, montei atrás dele. O único lugar onde podia me segurar era o corpo de Zayn e não achei ruim ter que abraçá-lo. – Ela já está reclamando que você me deu um carro e Nialler não.
  - Ni é um pouco distraído com essas coisas. –Deu de ombros. – Pronta?
  - Super pronta.
   O abracei com mais firmeza e beijei seu pescoço. Podia observar o nosso caminho por cima do ombro dele. O estacionamento era enorme e tinha poucos carros ao redor. O lugar em si não era muito difícil de ser encontrado ou invadido. Se os ensaios continuassem sendo realizados ali, paparazzis e fãs começariam a acampar atrás das frágeis cercas de ferro que cercavam tudo. A Segway não chegava a ser muito rápida, mas chegamos ao ônibus vermelho mais depressa do que se estivéssemos a pé.
   Zayn abriu a porta destrancada do ônibus de dois andares e deixou a Segway de Niall estacionada do lado de fora. Foi o primeiro a subir os degraus e me esperou para começar a explorar. Logo na entrada, uma portinha levaria à cabine do motorista, mas fomos na direção oposta. Ao longo do corredor, um sofá de couro e mesinhas (que poderiam ser guardadas em um compartimento a parte) no centro serviriam de lugar para refeições ou apoio de bebidas. Mais perto de nós, um projeto de cozinha, nada demais.
   Subimos para o segundo andar, onde a magia acontecia. Dessa vez, uma verdadeira cozinha e banheiro dividiam o cubículo. Tudo era bem vermelho e bem cuidado, talvez pelo pouco uso que aquele ônibus em questão tivera. No centro do segundo andar, oito camas de solteiro estavam separadas de duas em duas, uma em cima da outra. Não eram nada espaçosas, mas daria pra dormir.   - Já dividiram os lugares? – Pergunta boba, mas fiquei curiosa. Na fileira do meio, usei a escadinha para subir na cama de cima e deitei ali. – Até que não é tão dura quanto imaginei.
  - Essa é a minha. – Zayn se inclinou para me olhar. Ainda que estivesse na mais alta, a testa de Zayn batia no topo da cama. – Louis está na da frente, Liam embaixo, depois Niall e Harry.
  - E onde eu vou dormir? – Desci da cama e não o deixei responder antes de roubar um beijo.
  - No mesmo lugar que eu. – Sua expressão queria perguntar: “Não é óbvio?” – Venha conhecer a minha parte preferida.
  - Achei que o lugar onde você vai dormir era a sua parte preferida... – Brinquei e o segui para o final do corredor.
   Uma porta com um espelho embutido foi aberto, revelando um novo sofá; dessa vez vermelho e preto. Algumas almofadas e janelas com cortinas por todos os lados. Uma TV estava presa à parede ao lado da porta e consoles de vídeo game eram guardados em uma caixinha de acrílico transparente. Mais embaixo, um mini bar com porta de vidro e várias garrafas de cerveja dentro. Logo entendi porque aquele lugar lhe agradou tanto.
  - Aqui parece um bom lugar pra conversar. – Sentei no meio do sofá, espiando pelas janelas. Ninguém por perto.
  - Essa não. – Zayn sentou ao meu lado, não tão calmo quanto antes. – Vai terminar comigo, não é?
  - É. Por isso eu quis vir aqui, pra ninguém ouvir o seu choro. – Ironizei, batendo em seu braço. – Claro que não, Malik. Só quero contar como foi o almoço com Carine.
  - Nesse caso, pode contar, meu bem. – Sorriu exageradamente, me fazendo rir.
  - Bem... Como desconfiávamos, ela não me chamou pra almoçar só porque gosta de mim. - Relaxei no sofá e ele fez o mesmo com a cabeça em meu colo. – Recebi uma proposta, love. Maior que uma campanha ou desfiles. Ela quer que eu trabalhe permanentemente para a Mulberry. Com uma sala no novo escritório e tudo mais.
  - Isso é ótimo, . – Zayn me olhava e recebia meus carinhos em seu cabelo. – Já sabe o que estaria fazendo?
  - Ela disse que me quer na parte criativa e pública. Não sei bem o que isso quer dizer, mas não me contrataria se eu não desse conta do recado. – Massageava o couro cabeludo do menino em pequenos círculos, sabendo que aquilo o relaxava. – É uma coisa boa, porque agora sei que posso ter o que fazer quando a Academy terminar.
  - Está pensando em aceitar? – Tocou minha bochecha com o polegar.
  - Estou sim. Gosto da equipe e do trabalho. Então por que não? – Segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. Zayn usava quatro dos anéis que lhe trouxera do mercado de pulgas. – Só queria falar com você primeiro.
  - Não importa o que quiser fazer, sempre vai ter o meu total apoio. – Sentou e segurou a minha nuca, me puxando para um beijo. – Apoiaria mais ainda se viesse em turnê comigo...
  - Lá vamos nós. – Rolei os olhos e levantei, tentando escapar. Zayn, no entanto, me puxou pelo antebraço até me derrubar em seu colo.
  - Não vai a lugar nenhum!
   Zayn me atacou nas costelas, fazendo cócegas até que eu estivesse me debatendo em seu colo. Ri até ficar sem ar e quase caí no chão. Quando comecei a atirar tapas para todos os lados, consegui atingir Zayn na cabeça e fui deixada em paz. Ele reclamou e fez o drama de sempre, mas só me fez rir mais. Por fim, ambos paramos de brincadeiras e trocamos um beijo apaixonado.
  - Zen, não devíamos voltar? – Ainda estava sentada em seu colo. – Não quero que perca a coreografia...
  - Nós não vamos dançar!

    

Chapter LXXIV

Na quarta-feira eu já me sentia bem o bastante para assistir todas as aulas do dia. A professora Bartira não acreditava muito em minhas palavras, mas me deixou ficar e constantemente me perguntava como estava me sentindo ou se queria descansar por cinco minutos; oferta que eu aceitava mais do que gostaria de admitir. Nem ela e nem meus companheiros de classe sabiam dos verdadeiros motivos para o meu desmaio ou faltas mais recentes, tampouco perguntavam. Não que eu fosse dizer que estava com o começo de um distúrbio alimentar ou coisa parecia.
   Começamos a classe com exercícios de alongamento e barra, só então podendo passar para o centro. Alunos se intercalavam e imitavam ou faziam o que a professora pedia. Neste dia em especial, escolhi ficar na frente, perto do espelho. Já não era mais a excluída pelos colegas ou subestimada. Porém, ainda me concentrava apenas em mim mesma, entrando em um mundo só meu a cada pirueta.
   Aos poucos voltava a sentir minha vitalidade natural; que parecera tão distante nos últimos tempos. Não conseguiria correr uma maratona, mas sabia que chegaria lá. Meus braços perfeitamente posicionados acima da minha cabeça em oval foram abertos e girei sobre a ponta, formando o numeral quatro. Pousei com o pé esquerdo no chão, atrás do direito. Meus braços então fizeram diversos movimentos de um lado para o outro. Troquei as posições do corpo, passando da primeira para a segunda e repetindo a pirueta.
  - , tente esticar mais a perna quando finalizar a pirueta. – Bartira intercalava os alunos, dando dicas sobre o que poderíamos melhorar. – Isso vai te dar mais velocidade quando voltar para a primeira posição.
  - Obrigada. – Agradecia sempre que recebia instruções. Desde pequena fui assim.
   Repeti a ação, escutando a dica de Bartira. Ela estava certa, como sempre, e meu movimento foi natural e tranqüilo. Girei mais uma vez e depois outra, só então recebendo total aprovação da professora. Pude passar para o próximo passo. Peguei certa distância de Brie, que era a mais próxima de mim, e pisei com a ponta direita, rodopiando com a perna esquerda estendida pra trás. Saltei para trocar os pés e coloquei as mãos na cintura. Bartira só assentiu com a cabeça, também aprovando aquela combinação.
   Precisei parar um pouco e respirar fundo algumas vezes. Meus joelhos tremeram e meu peito subia e descia com as batidas do coração que quase conseguia escutar. Dessa vez foi David quem parou ao meu lado, preocupado. Tocou o meu ombro e levantei o olhar.
  - Você está bem?
  - Estou sim... – Assenti. Não iria desmaiar. Não de novo.
  - Senhorita Tomlinson, favor vir ao meu escritório imediatamente. – A voz de Agnes invadiu a sala pela saída de som presa ao teto.
   A turma inteira parou pra me encarar. “O que é que ela fez agora?”, era o que estava escrito nas testas de cada um. Com exceção da professora, que tentava me olhar como quem diz: “Tenho certeza que não é nada demais, pode ir.” Fui até o canto da sala e peguei meu cardigan, jogando-o em volta do meu corpo. Olhei para cima e para frente, enquanto meu instinto tentava me fazer olhar para o chão. Deixei a sala para trás, mas os olhares estranhos não cessaram. Claro que a Academy inteira escutara o recado nada discreto da bruxa, então muitos rostos estavam colados contra os vidros das portas enquanto eu passava.
   Não esperei o elevador para descer do segundo para o primeiro andar. Estava ainda mais ofegante do que antes, mas não tive que agüentar nenhum silêncio constrangedor com desconhecidos que me comeriam com os olhos. A escada desembocava ao lado da enfermaria, então só precisei de mais alguns passos para encontrar o escritório da diretora. No lugar onde a sua secretária costumava ficar estava uma pessoa desagradável e detestável. O que Helena fazia no lugar da moça simpática que me atendeu em meu primeiro dia de aula eu não sabia dizer.
  - No que posso ajudar? – Tinha o uniforme de ballet por baixo de um sobretudo.
  - Vim ver a diretora. – Mordi os lábios para não morder a menina.
  - Tem hora marcada? – Ela só podia estar brincando com a minha cara! Abriu um caderninho como se procurasse o meu nome ali.
  - Ela pode entrar. – Agnes saiu de sua sala e Helena estremeceu. Claramente não esperava. – Pode ir para a aula, Helena. Tenho certeza que estarei bem aqui sozinha até o seu intervalo.
  - Tudo bem, senhora. – Afirmou positivamente e se levantou. Algo em sua áurea estava diferente. Não era mais a arrogante de minutos atrás.
   Olhei Helena passar pelas portas de vidro e Agnes já não me esperava mais no lado de fora de sua sala. Espiei por cima da mesa, procurando coletar mais informações sobre o que acabara de acontecer e encontrei um crachá com a foto e nome da menina. Helena era a nova secretária de Agnes? Não fazia o menor sentido.
   Sacudi a cabeça. Tinha preocupações maiores! Fui até a sala da diretora e fechei a porta depois de entrar. A senhora colocou os óculos avermelhados sobre o nariz fino demais e girou a cadeira grande demais para seu corpo pequeno como fazem nos filmes de máfia italiana. Fez sinal para a cadeira perto de mim e me sentei de bom grado, tentando não fingir o quanto precisava daquele pequeno descanso.
  - Obrigada por vir aqui depois de um aviso tão breve. – Começou.
  - Sem problemas. Há algo errado? – Tentei não soar desesperada, mas falhei.
  - Não. Pelo contrário, na realidade. – Abriu com chave uma das gavetas do seu lado da mesa e meu olhar não conseguiu segui-la. – Sei que deve ter ficado preocupada com seus resultados do recital. Todos nós ficamos. Então investiguei as possíveis causas e cheguei à uma conclusão. Houve erros na hora de registrar seus dados e endereço, por isso ninguém conseguiu entrar em contato com você.
  - O que isso significa? – Se meu coração estava acelerado antes, agora tentava atravessar meu peito.
  - Significa que mandaram suas cartas pra cá, por isso demoraram um pouco pra chegar. – Finalmente revelou o que tirara de sua gaveta: Envelopes. – Parabéns, . Tenho certeza que fará uma boa escolha.
   Não sabia o que falar. O que poderia falar? Com plena consciência de que minhas mãos estavam tremendo, segurei o maço de cartas com firmeza, ainda assimilando o que estava acontecendo. Só poderia ter certeza depois que abrisse cada uma e lesse com cuidado, mas tinha uma nova esperança acesa dentro de mim. E uma doce certeza. A certeza de que não falhara. Levantei da cadeira, apertando-as em meu abraço. Agnes falara mais alguma coisa, não que eu fosse escutar algo além de minha própria pulsação.
   Quase corri para fora do escritório e passei pelo corredor. Novamente encontrei a escada, dessa vez parando no segundo lance de escadas e deslizando as costas na parede até que encontrasse o chão. Tinha as cartas em meu colo agora e lia meu nome e os endereços de cada uma. “Isso está acontecendo!” Uma emoção maior que a de quando recebi minha aceitação naquela mesma academia me dominou. Lágrimas molhavam as minhas bochechas; lágrimas de felicidade pra variar um pouco.
   “New York City Ballet. The Royal Ballet. Paris Ópera Ballet. Royal Danish Ballet. La Scalla Ballet. National Ballet Of Canada. Hungarian National Ballet. The Hamburg Ballet. Barcelona Ballet.” Nove companhias de dez me convidavam para ingressar em sua equipe. Eu tinha um leque de opções e minha bailarina interior dava piruetas de felicidade. Eu poderia ir pra qualquer um desses países maravilhosos e dançar na frente de platéias enormes e ser aplaudida... Mas o que isso queria dizer? Tinha envelopes rasgados em minhas mãos, convites em letras brilhantes e um futuro incrível, não importando qual companhia eu escolhesse.
   O que essa escolha faria com as outras partes da minha vida? Sempre pensava no futuro, mas nunca nas mudanças que ele traria. Nunca conversara com Zayn ou qualquer pessoa sobre aquele “detalhe” e sabia que ele também gostava de evitá-lo. Quando cheguei em Londres há um ano atrás, sabia o que faria. Me formaria na London Royal Academy e partiria para países onde o ballet é um grande orgulho. Onde realmente há atenção para essa arte. Nada me impediria. Desde pequena esse era o meu sonho, entrar em uma das maiores companhias de dança. E agora que finalmente tinha a oportunidade final, o “agora ou nunca”, não sabia o que fazer. Tinha mais do que apenas um sonho, tinha Zayn. Tinha meus amigos e tinha a Mulberry. Naquele momento, sentada na escada... A única coisa que tinha era uma incerteza do tamanho do mundo.
   Coisa engraçada essa de “sonhos”. Quando se devaneia, se imagina e se deseja, tudo parece perfeito demais. Tudo dá certo, tudo acontece no tempo certo. Porém, quando estão prestes à se realizar, você acorda. Descobre que não é tudo dois mais dois igual à quatro, pingos nos is e pontos finais. Você se encontra em uma bifurcação, com dois caminhos diferentes que provavelmente nunca vão se cruzar. A vida é feita de escolhas e às vezes elas são amargas, sempre disfarçadas com um sabor adocicado.
   Por um segundo cheguei a pensar que sabia o que faria quando aquele momento chegasse. Tinha duas opções: Ficar ou ir embora. Isso estava claro mais do que nunca. E como eu estava enganada... “O que eu faço agora?” Se fosse embora, viveria o meu sonho. Conheceria bailarinos que idolatrava. Mas não teria Zayn e essa era a pior parte. Se ficasse, porém, estaria com ele e perderia o trabalho de uma vida inteira. “Ele vai sair em turnê no começo do ano. Vai viver o próprio sonho. E eu?” Minha consciência atacou novamente, com um bom ponto de vista. Minha cabeça parecia querer explodir. “Eu não faço idéia do que devo fazer.”

  

  

+++

     

Nem ao menos fiquei para terminar de assistir às aulas do dia, apenas recuperei as coisas que esqueci na sala de aula e corri pra fora. Isso só acarretaria novos boatos e fofocas ao meu respeito, mas seria a menor das minhas preocupações. Precisava conversar com alguém, precisava ouvir conselhos e queria que alguém me dissesse o que fazer. Mas quem? A pessoa mais apropriada pra esse tipo de coisa, que sempre sabia o que dizer, não podia me dizer mais nada, nunca mais. Papá. Minha segunda opção, no entanto, era Rachel. E com ela sim eu podia conversar.
   Rach me tinha como uma filha e eu a tinha como uma segunda mãe. Estava a par de todos os acontecimentos envolvendo a banda e minhas preocupações com o ballet, portanto não precisaria explicar pra ela o tamanho da minha confusão, pois já entenderia de cara. Liguei pra ela do interior do Discovery, me perdendo três vezes por não saber me localizar, tamanha era a confusão em minha mente. Lux estava na pré-escola e meu pai no hospital. Teríamos o apartamento só para nós duas.
   Quando cheguei ao último andar, tudo estava aberto e a minha espera. Rachel acabava de sair da cozinha, carregando uma bandeja com chá e biscoitos de manteiga. Deixou-a em cima da mesinha perto do sofá e deu uma boa olhada em mim. Seu sorriso de boas vindas diminuiu. Eu devia estar com uma cara terrível! Também pudera, chorei quase o caminho inteiro até ali. Sem nem ao menos saber se era um choro triste ou alegre. Sem dizer nada, nos aproximamos uma da outra e ela deixou que a abraçasse. Não perdi o peso em meu peito, mas pelo menos sabia que não o precisaria carregar sozinha.
  - Eu fiquei tão preocupada quando você me ligou. – Segurou meu rosto entre as mãos e forcei um sorriso. Ninguém estava morrendo, não precisava fazer escândalos. – Venha sentar e me conte o que aconteceu.
  - Eu estou bem... – A acompanhei até o sofá e larguei minha mochila ao meu lado. – Sinceramente, devia estar pulando de alegria.
  - Okay, estou ficando confusa agora. – Serviu duas xícaras de chá. Pelo cheiro, de camomila.   - Então somos duas. – Pensei alto, aquecendo as mãos geladas na xícara que recebi. – Você se lembra do meu recital? E de como fiquei triste por não receber nenhum convite?
  - É claro que sim. Ninguém entendeu como isso pôde acontecer, você esteve incrível. – Como uma mãe preocupada, Rachel estudava meus mínimos movimentos.
  - Foi um erro... Não conseguiram registrar o meu endereço, então as cartas se perderam. Às recebi agora a pouco, na Academy. – Bebi poucos goles e senti o leve queimar na garganta. – Nove cartas. Nove convites.
  - Eu sabia! Nunca duvidei de você! – Me puxou para um novo abraço e sorri. Sorri de verdade. – Isso é maravilhoso, não? Porque parece tão triste?
  - Por que eu não sei o que fazer. – Deixei a xícara na bandeja novamente, ciente de que minhas mãos votariam a tremer logo. – Das nove companhias, apenas uma fica no Reino Unido. E seria a minha última opção de escolha.
  - Oh, ... Você vai embora? – Aquela pergunta me deu arrepios.
  - Não sei. Por isso precisava conversar com você, porque não sei o que vou fazer agora. – Escondi o rosto entre as mãos, desejando ficar assim pra sempre. – Costumava ter certeza antes... Agora puff.
   Levei quinze minutos pra conseguir colocar em palavras e explicar à Rachel o que me perturbava. Não chorei, mas tive uma raiva frustrada que era decifrada em grunhidos incompreensíveis. Contei o que perderia se partisse e também do que perderia se ficasse. De um jeito ou de outro, teria que abrir mão de alguma coisa.
  - Ma, ... – Interrompeu uma nova sessão de reclamações em latim. – Você ir estudar em outro país, não quer dizer que está indo para a guerra. Não será um adeus pra sempre... Certo?
  - Claro que não. Voltarei em todas as férias... E não sei nem quanto tempo passarei na companhia. Muito pode acontecer. – Precisei sentar em minhas mãos, ou acabaria arrancando todas as unhas. – Mas, então, não devia ser fácil? Por que está sendo tão difícil dizer “eu vou”?
  - Eu sei por quê. E você também sabe. O nome dessa razão é Zayn. – Acariciava o meu ombro. – Vocês se amam demais e tem medo de passar esse tempo todo longe dele. Só acho que deve se lembrar que ele vai entrar em turnê em breve... E mesmo que você fique, não o terá ao seu lado.
  - Sei disso. Ainda assim, seria uma mudança muito grande. Tenho , meu pai, Lux... E a Mulberry. – Lembrei da proposta de Carine e no momento em que a recebi, estava pronta para aceitar. Agora nem tanto.
  - Então fique. – Rache se decidiu.
  - Não posso... Não posso largar o ballet assim. Eu trabalhei pra isso desde os três anos de idade. – Puxei os cabelos, irritada.
  - Então vá! – Aquela conversa deveria me ajudar a decidir, não mostrar que eu estava mais confusa do que acreditava.
  - Também não posso. – Ri sem ver muita graça e terminei o chá de uma vez. Vamos, camomila, faça efeito e me acalme.
  - Okay, okay... Vamos tentar de um outro jeito. Você não tem namorado ou amigos aqui... – Criou um universo paralelo e fechei os olhos. – Foi convidada para nove companhias de dança. Para onde iria?
  - Minha primeira opção seria a Rússia, mas não fui convidada pelo Bolshoi. – Ponderei, ainda de olhos grudados. – Nova York... Eles oferecem seis meses de encobrimento de despesas e tem um alojamento para os bailarinos de fora. Então seria fácil fazer a minha mudança, sem falar que eu amo NY.
  - Então acho que as suas escolhas foram reduzidas. – Rachel segurou a minha mão e abri os olhos. – Agora só precisa decidir se vai ou se fica. Já tem um destino em mãos. Pode pensar sobre isso com calma, tem alguns meses antes do fim das suas aulas.
  - Por incrível que pareça, estou me sentindo um pouco melhor. – Afirmei. A grande pergunta ainda estava implícita em meus pensamentos, mas não seria obrigada a lidar com ela ainda. – Muito obrigada, Rach.
  - Não fiz nada demais, . Só não gosto de te ver assim. – Me abraçou e deitei a cabeça em seu ombro. – Vai conversar com Zayn sobre isso?
  - Eu acho que não. – Suspirei pesadamente. Não gostava de esconder nada dele. Éramos um time. Porém, aquele era um assunto que precisava resolver sozinha. – Tenho medo do que me diga pra fazer. Só não sei se temo mais escutá-lo me falar pra ir ou me pedir pra ficar.
   Ficamos abraçadas e eu tentava relaxar. Não precisava ficar maluca a respeito das minhas decisões e, tecnicamente, teria até fevereiro para chegar a uma conclusão. Por enquanto, só devia me preocupar com a viagem até a Suíça e o fato de eu não ter botas de andar na neve. Como se eu precisasse de desculpas pra comprar sapatos novos. Rachel se afastou levemente para olhar em seu relógio de pulso.
  - Lux e seu pai já devem estar chegando... Quer me ajudar a fazer o almoço?

  

  

+++

  

  - Babe, chegueeeeeeeeeeei! – Entrei no apartamento quando o relógio começou a marcar 15h20min.
   Não obtive respostas, mas risadas vindo da cozinha me mostravam que eu não estava sozinha em casa. Tirei os sapatos e casaco e deixei a bolsa em qualquer lugar; arrumaria tudo depois. Zayn, e Niall estavam ali. O irlandês cozinhava algo que eu nunca comera e tampouco acreditava que fosse experimentar. O cheiro até que era bom, mas a cor verde musgo me espantou um pouco. bebericava de uma garrafa de cerveja e, ao lado dela, um animal que não se chamava ou Lola descansava.
  - Posso saber porque há um gato em cima da minha mesa? – Félix, o gatinho da ruiva, miava baixo, se escondendo do Husky que tentava cheirá-lo.
  - Quem é viva sempre aparece! – apontou pra mim com a garrafa que segurava. – Você deveria ter me dado uma carona hoje!
  - É verdade! Desculpa, , esqueci completamente... – Bati em minha própria testa, me punindo por ter esquecido-a.
  - Onde estava, beautiful? – Zayn me puxou pelo tecido da camisa e beijou a minha testa. – Te esperei para o almoço, mas você nunca apareceu...
  - Desculpa também. Fui almoçar com meu pai, Lux e Rach. Ela me ligou em cima da hora e eu não consegui dizer não. – Parte verdade e parte mentira. Rach prometera não comentar com ninguém sobre a nossa conversa de mais cedo, então confirmaria aquela história. O abracei sem a intenção de soltar. – Sei que devia ter te avisado.
  - Não tem problema, você está aqui agora. – Beijou suavemente os meus lábios.
  - Por que Agnes te chamou na sala dela? – quis saber, me levando para sentar com ela perto de seu gato. – Escutei quando anunciou pelo microfone. Tá aí alguém que não entende a palavra discrição.
  - Nem me fale. – Preferi manter os olhos em Félix enquanto acariciava a sua barriga peluda. Se a olhasse nos olhos, saberia que eu estava mentindo. – Ela só queria saber como eu estava...
  - Que exagero. – Concordávamos naquilo.
  - Sabe quem estava na secretaria quando fui vê-la? – Me inclinei sobre a mesa, me aproximando da menina na minha frente em tom de fofoca. – Helena!
  - Ah, eu sei. Ash me contou. – Não deu valor algum à minha informação e quis bater nela.
  - E como você não me conta?! – Minha foz saiu esganiçada e alta. – O que isso significa? Desde quando sabe?
  - Eu esqueci, okay?! Sou uma só. Esqueço fácil. – Abanou o ar, não dando importância àquele mero detalhe. – Escuta só... Helena é filha da empregada da filha da bruxa. E conseguiu uma bolsa de meio período, contanto que trabalhasse o outro período na secretaria. A antiga secretária está grávida ou coisa do tipo... Por isso precisou sair.
  - Coitada. – Apoiei o queixo sobre a mão. – Vai ver é por isso que age como age. Precisa se afirmar de alguma forma e por isso tem aquela atitude.
  - Precisando ou não, ela ainda é uma vaca.
   tomava as minhas dores como toda melhor amiga deve fazer. Helena nunca fizera nada contra ela, mas foi só mexer comigo que entrou para a lista negra da ruiva. E, acredite, ali era um lugar que ninguém gostaria de estar. Tudo começou a fazer sentido depois que descobri que Helena era a nova secretária de Agnes. Não era a função da secretária arquivar os endereços dos alunos? Talvez deixá-los disponíveis para companhias de ballet entrarem em contato? Seria muita coincidência se Helena não tivesse nada a ver com o “erro em registrar meu endereço”. O bilhete que encontrei em meu primeiro carro era claro: “I win, bitch.” E foi isso o que ela quis dizer. Que vencera a batalha. Meu carro não foi o alvo, apenas um meio de transporte da mensagem. “Bem, queridinha... Agora o jogo começou de novo.”
  - Ainda não me disse o que Félix está fazendo aqui.
  - Não se preocupe, não vou deixá-lo aqui por muito tempo. Meu pai está fazendo algumas obras no apartamento, agora que minha mãe saiu, e não queria deixar o meu bebê no meio da poeira. – Abraçou o gato com força, que esperneou e a arranhou. – É só por dois dias... Zayn disse que não tinha problema.
  - Ah, ele disse, foi? – Olhei para meu namorado mexendo a panela no fogão. Ele levantou o rosto e assoprou um beijo. – Então acho que não tem problema.

    

Chapter LXXV

- Okay, guys. Podemos repetir mais uma vez do começo? – O diretor levantou de sua cadeira no auditório e subiu no palco. – Consegue, ?
  - Não sou doente terminal, Colin. Claro que consigo. – Assenti com a cabeça. Serguei estava de pé ao eu lado e surpreendentemente mais cansado que eu. – Já o garotão aqui...
  - Eu também consigo, ok?! – Seu ombro foi de encontro ao meu com uma violência disfarçada. – Vamos lá.
  - Muito bem, vou criar o clima. – Algo me dizia que esta era a parte preferida dele. Elevou as mãos, formando um quadrado com os dedos indicadores e polegares juntos em forma de L. – É a véspera de natal na casa dos Staulbahm...
   “Todos os convidados trouxeram presentes para os donos e crianças da casa. A festa começou há um tempo e chega ao seu ápice. Cavalheiros fumam charutos, damas conversam sobre as receitas usadas no banquete, crianças correm de um lado para o outro. Uma suave música começa a crescer e alguns casais tomam à frente da sala, transformando o chão de madeira em uma pista de baile. Clara sempre gostou de dançar, mas sentia-se acanhada para fazer isso em meio a tantos adultos. Até encontrar o olhar de Peter, o misterioso sobrinho de seu padrinho Drosselmeyer.”
   O palco foi transformado em um universo alternativo onde uma majestosa arvore de natal, repleta de enfeites e presentes, era o centro de tudo. Meu uniforme virou um vestido de festa fluido e claro. Pessoas alegres dançavam na minha frente, adultos, crianças... Havia de tudo. Eu também queria dançar, mas não faria isso sozinha. O único que conhecia ali era Fritz, meu irmão. Mas não dançaria com ele! Eca. Então eu o vi... Parado no na outra ponta da sala da minha casa. Seu olhar era escuro, fechado. Misteriosamente fascinante. O vira chegar na festa com meu padrinho, mas não trocamos uma palavra sequer. Eu não sabia nada sobre ele. E pelos sussurros que escutei da conversa dos adultos, não era a única.
   Com um piscar de olhos, o garoto não estava mais lá. Sempre fui curiosa e não controlei meus pés ao andar para o lado, sempre tentando descobrir aonde o menino fora parar. Sem querer, acabei esbarrando em alguém. Me virei para pedir desculpas e lá estava ele! Meu coração foi até a boca e voltou. Ele colocou uma mão atrás das costas e me reverenciou. Fiz o mesmo, segurando a barra do vestido.
  - Gostaria de dançar? – Sua voz tentava passar inocência. Eu sabia que havia algo por trás dele, só não sabia explicar o que era.
  - Nem ao menos sei o seu nome. – Mantive as mãos ao lado de meu corpo, mesmo quando ele ofereceu a dele.
  - Me chamo Peter. – Sorriu. O tipo de sorriso que me meteria em encrencas. – E você é Clara.
  - Sim.
  - Sim, você quer dançar?
  - Não... Quero dizer, sim. Mas...
   Me considero uma menina inteligente, mas perto de Peter mal lembrava o meu próprio nome. “Muito bem, Clara! Ele deve estar pensando que você é uma pateta.” Sorriu novamente, de forma preguiçosa. Foi em busca da minha mão e não neguei o seu toque. Peter guiou o caminho entre as pessoas e as luzes diminuíram até que só nós dois pudéssemos ser vistos. Subi na ponta dos pés e a minha altura foi igualada a do menino e começamos a valsar pelo salão.
   Peter era rápido e escorregava quando eu deslizava. Nossos movimentos eram sincronizados e um não mexia um braço sem que o outro fizesse a mesma coisa. Ele segurou a minha mão mais uma vez e me ajudou a dar piruetas em cima de um pé só. Em seguida, segurou em ambos os lados da minha cintura e eu estava voando. Mais uma vez no chão, sorri encantada. Compreendia que não devia ter tanta intimidade com um menino que acabara de conhecer, mas já confiava de olhos fechados em Peter.
  - CORTA. – Um só pedido e toda a magia desapareceu. Éramos eu e Serguei novamente. – Vocês dois são ótimos.
  - Você vai chorar? – Serguei perguntou e também notei seus olhos úmidos.
  - Bobagem. – Negou vorazmente. Logo estava perto de nós dois. – Podemos tentar uma coisa? Serguei, quando você colocar a no chão depois de levantá-la, acha que consegue fazer outro levantamento seguido?
  - Sem dúvidas. – Afirmou e olhou pra mim, procurando confirmação.
  - No que está pensando? – Perguntei ao diretor.
  - Não tenho certeza. Repitam o movimento, por favor... – Pensava e alisava o próprio queixo.
   Dei a mão direita a Serguei e subi na ponta, formando um ‘4’ com a outra perna. O menino me girou duas vezes, segurou a minha cintura e me levantou. Passou alguns segundos me mantendo ali e logo me fez pousar com delicadeza. Fizemos tudo em velocidade lenta, dando chance à Colin para montar seu pensamento.
  - Isso. Já sei! Serei seu Peter, venha cá. – Colin tomou o lugar de Serguei e refizemos o lift. – Agora, pare em Arabesque. E não se mova.
  - Como não?! – O obedeci.
   Colin, então, abaixou o próprio corpo e encaixou o ombro à minha cintura. Quando levantou, me levou junto. Espalmou a mão em minha coxa para me dar confiança e minha inclinação mudou. Estava olhando para o chão e, em qualquer erro de cálculo, cairia de cara nele. Era um bom desfecho para a nossa primeira dança como Peter (versão humana do quebra-nozes) e Clara.
  - Achei que só eu era permitido a dançar com ela. – Uma voz falou das portas do auditório e Colin me colocou no chão. – Não gostei.
  - Quem é aquele? – Serguei me perguntou, mas não fiquei ali pra responder.
   Já pulei do palco e comecei a correr pelo corredor entre as fileiras de cadeira. O menino fez o mesmo, sorrindo de canto a canto. O que Nicholas estava fazendo por ali eu não sabia, mas vê-lo me causou uma mistura de emoções incontroláveis. O abracei com força, me atirando contra ele. Por meu impulso ter sido forte demais, teríamos caído no chão se Nick não tivesse rodopiado comigo em seus braços. Ele me apertou com a mesma surpresa e felicidade.
  - Você está aqui! Por que?! E cortou o cabelo! E está mais forte. – Logo fui para o chão e comecei a rodeá-lo. Nick estava mais branco do que quando deixara Londres. – Parabéns pelo noivado! Holly veio com você? Devia ter me avisado que vinha! Quase tive um ataque do coração.
  - Wow, wow, wey... Respira, . – Me sacudiu pelos ombros, conseguindo me calar. – Cortei o cabelo sim... Algumas vezes na verdade. E os músculos são culpa do treinamento intenso no Bolshoi. Obrigado pelos parabéns... E o que mesmo? Ah, Holly não veio comigo dessa vez.
  - Mio Dio! – Colin exclamou, vindo cumprimentar Nick. – Pensei que nunca mais fosse lhe ver!
  - Que exagero! – O moreno abraçou o ex-diretor e eu não conseguia parar de sorrir. – As coisas parecem estar do mesmo jeito de quando eu saí daqui... Agnes estressada e com o papel principal.
  - Não sabe o quanto as coisas mudaram. – Pensei alto.
  - Só o seu novo parceiro que me parece um pouco... Como vou dizer isso? – Nick falava perto à minha orelha. – Afeminado.
  - Cala a boca, Nick! – Me esforcei pra não rir, mas foi complicado. – Não tenho culpa se você me abandonou.
  - Nunca, pequena. – Passou o braço por meu pescoço, me convidando para um novo abraço.   - Temos tanto pra conversar. – Grunhi, apertando a camisa de Nick entre os dedos. – E tenho certeza que Colin não vai me deixar ficar aqui por muito tempo.
  - Está certíssima. – Colin cruzou os braços. – Temos que fechar essa parte da coreografia...   - Mas, mas, mas, mas...
  - Não se preocupe, . Preciso mesmo ir, minha mãe está me esperando. – Beijou a minha testa e me afastou. – Mas vamos sair essa tarde.

  

  

+++

  

  

“Isso é o que eu chamo de ensaios eficientes! (X) – R.”
  “O que eles supostamente estão fazendo?!”
  “Dançando, é claro! Faz parte da coreografia.”
  “Eu devia saber...”

  

O celular era de Zayn, mas Rachel falava comigo. A fotografia que enviou me fez rir sozinha na grama do Hyde Park. Eu sabia que os meninos eram terríveis dançarinos e não aceitariam criar coreografias se não fizessem disso uma piada. Sinal de que estavam se divertindo nos ensaios. Eu também teria ido assisti-los, mas a presença de Nick na cidade era algo incomum demais para que eu ignorasse seu convite de encontrar comigo no parque.   - Ainda gosta de frappuccino? – Nick sentou ao meu lado sem aviso prévio de sua chegada.
  - Como deixaria de gostar? – O abracei com força e só em seguida recebi meu copo de café pra viagem. – Obrigada, Nicky!
  - Parece que foi ontem que estive na sua casa pra ensaiar os textos de Romeu e Julieta e te levei outro desses. – Fitou o horizonte, pensativo.
  - Bons tempos. – O imitei, não reprimindo uma risada. – Por falar em bons tempos... Como são as coisas em Moscou? Além do que me contou nas cartas.
  - Frio. Mas eu achava que nevava o ano inteiro, então não é tão frio assim. Discordo de algumas práticas governamentais, mas só estou lá pra dançar... – Contava enquanto quebrava uma folha seca em pedacinhos. – Holly e eu acabamos de nos muda para um apartamento de três quartos no sul da cidade. O dormitório era bom, mas não há nada como a sua própria casa. Você sempre será bem vinda lá.
  - Sei disso. Sua casa é minha casa. – Brinquei, escutando-o com atenção. – E o Bolshoi?
  - Treinamos todos os dias até as seis horas da noite. Não é nada como a Academy! Só temos folgas nos domingos. Isso ajuda a te manter focado. É bem legal. – Sorriu de canto. – Trouxe uma coisa pra você.
   Nick puxou a mochila de costas para o colo e abriu o zíper, misterioso. Curiosa, o assisti tirar de lá uma caixa de presente retangular. Me entregou com um sorriso atento. Rasguei o embrulho e encontrei uma caixa branca. Abri a parte te cima e, com cuidado, tirei de lá um castelo todo colorido, com diversas torres, e em cima de uma plataforma redonda. Girei a pequena chave algumas vezes e uma suave música tocou enquanto o castelo girava em círculos.
  - É lindo... Obrigada, Nick!
  - É o Kremlin. Quando for nos visitar, te levarei pra conhecer. – Me ajudou a guardá-lo de volta na caixa onde viera.
  - Foi pra isso que veio até aqui? Pra me passar inveja? – Bebi meu café e pousei o presente ao lado da minha bolsa.
  - Claro que não! Não pude vir com Holly quando estava doente... Só estou dando o troco agora. – Me atingiu com uma leve cotovelada. – Ela me contou sobre a sua apresentação. Disse que foi zdrovo.
  - Esse é o jeito russo de dizer que foi terrível?
  - Tente “incrível”. – Piscou. – E os resultados? Não me contou quantos convites recebeu.
  - Nove de dez. – Com Nick podia conversar sobre aquele assunto, o que era um alívio. – Minha melhor opção é ir para Nova York. Ainda não me decidi.
  - Nove de dez? – Coçou as costelas, como se algo em sua jaqueta o espetasse. – Quem foram os loucos que não te quiseram?
  - Você devia saber! Já que foi a sua própria companhia que não me mandou nem uma carta de desculpas... Nick, está com alergia? – Começou a se coçar com mais vigor, até mesmo exagero.
  - Tem uma coisa me furando. – Resmungou, espiando dentro da jaqueta, procurando a fonte da irritação. – Epa... O que é isso?
  - Não sei... O que é isso? – Entrei na onda, arqueando as sobrancelhas.
  - Tem o seu nome aqui... – Nicholas tinha razão. Meu nome estava ali. Só meu nome, sem endereço ou outras informações.
  - É o que estou pensando?! É o seu convite de casamento, não é?! – Quebrei o lacre de cera vermelha e tirei o papel do convite para ler:
  “Prezada ,
  Temos o prazer de lhe informar que você está sendo oferecida uma vaga na equipe de 2014 da Bolshoi Ballet Academy!
  Depois de rever sua apresentação formidável no recital da London Royal Academy, nós determinamos que você é exatamente o tipo de bailarina que estamos procurando para carregar a tradição da academia de ballet Bolshoi.
  Adjunto a esta carta, irá encontrar um pacote completo de admissão, juntamente com informações específicas de como aceitar esta oferta. Pedimos que envie a sua resposta dentro de uma semana, visto que nosso semestre começará em breve!
  Mais uma vez, parabéns. Esperamos ouvir de você logo!
  Sincerely,
  Bolshoi Ballet Academy.
  Yuri Grigorovich”
  - Esse não é o seu convite de casamento... – Ainda bem que estava sentada, caso contrário teria caído. Era do Bolshoi que estávamos falando. Casa de bailarinos famosos e prestigiados. E estavam me convidando para entrar na equipe.
  - Achei que fosse gritar um pouco depois que lesse. – Nick parecia desapontado pela minha falta de reação.
  - Acredite... Por dentro eu estou gritando. – Os cantos de meus lábios foram erguidos em um sorriso enorme. – Eu não consigo acreditar que isso é verdade! Eu... No Bolshoi!
  - Isso significa que você aceita? – Sim, sim, um milhão de vezes sim! Queria responder, mas minha garganta estava presa.
  - Só tenho uma semana pra responder? – Folheava os outros papeis que tirei do envelope.
  - E duas pra ir. – Afirmou com a cabeça, sério. – Começaremos a ensaiar um novo espetáculo logo, Dama das Camélias. E Yuri quer todos os bailarinos reunidos.
  - DUAS SEMANAS? Como esperam que me mude para a Rússia em duas semanas?! E a Academy? O semestre não acaba em duas semanas... – Eu estava hiperventilando.
  - Você só precisa estar lá. Pode ficar com Holly e eu. Temos um quarto pra você em nosso ap. Quanto à sua mudança, pode fazer aos poucos... – Para Nick tudo parecia muito fácil. – Já a Academy, acho que precisará fechar o curso. Agnes vai entender. Ela foi namorada de Yuri na adolescência...
  - Fala sério? – Me perdi do assunto por um momento. – Espera, isso não é importante.
  - Sei que é uma grande mudança, . Eu passei por isso. – Tocou meu ombro. – Mas é do Bolshoi que estamos falando.
  - Eu vou... Pensar.

    

Chapter LXXVI

- Que horas Gemma disse que estaria aqui?
   Era finalmente o dia da viagem para a Suíça, véspera de Halloween. Pegaríamos o avião para Bern no começo da noite e, se tudo desse certo, estaríamos em Zermatt no fim da madrugada. No entanto, Zayn e eu corríamos pra fazer as malas. Com os ensaios da turnê adiantados por causa da mesma viagem, só tivemos tempo para comprar os essenciais no dia anterior. Botas de neve, casacos mais pesados e pequenos detalhes de viagem. Nosso atraso tinha uma boa desculpa.
   Como não poderíamos levar , Arnie ou Lola, Gemma ficaria responsável por cuidar dos dois. Passaria os cinco dias de viagem em nosso apartamento. Mais por comodidade do que por animais de estimação não serem permitidos em seu dormitório. Como em qualquer dia de viagem, nosso quarto estava uma verdadeira bagunça. Duas malas enormes dividiam o mesmo espaço na cama enquanto nós andávamos de um lado para o outro, recolhendo coisas que sabíamos que esqueceríamos se deixássemos para depois.
  - Uma hora antes de sairmos para o aeroporto, babe. Ela vai chegar, não se preocupe. Temos tempo. – Zayn estava paciente como sempre. Compreensivo a respeito da minha dificuldade de deixar nossos bebês.
  - Eu sei... Só fico nervosa. – Sorri. O frio na barriga voltando. – É ansiedade por causa da viagem.
  - Você tem espaço na sua mala? – Parou no meio do que fazia, com as mãos na cintura como se enfrentasse um dilema.
  - A sua já está cheia?! – Tinha espaço sim, mas ainda não colocara todas as coisas que levaria ali dentro. – Zayn! Como você consegue ser pior que eu?
  - Suas coisas são menores que as minhas. Não tenho culpa. – Parou ao meu lado, investigando a minha bagagem. Retirou de um compartimento a parte superior de um biquíni e me encarou perplexo. – Você sabe que vamos para a neve e não para a praia... Correto?
  - Correto. – Fiz careta, tomando a peça de sua mão. – Acontece que a casa em que vamos ficar tem uma jacuzzi aquecida.
  - Ainda assim. Não acho que devia levar esse modelo... – Tentou tirar o biquíni de mim, mas o escondi nas costas. – Talvez um maiô seja mais apropriado... Ou talvez uma burca.
  - Por que isso agora? – Franzi o cenho, achando graça. – Ciúmes? Baby, não vai haver ninguém além da gente lá.
  - É exatamente esse o problema. Mas tudo bem, deixa pra lá. – Desconversou, querendo voltar para a sua bagagem.
  - Epa... Volta aqui! – O puxei pela camisa e seu corpo se chocou contra o meu. Escondi o biquíni no bolso da calça e o prendi pelos pulsos. – Qual é o problema?
  - Como se você não soubesse. – Parecia um menininho emburrado. Olhava para a parede atrás de mim e eu me segurava pra não rir. – Eu vejo como Liam olha pra você. Vai babar se te ver usando isso.
  - Tá brincando com a minha cara?! – Gargalhei, me arrependendo no mesmo instante. Zayn me encarou e achei que fosse brigar comigo. – Liam não me olha de nenhum jeito...
  - Só você não vê. – Rolou os olhos de forma exagerada, como se estivesse me imitando. – Mas não vamos estragar o clima de viagem falando nisso...
   Soltei seus pulsos quando segurou a lateral do meu quadril. Deu um passo pra frente, encostando o corpo ao meu. A diferença entre nossas alturas era de uma cabeça, então precisei olhar pra cima. Zayn beijou minha testa devagar e arrastou os lábios pelo eu nariz até encontrar minha boca. Subi as mãos até a base de seu pescoço e fiz carinho ali com os polegares. Ele mordicou meu lábio inferior, me distraindo de qualquer pensamento. Escorregou a mão para a minha traseira e a escondeu em meu bolso. Me preparava pra aprofundar o beijo quando fui deixada sozinha, sem reação.
  - Ficarei com isso aqui... – Sorrindo malcomportado, Zayn balançou o top do biquíni e automaticamente toquei o bolso onde o havia escondido.
  - Devolve! – Exigi.
   Zayn correu e fui atrás dele. Passou pela porta do quarto e a fechou, por pouco não fui de cara contra ela. Bufando do que queria que fosse raiva, o procurei pelo corredor. Estava na sala quando o encontrei, ainda fugindo. Ficou de um lado do sofá e eu do outro. Quando eu tentava ir para um lado, ele corria para o outro. Claramente se divertia com aquela perseguição mais do que eu. Me achando esperta demais, pulei e cima do sofá. Teria encurtado a nossa distância e seria capaz de capturá-lo. Teria. Se meu pé não ficasse preso entre duas almofadas e me derrubasse. Zayn gargalhou e correu para as escadas do terraço.
  - Volta aqui, Malik! – Era uma situação cômica, tenho que admitir. Acabei rindo contra a minha vontade.
  - Vai ter que me alcançaaaaar. – Cantarolou, saindo do meu campo de visão ao chegar no andar de cima.
   Levantei com dificuldade, seguindo o mesmo caminho que meu namorado. Lá em cima, ele se aproximava do parapeito com velocidade. Me preocupei com a sua segurança até entender o que ele pretendia fazer. Zayn olhou pra mim antes de jogar a peça ao vento, que planou no alto até sentir o efeito da gravidade.
  - Problema resolvido.
  - Você é maluco! – Bati em seus braços, tapas barulhentos e talvez um pouco doídos. – Eu gostava daquele biquíni, sabia?
  - Mas era pequeno demais. Não ia cobrir nada! – Se defendia de meus ataques e ria.
  - Diz isso porque não viu os outros. – Precisava aprender a ficar com a boca fechada.
  - Posso dar um jeito neles também.
   Zayn se desvencilhou de mim e, temerosa pela ameaça de perder todas as roupas de banho que possuía, pulei em cima dele. Fomos ao chão e demos sorte de aterrissar no conforto do colchão. Zayn ainda mostrava sinais de querer lutar, mas deitou de costas e deixou que eu sentasse sobre o seu quadril e prendesse suas mãos acima da cabeça. Se quisesse realmente se libertar, conseguiria em poucos segundos. No entanto, permaneceu ali, quieto. Me olhando com um sorriso bobo.
  - Você é tão fofa. – Disse assim que o soltei. Meu cabelo caía nas laterais do meu rosto e desconfiava que estava com o rosto amassado de sono. Era tudo menos fofa.
  - Bateu a cabeça com força demais? – Ri, dedilhando um caminho de sua testa até a barriga. Sem a intenção de provocar.
  - É sério, . – Acariciava as minhas coxas, com a mesma inocência. Ergueu o tronco e encostou os lábios em meu ombro. – O que eu vou fazer sem você?
   Aquela pergunta e pegou desprevenida. Ele se referia à turnê, por estar prestes a viajar e eu não o acompanharia. Na minha cabeça, porém, pensei no convite do Bolshoi e no quanto eu estava tentada a aceitá-lo. Zayn não tinha idéia de nada e isso doía tanto quanto a possibilidade de partir. Odiava não contar pra ele, principalmente por ser algo que sempre odiei que ele fizesse; esconder coisas de mim. Sabia que o estaria magoando e isso sim era algo que eu não podia suportar.
  - Você nunca vai ficar sem mim. – O abracei pelo pescoço e descansei o rosto em sua testa. – Não importa onde você esteja. Ou onde eu esteja...
  - Nunca duvidei disso. – Prendeu o olhar no meu e abriu um pequeno sorriso. – Ainda assim, vou sentir sua falta.
  - Não quero fazer isso agora. Não quero me despedir. – Deslizava os dedos pelo cabelo de Zayn e sentia seu peito subir e descer contra o meu. Nossas respirações se misturando. – Ainda temos tempo.
  - Vamos fazer panquecas. – Não era uma pergunta. Sorriu travesso, levantando com facilidade e me prendendo em seu colo.
  - Mas já tomamos café da manhã... – Minhas pernas o apertavam eu me sentia segura. – E também já almoçamos...
  - E daí? Não há hora certa pra fazer panquecas. – Beijou o meu pescoço, entrando na estufa. – Espera um pouco, babe.
  - É uma boa idéia... – Desci de seu colo, ciente de que acabaríamos caindo. – Piggyback?
  - Pode subir.
   Zayn flexionou os joelhos e se curvou para que eu pulasse em suas costas. Assim não caímos ao descer a escada. estava deitado no sofá, nos acompanhando com seus brilhantes olhos azuis. Eu estava onde queria estar e seria assim desde que Zayn estivesse ali também. Essa era a única certeza que eu conseguia ter. Só quando chegamos à cozinha, fui para o chão definitivamente. Ele estava disposto a cozinhar as panquecas.
  - Sabe fazer panquecas? – Zayn abriu a geladeira, mas não conseguia decidir o que tirar de lá.
  - Sou francesa. Sei fazer crepes. – Amarrei os cabelos em um coque alto, utilizando um palitinho japonês limpo que encontrei na gaveta. – Sempre há uma primeira vez.
  - Ovos? Leite? – Selecionava algumas coisas, ainda duvidoso. Enquanto isso, encontrei o celular dele em cima da bancada. – Como faremos isso?!
  - Estou um passo a sua frente. – Digitei “receita de panquecas” no Google do celular e milhares de respostas apareceram em questão de segundos. – 110g de farinha, dois ovos, 200ml de leite mais 75ml de água e 50g de manteiga.
  - Viu só como a gente se completa? – Deixou a garrafa de leite e dois ovos ao meu lado e beijou a minha nuca quando passou. – Do quê mais precisa?
  - Uma bacia e uma frigideira. – Zayn era o encarregado pelos ingredientes e eu pelos utensílios. – Primeiro a bacia...
  - Agora é só misturar tudo? – Mostrando eficiência, quebrou os ovos em um compartimento menor e separou a farinha e leite + água em outros.
  - Eu li que primeiro se coloca a farinha e faz um buraco no meio, que é onde vamos colocar os ovos. – Tinha a bacia na minha frente e fiz o que a receita mandou. Zayn me observava com atenção. – Agora acho que a gente mistura...
  - Garfo ou colher? – Abriu a gaveta e esperou a minha resposta.
  - A receita manda usar um garfo, mas sou rebelde. – Lavei as mãos antes de começar e usei-as para misturar devagar. Era uma sensação engraçada e melecada. – Você pode adicionar o leite...
  - Isso eu sei fazer. – Despejou o líquido de uma vez, espirrando algumas gotas em meus braços e roupas.
  - Devagar! Ou tudo de uma vez, não tem problema. – Ri, misturando a massa que começava a ficar uniforme.
  - Vivo intensamente. Não tem essa história de colocar devagar. – Brincou.
  - Ui. – Gargalhei ainda mais alto por entender o duplo sentido.
  - Não nesse sentido, besta. – Me reprovou com o olhar e sorriso nos lábios. – Talvez um pouco.
   Rimos até esquecer o que era tão engraçado. Adorava escutar a risada de Zayn ecoando pelas paredes da cozinha. Terminei de mexer a massa assim que a livrei de todas pelotas e me senti bem orgulhosa do meu trabalho. Zayn ligou o fogão elétrico e colocou um fio de azeite de oliva na frigideira. Tirei o excesso de massa das mãos e derrubei algumas gotinhas no chão quando fiz o caminho até a torneira para me lavar. O garoto derramou um pouco da massa na panela, fazendo barulho de algo prestes a queimar.
  - Olha isso, ... – Empunhou a frigideira e o olhei duvidosa. – 1... 2... 3! OH! NÃO!
  - Brilhante. – O assisti tentar jogar a panqueca para cima como os chefes de cozinha fazem, mas a massa ainda estava mole demais. Bati palmas ironicamente. – Eu não vou limpar isso!
  - Gemma limpa. – Se achava espertinho demais até entender a ameaça em meu olhar. – Ou eu posso limpar... Daqui a pouco. Quero ver você fazer melhor.
  - Aceito o desafio.
   Peguei a frigideira e raspei no lixo pedacinhos estragados pelo desastre de Zayn. Completei a massa e levei para o fogo. Esperei até que ela estivesse redonda e começasse a soltar da panela. Era observada por Zayn, que cruzava os braços e duvidava que eu fosse conseguir. Dei um passo pra trás e segurei a panela com as duas mãos. Parecia uma jogadora de baseball. Lancei a panqueca para cima com força demais e ela quase bateu no teto. Ao voltar, metade caiu no chão e a outra metade conseguiu chegar à panela.   - Brilhante. – Afinou a voz na tentativa de me imitar.
  - Pelo menos eu não derrubei tudo... – Desliguei o fogo. – Ainda podemos comer essa parte aqui.
  - Já estou com a Nutella aqui. – Zayn andou até a mesa e sentou no encosto da cadeira, apoiando os pés no almofadado.
  - Tem razão, a gente se completa. – Eu não teria escolhido um melhor recheio do que aquele. Coloquei o que consegui salvar da panqueca em um prato e marchei até o outro. – Vai mais pra lá!
  - Você tem um banco inteiro só pra você do outro lado. – Fez corpo mole, mas deslizou para o lado.
  - Não quer que eu sente perto de você? – Fiz bico e sentei no topo da mesa. Apoiei o prato com a panqueca nos joelhos e parti um pedaço, mergulhando-a no pote que Zayn segurava.
  - Claro que quero. – Sorriu, acompanhando o caminho que fiz com a comida até a boca. – Ficou boa?
  - Esquecemos o sal. – Não chegava a estar ruim. Preparei outro pedaço e fiz de conta que daria em sua boca, mas o levei até a minha. – Mas está boa.
  - Fico feliz que Harry vai viajar com a gente, ou morreríamos de fome. – Franziu o nariz ao provar, mas repetiu. – E temos que terminar de arrumar as malas...

  

  

+++

     

Perto das oito horas da noite Gemma chegou ao apartamento com uma mala quase maior que a que Zayn e eu levávamos para o aeroporto. No fim das contas, cada um levava a sua própria e dividíamos uma terceira. O relógio marcava nove e meia quando entramos no lobby do Heathrow. O lugar estava praticamente vazio, o que foi uma boa mudança. Quanto menos pessoas nos vissem vestidos como verdadeiros esquimós, melhor. Combinamos que o nosso ponto de encontro seria perto do grande painel de informações de vôo, mas Harry ligou avisando que ele, Liam e Louis já haviam entrado na área de embarque.
  - O que a gente faz agora? – Apoiei o cotovelo no carrinho onde estavam as nossas malas. – e Niall devem estar chegando.
  - Vamos despachar as malas pra adiantar. Depois pensamos no que fazer aí. – Zayn decidiu. Ele queria pensar no que fazer, mas eu sabia que queria ver Liam. – Vou fazer nosso check in e você pode ir ligando pra eles enquanto isso.
  - Okay, baby. Farei isso. – Tirei da minha bolsa os papeis de viagem, passagem e meus documentos. – Aqui está tudo que você precisa.
  - Parecemos adultos. – Zayn comentou. Sorri porque nós éramos adultos, mas entendia o que ele queria dizer. Engrossou a voz e continuou: - Querida, cuide das crianças enquanto resolvo essas questões.
  - Certo, senhor adulto. Mas vá agora enquanto não tem ninguém na fila. – Lhe dei um beijo rápido e o assisti sorrir.
   Zayn empurrou o carrinho com as malas e seguiu pelo labirinto de cordas até o balcão de atendimento da nossa companhia aérea. Nas filas próximas, era fácil notar a comoção do público feminino ao olhar pra ele. Ainda se não soubessem quem era Zayn Malik, ficavam admiradas com a sua beleza. Quem não ficaria? Antes da formação da banda eu costumava não gostar dos olhares lançados na direção do meu namorado, mas com o tempo aprendi a conviver com eles. Vez ou outra até me sentia bem importante, porque só eu tinha o que tantas outras mulheres (e uma boa parte dos homens) desejava.
   Disquei o número de Niall, sabendo que passaria tempo demais conversando antes de chegar ao ponto. Em quatro chamadas, e quando eu estava prestes a desligar, o irlandês atendeu com sua animação de sempre.
  - Weyhey! Aqui quem fala é Niall, da empresa de turismo Horan&Horan. Disque 1 se estiver animada para a viagem até a Suíça. Disque 2 se sonhar com um chocolate quente. E 3-
  - NIALL! – Teria sido melhor ligar pra . Ficou calado assim que o interrompi, mas começou a rir. – Onde vocês estão?
  - Não faço idéia, as ruas de Londres são todas iguais... Vou passar pra .
  - E aí, schatz? – Houve uma sequência de barulhos e finalmente falou. – Schatz é um apelido carinhoso em alemão. Porquê se fala alemão em Zermatt, eu pesquisei.
  - Isso é ótimo, ... Escuta-
  - Consegui um livro de bolso, daqueles de viagem, da Suíça. Não vai acreditar em todas as coisas interessantes que descobri. Sabia que o céu onde vamos é completamente livre de qualquer poluição?
  - Aham...
  - Aliás, você não vai acreditar no casaco que eu comprei. E estava na promoção! Estou usando-o agora, porque você me conhece, sabe que não consigo esperar uma ocasião especial.
  - ...
  - Mas pensando melhor, o que é mais especial que uma viagem à Suíça?
  - SHUT UP! – Exclamei um tanto alto, chamando a atenção de um casal de senhores que passava por ali. Pedi desculpas silenciosas, mas pelo menos se calou. – Zayn e eu já vamos entrar no salão de embarque, ok? Os meninos estão aqui também, então não precisam esperar nada quando chegarem. Beijos.
  - Não, espe-
  - E então? – Zayn retornou, carregando apenas nossos papeis e sua bagagem de mão.
  - Tudo certo, podemos entrar!
   Ele não precisava saber que eu praticamente desliguei na cara da minha melhor amiga porque ela não parava de falar. Nem que não fazia idéia se eles iriam demorar a chegar ou não. Passei o braço em volta de sua cintura e fizemos o caminho que conhecíamos bem demais. Subimos até o segundo andar pela escada rolante, porque os velhinhos de antes estavam esperando o elevador, e checamos nas passagens o número do salão de embarque.
   Uma moça bem simpática que usava uniforme do aeroporto nos atendeu no portão norte, conferiu nossos papeis e identidades e nos deixou passar para a vistoria de segurança. Com o lugar vazio, Zayn e eu pudemos ir em filas diferentes. Deixei meu casaco e bolsa na bandeja preta e passei pelo detector de metais. Não apitou. Zayn fez o mesmo do outro lado, mas foi interrompido pelo segurança quando a luz vermelha acendeu acima de sua cabeça.
  - O senhor tem algo no bolso? – Ele perguntou.
  - Só moedas. – Mostrou os círculos e então pôde passar. – Esqueci de tirar...
  - Sem problemas, senhor. – A mulher responsável pela fila dele lhe entregou o casaco e mochila. – Tenha um bom vôo.
  - Obrigado. – Sorriu encantador e rolei os olhos, batendo o pé no chão como se quisesse apressá-lo. – O que foi, babe?
  - Você enrola demais. Não quero nem saber quantos vôos vão perder quando entrar em turnê. – Já amarrara o casaco de volta e tinha a bolsa pendurada no ombro. Passagens e outros documentos guardados no bolso exterior.
  - Eram só moedas!
   Se defendeu, sem ligar muito para minha acusação. Zayn era conhecido por ser o último a chegar aos lugares, fosse ensaios ou quando combinava de sair com seus amigos. Trisha me informou que era sempre assim e já levou diversas suspensões por chegar atrasado às aulas. Eu era exatamente o contrário, gostava de chegar mais cedo ou pelo menos na hora marcada. costumava brincar que, em nosso casamento, eu chegaria cedo e ele é quem se atrasaria.
   Zayn segurou a minha mão e passamos por um longo corredor de vidro. Não podíamos ver quem estava do outro lado do aeroporto, mas sim a pista e os aviões. O escuro da noite deixava as luzes da pista ainda mais bonitas e reluzentes. Eu lia as placas, procurando o portão de número doze. Zayn colocou a mão no bolso do casaco por reflexo involuntário, ganhou uma expressão de estranhamento e tirou de lá um pedaço de papel dobrado.
  - Você colocou isso aqui? – Me perguntou e neguei com a cabeça ao vê-lo abrir. – Hm, é um bilhete.
  - De quem? - Tirei o papel de sua mão. Zayn sorria convencido e logo entendi o porque. – “Me ligue quando voltar à Londres. Também posso te levar às alturas. Bjossss, Nora.” Uau, que exagero de ‘s’. Sem falar que essa foi uma péssima cantada.
  - Não sei... Achei que teve estilo. – Pegou seu bilhete de volta e o amassou em uma bolinha, atirando na lata de lixo mais próxima. – Pena que tenho namorada.
  - “Pena”? – Uh, péssima escolha de palavras! – Posso dar um jeito nisso, se estiver achando ruim.
  - Ah, é? O que vai fazer? – Zayn se divertia com aquilo tudo e, no fundo, eu também brincava.
   Encontramos o portão 12 e passamos pela porta automática de vidro. Soltei a mão de Zayn propositalmente, que me olhou com o mesmo sorriso presunçoso. Entendi sua pergunta anterior como um desafio e estava disposta a aceitá-lo. Não sabia ao certo como faria se arrepender por dizer que era uma pena ter namorada, mas descobriria isso logo. No momento, me preocupei mais em encontrar os três meninos que supostamente já estavam ali. Zayn apontou para uma fila de cadeiras onde Liam, Lou e Harry (nesta mesma ordem) conversavam distraídos. Foi na direção deles sem esperar por mim, mostrando que entrou na brincadeira.
   “Isso pode ser mais divertido do que eu pensava...” As engrenagens em minha cabeça giravam, bolando algum plano ou coisa parecida. Zayn foi o primeiro a chegar até os nossos amigos e o primeiro que abraçou foi Liam (confirmando minhas suspeitas de que sentia saudades dele, mas isso não vem ao caso). Depois Harry e Lou. Constituí a mesma ordem que ele, esperando ser assistida ao fazê-lo.
  - Baba! – Não precisava querer provocar Zayn para tratar Liam de forma especial, apenas exagerar um pouco mais. O abracei e deslizei os dedos pelos cabelos do menino, da forma que só fazia com meu namorado. – Mudou de shampoo? Seu cabelo está tão macio...
  - Estou usando aquele que você deixou lá em casa. O cheiro me lembra você. – O comentário de Liam me pegou de surpresa e Zayn enrijeceu.
  - Alguém quer alguma coisa do Duty Free? – Louis interrompeu, incerto do que acontecia, mas ligado que era algo.
  - Eu vou com você. – Zayn se ofereceu.   - Ficarei por aqui mesmo... – Liam se sentou e ofereceu o banco ao seu lado pra mim.
  - Já volto... Quero ver se tem Maltesers aqui. – Usei essa desculpa para seguir os dois.
   Antes de ir, beijei a bochecha de Harry, que parecia interessado demais em seu celular para levantar e me cumprimentar direito. Li não estranhou ou me acompanhou, apenas me seguiu com o olhar. Não sei sobre o quê Lou e Zayn conversavam, só que se interromperam quando me viram entrar no Duty Free depois deles. A loja em si tinha cheiro de vários perfumes misturados e prateleiras com vários produtos diferentes que iam de chocolates importados à maquiagem. Meu irmão e Zayn foram até o fundo da loja, onde ficavam as revistas. Os segui, mas fiquei um pouco afastada.
  - Vai levar essa revista? – Zayn começou a falar com uma menina um pouco mais nova que nós dois, mas parecia ter maior idade. Prestei atenção porque algo me dizia que ele queria isso.
  - Sim... Algum problema? – Ela sorriu para o estranho. Meu estranho.
  - Não, nenhum. – Ele estava de costas pra mim, mas sabia que sorria de volta. – Só é raro encontrar uma garota que goste de esportes. Admiro isso.
  - Aham. Tá. – Pensei alto, tentando não rir. Nem ele gostava de esportes! Louis também assistia a cena, bem mais confuso que eu.
  - Você joga? – A menina começou a enrolar a ponta do cabelo no dedo, se achando charmosa demais.
  - Futebol. – Afirmou e mordi os lábios pra não voltar a rir. Zayn jogando futebol? Essa era nova.
  - O que está acontecendo? – Lou parou ao meu lado, cochichando. Não sei se o que o espantava mais era as atitudes de Zayn ou a falta das minhas.
  - Dá pra perceber que você é atleta... – A menina o olhou dos pés à cabeça.
   Eu tinha que fazer alguma coisa. Queria fazer alguma coisa. Estudei a loja inteira, procurando uma possível vitima. Se Zayn queria me passar ciúmes, veria que não era o único que sabia fazer isso. Deixei Louis pra trás com suas dúvidas quando vi um menino sozinho na área de eletrônicos. Não estava com ninguém conhecido por perto ou usava aliança de algum tipo. A presa perfeita. Era hora de usar meus dons femininos mais uma vez. Tudo se trata de observar o território e agir inocentemente.
  - Com licença... – Chamei o menino, que me olhou no mesmo instante. – Sabe se aqui vendem o jogo Yoshi’s Story?
  - Não sei... – Mexeu os ombros levemente, mas largou o que tinha em mãos para me dar completa atenção.
  - Ai, meu Deus! Você não trabalha aqui! – Fingi estar surpresa e ri, passando a mão pelos cabelos. – Me desculpe!
  - Não tem problema, o que é isso. – Sorriu e cruzou os braços, flexionando os bíceps. Estava dando certo. – Gosta de vídeo games?
  - Sou viciada. Tenho todos! X Box, Ps3, Nintendo 64, Wii... – Listei os jogos de Zayn. Olhei disfarçadamente por cima de meu ombro e ele me assistia, já sem prestar atenção na menina de antes. Sorri de canto, voltando para a minha vitima. – Pode escolher!
  - Não acho que encontre o que você procura por aqui, mas tenho em casa. – Inclinou a cabeça para a direita, sinal que considerei positivo. – Se quiser, podemos combinar pra jogar um dia. Quem sabe sair pra jantar depois...
  - Eu adoraria. – Sorri mentirosa. – Por que não me dá o seu telefone... E quando eu voltar de viagem te ligo?
  - Amigo, me arranjaria um papel e caneta? – Pediu para um garoto que passava ao nosso lado e reprimi um novo sorriso ao ver que era Zayn.
  - Eu tenho aqui! – Lembrei de uma nota de compras que tinha no bolso e entreguei para o menino, que achou uma caneta solta na mochila.
  - Deixa pra lá, obrigado. – Acenou para Zayn se afastar, que piscou na minha direção.
   Minutos depois eu já estava com o telefone do menino no bolso e um sorriso orgulhoso no rosto. Encontrei com Zayn e Louis junto aos outros meninos e dessa vez e Niall estavam lá também. A ruiva tagarelava com Liam e Harry sobre as novidades que aprendeu em seu livro novo e me fez enchê-la de elogios por causa de seu casaco novo. Zayn conversava com Niall, mas não tirava os olhos de mim. Eu fazia o mesmo ao fingir escutar Lou, que ainda queria saber o que aconteceu no Duty Free. Meu namorado fez um aceno de cabeça e se afastou. Um jeito sutil de dizer que queria falar comigo.
  - Já volto, Lou. – Dei uma batidinha no ombro de meu irmão.
  - Desisto de vocês dois. – Sacudiu a cabeça, mandando seus cabelos um tanto compridos para todos os lados.
  - Também te amo.
   Segui em direção à Zayn, passando despercebida por todos. Ou quase todos, já que Li me olhou com os olhos baixos. Zayn estava de costas pra mim, mas eu conseguia ver seu rosto refletido no vidro. Ele não olhava para o avião que acabava de decolar e sim para mim. Tinha os braços livres porque estava com a minha bolsa em seu colo. Parei ao lado de meu namorado, abraçando-o pelas costelas.
  - Parou de brincar? – Arqueou uma sobrancelha, estudando meu rosto.
  - Não sei. Parou de achar que é uma pena ter namorada? – Imitei sua expressão.
  - Nunca achei isso. – Apertou os braços em meus ombros. – Mas posso ser sincero? E você não vai rir?
  - Claro que pode. – Beijei a base de seu pescoço.
  - Pode ser que eu tenha gostado um pouco... De ver você, daquele jeito. – Comentou fugindo do meu olhar. – Não quero que fique com outro cara, não é isso.
  - Entendi o que quis dizer. – O interrompi, sabendo que se enrolaria nas palavras. – Eu concordo.
  - A melhor parte? – Segurou a minha nuca, trazendo meu rosto pra perto. – Só eu posso fazer isso.
   Arrastou os lábios sobre os meus, deixando beijos demorados. Fechei os olhos, permitindo que ele fizesse tudo que bem entendesse. Senti sua língua pedindo passagem e ajudei a aprofundar o beijo. O apertava contra mim e minhas unhas seguravam seu casaco. Prolongamos nosso enlace até ouvir a chamada para o nosso vôo e o grito nada calmo de Louis.
  - SUÍÇAAAAAAAA!

    

Chapter LXXVII

A viagem de avião de Londres até Berna (capital da Suíça) foi tão tranqüila quanto à de trem para Zermatt. Principalmente por eu ter dormido durante as duas. Ou seja, quando chegamos à vila, estava inteira e pronta para começar a curtir a viagem. Os elogios de Krist, a agente de viagem, não fizeram jus à verdadeira beleza do lugar. Casinhas pequenas e todas com uma arquitetura padronizada. As ruas eram pequenas e estreitas, já que apenas carros elétricos eram permitidos ali. E neve... Muita neve! O chão era praticamente coberto pelo branco, assim como os telhados.
   Um taxi elétrico nos levou até o nosso chalé na montanha, no topo do Everest, como Harry chamava. Era um lugar lindo e aconchegante, me fazendo duvidar de que conseguiríamos sair dali depois de cinco dias. O primeiro andar era composto por uma sala de convivência, sala de jantar e, acredite se quiser, uma área com piano. Harry e Louis ficaram com o primeiro quarto, e Niall com o segundo, Liam com o terceiro e mais próximo do meu. O quarto que eu e Zayn dividiríamos era, de longe, o com a vista mais bonita; e de quebra, tinha uma banheira no andar de cima.
   Já no terceiro andar, o chalé possuía dois espaços de relaxamento: Leste e oeste. Uma sala com jacuzi e outra banheira no terraço. Simplesmente a epítome do luxo. Sem falar na belíssima área de lazer na montanha nevada que nos serviria de treinamento antes de irmos até a estação de esqui no dia seguinte. Podia ser sete horas da manhã quando nos estabelecemos nos devidos quartos, mas eu não queria dormir! Harry estreou a cozinha e nos fez um pequeno café da manhã com coisas que compramos no mercado mais próximo.   - As mulheres lavam a louça. – Louis deu uma de machista ao terminar de comer. – Seu lugar é na cozinha.
  - Essa não... – Niall arregalou os olhos, encarando a namorada.
  - Quer falar isso de novo? – levantou e apoiou as mãos na mesa, se inclinando na direção de Lou, que estava na sua frente. – Você pode ser irmão da minha melhor amiga, mas não vou lembrar disso quando cortar o seu-
  - ! Tudo bem, nós lavamos! – Harry a interrompeu, começando a recolher os pratos. – E Louis vai me ajudar.
  - Vou sim. – Lou riu, mas se levantou e começou a recolher os pratos.
  - E agora, eu vou dormir... – Zayn e eu nos levantamos, mas só ele se espreguiçou. – Vem comigo, ?
  - Tenho mesmo?! – O abracei e fiz bico. – Quero esquiar!
  - Mas só vamos à estação amanhã... – Me apertou e balançou meu corpo de um lado para o outro. – Não precisa ir dormir senão quiser, já fez isso a viagem inteira mesmo.
  - Eu sabia que ia entender! – Dei vários beijos rápidos em seus lábios, sorrindo entre um ou outro. – Vou ensinar a esquiar.
  - Não mesmo, . Hoje não! – Estava atrás de Niall, pendurada em seu pescoço. – Temos outros planos...
  - Quais? Também estou sem sono... – Li tentava achar alguma programação que pudesse se inserir.
  - Não sei se quero saber. – Impedi a minha amiga de responder, sabendo que ela não teria papas na língua. – Pode esquiar comigo, Baba!
  - Não sei bem como se faz isso, mas tudo bem. – Gargalhou, olhando uma pilha de troncos de madeira no canto da sala. – Lou? Haz? Mais alguém quer me ver cair?
  - Não vou esquiar, mas posso ficar sentado assistindo vocês. – Louis gritou da cozinha aberta, sua voz sobrepondo o som da torneira.
  - Vocês são muito moles. – Balancei a cabeça e beijei meu namorado mais uma vez. – Durma bem, sweetie.
  - Se cuide. – Olhou significativamente para Liam e bati em seu braço.
  - Não iremos para a jacuzzi sem você, não se preocupe. – Desfiz o abraço e olhei para Li. – Vamos precisar de alguns equipamentos que estão no quartinho dos fundos...
   Liam deixou de prestar atenção na madeira e me acompanhou pelo caminho indicado. Cada pessoa foi para um lugar, com exceção de Haz e Lou que continuavam limpando tudo. Em outra ocasião eu teria ajudado, mas estava ansiosa para me jogar na neve. Girei a chave pendurada na maçaneta da porta e entrei no pequeno quarto de madeira. Pendurados nas paredes por ganchos, equipamentos de esqui de todos os tamanhos, botas e casacos de neve. Tudo que eu trouxe de Londres estava por ali também, mas fazia parte do pacote de aluguel da casa o aluguel daqueles aparelhos.
   Me vesti com um casaco estofado, luvas e um gorro na cabeça. Como não desceríamos montanhas ou distâncias muito longas, deixei a mascara de esquiador outras proteções pra lá. Liam me imitava, ainda que não soubesse muito o que selecionar. Escolhi minha prancha de ski e bastões, em seguida, escolhi o mesmo para Liam. Ajudei a fechar o seu casaco e o obriguei a usar capacetes. Eu não precisava por ter prática, mas não queria ser a causadora de uma concussão na cabeça do meu melhor amigo.
   Deixamos a casa e fomos para a parte frontal. Acima de nós, uma pequena varanda foi o palco que meu irmão e seu namorado escolheram pra nos assistir. Eles dividiam um lençol de lã e comiam algo que tinha certeza ser chocolate quente. Auxiliei Liam a subir em suas pranchas e o prendi ali, já que ele nunca saberia fazer isso sozinho. Por último, subi na minha própria prancha.
  - Essa bota é muito pesada! – Liam reclamou, tentando andar com os esquis.
  - Frouxo. – Comentei, parando ao seu lado com muito mais facilidade. – Vamos começar com o básico. Ao esquiar, você precisa estar com os joelhos dobrados o tempo inteiro. Assim...
  - Entendi, professora.   - O corpo deve estar pra frente, porque isso ajuda a se equilibrar. – Fiquei em posição e mexi os braços empunhando os bastões, fingindo estar esquiando de verdade. – Entendeu?   - Yep... Só tenho uma pergunta. – Levantou a mão como se estivéssemos em uma sala de aula. Liam parecia um boneco de neve com todas aquelas roupas. – Como se para?
  - Nem começou a andar e já quer parar? – Ri e afastei um pé do outro, juntando as pontas da frente. – Essa posição se chama cunha. Ou pizza, se preferir. Você não vai parar no mesmo instante, mas vai diminuir de velocidade até conseguir parar.
  - Oh, parece fácil... – Colocou as mãos na cintura, soando incerto.
  - Pronto pra cair? – Dei meia volta, rumo ao topo do pequeno monte de neve que seria uma ótima primeira pista.
  - Pron- Ei! – Me seguiu com dificuldade.
   Uma vez lá em cima, calculei a distância do topo até o fim da pista. Nada demais. Uma pequena decida só pra aquecer. Figurativamente falando, claro. Respirar fundo era doloroso, porque o pulmão congelava instantaneamente. Nuvens de vapor deixavam os lábios de qualquer um que falasse. Usei o ski para afofar a base do topo, caso contrário, Liam escorregaria antes mesmo de chegar lá.
  - Eu vou primeiro e você presta atenção, ok? – Sorri incentivadora e entrei em posição.
   Dobrei os joelhos, coloquei o corpo pra frente e finquei os bastões na neve, usando-os para pegar impulso. Em segundos estava deslizando e escorregando pra frente. Sentia tanta saudade dessa sensação que poderia largar todos em casa e ir sozinha para a estação de Zermatt. Recebi aplausos de Lou e Harry que ainda assistiam da varanda. Olhei para Liam, e fiz sinal para ele descer.
  - Sua vez, Leeyum. – Soltei meus bastões na neve para ajudá-lo se precisasse. – Lembre-se da pizza quando chegar ao fim da rampa.
  - Lembrar do quê? – Não tive tempo de responder, porque ele escorregou.
   E veio na minha direção. Acenei para que parasse e diminuísse de velocidade, mas era tarde demais. Liam gritou e esqueceu de tudo que eu falei, ergueu os braços pra frente e os sacudia tentando encontrar algo pra segurar. Como se já não bastasse, seu ski veio de encontro ao meu. Nós dois caímos. Li perguntava se eu estava bem ou se tinha me machucado, mas só o que conseguia fazer era rir. Nossos dois telespectadores também gargalhavam ato, correndo o risco de causar uma avalanche.
  - Ótimo, Payne, mas da próxima vez tente não cair. – O empurrei para que saísse de cima de mim, coisa que o agradava até demais.
  - Não quebrou nada? Está inteira? – Me cutucava pra ter certeza, me fazendo sentir cócegas e automaticamente começar a rir de novo.
  - Para com isso! – Bati em suas mãos. – Pode subir e tentar de novo.
  - Tudo bem...
   Liam resmungou e teve dificuldade pra levantar. Não o ajudei. Invés disso, soltei as minhas botas e me afastei da pista, temendo ser atingida novamente. Queria esquiar em pistas de verdade, subir montanhas e ter os cabelos voando no ar gelado da Suíça. Deitei na neve e abri e fechei os braços e pernas, fazendo um anjo. Levantei a cabeça ao escutar o novo grito de Liam. Agora que eu não estava em seu caminho pra frear seu ski, ele foi mais além do que o espaço determinado. Se ganhasse velocidade, poderia descer a montanha inteira e isso não seria seguro pra ele ou qualquer outra pessoa da cidade.
  - Pizza! Pizza! – Eu gritava enquanto corria atrás dele. As botas realmente eram pesadas e não ajudava a minha corrida. – Liam, PIZZA!
  - SOCORRO! – Gritou de volta e se jogou na neve, forçando uma parada brusca.
  - Liam! Você está bem?! – Me joguei de joelhos, deslizando até a sua lateral. Para a minha surpresa, ele tinha um sorriso enorme no rosto.
  - Isso foi incrível. Podemos fazer de novo? – Sentou, mostrando que não se machucara.
  - Acho que é melhor você ter aulas com um professor de verdade. – Neguei, desprendendo as pranchas de suas botas. – Só duram uma ou duas horas e são mais seguras.
  - Tudo bem. – Cruzou os braços, emburrado, e tirou o capacete da cabeça. – E o que fazemos agora?
  - Tive uma idéia. – Sorri com más intenções.
   Fiz sinal de silêncio com o indicador sobre os lábios e Liam franziu o cenho sem entender. Indiquei com um gesto para me seguir e deixar os equipamentos ali. Ninguém os roubaria e sempre poderíamos voltar para recuperá-los. Em silêncio, engatinhei montanha a cima, até estar atrás de uma pedra com metade enterrada na montanha, metade servindo de escudo. Li sentou ao meu lado e começamos a fazer bolas de neve perfeitas, deixando-as empilhadas entre nós dois. Ali de cima, estávamos no mesmo nível que Harry e Louis, mas eles não podiam nos ver. Seriam vitimas fáceis!
  - 1... 2... 3... – Contei em sussurros, pegando a primeira bola de neve. – ATACAAAAR!
  - YAAAAAAAAAAAA. – Liam entrou no espírito de batalha e também começou a jogar neve em nossos amigos desprevenidos.
   Admito que a mira dele era melhor que a minha, por isso acertou em cheio Harry e Louis. Eles tentavam se proteger no lençol, mas nossos ataques eram certeiros. Gritando e praguejando as nossas próximas gerações, correram para dentro da casa, onde ficariam a salvo. Ergui a mão em Liam bateu nela com uma bola de neve que ainda segurava, explodindo-a em vários pedacinhos que atingiram meu rosto.
  - Jeitoso. – Ri, tirando o excesso que caíra em cima do meu nariz e bochechas.
  - Deixa eu ajudar. – Sorriu, tirando a luva direita. Passou o polegar pela minha bochecha e tocou de leve os meus lábios. Segui a direção do seu olhar e minhas bochechas ficaram mais vermelhas do que já estavam.
  - Obrigada. – Olhei pra baixo, ruborizada.
  - Estou feliz por estar aqui com você. – Não desviava o olhar, nem mesmo ao colocar a luva novamente. – Apesar de ser terrível em cima de esquis.
  - Também estou feliz. – Ri por concordar que ele era terrível no esporte. – E você vai melhorar, tenho certeza.
   Liam não falou mais nada, tampouco eu sabia o que dizer. Ergui o rosto, voltando o olhar pra ele. Li sorria em uma mistura de calma e conformação. Queria abraçá-lo e dizer o quanto significava pra mim, mas não conseguiria fazer isso sem lhe dar esperanças de algo que não poderia acontecer. Talvez se eu fosse embora, se aceitasse o convite do Bolshoi, Liam ficaria melhor. Talvez ele conhecesse outra pessoa com a minha ausência e... Superasse.
  - Acho que a gente devia entrar. Estou ficando com frio. – Era mentira. Sentia o calor da dúvida.

  

  

+++

  

  - Ainda não acredito que aqui não se comemora o Halloween...
   O relógio se aproximava das cinco horas e Zayn, , Niall, Louis e eu andávamos pelo vilarejo. Conhecendo a cidade e visitando pequenas lojas aqui ou ali. Liam e Harry preferiram ficar em casa dormindo, então apenas nós cinco vagávamos pelas ruas de pedra. Pela quantidade mínima de carros, não havia preocupação em sermos atropelados caso quiséssemos andar no meio da rua. Estávamos quase no centro de Zermatt e encontramos apenas uma casa enfeitada com motivos do Halloween. Não víamos crianças fantasiadas ou bebidas quentes de abóbora como em Londres.
  - E nem fizemos a festa anual na casa dos Malik. – estava mais decepcionada com a festa que perdia do que com o fato de não comemorar o feriado e ponto final. – Tinha tantas idéias legais...
  - Epa... A “casa dos Malik” agora é o apartamento onde eu moro. E não fiquei maluca o suficiente pra encher a cobertura com duzentas pessoas fantasiadas. – Avisei, abraçando o braço esquerdo de Zayn para me aquecer.
  - Ainda assim, é uma pena pensar em toda a bebida que não vamos consumir. – A ruiva suspirou com dor.
  - Ainda podemos fazer essa festa... Já viram o tamanho do nosso chalé? – Niall comentou, abraçando a namorada. – Podemos convidar pessoas daqui mesmo-
  - Você é que ficou maluco! Concordo em fazermos uma festa, mas não com estranhos. – Lou andava na nossa frente, com as mãos escondidas no bolso do casaco. – Especialmente e um país onde não conhecemos nada.
  - Todos de acordo em fazer uma festa só nossa, então? – Zayn indicava o caminho para andarmos e dobramos uma esquina, entrando na rua principal de comércio.
  - Estou mais de acordo ainda se começarmos escolhendo chocolates... – Apontei para uma loja a alguns metros de nós, chamada “Merkur”.
   A palavra era em alemão e eu não sabia o seu significado, mas todos os chocolates exibidos nas vitrines davam uma boa idéia do que era vendido ali. Concordamos em entrar naquela loja primeiro e Niall exclamava que queria comprá-la inteira. Também pudera, havia chocolate do chão até o teto. Sua arrumação era parecida com a de uma padaria, com a exceção de que, ao invés de pães ou outros salgados, a loja vendia chocolate. Recheados com frutas, outros doces o mais puro cacau.
   Zayn e Louis foram olhar a bancada de vidro onde bombons e tabletes em metro de chocolates diversos estavam expostos. Niall foi direto para a fila da fonte de chocolate derretido e me levou até uma estante onde caixas estavam empilhadas como livros em uma livraria.
  - É isso aí, eu já posso morrer feliz! – Sorri encantada, pegando uma caixa de trufas suíças para tentar ler o rótulo. – Para, para... Paradise. Oooh oh ooh oooooh.
  - E ainda diz que não está maluca. – Pensou alto. pegou uma cesta de madeira encerada e me entregou. – Faça bom proveito.
  - Você não quer? – Pendurei a alça da cesta na curva de meu cotovelo e a caixa de trufas em seu interior. – Não vale pedir do meu depois.
  - Se você soubesse o quanto essas coisas engordam, também não comeria. – Deu de ombros. Segundos depois, um clarão passou pelos seus olhos. Acho que o fato de eu não ter rido de sua brincadeira a fez lembrar que aquele assunto era delicado. – ... Desculpa, eu não queria... Você pode comer quantos quiser! Pegue esse aqui, tem pedacinhos de laranja. Gosta de nozes? E este de chocolate branco?
  - Calma, ! – A impedi de colocar todos aqueles doces na cesta. Mas até que o de laranja parecia gostoso... – Não tem problema. E não precisa me tratar como criança. Sei que tive um problema, mas estou bem agora... Ademais, esses chocolates parecem bons demais pra não serem comidos.
  - Mesmo assim... Desculpa. – Me abraçou de lado, quase quebrando ao menos uma de minhas costelas.
   Estava satisfeita com as minhas três caixas de trufa e por isso pudemos passar para outra região do paraíso. Niall bebia de uma xícara de chocolate derretido com tanto esmo que não nos notou ao ir procurar os amigos. No sul da loja, algumas cadeiras e mesinhas para duas pessoas antecediam uma pequena delicatesse. e eu escolhemos um pedaço de torta cada e uma bebida quente que diziam ser especialidade da casa. Os meninos ainda se distraiam com todos os doces e também nos ignoravam.
  - Semana que vem é o seu aniversário de um ano de namoro, não é? – perguntou enquanto eu dava a primeira garfada em minha torta de chocolate.
  - Em uma semana exata. – Afirmei. – Estou ansiosa!
  - Já sabe o que vão fazer? – Bebeu alguns goles da bebida de café com chocolate e canela. – Pra comemorar, digo. Acho que o Winter Wonderland já está na cidade.
  - Está sim, eu pesquisei. Mas não vamos até o parque de novo. Muitas crianças e adolescentes passam o dia por lá e agora Zayn é conhecido. Ficariam nos parando pra tirar fotos e pedir autógrafos... – Era quase impossível parar de comer pra conversar. – Preferimos ter um tempo só nosso. Acho que ficaremos pelo apartamento mesmo.
  - E o que vai dar de presente à Zayn? – Cochichou.
  - Não faço a mínima idéia! – Aquela era uma questão que vinha me perturbando desde que comemoramos um ano de nosso primeiro beijo. – Como posso dar alguma coisa pra ele? Já viu o nível dos presentes que ele me deu? Um carro, a casa onde eu cresci em Paris, dois cachorros, várias jóias... E moramos juntos!
  - É, você está com um problema nas mãos. – Riu, não dando nenhuma dica ou conselho. – Acha que ele vai te pedir em casamento?
  - O que?! – Engasguei com a bebida por não esperar aquela pergunta. – De onde tirou isso?!   - É de Zayn que estamos falando aqui, . Vai dizer que não pensou nisso?
  - Pensar é uma coisa... Achar que vai acontecer é outra completamente diferente.

  

  

+++

     

Depois do jantar, Liam acendeu a lareira da sala e fizemos um grande círculo em volta dela. Harry fez chocolate quente para todos nós, Niall encontrou cobertores grandes para que dividíssemos e Louis começou a contar uma história de terror para dar continuidade à nossa comemoração de Halloween. Todas as paredes eram de vidro, então conseguíamos ver perfeitamente a escuridão do lado de fora, com apenas algumas luzes da cidade ao longe e as estrelas no céu.
   Eu estava deitava entre Zayn e , abraçando o primeiro um pouco mais aterrorizada do que esperava que fosse ficar. Louis sempre foi bom em contar histórias – verdadeiras ou não – e a luz bruxuleante que emanava do fogo ao seu lado aumentava a atmosfera de terror. Ele fazia movimentos com as mãos e imitava as vozes da história. Minha amiga também agarrava o namorado, assustada.
  - A porta do elevador abriu e uma voz conhecida perguntou: “Tem certeza que não quer entrar, querida?” – Louis arregalou os olhos, em uma careta estranha e animalesca. – “Há lugar pra mais um.” E então... BAM!
  - NÃO! – Gritei, apertando o braço de Zayn com as unhas. também gritou algo indecifrável.
  - O elevador caiu em disparada e todos os passageiros morreram! – Lou terminou a história e toquei meu peito, sentindo as batidas apressadas do meu coração. – Gostaram?
  - Não muito. – Neguei com a cabeça, ofegante.
  - É só uma história, babe. – Zayn alisou o próprio braço, onde eu o machucara. Sorriu acolhedor e beijou a minha testa.
  - Pelo contrário, meu caro amigo. É uma história real. – Meu irmão não queria que eu me acalmasse.
  - Bem, eu não gostei. – A ruiva se sentou, passando as mãos pelo rosto. – Podemos mudar o assunto? Cansei dessa comemoração de Halloween.
   No instante seguinte, o barulho alto de algo falhando me fez tremer. Como se não fosse o suficiente, as luzes da casa começaram a piscar e em um pipoco foram apagadas de uma vez. Todos começaram a reclamar e sacar os celulares em busca de algum tipo de iluminação. Se eu já estava aterrorizada antes, agora é que tinha certeza de que todos iriam morrer. agarrou o meu pulso e gritei mais uma vez, querendo bater nela por não ter sido um pouco mais delicada.
  - O que aconteceu? – Niall estava de pé e pressionou a testa contra o vidro para olhar o lado de fora. – A cidade ainda tem energia, será que só caiu aqui?
  - Onde está Harry? – Olhei em volta, contando as silhuetas e chegando a conclusão que um menino de cabelos cacheados estava faltando.
  - Bem aqui! Estava no banheiro. – Usava a lanterna no celular para descer as escadas do segundo andar. – É impressão minha ou o aquecedor também parou de funcionar?
  - Definitivamente parou. Estou começando a ficar com frio. – comentou e era verdade. Já podíamos ver a respiração quente ao falar.
  - Uma casa desse porte deve ter algum tipo de gerador. – Zayn se levantou, decidido a resolver aquele problema. – Deve ficar no porão. Vamos dar uma olhada?
  - Claro, porque essa é uma ótima idéia. – Fiquei de pé com um pulo e segurei seu braço. – Zayn, todos os filmes de terror começam com “vamos dar uma olhada no porão”.
  - O que mais podemos fazer? Vamos congelar se continuarmos sem aquecedor. Essa lareira não é tão potente assim. – Liam concordou com o amigo, exagerando na masculinidade. – E se toda a energia foi embora, o sistema de segurança também falhou. Qualquer um vai poder entrar aqui e não vamos nem saber.
  - A não ser que já estejam aqui dentro. – Louis provocou. Senti um arrepio na espinha e não sabia qual das duas opções era a mais assustadora.
  - Acho que sei o caminho para o porão. – Niall se dispôs a acompanhá-los, assim como Haz e Lou. – Nós podemos ir checar e vocês duas ficam aqui, se preferirem.
  - Ótima idéia. – sentou no sofá, se negando a ir em direção ao assassino que os esperava no andar de baixo da casa.
   Zayn beijou meus lábios, me assegurando de que tudo ficaria bem. Logo os cinco passaram pela cozinha, em direção ao quartinho da despensa, onde uma porta escondida no assoalho levaria ao andar de baixo. O lado racional da minha consciência sabia que nada aconteceria a eles ou a nós, mas a parte de mim que era medrosa demais se arrependeu por não ter ido junto com os outros.
  - ... – A menina olhou pra mim. – Já percebeu que estamos aqui sozinhas?
  - Tem razão! Somo um alvo fácil! ESPEREM POR NÓS!
   Assustadas, levantamos do sofá e corremos pelo caminho que vimos nossos amigos seguir. Só paramos ao encarar a escada suspeita e quase totalmente coberta por um breu impenetrável. A cabeça flutuante de Zayn apareceu, iluminada pelo celular. e eu soltamos novos gritinhos de susto e o menino só riu, oferecendo a mão para nos ajudar a descer.
   Chegamos a um corredor de pedra estreito e quente. Ao menos ali embaixo não congelaríamos. Liam, Harry, Niall e Louis estavam espremidos no fundo daquele corredor, encarando uma porta de madeira com atenção. Passei por eles a fim de descobrir o que acontecia.
  - Encontraram o gerador? – Perguntei, ficando apertada entre Li e meu irmão.
  - Achamos que está atrás dessa porta. – Lou iluminava o quadro eletrônico com dez botões numéricos que servia de fechadura para a porta de madeira. – Mas não temos a senha.
  - Os números 1,7,9 e 0 são os mais apagados, não é meio óbvio qual é a senha?! – Niall disse no final da fila.
  - Ainda que tenhamos os quatro números em uma senha de quatro dígitos, há uma quantidade grade de possibilidades. – passou por seu namorado e empurrou os meninos para chegar até onde eu estava. – Temos “n! / (n-4)!” ordens possíveis. Onde 'n' é 4 (o número de dígitos disponíveis). 4!/0! que se torna 4x3x2x1/1, que simplifica em 24.Ou seja, existem 24 possíveis combinações de códigos. Não vamos demorar mais de dois ou três minutos para tentar todos os códigos possíveis.
   Houve um silêncio mortal no corredor, onde todos encaravam boquiabertos, inclusive eu. Começava a desconfiar que o assassino colocara um aliem parasita em seu lugar.
  - É isso aí, eu sou boa em matemática!
– Cruzou os braços, cortando o silêncio e adivinhando o que todos estavam pensando.   - A não ser que o alarme dispare depois de três tentativas, ou bloqueie de vez. – A interrompi antes que começasse a testar as combinações. - Tecnicamente, o código mais provável é 1970. Estatisticamente falando, a maioria das pessoas, quando tem que escolher um código de 4 dígitos irá escolher o seu ano de nascimento. E este teclado é, obviamente, um pouco velho para o resto da casa. Então deve estar aqui há alguns anos.
  - Não, não, não. Não baseie suas deduções de psicologia. Vamos falar de química. Quando você aperta um botão primeiro, há mais óleos naturais na pele e, portanto, ele vai se desgastar mais rápido. Obviamente, 0 é o primeiro. Tente 0791. – tinha um bom palpite.   - Possivelmente, mas não. As pessoas quase sempre vão escolher um número fácil de decorar. O que é memorável em 0791? Vamos tentar 0719 - um aniversário, 19 de julho. – Sorri orgulhosa, porque agora era eu quem recebia olhares espantados.
  - Okay, Sherlock. Muito inteligente. – Harry se apertou para conseguir passar na minha frente. – Mas a luz está verde! A porta já está aberta.
   Empurrou a porta, que abriu facilmente. Bufei, querendo ter pensado nisso antes. O corredor se transformou em um túnel bem iluminado por velas e nenhum de nós tinha qualquer idéia de como elas haviam acendido sozinhas. A não ser que alguém tivesse passado por ali. Procrastinei antes de seguir Harry, que era o primeiro a passar pelo espaço. Fui a segunda e o resto fez uma fila indiana atrás e mim. Ótimo, seria a segunda a morrer! Zayn era o último, então isso daria uma chance a ele de sobreviver. Claro que tentaria me salvar, o que ocasionaria a sua morte de qualquer jeito.
   Todo o medo foi embora quando chegamos ao final do túnel, desembocando em uma área de lazer secreta, no subsolo do chalé. Academia, sauna, sofás, televisão e lareira... Sem falar na belíssima adega.
  - Agora sim é uma festa! – comemorou, abraçando a parede de vidro da adega. – Niall, pegue as taças. Louis, encontre algum CD...
  - Tem uma piscina aqui! – Gritei ao encontrar a entrada para a outra parte da área secreta. – E É AQUECIDA!
  - CUIDADO! – Zayn me atacou pelas costas, me levantando do chão e fingindo que ia me derrubar na piscina com roupa e tudo. – Quase caiu, !
  - Malik! – Ri, me debatendo com um peixe fora d’água até pisar no chão novamente. – Se eu caísse, você ia secar o meu casaco com sopros.
  - Claro que ia. – Irônico, me calou com um beijo. – E até parece que não vai entrar.
  - Vou, mas não com essa roupa. – O soltei quando Liam passou pelas cortinas de pedrinhas pretas e nos entregou taças do vinho que abriu. – Obrigada, Leeyum...
  - Vocês vão subir pra colocar roupa de banho? – O menino deitou em uma espreguiçadeira e abraçou uma almofada felpuda. – Harry e Lou acabaram de ir. Foi tudo um plano deles, aliás. Não faltou energia de verdade.
  - Eu devia desconfiar. – Zayn bebeu metade de seu vinho de uma vez e sentou na cadeira comprida ao lado do amigo. – Não sei se vou entrar...
  - Não parece muito funda, você pode entrar nessa piscina se quiser. – Avisei, tirando o casaco pesado e a primeira blusa.
  - Não é isso, babe. Se eu entrar vou ter que tomar outro ba- EI! O que você está fazendo?! - O que?! Você jogou o meu biquíni pelo terraço, o que queria que eu fizesse? – Fingi inocência, retirando a última blusa e ficando oficialmente de sutiã.
  - Você jogou o biquíni dela pelo terraço? – Liam achou graça, mas olhava pra mim.
  - , para com isso! – Zayn levantou ao me ver abrindo a calça e empurrando-a até os joelhos.
   Estava comportada, porque minha lingerie não era transparente ou reveladora demais. A parte de cima era azul com detalhes em vermelho e a de baixo da mesma cor, apenas um pouco menor que qualquer biquíni em meu guarda-roupa. Zayn ficou vermelho de ciúmes, já que era exatamente aquela cena que tentava evitar ao se livrar do meu top no dia anterior. Esquecemos nossos copos de bebida quando não tive mais pra onde correr e pulei na piscina, impedindo-o de chegar mais perto.
  - Vem também, baby. A água está uma delicia. – O convidei, mas continuou olhando pra mim com o olhar severo. Como se me assustasse. – Liam vai entrar.
  - Liam não vai entrar. – Se achou esperto demais, mas bastou olhar para o nosso amigo (que já se despia) pra mudar de idéia.
  - Sorry, mate. A água parece boa. – Liam também se fazia de inocente ao ficar apenas de boxer e pular ao meu lado, espalhando água pra todos os lados.
  - Agora só falta você! – Abracei Liam, querendo provocar o meu namorado ainda mais.
   Li segurou a minha cintura e mergulhou, me puxando pra baixo junto com ele. O próximo som que escutei veio junto com um movimento de ondas na piscina. Zayn havia entrado e também usava apenas boxers pretas. Quando voltei à superfície, esperava encontrar o meu namorado com cara feia, enciumado. Ao invés disso, sentava no banco imerso e nos olhava. Liam partiu o abraço e sentou ao lado de Zayn. Ali estava eu... Com dois homens lindos de cueca, na minha frente.
  - Se forem começar um ménage, é só avisar que a gente sai. – estava parada perto das espreguiçadeiras, com a garrafa de vinho em mãos. – e seus dois homens, um feliz Halloween de verdade.

    

Chapter LXXVIII

Meu relógio biológico me acordou cedo demais na sexta-feira. Não tinha relógios por perto quando abri os olhos, mas a pouca luminosidade que entrava pela cortina do quarto indicava que ainda era cedo pela manhã. Ao meu lado, Zayn dormia tranqüilo. Sorri sozinha, deixando um pequeno carinho em seus cabelos. Bocejei e soube que se pretendesse voltar a dormir, aquele seria o momento certo. Virei para o outro lado e, em um piscar leve de olhos, notei que nós dois não éramos os únicos na cama.
   Assustada, espantei o sono de vez, encarando Liam e o buraco em minha memória se mostrou presente. Com a respiração acelerada, usei todas as minhas forças pra tentar lembrar da noite anterior e absolutamente nada conseguia explicar a presença dele ali. “Okay, não precisa se desesperar... Liam é seu amigo. E do seu namorado também. É perfeitamente normal que algo tenha acontecido no quarto dele, o obrigando a dormir aqui.” Disse para mim mesma. Temendo pela minha sanidade ao descobrir o resultado, espiei meu corpo embaixo do lençol.
   “POR QUE EU ESTOU PELADA?!” Exclamei dentro da minha cabeça, mantendo os movimentos ao mínimo. O que menos precisava agora era acordar os dois meninos. Depois de ter certeza que eu estava mesmo sem roupas, espiei o lado do lençol onde Zayn dormia de barriga pra baixo. A visão de sua traseira despida em outras ocasiões teria me alegrado. Naquele dia, porém, começou a confirmar que a nossa noite foi um tanto animada demais. Não cheguei a averiguar o estado de Liam e aquela altura não achava que precisava.
   Escondi o rosto nas mãos. Não tinha sinais de ressaca física. Sem náuseas, sem dor de cabeça... Apenas ressaca moral e um blackout completo. Tinha duas opções: A) Zayn, Liam e eu tivemos uma noite quente. B) Zayn e eu tivemos uma noite quente e Liam assistiu. Ambas igualmente preocupantes. No entanto, estava certa de uma coisa: Não queria estar ali quando os dois acordassem. Talvez pudesse fingir que nada aconteceu. Não? É, achei que não.
   Lentamente e fazendo o menor número de movimentos possíveis, escorreguei por baixo do lençol até sair na outra ponta da cama. Engatinhei até a minha mala aberta no chão e tirei de lá uma nova peça íntima (já que a que eu usara na noite anterior sumira de vista), uma blusa qualquer, shorts de algodão e um par de meias. Corri para o banheiro na ponta dos pés. Fiz a minha higiene, molhei o rosto várias vezes e me vesti. Pronta para sair pela segunda porta – que desembocava no corredor -, lembrei que não estávamos em Londres. Apesar do aquecedor interno da casa, o lado de fora ainda estaria frio.
   Descartando a opção de voltar para o quarto e correr o risco de acordar os adormecidos, olhei em volta pelo grande banheiro de madeira. Abri alguns armários até encontrar um roupão comprido e quentinho o suficiente pra me proteger do frio congelador da Suíça. Por fim saí do banheiro e desci as escadas, procurando algum sinal de vida. Eu não podia ser a única pessoa acordada! E não era. Harry já assumira seu posto na cozinha e montava algo bem parecido com pequenos sanduíches.
  - Ovos Benedict? – Haz ofereceu, com cara de sono. – Bom dia.
  - Bom dia. – Forcei, aceitando com a cabeça. Sentei no banco alto do bar americano e apoiei os braços ali. – Tem café?
  - Descafenado ou...?
  - Puro. Por favor. – Pressionei as têmporas, batucando com as unhas no tampo da mesa. – Por falar nisso, Hazza... Você por um acaso lembra o que aconteceu ontem a noite?
  - Você e deram uma de Sherlock Holmes quando eu e Lou tentamos assustar todo mundo. Fui eu quem desligou a energia, por isso tudo desligou. – Colocou o prato com meu café da manhã na minha frente. – Não estava no banheiro de verdade.
  - Não é disso que estou falando. – Levantei o olhar, tentando alcançar o garfo na ponta do balcão. – Quero saber se você lembra o que eu fiz ontem a noite...
  - Você bebeu demais, disso eu sei. – Riu, servindo meu café em uma caneca branca. – Todo mundo bebeu demais. Se está com ressaca moral, devia perguntar à . Ela bebe mais que todos, mas não esquece nada. Se duvidar, lembra até do que aconteceu durante a infância.
  - Acho que está certo. – Dei de ombros.
   Não esqueceria do assunto, mas tentaria comer em paz. Logo deveríamos ir à estação de Ski e precisaria de toda força que conseguisse juntar. Fiz careta ao beber do café. Geralmente não tomava puro, então o sabor era amargo contra a minha língua. Assim como a minha consciência. Harry se sentou à minha frente, comendo com um pouco mais de pressa do que eu. Uma batida na madeira nos fez virar e descobrir Zayn no arco da porta. Parecia descansado e o olhar cheio de dúvidas. Coçou a nuca e sentou no banco ao meu lado.
  - Ovos Benedict? – Harry ofereceu mais uma vez.
  - Só café, por favor. – Mal me olhava ao pedir. Só quando Haz levantou para o servir é que se dirigiu a mim. – Bom dia, ...
  - Dia. – Afirmei, mordendo a cerâmica da caneca.
  - Preciso te perguntar uma coisa... – Apertou os cílios, enrolando pra chegar ao ponto. – Ontem... Você... Uh...
  - Não consigo lembrar! Você lembra? – Pelo visto ele tinha as mesmas dúvidas que eu.
  - Não! Você acha que Liam e eu... Ai, meu Deus. – Precisei rir do seu desespero. Ele estava pensando que passara a noite com Liam! Só Liam. – Eu sou gay?
  - Zayn! – Gargalhei alto, cobrindo o rosto com as mãos. Tão inocente! – Se serve de consolo... Eu estava na cama também. Entre você e Liam. Não acho que algo tenha acontecido entre os dois.
  - Isso é um alivio, eu acho. – Riu leve, segurando a minha mão. Era nosso primeiro toque, então percebi o quão preocupado Zayn realmente estivera antes. – E nós três?
  - É uma possibilidade.
  - Tenho certeza que foi bem legal. – Sorriu, me pegando de surpresa. Como ele conseguia estar tão calmo? – Claro que eu achava que a nossa primeira vez fazendo algo desse tipo envolveria eu, você e outra mulher, mas não vou reclamar.
  - Harry, onde está o café de Zayn? Ele ainda está dormindo. – Descrente, bati no ombro do meu namorado, que continuou com o mesmo sorrisinho de canto.
  - Qual é?! Fo só uma idéia inocente...
  - O que vocês fizeram ontem à noite? – Harry podia ser lerdo, mas começava a captar que algo aconteceu.
  - Nada! – Respondemos ao mesmo tempo.
   Haz ainda parecia interessado, mas Zayn e eu estávamos de acordo que “O que acontece na Suíça, fica na Suíça.” Só precisávamos de uma confirmação da terceira parte do contrato e tudo ficaria bem. Terminamos de comer e tomar as canecas de café. O sono se foi de uma vez e boa parte da ressaca moral. Agora a maior parte de mim já aceitava o veredicto da noite anterior e essa mesma parte tinha raiva. Raiva por não conseguir lembrar de nada.
  - Onde estão os outros? – Curly parecia uma mãe preocupada com a hora dos filhos saírem para a escola. – Temos que sair para a estação em uma hora!
  - Vou acordar e Niall e Zayn cuida de Liam e Lou. – Decidi, me colocando de pé.
  - ... Espera! – Tentei fugir, mas Zayn veio logo atrás. – O que eu falo pra Liam?
  - Bom dia! E pergunte se ele lembra de ontem. – Dei batidinhas consoladoras em seu ombro. – E peça detalhes.

  

  

+++

     

O lado de fora do chalé estava ensolarado e os raios batiam sobre a neve branca da montanha. A estação de Ski de Zermatt ficava na metade de uma colina nevada, com pequenas casinhas de madeira e uma área cercada e segura para esquiadores de primeira viagem. Subimos até lá em um teleférico fechado, o que nos protegia do vento frio. Cada um se equipara com roupas quentes, luvas e etc, mas deixamos os equipamentos em casa. A estação já se responsabilizaria por nos conseguir novos, além de analisar cada pessoa levando em conta o seu peso e altura; coisa que eu só conseguiria decidir por mim.
   Estávamos dentro da casinha de aluguel, onde esperávamos o instrutor. era de longe a mais nervosa. Podia ser inglesa, mas o mais perto de já chegou de esportes de inverno era a patinação. Harry e Lou testavam óculos protetores, pois possuíam uma noção melhor que os outros. Niall e Zayn conversavam sobre skates e Liam só escutava tudo. Para alivio geral, ou não, Liam também não conseguia lembrar nada sobre a noite anterior. Dizia ter apenas flashes de vez em quando, mas nada concreto.
  - Bom dia. – Um homem que aparentava estar no meio dos trinta anos surgiu atrás de um balcão de madeira, onde seu amigo (o primeiro que nos atendeu e pediu pra esperar por ali) desaparecera. – São vocês que terão aula hoje?
  - Os seis! – Me excluí do pacote. – Tenho prática em esqui.
  - Eu também tenho! – Louis tentou, mas nem o instrutor acreditou nele.
  - Serei o seu professor durante as próximas duas horas e meia. – O homem passou por baixo do balcão e falava com meus amigos. – Me chamo Adrian, aliás.
  - Zayn.
  - Niall.
  - Liam.
  - Sou Harry e esse é Louis.
  - A ruiva escondida ali atrás é . – Denunciei o esconderijo da minha amiga e recebi um olhar feio. – Sou , mas acho que você não vai se lembrar...
  - Vamos com calma. Logo decoro todos os nomes. – Adrian riu com um forte sotaque alemão. – Mark, venha me ajudar aqui!
   O grito de Adrien soou estridente. Não necessariamente zangado, apenas alto. O mais próximo dele era Harry, por isso foi o primeiro a ser atendido. O instrutor caminhou pela loja, retirando das paredes pares de esquis e bastões. O tal de Mark também apareceu por trás do balcão. Eu não daria mais de vinte anos pra ele, com sua pele branca, bochechas rosadas e olhos azuis. Quando seu olhar parou sobre mim percebi que o encarava por tempo demais. Sem saber como reagir e ligeiramente sem graça, olhei para o teto. Ele não me era estranho!
   Mark ajudou a escolher os equipamentos de Niall e enquanto Liam e Lou eram auxiliados pelo outro. Zayn era o que faltava, mas já experimentava botas para o seu tamanho.
  - Você não precisa de aulas, não é? – Adrien me perguntou. Era seu trabalho deixar todos os clientes satisfeitos, ainda que não fosse ensinar a algum deles.
  - Só se for instrutor de Snowboard também. – Dei de ombros, pensando no assunto pela primeira vez. – Gostaria de aprender.
  - Desculpe. – Adrien colocou as mãos na cintura e inclinou a cabeça. Realmente sentia muito.
  - Eu posso ensiná-la... – Mark regulava o capacete da minha amiga; a qual suspirava a cada cinco minutos, diga-se de passagem. – Não sou professor, mas acho que consigo ensinar alguma coisa.
  - Se não é professor, não deve ser qualificado pra isso. – Liam negou antes que Zayn pudesse fazê-lo.
  - Pelo contrário... Mark é a pessoa mais qualificada que eu conheço. – Adrien abriu um sorrisinho companheiro e desejei mais do que nunca lembrar de onde o conhecia!
  - Sou o melhor do mundo. – O de olhos azuis se gabou, mas não soava convencido.
  - Alguém aqui se acha. – Zayn parou ao meu lado, comentando baixo e nada feliz com aquilo.
  - Não, ele está certo... – O interrompi, dando mais um passo na direção do menino. – Eu sei quem você é! Posso perguntar o seu sobrenome?
  - McMorris.
  - Mark McMorris! Eu sabia! – Ri, animada. Finalmente consegui conectar as minhas lembranças ao rosto do menino. Meus amigos me encaravam como se fosse um ET, mas Mark sorria em confirmação. – Não se lembram dele?! Por favor, não posso ser a única! Mark é o melhor do mundo... Em Slopestyle e Big Air. Competidor olímpico?
  - Não sabia que a Suíça era tão forte em esportes de inverno. – Niall era o mais entendido de esportes.
  - Ele é do Canadá. – Esclareci e o sorriso de Mark aumentou. Ainda não era um sorriso pretensioso. Ele realmente estava feliz em ser reconhecido.
  - Acho que quero aprender Snowboard também. Não deve ser muito diferente de esquiar. – Zayn me abraçou pelo pescoço, praticamente me puxando pra longe de Mark.
  - Eu não recomendaria. – Adrien já escolhia skis para ele. – Se nunca praticou nada na neve, deveria começar pelo mais fácil. Só estou a deixando aprender Snowboard porque já sabe esquiar.
  - Se quiser, pode voltar amanhã e eu te ensino também. – Mark ofereceu e Zayn semicerrou os olhos no estilo: “você não me engana”.
   Quinze minutos depois, todos estavam equipados com esquis ou pranchas de snowboard, capacetes, óculos e prontos para começar suas devidas aulas. Para a felicidade de Zayn, não sairíamos de seu campo de visão, já que todas as aulas aconteceriam na área delimitada pelas cercas de proteção. Os seis esquiadores mais o professor foram para um lado e Mark e eu para o outro, para que nenhum grupo atrapalhasse o outro. Sentei na neve, onde Mark me ensinou a prender as minhas botas na prancha e ainda adicionou ao pacote algumas informações sobre a diferença entre os dois esportes.
  - Consegue levantar sozinha? – Mark ofereceu a mão, mas me esforcei pra ficar de pé sem ajuda.
  - Acho que sim... – Ergui o corpo, mantendo as costas eretas. – Agora tenho certeza.
  - Você é destra ou canhota, ?
  - Olha só, você lembra o meu nome! – Sorri, esquecendo momentaneamente qual era a pergunta. – E sou destra.
  - Então você vai ficar de frente para a esquerda, pra que seu pé direito mostre o caminho. – Explicou e fiz o que mandou. – E como esqueceria o nome da única pessoa que lembrava o meu?
   Sorri e assisti enquanto Mark prendia a própria prancha nas botas. Com mais facilidade que eu, ficou de pé. Não sei se era canhoto, mas se posicionou de frente pra mim. Seu trabalho era andar ali em cima, portanto acredito que chegou a um ponto em que mal importava o pé que estivesse na frente. Em poucos segundos começou a deslizar devagar pela montanha pouco inclinada.
  - Você só precisa colocar um pouco de pressão no seu pé principal e a gravidade cuida do resto. Faça de conta que está pisando em uma barata! Não precisa inclinar o corpo pra frente como no Ski.
  - E os joelhos? – Fiz o que Mark pediu e comecei a escorregar. Não era rápida, mas o profissional também não. – Ops, deixa pra lá. Se não dobrar os joelhos, perco o equilíbrio.
  - Você é uma boa aluna. – Tá aí uma coisa que nunca escutei no colégio. – Deu pra sentir um pouco como a prancha funciona? Parece que está surfando, não?
  - Achei que fosse mais difícil. – Coloquei um pouco mais de pressão no pé direito e ganhei velocidade.
  - Calma, ainda estamos no começo. – Sorriu de lado, me subestimando. – Vamos tentar uma coisa nova. Fazer curvas!
   Facilmente ganhou mais velocidade do que eu e passou na minha frente. Logo estava serpenteando pela neve, indo de um lado para o outro. Já eu... Apenas seguia em linha reta. Entendi o que ele quis dizer e procurei prestar atenção nos seus pés. Talvez descobrisse como fazer aquilo! Talvez sim! Adicionei pressão no pé direito mais uma vez e mexi o quadril para o lado que queria ir. Talvez não. Fui ao chão e capotei, girando em volta do meu próprio corpo. Usei os braços pra me proteger, mas comi neve.
  - Você está bem?! – Mark se preocupou e parou onde estava.
  - Meu orgulho está ferido, mas fora isso tudo bem! – Minha roupa agora estava coberta por partículas de neve, assim como meu cabelo. – Me espera aí embaixo!
  - O segredo é colocar o corpo pra trás ou pra frente, não mexer o quadril! Isso é Snowboard, não golfe. Use a ponta dos dedos ou o calcanhar pra mostrar à prancha onde está indo.
  - Ajudaria se falasse isso antes! – Reclamei.
   Levantei e comecei a descer de novo. Após algumas tentativas, peguei o jeito. Já conseguia serpentear como Mark fizera momentos antes. Comemorei atirando os braços para cima e gritando como uma criancinha. Atrás de mim, os meninos começavam a deslizar também, então repetiram meus gritos. “Isso é divertido!”

  

  

+++

  

  “E então... Já decidiu? Posso arrumar o quarto de hospedes pra você?”
  “Nicky! Você prometeu não ficar insistindo. Eu disse que aviso quando souber! Ainda tenho... Dois dias!”
  “Dois dias passam rápido! Sei que vai fazer a coisa certa. Em outro assunto... Como está tudo na Suíça?”
  “Gelado!”

  

Quando mandei a primeira mensagem para Nick, pensava em conversar com ele sobre assuntos do casamento e perguntar se Holly precisava de ajuda em alguma coisa. Minha mãe guardava um caderno com fotos, números de telefone, enfeites e essas coisas depois de seu último casamento, então pensei em oferecê-lo para os novos noivos. Poderia ser útil! Mas foi só começar a falar sobre a minha decisão que toda vontade foi embora.
  - ? – Louis colocou a cabeça para dentro do quarto. – Zayn disse pra vir aqui te ver...
  - Sim, eu queria falar com você! – Bati no espaço vazio na cama ao meu lado. Guardei o celular no bolso do cardigan e esperei ele se jogar na minha frente. – Na verdade, te mostrar uma coisa.
  - O que é? – Apoiou o cotovelo na cama e o rosto na mão em punho.
  - Eu escrevi uma coisa há alguns meses e queria saber se você sabe tocar. – Tirei um caderno debaixo do meu travesseiro. – Não é nada demais... Ed me ajudou a terminar a letra e criou a melodia.
  - Uau... – Sentou na cama ao pegar o caderno pra ler a página marcada. – ... Isso não é qualquer coisa. É uma boa letra.
  - Acha mesmo? – Abracei os joelhos. – Consegue tocar?
  - Consigo. – Afirmou, ainda lendo minha humilde criação. – Temos que mostrar para os outros...
  - Isso! E Harry podia cantar. – Concordei com um sorriso.
  - A voz dele é muito rouca pra essa letra. – Era papo furado. – Sinto muito, você terá que cantar.
  - Mas eu não canto bem!
  - Eu e todo mundo que estava na cafeteria quando você cantou Ed podemos confirmar o contrário. – Levantou, seguindo para a porta. – E não precisa ser uma boa cantora, estamos entre amigos.
  - Lou- ESPERA!
  - REUNIÃO NA SALA! – Louis colocou meu caderno embaixo do braço e bateu palmas que ecoaram pelas paredes de vidro. – E EU TEMOS ALGO PRA MOSTRAR!
   Então era oficial! Eu teria que cantar aquela música e sinceramente não achava que houvesse uma oportunidade melhor. Estávamos cercados por uma paisagem belíssima e entre amigos. O melhor? Há dois dias os meninos eram apenas eles mesmos. Não havia paparazzis por perto e praticamente ninguém sabia que estávamos na Suíça. Foi uma escapada merecida e necessária. Segui meu irmão escada abaixo, até que ele se sentou no banco do piano ao canto da sala e parei de pé ao seu lado. Abriu o caderno na bandeja do instrumento e testou as teclas.
  - É melhor que seja algo bom! Eu estava prestes a entrar na banheira! – pulava os degraus de dois em dois.
  - Pode ir tomar banho, você está fedendo. – Brinquei e ela me mostrou o dedo do meio.
   Harry e Liam estavam na varanda, mas entraram assim que viram movimentos na sala. Momentos depois, Niall e Zayn também desceram as escadas. Puxaram o sofá e o colocaram de frente para o piano. Meu namorado era o mais animado, porque conhecia o caderno que Louis mexia. Sempre que ele tirava um tempo para escrever novas músicas ou revisar antigas, eu gostava de fazer o mesmo. Ainda que levasse mais tempo que ele.
  - Preparem-se pra ficar... Impressionados. Maravilhados. Inspirados-
  - Louis. – O parei. Se desse corda, nunca pararia de falar. – Pra resumir... Escrevi uma coisa... Uma música. E por isso pedi a ajuda do Tommo pra mostrar a vocês. Gostaria de dedicar à uma pessoa, mas a letra já é auto-explicativa.
  - É pra mim, claro. – fez sinal de coração com as mãos.
   Os meninos fizeram “shh” ao mesmo, mandando-a calar a boca. não se importou e simplesmente se acomodou no sofá para assistir a pequena apresentação. Pisei no banco de Louis para pegar impulso e sentei sobre a caixa do piano, como cantoras famosas fazem em vídeo clipes ou shows acústicos. Meu irmão me olhou como se precisasse de confirmação e balancei a cabeça pra que pudesse começar.
  

cNobody sees, nobody knows. We are a secret can't be exposed.
  (Ninguém vê, ninguém sabe. Nós somos um segredo que não pode ser exposto)
  That's how it is, that's how it goes…
  (É assim que é, é assim que acontece)
  Far from the others, close to each other.
  (Longe dos outros, perto um to outro)
  In the daylight, in the daylight, when the sun is shining.
  (Na luz do dia, na luz do dia, quando o sol está brilhando)
  On the late night, on the late night, when the moon is blinding.
  (Tarde da noite, tarde da noite, quando a lua está cegando)
  In the plain sight, plain sight, like stars in hiding…
  (Na vista de todos, na vista de todos, como estrelas se escondendo)
  You and I burn on.
  (Você e eu queimamos)

   Comecei a cantar e as mãos ágeis de Louis deslizavam pelas teclas do piano preto. A música era o único som em um raio de vários quilômetros. Encarava as minhas próprias mãos em meu colo, temia levantar o olhar e encontrar nada além de reprovação. Sabia que era impossível, mas não controlava meu lado inseguro. Esse lado falava mais alto quando estava entre meus amigos, por mais estranho que isso seja. Porque eles eram verdadeiramente os únicos que poderiam me magoar; os únicos pra quem eu me abria.
  
Put two and together, forever will never change.
  (Coloque dois juntos, pra sempre nunca vão mudar)
  Two and together we’ll never change.
  (Dois, e juntos nunca vamos mudar)
  Nobody sees, nobody knows. We are a secret, can't be exposed.
  (Ninguém vê, ninguém sabe. Somos um segredo que nçao pode ser exposto)
  That's how it is, that's how it goes, far from the others, close to each other.
  (É assim que é, é assim que acontece, longe dos outros, perto um do outro)
  That's when we uncover, cover, cover…
  (É aí que nos revelamos, revelamos, revelamos)

   Ergui o rosto e Zayn foi o primeiro que encontrei. Ele sorria de leve e seus olhos mostravam orgulho. Não do tipo impressionado, mas falava “eu sempre soube que poderia esperar algo assim de você”. Ele sabia que a música era pra ele. E também para Louis e Harry. Assim como pra qualquer pessoa nesse mundo tão grande que fosse obrigado a esconder o seu amor. Logo uma coisa tão pura quanto o amor!
  
My asylum is in your arms.
  (Meu refúgio é nos seus braços)
  When the world gives heavy burdens, I can bear a thousand times.
  (Quando o mundo dá fardos pesados, consigo aguentar mil vezes)
  On your shoulder, on your shoulder…
  (Nos seus ombros, nos seus ombros)
  I can reach an endless sky.
  (Posso alcançar um céu infinito)
  Feels like paradise.
  (Parece o paraíso)

   já chorava e sorri pra ela. Ao seu lado, Haz parecia estar no mesmo estado. Já não tinha mais vergonha ou insegurança. Louis me olhava vez ou outra, com seu sorriso de irmão mais velho no rosto. Liam parecia perdido nos próprios pensamentos. Quis ir até ele e segurar a sua mão, mas o que falaria? Ao invés disso, mantive nosso olhar conectado até Niall abraçá-lo de forma exagerada.
  
We could build a universe right here.
  (Poderíamos construir um universo bem aqui)
  All the world could disappear.
  (O mundo podia desaparecer)
  Wouldn't notice, wouldn't care…
  (Não notaria, não me importaria)
  We can build a universe right here.   (Podemos construir um universo bem aqui)
  The world could disappear.
  (O mundo pode desaparecer)
  I just need you near…
  (Eu só preciso de você perto)

   Eu tinha pessoas queridas que me amavam tanto quanto eu as amava. Senti um aperto tremendo no coração, o que fez a minha voz tremer e pequenas lagrimas se formaram em meus olhos. Comecei a chorar. Chorei porque sabia que precisava fazer uma escolha logo. Provavelmente a maior de toda a minha vida... E temia já saber a resposta para a pergunta de Nick. Lou interrompeu a música e olhou pra trás, em dúvida. Ninguém se mexeu, me dando aquele tempo pra eu tirar tudo do meu sistema.
   Até que Zayn levantou do sofá e me ajudou a descer do piano. Me abraçou com força e me senti protegida. Ao mesmo tempo, era frustrante não poder conversar com ele sobre aquele assunto. Doía não poder colocar tudo pra fora, desabafar com o meu melhor amigo. Só o que podia fazer era chorar em silêncio.
  - Por que está chorando, babe? – Alisava meus cabelos, beijando o topo da minha cabeça.   - Porque eu te amo demais...

    

Chapter LXXIX

- Não acredito que já vamos embora amanhã. – Niall caminhava atrás de Zayn e eu.
  - Não acredito que ainda não consigo esquiar sem cair! – Harry resmungou, logo atrás.
  - Não acredito que ainda estamos andando! – completou a lista de queixas.
  - Vocês nunca param de reclamar?! – Liam estava na frente da trilha e guiava nosso caminho. – Niall, se ficássemos mais, Pablo teria um ataque. Harry, você aprenderia a esquiar se não fosse tão desatento e parasse de brincar na neve enquanto o instrutor explicava. , sim, ainda estamos andando! E vamos andar até chegar no lugar do acampamento.
  - Acampamento?! – A menina parou de andar. – ! Você me falou que íamos patinar!
  - Não... Eu disse “acampar”. – Menti, sem parar de andar. – Mas as palavras são parecidas, então entendo a sua confusão.
  - Porque estaríamos levando mochilas se só fossemos patinar? – Zayn era meu cúmplice no assunto.
  - Eu não trouxe roupas!
  - Estão na sua mochila, eu mesma arrumei. – Queria tranqüilizá-la, mas é de que estamos falando.
  - E meus cremes?! Como vou dormir sem os meus cremes? – Deduzi que seu namorado a obrigou a voltar a andar.
   Niall estava certo, aquele seria o nosso último dia completo na Suíça. Partiríamos durante a tarde do dia seguinte, então, tecnicamente, deveríamos aproveitar o último pôr do Sol nos Alpes. Nada melhor do que se aventurar por uma floresta desconhecida em busca de um lago semi congelado em uma planície deserta com seus melhores amigos. Menti para porque aquele programa não parecia ser muito a sua praia e o resto de nós queria acampar!
   Liam continuou indo em frente e quase sumiu de nosso campo de visão. Todos carregavam mochilas com mantimentos e etc, mas ele era o mais rápido. O chão estava coberto de neve, nada que deixasse nossa caminhada impossível. Passarinhos que se aventuravam pela floresta piavam em uma só nota musical. No horizonte, Zayn foi o primeiro a notar Liam acenando. Pelo visto, estávamos mesmo perto! Começamos a andar em um ritmo mais acelerado até chegar à praia. Ao invés de areia fofa, grama baixa com montes de neve aqui e ali, misturada com pinhas. Substituindo o mar, um rio escuro e nada acolhedor.
  - Olha a montanha... – Harry passou por nós, escolhendo um ponto no chão para largar a mochila que trazia nas costas.
  - Se chama Matterhorn. – esclareceu. – Li uma coisa muito legal no meu livrinho... Ah, não! Deixei o livrinho em casa. Vamos ter que voltar.
  - Fique a vontade, o caminho é por ali. – Louis apontou de vota para a floresta.
   Puxei minha amiga pela mão, mais por medo de ficar sem irmão do que por acreditar que ela fosse voltar para o chalé por causa de um livrinho turístico. Deixamos as nossas mochilas próximas à de Harry. Uns meninos começavam a se espreguiçar enquanto outros admiravam a bela montanha na nossa frente.
  - Alguém sabe se há ursos na Suíça? – Liam perguntou.
  - Li, não começa. – Louis começava a abrir cadeiras dobráveis que encontramos na casa. Eram leves e seguras. – Onde montamos o acampamento?
  - Acho que aqui está bom. – Zayn chutava algumas pinhas, tirando-as do caminho.
  - Eu te ajudo com isso. – Lou agora imitava meu namorado.
  - Tudo bem. Se a gente vai mesmo ter que acampar, pelo menos me digam onde é o banheiro? Estou apertada. – A ruiva cruzou os braços, olhando a expressão curiosa de cada um.
  - Não tem banheiro, . – Rolei os olhos.
  - E onde eu devo fazer xixi?! Na moita? – Riu da piada, mas foi a única. – Eu estava brincando, não me olhem assim! Sério, deve haver ao menos um banheiro químico por aqui. Com privada, pia e, se der sorte, um chuveiro elétrico.
  - Sem privada, sem pia e sem chuveiro. – Niall destruiu os sonhos da menina.
  - Mas trouxemos papel higiênico. – Zayn se abaixou perto da própria mochila e tirou de lá um rolo novinho de papel. O jogou para , que segurou incerta.
  - Tente não usar uma moita muito perto daqui, não queremos ficar cheirando essas coisas. – Louis fazia careta.
  - Aliás, vale lembrar que quando alguém for fazer o número dois, precisa cavar um buraco no chão primeiro. E depois que acabar, cobrir com terra. – Liam explicou. De longe era o que mais entendia do assunto.
  - Cuidado com os ursos. – Lou piscou para .
   A menina parecia querer chorar. Demorou mais alguns segundos para entender que falávamos sério. Sim, seria terrível ter que fazer as necessidades no chão (especialmente por sermos garotas e a floresta estar gelada), mas era parte da aventura! se foi e fiquei sozinha com os meninos.
  - Muito bem, vamos começar a dividir as tarefas. – Disse, olhando para o espaço que tínhamos. – Somos seis. Duas pessoas podem pegar madeira pra acender a fogueira e o resto começa a montar as barracas.
  - Acho que vi alguns galhos secos na entrada da floresta. – Zayn apontou para a direção, virando a aba do boné para trás.
  - Eu te ajudo, mate. – Lou se ofereceu. – Pra ser sincero, quando estamos montado as barracas, eu sou daqueles que finge estar ocupado o tempo inteiro...
  - As instruções estão em sueco... – Liam separava as coisas da primeira barraca. Claro que ele procuraria ler o manual!
  - Não precisamos de instruções, Liam! – Harry ordenou. Ele e Niall montariam a mesma barraca, porque aparentemente era um trabalho difícil demais pra ser feito por uma pessoa só.
   “Meninos.” Balancei a cabeça de um lado para o outro, sem conseguir tirar o sorriso do rosto. Abri a bolsa da minha própria barraca e vários pedaços finos e compridos de ferro caíram aos meus pés. “Ótimo começo, .” Não me atrevi a tocar no manual, ao invés disso, procurei começar por onde já conhecia; encaixando os pedaços de ferro até que fossem um grande graveto só. Em questão de cinco minutos, - e depois de muitos “acho que essa coisa vai naquela” e “o que fazemos com isso?!” - Liam estava admirando seu trabalho perfeito e Harry quase caía ao se enrolar no tecido da barraca.
  - Como ele fez isso? – Niall perguntou boquiaberto.
  - Aqui está! – Li cutucava a barraca pra testar sua segurança. – Eu arrasei.
  - Pode me dar uma ajuda aqui, agora. – O chamei antes que fosse socorrer os dois patetas.   - Nada mal, chatinha. – Sorriu. Eu já estava acostumada com aquele apelido e o considerava fofo. – A gente só precisa passar esses aros pelas argolas e prender no chão...
   Eu bem que tentei ajudá-lo, mas Liam foi mais rápido e terminou o serviço em tempo recorde. Em seguida, correu para ajudar Niall e Harry. Zayn e Louis também retornavam com vários pedaços de madeira, uns maiores que os outros. Para me ocupar e mostrar serviço, terminei de armar as cadeiras e as arrumei em volta do lugar onde acenderíamos a fogueira.
  - Isso é legal... Parece a última vez em que acampamos juntos. – Sentei em uma das cadeiras, abaixando a cabeça quando Zayn passou com um tronco grosso que poderia potencialmente ter me atingido.
  - Nós nunca acampamos. – finalmente saiu da floresta e devolveu o papel higiênico.
  - Nós já... Você não. – Zayn a corrigiu, indo buscar outro tronco ali perto.
  - O que?! Quando?! Saíram escondidos?! Onde?!
  - No V-Fest. Quando você e o pudincup estavam separados. – Liam terminou com as barracas e foi ajudar com a fogueira. – Mas lá as coisas eram mais simples... E não estávamos sozinhos.
   sentou ao meu lado e Lou ocupou outra cadeira, relaxando enquanto os amigos trabalhavam duro. O Sol ainda estava alto, marcando a metade da tarde, e brilhava contra a água calma do rio negro.
  - Vamos fazer a fogueira como uma tenda? – Li pediu como uma criança e os meninos juntaram os troncos na diagonal, formando uma pirâmide.
  - Esqueça o que aprendeu com os escoteiros, Payno. Faremos isso do jeito Tommo. – Lou levantou e pegou outro tronco um tanto pesado e, ao invés de colocar junto aos outros com cuidado, o soltou de qualquer jeito.
   A fogueira foi ao chão, quase atingindo e eu. Explodimos em risadas e Louis não deu o braço a torcer.
  - Louis, you idiot! – Zayn gargalhava.
  - Pronto, agora acendemos assim. – Lou deu de ombros, também rindo.
  - Alguém trouxe um isqueiro? – Niall checou os bolsos e ninguém o interrompeu. – Mais alguém? Ótimo.
  - Como vamos acender o fogo agora? – Harry se desesperou e sentou na grama.
  - Calma, Styles. A está aqui. – Lou deu batidinhas em meu ombro, do tipo “levanta daí e faz alguma coisa”.
  - Você quer dizer que ela é quente, então consegue acender uma fogueira? – cruzou os braços.
  - Nah. Ele quer dizer que eu sei acender uma fogueira sem uma chama inicial. – Levantei, rodeando a fogueira e procurando o que eu precisava.
  - Como?! – Niall era o mais chocado.
  - Bem... Alguns anos atrás, eu fiquei viciada em Survivor e I’m A Celebrity Get Me Out Of Here. Então aprendi a montar fogueiras no quintal de casa. – Esclareci que não era nenhuma mulher das cavernas.
  - Nana não ficou nada feliz com isso.
   A verdade é que nana não gostou de eu ter queimado um lençol que estava no varal e ter infestado os outros com cheiro de fumaça e cinzas. Fiquei de joelhos no chão, tocando a madeira para checar se estavam secas. Troncos úmidos só me atrapalhariam. Em seguida, escolhi um pedaço de madeira partido ao meio, que seria a minha base. Ergui o olhar e encontrei o de todos os outros.
  - Vocês vão mesmo ficar me olhando?! – Franzi o cenho e concordaram que sim. Bufei. – Harry, me passa essa faca aí no bolso da mochila...
  - Sim, senhora. – Girou algumas vezes sem sair do lugar até encontrar a tal faca. – Cuidado, é afiada...
  - É pra ser. – A recebi com cuidado e bati no centro da madeira base. Fiz um pequeno buraco e o modelei para formar um V. – Preciso que alguém segure isso aqui pra mim...
  - Eu ajudo! – O mesmo menino se ofereceu.
  - Você não, bobão, vai se queimar! Zayn?
   Meu namorado se aproximou, feliz em poder ajudar. Se ajoelhou no chão e segurou o punhado de grama seca que o entreguei. No centro da fogueira, montei um pequeno ninho com mais grama, folhas secas e pequenos gravetos. Escolhi outro graveto mais forte e encaixei a ponta no buraco que fiz com a faca. Aproximei a mão de Zayn da base e ele não se mexeu. Segurei o meu graveto com ambas as palmas e comecei um movimento de fricção. Não parei até que uma fumaça começasse a subir, assim como pequenas faíscas. Zayn aproximou o tufo de mato até que uma chama bem pequena se acendesse. A protegi de ventos maiores com as mãos e o ajudei a colocar dentro no ninho no centro da fogueira. Assoprei gentilmente e mexi devagar, até que se espalhasse.
  - E voilá. – Sorri ao receber palmas pelo bom trabalho.

  

  

+++

  

  - , onde você está indo? – Zayn resmungou quando saí de seu colo.
  - Assegurar o nosso jantar. – Ergui seu rosto e juntei nossos lábios.
   Saí correndo em direção ao lago. Ali, em cima de algumas pedras compridas, Liam pescava sozinho. Eu não tinha intenção apenas de checar a pescaria e o que teríamos pra comer. Também queria fazer companhia ao menino. Aquela era uma viagem romântica, onde ele estava cercado vinte e quatro horas por casais. No entanto, estava sozinho (exceto na noite de Halloween, mas isso não conta). Não tinha ninguém esperando por ele em Londres, não tinha uma namorada.
  - Como está a água? – Perguntei enquanto pulava pedras menores para tentar chegar a ele sem cair. – Muitos peixes?
  - Consegui um! – Apontou para o balde branco no centro da pedra. – Quer ajuda aí?
  - Estou bem... – Saltei uma última vez, pousando com um barulho alto. – Viu? Sou a suavidade em pessoa
  - Quer segurar? – Ofereceu a vara de pescar improvisada com um sorriso verdadeiro.
  - Estou bem só olhando. – Cruzei os braços pra diminuir o frio. – O que você fez antes... Com as barracas. Foi bem legal.
  - Posso não ser bom em matemática, geografia... Mas sou inteligente de outro jeito.
  - Você é inteligente de todos os jeitos, Baba. – Passei por baixo de seu braço, o abraçando pela cintura.
   Senti que Liam ficou rígido, beirando a tensão. Sua respiração pesou. Mas, assim que o olhei com um sorriso, desmanchou em meus braços. Me envolveu com o braço livre e sua mão alisava a minha pele da bochecha.
  - Você é como um filhote, sabia? – Ri, mordendo sua bochecha.
  - Outch, heeeeey. – Reclamou sem parar de sorrir de orelha a orelha. – E você...
  - E eu o que?! – Ergui o rosto, curiosa.
  - É linda. – Beijou a ponta do meu nariz. Sei que fiquei ruborizada e pouco me importei.
  - Era pra estar balançando assim? – Apontei para a vara de pescar que tremia na ponta. – LIAM PEGOU OUTRO!
   Avisei para os outros que continuavam no acampamento. Harry era o mais próximo e fazia pedras quicarem na superfície da água. Largou as que ainda segurava e saiu correndo na nossa direção. Liam manejava a vara, puxando e soltando para cansar o peixe. Haz balançou os meus ombros em comemoração e praticamente me empurrou para fora do caminho.
  - Woooooohoooooo. – Harry gritou, ajudando Liam a puxar a linha de nylon onde o anzol estava preso; assim como o peixe.
  - Olha como é- AAAAHHHH. – Li tentou segurar o jantar, mas escorregou de sua mão.
  - AAAAAAAAHHHH. – Harry também gritou. Tamanho foi o susto que correu.
  - HARRY, CUIDADO!
   Gritei, mas não deu tempo de evitar o acidente. Os dois molengas se assustaram com o peixe que escapulia e pulava em busca da sua liberdade. Harry era um gigante estabanado que mais uma vez esquecia as proporções do próprio corpo. Ao correr de um peixinho inocente, tropeçou nas próprias botas e chutou o balde branco; o que continha água e o primeiro peixe pescado que logo encontrou sua liberdade mais uma vez. Abanou os braços em busca de equilíbrio e a mão foi em direção ao anzol.
  - AU AU AU... ESTÁ NO MEU DEDO! – Harry gritava. – LIAM, A CULPA É SUA!
  - Fica quieto! – Segurei seu pulso pra que parasse de se mexer e arranquei o anzol com cuidado. Gotas de sangue escorriam. – Você não vai morrer, foi só um cortezinho. Vou cuidar dele pra você.
  - E o nosso jantar? – Liam fez um bico enorme.
  - Teremos que nos contentar com a sopa. – Dei de ombros e limpei o sangue que restou em meus lábios depois que Harry pediu um beijo no machucado. – Mas, francamente, quem esperava que fosse limpar esses peixes?
  - ? – Não podia estar mais enganado. – Cadê o anzol? Opa, Harry, não se mexe.
  - O que você fez agora, Payno? – O outro menino olhou pra trás. O anzol estava enganchado no bolso de seu jeans. – Minha bunda está na linha!
  - Idiotas. – Ri alto, pulando o caminho de volta para a grama. – Venham logo! Temos que começar essa sopa, estou com fome.
   Nunca duvidei das habilidades de pescaria de Liam, mas sim da quantidade de peixes que pudesse viver naquele lago. Portanto, antes mesmo de pensar em ir atrás dele na pedra, montei o nosso pequeno fogão a lenha, que consistia em dois galhos fincados verticalmente na terra, segurando um outro galho na horizontal, onde prendi a alça da panela de pedra que pegamos emprestada no chalé. Zayn continuava no mesmo lugar em que eu o deixara antes e colocou a minha cadeira mais perto da sua antes que eu me sentasse.
   Como Zayn estava na ponta, a sequência de pessoas sentadas ficou organizada da seguinte forma: Zayn, eu, Niall, , Harry, Louis e Liam na ponta seguinte. Harry mantinha seu posto de Chef e preparava a nossa sopa. Já que deixei a água esquentando, àquela altura já era possível jogar os legumes e outros ingredientes para que descongelassem. Todo inverno tende a ter os dias mais curtos, então logo estaríamos em um breu completo. O Sol se punha atrás de nós, escondido pelas árvores altas e montanhas que ladeavam o vale.
  - O cheiro está maravilhoso, Harry. – Niall sorriu, mas não era sincero.
  - Ele está fazendo o melhor que pode, ok? – Lou defendeu o namorado. Pegou a mochila e a colocou sobre o colo, abriu e tirou de lá vários cobertores individuais de lã; os quais distribuiu entre todos.
  - Sei disso. É só que... Não podemos pedir uma pizza?
  - Claro, porque alguém estaria disposto a entregar uma pizza aqui! – A cadeira em que estava sentada não era muito grande, mas me cabia confortavelmente. Eu estava praticamente deitada nela e com os pés apoiados em um tronco de madeira próximo à fogueira. Não derreteria as minhas botas, mas aquecia meus dedinhos. – Baba, trouxe aquilo que eu pedi?
  - Quase esqueci!
   Liam levantou da cadeira e correu para dentro de sua barraca, onde guardava suas coisas. Zayn me olhava com curiosidade e só pisquei como resposta. Me enrolei completamente no cobertor que ganhei do meu irmão e puxei o gorro até as orelhas. Poderia congelar a qualquer minuto. A noite chegou com tudo assim que qualquer vestígio do Sol foi embora do céu alaranjado.
  - Pra você... E pra você... – Liam carregava um pote de plástico com tampa e na outra mão um conjunto de palitos finos de madeira. – ... Zaynie...
  - Zaynie? – levantou a cabeça, se segurando pra não rir.
  - Você contou a ele?! – Zayn cutucou o meu braço com o cotovelo, sem intenção de me machucar. – Vai ver só!
  - É um apelido fofo... – Ri, puxando-o para dar um beijo em sua bochecha.
  - Marshmallows! – Niall exclamou em felicidade.
  - Não só marshmallows... S’mores! – O corrigi.
   Dentro do pote de plástico de Liam haviam marshmallows, biscoitos e quadradinhos de chocolate. Ele foi passando o pote para que cada um se servisse e vigiei enquanto Niall exagerava na quantidade de chocolate que confiscava. Furei dois marshmallows com meu palito e me inclinei em direção ao fogo. Zayn fez o mesmo e não consegui tirar os olhos dele por longos segundos. A luz do fogo era a única que o iluminava seu belo rosto, chamas dançando em seus olhos quentes. Quando notou que eu o observava, sorriu e colocou a testa na minha. Começamos a trocar pequenos beijos discretos.
  - Pudincup, sua família virá para o show na O2? – perguntou ao namorado que nem ao menos esperou o marshmallow esquentar.
  - Meus pais, Greg, Denise... Até o bebê vem! – Sorriu, mostrando os dentes sujos de branco.   - Theo! – O sobrinho nem era meu e eu sentia saudades como se fosse. – A família de todos vocês virão, não é?
  - Meus pais e minhas irmãs. – Liam sorriu em uma mistura de nervosismo e ansiedade.
  - Acho que dois primos virão... E meu pai. Minha mãe e irmãs também. – Zayn assoprava o seu doce, tão feliz quanto os outros.
  - Meu pai, minha mãe e Gemma também vão assistir! – Haz falou de boca cheia.
  - Não sei se a mum virá... – Lou me olhou. – Está grávida e não pode fazer muito esforço.
  - Ela vem sim. Nana, Dan, Phoebe e Daisy também. Sem falar que papai, Rach e Lux já estão confirmados. – Seria uma grande noite para os meninos, claro que todas as famílias estariam reunidas. – Isso deve aumentar o nervosismo, não? Todos os pais e irmãos em um só lugar... Assistindo o show de perto.
  - Quando a família de um está lá, já é tenso... Imagine todas?! – Harry mexia a sopa com uma colher de madeira. – Não vamos sobreviver.
  - Vocês acham que se um de nós não estivesse na banda, ela seria tão grande? – Liam brincava com seu palito e marshmallow intacto.
  - Não. Definitivamente não! – Todos concordavam, mas Niall foi o que defendeu com mais veemência.
  - Eu também acho que não. Eu acho que a gente equilibra uns aos outros. – Li olhava para os amigos.
   Os cinco se amavam tanto e eram tão gratos em poder fazer aquelas coisas juntos que chegava a ser inspirador. Comi dois s’mores, me mantendo calada durante a conversa. também se comportou. Ela entendia que aquele era um bom momento para eles, como melhores amigos, como banda, e não atrapalhou. Apenas me olhava de vez em quanto, sabendo o quanto ambas éramos sortudas por ser da “família”.
  - Eu acho que, quando olharmos pra trás, depois, não importa o que façamos... Nada vai ser melhor que isso. – Niall encarava o fogo e sua voz era acompanhada por estalos das chamas.
  - É, mas isso não é assustador? – Louis mudou a direção do cruzar das pernas, mostrando inquietação com aquele pensamento. – O melhor momento da sua vida é agora... Isso é loucura!
  - Acham que vamos poder fazer algo do tipo Benjamin Button? Poderemos fazer ao contrário? Entendem o que quero dizer? – Hora de ficar profundos com Liam Payne. – A gente pode fazer isso agora e depois ter uma vida normal? Com esposa e filhos? É isso o que eu espero que aconteça.
  - O que é loucura... É que um dia não vamos mais fazer isso. – Lou apoiou os braços nos joelhos e entrelaçou as mãos.
  - Então você acha, tipo, que ainda seremos amigos? – Zayn sorria de canto como se já soubesse a resposta. Era uma boa pergunta e ele não falava sobre dali a um ano dois... E sim questão de vinte, trinta anos.
  - Acho que vamos. É claro. – Harry tinha as mãos escondidas na manga da camisa cinza.
  - Quer o meu email depois ou eu devia te passar agora? – Liam brincou e todos riram.
  - Passamos por muitas coisas juntos. – Lou olhava a Lua refletida no lago, brincando com o cordão de seu casaco.
  - Fazemos parte da vida uns dos outros, sabe? Crescendo. – Harry estava mais rouco que o de costume, devido o frio.
  - Há tantas bandas que vem e vão e ninguém fala mais sobre elas. Eu quero ser lembrado pelos discos que fizemos e... – Ni se perdeu nas próprias palavras.
  - Quer saber? Eu só quero ser lembrado... Mesmo se for uma mãe virando para a filha e dizendo: “One Direction, a boyband do meu tempo, eles só se divertiam” Entendem? – Lou olhava para cada um dos amigos, sorrindo com nostalgia. – “Só garotos normais, mas terríveis dançarinos.”
   Me acomodei melhor na cadeira e abracei os joelhos. Continuava enrolada no cobertor de lã, mas tremia de frio. O pior? O frio não era físico. E sim por dentro da alma. Ali estavam eles, falando sobre sonhos que estavam realizando. Era verdade, aquele momento era o melhor de nossas vidas e era nossa obrigação fazê-los valer. Eu passei os últimos dias pesando em uma balança imaginária os prós e contras de ficar ou aceitar o convite do Bolshoi. Vai e volta, a balança pesava mais para um lado ou para o outro, terminando por ficar equilibrada novamente. Mas, naquela noite, ela nunca se equilibraria de novo.

    

Chapter LXXX

Engraçado como uma decisão grande e dolorosa pode vir disfarçada em algo tão doce quanto um sonho. Era segunda-feira... O primeiro dia de uma semana de trabalho duro para todos os alunos da Academy; título que não me pertenceria depois daquela manhã. Eu aceitei o convite do Bolshoi. Liguei para Nick do carro e falei com o diretor: Minha vaga estava reservada e minha presença era requerida o mais rápido possível. Me conhecia o suficiente pra saber que iria pirar se começasse a pensar demais no que aquilo significava, então tomei outra decisão. A decisão de dar um passo de cada vez.
   Primeiro, o mais importante era conversar com Agnes e deixá-la saber da minha decisão. Não estaria na Inglaterra para interpretar Clara no espetáculo de fim de semestre e precisava dar tempo à Colin e Serguei de ensaiar com Helena, a minha substituta. Não tinha certeza como seriam as reações desses dois, mas a menina pularia de alegria ao descobrir. O fundo da minha mente sabia que, mais importante que isso, só avisar aos meus amigos que estava indo morar na Rússia. Entretanto, também tinha plena consciência de que fariam tudo pra me fazer ficar, sem falar em todo o chororô que tentaria evitar até o último minuto.
   Escolhi um horário no meio da manhã – não cedo demais e nem próximo ao intervalo -, porque não queria cruzar com ou Ash e ter que explicar o que estava fazendo fora das minhas roupas de ballet. Sim, eles notariam a minha ausência no decorrer da semana, mas eu inventaria alguma desculpa do tipo “meus ensaios passaram para o período da tarde”; porque Deus sabe que os dois não passavam mais tempo na academia do que o necessário. Era um plano perfeito. O mesmo serviria pra Zayn, que teria a tarde repleta de ensaios para a turnê e show na próxima semana.
   Me apertando dentro do suéter marrom, cruzei o corredor até passar pelas portas de vidro do escritório de Agnes. Vi a imagem de sentada ali dentro, totalmente distraída a qualquer coisa. Claro que sua presença era apenas na minha cabeça; além de Helena na mesa de secretária, a secretaria estava vazia. Apaguei o sorriso nostálgico ao encontrar a atenção da morena que fechou a cara.
  - Bom dia, Helena. – Fui cordial. Não tinha mais motivos para tratá-la com indiferença. – Eu gostaria de falar com Agnes.
  - Tem hora marcada? – Tocou o lábio superior com a ponta da caneta que segurava e folheou a caderneta. – Pena, acho que não.
  - Ela está conversando com alguém agora? – Rolei os olhos. Não tinha tempo pra ficar perdendo ali.
  - Talvez. – Mexeu os ombros, desinteressada.
  - Posso descobrir sozinha, com licença.
   Passei por ela antes que pudesse me impedir e caminhei até a porta de madeira com o nome da diretora em uma placa de metal. Bati três vezes de leve. No começo, houve silêncio. Logo sons de passos se aproximaram da porta até ela ser aberta por um homem. O professor Hofstheder me olhou dos pés à cabeça e seus olhos gritavam: “Por que não está na minha aula?”
  - Bom dia, professor. Não queria interromper...
  - Não interrompeu, eu já estava de saída. – Empinou o nariz e saiu. Eu sentiria sua falta, por incrível que pareça.
  - Srt. Tomlinson? Entre, já que está aí. – A diretora, como sempre, sentava em sua cadeira proporcionalmente gigantesca e acenou com dois dedos para que eu fizesse as honras.
   Entrei e fechei a porta atrás de mim. Respirei fundo. “Okay, acho que eu deveria ter pensado no que ia falar antes de entrar.” Demorei alguns segundos para me virar, então Agnes limpou a garganta. “Não tenho o dia todo!”, era o que devia estar pensando. Sentei na cadeira em sua frente e descansei a bolsa em meu colo.
  - Está tudo bem, senhorita? – Tinhas as mãos escondidas embaixo da mesa.
  - Sim, sim! Bem demais, pra ser sincera. – Sorri, brincando com as mangas do sweater para me distrair. – Por isso vim aqui, preciso tratar de um assunto sério. Como a senhora deve saber, recebi a oportunidade de entrar na companhia de ballet Bolshoi.
  - Precisamente.
  - Eu aceitei.
  - Imaginei que fosse aceitar. Seus amigos estão muito bem lá. Holly e Nicholas.
  - Não aceitei por isso, e sim por mim... Mas admito que eles estando lá facilitam a minha ida. – Cruzei as pernas, sem conseguir me manter quieta por muito tempo. – De qualquer forma, esperam a minha chegada na semana que vem. Então não poderei terminar o semestre.
  - Oh. Tão rápido? – Tirou os óculos e o deixou pendurado no pescoço pela a cordinha de segurança.
  - Infelizmente. Sinto muito, mas não vou poder participar da peça, terminar o semestre ou me formar...
  - Compreendi essa parte, . Quero saber se você compreende. Se desistir agora, poderá trancar o curso por seis meses. Como não acredito que vá retornar antes disso, perderá tudo até aqui. Não terá a London Royal Academy em seu currículo ou o certificado de formação. – Agnes falava sério, quase ameaçadora.
  - Acredite em mim, sei bem disso. Pensei nisso o domingo inteiro...
  - Imagino que valha a pena. É do Bolshoi que estamos falando. – Suspirou e pegou alguns papeis em sua gaveta. – Cuidarei da sua papelada hoje e da finalização da sua matrícula. Amanhã garanto que terei tudo pronto, você só precisa vir buscar e assinar algumas coisas. Por agora, está liberada das aulas. Explicarei pessoalmente à Colin e aos seus professores.
  - Obrigada. – Agora era oficial. Levantei, sentindo uma leveza pesada demais para fazer sentido. – Só mais uma coisa... Poderia guardar segredo? Não estou divulgando.
  - A decisão é sua. – Assentiu. – Preciso dizer, estou desapontada.
   Parei bruscamente com a mão na maçaneta. Aquelas palavras rodaram na minha até que conseguir acordar e sair da sala. Encostei na parede do pequeno corredor, olhando para o chão. Se pensava que a diretora não gostava de mim, agora tinha certeza. Helena não estava mais na mesa; devia ter entrado em aula. Senti vontade de ir até a sala de e observá-la de longe encenando uma última vez. Claro que não conseguiria me esconder dela por mais que cinco minutos e precisaria explicar o que estava fazendo ali.
   Fui em direção à saída da Academy o mais devagar possível. Olhei as paredes repletas de fotografias de alunos famosos. No primeiro dia que pisei naquele chão branco marcado pelo tempo, imaginei como seria um dia ver o meu próprio retrato ali, com alguma declaração da diretora gravada na legenda. Algo melhor do que “estou desapontada”. O celular tocando em meu bolso me puxou de volta para a realidade. Era uma mensagem de Lexy:

  

“Estou aqui...”
  “Chego em vinte minutos. <3”

  

  +++

     

O clima do lado de fora mudou uma fina chuva começava a cair, antecipando o que poderia se transformar em uma tempestade. Os raios de sol ma conseguiam atravessar a espessa camada de nuvens, dando à Oxford St. o toque melancólico que sempre gostei em Londres. Uma camada de neblina cobria as ruas e quase me arrependi de não ter aberto a minha sombrinha para fazer o caminho do carro até a entrada do prédio.
   Fui recebida pelo porteiro de sempre e uma mulher grávida segurou a porta do elevador para que subíssemos juntas. Ela desceu dois andares abaixo do meu, mas tivemos tempo de conversar sobre o seu bebê; um menino que se chamaria Elliot. Uma vez na cobertura, entrei no escritório da Mulberry, onde Lexy, Rachel e Carine esperavam por mim. Geralmente uma das três me convocava para reuniões e dessa vez quem fez isso fui eu. Quando entrei em nossa sala de número 3, as três mulheres estavam de costas para a porta e olhavam pra fora das paredes de vidro molhadas pela chuva.
   Fingi uma tosse exagerada e elas se viraram finalmente. Abracei as três com calma e aproveitando todos os instantes. Sabia que nossas trocas de carinho a partir de agora estavam contadas. Fiz todas sentarem à mesa e pedi para relaxarem. Não era nada terrivelmente grave.
  - Fale logo, ! Está me deixando mais nervosa do que eu já sou naturalmente. – Lexy mexia nos cabelos e arrancava alguns fios castanhos.
  - Veio aceitar a minha proposta? – Carine sorria esperançosa.
  - Na verdade, Car... Receio que seja exatamente o contrário. – Disse cuidadosa. Ela arrumou a postura e franziu a testa. – Estou indo para a Rússia daqui há alguns dias. Moscou.
  - Decidiu aceitar, ? Estou tão feliz por você. – Rachel segurou a minha mão e alisou com o polegar. Sua voz estava um pouco engasgada. – Parabéns, de verdade.
  - Que história é essa?! – Lexy já tinha os olhos cheios de lágrima, mas se segurava.
  - Entrei no Bolshoi. Fui aceita pela companhia de ballet dos meus sonhos... – Suspirei, sorrindo apesar das emoções confusas. – O problema é que precisam que eu vá o mais rápido possível. Eu sinto muito, Car. Não pense que não dei valor à sua proposta! Ou a tudo que você fez...
  - Shh, não precisa falar nada disso. Eu já sei. Desde que a conheci sabia que isso poderia acontecer. – Enxugou algumas lágrimas com pressa. – Estou feliz por você, sempre vou estar. E sabe que sempre acreditei em você!
  - Obrigada. – Não queria chorar! Mordi a bochecha para me concentrar na dor ao invés disso. – E você sabe que eu te amo, Car. Só tenho a agradecer. Tantas portas se abriram pra mim por sua causa.
  - Nossas portas sempre vão estar abertas. Você não vai embora pra sempre, não é? – Arregalou os olhos e até Rachel se espantou.
   Alexia estava ao meu lado e soltou um gemido de dor. A olhei e descobri os seus olhos avermelhados e bochechas molhadas de lágrimas. Rach rolou os olhos, murmurando que a amiga era exagerada e dramática.
  - Claro que eu não vou embora pra sempre! – Abracei minha futura-ex-publicista. – Meu contrato tem a duração de um ano. Dependendo de como as coisas andem, podem querer renovar ou encerrar.
  - É claro que vão renovaaaaaar. – Lexy chorou como uma criancinha que perdia o doce. – Vou morrer de saudades!
  - Vou sentir saudades de todas vocês... Mas voltarei pra visitar. – Funguei. – E, Carine, se quiser abrir uma filial da Mulberry em Moscou, já estarei por lá pra ajudar.
  - Está decidido, vamos fazer as malas. Vou mudar a sede para a Rússia! – Brincou com algumas palmas.
  - Por falar nisso... E quanto ao meu contrato? – Não queria falar sobre negócios, mas se continuasse no mesmo assunto acabaria desabando em prantos. – Não há nada que me impede de ir?
  - Como eu gostaria de dizer que sim! – Lexy assoou o nariz em um lenço descartável. – Mas não... Pode ir! Nem precisa voltar!
  - Ah, por favor! – Carine bateu a testa na mesa, me provocando risadas. – Alguém pede à Gracie um chá de camomila pra essa mulher?
   Abracei Lexy mais uma vez. Não esperava vê-la chorar daquele jeito, mas me sentia lisonjeada pelo seu carinho. Minha madrasta se juntou ao abraço e Carine levantou para pedir os nossos chás pelo interfone na parede. Me controlei para não chorar ao ver Rach disfarçar para secar suas próprias lágrimas. Se era complicado assim dizer adeus às minhas amigas de trabalho e madrasta, o que aconteceria quando contasse à ? E à Zayn?!
  - Meninas... Não contem nada à ninguém, okay? Ainda não estou pronta. – Pedi e todas concordaram.
  - Então é isso? Não posso fazer mais nada por você? – Lexy estava prestes a desaguar de novo.
  - Na verdade, tenho mais um grande favor a pedir pra você. – Tirei um papel dobrado do bolso e empurrei pela superfície da mesa até ela. – Preciso entrar em contato com um desses nomes até amanhã.
  - Tradd Moore e Mike Ploog? – Leu os nomes com certa estranheza. – De onde são?
  - Atlanta. – Mordi o lábio. – É muito importante... Um caso de vida ou morte. Quase isso.
  - Cuidarei disso pra você. – Aceitou o desafio e sacou o celular.
   Alexia levantou e voltou para a posição de início, perto da janela. Agora tinha uma posição profissional e não mais chorava. Ou quase isso. Gracie apareceu com nosso chá e serviu três xícaras com rodelas de limão e açúcar. Também trouxe um recado para Carine que não a agradou muito. Não sabia o que era, mas a forma que também empunhou o celular me preocupou. Rachel era a única calma e bebia chá comigo.
  - Sabe quem também está aqui no prédio?
  - Quem? – A olhei curiosa, assoprando o líquido quente.
  - Seus amores. – Piscou várias vezes seguidas. – Os meninos estão fazendo a primeira prova de roupas para a turnê. Caroline está com eles alguns andares aqui embaixo.
  - Quero ir vê-los! – Mordisquei o lábio novamente. – Quero passar todo tempo possível ao lado deles. Principalmente de Zayn.
  - Como será que ele vai reagir? – Rach mordeu a ponta do dedo. – Zayn vai ficar arrasado!   - Você devia estar me ajudando, não me apavorando ainda mais. – Uma mão gelada apertou meu coração. – Ele vai entender... Vai estar viajando também. Não é como se fossemos fcar juntos se eu não fosse...
  - Ainda assim, é diferente. – Sua boca formou uma linha reta.
  - COMO VOCÊ ESPERA QUE EU FIQUE CALMA? – Carine exclamou e fomos caladas pelo susto. – É a primeira vez que tentamos fazer algo assim e não conseguimos nem sair da peça piloto?!
  - Sabe o que está acontecendo? – Cochichei para a loira ao meu lado.
  - Algo sobre vestidos de noiva. É uma parceria da Mulberry com uma casa de festas...
  - E qual é o problema?
  - EU DIGO QUAL É O PROBLEMA! – Carine gritou ao telefone, como se me respondesse. Por um minuto pensei que ficaria de castigo. – Não! Vou facilitar a sua vida. Me consiga uma modelo e eu mesma tiro essas fotos. Não preciso de cenário, só quero mandar para Emma, seu incompetente!(...) Não tem... Ughhhh. Onde acha que vou encontrar uma... Traga os vestidos aqui, tenho a pessoa perfeita.
   Desligou o telefone sem esperar resposta e caminhou em passos largos até parar na minha frente. Estava ofegante depois dessa briga com quem quer que fosse do outro lado da linha e senti pena por ele.
  - , preciso da sua ajuda. Lembra quando desfilou pra mim e precisou provar as roupas alguns dias antes?
  - Claro que sim. Foi quando Cara me deu dicas... E Emma tirou fotos com uma Polaroid. – Concordei.
  - Poderia fazer isso de novo? Não levaremos mais que vinte minutos. São só cinco vestidos de noiva.

  

  

+++

  

  - Rachel, alguém pode me ver assim! – Resmunguei, tendo muita dificuldade em descer a escada do prédio vestida de noiva.
  - Ninguém usa essas escadas. – Segurava o meu véu, mas o verdadeiro problema era a barra comprida. – Só quero te mostrar à Carol! Ela precisa lhe ver assim.
  - Tudo bem, mas se um dos meninos me virem...
   O “trabalho” que Carine tinha pra mim foi mais divertido do que trabalhoso. Tudo que precisei fazer foi provar os vestidos e ficar parada na frente de uma parede azul. Em quinze minutos eu poderia ter colocado as minhas roupas normais, mas quem disse que Rachel deixou? Ela colocou na cabeça que precisava mostrar à estilista dos meninos o quanto o vestido era bonito. Não entendi por que ela não podia subir para o escritório ao invés de nós descermos.
   Chegamos no andar em que todos estavam e entramos em um corredor largo. Não havia ninguém ali; pelo menos isso! Rachel foi na frente, espiando em algumas salas a procura de sua amiga. Era complicado andar dentro do vestido, mas admito que estava gostando. O tecido era leve e bem acabado, mas não era o oficial ou produto final. Os alfinetes na barra marcavam onde as alterações deveriam ser feitas. Até mesmo o anel falso de noivado cabia em meu dedo e o buquê de flores era verdadeiro. Cheguei a cogitar a possibilidade de aquilo ser um casamento surpresa.
  - Caroline está aqui, ! – Rachel acenou atrás de uma porta.
  - Acha mesmo que consigo correr nisso aqui? – Um pé atrás do outro e consegui chegar à minha madrasta. – Carol?
  - ! Ai, meu Deus! – Caroline era a única na sala que servia de guarda roupa.
   Estávamos cercadas por roupas de todos os tipos e cinco araras, cada uma com uma placa e o nome de cada menino. Parei de frente pra ela e deixei que me rodeasse. Era a mãe de Brooklin, a bebê que Zayn chamava de afilhada.
  - Você está uma verdadeira princesa! – Carol parecia uma mãe e imaginei o que a minha diria ao me ver daquele jeito. Teria os bebês na mesma hora!
  - Mercí. – Fiz uma pequena reverência como a realeza e coloquei as mãos na cintura. – Já posso tirar agora, Rach?
  - Quase! – A loira soou mais distante do que antes, por isso a procurei com o olhar.
   Parado na porta, Zayn estava petrificado; assim como eu depois de vê-lo. Não sei se era a minha roupa ou todas as despedidas que tivera em um dia só, mas comecei a tremer. Mantive as mãos atrás de mim na tentativa de disfarçar. Meu namorado aparentava esquecer como se respira e deu um passo até parar novamente. O que ele deveria estar pensando?!
  - Uau... – Suspirou pesadamente.
  - Eu estava ajudando Carine a provar vestidos de noiva e Rachel insistiu que eu viesse mostrar à Carol. – Expliquei antes que pensasse ser uma indireta ou se assustasse. – Já vou trocar.
  - Nunca deveria usar outra coisa. – Entrou na minha frente, tampando a minha passagem. – Parece um anjo.
  - Sujaria demais. – Sorri, aliviada. Em um impulso, atirei os braços em volta de seu pescoço.   - Temos que mostrar aos outros o quanto você está linda! – Rachel planejara tudo aquilo, era a única explicação.
  - Dá azar ver a noiva antes do casamento... – Tentei argumentar e Zayn segurou a minha mão.
  - Acho que isso só vale para o noivo, . – Riu, me ajudando a sair da sala. – Que, no caso, sou eu.
  - Quem garante? Ainda tem gente que pensa que Harry é meu noivo.
   Tentei fazer ciúmes ou ao menos escapar daquela situação, mas não adiantou em nada. Zayn continuava tão encantado que sua expressão não mudou. Ainda me olhava dos pés à cabeça, medindo cada centímetro, cada detalhe. Entramos no quarto da frente, onde os meninos posavam para fotografias; da mesma forma que eu fiz com os vestidos de noiva. Claro que não entenderam nada e uma bagunça tomou conta do espaço pequeno demais para tantas reações. Tentei explicar que não ia me casar, mas fui interrompida muitas vezes.   - Assim até começo a mudar de idéia quanto a essas coisas de casamento. – Niall sorria mostrando todos os dentes brancos.
  - Vou chorar! – Louis se abanou, exagerando em choros falsos.
  - Lou, vou te trocar pela sua irmã. – Haz brincou, empurrando Zayn e me abraçando como se me roubasse. – Tchau, Zayn.
  - Vai ter que entrar na fila, né, Liam? – Meu irmão provocou.
   Li era o único que não abrira a boca desde o momento que eu entrei. No começo imaginei que não fosse o tipo de brincadeira que considerava engraçada, mas agora me arrependia de ter aceitado sair da Models One usando aquele vestido. O quarto inteiro ficou em silêncio e Harry me soltou. Zayn olhou para o chão, evitando o rosto do amigo. Reprovei Louis, que passara dos limites. Abri a boca pra falar algo, mas nada saiu. Liam cortou o cômodo com pressa, sem olhar pra ninguém e passou pela porta.
   Bufei. A culpa era minha! Arranquei o véu dos cabelos e o entreguei de qualquer jeito para Rachel, junto com as flores. Tirei os sapatos, ergui a barra do vestido até os joelhos e corri atrás dele. Como poderia deixar que se afastasse sem ir atrás? Sem procurá-lo? Aquele era Liam e eu o havia magoado. Mesmo indiretamente, assumia a culpa. Assisti as costas dele virando à esquerda e pensei em chamá-lo. Continuei na minha perseguição até passar por uma porta pesada que levou à uma pequena varanda. Ainda chovia, apesar de bem menos. Não faria grandes estragos ao vestido. O pior era a sensação gelada e molhada na sola de meus pés.
  - Baba...
  - Por que veio atrás de mim? Não devia estar com o seu noivo? – Se virou antes do que eu esperava, ríspido.
  - Zayn não é meu noivo. – Me aproximei com cautela. O som deixava meus lábios, mas meus pensamentos estavam embolados e sem sentido. – Foi só uma brincadeira...
  - Ainda não. Mas todos sabem que ele vai pedir e não vai demorar. E aí você vai aceitar e serão felizes pra sempre! – Comemorou irônica e amargamente.
  - Não vai. – “E mesmo que peça, não poderemos casar. Eu vou embora.” Pensei em falar, mas fiquei calada.
  - Você não pode ser ingênua a esse ponto.
  - Por que está agindo assim? – Me arrependi assim que as palavras saíram da minha boca. Odiava ver aquele reflexo de angústia nos olhos de Liam.
  - Você sabe o porquê, . – Andou para a direita, retornou e parou no mesmo lugar. – Eu sei o meu lugar, tá bem?! Sei que sempre vou estar em segundo lugar. Mas ainda dói pra caramba. Ter que te ver com o meu melhor amigo... E feliz! Deveria ser eu. Eu deveria ficar ansioso pra te ver com essa roupa e a próxima vez que isso acontecer vai ser pra assistir você ser de outro.
  - Por favor, não me afasta. – Toquei o estômago, sentindo-o embrulhar. Nós não podíamos brigar, não agora. Não suportaria estar longe e saber que ele estava chateado. – Não me tira da sua vida.
  - O que você está dizendo? – Vi que era contra a sua vontade, mas sorriu. – , eu estou aqui falando que não quero te perder... E você tem medo que eu te afaste?
  - Estou dizendo o que eu tenho medo.
   Eu tinha meus medos e Liam os dele. Eram diferentes, mas iguais de outras formas. Quis repetir o discurso de sempre, que ele encontraria a pessoa certa pra ele e que, apesar de tudo, essa pessoa não era eu. Não adiantaria, ele já sabia aquilo de cor. Li desmoronou, perdeu toda a exaltação e se tornou o meu Baba de sempre. Abriu os braços e me aninhei, encontrando o conforto que perdera desde que entrei na sala da diretora Agnes horas antes.   - Eu te amo, . – Alisou meus cabelos umedecidos pela garoa.
  - Eu também te amo. – Era verdade. Talvez não como quisesse, mas eu o amava. – Pra sempre.

  

  

+++

  

  - Qual o nome dele mesmo?
  - Zayn Malik. – Apertei o telefone contra a orelha, tentando falar alto para que o homem do outro da linha me escutasse, mas não o bastante para que Zayn ouvisse da sala. – Vou mandar as fotos para o email que você me passou, mas acredito que encontre no Google também.
  - Tudo bem, . Ficarei aguardando. Mas sabe que não é nada certo? Não posso prometer o que você está pedindo.
  - Sei disso. E sei que você é muito ocupado... Eu não pediria se não fosse muito importante. – “Ultra” importante seria uma palavra melhor, porém, não queria mostrar desespero. – Obrigada de qualquer forma. Só em ter me atendido já foi incrível.
  - Como você conseguiu o meu número pessoal, aliás?
  - Tenho bons contatos. – Sorri sozinha. Lexy era o melhor contato.
   Nos despedimos sem promessa alguma, mas eu sabia que o homem tentaria atender o meu pedido. Enfiei o celular no bolso traseiro da calça e saí do meu escritório no apartamento. Se demorasse um pouco mais, Zayn estranharia. Ou era o que eu pensava. Cheguei na sala e o encontrei deitado no sofá, assistindo um programa qualquer na televisão. e Lola dividiam a poltrona menor e cochilavam um em cima do outro. Meu namorado me olhou e abriu um pequeno sorriso. Ele estava pra baixo desde o episódio com Liam. Eu sabia que em parte era porque não gostava de ver o amigo triste e, em outra, pela forma como corri atrás dele.
   Mal consegui sair de uma situação ruim e já entrava em outra. Caminhei em passos leves até o sofá. Sem convite, deitei ali com Zayn e me enterrei embaixo de seus braços, o envolvendo pelas costelas. Escondi o rosto em seu pescoço e ele encostou a cabeça à minha, entrelaçou nossas pernas e me abraçou de volta. Com a mão mais livre, desligou a televisão e os únicos sons eram os da nossa respiração. Não fui rejeitada, o que era um ótimo começo. Tampouco Zayn falaria qualquer coisa antes que eu o fizesse.
  - Preciso falar o quanto eu te amo? – Distribuí beijos e cheiros em seu pescoço, falando devagar. – O que aconteceu hoje... O jeito que eu fui atrás de Liam... Não quer dizer nada.   - Eu sei. – Comentou suavemente, deslizando os dedos pelas minhas costas. – Você fez o certo, love.
  - Então... Porque você está murcho? – Juntei os lábios em um bico e o encarei.
  - Murcho? – Riu sonoramente na minha orelha. – Onde você encontra essas palavras?   - Não sei. Na minha cabeça. – Sorri porque ele começava a voltar ao normal. Estiquei o pescoço e roubei um beijo.
  - Gosto de como a sua mente funciona. – Passou o nariz pelo meu e beijou minhas bochechas e testa.
  - E eu gosto de como a sua voz soa...
   O olhei significativamente. Não precisava falar em voz alta, porque Zayn sabia o quanto eu amava ouvi-lo cantar só pra mim. Fez careta, preguiçoso, sem esconder um sorriso. O abracei com mais força, colocando uma perna em vota da sua cintura. Deitei o rosto em seu braço e fechei os olhos, me acomodando. Zayn demorou um pouco pra começar, alisando a lateral do meu rosto.
  - Style of your hair… Shape of your eyes and your nose. The way you stare as if you see right through to my soul. – A voz de Zayn preencheu toda a sala, ecoando pelas paredes; baixa ao meu pé do ouvido. - It's your left hip and the way it's not quite big as your right. The way you stand in the mirror before we go out at night. Our quiet time, your beautiful mind…
   Encostamos as palmas de nossas mãos, seus dedos mais longos que os meus. Entrelaçamos e o encaixe era perfeito. Fechei os olhos, suspirando. Soltei sua mão e desci a ponta dos dedos pelo braço, deixando um rastro quente contra a maciez de sua pele.

  

They're all part of the list, things that I miss.
  Things like your funny little laugh or the way you smile or the way we kiss.
  What I notice is this…
  I come up with something new every single time that I sit and reminisce.

  

Desejei congelar aquele momento, aquele abraço, aqueles carinhos. Queria ficar pra sempre nos braços de Zayn. Não queria comer, dormir ou fazer coisa alguma. Almejava passar a vida inteira deitada em seu abraço, entorpecida pelo seu cheiro adocicado. Ele sussurrava as palavras com uma verdade tão grande por trás de cada coisa que deixava seus lábios.

  

The way your sweet smell lingers when you leave the room.
  Stories you tell as we lay in bed all afternoon.
  I dream of you now, every night, in my mind is where we meet.
  And when I'm awake staring at pictures of you asleep…
  Touching your face, invading your space.

     

Abri os olhos e Zayn me olhava. Alisou a ponta do meu nariz, escorregando para meus lábios e queixo. Me sentia bem em nossa pequena eternidade e podia afirmar que ele também se sentia assim. A música quase acabava e, antes disso, o interrompi. Colei os nossos lábios ternamente, segurando as laterais de seu rosto para evitar qualquer possibilidade de fuga.

       

Chapter LXXXI

Eu estava no terceiro andar da Academy, na sala de música no final do corredor. Ali, conheci Ed, Ashton e tive certeza de estar apaixonada por Zayn. Podia ser horário de aula, mas aquela sala estava vazia, o que me deu a oportunidade de dizer adeus. Lembrava de e Niall se escondendo na sala da bateria, Zayn reclamando por ser obrigado a afinar os violões na parede... Recordava tudo como se fosse ontem. Minhas mãos deslizavam sobre as teclas do piano de cauda, apertando uma ou outra com a esperança de que as notas tivessem o som das vozes dos meus amigos.
   Levantei e andei até a porta, olhando para trás apenas uma última vez. Sorri com a nostalgia do adeus. Respirei fundo e entrei no único caminho que tinha a seguir: Ir em frente. Desci pelo elevador, dessa vez prolongando um pouco a caminhada. Prestes a assinar a minha desistência do curso de ballet clássico, lembrei das palavras de Agnes no dia anterior, do quanto estava decepcionada. Tinha quase certeza de que ela reclamaria, me entregando uma lista completa de todos os dias que eu faltei e de razões que explicavam por que a Academy estaria melhor sem mim.
   A secretaria estava vazia, então não precisei ver a cara vitoriosa de Helena quando entrei. Parei um pouco, cogitando o que fazer. Devia esperar alguma coisa? Bater na porta da diretora? “Por que não? Foi o que fiz ontem.” E assim repeti, batendo três vezes na porta de Agnes. Dessa vez ela estava sozinha quando me convidou a entrar e até mesmo abriu a porta como sinal de paz.
  - Estou atrasada? Me distraí um pouco. – Sentei na velha poltrona de sempre, um pouco mais apreensiva que nas outras vezes.
  - Chegou na hora certa, pra falar a verdade. – Tirou alguns papeis de uma pasta azul turquesa em cima da mesa e me olhava vez ou outra por cima da borda dos óculos de aro escuro. – Seus papeis estão prontos, com toda a burocracia para o fechamento do contrato com nossa instituição.
  - Ótimo. Pre-preciso assinar alguma coisa? – Tremula, engoli em seco.
  - Rubrique aqui, aqui e aqui... E assine aqui. – Passou as folhas ao apontar onde precisava do meu visto e me entregou uma caneta de tinta preta.
  - Está bem... – Apertei a caneta com força pra parar de tremer.
   Era isso. Assim que eu assinasse aqueles papeis, estaria acabado. Parte de mim queria esperar alguns segundos, como se chegasse ao momento do “se alguém tem algo contra, fale agora ou cale-se para sempre”. Ninguém falou coisa alguma e eu assinei sem medo; okay, talvez um pouco de medo. Devolvi tudo para diretora, que sorria. Pela primeira vez a vi fazer algo daquele tipo, algo alegre e... Descontraído.
  - Parabéns, . Isso aqui é seu. – Também de dentro do envelope azul, retirou um papel tamanho A4 e gramatura mais grossa que o normal.
  - Obrigada... – Um pouco confusa, o levantei na altura dos olhos. Era um certificado de formação e o meu nome estava nele. Aquilo não era um fechamento de curso, era um diploma. – Mas eu não entendo... Achei que estava desapontada.
  - Sim, é verdade. Estou desapontada por que a melhor aluna que tivemos em anos está indo embora! E fez em um ano só o que muitos não fazem em dois. – O sorriso sumira, assim como qualquer linha de preocupação ou estresse. – Não podia deixar você ir embora sem esse diploma. Todos os seus professores concordaram comigo.
  - Não sei nem o que dizer. – Quem sorria sem parar agora era eu.
  - Você eu não sei, mas algumas pessoas tem muito o que falar de você. – Agnes levantou, passou por mim, e abriu a porta. – Me acompanha?
   Não disse nada porque Agnes saiu da sala sem esperar por mim, devia saber que eu iria atrás. Guardei o diploma com cuidado em minha bolsa para não amassar ou rasgar e saí da sala da diretora. Helena ainda não havia voltado e a senhora me esperava na porta de vidro. No corredor do primeiro andar, uma pequena fila com todos os professores que eu estudara no passar dos dois semestres e meio aguardavam a minha saída. Bateram palmas e fiquei totalmente sem jeito, incerta do que fazer.
  - Parabéns, ! – Bartira quebrou o silêncio e me abraçou. Era uma formatura! – Tivemos pouco tempo pra nos conhecer, mas eu já a considero inesquecível. É muito difícil encontrar uma aluna com a sua dedicação e talento.
  - Bravo. – O professor Hofstheder era o próximo e apertou a minha mão, sacudindo o braço inteiro. – Agnes pediu para que falássemos algumas palavras de motivação, como fazemos em toda “colação de grau” e formatura. Passei a noite de ontem tentando pensar no que poderia lhe falar para te parabenizar, mas acho que só tenho que lhe agradecer. Obrigado por ter me deixado ensiná-la e, ao mesmo tempo, me ensinado tanto. Você nunca teve medo de cometer erros em classe. Talvez no palco fosse diferente, mas as aulas eram pra se esforçar e tentar coisas novas. Se você fizesse duas piruetas ontem, faria três hoje. Se fizesse três ontem, quatro hoje. E é assim que você tem que encarar a vida. Não pode fazer duas piruetas e ficar satisfeita com isso. Então não tenha medo de cair.
  - A única pessoa no seu caminho é você mesma, . – A professora Laura me abraçou com um pouco menos de paixão que Bartira. – Lembre-se disso e irá muito mais longe.
  - É a segunda vez que tenho que me despedir de você e agora é ainda mais doloroso, porque não tenho mais a certeza de que trabalharemos juntos no próximo semestre. – Colin Me apertou contra si e libertei lágrimas que lutara pra segurar. – Se tem um conselho que eu posso te dar, é esse: Se torne a música que você está dançando. Deixe eu ela seja a força atrás de qualquer emoção e movimento que você faça.
  - O melhor ficou para o final, é claro. – Serguei sorria de canto a canto. Colocou as mãos em minha costela e me levantou. Ri nervosa, temendo cair. – Eu precisava te levantar mais uma vez.
  - Isso acontece melhor quando não estou usando saltos ou uma saia apertada! – Recamei com felicidade e o abracei pelo pescoço. – Acredita nisso?! Estou formada!
  - Eu sei! – Gargalhou. – Mas ainda não acredito que você não será a minha Clara.
  - Awn, eu sempre serei a sua Clara. – Ele era o que eu conhecia a menos tempo e um dos que eu mais sentiria fala. – Obrigada, Serg. Por tudo. Obrigada a todos vocês... Os melhores professores que eu poderia querer. Levarei todas as lições comigo, podem ter certeza. E eu não estaria indo à Rússia sem vocês.
  - Temos mais uma coisa pra você, . – Agnes arrastou os saltos barulhentos pelo chão e apontou para algo na parede. – Serguei, querido, faria as honras?
   O loiro piscou na minha direção e percebi que era a única ali que não sabia de alguma coisa. Olhei para a parede, onde um quadro era escondido por um tecido longo de seda. Serguei o puxou com cuidado e tapei os lábios para evitar um grito de surpresa. Era uma foto minha! Durante o developé do recital. Então eu era assim quando dançava? Uma única luz em cima de mim deixava a minha expressão concentrada em destaque. Embaixo dela, uma dedicação:
  

Nunca precisou de asas para voar.”

     

  +++

     

Após a minha formatura improvisada na Academy, almocei no Claridge’s com Rachel, Lexy, Carine e Lux. Nos divertimos e conversamos sobre assuntos que entediavam Luxy até quase o ponto de dormir na cadeira. Um pouco mais tarde, voltei para casa e fui recebida por todos os meus amigos. Aparentemente queriam fazer do apartamento um point de encontros maior do que já era. , porém, teria a sua tão esperada audição para o filme da Warner, portanto, só chegaria bem depois. Louis, Zayn e Niall assistiam Brit’s Got Talent na televisão enquanto Liam lia um dos gibis da coleção do meu namorado.
   Harry era o único que me ajudava na cozinha. Nós dois havíamos feito cupcakes e agora enfeitávamos e recheávamos. Bem, ele recheava com doce de leite e eu cobria com glacê azul claro. Usava uma faca pela falta de acessórios mais avançados, mas dava conta do recado. Haz parecia ansioso por alguma coisa e sempre olhava em direção à sala.
  - ? – Sentava na minha frente, com vários bolinhos entre nós. – Lembra do jantar que Zayn preparou pra você?
  - Preciso de mais detalhes, Haz. Ele cozinha quase todos os dias.
  - É, claro... Estou querendo dizer aquele dia que a gente ajudou. – Enrolava pra chegar ao ponto, mas a minha memória ajudou bastante.
  - Sei sim. O que tem? – Coloquei o cupcake pronto na bandeja e peguei outro.
  - Aquelas luzes de natal ainda estão lá em cima? – Cochichou como se contasse um segredo.   - Não... Tiramos por causa da chuva. – Me inclinei pra frente. – Por que?
  - Preciso te mostrar uma coisa. – Largou um cupcake pela metade e levantou.
   Harry partiu em disparada para o corredor do apartamento, em direção ao meu quarto. Fui atrás dele, bem preocupada, diga-se de passagem. Os meninos na sala nem ao menos nos notaram. Haz andava de um lado para o outro quando fechei a porta depois de entrar. Segurei seus ombros, o obrigando a parar de uma vez.
  - Harry, o que está acontecendo? Você está me assustando.
  - Estou nervoso! – Esfregou uma mão à outra e tirou do bolso uma caixinha azul escuro. – O que acha?
  - Harry Edward Styles... – Dentro da caixa havia dois anéis dourados; duas alianças. A maior tinha o nome do meu irmão e a menor o de Harry. – Oh my God. É o que eu estou pensando, não é? Meu irmão e meu melhor amigo vão casar!
  - Shhhhhhhhhh! – Pediu silêncio com um sorriso bobo e nervoso. – Ele não pode escutar!
  - Desculpa! – Estava sendo muito complicado pra mim não começar a gritar, então apenas o abracei e começamos a pular. – Eu não vou chorar, eu não vou chorar!
  - Acha que ele vai gostar? Das alianças. – Todo o comportamento estranho de Harry agora era explicado.
  - Você podia pedir ele em casamento com um anel de plástico e ainda assim ele amaria! – Estudei as alianças mais uma vez, sem parar de sorrir. – Onde vai fazer o pedido? Quando?
  - Estava pensando em fazer hoje. Aqui. – Recebeu a caixinha de vota antes que alguém entrasse pela porta e nos descobrisse. – Não é como se pudesse fazer isso em um lugar público... E estamos entre amigos. Nossos melhores amigos.
  - Por isso você queria saber se as luzes ainda estavam lá em cima...
  - Isso. – Assentiu com a cabeça. – Ainda quero que seja especial.
  - Vai ser perfeito! Podemos colocar as luzes de volta... E velas! Droga, não temos pétalas de rosas... Mas temos champanhe! – Agora era eu quem andava de um lado para o outro, bolando tudo.
  - Tá bem, mas como faremos isso sem Louis ver? Ele está na sala!
  - Zayn pode tirar ele daqui por algumas horas, até termos tempo de arrumar tudo. – Abri a porta do quarto e coloquei a cabeça pra fora. – Baaaaaaaaabe! Vem aqui, por favor?
  - O que você quer, ? O programa está em uma parte interessante... – Gritou de vola.
  - Zayn Malik!
   Depois do meu grito, escutei passos apressados e risadas por parte dos outros meninos. Usei meu tom sério, portanto Zayn entendeu que era uma emergência. Quando apareceu na minha frente, o puxei pra dentro pelo tecido da camisa e fechei a porta de novo. Meu namorado estava assustado e ofegante.
  - O que diabos aconteceu? – Exclamou, olhando de mim para Haz perto da cama.
  - Precisamos da sua ajuda, mate. – Harry não chegou a mostrar as alianças, mas olhou de uma forma auto explicativa para Zayn, que, por sua vez, captou o recado.
  - Está na hora? – Sorriu de um canto ao outro do rosto.
  - Eu fui a última a saber? – Cruzei os braços, encarando o futuro noivo. – Como posso ser a última a saber?
  - Em minha defesa, Liam e Niall entraram no quarto quando eu estava olhando as alianças. E Zayn me ajudou a escolhê-las... – Harry acabou se incriminando mais.
  - Porque não ME pediu pra ajudar a escolher? – Virei pra Zayn, que ria do amigo. – E você aí, por que não me contou?
  - Sweetheart, acho que estamos fugindo do assunto aqui. – Beijou a minha boca para me calar e, depois de cogitar reclamar mais, decidi relevar. Por enquanto. – Do que precisa, Haz?
  - Que tire Louis daqui por algumas horas. – Usou as minhas palavras e bagunçou os cabelos. – e Liam vão me ajudar a arrumar as coisas por aqui. Leve Niall com vocês, pra não ficar muito na cara.
  - O que eu falo? – Zayn pensou alto.
  - Sei que vai conseguir pensar em algo, agora vai!
   Empurrei meu namorado pra fora do quarto e abracei Harry mais uma vez. Curly estava um pouco mais relaxado agora, mas seu coração batia forte. Em aproximadamente sete minutos, Zayn conseguiu tirar Louis de casa com a desculpa de que a ração de Arnie acabou e precisavam ir à Pet Store pra comprar mais. Teríamos algum tempo para arrumar o lugar, mas não muito. Expliquei a Liam o que faríamos e a reação dele foi igual à minha.
  - Temos uma hora, talvez duas, pra montar uma festa de noivado inteira! Não temos tempo a perder. Andem logo! – Girei sem sair do lugar, tentando lembrar de tudo que precisávamos fazer. – Okay, okay! Liam! Você coloca as luzes lá em cima e começa a acender as velas que achar. Harry e eu vamos para a cozinha!
  - Sim, capitão. – Liam bateu continência e correu para o andar de cima, com as luzes de natal em mãos.
  - O que faremos na cozinha? – Hazza me seguiu.
  - Eu vou terminar de fazer os cupcakes e você vai fazer um bolo e depois pedir pizzas. – Voltei para o meu posto na mesa, terminando de rechear o bolinho pela metade que Harry largara.

  

  

+++

     

Em mais ou menos duas horas e meia tudo estava pronto e Louis, Niall e Zayn estacionavam o carro na garagem; segundo a mensagem que recebi de um deles. Conseguimos fazer todos os cupcakes e ainda cobrir uma torta de chocolate, escrevendo Harry & Louis com o que sobrou do glacê azul. O terraço estava aceso com as luzes de natal e velas normais que encontramos quase na metade. Simples, mas lindo. As pizzas chegaram e continuavam na cozinha; esfriariam se as deixássemos no andar de cima.
   Com as poses mais naturais do mundo, o resto de nós que permanecia no apartamento esperava no sofá como se nada estivesse prestes a acontecer. dividia o sofá com Liam e eu, deitado entre nós dois. Já Lola, dormia no colo de Harry, sentado no chão. A porta abriu e os meninos entraram. Zayn colocou a sacola com nova ração na mesinha do canto da parede e olhou em volta com o cenho franzido. Apontei discretamente com o queixo pra cima, esperando que captasse a mensagem.
  - Vocês demoraram demais. – Liam levantou, esticando as costas com preguiça. – Estou faminto!
  - Também estou. Zayn ficou enrolando pra escolher os gafanhotos... Nunca vi uma coisa assim. – Louis reclamou, tirando a jaqueta jeans e a jogando no braço do sofá.
  - Então vamos comeeeeeeer. – Niall rumou para a cozinha, mas o interrompi.
  - Ni, nós levamos o jantar lá pra cima. Está uma noite tão bonita! – Soei o mais sincera possível.
  - Vamos subir. – Zayn fez as honras e abriu caminho.
   Atrás dele, Harry subiu com um pouco mais de pressa. Em seguida, Liam e Niall. Louis era o último da fila e eu estava em sua frente. Uma vez lá em cima, Harry estava no centro da tenda criada pelo bom trabalho de Liam ao pendurar as luzes e espalhar as velas. O resto dos meninos formava uma fila na frente da mesa com os cupcakes, bolo e balde com gelo e champanhe.
  - Harry? – Claro que a primeira pessoa que meu irmão viu foi o namorado. Se aproximou um pouco, mas petrificou quando o menino se ajoelhou na sua frente. – O que você está fazendo?
  - Louis, você tem alguma idéia do que é pra mim? Você é tudo. Sempre dissemos que ficaríamos juntos pra sempre e, honestamente, pra sempre não me parece o suficiente. – Harry começou. Louis tinha as mãos no rosto, chocado.
  - Harry...
  - Me deixe terminar! E planejei isso por dias! – Haz riu, interrompendo Lou. – Onde eu estava?
  - Algo sobre para sempre... – Niall se intrometeu e reprimi um sorriso.
  - O que vocês ainda estão fazendo aqui? – Meu irmão nos olhou, mas ninguém tinha a intenção de ir embora.
  - A gente queria assistir. – Liam explicou.
  - Se eu puder continuar... – Harry rolou os olhos.
  - Desculpe, continue. – Zayn fez sinal para que prosseguisse.
  - Anyway... Louis, para sempre não parece tempo suficiente pra ter com você, mas eu gostaria de tirar o máximo disso. Eu te amo desde os quatorze anos de idade, quando nem sabia o que era amar. Você é simplesmente perfeito, Lou, e você não merece nada além do melhor. Eu sei que não chego nem perto disso, mas-
  - Harry, você sabe que isso não é verdade. – O garoto de pé negou com a cabeça. Segurei a mão de Zayn, achando que meu choro emocionado diminuiria, mas só fez aumentar.
  - Eu disse pra me deixar terminar! – Haz reclamou com uma risada. – Não sou nem perto do que você merece, mas eu ainda quero você ao meu lado pra tudo. Quero adotar crianças, envelhecer, ter netos... E apenas ser completamente felizes juntos. Eu sei que não vai sempre ser fácil, mas estou disposto a dar tudo de mim. Você está?
  - Responda ele, mate... – Niall participou depois de ver que Lou não falou nada. – Isso era parte do discurso.
  - Sim, Harry, absolutamente. – Assentiu com veemência.
  - Graças a Deus. Teria sido bem ruim se você dissesse não. – Um peso era retirado dos ombros de Haz, que tirou a caixinha de alianças do bolso. – Então vamos tornar oficial. Louis William Tomlinson, casa comigo?
  - Claro que sim, seu idiota! Precisava mesmo perguntar? – Louis sorria radiante, parecendo um Sol na Terra.
  - Finalmente acabou! Tive que escutar ele preocupado por dias! – Niall comentou com Liam um pouco alto demais.
  - Parabéns, lads! – Zayn puxou uma salva de palmas.
  - Vai mesmo? – Harry continuava na mesma posição. – Ainda bem! Não o que eu teria feito se-
  - Só levante e me beije, seu tonto. – Louis puxou o noivo pelo pescoço e os dois se abraçaram.
   Começamos uma nova salva de palmas e eu ainda chorava como um bebê. No mesmo ano em que a minha mãe se casou, meu irmão ficou noivo! Gritei com o susto do barulho causado pelo estourar da rolha do champanhe que Liam abriu. Niall se encarregou de mostrar o bolo que fizemos e fez isso com entusiasmo demais. Tanto que empurrou o bolo direto no rosto próximo dos noivos. Como eu esperava que fosse diferente? Aquele pedido foi perfeito para os dois, que nunca foram comuns.
  - Meu irmãozinho vai casar! – Comecei os abraços, apertando Louis sem me importar em me sujar de bolo. – Parabéns Boo Bear!
  - Porque você está chorando? – Não conseguia parar de sorrir enquanto retribuía o meu abraço. – Eu não chorei quando te vi vestida de noiva ontem...
  - Porque aquilo era uma brincadeira, mas isso não podia ser mais sério! – Segurei sua mão, olhando o anel que servia perfeitamente. Estou tão feliz por vocês!
   Harry ajudou Li a servir as taças de champanhe e entregou uma a cada pessoa. Brindamos aos noivos e cada um desejou toda a felicidade do mundo. Harry e Louis foram feitos um para o outro, isso era mais do que claro. A partir daquela noite, duas almas começavam a jornada de se tornarem uma só. Lembrei de uma conversa que tive com Harry, sobre almas inteiras que se dividiam em duas quando desciam para a Terra, separadas, mas eternamente procurando uma pela outra. A maior preocupação para ele era não ter encontrado a sua ainda e o medo de nunca encontrá-la. Especialmente por ser uma criança confusa com seus sentimentos em relação à outro garoto. Hoje, anos depois... O sorriso que me dirigiu queria dizer exatamente isso: “Encontrei a minha outra metade. E ela estava aqui o tempo todo.”
  - De quem é a sétima taça? – Niall contava quantas pessoas estavam ali em relação o número de taças. – Nosso grupo não é de sete?
  - Uh... Sua namorada não está aqui... – Disse, querendo iluminar a sua mente inocente e esquecida.
  - ! – Bateu na própria testa.
  - Vou ligar pra ela, não se preocupe. – Rolei os olhos.
   Tirei o celular do bolso, procurando o nome da ruiva na lista de chamadas recentes. Três números sempre estavam ali: Zayn, e Liam. Ocasionalmente Rachel e Carine apareciam ali também. Me afastei por causa do barulho, indo para a ponta contrária à que a festa acontecia. Pela falta de bancos ou cadeiras naquela parte, sentei no muro com cuidado para não cair do outro lado.
  - Onde você está, ruivinha? – A saudei assim que atendeu.
  - Estou quase em casa! Acabei de sair do escritório da Warner. Você não tem idéia de como é grande...
  - Mude o percurso e venha para o meu apartamento. Estamos comemorando... – Não queria contar por telefone o que comemorávamos, ainda mais escandalosa como ela era. Temi que batesse o carro.
  - Não deveriam comemorar depois que eu chegasse?
  - Apenas venha, okay? Precisa me contar como foi a audição e Louis tem algo pra contar a você. – Pronto. Sutil e direta. – Estou esperando! Beijo, beijo...
  - Me contar o que? Vai me matar de-
   Desliguei. Ela estaria furiosa ao chegar no apartamento, mas me divertia muito em deixá-la curiosa. Permaneci alguns segundos olhando o meu celular: A imagem de fundo ainda era Harry e Louis. Eles eram tão corajosos! Estavam lutando contra tudo para ficar juntos. Pablo odiaria saber daquela história e faria o impossível para manter tudo embaixo dos panos.
  - está vindo? – Zayn se aproximou e sentou ao meu lado, colocando a taça de bebida entre nós, junto à minha.
  - Acho que ainda demora uns vinte minutos, mas sim. – Me arrastei pelo banco improvisado e deitei a cabeça em seu ombro.
  - Loucura, huh? Harry e Lou...
  - É insano! Mas era esperado. Eles são melhores amigos desde criança e nunca vi duas pessoas mais perfeitas um para o outro do que eles. – Suspirei. Meu olhar conseguia alcançar os dois dançando juntos, sem música. – É um amor tão bonito.
  - Acha que deveríamos fazer a mesma coisa? – Perguntou em tom de brincadeira, mas seu olhar era sério. – Devemos casar?
  - Sim. – O olhei sorrindo. – Mas não agora. Em alguns anos, talvez.
  - Por quê? Nosso amor não é tão bonito quanto o deles? – Ficou quase ultrajado.
  - Não é isso. – Apoiei o queixo em seu ombro, alisando os cabelos. – Só não é o tempo certo pra nós dois... Você está saindo em turnê, avançando na carreira que escolheu, realizando um sonho. Uma coisa de cada vez, baby.
  - Então... Algum dia? – Sorriu de canto.
  - Sim, algum dia.
   O abracei com força. Um dia, quando ele não tivesse mais que passar mais tempo viajando do que comigo. Um dia, quando eu não estivesse prestes a viajar para a Rússia. Um dia... Quando tudo estivesse no lugar certo.

       

Chapter LXXXII

Não consegui pegar no sono facilmente na noite anterior, nem com todo chá do mundo. Na verdade, essa quantidade absurda de chá foi um fator extremamente contribuinte para o “não dormir”, já que me fazia ir ao banheiro quase a cada meia hora. Em compensação, quando o sono venceu, apaguei completamente. Teria perdido a hora e dormido o dia inteiro se não fosse a música suave que entrava pela porta entreaberta do quarto.
   Abri os olhos devagar para me acostumar a pouca claridade. Dois centímetros de cortina haviam sido abertos para que o quarto pudesse ser inundado por uma luz branca e quase misteriosa. Me espreguicei ao bocejar, estralando quase todos os ossos do corpo. Pelo som vindo da sala, eu já sabia que Zayn não estava ao meu lado, mas o cheiro forte que dominava o quarto me fez olhar para a sua metade da cama. Dezenas de rosas vermelhas de cabo longo substituíam meu namorado. Não me surpreendi pelo cheiro estar tomando conta do quarto... Havia mais rosas do que eu conseguia contar. Sorrindo como uma verdadeira pateta, abri o cartão que acompanhava as flores:
  

“Uma rosa para cada um dos 365 dias que pude te chamar de minha.   - With love, Zayn.
  ps: Saia do quarto, eu sinto a sua falta.”

   Não me surpreende que não consegui contar todas as rosas com o olhar! 365 rosas era muita coisa. Antes de obedecer o último pedido do cartão, passei rapidamente no banheiro para tentar disfarçar a cara amassada de sono. Fiz minha higiene e, com a escova de dentes no canto da boca, encontrei um post-it amarelo grudado no espelho. O arranquei de lá com um sorriso. Zayn me conhecia bem demais:
  “Você já está linda, pare de se arrumar! ps: Adoro seu cabelo quando acorda, não penteie.”
   Ri e o colei de volta, terminando de escovar os dentes. Zayn queria uma medusa de cabelos assanhados? Era o que ele teria! Saí do banheiro do jeito que estava e também do quarto. Passei pelo corredor e encontrei balões coloridos flutuando e, presas em suas cordas, fotografias. Imagens de Zayn e eu, juntos. Algumas antigas e outras bem recentes. Olhei a maioria delas com o sorriso sempre aumentando até encontrar Zayn parado na porta da cozinha com uma bandeja na mão.
  - Morning, love. - Ele apoiou o que segurava no batente da entrada e em seguida me abraçou.
  - Bom dia, Sunshine. – O apertei contra mim, enchendo o seu rosto de beijos. – Eu te amo, eu te amo, eu te amo.
  - Feliz aniversário de um ano! – Me apertou pela cintura, erguendo meu corpo no ar. Continuei os beijos pelo seu rosto até ser colocada no chão de novo. Eu mais parecia um coelho que encontrou o pote de açúcar do que uma pessoa normal.
  - Feliz aniversário. – O abracei mais uma vez, sem muitas intenções de soltar.
  - Está com fome? Preparei algo que vai adorar... – Me fez sentar no sofá e correu para a escada, onde deixou a bandeja anteriormente. – Feche os olhos, babe.
  - Tenho mesmo? – Fechei os olhos mesmo assim. Era Zayn ali... Eu confiava nele.
  - Só mais um minuto... – Senti o aumento de pressão no sofá e deduzi que Zayn também sentou. – Pode abrir.
   Abri os olhos e pude ver o conteúdo da bandeja que Zayn colocou na mesinha de centro. Uma pizza de quatro pedaços e dois sabores: Metade de pepperoni (a minha preferida) e metade frango com queijo (a preferida dele; ou uma das). No centro, um coração feito com ketchup. Salivei mais do que gostaria de admitir, o cheiro estava delicioso.   - Vamos comer pizza no café da manhã? – Soei animada quando queria soar saudável.
  - E... Adivinha o que é isso. – Zayn estava tão animado quanto eu quando abriu a pequena tampa da minha garrafa térmica para me deixar provar a bebida.
  - Isso é milk shake! – Abri os olhos com espanto. – Milkshake de chocolate! É o café da manhã perfeito!
   Peguei um pedaço do meu lado da pizza, sem fazer cerimônia. Mordi e fechei os olhos. Eu me lembrava daquele molho de tomate; receita da mãe de Zayn, o mesmo que provamos na comemoração de um mês de namoro, quando passeamos de barco. Eu não sabia que horas eram aquelas, mas o menino deve ter acordado bem cedo pra fazer a pizza e arrumar todas aquelas coisas. Antes de começar a comer também, Zayn ficou me olhando e rindo. Só quando limpou ketchup do canto dos meus lábios é que entendi o quão desesperada estava.
  - Eu não sabia que essa foto existia. – Éramos rodeados por balões e um deles chamou a minha atenção. Puxei a fotografia e a mostrei a Zayn.
  - Cwonhse- gwuhi . – Falou de boca cheia e lhe entreguei o copo de milk shake.
  - Engula e repita, porque só o que eu entendi foi e olhe lá.
  - Consegui com ! – Repetiu, limpando a garanta. – Ela tirou de nós no Winter Ball... E também tinha várias outras fotos. Consegui outras com a minha mãe. Lembra dessa?
  - Ela guardou essa foto?! – O observei levantar e procurar a tal foto. Nós estávamos juntos com as irmãs dele, na noite em que conheci todas. – Meu Deus... Lembra como eu estava nervosa?
  - Como esquecer? – Riu. Terminando sua metade da pizza. – E hoje todas elas te amam.
  - Amam mesmo? – Também terminei com a comida e agora só me deliciava com o milk shake.
  - Tá brincando? Minha mãe é louca é por você! Quando liga, pergunta como você está antes mesmo de perguntar por mim! – Zayn disse, indignado. – Meu pai também, aliás. Todo mundo vê que você é a mulher pra mim.
  - Awwwn. Eu queria que meu pai gostasse de você! – Brinquei, fazendo-o engasgar. – Não se preocupe, nana não te odeia... Mas ela gosta de todo mundo, então não conta.
  - Cala a boca, ! – Se irritou falsamente e bateu em mim com uma almofada do sofá.
  - Outch, idiota! – Gargalhei, retribuindo o favor.
  - Okay, okay... Nada de brigas, você ainda vai arrancar o meu olho! – Cobriu a cabeça com os braços.
  - Você começou! – Abracei a almofada, fazendo bico.
  - Tem razão. Desculpe, babe. – Roubou um beijo e sua expressão se tornou confusa. – Por que eu estou pedindo desculpas?! Você é que falou que seus pais não gostam de mim...
  - Oh, baby... Ainda não percebeu que eu sempre tenho a razão? – Sorri vitoriosa.
   Zayn não reclamou. Sabia que não valia a pena. Ao invés disso, deslizou as mãos pelo meu rosto, até perdê-las em meus cabelos bagunçados. Avançou nos meus lábios, me fazendo deitar no sofá. Deixei a almofada de lado, segurando em sua nuca. Prendi seu lábio inferior entre os meus e Zayn investiu contra a minha boca. Nossas línguas se esbarravam e o gosto do chocolate era forte. Estávamos comemorando nosso primeiro ano de namoro. Um ano repleto de altos e baixos, mas muito amor. Era um dia a ser celebrado, principalmente pela incerteza do próximo ano.
  - Quer ver os seus presentes? – Eu disse como se oferecesse doce a uma criança.
  - Vou ganhar presente? – Seus olhos aumentaram quando ergueu ambas as sobrancelhas.
  - Presentessss. – Ri ao ser levantada pra fora do sofá com pressa.
  - Onde estão? – Me puxava pela mão, fazendo nós dois esbarrar em balões.
  - Calma, Zayn! – Era como se estivesse passeando com e ele decidisse perseguir um esquilo. – Estão no quarto!
  - No quarto!
   Me soltou por fim e correu na direção que eu falei. Rolei os olhos e andei até lá também. Zayn procurava embaixo da cama e dentro das gavetas da cômoda; até mesmo no banheiro. Encostei na parede e cruzei os braços.
  - Da próxima vez eu desenho um mapa pra você. – Continuei olhando-o até que sentou no colchão com um bico exagerado.
  - Não consigo achar, . – Choramingou. – Cadê?
  - No único lugar que você não ia procurar! – Andei até o closet, afastando alguns cabides para pegar a caixa escondida entre as minhas coisas. – Uau, está mais pesado do que eu lembrava...
  - O que você fez?! – Me ajudou a colocar o seu presente em cima da cama, perto das flores que ainda descansavam ali.
  - Acho que essa é a parte que eu falo que não é nada demais, mas tenho certeza que você vai pirar... – Fiquei de joelhos sobre o colchão, ansiosa para ver a reação do outro. – Vá em frente!
  - Mas o embrulho é do Super Homem! – Pela primeira vez vi Zayn com pena de rasgar um embrulho. – Que se dane!
  - Assim é melhor.
   O ajudei no final, juntando todos os pedaços de papel. Se e Lola estivessem ali, teriam a diversão de uma vida toda, mordendo e rasgando em milhares de partículas minúsculas. Zayn retirou a fita adesiva da caixa e abriu a tampa. Seu queixo caiu e olhos brilharam. Começou a tirar os brinquedos de dentro, pulando sentado na cama.
  - Isso tudo é oficial! Como? – Segurou o martelo de Thor autografado. – Larrie Lieber!
  - Ele mesmo! – Não fazia idéia de quem aquele poderia ser, mas fingi que entendia do assunto. – E olha esse... É do Stan Lee! E é o capacete do Iron Man!
  - Tudo aqui está autografado... Como você conseguiu isso? – Zayn estava mais do que encantado. Entrou em um estado de fantasia, onde a sua criança interior realizava o maior sonho.
  - Tenho meus contatos. – Mordi o lábio, feliz por vê-lo sorrir tanto. – Consegui o telefone da Marvel... Sinceramente, não achei que fossem mandar nem uma imagem autografada e olha tudo que você ganhou!
  - Tem de tudo aqui... Bonecos de ação, luvas do incrível Hulk, DVDs... É o melhor presente que eu podia ganhar! – Deixou as coisas de lado e se atirou contra mim. – Obrigado!
  - Mas eu não fiz quase nada... – Ri, sendo apertada contra ele. – E não vou nem comparar com todas as coisas que você já me deu.
  - Tem razão. Isso é melhor. – Segurou meu rosto entre as duas luvas gigantescas que tinha nas mãos.
  - Você vai usar isso o dia inteiro, não vai? – Afastei suas mãos de mim. O brinquedo era duro demais e machucava.
  - Hulk vai. – Imitou uma voz mais grossa e fez cara de bravo.
  - Posso não ser Betty Ross, mas talvez consiga transformar esse Hulk em Bruce Banner. – Segurei em seus pulsos e fiquei na ponta dos pés para beijar seu pescoço. – Se você soltar isso, deixo você apertar outra coisa.
  - Posso ficar com a mascara do Iron Man? – Olhei pra ele. Zayn falava sério.
  - Eu deveria ter te dado um relógio. – Pisei com os calcanhares no chão. Agora ele queria brincar e eu não ganharia carinho.
  - Do Batman? – Sentou na cama e pelo menos tirou as mãos do Hulk.
  - Claro, por que não? – Ri baixo. – Enquanto você está distraído... Vou lavar os pratos do café da manhã.
   Era nosso aniversário, mas Zayn parecia mais interessado em brincar com seus novos presentes do que passar um tempo comigo! Sua namorada. De um ano. Talvez não fosse ser assim se ele soubesse que nosso tempo estava contado e a areia da ampulheta diminuía um grão de cada vez. Saí do quarto e fui até a sala, começando a recolher as fotografias, soltando-as dos balões. Precisaria de todas quando partisse. Talvez elas diminuíssem um pouco a saudade que eu já sabia que iria sentir.
  - Não vai fugir de mim! – Zayn passou um braço pelas minhas costas e outro por trás de meus joelhos, me carreando como uma noiva. – É a minha vez de dar o meu presente.   - Achei que estivesse distraído com os seus. – O abracei pelos ombros, esquecendo um pouco das fotos.
  - Estava. Até que você saiu do quarto e meu mundo escureceu. – Deu meia volta, voltando para o corredor. – ‘Cause you light up my world like nobody else.
  - Eu já disse que não pode usar as próprias músicas como cantada! – Balançava os pés no ar.
  - Mas elas funcionam!
   Zayn me carregou até a porta do meu escritório e me colocou no chão. Meu presente estava guardado lá dentro. Pensei que, como ele, teria que procurar pelo quarto, mas foi só entrar que o vi. Um quadro enorme que ocupava metade de uma parede estava pendurado. A assinatura provava que a autoria era de Zayn. Ele usou tinta, caneta e muito spray para pintar um retrato de mim em preto e branco. A única cor era o azul dos meus olhos. O enquadramento foi feito a partir dos meus cotovelos até o topo da cabeça.
   A única coisa que me protegia era um lençol que eu segurava contra o peito. Estava séria, mas serena. Se aquela era a forma que Zayn me enxergava, eu era linda. Traços suaves, mas únicos, cabelos ondulados e bagunçados, como ele disse gostar tanto. Me aproximei do quadro e toquei-o com a ponta dos dedos. Eu lembrava daquela tela; Zayn a escondia com um lençol há meses, desconversava quando eu perguntava o que era. Agora entendia o por quê.
  - O que acha?
  - É a coisa mais bonita que alguém já fez pra mim...

  

  

+++

  

  - Paul... Para qual andar estamos indo? – Estava pressionada contra a parede do elevador do The Shard, o prédio mais alto da Europa.
  - Setenta e dois. – O homem alto segurava na barra do vidro, também com certa inquietação por estarmos indo tão alto. – Estamos quase... Quase lá...
   Enquanto eu tomava banho, Zayn fugiu de casa e deixou apenas uma caixa branca em cima da cama com o bilhete que dizia: “Esteja pronta em uma hora e um carro vai lhe buscar.” Dentro da caixa estava o vestido que eu usava agora e, depois de uma hora, Paul apareceu na portaria do apartamento com uma limusine e motorista. Nosso lugar de destino foi o The Shard, primeira vez em que nós dois pisávamos em um lugar tão alto.
  - Sabe o que Zayn está aprontando? – Perguntei. Olhei no painel digital do elevador e ainda estávamos no andar cinqüenta. Minha barriga esfriou de repente.
  - Sei sim. – Sorriu e ficou calado novamente.
  - Não vai me contar, certo? – Cruzei os braços.
  - Não posso. – Sorriu ainda mais.
   Havia ago na amizade de Paul com os meninos que sempre gostei. O mesmo valia para a cumplicidade, mas naquele fim de tarde em questão, me irritou bastante. Pouco tempo depois, chegamos ao último andar do prédio de vidro em que visitantes eram permitidos. O homem guiou nosso caminho pelo corredor e Zayn se encontrava no fim do mesmo. Olhava para a vista do lado de fora e virou assim que Paul limpou a garganta. O segurança indicou que ficaria por ali e eu podia ir de encontro ao meu namorado e assim o fiz.
  - Azul é mesmo a sua cor. – Fez uma reverência quando me aproximei e beijou as costas daminha mão. – Você está incrivelmente estupenda.
  - E você... Perfeito. – Suspirei, olhando bem pra ele. Zayn estava ridiculamente lindo. – Essa vista...
  - A melhor vista de Londres! – Me levou até o vidro. Conseguíamos ver a cidade inteira dali. Todos os seus monumentos pequeninos e luzes que começavam a acender com a chegada da noite. – Mas não foi pra admirar a vista que te chamei aqui.
  - Então pra quê? – Virei o rosto.
   Zayn se afastou alguns passos e tirou uma caixinha vermelha de couro do bolso, do tamanho perfeito para guardar um anel. Um anel de noivado. Meu coração começou a bater mais forte dentro do peito enquanto eu tentava encontrar um bom motivo para ele ter se ajoelhado no chão enquanto erguia a caixinha na minha direção.
  - Tomlinson... Segura, por favor? – Me entregou a caixinha e se inclinou. – Preciso amarrar o cadarço.
  - Zayn! – Não era um pedido de casamento. Apenas uma brincadeira. Rolei os olhos, me sentindo envergonhada e indignada.
  - O que foi? – Sorria travesso. Zayn tinha plena consciência do que me fizera pensar que ia acontecer. – Não gostou do presente?
  - Não abri ainda. – Queria bater nele, mas só o que fiz foi rir. – Eu te odeio, aliás.
  - Não odeia não.
   Tinha razão. Eu não podia odiá-lo nem que me pedisse em casamento com todas as palavras e depois dissesse que não passava de uma brincadeira. Abri a caixinha por fim, encontrando um singelo pingente em ouro.
  - É o seu nome em árabe. – Explicou.
  - É lindo! Queria estar usando alguma corrente pra poder colocar agora... – Fechei a caixinha e a guardei na bolsa. – Obrigada, baby.
  - Só isso?! Não ganho um beijo de agradecimento? Nada? – Cruzou os braços. Eu segurei em seu rosto e juntei nossos lábios em um beijo rápido, mas que o fez sorrir.
  - Também tenho outro presente pra você. – Acenei para que Paul se aproximasse. – Só não sei se está merecendo...
  - Se me disser que trouxe Stan Lee pra me conhecer, eu juro que desmaio. Ou Johnny Depp!   - Muito másculo, Zayn. – Paul ouviu e brincou, me entregando o pacote retangular embrulhado com perfeição.
  - É melhor que isso... – Ofereci o presente.    Tinha a altura de uma folha de papel e espessura de um livro fino. Zayn rasou o embrulho com cuidado para não estragar o conteúdo e até Paul se surpreendeu. Era um gibi em preto e branco, apenas com alguns riscos aqui ou ali, representando as cores que seriam usadas na publicação oficial do comic book.
  - Ele se parece comigo... – Zayn apontou para o personagem na capa.
  - Ele é você. – Os dois homens me encararam sem acreditar muito no que eu falava. – Vou explicar... Quando liguei para a Marvel, a única coisa que pedi foi para que algum dos desenhistas fizesse a sua versão em sketch. Então mandei uma foto sua de quando nos conhecemos... Com a franja loira e tal. Não esperava que atendessem meu pedido, claro, mas tinha que tentar.
  - Por isso conseguiu todos
aqueles produtos autografados? – Começava a ligar um ponto ao outro.
  - Isso. O que posso dizer? Eles gostaram de você... E do resultado dos desenhos. Conversei com Tradd Moore, o responsável pelo design do novo Ghost Rider. Ele gostou tanto que decidiu usar oficialmente. – Era mais fácil entender do que explicar. – Para resumir... É você! Você é o novo Ghost Rider!
  - Uaaaaaaaaaau. – Paul balançou o menino pelos ombros, comemorando. – Consegue acreditar? Você é um super-herói da Marvel!
  - Baby? – Zayn encarava um ponto fixo nos pés, então tentei arrancar-lhe alguma reação. – Diz alguma coisa... Não gostou?
  - E-eu... Eu sou... Eu sou um super-herói. – Ele sorriu, mostrando todos os dentes e não conseguia fechar a boca. Risadas sonoras escapavam enquanto ele olhava o seu desenho. – Holy shit.
  - Robbie Reyes é o nome do personagem, mas não me faça começar a te chamar assim... – Ri com vontade de chorar. Estava orgulhosa, feliz por ele... Feliz por ser a razão daquele sorriso; ainda que indiretamente.
  - Eu te amo! – Entregou o comic para Paul com cuidado e me abraçou com violência. Me tirou do chão e começou a girar. Fechei os olhos enquanto rodopiávamos por medo de ficar tonta. – Agora é sério! Casa comigo?
  - Boa tentativa, mas perdeu a sua chance. – Tropecei na barra do vestido, tentando me colocar de pé.
  - Crianças, está na hora da reserva do restaurante... – Paul avisou.
   Adorava quando ele nos chamava daquela forma, pois parecia um pai cuidadoso e carinhoso. Zayn me ofereceu o braço e fomos até o restaurante que ficava na outra ponta daquele corredor. Se chamava Oblix e as estrelas de prata ao lado do nome criavam um pouco de expectativa positiva. Paul deu nossos nomes e uma mulher que usava um tubinho preto nos guiou até o que chamou de “a melhor mesa do restaurante”, quem sabe do país.
   O restaurante em si era lindo. Tudo era de madeira escura, desde o chão até as lamparinas no teto. A atmosfera era calma e acolhedora; romântica acima de tudo. Luzes baixas davam descrição a casais que, assim como nós, queriam uma noite em dois. Sentei ao lado da janela quando meu namorado puxou a cadeira, e ele fez o mesmo na minha frente. O arranjo de mesa era um jarro retangular com água até a metade e uma vela redonda boiando tranqüila.
  - Se precisarem de mim, estarei no bar. – Paul anunciou.
  - Não vai se sentar com a gente? – Era um jantar romântico, mas não queria ele ficasse sozinho e entediado!
  - Não se preocupe, , eles têm petiscos e drinks por lá... Estarei em boa companhia. – Piscou. – Se precisarem de mim, podem chamar.
  - Obrigado, Paul. – Zayn agradeceu.
  - Bom jantar e feliz aniversário. – O homem se afastou.
   Antes que pudesse me concentrar em meu namorado, a garçonete se aproximou com dois cardápios.
  - Boa noite, me chamo Annita e serei sua acompanhante esta noite. – Sorriu, passando mais tempo com os olhos em Zayn do que em mim. – Posso oferecer uma cartela de vinhos?
  - Traga uma garrafa do seu melhor vinho francês. – Zayn sorriu encantadoramente. – Minha esposa é francesa e estamos comemorando.
  - Claro, com licença. – Deixou o cardápio no canto da mesa e se retirou.
  - Simpática. – Cochichou quando a mulher já estava longe.
  - Você me chamou de esposa... – Repeti o que Zayn não parecia ter notado.
  - Chamei? – Parou pra pensar e segurou a minha mão sobre a mesa. – Não gostou?
  - Gostei. – Sorri, entrelaçando os nossos dedos. – E eu teria dito sim.
  - Quando?
  - Quando amarrou os cadarços. – Rolei os olhos, envergonhada pela lembrança.
  - Não foi você que disse que não é a hora ficarmos noivos? – Rolou os olhos como se me imitasse.
  - E não é! Mas é você... E eu! – Suspirei. Começava a pensar na viagem da próxima semana e senti o estômago revirar. – Vamos nos concentrar no casamento de Lou e Harry primeiro.
  - Prefiro me concentrar em você. – A mesa era pequena, então só precisou inclinar levemente para frente encontrei seus lábios com os meus.
   Estávamos fora de casa, jantando juntos em um restaurante cheio de outras pessoas. Não era sempre que podíamos fazer aquilo, mas julgava pela faixa etária dos casais a nossa volta que fãs escandalosas de boybands não costumavam freqüentar aquele ambiente. Annita retornou com o vinho e serviu as nossas taças. Agora que pensava que éramos casados, olhava igualmente para nós dois, respeitando limites. Espiava de vez em quando em minha mão esquerda na procura de uma aliança, mas o anel solitário que ganhei de Zayn no Ano Novo parecia disfarçar bastante.
  - Um brinde à nós. – Zayn ergueu a taça. – Robbie e .
  - Zayn! – Reclamei, mas já devia saber que ele adotaria seu nome de super-herói.
  - Tudo bem, desculpa... – Riu e repetiu. – Um brinde a nós... E que este seja o primeiro ano de muitos.
  - Cheers. – Bati em sua taça com a minha, escutando o tilintar doce dos copos. – Gostaria que o dia de hoje pudesse durar pra sempre...

    

Chapter LXXXIII

- BOYS! – Paul tentava correr atrás dos meninos que não paravam de correr pelo estacionamento interno da O2 Arena. – TEMOS MUITA COISA PRA FAZER HOJE! PRECISAM DE VOCÊS NO PALCO.
  - CORRE, PRESTON! – Harry passou por nós, na Segway de Niall, e roubou o boné do outro segurança.
  - , gostaria de nos ajudar no lugar de ficar rindo tanto? – Paul começava a perder a paciência.
  - Aham, claro...
   Segurei o riso e corri em direção ao carrinho branco que Louis dirigia. Zayn estava na caçamba e me olhava com uma expressão travessa. Ainda que eu quisesse ajudar, era só uma garotinha contra cinco meninos que não faziam nada do que lhes era pedido. Como conseguiria o que uma equipe de dez seguranças gigantescos não conseguia fazer? Meu irmão esperou eu pular para dentro do carrinho pra começar a correr de novo. Os homens tentavam nos cercar, obrigando o motorista a fazer paradas bruscas que quase me derrubavam pra fora do carrinho. Harry gritou.
  - Um a menos! – Paul comemorou, mostrando que Preston segurava Harry em cima dos ombros.
  - Onde está Liam? – Preston entregou seu primeiro capturado para Jarvis, que estivera treinando com os meninos algumas horas antes.
  - Já está na mesa do fisioterapeuta, recebendo a primeira massagem. – Paul explicou. – ZAYN, VOCÊ É O PRÓXIMO!
   O carrinho fez uma parada brusca e Zayn e eu batemos contra o vidro. Olhei pra frente e Preston surgiu do nada na nossa frente, arrancando a chave e puxando Lou pelo braço. Não o machucou, apesar do que seus gritos faziam parecer. Zayn saltou da caçamba e pegou seu skate. Me deixou para trás, mas o importante é que ele se salvasse. Tentei fugir também, mas Jarvis conseguiu me capturar. Ele era rápido e forte demais pra que eu corresse.
  - Corre, Zayn! – Gritei, dividida entre risadas e tentativas de escape.
  - Yaaaaaaaaaaaaaah! – Zayn reclamou ao também ser segurado pela camisa e arrastado. – Droga!
  - Vão parar de brincar agora? – Paul guiou sua equipe e os respectivos prisioneiros para dentro do prédio da arena e trancou o portão que levava até a garagem. – E, , você não devia estar na aula agora?
  - Não pude ir à aula hoje, porque tive uma consulta médica. – Metade era mentira e metade verdade. Precisei mesmo ir ao hospital para fazer exames exigidos pelo Bolshoi e conversar com o médico que me atendeu quando desmaiei. – Engordei três quilos!
  - Estamos todos orgulhosos de você, . – Jarvis me soltara e agora só andávamos lado a lado.
  - Obrigada. – Sorri assim que Zayn me abraçou de lado. – Se continuar assim, chegarei ao meu peso ideal em breve.
  - Não tem idéia do quanto isso me deixa feliz. – Zayn me apertou e beijou meu rosto.
   A O2 Arena era mais do que gigantesca. Possuía camarins infinitos e alguns deles com passagens secretas para quartos mais secretos ainda. Não tivera a oportunidade de ir visitar o palco que estava montado tinha cinco dias, mas sabia que estava perfeito. Chegamos a um corredor de paredes brancas e chão cinza, onde Liam acabava de sair de uma sala e mancava um pouco, com cara de dor. Os seguranças se dispersaram por saber que ali não teríamos pra onde correr.
  - Zayn, estão te esperando... – Liam gemeu, se apoiando na parede. – Cuidado, Alex é cruel.
  - O fisioterapeuta fez isso com você? – Perguntou, temendo pelo próprio futuro. – Não quero ir...
  - Sorte que não tem escolha. – Paul abriu a porta. Ele estava levanto muito a sério aquela história de ser empresário de turnê da banda. – Vamos lá, Zayn.
  - Boa sorte. – Desejei, trocando um selinho com meu namorado.
  - Ainda vai estar aqui quando eu sair? – Zayn ignorou todos a nossa volta.
  - Claro que vou. Ainda não me mostrou o palco...
  - Não demoro. – Beijou a minha testa e foi.
  - , Rach está te procurando. – Liam já conseguia sorrir e quase andar normalmente.
  - Você sabe onde ela está?
   Liam assentiu com a cabeça e me levou até o final do corredor. Disse que entraria comigo, mas estava sendo chamado no palco. Ele era, de longe, o mais responsável e com a cabeça no lugar. Eu sabia que metade daquilo era nervosismo pelo que iria acontecer no dia seguinte e não podia ser diferente. Acontece que cada um encarava o nervosismo de formas diferentes: Liam queria que tudo estivesse perfeito e pronto com antecedência, Lou e Harry atrapalhavam tudo que podiam, Niall cantava e tocava seu violão 24h e Zayn procurava apoio a sua volta.
  - Rach? Ou Louise Teasdale? – Brinquei com o nome profissional que a stylist do One Direction usava em seu ambiente de trabalho. – Baba disse que você estava me procurando...
  - Estava sim, pode entrar! – Me chamou, sentada em uma cadeira de salão de beleza. Todo o quarto parecia um salão de beleza. – Tenho umas coisas pra você levar. Shampoo, cremes e algumas coisinhas que pode usar pra prender o cabelo quando for dançar...
  - Obrigada, Rach... Mas sabe que não precisava! – Sentei na sua frente e fui entregue a caixa preta de metal.
  - Nunca se sabe o que vai encontrar em Moscou. – Deu de ombros com a voz aumentando um tom. Olhou para todos os lados, menos pra mim; prestes a lacrimejar.
  - Moscou não é tão longe quanto pensa. – Abracei meu presente, respirando fundo para manter o controle. – Ainda assim, muito obrigada.
  - Tem mais uma coisa. – Levantou e foi até a sua bolsa, tirando de lá um papel dobrado. – Lux desenhou isso pra você. Ela não sabe... Aliás.
  - Ela me desenhou como uma bailarina? – Assim que abri o papel, meus olhos começaram a arder. Não era nenhuma obra de arte, apenas um conjunto de riscos agitados e fortes, sem muita conexão. Eu estava usando um tutu cor de rosa e deduzi que ela era a menina menor ao meu lado.
  - A professora pediu para que desenhassem alguém que admirassem. Alguns alunos desenharam super heróis, outros os pais... Lux desenhou você. – Tirou uma caixinha de lenços da gaveta e me ofereceu um. – Achei que devesse ficar com ele.
  - Luxy! – Funguei, aceitando o lenço quando não havia mais volta e comecei a chorar baixinho. – Vou sentir tanta falta da minha porquinha.
  - Já tem o horário do vôo? – Rachel estava no mesmo estado que eu. – Posso te levar ao aeroporto.
  - Estou com a passagem dentro da bolsa. Meu vôo sai amanhã as dez da noite.
  - As dez? Mas esse é o horário que o show começa. – Cruzou as pernas e apoiou o cotovelo no joelho, inclinando o corpo pra frente.
  - Eu sei... – Sussurrei, olhando para meus dedos.
  - Como acha que os meninos vão subir no palco sabendo que você está esperando um avião que vai te levar embora?
  - Eles não vão saber disso.
  - O que está dizendo? Não pode fugir ou simplesmente ir sem falar nada pra ninguém... – Levantou como se a cadeira se tornasse desconfortável de repente. – Não espera que eu conte pra eles, não é?
  - Não. – Sequei os olhos e nariz. – É que... Eu não tenho a força ou coragem pra contar a eles. Vim enrolando esses dias com a esperança de que ficasse mais fácil, mas só ficou mais difícil! Agora Louis e Harry estão noivos... Como vou falar pra eles que não estarei por perto pra ajudar a planejar? E quanto a Niall, ... Liam e Zayn? Nunca vão me deixar ir!
  - Não sem um escândalo primeiro. – Comentou sem ajudar muito os meus nervos. – Desculpa.
  - Você está certa, não se desculpe. – Bati em minha própria testa. Não conseguiria ter uma despedida pessoalmente, quanto mais seis. – Só... Poderia fazer uma coisa pra mim?
  - Qualquer coisa, . – Parou de andar de um lado para o outro.
  - Se eu escrever cartas, explicando pra cada um o que aconteceu... Você entrega?
   Rach apenas me abraçou com força. Entendi aquilo como um sim. Se era difícil pra ela me ver partir, imagine como seria pra mim? Eu, que estava deixando tudo que eu conhecia pra trás. Todos os meus amigos e amores. Teria Nick e Holly me esperando, os únicos que eu conheceria em um país inteiro. Em seu abraço reconfortante, deixei que meu choro saísse. Eram lágrimas silenciosas e cheias de dor; dor essa que incinerava o meu peito de dentro pra fora.
  - Pronta pra conhecer o- ? – Zayn acabava de entrar no cômodo. – O que foi? O que aconteceu?
  - Só estamos emocionadas com o dia de amanhã, só isso. – Rachel secou as minhas lágrimas e usou aquela desculpa perfeitamente.
  - Babe... Não precisa ficar assim. – Ele substituiu o abraço da minha madrasta e demorei pra soltar.
  - Uhum. Eu sei. – Balancei a cabeça com veemência, me forçando a parar. Segurei em seus ombros, apertando para ter certeza de que ele ainda estava ali. – Eu estou tão orgulhosa de você... Olhe só onde estamos. Um menino de Bradford... Agora está na O2 Arena.
  - Isso não é razão pra chorar! Vamos sorrir. Eu amo o seu sorriso. – Beijou as minhas lágrimas, com meu rosto entre as mãos. – Vim te chamar pra ver o palco. As luzes estão acesas... Não quer ir?
  - Quero. – O abracei mais uma vez. Desejava a cada instante que não fosse o último. – Rach vem com a gente?
  - Não, não, não... – Repetiu com a voz trêmula. – Vou arrumar as coisas por aqui. Daqui a pouco Niall vem cortar o cabelo.
  - Vou pedir pra ele vir. – Zayn segurou a minha mão e sorriu para a quase sogra.
   Saímos da estação de beleza e Zayn começou a correr. Sua mão na minha me fazia acompanhá-lo com uma velocidade maior do que eu teria se estivesse sozinha. Nos abaixamos quando dois homens da equipe ergueram um sofá que levavam de um camarim para o outro e pulamos caixas de som deitadas por ali. Era a véspera do primeiro de três shows do One Direction naquela casa de shows e ainda havia tanta coisa a ser preparada! Por fim encontramos uma placa com as palavras: “Main Stage” e soubemos pra onde ir.
   Descemos uma pequena escada que levou até o interior do palco; embaixo dele, pra ser mais exata. Precisamos andar curvados, mas nada que causasse dor nas costas. Homens e mulheres trabalhavam por ali para que tudo ficasse pronto e todos conheciam Zayn e a mim, mesmo que eu não soubesse seus nomes. Cada um mais simpático que o outro.
  - Achei que íamos conhecer o palco, não o porão dele. – Comentei quando paramos perto de um mecanismo quadrado e estreito.
  - E vamos. – Bateu no ombro do homem mais perto de nós. – , esse é Will. Ele vai te lançar para o palco.
  - Muito prazer. – O homem apertou a minha mão e apontou para o quadrado. – Pode subir.   - Espera, vai me lançar como? – Zayn me deu leves empurrões para que eu entrasse no quadrado e abaixasse a cabeça.
  - Não segure nesses ferros, ou vão cortar a sua mão. E quando chegar lá em cima, dobre os joelhos pra não sofrer impacto. – Will explicou ao segurar uma alavanca. – Um, dois, três!
   A contagem chegou ao final e a plataforma onde eu estava agachada subiu com força e velocidade. Por culpa da física, fui jogada para cima e o buraco embaixo dos meus pés foi fechado. Dobrei os joelhos por instinto e um par de mãos segurou meus braços.
  - Não é legal? – Liam me ajudou a recuperar o equilíbrio.
  - Eu adorei! Posso fazer de novo? – Virei de frente para ele.
  - Vas Happening?! – Zayn pulou pelo mesmo tipo mecanismo que eu, mas com muito mais estilo. – Eu disse que era sick.
  - O que achou do palco? – Harry estava sentado no segundo andar, balançando as pernas acima da minha cabeça.
   Falar que o palco era incrível era pouco. Lembrava da maquete que Zayn me mostrou e aquilo ali era a réplica perfeita, mas ainda mais legal. Era comprido e tudo muito alto. Duas escadas e duas rampas e muitos telões de LED que, no momento, possuíam fotos dos meninos em montagens brilhantes e descontraídas. Senti vontade de chorar de novo, agora por saber que nunca os veria ali em cima; não quando o show estivesse acontecendo de verdade.
  - Tudo é tão real... – Disse, me movimentando em direção as escadas. – E tão alto!
  - Cuidado pra não cair, . – Haz me encontrou no topo da escada pra me deu a mão. – Consegue imaginar esse lugar cheio?
  - Não teremos que imaginar por muito tempo. – Louis estava na outra ponta do segundo andar. – Casa lotada, mates. É oficial.
  - Lotamos o show de amanhã? – Zayn gritou.
  - Lotamos os três shows!

  

  

+++

     

Considerando que só tive duas semanas para mudar o rumo de minha vida inteira, era de se esperar que nas vésperas da grande viagem eu ainda estivesse sofrendo para arrumar a bagagem. Pior ainda quando ninguém podia me ver arrumando-a. Aproveitei que Zayn passaria a tarde na Arena ensaiando (e eu fui deliberadamente expulsa por atrapalhar mais do que ajudar), e resolvi terminar de uma vez por todas a juntar todas as coisas que levaria no dia seguinte. Não levaria o meu guarda-roupa inteiro, apenas o básico e suficiente para as primeiras semanas na Rússia. Terminaria a mudança assim que estivesse devidamente instalada no país e conhecesse um pouco dos costumes locais e etc.
   Primeiro, juntei todas as minhas sapatilhas e roupas de ballet; dando sorte por quase não ocuparem espaço na mala. Segundo Nick, a neve estava pesada naquele mês, então as roupas térmicas que usei em Zermatt também foram para a mala. Em aproximadamente uma hora a bagagem já estava escondida no closet, como se fosse um objeto qualquer que guardássemos ali dentro. Sentei no chão do quarto, onde repousava com o olhar caído. Era como se ele soubesse que eu estava indo embora. O mesmo valia para Lola, que seguia todos os meus passos.
  - Sentirei sua falta, Bo. – Abracei o husky, que cheirou os meus cabelos e arranhou a minha coxa com a pata. – Mas logo vou poder buscar vocês dois... Ouviu, Lola?
   A pequena Pom reconhecia o seu nome, então pulou no meu colo. Conversei com os dois em nossa linguagem própria; que consistia em mim fazendo sons que um humano não conseguiria entender, mas que eles gostavam muito. Pelo menos para aqueles dois eu não precisava explicar nada. Já pra Zayn e os outros... Ainda precisava escrever as cartas de despedida. Vinha maturando essa idéia desde que conversei com Rachel. Não sei... Acho que esperava que uma inspiração me atingisse do nada e que poderia simplesmente escrever tudo que tinha pra falar. Mas nunca poderia ser tão fácil assim, não é?
   Deixei meus filhotes e levantei. Tinha alguns papeis de carta e envelopes que sobraram das conversas entre Nick e eu. Não sei ao certo como começamos com aquele tipo de correspondência retrô, mas fiquei grata por já ter tudo que precisava em casa quando o momento chegou.
   (Tocar) Peguei a minha Memory Box escondida em baixo da cama – não tão escondida assim – e me acomodei na metade do colchão. Antes de começar a escrever qualquer coisa, abri a caixa, sabendo que encontraria ali um pouco de tudo. Pulseiras do V-Fest, minha carta de aceitação na London Royal Academy, os óculos de meia Lua de meu avô.
   Fotos... Tantas fotos! Eu não precisava estar em todas elas para que fossem especiais pra mim. Papá, minha mãe e meu pai, nana... Eu tinha ali imagens dos quatro. Umas em preto e branco, de quando eram jovens como eu, até mais recentes. Louis e eu enquanto crescíamos, muitas delas que só viemos descobrir a existência anos depois. Até mesmo uma ou duas fotos onde Pamela e Anttonie apareciam. Não por serem memórias boas, mas faziam parte do meu passado, eu quisesse ou não. Harry, Liam, Niall e logo apareceram ali também. Eu os amava tanto! Minha segunda família, meu melhores amigos. Zayn era o que mais brotava entre os papeis.
   Flores secas, papeis apagados pelo tempo, tickets de parques de diversão e entradas de cinema. Um pedacinho de cada melhor momento que eu passara, fosse em Londres, Paris ou qualquer lugar do mundo. Eu não queria sentir como se estivesse deixando aquilo tudo pra trás, apenas seguindo em frente... Partindo em uma nova aventura. Apoiei a tampa da caixa em minhas pernas e peguei a primeira folha. Não faria sentido começar aquelas despedidas se não fosse pela pessoa que surgiu primeiro na minha vida: Louis.
  “Oi, Boo Bear!
   É a sua irmã aqui... Mas acho que já percebeu isso por causa da minha letra. Você teve vinte e dois anos pra decorar essa letra, então é bom que saiba que sou eu sem que eu precise falar.
   Se há uma coisa que eu tenho certeza que sabe sobre mim é o quanto você é importante na minha vida. E sempre será. Crescer ao seu lado foi uma aventura inesquecível, principalmente por acreditar que, para um garoto que nunca quis crescer, você, Louis, foi o meu melhor exemplo. Um exemplo de amor, esperança e carinho. O super herói de uma criança em uma casa partida. Quando eu precisava de uma mão pra segurar, você estava lá pra oferecer a sua. Quando eu quebrava alguma coisa... Bem, eu podia sempre te culpar! Desculpe por isso, irmãozinho. Se serve de consolo, pode contar à nana que quem quebrou a janela da garagem fui eu.
   Você sempre acreditou nos seus sonhos e foi atrás deles, fosse jogar futebol no campeonato entre escolas, conseguir o papel principal em Grease ou se tornar um cantor tão famoso que o mundo inteiro sabe o seu nome. Acho que essa é outra coisa que aprendi com você... Por isso, Tommo, tenho que ir embora. A essa hora eu já devo estar longe, mas meu coração fica com você e com todos os meninos. Vou dançar ballet na Rússia, Lou... No Bolshoi. Tenho certeza que se lembra de todas as vezes que te expliquei como essas coisas funcionavam, mesmo que não estivesse prestando tanta atenção. Porque prender a sua atenção sempre foi algo complicado; toda a nossa família vai concordar com isso.
   Desculpe por não ter assistido o seu grande show e por ter partido assim. Mas se já está sendo difícil escrever tudo isso, imagine como seria olhar nos seus olhos e dizer adeus? Tome conta de seu noivo, porque o que vocês tem não é algo comum. Não desista desse amor, por mais que vida possa ser difícil e coloque desafios na sua frente. Se precisar conversar, estarei com o meu telefone no bolso o tempo inteiro. A não ser em horários de aula, mas você me conhece desde que eu nasci, sabe como levo regras de “sem celular na aula” bem a sério.
   Eu te amo, Louis. Espero ter sido uma boa irmã mais nova, porque você com certeza foi o melhor irmão mais velho que eu poderia querer.
  - .”

   Dobrei a carta três vezes e coloquei dentro do primeiro envelope, escrevendo o nome dele por fora. Aquela era a primeira de uma série de cartas que eu precisaria escrever e o aperto sufocante em meu peito deixava bem claro que só se tornaria mais difícil. Seguei as bochechas com uma ponta de lençol, sem querer pensar no que aquilo significava. Passeei o olhar para a caixa de memórias e tirei de lá uma Polaroid que chamou a minha atenção. Era uma foto que Liam e eu tiramos no Zoológico, dentro do aquário; por isso a iluminação estava baixa, mas nossos sorrisos altos. Aquele dia mudou tudo e o mesmo aconteceria amanhã.
  “My dearest Liam,
   Acredito que não haja uma forma fácil ou certa pra se falar isso, portanto tentarei ser o mais breve possível... Eu estou partindo para Moscou esta noite. Entrei na companhia de ballet dos meus sonhos e sei que de sonhos você entende. Tenho certeza que sentirei a sua falta todos os dias e espero que sinta um pouco a minha também.
   Na minha primeira noite em Londres, você não sabia fazer chá gelado e se achava bom em Guitar Hero. Eu não conseguia dormir, ou talvez não quisesse ficar sozinha em um quarto que ainda me era estranho... Até que encontrei você, distraído no sofá, inocente a tudo que aconteceria em nosso futuro. Ficar ao seu lado sempre me acalmou. Você me ajudou em tantas coisas que seria impossível colocar tudo em uma folha de papel. Então obrigada... Pelos conselhos e até pelas brigas. Não pense que a minha ida tem algo a ver com você, pois não tem. Nunca teria. Não quando você é uma das razões mais fortes que me deixaram confusa quanto a aceitar essa proposta ou não.
   Eu te amo, você sabe disso. Infelizmente nunca pude te dar o tipo de amor exclusivo que você merecia. Mas quer saber? Sempre seremos nós dois, Li. Sei que já te falei isso e não deixou de ser verdade. E quero que você siga em frente, conheça o mundo... E não pense em mim, não deixe a minha lembrança te prender ou impedir de fazer tudo que tiver vontade. Conheça pessoas, se apaixone, tenha o coração partido, levante e se apaixone de novo. Porque quando for pra ser, meu Baba, será. Isso não significa que deva passar uma borracha em meu nome ou enterrar tudo que tivemos. Ainda sou sua melhor amiga e continuarei sendo mesmo que não queira. Eu preciso de você, Leeyum. Mas nesse momento, Zayn precisa mais. Tome conta dele por mim? Ele ama você, sabe disso. Fico mais tranqüila por saber que vocês tem um ao outro, no final das contas.
  Espero te ver logo...
  - Chatinha.”

   Eu sabia que aquelas cartas seriam como armas carregadas e apontadas para o coração dos meus amigos. Estava chorando baixo, com pequenas lágrimas deixando meu rosto molhado; algumas até manchavam o papel. Escrevi o nome do remetente nas costas do envelope e a deixei junto à de Louis. Não precisei fazer sorteio para descobrir para quem escreveria a seguir.
  “Para a minha ruiva preferida,
   A essa altura você já deve ter lido todas as outras cartas, mas vou fingir que sua curiosidade deu uma maneirada. Deve ter percebido pela minha ausência na Academy que algo estava acontecendo, ainda mais depois que a minha foto foi pendurada na parede. Pois é... Eu entrei no Bolshoi, ! Dá pra acreditar? Eu! Infelizmente uma das exigências foi que eu estivesse em Moscou o mais rápido possível, o que me obrigou a largar tudo e viajar essa noite. Não fique com raiva de mim por eu ter partido sem dizer adeus. Nunca gostamos de adeus, você e eu.
   Minha primeira reação quando recebi o convite para o Bolshoi foi querer te ligar e falar o quão emocionada eu estava. Mas não podia. Sabia que você me falaria pra ficar, mas depois daria apoio se eu quisesse ir. Pensando assim... Te ligar teria sido perfeito, não? Mas o que aconteceria depois? Eu não queria os seus olhares tristes com a aproximação do adeus. Eu quero a sua lembrança do jeito que a tenho agora. Uma menina energética e impaciente, que defende os amigos com unhas e dentes.
   Você foi a minha melhor amiga durante esse último ano, mas eu sinto como se fosse assim a vida inteira. Dividimos todos os momentos, fosse passando por eles juntas ou em longas conversas por telefone durante a madrugada. É tão estranho pensar que na próxima semana eu não vou estar na sua casa, assistindo o novo episódio de Doctor Who... É o fim de uma era. Sei que as coisas não vão mudar muito entre nós duas, a não ser a nossa localização, mas ainda é estranho.
   Eu espero que você consiga todos os papeis que quiser e que na próxima vez que nos vermos, seja pra contar como é divertido no set de filmagem. Conversei com Lexy sobre você e ela está mais do que feliz em ser a sua agente. Você já a conhece e tenho certeza que vão se dar muito bem. Esse é o primeiro passo para uma carreira merecida e esplendorosa. Só não esqueça da melhor amiga quando ficar famosa, okay? Sempre serei sua fã número um.
   Eu te amo de um jeito platônico e sei que você é a mulher da minha vida.
  Até breve, .
  - A melhor amiga que você poderia querer! xx
  Ps: Pegue leve com Niall... Ele é meio lerdo de vez em quando, mas te ama muito.”

   No final dessa carta eu sorria mais do que chorava. Amava tanto a minha melhor amiga que mataria por ela. Dobrei a carta e fiz até um pequeno desenho no canto do envelope. Apanharia por pensamento depois que ela lesse a carta, mas nos amávamos o suficiente pra manter essa amizade a distância. Como ela me disse um dia, eu podia estar do outro lado do corredor ou do mundo e sempre teríamos uma à outra. De volta à Memory Box, encontrei um papel dobrado e amassado. Dentro dele, um desenho de três pessoas em forma de palitinhos. Um deles, meu irmão tinha tatuado no braço.
  “Hazza,
   Uma vez você me disse que odeia despedidas. E eu te disse que viajar seria ótimo se não precisássemos dessas despedidas. Sem despedidas, sem lágrimas! Então estou um pouco feliz de não estar aí agora. Você vai chorar quando descobrir, mas pelo menos não terá chorado em uma despedida...
   Engraçado, foi pra você que eu mais disse adeus. Mas nunca dissemos adeus propriamente, dissemos? Não. Quando eu precisava voltar à Paris ou você à Londres, costumávamos falar “até amanhã”. As vezes “amanhã” demorava mais a chegar do que outras vezes, mas sempre agüentávamos firme e fortes. Esse verão eu imaginei que fosse ser diferente. Eu não precisaria ir a lugar nenhum e não precisaríamos dizer até amanhã; não sem realmente querer dizer ‘até amanhã’. Todos os verões que nos separamos deveriam ter nos preparado para esta nova separação... Então porque está me matando por dentro? Esse ano não haverá uma despedida, por menor que seja, mas ainda haverá lágrimas. Pelo menos as minhas.
   Dizem por aí que quem te ama de verdade vai te amar igual quando você estiver usando pijamas ou um vestido como o da Cinderela. Vão te amar durante a melhor fase da sua vida e os seus piores dias. Quando estiver triste, zangado ou feliz. E nós já passamos por tudo isso juntos. Você esteve lá quando eu tive meu coração partido e riu comigo quando meninas se apaixonavam por você (mal sabiam elas...). Assistimos o dia passar, lado a lado, fossem eles tristes ou alegres. Você nunca saiu do meu lado quando eu ficava triste e eu nunca saí do seu. Assistimos um ao outro crescer, ter problemas com o mundo, com as nossas famílias... E até mesmo um com o outro. Mas sempre estivemos juntos. Até quando brigávamos não durava muito, porque sabíamos que o nosso tempo juntos era algo precioso demais pra ser gasto assim.
   Manhãs com desenhos animados, longas noites de confissões, dar notas à garotos na piscina, nadar no mar, cantar juntos, passar o dia inteiro de pijamas. Tantas memórias que não caberiam em um livro. Tantas palavras, risadas, lágrimas e sorrisos que agora estão gravados em nossos corações. Memórias que durarão para sempre. Agora estou na cama, imaginando um jeito de encerrar essa carta que não explicou quase nada do que está acontecendo. Pensei em escutar What Makes You Beautiful, mas isso só me deixaria com vontade de dançar, do jeito que você fazia no meu quarto.
   Sinto muito, Harry, mas estou partindo de novo. Dessa vez o meu destino é um pouco mais longe. Mas, hey... Você também sairá em turnê, então nossa distância vai diminuir um pouco mais vez ou outra. Se precisar de mim, estarei em Moscou. Ou no meu ceular... Skype, onde for mais perto. Eu te amo muito, sabe disso. Jeez, até ficamos noivos por um tempo! E agora você está noivo novamente... Do meu irmão. E logo seremos irmãos pela lei. Mal posso esperar por isso!
  Até amanhã, Haz.

  - . <3”
   Na medida que as despedidas por meio de cartas iam passando, eu me sentia um pouco mais aliviada. Até lembrar que teria que olhar no rosto de cada um no dia seguinte e fingir que nada estava acontecendo, já que nenhum deles leria a carta até que eu estivesse dentro de um avião. Logo o aperto surgia novamente, como uma mão gelada e coberta por espinhos. Lacrei a quarta carta. Mais duas pra terminar. No começo a minha mão doeu um pouco, agora não sentia coisa alguma.
  “Nialler,
   Uma coisa de que sempre tive medo era que você me visse do jeito que eu me via. Mas isso nunca aconteceu, não é? Você sempre me viu com os seus olhos... E isso é algo que vou levar pra sempre. Nunca tive medo de te contar alguma coisa ou fazer certos comentários, pois sabia que você nunca me julgaria e, muito provavelmente, gargalharia do que quer que fosse. Ao mesmo tempo, sempre estenderia o ombro amigo. Nunca escolheu lados, nunca se afastou quando briguei com seu melhor amigo ou quando minha melhor amiga brigou com você. Sempre foi o irlandês de bem com a vida e, acima de tudo, com um coração maior que o mundo.
   Estou lhe escrevendo hoje porque preciso te dizer tudo aquilo sempre quis dizer. Não sei se sabe disso, mas você sempre esteve em meus pensamentos. Eu me lembro de todos os momentos especiais que tivemos juntos. Lembro das tardes que passamos em seu apartamento e sei roubou uma fotografia minha (uma que estava na parede do meu antigo quarto, na casa de Louis, Harry e Liam) para colocar na sua geladeira, ao lado de fotos dos outros. Engraçado como você nunca pediu... Como se eu fosse te negar alguma coisa. Logo a você, Ni, que nunca negou nada pra mim. Realmente desejo hoje que tivéssemos passado mais tempo sozinhos, só nós dois. Sem , Zayn ou qualquer outro amigo que se auto convidasse para nossos programas divertidos.
   Ao mesmo tempo não me arrependo de nada. Sei que a nossa amizade é algo especial e que não terá um fim, não importa onde eu esteja. Infelizmente, não estarei mais   à distância de uma volta de carro, pois estou indo dançar em outro país. Não, esse país não é a Irlanda... Ainda que, pra você, seja o melhor país do mundo! Sentirei saudades todos os dias, porque nenhum dia será o mesmo sem a sua luz. Também sentirei falta de Theo, Denise, Greg... Porque já me considero parte da família.
   Obrigada por me permitir entrar na sua vida e obrigada por dividir comigo tudo o que dividiu. Me deu um pedaço da sua namorada, que sempre será a minha melhor amiga, e deixou que Zayn dividisse o tempo que costumava ser seu para me incluir em seus planos. Obrigada pelas lições e por me mostrar que se é possível sorrir ainda com lágrimas nos olhos, assim como as que tenho agora... Ao te dizer adeus.
   Preciso que saiba que estou orgulhosa de você e de onde você ainda vai chegar, Nialler. Seu talento, sua paixão pelo que você faz é realmente admirável. Nunca me esqueça, pois sempre te trarei no meu coração. Se cuide e cuide da sua ruiva, porque os dois precisam um do outro. Eu te amo muito!
  - Tommo Girl. xx”

   Dobrei o papel, notando que a minha letra piorava progressivamente. Parei um pouco, olhando para todos os cantos do quarto. Chegara à última cara e, com toda certeza, seria a mais difícil. Eu precisaria explicar a Zayn que estava partindo e deixando-o pra trás. Teria que contar que decidira sozinha o que devia ter sido uma conversa entre nós dois.
  “Meu Zayn,
   Começo essa carta pedindo que me perdoe. Me perdoe por não ter sido o primeiro a saber sobre a minha decisão e me perdoe por não ter coragem pra falar isso em voz alta. Temo que não seria capaz de fazê-lo. Você sabe o quanto eu fiquei arrasada quando não recebi convite algum para dançar, você esteve ao meu lado enquanto eu chorava. Foi meu colo, meu porto seguro. Desde o começo foi sempre assim. Gosto de pensar que também fui boa pra você e te dei meu apoio e amor incondicionais.
   Preciso confessar... Quando Nick veio visitar, não foi apenas saudade que ele trouxe. Em seu bolso, estava uma carta que me convidava para entrar na equipe de bailarinos do Bolshoi. Você sempre soube que esse era o meu sonho, mas nunca me perguntou o que aconteceria se eu conseguisse uma vaga. No fundo, acho que tinha medo da minha resposta. Eu também tinha. Pra ser sincera, estou aterrorizada até agora. Mas isso não precisa necessariamente ser algo ruim. Logo sairá em turnê com seus melhores amigos e viverá o seu sonho. Só estou tentando ir viver o meu.
   Isso não quer dizer que eu te amo menos. Também não estou terminando o que temos, Deus sabe que eu nunca conseguiria fazer isso. Pra ser honesta, não sei o que isso quer dizer para nós dois, mas não posso me deixar acreditar que é o fim. Talvez seja apenas um começo de algo ou o hiato do que parecia perfeito demais pra ser verdade. Entre tudo que estou deixando pra trás, baby, você é o que mais machuca. Seus beijos, seus toques... Tudo e absolutamente tudo que me preenche e me mantém viva. Somos apenas a metade de um coração quando estamos separados, sei disso. Não me esqueci de todas as nossas promessas. Só sinto que o meu momento de dançar é esse. Ir para a Rússia é algo que eu preciso fazer.
   Não posso pedir pra que entenda, apenas que aceite. Eu te amo da forma que nunca pensei que pudesse amar. Se você precisar de oxigênio, eu paro de respirar. Me perdi de mim quando te achei, vejo isso agora. Você é a minha luz, meu farol, minha bússola... Eu te amo. No sentido mais fundo da palavra. Comecei a viver no momento em que te vi pela primeira vez, naquele auditório que guardaria tantas lembranças. Aprendi tanto contigo... Com a sua família que abriu as portas pra mim e me acolheu.
   Nunca pense que foi nada menos que perfeito, eu nunca admitiria isso. Zayn, sou tão orgulhosa da pessoa que você é hoje. Um homem forte, que deixou de lado muita da timidez de antes e tem uma nova segurança. Em breve entrará em turnê, então acho que podemos ver essa minha mudança de endereço de uma forma mais positiva... Não estaríamos juntos de qualquer forma, mesmo que eu continuasse em Londres. Mantenho meus planos de ir te visitar enquanto viaja. E retornarei a Londres sempre que possível. Não estou indo para outro planeta, por mais que meu coração esteja apertado como se fosse.
   Tudo está mudando muito rápido e não gosto disso. Mas acredito no nosso amor e sei que ele é forte o bastante pra superar qualquer coisa. Mudanças não precisam ser uma coisa ruim, contanto que a gente não mude. Percebe agora por que eu não podia me despedir pessoalmente de você? Porque eu não agüentaria lhe beijar, imaginando que pudesse ser o nosso último beijo. Não o nosso! Você será a primeira pessoa pra quem eu vou ligar quando sair do avião. Atenda se quiser conversar. Se não atender... Eu também vou entender. Sei que não posso te pedir mais nada.
   Não se preocupe com e Lola. Conversei com Gemma e ela cuidará dos dois enquanto não consigo trazê-los pra cá. O mesmo vale para Arnie. Ela cuidará dele quando você precisar viajar; ou talvez queira deixá-lo com suas irmãs. De qualquer forma, estou tentando facilitar essa mudança pra nós dois. O que já é difícil demais.
  My love... Não me esqueça. Sempre estará em meus pensamentos e em meu coração, pois metade dele fica com você. Eu te amo... Para todo o sempre.
  - Always yours... Anjo.”

    

Chapter LXXXIV

  - Posso ver a foto que você tirou dos meninos? – pediu.
  - De novo?! – Resmunguei, mas acabei tirando a fotografia da bolsa. – Aqui. Ficou fofa, não foi?
   e eu estávamos na arquibancada da O2 Arena. Quando Pablo estava por perto, nós duas éramos proibidas de ficar perto de nossos amigos ou do palco; não o culpo, já que nós duas atrapalhávamos mais do que fingíamos não estar ali. Em poucas horas a passagem de som terminaria e os portões seriam abertos. De vez em quando escutávamos gritos vindos da fila que crescia ao lado de fora e nos entreolhávamos com emoção. Infelizmente, apenas chegaria a ver a O2 lotada, porque meu tempo corria contra mim.
  - Boys... Podem sentar, por favor? Esse é só um pequeno teste. – Paul Roberts, o coreógrafo, repassava as marcações e lugares onde cada um precisava estar depois de cada música. – Cuidado pra não cair, Harry!
  - Não me surpreendo se um deles não sobreviver a essa noite. – comentou distraída, me devolvendo a foto.
  - E eu não sei quanto a você, mas quero muito andar nesse negócio... – Apontei para onde os meninos estavam sentados. Uma plataforma de vidro que os levava do palco principal até o segundo palco, no meio da platéia. – Harry não para de se mexer!
  - Sua irmã está vindo pra cá. – Minha amiga avisou com animação. – E ela tem um estilo melhor que o seu...
  - Isso foi desnecessário. – Levantei para ajudar Lux a descer as escadas. – Puppet! Cuidado pra não cair...
   tinha razão. Lux usava leggins pretas, coturnos e um sweater xadrez em vermelho e preto. Seu cabelo loiro, sempre bagunçado em um rabo de cavalo alto. Parecia uma mocinha e constantemente esquecíamos que tinha apenas dois anos de idade. Estiquei a mão para que ela terminasse de descer em segurança e pudesse vir para a primeira fila onde e eu sentávamos para assistir ao ensaio.
  - Onde está a sua mãe? Você veio até aqui sozinha? – perguntou, notando a ausência de Rach.
  - Mummy está ocupada. – Explicou, preferindo sentar em meu colo do que na cadeira da ponta. Apontou para o palco e voltou a falar. – O que estão fazendo?
  - Estão testando... Sabia que vai ter um show aqui? Daqui a pouco. E os meninos vão cantar... – A abraçava pela cintura e me segurava pra não morder sua bochecha. – Quer cantar com eles?
  - Quero! – Ergueu os bracinhos, sorrindo.
  - Todo mundo na sua família canta? – A ruiva quis saber, chocada por conhecer uma família tão talentosa quanto a minha. – Louis, você... Agora Lux?
  - Minha mãe é uma péssima cantora. – Disse a ela. Em seguida, enchi as bochechas gordinhas da minha irmã de beijos. – Meu pai até que não é nada mal.
  - ... – Lux bateu em meu braço pra chamar minha atenção. – Sua mummy tem um bebê na barriga?
  - Ela tem dois bebês na barriga! E vão ser meus irmãos. – Contei. Aproximei de sua orelha e sussurrei: - Mas você sempre vai ser a minha preferida.
  - Eu sei. – Gargalhou pelas cócegas que sentiu.
  - E como sabe disso? Sua mãe lhe contou?
  - Não, ... Eu vi a sua mummy. – Rolou os pequenos olhos azuis, ou algo que pareceu ser isso. – Conversando com a minha mummy.
  - Ela está aqui? – Olhei para , mas esta deu de ombros. Sabia tanto quanto eu. – Pode nos levar até a minha mummy, puppet?
  - Por aqui... – Lux saltou do meu colo, em direção as escadas.
   Levantei e a segui. fez o mesmo e subimos as escadas altas da arquibancada. Lá embaixo, os meninos voltavam para o palco principal e a passagem de som devia estar perto de acabar. Olhei no relógio e era perto das três da tarde. Tecnicamente cedo e o horário em que os familiares começariam a chegar para visitar a Arena e matar saudade dos filhos. Depois iriam embora e só retornariam no horário do show. Essa seria a minha única chance de ver minha mãe e nana antes de viajar. Elas já sabiam de tudo, assim como meu pai, portanto acreditei que tivessem chegado mais cedo pra passar um tempo a mais comigo.
   Minha irmã mais nova estava um pouco perdida no começo, mas conseguiu nos levar até o backstage novamente. Nós três tínhamos passes VIP e todos ali nos conheciam, então podíamos passear pela arena inteira sem problema algum. Já no corredor cinzento, minha mãe conversava com uma mulher baixinha e de cabelos loiros. Não era a minha avó, mas fiquei feliz em ver Karen Payne e Jay juntas como se fossem melhores amigas.
  - Maman! – Corri até a mulher grávida e sua barriga estava ainda maior. – Você chegou!
  - Filha... – Me abraçou com cuidado, quase de lado. – Awn, os bebês escutaram a sua voz! Estão mexendo...
  - Oi, pequeninos. – Toquei sua barriga, sentindo pequenos movimentos. – É a sua irmã mais velha aqui... A que ama vocês mais que Louis.
  - Oi, Lux... – Minha mãe cumprimentou a menininha que seguiu a minha correria, mas parou um pouco acanhada. – Quer sentir os bebês também?
  - Posso? – Olhou de mim para Johannah e mordeu o dedo indicador.
  - Vem cá... – Me abaixei e segurei a mão da pequena, encostando-a onde um dos bebês estava. – Sente isso?
  - É mole! – Gargalhou com os olhinhos brilhando e retirou a mão dali. – Vão ser meus irmãos também?
  - Não, sweetie... Mas serão seus amiguinhos! – Minha mãe se curvou levemente para acaricias os cabelos da minha irmã. – Isso é legal, não é?
  - Com licença... Olá, tia Jay. – abraçou a minha mãe e segurou a mão de Lux. – Luxy, sua mãe está te procurando! Não devia ter sumido... Vamos lá.
  - Ei, Karen! Eu te vejo aí...
   Caminhei até a mulher que olhava a foto do filho com os amigos na porta do camarim. Ela se virou e me abraçou demoradamente. Suas bochechas estavam um pouco molhadas e o óculos fino nos olhos fora do lugar. Mal chegou e já estava chorando. Karen era fofa demais e se dava muito bem com a minha mãe, mais até que Trisha. Todas as mães eram amigas entre si, mas, depois de Jay e Anne, Karen e Jay eram as mais chegadas.
  - É muito bom te ver, querida. – A mulher beijou a minha bochecha.
  - Digo o mesmo. E já está chorando? – Sorri companheira. – Deixe um pouco para a hora do show...
  - Nós duas não conseguimos esperar. – Minha mãe abraçou a mulher de lado.
  - Mum, nana não veio com você? – Olhei em volta, procurando a minha avó.
  - Sinto muito, ... Ela estava cansada por causa da viagem. Pediu desculpas, mas tentará vir mais tarde. Andes de você... – Se interrompeu, fitando o corredor.
  - Não tem problema. – Suspirei. Pelo menos estava vendo a minha mãe!
  - Hora de ver seus filhos... – Pauly estava no final do corredor, segurando aberta a porta que levaria ao palco. As outras mães já estão lá.
  - Você vem, filha?
  - Tenho que falar com Rach primeiro, mas podem ir!
  - Ruth e Nicola também querem te ver, , não demore. – Karen disse, indo na direção de Paul. – Vamos, Jay?
  - Só um segundo... – Minha mãe beijou a minha testa e deixou um pequeno papel dobrado na minha mão.
   Assisti as duas se afastarem antes de abrir o papel. Sorri sozinha, surpresa. “Ernest & Doris. Você terá um irmãozinho e uma irmãzinha. Achei que devia saber antes de ir.” Então ela descobriu o gênero dos bebês, mas não queria contar pra todo mundo. Dobrei o papel mais uma vez e o guardei dentro da bolsa pendurada em meu ombro. Fui para o camarim de Rachel e Lux estava ali dentro, mas não. Devia estar com a sogra no palco.   - Lux está de castigo. – Rachel me informou, mas não parecia brava. – Por ter saído sem me avisar.
  - Ela só estava me procurando... – Tentei aliviar para o seu lado, mas não funcionou. – Rach, aquilo que eu lhe pedi ontem... Ainda está de pé? Sobre as cartas...
  - Claro que sim. Você escreveu? – Cochichou e fiz que sim com a cabeça.
  - Não foi fácil. – Ri sem humor e a entreguei o conjunto de cartas que trazia na bolsa. – Entregue depois do show... E só depois!
  - Eu sei, não se preocupe. – Me abraçou com força. – Tem certeza que quer mesmo fazer isso?
  - Preciso ter.

     
+++
        - Acho que aqui é um bom lugar pra gravar... Como está a iluminação, Willy?
  - Quase perfeita, Ben. , se importaria de sentar um pouco para a esquerda? – Willy falava comigo enquanto apoiava a câmera sobre um tripé.
  - Claro... – Escorreguei no banco na direção pedida e olhei de Willy para o senhor que segurava um microfone longo acima da minha cabeça. – Ainda não sei bem o que querem comigo aqui, mas vamos lá!
  - É bem simples, sério. Você já sabe que estamos acompanhando os meninos desde o começo da turnê e também iremos pegar a estrada com eles. Então resolvemos coletar algumas entrevistas e conversas com pessoas que achamos importantes. Sua mãe, o pai de Niall, a mãe de Zayn... E você. – Explicou e até que fazia um pouco de sentido. – Quem sabe tudo isso não vira um filme algum dia?
  - Aww, então fico feliz em ajudar! – Sorri. Já que estava indo embora, aquela era a minha única chance de participar do que quer que estivesse no futuro cinematográfico da banda.
  - Ótimo, então podemos começar! – Ben estava sentado na ponta mais extrema do sofá do segundo andar do ônibus de tour do 1D. – Não precisa se preocupar, é algo bem natural mesmo. Vamos só conversar. Não precisa olhar diretamente para a câmera...
   Assenti que entendia perfeitamente o que ele estava falando. E entendia mesmo. Afinal, não era a minha primeira entrevista! Me acomodei no sofá, sem sair da direção que Willy queria que eu ficasse. Ainda estava claro e as cortinas das janelas estavam abertas. Infelizmente, as janelas em si precisavam ficar fechadas por conta do som externo. A fila na porta da O2 Arena só fazia crescer a cada minuto. Daquele lugar, podíamos ver tendas de camping e suas moradoras que passaram a noite ali.
  - Ação! – Ben exclamou e os seus ajudantes se posicionaram. – Por favor, fale o seu nome o que é de Louis.
  - Oi. Meu nome é Tomlinson e sou irmã de Louis. – Me apresentei com um pequeno sorriso. Ainda não estava totalmente a vontade, mas sentia que esse momento logo chegaria.
  - O que pode nos falar sobre a infância na sua casa? Como foi crescer com Louis?
  - Louis e eu sempre fomos melhores amigos. Nossa diferença de idade não é tão grande assim, então sempre tivemos gostos em comum. Não vou dizer que as coisas eram perfeitas, porque como todos bons irmãos, nós dois tivemos nossos momentos de briga... – Falar sobre meu irmão era fácil. Tinha vinte anos de histórias. – Nunca fui uma criança de ter vários amigos, mas tinha Louis, então nunca me senti sozinha. Ele era o meu companheiro, meu defensor e sempre conseguia nos meter em confusão.
   “Desde uma idade muito nova eu me lembro de escutá-lo cantar através das paredes. Morávamos com nossos avós desde pequenos e a casa não era grande ou luxuosa, mas nana e papá nunca deixaram nada nos faltar. Meu quarto ficava apenas a alguns metros de distância do de Lou e ele sempre estava com um violão no colo ou cantava junto à suas bandas preferidas. Uma grande influência musical na sua vida eu tenho certeza que era o nosso avô. Ele não era cantor ou tocava muitos instrumentos, mas sempre tinha um CD tocando. Fosse dos Beatles ou Charles Aznavour.
   “Louis também era o tipo de criança que sempre procurava um palco ou queria entreter as pessoas. Não importava o que estava acontecendo ou se ele estava tendo um dia ruim, sempre fazia as pessoas a sua volta rir. Eu não podia ter pedido um irmão mais velho melhor. Tenho boas lembranças da nossa infância e histórias embaraçosas. Mas não vou contar sobre o dia que Louis vestiu roupas minhas e me obrigou a maquiá-lo, pra que pudéssemos brincar de festa do chá. Ou quando quebrou a janela do vizinho e culpou Stan, um de seus amigos na nossa rua.”
  - Eu acredito que você teve algo a ver com a formação da banda, não? Pode nos contar como aconteceu?
  - Eu tenho um dedinho pequeno na formação do One Direction, mas não posso levar todo o crédito. também fez parte disso. – Sabia que Ben conheceu , mas não tinha certeza se planejava conversar com ela como fazia comigo, pelo simples fato de não ter irmãos ou familiares na banda. – Pra começar, nós éramos amigas dos cinco meninos e apresentamos Zayn e Niall aos outros. Sabíamos do talento de todos e do sonho que tinham em comum: Ser artistas! Mas também sabíamos que crescer nesse ramo tão competitivo e complicado é muito difícil, então não queríamos que apenas um deles conseguisse. Eram melhores amigos e não seria legal um ver o outro vivendo o seu sonho, não concorda?
   “Ainda assim, nunca duvidamos do talento individual de todos eles, só sabíamos que esse talento não poderia ser comparado ao resultado de juntar os cindo em uma banda só. Claro que nenhum deles aceitaria ser colocado em uma “boy band”. Acho que crescemos com o estereótipo de que boy bands são grupos de meninos sem conteúdo que usam roupas iguais e dançam em sincronia. Já os viu dançar? São completamente terríveis! Mas e eu tínhamos uma idéia diferente e resolvemos arriscar. Por que não fazer o teste? O que tinham perder?
   “Foi aí que o X Factor entrou. Descobrimos o concurso para novas bandas e arranjamos uma forma de colocar os cinco juntos pra cantar em um Pub que costumávamos ir e que às sextas feiras abria o palco com a noite de karaokê. A ligação dos cinco foi instantânea, como se fizessem aquilo há anos. Gravamos o vídeo e mandamos no último instante. Chegamos a pensar que nem assistiriam o vídeo, mas estávamos bem enganadas. Passaram pela primeira etapa e só aí ficaram sabendo que estavam inscritos no concurso. Com a ajuda dos fãs, passaram pela segunda fase e subiram ao palco na noite da final. Daí pra frente foi uma aventura... O One Direction nasceu ali.”
  - Como é a sua relação com os fãs? – Enquanto eu respondia, Ben anotava algumas coisas em sua prancheta e lia as perguntas dali também.
  - Serei sincera... No começo a nossa relação era ótima. Eu era a responsável pelo twitter e redes sociais da banda, quando eles não tinham empresários ou uma equipe que fizesse isso. E eu já estive no lugar deles, já fui fã... Quer dizer, eu sou uma fã! Então eu sei o que é estar do outro lado daquelas grades e esperar por horas no frio ou no calor. – Olhei para o lado, onde pessoas de todas as idades cantavam Live While We’re Young. – Então sempre tentava facilitar um pouco para o lado deles. Postava fotos, respondia perguntas e passava usernames pra que eles pudessem seguir de volta...
   “Quando o sucesso começou a crescer e atravessar novos países é que a coisa começou a ficar complicada. Eu recebi ameaças de morte assustadoras, porque as pessoas sabiam onde eu morava ou estudava. Até que não temia tanto por mim, mas todos os meninos tem família... E as vezes não entendem por aí que eles também são uma parte importante na vida dos meninos. A vida pessoal. Quem vai gostar de ler pessoas falando que suas irmãs ou irmão (no caso de Niall) são feios, chatos, gordos? Ninguém!
   “Eu acredito na relação fã x ídolo, na dedicação e trocas de carinho de ambas as partes, desde que haja respeito. Nenhum dos cinco vai nunca faltar ao respeito com uma fã, desde que ela respeite o espaço, respeite as pessoas que estão em volta dele. Sinceramente, o One Direction tem a melhor fanbase que eu já vi, pois são tão dedicados... Olhe onde estamos agora! Na O2 Arena! Em apenas um ano de One Direction. Três dias esgotados. Quem sonharia com isso?”
   Meu discurso foi interrompido quando meu celular começou a tocar dentro do meu bolso. Arranquei ele de lá com pressa, pedindo desculpas com o olhar para Ben e todos os outros. Vi a foto na tela e era Zayn. Mordi o lábio sem querer rejeitá-la.
  - Desculpem por isso! É Zayn ligando... Preciso atender.
  - Vá em frente, finja que não estamos aqui. – Ben concordou com um sorriso e me senti aliviada.
  - Oi. – Falei com o telefone na orelha.
  - Oi, babe... Algum problema?
  - Não... Só estou com uma câmera apontada pra mim. – Ri baixo, tentando olhar para qualquer lugar que não fosse o objeto que continuava a filmar.
  - Ahh, sim! Ainda está com Winston? Ele mencionou que queria filmar algumas coisas com você.
  - Estou sim... Mas não acho que vamos demorar muito aqui. – Passei a língua pelo lábio superior.
  - Ótimo! Preciso que você venha nos encontrar aqui...
  - Certo... Onde estão, exatamente? – Ben conversava com Willy, me dando um pouco de privacidade.
  - No palco.
  - Zayn! Você sabe que Pablo não me deixa chegar perto do palco...
  - Shhh, ! Pablo não está aqui. – Bufou pela minha demora em aceitar. – Aliás, quando subir ao palco, encontrará um banco com o seu nome. Quero que sente nele e espere... Só espere, okay?
  - Tudo bem, love. – Sorri, rolando os olhos com divertimento.
  - Huh. Essa foi fácil. Não vai perguntar o porquê?
  - Depois de um ano com você, aprendi a não perguntar.
  - Boa escolha. – Riu. – Te vejo daqui a pouco. Não demora!
  - Não vou. – Encerrei a ligação e olhei para Ben como quem pede desculpas novamente. – Posso ir? Precisam de mim no backstage...
  - Sem problemas. Obrigado, .
   Ben levantou para que eu pudesse passar e apertei sua mão; assim como a de Willy e do homem que segurava o microfone. Corri em disparada pelas escadas do ônibus e saí dele em menos de um minuto. Antes de atravessar o estacionamento, espiei as grades de ferro que balançavam. Seria impossível qualquer um passar por ali sem ser visto, já que as meninas eram atentas como gatos. Paparazzis ocasionalmente apareciam por ali, com suas câmeras de lente comprida.
   Foi só eu começar a andar até a entrada da arena que um grupo pequeno começou a gritar. A partir daí, outros grupos maiores gritaram sem nem saber o que estava acontecendo, mas a possibilidade de ser um dos cinco meninos as desesperava. No meio do caminho, reconheci o meu nome sendo cantado em coro e parei um pouco para acenar e sorrir. Não precisava ser mal educada, não é?
   Logo estava dentro da Arena, procurando o caminho que eu precisava seguir para chegar ao palco em menos tempo. Os nervos estavam bem mais calmos agora do que antes, pois tudo parecia estar pronto. O grande grupo de seguranças se dirigia até o restaurante, onde o jantar estava sendo servido. O mesmo valia para técnicos e outros funcionários que entravam em sua hora de descanso.
   Cheguei até o palco, mas por um caminho diferente ao que tinha feito na primeira vez que o conheci. Tudo estava vazio e nenhuma alma viva sentava nas centenas de cadeiras que agora estavam montadas no centro da pista. O palco também estava do mesmo jeito: Vazio. A não ser por caixas de som colocadas estrategicamente no seu centro. Todas as luzes estavam apagadas, assim como os painéis onde as fotos dos cinco costumavam aparecer.
   Subi pela escada na lateral, chamando por Zayn. Encontrei o meu nome escrito com fitas adesivas em cima de uma das caixas de som. “Então é isso que chamam de banco?” Ri e me sentei ali, obedecendo ao pedido de Zayn. Devem ter passado bons cinco minutos para que algo realmente acontecesse. Uma suave melodia de violão começou a encher a arena e um painel digital levantou revelando uma pessoa no segundo andar.

  
Your hand fits in mine like it's made just for me.
  (Sua mão se encaixa à minha como se fosse feita só pra mim)
  But bear this in mind, it was meant to be.
  (Mas tenha isso mente, era pra ser assim)
  And I'm joining up the dots with the freckles on your cheeks.
  (E estou ligando os pontos com as sardas em suas bochechas)
  And it all makes sense to me…
  (E tudo isso faz sentido pra mim)

   Era Zayn. Ele cantava só pra mim e a sua voz ecoava por todos os cantos da arena vazia. Segurava um microfone e fez seu caminho para o primeiro andar. Tive vontade de perguntar o que estava acontecendo, mas não me atreveria a interrompê-lo. Estava surpresa demais pra falar qualquer coisa. A letra da música era pessoal demais para que outro tivesse escrito-a para qualquer outra pessoa que não fosse eu. Zayn caminhou até uma das caixas de som organizadas em triângulo na minha frente e se sentou.

  
I know you've never loved…
  (Eu sei que você nunca amou)
  The crinkles by your eyes when you smile
  (As rugas perto dos seus olhos quando você sorri)
  You've never loved your stomach or your thighs.
  (Você nunca amou sua barriga ou suas coxas)
  The dimples in your back at the bottom of your spine…
  (As covinhas nas suas costas, embaixo da sua espinha)
  But I'll love them endlessly.
  (Mas eu os amo sem fim)

   Na ponta oposta ao lugar onde Zayn apareceu, outro painel foi erguido, revelando Liam. O menino também desceu as escadas enquanto cantava e, apesar do seu medo de cair, mal olhou o caminho por onde andava; apenas olhava pra mim. Meu estômago deu um pulo como se eu estivesse em uma montanha russa. Mordi o lábio inferior, sentindo os olhos arderem. Liam era tão sincero em suas declarações que os pelos em meus braços eriçaram. Ele se sentou na caixa de som paralela à de Zayn. Agora mais do que nunca eu entendia o que estava deixando pra trás.

  
I won't let these little things slip out of my mouth.
  (Eu não vou deixar essas pequenas coisas escaparem da minha boca)
  But if I do, it's you.
  (Mas se deixar, é você)
  Oh, it's you they add up to.
  (Oh, é a você que elas pertencem)   I'm in love with you and all these little things.
  (Estou apaixonado por você e todas essas pequenas coisas)

   Zayn e Liam cantaram em harmonia. Minhas orbes iam de um a outro e eu sorria com os olhos encharcados. Era a despedida perfeita, ainda que eu fosse a única a saber daquilo. Os olhos de Zayn brilhavam com a pouca luz dos holofotes que acenderam – um em cima de cada menino. Liam entrelaçou os pés e olhava pra baixo quando não estava me encarando tão apaixonadamente.

  
You can't go to bed without a cup of tea.
  (Você não consegue ir para a cama sem uma xícara de chá
)   And maybe that's the reason that you talk in your sleep.
  (E talvez essa seja a razão de você falar enquanto dorme)
  And all those conversations are the secrets that I keep
  (E todas aquelas conversas são os segredos que eu guardo)
  Though it makes no sense to me.
  (Ainda que não façam sentido pra mim)

   Dessa vez no andar de baixo, meu irmão saiu de trás de um painel. Ele apenas caminhou até poder se sentar em seu próprio banco; na fila de Zayn, levemente na diagonal. Até então o palco estava apagado, mas os telões foram acesos como se esperassem por alguma coisa que acabasse de acontecer. Nos painéis digitais, fotografias começaram a aparecer. A primeira era bem antiga, onde Louis e eu brincávamos no jardim da nossa antiga casa. Na varanda, atrás de nós, papá nos assistia com um belo sorriso. Levei a mão aos lábios, querendo impedir um soluço. Meu choro aumentava e agora não poderia controlá-lo.

  
I know you've never loved the sound of your voice on tape.
  (Eu sei que você nunca amou o som da sua voz em gravações)
  You never want to know how much you weigh.
  (Você nunca quer saber o quanto você pesa)
  You still have to squeeze into your jeans,
  (Você ainda tem que se espremer dentro do jeans)
  But you're perfect to me.
  (Mas você é perfeita pra mim)

   Ainda no primeiro andar, Harry apareceu cantando. Pequenos flashes de nossa infância eram mostrados no telão do palco. Como a foto de nós dois vestidos de fada e Scooby-Doo em um Halloween. Em seguida, estávamos um pouco maiores e sorriamos para a câmera com a boca cheia de pizza. Louis participava dessa foto também. Haz sentou atrás de Liam, paralelo ao meu irmão. Quando nossos olhares se encaixaram, ele sorriu de canto como se soubesse exatamente o que tudo aquilo provocava em mim.

  
I won't let these little things slip out of my mouth.
  (Eu não vou deixar essas pequenas coisas escaparem da minha boca)
  But if I do, it's you.
  (Mas se deixar, é você)
  Oh, it's you they add up to.
  (Oh, é a você que elas pertencem)
  I'm in love with you and all these little things.
  (Estou apaixonado por você e todas essas pequenas coisas)

   Os quarto se juntaram nessa serenata onde eu era a única espectadora. Tudo ai era mágico. A Arena completamente vazia, a não ser pelos seis de nós. Todo o som corria as paredes e voltavam pra mim, entravam em meu coração e ficariam ali pra sempre. As fotos agora mostravam Liam, Harry, Louis e eu no campo do condomínio. estava no meu colo e ainda era um bebê. Mais três imagens apareceram devagar; todas elas mostrando eu ao lado dos quatro meninos. As ocasiões eram diferentes, mas a felicidade era sempre a mesma.

  
You'll never love yourself half as much as I love you.
  (Você nunca vai se amar o quanto eu te amo)
  You'll never treat yourself right darling, but I want you to.
  (Você nunca vai se tartar do jeito certo, mas eu quero que trate)
  If I let you know I'm here for you.
  (Se eu te falar que estou aqui pra você)
  Maybe you'll love yourself like I love you
  (Talvez você se ame como eu te amo).
  Oh…

   Niall foi levado até o palco pelo buraco no chão com o mesmo mecanismo que brinquei no dia anterior. Ele dedilhava o violão que fazia a música ser escutada por toda a arena e se sentou na última caixa de som. Era a mais afastada, porém, exatamente de frente pra mim. Com todas aquelas declarações eu começava a tremer e precisei segurar uma mão com a outra. O telão agora começou a mostrar fotos de Niall e eu na Academy, no dia em que levei a câmera, mas nem Zayn e nem estavam fora de aula. Depois eu aparecia com os cinco meninos juntos em Los Angeles na praia e pelo hotel. Eles me amavam tanto quanto eu os amava.

  
I won't let these little things slip out of my mouth.
  (Eu não vou deixar essas pequenas coisas escaparem da minha boca)
  But if I do, it's you.
  (Mas se deixar, é você)
  Oh, it's you they add up to.   (Oh, é a você que elas pertencem)
  I'm in love with you and all your little things.
  (Estou apaixonado por você e todas as suas pequenas coisas)

   Agora os cinco cantavam em seus microfones e olhavam pra mim como se eu fosse a última pessoa no mundo. As fotografias no telão começaram a mudar um pouco mais rápido e os meninos não eram os únicos comigo em cada uma delas. Fotos tiradas no casamento da minha mãe mostravam Lottie, meu primo James, Viv, Olivia, Phoebe, Daisy... E claro, não poderiam faltar Tom, Gi, Harry, Izzy, Danny, Dougie, até mesmo Cara e Rita.
   Dizer que eu estava chorando quando terminaram de cantar a música era pouco. Eu estava em prantos e não sabia quem abraçar primeiro. Tive sorte, pois todos eles se juntaram para me abraçar de uma vez só. Eu era louca por estar indo embora e deixando tudo aquilo pra trás. Queria bater palmas, gritar e dizer tudo que eu sentia e o quanto aquilo significou pra mim. Só consegui chorar e abraçar cada um individualmente em seguida.
  - ... A gente sabe o quanto essas últimas semanas foram difíceis pra você, então queríamos mostrar que estamos ao seu lado. – Niall foi o último a me abraçar porque precisou se soltar do violão. – E a gente te ama.
  - Você pode não gostar de muitas coisas em você, mas elas não importam pra gente. – Louis tomou a palavra. Microfones não eram mais necessários. – São as pequenas coisas ao seu respeito que fazem de você a que nos cativa.
  - Eu amo vocês... De verdade. Amo muito. – Juntei os cinco m um abraço coletivo mais uma vez.
  - Chega de melação por enquanto? – Harry riu, beijando a minha testa. – Temos que ir tomar banho. As portas vão abrir em vinte minutos.
  - E eu tenho que ir... – A vontade de chorar me invadiu de novo, mas eu precisava ser forte. Mais forte do que nunca.
  - Ir pra onde? – Como uma raposa atenta, Zayn se preocupou.
  - Ir pra casa... Eu preciso tomar banho. – “Pra voltar”, deveria ter dito. Porém, não suportaria mentir daquele jeito. – Mas vão tomar banho... Depois que me abraçarem.
  - Eu gosto de te abraçar. – Meu namorado me apertou como se fosse uma brincadeira.
  - Antes de ir tomar banho, me encontre no Fab Room. – Cochichei em sua orelha e ele aceitou. – Te encontro lá em cinco minutos.
  - Estarei lá. – Beijou os meus lábios rapidamente.
  - Agora é a minha vez! – Harry abriu os braços.
   Me escondi em seus braços compridos. Seria o nosso último abraço em um longo tempo e queria me lembrar de seu tamanho exagerado comparado ao meu. Seu cheiro de framboesa e baunilha. O assisti sorrir com a covinha aparecendo e beijei a sua bochecha. Ele devolveu o beijo e se afastou junto com Zayn, ambos pulando para dentro do quadrado no chão.
  - Obrigada por ter tocado a música, Nialler. Serei grata pra sempre. – Abracei o irlandês com força. Ele cheirava a grama recém cortada e um dia quente de verão. – Preciso que me faça um favor.
  - O que quiser. – Apertou as minhas bochechas, brincalhão. Por um instante descobri o que Theo sentia.
  - Assim que ver ... Dê um beijo bem grande nela pra mim. – Minha amiga já havia indo embora, também para se arrumar, e infelizmente não poderia abraçá-la também.
  - Tudo bem... – Arqueou as sobrancelhas com estranhamento, mas não negou nada.
  - Eu te amo, Ni.
  - Tenho que te abraçar também? – Louis rolou os olhos, mas não escaparia.
  - Vem cá, Tommo. – Pulei no pescoço do meu irmão. Nossa ligação de sangue era pra sempre, mesmo se não quiséssemos iríamos nos ver de novo e bem rápido. Nossa despedida, na teoria, deveria ser fácil, mas ainda foi complicado soltá-lo. – Sabe que eu te amo, não sabe?
  - Sei, sei, chega. – Riu e beijou a minha testa. – Te vejo daqui a pouco.
   Lou seguiu o mesmo trajeto que os outros quatro, sumindo no chão. Eu estava sozinha com Liam no palco e de repente não quis mais ir embora. Subi na ponta dos pés para abraçá-lo e o apertei com tanta força que teria o deixado sem ar. Claro que Li me envolveu com a mesma necessidade e enterrou o rosto em meus cabelos, respirando fundo. Tinha tantas coisas que eu precisava lhe falar... E nada saiu. Nem ao menos um “bom show” ou “até logo”.
  - ... – Li me chamou, mas neguei com a cabeça. Não queria conversar.
  - Não pense sobre isso, apenas feche os olhos.
   Apoiei a mão em sua nuca assim que ele me obedeceu e juntei nossos lábios. Não era um beijo profundo e não passou de um encostar de bocas, mas eu não conseguiria ir embora sem deixar aquele último carinho. O beijei por impulso e era errado, mas parecia muito certo. Não queria dizer que eu me arrependia de nenhuma escolha que fizera até ali, apenas precisava mostrar a Liam que ele não era qualquer um. Li ficou paralisado, com a respiração pesada e o coração acelerado.
   Me separei sem conseguir olhá-lo. Corri para a escada do palco, preferindo fazer um caminho diferente ao que os meninos faziam para descer ao understage. Liam tampouco tentou me chamar ou falar qualquer outra coisa. Enquanto eu corria em minha fuga para o backstage, enxugava todas as novas lágrimas. Agora deveria encontrar Zayn...
   Pedi para que me encontrasse no Fab Room porque ninguém nos procuraria por ali e, devido a hora, Rachel começaria a chamar pelos meninos para arrumar seus cabelos molhados pela água do banho. O FR era um quartinho pequeno e que escondia um segredo. Cheguei no lugar de destino e estava vazio, mas eu sabia que Zayn estava ali. Caminhei até a porta do guarda-roupa e abri. A passagem secreta me levou até um novo quarto; bem maior que o primeiro. As paredes mudavam de cor a cada hora e agora estava verde. Meu namorado estava perto da máquina de M&M’s e enfiou os que segurava na boca de uma vez.
  - Que coisa feia, Malik. – Brinquei, o convidando para um abraço.
  - Só estava comendo a sobremesa antes do jantar. – Riu com a boca cheia e lutava para engolir todo o chocolate. – Queria me ver aqui?
  - Sim... Eu precisava te desejar boa sorte. Não só hoje, mas na turnê e em todo o resto. – Olhava em seus olhos amendoados. Era ali que eu enxergava todo o meu mundo. – Eu te amo tanto... Não me canso de repetir. Sabe disso, não sabe? Que você é o amor da minha vida.
  - Porque está falando isso? Você não está doente...? – Assustou-se, o que eu realmente não queria que acontecesse. – , o que está acontecendo?
  - Nada, Malik! Nada está acontecendo. – Menti. Era mais fácil assim. – Eu só senti que precisava falar isso.
  - Tudo bem... Eu sei que sou o amor da sua vida, porque você é o meu. – Sorriu, não completamente convencido.
   O abracei pelo pescoço, encostando nossos corações. Zayn descansou o queixo em meu ombro e segurou as minhas costas, me fazendo ficar bem perto. Nossas respirações eram uma só, mas eu era a única que compreendia o peso daquele abraço. O garoto tocou meus cabelos, acariciando com delicadeza. O olhei. Zayn sorria ao encostar a testa a minha. Tive que sorrir de volta, meus lábios tinham vontade própria.
  - Ah, se você soubesse... – Suspirou contra os meus lábios. – Se você soubesse o que significa pra mim.
  - Eu te amo, Zayn. Eternamente.

     
+++
     - Aqui está... Acento J1 e seu vôo será chamado dentro de instantes. – A moça que realizou meu chekin devolveu meu documento e passagem, educadamente sorridente. – Seu portão é o de número três, aqui pela esquerda. Tenha uma boa viagem.
  - Obrigada. – Sorri de volta, guardando tudo dentro da minha bagagem de mão.
   Passei por um labirinto de cordas para poder sair da fila, onde outras pessoas esperavam a sua vez de serem atendidas. Para um sábado a noite, o aeroporto estava bem vazio. As minhas malas foram despachadas e faltava pouco para deixar Londres pra trás. Os minutos corriam e eu não sentia que ia desmaiar, como imaginei que fosse acontecer. Me sentia entorpecida, não estava feliz nem triste. Tentava não pensar muito no que estava acontecendo e no que aquilo tudo significava.
   Eu conhecia o Heathrow tão bem que poderia trabalhar como guia ali dentro. Não precisei ler as placas pra saber aonde deveria ir. O portão de número três ficava um pouco distante, mas eu conhecia alguns atalhos. Passei pela esteira rolante, cortando caminho pela metade do aeroporto e subi uma escada para o segundo andar. Pessoas passavam por mim como se eu fosse um fantasma. Era ruim estar ali sozinha, quando as outras experiências que tive foram tão boas e repletas de pessoas queridas.
   Deixei meu casaco e bolsa na esteira da revista de segurança e mostrei minha passagem para a pessoa destinada a me deixar entrar. Não estava bem vestida e sabia disso. Não tinha ninguém para agradar, tampouco me sentia com ânimo suficiente para escolher um look que me levaria para a capa de alguma revista. Pretendia dormir a viagem inteira e só acordar em Moscou. Uma vez que minha passagem foi permitida, passei rapidamente pela imigração e entrei no saguão de embarques; que conseguia estar ainda mais vazio que o resto do aeroporto.
   O portão de número três era um dos primeiros da ponta e eu já conseguia ler a identificação do meu vôo na placa acima da porta. Seria o próximo a ser chamado. Apenas umas dez pessoas estavam por ali, ainda que o avião fosse de grande porte. Sentei em uma cadeira distante em uma fileira vazia. Apenas uma senhora cochilava na minha frente. Cruzei as pernas e depois as descruzei. Olhei para um lado e para o outro, encarando meus dedos por fim. Queria pegar o celular dentro da bolsa e ver se recebera alguma mensagem, mas não era a coisa mais sensata a se fazer. Era perto das dez horas e Zayn tentaria me ligar antes de entrar no palco, preocupado pela minha ausência no backstage.
  - Está esperando alguém? – A senhora havia acordado e agora me olhava com curiosidade.
  - Não, senhora... Estou sozinha. – Forcei um novo sorriso.
  - Ninguém deveria viajar sozinha, dear. – Sorriu ainda mais que eu. De alguma forma, ela me lembrava nana. – Vai para Moscou também?
  - Isso... Bem, agora já conheço uma pessoa no avião. – Me esforcei para ser simpática.
  - Conhece sim. Me chamo Ámelie.
  - . Muito prazer. – Levantei para apertar sua mão estendida e sentei ao seu lado. Se íamos conversar, era melhor fazer isso mais perto.
  - Viajando de férias?
  - Na verdade, estou me mudando pra lá. Será a minha primeira vez na Rússia... – Falando assim eu até parecia louca. E talvez fosse. – Tenho dois amigos lá, então é mais fácil.
  - Você vai adorar a cidade, tenho certeza. – Sorriu mais uma vez. Desconfiava até que a senhora pudesse tirar uma caixa de biscoitos da bolsa e me oferecer.
  - Atenção passageiros do vôo 3260 com destino à Moscou, Rússia, seu embarque acontecerá no portão de número três. Passageiros apresentando deficiência, idosos ou acompanhados por crianças de colo terão atendimento preferencial...
  - Acho que somos nós.
   Sorri para Ámelie, que se levantou para tomar o começo da fila. Ela era idosa, portanto, teria o tal atendimento preferencial e entraria primeiro. Enquanto eu esperava a fila formada começar a andar, tirei meu passaporte e passagem da bolsa, sem ousar tocar no celular. Em minha cabeça, dizia milhões de até logo à Londres e agradecia a todas as boas lembranças que teria dali. Infelizmente a cidade não me responderia, mas, se pudesse, diria: “Até breve, .”
   Finalmente levantei e fiquei em último lugar na fila, atrás de um homem de terno que segurava uma pasta executiva. Seus ombros eram largos, impedindo muito da minha visão. Se todos os homens em Moscou fossem daquele jeito, Nick devia se sentir bem excluído.
  - ! – Meu nome foi gritado olhei pra trás imediatamente.

     Zayn’s POV.

      Ela deixou sua bolsa cair no chão, tão surpresa em me ver quanto eu estava por ter sido capaz de chegar a tempo. Enquanto tentava recuperar o meu fôlego perdido pela corrida até ali, andamos na direção um do outro. colocou os braços em volta dos meus ombros e seu corpo se chocou contra o meu em um impacto quase inofensivo. A prendi pela cintura e, se dependesse de mim, não a deixaria ir.
  - Você não devia estar aqui... – Seu sussurro me fez voltar à realidade. Ela não queria saber como eu sabia que ela estava ali e não onde disse que iria estar. – Devia estar no show!
  - Você não achou mesmo que poderia ir sem se despedir... – Ou que eu a deixaria ir e ponto final. – Eu não ligo para o show, ...
  - Rach te entregou a carta, não foi? Ela não esperou... – Seus olhos azuis estavam sem o brilho de sempre e eu conhecia aquele olhar. Ela estava se segurando pra não começar a chorar e, por mais que eu odiasse admitir, eu também.
  - Eu encontrei a carta sozinho, mas isso não vem ao caso. – Segurei em seus braços, a tirando do caminho de pessoas que queriam embarcar. – Você não pode... Não pode ir.
  - Eu expliquei tudo na carta... Preciso fazer isso, por mim. – Sua voz quebrou. – Você está prestes a entrar em uma turnê mundial e... Zayn, eu preciso ir.
  - Como quer que eu saia em turnê sabendo que não terei uma razão pra voltar pra casa? – Era verdade que tudo estava explicado naquela carta terrível, mas eu não podia aceitar calado. Não quando estava prestes a perder tudo que tinha de mais importante. – Quer que eu saia da banda? É isso que preciso fazer pra você ficar? Babe, você é a minha prioridade. Vem em primeiro lugar...
  - Você não pode sair da banda, não fale besteira. – Tocou meus lábios com a ponta dos dedos da mão direita. Segurei em seu pulso e fechei os olhos com seu toque. – Podemos conversar depois... Resolver como faremos isso depois. Agora eu tenho que ir, estão esperando por mim...
  - Mas você não pode me deixar aqui... Esperando.
   me abraçou novamente, deitando a cabeça em meu ombro. Ela chorava baixo, mas tentava disfarçar com todas as forças. Meus olhos também estavam molhados e eu não me importava. Não seria a primeira vez que ela me via naquele estado. sempre foi tudo que eu mais amei. Quando estava em meus braços, como naquele momento, eu sabia que era só minha e eu pertencia somente a ela. Porém, meu grande medo era compreender que ela poderia escapar a qualquer instante. Primeiro quando ameaçou voltar a Paris e agora a história se repetia; bem mais séria, para meu terror.
  - Eu sei. – Tocou meu rosto com a mão esquerda enquanto a direita segurava a minha. Me olhou como se lesse a minha alma e ela me conhecia o bastante para conseguir. –Não posso.   - Eu te amo, . – Aquela era a nossa verdade mais absoluta. Encostei a testa na dela, sentindo seu perfume me intoxicar.
  - Eu te amo mais. – Juntou nossos lábios por segundos curtos demais e se afastou, me deixando ali com o coração na mão. – Adeus, Zayn...
   Meu peito doía como se centenas de agulhas fossem lançadas contra ele. Assisti-la se afastar sem olhar pra trás era a pior sensação do mundo. Notei que segurava algo na palma da mão e, assim que a abri, perdi o chão e me vi caindo em um abismo sem fim. Era um anel... O anel que lhe dei na noite de ano novo, o que ela não tirava nem quando eu a magoava. Desde que o ganhou, nunca a vi sem. E agora que o pequeno círculo estava comigo, sabia que era o fim.
   Quando levantei o olhar novamente, não estava mais lá. A porta de vidro estava fechada de uma vez por todas e a funcionária que checara as passagens se afastava com canhotos nas mãos. As palavras dela voavam na minha cabeça, mas eu não conseguia entender. Não entendia como podíamos ter tudo e, no entanto, eu era deixado sem nada. Eu mataria por ela. Eu morreria por ela. Juramos tantas vezes que isso nunca iria acontecer... Acreditava que me amava, ela não era tão boa atriz pra fingir. Mas então... Por que?
   Andei até a parede de vidro, onde podia ver os aviões na pista. Sabia qual era o dela, pois o homem que me deixou entrar na área de embarque me informou o número e nome que eu deveria procurar. Quando o vi cruzar a pista, senti frio, calor, medo, tudo ao mesmo tempo. Bati a mão em punho no vidro, causando certo barulho e atraindo olhares desconfiados. O que faria agora? Nenhum dos outros meninos sabia o que estava acontecendo ou porque eu saí da arena com tanta pressa. Não sabia se começaram o show sem mim ou se aguardavam. Pouco me importava.
   Eu tinha tantos planos pra nós; Um deles estava em meu bolso agora mesmo. Um anel de diamantes, com o qual eu pretendia convidá-la a se tornar minha para sempre, porque eu acreditava que já fosse. Queria que fossemos felizes juntos e agora sentia que nunca seria feliz novamente.

     ’s POV.

     {TOCAR}

   Ballet sempre foi o meu plano, minha dita prioridade. Meu grande sonho, meu destino. O ballet deveria me completar, por isso eu estava indo embora. Se era assim... Por que eu me sentia mais vazia do que nunca? Se aquela era a coisa certa a se fazer, porque eu sentia como se cometesse o maior erro humanamente possível? Olhava em minha mão direita, onde uma linha em volta de um dedo era mais clara que o resto. Eu não podia... Não podia fazer isso. Zayn era a minha razão pra seguir em frente, pra querer ser uma pessoa melhor. E ele precisava tanto de mim quanto eu dele. Se eu devia fazer qualquer escolha deveria ser por causa dele, de nós dois, isso estava claro pra mim.
   Quando o vi novamente estava, ironicamente, no mesmo banco em que eu sentara minutos antes. Mas agora o portão de número três estava vazio. Zayn tinha o rosto escondido nas mãos e encontrava-se imóvel. Minha respiração estava ofegante, tanto quanto a dele estava quando me encontrou ali na primeira vez. Sorri, decidindo que deixaria as lágrimas pra trás. Fiquei de pé na sua frente e mordi o lábio inferior.
  - Você tinha razão... Eu não podia te deixar aqui.
   Assim que ouviu a minha voz, ergueu a cabeça. Demorou instantes para raciocinar que era eu mesma parada na sua frente. Os olhos de Zayn estavam vermelhos, ele havia chorado. Levantou e essa foi a sua única reação, apesar de parecer bem mais lívido que quando nos despedimos.
  - Eu nunca poderia te dizer adeus, só fui burra o suficiente pra pensar que conseguiria. Meu destino está bem aqui, na minha frente. Você, Zayn... – Minha voz falhava e o resto de mim tremia. – Se ainda me aceitar. Eu sinto muito por-
   Zayn me apertou com uma força que nunca o vi usar. Nossos lábios se chocaram de uma vez e senti o que deveria ser dor, mas se transformou em satisfação. Eu poderia desistir do ballet, desistir de comer, beber, até de respirar... Mas nunca desistiria de estar nos braços daquele homem. Um ano... Foi só o que passamos juntos. E já era o suficiente para que eu tivesse uma certeza além da humana de que era apenas com ele que eu seria plenamente completa. Talvez as almas fossem mesmo como Harry acreditava. Talvez fossem uma só e eram obrigadas a se separar quando chegavam a Terra. As vezes demoram uma vida para se reunir novamente... Outras, dão sorte. Zayn e eu tínhamos essa sorte.
  - Não vou deixar você ir. Você não vai sair de mim. – Sussurrou contra os meus lábios.
  - Eu sei, eu sei... – Assenti, segurando em seu rosto. – Eu estava louca de pensar que poderia.
  - Quando eu vi o seu avião passar, eu... Eu achei que fosse morrer. – Sua sinceridade me espantou. – Achei que estivesse dentro dele...
  - Não... Eu não consegui entrar. – Neguei com a cabeça exageradamente. Toquei seus lábios com a ponta dos dedos; tão macios e vermelhos. Ele os estava mordendo.
  - Você tem certeza... Que eu sou o suficiente? – Me olhou com seriedade. – Eu te amo mais que qualquer coisa, mas não ficaria no seu caminho. Não quebraria as suas asas...
  - Você é minhas asas. E é com você que eu quero dançar.

Epílogo

  
Três anos depois.

     - Eu não consigo olhar, ! – Exclamei, jogando as mãos pra cima ao sair do banheiro da minha sala no novo escritório da Mulberry. – Já precisei olhar um teste de gravidez uma vez e não consigo olhar de novo agora!
  - E como espera que eu consiga?! – Soou quase desesperada, abraçando uma almofada em meu pequeno sofá de dois lugares. – Só olhe, ! É como tirar um curativo... Rápido e fácil.
  - Que ótima melhor amiga você é. – Rolei os olhos e respirei fundo. – Okay, vou olhar! Agora ou nunca.
   Engoli toda coragem que tinha e entrei no banheiro de tamanho médio. Todo o meu novo escritório era de tamanho bom suficiente para o que eu precisava fazer ali; desde revisar catálogos das nossas novas coleções, conversar com modelistas e costureiras para alterar coisinhas aqui ou ali em peças de roupa que seriam vistas na passarela, até receber meus amigos da companhia de ballet da qual eu fazia parte. Serguei me visitava pelo menos uma vez por semana no escritório, geralmente no dia em que o Royal Ballet nos dava folga de ensaios.
   Pode-se dizer que meu dia era bem cheio, mas eu conseguia conciliar meu trabalho na Mulberry com a dança perfeitamente, e ainda sobrava espaço para dar atenção aos meus amigos, animais de estimação, família... E de quebra vistoriar as obras na construção da casa para onde Zayn e eu nos mudaríamos no próximo ano. Nunca estive tão atarefada, mas nunca estive tão feliz.
   Ali, na bancada do banheiro, um palito poderia potencialmente mudar as nossas vidas para sempre. Era um teste de gravidez e ele já estava pronto a bons quinze minutos, mas, pra variar, nem eu e nem tínhamos coragem de olhar. Até, é claro, eu parar de pensar no que aquilo significava e simplesmente olhar os dois tracinhos azuis.
  - , deu positivo. – Disse com calma, mas queria gritar. – Você está grávida!
  - Tem certeza? – Arregalou os olhos, colocando a mão sobre a barriga.
  - É claro que sim! Está bem aqui, oh... – Sentei ao seu lado no sofá e entreguei seu teste. – Estou tão feliz por você! Niall vai pirar quando souber.
  - Acha mesmo? – sorria, ainda que tivesse um pouco de dúvida. O que era bem normal, pra ser sincera. – Quer dizer, eu não o vejo há dois meses... Sabe-se lá se ele não arrumou outra a essa altura.
  - Não seja tonta. – Coloquei a mão sobre a sua barriga. – Acho que é uma menina. Com os seus cabelos e os olhos do pai.
  - Okay, senhora-vidente, não me assuste. – Riu, prestes a chorar. – ... Eu vou ser mãe. Eu!
  - Sei disso, já fui eu quem olhou o teste! – A abracei com força, beijando seu rosto em comemoração. – Acho que esse seria um bom momento pra começar a pensar em como explicar para o bebê que a mãe dele tem um filme pornô com outro homem.
  - Meu filme não é pornô! Só tem algumas cenas quentes com Chris Hemsworth. Nada demais... – Riu, orgulhosa da própria carreira como atriz que só fazia crescer. – É melhor pensar em como explicar à Niall que terminaremos de filmar a seqüência do filme em alguns meses.
  - Quando poderei voltar ao set de filmagem? – Pressionei um lábio contra o outro, esperando ouvir “logo”.
  - Depois da vergonha que você me fez passar? Nunca. – Riu da minha cara de desespero.
  - Só queria que Chris autografasse o meu sutiã... – Cruzei os braços, mas levantei e voltei para a minha cadeira e mesa de trabalho. – Não vejo Zayn desde que visitamos os meninos na On The Road Again Tour! E isso foi há dois meses, tenho minhas necessidades. E adoro australianos.
  - O que me lembra... Ash vai estar aqui no próximo final de semana. – Comentou, acariciando a própria barriga, agora que sabia que tinha alguém ali dentro.
  - Precisamos de novos amigos. – Abri meu notebook, afim de checar meus emails. – Essa história de bandas que saem em turnê mundial não é muito legal quando a gente não pode ir junto.
  - Pelo menos todos vão estar aqui em alguns meses... – Levantou para se servir de chocolates que eu sempre deixava guardados em meu frigobar. – Teremos a premiere do This Is Us... E logo eu não serei a única pessoa a ter aparecido em um filme!
   Aproximadamente um ano atrás, o contrato com a Modest! finalmente chegou ao fim e é claro que nenhum dos cinco meninos quis renovar nada. O que significava que eles estavam livres para tomar suas próprias decisões e mudar completamente a linha que seguiam até ali. A primeira mudança feita foi assumir tudo que escondiam antes: Harry & Louis e Zayn & eu. Ambos que acabaram sendo aceitos quando todo o choque da surpresa passou. Uma das poucas coisas que restou foi Ben Winston e suas filmagens eternas; as quais se tornaram o filme que assistiríamos dentro de algum tempo.
  - , há uma ligação pra você na linha quatro. – A voz vinha do meu telefone em cima da mesa de vidro. Era Gracie, a minha secretária. – Uma mulher que disse se chamar Agnes...
  - Vou atender, obrigada! – Falei ao apertar o botão que a permitia me escutar. tinha a boca cheia de chocolate, mas o olhar tão espantado quanto o meu. – O que será que ela quer?!
  - Quem sabe? – Quase cuspiu no meu tapete felpudo. – Atende logo...
  - Alou? – Tirei o telefone do gancho e atendi a ligação.
  - ? Como é bom ouvir a sua voz! – Agnes soava sorridente. Eu não falava com ela desde a noite que seguiu o espetáculo O Quebra Nozes, do qual acabei participando como “convidada especial” por não ser mais aluna da Academy. – Como anda tudo?
  - Tudo bem, obrigada... E por ai? Ouvi dizer que Colin virou professor honorário...
  - Sim, é verdade. – Parecia enrolar pra falar algo importante. – Mas não foi pra colocar os assuntos em dias que eu te liguei... Hoje teremos o Snow Ball e eu tenho um convite a lhe fazer... Sei que é bem em cima da hora, mas significaria muito para nossos alunos ver você. Por causa de todo o seu sucesso e repertório aqui na Academy...
  - Eu adoraria! – Aceitei. Retornar à Academy depois de anos sem ir até lá seria emocionante. – Só precisa me falar a hora e estarei aí.

     
+++
      Nunca precisei de um motivo para usar vestidos de gala e me produzir, mas aquela noite era diferente. E estaria visitando a minha antiga escola de ballet, onde a melhor fase da minha vida começou. Assim que cheguei ao estacionamento, tudo estava estranhamente vazio, então pude estacionar na minha antiga vaga. Só soube que estava no lugar certo porque lamparinas desenhadas e com velas acesas em seu interior faziam um caminho pela escada. A porta de madeira também estava aberta.
   Imaginei que, assim como no meu primeiro Snow Ball, o baile fosse acontecer no salão de festas subterrâneo, mas o caminho de luzes fez o caminho contrário. Os corredores estavam bem iluminados pelas velas e fui levada até o auditório. Até que não era um lugar tão estranho assim para se fazer uma festa com apresentações e etc. Demorei para andar até lá, sentindo um frio gostoso na boca do estômago. A sensação de estar em casa misturada com a de trabalho feito.
   Tive que abrir a porta do auditório quando as lamparinas foram interrompidas. Para a minha surpresa, o caminho continuava ali dentro, mas o lugar estava completamente vazio. “Eu cheguei tão cedo assim?”, pensei, andando alguns passos em seu interior só pelas lembranças que me assolavam. Olhei para o palco assim que um telão de projeção desceu do topo das coxias superiores e uma contagem em estilo de filme antigo começou a partir do número cinco até o zero.
  - Vas happening, babe? Nesse momento estou no Japão, mas não podia deixar de fazer algo especial nesse dia. – No momento em que o vídeo mostrou Zayn, corri para subir no palco e poder prestar atenção de perto. Ver seu sorriso, ainda que por meio de uma gravação, depois de tanto tempo longe era reconfortante. – É nosso aniversário de namoro! Quem diria que estaríamos juntos esse tempo todo?
  - Literalmente todo mundo. – Era a voz de Niall agora, que aparentemente era quem estava filmando.
  - Shut up, Niall! Você quer aparecer no vídeo? – Zayn reclamou, claramente irônico.
  - Claro que quero. – A próxima coisa que apareceu foi a cabeça de Ni exagerada pelo tamanho do telão que agora eu os assistia. – OI, ! FELIZ ANIVERSÁRIO DE NAMORO.
  - Idiota. Eu sabia que devia ter pedido à Louis.
– Zayn empurrou o amigo e voltou a ficar de pé no centro do enquadramento. – Enfim... , eu tenho certeza que você está linda. Como sempre. E queria mais que qualquer coisa poder estar com você nesse dia. Vou te ligar assim que tiver um tempo livre, mas as coisas estão meio corridas por aqui, então não sei quando isso vai ser. De qualquer forma, só preciso que você saiba que cada dia que passo longe de você eu tenho mais certeza ainda de que é com você que quero passar os meus dias, tardes e noites. Porque eu te amo. Já sabe disso, mas o que pode ser novidade é que-

  - Uh, Zayn...
– Niall interrompeu de novo e quem bufou fui eu. – A bateria da câmera está acabando, mate. Foi mal.
  - Mas eu ainda não terminei! Ela tem que saber que-
- E o vídeo foi interrompido. O telão apagou e quis estrangular Niall por não ter carregado a câmera.
  - Eu tenho que saber o que?! – Gritei para o telão, inutilmente.

  (TOCAR)

  - Que eu sempre vou lembrar a primeira vez que pus os olhos em você. Eu te vi olhando em uma direção completamente oposta a minha, com encanto por estar em um lugar novo e nervosa por não conhecer ninguém. – Dessa vez foi o próprio Zayn que saiu de trás das cortinas, vestido impecavelmente com um blazer preto e gravata vinho. Se não estivesse tão pasma por vê-lo na minha frente, teria corrido para abraçá-lo. – Eu me lembro as roupas que você usava e como você cheirava. Sempre vou lembrar o seu rosto quando você se virou e me viu pela primeira vez. Aqui, neste mesmo auditório.
  - Baby! – Consegui me mexer finalmente e ele me abraçou com carinho. Anos haviam se passado desde aquele dia que nos vimos pela primeira vez, mas nossos corpos ainda se encaixavam da mesma forma. – Estou tão feliz em te ver. Sinto tanto a sua falta!
  - Estou ficando bom nessa história de fugir de shows pra vir te ver, não acha? – Riu, colando os lábios aos meus.
  - Perfeito, na verdade. – Imitei sua risada, sem intenção de soltá-lo tão cedo. – Pensei que estivesse mesmo no Japão...
  - E estava, só cheguei há algumas horas. Os outros ainda estão lá, pra falar a verdade. E eu terei que voltar amanhã, porque temos um show que não posso faltar. – Fez bico porque nosso tempo juntos seria tão curto.
  - Isso é cansativo... Não devia ter vindo, love. – Estava radiante por tê-lo ali, mas todo o trabalho de voar do Japão para Londres por apenas algumas horas não parecia valer a pena.
  - Eu faria o dobro disso pra te ver por um minuto. – Acariciou a minha bochecha com o polegar. – Além do mais, vim porque precisava fazer uma coisa.
  - E o que podia ser tão importante que não podia esperar mais um tempo? – Arqueei a sobrancelha, assistindo seu sorriso travesso aparecer.
  - Uma pergunta. – Beijou a minha mão e separou nosso abraço. – Ume pergunta não podia esperar mais.
  - Qual? – Desconfiava que fosse escutar algo bobo do tipo “Podemos adorar um gato do Japão?” ou “nossa casa pode ter um quarto amais para o meu lagarto?”, até que o vi se ajoelhar na minha frente, com apenas um joelho encostado ao chão. – Ohh.
  - Vamos passar todas as noites comendo panquecas em cima da mesa quando há cadeiras perfeitamente usáveis por perto. Podemos ir ao cinema e sentar na última fileira, só pra trocar beijos como crianças se apaixonando pela primeira vez. Vamos pintar as paredes de quartos da casa e terminar com mais tinta em nós mesmos do que nas paredes. – Zayn começou o discurso tão perfeito que poderia ter ensaiado durante horas. – Podemos ir a festas de que acabaremos escapando pra beber vinho direto da garrafa na banheira. E dance comigo em nosso quarto, com uma cama desfeita e velas na mesinha de cabeceira. Me deixe te amar pra sempre.
  - Zayn, o que você está dizendo? – Tinha as mãos na lateral do rosto, encarando-o com o coração acelerado.
  - Estou dizendo que é hora de trocar o seu anel por um maior. – Apontou para a minha mão direita, onde o primeiro anel que ganhei ainda descansava. Tirou do bolso uma caixa preta e quadrada, que abriu pra revelar outros anéis ainda mais bonitos. – Estou dizendo que quero me casar com você. Você quer casar comigo também?
  - Sim... É claro que sim! Zayn, eu te amo! – O fiz se levantar para poder abraçar o meu noivo. – Eu te farei o homem mais feliz do mundo.
  - Você já faz. – Sorriu como eu nunca o vira sorrir até ali, mas algo me diria que eu retornaria a ver aquele sorriso em breve. – Podemos fazer a troca?
  - Me ajuda?
   Estendi a mão direita e Zayn tirou de lá o pequeno anel que faria falta. Em seguida, troquei a mão e ofereci a esquerda, onde ele colocou a nova aliança de noivado e seu acompanhante. Coube perfeitamente, mas não era uma surpresa tão grande assim que ele soubesse o tamanho do meu dedo. Tinha certeza que namoraria o anel o dia inteiro e odiaria não poder beber em nossa festa de noivado por causa do bebê.
   Zayn e eu começamos a entrelaçar nossas vidas, transformando-as em uma só. Ele me completava e a cada dia estava mais certa de que fiz a escolha certa. O destino tem uma forma engraçada de bagunçar todos os seus planos, mexer em seus caminhos e em tudo que chegou a acreditar um dia. No final, ele prova que tudo tem um propósito maior que você mesma. Eu amava o meu destino, porque meu destino era Zayn.

FIM!



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