Ballet Shoes

Ella Souza | Revisada por Isabelle Castro

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Capítulo I

  O sol já havia nascido e entrava pela janela do meu quarto sem pedir licença, batendo diretamente no meu rosto e me fazendo despertar. Eu não sabia ao certo quanto tempo havia dormido, mas parecia que não tinha sido nem cinco minutos. Na noite anterior, eu não conseguira pegar no sono. Estava nervosa demais pra conseguir pregar o olho! Deixe eu me apresentar... Me chamo e tenho 19 anos. Sou uma típica garota francesa. Meu grande sonho sempre foi ser uma bailarina profissional, me apresentar nos maiores teatros do mundo e encantar pessoas com a dança. Desde que me entendo por gente tenho sapatilhas cor de rosa nos pés e um coque nos cabelos perfeitamente penteados. Há aproximadamente um mês, em uma viagem para visitar o meu pai na Inglaterra, fiz um teste para a London Royal Academy, que é a melhor academia de artes da Europa. Além de ballet, a academia oferece cursos de música e teatro, mas é claro que o meu objetivo era a dança. Como moro na França com meu avô Charles e minha avó Jolene - desde que meus pais se separaram - a minha carta com o resultado do teste estava demorando até demais para chegar. Eu seria mais a favor de um e-mail avisando se eu havia conseguido uma bolsa de estudos na melhor escola de ballet do mundo (na minha opinião), ou se os meus sonhos seriam destruídos e eu teria que me contentar com uma faculdade qualquer. Mas aparentemente a Academy gostava de fazer as coisas de um jeito mais Oldschool.
  Já era quarta feira e o carteiro deveria passar a qualquer momento. Me mexi preguiçosamente na cama e constatei que o livro que eu estivera lendo na noite passava estava fechado e sem a página marcada. Deveria ter fechado sozinho quando finalmente peguei no sono e então levantei com uma careta, já imaginando o trabalho que daria pra achar a página certa novamente. Segui me arrastando até o banheiro do corredor, já que eu não tinha um só pra mim em meu quarto, e resmunguei baixo ao encontrar a porta trancada.
  - Louis? Lou, é você aí dentro? Anda loooooooogo. – Bati na porta umas três vezes até escutar o barulho da chave sendo girada na parte de dentro do banheiro e a figura sorridente do meu irmão aparecer.
  - Bom dia pra você também, apressada. – Ele depositou um beijo estalado em minha testa e desceu as escadas ainda sorrindo. Queria ter o bom humor de Louis pela manhã. Resmunguei alguma coisa que ele provavelmente não ouviu e entrei no banheiro, me trancando lá dentro. Fiz toda a minha higiene matinal, mas me recusei a tomar um banho. Estava nervosa demais para perder mais um segundo qualquer ali dentro. Segui o meu caminho para o andar de baixo, saltando dois degraus de cada vez. Quase caí no penúltimo degrau, mas ninguém precisa ficar sabendo disso.
  - Bom dia, nana! – Passei pelas portas brancas da cozinha e caminhei até a minha vó, que cozinhava algo que cheirava muito bem. A abracei de lado com um sorriso e beijei-lhe a bochecha, recebendo um daqueles sorrisos que alegram o dia de qualquer um como resposta.
  - Bom dia, . Será que hoje é o grande dia? – Ela perguntou com a voz doce e suave, se referindo ao resultado do meu teste. Nas últimas quatro semanas eu havia acordado cedo demais, apenas para sentar na varanda de casa e esperar Joe, o carteiro.
  - Eu espero que sim... Essa demora está me matando. – Sentei ao lado de Louis, que mastigava um pedaço de croissant e sorriu pra mim com a boca cheia. – Ew. – Falei simplesmente, gargalhando e em seguida roubando o resto de comida em seu prato. Ele estava prestes a reclamar e roubar o croissant mordido da minha mão, mas minha avó foi mais rápida e o repreendeu.
  - Louis, deixe a sua irmã comer um pedaço. Esse já é o seu terceiro e a coitadinha está nervosa. – Vovó sempre me defendia e por isso eu amava tanto. Não só por isso, mas enfim. Olhei para meu irmão mais velho e sorri para ele da mesma forma; com a boca cheia. Porém, nos meus olhos havia um toque zombeteiro como se eu estivesse falando: “Haha, bem feito” o que me rendeu um tapa na cabeça e uma reclamação dele.
  - Injusto. Ela sempre consegue tudo o que quer. – Ele dramatizou, terminando o suco em seu copo antes que eu tentasse roubá-lo também.
  Meu avô entrou na cozinha com um jornal embaixo do braço e algumas correspondências nas mãos. No mesmo instante em que vi aqueles envelopes meu coração começou a bater mais rápido e eu senti um frio percorrer a minha espinha. Vovô me olhou com de forma companheira. Ele não costumava sorrir muito, mas aquele olhar reconfortante foi o suficiente para me tranquilizar ao menos um pouco. Meu irmão e minha avó trocaram olhares como se estivessem se perguntando a mesma coisa que eu e vovô começou a olhar as cartas, de uma por uma.
  - Conta, conta... – Ele começou, para o meu desespero. – Propaganda. Cupom para um novo lava jato... – E seu olhar saiu do último envelope e me fitou por cima dos seus óculos de meia lua. – Essa é sua, .
  No mesmo instante que ele falou aquilo, saltei da cadeira e corri em sua direção. Delicadamente tirei o envelope branco e com bordas douradas de suas mãos e corri para fora da cozinha, subindo as escadas de volta para o meu quarto ainda mais rápido do havia descido. Queria abrir a carta sozinha. Aquele seria um momento só meu. Afinal, todo o trabalho, todas as noites mal dormidas por causa de ensaios e todas as bolhas em meus pés haviam sido somente minhas. Claro que a minha família tinha me apoiado e torcido por mim, mas não foram eles que dançaram na frente dos três maiores críticos de ballet que eu já pude conhecer. Ninguém além de mim enfrentou o nervosismo, as dores, ou passou mal após a apresentação que decidiria o meu futuro. Eu tinha dado tudo de mim e sabia do peso que aquela única apresentação teria na minha carreira. É verdade que eu poderia tentar novamente no ano seguinte, mas era praticamente impossível alguém ter uma segunda chance e entrar na segunda tentativa. E eu não tentaria de novo. Não acreditava que seria boa o suficiente em uma “segunda chance”. Para mim, aquela era a minha chance. Aquele papel brilhante em minhas mãos era a minha passagem para Londres. Ou então seria o fim dos meus sonhos, a prova de que eu não havia nascido para dançar e eu teria que aceitar o meu destino trabalhando em algo que não me deixaria completa.
  Tranquei a porta do quarto e sentei-me na cama com “pernas de índio”. Tentei ficar o mais confortável possível, mas o frio na barriga só fazia aumentar. Li a parte exterior inteira, me certificando de que aquela carta era realmente minha. “Star Tomlinson” e “Paris; França.” Sim, era minha. Respirei fundo deixando o ar voltar a sair por entre os meus lábios.
  - É agora... – Falei sozinha e passei o dedo indicador com cuidado para retirar o lacre vermelho que estava mantendo a carta fechada. Assim como o exterior, o papel que estava dentro do envelope era minuciosamente trabalhado em branco e dourado. Segurei o papel com as duas mãos e corri os meus olhos to topo até começar a ler o que estava escrito. Não queria perder nenhum detalhe, por melhor ou pior que pudesse ser.

  
“Prezada Srt. Tomlinson,
  É com grande prazer que informamos a sua aceitação na London Royal Academy para a classe de Ballet clássico. Comprovamos que suas habilidades são mais que suficientes...”

  Nesse momento eu já não consegui ler mais nada, pois meus olhos estavam repletos de lágrimas que teimavam em sair. Mas eu nem ao menos tentei controlá-las; estava chorando de felicidade. Eu havia sido aceita. Minha vida iria mudar completamente dali pra frente e eu nem sabia o quanto. Ainda estava chocada e não parava de ler a primeira frase. Era tudo tão perfeito, a letra trabalhada e manuscrita deixava tudo ainda mais pessoal e emocionante. Passei as mangas do meu pijama em baixo dos olhos secando algumas lágrimas para conseguir terminar de ler. Eu teria até uma semana antes do começo das aulas para confirmar a minha vaga pessoalmente na academia e pegar o meu horário de aulas, assim como conhecer melhor o lugar. E teria um mês até o início das aulas. Seria tempo suficiente para me organizar e me adaptar a minha nova cidade.
  De uma vez só vários pensamentos começaram a invadir a minha cabeça. Eu teria que deixar meus avós sozinhos, já que Louis estaria indo para Londres também, pois ele conseguira um emprego como fotógrafo em uma agência muito conhecida. Mas ele estaria partindo em três dias e eu provavelmente só iria um pouco depois. Também teria que deixar a minha mãe, que morava em Paris desde que ela e meu pai se separaram.
  Deixe-me explicar melhor: Meus pais se conheceram em Doncaster, quando a minha mãe estava passando férias na cidade com algumas amigas. Eles se apaixonaram perdidamente minha mãe engravidou do meu irmão, o que resultou em um casamento relâmpago. Os três continuaram morando na Inglaterra, mas o casamento já não era lá tudo aquilo que foi no começo. Para tentar salvar o relacionamento eles decidiram ter mais um filho, e é nessa hora que eu entro; o bebê que deveria fazer todos os problemas irem embora. Mas antes que eu pudesse nascer, todos se mudaram para Paris, o que me torna originalmente francesa. Quando a separação aconteceu, eu já estava com doze anos e meu pai se mudou para Londres, nos deixando sob os cuidados de minha mãe. Não lembro se cheguei a ficar um dia inteiro com ela, por causa do seu trabalho. Era uma artista plástica e sempre ficou muito ocupada com seus trabalhos ou exposições de arte e nunca teve muito tempo pra gastar com seus filhos. Essa foi uma das razões que levou meus avós a lutarem pela nossa guarda e nos levar para morar com eles. Papai recentemente se casou novamente com uma modelo chamada Rachel, uma madrasta diferente das dos contos de fada, pois ela era um anjo. E desse casamento veio a minha meio-irmã, Lux. Uma princesinha de dois anos a quem eu era super apegada. Sempre que podia passava as férias de fim de ano com meu pai e se pudesse escolher, ficaria morando com ele para sempre. Agora que já tinha um motivo mais forte para me mudar para Londres, poderia ir sem me sentir culpada por deixar para trás tudo aquilo que eu conhecia.
  Uma batida forte na porta me fez despertar dos meus pensamentos e quase ter um pequeno ataque do coração ao escutar o berro do meu irmão.
  - ! Você está nos preocupando com essa demora. Se foi rejeitada, ao menos vá cortar os pulsos no banheiro. Porque eu não quero ter que limpar a mancha de sangue do chão. - Sempre tão delicado pude ouvir sua risada do outro lado da porta. Senti vontade de rir também, mesmo que quisesse lhe dar um soco por causa dessa gracinha. Se eu realmente tivesse sido rejeitada, não agüentaria aquela brincadeira.
  - Já vou abrir... – Disse imitando uma voz fraca, querendo criar um suspense.
Levantei da cama e destranquei a porta sem nem olhar para Louis. Ele entrou atrás de mim e pude sentir seu olhar me encarando, esperando por alguma resposta.
  - E aí? O que dizia a carta? – Ele estava sério, provavelmente me julgando pelos olhos vermelhos causados pelo choro.
  - Eu... – Comecei, olhando-o nos olhos pela primeira vez. – Eu passei, Lou.
  - Eu sabia! Wow, , parabéns! – Ele comemorou animado, passando os braços em minha cintura e me levantando do chão.
  - Obrigada, Boo Bear! – Me segurei em seus ombros para não acabar caindo. – Nós vamos para Londres!
  - Logo quando eu já estava ficando animado por me ver livre de você... – Meus pés voltaram a encostar no chão e eu estava feliz demais pra reclamar ou bater nele. Queria ligar para o meu pai e ouvir ele dizer que estava orgulhoso de mim. Assim como tenho certeza que minha avó também falaria.
  - Shut up. – Falei simplesmente, soltando-me de seu abraço e saindo do quarto com um sorriso tão grande nos lábios que minhas bochechas começaram a doer. Queria contar a grande notícia ao mundo inteiro.

Capítulo II

  Uma semana já havia passado desde que eu recebera a minha carta para Hogwarts, também conhecida como London Royal Academy, e eu não conseguia conter a minha animação. Louis já tinha partido há alguns dias para procurar o apartamento que nós dois dividiríamos e eu seguiria para Londres nos próximos dois dias. Usaria aquele tempo que me restava em Paris para empacotar as coisas que eu levaria para o meu novo lar, me despedir dos meus avós e dos poucos amigos que tinha e a parte mais complicada... Dar a noticia da mudança para a minha mãe. Papai já estava sabendo de tudo e aguardava a minha chegada, mas a minha mãe Johanna daria um pouco de trabalho e provavelmente não gostaria tanto da idéia de me ter longe assim. Não que agente se encontrasse toda semana, mas ela gostava de saber que eu estava no mesmo país que ela, principalmente por ser o mais longe possível de meu pai.
  Estacionei o carro em frente ao prédio de minha mãe e desci do veículo, trancando-o atrás de mim. Meus cabelos logo foram bagunçados pela rajada de vento frio que praticamente congelou o meu rosto e, como reflexo, apertei o meu sobretudo marrom contra o corpo. Era possível ver o vapor saindo dos meus lábios na medida em que eu ofegava ao subir a escadaria que me levaria até a portaria do prédio.
  - Boa tarde, senhorita Darling. – Jeffrey, o porteiro, me cumprimentou enquanto abria as portas para que eu passasse. Ainda era estranho ser chamada pelo sobrenome da minha mãe, já que eu costumava usar o de meu pai.
  - Boa tarde, Jeff! Minha mãe deve estar me esperando, então você não precisa ligar pra ela. – Não queria perder mais tempo ali embaixo, só desejava me livrar de uma vez desse nervosismo que estava me dominando. – Vou indo... – Me despedi com um sorriso e um aceno de cabeça.
  - Sem problemas, , você já é da casa. – Sempre tão simpático, o senhor de meia idade me acompanhou até os elevadores e logo voltou para o seu lugar, me deixando sozinha com meus pensamentos.
  É claro que eu estava com medo da reação da minha mãe, mas ela não poderia me impedir de viajar. Eu iria para Londres de qualquer forma, só que preferia partir sem deixá-la chateada. Entrei no elevador assim que as portas automáticas se abriram e apertei o botão para o sétimo andar. A subida foi terrivelmente lenta e eu repassei na minha mente todas as minhas falas, testando o melhor jeito de dar a noticia. Nervosamente passei as mãos pelos meus cabelos castanhos e senti o solavanco que o elevador costumava dar quando estava chegando ao seu destino. “Sétimo andar. Descendo.” As portas se abriram assim que a voz automática informou o andar e eu caminhei rapidamente para fora, procurando a porta do apartamento de mamãe.
  “Diiiiiing dong”, fez o barulho da campainha assim que eu a apertei. Escutei o barulho de algo sendo derrubado ao lado de dentro e a voz da minha mãe reclamando alguma coisa que não consegui decifrar o que era. Conhecendo o seu jeito estabanado de ser, foi fácil imaginar uma cena em que ela derrubava alguma coisa pesada no chão e depois saía reclamando pela casa coisas em uma língua desconhecida. Esse pensamento me fez rir tanto que nem ao menos me dei conta de que a porta já estava aberta e Johanna me encarava com um sorriso infantil nos lábios. Parecia ofegante, seus cabelos estavam bagunçados e uma mancha de argila molhada em sua bochecha denunciava que ela estivera trabalhando em alguma escultura.
  - Mãe! – Ela me puxou para um abraço e eu logo o retribuí. – Espero que não esteja te atrapalhando. Eu sei que disse que ia passar aqui à noite, mas...
  - , meu amor. Que saudade. Parece até que você cresceu. – Me cortou, já separando o abraço e me fazendo entrar. O lugar estava do mesmo jeito que eu conseguia me lembrar. Abarrotado de obras de arte, finalizadas ou não, e instrumentos de trabalho que eu não fazia idéia de suas utilidades. Parecia mais um atelier do que a casa de alguém. Além disso, avistei peças de roupa espalhadas por um dos cantos da sala e uma pilha de pratos sujos por cima da mesa da cozinha.
  - É, já faz algum tempo que a gente não se encontra. – Caminhei até o sofá e me sentei, esperando que ela fizesse o mesmo. – Mãe, eu vim aqui hoje porque tenho um assunto delicado pra tratar com você.
  - Assunto delicado? O que houve, ? É a minha mãe? Alguém está doente? – Fui bombardeada por suas perguntas e ela se sentou na mesinha de centro, em frente a mim.
  - Mãe, não é nada... – Tentei fazê-la se calar.
  – Onde está seu irmão? Por que ele não veio com você? Ai, meu Deus, algo aconteceu com o seu irmão?!
  - MÃE! – Gritei. Ela me olhou espantada, mas pelo menos se calou, me dando a oportunidade de continuar. – Não é nada disso, a vovó e o Lou estão ótimos. O que tenho pra falar é sobre mim, mas por favor não me interrompa.
  - Só me diga que você não está grávida.
  - Mãe! – Mais uma vez a repreendi, segurando as alças da minha bolsa de mão com força. Esse era um dos motivos que me fazia evitar conversas sérias com ela.
  - Eu só estava me certificando, filha. Não quero que você cometa os mesmos erros que eu e fique grávida muito cedo.
  - Ok, ok. – Rolei os olhos. – Posso continuar?
  - Sim, continue. – Ela pareceu se contentar em me escutar e me olhou com curiosidade.
  - Bem... – Suspirei fundo e juntei toda a minha coragem para continuar. – Você lembra que eu fiz um teste para uma academia de ballet? Então. Eu fui aceita, mãe. Eu passei! – Foi impossível conter um sorriso de animação enquanto esperava alguma reação da parte da outra.
  - Isso é maravilhoso, ! Eu sempre soube que você conseguiria. Nossa, eu estou tão feliz! – Ela comemorou, me fazendo sorrir ainda mais. Eu teria pulado em seus braços e a abraçaria com todas as minhas forças se a pior parte não estivesse por vir. Ainda faltava um detalhe que eu teria que falar.
  - É maravilhoso sim! E é o meu sonho... Finalmente parece que tudo está dando certo. Só tem mais uma coisa que eu preciso te contar. A academia é em Londres. – Na última frase a minha voz falhou. Por mais que eu tivesse tentado suavizar cada palavra, a verdade seria dolorosa demais; ao menos para ela.
  - Como é? – Seus olhos se arregalaram e eu tenho certeza que vi suas pupilas dilatarem.
  - A academia em que eu fui aceita é em Londres... – Repeti com a esperança de que ela aceitasse numa boa. Mas, só pra variar, eu estava errada. Assisti a minha mãe se levantar e colocar as duas mãos nas laterais do rosto e mexer a boca sem emitir som algum.
   - Você não vai. Não mesmo. Está fora de cogitação. Você está louca se acha que vai morar em outro país. – Ela disse áspera, cruzando os braços como se aquela fosse a sua palavra final.
  - Você é que está louca se acha que vai me impedir de ir. – Também me levantei, largando a minha bolsa de qualquer jeito no sofá. Estava irritada e comecei a bater o pé de forma impaciente contra a madeira do chão.
  - Eu sou a sua mãe, . Se eu falo que você não vai, é porque não vai. Fim de papo! – Levantou a voz e começou a andar para a cozinha. Eu fui mais rápida e segurei-a pelo braço. A conversa não havia terminado nem de perto.
  - Você pode ser a minha mãe, mas isso não lhe dá o direito de controlar as minhas decisões. Não quando eu já sou maior de idade e perfeitamente capaz de me cuidar sozinha. – Elevei a minha voz da mesma forma que ela. Queria deixar a discussão em um mesmo nível. – Além do mais, Londres não é tão longe assim de Paris. E o meu pai mora lá, então se eu precisar de algo...
  - SEU PAI? Eu sabia que ele estava metido nisso. Ahh, o Mark me paga! – Minha mãe estava furiosa. Provavelmente amaldiçoando até os ancestrais do meu pai. – E eu aposto que aquela menininha com quem ele se casou também está metida nisso. Ela sempre quis roubar você e o seu irmão de mim!
  - Dá pra você parar de falar besteira? É claro que papai está feliz com isso, já que ele sente a minha falta. Mas eu estou indo para realizar o meu sonho, pra estudar! Será que você não entende que é a minha vida e não uma briguinha estúpida entre vocês pra saber quem vai ficar com os filhos? Porque, que eu saiba, a senhora nunca fez muito esforço para estar perto de mim ou do Louis. E TEM MAIS. – Despejei todas as verdades de uma vez, quase perdendo o fôlego ora ou outra. Antes que pudesse ser interrompida, continuei: - A Rachel não é uma menininha com quem papai se casou. Ela é um amor de pessoa e ele seria idiota se não se apaixonasse por ela. Na verdade, eu não sei como ele se apaixonou por você!
  Sei que as minhas palavras foram duras demais, mas eu não consegui aguentar calada. Eu defenderia meu pai de qualquer um, principalmente dela. Johanna nunca foi um exemplo de mãe, sempre colocando o seu trabalho na frente dos filhos. Não consigo me lembrar em nenhuma das minhas apresentações de dança ter visto minha mãe na platéia. Nas reuniões de escola, era sempre a minha avó que ia conversar com os professores. Nem ao menos na minha formatura ela fez questão de aparecer, sempre inventando alguma exposição de arte que ela “não podia deixar de ir”. Meu pai também não era o tipo de pai perfeito que estava presente em todas as ocasiões, mas pelo menos ele fazia de tudo para se redimir. Seu trabalho também era muito importante, já que ele era um oncologista de renome nacional e nem sempre podia sair do hospital na hora que quisesse. Mas sempre se preocupava com a minha vida e gostava de se manter informado. Nas noites mais importantes, ele deixava o plantão nem que fosse por uma hora e passava para me dar um beijo. Eu costumava ficar acordada até tarde, o esperando, e quando pegava no sono no sofá, era ele quem me levava para a cama e acabava dormindo comigo. Então minha mãe poderia falar qualquer coisa, contanto que não colocasse o nome do meu pai no meio.
  Ela não falou mais nada, mas o que fez em seguida foi muito pior. Levantou a mão e a próxima coisa que eu senti foi a pele do meu rosto queimar com o seu tapa. Essa era a primeira vez que alguém me batia, pois nem quando eu era criança isso tinha acontecido. Eu a olhei incrédula, com lágrimas nos olhos e ela levou a mão até a boca tapando um pequeno gemido. Provavelmente estava arrependida e tentou me tocar novamente, mas dessa vez eu fui mais rápida e afastei sua mão. Também guardei as minhas palavras, já que não adiantaria mais de nada e peguei a minha bolsa rumando até a porta.
  - , me perdoe! Eu não quis... Eu não pretendia... – Dessa vez quem chorou foi ela, vindo atrás de mim e segurando na manga do meu sobretudo. Eu nem me dei ao trabalho de parar, apenas me desvencilhei de seu toque e abri a porta. – !
  Lancei um último olhar em sua direção e a observei cair de joelhos sobre o batente da porta, chorando. Eu sabia que ela era totalmente desequilibrada e costumava agüentar os seus ataques, mas naquela tarde tinha passado de todos os limites. Engoli as minhas próprias lágrimas e parti para a escada de emergência. Não iria esperar o elevador chegar e muito menos dar tempo para Johanna começar a falar mais besteiras ou tentar se desculpar. Eu não a perdoaria, não agora. Daí pra frente só o que eu escutei foi a porta da escada batendo com força atrás de mim e o som dos meus passos apressados. Foi nesse momento que eu percebi que estava correndo. Meu corpo parecia ter vida própria, pois a minha mente não sabia o que fazer e meu corpo só queria sair daquele lugar o mais rápido possível. Eu não sabia o que pensar, não sabia o que fazer. Queria esquecer aquele momento, assim com como todas as outras brigas e decepções que meu passado em Paris guardava. Meu futuro estava na Inglaterra e eu estava mais certa daquilo do que nunca. A França era um lugar encantador e havia sido a minha casa durante a minha vida toda. É claro que eu sentiria falta das cafeterias com mesinhas nas calçadas, nas variedades de doces nas delicatessens mais caras do mundo. Eu estaria trocando a Eiffel Tower pelo Big Ben, os macarrons que eu tanto amava por fish and chips, trocaria o meu francês pelo sotaque britânico. Tinha medo, mas era um medo bom. Do tipo que a gente não sabe o que tem pela frente, mas não pode esperar para descobrir.
  Passei correndo pela portaria sem nem me despedir de Jeffrey. Não queria que ele me olhasse preocupado com a mancha avermelhada em meu rosto, já que eu tinha certeza que os dedos de minha mãe estavam marcados perfeitamente na minha pele branca. Dei graças a Deus quando entrei no carro e coloquei a chave na ignição, dando a partida e seguindo pela rua quase vazia. Não me importei em ligar o rádio, pois tinha medo de que alguma música triste começasse a tocar e me fizesse chorar e colocar pra fora todas aquelas lágrimas que já estavam difíceis demais de segurar. Em aproximadamente meia hora já tinha estacionando o carro na garagem e entrava em casa, constatando que ela estava vazia. Vovó deveria estar na pracinha com umas amigas e vovô fazendo a sua caminhada de fim de tarde. Respirei aliviada por não haver ninguém lá; não conseguiria explicar como foi a conversa com a minha mãe e tenho certeza que eles perguntariam.
  Segui direto para o meu quarto, subindo as escadas e sentindo os joelhos fraquejarem. Estava exausta. Assim que entrei no quarto, tirei meu sobretudo e o larguei na minha poltrona que ficava em um dos cantos. Sente-me sobre a cama e tateei o interior da minha bolsa a procura do meu celular. Queria ligar para o meu irmão, pois ele era a única pessoa com quem eu conseguiria falar naquele momento. Tirei os sapatos e coloquei os pés na cama em seguida, deitando as costas no meu travesseiro. Disquei o número de Louis no meu iPhone e levei o aparelho até a orelha e esperei ele atender.
  - Ahoi? – O idiota atendeu, me arrancando uma gargalhada.
  - Aqui na França ainda atendem com “Alou.” A Inglaterra já te mudou tanto assim, irmãozinho?
  - Eu só estou tentando animar as coisas, . “Alou” é muito sem graça. – Ele riu e eu pude ouvir uma voz desconhecida através do celular. – Como você está, pequena? Já se arrependeu de estar vindo pra cá?
  - Tá brincando? Eu nunca estive tão certa! – Pressionei a têmpora com os dedos da mão livre, continuando. – Por falar nisso, como vai a procura do nosso lar?
  - Já está tudo certo, . Achei o lugar perfeito... Não exatamente eu, já que tivemos uma ajudinha. Não posso dar detalhes, porque prometi que seria uma surpresa, mas você vê quando chegar. – Preciso dizer que não entendi nada do que Louis falou? Que mistério era aquele? Eu só havia perguntado sobre o nosso apartamento. – Cale a boca, Liam! Eu não vou te mostrar uma foto dela.
  - O que está acontecendo aí? – Soltei uma risada um tanto alta ao escutar novamente aquela voz desconhecida, que eu presumi ser do tal Liam, e a resposta irritada do meu irmão. – Eu estou atrapalhado um encontro? Hmmm.
  - HÁ HÁ HÁ. Muito engraçado. – Ironizou com a minha brincadeira. – Liam é um amigo que eu conheci na agência. Nós trabalhamos juntos e tenho a impressão de que você vai conhecê-lo.
  - Só não conte mentiras ao meu respeito, por favor, ok? Ao menos não enquanto eu não estiver por perto e não puder me defender.
  - Não posso prometer nada, irmãzinha. – Senti que ele estava sorrindo do outro lado da linha. – E quando você vem? No sábado?
  - Na verdade, Lou, é por isso que eu liguei. – Estiquei as pernas sobre a cama e passei a encarar o teto. – Eu estive pensando em, talvez, quem sabe... Ir amanhã mesmo.
  - Amanhã? Você vai conseguir arrumar as suas coisas a tempo? Por mim tudo bem, já que a casa está quase pronta... – Casa? Pra mim isso era novo, já que eu achava que dividiríamos um apartamento.
  - É claro que sim! Nem que eu passe a noite inteira empacotando coisas. – Respondi rapidamente. Não queria que ele mudasse de idéia quanto ao “por mim tudo bem”.
  - Então é só comprar a sua passagem e me falar o horário que eu vou te buscar na estação.
  - Ótimo, Lou... – Suspirei, mordendo meu lábio inferior.
  - Você está estranha, . Falou com a mãe hoje, né? – Sempre fiquei espantada com a forma que Louis me conhecia e podia notar que eu não estava bem apenas com o tom da minha voz.
  - É, eu fui dar a noticia a ela. – Rolei os olhos, mesmo sabendo que ele não podia ver.
  - E como foi? – Senti a preocupação em sua voz, talvez já sabendo qual fosse a minha resposta.
  - Terrível é uma forma de definir. Ela pirou, como sempre. Mas hoje foi pior.
  - Deixe-me adivinhar: Ela culpou o papai e disse que a Rach fez a sua cabeça?
  - Quase isso! – Ri sem humor. – Ela me bateu.
  - Ela fez o quê?! Essa mulher precisa de ajuda profissional. – Meu irmão estava bravo e se eu pudesse vê-lo, tenho certeza que a veia em seu pescoço estaria maior que o normal.
  - Não foi uma surra, mas ela bateu no meu rosto. Tive que me segurar pra não revidar. Nós discutimos feio, Lou... E dessa vez não tem volta. – Funguei tentando engolir o choro mais uma vez. – Mas não quero falar sobre isso.
  - Tudo bem, . – Ele respeitou o meu silêncio. – Só queria poder te abraçar agora.
  - Shhh, não me faça chorar, seu meloso! – Falei manhosa, sorrindo. – Eu tenho que ir, ok? Minhas malas não vão se arrumar sozinhas. E diga ao Liam que eu mandei ‘oi’.
  - Boa sorte com isso e tente só trazer o necessário. Nada de embalar todos os seus bichinhos de pelúcia. Principalmente aquele que me dá arrepios. Urrrgh. – Gargalhei e ele me acompanhou na risada.
  - Ok, vou tentar. Juro.
  - Então te vejo amanhã, pequena. Se cuide. – Ele se despediu.
  - Te vejo amanhã! Luv ‘ya. – Desliguei o celular com um sorriso bobo nos lábios. Eu o veria no dia seguinte. Em Londres.
  Minha tarde seria longa, então eu não tinha tempo a perder. Saí do quarto em direção ao banheiro, onde tomei um banho demorado. Precisava relaxar e nada como a água quente escorrendo pelo meu corpo. Só saí de lá depois que meus dedos estavam enrugados e escutei o ranger da porta da frente ao se abrir, ou fechar; não consegui identificar isso. Enrolei uma toalha branca no meu corpo e outra nos meus cabelos, em uma espécie de touca. Atravessei o corredor novamente e me tranquei no quarto. Não me dei ao trabalho de descer para ver quem havia chegado em casa, faria isso depois de empacotar pelo menos metade das minhas coisas. Sequei o corpo e vesti um pijama confortável: Um short de algodão azul claro e uma camisa do Nirvana que eu roubara de Louis meses atrás. Apenas penteei os cabelos e os deixei secar naturalmente.
  Não fazia ideia de por onde deveria começar, então tentei organizar os meus pensamentos para então colocar as minhas coisas em ordem. Não tinha certeza do que levar, ou do que deixar pra trás. “Tente só trazer o necessário”, as palavras de Lou não saíam da minha cabeça. O que eu podia fazer se TUDO era necessário? Resolvi partir do começo. Algo que era de fato necessário: Roupas. Joguei a minha maior mala em cima da cama e a deixei aberta. Sem demora, comecei a tirar todas as minhas roupas de uma por uma e a colocá-las arrumadas na mala. Não me importava que ficassem amassadas, o que eu queria era que todas coubessem em um lugar só. Eu nunca tive muitas roupas, mesmo morando na capital da moda, então foi fácil esvaziar o guarda roupa em apenas uma mala. É claro que já deixei a minha roupa para a viagem do dia seguinte separada na mesinha de cabeceira. Coloquei os sapatos – e as minhas sapatilhas de dança – dentro de uma caixa de papelão e também separei o que usaria para viajar. Repeti com as bolsas o mesmo que havia feito com os sapatos. Bem, aquilo era o necessário. Coloquei a mala em um canto do quarto e empilhei uma caixa sobre a outra. Eu logo não teria mais espaço, já que o meu quarto era praticamente um cubículo onde só cabia a minha cama, um guarda roupa e alguns móveis menores. Na verdade, a casa inteira era assim, pequenina. Meus avós nunca foram muito ricos e a casinha em que eles moravam era o suficiente para os dois. Assim que meu irmão e eu nos juntamos a eles, meu pai ofereceu pagar por uma casa maior, mas ninguém aceitou. Então tivemos que dar o nosso jeito da melhor forma possível. O quarto de hóspedes ficou com o meu irmão e o escritório foi transformado em um quarto pra mim. Não posso dizer que era um quarto dos sonhos, mas também não tinha do que reclamar.
  “TOC TOC”. A batida na porta me assustou e logo me pus a abri-la. Meu avô estava parado, me estudando com seus brilhantes olhos azuis escondidos por trás das lentes de seus óculos de leitura.
  - Papa! Entra... Não vi o senhor chegar, acho que eu estava no banho. – Sorri nervosa, quase me enrolando com as palavras. Não queria magoá-lo por ter antecipado a minha partida. Dei espaço para ele entrar e o fitei enquanto passou por mim e viu as malas no canto.
  - Não faz muito tempo que eu cheguei. A caminhada foi revigorante. – Ele seguiu até a minha cama e se sentou, me encarando. Não como se cobrasse uma explicação, apenas tentando entender o que estava acontecendo. – Não é meio cedo para arrumar as suas coisas, querida?
  - Eu adiantei a minha ida, vovô... – Expliquei com calma. Ele não falou nada, apenas me olhou da forma que ele sempre fizera, com compreensão. Balançou a cabeça em afirmativa e eu continuei. – Parto amanhã, no trem da tarde. Já falei com Louis e está tudo certo.
  - Não aguenta mais esperar para visitar a terra da rainha não é mesmo? – Ele sorriu de leve. – Ou quer se livrar do seu velho avô? – Apesar de ser uma brincadeira, senti um toque de melancolia em sua voz. Minha mãe era sua única filha e eles nunca foram muito ligados. Então vovô me tinha como a sua princesinha desde que eu me entendo por gente. Seria difícil dizer adeus, mesmo que eu não estivesse indo para tão longe assim.
  - É claro que não, papa! Só eu sei o quanto vou sentir sua falta e da nana. Mas eu preciso ir... – Minha voz era manhosa, como se estivesse prestes a chorar. Caminhei até ele, mas não me sentei.
  - Eu entendo, minha filha. Seu sonho está lá. E eu tenho certeza que será apenas o primeiro de muitos. – Agradeci por ele ter começado a falar, já que eu não saberia dizer mais nada. – Você vai brilhar, . Ainda mais. Nunca deixe ninguém te dizer o contrário. Muitos vão querer te deixar pra baixo, muitos não vão ser aquilo que você esperava. Mas não se deixe abalar. Seja a menina forte que eu sei que você é. Acima de tudo, não deixe os problemas mudarem a sua essência. Continue com o coração bom que você tem. E não se esqueça... Você sempre vai ter a sua casa aqui.
  - Ah, vovô... – Não aguentei mais segurar o choro, não depois daquelas palavras que me tocaram tão profundamente. Ele se levantou e me abraçou. Me encolhi em seus braços e chorei como uma garotinha, sem me importar em molhar a sua camisa com as minhas lágrimas. Escondi o rosto em seu pescoço e ele acariciou meus cabelos, assim como fazia quando eu era menor. Perdi as contas de quantas vezes havia chorado em seu colo, especialmente por causa de brigas com a minha mãe. – Eu te amo tanto.
  - E eu amo você, minha menina. – Percebi pela sua respiração que ele também chorava. Não tão desesperadamente quanto eu, mas o suficiente para molhar o seu rosto e embaçar os óculos. – Você já reservou a sua passagem? Eu posso fazer isso por você.
  - Ainda não. Você faria isso? Preciso arrumar mais algumas coisas por aqui... – Desfizemos o abraço e eu funguei, limpando meus olhos. Ele fez o mesmo, aproveitando para passar a barra da camisa nos óculos.
  - Vou ligar para a estação e resolver tudo. – Charles foi até a porta e me deu um último aviso antes de sair: - Sua avó está fazendo o jantar. Não demore muito.

Capítulo III

  - , querida? Levante, está na hora... – A voz ainda era distante, mas eu sabia que era a minha avó Jolene tentando me acordar.
  - Só mais cinco minutinhos, nana. – Pedi com manha, puxando o cobertor para cima da minha cabeça. Senti ela se mexer na cama e passar a mão na minha perna por cima o cobertor.
  - O almoço já está pronto e você não pode demorar muito. Hoje é o grande dia! – Ela me balançou devagar, encorajando-me a levantar.
  - Tudo bem, nana, já estou indo. – Descobri o rosto e a olhei com os olhos semi-serrados, ainda me acostumando com a claridade.
  Minha avó sorriu abertamente e me deixou sozinha no quarto. Aos poucos fui me levantando e esticando os braços para me espreguiçar. Finalmente eu estaria viajando para Londres e começando uma nova etapa da minha vida. Eu havia passando a noite inteira e boa parte da madrugada anterior terminando de arrumar as coisas que eu levaria. Como alguns ursinhos de pelúcia, um álbum de fotografias com as minhas imagens preferidas, meus perfumes, maquiagem, carregadores, notebook e dois livros que ainda estava lendo. Na minha bolsa de mão estava levando a câmera fotográfica, iPod, carteira, documentos necessários para viajar, celular e mais aquelas coisinhas que toda mulher precisa ter em caso de emergências. Com toda essa arrumação já deve dar pra perceber que eu estava caindo de sono e cheia de dores no corpo de tanto carregar caixas pra cima e pra baixo. Pelo menos as coisas já estavam dentro do carro e prontas pra partir.
  Assim que finalmente levantei da cama, senti tudo girar. Me apoiei na parede para não cair no chão e esperei a minha vista clarear novamente. Sempre odiei quando isso acontecia. Segui para fora do quarto e entrei direto no banheiro. Minhas coisas não estavam mais lá, o que era estranho de certa forma. E a toalha de Louis não estava jogada no chão, o que era mais estranho ainda. Engraçado como a gente acaba se acostumando com a rotina e nem percebe. Assim como todas as manhãs, fiz a minha higiene e desci para a cozinha em silêncio, ainda de pijamas. Pude escutar Charles falando algo para a minha avó, mas não conseguia entender o que era. Curiosa como sou, me aproximei mais um pouco da porta, torcendo para não ser notada. Infelizmente o ranger do piso de madeira me delatou e fez o assunto na cozinha morrer.
  - Aí está ela! – Vovô me cumprimentou, puxando a cadeira ao seu lado para que eu me sentasse.
  - Bom dia. – Sorri para ele e me sentei. – O cheiro está maravilhoso, nana. O que é?
  - Não achou que eu fosse deixar você partir sem uma última refeição francesa, não é? – Ela sorriu daquele jeito infantil que me lembrava a minha mãe. Abaixou-se em direção ao fogão e usou aquelas luvas térmicas para tirar o prato principal do forno. Minha boca salivou assim que eu vi as codornas recheadas, rodeadas por batatas assadas cobertas por queijo.
  - Não acredito! – Quase caí da cadeira, o que fez os outros dois rirem.
  - Pode se servir, querida. – Jolene apontou para a travessa com as codornas e eu comecei a me servir. Praticamente enchi o prato de batatas e metade de uma codorna.
  - Está divino! – Exclamei com a boca cheia ao morder um pedaço da comida.
Nessas horas eu não parecia a bailarina disciplinada que era; não quando tinha comida em jogo.
  - Que bom que você gostou, . Mas coma devagar, pra aproveitar. Já que não estarei lá pra cozinhar seus pratos preferidos pra você. – Logo ela e meu avô também se serviram, mas comeram bem menos que eu.
  - Estou pensando seriamente em te levar pra Londres comigo, vó. – Dessa vez já estava com a boca vazia e cortava um pedaço de batata com queijo para levá-lo até a boca.
  O almoço seguiu tranqüilo e nós três conversamos como se fosse uma quinta feira normal. Eu repeti o prato e ainda comi dois pedaços da torta de maçã com canela que vovó fizera para sobremesa. Eu estava me sentindo muito gorda pela quantidade de comida que ingeri naquele almoço, mas tinha uma boa desculpa. Como provavelmente passaria fome em Londres por não saber cozinhar (e muito menos meu irmão), me alimentei o melhor que pude; pelo menos assim eu demoraria mais pra entrar em desnutrição. E, de alguma forma, aquilo fazia muito sentido na minha cabeça. Depois de ajudar vovó a lavar os pratos e arrumar a cozinha, eu segui para o banheiro e tomei um banho rápido. Em aproximadamente meia hora já estava arrumada para ir embora. A única maquiagem em meu rosto era o lápis preto e o rimel forte que usei para marcar meus cílios longos. Meus cabelos ainda estavam um pouco úmidos, por isso os deixei cair sobre as minhas costas, se desenrolando em pequenas ondulações nas pontas.
  - ? Está pronta? Temos que ir. – A cabecinha branca do meu avô apareceu na porta e eu olhei mais uma vez para o quarto que havia sido meu nos últimos sete anos. Assim como o banheiro, o quarto já não tinha mais as minhas coisas. A não ser por alguns brinquedos que eu deixara na prateleira, ou pelos cobertores e travesseiros bagunçados sobre a cama que permaneceriam com o meu cheiro por algum tempo.
  - Estou pronta sim. Só precisava me despedir. – Sorri com certo aperto no coração. Peguei a minha bolsa e a pendurei no ombro esquerdo.
  - Esse ainda vai ser o seu quarto, . – Ele me esperou sair para fechar a porta atrás de nós.
  - Sei disso, papa. – Sorri mais uma vez e ele passou o braço em volta dos meus ombros.
  Entrei no banco e trás do carro de meu avô, sem escutar direito o que a minha avó estava falando. Os dois conversavam animadamente no banco da frente e eu só conseguia observar a casa que havia sido o meu lar se afastar cada vez mais na medida em que o carro acelerava. Meu trem saía as 17hrs em ponto, então eu só tinha mais quarenta minutos aproximadamente pra chegar à estação. Para a minha sorte, vovô conhecia um caminho que não estava tão engarrafado, então rapidamente chegamos até o local. Um funcionário logo veio ajudar a descarregar o carro e tenho certeza que ele ficou espantado com a minha quantidade de bagagem, mas não falou nada por educação. Ele e Charles seguiram para o guichê onde deveriam despachar as malas e minha avó e eu seguimos em busca do meu trem.
  “Plataforma 9¾” era o que dizia na minha passagem. Faltavam vinte minutos para as 17hrs e finalmente encontrei o meu trem. Ele era daqueles que a gente vê nos filmes, enormes e cheios de janelas que me permitiam ver o que acontecia do lado de dentro. Vovô logo se juntou a nós e começamos as despedidas.
  - Se cuide, meu amor. E não se esqueça de comer. Ou de se cuidar. – Vovó falou enquanto me abraçava com força. – E nos avise assim que chegar lá.
  - Pode deixar, nana. – A abracei de volta, querendo guardar na memória o seu cheiro amendoado e o toque que seus cabelos brancos faziam em meu rosto. – Fiquem bem. Vocês dois! – Me separei dela e parti para o meu avô.
  - Nós vamos ficar bem sim, não se preocupe. E fique de olho no seu irmão, porque você sabe como ele é. – Nós dois rimos e nos abraçamos. – Eu me lembro de quando você precisava ficar na ponta dos pés para me abraçar assim. – Ele falou baixinho e eu apertei ainda mais o abraço, fechando os olhos por uns segundos. Sentiria muita falta daquele abraço; nós dois sentiríamos.
  - Tenho que ir... – Suspirei e parti o abraço ao escutar a última chamada para o meu trem. Peguei a minha passagem na bolsa e meu avô me entregou um embrulho com um laço vermelho no topo. – O que é isso, papa?
  - Apenas uma lembrancinha que eu e a sua avó achamos que você vai gostar. – Meu sorriso era claro, ainda mais com a minha curiosidade crescendo. – Agora vá! Boa viagem, .
  Dei mais um beijo em cada um e guardei o presente em minha bolsa. Vovô me fez prometer que só o abriria depois que o trem saísse da estação. Não discuti, mesmo que estivesse morrendo pra saber o que era. Nunca fui boa em despedidas, então só assoprei um beijo para os dois e sorri visivelmente feliz. Saltei para dentro do trem e a porta de ferro se fechou com força atrás de mim. A partir daquele momento, a minha vida mudava completamente. Eu deixava de ser uma garota e começava a me tornar uma mulher. O funcionário do trem me guiou até a minha cabine e eu me acomodei. A cabine particular possuía duas fileiras de banco, uma em frente à outra. Parecia bastante com a cabine do expresso de Hogwarts; o que mudava era a climatização e as cores, já que os bancos eram azuis e as ‘paredes’ acinzentadas. Eu também recebi um controle remoto para adaptar a luz e a temperatura do ambiente de acordo com o meu gosto. Achei tudo impressionante, principalmente por ser uma estrutura enorme para apenas duas horas e meia de viagem. Sentei em um dos bancos e tirei minhas sapatilhas. Para ficar ainda mais confortável, estiquei as pernas no banco da frente. Assisti o trem deixar a estação para trás e mergulhar em um túnel escuro. Meus olhos foram se fechando e sem me dar conta eu adormeci.

+++

  Um apito alto me despertou de meu sono e com o susto quase fui ao chão. Abri os olhos com desespero, me perguntando onde estava e o que estava acontecendo. Foi então que a realidade bateu. Eu havia dormido a viagem inteira e já estava em Londres. Meu irmão estaria me esperando em algum lugar do saguão e a minha aventura estava começando. Levantei rápido demais, mais uma vez, e senti o mundo girar ao meu redor. “Damn it! Eu tenho que parar de fazer isso.” Pensei sozinha, procurando meus sapatos. Como eles haviam sumido assim? Sem demora descobri seu paradeiro e os calcei. Com a mesma rapidez, me pus para fora da cabine e segui o fluxo de pessoas que se apertava pelos corredores para sair do trem.
  Quando finalmente pude respirar o ar londrino, um sorriso até então desconhecido apareceu em meus lábios. Era um sorriso de esperança, animação e nervosismo combinados em um só. Meus olhos correram pelas pessoas que estavam por ali, procurando um rosto conhecido. Andei de um lado para o outro por aproximadamente quinze minutos e nada do meu irmão aparecer. Pra piorar? Ele não atendia as minhas ligações. Eu já estava com a minha montanha de coisas empilhadas em dois carrinhos e estava sendo impossível me mover entre os passageiros que embarcavam e desembarcavam por ali.
  - Com licença... – Senti um toque em meu ombro e me virei para encarar aqueles olhos castanhos que me deixaram paralisada por uns segundos. – Você é a ?
  - Sou eu sim... – Respondi ao retomar a minha consciência, já imaginando que tinha derrubado algum documento e esse adorável londrino o achou e me procurou para devolver.
  - Ainda bem. Você é a quarta garota que eu pergunto isso e não estava afim de ser olhado como um louco de novo. – Ele bagunçou os cabelos e coçou a nuca, ainda sem me fazer entender completamente o que estava acontecendo.
  - Não quero parecer mal educada, mas você seria...? – Mordi meu lábio inferior, esperando que o menino estranho, e terrivelmente charmoso se é que posso acrescentar, se apresentasse.
  - Sou Liam, Liam Payne. Seu irmão não avisou que eu viria te buscar? – Mais uma vez ele pareceu nervoso, mas já foi para o meu lado e pegou um dos carrinhos, me deixando com o mais vazio.
  - Liam! É claro! – Eu sabia que conhecia a voz dele de algum lugar, mas achava que fosse de algum sonho, ou coisa parecida. Nunca me lembraria de uma voz que escutei ao fundo em uma ligação com o meu irmão. – Não, o Louis não avisou. Aquele estrupício. – Arranquei uma risada de Liam e desejei ser engraçada só pra escutar o seu riso mais uma vez.
  - Ele terminou se enrolando no último ensaio e me ligou pedindo pra vir te buscar. – Explicou enquanto caminhávamos até o estacionamento. – Imagine a minha frustração por não saber quem procurar. Ele nem ao menos quis me mostrar uma foto sua. E agora eu imagino o por quê. – A sua última frase saiu mais como um sussurro que eu provavelmente não deveria ter escutado. Eu senti as minhas bochechas queimarem, ainda mais pela forma que ele me encarou em seguida.
  - O Lou não tem jeito mesmo. Imagine dezenove anos convivendo com isso. – Foi a minha vez de rir e ele me acompanhou. Chegamos a um Ranger preto e Liam tratou de abrir o porta-malas e começar a colocar as minhas coisas lá dentro. Eu tentei ajudar, mas ele me olhou com cara feia fazendo-me apenas esperar ele carregar o carro.
  - Acho que podemos ir agora. – Ele sorriu enquanto abria a porta do passageiro para que eu entrasse.
  - Você sabe onde eu vou morar? Meu irmão está fazendo mistério desde que chegou aqui. – Esperei Liam dar a volta e entrar no carro para lhe perguntar. Talvez pudesse me dar mais informações do que as que eu já tinha.
  - Sinto muito, , mas ele me fez prometer que eu não contaria. – Como assim ele já veio me chamando pelo meu apelido? – Você vai ver assim que chegarmos lá. É um pouco longe, então pode ligar o rádio se quiser.
  - Poxa. Não pode me contar nadinha? – Me virei na sua direção e fiz o meu melhor biquinho.
  - Não adianta! Não vou nem te olhar. – Liam riu e olhou firmemente para a estrada a nossa frente. Dei de ombros e comecei a mexer nos botões do rádio, procurando uma estação. – Tente a 121.3.
  - 121.3, vamos ver... – Atendi o seu conselho e girei o botão até sintonizar. A voz do locutor anunciou algum quadro da programação e eu aguardei a nova música começar.
  - Eu amo essa música! – Ele começou a batucar os polegares no volante quando a música Thousand Miles da Vanessa Carlton começou a tocar. – Making my way downtown, walking fast. Faces passed and I’m home bound. (Fazendo meu caminho para o centro da cidade, andando rápido, rostos passaram e eu estou perto de casa.) – Ele começou a cantar e eu não agüentei segurar o riso. – Eu sei que você conhece essa música, . Cante comigo!
  - Staring blankly ahead, just making my way, making my way through the crowd... (Olhando para frente sem expressão, fazendo o meu caminho, fazendo meu caminho pela multidão) – Me rendi e entrei na brincadeira. Nessa primeira parte ele me deixou cantar sozinha. Mas logo me acompanhou com uma empolgação que me fez rir mais ainda: - But you know I’d walk a thousand miles if I could just... (Mas você sabe que eu andaria mil milhas se eu pudesse apenas...)
  - See youuuuuuuu... TONIGHT. (Te ver essa noite)
  No final da música nós estávamos rindo como dois idiotas e conversamos durante o resto do caminho todo. Liam parecia sério no começo, mas logo percebi que ele era um palhaço. E mesmo passando aquela imagem de responsável e centrado, ele conseguia ser muito divertido até quando falava besteira ou fazia brincadeirinhas que eu não acharia graça se fosse outra pessoa em seu lugar.
  Não vimos o tempo passar e eu só notei que havíamos chegado quando Liam parou o carro em frente a um enorme portão de ferro. Ele falou algo com o porteiro que nos deixou entrar em seguida. Eu o olhei sem entender nada e ele só riu pra mim, ainda sem explicar nada. Eu olhei pela janela, e notei que estávamos entrando em um condomínio fechado muito luxuoso. A noite já havia caído, então eu não conseguia ver direito as fachadas das mansões, mas tinha certeza que uma era mais bonita que a outra. Continuamos andando até Liam virar à direita e entrar numa rua um pouco mais afastada. Ele estacionou o carro em frente a uma casa de dois andares e, pelo que deu pra perceber, as paredes do lado de fora possuíam um tom que variava entre o marrom e o bege. Um caminho de cimento, que ligava a calçada até as escadas que levavam até a pequena varanda de entrada, dividia uma espécie de jardim. O poste aceso iluminava boa parte da grama verde e mostrava algumas flores que estavam se fechando. O lugar era tão lindo que me fez imaginar o que me esperava lá dentro. Nem percebi Liam saindo do carro e andando até o meu lado para abrir a minha porta.
  - Você mora aqui? – Perguntei ao descer do carro, ainda encantada com tudo. Ele deveria ser muito rico pra morar em um lugar daqueles.
  - Eu não, mas você sim. – Liam sorriu divertido, achando graça da minha cara de espanto.
  - Eu?! Como assim, eu? – Ainda não conseguia acreditar, mas até que fazia sentido se eu fosse levar em conta todo o mistério que os meninos fizeram em torno da minha nova casa.
  - Acho que o Louis já está lá dentro. Pode ir conhecer o lugar enquanto eu pego as suas coisas. – Não sabia se todos os ingleses eram tão cavalheiros assim, ou se Liam era realmente educado. Eu poderia ter tirado as coisas do carro e o ajudado a levar tudo pra dentro, mas ele não deixou novamente.
  O agradeci com um sorriso e praticamente corri até a porta de entrada. Aparentemente aquela era a minha casa, mas eu ainda estava preparada para abrir a porta e entrar, então toquei a campainha e escutei as risadas que soavam do lado de dentro pararem instantaneamente. A próxima coisa que ouvi foram passos vindos em minha direção e aguardei a porta abrir.
  - ! – Meu irmão gritou e eu me joguei em seus braços, literalmente me pendurando em seus ombros. Ele me abraçou pela cintura e me girou no ar. – Que saudade, pirralha.
  - Loooooooooooou, nem acredito que finalmente cheguei. – O apertei e escolhi ignorar o pseudo xingamento. A viagem fora rápida, mas ainda assim tinha me cansado. Sei que posso parecer uma preguiçosa, já que dormi o trajeto inteiro, mas se levarmos em consideração os acontecimentos anteriores, eu tinha motivos reais para estar cansada. – Você tem tanta coisa pra me explicar! De onde saiu essa casa? Ganhou na loteria, por acaso?
  - Wow, wow, calma, ok? Temos tempo, . Porque não curte um pouco o lugar? – Meu irmão me colocou no chão e eu olhei em volta. A casa era ainda mais incrível por dentro. – Antes de começar o tour, tem alguém aqui que estava louco pra te ver. – Louis olhou para alguém atrás de mim e eu logo me virei na direção do seu olhar.
  Um menino relativamente mais alto que eu estava parado na entrada da sala, com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans e seus olhos verdes me fitavam com curiosidade. Seu cabelo cacheado estava maior e mais bagunçado do que eu costumava me lembrar, mas Harry continuava o mesmo. Aquele rosto de bebê e o sorriso que derretia qualquer um...
  - Bem vinda, . – Ele disse simplesmente, me fazendo sorrir. Fui até onde ele estava e o abracei pela cintura. Como era mais alto que eu, me envolveu pelo pescoço e eu me escondi em seu peito. Ficamos naquela espécie de abraço de urso até Louis interromper.
  - Odeio atrapalhar o reencontro de amigos de infância, mas Liam e eu precisamos de uma ajudinha. – Ele começou, fazendo Harry me soltar. – Isso porque eu falei pra trazer apenas o necessário.
  - Você nunca para de reclamar, Lou? Vai ficar velho cedo desse jeito. – Eu brinquei, fazendo Harry e Liam rirem, já que este último tinha acabado de entrar em casa arrastando a mala que continha as minhas roupas.
  - Só vá conhecer a casa, ok? – Meu irmão fez uma careta e puxou Harry pelo braço, guiando-o para fora.
  Fui deixada sozinha em frente à porta de entrada da casa e olhei em volta novamente, dessa vez prestando mais atenção aos detalhes. Todo o piso do primeiro andar era coberto por uma madeira escura, o que dava um toque sofisticado ao lugar. Em frente à porta ficava um pequeno hall que levava à escada que daria no andar de cima. À direita do hall principal se encontrava a sala: Era um cômodo espaçoso e aconchegante. Uma parede era dominada completamente por um sofá em forma de “L” que parecia mais confortável até que a minha antiga cama. Em frente a ele, encontrei uma mesinha de centro trabalhada em uma madeira clara com um tampo de vidro. Na parede oposta ao sofá estava a estante onde uma TV de tela plana chamava a atenção e uma série de CDs e DVDs estavam organizados em uma parte de vidro. À esquerda do hall estava a sala de jantar e mais adiante a cozinha perfeitamente equipada com todos os utensílios que um chef gastronômico usaria para desenvolver as suas receitas mais complicadas. Aquele último cômodo me surpreendeu um pouco, já que eu duvidava que alguém estaria realmente cozinhando algo mais complicado que ovos mexidos e miojo.
  Subi correndo para o segundo andar e me deparei com cinco portas. A primeira porta da esquerda deveria ser o quarto de Louis, por causa do pôster do Busted que ocupava metade do espaço. A porta seguinte era uma espécie de quarto de hóspedes que parecia estar sendo ocupado no momento, o que explicava as malas atrás da porta e a cama bagunçada. Provavelmente Harry ou Liam estavam ficando por ali. A terceira porta ficava de frente para a escada e era um banheiro. Ao lado direito, a primeira porta levava a um quarto totalmente bagunçado. Não era exatamente o quarto de uma pessoa, e sim um “guarda tralhas”. Dei de ombros e segui meu passeio, parando em frente à última porta.
  Algo me dizia que aquele era o meu quarto; claro, algo além da estrela prateada que estava pendurada na porta. Segurei firme na maçaneta e a girei, me preparando para o que poderia estar ali dentro. Nem todos os suspiros do mundo fariam jus ao que estava escondido atrás daquela porta de madeira branca. O quarto era simplesmente maravilhoso. Tinha pelo menos o dobro do tamanho do meu em Paris e a decoração era a minha cara. As paredes tinham um tom azul bem claro, lembrando o céu. Diferente do resto da casa, o chão não era coberto por madeira, e sim por um carpete macio. O teto era branco e a luminária que pendia dele parecia um lustre de castelos de contos de fadas. Minha cama de casal ficava no centro do quarto, com a cabeceira encostada na parede. Ela parecia uma montanha de travesseiros e eu mal podia esperar pra me jogar no meio de todos eles. Em frente à cama encontrei um closet. Sim, um closet! Ele tinha mais espaço do que eu tinha roupas, mas isso poderia ser resolvido em uma tarde na Oxford Street, a melhor rua para compras em Londres. No quarto eu também encontrei uma escrivaninha e uma cadeira próxima a ela. Prateleiras vazias também esperavam pra ser preenchidas pelas coisas que ainda estavam empacotadas. A porta ao lado do closet escondia um banheiro de tamanho médio que seria só meu. Meus olhos brilhavam ao olhar tudo aquilo e eu não sabia o que fazer primeiro. Deixei a minha bolsa e o cardigan que usava dentro do closet e assim que voltei para o quarto encontrei os três garotos espremidos na porta.
Cada um sorria mais que o outro e eu só consegui rir daquela cena.
  - E então, gostou? – Louis parecia ansioso pela minha resposta.
  - Eu amei. É o quarto perfeito. – Suspirei e sentei na minha cama. Meu irmão se aproximou e se sentou ao meu lado. Harry fez o mesmo, ocupando o outro lado. Liam continuou parado na porta, apenas nos observando.
  - Você deve agradecer à Rachel. A casa foi um presente do Mark, mas foi ela quem decorou tudo. – Ainda achava estranho meu irmão se referir ao nosso pai pelo nome.
  - Eu sabia que você não tinha feito tudo isso sozinho. – O soquei no braço e me virei para Harry. – Mas achei que você tinha ajudado.
  - Na verdade, quem achou essa casa pra vender fui eu. Então de certa forma eu ajudei sim. – Ele sorriu daquele jeito que eu tanto amava e encostou a cabeça no meu ombro, relaxando seu corpo em cima de mim e nós dois quase caímos.
  - Hazza, isso faz cócegas! – O empurrei com toda a minha força e gargalhei. Acabei caindo pra trás, com as costas deitadas na cama.
  - Louis, você está pensando no mesmo que eu? – Harry e meu irmão trocaram olhares e eu tinha medo do que estava por vir.
  - Em nome dos velhos tempos. – Ele pareceu dar de ombros, mas três segundos depois eu só senti quatro mãos me atacando. Ele e Harry começaram a fazer cócegas nas minhas costelas e eu só consegui gritar.
  - PAREM, VOCÊS DOIS! – Berrei em meio a gargalhadas histéricas. Eu me debatia, tentando me livrar das mãos ligeiras daqueles garotos. Aquilo até parecia um dejavu, me fazendo lembrar na minha pré-adolescência. Harry e eu nos conhecemos há alguns anos atrás, quando ainda éramos praticamente crianças, em uma das viagens que fiz para visitar meu pai. Desde então, sempre que eu ia para a Inglaterra ou ele para a França, nós nos encontrávamos e era como se não tivéssemos ficados separados por meses. Ele, meu irmão e eu éramos os três mosqueteiros; melhores amigos e praticamente inseparáveis. Os dois tinham essa mania irritante de me fazer cócegas. Talvez por eu ser meio sensível com essas coisas e sempre acabar rolando no chão com os dois em cima de mim. – EU... SEM AR...
  - VOCÊ SABE O QUE FAZER PRA GENTE PARAR! – Louis exclamou, também rindo muito.
  - NUNCA. – Eu não me renderia. Ainda tinha esperanças de me livrar deles quando comecei a tentar sair da cama. Harry percebeu isso e prendeu as minhas mãos contra o colchão, as segurando acima da minha cabeça. Não podia me defender, já que ele era bem mais forte que eu, então Louis tinha o caminho livre.
  - DESISTA! – Foi a vez de Harry falar, apertando ainda mais os meus pulsos sem me machucar.
  - OK, OK! – Tentei retomar o fôlego, já não agüentando mais rir. – Louis, o magnífico e Harry, o maravilhoso são os reis do mundo! – Falei o mais rápido que pude, não sabendo se ria das últimas cócegas ou da frase ridícula que eu era obrigada a falar sempre que algo assim acontecia.
  - Eu não escutei isso. – Liam se pronunciou ainda parado na porta do quarto. Os outros dois meninos estavam rindo e ele balançava a cabeça em negação.
  - Também acho isso ridículo! – Me defendi, voltando a sentar na cama e arrumar a minha roupa, já que a minha blusa parecia ter subido até o pescoço.
  Fomos interrompidos pelo som da campainha tocando. Era o entregador da pizza que os meninos haviam pedido. Eu estava com tanta fome que poderia comer uma inteira sozinha. Nós quatro descemos juntos e eu aproveitei para conhecer melhor a cozinha, descobrindo onde os copos e pratos ficavam guardados. Comemos as três pizzas e os meninos deixaram o último pedaço pra mim, o que eu achei muito fofo. Eles me chamaram pra assistir um filme, mas eu estava cansada demais. Me despedi de cada um e subi para o meu quarto. Tomei um banho demorado no MEU banheiro e coloquei o primeiro pijama que consegui tirar da mala. Não estava afim de arrumar todas as minhas coisas naquele momento, muito menos bagunçar a mala procurando um pijama bonitinho. Optei por uma calça cinza de moletom e uma regata branca. Deitei na cama e nem me dei ao trabalho de puxar o cobertor; apenas me joguei em cima dela e cinco minutos depois caí em um sono profundo.

Capítulo IV

  Devia passar das quatro horas da manhã e eu rolava de um lado para o outro na cama sem conseguir voltar a dormir. Não sei exatamente o que me acordou, mas era a falta de sono que me mantinha acordada. Eu estava entediada, então me sentei na cama e bufei. Olhei em volta procurando o meu celular e foi aí que me ocorreu... Eu não havia ligado para os meus avós, avisando que tinha chegado bem. Eles deveriam estar tão preocupados! Saí da cama devagar, evitando aquela tontura chata, e me dirigi até o closet. Procurei a minha bolsa e a puxei de qualquer jeito, fazendo-a virar e derrubar tudo que estava dentro dela no chão. Fiz uma careta de irritação e me abaixei, catando tudo de qualquer jeito e colocando dentro da bolsa novamente. A sensação de que estava esquecendo de algo começou a me perturbar, mas dei de ombros e peguei o meu celular do chão. Não deveria ser nada importante.
  Três chamadas não atendidas; ótimo. Eu podia até escutar a voz de minha avó falando que eu só não esquecia a cabeça porque estava grudada ao pescoço. Não gostava daquela brincadeira, mas ela estava certa. Além de curiosa, eu era extremamente esquecida e desligada. Já era tarde, principalmente por ser uma hora mais tarde em Paris, então deixaria pra ligar depois do almoço. Assim eu teria mais tempo pra inventar alguma desculpa.
  Decidi ir até a cozinha e preparar um chá de pêssego, já que ele sempre me fazia dormir quando eu acordava no meio da noite. Fiz um coque alto, amarrando com o meu próprio cabelo e abri a porta devagar para não fazer barulho e acabar acordando alguém. O corredor estava vazio e silencioso. Caminhei devagar até a escada sem acender luz nenhuma e continuei o meu caminho para o andar de baixo. Antes de chegar à cozinha, notei que a luz da TV da sala estava acesa e mudei o meu percurso, indo até lá. Na medida em que me aproximava, o som de tiros ficava mais alto, o que me fez reconhecer um jogo de vídeo game. Liam estava sozinho no sofá, tão entretido com a sua missão que nem notou a minha presença ali. Ele fazia caras e bocas, resmungando alguma coisa quando não conseguia fazer o que queria e ria em uma espécie de “HAHA” quando completava seu objetivo. Eu poderia ficar ali o observando a madrugada inteira. A forma como ele parecia não se importar com a opinião que os outros tinham sobre ele me encantava. Eu adoraria ser assim, mas o meu perfeccionismo não me permitia escutar uma crítica e deixar pra lá.
  - Sabia que é feio espiar os outros? – Eu nem vi quando ele pausou o jogo e se virou para me encarar com aquele sorriso.
  - Desculpa, eu não queria te atrapalhar. – Falei sem jeito, torcendo pra que ele não tivesse percebido quanto tempo eu passei só olhando pra ele.
  - Não seja boba, . É claro que você não me atrapalha. – Liam bateu no espaço vazio ao seu lado, me chamando para sentar. – Perdeu o sono também?
  - Completamente. – Ri e fui me juntar a ele no sofá, sentando onde havia indicado.
  - Quer jogar? – Apontou para o outro console do vídeo game.
  - Call Of Duty não é muito o meu estilo de jogo. – Coloquei as pernas pra cima do sofá, encostando o corpo em uma almofada.
  - Tenho Guitar Hero também. – Ele sorriu como se quisesse me persuadir e eu preciso dizer que conseguiu?
  - Agora sim você está falando a minha língua! – Bati palmas silenciosas em animação e concordei em jogar com ele.
  - Você quer jogar com a guitarra ou controle? – Liam levantou do sofá e foi trocar o jogo. Notei que ele não usava as mesmas roupas de quando foi me buscar na estação. Estava vestindo uma bermuda e um casaco; julguei que estivesse sem camisa, já que o zíper do casaco não estava completamente fechado e eu podia ver uma parte do seu peito descoberto.
  - Guitarra, sempre. – Sorri, tentando espantar pensamentos pecaminosos que não faziam sentido algum e eram culpa dos hormônios.
  - Aqui está a sua... – Ele me entregou a minha guitarra e eu passei a faixa preta por cima de meus ombros, me sentando direito no sofá. – Qual música você quer? Essa aqui é bem fácil.
  - Pode escolher a música que quiser. – Como assim aquela era bem fácil? Será que ele achava que eu era ruim? Liam me olhou de esguelha e sorriu.
  - Essa é a minha preferida. – Escolheu a música que tinha um maior número de trocas e a mais rápida. – Pode colocar no nível fácil, não tem problema. Essa música é difi... – Não o deixei terminar a frase e selecionei o nível expert.
  - O que ia dizendo? – Perguntei, sorrindo cínica. Ele me olhou debochado e escolheu o mesmo nível no maior estilo “Challenge accepted”.
  Nós dois rimos e a música começou. Nenhum olhava para o outro e eu quase não respirava. Meus dedos mexiam-se em sincronia, apertando os botões coloridos o mais rápido que podia. Fui a primeira a errar uma sequência e aquilo me irritou profundamente. Xinguei internamente ao escutar a comemoração de Liam. Ele estava na frente e eu não podia permitir aquilo. Concentrei-me ainda mais, evitando até mesmo piscar os olhos.
  - AHÁ! – Comemorei ao conseguir um bônus e ver o menino ao meu lado errar a sua sequência.
  - Não, não, não! – Reclamou, me fazendo rir ainda mais.
  - E aqui vem o solo final... – Falei mais pra mim do que pra ele e respirei fundo. Era a última parte e a mais longa. Qualquer errinho poderia custar o jogo. Nós dois estávamos praticamente empatados e aquela seria a decisão. Meu dedo mindinho da mão esquerda segurou um botão, e o manteve pressionado enquanto outros dois se mexiam alternando entre um botão e outro. Minha mão doía, mas eu não podia perder. Só precisava aguentar mais um pouco.
  - Outch... – Liam estremeceu ao meu lado e errou uma troca. Aquilo me fez disparar na frente do placar e eu gargalhei alto.
  - VICTORY! – Comemorei com animação, levantando do sofá e pulando sem parar. A TV mostrava claramente as mensagens: “YOU WIN” no meu lado da tela, e “YOU LOSE” no lado dele.
  - Nãaaaaaaao! – Ele também saiu do sofá, mas caiu de joelhos no chão. Escondeu o rosto nas mãos e fingiu chorar. – Como serei capaz de viver com essa derrota?
  - Isso é pra mostrar que você não pode subestimar as pessoas! – Ainda estava rindo e dançando com a minha vitória, mas devo admitir que fiquei com pena dele.
  - Revanche! Eu quero uma revanche. – Ele levantou do chão e ficou de pé. Eu aceitei a revanche e fiquei ao seu lado; também não sentaria.
  - Você é que sabe. – Gargalhei, tendo a certeza que ganharia de novo. – Mas dessa vez eu escolho a música.
  Escolhi Move Along, do The All American Rejects. Não era uma música muito difícil, mas eu a adorava. Os primeiros acordes começaram e nós dois tocamos em sincronia. Parecia até que nós éramos de uma banda. Eu me perdi em algumas partes porque me empolguei demais e comecei a cantar.
  - And even when your hope is gooooone (E mesmo quando a sua esperança se foi), move along, move along just to make it through (siga em frente, siga em frente só pra superar). – Mexi o quadril em uma dancinha animada. Segui cantando a música até ficar sem ar e foi quando Liam me substituiu.
  - When all you got to keep is strong, move along (quando tudo que você tem pra guardar é forte), move along like I know you do (siga em frente como eu sei que você faz). – Ele cantou a parte lenta da música, sem o acompanhamento da música, e eu percebi o quanto a sua voz era incrível. Soava como veludo e eu notei que ele estava cantando de verdade. Quero dizer, não era como ele havia cantado no carro, como uma brincadeira. Não consegui mais prestar atenção no jogo o que rendeu na vitória de Liam.
  - Isso não vale! – Me joguei no sofá, cruzando os braços e fazendo bico.
  - É claro que vale. Foi uma vitória justa. – Ele também se sentou no sofá, mas virado de frente pra mim.
  - Você me distraiu, o que não é justo. – Deixei a guitarra em cima da mesinha de centro e fitei as minhas próprias mãos.
  Deixamos o jogo de lado e fomos para a cozinha, onde eu faria chá gelado para nós dois. Liam me contou bastante sobre ele, sem se importar com as minhas perguntas curiosas. Descobri que ele não era de Londres, e sim de uma cidadezinha chamada Wolverhampton. Tinha duas irmãs chamadas Nicola e Ruth e não via sua família há alguns meses, mas morria de saudades. Nosso gosto era bastante parecido, já que ele adorava desenhos de animados e filmes da Disney, assim como eu. Sem falar do nosso gosto musical, que era quase o mesmo. Conversamos sobre super heróis e programas de TV. Sua série preferida também era F.R.I.E.N.D.S e entramos em uma discussão quando ele começou a defender o Ross, alegando que ele não errou em dormir com a moça da copiadora já que eles estavam dando um tempo, e eu defendi a Rachel com unhas e dentes. Liam me contou que veio a Londres para trabalhar na mesma agência fotográfica que o meu irmão e foi assim que eles se conheceram. Como ainda não tinha um lugar pra morar e ficar hospedado tanto tempo e um hotel estava saindo caro demais, Louis o convidou para passar um tempo com a gente.
  O chá já estava pronto e eu nos servi em duas canecas. Sentamos lado a lado na bancada americana da cozinha e eu dei o primeiro gole no chá gelado de pêssego.
  - Está bom? – O perguntei, repousando a minha caneca sob a bancada.
  - Está maravilhoso, . – Ele bebia e me olhava de vez em quando, como se estivesse receoso com algo.
  - O que houve? Pode falar que não gostou, não tem problema! – Brinquei, passando a ponta do indicador na borda do meu copo, distraída.
  - Você e o Harry... – Liam começou, escolhendo as palavras que iria usar. – Estão juntos?
  - Eu e o Hazza? – Gargalhei um tanto alto, tapando a boca em seguida. Louis estava dormindo no andar de cima e aquele meu escândalo poderia acordá-lo.
  - Sim... Estou perguntando por causa do que aconteceu mais cedo, no seu quarto. Os dois pareciam muito íntimos. – Deu de ombros, como se não se importasse e fosse apenas uma pergunta casual. – Além do mais, ele não parava de falar em você. Era “Star isso” e “Star aquilo”. “Será que a se lembra de mim?”. – Liam tentou imitar Harry e eu acabei rindo daquilo.
  - Isso é novidade pra mim! Eu e o Harry somos amigos praticamente desde sempre e nunca passou disso. – Fiz uma careta; beijar Harry seria como beijar Louis. Minha careta só aumentou com esse último pensamento.
  - Entendi, entendi! – Ele riu das minhas caretas e não tocou mais no assunto.
  Na verdade, não tocamos mais em assunto nenhum. Terminamos nossas bebidas em silêncio, mas não aquele silêncio constrangedor de quando não tem mais o que ser falado. De vez em quando o nosso olhar se cruzava e trocávamos sorrisos tímidos. Não sei a hora exata, mas o Sol já começava a nascer quando nos despedimos e cada um foi para o seu quarto. Meu dia seria longo, já que eu tinha muita coisa pra arrumar. Os meninos iriam trabalhar e eu ficaria sozinha em casa. Deitei na minha cama e dessa vez usei o cobertor para me cobrir.

+++

  Quando acordei novamente já passava das três horas da tarde e meu irmão gritava alguma coisa do outro lado da porta. Como não era comigo, preferi ignorar e me enterrar no meu mar de travesseiros. O quarto parecia mais frio do que na noite anterior, me fazendo puxar o edredom até o pescoço.
  - . – Meu irmão abriu a minha porta de uma vez, me fazendo tremer de susto.
  - Geez, Louis. O que é? – Resmunguei e puxei um travesseiro até o meu rosto.
  - Nana já ligou três vezes e quer falar com você. Tem almoço na cozinha e eu já estou atrasado para um ensaio, então estou saindo. – Ele continuava sério, provavelmente estressado por estar atrasado. – Até mais tarde, .
  - Bom trabalho, Lou. – Tirei o travesseiro de cima de mim e o olhei. Mandei um beijo no ar que foi retribuído com um sorriso.
  - Porra, Liam, anda logo! Eu não ligo se você está com sono, nós temos que ir. E nem quero saber o que você ficou fazendo ontem a noite. – A voz dele desapareceu quando chegou ao primeiro andar. O que vi depois foi Liam correndo, ainda vestindo a sua camisa, e com o cabelo todo bagunçado. Ele gritou um “Bom dia, .” E também sumiu.
  Usei o resto do dia para fazer tudo que estava enrolando pra fazer. Primeiro liguei para a minha avó e a tranqüilizei, explicando que tinha chegado bem e Lou havia me recepcionado da melhor forma possível. Depois arrumei todas as minhas roupas, sapatos e bolsas dentro do closet, deixando tudo bem organizado. O banheiro do meu quarto logo ficou lotado de cremes, perfumes e maquiagens. Eu poderia ter guardado tudo nas gavetas abaixo da pia, mas sempre quis um banheiro só meu pra poder espalhar as minhas coisas. Agora que tinha, iria aproveitar. Colei algumas fotografias na parede atrás da minha cama; a maioria era em preto e branco. Fiquei alguns minutos olhando aquelas imagens... Em uma foto, eu estava entre Louis e Harry e nós três estávamos em um parque coberto pela neve; rindo. Parecia que nada havia mudado desde aquele dia. Nós estávamos mais velhos, é claro. Louis já tinha barba e Harry parecia mais com um homem. E eu... Bem, meu cabelo estava mais longo e minha franja reta agora caía sobre um dos olhos. Me corpo possuía mais curvas e eu gostava de mostrá-las. Mas o mais importante ainda continuava intacto. Nós três ainda éramos os mesmos de tantos anos atrás. Lembrei-me do que meu avô disse antes que eu partisse; sobre nunca mudar a minha essência. Bem, parecia que aquele plano estava dando certo.
  Quando a noite caiu e meu trabalho estava acabado, liguei para meu pai. Ele estava louco pra me ver e disse que a minha meio-irmã Lux estava com saudade. Agradeci pela casa e mandei um beijo para Rachel, falando que queria vê-los assim que papai tivesse folga no hospital. Ele prometeu que me ligaria assim que tivesse um tempo e faria de tudo para não demorar. Louis e Liam chegaram enquanto eu ainda estava no telefone e trouxeram comida chinesa para o jantar.

Capítulo V

  Minha estadia em Londres não podia estar sendo melhor. O condomínio em que eu estava morando tinha de tudo; piscina, academia, salão de jogos e etc. Nos dias em que os meninos tinham trabalho, eu geralmente ficava aproveitando as opções que o condomínio de luxo me oferecia ou pegava um taxi para passear pela cidade. Eu não me importava em ficar sozinha. Era bom ter um tempo só meu, onde eu pudesse organizar os meus pensamentos.
  Faltava apenas uma semana para o começo das minhas aulas e eu não podia estar mais animada. Teria aulas com os melhores professores e nas salas por onde passaram bailarinos famosos. É claro que o nível de todos era muito acima do que eu já estava acostumada, assim como o nível de exigência. Eu estava nervosa com isso, mas seria uma forma de me superar ainda mais. Eu era muito competitiva desde pequena e esse tipo de desafio me excitava. Gostava de ser a melhor. Não passaria por cima de ninguém pra chegar ao topo, mas eu chegaria lá.
  De acordo com a minha carta de admissão, eu deveria estar na academia as 14hrs para a palestra de boas vindas, pegar o meu horário de aulas e conhecer melhor o lugar. Como os ingleses eram conhecidos pela pontualidade, eu não podia me atrasar. Louis me levaria quando estivesse a caminho da agência e eu poderia voltar de ônibus. Dei uma última conferida na minha roupa e na papelada que eu teria que apresentar na secretaria. Estava pronta, então desci as escadas após passar no quarto de Liam para chamá-lo para ir. Logo estávamos no carro de Lou; eu no banco de trás e os dois na frente.
  - E lembre-se, , mesmo que você fique nervosa, continue falando em inglês. – Louis me olhou pelo retrovisor, deixando-me confusa.
  - Como assim? – Arregalei os olhos.
  - É verdade, . Quando algo a deixa nervosa você começa a falar francês. – Liam explicou, me fazendo corar.
  - Oh, Gosh. E eu nem tinha percebido isso. – Escondi o rosto nas mãos, imaginando quantas vezes troquei os idiomas. – Mas me dêem um desconto. Meu idioma original é o francês e estou aqui há pouco tempo. É completamente normal.
  - É assim comigo também, , mas eu não troco. – Meu irmão riu da minha cara, sendo acompanhado pelo seu amigo bobo. E lindo. Mas ainda sim era bobo.
  - Mas, mas, mas... Você nasceu nesse país. – Retruquei como se fizesse algum sentido. Louis era inglês de sangue, mas havia sido criado na França, então sua primeira língua também era o francês.
  - Eu acho fofo pra caralho quando você troca os idiomas. – Liam falou de uma vez, me deixando sem reação. Louis olhou pra ele como se o repreendesse, mas o garoto deu de ombros.
  - Obrigada. – Não sabia se era o certo a se falar, mas era o que eu tinha.
  Seguimos o resto do caminho escutando o rádio enquanto eu olhava a paisagem do lado de fora. O Ranger parou em frente à Academy e eu fiquei encantada com a estrutura. Já tinha visto por fotos, mas aquilo era muito melhor. Literalmente parecia uma mansão vitoriana
  - Você vai estudar aqui? – Liam parecia impressionado assim como eu.
  - Ela não vai “estudar”. – Louis fez aspas com as mãos. – Só vai dançar.
  - “Só vai dançar”? – O imitei fazendo as aspas no ar. Estava indignada com o seu desprezo e já me preparava pra dar uma boa resposta, mas ele sorriu e eu entendi que era só uma brincadeira. – Idiota.
  - Boa sorte, . – Meu irmão desejou ao me ver abrir a porta e sair do carro. Liam só sorriu pra mim e acenou.
  - Bom trabalho, meninos. Até mais tarde. – Assoprei um beijo para cada um e segui o meu caminho.
  Segui o fluxo de alunos que entrava pelos portões e passava por um corredor enorme. Eu só conseguia prestar atenção na decoração e nos quadros fotográficos que enfeitavam as paredes. Não sabia se estava no caminho certo até escutar alguém gritar: “ATENÇÃO. O auditório é por aqui.” Continuei distraída, sonhando com a minha foto entre aquelas penduradas e nem vi quando esbarrei em uma garota.
  - Que merda é essa? – Ela se virou pra mim, furiosa.
  - Pardon. Je n'ai pas vu... – Me encolhi com medo daquela menina, querendo me esconder por ter trocado o idioma como os meninos falaram que eu fazia.
  - O que é? Não fala inglês, ou é retardada? – Continuou me ofendendo. Quem ela pensava que era?
  - Eu pedi desculpas por ter esbarrado em você. – Continuei mantendo a calma. Não queria entrar em uma discussão no meu primeiro dia.
  - Da próxima vez olhe por onde anda. – E a nojenta jogou os cabelos loiros na minha cara e saiu rebolando, empurrando quem estivesse em seu caminho. Isso porque dizem que os franceses são antipáticos e os britânicos são educados com todo mundo, né?
  Eu só fiquei observando-a sumir, torcendo pra que ela fosse de qualquer curso menos do meu. Por sorte, as pessoas que tinham parado pra assistir o escândalo já haviam se dispersado e eu pude continuar o meu caminho. Dessa vez não olhei mais para a decoração, porque temia causar mais acidentes. Chegar ao auditório foi fácil. O lugar era bem iluminado e enorme. Na verdade, tudo ali parecia gigante. Várias cadeiras já estavam ocupadas e alunos se amontoavam pra pegar as cadeiras da frente. Me contentei em encontrar um bom lugar ao meio e perto do corredor. Seria fácil pra sair, eu não estaria tão na frente a ponto de ser notada e nem atrás demais pra de não ouvir o que os diretores iriam falar.
  A bagunça pareceu diminuir e os alunos se sentaram para esperar o começo da palestra de boas vindas. No palco do auditório havia uma espécie de palanque e três cadeiras de um lado e duas do outro. Todas ocupadas. Um homem de meia idade vestido formalmente com paletó e gravata se levantou e foi até o microfone. Deu uma batidinha para testar se estava funcionando e começou a falar:
  - Bem vindos a mais um semestre na London Royal Academy! – Ele abriu os braços e a maioria dos alunos bateu palmas e gritou em comemoração. – Para aqueles que estão chegando agora... Espero que encontrem aqui o que estavam procurando. Que esta seja a sua segunda casa. Que nossos professores tenham as ferramentas que levarão vocês ao sucesso! – O senhor, que descobri ser o diretor geral, parecia simpático. Apesar da sua aparência séria, ele falava muito animado e eu tinha certeza que ele desejava tudo aquilo que falava. – E para aqueles que já são da casa... Vamos continuar o bom trabalho e seguir em frente! E agora, eu gostaria de chamar ao microfone, minha querida companheira de trabalho: Agnes Wingermeier.
  A mulher esquelética de cabelos negros e oleosos se levantou. Ela era tão fina que eu tive a impressão que iria partir no meio antes de chegar ao microfone.
  - Boa tarde, estudantes. – Ela começou a falar, seca. Não me surpreendeu ela não receber uma resposta da platéia. – Darei algumas explicações gerais, só para que fique claro a todos os alunos e em seguida direi as regras. Cada um irá receber uma caderneta com todos os avisos e regras e sugiro que os mantenham sempre com você. – E então a senhora Wing... Alguma coisa, começou a explicação.
  Os três cursos oferecidos pela London Royal Academy (dança, música e teatro) tinham duração de dois anos divididos em quatro semestres. Pelo que eu entendi, entre um semestre e outro existiam provas pra testar se o aluno estava preparado pra passar ao próximo nível. E essas provas deveriam ser como o teste que fizemos para sermos aceitos na academia, só que bem mais difíceis. Além disso, a LRA organizava espetáculos a cada seis meses juntando as três artes em uma espécie de musical que era apresentado para as pessoas mais importantes da Inglaterra; além de donos de importantes companhias artísticas do mundo inteiro. A participação nessas peças era de um peso enorme no currículo de qualquer um. Além disso, cada curso tinha seu próprio subdiretor. No meu caso, a Srtª Holly Jonhson era a minha subdiretora. Uma mulher elegante e adorável. Ela explicou que o curso era conhecido como “dança” e não “ballet clássico” porque o ballet não era a única modalidade que iríamos dançar. Aquilo me assustou um pouco, mas ela logo disse que o ballet era o principal e os calouros iriam gostar do curso. Cada subdiretor se apresentou brevemente e deu algumas informações sobre seus métodos de ensino. Em seguida, Agnes voltou para o microfone e começou a falar as regras.
  - É extremamente proibida a entrada em qualquer classe depois de quinze minutos após a chegada do professor. Alunos que forem pegos com bebidas alcoólicas, ou cigarros e derivados nos perímetros da academia serão detentos, e até expulsos. Brigas os levarão direto para seus diretores. E o principal... Não será aceito o coito dentro de salas, banheiros, corredores, jardins, ou qualquer lugar da Academy. – Ela terminou de falar as regras e pareceu irritada com a última coisa que falou, como se já tivesse passado por isso antes.
  - Bullshit! – Escutei um menino exclamar a algumas cadeiras atrás de mim. Ele arrancou risadas de boa parte dos alunos. Virei-me para ver quem era o idiota e seus olhos encontraram os meus. Uma coisa eu tenho que admitir, ele era lindo. A linha do seu maxilar era bem definida, dando um contorno perfeito ao seu rosto. As maçãs em suas bochechas eram altas, seu nariz tinha o tamanho exato e seus lábios não ficavam atrás; eu tinha certeza de que eram vermelhos e apetitosos. Não consegui ver a cor de seus olhos, mas o brilho que emanava deles era óbvio. Seus cabelos lisos estavam em pé, bagunçados de uma forma que os deixava arrumados; por menor sentido que isso faça. Minhas retinas teimariam em descer o olhar pelo pescoço daquele garoto, mas eu me reprimi. Acho que sustentamos aquela troca de olhar por uns cinco segundos, até que ele piscou pra mim, com um sorriso sacana brincando nos lábios. Eu apenas revirei os olhos e voltei a minha atenção para a diretora. Não estava no clima para gracinhas.
  Agnes encerrou a palestra e os professores distribuíram as cadernetas que a diretora havia se referido anteriormente. Folheei rapidamente, constatando que tudo que estava ali já tinha sido falado. Os docentes se despediram e informaram que os novatos deveriam ir até a secretaria para dar entrada à papelada. Levantei-me rapidamente e segui para a porta de saída, já tentando evitar esperar em uma fila de alunos que iria fazer a mesma coisa que eu. É claro que esse plano teria dado mais certo se eu soubesse aonde ir, mas isso era apenas um detalhe. Parei para pedir informações a um segurança que encontrei em um corredor e ele me informou o caminho certo. O agradeci com um sorriso e segui adiante até encontrar uma sala com portas de vidro. A secretaria não estava cheia, mas deviam ter uns três alunos na minha frente. Uma senhora me mandou entrar e sentar ao lado de uma garota ruiva e esperar a minha vez. Respondi com um aceno de cabeça e fui até o banco em que eu deveria me acomodar.
  - Hey, meu nome é . Mas todos me chamam de , porque eu não gosto do meu nome. – Ela se virou pra mim, estendendo a mão.
  - Olá... Me chamo . – Apertei a sua mão e notei que ela esperava eu falar o meu apelido. – Costumam me chamar de , mesmo que eu goste do meu nome.
  - Se eu tivesse o seu nome, também gostaria dele. – Ela riu, balançando a minha mão animadamente. – É nova por aqui, certo?
  - Sim, primeiro dia. – Sorri. parecia uma pessoa legal e o seu jeito era elétrico. Aparentemente ela não conseguir parar de se mexer.
  - Seja bem vinda, . – sorriu ainda mais, se é que era possível. – Deixe-me adivinhar... É bailarina?
  - Acertou em cheio! – Me deixei contagiar pela animação da outra menina.
  - Então seremos colegas de classe. – Bateu palmas antes de continuar: - Eu deveria estar indo para o segundo nível, mas não passei no teste, então vou repetir o primeiro. Mas não faça essa cara! Não é como se eu tivesse me esforçado. Queria estar na turma de teatro, mas minha mãe me obrigou a entrar pra dança. Era meio que o sonho dela e tal, mas como tinha condições o empurrou pra mim.
  - Ahn... – A escutei calada, tentando absorver todas aquelas informações. Eu nem a conhecia e ela já estava contando a sua vida inteira pra mim. – Deve ser horrível ter que fazer algo que você não gosta. Eu sinto muito, .
  - É horrível mesmo, mas eu já estou acostumada. Foi sempre assim, então acho que tenho que aceitar. – Ela deu de ombros e trouxe de volta o sorriso alegre que desaparecera por um tempo. – Mas me fale de você, sim? Pelo seu sotaque, acho que não é daqui.
  - Não sou mesmo, eu vim de Paris. Cheguei há algumas semanas atrás e ainda estou me adaptando. – Expliquei.
  - Paris? Wow, isso é incrível! Eu sempre quis conhecer a França, mas nunca tive a oportunidade. Quem sabe você não me leva um dia? Imagina nós duas passeando de vespa pelas ruas de Paris!
  - Claro! Seria bem legal... – Não sei se ela era apenas simpática demais, ou se era daquele tipo de pessoas que pega intimidade muito rápido. De uma forma ou de outra, era fácil conversar com . Como eu não estava em condições de rejeitar uma amizade, entrei na onda.
  A porta de vidro quase foi ao chão quando um menino entrou correndo e passou direto por nós, parando no balcão da secretária que havia me mandado sentar com . Ele era o mesmo que tinha feito a piadinha no auditório e piscado pra mim. Como alguém tão desagradável conseguia ser tão bonito? Mas ele não estava sozinho. A loira do corredor entrou logo depois dele, ignorando completamente os olhares de reprovação que ela atraiu por estar fazendo barulho com seu salto alto.
  - Quem é aquele? – Sussurrei para , apontando discretamente para o garoto do topete.
  - Uhh, você tem bom gosto. – Fiz uma careta tentando explicar que não era nada do que ela estava pensando, mas não adiantou. – Aquele é o Zayn Malik. O terror dos professores e o Badboy da LRA.
  - Sei...
  - É do terceiro período de música e quase foi expulso duas vezes, não queira saber o por que. – Ela também sussurrava. Algo me dizia que eu já sabia o motivo que o levou a quase ser expulso duas vezes. – Apesar da sua fama, ele é um cara legal.
  - Duvido muito. – Soltei sem pensar. – E aquela ali pendurada no pescoço dele deve ser a sua adorável namorada.
  - Acertou em cheio. Menos na parte do adorável... Porque não há ninguém pior que a Brigitte nessa academia. Quem sabe no mundo. – Era óbvio que também não era fã da oxigenada, o que me fez ficar aliviada.
  - Brigitte é nome de cachorro. – Falei, fazendo a minha nova colega gargalhar alto. Brigitte escutou a risada e logo se virou na nossa direção. Assim que me viu rolou os olhos e bufou alguma coisa na orelha de seu namorado.
  - O que foi isso? Acho que ela não foi com a sua cara. – comentou, me fazendo contar pra ela o que havia acontecido mais cedo no corredor. – Sinto muito, , mas acho que você entrou para a lista negra.
  - Como é? – Perguntei espantada. Mal chegara à academia e já era da lista negra de alguém?
  - Não se preocupe, eu estou lá também. – Ela tentou me tranquilizar e eu sorri. – Oi, Zayn!
  - Whasap, ruivinha?! – Ele cumprimentou com um sorriso, virando-se para nós; e que sorriso. Eu a encarei perplexa, sem entender nada. Então eles se conheciam? Não sabia onde enfiar a cara.
  - Ah, é. Esqueci de mencionar que ele é o melhor amigo do meu namorado, então somos amigos por tabela. – Deu de ombros como se fosse a coisa mais normal.
  - E você não podia ter me falado isso antes de eu começar a chamar a namorada dele de cachorro? – Reclamei tentando manter a voz baixa para não chamar ainda mais atenção.
  - E perder a sua cara quando descobriu que eu o conheço? Não mesmo. – riu como se fosse uma piada muito engraçada.
  Não demorou muito e foi chamada pela secretária pra pegar o seu horário. Ela levantou e sussurrou um “Eu já volto” ao sair. Em menos de cinco minutos ela voltou com um papel na mão e me avisou que a diretora estava me esperando.
  - Não olhe diretamente nos olhos dela, ou você vai virar pedra. – Brincou. Pelo menos eu acho que era uma brincadeira...
  - Pode deixar. – Ri nervosa e segui pelo caminho de onde ela havia voltado.
  O escritório da diretora Agnes era extremamente organizado. Uma mesa de madeira estava centrada na sala e a mulher me observava por trás dela, sentada em uma cadeira desproporcional ao seu pequeno corpo. Ela me indicou uma das cadeiras em frente à sua mesa e assim que eu me sentei ela começou a falar. Me deu as boas vindas e disse que ouvira elogios ao meu respeito, por causa do meu teste de admissão. Aquilo me pegou de surpresa, mas ao mesmo tempo me deixou muito feliz. Disse que eu seria observada nas primeiras semanas e que, dependendo do meu desenvolvimento, eu poderia pegar uma aula mais avançada. Dei uma olhada rápida pelo meu horário de aulas e assinei alguns papéis que não me dei ao trabalho de ler. Minhas aulas seriam de segunda a quinta e os horários eram variados. Nas segundas, eu teria duas aulas. A primeira era a aula em grupo, que eu entendi ser um ensaio geral, com todos os estudantes do curso de dança. A segunda aula seria a de dança contemporânea, onde minhas habilidades em outros ritmos seriam testadas. Na terça feira a minha única aula era com um professor particular. Teríamos duas horas juntos para que eu recebesse dicas e atenção especial. Quarta feira era o dia em que eu teria aulas de ballet com o meu próprio nível e em seguida a aula de técnica corporal – que eu ainda não sabia como seria –. Na quinta feira, teria mais uma aula contemporânea e mais uma com a minha turma, encerrando as minhas disciplinas da semana. Era um horário leve e eu não ficaria cansada demais. Agnes me informou que todas as salas estariam a disposições de todos os alunos nos períodos da tarde, para ensaios. Tirei mais algumas dúvidas e me retirei da sua sala.
  Procurei , mesmo sem ter certeza de que ela estaria me esperando ou não. Saí da secretaria notando que Zayn e Brigitte já não estavam mais por lá. Não que eu estivesse procurando por eles, claro que não. Virei à direita e dei de cara com a minha colega atracada com um menino loiro que eu julguei ser seu namorado. Ela passava as mãos por seus cabelos e ele a apertava na cintura enquanto os dois se beijavam como se estivessem sozinhos no mundo. Reprimi uma risada e passei direto por eles, sem querer atrapalhar aquela troca de afeto.
  - Onde a senhorita pensa que vai? – A voz de me fez parar e virar de frente para o casal.
  - Já que você está meio ocupada... – Olhei dela para o loiro, que corou. – Eu estava indo embora.
  - Não seja boba! – Me repreendeu e caminhou até onde eu estava parada, com o namorado em seu encalço. – Niall, essa a minha nova amiga . , esse é o namorado mais perfeito do mundo, o meu Nialler.
  - É um prazer, Niall. – Estiquei a mão para cumprimentá-lo quando nos apresentou, mas ele ignorou tal ato e me puxou para um abraço.
  - O prazer é meu, . já estava me falando tanto sobre você que fiquei curioso. – Mais um que já me chamou pelo apelido. Acho que eu poderia me acostumar com aquilo.
  - Só falei coisas boas, eu juro! – Ela me abraçou de lado assim que Niall desfez o abraço e nós começamos a andar em direção à saída.
  - Queria poder ter certeza disso, . Mas não sei se posso confiar novamente em você. – Brinquei.
  Logo chegamos ao lado de fora do campus e Niall disse que iria procurar “a carona” dele e já nos encontrava no estacionamento. ofereceu me deixar em casa também, mas eu recusei. Não queria abusar da sua boa vontade, muito menos abusar do motorista que estaria levando os dois namorados pra casa. Já estava pronta pra me despedir quando Niall voltou e trouxe consigo o meu pesadelo.
  - Você deve ser a . – Zayn parou em minha frente e eu esqueci de como se respira.
  - , na verdade. – O corrigi. olhou para o namorado e riu de alguma piada interna. Veja bem, eu não quis ser mal educada com Zayn, mas ele não era do tipo que exalava confiança, vamos concordar. Era bonito demais, com o rosto angelical demais e a voz agradável demais. Junte tudo isso em uma pessoa só e qual o resultado? Problema. Pior ainda se esse problema tiver uma namorada como a dele.
  - Então, , vai pegar carona comigo também? – Ele ignorou completamente o que eu falei e tirou as chaves do bolso de sua calça jeans.
  - Na verdade eu vou de ônibus mesmo. Mas obrigada pelo convite, . – Virei de frente para , que ainda tinha aquele mesmo sorriso no rosto.
  - Não seja por isso, . É uma pena que você não queira vir com a gente. – Ela fez um biquinho e me abraçou. Apesar de pequenina, a ruiva tinha um abraço muito forte. – A gente se fala amanhã, certo?
  - Você tem o meu número, então eu acho que sim! – Nós duas trocamos telefones antes que eu fosse falar com a diretora.
  - Te ligo amanhã pra combinarmos algo. É a nossa última semana de férias, então temos que aproveitar. – Nos separamos e foi a vez de Niall me abraçar.
  - Até logo, . – Ele se despediu e eu comecei a andar antes que Zayn tentasse fazer o mesmo que os amigos. Não queria provar de seu perfume, porque não sei se resistiria por muito tempo.
  - Tchau, guys. Tchau Zayn. – Também não era uma completa mal educada, então acenei pra ele.
  - Espero te ver logo. – Zayn sorriu. Não qualquer sorriso, mas o sorriso dele. Senti meus joelhos fraquejarem por um momento, mas me recompus.
  Assisti os três entrarem no carro de Malik e não os esperei partir para começar a andar e seguir o meu próprio caminho até a parada mais próxima. Que, aliás, de próxima não tinha nada. Tive que descer três quarteirões até achar um ponto de ônibus. Para piorar, o céu começava a escurecer e as nuvens pesadas informavam que ia chover. Quis me bater ao lembrar que não tinha uma sombrinha na minha bolsa. Que tipo de pessoa anda por Londres sem uma sombrinha? Resposta: Eu.

Capítulo VI

  - Como é mesmo o nome da “oxigenada”? – Escutei Harry perguntar enquanto sentava-se à mesa da sala de jantar.
  - Brigitte. – O respondi da cozinha.
  Louis e Liam também estavam na cozinha, tentando fazer o nosso almoço. Eu estava em frente ao fogão, fritando batatas, enquanto Liam tentava empanar filés de peixe e meu irmão lavava os pratos. Eu havia contado para eles tudo sobre o meu dia anterior na Academy e Harry pareceu ser o que mais odiou Brigitte. Já Liam, pareceu não gostar tanto de Zayn.
  - Mas, tirando isso, você gostou do lugar? Dos professores? – Harry continuou com as perguntas, curioso.
  - Eu amei cada detalhe, Haz. Gostei até mesmo da diretora Agnes, que disse ser uma bruxa.
  - Você só gostou dela porque ela te elogiou. – Louis se meteu na conversa.
  - Shut up, Lou.
  Demoramos um pouco pra conseguir terminar o almoço, mas até que ficou gostoso. Liam acertou o ponto do peixe na terceira tentativa e as batatas fritas ficaram divinas. Comemos batata e peixe até estarmos cheios e a mesa lotada de pratos e copos sujos. Perdi a conta de quantas vezes engasguei enquanto comia por começar a rir de alguma coisa que um dos meninos falara.
  - Quem vai lavar tudo isso? – Louis perguntou, repousando o seu garfo sob o prato já vazio.
  - EU NÃO! – Liam e eu falamos ao mesmo tempo, deixando Harry com uma careta.
  - Eu não quero lavar... – Ele fez um biquinho olhando pra mim. Devia saber que eu não resistiria.
  - Não me olha assim! – Tapei os olhos. – Você tem que lavar, Harry. É justo, porque nós três fizemos o almoço e você não ajudou.
  - Mas, ... Pequena... – Senti a ponta dos seus dedos alisando o meu braço.
  - Tá bem, Harry! – Bufei, desistindo. – Eu vou te ajudar.
  - É por isso que eu te amo, ! – Comemorou, levantando e começando a juntar os talheres sujos.
  - Aham, sei. Você me deve uma. – Resmunguei e recolhi os pratos, colocando-os na pia da cozinha.
  Eu já me preparava pra começar a lavar os pratos quando ouvi o meu celular começar a tocar. Devia ser ligando, já que havíamos combinado que ela passaria o dia comigo no condomínio. Aproveitaríamos o dia “quente” que estava fazendo em Londres para curtir a piscina e nos conhecer um pouco mais. A ruiva era extremamente amigável e por isso não foi estranho nós estarmos nos aproximando tão rápido.
  - Sorry, Haz, mas tenho que atender. – O deixei sozinho na cozinha, com a pilha de pratos pra lavar.
  - Epa, onde você vai? – Reclamou ao me ver correndo para a sala, onde o meu celular quase parava de tocar.
  Quase caí no meio do caminho, mas consegui chegar com vida na sala. Peguei meu iPhone a tempo de atendê-lo e o levei até a orelha.
  - Ellow? – Atendi imitando o sotaque inglês e arranquei uma risada de .
  - ! Já está virando britânica, é?
  - É o convívio, . – Ri. – Você já está vindo?
  - Estou quase aí. Preciso falar algo na portaria?
  - Pode falar o seu nome, porque eu já avisei que você está vindo. O guarda vai guiá-la até aqui e eu estarei esperando na porta.
  - Ok, . Até daqui a pouco.
  Desligamos e eu saltei para as escadas, subindo até o segundo andar. Os outros dois moradores da casa estavam no quarto do meu irmão, olhando algo na tela do computador. Provavelmente era trabalho, já que mesmo quando estavam de folga os dois achavam uma desculpa para revisar os últimos ensaios fotográficos ou editar fotos. Os observei por um tempo e fui até o meu quarto, trancando a porta depois de entrar.
  Troquei as minhas roupas por um bíquini e coloquei um shortinho por cima. A casa estava cheia de homens, mas eu não me importava, já que um deles era o meu irmão, o outro era um quase-irmão e o último não me olhava como algo além de amiga. Me olhei no espelho do banheiro e soltei os cabelos. Os baguncei um pouco com as mãos, para tirar aquela impressão de “cabelo amarrado” e estava pronta pra ir. Peguei a bolsa que levaria para a piscina e saí do quarto.
  - Boys. – Fui até o quarto de Louis e encontrei os três esparramados na cama dele.
  - Wow. – Liam foi o primeiro a me notar, encarando o meu tronco seminu. Aquilo me fez corar, mas eu tentei não ligar. Todos os exercícios diários por causa da dança me fizeram ficar com um corpo que eu aceitava. Não era seca demais, mas minha barriga era reta. Confesso que gostaria que as minhas pernas fossem um pouco mais torneadas, mas não reclamava das que tinha.
  - , quando você ficou tão gostosa? – Harry perguntou, me fazendo arregalar os olhos.
  - Hey, é da minha irmã que você está falando. – Louis pegou um travesseiro e o jogou em Harry, que o segurou e atirou para o lado, ainda me fitando com aqueles olhos verdes.
  - Ok, eu vou sair daqui antes que algo mais constrangedor aconteça. – Balancei a cabeça em negação e tentei esquecer aqueles comentários. – Só vim avisar que a já está chegando e nós vamos para a piscina...
  - Podemos ir? – Liam se levantou, seguido por Harry.
  - Não vamos atrapalhar. – O último disse.
  - Só se prometerem que não vão encarar a minha amiga como estão fazendo comigo. – Falei a condição e eles aceitaram, já começando a tirar as camisas.
  Antes que eu pudesse aproveitar a bela visão dos meus dois amigos sem roupa, uma buzina de carro soou na frente de casa. Não falei mais nada, apenas me retirei para receber . Desci as escadas e fui até a porta de entrada.
  - Ainda bem que não errei de casa! – disse ao me ver, já correndo para o meu encontro. Nos abraçamos e eu olhei para o carro, vendo Niall ainda lá dentro.
  - É claro que não errou. – Sorri para ela. – Niall não vem?
  - Não... Ele vai sair com o Zayn. – Ela foi se despedir do namorado e logo voltou ao meu lado.
  - Tchau, meninas. Se divirtam. – O loiro se despediu de nós e partiu.
  Os meus meninos logo chegaram ao jardim da frente e eu os apresentei a . Como já era de se esperar, ela conversou animadamente com cada um deles e os encheu de perguntas. Todos eles foram muito simpáticos com ela e até fizeram algumas brincadeirinhas. Confesso que fiquei com um pouco de ciúme, mas dei de ombros e me juntei a eles. estava se tornando minha amiga muito rápido e aquilo me assustava um pouco. Principalmente por ser mulher e todos os meus outros amigos serem homens. O Caso é que eu nunca me dei bem com meninas, mas aquela parecia ser diferente.
  Nós cinco caminhamos lado a lado, conversando animadamente, até chegarmos à área da piscina. O lugar estava vazio, o que me fez agradecer mentalmente. Nas outras vezes que eu estivera ali, mulheres esnobes tomavam sol e conversavam sobre tantas futilidades que acabaram me deixando louca, sem falar que reclamavam quando eu mergulhava e acabava espirrando água pra perto delas.
  - Geronimooooooooo! – Louis largou as toalhas em uma espreguiçadeira e correu até a piscina, se jogando. Só consegui rir daquela cena, deixando as minhas coisas onde Lou tinha jogado as dele.
  - Eu sou o próximo! – Harry também deixou as suas coisas ali e saiu correndo. – Bomba de canhão!
  - Meu Deus. Dá pra acreditar nessas crianças? – Olhei para a direção em que estava, mas a ruiva já havia tirado as suas roupas e partido na mesma direção de Harry e Louis. – Epa!
  - Vem, ! A água está ótima. – Harry comemorava, batendo na água como uma foca.
  - Ela não sabe nadaaar. Ela não sabe nadaaaar. – cantarolou, dando voltinhas sem sair do lugar.
  - Parem, vocês dois! – Coloquei as mãos na cintura, olhando aqueles dois patetas. Até que dariam um casal legal se ela não estivesse com o Niall. – Eu vou entrar, mas não agora.
  - Deixa de frescura e entra logo! – Louis também insistiu e eu tirei o short, aproveitando para estender a minha toalha em uma espreguiçadeira livre.
  - Vou ignorar vocês, ok? Ok. – Virei para o lado e nem percebi que Liam se aproximava sorrateiramente por trás de mim. Senti seus braços fortes me envolvendo pela cintura e me levantando do chão.
  - Buuu. – Ele sussurrou, com os lábios perigosamente perto da minha orelha.
  - Liam, me põe no chão... – Pedi com um suspiro. Por mais estivesse arrepiada, eu tinha uma boa idéia do que ele pretendia fazer.
  - O que eu ganho com isso? – Continuou aos sussurros. Eu podia sentir seu peitoral colado nas minhas costas.
  - O prazer de fazer uma boa ação? – Arrisquei, mesmo sabendo que não adiantaria de nada. Comecei a me debater assim que ele se pôs a andar em direção a piscina e me arrastar junto.
  - Prefiro o prazer de te jogar na piscina. – Liam riu como um vilão dos desenhos animados.
  - Você podia ter dito: “O prazer de te ver molhada.” – se pronunciou, me fazendo gargalhar do duplo sentido em sua frase. – Teria um efeito bem mais legal.
  - Vamos deixar essa parte pra mais tarde. – Liam entrou na brincadeira, chegando perto demais da borda da piscina.
  - Por favor, Liam! Não faz isso. A água deve estar gelada! – Implorei, fechando os olhos.
  - É só água, . – E com essa última frase, Liam pulou na piscina e me levou com ele. Soltei um grito ao sentir o corpo inteiro congelar. Ele logo me soltou e eu voltei para a superfície, pulando de frio.
  - LIAM PAYNE, AGORA VOCÊ ME PAGA! – Olhei em volta, procurando aquele garoto que já não estava mais perto de mim. Havia nadado até o outro lado da piscina. Esperto, já que eu estava furiosa. – VOLTA AQUI!
  - Vai ter que me pegar! – Ele jogou água em mim e mostrou a língua. Pude escutar a risada de quando Harry falou algo do tipo: “Ele não sabe onde está se metendo.”
  - Grrrrrrrrr. – Rosnei, me atirando na água e mergulhando. Com os olhos abertos embaixo d’água era fácil acompanhar os movimentos de Liam. Peguei impulso na parede mais próxima e avancei em sua direção. Mais uma vez ele estava me subestimando, pois ficou parado. – AHÁ!
  - Oh, não! Estou sento atacado! – Ele riu quando me joguei em suas costas e era difícil não rir junto. Prendi as minhas pernas em volta da cintura de Liam e o puxei para baixo; empurrando seus ombros. Ele era mais forte que eu, obviamente, mas eu o peguei despreparado. Logo Liam estava embaixo da água, tentando se livrar de mim.
  - Muahaha! Vingança! – Eu comemorei, mas o soltei antes que se afogasse.
  - ! – Ofegou ao voltar para a superfície. Liam estava quase roxo e eu só conseguia rir daquela situação.
  - Bem feito! Eu disse pra você me colocar no chão! – Resmunguei.
  Nós dois logo nos juntamos aos outros. Depois que me acostumei com a temperatura da água, consegui aproveitar a tarde na piscina. As coisas começavam a ficar meio entediantes e Harry teve a brilhante idéia de brincarmos de “briga de galo”. É claro que a minha competitividade não me deixou ficar de fora, então eu fui logo formando dupla com o meu irmão. Subi em suas costas e subiu em Harry; Liam seria o juiz. Ganhei essa primeira rodada e foi a vez de Harry montar nas costas de Liam. Continuei ganhando até trocarmos de dupla. Louis se juntou a Harry, ficando em suas costas. Eu subi em Liam e seria a juíza. Começamos a batalha e Harry quase se desequilibrou. Eu e Liam investíamos contra os nossos oponentes, mas Lou sabia o meu ponto fraco. Sem que eu estivesse esperando, ele atacou as minhas costelas, me fazendo cócegas. Eu gritei e comecei a rir. Liam tentou se manter equilibrado, mas tenho certeza que Harry também o surpreendeu com uma rasteira, causando a nossa queda. Ambos reclamamos, mas a juíza fajuta disse que a rodada era válida, então eu perdi. Emburrada, saí da piscina e me deitei em uma espreguiçadeira para tomar sol. Os meninos foram até um campinho de futebol que ficava quase em frente à piscina e deitou-se na espreguiçadeira ao meu lado.
  - O Harry está com alguém? – Ela perguntou de uma vez, me fazendo olhá-la com espanto.
  - Não. Mas você está! – A repreendi.
  - Não é isso, idiota. – Rolou os olhos como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Eu estou bem com o meu Nialler, só queria entender o que um cara tão legal quanto ele está fazendo sem uma namorada.
  - Sei. – Estreitei os olhos, ainda fitando-a. – Mas não é como se ele estivesse abandonado... Quero dizer, Haz está sempre flertando com alguma garota nova. Eu só acho que ele não encontrou a certa ainda.
  - E você e o Liam? – Sorriu sapeca.
  - O que tem? – Perguntei como se não estivesse entendendo onde ela queria chegar.
  - Você sabe... A ceninha de vocês na piscina... E não pense que eu não notei o seu arrepio quando ele falou algo na sua orelha. – Senti minhas bochechas corarem.
  - Não sei do que você está falando! – Sacudi as mãos em negação e parei de olhar pra ela. estava doida, com toda certeza.
  - Por favor, . Só você não percebe que ele está caidinho por você! – Pelo canto do meu olho, percebi que ela havia sentado e virado de frente pra mim. – Porque até eu que acabei de conhecê-lo já percebi.
  - Você engoliu muita água da piscina, . É a única explicação.
  - Pffff, vai me dizer que você sinceramente nunca notou? Ele só falta babar quando você passa. Sem falar que ele não tira os olhos de você. – Ela inclinou a cabeça na direção em que os meninos estavam jogando futebol e assim que levantei a cabeça para vê-los, o olhar de Liam encontrou o meu. Pensei em desviar, mas ele sorriu e, por reflexo, eu também. – Eu sempre estou certa.
  - Não! Shhhh, . – Cortei o olhar e fitei as minhas próprias mãos. Será que ela estava certa mesmo? Liam era bonito, legal e divertido. Tinha conteúdo e nós podíamos conversar por horas... Não. No que eu estava pensando? Isso nunca daria certo.
  - Pense nisso, . Seria legal, nós quatro saindo em casais. Eu e Niall e você e o Liam. – Ela sorria animada. E do pouco que eu conhecia dela, tinha certeza que já imaginava um casamento duplo.
  - , eu não posso pensar nisso. – Estava frustrada. – Nós moramos na mesma casa.
  - E? Vocês só teriam que decidir em que quarto iriam dormir depois da longa noite de amor. No seu, ou no dele. – Ela falou como se fosse a coisa mais simples do mundo e eu a repreendi novamente com o olhar.
  - ! – Bufei. – Não é isso. O caso é que... E se não der certo? Eu ainda terei que conviver com ele como se nada tivesse acontecido. E quando começássemos a sair com outras pessoas? Seria estranho demais.
  - Nesse ponto você tem razão. – Ela pareceu se contentar, mas não por muito tempo. - Então se não der certo, você se muda e vem morar comigo.
  - Essa seria a solução pra tudo! – Ironizei.
  Fomos interrompidas pelo toque do celular de , que atendeu e me fez um sinal de “espere” com a mão. Pelo tom da sua voz, eu deduzi que era o namorado ligando. Tentei não prestar atenção na conversa dos dois, mas ela era tão melosa que eu não me segurei.
  - Eu também to com saudade, pudimcup. – Ela disse, com um biquinho.
  - Uuuuurgh. – Fiz uma cara de nojo e fingi vomitar. me mostrou o dedo do meio e eu só ri.
  - Cale a boca, sua invejosa. – Fez careta pra mim. – Não, Niall, não foi pra você! A está aqui com inveja por não ter um namorado.
  - HEY, NIAAAAALL. – Gritei perto do aparelho pra que ele pudesse escutar.
  - Ele falou oi também. – Ela riu, me abanando para que eu saísse de perto.
  Os dois conversaram por mais alguns minutos e eu já estava quase dormindo na espreguiçadeira. Escutei levantar da cadeira e começar a recolher as coisas.
  - Temos que ir, . Os meninos estão vindo pra cá. – A olhei sem entender, mas também me levantei.
  - Espera... Você falou “Os meninos”? – Torci para que ela falasse: “Sim, o Niall está trazendo um primo distante.” Mas com a minha sorte, aquele não seria o caso.
  - É. Parece que o Zayn também está vindo. – Ela deu de ombros, provavelmente ignorando a minha cara de “Eu não acredito que ele está vindo pra minha casa.”
  - Mas por quê? – Peguei a minha toalha e a passei por cima dos meus ombros, me enrolando.
  - , ele não é tão ruim quanto você imagina.
  - Pra namorar a Brigitte ele não pode ser tão legal quanto você fala. – Encerrei aquele assunto, andando até o campinho onde os meninos ainda jogavam bola.
  - Liam, o que há de errado com você hoje? Errou todos os chutes! Ok que você não é tão bom quanto eu, mas não precisa exagerar, né? – Pude ouvir meu irmão reclamar.
  - Eu acho que algo o distraiu. Ou melhor... Alguém. – Harry disse, me olhando. Era como se aquela fosse uma indireta pra mim e eu preferi ficar calada. Mais um com coisa na cabeça? Eu não precisava daquilo. – Hey, !
  - O jogo foi bom? – Sorri para os três, recebendo um abraço de Haz. – Ew, você está suado!
  - É o suor da vitória! – Me apertou ainda mais quando eu tentei me soltar.
  - Sai, sai, sai. – Gargalhei, escapando do seu abraço. – O namorado da está vindo pra cá com o amiguinho que não deve ser nomeado, então nós estamos voltando pra casa. Vocês vêm com a gente?
  - Acho que ainda vamos dar um mergulho. Todo esse jogo me deixou com calor. – Meu irmão também se aproximou de nós dois, seguido por Liam, que estava quieto demais.
  - Ok... Liam, tá tudo bem? – Parei de frente para ele, procurando seu olhar com o meu.
  - Uhum. – Foi a sua resposta. E foi então que me ocorreu... Ele não estava interessado por mim, e sim por ! Devia estar quieto daquele jeito porque o namorado dela estava vindo. E os olhares que ela achava que eram pra mim... Na verdade eram pra ela! É claro! Nós duas andávamos juntas, então seria fácil ela achar que ele estava me olhando e não ela!
  - Tudo bem, Li. Mas não demorem muito pra voltar. – Não iria insistir no assunto, já que ciúme era um sentimento horrível.
  Me despedi deles como sempre fazia, soltando beijinhos no ar. já me esperava com nossas coisas nas mãos e nós partimos para a minha casa. Não conversamos durante o caminho de volta, pois eu estava perdida em pensamentos. Liam era um de meus melhores amigos e estava se tornando uma boa amiga. Eu não queria que ele ficasse magoado por ela não gostar dele da mesma forma e também não queria que ela tivesse problemas com Niall, pois ele parecia uma pessoa legal.
  Assim que chegamos a casa, avisei pra ela que iria subir e tomar um banho, já que era alérgica ao cloro e não podia passar muito tempo com ele no corpo. Uma desculpa esfarrapada, é claro. E tenho certeza que ela não acreditou, mas concordou. Sim, eu estava tentando evitar Zayn o máximo que podia. Tente entender, não é que ele fosse a pessoa mais desagradável do mundo, mas eu conhecia o tipo dele e já havia me envolvido com outro garoto do tipo “badboy” e podemos dizer que não terminou em boa coisa. Por esse motivo, eu pretendia ficar perto dele apenas o necessário. Deixei na sala esperando a chegada do namorado e subi para o meu quarto. Apenas fechei a porta atrás de mim e fui direto para o banheiro.
  Ajustei a temperatura até conseguir deixá-la quentinha o suficiente para me fazer relaxar. Entrei de cabeça embaixo do chuveiro e deixei a água lavar a minha alma. Demorei pelo menos o dobro do necessário pra fazer tudo. Passei o sabonete por cada curva, tirando o cloro e o suor. Lavei os cabelos delicadamente, tirando até a última gota de shampoo e condicionador. Eu poderia ficar ali o resto do dia inteiro, só pensando. Sentia falta da minha avó e do meu avô. Sentia falta da minha cidade; minha Paris. Queria saber como a minha mãe estava, mas não tinha coragem de ligar pra ela. Meu pai demorava pra dar noticias, mas eu sabia que ele estava ocupado com o trabalho. Afastei aqueles pensamentos antes que começasse a chorar e desliguei o chuveiro. Saí do Box e me enrolei na toalha que estava pendurada atrás da porta. Algumas gotas de água ainda escorriam dos meus cabelos molhados e das minhas pernas, mas o banheiro estava com vapor demais para que eu ficasse lá dentro por mais um minuto. No momento em que saí do banheiro senti vontade de voltar atrás e me trancar lá dentro até que a figura masculina parada no meu quarto fosse embora. Os ombros largos e o cabelo bagunçado o denunciaram. Zayn estava sentado na minha cama, de costas pra mim e olhando as fotografias na minha parede.
  - O qu... O que você está fazendo aqui? – Gaguejei, segurando a toalha contra o meu corpo.
  - Gostei do quarto. – Ele se virou pra mim, ignorando completamente a minha pergunta, e me encarou. Encarou não; ele me comeu com os olhos. – Gostei da toalha.
  - Você não me respondeu. – Revirei os olhos. – O que você está fazendo aqui?
  - achou que você estava demorando demais e me mandou vir checar. – Ele explicou, ainda me olhando daquele jeito. Devia estar desejando ter visão de raio-x pra ver através da minha toalha.
  - Bem, agora que você viu que eu não me afoguei, pode se retirar? – Apertei ainda mais a toalha contra o meu corpo e apontei para a porta, mandando-o sair.
  - Porque você me odeia, ? – Seu sorriso sumiu e ele me fitou sério. Estudando o meu rosto dessa vez. – O que eu te fiz? Você nem me conhece.
  - E-eu... – Mais uma vez gaguejei. Ele tinha razão em pensar que eu o odiava, por causa da forma que eu o tratava. – Eu não te odeio, Zayn.
  - Tem certeza? Porque é o que parece. Eu não sei o que você andou ouvindo ao meu respeito por aí, mas...
  - Eu não ouvi nada. – O interrompi. Por algum motivo eu comecei a me sentir mal por estar tratando-o com indiferença. – Quer dizer... Ouvi da , mas ela só te defende.
  - Pelo menos pra alguma coisa aquela cabecinha de fogo serve! – Zayn gargalhou de forma tão gostosa que eu tive que rir junto. O clima já começou a ficar mais leve.
  - Sim... E você não vai mesmo sair pra eu poder me trocar? – Assisti o garoto encostar-se aos meus travesseiros e ficar confortável.
  - Tenho ordens pra só voltar à sala com você. – Deu de ombros, como se aquela fosse a sua única opção. – E eu não me incomodo.
  Vendo que não chegaria a lugar nenhum, desisti de discutir e entrei no closet. Nunca agradeci tanto por ter praticamente um segundo quarto só pra guardar as minhas roupas. Optei por uma saia de cintura alta e uma blusinha clara. Penteei os cabelos com os dedos, já que minha escova estava no banheiro. Por sorte, achei um perfume perdido entre os meus sapatos e o passei. Só desejava ter algum brilho labial por ali também, mas a minha sorte tinha acabado no perfume. Não coloquei um sapato porque estava em casa e gostava de ficar descalça. Dei uma última olhada no espelho a minha frente, passando as mãos pela saia para verificar se estava no lugar. “É, da pro gasto.”, pensei. Por um segundo me peguei pensando em Zayn e se ele gostaria daquelas roupas. Pensei até em trocar de blusa por uma mais decotada, pra chamar a sua atenção. Sim, eu estava ficando louca. Era a única explicação. “Perigo, . Ele é pe-ri-go. E tem namorada. Uma namorada terrível. Aliás, por que ele está com ela? Poderia conseguir alguém tão melhor...” Terminei a minha discussão mental antes que fosse longe demais e deixei o closet, encontrando Zayn mexendo no livro que eu estava lendo. Sim, o mesmo que eu havia desmarcado semanas atrás.
  - Além de entrar em quartos alheios sem ser convidado, você também mexe no que não te pertence, Malik? – Andei até ele, pegando meu livro de volta.
  - O que você achou quando ela morreu no final? – Perguntou casualmente, me contando o final do livro.
  - SPOILER! – Gritei, tapando os ouvidos. Mas já era tarde demais. Ele já tinha estragado o livro todo, me contando o final.
  - Você não sabia? Eu achei que já tivesse lido! – Ele riu do meu desespero, tentando se justificar. – O livro estava sem marcação nenhuma! Eu achei que...
  - Da próxima vez você pergunta antes de contar o final! – Continuei bufando, irritada.
  - Você fica linda assim. – Além de me contar um spoiler, ele ainda vinha com gracinha pra cima de mim? E depois não queria que eu o odiasse.
  - Parou, né? Se a sua namorada o escuta falando uma coisa dessas, ela tem um ataque. – Deixei o livro que eu não terminaria de ler em cima da cama e caminhei até a porta, abrindo-a. – Podemos ir agora?
  - Só se você me chamar pelo sobrenome de novo. – Sorriu sacana, sentando na cama novamente. Começo a achar que me tirar do sério é um passatempo pra ele.
  - Malik, shô! – Não o chamei pelo sobrenome porque ele havia pedido, mas eu estava ficando irritada novamente então não controlei as minhas palavras.
  - Oui, oui, mon cher. – Então o pilantra fala francês agora? Zayn levantou da cama e passou por mim, saindo do quarto e descendo as escadas.
  Eu o segui, mas esperei alguns segundos para entrar na sala. Não queria chegar junto com ele em hipótese alguma. A cena que encontrei me deixou um pouco confusa. Liam conversava com Niall em um canto e os dois pareciam bem animados. jogava vídeo game com Louis e Harry tentava atrapalhar os dois. O único que parecia notar a minha presença ali era Zayn, que andou até o meu lado e sussurrou algo como “Gostei dos seus amigos.” Rebati com: “Você gosta de tudo.” e o deixei sozinho, caminhando até e me sentando ao seu lado no sofá. O resto da noite foi animado e agüentar a presença de Malik não foi tão terrível quanto eu achei que seria. Pedimos algumas pizzas e comemos até passar mal. Fizemos competição de vídeo game e eu perdi algumas vezes, o que foi um pesadelo. Louis e Liam teriam trabalho no dia seguinte, então foram dormir depois do jantar. Zayn recebeu uma ligação de Brigitte e teve que ir embora, arrastando Niall e , já que eles estavam em um carro só. Harry ainda estava de férias, então resolveu ficar por lá mesmo e dormir no sofá.

+++

  - Você acha mesmo que eu vou te deixar dormir aí, né? – Disse ao descer as escadas, já de pijama.
  - Tem outro quarto de hospedes aqui que eu não conheço? – Haz me olhou confuso. Ele conseguia ficar ainda mais lerdo quando estava com sono.
  - Não, idiota. – Rolei os olhos com uma risada. Fui até a cozinha e peguei a minha garrafinha de chá gelado na geladeira, voltando para sala em seguida. – Você vai dormir comigo.
  - Mas, ... – Nem dei ouvidos e o puxei pela mão, subindo de volta ao meu quarto.
  - Eu durmo do lado esquerdo! – Falei antes que ele pudesse pegar o meu lugar. Fui até a cama e me sentei, puxando o cobertor para cobrir as minhas pernas.
  - Como sempre! – Harry disse, pulando embaixo das cobertas comigo. Aparentemente ele se lembrava de alguma das minhas manias; como a minha mania de sempre dormir ao lado esquerdo da cama. Ele tirou a camiseta e a jogou em qualquer lugar do quarto. Em seguida, se enterrou embaixo do edredom. – Boa noite!
  - Epa, espera! – O cutuquei, fazendo-o se virar pra mim. – Conversa comigo enquanto eu termino o meu chá?
  - Eu tô com sono, . – Resmungou. Fiz o meu melhor biquinho e dei um gole na minha bebida. – Ok, ok, você ganhou.
  - Eba! – Sorri abertamente. Aproveitaria que estávamos sozinhos pra sondar o que ele sabia sobre Liam e . – Então, Haz... Você sabe se o Liam esta gostando de alguém?
  - Ahn... – Ele pareceu surpreso com a minha pergunta. – Não, claro que não!
  - Harry, eu te conheço há seis anos e sei quando está mentindo. Você acabou que fazer aquela coisa com a boca.
  - Eu prometi que não falaria nada... – Aqueles olhinhos verdes quase escondidos pelos cachos me olhavam com atenção. – Principalmente pra você.
  - Eu juro que não conto pra ninguém! – Insisti. Eu não deixaria aquilo passar. – Vamos fazer assim... Eu te faço dez perguntas e você responde.
  - Três perguntas. E eu respondo com sim ou não. – Ele deu as condições e eu aceitei.
  - Tudo bem... Primeira pergunta: Ele gosta de alguém?
  - Sim.
  - Hm... E esse alguém sabe disso?
  - Não.
  - Ok, última pergunta. – Pensei em perguntar: “É a ?”, mas deixaria muito na cara. – Eu a conheço?
  - Sim. – Ele hesitou um pouco em responder. E então eu tinha a certeza de que ele estava afim da , já que ela era a única garota que eu e ele conhecíamos em comum.
  - Obrigada, Hazza. – Sorri e dei um beijo estalado em sua bochecha. – Pode ir dormir agora!
  - Me usa e depois joga fora. Entendi tudo. – Fez-se de indignado, mas logo sorriu e me deu um beijo na testa. – Boa noite, .
  Com isso, Harry virou para o lado e dormiu, me deixando absorta em pensamentos. É claro que eu não contaria a Liam, mas teria que ficar sabendo. Terminei meu chá gelado e deixei a garrafinha vazia na mesinha de cabeceira ao lado da cama. Assim que apaguei o abajur ao meu lado, abracei Harry e dormi em seus braços. Como sempre fomos melhores amigos, ele não entenderia aquele ato de forma errada e eu também não me aproveitaria dele.

Capítulo VII

  Eu dormia tranquilamente abraçada ao meu travesseiro quando senti alguém se mexer na cama. Sabia que não era Harry, pois os movimentos pareciam leves demais, delicados demais. As cortinas do quarto ainda estavam fechadas, então eu não era cega pela claridade. Devagar fui despertando, tentando abrir os olhos para ver o que acontecia no meu quarto.
  - Olha quem acordou... – Ouvi a voz de Harry, mas não era ele que estava sentado ao meu lado na cama.
  - ‘Codooooou. – Uma voz de criança me fez terminar de despertar e sorrir. – !
  - Luxy! – Eu reconheceria aqueles cabelos loiros e as bochechas rosadas em qualquer lugar. – Baby, o que você está fazendo aqui?
  - A mamãe deixou ela aqui, não foi, Lux? – Harry estava sentado na ponta da cama, nos olhando. O jeito que ele falava com a minha irmãzinha era tão fofo que às vezes eu gostava de ficar só observando os dois brincarem.
  - Vai passar o dia com a gente? – Eu sorri, levantando até ficar de joelhos na cama. Lux se assustou, mas logo gargalhou e bateu palmas. Ela não era de falar muitas palavras, mas ainda assim conseguíamos nos comunicar. Quando queria alguma coisa, ela apontava e fazia barulhinhos com a boca; os quais eu entendia perfeitamente. Ela não conseguia pronunciar o meu nome, mas me chamava de “Tah”. Harry era só “Haz” e Louis era “Lou”.
  - Vai sim! Agora vá trocar de roupa e nos encontre lá embaixo pra comer alguma coisa e irmos ao... – Ele olhou para Lux, esperando que ela terminasse sua frase.
  - Paque! – Entendi que iríamos ao parque pelo tamanho do seu sorriso.
  - Yay! – Também comemorei, ajudando-a a levantar na cama e correr para os braços de Harry.
  Ele a segurou pela cintura e a levantou, fazendo-a voar. Lux gritava de alegria, balançando os pés gordinhos e tentando mexer nos cachos do maior com as mãozinhas. Os dois saíram rindo do quarto e eu suspirei encantada. Gostaria de ter uma filha tão fofa quando Lux um dia, principalmente se o pai fosse como Harry. Levantei e me espreguicei, rumando mais uma vez para dentro do closet. Troquei os pijamas por roupas menos confortáveis e prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto. Antes de me retirar do quarto, corri até o banheiro e fiz a minha higiene.
  Ao entrar na sala de jantar comecei a rir. Lux estava sentada sobre a mesa, com um cookie de chocolate em cada mão e a boca completamente suja. Harry não ficava muito atrás, já que tinha a boca cheia de biscoito. Fui até eles e me sentei, pegando também um cookie do jarro de biscoitos.
  - Está gostoso, dona sujinha? – Perguntei após engolir o primeiro pedaço do meu cookie. Ela me olhou sapeca e riu. Quando aquela menina parava de rir?
  - Ela quase acabou com o pote inteiro! – Harry disse, mas eu estreitei os olhos. Duvidava muito que ela tivesse comido tanto assim, ainda mais porque a camisa dele estava coberta de farelos, o que o denunciava.
  - Com certeza, Harry. – Fingi acreditar nele. Lux levou um dos biscoitos que segurava até a minha boca, indicando para eu mordê-lo. Assim que o fiz, ela levou o mesmo biscoito até Harry, que me imitou.
  - Ew, baba de . – Harry me olhou e sorriu maroto. Eu o respondi com uma careta e usei um guardanapo para limpar as bochechas da pequena.
  - Vamos? – Ela esticou os bracinhos pra mim e eu a carreguei, juntando seu corpinho ao meu.
  Harry se levantou e foi abrir a porta pra nós duas passarmos. A bebê encostou a bochecha no meu ombro e descansou ali. O cheiro de morango que vinha de seus cabelos ficaria marcado na minha blusa e eu adorava aquilo. Costumava ficar me cheirando toda depois que ela tinha que ir embora. Caminhei devagar com Harry ao meu lado e no meio do caminho ela quis ir para o chão. Terminamos o percurso todos de mãos dadas, com a menor entre nós dois.
  O parquinho do condomínio era lindo, assim como tudo nele. Tinha uma parte de grama e uma parte de areia. Todos os brinquedos eram de uma madeira bem cuidada. Casinha, balanço, escorregador, gangorra... Havia de tudo ali. Era a primeira vez que Lux ia naquele parquinho, então imagine a sua animação. Ela tentou se soltar da minha mão e correr para a areia, mas eu não permiti. Ela me olhou com um biquinho, como se perguntasse por que eu havia impedido-a.
- Me deixe tirar seu sapato primeiro, baby girl. Não quero que fique sujo... – Abaixei-me até ficar da sua altura e tirei o minúsculo Converce que ela usava. Harry me ajudou, segurando na sua pequena mãozinha. – Pode ir agora!
    Assim que foi liberada, a pequenina partiu em direção ao parque. Lux correu direto para a casinha de bonecas, deixando Harry e eu sentados em um banquinho que tinha ali por perto. Mal sentei e escutei meu celular apitar, informando o recebimento de uma nova mensagem. Ele me olhou com curiosidade quando eu tirei o aparelho do bolso. Fitei a telinha e notei que era um número desconhecido.

“Tem planos pra sábado? x”

  Dizia simplesmente, sem nenhum nome, ou maior informação. Harry me olhou confuso, pois lera a mensagem por cima do meu ombro.

“Depende de quem você for.”

  Respondi com simplicidade, esperando a resposta.

“Espera... não te passou o meu número? –Zayn”

  É claro que aquela mensagem era dele. Bufei divertida. Harry resmungou algo ao meu lado, rolando os olhos e levantando pra ir atrás de Lux, me deixando sozinha.

“Ela não passou porque eu não pedi.”

  Fui seca, mas ele saberia que eu estava brincando.

“Outch, essa doeu, francesinha. Mas você não me respondeu... Tem planos pra sábado?”

  “Depende do que você tem em mente.”, pensei em responder, mas soaria atirada demais. Principalmente quando o cara em questão já era comprometido.

“Não que eu saiba...”

“Então agora você já sabe. Minha casa, às 21hrs. É uma pequena festa de encerramento das férias.”

  Mesmo se eu não quisesse ir, tenho certeza que me arrastaria. A idéia de ir à minha primeira festa britânica me animava. Mas essa animação ia embora assim que lembrava que a oxigenada estaria lá, agarrando o namorado. Não que eu me importasse; é claro que não.

“Abi e Niall vão, certo?”

“É claro! Ela vai te chamar... Mas eu preferi te convidar primeiro.”

“E teve medo de me convidar por telefone?”

“Que eu saiba, estou usando o telefone pra mandar essas mensagens.”

“Você entendeu, Malik.”

“Já falei que adoro quando você me chama pelo sobrenome?”

“Vou parar de te chamar assim, então.”

“Só se for pra me chamar de: “baby”.”

“Te vejo no sábado, Malik.”

  Encerrei nossa conversa e guardei meu celular no bolso mais uma vez. Estava sorrindo e não sabia exatamente há quanto tempo. Ainda era quarta feira, mas eu desejava que sábado chegasse logo. Avistei Harry tirando Lux do balanço e vindo em minha direção.
  - Trinta libras pelo seu sorriso? – Ele também sorriu, sentando de novo ao meu lado.
  - Temos uma festa pra ir, Haz. – Comemorei, abraçando-o de lado.

+++

  Já estávamos em casa quando a chuva da tarde começou a cair. Lux estava limpinha e desmaiada no colo de Harry. A manhã no parque havia cansado-a completamente e depois que ela almoçou e tomou banho, dormiu na mesma hora. Esperávamos Rachel chegar para buscar a filha, por mais que eu quisesse que ela ficasse até o dia seguinte. Eu estava sentada no sofá, com a cabeça encostada no ombro de Harry, enquanto acariciava os cabelos da minha irmãzinha em seu colo.
  A campainha tocando me fez levantar e caminhar até a porta. Eu nunca perguntava quem estava batendo, por ser um condomínio fechado e os seguranças da portaria não deixarem qualquer um entrar. Então não tinha perigo de ser um assassino em série. Destranquei a porta, abrindo-a em seguida.
  - Rachel! – Abracei-a assim que a vi. – Que saudade.
  - , você está linda. – É claro que ela retribuiu o abraço. Mas como assim, eu estava linda? Ela era uma modelo de 1,80, com os cabelos loiros mais sedosos que eu já vi e um rosto angelical. – Seu pai está estacionando o carro e... Oh, olhe ele ali.
  - Me-meu pai? – Gaguejei espantada. Não fazia ideia de que o veria naquele dia. Olhei para a direção em que ela apontou e vi meu pai caminhando na chuva pela calçada. Não aguentei esperar e corri até ele, sem me importar em ficar molhada. – Daddy!
  - ! – Ele me segurou quando pulei para abraçá-lo. Ficamos parados na chuva, apenas nos abraçando. Não o via há meses e a saudade estava enorme. – Desculpa não ter vindo antes, pequena.
  - Não se preocupe com isso, daddy. Eu entendo. – Não queria partir o abraço, mas já começava a ficar com frio.
  - Vamos entrar, sim? Não admito a filha de um médico ficar doente. – Ele me segurou pela mão e nós entramos em casa.
  Papai pendurou sua capa de chuva no cabide que havia no hall de entrada e suas roupas estavam incrivelmente secas. Diferentemente das minhas, que estavam encharcadas. Mas eu não perderia tempo trocando de roupa; não mesmo. Apenas me cobri com um roupão que me protegeria do frio por um tempo. Voltei para a sala e encontrei Lux acordada, no colo de Rachel, enquanto Harry testava caras e bocas para fazê-la rir. Papai me olhava com alegria, esperando que eu me juntasse a ele no sofá. Não pensei duas vezes e andei até lá.
  - Me conte, , como está tudo por aqui? Londres está sendo o que você esperava? Soube que já foi conhecer a academia... – Ele começou o interrogatório.
  - Tudo está maravilhoso, pai... – Contei pra ele tudo que havia acontecido desde a minha chegada até aquele dia. Contei de , Liam, e até mesmo Niall. Mas é claro que deixei Zayn e Brigitte de fora. Mencionei o espetáculo que a LRA organizaria e o quanto eu estava curiosa pra saber qual seria o tema. Contei da festa que iria no sábado e reclamei por não ter uma roupa pra usar.
  - Então eu acho que tenho a solução pra esse problema. – Ele e Rachel trocaram olhares significativos e ela me entregou um envelope branco que retirou da bolsa. – Isso é pra emergências.
  - Emergências como: Roupas novas, sapatos de marca, viagens pelo interior do país, presentes para os amigos, um carro novo... – Rachel comentou com um sorriso sapeca.
  - O que é isso? – Ri com a minha madrasta e abri o envelope, encontrando um pequeno cartão prateado lá dentro. – UM CARTÃO DE CRÉDITO?
  - Eu disse que ela iria gostar. – Minha fada madrinha falou.
  - Você estava certa, Rach. Como sempre. – Meu pai se inclinou em direção à esposa e lhe deu um selinho.
  - Ewwww. – Lux disse, tapando os olhinhos e causando risadas em todos.
  - Obrigada, papai! – Eu o abracei, partindo para Rach em seguida. – Obrigada, Rachel!
  Meu irmão chegou enquanto a nossa madrasta cozinhava algo para o jantar, mas Liam não estava com ele. Parece que tinha ficado preso no trabalho e só voltaria mais tarde. Harry, meu pai e Louis conversavam na mesa de jantar enquanto eu brincava com a mais nova. É incrível como crianças tem o poder de recarregar as energias com uma simples soneca.

Capítulo VIII

~ Sexta feira ~

  - , eu já falei que não vou usar esse vestido! – Repeti pela milésima vez, empurrando-a para fora do meu provador. Era a quarta loja que nós entrávamos e eu não conseguia achar nada que me agradasse.
  - Mas, , ele é lindo! – bufou, voltando para o meu provador mesmo depois de ter sido expulsa. Eu a encarei sem acreditar na sua persistência. Ela segurava o vestido vermelho sangue, tomara que caia, mais curto que eu já vi. Ele era lindo, de fato, mas era justo demais. Meus seios só faltavam pular pra fora e se eu sentasse usando aquele vestido, meu útero ficaria de fora. – E coube perfeitamente.
  - Se com “perfeitamente” você quis dizer que eu fiquei esmagada dentro dele, então sim, ele coube perfeitamente. – Rolei os olhos, mandando-a para o provador dela e me trancando no meu. Sempre preferi provadores com portas ao invés daquelas cortininhas e agora ainda mais. – E se gostou tanto dele, porque não o usa?
  - O vermelho desse vestido não combina com o meu cabelo. – A escutei falar, rindo da sua desculpa.
  - ... – Chamei-a, me olhando no espelho do provador. – Acho que encontrei o vestido perfeito.
  - Sério? Quero ver! – E bateu afobada na porta. – Abre, !
  - Não mesmo. – Ri do seu desespero e abri o zíper do meu vestido, tirando-o com cuidado. – Amanhã você vê.
  - Tomlinson, abra essa porta agora mesmo. – Se ela continuasse batendo na porta do provador daquele jeito, nós duas seriamos expulsas da loja.
  - Pronto, já abri! – Destranquei o provador depois de ter escondido o vestido entre outras peças e colocado a minha própria roupa.
  - Injusto isso. Muito injusto. Você também não vai ver o meu vestido. – tentou me convencer e eu comecei a andar em direção ao caixa.
  - Até parece que eu não sei que você escolheu o azul. – A deixei boquiaberta; provavelmente se perguntando como eu sabia que ela tinha escolhido aquele vestido. O caso era que eu a ouvira conversar com a nossa atendente e acho que todos podem concordar que ela não é a pessoa mais discreta do mundo. Aproveitei que ainda tinha que juntar as suas coisas e me dirigi até o caixa.
  Retirei o meu cartão de crédito da carteira e o entreguei para a senhora no caixa. Seria a primeira vez que eu usaria o presente que ganhara de meu pai e madrasta e sentia como se estivesse tirando a sua virgindade. se juntou a mim depois que o meu vestido já estava embalado e a salvo dos seus olhares curiosos. Nós duas estávamos prontas para sair quando uma figura alta e desagradável entrou na loja.
  - Eu acho que encontrarei o modelito perfeito aqui, amorzinho. – Brigitte passou pelas portas automáticas de vidro, seguida por um Zayn cansado e cheio de sacolas nos braços.
  - Você falou isso nas duas últimas lojas. – Ele reclamou. Eu e nos entreolhamos sem saber se deveríamos falar com eles ou simplesmente deixar a boutique antes de sermos notadas.
  - Ora, ora, ora. – Tarde demais. A oxigenada olhou em nossa direção, entortando o nariz perfeitamente modificado por plásticas. – Parece que eu não encontrarei nada nessa loja. Não sabia que o nível estava tão baixo.
  - Hey, meninas. – Zayn nos cumprimentou, ignorando a indireta da namorada.
  - Hey. – Ele podia ignorá-la, mas eu não conseguiria. – Engraçado... Eu achava que o pet shop ficava do outro lado da rua.
  Falei para , que riu. Tenho certeza que vi Zayn segurando o riso também, mas não fiquei pra ver se ele diria alguma coisa. Puxei a minha amiga pela mão e saímos da loja.
   e eu já havíamos andado a Oxford Street inteira antes de achar a loja perfeita e estávamos cansadas. Após sairmos da boutique onde achamos as nossas roupas para a festa, decidimos dar uma parada na StarBucks mais próxima. Foi fácil encontrar a cafeteria, já que havia praticamente uma em cada esquina. Passamos pelas portas giratórias, escutando o sininho tocar e avisar a entrada de novos clientes. Fomos direto para a fila, ficando atrás de apenas duas pessoas, já que o lugar não estava tão cheio. Assim que a nossa vez chegou, eu pedi um frappuccino de caramelo e escolheu o de morango. Enquanto fazíamos o nosso caminho para uma mesa mais afastada pra esperar nossos pedidos ficarem prontos, escutei o celular tocar dentro da minha bolsa.
  - Aposto que é Liam ligando. – sorriu marota. Mal sabia ela que se ele fosse ligar pra alguém, não seria pra mim.
  - Shiu, . – Estirei a língua pra ela e procurei meu celular na bolsa. Assim que o achei, notei que era um número desconhecido ligando. De novo. – Alou?
  - Hey, ! – Uma voz de homem falou do outro lado da linha. É claro que reconheceria aquela voz em qualquer lugar, mas me fiz de desentendida.
  - Quem é que está falando? – Perguntei me segurando pra não rir. me olhava como se perguntasse: “Quem é?”
  - Eu não acredito que você ainda não salvou o meu número, . – Zayn parecia magoado. Se eu não o conhecesse, acreditaria.
  - Ah, oi, Malik. – Fui simples, mas um sorriso escapou nos meus lábios. Agradeci por ele não poder vê-lo. – Cuidado pra sua namorada não escutar você falando comigo, ou vai ter problemas.
  - Ela está com uma pilha de roupas pra provar, então eu estou seguro por agora. – A voz dele era sem animação alguma. Imaginei Zayn sentado com cara de tédio em uma poltrona, enquanto Brigitte provava milhares de peças de roupas e odiava todas. – Você ta rindo do quê?
  - Da cara que você deve estar fazendo agora. – Gargalhei e escutei ele rir também.
  - Meu tédio está tão óbvio assim? – Algo me dizia que ele estava sorrindo. Olhei levantar e ir buscar nossos pedidos.
  - Mais do que você imagina. – Encostei na cadeira estofada, ficando mais confortável.
  - Eu devia ter trazido algum livro pra ficar lendo... – Acho que ele comentou aquilo mais pra ele mesmo do que pra mim. – Anyway, eu estou ligando pra pedir desculpas. O jeito que a Brie se comportou quando viu você a não foi legal.
  - Zayn... Eu a chamei de cachorro. – “Brie”? Rolei os olhos. – Então não se preocupa.
  - Sim, mas ela mereceu! – Escutei-o gargalhar. – Foi difícil não rir também.
  - É, eu percebi. – Quando chegou, eu estava rindo. Ela falou um tipo de ‘uhhh’ e sorriu daquele jeitinho que só ela fazia. – Obrigada, .
  - Onde vocês estão?
  - Starbucks! – Respondi com a boca cheia de frappucchino.
  - Coma um muffin por mim, ok? Tenho que ir agora... – Não queria ter que desligar, porque apesar de toda implicância e mesmo sem admitir, eu gostava de conversar com ele.
  - Tudo bem, Z. Boa sorte aí...
  - Se cuide, francesinha. – E com isso ele desligou.
  Guardei o iPhone na minha bolsa e esperei falar alguma coisa. Ela deveria estar se segurando pra fazer algum comentário, só pela forma que me olhava. Esperando o veredicto de minha amiga, eu me ocupei em beber meu café.
  - Liam que se cuide. – Disparou, quase me fazendo engasgar. – A concorrência está demais.
  - Você é que está demais, . Sempre vendo coisa onde não tem. Estou começando a ficar preocupada.
  - Um dia você vai ver que tenho razão! – Ela arrumou o óculos de grau e balançou os cabelos ruivos. – Eu sempre tenho razão.
  - Por falar nisso... Tenho que te contar uma coisa. – Achava que aquele era o momento certo pra falar sobre o que descobrira. – O Liam não está afim de mim.
  - É claro que está! – Ela balançou a cabeça, cansada da minha negação.
  - Eu falei com o Harry e ele confirmou o que eu já desconfiava. Não é de mim que o Liam gosta, e sim de você. – Expliquei com calma e ela começou a rir. Sim, rir. – É sério, !
  - Não me chama de , . – Reclamou, mas pelo menos parou de rir. – Mas me conte a sua teoria, vai.
  - Lembra quando os meninos estavam jogando futebol e você disse que ele não parava de olhar pra mim? – Ela assentiu, entediada. – Não era pra mim que ele estava olhando, e sim pra você. E você estava sem óculos, por isso confundiu a direção dos olhares!
  - Aham, aham. E o que o Harry falou?
  - Que ele gosta de você. – Levantei os braços como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
  - Espera... O Harry falou: “O Liam gosta da Abi”? – Levantou uma sobrancelha.
  - Não exatamente com essas palavras...
  - Como ele falou, ? – Colocou uma mão na testa, me encarando ainda com tédio.
  - Ele me deixou fazer três perguntas e respondeu com sim ou não. – Tentava me justificar. – Então ele disse que o Liam está sim afim de uma garota, ela não sabe disso e eu a conheço. Mas, ... Você é a única garota que eu conheço.
  - Pensa aqui comigo, coisa linda. – Ela segurou as minhas mãos por cima da mesa. – Que eu saiba, você é uma garota. Eu já te vi de biquíni, então essa parte confere. – Começou a contar com os dedos. – Segundo: Você não sabe que ele está afim de você. Tecnicamente, porque eu já te falei isso mil vezes. Mas confere. E terceiro e mais importante: Você pode até me conhecer. Mas você SE conhece. Então confere.
  - Eu desisto. Não vou mais falar sobre isso com você. – Levantei da cadeira, pegando as minhas sacolas de compra com uma mão e o frappucchino pela metade com a outra. – Vamos, eu quero ir pra casa.
  - É verdade, o Liam deve estar preocupado. – Ela me irritou e levantou também.
  Não me dei ao trabalho de respondê-la. Estava emburrada. Caminhei em passos largos para a saída, ficando presa entre as portas giratórias por causa de um senhor – MUITO LENTO – Que resolveu passar na mesma hora que eu. só fazia rir e eu queria bater nela. Pense em uma pessoa irritante. Pensou? Agora multiplique por 300. Conseguiu? Então. Essa é . Ela gritou algo como: “Fica calma, !” E eu só não mandei ela calar a boca porque era uma pessoa educada e não queria assustar o senhor que ainda não parecia entender como aquelas portas funcionavam. Vai que ele morre ali? Aí é que eu não poderia sair mesmo. Passamos cinco minutos inteiros tentando decidir para qual lado girar. Quando finalmente consegui sair de lá, esperei se juntar a mim. Ela saiu com tanta graciosidade que eu tive vontade de me jogar de alguma escada. Sim, eu estava sendo dramática e sabia disso, mas ela merecia o meu ódio.
  - Não fica assim, . – Ela veio até mim e pulou no meu pescoço. – Você sabe que eu te amo.
  - Sai. – Tentei me soltar, mas a baixinha era mais forte do que parecia. – Solta, solta.
  - Não solto! – riu, me agarrando ainda mais. As pessoas que estavam passando começavam a nos olhar. – Só se você falar que me ama.
  - Eu te amo, sua chata. – Não conseguia ficar brava com ela, por mais que tentasse.
  Encerramos aquela cena adorável e partimos para o New Beetle amarelo de . Sei o que você deve estar pensando: “Onde está o seu carro?” Eu também me perguntava a mesma coisa, já que ele deveria estar comigo há três dias. Meu conversível estava sendo transportado da França para Londres e a sua entrega estava atrasada. Enquanto meu transporte não chegava, eu era obrigada a me virar com taxi e ônibus, mas tinha amigos tão maravilhosos que sempre conseguia uma carona.

+++

   me deixou na porta de casa, mas não quis entrar. Ela alegou que queria chegar logo em casa porque sua mãe a estava esperando, mas eu sabia que ela estava com saudades do namorado. Entrei em casa e não encontrei ninguém pela sala ou cozinha, o que era bem estranho, já que era noite e os meninos deveriam estar de volta do trabalho. Subi as escadas e encontrei todas as portas fechadas. Fui até o meu quarto e larguei minhas coisas em cima da cama, logo voltando para o corredor. Eu tinha duas portas para testar.
  Comecei batendo delicadamente na porta da direita; o quarto de Liam. Não recebi resposta. Tive medo de abrir e acabar acordando-o. Passei para a porta da esquerda, batendo no quarto do meu irmão.
  - Quem vem lá? – Escutei Louis perguntar. Só ele conseguia ser idiota assim.   - Ora, sou eu... A duquesa Tomlinson. – Entrei na brincadeira, esperando-o abrir a porta.
  - Por favor, duquesa, entre... – E abriu a porta, me esperando passar.
  - Hey, Lou. – Deixei um beijo em sua bochecha antes de entrar. – Onde está todo mundo?
  - Eu sei que parece que o Harry mora aqui, , mas ele teria que ir pra casa algum dia. – Ele se sentou cadeira próxima a mesa onde o computador dele estava e eu me deitei em sua cama.
  - E o Liam? – Tentei fazer uma cara de: “Não que eu me importe” que não teria enganado .
  - Ele saiu com a Candice.
  - Quem? – Minha voz pode ter saído um pouco mais aguda do que eu pretendia.
  - Candice. – Ele respondeu como se aquilo fosse diminuir as minhas dúvidas. – É uma modelo que ele fotografou hoje. Os dois se deram muito bem, então Liam a chamou para sair.
  - Huh. – Eu não sabia o que falar. Aquilo me pegou de surpresa. Não que eu estivesse com ciúmes... Pelo menos não nesse sentido. Quero dizer, ele poderia sair com e eu não me importaria. Mas Candice? Eu nem a conhecia! Vai que era uma vadia dessas que sai com todos os fotógrafos que conhece? Liam não era qualquer um. – Sei.
  - Qual o problema, ? – Lou estreitou os olhos, lendo a minha expressão.
  - Problema? Problema nenhum. Está tudo perfeito! – Dei o meu melhor sorriso falso e me sentei. – Vocês vão pra festa comigo amanhã, né?
  - Uh oh.
  - Uh oh? Uh oh o quê, Louis? – E quando eu digo que há algo errado...
  - É amanhã a festa do Zayn? – Ele coçou a nuca. – É que a Candice nos chamou pra uma festa amanhã também. E nós meio que já falamos que vamos...
  - Huh. Huh, huh, huh. – Essa menina de novo? Tá de brincadeira com a minha cara. – Tudo bem. Boa festa pra vocês. Harry vai também?
  - Provavelmente... – Lou sabia que eu estava chateada. Ele havia prometido pra mim que iria na “minha” festa. E de repente muda de idéia?
  - Ótimo. Boa noite, Louis. – Saí do seu quarto e fiz questão de bater a porta.
  Ele sabia que não devia vir atrás de mim. Quando eu fico com raiva de alguma coisa, a melhor saída é me deixar quieta até o sangue baixar. Sempre fui muito possessiva e ciumenta, principalmente com os meus melhores amigos. E de repente aparece essa menina e começa a roubar todos de mim? Ok, pode ser drama meu, mas quem liga? A história é minha mesmo. Não me dei ao trabalho de descer pra jantar; estava sem fome. Tranquei a porta do quarto para não ser perturbada e me joguei na cama. Fiquei escutando música no meu iPod até pegar no sono.

Capítulo IX

  “Sleeping through the day, ‘cause I work all night...” Acordei com a música Friday Night do McFly no último volume tocando nos meus ouvidos. “Nunca mais dormir com fones de ouvido”, anotado. Despertei devagar após o susto, sem desligar a música. Constatei que ainda vestia as roupas que usara pra sair com na noite anterior, me perguntando o porque de não ter trocado por um pijama mais confortável. Ah, é claro. Eu estava com raiva quando fui pra cama, por isso não fiz mais nada além de deitar e apagar.
  Levantei preguiçosa, indo até o banheiro. Como de costume, fiz a minha higiene básica e tomei um banho rápido sem molhar os cabelos. Me vesti de forma simples, apenas pra descer até a cozinha e comer alguma coisa, já que eu estava morrendo de fome. “Nunca ir dormir sem jantar”, anotado. Assim que cheguei ao corredor, escutei risadas vindas do andar de baixo. A porta do quarto de Liam estava aberta, então ele já deveria ter chegado. Por alguma razão eu estava louca para vê-lo. Desci os degraus de dois em dois, indo direto para a cozinha.
  - Liam? – O chamei, mas assim que entrei na cozinha o meu sorriso desapareceu. Uma figura desconhecida estava com a língua enfiada na garganta do meu amigo. E o pior, ela estava usando uma camisa dele e nada mais. Não uma camisa qualquer! Tinha que ser logo a minha preferida? Assim que fui notada, os dois se separaram e aquela magricela começou a rir. Não rir... Guinchar. Uma coisa tenho que admitir; ela era realmente bonita. Seus cabelos escuros e lisos pareciam saídos de uma propaganda de shampoo e seus olhos verdes só perdiam para os de Harry. Liam permaneceu parado, me encarando sem jeito. – Desculpa, eu não sabia que você estava acompanhado.
  - Não tem problema, ... – Ele coçou a nuca daquele jeito que fazia quando não sabia o que falar. – Essa é a Candice.
  - É claro que é. – Disse sem pensar, tentando disfarçar em seguida. – É um prazer, Candy.
  - Na verdade é Candice... Mas minha mãe me chamava de Candy quando eu era pequena, então pode me chamar assim! – Ela andou até onde eu estava e me abraçou. Vê se pode?!
  - Sou . – Retribui o abraço apenas por educação, pois odiei sentir o cheiro dele na pele dela.
  - Ah! Você é a irmã do Harry, certo?
  - Irmã do Louis. – Liam a corrigiu.
  - Pois é. – Me soltei dela e fui até a geladeira, sem olhar para o garoto que continuava no canto. – Eu já vou deixar vocês a sós, só preciso pegar algo pra comer. Tenho uma grande festa hoje à noite, sabe?
  - Oh... – Sim, eu havia falado da festa só pra lembrar Liam, já que ele aparentemente tinha se esquecido dos planos que fizera comigo primeiro. – É hoje a festa?
  - Sim, Liam. Mas vejo que você já tem outros planos, então esquece, ok? – Peguei um pote de geléia de morango, algumas torradas, um copo de suco de laranja e uma faca.
  - Nós também temos uma festa hoje, não é, meu amor? – Candice andou novamente até ele e o abraçou. Não fiquei na cozinha a tempo de escutar a resposta, muito menos presenciar outra cena de afeto.
  Voltei ao meu quarto o mais rápido que pude, ignorando um chamado de Louis com um “Agora não, Lou” e me tranquei. Aquele quarto estava se tornando o meu refúgio. Em três horas estaria chegando para que começássemos a nos arrumar e sair para a reuniãozinha de Zayn. Que, aliás, parecia não ter nada de “reunião” e muito menos de “inha”. me explicou que todo semestre Zayn dava festas para comemorar o começo das aulas e o fim delas. As festas costumavam ser enormes, com direito a DJ, jogos de luz, comida e muita, muita bebida. Só a nata da Academy ia a essas festas e eu deveria me sentir sortuda por ser a primeira caloura a ser convidada. Confesso que estava nervosa, principalmente por nenhum dos meus amigos estarem indo comigo. No geral, eu só conhecia três pessoas que estariam lá: e Niall, que iriam se trancar em algum quarto e só sair no outro dia; e Zayn. Que quando não estivesse com a namorada, estaria sendo um bom anfitrião e ocupado com detalhes técnicos da festa. Então eu acabaria sozinha e entediada em um canto.
  Tentei afastar aqueles pensamentos deprimentes e me servi de um pouco de torrada e geléia. Depois da primeira mordida, tive vontade de vomitar. “Não acredito que essa porcaria está estragada.” Revirei os olhos com a minha falta de sorte. Eu iria morrer de fome, já que não ousaria sair do quarto e dar de cara com o novo casal se comendo na escada. Foi então que meu celular começou a vibrar com a chegada de uma nova mensagem e eu torcia para que fosse a minha salvadora.

“Já acordou, ? Estava pensando em ir mais cedo até aí. Xx -Abi”

“Estou acordada desde as cinco da manhã, baby. Pode vir sim, mas com uma condição.”

“Cinco da manhã? Se for “há cinco minutos” eu até que acredito. Qual condição, sua pequena chantagista?”

“Comida. Eu deixo você vir se me trouxer comida! Aqui eu te explico.”

“Ok, estarei aí em meia hora.”

“Com comida, certo?”

“Sim, gorda.”

  Eu iria sobreviver! Muahaha. Dei um jeito de jogar a geléia estragada e as torradas no lixo, sem experimentar o suco, já que ele parecia meio suspeito também. Em quarenta minutos mais ou menos, chegou com um sanduíche do Burguer King e batatas fritas, além de um mil shake de chocolate. Ou ela queria me impedir de entrar no meu vestido, ou era uma amiga muito boa. Preferi ficar com essa segunda opção. Enquanto eu devorei o lanche, me contou que quando estava chegando viu Candice indo embora e Liam levando-a até o carro. Eu contei a pequena cena da cozinha e ela pareceu não entender nada. “Mas eu estou sempre certa”, ela resmungava. Pelo menos agora iria parar de dizer que ele estava afim de mim. E era óbvio que ele também não estava gostando dela.
  A festa começaria as 21hrs e a ruiva me informou que ingleses eram pontuais até nisso. Teríamos três horas pra nos arrumar e ela foi para o meu banheiro tomar banho primeiro. Eu estava no closet, procurando um sapato que combinasse com o vestido de , quando alguém bateu na porta do quarto.
  - ? Posso falar com você? – Era a voz de Liam. Tive que sair do closet para atender o chamado.
  - Claro. – Abri a porta e fui para o corredor. – Whatsup?
  - É só que... O que viu na cozinha... Eu não queria...
  - Liam, você não precisa se explicar. – O cortei. Seus olhos estavam diferentes, como se ele estivesse chateado com algo.
  - Eu sei, eu sei. Só não queria que você descobrisse daquele jeito. Eu queria ter te contado.
  - Eu teria preferido isso também. – Dei de ombros. – Mas ela parece gostar bastante de você, então tudo bem!
  - É, eu acho que gosta sim. – Ele sorriu de canto. Mas ainda não era aquele sorriso. – E eu não quero que pense que eu sou do tipo que dorme com todas já na primeira noite.
  - Sem detalhes, por favor! – Fiz uma careta. – Eu te conheço, então não vou pensar isso.
  - Obrigado, . – Coçou a nuca.
  - ? – gritou, provavelmente me procurando.
  - Eu tenho que ir... Estamos nos arrumando.
  - Sem problemas. Boa festa pra vocês, . – Ele foi até o próprio quarto.   - Valeu. Pra vocês também... – Voltei para o meu refúgio, encontrando uma ruiva curiosa enrolada na toalha branca.
  Expliquei o que tinha acontecido e ela sorriu, afirmando que ele devia estar esperando um ataque de ciúmes da minha parte. Cortei o assunto antes que ela pudesse começar com aqueles papos absurdos e fui para o banheiro tomar o meu banho. Não pensei em absolutamente nada, apenas me ensaboei e lavei os cabelos. havia demorado demais no banho dela e a gente já não tinha tempo a perder. Desliguei o chuveiro e me sequei como de costume, com uma toalha amarrada no corpo e outra segurando os meus cabelos. estava com o meu secador nas mãos, arrumando a “juba vermelha”, como Niall costumava chamar. Vesti as roupas de baixo e troquei a toalha por um roupão felpudo, assim como a minha amiga. O vestido seria a última coisa que eu colocaria.
   terminou de usar o secador e foi a minha vez. Ela começou a se maquiar e eu ainda tentava controlar os meus fios castanhos. Conversávamos sobre coisas aleatórias enquanto nos arrumávamos. Ela terminou de se maquiar assim que meus cabelos estavam secos e veio me ajudar. pegou a cadeira da minha escrivaninha e a colocou no banheiro, em frente ao espelho e à bancada da pia. Enquanto eu tentava me maquiar, ela pegou o babyliss e começou a cachear as pontas do meu cabelo. Nunca fui fã de maquiagens pesadas, então apenas marquei os olhos e deu uma batidinha nas bochechas com um blush clarinho. Me preparava pra passar um batom cor de rosa nos lábios e o tomou da minha mão, quase me queimando com o ferro quente.
  - Por favor, me diga que você não pretendia passar esse batom de criança? – Ela rolou os olhos, procurando algo na bolsa.
  - Ei! Não é de criança, ok? É lindo. – Cruzei os braços, bicuda.
  - É lindo sim, pra um passeio no parque. Não pra maior festa do ano! –Ignorou o meu bico e me entregou um batom vermelho vivo. – Passe esse.
  - Tudo bem, chata. – Me rendi e pintei os lábios com o batom vermelho. – Ficou lindo...
  - O que você faria sem mim? – Sorriu convencida. Por mais que odiasse concordar, ela estava certa. Aquele batom vermelho tinha ficado bem mais bonito do que o rosa ficaria.
  Em cinco minutos, eu já estava maquiada o bastante pra ficar diferente do meu “eu” do dia a dia, mas não o suficiente pra que eu parecesse uma biscate. também terminou o meu cabelo e estávamos quase prontas. Ela foi para o meu closet, quase gritando de felicidade. “Você nunca me disse que tinha tantos sapatos assim!” A ouvi falando. “E são todos de Paris!” Coloquei lenha na fogueira e ela gritou com animação.
  - O que acha? – Saiu do closet toda vestida, usando meu loubotin prata nos pés.
  - Você está perfeita, . – E ela realmente estava. tinha uma beleza tipicamente inglesa; a pele branquinha, olhos claros, corpo sem muitas curvas que a deixava com uma pose elegante. Toda arrumada daquele jeito, ela conseguia ficar ainda mais linda.
  - E você ainda não se vestiu por quê?
  - Porque você só vai ver o meu vestido quando eu estiver dentro dele! – Expliquei, empurrando-a para fora do quarto.
  Assim que fiquei sozinha no meu quarto e descia para a sala, peguei o vestido de dentro da caixa e delicadamente o vesti. Era incrível como ele parecia ter sido feito sob medida pra mim. Coloquei um colar delicado em volta do pescoço, uma pulseira e brincos. Calcei meu salto alto e peguei minha bolsa de mão, guardando nela o meu celular e carteira. Perfumei-me com o meu Chanel preferido e estava pronta pra ir. Saí do quarto e fechei a porta atrás de mim. Desci as escadas devagar, querendo criar uma entrada dramática. Os meninos estavam reunidos no hall principal e conversava com eles. O assunto morreu assim que eu entrei no lugar. Todos os olhares se voltaram pra mim, principalmente os da minha amiga, que devia estar morrendo de curiosidade para ver o meu vestido.
  - Como eu não vi esse vestido na loja? – Ela estava boquiaberta.
  - Você está linda, . – Harry sorriu, vindo me abraçar.
  - , cuide dela nessa festa, ok? – Meu irmão dando uma de super protetor falou para a minha amiga.
  - Está linda mesmo. – Foi a vez de Liam me abraçar.
  - Obrigada, meninos. – Sorri. – Mas nós temos que ir agora.
  Nos despedimos e desejamos “boa festa” uns para os outros. Preferi não me atentar para as roupas que eles estavam usando, mas tinha certeza que estavam lindos. Como aqueles três bobocas conseguiam ficar bonitos mesmo sem se esforçar? destravou o carro e nós entramos. Ela costumava rir de mim quando eu errava o lado do passageiro e entrava no lugar do motorista, mas na quinta tentativa eu comecei a pegar o jeito.
  Estávamos na estrada há um bom tempo e o meu nervosismo só fazia crescer. Aquela seria a minha primeira experiência social com estudantes da Academy e se o que dizem sobre primeiras impressões é verdade, eu teria uma longa noite pela frente. Perguntei se Zayn morava sozinho e disse que ele morava com a mãe e três irmãs mais novas, mas que elas sempre estavam viajando nos dias de festa. Como nunca fala somente o necessário, ela fez um resumo da família do garoto. Disse que os pais se separaram quando ele ainda era uma criança, mas que a Patricia – a mãe dele – era um amor de pessoa. Devia ser mesmo, porque só assim pra deixar o filho encher a casa de estranhos.

+++

  Já passava das 21h30min quando estacionamos o carro em uma rua sem saída. Saímos do carro e eu dei uma última ajeitada nos cabelos e no vestido antes de olhar em volta. A casa de Zayn era enorme. Tão enorme que deveria ser chamada de mansão e não de casa. O jardim de entrada era convidativo e as luzes do interior da casa piscavam. Parecia que a festa já estava bombando. Olhei para com um sorriso nos lábios e ela me segurou pela mão, rumando à porta de entrada.
  - Bem vinda a sua primeira festa, . – Ela sorriu pra mim, abrindo a porta depois do nosso pequeno percurso.
  Nós duas entramos e o meu sorriso só fez aumentar. O lugar era ainda mais bonito do lado de dentro. Perto daquela casa, a minha não era nada. Tenho certeza que me perderia entre aqueles corredores se morasse lá. Olhei em volta e pessoas que eu não conhecia cumprimentavam e acabavam se apresentando a mim.
  - Eu não sabia que você era tão popular... – Sussurrei pra ela, apertando a mão de uma menina chamada Amanda ou algo assim.
  - Cola em mim que é sucesso, baby. – Ela riu, pegando duas taças com uma bebida vermelha em cima da bandeja de um garçom que ia passando e me entregou uma. – Vem, o Nialler tá esperando a gente perto da piscina.
  - Meu pudincup! – Brinquei, recebendo um biliscão. – Isso dói!
  Caminhamos até a área da piscina sendo interrompidas algumas vezes por mais pessoas que nos cumprimentavam ou perguntavam onde achamos nossos sapatos e bolsas. Aquilo era tudo novo pra mim, já que na França ninguém interagia tão abertamente como em Londres. Niall acenou assim que nos viu e caminhamos até onde ele estava. o beijou rapidamente e eu o abracei em seguida.
  - Gostando da festa, ? – Ele abraçou e eu bebi metade do líquido em minha taça.
  - Estou sim... Até agora está tudo ótimo. – Sorri para os dois apaixonados.
  - Quer dançar? – perguntou a Niall e eu. Ele balançou a cabeça afirmativamente e olhou pra mim. – Vamos, ?
  - Podem ir, pombinhos. Eu não vou atrapalhar. – Brinquei, esvaziando o meu copo. – Preciso de mais um desses.
  - Não exagere no cosmopolitan, mocinha. Seu irmão me mandou tomar conta de você. – Mandei um beijo pra ela e deixei os dois irem para a pista de dança.
  Eu já estava sozinha, como sabia que ficaria. Tentei não dar muita atenção àquilo, afinal, estava em um lugar maravilhoso. Ao lado da piscina ficava um jardim enorme, onde pessoas se agarravam pela grama, ou apenas curtiam o ar livre. Dentro da casa havia uma pista de dança que tomava conta da sala inteira. Em uma parte mais reservada eu encontrei o bar. Sei que atraí olhares quando passei, mas não dei importância.
  Me sentei em um dos bancos próximos ao balcão do bar e cruzei as pernas. Sempre com cuidado para não deixar o vestido subir demais, é claro.
  - Um Jagguerbomb, por favor. – Pedi ao barman, depois de dar uma olhada no cardápio de bebidas. Sim, aquela festa tinha até cardápios!
  - Dois. – Uma voz conhecida falou ao meu lado, me fazendo sorrir antes mesmo que eu olhasse pra ele.
  - Gostei da casa. – Falei, me lembrando da nossa conversa no meu quarto, ainda sem encará-lo. Tinha medo de olhá-lo e perder toda a minha linha de raciocínio.
  - Gostei das pernas. – Rebateu, me fazendo olhar pra ele. Zayn sorria daquele jeito sacana, se apoiando no balcão. Ele conseguia estar ainda mais lindo do que das outras vezes que eu o vira. Usava uma calça jeans escura um tanto quanto justa, uma camisa acinzentada colada ao corpo e uma jaqueta por cima de tudo. Nos pés, um tênis surrado. Estava ainda mais charmoso com os cabelos duplamente bagunçados. – Você está muito bonita, .
  - Obrigada, Malik. Você também não está nada mal. – Sorri pra ele.
  - Acho que eu devo começar a te chamar de Tomlinson, então. Porque você tem uma fixação por sobrenomes que eu vou te contar. – Ele riu divertido. O barman entregou as nossas bebidas e eu a recebi com um sorriso.
  - Eu acho sexy. – Disse como se fosse a coisa mais simples do mundo e dei o primeiro gole na minha bebida. O álcool era completamente disfarçado pelo gosto do suco de frutas. Aquela bebida era um perigo, já que eu poderia tomar várias seguidas e ficar bêbada sem nem notar.
  - Bom saber disso, francesinha. – Ele me acompanhou e deu um gole na própria bebida. – Onde está a sua amiga?
  - Com o seu amigo. Os dois estão dançando e eu estou aqui abandonada! – Dramatizei, bebendo mais um gole.
  - Você não está abandonada. Eu estou aqui com você. – Zayn se aproximou perigosamente, passando um braço em volta da minha cintura.
  - Está mesmo... – Para a minha sorte o banco era giratório, então foi fácil dar uma volta e me livrar do seu abraço. – Até a sua namorada aparecer e você ter que ir atrás dela.
  - Por que você sempre dá um jeito de falar nela? – Ele veio atrás de mim, já que eu estava saindo da área do bar. Zayn segurou a minha mão e me puxou pra perto dele.
  - Porque é perigoso demais pensar em você sem uma namorada. – Falei sem pensar. E eu não havia bebido tanto assim pra culpar a bebida. Culparia os olhos amendoados de Zayn então.
  - Então você pensa em mim? – Levantou uma sobrancelha, esperando a minha resposta.
  - Claro que penso. – Mordi o meu lábio inferior, brincando com o zíper da jaqueta aberta que ele usava.
  - E no que pensa? – Ele praticamente sussurrou, me envolvendo pela cintura com o braço livre mais uma vez.
  - Eu penso... Em como vai ser horrível esbarrar em você pelos corredores da academia. – Me desfiz do seu toque mais uma vez, por mais que cada centímetro do meu ser pedisse por mais.
  Voltei a andar em direção à pista de dança e o deixei lá, sem entender o que tinha acabado de acontecer. Pra ele deveria ser muito fácil conseguir qualquer uma que ele quisesse, mesmo tendo namorada, mas eu não seria uma delas. A pista de dança estava animada quando me juntei a e Niall. Ainda com o copo na mão, deixei “Give me everything” do Ne-yo me dominar e comecei a dançar. Meus amigos eram muito engraçados dançando. Eles se mexiam totalmente fora de sincronia, balançando os braços para o alto. Era uma cena tão engraçada que eu só fazia rir. Aos poucos a música foi diminuindo e o DJ saiu da sua mesa. Todos pararam de dançar, gritando e pedindo mais.
  - Acho que tá na hora... – disse para Niall e eu os olhei sem entender nada. – O Zayn deve estar vindo.
  - O que está acontecendo? – Perguntei a eles, mas não tive resposta. Continuei bebericando o meu Jaggerbomb, quase engasgando quando Zayn ocupou o lugar do DJ e colocou o headphone na cabeça.
  Antes que eu começasse a entender o que ele estava fazendo ali em cima, todos ao meu redor começaram a gritar “DJ MALIK. DJ MALIK” repetidamente. Mal consegui acreditar que ele ia realmente dar uma de DJ. Só continuei rindo e olhando-o pegar o microfone.
  - Como estão todos essa noite? – Ele começou, recebendo vários gritos em resposta. Inclusive o meu. – Espero que estejam se divertindo. A primeira música que eu vou tocar pra vocês hoje é dedicada para uma garota especial.
  - Aliás, onde está a Brigitte? – Perguntei a , já que não tinha sido perturbada pela presença da oxigenada a noite inteira.
  - Quem liga? – Ela riu. – E acho que a música não é pra ela.
   apontou discretamente para Zayn, que olhava diretamente pra mim. Então ele colocou “In my head – Jason Derulo” pra tocar e piscou pra mim. Eu não sabia o que fazer, então só sorri pra ele e levantei o meu copo em uma espécie de agradecimento. Eu ainda duvidada que a música fosse realmente pra mim, mas como falou... Quem liga?
  Deixei a música me levar mais uma vez e acabei fechando os olhos para absorver cada pedacinho da letra. “In my head I see you all over me. In my head you fulfill my fantasy.” (Na minha cabeça, eu te vejo em cima de mim. Na minha cabeça, você realiza a minha fantasia) Mexi o corpo de acordo com a melodia, deixando o meu quadril ir de um lado para o outro. Passei a mão livre pelos cabelos, bagunçando-os um pouco. Senti o meu copo sendo tirado da minha mão e abri os olhos vendo terminar a minha bebida. Fiz uma careta pra ela, que ignorou e apontou com a cabeça para um canto da sala. Assim que olhei na direção que ela tinha indicado encontrei um menino me encarando. Ele não era tão bonito quando Zayn, mas ainda assim era bonito. Ao notar que eu estava observando-o o menino sorriu e veio até onde eu estava.
  - Oi. – Ele falou ao meu ouvido, alto o bastante para ser escutado acima da música. – Me chamo Nicholas. Nicholas Hoult.
  - Tomlinson. – Foi a minha vez de falar ao ouvido dele, sorrindo. De perto seus olhos tinham um azul ainda mais forte.
  - Posso dançar com você? – Ele perguntou, sorrindo de volta.   Eu apenas balancei a cabeça em afirmação e “I like to dance” do Hot Chelle Rae começou a tocar. Sempre amei essa música! Me animei ainda mais e comecei a dançar em frente à Nick. Ele pareceu também conhecer a música, porque começou a cantar junto comigo. Nós dançávamos em sincronia e ele colocou as duas mãos na minha cintura, me olhando como se perguntasse: “Tudo bem se eu fizer isso?” e eu só sorri em resposta, dando-o liberdade. Seu toque era gentil, totalmente diferente do de Malik.
  Continuamos dançando animadamente por mais duas músicas inteiras. Já ganhando um pouco mais de intimidade, nós começamos a dançar mais próximos. Eu tinha os braços em volta do pescoço de Nicholas e ele me apertava na cintura, causando-me arrepios. Arrisquei alguns olhares na direção de Zayn e notei que ele fazia careta olhando pra Nick. Talvez com raiva por ele não ter conseguido o que Nick estava conseguindo.
  - Quer ir lá pra fora? – Nicholas falou na minha orelha. Fui pega de surpresa e um arrepio escapou.
  - O quê? – Ri sem entender o que ele estava falando.
  - Você... – E apontou pra mim. – E eu... – Apontou pra ele, me fazendo gargalhar da sua mímica. – Lá fora! Conversar. – Terminou apontando para as nossas bocas. Eu entendi o que ele quis dizer, mas fiz cara de espanto com o duplo sentido da sua mímica. – Não foi isso o que eu quis dizer...
  - Vamos! – O puxei pela mão antes que ele tentasse se explicar mais. Nicholas estava tão bonitinho achando que eu tinha entendido errado o seu convite que eu gargalhei mais uma vez.
  Saímos da pista de dança e fomos direto para o jardim ao lado da piscina. O gramado estava bem mais vazio do que antes, então foi fácil encontrar um bom lugar pra sentar. O céu estava nublado, não nos permitindo a visão das estrelas, mas ainda era um lugar bonito.
  - Acho que podemos conversar aqui. – Nicholas começou, sentando-se ao meu lado. – Você é estranha... Mas no bom sentido, é claro!
  - Como assim? – Olhei pra ele e encostei os cotovelos na grama gelada, esticando as pernas e ficando meio deitada.
  - Qualquer uma teria reclamado de sentar na grama e você está quase deitada nela! – Ele riu. – E o jeito que você dançava sozinha, sem se importar com mais ninguém... Eu não conseguia tirar os olhos de você.
  - Assim eu fico sem jeito! – Senti as minhas bochechas corarem com aqueles comentários e não consegui responder.
  - E você fica ainda mais linda toda vermelha. – Ele segurou o meu queixo e alisou a minha bochecha com o polegar. Preciso dizer que estava parecendo um morango? Minhas bochechas deviam estar pior que o meu batom.
  - Para com isso, Nicholas! – Mordi meu lábio inferior por causa do seu carinho e ri nervosa.
  Fechei os olhos assim que o rosto dele começou a se aproximar do meu e chegar perto o bastante para que nossas respirações se confundissem. Sei que mal o conhecia e não devia sair por aí beijando meninos em festas, mas eu estava ali pra curtir.
  - ACHEI VOCÊS. – Um Niall bêbado nos assustou, fazendo Nick se afastar na mesma hora.
  - Niall! – Resmunguei quando ele praticamente se jogou em cima de mim. – Cadê a sua namorada, Niall?
  - Procurando você. – Ele fez um biquinho, deitando a cabeça na minha coxa e brincando com a barra do meu vestido. Olhei para Nicholas como se pedisse desculpas e ele só riu.
  - Por que você não vai contar pra ela que me achou, huh? – Tentava fazê-lo ir embora, mas nada parecia dar certo.
  - Eu estou atrapalhando alguma coisa? – Ele nos olhou e começou a rir. Rir não... Gargalhar! Como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Bêbados são muito chatos quando você não está bêbada também.
  - Não é isso, Nialler... – Tentei desconversar, mas Nick se meteu.
  - Está sim. – O olhei incrédula, mas seu olhar era tão inocente que me fez rir. Uau, eu estava rindo muito.
  - Shhhh! – A essa altura eu já estava sentada e escondia o rosto com as mãos.
  - Aí estão vocês! – logo se juntou a nós, me fazendo revirar os olhos. Mais uma pra atrapalhar!
  - Amor, amor, amor! – Niall a chamou. riu da cara que eu estava fazendo, mas não tirou o namorado de cima de mim. – Adivinha.
  - Não sei, meu amor. O que é?
  - Ele ia beijar a . – E mais uma vez disparou a rir, me dando vontade de matá-lo. olhou de mim para Nick e sorriu sapeca.
  - Desculpa por isso, Nick. – Continuava com o rosto escondido.
  - Não tem problema, . Eu ia mesmo te beijar. – O olhei por uma brecha entre os meus dedos e constatei que ele estava me olhando e sorrindo.
  Fomos interrompidos quando um grupo de garotas correu até onde estávamos e gritou que todos deviam ir para a área da piscina. Logo todos levantamos e seguimos para lá, aproveitando que o jardim não ficava tão longe da piscina. O espaço era grande, então todos se aglomeraram em um circulo em volta de Brigitte, que estava com o microfone na mão. Ela parecia animada com alguma coisa. O que mais me espantou foi a roupa que ela estava usando... Era o vestido vermelho que havia insistido para que eu usasse. Nós duas trocamos olhares significativos e eu sorri por não ter comprado uma roupa igual à dela.
  - Como todos sabem... Mais um semestre vai se iniciar nesta segunda feira. – Brigitte falava, com uma mão na cintura e o microfone na outra. – Quem está animado?
   Muitos gritaram, mas eu apenas a encarei, com os braços cruzados. tentava conter Niall que não parava de bater palmas. Pude sentir Nick ao meu lado, roçando os dedos pela minha mão; provavelmente com vergonha de segurá-la.   - Bem... Eu não podia deixar de dar as boas vindas a uma pessoa em especial. – Aquilo não me cheirava bem. – ? Você pode vir aqui, por favor?
  Fiquei parada. Nada daquilo fazia sentido. A menina nunca foi com a minha cara e de repente queria me dar às boas vindas? Todos começaram a me olhar e me encorajar a andar até a loira, mas eu me mantive parada, como se não fosse comigo. “Ela ta te chamando, Tah”, escutei Niall falar. Duas meninas quase idênticas a Brigitte andaram até onde eu estava e me puxaram. Vendo que eu não teria muita escolha, fui até onde ela estava.
  - Aqui está ela! – Sorriu com falsidade.
  - O que você quer? – Perguntei secamente. Um canhão de luz foi focado em mim e eu fiquei cega por uns instantes. Senti todos os olhares em mim e aquilo me incomodou. me olhava preocupada, Nicholas tentava entender o que estava acontecendo e Niall estava bêbado demais pra prestar atenção em qualquer coisa. Minha íris procurava Zayn em meio à multidão, até que o encontrei um pouco afastado de todos.
  - Espero que tenha gostado da sua primeira festa, querida caloura. – Tentava ser simpática ao microfone, mas eu sabia que era pura fachada. O seu sussurro seguinte provou que eu estava certa: - Porque ela acaba aqui.
  E antes que eu pudesse entender, ou perceber, senti uma montanha de lixo sendo despejada sobre mim. As mesmas duas meninas que me puxaram até ali estavam virando um balde de lixo enorme na minha cabeça. Eu não sabia o que fazer... Estava paralisada. Sentia copos de cerveja sendo derramados em mim e molhando o meu cabelo e vestido, restos de comida escorrendo pelos meus braços. Sem falar que o cheiro que estava terrível! Mas o pior ainda veio depois; as risadas. Eu sentia que todos a minha volta estavam rindo e apontando pra mim. Aquela humilhação era demais. Senti vontade de chorar de raiva, mas não daria aquele gostinho à Brigitte. Juntei o pouco de força que ainda tinha e saí correndo dali o mais rápido que consegui. Não olhei pra ninguém, muito menos parei pra procurar os meus amigos. Fiz meu caminho entre a multidão e voltei para a sala, onde a pista de dança improvisada estava vazia. Claro, todos haviam parado pra assistir o show.
  Tranquei-me no banheiro assim que o achei. Encostei-me na parede e assim que olhei pra frente vi o meu reflexo no espelho. Meu vestido estava completamente estragado, já que as manchas de comida não sairiam de jeito nenhum. Meu cabelo tinha pedacinhos de batata frita e algo amarelado que eu nem queria saber o que era. Estava horrível e cheirando mal. Escutei uma batida na porta e a voz de me pedindo pra abrir. Eu não agüentaria ficar mais nenhum segundo naquela casa.
  - ? Você está bem? – Ela me olhou preocupada assim que eu abri a porta.
  - Eu estou indo embora, . – Comecei a andar em direção à porta, tentando ignorar os olhares que me seguiam.
  - Claro! Eu te levo. – me seguia.
  - Não. Você vai ficar com o Niall, porque ele está bêbado demais. – Parei para abrir a porta da casa. – Eu já liguei para o meu irmão e ele está vindo me buscar. Eu só vou andar até a esquina e espero lá. O Louis não vai demorar. – Menti, mas era a única forma de fazê-la ficar.
  - Então tudo bem, ... – Ela lamentava muito e eu sabia disso. – Me ligue quando chegar em casa, ok?
  Eu balancei a cabeça em afirmação. Antes de chamar mais atenção ou Brigitte aparecer, saí da casa. O céu estava ainda mais fechado e começava a chuviscar. Corri pelo jardim de entrada, cansada de lutar contra as lágrimas e deixando-as rolarem pelo meu rosto. Procurei o celular na minha bolsa, me amaldiçoando por não ter nenhum número de taxi salvo na minha agenda. O jeito seria ligar para Louis, mesmo ele estando em uma festa. O pior é que ainda era cedo demais e eu acabaria atrapalhando-o. Disquei o seu número o mais rápido que pude e esperei, torcendo para que ele atendesse.
  - ? Você não devia estar em uma festa? – A voz dele estava animada e eu podia escutar a música tocando ao fundo.
  - Lou... – Funguei, antes de começar a falar. – Vem me buscar... Por favor...
  - Você está chorando? O que houve? – Ele estava preocupado e eu percebi que se afastou de algumas pessoas, porque o barulho diminuiu. – , fala comigo, alguém te fez alguma coisa?
  - Só vem me buscar, Lou. Por favor. – Um trovão me fez estremecer e os pingos de chuva começavam a ficar mais grossos.
  - Tudo bem, eu estou indo... HARRY. Chama o Liam, nós temos que ir. – Louis gritou. – Você está na rua? Está sozinha?
  - Estou sim... – Não conseguia parar de chorar, muito menos falar mais que uma palavra ou outra.
  - Fique aí, . E tome cuidado. Qualquer coisa me ligue, mas eu já estou a caminho...
  Desligamos. Eu estava quase no final da rua quando resolvi parar de andar. Apenas sentei no meio fio e tirei meus sapatos. Sentia meus pés latejarem de dor. Deixei as minhas lágrimas se confundirem com os pingos de chuva que me deixavam encharcada e meia hora depois vi o carro de Louis se aproximar.

Capítulo X

  Eu estava em uma sala escura e não sabia exatamente como tinha chegado lá. Comecei a tatear o que devia ser uma parede, procurando algum interruptor ou coisa parecida. Todo aquele escuro estava me deixando louca. Não achei o que estava procurando, mas minha mão bateu em um tipo de maçaneta, a qual eu logo girei na esperança de conseguir abrir. E de fato consegui... Mas uma forte luz atingiu os meus olhos e me impediu de ver qualquer coisa. Levei as mãos até os olhos e gemi de dor. “Olá?” eu tentava falar, mas a minha voz saía rouca demais. O silêncio logo começou a ser preenchido por gritos, palmas e risadas, muitas risadas. Meus olhos foram se acostumando com a claridade e eu pude ver que estava cercada por rostos flutuantes que riam de mim. Eu não reconhecia a maioria das pessoas, mas os rostos dos meus amigos estavam lá. zombava de mim ao lado de Liam e Niall. Meu irmão e Harry apontavam pra mim e faziam piadinhas. Brigitte me olhava daquele jeito: “Eu sou superior” e de fato era mesmo; pelo menos naquele momento. A última cabecinha que apareceu na minha frente foi a de Zayn. Ele gargalhava e fazia caretas, se aproximando de mim. “Rainha do lixo”, ele repetia sem parar. Eu não sabia o que fazer; não conseguia pensar em nada. Tentava gritar, mas as lágrimas que saiam dos meus olhos me impediam de emitir qualquer som. Meus pés criaram vida e começaram a dar passos para trás, voltando para o quarto escuro. Qualquer lugar seria melhor que aquele... Ou pelo menos era o que eu achava. Assim que consegui achar a porta novamente, abri-a e dei um passo para dentro sem perceber que o chão não estava mais lá. Perdi o equilíbrio completamente fui engolida pela escuridão que me puxava e me fazia cair cada vez mais rápido. E eu estava gritando, disso tenho certeza.
  - ! – Escutei a voz do meu irmão, mesmo que estivesse distante.
  - NÃO. NÃÃÃO! PARA! SOCORRO! – Senti mãos saírem da escuridão e me balançarem, me apertando e me machucando.
  - Acorda, ! Você está tendo outro pesadelo... – Louis sussurrava com a voz chorosa, me fazendo retomar a consciência aos poucos. Eu notei que estava gritando de verdade e me debatendo na minha cama.
  - Lou... – Finalmente abri os olhos e puxei Louis para um abraço. Ele me envolveu com carinho e eu escondi o rosto em seu pescoço. Estava assustada e ainda chorava um pouco.
  - , está tudo bem agora... – Ele tentava me confortar, acariciando os meus cabelos.
  Depois que ele e os meninos me buscaram na esquina, contei para eles o que havia acontecido. Tudo desde a música que Zayn supostamente dedicou a mim até o acontecido que me fizera deixar a festa antes das três horas da manhã. É claro que eles não se perdoaram por não estarem lá comigo e Louis tentou fazer volta para tirar satisfações com Brigitte algumas vezes, mas eu o impedi. O caso é que eu nunca havia sido tão humilhada, principalmente por não ter feito nada àquela garota. Claro que quando ela me provocava eu devolvia. Afinal, não tenho sangue de barata. Devo ter passado duas horas no chuveiro pra me livrar do cheiro e dos restos de comida, sem falar que meu vestido já estava no lixo. Por sorte consegui salvar meus sapatos e minha bolsa de mão, mas não conseguia dormir direito. Aquela era a segunda vez que meu irmão ia até o meu quarto e me acordava porque eu estava gritando.
  - Que horas são? – Perguntei ao limpar as minhas lágrimas nas costas da minha mão.
  - Já passa das quatro da tarde, . – Ele beijou a minha testa assim que eu desfiz o abraço e o olhei envergonhada.
  - Pelo menos eu consegui dormir um pouco mais dessa vez. – Forcei um sorriso.
  - Você devia ligar pra ... Ela me disse que você não atende o celular. – Louis segurou a minha mão, fazendo um carinho com o polegar. – Ela está preocupada.
  - Eu não quero falar com ninguém, Lou.
  - Tudo bem, pequena. Está com fome? – Balancei a cabeça, respondendo que não. – Você tem que comer alguma coisa ainda hoje. Escutou, né?
  Balancei a cabeça em afirmação e ele se levantou da cama, saindo do meu quarto após informar que já voltaria para ver como eu estava. Continuei sentada na minha cama, mas me estiquei para pegar o meu iPhone em cima da mesinha de cabeceira. Doze chamadas não atendidas de , três de Niall e sete de Zayn. Eu realmente não acreditava que este último estivesse preocupado comigo, já que a namorada dele era a culpada dos meus pesadelos. Eu também tinha novas mensagens:

“Star, você não me ligou ainda. Já chegou em casa?” – 03:45
“Tah, eu preciso falar com você... Me diz se está bem?” Zayn – 04:07
“Eu estou preocupada. Por favor dê um sinal de vida.” – 04:10
“Acabei de ligar para o seu irmão e ele disse que você já está dormindo. Pelo menos eu sei que está viva, mas me ligue assim que acordar!” – 06:30
“Por que você não me atende?” Zayn – 13:20
“Star Tomlinson, eu desisto de falar com você hoje. Passo aí pra te buscar amanhã antes da aula?” – 15:44

  Apenas respondi essa última mensagem de falando que Louis me levaria à aula antes de sair para o trabalho e que eu estava bem, mas pedi pra ela não me ligar. Dei a desculpa que a chuva havia me deixado com a garganta ruim, então doía pra falar. Garanto que ela não acreditou, porém, respeitou o meu pedido.
  Louis logo voltou para o quarto como havia prometido, mas ele não estava sozinho. Liam e Harry vieram logo atrás, trazendo um violão. Eu não entendi nada, pra variar. Liam se sentou na minha cama, de frente pra mim, e colocou o violão em seu colo. Aparentemente ele ia tocar algo. Harry e Louis trocavam olhares e sorriam, ficando de pé atrás de Liam.
  - O que vocês estão fazendo? – Perguntei.
  - Não aguentamos mais ver você assim, . – Lou começou.
  - Nós sentimos falta do seu sorriso... – Liam continuou.
  - Então achamos que uma música poderia te alegrar. – Harry terminou.
  Eu apenas afirmei com a cabeça que eles poderiam dar início a o que quer que eles estivessem planejando. Mesmo achando que nada poderia me animar, eu estava ansiosa para ouvir o que aqueles três garotos tinham preparado pra mim. Liam começou a dedilhar o violão e eu descobri na mesma hora qual era a música que eles iriam cantar. “I’ll be ok” da minha banda preferida – McFly - começou em uma versão acústica e mais lenta.
  - When everything is going wrong and things are just a little strange… (Quando tudo está dando errado e as coisas estão um pouco estranhas) It’s been so long now you’ve forgotten how to smile. (faz tanto tempo agora que você se esqueceu de como sorrir) – Liam começou cantando, olhando diretamente pra mim e sorrindo. Um pequeno sorriso também começou a se formar nos meus lábios. – And overhead the skies are clear, but it still seems to rain on you. (E o céu acima está claro, mas ainda parece chover em você) And your only friends all have better things to do… (E todos os seus únicos amigos tem coisas melhores pra fazer)
  - When you’re down and lost and you need a helping hand, when you’re down and lost along the way… (Quando você está pra baixo e perdida e precisa de uma ajuda, quando você está pra baixo e perdida no caminho) – Os outros dois se juntaram à Liam e a harmonia entre eles era tão perfeita que eu cheguei a ficar arrepiada. – Oh, just tell yourself: I’ll be ok! (Oh, apenas fale para si mesma: “Eu vou ficar bem”)
  - Now things are only getting worse and you need someone to take the blame… (Agora as coisas estão apenas piorando e você precisa de alguém pra levar a culpa) – Foi a vez de Harry cantar sozinho, enquanto Liam ainda tocava e Louis começava a mexer o corpo. Acho que ele devia estar tentando dançar. - When your lover is gone, there’s no one to share the pain... (Quando o seu amante se foi, não há ninguém pra divider a dor)
  – You’re sleeping with the TV on and you’re lying in an empty bed. (Você está dormindo com a TV ligada e está deitada emu ma cama vazia) All the alcohol in the world will never hep me to  through it again… (Todo o álcool do mundo nunca me ajudaria a passar por isso de novo) – Louis cantou, ainda dançando.
  Mais uma vez o refrão começou e os três cantaram juntos e animadamente, me fazendo rir. Cada palavra daquela música parecia remendar um pedacinho do meu machucado. Não adiantava eu ficar ali me lamentando, já que o tempo não iria voltar atrás e eu não poderia mudar o que já tinha acontecido. Sim, eu ficaria bem.
  - When you’re down and lost and you need a helping hand. (Quando você estiver pra baixo e perdida e precisar de uma ajuda) When you’re down and lost along the way just try a little harder, try your best to make it though de day. (Quando você estiver pra baixo e perdida no caminho, tente um pouco mais. Tente o seu melhor pra superar esse dia) Oh, just tell yourself: “I’ll be okay!” (Oh, apenas diga para si mesma: “Eu vou ficar bem.”) – Os meninos cantavam com intensidade, como se quisessem fazer aquelas palavras entrarem na minha cabeça de qualquer jeito.
  - You’re not alone... (Você não está sozinha) – Liam puxou.
  - You’re not alone... (Você não está sozinha) – Harry em seguida.
  - You’re not alone… (Você não está sozinha) – Meu irmão apontou pra mim, arrancando outra risada minha. – Just tell yourself: I’ll be okay... (Apenas diga para si mesma: “Eu vou ficar bem.”)
  E assim eles encerraram a música. Fiquei de joelhos na cama e comecei a bater palmas. Os sorrisos nos rostos deles eram enormes e bobos. Eu estava tão feliz que nem parecia que havia passado a manhã inteira chorando e me lamentando por uma besteira. Todo o meu medo de ir para a aula no dia seguinte tinha ido embora. Aquilo era o que Brigitte queria; me enfraquecer, me amedrontar. Mas ela não conseguiria, eu não a permitiria. Porque ela poderia fazer de tudo. Poderia me humilhar quantas vezes quisesse, me provocar e até se exibir, porque eu não abaixaria a cabeça. Eu tinha meus três melhores amigos ali comigo e podia contar com eles para me ajudar a levantar. Tinha certeza que e Niall também me apoiariam. Eu realmente não estava sozinha e iria ficar bem. Eu entraria na academia como se nada tivesse acontecido e dançaria como se eu fosse a única pessoa na sala. O meu talento ninguém iria tirar de mim, muito menos entrar no meu caminho. Como meu avô falou... As pessoas iam tentar me derrubar, mas eu não deixaria. Eu continuaria forte.
  - Obrigada... – Agradeci a cada um deles. Liam deixou o violão de lado e os outros dois também se sentaram na cama.
  - Abraço em grupo! – Lou teve essa brilhante idéia e eu praticamente me joguei entre eles. Fizemos uma bagunça enorme, mas acabamos nos abraçando todos ao mesmo tempo.
  - Je t’aime, guys... – Falei com sinceridade.

+++

  A segunda feira chegou logo e eu me preparava para o meu primeiro dia de aula na London Royal Academy. Lou havia acordado mais cedo pra fazer o café da manhã, mas acabou sujando a cozinha inteira e só conseguiu cozinhar algumas panquecas queimadas. Até que estavam gostosas se você conseguisse raspar as partes pretas... O que era uma tarefa muito difícil.
Pelo menos eu estava alimentada e pronta pra sair.
  - Hey, ho, let’s go! – Desci as escadas cantarolando.
  - Alguém acordou de bom humor. – Louis abriu a porta de casa pra mim e me entregou a minha chave. Como eu voltaria pra casa antes deles, não seria legal ficar trancada do lado de fora. – Bom dia, sunshine!
  - Bom dia, Boo bear. – Mandei beijinhos para o ar e abri os braços ao ver Liam vindo me abraçar quando eu passei pelo caminho de pedra e andei de encontro a ele. – E bom dia, pumpkin!
  - Ganhei apelido de comida? – Liam riu, abrindo a porta do carro para eu entrar, depois de me abraçar forte. – Então bom dia, porkchops.
  - PORKSHOPS? – Gargalhei alto, mas ainda era uma reclamação. – Eu te chamei de uma coisa fofa e você me chama de costelinhas de porco?
  - Minha little carrot! – Louis se juntou a nós no carro e o meu humor estava tão bom que eu até gostei daqueles apelidinhos.
  Passamos o caminho inteiro brincando e rindo. Até expliquei a Liam a hierarquia da nossa família e ele pareceu entender direitinho que eu era a duquesa, Lou era Sir Tomlinson - o magnífico, e Harry: Sir Styles - o maravilhoso; ambos eram meus fiéis escudeiros. Sim, era ridículo e todos sabiam disso. Mas essa era uma daquelas brincadeiras de criança que acabam ficando para o resto da vida. Liam quis entrar na onda, mas meu irmão disse que ele teria que merecer o título real. Eu estava rindo muito quando Louis estacionou o carro na frente da Academy. Antes que eu pudesse descer do carro, Liam foi até a minha porta e a abriu.
  - Duquesa. – Ele me ajudou a descer, fazendo-me rir ainda mais.
  - Merci, Sir Liam. – Desci e fiz uma reverencia em agradecimento. – Vejo vocês mais tarde, ok? Bom trabalho.
  - Boa aula, ! – Os dois gritaram quase ao mesmo tempo e eu os esperei partir para então seguir o meu próprio caminho.
  Arrumei a mochila em meu ombro e me virei para a academia, seguindo em direção às escadarias. Antes que eu chegasse ao terceiro degrau, avistei uma cabeleira ruiva sentada no topo da escada. Ao seu lado estava uma figura loira que eu conhecia muito bem.
  - Hey, bitches. – Os cumprimentei, me aproximando.
  - ! – parecia espantada com o meu bom humor, porque não parava de me encarar. – Você está bem?
  - Estou ótima, babe. Porque não estaria? – Sorri e a ajudei a levantar.
  - Ahn, eu não sei. Talvez por ter sumido ontem o dia todo?! – Ela bufou.
  - O que importa é que hoje eu estou bem, ok? – A puxei para um abraço apertado. Por mais incrível que parecesse, nós nos conhecíamos há apenas uma semana. Eu tinha me apegado àquela pequena cabecinha de fogo tão rápido que chegava a ficar assustada.
  - Oi, ... – Niall também levantou de onde estava sentado e parecia envergonhado.
  - Hey, Nialler. Tá tudo bem?
  - Ele está envergonhado porque não se lembra de nada do sábado. – riu, acariciando a bochecha do namorado e fazendo uma cara engraçada.
  - E você devia estar envergonhado mesmo! – Fiz um movimento exagerado, assustando-o. – Me impediu de dar uns beijinhos.
  - A poderia estar namorando agora, Niall. – Minha amiga se juntou a mim e o loiro tentou se desculpar.
  Começamos a rir e eu puxei os dois pelo braço, já que não queria estar atrasada para a minha primeira aula. e eu teríamos a tal aula em grupo e eu estava nervosa, mesmo que tentasse não demonstrar. Nick estaria nessa aula e Brigitte também, o que não seria muito agradável. Para a minha sorte, sabia exatamente onde ficava a sala, nos poupando tempo nos corredores. Niall ficou pelo caminho, na sua própria sala, e nós duas corremos até o andar térreo.
  Por sorte conseguimos chegar a tempo ao nosso destino. O salão de dança era maior do que qualquer sala de ballet que eu já tivesse visto. Deviam caber umas 200 pessoas lá dentro. Todas as paredes eram cobertas por espelhos. Em um canto estava um piano de cauda e em outro canto havia barras de ballet com rodinhas. O chão era coberto por uma madeira escura e bem encerada que faria as sapatilhas deslizarem. me puxou para uns bancos próximos à porta, onde deveríamos deixar as nossas coisas.
  - Algum sinal da oxigenada? – Perguntei em um sussurro, tirando as minhas roupas e revelando a meia-calça rosa claro e o collant de mesma cor que eu já usava por baixo. Peguei uma saia de seda preta e amarrei na cintura. Troquei os sapatos por uma sapatilha sem ponta e arrumei meu cabelo em um coque perfeito.
  - Nenhum... – olhou em volta antes de parar a íris em mim. – E olá, bailarina.
  - Idiota. – Senti o seu olhar me medindo e estudando o meu “uniforme”. Ela se apressou em tirar as roupas e se preparar para a aula. Notei o quanto a sua roupa de dança era diferente da minha. usava uma calça legging que ia até a metade da canela e algo que deveria ser um vestido um pouco mais colado na parte do tronco e rodado na parte da ‘saia’; todas as peças na cor preta, incluindo as sapatilhas. Os cabelos presos em um rabo de cavalo desleixado caíam próximos à nuca. – Você realmente está no curso errado, .
  - Eu sei! – Ela gargalhou e eu só balancei a cabeça em reprovação.

+++

  A primeira aula foi muito boa e passou rápido até demais. Brigitte chegou atrasada, então não pode entrar na sala, o que me deixou muito feliz. Não porque ela seria prejudicada, mas porque assim eu teria um pouco de paz. Nick apareceu a tempo de poder entrar e trocamos olhares e sorrisos em alguns momentos durante a aula. Eu estava tão concentrada que muitas vezes não escutava nem os chamados de . O professor Hofstheder era muito exigente e severo, mas me elogiou algumas vezes, fazendo umas meninas entortarem o nariz pra mim. É claro que eu não dei importância pra nenhuma delas e continuei com as minhas piruetas. Essa aula consistiu em apresentarmos o que a gente sabia para que o professor pudesse analisar o nível de experiência da turma inteira, já que todos os alunos de todos os níveis estavam juntos em um canto só. Aquilo deveria servir para avaliar se os alunos novos seriam capazes de acompanhar os mais adiantados e vice versa.
  Na hora do intervalo, fui me vestir no banheiro do primeiro andar e me deixou sozinha, alegando que “não iria colocar a roupa normal se teria que se fantasiar novamente para a próxima aula”. Pra ela era fácil, já que estava usando um vestido e uma calça. Já eu, estava de meia calça e collant. De certa forma ela tinha razão, porque seria perda de tempo trocar de roupa completamente. Então apenas transformei o coque em um rabo de cavalo frouxo e me enrolei no meu sobretudo. Tirei as sapatilhas e calcei os sapatos no lugar. Dei uma olhada no meu reflexo no espelho e sorri. Eu estava ali... Eu estava em Londres, estudando onde sempre sonhara. Tudo parecia estar no lugar certo.
  Deixei o banheiro com um sorriso nos lábios e nem notei que Zayn me esperava do lado de fora.
  - , espera! – Ele me chamou e eu me virei em sua direção.
  - Ei, Zayn. – Não desfiz o sorriso, mas estava receosa.
  - Tem um minuto? – Zayn passou a mão pelos cabelos e eu afirmei que sim. Caminhamos até perto de umas janelas e ele continuou: - Eu estava preocupado com você, porque não me atendeu ontem...
  - Não precisava se preocupar. Eu estou bem, Zayn, juro.
  - Eu sinto muito pelo que aconteceu. Aquela não era a forma que eu queria que a noite acabasse. – Eu podia ver a sinceridade em seus olhos.
  - Também não era o que eu queria, acredite. – Olhei em volta procurando Brigitte involuntariamente. Eu era forte, mas não queria mais problemas pro meu lado. – Eu tenho que ir, ok?
  - Eu terminei com ela. – Zayn disse assim que eu comecei a andar, me fazendo parar no mesmo instante. – Logo depois que você foi embora.
  - Poxa, eu sinto muito... Tá, não sinto. – Nós dois rimos. – Eu nunca entendi porque vocês estavam juntos, aliás.
  - Eu também não, pra falar a verdade. Acho que só aconteceu. – Ele deu de ombros.
  - Você merece alguém melhor, Zayn. – Sorri e passamos a caminhar em direção ao refeitório.
  - Você está me assustando, francesinha. Não me chamou de Malik ainda. – Zayn sorriu e passou um braço em volta dos meus ombros.
  - Olha a intimidade, Malik. – Me desvencilhei de seu abraço e fingi estar brava, mas é claro que ele não acreditou.
  - Como foi a primeira aula? – Ele sorriu se contentando em apenas andar ao meu lado.
  - Foi ótima... Melhor até do que eu esperava! – Contei animada. – E eu até gostei do professor Hofstheder, que todos dizem ser um carrasco.
  - Eu lembro que reclamava bastante dele... Mas que bom que você gostou, porque ele é um dos professores mais antigos daqui e não pretende ir a lugar nenhum por um bom tempo. Pelo menos é o que eu escuto por aí.
  - E como foi a sua primeira aula? Cantou muito? – Perguntei sorrindo. Era impossível não sorrir ao lado dele.
  - Na verdade, essa minha aula não teve nada a ver com canto. – Ele explicou. – Só piano.
  - Piano? Sério?
  - Sim... Eu costumava tocar só violão, mas já aprendi tudo que podia. Então resolvi melhorar as minhas habilidades no piano.
  Logo chegamos ao refeitório e nos juntamos aos nossos amigos; que ocupavam uma mesa mais ao canto. Como qualquer escola ou faculdade aquele refeitório possuía grupinhos que podiam ser diferenciados com apenas um olhar. Não prestei muita atenção, mas tratou de me explicar como funcionava a “pirâmide” da LRA. No caso, o primeiro nível da pirâmide era onde os primeiranistas e os losers eram classificados. No meio estavam aqueles que conseguiam se dar bem, mas não ligavam tanto para status, ou não tinham o potencial de se destacar entre os outros. No topo, como já era de se esperar, os populares. Que incluíam Niall, Zayn, Brigitte e a própria . Isso explicava todos os olhares na direção dos meninos e toda as meninas que cumprimentavam nos corredores. Eu achava que estava no “primeiro nível”, por aquele ser meu primeiro semestre, mas a ruiva me explicou que eu estava pelo menos no meio, por andar com os populares. Como eu realmente não ligava pra nada daquilo, dei de ombros e peguei uma maçã que estava na bandeja de Niall. Como ele tinha ido buscar um guardanapo para a namorada, não viu.
  - , COLOCA DE VOLTA! – se desesperou, me assustando.
  - Por quê? O que eu fiz de errado? – Coloquei a maçã no lugar, espantada.
  - Eu não acho que ela estava aí... Ele vai notar. – Zayn girou a maçã, tentando colocá-la na posição original.
  - Gente, sério, qual o problema?
  - Niall não divide comida. – Zayn me entregou a maçã que estava na própria bandeja. – Com ninguém.
  - Uma vez nós brigamos porque eu peguei uma uva de seu prato. – balançou a cabeça e Niall se juntou a nós na mesa.
  - Quem mexeu na minha comida? – Ele nem ao menos sentou antes de perguntar.
  - Ninguém, Niall. Deve ser impressão sua... – Zayn disfarçou e eu dei uma mordida na maçã que ele me entregou, como se não soubesse de nada.
  Terminamos de comer e deixamos o refeitório para ir à busca de nossas salas. Os meninos teriam essa aula juntos, então seguiram para a esquerda. Eu e fomos pela direita. A aula era de “dança contemporânea” e a professora parecia um amor de pessoa. Tirei meu casaco e calcei as sapatilhas.
  - Me disseram pra ficar de olho em você. – Holly, a professora e diretora do curso, se aproximou de mim enquanto eu guardava as minhas coisas em um banquinho de madeira.
  - Sério? Por quê? – Fiquei preocupada.
  - Oh, não se preocupe, querida. Não é nada ruim. A Agnes me mandou prestar atenção em você. – Ela piscou pra mim. – Não me decepcione!
  - Não irei... – Sorri para ela.
  A professora se afastou e foi até o aparelho de som. Trocou os CDs e eu e caminhamos até o centro da sala, de frente para os espelhos. Holly colocou a música para tocar e eu me espantei. “Hips don’t lie” da Shakira não era exatamente o que eu esperava. riu da minha cara de espanto.
  - Quero ver a bailarina rebolar agora. – Continuou rindo de mim. Que ótima amiga, não?
  - Bom dia, alunos. – Sim, alunos. Porque na minha sala de quinze pessoas, cinco eram homens. – Bem vindos à primeira aula de dança contemporânea. Aqui vocês vão aprender que não é importante serem bailarinos... E sim dançarinos. Espero que vocês sintam-se à vontade para mexer o esqueleto.
  A professora nos deu as boas vindas e explicou mais ou menos como as coisas funcionariam. já começou a dançar antes mesmo da professora mandar e eu só fazia rir.
  - Essa primeira aula vai ser mais livre. – Holly informou, começando a andar pela sala. – Então podem se soltar... Mas não tanto, . Podem formar duplas, trios... A sala é de vocês.
  E com isso, ela se calou. A música acabou, deixando “Whenever, wherever” da mesma cantora ter início. Eu conhecia esse estilo e adorava dançá-lo. O problema era que eu costumava dançar sozinha no meu quarto e não na frente de outras pessoas.
  - Vem, . Vamos dançar perto da janela... – me puxou e me arrastou com ela.
  - Perto da janela? Tá doida? E se alguém ver?
  - Ninguém vai ver, boba. – Ela já começara a dançar, mexendo o corpo de um lado para o outro.
  Notei que o olhar da professora estava em mim, então tratei de me mexer. Não iria decepcioná-la. Fechei os olhos e deixei a música entrar em mim, assim como havia feito na festa do sábado passado. Antes que percebesse, meu quadril já estava indo de um lado para o outro e meus pés se mexendo pelo chão. me imitou e nós duas rimos. No ritmo da música, mexi os braços na frente do meu corpo, como se fosse uma espécie de onda.
  As músicas foram passando e eu me soltava cada vez mais. Quando vi, eu estava girando no meio do salão com os braços abertos e um sorriso no rosto. A aula havia acabado e os alunos começavam a ir embora, mas eu continuava perdida nas batidas da música La Tortura, de frente ao espelho. também já tinha parado de dançar e começava a juntar as coisas. Holly pareceu perceber que só eu dançava e se juntou a mim. Ficamos lado a lado e ela acompanhava os meus movimentos. Aquilo era muito estranho, afinal, ela era a professora ali.
  - Você tem pique, hein, garota? – Holly e eu paramos de dançar quando o CD acabou.
  - Eu amo dançar... Não tenho culpa! – Eu ri e ela sorriu.
  - Isso é muito bom. Mas acho que tem alguém te esperando. – E ela apontou para a porta.
  Eu me virei e dei de cara com uma carrancuda e dois meninos rindo atrás dela. Provavelmente Zayn estava tirando com a cara dela e Niall acabou rindo. É claro que eu também comecei a rir da cara que ela estava fazendo, sem nem saber o que tinha acontecido. Peguei as minhas coisas e voltei a me enrolar no sobretudo e guardar as sapatilhas na mochila.
  - Hey, deixem a minha pequena em paz! – Passei o braço em volta dos ombros da minha amiga e saí andando, fazendo os outros dois nos seguirem.
  - Me protege, . Eles estão dizendo que eu dancei como uma pata choca. – Ela explicou, mas eu comecei a gargalhar sem parar, fazendo-os rirem ainda mais e ela se soltar de mim. – Até você?
  - Desculpa, linda. – Tentava controlar as minhas risadas, mas estava difícil.
  - Não vou te dar carona nunca mais! – Bufou.
  - Não tem problema, eu dou carona a ela. – Zayn sorriu pra mim daquele jeitinho cheio de segundas intenções.
  - , me desculpa! Por favor, não me deixa ter que depender dele! Eu não quero ter que entrar naquele carro. – Foi a vez de rir e Zayn ficar emburrado.
  - Ei! O que você tem contra o meu carro? – Ele parecia indignado.
  - Eu não gosto de pensar no que pode ter acontecido naqueles bancos. Ew. – Começamos a andar em direção à saída.
  Zayn não se defendeu, até porque ele devia saber que eu tinha razão. E eu não conseguia mais esperar a chegada do meu carro; odiava ter que depender dos outros, mesmo que eles não se importassem em me dar carona. Mais uma vez fomos ao estacionamento e eles se preparavam para entrar no carro de Zayn.
  - Você vem, ? – Niall perguntou quando me viu parar atrás deles.
  - Eu vou ficar por aqui mais um pouco. O Harry vem me buscar pra almoçarmos juntos. – Expliquei.
  - Hmmmmm, almoço com o Styles? – me olhou como se quisesse dizer alguma coisa com aquilo. Ouvi Zayn bufar, dando a volta no carro e parando em frente a porta do motorista.
  - Eu não posso te dar uma carona e ele te leva pra almoçar? – O menino rolou os olhos.
  - Daqui a seis anos você pode até me levar pra jantar. – Brinquei
  - Prefiro te levar café na cama. – E aquele sorriso sacana apareceu em seus lábios.
  - Olha a intimidade, Malik! – Eu começava a gostar daquela frase.
  - Isso tudo é ciúme, Zayn? – Niall se meteu.
  - Ciúme? Dela? Não mesmo. – Bufou mais uma vez.
  - Sei, aham. – Comecei a rir e vi que fez algum comentário dentro do carro.
  - Cala a boca, pata choca. – Zayn se irritou e eu ri mais ainda.
  Todos logo se despediram de mim e foram embora. Eu fui até um banco de pedra que havia ali perto e me sentei para esperar Harry. Chequei meu celular e vi uma mensagem dele: “Estou aí em 5.”

Capítulo XI

  Já era manhã de terça feira e eu estava sentada em um ônibus de dois andares em direção à academia. Como a minha única aula particular da semana não era tão cedo naquele dia, não pude pegar carona com Lou e Liam nem com . A aula particular dela era na sexta feira, então tinha a terça feira livre. Eu agradeci por meu dia livre ser na sexta, já que seria como se o meu final de semana começasse mais cedo. De qualquer forma, eu não me importava em pegar ônibus, porque eles eram bem confortáveis e nunca estavam cheios demais. A única coisa que realmente me desanimava era os três quarteirões que eu tinha que caminhar do ponto de ônibus até a Academy.
  Chovia um pouco do lado de fora, então eu abri a minha sombrinha ao sair. Sim, tinha começado a levar uma na mochila. Senti pena da minha bota ao pisar sem querer em uma poça de água, mas não havia muito que fazer. Segui o meu caminho me encolhendo dentro do meu casaco de lã, tentando afastar o frio. Por mais incrível que pareça, eu não demorei quase nada pra chegar à minha “escola”. Subi as escadas com cuidado pra não escorregar e empurrei as pesadas portas de madeira que ficavam fechadas quando estava chovendo. Um pequeno grupo de alunos conversava e andava com pressa pelo caminho que eu me lembrava ser do auditório. Eu não costumava ficar escutando conversas alheias, mas eles estavam falando tão alto que eu não pude deixar de ouvir quando falaram: “Eu não acredito que vão revelar a peça hoje. Geralmente enrolam até o meio do semestre.” Liguei uma coisa à outra e entendi do que se tratava aquele furor; o tal espetáculo que era apresentado cada final de semestre.
  Segui o grupo, curiosa. Eu também queria saber qual era a peça que estaríamos apresentando. “Estaríamos” porque eu iria participar nem que fosse como figurante, ou mesmo como uma árvore se fosse o caso. Não estava tão familiarizada em como as coisas funcionavam por ali, mas tinha entendido o peso que aquelas apresentações teriam no meu futuro acadêmico e até mesmo depois dele. Entrei no auditório, que já estava com as luzes apagadas, em silêncio. Comecei a andar pelo corredor, procurando alguma figura conhecida.
  - Psssssss.
  - Quem me chama? – Sussurrei, olhando em volta.
  - Pssssss, ! Aqui. – Zayn acenou para mim, em uma das fileiras de trás.
  - Eu não vou me sentar com você! – Tentava sempre manter a voz baixa para não chamar atenção.
  - Por que não? – Ele também sussurrava.
  - Pelo que eu me lembre, você não é do tipo que fica quieto durante essas reuniões no auditório.
  - Vem logo, . – Bufou um pouco alto demais.
  - Silêncio aí atrás. – A diretora Agnes, que estava no palco e falava algo ao microfone, reclamou. Senti meu estômago congelar e torci para que estivesse escuro demais para eu ser reconhecida. Me sentei no lugar vazio mais próximo que encontrei, sentindo minhas bochechas arderem.
  - Viu o que você fez? – Zayn havia saído do lugar em que estava e se sentou ao meu lado.
  - Shhh. – Fiz sinal de silêncio, levando o dedo indicador até os meus lábios e ele apenas riu.
  A diretora continuou o discurso dela e eu tentei pegar o bonde andando. Ela enrolou bastante, falando que era sempre uma honra dirigir a peça de encerramento do semestre e como era um orgulho ver os seus pupilos brilhando no palco.
  - É com muita felicidade que eu anuncio qual será a peça que iremos encenar esse semestre... – Ela fez um suspense e eu ficava cada vez mais curiosa. – Romeu e Julieta!
  O auditório gritou em comemoração; principalmente as garotas. Eu aproveitei o embalo e bati palmas também. Romeu e Julieta era meio clichê, mas não deixava de ser uma história bonita.
  - Eu amo essa história... É tão romântica. O amor deles... Eu nunca vi igual. – Disse com um suspiro.
  - Eu acho que é um exagero. – Zayn disse ao meu lado e eu o encarei.
  - É claro que é um exagero! Mas essa é exatamente a questão. O amor louco e exagerado. – Falei inspirada. – Vai dizer que você nunca teve um amor desses?
  - Eu não. Amores assim não existem. – Ele falou descrente e eu rolei os olhos, levantando.
  - De qualquer forma, eu quero participar dessa peça. – Fui saindo do auditório junto com os outros alunos e Zayn me seguia.
  - Então eu irei assistir! – Sorriu.
  - Você não vai participar?
  - Eu nunca participo. Acho ridícula essa coisa toda. Frescura. – Deu de ombros.
  - Sei... – Zayn sempre parecia manter aquela postura de badboy, mas eu sabia que ele não era só aquilo. Não poderia ser.
  Deixamos esse assunto acabar e fomos nos afastando da multidão. Eu deveria estar uns dez minutos atrasada para a minha aula, mas como todos os professores estavam no auditório, eu não achei que teria problema.
  - Ei, ! Espera! – Ouvi alguém me chamar e me virei pra ver quem era. Vi Nick correndo na minha direção e sorri inconscientemente.
  - Oi, Nick. – Esperei ele chegar e senti Zayn enrijecer ao meu lado.
  - Oi! Tudo bem? – Nicholas me cumprimentou sem nem olhar para o menino ao meu lado.
  - Tudo ótimo! Gostou da peça escolhida? – Era a primeira vez que nos falávamos depois de sábado, então eu tentava me manter calma e afastar o nervosismo.
  - Gostei muito. Romeu e Julieta sempre foi um dos meus romances preferidos. Vou fazer o teste para o papel de Romeu.
  - Uau, Nick. Eu espero que você o consiga! – Sorri sincera.
  - Eu gostaria que você fosse a minha Julieta. – Senti as minhas bochechas corarem e não consegui responder.
  - Quando são os testes mesmo? – Zayn se juntou a conversa, praticamente se colocando entre Nick e eu.
  - Semana que vem, na quarta e quinta. Quarta feira são os primeiros... E quinta feira o callback. – Nick nos explicou. – Bem, eu tenho que ir... Estou atrasado.
  - Eu também estou... Então até logo, Nick. – Ele se despediu de mim deixando um beijo um tanto demorado na minha bochecha e acenou um “tchau” para Zayn.
  - Já vai tarde. – Zayn falou quando Nicholas já estava longe demais para escutar.
  - Eu achei que você não participava dessas peças. Que era tudo “frescura”. – Fiz aspas no ar e gargalhei.
  - Frescura? Eu nunca falaria isso! – Ele se fez de ofendido e eu ri mais ainda.

+++

  Mesmo sem foi fácil achar a minha sala no quinto andar. O docente já me esperava e eu tive uma surpresa ao ver quem era. O senhor Hofstheder seria o meu professor particular. Ele me explicou que costumava dar aquelas aulas apenas para alunos mais avançados, dos últimos semestres, mas que a diretora o pediu para me acompanhar pelo menos no primeiro mês. Troquei a minha roupa normal pelas roupas de ballet e me preparei para darmos início.
  - Na aula de segunda feira eu notei que você precisa melhorar os seus saltos. Ganhar mais confiança. – Ele me examinava com seriedade enquanto eu me alongava. – Mas primeiro eu gostaria de ver a sua ponta. Pode trocar de sapatilha, por favor?
  - Claro... – Terminei os alongamentos e troquei a sapatilha pela de ponta, amarrando delicadamente a fita de seda em volta do meu tornozelo. – Pronto.
  - Ótimo. – O professor andou até onde eu estava e esticou a mão para que eu a segurasse. Não entendi muito bem o que ele queria com aquilo, mas a segurei. Com um movimento da mão livre, ele me indicou que eu devia ficar na ponta dos pés.
  Me equilibrei em cima da ponta sem me apoiar na mão do professor. Em seguida, ele me pediu para dar alguns passos pela sala enquanto me olhava. O obedeci, aproveitando para dar alguns giros. Ora eu girava em cima de um pé só, ora dos dois. Sempre mantinha meus braços em uma circunferência perfeita em frente ao meu corpo ou acima da minha cabeça. Meus olhares estavam presos em um local fixo, me impedindo de ficar tonta.
  - Muito bom, muito bom... Agora quero testar uma coisa. – Ele me fez parar em frente ao espelho e ficou atrás de mim, me segurando pela cintura.
  Eu não gostava muito de todo aquele contato corporal, mas não podia reclamar. Ele era um ótimo profissional, então devia saber o que estava fazendo. Me mandou fazer 90º com as pernas e assim eu fiz; me colocando em cima da ponta esquerda e levantando a perna direita até formar um ângulo reto perfeito. Estiquei os braços e o professor começou a andar em círculos, me fazendo girar. Aquela posição era um tanto dolorida e me fazia sentir a minha perna queimar, mas eu aguentei com um sorriso. Dores faziam parte do dia-a-dia de uma bailarina, então eu já estava mais que acostumada.
  A aula teve duração de mais ou menos uma hora e meia e o professor usou esse tempo para conhecer um pouco mais das minhas manias e habilidades na ponta. Preciso dizer que meus pés estavam latejando quando finalmente me livrei das sapatilhas? Achei que não. O senhor Hofstheder parecia estar com pressa, então me deixou sozinha na sala. Me vesti normalmente e procurei o meu celular dentro da mochila. Havia uma mensagem de Zayn; eu sabia que era dele porque salvou o número do garoto na minha agenda sem que eu percebesse.

“Estamos te esperando no estacionamento. - Malik”

  É claro que eu ri depois de ler a mensagem. Desde quando ele assinava como “Malik”? Juntei o resto das minhas coisas na minha mochila e a pendurei em um ombro só. Segui rapidamente para o estacionamento, tentando adivinhar a quem o “estamos” se referia. E, por mais que nunca fosse admitir em voz alta, eu não queria voltar pra casa sem vê-lo novamente. Eu continuei o caminho inteiro repetindo para mim mesma que ele era “perigo” e eu não devia cair nessa novamente.
  - ! – Zayn, que estava encostado e um carro prateado, sorriu ao me ver. No que eu estava pensando mesmo?
  - Hey, guys. – O cumprimentei e Niall; que estava parando em frente ao amigo.
  - Vem, . Estamos indo almoçar. – Niall me chamou. Aparentemente os dois estavam só me esperando pra partir.
  - Desculpa, mas eu já falei que não entro no carro dele. – Usei essa desculpa novamente, apontando para Zayn. Ficar trancada em um espaço tão pequeno com aquele garoto seria perigoso demais.
  - Não seja por isso. – Zayn sorriu, abrindo a porta do banco do passageiro do carro prateado. – Eu troquei de carro com a minha mãe.
  - Você fez o quê? – Não acreditei no que acabara de ouvir. Ele parecia ter um carinho muito grande pelo seu Land Rover para simplesmente trocar por um Volvo.
  - Pelo menos agora você vai poder aceitar a minha carona. – Muito bem, Zayn, acabe com as minhas desculpas esfarrapadas! Ele continuou com a porta aberta, esperando que eu entrasse. – Anda logo, eu estou com fome.
  - Vamos, ... já está lá esperando. – Niall também estava parado, aguardando algum movimento meu.
  - OK! Vocês venceram. Mas só porque eu estou com muita fome. – Bufei e entrei no carro passando por Zayn, que fechou a porta ao meu lado.
  Niall entrou no banco de trás e Zayn logo estava sentado ao meu lado. Coloquei o sinto de segurança e os meninos riram de mim. Não tenho culpa se não confio nas habilidades do motorista, tenho? Claro que não. Tentei ignorar o cheiro delicioso do perfume que o vento que entrava pela janela de Malik jogava direto no meu rosto. Liguei o rádio do carro para ocupar os meus pensamentos cantarolei a música que estava tocando.
  Em aproximadamente vinte minutos já estávamos parando em frente a um restaurante chamado Nando’s. A fachada de pedra era bastante convidativa e, por dentro, a ambientação me fez sentir bem à vontade. Aparentemente aquele era o restaurante preferido de Niall, pois seus olhos brilhavam quando a gente entrou. Até mesmo alguns garçons pareciam conhecê-lo.
  - Meu pudincup! – Escutamos um grito de uma voz conhecida e nos viramos na direção de .
  - Minha cerejinha! – Niall correu até ela e Zayn e eu trocamos olhares e começamos a rir.
  - Gente, vão acabar pensando que vocês estão pedindo uma sobremesa. – Me juntei a eles e abracei a minha amiga quando ela largou o loiro.
  - Isso só aconteceu uma vez. – Ela se defendeu e meu causou algumas risadas.
  - Sério? – Gargalhei.
  - Pior que sim. Mas até que o pudim de cereja estava gostoso. – Zayn puxou a cadeira para que eu sentasse, mas eu me sentei na cadeira ao lado da de . Sim, faço birra mesmo.
  Logo estávamos todos sentados à mesa e eu folheava o cardápio. Os pratos pareciam deliciosos e eu logo descobri que aquele era um restaurante de frango. Tinha asinhas de frango, coxa de frango, frango disso, frango daquilo, frango, frango, frango. Por sorte eu gostava de frango, caso contrário não iria comer nada. Olhei para como se pedisse ajuda, pois eu não sabia o que pedir. Ela sorriu e apontou um prato no meu Menu, sussurrando um: “É muito bom.” O garçom veio até a nossa mesa e anotou os nossos pedidos. Eu pedi o que indicara e um suco de maçã.
  - ... Os meninos te contaram a novidade? – Perguntei assim que o garçom foi embora.
  - Novidade? – Ela olhou os meninos como se estivesse falando: “Tem uma novidade e vocês não me falam nada?” – Não contaram nada. São uns imprestáveis.
  - Eu não sou imprestável! – Niall tentou se defender. – Eu só não fico tão ansioso com essa peça de fim de semestre.
  - OMG. Já falaram o tema da peça? – A voz de soou tão aguda que eu tive que tapar os ouvidos pra não ficar surda.
  - Sim, ! – Eu comemorei com ela.
  - E qual é? Qual? Qual? – Os olhinhos claros dela pareciam brilhar.
  - Não digo. – Cruzei os braços.
  - Romeu e Julieta. – Zayn respondeu, me fazendo lançar um olhar feio em sua direção.
  - ROMEU E JULIETA? – falou ainda mais alto. – Que perfeito!
  - Eu sei! Você vai participar, né?
  - É claro que sim, . Li esse livro mais de cinco vezes. Já sei até qual papel eu quero. – Enquanto eu e conversávamos, Niall e Zayn falavam sobre outra coisa totalmente diferente.
  - Qual? Julieta?
  - Julieta? Não mesmo. Quero ser a Senhora Capuleto. – daria uma ótima Julieta. Já que seu sonho era ser uma atriz, nada mais óbvio do que pegar o papel principal. Mas, aparentemente, ela já tinha a mente formada em qual papel seria o melhor pra ela.
  - Sério? Achei que você ia querer o papel principal.
  - Até que eu poderia... Mas a Julieta é muito avoadinha, muito apaixonada. Sonhadora. – parecia inspirada pra falar dela. – Você sim, daria uma Julieta perfeita.
  - Eu? – Me assustei. – É claro que eu adoraria... Mas sou do primeiro período, . Claro que não vou conseguir o papel principal.
  - Não fique pensando assim, . Pelo menos tente. Se não conseguir, vai ser porque não deu e não porque teve medo de tentar. – Até que pra uma pessoa tão pequena, tinha coisas grandes pra falar.
  - Quem sabe, né? – Falei pensativa. – Eu acho que o Nick vai pegar o papel de Romeu.
  - Não se eu puder evitar. – Zayn falou tão baixo que parecia que tinha pensado alto. Todos da mesa pararam o que estavam fazendo para encará-lo, inclusive eu.
  - Zayn vai participar? – o olhou desconfiada.
  - “Eu sou o badboy de Bradford” – Niall afinou a voz, tentando imitar Zayn. – “Eu não participo dessas coisas.”
  - Eu nem falo mais isso! – O moreno tentou se defender, mas terminou fazendo um bico tão grande que eu só consegui rir.
  O garçom logo voltou com os nossos pedidos e começamos a comer. Eu desafiei Zayn a pegar uma batata frita do prato de Niall e ele aceitou. É claro que Niall deu um chilique no meio do restaurante quando notou as batatas que estavam faltando, falando que não dividia comida. Aquela cena me lembrou tanto o Joey de F.R.I.E.N.D.S que eu comecei a rir sozinha. nos repreendeu e disse que deveríamos deixar o namorado dela em paz, mas era tão divertido ver o menino irritado que nós não iríamos parar nem tão cedo. Pelo menos em uma coisa eles tinham razão; aquele restaurante era muito bom. Nunca comi um frango tão gostoso quanto aquele. O suco também era maravilhoso. No final do almoço, eu e dividimos uma sobremesa e cada um dos meninos comeu a sua própria. Bando de gordos, não?
  Acabamos ficando por lá mais do que pretendíamos, conversando e rindo de tudo. Parecíamos uns idiotas, mas eu nunca me senti tão feliz como naquela tarde. Já que era a minha primeira vez no Nando’s, Niall fez questão de pagar a conta inteira. Eu relutei no começo, falando que não era justo, mas era impossível discutir com ele. Tinha que ser namorado de mesmo.

+++

  Quarta e quinta-feira passaram normalmente, sem grandes acontecimentos. A não ser pela noticia de que os testes para a peça foram adiados para uma semana depois do previsto. Eu fui às aulas com e sempre nos juntávamos a Zayn e Niall. E eu posso dizer que começava a me acostumar com a presença de Malik, por mais que as suas brincadeirinhas ainda me tirassem do sério. Nick também tentava se aproximar de mim várias vezes, mas nunca trocávamos mais que dez palavras. Não sei se era pela falta de assunto entre nós dois, ou por sempre sermos interrompidos por um dos meus amigos.
  Já era sexta feira e eu havia dormido até as duas horas da tarde. A melhor parte de não ter aula é poder dormir até mais tarde e isso eu fiz com muito gosto. É claro que quando acordei encontrei três chamadas não atendidas da minha amiga, mas ela teria que me entender. Saí do banheiro, onde acabara de tomar um banho quente, e vesti uma roupa bastante confortável, daquelas que se usa pra ficar em casa. Por incrível que pareça, eu não estava com fome.
  “DING DONG”, fez a campainha, me assustando. Saí do meu quarto em direção ao andar de baixo. Quase tropecei no último degrau, pra variar, e ri sozinha da minha falta de coordenação motora. Era incrível que eu conseguisse me equilibrar em uma sapatilha de ponta quando eu mal conseguia andar com meus dois pés sem cair. Girei a chave na fechadura e abri a porta, dando de cara com os olhos verdes de Harry.
  - Onde está a sua chave? – Sim, ele tinha a chave da minha casa. Até porque parecia passar mais tempo lá do que na própria residência.
  - Eu esqueci, mãe. – Ele bagunçou os cabelos encaracolados e sorriu daquele jeito inocente.
  - Entra, curly boy. – Dei espaço pra ele passar e assim que Harry entrou em casa eu pulei nas costas dele, envolvendo o seu pescoço com os braços. – Weeeeeeeee.
  - Oh, não! Eu fui atacado. Ahhhhh. – Ele segurou as minhas pernas, dando-me mais apoio, e gargalhou junto comigo.
  - Aiô, Silver! – Dei tapinhas em suas costas e Harry começou a correr pela casa. Era sempre assim quando nós dois ficávamos sozinhos; parecíamos crianças. – Ao infinito e além!
  - O Buzz é que fala isso, . E se você está montado um cavalo, deveria ser o Woody, ou a Jessie. – Explicou como se fosse o maior conhecedor de filmes infantis.
  - Cala a boca e corre, Bala no Alvo! – Baguncei os cabelos dele e ri.
  Haz obedeceu e saiu correndo até a sala de jantar, onde deu a volta na mesa de madeira, imitando barulhos de relincho. Eu estava rindo tanto que quase caí das suas costas, mas consegui me segurar a tempo. Meu celular começou a tocar no andar de cima e eu apontei para Harry, que começou a correr até lá. A escada era perigosa, mas ele não diminuiu a velocidade, então eu tive que me segurar com ainda mais força nos ombros largos do meu amigo. Assim que chegamos ao meu quarto, Harry se jogou na minha cama, me fazendo cair ao seu lado. Ele estava ofegante e com as bochechas rosadas e eu só conseguia rir ainda mais. Além de tudo, o danado ainda pegou o meu iPhone e atendeu a ligação.
  - A está ocupada no momento, mas posso anotar o recado? – Fez uma voz séria e eu tentei roubar o celular da sua mão.
  - Harry Styles, me dá isso agora! – Gritei, mas ele se levantou e ficou de pé na minha cama. Eu fiz o mesmo, mas ele continuava mais alto que eu. Aliás, quem consegue ser maior que ele? Ninguém.
  - Oh, oi, ! É o Harry sim. – Ótimo, agora ela ia ficar pensando besteira.
  - Me dá o meu celular. – Pedi bicuda, cruzando os braços.
  - Shh, fica quieta. – Ele falou pra mim, voltando a sua atenção para o telefone em seguida. – Claro que vamos.
  Desisti de brigar pelo telefone, já que seria uma causa perdida. Apenas voltei a me sentar na cama e cruzei as pernas. Harry pulou para o chão e foi até as minhas coisas, procurando algo. O pior era que enquanto ele procurava, ia derrubando as coisas pelo caminho. Fiquei puta com aquela bagunça, mas também não adiantaria reclamar. Ele pareceu achar o que queria e anotou algo em um pedaço de papel.
  - Ok, entendi sim. – Falava a . – As 20hrs? Certo... Não precisa, eu tenho carro... Ela é uma aproveitadora mesmo, bem vinda ao meu mundo.
  - Wtf? – Olhava para Harry, indignada. Além de não saber quais eram os planos que eles estavam fazendo, eu ainda era chamada de aproveitadora? Ele só me encarava e fazia caretas.
  - Até logo, . Pode deixar que eu falo sim. – Harry finalmente desligou e me entregou o aparelho.
  - E então?
  - E então o quê? – Ele se jogou na minha cama, deitando todo espaçoso.
  - Harold.
  - Não gosto quando me chama de Harold. – Fez um biquinho, mas eu continuei encarando-o séria. – Vamos sair com seus amigos hoje.
  - Eu, você, Lou, Liam e ? – Torci.
  - Nop. Você, eu, e o namorado dela e aquele do topete. E ela mandou você não se vestir como criança. – Harry falou e gargalhou, ganhando uma almofadada na cara.

Capítulo XII

  - Já estamos aqui na frente, . – Falei quando ela atendeu a minha ligação, olhando para o lado de fora da janela do carro de Harry.
  - Venham até a porta e eu já vou buscar vocês! – Ela respondeu.
  Ambos saímos do carro e eu arrumei a minha roupa antes de começar a andar em direção à porta do bar. Bar não... Do Pub. Um letreiro vermelho piscava e deixava as palavras “Karaoke Night” em evidência. Eu sempre amei karaokês, então seria uma noite legal. Pelo menos era o que eu esperava. apareceu em menos de dois minutos e nos levou para dentro. O lugar estava meio cheio, então segurei a mão de Harry para não nos perdermos. Tive que desviar de umas três pessoas pra não acabar suja com alguma bebida sendo derramada em mim, mas logo chegamos a mesa em que Niall e Zayn conversavam animadamente. Pela quantidade de garrafas de cerveja vazias que pude ver em cima da mesa, os dois já estava bebendo há um bom tempo.
  - Olha quem chegou! – nos apontou para os meninos e o olhar de ambos foi de mim para Harry.
  - Hey, guys. – Cumprimentei os dois.
  - Não sabia que você ia trazer o seu namorado. – Zayn falou enquanto encarava a minha mão entrelaçada na de Harry.
  - Ele não é meu namorado. – Olhei para Harry, que ria. Eu não havia nem notado que ainda segurava a sua mão.
  - É bom te ver, . – Niall ignorou o amigo e se levantou para me abraçar.
  Soltei Haz para poder abraçar Niall, que sussurrou algo na minha orelha, mas eu não entendi muito bem o que era. Em seguida, o loiro cumprimentou Harry e eu acenei para Zayn, já que ele nem ao menos se levantou para me abraçar, ou algo do tipo. Não que eu quisesse abraçá-lo, só pra que fique claro. Nos sentamos na mesa – não literalmente, óbvio – e tratou de pedir mais bebidas para todos.
  - Então, o que vocês vão cantar? – Niall perguntou, me fazendo olhar em volta. O lugar estava bem cheio e eu não costumava cantar na frente de estranhos. Claro que pra Harry seria fácil, já que ele tinha uma voz incrível.
  - Cantar? Eu não vou cantar aqui, Niall, sinto muito. – Ri.
  - Vamos, ... – Harry tentou me convencer. – Eu já te ouvi cantar e a sua voz não é tão ruim.
  - Tá vendo? Sua voz não é tão ruim. – fez todos nós gargalharmos e eu continuei balançando a cabeça em negação.
  - É a sua primeira vez aqui, então vai ter que cantar alguma coisa. É tradição entre os alunos da academia. – Zayn balançou os braços como se eu não tivesse escolha.
  - Deve ser tradição entre os alunos de música, porque eu não tenho obrigação de saber cantar! – Tentei me defender, mas ninguém me deu ouvidos.
  - Eu vou colocar o nome de vocês na lista. – já foi levantando e os meninos me impediram de ir atrás dela.
  Observei a pequena ruiva ir até uma mesa onde uma mulher anotava algo em um caderno. Ao lado da mesa estava um palco que devia ter pouco mais de um metro de altura, onde uma menina um tanto desafinada cantava uma música que eu não conhecia. O que mais me surpreendeu é que aquele não era um karaokê normal, onde os participantes ficavam de frente para uma TV de onde saia o som e as legendas. Perto do palco ficava uma banda que tocava as músicas ao vivo e não tinha nenhuma televisão com legendas. Acho que esse deveria ser o desafio... Cantar como se estivesse em um show de verdade. Aquele Pub era muito popular entre os alunos da Academy, segundo meus amigos, e eu começava a entender o porquê.
  As nossas bebidas chegaram alguns segundos depois que voltou a se sentar, indicando que não demoraria muito pra chegar a nossa vez. Olhei em direção ao palco e a menina já havia parado de cantar e recebia aplausos da platéia. Dei um gole no meu cosmopolitan e fiz uma careta. Aquela bebida estava bem mais forte do que a da festa de Zayn. Os meninos riram da minha cara e também pegaram as suas taças, levantando no alto para fazer um brinde.
  - A novas amizades. – Harry começou.
  - A muitas risadas! – sorriu.
  - A beber até cair. – É claro que o bêbado do Niall falaria algo assim.
  - A uma noite incrível. – Zayn falou me encarando e eu agradeci por não estar tão claro, já que as minhas bochechas deveriam estar vermelhas.
  - A nós. – Terminei o brinde e todos nós batemos nos copos uns dos outros e bebemos.
  Todos os meninos viraram os copos deram gritos de animação. É claro que eu não bebi tudo de uma vez, mas balancei a cabeça e comecei a rir. Um homem subiu no palco com o microfone em uma mão e um papel na outra, indicando que chamaria os próximos a se apresentar. “Niall Horan e Horan.”
  - Não acredito que vocês usaram o mesmo sobrenome de novo. – Zayn riu, levando uma mão até a própria testa.
  - E nem me convidaram pro casamento! – Me fiz de indignada.
  - Foi um casamento relâmpago, então ninguém foi convidado. – levantou e puxou o namorado.
  Os dois foram correndo para o palco e enquanto Niall foi falar com a banda, pegou um dos microfones. Ela não parecia ter vergonha alguma, em momento nenhum, e por isso eu a invejei.
  - Boa noite, pessoal! – falou, recebendo aplausos e gritinhos. Principalmente vindos de mim. – Nós gostaríamos de dedicar essa música a uma pessoa muito especial que entrou na nossa vida há pouco tempo, mas que já se tornou indispensável. E como hoje é a primeira vez que ela vem ao Pub, vamos homenageá-la!
  Olhei para os dois e não segurei o sorriso. Estava surpresa com aquilo; porque é claro que eles estavam falando de mim. O som de piano começou e eu me arrepiei completamente quando a melodia de “Home – Philip Philips” tocou. Eu tinha amigos perfeitos e sabia disso. Não só aqueles dois, mas Harry, Liam, Louis e até mesmo Zayn estavam incluídos. A melhor coisa do mundo é se sentir amada e ao lado daqueles idiotas eu me sentia a pessoa mais amada do mundo.
  - Hold on to me as we go. (Segure-se em mim enquanto vamos) As we roll down this unfamiliar road and although this wave is stringing us along… (Enquanto descemos por essa rua desconhecida e mesmo que essa onda esteja nos arrastanto...) - Eles começaram a cantar, me deixando mais arrepiada ainda.
  A voz de e de Niall se misturavam de uma forma emocionante, e eu sabia que eles cantavam com o coração. É possível que todo mundo que eu conheço canta bem? Não quero desmerecer a minha amiga, mas a voz do loiro era simplesmente contagiante. Ele estava no curso certo, com toda certeza. O casal caminhava pelo palco totalmente desinibido. até balançava o braço livre de um lado para o outro, fazendo a platéia seguir os seus movimentos.
  - The trouble, it might drag you down. (Os problemas podem te levar pra baixo) If you get lost, you can always be found. (Se você está perdida, pode sempre ser encontrada) Jus know you’re not alone. (Apenas saia que você não está sozinha) ‘Cause we’re gonna make this place your home… (Porque nós vamos fazer desse lugar o seu lar) - Encerraram a música e eu aplaudi de pé, com lágrimas nos olhos.
  Aquele foi um jeito deles falarem que eu não estaria sozinha e que me achariam se eu ficasse perdida dentro de mim mesma. Eles fariam Londres ser a minha casa e, de certa forma, já era mesmo. Os dois voltaram para a mesa e eu os abracei ao mesmo tempo.
  - Isso não se faz! – Falei com a voz chorosa.
  - Foi só uma forma de mostrar pra você o quanto é importante pra gente. – Niall me fez sorrir ainda mais.
  - Não chore! Ou vai borrar o rímel. – riu, mas ela também parecia estar com os olhos molhados.
  - Eu te amo, . – A abracei mais uma vez e Niall foi se sentar em seu lugar. Nós duas nos apertamos com tanta força que chegou a doer, mas eu não liguei. Era a primeira vez que eu tinha uma amiga como ela. Porque por mais que eu tivesse os meus amigos, com ela era diferente. Poderíamos conversar sobre roupas e futilidades, mas também sobre coisas mais sérias. Eu sabia que ela iria me entender em qualquer situação e muitas vezes nos comunicávamos apenas com olhares. – Eu não sei o que faria sem você.
  - Eu também te amo, . – Ela me olhou e nós duas estávamos quase chorando. – Você é a melhor amiga que eu poderia ter.
  - Acho que eu vou chorar. – Harry estragou o clima do momento, mas nos fez rir com o seu choro falso e exagerado.
  - Idiota. – Soltei a minha amiga e me sentei no colo de Haz. – Não precisa ter ciúmes... Você sabe que eu também te amo, cupcake.
  - Sei? Não sei de nada! – Fez um bico gigante e eu dei um beijo estalado em sua bochecha.
  - Espera... Cupcake? E depois reclama do meu pudincup! – reclamou, com as mãos na cintura.
  - Preciso de mais uma dessas. – Zayn se levantou com a garrafa vazia de cerveja e parecia aborrecido.
  - Alguém ficou com ciúmes. – Niall riu e eu mostrei a língua pra ele.
  - Ele gosta de você? – Harry perguntou ao meu ouvido.
  - Claro que não. Só é chato assim mesmo. – Expliquei e deixei o assunto morrer.
  O ‘apresentador’ do karaokê chamou mais duas pessoas e logo foi a vez de Harry. É claro que ele foi sorridente até lá e se posicionou bem ao centro do palco. Falou o nome da música que iria cantar para a banda e voltou o seu olhar para a platéia. “Isn’t she lovely” era uma de minhas músicas preferidas e ficou ainda mais bonita na voz dele. Já estava óbvio que Harry sabia cantar bem e ainda era muito bonito. É claro que a parte feminina da platéia foi à loucura, gritando e praticamente gemendo. Ele mandou alguns beijos para as meninas, mas o que me surpreendeu mais foi a felicidade que ele parecia estar sentindo ali em cima. Era como se cantar em um palco fosse o que ele havia nascido pra fazer. Eu mesma não conseguia tirar os olhos dele ou parar de sorrir. A música chegou ao fim e mais uma vez ele foi aplaudido por todos que estavam presentes, incluindo algumas garçonetes.
  - Acho que agora é a sua vez, . – falou animada.
  - O quê? Eu? Já? – Resmunguei, não querendo levantar quando o homem chamou o meu nome.
  - Você vai se sair muito bem, eu tenho certeza! – Niall tentou me encorajar, mas eu já sentia borboletas no estômago. E não das boas.
  - Anda, ! Não é tão ruim. – Harry, que já havia voltado para a mesa, me fez levantar. Será que tudo pra ele não era tão ruim?
  - Ok, ok! – Me dei por vencida. – Mas eu não quero ir sozinha. Vem comigo, ?
  - Não mesmo. – A cachorra se negou.
  - Harry? – Tentei.
  - Eu acabei de ir, . Não vou de novo.
  - Eu canto com você. – Zayn me surpreendeu e se levantou. – Se você quiser...
  - É claro que sim! – Sorri em agradecimento, por mais que tenha ficado ainda mais nervosa.
  Nós dois caminhamos até o palco e eu senti as minhas pernas tremerem. Malik sussurrou que tudo ficaria bem e perguntou se eu conhecia a música Give Your Heart A Break”, da Demi Lovato; porque supostamente era boa pra duetos. Eu afirmei que sim e ele foi falar com a banda. Me entregaram um microfone e eu olhei para a platéia pela primeira vez. Um canhão de luz quase me cegou quando foi focado diretamente em mim. Zayn veio para o meu lado e sorriu, me encorajando. Eu sorri de volta, mesmo sem saber exatamente o que estava fazendo. O piano começou a tocar e eu respirei fundo.
  - The day I first met you, you told me you’d never fall in love... (No dia em que eu te conheci, você me disse que nunca se apaixonaria) – Comecei a cantar e olhei para Zayn, como se perguntasse porque ele não estava cantando também. Ele não fez nada, apenas sorriu e balançou a cabeça, me indicando a continuar. – But now that i get you, I know fear is what it really was. (Mas agora que eu te entendo, eu sei que era apenas medo) – Até que eu estava pegando o jeito e como ninguém me vaiou ou atirou tomates, eu fui me soltando aos poucos e começando a me mexer e andar um pouco. – Now here we are. (Agora estamos aqui) So close, yet to far... (Tão próximos, mas ainda tão distantes) Haven’t I passed the test? (Eu não passei no teste?) When will you realize that, baby, I’m not like the rest? (Quando você vai perceber que, baby, eu não sou como o resto?)
  - Don’t wanna break your heart, wanna give your heart a break… (Não quero partir seu coração, quero dar um descanso para o seu coração) - Zayn me acompanhou e nós dois começamos a cantar juntos. Eu olhei pra ele e sorrimos ao mesmo tempo. – I know you’re scared it’s wrong, like you might make a mistake. (Eu sei que você está com medo que seja errado, como se fosse cometer um erro) There’s just one life to live, and there’s no time to wait, to waste, so let me give your heart a break… (Só há uma vida para seviver e não há tempo a perder, então me deixe dar um descanso ao seu coração)
  - On Sunday you went home alone, there were tears in your eyes. (No domingo você foi pra casa sozinha, havia lágrimas nos seus olhos) – Zayn cantou sozinho e eu apenas olhei pra ele e ele pra mim. Era como se quisesse dizer algo e, por um momento, eu me lembrei do desastre da festa. – I called your cell phone, my love, but you did not reply. (Eu liguei para o seu celular, meu amor, mas você não respondeu)
  - The world is ours, if we want it, we can take it, if you just take my hand. (O mundo é nosso se quisermos. Podemos tomá-lo se você apenas pegar a minha mão) – Cantamos juntos novamente e ele andou até onde eu estava. – That’s no turning back now… Baby, try to understand… (Não há como voltar agora. Baby, tente entender)
  Mais um refrão começou e Zayn segurou a minha mão. Eu não me esquivei do seu toque, como das outras vezes. Entrelacei os nossos dedos e sorri. Sim, sorri enquanto cantava e ele fez o mesmo. Aquele não era o Zayn “badboy” que tentava se dar bem em tudo, ou que enxergava segundas intenções e um mero “bom dia”. Aquele era o Zayn que eu gostaria de conhecer.
  - n your lips are on my lips... And our hearts beat as one. (Quando os seus lábios estão nos meus lábios... E nossos corações batem como um só) But you slip under my finger tips… (Mas você escapa entre os meus dedos...) - Cantei sozinha e comecei a andar pra trás. Ele ficou parado, o que fez nossas mãos começarem a se soltar, assim como a letra da música. – Everytime you run. (Todas as vezes que corre)
  - Baby, try to understand. Don’t wanna break your heart, wanna give your heart a break. (Baby, tente entender. Eu não quero partir o seu coração, quero dar um descanso ao seu coração) – Zayn soltou a minha mão, mas se aproximou e mim e cantou olhando em meus olhos.
  - ‘Cause you’ve been hurt before. (Porque você foi machucado antes) I can see it in your eyes. (Eu consigo ver nos seus olhos) You try to smile it away, some things you can’t disguise. (Você tenta fazer passar com um sorriso, mas certas coisas não se pode disfarçar) – Minha voz saiu tão intensa que eu mesma me assustei.
  - Don’t wanna break your heart, maybe I can ease the ache, the ache… (Não quero partir o seu coração, talvez eu conseguida amenizar a dor, a dor) So let me give your heart a break… (Então me deixe dar um descanso ao seu coração) - Terminamos a música juntos e os aplausos me fizeram acordar. Por um momento eu havia esquecido onde estávamos e que as pessoas estavam nos assistindo. Por um momento era só eu e ele.
  Retomei a minha consciência e Zayn voltou a ser o garoto de antes, piscando para as meninas que se jogavam aos seus pés. Ele desceu do palco e esticou a mão pra me ajudar a descer, mas eu apenas o ignorei e desci sozinha. Fomos para a mesa e todos estavam espantados.
  - ... Você nunca me disse que sabia cantar assim... – foi a primeira a falar. Será que estava bêbada?
  - Assim como? – Ri, pegando um copo de água que estava em cima da mesa sem realmente me importar com quem seria o dono. Minha garganta estava seca.
  - Como um anjo. – Ela colocou as mãos em baixo do rosto, fazendo uma pose angelical. Sim, ela estava bêbada.
  E aparentemente não era a única que havia exagerado no álcool, porque Niall estava rindo escandalosamente de uma besteira qualquer. Harry também não estava muito atrás, pois fazia caras e bocas e falava mais devagar que o normal.
  Meia hora depois, Haz já tinha ido cantar novamente e eu tentava controlar as bebidas dos que restaram na mesa. Não me leve a mal, eu não sou do tipo careta que não gosta que ninguém beba enquanto eu estou por perto, mas eles já estavam ficando alegres demais. puxou Niall pela gola da camisa e os dois foram dançar. Zayn e eu ficamos sozinhos na mesa e eu comecei a rir das palhaçadas que ele fazia.
  - Olha, ... Eu sou um vampiro! – Zayn colocou dois palitos de dente embaixo do lábio superior e começou a fazer cara de mal.
  - Para com isso, Malik! – Comecei a rir, mesmo sem querer. – Você pode se machucar. Vai acabar cortando o lábio.
  - Se eu me machucar, você vai ter que dar beijinho pra sarar.
  - Bêbados não sabem o que estão falando! – Rolei os olhos em meio a risadas e puxei os palitos da boca dele.
  - Ei, isso doeu! – Reclamou, massageando o lábio. – Agora você vai ter que me beijar.
  - Talvez nos seus sonhos! – Empurrei o seu rosto para o lado quando ele começou a se aproximar com um biquinho.
  - Qualquer uma estaria doida pra me beijar.
  - Então eu acho que não sou qualquer uma. – Parei de rir um pouco e bufei. Se ele achava que começaria a me comparar com as outras que ele pegava, estava muito enganado. – Com licença.
  Me levantei e o deixei sozinho na mesa. Segui para a pista de dança improvisada onde descia até o chão e atraia olhares em sua direção, mas nem se importava. No palco, Niall e Harry cantavam “I Will survive” a plenos pulmões. É claro que eu comecei a rir e também me joguei na pista. gritou ao me ver e puxou as minhas mãos, me fazendo girar. Claro que nós duas quase caímos, mas quem liga?
  - Vamos lá pra cima! – A ruiva começou a andar em direção à escadinha que dava passagem para o palco.
  - Você ta louca? Não mesmo! – Tentei puxá-la de volta, mas era impressionantemente mais forte que eu. Quando me dei conta, já estávamos em cima do palco.
  - Você disse que não era estudante de música e não tinha obrigação de cantar. Então dance!
  Eu queria correr dali e me esconder, mas seria impossível. Resolvi entrar na onda e comecei a dançar ao lado de Harry, que continuou cantando. estava na outra ponta e coreografava e interpretava a música. O moreno me ofereceu o microfone e nós cantamos o refrão juntos. Tenho certeza que me enrolei nas palavras, mas também não liguei. Estava rindo mais que tudo. Zayn chegou à pista de dança e começou a dançar desengonçado. Não sei se ele realmente não sabia dançar, ou se era culpa da bebida. Só sei que eu já estava rindo muito e ao vê-lo minhas risadas só fizeram piorar. Sem perceber, comecei a dançar encarando-o. Ele com certeza percebeu, pois sorriu maroto e se aproximou do palco.
  - Dança comigo? – Zayn fez uma reverência e eu pensei em dizer não.
  - Por que não? – Dei de ombros.
  Eu estava dançando em cima de um palco, com centenas de pessoas me assistindo, ao lado de dois garotos que pareciam ter acabado de sair do armário e uma ruiva bêbada. Que mal faria dançar com Zayn? Ele provavelmente não se lembraria de nada no dia seguinte mesmo. Segurei a sua mão e desci do palco, tropeçando nos meus próprios pés. Típico! Por sorte, Zayn me segurou pela cintura e eu não caí no chão.
  - Opa, cuidado. – Ele sorriu, me ajudando a retomar o equilíbrio. E olha que ele era o bêbado da história!
  - Obrigada. – Gargalhei e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
  Aparentemente mais ninguém queria cantar, então os meninos continuaram com o show. Os dois garotos levavam jeito para a coisa, mas só fazia palhaçadas. Eles começaram a cantar um cover dos Beatles: “She loves you”. É claro que como uma fã dos Beatles desde pequena, eu puxei Zayn para o meio da pista e começamos a dançar. A batida da música era bem dançante, então até ele acertou uns passinhos. Imitávamos coreografias dos anos 60 e ele me girava pelo espaço todo. Minha saia voava e meus cabelos logo estavam em meu rosto, mas eu não me importava. Quando não estava segurando a minha mão, ou me puxando, Zayn rodopiava sozinho e balançava os braços. Minhas bochechas chegaram a doer de tanto que eu ri e o garoto não estava muito atrás, gargalhando o tempo todo. Eu sabia que ele ficaria bonito de qualquer jeito, até mesmo todo suado e desarrumado como estava, mas aquilo já era demais. O olhar, o sorriso, os músculos modelados perfeitamente pela camisa...
  A música acabou e nós dois retomamos o fôlego. Eu aproveitei aquela pausa pra colocar os pensamentos no lugar, ou seja, mandar os pensamentos impróprios para o fundo da minha memória. Tinha certeza que eles voltariam a me assombrar mais tarde.
  - Essa vai para os casais da platéia! – Harry anunciou a próxima música. – Ela se chama “Talking to the moon.”
  Sorri no mesmo instante que ele começou a cantar. Seria possível que Hazza conhecia todas as minhas músicas preferidas? Fiquei parada apenas olhando-os cantar por uns segundos. Era uma música bastante lenta e casais começaram a se formar pela pista de dança. Zayn se aproximou cauteloso e eu me virei de frente pra ele. Não falamos palavra alguma, mas as suas mãos envolveram a minha cintura e meus braços o seu pescoço. Nossos corpos se juntaram e começamos a dançar devagar, indo de um lado para o outro como se ninguém mais importasse. Sei que é besteira e que eu não devia estar me deixando levar, mas eu realmente sentia como se estivéssemos sozinhos ali. Deitei meu rosto no ombro de Zayn e a ponta do meu nariz tocou seu pescoço. Senti que ele ficou arrepiado com aquilo e ri baixo. Sabia que ele estava sorrindo e eu não precisei olhá-lo pra perceber aquilo. Fechei os olhos e inspirei, deixando aquele perfume -que eu tanto gostava de evitar- me entorpecer.
  - Por hoje é só, pessoal! – O organizador do karaokê começou a se despedir e eu me perguntei há quanto tempo a música já tinha acabado. Levantei a cabeça, mas não fiz questão de afastar o meu corpo do de Zayn.
  - Achei que você tinha dormido aí. – Ele riu e eu revirei os olhos.
  - Pra onde vamos agora? Alguém conhece uma festa? – Uma risonha se aproximou e eu e Malik nos separamos.
  - Agora nós vamos pra casa, . Nada de festa. – Ela fez um bico enorme quando eu cortei o seu barato, mas tenho certeza que parte disso foi por ter usado o seu nome inteiro; coisa que ela odiava.
  - chata. – Niall me mostrou a língua e eu revidei com uma careta.
  Nós fomos até o caixa e Harry e eu não precisamos pagar, por ser a nossa primeira vez. Se mais Pubs em Londres fossem assim, eu iria visitar um novo a cada semana. Saímos do estabelecimento e chegamos até o estacionamento. E foi então que encontramos um problema. Um bem grande, aliás. Zayn dera carona à e Niall, mas nenhum dos três estava sóbrio o bastante para dirigir. Deixar o carro no estacionamento do Pub e pegar um taxi também estava fora de cogitação, já que o lugar ia ficar fechado até a próxima sexta. Ou seja: Qualquer carro que fosse deixado por ali estaria preso até a próxima semana e ninguém podia ficar sem transporte.
  - E agora? Esses três aí não estão em condições de dirigir. – Me virei para Harry.
  - Não cabem todos do meu carro... – Passou a mão pelos cabelos, pensativo.
  - O que estão cochichando aí? – se pendurou no meu ombro e quase fui ao chão.
  - Estamos decidindo o que fazer, já que você e o pudincup vieram com o senhor-eu-preciso-de-mais-mil-dessas. – E apontei para Zayn, que não conseguia nem abrir o próprio carro.
  - Eu posso levar o casal ternurinha no meu carro e você leva o Zayn no dele. – Harry teve essa brilhante conclusão.
  - E depois que eu deixar o Malik em casa com o carro, volto de taxi? Sozinha? Não mesmo!
  Zayn finalmente conseguiu abrir o carro e estava quase sentando no banco do motorista, mas eu fui mais rápida e corri até ele. Harry segurou quando eu me afastei e indicou a ela e Niall para entrarem em seu carro, escondidos de mim.
  - Onde o senhor pensa que vai? – Segurei a porta do carro, impedindo Zayn de ir a qualquer lugar.
  - Te levar em casa, é claro. – Seus olhos estavam entreabertos e sua voz saiu embargada.
  - Claro que vai. – Ironizei, mas pelo sorriso que ele me deu não deve ter entendido que eu não falava sério.
  - Te ligo amanhã, . – Harry gritou quando passou ao lado do Volvo, já dentro de seu carro e levando os outros dois consigo.
  - HAROLD! – Gritei de volta, mas era tarde demais. Ele partiu e me deixou sozinha com o bêbado. Digo... Zayn.
  - Parece que somos só nós dois agora, gata. – Gata? Pronto, era só o que me faltava.
  - Tá de brincadeira? – Choraminguei, escondendo o rosto em minhas mãos.
  Já que não tinha mais jeito, eu fiz Zayn levantar e ir para o banco de trás. Ele resmungou algo como “Ninguém dirige o meu carro”, mas eu rebati que aquele carro era na verdade da mãe dele. Cinco minutos depois ele já estava apagado. Além de tudo, aquela ainda era a minha primeira vez dirigindo um carro britânico; ou seja, tudo ficava do lado contrário ao que eu estava acostumada. Tive vontade de desistir por um minuto e me senti fraca. Odiava me sentir assim, então segui em frente justamente por isso. No começo foi meio complicado, mas como as ruas estavam praticamente vazias, fui pegando o jeito devagar.
  Olhei Zayn pelo retrovisor e pensei no que a mãe dele acharia na hora que seu filho mais velho entrasse em casa completamente bêbado. E o pior é que não deveria ser a primeira vez, mas mesmo assim eu me senti mal por ela. Pelo que me contou, ele era o homem da casa desde que seu pai fora embora, tendo que cuidar da mãe e das três irmãs. Então era normal que ele quisesse se divertir de vez em quando e esquecer toda a pressão que deveria ser depositada nele. Mas ao mesmo tempo... Não era justo com a sua mãe. Odiei-me por me importar tanto assim, mas só tinha uma coisa que eu poderia fazer. Na verdade, só tinha uma coisa que eu deveria fazer.

+++

  - Ei, essa não é a minha casa. – Zayn teve essa brilhante conclusão quando entrávamos na minha casa. Ele mal conseguia andar, então eu passei seu braço por cima do meu ombro e o arrastei até as escadas.
  - É a minha casa, Malik. – Expliquei. – E fala baixo, porque tem gente dormindo.
  - Uhhh. – Ele sorriu cafajeste e eu acabei rindo. Será que até bêbado ele só pensava besteira?
  - Nada de “uhh”. Eu fiquei com pena da sua mãe, por isso te trouxe pra cá.
  - Querendo agradar a futura sogra. – Disse assim que terminamos de subir as escadas.
  Eu o ignorei, é claro, e rolei os olhos. Abri a porta do meu quarto e o deixei sentado na minha cama. Voltei a fechar a porta, por causa do barulho, e coloquei a minha bolsa e casaco dentro do closet. Aproveitei pra pegar algumas peças de roupas que serviriam em Zayn. Claro que as roupas não eram minhas, porque ele com toda certeza não iria caber em nenhuma das minhas camisolas. Separei uma camiseta do The Strokes e uma calça de moletom cinza que pertenceram ao meu irmão antes que eu as roubasse.
  - Eu vou tomar um banho e depois você vai, ok? – Ele assentiu com a cabeça e eu caminhei até o banheiro, deixando as roupas dele em cima da cama.
  Fechei a porta, mas não cheguei a trancar, imaginando que o menino ficaria onde estava me esperando voltar. Tirei os sapatos, a saia e a blusa, ficando apenas com as roupas íntimas. A porta se abriu de repente e Zayn correu até o vaso sanitário. Eu me assustei, e cobri o corpo com as mãos. O menino se ajoelhou e começou a vomitar. Eu deveria ter ficado com nojo, ou reclamado pela forma que ele entrou, já que eu poderia estar pelada. Mas só consegui sentir pena dele. Sim, pena. Deveria estar muito enjoado, já que misturou as bebidas no Pub. Eu caminhei até ele e me abaixei. Teria segurado os seus cabelos se fosse uma mulher, mas apenas repousei a minha mão em seu ombro e apertei de leve.
  - Vai passar... – Fiz um carinho por ali, sem saber mais o que falar. Ele logo parou de colocar o estômago pra fora e me olhou envergonhado. – Melhorou?
  - Um pouco... – Eu o ajudei a levantar e Zay se apoiou na pia, lavando a boca e o rosto.
  - Eu acho que você deve tomar banho primeiro. – Nem lembrava que estava quase sem roupa alguma até sentir o menino me olhar pelo reflexo do espelho. Mas ele não me olhava com quartas intenções e eu tinha certeza que estava se sentindo mal por ter atrapalhado o meu banho. – Um banho quente seria mais gostoso, mas você precisa é de água fria!
  - Água fria? – Choramingou. Eu afirmei que sim e caminhei até o chuveiro, ajustando a temperatura da água.
  - Pronto. Eu vou estar aqui fora e qualquer coisa você me chama, ok? – Caminhei até a porta, pronta pra sair.
  - ... – Ele me chamou e eu voltei a olhá-lo. Zayn estava visivelmente sem jeito. Parecia uma criancinha envergonhada. – Você... Pode me ajudar?
  - Te ajudar a tomar banho?
  - É melhor deixar pra lá. Eu me viro. – Ele deu um passo, se afastando da pia, e quase se desequilibrou.
  - Zayn! – Fui até ele. – Você está tonto, é claro que eu ajudo.
  O fiz encostar mais uma vez na bancada do banheiro, de frente pra mim dessa vez. “Não acredito que estou fazendo isso”, era só o que passava pela minha cabeça quando eu segurei a barra da camisa que ele usava. Comecei a levantá-la devagar, impedindo o meu olhar de fazer um caminho pelo abdome e peitoral que começava a aparecer. Ele levantou os braços pra me ajudar a tirar a peça de roupa e me olhou de forma engraçada. Eu acabei rindo com aquilo e olhei para a próxima peça de roupa que teria que ir embora.
  - Pode me ajudar com isso? – Perguntei e ele riu. Tirou os tênis com os próprios pés e fez o mesmo com as meias.
  - Isso ajuda?
  - Não era disso que eu estava falando, Malik! Tire as suas calças! – O olhei em reprovação e ele riu de novo.
  - Já? Sem nem um jantar antes? – Ele brincou, mas desabotoou a calça jeans e eu a observei cair de suas pernas.
  - Calado. – O repreendi, mas acabei rindo. – Agora entra no chuveiro!
  Ajudei-o a caminhar até o chuveiro depois de explicar que ele teria que tomar banho de cueca. Que por sinal, era uma boxer preta. Agradeci mentalmente por não ser branca, daquelas que ficariam transparentes depois de molhadas. Ele entrou no box e apoiou uma mão na parede. Fui distraída por um momento e acabei passando os olhos pelas costas de Zayn, estudando cada traço, cada linha e cada músculo. Ele virou de frente pra mim e eu repeti o ato, quase babando pela perfeição do seu corpo. Além de reparar nas mil tatuagens que ele tinha, é claro. Começava a me sentir uma aproveitadora. Balancei a cabeça negativamente e afastei pensamentos impróprios para menores de idade e o fiz entrar embaixo do chuveiro. Ele gemeu de frio e eu senti pena mais uma vez. Claro que comecei a rir das caretas que ele fazia e acabei sendo puxada pra dentro do cubículo de vidro.
  - O que você está fazendo? – Tentei me soltar dele, fazendo de tudo pra não gritar com os pingos de água fria que batiam na minha pele.
  - Não vou deixar você ficar rindo de mim! – Zayn me puxou pra baixo do chuveiro, gargalhando do meu desespero.
  - Mas você é que está bêbado! Não eu! – Finalmente me soltei e nós dois saímos de debaixo d’água. – Eu posso tomar banho quente.
  - Cadê o apoio? – Ele continuou rindo de mim e eu lhe entreguei um sabonete.
  - Não sou muleta pra dar apoio. – Ok, talvez eu estivesse um pouco bêbada sim, porque essa piadinha foi terrível. Pelo menos ele riu.
  - Você também não sabe fazer piada! – Gargalhou, começando a passar o sabonete pelo corpo.
  Ignorei seus movimentos sensuais e me ocupei em lavar seu cabelo. Seus fios escuros deslizavam entre os meus dedos e o shampoo logo fez espuma. Eu queria perguntar se ele tinha algum creme especial que fazia o cabelo ficar tão macio assim, mas me contive.
  Logo ele estava limpo e um pouco mais sóbrio. Entreguei-lhe uma toalha felpuda pra que pudesse se secar e o mandei pra fora do banheiro. Antes que ele saísse pra que eu pudesse tomar o meu banho direito, expliquei que tinha um colchão em baixo da minha cama que ele deveria pegar pra dormir. É claro que Zayn estava achando que iria dormir comigo, mas eu logo tratei de destruir aqueles sonhos. Assim que fiquei sozinha no banheiro, tirei as roupas que ainda me restavam e entrei no chuveiro. Claro que só depois de esquentar a água.
  A noite havia sido realmente incrível. Cada dia parecia ser melhor que o anterior e eu estava me acostumando com a vida agitada que tinha em Londres. Em Paris era totalmente diferente, já que eu quase nunca saía de casa. A não ser pra ir à escola e a ensaios, ou quando Lou me arrastava pra ir ao cinema e coisas assim. Nada muito animado. Sem falar que era a primeira vez que eu dava banho em um homem que não fosse o meu irmão. Se babá de bêbado desconhecido? Isso eu já tinha feito. Mas dar banho? Não até aquele momento.
  Devo ter demorado pouco mais de vinte minutos pra terminar o banho e me vestir com um pijama de mangas compridas. Segui para o quarto e encontrei uma surpresa: Zayn estava dormindo na minha cama. E não era como se ele tivesse adormecido ali por acidente, já que estava todo enterrado embaixo das cobertas. Eu pensei em acordá-lo, mas ele estava tão tranqüilo que eu não consegui. Pelo menos Malik tinha vestido o pijama improvisado e arrumado as suas coisas na minha mesinha de cabeceira. O celular dele estava piscando ali em cima e eu li a frase: “Você tem uma nova mensagem de: Mum.” Ela devia estar preocupada. Peguei o aparelho e li a mensagem.

“Zayn Javadd Malik, onde você se meteu?”

  Eu não sabia que o nome do meio dele era Javadd... Dei de ombros e apertei no botão pra responder:

“Desculpa te preocupar, mãe... Acabou ficando tarde e eu vim dormir na casa de um amigo. Não precisa se preocupar, ok? Amanhã cedo eu volto pra casa.”

  Enviei e torci para ser convincente o bastante. Já que o senhor Malik estava na minha cama, eu puxei o colchão e arrumei a minha cama improvisada pelo chão mesmo. Estava pronta pra apagar a luz do abajur quando o celular começou a piscar novamente.

“Tudo bem, meu amor. Mas se cuide. As meninas sentem a sua falta. Não demore.”

Capítulo XIII

  O relógio da mesinha de cabeceira marcava pouco mais de 13h40min quando eu consegui deixar a preguiça de lado e me sentar no colchão. Imagens da noite passada passaram na minha mente e eu não seguirei um sorriso. Harry e Niall cantando, bêbada, Zayn no chuveiro... Ahh, Zayn no chuveiro. A água gelada escorrendo pelo corpo e arrepiando a sua pele... “Gatinhos. Bolo de chocolate. Algodão doce!” Tentei ocupar a minha mente com coisas mais puras. Olhei para o lado e notei que Zayn ainda dormia profundamente e seria melhor que ele continuasse assim, já que teria uma baita ressaca ao acordar.
  Levantei com cuidado e fui em direção à porta tentando fazer o máximo de silêncio possível. Deixei o meu quarto e preferi usar o banheiro do corredor para fazer a minha higiene e não acabar acordando o meu “convidado”. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo alto e escovei os dentes.
  - ? Tem comida pronta lá na cozinha. – Louis bateu na porta do banheiro e eu a abri quase que no mesmo momento.
  - Eu gosto de comida. – Ri de mim mesma, já que estava parecendo Niall.
  - Alguém acordou de bom humor hoje. – Meu irmão sorriu e passou o braço em volta dos meus ombros para descermos juntos.
  - O que posso fazer? Eu dormi bem, só isso. – Dei de ombros, sorrindo.
  Chegamos à cozinha e o cheiro de panquecas e mel me preencheu, fazendo a minha fome aumentar. Louis foi para a sala assistir televisão e me deixou sozinha com Liam, que era quem estava cozinhando.
  - Bom dia, Leeyum. – Caminhei até ele praticamente saltitando e deixei um beijo em sua bochecha.
  - Já é boa tarde, . – Ele sorriu, mas não se virou pra me olhar.
  - Pra mim só vai deixar de ser bom dia depois que eu comer. – Sentei na bancada da pia e comecei a balançar os pés no ar.
  - Tem um carro prata aí na porta.
  - Ah, eu sei! – Falei descontraída. – É o carro do Zayn. Ele ainda está dormindo...
  - Hm. – Liam sempre foi do tipo comunicativo e alegre, mas naquela tarde ele estava muito estranho.
  - O que foi, Liam? Porque você está assim?
  - Não é nada, . – Ele falou ainda sem me olhar.
  - E te conheço e sei que tem algo te incomodando. Mas deixa pra lá. – Rolei os olhos. Se ele não queria falar, eu não iria insistir.
  - Eu também achei que te conhecia.
  - O que quer dizer com isso? – Naquele ponto eu já começava a me perguntar o que tinha feito de errado.
  - É só que eu fiquei tão preocupado como que você poderia pensar naquele dia que a Candice passou a noite aqui... – Ele largou a frigideira com violência dentro da pia ao meu lado e eu me assustei com o barulho, descendo da bancada em um impulso. Liam começou a despejar as palavras em cima de mim. – Mas parece que você também é uma qualquer.
  - O que você acabou de dizer? – Tudo aconteceu tão rápido que eu mal pude acreditar no que estava ouvindo. Liam pareceu arrependido no mesmo momento em que falou tudo, como se não tivesse pensado direito. Mas não importava, porque tinha me machucado do mesmo jeito.
  - ... – Coçou a nuca e tentou tocar o meu braço, mas eu me afastei. – Eu não queria...
  - Como você pode pensar algo assim de mim? Eu não transei com o Zayn, Liam. Nem ao menos dormimos na mesma cama. – Comecei a falar um pouco alto de mais e vi pelo canto de olho que Louis veio ver o que estava acontecendo. – Ele só estava bêbado demais pra ir pra casa e eu o trouxe aqui. Porque eu me preocupo com os meus amigos.
  - Eu pensei... Eu só... – Ele gaguejou e eu me afastei ainda mais.
  - Mas pense o que quiser, porque eu não te devo explicação nenhuma.
  Deixei a cozinha o mais rápido que pude, perdendo completamente a fome. Enquanto eu subia as escadas, escutei meu irmão falando pra Liam não vir atrás de mim, porque acabaria piorando as coisas. Ainda bem que ele sabia disso. Eu tinha pequenas lágrimas nos olhos, mas não eram de tristeza. Era decepção e quase raiva. Voltei para o meu quarto e tranquei a porta. Zayn ainda estava dormindo e eu comecei a cogitar a possibilidade de ele estar desmaiado. Respirei fundo umas cinco vezes e pensei em coisas boas. Não valia a pena ficar irritada por uma besteira.
  Aproximei-me da minha cama e sentei com cuidado. Zayn parecia estar em paz. Ele estava deitado com as costas na cama e o rosto virado na minha direção. Seu peito subia e descia com a respiração lenta e eu senti vontade de tocá-lo. Não sei exatamente o porquê, mas estiquei a mão e passei a ponta dos dedos pela testa dele, brincando com alguns fios de cabelo que estavam bagunçados por ali. Parei por um momento, esperando alguma reação. Nada. Deslizei os dedos pela lateral do rosto de Zayn, indo até a maçã do rosto e seguindo caminho pelo nariz. Desci pelos lábios e perdi o meu olhar por ali. Eram tão vermelhos e bem desenhados... Na verdade, todas as partes dele deveriam ter sido desenhadas por anjos. Ele se mexeu um pouco e eu recolhi a mão. Zayn resmungou alguma coisa sem sentido e suspirou. Eu sorri e o observei abrir um pouco os olhos.
  - Hora de acordar... – Sussurrei.
  - Hum? – Resmungou, puxando o edredom pra cima do rosto.
  - Zayn... Acorda... – Abaixei o cobertor e ele me encarou desnorteado.
  - ? O que você está fazendo aqui? – Perguntou sonolento, fechando e abrindo os olhos.
  - Na verdade... É você que está aqui. – Ri. – Você está na minha casa, Zayn. Eu não quis te levar pra casa naquele estado ontem.
  - Eu não me lembro de nada... – Ele começou a se sentar e levou uma mão até a testa. – Ai, minha cabeça.
  - O nome disso é ressaca. E das grandes.
  - Que roupas são essas? – Olhou para o próprio corpo e percebeu que aquelas roupas não eram as dele.
  - São do meu irmão. Depois que eu te dei banho, você as vestiu pra dormir.
  - Você me deu banho? – Ao mesmo tempo em que parecia assustado, ele estava rindo.
  - Ahn... É. – Falei demais. Eu poderia ter dito que ele havia se lavado sozinho, mas não! Tive que falar que EU dei banho no infeliz. – Mas você estava de cueca, então não tem problema.
  - Me sinto violado. – Brincou, fazendo uma cara de espanto.
  - Se serve de consolo, você também me viu de calcinha. – Acabei rindo com a lembrança de nós dois no chuveiro.
  - Vi?! Agora sim eu estou com raiva por não lembrar de nada!
  - Você realmente não se lembra de nada? Nadinha?
  - Bem... Eu lembro de cantar. E também lembro da dançando no palco. – Nós dois rimos. – E eu também lembro de cantar com você...
  - Só isso? – Então ele não se lembrava da nossa dança... Enquanto eu não conseguiria esquecer. Mas seria melhor assim.
  - Tem mais coisa?
  - Nada importante. – Menti e levantei da cama. – Vem.
  - Pra onde vamos? – Também foi levantando e me seguindo até a porta.
  - Já que eu estou cuidando de você, vou fazer isso direito! Primeiro você vai ao banheiro, lavar esse rosto de sono, e depois vai me encontrar na cozinha. Meu irmão tem um remédio ótimo pra ressaca.
  - Sim, chefe.

+++

  - ! ! ! – Louis gritou descendo as escadas. – Tenho uma surpresa pra você!
  - Eita, Lou ta aprontando alguma coisa. – Ri e abaixei a cabeça, encostando a testa na mesa da sala de jantar. Zayn estava sentado na minha frente, com uma garrafa de “energy juice” nas mãos. – E eu já falei pra você não perguntar o que tem aí, Zayn. Só beba, porque vai ajudar.
  - Tem certeza? Eu nem consigo ver a cor desse troço, porque você colocou em uma garrafa escura! – Ele balançava o líquido e tentava sentir algum cheiro. – E se for uma coisa gosmenta?
  - Larga de frescura, Malik. Bebe logo! – Levantei a cabeça e fiz careta para o moreno. – Uh oh.
  Louis entrou na sala de jantar e trouxe uma caixa preta em suas mãos. Zayn o olhou com curiosidade, mas eu sabia exatamente o que estava ali dentro; o motivo dos meus pesadelos. Meu irmão mais velho riu da minha cara de tristeza e colocou a caixa em cima da mesa.
  - Lembra disso, ? – Puxou a tampa da caixa para abri-la e tirou um par de patins azuis.
  - Hm? O que é isso? Não faço ideia! – Me fiz de desentendida e ele riu de novo.
  - Wow! Eu adorava andar de patins! – Zayn pegou outro par de dentro da caixa e começou a brincar com as rodinhas. – Por que você está fazendo essa cara, ?
  - Porque ela mal consegue ficar em cima de um desses. – Louis me dedurou.
  - Em minha defesa... É muito complicado. – Cruzei os braços. – Mas onde você os encontrou?
  - Nosso pai veio aqui ontem e trouxe. Estava no armário da despensa dele. – Explicou.
  - O papai esteve aqui? Você falou pra onde eu fui?
  - E trouxe a Lux. – Choraminguei quando escutei, porque adoraria ter visto a minha pequena. – Eu disse que você foi encher a cara com garotos da Academy.
  - LOUIS! – Eu tenho um irmão que é realmente um amor. É claro que Zayn morreu de rir. – Espero que você não tenha falado isso.
  - Quem é Lux? – Zayn perguntou.
  - Nossa meio-irmã por parte de pai. – Lou respondeu enquanto ajeitava alguma coisa no meu patins.
  - Não sabia que você tem uma meio-irmã... Está escondendo-a de mim por quê? – Ele fez uma cara de safado e eu sorri irônica.
  - Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Malik. E ela tem dois anos de idade.
  - Muito nova pra mim. Mas de qualquer forma, eu prefiro a irmã dela. – Piscou. É claro que Louis me olhou com um sorrisinho no canto dos lábios que me deu vontade de bater nele. Bater nos dois, na verdade.
  - Tá, claro. – Rolei os olhos. – Beba seu energy juice e pare de falar besteira.
  - Então, ... Lembra do que me prometeu, né? – Louis levantou uma sobrancelha.
  É claro que eu me lembrava... Há quase um ano atrás, fiz meu irmão comprar pra mim aqueles patins, porque todos sabiam andar menos eu. Então eu estava cansada de ver ele e Harry patinando por aí e eu tendo que seguir na bicicleta. O problema é que aprender a usá-los acabou sendo mais complicado do que eu achava. É claro que ter equilíbrio deveria ser algo fácil para uma bailarina capaz de ficar horas em cima da ponta do pé, mas não era; não pra mim. Minha sorte é que os patins ficaram na casa do meu pai, em Londres, então eu os deixei para trás quando o verão acabou e tivemos que voltar pra Paris. Louis ficou super irritado, falando que tinha gastado o próprio dinheiro pra me dar aquele presente e o mínimo que eu poderia fazer era tentar aprender. Então eu prometi que assim que voltássemos à Londres, eu deixaria ele tentar me ensinar.
  - Lembro sim, Lou. – Choraminguei, aceitando o meu destino.
  - Ótimo! Começaremos as aulas hoje mesmo. – Voltou a guardar os patins dentro da caixa e foi para a sala sem nem me dar tempo de reclamar.
  - Você vai ver que é fácil, . Vou te ensinar umas técnicas que... – Zayn já começou a se convidar pra assistir a aula.
  - Você ainda vai estar aqui? – Brinquei, querendo irritá-lo. – Terminou?
  - Terminei sim... Até que não estava tão ruim... – Levantei e ele me entregou de volta a garrafa vazia. Antes que eu pudesse chegar à cozinha, Zayn começou a “tremer” na cadeira como se estivesse tendo convulsões, fazendo uma cara engraçada.
  - Zayn? O que está acontecendo? – É claro que eu estava preocupada, principalmente quando ele caiu no chão –se jogou– e ficou tremendo lá. Eu me aproximei assustada e tentei segurar seus ombros. – Zayn!
  - Você disse que o nome era energy juice... – De repente ele parou com aquela brincadeirinha e começou a rir; provavelmente da minha cara.
  - Isso... Não... Se... Faz! – Dei tapas nele entre cada palavra. – Idiota!
  Saí de perto dele, irritada. Entrei na cozinha, mas ainda conseguia escutar as risadas. Teria sido realmente engraçado se eu não achasse que ele estava tendo um ataque. Vai saber, né? Ele podia ter alergia ou algo assim. Caminhei até a pia e comecei a lavar os pratos pra me distrair. A frigideira ainda estava lá no mesmo estado em que Liam deixara e ele devia estar trancado no quarto, pensando no que fez. Contanto que eu não precisasse olhar pra ele, poderia ir pra qualquer lugar.
  Zayn entrou na cozinha e eu permaneci de costas pra ele, com as mãos ensaboadas e dando total atenção a um copo de vidro. Senti a sua aproximação, mas continuei focada. Quando ele se preparava pra falar ou fazer alguma coisa, o celular em seu bolso começou a tocar.
  - Hey, mum... – Ele atendeu e eu me virei um pouco, fitando-o por cima do ombro. – É, eu ainda estou aqui na casa... Do meu amigo? – Me olhou. – Que eu falei na mensagem ontem? – Terminei de lavar os pratos e sequei as mãos. Zayn ainda me olhava como se perguntasse: “Você tem algo a ver com isso?” E eu respondi: “Culpada.” Apenas mexendo os lábios. Não queria que a mãe dele escutasse a minha voz e ficasse pensando besteira. – Claro, não se preocupe... Eu já vou. Tá bem, mãe. Eu também te amo.
  - Que coisa mais linda! – Ri quando ele desligou. – Você não parece ser do tipo que fala “eu te amo” para a mãe.
  - Cala a boca, . – Foi a vez dele de ficar irritado comigo. Mas logo abriu um sorriso e continuou. – Ela está preocupada... Quer que eu vá pra casa.
  - Que pena que você não vai estar aqui pra me ver cair do patins! – Falei irônica enquanto ele mexia no celular. Deveria estar procurando a mensagem que a mãe dele disse que recebeu.
  - É realmente uma pena... Mas eu vou pedir ao Louis pra gravar um vídeo e me mostrar depois. – Ele riu.
  Ajudei Zayn a recolher as coisas e o levei até o carro. Estava gostando de passar um tempo com ele, apesar de sempre acabar ficando irritada com as suas gracinhas. Ele não era a pior pessoa do mundo, vamos concordar. Nos abraçamos antes que ele entrasse no carro e eu constatei que estávamos passando para um nível mais avançado no nosso relacionamento. Deixamos de ser colegas e começávamos a virar amigos. Claro que depois do quase banho que tomamos juntos não podia ser diferente. Ele partiu e eu me pequei observando o Volvo dobrar a esquina. Quando o carro já não podia mais ser visto, me virei e dei de cara com Louis parado no batente de casa. Ele já estava vestido com uma bermuda marrom, uma camisa listrada (pra variar) e os patins nos braços.
  - Vá se trocar e eu te espero aqui! – Mandou.
  Não respondi nada, mas o obedeci e entrei correndo em casa. Subi as escadas com pressa e passei pelo corredor mais rápido ainda. Não queria acabar encontrando Liam no caminho. Tirei meus pijamas e procurei pelo closet alguma roupa que eu não me importaria em sujar, ou até mesmo rasgar. Pelas minhas previsões, eu iria cair muito. Me vesti apropriadamente e prendi os cabelos em coque alto.
  Voltei a deixar o quarto, que estava muito bagunçado por sinal, e fui de encontro ao meu irmão. Louis conversava animadamente com uma senhora que molhava as plantas; provavelmente a nossa vizinha. Acenei pra ela educadamente e meu irmão viu que eu já estava pronta. Os dois se despediram e a mulher nos convidou para ir até a casa dela mais tarde, porque faria cookies. É claro que Lou aceitou o convite na mesma hora.
  Começamos a caminhar na direção da área da piscina, já que ali perto também tinha uma espécie de espaço próprio para skate, patins, bicicleta e coisas assim. Eu teria preferido ficar na rua de casa, já que a probabilidade de alguém me ver seria muito menor. Mas Louis argumentou que seria perigoso demais por causa dos carros e que tinha medo de eu ser atropelada. Claro que dei um tapa em sua cabeça quando ele fez uma gracinha.
  Assim que chegamos à pracinha – que estava vazia, graças aos deuses – Louis já me mandou calçar o patins e ele fez o mesmo. Me sentei em um banco de mármore e tirei os sapatos, trocando-os pela arma que seria responsável pela minha morte. Lou sentou ao meu lado e me imitou. Porém, ele foi muito mais rápido e logo levantou. Se exibindo, foi até o outro lado e voltou de costas.
  - Metido. – Falei baixo.
  - Eu escutei isso! – Riu.
  - Era pra ouvir mesmo! Agora venha cá e me ajude a levantar...
  - Okay! Primeiro você vai só tentar ficar em pé, já que nem isso conseguiu da outra vez. – Eu estava com os braços esticados e ele segurou as minhas mãos. Me puxou com cuidado até eu encontrar apoio.
  - Mas da outra vez eu não conseguia parar de rir porque você e o Harry não paravam de fazer palhaçada! – Meu pé direito foi muito pra frente e eu quase perdi o equilíbrio, mas Louis colocou o próprio patins na frente do meu e o fez parar. – Wow.
  - Pare de reclamar e se concentre, ! – Brigou comigo. – Agora eu quero que você vá arrastando um pé após o outro... Pode fazer isso?
  - Não me solta. – Segurei suas mãos com força, o impedindo de me largar, mas assenti. Devagar e quase sem sair do lugar fiz o que ele pediu. Arrastei os pés um depois do outro, tentando andar. – Assim? Não parece certo...
  - Você precisa deslizar um pouco mais. Deixa eu mostrar. – E me soltou. Com o susto, eu abri os braços e curvei o corpo para frente. Não estava nada bonita, mas pelo menos consegui achar um pouco de equilíbrio. Ele começou a deslizar os pés, tentando me dar um exemplo do que eu deveria fazer. – Entendeu?
  - Talvez... – Eu mal respirava, com medo de cair. Ao ver aquela minha pose, Louis começou a rir e eu tentei não fazer o mesmo.
  - Agora é a sua vez. Venha até mim, mera mortal. – Esticou os braços. Ele ainda estava um pouco longe, mas acho que era proposital.
  - Olha como fala comigo. Eu ainda posso mandar cortarem a sua cabeça! – Acabei rindo. Mexi os pés do jeito que ele fizera e consegui sair do lugar. Ainda parecia meio desajeitada, mas pelo menos estava me mexendo.
  - Você está indo muito bem... – Lou sorriu companheiro. Eu já estava quase chegando até onde ele estava, mas o infeliz caminhou pra trás na mesma hora em que eu investi contra a sua mão. Ou seja: Perdi completamente o pouco de equilíbrio que tinha e fui de cara ao chão. Não literalmente, porque usei minhas mãos para amortecer a queda. – Desculpa, !
  - LOUIS! – Gritei! Era exatamente por isso que eu não gostava quando ele tentava me ensinar. Sempre dizia que ia me segurar, mas acabava soltando. – Eu vou te matar!
  - Pra isso você teria que me alcançar! E desse jeito não vai nem chegar perto. – Saiu de perto de mim, rindo. Eu fiquei de joelhos, calculando como faria para levantar.
  - Eu posso te matar enquanto você estiver dormindo. Melhor aprender a dormir com o olho aberto. – Eu estava emburrada, principalmente por ele não querer me ajudar.
  - Que meeeeeeedo. – Levou as mãos para o rosto e fez uma cara de espanto.
  Eu apoiei as duas mãos no chão e tentei encostar as rodinhas do patins ali também. No começo não deu muito certo e eu acabei caindo de novo. Dessa vez, batendo a bunda no chão. Gemi de dor e Louis riu mais ainda. Tentaria de outra forma. Mantive as mãos firmes no chão, mas ao invés de jogar o corpo pra frente, coloquei a bunda pra trás. Não sei como, mas consegui ficar de cócoras. Já era um começo. Sem me importar com a vulgaridade, fui empinando a bunda até estar com as pernas retas. Metade do caminho já foi... Eu mesma comecei a rir porque não conseguia levantar o tronco. Qualquer força que eu fizesse com os pés, faria o patins escorregar.
  - Lou, me ajuda... – Implorei. – Boo bear... Por favor...
  - Você sabe que eu não consigo negar quando você me chama assim. – Bufou e veio até mim. Parou ao meu lado e segurou a minha cintura. – Pode levantar agora.
  - Se você me soltar, eu realmente te mato. – Mas ele não me soltou. Segurou minha cintura com mais firmeza e eu finalmente fiquei de pé.
  Continuamos tentando andar em cima daquele objeto mortal de seis rodas por um bom tempo. Ou melhor, eu continuei tentando e Louis ficou se exibindo. Provavelmente torcendo para que alguma garota aparecesse e ficasse encantada com as suas habilidades. Meu professor fajuto decidiu que antes de aprender a andar, eu deveria aprender a levantar. Eu já havia caído umas quatro vezes quando comecei a pegar as manhas pra levantar. Meus joelhos estavam totalmente ralados e um de meus cotovelos sangrava e sujava o meu casaco. Meu próximo banho seria muito dolorido...
  Eu já estava suada e Louis pareceu olhar em algum ponto atrás de mim. Não ousei me virar, porque não queria cair de novo. Ele me puxou até o banco e eu me sentei, agradecendo eternamente por aquilo. Se abaixou para pegar seus sapatos, mas não tirou o patins.
  - Eu vou indo pra casa, ok? De patins eu chego mais rápido! – Usou essa desculpa e patinou até a calçada.
  - E me deixar voltar sozinha? – Não adiantou, pois ele já estava indo.
  Eu o segui com o olhar e percebi Liam parado há alguns metros de mim. Nossos olhares se encontraram e eu desviei quase no mesmo instante. Fingi não ter notado a sua presença e comecei a tirar os patins. Ele foi se aproximando devagar, esperando alguma reação da minha parte.
  - ? Eu... Eu posso conversar com você? – Sua voz era baixa e ele parecia medir cada palavra.
  - Claro. – O olhei pela primeira fez, depois de calçar o meu tênis. Não esperei por ele e comecei a caminhar de volta pra casa.
  - Me desculpa, ... Pelo que eu disse mais cedo. – Liam encarava os próprios pés e andava ao meu lado. – Você não é como nenhuma outra. Eu não devia ter pensado aquilo... Na verdade, eu nem pensei. Só saiu...
  - Doeu, Liam. – Eu o olhei e meu coração não aguentou. Ele parecia realmente arrependido e chateado. – Mas eu entendo...
  - Entende? – Dessa vez ele é que me olhou.
  - Eu sei como é sentir ciúmes, Liam. Senti o mesmo quando vi a Candice na cozinha. – Dei de ombros, me entregando.
  - Sentiu? – Continuava confuso.
  - É claro! Você é um dos meus melhores amigos... Então é normal sentir esse tipo de ciúme de irmão. Do mesmo jeito que você sentiu hoje. O Louis sempre dava ataques assim quando me via com outros garotos. – Dei de ombros quando viramos uma esquina.
  - Ciúme de irmão? ...
  - Mas não se preocupe, vocês ainda são os homens da minha vida. – Ri e passei um braço por cima dos ombros dele. Como eu era mais baixa, tive que ficar na ponta dos pés e ele me envolveu pela cintura. – Agora desfaz essa cara amarrada porque eu quero o seu sorriso.
  - Só se eu ganhar um beijo. – Liam falou quando paramos na frente de casa.
  - Chantagem? Mas eu aceito. – Sorri e larguei o patins na grama, virando de frente pra ele.
  - Você primeiro. – Continuou com a cara fechada, segurando o riso.
  - Tudo bem! – Havia um brilho no olhar dele e eu aproximei o meu rosto. Pressionei os lábios contra a bochecha esquerda de Liam e demorei uns bons segundos assim. Antes mesmo que nos separássemos, pude sentir que ele sorriu. Eu acabei sorrindo junto e nos afastamos.
  - Impossível não sorrir assim! – Senti um toque de desapontamento em sua voz, mas devia ser impressão minha.
  - Fizeram as pazes? – Louis deveria estar brincando de porteiro, porque sempre aparecia na porta!
  - Eu não consigo ficar brava com essa carinha linda. – Apertei o queixo de Liam levemente. Ele sorriu mais uma vez e fomos entrando em casa.
  - É... – Ele respondeu e eu caminhei até a sala de jantar, deixando os dois no hall de entrada.
  - Falou pra ela? – Louis sussurrou, mas mesmo assim eu consegui entender. A minha curiosidade me fez parar pra tentar escutar o resto.
  - Não consegui, Louis...
  - Por que não? Você é realmente muito ruim com mulheres, Payne.
  - Eu sei.
  - É bom que você melhore. Ou vai esperar aquele Zayn fazer o que você não consegue?
  Decidi parar de escutar aquela conversa pelo bem da minha sanidade mental. Cheguei na cozinha e peguei a garrafa d’água, me servindo. Estava morrendo de sede. Meu irmão gritou que estava indo comer cookies na casa da vizinha e Liam se juntou a mim. Eu senti que ele queria falar algo, mas tinha medo de saber o que era. A voz de apareceu na minha cabeça e eu senti um frio na barriga. “O Liam gosta de você, .” Por mais que eu tentasse não acreditar naquilo, estava ficando cada vez mais difícil. Terminei o meu copo e o olhei em silêncio. Se ele quisesse falar, eu iria ouvir.
  - ... – Olhei em seus olhos e ele corou.
  - Sim, sweety?
  - A Candice me pediu pra perguntar qual shampoo você usa. Porque ela gostou do seu cabelo. – Liam falou depois de um longo suspiro. Nada daquilo fazia sentido.
  - Ahn... Depois eu passo o nome pra ela. – Não consegui lembrar o nome do meu shampoo, obviamente. Tinha me preparado pra uma coisa e o que ouvi foi outra totalmente diferente. – Eu tenho que ir, ok? Preciso tomar um banho e limpar esses cortes.
  - Tudo bem... – Seu olhar era triste quando o deixei na cozinha. Escutei o barulho de algo caindo, mas não tenho certeza se foi uma queda ou alguém derrubou de propósito.

Capítulo XIV

  Já era terça-feira e eu estava sentada nas escadarias da Academy ao lado de . Ela não tinha aula naquele dia, mas foi pra lá do mesmo jeito só pra ficarmos fofocando. Como não falei com ela no domingo e passei a segunda-feira inteira enrolando pra contar como foi o meu fim de semana, ela me sequestrou depois da minha aula particular e me obrigou a falar tudo.
  - Então deixa ver se eu entendi... – Ela arrumou o óculos nos olhos. – Você levou Zayn para a sua casa, os dois tomaram banho juntos, ele dormiu na sua cama, Liam te chamou de puta, você se esfolou toda andando de patins, Liam pediu desculpas, Liam pediu um beijo, Louis disse que Liam devia te falar algo antes que Zayn fizesse isso e Liam foi falar com você, mas acabou falando da Candice?
  - Precisa de mais dedos? – Ri do jeito que ela ia enumerando os acontecimentos nas mãos. – Você não entendeu quase nada. Sim, eu levei o Zayn até a minha casa, mas só porque não queria ter que voltar de taxi pra casa. Nós não tomamos banho juntos, tecnicamente, e estávamos vestidos. Ele dormiu na minha cama, mas eu não estava lá! Liam não me chamou de puta exatamente, só entendeu errado porque teve ciúmes. A parte do patins até que é verdade e Liam pediu desculpas sim, mas não pediu um beijo. Não desse jeito que você está pensando! E essa história que o Louis falou... Eu realmente não entendi.
  - Respira, ! - Ela riu e eu recuperei o fôlego por ter falado tudo de uma vez só. – Isso tudo aconteceu em um dia só... Uau.
  - Só pra me deixar louca! – Choraminguei e encostei a cabeça nos joelhos.
  - Posso falar a minha teoria? – A ruiva perguntou, olhando por cima dos óculos e eu acabei sorrindo por lembrar meu avô.
  - Não mesmo! – Recusei, mas ela fez um bico tão grande que eu me rendi. – Tá bem, . Fala.
  - Eu acho que o Liam continua gostando de você... E era sobre isso que o Louis estava falando. Que ele deveria te chamar pra sair antes que Zayn fizesse isso. Mas eu não sei se você já notou, o Liam é muito tímido. Ele demorou meia hora pra conversar direito comigo quando eu o conheci. E a Candice... Pode ser só um jeito pra tentar te esquecer.
  - Pra começar, ele não precisa se preocupar com o Malik. – Balancei a cabeça. Zayn nunca me chamaria pra sair, porque eu tinha certeza que não fazia o tipo dele. – E o Liam nunca foi tímido comigo... Desde o primeiro momento. Além do mais, não é como se eu não desse oportunidade pra ele falar algo...
  - Mas é diferente falar sobre coisas idiotas e sobre vocês dois namorando. – Até que ela podia ter razão, mas eu não queria ter que ficar pensando naquilo.
  - Quem está namorando? – A voz de Niall apareceu atrás de nós duas e ele logo se sentou entre eu e a namorada.
  - Vocês dois, é claro! – Sorri e baguncei os cabelos claros do irlandês.
  - Não precisa mudar de assunto só porque eu cheguei. – Ele se fez de ofendido.
  - Eu nunca faria isso!
  - A gente estava falando sobre uns amigos fofos da . – devia estar tentando fazer ciúmes em Niall.
  - Ah, é? – E ele mordeu a isca!
  - É sim... – Entrei na brincadeira. – Eu estava falando pra ela de como os cabelos cacheados de Harry são macios. E aqueles olhos verdes... E as covinhas... Ele é perfeito.
  - E a voz? Nossa, ele canta muito bem! – alfinetou e Niall a olhou bravo.
  - Você deveria namorar com ele, então! – Cruzou os braços e levantou da escada, descendo os degraus.
  - Eu prefiro loiros! – Ela levantou rindo e foi atrás dele.
  Eu fiquei ali sentada, rindo dos dois. Niall estava tentando correr de , mas ela conseguia ser mais rápida que ele.
  - Por que o Niall quer matar a ruivinha? – Zayn sentou ao meu lado e eu senti um arrepio percorrer meus braços. Por sorte estava de casaco e ele não percebeu.
  - Ela fez ele ter ciúmes do Haz. – Ri mais uma vez, ainda sem me virar para encará-lo.
  - Do Harry? Ah, ele é legal. – Zayn também riu ao ver que e Niall estavam caídos no chão.
  - Ele é meu anjinho. – Um sorriso bobo apareceu nos meus lábios e eu encarei minhas mãos.
  - Aliás, acho nós vamos ao Pub essa sexta de novo... Vocês dois deveriam ir também. – Era assim que Zayn me convidava pra sair com eles?
  - Eu não posso ir. Já tenho planos pra essa sexta. – Levantei da escada e passei as mãos pela calça, tirando qualquer sujeira. – Mas acho que ele está livre!
  - Uhh, tem planos? Vai sair com o Nick? – Zayn fez uma careta e eu ri.
  - Com o meu pai! Nós vamos jantar. – Passei a mochila por cima do meu ombro e comecei a descer as escadas.
  É claro que Zayn me seguiu escada abaixo e nos juntamos ao casal. Se antes eles estavam brigando, agora faziam totalmente o contrário. Já tinham levantado do chão, mas estavam se agarrando no meio da calçada.
  - Get a room! – Exclamei e os dois se separaram, rindo.
  - Você está é com inveja. – estirou a língua.
  - Totalmente. – Rolei os olhos com ironia. – Eu já vou indo, ok?
  - Não vai pegar carona com a gente hoje? – Niall perguntou.
  - Sorry, hoje não. Tenho que passar em um restaurante e pegar almoço para as minhas crias. Depois passar em uma locadora... E comprar sorvete. Os meninos vão chegar mais cedo do trabalho e nós vamos fazer alguma coisa lá em casa, como nos velhos tempos. – Expliquei, mas esperava que não ficassem chateados por eu não ter convidado-os.
  - Tudo bem, ... Nos vemos amanhã, então. – Minha amiga me abraçou e os meninos apenas acenaram.

+++

  A noite já começava a cair quando finalmente conseguimos decidir qual filme assistiríamos primeiro. Quando saí da Academy acabei pegando um taxi e o motorista foi muito simpático, me indicando uma boa locadora. Além disso, ele ainda me esperou ao lado de fora, sem cobrar mais por isso. Claro que eu não demorei, já que já tinha em mente os filmes que queria alugar: Grave Encounters e As Branquelas. Um de terror e um de comédia; perfeito. Em seguida, fui até um restaurante que tinha todos os tipos de comida em um lugar só, já que cada um dos meus amigos queria uma coisa diferente. Harry queria tacos, Louis pediu macarrão e Liam, algo de peixe. Pra mim, escolhi o bom e velho sanduíche com batata frita. Ok, sem aparte do velho.
  Assim que cheguei em casa e troquei de roupa, nós comemos tudo e fizemos uma bagunça enorme, como sempre. Jogamos algumas partidas de Guitar Hero e eu venci todos pelo menos uma vez. A discussão realmente começou quando nós fomos escolher a ordem dos filmes. Eu estava pedindo pra começar pelo filme de terror, já que o de comédia iria tirar as cenas ruins da nossa cabeça. Mas como ninguém nunca me dá ouvidos, eles votaram pra que começássemos pelo filme de comédia.
  Eu estava na cozinha com Harry, preparando as bacias de pipoca. Liam e Louis estavam na sala, arrumando o lugar pra ficarmos todos confortáveis. Eu cantarolava uma música da Beyoncé e Harry reclamava que eu estava atrapalhando-o. Quer uma dica? Nunca brinque com ele quando estiver cozinhando, porque isso o deixa furioso. Mas é claro que eu não tinha medo do curly boy, por isso peguei o frasquinho que continha sal e o usei de microfone.
  - To de left, to the left! – Fiz um passinho de dança ridículo.
  - , você viu o sal? – Continuei dançando e cantando sem nem escutar o que ele estava dizendo.
  - To the left, to the left. Everything you own is in the box to de left!
  - , cadê… - Ele me encarou irritado e pegou o meu microfone quando percebeu que era o que ele estava procurando.
  - Hey! Eu estava cantando. – Tentei pegar de volta e ele levantou o saleiro para o alto. Eu odiava que ele fosse tão alto.
  - Get out of my kitchen! – Fez uma cara engraçada e eu tive que obedecer, ou então a pipoca não ficaria pronta.
  Cheguei à sala e encontrei os outros dois fazendo uma guerra de travesseiros. Eles haviam afastado o sofá para trás e tirado a mesinha de centro do lugar, colocando um colchão de casal e um de solteiro lado a lado ali. Assim todos poderíamos ficar juntos em frente à televisão. Claro que eu não ia ficar só olhando os dois correrem de um lado para o outro, então peguei o travesseiro mais próximo e entrei na briga. Lou estava de costas pra mim na hora do meu ataque, portanto não viu quando eu bati em sua cabeça e caiu deitado no colchão. Eu esperava que Liam fosse me ajudar a bater nele, mas estava errada. A única coisa que vi foi o tecido branco vindo em minha direção e abaixei em uma tentativa de escapar. Louis aproveitou esse momento e jogou o travesseiro na minha barriga. Eu soltei um grito seguido por risadas. Acabei caindo de joelhos no colchão e quando meu irmão tentou me atacar novamente, Liam me defendeu e bateu nele com uma almofada. Liam gritou um “HAHA”, mas eu o surpreendi e joguei o travesseiro em suas costas. Foi a vez de Louis rir.
  Quando já estávamos ofegantes e cansados de lutar bravamente, Harry entrou na sala com uma bacia de pipoca em cada mão. Ele nos reprovou com o olhar, mas eu o mandei um beijo no ar.
  - Podem agir como pessoas civilizadas agora? – Ele brincou. Harry seria o último a poder falar aquilo, já que ele era tão bagunceiro quanto nós. Haz era do tipo que topava tudo e meu irmão sempre testava seus planos e idéias malucas com ele.
  - Só porque eu estou com fome. – Ri e fui pegar uma bacia de pipoca.
  - Lou, meu boo bear, você divide essa comigo? – Em um momento muito gay, Harry se virou para o meu irmão e fez uma cara angelical.
  - Claro que sim, meu cupcake. – Louis respondeu mais gay ainda.
  - Meu boo bear e meu cupcake. – Falei como se fosse óbvio, enciumada. Mas não me importava que os dois tivessem aquele amor todo um com o outro e até gostava. Perdi a conta de quantas vezes apanhei por falar que eles tinham um relacionamento secreto e até os apelidei de Larry Stylinson.
  - Vem pra cá, . Deixa os dois aí e nós dividimos essa que ta com você. – Liam me chamou. Virei para olhá-lo e ele já estava sentado no colchão com as costas apoiadas no sofá.
  - Mas essa pipoca é só minha. – Brinquei e logo me sentei ao seu lado.
  Com Liam do meu lado direito, Louis ocupou o esquerdo e Harry sentou na outra ponta. Colocamos o filme As Branquelas pra rodar e começamos a comer. Aquele era um filme que todos poderiam assistir dez vezes, mas continuaria sendo muito engraçado. Desde o começo nós gargalhamos e eu quase engasguei quando Louis imitou a voz de uma das irmãs Wilson.
  - Eu nunca sei quem é quem. – Liam comentou ao meu lado.
  - Brittany é mais alta e Tifanny é a outra. – Expliquei enquanto pegava mais um punhado de pipoca.
  - Esses olhos azuis delas/deles me dão arrepios...
  - Você não gosta de olhos azuis? – O encarei e abri bem os olhos. Minhas íris também tinham a cor azul, assim como as de Lou e nosso avô.
  - Eu amo os seus... Digo, eu amo olhos azuis! – Tentou se justificar. – É que essa lente de contato é estranha.
  - Eu to brincando, Leeyum. Eu também não gosto delas. – Ri e voltamos a prestar atenção no filme.
  Depois de quase quarenta minutos, eu estiquei a mão até a bacia de pipoca sem saber que já estava vazia. Na mesma hora, Liam fez o mesmo que eu e nossas mãos acabaram esbarrando. Nos entreolhamos e eu sorri. Notei que ele estava corando e meu sorriso só aumentou. O barulho do filme nos fez desconectar os olhares e eu passei a bacia vazia para que Harry a colocasse no chão.
  Durante todo o resto do filme eu tentei permanecer imóvel e mal me mexia pra respirar. Tinha medo de acabar esbarrando novamente em Liam. Não é que eu estivesse evitando o seu toque, é só que eu não saberia o que fazer. Eu não sabia o que ele queria. Tinha medo de fazer algo por influencia das ideias de e acabar sendo “rejeitada”.

+++

  Assim que os créditos apareceram na tela da televisão, eu, Lou e Haz batemos palmas. Não sei exatamente o motivo, mas sempre que o filme era bom nós acabávamos aplaudindo. Outra mania que acabou permanecendo durante os anos. Liam nos olhou como se fossemos pessoas loucas e eu gargalhei.
  - Posso colocar o outro filme? – Louis esticou os braços para cima e se espreguiçou.
  - Eu preciso lavar as mãos pra tirar o sal da pipoca. E acho que vocês também deveriam fazer isso! – Levante-me do colchão.
  Fui até o banheiro do primeiro andar. Não costumava usar aquele banheiro, mas estava com muita preguiça para subir as escadas e ir até o banheiro do meu quarto. Pude ouvir barulhos na sala mesmo estando com a porta fechada e imagino que os meninos me obedeceram e também foram lavar as mãos. Assim que saí do banheiro Liam e Harry pararam de conversar e olharam pra mim. Eu sabia que estava atrapalhando, então peguei meu celular em cima da estante da TV e fui procurar o meu irmão. Lou estava bebendo água na cozinha e eu fiquei pela sala de jantar. Apressada, digitei uma mensagem para :

“Estou assistindo o filme ao lado de Liam. Nossas mãos se encostaram e ficou uma tensão terrível entre nós dois. Sim, eu te culpo por ficar enchendo a minha cabeça de idéias.”

  E em menos de um minuto já recebia a resposta:

“O nome disso é tensão sexual, baby. Segure a mão dele e seja feliz.”

  Pra ela tudo era sempre tão simples! Eu acabei rindo com aquela mensagem e Louis saiu da cozinha. Nós dois voltamos para a sala e eu deixei o meu celular no mesmo lugar de antes.
  - Agora vamos assistir o de terror! – Harry se aproximou do aparelho de DVD e foi trocar os filmes.
  - Liam, tem certeza que vai ficar ao lado da ? – Meu irmão se ajeitou em seu lugar e eu voltei para o meu.
  - Por quê? – Perguntou confuso.
  - Porque ela tem mania de apertar quem estiver por perto nas horas de susto. – Aquilo era verdade, de fato. Não que eu tivesse medo, mas gostava de apertar algo durante as partes tensas.
  - Eu vou apertar você, Lou! – Ri.
  - Eu não me importo. – Liam deu de ombros e eu sorri.
  Todos deitamos no colchão e nos cobrimos com um edredom grosso. As janelas estavam fechadas, mas mesmo assim estava frio ali dentro. O filme começou tranquilo e eu estava relaxada. A história do filme era a seguinte: Um grupo de investigadores paranormais ia até um hospício abandonado para investigar os acontecimentos estranhos que ocorriam lá. Claro que isso não daria certo, concorda? O que me deixava mais apreensiva é que a filmagem foi feita como no filme REC e A Bruxa de Blair, como se as filmagens fossem verdadeiras.
  Enquanto eu assistia ao filme passar, fui me encolhendo devagar. Tinha a impressão de que algo iria acontecer a qualquer momento. A tela da TV ficou escura e a cena mostrava a visão noturna da câmera. Para piorar, o personagem principal filmava bem devagar e na minha cabeça já passava as milhares de coisas que poderiam aparecer há qualquer momento. Senti um roçar de dedos na minha mão e não olhei para o lado pra confirmar que era Liam. Quase por reflexo também mexi meus dedos e brinquei com os dele. Aos poucos nossas mãos foram se entendendo e nossos dedos se entrelaçaram. Quando eu ficava tensa, por causa do filme, acabava apertando a mão dele e recebia carinhos do polegar do mesmo.
  Quando a primeira pessoa do filme morreu, houve um barulho tão grande que eu acabei me encolhendo e me aproximando ainda mais de Liam. Deitei a minha cabeça no ombro dele e senti a sua respiração pesar. Com a mão livre, comecei a acariciar o braço do menino e ele apoiou a cabeça sobre a minha. Não demorou muito pra que ele soltasse a minha mão e passasse o braço por meus ombros e eu me deitasse em seu peito. Já não conseguia mais prestar atenção ao filme e só escutava os batimentos acelerados do coração que pulsava próximo a minha orelha. Seus dedos acariciavam o meu braço e os meus dedilhavam a barriga de Liam. Por mais incrível que pareça, eu não estava com segundas intenções. Apenas fazia carinho e gostava dos que recebia. Estiquei o pé para encontrar os dele e entrelacei nossas pernas. Fechei os olhos por um segundo e o sono chegou, fazendo-me adormecer sem querer.

+++

  Sabe quando você está tento um sonho tão bom que deseja não acordar mais? Foi bem assim naquela manhã. Eu estava em uma praia, correndo em liberdade, sentindo o vento balançar os meus cabelos e só fazia sorrir. Um homem estava na minha frente e eu tentava alcançá-lo, mas como em todos os meus sonhos, eu não conseguia correr rápido. Nem ao menos sabia quem ele era... Digo, o “eu” do sonho o conhecia e até mesmo chegou a chamá-lo, mas o meu “eu” de verdade não o reconhecia. Tudo começou a ficar claro demais e o mar foi sumindo aos poucos. Eu estava despertando. Tentei segurar a mão estendida do meu “companheiro”, como se aquilo fosse me impedir de acordar, mas ele também se tornou cada vez mais distante.
  Me mexi na minha cama tentando voltar a dormir e terminar o sonho, mas foi inútil. Comecei a retomar os meus sentidos e pude sentir algo pesado em cima da minha barriga. Abri os olhos o mais devagar possível e dei de cara com o rosto de Liam, que dormia no meu travesseiro. O peso sobre a minha barriga era o braço dele. Apertei os olhos tentando entender o que era aquilo tudo e lembrei-me da noite passada. Eu devia ter dormido durante o filme, e o pior, em cima dele. Ou o melhor, dependendo do ponto de vista. Do meu outro lado Harry e Louis dormiam abraçados. Era a cena mais fofa do mundo e eu não podia deixá-la ser esquecida nunca. Com cuidado para não acordar nenhum dos três, me desfiz do abraço que estava recebendo e me levantei. Peguei meu celular em cima da estante e abri na câmera. Primeiro tirei uma foto de Harry e Lou, em pelo menos três ângulos. Em seguida, fotografei Liam, que parecia um bebê. Comecei a rever aquelas fotos e meu olhar bateu no relógio: Passava das sete e meia da manhã e minha aula começaria as oito. Eu estava super atrasada!
  Tentei não me desesperar, mas foi inútil. “Eu não vou conseguir chegar a tempo...” Corri até o segundo andar e entrei como um furacão no meu quarto. Por sorte já tinha separado a roupa que queria usar e a vesti de qualquer jeito. Os meninos ainda estavam dormindo e não seria justo acordá-los em um dia de folga. Eu também não poderia ligar para e fazê-la se atrasar comigo. Bufei, decidindo pegar um taxi.
  Saí de casa o mais rápido que consegui e ainda tive que caminhar até a portaria do condomínio. Pelo menos tive um pouco de sorte e o porteiro me ajudou a encontrar um taxi livre. Tentava não olhar no meu relógio para não aumentar o meu desespero, mas já sabia que não daria tempo. O trânsito de Londres não foi tão gentil comigo quanto eu esperava que fosse. Por mais que eu tentasse apressar o motorista, ele me olhava pelo espelho e falava: “Eu não posso passar por cima dos carros, moça.” Moça? Não gostei.
  Joguei uma nota com um valor bem maior do que o preço da corrida, mas não tinha tempo de esperar pelo troco. Praticamente pulei do carro ainda em movimento e corri pela calçada até chegar à escadaria. Incrivelmente não tropecei em nenhum degrau e continuei o meu caminho. Minha aula seria no último andar e eu desejei ter asas. A minha única saída foi continuar correndo pelos corredores e desviando de pessoas até chegar à escada de incêndio. O elevador demoraria demais pra chegar e eu já não tinha mais tempo a perder.
  No terceiro andar eu já estava morta de cansaço e sem ar. Meu corpo não aguentava mais continuar, então eu tive que parar e me apoiar na parede. Respirei fundo e senti a vista ficar escura. Dica: Nunca saia de casa sem comer nada e corra como se estivesse em uma maratona. Me sentei em um degrau qualquer pra evitar uma queda e chequei as horas. 8h20min. Não poderia entrar na sala de aula mesmo que conseguisse chegar até o quinto andar com vida.
  Fiquei sentada ali até parar de ofegar como um cachorro depois de um passeio e tentava decidir o que faria. Tinha duas horas livres até a minha próxima aula. Poderia ir comer alguma coisa na cafeteria da Academy, mas estava enjoada demais por ter chegado atrasada pra tentar comer qualquer coisa. Meu perfeccionismo não me permitia falhar e aquilo era uma falha. Uma muito grande, aliás. Como eu pretendia me destacar assim? E o pior... Agnes disse que estaria de olho em mim e com certeza aquilo não passaria batido. Adeus chances de pegar “matérias” de níveis mais avançados.
  Se eu continuasse parada e pensando naquelas coisas acabaria chorando ou me jogando da escada. Levantei do batente e decidi dar uma volta naquele andar mesmo. Seria uma oportunidade de espiar os outros alunos, já que todas as portas das salas tinham uma parte de vidro. Saí da escada e encontrei o corredor completamente vazio. Aparentemente eu era a única a “matar aula”. A primeira sala que eu encontrei era de uma turma de teatro, já que eles estavam encenando uma cena de Hamlet. Sim, aquela onde o cara segura o crânio e pergunta: “Ser ou não ser? Eis a questão.” Assisti por um tempo até ficar entediada e passei para a próxima sala. Vazia.
  Pulei algumas salas e encontrei uma onde um casal dançava enquanto o resto da turma assistia. Com a porta fechada eu não conseguia escutar qual era a música, mas os dois eram tão encantadores que não havia necessidade de uma trilha sonora. O homem estava de costas para mim e eu não conhecia a bailarina que girava e subia e descia da ponta. Só sabia que nunca tinha visto uma dança tão linda em toda a minha vida. Ele a levantava para o alto e aos poucos ela ia se curvando sobre ele até quase se beijarem. Mais um rodopio aconteceu e eles trocaram de lado. O bailarino ficou de frente pra mim e eu descobri que era Nicholas. Ele logo notou a minha presença atrás da porta, mas não perdeu a concentração por nenhum segundo. Pelo contrário, parecia querer me mostrar o seu melhor. Não que precisasse, já que eu já estava encantada.
  Nunca imaginaria que Nick era tão bom dançarino. Eu viajei em seus movimentos e acabei sorrindo. Ele também sorriu e a professora olhou na minha direção, como se estivesse querendo saber para onde ele estava olhando. Me escondi atrás da parede e decidi não atrapalhar mais.
  Caminhei até o fim do corredor e parei em frente à última porta. Mesmo ele estando de costas, vi que era Zayn que estava sentado em um piano de cauda. Em pé ao seu lado estava um homem ruivo, provavelmente o professor, que lhe entregou uma partitura. Zayn a folheou algumas vezes e falou algo que eu não fui capaz de escutar. Maldita porta a prova de som. O professor se afastou um pouco e Zayn dobrou as mangas da camisa, se preparando para tocar algo. Eu sempre fui apaixonada pelo som de piano, tanto é que quis aprender quando era mais nova, mas tive que me dedicar ao ballet. Não iria perder a oportunidade de ouvi-lo tocar. Girei a maçaneta da porta e prendi a respiração, com medo que a madeira rangesse e eu fosse denunciada. O que não aconteceu e eu pude respirar aliviada. Não abri muito a porta, só o suficiente para que o som pudesse chegar até os meus ouvidos.
  Os dedos de Zayn começaram a deslizar sobre as teclas e os pés se mexiam no ritmo da música, provavelmente pisando naqueles pedais que eu nunca entendi a utilidade. Eu não conhecia a música, mas era linda. Bem lenta e um tanto triste. Ele começou a cantar e eu fiquei hipnotizada.
  - I don’t know where I’m at. (Eu não sei onde estou) I’m standing at the back and I’m tired of waiting. (Eu estou parado na parte de trás e estou cansado de esperar) – A voz dele era rouca e ao mesmo tempo suave. Eu podia sentir todo o sentimento por trás da letra da música. – Waiting here in line, hoping that I find wath I’ve been chasing... (Esperando aqui na fila com esperança de encontrar o que eu estive procurando)
  Eu poderia ficar ali escutando até que a aula acabasse, mas quando a música chegou ao segundo refrão eu fui interrompida. Alguém me cutucou por cima do ombro e eu me assustei. Já imaginava que era a diretora pronta pra me expulsar, mas sorri por me virar e ver que era apenas Niall.
  - Sabia que é feio espiar os outros? – Ele me fez fechar a porta da sala, para não sermos escutados.
  - Já ouvi isso em algum lugar... – Mordi o meu lábio inferior, envergonhada por ter sido pega.
  - Você pode entrar na sala pra assistir, sabia? – Ele tentou abrir a porta, mas eu o impedi. Não queria que Zayn soubesse que eu estava o escutando.
  - Deixa pra lá, eu já tenho que ir mesmo...
  - Você não devia estar na aula? estava te procurando mais cedo.
  - Deveria sim, mas acabei perdendo a hora. – Escondi o rosto nas mãos e choraminguei.
  - Não fica assim, . – Ele me abraçou. – Aposto que ninguém nem sentiu a sua falta.
  - Poxa, Nialler, obrigada. – O abracei de volta e acabei rindo.
  - Tem certeza que não quer entrar? Eu gosto muito dessa música e acho que você também ia gostar...
  - Eu realmente tenho que ir, mas quem sabe outro dia, né?
  - Tudo bem, . Te vejo na saída, então? – Ele sorriu, mostrando o aparelho invisível nos dentes.
  - Como sempre! – Deixei um beijo em sua bochecha. – Só não conta pra ninguém que você me viu aqui, ok?
  - Pode deixar! – Niall fez um “joinha” com a mão e entrou na sala.
  Eu observei Zayn se levantar do banco para abraçar Niall quando o viu. Os dois deveriam ser realmente melhores amigos e até Ed se juntou a eles. É claro que eu ri quando Niall tentou empurrar o professor e ficar com Zayn só pra ele. Meu celular começou a vibrar no bolso da minha calça e eu já sabia quem era. A aula provavelmente havia acabado e estaria me procurando em todo canto.

“Star, você morreu? Porque só assim pra faltar uma aula. Xx . ps: Se você morreu mesmo, me desculpe pela brincadeira.”

  Claro, porque se eu morri estaria lendo a mensagem dela direto do além. Ri sozinha, me afastando da sala. Fui até o elevador enquanto digitava uma resposta:

“Perdi a hora. Me encontra no refeitório? xx – . ps: Morri sim, procure o meu espírito.”

Capítulo XV

  Já era sexta feira e eu estava em meu closet tentando achar alguma roupa para usar. Papai estaria passando em mais ou menos uma hora para buscar eu e meu irmão e irmos jantar em algum restaurante chique, então eu tinha que estar apresentável. Meus cabelos estavam amarrados em um coque apertado, para que formassem cachos quando eu os soltasse e meu corpo estava coberto pelo meu roupão felpudo. Nada do que eu via parecia me agradar e eu já começava a ficar irritada.
  - Toc toc. – Liam disse, já entrando no quarto. A minha porta estava aberta, então não havia necessidade de esperar uma resposta.
  - Hey, Leeyum. – Choraminguei, parando encostada na porta do closet.
  - Seu irmão me mandou ver se você já estava pronta... – Ele deu uma boa olhada no meu roupão. – Acho que não.
  - Não mesmo! – Nós dois rimos e eu caminhei até ele, o abraçando pela cintura. Liam me abraçou de volta e depositou um beijo em minha cabeça.
  Depois da noite em que assistimos o filme “abraçados” e, tecnicamente, dormimos juntos, nosso tratamento um com o outro mudou um pouco. Agora era mais fácil nos ver abraçados pela casa, ou eu sentada no colo dele enquanto recebia carinhos na cintura e beijinhos no ombro. Mas nunca passava disso. Não que eu me recusasse, mas ele não parecia tomar uma atitude mais drástica, como me beijar ou coisa parecida. E também tinha a Candice, já que eu não sabia se os dois estavam de fato namorando, mas ela costumava ligar pra ele algumas vezes durante o dia, o que me fazia acreditar que tinha algo acontecendo.
  - Eu preciso de um amigo gay. – Resmunguei, diminuindo um pouco o abraço.
  - Quer que eu vá chamar o Harry? – Ele me fez gargalhar um pouco alto demais. Tadinho do meu cupcake.
  - Até que não seria uma má idéia, já que ele se veste bem. – Cogitei a possibilidade de pedir a sua ajuda.
  - Eu gosto quando você usa saia.
  - Sério?
  - Sim... Você tem pernas bonitas. – Coçou a nuca, tímido.
  - Então acho que sei o que usar! – Sorri e voltei para o closet.
  - Vai ficar linda com qualquer coisa. – Falou tão baixo que eu me perguntei se deveria ter escutado. Liam logo deixou o quarto e fechou a porta para que eu pudesse me arrumar em paz.
  Não demorou muito para que eu estivesse arrumada e pronta para descer. Meu quarto estava tão bagunçado que me dava até vergonha. A cama estava toda revirada e eu já deveria ter trocado os lençóis, mas admito que ainda não tinha feito isso porque não queria que o cheiro que Zayn deixou ali fosse embora. Sim, eu deveria estar ficando louca e sabia disso. Mas não é todo dia que um modelo Armani que cheira a Gucci dorme na minha cama.
  Saí do quarto para encontrar os meus três meninos brincando de Uno na sala. Harry e Liam estavam de pijamas e eu desconfiava que o primeiro estivesse se mudando de vez para aquela casa. Meu irmão estava mais arrumado; com uma calça jeans escura, camisa roxa e uma jaqueta jeans por cima.
  - Lou, o papai ainda vai demorar? – Anunciei a minha presença na sala e os três pararam de jogar para me olhar.
  - Mudança de planos, ... Nós vamos jantar na casa dele mesmo, então eu vou dirigindo. Parece que a Lux ta dodói e não querem tirar ela de casa. – Meu irmão me explicou e fez um bico ao falar da nossa irmã.
  - Você está muito bonita. – Liam me elogiou e eu sorri, corando. Harry aproveitou que estavam distraídos e devolveu algumas de suas cartas ao monte, ficando com apenas três na mão.
  - Harry. – O chamei e ele se assustou, achando que eu iria denunciá-lo. – Boa noite.
  - Bo-boa noite, . – Gaguejou, mas estava um pouco aliviado.
  - Vamos, Lou? – Fui até Liam e o beijei na bochecha, me despedindo.
  Logo saímos de casa e entramos no carro. Diferente de Liam e Zayn, Louis não abria a porta pra mim. Eu tinha sorte só de ele me esperar entrar pra começar a andar. Não demorou muito e já passávamos pelos portões do condomínio. Era incrível como aquele mesmo trajeto podia ser tão rápido de carro e tão terrivelmente lento quando eu estava a pé. Por isso eu mal podia esperar o meu baby chegar, já que eu não precisaria mais depender de ninguém pra me levar aos lugares. “Espere só mais uma semana e seu carro vai chegar, .” Meu irmão tentava me acalmar quando eu começava a ameaçar processar a empresa que estava fazendo o transporte do meu veículo.
  A noite nas ruas de Londres estava normal. Não havia estrelas no céu coberto por nuvens e provavelmente começaria a chover há qualquer momento. Quase todas as noites naquela cidade cinzenta eram assim; “sem graça”. Mas eu gostava. Sempre fora fã de dias chuvosos, frio, casacos de lã, luvas e todas essas coisas com cara de inverno. Quando estava nevando então? Pra mim era o paraíso! Claro que eu também nunca negava alguns raios de sol de vez em quando, principalmente quando viajava até a praia.
  - Hey, Lou... – O chamei distraída, olhando as luzes que piscavam nos postes.
  - Sim, ?
  - O que tá rolando entre o Liam e a Candice? – Ele sorriu ao escutar a minha pergunta e eu quase me arrependi de tê-la feito.
  - Eu sabia que você iria me perguntar isso mais cedo ou mais tarde. – Seu sorriso aumentava. Só eu sabia como Louis gostava de adivinhar os meus passos.
  - E então? – Continuei encarando-o. Só ele sabia como eu odiava aquele seu suspense.
  - Eles não estão namorando, nem nada... – Deu de ombros, parando em um sinal vermelho e me olhando. – Mas não é isso o que a Candice acha. Já percebeu que ela liga pra ele todos os dias?
  - Exatamente por isso que eu perguntei! – Tive que rir ao me lembrar das caretas que Liam fazia ao ver o nome dela piscando no visor de seu celular. – Mas porque ele não conversa direito com ela e esclarece tudo?
  - Você não gosta dela, né? – Gargalhou.
  - I strongly hate her. – Fiz uma careta. Eu realmente a odiava e não adiantaria mentir para o meu irmão, já que ele tinha o poder de ler a minha mente.
  - Mas você a odeia porque gostaria de estar no lugar dela, ou porque não vai com a cara da coitada? – “Coitada”? Ele ia mesmo começar a defender aquela garota?
  - Eu nunca fui com a cara dela! – Exclamei.
  - ... – Me olhou pelo retrovisor, desconfiado.
  - Olhe pra frente, Louis! – Virei para o outro lado, evitando seu olhar. – Eu só acho que ele merece alguém melhor...
  - Como você? – Lá estava aquele sorrisinho sabichão. – É o que ele quer.
  - Como é? – Virei o rosto com tanta força que o senti estalar e gemi de dor.
  - Vai dizer que nunca percebeu, ? Ele tem uma queda por você e não é de hoje. Só que ele não sabe bem como lidar, ou como te chamar pra sair. Liam realmente não leva jeito com isso. E ainda tem a Candice pra complicar tudo...
  - Hm... – Eu escutava todas aquelas palavras atentamente. Sim, aquilo já estava claro pra mim, mas era a primeira vez que alguém realmente confirmava em voz alta.
  Não soube mais o que falar e Louis percebeu isso. Graças a Deus ele sempre foi muito bom em respeitar o meu espaço e continuamos em silêncio até chegar ao apartamento de meu pai. O manobrista veio até o carro e abriu a porta para que eu pudesse sair. Em seguida ele esperou meu irmão também sair e partiu para estacionar o carro. Aquele prédio tinha tanto luxo que eu não sabia se conseguiria me acostumar a morar ali. Meu pai sempre gostou de coisas boas. Carros bons, apartamentos bons, roupas de marca... E, por sorte, tinha muito dinheiro pra gastar com suas regalias. Apesar de rico, ele não era daqueles esnobes que se achavam superiores a todo mundo. Papai sempre foi humilde e tratava a todos com igualdade.
  Não demoramos muito para entrar no elevador e eu apertei o botão para a cobertura. Eu e Louis nos entreolhamos e eu acabei fazendo alguma piadinha sobre ser um milagre ele não estar usando suspensórios. Recebi um “cala a boca” e ri mais ainda. A porta do elevador abriu e já entramos no hall de entrada do apartamento, como em Gossip Girl.
  - Eu sabia que tinha ouvido risadas! – Rachel, a nova mulher de meu pai, se aproximou de nós dois com um sorriso enorme no rosto. – Você está cada dia mais linda, .
  - Obrigada, Rach. – Nos abraçamos. – Amei o seu novo corte de cabelo! Está bem melhor repicado assim.
  - Foi ideia do seu pai! – Ela piscou pra mim e foi abraçar o meu irmão. – Ele está na cozinha, aliás.
  Tirei meu casaco e o pendurei em um armário próprio pra essas coisas e comecei a ir em direção à cozinha. Fazia algum tempo que não via o meu pai e estava com saudades. Era sempre assim, já que ele trabalhava demais. Cheguei à cozinha e sorri com o que vi: Meu pai estava com um avental florido e checava algo no forno. Vê-lo cozinhar era algo novo, coisa que nunca fizera quando era casado com a minha mãe. Rachel realmente estava fazendo dele um homem diferente; um homem feliz.
  - Eu estava torcendo para que você não estivesse tentando cozinhar hoje. – Brinquei e ele se virou na minha direção.
  - ! – Seu sorriso era enorme e eu pude ver que ele estava feliz em me ver.
  - Daddy! – Fui até ele e o abracei.
  - Quando você ficou tão crescida assim? – Após retribuir o abraço, ele me fez dar uma voltinha e eu fiquei vermelha. – Até parece uma mulher.
  - Para com isso! – Eu ri. – Ainda sou só uma garotinha.
  - Como eu queria que isso fosse verdade... – Sorriu de forma paternal, quase dizendo que eu sempre seria a sua bebê.
  - Onde está a minha pequena? – Resolvi mudar de assunto antes que tivesse que escutar alguma história embaraçosa de quando eu era criança.
  - Ela está no quarto. Porque não vai vê-la enquanto eu termino o jantar? E fale pro seu irmão vir falar comigo.
  Nem precisei chamar Louis, já que ele entrou na cozinha assim que eu saí de lá. Rachel arrumava algo na mesa de jantar e eu fui até o quarto da minha irmãzinha. A porta estava entreaberta e eu espiei antes de entrar. Lux estava sentada em um tapete felpudo cor de rosa – assim como quarto inteiro – e brincava com um cachorrinho de pelúcia. Mais precisamente, dava mamadeira e conversava algo que eu não entendia o que era. Abri a porta o suficiente para que eu pudesse passar e a pequena me olhou na mesma hora.
  - ! – Ela sorriu tanto que até deixou a chupeta cair de sua boca.
  - Baby girl! – Lux era a criança mais fofa do mundo e eu amava cada pedacinho dela. Ao contrário de outras crianças, ela não fazia o tipo birrenta e mimada, mesmo tendo absolutamente tudo. – Como você está, meu amor?
  - Dodói eu. – Me sentei no tapete também e ela levou a mão até a testa, como se estivesse sentindo a própria temperatura. Provavelmente sua mãe tinha feito isso algumas vezes e ela repetia.
  - Está dodói? – Ela afirmou com a cabeça e eu toquei em seu pescoço. Estava um pouco quente sim, mas a febre estava baixa. – Você vai ficar boa logo, tá? E aí vamos nadar lá em casa.
  Lux bateu palmas e acenou que sim mais uma vez. Me levantei com cuidado, odiando ter escolhido uma saia tão justa e que impossibilitava os meus movimentos.
  - Quer ir ver o Lou? Ele está lá fora.
  - Boo? Quero. – Sorriu novamente e esticou os bracinhos para que eu a carregasse.
  Abaixei-me novamente e entreguei a chupeta para que ela a segurasse. Em seguida, a peguei por baixo dos braços e trouxe seu pequeno corpo até o meu. No mesmo instante em que a firmei em meus braços, Lux começou a brincar com os meus cabelos. Não sabia a graça que ela via neles, mas parecia gostar muito e enrolar as mãozinhas nos meus fios castanhos. Fomos até a sala e encontramos Louis e meu pai sentados no sofá, assistindo algum jogo de futebol. Pela forma que meu irmão cobria os olhos com as mãos deveria ser do time deles.
  - Olha quem ta aqui, Lou.
  - Minha princesinha! – Ele sorriu e se levantou. Também era louco por ela. Na verdade, quem não era?
  - Boo-boo. – Lux se jogou nos braços dele e eu ri.
  Louis a segurou e começou a brincar de aviãozinho. Ela gargalhava tanto que nem parecia estar doente. Deixei os dois brincando e fui me sentar ao lado de meu pai. Dei uma olhada para a tela da TV e tentei assistir o jogo, mas eu nunca fui muito fã de futebol então bufei entediada.
  - Eu estava esperando você fazer isso. – Meu pai riu e desligou a televisão.   - Algumas coisas nunca mudam. – Também ri e sentei de lado, ficando de frente pra ele. – Mas você não precisa parar de assistir por minha causa.
  - Minha filha é mais interessante que o final do campeonato. – Sorriu. – Como está tudo na escola?
  - Escola, pai? – Rolei os olhos. – Ao menos fale “academia”, ou “Academy” que é como todos falamos.
  - Tudo bem, senhorita crescida. Como está tudo na Academy?
  - Bem melhor! – Sorri satisfeita. – Tudo está ótimo... As aulas são puxadas, mas é assim que eu gosto. Quarta feira eu tenho um teste para a peça de fim de semestre!
  - Um teste? Pra qual papel? – Ele parecia realmente interessado.
  - A peça é Romeu e Julieta... Então eu vou tentar conseguir o papel de Julieta.
  - O papel principal? Uau, isso é grande!
  - Eu sei! Mas como eu sou uma “caloura”, não criarei muitas esperanças. Geralmente dão o papel principal pra quem está no último ano, então...
  - Ei, ei, pode parar! – Papai me interrompeu e colocou a mão no meu ombro. – Se a academia é tão boa quanto você diz, eles vão ser justos e dar o papel principal pra quem for o melhor. E eu sei que posso ser suspeito pra falar, mas você é a melhor dançarina que eu já conheci.
  - Obrigada, pai... – Eu poderia ser a única dançarina que ele conhecia, mas o que importava era que meu pai acreditava em mim.
  - E você tem muitos amigos por lá? Seu irmão me disse que você saiu semana passada...
  - Tenho alguns... – Olhei para Louis de soslaio e ele fingiu não estar escutando a nossa conversa. – A minha melhor amiga se chama . Ela é meio doidinha, mas um amor de pessoa!
  Ficamos conversando por mais vinte minutos até que Rachel nos chamou para jantar. O cheiro estava delicioso e eu estava com muita fome. Papai sentou na ponta da mesa e eu me sentei ao seu lado esquerdo, com Rachel na minha frente. Louis estava ao meu lado e Lux na frente dele, sentada na cadeirinha de bebê. A lasanha estava tão bonita que eu fiquei com água na boca. Tudo bem que não era a mesma coisa de quando a minha avó cozinhava, mas ainda parecia deliciosa. Todos foram se servindo e começando a comer. Meu pai abriu uma garrafa de vinho e eu pedi uma taça. Ele ficou surpreso, mas não reclamou. Acho que aos poucos estava percebendo que eu realmente já parecia mais com uma mulher do que uma garotinha que costumava esperar ele chegar do trabalho pra ouvir uma história de ninar.
  - E então, ... – Rachel chamou a minha atenção e eu terminava de engolir uma garfada de lasanha. – Algum garoto interessante na sua vida?
  - Ahn. – A pergunta me pegou de surpresa e eu não sabia o que responder. Ela sorriu da minha reação e meu pai também me olhou. Olhei pra ele e em seguida para Rachel. Antes de responder, peguei meu copo e dei um gole.
  - Tem pelo menos três. – Louis respondeu antes que eu pudesse falar qualquer coisa e eu engasguei com o vinho.
  - Três? Que história é essa? – Meu pai se preocupou. Meu irmão realmente adorava me fazer passar por vadia.
  - Nick, Liam e Za... AI. – Meu irmão estava disposto a criar a minha fama enquanto eu tentava retomar o ar, então não o deixei terminar e chutei a sua perna por baixo da mesa.
  - Não é nada disso, pai. São só amigos. O Louis está brincando. – Tentei contornar a situação, mas ele parecia não me escutar.
  - Nick? Esse Liam não é o que está morando com vocês? E o que é “Za”?
  - Daddy, me escuta… - Respirei fundo e olhei pra Rachel, pedindo ajuda. – Nicholas é um amigo da academia... E o Liam é esse mesmo, mas também não passamos de amigos. E o Zayn... É um amigo da .
  - Não é que eu pense que você não vai namorar, ou beijar na boca... – Meu pai começou e eu escondi o rosto nas mãos. Momento constrangedor mode on. – Mas só espero que tenha cuidado. Você tem camisinhas em casa? Se quiser posso trazer umas pílulas do hospital pra você...
  - Pai! – Meu rosto devia estar mais vermelho que um tomate e meu irmão só fazia rir ao meu lado. – Não preciso de nada disso!
  - Mark, deixe a menina em paz. Isso é coisa de mulher e ela sabe que pode sempre vir falar comigo. – Rachel se intrometeu e pareceu acalmar meu pai. – Não sabe?
  - Claro que sei! – A agradeci com o olhar e voltamos a comer.
  Louis iria me pagar por aquilo, ahhh, se ia! Depois da lasanha, Rachel serviu um suflê de chocolate que estava simplesmente divino. Eu comi pelo menos dois pedaços enormes. Lux também pareceu adorar, porque no final da refeição estava com a boca toda suja de chocolate. Meu pai conversava com a esposa e meu irmão começava a tirar a mesa; claro que não por vontade própria. Me levantei e peguei a minha irmãzinha no colo. Usei um guardanapo para limpar o seu rosto e ela riu enquanto eu fazia caras engraçadas. Meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa que estava em cima co sofá.
  - Vamos ver quem está ligando pra gente, Luxy?
  Ela não entendeu absolutamente nada, mas balançou a cabeça em afirmação e nós fomos até o sofá. Me sentei e a coloquei no meu colo enquanto procurava o meu iPhone e torcia pra que desse tempo de atender. “FaceTime: calling” era o que dizia. Cliquei para aceitar a chamada e a imagem dela logo preencheu a tela. De acordo com o que Zayn tinha me falado eles deveriam estar no Pub, mas eu não reconheci lugar em que esta estava.
  - Hey, ! – Ela sorriu. – Quem é essa coisa fofa no seu colo? Eu não sabia que você tinha uma filha!
  - A tem uma filha? – Escutei a voz de Niall e ele se juntou à namorada. Percebi que os dois estavam em uma cama. – Oi, lindaaaaaa.
  - Hey, guys. – Ri da bagunça que eles estavam fazendo. – Essa é a Lux, minha irmã mais nova. Diz oi, Lux.
  - Oi... - Ela falou bem baixinho e um tanto tímida, mas acenou pra eles.
  - Que gracinha que ela é! – fazia palhaçadas tentando chamar a atenção de Lux e estava conseguindo.
  - Tinha que ser minha irmã, né? – Me gabei. – Onde vocês estão, aliás?
  - Estamos na casa do Zayn. O Pub estava muito chato, então viemos fazer uma festinha aqui. – Minha amiga explicou.
  - E ele sabe que vocês estão ficando animadinhos no quarto dele? – Brinquei.
  - Ele está aqui também e eu acho que quer participar... – Niall disse e eu gargalhei.
  - Zayn, diz oi pra ! – virou o próprio celular e apontou a câmera para Zayn; que estava sem camisa, se me permite o comentário.
  - Vas happening? – Ele sorriu e pegou o celular. Por sorte da minha sanidade mental, focou apenas em seu rosto. O que também era algo muito bom de se olhar. – Essa é a famosa Lux?
  - Hey, Zayn! É sim. A minha pequena. – Sorri e deixei um beijo na bochecha dela, que já não entendia mais nada.
  - Está na casa do seu pai? – Ele perguntou.
  - Sim, acabamos de comer.
  - Isso explica o alface no meio dos seus dentes. – Na hora que Zayn falou aquilo eu gelei.   - Como é? – Cobri a boca com uma mão e já comecei a passar a língua pelos dentes. Ele gargalhou.
  - Eu to brincando, . Você está perfeita, como sempre. – É claro que ele estava brincando! Eu nem ao menos tinha comido alface!
  - Idiota. – Rolei os olhos, mesmo querendo rir.
  - Eu tenho que devolver o celular agora, ou me mata. Ela já está me olhando feio! – Ele se despediu e assoprou um beijo pra mim e um pra Lux, que o imitou.
  - E aí, girl? Voltei. – sorriu. – Já decorou o texto que vai apresentar na quarta?
  - Texto? Que texto? – Me assustei.
  - Para o teste? Hello? Você vai ter que apresentar uma cena de Romeu e Julieta. – Como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, me explicou.
  - Eu não fazia idéia que teria que fazer isso... Pensei que só precisaria dançar. – Até na minha voz era possível ver o desespero que me dominava.
  - O que você faria sem mim? – balançou a cabeça em negação. – Eu vou te ajudar, ok? Vamos ensaiar até você decorar o livro todo, se for preciso. Porque se você não for a Julieta, a Brigitte vai ficar no seu lugar. E eu não quero ter que contracenar com ela!
  - Eu realmente não sabia o que faria sem você... – Sorri, um pouco mais aliviada. – Agora eu tenho que ir, ok? Meu irmão já está me chamando pra ir embora. Aliás... Tenho uma coisa pra te contar.
  - COMO ASSIM DIZ QUE TEM QUE IR E DEPOIS FALA QUE TEM ALGO PRA CONTAR? – Gritou e até Lux se assustou.
  - Depois eu conto, ! Beijo. Tchau meninos! – Falei alto suficiente pra que eles escutassem, mas não esperei uma resposta.
  Desliguei o celular e Lux me olhou. Ela devia estar achando que eu era algum tipo de mágica por conseguir ver pessoas em um celular. Eu fiz uma caretinha e ela riu. Eu me sentia muito bem quando a fazia rir, porque me sentia a pessoa mais engraçada do mundo. Levantei com ela em meu colo e a abracei bem forte antes de entregá-la para a mãe. Tinha vontade de morar com meu pai só pra ficar mais perto dela, ou até mesmo levá-la pra morar comigo. Mas acho que meu pai tinha um ataque de vez, com todos os filhos dele morando sozinhos. Também me despedi dele e da minha madrasta. Eu avisei pra ela levar Lux pra ficar comigo quando a pequena estivesse melhor da gripe e assim ela poderia ter um dia pra ficar só com meu pai. Ele gostou muito daquilo, afirmando que precisava de uma noite romântica de vez em quando e eu puxei Lou para dentro do elevador antes que nosso pai começasse outra conversa constrangedora.
  - Muito obrigada, Louis. – Falei em tom severo depois que as portas se fecharam.
  - Pelo quê? – Ele se fez de desentendido, mas riu.
  - Você sabe muito bem!

+++

  Chegamos em casa em quase trinta minutos. Louis foi atender uma ligação na cozinha e me deixou sozinha na sala. Aquilo me pareceu meio suspeito, já que era muito tarde pra alguém estar ligando. Dei de ombros e tirei os sapatos. Eu adorava usar saltos, mas meus pés sempre ficavam muito doloridos depois que eu os tirava. Escutei o barulho de alguém descendo a escada e me virei para olhar Liam andar até o meu encontro.
  - Eu sabia que tinha escutado alguém entrar! – Mesmo sonolento, o garoto sorriu pra mim.
  - A gente te acordou? – Sentei no braço do sofá e comecei a massagear o meu pé direito.
  - Não, não... Eu não estava dormindo. Estava tocando violão e tentando terminar uma música pra passar o tempo.
  - Você está escrevendo uma música? Posso ouvir? – Já comecei a me animar. Eu amava ouvir Liam cantar, ainda mais se fosse uma de suas criações.
  - Ainda não está pronta, então não. – Contraiu os lábios e balançou a cabeça.
  - Poxa! Tudo bem. – Fiz um biquinho. – Vocês homens tem sorte por não usarem salto!
  - Alguns de nós usam. – Deu de ombros e eu gargalhei. – Quer ajuda pra subir as escadas?
  - Sim, por favooooor! – Choraminguei e ele se aproximou ainda mais, com aquele sorriso impecável sempre no rosto.
  - Pula aí. – Virou de costas e se abaixou um pouco para que eu pudesse subir.
  - Eba! – Comemorei e pulei nas costas dele, sem me importar em estar de saia.
  Liam passou os braços por baixo dos meus joelhos e eu o abracei pelo pescoço. Logo começamos a subir as escadas e ele tinha o maior cuidado do mundo, como se eu fosse uma boneca de porcelana.
  - Espera, espera! – Exclamei e ele obedeceu. – Podemos ir à cozinha, primeiro? Quero pegar o meu chá pra não ter que voltar aqui depois.
  - Você é que manda. – Liam deu meia volta e desceu as escadas.
  Fomos até a cozinha e Louis estava com uma expressão preocupada. Já havia desligado o celular e encarava um lugar qualquer, mas seu olhar estava vazio. Assim que ele nos viu, sorriu e fingiu que estava tudo bem; murmurou um “boa noite” e sumiu. Liam também notou que algo estava errado, mas nenhum de nós falou coisa alguma. Ele caminhou até a geladeira e parou de lado para que eu pudesse pegar a minha garrafinha de chá gelado.
  - Você sempre bebe chá antes de dormir? – Perguntou.
  - Sim... Desde criança. É meio bobo, né?
  - Não é bobo coisa nenhuma. Nada que vem de você é bobo. – Ele me olhou de lado e eu dei um beijo em sua bochecha. – Podemos ir, duquesa?
  - Sim, podemos! – Sorri por ele ter me chamado assim.
  Dessa vez não o interrompi quando voltamos a subir as escadas e ele logo me colocou no chão. Eu torcia pra não tê-lo machucado, até porque sabia que não era a pessoa mais leve do mundo. Nos despedimos com um abraço bastante demorado e fechei a porta do meu quarto. Notei que Liam ainda demorou um pouco do outro lado, pois eu podia ver a sua sombra por baixo da porta. Por um segundo eu achei que ele fosse me chamar e finalmente contar tudo que estava engasgado em sua garganta, mas é claro que eu estava errada. Não que eu passasse todos os dias esperando uma declaração e também não estava apaixonada por ele. Mas me sentia atraída e já não tinha mais aquele medo de antes. Nós éramos amigos o suficiente pra não deixar nada abalar aquilo, mesmo que nosso “envolvimento” terminasse mal.
  Incrível como uma pessoa acaba criando expectativas mesmo sem querer, né? Resolvi não me preocupar mais com aquilo e deixar rolar. Eu não tinha pressa alguma e ele viria falar comigo quando estivesse pronto. Me tranquei no banheiro e tomei um banho quente e demorado; perfeito para me preparar para uma longa noite de sono.

Capítulo XVI

  Era terça feira à noite, véspera dos testes para a peça do semestre. Eu estava na casa de e iria dormir lá para irmos juntas no dia seguinte. Já havíamos estudado e ensaiado várias cenas do livro/filme Romeu e Julieta e eu já não aguentava mais. Estávamos no quarto dela e eu a assistia encenar pela décima vez a parte que iria apresentar. Mas é claro que eu estava distraída brincando com Félix, o gatinho persa da minha amiga. Ele era uma bola de pelos e muito carinhoso. Não parava de se esfregar no meu joelho, como se estivesse me pedindo carinho. E é claro que eu sempre coçava atrás da sua orelha e o escutava ronronar.
  - E então, achou essa versão melhor do que aquela? – Ela me perguntou ao terminar a sua encenação.
  - Hum? – iria me matar por não ter prestado atenção, tenho certeza.
  - ! Você não prestou atenção em nada do que eu falei? – Colocou as mãos na cintura e me encarou.
  - Claro que prestei atenção! Mas você vai se sair muito bem de qualquer jeito, então não precisa ficar se matando assim. Você tem um dom para essas coisas que eu queria pegar emprestado. – Cruzei os braços e Félix levantou a cabeça na minha direção. – Gostaria que me emprestasse esse gatinho também.
  - Ele só é assim com você, porque eu tenho certeza que já achei um papel onde ele planejava a minha morte. – se sentou ao meu lado e o gato saiu correndo quase na mesma hora. Eu gargalhei e ela me lançou um olhar mortal. – Mas voltando ao que interessa... É claro que eu vou me dar muito bem. E você também.
  - Duvido muito. – Coloquei um travesseiro atrás da minha cabeça e relaxei, já me sentindo em casa. – Mas pensamento positivo!
  - É assim que se fala. – Fez sinal de figas com os dedos e se levantou. Eu a observei sentar em frente ao computador dela e abrir na página do Twitter.
  - Niall vai fazer o teste também? – Perguntei distraída, mudando a minha atenção para o teto.
  - É claro que vai! Mas ele é como eu... Não gosta dos papeis com muita concorrência. Acho que tinha se decidido por Mercucio. – Ela voltou para a cama e trouxe a câmera consigo. – Vem cá, vamos tirar uma foto pra eu postar.
  - Foto? – Me exaltei. – Meu cabelo está horrível, . Nem vem!
  - Deixa de frescura, idiota. Os meninos é que estão pedindo!
  Mesmo que eu continuasse me negando a tirar aquela bendita foto, a conseguiria de qualquer jeito. Ela tinha um poder de persuasão que me impressionava. Rolei os olhos em concordância e ela se sentou ao meu lado. Mirou a câmera em nossa direção e eu a abracei de lado, sorrindo. O flash machucou os meus olhos e eu fiz uma careta que, por sorte, não foi fotografada. Resmunguei um “tira essa luz assassina” e ela riu, mudando algo na configuração da câmera.
  - Não gostei dessa, vamos tirar outra. – Ela reclamou sem nem ao menos me deixar ver a foto.
  - Vou começar a cobrar. – Resmunguei mais uma vez e nós duas rimos.
  Então tiramos a segunda foto, onde eu fiz uma careta e ela mostrou a língua. Na terceira, estava me dando um beijo na bochecha e eu fazia cara de “eca”. Quarta: Nós duas em frente ao espelho fazendo “pose de Brigitte”. Quinta: Nós duas rindo e olhando uma para a outra; o que mais gostei naquela foto é que meu dedo bateu sem querer no botão e a foto nos pegou de surpresa, ficando bem espontânea. Sexta: Eu fazendo uma pose dramática. Sétima: Nós duas pulando em cima da cama. Oitava: Félix tentando se livrar do abraço da dona enquanto eu ria. O que era pra ser uma foto se tornou um photoshoot. Tiramos aproximadamente vinte e cinco fotos e a minha barriga doía de tanto rir. Ela foi procurar o cabo USB e eu me sentei em frente ao computador. Queria postar alguma coisa embaraçosa como se fosse falando, mas nada vinha na minha cabeça. Sim, eu era terrível em fazer meus amigos pagarem mico.
  “O que fazer quando cabelo ruivo pintado em farmácia começa a desbotar” E apertei enter. Em seguida digitei outro: “Ops, aqui não é Google.”
   ficaria puta porque não havia nada que ela idolatrasse mais do que seu cabelo naturalmente ruivo. Eu comecei a rir das respostas que “ela” estava recebendo por causa da minha brincadeira e a própria entrou no quarto.
  - Por que você está rindo?
  - Por nada... – Tentei disfarçar, mas correu até mim e começou a procurar o que eu tinha feito em seu Twitter.
  - EM FARMÁCIA? – Ela gritou e eu gargalhei mais ainda. – , eu vou te matar!
  - Para de frescura! Oh, o Niall ta te defendendo. – Apontei para a tela do computador onde Niall twittara: “@ difamando a minha menina @. Não acredite em tudo que lerem #realredhead” – Como ele sabia que era eu?
  - Porque ele já teve provas de que eu sou ruiva natural. – Ela me olhou com uma cara de safada que eu só podia rir. – E sabe que você está aqui, então juntou dois mais dois.
  - Não é justo! – Fiz um bico e ela me expulsou de sua cadeira. Não tive outra escolha a não ser voltar para a cama.
  Peguei o meu iPhone entrei na minha própria conta do Twitter. Tinha que ficar de olho para o caso de ela começar a postar coisas ao meu respeito também. logo passou as nossas fotos para o computador e abriu um programa para editar fotos. Ela não adicionou efeito algum, mas fez uma montagem com três fotos nossas: A que ela estava beijando o meu rosto, nós duas pulando na cama e aquela espontânea que era a minha preferida. Logo postou e adicionou a legenda:

“Girl’s night com a minha @ #bff #ihateyou”

  Até que não foi uma má idéia tirarmos aquelas fotos, já que eram as primeiras de nós duas juntas. E com certeza eu queria registrar aquele momento, por mais simples que fosse. Aproveitei para comentar:

“#loveyoutoo melhor forma de acalmar os nervos na véspera de um teste importante? #sleepover na casa da sua melhor amiga.”
  Não demorou muito para recebermos alguns retweetts e mais pessoas comentarem. Uns amigos de falaram que ela estava linda, outros perguntaram quem eu era e até Harry comentou.

>
“@Harry_Styles: Minhas duas garotas preferidas.”
“@NiallOfficial: Uma história de amor e ódio.”
“@Louis_Tomlinson: @ vai quebrar a sua cama ”

  Acabamos rindo de todos os comentários, até mesmo do de Louis. Mais RT foram chegando e eu comecei a me sentir bastante popular. Para aquilo devia ser normal, mas pra mim – que só tinha 50 followers – era algo muito emocionante.
  - Viu quem comentou agora? – Ela me perguntou e eu mandei meu Twitter atualizar.

“@Real_Liam_Payne: Sinto a sua falta, @. Como vai dormir sem seu chá? x”

  Senti um frio gostoso na barriga e acabei sorrindo. me olhou e eu entendi exatamente o que ela estava pensando. Antes de começarmos a ensaiar eu havia contado tudo que tinha acontecido, incluindo a noite inocente de filmes até o que Louis me falou no carro. Ela ficou se achando ainda mais e voltou a repetir aquela frase: “Eu sempre estou certa!” Quase na mesma hora em que eu respondi mais um comentário apareceu.

“@: Se eu não conseguir dormir, @Real_Liam_Payne vou te ligar no meio da madrugada pra trazer pra mim. xx”
“@zaynmalik: Linda como sempre @ e a pequena @ . Pensando seriamente em invadir uma festa do pijama.”

  - Isso é novo... – Suspirei com aquele elogio de Malik. – Desde quando ele diz que eu sou linda?
  - Há muito tempo antes de você descobrir. – Piscou pra mim. – E parece que o Twitter vai virar um campo de duelo...

“@Real_Liam_Payne: Posso até ir agora...”
“@zaynmalik: Deixe a porta aberta @ #onmyway”

  Nós duas nos entreolhamos. Os dois estavam, em teoria, brigando pra ver quem viria nos ver. Ou me ver. Zayn seria bem capaz de já estar pegando a chave do carro e Liam com certeza traria o meu chá. Não seria legal ter os dois no mesmo lugar, já que Liam supostamente gostava de mim e Zayn havia me chamado de “linda como sempre”.

“@: Essa é uma noite só de garotas, então MENINOS não são permitidos @Real_Liam_Payne @zaynmalik serve pra você também @Niallofficial.”

   parecia ter lido os meus pensamentos e impediu qualquer um de vir nos ver. Além do mais, já era bem tarde e teríamos que acordar cedo no outro dia. Minha amiga se despediu de todos e foi ao banheiro escovar os dentes; o que por sorte eu já tinha feito. Enquanto isso, fui arrumando a cama dela, onde nós duas iríamos dormir. Eu já estava bem enrolada no cobertor quando peguei meu celular para também avisar que já estava indo dormir.

“Boa noite, todo mundo. Espero que @ não se mexa muito durante a noite, porque vamos dormir juntas. ps: morra de inveja @NiallOfficial.”
“Volto pra casa amanhã e tomaremos chá juntos, ok @Real_Liam_Payne? xx”
“@zaynmalik Boa noite, badboy.”

  Saí do Twitter antes que qualquer um pudesse responder e começar uma conversa. Eu precisava dormir, porque o dia seguinte seria tenso. Ninguém teria aulas, então poderíamos acordar um pouco mais tarde, já que os testes só começariam depois das 10hrs da manhã. Eu pretendia estar o mais relaxada possível e repassava uma parte do texto na minha mente. voltou para o quarto e se deitou ao meu lado. Eu me preparava pra dizer “boa noite” e ela apagou a luz e me perguntou:
  - Liam ou Zayn?
  - Como assim, , ficou louca? – Gargalhei.
  - Você entendeu... Se tivesse que escolher entre os dois, quem seria? E não adianta negar, porque eu vejo a sua cara quando está perto dos dois. – Será que eu era óbvia assim?
  - Não quero responder.
  Eu me sentia atraída pelos dois, é claro. Mas não morria de amores por ninguém e estava muito bem do jeito que estava; sozinha. Tudo bem que seria ótimo ter uma companhia masculina mais íntima pra dividir as emoções e até mesmo pra matar algumas vontades acumuladas pelo tempo. Mas a minha última relação não acabou nada bem, então eu me proibi de me envolver demais com qualquer um desde então. Ou era o que eu gostava de acreditar. Para a minha consciência era bom eu achar que era forte e que iria me segurar bastante antes de mergulhar de cabeça e um sentimento que poderia não dar em nada. Mas era só um olhar mais intenso de Zayn, ou um carinho de Liam que eu ficava arrepiada. E, acredite, odiava isso.
  - Eu não sei... – Finalmente desisti de me segurar e comecei a falar o que vinha me perturbando. Deveria ser bom colocar essas coisas pra fora, principalmente confiando em alguém como eu confiava em . – Os dois são tão diferentes, sabe? O Liam é fofo e divertido e nós podemos conversar por horas. E ele é carinhoso demais... Mas falta alguma coisa, sabe? E O Zayn tem aquela atitude de badboy que ao mesmo me irrita e me atrai. Mas eu acredito que tem algo escondido dentro dele, algo que eu já vi algumas vezes, mas bem rápido... Então os dois são opostos.
  - Uau. – Eu não podia ver, mas sabia que ela estava sorrindo. Eu suspirei depois de desabafar tudo aquilo e realmente tinha sido bom. As coisas começaram a fazer sentido na minha cabeça. – Vamos ver o que o tempo vai mostrar, ok?
  - Esse é o meu lema de vida! – Brinquei. Sentia que ela estava se segurando pra não me contar alguma coisa, mas nunca gostei de insistir.
  - Boa noite, ...
  - Boa noite, mon chéri.

+++

  Nós acordamos com o alarme do meu celular tocando às nove horas da manhã. Cada uma teve dez minutos no banheiro para tomar banho e trocar de roupa, já que não queríamos nos atrasar. A mãe de preparou um café da manhã tão maravilhoso que eu percebi o quanto comia mal em casa. Tinha bolo de milho, scones de todos os tipos, cookies, omeletes... Ela deve ter ficado achando que eu era uma morta de fome, porque comi de tudo. Só saí da mesa quando gritou que iríamos chegar tarde se não fossemos logo. Depois de ameaças e xingamentos, levantei da mesa e agradeci à senhora Dashwood pela hospitalidade.
   e Harry tinham algo em comum: Ambos gostavam de dirigir rápido. Por esse motivo, não demoramos muito para chegar até a Academy. O céu estava aberto e o dia não estava tão frio quanto o normal. A falta de chuva fez o transito ser menor e aquilo me agradou muito. Odiava ficar meia hora parada no mesmo lugar. estacionou o carro e encontramos várias pessoas fantasiadas. Literalmente fantasiadas como os personagens da peça. Eu particularmente achei que aquilo já era forçar muito a barra e devia concordar comigo, porque não parava de rir de uma menina com uma fantasia horrível de Julieta.
  Os testes seriam no auditório e eu torcia pra que fossem acontecer por ordem de chegada, já que queria me livrar logo daquele nervosismo que me consumia. Seguimos pelo caminho que eu já conhecia bem e não havia sinal de Niall ou Zayn. Apesar de duvidar muito que Zayn fosse comparecer aos testes, algo dentro de mim sentia vontade de vê-lo.
  - Está procurando alguém? – deu um risinho quando entramos no auditório e me viu correr os olhos pelas cadeiras ocupadas.
  - A diretora. – Menti. Aquele era o lugar onde eu havia visto Zayn pela primeira vez e era meio difícil entrar ali e não esperar vê-lo.
  - Claro. – Ironizou.
  Puxei pela mão e caminhamos até a primeira fila de cadeiras. Ela reclamou que só os nerds sentavam na frente, mas eu não dei ouvidos. Queria ser vista pelos professores e principalmente pelos diretores. Eu balançada a perna direita pra cima e pra baixo, nervosa. Imagina se os testes fossem acontecer na frente de todos os outros? Eu teria um ataque do coração. Estava acostumada a dançar na frente de quantas pessoas fosse, desde que não precisasse falar nada. Quando o auditório já estava mais ou menos cheio, a diretora Agnes subiu no palco e procurou o microfone.
  - Bom dia, alunos. Vamos logo ao que interessa, pois não tenho tempo a perder. – Séria como sempre, ela andava de um lado para o outro e olhava nos olhos de todos os alunos mais próximos; inclusive os meus.
  - Vamos todos virar pedra. – sussurrou na minha orelha e eu segurei o riso.
  - Os testes irão funcionar da seguinte maneira: Em grupos de cinco pessoas vocês irão vir para o auditório e cada um vai se apresentar enquanto os outros assistem. Depois que se apresentarem, devem deixar o telefone e email para contato com o professor Sheeran, para que possamos avisar caso sejam chamados para o callback amanhã. Vamos ao que interessa?
  Alguns professores afirmaram que sim e a diretora falou alguma coisa com o professor ruivo que eu tinha visto na sala com Zayn aquele dia. Ele olhou em minha direção e afirmou alguma coisa que eu não entendi o que era. Agnes mandou todos se retirarem e assim que e eu nos levantamos para também sair, o ruivo nos fez parar.
  - Vocês podem ficar. Já que estavam na frente, serão as primeiras. Me chamo Ed e estarei acompanhando vocês durante todo o processo. – Eu congelei e quis me matar. Outras três meninas que estavam ao nosso lago também não gostaram muito da notícia. Acho que eu fui a única a me animar, já que ficaríamos livres logo.
  Esperamos o auditório ficar vazio e nos sentamos na segunda fileira, porque a primeira foi ocupada pelos professores. Ed nos perguntou quem gostaria de começar e como mais ninguém iria se oferecer, eu levantei o braço. Ele me chamou para o palco e assim que eu me levantei, Agnes me fez parar.
  - Quero que a senhorita Tomlinson seja a última. – Pronto, era só o que faltava. Voltei a me sentar e uma menina alta se ofereceu para ir no meu lugar.
   segurou a minha mão, provavelmente querendo me acalmar. Eu não sabia se ser a última daquele grupo seria algo bom ou ruim. Como não tinha escolha, decidi que esperaria pra ver. A menina subiu no palco e se apresentou. Seu nome era Alissa e ela queria o papel de Julieta. Pegou o microfone e começou a cantar uma música que eu não conhecia, mas que praticamente contava a história de Romeu e Julieta. Em pouco mais de cinco minutos a menina terminou e ninguém se manifestou. Eu teria começado a aplaudir, mas preferi imitar os outros.
  Minha amiga foi a segunda a subir no palco e ela foi simplesmente perfeita. Recitou tudo perfeitamente e sua linguagem corporal era bem melhor interpretando do que dançando. Realmente estava no curso errado. A terceira se foi... E a quarta também. Preciso dizer que, além da minha amiga, todas as outras queriam o mesmo papel que eu e nenhuma me impressionou tanto. “Nunca subestime seu concorrente” era o que eu tentava manter em minha cabeça.
  - , só falta você. – A professora Holly me pediu pra ir até o palco. O seu sorriso reconfortante me deu um pouco mais de confiança.
  - Tudo bem... – Antes de me levantar, troquei os sapatos pelo meu par de sapatilhas de ponta que tinha trazido na bolsa.
  - O que você está fazendo? – sussurrou pra mim. Aquilo era novo, já que não tínhamos ensaiado nada que envolvesse a dança.
  - Ficando confortável. – Sussurrei de volta e terminei de amarrar as fitas em volta do meu tornozelo.
  Finalmente subi ao palco e olhei todos que estavam ali. me dava força e sorria, sussurrando: “Eu sei que você consegue.” Holly também sorria e até mesmo Ed Sheeran. O professor Hofstheder me estudava criticamente e Agnes parecia querer ser surpreendida.
  - Meu nome é Tomlinson e eu gostaria de interpretar Julieta, da casa dos Capuleto.
  Sentir todos os olhares em cima de mim era um pouco assustador, mas eu tentei “ir para o meu lugar feliz.” Cheguei até o centro do palco e respirei fundo três vezes, fechando os olhos. Meu avô me ensinara essa técnica de relaxamento quando eu ainda era uma criança e tinha um trabalho pra apresentar na frente da sala inteira, mas estava com medo. Acabei sorrindo por lembrar da minha família e dos meus tempos de criança. O riso de Lux, o cheiro da torta de maçã com canela da minha avó, os abraços do meu pai, a argila molhada em minhas mãos quando eu tentava ajudar a minha mãe em suas obras de arte, as brincadeiras com Harry, implicâncias do meu irmão, carinhos de Liam, ciúmes de Niall e até mesmo da voz de Zayn cantando... De repente eu me senti leve. Como se não houvesse mais ninguém naquele auditório além de mim.
  Meus braços se abriram como fossem asas e eu os balancei para trás, lenta e graciosamente. Senti o meu corpo flutuar e logo fiquei em cima da ponta dos pés. Estava de vestido e sem nenhuma roupa de ballet por baixo, mas aquilo não me impediu de dar um pequeno giro e levar os braços até o alto, formando um oval perfeito acima da minha cabeça. Minhas mãos voltaram para o centro do meu corpo e eu as observei descer enquanto fazia pequenas ondulações com os dedos. Desci da ponta, mas continuei dançando e trocando os pés de um lado para o outro. Minha postura era perfeita e eu parecia deslizar pelo palco. Tinha que recitar as minhas falas e não via forma melhor de fazer aquilo.
  - Romeu, Romeu. Ah! Por que és tu, Romeu? Renega o pai e despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque Capuleto deixarei de ser logo... – me ensinou que para dar credibilidade, eu deveria me colocar no lugar da personagem e sentir o que ela sentia. Minha dança sempre me ajudava a contar uma história e naquele momento não foi diferente. Os meus passos leves se tornaram mais firmes, como se eu estivesse em uma luta interna comigo mesma que, por um lado estava apaixonada por um inimigo, mas estaria disposta até mesmo a renegar a minha própria família. – Romeu, risca teu nome e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
  Encerrei o texto e rodopiei uma última vez, em cima de um pé só, enquanto a minha outra perna foi dobrada e formava o número quatro. Assim que voltei a pisar com os dois pés no chão, cobri o rosto com as duas mãos, sem de fato encostar nele. Olhava pra baixo e estava quase ofegante. Eu podia não ser uma boa atriz, mas o ballet sempre me ensinou a passar para o público o que eu estava sentindo. Mais do que inesperadamente todos me aplaudiram; bem, quase todos. As meninas que se apresentaram antes de mim e me aplaudiram de pé. Holly bateu palmas e sorriu, sentada mesmo. Ed tirou algumas lágrimas dos olhos e também fez o mesmo que os outros. Agnes acenou com a cabeça, parecendo satisfeita. E aquilo era o suficiente pra mim.

+++

  Já era noite quando me deixou na porta de casa. Nós duas passamos o dia inteiro sem fazer absolutamente nada de útil, apenas passeando de carro e parando em três Starbucks diferentes. Assim que cheguei em casa contei tudo para Louis e Liam, já que Harry não estava por ali. Eles foram positivos e repetiram que eu conseguiria o papel, mesmo que eu já estivesse nervosa por não ter recebido nenhuma ligação ou mensagem me chamando para o callback do dia seguinte, sendo que já tinha recebido a dela.
  - Você deveria ligar pra nana e contar como foi o teste, . Eu falei com ela esses dias e contei que você estava nervosa. – Louis batucava nas minhas canelas enquanto eu estava deitada no sofá e com as pernas em cima dele.
  - Você falou com ela e nem me disse? – Fiz um bico e levantei do sofá.
  Não esperei a resposta do meu irmão e subi as escadas até chegar ao meu quarto. Meu celular estava em cima da mesinha de cabeceira, onde eu o havia deixado, e logo disquei um número que eu sabia de cor. Deitei no meio da cama e levei o aparelho até a minha orelha, esperando alguém atender.
  - Oui? – Meu avô atendeu com aquele francês perfeito e eu senti uma pontada de saudade bem no meio do coração.
  - Papa? Que saudade... – Era a primeira vez em um longo tempo que eu falava com ele, mas era como se estivéssemos nos visto no dia anterior.
  - , mon petit. Como você está? – Ele devia estar sorrindo do outro lado e eu queria chorar.
  - Eu estou muito bem, papa. E você? E a nana?
  - Você sabe... A casa está vazia sem você, mas estamos bem. Eu acho que estou gripado, porque ando tendo essas dores de cabeça, mas não há nada com o que se preocupar. – Aquilo me alertou um pouco, mas ele não mentiria pra mim e como disse que não deveria me preocupar, resolvi deixar de lado.
  - A vovó está cuidando direitinho de você? Não quero saber do senhor gripado! – Escutei a sua risada e meus olhos marejados arderam.
  - Está sim, querida. Você sabe como a minha Jolene é uma boa curandeira.
  - Ela é a melhor! – Funguei, me lembrando de todas as vezes que estive doente e minha vó cuidou de mim. – Papa, eu estou ligando pra contar sobre o meu teste para a peça.
  - Então você não está ligando porque sentiu saudades do seu velho avô? – Pareceu ofendido, mas eu sabia que era brincadeira. – E como foi, huh?
  Contei pra ele sobre a minha manhã inteira, especialmente sobre o teste e como eu me senti leve e nervosa ao mesmo tempo. Contei sobre e como ela estava sendo a melhor amiga que eu poderia pedir e como ensaiamos na noite passada. Ele ficou muito animado em saber que eu me adaptara muito bem em Londres, mas disse que Paris sempre estaria ali pra mim caso eu quisesse voltar. Disse também que meu quarto continuava do mesmo jeito em que eu o deixara e que era lá que ele passava as tardes lendo. Poderíamos passar a noite inteira conversando, mas estava tarde e nós dois precisávamos dormir. Nos despedimos com um “Je’ taime” cheio de sentimento e nostalgia. Quando eu deixei o telefone de lado meus olhos transbordaram. Eu não comecei a chorar compulsivamente, mas algumas lágrimas escorreram pelas minhas bochechas.
  - Tá tudo bem, ? – Liam estava parado na porta do meu quarto com uma bandeja nas mãos.
  - Tá sim, Li. – Limpei as lágrimas e sorri. Sentei-me na cama e dei um espaço para que ele fizesse o mesmo. – O que é isso aí?
  - Você disse que tomaríamos chá juntos, então... – Sorriu adorável como sempre e também se sentou. Apoiou a bandeja no meu colchão e serviu duas xícaras com o líquido que estava em um bule. – Eu sei que você gosta de chá gelado, mas esse é o único que eu consigo fazer e sei que fica bom.
  - Uau, chá na cama. – Sorri mais ainda com aquela ação da parte dele. Peguei uma das xícaras e assoprei antes de dar o primeiro gole. – Hm... Maçã?
  - Acertou! – Liam também deu um gole no seu chá e fez uma careta. – Queimei a língua!
  - Você tem que tomar cuidado! – Gargalhei. – Tem que assoprar.
  - Chá gelado é realmente melhor. – Ele também riu e começou a se servir de açúcar com uma faca.
  - Como você espera pegar açúcar com uma faca, Liam?
  - Porque é mais fácil do que pegar com um garfo! – Ele tentou se justificar, mas só me deixou mais confusa ainda. – Eu tenho medo de colheres.
  - De colheres? – Ri alto, mas tentei voltar ao normal. Se o medo era real, eu não deveria rir. – De verdade?
  - Desde pequeno. – Fez uma carinha envergonhada e eu sorri.
  - Todo tem medos, Li. Mas não precisa se envergonhar disso. – Coloquei a minha mão livre sobre a dele e acariciei com o polegar.
  Ficamos ali conversando e rindo até terminarmos o nosso chá. Eu me ofereci para lavar tudo, mas ele me impediu. Disse que eu deveria dormir logo após tomar o chá, ou então perderia o efeito e eu começaria a falar durante a noite, reclamando que não tinha feito o ritual direito. O problema era que eu realmente costumava falar enquanto dormia e aquele comentário de Liam me fez pensar que ele já tinha escutado algo. O garoto ficou ali comigo até eu sair do banheiro, já de pijamas e pronta pra dormir.
  Me deitei na cama e ele me cobriu com o edredom grosso. Beijou a minha testa, sussurrou “Boa noite”, apagou a luz e saiu. Fiquei ali no escuro tentando não pensar em nada. Fechei os olhos e torci pra dormir logo. Se eu não adormecesse, acabaria pensando na vida. Pensando em como Liam era fofo e sabia cuidar de mim, ou no fato de não ter visto Zayn durante a manhã na Academy. Poderia pensar também no porque de não ter recebido uma resposta sobre o callback. E até mesmo pensar em como meus avós estavam longe e aquilo doía mais do que eu podia explicar. Tarde demais, só consegui dormir depois de rever cada segundo da minha vida.

+++

  - Como assim o Ed não te ligou? – parecia decepcionada.
  Estávamos sentadas na escada mais uma vez e aquele começava a se tornar o nosso point. Eu estava em um degrau acima do dela e contava que não tinha sido convocada para o segundo teste, ou seja: Estava fora da peça, ou em um papel sem importância. Estava arrasada e não sabia o que fazer. Bem, não tinha exatamente o que ser feito a não ser aceitar o meu destino. O nível da LRA devia ser bem acima do meu, realmente. A Academy estava praticamente vazia, já que também não teria aula naquele dia e só os alunos convocados apareceram. Na verdade, os alunos convocados e eu. Até mesmo Brigitte e as suas seguidoras estavam por ali.
  - Simples assim, . – Dei de ombros e passei a mão pelos cabelos.
  - Aqui estão as minhas garotas preferidas! – Niall apareceu e Zayn estava atrás dele.
  - Vocês dois fizeram o segundo teste? – Sim, eu estava chocada. Não sabia nem que Zayn participara do primeiro, imagine ser chamado para o segundo.
  - Sim, acabamos de fazer. – Niall se sentou ao lado da namorada e os dois começaram a trocar demonstrações de afeto. – Você não?
  - Não. – Respondi ranzinza. – Acho que não passei. Ou talvez vá ser uma árvore.
  - Não liga pra isso, . Essas peças nem são tão boas assim. – Malik se sentou ao meu lado e devia estar tentando me consolar. Não de uma forma muito boa, diga-se de passagem. – Eu acho que são uma frescura!
  - Então por que você está participando? – Perguntei ríspida.
  - Porque as garotas adoram. – Piscou pra mim, admitindo que a única razão que o levou a entrar na peça foi uma razão idiota. Incrível como alguém assim conseguia um papel e eu, que estaria disposta a dar o meu sangue pela peça, não teria nem uma segunda chance.
  - Eu não acredito que você é tão raso assim, Malik. – Estava irritada e já fui me levantando. e Niall tinham parado de se agarrar para me olhar. – Eu achava que tinha mais alguma coisa aí dentro, mas vejo que estava errada. Você é só mais um garotinho sem conteúdo e que pensa com a cabeça de baixo.
  Eu realmente explodi. Nunca fui de ter ataques de raiva, mas aquilo já era demais. Eu estava cansada da pose de badboy de Malik e desistira de procurar aquele Zayn que conheci quando cantamos juntos, ou quando estávamos no banheiro da minha casa e ele parecia indefeso. Minha amiga não sabia o que fazer e impediu Niall de vir atrás de mim. Ela deveria entender os meus motivos e preferiu não se intrometer. Zayn ficou ali na escada, do mesmo jeito que eu o deixei. Não parei pra olhar pra trás quando comecei a ir embora, mas tenho certeza que ele ficou com o olhar vazio e sem saber o que me responder. Eu devia ser a primeira pessoa a falar com ele daquele jeito.
  Caminhei até encontrar um taxista livre e entrei no veículo. Estava irritada demais pra andar três quadras e ainda ter que esperar um ônibus aparecer. Disse o endereço para o motorista e tentei ser o mais simpática possível, afinal, ele não tinha culpa nenhuma do que estava acontecendo. Meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa e eu pensei que seria , mas tive uma surpresa quando li o nome “Zayn Malik” na telinha. Ignorei sua chamada quatro vezes até que recebi a mensagem:

“Vou continuar ligando até você atender.”

  Bufei. Além de vazio, ele ainda era chato? Pelo menos não era mentiroso, porque continuou ligando infinitamente até que eu resolvi atender.
  - O que você quer, Malik? – Perguntei seca.
  - Um dia. – Respondeu.
  - O quê?
  - Sim. Um dia. Quero que saia comigo amanhã; só nós dois. E aí vou te mostrar que não sou o que você pensa de mim.
  - Duvido muito, Malik. – Rolei os olhos. Que história era aquela?
  - Só um dia, . Por favor. Passo às duas horas da tarde pra te buscar, nós saímos, eu te deixo em casa e aí você decide se nunca mais quer me ver na sua frente de novo.
  - Hum. – Suspirei. Não sabia se era a coisa certa a fazer, mas resolvi aceitar. – Um dia, Malik.
  Desliguei o celular e o guardei na bolsa novamente. “Onde eu estou com a cabeça?” Realmente não sabia. Minha loucura estava aumentando diariamente e eu devia começar a ter cuidado com aquilo.
  - Problema com um garoto? – O motorista me perguntou, encarando-me pelo retrovisor e eu sorri.
  - O pior deles.

Capítulo XVII

  Eu estava no meu quarto e encarava o relógio digital na minha mesinha de canto. 13:30, era o que piscava na tela. Eu tinha exatamente trinta minutos até a chegada de Zayn e estava preocupada. Não, não era preocupação com o que vestir, porque aquela parte eu já tinha dominado. Estava preocupada porque não sabia o dia que me esperava. Não fazia ideia do que iríamos fazer e não gostava da idéia de passar a tarde ao lado de Zayn agindo como um idiota. Senti vontade de desistir, mas já tinha dado a minha palavra e não poderia voltar atrás. Eu só torcia pra que ele também cumprisse a sua palavra e me mostrasse que a idéia que eu tinha dele estava errada.
  Me olhei no espelho do banheiro e borrifei meu perfume preferido nas laterais do meu pescoço e pulsos. O dia em Londres continuava fresco e sem chuvas. O céu azul brilhava do lado de fora da minha casa e me convidava para um passeio. Se eu não fosse sair com Zayn, provavelmente passaria o dia na piscina, torrando embaixo do Sol. Meu celular vibrou com a chegada de uma mensagem e eu fui ver o que era.

“Pronta para o seu encontro com o Z-boy? ps: Não me bata. :P – .”

  Contei para sobre a ligação de Zayn assim que cheguei em casa no dia anterior, mas é claro que ela já estava sabendo daquilo. Devia estar ao lado dele enquanto nos falamos no telefone e eu não duvido nada que tenha sido idéia dela. O que me irritou é que ela chamou aquilo de “encontro” e não era o caso.

“Não é um encontro, eu já disse! E estou quase desistindo, então pare de me perturbar.”

  Respondi e deixei o celular em cima da cama enquanto procurava meus brincos. Não queria ir muito cheia de coisas, então só coloquei um cordão simples no pescoço, uma pulseira em volta do pulso direito, deixei os cabelos soltos caindo pelos meus ombros em ondulações grandes e a minha franja jogada de lado. Não estava super arrumada, mas também não estava feia.
  Pontualmente as 14hrs alguém tocou a campainha. Corri até a porta do meu quarto e vi que Louis estava descendo pra atender. Pensei em ir em seu lugar, mas congelei. Estava nervosa e não sabia o motivo.
  - Você vai lá? – Louis me perguntou parado no meio da escada. Ele também sabia do meu compromisso e estava com aquele sorrisinho irritante.
  - Vou... Não... Não sei. – Estava confusa e meu irmão riu de mim. – Você vai lá e diz que eu to terminando de me arrumar, ok?
  - Eu vim buscar a ... – O som da porta sendo aberta e a voz de Zayn vindo em seguida me fez congelar. Liam devia ter aberto a porta pra ele.
  - Shit. – Xinguei baixinho. – Vai lá, Lou. E seja legal!
  O mandei descer e me tranquei no quarto. Eu devia estar parecendo uma garotinha se preparando para o primeiro encontro. Por mais que NÃO fosse um ENCONTRO. “Isso, , continue repetindo. Vai que alguém acredita.” Rolei os olhos com a minha própria consciência e respirei fundo. “Você é forte. Só vai sair com ele pra dar uma volta e depois volta pra casa. Nada demais.” Nada demais, nada demais. Não seria nada demais! Finalmente consegui me tranquilizar e retoquei o gloss claro em meus lábios. Peguei a minha bolsa e guardei o celular dentro dela, partindo para o andar de baixo.
  Zayn estava sentando no sofá ao lado de meu irmão e os dois conversavam. Liam estava parado do outro lado da sala, não gostando nada daquela história de eu sair sozinha com ele. Fiquei mais tranquila ao ver que Zayn também não estava tão arrumado; mas ainda continuava bonito como sempre. Ele usava uma camisa xadrez vermelha e preta, por dentro uma camisa branca com a palavra “YES” em preto, calça jeans clara e um Converce nos pés. Por mais simples que estivesse ainda parecia um modelo italiano. Os três garotos me olharam assim que entrei na sala e Zayn se levantou.
  - Hey... – Ele sorriu e passou a mão pelos cabelos, me olhando dos pés até a cabeça.
  - Hey, Malik. – Acabei sorrindo junto. – Não sabia o que íamos fazer hoje, então espero que eu esteja bem vestida.
  - Está perfeita. – Seu sorriso parecia não querer desaparecer. – Podemos ir?
  - Podemos sim. – Apontei para a porta de saída e esperei ele passar por mim. – Tchau, Lou. Tchau, Li.
  Liam apenas acenou sem graça e Louis nos acompanhou até a porta. Ele me deu um beijo na bochecha e disse para Zayn que me queria em casa antes das dez horas da noite. Rolei os olhos. Desde quando ele se comportava como o meu pai? Zayn só riu e disse pra ele não se preocupar. Andamos até o Volvo e ele abriu a porta pra mim. Entrei no carro e esperei ele dar a volta e fazer o mesmo. Até aquele momento ele estava normal, sem se comportar como um idiota e sem fazer comentários desnecessários. Passamos pelos portões do condomínio e eu senti que precisava falar algo.
  - Zayn... – Suspirei. – Eu não quis falar com você daquele jeito ontem... Não foi justo.
  - Não se preocupe, . Eu mereci. – Me olhou assim que o carro parou em um sinal vermelho. – As vezes tenho essa mania de ser chato, então não precisa se desculpar.
  - Tudo bem. – Sorri, olhando para a rua em nossa frente. – Pra onde vamos afinal?
  - É uma surpresa! Mas já estamos chegando.
  Estávamos passando por uma parte da cidade que eu não conhecia. Londres era enorme e eu de fato não conhecia muita coisa, mas vamos ignorar essa parte. Zayn continuou dirigindo e trocamos olhares de vez em quando, sem falar nada. Sempre que desviava o olhar, eu acabava sorrindo, mas escondia aquilo dele. Zayn estacionou o carro em uma rua quase deserta e eu olhei em volta. Não tinha quase nada lá, a não ser alguns prédios.
  - O que estamos fazendo aqui? – Não tinha certeza se queria descer do carro naquele lugar.
  - Para de ser medrosa, ! – Ele riu de mim e já foi descendo.
  - Não é medo! – Resmunguei e também desci do carro sem esperar ele abrir a porta pra mim.
  - Mas não se preocupe, não é aqui que vamos passar a tarde. – Zayn foi andando pela calçada e eu o acompanhei. – Sabia que é possível alugar bicicletas aqui em Londres?
  - Não fazia ideia... – Caminhamos até umas bicicletas empilhadas lado a lado. Não havia ninguém tomando conta delas e estavam super bem cuidadas. Realmente Londres era uma cidade de outro nível. – Vamos andar de bicicleta?
  - Pra chegar ao nosso próximo destino, sim. – Ele riu com a minha animação e tirou a corrente de uma bicicleta e me “entregou”. – Pensei em alugar patins, mas não sabia se era a melhor ideia.
  - Realmente não era! – Arregalei os olhos e ri. Afastei um pouco a minha bicicleta para que Zayn pudesse pegar a dele regulei a altura do banco. – Eu sempre amei andar de bicicleta!
  - Eu imaginei. – Sorriu mais uma vez.
  Nós caminhamos pela calçada, puxando as bicicletas, até chegarmos a uma grande avenida. A quantidade de carros que passava por ali era impressionante. Zayn me mostrou que havia uma parte da rua reservada para ciclistas e ela estava vazia. Eu sorri aliviada, já que acabaria sendo atropelada se tivesse que passar entre os carros. Ele me ajudou a preparar a bicicleta e subir nela. Como a minha saia não era curta e nem apertada, eu consegui sentar e ainda ficar segura de que ninguém veria mais do que devia. Deixei a minha bolsa na cestinha da bike e Zayn montou na dele.
  - Nós vamos seguir esse caminho até o fim, ok? É só ir em frente. – Ele explicou e eu já dei o primeiro impulso pra fazer a bicicleta andar.
  - Me alcance se pudeeeeeeeeeer! – Gritei em meio a risadas e pedalei com força, pegando velocidade.
  - Me espera! – Também riu e começou a tentar me alcançar.
  Nós dois parecíamos duas crianças apostando corrida. Alguns carros buzinavam ao nosso lado, provavelmente porque eu estava gritando, mas não dei a mínima. Meus cabelos eram bagunçados pelo vento e eu adorava aquela velocidade. Sem falar que a sensação de liberdade era enorme. Parei de correr, mas continuei com uma velocidade boa, deixando Zayn ficar ao meu lado. Eu o olhei e ele também estava se divertindo.
  - Olha, sem uma mão! – Falou ao segurar o guidão com apenas uma mão.
  - Sem mão nenhuma! – Ri e abri os braços. Aproveitei para batê-los como asas e senti que estava voando.
  - Você vai acabar caindo. – Zayn voltou segurar com as duas mãos e eu fiz o mesmo.
  - Medroso!
  Pedalamos até chegar à região central a beira do rio Tamisa. O London Eye podia ser visto há alguns metros e mais ao fundo o Big Ben. Era uma paisagem linda e eu desejei ter uma câmera fotográfica guardada na bolsa. Deixamos as bicicletas presas em um lugar próprio pra isso e Zayn me levou até um tipo de calçadão. Caminhamos por uma calçada de tijolos que ficava entre um gramado muito verde e extenso e o rio. Crianças corriam por todos os lados e as mães iam atrás. Outras pessoas passeavam com seus animais e eu só conseguia sorrir olhando aquilo tudo. Era realmente bom ver as pessoas alegres depois de escutar tanta coisa ruim nos noticiários e jornais mundiais.
  - Vem cá, eu quero te mostrar uma coisa. – Zayn me fez tirar a concentração do que havia em minha volta e eu o olhei com curiosidade.
  - O que é? – Caminhamos por mais ou menos três minutos e Zayn sorria como se estivesse animado com alguma coisa.
  - Hey, Jack! – Ele ignorou a minha pergunta e cumprimentou um homem de aparência e vestes simples.
  - Menino Zayn! – Jack pareceu feliz em vê-lo. – Faz tempo que não vem por aqui.
  - Ando muito cheio de coisas na academia, mas você sabe que eu nunca esqueceria um velho amigo. – Zayn tratava aquele homem com intimidade e eu nunca poderia imaginar uma cena mais estranha. Não por pensar que o homem de rua fosse inferior, mas Zayn não fazia do tipo que se envolvia com questões sociais. – Essa é , uma amiga.
  - Oi... – Sorri e me aproximei dos dois. Estiquei a mão educadamente para que ele a apertasse. – Muito prazer.
  - O prazer é todo meu, senhorita. – Ele pegou a minha mão e beijou.
  - Jack é um artista de rua, . Um dos melhores. – Zayn explicou.
  - Mas as coisas estão meio paradas ultimamente... As pessoas não dão mais valor ao Jazz como costumavam. – Jack balançou a cabeça enquanto falava. Devia ser difícil ter que depender do que as pessoas te davam na rua. Como eu sempre tive tudo que precisei não tinha idéia da outra realidade.
  - Talvez possamos te dar uma ajudinha... – Zayn me olhou confuso, mas eu tinha uma ideia. – Porque você não toca alguma música mais conhecida? Um clássico... Como dos Beatles, por exemplo. Ou qualquer uma que esteja tocando na rádio agora. Zayn pode cantar.
  - É uma ótima idéia! - Jack se animou e entregou um violão para Zayn e pegou um tambor. Nem ao menos esperou pra ver o que Zayn iria falar.
  - E a pode dançar. – Malik falou e eu fiz uma careta. Dançar? Ali no meio da rua?
  - Por favor, . Ajude um amigo. – O mais velho tentou me persuadir e eu acabei concordando.
  - Tudo bem, tudo bem! – Deixei a minha bolsa junto das coisas de Jack e fiquei tranqüila que ninguém iria pegá-la.
  Os outros dois foram combinar a música que iriam cantar e eu peguei uma caixinha de papelão que Jack usava para recolher os trocados que conseguia das pessoas e a coloquei um pouco mais pra frente, ficando visível. Não havia muito ali dentro, então eu peguei uma nota de cinco libras que tinha no bolso e coloquei ali; como encorajamento. Notei que algumas pessoas começavam a nos olhar, sabendo que algo iria acontecer. Podia ser loucura, mas era por uma boa causa. Olhei para trás e eles estavam prontos. Não sabia muito bem o que ia fazer, mas eu também estava pronta.
  Jack começou a bater os pés no chão e tocar seu instrumento. Zayn também começou a tocar o violão e uma música animada começou. Primeiro eu fiquei apenas observando os dois e só mexia o corpo no mesmo ritmo, mas sem sair do lugar.

So this is what you meant, when you said that you were spent?
(Então isso é o que você quis dizer quando você falou que estava cansado?)
And now it’s time to build from the bottom of the pit right to the top!
(É hora de construir a partir do fundo do poço direto ao topo)
Don’t look back.
(Não olhe para trás)

  Zayn começou a cantar e é claro que a sua voz atraiu ainda mais olhares. Eu comecei a dançar sem prestar atenção na coreografia. Me preocupei em seguir a melodia e o meu instinto.

Packing my bags and giving the academy a rain-check.
(Arrumando minhas malas e dando um tempo à academia)
I don’t ever want to let you down. I don’t ever wanna live this town.
(Eu não quero te decepcionar. Eu não quero deixar esta cidade)
‘Cause after all… This city never sleeps at night.
(Porque afinal… Essa cidade nunca dorme a noite)

  Jack batucava e sorria na medida em que as pessoas iam se aproximando e deixando moedas ou dinheiro em papel na sua caixinha. Zayn caminhou até onde eu estava e cantou olhando pra mim enquanto eu dançava em semicírculos. Eu levantava e abaixava os braços descontraída e dava pequenas voltinhas e até mesmo pulinhos. O sorriso em meu rosto era enorme.

It’s time to begin, isin’t it?
(É hora de começar, não é?)
I get a little bit bigger but then I’ll admit, I’m just the same as I was…
 (Fico um pouco convencido, mas depois eu admitirei, sou o mesmo que eu era...)
Why don’t you understand?
(Por que você não entende?)
I’m never changing who I am.
(Eu nunca vou mudar quem eu sou)

  Circulei Zayn enquanto saltitava e balancei a saia de um lado para o outro. Um circulo de pessoas foi se formando e cada vez parecia chegar mais. Algumas criancinhas foram para a frente do círculo e bateram palmas. Outros começavam a tirar fotos.

So this is where you fell, and now I’m left to sell.
(Então, este é o lugar onde você caiu, e à mim só resta vender)
Your path to heaven runs through miles of clouded hell, right to the top.
(Seu caminho para o paraíso passa por quilômetros de inferno nublado, direto ao topo)
Don’t look back. Turn into rags and giving the commodities as a rain-check.
(Não olhe para trás. Virando-se em trapos e deixando seus bens de lado)
{refrão}

  Eu caminhei até as criancinhas e puxei uma para dançar. Era uma menininha de cabelos castanhos e ela começou a balançar o vestidinho da mesma forma que eu balançara a minha saia. Tive que rir porque ela era simplesmente muito fofa. Chamei as outras crianças pra dançarem com a gente e elas logo vieram correndo. Eles deram as mãos e fizeram uma forma de ciranda, girando para um lado e depois para o outro. Me deixaram no meio e eu girei com os braços abertos. Era um momento tão mágico, por mais simples que fosse. Eu me senti genuinamente feliz.

This road never looked so lonely. This house doesn’t burn down slowly to ashes.
(Esta estrada nunca pareceu tão solitária. Esta casa não queima lentamente até as cinzas)
It’s time to begin, isin’t it? I get a little bit bigger but then I’ll admit, I’m just the same as I was… Now don’t you understand? I’m never changing who I am.
{2x}

  Assim que a música acabou, todos bateram palmas. Foi um barulho tão alto que eu gostaria de poder saber quantas pessoas estavam ali assistindo. Os flashes das câmeras continuaram por mais algum tempo e as criancinhas se despediram e voltaram para as suas famílias. Se alguém me contasse o que havia acabado de acontecer, eu não teria acreditado ou acharia exagero. Mas parecia que o parque todo tinha parado pra nos assistir. A caixinha de papelão de Jack ficou pequena para a quantidade de doações que ele recebeu.
  - Isso foi incrível! – Corri até Zayn e o abracei assim que ele devolveu o violão para o dono.
  - Você foi incrível. – Apesar de o meu abraço ter pego-o de surpresa, ele retribuiu. – Foi um sucesso com as crianças.
  - Eu gosto de crianças. O problema é quando elas crescem. – Ri e nos soltamos. Eu fui recolher a caixinha de Jack e entregar pra ele. – Espero que isso ajude.
- Bloody hell! Eu nunca consegui tanto dinheiro assim aqui. – Ele sorriu e começou a arrumar as notas e moedas em um saquinho meio surrado. – Obrigado, . E obrigado, Zayn.
  - Foi um prazer ajudar, Jack. – Eu sorri. A sensação de fazer algo bom por outra pessoa é uma das melhores do mundo, eu tenho certeza.
  - Pode deixar que nós vamos voltar. – Zayn o abraçou. – Agora temos que ir, certo?
  - Vou ficar esperando, então. Até logo. E foi um prazer, senhorita.
  Acenei um ‘tchau’ para Jack e de repente lembrei de quem ele me lembrava: Jack Sparrow! O cabelo, a expressão facial e até mesmo as roupas... Será que o seu nome “Jack” veio em homenagem ao pirata? Perguntaria aquilo depois. Peguei a minha bolsa e nós retomamos o nosso caminho. Eu já começava a ver Zayn com outros olhos. Começamos a andar pela grama e em determinado ponto ele se sentou. Eu fiz o mesmo e senti um arrepio ao encostar as pernas na grama gelada.
  - Eu disse que iria te mostrar quem eu realmente sou, certo? – Ele começou e eu assenti com a cabeça. – Então vamos fazer assim... Você pode me perguntar qualquer coisa que quiser e eu vou responder com sinceridade.
  - Qualquer coisa? – Olhei pra ele de forma desafiadora.
  - Qualquer coisa, por mais que esse seu olhar tenha me deixado com medo. – Ele riu e eu me ajeitei na grama, ficando de frente pra ele.
  - Qual é a sua cor preferida? – Iria começar devagar.
  - Eu estava com medo disso? – Ele gargalhou de forma gostosa. – Vermelho.
  - Seu maior medo?
  - Água!
  - Eu sabia que você não toma banho! – Fiz uma careta e ri de novo.
  - Não água nesse sentido, sua besta. Lugares com muita água... Porque eu não sei nadar. – Zayn fez uma cara de coitadinho que me deixou com o coração na mão.
  - Eu posso te ensinar, se quiser. – Ofereci. – Próxima pergunta... Comida preferida?
  - Galinha! Qualquer tipo. – Ele respondeu e eu já sabia a minha próxima pergunta.
  - Um sonho?
  - Ser um grande cantor. Fazer a diferença e me sentir no topo do mundo...
  - E por que você se esconde atrás dessa pose de badboy? – Zayn ficou tenso e respirou fundo.
  - Eu sabia que você ia perguntar isso... – Seu sorriso sumiu, mas ele não pareia bravo com a minha pergunta. – Quando eu era menor, durante a escola e ensino médio, eu sofri muito bullying... Pode não parecer agora, mas eu era excluído e as pessoas pegavam no meu pé só por eu ser diferente. Sabe? Meu pai é muçulmano, então metade de mim também é. Crianças podem ser muito cruéis quando querem. Me chamavam de terrorista e coisas horríveis. Então quando cheguei ao último ano do colegial resolvi que não iria mais aguentar essas provocações e foi quando essa minha fama de “badboy”, como você chama, começou. Usei isso como uma forma de proteção, um escudo. E as pessoas passaram a querer andar comigo e a me respeitar. Foi o jeito que eu achei de me enturmar e ser parte de algo.
  - Eu não fazia ideia... – Estava chocada com todas aquelas informações. Não fazia ideia que a infância dele havia sido tão difícil.
  - Agora eu posso te fazer uma pergunta? – Ele abriu um meio sorriso, como se falasse: “Está tudo bem, eu superei essa fase”.
  - Claro que pode. – Afirmei.
  - Porque você me evitava? me contou que você me chamava de “perigo”. – Fez aspas no ar e riu. É, falando em voz alta eu parecia muito idiota.
  - Vou matar aquela menina. – Escondi o rosto nas mãos. Não era pra ela ter contado aquilo pra ele! De qualquer forma, respirei fundo e me preparei pra tocar em um assunto delicado. – Tá bem, vamos pelo começo. Quando eu tinha dezessete anos eu conheci esse garoto... Ele era bonito, popular, mais velho, aparentava ter tudo aquilo que uma garota desejava. Era um garoto encantador. Mas mal sabia eu que aquilo não era verdade. Não sei exatamente como, mas nós começamos a sair juntos e acabamos namorando. Dois meses depois ele disse que me amava e nós fizemos tantos planos juntos... – Suspirei. Zayn me olhava com atenção e parecia já saber onde essa história ia terminar. – E eu entreguei pra ele uma coisa que nunca poderia pegar de volta. Algo que eu estava guardando pra alguém especial e achava que ele era esse alguém. Duas semanas depois... PUFF. Ele sumiu. Não atendia mais as minhas ligações e nem respondia as minhas mensagens. Quando eu ia a casa dele, a mãe falava que ele estava viajando, ou que não estava em casa. Eu fiquei arrasada. Não queria voltar pra escola, ou comer... Enfim. Quando eu te conheci, pensei que fosse como ele. Por isso eu tive tanto medo de me aproximar. Eu acreditava que quanto mais me afastasse de você, mais protegida ficaria.
  - Uau, que cara idiota. – Falou irritado. – Se algum dia ele aparecer por aqui... Você me avisa, ok?
  - Vai bater nele, Malik? Aviso sim. – Acabei gargalhando, mesmo sempre ficando tensa com aquele assunto. – Eu nunca contei isso pra mais ninguém além de Harry e meu irmão.
  - Então posso me sentir importante? – Levantou uma sobrancelha e eu sorri.
  - Claro que sim! - Eu começava a confiar em Zayn, principalmente por estar vendo aquele lado que eu sabia estar escondido e que não eram todos que conseguiam conhecer. Ele estava se abrindo pra mim, então porque não abaixar a minha guarda e deixar ele se aproximar?
  - Vem, temos que ir! – Zayn olhou no relógio em seu pulso e se levantou.
  - Pra onde vamos agora? – Ele me ajudou a levantar e me entregou a minha bolsa.
  - Outra surpresa. Mas temos que ir logo, ou não vai dar tempo.
  Eu já não estava entendo mais nada quando ele me puxou pela mão e saímos correndo. Desviamos de algumas pessoas e até assustamos alguns cachorros. Zayn parecia atrasado pra algo e eu o segui. Enquanto corríamos, eu só conseguia pensar no toque que a sua mão tinha na minha. Na sua pele macia aquecendo a minha... Começava a se tornar impossível não sorrir ao lado dele. Tudo que ele fazia, tudo que falava e até mesmo o modo que mexia a boca pra falar me atraia. Mais do que antes. Não sei se é por causa da honestidade que ele estava tendo comigo, já que Zayn estava sendo “ele mesmo” ou o “verdadeiro Malik”, ou se eu sempre fui atraída por ele e só estava deixando a minha guarda baixar agora. Provavelmente as duas coisas combinadas com uma tarde linda e divertida.
  Continuamos correndo até estarmos próximos o suficiente do London Eye. Olhei o topo da roda gigante e meu pescoço chegou a doer. Era realmente MUITO alto. Mais do que eu podia imaginar. A fila também estava enorme, mas Zayn me mandou esperar por ele ali. Eu concordei e ele passou por baixo da facha que organizava a fila e passou na frente de algumas pessoas. Estava querendo arrumar confusão? Era o que parecia, já que um homem reclamou. Zayn falou com o atendente e eu estava longe demais pra escutar o que era. Só entendi quando ele me chamou e eu tive que furar fila também. Pedi mil desculpas e fui passando na frente de todo mundo.
  - Você está maluco, Zayn? O que estamos fazendo? – O questionei e o atendente já nos mandou entrar em uma cabine que tinha acabado de esvaziar.
  - Estamos nos preparando pra ver a vista mais bonita de Londres! – Ele sorriu como se não houvesse nada de errado em passar na frente de pessoas que deveriam estar esperando há horas. – Só aproveita, . Vai valer a pena.
  - Se você diz, né? – Fui convencida facilmente e entrei na cápsula de vidro. Zayn me seguiu e o homem travou a porta. Achei aquilo estranho, porque deveria caber pelo menos mais vinte pessoas ali dentro. – Não tem mais ninguém vindo com a gente?
  - Eu pedi pra essa cabine ser só nossa. – O olhei confusa e a roda gigante começou a girar bem devagar. – Os funcionários são subornados facilmente aqui.
  - Tá explicado! – Ri e caminhei até a parede de vidro. – É a segunda vez que alguém me traz aqui...
  - Sério? Eu achei que seria algo especial. Droga!
  - Meu pai foi o primeiro. – Sorri e olhei para Zayn, que pareceu mais aliviado. – Mas eu era bem pequena, então não aproveitei nada.
  - Então não conta, . Essa é a primeira vez que você vai aproveitar! – Ele se inclinou no ferro de segurança e nós dois ficamos ali, apenas encarando a paisagem.
  Na medida em que íamos subindo, o horizonte ficava maior. Aos poucos as pessoas foram se tornando apenas pontinhos escuros e os carros pareciam formiguinhas. Zayn ia apontando os monumentos e me contando curiosidades sobre eles, como o ano em que foram criados, ou nas vezes que os visitou quando era criança. Também me mostrou onde ficava o melhor restaurante da cidade e as boates que eu deveria conhecer. Claro que ele prometeu me levar em um tour completo por todos os “hot spots” de Londres. Demoramos quinze minutos para chegar exatamente na metade do passeio e a roda gigante parou no ponto mais alto.
  - O que aconteceu? – Olhei em volta, começando a me preocupar. Imagina se houvesse algum problema técnico? Eu já comecei a pensar em todo o trabalho que teriam pra me tirar dali. – Estamos presos?
  - Calma, ! – Zayn gargalhou do meu susto e mal se mexeu. – Essa parada faz parte da surpresa.
  - É agora que você me conta que é um assassino e escolheu esse lugar pra me matar? – Brinquei, parecendo realmente séria.
  - Como você descobriu o meu plano? Eu levei meses planejando tudo! – Colocou a mão na testa e me olhou com indignação.
  - Muito engraçado, Zayn! – Coloquei as mãos na cintura e o encarei, esperando uma explicação melhor.
  - Você realmente não pode aproveitar o momento, né? Olhe em volta! Eu te trouxe aqui pra ver o pôr-do-sol mais bonito da cidade.
  Zayn não estava impaciente e parecia ansioso pra ver a minha reação. Eu olhei pra frente e fiquei impressionada com o que encontrei. O Sol brilhava exatamente na minha frente e o vidro protegia os meus olhos dos raios. Apoiei as duas mãos no corrimão em minha frente e fiquei ali parada, só olhando o sol ir descendo e o crepúsculo brilhar no céu limpo.
  - É tão... Incrível... – Fiquei quase sem palavras. Não havia a necessidade delas, pra falar a verdade.
  - É algo mágico, não? – Ele sorria ao meu lado.
  - Com toda certeza...
  - Não espere pelo momento perfeito, pegue o momento e o torne perfeito... – Zayn falou em um sussurro e eu sorri. Ele tinha razão quando disse que era o pôr-do-sol mais bonito.
  - Obrigada, Zayn... Por me mostrar. – Minha voz também saiu baixa e eu o senti pousar a mão sobre a minha com cuidado. Eu não recusei o seu toque como teria feito antes.
  - Eu gostei de dividir isso com você. - Tive que olhar pra ele.
  Seus olhos cor de avelã brilhavam com o reflexo da luz e estavam ainda mais cintilantes que o normal. Zayn também olhou pra mim e ficamos conectados até ele tirar a mão de cima da minha. Meu corpo virou de frente pra ele em um movimento involuntário e ele fez o mesmo. Sorriu sem mostrar os dentes e pousou a mão abaixo da minha orelha, segurando a minha nuca e acariciando a minha bochecha com o polegar. Envergonhada com o tom avermelhado de minhas bochechas, olhei pra baixo, mas também sorri. Zayn delicadamente me fez olhar novamente pra ele e eu subi o olhar demoradamente pelo queixo, lábios e finalmente encarei mais uma vez aqueles olhos. Senti uma intensidade tão grande na forma que ele me observava que um arrepio percorreu a minha espinha. Nossos sorrisos foram diminuindo devagar e mais lentamente ainda ele se inclinou em minha direção. Fechei os olhos e também me inclinei, esperando o que estava por vir. Senti a respiração pesada de Zayn bater em meu rosto e em seguida ele pressionou os lábios fechados contra os meus. Minhas mãos traçaram um caminho até a nuca do menino e ele me envolveu pela cintura com os braços. Quase que imperceptivelmente me puxou mais pra perto de seu corpo e nós dois mexemos os lábios um pouco; entreabrindo-os. A língua dele encontrou a minha iniciamos um beijo lento. Arrisquei e passei os dedos entre os fios macios do cabelo de Zayn e ele pareceu gostar, já que deixou o beijo um pouco mais intenso. Os lábios dele tinham um gosto impossível de ser descrito em palavras. Eu também senti um pouco do sabor de cereja do meu gloss labial, que, graças a Deus, não era daqueles grudentos que só atrapalham. Foi um primeiro beijo perfeito e eu não queria que acabasse. A roda gigante voltou a se mover quando Zayn e eu separamos as nossas bocas, mas continuamos bastante próximos. Ele encostou a testa na minha e eu abri os olhos devagar. O lado de fora da cabine já estava bem mais escuro do que antes e não havia mais resquício algum do sol.
  - Eu gosto mais desse Zayn do que daquele outro. – Ri baixo, retomando o fôlego.
  - Eu também gosto mais dessa que não se afasta de mim. – Ele sorriu e continuou me abraçando pela cintura.
  Eu deitei a cabeça em seu ombro e nós dois ficamos aproveitando aqueles últimos minutos que teríamos ali dentro enquanto nossa cabine terminava de descer. Eu era intoxicada pelo cheiro delicioso que a roupa dele tinha e respirei fundo algumas vezes só pra senti-lo mais forte. Me senti bem nos braços deles, me senti protegida de uma forma que nunca achei que poderia. Todo aquele “medo” que eu tinha, havia ido embora. Zayn não era quem eu achava... Ele era diferente, era melhor.

+++

  Quando saímos do London Eye e tivemos que caminhar até onde deixamos as bicicletas, Zayn passou o braço em volta dos meus ombros e eu me encolhi em seu abraço. A noite começou a esfriar e eu me arrependi por não ter levado um casaco. Ele até me ofereceu a sua camisa xadrez, mas era tão fina que não adiantaria muita coisa. Fiquei com mais frio ainda quando estava em cima da bicicleta e o vento batia direto contra o meu corpo. Pelo menos o exercício que estava fazendo esquentava um pouco as minhas pernas.
  Logo chegamos ao Volvo da mãe de Zayn – que ele estava tentando confiscar de vez – e pudemos ligar o aquecedor. Minha barriga roncou de fome e eu não sabia onde enfiar a cara. Mas Zayn só riu e disse que também estava com fome. Nós paramos pra jantar em uma lanchonete, por mais que Zayn insistisse em me levar em um restaurante melhor. Mas eu não estava vestida bem o suficiente pra ir a um lugar chique como o que ele queria.
  - Então é assim que Zayn Malik trata uma garota no primeiro encontro? – Perguntei assim que a garçonete saiu após anotar os nossos pedidos. – Primeiro praticam uma atividade física, depois uma boa ação por um amigo... Então ele a leva pra ver uma das paisagens mais bonitas que ela já viu na vida e depois vão jantar algo cheio de calorias?
  - Eu não sabia que isso era um encontro. – Ele sorriu, sentado na cadeira em frente a minha. É, até mesmo eu já começava a chamar aquilo de “encontro”.
  - E não é? Ainda bem, porque eu não costumo beijar no primeiro encontro. – Rebati, piscando o olho direito.
  - Então quando vamos sair em um encontro oficial? – Ele esticou a mão até pegar a minha e começou a brincar com os meus dedos.
  - Não seria você que deveria responder isso? – Joguei os meus cabelos para trás dos ombros usando a mão livre e sorri.
  - Então você gostaria de... – Começou a me convidar, mas eu o interrompi antes que continuasse.
  - Você não pode me convidar assim, Zayn! Não sabe como funciona? – Eu ri e ele pareceu confuso. – Primeiro nós vamos nos encontrar nos corredores da Academy. Trocaremos olhares e eu vou fingir que não te vi... Você vai se aproximar e puxar um assunto qualquer, só porque quer ter uma desculpa pra falar comigo. Vamos conversar por um tempo e eu direi que tenho que ir para a aula, mesmo que não queira me afastar ainda... Começarei a andar e você vai me puxar pelo braço, me fazendo parar. Eu te olharei confusa e aí é que você vai poder me convidar pra sair.
  - Uau! – Ele riu e eu suspirei, já imaginando uma cena de um filme de romance. – Vou precisar te perguntar quando for te pedir em casamento também, pra não fazer errado.
  - Muito engraçado, Malik. – Entrelaçamos os dedos.
  A garçonete chegou trazendo os nossos pedidos e ela encarou as nossas mãos em cima da mesa. Olhou pra ele e depois pra mim, com aquela cara de: “O que essa menina está fazendo ele?” Me senti tão desconfortável que acabei soltando a mão dele e esperando-a colocar a comida na mesa. Cada um pediu um sanduíche com Milk Shake e dividiríamos a porção de batatas. Dei um gole na minha bebida e fechei os olhos ao sentir o sabor do morango, me deliciando. Escutei Zayn rir e abri os olhos. Ele apontou para a boca dele, bem acima dos lábios pra ser mais precisa.
  - O quê? – Perguntei confusa.
  - Está com bigode. – Riu mais ainda.
  - Gosh! – Peguei um guardanapo em cima da mesa e me limpei, envergonhada.
  - Isso acontece. – Quando olhei novamente pra ele, Zayn também tinha um bigode de Milk shake e eu gargalhei alto. – O que foi?
  - Você tem uma coisinha melada aqui. – Apontei para a minha boca do mesmo jeito que ele fizera antes, mas o menino continuou se fingindo de desentendido.
  - Na sua boca? – Zayn brincou e se levantou da cadeira pra se inclinar sobre a mesa e selar os lábios nos meus. – E agora?
  - Agora nós dois estamos sujos! – Reclamei depois de retribuir o selinho e me limpei mais uma vez. Aproveitei para pegar outro guardanapo e limpá-lo também.
  Nós dois comemos até ficarmos cheios e até mesmo brigamos pelas batatas fritas que foram sumindo cada vez mais rápido. As bebidas também acabaram e eu me senti uma morta de fome. Zayn fez tanta palhaçada durante o jantar e eu já não sabia se estava passando mal por ter comido muito ou de tanto rir. Nem vimos à hora avançar e já passava das 21h30min quando ele pagou a conta e nos preparamos pra ir embora.

+++

  As luzes da minha casa estavam apagadas quando Zayn estacionou na calçada e já saiu carro para abrir a porta pra mim. Eu agradeci o cavalheirismo com uma reverencia e ele sorriu, me acompanhando até a porta. Demorei mais que o suficiente para atravessar o caminho de pedra, porque não queria que ele tivesse que ir embora. A tarde tinha sido mais do que agradável e a noite melhor ainda. Eu mal via o tempo passar ao lado de Zayn e começava a acreditar naquele ditado que diz que “o tempo voa quando a gente se diverte.”.
  - Eu realmente gostei do dia de hoje, Zayn... – Disse assim que paramos na porta de casa.
  - Eu deveria agradecer por você ter me dado essa oportunidade de te mostrar que existe algo por baixo da jaqueta de couro e de todas as tatuagens.
  Ele segurou uma de minhas mãos e entrelaçou os nossos dedos novamente. Chegamos naquele momento tenso em que a mulher enrola pra achar a chave da porta, só pra que o homem tome alguma atitude e a beije. Mas no nosso caso não foi nada tenso. Ele usou a mão que estava presa na minha para me puxar e colar nossos corpos, eu já tratei de envolvê-lo pelo pescoço e nossos lábios se encaixaram novamente. Aquele beijo foi um pouco mais tranquilo que o primeiro, já que estávamos um pouco mais familiarizados com as manias um do outro e foi bem fácil encontrar o nosso ritmo. Eventualmente, Zayn soltou a minha mão e segurou na lateral da minha cintura, apertando delicadamente. Ele deitava a cabeça de um lado para o outro enquanto investia a língua contra a minha e eu o acompanhava.
  A porta da casa se abriu com rapidez e, talvez cedo demais, nós nos separamos. Olhei para o meu irmão com raiva por causa da interrupção e ao mesmo tempo com vergonha por ter sido flagrada. E ele, por outro lado, não sabia se fazia alguma piadinha ou se dava uma de irmão ciumento e brigava com Zayn. Esse último apenas sorriu e cumprimentou o meu irmão.
  - Oi, Louis. – Sorriu casualmente. – Sua irmã está entregue.
  - Passaram das dez horas. – Lou olhou no relógio em seu pulso.
  - Só dez minutos, Lou. – Rolei os olhos. – Eu já vou entrar, ok?
  - Agora. – Meu irmão tentou contestar, mas eu o fiz entrar primeiro e fechei a porta antes que ele pudesse voltar.
  - Desculpa por isso. – Apontei a porta com a cabeça, mas Zayn sorriu.
  - Não tem problema algum. Ele está certo em querer te proteger. – Passou as mãos pelos cabeços bagunçados e eu sorri, lembrando de quando eu mesma tinha feito aquilo horas atrás.
  - Então tudo bem... Aliás! Teremos uma noite de jogos aqui amanhã. Você devia vir. – Não sabia se estava fazendo bem em convidá-lo, já que não queria parecer grudenta nem nada, mas convidei do mesmo jeito. – e Niall vem também.
  - Noite de jogos?
  - É uma coisa dos Tomlinson. – Dei de ombros. Daria trabalho demais pra explicar tudo.
  - Te vejo amanhã, então.
  Zayn mais uma vez me deu aquele sorriso maravilhoso e eu acenei pra ele. Assim que me virei para abrir a porta de casa, ele voltou correndo até onde eu estava, me puxou e roubou um selinho. Eu me assustei, claro, mas praticamente me derreti na mesma hora. Ele finalmente se afastou e assim que começou a atravessar o jardim, os regadores foram acionados e Zayn teve que correr pra não se molhar muito. Eu fiquei rindo e ao mesmo tempo queria matar o meu irmão, já que ele tinha ligado os jatos de propósito.
  Entrei em casa com um sorriso enorme nos lábios e até ignorei o riso do meu irmão, que estava na sala. Passei direto pelo hall de entrada em direção as escadas. Subi até o meu quarto e Lou veio atrás, claro. Deixei a minha bolsa em qualquer lugar e me joguei na cama.
  - , você tem uma coisinha no seu rosto. – Lou ficou parado na porta.
  - O quê? – Comecei a tocar meu rosto inteiro, querendo descobrir o que era.
  - Um sorrisinho sapeca. – Ele respondeu e eu ri. Sim, ri. Em outros momentos, teria jogando um travesseiro na cara dele, mas estava feliz demais pra isso. Apenas me levantei e fui até ele.
  - Boa noite, Louis. – Segurei na maçaneta da porta, pronta para fechá-la na cara dele.
  - E como foi o encontro? – Louis tentou extrair alguma informação de mim, mas só o que eu respondi antes de fechar a porta foi:
  - Não foi um encontro.

Capítulo XVIII

  Eu estava dormindo tão bem que seria difícil acordar. Meu cobertor estava quentinho e o travesseiro frio. Sem falar que eu estava mergulhada em uma tranquilidade incrível. Só saí do sono REM quando o barulho da minha porta sendo aberta me incomodou. Eu virei para o lado oposto e cobri meu rosto com o travesseiro para espantar a claridade. Percebi que tinha mais de uma pessoa ali quando senti alguém sentar na ponta da minha cama e outra tentar puxar meu travesseiro. Eu resmunguei sonolenta, mas as pessoas não me deixaram dormir em paz.
  - It’s time to get up, in the morning... (É hora de acordar, pela manhã) – Escutei Liam começar a cantar e dedilhar um violão, mas ainda assim não me mexi.
  - Got Starbucks breakfast for you… (Tem café da manhã da Starbucks pra você) - Louis cantarolou com a voz suave. Até que era gostoso ser acordada daquele jeito. – Or any other brand… (Ou qualquer outra marca)
  - We drove to miles to get it. So you better get up and eat it… (Nós dirigimos duas milhas pra comprar. Então é melhor você levantar e comer) - Foi a vez de Harry se juntar ao coro e eu senti que alguém ficou em pé na minha cama.
  - SO YOU GOTTA GET UP! (ENTÃO VOCÊ TEM QUE LEVANTAR) – A suavidade foi embora completamente e meu irmão começou a pular na cama e gritar, fazendo uma bagunça enorme e Harry arrancou os meus travesseiros.
  - IT’S TIME TO GET UP! YOU HAVE TO GET UP! (É HORA DE LEVANTAR! VOCÊ TEM QUE LEVANTAR!) - Os três gritavam e eu já estava super irritada.
  - Saaaaaaaai! – Tentei me esconder em baixo do cobertor, mas foi inútil. Os meninos o jogaram pra fora da cama e eu abri os olhos, brava.
  - It’s time to... (É hora de...) – Quando viram que eu já estava acordada e pronta pra assassinar alguém, eles pararam de pular e a calmaria voltou. – Get, up... (Levantar...)
  - Eu odeio todos vocês. – Fiquei sentada na cama e cocei os olhos.
  - Você nos ama, . – Harry se jogou em cima de mim e deitou nas minhas pernas.
  - Não, não. Eu ainda vou me vingar por todas as vezes que você me acordou, Styles. – Olhei pra ele e tentei tirá-lo de cima de mim. – Você também entrou para a minha lista negra, Liam.
  - Eu? A ideia não foi minha, , eu juro! – Liam levantou as mãos para o alto, querendo se livrar da culpa.
  - Eu estou nessa lista desde os quatro anos de idade, então não precisa se preocupar. – Louis deu tapinhas no ombro do amigo.
  - Starbucks, é? – Levantei uma sobrancelha.
  - Só pensa em comida! – Harry bagunçou os meus cabelos -mais do que já estavam- e eu o olhei com cara feia. – Mas sim. Eu passei lá quando estava vindo pra cá. Trouxe só pra você, . Viu como sou legal?
  - Tudo bem, eu te odeio um pouco menos agora. – Sorri e devolvi o “cafuné”. O ruim de bagunçar o cabelo de Harry é que ele já é bagunçado naturalmente, então não faz muita diferença.
  Haz saiu de cima de mim e eu pude levantar da cama para ir até o banheiro e fazer a minha higiene. Mandei os meninos arrumarem o quarto e Lou saiu correndo para se livrar daquela tarefa. Quando finalmente saí do banheiro com os dentes escovados e o cabelo preso em um rabo de cavalo, encontrei Liam sozinho cobrindo a minha cama. Harry devia ter escapado também e o coitado ficou com todo o trabalho. Eu não sabia o que Louis tinha falado para Liam, nem se tinha contado sobre o beijo que presenciou, mas ele parecia normal demais, então eu achava que não tinha contado nada. Como ele iria explicar? Na verdade nem eu mesma sabia como definir o que tinha acontecido na noite passada e não sabia se aquilo voltaria a acontecer. Podia ter sido algo de momento e nós dois nos deixamos levar. A questão era que eu veria Zayn novamente em algumas horas e não saberia como agir. Devia cumprimentá-lo com um beijo? Ou fingir que nada tinha mudado? O ruim de não se envolver com ninguém há quase dois anos era – além dos motivos óbvios – que você acaba perdendo o jeito com a coisa.
  - Pronto, o quarto está arrumado e agora você já pode descer pra tomar o seu café da manhã. – Liam abriu a porta pra mim e me acompanhou até o primeiro andar.
  - Eles te deixaram sozinho, né? É sempre assim, Li. Pra fazer bagunça esses dois são os melhores. Mas pra arrumar qualquer coisa... Esqueça! – Nós dois rimos.
  - Estou começando a me sentir um pai dessas duas crianças.
  - Daddy! – Brinquei. – Isso é que dá ser o mais responsável em uma casa onde moram pessoas loucas.
  Entramos na sala de jantar e um prato com alguns scones e um muffin de chocolate estava me aguardando em cima da mesa. Meus olhos brilharam e eu corri até lá. Sentei na cadeira que costumava ser a minha e Liam sentou na minha frente. Harry e Lou estavam na cozinha e eu podia vê-los pela bancada americana. Eu comecei a tomar o meu café da manhã e minha boca logo estava cheia de chocolate. Eu já disse que a Starbucks tem o melhor muffin de chocolate do mundo? E também o melhor frappuccino de caramelo, do qual eu bebi um gole para não engasgar. Harry sabia todos os meus gostos, então acertou em cheio ao me levar aquele café da manhã.
  - Liam, você chamou a Candice pra vir hoje? – Louis se inclinou sobre a bancada e ficou nos observando.
  - Não chamei. E espero que ela não adivinhe que vamos ter essa reunião aqui em casa, ou é bem capaz de aparecer do nada. – Ele rolou os olhos. Então as coisas realmente não estavam indo nada bem entre os dois...
  - Amém! – Harry falou e me fez rir. Rir até demais, pra falar a verdade.
  - E você, ? Chamou alguém? – Meu irmão perguntou e eu engoli em seco.
  - Sim... Meus amigos da Academy. Os que vocês já conhecem. – Dei de ombros como se não fosse nada de mais. – O Niall, Zayn e a .
  - Zayn... Aquele cara é legal. – Harry trocou olhares com Louis e os dois me encararam. Ótimo, ele devia saber de alguma coisa.
  - É sim. – Dei de ombros novamente e me concentrei no meu muffin que já estava acabando.
  - Aliás, , a ligou pra cá umas três vezes. Disse que você não atende mais o celular e que ela vai te matar. – Liam roubou um de meus scones e eu não me importei. Não aguentaria comer tudo mesmo.
  - Ahh, depois eu falo com ela... – Eu sabia que estava doida pra saber os detalhes do meu passeio com Zayn, mas eu não sabia como contar pra ela. Por isso preferi ignorá-la até a hora que a visse naquela noite. – Não deve ser nada importante.
  - Claro que não. – Louis gargalhou e Liam não entendia mais nada.
  Mandei meu irmão calar a boca e terminei o meu café da manhã em paz. Ele foi atender uma ligação em seu quarto e Liam foi assistir seus desenhos na sala. É, com certeza ele era o pai responsável, aham. Levantei e fui à cozinha para jogar as coisas no lixo. Harry ainda estava lá e procurava alguma coisa nos armários.
  - Vocês não tem farinha nessa casa?
  - Tente no armário de cima, Hazza. Aí é onde guardamos as panelas. – Fui até lá eu mesma e fiquei na ponta dos pés pra poder pegar o pacote de farinha que ainda estava fechado. – Vai cozinhar?
  - Estava pensando e fazer uns cupcakes mais tarde. – Harry deu um sorriso tão adorável que meu coração se derreteu.
  - Meu pequeno cupcake vai fazer cupcakes? – O abracei pela cintura. – Eu posso te ajudar? Deixa, deixa?
  - Você promete que não vai me atrapalhar? – Harry adorava cozinhar e sabia fazer muita coisa, mas odiava quando eu dizia que iria ajudá-lo e só fazia atrapalhar.
  - Promeeeeeeeto. De mindinho.
  - Tudo bem, então você pode me ajudar. – Ele deixou um beijo na minha testa e nos afastamos. – Como aqui não tem todos os ingredientes, eu vou ao mercado ali na esquina. Você precisa de alguma coisa?
  - Deixa eu fazer uma lista pra você! – Ri e ele fez uma careta. Possivelmente se arrependeu de ter perguntado aquilo.
  Assim que encontrei um papel e anotei pelo menos seis coisas que eu precisava, entreguei a minha lista para Harry e ele se foi. Tadinho, sempre fazia tudo que a gente pedia e nunca negava nada. Ele podia ser o mais novo do grupo, mas com certeza era o que tinha o maior coração. Louis já tinha desligado o telefone e mais uma vez fez aquela cara de preocupação. Eu perguntei o que tinha acontecido e ele disse que era coisa do trabalho, mas Liam me disse que não sabia de nada quando eu perguntei e aquilo me deixou desconfiada. Meu irmão não costumava esconder as coisas de mim, então ou aquilo era muito sério e ele não queria me preocupar ou realmente era algo do trabalho. Que, aliás, não estava agradando-o em nada. Ele ia e voltada do trabalho de cara fechada, alegando que não era aquilo que ele tinha prazer em fazer. Claro que adorava fotografar, mas havia algo faltando. Lou costumava falar que sentia que estava destinado para algo maior.

+++

  - , chegou! – Liam berrou da escada e eu abri a porta do quarto, ainda enrolada na toalha.
  - Pede pra ela subir, por favor? – Senti que ele deu uma boa olhada nas minhas pernas nuas. – Sozinha.
  - Pode deixar. – Sorriu e desceu para chamá-la.
  Eu passei meia hora só pra encontrar uma roupa pra usar, já que encontrei um dilema. Não queria me arrumar de qualquer jeito, porque não queria estar feia na hora que encontrasse Zayn. E ao mesmo tempo não podia me vestir como uma princesa, pra que ele não ficasse achando que era tudo por causa dele. Acabei me decidindo por uma roupa simples, mas que não me deixava parecida com uma mendiga. entrou no quarto enquanto eu estava trancada no banheiro, terminando de me vestir.
  - Tomlinson, é melhor você aparecer aqui agora. – estava brava e tinha razão. Afinal, ela devia estar super curiosa. – Pode se esconder, mas não vai conseguir fugir.
  - Eu não estou me escondendo, . – Gargalhei. – Só estou me arrumando. Ou quer me ver pelada?
  - Uhh, proposta tentadora! – Ela também riu.
  Me perfumei e passei um lápis preto nos olhos. Em seguida, penteei os cabelos que ainda estavam molhados e os deixei soltos mesmo. Até que eu estava apresentável. Deixei o banheiro e a minha amiga estava sentada na minha cama, mexendo no meu celular.
  - Pronto, apressada. Cheguei. – Fui até ela e dei um beijo na bochecha da mesma.
  - Vamos direto ao ponto. O que aconteceu ontem?
  - Como assim? Nada aconteceu ontem, . – Eu sempre fui horrível em mentir para meus amigos e o sorriso que apareceu no meu rosto me denunciou.
  - Se nada aconteceu, porque o Zayn postou isso aqui no Twitter? – Ela me entregou o meu celular e estava aberto na página dele. – Sem falar nesse sorrisinho aí.
  Eu olhei para a tela do meu celular e tentei encontrar o que ela estava falando. Como eu não era viciada em Twitter e dificilmente entrava lá não tinha visto nenhuma atualização dele e nem de ninguém.

“@zaynmalik: Não me sentia bem assim há tempos. Agora vou dormir e espero que o dia de amanhã seja tão bom como esse. Boa noite, pessoas.”

  Eu não fazia ideia do que aquilo significava e nem mesmo sabia se era uma indireta pra mim. Ele podia estar se referindo a outra coisa... Vai que algo aconteceu depois que ele chegou em casa? Podia ser. De qualquer forma, eu não queria me encher de esperanças e confundir as coisas.
  - Eu não sei, . Não leio mentes pra saber o que ele quis dizer com isso. – Bufei e saí daquela tela, guardando o celular no bolso. – Mas se você quer tanto saber, nós dois passeamos pelo centro. Tivemos uma boa conversa, demos uma volta no London Eye e depois comemos alguma coisa e ele me trouxe pra casa.
  - Nossa, ! Você é muito chata, sabia? Cadê os detalhes? Cadê a emoção? – jogou uma almofada em mim, mas eu desviei.
  - Toc toc. – Liam disse, batendo na porta. – Harry chegou e está te chamando lá embaixo, .
  - Depois terminamos essa conversa. Vamos descer?
  Não esperei pela resposta dela, já tendo certeza de que recusaria sair do quarto antes que eu contasse tudo detalhadamente. Quando abri a porta pra sair do quarto, ela não teve outra alternativa a não ser me seguir. Liam foi até o próprio quarto e eu desci as escadas, procurando meu outro amigo. Como ele tinha acabado de chegar do mercado deveria estar na cozinha.
  - Yo, Hazza. Trouxe a minha encomenda? – Entrei no cômodo imitando uma gangster. Niall estava por ali também e riu de mim.
  - Shhh, ! A alma do meu negócio é a descrição. – Harry entrou na brincadeira e pegou uma sacola de papel. – Uma caixa de morangos frescos, leite condensado, uma lata de chantilly...
  - E onde está o principal? – Fui pegando as coisas que ele foi me entregando e guardei o chantilly e morangos na geladeira.
  - Limões e uma garrafa de tequila. – Ele riu assim que eu abracei a garrafa.
  - Obrigada, Haaaaaz!
  - Epa, o que é isso aí? – Niall já esticou o olho. Bêbado do jeito que era, não poderia ser diferente.
  - Eu sempre sou a única que não bebe quase nada pra tomar conta dos amigos que ficam loucos demais. Hoje é a minha vez de me divertir um pouco! – Deixei a garrafa transparente em cima da bancada.
  - Exatamente, hoje é a noite das garotas! – me abraçou de lado e nós rimos. - Agora vamos lá pra sala?
  Todos obedeceram à ruiva, menos Harry que ficou ali para arrumar os ingredientes do cupcake. Ela foi na frente, seguida pelo namorado e eu fui atrás. Louis estava na sala, arrumando o espaço para as nossas brincadeiras. Como seria uma noite de jogos, precisaríamos de bastante espaço. Quando eu atravessava o hall para me juntar a eles, a campainha tocou. Eu fiquei paralisada e todos olharam pra mim, confusos. A não ser que Candice tivesse resolvido aparecer, Zayn era quem estava tocando na porta. Me arrependi de não ter tomado uma dose de tequila na hora que Harry me entregou a garrafa, mas já era tarde demais. Respirei fundo e dei meia volta, caminhando até a entrada. Girei a maçaneta e abri a porta, dando de cara com um Zayn sorridente. Ele vestia uma calça jeans, camiseta cinza e uma jaqueta daquelas de estilo colegial; totalmente charmoso. Esqueci de respirar por um momento, sem conseguir parar de encarar aquela figura angelical parada na minha frente.
  - Oi, . – Ele foi o primeiro a falar e eu saí do meu transe, indicando pra ele entrar em casa.
  - Hey. – Me odiei por não saber o que falar e acho que ele notou que eu estava sem jeito.
  Zayn deu dois passos na minha direção e me abraçou pela cintura. Eu retribui o abraço e o envolvi pelo pescoço. Aquele abraço durou mais que um abraço normal entre dois amigos e, assim que nos separamos, ele apoiou a mão na minha bochecha encostou os lábios aos meus. Fechei os olhos na mesma hora e retribui o selinho, desejando que ele se tornasse algo maior. Mesmo sem poder ver, eu sabia que todos os outros estavam nos encarando. Zayn sorriu assim que nos olhamos outra vez e eu fiz o mesmo, sentindo as bochechas queimarem. Eu me ocupei em fechar a porta de casa e evitei olhar para , que estava boquiaberta. Zayn me esperou e fomos juntos para a sala. Niall praticamente pulou em cima dele e eu fui me sentar ao lado da minha amiga.
  - E você ainda me fala que NADA aconteceu, ? – Ela brigou comigo.
  - Tudo bem, talvez algo tenha acontecido...
  - Nem o Niall sabia disso! Vocês dois resolveram guardar segredo por quê? – Apesar de estar brava por eu não ter contado nada, ela sorria animada. Era como se estivesse realizando o sonho de me ver com alguém.
  Consegui acalmar depois de prometer que contaria tudo pra ela depois. Zayn cumprimentou os outros garotos e se sentou ao meu lado. Eu sorri pra ele e meu irmão se levantou, indo até o meio da sala. Assim como a noite em que assistimos os filmes, o sofá estava encostado na parede e a mesinha de centro foi retirada dali para termos mais espaço.
  - Boa noite, senhoras e senhores. – Ele começou a falar, gesticulando e imitando uma voz de locutor de rádio. – Bem vindos à “Noite de Jogos dos Tomlinson”. Meu nome é Louis The Tommo Tomlinson, e eu serei o seu anfitrião hoje.
  Todos bateram palmas e riram. Louis era o “anfitrião” das noites de jogos, e praticamente de todos os nossos eventos familiares, desde que éramos crianças e ele realmente levava jeito. Era sempre muito descontraído e dramático, arrancando risadas o tempo todo com as suas idiotices. Ele tinha algumas fichas nas mãos, como um apresentador de televisão e parecia ler alguma coisa ali.
  - E que comecem os jogos! – Lou gritou e todos nós comemoramos. – Por que não começamos com um jogo simples?
  - MEGAMIND! – Eu gritei e meu irmão apontou pra mim. Os únicos que conheciam o jogo eram eu, ele e Harry, mas todos os outros iriam pegar o jeito fácil. – Vocês vão entender o espírito da noite de jogos e logo vão gritar também.
  - Duvido muito. – riu da minha animação.
  - Parece divertido. – Zayn bateu o joelho no meu, me encorajando. Com isso, eu olhei para e mostrei a língua.
  - Muito bem, competidora! Já que você escolheu o jogo, vai ser a primeira! – Lou esticou a mão pra mim e eu a segurei, levantando. – Quem será o seu adversário?
  - Eu aceito o desafio. – Harry também se levantou e nós nos encaramos desafiadoramente.
  - Vou explicar como as regras para que os novos competidores possam entender. – Louis falou ainda no personagem de apresentador e começou a andar de um lado para o outro, encarando cada um dos jovens no sofá. – Eu farei uma série de perguntas difíceis para um participante dentro de um período determinado de tempo enquanto o outro fica em um lugar diferente, para não ouvir as respostas do seu adversário. E no final, veremos quem respondeu mais perguntas dentro do tempo. Alguma dúvida?
  Eu e Harry falamos que não e os outros começaram a torcer por nós. Eu estreitei o olhar para o meu adversário e ele levantou os pulsos como se estivesse se preparando para uma luta. Louis perguntou quem gostaria de começar e Haz disse que eu podia ser a primeira. Primeiro as damas, certo? Ele foi para a cozinha e levou seu iPod junto, para escutar no volume máximo e não ouvir as perguntas. Louis e eu nos preparamos para começar o jogo.
  - Vamos lá, , eu confio em você. Primeira pergunta: - Ele ligou o cronômetro e começou a marcar o tempo. – Se você pudesse trocar de lugar com qualquer celebridade, quem seria? E por quê?
  - Ahn... – Pensa rápido, pensa rápido. – Jennifer Aniston! Porque ela participou de FRIENDS.
  - Escolha interessante. Segunda pergunta: Quem é a sua pessoa preferida no mundo inteiro?
  - Louis Tomlinson, porque ele é a pessoa mais engraçada do mundo. – Respondi em uma respiração só, rindo. Minha experiência naquele jogo me ensinou a puxar saco do apresentador.
  - Ótima resposta, você vai ganhar pontos extras por isso! – Louis sorriu convencido e fingiu jogar os cabelos por cima do ombro. – Próxima pergunta: Se você fosse morrer amanhã, qual seria seu último pedido?
  - Eu pediria... Oh, Gosh. – Passei as mãos pelo cabelo, tentando pensar em alguma coisa. – AH! Eu pediria pra ter uma festa de despedida, com todos os meus amigos e pessoas que eu amo!
  - Awn, que linda, . – riu.
  - Próxima pergunta, rápido! Se você pudesse escolher um lugar pra conhecer, qualquer lugar, qual seria e por que?
  - Essa é fácil! Grécia, porque lá tem praias bonitas.
  - Próxima: - Antes que Lou pudesse continuar, o cronômetro apitou, mostrando que o meu tempo havia acabado. – É, não tem próxima. Muito bem, competidora. Pode ir chamar o seu adversário, por favor.
  Fiz um bico por ter terminado o meu tempo, sabendo que poderia ter ido bem melhor. Os que estavam assistindo bateram palmas pra mim e eu agradeci, mandando beijos no ar para todos. Logo corri até a cozinha pra chamar Harry, que estava balançando a cabeça no ritmo da música que tocava em seu iPod.
  - Hazza. Haz? – O cutuquei e ele se virou pra mim, tirando os fones da orelha. – Sua vez.
  - Já? E quantas você respondeu? – Nós fomos em direção à sala.
  - Você não tem chance, Harry. Eu já ganhei. – Cantei vitória para deixá-lo inseguro e fui me sentar no sofá entre e Zayn.
  - Veremos! – Me olhou desafiador e andou até o centro da sala. – Pode começar, Lou. Estou pronto!
  - Muito bem, muito bem, vamos lá!
  Enquanto os meninos estavam se preparando, eu tirei as sapatilhas e coloquei os pés para cima do sofá. Zayn, que estava ao meu lado esquerdo, me olhou e deixou um beijo na minha bochecha. Eu olhei de volta pra ele e simplesmente sorri. Ficamos nos encarando e trocando risadas sem motivo até Louis chamar a nossa atenção. Nós não precisávamos falar coisa alguma pra saber o que o outro estava pensando, porque naquele momento só uma coisa passava na nossa cabeça: A distância entre nossos lábios. Eu sentia vontade de agarrá-lo ali mesmo, sem ligar de sermos assistidos, mas eu não podia. Liam estava ali e eu tinha medo de magoá-lo de alguma forma.
  - Terceira pergunta, rápido! – Louis gritou e eu me perguntei quais haviam sido as primeiras respostas de Harry, já estava totalmente aérea e só prestava atenção em Zayn. – Se você fosse morrer amanhã, qual seria seu último pedido?
  - Eu pediria mais dias de vida! – Aquela era realmente uma boa resposta.
  Antes que Lou pudesse passar para a próxima pergunta, o cronômetro apitou. Aparentemente Harry só tinha respondido três perguntas e eu quatro, o que significava que eu era a vencedora. Louis revisou as fichas em sua mão e fez um suspense.
  - E quem ganhou foi... Tomlinson! – Ele gritou e eu pulei do sofá, comemorando.
  - Você perdeeeeu, você perdeeeeu! – Cantarolei apontando para Harry.
  - Injusto! Você roubou! – Haz era um péssimo perdedor e se jogou no chão. – Eu não quero mais brincar!
  - Curly, não fique assim. – Louis foi consolar Harry e eu ri daquela criança que fazia birra.
  - Eu quero jogar Guitar Hero. – Liam se levantou do sofá e olhou pra mim. – Alguém topa?
  - Eu to dentro! – Niall se ofereceu pra jogar com ele e eu fiquei um pouco aliviada. Não teria coragem de negar um pedido de Liam e minha vontade naquela hora não era de jogar vídeo game.
  - Então vocês vão jogar Guitar Hero enquanto eu vou colocar o meu celular pra carregar... – Olhei diretamente pra Zayn. – No meu quarto.
   teria vindo comigo, mas acho que entendeu a minha indireta para Malik e foi ajudar os meninos a ligar o jogo. Eu subi as escadas sem olhar pra trás e fui até o meu quarto, deixando a porta aberta, claro. Em menos de dez segundos eu a escutei fechar e senti duas mãos me puxando pela cintura. Zayn encostou o peitoral nas minhas costas e beijou o meu ombro.
  - Vai carregar o celular, é? – Ele distribuiu beijos pelo meu ombro, indo até o meu pescoço.
  - Fui muito óbvia? – Ri baixo, me controlando para não ficar arrepiada com aqueles beijos.
  - Só um pouco. – Zayn também riu e me fez girar, ficando de frente pra ele. – Mas eu gostei.
  - Então eu não me importo em ser óbvia.
  Passei os braços em volta do pescoço do menino e ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha antes de me abraçar pela cintura. Encostou a testa na minha e ficamos trocando selinhos delicados até eu me cansar daquela provocação e o segurar com certa força pela nunca, o impedindo de tirar os lábios dos meus. Em troca daquilo, recebi uma mordida no meu lábio inferior que desencadeou em um beijo. O beijo mais intenso que já ocorrera entre nós dois. Ele tinha a mão direita espalmada nas minhas costas, sempre me mantendo perto dele, e a outra mão brincava na minha cintura; ora apertando, ora acariciando. Eu, por outro lado, adorava passar as mãos pelos cabelos dele e roçar as unhas pela nunca do mesmo. Nós não saímos do lugar, apenas ficamos ali parados enquanto as nossas línguas brincavam de pega-pega.
  Só parei o beijo quando já estava sem fôlego. Zayn segurou o meu rosto com as duas mãos e me fez olhar pra ele. Meus olhos azuis encontraram os castanhos dele e eu me perguntei qual cor formaria se misturássemos os dois. Ele só ficou me olhando com um sorriso indecifrável. Eu acabei rindo.
  - Por que você está me olhando assim?
  - Eu gosto de te olhar... – Ele respondeu e eu estreitei os olhos. – Se você soubesse como é linda, também gostaria de se olhar.
  - Mas assim eu acabaria me apaixonando por mim mesma. – Ri, ignorando o rubor em minhas bochechas que aquele comentário causou.
  O ranger da porta abrindo fez Zayn soltar o meu rosto, mas nãos nos distanciamos. Eu olhei na direção da porta com um frio na barriga, temendo que fosse Liam. Não é que eu fosse ficar escondendo o que quer que fosse aquilo que eu começava a ter com Zayn, mas se gostasse de alguém, não gostaria de vê-lo nos braços de outra. Liam era simplesmente muito importante pra mim para que eu não me preocupasse com aquilo. Relaxei ao ver que era apenas Harry.
  - Estou atrapalhando algo? – Ele perguntou com um sorriso infantil nos lábios.
  - Não. – Tentei disfarçar.
  - Sim. – Zayn respondeu na mesma hora que eu, o que me fez gargalhar e dar um tapinha em seu ombro.
  - De qualquer forma... – Harry rolou os olhos. Devia estar aprendendo aquilo comigo. – Vamos pedir pizza e queremos saber qual sabor vocês querem. E sim, todos já perceberam a sua demora pra achar o carregador, .
  - Ops. – Zayn sussurrou na minha orelha e eu ri.
  - Já vamos descer, ok? – Falei para Haz e ele saiu, nos deixando sozinhos novamente.
  - Sorte que não foi o seu irmão. Ele teria me arrastado daqui pela orelha.
  - Teria mesmo! – Gargalhei do comentário, jogando a cabeça para trás. – Mas ele gosta de você. Na verdade, todos gostam.
  - Até você? – Levantou uma sobrancelha.
  - Principalmente eu! – Sorri e pressionei os lábios no dele, em um selinho demorado. – Agora vamos, antes que meu irmão realmente apareça aqui.
  Zayn resmungou alguma coisa e me puxou novamente quando eu tentei andar até a porta. Eu não sabia se era fraca demais ou se ele era forte, porque com um simples puxão eu já estava nos braços dele mais uma vez. Não resisti ao beijo que recebi, mas o interrompi antes que virasse algo mais quente. Finalmente consegui tirar ele do quarto e descemos as escadas de mãos dadas. Meu irmão estava no telefone e pedia as pizzas. Harry apareceu novamente e me puxou para a cozinha. Será que estava tentando me tirar de perto de Zayn?
  - Deixa que o seu homem resolve as pizzas e você vem me ajudar com a sobremesa. – Harry pareceu muito gay falando: “Seu homem” e eu acabei rindo.
  - Antes você não queria nem que eu entrasse na cozinha e agora está pedindo a minha ajuda? Isso é ciúme, Haz? – Me apoiei na bancada americana e cruzei os braços. Ele começou a pegar os ingredientes que já tinha separado a tarde e nem me olhou.
  - É sim! – Admitiu mais rápido do que eu esperava. – Você é minha primeiro.
  - Ownt, que coisa mais linda! – Fui até ele e o abracei pelas costas. – Eu sempre vou ser a sua estrelinha e você o meu cupcake, Haz.
  - É bom que seja assim mesmo, . Porque ele não vai te roubar de mim. – Harry virou para me olhar e estava sério. Seus olhos verdes brilhavam e eu sorri.
  - Não vai mesmo. Ninguém vai. – Fiquei na ponta dos pés e nos abraçamos.
  Assim que encerramos a cena melosa, pudemos nos concentrar no nosso trabalho. Harry disse que faria a massa e eu podia fazer o recheio. Aceitei aquela divisão e enquanto ele foi colocando algumas coisas dentro da batedeira (que eu nem sabia que tinha), eu fui fazer um ganache. Peguei uma barra de chocolate e comecei a partir em pedacinhos menores e fui colocando tudo dentro de um “pote” de vidro. Em seguida, coloquei o chocolate no microondas para derreter. Não tinha paciência para dar “banho Maria”, então faria o melhor que conseguisse assim mesmo. Depois de derretido, adicionei mais alguns ingredientes para que o chocolate ficasse um pouco mais cremoso.
  - , se você continuar comendo assim não vai sobrar nada pra colocar nos cupcakes. – Harry reclamou, me pegando no flagra quando eu comi uma colherada do chocolate.
  - Eu só estava provando! – Falei com a boca cheia e nós rimos.
  - Cadê o Zayn pra ver a sua elegância?
  - Blaaaaah. – Abri a boca e Harry fez cara de nojo.
  Haz jogou um pouco de farinha em mim, mas não sujou o meu cabelo. Caso contrário, ele iria morrer. Eu reclamei com um grito e olhei em volta. Não tinha pra jogar nele a não ser o chocolate e é claro que eu não faria aquilo. Seria um pecado muito grande. O ameacei com um “você me paga” e voltamos a nos concentrar nos nossos afazeres. Harry estava mais adiantado do que eu e já colocou uma bandeja de cupcakes no forno. Como ainda tinha massa na batedeira, ele a deixou por ali e foi para a sala. Eu teria reclamado de ficar sozinha na cozinha se não tivesse visto Zayn se aproximando.
  - Precisa de ajuda? – Ele ficou atrás de mim, com o queixo na divisão entre o meu ombro e pescoço.
  - Isso faz cócegas! – Gargalhei e me encolhi. Zayn riu no meu pé do ouvido e me deixou arrepiada, mas acho que ele não percebeu. – Tem uns morangos na geladeira. Você pode pegar e lavar pra mim?
  - Você é que manda, . – Deixou um beijo na minha bochecha e foi fazer o que eu pedi.
  Com toda certeza eu podia me acostumar com aquilo. Ainda era estranho ver aquele lado de Zayn, mas eu estava gostando. Pelo canto de olho, vi que ele abriu o pote de morangos e começou a lavar de um por um. Uma forma mais rápida seria lavar todos de uma vez, mas ele estava tão lindo que eu fiquei calada. Enquanto terminava de preparar o recheio, olhei a batedeira que Harry havia deixado descuidada e tive uma ideia.
  - Hey, Zayn. – O chamei, com um sorriso sapeca. Ele me olhou. – Você sabe guardar segredo?
  - Claro que sim. – Deixou os morangos lavados em um canto e me olhou curioso. – O que você vai aprontar?
  - Só quero deixar os cupcakes um pouco mais gostosos. – Me fiz de inocente enquanto peguei a garrafa de tequila.
  - Você é louca, ! – Ele riu, mas não me desencorajou.
  - Vai ser o nosso segredinho. – Eu fiz um sinal pra ele parar de rir alto e fazer silêncio. Abri a garrafa e despejei um pouco do liquido na batedeira, misturando tudo em seguida.
  - Eu espero que fiquem bons...
  - O quê? – Harry entrou na cozinha e me viu com a garrafa na mão. – Já vai beber?
  - Vou sim. – Tentei disfarçar, mas não tinha outra saída a não ser servir uma dose de tequila pra mim. – Aceitam?
  - Não, obrigado. – Zayn riu da cara que eu estava fazendo, mas ainda que ele negasse iria beber comigo.
  - Mas você disse que queria. – Falei entre dentes e servi uma dose pra ele também.
  - Eu disse? – Pegou um dos copinhos, inconformado.
  - Sim!
  Levantei o meu copo e fizemos um brinde. Harry nos observava, então não dava pra jogar a bebida fora. Sim, eu tinha planos em ficar bêbada naquela noite, mas não sabia que começaria tão cedo. Não passava nem das oito e meia da noite ainda! Virei a bebida na minha boca e engoli de uma vez. Zayn fez o mesmo, mas não fez careta como eu. Só riu da minha cara mais uma vez. Eu teria estirado a língua pra ele se não estivesse tão ocupada em sentir a queimação em minha garganta. Harry riu de nós dois e tirou a primeira bandeja de cupcakes do forno. Eu logo tratei de recheá-los com o ganache e pedacinhos de morango partido; mesmo ainda quentes. O cozinheiro colocou a última porção no forno e Zayn e eu trocamos um risinho confidente.
  Para que Haz não desconfiasse de nada, nós resolvemos ir para a sala. Aproveitamos para levar a garrafa de tequila, sal e algumas rodelas de limão com a gente. Ninguém jogava mais, mas todos conversavam animadamente. Não consegui entender qual era o assunto, mas também não me importava muito. Coloquei a bebida em cima da mesinha de centro que estava no canto da parede oposta ao sofá e a campainha tocou.
  - Acho que a pizza chegou! – Niall parecia um esquilo faminto pela forma que levantou a cabeça pra olhar em direção a porta.
  - Eu vou atender. – Louis se levantou, mas eu o impedi. Todos me olharam confusos e eu olhei para .
  - Hey, . Eu tenho um desafio pra você.
  - Uhhhhhhhh. – Harry e Louis falaram em coro. Eles já sabiam como aquilo funcionava.
  - Como assim? – Ela me olhou confusa.
  - O que o nosso querido anfitrião não explicou, é que durante a noite de jogos serão feitos alguns desafios. – Cruzei os braços, ainda encarando a minha amiga. – É uma escolha sua aceitar ou não, mas as consequências de negar um desafio não são muito legais.
  - Acredite, não são mesmo. – Harry falou baixinho e eu ri, lembrando da última vez que ele negou um desafio e acordou com um bigode mal desenhado em seu rosto com uma caneta permanente que demorou três dias pra sair.
  - Tudo bem, ! – Me fuzilou com os olhos. – Qual é o desafio?
  - Eu desafio você a ir buscar a pizza... Sem blusa. – Falei com simplicidade, sentando no braço do sofá, com Zayn e pé atrás de mim.
  - Você ta louca? – Niall agarrou a namorada antes mesmo que ela pudesse dar a resposta. A campainha tocou novamente.
  - Não se preocupe, Niall, você também vai ter a sua vez. – Louis sorriu maléfico.
  - E então, ? – Insisti.
  - Desculpa, pudincup, mas eu tenho que fazer isso. – se soltou dele, levantou e tirou o casaco e a blusa.
  Ela ficou apenas de calça jeans e um sutiã cor de rosa. É claro que Niall, enciumado, tampou os olhos de Harry e Liam, que eram os garotos mais próximos. Zayn olhava pra ela, mas não por causa da pouca quantidade de roupas. Ele estava rindo do jeito que ela xingava até a minha quarta geração. Nós demos o dinheiro pra ela pagar e ficamos assistindo pelo hall de entrada. abriu a porta e o entregador quase teve um ataque do coração. Devia estar pensando que o seu maior sonho iria se realizar. É claro que ele estava enganado e fechou a porta na cara dele depois de pegar as pizzas. Ela foi direto para a sala de jantar e deixou a comida em cima da mesa. Todos nós fomos até lá e batemos palmas. Até que tinha se saído bem. Niall levou a blusa pra ela e a fez vestir.

+++

  Devoramos as quatro pizzas em menos de uma hora e voltamos para a sala. Cada um também comeu um cupcake, mas infelizmente ainda não foram os que estavam batizados com a bebida. Sentei em um dos cantos do sofá e, obviamente, Zayn se sentou ao meu lado e segurou uma de minhas mãos. Liam se sentou no chão, encostado nas minhas pernas, e eu acabei brincando com seus cabelos com a minha mão livre. Ele acabou deitando a cabeça nos meus joelhos e eu não parei com o cafuné. Niall e Lou também sentaram no sofá. e Harry entraram discutindo na sala, chamando a atenção de todos. Ele parecia ter contado pra ela da vez que negou um desafio e ela o chamou de frouxo. Então os dois começaram a brigar. Até que era uma cena bem engraçada, porque era uma pessoa bem pequena e Harry parecia gigante perto dela, mas ela era quem estava “gritando” e ele só ria.
  - Então vamos ver quem é o frouxo! – Harry cansou das provocações da ruiva e ela gostou daquilo. – Pode me desafiar.
  - Ótimo! – gargalhou e apontou pra mim. – Venha cá, .
  - Você vai desafiar o Harry, eu não tenho nada a ver com isso! – Parei de fazer carinho em Liam e abracei Zayn, querendo que ele me protegesse.
  - Você ta no meio, , vem logo! – Ela bateu o pé no chão.
  Zayn me abraçou de volta, tentando me ajudar. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, já estava com uma dose de tequila na mão. Eu não entendia muito bem o que ela queria, mas sabia que não ia prestar. Harry me puxou, alegando que não sofreria sozinho.   - Tire o sweater, por favor. – mandou e eu tive que obedecer. – Muito bem, agora deite no chão.
  - Isso não vai dar certo... – Resmunguei e todos da sala olhavam de mim para .
  Ela se abaixou até onde eu estava e segurou na barra da minha blusa, levantando-a até um pouco abaixo do meu busto. Eu cobri o rosto com as mãos, envergonhada por estar com a barriga de fora. Dei uma rápida olhada em Zayn pela brecha dos meus dedos e vi que ele mordia o lábio inferior quanto me olhava.
  - Eu sei que você queria estar no lugar do Harry agora, Z-boy. – também devia ter percebido o olhar dele em cima de mim e o menino nem se preocupou em disfarçar.
  - Quem não queria? – Deu de ombros e Louis levantou a mão. Eu ri um pouco, por mais que ainda estivesse nervosa.
  - Vamos ao que interessa! Harry, é o seguinte. Você vai lamber o sal na barriga dela, depois beber essa dose de tequila e pegar o limão que ela vai segurar com a boca. – Enquanto explicava, fez um caminho com o sal na minha barriga (acima do umbigo até o começo das costelas) e me colocou ¼ de limão na minha boca. – Pronto?
  - Hum hum. – Tentei pedir pra esperar, mas o único som que saiu da minha boca foi “hum”, já que ela estava ocupada com o pedaço de limão.
  - Vou considerar isso como um sim! – Harry riu.
  Ele segurou o copo com uma mão e usou a outra para se apoiar no chão, após ter ajoelhado e inclinado o corpo em minha direção. Harry me olhou segundos antes de tocar a minha barriga com os lábios. Como se não bastasse aquele desafio, ele ainda resolveu brincar. Primeiro deu uma mordida na parte baixa da minha barriga, roçou a boca pelo meu umbigo e finalmente chegou até o sal. Arrastou a língua pelo caminho inteiro e depois virou a bebida de uma vez. Eu o encarava descrente. Por mais que eu tentasse ignorar, ele fizera tudo de uma maneira extremamente sexy. Ainda faltava a pior/melhor parte; o limão. Harry me olhou com aqueles olhos verdes e me segurou pela nuca, levantando-me até que eu estivesse apoiada nos cotovelos. Ele sorriu e aproximou o rosto do meu, mordendo uma parte do limão. O gosto do suco azedo invadiu a boca e Haz logo puxou o limão de vez, me deixando ali sem saber o que fazer.
  - Wow. – Até pareceu desconcertada com a cena.
  - Harry, eu nunca vou conseguir te olhar da mesma forma. – Ri quando ele me ajudou a levantar.
  - Perdeu, Zayn. – Harry comentou e eu abaixei a minha blusa.
  - É o que veremos. – Ele respondeu e levantou do sofá.
  Tudo aconteceu tão rápido que eu mal consegui acompanhar. Zayn avançou em cima de mim e prendeu uma das mãos no meu cabelo. A última coisa que vi antes de fechar os olhos foi sua boca se aproximando cada vez mais rápido. Ele me beijou com tanta vontade que eu desejei estar sozinha com ele. Sua língua invadiu a minha boca com urgência, mas não de forma violenta. Acho que aquela foi uma forma de “marcar território”, como se ele quisesse deixar claro que eu –de alguma forma- era dele. O puxão em meu cabelo foi diminuindo aos poucos e ele deslizou as mãos pela lateral do meu corpo, me deixando toda arrepiada. Sem falar no calor que se espalhou pelo meu corpo. Escutei gritinhos de comemoração ao meu redor, mas eles estavam distantes. Tudo que eu realmente escutava era a respiração ofegante de Zayn que batia em meu rosto. Eu subi as minhas mãos até os ombros dele e apertei com as unhas. O senti ofegar com um pouco mais de vontade e sorri com aquilo. Será que eu tinha esbarrado em um ponto fraco?
  - Quem você prefere? – Zayn interrompeu o beijo e sussurrou nos meus lábios.
  - Sempre foi você. – Sussurrei de volta e roubei um selinho rápido.
  - Agora vocês dois podem parar de melação, por favor? Ou então vão para o quarto logo! – se meteu. Devia ser bom pra ela ver como eu me sentia quando ficava de vela.
  - Prefiro a segunda opção. – Zayn piscou pra ela e eu o repreendi com o olhar, me afastando.
  - Não dê ideia, ! – Liam riu, entrando na brincadeira.
  Aquela foi uma reação que eu esperaria de qualquer um menos dele. Pra falar a verdade, Liam não havia demonstrado estar chateado ou desconfortável com nada, em momento algum. Eu cheguei a o ver conversando com meu irmão daquele jeito que faziam quando o assunto era eu, mas nenhum dos dois parecia estranhar o fato de eu e Zayn estarmos nos tornando íntimos. Aliás, quem pareceu mais incomodada foi e eu não sabia o motivo. Falaria sobre aquilo com ela depois.
  - Quem quer uma segunda rodada de cupcakes? – Mudei o assunto completamente antes que mais alguma coisa acontecesse e observei todos levantarem as mãos. – Vou buscar, então!
  - Não demore, porque eu estou com fome. – Niall disse e sentou no colo dele.
  - Amor, você acabou de comer uma pizza inteira sozinho!
  - Pizza não alimenta!
  Niall tentava se defender, mas só causou risadas em todos. Eu fui para a cozinha e peguei a última bandeja de cupcakes. Eles já estavam recheados com o meu chocolate e morangos e eu tinha certeza que eram os embebedados. Para disfarçar o gosto da bebida, eu os cobri com uma camada generosa de chantilly e também coloquei um moranguinho em cima de cada um. Estavam lindos e, provavelmente, deliciosos.
  Assim que tudo estava pronto, voltei para a sala e entreguei um cupcake para cada. Niall abocanhou a cobertura e ficou todo sujo. aproveitou para limpá-lo, mas com a própria boca. Eu fiz uma careta e brinquei falando “Ewww”. Minha amiga me mostrou o dedo do meio e eu me fiz de ofendida. Nós continuamos brincando até que Zayn sujou a minha bochecha de chantilly. Eu o encarei brava e ele só riu. Antes que pudesse se desculpar, eu peguei o meu próprio cupake e “gentilmente” enfiei na cara dele. Ou seja, Zayn ficou com o rosto todo sujo e foi a minha vez de rir. A partir dali as coisas só pioraram. Liam me imitou e sujou o meu irmão, que revidou, mas acabou atingindo Harry.
  Logo estávamos correndo pela casa, atirando bolinhos e cobertura uns nos outros. O chão estava todo melado e eu tinha que tomar cuidado pra não cair. Também pegamos farinha e ovos que estavam em cima da bancada americana e o atiramos para todos os lados. Eu tentava desviar dos ataques que vinham em minha direção, mas não obtive sucesso e acabei levando um ovo na testa. Com certeza ficaria um galo ali, mas eu não liguei. Estava rindo demais pra me importar com qualquer coisa. Eu corri para a sala e assisti Zayn escorregar e cair no chão. Eu teria me preocupado se ele não tivesse começado a rir no mesmo instante, com o cabelo todo sujo de farinha.

Capítulo XIX

  “BONG BONG BONG” era o que eu sentia na minha cabeça quando acordei naquela tarde de domingo. Parecia que eu ia explodir de tanto latejar de dor. Eu me mexi na cama e acabei esbarrando em alguém. Abri os olhos, assustada, mas logo vi que era que também dormia ali. Eu não lembrava como tinha chegado na cama e muito menos como a noite passada havia acabado. Minha última lembrança era de estar conversando com em um canto e Niall nos chamando pra jogar alguma coisa que envolvia shots de tequila.
  - , acorda... – A balancei devagar, ainda meio sonolenta.
  - Sai, mãe. – Ela resmungou, me empurrando para o lado.
  - Eu não sou a sua mãe! – Gargalhei, me arrependendo totalmente em seguida. Qualquer movimento brusco que eu fizesse tornava a minha dor de cabeça pior. – Já passa das quatro horas da tarde, !
  - Não me chama assim! – Rosnou, mas pelo menos estava acordada.
  - Eu preciso de informações. – Falei ao me sentar devagar na cama. – O que aconteceu ontem?
  - Além de você ficar muito bêbada? – virou de frente pra mim e riu. – Nada ruim aconteceu se é o que te preocupa. Até porque você tem uma amiga muito boa que cuidou de você a noite inteira.
  - Detalhes, !
  - Ok, ok! Mas não grita. – Ela pressionou a testa com os dedos. Devia estar do mesmo jeito que eu. – Depois que nós bebemos muito naquela brincadeira que o meu Nialler inventou, fomos jogar twister. Mas preciso dizer que ninguém ganhou? Você também dançou em cima da mesa, aliás. Querendo tirar a roupa, mas eu não deixei.
  - Ai. Meu. Deus. – Peguei um travesseiro e o abracei, escondendo o rosto. – Mudança de planos, eu não quero saber de mais nada, ok?
  - É melhor mesmo... – riu novamente eu quis entrar embaixo da cama e não sair nunca mais.
  Ficamos conversando na cama por mais alguns minutos até resolvermos tomar alguma providência com as nossas dores de cabeça. Com certeza meu irmão teria um pouco de energy juice para curar a minha ressaca. Saí do quarto com ao meu encalço e descemos as escadas em direção à cozinha. Assim que entramos na sala de jantar, Liam apareceu com um sorriso impecável nos lábios. Ele não devia ter bebido tanto quanto eu.
  - Bom dia, princesa. – Liam me abraçou e beijou a minha bochecha.
  - Não seria ‘boa tarde’, Leeyum? – Retribuí o abraço e sorri.
  - Isso não é hora para sermos técnicos, . – Ele riu, me soltando. – Seu remédio está em cima da mesa.
  - Cof cof. – limpou a garganta nem um pouco discreta. – Bom dia pra você também, Liam.
  - ! Eu nem te vi aí. Boa tarde! – Liam coçou a nuca, acenando para a minha amiga.
  Nada de abraços para ela? Então tá. Fiquei rindo daqueles dois e peguei uma das duas canecas que estavam em cima da mesa. Apontei a outra para e dei um gole na minha bebida. O gosto de tangerina era agradável, mas os outros ingredientes (desconhecidos, diga-se de passagem) que meu irmão colocava ali dentro deixavam o energy juice um pouco amargo. Não era a minha bebida preferida, mas fazia milagres. E não era só uma cura para a ressaca, mas também um energético muito potente. Lembrei da ceninha que Zayn fez na primeira vez que bebeu o energy juice e fiquei rindo sozinha. Meus amigos me olharam sem entender nada; rolou os olhos, achando que eu estava louca, e Liam riu comigo, sem precisar saber do motivo. Porque, sim, ele era bobo assim; capaz de rir só porque você está rindo.
  Olhei em volta, prestando atenção pela primeira vez. Eu podia não me lembrar da noite passada inteira, mas sabia que havia acontecido uma guerra de comida. A sala, o corredor, a cozinha... Tudo estava limpo. Até mais limpo que antes, pra falar a verdade. Duvidava muito que qualquer um dos meus amigos tivesse se disposto a fazer uma faxina na casa. parecia não notar nada de diferente, já que bebia da sua caneca e vazias caretas a cada gole.
  - Hey, Li. – Perguntei ao puxar uma cadeira para me sentar.
  - Sim? – Liam me olhou e eu terminei a minha bebida antes de continuar.
  - A fada da limpeza passou por aqui? – Perguntei com uma risada.
  - Eu sabia que tinha algo estranho aqui! – notou finalmente e eu ri mais ainda.
  - Ahh, é verdade! Eu esqueci de contar... – Liam encostou o corpo na mesa e cruzou os braços. – Você conhece uma moça chamada Dorota?
  - Dorota? – Aquele nome não me era estranho... – Dorota! É claro! Ela foi a minha babá desde que eu nasci. Mas quando meus pais se separaram, ela voltou para a Inglaterra e eu só a via quando vinha passar as férias aqui... Mas o que isso tem a ver com a limpeza da casa?
  - Pelo que eu entendi, ela veio visitar e acabou ficando mais tempo pra limpar tudo. – Liam explicou. – E seu irmão está pensando em contratá-la pra trabalhar aqui.
  - Mas ela não pode trabalhar aqui como empregada... Dorota é da família. – Fiz um bico de lado e minha dor de cabeça já começava a diminuir.
  - Mas pode ser uma boa ideia, . Porque eu não quero mais ser a sua babá. – riu e eu fiz uma careta pra ela. Que menina chata!
  Minha melhor amiga também terminou a bebida dela e nós três fomos para a sala. Ficamos assistindo TV até que resolveu ir embora e eu e Liam ficamos sozinhos. Passamos mais um tempo assistindo desenhos e ele me levou até o seu quarto para me mostrar o seu último ensaio fotográfico. Eu comentava todas as fotos que ele me mostrava e apontava as coisas que gostava, ou que ele poderia melhorar; como iluminação e essas coisas. Mas é claro que o profissional ali não era eu e, apesar de tudo, Liam era um bom fotógrafo. Conversamos sobre várias coisas, mas Zayn não estava incluído em nada. Era como se Liam quisesse ignorá-lo e eu preferia assim. Ele me contou que, mesmo gostando do seu trabalho, também não era aquilo que ele achava que seria. Assim como Lou comentou um dia. Eu tinha certeza que os dois não ficariam muito tempo naquele estúdio e isso me preocupou. Liam só estava em Londres e longe de sua família por causa daquele emprego e a ideia de ele ir embora não me agradava em nada. Eu já estava mais do que apegada àquele menino que mais parecia um filhote de labrador e não o deixaria partir.

+++

  A segunda feira chegou mais rápido do que eu esperava e trouxe consigo as minhas aulas cansativas. A cada dia que passava, os professores pareciam cobrar sempre mais. Perdi a conta de quantas vezes tive que dormir com os pés enfaixados para não sujar a minha cama de sangue. Essa primeira aula foi aquela onde todos os alunos ficam juntos em um salão enorme. Por um lado eu gostava daquela aula, porque era uma forma de comparar o meu nível com o dos outros bailarinos. Mas por outro... Eu tinha que aguentar Brigitte durante uma hora e meia. Fazia de tudo para ignorá-la e ficar o mais distante possível da oxigenada, mas ela gostava de me provocar. Sempre estava tentando me atrapalhar e até me fez cair no chão quando eu estava na metade de uma pirueta. Todos os alunos viram aquilo, mas não havia nada que pudessem fazer. Eu já tinha ouvido falar que o mundo do ballet era muito competitivo, mas era a primeira vez que algo assim acontecia comigo.
   e eu deixamos a sala de aula pra trás e eu tentava andar sem mancar. Sim, além de tudo, a vaca ainda me fez machucar o tornozelo quando me derrubou. Estávamos indo em direção ao refeitório quando Brigitte e as suas duas seguidoras passaram rindo ao meu lado. É claro que elas estariam indo pra lá também! Eu tentava ser forte, mas a cada passo que dava a pontada de dor que eu sentia me fazia lembrar o sorrisinho “eu sou melhor que você” que a loira dava toda vez que me olhava.
  - , você pode ir até o refeitório sem mim? Não estou com tanta fome assim...
  - Tá brincando, ? – Paramos de andar e ela me encarou séria. – Você não fazer isso só porque a ridícula vai estar lá. Não pode fugir dela assim.
  - Eu não estou fugindo de ninguém! – Rolei os olhos. – Só quero ignorar a existência daquele desperdício de vida o máximo que eu puder.
  - Eu não vou conseguir te fazer mudar de ideia, né? – já começava a pegar o jeito de como as coisas funcionavam comigo. Eu só afirmei que não e ela bufou. – Então pelo menos vai até a enfermaria e dá uma olhada nesse pé?
  - Vou sim. – Fiz um “x” no peito, como uma promessa.
   disse que passaria lá pra me ver depois que comesse alguma coisa e eu fui em direção à enfermaria. Nunca tinha estado lá antes, mas foi fácil de encontrar graças às placas de informação. Uma enfermeira idosa, mas de aparência bem cuidada, me atendeu assim que eu entrei na sala. As ‘paredes’ eram de vidro, o que permitia a visão do lado de fora e vice versa. Aquela falta de privacidade me deixou um pouco desconfortável, mas eu também notei que tinha uma cortina de correr que protegia as duas macas hospitalares.
  - Em que posso ajudar, senhorita? – A moça sorriu pra mim.
  - Eu acho que dei um jeito no meu tornozelo, porque não consigo pisar direito... – Expliquei e apontei para o meu pé dolorido.
  - Vamos dar uma olhada nisso, minha querida.
  Ela estava sendo tão simpática comigo que eu fiquei super tranquila. Fomos até uma das macas e ela me ajudou a subir. Fiquei mais ou menos na metade do ‘colchão’ e a minha perna direita ficou esticada. Também tirei o meu sapato e agradeci não estar com a meia calça que ia até os pés, porque aquilo só iria complicar as coisas. A senhora Mary (descobri se nome depois de ler no crachá) tocou o meu tornozelo levemente e eu gemi de dor. Foi pior ainda quando ela girou o meu pé e eu senti como se ele estivesse se quebrando por dentro.
  - Desculpe, querida, não queria machucar.
  - Não tem problema... – Fingi ser forte. – É algo sério?
  Antes que a enfermeira pudesse responder, Zayn apareceu do nada e parecia que estava correndo em uma maratona, porque estava quase sem ar. Era a primeira vez que eu o via depois da noite de sábado e não conseguia lembrar nem de como havíamos nos despedido. Acho que aquele foi um dos motivos que me deixou tão nervosa quando o vi.
  - Que aconteceu? falou que você quebrou o pé! – Ele estava tão preocupado que eu esqueci a minha dor por um momento e sorri.
  - E você não sabe como a sua amiga é exagerada, Zayn? – Ao ver que eu estava bem, ele pareceu se acalmar um pouco. – Não quebrei nada. Certo?
  - Certo. – Mary respondeu. – Não precisa se preocupar, a sua namorada está bem.
  - Eu não sou... – Fiquei vermelha quando a enfermeira usou aquele termo.
  - Ainda bem! – Zayn interrompeu quando eu tentei corrigi-la. – Mas o que ela tem?
  - Ela só torceu levemente o pé. Vê como está inchado? Essa moça tem que deixar o pé em repouso agora, então nada de fazer esforço. O que incluí ir pra casa agora.
  - Ir pra casa? Eu ainda tenho aula, não posso ir pra casa! – Me desesperei. Já tinha faltado uma aula e não queria perder outra.
  - , se a médica está falando que você não pode fazer esforço, você não vai fazer esforço! – Zayn falou todo autoritário e eu me senti uma criancinha.
  - Eu vou enfaixar seu tornozelo pra que você não force demais e pode deixar que eu levo um atestado para a secretaria. Não se preocupe, querida, isso não vai te prejudicar.
  Bufei baixo e cruzei os braços. A enfermeira pegou uma faixa e envolveu todo o meu pé direito, principalmente na região do meu tornozelo. Zayn só ria das caretas que eu fazia e eu já não sabia mais se era por causa da dor ou do jeito que aqueles dois estavam me tratando. Tudo bem, o “certo” seria eu descansar e não fazer esforço, mas eu não conseguia aceitar que Brigitte estava me fazendo perder uma aula importante. A senhora também me deu uma pomada que deveria aliviar o inchaço e prometeu que eu já poderia voltar a dançar no dia seguinte. Tive que prometer que ficaria de cama e me cuidaria direitinho.
  - Vamos? – Zayn pegou a minha mochila e passou por cima do próprio ombro.
  - Vamos pra onde? – O olhei sem entender.
  - Tem certeza que você não bateu a cabeça também? – Ele gargalhou. – Eu vou te levar pra casa, bobinha.
  - Não precisa, Zayn. Você ainda tem uma aula hoje e eu posso muito bem pegar um taxi. – Desci da maca quase caí no chão. Me apoiar em um pé machucado não era a ideia mais inteligente.
  - Você é mais importante que uma aula, . – Ele me segurou pela cintura, me impedindo de cair no chão. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Zayn passou o braço embaixo dos meus joelhos e começou a me carregar.
  - Zayn! – Me segurei nos ombros dele. – Você vai me derrubar! Eu ainda consigo andar.
  - Dá pra ficar quieta? – Ele riu. – Eu não vou deixar você cair.
  Vendo que não teria muita escolha, o deixei me carregar para fora da enfermaria. Não vou negar que era bom sentir os braços fortes de Zayn ao meu redor e a visão que eu tinha de seu rosto era maravilhosa. Fomos nos aproximando da saída e apareceu junto com Niall.
  - O que aconteceu com a minha pequena? – Ela falou, preocupada. Com certeza aquela cena de Zayn me carregando piorava as coisas.
  - Essa criança vai ficar de repouso e eu vou cuidar dela. – Zayn respondeu e rolei os olhos.
  - Estou de castigo, ! – Fiz um biquinho e o garoto aproveitou para colar os lábios nos meus, roubando um selinho. – Pode ser que eu comece a gostar disso.
  - Safada! – Niall brincou e nós rimos.
  - Eu te ligo mais tarde, ok? – Mandei um beijo para o casal.
  Quando passamos pela escadaria, Brigitte estava lá. Zayn nem ao menos virou o rosto, mesmo com os chamados dela. A oxigenada sempre competia comigo e tentava me sabotar, prova disso era o meu tornozelo machucado por culpa dela. E algo me dizia que me ver nos braços do ex-namorado dela não seria muito bom. Zayn me colocou dentro do carro e deu a volta pra entrar também.

+++

  - Até quando você vai me carregar? – Perguntei já mais calma e menos birrenta quanto Zayn me carregava escada acima. – Eu me sinto uma princesa.
  - Eu te carrego até quando você quiser, princesa . – Ele riu e eu passei as unhas pela nuca dele, acariciando. Notei que aquilo o deixou arrepiado e sorri.
  Entramos no meu quarto e ele me colocou delicadamente na cama. Para melhorar, Zayn ainda arrumou os meus travesseiros e colocou uma almofada embaixo do meu pé. Eu adorava ser mimada daquele jeito e com certeza ficaria mal acostumada.
  - Você precisa de alguma coisa? Quer água, ou algo pra comer? – Permaneceu parado ao lado da minha cama.
  - Zayn, eu não estou doente... – Eu o olhava, rindo. Bati no espaço vazio ao meu lado, para que ele sentasse. – Eu só quero você.
  - Me quer, é? – Sorriu sacana e eu percebi o sentido das minhas palavras. Ele tirou os sapatos e se deitou ao meu lado, com o cotovelo na cama e a cabeça apoiada na mão.
  - Não! – Gargalhei.
  - Nem um pouco? – O cafajeste aproximou o rosto do meu e eu olhei para o outro lado na mesma hora. Aproveitando que tinha o meu pescoço livre, ele roçou os lábios ali e me causou um arrepio. – Tem certeza?
  - Cala a boca. – Ri baixo e olhei pra ele novamente.
  Nossos rostos estavam tão próximos que eu não pude deixar de sentir o hálito quente de Zayn bater no meu rosto. Nos olhamos por uns segundos e eu o puxei devagar pela nuca, acabando com qualquer distância entre os nossos lábios. Começamos trocando alguns selinhos que foram se transformando em algo maior. Minha língua avançou um pouco e foi de encontro à dele. Trocamos brincadeiras e deixamos o beijo o mais lento possível. Era como se estivéssemos aproveitando cada momento, cada detalhe. Nada poderia nos atrapalhar, já que estávamos sozinhos em casa. Na minha cama... A coisa começou a esquentar demais quando eu senti aponta gelada dos dedos de Zayn traçando uma pequena linha na minha barriga, por baixo da minha blusa. Eu segurei a sua mão por reflexo e a afastei. O beijo parou quase no mesmo instante e meus olhos azuis se abriram devagar. Ele se afastou um pouco.
  - Desculpa... – Zayn falou enquanto estudava a minha expressão.
  - Não precisa se desculpar. – Eu sorri, passando a ponta dos dedos pelo rosto dele. – Só vamos com calma, ok?
  - Você é que manda. – Ele também sorriu e encostou os lábios nos meus mais uma vez. – Aliás, o que aconteceu com o seu pé?
  - Achei que nunca ia perguntar. – Ri, rolando os olhos. – Foi a sua querida Brie. Como você já deve saber, nós duas temos uma aula juntas. E hoje ela esbarrou “sem querer” em mim e eu dei um mau jeito no tornozelo na hora que caí.
  - Isso não foi legal da parte dela. – Zayn falou parecendo irritado. Já era a segunda vez que ela fazia algo contra mim e ele não gostava nada daquilo.
  - Mas deixa pra lá. Pelo menos não quebrou nem nada... – Mudei de assunto assim que pude. Ficar falando sobre a ex do cara que você está começando a se envolver não é legal.
  Era incrível como nós dois podíamos conversar por horas e parecia que apenas minutos haviam passado. Zayn me fazia rir de praticamente qualquer coisa que saísse da sua boca e eu adorava aquilo. Às vezes eu tinha impressão de que o conhecia há anos. Quem sabe de uma vida passada, não é? Ele acariciava os meus cabelos e eu repousava o rosto no ombro dele. Aquela era uma posição tão confortável que eu poderia pegar no sono a qualquer momento.
  - ? Você escutou isso?
  - Hm? O quê? – Pisquei algumas vezes para afastar o sono.
  - Eu escutei um barulho lá embaixo. Seu irmão está em casa? – Assim que parei pra prestar atenção notei que de fato havia alguém no andar de baixo.
  - Não, ele e o Li geralmente só voltam pra casa a noite. – O olhei assustada. – Será que é assalto?
  - Fica aqui e eu vou lá ver...
  Zayn levantou da cama, mesmo que eu tivesse tentado impedi-lo. Desejei mais do que nunca estar com o tornozelo curado pra poder correr atrás dele. O garoto saiu do meu quarto, mas deixou a porta aberta. Ele parecia um espião, pisando com cuidado para não fazer barulho algum e olhava para os lados. Eu teria rido se não estivesse com tanto medo. Olhou pra mim fazendo um sinal de silêncio, levando o indicador até os lábios e sumiu da minha visão. O ouvi descer as escadas devagar e sentei na cama. Não conseguia mais ficar deitada. Meu susto aumentou assim que escutei um grito agudo vindo da cozinha. Mas não era um grito de Zayn e sim de uma mulher. O mais estranho é que ela começou a gritar por socorro e eu decidi que não ficaria ali sem fazer nada.
  Era mais difícil andar com o pé enfaixado porque eu não conseguia pisar direito. Resultado: Tive que sair do quarto e passar pelo corredor pulando como um saci e me apoiando na parede. A parte mais crítica foi de fato a escada. Se eu já tropeçava nela usando os dois pés, imagine daquele jeito. Escutei Zayn pedir calma para a intrusa da casa e ela ainda continuava gritando. O estranho que ela chamava ele de ladrão. Dorota! É claro que deveria ser ela. Lembrei do que Liam me falou sobre meu irmão querer contratá-la e era a única explicação que eu conseguia pensar. Terminei de descer a escada com vida e vi Dorota correr atrás de Zayn com um rolo de macarrão nas mãos. O coitado estava desesperado e, logo que me viu, se colocou na minha frente pra me proteger.
  - Essa mulher é louca, ! Vá pra sala!
  - Não, Zayn... Ela não e louca. – Ri e passei na frente dele, deixando Dorota me ver e parar de tentar assassinar o meu amigo. – E ele não é um assaltante, Dora.
  - Pequena , como você cresceu! – A mulher largou o rolo de macarrão em cima da mesa e correu para me abraçar. Não correu literalmente, mas se aproximou de forma rápida.
  - É tão bom te ver! – A abracei de volta e Zayn continuou sem entender o que estava acontecendo. Dorota continuava do mesmo jeito que eu me lembrava, exceto pela maior quantidade de rugas em seu rosto.
  - O que você está fazendo em casa tão cedo? Lou me falou que você só chegaria na hora do almoço. – Ela olhou desconfiada para Zayn.
  - Dorota, esse é Zayn. Um amigo da Academy. Eu machuquei o tornozelo e ele me trouxe pra casa. – Expliquei e apontei para o meu pé enfaixado. Zayn me segurava pela cintura, me dando equilíbrio já que eu só tinha um pé no chão. – E, Zayn, essa é Dorota. Ou Dora, como eu chamava quando era pequena. Ela praticamente me criou.
  - É um prazer, Dorota. – Ele esticou a mão para que ela a apertasse.
  - Me desculpe por ter tentado te matar antes. – Dorota sorriu e os dois apertaram as mãos.
  - E a senhorita não deveria estar na cama? – Zayn me olhou.
  - Ora, me desculpe se eu tive que descer pra salvar a sua vida, monsieur.
  - Agora que já estou a salvo, vou te levar de volta. – Sem mais nenhuma palavra, ele me carregou novamente.
  - Eu vou fazer algo pra vocês almoçarem, tá bem? Já que eu vim aqui pra preparar um almoço surpresa para a minha pequena , mas foi ela quem me surpreendeu. – Dorota parecia falar sozinha e já foi para a cozinha.
  Zayn estava me carregando de volta para o quarto, mas eu pedi para ficarmos na sala mesmo. Pelo menos lá tinha televisão e seria mais fácil pra ir comer quando o almoço já estivesse pronto. Como não tinha nenhum programa interessante, acabamos decidindo escolher um filme. Zayn riu da minha coleção, falando que eu só tinha musicais e filmes de romance. Até que não era mentira, mas falando assim parecia que eu era uma adolescente melosa. Não tenho culpa se amo filmes de terror, mas prefiro alugá-los de vez em quando do que comprar e só assistir uma vez. O moreno pegou a capa do filme “Diário de uma paixão” e disse que nunca havia assistido. Eu fiquei espantada, porque aquele era o meu filme preferido de todos os tempos. Já sabíamos o que assistir! Zayn relutou no começo, mas eu fiz chantagem emocional e ele acabou aceitando.
  Como sempre fui muito folgada, simplesmente deitei no sofá e passei as pernas por cima de Zayn. Ele não se importou nem um pouco e até fez massagem no meu pé machucado. Assistimos o filme e algumas vezes eu sussurrava as falas dos personagens mesmo sem perceber. Na verdade quem notou aquela minha mania foi Malik. Fiquei com muita vergonha e tentei me controlar pra não repetir aquilo. Pausamos o filme assim que Dorota nos chamou para comer. Não deixei Zayn me carregar dessa vez e ele só me ajudou a ir pulando até a mesa.
  A comida de Dora só perdia para a da minha avó. Posso dizer que Zayn também gostou, porque repetiu o prato duas vezes. Ele amava frango, então adorou aquela refeição. Dorota sentou-se à mesa com a gente, querendo saber das “novidades”, do que eu estava achando da cidade e blábláblá. Zayn também entrou na conversa e disse que seria o meu guia turístico. A minha babá percebeu que tinha algo acontecendo entre nós dois e até perguntou se estávamos namorando. Eu quase engasguei com o suco e respondi que não antes que Zayn pudesse fazer qualquer comentário capaz de me deixar vermelha de vergonha.
  Liguei para Louis e avisei do que tinha acontecido com o meu pé, porque ele reclamaria de eu não ter contado antes de ele chegar em casa e todas essas cosas de irmão mais velho. Eu disse que estava em casa, mas omiti a parte que Zayn estava comigo ali. Conhecendo Lou, ele ficaria pensando milhares de besteiras e acabaria se atrapalhando no trabalho que já nem estava tão bom assim. Eu e o meu acompanhante do dia terminamos de assistir o filme e, pra variar, eu estava chorando com a última cena. Zayn riu de mim no começo, mas ao ver que eu realmente estava emocionada, ele me abraçou.

Capítulo XX

  A terça feira começou tranquila e eu não tive que dar de cara com Brigitte em nenhuma das minhas aulas. Graças ao repouso forçado e à pomada milagrosa que Mary me deu, eu já pude voltar a dançar e não perdi mais nenhuma aula. Por mais que ainda sentisse um pouco dor, eu tentava testar os meus limites até não aguentar mais. Dores são comuns no ballet e eu treinei o meu corpo para suportar aquilo desde pequena.
  Depois que acabamos as aulas do dia, fomos todos para a casa de Zayn. Admito que só concordei em ir depois que me assegurou que a mãe dele não estaria por lá. Sim, eu tinha vontade conhecê-la e sempre me falaram muito bem dela, mas eu ainda assim ficava nervosa. Só não estava pronta ainda. O dia estava mais frio que o normal e aquilo indicava que o inverno se aproximava, me deixando muito feliz. Eu estava protegida das temperaturas baixas dos pés à cabeça e amava roupas de inverno.
  Aquela era a segunda vez que eu ia até a casa de Zayn e as coisas estavam bem diferentes. Não haviam copos usados no jardim, nem uma pista de dança no meio da sala. O lugar estava bem mais claro do que da última vez e muito bem mobilhado. Em cima de uma estante haviam alguns porta retratos com fotos de Zayn e outras pessoas que eu não conhecia.
  - São lindas, né? – Zayn me abraçou por trás e apoiou a cabeça no meu ombro.
  - São sim. – Sorri e encostei a minha cabeça na dele. – Suas irmãs?
  - Minhas pestinhas. – Ele riu, olhando para a foto que eu estava apontando. - Doniya, Waliyha e Safaa.
  - Gostei dos nomes.
  - São estranhos, eu sei. – Riu mais uma vez e me virou de frente pra ele devagar.
  - Não são estranhos! São diferentes. Eu gosto disso. – Sorri sincera, passando os braços em volta do pescoço do mais alto. – Onde elas estão agora?
  - Elas ainda estão na escola. Tempo integral, sabe? – Me abraçou pela cintura e encostou a testa na minha.
  - Coitadinhas. – Ri baixo e colei nossos lábios.
  - Podem parar de se agarrar por um segundo? – falou ao nosso lado.
  - Invejosa. – Falei depois de me separar de Zayn, imitando as vezes que ela mesma me chamou assim.
  Nós três fomos para a sala. Eu e Zayn sentamos em um sofá e sentou em outro, onde Niall já estava, em frente ao nosso. Até que nós quatro éramos bem fofos. Dois “casais”. Ou um casal e meio, já que Zayn e eu não tínhamos nada sério para usarmos aquele termo. Todos ali éramos melhores amigos e precisávamos uns dos outros. Eu sinceramente não conseguia me imaginar sem aqueles três bobos ao meu lado todos os dias. Até sentia vontade de agradecer à senhora da secretaria por me mandar sentar ao lado de no dia em que nos conhecemos.
  - Então podemos começar a reunião? – arrumou os óculos de grau sobre o nariz.
  - Que reunião é essa que até agora eu não entendi? – Cruzei as pernas, olhando a minha amiga.
  - É a nossa reunião anual para definir detalhes da nossa festa de Halloween. – Explicou como se fosse óbvio.
  - Anual? – Zayn riu ao meu lado.
  - Não me importo que essa seja a nossa primeira reunião. É anual e pronto! – A ruiva ficou emburrada. – Vamos ao que interessa e parem de me irritar!
  - É, não façam isso com a minha cerejinha. – Niall a puxou para um beijo.
  - Não faremos, prometo! – Ri. – Mas ok... Quais são os detalhes que precisamos definir?
  - Bem, antes de tudo: O local. – soltou o namorado e todos demos atenção a ela. – Zayn, tudo certo pra fazemos a festa aqui?
  - Afirmativo. Minha mãe vai levar as meninas pra visitar nossos avós em Bradford. A casa está liberada.
  - Por que as festas sempre tem que ser aqui? Não tenho boas lembranças da última. – Cruzei os braços.
  - Essa festa não vai ser nada como a outra... – Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos, me fazendo descruzar os braços. – Eu te prometo.
  - Eventos assim são melhores na casa de alguém do que em clubes, ou casas de festa com regras e hora pra acabar. E nós não conhecemos ninguém que more em uma casa tão grande quanto essa e que seja afastada da civilização. Aqui não tem vizinhos pra reclamar do barulho. – falou.
  - Tá bem, tá bem! – Dei de ombros e comecei a brincar com os dedos de Zayn.
  - Acho que a segunda coisa mais importante é o tema, né? – Niall perguntou. – Ano passado foi o tema “Assassinato”.
  - Que tipo de tema é esse? – riu. Ela ainda não conhecia nenhum dos meninos naquela época, então não estava na última festa de Halloween.
  - Não ria, ok? – Zayn pareceu ofendido. Tinha certeza que aquele tema foi idéia dele. – O legal é que as pessoas podiam vir fantasiadas de assassinos ou assassinados.
  - Que criativo. – Gargalhei irônica e os meninos me encararam.
  - Ok, foi um pouco lame. – Niall concordou e eu gargalhei mais.
  - Bom, esse ano vai ser melhor, ok? – Dei um beijo na bochecha de Zayn, que ainda estava emburrado.
  - Sim, porque nós duas estamos no comando agora! – comemorou.
  - Então pensem em um tema, suas experts. – Zayn levantou do sofá e eu fiquei ali rindo. – Niall, vem me ajudar na cozinha.
  - Vou sim, meu amor. – O loiro levantou e deixou nós duas sozinhas na sala.
  - Que crianças. – Rolei os olhos. – Mas enfim. Você tem alguma idéia?
  - Eu estava pensando em “Caça as bruxas”, ou algo assim. – Ela veio até o sofá que eu estava e sentou ao meu lado.
  - Não sei... Não é muito generalizado? Assim todos vão vir de bruxos ou caçadores. Seria melhor algo com mais opções...
  - Criaturas da noite?
  - Muito óbvio.
  - Super heróis?
  - Muito “não assustador”.
  - Então o que você sugere? – levantou os braços começando a se irritar.
  - Porque não filmes? - Foi a primeira coisa que passou em minha cabeça.
  - Qual filme? – Ela não estava levando muita fé na minha idéia.
  - Não um filme só, . – Rolei os olhos. – Filmesss. As pessoas podem se fantasiar de personagens dos seus filmes preferidos. Eu acho que, quando a gente cresce, o Halloween é uma forma que temos de vestir qualquer fantasia sem parecermos ridículos. Então as pessoas podem se vestir de princesas de contos de fadas ou agentes secretos e até vampiros e lobisomens. Se parar pra pensar, há uma quantidade enorme de fantasias que podemos escolher. Assim não ficaremos presos a seres do mal e clichês.
  - É uma ótima idéia, ! Mas eu queria ter pensado nisso primeiro. – Estreitou os olhos para mim. – E a partir de agora... Eu pensei!
  - E no fim da festa... Podemos fazer uma premiação como nos Oscars, sendo que as categorias são do tipo: Fantasia mais criativa, ou fantasia mais assustadora...
  - Exatamente! Podemos deixar uma caixa em algum lugar pra que as pessoas possam votar nessas categorias. Assim todos vão estar concorrendo e será uma votação justa!
  Estava decidido o tema da festa e eu não parava de ter idéias. Ficamos conversando sobre aquele assunto e decidindo as decorações. Até mesmo pensando em algumas brincadeiras típicas de Halloween. Zayn e Niall estavam demorando demais pra voltar, então nós decidimos ir atrás deles. Assim que chegamos na cozinha sentimos um cheiro delicioso. Por incrível que pareça, os dois estavam cozinhando. Como ninguém havia almoçado ainda, eles deviam ter resolvido solucionar aquele problema. Me aproximei de Zayn sorrateiramente, antes que ele notasse que eu estava ali.
  - O que estão fazendo? – Sussurrei baixinho na orelha dele e vi os pelos em sua nuca eriçarem.
  - Que susto! – Ele riu e eu fui para o lado do mesmo, me apoiando na bancada ao lado do fogão. – Macarrão... É a minha especialidade.
  - Você quer dizer que é a única coisa que você sabe fazer? – riu. – É o mais fácil, Zayn!
  - Não sou obrigado a saber cozinhar. – Ele deu de ombros, nem ligando para as provocações dela.
  - Harry também não é obrigado a saber cozinhar, mas ele sabe. – Alfinetei.
  - Então pede pra ele cozinhar pra você. – Zayn parou de me olhar e se concentrou totalmente na panela de macarrão a sua frente.
  - Talvez eu peça mesmo! – Ri da cara de irritação que ele fazia. – Mas eu quero provar da sua comida primeiro.
  - Mas o Harry cozinha melhor que eu. Porque o Harry sabe cozinhar. E o Harry... – Zayn fazia caretas e mais caretas e eu ria de todas.
  O segurei pelo queixo e interrompi sua frase com um beijo para que ele calasse a boca. Aquilo seria ciúme? Eu torcia para que sim. Meu beijo o pegou de surpresa, mas ele não resistiu. Deixou a panela de lado e me segurou pela cintura, deixando o meu corpo pressionado entre o seu e a bancada. Niall reclamou alguma coisa, mas eu nem prestei atenção no que era. Estava distraída demais com a língua de Zayn que brincava com a minha para prestar atenção em qualquer coisa. A casa poderia pegar fogo e eu estaria nem aí. Deslizei a mão pelo pescoço dele e parei na nuca. Puxei alguns fios de cabelo que havia ali e ele sorriu entre o beijo. Apertou a minha cintura com mais força e eu suspirei nos lábios dele. Podia sentir meu coração batendo acelerado contra o peito dele. Todo o frio que veio com o começo de inverno sumiu completamente e deu lugar ao calor que Zayn me causava. Senti vontade de sentar na bancada e envolvê-lo com as minhas pernas e aquele pensamento me fez parar. Eu não me permitia passar dos limites, nem mesmo um pouco. Acho que a minha experiência com o meu primeiro e único namorado me deixou com um pé atrás. Traumatizada, se quiser chamar assim. Empurrei Zayn pelo peito e ele se afastou. Olhou-me confuso, como se tivesse feito algo errado e não sabia o que era.
  - Desculpa... – Foi a primeira coisa que saiu da minha boca. Me sentia envergonhada e não conseguia olhar pra ninguém. – Eu tenho que ir ao banheiro.
  - , você tá bem? – me olhava com preocupação.
  - Sim, só preciso lavar o rosto! – Forcei um sorriso ainda sem olhar ninguém.
  - ... – Zayn me chamou, mas eu já estava saindo da cozinha.
  Eu me sentia idiota por reagir daquela maneira. Racionalmente eu sabia que não tinha nada de mais em um beijo mais quente, ou alguns amassos de vez em quando. Eu era jovem e deveria estar acostumada a esses contatos físicos. e Niall estavam se agarrando quase o tempo todo e eu não me sentia desconfortável ao lado deles nem achava que era errado. Mas emocionalmente aquele era o meu ponto fraco, digamos assim. Algo acontecia na minha cabeça; algo que eu não conseguia controlar. Imagens da minha “primeira vez”, que na verdade foi a única, apareciam na minha cabeça e principalmente o que veio depois. O sofrimento, a frustração de ser usada. Dois anos haviam passado, mas eu não conseguia esquecer.
  Acabei não indo para o banheiro e sim para a área da piscina. Eu precisava de ar. Me sentei na ponta de uma espreguiçadeira e fiquei encarando as pequenas ondas que rajadas de vento formavam na água. Zayn devia me achar maluca. Já era a segunda vez que eu o parava e tinha certeza que eu era a única a dizer não pra ele. Vamos ser sinceros, o que um garoto como Zayn poderia querer com alguém como eu? Principalmente porque ele podia ter qualquer uma que quisesse. Era melhor eu começar a me acostumar com a idéia de ficar sem ele, mesmo que não quisesse.
  - Posso me sentar aqui? – chegou onde eu estava e puxou a outra espreguiçadeira pra mais perto da minha.
  - Pode sim. – Falei baixinho, me encolhendo dentro do meu cardigan.
  - O que aconteceu, ? – Ela perguntou com calma.
  - Nem eu mesma sei... – Suspirei. – Ora está tudo bem... E depois uma voz na minha cabeça grita “pare!”.
  - Mas eu não entendo, . Você não gosta do Zayn? – não sabia do meu passado, então era difícil explicar pra ela.
  - É claro que eu gosto. Até demais. – Olhei-a pela primeira vez. – Não é isso, é que... Minha relação passada não terminou tão bem, então eu acabo ficando com um pé atrás.
  - Entendi... – Sorriu de canto, compreensiva. – Mas você não pode ficar presa a essas coisas, sabe? Não vale a pena.
  - Acredite, eu sei que não! Mas é difícil. – Me senti mais boba ainda.
  - Você sabe que eu estou aqui pra qualquer coisa, não sabe? Ao seu lado. Pra sempre. – Ela segurou a minha mão e eu sorri.
  - Sei sim, . Obrigada. – Fiz carinho na mão dela. – Zayn ficou muito bravo?
  - Bravo? Claro que não. Mas ele ficou preocupado. – riu baixo. – Ele também gosta de você, .
  - Você acha mesmo?
  - Acho sim. Eu nunca vi Zayn assim... Ele é outra pessoa quando está com você. – Sorriu sapeca. – Você faz dele uma pessoa melhor.
  - Se você diz... – Não pude evitar um sorriso.
  - Isso mesmo. Eu gosto de você sorrindo! – se levantou e me puxou pela mão. – Agora vamos comer!

+++

  Depois que nós quatro comemos do maravilhoso macarrão de Zayn, fomos para o quarto dele. A tensão que eu estava sentindo logo foi embora após a minha conversa com e pude curtir o resto do dia com meus amigos. estava sentada em uma poltrona oval em um dos cantos do quarto e tinha um notebook no colo. Ela estava procurando alguma loja que fabricasse troféus para encomendarmos as nossas estatuetas do Oscar. Niall brincava com Boris, o cachorro preto de Zayn, e esse último fazia algumas ligações para empresas de decoração. Nós não tínhamos muito tempo antes da festa de Halloween, então deveríamos resolver tudo o mais rápido possível. Assim como Niall, eu não estava fazendo nada de útil naquele momento. Olhar o quarto inteiro estava sendo mais divertido pra mim do que de fato ajudar a planejar a festa. A cama de casal ficava no centro do quarto, em frente a um guarda roupa embutido na parede. Alguns bonecos de ação, carrinhos e outros brinquedos estavam arrumados em uma prateleira alta. Era um quarto bem legal e cheio de coisas divertidas. Eu podia imaginar Zayn sozinho em uma tarde, brincando com seus carrinhos. Uma mesa de madeira servia de apoio para alguns papeis espalhados cadernos diversos. Em um dos cadernos estava escrito: “Composições.”
  - O que é isso? – Perguntei curiosa enquanto abria o caderno.
  - Epa! – Zayn foi até onde eu estava e tirou o caderno das minhas mãos. – Isso você não pode ver.
  - Por que não? – Tentei pegar o caderno novamente. Estava óbvio que aquele era o caderno onde ele escrevia as suas músicas. – Por favor, Malik!
  - Talvez um dia. – Ele se afastou e guardou o caderno dentro do guarda roupa.
  - Isso não é justo. – Fiz bico e me sentei na cama.
  - Gente, acho que consegui! – bateu palmas, animada. – Podemos encomendar pela internet mesmo. Quantos vamos pedir?
  - Uns quinze? – Arrisquei.
  - Tantos assim? – Ela questionou. – São Oscars. Eles devem ser especiais!
  - , de duzentas pessoas, só quinze vão ganhar. Acredite, vai ser especial.
  - A tem razão, . – Niall concordou comigo, deixando Boris de lado por um tempo.
  O cachorro correu animado pelo quarto e pulou na cama. Eu me assustei quando ele veio pra cima de mim, mas não por medo. Zayn riu e eu comecei a brincar com o cachorro. Boris tentava “pegar” a minha mão enquanto fazia um caminho com ela pela cama. Não me importava em bagunçar os travesseiros contanto que o bichinho continuasse balançando o rabo do jeito que estava fazendo. Era simplesmente adorável e eu logo estava de joelhos na cama, latindo pra ele.
  - Ele gosta de você. – Zayn disse ao entrar na brincadeira.
  - A é ótima com animais! Até o Félix gosta dela. – bufou.
  - Se o Félix gosta dela, qualquer um gosta dela. – Niall riu.
  - Eu amo cachorros! Meu sonho é ter um Husky Siberiano. – Falei voltando a sentar na cama.
  - Eu estou impressionado! Boris não costumava ser assim com as outras garotas que... – Zayn parou de falar e eu o encarei com uma sobrancelha levantada.
  - Com as outras garotas que o que, Malik? – O olhei séria.
  - Que nada. Era besteira. – Ele coçou a nuca.
  - Outras garotas que você trouxe aqui. – Parei de brincar com o cachorro e me levantei da cama. Não daria ataque de ciúme, mas também ficaria perto dele naquele momento.
  - Uhhh. – Niall colocou mais lenha na fogueira e Zayn bateu na própria testa, se culpando pela besteira que falou.
  Eu fui me sentar ao lado de para ajudá-la com a encomenda das estátuas. Os meninos ficaram conversando e Boris veio pra perto de mim, deitando a cabeça no meu colo. Ele era realmente uma gracinha e eu fiquei acariciando-o atrás da orelha. Parecia que Zayn conseguira reservar várias iluminações e máquinas de fumaça. Sem falar em teias de aranha falsas, morcegos para pendurar no teto e mais coisas assustadoras. O tema poderia não ser exatamente de Halloween, mas a decoração da casa seria. Niall escreveu uma lista de comidas que poderiam ter aparência e nomes assustadores, mas que também eram deliciosas. Eu estava começando a ficar realmente ansiosa com aquela festa.
  - Você já sabe a sua fantasia? – me perguntou.
  - Ainda não... Mas não vamos contar um para o outro a nossa fantasia. Vamos fazer mistério até o dia da festa. Eu amo surpresas! – Sorri.
  - Você sempre esconde isso de mim mesmo, então acho que pode ser legal. – Eu duvidava muito que conseguisse ficar calada durante tanto tempo, mas seria legal vê-la tentar.
  - Eu topo. – Zayn levantou a mão.
  - Eu também. – Niall sorriu. – E a lista de convidados?
  - Acho que podemos chamar a maioria das pessoas da Academy... – Minha amiga falou pensativa.
  - Sim, mas não só a “elite”. – Fiz aspas no ar. – Tem umas meninas da nossa sala que são bem legais... Eu não gosto dessa história que pessoas do primeiro nível não são convidadas pra essas festas.
  - Mas você foi. – Niall nos entregou a lista de comidas e bebidas.
  - E veja como terminou! – Dei uma risada sarcástica e Zayn me olhou com pesar.
  - Eu sinto muito, ... Pela outra festa. – Ele disse.
  - Eu sei, Z. Não se preocupa, eu já superei. – Dei de ombros e Boris latiu no meu colo. Ele estava dormindo, mas parecia sonhar com algo. Eu sorri.
  - Por falar nisso... – chamou nossa atenção. – Vamos convidar a Brigitte e companhia?
  - Claro que sim. – Respondi e todos me olharam com espanto. – O que? Só porque ela me humilhou na frente de todo mundo, sempre me tratou mal e me fez machucar o tornozelo?
  - Uh... Óbvio! – A ruiva me encarou como se eu estivesse louca.
  - , é exatamente por tudo isso que ela fez que precisamos convidá-la. Pra mostrar que eu sou superior e que ela pode fazer tudo contra mim, mas que nunca vai conseguir me abalar!
  - Já pensou em escrever livros de auto-ajuda? – Ela riu.
  - Idiota. – Também ri e baguncei os cabelos dela. – Também vamos convidar os meus meninos.
  - Seus meninos? – Zayn parou o que quer que estivesse fazendo e me olhou desconfiado.
  - Sim. Meu irmão, Liam e Haz. E, acredite, dessa vez eles vão vir!
  - Ahhh, claro que você vai trazer o Harry! – Zayn fez uma careta.
  - Eu não acredito nisso! – Ri. – Você tem ciúmes do Harry!
  - Não tenho ciúmes de ninguém. – Ele bufou. – Mas mesmo assim, eu vi o jeito que ele lambeu a sua barriga aquele dia e você gostou.
  - É? E todo mundo viu o jeito que você me agarrou depois que ele fez isso!
  - Além do mais... – se meteu. – Não é com o Harry que você devia tomar cuidado e sim com o Liam.
  - ! – A repreendi.
  Antes que ela falasse mais alguma coisa, eu coloquei a minha mão sobre a boca dela. quase derrubou o notebook no chão e Niall pegou o objeto antes que algum acidente acontecesse. Boris se assustou com o meu movimento brusco e a minha amiga tentou afastar a minha mão, mas é claro que não conseguiu. Ela ainda tentava murmurar algumas palavras e eu não tive outra escolha a não ser pular em cima dela. Como resultado, nós duas acabamos caindo da poltrona e rolando pelo chão. Os outros dois idiotas que estavam assistindo começaram a gritar “Briga! Briga!” e nós duas acabamos rindo. Pelo menos aquele assunto chato havia acabado.

+++

  Depois que resolvemos todos os detalhes da festa, me deixou em casa. Já era noite e eu podia ver as luzes da sala acesas, o que significava que os meninos deviam ter chegado do trabalho. Abri a porta de casa com a minha chave e quase esbarrei em Louis, que andava de um lado para o outro com o telefone na orelha. Ele me olhou com os olhos arregalados e Liam e Harry se juntaram naquele pequeno hall. Eu sorri para todos eles, mas o que recebi em resposta não foi nada agradável.
  - Onde você estava, ? Não dá noticias e nem atende mais o celular? – Lou praticamente voou para cima de mim. – Não tem noção do quanto ficamos preocupados?
  - Calma, Lou... – Admito que fiquei um pouco assustada. Desde quando precisava dar satisfações assim? Além do mais, ele devia saber que eu estava com e não precisava ficar preocupado daquela forma. Olhei de Haz para Liam e eles não estavam tão desesperados como meu irmão. – A bateria do meu celular acabou, mas eu estava na casa de Zayn, com e Niall. Nada de mais! Não precisa me morder!
  - E você não pensou em usar o celular de algum deles pra avisar que demoraria pra vir pra casa? – Rebateu.
  - Você também não pensou em ligar pra algum deles e perguntar de mim. – Eu já começava a ficar irritada.
  - Mate, não precisa reagir assim... – Harry tentou me ajudou e colocou a mão sobre o ombro de Louis.
  - O que importa é que a já chegou em casa e nada de ruim aconteceu, ok? – Liam falou.
  - Tanto faz. – E com esse comentário seco, meu irmão virou as costas e partiu para o andar de cima.
  - Que bicho mordeu ele? – Perguntei enquanto o resto de nós começou a andar para a sala.
  - Não liga pra ele, . Só está estressado. – Harry se jogou no sofá.
  - Ele ficou assim depois que a sua avó ligou... – Liam também foi para o sofá e eu me sentei entre os dois.
  - Nana ligou? Era algo sério? – Fiquei preocupada. Para meu irmão estar agindo daquela forma devia ter acontecido algo.
  - Não sabemos, porque ele não deixou ninguém escutar e também não falou nada depois. – Harry pegou uma de minhas mãos e fez carinho, querendo me tranqüilizar. Ele sabia o quanto meus avós eram importantes pra mim.
  - Estava com o Zayn, é? – Liam mudou de assunto, me fitando.
  - E com a e o Niall. – Deixei claro que não estava sozinha com Zayn na casa dele. – Estávamos tendo uma reunião!
  - Reunião de que? – Haz perguntou e eu gargalhei ao lembrar a minha tarde.
  - Reunião da festa de Halloween! – Respondi animada. – E se vocês não forem dessa vez, podem me esquecer!
  - É claro que nós vamos! – Liam sorriu de canto. – Deveríamos ter ido na primeira festa também, mas isso não vai se repetir.
  - E vai ser festa a fantasia?
  - Sim, Hazza! – Sorri e apertei a mão dele com um pouco de força demais. – Mas o tema não é só “Halloween”.
  - E qual é? – Os dois perguntaram na mesma hora.
  - Filmes!
  - Qual filme? – Liam perguntou confuso e eu revirei os olhos.
  - Não um filme só, Li. – Rolei os olhos. Será que ninguém me entendia?   - Do tipo... Qualquer um pode se fantasiar de qualquer coisa, contanto que seja inspirado em algum filme. – Harry explicou e eu sorri orgulhosa.
  - Muito bem, Styles. – Baguncei os cabelos dele. – E é bom que vocês sejam criativos na escolha de suas fantasias. Teremos algumas surpresas durante a festa.
  - Adoro surpresas! – Liam ficou animado e eu levantei do sofá, me afastando dos dois.
  - Espero que adore mesmo. – Ri. – Agora eu vou tentar falar com o Louis.
  Os meninos assentiram com a cabeça e ficaram conversando por ali enquanto eu subi as escadas e parei em frente a porta do quarto do meu irmão. Bati fraco e não recebi resposta alguma. Voltei a bater com um pouco mais de força e encostei a orelha na madeira, a fim de tentar escutar alguma coisa. Quase caí pra trás de susto quando Louis destrancou a porta. Ele não chegou a abrir, mas eu considerei aquilo como uma permissão para entrar. Girei a maçaneta com cuidado e espiei pela fresta. Meu irmão esta de pijamas, sentado no meio da sua cama bagunçada. O quarto estava bem escuro e a única fonte de luz era um abajur de neon.
  - O que há de errado, Lou? – Caminhei devagar pelo quarto, sentando na ponta da cama.
  - Não é nada, ... – Suspirou.
  - Você vai mesmo tentar mentir pra mim? Liam disse que vovó ligou...
  - Aquele linguarudo. – Louis fez uma careta. – É, ela ligou sim. Só pra saber como nós estamos, nada importante.
  - Se não foi nada importante, porque você ficou assim? – Eu não estava reclamando com ele e a minha voz era tranquila.
  - Estresses do trabalho, pra falar a verdade. As coisas estão cada vez piores. – Deu de ombros. Eu sabia que não era só aquilo, mas não fazia parte da minha personalidade ficar cobrando algo que a pessoa não queria falar.
  - Lou, você não pode deixar isso te perturbar assim! Se não está satisfeito, porque não se demite?
  - Por incrível que pareça tenho pensado nisso sim. Acho que meu único motivo pra não ter feito isso ainda é o Liam. Não quero deixá-lo sozinho lá.
  - Awn, que coisa mais linda. – Sorri. – Então vocês dois podem pedir demissão e montar uma banda!
  - Claro! – Louis riu com a minha brincadeira. – Eu, Liam e Harry. Uma boyband, o que acha?
  - E o nome vai ser The Rogue! – Gargalhei. Meu irmão parecia estar voltando ao seu normal e era bom escutar a sua risada escandalosa novamente.

Capítulo XXI

  Sabe aqueles dias frios que você só quer dormir durante a manhã inteira, principalmente porque está começando a chover? Então. A minha quinta feira começou exatamente desse jeito. Imagine o meu mau humor pra colocar uma roupa decente e ter que deixar meu pijama quentinho de lado. Ainda mais tendo que pegar um ônibus tecnicamente cheio e ainda descobrir que a Starbucks mais próxima da Academy estava fechada para reformas. Pois é, meu dia não estava sendo nada agradável. Eu tentava manter um sorriso no rosto e continuar positiva de que tudo iria melhorar, mas estava cada vez mais difícil.
  Imagine a minha frustração ao finamente subir a escadaria da academia e descobrir que as minhas aulas do dia haviam sido canceladas. Sim, CANCELADAS. Assim, sem mais nem menos. Do na-da. Senti vontade de bater em alguém, ou pelo menos fazer uma queixa na secretaria, porque aquela era uma falta de responsabilidade! Já estava retornando para as escadas quando escutei gritando o meu nome no corredor. Pois é, ela adorava me fazer passar vergonha. Levei uma mão até a testa e fechei os olhos, esperando que ela se aproximasse de mim. Todos que estavam por ali ficaram nos encarando.
  - ! – Ela me abraçou sorrindo tanto que seria capaz de rasgar a boca. – Escutou a novidade? Temos o dia livre!
  - O dia livre que eu poderia passar na cama, se alguém tivesse me avisado! – Respondi ranzinza e a abracei de volta.
  - Ai, que atitude ruim! Abstrai, . O que importa é que não vamos ficar cansadas de tanto dançar. – Ela segurou a minha mão e começou a andar na mesma direção em que havia vindo, me puxando junto.
  - Acontece que eu gosto de me cansar de tanto dançar, ok? – Bufei fazendo corpo mole e dando mais trabalho para me puxar. – Pra onde estamos indo?
  - Para o terceiro andar. Os meninos nos convidaram pra assistir uma aula deles. – Paramos em frente ao elevador.
  - E não podemos usar as escadas? – Bufei novamente. Eu estava reclamando de tudo e sabia disso. Se quisesse subir pelas escadas, eu reclamaria para usarmos o elevador.
  - Mas você está chata, hein? – Soltou a minha mão e apertou as minhas bochechas, rindo. Ela não tem medo do perigo? – Você está indo ver o seu amor e ainda assim fica com essa cara amarrada?
  - Malik não é meu amor! – Que absurdo era aquele? – E eu fico com cara amarrada o quanto quiser.
  - Que seja. – Riu mais uma vez e as portas do elevador se abriram.
  Nós duas entramos e eu fiquei calada a subida inteira. Não demorou muito para as portas serem abertas mais uma vez e o numero três aparecer na tela digital do elevador. praticamente saltitou para fora e eu olhei em volta. Já tinha estado ali antes, mesmo não tenho nenhuma aula naquele andar. Ah, é! Quando cheguei atrasada para a primeira aula dias atrás acabei passeando por aqueles corredores... Foi exatamente quando vi Zayn tocar piano pela primeira vez. Aquela lembrança me deixou um pouco mais leve e eu já não estava mais tão estressada quanto antes.
  - É só chegar perto do menino que você já fica toda boazinha de novo... E ainda tem a cara de pau de falar que ele não é o seu amor? – sorriu daquele jeitinho sabichão que só ela sabia e eu acabei sorrindo junto, mesmo sem querer.
  - Cala a boca, ok? – Paramos na frente da última porta; aquela em que eu fiquei espiando.
  A ruiva riu e abriu a porta sem nem pedir licença. A sala era bem maior do que eu me lembrava e totalmente diferente das salas de dança. As paredes não eram cobertas por espelhos e sim por alguns instrumentos musicais e um quadro negro cheio de rabiscos. O piso era coberto por carpete, o que era uma boa ideia, já que os pés do piano preto arranhariam a madeira. Zayn estava sentado em um pequeno tablado abaixo do quadro negro e prestava atenção aos papeis em suas mãos. Niall afinava um violão, mas notou a nossa presença ali. Era incrível como a sua postura mudava ao ver . Eu tinha certeza que aqueles dois ainda iriam se casar. Ed Sheeran também estava ali na sala. Ele era professor dos meninos e eu me lembrava muito bem dos seus cabelos avermelhados e sardas nas bochechas.
  - Olha quem chegou. – Niall deixou o violão de lado e foi até a namorada.
  - Suas garotas preferidas! – Ri, lembrando o jeito que ele costumava nos chamar. Zayn levantou a cabeça assim que escutou a minha voz e sorriu. – Hey, Malik.
  - Tomlinson! – Me chamou pelo sobrenome, coisa que nunca fazia, e nós dois rimos. Eu caminhei até onde ele estava e me sentei ao seu lado. – Você está cheirosa hoje.
  - Quer dizer que eu estava fedida nos outros dias? – Ele havia se inclinado para me dar um beijo nos lábios, mas depois daquela última frase eu me afastei, esperando uma boa resposta.
  - Claro que não! Eu só estava querendo dizer que hoje você está cheirosa... Mas nos outros dias também estava... Porque você semp... – Eu o puxei pela nuca e colei os lábios nos dele. Tinha que interrompê-lo, ou ele ficaria se complicando ainda mais.
  - Eu entendi. – Sussurrei entre os lábios dele depois de separar o selinho e sorri.
  - Estou começando a gostar de ser interrompido. – Zayn também sorriu e fez carinho na minha bochecha.
  - É o jeito que nós mulheres temos pra mandar vocês calarem a boca. – Gargalhei baixo.
  - Eu sabia! – Ed falou, se sentando ao meu lado. Me assustei porque ele chegou do nada. – , certo?
  - Exatamente! – Sorri para o ruivo e apertei a mão dele.
  - Eu me lembro de você no teste para a peça... – Ele falou pensativo e eu me controlei profundamente para não ser muito mal educada na minha resposta.
  - Não sei por que! – Ri sem humor. – Eu não fui nem boa o bastante pra ser chamada para os segundos testes.
  - O callback nem é tão importante, ... – Zayn passou o braço pelos meus ombros e me abraçou de lado. Eu sabia que ele só estava falando aquilo pra me consolar, mas senti bem com o seu toque.
  - Até parece! – Rolei os olhos e encostei a cabeça no ombro do moreno.
  - Você foi muito bem, . Se não te chamaram, deve ter outro motivo. – Ed também tentou encorajar. – Agora podemos começar essa aula, por favor? Não tenho o dia inteiro.
  Sheeran era tão legal que nos deixou bem a vontade. Ele disse que as aulas dele eram bem descontraídas e que nós duas poderíamos aparecer por ali sempre quiséssemos. Até mesmo disse que nós podíamos experimentar qualquer instrumento. foi logo para a bateria que, graças a Deus, ficava em uma parte lateral da sala, dentro de uma espécie de estúdio. Niall foi ajudá-la e Zayn se sentou no piano. Eu fiquei ali perto, quietinha, só observando; não queria atrapalhar a aula. Ed colocou uma partitura aberta na frente do mais novo.
  - Eu adoro essa música. – Zayn falou com um sorriso. – O Ed escreve as letras mais bonitas que eu já vi, . Essa que eu vou tocar é dele...
  - Qual o nome? – Encostei o corpo no piano e tentei ler a página aberta.
  - Wake me up. – Ed Sheeran respondeu. – Eu escrevi pra uma ex namorada e o Zayn aqui canta bem melhor que eu!
  - Cuidado, ele pode estar querendo roubar a sua garota. – Brinquei.
  - Por que eu roubaria a dele se já tenho a minha? – “Minha”. Aquela palavra dele demorou um pouco mais que o normal para entrar na minha cabeça. Senti o rubor de minhas bochechas e Zayn começou a tocar o piano. Eu agradeci por não ter que responder mais nada. – I should ink my skin with your name. (Eu deveria marcar a minha pele com o seu nome) Take my passport out again, and just replace it. (Tirar o meu passaporte de novo e apenas substituí-lo) See, I could do without a tan, on my left hand, where my fourth finger meets my knuckle. (Sabe, eu poderia ficar sem bronzeado na minha mão esquerda onde meu quarto dedo encontra a minha articulação) And I should run you a hot bath… (E eu deveria te preparar um banho quente...) - A voz de Zayn já era tão gostosa de ouvir normalmente que quando ele cantava eu sentia os joelhos estremecerem. De vez em quando ele olhava para as teclas do piano e para a partitura, mas sua atenção maior era focada em mim. Não consegui conter um suspiro ou outro, o que o fazia sorrir. Eu não lembrava mais se Ed estava por ali ou não, mas também não importava. A melodia calma e a voz suave de Zayn combinadas naquela harmonia me fizeram esquecer até do meu nome. E a letra da música também era incrível. Percebi que era bem pessoal, porque o autor descrevia algumas manias da pessoa para quem ele estava cantando e eu senti como se conhecesse a ex namorada de Ed. Ele devia ganhar um prêmio por escrever tão bem e eu gostaria de conhecer mais do seu trabalho, mas a minha atenção naquele momento não estava no autor da letra, e sim em quem estava interpretando-a. Aquele garoto que era dono de olhos tão brilhantes que eu poderia ficar olhando o dia inteiro. – And maybe I fell in Love when you woke me up... (E talvez eu tenha me apaixonado quando você me acordou)
  A música acabou e eu só conseguia pensar em uma coisa. Fui até Zayn e me sentei em seu colo, de lado. Ele me olhou sem saber o que eu queria, mas o sorriso em seus lábios era lindo. Eu sorri de volta e passei um dos braços em volta do pescoço dele, ficando ainda mais colada. Levantei o seu rosto levemente com a minha mão embaixo do queixo do mesmo e juntei nossos lábios. Fiz aquilo com tanta suavidade que ele acariciou a minha cintura ao me abraçar por ali; não apertou como teria feito nas outras vezes. Zayn inclinou o rosto para o lado oposto do meu e passou a língua bem devagar entre os meus lábios, pedindo passagem. Claro que eu permiti que o beijo se aprofundasse e minha língua encontrou a dele. Posso dizer com toda certeza do mundo que aquele foi beijo mais delicado e mais cheio de sentimento que nós dois já trocamos. Eu não sabia dar nome àquele sentimento, mas sabia que era bom e, o mais importante, sabia que era retribuído.
  - Eu espero que obtenha essa reação quando cantar essa música também! – Ed falou ao nosso lado e então eu lembrei que não estávamos sozinhos ali.
  - Ahn... – Falei meio sem jeito ao me separar de Zayn. Também saí de seu colo, por mais que ele tivesse reclamado com um bico enorme. – É uma música muito bonita, Ed. Ela seria louca se não gostar.
  - Então isso tudo foi só por causa da música? – Zayn cruzou os braços indignado. – Eu não tenho culpa nenhuma nisso?
  - É claro que tem! O que me encantou foi o pacote inteiro. – Sorri pra ele.
  - Zayn, por que você não mostra pra ela a melodia que você compôs? – O professor perguntou e eu já fiquei animada.
  - Por favoooooooor. – Juntei as duas mãos no peito e fiz o meu melhor biquinho.
  - O que você me pede e eu não faço? – Zayn sorriu pra mim.
  - Muita coisa, na verdade. Não quis me mostrar as músicas que você escreveu!
  - Você quer escutar a melodia ou não? – Reclamou e deixou um espaço para que eu sentasse ao seu lado no banco em frente ao piano.
  - Claro que quero! – Parei de reclamar e me sentei.
  Ed nos deixou sozinhos ali e foi ver Niall e , já que os dois não deram mais noticia de vida. Zayn me explicou que costumava escrever a letra da música primeiro e depois criava a melodia, mas que Ed pediu que ele fizesse ao contrário de vez em quando, só pra treinar. Então aquela semi-canção ainda não tinha nome nem nada. Eu só queria escutar alguma criação dele.
  Mais uma vez Zayn voltou a apertar as teclas do piano e a música começou. Enquanto a mão esquerda fazia uma coisa, a direita estava ocupada com algo completamente diferente. Aquele era o maior motivo que me impediu de aprender a tocar qualquer coisa naquele instrumento, porque ter a atenção em dois lugares ao mesmo tempo não era pra mim. E algo que chamou a minha atenção é que ele não precisava de partitura pra tocar aquela música; já sabia de cabeça. Olhar o seu sorriso crescer toda vez que eu balançava a cabeça no ritmo da música era engraçado. Eu podia imaginar ele cantando algo naquele ritmo. Não sabia se estava ficando louca, mas tinha certeza que ouvia a voz dele em minha cabeça.
  - É uma melodia linda, Zayn. – Eu sorri e segurei a mão dele assim que a música acabou.
  - Talvez no futuro entre um violão ou uma guitarra de fundo. – Ele deu de ombros.
  - E eu quero poder escutar você cantá-la. – Nossos dedos se entrelaçaram.
  - Você realmente quer ver uma música que eu escrevi, né, ? – Me olhou e encostou a testa na minha.
  - Só se você quiser me mostrar... – Fechei os olhos e fiquei sentindo aquele perfume tão próximo. – Quem sabe um dia você escreve uma pra mim.
  - Eu já escrevi. – Sussurrou.
  - O quê? – Abri os olhos para perceber os dele me encarando.
  - Eu escrevi uma música pra você, ... Ainda não tem melodia, mas eu escrevi após a festa de encerramento das férias.
  - Mas a gente mal se conhecia... – Falei baixinho, ainda surpresa com aquela noticia.
  - Eu não precisei te conhecer direito pra ficar inspirado por você.
  - Algum dia eu vou escutar essa música? – Sorri e passei a ponta dos dedos pela lateral do pescoço dele.
  - Quando estiver pronta. Eu prometo. – E assim ele selou nossos lábios.
  Enquanto nossos amigos não apareciam, Zayn ficou tentando me ensinar alguns acordes e eu até consegui tocar um “Do re mi” meio desafinado. Admito que fiz mais bagunça e ri do que prestei atenção. Meu dom não era tocar, e sim dançar. Seria a mesma coisa se eu fosse ensinar Zayn a fazer o plié.
  - Zayn, você pensou naquilo que eu te falei? – O professor voltou e trouxe e Niall consigo.
  - Pensei um pouco... Mas não sei, Ed. – Eu olhei de um para o outro, meio que perguntando sobre o que se tratava aquela conversa. – Ele está querendo que eu entre em uma banda.
  - Sério? Isso é muito legal! – Eu disse.
  - Seria, se existisse realmente uma banda onde eu pudesse entrar.
  - E eu já falei que resolvo essa parte! – O ruivo cruzou os braços. – Você tem o Niall também. E eu ajudaria como produtor.
  - Ótimo, uma banda com duas pessoas. – Zayn riu.
  - Por que não cinco? – Na minha cabeça já passavam milhares de idéias, uma mais maluca que a outra. Lembrei da conversa que tive com Louis poucos dias atrás, sobre criar uma boyband. A idéia era brincadeira na hora, mas podia dar certo.
  - Acho que sei no que você está pensando, ... – também estava pensativa. Se a nossa conexão estivesse funcionando, ela estava pensando no mesmo que eu.
  - Do que vocês estão falando? – Niall estava mais confuso que o normal.
  - Só estava pensando aqui... Meu irmão e os outros meninos sabem cantar também... – Falei devagar, aguardando as risadas ou os “não” que poderia escutar.
  - E nós já sabemos que o Harry e o Ni deram um show quando cantaram juntos no karaokê. – me apoiou.
  - Sim, porque estávamos brincando! Formar uma banda é algo totalmente diferente. – Niall parecia relutante.
  - Mas poderíamos trabalhar nisso. As boybands estão voltando, sabia? – Ed pareceu gostar da nossa ideia.
  - Eu não sei... – Zayn também não parecia estar gostando muito daquela ideia.
  - Não falem não agora. – Pedi. – Podemos ir todos juntos ao Pub novamente... E aí vocês cantam juntos uma vez. Só uma vez. Pra ver o que acontece...
  - Por favor? – A baixinha também pediu e os meninos acabaram concordando em fazer aquele teste.
  Parecia loucura e eu tinha noção disso. Zayn e Niall provavelmente gostariam de ter carreira solo, então entrar em um grupo com outros quatro garotos não seria a primeira escolha de nenhum deles. Eu só torcia para que eles tentassem ver o lado positivo também. Harry esteve em uma banda quando estava no colégio, mas aquilo não deu certo. Meu irmão não estava feliz com o seu trabalho e aquela poderia ser a saída para Liam não ter que voltar para Wolverhampton caso não desse certo na agência fotográfica. O caso é que, por mais que fosse uma maluquice, poderia dar certo. Principalmente se Ed fosse ajudar como estava prometendo. Resolvi parar de tocar no assunto naquele momento. Já tinha falado a minha opinião e me ajudou. Eu falaria com ela a sós depois, para bolarmos um plano e juntar os cinco. Não adiantaria só conversas, nós teríamos que mostrar pra eles que aquilo poderia funcionar.

+++

  - Eu quase esqueci! – falou assim que nos sentamos na escadaria de entrada da Academy. Ela começou a procurar algo dentro da sua bolsa enorme. – Onde é que eu enfiei?
  - Tudo bem aí, ? – Ri enquanto a minha amiga quase entrava na bolsa.
  - Juro que tenho medo do que pode estar escondido aí dentro. – Zayn riu. Ele estava sentado em um degrau acima do meu e eu estava entre as suas pernas, apoiando as costas no peitoral dele.
  - Dá pra vocês dois calarem a boca? – Ela se irritou e nos fez rir. – Achei!
  - Como essa caixa coube aí? – Niall perguntou e nós olhamos para uma caixa de sapato preta que ela nos mostrava.
  - A pergunta certa seria: Como você perdeu essa caixa aí? – Perguntei e senti Zayn gargalhar perigosamente perto da minha orelha.
  - Mas primeiro: O que tem aí? – Ele também perguntou e rolou os olhos.
  - Os convites para a festa de Halloween, é claro! – A ruiva abriu a caixa e nós vimos os envelopes pretos com escrita em prata.
  - Você escreveu em todos eles? – Niall pareceu espantado. Na verdade, eu também estava. Quase trezentos convites escritos em uma caligrafia perfeita, com direito a nome e endereço de cada um dos convidados?
  - Eu faço um bom serviço, ok? – A menina se gabou. – Mas temos que enviar esses convites até amanhã no máximo. A festa já é semana que vem!
  - Por que não me chamou pra ajudar, ? Ontem eu não fiz quase nada. – Falei, fitando-a com meus olhos azuis.
  - Porque a senhorita vai levar até o correio. – Me entregou a caixa que era mais pesada do que aparentava. – Acho que o Zayn não se importaria de ir com você.
  - Não mesmo. – O menino sussurrou na minha orelha e eu fechei os olhos por impulso. Odiava esse poder que ele tinha sobre as minhas reações.
  - Então está decidido! E eu já peguei o meu convite e o do Nialler. , pegue o seu e o dos meninos, já que eu não coloquei endereço nesses. Zayn, faça o mesmo. – Mandou e nós obedecemos, já procurando tais convites dentro da caixa.
  O primeiro que achei foi o de Zayn e entreguei para o dono. Em seguida encontrei o de Liam, Louis e Harry, não necessariamente nessa ordem. Continuei procurando o meu e só fui encontrá-lo no fundo da caixa. Sim, era o último. Devia ter sido o primeiro que aminha amiga fez, por isso estava no fundo. Guardei os convites que levaria pra casa dentro da minha bolsa e deixei a caixa ao meu lado. Prestei atenção no envelope preto em minha mão. realmente teve trabalho, porque ele era artesanal e cheio de detalhes. Rasguei o pequeno lacre que fechava a carta e na parte de dentro da aba do envelope já encontrei um pequeno texto em caneta dourada:

Witches are cackling.
(As bruxas estão cacarejando)
Bats are flying by.
(Morcegos estão voando por perto)
It’s bound to be a wild night.
(Está fadado a ser uma noite selvagem)
‘Cause someone’s gonna die…
(Porque alguém vai morrer)

  Seria bem assustador receber uma carta com esse poema, principalmente se eu não soubesse do que se tratava. Era Halloween e havia captado o espírito da coisa. Tirei o papel de dentro do envelope e o desdobrei para ler o que estava escrito. pensou em todos os detalhes, porque até manchas de sangue artificial marcavam o papel.
  - O convite está perfeito, ! – Sorri ao guardar o meu envelope na bolsa.
  - Obrigada. – Ela sorriu e balançou os cabelos, se achando.
  - Bem, então acho melhor irmos logo... – Olhei para Zayn atrás de mim. – Como ainda é cedo, pode ser que comecem a entregar hoje mesmo.
  - Mas eu estou com tanta fome. – Ele fez um bico e me abraçou pela cintura, impedindo-me de levantar. Era a hora do almoço e nenhum de nós havia comido nada na hora do intervalo, então ele tinha motivos pra estar com fome assim.
  - Quem precisa de comida? – Brinquei e Niall levantou a mão. – Tudo bem! Nós podemos ir almoçar depois de passar no correio.
  - Antes. – Zayn me balançou de um lado para o outro, tentando me convencer.
  - Depoooooois! – Eu apenas ri. – Não vamos demorar lá de qualquer jeito. Você pode ficar esperando no carro e eu faço o serviço!
  - Eu não vou conseguir te fazer mudar de ideia, né?
  - Não, não vai. – Ri novamente.
  - Tá bem, você venceu! – Zayn me soltou e eu pude levantar.
  - Ótimo! – Sorri e estiquei a mão para ajudá-lo a levantar também. – Te ligo mais tarde, . Tchau, Niall!

+++

  - Eu disse que não ia demorar! – Falei assim que entrei no carro. – Agora podemos ir comer.
  - Você demorou sim. – Zayn fez uma careta e eu ri. Logo o carro começou a andar novamente. – Onde quer almoçar?
  - Podemos ir para a minha casa. Hoje é o dia em que a Dorota vai pra lá, então ela deve ter feito um almoço bem gostoso!
  - Ela me assusta um pouco... – Falou baixinho quando paramos em um sinal vermelho.
  - Sério? – Gargalhei alto. – Deve ser porque ela tentou te matar no dia em que vocês se conheceram, mas ela é um amor de pessoa, acredite.
  - Tudo bem, eu vou tentar não ficar nervoso perto dela. – Ele também riu.
  - É melhor, porque ela pode sentir o medo em suas presas. – Fiz uma cara séria e Zayn me olhou assustado. Tadinho!
  Eu logo comecei a rir e ele viu que eu estava brincando. Enfrentamos um pouco de trânsito, mas não ficamos estressados. Quando o carro parava nos semáforos, Zayn me olhava e gostava de mexer nos meus cabelos. Ora ele passava a minha franja por trás da minha orelha e ora bagunçava tudo. De um jeito ou de outro, ele sempre me fazia rir. Eu também gostava de tocar nele de vez em quando; fosse acariciando sua nuca quando ele tinha que olhar pra frente e prestar atenção na rua, ou roubando alguns selinhos quando o carro estava parado. Se alguém me falasse que eu estaria fazendo isso há alguns meses atrás, eu só iria rir e chamá-lo de louco.
  O carro de Zayn já devia ser conhecido pelos porteiros do meu condomínio, porque ele conseguiu entrar sem precisar de nenhuma identificação. Cinco minutos depois de passar pelos portões o carro já era estacionado em frente à calçada da minha casa. Começava a chuviscar, então não esperei Zayn abrir a porta pra mim e já fui saindo do carro. Nós dois corremos pelo caminho de pedra até a porta de casa. Eu escorreguei e quase caí, porque o chão estava úmido. Abri a porta de casa e deixei Zayn passar primeiro.
  - , é você? – A voz de Dorota vinha da cozinha.
  - Sou eu sim, Dora. E trouxe um convidado. – Zayn me olhou com cara de espanto e eu ri, sussurrando as próximas palavras: - Fica calmo.
  - Quem? Aquele jovem adorável que eu conheci? – Ela perguntou, se referindo ao próprio Zayn.
  - Viu só? – Continuei sussurrando pra ele, mas aumentei a voz para responder à minha babá. – É ele mesmo!
  - Venham aqui me ver! Eu estou terminando o almoço. – Nos chamou e eu puxei o garoto pela mão.
  - O cheiro está ótimo. – Falei ao entrar na cozinha.
  - É bom te ver novamente, Dorota. – Zayn forçou um sorriso.
  - Que gentil! – Ela sorriu e o abraçou. Acho que foi o abraço mais desconfortável que eu já vi. Fiquei rindo enquanto os observava. – Espero que você goste de panquecas!
  - Eu adoro! – Sorriu e me olhou.
  -Então vamos deixar você terminar em paz, ok? – Também abracei a minha babá. Sim, eu ainda a chamava de babá.
  Zayn foi o primeiro a sair da cozinha e eu o segui em direção à sala. É claro que ele tentou subir as escadas e ir até o meu quarto, mas eu o puxei pelo braço. Seria bem mais seguro ficar ali na sala, onde apenas sentaríamos no sofá, do que em meu quarto, onde deitaríamos na cama... Sala, é. Melhor, aham. Tirei os sapatos e as meias, me jogando no sofá em seguida. Zayn seguiu o meu exemplo e tirou os tênis. Eu ri porque ele já estava se sentindo em casa o suficiente para andar descalço por ali.
  - Do que você está rindo? – Ele perguntou enquanto eu gargalhava.
  - De nada, ué. – Continuei a rir, deitando no sofá com a cabeça em uma almofada.
  - Você não vai me dizer? – Me encarou sério, segurando os meus pés. Ele estava bolando algum plano, eu sabia disso.
  - Não vou! – Gargalhei mais alto e Zayn puxou as minhas pernas, me fazendo quase cair do sofá. – O que você está fazendo? Eu vou cair!
  - Então me diz do que você está rindo! – Levantou as minhas pernas e eu fiquei com metade do corpo no sofá e metade fora.
  - Eu estou rindo de você, seu bobo! – Tentei me segurar nas laterais do sofá.
  - Isso é pior ainda! – Zayn riu e me puxou um pouco mais.
  - Para de me puxar! – Eu não conseguia parar de rir e isso dificultava a minha tentativa de me segurar.
  - Peça desculpas por rir de mim!
  - Nunca! – Eu tentava mexer as pernas para me soltar, mas Zayn era muito forte. – Me solta! Solta!
  - Te soltar? Tudo bem. – Zayn deu de ombros e soltou as minhas pernas. O problema é que eu estava com metade do corpo fora do sofá, então eu acabei caindo de qualquer jeito.
  - Zayn! – Reclamei assim que caí de bunda no chão.
  - Opa. – Ele riu.
  Como vingança, eu agarrei as pernas dele assim que ele tentou andar, o que acabou rendendo na queda dele. Eu dei uma risada do tipo: “Muahaha” e ele ficou me olhando sem acreditar no que eu havia feito. Eu sabia que poderia ter o machucado e isso me preocupou por um tempo, mas a risada dele me tranquilizou. Entrei no riso e fiquei de joelhos para levantar do chão. Zayn não permitiu que eu me afastasse e me puxou pela mão, fazendo-me cair deitada no chão. Ele subiu em cima de mim, mas sem fazer peso. Seu rosto estava a centímetros do meu.
  - Será que você poderia parar de me derrubar? – Perguntei. Meus olhos estavam passeando pelo rosto perfeito do garoto e meu lugar preferido, naquele momento, a boca avermelhada dele. 
  - Ou então você vai fazer o que? – Me desafiou e notou a direção do meu olhar, o que o fez se aproximar ainda mais e tentar encostar os lábios nos meus. Eu virei o rosto na mesma hora e ele beijou a minha bochecha. 
  - Ou então eu nunca mais te beijo! – Aquilo era algo difícil até pra mim, mas era a única coisa que eu tinha pra usar contra ele. 
  - But if you deny me one of your kisses... I don’t know what I’ll do. (Mas se você me negar um de seus beijos, eu não sei o que farei) – Zayn cantarolou e me deixou sem reação. 
  - Você cantou uma música do McFly? – Pisquei algumas vezes.
  - Um passarinho verde me contou que é a sua banda preferida, então... – Ele sorriu. Eu estava maravilhada com aquilo.
  - Sendo assim, você pode me derrubar quantas vezes quiser. – Ri e toquei o rosto dele com a ponta dos dedos.
  - Eu prefiro te beijar quantas vezes eu quiser. – Zayn também riu e encostou o nariz no meu, em um beijo de esquimó.
  - Concordo. – Sussurrei.
  Após o meu sussurro Zayn finalmente acabou com toda a distância entre nossos lábios e os juntou. Passei meus dedos entre os cabelos dele, entreabrindo os lábios para dar início ao beijo lento. Assim como na sala de música, aquele momento entre nós dois foi calmo e tinha uma carga emocional muito grande. Eu sentia um frio na barriga que também não sabia explicar, mas gostava. O menino estava em cima de mim e uma de suas mãos acariciava a lateral do meu corpo enquanto a outra tocava o meu rosto. Nossas bocas se encaixavam perfeitamente. O chão de madeira devia estar frio, mas quando eu estava perto de Zayn tudo que conseguia sentir era calor. Não necessariamente o calor sexual, mas sim um “aquecimento”, aquele conforto que eu tinha só de estar ao lado dele.
  - Ora, ora, ora, o que temos aqui? – Dorota estava parada na entrada da sala e nós nos separamos um pouco.
  - Nada, Dora! – Me senti envergonhada e cobri o rosto com as mãos. Eu não me importava de ter sido flagrada pelo meu irmão, ou por meus amigos, mas com ela era diferente. A mulher que havia trocado as minhas fraldas e praticamente me criado... Era estranho.
  - Nada? É assim que vocês jovens estão chamando hoje em dia? – Ela riu.
  - O almoço está pronto? – Mudei de assunto e finalmente consegui olhar pra ela. Zayn já estava em pé e me olhava com um sorriso sapeca no rosto. Aposto que ele estava achando graça da minha timidez.

Capítulo XXII

  O fim de semana chegou e trouxe com ele a preguiça. Passei praticamente o sábado inteiro lendo revistas na cama e atendendo as ligações de , que sempre me fazia um convite e eu recusava todos. Não queria ter que tirar o pijama quentinho e sofrer em cima de um salto alto só porque ela queria ir para um bar, ou algo assim. Meu notebook estava aberto ao meu lado e de vez em quando eu passeava pelo Tumblr e Twitter, mas nada que me prendesse por mais de cinco minutos. Enquanto eu terminava de ler uma coluna sobre esfoliação de pele, uma janelinha apitou no meio da tela do meu computador. Me assustei mais ainda quando vi que era uma chamada no Skype e quem estava me ligando era Zayn.
  Eu não sabia muito bem o que fazer. Fiquei nervosa e afastei as revistas para o lado e coloquei o notebook em minha frente. Passei as mãos pelos meus cabelos e tentei arrumá-los da melhor forma que pude. Quer um conselho? Não lave o cabelo e depois passe a tarde inteira deitada em cima dele, porque o resultado final é um cabelo amassado e desgrenhado. O melhor que eu pude fazer foi amarrá-lo em um coque alto e torcer para que a minha webcam não me deixasse tão esquisita. Aceitei a chamada e esperei as câmeras carregarem.
  - Vas happening? – Zayn fez uma voz engraçada. Ele também estava no quarto dele, deitado de bruços na cama.
  - Oi, Malik. – Sorri. – Juro que ainda vou entender essa sua frase de efeito.
  - Se é frase de efeito, não precisa ser entendida. – Ele riu. – Só apreciada.
  - Hmm, que filosófico! – Também ri. – Tudo bem com você?
  - Tudo ótimo, . E por aí?
  - Estou bem! Passei o dia inteiro sem fazer nada. – Gargalhei da minha preguiça e encostei em um travesseiro.
  - Eu percebi. O único jeito pra eu te ver hoje foi por trás de uma tela de computador. – Zayn mudou de posição e deitou de lado, apoiando o cotovelo na cama. Garotos que usam regata deveriam ser proibidos de flexionar o bíceps daquela maneira.
  - Eu sei, Z. Desculpa. – Fiz um bico de lado. – Sentiu a minha falta?
  - É claro que senti. Quem você acha que mandou a te ligar o dia inteiro?
  - Zayn Malik admitindo sentir falta de alguém? Isso é novidade pra mim. – Afastei um pouco o computador e me deitei de barriga pra baixo no colchão.
  - Você não é só alguém, . – O sorriso que seguiu a sua fala me fez desejar estar ao lado dele naquele momento. Maldita preguiça!
  - Nesse caso... Por que você não passa aqui amanhã?
  - Eu já ia fazer isso mesmo, mas ainda bem que você me convidou. – Fez uma cara engraçada e eu ri.
  - Então você planejava aparecer aqui sem mais nem menos? E se eu estivesse com outro? – Perguntei me fazendo de séria, como se fosse possível acontecer algo desse tipo.
  - Ahh, é assim? – Ele também ficou sério. – Pode deixar que sempre que eu quiser te ver, ligarei com três dias de antecedência pra marcar horário. Não quero atrapalhar a sua agenda de compromissos.
  - Ai, meu Deus! – Ri alto e balancei a cabeça sem acreditar que Zayn estava realmente falando aquilo. – Para de ser idiota, Zayn!
  Nós dois rimos sem motivos por mais dez minutos. Eu não era muito fã de Skype ou outras redes sociais, porque não sabia como dar sequência a uma conversa. Se pessoalmente eu já era terrível em puxar assunto, por meios tecnológicos eu era pior ainda. Mas aquela noite com Zayn estava sendo mais do que agradável. Eu não estava mais preocupada com o meu cabelo bagunçado ou com a minha aparência desleixada, pois o que importava era a companhia.
  Uma buzina soou em um volume tão alto que até Zayn escutou do outro lado e se assustou. Devia ser o carro de algum dos vizinhos, já que o carro do meu irmão tinha um tom mais grave. Quando o som se repetiu mais quatro vezes, eu rolei os olhos e sentei na cama. Teria que ir ver que escândalo era aquele que estava acontecendo na frente da minha casa. Do jeito que aquele condomínio era cheio de frescura quanto a barulhos e regras da boa vizinhança o desavisado que continuava a “perturbar a paz” poderia se meter em problemas.
  - É melhor eu ir ver o que está acontecendo... – Tive até que falar um pouco mais alto para ser escutada.
  - Sem problemas, . Te vejo amanhã? – Zayn sorriu e acenou um “tchau” cheio de vontade de me pedir pra ficar mais um pouco.
  - Com certeza! – Assoprei um beijo e observei o sorriso dele aumentar pela última vez antes de abaixar a tela do meu notebook e encerrar a nossa sessão no Skype.
  Ainda com um sorrisinho no rosto, eu levantei da cama e corri para fora do quarto indo escada a baixo. A buzina irritante não parava de gritar e a porta de casa estava aberta. Assim que vi Liam e Harry rindo de algo no jardim eu não sabia se devia ficar mais preocupada ou me tranquilizar. Provavelmente nenhuma das duas coisas. Me juntei a eles e antes que perguntasse o que estava acontecendo, obtive a minha resposta. Louis estava dentro de um carro vermelho. Ou melhor... Ele era vermelho por baixo de toda a lama e sujeira que o cobria.
  - Finalmente você apareceu! – Harry se virou na minha direção, mas eu passei direto por ele e fui até meu irmão.
  - Surpresa! – Louis ficou em pé, aproveitando que a capota do conversível estava abaixada.
  - O que é isso? – Eu também já sabia a resposta para aquela pergunta, já que reconheceria o meu carro até embaixo d’água. – O que aconteceu com o meu bebê?
  - Eu sei que ele está um pouco sujo... Mas pelo menos chegou, né? – Lou desceu do carro e foi até onde eu estava.
  - Um pouco sujo? Parece ele estava enterrado em um pântano! – Eu não estava fazendo drama, o carro realmente estava muito sujo. Mas Louis tinha razão, pelo menos meu carrinho já estava comigo novamente e eu não teria que depender de caronas ou ônibus. – Você sabe o que aconteceu pra demorarem tanto pra entregar? Paris não é longe daqui.
  - O dono da transportadora disse que tiveram alguns “problemas”, mas não entrou em detalhes. – Ele falou e me entregou as chaves. – Podemos levar ao lava-jato amanhã e ele vai ficar novinho em folha.
  - Tudo bem. – Murmurei baixinho. – Vai ficar tudo bem, meu amor...
  - Ela está mesmo falando com o carro? – Escutei Liam perguntar para os meninos, mas preferi ignorar.
  - Você ainda não viu nada. – Harry foi quem respondeu. – Esse carro é realmente um bebê pra ela.

+++

  Do que adianta ser um domingo se você não consegue dormir até tarde? Foi com esse pensamento que eu acordei bufando naquela manhã. Não que eu estivesse irritada, muito pelo contrário, mas estava planejando dormir até a hora do almoço. Infelizmente a imagem do meu carro totalmente sujo estacionado ao lado de fora da minha casa me assombrava ao ponto de não me deixar dormir. Não, eu não sou uma louca por limpeza que chega a ter pesadelos se algo estiver minimamente fora do lugar, mas meu carro era algo precioso pra mim. Eu o tinha desde os dezessete anos, quando ganhei de meu pai como presente de aniversário. E não era só um veículo ou meio de transporte; era um símbolo de independência que me permitia ir para qualquer lugar sem precisar de ninguém. Como meus avós sempre confiaram muito em mim, eles não ficavam perguntando para onde eu ia ou de que horas estaria em casa novamente... Então era perfeito só pegar o carro e sair dirigindo sem destino. Por isso e outras coisas eu tinha um carinho e cuidado muito grande com o meu “bebê”, como gostava de chamar.
  Aceitando que eu não conseguiria voltar a dormir, me sentei na cama e levantei devagar. Caminhei até a janela e abri as cortinas. O Sol não estava brilhando no céu porque era coberto por nuvens acinzentadas, mas o dia não estava feio. Era apenas mais uma manhã normal e fresca. Estiquei os braços para me espreguiçar e uma idéia me ocorreu. Eu poderia usar aquela manhã que não estava tão fria para lavar o carro! Seria mais barato do que levar para um lava-jato e eu com certeza teria mais cuidado e dedicação do que qualquer um. Além do mais, seria divertido. Fui até o banheiro e fiz a minha higiene matinal. Prendi os cabelos em um coque baixo e usei uma faixa para segurar a minha franja, partindo para o closet em seguida. Peguei o primeiro bíquini que achei em uma das gavetas e também vesti um short jeans por cima.
  Os outros moradores ainda estavam dormindo (sorte a deles!) então a casa inteira estava em silêncio. Desci as escadas tranquilamente até chegar à cozinha. Em algum lugar dali eu teria que encontrar produtos de limpeza. Comecei a procurar nos armários, vasculhando de um em um, até achar um balde, uma esponja e uma espécie de sabão líquido. Aparentemente eu tinha tudo que precisava para começar o meu trabalho. Parti para o lado de fora da casa e lá estava o meu carro coberto pela lama. Antes de qualquer coisa, usei o controle do carro para subir os vidros e a capota, já que pretendia lavar apenas o lado de fora. Achei a mangueira que usávamos para regar o jardim quando não chovia largada na grama e usei-a para encher o balde. Também usei o jato da mangueira para tirar o excesso de sujeira e boa parte da lama que já havia secado e formado algumas crostas duras que dariam muito mais trabalho para sair manualmente.
  Demorei pelo menos meia hora pra limpar as laterais do carro, incluindo os vidros e detalhes das portas. Minhas pernas tinham manchas de lama e meu corpo estava úmido. Não cheguei a ficar molhada literalmente, mas sempre que os respingos de água batiam na minha pele eu tinha um arrepio de frio. Com a esponja na mão, eu espalhei um pouco de sabão na tampa da frente do carro e comecei a esfregar. Meu braço estava doendo, mas eu não podia parar.
  - Bom dia, . – A voz de Liam me fez virar em sua direção. Ele estava parado na varandinha de casa e tinha uma caneca na mão.
  - Bom dia, Leeyum! – Sorri, parando o que estava fazendo por um instante.
  - Acordou cedo hoje. – O menino ainda estava meio sonolento e começou a se aproximar. Eu pude sentir o cheiro do café que ele estava bebendo. – Você realmente não conseguiu esperar pra limpar o carro, né?
  - Você conseguiria? – Coloquei uma mão na cintura e ri baixo. – Meu carro é lindo demais pra estar todo sujo!
  - É realmente um bom carro... Conversível, fácil de dirigir e a direção é do lado esquerdo!
  - Graças a Deus é do lado esquerdo, porque eu nunca vou conseguir dirigir os carros ingleses. É estranho demais. – Me inclinei um pouco e voltei a trabalhar. Não tinha tempo a perder.
  - Já tentou? Não é tão ruim depois que você pega o jeito. – Liam começou a rodear o meu carro, estudando-o.
  - Uma vez só, mas, mas... – Bufei pela minha falta de argumentos. – Agora eu não preciso tentar!
  - Um dia eu te mostro e você vai ver que não é um bicho de sete cabeças. – Ele virou a caneca e terminou a sua bebida. – Quer ajuda?
  - Achei que nunca ia oferecer! – Eu ri. – É claro que sim. Você pode ficar com a parte de trás e eu termino essa que já comecei.
  - Tá bem! – Sem mais nem menos Liam tirou a camisa, ficando apenas de bermuda. Admito que o olhei na hora em que fez isso, mas desviei o olhar antes que ele notasse.
  O meu ajudante deixou sua caneca de lado, pegou a mangueira e começou a trabalhar. Eu estava bem concentrada no meu próprio serviço e limpava o vidro do carro. Muitas vezes eu tive que praticamente me deitar em cima do capô para alcançar os lugares mais afastados e acabava me molhando. Liam tinha sorte de ser alto, mas isso não o dava o direito de ficar rindo de mim quando eu quase escorregava por causa do sabão.
  - Hey, . – Ele me chamou. – Está usando a esponja?
  - Por enquanto não... Troca pela mangueira?
  - Manda! – Liam pediu e eu atirei de qualquer jeito a esponja cheia de sabão pelo ar. Ele foi pego de surpresa, mas conseguiu pegar o objeto. O problema é que, com o susto, o menino acabou segurando com muita força e espirrou espuma no próprio rosto. – !
  - Desculpa! – Não consegui segurar o riso. – Você é que disse “manda”!
  - Mas não falei isso pra você jogar como uma doida! – Fez uma careta enquanto limpava o rosto.
  - Se você prestasse atenção, isso não teria acontecido. – Joguei a cabeça para trás e gargalhei alto. Minha barriga até doeu do tanto que eu estava rindo.
  - Pare de rir! – Liam reclamou e me pegou de surpresa ao apertar o “gatilho” da mangueira e espirrar uma quantidade razoavelmente grande de água em mim.
  - AI! – Gritei por não estar esperando aquele golpe baixo. – Isso não vale!
  - Ah, não é? – Algo no olhar dele me disse que eu não gostaria do que estava por vir.
  Ele mirou em mim novamente e tentou me acertar com o jato de água. Felizmente, pra mim, abaixei rápido o suficiente e consegui escapar. Liam não desistiu e correu atrás de mim, me fazendo correr na direção oposta a dele. Para ser mais exata, ele ficou de um lado do carro e eu do outro.
  - Liam, para de brincadeira! – Me abaixei usando a janela do carro como escudo. Ele estava rindo e eu também.
  - Não é brincadeira. É vingança! – Ele gritou e tentou me acertar novamente, correndo mais uma vez.
  - Sai daqui! – Gargalhei e também corri.
  Minha sorte é que a mangueira já não tinha mais como esticar e Liam teve que recuar. Aproveitei para dar a volta completa no carro e pegar o balde cheio que tinha deixado na grama. Não contei com a rapidez de Liam e senti a água gelada molhar a parte de trás do meu short e minhas pernas. Gritei mais uma vez e me virei pra ele. Na primeira oportunidade que tive, joguei a água do balde e o atingi em cheio. Pelo menos agora ele estava tão molhado quanto eu.
  - Você vai ver só! – Liam pegou a esponja que havia caído no chão e a jogou em mim.
  - Socorro! – Não sei exatamente pra quem eu gritei por socorro, mas naquela altura não estava preocupada em fazer sentido. Eu me cobri tentando proteger o meu rosto e a esponja acabou atingindo a minha barriga. – Fui atingida!
  - É assim que nos vingamos em Wolverhampton! – Comemorou todo cheio de si e eu peguei a esponja mais uma vez e a atirei nele. Acabei atingindo o seu rosto e Liam parou de me perseguir, cobrindo um dos olhos e fazendo uma careta de dor. – Meu olho!
  - Você tá bem? – Me preocupei de verdade, correndo até ele. – Li, me fala!
  - Ahá! – Ele gritou ao tirar a mão do olho. O sem graça estava brincando o tempo todo e eu havia me preocupado pra nada.
  Não sabia se batia nele por ter me assustado ou se corria dele. Optei por essa segunda opção e me virei de costas para tentar fugir. Liam foi mais rápido, pra variar, e me abraçou pela cintura, levantando os meus pés do chão. Foi uma cena bem parecida com o dia na piscina, quando ele me carregou e me jogou na água, mas a diferença era que ele não tinha onde me jogar, então ficou me girando enquanto eu me debatia e morria de rir. O mais forte também estava rindo e nenhum de nós notou que um carro prateado já havia sido estacionado atrás do meu e uma figura masculina se aproximava.
  - Parece que você não mentiu quando disse que estaria com outro. – A voz de Zayn fez Liam parar de girar e eu senti o estômago gelar de susto.
  - Você chegou! – Me separei de Liam e sorri para o recém chegado. Eu não havia me esquecido que ele viria me ver, só não sabia a hora que ele apareceria.
  - Hey... – Liam o cumprimentou um pouco tenso.
  - Cheguei sim. – Zayn ignorou o meu outro amigo e eu senti a tensão crescer ainda mais.
  - Liam estava me ajudando a lavar o carro. – Expliquei. Não que eu devesse alguma explicação, mas era óbvio que Zayn não havia gostado nada do que viu.
  - Eu vou entrar... – Liam falou baixo e se retirou. Não sei se ele queria não piorar as coisas ou se estava querendo evitar assistir alguma troca de carinho entre eu e Zayn.
  - Só porque eu cheguei? – Zayn comentou com ironia e eu o reprovei com o olhar.
  - Não faz assim! – Me aproximei. – Ter ciúme não combina com você.
  - Não é ciúme! – Reclamou, mas eu não o dei ouvidos.
  Fiquei na ponta dos pés e o segurei pelo rosto com as duas mãos. Não queria acabar entrando em uma discussão boba e, principalmente, estava com saudade dos lábios dele nos meus. Não me aproximei muito porque não queria molhá-lo também, mas Zayn não pareceu se importar ao me abraçar com força pela cintura. Eu sorri assim que nossos lábios se encontraram e fechei os olhos. Zayn devia estar tentando me engolir, porque deu início ao beijo com tanta vontade e quase violência que eu me assustei. Era o jeito dele de provar para si mesmo que eu estava com ele naquele momento e não pertencia a mais ninguém. Cada dia que passava, Zayn me ganhava e me conquistava mais um pouco. Eu já não conseguia tirá-lo do meu pensamento e as tais “borboletas no estômago” pareciam mais pombos gigantes. Eu tinha medo de dar nome àquele sentimento que estava florescendo e não queria me precipitar, mas às vezes era difícil ignorar. Preferi parar de pensar em qualquer coisa e apenas prestar atenção no nosso beijo. Eu retribui da melhor forma possível, mostrando pra ele que também tinha toda aquela vontade que ele sempre fez questão de demonstrar. Aos poucos a velocidade foi diminuindo, como se ele começasse a ficar mais calmo. Eu passei a mão direita entre os fios escuros do cabelo de Zayn e o abraço em minha cintura afrouxou, mas não se desfez. Quando as nossas respirações já estavam ofegantes, nos separamos com um pouco de relutância.
  - Eu preciso de um banho. – Foi a primeira coisa que eu consegui falar e Zayn sorriu cheio de segundas intenções.
  - Precisa, é?
  - Não nesse sentido, idiota! – Ri e dei um tapinha em seu ombro.
  - Não importa o sentido, . Posso te ajudar em todos que você quiser. – Piscou.
  - Eu sei tomar banho sozinha, Malik. – Rolei os olhos, mas sorri. Me afastei e comecei a andar na direção da entrada de casa.
  - Você já me deu banho! – Ele me seguiu. – É justo.
  - Mas é diferente, porque você estava bêbado! – Aparentemente ele ainda iria insistir bastante.

+++

  “TOC TOC” Alguém batia na porta do meu banheiro pela quarta vez. Desde que eu comecei a tomar banho fui incomodada primeiro por Harry, avisando que chegou, em seguida Zayn veio perguntar se eu tinha me afogado e Louis foi o terceiro, mas eu não entendi muito bem o que ele queria. O importante mesmo é que todos eles estavam atrapalhando o meu momento de banho. Eu já estava vestida quando fui interrompida pela última vez, mas ainda estava secando o cabelo.
  - Quem é agora? – Perguntei alto o suficiente para o som da minha voz não ser abafado pelo barulho do secador.
  - Sou eu. – Liam respondeu.
  - A porta está destrancada, Li. Pode entrar. – Deixei o secador de lado e peguei a escova de cabelo.
  - Você está vestida? – Ele perguntou ao abrir a porta e espiar por uma fresta.
  - Não, Liam. Eu vou deixar você entrar aqui enquanto eu ainda estou pelada. – Ironizei, mas não fui grossa. – Claro que estou vestida, besta.
  - Só estava me certificando, oras! – Liam riu e entrou no banheiro. – Você está linda.
  - Mas eu nem estou arrumada! – Olhei o meu reflexo pelo espelho. Não, eu não estava “linda”; estava super simples. – É só um vestidinho...
  - , quando alguém te faz um elogio, você deve aceitar, sabia?
  - Desculpa. – Fiz um biquinho. Eu tinha essa mania chata de “não aceitar elogios”, ou não saber como responder a eles. – Então obrigada pelo elogio!
  - Bem melhor. – Cruzou os braços e continuou me olhando. – O Zayn falou alguma coisa?
  - Sobre o quê? – Assim que terminei de arrumar o cabelo e prender a minha franja de lado com uma presilha, comecei a passar o lápis de olho.
  - Sobre nós. Digo... Sobre mim, ou o que ele viu quando chegou.
  - Não falou nada, Li. Não precisa se preocupar com isso. – Coloquei o lápis de lado assim que meus olhos claros estavam bem marcados. Borrifei um perfume no meu pescoço e pulsos. – E também não tinha nada de mais...
  - Talvez pra você não tenha. – Ele falou baixo e eu o encarei.
  - Como assim?
  - Olha, ... – Liam fechou a porta e nós ficamos dentro do banheiro. Eu não estava entendendo o que ele queria, mas seu olhar era sério. – Eu não consigo mais fazer isso. Não consigo mais fingir que não sinto nada por você.
  - Mas, Liam... – Tentei interrompê-lo, mas ele me fez parar de falar ao colocar o indicador sobre os meus lábios.
  - Por favor, me deixa terminar. – Falou em um suspiro e eu balancei a cabeça em afirmação. – Eu gosto de você, , muito. Você é uma garota incrível e eu nunca conheci ninguém assim, com todas as suas pequenas manias... Desde que eu te vi naquela estação de trem, não consigo pensar em outra coisa. Eu tentei não fazer disso uma grande coisa, por nós morarmos na mesma casa e você ser a irmã do meu melhor amigo, por isso me envolvi com a Candice. Mas não adiantou. Eu devia ter falado tudo isso antes e te chamado pra sair, mesmo que você dissesse não, mas eu fui um idiota por ter esperado até agora. E eu sei que você está com outro e não se preocupe, porque eu não vou fazer nada pra atrapalhar. Mas tenha certeza que eu não vou desistir.
  Eu não sabia o que responder, não sabia o pensar, não sabia o que fazer. Não esperava por aquela declaração e ele devia saber disso. Liam deixou um beijo na minha testa e saiu do banheiro com um pequeno sorriso. Devia se sentir aliviado, de certa forma, por finalmente descarregar tudo aquilo que estava guardando de mim. Minha maior preocupação é que aquilo mudasse a nossa amizade. Eu não queria que o clima entre a gente ficasse entranho e não queria ser tratada de forma diferente. Para mim as coisas estavam perfeitas como estavam. Também não queria ele me “esperasse”. Não seria justo com ele e nem comigo. Fiquei me olhando no espelho, estudando a minha expressão de espanto. Não nego que as palavras do meu amigo mexeram comigo, mas ao mesmo tempo eu preferia que Zayn tivesse falado aquelas coisas em seu lugar. Ótimo, eu estava confusa. Confusa com tantas coisas que nem mesmo conseguia definir o motivo da minha confusão.
  Como ficar ali sozinha não iria resolver absolutamente nada, resolvi sair do quarto e me juntar aos meninos. Assim que cheguei à sala, encontrei Zayn sozinho no sofá. Nenhum sinal dos outros três meninos, o que era muito estranho.
  - Olha quem finalmente apareceu! – Zayn sorriu ao se levantar e andar ao meu encontro.
  - Eu nem demorei muito. – Fiz um bico e o abracei assim que ele se aproximou o suficiente.
  - Tá tudo bem, ? – Me abraçou de volta e beijou o topo da minha cabeça.
  - Está sim. Porque não estaria? – Ri nervosa. Era melhor mudar de assunto... – Onde está todo mundo?
  - Eles foram para alguma praça, se eu entendi bem. Estão nos esperando lá. – Separamos o abraço e Zayn me guiou para a porta. – Vamos?
  - Ahh, sei qual é a praça! – Sorri ao me lembrar do dia em que Lou tentou me ensinar a andar de patins. – Vamos.
  Zayn me deixou passar primeiro e fechou a porta da minha casa assim que saímos. O jardim estava bem mais arrumado do que eu o havia deixado quando fui tomar banho e alguém tinha terminado de lavar o meu carro. Algo me dizia que eu já sabia quem. Fui despertada dos meus pensamentos quando Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os dedos nos meus. Caminhamos de mãos dadas pela calçada enquanto eu indicava o caminho que deveríamos seguir para chegar até a praça. O garoto ria ao meu lado falando que aquele condomínio era enorme e que alguma celebridade deveria morar por ali e eu não sabia.
  - Quem sabe você se muda pra cá quando ficar famoso! – Brinquei. – E aí sim eu vou conhecer uma celebridade.
  - Quem disse que eu vou me lembrar de você quando ficar famoso?
  - É claro que vai! Como você acha que eu vou aparecer nas capas de revistas se não me aproveitar da sua fama?
  - Que aproveitadora! – Ele gargalhou. – Eu sei que você não faria isso.
  - E eu sei que você não esqueceria dos velhos amigos. – Soltei a mão do menino e o abracei de lado. Zayn passou o braço por cima dos meus ombros e continuamos o resto do caminho naquela posição.
  - Você acredita, ? Que um dia eu vou ficar famoso? Não só pela fama... Mas você acha que eu serei reconhecido pelo meu trabalho? – Zayn ficou pensativo e até um pouco aéreo. Eu teria dado tudo pra saber o que se passava naquela cabecinha.
  - É claro que sim! – Parei de andar ao notar que ele estava cabisbaixo. – É o seu sonho, não é? Então por que não daria certo? Você tem talento e pode conseguir tudo que quiser.
  - Eu queria ter essa sua certeza. – Ele encarou os próprios pés e eu fiquei na frente dele.
  - Hey... – Delicadamente apoiei o indicador embaixo do queixo bem definido de Zayn e o fiz olhar pra mim. – Eu não quero que você duvide disso, ok? Porque o seu futuro vai ser brilhante e qualquer um pode ver isso. Hoje você pode estar aqui... Mas amanhã vai estar no topo do mundo.
  - Você vai estar lá comigo? – Um sorrio apareceu enquanto ele me escutava. Zayn acariciava a minha bochecha com o polegar e nossas testas se encostaram.
  - Sempre. – Sussurrei.
  Fechei os olhos assim que o outro fez o mesmo e encostou os lábios nos meus. Ficamos naquele selinho por alguns segundos até começarmos a mexer os lábios e aprofundar o contato. Zayn desceu as mãos pela lateral dos meus braços e parou ao entrelaçar nossos dedos mais uma vez. O beijo não durou muito, mas foi o suficiente pra me provar aquilo que, no fundo, eu já sabia. Toda a confusão foi embora da minha cabeça e eu sabia o que queria; ele. Parecia certo, parecia “feito pra ser”. Demorei um pouco mais para abrir os olhos e, assim que o fiz, encontrei-o sorrindo pra mim. Um sorriso que falava mais que qualquer palavra, que qualquer declaração. Eu me sentia bem, confiante e feliz. Não sorrir de volta foi impossível.
  Voltamos a caminhar e não falamos mais nada. O silêncio que se estabeleceu entre nós era confortável e um quase podia ler o pensamento do outro. Trocávamos olhares de vez em quando e sorrisos cheios de significado surgiam.
  - Até que enfim vocês chegaram! – Louis foi o primeiro a notar a nossa aproximação. – Eu já estava indo atrás de vocês.
  - Preguiçoso do jeito que você é, Lou? Seria mais fácil você mandar o Harry. – Falei enquanto andávamos até a parte da grama em que os meninos estavam sentados. Eu evitei um pouco olhar para Liam, mas notei que ele segurava um violão.
  - Talvez. – Meu irmão riu e abriu a roda para que nós pudéssemos sentar com eles.
  Eu me sentei ao lado de Harry e Zayn sentou entre eu e Lou. Liam estava na minha frente e sorria como se nada estivesse acontecendo, o que me tranquilizou um pouco. Harry falou que eles estavam cantando e que Liam estava esperando para mostrar a nova música que tinha escrito. Eu me lembrava dele comentando que estava trabalhando em algo e que mostraria quando estivesse pronta, então aquele devia ser o momento.
  - Essa é aquela música que você estava escrevendo? – Perguntei.
  - É sim, . – Sorriu, afinando o violão.
  - Você escreve muitas letras? – Zayn foi quem perguntou. Eu não me meti e deixei os dois conversarem, já que eu ainda queria ver os dois juntos em uma banda.
  - Algumas... – Respondeu simpático. – Eu geralmente escrevo usando experiências próprias como inspiração.
  - Isso é bom. Torna o sentimento mais autentico.
  - Dá pra vocês dois pararem de papo? Estou curiosa pra escutar essa música! – Cortei o assunto antes que fosse um pouco longe demais. Os dois só riram e Liam se preparou pra começar.
  - O nome é Loved you first. – Liam começou a dedilhar o violão e eu gelei ao escutar aquele titulo. Não deveria ser pra mim, não poderia ser pra mim.

Girl, it should be me driving to your house, knocking on your door, kissing you on the mouth.
(Garota, deveria ser eu dirigindo até a sua casa, batendo na sua porta e beijando a sua boca)
Holding on your hand, dancing in the dark.
(Segurando a sua mão, dançando no escuro)
‘Cause I was the only one who loved you from the start.
(Porque eu fui o único que te amou desde o começo)

  Liam cantou diretamente pra mim. Ele não se importava em deixar na cara, mas eu torcia para que Zayn não percebesse nada. Tentei desviar o olhar, mas não consegui. Eu estava presa naqueles versos.

But now when I see you with him it tears my world apart.
(Mas quando eu vejo você com ele, isso despedaça o meu mundo)
Because I’ve been waiting all this time to finally say it, but now I see your heart has been taken
(Porque eu estive esperando esse tempo todo pra finalmente dizer isso, mas agora eu vejo que o seu coração foi tomado)
and nothing could be worst.
(E nada podia ser pior)
Baby, I loved you first.
(Baby, eu te amei primeiro)

  Meu irmão olhava pra mim como se esperasse uma reação. Ele sabia que aquela música era pra mim e, por mais que eu não quisesse admitir, eu também sabia. Liam estava louco? Uma pessoa não pode simplesmente aparecer do nada e falar várias coisas que você não estava preparada para ouvir e depois cantar uma música como aquela. “I loved you first.”

Girl it should be me calling on your phone, saying you’re the one and that I’ll never let you go.
(Garota, deveria ser eu ligando no seu telefone, falando que você é a única e que nunca vou te deixar ir)
I never understood what love was really like, but I felt it for the first time looking in your eyes.
(Eu nunca entendi o que o amor era, mas pude sentir pela primeira vez olhando em seus olhos)
I had my chances, could’ve been where he is standing.
(Eu tive as minhas chances, podia ter estado onde ele está)
That’s what hurts the most, girl, I came so close but now you’ll never know…
(Isso é o que mais machuca, garota, eu cheguei tão perto e agora você nunca vai saber...
Baby, I loved you first…
(Baby, eu te amei primeiro)

Capítulo XXIII

  Na minha opinião o pior dia da semana era terça feira. tinha o dia de folga, então não aparecia na Academy nem que fosse paga e o intervalo dos meninos era na hora da minha única aula. Ou seja: Eu ficava sozinha durante a maior parte da manhã. Sem falar que era o dia em que eu passava duas horas trancada em uma sala com o professor Hosftheder. Ele costumava extrair tudo de mim durante as aulas particulares e estava ficando cada vez mais difícil.
  Eu estava na barra, me alongando, e o professor adorava corrigir a minha postura. Minha coluna estava totalmente reta enquanto eu levantava a perna direita e a mantinha estendida na minha frente, mas não era o suficiente. O homem tocou as minhas costas com a mão esplanada e apoiou a outra no meu abdome.
  - Você não está fazendo esforço, . – Ele falou com rispidez e eu tive que me segurar para não dar uma resposta mal educada. – Trave o abdome!
  - Eu estou tentando. – Falei ofegando. Minha perna estava queimando e eu não podia abaixá-la. Tinha um pouco de apoio porque estava segurando na barra ao meu lado, mas ainda assim era difícil.
  - Você não está tentando o suficiente! – Reclamou e apertou minha barriga e costas. – Isso, é exatamente assim.
  - Ugh. – Murmurei e voltei a perna para a posição inicial.
  - Voltaremos para a barra depois. – O professor rolou os olhos, provavelmente entediado com a minha falta de habilidade.
  - Sim, senhor. – Fui até o centro da sala e fiquei de frente para o espelho. Passei a mão pela testa, limpando um pouco de suor, e arrumei a minha saia de seda transparente na minha cintura.
  - Muito bem. Um, dois, um, dois. – O senhor Hofstheder começou a contagem e batia palmas fortes no mesmo ritmo. Eu já estava acostumada com aquilo, mas ainda achava ridículo. – E plié...
  Encostei um calcanhar no outro e coloquei as mãos na cintura. Contraí o abdome e levantei o queixo. Com a ordem do professor, flexionei os joelhos em um plié delicado. Minha sorte em ser francesa era que todos os nomes de passos de ballet eram na minha primeira língua, então mesmo que eu esquecesse o nome de um, podia só lembrar o significado da palavra e conseguia acertar. me odiava por isso e reclamava que as coisas não deveriam ser tão fáceis pra mim. Aham, fáceis. Tá bem.
  - E relevé... – Outra ordem se seguiu e eu “desflexionei” os joelhos. – Termine com um Grand Jeté e podemos voltar para a barra. É inútil continuar com esses passos que você já domina.
  Apenas afirmei com a cabeça e o professor foi para perto do espelho. Eu caminhei até a diagonal da sala e respirei fundo algumas vezes. Aquele salto seria fácil, então eu não perdi tempo. Corri até pegar impulso suficiente para pular o mais alto que consegui e estiquei os joelhos e as pontas dos pés. Meus braços foram para cima da minha cabeça em outro semicírculo. Pousei no chão novamente em cima de um pé só e mantive o outro estendido atrás de mim. Não achava aquilo muito difícil, mas o professor sempre parecia impressionado quando eu repetia o salto.

+++

  Finalmente a aula acabou e o professor me liberou. Eu segui para o banheiro do terceiro andar, pois era o que sempre estava vazio naquele horário, e já procurava o meu celular na bolsa. Eu estava exausta e meu corpo já começava a doer, mas tinha combinado com que a ajudaria a encontrar uma fantasia para ela usar na festa de Halloween que aconteceria em três dias. Eu já estava com a minha pronta e mesmo que o combinado fosse não contar para ninguém até a hora da festa, não podia deixar sozinha e sem fantasia. Ela gostava de insistir que o meu senso de moda era perfeito e que se o ballet não desse certo, eu poderia virar uma estilista famosa. De qualquer forma, passaria na casa dela para depois irmos às compras.
  Entrei no banheiro e me certifiquei de que não havia ninguém ali dentro. Deixei as minhas coisas em cima do balcão de mármore claro e disquei o número de . Coloquei no modo viva-voz. Enquanto minha amiga não atendia, eu comecei a tirar as roupas de dança; começando pela saia de seda e sapatilhas.
  - Quem é? atendeu. Pela sua voz eu senti que ela acabara de acordar.
  - Não se deu nem ao trabalho de olhar o meu nome na tela do seu celular? – Ri.
  - Ah, oi, ... Ainda estou de olhos fechados, dê um desconto.
  - Você acabou de acordar, sua imprestável? Eu devia passar aí em dez minutos!
  - Eu consigo me arrumar em dez minutos! – Ela tentou me convencer.
  - Por que será que eu não acredito nisso? – Rolei os olhos mesmo que ela não pudesse ver e terminei de tirar a meia-calça cor de rosa. – Mas tudo bem. Eu vou enrolar um pouco por aqui e passo aí em VINTE minutos, ok?
  - Vai ver o Malik? – Escutei ela rir do outro lado da linha.
  - Vou ver o Nialler. – Provoquei-a.
  - HEY! gritou e eu agradeci por não estar com o telefone na orelha. – Ele é meu, ok? Se contente com o seu moreno e deixe o meu loiro em paz.
  - Vou tentar... Mas você sabe que eu não resisto àqueles olhos azuis.
  - Se quer olhos azuis se olhe no espelho! – Ela reclamou e eu ri alto.
  - Tá bem, ruiva. – Terminei de me vestir e tirei o celular do viva-voz. – Te vejo daqui a pouco, ok? Vista algo quentinho, pois hoje está frio.
  - Certo, mãe. – Nós duas rimos. – Mande um beijo para os meninos.
  Desligamos e eu pude sair do banheiro. Aproveitando que já estava no terceiro andar, fui em direção à sala dos meninos. Eu já sabia onde todas as salas ficavam e era difícil eu me perder. Quem diria que aquela menina que não sabia por onde andar na primeira semana de aula estaria se saindo tão bem um mês depois. Cheguei até a porta da sala de música e espiei pela parte de vidro. Os meus dois amigos e o professor Ed Sheeran estavam rindo de alguma coisa. Bati levemente na porta depois de ter certeza que não estaria atrapalhando nada. Os três olharam na minha direção na mesma hora e me chamaram pra entrar.
  - Bonjour! – Os cumprimentei assim que entrei na sala.
  - Bonjour, mon chéri. – Zayn foi o primeiro a levantar e vir na minha direção com um sorriso.
  - Eu já falei que amo quando você fala francês? – Sorri abracei o mais alto pelo pescoço.
  - Não, mas é bom saber. – Seu sorriso aumentou e ele me envolveu pela cintura, deixando alguns beijos rápidos nos meus lábios.
  - Nós deveríamos ter falado com ela primeiro. Agora os dois não vão se soltar. – Niall falou para Ed e eu acabei rindo, me separando de Zayn.
  - Você sabe que é o meu loiro preferido, Nialler. – O irlandês se levantou e eu o abracei.
  - Ainda bem! – O menino riu e eu passei para o último.
  - E você é o meu ruivo preferido, Ed. – Também o abracei.
  - Aposto que sou o único que você conhece. – Brincou, mas era meio que verdade, já que ele era o único ruivo que eu conhecia.
  - Isso é detalhe!
  - Além do mais, só eu posso ser o preferido dela. – Zayn passou os braços em volta dos meus ombros de forma possessiva.
  - E você é, Malik. – Sorri e olhei pra ele, roubando um selinho em seguida.
  - Vai assistir a essa aula com a gente? – Perguntou-me depois de retribuir o selinho. – Você é sempre bem vinda aqui, .
  - Eu sei disso... Mas vou sair com a , então só passei aqui pra dar um oi pra vocês. – Fiz um pequeno bico. Eu queria poder ficar por ali, mas não tinha como.
  - Eu posso te deixar na casa dela. – Zayn me balançou de um lado para o outro devagar, ainda sem me soltar.
  - Eu vim de carro, então não precisa.
  - Só me diz não! – Me soltou finalmente e se afastou, fingindo estar chateado.
  - Zayn! – Fui atrás dele, rindo. – Me pede algo mais fácil que eu te digo sim!
  - Me liga quando chegar em casa? – Virou de frente pra mim novamente.
  - Claro que sim.

+++

  - Get in, loser. We’re going shopping! – Me senti a própria Regina George ao parar o conversível na porta do prédio de . Ela já estava me esperando por ali e riu da minha cara.
  - Eu já falei que amo o seu carro? – sorriu e pulou para dentro do carro sem nem abrir a porta. A capota estava abaixada, então ela não teve dificuldade. – E eu sempre quis fazer isso! Me sinto em uma série de TV americana!
  - Se estivermos em Gossip Girl, eu sou a Serena. – Ri da animação da minha amiga e dei partida no carro.
  - Eu sou a Blair então? Ela é diva! – Arrumou os óculos escuros nos olhos e fez uma cara de metida.
  - Imagino o Niall falando: “Eu sou... Chuck Bass.” – Gargalhamos alto. Sim, nós duas éramos muito idiotas quando estávamos juntas.
  Rodamos alguns quilômetros até achar uma loja de fantasias que parecesse de boa qualidade e eu estacionei o carro. foi a primeira a descer, já tagarelando sobre as idéias que teve para sua fantasia e pedindo a minha opinião. Nós entramos na loja e uma moça bem bonita veio nos atender. A ruiva logo a dispensou, falando que eu era toda a ajuda que ela precisaria e me senti levemente envergonhada. A moça só estava fazendo o trabalho dela, oras! Antes de se afastar, a funcionária nos deu uma dica e falou para subirmos até o segundo andar, porque lá era onde as melhores fantasias estavam. A agradecemos e partimos para a escadinha bem escondida no fundo da loja.
  Ao chegarmos ao final da escada em espiral, encontramos um mar de fantasias. Várias araras atoladas das mais variadas roupas coloriam o depósito. Eu tinha certeza que encontraríamos todos os tipos de coisa ali dentro e meus olhos brilharam. Sabia que não estava ali por mim, até porque a minha fantasia já estava bem guardada no closet, mas não resisti a um sorriso.
  - Vamos à luta! – partiu para um lado e eu a segui.
  - Você pelo menos tem alguma idéia do que quer, ? – Perguntei-a, começando a vasculhar entre os cabides. Seria mais fácil encontrar o que estava procurando se soubesse o que estava procurando.
  - Quero algo sexy e criativo. – Ela também passava de uma fantasia para a outra.
  - Eliminou bastante! – Rolei os olhos.
  Nós duas ficamos atravessando de um lado para o outro e eu mostrava algumas fantasias que achava interessante. Claro que recusava todas. Encontrei fantasias que iam desde Sininho até Darth Vader. Ofereci uma fantasia de Ariel e até falei sobre as duas serem ruivas, mas ela rejeitou. Disse que achou legal a parte de escolher uma ruiva, mas que uma sereia seria muito simples. Pois é, eu também não concordo com ela, mas fazer o que? foi para uma arara e eu a acompanhei, ficando do outro lado da mesma arara.
  - ... – Queria contar pra ela sobre a declaração de Liam no meu banheiro.
  - Sim? – Me olhou por cima dos cabides.
  - O Liam disse que gosta de mim. – Falei rápido. Ficar enrolando só iria piorar.
  - Qual a novidade? – Deu de ombros. – A gente já sabia disso.
  - Sim, mas dessa vez ele falou diretamente pra mim. Sem enrolar. Me olhando nos olhos.
  - SÉRIO? – Finalmente ela demonstrava alguma emoção. – O que ele disse? O Z. escutou?
  - Sério... – Suspirei. – Ele falou que gosta de mim e que não vai desistir, mesmo sabendo que eu estou com outro. E é claro que Zayn não sabe disso... Eu fiquei com medo de contar e ele se afastar. Pra piorar, Liam cantou uma música que supostamente escreveu pra mim e que fala sobre uma menina que ele amou primeiro, mas que já é de outro. E o Zayn escutou, mas acho que não percebeu nada, porque o resto do dia acabou bem...
  - Uau. – digeria aquelas informações. – E você se sentiu balançada com o que o Liam falou?
  - Na hora eu achei que sim... – Parei um pouco de olhar as fantasias e fitei a minha melhor amiga. – Mas depois que eu vi o Zayn... Tudo se encaixou.
  - Isso é bom, ... – sorriu. – Posso te fazer uma pergunta, mesmo que já saiba a resposta?
  - Claro.
  - Você está... Apaixonada pelo Zayn? – Perguntou finalmente.
  Eu não gostava de usar palavras tão fortes para definir, mas tinha feito exatamente aquilo. Talvez por medo de me iludir, ou de me precipitar. O caso é que nem na minha própria cabeça eu usava a expressão “estar apaixonada.” Mas chega um ponto em que a pessoa não pode mais fugir, sabe? Não pode se enganar com algo que já é óbvio. sabia a resposta para aquela pergunta e eu também.
  - Sim, ... – Respondi com a voz trêmula, olhando para um ponto fixo no nada.
  - Isso é tão fofo! – A baixinha atravessou as fantasias da arara para chegar no mesmo lado que eu estava e me abraçou. – Quando você vai contar a ele?
  - Ahn, nunca? – A abracei de volta, mas já cortei o seu barato. – E você também não vai, !
  - Tá bem... Mas então vocês nunca vão falar sobre isso?
  - Eu não sou adivinha, . – Bufei. – Só não quero acabar falando demais e estragar tudo. Eu estou gostando do jeito que estamos agora... E além do mais, não sei se ele sente o mesmo. Então vai que eu assusto o garoto? Não mesmo!
  - Mas e se ele também estiver apaixonado por você?
  - , você já olhou pra mim? – Parei com as mãos na cintura. – Eu sou só uma garota normal e sem graça. Já ele...
  - Pode parar por ai. – Me repreendeu. – Vocês já se viram juntos? Todo mundo já notou que vocês dois são um casal, . Vocês combinam.
  Rolei os olhos tentando ignorar a ruiva. Me afastei um pouco fingindo procurar alguma coisa, mas na verdade eu só queria que aquele assunto acabasse. Não queria ter que ficar escutando que eu era “boa suficiente” pra ele ou que existia a possibilidade de Zayn ter se apaixonado por mim. Tudo que eu queria era encontrar logo a fantasia de para que pudéssemos ir comer.

+++

  - Eu ainda não acredito que você achou essa fantasia, ! – me agradecia com felicidade enquanto nós duas entrávamos no restaurante. – Eu vou ficar linda e super sexy!
  - Você sempre está linda e super sexy! – Ri da minha frase, tentando parecer o menos lésbica possível. – Mas o Niall vai amar. Porque vocês dois não vão fantasiados como um casal?
  - Eu pensei nisso, pra falar a verdade. – Sentamos em uma mesa perto da parede de vidro que dividia o lado de dentro do restaurante e o de fora. – Mas ele já escolheu a fantasia que vai usar na sexta. E não, ele não me falou.
  - Mas o certo é não falar mesmo! – Comecei a olhar o cardápio.
  - Eu devia te bater por ter idéias assim!
   também pegou o cardápio dela e demoramos muito para decidir os nossos pedidos. Quando falo “muito” eu quero dizer realmente muito. O garçom foi e voltou para a nossa mesa três vezes até termos decidido. Eu pedi um prato com sushi e preferiu um peixe frito com batatas. Agora me responda uma coisa: Quem pede pra ir a um restaurante japonês e pede peixe frito? É, só ela mesmo. Mas como eu não sou de reclamar, cof cof, deixe-a ser feliz e pedir sua fritura. Também pedimos sucos de sabores diferentes que logo foram servidos em taças bem enfeitadas com pedacinhos de fruta.
  - Quando será que vão revelar os resultados da peça? – perguntou casualmente e eu quase engasguei com o meu suco.
  - Não sei... Mas também não me importo. – Fiquei brincando com o canudinho e ela percebeu que aquele ainda era um assunto delicado pra mim.
  - Desculpa, ... Não falei sobre isso por mal...
  - Sei disso, . E não precisa se preocupar. – Tentei fingir que não me importava, mas foi difícil. – Eu estou feliz por você e pelos meninos... Porque tenho certeza que vão conseguir os melhores papeis.
  - Mas e você? – Ela me olhava tentar pegar um pedaço de laranja que tinha escapado da borda do copo.
  - Eu vou estar na platéia pra aplaudir vocês. – Forcei um sorriso. – Ano que vem eu tento de novo...
  O assunto foi interrompido assim que o garçom voltou com os nossos pratos. Meu sushi parecia muito apetitoso e eu até salivei. A diferença entre a minha comida e a de era óbvia. Enquanto o meu prato estava dividido em pequenas porções coloridas, o dela estava coberto por um filé de peixe e muita bata frita.
  - Você é tão elegante, ! – Ri enquanto a ruiva enchia a boca de bata frita.
  - Blaaaaah. – Ela abriu a boca cheia de comida e eu olhei em volta, torcendo para que mais ninguém estivesse admirando aquela cena.
  - Eeeeeeeeew! Para com isso! – Tive que rir e ela acabou fazendo o mesmo, o que quase causou a sua morte por engasgamento. – Além de ser nojenta ainda não sabe mastigar!
  - Cala a boca, sua chata! – reclamou comigo enquanto ainda tentava recuperar o ar.
  - Ora você me ama por achar a melhor fantasia pra você, ora me chama de chata! Quem entende?
   me respondeu mostrando o dedo do meio e um casal de velhinhos que estava na mesa ao lado da nossa a repreendeu com o olhar. Preciso falar que ri ainda mais depois disso? Achei que não. De qualquer forma, nós duas seguimos com o nosso almoço em paz e os assuntos mais variados foram surgindo, como os planos para juntar os nossos cinco meninos em uma banda, ou sobre como seria a festa de sexta feira... E é claro que o tópico “Zayn” apareceu várias vezes, principalmente por ficar repetindo que eu havia admitido que estava apaixonada por ele.
  - Você não acha que é rápido demais? – Perguntei em um suspiro, finalmente largando meu hashi de lado. – Quero dizer... Eu não o conheço há tanto tempo assim.
  - , dá pra parar de pensar assim? Eu também “não te conheço há tanto tempo assim”, mas já tenho certeza que você é a minha melhor amiga e o amor da minha vida. – Fez aspas no ar e me fez rir do seu exagero. – E nem venha me falar que é diferente, porque não é. Quando as coisas são feitas pra dar certo, elas simplesmente dão.
  - Então me desculpe, senhorita sabe tudo!
  - De qualquer forma, é normal ter um pé atrás, então não precisa se desculpar. – sorriu pra mim de forma companheira. – Também é normal se apaixonar por alguém que está tão próximo de você. Não é como se fosse amor, certo?
  - Certo. – Respondi já um pouco mais aliviada. Talvez se apaixonar não seja algo tão complicado quanto eu estava achando e talvez não precisasse de anos de convivência para sentir um sentimento mais forte que apenas amizade. De fato não era amor... Talvez um dia esse sentimento viesse a nascer, mas quem pode falar ao certo, né? – Obrigada, . Você sempre sabe o que falar pra me deixar bem. Até parece o meu avô.
  - Sério? Então eu quero conhecer esse senhor tão genial quanto eu. – Brincou e me arrancou uma risada. Eu até podia imaginar os dois entretidos em uma conversa filosófica. Foi só pensar em Charles que meu coração apertou de saudade.
  Depois de mandar a minha dieta –inexistente, diga-se de passagem– para os ares com um pedaço gigantesco de torta de chocolate, nós duas pagamos a conta e deixamos o restaurante para trás. Os velhinhos olharam para a minha amiga da mesma forma de antes, enquanto saíamos, e dessa vez eu apanhei por rir.
  Deixei em casa e segui o meu próprio caminho em seguida. O meu relógio de pulso marcava 15h30min quando eu entrei na minha própria casa. O lugar estava completamente vazio, o que era até um pouco triste. Eu já estava acostumada a nunca ficar sozinha, então não sabia muito bem o que fazer. Resolvi ir para a sala e assistir um pouco de TV até alguém chegar, mas o que acabou chegando foi o sono.

+++

  A televisão ainda estava ligada quando eu acordei com o meu celular apitando em cima da mesinha de centro da sala. Eu levei um susto tão grande que quase caí do sofá. “Nossa, eu preciso mudar esse alerta de mensagem.” Pensei ao coçar os olhos e tentar acordar direito. Se fosse uma ligação eu teria me desesperado para atendê-la, mas como era apenas uma mensagem, quem quer que fosse poderia esperar cinco minutos. Me espreguicei e bocejei duas vezes até conseguir me mexer e sentar no sofá para poder esticar o braço e pegar o meu iPhone.
  “Tah, de quantas aboboras você precisa mesmo? – Lou.” Era o que dizia a mensagem. Por um momento achei que ele estava ficando louco, mas foi aí que eu me lembrei do que ele estava falando. Eu pedira pra ele trazer algumas aboboras pra casa quando estivesse voltando do trabalho. Iria esculpir algumas delas para usar na decoração da festa de Halloween e sabia que ao lado da agência em que ele trabalhava havia uma loja com as melhores.
  “12. Grandes de preferência. Love you. xxxxxxxx” Eu sabia que era uma quantidade grande, por isso exagerei na quantidade de “x”. Talvez aquilo amolecesse o coração de meu irmão e ele não se importasse em carregar tantas aboboras pra cima e pra baixo. Mesmo que Zayn insistisse em comprar as aboboras já prontas, eu queria fazer pelo menos algumas. Além de ser divertido passar o dia inteiro fazendo aquelas obras de arte, nós já estávamos comprando muita coisa pronta.
  Por falar em Zayn, eu havia prometido a ele que ligaria assim que chegasse em casa, mas ainda não havia o feito já que peguei no sono antes de realmente fazer qualquer coisa. Aproveitei que estava com o celular na mão e procurei o nome dele na minha agenda de contatos.
  - Vas happening, ? – Depois de três “beeps” Zayn atendeu a minha ligação daquele mesmo jeito de sempre.
  - Vas happening, Zayn. – Respondi mesmo sem saber se aquele era o jeito certo de usar aquela expressão. Coloquei as pernas para cima do sofá e deitei novamente.
  - Olha só, você está pegando o jeito! – Ele riu. – Estava com a até agora?
  - Na verdade, eu cheguei em casa há algumas horas, mas acabei pegando no sono, sabe como é... – Rolei os olhos para mim mesma e me senti idiota por não conseguir tirar um sorriso do rosto. Como aquele garoto me deixava assim só por escutar a sua voz? – Achar uma fantasia pra ela foi mais fácil do que a gente pensava.
  - E você não vai me contar qual é a sua, certo?
  - Certo! – Soltei uma risada baixa.
  - Se eu estivesse na sua frente, tenho certeza que me contaria. – Zayn falou e eu tive certeza que ele estava levantando uma das sobrancelhas, cheio de segundas intenções.
  - Como pode ter tanta certeza? – Parei de rir, mordendo o meu lábio inferior já imaginando as formas de persuasão que ele poderia usar para me arrancar informações.
  - É simples, . Você não resiste ao meu charme. – O menino disse e eu acabei rindo mais uma vez. – Ei, para de rir! Não é uma piada. Eu estou falando sério!
  - Tá bem, Malik, continue se iludindo. – Gargalhei alto, tirando uma com a cara dele.
  - Não estou me iludindo! É você que pensa que me engana. – Ele estava sorrindo do outro lado da linha, eu sabia disso.
  - Enfim! – Cortei o assunto antes que eu falasse alguma besteira por estar imaginando demais aquele sorriso perfeito. – Está tudo certo para a festa na sexta?
  - Está sim! Minha mãe vai embora na quinta e as encomendas foram confirmadas. Aliás, ... Eu queria te pedir um favor.
  - Claro, pode falar. – Preciso dizer que aceitaria qualquer coisa que ele me pedisse àquela altura?
  - É que algumas entregas estão marcadas para a manhã e como eu vou estar na aula, não vai ter ninguém em casa pra receber. – Onde ele estava querendo chegar com aquilo? – Então eu estava pensando... Quem poderia fazer isso por mim?
  - E é claro que você pensou em mim, já que eu tenho a sexta feira livre de aulas. Acertei?
  - Que bom que você aceitou, . Amanhã eu te entrego uma chave extra e te explico tudo. – Zayn encerrou o assunto mesmo que eu não tivesse aceitado ainda.
  Então, aparentemente, Zayn me emprestaria a chave da casa dele para que eu ficasse sozinha lá esperando as entregas para a festa. Ou ele tinha ficado louco de vez, ou realmente confiava em mim. Eu preferia acreditar na segunda opção. Antes que eu pudesse negar e falar que era responsabilidade demais pra mim, a porta da casa se abriu e eu escutei Louis gritando o meu nome. Provavelmente precisava de ajuda com as aboboras.
  - Já vou, Lou! – Tapei o meu celular com a mão para não deixar Zayn surdo e respondi o meu irmão. – Não, não foi com você, Zayn. É que os meninos acabaram de chegar aqui com as aboboras que eu vou esculpir.
  - Você realmente não mudou de idéia, né? Eu já te disse que poderíamos ter comprado prontas e...
  - Shh, Malik! – O repreendi. Não queria entrar naquela discussão de novo. – Eu tenho que ir, ok?
  - É o Zayn? – Louis gritou do hall de entrada, colocando duas aboboras grandes no chão. – Fale que eu mandei oi.
  - Aliás, meu irmão está mandando “oi”. – Ri. Até que eles estavam se tornando bons amigos.
  - Mande outro! – Zayn respondeu animado. – Ele vai pra festa, né?
  - Sim, todos os meninos vão. E eu nem precisei obrigar ninguém!
  - Ótimo. Oh... Eu vou te deixar ir agora, ok? Boa noite, , te vejo amanhã.
  - Até amanhã, Malik. – Desliguei o celular com um sorriso bobo.

Capítulo XXIV

  Quarta e quinta-feira passaram sem muita emoção, tirando o fato que as minhas horas livres se resumiram a esculpir aboboras e que Zayn realmente me deu a chave extra para sua casa. Niall viu o momento em que ele me entregou a chave e até fez uma gracinha, falando que nós já estávamos “nesse estágio do relacionamento”. Eu o teria mandado calar a boca se não estivesse prestando mais atenção na cara que Brigitte fez ao também assistir a cena. A oxigenada até que tinha parado de tentar me matar durante as aulas, mas ainda virava a cara pra mim quando nos cruzávamos nos corredores. Zayn comentou que ela ia atrás dele de vez em quando, mas que ele só a ignorava. Eu tentei não ligar para aquelas informações, mas foi impossível. Tive ciúmes sim, mas só o admiti para .
  De qualquer forma, a sexta-feira chegou e era finalmente o dia da tão esperada festa de Halloween. Estacionei o carro dentro da garagem da casa de Zayn, já que ele havia me dado instruções para fazer isso. O lugar estava quase vazio e a minha única companhia durante aquela manhã seria Boris, que logo veio correndo ao meu encontro por ter escutado o barulho do portão da garagem abrir e fechar. O animal provavelmente achava que era um de seus donos, mas não pareceu tão desapontado a me ver.
  - Hey, Boris! – Me abaixei até ficar na altura do bichinho e fiz carinho atrás de sua orelha. Ele balançou o rabo em felicidade e lambeu o meu rosto. Teria sido algo nojento se eu não gostasse tanto dele. – Seu pai avisou que eu viria hoje?
  Me chame de louca se quiser, mas eu sempre fui daquelas que tratam animais de estimação como pessoas. Não no sentido de vesti-los com roupas esquisitas, mas eu conseguia estabelecer uma conversa duradoura com eles, mesmo não recebendo uma resposta literal. Boris latiu pra mim e eu não consegui decifrar o que ele estava querendo dizer, mas resolvi aceitar como um latido de boas vindas. Eu me levantei e fui até o banco traseiro do meu carro, de onde tirei uma mala. Sim, uma mala. Ali dentro estava a minha fantasia e tudo que eu precisaria pra me arrumar, ou seja: Maquiagem, secador de cabelo, cremes corporais e etc. Como eu tinha me disposto a ajudar na decoração da casa, teria que me arrumar por ali mesmo, já que voltar pra casa seria perder tempo.
  Saí da garagem com Boris me seguindo e cheirando a minha mala. Ele devia estar achando que era um brinquedo, porque tentava morder as rodinhas. Algo me dizia que ele iria querer brincar com a decoração e acabar me atrapalhando. De qualquer forma, segui meu caminho até o quarto de Zayn. Iria deixar a minha mala ali, já que não tinha coragem de deixar em nenhum outro lugar. Vamos ser sinceros aqui, eu sempre fui muito desligada, então poderia acabar esquecendo alguma coisa minha naquela casa. O que seria pior: Zayn achar no quarto dele e depois me devolver, ou uma de suas irmãs e até a própria mãe dele encontrar por aí? Se você respondeu opção ‘b’, acertou! Terminei de subir as escadas e encontrei a porta do quarto de Zayn. Mesmo que eu não tivesse estado lá antes, seria fácil de achar, já que naquele corredor havia apenas uma porta com o nome “ZAYN” desenhado em spray preto.
  Meus olhos se arregalaram assim que eu girei a maçaneta e olhei aquele quarto. Em cima da cama estavam várias caixas de papelão com coisas pretas saindo pelas beiradas. Me aproximei com cuidado já esperando algum rato sair de lá e encontrei um post it amarelo colado em uma das caixas.

“Eu sabia que esse seria o primeiro lugar em que você iria, por isso deixei essas caixas aqui. São algumas coisas que você pode usar na decoração. Boa sorte, . -Z”

  Fiquei ali parada tentando organizar meus pensamentos. É, eu tinha mais coisas pra fazer do que imaginava. E o pior? Estava sozinha. Zayn só chegaria na hora do almoço e mesmo assim o trabalho maior acabaria pra cima de mim. “Isso mesmo, . Se ofereça pra ajudar!”
  - É... – Falei sozinha. – O dia vai ser longo.

+++

  Passava da uma hora da tarde e eu já estava morta de cansaço. Zayn não dera sinal de vida e eu já tinha rodado aquela casa milhões de vezes. Recebi todas as entregas de comida e as arrumei na cozinha. As teias de aranha falsas que achei em uma das caixas de papelão já estavam em lugares estratégicos e as minhas aboboras esculpidas estavam espalhadas pelo jardim de entrada, só o que faltava seria acendê-las. A empresa de luzes já tinha instalado canhões de luz no teto da sala e eu já tinha montado a pista de dança que ficaria por ali. Boris não me atrapalhou em nada, muito pelo contrário, ele foi uma companhia e tanto.
  Me joguei em um sofá que ainda estava por ali e fechei os olhos por dois segundos. Minhas pernas doíam de tanto subir e descer as escadas e meus braços estavam cansados de carregar coisas pesadas. Meu cabelo devia estar todo bagunçado e eu nunca agradeci tanto por estar usando roupas confortáveis.
  - ? – Senti um carinho na minha bochecha e abri os olhos para ver Zayn ali na minha frente.
  - Hey, você chegou! – Sorri meio sonolenta, mesmo que não estivesse dormindo.
  - Demorei? – Ele se sentou ao meu lado, sorrindo.
  - Demorou muito! – Ri ao puxá-lo para um abraço.
  - Mas eu trouxe comida. – Justificou-se e segurou o meu queixo devagar para deixar um selinho em meus lábios.
  - Então está perdoado! – Respondi já encarando a sacolas do Nando’s que Zayn trouxera. – O Niall sabe que você passou lá?
  - Na verdade sim! Ele e ficaram por lá, mas eu sabia que precisava vir aqui e te alimentar. – Ele riu e já me passou a sacola de comida.
  - Era o mínimo que você podia fazer, já que está me mantendo aqui como refém! – Brinquei e levantei do sofá, indo para a cozinha. Pois é, eu já estava me sentindo em casa.
  Zayn me seguiu e se sentou à mesa da cozinha, me observando servir a comida em dois pratos. Ele não reclamou por eu estar mexendo em tudo como se eu mesma morasse ali e até gostou por eu ter nos servido. O menino me contou como foi o dia na Academy e contou que todos que passaram por ele confirmaram a presença na festa. Até mesmo Brigitte disse que viria. Sei que a culpa de convidá-la era minha, mas talvez eu não tivesse pensado direito sobre isso.
  - E o que ela disse? – Perguntei colocando um pedaço grande de frango na boca.
  - Eu não lembro direito, ... – Zayn coçou a nuca e não me convenceu. Levantei uma das sobrancelhas e ele resolveu contar. – Tá bem... Ela disse algo como: “Te vejo mais tarde. Eu estarei vestida de Julieta e espero que você seja o meu Romeu.”
  - That bitch. – Bufei depois de engolir em seco. – Aposto que ela só falou isso porque sabia que você me contaria. E é claro que com isso ela também se referia à peça!
  - Por isso eu não queria te contar... Eu sabia que você ficaria assim. – Zayn me olhava como se pedisse desculpas por ela. Ele sabia que ela me irritava profundamente, principalmente por me odiar sem eu nunca ter dado um motivo.
  - Assim como? Eu estou normal. – Dei de ombros e forcei um sorriso que logo se transformou em uma careta. Não adiantava mentir pra ele. – Mas ela provavelmente está certa. Você vai conseguir o papel de Romeu e ela o de Julieta.
  - Não pensa assim, ... – Ele esticou a mão em cima da mesa até segurar a minha. Já havia um tempo que eu tentava me acostumar com a idéia de ter falhado no teste e já estava na hora de deixar isso pra lá.
  - Vamos esquecer isso, ok? Como está a sua comida?
  Pois é, eu sou ótima em mudar de assunto! Continuamos o almoço em paz e o assunto Brigitte não voltou a surgir. De fato a comida estava deliciosa e aquela pausa para descanso foi o suficiente para que eu recarregasse as energias e pudesse me preparar para a tarde de arrumações.

+++

  Com Zayn ao meu lado foi mais fácil pra decorar os espaços, já que ele pegava qualquer coisa pesada demais ou alta demais. A única coisa que nos atrapalhava era a dificuldade que nós dois tínhamos de ficar concentrados por muito tempo nas nossas tarefas, pois paramos várias vezes só pra trocar olhares, beijos, brincadeiras e coisas do tipo. No final do dia o nosso trabalho valeu muito à pena. O pôr-do-sol trouxe a escuridão e a atmosfera perfeita para uma noite de Halloween.
  O jardim da frente estava enfeitado com lápides que saiam da terra e pareciam de verdade, além de Jack-o’-lanterns assustadores. Quem olhasse para a casa pelo lado de fora poderia ver silhuetas como sombras nas janelas. O bar já estava montado e os funcionários que Zayn contratara para a festa estavam chegando. As luzes e máquinas de fumaça foram ligadas e a mesa de DJ fora montada na frente da ‘pista de dança’, ao lado de um mini palco onde aconteceria a premiação do Oscar no fim da noite. Garçons entravam e saiam da cozinha, já arruando as comidas em bandejas e mesas próprias para isso. Resumindo: O som já estava tocando em um volume razoavelmente alto, as decorações estavam decorando, as luzes estavam piscando, os convidados chegando e eu... Bem, eu ainda não estava nem perto de ficar pronta.
  - Tem certeza que ela não se importaria, Zayn? – Perguntei pela quarta vez ao entrar no quarto da mãe dele.
  - Claro que tenho certeza, . Pode usar o banheiro e tudo que quiser. – Ele estava parado na porta e sorria pra mim. – Eu vou estar me arrumando no meu quarto e se precisar de alguma coisa é só me chamar.
  Nem esperou a minha resposta e já fechou a porta, me deixando sozinha naquele quarto enorme. Tentei não bisbilhotar no que não era meu, mas foi impossível. Patricia tinha bom gosto de verdade. Os quadros pendurados na parede do quarto me lembraram um pouco as obras de arte da minha mãe, me deixando um pouco mais a vontade. O relógio digital do quarto mostrava que faltavam dez minutos para as oito, ou seja: Dez minutos até a hora em que a festa estava marcada pra começar. Obviamente eu não conseguiria me arrumar a tempo, mas poderia diminuir o meu atraso se parasse de olhar em volta e fosse finalmente tomar o meu banho.
  Tirei de dentro da minha mala uma nécessaire com os meus produtos de higiene pessoal. Já estava me sentindo uma intrusa ali dentro, então não iria abusar e utilizar as coisas da dona da casa. Fui para o banheiro e tentei fazer menos bagunça possível. Lavei o corpo e o cabelo da melhor forma que consegui sem demorar muito. Aproveitei para relaxar embaixo da água quente por alguns minutos. Meu dia havia sido longo e eu não queria deixar de aproveitar a festa por estar cansada demais.
Acelerando o processo: Em meia hora mais ou menos eu já estava limpa e terminava de arrumar os meus cabelos. Não tinha nada muito elaborado em mente, então apenas cacheei algumas partes do cabelo e arrematei com uma trança que ia de um lado até o outro. A maquiagem perfeita para a minha fantasia era forte, mas não muito demorada, então levei apenas uns sete minutos para terminá-la. Meu vestido preto estava cuidadosamente esticado sobre a cama e eu logo tratei de vesti-lo. Também me enfeitei com jóias, passei um perfume doce, calcei o salto e só faltavam alguns toques finais: Uma coroa preta em forma de galhos e a máscara. Olhei-me no espelho admirando a minha fantasia de Cisne Negro, constatando que estava pronta pra descer.

  
+++

  Já do lado de fora do quarto da mãe de Malik, caminhei até a escada, mas parei no primeiro degrau. Olhei para a festa que já bombava no andar de baixo e não repreendi um sorriso. Tudo parecia estar no lugar certo e as pessoas se divertiam. Eu conseguia ver de longe, já que o vestido dela era o mais chamativo de todos. Minha amiga estava fantasiada de Jessica Rabbit e fazia jus àquela personagem, pois estava totalmente sexy e perfeita. Niall estava com ela, é claro, e estava vestido de Indiana Jones. Pois é, eu fiquei tão surpresa quanto você ao vê-lo com aquele chicote e chapéu de arqueólogo. Minha atenção não estava presa no casal porque eu procurava outra pessoa: Zayn. Mas nenhum sinal dele.
  Eu me preparava para descer quando uma luz forte me cegou. Quem quer que estivesse comandando a iluminação da festa parecia ter me notado, porque me focalizou com um canhão de luz bem poderoso; diga-se de passagem. Várias pessoas começaram a se virar e olhar na minha direção. Eu não sabia se devia dar meia volta e me esconder ou se deveria descer as escadas e fazer uma entrada dramática. Escolhi a segunda opção, me sentindo o centro das atenções. Aproveitei que uma das minhas músicas preferidas estava quase no final e entrei na onda. Segurei o corrimão com uma mão e coloquei a outra na cintura; abri o meu melhor sorriso e comecei a descer devagar. Já que eu estava fazendo aquilo, faria direito. Eu podia ver algumas pessoas perguntando coisas como: “Quem é aquela?”, ou: “Você a conhece?” e tenho que admitir que eu me senti MUITO bem. Pelo visto a minha mascara conseguiu me esconder daqueles que não me conheciam tão bem, mas não de quem estava no fim da escada me esperando. Zayn finalmente apareceu e ele estava vestido bem formalmente e com uma capa presa em seus ombros. Também usava uma maquiagem no canto dos lábios que imitava sangue e eu logo constatei que ele era o Conde Drácula. Eu pude ver que ele estava sorrindo e mostrando aqueles dentes brancos perfeitos. Senti meus joelhos ficarem fracos por um momento e tive sorte de estar segurando no corrimão da escada já que, caso contrário, eu teria caído e estragado aquela minha entrada dramática.
  - Me daria à honra dessa dança? – Zayn estendeu a mão na minha direção e se curvou em uma reverência.
  - Eu adoraria. – Segurei a sua mão e ele nos guiou até a pista de dança.
  Não falamos nada com palavras, já que nosso olhar dizia tudo. As pessoas abriram caminho para nós dois e continuavam me encarando com curiosidade. Chegou a um ponto em que eu já não sabia se eles estavam admirando a minha fantasia, ou se ainda não sabiam quem eu era. Sabe aquelas cenas de filme adolescente onde os convidados da festa formam um circulo e o casal principal fica no meio? Foi mais ou menos assim que aconteceu naquele momento. A minha música de entrada acabou e deu espaço para Stay – Rihanna preencher o cômodo. Zayn envolveu a minha cintura com um braço e segurou a minha mão esquerda com a sua direita, me fazendo pousar a minha mão livre sob o ombro do menino. Nossos olhares se conectaram de tal forma que eu mal podia prestar atenção em qualquer coisa que não fosse ele. Eu era guiada pelo salão e nós dois valsamos como se fossemos os únicos por ali. De vez em quando eu sorria e sentia o meu corpo flutuar. A sensação de estar nas nuvens era desconhecida pra mim até aquele momento. Eu me sentia bem com Zayn, me sentia feliz. Eu o olhava e via quem ele realmente era. Sentia em meu íntimo que podia confiar nele e me entregar. Seu olhar me passava a segurança que eu precisava pra ser eu mesma e não me importar com meus defeitos e inseguranças. Ninguém nunca havia me feito sentir aquelas coisas e era um pouco assustador... Mas um assustador bom. Um “assustador” que não te faz querer voltar atrás e sim continuar, ver onde aquilo vai dar. De alguma forma eu sentia que aquele era o começo de algo.
  - Você está muito bonita. – Zayn me despertou de meus pensamentos ao sussurrar. Notei que já não encarava mais os olhos dele e sim os lábios avermelhados do mesmo.
  - Você também, Malik. – Sorri mais uma vez.
  Aos poucos fomos parando de nos mover e aproximamos mais os nossos corpos. Já não estávamos mais no centro da atenção de todos, pois mais pessoas voltaram a dançar, mas ainda éramos donos da atenção um do outro. Sem medo de borrar o meu batom, Zayn acabou com a distância que ainda separava as nossas bocas. Eu delicadamente envolvi a nuca dele com as mãos e dei espaço para que a sua língua fosse de encontro à minha. Borboletas selvagens tomaram conta de mim e eu senti que ele ficou arrepiado. Sendo bem sincera, eu não desejava sair dali nunca. Demos seguimento ao beijo lento, explorando cada cantinho da boca um do outro. Parecia que não nos víamos há dias, mesmo que tivéssemos passado a tarde inteira juntos.
  - Sem querer atrapalhar os pombinhos, mas já atrapalhando... – nos interrompeu. Zayn e eu nos separamos com relutância e a encaramos com raiva. – Ei, não me olhem assim! Eu tenho direito de falar com a minha melhor amiga, não tenho?
  - Não quando ela está ocupada, . – Zayn foi quem respondeu e eu só consegui rir.
  - Eu posso ficar ocupada mais tarde, Zayn. – Deixei um selinho rápido nos lábios dele só pra que perdesse o bico gigante que estava fazendo. – Mas ela está certa... Ainda tenho que falar com os convidados.
  - Mas, mas, mas...
  - Mas nada, Zayn. – A ruiva o calou e virou pra mim em seguida. – Seu irmão e os meninos já chegaram e estão perguntando por você.
  - Onde eles estão?! – Perguntei animada. Eu mal podia esperar pra ver as suas fantasias.
  - Da última vez que eu os vi, estavam lá fora. Vem, vamos procurar por eles.
   saiu me puxando pra fora da pista de dança e Zayn gritou algo como “Eu vou pegar bebidas pra gente”, mas não tenho certeza se era isso, já que a música estava realmente alta e ele estava um pouco distante. Fui desviando de pessoas aqui e ali e até consegui pegar um salgadinho ou outro das bandejas que os garçons seguravam. Saímos da casa e fomos parar na área da piscina, mas os meninos não estavam mais por ali. Paramos um pouco para olhar em volta até escutar um grito que só podia vir de uma pessoa...
  - Hey, meninaaaaaas. – Louis chamou a nossa atenção. É, ele estava ficando mais gay a cada dia que passava. Os três meninos estavam em uma parte mais afastada do jardim, sentados em uns bancos de pedra que eu nunca nem tinha notado por ali.
  - Achei eles, . – Avisei para a menina que estava indo na direção errada.
  Andei pela grama morrendo de medo de enfiar o salto fino dos meus sapatos na terra e acabar caindo. Graças a Deus eu consegui encontrar um jeito de me equilibrar direito e chegar até os meus amigos sã e salva. Eles se levantaram pra me abraçar e eu estudei as roupas de cada um. O primeiro a me cumprimentar foi Liam, que estava vestido de Batman. Aquela não foi uma surpresa tão grande, já que ele amava o super herói. Harry Styles foi o segundo que me abraçou, mas tenho que chamá-lo de Harry Potter, porque o uniforme de Hogwarts ficou muito bem nele. Meu irmão foi o último e sua fantasia me fez rir. Não existia um Danny Zuco do filme Grease melhor que ele. A jaqueta de couro, a calça colada, os sapatos brilhantes e o cabelo arrumado com muito, mas muito gel estavam perfeitos.
  - Vocês estão ótimos! – Falei assim que terminamos os abraços e cumprimentos. - Adorei todas as fantasias.
  - A sua também está ótima, . – Harry sorriu. – Nós estávamos tentando adivinhar do que você viria fantasiada, mas todos erramos.
  - Sério? E o que vocês achavam?
  - Eu achei que você seria a Mortícia Adams. – Liam voltou a se sentar e ofereceu o banco ao seu lado para que eu me sentasse.
  - Foi uma das minhas opções. – Afirmei sentando onde havia sido indicado. – E você, Haz?
  - Uma princesinha. – Respondeu.
  - Nossa, Harry! – Gargalhei. – Essa ainda é uma festa de Halloween, então eu não viria como uma princesinha.
  - Eu falei pra ele! – Louis se pronunciou. – E eu achava que você se fantasiaria de Wendy.
  - Awn, que gracinha, Lou! – Sorri pra ele. – Aposto que só pensou isso porque nós brincávamos de Peter Pan quando éramos pequenos.
  - Quem brincava do quê? – Zayn chegou com as nossas bebidas e me entregou um copo verde com as bordas sujas de “sangue”.
  - Louis e eu brincávamos de Peter Pan quando éramos menores. – Dei um primeiro gole na minha bebida. Hm, menta. – Ele era o Peter e eu a Wendy!
  - Mas isso não é meio que incesto? – Niall Indiana Jones Horan também se juntou a nós.
  - Claro que não! Eca. – Louis fez careta pra mim e eu só ri, mesmo que compartilhasse do mesmo nojo.
  - Ele tá certo, . – Harry concordou com Niall. Eles estavam loucos!
  - Não mesmo! Isso não tem nada a ver... – Tentei tirar aquela idéia da cabeça deles, mas parecia impossível.
  - Na verdade tem sim. – Zayn balançou a cabeça em afirmação. – Porque Peter e Wendy são um casal. Tem beijo e tudo.
  - Obrigada por estragar a minha infância, Niall! – Lancei um olhar feio na direção dele.
  - Hey, não culpe o meu pudincup pela sua infância incestuosa! – defendeu o namorado e causou risada em todos. Bem, em todos menos em mim e meu irmão.
  Os seis pareciam bem entretidos em discutir aquele assunto de brincadeiras infantis que não são mais tão inocentes quando crescemos. Todos e absolutamente todos pareciam dispostos a tirar uma com a minha cara toda vez que eu abria a boca pra falar alguma coisa. Aquilo me irritou de tal forma que eu preferi ficar calada e só balançar a cabeça em concordância ou discordância. De qualquer forma, eu estava mais entretida na minha bebida do que em qualquer outra coisa. O liquido não parecia tão gostoso no começo, mas assim que a sua boca se acostumava com a menta e a vodka até que ficava uma mistura bem gostosa.
  - Hey, guys, eu vou pegar algo pra comer. – Levantei e os únicos que me olharam foram Liam e Zayn.
  - Eu vou com você. – Zayn se ofereceu, mas assim que se levantou do banco o celular em seu bolso começou a tocar. – Opa... É a minha mãe. Eu preciso atender.
  - Pode ir atender! – Ri do desespero do menino ao olhar o nome da mãe piscar na tela do aparelho.
  - Nesse caso, eu vou junto. – O Batman já se levantou todo sorridente e Zayn se afastou acenando para nós dois, como se dissesse: “Vão vocês dois.”
  - Então vamos, Li. – Sorri para o meu amigo e senti os olhares de , Lou e Harry em cima de nós. O único que não parecia entender nada era Niall.
  Andei ao lado do super herói pela grama até nos afastarmos dos outros e chegarmos de volta à área da piscina. Eu sabia que Liam me olhava praticamente o tempo todo, mas tentava não fazer daquilo grande coisa. Nós tivemos momentos sozinhos depois daquela tarde no meu banheiro, quando ele disse o que sentia por mim, então não havia razão para ficar um clima ruim entre a gente naquele momento. Entramos na casa e a quantidade de fantasias diferentes que os convidados usavam dava um ar divertido à festa. Não é todo dia que você vê o Freddy Krueger conversando com a Chapeuzinho Vermelho.
  - Eu vou pegar mais uma pra você, ok? – Liam pegou a taça vazia que eu segurava.
  - Obrigada! – Sorri em agradecimento. – Eu vou na cozinha ver se arrumo algo pra gente comer e te encontro aqui, certo?
  - Só não pegue nada que pareça ainda estar vivo. – Ele riu e eu fiz o mesmo.
  De fato todas as comidas que eu estava vendo as pessoas comerem eram bem temáticas; ou seja: Tortas que pareciam pedaço de intestino, mini cachorros-quentes parecidos com dedos no meio de pães e outras coisas que eu não sabia direito o que eram, mas que também não queria ter que comer pra descobrir. O responsável pelo cardápio da festa se esforçou bastante pra tornar aquilo um banquete dos horrores. Niall havia se superado.
  Liam foi na direção do bar e eu parti na direção contrária. Passei pela pista de dança me esquivando de alguns bêbados que tentavam me tirar pra dançar e acabava rindo deles. Eu não levava nada daquilo por mal, já que eles nem me conheciam e provavelmente iriam se esquecer em cinco minutos. Finalmente cheguei na cozinha e no mesmo instante desejei ter ficado pelo jardim. Brigitte estava saindo de lá seguida pelas suas duas amigas de estimação, como sempre. Ela não mentiu pra Zayn quando disse que iria se fantasiar de Julieta, porque era exatamente assim que ela estava. Odeio admitir isso, mas ela estava bonita. Seu vestido vitoriano era justo no busto, mas caía em castas de tecido e ia até os pés. O cabelo loiro e oxigenado estava ainda maior que o normal e descia em uma trança bem arrumada. Ela deve ter notado que eu a estudava porque o seu sorriso vitorioso (e nojento) apareceu.
  - Ora, ora. – Ela andou na minha direção, me medindo dos pés à cabeça. – Então você teve mesmo coragem de vir? Achei que depois da última festa...
  - Achou mesmo que eu deixaria de fazer qualquer coisa por sua causa? – Cruzei os braços, interrompendo-a. Sorri debochada, como se não me importasse com nada do que ela pudesse fazer. Por dentro eu sentia vontade de correr, me afastar e não ter que olhar para a menina que possivelmente conseguira o papel que eu mais desejava na peça da Academy e ainda me tirava do sério apenas por respirar.
  - Eu esperava que não. Assim vai ser mais divertido quando você perder. – Brigitte olhou para as amigas e soltou uma risadinha irritante, como se as outras duas soubessem do que ela estava falando e eu não. O que de fato não deixava de ser verdade, porque eu não fazia idéia do que iria “perder”.
  - Que eu saiba, quem perdeu algo aqui foi você. – Rebati mesmo sem saber do que se tratava aquilo que ela estava falando, mas tendo certeza que ela entendia perfeitamente do que eu estava falando. – Você perdeu o namorado, não foi?
  - Vamos meninas. Não quero perder meu tempo e minha beleza com qualquer uma. – Brigitte me olhou com cara feia, me odiando ainda mais com aquela minha última pergunta. Eu não gostava de ser “má”, ou tocar na ferida das pessoas, mas ela merecia!
  Mesmo sabendo que a oxigenada não mediria esforços pra fazer eu me arrepender de ter dito aquilo, fui até o balcão da cozinha com um sorriso de satisfação. Ela gostava de jogar; isso eu já tinha percebido. E se era uma adversária que ela queria, era o que ia ter. Olhei em volta procurando algo pra comer e tentando esquecer o último acontecimento. A noite estava sendo boa demais pra deixar um estresse insignificante me atrapalhar. Depois de procurar pelas caixas de comida que deveriam estar por ali, bufei em frustração. Eu me lembrava perfeitamente de ter colocado todas as encomendas em um lugar só. Será que os garçons mudaram tudo de lugar? Porque era impossível que a comida tivesse acabado.
  - Precisa de ajuda? – Uma voz masculina apareceu atrás de mim. Eu imaginei que fosse algum funcionário e já me preparei pra reclamar.
  - Na verdade... – Comecei séria, me virando na direção da voz percebendo que não era quem eu esperava. – Nick! Você é um zumbi!
  - Te assustei? – Riu e fez uma pose de zumbi. Sinceramente aquela era a melhor fantasia de morto-vivo que eu já vira na vida. Ele devia ter passado horas fazendo a maquiagem e rasgando roupas para que ficasse naquele estado.
  - Assustou sim! – Sorri pra ele. – Veio procurar comida também?
  - O seu cérebro. – Brincou me dando um olhar tão sério que por um segundo eu cheguei a acreditar. – Estou brincando, !
  - Então não me olha assim! Sua fantasia está boa demais pra esse tipo de brincadeira.
  - Tudo bem, desculpe! – Se aproximou de mim. Até demais, pra falar a verdade. Nick não chegou a ficar colado em mim, mas ainda estava mais próximo do que eu gostaria. – Falando sério, eu estava procurando por você. Daí te vi entrando aqui e resolvi te seguir.
  - Bem... Agora você me achou! – Coloquei as mãos na cintura. – Está curtindo a festa?
  - Estou sim, mas tenho que dizer que gostei mais da festa passada. – Me fitava com aqueles olhos azuis brilhantes.
  - Mas por que? Não gosta do Halloween?
  - Não é isso. – Deu mais um passo na minha direção. – É que a essa altura, eu já estava quase te beijando.
  - Ahn... – Olhei em volta, procurando uma saída. Nicholas se aproximava cada vez mais, achando que tinha alguma chance. Ele era um cara bem legal e poderia se tornar um bom amigo, mas seria só isso. Durante as manhãs na Academy ele agia totalmente diferente e eu começava a achar que Nick era o tipo de cara que usa festas/baladas e etc para “conseguir” as garotas. – Nick...
  - Acho que dessa vez não seremos interrompidos. – Sorriu galanteador e investiu o rosto na direção do meu. Claro que eu virei o rosto e me afastei o máximo me pude, ficando colada no balcão.
  - ? – Liam entrou na cozinha naquela hora e nos olhou. Ele viu a minha expressão de “me tira daqui” e encarou Nicholas.
  - Pelo visto eu estava errado. – O outro menino riu debochado e se afastou alguns passos.
  - Liam, eu estava te procurando! – Menti, indo até o seu encontro. – Desculpa, Nick, mas é um assunto sério. Nos falamos depois, ok?
  Não fiquei ali pra escutar o que Nicholas iria me responder e puxei Liam pelo braço. Esse último quase derrubou as bebidas que segurava tamanha foi a força que eu usei para tirá-lo dali. Ele me olhou com curiosidade, mas já devia imaginar o que tinha acontecido. Eu só conseguia agradecer internamente por ter sido salva a tempo. Não, eu não iria beijar Nick, por motivos bem óbvios. Mas “dar um fora”, ou magoar pessoas assim não era bem o meu estilo. Sempre preferi me fazer de desentendida e não ter que passar por aqueles momentos constrangedores. Em Paris era bem fácil, já que ninguém se interessava por mim, mas em Londres estava sendo um pouco mais complicado. Acho que o fato de eu ser uma garota “estrangeira” e com um sotaque diferente era um atrativo a mais pra mim.
  - Quem era aquele? – Liam sussurrou e me passou um copo de Cosmopolitan. Nós dois saímos de perto da cozinha e eu não arrisquei olhar pra trás.
  - Ninguém importante. – Respondi com rapidez. Dei um gole na minha bebida e aproveitei que estávamos na sala para puxá-lo até a pista de dança. – Vem, Batman, vamos dançar.
  - Batman não dança! – Relutou, mas ainda assim me acompanhou até lá.
  - Que bom que você não é o Batman verdadeiro então! – Ri.
  Vi Liam rolar os olhos por trás de sua máscara e ri mais ainda. Ele deu um longo gole na sua bebida, como se estivesse tomando coragem para dançar. Eu fazia o mesmo que ele, bebericando do meu canudo e sentindo a minha garganta queimar levemente, mas a diferença era que eu não precisava de coragem pra fazer algo que tanto amava. Foi só a música que estava tocando chegar à metade que eu comecei a me animar. Mexi os ombros em sincronia com o meu quadril e balancei a cabeça de um lado para o outro. As luzes que piscavam e giravam em todas as direções animavam todos que estavam ao meu redor e Liam logo entrou na dança. Eu tentava não derrubar a minha bebida ao mover os braços e jogá-los pra cima. O menino que estava na minha frente fazia pacinhos de dança engraçados. Ora ele era um robô, ora dançava a macarena. Pois é, ele tinha razão em dizer que o Batman não dança, pois os dois tinham aquilo em comum.
  - Esse é o melhor que você pode fazer? – Perguntei alto o suficiente pra ser escutada e acabei rindo mais uma vez.
  - Eu disse que o Batman não dança! – Deu de ombros e também riu, mas não parou de tentar dançar.
  - Vem cá, deixa eu te ajudar. – Rolei os olhos divertida e deixei as nossas bebidas pela metade na bandeja do garçom que estava passando ao nosso lado.
  - Ei, eu estava bebendo... – Resmungou.
  - Depois você pega outra, Li. Agora eu vou te ensinar a dançar.
  - Boa sorte com isso. – Sorriu.
  Eu preferi ignorar aquele sorrisinho do garoto e o puxei pelo quadril, segurando-o junto ao meu. Liam me olhou de forma engraçada, como se eu estivesse ficando louca ou me aproveitando dele, mas tenho certeza que estava gostando. Comecei a nos balançar de um lado para o outro devagar e ele colocou as mãos na minha cintura.
  - Você sente isso?
  - Eu to sentindo muita coisa. – Ele respondeu e eu o repreendi com o olhar. Estava tentando ensiná-lo e ele ficava com gracinha? Admito que a expressão em seu rosto era tão fofa que eu acabei cedendo e sorrindo.
  - É sério, Leeyuuuuuum. – Bufei na tentativa de fazê-lo se concentrar. – Tá sentindo o movimento do meu quadril no seu? É só se deixar levar... Imagine que você está no mar e as ondas estão te balançando.
  O soltei, mas Liam ainda segurava a minha cintura. Ele afirmou com a cabeça e começou a guiar os nossos movimentos, mexendo o corpo de um lado para o outro. Ainda estava fora do ritmo da música que tocava, mas já era um começo. O problema é que ele começou a fazer palhaçadas como antes, me fazendo desistir de ensiná-lo qualquer coisa. Liam me soltou e começou a balançar os braços desengonçadamente e eu olhei em volta, preocupada em passar vergonha por estar ao lado daquele menino.
  - Liam, o que você está fazendo? – Levei uma mão até a minha testa no estilo ‘facepalm’ e ele só riu.
  - Você disse pra eu imaginar que estou no mar... Essa é uma tsunami! – Brincou e segurou uma de minhas mãos, me fazendo girar rápido.
  - Gosh, Li! Você vai me derrubar!
  Mesmo com o meu grito, o menino não parou de me girar. Eu mal mexia os meus pés com medo de cair, mas ainda assim sentia meu corpo girar sem sair do lugar. Na terceira volta eu já começa a ficar tonta, mas Liam só fazia rir. Tentei parar, mas acabei pisando em falso e tropeçando nos meus próprios pés. Eu cairia se alguém não tivesse me segurado bem na hora em que perdi o equilíbrio.
  - Já bebeu tanto assim, ? – Graças a Deus era Harry me ajudando a retomar o fôlego e esperar a tontura passar.
  - Não! A culpa é desse seu amigo que ficou me girando. – Me defendi e os dois se olharam, rindo de mim em seguida. Belos amigos eu tenho.
  - Tadinha da minha amiga! – foi a única eu pareceu ter compaixão por mim e me abraçou. O que eu não esperava foi o sussurro que veio em seguida: - Sabe onde fica a sala de TV? Zayn está te esperando lá.
  - Como? – Olhei-a sem entender assim que partimos o abraço. Nenhum dos meninos parecia ter nos escutado, já que Harry e Liam começaram a dançar escandalosamente.
  - Vai logo, ! É por ali. – A ruiva apontou o caminho.
  Mesmo sem entender completamente o que eu devia saber, segui pelo caminho que a minha amiga indicou. Logo saí da pista de dança, automaticamente saindo da sala, e virei a direita antes de chegar à área da piscina. Uma porta de madeira separava a festa de um corredor que eu nem sabia da existência. Entrei ali disfarçadamente para não ser seguida por ninguém e comecei a olhar entre as outras portas que havia ali dentro. Aquela casa ficava cada vez maior, ou era impressão minha?
  A única porta que não estava trancada era a última e foi exatamente ali que eu entrei. A tal “sala de TV” parecia bem grande. Eu não consegui ver muitos detalhes porque tudo estava escuro e a única fonte de iluminação era a janela meio aberta, cujas cortinas eram sopradas de forma macabra pra dentro do cômodo. O quarto não era engolido pela escuridão e nem era claro demais. De qualquer forma, meus olhos começavam a se acostumar com a falta de luz. “Será que eu entendi errado?” Me perguntava internamente. Eu começava a ficar nervosa, imaginando as mil coisas assustadoras que poderiam estar escondidas ali. Dei alguns passos na direção da janela, sempre com cuidado pra não esbarrar em nada.
  - Zayn? – Chamei por ele, mas não tive resposta. Olhei em volta. – Isso não tem graça...
  - Eu sabia que você estaria aqui, Odile. – Uma voz rouca soou bem no meu ouvido e eu gelei no mesmo instante. Só pra deixar claro, Odile era teoricamente o nome da menina que se transformava em cisne negro na história. – Mas uma jovem não deveria andar sozinha por aí...
  - Talvez eu só tenha vindo aqui na esperança de te encontrar... – Reprimi um sorriso ao entrar na brincadeira de Zayn e senti as suas mãos tocando os meus braços e subindo até meus ombros. – Conde Drácula.
  - Essa não foi uma decisão tão sábia, minha jovem... – Sussurrou.
  Com a mão direita, Zayn afastou os meus cabelos e me fez inclinar o pescoço para um lado. Senti minha pele arrepiar-se assim que ele a tocou com os lábios. Aproveitando que o meu vestido era tomara-que-caia, arrastou a boca a partir do meu ombro, indo até a minha clavícula. Eu fiquei ali parada, com os olhos fechados e aproveitando cada segundo daquela brincadeira que, àquela altura, já se tornava uma provocação e tanto. Senti a respiração do menino bater contra o meu pescoço e suas mãos grandes apertarem a minha cintura. Nós estávamos bem próximos e Zayn finalmente fez aquilo que eu estava esperando desde que ele aparecera; cravou os dentes com força na minha pele e sugou devagar. Se ele fosse um vampiro de verdade, estaria fazendo um bom trabalho. Eu apertei os olhos por causa da dor, mas não reclamei. A única coisa que escapou entre os meus lábios foi um suspiro bem parecido com um gemido. Meu corpo amoleceu, por isso fiquei feliz em estar sendo apoiada por ele, caso contrário teria me desequilibrado. Zayn percebeu o efeito que causou sobre mim riu baixo, me virando de frente pra ele.
  - Sabia que sangue de cisne é o meu preferido? – Me abraçou pela cintura e eu tive rir daquela frase.
  - Um Conde Drácula vegetariano? – O envolvi pelo pescoço. – Isso é novidade.
  - Essa frase não foi muito boa, né? – Ele riu e colou os lábios nos meus, me dando um selinho bem demorado.
  - Não mesmo! – Gargalhei depois de retribuir o beijo. – Eu achei que você queria falar comigo, porque a foi toda misteriosa quando me mandou vir aqui. Eu estava preocupada.
  - Eu quero falar com você sim, mas não precisa se preocupar. – Ele me olhava com um pequeno sorriso no rosto, mas quem conseguia não se preocupar? – É o seguinte... A me falou do que vocês conversaram quando saíram pra comprar a fantasia dela e...
  - Ela fez o que? – Arregalei os olhos. A primeira coisa que me veio em mente foi a conversa que tivemos quando eu admiti que estava sentindo mais que amizade por Zayn e ela insistindo que eu deveria contar pra ele. Me afastei do menino na mesma hora, escondendo o rosto com as mãos. – perdeu o juízo, só pode. Eu falei pra ela não te contar, mas ela contou do mesmo jeito!
  - ... – Ele me chamou, mas eu o ignorei.
  - Por que ela fez isso? – Eu falava mais comigo mesma do que com ele. – Por que ela foi te contar que eu estou apaixonada por você?!
  - Você o que? – Zayn me olhou surpreso, como se aquilo fosse novidade pra ele.
  - Eu o que, o que? – Parei de tagarelar por um minuto e o fitei de volta. – Não foi isso que ela te falou?
  - Não... – Aquela expressão de surpresa não saía do rosto dele e quem quis sair dali fui eu. – Ela me contou sobre a sua preocupação com a peça...
  - Mas eu pensei que... Porque nós... E também... – Nenhuma das minhas tentativas de formar frases deu certo e eu só fiquei ali sem saber o que fazer e falando coisas sem sentido. – Eu não devia ter falado nada... Mon Dieu, você não devia saber disso, porque agora vai querer se afastar de mim. Tudo bem, eu entendo. Quer saber? Vamos esquecer, ok? Esquecer que eu falei isso e esquecer o que mais você quiser.
  Além de começar a falar francês quando fico nervosa, falar demais é um de meus defeitos nesse sentido. Eu andava de um lado para o outro sem conseguir olhá-lo nos olhos. Estava mais envergonhada do que tudo e não sabia se me jogava da janela de uma vez, ou se saia pela porta mesmo. “Muito bem , cada vez se superando.” Calei a boca, mas não o meu pensamento. Comecei a me xingar internamente e parti na direção da porta. Meu objetivo era sair dali o mais rápido possível e esse plano teria dado certo se Zayn não tivesse agarrado o meu pulso e me puxado na direção dele. Fiquei meio sem entender, mas o que há pra se entender quando o cara mais lindo que você conhece te prende junto a ele? Absolutamente nada.
  Não consegui escutar nem mesmo os meus pensamentos quando Zayn me surpreendeu e me beijou sem explicação nenhuma. Eu não relutei por momento algum e só o segurei pela nuca e deixei o beijo acontecer. Devia ser um bom sinal... Pelo menos ele não estava pirando como eu achei que faria ao descobrir que eu estava apaixonada por ele. Enquanto o menino segurava nos meus cabelos com uma das mãos, a outra estava espalmada nas minhas costas, impedindo-me de me afastar um centímetro que fosse. O beijo se aprofundava cada vez mais e foi o mais longo que nós dois já trocamos. Só nos separamos quando estávamos ofegantes demais pra continuar.
  - O que foi isso? – Juntei todo o ar em meus pulmões pra conseguir perguntar aquilo.
  - Um beijo. – Sorriu como se não fosse óbvio e beijou o topo da minha testa. – Um muito bom aliás.
  - Disso eu sei, né? – Ri baixinho, sem querer me distanciar daquele perfume que grudava na minha pele com tanta facilidade. – Mas... O que isso significa?
  - Isso significa que eu gostei de saber do que você sente. Significa que eu gosto quando você mais parece uma tagarela e eu tenho que te calar de alguma forma. Significa que eu vou te trazer pra perto de mim sempre você tentar se afastar. Significa que eu sou doido por você, .
  - Eu não sei nem o que falar... – Era verdade, já que eu não conseguia pensar ou formular uma frase melhor que aquela. As palavras de Zayn iam e voltavam na minha cabeça e eu sorria. Era um sorriso de surpresa e de felicidade. Nem nos meus maiores sonhos eu esperava escutar algo daquele tipo.

+++

  Demoramos mais alguns minutos na sala de televisão antes de voltarmos para a festa. Não nos separamos mais em momento algum; dançamos, bebemos e até comemos aquelas coisas estranhas que Niall tinha inventado. brincava falando que queria saber o que aconteceu no quarto de TV e eu só estirava a língua pra ela, prometendo que contaria tudo depois. Louis e Niall pegaram a urna onde os votos para a premiação estavam sendo colocados e foram calcular o resultado. Só quando eles voltaram -vinte minutos depois- foi que eu percebi que não tinha votado. De qualquer forma, já era tarde demais. O DJ deu uma pausa em sua playlist e os canhões de luz focalizaram o pequeno palco que eu havia montado ali perto.
  - Então, , pode ir lá. – Niall me entregou o primeiro envelope dourado e eu o encarei.
  - Ir onde? – Segurei o papel, mas não me mexi.
  - No palco. Dar início à premiação, fazer o discurso de abertura... Essas coisas!
  - E porque eu deveria ir? – Olhei para todos os meus amigos, mas nenhum deles parecia querer ficar no meu lugar.
  - Porque essa idéia foi sua. – riu de mim e foi me empurrando para o meio das pessoas que esperava algo acontecer.
  - Só entregue o primeiro prêmio, ... Depois nós vamos revezando. – Zayn me encorajou.
  Ele me entregou uma das estatuetas que encomendamos e me acompanhou até o palco. Sentir centenas de olhos me encarando não foi a melhor sensação do mundo, mas eu teria que superar aquilo. Caminhei até o centro, onde um microfone me esperava. Respirei fundo e preparei o meu melhor sorriso. Seria a primeira vez que eu bancaria a apresentadora e tinha medo de gaguejar.
  - Boa noite, pessoal! – Comecei, mesmo sem saber se estava fazendo aquilo certo.
  - Boa noite! – Muitos me responderem em uni som.
  - LINDA! – Harry gritou, me fazendo rir.
  - Maravilhosa! – entrou na brincadeira.
  - Obrigada, muito obrigada. – Mandei beijos para eles e me senti uma atriz famosa no Oscar verdadeiro. – Então vamos ao que interessa! No início da festa, nós pedimos para que vocês votassem nas fantasias que mais gostassem de acordo com algumas categorias, certo? Já temos o resultado e vamos começar com as premiações!
  - LET’S DO THIS! – Alguém que eu não conhecia começou a gritar e aplaudir tão alto que foi seguido por quase todos no salão. Até que estava sendo divertido estar ali em cima e o nervosismo já tinha ido embora.
  - A primeira categoria é: Fantasia mais Sexy! Uhhh. Sem mais delongas, the Oscar goes to... – Falar aquela última frase era um sonho sendo realizado. Fiz um pouco de suspense, é claro, e abri o envelope lacrado. Tirei o papel de dentro e sorri ainda mais ao ver quem era a ganhadora. – , como Jessica Rabbit!
  Todos aplaudiram e a ganhadora gritou e pulou. Ela abraçou o namorado, que a beijou, e veio andando em direção ao palco onde eu a esperava. Nós sorrimos uma para a outra e nos abraçamos. Eu a entreguei o seu troféu e sussurrei “Parabéns” pra ela. foi até o microfone e literalmente fez um discurso de agradecimento.
  - Eu nem acredito que ganhei esse prêmio! É uma honra tão grande... Ai, por onde eu começo? – A ruiva olhava para o prêmio e para o publico, sem parar de sorrir. Eu logo desci do palco e fui me juntar aos outros. – Primeiro eu gostaria de agradecer a todos que votaram... E é claro que eu não poderia esquecer da minha fada madrinha que achou essa fantasia pra mim... Minha melhor amiga, !
  - I LOVE YOU, ! – Gritei pra ela, que sorriu e acenou.
  Assim que a minha amiga finalmente saiu do palco, a premiação continuou. Eu gostaria de ter entregado outros troféus, mas não iria tirar a oportunidade de outras pessoas. Tudo estava correndo bem tranqüilo e divertido. Liam ganhou o prêmio de melhor super herói, Harry ganhou na categoria de “melhor personagem de filme adaptado de um livro”, uma menina da minha turma de dança ganhou o de fantasia mais criativa e Zayn ganhou o prêmio de melhor personagem clássico. Pelo menos esses foram os ganhadores que eu conhecia.
  - A próxima premiação que eu quero assistir de perto é o Brit Awards. – Abracei Zayn de lado, deixando de prestar atenção no que acontecia em cima do palco.
  - É? Por quê? – Me olhou curioso.
  - Porque eu vou estar lá como sua acompanhante, já que você vai estar concorrendo ao prêmio de artista revelação do ano. – Sorri animada, já sonhando com o vestido que estaria usando. – E você vai precisar de alguém pra abraçar quando ganhar. Ou prefere uma pessoa qualquer que foi contratada pra estar lá?
  - Eu prefiro você em qualquer situação. – Alisou a minha bochecha e quando se preparava pra me beijar, a voz de nos fez olhar na direção do palco.
  - Eu tenho aqui nas minhas mãos o nome do ganhador do último prêmio da noite! – A baixinha estava novamente falando ao microfone e levantava o último envelope preto. – Aliás, esse é o mais importante. O prêmio de melhor fantasia!
  - Quem vocês acham que ganhou? – Perguntei para os meninos ao meu lado e ninguém me respondeu.
  - Você vai ver já. – Louis fez sinal de silêncio com a mão.
  - É, . Shhh. – Zayn também me fez calar e eu rolei os olhos, desistindo de comentar qualquer coisa.
  - E o Oscar vai para... – olhou em volta, aumentando o suspense. – Tomlinson, como Cisne Negro!
  - Hã? – Fiquei no mesmo lugar, sem acreditar. Eu ganhei mesmo? Como assim? De verdade?
  - Eu sabia! – Zayn vibrou ao meu lado e me abraçou. – Parabéns, !
  - Eu... Tem certeza? – Louis, Liam, Harry e Niall me abraçaram de uma vez só e eu me senti esmagada. Sorri ainda meio atordoada. A ficha parecia não querer cair. Tá que não era um Oscar de verdade e aquele prêmio não tinha um “valor” real, mas pra mim significava muito.
  - Claro que é você! Vá lá pegar o seu prêmio. – Meu irmão sorriu.
  Eu comecei a andar na direção do palco e as pessoas abriram caminho pra mim, todas me aplaudindo. Meu sorriso crescia cada vez mais, assim como a minha animação. Parecia que eu estava finalmente entendendo o que estava acontecendo. me ajudou a subir no palco e me abraçou com tanta força que eu cheguei a ficar sem ar. Ela me entregou a minha estatueta e me falou pra ir agradecer no microfone. É claro que eu fui correndo fazer o meu discurso. Quando eu era pequena e assistia a premiações em casa, ficava imaginando como seria o meu discurso. Todos eles começavam com: “Eu gostaria de agradecer aos meus pais que sempre acreditaram em mim...”, mas esse não seria um bom começo; não naquele momento.
  - Bem, eu realmente não esperava por isso. Uau! – Sorri olhando para a platéia que sorria de volta pra mim. – Acho que só o que eu tenho a dizer é obrigada! Obrigada a todos que votaram. Vocês não sabem o valor que isso aqui tem. Muitos devem se lembrar da última festa e de como não acabou nada bem pra mim... E hoje receber esse prêmio é como se eu estivesse indo do poço para o topo! Então obrigada mais uma vez. De verdade.
  Eu era só sorrisos e no fim do meu discurso fui aplaudida mais uma vez. Eu não podia ver Brigitte e nem ao menos sabia se ela ainda estava na festa, mas tinha certeza que ela ficaria sabendo daquele meu prêmio e que não gostaria nada. Ela devia ser acostumada a sempre estar na melhor posição, mas naquela noite o altar era meu.

Capítulo XXV

  É estranho como as coisas podem ser, não é mesmo? Um dia todos te olham torto, como se você fosse uma estranha que não pertence àquele lugar... E no outro, você se torna popular, conhecida e pessoas realmente param pra conversar com você. Era exatamente essa mudança que eu estava vivendo. Aparentemente depois da festa de Halloween eu havia atingido um novo patamar na “pirâmide” hierárquica da Academy. Não sei muito bem como aconteceu, mas o importante era que os alunos me tratavam de forma diferente, não mais como se eu fosse só uma caloura.
  Naquela manhã eu estava na aula em grupo, como todas as segundas feiras, mas estava cercada por meninas que eu só conhecia de vista. estava ali também e só ria da forma que eu tentava lidar com toda aquela “nova popularidade” que eu começava a ter. Pra ela era fácil, já que era do tipo que é amiga de todo mundo; um modelo para garotas e alvo de cobiça para os meninos. Ela devia enfrentar isso desde o colegial, mas eu não. Digamos que no meu passado acadêmico eu sempre fui o patinho feio. Sem muitos amigos, sem muitas habilidades nas matérias escolares e etc. Mas depois da última festa, quando eu ganhei o prêmio mais importante da noite, as coisas mudaram drasticamente.
  - Você realmente mereceu, . – Uma menina do segundo nível chamada Jessica alguma coisa me falou enquanto passava a mão no meu braço. – Aquele seu vestido foi o mais lindo que eu já vi!
  - Obrigada... – Sorri meio sem saber o que responder.
  - Onde você comprou? Aposto que trouxe de Paris! – Outra menina entrou na conversa, mas eu não captei o nome dela.
  - É verdade! Você tinha mesmo que ser de Paris, porque pra ter um bom gosto assim... – Uma terceira garota me impediu de responder a segunda e eu começava a ficar perdida.
  - Todas as roupas dela são lindas, já percebeu isso? – Jessica comentou com a última garota e eu comecei a me perguntar se ainda fazia parte daquela conversa.
  - Tá bem, tá bem, a é linda e perfeita e depois ela passa o nome das lojas que frequenta em Paris. Agora, por favor, vocês podem deixar a menina respirar? – finalmente parou de rir de mim e fez as meninas pararem de tagarelar. – Além do mais, o professor quer começar a aula!
  - Ai, você jura que passa? – Àquela altura eu já não sabia mais quem estava falando e me resumi a sorrir e acenar, afirmando que sim.
  Depois que as meninas se afastaram e e eu ficamos sozinhas, trocamos olhares e começamos a rir. Eu sabia o que ela estava pensando e vice-versa. O Sr. Hofstheder logo tomou a frente da classe e começou a passar exercícios de aquecimento, nos mandando dividir a sala em dois grupos. Como a turma era muito grande, iríamos ter que intercalar entre a barra e o chão. e eu fomos para o lado esquerdo, que era o oposto da barra. Nenhuma de nós era muito fã daquela madeirinha chata, então estávamos evitando-a o máximo possível.
  - Então você dormiu mesmo no apartamento do Nialler esse fim de semana? – Perguntei com um sorriso sapeca nos lábios, já começando a me alongar. Sentei no chão e estiquei as duas pernas na minha frente, me curvando para encostar nos joelhos com a ponta do nariz.
  - Sim... Mas dormir não foi bem o que fizemos. – continuava de pé enquanto alongava os braços. – Foi a vez do Niall escolher uma página do Kama Sutra dessa vez, por isso passamos o fim de semana inteiro tentando chegar naquela posição.
  - ! – Arregalei os olhos, surpresa com a naturalidade que ela teve ao falar aquilo. – Esse não é o tipo de coisa que se conta!
  - Você é a minha melhor amiga, . Se eu não contar isso pra você, vou contar pra quem? – Ela se sentou ao meu lado e imitou o meu último movimento. Já eu, comecei a puxar a ponta dos pés para trás.
  - Ahn... Pra ninguém?! – Falei como se fosse óbvio.
  - Claro que não, ! Quando você tiver a sua primeira vez com o Zayn, tenho certeza que vai querer me contar. Eu sempre quis saber como ele é na cama, mas não tenho coragem de perguntar. – A sua última frase saiu mais baixa que a primeira, então tenho certeza que ela só pensou alto, por isso resolvi ignorar.
  - Bem, eu não ficaria esperando isso acontecer tão cedo, se fosse você. – Mudei de posição, ficando agora com a perna direita estendida na lateral do meu corpo e a esquerda relaxada. Eu mais uma vez puxava a ponta do meu pé.
  - Por que não? Você não se sente atraída por ele nesse sentido? – me perguntava curiosa, imitando todos os meus movimentos.
  - Não é isso ...
  - Ai, meu Deus, você é virgem?! – A ruiva perguntou um pouco alto demais e atraiu alguns olhares na nossa direção.
  - Shhhhhh! – Exclamei, quase batendo nela. – Virgem eu não sou, mas é complicado...
  - Quantas vezes você já fez sexo, ? – Mais uma vez ela perguntou alto demais para o meu gosto e eu já começava a ficar constrangida.
  - Uma. – Falei baixinho, trocando as pernas.
  - Meu amor, você não sabe o que está perdendo! – Começou a rir, mas ao ver a minha cara séria, ela parou. – Se você só fez uma vez, ainda é praticamente virgem. Eu aposto que nem aproveitou. Você gostava dele?
  - É claro que eu gostava dele... – Fiquei um tanto melancólica ao tocar naquele assunto. – E achava que ele gostava de mim também. Mas estava enganada.
  - Deixa eu adivinhar... Ele foi a sua “relação passada que não terminou bem”? – Perguntou e eu confirmei com um aceno de cabeça. – Por isso você fica com um pé atrás de se envolver tanto... Agora tudo faz sentido!
  - Exatamente, Sherlock. – Sorri de canto.
  Terminei de me alongar no chão e puxei para a barra. Os grupos já estavam trocando de lugar e nós não podíamos ficar pra trás. Bem, eu não podia. Porque se dependesse da minha amiga, ela não se importaria em ficar totalmente perdida na aula, até porque não queria estar ali. Diferente das outras salas, a barra dali não ficava colada ao espelho, o que permitia fileiras de alunos tanto de um lado quanto do outro. foi para um lado e eu fiquei do outro, dessa forma nós ficamos lado a lado e ainda podíamos nos olhar. O professor ficou nos rodeando, por isso evitamos conversar naquele momento. Eu tratei de me concentrar no meu alongamento.
  Segurei na barra com a mão direita e a ponta de um dos pés com a esquerda, mantendo o outro firme no chão. O professor costumava me desafiar com aquela posição durante as nossas aulas particulares e eu queria mostrar que estava treinando para melhorar. Comecei a esticar para o alto a perna que estava segurando, sem dobrar o meu tronco. Respirei fundo e mantive o queixo reto. Eu estava em uma posição de quase 180º e minhas duas pernas doíam, mas eu contei até cinco antes de voltar a perna para baixo com graciosidade.
  - Muito bem, , vejo que está melhorando. – O professor me elogiou e eu sorri com orgulho de mim mesma. – Talvez você devesse aprender algo com a sua amiga, .
  - Claro, professor. – respondeu com um sorriso falso e foi só ele nos dar as costas que ela fez uma careta.
  - ! – Sussurrei em repreensão, prendendo o riso. – Você devia mesmo aprender algo comigo.
  - Ha ha ha, muito engraçada. – Também recebi uma careta e não agüentei segurar um riso baixo.
  Nós teríamos continuado aquela discussão se uma voz vinda do além não tivesse prendido a nossa atenção. Tá bem, não foi uma voz do além... Foi apenas a diretora Agnes falando através das caixas de som em um canto da sala. Certo, se paramos para considerar que era ela quem estava falando, até pode ter algo do além nisso aí.
  - Bom dia, alunos. – Ela começou. Pelo eco que o som tinha, assumi que havia caixas de som como aquela em todas as salas e corredores. – É com grande prazer que eu informo que o nosso baile anual de inverno acontecerá em duas semanas. Grandes surpresas acontecerão nessa noite, incluindo a revelação do resultado para a peça Romeu e Julieta. Espero ver todos lá... Agora podem voltar para as suas aulas, obrigada.
  Gritos e palmas encheram a sala. Eles poderiam estar mais animados com o baile, mas só o que eu conseguia pensar era nesse bendito resultado. Sim, eu já estava conformada com a minha rejeição, mas precisava mesmo ser em um baile? Com todos ali ao meu redor comemorando suas vitórias?
  - Eu AMO esse baile! – me balançou, tirando-me do meu estupor. – Tá que esse será o meu primeiro, mas já ouvi falar tanto... Dizem que a decoração é a coisa mais linda do mundo.
  - Então você tira fotos e me mostra depois, ok? Porque eu não vou pra esse baile.
  - Mas, ... – Fez um biquinho. – Eu já falei que você não pode deixar essas coisas te abalarem...
  - Formem duas filas, por favor. – O professor falou alto e sério, como sempre. – Se preparem para o Fouetté e eu voltarei em um instante.
  - Qual é esse mesmo? – cochichou pra mim e o professor foi até a porta da sala, atender alguém que estava lá.
  - Você nunca vai aprender esses passos? – Sussurrei de volta pra ela e ri. Nós duas fomos nos juntar aos outros que já formavam as filas. – Eu vou te mostrar só mais essa vez.
  A puxei para o final da fila, já que não queria ninguém vendo a minha demonstração. Ela ficou me olhando e eu rolei os olhos; o que ela faria sem mim, huh? Coloquei a minha perna direita na minha frente e ‘joguei’ a outra perna para o lado, sendo que o peso dela me fez girar. Rodopiei me equilibrando sob a perna direita e a esquerda continuava a me dar o impulso que eu precisava. Prendi o olhar em um lugar fixo para que eu não ficasse tonta e meu rosto só acompanhava o giro quando não podia mais ficar parado. Meus braços estavam em frente ao corpo, estendidos em uma oval.
  - Eu já ia pedir a um voluntário para demonstrar o passo, mas vejo que a senhorita já fez isso. – O professor já havia voltado e eu parei de girar de repente, vermelha. Eu só estava mostrando pra , não pra turma inteira... – Você está dispensada, . A diretora está te esperando do lado de fora da sala.
  - Obrigada, professor. – Olhei pra como se perguntasse: “Estou encrencada?” e ela só balançou a cabeça.
  Aquele movimento não foi o suficiente pra me tranqüilizar, já que na minha cabeça eu já começava a imaginar as milhares de coisas que pudesse ter feito de errado. Desde quando a diretora me esperava do lado de fora da sala? Desde quando ela esperava qualquer um do lado de fora da sala? Peguei as minhas coisas no banco de madeira que eu costumava usar de cabide e me dirigi até a porta da sala. Podia sentir meu coração quase saindo pela boca. Infelizmente, passei por Brigitte no meu caminho e ela soltou um: “Isso que dá ser exibida.” Bem maldoso. Pensei em responder, mas estava nervosa demais pra falar qualquer coisa.
  A senhora magricela realmente estava me esperando ali e me cumprimentou com um balanço de cabeça. Aquela mulher nunca sorri? Fui até ela com um sorriso discreto, já que eu sorrio, e vi que ela não estava sozinha. Nicholas estava atrás dela, distraído com algo em seu celular. Aí mesmo é que eu fiquei mais confusa ainda.
  - Espero não ter atrapalhado a sua aula, senhorita Tomlinson. – Ela tocou o meu ombro e caminhamos até Nick. Assim que me viu, ele guardou o celular e abriu um sorriso enorme.
  - Claro que não! – Tentei responder o mais naturalmente possível e sorri de volta para o garoto. Era a primeira vez que eu o via depois da festa de sábado, mas se a minha teoria estivesse certa, ele não tentaria nada constrangedor naquele ambiente.
  - Ótimo. – Respondeu seca. – Vamos ao que interessa. Vocês dois sabem por que eu os chamei aqui?
  - Estamos encrencados? – Pensei alto e Agnes me olhou de forma estranha.
  - Não. Na verdade é bem o contrário. Eu os chamei aqui porque tenho um convite pra vocês dois. – Um convite? Ok, aquilo parecia começar a ficar bom. – Como vocês já devem saber, o baile de inverno está se aproximando e todo o ano nós temos apresentações especiais criadas pelos próprios alunos. E eu gostaria que vocês dois fossem a atração final. Que fechem com chave de ouro!

+++

  - Eu concordo, mas ela já disse que não vai! – Escutei falar enquanto eu me aproximava. Ela estava no refeitório; em uma mesa com Niall e Zayn. Eu não sabia do que falavam, mas já desconfiava que fosse sobre mim. – E vocês sabem bem o porquê.
  - O porquê de que? – Me intrometi e sentei entre ela e Zayn. – Bom dia.
  - Bom dia, . – O rosto de Zayn se iluminou de uma forma tão linda com aquele sorriso que eu recebi após o seu ‘bom dia’ que eu tive que puxá-lo pra um beijo rápido.
  - Estávamos falando sobre você não querer ir ao baile de inverno. – Niall me respondeu, confirmando minha desconfiança.
  - É. E nós achamos uma besteira você perder... – concordou com o namorado.
  - Isso mesmo. E se você não for, eu também não vou. E eu quero muito ir, então você vai ter que conviver com essa culpa pra sempre. – Zayn fez drama e eu ri.
  - Bem, então eu posso ficar tranqüila que não vou precisar carregar essa culpa. – Respondi.
  - Então você mudou de idéia? – Minha amiga bateu palmas em comemoração.
  - Eu meio que fui obrigada a mudar de idéia. – Rolei os olhos e ninguém entendeu nada. – A diretora me fez um convite e eu tive que aceitar... Ela me chamou pra dançar no baile. Eu acabei de voltar do escritório dela onde nós dois fomos nos informar sobre alguns detalhes.
  - Isso é ótimo, ! Eu e o Niall também vamos nos apresentar lá e... Espera, você disse nós “dois”? – O tom de voz de Zayn mudou em dois segundos de animado para preocupado.
  - Nick estava lá também... Nós vamos ter que dançar juntos. – O motivo que me levou a não começar a contar a novidade por aquela parte foi a reação que eu sabia que iria receber dos três.
  - Nick? O mesmo que ia te beijar na festa de boas vindas se eu não tivesse atrapalhado? – Niall foi o primeiro a pirar.
  - O mesmo Nick que ia tentar te beijar na festa de Halloween? – seguiu o exemplo do loiro.
  - O mesmo Nick que eu nunca fui com a cara? – Zayn foi o último. Ele não estava tão agitado quanto os outros dois, mas seu semblante era sério, quase indecifrável.
  - Gente, calma! Ele não é tão ruim assim... – Tentei amenizar a barra de Nicholas, mas só recebi um olhar feio. – Pode ser que ele tenha tentado algo no passado, mas esse caso é extremamente profissional. Um convite desse não aparece todos os dias, então eu não tive escolha...
  Sei que não consegui convencer muito bem com aquele meu argumento, mas era o único que eu tinha. Niall foi o primeiro a aceitar e logo começou a me perguntar o que eu iria dançar, ou qual seria a minha ordem de apresentação, já que ele e Zayn seriam os terceiros. Quando falei que seria a última, entrou na onda e já começou a dizer que eu era muito importante e blábláblá. Zayn continuou sério por mais tempo e eu só consegui fazê-lo desamarrar aquela cara quando o enchi de beijos pelo rosto todo. Gostava de vê-lo com ciúmes, mas preferia os seus sorrisos.
  - Hey, vocês viram que o Winter Wonderland chegou? – tirou um panfleto da bolsa e eu vi o desenho de um parque de diversões naquela folha colorida.
  - Mon Dieu! Eu adorava ir nesse parque quando era pequena e vinha passar o natal aqui! Fica no Hyde Park, né? – Peguei o papel de uma vez, nada delicada. – É tão divertido! As luzes, os brinquedos e o algodão doce... Ahh, o algodão doce...
  - Epa, não vai começar a babar no meu papel. – pegou de volta, mas eu continuei sonhando acordada. – Nós vamos lá, né?
  - Temos que ir antes da época de chuvas, então aconselho irmos logo. – Niall falou com a boca cheia. Ele era o único que ainda estava comendo algo e, como sempre, eu não tinha comido nada.
  - Vamos amanhã? – Zayn perguntou mais pra mim que para os outros e segurou a minha mão por baixo da mesa.
  - Amanhã eu não posso... Prometi aos meninos que ia com eles fazer as compras do mês. – Entrelacei nossos dedos e encostei o rosto no ombro do moreno.
  - Hmm, dona de casa. – Niall brincou.
  - E depois de amanhã?
  - Por mim tudo bem, mesmo que você não se importe. – parecia ressentida com a falta de atenção que estava recebendo, mas nós sabíamos que era brincadeira.
  - Depois de amanhã eu não tenho nada. – Sorri.
  - Então iremos depois de amanhã. – Zayn também sorriu e passou o nariz pelo meu.
  - Espera um pouco... Teremos um encontro duplo? – A outra menina quase gritou de felicidade.
  - Bem, nós dois não tivemos um encontro sozinhos ainda... – Olhei para Zayn e ele se fez de desentendido. – Mas eu acho que sim.
  - Meu sonho será realizado! – sorriu mais uma vez e olhou no relógio, descontraída. – Ai meu Deus, ... Nós temos cinco minutos pra entrar na sala.
  - COMO É? – Foi a minha vez de praticamente gritar. Eu estava tão entretida naquela conversa que perdi a noção do tempo e nem notei que as pessoas em nossa volta começavam a se retirar do refeitório e ir para as suas respectivas salas. – Estamos atrasadas!
  - Vamos, vamos! – Ela me apressou, passando a própria bolsa pelo ombro e me entregando a minha.
  - Tô indo. – Me levantei desesperada. – Vemos vocês na saída!

+++

~ Já no dia seguinte. ~

  - Você tem certeza que sabe onde fica esse supermercado, Liam? – Eu estava no banco de trás do carro, pra variar, e ele dirigia enquanto Louis tentava se localizar no GPS do próprio celular. – Porque nós já passamos por essa árvore cinco vezes! Estamos andando em círculos.
  - Eu já disse que sei o caminho... – O motorista tentava acalmar os meus nervos, mas não estava executando um trabalho muito bom. – Todas as árvores são iguais, por isso você acha que já passamos por essa cinco vezes.
  - Dobra à direita aqui! – Louis exclamou do nada e Liam virou o carro de uma vez para não perder a entrada. O veículo fez um movimento tão brusco que eu fui jogada contra a porta e a minha cabeça bateu no vidro da janela.
  - Outch! – Reclamei depois do susto, passando a mão onde havia machucado. – Vocês dois não podem ter um pouco mais de cuidado não?
  - Você está bem? – Lou se virou na minha direção, visivelmente preocupado. Eu até começava a me arrepender por estar sendo tão chata, mas foi então que eu percebi que ele não olhava pra mim, e sim para o vidro. – Pensei que essa cabeçuda tivesse te machucado.
  - Seu precioso carro está intacto, Louis. – Estreitei os olhos. – Eu é que não estou.
  - Isso é pra você parar de reclamar. – Ele riu.
  - Desculpa, ... – Liam ria um pouco daquela situação. – Eu tive que virar rápido pra não perder a rua.
  - Não tem problema, Li. Eu vou sobreviver. – Ainda passava a ponta dos dedos sob o pequeno calombo que começava a se formar na minha testa. – Só preciso de um pouco de gelo...
  - Olha só, pelo menos conseguimos achar o supermercado. – Lou apontou para o ASDA gigantesco que se aproximava bem na nossa frente.
  Não demoramos muito pra encontrar uma vaga e estacionar o carro. Louis abriu a porta para que eu saísse e era o mínimo que ele podia fazer depois de me causar danos permanentes e ainda rir de mim. Nós três começamos a caminhar em direção à entrada e eu fiquei no meio dos dois meninos. Até que era uma cena bem divertida, já que eles pareciam meus guarda-costas, principalmente por estarem usando óculos escuros. Durante a minha infância eu constantemente me sentia como a Hermione e seus dois melhores amigos, mas com Harry no lugar de Liam. Vamos concordar que era um sentimento bem badass para uma menina entre os doze e quinze anos. Aliás, porque Harry não estava ali conosco? Ele era o que mais cozinhava e praticamente morava com a gente, então deveria estar nos ajudando também, oras!
  - Hey, lads... Eu vou pegar um carrinho e encontro vocês lá dentro, ok? – Falei para eles, já indo na direção dos carrinhos.
  - Desde quando você fala “lads”? – Lou parou no meio do caminho, me olhando de forma engraçada.
  - Eu estou me tornando uma ótima britânica, não concordam? – Fiz os dois rirem e cada um de nós seguiu o próprio caminho.
  Pelo canto do meu olho, observei os dois se abraçarem de lado e caminharem para dentro da loja. Sorri com aquele bromance e balancei a cabeça negativamente envolta em pensamentos. Eu amava aqueles dois idiotas. Na verdade... Amava os meus seis idiotas, o que incluía Niall, , Zayn e Harry. Não sei como uma pessoa só podia ter tanta sorte em ter seis anjos da guarda, mas eu tinha aquela sorte. Ainda com o sorriso bobo em meu rosto, cheguei até as duas fileiras de carrinhos vermelhos. Lembro de uma época simples, quando era só puxar um carrinho de supermercado para ele se desprender dos outros e ficar livre para o uso, mas aquele ali parecia não querer me obedecer de jeito nenhum. Não sei quem foi o funcionário que os arrumou daquela forma, mas gostaria de encontrá-lo para explicar que um não precisava ficar em cima do outro para que estivessem arrumados. Tentei de todas as formas possíveis até finalmente conseguir puxar o bendito carrinho. Como aquela tarde já não estava sendo tão boa pra mim, não fiquei surpresa ao machucar o pulso quando puxei o carrinho de mau jeito.
  - Ahh, que legal! O que falta agora? – Resmunguei sozinha, empurrando o carrinho para a entrada do supermercado.
  As portas automáticas se abriram pra mim e eu senti a diferença de temperatura entre o lado de dentro e o de fora. Enquanto o estacionamento estava frio por causa do inverno que se aproximava, os aquecedores mantinham uma temperatura um pouco mais elevada ao lado de dentro. Sentir aquele conforto preencher o meu corpo me fez esquecer um pouco as minhas dores e respirar fundo, pensando que tudo iria ficar bem. Assim que finalmente entrei na ala de compras, comecei a olhar para os lados a procura dos meus amigos. Eles não deveriam estar muito longe, mas o ASDA era um supermercado tão grande que eu poderia passar anos a procura dos dois.
  Deixando meu exagero de lado, cruzei alguns corredores e nada de avistar nenhum dos meus companheiros de casa. O supermercado não estava tão cheio, mas andar empurrando aquele carrinho me atrasava um pouco. Resolvi deixá-lo em um canto só enquanto eu olhava no último corredor mais próximo de mim. Se não os encontrasse ali, usaria meu telefone para localizá-los. Foi só me afastar alguns metros que uma mulher correu até o MEU carrinho e começou a puxá-lo. Dei meia volta e fui até lá o mais rápido que consegui.
  - Com licença, senhora... – Segurei a parte da frente do carrinho, impedindo-o de mexer. A mulher se assustou, até porque sabia que estava fazendo algo errado, e segurou a parte de trás com força. Eu tentava permanecer calma e educada. – Esse carrinho é meu. Eu só o deixei aqui enquanto fui procurar os meus amigos e...
  - Sinto muito, mas ele estava largado aqui. – A minha educação não adiantou de nada, porque aquela mulher foi ríspida em sua resposta. – E achado não é roubado.
  - Achado não é roubado? – Ri sem humor. – Eu achava que isso aqui era um supermercado e não o jardim de infância.
  - O carrinho é meu! – Ela continuou a insistir. Você pode achar que era só um carrinho e seria bem mais fácil voltar lá pra fora e pegar outro, mas eu não havia machucado o pulso e perdido quase vinte minutos pra conseguir aquele carrinho por nada!
  - Escuta aqui, senhora. Você quer esse carrinho? Ok! Mas vai ter que me levar junto. – Deixei toda a minha boa vontade de lado e falei entre dentes, passando uma perna após a outra para dentro do carrinho. Sim, eu entrei nele e me sentei, cruzando os braços. A mulher me olhou como se eu fosse uma louca e saiu de perto apressada. – Isso mesmo, vá embora!
  - Wow, isso foi demais, ! – Liam surgiu atrás de mim. Não sei há quanto tempo ele e Lou estavam ali, mas aparentemente tinham assistido tudo. – Um pouco paranóico, mas ainda assim demais.
  - Você defendeu o seu carrinho like a boss! – Louis levantou a mão para que eu batesse nela. – High Five.
  - Obrigada, meninos. – Ri e bati na mão do meu irmão em comemoração.
  - Eu peguei isso aqui pra você, . – Lou me entregou um pacote de ervilhas congeladas.
  - E o que eu devo fazer com isso? – Peguei o pacote e comecei a rir.
  - Colocar na testa, é claro. – Liam me respondeu e começou a empurrar o carrinho. Aparentemente eu ia continuar ali dentro.
  - Eu não vou andar por aí com um saco de ervilhas congeladas na testa. – Olhei para os dois como se estivessem loucos; bem como a mulher de antes me olhou.
  - Você é que sabe. – Lou deu de ombros. – Se quer ir ao seu encontro duplo amanhã com um galo na cabeça, o problema é seu.
  - Eu odeio quando você tem razão, Louis! – Me rendi e encostei o pacote gelado na minha testa. Resmunguei um pouco de dor e frio, mas era melhor do que ficar com a cabeça inchada.
  Passamos pelo primeiro corredor, segundo, terceiro... Parando de cinco em cinco minutos e pegando coisas que nos agradavam. Quero dizer, os meninos iam pegando as coisas e eu arrumando no carrinho, pois não queria sair dele. Preciso confessar algo: Eu achava que fazer a “feira” seria bem mais complicado do que realmente foi. Minha mãe teria um treco se estivesse ali, mas como não estava, nos preocupamos apenas em encher o carrinho de besteiras. Quase não pegamos coisas saudáveis. A não ser que você considere sorvete de morango, ou varinhas de alcaçuz como fruta.
  - , olha aqui pra foto. – Lou me chamou e eu olhei em sua direção. Ele estava com o celular apontado na minha direção e se preparava pra tirar uma foto.
  - Eu estou tão engraçada assim pra você querer registrar esse momento? – Devia estar mesmo. Imagine uma menina de 19 anos sentada em um carrinho cheio de porcarias e segurando ervilhas congeladas na cabeça. Parecia mais uma criança, sei disso. Os meninos riram e eu fiz um bico para que ele tirasse a foto. Não daqueles bicos do tipo: “Sou sexy tirando foto no espelho pra colocar no facebook.” E sim: “Machuquei a cabeça e tive que passar por isso. Sintam pena de mim.”
  - Essa vai direto pro Twitter. – Lou tirou a foto e se afastou um pouco, me impedindo de ver o que ele estava escrevendo.
  - Você ficou louco, Lou? – Me assustei. A minha cara devia estar horrível e mesmo assim ele ia postar aquela foto?
  - Agora já foi. – Sorriu satisfeito.
  Liam parou de empurrar o carrinho e foi pegar mais alguma coisa nas prateleiras. Eu não esperei mais nada pra pegar o meu celular dentro da bolsa e abrir no Twitter. Queria ver o que o traste do meu irmão fizera. É só comigo que os sites demoram três vezes mais pra abrir quando mais se precisa? Porque o celular só fez o favor de carregar a página quando Lou começou a rir escandalosamente de algo. Deslizei o dedo pela tela até encontrar o que eu estava procurando.

“@ machucou a cabeça e quase saiu nos tapas com uma senhora no meio do ASDA !! #funday”

  Era o que dizia a legenda da foto. Até que não foi algo tão ruim quanto eu esperava e a minha cara não estava tão estranha. O motivo que levou o meu irmão a rir daquele jeito? Simples! O comentário da minha melhor amiga:

“Ela já não tinha muitos neurônios... Você ainda deixa bater a cabeça?”

Capítulo XXVI

  “Winter Wonderland, Winter Wonderland...” Não sei se estava mais animada com a música dentro da minha cabeça, ou com dancinha desengonçada que eu fazia ao me arrumar. Tudo parecia estar ao meu favor, já que naquele dia não estava chovendo, eu demorei menos de dez minutos para escolher a roupa que usaria e o meu cabelo estava comportado e me obedeceu quando fui arrumá-lo do jeito que queria. Estava quase na hora marcada para os meninos passarem pra me buscar e começara a me mandar mensagens pra me apressar. Combinamos de ir todos em um carro só, então Zayn passaria na casa de Niall e , respectivamente, antes de vir até a minha casa. Eles alegavam que eu demorava muito pra ficar pronta, por isso seria a última. Injusto! É só o que tenho a declarar.
  Entrei no banheiro para dar um último retoque na maquiagem e passar perfume. Eu até que estava apresentável e, o mais importante, confortável. Aquela roupa me permitiria correr, pular, girar e aproveitar todos os brinquedos que o parque de diversões teria a me oferecer. Aproveitei que estava ali e procurei um pequeno espelho para guardar na bolsa, assim como um batom mais claro; nunca se sabe quando vamos precisar, né?
  - , seu transporte chegou. – Harry Cupcake Styles falou da porta do meu quarto e eu me apressei.
  - Já estou indo, Hazza. – Gritei em resposta e corri para fora do banheiro, puxando a minha bolsa e enfiando as coisas dentro dela de qualquer jeito.
  - Se divirta, ok? – Me desejou assim que eu passei por ele e saí do quarto.
  - Pode deixar! – Sorri e baguncei os cabelos cacheados dele. – Vocês também.
  - Vamos tentar. – Escutei Lou gritar do quarto dele e ri.
  - Não me esperem acordados. – Brinquei e fui até a escada, começando a descer. – Fui!
  Passei pelo hall de entrada e peguei o meu chaveiro na fechadura da porta. Não sabia a hora que voltaria e realmente não queria ficar presa do lado de fora. Tranquei casa depois de sair e me virei pra olhar os meus amigos pela primeira vez. Zayn estava encostado na porta do carro, me esperando do lado de fora. Falar que ele estava lindo não vai ser uma novidade, porque quando esse menino está feio? Nunca, pois é. Mas o sobretudo preto que ele vestia o deixou mais charmoso que o normal e o Converse desenhado que usava nos pés deu um ar descontraído ao look. O outro casal estava no banco de trás, acenando pra mim pela janela.
  Me aproximei do carro sorrindo e olhando para Zayn. Eu tinha que cumprimentá-lo primeiro, é claro! Ele também andou na minha direção e abriu os braços para que eu me encaixasse ali. Nós nos abraçamos e eu respirei fundo para inalar aquele perfume tão delicioso que exalava do pescoço dele.
  - Oi, . – Falou baixinho, me fazendo olhar pra ele.
  - Oi, Malik. – Ri e dei um beijo rápido nos lábios dele. – Pronto para a diversão?!
  - Super pronto! – Ele também riu e aparentava estar tão animado quanto eu.
  - Nós existimos também, ok? – devia estar tentando cair do carro, porque ela ficou de joelhos no banco e colocou metade do seu corpo para fora da janela.
  - Vocês estão aí também, é? – Me separei de Zayn e fui abraçar a minha amiga. – Eu estou brincando, idiota! Não faz essa cara.
  - Eu estava morrendo de saudades! – A ruiva me apertou.
  - Nós nos vimos há menos de quatro horas, ! Na Academy, lembra? – Rolei os olhos, divertida. – Hey, Ni!
  - E aí, ?! – O loiro sorriu e fez a namorada entrar de uma vez no carro para que pudéssemos ir.
  - Não temos tempo a perder. – Zayn segurava a porta do carona aberta, me esperando entrar.
  - Eu estou tão ansiosa! – Já podia sentir um frio na barriga ao imaginar todos os brinquedos que estavam me esperando. Entrei no carro e já coloquei o sinto de segurança enquanto a porta era fechada.
  - Eu também... – Zayn falou baixo, quase em um sussurro, e olhou para Niall.

+++

  Chegamos ao Winter Wonderland em aproximadamente meia hora. O transito estava calmo para um começo de tarde no meio da semana e o parque não estava tão cheio; pelo menos não na parte que eu conseguia ver. O Hyde Park era gigante e aquele parque de diversões ficava bem no centro dele, então tivemos que caminhar alguns metros a pé por dentro da área verde. estava com uma câmera fotográfica na mão e não parava de tirar fotos. Eu queria registrar aquele momento e não via problema nenhum em ser fotografada, mas o que me irritava era que ela nos pegava despreparados. Zayn passou o braço em volta dos meus ombros e eu o abracei de lado pela cintura; a ruiva não perdeu tempo e eu só senti o flash no meu rosto.
  - ! – Reclamei e Zayn só riu. – Se eu ficar cega, a culpa vai ser sua.
  - Para de reclamar, ! Um dia quando estivermos bem velhinhas você vai olhar pra essa foto e me agradecer. – Ela deixou a câmera de lado por um momento e nós quatro andamos lado a lado até a entrada do Winter Wonderland.
  - Isso se eu ainda conseguir enxergar. – Resmunguei.
  - Relaxa, ... Olha onde estamos. Aproveite! – Zayn beijou a minha testa e eu senti todo o estresse abandonar o meu corpo na mesma hora. – Quero que hoje seja um dia perfeito.
  - É uma data especial e eu esqueci?
  - Todo dia ao seu lado é uma data especial. – Ele respondeu e eu senti um calafrio. De onde estava vindo todo aquele romantismo?
  - Awn, que coisa mais linda! – Sorri e parei de andar, ficando na frente dele.
  Zayn sorriu de volta e entendeu o que eu estava querendo. Me abraçou pela cintura e eu fiquei na ponta dos pés para igualar a nossa altura. O envolvi pelo pescoço e ele não esperou mais nada pra juntar os lábios aos meus. Minha boca estava gelada por causa do frio, mas logo começou a esquentar assim que o garoto modelou-a com a dele. Nossas línguas se encontraram e um choque elétrico percorreu o meu corpo. Eu já conhecia aquele beijo, mas a cada dia que passava ele me dava novas sensações, me deixava mais viciada; presa àquilo. Infelizmente aquele momento de carinho não durou muito, já que nós sabíamos que tinha mais gente nos observando, inclusive crianças.
  - Vem, gente, nós já pegamos os tickets. – Niall nos chamou e apontou para , que já estava bem distante, olhando balões de gás hélio.
  - Estamos indo! – Zayn o respondeu e segurou a minha mão.
  Preciso dar um pequeno aviso antes de continuar: Quando eu entro em um parque de diversões, lojas de brinquedo, festas infantis e etc, eu viro uma criança de cinco anos. Foi bem isso o que aconteceu ali... Eu comecei a correr para dentro do parque, puxando Zayn pela mão. Ele não me impediu e até me acompanhou, gargalhando enquanto me seguia. Passamos por , que se assustou, e Niall se juntou a nós.
  - EI, ESPERA POR MIM. – A ruiva tentou no alcançar e eu ri da cara que ela fez.
  - Anda logo, ! – Paramos de correr para esperá-la e recuperarmos o ar. Eu olhei em volta, admirada com as novas atrações e o pouco das luzes que já estavam acesas. – Aonde vamos primeiro?
  - Power Tower! – Niall e gritaram.
  - Eu quero ir ao Wild Maus. – Zayn disse ao mesmo tempo.
  - Que bom que todos chegamos a uma conclusão. – Ri. – Nós vamos em todos, mas temos que escolher um pra ir primeiro...
  - Podemos ir no que está mais perto. – apontou para o carrossel e meus olhos brilharam.
  - Carrossel é pra crianças! – Niall resmungou.
  - Quem disse isso? – Olhei pra ele com espanto. – Carrossel é algo mágico.
  - Por mim não tem problema. – Zayn deu de ombros e o loiro viu que não teria outra escolha.
  Eu bati palmas, animada, e fomos andando até o carrossel de dois andares. Sim, dois andares. Só estando em Londres mesmo. O brinquedo era lindo e cheio de animais como: elefante, cavalo marinho, rena, águia, cavalo, tigre e muitos outros. A fila não estava muito grande, mas ainda assim teríamos que esperar um pouco. A maioria das pessoas ali estava com crianças ou eram crianças, o que fez Niall nos olhar como se ele tivesse razão o tempo todo. Como ele nunca reclamava de nada, logo começou a conversar com um menininho de aproximadamente quatro anos.
  - Qual o seu nome, buddy? – Ele sorriu e o menininho segurou na perna da mãe dele, envergonhado.
  - Niall, você tá assustando a criança! – Zayn riu divertido ao meu lado. Niall estava na nossa frente e atrás de mim.
  - Eu só estava tentando ser amigável, poxa.
  - Você só está fazendo isso da forma errada. – Também ri e o irlandês fez um bico, desapontado.
  - Qual é a forma certa, então? – Perguntou, cruzando os braços.
  - Não tem uma “forma certa”. – Fiz aspas no ar, mas não foi o suficiente para convencê-los. Rolei os olhos e passei na frente de Niall, ficando mais perto do menininho. Abaixei até ficar quase na altura dele e sorri amigável. – Oi, pequeno.
  - Oi... – O menininho me respondeu inseguro, ainda segurando na perna da mãe. Ela nos olhava, mas não me mandou sair de perto do filho.
  - Você já sabe em qual bichinho vai andar? – Apontei para o carrossel e o menor balançou a cabeça, afirmando que sim. – Deixa eu adivinhar... O cavalo?
  - Uh-uhn. – Ele negou com a cabeça e abriu um pequeno sorriso.
  - Hm, é claro que não. – Fiz uma cara pensativa e ele riu. – E o dragão? Ele é bem legal.
  - Sim! – Balançou a cabeça e soltou a mãe. – O dragão é grande.
  - É grande mesmo! Às vezes eu até tenho medo dele.
  - Não precisa ter medo... – O garotinho era tão fofo que eu tinha vontade de levá-lo pra casa comigo. Ele parecia realmente preocupado por eu ter medo do dragão. – Eu te salvo!
  - Você me salva? – Sorri com aquela fofura. – Então eu não terei mais medo. Posso saber o nome do meu salvador?
  - Greg. – Ele falou dengoso, com um sorriso que não tinha preço.
  - Eu me chamo .
  - Com licença, eu posso tirar uma foto dos dois? – havia se aproximado e perguntava para a mãe de Greg.
  Ela afirmou que sim e até se afastou um pouco para não aparecer na foto. Eu apenas me virei um pouco e fiquei ao lado do menininho. Nós dois sorrimos e contou até três antes de disparar o flash. Ela realmente tinha que parar de usar aquilo! A fila começou a andar, finalmente, e chegou a nossa vez de entrar. Nos despedimos de Greg e entramos no carrossel. Eu fui direto para o segundo andar, subindo as escadas. Zayn me seguiu e os outros dois também. Nós tínhamos que correr pra pegarmos os melhores animais. Desviei de algumas pessoas e consegui chegar onde queria.
  - Viu, ? Você não precisa ter medo. – Zayn falou do nada, fazendo uma careta.
  - Eu arrumei um salvador! – Ri, mas ele não achou graça. – Você está mesmo com ciúmes de uma criança?
  - Não é ciúme! – Rolou os olhos. – Eu só esperava que você falasse que já tem alguém pra te salvar.
  - E eu tenho? – Me fiz de desentendida e aproximei-me dele. O solavanco que o brinquedo deu a começar a rodar me fez perder o equilíbrio.
  - Tem sim. – Ele me segurou pela cintura, impedindo-me de cair. Eu acabei sorrindo.
  Demos um selinho demorado e ele me ajudou a subir em um cavalo marinho esverdeado. Com o bicho subindo e descendo foi mais difícil do que se estivesse parado, mas ainda assim eu consegui sentar nele depois de muitas risadas. Zayn montou em um leão que estava na minha diagonal, Niall estava em uma águia e o único animal próximo aos nossos que estava sobrando foi um porco. Você pode imaginar a cara que estava fazendo ao montar nele, né?
  - Tá vendo como é legal, Ni? – Ri e levantei os braços para o alto, sentindo o brinquedo subir e descer. – Weeeeeeeee.
  - É muito emocionante mesmo. – Por mais que tenha sido irônico, ele riu e entrou na brincadeira.
  Fizemos palhaçada durante as três voltas lentas que o brinquedo deu. Zayn tentou ficar em pé no seu leão, mas só o que conseguiu foi uma reclamação do funcionário que estava por ali. tentou tirar onda com ele, mas eu o defendi fazendo uma piadinha envolvendo ela e o porco. Niall parecia ser o que mais estava gostando daquele brinquedo, porque ria o tempo inteiro. Eu gostaria de passar um dia dentro da cabeça dele, só pra ver como é que é, porque ele sempre era cheio daquela felicidade e via o mundo do jeitinho especial que só ele conseguia. Acho que ele e eram tão perfeitos um para o outro por conta disso. Saímos do brinquedo um pouco tontos e eu tive que segurar a minha amiga para que ela não caísse.
  - Agora é a minha vez de escolher o brinquedo. – Zayn sorriu maleficamente eu tive medo do que estaria por vir. – O trem fantasma.
  - Isso! – Comemorei. Eu não tinha medo dessas coisas e acabava achando mais engraçado do que assustador.
  - Nããããão. – choramingou. – Eu tenho medo!
  - Você pode segurar a minha mão, cerejinha. – Niall a abraçou, mas ainda assim ela estava relutante.
  - E eu posso segurar a sua mão, Honeybuns? – Pulei no pescoço de Zayn, exagerando na melosidade. Ele riu e me segurou.
  - É claro que pode, babycakes. – Falou e foi a minha vez de rir. Aparentemente tínhamos inventado apelidos ‘fofos’ um para o outro.
  Nós quatro começamos a caminhar até o trem fantasma lado a lado. Aquele encontro duplo estava sendo mais divertido do que eu imaginava. Se eu não estivesse com Zayn, e vice-versa, eu aposto que teria sido bem chato ver nossos amigos se agarrando, mas naquele caso era só virar para o meu “acompanhante” e fazer o mesmo que eles. Ficar de vela não é nada bom e eu sabia bem disso.
  Avistamos o nosso próximo destino e já começou a tremer. O brinquedo parecia um castelo e era todo escuro. As janelas eram pintadas de preto com algumas manchas avermelhadas que deveriam represar sangue. Senti um pequeno frio na barriga, mas não era medo. Demos sorte por não enfrentar nenhuma fila e um carrinho de dois lugares já estava a nossa espera. Como eu e Zayn estávamos na frente, acabamos sendo os primeiros a entrar. Nos sentamos e esperamos o funcionário fechar a trava de segurança. Com um solavanco nada delicado, o carrinho começou a andar e a porta que levaria para dentro do castelo se abriu.
  - Tchaaaaau. – Acenei para os outros dois que ficaram lá esperando a chegada do carrinho deles e o que eu vi em seguida foi o escuro. – Ai meu Deus!
  - Tudo bem, ? – Zayn riu de mim e segurou a minha mão, me confortando.
  - Tudo sim, eu acho! – Também ri e passei o meu braço pelo dele, me aconchegando em seu corpo. Eu não estava com medo, mas não custava nada me sentir ainda mais protegida, não concorda?
  Como tudo continuava no escuro, nós não vimos a descida chegando e eu me assustei com a queda do carrinho. Zayn também estremeceu ao meu lado, mas não gritou e nem falou nada. A primeira luz que eu vi foram dois olhos vermelhos que nos seguiram até o carrinho fazer uma curva para a direita. Finalmente foi possível ver o que estava ao nosso redor assim que entramos em uma nova sala, mas eu desejei continuar no escuro. O lugar era horrível: Tinha correntes no teto, ferramentas de tortura, máquinas que eu não tinha idéia do que faziam -mas sabia que eram pra alguma coisa ruim- e a boneca de uma mulher ensangüentada deitada em uma mesa de madeira. Olhei tudo aquilo com receio e abracei Zayn ainda mais. O carro continuou a atravessar aquela sala e passou bem ao lado da tal boneca ensanguentada. Mas o que eu não sabia era que aquela não era mesmo uma boneca. Imagine o tamanho do susto que eu levei quando a mulher começou a gritar e se contorcer na mesa de madeira. Eu gritei mais uma vez e Zayn tremeu. Ele não chegou a gritar literalmente, mas fez um barulho ao se assustar também. Eu fechei os olhos com força, querendo tirar aquela imagem da minha cabeça.
  - Ok, eu não estava esperando por isso! – Falei ainda de olhos fechados. Saímos daquele quarto de tortura e nos entreolhamos.
  - A vai ter um ataque cardíaco. – Zayn gargalhou e eu também ri ao imaginar a cena.
  Continuamos o nosso passeio até chegar à outra sala. O chão era coberto por uma névoa misteriosa e o movimento da fumaça lembrava um lago. Até que aquilo não era assustador, mas a sensação que algo ia acontecer não me largava. O som alto de um grunhido me fez tremer e olhar para Zayn como se perguntasse: “O que foi isso?” e ele não sabia a resposta, pois parecia tão aterrorizado quanto eu. Pelo menos o carrinho não parava de andar e o que quer que viesse a acontecer não iria durar muito tempo.
  - O que foi aquilo? – Zayn apontou para o meu lado, me fazendo pular no banco e olhar naquela direção.
  - O que? – Perguntei com a voz trêmula. – Você viu alguma coisa? Será que é um monstro?
  - Não... Eu acho que é a sua dignidade indo embora. – Brincou com uma risada gostosa.
  - Malik! Isso não tem graça. – Diminui um pouco o aperto em seu braço e dei um pequeno tapa em seu ombro. – Até parece que você não se assustou também!
  O menino não teve tempo de me responder, porque um esqueleto caiu em cima de nós. Ok, ele não caiu literalmente em cima da gente, mas chegou bem perto disso. Por sorte o esqueleto estava grudado em algum tipo de corda ou coisa parecida e apenas se aproximou o bastante pra nos assustar. Zayn gritou dessa vez e eu só dei um pequeno pulo sem sair do lugar. O esqueleto foi recolhido e o carrinho continuou o percurso.
  - Cof cof. – Forcei uma tosse, olhando o menino ao meu lado com deboche. – O que ia dizendo?
  - Cala a boca. – Ele riu e eu ri mais ainda.
  - Vem calar! – Respondi como uma criança birrenta e continuei rindo.
  Zayn me olhou como se aceitasse aquele desafio e o que se seguiu foi bem simples. Ele segurou na lateral do meu rosto e o puxou para perto do dele. Eu parei de rir na mesma hora e fechei os olhos. Entreabri os lábios, encaixando-os nos dele e demos início a um beijo. Minhas mãos procuraram os ombros do garoto, mas pararam na gola do sobretudo que o aquecia. Tudo a nossa volta desapareceu... Os barulhos horripilantes se tornaram ruídos, os monstros e criaturas que deviam nos assustar não fizeram efeito algum e nem mesmo o movimento brusco do carrinho nos atrapalhou. Ficamos trocando carinhos até sentirmos a luz voltar a tocar a nossa pele. O passeio tinha acabado e nos separamos com relutância.
  - Não podemos ir de novo? – Zayn alisou a minha bochecha, querendo continuar aquela sessão de amasso.
  - Eu acho que tem mais gente querendo andar nesse brinquedo, Zayn... – Falei baixinho, roubando um último beijo rápido.
  O funcionário do parque abriu a trava de segurança e nos deixou sair. Até que aquele brinquedo tinha sido divertido e a melhor parte foi o final, é claro. Zayn segurou a minha mão e foi o suficiente pra me fazer esquecer de algo importante que eu não fazia mais idéia do que era. Dei de ombros e começamos a nos afastar do trem fantasma e procurar outra atração. Eu estava me sentindo corajosa, com vontade de experimentar algo com mais adrenalina... Foi aí que eu vi a Power Tower. Uma torre de aproximadamente muitos metros de altura onde as pessoas eram levadas até o topo e depois sofriam uma queda livre muito rápida.
  - Eu quero ir ali! – Apontei para o brinquedo.
  - Tem certeza? – Zayn parecia um pouco apreensivo.
  - Tenho sim! Vamos, vamos, vaaaaaaaaaaaamos? – Fiz um biquinho e sabia que ele não iria resistir.
  - Então vamos, , mas você tem que me prometer uma coisa. – Fomos andando em direção ao brinquedo. – Que não vai rir de mim se eu gritar.
  - Eu prometo!

+++

  Passamos vinte minutos na fila da Power Tower, mas pelo menos esse tempo foi bem aproveitado. Nós dois não no agarramos ali, mas usamos o tempo para conversar, fazer brincadeiras um com o outro e rir, mas rir muito. Zayn admitiu que estava nervoso de andar naquele brinquedo e que não gostava muito de altura, mas eu o convenci a experimentar. Disse que estaria ao lado dele e que nada de mal iria acontecer.
  - Eu estou começando a me arrepender disso... – Falei quando chegou a nossa vez de entrar e procurar um lugar vazio.
  - Agora nós vamos até o fim. – Zayn também tinha um pé atrás, mas tentava me encorajar. – Eu te ajudo...
  Como os bancos eram um pouco altos demais e a minha roupa escorregava, eu não estava conseguindo subir no brinquedo. Zayn desceu do próprio lugar só pra me ajudar e eu sorri com aquilo. Existia alguém mais fofo? Acho que não. Ele me segurou pela cintura e teve uma facilidade tremenda pra me levantar e me sentar no brinquedo; aproveitou pra fechar a trava de segurança que parecia um colete. Eu me acomodei e confiei que estava segura; bem mais segura do que estaria se algum funcionário tivesse me ajudando no lugar dele. Depois de conferir se eu estava bem presa, Zayn voltou para o seu lugar e também se assegurou ali. Uma funcionária passou conferindo as travas e me falou pra colocar a minha bolsa entre as minhas pernas, já que assim ela estaria mais segura. Eu aceitei o conselho e a prendi ali, já que não queria a minha bolsa voando pelo parque.
  - Está preparado, Zayn? – Eu olhava pra frente e para o chão, já temendo a hora que o brinquedo começasse a se mexer, mas o silêncio do menino me fez olhá-lo. – Zayn?
  - Hm? – Ele respondeu baixo. Estava agarrado à barra de segurança e tinha os olhos fechados com força. Coitadinho, estava com medo mesmo.
  - Awn, baby... – Sorri e estiquei o braço até tocá-lo no ombro, querendo confortá-lo.
  - Do que você me chamou? – Zayn abriu os olhos e me olhou com um sorriso maior que tudo. Só então é que eu me toquei do que tinha acabado de fazer. “Baby”
  - Nada. – Respondi rápido e me senti idiota com aquela resposta. – Digo... Eu te chamei de Zayn, só isso.
  O garoto continuou sorrindo como um bobo e eu sabia que ele não cairia naquela minha tentativa de disfarçar o que eu havia falado. O timing do brinquedo não poderia ser melhor, porque assim que ele começou a subir, o assunto foi deixado de lado. Zayn voltou a fechar os olhos, mas ainda tinha aquele sorriso no rosto. Eu olhei pra baixo e segurei no ferro que me mantinha presa. Estávamos ganhando velocidade rápido demais e muitas pessoas a nossa volta começaram a gritar. Eu parei de olhar pra baixo e levantei o rosto, admirando a vista. A torre era bem mais alta do que parecia quando vista de baixo e o horizonte era lindo. Eu podia ver boa parte verde do Hyde Park e alguns prédios ao longe. O sol estava do lado oposto do brinquedo, então eu pude admirar aquela vista sem meus olhos lacrimejarem. Olhei para o meu lado e Zayn estava sério, rígido, quase sem respirar. Pensei em falar pra ele abrir os olhos e aproveitar o panorama, porém, aquilo só iria assustá-lo ainda mais.
  O brinquedo parou. Eu olhei pra cima, checando se já havíamos chegado ao topo e o frio na minha barriga se tornou o pólo norte. “É isso. Agora vamos cair. E morrer. Não, não morrer. Só cair em queda livre. A queda da morte.” Minha consciência estava descontrolada e me assustava mais do que devia. Eu balançava os meus pés com nervosismo, desejando encostá-lo em algum lugar. Na minha cabeça eu contava até três várias vezes, como se fossemos cair assim que eu chegasse ao número três e aquilo me preparasse um pouco para o que estava por vir. Não adiantou, pois continuamos parados lá no alto. Acho que aquele brinquedo tinha um sexto sentido e ficava esperando a gente se distrair para, então, voltar a se mover. Digo isso porque foi exatamente o que aconteceu. Eu estava totalmente desprevenida, voltando a apreciar a vista e... BUM. Gritei com o susto e tudo aconteceu muito rápido. Meus cabelos ficaram em pé, literalmente, e meu corpo levantou do banco. Eu estava voando, mas a sensação não era boa.
  Se eu tivesse fechado os olhos perderia a queda, pois despencamos tão rápido que deve ter levado menos de cinco segundos pra voltarmos ao chão. Estava ofegante e agradeci internamente por ter acabado. Foi até legal e a adrenalina corria acelerada pelas minhas veias, mas não era algo que eu gostaria de repetir tão cedo. Passei as mãos pelos cabelos, tentando fazê-los voltar para o lugar e já comecei a soltar a tranca que me mantinha presa ali. Saltei do brinquedo e olhei para Zayn pela primeira vez depois de descermos. Ele estava no mesmo lugar, petrificado. Seu rosto estava pálido e seus lábios sem cor. Corri até ele e eu mesma abri o espaço para ele passar e sair.
  - Você está bem? – O segurei pela mão até que ele estivesse pisando no chão novamente.
  - Nunca... Mais... – Respondeu com esforço e eu o abracei ali mesmo.
  - Desculpa, tá? Eu não devia ter pedido pra você vir comigo... – Eu estava me sentindo mal por ele, por isso apertei o abraço e sussurrei: - Mas tá tudo bem agora.
  - Não foi culpa sua, . Só vamos sair daqui, ok? – Ele parecia um pouco melhor e já começava a sorrir.
  Eu assenti e nos dirigimos até a saída do brinquedo, novamente de mãos dadas. Ajeitei a minha bolsa em meu ombro e, graças a Deus, ela não saiu voando durante a queda do brinquedo. Caminhamos sem direção até que eu escutei o toque do meu celular dentro da bolsa. Parei de andar e assim que peguei o meu iPhone na bolsa gelei ao ler o nome que estava na tela: “Abi.” Olhei para Zayn e nós devíamos estar pensando a mesma coisa. Então a sensação de estar esquecendo algo veio porque eu realmente estava esquecendo algo: Nossos amigos. Pode parecer impossível esquecer duas pessoas assim, mas quando saímos do trem fantasma, tudo que eu consegui prestar atenção se resumiu ao menino maravilhoso que estava ao meu lado.
  - Hey, ... – Atendi meio receosa e já esperando as reclamações que iria escutar.
  - Tomlinson! Se você e Zayn Malik quiserem um tempo a sós, é só avisar, ok? Não precisam sumir do nada! – Ela reclamou e eu afastei o telefone para não ficar surda.
  - Desculpa, ruivinha linda! – Fiz a minha melhor voz arrependida na esperança de amolecer o coração dela. – Onde vocês estão? É só falar e nós vamos até vocês.
  - Não venha tentar se desculpar! Eu estou com raiva e... parecia mesmo irritada e eu escutei o som do celular sendo arrancado da mão dela.
  - Oi, , é o Niall. – Pude escutar os berros da menina no fundo da ligação, mas pelo menos o garoto estava mais calmo. – Nós estamos aqui na xícara maluca, tem como vocês virem pra cá? Já estamos na fila...
  - Tudo bem, Ni, já estamos indo aí. – Encerramos a ligação e Zayn me olhava rindo.
  - Estamos muito encrencados? – Ele coçou a nuca.
  - Ela usou nosso nome completo. – Fiz uma careta engraçada e ele entendeu que estávamos MUITO encrencados.

+++

  Já havia escurecido quando nos perdoou por termos esquecido-os no trem fantasma e nós pudemos voltar a aproveitar o dia no parque de diversões. Eu estava terminando o meu segundo algodão doce e Niall atacava um cachorro quente. Decidimos só comer alguma coisa depois de andar em todos os brinquedos que poderiam nos enjoar e por isso estávamos mortos de cansaço quando finalmente sentamos em um banco de madeira. A noite chegou e as luzes do parque foram acesas, deixando o lugar ainda mais lindo e colorido do que já era. Eu pegava pedaços de algodão doce e os levava até a boca, sorrindo cada vez que ele derretia na minha boca.
  - Meninas, nós já voltamos, ok? – Zayn se levantou e Niall o seguiu.
  - Onde vocês estão indo? – Perguntei colocando um pedaço enorme de algodão doce rosa na minha boca.
  - Vamos pegar mais comida pro Niall. – Ele respondeu.
  - Não querem que a gente vá junto?
  - Não, ... Deixa os meninos irem. – me segurou quando eu tentei levantar e eu precisei olhar pra ela para perceber o quanto aparentava estar cansada.
  - Encontramos vocês no lago, ok?
  Os meninos se afastaram e eu fiquei sozinha no banco com ao meu lado. Aquele algodão doce estava tão delicioso que eu não me importaria em ficar ali a noite inteira sem prestar atenção em mais nada. A ruiva ao meu lado me olhava e ria sem parar, afirmando que eu parecia uma criança e estava me lambuzado toda. Mentira, é claro, porque ninguém pode se “lambuzar” com algodão doce. No máximo, os meus dedos e o canto da minha boca estavam um pouco sujos, mas nada que um pouco de água não resolvesse.
  - Você não ama parques de diversões? – Fiz uma pergunta retórica, olhando em volta. Todas as pessoas felizes passeando a nossa volta, todas as luzes dos brinquedos e das lojinhas... Aquele era um bom lugar pra se estar com amigos.
  - Não mais do que você. – Minha amiga respondeu com um sorriso.
  - Eu realmente amo isso aqui. – Ri baixo e terminei de comer o algodão doce. – Vamos ao banheiro? Preciso me lavar.
  - Que preguiça, ... O banheiro fica tão longe! Eu estou cansada, sabia? – Resmungou parecendo uma velha e revirou a bolsa procurando alguma coisa. – Usa isso aqui, oh.
  - , para de ser preguiçosa! – Eu também estava cansada, mas não podia ficar andando por aí com as mãos cheias de açúcar. – O que é isso?
  - Lencinhos umedecidos. – Me entregou um dos lencinhos e eu teria que me contentar com aquilo. – Eu sempre carrego alguns na bolsa quando vou sair com crianças.
  - Também faço isso quando vou sair com a Lux! – Sorri e já comecei a limpar a boca e minhas mãos. – EPA! Eu não sou criança.
  - Claro que não! – Respondeu irônica. – Só tem algodão doce até na bochecha porque é muito adulta.
  - Minha bochecha ta suja? – Fiz uma voz de criança e um biquinho, passando a ponta do lenço na minha bochecha. É, eu estava mesmo suja ali.
  Depois de me limpar totalmente, joguei o lencinho sujo em cima de e ela soltou um grito tão agudo que até cachorros do outro lado da cidade deviam ter escutado. Eu comecei a rir, mas rir muito na cara de nojo que a minha amiga fez e me arrependi de estar fazendo aquilo na mesma hora, pois a menina me atacou. Sei que apanharia se não tivesse levantado na mesma hora em que ela investiu na minha direção.
  - Volta aqui! – também levantou e eu corri até ficar a poucos metros de distância dela.
  - Vai ter que me pegar! – Mostrei a língua e coloquei as mãos na cintura, fazendo a minha melhor pose infantil. – A última que chegar ao lago é a mulher do padre.
  - Eu não acredito que você disse isso, ! – colocou as mãos no rosto, rindo por sua melhor amiga ter cinco anos de idade, mas entrou na brincadeira. – E eu também não acredito que vou fazer isso...
   correu na direção do lago e eu fiz o mesmo. O parque estava mais cheio do que quando chegamos lá e por isso tive que desviar de algumas pessoas, mas mesmo assim recebi reclamações por estar correndo. Aquilo me irritou um pouco, já que as pessoas costumam ir a um parque de diversões para se divertir, então o que havia de errado no que eu estava fazendo? Nada! De qualquer forma, não deixaria ninguém atrapalhar o dia maravilhoso que eu estava tendo e decidi ignorar e continuar com a corrida.
  Como eu estava na frente desde o começo, foi fácil ganhar a corrida e chegar até a beira do lago. Como o inverno ainda não havia chegado ao seu ápice, brincadeiras na água ainda eram permitidas, como por exemplo: Pescaria esportiva, passeios de bote e pedalinho. Até mesmo algumas pessoas poderiam se arriscar a nadar na parte mais rasa, ou alimentar os patos. Eu me curvei um pouco, apoiando as mãos nos joelhos e recuperando o ar perdido durante a correria. logo se juntou a mim e estava mais ofegante ainda.
  - Eu... Te mato... Me fazer... Correr... – Falava entre puxadas de ar.
  - Pelo menos assim você faz exercício! – Disse com uma gargalhada.
  - Tá me chamando de gorda, sua vaca?
  - Ei, vocês duas! – Um grito seguido por um assovio chamou a nossa atenção. Reconhecemos que se tratava de Niall, mas não conseguimos encontrá-lo a nossa volta. – Aqui!
  - ONDE? – Perguntei alto, olhando em todas as direções; até mesmo para o céu.
  - Zayn, elas não estão nos vendo! – O irlandês gritou e eu escutei a risada que me dava arrepios em algum lugar atrás de mim.
  - Ahá! – Me virei na direção do lago e finalmente encontrei os dois “fantasmas” que estavam rindo da nossa cara. – O que vocês estão fazendo aí?
  - Não é óbvio? Estamos nos preparando para a queima de fogos! – Niall respondeu e “estacionou” o pedalinho que estava pilotando o mais perto de nós que conseguiu. Ele estava em um e Zayn em outro.
  - Tem espaço pra gente aí? – já foi andando para o muro de cimento não muito alto que dividia o lago e a parte de terra que os pedestres caminhavam.
  - , você vai cair! – Tentei impedi-la, mas era tarde demais. Niall a ajudou a pular e ela logo estava sentada ao lado dele. – Vocês estão loucos!
  - Vem, ... Tem espaço pra você aqui. – Assim que Niall se afastou, Zayn parou o pedalinho no mesmo lugar que ele. Eu me aproximei, mas ainda estava receosa.   - Eu sei que tem espaço, mas e se eu cair no rio? – Subi no muro e cometi o erro de olhar para baixo. Entre o pedalinho e a “mureta” havia pelo menos trinta centímetros de água.
  - Eu pulo pra te pegar! – Zayn sorriu e se levantou com cuidado, esticando a mão pra mim.
  - Mas você não sabe nadar! – Eu não falei aquilo de forma que o magoasse, até porque ele riu.
  - Por você, eu aprendo em cinco minutos! Agora vem logo, , os fogos já vão começar!
  - Já vou...
  Tomei coragem e saltei para dentro do pedalinho esverdeado. Segurei a mão de Zayn e ele me puxou com cuidado. Sorri da minha vitória e nós dois nos sentamos lado a lado para começar a pedalar. Na França, os pedalinhos geralmente tem pedais dos dois lados, ou seja, as duas pessoas tem que pedalar para que ele se mexa. Mas em Londres era diferente... Apenas o lado de Zayn tinha esses pedais e eu fiquei uns bons segundos procurando os meus. Assim que me contentei em não ter o que fazer com os pés, decidi apenas relaxar e aproveitar o passeio. Niall e já estavam bem na nossa frente, mas Zayn não demorou muito pra nos levar até o meio do lago. Só nos restava ficar ali e esperar o espetáculo de fogos de artifício começar.
  - Olha, olha! – Apontei para o céu escuro, seguindo o caminho brilhoso que o primeiro foguete deixou. Ele logo explodiu bem em cima de nossas cabeças como uma chuva de purpurina dourada. – É tão mágico...
  - Você é tão linda... – Zayn falou em um sussurro e eu o olhei sem esperar por aquilo. Minhas bochechas ganharam um tom avermelhado e ele me olhava como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo.
  - Do que você está falando? – Meu sorriso era tímido e você já deve saber que eu não boa em aceitar elogios, então a minha única reação foi desconectar nossos olhares e fitar o chão.
  - É a verdade, ... – Ele levantou o meu rosto pelo queixo e eu tive que voltar a encará-lo. – Você é linda e parece que nem sabe disso, mas talvez esse seja o motivo que te torna ainda mais incrível. Você não precisa se esforçar. Desde que eu te vi naquele auditório, no primeiro dia, eu percebi que você era diferente das outras só pelo jeito que revirou os olhos quando me viu.
  - E você provou ser alguém totalmente diferente do que eu esperava. – Nós dois rimos e eu não sabia mais como responder a todos aqueles elogios. Também não conseguia tirar os olhos dele, mesmo com os fogos de artifício que brilhavam acima de nós.
  - Eu consegui uma coisa pra você... – Zayn tirou algo de dentro de seu sobretudo e meu sorriso aumentou ainda mais ao ver que era um ursinho de pelúcia.
  - Awn, que gracinha! Obrigada, Malik! – Assim que o ursinho me foi entregue, eu o abracei com força e sorri para o moreno. O ursinho tinha o tamanho do meu antebraço e seu pelo era marrom claro, daquele bem fofo e gostoso de acariciar. O mais engraçado era que ele estava vestindo um sweater natalino com a frase “Be mine?” costurada. - É impressão minha, ou esse ursinho está me pedindo pra ser dele?
  - Na verdade... – Zayn não riu da minha brincadeira como eu esperava que ele fizesse. – Eu estou te pedindo pra ser minha namorada.
  - Está? – Demorei quase um minuto inteiro pra formular aquela palavra. Eu sou uma pessoa estranha, vamos concordar. Em certas situações eu sou a melhor pra pessoa pra dar respostas, conselhos e etc, mas quando se trata de elogios, perguntas constrangedoras ou que envolvam romances, eu simplesmente travo e não sei como responder de forma “não patética”. Borboletas voltaram a se mexer dentro de meu estômago assim que aquelas palavras deixaram os lábios de Zayn e um arrepio percorreu a minha espinha.
  - Estou... Você aceita ser a minha namorada, ? – Perguntou com um sorriso. Eu adorava o tom que a palavra “minha” tinha na voz dele.
  - É claro que sim! – “Muito bem, , finalmente uma resposta concreta!” Eu estava feliz demais pra discutir com a minha consciência e a ficha parecia demorar um pouco pra cair. Então eu estava namorando? E o melhor... Com Zayn Malik?
  Melhor do que a minha resposta foi o que eu fiz em seguida. O puxei pela nuca e juntei os nossos lábios de uma vez, mas com cuidado para não acabar machucando-o com a minha brutalidade. A queima de fogos nem podia ser comparada com as explosões que eu sentia dentro de mim. Pela primeira vez na vida eu me sentia confortável em dizer que estava namorando. Pela primeira vez eu sentia que aquilo era certo, que eu podia mergulhar de cabeça e era isso que eu pretendia fazer.

Capítulo XXVII

  Quando acordei naquela sexta feira de manhã senti meu mundo pesar. Não porque algo ruim tinha acontecido, mas sim por eu estar caindo de sono. É isso que dá passar a noite inteira ao telefone com o seu namorado. Pois é, eu ainda estava me acostumando com aquela palavra, mas adorava repeti-la na minha cabeça, por mais que ainda fosse fora do comum falar em voz alta. Imagine então como foi difícil contar as novidades ao meu irmão... Mesmo que ele tenha adivinhado que algo aconteceu no momento em que eu pisei dentro de casa após passar o dia no Witer Wonderland. Lou disse que eu estava com mais cara de idiota que o normal e como eu estava alegre demais pra começar uma briga, ele chegou a pensar que eu estivesse doente. Liam acabou ouvindo a nossa conversa e ficou sabendo da noticia, mas, mais uma vez, ele me surpreendeu com a sua reação, desejando-me felicidades e espantando o clima desconfortável assim que ele tentou se instalar entre nós.
  Tive que tomar um banho para espantar a minha preguiça, já que a manhã seria longa. Sei que sexta-feira é o meu dia de folga da Academy, mas com o baile de inverno se aproximando eu e Nicholas usaríamos todo o nosso tempo livre para ensaiar. Ensaiar o que? Também não faço idéia. O lado bom de nós mesmo criarmos uma apresentação é que temos total liberdade para ousar e literalmente criar. Mas o ruim é que você pode ficar um pouco perdida e sem saber por onde começar. De qualquer forma, seria um desafio que eu estava pronta pra aceitar. Agnes oferecera uma sala no quinto andar para que nós usássemos durante qualquer hora do dia. A diretora se mostrou muito entusiasmada ao nos colocar juntos para montar aquele ato de encerramento da festa e até ofereceu nos dispensar de aulas caso fosse necessário.
  Não era nem sete horas da manhã quando subi a escadaria da London Royal Academy com meu copo de frappuccino da Starbucks na mão e entrei naquele primeiro corredor vazio. Meu parceiro de dança ainda tinha trinta minutos até a hora que marcamos de nos encontrar, mas eu preferi chegar mais cedo para poder me alongar e me preparar. Como ele era do último semestre e tinha uma grande bagagem de apresentações nas costas, eu estava um pouco nervosa de não conseguir acompanhá-lo, então quanto mais preparada eu estivesse, melhor. O lugar vazio me propiciou uma caminhada silenciosa e rápida até o elevador que parecia estar me esperando.
  Não muito tempo depois, eu já estava no último andar e procurava a sala que seria a minha fonte de inspiração. O que eu não sabia era que ela seria tão bonita. Comparada às salas das minhas outras aulas, aquela dali era o paraíso. Uma metade era coberta por janelas e a outra era preenchida por espelhos que iam do chão até o teto. Não havia barra alguma naquele ambiente e o único objeto era um aparelho de som de última geração. Eu duvidava até que soubesse mexer nele de tão tecnológico que aparentava ser. Como não tinha tempo a perder, fui terminando a minha bebida enquanto trocava de roupa. Obviamente eu não fiquei pelada por ali, já que estava com o meu “uniforme” de ballet por baixo da calça jeans e blusa: Meu costumeiro collant cor de rosa, meia calça fina e só o que faltava era a saia transparente que eu amarrava na cintura e as sapatilhas de dança. Meu cabelo já estava amarrado e preso com uma rede, então eu fiquei pronta em um instante.
  Fui até o aparelho de som e procurei alguma música entre todos os CD’s que já estavam ali dentro. Não foi difícil achar uma melodia que me agradasse e eu pude finalmente começar os meus exercícios. Caminhei até o centro da sala, parando de frente para o espelho e de costas para a porta. Primeiro me alonguei de todas as formas possíveis, fosse girando o pescoço em todos os lados, ou esticando as pernas para o alto e puxando o meu calcanhar. Todos esses anos de ballet me deixaram com um corpo bastante flexível, o que me permitia fazer movimentos que pareciam complicados para outras pessoas, mas que pra mim eram bem simples.
  Meu próximo exercício não foi tão complicado e o objetivo era alongar as minhas pernas. Para resumir, eu ficava brincando de subir e descer das pontas dos pés. Como a sapatilha que eu estava usando naquele momento não era a sapatilha de ponta, eu forçava ainda mais os meus dedos e treinava o meu equilíbrio. Eu tinha uma contagem silenciosa na minha cabeça que era mais ou menos assim: 1, 2, 3... Eram as etapas que meu corpo levava para levantar totalmente e 4, 5, 6 meus movimentos para baixo, onde eu terminava em um plié.
  Perdi a noção do tempo completamente com os exercícios que se seguiram e não percebi as duas pessoas que estavam paradas na porta da sala. Pelo visto os alunos já começavam a chegar para as suas aulas e Nick não deveria estar muito longe. Ao terminar um salto qualquer, olhei para o reflexo do espelho na minha frente e vi e Zayn cochichando alguma coisa. Me assustei por não saber que estava sendo observada, mas sorri por serem aqueles dois.
  - Sabiam que é feio espiar? – Fui até os dois, com as mãos na cintura.
  - Você estava tão linda dançando que não queríamos atrapalhar, . – foi a primeira a falar algo e Zayn parecia nem escutá-la; só olhava pra mim com um sorriso.
  - Bom dia, babe. – Sim, Zayn estava começando a me chamar daquele jeito. Durante a nossa conversa na noite anterior ele soltou alguns apelidos carinhosos que me derretiam e me faziam corar, mas eu estava tranquila porque não podia ser flagrada.
  - Bom dia... – Acabei também ignorando a ruiva e abracei o menino como se não o visse há dias. Ele me deu um selinho demorado, mas logo nos largamos.
  - O que você tá fazendo aqui hoje? Não é o dia que você não tem aula? – A outra menina me perguntou.
  - Ela veio por causa do Nicholas. – Zayn respondeu no meu lugar e afinou a voz ao falar o nome de Nick com desdém.
  - Não é bem assim! – Ri com aquela demonstração de ciúme. – Eu vim hoje porque vamos ensaiar para o baile de inverno... E eu já disse pra não se preocupar que não vai acontecer nada.
  - E por que não vai acontecer nada? – Ele perguntou e eu já sabia onde aquilo ia dar. Nós já tínhamos passado por isso antes.
  - Você sabe por quê. – Cruzei os braços e rolei os olhos, me recusando a entrar na onda dele.
  - Você tem que falar. – Insistiu. ficou ali ao nosso lado, sem entender nada.
  - Não vai acontecer nada... Porque eu sou sua. – Murmurei a última parte, mas foi o suficiente. – Satisfeito, Malik?
  - Eu preferia que você falasse mais alto, mas já é um começo. – Ele riu puxou o meu rosto pra deixar um beijo estalado na minha bochecha.
  - Não está na hora da aula de vocês? – Ri com o exagero do menino ao me agarrar e o abanei para que se afastasse. Não que eu quisesse que ele realmente se afastasse, mas eu não gostava de ficar com muita intimidade na academia por aquele ser um lugar de “trabalho”, digamos assim.
  - Ihh, já tá expulsando a gente. Vamos embora, Zayn. – puxou-o pelo braço e foram andando para fora da sala.
  - Pelo menos eu te vejo no intervalo? – Ele gritou enquanto era arrastado e eu fiquei no batente da porta, os observando se afastar.
  - Talvez! – Eu ri e mandei um beijo no ar para os dois.
  Vire-me para entrar na sala novamente, mas avistei Nick se aproximando ao longe e parei ao dar meia volta. Ele não estava sozinho e sorriu a me ver. A professora Holly o acompanhava e também sorria, como sempre. Acho que de todos os professores da Academy, ela era a mais querida. Sempre estava fazendo brincadeiras e conversando com todos que encontrava, mesmo se não fossem seus alunos. Além de muito legal, ela também era super competente e dedicada. Acho que era por essas e outras razões que ela era a coordenadora do curso de dança e uma das organizadoras principais do espetáculo de encerramento.
  - Bom dia, . – Ahh, e ela também era a única docente que me chamava pelo apelido. – Animada com o baile de inverno?
  - Bom dia, Holly. Oi, Nick. – Sorri para os dois e nós três seguimos para dentro da sala. – Estou muito animada! E bem nervosa também.
  - Você vai ser ótima, . – Nick me confortou e foi para um canto, se preparar.
  - Os dois vão, ok? – A professora se virou pra mim. – Eu sei que essa vai ser a primeira vez que você se apresenta na frente dos alunos, então é normal ficar nervosa. Mas confie no seu potencial e tudo vai dar certo!
  - Obrigada... – Sorri realmente agradecida por aquelas palavras.
  - Além do mais, você tem um parceiro maravilhoso que também vai te ajudar, certo Nick?
  - É claro que sim! Mas acho que ela não precisa de ajuda. – Ele calçou as sapatilhas masculinas e caminhou até o meu lado. – Vamos começar?
  - Eu vou deixar vocês dois sozinhos. Bom ensaio, meninos. Se precisarem de qualquer coisa, eu estou aqui pra ajudar. – A professora Holly se despediu com um sorriso amigável.
  Acenei para ela enquanto se afastava e depois olhei para Nicholas. Nós sorrimos um para o outro, mas foram sorrisos diferentes. Ele estava normal e feliz, enquanto eu estava meio receosa. Lembrei-me de quando o conheci e ele agia todo tímido, mas extremamente charmoso. O que era totalmente diferente de como ele estava naqueles últimos dias. Claro que Nick continuava tendo o seu charme, é só que eu não o via da mesma forma. Talvez porque a minha atração total estivesse voltada para o meu... Namorado. E também, Nicholas não era mais tímido como antes, bem pelo contrário. O menino deve ter percebido o meu desconforto e por isso resolveu falar algo.
  - Vamos esclarecer algo de uma vez, ok? – Falou, mas não tinha seriedade alguma em sua voz. – Você é bonita, divertida, e sim, eu queria ficar com você... Mas já sei que você está namorando o Malik e eu ligo demais pra você pra tentar fazer qualquer coisa que pudesse atrapalhar uma futura amizade entre a gente. Então não precisa se sentir estranha na minha presença e não vamos deixar nada atrapalhar o nosso desempenho juntos. Além do mais... Eu já tenho outra pessoa em vista.
  - Amigos... Sem clima estranho... Entendi. – Eu bati continência em afirmação e gostara bastante daquele discurso. Eu gostava de Nick porque ele era daquele tipo que fala na lata, sem enrolar; fosse ao tentar me beijar, ou explicando que não faria mais aquilo.
  - Então vamos lá, você tem alguma idéia? – Nick estava pronto para o trabalho assim como eu, o que me alegrou.
  - Nenhuma... – Admiti. – Tudo que eu consigo pensar é naquele dia que eu te vi dançando com a garota durante a sua aula. Mas também não quero copiar...
  - Mesmo que você quisesse copiar, não poderia. – Ele riu. – Não era uma dança coreografada, sabe? Nós inventamos na hora e a beleza disso é que sempre é uma coisa única... A gente se deixa levar e só sabe o resultado no final, mas não conseguimos repetir os mesmos passos nunca.
  - Wow, eu não sabia disso! – Fiquei encantada com aquela técnica e desejei estar no último ano só pra ter uma aula como a dele e experimentar eu mesma. É claro que eu já havia “me deixado levar” pela dança várias vezes, mas sempre fiz isso sozinha. – Parece tão divertido...
  - Quer tentar? – Perguntou prontamente e eu assenti na mesma hora.
  - É claro que sim!
  Nick sorriu com a minha atitude animada e foi até o aparelho de som da sala para selecionar uma música. Eu perguntei o que deveria fazer ele respondeu um: “O que você quiser.” Dei de ombros e fui para o lado oposto ao dele. A melodia que começou era totalmente instrumental e não era nem tão lenta, nem tão rápida. Tinha uma batida legal e eu logo entendi o que Nicholas queria dizer com “se deixar levar”. Reconheci ser uma versão da música Sway do Michael Buble. Ele veio andando na minha direção com alguns giros e deslizadas de seus pés e eu também fui a sua direção, me movendo com leveza e agilidade. O conjunto todo era bem sensual, principalmente por causa do ritmo da música e dos movimentos que Nick fazia com o quadril. Nos encontramos no meio da sala e ele me segurou pela cintura. Minha primeira reação foi mergulhar no chão e me livrar de seus toques. Não por eu estar rejeitando-o, mas sim por que fazia parte do que aquela música me fazia sentir.
  Ele sorriu aceitando aquela minha fuga de seus braços como se fosse um desafio e eu sorri ao olhá-lo por cima do meu ombro depois de ter levantado e começar a me afastar dele de costas. O menino foi ao meu encontro e me abraçou por trás. O mais legal de tudo era que nós dois não parávamos de dançar e eu deixei-o me guiar por uns instantes, deslizando com o corpo junto ao dele. Nick me girou e eu aproveitei essa oportunidade para me afastar mais uma vez. Ele dava um passo na minha direção e eu dava um passo para trás. Nós dois sorriamos com aquelas ‘provocações’ e ninguém queria perder o jogo. O menino esticou a mão na minha direção e eu o encarei com uma sobrancelha levantada. Não tinha muita certeza do que ele queria, mas segurei sua mão do mesmo jeito. Ele me puxou com força e me fez rodopiar rápido sem soltar a minha mão. Eu estava um pouco zonza quando parei de girar e ele beijou a minha bochecha com um sorriso maroto. Ponto pra ele. Eu não iria deixar barato e logo tratei de me soltar dele. Fiz de conta que daria um tapa em seu rosto, mas o mais velho segurou a minha mão na mesma hora em que a levantei. Largou-a para longe em seguida e eu aproveitei aquele movimento para escorregar para o lado.
  A música estava chegando ao fim e nós precisaríamos de um final. Em todas as apresentações e danças de ballet, o mais divertido é exatamente a última parte e como eu sempre fui fã de entradas e saídas dramáticas não podia deixar aquele momento ser diferente. Nick se afastou rapidamente e me chamou com a mão. Eu sabia o que ele queria dizer, mas não estava tão certa que conseguiria. Meu ponto fraco era pular para que alguém me segurasse e era exatamente isso que ele estava querendo que eu fizesse. Respirei fundo, decidindo que ao menos tentaria. Tomei distância e corri na direção do menino que se preparava pra me pegar. Me aproximei dele cada vez mais rápido e contei até três na minha mente para tomar impulso no chão e pulei. Admito que fechei os olhos. Se eu caísse, pelo menos não veria a queda. A força do meu parceiro me surpreendeu na hora que ele segurou nas laterais da minha cintura e levantou-me acima de sua cabeça. Eu dobrei um dos joelhos, formando um “4” com as pernas e estiquei os braços e até a ponta dos dedos. Abri os olhos e levantei a cabeça no mesmo momento em que a música chegou ao fim.
  Graciosamente fui colocada no chão e abracei Nicholas na mesma hora. Ele me abraçou de volta, rindo da minha excitação. Eu nunca havia dançado assim com ninguém e algo que dizia que não era o fato de estarmos dançando sem combinar nada e sim de estarmos dançando juntos. Ele era um dançarino e tanto e eu só percebera isso naquele instante. De qualquer forma, estava grata por ter sido escolhida entre tantas outras pra dançar com ele.
  - Isso foi muito legal, Nick! – O soltei, mas continuei com animação.
  - Eu sabia que você ia gostar! – Soltou uma risada rouca. – Vai ser mais fácil criarmos uma coreografia assim do que se formos parando pra pensar em cada passo...
  - Então vamos lá!

+++

  - Chega, Nick. Por favor. Preciso de um tempo pra respirar... – Deitei no chão de madeira da sala, fazendo de tudo para não ofegar.
  - Só mais uma vez, , vamos... – O menino caminhou até o meu lado e me cutucou com a ponta do pé.
  Nós estávamos dançando há duas horas e meia sem parar nem pra beber água e eu estava super cansada. Nicholas parecia ser movido à bateria solar, porque sua energia não acabava nunca! A coreografia da nossa apresentação para o baile de inverno estava se formando aos poucos e as idéias que começávamos a ter iam se encaixando. Nosso desempenho até que estava muito bom, se pararmos para considerar que era o nosso primeiro ensaio. Além disso, nós nos divertimos mais do que eu esperava. Nick se mostrou muito engraçado e paciente ao me ajudar em passos que eu não dominava, mas eu descobrira que ele tinha mania de continuar, persistir e dificilmente aceitava intervalos. Se eu me achava perfeccionista... Aquele garoto era o dobro.
  - Nãonãonãonão. – Choraminguei e escondi o rosto nas mãos. – Preciso de pelo menos vinte minutos de descanso, Nick. Ou eu vou falar pra Agnes que você está me torturando e me mantendo em cativeiro.
  - Meu Deus, como você é dramática, ! – Ele riu e estendeu a mão. – Mas você venceu. Vem, vamos tomar um ar.
  - Obrigada! – Sorri aliviada e segurei na mão dele, logo sendo puxada e levantada do chão. – Quer ir comer algo no refeitório?
  - Não, mas você pode ir... Eu vou dar uma passada na sala da professora Holly. – Nick suspirou de forma muito suspeita.
  - Espera... Então você e a Holly...? – Sorri querendo saber de tudo. Sei que parecia uma menininha fofoqueira, mas quem liga?
  - Shhhh! – Fez sinal de silêncio com a mão. – Ninguém pode saber, porque ainda somos professora/aluno, mas sim...
  - Desde quando?! – Eu estava animada demais pra me conter. Aquele era um babado e tanto.
  - Nós saímos pela primeira vez na segunda... Mas, , você tem que me prometer que não vai contar a ninguém. Ninguém mesmo. E ela também não pode saber que você sabe... Já foi complicado demais fazê-la aceitar sair comigo. – Nick estava tão sério ao me pedir para prometer aquilo que eu entendi a importância daquele assunto.
  - Eu prometo, Nick... Pode confiar em mim. – Sorri. – Mas depois você vai me contar detalhes, ok? Por favor!
  - Nós ainda estamos nos conhecendo, então não tem nada muito pra contar... – Enquanto conversávamos, ele juntava as suas coisas para sair da sala e eu fazia o mesmo, enrolando-me no meu cardigan. – Mas eu conto sim.
  - Ótimo! – Pendurei a minha mochila nas costas e fomos andando até a porta.
  - Te encontro aqui em meia hora? – Ele me perguntou com um sorriso, já saindo para a direita no corredor.
  - Ok! – Fui pela direção contrária. – Hey, Nick! Boa sorte!
  Gritei e recebi um aceno como resposta. Tecnicamente aquela não foi a atitude mais discreta que eu poderia ter tido, mas ninguém passava por ali mesmo... Nick também não pareceu ficar bravo com a minha curiosidade ou comentários, então eu fiquei tranquila. “Abi precisa ficar sabendo disso!” Eu já ia procurar o meu celular na mochila e mandar uma mensagem pra ela, mas lembrei da promessa que fizera a Nick. Melhores amigas não devem guardar segredo uma da outra e ao mesmo tempo aquele era um segredo sério. Holly poderia perder o emprego e Nick ser expulso da Academy. Pois é, eu estava em um dilema. Contar ou não contar? Eis a questão.
  Foi com essa discussão interna que eu andei pelo corredor até encontrar o banheiro mais próximo. Para minha sorte ele estava vazio e eu poderia aliviar a minha bexiga em paz. Não que eu me importasse se mais alguém quisesse usar o banheiro na mesma hora que eu... Mas enfim. Entrei em um dos cubículos espaçosos e pendurei meu cardigan e mochila em um gancho preso à parede. Já era difícil demais ter que usar o toilet com aquelas camadas de roupas de ballet para eu ainda ter que me preocupar com acessórios.
  Fiz o meu “serviço” e levei mais tempo pra me vestir do que para me despir. Durante essa minha demora, eu escutei a porta do banheiro se abrir e duas pessoas entrarem. Aliás, percebi que eram duas pessoas porque escutava duas risadas diferentes. Fiquei naquela situação constrangedora: Será que eu saio daqui? Será que eu fico escondida até essas duas irem embora? As espiei por uma brecha da porta e vi seus reflexos no espelho. Eram as duas discípulas de Brigitte que retocavam a maquiagem. “Por que? Por que não podia ser qualquer outra pessoa?” Pelo menos a abelha rainha não estava por ali, então poderia ser pior. “Não vai ter problema se eu sair... O banheiro é público!” Eu tentava me encorajar, mas o que escutei em seguida me fez congelar:
  - Você soube da novidade? – A mais alta falou com uma voz irritante.
  - Duuh, é claro que sim! – A magricela respondeu. Um dia eu ainda vou descobrir o nome das duas, mas por enquanto vamos chamar a magricela e Cruela e a mais alta de Devil. – Mesmo que não consiga acreditar que aquela está namorando o Zayn.
  - Certo?! – Devil riu escandalosamente e eu fiquei petrificada. As duas começariam a falar de mim? Aí é que eu não sairia de lá mesmo. – Mas não é como se fosse durar, ou algo parecido.
  - Pois é. – Cruela fez uma careta horrível ao retocar o batom. – Eu não sei o que ele viu nessa garota. Os dois não tem nada a ver um com o outro... É só olhar pra eles que você vai perceber a diferença.
  - Você vai ver só, amiga, daqui a pouco o Zayn se cansa e volta para a Brie. Essa sim é mulher pra ele.
  - Concordo! – As duas riram irritantemente. – Ela vai conseguir ele de volta rapidinho.
  Queria que elas terminassem logo de se maquiar –o que não estava fazendo muita diferença, já que as duas continuavam com a mesma cara de vilã de desenho animado- para que eu pudesse sair correndo dali. De repente o cubículo em que eu estava começou a ficar menor. Sei que essa sensação era apenas psicológica, mas ainda assim era desesperadora. Mesmo tentando evitar ser atingida por aquelas palavras, não pude deixar de avaliar. Será que a diferença entre eu e Zayn era tão grande assim? Tirando a parte física, claro, já que ele era dono de uma beleza estupenda e eu... Bem, eu era normal. , Niall e até meu irmão costumavam falar que nós éramos um casal bonito e eu sempre acreditei neles. Além do que, Malik e eu dividimos os mesmos gostos nos mais variados quesitos.
  Foi então que eu liguei uma coisa à outra... Elas não deviam estar falando do Zayn que eu conhecia; do meu Zayn. Sim, porque tecnicamente existem dois Zayns... Ok, isso está confuso demais. O que eu estou querendo dizer é que o Zayn Malik da Academy era o badboy de Bradford. O menino com “más atitudes”, personalidade forte, orgulho e ego inchado. Enquanto o meu Malik era doce, carinhoso, preocupado, dedicado, sonhador, inseguro e imperfeitamente perfeito. O meu namorado era o verdadeiro Zayn Malik e poucas pessoas o conheciam. Infelizmente, ou felizmente, aquelas duas garotas e a maioria dos outros alunos só conheciam a fachada; a imagem que Zayn estava tão acostumado a passar só pra ser aceito. Olhando pelo ponto de vista da Cruela e Devil, elas estavam certas. Ele era o mau caminho e eu o “bom caminho” (se é que existe essa expressão), ele era o preto e eu o branco. Éramos tão opostos que não conseguíamos combinar. Nós dois sabíamos que não era verdade e desde o nosso primeiro encontro não oficial no centro de Londres, ele me mostrou quem era por trás do status de badboy e foi por esse que eu me apaixonei.
  Para complicar as coisas, Zayn não podia se dividir em dois e agradar a todos ou deixar a pose de badboy de um dia para o outro; assim como não podia deixar de ser quem era por dentro. Não seria certo. Admito que era a primeira vez que eu parava pra pensar naquilo e fiquei um pouco assustada. Eu só costumava pensar em como era bom estar com ele e como nada mais importava. Isso não deixava de ser verdade, mas em um ambiente onde a sua posição social e status importam até mesmo no seu desempenho profissional, não poderíamos deixar essa questão de lado. Eu não sabia o que fazer e nem sabia se existia algo para se fazer...
  Demorei tanto tempo envolta em pensamentos que nem percebi quando as duas meninas juntaram suas coisas e foram embora. Eu agradeci internamente e fui lavar as mãos e passar uma água no rosto. Evitei olhar o meu próprio reflexo no espelho, já que deveria estar com a cara horrível. Sabia que seria perseguida por aquelas teorias durante o dia inteiro e só ficaria pior. Respirei fundo. Provavelmente a minha meia hora de descanso estava acabando e eu teria que voltar para a sala sem comer nada. O que era até bom, já eu não conseguiria manter nada no estômago.
  Deixei o banheiro pra trás e caminhei encarando os meus próprios pés, não vendo a pessoa na minha frente e provocando o nosso confronto. Levantei o olhar preocupada, já esperando pelo pior. Pude sorrir aliviada quando vi que era apenas Jessica, uma garota do segundo semestre de dança. A mesma que puxou assunto comigo na aula segunda feira.
  - Desculpa, Jessica, eu não te vi. Estava meio distraída...
  - Não tem problema algum, , imagine. A culpa foi minha também! – Ela sorriu gentil. – Eu estava mesmo procurando por você!
  - Por mim? – Perguntei curiosa. – Bem, agora você achou!
  - Vou direto ao assunto... Você conhece uma boate chamada Storm?
  - Não conheço, desculpa... – Passei a mão pelos cabelos, forçando um sorriso. – Na verdade eu não conheço boate alguma aqui de Londres.
  - É claro que não! Que cabeça a minha. Imagine, você, uma francesa perdida em Londres... É claro que não conhece. – Ela riu divertida. Acho que Jessica gostava de lembrar constantemente que eu era de Paris e acabava exagerando de vez em quando, mas ela sempre era tão educada comigo que eu não me importava. – De qualquer forma, o meu pai é dono dessa boate. E amanhã é o meu aniversário, então eu vou comemorar lá!
  - Parece divertido! – Sorri pressentindo um convite.
  - Vai ser sim! E eu gostaria muito que você fosse, . E pode chamar aqueles seus amigos também... E o seu namorado, é claro.
  - Eu vou sim, pode contar comigo. – Senti um arrepio quando ela não se referiu a Zayn pelo nome e sim como meu namorado. – E vou arrastá-los comigo.
  - Ótimo! – Jessica ficou radiante. – Então eu vou colocar o nome de vocês na minha lista vip, certo? Aí vocês não precisam ficar na fila nem nada.
  - Melhor ainda!
  - Aqui está o endereço direitinho e também o meu telefone. Qualquer coisa é só me ligar. – Me entregou um papel cor de rosa com várias informações anotadas.
  Eu agradeci e prometi que não iria faltar o aniversário dela por nada. Nos despedimos com um abraço tímido e ela seguiu o próprio caminho. Antes de voltar para a minha própria sala, parei no bebedouro para pelo menos matar a minha sede. Eu já estava me sentindo um pouco melhor e tudo que estava precisando era de mais duas, três, quatro horas seguidas de dança.

+++

  Cheguei tão tarde em casa naquela noite que quase dormi durante o banho. O cansaço conseguia ser maior que eu, mas pelo menos eu tinha a consciência limpa que fizera um bom trabalho. Nick era o melhor dançarino que eu conhecia e ele me ensinou tanto que eu nem vi o tempo passar. Só quando a sala ficou escura é que nós decidimos que seria hora de parar e retomaríamos o trabalho outro dia. Passei o ensaio inteiro sem pensar no que presenciei no banheiro, porém, foi só entrar no meu carro e começar a dirigir pra casa que o assunto voltou a me perturbar. “Não vai durar muito.” “Eles não combinam.” Nada disso me agradava. Durante o banho então?! Aí que eu pensei mesmo.
  Como de costume, toda sexta feira Harry dormia lá em casa e acabava passando o final de semana. Nesta noite ele era quem estava fazendo o jantar enquanto Louis e Liam bebiam cerveja e assistiam televisão. Eu estava na sala, mas não no sofá como de costume e sim em uma cadeira. Meus pés estavam mergulhados em uma bacia de água morna e sal, para que perdessem o inchaço causado pelas horas que passei na ponta. Eu sempre cuidei do meu corpo e principalmente dos meus pés, já que são o meu objeto de trabalho, então aquele era um ritual que eu fazia pelo menos três vezes na semana.
  - Você está quieta hoje, . – Liam chamou a minha atenção e eu olhei pra ele.
  - Eu só to cansada, Li. – Forcei um sorriso. Liam poderia acreditar em mim, mas pelo olhar que recebi de meu irmão, era o único.
  - Como foi o ensaio? – Lou perguntou, provavelmente querendo me arrancar algo.
  - Muito bom! – Pude sorrir sincera. – Nick e eu conseguimos nos entender na dança e eu acho que a nossa apresentação vai ser linda.
  - E pessoas de fora vão poder assistir? – Liam parecia curioso. – Eu nunca te vi dançar ballet...
  - Sinto muito, Leeyum, mas o baile é só pra alunos. – Fiz um bico de lado.
  - Acho que você é o único que ainda não a viu dançar. – Meu irmão falou pensativo. – Está perdendo um espetáculo.
  - Não exagera, Lou. – Ri daquele comentário, mas me senti muito bem em ser elogiada por ele. Louis podia sempre estar fazendo brincadeiras e tirando onda com a minha cara, mas era um irmão muito bom e me apoiava em tudo.
  - Poxa, agora eu quero ainda mais! – Liam cruzou os braços. – Você podia dançar aqui na sala mesmo, só pra eu assistir.
  - Quem sabe um dia, né? – Ri e tirei os pés de dentro da bacia, secando-os com uma pequena toalha em seguida. – E como foi o trabalho de vocês?
  - Horrível. – Os dois responderam de uma vez só.
  - Tão ruim assim? – Gargalhei.
  - E o jantar está servido. – Harry nos interrompeu. Ele estava com o rosto sujo de molho branco, por isso deduzi que teríamos macarrão para o jantar.
  - Já era a hora! – Louis se levantou e nós o seguimos.
  - Haz, você tá sujo. – Fui até ele com um sorriso sapeca e limpei o molho do seu rosto com o polegar. Em seguida, deixei um beijo estalado no local e o menino sorriu como uma criança. – Agora está limpo!
  - Obrigado, ! – O menino de cabelos cacheados riu e me abraçou de lado para podermos nos juntar aos outros dois que já estavam atacando a comida.
  Cada um de nós tinha o seu lugar na mesa de jantar: Eu ficava na ponta esquerda, Harry e Liam eram os próximos – um sentado de frente para o outro – e Lou ao lado de Harry. As outras cadeiras podiam ser ocupadas por quem mais estivesse com a gente, mas aquelas eram as nossas e nós nunca trocávamos. Mania, sabe? De qualquer forma, comecei a comer. Harry era um ótimo cozinheiro e, só pra variar, aquele macarrão estava divino. Por mais que eu não tivesse me alimentado direito durante o dia inteiro, eu não consegui comer nem a metade do que coloquei no prato. Os meninos conversavam animadamente e faziam reclamações sobre o trabalho. Aparentemente o dia de Liam e Louis havia sido horrível porque o chefe deles estava cada vez mais exigente e em cima dos dois. Pelo menos foi isso que eu entendi, já que não estava prestando muita atenção em nada. Eu olhava para o macarrão em meu prato como se fosse a coisa mais importante do mundo e brincava com o garfo de um jeito qualquer.
  - Lembra disso, ? – Harry riu, mas eu não sabia do que ele estava falando. – ?
  - Hm? Desculpa, Hazza eu não ouvi... – Os três pararam de rir e ficaram me olhando sem saber o que falar. Ótimo, estraguei o clima do jantar. – Lou, posso falar com você?
  Não esperei ele responder e fui levantando da mesa para sair da sala de jantar. Passei correndo pelo hall de entrada e subi as escadas na mesma velocidade. Antes de subir, notei que Liam e Harry me olharam com preocupação, mas respeitaram a minha vontade de falar apenas com Louis. Esse último me seguiu com pressa e logo nós dois estávamos no meu quarto. A primeira coisa que fiz ao entrar no meu refugio foi me jogar na cama e abraçar um travesseiro em cima do meu rosto. Lou fechou a porta e se juntou a mim, sentando na minha frente.
  - O que está te perturbando, ? – Perguntou baixinho, acariciando a minha perna como forma de encorajamento.
  - Ughhh. – Bufei em frustração comigo mesma. Abaixei o travesseiro e sentei na ama pra poder olhar para Louis. – Eu vou te contar...
  Fiz um relatório básico sobre o que havia escutado no banheiro, minhas teorias e minhas inseguranças. Fui bem detalhista ao explicar os motivos que Zayn tinha pra ser duas pessoas diferentes, ou seja: Ser o cara legal com os amigos de verdade e o badboy para qualquer pessoa que não o conhecesse direito. Lou entendeu o lado dele, mas também compreendeu o que estava me perturbando.
  - Mas, ... Eu acho que Zayn não se importa com essa diferença entre vocês. Ele gosta muito de você.
  - Eu sei que gosta... Mas por agora. – Suspirei. – Quero dizer, hoje ele não se importa com isso, mas quem me garante que vai ser assim pra sempre? E se ele acordar um dia e perceber que estar comigo não é o melhor pra ele? As pessoas estão começando a falar e eu tenho certeza que ele já escutou muito mais do que eu. Estou insegura... Eu nunca tive nenhum relacionamento como esse, por mais que ainda esteja no começo. Eu não quero perdê-lo, Lou...
  - E você não vai! Eu já vi algo parecido com isso... – Louis tinha um sorriso no rosto e eu não sabia o que significava. – Você já assistiu Grease, certo?
  - Você me obriga a assistir a esse filme pelo menos uma vez por mês, então sim. – Rolei os olhos. O que o filme preferido dele tinha a ver com isso? – Mas e daí?
  - Você lembra o que a Sandy faz no final do filme? A mudança de atitude e de estilo? Ela fez aquilo pra se adaptar... Pra entrar no mundo do cara que ela gostava, pra fazer parte do mundo dele. – Ele explicou e até que fazia algum segundo. – Ela não deixou de ser quem era e não mudou na parte de dentro. Porque a aparência é só um detalhe superficial, mas você já percebeu que importa pra muita gente. Então porque não tenta fazer o mesmo? Porque não prova pra todo mundo que você pode sim ser quem eles esperam que seja?
  - Só por um dia? – Mudar quem eu era estava fora de cogitação, mas a idéia de Louis até que era boa. Eu só precisava de um dia. Só um dia pra mostrar que eu podia me adaptar ao mundo de Zayn. Uma pequena mudança na minha atitude e roupas... Seria uma boa. Eu iria surpreender muita gente e mostrar a Brigitte que se ela quiser tirar meu namorado, terá que passar por mim primeiro.
  - Só por um dia. Só pra provar que eles estão errados. – Sorriu.
  - Obrigada, Lou... – Também sorri e o abracei. Meu irmão sempre soube me dar ótimos conselhos e mesmo quando não podia ajudar, escutava tudo que eu tinha a falar; todos os meus desabafos.
  - Sempre que precisar, . – Retribuiu o abraço e beijou a minha testa. – Você não quer descer e terminar o jantar?
  - Eu realmente estou sem fome... Mas você pode ir. Aproveita e explica pros meninos que eu não estou louca. – Ri e encostei as costas no travesseiro que estivera abraçando.
  - Então eu vou, mas antes de dormir venho aqui checar como você está. – Ele se levantou e caminhou até a porta do quarto.
  - Só volte se trouxer chá.
  Louis fez uma careta antes de desaparecer porta a fora. Eu suspirei e sorri, terminando de deitar na cama. Me sentia bem mais leve e com as idéias no lugar. Era incrível como só aquela conversa foi capaz de me ajudar e me deixar mais tranqüila. Eu aproveitaria a festa de aniversário de Jessica no dia seguinte pra fazer a minha mudança de estilo, já que eu tinha certeza que pelo menos metade da Academy estaria lá. Por falar nisso... Eu ainda tinha que contar a Zayn, e Niall sobre a festa. Peguei meu celular em cima da minha mesinha de cabeceira e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, vi que tinha duas mensagens não lidas do meu namorado. Sorri curiosa e abri a primeira mensagem:

“Estou com saudades. x”

  E então abri a segunda:

“Eu não sei por que mandei essa mensagem... Agora você vai me achar grudento demais.”

  Tive que rir! Imaginei a cara que ele devia estar fazendo ao se achar “grudento” e fiquei sorrindo por saber que ele sentia a minha falta. Não passamos muito tempo juntos naquele dia, já que eu não tive intervalo e apenas nos vimos bem cedo e quando ele e foram se despedir de mim na hora de irem pra casa. O fato é que eu também sentia falta dele... Demais até. Sabe quando a pessoa não sai do seu pensamento? Porque eu sei.
  “Também estou com saudades, baby. Como você está? xx ps: Pode ser grudento, eu não me importo. :p” – Foi o que respondi. Após clicar em “enviar” procurei os números de e Niall; iria mandar a mesma mensagem para os dois:

“O que vocês vão fazer amanhã? Cancelem todos os compromissos, pois temos um convite.”

  Também enviei as mensagens e não precisei esperar muito pela minha primeira resposta. Era Zayn:

“Estou melhor agora! Minhas irmãs estão uma peste hoje. Eu devia ganhar um prêmio por não matar nenhuma das três. E você, pequena?”

  Antes de começar a responder decidi ler as outras duas mensagens que também chegaram:

“Não tenho absolutamente nada! Que convite tão importante é esse? – .” e “Meu dia está livre pra você, gatinha. O que manda?”

   morreria se visse o namorado dela falando comigo desse jeito. Tratei de responder a todos pela ordem de chegada:

“Não mate as minhas cunhadas, por favor! E tenho certeza que a culpa é sua, não importa o que elas fizeram. >.< Eu estou bem... Só bastante cansada.”
“Vamos à festa daquela Jessica... Em uma boate chamada Storm, conhece? O pai dela é dono de lá e estaremos na lista VIP”
“Quero te ver na Storm amanhã,
gatinho. Rola?”

  É, eu entrei na brincadeira com Niall e sabia que não iria demorar pra tirar satisfações comigo. Fiquei rindo sozinha enquanto mexia no meu celular e a resposta de Zayn veio em segundos:

“Você vai mesmo ficar do lado delas? Que namorada legal essa que eu fui arrumar.”
“Para de reclamar, Malik! Você é o mais velho, tem que dar o exemplo.”
“Vou começar a ficar ao lado do Louis quando ele estiver contra você.”
“Mas você já faz isso!”
“Tem razão... Mas enfim.”
“É claro que eu tenho razão! O que vai fazer amanhã?”

  Os outros dois também responderam às minhas mensagens e eu logo fui ler:

“STORM? É simplesmente a boate mais quente da cidade! Eu só consegui entrar lá uma vez de tão cheio que estava... E ainda por cima somos VIP?! O que você fez pra conseguir isso?”
“Amanhã? Terei que inventar alguma desculpa pra enrolar a minha namorada, mas faço qualquer coisa por você.”

  Ri dessa última mensagem de Niall e o respondi antes da minha melhor amiga:

“Então esteja lá as 23hrs... E eu serei sua.”
“Me ame pra sempre! haha Não fiz nada... A Jessica só me convidou. Então está combinado. Amanhã às 23hrs.”

  Zayn me respondeu:

“Amanhã? Só quero te ver. Tem algo em mente?”
“Na verdade tenho sim... Boate Storm, às 23hrs.”

Capítulo XXVIII

  Fui dormir cedo na noite anterior e estava tão cansada que nem sonhei com nada, infelizmente. O que me acordou naquele sábado de manhã foi o barulho da chuva forte batendo contra a minha janela. Seria um dia frio... Era sempre assim quando amanhecia chovendo. Eu não me importava com baixas temperaturas, mas o lado ruim da chuva é que as ruas ficam molhadas e com isso o transito fica pior que o normal. Me espreguicei devagar, criando coragem pra deixar o meu cobertor quentinho e ir fazer a minha higiene. Eu já estava sem sono e pronta para um novo dia, mas a vontade de ficar mais uma hora só rolando na cama era maior que tudo.
  Antes de me render ao colchão, resolvi levantar de uma vez e me arrastar até o banheiro. A primeira coisa que fiz foi “me aliviar” e em seguida lavei as mãos e escovei os dentes. Não há nada melhor do que sentir os dentes limpos e aquele gostinho de chiclete do creme dental. Resolvi que continuaria de pijamas e só peguei um casaco grosso de lã e me enrolei nele para poder sair do quarto, já que tinha certeza que o resto da casa estava bem mais frio que ali. Penteei os cabelos e assim que eles estavam no lugar enfiei os pés em um chinelo qualquer.
  Deixei o meu quarto e me aproximei da escada, escutando conversas vindas do andar de baixo. Quanto mais eu me aproximava mais vozes surgiram como, por exemplo, uma voz feminina que eu sabia conhecer, mas não conseguia lembrar a quem pertencia. Fui direto para a sala e tive uma surpresa ao ver quem estava ali: Anne, a mãe de Harry.
  - Olha quem acordou cedo hoje! – Esse era o jeito de Louis falar bom dia.
  - Anne, quanto tempo! – Ignorei o meu irmão e caminhei até a mulher que eu conhecia desde pequena. – O que a traz aqui?
  - Como você cresceu, . – Ela levantou-se do sofá e nos abraçamos. – Meu filho não sai mais dessa casa, então eu vim fazer uma visita. Já que vocês não vão mais à minha casa como quando eram crianças, não é?
  - Nós não quisemos incomodar... – Nos separamos e a mulher voltou a sentar, puxando-me junto. – Mas é claro que eu senti a sua falta! Por que a Gemma não veio com você?
  - Ela também me troca pelos amigos, então eu não a vejo tem uns três dias. Mas eu aviso que você perguntou por ela. – Anne sorriu. – Como está a sua mãe?
  - Ahn... – Troquei olhares com Lou e Harry. Eu não tinha noticias da minha mãe em muito tempo. Na verdade, não falava com ela desde que me mudara pra Londres, então não sabia como responder àquela pergunta. Minha mãe e a mãe de Harry costumavam ser amigas há alguns anos atrás e ninguém sabe ao certo o que aconteceu para que elas se perdessem contato. – Ela está do mesmo jeito de sempre.
  - Peça pra ela me ligar quando falar com ela de novo, tá bem? Quem sabe nós não marcamos um encontro de mães? – Disse animada. Seria bom para a minha mãe sair um pouco do mundinho dela e conversar com uma velha amiga, mas eu duvidava muito que ela fosse vir até Londres.
  - Pode deixar que eu falo sim. – Era mais fácil concordar do que ter que explicar tudo. – Que cheiro é esse?
  - São os biscoitos de gengibre que eu estava fazendo. Meninos, porque vocês não vão dar uma olhadinha neles? – Anne pediu e os dois meninos se levantaram para ir até a cozinha. Liam devia estar por lá, já que eu não o vira ainda. – Agora que estamos sozinhas podemos falar do que é importante!
  - Como assim, Anne? – Ri da cara que ela fez em seguida.
  - Garotos! – Também riu e segurou em uma das minhas mãos. – Harry me disse que você está namorando.
  - Estou sim... – Soltei uma risada nervosa e as minhas bochechas deviam estar ficando vermelhas.
  - Me conte tudo! É o bonitinho que também mora aqui?
  - Liam? Não, ele é só um bom amigo... O nome do meu namorado é Zayn e nós nos conhecemos onde eu estou estudando agora. – Comecei a falar. Anne é daquele tipo de mãe que age como se também fosse da turma e você acabava contando tudo pra ela sem se importar.
  - Seus olhos até brilham ao falar dele! – Aquele comentário me pegou de surpresa e eu tenho certeza que fiquei mais corada ainda. – Já percebeu que a sua voz também muda?
  - Não per... – Limpei a garganta para melhorar a minha voz que acabou saindo mais fina que o normal. – Não percebi!
  - Tá vendo só? – Ela riu. – Eu me lembro de quando conheci o pai do Harry... Nós nos apaixonamos no momento em que nos conhecemos. Mas infelizmente... Bem, você sabe como terminou.
  - Sei sim... – Suspirei. No mesmo ano em que Harry e eu nos conhecemos, Des (o pai dele) saiu de casa. Eu ainda me lembro o quanto ele ficou arrasado e do quanto chorou. Quando se é uma criança, não esperamos que coisas assim aconteçam e, infelizmente, acontecem. Só fico feliz por ter estado ao lado do meu amigo naquele momento difícil, pois ele precisou de todo apoio que conseguiu. – Mas agora você está com o Robin e tudo está no lugar novamente!
  - Isso mesmo, . – Anne sorriu e se levantou. – Bem, eu tenho que ir agora.
  - Mas já? – Fiz um bico de lado e também levantei do sofá.
  - Sim, querida... Eu gostaria de ficar mais, mas só vim mesmo pra dar um beijo em você e no seu irmão.
  - Mas volte, tá bem? – Fomos saindo da sala em direção à porta de entrada.
  - Pode deixar! – Ela me abraçou.
  - Você é de casa, Anne, não esqueça disso. – A abracei de volta e logo nos separamos. – Harry, sua mãe está indo embora.
  - Tchau, muuum. – Harry gritou da cozinha.
  - Não deixe os meus biscoitos queimarem, ok? – Ela gritou de volta e se virou pra mim. – São daqueles que você gosta! Eu trouxe prontos de casa, mas coloquei no forno aqui pra vocês comerem quentinhos.
  - Obrigada, Anne, você é sempre um amor. – Abri a porta de casa e a mulher saiu.
  Ainda estava chovendo um pouco, então ela teve que correr até o carro que estava estacionado atrás do meu. Assim que ela partiu rua a baixo, um carro da FedEx estacionou naquela vaga. Correios não costumavam fazer entregas regulares nos sábados, então devia ser algo importante. O carteiro desceu do carro com uma caixa branca em mãos e seguiu para o caminho de pedra da minha casa. Eu teria fechado a porta se ele fosse para a casa ao lado da minha, mas como não era o caso, eu só esperei.
  - Bom dia, senhorita. – O carteiro se aproximou.
  - Bom dia! – Sorri simpática.
  - Eu tenho uma entrega para o senhor Payne... Liam Payne. – Leu o nome no topo da caixa e voltou a me fitar. – Ele mora aqui?
  - Mora sim, quer que eu o chame?
  - Você mesma pode receber, na verdade. Eu só preciso que assine aqui. – Me entregou um papel e uma caneta.
  - Certo... – Peguei os objetos e apoiei na madeira da porta para assinar o meu nome. Senti como se estivesse dando um autógrafo e ri sozinha da minha idiotice. – Pronto!
  - Obrigado. – Fizemos uma troca: Eu entreguei o papel e a caneta e ele me entregou a caixa que era mais pesada do que parecia.
  - Tenha um bom dia. – Sorri para o moço e ele seguiu seu caminho.
  Fechei a porta com o quadril, já que minhas mãos estavam ocupadas demais, e segui para a cozinha onde Harry tirava os biscoitos de gengibre do forno. Louis estava olhando-o tão intensamente que os dois pareciam um casal. Eu já devia estar acostumada com esses “Larry moments”, mas ainda me perguntava quanto tempo faltava para que os dois resolvessem admitir que estão juntos de uma vez! Liam estava bebendo leite em uma caneca e estava com um bigode branco enorme. Eu ri assim que coloquei a caixa pesada sobre a mesa da sala de jantar e decidi não avisar que ele estava sujo.
  - Liam, chegou uma entrega pra você. – O chamei. – Diretamente de Wolverhampton.
  - Isso! – Ele respondeu como um menininho e deixou a caneca em cima da bancada americana. Segundos depois ele já estava ao meu lado com uma faca na mão pra abrir a caixa.
  - O que tem aí dentro? – Perguntei curiosa.
  - Algumas coisas que eu pedi pros meus pais enviarem... – Liam abriu a caixa e eu fiquei cega com todas as coisas altamente coloridas que estavam ali dentro. – Vamos ver o que temos aqui...
  - Omg, esse é um fantoche do Caco? – Apontei para um boneco verde em forma de sapo. Era o maior objeto da caixa, por isso foi a primeira coisa que eu vi.
  - É sim! – Liam riu e tirou o sapo da caixa, colocando a mão por dentro e imitando a voz do personagem em seguida: - Oi, . Como vai você?
  - WOW! – Gargalhei daquela imitação. Eu não fazia idéia que Liam interpretava o fantoche tão bem. – Eu estou muito bem, senhor Caco. E você?
  - Com uma visão tão linda quanto você? Eu não podia estar melhor. – O garoto continuou com a imitação.
  - Ora, como você é fofo! – Dei um beijo no boneco e Liam sorriu.
  - Eu é que devia ganhar esse beijo! – O menino reclamou, já com a própria voz, e deixou o brinquedo de lado. Voltamos a olhar o que havia dentro da caixa e ele retirou alguns DVD’s de lá. – Meus filmes!
  - Mais desenhos?! Eba! – Assim que o dono das coisas me entregou aqueles DVD’s, eu comecei olhar de um por um. – Toy Story 1, 2 e 3... Tarzan, Vida de Inseto, Carros, Os Simpsons e... Branca de Neve?
  - Branca de Neve? – Ele riu nervoso. – O que isso está fazendo aí? Ruth deve ter colocado na caixa por engano.
  - Aham, claro que foi ela. – Gargalhei sem acreditar em nada do que ele estava falando. Deixei os filmes de lado pra ver o que mais estava por ali.
  Eu gostaria de chamar aquela caixa de “Tesouro infantil”, porque maravilhas cada vez maiores saiam ali de dentro. O Caco não foi nada comparado ao boneco original do Woody, que além de ter o nome “Liam” escrito embaixo da bota, ainda falava: “Tem uma cobra na minha bota”. Eu passei uns cinco minutos brincando com o cowboy até Liam me passar o outro item: Um snapback do homem aranha que eu logo tratei de colocar na cabeça. Os outros meninos se juntaram a nós e trouxeram os biscoitos que Anne preparara. Começamos a comer enquanto olhávamos os brinquedos e itens de coleção de Liam. Ele parecia um menino de onze anos com aquela quantidade de brinquedos.
  Quando todas as coisas já estavam fora da caixa, nós decidimos assistir a um dos filmes novos. Eu e Harry votamos por Branca de Neve, mas os outros meninos queriam assistir Carros. Deu empate, mas Louis correu para colocar o filme que ele queria no aparelho de DVD e isso decidiu qual assistiríamos. Nos acomodamos no sofá com um prato enorme de biscoitos de gengibre e aquele seria o nosso almoço.

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  Acho que tomar banho foi a parte mais fácil da minha preparação para aquela noite. Meus cabelos também foram razoavelmente fáceis de dominar, já que eu os deixei soltos e bem bagunçados. Minha maquiagem demorou mais que o normal para ficar pronta, visto que eu não era acostumada com uma sombra tão forte quanto a que estava usando e o batom vermelho parecia veludo nos meus lábios. Eu estava na frente da minha cama, olhando para as roupas que separara pra usar na boate... Definitivamente não seria a minha escolha em outra situação. O short mais curto que eu achei no closet + uma blusa preta totalmente transparente + sutiã com Spike dourado que chamava MUITA atenção + jóias de caveirinha = Badgirl. Pelo menos era melhor pensar que eu teria uma noite de badgirl do que uma noite de vadia.
  Deixei de enrolação e pulei para dentro daquelas roupas, figurativamente, é claro. Calcei os sapatos coloquei as jóias nos seus devidos lugares em meu corpo. Quase não me reconheci no espelho do banheiro quando fui passar o perfume mais uma vez (só pra garantir) e dar uma bagunçada extra nos meus fios castanhos. Eu estava diferente, mas aquele era o meu objetivo desde o começo. Não sei se estava fazendo certo em escutar o conselho de Louis, mas não tinha mais volta. Eu ia fazer aquilo. Respirei fundo e comecei a treinar caras e bocas. Minha “fantasia” não teria efeito algum se eu não desenvolvesse algumas atitudes mais fortes. Quando percebi já estava piscando para o meu reflexo e colocando o dedo no canto boca, me fazendo de sexy. Tive que rir da quão ridícula eu parecia. A meu ver eu estava bem, mas precisava de uma segunda opinião. Foi com isso em mente que eu voltei para o quarto e tirei meu celular do carregador, digitando uma mensagem na mesma hora:

“S.O.S”

  Não deu nem cinco minutos e Louis já entrava esbaforido e quase derrubava a porta do meu quarto. A expressão em seu rosto era do tipo: “Onde está o incêndio?” e eu só ri do desespero do meu irmão.
  - ! – Reclamou ofegante. – “S.O.S” é um código que só pode ser usado em questões de vida ou morte e, pelo que eu estou vendo, você não está morrendo!
  - Não briga comigo, Lou! Esse é um caso de vida ou morte. – Apontei para as minhas roupas e dei uma voltinha sem sair do lugar. – Como estou?
  - Wow! – Parece que ele estava reparando no meu visual pela primeira vez, pois sua boca formou um “O” e seus olhos igualmente azuis aos meus se arregalaram.
  - Acho que vou considerar isso como um: “Você está legal.” – Sorri.
  - Tente: “Perfeita”. – Louis também sorriu e eu comecei a me sentir um pouco mais confortável dentro daquele modelito.
  - E você acha que essa história vai dar certo? – Suspirei indo até o closet pegar o meu sobretudo preto. O clima ainda estava frio e eu não pretendia congelar antes mesmo de chegar à Storm.
  - Só tem um jeito de saber... – Apontou para fora do quarto com a cabeça. – Vamos fazer um teste?
  - Eu estou nervosa! – Ri, me sentindo patética por estar nervosa de uma coisa tão besta. – Mas vamos lá.
  Louis estava se divertindo com tudo isso e foi o primeiro a sair do quarto, descendo as escadas e reunindo os meninos na sala. Eu peguei os meus documentos, dinheiro, celular e chaves de casa e guardei tudo dentro da minha bolsa de mão. Apaguei a luz do quarto antes de sair e não demorei muito para começar a descer as escadas. Passei pelo hall de entrada e assim que pisei na sala, os três pares de olhos foram pra cima de mim. Louis sorria como o idiota que é, Harry tinha a mesma expressão de quando meu irmão me viu pela primeira vez e Liam parecia enfrentar um dilema interno tão grande que eu não conseguia decifrar o que ele estava pensando.
  - Hey, boys. – Encostei meu corpo na parede mais próxima e coloquei uma das mãos na cintura, com uma mordidinha discreta no lábio inferior.
  - Quem é você e o que fez com a minha babycheks? – Fazia tempo que eu não escutava aquele apelido que Harry me dera quando éramos mais novos e eu acabei sorrindo.
  - ... Eu quase não te reconheci... – Liam ainda estava pasmo, o que me fez sentir as bochechas queimarem. – Você está...
  - Linda! – Louis completou a frase.
  - Maravilhosa. – Haz falou ao mesmo tempo.
  - Genuinamente bonita. – Liam ignorou os dois e deu a sua própria resposta. Confesso que gostei mais da resposta dele do que dos outros.
  - Obrigada, gente... – Passei a mão pelos cabelos sem saber muito bem como reagir.
  - Que horas você vai? – Louis abriu espaço no sofá para que eu me sentasse.
  - Marcamos de sair daqui as 23hrs, porque estamos na lista VIP, então não precisamos chegar bem na hora. – Respondi indo me sentar onde me foi indicado.
  - É o Zayn que vem te buscar? – Liam perguntou.
  - Mais ou menos... – Olhei pra ele. – Ele vai pegar um taxi e e Niall vem com ele, daí iremos todos juntos pra lá. Não vamos cometer o mesmo erro da outra vez, já que não quero ter que trazer um bêbado pra casa.
  - Mas agora é diferente, , porque vocês estão namorando. – Harry tinha um sorrisinho sapeca e eu sabia exatamente onde ele queria chegar. – E podem... Você sabe... Aproveitar mais...
  - Eu não sei do que você está falando, Harry. – Foi a minha vez de arregalar os olhos. Estamos mesmo entrando nesse assunto?
  - Eu também não sei. – Louis fechou a cara, dando uma de irmão ciumento.
  - Aham, tá bem. – Harry gargalhou e Liam preferiu se ausentar daquele assunto.
  - Aliás, Lou... Estou contando com o energy juice, ok?
  - Sei disso! E já vou deixar na geladeira pra você. – O melhor irmão do mundo é o meu, não concorda?
  Não tive nem tempo de agradecer, já que a campainha tocando chamou a atenção de todos. Era hora de ir! Levantei do sofá e vesti o meu sobretudo, atacando todos os botões. Enquanto eu me cobria, Liam deu um pulo e correu para ir atender a porta. Eu não entendi muito bem o que aconteceu em seguida, porque ver Zayn e Liam se abraçando como se fossem bons amigos era estranha demais por si só. Escutei um “E aí, cara?! Quanto tempo.” Seguido por: “Faz tempo mesmo, porque você não aparece por aí mais vezes?” Olhei para Harry e Louis que pareciam não entender mais que eu e deram de ombros. É, a noite seria diferente.

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  - Isso aqui tá realmente muito cheio... – foi a última a descer do nosso táxi e todos a esperávamos do lado de fora.
  A Storm não parecia ser tudo aquilo que falava, ao menos não do lado de fora. Era basicamente uma caixa de metal grande e alta, aparentemente descuidada e enferrujada, com algumas janelas tão escuras que era impossível ver o que acontecia do lado de dentro. A fila de pessoas que queriam entrar ali devia estar dando a volta no quarteirão e eu arrisco a dizer que até reconhecia um rosto ou outro da Academy.
  - E muitos não vão nem conseguir entrar. – Niall foi para o lado da namorada.
  - Felizmente não fazemos parte deles. – Sorri e puxei Zayn pela mão.
  Nós passamos direto para a frente da fila e eu escutei alguns xingamentos. Devia ser chato ficar horas esperando em uma fila e de repente quatro pessoas chegarem do nada e poderem entrar. Infelizmente não havia nada que eu pudesse fazer por eles, então só ignorei os gritos e me aproximei do segurança que devia ter o tamanho de um guarda roupa.
  - Boa noite, monsieur. – Sorri simpática, mas não obtive reação.
  - O final da fila é pra lá. – Respondeu seco.
  - Sei disso. É por isso que estamos aqui. – Respondi cínica. Apontei para a lista que ele estava segurando: - Tomlinson.
  - Só um momento... – Levantou a sobrancelha e olhou rapidamente entre os poucos nomes que estavam na lista de VIP’s. – Oh... Me desculpe, senhorita, pode entrar.
  - Obrigada. – Engraçado como a postura do segurança mudou completamente quando ele percebeu que eu não devia ser uma qualquer. Ele acenou para um companheiro dele, que tratou de abrir as portas pesadas.
  - E vocês? – O segurança barrou os outros três e com isso Zayn teve que soltar a minha mão. Eu só dei meia volta e cutuquei o grandão no ombro.
  - Eles estão comigo. – Falei e já puxei os três que permaneceram calados o tempo todo.
  Nós quatro conseguimos entrar e eu já estava bufando pelo trabalho que tivemos. Se com quem está na lista VIP é assim, imagine com os outros meros mortais? Vai ver é por isso que muitos desistem de esperar e vão embora. Deixei o estresse de lado e olhei em volta, ficando chocada com o que vi. O lado de fora não tinha absolutamente nada a ver com o de dentro. Estávamos em uma espécie de recepção e as luzes e paredes vermelhas já davam o clima para a festa que estava acontecendo poucos metros dali. O segurança que abriu a porta para nós nos guiou até uma mulher que estava vestida formalmente.
  - Boa noite e sejam bem vindos à Storm! – Ela sorriu simpática. – Creio que vocês estão aqui para o aniversário da Jessica, certo? Por aqui, por favor.
  - Eu não acredito nisso... – sussurrou e eu olhei pra ela. – Estamos indo para o segundo andar! Eu nunca fui lá, mas dizem que só as pessoas mais importantes conseguem uma reserva.
  - É claro, ... Jessica é a filha do dono desse lugar. Quer alguém mais importante que ela? – Também sussurrei, rindo em seguida. Nós fomos até uma porta preta no canto da recepção. A mulher foi a primeira a subir as escadas em espiral.
  - É verdade... Acho que preciso mudar de melhor amiga, então. – A ruiva brincou e também começou a subir a escada, seguida por Niall.
  - Tá vendo como as coisas são? Quando acham alguém melhor, somos trocados! – Falei para Zayn, que riu.
  - Eu não te trocaria, . – Abraçou-me pela cintura e deixou um beijo na minha bochecha. Ele devia estar evitando a minha boca por causa do batom vermelho. De fato não seria bom eu já chegar à festa toda borrada. – Até porque não existe ninguém melhor que você.
  - Você só está falando isso porque sou sua namorada. – Sussurrei bem perto dos lábios dele e dei meia volta antes que ele tentasse qualquer coisa.
  O puxei pela mão e também fomos subir as escadas. Olhei pra trás de vez em quando e notei que Zayn não tirava os olhos de mim e sorria o tempo todo. No final da escada havia outra recepção, porém era menor que a do andar de baixo. A recepcionista nos atendeu e a primeira moça que nos guiou até ali logo desapareceu. Ela nos explicou que poderíamos deixar os nossos casacos ali, pois havia um segurança responsável por tomar conta deles e é claro que aproveitaríamos aquela mordomia toda, até porque ninguém pretendia passar a festa inteira tomando conta de casacos e bolsas.
   foi a primeira a tirar seu casaco pesado e revelar o vestido verde água um tanto curto demais; mas ela estava linda como sempre. Niall vestia uma camisa de mangas compridas na cor azul escuro e uma calça preta por baixo do próprio casaco; simples, mas charmoso. Foi a vez de Zayn tirar o sobretudo e me fazer pensar mais uma vez que ele deveria ser um modelo. Estava vestindo uma camisa social escura com os dois últimos botões abertos, uma calça skinny preta e o bom e velho Converce de cano médio. Fiquei perdida na beleza do meu namorado por segundos suficientes para a recepcionista chamar a minha atenção e perguntar se eu preferia ficar com o meu casaco. “Então é isso... Vamos lá.” Pensei, começando a desabotoar o meu próprio sobretudo. Como ninguém tinha visto as minhas roupas ainda, eu me preparava para a “surpresa”. Podia não ser nada demais e eles poderiam nem notar a diferença, mas também podia ser o contrário; e eu contava com isso. Assim que todas as abotoações estavam desfeitas, deixei o casaco escorregar pelos meus ombros e o segurei com uma mão, o impedindo de cair no chão. Entreguei-o para a mulher, juntamente com a minha bolsa, e me virei para encarar os meus amigos que ainda não falavam nada.
  - Ai. Meu. Deus. – estava sorrindo mais que tudo ao me olhar dos pés à cabeça. – Você está tão diferente! Está linda, .
  - , eu consigo ver... – Niall olhava diretamente para a minha blusa. Ótima maneira de me lembrar que era transparente. – Você. E gosto do que vejo.
  - Hey! – Zayn deu um soco no braço do amigo. – Não olha pra ela assim, ok?! É minha.
  - Não foi isso o que ela me disse ontem à noite. – O loiro piscou e eu gargalhei alto, lembrando da nossa conversa por mensagens.
  - Epa, não escuta o que ele está falando! – Ri mais uma vez, entrelaçando os dedos nos de Zayn e o tirando de perto dos outros dois. Fomos até a porta que daria entrada à boate, mas ele me segurou e me impediu de dar mais um passo.
  - Espera. – Me puxou devagar até estar com as mãos na minha cintura e nossos corpos colados o bastante. – Eu ainda não falei o que achei.
  - E o que você achou? – O envolvi pelo pescoço e mordi o lábio inferior.
  - Eu achei... – Roçou o nariz pelo meu de leve e eu fiquei olhando aqueles olhos amendoados que me prendiam de todas as formas possíveis. – Que você está incrível. Parece que a cada dia que passa você fica mais linda.
  - Baby... – Sorri. Eu não tinha mais o que falar, então só juntei os nossos lábios em um beijo rápido, mas cheio de sentimentos misturados.
  - Vocês dois vão ficar aí trocando saliva, ou vão vir logo?
   nos fez parar o que estávamos fazendo e eu senti vontade de contar pra ela o quanto odiava quando ela fazia isso. Da próxima vez eu deixá-la-ei falando sozinha e não largarei Zayn de jeito nenhum, pode escrever isso! Como o clima já tinha acabado mesmo, nós nos abraçamos de lado e fomos até onde outro casal nos esperada, já que eles estavam bem na nossa frente. As portas foram abertas e a música me deixou surda na mesma hora. O salão em que entramos era enorme e não estava tão cheio quanto eu esperava. A pista de dança tinha apenas umas vinte pessoas que se divertiam com o remix do DJ que estava em uma caixa de vidro, mas que ainda assim permitia a interação com os convidados. O bar ficava no oposto dessa pista de dança e era igualmente grande e colorido, com fotos de vários drinks que eu nunca vira na vida. Mais a frente, pela direita, ficava uma área reservada para o “descanso”, com mesinhas e sofás bem confortáveis. As luzes eram baixas em todos os cantos, mas não chegava a ser escuro.
  - A aniversariante está ali... Vamos falar com ela. – Apontei para Jessica, que estava sentada em um sofá rodeada por outras meninas.
  - Eu acho que não a conheço... – Zayn disse ao meu lado. Ele era mais tímido do que aparentava, por mais incrível que pareça.
  - Mas ela conhece você! – Ri, olhando-o. – Quem não conhece Zayn Malik?
  - Muita gente, ok? – Fez uma careta.
  - Vem logo, amor. – Comecei a caminhar na direção da minha colega e o arrastei comigo.
  Assim que Jessica nos viu, comentou algo com as amigas e todas olharam na nossa direção. A aniversariante se levantou e nós nos aproximamos dela. As outras meninas não deviam ser da Academy, pois não reconheci nenhuma delas. Não que eu estivesse em um ponto em que conhecesse todos os alunos de lá, mas reconheceria pelo menos o rosto da metade – mesmo que não soubesse o nome nem de três. A que aparentava ser a mais nova delas olhou para Zayn de tal forma que eu achei que iria engoli-o inteiro, despertando o meu ciúme. Estreitei o olhar entrando na defensiva. O moreno ao meu lado parecia não ter notado coisa alguma, mas a criatura entendeu o recado, pois logo encarou os próprios pés.
  - Oi, Jessica! Feliz aniversário. – A abracei forte, com um sorriso. – Esse é Zayn, meu namorado. Zayn, essa é a Jessica.
  - Muito prazer, Jessica. – Zayn também a abraçou, mas foi bem menos carinhoso que eu. Eu sabia que a garota já o conhecia, mas apresentar os dois seria menos constrangedor do que falar: “Hey, você já conhece o meu namorado, mas ele não faz idéia de quem você seja!”
  - Que bom que vocês vieram! – Jessica parecia realmente feliz em nos ver ali. – Espero que gostem de tudo. Hoje o bar está liberado, até o sol nascer e o DJ aceita pedidos, então fiquem a vontade!
  - Hmm, gostei disso! – Ri, já imaginando qual seria a primeira bebida nova que eu iria provar. Olhei em volta procurando a minha amiga ruiva, mas não vi nem sinal dela. – A também está aqui com o Niall... Mas eu não sei pra onde eles foram...
  - Tenho certeza que eu vou vê-los logo. Amei sua roupa, . – Antes que eu pudesse agradecer o elogio, ela se virou para as amigas. – Sabia que ela é francesa? É por isso que até o jeito de andar dela é diferente.
  - Ahn... – Olhei para Zayn sem saber e deveria ficar ali pra escutar falarem de mim na terceira pessoa ou se poderia sair de fininho e ir curtir a festa. Ele parecia saber o que eu estava pensando e riu da minha falta de tato para lidar com a atenção que recebia.
  - Nós vamos procurar os outros dois, certo, Jessica? – Zayn chamou a atenção dela quando eu já nem sabia mais do que falava, só que era sobre mim. – Feliz aniversário!
  O menino me tirou de perto daquele grupinho que parecia pretender ficar fofocando durante a noite toda. Olhei em volta, ainda não tinha idéia de onde e Niall foram se meter, mas também pouco me importava. Eu estava com a única pessoa que realmente queria estar e era o suficiente. Caminhamos até o bar, aproveitando que ele estava bem vazio. Sentei em um dos bancos giratórios e pensei que Zayn sentaria ao meu lado, mas o que ele fez foi bem melhor: Me abraçou por trás e descansou o queixo no meu ombro, espiando o cardápio que eu começava a abrir para ler.
  - O que você vai querer? – Perguntei, correndo os olhos por todas aquelas opções.
  - O mesmo que você, . – Falou baixinho perto da minha orelha. Como a minha blusa não tinha manga alguma, ele notou quando todos os pelos do meu braço ficaram eriçados por culpa dele. – Pode escolher.
  - Então nós vamos tomar esse aqui. – Apontei para a foto de uma taça com um líquido avermelhado, tentando não gaguejar enquanto falava. Procurei o barman em seguida. – Dois cherrybomb’s, por favor.
  - Você é que manda! – O homem balançou a cabeça e começou a preparar as bebidas na nossa frente.
  - Você não chamou o Liam e os outros pra virem? – Zayn perguntou e eu o olhei de lado.
  - Chamar eu chamei, mas eles não quiseram. – Dei de ombros. Ainda era estranho ver Zayn perguntando diretamente por Liam. – Acho que por ser uma festa de aniversário eles ficariam meio sem graça.
  - Entendi. – Sorriu. – É até melhor, porque eu não tenho que te dividir com mais ninguém.
  - Você não teria que me dividir nem se todos os meus amigos do mundo estivessem aqui. – Exagerei, já que não tinha tantos amigos assim. Mas pelo menos foi uma forma boa de mostrar pra ele que a minha atenção seria só dele de uma forma ou de outra.
  - Nem se o príncipe da Inglaterra aparecesse aqui? – Soltou o nosso abraço e girou o meu banco para que eu ficasse de frente pra ele.
  - Depende... O príncipe William ou príncipe Harry? – Me fiz de pensativa.
  - E tem diferença, ? – Olhou-me sério.
  - Claro que não, seu bobo. – Ri daquele ciúme ridículo e passei a mão direita pelo topete bagunçado do menino. Os fios escuros deslizaram macios entre os meus dedos e ele fechou os olhos com o meu carinho. – Você é lindo, Malik.
  - De onde saiu esse elogio? – Abriu os olhos pra me olhar e eu ri baixo.
  - Uma garota não pode elogiar o próprio namorado sem um motivo aparente?
  - Pode sim, Tomlinson. – Zayn me fez rir pela milésima vez naquela noite.
  - Aqui está a bebida de vocês. – O simpático barman colocou as duas taças no balcão na nossa frente e saiu para atender outras pessoas.
  - Yay! – Comemorei virando o banco novamente de frente para o balcão. Zayn veio para o meu lado, mas ainda ficou perto o bastante para que eu sentisse seu cheiro a cada respiração. Peguei a minha própria taça e a ergui. – Um brinde!
  - A nós. – Ele pegou a própria taça e encostou na minha.
  - Que assim seja! – Concordei com aquele brinde e dei o primeiro gole na minha bebida. O líquido rasgou a minha garganta com tanta força que eu não evitei uma careta. Apesar de muito forte, até que era gostoso. Cereja não era o meu sabor preferido de bebida, mas aquele drink não era tão ruim.
  Zayn também fez uma careta ao experimentar a bebida e acho que gostou bem menos que eu, o que me fez rir. e Niall resolveram aparecer e eu nem precisei perguntar onde eles estavam, pois o vestido torto da minha amiga denunciou que eles estavam se agarrando em algum lugar. Só fiquei com medo de perguntar onde. Os dois também pediram bebidas diferentes e ficamos os quatro próximos ao bar observando os outros convidados que chegavam. A noite estava seguindo bem agradável e eu já não me sentia tão pelada quanto no começo.
  Alguns colegas dos meninos se aproximaram para cumprimentá-los e eu fui apresentada. Todos foram simpáticos e eu retribui tudo com um sorriso. Acredite se quiser, mas eu fui perguntada várias vezes se estudava na London Royal Academy, já que ninguém parecia me reconhecer. Só depois que Zayn explicava quem eu era é que eles pareciam recordar. Um ou outro até pareceu meio chocado ao entender que a menina que geralmente usa roupas claras e pouca maquiagem estava vestida como eu estava naquela boate. Apesar de todo o “tumulto” que eu estava causando com essa minha mudança repentina de estilo, eu fui aceita muito bem.
  - Eu amo essa música! – Olhei na direção da pista de dança quando as primeiras batidas de Like it's her birthday – Good Charlot começou a tocar. Deixei o meu copo meio vazio (ou meio cheio, dependendo da sua filosofia de vida) em cima do balcão e dei um pulo pra descer do banco. – Zayn, dança comigo?
  - Eu não danço, babe... – Ele me olhou com uma cara de preguiça e eu fiz um biquinho.
  - Dança sim! Você já dançou comigo antes. Não lembra?
  - Eu só danço quando fico muito bêbado. – Respondeu com uma risada e eu já me preparava pra ficar sentada durante a festa inteira.
  - Eu danço com você, . – sorriu e segurou a minha mão. – Vamos deixar esses chatos aí.
  A ruiva estirou a língua para o próprio namorado que também não queria dançar com ela e fomos correndo de mãos dadas para a pista de dança. O lugar não estava tão cheio e nem tão vazio; na quantidade perfeita. Acenamos para o DJ e ele fez o mesmo. Nós duas parecíamos duas menininhas rindo, e olhe que não bebemos quase nada. Só queríamos nos divertir sem ligar para o que os outros estivessem pensando, então começamos a dançar como bobas. fazia a dancinha do robô e eu jogava os braços pra cima enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. Jessica estava por ali também e veio se juntar a nós.
  Nós três cantamos o refrão da música juntas e rimos mais ainda. A aniversariante não ficou muito tempo conosco, pois tinha que ir dar atenção aos outros convidados, mas só aqueles minutinhos já foram suficiente pra mostrar que ela era legal. costumava dizer que a menina era interesseira e só queria se aproximar de mim por “eu ser de Paris” e até que eu concordei com aquilo por um tempo. Só reparei que era apenas ciúme de quando Jessica foi embora e a ruiva me abraçou, sussurrando: “Não vai me trocar por ela, né?” Eu logo respondi que não e a abracei com mais força ainda. Eu amava aquela ruiva boboca e não seria nada sem sua amizade. Não a trocaria nem se pudesse, por nada nesse mundo.
  Uma nova música começou, mas eu não a conhecia. De qualquer forma, continuei dançando como se fosse a minha música preferida. ficou rígida de repente, como se estivesse vendo um fantasma. Eu estava de frente pra ela e tentei perguntar: “O que foi?”, mas a música estava alta demais pra que ela me escutasse. Ela parou de dançar e apontou para algo atrás de mim, na direção do bar. Me virei preocupada e também congelei assim que vi o motivo do susto: Brigitte. Ela estava perigosamente perto de Zayn e os dois conversavam. Ele estava agindo normalmente, mas a garota passava a mão pelo braço dele, obviamente flertando, e ainda por cima dava uma daquelas risadinhas que perseguem meus pesadelos. O pior de tudo é que Zayn parecia não notar o que ela estava querendo e por isso não se afastava. Niall estava sozinho em um canto e olhava pra gente como se falasse: “Eu não tenho culpa.” E realmente não tinha. Brigitte lançava alguns olhares na minha direção, só pra ter certeza que eu assistia enquanto ela se jogava pra cima do MEU namorado. Senti vontade de vomitar só de lembrar que ela também já tinha chamado-o assim, durante bem mais tempo que eu. “Ela vai conseguir ele de volta rapidinho”, a voz de uma das amigas da oxigenada veio em minha mente e devia ser exatamente isso que ela estava tentando fazer; conseguir ele de volta.
  - Deixa eu dar uns tapas nessa garota? Eu vou dar uns tapas nessa garota. – tentou andar até eles, mas eu a segurei antes que fizesse uma besteira.
  - Não, ! Não vale a pena.
  - Vale uma galinha inteira, ! Ela está merecendo e não é de hoje. – Bufou irritada. – Eu odeio essa garota! Você não vai ficar aqui sem fazer nada enquanto ela dá em cima dele, vai?
  - Não mesmo. – Sorri sapeca, com uma idéia se formando na minha cabeça. – Mas vou fazer algo bem melhor do que bater nela.
  - O que? – me olhou curiosa.
  - Mostrar pra ela que ele está comigo agora.
  - Como isso pode ser melhor do que bater nela, ? – parecia enfurecida com a minha falta de violência.
  - Você vai ver! – Rolei os olhos.
  Deixei-a sozinha na pista de dança e fui até a cabine do DJ. Jessica falou que ele aceitava pedidos, certo? Seria a minha vez de pedir uma música. O homem logo me notou assim que eu dei uma batida não tão delicada no vidro e abriu uma janelinha, me passando um iPad. Sim, ele me entregou um iPad pra que eu escrevesse ali a música que eu quisesse pedir. O que aconteceu com papel e caneta? Também não sei! De qualquer forma, digitei ali o que queria e devolvi o tablet. Agradeci e o DJ disse que a minha música seria a próxima.
  Àquela altura, já tinha se juntado ao namorado e fazia caretas na direção de Zayn e Brigitte. Ela se aproximava cada vez mais e mesmo que ele tentasse se afastar, ela parecia não entender que ele não queria nada com ela. Cruela e Devil também estavam por ali, um pouco mais atrás deles, e trocavam sussurros. Toda a raiva que eu senti daquelas duas meninas quando as escutei no banheiro estava voltando. “Sem graça” era o que elas achavam de mim? HA HA, vamos ver quem é a sem graça agora.
  - Um minuto de atenção, por favor... – O DJ interrompeu a música que estava tocando e começou a falar ao microfone. Seria a minha hora, então eu caminhei até o centro da pista de dança. – Essa garota adorável gostaria de dedicar uma música ao sortudo namorado. Zayn Malik, essa é pra você.
  Acabei sorrindo com aquela apresentação e senti o meu rosto queimar com todos os olhares que recebi. Aparentemente mais da metade daquele salão sabia quem era Zayn Malik e por isso sabiam que eu era a sua namorada, ou seja, quem estava dedicando a música. Em outra situação eu teria corrido ou pelo menos cortado o contato visual com o menino que me olhava sem entender nada. Não era o momento de sentir vergonha, era o momento de provar que Zayn era meu.

Lookin’ for a girl that was here but now she’s gone.
(Procurando por uma garota que estava aqui, mas agora ela se foi)
Felt so good even though she did me wrong.
(Foi tão bom mesmo ela sendo errada comigo)
She knows what i want but she’s bad for me…
(Ela sabe o que eu quero, mas ela é ruim pra mim)
She gets what she wants when she’s touching me…
(Ela consegue o que quer quando está me tocando)
I should've known better but she took my self-control.
(Eu devia saber, mas ela tomou o meu auto controle)

  Sim, eu pretendia dançar pra ele e foi exatamente isso que eu fiz quando a música começou. Zayn olhava na minha direção e quase não piscava, fazendo Brigitte se roer de raiva. Mais pessoas dançavam a minha volta, mas eu sabia que a atenção dele era somente minha. Comecei mexendo o corpo no ritmo da música, descendo as mãos pela lateral do meu corpo até parar no quadril. O garoto seguiu as minhas mãos com o olhar, mas voltou a fitar o meu rosto a tempo de me ver mordendo o lábio inferior da forma mais sexy que eu consegui. Ele sorriu meio sem reação, só me assistindo.

You can take my heart like a criminal.
(Você pode pegar o meu coração como uma criminosa)
Won’t you make me believe I’m the only one?
(Vai me fazer acreditar que eu sou o único?)
So grab me by the neck and don’t you ever let go.
(Então me agarre pelo pescoço e nunca solte)
Mess me up so good until i’m beggin’ for more…
(Me bagunce tão bem até que eu esteja implorando por mais)
You can tear me apart like an animal, like an animal, animal…
(Você pode me destruir como um animal)

  Joguei a cabeça para trás, passando uma mão pelos cabelos. Rebolei devagar de um lado para o outro até o refrão começar acelerar. Meu corpo era dominado pela melodia e meus movimentos eram sincronizados e sensuais. Eu só costumava dançar daquela forma quando estava sozinha no meu quarto e tinha certeza que ninguém podia me ver, mas naquele momento eu era praticamente o centro das atenções e não dava a mínima. Zayn deu um gole na bebida amarelada que estava em sua mão, mas continuou me olhando por cima da borda do copo.

I know I'm getting closer to the trail of broken hearts.
(Eu sei que estou me aproximando do caminho de corações partidos)
Hope she's coming back to finish what she started.
(Espero que ela esteja voltando pra terminar o começou)
I never see the claws ‘till she’s touching me.
(Eu nunca vi as garras até ela estar me tocando)
She’s holding me so tight, it's getting hard to breath.
(Ela está me segurando tão forte que está ficando dificil de respirar)
I'll never win the game, but it feels too good to care…
(Eu nunca vou ganhar esse jogo, mas é bom demais pra importar)

  Virei de costas, mas ainda lançava olhares por cima do meu ombro, com um sorriso malicioso nos lábios. Mexi os ombros na media em que o meu quadril obedecia a sua vontade própria e meu corpo foi abaixando devagar, rebolando de um lado para o outro. Fiquei uns cinco segundos apoiada nos calcanhares pra começar a levantar tão lentamente quanto me abaixei, passando as mãos pelas minhas coxas. Eu estava provocando Zayn e ele estava gostando. Na verdade não só ele, mas qualquer um que quisesse me assistir e os olhares que eu recebia enchiam o meu ego de uma forma que eu jamais achei que pudessem.

Grab me by the neck and don't you ever let go.
(Me agarre pelo pescoço e nunca solte)
Mess me up so good until I’m begging' for more.
(Me bagunce tão bem até que eu esteja implorando por mais)
Girl you tear me apart like an animal, an animal, animal.
(Garota, você me destroi como um animal)
Take me to the dark and don't you ever let go…
(Me leve para o escuro e nunca solte)
I like it when you treat me like an animal…
(Eu gosto quando você me trata como um animal)

  Voltei a encarar o meu namorado de frente e vi que ele terminara todo o líquido em seu copo, largando-o na frente de Brigitte. Aliás, a cara que a loira estava fazendo não tinha preço; ela me olhava com desprezo, mas eu sentia a sua inveja. Sorri cínica pra ela, mas Zayn não notou, já que o olhar dele estava em outro lugar: No meu corpo. Acho que nunca havia me sentido tão desejada até aquele momento. Pelo menos não no sentido mais íntimo da palavra. Zayn não esperou a música terminar pra sair de perto do bar e caminhar na minha direção. Diminuí um pouco os meus movimentos ao notar a sua aproximação e mordi o meu lábio inferior mais uma vez; aquilo estava virando uma mania. O mais alto não falou palavra alguma antes de me segurar pela nuca e juntar os nossos lábios com urgência. A primeira coisa que fiz depois de entreabrir os lábios foi agarrar os ombros dele com tanta força que as minhas unhas quase furaram a camisa social do mesmo. Acabei arrancando um gemido de dor e tive que sorrir satisfeita durante o beijo. Nossas línguas se encontraram e começaram a brincar como já era de costume, porém com uma intensidade tão grande que foi difícil me segurar pra não suspirar alto demais. Zayn escorregou as mãos pelas minhas costas e me puxou tanto que eu achei que ele pretendia nos fundir em um só. Deslizei as mãos dos ombros até a nuca dele e uma subiu para os cabelos que eu tratei de puxar sem dó.
  Aquele era um beijo quente e o meu corpo pegava fogo. Não sei se era o ambiente que estava ficando mais cheio e com isso eu começava a suar, ou se era o fato de eu estar nos braços de um menino lindo que beija muito bem que me fazia querer tirar a roupa. Ei, não nesse sentido! Ok, talvez nesse sentido... Shh! Meus pensamentos já não faziam mais sentido e meus instintos começavam a falar mais alto, então era a hora da minha consciência chata entrar em ação e gritar: “PARE.” Então eu parei, mas não antes de dar uma mordida no lábio inferior de Zayn e deixá-lo escapar entre os meus dentes devagar.
  - O que há com você hoje? – Zayn sussurrou nos meus lábios, com um sorriso maroto.
  - Acho que eu preciso de água. – Falei baixinho com uma risada.
  - Eu pego pra você, vem.
  Zayn segurou a minha mão e nós dois deixamos a pista de dança. Ele me pediu pra encontrar um acento livre e esperar por lá enquanto pegava algo para bebermos. Lancei um olhar na direção do bar e constatei que não havia mais nenhum sinal de Brigitte, graças a Deus, então o soltei e fui até a área de descanso. Achar um espaço vazio foi fácil, visto que a pista de dança estava mais cheia que nunca e eram poucas as pessoas que estavam sentadas por ali. Escolhi uma mesa mais afastada, para que pudéssemos conversar sem sermos atrapalhados pela música. Aproveitei que ela era próxima à parede as cadeiras eram na verdade um banco enorme e estofado que mais parece um sofá.
  Foi bom finalmente sentar depois de dançar tanto, principalmente por já sentir meus pés latejando dentro dos saltos. É nessas horas que eu percebo o quanto tênis e sapatilhas são confortáveis. Eu sentia vontade de tirar os sapatos e deitar, mas uma dama nunca faz isso; principalmente em uma boate tão luxuosa quando aquela.
  - Aqui está você! – Zayn deve ter demorado um pouco mais do que devia para me achar. Ele trazia duas garrafas esverdeadas nas mãos, com a palavra “HOOCH” escrita no rotulo.
  - Que diabos é isso? – Arqueei uma sobrancelha pegando uma das garrafas e abrindo espaço para que ele se sentasse.
  - Você nunca tomou Hooch? – Ele riu da minha falta de cultura britânica e eu balancei a cabeça. Zayn sentou-se ao meu lado e eu passei as pernas por cima das dele, ficando de lado no sofá, mas de frente pra ele.   - Não mesmo! – Cheirei a boca da garrafa tentando decifrar o que era e dei um gole em seguida. – É limonada? É cerveja? Nunca vamos saber!
  - Pode ser os dois! Uma cerveja de limão. – Zayn acariciava as minhas pernas com uma mão e a outra virava a “cerveja de limão” na boca.
  - Ok, pode ser! – Ri um pouco e bebi mais alguns goles. – Até que eu gostei dessa tal de Hoock.
  - Hooch. – Corrigiu-me com um biquinho engraçado.
  - Como?
  - O nome... É Hooch. – Repetiu com paciência.
  - Hooocc? – Tentei mais uma vez, mas sabia que não acertaria tão cedo. – Meu sotaque me atrapalha!
  - Babe, nem é tão complicado... – Gargalhou da minha dificuldade e jogou a cabeça para trás, rindo como uma criança.
  - É claro que é! – A risada dele era tão gostosa de se ouvir que eu acabei rindo junto. – Eu vou chamar de Hoo-hoo, ok?
  - Hoo hoo não é um Pokémon? – Riu mais ainda e eu já começava a me estressar.
  - Eu não sei, Malik! – Fiquei um pouco mais séria e continuei bebericando da minha bebida que eu chamo do jeito que quiser. – O único Pokémon que eu conheço é o Pikachu.
  - Hey, ... – Zayn tentou chamar a minha atenção, pois eu não olhava mais pra ele.
  - O que é? – Minha curiosidade foi maior que o meu orgulho e me rendi, fitando-o.
  - Pika, pika... Pikachuuuuuu. – Zayn colocou a sua garrafa na mesa a nossa frente e usou as mãos como garras, afinando a voz e tentando imitar o Pikachu. É claro que eu não aguentei e comecei a rir.
  - Ai, que idiota! – Ri ainda mais alto.
  - Essa é a que eu gosto. – Sorriu e me olhou daquele jeito... Apaixonado. – Você estava diferente mais cedo.
  - Estava? E você não gostou? – Minhas íris passeavam pelo rosto perfeito dele, captando cada detalhe.
  - Gostei sim... Porque eu gosto de você de qualquer jeito, . Mas gosto ainda mais quando você é você. – Ele continuava com os carinhos na minha perna e eu começava a relaxar.
  - Então você notou, né? Digo... A minha mudança de roupas e essas cosias. – Passei a mão pelos meus cabelos, nervosa com o que poderia escutar.
  - Notei, mas não entendi.
  - Eu só... Queria pertencer ao “seu mundo”. – Fiz aspas no ar, mas Zayn pareceu entender bem menos. – Vai me dizer que nunca escutou comentários de que eu não combino com você? Ou que você é bom demais pra mim e blábláblá? Eu só queria mudar isso... Nem que fosse por uma noite.
  - Eu não quero que você mude por mim, que precise mudar pra ser “aceita”. – Suspirou. – Eu te aceito, . Não é suficiente?
  - É claro que é. – Segurei a mão dele e acariciei com o polegar. – Eu só fiquei com medo que...
  - Que? Pode falar... – Me pedia com calma.
  - Que você acreditasse nesses comentários. – Falei de uma vez, encarando os nossos dedos entrelaçados.
  - Eu nunca vou acreditar em nada do que me falem contra você, . Essas pessoas? – Olhou em volta, dando ênfase no que dizia. – Elas não te conhecem. Elas não me conhecem. Nós dois nos conhecemos e é o que importa. Entendeu?
  - Entendi sim. – Sorri bem aliviada. Aquilo era tudo que eu precisava ouvir pra tirar as coisas ruins da minha cabeça.
  - Não pense mais besteira, francesinha.
  Zayn se inclinou na minha direção e eu sorri até o momento que os nossos lábios se encostaram. Toquei o rosto dele com a minha mão direita e fiquei acariciando a pele macia da sua bochecha devagar. Nossas respirações se misturavam e mal mexíamos os lábios, apenas aproveitando o momento, a presença um do outro. Eu não acreditava que duas pessoas tão diferentes pudessem ser tão iguais de tantas formas perfeitamente imperfeitas até conhecê-lo. Não queria me apressar e nem imaginar um casamento entre nós dois, mas era impossível dizer que não me importaria se a nossa magia acabasse dali a uma semana.

Capítulo XXIX

  - , você não vai escapar! – Gritei enquanto corria atrás dela pelo corredor do primeiro andar da Academy. – Isso é importante! Eu não sei por que você está com tanto medo.
  - Eu não quero alguém me examinando, ! Vai doer. – A menina choramingava e eu já começava a desistir de persegui-la.
  Naquela segunda feira as nossas aulas haviam sido canceladas para que cada aluno pudesse fazer um “exame de rotina”. Funcionava mais ou menos como aqueles testes que os atletas tem que fazer pra poder competir, mas no nosso caso era bem mais importante. Como usamos cada centímetro do nosso corpo, os ossos podem sair do lugar ou músculos ficarem frágeis e só com certos exames é que esses problemas são detectados. De fato era bem desconfortável, principalmente se você não é acostumada com alguém te apertando até você ficar sem ar – como era o caso de . Por mais que eu tentasse tranquilizar a minha amiga, nada do que eu falasse parecia adiantar. Nós éramos as últimas e a maioria das pessoas já tinha ido embora. Eu também gostaria de estar a caminho de casa, mas a minha querida não facilitava a minha vida em nada.
  - Quer saber? Se não quiser, não faça! Cansei de insistir. – Bufei e dei meia volta.
  - Você não vai ficar brava comigo, vai? – Ela não veio atrás de mim, mas pelo menos se virou na minha direção.
  - O que você acha, ? – Também não me virei pra falar com ela e continuei o meu caminho em direção à enfermaria.
  - Eu não gosto que me chame pelo meu nome! – Não sei por que aquilo a irritava tanto, mas estava pouco me importante. Eu só estava querendo ajudá-la e ela parecia não enxergar isso.
  - Eu não ligo se você gosta ou não, . Pelo menos não quando eu estou tentando fazer algo para o seu bem. – Fui ríspida e a deixei falando sozinha.
  Eu odiava brigas com todas as minhas forças e evitava ao máximo qualquer desentendimento, mas tem hora que a pessoa não aguenta mais. Infelizmente e eu enfrentamos a nossa primeira briga. Eu sabia que não era nada demais e que em meia hora nós estaríamos de bem novamente, por isso não esquentei muito com aquilo e segui o meu caminho. A enfermaria estava vazia como o esperado e a senhora Mary, que eu já conhecia, estava por ali. Ela parecia feliz em me ver e logo me mandou entrar na sala de vidro que ainda me deixava desconfortável. Deixei a minha mochila em uma cadeira vazia e tirei a minha blusa, ficando apenas de calça legging e collant de ballet. Eu já sabia como esses exames funcionavam, então não daria muito trabalho.
  - Senhorita Tomlinson, como é bom vê-la andando sob os dois pés novamente! – A senhora sorriu ao me ajudar a sentar na maca.
  - Graças à senhora e aquela pomada milagrosa! – Sorri de volta e deitei na maca de barriga pra cima. – Aliás, eu nunca tive a chance de agradecer de verdade... Então obrigada!
  - Imagine, querida, eu estou aqui pra isso. – Colocou os óculos sob o nariz afinado antes de continuar. – Podemos começar? Você tem sentido alguma dor em qualquer parte do corpo?
  - Nada fora do normal, pra dizer a verdade. Só quando eu passo muitas horas dançando é que meus pés começam a doer, mas aí eu os coloco de molho em uma bacia com sal e água morna.
  - Está certinha... – Começou a sentir as minhas costelas e apertar cada uma. – Aqui dói?
  - Agora que você está apertando, sim... – Ri nervosa na tentativa de disfarçar um gemido de dor, mas não adiantou. – Outch.
  - Desculpe, querida, eu sei que dói, mas é o necessário. – Terminou de sentir as minhas costelas e anotou algo em um papel. – Por enquanto está tudo certo. Você poderia deitar de lado, por favor?
  - Claro... – Deitei como ela pediu, apoiando o lado direito na maca. A senhora voltou a sentir as minhas costelas, porém procurou algum ponto mais abaixo delas.
  - Isso pode doer um pouco, tá bem? – E sem nem contar até três ou dar um aviso melhor, Mary forçou a mão para baixo da minha costela. Era como se ela quisesse, literalmente, passar a mão através da minha pele e arrancar o meu coração.
  - Um pouco? – Foi impossível segurar o gemido de dor dessa vez e eu acabei soltando todo o ar que tinha em meus pulmões.
  - Respire fundo, por favor... – Pediu, me fazendo encará-la com descrença. Até parece que seria fácil assim, né? Fiz o melhor que pude, mas não consegui segurar por muito tempo; não com ela empurrando a mão cada vez mais pro fundo. – Muito bem.
  - Mon Dieu. – Suspirei pesadamente quando ela me soltou e deitei de bruços na maca, recuperando o fôlego.
  - Eu sei que é horrível, querida... – Mary aproveitou a posição em que eu fiquei para sentir as minhas panturrilhas. Eu começava a dar a razão a por ter fugido, pois a dor que eu senti em seguida foi quase insuportável. – Acho que achei um nó no seu músculo, ...
  - Um o que? – Tentei olhar pra ela, mas fui obrigada a continuar na mesma posição.
  - Um nó. Não é nada que deva te preocupar, mas só vai piorar, então eu vou relaxá-lo agora, certo?
  Porque ela me perguntava se nem esperava a minha resposta? A enfermeira começou a massagear a minha panturrilha, mas não daquela forma gostosa que muitas pessoas até pagam depois. Era uma dor horrível, principalmente no lugar do tal nó. Eu sentia uma pontadinha naquele local durante as minhas danças, mas não sabia que era algo sério. Minha única saída foi abraçar um travesseiro fino que estava ali por cima e torcer pra que acabasse logo.

+++

  Depois de todo o sofrimento que passei na mão de Mary, pude sair da enfermaria/abatedouro e procurar meus amigos, pois eles deveriam estar me esperando. Fiquei surpresa por ver que estava sentada em um banco bem próximo de onde eu estava e tinha uma expressão bem engraçada no rosto. Ela devia estar sondando se eu ainda estava brava com ela ou não.
  - Hey, bitch. – Chamei-a pra andar junto comigo e o sorriso que ela abriu em seguida mostrava que tudo estava bem.
  - Como foi? – Ela me abraçou de lado, passando o braço em volta da minha cintura.
  - Um pedacinho de céu! – Falei com ironia e ri ao passar o braço em volta dos ombros dela. – Onde estão os meninos?
  - Estão na escada, como sempre. Está com saudades do namorado? Porque ele não parava de perguntar por você. – Rolou os olhos. – Por isso é que eu vim atrás de você. Já não aguentava mais ouvir Zayn perguntando: “Será que ela está bem?” ou “Será que ainda vai demorar muito pra sair de lá?” Eu to te falando, , ele está insuportável.
  - Não era você que dizia que eu fazia dele uma pessoa melhor? – Gargalhei e quase inconscientemente comecei a andar mais rápido. A verdade é que eu também estava louca para vê-lo.
  - E faz! Mas só quando está ao lado dele. Quando você está em outro lugar... Pff, ele vira um chato.
  - Não fala assim dele, ok? – Olhei pra ela de cara feia.
  - Não fale de quem? – Um Zayn sorridente surgiu na nossa frente assim que passamos pelas portas de entrada/saída da Academy.
  - Baby! – Larguei a minha amiga de qualquer jeito e praticamente corri para abraçá-lo.
  - Alguém está feliz em me ver! – O menino sorriu mais ainda e me abraçou pela cintura, levantando-me alguns centímetros do chão.
  - Eu estava com saudades. – Balancei os pés no ar e, logo que os encostei novamente no chão, separei o abraço.
  - Blaaaaaah. – fez uma cara de nojo e desceu as escadas para encontrar o próprio namorado.
  - Como foi a sua manhã? – Preferi ignorar a ruiva e me concentrar no garoto na minha frente.
  - Produtiva. – Passou a mão pelos cabelos, também ignorando a outra garota. – Estamos escrevendo uma música para o Snow Ball.
  - Sério? Tenho certeza que está ficando perfeita. – Sorri e Zayn segurou a minha mão.
  - Se o Niall ajudasse, seria mais fácil. – Resmungou me fazendo rir. – Mas enfim! , eu queria falar com você...
  - É algo ruim? – Fiquei tensa. Que eu saiba essas coisas de “eu quero falar com você” ou “precisamos conversar” nunca terminam bem.
  - Claro que não. – Sorriu, me tranqüilizando. – Eu quero te levar pra jantar hoje.
  - Uhh, nosso primeiro encontro oficial? – Soltei uma risada baixa, pousando as mãos nos ombros do menino.
  - Exatamente. – Me segurou pela cintura e deixou um beijo nos meus lábios. – Aceita sair comigo?
  - Eu adoraria. – Afirmei que sim com a cabeça e ficamos trocando selinhos demorados.
  - Te pego as oito?
  - Perfeito! – Nos abraçamos mais uma vez antes de irmos nos juntar a e Niall na escada.
  - O que vocês dois estavam cochichando ali atrás? – perguntou, curiosa como sempre, enquanto nos sentamos em um degrau.
  - Temos um encontro hoje à noite. – Respondi animada.
   e Niall falaram um “Hmmm” engraçado e eu rolei os olhos. Me senti na quarta série de novo. Eu teria reclamado da infantilidade dos dois se o toque do meu celular não tivesse me chamado. Incrível como você pode passar o dia inteiro com o celular na mão e nada acontecer, mas quando ele está perdido pela sua bolsa, até sua tia de quarto grau resolve ligar. Eu revirei a bolsa e olhei em cada bolso, achando o celular quando a música estava quase acabando. Zayn ria do meu desespero, mas eu ignorei e atendi a ligação antes mesmo de ver quem era.
  - Alô?
  - ! Ainda bem que consegui falar com você... – Era Rachel, minha madrasta.
  - Oi, Rach! Aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupada com a forma que ela me cumprimentou.
  - Não se preocupe, não aconteceu nada de ruim... É só que eu recebi um convite para um desfile, mas foi meio em cima da hora. Então estou atrasada pra uma prova de roupas e não tenho com quem deixar a Lux, porque seu pai está trabalhando... – Rachel falou rápido demais e eu tive que prestar atenção em dobro para entender. – Você está em casa?
  - Eu ainda estou na academia, mas Liam está em casa. Ele teve o dia de folga hoje. – Expliquei. Os três que estavam ali comigo me olhavam curiosos, tentando entender o que estava acontecendo. – Pode deixar ela lá em casa e eu já chego...
  - Muito obrigada, ! De verdade. Você pode avisar o Liam pra mim? Eu já estou chegando...
  - Claro que sim, eu já vou ligar pra ele! – Afirmei e encerramos a ligação.
  - O que houve, ? – Zayn perguntou enquanto acariciava o meu braço.
  - Minha baby girl vai passar a tarde comigo hoje! – Falei com um sorriso enorme. – A mãe dela vai provar umas roupas hoje para o próximo desfile...
  - A sua madrasta é modelo, né? Eu tinha esquecido... – disse pensativa.
  - É sim! Mas ela estava meio parada desde que Lux nasceu, então essa pode ser uma chance pra ela voltar às passarelas.
  - Então você vai ter que ir embora agora? – Meu namorado fez um biquinho, como se não quisesse que eu fosse.
  - Vou sim... Mas não se preocupe, porque a gente vai se ver mais tarde. – Puxei-o para um beijo rápido antes de levantar da escada. – Tchau, e tchau, Nialler.
  - Até mais tarde! – Zayn acenou pra mim e eu desci a escada com um sorriso no rosto.
  Fui procurando a chave do meu carro dentro da bolsa enquanto discava o número de Liam no meu iPhone. Fazer duas coisas ao mesmo tempo é o que há. Terminou que eu não consegui fazer uma coisa nem outra, já que tive que parar de digitar quando derrubei a chave no chão acidentalmente. Por sorte não caiu em nenhuma poça de água e rapidamente eu a peguei de volta e abri o carro. Esperei estar sentada no banco do motorista pra tentar discar o número de meu amigo novamente.
  - Oi? – Liam atendeu com a voz sonolenta.
  - Li? Sou eu, . – Tive que rir, já que provavelmente tinha o acordado. – Te acordei, né?
  - Mais ou menos. – Ele também riu.
  - Desculpa! Oh... Eu to ligando pra avisar que a Rachel vai passar aí pra deixar a Lux, ok? Você pode ficar com ela até eu chegar?
  - Aquela coisa fofa? Claro que posso. – Pude escutá-lo se mexer na cama, provavelmente saindo dela. – Você vai demorar?
  - Eu já estou saindo daqui, mas depende do transito. – Rolei os olhos, imaginando os minutos que eu teria que passar dentro do carro se as ruas estivessem congestionadas como de costume; ainda mais por causa da hora.
  - Tudo bem, , te vejo daqui a pouco. Dirija com cuidado! – Liam sempre se preocupava com a minha segurança e eu achava muito fofo.

+++

  - Onde está a minha princesinha? – Perguntei ao abrir a porta de casa.
  - Quem chegou, Lux? – Escutei a voz de Liam vindo da sala e deixei a minha bolsa em um cabide no hall de entrada. – Vai lá ver!
  - ! ! – A pequenina apareceu correndo onde eu estava e a sua risada me fez rir junto. – Chegou !
  - Luxy, meu amor! – Peguei-a no colo com facilidade, mas ela estava mais pesada que da última vez que eu fizera aquilo. Também parecia maior que da última vez... – Que saudades que eu senti! O tio Liam cuidou bem de você?
  - Uhu. – Respondeu, ainda rindo. Eu não agüentei e enchi as bochechas da minha irmãzinha de beijos.
  - Oi, . – Liam apareceu e estava um pouco ofegante.
  - Tudo bem com você, Liam? – Ri.
  - Essa menina corre demais, sabia? – Falou.
  - Você estava dando trabalho pra ele, Lux? – Perguntei para a menina em meus braços.
  - Sim! – Jogou a cabeça pra trás, rindo.
  - Muito bem! – Também ri e só Liam permaneceu sério.
  - Quem está com fome? – Dorota apareceu do nada, me assustando.
  - Eeeeeeeu! – Lux levantou os braços gordinhos para o alto.
  - Dora, eu nem sabia que você estava por aí! – Sorri para a minha babá. – Mas eu devia ter desconfiado por causa desse cheiro maravilhoso!
  - Eu fiz uma macarronada especial hoje!
  - Hm, tudo isso pra Lux, é?
  - Rachel falou que ela já comeu, ... – O homem me informou e a pequena fez um biquinho me olhando.
  - Não conta pra mommy? – Lux olhou para Liam e ele sorriu.
  - Só se eu ganhar um beijo. – Cruzou os braços, chegando mais perto.
  - Ok! – Concordou com aquele trato e pulou dos meus braços para o dele. Por sorte ele a segurou a tempo. – Smáck!
  - Que beijo gostoso! – Liam riu porque Lux falava “smáck” toda vez que mandava beijo ou beijava alguém. Ele também deu um beijo na pequena e sussurrou pra ela como se estivesse contando um segredo: - Será que o beijo da sua irmã é tão gostoso assim?
  - , tio Li quer beijo seu. – Ela falou com a maior naturalidade do mundo e eu devo ter ficado mais vermelha que um tomate, pois sabia exatamente o tipo de beijo que ele queria.
  - Agora não é hora de beijo e sim de comer! Venham logo, pois a mesa já está posta.
  Por sorte Dorota percebeu o quanto eu estava sem graça e mudou o assunto da conversa. Eu fui a primeira a ir para a sala de jantar e sentar na minha cadeira como de costume. Liam pegou uma almofada do sofá da sala e a colocou na cadeira ao lado da minha, pra que Lux ficasse da altura da mesa e pudesse ficar segura, sentando na frente dela em seguida. Ele era tão cuidadoso até nos pequenos detalhes e eu admirava isso nele; entre várias outras coisas.
  Dorota nos serviu de um por um e eu duvidava que fosse conseguir comer a montanha de macarrão que cobriu o meu prato. Por mais que eu tivesse falado que não estava com muita fome, ela insistiu que eu estava magra demais e precisava me alimentar direito. Teria entrado em uma discussão alegando que uma bailarina não pode comer muito, mas já sabia como terminaria, então não valia a pena gastar argumentos em uma causa perdida. Pelo menos em uma coisa ela estava certa... Aquela era uma macarronada especial, pois estava muito, muito, muito boa. Lux também parecia estar gostando, pois sua boca e bochechas logo ficaram cobertas por molho de tomate. Foi uma luta impedir que ela sujasse as roupas, mas eu consegui fazê-la terminar de comer limpa.
  - Qual o seu segredo, Dora? – Liam perguntou após engolir uma garfada do macarrão.
  - Muito amor! – A mulher respondeu da cozinha.
  - Ela nunca conta o ingrediente secreto, Li. – Expliquei.
  - Mas eu não ia contar pra ninguém! – Disse cabisbaixo.
  - Se eu contasse o meu ingrediente secreto ele não seria mais secreto. – Dorota chegou àquela brilhante conclusão.
  - Você devia se contentar em ao menos poder provar da comida dela, porque daqui a pouco a rainha vai descobrir a melhor cozinheira de toda a Inglaterra e nós ficaremos sem a nossa. – Brinquei.
  - Que exagero, ! – Ela riu. – Eu ainda mandaria uma marmita pra vocês. Umas sobras do castelo, sabe?
  - Tá vendo como as coisas são? – Perguntei a Liam e ele só riu.
  Enquanto nós dois terminávamos de comer, Dorota pegou Lux e foi ajudá-la a lavar o rosto e as mãos. Também ficou brincando com a pequena no chão da sala e eu só escutava a música que ela costumava cantar pra mim quando eu era criança. Tive que sorrir com todas aquelas lembranças que voltaram de repente e saí da mesa de jantar para também ir até a sala. Liam me seguiu curioso e nós dois sentamos no sofá pra ficar olhando as duas.
  - Ela me lembra muito você, ... – Dorota falou com um suspiro. – Eu te conheci mais nova ainda, acredita?
  - Eu não lembro como nos conhecemos, Dora... Mas lembro que você sempre esteve comigo, mais até que a minha mãe.
  - Você era a minha bebê, a minha menina. – Falou melancólica. – E a Lux tem os seus olhos. É como se estivéssemos voltado no tempo e eu ainda pudesse te carregar nos braços.
  - Não comece a chorar, Dora, por favor. – Pedi com a voz embargada. Se ela continuasse com aquele assunto, quem iria chorar seria eu.
  - Tem razão! – Se abanou e levantou do chão com certa dificuldade. – Tenho muitos pratos pra lavar. Qualquer coisa me chamem, sim?
  - Pode deixar. – Liam foi quem respondeu e eu tirei Lux do chão para colocá-la no meu colo.
  - Obrigada, Dorota. – Sorri para a mulher que deixava o cômodo e me voltei para Lux. – Do que você quer brincar agora, princesa?
  - Vamos brincar de salão de beleza? – Aquela era uma das maiores frases que Lux falara, ao menos perto de mim, então eu não podia negar.
  - Vamos sim! Lá no meu quarto? – Perguntei e ela afirmou com um movimento de cabeça. Eu a coloquei no chão e a pequena já começou a andar em direção a escada.
  - Brinca com a gente? – Parou no primeiro degrau.
  - Achei que não ia me chamar! – Liam levantou e foi atrás dela.
  Eu segui os dois e como Lux era quem estava na frente, nós demoramos mais que o normal pra chegar até o segundo andar da casa. Como a baixinha não alcançava a maçaneta do meu quarto, Liam foi quem abriu a porta pra ela e a colocou sentada na cama; pois também era alta demais para que subisse sozinha. Eu fui direto para o banheiro e peguei alguns batons, maquiagens e produtos de cabelo para a nossa brincadeira. Assim que voltei para o quarto e coloquei tudo aquilo em cima da cama, Lux sorriu como se estivesse no paraíso.
  - Quem vai primeiro? – Sentei na cama, ao lado de Liam e de frente pra Lux.
  - Tio Li! – Ela falou enquanto escolhia um batom bem rosa.
  - Epa... Que história é essa? – Liam me olhou com espanto e eu dei de ombros.
  - Você quis brincar, então vai ter que brincar! – Ri da cara que ele estava fazendo.
  - Mas você vai ter que me deixar bem lindo, hein? – Falou com Lux, inclinando o rosto na direção dela.
  - Certo! – Luxy comemorou e segurou o queixo dele com a mãozinha esquerda. O batom rosa shock estava na direita e ela começou a passar nos lábios dele.
  - Essa é a sua cor, Li! – Gargalhei. Lux estava passando mais ao redor na boca dele do que no lugar certo, mesmo que estivesse usando toda a sua coordenação motora.
  - Halaucaa. – Murmurou com a boca fechada, mas eu sabia que ele estava tentando falar “Cala a boca”.
  - Eu posso te ajudar, baby girl?
  - Pode, . – Sorriu adorável como sempre e me entregou uma sombra azul BEM chamativa. – Ati, oh.
  - Acho que ele vai ficar lindo com essa sombra. – Sim, eu estava me divertindo com aquilo. Provavelmente bem mais do que devia. Abri a sombra e me preparei pra começar a passar. – Fecha os olhos!
  - Humhuuuuum. – Murmurou mais uma vez, mas pelo menos me obedeceu. Ele resmungava baixinho enquanto eu deixava a área acima de seus olhos completamente azul.
  - Abre? – Lux me passou uma caixinha de blush e eu devolvi pra ela depois de abrir. – Brigada.
  - Imagine, Luxy. Sabe o que está faltando? – Ela me olhou curiosa e Liam me olhou com medo. – Alguns enfeites de cabelo!
  - Ótimo! – Li falou irônico e eu mostrei a língua pra ele, ficando de joelhos na cama e pegando algumas presilhas em forma de flor e borboletas.
  - Shhh. – Pedi silêncio e Lux riu, também se divertindo muito em pintar as bochechas dele de vermelho. O cabelo do menino não era tão grande, mas ainda assim eu consegui prender os enfeites por ali.
  - Tá pronto! – A menininha fechou o pote de blush e bateu palmas.
  - Deixa eu ver... – Fui até o lado dela para poder olhar a nossa obra de arte de frente e comecei a rir ao ver o resultado final. E quando eu falo que comecei a rir, é porque eu ri muito. Cheguei ao ponto de ter que deitar na cama de tanto gargalhar. – Perfeito!
  - Para de rir, ! – Liam reclamou comigo, mas não aguentou segurar o próprio riso depois de se olhar em um espelho de mão que Lux o entregou. – Meu Deus...
  - Gostou? – A mais nova perguntou inocente, realmente achando que ele estava bonito com aquela maquiagem toda borrada.
  - Amei! – Respondeu e eu já conseguia rir menos. – Mas agora é a minha vez. Muahaha.
  - Eita, Lux, quem será que ele vai maquiar? – Olhei pra ela fingindo estar com medo.
  - Eita! – Me imitou como se aquela fosse a palavra mais engraçada do mundo.
  - Eu vou maquiar quem escolheu essa brincadeira, é claro! – Apontou para a minha irmã, que escondeu o rosto nas pequenas mãos. – Nem adianta se esconder, mocinha.
  - Ele faz a sua maquiagem e eu arrumo o seu cabelo, o que acha? – Daquela opção Lux gostou, por isso eu voltei a me sentar e a coloquei sentada entre as minhas pernas, de frente pra Liam.
  - Vou te deixar bem linda! – O menino pegou um lápis de olho e levantou o rostinho dela.
  - Linda ela já é! – Sorri ao pegar a minha escova de cabelo e começar a pentear os fios loiros e finos da bebê. – É a menina mais linda do mundo.
  - Tinha que ser, já que ela é a sua cara. – Liam sorriu pra mim e logo voltou a se concentrar no seu trabalho. – Está pronta!
  - Mas já? – Deixei a escova de lado e me inclinei para olhar o rosto de Lux. – Liam!
  - O que? Ela me maquiou de menina... Eu tive direito de desenhar um bigode nela. – Cruzou os braços como uma criança emburrada.
  - Deixa ver! – Lux estava sorrindo, mas assim que viu o seu reflexo no espelho o sorriso se transformou em um ‘o’ espantado. – Epa.
  - Tio Li é bobo, né? – Falei com ela, que concordou balançando a cabeça. – Vamos tirar uma foto e mostrar pra mamãe?
  Lux deixou eu tirar uma foto dela, então tirei o celular do bolso e coloquei na câmera. A pequena olhou para Liam e ele fez um biquinho, pedindo desculpas. Mas até que ela estava bem fofa – como sempre. Aproveitei que ela estava distraída e tirei a foto. Já fui abrindo o Twitter, pois não perderia tempo, e postei a foto com a seguinte legenda:

“Mummy, olha o que o tio @Real_Liam_Payne fez comigo!”

+++

  - Então, como eu estou? – Perguntei a Liam, que estava sentado no sofá com Lux em seu colo. Eu apontei para as minhas roupas e dei uma voltinha sem sair do lugar.
  - Você está mesmo perguntando a minha opinião sobre as roupas que vai usar pra sair com outro cara? – Ele me olhava dos pés à cabeça com certo pesar.
  - Eu perguntaria a outra pessoa, mas você é o único que está aqui. – Coloquei as mãos na cintura. Dorota havia partido quando eu estava no banho, Louis ainda estava no trabalho e Harry não aparecera naquele dia. – Por favor?
  - Você está perfeita, . Como sempre. – Se rendeu e sorriu. – Não é, Lux?
  - Minha irmã é linda. – A pequena falou e eu teria apertado as bochechas dela se a campainha não tivesse tocado.
  - Zayn já chegou? Ainda falta meia hora... – Olhei para o relógio em meu pulso e passei a mão pelos cabelos. – Já vou!
  Gritei, mas não saí do lugar. Liam me olhou como se perguntasse: “O que você está fazendo?” e eu respirei fundo. Estava nervosa. Muito nervosa. “Respira, . Vai dar tudo certo. Ele já é seu namorado e você se sente a vontade com ele, então porque está assim?” Conversei comigo mesma, decidindo que não adiantava eu ficar ali parada. Respirei fundo duas vezes e caminhei até a porta, contando até três antes de abri-la. Preparei o meu melhor sorriso, mas me senti muito idiota ao ver que não era Zayn e sim Rachel.
  - Wow, isso tudo é pra me receber? – Minha madrasta me abraçou.
  - Claro! – Ri e, assim que o abraço se partiu, dei espaço para que ela passasse. – Lux está lá na sala.
  - Ela se comportou? – Perguntou e fomos andando até onde Liam brincava com a pequena.
  - Como um anjo!
  - Mommy! – Lux desceu do sofá assim que viu a mãe aparecendo e correu até ela.
  - Minha princesinha! – Rachel levantou a filha até o alto, fazendo a gargalhar. – Que bigode é esse?
  - Foi o tio Li. – Apontou para Liam e o entregou na cara de pau.
  - Oi, Liam! Eu nem o vi aí. – Minha madrasta sorriu pra ele.
  - Tudo bem, Rach? – Sorriu de volta e acenou. – Em minha defesa, ela também me pintou.
  - Mommy, mommy... – Lux balançou o ombro da mãe até ter sua total atenção. – vai sair com o namorado.
  - Hã? – Me fiz de desentendida, arregalando os olhos. Rachel não sabia que eu estava namorando... Porque ela contaria ao meu pai. Eu senti vontade de matar Liam, porque ele foi quem contou aquele detalhe para a minha irmãzinha.
  - É mesmo, ? – Rachel olhou pra mim com um sorriso curioso e animado. – Namorado?
  - Então... Pois é... – Não adiantaria eu negar, então admiti de uma vez. – Mas está tarde, então é melhor vocês irem pra casa...
  - Agora eu vou ficar aqui até ele chegar! – A mulher foi até o sofá com Lux. – Qual o nome do garoto?
  - Zayn Malik. – Liam respondeu e eu escondi o rosto nas mãos, ainda parada na entrada da sala.
  - E ele é bonito? É mais velho? – Perguntava como se aquela fosse a novidade do ano e ela precisava saber de todos os detalhes.
  - Rachel, não me faça perguntas difíceis! – Eu estava visivelmente sem graça. – Nós temos a mesma idade.
  - E ele é bonito? – Repetiu a pergunta que eu estava tentando ignorar.
  - É sim. – Não tive saída a não ser responder e acabei sorrindo.
  - Awn, você está apaixonada! – Fez uma cara engraçada. – Esses sorrisos só aparecem assim quando se está apaixonada.
  “É isso, eu vou morrer de vergonha!” Pensei, sentando em uma poltrona próxima e escondendo o rosto nas mãos mais uma vez. Lux estava tão cansada que começou a pegar no sono, mas mesmo assim Rachel não queria ir embora antes de conhecer Zayn. Liam deitou a pequena no próprio colo e ficou acariciando seus cabelos até ela dormir de verdade. Não demorou muito pra escutarmos um carro subindo a rua e a loira me olhou insinuante. Mordi meu lábio inferior ao escutar uma porta de carro sendo fechada e senti um frio na barriga já sabendo o que estava por vir. O carro de Louis era bem mais barulhento, então não seria o meu irmão... “DING DON”, soou a campainha, me fazendo levantar na mesma hora. Rachel fez o mesmo e eu saí da sala sem precisar olhar pra trás pra saber que ela estava vindo junto. Abri a porta novamente com um sorriso que eu nem sabia que estava em meu rosto.
  Dessa vez era Zayn de verdade e ele também sorria. Seu cabelo estava arrumado de uma forma diferente do de costume e ele estava mais lindo do que nunca. Vestia uma jaqueta de couro por cima de uma camisa cinza, calça jeans também preta e um sapato marrom escuro; mais formal que os tênis que ele costumava usar. O que mais chamou a minha atenção foi o que ele tinha em mãos: Um buquê de tulipas cor de rosa.
  - Boa noite. – O menino disse formalmente, mas com um sorriso brincalhão.
  - Boa noite, Zayn. - Sorri da mesma forma.
  - Isso é pra você... – Entregou-me o buquê e aproveitou para se aproximar mais.
  - Como sabia que tulipas são as minhas flores preferidas? – Perguntei sincera e o abracei com cuidado para não machucar as minhas flores e nós dois trocamos um selinho. – Obrigada.
  - Eu não sabia, na verdade. Mas achei que combinavam com você.
  - Awwwwwwn. – Rachel chamou a nossa atenção e por um momento eu tinha esquecido que ela ainda estava lá. Zayn a olhou sem entender.
  - Essa é a minha madrasta, Rachel. – Apontei pra ela. – Rach, esse é Zayn, o meu namorado.
  - Muito prazer. – Ele sorriu e estendeu a mão pra ela.
  - Encantada. – Rachel ia apertar a mão dele, mas Zayn a segurou e beijou as costas da mão dela. – Que cavalheiro! Você escolheu bem, . Ahh, e ele é bonito mesmo...
  - E é por isso que eu não vou te convidar pra entrar. – Falei para o menino, morrendo de vergonha por causa dos comentários da madrasta.
  - Não tem problema algum. – Riu. – Nós temos que ir de qualquer forma... Está quase na hora da nossa reserva.
  - Então vamos... – Sorri mais uma vez e me virei pra Rachel uma última vez. – Coloca em um vaso pra mim?
  - Claro, . – Pegou as minhas flores e piscou. – Se divirtam, meninos.
  - Obrigado!
  Zayn acenou para ela e me esperou fechar a porta atrás de mim para segurar a minha mão, entrelaçando os nossos dedos, e me guiar até o carro prateado. Aliás, parecia que ele realmente trocara de carro com a mãe para sempre. Eu me sentia culpada por aquilo, é claro, mas gostava bem mais do Volvo confortável e aconchegante do que o Land Rover gigantesco.

+++

  - Chegamos... – Zayn disse ao tirar as mãos dos meus olhos. Ele estava fazendo um mistério enorme sobre onde iríamos jantar durante todo o caminho, inclusive me obrigando a permanecer com os olhos tapados até estarmos na entrada do restaurante.
  - Não sei por que você fez esse...
  Perdi as palavras assim que olhei para o lugar em minha frente. Por um momento eu me senti novamente em Paris, já que aquele restaurante francês fazia uma réplica perfeita aos estabelecimentos gastronômicos da minha cidade. “La Poule Au Pot” era o nome. Passei os olhos pelas mesinhas na calçada, marca registrada das delicatessens francesas, e sorri em nostalgia. A música instrumental que vinha do lado de dentro combinava perfeitamente com a decoração e eu poderia apenas fechar os olhos e me imaginar caminhando pela margem do rio Sena.
  - Zayn... – Suspirei atônita. – Aqui é incrível...
  - Eu sabia que você ia gostar. – Ele sorria satisfeito. Devia estar planejando me surpreender a algum tempo.
  - Como você achou esse lugar? – Demos as mãos e começamos a andar para a parte de dentro do restaurante.
  - Eu tive que passar a madrugada inteira na internet, mas valeu à pena. – Explicou com uma carinha fofa. Eu não aguentei e tive que parar de andar para beijá-lo nos lábios. – Valeu muito à pena!
  - Bobo. – Sorri e voltamos a caminhar em direção ao maître que já nos esperava.
  - Bonne nuit. – O senhor de paletó nos cumprimentou em um francês perfeito. Perfeito mesmo, não daqueles que alguns ingleses tentam imitar. – O senhor tem uma reserva?
  - Sim, está no nome Malik. – Respondeu formal.
  - Por aqui, por favor...
  O maître nos indicou o caminho e fomos seguindo-o. Do lado de dentro, o restaurante era ainda mais incrível e parisiense. Nas paredes havia várias fotos de monumentos famosos do país, como o Arco do triunfo, Porte Saint-Martin e, é claro, da Tour Eiffel. Algumas partes do teto eram cobertas por parreiras de uvas falsas, lembrando as vinícolas francesas. Aquele restaurante era de fato um pedacinho de Paris no meio da Inglaterra e eu não teria me sentido mais a vontade naquela noite se estivéssemos em outro lugar.
  Chegamos a uma área separada, onde apenas uma mesa redonda para duas pessoas estava posta bem ao centro. O lugar era ideal para um jantar romântico e eu cheguei a pensar se era um exagero tudo aquilo para um primeiro encontro, oficial ou não. Tenho certeza que muitos casais ficaram noivos ali e não seria o nosso caso. Obviamente eu estava encantada demais com o lugar inteiro pra reclamar ou me importar, até porque estava tudo perfeito. Um detalhe que me surpreendeu é que o teto daquela parte era coberto por uma clarabóia redonda que nos permitia ver o céu acima de nós.
  Zayn puxou a cadeira para que eu me sentasse e ele logo foi para a própria cadeira em frente à minha. O maître nos apresentou ao nosso garçom – que descobrimos se chamar Pierre – e foi embora, nos desejando um bom jantar. Pierre acendeu duas velas redondas no centro da mesa e nos entregou um cardápio para cada. Disse que voltaria em instantes, mas que nos deixaria bem à vontade.
  - Se eu soubesse que você sorriria desse jeito, não teria demorado tanto pra te trazer aqui. – Zayn falou e me fez perceber que eu estivera sorrindo o tempo todo.
  - Isso não tem importância, Zayn. – Segurei a mão dele sobre a mesa. – O que importa é que estamos aqui agora e eu não consigo imaginar um encontro mais perfeito.
  - Tem certeza? – Começou a brincar com os meus dedos.
  - Bem... – Olhei pra cima. – Só se o céu estivesse claro, mas eu já desisti de ver estrelas aqui em Londres.
  - Isso é verdade... – Falou pensativo. Se eu não o conhecesse, diria que estava imaginando um jeito de fazer as estrelas aparecerem. – Vamos escolher o jantar?
  - Vamos! – Respondi um pouco mais animada do que deveria.
  Eu não estava esfomeada, mas a minha curiosidade pra saber se o Menu seguia a linha da decoração era enorme. Nós nos soltamos por um momento para poder folhear o cardápio e eu corri os olhos pelas entradas, pratos principais e sobremesas. Aquele meu sorriso voltou ao notar que todos os nomes estavam em francês. É claro que eu entendi tudo, mas Zayn tentava ler com uma cara engraçada.
  - Já sabe o que vai querer? – Perguntei com uma risada.
  - Ahn, sei sim... – Piscou algumas vezes.
  - Você não está entendendo nada, né?
  - Nadinha. – Se rendeu, frustrado.
  - Posso anotar os pedidos? – Pierre voltou e Zayn me olhou como se pedisse ajuda.
  - Je veux le Saumon à la sauce Hollandaise. – Comecei com o meu pedido, falando em francês só pra matar a saudade e o garçom parecia entender tudo. – Et lui Le Suprême de poulet.
  - E pra beber? – Pierre olhou para Zayn.
  - A mademoiselle é que está escolhendo hoje. – Ele sorriu.
  - Le Chardonnay, s'il vous plaît. – Finalizei o pedido com um sorriso e o garçom terminou de anotar o nosso pedido.
  - Excusez-moi. – Pierre pediu licença e se afastou.
  - Você fica tão sexy falando francês. – Zayn sorriu maroto e eu rolei os olhos divertida.
  - Obrigada! – Pisquei em uma tentativa de ser sedutora, mas o menino acabou rindo. – Não vai querer saber o que eu pedi pra você?
  - Alguma coisa com poule? – Levantou uma das sobrancelhas, desconfiado.
  - Poulet. – O corrigi. Ele costumava rir do meu sotaque e das palavras que eu não conseguia pronunciar direito, então me senti muito em invertendo o jogo. – Quer dizer “frango”.
  - Nesse caso... Muchas gracias. – Falou e me fez rir.
  - Isso é espanhol, Malik! – Levei uma mão à testa, me controlando pra não rir muito alto. Eu sabia que ele estava brincando, mas ainda assim foi engraçado.
  Enquanto eu tentava ensinar Zayn a pronunciar “merci beaucoup”, o garçom retornou trazendo o nosso Chardonnay. Dei o primeiro gole no meu vinho e quase engasguei com o biquinho fofo que meu namorado fazia ao treinar a língua francesa. Ele exagerava de vez em quando só pra me fazer rir, mas eu fingia que não sabia disso.
  - Ei, babe... – Zayn também deu um gole no vinho e demorou um pouco degustando-o.
  - Sim? – Sorri. Eu amava quando ele me chamava daquele jeito.
  - Você tem planos pra sábado?
  - Não que eu saiba... – Tentei pensar em algum compromisso que eu pudesse ter, mas estava livre no sábado. – Na sexta eu tenho ensaio com o Nick, mas sábado eu não tenho nada.
  - De novo esse cara? – Bufou.
  - É quase o último ensaio! Não precisa ficar com ciúmes. – Sorri e peguei a mão dele em cima da mesa mais uma vez, acariciando com o polegar. Eu sabia que ele não resistiria ao meu carinho. – Mas por que, baby?
  - Não é ciúme! – Ele podia negar, mas não me enganava. – E a minha mãe quer te conhecer, então ela está insistindo que eu te leve lá em casa...
  - Sua mãe? – Engoli em seco. – Quer me conhecer?
  - Quer sim... – Envolveu a minha mão com as dele ao perceber que eu começava a suar frio. – Ela disse que eu nunca falei tanto de uma garota, então está curiosa pra saber quem você é.
  - O-o que você fala? – Gaguejei. É, eu estava nervosa. Muito nervosa, pra falar a verdade. Eu nunca fui apresentada formalmente a uma sogra e a minha primeira e única sogra antes da mãe dele não gostava nada de mim.
  - , você está branca... – Se preocupou. – É só a minha mãe...
  - Exatamente, Zayn! É a sua mãe! – Passei a mão livre pelo meu cabelo. – E se ela não gostar de mim?
  - Ela vai te adorar, . – Sorriu. – Minha mãe é bem legal, você vai ver.
  - também me falou que ela é legal, mas ainda assim eu fico nervosa. – Suspirei, mas acabei cedendo. – Mas eu vou adorar conhecê-la...
  - E as minhas irmãs também.
  - Eu não estou nervosa em conhecer as minhas cunhadas! – Sorri um pouco mais tranquila.
  - Com licença, posso servir o dîner?
  Pierre voltou do nada, carregando uma bandeja com os nossos pedidos. Ambos afirmamos que ele poderia nos servir e demos o espaço necessário para que o garçom colocasse o meu prato de salmão na minha frente e o frango de Zayn na frente dele. O cheiro estava delicioso e a decoração nos pratos estava linda. Nossas taças de vinho foram repostas e pudemos começar a comer.
  - Bon apétit!

+++

  Zayn estacionou o Volvo em frente a minha casa, mas nenhum de nós queria sair do carro. Uma chuva torrencial começara a cair mais ou menos no meio do caminho entre o restaurante e o condomínio, então usei a desculpa de que não queria me molhar para ficar um pouco mais ali dentro do veículo quentinho e Zayn escondeu uma sombrinha que ficava embaixo do banco do motorista, achando que eu não estava vendo. Ambos sabíamos que a verdade era que nós ainda queríamos passar mais um tempo juntos, porque parecia que a manhã e noite inteiras não eram o suficiente. Mas pensa comigo... Se eu entrasse em casa agora, o que teria pra fazer? Nada! Então seria bem mais produtivo ficar trancada em um carro com o meu namorado... Produtivo e perigoso, mas isso é um mero detalhe que vamos esquecer, ok? De qualquer forma, nós decidimos abaixar as costas dos bancos para que ficássemos mais confortáveis e praticamente deitados; claro que ele no dele e eu no meu. Já toda a vontade, tirei os sapatos e deitei de lado, dobrando os joelhos em cima do banco.
  - Eu realmente gostei dessa noite, Zayn... – Não tirava os olhos dele de jeito nenhum.
  - Eu sabia que você ia gostar daquele restaurante! – Sorriu.
  - Não estou falando só do restaurante. Claro que eu me senti em casa, a comida estava maravilhosa, as velas, a música instrumental... – Suspirei. – Mas estar com você foi a melhor parte.
  - Sabe qual foi a minha parte preferida? – Perguntou e eu balancei a cabeça em negação e ele continuou. – Quanto nós estávamos de mãos dadas e as outras pessoas nos olhavam.
  - Como assim? – Abri um pequeno sorriso.
  - Foi bom mostrar pra outras pessoas que você está comigo... – Passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar do meu, um pouco tímido. – É difícil explicar, mas na minha cabeça eu pensava: “É isso mesmo que vocês estão vendo, essa garota linda está comigo.” Ou “Essa mulher incrível é minha.”
  - E você está certo... Eu sou sua. – Eu não sorria mais como antes e nem morria de rir, mas não era por estar triste; muito pelo contrário. Apenas fitava-o com serenidade, estudando cada detalhe, cada mania e cada movimento por menor que fosse. Eu queria guardar aquele momento na memória.
  - Eu gosto de ouvir você falando isso. – Zayn também estava calmo, quase paciente. Ele tocou o meu rosto com a ponta dos dedos e eu fechei os olhos, só sentindo os carinhos. – E gostei muito de ouvir você falando francês.
  - De verdade? – Sorri quando ele tocou os meus lábios e abri os olhos devagar para vê-lo afirmar que sim com a cabeça. Sussurrei: - Vem cá... Chega mais perto...
  - Assim? – Também falou em sussurros e inclinou o corpo para cima do meu, aproximando nossos rostos até que nossos lábios estivessem quase se roçando.
  - Uhum... – Fitei-o intensamente uma última vez antes de fechar os olhos e tocá-lo delicadamente nos ombros. - Embrasse-moi...
  Zayn não precisava saber falar francês pra entender o que aquelas palavras significavam. Eu queria um beijo... Mas não só um beijo, sim todos os sentimentos que vem com ele, sejam físicos ou emocionais. Eu queria os lábios dele nos meus, brincando, se confundindo. Nossas respirações fundidas em uma só. Nossos corações acelerados... Nunca pensei que uma paixão pudesse mexer comigo desse jeito, mas estava feliz em descobrir que podia sim. O menino afastou alguns fios de cabelo do meu rosto com uma mão e apoiou a outra no banco pra não fazer muito peso em cima de mim. Finalmente encostou os lábios nos meus e ficou dando algumas sugadas de leve no meu inferior até que eu encaixei nossas bocas de uma vez. Arrastei a língua entre os lábios de Zayn para pedir passagem e a dele foi mais rápida e encontrou a minha. Igualmente devagar fui subindo as mãos para o pescoço do mesmo e acariciava cada centímetro de pele que eu podia tocar. Senti-o ficar arrepiado quando meus dedos subiram pelos seus cabelos e aumentei a intensidade do beijo por uma fração de segundos, só pra ele entender que eu havia percebido e gostado. O garoto, por sua vez, tocou a lateral do meu corpo desde abaixo das minhas costelas até o quadril. Não existia nada de vulgar naqueles toques e eu não o parei quando senti sua mão na minha coxa, apertando-me com certo cuidado. O barulho da chuva batendo no carro a nossa volta me deu uma tranquilidade imensa e eu poderia passar o resto da noite ali, ou em qualquer outro lugar, contando que Zayn estivesse comigo.
  Nos separamos com um pouco de relutância quando já estávamos bastante ofegantes. Meus lábios formigavam um pouco, mas não era uma sensação ruim. Não trocamos palavra alguma, apenas ficamos nos observando; cúmplices. Só havia uma coisa que nós poderíamos falar naquele momento, mas talvez ainda não estivéssemos prontos pra isso.

Capítulo XXX

  O professor Hofstheder deve ter acordado de bom humor naquela terça feira, pois não me obrigou a repetir o mesmo exercício várias vezes na nossa aula juntos e até me liberou meia hora antes do usual. Não que eu não gostasse da disciplina, mas tinha ido dormir tão tarde na noite anterior que estava bem cansada. Culpa de quem? Exatamente, culpa do Malik que, além de não me deixar sair do carro antes da uma hora da manhã, fez questão de não sair da minha cabeça nem por um segundo para que eu pudesse pegar no sono. Mas eu daria o troco... Ainda não sabia como, mas daria!
  Aproveitei meu tempo livre para confirmar com Nick o nosso ensaio da próxima sexta e segui para a sala de música em que Niall e Zayn deveriam estar tendo aula, aproveitando que era no mesmo andar. Fiquei parada na entrada, espiando pela parte de vidro, até que Ed me notou e convidou-me para entrar com um aceno. Assim que eu abri a porta e pude ouvir o que se passava ali dentro, escutei Zayn falando algo como: “Eu já disse que não posso, Niall! Minha mãe quer que eu vá com ela comprar as coisas que a gosta.” E depois disso o loiro pareceu bem aborrecido.
  - O que está acontecendo? – Foi só eu falar que os dois meninos que estavam discutindo se viraram na minha direção.
  - Esse seu namorado é um imprestável! – Niall reclamou, mas Zayn o ignorou.
  - Oi, babe! – Veio em minha direção com um sorriso.
  - Bom dia! – Também sorri e fiquei na ponta dos pés quando ele me abraçou. – Bom dia, Niall. Bom dia, Ed.
  - Bom dia, . – O ruivo e o irlandês falaram ao mesmo tempo.
  - Por que o Ni está bravo? – Perguntei ao moreno assim que separamos o abraço.
  - Porque eu não posso sair com ele hoje a tarde. – Rolou os olhos como se fosse a milésima vez que falava isso. – Mas hoje a minha mãe vai me arrastar até o supermercado pra fazer compras para a nossa convidada especial.
  - Malik, eu não quero dar trabalho! – Falei séria. Não havia necessidade alguma de irem fazer compras só por minha causa.
  - Não é trabalho nenhum, . – Sorriu e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
  - Ei, dá pra vocês prestarem atenção no meu problema? – Niall entrou no meio de nós dois.
  - Desisto de dar aula pra vocês... – Ed falou baixo como se tivesse pensado alto e todos o ignoramos. Tadinho...
  - Foi mal, Nialler. – O abracei de lado e fiz um biquinho. – Por que você não sai com a sua namorada?
  - Eu adoraria, mas ela também vai sair com a mãe dela hoje. – Também fez um bico de lado. – É o Dia das Mães, por acaso? Todo mundo vai fazer algo com a mãe hoje!
  - Menos eu, já que a minha mãe está beeeem longe! – Ri do drama do meu amigo e então uma idéia me ocorreu: - Já sei! Por que você não vai comigo pra casa?
  - Sério? – Niall sorriu.
  - Como é? – Zayn se espantou.
  - É! Harry vai pegar o Just Dance 4 da “irmã dele” e nós vamos jogar. – Fiz aspas no ar. Não acreditava nem por um minuto que aquele jogo era da Gem. – Vai ser legal. O que acha?
  - Acho uma ótima idéia. – Sorriu mais ainda, feliz por finalmente ter algo pra fazer.
  - Epa, epa, epa. – Zayn cruzou os braços. – Quando você não pode sair com a sua namorada vai sair com a minha?
  - Você também não pode sair com a sua hoje, Malik. – Rebati com uma sobrancelha levantada e um sorriso cínico nos lábios.
  - Touché. – Niall alfinetou.
  - Não é legal quando os dois ficam contra mim. – Zayn ficou emburrado e eu ri.
  - Não faz assim! – Balancei-o devagar pelo ombro e Niall se afastou. – Lembra o que eu te falei ontem à noite?
  - Que o meu beijo é muito bom? – Perguntou convencido e eu fiquei vermelha ao me lembrar que realmente falei isso. – Ou que você não vive sem mim?
  - A primeira parte pode até ser verdade, mas eu nunca falei que não vivo sem você! – Gargalhei, fazendo-o descruzar os braços e demos as mãos. – Lembra do que eu falei quando você contou que as suas irmãs pegam no seu pé?
  - Você falou que sempre ficaria do meu lado. – Balançou as nossas mãos de um lado para o outro como uma criança de cinco anos de idade.
  - Isso serve pra qualquer pessoa! – Me inclinei na direção dele, roubando um selinho inesperado. – O Niall só quer companhia.
  - Eu odeio quando você faz isso. – Reclamou, mas acabou sorrindo.
  - Isso o que?
  - Está certa. – Deu de ombros.
  - Então você me odeia sempre? – Pisquei. Eu devia estar pegando a mania de em sempre achar estar certa.
  - Meio a meio. – Soltou a mão da minha e a subiu devagar pelo meu braço. – Metade do dia eu te odeio e a outra metade eu gosto um pouco de você.
  - Aham, sei! – Ri irônica e olhei em volta. – Vocês dois não deveriam estar escrevendo uma música para o baile de inverno?
  - Esses dois são os piores alunos da academia toda, ! – Ed respondeu, jogando as mãos para cima no estilo “eu desisto!”
  - Então é melhor eu sair daqui e deixar vocês trabalharem. – Ameacei andar até a porta, mas Zayn me segurou.
  - Não vai... Eu e o Niall vamos fazer alguma coisa, mas fica aqui. Por favor? – Fez uma carinha tão fofa que eu não conseguiria dizer não. – É o único tempo que vamos ter juntos hoje.
  - Eu fico, baby... – Sorri e baguncei os cabelos dele. – Mas você não pode falar comigo e vai se concentrar! Eu só vou ficar aqui e olhar vocês.
  - Isso mesmo! – Ed se juntou a nós e tocou Zayn no ombro. – Pode ir para a mesa e terminar a letra da música enquanto eu ensino a a tocar piano.
  - Sério?! – Meus olhos brilharam a escutar aquelas palavras.
  - Sério? – Zayn parecia relutante e a reação dele não tinha nada a ver com a minha. – Tenho mesmo?
  - Vai logo, Zayn! – Ed apontou para o canto onde Niall já rabiscava algo em um caderno.
  O moreno demorou um pouco pra acreditar que teria mesmo que ir, mas acabou se dando por vencido. Ele se afastou e Ed me guiou até o piano de cauda que eu vira Zayn tocar algumas vezes. Sentei-me no banquinho em frente ao instrumento e enquanto Ed foi pegar outra coisa para que ele mesmo pudesse sentar, eu arrisquei apertar algumas teclas. Quando meu irmão e eu éramos menores e nossos pais ainda estavam juntos, ele teve algumas aulas de piano e eu acabava espiando de vez em quando, o que levou o professor a me ensinar a música “Parabéns pra você”. Fazia tanto tempo que eu não tocava que não tinha certeza se ainda lembrava, mas valeu a tentativa. As teclas eram mais pesadas do que eu esperava, mas mesmo assim consegui extrair um som agradável. Não vou dizer que acertei todas as notas, mas pelo menos dava pra entender qual era a canção que eu tentava tocar.
  - Uau, eu não sabia que você tocava tão bem. – Ed sentou-se ao meu lado depois que a minha música acabou e eu fiz uma careta com aquela zoação.
  - Pois é! Eu sou quase uma Tchaikovsky. – Me gabei de brincadeira.
  - Eu vou te dar alguns pontos por você saber esse nome, ok? – Riu.
  - Muito obrigada. – Também ri. – Você pode tocar algo pra eu escutar?
  - Pensei que você queria aprender. – Perguntou, mas eu já afastei um pouco o meu banco para que ele se aproximasse do piano.
  - Eu quero, mas não vou aprender tudo em uma aula só... Então adoraria escutar você tocar.
  - Tudo bem... – Se preparou para começar a tocar. – Se você conhece Tchaikovsky, deve conhecer esse aqui...
  Notei que Ed respirou fundo e deixou as costas eretas, corrigindo sua postura. Aparentemente não é só no ballet que a postura é importante; anotado! Escutei as primeiras notas da música e já percebi qual era: Fur Elise de Beethoven. Até mesmo quem não entende de música conhece aquela, então foi fácil descobrir. O que me encantou é que os dedos de Ed eram tão ágeis e os sons saíam tão perfeitos que eu me perguntei o quão bom pianista ele realmente era. Devia ser um dos melhores do país, o que justificava a sua fama na Academy e a sua popularidade entre os alunos. Era meio difícil não julgá-lo pela aparência desleixada e roupas nada formais, mas Ed Sheeran escondia um baú de talento por trás de tudo aquilo. Zayn e Niall podiam ser invejados por terem um professor tão bom e que, além de tudo, ainda era um amigo bastante íntimo.
  - Ed... Isso foi incrível! – Bati palmas e ele sorriu em agradecimento.
  - Obrigado, meus fãs, obrigado! – Fez uma espécie de reverência e eu ri.
  - Eu posso te pedir uma coisa?
  - O que quiser... – Me olhava com curiosidade.
  - Já me falaram que as músicas de todas as apresentações do baile de inverno vão ser tocadas ao vivo mesmo... Mas eu gostaria que você tocasse durante a minha. – Fiz um biquinho achando que seria difícil convencê-lo.
  - Eu adoraria, ! – Concordou até mais rápido do que eu esperava. – Você já tem uma música em especifico?
  - Pra falar a verdade não... – Balancei a cabeça em negação, começando a notar o quanto Nick e eu estávamos atrasados... E eu achava que estava adiantada. Tsc.
  - Não precisa se desesperar, ok? Vou te mostrar algumas que eu acho que você pode gostar e depois mostramos ao seu parceiro.
  E foi assim que a minha aula de piano foi para o espaço. Claro que era bem melhor decidir qual seria a música da minha apresentação, mas eu tinha realmente vontade de aprender algo novo. Ed pegou algumas partituras e tocou algumas músicas clássicas. De vez em quando eu notava que Zayn estava me encarando, mas fingia não perceber só pra ver quanto tempo ele demorava pra desviar o olhar.

+++

  - Mas, ... Nós acabamos de comer. – Niall resmungava deitado no sofá da minha casa. – Não temos que esperar uma hora antes de jogar?
  - Isso é pra nadar, Niall! – Ri e tentei puxá-lo pra fora do sofá, mas não adiantou. Aquele menino é mais pesado do que aparenta. – Harry, me ajuda aqui?
  - Na verdade, ... Eu concordo com ele. – Haz estava deitado no chão, encarando o teto e com a mão na barriga.
  - Vocês não deviam ter comido tanto! – Levei uma mão à testa, decepcionada por ter amigos tão preguiçosos.
  Niall realmente veio passar o dia comigo e quando chegamos em casa fomos direto para a cozinha e fizemos o almoço. Ni me ensinou a fazer uma tal de “carbonara” que até que ficou bem gostosa, mas ele e Harry – que chegou na metade do processo – comeram demais. Demais mesmo. E o resultado foi aquele; dois gordos morrendo de preguiça e sem forças nem pra levantar.
  - Eu desisto de vocês, ok? Vou jogar sozinha. – Ameacei com os braços cruzados, mas não fiz efeito algum.
  - Isso mesmo, . – Niall colocou uma almofada sobre o rosto e eu não duvidava nada que ele começaria a roncar em instantes.
  - Comece sem a gente... – O mais novo pediu.
  - Eu odeio vocês dois.
  É claro que eu estava brincando e eles sabiam disso, até porque começaram a rir do meu drama. Dei de ombros e terminei de configurar o jogo na televisão. Tive que sincronizar os meus movimentos com os sensores da TV e isso demorou um pouco, mas pelo menos foi o tempo que Harry levou para sair do chão e se arrastar para o sofá, onde deitou com Niall. Alguém teria ciúmes daquela cena... E não, eu não estava falando de . O jogo começou a funcionar e eu me preparava pra escolher a minha música, mas um barulho na porta de entrada me fez parar. Liam e Louis surgiram do nada, o que era muito estranho já que ainda era horário de trabalho. A expressão no rosto dos dois também não era das melhores e eu comecei a ficar preocupada.
  - O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei, deixando o Xbox de lado.
  - Fomos demitidos. – Louis respondeu, mas nem parecia tão triste assim.
  - Tá falando sério? – Aquela noticia me pegou de surpresa, por mais que eu soubesse que os dois não estavam satisfeitos com o trabalho.
  - O que aconteceu? – Harry parecia se livrar da preguiça e ele e Niall deram espaço para os meninos sentarem no sofá também.
  - Na verdade, eu fui demitido e o Lou pediu demissão por causa disso... – Liam corrigiu o meu irmão e parecia um pouco mais abalado. – Foi uma besteira, pra ser sincero.
  - Não importa mais, de qualquer forma. A gente já não tinha mais saco pra passar o dia inteiro ali. – Lou se sentou ao lado de Niall e o cumprimentou.
  - Eu lembro de vocês reclamando... – Tentei me manter positiva e pensar que tudo ficaria bem, mas tinha algo que não saia da minha cabeça. – Mas, Li... Você veio pra Londres por causa desse emprego. Agora vai ter que voltar pra Wolverhampton?
  - Não imediatamente. – Coçou a nuca. Ele também devia estar pensando o mesmo que eu. – Ainda vou tentar ficar aqui por mais dois meses e tentar achar outra coisa pra fazer...
  - Nós não vamos deixar você ir embora. – Lou deu batidinhas no ombro do amigo, como encorajamento.
  - Mas não se preocupem... Meus pais podem pagar a minha parte da casa enquanto eu ainda não arrumar um emprego. – Aquilo devia ser difícil para Liam, já que ele era bem orgulhoso quanto a essas coisas.
  Já estava mais que claro que Liam era um morador da casa e não mais apenas um hóspede, por isso ele ajudava nas despesas. A casa era nossa, então não havia o preço do aluguel, mas em compensação a vida em Londres acaba sendo bem cara por si só, ainda mais em um condomínio de luxo como aquele em que morávamos. Eu não estava preocupada em como iríamos pagar as contas, pois meu pai não se importaria em dar uma ajudinha extra, mas sei que Liam e meu irmão não gostariam de depender financeiramente de ninguém. De qualquer forma, nós teríamos que dar um jeito nisso.
  - Não esquenta com isso, Li. Eu só quero que você possa ficar com a gente. – Falei sincera e ele sorriu.
  - Nós vamos dar um jeito em tudo. – Louis também sorriu.
  - Já que estamos falando de problemas... Eu também tenho algo a confessar. – Harry chamou a nossa atenção e eu não sabia se me preparava pra uma piada ou algo realmente sério. – Eu saí da universidade há duas semanas... E estou trabalhando em uma padaria durante a manhã.
  - Por quê? – Louis o encarava sem acreditar. Tá certo que Harry não parecia tão animado com as aulas de direito e eu não o enxergava como um advogado, mas ter uma formação superior sempre foi algo importante para a família dele. Por isso eu fiquei um pouco espantada com aquela noticia. – E o mais importante, Haz, por que você não contou pra gente antes?
  - Eu não sabia como falar... Não sei, senti vergonha. – Suspirou. Eu olhava para Harry e só queria abraçá-lo. Ele devia estar se sentindo mal e eu sabia que tinha mais coisa por trás daquela história, mas só conversaria com ele a sós depois. – Tem mais uma coisa...
  - O que é agora? – Bufei mais preocupada ainda. Desde quando uma tarde que deveria ser apenas de diversão se tornava um desastre?
  - Gemma está indo morar nos dormitórios da faculdade dela... E a minha mãe quer voltar para Cheshire no final do ano.
  - Hã? – Senti um aperto enorme no coração e caí sentava na mesinha de centro. – Você não vai embora...
  O silêncio mais desconfortável que eu já presenciei na vida se instalou na sala. Harry olhava para o chão e Lou encostou a cabeça no ombro dele, sem saber o que falar. Liam também estava cabisbaixo, provavelmente pensando nos próprios problemas. Eu continuei sentada na mesinha de centro sem nem me preocupar com o peso que eu estava fazendo no tampo de vidro. Sempre fui fã de “plot twists” em livros e filmes, mas na vida real? Não estava gostando nada!
  - Ahn... Eu sei que sou novo aqui, mas alguém pode me explicar? – Niall levantou a mão como um aluno faria na sala de aula se tivesse uma dúvida. Eu geralmente teria me prontificado a explicar tudo, mas estava chocada demais para sequer pensar direito.
  - Eu explico... – Louis começou, vendo que eu continuaria calada. – A família do Harry não é daqui, Niall. Anne, a mãe dele, se mudou pra cá quando ele era pequeno pra que pudesse estudar em uma boa escola, já que Holmes Chapel em Cheshire é só um vilarejo. E agora a Gemma está saindo de casa e o Harry saiu da universidade...
  - A Anne não tem mais o que fazer aqui. – O interrompi com um suspiro.
  - Minha mãe não quer mais ficar longe da família... – Haz estava quase chorando, pois ele apertou os lábios do jeito que fazia quando tentava se segurar.
  - Mas nós somos a sua família agora, baby cakes. – Lou passou o braço em volta dos ombros de Harry, me dando uma ótima idéia.
  - Harry, porque você não se muda pra cá? – Falei do nada, fazendo todos os quatro meninos me olharem espantados. – Ué... Porque essas caras? Minha idéia faz sentido! Ele já passa praticamente todos os dias aqui, temos um quarto vazio lá em cima que só serve como guarda tralhas... Desse jeito ele não teria que voltar pra Cheshire e seria mais um pra dividir as despesas.
  - Você é um gênio, ! – Louis sorriu.
  Minha idéia podia ter saído do nada e nenhum de nós tinha pensado direito naquilo, mas situações desesperadas exigem medidas desesperadas. Eu não deixaria Harry ir embora, não agora que estávamos tão próximos. E muito menos Liam... Porque ele podia ser novo na família, mas tinha a mesma importância.

+++

  Em duas horas mais ou menos, nós cinco conseguimos combinar direitinho o que faríamos. Sim, cinco, porque Niall se mostrou muito eficiente no sentido de dar idéias. Harry aceitou se mudar para a nossa casa e estava bem animado, afirmando que sempre quis morar com amigos, mas não tinha intimidade suficiente com ninguém além de Lou, Liam e eu. Ele continuaria trabalhando na padaria, pois gostava de lá e o salário era bom. Li também ficou mais tranqüilo quanto ao assunto de pagar as contas, por mais que eu tivesse alegado desde o começo que ele não precisava se preocupar.
  Quando o relógio marcou três e meia da tarde, eu finalmente consegui convencer os meninos a jogarem Just Dance 4 comigo, nem que fosse para acalmar os nervos de vez. Pois é, eu não descansaria enquanto não jogasse aquele jogo, redundâncias a parte. Mais uma vez conectei o vídeo game e me preparei para escolher a primeira música.
  - Ok, quem quer ir primeiro? – Olhei para os quatro garotos sentados no sofá após ter afastado a mesinha de centro para ter mais espaço. Nenhum deles se mexeu. – Calma, um de cada vez!
  - Eu posso começar. – Claro que Liam não me deixaria sozinha nessa, então ele tratou de levantar e fazer alguns movimentos para se alongar. – Mas você sabe que eu não sei dançar.
  - Sei sim... – Gargalhei ao lembrar das minhas tentativas de ensiná-lo a dançar na festa de Halloween. – Mas o que vale é a intenção, ok?
  - E vocês aí... – O menino se virou para quem estava nos assistindo. – Nada de rir!
  - Aí já é pedir demais. – Lou já se preparava pra tirar uma com a cara dele. – Harry, vai pegar a câmera?
  - É pra já! – Haz saltitou pela sala e foi até as escadas.
  - Eeeeeeepa! – Liam reclamou e ameaçou ir atrás do menino, mas eu o impedi.
  - Deixa eles, Li! Vamos escolher a música... – Segurei na mão dele e comecei a ver as opções que o jogo nos dava.
  - Eu conheço essa! – Falou quando “Disturbia” da Rihanna apareceu na tela. – O que acha?
  - Pode ser!
  Assim que a música foi decidida, eu enrolei um pouco mais que o necessário pra selecionar as opções e dar inicio ao jogo. Tudo isso para que Harry pudesse voltar com a câmera de vídeo. Liam estava bem concentrado e parecia querer fazer um bom trabalho - mesmo que não pudesse me vencer - e nem viu quando Lou pegou a câmera com Haz e começou a nos gravar. Eu sempre fui a favor de registrar esses momentos entre amigos e gostava bem mais de vídeos do que de fotografias, porque fotos mostram o momento e o vídeo em si mostra uma risada, uma palavra, ou uma cena que você poderia querer rever várias vezes. Acenei para a câmera com um sorriso e mandei um beijo no ar. Lou virou o objeto na própria direção e disse algo como: “Bem vindos ao primeiro programa do Tommo. Hoje teremos uma competição...” e continuou falando como se realmente fosse um apresentador de TV. Meu irmão sempre levou jeito para falar e fazer qualquer coisa em frente a uma câmera, principalmente porque tinha uma capacidade incrível para improvisar.
  Eu teria gostado de continuar prestando atenção no que Louis falava, mas devia me concentrar na partida que estava começando. Não tenho certeza se Liam já havia jogado Just Dance alguma vez na vida, mas ele parecia tão perdido com os primeiros passos que eu tive que rir. Já eu, como a boa viciada que sempre fui, tirei de letra. Não vou mentir e dizer que os meus primeiros movimentos foram perfeitos, mas eu fui pegando o jeito.
  - Como você consegue? – Liam parecia desesperado e repetia os movimentos totalmente atrasado. – É rápido demais, !
  - Não é não! É só olhar os bonequinhos. – Tentei ajudá-lo, mas seria difícil.
  - Eu estou olhando os bonequinhos! – Balançou os braços na hora certa e conseguiu acertar alguns passos.
  - Você está olhando os bonequinhos errados, Leeyum! – Ri demais e acabei errando. – Não olhe os dançarinos no meio da tela... Olhe os que estão embaixo da tela. Eles aparecem antes de você ter que fazer o passo!
  - Isso não faz sentido nenhum! – Levou as mãos até a cabeça, mas continuou mexendo o resto do corpo.
  Eu não era a única pessoa rindo do meu adversário, porque Niall ria cada vez mais e ainda por cima daquele jeito bem escandaloso que só ele conseguia. Louis continuava passeando pela sala com a câmera em mãos e gravava tudo. Liam viu o que ele estava fazendo e tentou se esconder, mas ao ver que perderia o jogo bem mais rápido se continuasse daquele jeito, desistiu e permitiu ser filmado. Aproveitei quando a câmera passou por mim pra fazer algumas gracinhas como mandar beijo e piscar.
  - Tomlinson, senhoras e senhores! Também conhecida como , ou pequena Tommo! Minha baby sister. – Lou me apresentou. – Um talento nato na dança e em frente às câmeras, vejam só!
  - Olá, gente! – Acenei para a câmera, mas logo voltei a minha atenção para o jogo.
  - Esse que está ao lado dela é o senhor Liam Payne! – Lou atravessou na nossa frente e parou ao lado do menino. – Não tão talentoso na dança, mas ainda assim um prêmio para os seus olhos.
  - Uhh. – Liam sorriu se achando depois daquele comentário e piscou para a câmera.
  - Vamos ver quem vai levar a vitória... – A música já estava perto de acabar, então Louis focalizou na TV e filmou os últimos acertos e erros.
  É meio óbvio falar que eu ia ganhar, né? Sei que a minha vitória não surpreendeu ninguém, mas eu ainda me senti muito bem. Fiz a minha dancinha de comemoração e Liam me empurrou devagar, fingindo estar bravo. “Ela roubou!” era o que ele gritava. Ninguém o deu ouvidos e me parabenizaram, mandando-o ir para o canto da vergonha. Eu não sabia se ria mais do bico de Liam ou de Niall levantando e dizendo que conseguiria me vencer.
  No começo ninguém queria brincar, mas foi só verem o quanto podia ser divertido que todos queriam ter a sua vez. Eu dancei contra Niall e venci. Depois Louis e Harry foram um contra o outro... Harry venceu. Liam e Niall se enfrentaram e Niall conseguiu ganhar. Liam + eu novamente e Louis + eu... Ninguém ganhou de mim. Por mais cansada que eu começasse a ficar, não desistia nunca. Era a vez de Harry ir contra mim e ele estava conversando alguma com Liam, o que foi bem suspeito, se posso comentar. Arqueei uma sobrancelha tentando escutar os cochichos, mas o assunto morreu assim que eu cheguei perto.
  - Escutar conversas alheias é feio, ! – Harry colocou as mãos na cintura, reclamando como uma velha.
  - Então vamos acabar com isso logo, curly! – Fui até o meu lugar e olhei para a televisão. – Você pode escolher a música, já que eu vou te vencer de qualquer jeito.
  - É o que veremos! – Me olhou de modo desafiador, mas não me assustou.
  - Sinto um clima pesado por aqui, caros telespectadores! – Lou continuava com a câmera e filmava tudo. – Façam suas apostas!
  - 10 pounds na ! – Niall levantou a mão.
  - 20 pounds no Harry! – Liam apostou contra mim.
  A música que Harry escolheu foi On the Floor, da JLo. Aquela foi uma escolha corajosa, já que requeria bastante rebolado e sincronia. Eu estava louca pra ver Harry rebolando até o chão e nunca agradeci tanto por Louis estar gravando aquele momento, pois era algo que eu gostaria de ver e rever, ver e rever, ver e rever...
  Logo começamos a dançar e nos mexer. Harry não seguia os passos que apareciam na TV e inventava os próprios; um mais estranho que o outro. Eu não estava entendendo nada, mas pelo menos assim eu disparei na frente, já que podia errar um passo ou outro, mas acertava a maioria. Haz devia estar tentando me atrapalhar, pois acabamos esbarrando vez ou outra. Eu já estava pronta pra reclamar, mas ele finalmente começou a seguir os passos certos, porém, eu não via o garoto que se aproximava por trás de mim.
  - Agora, Liam! – Harry gritou e eu mal percebi quando braços fortes agarraram as minhas pernas.
  - O QUE É ISSO? – Gritei quando Liam me colocou nos ombros. Eu me senti um saco de batatas e a minha próxima visão foi as costas de Liam. – ME SOLTA, PAYNE!
  - Desculpa, , mas foi a única saída! – Ele segurava as minhas coxas e eu esperneava, mas não parecia fazer efeito nenhum.
  - ISSO NÃO É JUSTO! – As vezes eu esquecia do quanto Liam é forte e tenho certeza que ele aproveitava os momentos em que me carregava (que eram muitos, por sinal) pra tirar uma casquinha. – EU VOU PERDER!
  - Exatamente! – Harry gritou. Então era sobre isso que eles estavam cochichando!
  - NIALL, ME AJUDA! – Eu estava praticamente de cabeça pra baixo e não gostava disso. Minha única saída foi apelar para o melhor amigo do meu namorado e ver se conseguia alguma compaixão.
  - Eu vou te salvar, ! – Niall levantou, mas assim que Liam viu esse movimento, começou a correr.
  - LIAM, VOCÊ VAI ME DERRUBAR! – Me senti uma donzela de desenhos animados e estava sendo raptada. Apesar de saber que Liam não deixaria nada de ruim acontecer comigo, ainda era tenso estar sendo chacoalhada por aí.
  O meu sequestrador correu para fora da sala e passou direto pelo hall de entrada, abrindo a porta e partindo para fora de casa. Eu não sabia se me segurava ou se ria, porque aquela era uma cena bem engraçada. Niall veio atrás da gente trazendo Louis e Harry consigo, mas nenhum dos dois parecia querer ajudar. Lou continuava com a maldita câmera e Harry só gargalhava e batia palmas. Eu gritava por socorro, mas não adiantava em nada. Liam corria pela grama e mesmo estando me segurando conseguia ser mais rápido que o loiro.
  Não sei bem o que aconteceu, mas Niall pulou em cima da gente e agarrou as pernas de Liam, desequilibrando-o. Eu dei um grito tão alto ao sentir que estávamos caindo que a nossa vizinha com certeza teria escutado. Pelo bem da minha vida, Liam acabou caindo de lado, ou seja: Não bati a cabeça em lugar nenhum. Meu quadril ficaria bem dolorido, mas pelo menos eu não morri. Para me vingar e dar um troco naqueles meninos, fechei os olhos para me fingir de morta. Ou melhor... Me fingir de desmaiada, já que não conseguiria prender a respiração por muito tempo. Deixei o corpo mole assim que Liam me soltou na grama, rindo muito. Niall também gargalhava e Harry foi o único que pareceu perceber que algo havia acontecido comigo. Eu não estava vendo nada, obviamente, mas senti duas mãos grandes segurando os meus ombros.
  - ? – Hazza me balançou. – Gente, a não tá bem!
  - O que aconteceu? O que foi que eu fiz? – Escutei Liam ao meu lado.
  - ! Fala alguma coisa, ... – Harry quase chorava e eu tive um pouco de pena.
  - Alguém chama uma ambulância! – Liam estava MUITO preocupado.
  - Zayn vai me matar... – Niall pensou alto.
  - Não precisa. – Lous se aproximou. Droga! Ele saberia que era mentira. – Harry, segura a câmera aqui.
  - O que você vai fazer?
  Harry não sabia o plano de Louis, mas eu sim... Logo que senti as mãos do meu irmão fazendo cócegas nas minhas costelas desatei a rir. Seria impossível continuar me fazendo de desmaiada depois de ser atacada no meu ponto fraco. Abri os olhos e vi que Liam e Niall já estavam mais aliviados e até sorriam um pouco. Harry nos filmava e eu tentava segurar as mãos de Lou, mas era impossível. Eu tentei me arrastar pela grama, mas acabou sendo pior, pois Louis sentou em cima das minhas pernas enquanto eu estava de barriga para baixo e me dominou.
  - Eu disse que não precisava de uma ambulância!
  - LOUIS, ME SOLTA! – Comecei a gritar novamente. – SOCORRO!
  - Que bagunça é essa? – Assim como eu havia previsto, a nossa vizinha apareceu no próprio jardim, assustada com todo aquele barulho e confusão.
  - Desculpe, Marge! Não queríamos incomodar. – Aparentemente Louis conhecia-a pelo nome. Ao menos ele me soltou e Liam me ajudou a levantar e limpar um pouco da grama que estava no meu cabelo.
  - Ora, são só vocês, crianças? Achei que era alguma confusão! – Do mesmo jeito que saiu, a senhora voltou para dentro de casa.
  - Marge? – Olhei para o meu irmão e os outros meninos riram. – Está cheio de intimidade!
  - Ela é a sua namorada, Louis? – Harry o zombou.
  - É você que gosta de mulheres mais velhas aqui, Hazza. – Lou rebateu e eu gargalhei.
  - Vamos entrar logo, gente. Preciso sentar! – Puxei Liam com uma mão e Niall com a outra, indo para dentro de casa.
  Harry e Louis finalmente guardaram a câmera e nós voltamos para a sala. Liam foi o primeiro a sentar no sofá e eu me joguei lá em seguida. Estava realmente cansada. Sem nem pedir permissão, me arrastei até as pernas de Li e descansei a cabeça ali. Niall levantou as minhas pernas para poder sentar, mas eu não me encolhi. Os outros dois meninos estavam com fome, então foram para a cozinha fazer o nosso lanche. Eu escutava as vozes de Niall e Liam, mas elas começaram a ficar bem distantes e eu já não entendia mais o assunto da conversa. Tudo ficou escuro...

+++

  Quando acordei na minha naquele fim de noite, não fazia idéia do que tinha acontecido ou de como chegara até o meu quarto. Fiquei atordoada até entrar em baixo do chuveiro para tomar um banho bem tomado (pois eu estava precisando) e despertar. Minha última lembrança era deitar no colo de Liam... “Eu devo ter adormecido e alguém me trouxe até aqui”, pode ter sido uma conclusão óbvia, mas eu tinha acabado de acordar, então dê um desconto.
  O ruim de dormir durante a tarde é que meu sono fica completamente desregulado e eu não consigo dormir novamente nem tão cedo. Foi exatamente isso o que aconteceu... Depois de descer para jantar - já vestindo pijamas e limpa - e constatar que Niall havia ido embora e Liam e Louis já estavam dormindo, eu fiquei girando na cama de um lado para o outro. Deixei um abajur ligado para que eu pudesse ficar olhando as tulipas cor de rosa que ganhara na noite anterior e que Rachel colocara em um vaso na minha mesinha de cabeceira. O ursinho que Zayn usara pra me pedir em namoro não saía da minha cama e eu o abraçava com carinho, absorta em pensamentos.
  Comecei a lembrar das vezes que eu não conseguia dormir e a minha avó Jolene preparava o meu chá preferido e me contava histórias de ninar. Meu avô costumava ficar parado na porta do quarto, nos observando... E ele só saia de lá depois que eu apagava completamente. Que apresentar os dois para Zayn e tinha certeza que se dariam bem demais! Também gostaria de apresentá-lo à minha mãe, mas já não sabia como seria a sua reação. Eu falava com o meu papa no mínimo uma vez por semana e sempre perguntava sobre ela e, segundo ele, mamãe estava começando a ser mais responsável. Aparentemente foi preciso que ela ficasse longe dos filhos pra poder acordar e ver o que estava perdendo. Por mais que fosse difícil pra mim falar isso, eu sentia falta dela. Mesmo com o jeitinho maluco e infantil de ser.
  Fiquei de joelhos na cama para poder dar uma olhada nas fotos em minha parede. Era em momentos assim que eu agradecia por ter colado aquelas imagens tão perto de onde eu pudesse ver com facilidade. Meus olhos foram direto para uma fotografia em especial... Devia ser Natal, o que explicaria a árvore enfeitava com bolas vermelhas e azuis, e eu devia ter mais ou menos cinco anos de idade. Estava sentada em um lado do colo de meu pai e meu irmão no outro, sendo que ele deveria ter sete anos. Minha mãe estava de pé e olhava para o meu pai, completamente apaixonada. Papai olhava pra Louis e eu ria de alguma coisa muito engraçada na época. Hoje em dia eu já não consigo mais lembrar a história por trás daquilo, mas é impossível olhar a foto e não sorrir. A nostalgia começou a tomar conta de mim e eu passei para outra foto:
  Já alguns anos mais tarde, eu estava vestida como um floco de neve e meu avô me entregava um buquê de rosas vermelhas. Daquela foto eu me lembrava... Louis era quem havia tirado-a após uma das minhas apresentações de ballet. Nem meu pai ou minha mãe puderam ir me assistir por culpa do trabalho e eu tinha ficado bem triste com isso, mas depois que vi as flores esqueci todos os problemas! Aquela foi a primeira vez que eu recebia um buquê. Quem diria que anos depois eu teria recebido outro e ainda por cima de um namorado?!
  O barulho de algo batendo contra o vidro da minha janela me fez sair dos meus devaneios. “Será que um morcego está tentando entrar aqui?” Agradeci por estar tudo fechado, já que eu não conseguiria lidar com um bicho das trevas naquela madrugada. Preferi ignorar e voltei a deitar na cama, me preparando pra apagar o abajur e tentar dormir. Uma batida mais forte na janela me fez parar o que eu estava fazendo e comecei a me preocupar. Dessa vez eu tive que me aproximar da janela e na metade do caminho mais uma batida me surpreendeu. “O que é isso?” Afastei as minhas cortinas e abri a janela, espiando o céu a procura de morcegos.
  - O que você está procurando aí em cima? – Uma voz masculina me assustou e eu quase caí pra fora da janela. Por sorte eu conhecia bem o dono da voz e não tive medo que fosse um estuprador ou coisa parecida.
  - O que você está fazendo aqui? – Perguntei aos sussurros, mas não evitei um sorriso.
  - Eu sempre vi as pessoas fazendo isso nos filmes, então resolvi tentar. – Podia estar escuro, mas eu conseguia ver claramente a expressão de divertimento no rosto de Zayn.
  - Você é maluco, Malik! – Ri baixo com medo de fazer algum barulho e acabar acordando alguém. – Mas você não podia fazer isso mais tarde? São duas horas da manhã!
  - Já são duas horas? – Olhou para o relógio no próprio pulso. – Vem, nós temos que ir!
  - Ir pra onde? – Ele realmente estava maluco... Era a única explicação. – Eu não vou sair de casa agora!
  - Vai sim! – Riu. – Vem logo, babe. Ou eu vou ter que subir aí e te arrastar?
  - Não vai subir aqui coisa nenhuma! E eu também não vou descer. Já é tarde!
  - , eu acho que vou ter que ser um pouco mais claro com você. – Começou a falar mais alto e eu fiquei com medo que alguém na casa da vizinha o escutasse. – Isso é um sequestro.
  - Um sequestro? – Sorri contra a minha vontade.
  - Isso mesmo. Agora desce logo ou vou subir. – Deu ênfase na palavra ‘vou’ e parecia estar se divertindo mais do que devia.
  - Já que você não está me dando outra opção! – Rolei os olhos, dando-me por vencida. – Espera eu trocar de roupa!
  - Não demora!
  Eu podia estar sendo cabeça dura, mas era tudo charme. Quem não ficaria feliz com uma visita do namorado no meio da madrugada? Eu com certeza fiquei. A parte que me deixou meio apreensiva era ter que sair. Zayn poderia me levar pra qualquer canto, mesmo que não fossem muitos os lugares que ainda estavam abertos naquela hora. Assim que voltei para dentro do quarto, fechei a janela e a cortina porque nunca se sabe quem pode te espiar trocar de roupa. Corri direto para o banheiro e escovei os dentes, passei um perfume básico e amarrei os cabelos em um coque desarrumado. Em seguida, fui até o closet e peguei as primeiras roupas que encontrei, sem me preocupar muito se eram arrumadas ou não. O clima lá fora parecia estar frio e eu não queria ter que sofrer em cima de um salto alto, por isso priorizei o conforto. Também peguei uma bolsa qualquer e guardei a minha chave de casa e celular ali dentro.
  Ao abrir a porta pra sair do quarto, fiz o maior silêncio que consegui. Se fosse na casa dos meus avós, a escada teria me denunciado com um rangido, mas tive sorte e consegui chegar ao primeiro andar sem ser notada. Olhei para a chave que estava na fechadura da porta de entrada e quis matar o meu irmão por ter um sininho em seu chaveiro. Qualquer movimento que eu fizesse ali seria denunciado e qual seria a graça de sair escondida no meio da noite se alguém me descobrisse? Nenhuma! Por isso só havia uma coisa que poderia ser feita; sair pela janela. Eu tinha três opções: A janela da sala, a da cozinha ou da sala de jantar. Fiquei com a primeira opção, pois era a maior janela.
  Não tive trabalho em abri-la em silêncio e muito menos em pular para o lado de fora. Na minha cabeça passava a melodia da música tema do filme Missão Impossível e eu me senti muito badass com a minha própria trilha sonora. Avistei Zayn próximo ao carro dele corri pelo caminho de pedra, torcendo para não tropeçar no escuro. Ele viu a minha aproximação e também correu ao meu encontro. Para completar a cena do filme, eu pulei nos braços dele que, por sua vez, me segurou com força e me girou no ar. Nós dois rimos baixo, claramente felizes em estarmos nos vendo. Assim que coloquei os pés no chão novamente, puxei-o para um beijo. Não foi o mais intenso que já trocamos, mas falava tudo que era preciso: “Eu sentia a sua falta.” “Estou feliz em te ver.” E “Você é louco, mas ainda bem que está aqui.”
  - Vamos logo, porque o lugar onde estamos indo fica longe daqui. – Zayn me segurou pela mão, guiando-me até o carro. – E não adianta perguntar nada!
  - Eu não ia perguntar. – Mesmo que estivesse morrendo de curiosidade! – Eu te conheço o suficiente pra saber que não há nada que você goste mais de fazer do que surpresas.
  - Aprendeu direitinho!
  Zayn sorriu e abriu a porta pra mim. Sei que ele fazia isso todas as vezes que eu tinha que entrar ou sair de um carro, mas não me cansava. Na verdade, adorava todo esse cavalheirismo que ele tinha comigo. O menino deu a volta no carro e também entrou, colocando o cinto de segurança e me olhando com um sorriso sapeca nos lábios. Ele devia estar bolando alguma coisa e queria ver a minha reação, pois era isso que aquele sorriso significava. Eu ri e me acomodei no banco do carona. Como nosso “passeio” seria longo, eu queria estar bem confortável.
  Passamos pelo portão do condomínio e Zayn acenou para o porteiro. Isso explicou bastante, como por exemplo como ele entrou no meio da madrugada em um complexo de luxo sem nenhum tipo de aviso. Os dois já deviam ser amiguinhos. Eu não me importava que o meu namorado tivesse acesso livre à minha casa, mas se isso acontecesse com outras pessoas eu começaria a achar inconveniente.
  - Como foi o seu dia hoje? – A rua estava praticamente vazia, então ele pode olhar pra mim ao perguntar. – Niall se comportou?
  - É claro que ele se comportou! – Estreitei os olhos e ele riu disso. – Meu dia foi bom... Cheio de altos e baixos. Fortes emoções!
  - É? E o que aconteceu? – Zayn não parecia perguntar só por educação. Ele tinha interesse em saber sobre o meu dia, queria que eu dividisse com ele.
  - Pra começar... Lou e Liam saíram do emprego! – Sentei de lado no banco, de frente para ele.
  - Mas isso é bom, certo? – Paramos em um sinal vermelho e ele pode me olhar. – Você já me disse que eles não estavam gostando de lá mesmo.
  - Tem o lado bom e ruim, porque talvez o Liam tivesse que ir embora se não encontrasse outro emprego logo... Já que ele veio pra Londres por causa desse emprego e tal. – Expliquei.
  - Ahh, é verdade! E o que vocês vão fazer?
  - É aí que chegamos à outra parte da história... – O carro voltou a andar e Zayn teve que olhar para a estrada, mas ainda me escutava atentamente. – Vou resumir, porque agora complica um pouco. O Harry saiu da faculdade e por isso teria que voltar para a sua cidade natal com a mãe no fim do ano, mas é claro que nós não deixaríamos. Então ele vai morar com a gente também!
  - Que bom que ele não vai embora, mas... – Me olhou pelo retrovisor. – Você vai morar em uma casa com três homens?
  - Bem... Um homem e dois suspeitos, porque eu ainda acho que meu irmão e Haz tem um caso. – Ri e ele me acompanhou.
  - Eu sempre soube que tinha algo rolando entre os dois! – Entrou na brincadeira.
  Meia hora se passou enquanto conversávamos sobre aquele assunto. Zayn até mesmo se ofereceu pra ajudar na mudança de Harry, mesmo que ainda não tivéssemos uma data marcada. Qualquer ajuda seria muito bem vinda, pois eu já podia imaginar toda a bagunça que os meninos acabariam fazendo e largando a maior parte pra cima de mim. Pelo menos com Zayn ao meu lado, eu poderia fazê-lo me ajudar.
  Eu estava tão distraída com os assuntos dentro do carro e com todos os olhares que Zayn e eu trocávamos que nem percebi quando saímos da cidade. Olhei em volta pela primeira vez e não vi prédios ao meu redor, apenas árvores. Estávamos em uma estrada pouco iluminada e eu só fiquei mais curiosa ainda, tentando imaginar onde poderíamos estar indo. Eu nunca havia passeado pela Inglaterra de carro, mas começava a achar que era isso que estava acontecendo. Sei que não adiantaria nada perguntar para onde estávamos indo, então eu teria que esperar pra ver.
  - E como foi a sua tarde de compras hoje, baby? – Perguntei voltando a olhar pra ele.
  - Foi boa... – Respondeu um pouco relutante. – A minha mãe comprou comida suficiente para alimentar um exercito, mesmo eu falando que você é apenas uma pessoa. Ela fez questão de comprar peixe, carne vermelha, carne de frango...
  - Eu falei que não queria dar trabalho! – O interrompi, me sentindo mal. Se há algo que eu realmente odeio é dar trabalho, principalmente se for para a sogra que eu ainda nem conheço.
  - Sei disso, babe, mas não se preocupe. – Ele sorriu pra mim. – Ela faz isso com muito gosto.
  - Tentarei não ficar mais ansiosa do que já estou. – Ri nervosa e passei a mão pelos cabelos, jogando a franja para o lado.
  - Tenho certeza que ela vai te adorar.
  - Ela gostava da Brigitte? – Perguntei com um pouco de medo de não gostar da resposta.
  - As duas nunca se conheceram, pra falar a verdade. – Respondeu e eu acabei rindo um pouco alto demais. – Acho que você gostou de saber disso...
  - Mais do que você pode imaginar! – Tentei controlar os meus risos. – Mas por que não?
  - Eu nunca tive coragem de apresentar as duas. – Deu de ombros enquanto virava o carro para a direita, saindo do asfalto e entrando em uma rua de terra bem estreita e cercada por faias dos dois lados. – A Brie não é do tipo de garota que se apresenta para os pais.
  - E mesmo assim você ainda a chama de “Brie”. – Cruzei os braços. Já não bastava eles terem sido namorados em um passado nada distante, ele ainda tinha que chamá-la pelo apelido?
  - Está com ciuminho, é? – Foi a vez de Zayn rir e eu estirei a língua pra ele.
  - E se eu estiver?
  - Fica mais linda ainda. – Tirou uma das mãos do volante para virar o meu rosto na direção dele. Eu acabei sorrindo da carinha fofa que ele estava fazendo.
  Odiei não conseguir ficar séria ou brava com Zayn por muito tempo, mas quem em sã consciência conseguiria? Ainda mais quando ele dava aquele sorrisinho com a língua bem próxima aos dentes. Fiquei encarando a perfeição dele até escutar o motor sendo desligado e sentir o carro parar. Olhei pra frente sem saber o que esperar e não vi nada além de luzes bem distantes. Um circulo brilhante chamou a minha atenção e eu fiquei tempo o bastante observando-o para descobrir que aquilo era nada menos que o London Eye e aquelas “luzes” que eu estava vendo era na verdade Londres vista de longe. Olhei para Zayn e ele era só sorrisos. Como não desligamos o farol do carro, eu percebi que estávamos em um mirante e que uns vinte metros na nossa frente havia um precipício. Sabe aqueles morros de filme, onde o casal principal vai para observar a paisagem? Era em um lugar mais ou menos como esse que nós estávamos.
  Abri a porta do carro e saí, ainda um pouco surpresa com as luzes no horizonte. Eu não sabia que passamos tanto tempo na estrada a ponto de estarmos tão longe da confusão de cidade grande que tomava conta de Londres. Fui para a frente do carro com muito cuidado pra não acabar rolando montanha a baixo e Zayn também saiu do carro e foi ao meu encontro.
  - É tão silencioso... – Fechei os olhos e apenas fiquei escutando o barulho que o vento fazia ao soprar as folhas. Nem mesmo no meu condomínio que era afastado de tudo eu tinha tanto silêncio assim.
  - Ainda não viu a melhor parte, . – Falou baixinho, me fazendo abrir os olhos e fitá-lo com curiosidade.
  - Qual?
  - Você disse que queria ver estrelas... – Apontou para cima.
  Eu segui a direção do dedo de Zayn e olhei para cima pela primeira vez. Pode parecer difícil de imaginar, mas eu vi o céu mais estrelado que poderia existir. Meu queixo caiu e eu senti vontade de chorar. Sempre fui muito boba com essas coisas e aquela imagem ficaria pra sempre na minha memória. Palavras não conseguirão fazer jus àquele pedacinho do paraíso, mas eu vou tentar: O céu escuro era a tela e os milhões e milhões de pontinhos brilhantes a obra de arte. Uma estrela parecia acabar ficando por cima da outra, já que não tinha espaço suficiente para todas elas; algumas eram maiores que as outras e mais iluminadas. Ao centro da minha área de visão havia uma mistura de cores que ia do azul um pouco mais claro ao roxo e amarelo. Minha respiração ficou pesada e eu me senti bem pequena diante daquele milagre da natureza. Meus olhos ficaram marejados e eu não me importaria em deixar algumas lágrimas escaparem. Não vi nem sinal da Lua, mas ela não seria necessária.
  - Zayn... – Segurei a mão dele, ainda olhando para cima. – É perfeito...
  - Esse lugar aqui é o meu cantinho especial. – Falou em um sussurro e eu sabia que ele estava sorrindo. – Não há ninguém que eu gostaria mais de dividi-lo do que com você...
  - Eu não sei o que falar... – Era verdade, pois eu estava encantada demais pra conseguir pensar em qualquer coisa ou formular frases.
  - Não precisa. – Falou baixinho e beijou o meu ombro, ficando de frente pra mim em seguida. – Dança comigo?
  - Mas não tem música nenhuma tocando... – Abaixei o olhar até o meu namorado.
  - Tem sim. É só prestar atenção ao nosso redor.
  Com isso, Zayn me puxou até o meio de onde estávamos e me envolveu delicadamente pela cintura. Eu o abracei pelo pescoço e nossos rostos ficaram bem próximos. Comecei a prestar atenção no que ele tinha pedido, tentando perceber os sons ao nosso redor. Não foi difícil notar o farfalhar das folhas, passarinhos cantando ao longe... Até mesmo o som de um pequeno riacho que corria em algum lugar da floresta não tão distante de nós dois. Ouvi o som que nossos pés faziam ao pisar na grama quando começamos a nos mover devagar, o som de nossas respirações... Tudo o que eu escutava era de uma simplicidade tremenda, mas ainda assim tinha grande importância. Aquela era a nossa música. Ninguém mais poderia tê-la e também não a escutaríamos em outro lugar, ou com outras pessoas. Era um momento mágico que eu gostaria de eternizar.
  Nossos passos eram simples e lentos, mal nos tirando do lugar. Suspirei me sentindo leve e deitei a cabeça no ombro de Zayn, relaxando totalmente. Poderíamos estar no meio do nada, mas eu me sentia segura nos braços dele. Nem mesmo o vazio tão próximo de nós conseguia me assustar, pois eu sabia que se eu caísse, de alguma forma, ele me pegaria. Parece loucura, mas naquele momento eu não duvidava que ele tivesse criado asas e estivesse me levando para perto das estrelas. Sentia meu corpo leve e o chão não parecia estar embaixo dos meus pés. Por um momento não era a gravidade que me segurava; era Zayn.
  Como o menino era mais alto que eu, ele deitou a própria cabeça sobre a minha e me abraçou cada vez mais. Zayn parecia gostar de me ter bem perto, me segurar e me impedir de sair do seu alcance. Eu sentia vontade de falar algo, mas três palavras estavam entaladas na minha garganta. Naquele momento eu tive certeza delas, mesmo em tão pouco tempo juntos. Se for verdade o que falam sobre cada pessoa ter a sua metade andando por aí, eu tinha encontrado a minha.
  - Zayn... – Meu chamado saiu mais como um suspiro.
  - Hm? – Também falava baixo.
  - Obrigada por dividir esse lugar comigo... – Levantei a cabeça devagar, fitando-o.
  - Eu dividiria o mundo com você, . – Ele sorriu e segurou o meu rosto com as duas mãos.
  Gentilmente depositou os lábios sobre os meus e os mexeu devagar. Eu retribui todos os selinhos demorados e carinhosos como se fossem a coisa mais preciosa do mundo. E realmente eram. Voltei a abrir os olhos assim que a boca dele já não estava mais tão próxima à minha e sorri como a garota mais feliz do mundo. Ele também sorriu e entrelaçou os nossos dedos, me guiando novamente em direção ao carro. Me ajudou a subir no capô do veículo e eu me acomodei quase deitada ali em cima, com as costas no vidro. O menino pegou algo no banco traseiro e eu logo vi que era um cobertor de lã. Sorri quando ele também subiu no capô e se deitou ao meu lado, cobrindo a nós dois com aquele pano. Eu me aproximei o suficiente para deitar a cabeça no ombro dele e ainda poder admirar o céu estrelado acima.
  - Tá vendo aquela constelação ali? – Apontou para uma fileira de estrelas brilhantes.
  - Aquela ali no meio? – Perguntei, também apontando.
  - Essa mesmo. – Ele olhou pra mim com a maior cara de nerd. – É a Ursa Maior.
  - Sério? – Olhei dele para a tal constelação, tentando imaginar o desenho de um urso. Sempre adorei estrelas, mas era uma negação para identificar algo além das Três Marias. Que por sinal eram quaisquer três estrelas próximas.
  - Não faço idéia! – Ele riu e eu mais ainda. – Pode ser que seja!
  - Ai, Malik! – Gargalhei e balancei a cabeça negativamente. – Só você mesmo.
  - Eu não sou um astrônomo, ué. – Levantou as mãos, alegando que não tinha culpa alguma.
  - Você não sabe o nome de nenhuma? – Voltei a olhar para o céu, completamente hipnotizada.
  - Sei sim. – Respondeu e eu duvidei muito. – Daquela ali.
  - E qual é? – Perguntei desconfiada.
  - . – Disse sério.
  - Com certeza aquela estrela tem o meu nome! – Fui irônica e o olhei estreitando os olhos.
  - Esse céu é nosso, ... Podemos dar o nome que a gente quiser.
  - Então eu não quero só uma estrela com o meu nome! – Fiz bico. – Quero uma constelação.
  - Você é aquela constelação ali... – Apontou para um conjunto bem brilhante de estrelas que deviam formar alguma coisa que eu não conseguia identificar. – A mais brilhante.
  - Agora está melhor! – Ri convencida e apontei para uma outra constelação, bem ao lado da minha. – E você é aquela.
  - É? Por que?
  - Porque está bem perto de mim. – Olhei pra ele. – E é assim que eu gosto.
  - Eu acho que aquilo são planetas. – Continuou olhando para cima enquanto eu o observava.
  - Acabou com o meu romantismo! – Reclamei com uma risada e ele gargalhou de forma gostosa.
  - Desculpa. – Me olhou com um sorriso.
  - Não olha pra mim, Malik! Continua olhando pra cima. – Virei o rosto dele com cuidado para não acabar machucando-o.
  - Por queeeee? – Perguntou de forma arrastada, mas me obedeceu e continuou olhando para o céu.
  - Porque eu estou vendo o reflexo das estrelas nos seus olhos. – Mordi o lábio inferior, contemplando os olhos amendoados de Zayn que estavam ganhando um tom bem mais colorido e brilhante que o normal.
  Depois de alguns segundos ele voltou o rosto para a minha direção e apenas sorriu. Eu não reclamei e fiz o mesmo que ele, esticando a mão direita até tocá-lo. Deslizei a ponta dos dedos pela lateral do rosto de Zayn desde a testa até o queixo, estudando cada traço. A linhas que surgiam no canto de seus olhos quando ele sorria, o pouco da barba por fazer que se entendia sobre todo o maxilar, o jeito que os lábios dele acabam sendo puxados mais para a esquerda do que para a direita entre um sorriso e outro... Eu queria decorar tudo para que na hora que fechasse os olhos pudesse vê-lo. Senti uma das mãos dele acariciando a minha cintura por baixo do cobertor e fiquei arrepiada com aquele toque porque ele estava tocando diretamente na minha pele. Minha blusa e casaco deviam ter levantado um pouco na hora que eu deitei e ele se aproveitara disso, mas eu não me importei.
  - Baby... – O chamei mais uma vez, fazendo-o abrir os olhos. – Canta pra mim?
  - O que você quer que eu cante? – Passou o nariz gelado pelo meu e eu sorri involuntariamente.
  - Pode ser o que você quiser... – Pedi baixo. – Eu só quero te escutar cantar.
  - Então eu já sei... – Zayn limpou a garganta e respirou fundo para começar: - Look at the stars, see how they shine for you... And all the things you do... (Olhe para as estrelas, veja como elas brilham pra você... E todas as coisas que você faz...)
  A voz de Zayn saiu aveludada, bem melhor que a do cantor original daquela música que eu tanto amava. Eu fiquei olhando-o e passeando a íris desde os lábios que se mexiam devagar até os olhos que mal piscavam ao me observar. Ele olhou para cima e eu o acompanhei, me encantando novamente com a quantidade de estrelas que nos iluminavam.

I came along.
(Eu vim)
I wrote a song for you and all the things you do.
(Eu escrevi uma canção pra você e todas as coisas que você faz)
And it was called Yellow.
(E era chamada Amarelo)
So then I took my turn. Oh what a thing to have done.
(E então eu esperei a minha vez. Oh, que coisa eu fiz)
And it was all Yellow…
(E tudo estava Amarelo)

  O garoto passou o braço em volta do meu corpo e eu me aproximei ainda mais, deitando a cabeça sobre o peitoral do mesmo. Passei uma de minhas pernas por entre as dele e as entrelacei. Zayn continuou cantando rente a minha orelha e acariciou os meus cabelos com delicadeza.

Your skin… Oh yeah, your skin and bones.
(Sua pele… Oh, yeah, sua pele e ossos)
Turn into something beautiful.
(Se transformaram em algo bonito)
Do you know?
(Você sabe?)
You know I love you so…
(Você sabe que eu tea mo tanto…)

  Eu sabia que era só uma música, mas ela era cheia de significados e cabia a mim acreditar neles ou não. Zayn era quem havia escolhido a música que estava cantando pra mim e tinha pelo menos duas opções: Ou ele gostava muito daquela música e foi a primeira que apareceu em sua mente, ou então ele estava querendo me dizer algo com ela. Preferi não ficar preocupada com teorias, não naquela noite. Escolhi não pensar em nada e apenas curtir aquela voz maravilhosa cantando só pra mim.

I swam across. I jumped across for you.
(Eu atravessei o oceano. Eu superei barreiras por você)
Oh what a thing to do. 'Cos you were all yellow.
(Oh, que coisa pra se fazer. Porque você era toda amarela)
I drew a line. I drew a line for you.
(Eu tracei a linha. Eu tracei a linha por você)
Oh what a thing to do and it was all yellow.
(Oh, que coisa pra se fazer. E ela era toda amarela)

  Acho que o fato de não ter um acompanhamento instrumental por trás das palavras tornou tudo mais cru e mesmo assim mais suave. Não havia ninguém por perto e eu sentia que estávamos sozinhos no mundo inteiro. O tempo parecia ter parado ali em cima e, mesmo com a cidade ao longe, só o que existia era Zayn, eu e as estrelas.

And your skin… Oh yeah your skin and bones.
(E a sua pele… Oh, yeah, sua pele e ossos)
Turn into something beautiful.
(Se transformam em algo bonito)
Do you know? For you I'd bleed myself dry.
(Você sabe? Por você eu daria todo o meu sangue)
It's true, look how they shine for you.
(É verdade, olhe como elas brilham pra você)
Look how they shine for...
(Olhe como elas brilham…)

  Zayn encerrou a música e eu suspirei pesadamente. Levantei o rosto para poder olhá-lo, pois só o que eu queria era contemplar a sua beleza. Não falo apenas da beleza superficial, porque essa aí era mais que óbvia. Estou me referindo à sua beleza inferior, a todos sentimentos que ele escondia por dentro. O coração enorme que eu sabia que ele tinha e as suas manias e trejeitos. Zayn era um menino encantador em todos os sentidos. Eu sabia que o conhecia, mas mesmo assim ele conseguia me surpreender mais a cada dia que passávamos juntos. Eu tinha orgulho em fazer parte de sua vida e mais ainda de poder chamá-lo de meu. Pode me achar suspeita pra falar essas coisas, mas Zayn era um grande homem.
  Sem falar coisa alguma, eu o envolvi pela nuca encostei os lábios aos dele. Tive um pouco mais de urgência do que antes e logo tratei de fazer a minha língua quente encontrar a dele. Zayn retribuiu o meu beijo e me puxou para mais perto, fazendo-me praticamente subir em cima dele. Escorregou as mãos pelas minhas costas e parou na parte baixa da minha espinha, novamente tocando a minha pele exposta. Modelei os lábios dele com os meus e inclinei o rosto para o lado contrário ao dele sempre que invertíamos as direções. Deixei uma perna de cada lado do corpo de Zayn e me sentei sobre o seu quadril, sem me importar com o contato que nossos corpos estavam tendo. Na verdade isso era o que eu mais estava gostando. As mãos masculinas voltaram a se mexer, mas dessa vez começaram a subir pelas minhas costas, arrastando um pouco da minha blusa junto.
  Não sei o que aconteceu exatamente, mas interrompi o beijo da forma mais sutil que consegui. Zayn me olhou como se tivesse feito algo errado e começou a tirar as mãos de mim lentamente. Senti ódio de mim mesma por não seguir adiante com aquilo que acabaria acontecendo entre nós dois mais cedo ou mais tarde. Estava sendo cada vez mais difícil resistir e eu sabia que meus sinais confusos embaralhavam as idéias do meu namorado, mas ele nunca perguntou nada, apenas entendia os meus limites e respeitava-os. Nós dois estávamos namorando há apenas uma semana, então acho que devia ser normal aquela minha reação. Mesmo que tenha a impressão de estar com ele há anos...
  - Você acredita em vidas passadas? – Ele perguntou parecendo ler os meus pensamentos.
  - Acho que sim... – Sorri sem saber muito bem como responder. Saí de cima dele e voltei a deitar no capô do carro. – Por quê?
  - Porque se for verdade... Você acha que nós dois podemos ter nos conhecido? – Me abraçou por trás assim que eu me virei.
  - É uma possibilidade. – Sorri com aquela conchinha inesperada. – Mas eu gostaria de conseguir lembrar.
  - Não sei se eu iria querer lembrar... – Suspirou bem na minha orelha e deslizou a mão pelo meu braço até que seus dedos encontraram os meus. – E se eu tiver feito algo ruim pra você? E se eu te machuquei? Não conseguiria viver com isso na consciência.
  - Você nunca me machucaria, Zayn. Nem em uma vida passada e nem nessa...

Capítulo XXXI

  - ? – Escutei a voz de meu irmão atrás de mim assim que comecei a subir as escadas. - Onde você estava?
  - Ahn... – Fiquei paralisada e não consegui nem me virar para encará-lo. Como eu iria explicar ao meu irmão que estava chegando em casa depois de ter escapado de madrugada e adormecido nos braços do meu namorado no meio do nada até as oito horas da manhã? – Eu acabei de chegar da Academy, Lou...
  Menti e não fiquei ali pra esperar uma resposta. Louis sempre sabia quando eu estava mentindo e naquele momento não seria diferente, por isso preferi correr escada acima e me trancar no meu quarto. Foi mais fácil falar que eu tinha voltado mais cedo da Academy do que admitir que eu tinha perdido a aula. Pois é, Zayn e eu acabamos pegando no sono em cima do carro e só acordamos quando o sol começou a nos incomodar. Por incrível que pareça, eu não fiquei desesperada por ter pedido um dia na academia. Acho que a minha noite foi tão boa que nada seria capaz de me aborrecer...
  Eu era só suspiros quando me joguei na cama. Meu corpo estava um pouco dolorido por eu ter dormido de mau jeito, mas aquela era a minha única preocupação na vida. Ainda não tinha esquecido nenhum detalhe da noite passada... As estrelas brilhando, a distância da civilização, a falta de problemas, a paz, Zayn... Ah, Zayn. Sorri sozinha ao lembrar de todas as nossas conversas, confidencias, segredos que trocamos com olhares.
  - , vem dar uma ajudinha aqui? – Louis bateu na porta do quarto, me fazendo voltar para a realidade.
  - Já vou, Lou. – Revirei os olhos, mas continuei sorrindo.
  - Não demora!
  Pelo visto eu não teria escapatória no que quer que meu irmão estivesse aprontando. Voltei a levantar da cama e fui para o closet. Tirei o sweater que estava vestindo e o aproximei do rosto. É claro que o cheiro de Zayn estava impregnado na peça de roupa, por isso eu resolvi escondê-la em uma gaveta. Pode ser infantil, mas eu queria mantê-la daquele jeito para que eu pudesse cheirá-la sempre que quisesse ou sentisse saudade do meu namorado. “O que está acontecendo comigo?” Pensei ao tirar os sapatos e as meias e largá-los em qualquer lugar. Eu não me reconhecia, já que nenhum outro garoto havia mexido comigo ao ponto que eu tivesse que esconder uma peça de roupa só porque ela tinha o cheiro dele. Podia ser estranho, mas eu gostava. Gostava muito, pra falar a verdade.
  Antes que Louis tivesse que me chamar novamente, saí do quarto e quase tropecei em uma caixa que fora colocada no meio do corredor. Resmunguei baixinho por ter batido o pé na quina da caixa, mas não doeu tanto quanto poderia ter doído. Pela segunda vez em toda a minha estadia naquela casa a porta do quarto ao lado do meu estava aberta. Louis devia estar em algum lugar ali dentro, mas o lugar estava bagunçado demais pra que eu pudesse encontrá-lo.
  - Boo bear? – O chamei, entrando no quarto e parando ao lado de uma pilha de roupas + edredons + panos + etc.
  - GRAAAAAAAAAAR. – Um monstro saiu da pilha de coisas e agarrou as minhas pernas.
  - AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH. – Gritei com o susto e meu coração só faltou sair pela boca. Comecei a espernear pra me soltar do monstro até que percebi que não era monstro coisa nenhuma. – LOUIS!
  - Você devia ter visto a sua cara! – Me soltou e começou a gargalhar como uma hiena.
  - Eu vou te matar!
  Me joguei em cima dele na pilha de roupas e comecei a bater nele. Até que acertei alguns tapas, mas não parecia surtir efeito algum, já que Lou não parava de rir e se debater. Joguei algumas peças de roupa em cima da cabeça dele, tentando sufocá-lo – de brincadeira, obviamente, pois ainda amo o meu irmão. Ele começou a pedir desculpas e se livrou das coisas que eu jogara em cima dele, me abraçando em seguida. Fiquei sem reação, mas o abracei de volta, com uma pequena risada.
  - Eu estava com saudades de te assustar, . – Falou.
  - Eu não! – Choraminguei e acariciei os cabelos do mais velho. Louis não era do tipo que procura ter contato físico o tempo todo (a não ser com Harry, mas você já deve imaginar o porquê), então eu aproveitaria aquele momento até o fim.
  - Vamos parar de drama? – Tudo que é bom dura pouco, mas pelo menos ganhei um beijo na bochecha. – O Haz vai começar a trazer as coisas dele pra cá hoje, então temos que abrir espaço nessa confusão.
  - Já? Mas ele não ia esperar até o fim do mês? – Perguntei enquanto levantava e ajudava Lou a fazer o mesmo.
  - Esse era o plano, mas ele ficou com medo que Anne tentasse fazê-lo mudar de idéia. – Deu de ombros e começou a recolher as roupas do chão para colocá-las dentro de uma caixa.
  - Pobre Anne... – Suspirei. Seria difícil pra ela ver os dois filhos indo embora, ainda mais por todos serem muito apegados. – Aliás, onde está o Liam?
  - Foi ajudar o Harry. Ele poderia ter te levado até a Academy hoje de manhã, já que seu carro deve estar com algum problema pra você ter saído sem ele hoje... – Louis falou com um sorrisinho do tipo: “Você não me engana”.
  - A-ahn, é... Eu não fui de carro pra aula hoje... – Droga, droga. Eu havia deixado pontas soltas na história de ter chegado mais cedo em casa! Claro que Louis percebeu que meu carro ainda estava na frente de casa quando eu já não estava mais... Droga. – passou aqui pra me pegar e fomos juntas.
  - É mesmo? – Parou o que estava fazendo e cruzou os braços, olhando pra mim. – Estranho... Porque ela ligou aqui em casa, querendo saber por que você não foi à Academy hoje.
  - Damn it, ! – Xinguei baixinho, desistindo de inventar mais alguma desculpa. – Quando ela ligou?
  - Meia hora antes de você tentar entrar em casa escondida.
  - Então você já sabia? – Levei uma mão à testa, deixando de lado a mala que eu estava tentando levar pra fora daquele quarto.
  - O tempo todo. – Riu da minha cara.
  - E por que não me falou nada, seu imprestável?
  - Porque eu queria ver até quando você ia levar essa história adiante! – Continuou rindo e jogou um bichinho de pelúcia em cima de mim.
  - HEY! ISSO... Fluffy! – Comecei a reclamar, mas assim que vi qual bichinho era aquele, comecei a sorrir. – Você estava escondido aqui? Achei que tinha te perdido na viagem...
  - É uma criança! – Resmungou baixinho e eu o ignorei.
  Louis ainda tinha um pingo de cavalheirismo, por isso tratou de carregar as caixas mais pesadas para fora do quarto. Eu juntei todas as minhas coisas que estavam perdidas por ali: Alguns livros, brincos, colares, enfeites de decoração e coisinhas assim. Coloquei tudo dentro da minha maior mala de viagem – incluindo coisas maiores que nem eram minhas – e a arrastei para o meu quarto. A deixaria guardada embaixo da minha cama até arrumar um lugar melhor. O que mais importava naquele momento era liberar o quarto de Harry. Ainda era estranho chamar assim, mas eu estava muito animada com toda aquela mudança.
  Meu irmão teve a brilhante idéia de separarmos algumas coisas para doação, como agasalhos que ninguém usava mais, roupas velhas, brinquedos e tudo mais que não fosse fazer falta ou que fosse ser mais útil para outras pessoas. O sentimento que você ganha ao fazer algo bom para outras pessoas não tem preço, de verdade. O homem da casa começou a empilhar caixas do lado de fora da casa e eu me ocupei em passar um pano molhado no chão do quarto que já começava a ficar bem mais vazio.
  - Até que em fim vocês chegaram! – Escutei a voz de Louis no andar de baixo e supus que os meninos tinham retornado. – Como a Anne reagiu?
  - Ela chorou... – Harry o respondeu. Deve ter sido um momento bem triste para os dois, já que aquela mudança marcava o começo de uma nova etapa da vida de todos.
  - Sinto muito, Hazza. Mas não é o fim do mundo... Vocês ainda vão se ver muito. – Lou deu apoio. – Liam o que é isso na sua mão?
  O tom que meu irmão mais velho usou naquela pergunta dirigida a Liam foi o suficiente pra me fazer sair do quarto e largar meu material de trabalho de qualquer jeito pelo chão. Minha curiosidade falou mais alto e eu desci as escadas pulando dois degraus de cada vez. Harry estava arrastando algumas malas para a sala e Lou seguia Liam para a sala de jantar. É claro que eu fui atrás dos dois últimos, mas primeiro dei um beijo na bochecha de Haz.
  - Você não fez isso... – Louis olhou dentro da caixa de sapato que Liam depositou sobre a madeira da mesa e balançou a cabeça negativamente.
  - Hey, ! – Liam sorriu a me ver. – Vem ver isso aqui!
  - Qual o motivo dessa bagunça toda? – Fiquei entre os dois garotos e quase gritei ao ver o que tinha dentro da caixa. – Que coisinhas mais fofas!
  - Não são lindas? – Li sorriu, feliz com suas novas tartarugas.
  - Onde você as achou? – Peguei uma com cuidado e a coloquei na palma da minha mão. Era tão pequena que devia ser o tamanho do meu polegar.
  - Sabia que tem um Pet Shop na rua da casa do Harry? – Perguntou enquanto pegava a outra tartaruguinha da caixa. – Essas eram últimas duas tartarugas da vitrine e eu não consegui deixá-las lá.
  - Você vai mesmo ficar com elas? – Louis perguntou, entortando o nariz.
  - Por favor, mommy, deixa a gente ficar com elas? Por favor, por favor? – Fiz voz de criança e Liam riu.
  - Vou sim! – O dono das tartarugas afirmou.
  - Alguém pode vir me ajudar aqui? – Harry chamou e eu e Liam olhamos para Louis ao mesmo tempo.
  - Eu to indo. – Rolou os olhos e saiu dali.
  - Qual o nome delas? – Voltei a olhar para a pequenina na minha mão, que tentava caminhar.
  - Deles! – Me corrigiu. – São dois machos. E ainda não tem nomes...
  - Eu achei que eram um casal! – Fiz um biquinho de lado. – Esse daqui tem cara de Archimedes.
  - Como uma tartaruga tem cara de Archimedes, ? – Riu, mas deu de ombros. – Então esse vai ser o nome dele.
  - Eba! – Sorri e deixei a tartaruga de volta na caixa. – Vai pensando o nome desse aí que eu vou pegar uma bacia de água...
  - ÁGUA? Você vai afogar as tartarugas? – Também colocou o bichinho que segurava dentro da caixa e me seguiu até a cozinha.
  - Claro que não, Leeyum! – Rolei os olhos e comecei a procurar qualquer coisa que pudesse servir de banheira. – Essas tartarugas são aquáticas... Não viu a pele entre os dedinhos?
  - Vi sim... – Parou na porta, apenas me olhando.
  - Você não faz idéia de como cuidar de tartarugas, né? – Finalmente achei um potinho cor de rosa que serviria direitinho para o que eu estava querendo.
  - Não deve ser tão difícil assim, . São tão pequenas.
  - Bebês são pequenos também. – Rebati e peguei umas folhas de jornal que estavam em cima da bancada. – Vem, vamos fazer uma casinha pra elas!
  Provavelmente eu estava ficando mais animada do que devia, já que as tartarugas nem eram minhas! Mas ao mesmo tempo, se eu as deixasse sob os cuidados de Liam, elas morreriam de fome. Passei pela sala de jantar, hall de entrada e subi as escadas com um pouco de pressa. Liam me seguiu e também ignorou os chamados de Lou e Harry. Ambos entramos no quarto dele e eu olhei em volta, estudando qual seria o melhor lugar para deixar as tartarugas. Pelo menos enquanto não arrumássemos um aquário grande o suficiente para as duas, teríamos que ficar de olho nelas.
  O quarto de Liam era menor que o meu, mas maior que o de Lou. Acho que a grande diferença é que meu irmão não consegue deixar o quarto arrumado, então isso diminui o espaço. Aquele parecia o cômodo mais divertido da casa por causa da quantidade de bonecos e brinquedos de desenhos animados. Lembra da caixa de coisas que os pais de Liam mandaram? Então! Aquilo e muito mais era o que enfeitava o quarto do menino. A cama dele era de casal e estava encostada à parede, embaixo da janela. Em frente à cama ficava um guarda-roupa e ao lado da porta de entrada havia uma escrivaninha. O melhor lugar pra colocar as tartaruguinhas seria entre a cama e o guarda roupa.
  - Li, você pode encher esse pote de água, por favor? – Sentei no chão e entreguei o pote para ele.
  - As tartarugas são macho e você pega um pote rosa? – Deixou a caixa de sapato ao meu lado e foi até o banheiro da sua suíte. – Assim vai confundir os meninos.
  - O vai confundir eles é você chamando de “meninos”. – Ri e cobri um pedaço do chão entre o guarda-roupa e os pés da cama de Liam. – Daqui a pouco eles vão pensar que são meninos de verdade e não tartarugas.
  - Será que foi isso o que aconteceu com as Tartarugas Ninjas? – Liam falou aquilo com tanta seriedade que eu desconfiei que ele estivesse realmente desconfiado daquela teoria.
  - Com certeza! – Gargalhei alto e peguei a bacia de água que me foi entregue. – E você ainda não pensou em um nome para o amigo do Archimedes?
  - Eu tive uma tartaruga quando era pequeno e o nome era Boris... – Deitou na cama de barriga para baixo e ficou me olhando colocar umas folhas de alface que vieram dentro da caixa em cima do jornal. Eu preferi ignorar o fato de o cachorro de Zayn também se chamar Boris. – Estava pensando em fazer uma homenagem a ela.
  - Boris II! – Sorri e também deitei de bruços, mas no chão. Deixei a bacia na minha frente e coloquei as duas tartaruguinhas dentro da água com cuidado. Não queria assustá-las. – Viu como elas ficam felizes na água?
  - Ficam mesmo! – Liam se aproximou da ponta da cama pra observar os bichinhos começando a nadar. – Archimedes e Boris II. Gostei.
  - Agora vamos tirar uma foto pra mostrar a todos como vocês são lindos. – Falei com as tartarugas e Liam riu de mim. – E você aí pode pegar o seu notebook e começar a procurar tudo que puder sobre tartarugas! Ser pai não é fácil.
  Liam me obedeceu e ligou o notebook. Do jeito que ele era responsável, iria pesquisar até sobre o nome cientifico daquela espécie de tartaruga. Ele me olhava de vez em quando, mas eu só conseguia prestar atenção nos animais. Peguei o celular no meu bolso e me preparei para tirar uma foto das tartaruguinhas e já corri para postar no Twitter:

“Daddy @Real_Liam_Payne trouxe novos moradores pra casa hoje!”

  Em menos de dez segundos depois eu já recebi uma resposta. Era de Liam:

“E a mommy @stargirl_ está cuidando muito bem deles!”

  E ao lado do tweet havia uma foto minha brincando com as tartarugas dentro da água. Eu não sabia nem que ele tinha tirado aquela foto, mas pelo menos estava bonitinha.
  - Liam, eu mandei você pesquisar e não ficar tirando fotos minhas! – Briguei de brincadeira e guardei o celular no bolso da calça.
  - Eu não resisti! Desculpa. – Riu e voltou a se concentrar na pesquisa.
  - Será que eu desculpo o daddy, minhas crianças? – Perguntei para as tartarugas já adorando a idéia de ser a mãe delas.
  - Onde você estava essa manhã, ? – Liam perguntou sem me olhar e eu senti a minha barriga esfriar. – O seu carro estava aí, mas você não...
  - Pois é, eu saí de madrugada... – Coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Liam estava aceitando o meu namoro com tanta naturalidade que eu comecei a não me importar de contar as coisas pra ele. Além do mais, era um de meus melhores amigos, então eu me sentia bem em dividir. – O Zayn apareceu aqui do nada e me sequestrou!
  - E pra onde vocês foram?
  - Você acredita se eu falar que não faço idéia? – Ri baixo. – Era um lugar muito longe... Até saímos da cidade. Ele me levou pra ver estrelas, acredita? Daí nós acabamos perdendo a hora...
  - E dormiram juntos? – Parecia preocupado com a resposta ao perguntar.
  - Sim... – Senti as minhas bochechas corarem, mas assim que percebi o duplo sentido da pergunta, tentei corrigir. – Mas nada aconteceu entre nós dois! Na verdade, nunca aconteceu nada assim...
  - Então vocês dois nunca...? – Sorriu aliviado.
  - Nunca mesmo. – Escondi o rosto com uma mão. Aquele assunto era constrangedor, mesmo com Liam.
  - Mas você já...? – Ele parecia muito interessado naquele assunto.
  - Já sim. – Por mais tímida que eu ficasse, não me importava em responder. – Só uma vez... Com um ex namorado que não vale a pena mencionar.
  - Entendi, entendi! – Riu da minha falta de tato. – Mas você está certa, . Não deve sair por aí tendo intimidade... Nem com seu namorado. Na verdade, só devia estar próxima assim de quem você vê todos os dias... Na sua própria casa...
  - Você está flertando comigo, Liam Payne? – Ri e a piscadinha que ele deu em seguida me vez corar novamente. Seria melhor mudar de assunto. – Achou alguma coisa sobre as tartarugas?
  - Achei sim... – Riu da minha mudança de assunto, mas respeitou. – Essa espécie é conhecida como Tartaruga Pintada... E elas são carnívoras quando pequenas.
  - Carnívoras?! – Afastei o dedo que eu estava usando para acariciar Boris II com medo que me mordesse.
  - Pois é! – Limpou a garganta para ler um pedaço: - Existem aproximadamente vinte tipos de tartarugas pintadas, mas elas são bem parecidas. Quando pequenas, se alimentam mais de carne, gafanhotos, peixes ou ração para tartaruga. Quando se tornam adultas passam a se alimentar mais de plantas.
  - Interessante... – Nós estávamos mais despreparados do que eu imaginava. – Acho que temos que voltar naquele Pet Shop, Li.
  - Porque?! Eu não quero devolver meus filhos! - Desesperou-se.
  - A gente não vai devolver ninguém! – Sentei no chão e apoiei as costas na cama. – Mas nós temos que comprar essa ração e um aquário! Eles não vão gostar dessa banheira por muito tempo.
  - Harry e Lou não se importam se a gente sair?
  - A gente nem está ajudando mesmo... – Dei de ombros e tirei as tartarugas da água, colocando-as no jornal. O pote era muito fundo para que elas saíssem sozinhas, então era melhor já deixá-las fora. – É só a gente pedir pra terem cuidado e não entrarem aqui.

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  - Tem certeza que não quer ajuda? – Perguntei ao olhar para Liam. Nós havíamos acabado de sair do carro e ele carregava um aquário enorme.
  - Eu já falei que não precisa, . Você já está carregando os peixes. – Apontou para o saco transparente de peixinhos coloridos que eu segurava. Mal sabiam eles que seriam comida...
  - Mas peixes são leves. – Rolei os olhos enquanto caminhávamos pela calçada.
  - Ei, aquele não é o carro da ? – Liam perguntou e eu segui a direção do seu olhar até encontrar o New Beetle amarelo que com certeza era da minha amiga.
  - Deve ser...
  Nós dois passamos pelo caminho de pedra até a varanda de entrada. A porta estava aberta, então eu só girei a maçaneta e passei, esperando Liam também passar para só então fechar atrás de nós. A primeira coisa que ouvi foi a voz de uma certa ruiva que eu conhecia muito bem vindo do andar de cima da casa. Olhei para Liam em confirmação das suas desconfianças e ele riu. Ambos subimos as escadas e ele foi direto para o próprio quarto, já que o aquário devia estar pesado. Fui atrás dele apenas para deixar os peixes em cima da escrivaninha, mas logo voltei para procurar a minha melhor amiga. Passei os olhos pelo quarto de Harry, mas apenas ele e Lou estavam ali dentro. Os dois aparen