Ballet Shoes
Ella Souza | Revisada por Isabelle Castro
Capítulo I
O sol já havia nascido e entrava pela janela do meu quarto sem pedir licença, batendo diretamente no meu rosto e me fazendo despertar. Eu não sabia ao certo quanto tempo havia dormido, mas parecia que não tinha sido nem cinco minutos. Na noite anterior, eu não conseguira pegar no sono. Estava nervosa demais pra conseguir pregar o olho! Deixe eu me apresentar... Me chamo e tenho 19 anos. Sou uma típica garota francesa. Meu grande sonho sempre foi ser uma bailarina profissional, me apresentar nos maiores teatros do mundo e encantar pessoas com a dança. Desde que me entendo por gente tenho sapatilhas cor de rosa nos pés e um coque nos cabelos perfeitamente penteados. Há aproximadamente um mês, em uma viagem para visitar o meu pai na Inglaterra, fiz um teste para a London Royal Academy, que é a melhor academia de artes da Europa. Além de ballet, a academia oferece cursos de música e teatro, mas é claro que o meu objetivo era a dança. Como moro na França com meu avô Charles e minha avó Jolene - desde que meus pais se separaram - a minha carta com o resultado do teste estava demorando até demais para chegar. Eu seria mais a favor de um e-mail avisando se eu havia conseguido uma bolsa de estudos na melhor escola de ballet do mundo (na minha opinião), ou se os meus sonhos seriam destruídos e eu teria que me contentar com uma faculdade qualquer. Mas aparentemente a Academy gostava de fazer as coisas de um jeito mais Oldschool.
Já era quarta feira e o carteiro deveria passar a qualquer momento. Me mexi preguiçosamente na cama e constatei que o livro que eu estivera lendo na noite passava estava fechado e sem a página marcada. Deveria ter fechado sozinho quando finalmente peguei no sono e então levantei com uma careta, já imaginando o trabalho que daria pra achar a página certa novamente. Segui me arrastando até o banheiro do corredor, já que eu não tinha um só pra mim em meu quarto, e resmunguei baixo ao encontrar a porta trancada.
- Louis? Lou, é você aí dentro? Anda loooooooogo. – Bati na porta umas três vezes até escutar o barulho da chave sendo girada na parte de dentro do banheiro e a figura sorridente do meu irmão aparecer.
- Bom dia pra você também, apressada. – Ele depositou um beijo estalado em minha testa e desceu as escadas ainda sorrindo. Queria ter o bom humor de Louis pela manhã. Resmunguei alguma coisa que ele provavelmente não ouviu e entrei no banheiro, me trancando lá dentro. Fiz toda a minha higiene matinal, mas me recusei a tomar um banho. Estava nervosa demais para perder mais um segundo qualquer ali dentro. Segui o meu caminho para o andar de baixo, saltando dois degraus de cada vez. Quase caí no penúltimo degrau, mas ninguém precisa ficar sabendo disso.
- Bom dia, nana! – Passei pelas portas brancas da cozinha e caminhei até a minha vó, que cozinhava algo que cheirava muito bem. A abracei de lado com um sorriso e beijei-lhe a bochecha, recebendo um daqueles sorrisos que alegram o dia de qualquer um como resposta.
- Bom dia, . Será que hoje é o grande dia? – Ela perguntou com a voz doce e suave, se referindo ao resultado do meu teste. Nas últimas quatro semanas eu havia acordado cedo demais, apenas para sentar na varanda de casa e esperar Joe, o carteiro.
- Eu espero que sim... Essa demora está me matando. – Sentei ao lado de Louis, que mastigava um pedaço de croissant e sorriu pra mim com a boca cheia. – Ew. – Falei simplesmente, gargalhando e em seguida roubando o resto de comida em seu prato. Ele estava prestes a reclamar e roubar o croissant mordido da minha mão, mas minha avó foi mais rápida e o repreendeu.
- Louis, deixe a sua irmã comer um pedaço. Esse já é o seu terceiro e a coitadinha está nervosa. – Vovó sempre me defendia e por isso eu amava tanto. Não só por isso, mas enfim. Olhei para meu irmão mais velho e sorri para ele da mesma forma; com a boca cheia. Porém, nos meus olhos havia um toque zombeteiro como se eu estivesse falando: “Haha, bem feito” o que me rendeu um tapa na cabeça e uma reclamação dele.
- Injusto. Ela sempre consegue tudo o que quer. – Ele dramatizou, terminando o suco em seu copo antes que eu tentasse roubá-lo também.
Meu avô entrou na cozinha com um jornal embaixo do braço e algumas correspondências nas mãos. No mesmo instante em que vi aqueles envelopes meu coração começou a bater mais rápido e eu senti um frio percorrer a minha espinha. Vovô me olhou com de forma companheira. Ele não costumava sorrir muito, mas aquele olhar reconfortante foi o suficiente para me tranquilizar ao menos um pouco. Meu irmão e minha avó trocaram olhares como se estivessem se perguntando a mesma coisa que eu e vovô começou a olhar as cartas, de uma por uma.
- Conta, conta... – Ele começou, para o meu desespero. – Propaganda. Cupom para um novo lava jato... – E seu olhar saiu do último envelope e me fitou por cima dos seus óculos de meia lua. – Essa é sua, .
No mesmo instante que ele falou aquilo, saltei da cadeira e corri em sua direção. Delicadamente tirei o envelope branco e com bordas douradas de suas mãos e corri para fora da cozinha, subindo as escadas de volta para o meu quarto ainda mais rápido do havia descido. Queria abrir a carta sozinha. Aquele seria um momento só meu. Afinal, todo o trabalho, todas as noites mal dormidas por causa de ensaios e todas as bolhas em meus pés haviam sido somente minhas. Claro que a minha família tinha me apoiado e torcido por mim, mas não foram eles que dançaram na frente dos três maiores críticos de ballet que eu já pude conhecer. Ninguém além de mim enfrentou o nervosismo, as dores, ou passou mal após a apresentação que decidiria o meu futuro. Eu tinha dado tudo de mim e sabia do peso que aquela única apresentação teria na minha carreira. É verdade que eu poderia tentar novamente no ano seguinte, mas era praticamente impossível alguém ter uma segunda chance e entrar na segunda tentativa. E eu não tentaria de novo. Não acreditava que seria boa o suficiente em uma “segunda chance”. Para mim, aquela era a minha chance. Aquele papel brilhante em minhas mãos era a minha passagem para Londres. Ou então seria o fim dos meus sonhos, a prova de que eu não havia nascido para dançar e eu teria que aceitar o meu destino trabalhando em algo que não me deixaria completa.
Tranquei a porta do quarto e sentei-me na cama com “pernas de índio”. Tentei ficar o mais confortável possível, mas o frio na barriga só fazia aumentar. Li a parte exterior inteira, me certificando de que aquela carta era realmente minha. “Star Tomlinson” e “Paris; França.” Sim, era minha. Respirei fundo deixando o ar voltar a sair por entre os meus lábios.
- É agora... – Falei sozinha e passei o dedo indicador com cuidado para retirar o lacre vermelho que estava mantendo a carta fechada. Assim como o exterior, o papel que estava dentro do envelope era minuciosamente trabalhado em branco e dourado. Segurei o papel com as duas mãos e corri os meus olhos to topo até começar a ler o que estava escrito. Não queria perder nenhum detalhe, por melhor ou pior que pudesse ser.
É com grande prazer que informamos a sua aceitação na London Royal Academy para a classe de Ballet clássico. Comprovamos que suas habilidades são mais que suficientes...”
Nesse momento eu já não consegui ler mais nada, pois meus olhos estavam repletos de lágrimas que teimavam em sair. Mas eu nem ao menos tentei controlá-las; estava chorando de felicidade. Eu havia sido aceita. Minha vida iria mudar completamente dali pra frente e eu nem sabia o quanto. Ainda estava chocada e não parava de ler a primeira frase. Era tudo tão perfeito, a letra trabalhada e manuscrita deixava tudo ainda mais pessoal e emocionante. Passei as mangas do meu pijama em baixo dos olhos secando algumas lágrimas para conseguir terminar de ler. Eu teria até uma semana antes do começo das aulas para confirmar a minha vaga pessoalmente na academia e pegar o meu horário de aulas, assim como conhecer melhor o lugar. E teria um mês até o início das aulas. Seria tempo suficiente para me organizar e me adaptar a minha nova cidade.
De uma vez só vários pensamentos começaram a invadir a minha cabeça. Eu teria que deixar meus avós sozinhos, já que Louis estaria indo para Londres também, pois ele conseguira um emprego como fotógrafo em uma agência muito conhecida. Mas ele estaria partindo em três dias e eu provavelmente só iria um pouco depois. Também teria que deixar a minha mãe, que morava em Paris desde que ela e meu pai se separaram.
Deixe-me explicar melhor: Meus pais se conheceram em Doncaster, quando a minha mãe estava passando férias na cidade com algumas amigas. Eles se apaixonaram perdidamente minha mãe engravidou do meu irmão, o que resultou em um casamento relâmpago. Os três continuaram morando na Inglaterra, mas o casamento já não era lá tudo aquilo que foi no começo. Para tentar salvar o relacionamento eles decidiram ter mais um filho, e é nessa hora que eu entro; o bebê que deveria fazer todos os problemas irem embora. Mas antes que eu pudesse nascer, todos se mudaram para Paris, o que me torna originalmente francesa. Quando a separação aconteceu, eu já estava com doze anos e meu pai se mudou para Londres, nos deixando sob os cuidados de minha mãe. Não lembro se cheguei a ficar um dia inteiro com ela, por causa do seu trabalho. Era uma artista plástica e sempre ficou muito ocupada com seus trabalhos ou exposições de arte e nunca teve muito tempo pra gastar com seus filhos. Essa foi uma das razões que levou meus avós a lutarem pela nossa guarda e nos levar para morar com eles. Papai recentemente se casou novamente com uma modelo chamada Rachel, uma madrasta diferente das dos contos de fada, pois ela era um anjo. E desse casamento veio a minha meio-irmã, Lux. Uma princesinha de dois anos a quem eu era super apegada. Sempre que podia passava as férias de fim de ano com meu pai e se pudesse escolher, ficaria morando com ele para sempre. Agora que já tinha um motivo mais forte para me mudar para Londres, poderia ir sem me sentir culpada por deixar para trás tudo aquilo que eu conhecia.
Uma batida forte na porta me fez despertar dos meus pensamentos e quase ter um pequeno ataque do coração ao escutar o berro do meu irmão.
- ! Você está nos preocupando com essa demora. Se foi rejeitada, ao menos vá cortar os pulsos no banheiro. Porque eu não quero ter que limpar a mancha de sangue do chão. - Sempre tão delicado pude ouvir sua risada do outro lado da porta. Senti vontade de rir também, mesmo que quisesse lhe dar um soco por causa dessa gracinha. Se eu realmente tivesse sido rejeitada, não agüentaria aquela brincadeira.
- Já vou abrir... – Disse imitando uma voz fraca, querendo criar um suspense.
Levantei da cama e destranquei a porta sem nem olhar para Louis. Ele entrou atrás de mim e pude sentir seu olhar me encarando, esperando por alguma resposta.
- E aí? O que dizia a carta? – Ele estava sério, provavelmente me julgando pelos olhos vermelhos causados pelo choro.
- Eu... – Comecei, olhando-o nos olhos pela primeira vez. – Eu passei, Lou.
- Eu sabia! Wow, , parabéns! – Ele comemorou animado, passando os braços em minha cintura e me levantando do chão.
- Obrigada, Boo Bear! – Me segurei em seus ombros para não acabar caindo. – Nós vamos para Londres!
- Logo quando eu já estava ficando animado por me ver livre de você... – Meus pés voltaram a encostar no chão e eu estava feliz demais pra reclamar ou bater nele. Queria ligar para o meu pai e ouvir ele dizer que estava orgulhoso de mim. Assim como tenho certeza que minha avó também falaria.
- Shut up. – Falei simplesmente, soltando-me de seu abraço e saindo do quarto com um sorriso tão grande nos lábios que minhas bochechas começaram a doer. Queria contar a grande notícia ao mundo inteiro.
Capítulo II
Uma semana já havia passado desde que eu recebera a minha carta para Hogwarts, também conhecida como London Royal Academy, e eu não conseguia conter a minha animação. Louis já tinha partido há alguns dias para procurar o apartamento que nós dois dividiríamos e eu seguiria para Londres nos próximos dois dias. Usaria aquele tempo que me restava em Paris para empacotar as coisas que eu levaria para o meu novo lar, me despedir dos meus avós e dos poucos amigos que tinha e a parte mais complicada... Dar a noticia da mudança para a minha mãe. Papai já estava sabendo de tudo e aguardava a minha chegada, mas a minha mãe Johanna daria um pouco de trabalho e provavelmente não gostaria tanto da idéia de me ter longe assim. Não que agente se encontrasse toda semana, mas ela gostava de saber que eu estava no mesmo país que ela, principalmente por ser o mais longe possível de meu pai.
Estacionei o carro em frente ao prédio de minha mãe e desci do veículo, trancando-o atrás de mim. Meus cabelos logo foram bagunçados pela rajada de vento frio que praticamente congelou o meu rosto e, como reflexo, apertei o meu sobretudo marrom contra o corpo. Era possível ver o vapor saindo dos meus lábios na medida em que eu ofegava ao subir a escadaria que me levaria até a portaria do prédio.
- Boa tarde, senhorita Darling. – Jeffrey, o porteiro, me cumprimentou enquanto abria as portas para que eu passasse. Ainda era estranho ser chamada pelo sobrenome da minha mãe, já que eu costumava usar o de meu pai.
- Boa tarde, Jeff! Minha mãe deve estar me esperando, então você não precisa ligar pra ela. – Não queria perder mais tempo ali embaixo, só desejava me livrar de uma vez desse nervosismo que estava me dominando. – Vou indo... – Me despedi com um sorriso e um aceno de cabeça.
- Sem problemas, , você já é da casa. – Sempre tão simpático, o senhor de meia idade me acompanhou até os elevadores e logo voltou para o seu lugar, me deixando sozinha com meus pensamentos.
É claro que eu estava com medo da reação da minha mãe, mas ela não poderia me impedir de viajar. Eu iria para Londres de qualquer forma, só que preferia partir sem deixá-la chateada. Entrei no elevador assim que as portas automáticas se abriram e apertei o botão para o sétimo andar. A subida foi terrivelmente lenta e eu repassei na minha mente todas as minhas falas, testando o melhor jeito de dar a noticia. Nervosamente passei as mãos pelos meus cabelos castanhos e senti o solavanco que o elevador costumava dar quando estava chegando ao seu destino. “Sétimo andar. Descendo.” As portas se abriram assim que a voz automática informou o andar e eu caminhei rapidamente para fora, procurando a porta do apartamento de mamãe.
“Diiiiiing dong”, fez o barulho da campainha assim que eu a apertei. Escutei o barulho de algo sendo derrubado ao lado de dentro e a voz da minha mãe reclamando alguma coisa que não consegui decifrar o que era. Conhecendo o seu jeito estabanado de ser, foi fácil imaginar uma cena em que ela derrubava alguma coisa pesada no chão e depois saía reclamando pela casa coisas em uma língua desconhecida. Esse pensamento me fez rir tanto que nem ao menos me dei conta de que a porta já estava aberta e Johanna me encarava com um sorriso infantil nos lábios. Parecia ofegante, seus cabelos estavam bagunçados e uma mancha de argila molhada em sua bochecha denunciava que ela estivera trabalhando em alguma escultura.
- Mãe! – Ela me puxou para um abraço e eu logo o retribuí. – Espero que não esteja te atrapalhando. Eu sei que disse que ia passar aqui à noite, mas...
- , meu amor. Que saudade. Parece até que você cresceu. – Me cortou, já separando o abraço e me fazendo entrar. O lugar estava do mesmo jeito que eu conseguia me lembrar. Abarrotado de obras de arte, finalizadas ou não, e instrumentos de trabalho que eu não fazia idéia de suas utilidades. Parecia mais um atelier do que a casa de alguém. Além disso, avistei peças de roupa espalhadas por um dos cantos da sala e uma pilha de pratos sujos por cima da mesa da cozinha.
- É, já faz algum tempo que a gente não se encontra. – Caminhei até o sofá e me sentei, esperando que ela fizesse o mesmo. – Mãe, eu vim aqui hoje porque tenho um assunto delicado pra tratar com você.
- Assunto delicado? O que houve, ? É a minha mãe? Alguém está doente? – Fui bombardeada por suas perguntas e ela se sentou na mesinha de centro, em frente a mim.
- Mãe, não é nada... – Tentei fazê-la se calar.
– Onde está seu irmão? Por que ele não veio com você? Ai, meu Deus, algo aconteceu com o seu irmão?!
- MÃE! – Gritei. Ela me olhou espantada, mas pelo menos se calou, me dando a oportunidade de continuar. – Não é nada disso, a vovó e o Lou estão ótimos. O que tenho pra falar é sobre mim, mas por favor não me interrompa.
- Só me diga que você não está grávida.
- Mãe! – Mais uma vez a repreendi, segurando as alças da minha bolsa de mão com força. Esse era um dos motivos que me fazia evitar conversas sérias com ela.
- Eu só estava me certificando, filha. Não quero que você cometa os mesmos erros que eu e fique grávida muito cedo.
- Ok, ok. – Rolei os olhos. – Posso continuar?
- Sim, continue. – Ela pareceu se contentar em me escutar e me olhou com curiosidade.
- Bem... – Suspirei fundo e juntei toda a minha coragem para continuar. – Você lembra que eu fiz um teste para uma academia de ballet? Então. Eu fui aceita, mãe. Eu passei! – Foi impossível conter um sorriso de animação enquanto esperava alguma reação da parte da outra.
- Isso é maravilhoso, ! Eu sempre soube que você conseguiria. Nossa, eu estou tão feliz! – Ela comemorou, me fazendo sorrir ainda mais. Eu teria pulado em seus braços e a abraçaria com todas as minhas forças se a pior parte não estivesse por vir. Ainda faltava um detalhe que eu teria que falar.
- É maravilhoso sim! E é o meu sonho... Finalmente parece que tudo está dando certo. Só tem mais uma coisa que eu preciso te contar. A academia é em Londres. – Na última frase a minha voz falhou. Por mais que eu tivesse tentado suavizar cada palavra, a verdade seria dolorosa demais; ao menos para ela.
- Como é? – Seus olhos se arregalaram e eu tenho certeza que vi suas pupilas dilatarem.
- A academia em que eu fui aceita é em Londres... – Repeti com a esperança de que ela aceitasse numa boa. Mas, só pra variar, eu estava errada. Assisti a minha mãe se levantar e colocar as duas mãos nas laterais do rosto e mexer a boca sem emitir som algum.
- Você não vai. Não mesmo. Está fora de cogitação. Você está louca se acha que vai morar em outro país. – Ela disse áspera, cruzando os braços como se aquela fosse a sua palavra final.
- Você é que está louca se acha que vai me impedir de ir. – Também me levantei, largando a minha bolsa de qualquer jeito no sofá. Estava irritada e comecei a bater o pé de forma impaciente contra a madeira do chão.
- Eu sou a sua mãe, . Se eu falo que você não vai, é porque não vai. Fim de papo! – Levantou a voz e começou a andar para a cozinha. Eu fui mais rápida e segurei-a pelo braço. A conversa não havia terminado nem de perto.
- Você pode ser a minha mãe, mas isso não lhe dá o direito de controlar as minhas decisões. Não quando eu já sou maior de idade e perfeitamente capaz de me cuidar sozinha. – Elevei a minha voz da mesma forma que ela. Queria deixar a discussão em um mesmo nível. – Além do mais, Londres não é tão longe assim de Paris. E o meu pai mora lá, então se eu precisar de algo...
- SEU PAI? Eu sabia que ele estava metido nisso. Ahh, o Mark me paga! – Minha mãe estava furiosa. Provavelmente amaldiçoando até os ancestrais do meu pai. – E eu aposto que aquela menininha com quem ele se casou também está metida nisso. Ela sempre quis roubar você e o seu irmão de mim!
- Dá pra você parar de falar besteira? É claro que papai está feliz com isso, já que ele sente a minha falta. Mas eu estou indo para realizar o meu sonho, pra estudar! Será que você não entende que é a minha vida e não uma briguinha estúpida entre vocês pra saber quem vai ficar com os filhos? Porque, que eu saiba, a senhora nunca fez muito esforço para estar perto de mim ou do Louis. E TEM MAIS. – Despejei todas as verdades de uma vez, quase perdendo o fôlego ora ou outra. Antes que pudesse ser interrompida, continuei: - A Rachel não é uma menininha com quem papai se casou. Ela é um amor de pessoa e ele seria idiota se não se apaixonasse por ela. Na verdade, eu não sei como ele se apaixonou por você!
Sei que as minhas palavras foram duras demais, mas eu não consegui aguentar calada. Eu defenderia meu pai de qualquer um, principalmente dela. Johanna nunca foi um exemplo de mãe, sempre colocando o seu trabalho na frente dos filhos. Não consigo me lembrar em nenhuma das minhas apresentações de dança ter visto minha mãe na platéia. Nas reuniões de escola, era sempre a minha avó que ia conversar com os professores. Nem ao menos na minha formatura ela fez questão de aparecer, sempre inventando alguma exposição de arte que ela “não podia deixar de ir”. Meu pai também não era o tipo de pai perfeito que estava presente em todas as ocasiões, mas pelo menos ele fazia de tudo para se redimir. Seu trabalho também era muito importante, já que ele era um oncologista de renome nacional e nem sempre podia sair do hospital na hora que quisesse. Mas sempre se preocupava com a minha vida e gostava de se manter informado. Nas noites mais importantes, ele deixava o plantão nem que fosse por uma hora e passava para me dar um beijo. Eu costumava ficar acordada até tarde, o esperando, e quando pegava no sono no sofá, era ele quem me levava para a cama e acabava dormindo comigo. Então minha mãe poderia falar qualquer coisa, contanto que não colocasse o nome do meu pai no meio.
Ela não falou mais nada, mas o que fez em seguida foi muito pior. Levantou a mão e a próxima coisa que eu senti foi a pele do meu rosto queimar com o seu tapa. Essa era a primeira vez que alguém me batia, pois nem quando eu era criança isso tinha acontecido. Eu a olhei incrédula, com lágrimas nos olhos e ela levou a mão até a boca tapando um pequeno gemido. Provavelmente estava arrependida e tentou me tocar novamente, mas dessa vez eu fui mais rápida e afastei sua mão. Também guardei as minhas palavras, já que não adiantaria mais de nada e peguei a minha bolsa rumando até a porta.
- , me perdoe! Eu não quis... Eu não pretendia... – Dessa vez quem chorou foi ela, vindo atrás de mim e segurando na manga do meu sobretudo. Eu nem me dei ao trabalho de parar, apenas me desvencilhei de seu toque e abri a porta. – !
Lancei um último olhar em sua direção e a observei cair de joelhos sobre o batente da porta, chorando. Eu sabia que ela era totalmente desequilibrada e costumava agüentar os seus ataques, mas naquela tarde tinha passado de todos os limites. Engoli as minhas próprias lágrimas e parti para a escada de emergência. Não iria esperar o elevador chegar e muito menos dar tempo para Johanna começar a falar mais besteiras ou tentar se desculpar. Eu não a perdoaria, não agora. Daí pra frente só o que eu escutei foi a porta da escada batendo com força atrás de mim e o som dos meus passos apressados. Foi nesse momento que eu percebi que estava correndo. Meu corpo parecia ter vida própria, pois a minha mente não sabia o que fazer e meu corpo só queria sair daquele lugar o mais rápido possível. Eu não sabia o que pensar, não sabia o que fazer. Queria esquecer aquele momento, assim com como todas as outras brigas e decepções que meu passado em Paris guardava. Meu futuro estava na Inglaterra e eu estava mais certa daquilo do que nunca. A França era um lugar encantador e havia sido a minha casa durante a minha vida toda. É claro que eu sentiria falta das cafeterias com mesinhas nas calçadas, nas variedades de doces nas delicatessens mais caras do mundo. Eu estaria trocando a Eiffel Tower pelo Big Ben, os macarrons que eu tanto amava por fish and chips, trocaria o meu francês pelo sotaque britânico. Tinha medo, mas era um medo bom. Do tipo que a gente não sabe o que tem pela frente, mas não pode esperar para descobrir.
Passei correndo pela portaria sem nem me despedir de Jeffrey. Não queria que ele me olhasse preocupado com a mancha avermelhada em meu rosto, já que eu tinha certeza que os dedos de minha mãe estavam marcados perfeitamente na minha pele branca. Dei graças a Deus quando entrei no carro e coloquei a chave na ignição, dando a partida e seguindo pela rua quase vazia. Não me importei em ligar o rádio, pois tinha medo de que alguma música triste começasse a tocar e me fizesse chorar e colocar pra fora todas aquelas lágrimas que já estavam difíceis demais de segurar. Em aproximadamente meia hora já tinha estacionando o carro na garagem e entrava em casa, constatando que ela estava vazia. Vovó deveria estar na pracinha com umas amigas e vovô fazendo a sua caminhada de fim de tarde. Respirei aliviada por não haver ninguém lá; não conseguiria explicar como foi a conversa com a minha mãe e tenho certeza que eles perguntariam.
Segui direto para o meu quarto, subindo as escadas e sentindo os joelhos fraquejarem. Estava exausta. Assim que entrei no quarto, tirei meu sobretudo e o larguei na minha poltrona que ficava em um dos cantos. Sente-me sobre a cama e tateei o interior da minha bolsa a procura do meu celular. Queria ligar para o meu irmão, pois ele era a única pessoa com quem eu conseguiria falar naquele momento. Tirei os sapatos e coloquei os pés na cama em seguida, deitando as costas no meu travesseiro. Disquei o número de Louis no meu iPhone e levei o aparelho até a orelha e esperei ele atender.
- Ahoi? – O idiota atendeu, me arrancando uma gargalhada.
- Aqui na França ainda atendem com “Alou.” A Inglaterra já te mudou tanto assim, irmãozinho?
- Eu só estou tentando animar as coisas, . “Alou” é muito sem graça. – Ele riu e eu pude ouvir uma voz desconhecida através do celular. – Como você está, pequena? Já se arrependeu de estar vindo pra cá?
- Tá brincando? Eu nunca estive tão certa! – Pressionei a têmpora com os dedos da mão livre, continuando. – Por falar nisso, como vai a procura do nosso lar?
- Já está tudo certo, . Achei o lugar perfeito... Não exatamente eu, já que tivemos uma ajudinha. Não posso dar detalhes, porque prometi que seria uma surpresa, mas você vê quando chegar. – Preciso dizer que não entendi nada do que Louis falou? Que mistério era aquele? Eu só havia perguntado sobre o nosso apartamento. – Cale a boca, Liam! Eu não vou te mostrar uma foto dela.
- O que está acontecendo aí? – Soltei uma risada um tanto alta ao escutar novamente aquela voz desconhecida, que eu presumi ser do tal Liam, e a resposta irritada do meu irmão. – Eu estou atrapalhado um encontro? Hmmm.
- HÁ HÁ HÁ. Muito engraçado. – Ironizou com a minha brincadeira. – Liam é um amigo que eu conheci na agência. Nós trabalhamos juntos e tenho a impressão de que você vai conhecê-lo.
- Só não conte mentiras ao meu respeito, por favor, ok? Ao menos não enquanto eu não estiver por perto e não puder me defender.
- Não posso prometer nada, irmãzinha. – Senti que ele estava sorrindo do outro lado da linha. – E quando você vem? No sábado?
- Na verdade, Lou, é por isso que eu liguei. – Estiquei as pernas sobre a cama e passei a encarar o teto. – Eu estive pensando em, talvez, quem sabe... Ir amanhã mesmo.
- Amanhã? Você vai conseguir arrumar as suas coisas a tempo? Por mim tudo bem, já que a casa está quase pronta... – Casa? Pra mim isso era novo, já que eu achava que dividiríamos um apartamento.
- É claro que sim! Nem que eu passe a noite inteira empacotando coisas. – Respondi rapidamente. Não queria que ele mudasse de idéia quanto ao “por mim tudo bem”.
- Então é só comprar a sua passagem e me falar o horário que eu vou te buscar na estação.
- Ótimo, Lou... – Suspirei, mordendo meu lábio inferior.
- Você está estranha, . Falou com a mãe hoje, né? – Sempre fiquei espantada com a forma que Louis me conhecia e podia notar que eu não estava bem apenas com o tom da minha voz.
- É, eu fui dar a noticia a ela. – Rolei os olhos, mesmo sabendo que ele não podia ver.
- E como foi? – Senti a preocupação em sua voz, talvez já sabendo qual fosse a minha resposta.
- Terrível é uma forma de definir. Ela pirou, como sempre. Mas hoje foi pior.
- Deixe-me adivinhar: Ela culpou o papai e disse que a Rach fez a sua cabeça?
- Quase isso! – Ri sem humor. – Ela me bateu.
- Ela fez o quê?! Essa mulher precisa de ajuda profissional. – Meu irmão estava bravo e se eu pudesse vê-lo, tenho certeza que a veia em seu pescoço estaria maior que o normal.
- Não foi uma surra, mas ela bateu no meu rosto. Tive que me segurar pra não revidar. Nós discutimos feio, Lou... E dessa vez não tem volta. – Funguei tentando engolir o choro mais uma vez. – Mas não quero falar sobre isso.
- Tudo bem, . – Ele respeitou o meu silêncio. – Só queria poder te abraçar agora.
- Shhh, não me faça chorar, seu meloso! – Falei manhosa, sorrindo. – Eu tenho que ir, ok? Minhas malas não vão se arrumar sozinhas. E diga ao Liam que eu mandei ‘oi’.
- Boa sorte com isso e tente só trazer o necessário. Nada de embalar todos os seus bichinhos de pelúcia. Principalmente aquele que me dá arrepios. Urrrgh. – Gargalhei e ele me acompanhou na risada.
- Ok, vou tentar. Juro.
- Então te vejo amanhã, pequena. Se cuide. – Ele se despediu.
- Te vejo amanhã! Luv ‘ya. – Desliguei o celular com um sorriso bobo nos lábios. Eu o veria no dia seguinte. Em Londres.
Minha tarde seria longa, então eu não tinha tempo a perder. Saí do quarto em direção ao banheiro, onde tomei um banho demorado. Precisava relaxar e nada como a água quente escorrendo pelo meu corpo. Só saí de lá depois que meus dedos estavam enrugados e escutei o ranger da porta da frente ao se abrir, ou fechar; não consegui identificar isso. Enrolei uma toalha branca no meu corpo e outra nos meus cabelos, em uma espécie de touca. Atravessei o corredor novamente e me tranquei no quarto. Não me dei ao trabalho de descer para ver quem havia chegado em casa, faria isso depois de empacotar pelo menos metade das minhas coisas. Sequei o corpo e vesti um pijama confortável: Um short de algodão azul claro e uma camisa do Nirvana que eu roubara de Louis meses atrás. Apenas penteei os cabelos e os deixei secar naturalmente.
Não fazia ideia de por onde deveria começar, então tentei organizar os meus pensamentos para então colocar as minhas coisas em ordem. Não tinha certeza do que levar, ou do que deixar pra trás. “Tente só trazer o necessário”, as palavras de Lou não saíam da minha cabeça. O que eu podia fazer se TUDO era necessário? Resolvi partir do começo. Algo que era de fato necessário: Roupas. Joguei a minha maior mala em cima da cama e a deixei aberta. Sem demora, comecei a tirar todas as minhas roupas de uma por uma e a colocá-las arrumadas na mala. Não me importava que ficassem amassadas, o que eu queria era que todas coubessem em um lugar só. Eu nunca tive muitas roupas, mesmo morando na capital da moda, então foi fácil esvaziar o guarda roupa em apenas uma mala. É claro que já deixei a minha roupa para a viagem do dia seguinte separada na mesinha de cabeceira. Coloquei os sapatos – e as minhas sapatilhas de dança – dentro de uma caixa de papelão e também separei o que usaria para viajar. Repeti com as bolsas o mesmo que havia feito com os sapatos. Bem, aquilo era o necessário. Coloquei a mala em um canto do quarto e empilhei uma caixa sobre a outra. Eu logo não teria mais espaço, já que o meu quarto era praticamente um cubículo onde só cabia a minha cama, um guarda roupa e alguns móveis menores. Na verdade, a casa inteira era assim, pequenina. Meus avós nunca foram muito ricos e a casinha em que eles moravam era o suficiente para os dois. Assim que meu irmão e eu nos juntamos a eles, meu pai ofereceu pagar por uma casa maior, mas ninguém aceitou. Então tivemos que dar o nosso jeito da melhor forma possível. O quarto de hóspedes ficou com o meu irmão e o escritório foi transformado em um quarto pra mim. Não posso dizer que era um quarto dos sonhos, mas também não tinha do que reclamar.
“TOC TOC”. A batida na porta me assustou e logo me pus a abri-la. Meu avô estava parado, me estudando com seus brilhantes olhos azuis escondidos por trás das lentes de seus óculos de leitura.
- Papa! Entra... Não vi o senhor chegar, acho que eu estava no banho. – Sorri nervosa, quase me enrolando com as palavras. Não queria magoá-lo por ter antecipado a minha partida. Dei espaço para ele entrar e o fitei enquanto passou por mim e viu as malas no canto.
- Não faz muito tempo que eu cheguei. A caminhada foi revigorante. – Ele seguiu até a minha cama e se sentou, me encarando. Não como se cobrasse uma explicação, apenas tentando entender o que estava acontecendo. – Não é meio cedo para arrumar as suas coisas, querida?
- Eu adiantei a minha ida, vovô... – Expliquei com calma. Ele não falou nada, apenas me olhou da forma que ele sempre fizera, com compreensão. Balançou a cabeça em afirmativa e eu continuei. – Parto amanhã, no trem da tarde. Já falei com Louis e está tudo certo.
- Não aguenta mais esperar para visitar a terra da rainha não é mesmo? – Ele sorriu de leve. – Ou quer se livrar do seu velho avô? – Apesar de ser uma brincadeira, senti um toque de melancolia em sua voz. Minha mãe era sua única filha e eles nunca foram muito ligados. Então vovô me tinha como a sua princesinha desde que eu me entendo por gente. Seria difícil dizer adeus, mesmo que eu não estivesse indo para tão longe assim.
- É claro que não, papa! Só eu sei o quanto vou sentir sua falta e da nana. Mas eu preciso ir... – Minha voz era manhosa, como se estivesse prestes a chorar. Caminhei até ele, mas não me sentei.
- Eu entendo, minha filha. Seu sonho está lá. E eu tenho certeza que será apenas o primeiro de muitos. – Agradeci por ele ter começado a falar, já que eu não saberia dizer mais nada. – Você vai brilhar, . Ainda mais. Nunca deixe ninguém te dizer o contrário. Muitos vão querer te deixar pra baixo, muitos não vão ser aquilo que você esperava. Mas não se deixe abalar. Seja a menina forte que eu sei que você é. Acima de tudo, não deixe os problemas mudarem a sua essência. Continue com o coração bom que você tem. E não se esqueça... Você sempre vai ter a sua casa aqui.
- Ah, vovô... – Não aguentei mais segurar o choro, não depois daquelas palavras que me tocaram tão profundamente. Ele se levantou e me abraçou. Me encolhi em seus braços e chorei como uma garotinha, sem me importar em molhar a sua camisa com as minhas lágrimas. Escondi o rosto em seu pescoço e ele acariciou meus cabelos, assim como fazia quando eu era menor. Perdi as contas de quantas vezes havia chorado em seu colo, especialmente por causa de brigas com a minha mãe. – Eu te amo tanto.
- E eu amo você, minha menina. – Percebi pela sua respiração que ele também chorava. Não tão desesperadamente quanto eu, mas o suficiente para molhar o seu rosto e embaçar os óculos. – Você já reservou a sua passagem? Eu posso fazer isso por você.
- Ainda não. Você faria isso? Preciso arrumar mais algumas coisas por aqui... – Desfizemos o abraço e eu funguei, limpando meus olhos. Ele fez o mesmo, aproveitando para passar a barra da camisa nos óculos.
- Vou ligar para a estação e resolver tudo. – Charles foi até a porta e me deu um último aviso antes de sair: - Sua avó está fazendo o jantar. Não demore muito.
Capítulo III
- , querida? Levante, está na hora... – A voz ainda era distante, mas eu sabia que era a minha avó Jolene tentando me acordar.
- Só mais cinco minutinhos, nana. – Pedi com manha, puxando o cobertor para cima da minha cabeça. Senti ela se mexer na cama e passar a mão na minha perna por cima o cobertor.
- O almoço já está pronto e você não pode demorar muito. Hoje é o grande dia! – Ela me balançou devagar, encorajando-me a levantar.
- Tudo bem, nana, já estou indo. – Descobri o rosto e a olhei com os olhos semi-serrados, ainda me acostumando com a claridade.
Minha avó sorriu abertamente e me deixou sozinha no quarto. Aos poucos fui me levantando e esticando os braços para me espreguiçar. Finalmente eu estaria viajando para Londres e começando uma nova etapa da minha vida. Eu havia passando a noite inteira e boa parte da madrugada anterior terminando de arrumar as coisas que eu levaria. Como alguns ursinhos de pelúcia, um álbum de fotografias com as minhas imagens preferidas, meus perfumes, maquiagem, carregadores, notebook e dois livros que ainda estava lendo. Na minha bolsa de mão estava levando a câmera fotográfica, iPod, carteira, documentos necessários para viajar, celular e mais aquelas coisinhas que toda mulher precisa ter em caso de emergências. Com toda essa arrumação já deve dar pra perceber que eu estava caindo de sono e cheia de dores no corpo de tanto carregar caixas pra cima e pra baixo. Pelo menos as coisas já estavam dentro do carro e prontas pra partir.
Assim que finalmente levantei da cama, senti tudo girar. Me apoiei na parede para não cair no chão e esperei a minha vista clarear novamente. Sempre odiei quando isso acontecia. Segui para fora do quarto e entrei direto no banheiro. Minhas coisas não estavam mais lá, o que era estranho de certa forma. E a toalha de Louis não estava jogada no chão, o que era mais estranho ainda. Engraçado como a gente acaba se acostumando com a rotina e nem percebe. Assim como todas as manhãs, fiz a minha higiene e desci para a cozinha em silêncio, ainda de pijamas. Pude escutar Charles falando algo para a minha avó, mas não conseguia entender o que era. Curiosa como sou, me aproximei mais um pouco da porta, torcendo para não ser notada. Infelizmente o ranger do piso de madeira me delatou e fez o assunto na cozinha morrer.
- Aí está ela! – Vovô me cumprimentou, puxando a cadeira ao seu lado para que eu me sentasse.
- Bom dia. – Sorri para ele e me sentei. – O cheiro está maravilhoso, nana. O que é?
- Não achou que eu fosse deixar você partir sem uma última refeição francesa, não é? – Ela sorriu daquele jeito infantil que me lembrava a minha mãe. Abaixou-se em direção ao fogão e usou aquelas luvas térmicas para tirar o prato principal do forno. Minha boca salivou assim que eu vi as codornas recheadas, rodeadas por batatas assadas cobertas por queijo.
- Não acredito! – Quase caí da cadeira, o que fez os outros dois rirem.
- Pode se servir, querida. – Jolene apontou para a travessa com as codornas e eu comecei a me servir. Praticamente enchi o prato de batatas e metade de uma codorna.
- Está divino! – Exclamei com a boca cheia ao morder um pedaço da comida.
Nessas horas eu não parecia a bailarina disciplinada que era; não quando tinha comida em jogo.
- Que bom que você gostou, . Mas coma devagar, pra aproveitar. Já que não estarei lá pra cozinhar seus pratos preferidos pra você. – Logo ela e meu avô também se serviram, mas comeram bem menos que eu.
- Estou pensando seriamente em te levar pra Londres comigo, vó. – Dessa vez já estava com a boca vazia e cortava um pedaço de batata com queijo para levá-lo até a boca.
O almoço seguiu tranqüilo e nós três conversamos como se fosse uma quinta feira normal. Eu repeti o prato e ainda comi dois pedaços da torta de maçã com canela que vovó fizera para sobremesa. Eu estava me sentindo muito gorda pela quantidade de comida que ingeri naquele almoço, mas tinha uma boa desculpa. Como provavelmente passaria fome em Londres por não saber cozinhar (e muito menos meu irmão), me alimentei o melhor que pude; pelo menos assim eu demoraria mais pra entrar em desnutrição. E, de alguma forma, aquilo fazia muito sentido na minha cabeça. Depois de ajudar vovó a lavar os pratos e arrumar a cozinha, eu segui para o banheiro e tomei um banho rápido. Em aproximadamente meia hora já estava arrumada para ir embora. A única maquiagem em meu rosto era o lápis preto e o rimel forte que usei para marcar meus cílios longos. Meus cabelos ainda estavam um pouco úmidos, por isso os deixei cair sobre as minhas costas, se desenrolando em pequenas ondulações nas pontas.
- ? Está pronta? Temos que ir. – A cabecinha branca do meu avô apareceu na porta e eu olhei mais uma vez para o quarto que havia sido meu nos últimos sete anos. Assim como o banheiro, o quarto já não tinha mais as minhas coisas. A não ser por alguns brinquedos que eu deixara na prateleira, ou pelos cobertores e travesseiros bagunçados sobre a cama que permaneceriam com o meu cheiro por algum tempo.
- Estou pronta sim. Só precisava me despedir. – Sorri com certo aperto no coração. Peguei a minha bolsa e a pendurei no ombro esquerdo.
- Esse ainda vai ser o seu quarto, . – Ele me esperou sair para fechar a porta atrás de nós.
- Sei disso, papa. – Sorri mais uma vez e ele passou o braço em volta dos meus ombros.
Entrei no banco e trás do carro de meu avô, sem escutar direito o que a minha avó estava falando. Os dois conversavam animadamente no banco da frente e eu só conseguia observar a casa que havia sido o meu lar se afastar cada vez mais na medida em que o carro acelerava. Meu trem saía as 17hrs em ponto, então eu só tinha mais quarenta minutos aproximadamente pra chegar à estação. Para a minha sorte, vovô conhecia um caminho que não estava tão engarrafado, então rapidamente chegamos até o local. Um funcionário logo veio ajudar a descarregar o carro e tenho certeza que ele ficou espantado com a minha quantidade de bagagem, mas não falou nada por educação. Ele e Charles seguiram para o guichê onde deveriam despachar as malas e minha avó e eu seguimos em busca do meu trem.
“Plataforma 9¾” era o que dizia na minha passagem. Faltavam vinte minutos para as 17hrs e finalmente encontrei o meu trem. Ele era daqueles que a gente vê nos filmes, enormes e cheios de janelas que me permitiam ver o que acontecia do lado de dentro. Vovô logo se juntou a nós e começamos as despedidas.
- Se cuide, meu amor. E não se esqueça de comer. Ou de se cuidar. – Vovó falou enquanto me abraçava com força. – E nos avise assim que chegar lá.
- Pode deixar, nana. – A abracei de volta, querendo guardar na memória o seu cheiro amendoado e o toque que seus cabelos brancos faziam em meu rosto. – Fiquem bem. Vocês dois! – Me separei dela e parti para o meu avô.
- Nós vamos ficar bem sim, não se preocupe. E fique de olho no seu irmão, porque você sabe como ele é. – Nós dois rimos e nos abraçamos. – Eu me lembro de quando você precisava ficar na ponta dos pés para me abraçar assim. – Ele falou baixinho e eu apertei ainda mais o abraço, fechando os olhos por uns segundos. Sentiria muita falta daquele abraço; nós dois sentiríamos.
- Tenho que ir... – Suspirei e parti o abraço ao escutar a última chamada para o meu trem. Peguei a minha passagem na bolsa e meu avô me entregou um embrulho com um laço vermelho no topo. – O que é isso, papa?
- Apenas uma lembrancinha que eu e a sua avó achamos que você vai gostar. – Meu sorriso era claro, ainda mais com a minha curiosidade crescendo. – Agora vá! Boa viagem, .
Dei mais um beijo em cada um e guardei o presente em minha bolsa. Vovô me fez prometer que só o abriria depois que o trem saísse da estação. Não discuti, mesmo que estivesse morrendo pra saber o que era. Nunca fui boa em despedidas, então só assoprei um beijo para os dois e sorri visivelmente feliz. Saltei para dentro do trem e a porta de ferro se fechou com força atrás de mim. A partir daquele momento, a minha vida mudava completamente. Eu deixava de ser uma garota e começava a me tornar uma mulher. O funcionário do trem me guiou até a minha cabine e eu me acomodei. A cabine particular possuía duas fileiras de banco, uma em frente à outra. Parecia bastante com a cabine do expresso de Hogwarts; o que mudava era a climatização e as cores, já que os bancos eram azuis e as ‘paredes’ acinzentadas. Eu também recebi um controle remoto para adaptar a luz e a temperatura do ambiente de acordo com o meu gosto. Achei tudo impressionante, principalmente por ser uma estrutura enorme para apenas duas horas e meia de viagem. Sentei em um dos bancos e tirei minhas sapatilhas. Para ficar ainda mais confortável, estiquei as pernas no banco da frente. Assisti o trem deixar a estação para trás e mergulhar em um túnel escuro. Meus olhos foram se fechando e sem me dar conta eu adormeci.
Um apito alto me despertou de meu sono e com o susto quase fui ao chão. Abri os olhos com desespero, me perguntando onde estava e o que estava acontecendo. Foi então que a realidade bateu. Eu havia dormido a viagem inteira e já estava em Londres. Meu irmão estaria me esperando em algum lugar do saguão e a minha aventura estava começando. Levantei rápido demais, mais uma vez, e senti o mundo girar ao meu redor. “Damn it! Eu tenho que parar de fazer isso.” Pensei sozinha, procurando meus sapatos. Como eles haviam sumido assim? Sem demora descobri seu paradeiro e os calcei. Com a mesma rapidez, me pus para fora da cabine e segui o fluxo de pessoas que se apertava pelos corredores para sair do trem.
Quando finalmente pude respirar o ar londrino, um sorriso até então desconhecido apareceu em meus lábios. Era um sorriso de esperança, animação e nervosismo combinados em um só. Meus olhos correram pelas pessoas que estavam por ali, procurando um rosto conhecido. Andei de um lado para o outro por aproximadamente quinze minutos e nada do meu irmão aparecer. Pra piorar? Ele não atendia as minhas ligações. Eu já estava com a minha montanha de coisas empilhadas em dois carrinhos e estava sendo impossível me mover entre os passageiros que embarcavam e desembarcavam por ali.
- Com licença... – Senti um toque em meu ombro e me virei para encarar aqueles olhos castanhos que me deixaram paralisada por uns segundos. – Você é a ?
- Sou eu sim... – Respondi ao retomar a minha consciência, já imaginando que tinha derrubado algum documento e esse adorável londrino o achou e me procurou para devolver.
- Ainda bem. Você é a quarta garota que eu pergunto isso e não estava afim de ser olhado como um louco de novo. – Ele bagunçou os cabelos e coçou a nuca, ainda sem me fazer entender completamente o que estava acontecendo.
- Não quero parecer mal educada, mas você seria...? – Mordi meu lábio inferior, esperando que o menino estranho, e terrivelmente charmoso se é que posso acrescentar, se apresentasse.
- Sou Liam, Liam Payne. Seu irmão não avisou que eu viria te buscar? – Mais uma vez ele pareceu nervoso, mas já foi para o meu lado e pegou um dos carrinhos, me deixando com o mais vazio.
- Liam! É claro! – Eu sabia que conhecia a voz dele de algum lugar, mas achava que fosse de algum sonho, ou coisa parecida. Nunca me lembraria de uma voz que escutei ao fundo em uma ligação com o meu irmão. – Não, o Louis não avisou. Aquele estrupício. – Arranquei uma risada de Liam e desejei ser engraçada só pra escutar o seu riso mais uma vez.
- Ele terminou se enrolando no último ensaio e me ligou pedindo pra vir te buscar. – Explicou enquanto caminhávamos até o estacionamento. – Imagine a minha frustração por não saber quem procurar. Ele nem ao menos quis me mostrar uma foto sua. E agora eu imagino o por quê. – A sua última frase saiu mais como um sussurro que eu provavelmente não deveria ter escutado. Eu senti as minhas bochechas queimarem, ainda mais pela forma que ele me encarou em seguida.
- O Lou não tem jeito mesmo. Imagine dezenove anos convivendo com isso. – Foi a minha vez de rir e ele me acompanhou. Chegamos a um Ranger preto e Liam tratou de abrir o porta-malas e começar a colocar as minhas coisas lá dentro. Eu tentei ajudar, mas ele me olhou com cara feia fazendo-me apenas esperar ele carregar o carro.
- Acho que podemos ir agora. – Ele sorriu enquanto abria a porta do passageiro para que eu entrasse.
- Você sabe onde eu vou morar? Meu irmão está fazendo mistério desde que chegou aqui. – Esperei Liam dar a volta e entrar no carro para lhe perguntar. Talvez pudesse me dar mais informações do que as que eu já tinha.
- Sinto muito, , mas ele me fez prometer que eu não contaria. – Como assim ele já veio me chamando pelo meu apelido? – Você vai ver assim que chegarmos lá. É um pouco longe, então pode ligar o rádio se quiser.
- Poxa. Não pode me contar nadinha? – Me virei na sua direção e fiz o meu melhor biquinho.
- Não adianta! Não vou nem te olhar. – Liam riu e olhou firmemente para a estrada a nossa frente. Dei de ombros e comecei a mexer nos botões do rádio, procurando uma estação. – Tente a 121.3.
- 121.3, vamos ver... – Atendi o seu conselho e girei o botão até sintonizar. A voz do locutor anunciou algum quadro da programação e eu aguardei a nova música começar.
- Eu amo essa música! – Ele começou a batucar os polegares no volante quando a música Thousand Miles da Vanessa Carlton começou a tocar. – Making my way downtown, walking fast. Faces passed and I’m home bound. (Fazendo meu caminho para o centro da cidade, andando rápido, rostos passaram e eu estou perto de casa.) – Ele começou a cantar e eu não agüentei segurar o riso. – Eu sei que você conhece essa música, . Cante comigo!
- Staring blankly ahead, just making my way, making my way through the crowd... (Olhando para frente sem expressão, fazendo o meu caminho, fazendo meu caminho pela multidão) – Me rendi e entrei na brincadeira. Nessa primeira parte ele me deixou cantar sozinha. Mas logo me acompanhou com uma empolgação que me fez rir mais ainda: - But you know I’d walk a thousand miles if I could just... (Mas você sabe que eu andaria mil milhas se eu pudesse apenas...)
-
No final da música nós estávamos rindo como dois idiotas e conversamos durante o resto do caminho todo. Liam parecia sério no começo, mas logo percebi que ele era um palhaço. E mesmo passando aquela imagem de responsável e centrado, ele conseguia ser muito divertido até quando falava besteira ou fazia brincadeirinhas que eu não acharia graça se fosse outra pessoa em seu lugar.
Não vimos o tempo passar e eu só notei que havíamos chegado quando Liam parou o carro em frente a um enorme portão de ferro. Ele falou algo com o porteiro que nos deixou entrar em seguida. Eu o olhei sem entender nada e ele só riu pra mim, ainda sem explicar nada. Eu olhei pela janela, e notei que estávamos entrando em um condomínio fechado muito luxuoso. A noite já havia caído, então eu não conseguia ver direito as fachadas das mansões, mas tinha certeza que uma era mais bonita que a outra. Continuamos andando até Liam virar à direita e entrar numa rua um pouco mais afastada. Ele estacionou o carro em frente a uma casa de dois andares e, pelo que deu pra perceber, as paredes do lado de fora possuíam um tom que variava entre o marrom e o bege. Um caminho de cimento, que ligava a calçada até as escadas que levavam até a pequena varanda de entrada, dividia uma espécie de jardim. O poste aceso iluminava boa parte da grama verde e mostrava algumas flores que estavam se fechando. O lugar era tão lindo que me fez imaginar o que me esperava lá dentro. Nem percebi Liam saindo do carro e andando até o meu lado para abrir a minha porta.
- Você mora aqui? – Perguntei ao descer do carro, ainda encantada com tudo. Ele deveria ser muito rico pra morar em um lugar daqueles.
- Eu não, mas você sim. – Liam sorriu divertido, achando graça da minha cara de espanto.
- Eu?! Como assim, eu? – Ainda não conseguia acreditar, mas até que fazia sentido se eu fosse levar em conta todo o mistério que os meninos fizeram em torno da minha nova casa.
- Acho que o Louis já está lá dentro. Pode ir conhecer o lugar enquanto eu pego as suas coisas. – Não sabia se todos os ingleses eram tão cavalheiros assim, ou se Liam era realmente educado. Eu poderia ter tirado as coisas do carro e o ajudado a levar tudo pra dentro, mas ele não deixou novamente.
O agradeci com um sorriso e praticamente corri até a porta de entrada. Aparentemente aquela era a minha casa, mas eu ainda estava preparada para abrir a porta e entrar, então toquei a campainha e escutei as risadas que soavam do lado de dentro pararem instantaneamente. A próxima coisa que ouvi foram passos vindos em minha direção e aguardei a porta abrir.
- ! – Meu irmão gritou e eu me joguei em seus braços, literalmente me pendurando em seus ombros. Ele me abraçou pela cintura e me girou no ar. – Que saudade, pirralha.
- Loooooooooooou, nem acredito que finalmente cheguei. – O apertei e escolhi ignorar o pseudo xingamento. A viagem fora rápida, mas ainda assim tinha me cansado. Sei que posso parecer uma preguiçosa, já que dormi o trajeto inteiro, mas se levarmos em consideração os acontecimentos anteriores, eu tinha motivos reais para estar cansada. – Você tem tanta coisa pra me explicar! De onde saiu essa casa? Ganhou na loteria, por acaso?
- Wow, wow, calma, ok? Temos tempo, . Porque não curte um pouco o lugar? – Meu irmão me colocou no chão e eu olhei em volta. A casa era ainda mais incrível por dentro. – Antes de começar o tour, tem alguém aqui que estava louco pra te ver. – Louis olhou para alguém atrás de mim e eu logo me virei na direção do seu olhar.
Um menino relativamente mais alto que eu estava parado na entrada da sala, com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans e seus olhos verdes me fitavam com curiosidade. Seu cabelo cacheado estava maior e mais bagunçado do que eu costumava me lembrar, mas Harry continuava o mesmo. Aquele rosto de bebê e o sorriso que derretia qualquer um...
- Bem vinda, . – Ele disse simplesmente, me fazendo sorrir. Fui até onde ele estava e o abracei pela cintura. Como era mais alto que eu, me envolveu pelo pescoço e eu me escondi em seu peito. Ficamos naquela espécie de abraço de urso até Louis interromper.
- Odeio atrapalhar o reencontro de amigos de infância, mas Liam e eu precisamos de uma ajudinha. – Ele começou, fazendo Harry me soltar. – Isso porque eu falei pra trazer apenas o necessário.
- Você nunca para de reclamar, Lou? Vai ficar velho cedo desse jeito. – Eu brinquei, fazendo Harry e Liam rirem, já que este último tinha acabado de entrar em casa arrastando a mala que continha as minhas roupas.
- Só vá conhecer a casa, ok? – Meu irmão fez uma careta e puxou Harry pelo braço, guiando-o para fora.
Fui deixada sozinha em frente à porta de entrada da casa e olhei em volta novamente, dessa vez prestando mais atenção aos detalhes. Todo o piso do primeiro andar era coberto por uma madeira escura, o que dava um toque sofisticado ao lugar. Em frente à porta ficava um pequeno hall que levava à escada que daria no andar de cima. À direita do hall principal se encontrava a sala: Era um cômodo espaçoso e aconchegante. Uma parede era dominada completamente por um sofá em forma de “L” que parecia mais confortável até que a minha antiga cama. Em frente a ele, encontrei uma mesinha de centro trabalhada em uma madeira clara com um tampo de vidro. Na parede oposta ao sofá estava a estante onde uma TV de tela plana chamava a atenção e uma série de CDs e DVDs estavam organizados em uma parte de vidro. À esquerda do hall estava a sala de jantar e mais adiante a cozinha perfeitamente equipada com todos os utensílios que um chef gastronômico usaria para desenvolver as suas receitas mais complicadas. Aquele último cômodo me surpreendeu um pouco, já que eu duvidava que alguém estaria realmente cozinhando algo mais complicado que ovos mexidos e miojo.
Subi correndo para o segundo andar e me deparei com cinco portas. A primeira porta da esquerda deveria ser o quarto de Louis, por causa do pôster do Busted que ocupava metade do espaço. A porta seguinte era uma espécie de quarto de hóspedes que parecia estar sendo ocupado no momento, o que explicava as malas atrás da porta e a cama bagunçada. Provavelmente Harry ou Liam estavam ficando por ali. A terceira porta ficava de frente para a escada e era um banheiro. Ao lado direito, a primeira porta levava a um quarto totalmente bagunçado. Não era exatamente o quarto de uma pessoa, e sim um “guarda tralhas”. Dei de ombros e segui meu passeio, parando em frente à última porta.
Algo me dizia que aquele era o meu quarto; claro, algo além da estrela prateada que estava pendurada na porta. Segurei firme na maçaneta e a girei, me preparando para o que poderia estar ali dentro. Nem todos os suspiros do mundo fariam jus ao que estava escondido atrás daquela porta de madeira branca. O quarto era simplesmente maravilhoso. Tinha pelo menos o dobro do tamanho do meu em Paris e a decoração era a minha cara. As paredes tinham um tom azul bem claro, lembrando o céu. Diferente do resto da casa, o chão não era coberto por madeira, e sim por um carpete macio. O teto era branco e a luminária que pendia dele parecia um lustre de castelos de contos de fadas. Minha cama de casal ficava no centro do quarto, com a cabeceira encostada na parede. Ela parecia uma montanha de travesseiros e eu mal podia esperar pra me jogar no meio de todos eles. Em frente à cama encontrei um closet. Sim, um closet! Ele tinha mais espaço do que eu tinha roupas, mas isso poderia ser resolvido em uma tarde na Oxford Street, a melhor rua para compras em Londres. No quarto eu também encontrei uma escrivaninha e uma cadeira próxima a ela. Prateleiras vazias também esperavam pra ser preenchidas pelas coisas que ainda estavam empacotadas. A porta ao lado do closet escondia um banheiro de tamanho médio que seria só meu. Meus olhos brilhavam ao olhar tudo aquilo e eu não sabia o que fazer primeiro. Deixei a minha bolsa e o cardigan que usava dentro do closet e assim que voltei para o quarto encontrei os três garotos espremidos na porta.
Cada um sorria mais que o outro e eu só consegui rir daquela cena.
- E então, gostou? – Louis parecia ansioso pela minha resposta.
- Eu amei. É o quarto perfeito. – Suspirei e sentei na minha cama. Meu irmão se aproximou e se sentou ao meu lado. Harry fez o mesmo, ocupando o outro lado. Liam continuou parado na porta, apenas nos observando.
- Você deve agradecer à Rachel. A casa foi um presente do Mark, mas foi ela quem decorou tudo. – Ainda achava estranho meu irmão se referir ao nosso pai pelo nome.
- Eu sabia que você não tinha feito tudo isso sozinho. – O soquei no braço e me virei para Harry. – Mas achei que você tinha ajudado.
- Na verdade, quem achou essa casa pra vender fui eu. Então de certa forma eu ajudei sim. – Ele sorriu daquele jeito que eu tanto amava e encostou a cabeça no meu ombro, relaxando seu corpo em cima de mim e nós dois quase caímos.
- Hazza, isso faz cócegas! – O empurrei com toda a minha força e gargalhei. Acabei caindo pra trás, com as costas deitadas na cama.
- Louis, você está pensando no mesmo que eu? – Harry e meu irmão trocaram olhares e eu tinha medo do que estava por vir.
- Em nome dos velhos tempos. – Ele pareceu dar de ombros, mas três segundos depois eu só senti quatro mãos me atacando. Ele e Harry começaram a fazer cócegas nas minhas costelas e eu só consegui gritar.
- PAREM, VOCÊS DOIS! – Berrei em meio a gargalhadas histéricas. Eu me debatia, tentando me livrar das mãos ligeiras daqueles garotos. Aquilo até parecia um dejavu, me fazendo lembrar na minha pré-adolescência. Harry e eu nos conhecemos há alguns anos atrás, quando ainda éramos praticamente crianças, em uma das viagens que fiz para visitar meu pai. Desde então, sempre que eu ia para a Inglaterra ou ele para a França, nós nos encontrávamos e era como se não tivéssemos ficados separados por meses. Ele, meu irmão e eu éramos os três mosqueteiros; melhores amigos e praticamente inseparáveis. Os dois tinham essa mania irritante de me fazer cócegas. Talvez por eu ser meio sensível com essas coisas e sempre acabar rolando no chão com os dois em cima de mim. – EU... SEM AR...
- VOCÊ SABE O QUE FAZER PRA GENTE PARAR! – Louis exclamou, também rindo muito.
- NUNCA. – Eu não me renderia. Ainda tinha esperanças de me livrar deles quando comecei a tentar sair da cama. Harry percebeu isso e prendeu as minhas mãos contra o colchão, as segurando acima da minha cabeça. Não podia me defender, já que ele era bem mais forte que eu, então Louis tinha o caminho livre.
- DESISTA! – Foi a vez de Harry falar, apertando ainda mais os meus pulsos sem me machucar.
- OK, OK! – Tentei retomar o fôlego, já não agüentando mais rir. – Louis, o magnífico e Harry, o maravilhoso são os reis do mundo! – Falei o mais rápido que pude, não sabendo se ria das últimas cócegas ou da frase ridícula que eu era obrigada a falar sempre que algo assim acontecia.
- Eu não escutei isso. – Liam se pronunciou ainda parado na porta do quarto. Os outros dois meninos estavam rindo e ele balançava a cabeça em negação.
- Também acho isso ridículo! – Me defendi, voltando a sentar na cama e arrumar a minha roupa, já que a minha blusa parecia ter subido até o pescoço.
Fomos interrompidos pelo som da campainha tocando. Era o entregador da pizza que os meninos haviam pedido. Eu estava com tanta fome que poderia comer uma inteira sozinha. Nós quatro descemos juntos e eu aproveitei para conhecer melhor a cozinha, descobrindo onde os copos e pratos ficavam guardados. Comemos as três pizzas e os meninos deixaram o último pedaço pra mim, o que eu achei muito fofo. Eles me chamaram pra assistir um filme, mas eu estava cansada demais. Me despedi de cada um e subi para o meu quarto. Tomei um banho demorado no MEU banheiro e coloquei o primeiro pijama que consegui tirar da mala. Não estava afim de arrumar todas as minhas coisas naquele momento, muito menos bagunçar a mala procurando um pijama bonitinho. Optei por uma calça cinza de moletom e uma regata branca. Deitei na cama e nem me dei ao trabalho de puxar o cobertor; apenas me joguei em cima dela e cinco minutos depois caí em um sono profundo.
Capítulo IV
Devia passar das quatro horas da manhã e eu rolava de um lado para o outro na cama sem conseguir voltar a dormir. Não sei exatamente o que me acordou, mas era a falta de sono que me mantinha acordada. Eu estava entediada, então me sentei na cama e bufei. Olhei em volta procurando o meu celular e foi aí que me ocorreu... Eu não havia ligado para os meus avós, avisando que tinha chegado bem. Eles deveriam estar tão preocupados! Saí da cama devagar, evitando aquela tontura chata, e me dirigi até o closet. Procurei a minha bolsa e a puxei de qualquer jeito, fazendo-a virar e derrubar tudo que estava dentro dela no chão. Fiz uma careta de irritação e me abaixei, catando tudo de qualquer jeito e colocando dentro da bolsa novamente. A sensação de que estava esquecendo de algo começou a me perturbar, mas dei de ombros e peguei o meu celular do chão. Não deveria ser nada importante.
Três chamadas não atendidas; ótimo. Eu podia até escutar a voz de minha avó falando que eu só não esquecia a cabeça porque estava grudada ao pescoço. Não gostava daquela brincadeira, mas ela estava certa. Além de curiosa, eu era extremamente esquecida e desligada. Já era tarde, principalmente por ser uma hora mais tarde em Paris, então deixaria pra ligar depois do almoço. Assim eu teria mais tempo pra inventar alguma desculpa.
Decidi ir até a cozinha e preparar um chá de pêssego, já que ele sempre me fazia dormir quando eu acordava no meio da noite. Fiz um coque alto, amarrando com o meu próprio cabelo e abri a porta devagar para não fazer barulho e acabar acordando alguém. O corredor estava vazio e silencioso. Caminhei devagar até a escada sem acender luz nenhuma e continuei o meu caminho para o andar de baixo. Antes de chegar à cozinha, notei que a luz da TV da sala estava acesa e mudei o meu percurso, indo até lá. Na medida em que me aproximava, o som de tiros ficava mais alto, o que me fez reconhecer um jogo de vídeo game. Liam estava sozinho no sofá, tão entretido com a sua missão que nem notou a minha presença ali. Ele fazia caras e bocas, resmungando alguma coisa quando não conseguia fazer o que queria e ria em uma espécie de “HAHA” quando completava seu objetivo. Eu poderia ficar ali o observando a madrugada inteira. A forma como ele parecia não se importar com a opinião que os outros tinham sobre ele me encantava. Eu adoraria ser assim, mas o meu perfeccionismo não me permitia escutar uma crítica e deixar pra lá.
- Sabia que é feio espiar os outros? – Eu nem vi quando ele pausou o jogo e se virou para me encarar com aquele sorriso.
- Desculpa, eu não queria te atrapalhar. – Falei sem jeito, torcendo pra que ele não tivesse percebido quanto tempo eu passei só olhando pra ele.
- Não seja boba, . É claro que você não me atrapalha. – Liam bateu no espaço vazio ao seu lado, me chamando para sentar. – Perdeu o sono também?
- Completamente. – Ri e fui me juntar a ele no sofá, sentando onde havia indicado.
- Quer jogar? – Apontou para o outro console do vídeo game.
- Call Of Duty não é muito o meu estilo de jogo. – Coloquei as pernas pra cima do sofá, encostando o corpo em uma almofada.
- Tenho Guitar Hero também. – Ele sorriu como se quisesse me persuadir e eu preciso dizer que conseguiu?
- Agora sim você está falando a minha língua! – Bati palmas silenciosas em animação e concordei em jogar com ele.
- Você quer jogar com a guitarra ou controle? – Liam levantou do sofá e foi trocar o jogo. Notei que ele não usava as mesmas roupas de quando foi me buscar na estação. Estava vestindo uma bermuda e um casaco; julguei que estivesse sem camisa, já que o zíper do casaco não estava completamente fechado e eu podia ver uma parte do seu peito descoberto.
- Guitarra, sempre. – Sorri, tentando espantar pensamentos pecaminosos que não faziam sentido algum e eram culpa dos hormônios.
- Aqui está a sua... – Ele me entregou a minha guitarra e eu passei a faixa preta por cima de meus ombros, me sentando direito no sofá. – Qual música você quer? Essa aqui é bem fácil.
- Pode escolher a música que quiser. – Como assim aquela era bem fácil? Será que ele achava que eu era ruim? Liam me olhou de esguelha e sorriu.
- Essa é a minha preferida. – Escolheu a música que tinha um maior número de trocas e a mais rápida. – Pode colocar no nível fácil, não tem problema. Essa música é difi... – Não o deixei terminar a frase e selecionei o nível expert.
- O que ia dizendo? – Perguntei, sorrindo cínica. Ele me olhou debochado e escolheu o mesmo nível no maior estilo “Challenge accepted”.
Nós dois rimos e a música começou. Nenhum olhava para o outro e eu quase não respirava. Meus dedos mexiam-se em sincronia, apertando os botões coloridos o mais rápido que podia. Fui a primeira a errar uma sequência e aquilo me irritou profundamente. Xinguei internamente ao escutar a comemoração de Liam. Ele estava na frente e eu não podia permitir aquilo. Concentrei-me ainda mais, evitando até mesmo piscar os olhos.
- AHÁ! – Comemorei ao conseguir um bônus e ver o menino ao meu lado errar a sua sequência.
- Não, não, não! – Reclamou, me fazendo rir ainda mais.
- E aqui vem o solo final... – Falei mais pra mim do que pra ele e respirei fundo. Era a última parte e a mais longa. Qualquer errinho poderia custar o jogo. Nós dois estávamos praticamente empatados e aquela seria a decisão. Meu dedo mindinho da mão esquerda segurou um botão, e o manteve pressionado enquanto outros dois se mexiam alternando entre um botão e outro. Minha mão doía, mas eu não podia perder. Só precisava aguentar mais um pouco.
- Outch... – Liam estremeceu ao meu lado e errou uma troca. Aquilo me fez disparar na frente do placar e eu gargalhei alto.
- VICTORY! – Comemorei com animação, levantando do sofá e pulando sem parar. A TV mostrava claramente as mensagens: “YOU WIN” no meu lado da tela, e “YOU LOSE” no lado dele.
- Nãaaaaaaao! – Ele também saiu do sofá, mas caiu de joelhos no chão. Escondeu o rosto nas mãos e fingiu chorar. – Como serei capaz de viver com essa derrota?
- Isso é pra mostrar que você não pode subestimar as pessoas! – Ainda estava rindo e dançando com a minha vitória, mas devo admitir que fiquei com pena dele.
- Revanche! Eu quero uma revanche. – Ele levantou do chão e ficou de pé. Eu aceitei a revanche e fiquei ao seu lado; também não sentaria.
- Você é que sabe. – Gargalhei, tendo a certeza que ganharia de novo. – Mas dessa vez eu escolho a música.
Escolhi Move Along, do The All American Rejects. Não era uma música muito difícil, mas eu a adorava. Os primeiros acordes começaram e nós dois tocamos em sincronia. Parecia até que nós éramos de uma banda. Eu me perdi em algumas partes porque me empolguei demais e comecei a cantar.
- And even when your hope is gooooone (E mesmo quando a sua esperança se foi), move along, move along just to make it through (siga em frente, siga em frente só pra superar). – Mexi o quadril em uma dancinha animada. Segui cantando a música até ficar sem ar e foi quando Liam me substituiu.
- When all you got to keep is strong, move along (quando tudo que você tem pra guardar é forte), move along like I know you do (siga em frente como eu sei que você faz). – Ele cantou a parte lenta da música, sem o acompanhamento da música, e eu percebi o quanto a sua voz era incrível. Soava como veludo e eu notei que ele estava cantando de verdade. Quero dizer, não era como ele havia cantado no carro, como uma brincadeira. Não consegui mais prestar atenção no jogo o que rendeu na vitória de Liam.
- Isso não vale! – Me joguei no sofá, cruzando os braços e fazendo bico.
- É claro que vale. Foi uma vitória justa. – Ele também se sentou no sofá, mas virado de frente pra mim.
- Você me distraiu, o que não é justo. – Deixei a guitarra em cima da mesinha de centro e fitei as minhas próprias mãos.
Deixamos o jogo de lado e fomos para a cozinha, onde eu faria chá gelado para nós dois. Liam me contou bastante sobre ele, sem se importar com as minhas perguntas curiosas. Descobri que ele não era de Londres, e sim de uma cidadezinha chamada Wolverhampton. Tinha duas irmãs chamadas Nicola e Ruth e não via sua família há alguns meses, mas morria de saudades. Nosso gosto era bastante parecido, já que ele adorava desenhos de animados e filmes da Disney, assim como eu. Sem falar do nosso gosto musical, que era quase o mesmo. Conversamos sobre super heróis e programas de TV. Sua série preferida também era F.R.I.E.N.D.S e entramos em uma discussão quando ele começou a defender o Ross, alegando que ele não errou em dormir com a moça da copiadora já que eles estavam dando um tempo, e eu defendi a Rachel com unhas e dentes. Liam me contou que veio a Londres para trabalhar na mesma agência fotográfica que o meu irmão e foi assim que eles se conheceram. Como ainda não tinha um lugar pra morar e ficar hospedado tanto tempo e um hotel estava saindo caro demais, Louis o convidou para passar um tempo com a gente.
O chá já estava pronto e eu nos servi em duas canecas. Sentamos lado a lado na bancada americana da cozinha e eu dei o primeiro gole no chá gelado de pêssego.
- Está bom? – O perguntei, repousando a minha caneca sob a bancada.
- Está maravilhoso, . – Ele bebia e me olhava de vez em quando, como se estivesse receoso com algo.
- O que houve? Pode falar que não gostou, não tem problema! – Brinquei, passando a ponta do indicador na borda do meu copo, distraída.
- Você e o Harry... – Liam começou, escolhendo as palavras que iria usar. – Estão juntos?
- Eu e o Hazza? – Gargalhei um tanto alto, tapando a boca em seguida. Louis estava dormindo no andar de cima e aquele meu escândalo poderia acordá-lo.
- Sim... Estou perguntando por causa do que aconteceu mais cedo, no seu quarto. Os dois pareciam muito íntimos. – Deu de ombros, como se não se importasse e fosse apenas uma pergunta casual. – Além do mais, ele não parava de falar em você. Era “Star isso” e “Star aquilo”. “Será que a se lembra de mim?”. – Liam tentou imitar Harry e eu acabei rindo daquilo.
- Isso é novidade pra mim! Eu e o Harry somos amigos praticamente desde sempre e nunca passou disso. – Fiz uma careta; beijar Harry seria como beijar Louis. Minha careta só aumentou com esse último pensamento.
- Entendi, entendi! – Ele riu das minhas caretas e não tocou mais no assunto.
Na verdade, não tocamos mais em assunto nenhum. Terminamos nossas bebidas em silêncio, mas não aquele silêncio constrangedor de quando não tem mais o que ser falado. De vez em quando o nosso olhar se cruzava e trocávamos sorrisos tímidos. Não sei a hora exata, mas o Sol já começava a nascer quando nos despedimos e cada um foi para o seu quarto. Meu dia seria longo, já que eu tinha muita coisa pra arrumar. Os meninos iriam trabalhar e eu ficaria sozinha em casa. Deitei na minha cama e dessa vez usei o cobertor para me cobrir.
Quando acordei novamente já passava das três horas da tarde e meu irmão gritava alguma coisa do outro lado da porta. Como não era comigo, preferi ignorar e me enterrar no meu mar de travesseiros. O quarto parecia mais frio do que na noite anterior, me fazendo puxar o edredom até o pescoço.
- . – Meu irmão abriu a minha porta de uma vez, me fazendo tremer de susto.
- Geez, Louis. O que é? – Resmunguei e puxei um travesseiro até o meu rosto.
- Nana já ligou três vezes e quer falar com você. Tem almoço na cozinha e eu já estou atrasado para um ensaio, então estou saindo. – Ele continuava sério, provavelmente estressado por estar atrasado. – Até mais tarde, .
- Bom trabalho, Lou. – Tirei o travesseiro de cima de mim e o olhei. Mandei um beijo no ar que foi retribuído com um sorriso.
- Porra, Liam, anda logo! Eu não ligo se você está com sono, nós temos que ir. E nem quero saber o que você ficou fazendo ontem a noite. – A voz dele desapareceu quando chegou ao primeiro andar. O que vi depois foi Liam correndo, ainda vestindo a sua camisa, e com o cabelo todo bagunçado. Ele gritou um “Bom dia, .” E também sumiu.
Usei o resto do dia para fazer tudo que estava enrolando pra fazer. Primeiro liguei para a minha avó e a tranqüilizei, explicando que tinha chegado bem e Lou havia me recepcionado da melhor forma possível. Depois arrumei todas as minhas roupas, sapatos e bolsas dentro do closet, deixando tudo bem organizado. O banheiro do meu quarto logo ficou lotado de cremes, perfumes e maquiagens. Eu poderia ter guardado tudo nas gavetas abaixo da pia, mas sempre quis um banheiro só meu pra poder espalhar as minhas coisas. Agora que tinha, iria aproveitar. Colei algumas fotografias na parede atrás da minha cama; a maioria era em preto e branco. Fiquei alguns minutos olhando aquelas imagens... Em uma foto, eu estava entre Louis e Harry e nós três estávamos em um parque coberto pela neve; rindo. Parecia que nada havia mudado desde aquele dia. Nós estávamos mais velhos, é claro. Louis já tinha barba e Harry parecia mais com um homem. E eu... Bem, meu cabelo estava mais longo e minha franja reta agora caía sobre um dos olhos. Me corpo possuía mais curvas e eu gostava de mostrá-las. Mas o mais importante ainda continuava intacto. Nós três ainda éramos os mesmos de tantos anos atrás. Lembrei-me do que meu avô disse antes que eu partisse; sobre nunca mudar a minha essência. Bem, parecia que aquele plano estava dando certo.
Quando a noite caiu e meu trabalho estava acabado, liguei para meu pai. Ele estava louco pra me ver e disse que a minha meio-irmã Lux estava com saudade. Agradeci pela casa e mandei um beijo para Rachel, falando que queria vê-los assim que papai tivesse folga no hospital. Ele prometeu que me ligaria assim que tivesse um tempo e faria de tudo para não demorar. Louis e Liam chegaram enquanto eu ainda estava no telefone e trouxeram comida chinesa para o jantar.
Capítulo V
Minha estadia em Londres não podia estar sendo melhor. O condomínio em que eu estava morando tinha de tudo; piscina, academia, salão de jogos e etc. Nos dias em que os meninos tinham trabalho, eu geralmente ficava aproveitando as opções que o condomínio de luxo me oferecia ou pegava um taxi para passear pela cidade. Eu não me importava em ficar sozinha. Era bom ter um tempo só meu, onde eu pudesse organizar os meus pensamentos.
Faltava apenas uma semana para o começo das minhas aulas e eu não podia estar mais animada. Teria aulas com os melhores professores e nas salas por onde passaram bailarinos famosos. É claro que o nível de todos era muito acima do que eu já estava acostumada, assim como o nível de exigência. Eu estava nervosa com isso, mas seria uma forma de me superar ainda mais. Eu era muito competitiva desde pequena e esse tipo de desafio me excitava. Gostava de ser a melhor. Não passaria por cima de ninguém pra chegar ao topo, mas eu chegaria lá.
De acordo com a minha carta de admissão, eu deveria estar na academia as 14hrs para a palestra de boas vindas, pegar o meu horário de aulas e conhecer melhor o lugar. Como os ingleses eram conhecidos pela pontualidade, eu não podia me atrasar. Louis me levaria quando estivesse a caminho da agência e eu poderia voltar de ônibus. Dei uma última conferida na minha roupa e na papelada que eu teria que apresentar na secretaria. Estava pronta, então desci as escadas após passar no quarto de Liam para chamá-lo para ir. Logo estávamos no carro de Lou; eu no banco de trás e os dois na frente.
- E lembre-se, , mesmo que você fique nervosa, continue falando em inglês. – Louis me olhou pelo retrovisor, deixando-me confusa.
- Como assim? – Arregalei os olhos.
- É verdade, . Quando algo a deixa nervosa você começa a falar francês. – Liam explicou, me fazendo corar.
- Oh, Gosh. E eu nem tinha percebido isso. – Escondi o rosto nas mãos, imaginando quantas vezes troquei os idiomas. – Mas me dêem um desconto. Meu idioma original é o francês e estou aqui há pouco tempo. É completamente normal.
- É assim comigo também, , mas eu não troco. – Meu irmão riu da minha cara, sendo acompanhado pelo seu amigo bobo. E lindo. Mas ainda sim era bobo.
- Mas, mas, mas... Você nasceu nesse país. – Retruquei como se fizesse algum sentido. Louis era inglês de sangue, mas havia sido criado na França, então sua primeira língua também era o francês.
- Eu acho fofo pra caralho quando você troca os idiomas. – Liam falou de uma vez, me deixando sem reação. Louis olhou pra ele como se o repreendesse, mas o garoto deu de ombros.
- Obrigada. – Não sabia se era o certo a se falar, mas era o que eu tinha.
Seguimos o resto do caminho escutando o rádio enquanto eu olhava a paisagem do lado de fora. O Ranger parou em frente à Academy e eu fiquei encantada com a estrutura. Já tinha visto por fotos, mas aquilo era muito melhor. Literalmente parecia uma mansão vitoriana
- Você vai estudar aqui? – Liam parecia impressionado assim como eu.
- Ela não vai “estudar”. – Louis fez aspas com as mãos. – Só vai dançar.
- “Só vai dançar”? – O imitei fazendo as aspas no ar. Estava indignada com o seu desprezo e já me preparava pra dar uma boa resposta, mas ele sorriu e eu entendi que era só uma brincadeira. – Idiota.
- Boa sorte, . – Meu irmão desejou ao me ver abrir a porta e sair do carro. Liam só sorriu pra mim e acenou.
- Bom trabalho, meninos. Até mais tarde. – Assoprei um beijo para cada um e segui o meu caminho.
Segui o fluxo de alunos que entrava pelos portões e passava por um corredor enorme. Eu só conseguia prestar atenção na decoração e nos quadros fotográficos que enfeitavam as paredes. Não sabia se estava no caminho certo até escutar alguém gritar: “ATENÇÃO. O auditório é por aqui.” Continuei distraída, sonhando com a minha foto entre aquelas penduradas e nem vi quando esbarrei em uma garota.
- Que merda é essa? – Ela se virou pra mim, furiosa.
- Pardon. Je n'ai pas vu... – Me encolhi com medo daquela menina, querendo me esconder por ter trocado o idioma como os meninos falaram que eu fazia.
- O que é? Não fala inglês, ou é retardada? – Continuou me ofendendo. Quem ela pensava que era?
- Eu pedi desculpas por ter esbarrado em você. – Continuei mantendo a calma. Não queria entrar em uma discussão no meu primeiro dia.
- Da próxima vez olhe por onde anda. – E a nojenta jogou os cabelos loiros na minha cara e saiu rebolando, empurrando quem estivesse em seu caminho. Isso porque dizem que os franceses são antipáticos e os britânicos são educados com todo mundo, né?
Eu só fiquei observando-a sumir, torcendo pra que ela fosse de qualquer curso menos do meu. Por sorte, as pessoas que tinham parado pra assistir o escândalo já haviam se dispersado e eu pude continuar o meu caminho. Dessa vez não olhei mais para a decoração, porque temia causar mais acidentes. Chegar ao auditório foi fácil. O lugar era bem iluminado e enorme. Na verdade, tudo ali parecia gigante. Várias cadeiras já estavam ocupadas e alunos se amontoavam pra pegar as cadeiras da frente. Me contentei em encontrar um bom lugar ao meio e perto do corredor. Seria fácil pra sair, eu não estaria tão na frente a ponto de ser notada e nem atrás demais pra de não ouvir o que os diretores iriam falar.
A bagunça pareceu diminuir e os alunos se sentaram para esperar o começo da palestra de boas vindas. No palco do auditório havia uma espécie de palanque e três cadeiras de um lado e duas do outro. Todas ocupadas. Um homem de meia idade vestido formalmente com paletó e gravata se levantou e foi até o microfone. Deu uma batidinha para testar se estava funcionando e começou a falar:
- Bem vindos a mais um semestre na London Royal Academy! – Ele abriu os braços e a maioria dos alunos bateu palmas e gritou em comemoração. – Para aqueles que estão chegando agora... Espero que encontrem aqui o que estavam procurando. Que esta seja a sua segunda casa. Que nossos professores tenham as ferramentas que levarão vocês ao sucesso! – O senhor, que descobri ser o diretor geral, parecia simpático. Apesar da sua aparência séria, ele falava muito animado e eu tinha certeza que ele desejava tudo aquilo que falava. – E para aqueles que já são da casa... Vamos continuar o bom trabalho e seguir em frente! E agora, eu gostaria de chamar ao microfone, minha querida companheira de trabalho: Agnes Wingermeier.
A mulher esquelética de cabelos negros e oleosos se levantou. Ela era tão fina que eu tive a impressão que iria partir no meio antes de chegar ao microfone.
- Boa tarde, estudantes. – Ela começou a falar, seca. Não me surpreendeu ela não receber uma resposta da platéia. – Darei algumas explicações gerais, só para que fique claro a todos os alunos e em seguida direi as regras. Cada um irá receber uma caderneta com todos os avisos e regras e sugiro que os mantenham sempre com você. – E então a senhora Wing... Alguma coisa, começou a explicação.
Os três cursos oferecidos pela London Royal Academy (dança, música e teatro) tinham duração de dois anos divididos em quatro semestres. Pelo que eu entendi, entre um semestre e outro existiam provas pra testar se o aluno estava preparado pra passar ao próximo nível. E essas provas deveriam ser como o teste que fizemos para sermos aceitos na academia, só que bem mais difíceis. Além disso, a LRA organizava espetáculos a cada seis meses juntando as três artes em uma espécie de musical que era apresentado para as pessoas mais importantes da Inglaterra; além de donos de importantes companhias artísticas do mundo inteiro. A participação nessas peças era de um peso enorme no currículo de qualquer um. Além disso, cada curso tinha seu próprio subdiretor. No meu caso, a Srtª Holly Jonhson era a minha subdiretora. Uma mulher elegante e adorável. Ela explicou que o curso era conhecido como “dança” e não “ballet clássico” porque o ballet não era a única modalidade que iríamos dançar. Aquilo me assustou um pouco, mas ela logo disse que o ballet era o principal e os calouros iriam gostar do curso. Cada subdiretor se apresentou brevemente e deu algumas informações sobre seus métodos de ensino. Em seguida, Agnes voltou para o microfone e começou a falar as regras.
- É extremamente proibida a entrada em qualquer classe depois de quinze minutos após a chegada do professor. Alunos que forem pegos com bebidas alcoólicas, ou cigarros e derivados nos perímetros da academia serão detentos, e até expulsos. Brigas os levarão direto para seus diretores. E o principal... Não será aceito o coito dentro de salas, banheiros, corredores, jardins, ou qualquer lugar da Academy. – Ela terminou de falar as regras e pareceu irritada com a última coisa que falou, como se já tivesse passado por isso antes.
- Bullshit! – Escutei um menino exclamar a algumas cadeiras atrás de mim. Ele arrancou risadas de boa parte dos alunos. Virei-me para ver quem era o idiota e seus olhos encontraram os meus. Uma coisa eu tenho que admitir, ele era lindo. A linha do seu maxilar era bem definida, dando um contorno perfeito ao seu rosto. As maçãs em suas bochechas eram altas, seu nariz tinha o tamanho exato e seus lábios não ficavam atrás; eu tinha certeza de que eram vermelhos e apetitosos. Não consegui ver a cor de seus olhos, mas o brilho que emanava deles era óbvio. Seus cabelos lisos estavam em pé, bagunçados de uma forma que os deixava arrumados; por menor sentido que isso faça. Minhas retinas teimariam em descer o olhar pelo pescoço daquele garoto, mas eu me reprimi. Acho que sustentamos aquela troca de olhar por uns cinco segundos, até que ele piscou pra mim, com um sorriso sacana brincando nos lábios. Eu apenas revirei os olhos e voltei a minha atenção para a diretora. Não estava no clima para gracinhas.
Agnes encerrou a palestra e os professores distribuíram as cadernetas que a diretora havia se referido anteriormente. Folheei rapidamente, constatando que tudo que estava ali já tinha sido falado. Os docentes se despediram e informaram que os novatos deveriam ir até a secretaria para dar entrada à papelada. Levantei-me rapidamente e segui para a porta de saída, já tentando evitar esperar em uma fila de alunos que iria fazer a mesma coisa que eu. É claro que esse plano teria dado mais certo se eu soubesse aonde ir, mas isso era apenas um detalhe. Parei para pedir informações a um segurança que encontrei em um corredor e ele me informou o caminho certo. O agradeci com um sorriso e segui adiante até encontrar uma sala com portas de vidro. A secretaria não estava cheia, mas deviam ter uns três alunos na minha frente. Uma senhora me mandou entrar e sentar ao lado de uma garota ruiva e esperar a minha vez. Respondi com um aceno de cabeça e fui até o banco em que eu deveria me acomodar.
- Hey, meu nome é . Mas todos me chamam de , porque eu não gosto do meu nome. – Ela se virou pra mim, estendendo a mão.
- Olá... Me chamo . – Apertei a sua mão e notei que ela esperava eu falar o meu apelido. – Costumam me chamar de , mesmo que eu goste do meu nome.
- Se eu tivesse o seu nome, também gostaria dele. – Ela riu, balançando a minha mão animadamente. – É nova por aqui, certo?
- Sim, primeiro dia. – Sorri. parecia uma pessoa legal e o seu jeito era elétrico. Aparentemente ela não conseguir parar de se mexer.
- Seja bem vinda, . – sorriu ainda mais, se é que era possível. – Deixe-me adivinhar... É bailarina?
- Acertou em cheio! – Me deixei contagiar pela animação da outra menina.
- Então seremos colegas de classe. – Bateu palmas antes de continuar: - Eu deveria estar indo para o segundo nível, mas não passei no teste, então vou repetir o primeiro. Mas não faça essa cara! Não é como se eu tivesse me esforçado. Queria estar na turma de teatro, mas minha mãe me obrigou a entrar pra dança. Era meio que o sonho dela e tal, mas como tinha condições o empurrou pra mim.
- Ahn... – A escutei calada, tentando absorver todas aquelas informações. Eu nem a conhecia e ela já estava contando a sua vida inteira pra mim. – Deve ser horrível ter que fazer algo que você não gosta. Eu sinto muito, .
- É horrível mesmo, mas eu já estou acostumada. Foi sempre assim, então acho que tenho que aceitar. – Ela deu de ombros e trouxe de volta o sorriso alegre que desaparecera por um tempo. – Mas me fale de você, sim? Pelo seu sotaque, acho que não é daqui.
- Não sou mesmo, eu vim de Paris. Cheguei há algumas semanas atrás e ainda estou me adaptando. – Expliquei.
- Paris? Wow, isso é incrível! Eu sempre quis conhecer a França, mas nunca tive a oportunidade. Quem sabe você não me leva um dia? Imagina nós duas passeando de vespa pelas ruas de Paris!
- Claro! Seria bem legal... – Não sei se ela era apenas simpática demais, ou se era daquele tipo de pessoas que pega intimidade muito rápido. De uma forma ou de outra, era fácil conversar com . Como eu não estava em condições de rejeitar uma amizade, entrei na onda.
A porta de vidro quase foi ao chão quando um menino entrou correndo e passou direto por nós, parando no balcão da secretária que havia me mandado sentar com . Ele era o mesmo que tinha feito a piadinha no auditório e piscado pra mim. Como alguém tão desagradável conseguia ser tão bonito? Mas ele não estava sozinho. A loira do corredor entrou logo depois dele, ignorando completamente os olhares de reprovação que ela atraiu por estar fazendo barulho com seu salto alto.
- Quem é aquele? – Sussurrei para , apontando discretamente para o garoto do topete.
- Uhh, você tem bom gosto. – Fiz uma careta tentando explicar que não era nada do que ela estava pensando, mas não adiantou. – Aquele é o Zayn Malik. O terror dos professores e o Badboy da LRA.
- Sei...
- É do terceiro período de música e quase foi expulso duas vezes, não queira saber o por que. – Ela também sussurrava. Algo me dizia que eu já sabia o motivo que o levou a quase ser expulso duas vezes. – Apesar da sua fama, ele é um cara legal.
- Duvido muito. – Soltei sem pensar. – E aquela ali pendurada no pescoço dele deve ser a sua adorável namorada.
- Acertou em cheio. Menos na parte do adorável... Porque não há ninguém pior que a Brigitte nessa academia. Quem sabe no mundo. – Era óbvio que também não era fã da oxigenada, o que me fez ficar aliviada.
- Brigitte é nome de cachorro. – Falei, fazendo a minha nova colega gargalhar alto. Brigitte escutou a risada e logo se virou na nossa direção. Assim que me viu rolou os olhos e bufou alguma coisa na orelha de seu namorado.
- O que foi isso? Acho que ela não foi com a sua cara. – comentou, me fazendo contar pra ela o que havia acontecido mais cedo no corredor. – Sinto muito, , mas acho que você entrou para a lista negra.
- Como é? – Perguntei espantada. Mal chegara à academia e já era da lista negra de alguém?
- Não se preocupe, eu estou lá também. – Ela tentou me tranquilizar e eu sorri. – Oi, Zayn!
- Whasap, ruivinha?! – Ele cumprimentou com um sorriso, virando-se para nós; e que sorriso. Eu a encarei perplexa, sem entender nada. Então eles se conheciam? Não sabia onde enfiar a cara.
- Ah, é. Esqueci de mencionar que ele é o melhor amigo do meu namorado, então somos amigos por tabela. – Deu de ombros como se fosse a coisa mais normal.
- E você não podia ter me falado isso antes de eu começar a chamar a namorada dele de cachorro? – Reclamei tentando manter a voz baixa para não chamar ainda mais atenção.
- E perder a sua cara quando descobriu que eu o conheço? Não mesmo. – riu como se fosse uma piada muito engraçada.
Não demorou muito e foi chamada pela secretária pra pegar o seu horário. Ela levantou e sussurrou um “Eu já volto” ao sair. Em menos de cinco minutos ela voltou com um papel na mão e me avisou que a diretora estava me esperando.
- Não olhe diretamente nos olhos dela, ou você vai virar pedra. – Brincou. Pelo menos eu acho que era uma brincadeira...
- Pode deixar. – Ri nervosa e segui pelo caminho de onde ela havia voltado.
O escritório da diretora Agnes era extremamente organizado. Uma mesa de madeira estava centrada na sala e a mulher me observava por trás dela, sentada em uma cadeira desproporcional ao seu pequeno corpo. Ela me indicou uma das cadeiras em frente à sua mesa e assim que eu me sentei ela começou a falar. Me deu as boas vindas e disse que ouvira elogios ao meu respeito, por causa do meu teste de admissão. Aquilo me pegou de surpresa, mas ao mesmo tempo me deixou muito feliz. Disse que eu seria observada nas primeiras semanas e que, dependendo do meu desenvolvimento, eu poderia pegar uma aula mais avançada. Dei uma olhada rápida pelo meu horário de aulas e assinei alguns papéis que não me dei ao trabalho de ler. Minhas aulas seriam de segunda a quinta e os horários eram variados. Nas segundas, eu teria duas aulas. A primeira era a aula em grupo, que eu entendi ser um ensaio geral, com todos os estudantes do curso de dança. A segunda aula seria a de dança contemporânea, onde minhas habilidades em outros ritmos seriam testadas. Na terça feira a minha única aula era com um professor particular. Teríamos duas horas juntos para que eu recebesse dicas e atenção especial. Quarta feira era o dia em que eu teria aulas de ballet com o meu próprio nível e em seguida a aula de técnica corporal – que eu ainda não sabia como seria –. Na quinta feira, teria mais uma aula contemporânea e mais uma com a minha turma, encerrando as minhas disciplinas da semana. Era um horário leve e eu não ficaria cansada demais. Agnes me informou que todas as salas estariam a disposições de todos os alunos nos períodos da tarde, para ensaios. Tirei mais algumas dúvidas e me retirei da sua sala.
Procurei , mesmo sem ter certeza de que ela estaria me esperando ou não. Saí da secretaria notando que Zayn e Brigitte já não estavam mais por lá. Não que eu estivesse procurando por eles, claro que não. Virei à direita e dei de cara com a minha colega atracada com um menino loiro que eu julguei ser seu namorado. Ela passava as mãos por seus cabelos e ele a apertava na cintura enquanto os dois se beijavam como se estivessem sozinhos no mundo. Reprimi uma risada e passei direto por eles, sem querer atrapalhar aquela troca de afeto.
- Onde a senhorita pensa que vai? – A voz de me fez parar e virar de frente para o casal.
- Já que você está meio ocupada... – Olhei dela para o loiro, que corou. – Eu estava indo embora.
- Não seja boba! – Me repreendeu e caminhou até onde eu estava parada, com o namorado em seu encalço. – Niall, essa a minha nova amiga . , esse é o namorado mais perfeito do mundo, o meu Nialler.
- É um prazer, Niall. – Estiquei a mão para cumprimentá-lo quando nos apresentou, mas ele ignorou tal ato e me puxou para um abraço.
- O prazer é meu, . já estava me falando tanto sobre você que fiquei curioso. – Mais um que já me chamou pelo apelido. Acho que eu poderia me acostumar com aquilo.
- Só falei coisas boas, eu juro! – Ela me abraçou de lado assim que Niall desfez o abraço e nós começamos a andar em direção à saída.
- Queria poder ter certeza disso, . Mas não sei se posso confiar novamente em você. – Brinquei.
Logo chegamos ao lado de fora do campus e Niall disse que iria procurar “a carona” dele e já nos encontrava no estacionamento. ofereceu me deixar em casa também, mas eu recusei. Não queria abusar da sua boa vontade, muito menos abusar do motorista que estaria levando os dois namorados pra casa. Já estava pronta pra me despedir quando Niall voltou e trouxe consigo o meu pesadelo.
- Você deve ser a . – Zayn parou em minha frente e eu esqueci de como se respira.
- , na verdade. – O corrigi. olhou para o namorado e riu de alguma piada interna. Veja bem, eu não quis ser mal educada com Zayn, mas ele não era do tipo que exalava confiança, vamos concordar. Era bonito demais, com o rosto angelical demais e a voz agradável demais. Junte tudo isso em uma pessoa só e qual o resultado? Problema. Pior ainda se esse problema tiver uma namorada como a dele.
- Então, , vai pegar carona comigo também? – Ele ignorou completamente o que eu falei e tirou as chaves do bolso de sua calça jeans.
- Na verdade eu vou de ônibus mesmo. Mas obrigada pelo convite, . – Virei de frente para , que ainda tinha aquele mesmo sorriso no rosto.
- Não seja por isso, . É uma pena que você não queira vir com a gente. – Ela fez um biquinho e me abraçou. Apesar de pequenina, a ruiva tinha um abraço muito forte. – A gente se fala amanhã, certo?
- Você tem o meu número, então eu acho que sim! – Nós duas trocamos telefones antes que eu fosse falar com a diretora.
- Te ligo amanhã pra combinarmos algo. É a nossa última semana de férias, então temos que aproveitar. – Nos separamos e foi a vez de Niall me abraçar.
- Até logo, . – Ele se despediu e eu comecei a andar antes que Zayn tentasse fazer o mesmo que os amigos. Não queria provar de seu perfume, porque não sei se resistiria por muito tempo.
- Tchau, guys. Tchau Zayn. – Também não era uma completa mal educada, então acenei pra ele.
- Espero te ver logo. – Zayn sorriu. Não qualquer sorriso, mas o sorriso dele. Senti meus joelhos fraquejarem por um momento, mas me recompus.
Assisti os três entrarem no carro de Malik e não os esperei partir para começar a andar e seguir o meu próprio caminho até a parada mais próxima. Que, aliás, de próxima não tinha nada. Tive que descer três quarteirões até achar um ponto de ônibus. Para piorar, o céu começava a escurecer e as nuvens pesadas informavam que ia chover. Quis me bater ao lembrar que não tinha uma sombrinha na minha bolsa. Que tipo de pessoa anda por Londres sem uma sombrinha? Resposta: Eu.
Capítulo VI
- Como é mesmo o nome da “oxigenada”? – Escutei Harry perguntar enquanto sentava-se à mesa da sala de jantar.
- Brigitte. – O respondi da cozinha.
Louis e Liam também estavam na cozinha, tentando fazer o nosso almoço. Eu estava em frente ao fogão, fritando batatas, enquanto Liam tentava empanar filés de peixe e meu irmão lavava os pratos. Eu havia contado para eles tudo sobre o meu dia anterior na Academy e Harry pareceu ser o que mais odiou Brigitte. Já Liam, pareceu não gostar tanto de Zayn.
- Mas, tirando isso, você gostou do lugar? Dos professores? – Harry continuou com as perguntas, curioso.
- Eu amei cada detalhe, Haz. Gostei até mesmo da diretora Agnes, que disse ser uma bruxa.
- Você só gostou dela porque ela te elogiou. – Louis se meteu na conversa.
- Shut up, Lou.
Demoramos um pouco pra conseguir terminar o almoço, mas até que ficou gostoso. Liam acertou o ponto do peixe na terceira tentativa e as batatas fritas ficaram divinas. Comemos batata e peixe até estarmos cheios e a mesa lotada de pratos e copos sujos. Perdi a conta de quantas vezes engasguei enquanto comia por começar a rir de alguma coisa que um dos meninos falara.
- Quem vai lavar tudo isso? – Louis perguntou, repousando o seu garfo sob o prato já vazio.
- EU NÃO! – Liam e eu falamos ao mesmo tempo, deixando Harry com uma careta.
- Eu não quero lavar... – Ele fez um biquinho olhando pra mim. Devia saber que eu não resistiria.
- Não me olha assim! – Tapei os olhos. – Você tem que lavar, Harry. É justo, porque nós três fizemos o almoço e você não ajudou.
- Mas, ... Pequena... – Senti a ponta dos seus dedos alisando o meu braço.
- Tá bem, Harry! – Bufei, desistindo. – Eu vou te ajudar.
- É por isso que eu te amo, ! – Comemorou, levantando e começando a juntar os talheres sujos.
- Aham, sei. Você me deve uma. – Resmunguei e recolhi os pratos, colocando-os na pia da cozinha.
Eu já me preparava pra começar a lavar os pratos quando ouvi o meu celular começar a tocar. Devia ser ligando, já que havíamos combinado que ela passaria o dia comigo no condomínio. Aproveitaríamos o dia “quente” que estava fazendo em Londres para curtir a piscina e nos conhecer um pouco mais. A ruiva era extremamente amigável e por isso não foi estranho nós estarmos nos aproximando tão rápido.
- Sorry, Haz, mas tenho que atender. – O deixei sozinho na cozinha, com a pilha de pratos pra lavar.
- Epa, onde você vai? – Reclamou ao me ver correndo para a sala, onde o meu celular quase parava de tocar.
Quase caí no meio do caminho, mas consegui chegar com vida na sala. Peguei meu iPhone a tempo de atendê-lo e o levei até a orelha.
- Ellow? – Atendi imitando o sotaque inglês e arranquei uma risada de .
- ! Já está virando britânica, é?
- É o convívio, . – Ri. – Você já está vindo?
- Estou quase aí. Preciso falar algo na portaria?
- Pode falar o seu nome, porque eu já avisei que você está vindo. O guarda vai guiá-la até aqui e eu estarei esperando na porta.
- Ok, . Até daqui a pouco.
Desligamos e eu saltei para as escadas, subindo até o segundo andar. Os outros dois moradores da casa estavam no quarto do meu irmão, olhando algo na tela do computador. Provavelmente era trabalho, já que mesmo quando estavam de folga os dois achavam uma desculpa para revisar os últimos ensaios fotográficos ou editar fotos. Os observei por um tempo e fui até o meu quarto, trancando a porta depois de entrar.
Troquei as minhas roupas por um bíquini e coloquei um shortinho por cima. A casa estava cheia de homens, mas eu não me importava, já que um deles era o meu irmão, o outro era um quase-irmão e o último não me olhava como algo além de amiga. Me olhei no espelho do banheiro e soltei os cabelos. Os baguncei um pouco com as mãos, para tirar aquela impressão de “cabelo amarrado” e estava pronta pra ir. Peguei a bolsa que levaria para a piscina e saí do quarto.
- Boys. – Fui até o quarto de Louis e encontrei os três esparramados na cama dele.
- Wow. – Liam foi o primeiro a me notar, encarando o meu tronco seminu. Aquilo me fez corar, mas eu tentei não ligar. Todos os exercícios diários por causa da dança me fizeram ficar com um corpo que eu aceitava. Não era seca demais, mas minha barriga era reta. Confesso que gostaria que as minhas pernas fossem um pouco mais torneadas, mas não reclamava das que tinha.
- , quando você ficou tão gostosa? – Harry perguntou, me fazendo arregalar os olhos.
- Hey, é da minha irmã que você está falando. – Louis pegou um travesseiro e o jogou em Harry, que o segurou e atirou para o lado, ainda me fitando com aqueles olhos verdes.
- Ok, eu vou sair daqui antes que algo mais constrangedor aconteça. – Balancei a cabeça em negação e tentei esquecer aqueles comentários. – Só vim avisar que a já está chegando e nós vamos para a piscina...
- Podemos ir? – Liam se levantou, seguido por Harry.
- Não vamos atrapalhar. – O último disse.
- Só se prometerem que não vão encarar a minha amiga como estão fazendo comigo. – Falei a condição e eles aceitaram, já começando a tirar as camisas.
Antes que eu pudesse aproveitar a bela visão dos meus dois amigos sem roupa, uma buzina de carro soou na frente de casa. Não falei mais nada, apenas me retirei para receber . Desci as escadas e fui até a porta de entrada.
- Ainda bem que não errei de casa! – disse ao me ver, já correndo para o meu encontro. Nos abraçamos e eu olhei para o carro, vendo Niall ainda lá dentro.
- É claro que não errou. – Sorri para ela. – Niall não vem?
- Não... Ele vai sair com o Zayn. – Ela foi se despedir do namorado e logo voltou ao meu lado.
- Tchau, meninas. Se divirtam. – O loiro se despediu de nós e partiu.
Os meus meninos logo chegaram ao jardim da frente e eu os apresentei a . Como já era de se esperar, ela conversou animadamente com cada um deles e os encheu de perguntas. Todos eles foram muito simpáticos com ela e até fizeram algumas brincadeirinhas. Confesso que fiquei com um pouco de ciúme, mas dei de ombros e me juntei a eles. estava se tornando minha amiga muito rápido e aquilo me assustava um pouco. Principalmente por ser mulher e todos os meus outros amigos serem homens. O Caso é que eu nunca me dei bem com meninas, mas aquela parecia ser diferente.
Nós cinco caminhamos lado a lado, conversando animadamente, até chegarmos à área da piscina. O lugar estava vazio, o que me fez agradecer mentalmente. Nas outras vezes que eu estivera ali, mulheres esnobes tomavam sol e conversavam sobre tantas futilidades que acabaram me deixando louca, sem falar que reclamavam quando eu mergulhava e acabava espirrando água pra perto delas.
- Geronimooooooooo! – Louis largou as toalhas em uma espreguiçadeira e correu até a piscina, se jogando. Só consegui rir daquela cena, deixando as minhas coisas onde Lou tinha jogado as dele.
- Eu sou o próximo! – Harry também deixou as suas coisas ali e saiu correndo. – Bomba de canhão!
- Meu Deus. Dá pra acreditar nessas crianças? – Olhei para a direção em que estava, mas a ruiva já havia tirado as suas roupas e partido na mesma direção de Harry e Louis. – Epa!
- Vem, ! A água está ótima. – Harry comemorava, batendo na água como uma foca.
- Ela não sabe nadaaar. Ela não sabe nadaaaar. – cantarolou, dando voltinhas sem sair do lugar.
- Parem, vocês dois! – Coloquei as mãos na cintura, olhando aqueles dois patetas. Até que dariam um casal legal se ela não estivesse com o Niall. – Eu vou entrar, mas não agora.
- Deixa de frescura e entra logo! – Louis também insistiu e eu tirei o short, aproveitando para estender a minha toalha em uma espreguiçadeira livre.
- Vou ignorar vocês, ok? Ok. – Virei para o lado e nem percebi que Liam se aproximava sorrateiramente por trás de mim. Senti seus braços fortes me envolvendo pela cintura e me levantando do chão.
- Buuu. – Ele sussurrou, com os lábios perigosamente perto da minha orelha.
- Liam, me põe no chão... – Pedi com um suspiro. Por mais estivesse arrepiada, eu tinha uma boa idéia do que ele pretendia fazer.
- O que eu ganho com isso? – Continuou aos sussurros. Eu podia sentir seu peitoral colado nas minhas costas.
- O prazer de fazer uma boa ação? – Arrisquei, mesmo sabendo que não adiantaria de nada. Comecei a me debater assim que ele se pôs a andar em direção a piscina e me arrastar junto.
- Prefiro o prazer de te jogar na piscina. – Liam riu como um vilão dos desenhos animados.
- Você podia ter dito: “O prazer de te ver molhada.” – se pronunciou, me fazendo gargalhar do duplo sentido em sua frase. – Teria um efeito bem mais legal.
- Vamos deixar essa parte pra mais tarde. – Liam entrou na brincadeira, chegando perto demais da borda da piscina.
- Por favor, Liam! Não faz isso. A água deve estar gelada! – Implorei, fechando os olhos.
- É só água, . – E com essa última frase, Liam pulou na piscina e me levou com ele. Soltei um grito ao sentir o corpo inteiro congelar. Ele logo me soltou e eu voltei para a superfície, pulando de frio.
- LIAM PAYNE, AGORA VOCÊ ME PAGA! – Olhei em volta, procurando aquele garoto que já não estava mais perto de mim. Havia nadado até o outro lado da piscina. Esperto, já que eu estava furiosa. – VOLTA AQUI!
- Vai ter que me pegar! – Ele jogou água em mim e mostrou a língua. Pude escutar a risada de quando Harry falou algo do tipo: “Ele não sabe onde está se metendo.”
- Grrrrrrrrr. – Rosnei, me atirando na água e mergulhando. Com os olhos abertos embaixo d’água era fácil acompanhar os movimentos de Liam. Peguei impulso na parede mais próxima e avancei em sua direção. Mais uma vez ele estava me subestimando, pois ficou parado. – AHÁ!
- Oh, não! Estou sento atacado! – Ele riu quando me joguei em suas costas e era difícil não rir junto. Prendi as minhas pernas em volta da cintura de Liam e o puxei para baixo; empurrando seus ombros. Ele era mais forte que eu, obviamente, mas eu o peguei despreparado. Logo Liam estava embaixo da água, tentando se livrar de mim.
- Muahaha! Vingança! – Eu comemorei, mas o soltei antes que se afogasse.
- ! – Ofegou ao voltar para a superfície. Liam estava quase roxo e eu só conseguia rir daquela situação.
- Bem feito! Eu disse pra você me colocar no chão! – Resmunguei.
Nós dois logo nos juntamos aos outros. Depois que me acostumei com a temperatura da água, consegui aproveitar a tarde na piscina. As coisas começavam a ficar meio entediantes e Harry teve a brilhante idéia de brincarmos de “briga de galo”. É claro que a minha competitividade não me deixou ficar de fora, então eu fui logo formando dupla com o meu irmão. Subi em suas costas e subiu em Harry; Liam seria o juiz. Ganhei essa primeira rodada e foi a vez de Harry montar nas costas de Liam. Continuei ganhando até trocarmos de dupla. Louis se juntou a Harry, ficando em suas costas. Eu subi em Liam e seria a juíza. Começamos a batalha e Harry quase se desequilibrou. Eu e Liam investíamos contra os nossos oponentes, mas Lou sabia o meu ponto fraco. Sem que eu estivesse esperando, ele atacou as minhas costelas, me fazendo cócegas. Eu gritei e comecei a rir. Liam tentou se manter equilibrado, mas tenho certeza que Harry também o surpreendeu com uma rasteira, causando a nossa queda. Ambos reclamamos, mas a juíza fajuta disse que a rodada era válida, então eu perdi. Emburrada, saí da piscina e me deitei em uma espreguiçadeira para tomar sol. Os meninos foram até um campinho de futebol que ficava quase em frente à piscina e deitou-se na espreguiçadeira ao meu lado.
- O Harry está com alguém? – Ela perguntou de uma vez, me fazendo olhá-la com espanto.
- Não. Mas você está! – A repreendi.
- Não é isso, idiota. – Rolou os olhos como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Eu estou bem com o meu Nialler, só queria entender o que um cara tão legal quanto ele está fazendo sem uma namorada.
- Sei. – Estreitei os olhos, ainda fitando-a. – Mas não é como se ele estivesse abandonado... Quero dizer, Haz está sempre flertando com alguma garota nova. Eu só acho que ele não encontrou a certa ainda.
- E você e o Liam? – Sorriu sapeca.
- O que tem? – Perguntei como se não estivesse entendendo onde ela queria chegar.
- Você sabe... A ceninha de vocês na piscina... E não pense que eu não notei o seu arrepio quando ele falou algo na sua orelha. – Senti minhas bochechas corarem.
- Não sei do que você está falando! – Sacudi as mãos em negação e parei de olhar pra ela. estava doida, com toda certeza.
- Por favor, . Só você não percebe que ele está caidinho por você! – Pelo canto do meu olho, percebi que ela havia sentado e virado de frente pra mim. – Porque até eu que acabei de conhecê-lo já percebi.
- Você engoliu muita água da piscina, . É a única explicação.
- Pffff, vai me dizer que você sinceramente nunca notou? Ele só falta babar quando você passa. Sem falar que ele não tira os olhos de você. – Ela inclinou a cabeça na direção em que os meninos estavam jogando futebol e assim que levantei a cabeça para vê-los, o olhar de Liam encontrou o meu. Pensei em desviar, mas ele sorriu e, por reflexo, eu também. – Eu sempre estou certa.
- Não! Shhhh, . – Cortei o olhar e fitei as minhas próprias mãos. Será que ela estava certa mesmo? Liam era bonito, legal e divertido. Tinha conteúdo e nós podíamos conversar por horas... Não. No que eu estava pensando? Isso nunca daria certo.
- Pense nisso, . Seria legal, nós quatro saindo em casais. Eu e Niall e você e o Liam. – Ela sorria animada. E do pouco que eu conhecia dela, tinha certeza que já imaginava um casamento duplo.
- , eu não posso pensar nisso. – Estava frustrada. – Nós moramos na mesma casa.
- E? Vocês só teriam que decidir em que quarto iriam dormir depois da longa noite de amor. No seu, ou no dele. – Ela falou como se fosse a coisa mais simples do mundo e eu a repreendi novamente com o olhar.
- ! – Bufei. – Não é isso. O caso é que... E se não der certo? Eu ainda terei que conviver com ele como se nada tivesse acontecido. E quando começássemos a sair com outras pessoas? Seria estranho demais.
- Nesse ponto você tem razão. – Ela pareceu se contentar, mas não por muito tempo. - Então se não der certo, você se muda e vem morar comigo.
- Essa seria a solução pra tudo! – Ironizei.
Fomos interrompidas pelo toque do celular de , que atendeu e me fez um sinal de “espere” com a mão. Pelo tom da sua voz, eu deduzi que era o namorado ligando. Tentei não prestar atenção na conversa dos dois, mas ela era tão melosa que eu não me segurei.
- Eu também to com saudade, pudimcup. – Ela disse, com um biquinho.
- Uuuuurgh. – Fiz uma cara de nojo e fingi vomitar. me mostrou o dedo do meio e eu só ri.
- Cale a boca, sua invejosa. – Fez careta pra mim. – Não, Niall, não foi pra você! A está aqui com inveja por não ter um namorado.
- HEY, NIAAAAALL. – Gritei perto do aparelho pra que ele pudesse escutar.
- Ele falou oi também. – Ela riu, me abanando para que eu saísse de perto.
Os dois conversaram por mais alguns minutos e eu já estava quase dormindo na espreguiçadeira. Escutei levantar da cadeira e começar a recolher as coisas.
- Temos que ir, . Os meninos estão vindo pra cá. – A olhei sem entender, mas também me levantei.
- Espera... Você falou “Os meninos”? – Torci para que ela falasse: “Sim, o Niall está trazendo um primo distante.” Mas com a minha sorte, aquele não seria o caso.
- É. Parece que o Zayn também está vindo. – Ela deu de ombros, provavelmente ignorando a minha cara de “Eu não acredito que ele está vindo pra minha casa.”
- Mas por quê? – Peguei a minha toalha e a passei por cima dos meus ombros, me enrolando.
- , ele não é tão ruim quanto você imagina.
- Pra namorar a Brigitte ele não pode ser tão legal quanto você fala. – Encerrei aquele assunto, andando até o campinho onde os meninos ainda jogavam bola.
- Liam, o que há de errado com você hoje? Errou todos os chutes! Ok que você não é tão bom quanto eu, mas não precisa exagerar, né? – Pude ouvir meu irmão reclamar.
- Eu acho que algo o distraiu. Ou melhor... Alguém. – Harry disse, me olhando. Era como se aquela fosse uma indireta pra mim e eu preferi ficar calada. Mais um com coisa na cabeça? Eu não precisava daquilo. – Hey, !
- O jogo foi bom? – Sorri para os três, recebendo um abraço de Haz. – Ew, você está suado!
- É o suor da vitória! – Me apertou ainda mais quando eu tentei me soltar.
- Sai, sai, sai. – Gargalhei, escapando do seu abraço. – O namorado da está vindo pra cá com o amiguinho que não deve ser nomeado, então nós estamos voltando pra casa. Vocês vêm com a gente?
- Acho que ainda vamos dar um mergulho. Todo esse jogo me deixou com calor. – Meu irmão também se aproximou de nós dois, seguido por Liam, que estava quieto demais.
- Ok... Liam, tá tudo bem? – Parei de frente para ele, procurando seu olhar com o meu.
- Uhum. – Foi a sua resposta. E foi então que me ocorreu... Ele não estava interessado por mim, e sim por ! Devia estar quieto daquele jeito porque o namorado dela estava vindo. E os olhares que ela achava que eram pra mim... Na verdade eram pra ela! É claro! Nós duas andávamos juntas, então seria fácil ela achar que ele estava me olhando e não ela!
- Tudo bem, Li. Mas não demorem muito pra voltar. – Não iria insistir no assunto, já que ciúme era um sentimento horrível.
Me despedi deles como sempre fazia, soltando beijinhos no ar. já me esperava com nossas coisas nas mãos e nós partimos para a minha casa. Não conversamos durante o caminho de volta, pois eu estava perdida em pensamentos. Liam era um de meus melhores amigos e estava se tornando uma boa amiga. Eu não queria que ele ficasse magoado por ela não gostar dele da mesma forma e também não queria que ela tivesse problemas com Niall, pois ele parecia uma pessoa legal.
Assim que chegamos a casa, avisei pra ela que iria subir e tomar um banho, já que era alérgica ao cloro e não podia passar muito tempo com ele no corpo. Uma desculpa esfarrapada, é claro. E tenho certeza que ela não acreditou, mas concordou. Sim, eu estava tentando evitar Zayn o máximo que podia. Tente entender, não é que ele fosse a pessoa mais desagradável do mundo, mas eu conhecia o tipo dele e já havia me envolvido com outro garoto do tipo “badboy” e podemos dizer que não terminou em boa coisa. Por esse motivo, eu pretendia ficar perto dele apenas o necessário. Deixei na sala esperando a chegada do namorado e subi para o meu quarto. Apenas fechei a porta atrás de mim e fui direto para o banheiro.
Ajustei a temperatura até conseguir deixá-la quentinha o suficiente para me fazer relaxar. Entrei de cabeça embaixo do chuveiro e deixei a água lavar a minha alma. Demorei pelo menos o dobro do necessário pra fazer tudo. Passei o sabonete por cada curva, tirando o cloro e o suor. Lavei os cabelos delicadamente, tirando até a última gota de shampoo e condicionador. Eu poderia ficar ali o resto do dia inteiro, só pensando. Sentia falta da minha avó e do meu avô. Sentia falta da minha cidade; minha Paris. Queria saber como a minha mãe estava, mas não tinha coragem de ligar pra ela. Meu pai demorava pra dar noticias, mas eu sabia que ele estava ocupado com o trabalho. Afastei aqueles pensamentos antes que começasse a chorar e desliguei o chuveiro. Saí do Box e me enrolei na toalha que estava pendurada atrás da porta. Algumas gotas de água ainda escorriam dos meus cabelos molhados e das minhas pernas, mas o banheiro estava com vapor demais para que eu ficasse lá dentro por mais um minuto. No momento em que saí do banheiro senti vontade de voltar atrás e me trancar lá dentro até que a figura masculina parada no meu quarto fosse embora. Os ombros largos e o cabelo bagunçado o denunciaram. Zayn estava sentado na minha cama, de costas pra mim e olhando as fotografias na minha parede.
- O qu... O que você está fazendo aqui? – Gaguejei, segurando a toalha contra o meu corpo.
- Gostei do quarto. – Ele se virou pra mim, ignorando completamente a minha pergunta, e me encarou. Encarou não; ele me comeu com os olhos. – Gostei da toalha.
- Você não me respondeu. – Revirei os olhos. – O que você está fazendo aqui?
- achou que você estava demorando demais e me mandou vir checar. – Ele explicou, ainda me olhando daquele jeito. Devia estar desejando ter visão de raio-x pra ver através da minha toalha.
- Bem, agora que você viu que eu não me afoguei, pode se retirar? – Apertei ainda mais a toalha contra o meu corpo e apontei para a porta, mandando-o sair.
- Porque você me odeia, ? – Seu sorriso sumiu e ele me fitou sério. Estudando o meu rosto dessa vez. – O que eu te fiz? Você nem me conhece.
- E-eu... – Mais uma vez gaguejei. Ele tinha razão em pensar que eu o odiava, por causa da forma que eu o tratava. – Eu não te odeio, Zayn.
- Tem certeza? Porque é o que parece. Eu não sei o que você andou ouvindo ao meu respeito por aí, mas...
- Eu não ouvi nada. – O interrompi. Por algum motivo eu comecei a me sentir mal por estar tratando-o com indiferença. – Quer dizer... Ouvi da , mas ela só te defende.
- Pelo menos pra alguma coisa aquela cabecinha de fogo serve! – Zayn gargalhou de forma tão gostosa que eu tive que rir junto. O clima já começou a ficar mais leve.
- Sim... E você não vai mesmo sair pra eu poder me trocar? – Assisti o garoto encostar-se aos meus travesseiros e ficar confortável.
- Tenho ordens pra só voltar à sala com você. – Deu de ombros, como se aquela fosse a sua única opção. – E eu não me incomodo.
Vendo que não chegaria a lugar nenhum, desisti de discutir e entrei no closet. Nunca agradeci tanto por ter praticamente um segundo quarto só pra guardar as minhas roupas. Optei por uma saia de cintura alta e uma blusinha clara. Penteei os cabelos com os dedos, já que minha escova estava no banheiro. Por sorte, achei um perfume perdido entre os meus sapatos e o passei. Só desejava ter algum brilho labial por ali também, mas a minha sorte tinha acabado no perfume. Não coloquei um sapato porque estava em casa e gostava de ficar descalça. Dei uma última olhada no espelho a minha frente, passando as mãos pela saia para verificar se estava no lugar. “É, da pro gasto.”, pensei. Por um segundo me peguei pensando em Zayn e se ele gostaria daquelas roupas. Pensei até em trocar de blusa por uma mais decotada, pra chamar a sua atenção. Sim, eu estava ficando louca. Era a única explicação. “Perigo, . Ele é pe-ri-go. E tem namorada. Uma namorada terrível. Aliás, por que ele está com ela? Poderia conseguir alguém tão melhor...” Terminei a minha discussão mental antes que fosse longe demais e deixei o closet, encontrando Zayn mexendo no livro que eu estava lendo. Sim, o mesmo que eu havia desmarcado semanas atrás.
- Além de entrar em quartos alheios sem ser convidado, você também mexe no que não te pertence, Malik? – Andei até ele, pegando meu livro de volta.
- O que você achou quando ela morreu no final? – Perguntou casualmente, me contando o final do livro.
- SPOILER! – Gritei, tapando os ouvidos. Mas já era tarde demais. Ele já tinha estragado o livro todo, me contando o final.
- Você não sabia? Eu achei que já tivesse lido! – Ele riu do meu desespero, tentando se justificar. – O livro estava sem marcação nenhuma! Eu achei que...
- Da próxima vez você pergunta antes de contar o final! – Continuei bufando, irritada.
- Você fica linda assim. – Além de me contar um spoiler, ele ainda vinha com gracinha pra cima de mim? E depois não queria que eu o odiasse.
- Parou, né? Se a sua namorada o escuta falando uma coisa dessas, ela tem um ataque. – Deixei o livro que eu não terminaria de ler em cima da cama e caminhei até a porta, abrindo-a. – Podemos ir agora?
- Só se você me chamar pelo sobrenome de novo. – Sorriu sacana, sentando na cama novamente. Começo a achar que me tirar do sério é um passatempo pra ele.
- Malik, shô! – Não o chamei pelo sobrenome porque ele havia pedido, mas eu estava ficando irritada novamente então não controlei as minhas palavras.
- Oui, oui, mon cher. – Então o pilantra fala francês agora? Zayn levantou da cama e passou por mim, saindo do quarto e descendo as escadas.
Eu o segui, mas esperei alguns segundos para entrar na sala. Não queria chegar junto com ele em hipótese alguma. A cena que encontrei me deixou um pouco confusa. Liam conversava com Niall em um canto e os dois pareciam bem animados. jogava vídeo game com Louis e Harry tentava atrapalhar os dois. O único que parecia notar a minha presença ali era Zayn, que andou até o meu lado e sussurrou algo como “Gostei dos seus amigos.” Rebati com: “Você gosta de tudo.” e o deixei sozinho, caminhando até e me sentando ao seu lado no sofá. O resto da noite foi animado e agüentar a presença de Malik não foi tão terrível quanto eu achei que seria. Pedimos algumas pizzas e comemos até passar mal. Fizemos competição de vídeo game e eu perdi algumas vezes, o que foi um pesadelo. Louis e Liam teriam trabalho no dia seguinte, então foram dormir depois do jantar. Zayn recebeu uma ligação de Brigitte e teve que ir embora, arrastando Niall e , já que eles estavam em um carro só. Harry ainda estava de férias, então resolveu ficar por lá mesmo e dormir no sofá.
- Você acha mesmo que eu vou te deixar dormir aí, né? – Disse ao descer as escadas, já de pijama.
- Tem outro quarto de hospedes aqui que eu não conheço? – Haz me olhou confuso. Ele conseguia ficar ainda mais lerdo quando estava com sono.
- Não, idiota. – Rolei os olhos com uma risada. Fui até a cozinha e peguei a minha garrafinha de chá gelado na geladeira, voltando para sala em seguida. – Você vai dormir comigo.
- Mas, ... – Nem dei ouvidos e o puxei pela mão, subindo de volta ao meu quarto.
- Eu durmo do lado esquerdo! – Falei antes que ele pudesse pegar o meu lugar. Fui até a cama e me sentei, puxando o cobertor para cobrir as minhas pernas.
- Como sempre! – Harry disse, pulando embaixo das cobertas comigo. Aparentemente ele se lembrava de alguma das minhas manias; como a minha mania de sempre dormir ao lado esquerdo da cama. Ele tirou a camiseta e a jogou em qualquer lugar do quarto. Em seguida, se enterrou embaixo do edredom. – Boa noite!
- Epa, espera! – O cutuquei, fazendo-o se virar pra mim. – Conversa comigo enquanto eu termino o meu chá?
- Eu tô com sono, . – Resmungou. Fiz o meu melhor biquinho e dei um gole na minha bebida. – Ok, ok, você ganhou.
- Eba! – Sorri abertamente. Aproveitaria que estávamos sozinhos pra sondar o que ele sabia sobre Liam e . – Então, Haz... Você sabe se o Liam esta gostando de alguém?
- Ahn... – Ele pareceu surpreso com a minha pergunta. – Não, claro que não!
- Harry, eu te conheço há seis anos e sei quando está mentindo. Você acabou que fazer aquela coisa com a boca.
- Eu prometi que não falaria nada... – Aqueles olhinhos verdes quase escondidos pelos cachos me olhavam com atenção. – Principalmente pra você.
- Eu juro que não conto pra ninguém! – Insisti. Eu não deixaria aquilo passar. – Vamos fazer assim... Eu te faço dez perguntas e você responde.
- Três perguntas. E eu respondo com sim ou não. – Ele deu as condições e eu aceitei.
- Tudo bem... Primeira pergunta: Ele gosta de alguém?
- Sim.
- Hm... E esse alguém sabe disso?
- Não.
- Ok, última pergunta. – Pensei em perguntar: “É a ?”, mas deixaria muito na cara. – Eu a conheço?
- Sim. – Ele hesitou um pouco em responder. E então eu tinha a certeza de que ele estava afim da , já que ela era a única garota que eu e ele conhecíamos em comum.
- Obrigada, Hazza. – Sorri e dei um beijo estalado em sua bochecha. – Pode ir dormir agora!
- Me usa e depois joga fora. Entendi tudo. – Fez-se de indignado, mas logo sorriu e me deu um beijo na testa. – Boa noite, .
Com isso, Harry virou para o lado e dormiu, me deixando absorta em pensamentos. É claro que eu não contaria a Liam, mas teria que ficar sabendo. Terminei meu chá gelado e deixei a garrafinha vazia na mesinha de cabeceira ao lado da cama. Assim que apaguei o abajur ao meu lado, abracei Harry e dormi em seus braços. Como sempre fomos melhores amigos, ele não entenderia aquele ato de forma errada e eu também não me aproveitaria dele.
Capítulo VII
Eu dormia tranquilamente abraçada ao meu travesseiro quando senti alguém se mexer na cama. Sabia que não era Harry, pois os movimentos pareciam leves demais, delicados demais. As cortinas do quarto ainda estavam fechadas, então eu não era cega pela claridade. Devagar fui despertando, tentando abrir os olhos para ver o que acontecia no meu quarto.
- Olha quem acordou... – Ouvi a voz de Harry, mas não era ele que estava sentado ao meu lado na cama.
- ‘Codooooou. – Uma voz de criança me fez terminar de despertar e sorrir. – !
- Luxy! – Eu reconheceria aqueles cabelos loiros e as bochechas rosadas em qualquer lugar. – Baby, o que você está fazendo aqui?
- A mamãe deixou ela aqui, não foi, Lux? – Harry estava sentado na ponta da cama, nos olhando. O jeito que ele falava com a minha irmãzinha era tão fofo que às vezes eu gostava de ficar só observando os dois brincarem.
- Vai passar o dia com a gente? – Eu sorri, levantando até ficar de joelhos na cama. Lux se assustou, mas logo gargalhou e bateu palmas. Ela não era de falar muitas palavras, mas ainda assim conseguíamos nos comunicar. Quando queria alguma coisa, ela apontava e fazia barulhinhos com a boca; os quais eu entendia perfeitamente. Ela não conseguia pronunciar o meu nome, mas me chamava de “Tah”. Harry era só “Haz” e Louis era “Lou”.
- Vai sim! Agora vá trocar de roupa e nos encontre lá embaixo pra comer alguma coisa e irmos ao... – Ele olhou para Lux, esperando que ela terminasse sua frase.
- Paque! – Entendi que iríamos ao parque pelo tamanho do seu sorriso.
- Yay! – Também comemorei, ajudando-a a levantar na cama e correr para os braços de Harry.
Ele a segurou pela cintura e a levantou, fazendo-a voar. Lux gritava de alegria, balançando os pés gordinhos e tentando mexer nos cachos do maior com as mãozinhas. Os dois saíram rindo do quarto e eu suspirei encantada. Gostaria de ter uma filha tão fofa quando Lux um dia, principalmente se o pai fosse como Harry. Levantei e me espreguicei, rumando mais uma vez para dentro do closet. Troquei os pijamas por roupas menos confortáveis e prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto. Antes de me retirar do quarto, corri até o banheiro e fiz a minha higiene.
Ao entrar na sala de jantar comecei a rir. Lux estava sentada sobre a mesa, com um cookie de chocolate em cada mão e a boca completamente suja. Harry não ficava muito atrás, já que tinha a boca cheia de biscoito. Fui até eles e me sentei, pegando também um cookie do jarro de biscoitos.
- Está gostoso, dona sujinha? – Perguntei após engolir o primeiro pedaço do meu cookie. Ela me olhou sapeca e riu. Quando aquela menina parava de rir?
- Ela quase acabou com o pote inteiro! – Harry disse, mas eu estreitei os olhos. Duvidava muito que ela tivesse comido tanto assim, ainda mais porque a camisa dele estava coberta de farelos, o que o denunciava.
- Com certeza, Harry. – Fingi acreditar nele. Lux levou um dos biscoitos que segurava até a minha boca, indicando para eu mordê-lo. Assim que o fiz, ela levou o mesmo biscoito até Harry, que me imitou.
- Ew, baba de . – Harry me olhou e sorriu maroto. Eu o respondi com uma careta e usei um guardanapo para limpar as bochechas da pequena.
- Vamos? – Ela esticou os bracinhos pra mim e eu a carreguei, juntando seu corpinho ao meu.
Harry se levantou e foi abrir a porta pra nós duas passarmos. A bebê encostou a bochecha no meu ombro e descansou ali. O cheiro de morango que vinha de seus cabelos ficaria marcado na minha blusa e eu adorava aquilo. Costumava ficar me cheirando toda depois que ela tinha que ir embora. Caminhei devagar com Harry ao meu lado e no meio do caminho ela quis ir para o chão. Terminamos o percurso todos de mãos dadas, com a menor entre nós dois.
O parquinho do condomínio era lindo, assim como tudo nele. Tinha uma parte de grama e uma parte de areia. Todos os brinquedos eram de uma madeira bem cuidada. Casinha, balanço, escorregador, gangorra... Havia de tudo ali. Era a primeira vez que Lux ia naquele parquinho, então imagine a sua animação. Ela tentou se soltar da minha mão e correr para a areia, mas eu não permiti. Ela me olhou com um biquinho, como se perguntasse por que eu havia impedido-a.
- Me deixe tirar seu sapato primeiro, baby girl. Não quero que fique sujo... – Abaixei-me até ficar da sua altura e tirei o minúsculo Converce que ela usava. Harry me ajudou, segurando na sua pequena mãozinha. – Pode ir agora!
Assim que foi liberada, a pequenina partiu em direção ao parque. Lux correu direto para a casinha de bonecas, deixando Harry e eu sentados em um banquinho que tinha ali por perto. Mal sentei e escutei meu celular apitar, informando o recebimento de uma nova mensagem. Ele me olhou com curiosidade quando eu tirei o aparelho do bolso. Fitei a telinha e notei que era um número desconhecido.
Dizia simplesmente, sem nenhum nome, ou maior informação. Harry me olhou confuso, pois lera a mensagem por cima do meu ombro.
Respondi com simplicidade, esperando a resposta.
É claro que aquela mensagem era dele. Bufei divertida. Harry resmungou algo ao meu lado, rolando os olhos e levantando pra ir atrás de Lux, me deixando sozinha.
Fui seca, mas ele saberia que eu estava brincando.
“Depende do que você tem em mente.”, pensei em responder, mas soaria atirada demais. Principalmente quando o cara em questão já era comprometido.
“Então agora você já sabe. Minha casa, às 21hrs. É uma pequena festa de encerramento das férias.”
Mesmo se eu não quisesse ir, tenho certeza que me arrastaria. A idéia de ir à minha primeira festa britânica me animava. Mas essa animação ia embora assim que lembrava que a oxigenada estaria lá, agarrando o namorado. Não que eu me importasse; é claro que não.
“É claro! Ela vai te chamar... Mas eu preferi te convidar primeiro.”
“E teve medo de me convidar por telefone?”
“Que eu saiba, estou usando o telefone pra mandar essas mensagens.”
“Você entendeu, Malik.”
“Já falei que adoro quando você me chama pelo sobrenome?”
“Vou parar de te chamar assim, então.”
“Só se for pra me chamar de: “baby”.”
“Te vejo no sábado, Malik.”
Encerrei nossa conversa e guardei meu celular no bolso mais uma vez. Estava sorrindo e não sabia exatamente há quanto tempo. Ainda era quarta feira, mas eu desejava que sábado chegasse logo. Avistei Harry tirando Lux do balanço e vindo em minha direção.
- Trinta libras pelo seu sorriso? – Ele também sorriu, sentando de novo ao meu lado.
- Temos uma festa pra ir, Haz. – Comemorei, abraçando-o de lado.
Já estávamos em casa quando a chuva da tarde começou a cair. Lux estava limpinha e desmaiada no colo de Harry. A manhã no parque havia cansado-a completamente e depois que ela almoçou e tomou banho, dormiu na mesma hora. Esperávamos Rachel chegar para buscar a filha, por mais que eu quisesse que ela ficasse até o dia seguinte. Eu estava sentada no sofá, com a cabeça encostada no ombro de Harry, enquanto acariciava os cabelos da minha irmãzinha em seu colo.
A campainha tocando me fez levantar e caminhar até a porta. Eu nunca perguntava quem estava batendo, por ser um condomínio fechado e os seguranças da portaria não deixarem qualquer um entrar. Então não tinha perigo de ser um assassino em série. Destranquei a porta, abrindo-a em seguida.
- Rachel! – Abracei-a assim que a vi. – Que saudade.
- , você está linda. – É claro que ela retribuiu o abraço. Mas como assim, eu estava linda? Ela era uma modelo de 1,80, com os cabelos loiros mais sedosos que eu já vi e um rosto angelical. – Seu pai está estacionando o carro e... Oh, olhe ele ali.
- Me-meu pai? – Gaguejei espantada. Não fazia ideia de que o veria naquele dia. Olhei para a direção em que ela apontou e vi meu pai caminhando na chuva pela calçada. Não aguentei esperar e corri até ele, sem me importar em ficar molhada. – Daddy!
- ! – Ele me segurou quando pulei para abraçá-lo. Ficamos parados na chuva, apenas nos abraçando. Não o via há meses e a saudade estava enorme. – Desculpa não ter vindo antes, pequena.
- Não se preocupe com isso, daddy. Eu entendo. – Não queria partir o abraço, mas já começava a ficar com frio.
- Vamos entrar, sim? Não admito a filha de um médico ficar doente. – Ele me segurou pela mão e nós entramos em casa.
Papai pendurou sua capa de chuva no cabide que havia no hall de entrada e suas roupas estavam incrivelmente secas. Diferentemente das minhas, que estavam encharcadas. Mas eu não perderia tempo trocando de roupa; não mesmo. Apenas me cobri com um roupão que me protegeria do frio por um tempo. Voltei para a sala e encontrei Lux acordada, no colo de Rachel, enquanto Harry testava caras e bocas para fazê-la rir. Papai me olhava com alegria, esperando que eu me juntasse a ele no sofá. Não pensei duas vezes e andei até lá.
- Me conte, , como está tudo por aqui? Londres está sendo o que você esperava? Soube que já foi conhecer a academia... – Ele começou o interrogatório.
- Tudo está maravilhoso, pai... – Contei pra ele tudo que havia acontecido desde a minha chegada até aquele dia. Contei de , Liam, e até mesmo Niall. Mas é claro que deixei Zayn e Brigitte de fora. Mencionei o espetáculo que a LRA organizaria e o quanto eu estava curiosa pra saber qual seria o tema. Contei da festa que iria no sábado e reclamei por não ter uma roupa pra usar.
- Então eu acho que tenho a solução pra esse problema. – Ele e Rachel trocaram olhares significativos e ela me entregou um envelope branco que retirou da bolsa. – Isso é pra emergências.
- Emergências como: Roupas novas, sapatos de marca, viagens pelo interior do país, presentes para os amigos, um carro novo... – Rachel comentou com um sorriso sapeca.
- O que é isso? – Ri com a minha madrasta e abri o envelope, encontrando um pequeno cartão prateado lá dentro. – UM CARTÃO DE CRÉDITO?
- Eu disse que ela iria gostar. – Minha fada madrinha falou.
- Você estava certa, Rach. Como sempre. – Meu pai se inclinou em direção à esposa e lhe deu um selinho.
- Ewwww. – Lux disse, tapando os olhinhos e causando risadas em todos.
- Obrigada, papai! – Eu o abracei, partindo para Rach em seguida. – Obrigada, Rachel!
Meu irmão chegou enquanto a nossa madrasta cozinhava algo para o jantar, mas Liam não estava com ele. Parece que tinha ficado preso no trabalho e só voltaria mais tarde. Harry, meu pai e Louis conversavam na mesa de jantar enquanto eu brincava com a mais nova. É incrível como crianças tem o poder de recarregar as energias com uma simples soneca.
Capítulo VIII
- , eu já falei que não vou usar esse vestido! – Repeti pela milésima vez, empurrando-a para fora do meu provador. Era a quarta loja que nós entrávamos e eu não conseguia achar nada que me agradasse.
- Mas, , ele é lindo! – bufou, voltando para o meu provador mesmo depois de ter sido expulsa. Eu a encarei sem acreditar na sua persistência. Ela segurava o vestido vermelho sangue, tomara que caia, mais curto que eu já vi. Ele era lindo, de fato, mas era justo demais. Meus seios só faltavam pular pra fora e se eu sentasse usando aquele vestido, meu útero ficaria de fora. – E coube perfeitamente.
- Se com “perfeitamente” você quis dizer que eu fiquei esmagada dentro dele, então sim, ele coube perfeitamente. – Rolei os olhos, mandando-a para o provador dela e me trancando no meu. Sempre preferi provadores com portas ao invés daquelas cortininhas e agora ainda mais. – E se gostou tanto dele, porque não o usa?
- O vermelho desse vestido não combina com o meu cabelo. – A escutei falar, rindo da sua desculpa.
- ... – Chamei-a, me olhando no espelho do provador. – Acho que encontrei o vestido perfeito.
- Sério? Quero ver! – E bateu afobada na porta. – Abre, !
- Não mesmo. – Ri do seu desespero e abri o zíper do meu vestido, tirando-o com cuidado. – Amanhã você vê.
- Tomlinson, abra essa porta agora mesmo. – Se ela continuasse batendo na porta do provador daquele jeito, nós duas seriamos expulsas da loja.
- Pronto, já abri! – Destranquei o provador depois de ter escondido o vestido entre outras peças e colocado a minha própria roupa.
- Injusto isso. Muito injusto. Você também não vai ver o meu vestido. – tentou me convencer e eu comecei a andar em direção ao caixa.
- Até parece que eu não sei que você escolheu o azul. – A deixei boquiaberta; provavelmente se perguntando como eu sabia que ela tinha escolhido aquele vestido. O caso era que eu a ouvira conversar com a nossa atendente e acho que todos podem concordar que ela não é a pessoa mais discreta do mundo. Aproveitei que ainda tinha que juntar as suas coisas e me dirigi até o caixa.
Retirei o meu cartão de crédito da carteira e o entreguei para a senhora no caixa. Seria a primeira vez que eu usaria o presente que ganhara de meu pai e madrasta e sentia como se estivesse tirando a sua virgindade. se juntou a mim depois que o meu vestido já estava embalado e a salvo dos seus olhares curiosos. Nós duas estávamos prontas para sair quando uma figura alta e desagradável entrou na loja.
- Eu acho que encontrarei o modelito perfeito aqui, amorzinho. – Brigitte passou pelas portas automáticas de vidro, seguida por um Zayn cansado e cheio de sacolas nos braços.
- Você falou isso nas duas últimas lojas. – Ele reclamou. Eu e nos entreolhamos sem saber se deveríamos falar com eles ou simplesmente deixar a boutique antes de sermos notadas.
- Ora, ora, ora. – Tarde demais. A oxigenada olhou em nossa direção, entortando o nariz perfeitamente modificado por plásticas. – Parece que eu não encontrarei nada nessa loja. Não sabia que o nível estava tão baixo.
- Hey, meninas. – Zayn nos cumprimentou, ignorando a indireta da namorada.
- Hey. – Ele podia ignorá-la, mas eu não conseguiria. – Engraçado... Eu achava que o pet shop ficava do outro lado da rua.
Falei para , que riu. Tenho certeza que vi Zayn segurando o riso também, mas não fiquei pra ver se ele diria alguma coisa. Puxei a minha amiga pela mão e saímos da loja.
e eu já havíamos andado a Oxford Street inteira antes de achar a loja perfeita e estávamos cansadas. Após sairmos da boutique onde achamos as nossas roupas para a festa, decidimos dar uma parada na StarBucks mais próxima. Foi fácil encontrar a cafeteria, já que havia praticamente uma em cada esquina. Passamos pelas portas giratórias, escutando o sininho tocar e avisar a entrada de novos clientes. Fomos direto para a fila, ficando atrás de apenas duas pessoas, já que o lugar não estava tão cheio. Assim que a nossa vez chegou, eu pedi um frappuccino de caramelo e escolheu o de morango. Enquanto fazíamos o nosso caminho para uma mesa mais afastada pra esperar nossos pedidos ficarem prontos, escutei o celular tocar dentro da minha bolsa.
- Aposto que é Liam ligando. – sorriu marota. Mal sabia ela que se ele fosse ligar pra alguém, não seria pra mim.
- Shiu, . – Estirei a língua pra ela e procurei meu celular na bolsa. Assim que o achei, notei que era um número desconhecido ligando. De novo. – Alou?
- Hey, ! – Uma voz de homem falou do outro lado da linha. É claro que reconheceria aquela voz em qualquer lugar, mas me fiz de desentendida.
- Quem é que está falando? – Perguntei me segurando pra não rir. me olhava como se perguntasse: “Quem é?”
- Eu não acredito que você ainda não salvou o meu número, . – Zayn parecia magoado. Se eu não o conhecesse, acreditaria.
- Ah, oi, Malik. – Fui simples, mas um sorriso escapou nos meus lábios. Agradeci por ele não poder vê-lo. – Cuidado pra sua namorada não escutar você falando comigo, ou vai ter problemas.
- Ela está com uma pilha de roupas pra provar, então eu estou seguro por agora. – A voz dele era sem animação alguma. Imaginei Zayn sentado com cara de tédio em uma poltrona, enquanto Brigitte provava milhares de peças de roupas e odiava todas. – Você ta rindo do quê?
- Da cara que você deve estar fazendo agora. – Gargalhei e escutei ele rir também.
- Meu tédio está tão óbvio assim? – Algo me dizia que ele estava sorrindo. Olhei levantar e ir buscar nossos pedidos.
- Mais do que você imagina. – Encostei na cadeira estofada, ficando mais confortável.
- Eu devia ter trazido algum livro pra ficar lendo... – Acho que ele comentou aquilo mais pra ele mesmo do que pra mim. – Anyway, eu estou ligando pra pedir desculpas. O jeito que a Brie se comportou quando viu você a não foi legal.
- Zayn... Eu a chamei de cachorro. – “Brie”? Rolei os olhos. – Então não se preocupa.
- Sim, mas ela mereceu! – Escutei-o gargalhar. – Foi difícil não rir também.
- É, eu percebi. – Quando chegou, eu estava rindo. Ela falou um tipo de ‘uhhh’ e sorriu daquele jeitinho que só ela fazia. – Obrigada, .
- Onde vocês estão?
- Starbucks! – Respondi com a boca cheia de frappucchino.
- Coma um muffin por mim, ok? Tenho que ir agora... – Não queria ter que desligar, porque apesar de toda implicância e mesmo sem admitir, eu gostava de conversar com ele.
- Tudo bem, Z. Boa sorte aí...
- Se cuide, francesinha. – E com isso ele desligou.
Guardei o iPhone na minha bolsa e esperei falar alguma coisa. Ela deveria estar se segurando pra fazer algum comentário, só pela forma que me olhava. Esperando o veredicto de minha amiga, eu me ocupei em beber meu café.
- Liam que se cuide. – Disparou, quase me fazendo engasgar. – A concorrência está demais.
- Você é que está demais, . Sempre vendo coisa onde não tem. Estou começando a ficar preocupada.
- Um dia você vai ver que tenho razão! – Ela arrumou o óculos de grau e balançou os cabelos ruivos. – Eu sempre tenho razão.
- Por falar nisso... Tenho que te contar uma coisa. – Achava que aquele era o momento certo pra falar sobre o que descobrira. – O Liam não está afim de mim.
- É claro que está! – Ela balançou a cabeça, cansada da minha negação.
- Eu falei com o Harry e ele confirmou o que eu já desconfiava. Não é de mim que o Liam gosta, e sim de você. – Expliquei com calma e ela começou a rir. Sim, rir. – É sério, !
- Não me chama de , . – Reclamou, mas pelo menos parou de rir. – Mas me conte a sua teoria, vai.
- Lembra quando os meninos estavam jogando futebol e você disse que ele não parava de olhar pra mim? – Ela assentiu, entediada. – Não era pra mim que ele estava olhando, e sim pra você. E você estava sem óculos, por isso confundiu a direção dos olhares!
- Aham, aham. E o que o Harry falou?
- Que ele gosta de você. – Levantei os braços como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Espera... O Harry falou: “O Liam gosta da Abi”? – Levantou uma sobrancelha.
- Não exatamente com essas palavras...
- Como ele falou, ? – Colocou uma mão na testa, me encarando ainda com tédio.
- Ele me deixou fazer três perguntas e respondeu com sim ou não. – Tentava me justificar. – Então ele disse que o Liam está sim afim de uma garota, ela não sabe disso e eu a conheço. Mas, ... Você é a única garota que eu conheço.
- Pensa aqui comigo, coisa linda. – Ela segurou as minhas mãos por cima da mesa. – Que eu saiba, você é uma garota. Eu já te vi de biquíni, então essa parte confere. – Começou a contar com os dedos. – Segundo: Você não sabe que ele está afim de você. Tecnicamente, porque eu já te falei isso mil vezes. Mas confere. E terceiro e mais importante: Você pode até me conhecer. Mas você SE conhece. Então confere.
- Eu desisto. Não vou mais falar sobre isso com você. – Levantei da cadeira, pegando as minhas sacolas de compra com uma mão e o frappucchino pela metade com a outra. – Vamos, eu quero ir pra casa.
- É verdade, o Liam deve estar preocupado. – Ela me irritou e levantou também.
Não me dei ao trabalho de respondê-la. Estava emburrada. Caminhei em passos largos para a saída, ficando presa entre as portas giratórias por causa de um senhor – MUITO LENTO – Que resolveu passar na mesma hora que eu. só fazia rir e eu queria bater nela. Pense em uma pessoa irritante. Pensou? Agora multiplique por 300. Conseguiu? Então. Essa é . Ela gritou algo como: “Fica calma, !” E eu só não mandei ela calar a boca porque era uma pessoa educada e não queria assustar o senhor que ainda não parecia entender como aquelas portas funcionavam. Vai que ele morre ali? Aí é que eu não poderia sair mesmo. Passamos cinco minutos inteiros tentando decidir para qual lado girar. Quando finalmente consegui sair de lá, esperei se juntar a mim. Ela saiu com tanta graciosidade que eu tive vontade de me jogar de alguma escada. Sim, eu estava sendo dramática e sabia disso, mas ela merecia o meu ódio.
- Não fica assim, . – Ela veio até mim e pulou no meu pescoço. – Você sabe que eu te amo.
- Sai. – Tentei me soltar, mas a baixinha era mais forte do que parecia. – Solta, solta.
- Não solto! – riu, me agarrando ainda mais. As pessoas que estavam passando começavam a nos olhar. – Só se você falar que me ama.
- Eu te amo, sua chata. – Não conseguia ficar brava com ela, por mais que tentasse.
Encerramos aquela cena adorável e partimos para o New Beetle amarelo de . Sei o que você deve estar pensando: “Onde está o seu carro?” Eu também me perguntava a mesma coisa, já que ele deveria estar comigo há três dias. Meu conversível estava sendo transportado da França para Londres e a sua entrega estava atrasada. Enquanto meu transporte não chegava, eu era obrigada a me virar com taxi e ônibus, mas tinha amigos tão maravilhosos que sempre conseguia uma carona.
me deixou na porta de casa, mas não quis entrar. Ela alegou que queria chegar logo em casa porque sua mãe a estava esperando, mas eu sabia que ela estava com saudades do namorado. Entrei em casa e não encontrei ninguém pela sala ou cozinha, o que era bem estranho, já que era noite e os meninos deveriam estar de volta do trabalho. Subi as escadas e encontrei todas as portas fechadas. Fui até o meu quarto e larguei minhas coisas em cima da cama, logo voltando para o corredor. Eu tinha duas portas para testar.
Comecei batendo delicadamente na porta da direita; o quarto de Liam. Não recebi resposta. Tive medo de abrir e acabar acordando-o. Passei para a porta da esquerda, batendo no quarto do meu irmão.
- Quem vem lá? – Escutei Louis perguntar. Só ele conseguia ser idiota assim.
- Ora, sou eu... A duquesa Tomlinson. – Entrei na brincadeira, esperando-o abrir a porta.
- Por favor, duquesa, entre... – E abriu a porta, me esperando passar.
- Hey, Lou. – Deixei um beijo em sua bochecha antes de entrar. – Onde está todo mundo?
- Eu sei que parece que o Harry mora aqui, , mas ele teria que ir pra casa algum dia. – Ele se sentou cadeira próxima a mesa onde o computador dele estava e eu me deitei em sua cama.
- E o Liam? – Tentei fazer uma cara de: “Não que eu me importe” que não teria enganado .
- Ele saiu com a Candice.
- Quem? – Minha voz pode ter saído um pouco mais aguda do que eu pretendia.
- Candice. – Ele respondeu como se aquilo fosse diminuir as minhas dúvidas. – É uma modelo que ele fotografou hoje. Os dois se deram muito bem, então Liam a chamou para sair.
- Huh. – Eu não sabia o que falar. Aquilo me pegou de surpresa. Não que eu estivesse com ciúmes... Pelo menos não nesse sentido. Quero dizer, ele poderia sair com e eu não me importaria. Mas Candice? Eu nem a conhecia! Vai que era uma vadia dessas que sai com todos os fotógrafos que conhece? Liam não era qualquer um. – Sei.
- Qual o problema, ? – Lou estreitou os olhos, lendo a minha expressão.
- Problema? Problema nenhum. Está tudo perfeito! – Dei o meu melhor sorriso falso e me sentei. – Vocês vão pra festa comigo amanhã, né?
- Uh oh.
- Uh oh? Uh oh o quê, Louis? – E quando eu digo que há algo errado...
- É amanhã a festa do Zayn? – Ele coçou a nuca. – É que a Candice nos chamou pra uma festa amanhã também. E nós meio que já falamos que vamos...
- Huh. Huh, huh, huh. – Essa menina de novo? Tá de brincadeira com a minha cara. – Tudo bem. Boa festa pra vocês. Harry vai também?
- Provavelmente... – Lou sabia que eu estava chateada. Ele havia prometido pra mim que iria na “minha” festa. E de repente muda de idéia?
- Ótimo. Boa noite, Louis. – Saí do seu quarto e fiz questão de bater a porta.
Ele sabia que não devia vir atrás de mim. Quando eu fico com raiva de alguma coisa, a melhor saída é me deixar quieta até o sangue baixar. Sempre fui muito possessiva e ciumenta, principalmente com os meus melhores amigos. E de repente aparece essa menina e começa a roubar todos de mim? Ok, pode ser drama meu, mas quem liga? A história é minha mesmo. Não me dei ao trabalho de descer pra jantar; estava sem fome. Tranquei a porta do quarto para não ser perturbada e me joguei na cama. Fiquei escutando música no meu iPod até pegar no sono.
Capítulo IX
“Sleeping through the day, ‘cause I work all night...” Acordei com a música Friday Night do McFly no último volume tocando nos meus ouvidos. “Nunca mais dormir com fones de ouvido”, anotado. Despertei devagar após o susto, sem desligar a música. Constatei que ainda vestia as roupas que usara pra sair com na noite anterior, me perguntando o porque de não ter trocado por um pijama mais confortável. Ah, é claro. Eu estava com raiva quando fui pra cama, por isso não fiz mais nada além de deitar e apagar.
Levantei preguiçosa, indo até o banheiro. Como de costume, fiz a minha higiene básica e tomei um banho rápido sem molhar os cabelos. Me vesti de forma simples, apenas pra descer até a cozinha e comer alguma coisa, já que eu estava morrendo de fome. “Nunca ir dormir sem jantar”, anotado. Assim que cheguei ao corredor, escutei risadas vindas do andar de baixo. A porta do quarto de Liam estava aberta, então ele já deveria ter chegado. Por alguma razão eu estava louca para vê-lo. Desci os degraus de dois em dois, indo direto para a cozinha.
- Liam? – O chamei, mas assim que entrei na cozinha o meu sorriso desapareceu. Uma figura desconhecida estava com a língua enfiada na garganta do meu amigo. E o pior, ela estava usando uma camisa dele e nada mais. Não uma camisa qualquer! Tinha que ser logo a minha preferida? Assim que fui notada, os dois se separaram e aquela magricela começou a rir. Não rir... Guinchar. Uma coisa tenho que admitir; ela era realmente bonita. Seus cabelos escuros e lisos pareciam saídos de uma propaganda de shampoo e seus olhos verdes só perdiam para os de Harry. Liam permaneceu parado, me encarando sem jeito. – Desculpa, eu não sabia que você estava acompanhado.
- Não tem problema, ... – Ele coçou a nuca daquele jeito que fazia quando não sabia o que falar. – Essa é a Candice.
- É claro que é. – Disse sem pensar, tentando disfarçar em seguida. – É um prazer, Candy.
- Na verdade é Candice... Mas minha mãe me chamava de Candy quando eu era pequena, então pode me chamar assim! – Ela andou até onde eu estava e me abraçou. Vê se pode?!
- Sou . – Retribui o abraço apenas por educação, pois odiei sentir o cheiro dele na pele dela.
- Ah! Você é a irmã do Harry, certo?
- Irmã do Louis. – Liam a corrigiu.
- Pois é. – Me soltei dela e fui até a geladeira, sem olhar para o garoto que continuava no canto. – Eu já vou deixar vocês a sós, só preciso pegar algo pra comer. Tenho uma grande festa hoje à noite, sabe?
- Oh... – Sim, eu havia falado da festa só pra lembrar Liam, já que ele aparentemente tinha se esquecido dos planos que fizera comigo primeiro. – É hoje a festa?
- Sim, Liam. Mas vejo que você já tem outros planos, então esquece, ok? – Peguei um pote de geléia de morango, algumas torradas, um copo de suco de laranja e uma faca.
- Nós também temos uma festa hoje, não é, meu amor? – Candice andou novamente até ele e o abraçou. Não fiquei na cozinha a tempo de escutar a resposta, muito menos presenciar outra cena de afeto.
Voltei ao meu quarto o mais rápido que pude, ignorando um chamado de Louis com um “Agora não, Lou” e me tranquei. Aquele quarto estava se tornando o meu refúgio. Em três horas estaria chegando para que começássemos a nos arrumar e sair para a reuniãozinha de Zayn. Que, aliás, parecia não ter nada de “reunião” e muito menos de “inha”. me explicou que todo semestre Zayn dava festas para comemorar o começo das aulas e o fim delas. As festas costumavam ser enormes, com direito a DJ, jogos de luz, comida e muita, muita bebida. Só a nata da Academy ia a essas festas e eu deveria me sentir sortuda por ser a primeira caloura a ser convidada. Confesso que estava nervosa, principalmente por nenhum dos meus amigos estarem indo comigo. No geral, eu só conhecia três pessoas que estariam lá: e Niall, que iriam se trancar em algum quarto e só sair no outro dia; e Zayn. Que quando não estivesse com a namorada, estaria sendo um bom anfitrião e ocupado com detalhes técnicos da festa. Então eu acabaria sozinha e entediada em um canto.
Tentei afastar aqueles pensamentos deprimentes e me servi de um pouco de torrada e geléia. Depois da primeira mordida, tive vontade de vomitar. “Não acredito que essa porcaria está estragada.” Revirei os olhos com a minha falta de sorte. Eu iria morrer de fome, já que não ousaria sair do quarto e dar de cara com o novo casal se comendo na escada. Foi então que meu celular começou a vibrar com a chegada de uma nova mensagem e eu torcia para que fosse a minha salvadora.
“Estou acordada desde as cinco da manhã, baby. Pode vir sim, mas com uma condição.”
“Cinco da manhã? Se for “há cinco minutos” eu até que acredito. Qual condição, sua pequena chantagista?”
“Comida. Eu deixo você vir se me trouxer comida! Aqui eu te explico.”
“Ok, estarei aí em meia hora.”
“Com comida, certo?”
“Sim, gorda.”
Eu iria sobreviver! Muahaha. Dei um jeito de jogar a geléia estragada e as torradas no lixo, sem experimentar o suco, já que ele parecia meio suspeito também. Em quarenta minutos mais ou menos, chegou com um sanduíche do Burguer King e batatas fritas, além de um mil shake de chocolate. Ou ela queria me impedir de entrar no meu vestido, ou era uma amiga muito boa. Preferi ficar com essa segunda opção. Enquanto eu devorei o lanche, me contou que quando estava chegando viu Candice indo embora e Liam levando-a até o carro. Eu contei a pequena cena da cozinha e ela pareceu não entender nada. “Mas eu estou sempre certa”, ela resmungava. Pelo menos agora iria parar de dizer que ele estava afim de mim. E era óbvio que ele também não estava gostando dela.
A festa começaria as 21hrs e a ruiva me informou que ingleses eram pontuais até nisso. Teríamos três horas pra nos arrumar e ela foi para o meu banheiro tomar banho primeiro. Eu estava no closet, procurando um sapato que combinasse com o vestido de , quando alguém bateu na porta do quarto.
- ? Posso falar com você? – Era a voz de Liam. Tive que sair do closet para atender o chamado.
- Claro. – Abri a porta e fui para o corredor. – Whatsup?
- É só que... O que viu na cozinha... Eu não queria...
- Liam, você não precisa se explicar. – O cortei. Seus olhos estavam diferentes, como se ele estivesse chateado com algo.
- Eu sei, eu sei. Só não queria que você descobrisse daquele jeito. Eu queria ter te contado.
- Eu teria preferido isso também. – Dei de ombros. – Mas ela parece gostar bastante de você, então tudo bem!
- É, eu acho que gosta sim. – Ele sorriu de canto. Mas ainda não era aquele sorriso. – E eu não quero que pense que eu sou do tipo que dorme com todas já na primeira noite.
- Sem detalhes, por favor! – Fiz uma careta. – Eu te conheço, então não vou pensar isso.
- Obrigado, . – Coçou a nuca.
- ? – gritou, provavelmente me procurando.
- Eu tenho que ir... Estamos nos arrumando.
- Sem problemas. Boa festa pra vocês, . – Ele foi até o próprio quarto.
- Valeu. Pra vocês também... – Voltei para o meu refúgio, encontrando uma ruiva curiosa enrolada na toalha branca.
Expliquei o que tinha acontecido e ela sorriu, afirmando que ele devia estar esperando um ataque de ciúmes da minha parte. Cortei o assunto antes que ela pudesse começar com aqueles papos absurdos e fui para o banheiro tomar o meu banho. Não pensei em absolutamente nada, apenas me ensaboei e lavei os cabelos. havia demorado demais no banho dela e a gente já não tinha tempo a perder. Desliguei o chuveiro e me sequei como de costume, com uma toalha amarrada no corpo e outra segurando os meus cabelos. estava com o meu secador nas mãos, arrumando a “juba vermelha”, como Niall costumava chamar. Vesti as roupas de baixo e troquei a toalha por um roupão felpudo, assim como a minha amiga. O vestido seria a última coisa que eu colocaria.
terminou de usar o secador e foi a minha vez. Ela começou a se maquiar e eu ainda tentava controlar os meus fios castanhos. Conversávamos sobre coisas aleatórias enquanto nos arrumávamos. Ela terminou de se maquiar assim que meus cabelos estavam secos e veio me ajudar. pegou a cadeira da minha escrivaninha e a colocou no banheiro, em frente ao espelho e à bancada da pia. Enquanto eu tentava me maquiar, ela pegou o babyliss e começou a cachear as pontas do meu cabelo. Nunca fui fã de maquiagens pesadas, então apenas marquei os olhos e deu uma batidinha nas bochechas com um blush clarinho. Me preparava pra passar um batom cor de rosa nos lábios e o tomou da minha mão, quase me queimando com o ferro quente.
- Por favor, me diga que você não pretendia passar esse batom de criança? – Ela rolou os olhos, procurando algo na bolsa.
- Ei! Não é de criança, ok? É lindo. – Cruzei os braços, bicuda.
- É lindo sim, pra um passeio no parque. Não pra maior festa do ano! –Ignorou o meu bico e me entregou um batom vermelho vivo. – Passe esse.
- Tudo bem, chata. – Me rendi e pintei os lábios com o batom vermelho. – Ficou lindo...
- O que você faria sem mim? – Sorriu convencida. Por mais que odiasse concordar, ela estava certa. Aquele batom vermelho tinha ficado bem mais bonito do que o rosa ficaria.
Em cinco minutos, eu já estava maquiada o bastante pra ficar diferente do meu “eu” do dia a dia, mas não o suficiente pra que eu parecesse uma biscate. também terminou o meu cabelo e estávamos quase prontas. Ela foi para o meu closet, quase gritando de felicidade. “Você nunca me disse que tinha tantos sapatos assim!” A ouvi falando. “E são todos de Paris!” Coloquei lenha na fogueira e ela gritou com animação.
- O que acha? – Saiu do closet toda vestida, usando meu loubotin prata nos pés.
- Você está perfeita, . – E ela realmente estava. tinha uma beleza tipicamente inglesa; a pele branquinha, olhos claros, corpo sem muitas curvas que a deixava com uma pose elegante. Toda arrumada daquele jeito, ela conseguia ficar ainda mais linda.
- E você ainda não se vestiu por quê?
- Porque você só vai ver o meu vestido quando eu estiver dentro dele! – Expliquei, empurrando-a para fora do quarto.
Assim que fiquei sozinha no meu quarto e descia para a sala, peguei o vestido de dentro da caixa e delicadamente o vesti. Era incrível como ele parecia ter sido feito sob medida pra mim. Coloquei um colar delicado em volta do pescoço, uma pulseira e brincos. Calcei meu salto alto e peguei minha bolsa de mão, guardando nela o meu celular e carteira. Perfumei-me com o meu Chanel preferido e estava pronta pra ir. Saí do quarto e fechei a porta atrás de mim. Desci as escadas devagar, querendo criar uma entrada dramática. Os meninos estavam reunidos no hall principal e conversava com eles. O assunto morreu assim que eu entrei no lugar. Todos os olhares se voltaram pra mim, principalmente os da minha amiga, que devia estar morrendo de curiosidade para ver o meu vestido.
- Como eu não vi esse vestido na loja? – Ela estava boquiaberta.
- Você está linda, . – Harry sorriu, vindo me abraçar.
- , cuide dela nessa festa, ok? – Meu irmão dando uma de super protetor falou para a minha amiga.
- Está linda mesmo. – Foi a vez de Liam me abraçar.
- Obrigada, meninos. – Sorri. – Mas nós temos que ir agora.
Nos despedimos e desejamos “boa festa” uns para os outros. Preferi não me atentar para as roupas que eles estavam usando, mas tinha certeza que estavam lindos. Como aqueles três bobocas conseguiam ficar bonitos mesmo sem se esforçar? destravou o carro e nós entramos. Ela costumava rir de mim quando eu errava o lado do passageiro e entrava no lugar do motorista, mas na quinta tentativa eu comecei a pegar o jeito.
Estávamos na estrada há um bom tempo e o meu nervosismo só fazia crescer. Aquela seria a minha primeira experiência social com estudantes da Academy e se o que dizem sobre primeiras impressões é verdade, eu teria uma longa noite pela frente. Perguntei se Zayn morava sozinho e disse que ele morava com a mãe e três irmãs mais novas, mas que elas sempre estavam viajando nos dias de festa. Como nunca fala somente o necessário, ela fez um resumo da família do garoto. Disse que os pais se separaram quando ele ainda era uma criança, mas que a Patricia – a mãe dele – era um amor de pessoa. Devia ser mesmo, porque só assim pra deixar o filho encher a casa de estranhos.
Já passava das 21h30min quando estacionamos o carro em uma rua sem saída. Saímos do carro e eu dei uma última ajeitada nos cabelos e no vestido antes de olhar em volta. A casa de Zayn era enorme. Tão enorme que deveria ser chamada de mansão e não de casa. O jardim de entrada era convidativo e as luzes do interior da casa piscavam. Parecia que a festa já estava bombando. Olhei para com um sorriso nos lábios e ela me segurou pela mão, rumando à porta de entrada.
- Bem vinda a sua primeira festa, . – Ela sorriu pra mim, abrindo a porta depois do nosso pequeno percurso.
Nós duas entramos e o meu sorriso só fez aumentar. O lugar era ainda mais bonito do lado de dentro. Perto daquela casa, a minha não era nada. Tenho certeza que me perderia entre aqueles corredores se morasse lá. Olhei em volta e pessoas que eu não conhecia cumprimentavam e acabavam se apresentando a mim.
- Eu não sabia que você era tão popular... – Sussurrei pra ela, apertando a mão de uma menina chamada Amanda ou algo assim.
- Cola em mim que é sucesso, baby. – Ela riu, pegando duas taças com uma bebida vermelha em cima da bandeja de um garçom que ia passando e me entregou uma. – Vem, o Nialler tá esperando a gente perto da piscina.
- Meu pudincup! – Brinquei, recebendo um biliscão. – Isso dói!
Caminhamos até a área da piscina sendo interrompidas algumas vezes por mais pessoas que nos cumprimentavam ou perguntavam onde achamos nossos sapatos e bolsas. Aquilo era tudo novo pra mim, já que na França ninguém interagia tão abertamente como em Londres. Niall acenou assim que nos viu e caminhamos até onde ele estava. o beijou rapidamente e eu o abracei em seguida.
- Gostando da festa, ? – Ele abraçou e eu bebi metade do líquido em minha taça.
- Estou sim... Até agora está tudo ótimo. – Sorri para os dois apaixonados.
- Quer dançar? – perguntou a Niall e eu. Ele balançou a cabeça afirmativamente e olhou pra mim. – Vamos, ?
- Podem ir, pombinhos. Eu não vou atrapalhar. – Brinquei, esvaziando o meu copo. – Preciso de mais um desses.
- Não exagere no cosmopolitan, mocinha. Seu irmão me mandou tomar conta de você. – Mandei um beijo pra ela e deixei os dois irem para a pista de dança.
Eu já estava sozinha, como sabia que ficaria. Tentei não dar muita atenção àquilo, afinal, estava em um lugar maravilhoso. Ao lado da piscina ficava um jardim enorme, onde pessoas se agarravam pela grama, ou apenas curtiam o ar livre. Dentro da casa havia uma pista de dança que tomava conta da sala inteira. Em uma parte mais reservada eu encontrei o bar. Sei que atraí olhares quando passei, mas não dei importância.
Me sentei em um dos bancos próximos ao balcão do bar e cruzei as pernas. Sempre com cuidado para não deixar o vestido subir demais, é claro.
- Um Jagguerbomb, por favor. – Pedi ao barman, depois de dar uma olhada no cardápio de bebidas. Sim, aquela festa tinha até cardápios!
- Dois. – Uma voz conhecida falou ao meu lado, me fazendo sorrir antes mesmo que eu olhasse pra ele.
- Gostei da casa. – Falei, me lembrando da nossa conversa no meu quarto, ainda sem encará-lo. Tinha medo de olhá-lo e perder toda a minha linha de raciocínio.
- Gostei das pernas. – Rebateu, me fazendo olhar pra ele. Zayn sorria daquele jeito sacana, se apoiando no balcão. Ele conseguia estar ainda mais lindo do que das outras vezes que eu o vira. Usava uma calça jeans escura um tanto quanto justa, uma camisa acinzentada colada ao corpo e uma jaqueta por cima de tudo. Nos pés, um tênis surrado. Estava ainda mais charmoso com os cabelos duplamente bagunçados. – Você está muito bonita, .
- Obrigada, Malik. Você também não está nada mal. – Sorri pra ele.
- Acho que eu devo começar a te chamar de Tomlinson, então. Porque você tem uma fixação por sobrenomes que eu vou te contar. – Ele riu divertido. O barman entregou as nossas bebidas e eu a recebi com um sorriso.
- Eu acho sexy. – Disse como se fosse a coisa mais simples do mundo e dei o primeiro gole na minha bebida. O álcool era completamente disfarçado pelo gosto do suco de frutas. Aquela bebida era um perigo, já que eu poderia tomar várias seguidas e ficar bêbada sem nem notar.
- Bom saber disso, francesinha. – Ele me acompanhou e deu um gole na própria bebida. – Onde está a sua amiga?
- Com o seu amigo. Os dois estão dançando e eu estou aqui abandonada! – Dramatizei, bebendo mais um gole.
- Você não está abandonada. Eu estou aqui com você. – Zayn se aproximou perigosamente, passando um braço em volta da minha cintura.
- Está mesmo... – Para a minha sorte o banco era giratório, então foi fácil dar uma volta e me livrar do seu abraço. – Até a sua namorada aparecer e você ter que ir atrás dela.
- Por que você sempre dá um jeito de falar nela? – Ele veio atrás de mim, já que eu estava saindo da área do bar. Zayn segurou a minha mão e me puxou pra perto dele.
- Porque é perigoso demais pensar em você sem uma namorada. – Falei sem pensar. E eu não havia bebido tanto assim pra culpar a bebida. Culparia os olhos amendoados de Zayn então.
- Então você pensa em mim? – Levantou uma sobrancelha, esperando a minha resposta.
- Claro que penso. – Mordi o meu lábio inferior, brincando com o zíper da jaqueta aberta que ele usava.
- E no que pensa? – Ele praticamente sussurrou, me envolvendo pela cintura com o braço livre mais uma vez.
- Eu penso... Em como vai ser horrível esbarrar em você pelos corredores da academia. – Me desfiz do seu toque mais uma vez, por mais que cada centímetro do meu ser pedisse por mais.
Voltei a andar em direção à pista de dança e o deixei lá, sem entender o que tinha acabado de acontecer. Pra ele deveria ser muito fácil conseguir qualquer uma que ele quisesse, mesmo tendo namorada, mas eu não seria uma delas. A pista de dança estava animada quando me juntei a e Niall. Ainda com o copo na mão, deixei “Give me everything” do Ne-yo me dominar e comecei a dançar. Meus amigos eram muito engraçados dançando. Eles se mexiam totalmente fora de sincronia, balançando os braços para o alto. Era uma cena tão engraçada que eu só fazia rir. Aos poucos a música foi diminuindo e o DJ saiu da sua mesa. Todos pararam de dançar, gritando e pedindo mais.
- Acho que tá na hora... – disse para Niall e eu os olhei sem entender nada. – O Zayn deve estar vindo.
- O que está acontecendo? – Perguntei a eles, mas não tive resposta. Continuei bebericando o meu Jaggerbomb, quase engasgando quando Zayn ocupou o lugar do DJ e colocou o headphone na cabeça.
Antes que eu começasse a entender o que ele estava fazendo ali em cima, todos ao meu redor começaram a gritar “DJ MALIK. DJ MALIK” repetidamente. Mal consegui acreditar que ele ia realmente dar uma de DJ. Só continuei rindo e olhando-o pegar o microfone.
- Como estão todos essa noite? – Ele começou, recebendo vários gritos em resposta. Inclusive o meu. – Espero que estejam se divertindo. A primeira música que eu vou tocar pra vocês hoje é dedicada para uma garota especial.
- Aliás, onde está a Brigitte? – Perguntei a , já que não tinha sido perturbada pela presença da oxigenada a noite inteira.
- Quem liga? – Ela riu. – E acho que a música não é pra ela.
apontou discretamente para Zayn, que olhava diretamente pra mim. Então ele colocou “In my head – Jason Derulo” pra tocar e piscou pra mim. Eu não sabia o que fazer, então só sorri pra ele e levantei o meu copo em uma espécie de agradecimento. Eu ainda duvidada que a música fosse realmente pra mim, mas como falou... Quem liga?
Deixei a música me levar mais uma vez e acabei fechando os olhos para absorver cada pedacinho da letra. “In my head I see you all over me. In my head you fulfill my fantasy.” (Na minha cabeça, eu te vejo em cima de mim. Na minha cabeça, você realiza a minha fantasia) Mexi o corpo de acordo com a melodia, deixando o meu quadril ir de um lado para o outro. Passei a mão livre pelos cabelos, bagunçando-os um pouco. Senti o meu copo sendo tirado da minha mão e abri os olhos vendo terminar a minha bebida. Fiz uma careta pra ela, que ignorou e apontou com a cabeça para um canto da sala. Assim que olhei na direção que ela tinha indicado encontrei um menino me encarando. Ele não era tão bonito quando Zayn, mas ainda assim era bonito. Ao notar que eu estava observando-o o menino sorriu e veio até onde eu estava.
- Oi. – Ele falou ao meu ouvido, alto o bastante para ser escutado acima da música. – Me chamo Nicholas. Nicholas Hoult.
- Tomlinson. – Foi a minha vez de falar ao ouvido dele, sorrindo. De perto seus olhos tinham um azul ainda mais forte.
- Posso dançar com você? – Ele perguntou, sorrindo de volta.
Eu apenas balancei a cabeça em afirmação e “I like to dance” do Hot Chelle Rae começou a tocar. Sempre amei essa música! Me animei ainda mais e comecei a dançar em frente à Nick. Ele pareceu também conhecer a música, porque começou a cantar junto comigo. Nós dançávamos em sincronia e ele colocou as duas mãos na minha cintura, me olhando como se perguntasse: “Tudo bem se eu fizer isso?” e eu só sorri em resposta, dando-o liberdade. Seu toque era gentil, totalmente diferente do de Malik.
Continuamos dançando animadamente por mais duas músicas inteiras. Já ganhando um pouco mais de intimidade, nós começamos a dançar mais próximos. Eu tinha os braços em volta do pescoço de Nicholas e ele me apertava na cintura, causando-me arrepios. Arrisquei alguns olhares na direção de Zayn e notei que ele fazia careta olhando pra Nick. Talvez com raiva por ele não ter conseguido o que Nick estava conseguindo.
- Quer ir lá pra fora? – Nicholas falou na minha orelha. Fui pega de surpresa e um arrepio escapou.
- O quê? – Ri sem entender o que ele estava falando.
- Você... – E apontou pra mim. – E eu... – Apontou pra ele, me fazendo gargalhar da sua mímica. – Lá fora! Conversar. – Terminou apontando para as nossas bocas. Eu entendi o que ele quis dizer, mas fiz cara de espanto com o duplo sentido da sua mímica. – Não foi isso o que eu quis dizer...
- Vamos! – O puxei pela mão antes que ele tentasse se explicar mais. Nicholas estava tão bonitinho achando que eu tinha entendido errado o seu convite que eu gargalhei mais uma vez.
Saímos da pista de dança e fomos direto para o jardim ao lado da piscina. O gramado estava bem mais vazio do que antes, então foi fácil encontrar um bom lugar pra sentar. O céu estava nublado, não nos permitindo a visão das estrelas, mas ainda era um lugar bonito.
- Acho que podemos conversar aqui. – Nicholas começou, sentando-se ao meu lado. – Você é estranha... Mas no bom sentido, é claro!
- Como assim? – Olhei pra ele e encostei os cotovelos na grama gelada, esticando as pernas e ficando meio deitada.
- Qualquer uma teria reclamado de sentar na grama e você está quase deitada nela! – Ele riu. – E o jeito que você dançava sozinha, sem se importar com mais ninguém... Eu não conseguia tirar os olhos de você.
- Assim eu fico sem jeito! – Senti as minhas bochechas corarem com aqueles comentários e não consegui responder.
- E você fica ainda mais linda toda vermelha. – Ele segurou o meu queixo e alisou a minha bochecha com o polegar. Preciso dizer que estava parecendo um morango? Minhas bochechas deviam estar pior que o meu batom.
- Para com isso, Nicholas! – Mordi meu lábio inferior por causa do seu carinho e ri nervosa.
Fechei os olhos assim que o rosto dele começou a se aproximar do meu e chegar perto o bastante para que nossas respirações se confundissem. Sei que mal o conhecia e não devia sair por aí beijando meninos em festas, mas eu estava ali pra curtir.
- ACHEI VOCÊS. – Um Niall bêbado nos assustou, fazendo Nick se afastar na mesma hora.
- Niall! – Resmunguei quando ele praticamente se jogou em cima de mim. – Cadê a sua namorada, Niall?
- Procurando você. – Ele fez um biquinho, deitando a cabeça na minha coxa e brincando com a barra do meu vestido. Olhei para Nicholas como se pedisse desculpas e ele só riu.
- Por que você não vai contar pra ela que me achou, huh? – Tentava fazê-lo ir embora, mas nada parecia dar certo.
- Eu estou atrapalhando alguma coisa? – Ele nos olhou e começou a rir. Rir não... Gargalhar! Como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Bêbados são muito chatos quando você não está bêbada também.
- Não é isso, Nialler... – Tentei desconversar, mas Nick se meteu.
- Está sim. – O olhei incrédula, mas seu olhar era tão inocente que me fez rir. Uau, eu estava rindo muito.
- Shhhh! – A essa altura eu já estava sentada e escondia o rosto com as mãos.
- Aí estão vocês! – logo se juntou a nós, me fazendo revirar os olhos. Mais uma pra atrapalhar!
- Amor, amor, amor! – Niall a chamou. riu da cara que eu estava fazendo, mas não tirou o namorado de cima de mim. – Adivinha.
- Não sei, meu amor. O que é?
- Ele ia beijar a . – E mais uma vez disparou a rir, me dando vontade de matá-lo. olhou de mim para Nick e sorriu sapeca.
- Desculpa por isso, Nick. – Continuava com o rosto escondido.
- Não tem problema, . Eu ia mesmo te beijar. – O olhei por uma brecha entre os meus dedos e constatei que ele estava me olhando e sorrindo.
Fomos interrompidos quando um grupo de garotas correu até onde estávamos e gritou que todos deviam ir para a área da piscina. Logo todos levantamos e seguimos para lá, aproveitando que o jardim não ficava tão longe da piscina. O espaço era grande, então todos se aglomeraram em um circulo em volta de Brigitte, que estava com o microfone na mão. Ela parecia animada com alguma coisa. O que mais me espantou foi a roupa que ela estava usando... Era o vestido vermelho que havia insistido para que eu usasse. Nós duas trocamos olhares significativos e eu sorri por não ter comprado uma roupa igual à dela.
- Como todos sabem... Mais um semestre vai se iniciar nesta segunda feira. – Brigitte falava, com uma mão na cintura e o microfone na outra. – Quem está animado?
Muitos gritaram, mas eu apenas a encarei, com os braços cruzados. tentava conter Niall que não parava de bater palmas. Pude sentir Nick ao meu lado, roçando os dedos pela minha mão; provavelmente com vergonha de segurá-la.
- Bem... Eu não podia deixar de dar as boas vindas a uma pessoa em especial. – Aquilo não me cheirava bem. – ? Você pode vir aqui, por favor?
Fiquei parada. Nada daquilo fazia sentido. A menina nunca foi com a minha cara e de repente queria me dar às boas vindas? Todos começaram a me olhar e me encorajar a andar até a loira, mas eu me mantive parada, como se não fosse comigo. “Ela ta te chamando, Tah”, escutei Niall falar. Duas meninas quase idênticas a Brigitte andaram até onde eu estava e me puxaram. Vendo que eu não teria muita escolha, fui até onde ela estava.
- Aqui está ela! – Sorriu com falsidade.
- O que você quer? – Perguntei secamente. Um canhão de luz foi focado em mim e eu fiquei cega por uns instantes. Senti todos os olhares em mim e aquilo me incomodou. me olhava preocupada, Nicholas tentava entender o que estava acontecendo e Niall estava bêbado demais pra prestar atenção em qualquer coisa. Minha íris procurava Zayn em meio à multidão, até que o encontrei um pouco afastado de todos.
- Espero que tenha gostado da sua primeira festa, querida caloura. – Tentava ser simpática ao microfone, mas eu sabia que era pura fachada. O seu sussurro seguinte provou que eu estava certa: - Porque ela acaba aqui.
E antes que eu pudesse entender, ou perceber, senti uma montanha de lixo sendo despejada sobre mim. As mesmas duas meninas que me puxaram até ali estavam virando um balde de lixo enorme na minha cabeça. Eu não sabia o que fazer... Estava paralisada. Sentia copos de cerveja sendo derramados em mim e molhando o meu cabelo e vestido, restos de comida escorrendo pelos meus braços. Sem falar que o cheiro que estava terrível! Mas o pior ainda veio depois; as risadas. Eu sentia que todos a minha volta estavam rindo e apontando pra mim. Aquela humilhação era demais. Senti vontade de chorar de raiva, mas não daria aquele gostinho à Brigitte. Juntei o pouco de força que ainda tinha e saí correndo dali o mais rápido que consegui. Não olhei pra ninguém, muito menos parei pra procurar os meus amigos. Fiz meu caminho entre a multidão e voltei para a sala, onde a pista de dança improvisada estava vazia. Claro, todos haviam parado pra assistir o show.
Tranquei-me no banheiro assim que o achei. Encostei-me na parede e assim que olhei pra frente vi o meu reflexo no espelho. Meu vestido estava completamente estragado, já que as manchas de comida não sairiam de jeito nenhum. Meu cabelo tinha pedacinhos de batata frita e algo amarelado que eu nem queria saber o que era. Estava horrível e cheirando mal. Escutei uma batida na porta e a voz de me pedindo pra abrir. Eu não agüentaria ficar mais nenhum segundo naquela casa.
- ? Você está bem? – Ela me olhou preocupada assim que eu abri a porta.
- Eu estou indo embora, . – Comecei a andar em direção à porta, tentando ignorar os olhares que me seguiam.
- Claro! Eu te levo. – me seguia.
- Não. Você vai ficar com o Niall, porque ele está bêbado demais. – Parei para abrir a porta da casa. – Eu já liguei para o meu irmão e ele está vindo me buscar. Eu só vou andar até a esquina e espero lá. O Louis não vai demorar. – Menti, mas era a única forma de fazê-la ficar.
- Então tudo bem, ... – Ela lamentava muito e eu sabia disso. – Me ligue quando chegar em casa, ok?
Eu balancei a cabeça em afirmação. Antes de chamar mais atenção ou Brigitte aparecer, saí da casa. O céu estava ainda mais fechado e começava a chuviscar. Corri pelo jardim de entrada, cansada de lutar contra as lágrimas e deixando-as rolarem pelo meu rosto. Procurei o celular na minha bolsa, me amaldiçoando por não ter nenhum número de taxi salvo na minha agenda. O jeito seria ligar para Louis, mesmo ele estando em uma festa. O pior é que ainda era cedo demais e eu acabaria atrapalhando-o. Disquei o seu número o mais rápido que pude e esperei, torcendo para que ele atendesse.
- ? Você não devia estar em uma festa? – A voz dele estava animada e eu podia escutar a música tocando ao fundo.
- Lou... – Funguei, antes de começar a falar. – Vem me buscar... Por favor...
- Você está chorando? O que houve? – Ele estava preocupado e eu percebi que se afastou de algumas pessoas, porque o barulho diminuiu. – , fala comigo, alguém te fez alguma coisa?
- Só vem me buscar, Lou. Por favor. – Um trovão me fez estremecer e os pingos de chuva começavam a ficar mais grossos.
- Tudo bem, eu estou indo... HARRY. Chama o Liam, nós temos que ir. – Louis gritou. – Você está na rua? Está sozinha?
- Estou sim... – Não conseguia parar de chorar, muito menos falar mais que uma palavra ou outra.
- Fique aí, . E tome cuidado. Qualquer coisa me ligue, mas eu já estou a caminho...
Desligamos. Eu estava quase no final da rua quando resolvi parar de andar. Apenas sentei no meio fio e tirei meus sapatos. Sentia meus pés latejarem de dor. Deixei as minhas lágrimas se confundirem com os pingos de chuva que me deixavam encharcada e meia hora depois vi o carro de Louis se aproximar.
Capítulo X
Eu estava em uma sala escura e não sabia exatamente como tinha chegado lá. Comecei a tatear o que devia ser uma parede, procurando algum interruptor ou coisa parecida. Todo aquele escuro estava me deixando louca. Não achei o que estava procurando, mas minha mão bateu em um tipo de maçaneta, a qual eu logo girei na esperança de conseguir abrir. E de fato consegui... Mas uma forte luz atingiu os meus olhos e me impediu de ver qualquer coisa. Levei as mãos até os olhos e gemi de dor. “Olá?” eu tentava falar, mas a minha voz saía rouca demais. O silêncio logo começou a ser preenchido por gritos, palmas e risadas, muitas risadas. Meus olhos foram se acostumando com a claridade e eu pude ver que estava cercada por rostos flutuantes que riam de mim. Eu não reconhecia a maioria das pessoas, mas os rostos dos meus amigos estavam lá. zombava de mim ao lado de Liam e Niall. Meu irmão e Harry apontavam pra mim e faziam piadinhas. Brigitte me olhava daquele jeito: “Eu sou superior” e de fato era mesmo; pelo menos naquele momento. A última cabecinha que apareceu na minha frente foi a de Zayn. Ele gargalhava e fazia caretas, se aproximando de mim. “Rainha do lixo”, ele repetia sem parar. Eu não sabia o que fazer; não conseguia pensar em nada. Tentava gritar, mas as lágrimas que saiam dos meus olhos me impediam de emitir qualquer som. Meus pés criaram vida e começaram a dar passos para trás, voltando para o quarto escuro. Qualquer lugar seria melhor que aquele... Ou pelo menos era o que eu achava. Assim que consegui achar a porta novamente, abri-a e dei um passo para dentro sem perceber que o chão não estava mais lá. Perdi o equilíbrio completamente fui engolida pela escuridão que me puxava e me fazia cair cada vez mais rápido. E eu estava gritando, disso tenho certeza.
- ! – Escutei a voz do meu irmão, mesmo que estivesse distante.
- NÃO. NÃÃÃO! PARA! SOCORRO! – Senti mãos saírem da escuridão e me balançarem, me apertando e me machucando.
- Acorda, ! Você está tendo outro pesadelo... – Louis sussurrava com a voz chorosa, me fazendo retomar a consciência aos poucos. Eu notei que estava gritando de verdade e me debatendo na minha cama.
- Lou... – Finalmente abri os olhos e puxei Louis para um abraço. Ele me envolveu com carinho e eu escondi o rosto em seu pescoço. Estava assustada e ainda chorava um pouco.
- , está tudo bem agora... – Ele tentava me confortar, acariciando os meus cabelos.
Depois que ele e os meninos me buscaram na esquina, contei para eles o que havia acontecido. Tudo desde a música que Zayn supostamente dedicou a mim até o acontecido que me fizera deixar a festa antes das três horas da manhã. É claro que eles não se perdoaram por não estarem lá comigo e Louis tentou fazer volta para tirar satisfações com Brigitte algumas vezes, mas eu o impedi. O caso é que eu nunca havia sido tão humilhada, principalmente por não ter feito nada àquela garota. Claro que quando ela me provocava eu devolvia. Afinal, não tenho sangue de barata. Devo ter passado duas horas no chuveiro pra me livrar do cheiro e dos restos de comida, sem falar que meu vestido já estava no lixo. Por sorte consegui salvar meus sapatos e minha bolsa de mão, mas não conseguia dormir direito. Aquela era a segunda vez que meu irmão ia até o meu quarto e me acordava porque eu estava gritando.
- Que horas são? – Perguntei ao limpar as minhas lágrimas nas costas da minha mão.
- Já passa das quatro da tarde, . – Ele beijou a minha testa assim que eu desfiz o abraço e o olhei envergonhada.
- Pelo menos eu consegui dormir um pouco mais dessa vez. – Forcei um sorriso.
- Você devia ligar pra ... Ela me disse que você não atende o celular. – Louis segurou a minha mão, fazendo um carinho com o polegar. – Ela está preocupada.
- Eu não quero falar com ninguém, Lou.
- Tudo bem, pequena. Está com fome? – Balancei a cabeça, respondendo que não. – Você tem que comer alguma coisa ainda hoje. Escutou, né?
Balancei a cabeça em afirmação e ele se levantou da cama, saindo do meu quarto após informar que já voltaria para ver como eu estava. Continuei sentada na minha cama, mas me estiquei para pegar o meu iPhone em cima da mesinha de cabeceira. Doze chamadas não atendidas de , três de Niall e sete de Zayn. Eu realmente não acreditava que este último estivesse preocupado comigo, já que a namorada dele era a culpada dos meus pesadelos. Eu também tinha novas mensagens:
“Tah, eu preciso falar com você... Me diz se está bem?” Zayn – 04:07
“Eu estou preocupada. Por favor dê um sinal de vida.” – 04:10
“Acabei de ligar para o seu irmão e ele disse que você já está dormindo. Pelo menos eu sei que está viva, mas me ligue assim que acordar!” – 06:30
“Por que você não me atende?” Zayn – 13:20
“Star Tomlinson, eu desisto de falar com você hoje. Passo aí pra te buscar amanhã antes da aula?” – 15:44
Apenas respondi essa última mensagem de falando que Louis me levaria à aula antes de sair para o trabalho e que eu estava bem, mas pedi pra ela não me ligar. Dei a desculpa que a chuva havia me deixado com a garganta ruim, então doía pra falar. Garanto que ela não acreditou, porém, respeitou o meu pedido.
Louis logo voltou para o quarto como havia prometido, mas ele não estava sozinho. Liam e Harry vieram logo atrás, trazendo um violão. Eu não entendi nada, pra variar. Liam se sentou na minha cama, de frente pra mim, e colocou o violão em seu colo. Aparentemente ele ia tocar algo. Harry e Louis trocavam olhares e sorriam, ficando de pé atrás de Liam.
- O que vocês estão fazendo? – Perguntei.
- Não aguentamos mais ver você assim, . – Lou começou.
- Nós sentimos falta do seu sorriso... – Liam continuou.
- Então achamos que uma música poderia te alegrar. – Harry terminou.
Eu apenas afirmei com a cabeça que eles poderiam dar início a o que quer que eles estivessem planejando. Mesmo achando que nada poderia me animar, eu estava ansiosa para ouvir o que aqueles três garotos tinham preparado pra mim. Liam começou a dedilhar o violão e eu descobri na mesma hora qual era a música que eles iriam cantar. “I’ll be ok” da minha banda preferida – McFly - começou em uma versão acústica e mais lenta.
- When everything is going wrong and things are just a little strange… (Quando tudo está dando errado e as coisas estão um pouco estranhas) It’s been so long now you’ve forgotten how to smile. (faz tanto tempo agora que você se esqueceu de como sorrir) – Liam começou cantando, olhando diretamente pra mim e sorrindo. Um pequeno sorriso também começou a se formar nos meus lábios. – And overhead the skies are clear, but it still seems to rain on you. (E o céu acima está claro, mas ainda parece chover em você) And your only friends all have better things to do… (E todos os seus únicos amigos tem coisas melhores pra fazer)
- When you’re down and lost and you need a helping hand, when you’re down and lost along the way… (Quando você está pra baixo e perdida e precisa de uma ajuda, quando você está pra baixo e perdida no caminho) – Os outros dois se juntaram à Liam e a harmonia entre eles era tão perfeita que eu cheguei a ficar arrepiada. – Oh, just tell yourself: I’ll be ok! (Oh, apenas fale para si mesma: “Eu vou ficar bem”)
- Now things are only getting worse and you need someone to take the blame… (Agora as coisas estão apenas piorando e você precisa de alguém pra levar a culpa) – Foi a vez de Harry cantar sozinho, enquanto Liam ainda tocava e Louis começava a mexer o corpo. Acho que ele devia estar tentando dançar. - When your lover is gone, there’s no one to share the pain... (Quando o seu amante se foi, não há ninguém pra divider a dor)
– You’re sleeping with the TV on and you’re lying in an empty bed. (Você está dormindo com a TV ligada e está deitada emu ma cama vazia) All the alcohol in the world will never hep me to through it again… (Todo o álcool do mundo nunca me ajudaria a passar por isso de novo) – Louis cantou, ainda dançando.
Mais uma vez o refrão começou e os três cantaram juntos e animadamente, me fazendo rir. Cada palavra daquela música parecia remendar um pedacinho do meu machucado. Não adiantava eu ficar ali me lamentando, já que o tempo não iria voltar atrás e eu não poderia mudar o que já tinha acontecido. Sim, eu ficaria bem.
- When you’re down and lost and you need a helping hand. (Quando você estiver pra baixo e perdida e precisar de uma ajuda) When you’re down and lost along the way just try a little harder, try your best to make it though de day. (Quando você estiver pra baixo e perdida no caminho, tente um pouco mais. Tente o seu melhor pra superar esse dia) Oh, just tell yourself: “I’ll be okay!” (Oh, apenas diga para si mesma: “Eu vou ficar bem.”) – Os meninos cantavam com intensidade, como se quisessem fazer aquelas palavras entrarem na minha cabeça de qualquer jeito.
- You’re not alone... (Você não está sozinha) – Liam puxou.
- You’re not alone... (Você não está sozinha) – Harry em seguida.
- You’re not alone… (Você não está sozinha) – Meu irmão apontou pra mim, arrancando outra risada minha. – Just tell yourself: I’ll be okay... (Apenas diga para si mesma: “Eu vou ficar bem.”)
E assim eles encerraram a música. Fiquei de joelhos na cama e comecei a bater palmas. Os sorrisos nos rostos deles eram enormes e bobos. Eu estava tão feliz que nem parecia que havia passado a manhã inteira chorando e me lamentando por uma besteira. Todo o meu medo de ir para a aula no dia seguinte tinha ido embora. Aquilo era o que Brigitte queria; me enfraquecer, me amedrontar. Mas ela não conseguiria, eu não a permitiria. Porque ela poderia fazer de tudo. Poderia me humilhar quantas vezes quisesse, me provocar e até se exibir, porque eu não abaixaria a cabeça. Eu tinha meus três melhores amigos ali comigo e podia contar com eles para me ajudar a levantar. Tinha certeza que e Niall também me apoiariam. Eu realmente não estava sozinha e iria ficar bem. Eu entraria na academia como se nada tivesse acontecido e dançaria como se eu fosse a única pessoa na sala. O meu talento ninguém iria tirar de mim, muito menos entrar no meu caminho. Como meu avô falou... As pessoas iam tentar me derrubar, mas eu não deixaria. Eu continuaria forte.
- Obrigada... – Agradeci a cada um deles. Liam deixou o violão de lado e os outros dois também se sentaram na cama.
- Abraço em grupo! – Lou teve essa brilhante idéia e eu praticamente me joguei entre eles. Fizemos uma bagunça enorme, mas acabamos nos abraçando todos ao mesmo tempo.
- Je t’aime, guys... – Falei com sinceridade.
A segunda feira chegou logo e eu me preparava para o meu primeiro dia de aula na London Royal Academy. Lou havia acordado mais cedo pra fazer o café da manhã, mas acabou sujando a cozinha inteira e só conseguiu cozinhar algumas panquecas queimadas. Até que estavam gostosas se você conseguisse raspar as partes pretas... O que era uma tarefa muito difícil.
Pelo menos eu estava alimentada e pronta pra sair.
- Hey, ho, let’s go! – Desci as escadas cantarolando.
- Alguém acordou de bom humor. – Louis abriu a porta de casa pra mim e me entregou a minha chave. Como eu voltaria pra casa antes deles, não seria legal ficar trancada do lado de fora. – Bom dia, sunshine!
- Bom dia, Boo bear. – Mandei beijinhos para o ar e abri os braços ao ver Liam vindo me abraçar quando eu passei pelo caminho de pedra e andei de encontro a ele. – E bom dia, pumpkin!
- Ganhei apelido de comida? – Liam riu, abrindo a porta do carro para eu entrar, depois de me abraçar forte. – Então bom dia, porkchops.
- PORKSHOPS? – Gargalhei alto, mas ainda era uma reclamação. – Eu te chamei de uma coisa fofa e você me chama de costelinhas de porco?
- Minha little carrot! – Louis se juntou a nós no carro e o meu humor estava tão bom que eu até gostei daqueles apelidinhos.
Passamos o caminho inteiro brincando e rindo. Até expliquei a Liam a hierarquia da nossa família e ele pareceu entender direitinho que eu era a duquesa, Lou era Sir Tomlinson - o magnífico, e Harry: Sir Styles - o maravilhoso; ambos eram meus fiéis escudeiros. Sim, era ridículo e todos sabiam disso. Mas essa era uma daquelas brincadeiras de criança que acabam ficando para o resto da vida. Liam quis entrar na onda, mas meu irmão disse que ele teria que merecer o título real. Eu estava rindo muito quando Louis estacionou o carro na frente da Academy. Antes que eu pudesse descer do carro, Liam foi até a minha porta e a abriu.
- Duquesa. – Ele me ajudou a descer, fazendo-me rir ainda mais.
- Merci, Sir Liam. – Desci e fiz uma reverencia em agradecimento. – Vejo vocês mais tarde, ok? Bom trabalho.
- Boa aula, ! – Os dois gritaram quase ao mesmo tempo e eu os esperei partir para então seguir o meu próprio caminho.
Arrumei a mochila em meu ombro e me virei para a academia, seguindo em direção às escadarias. Antes que eu chegasse ao terceiro degrau, avistei uma cabeleira ruiva sentada no topo da escada. Ao seu lado estava uma figura loira que eu conhecia muito bem.
- Hey, bitches. – Os cumprimentei, me aproximando.
- ! – parecia espantada com o meu bom humor, porque não parava de me encarar. – Você está bem?
- Estou ótima, babe. Porque não estaria? – Sorri e a ajudei a levantar.
- Ahn, eu não sei. Talvez por ter sumido ontem o dia todo?! – Ela bufou.
- O que importa é que hoje eu estou bem, ok? – A puxei para um abraço apertado. Por mais incrível que parecesse, nós nos conhecíamos há apenas uma semana. Eu tinha me apegado àquela pequena cabecinha de fogo tão rápido que chegava a ficar assustada.
- Oi, ... – Niall também levantou de onde estava sentado e parecia envergonhado.
- Hey, Nialler. Tá tudo bem?
- Ele está envergonhado porque não se lembra de nada do sábado. – riu, acariciando a bochecha do namorado e fazendo uma cara engraçada.
- E você devia estar envergonhado mesmo! – Fiz um movimento exagerado, assustando-o. – Me impediu de dar uns beijinhos.
- A poderia estar namorando agora, Niall. – Minha amiga se juntou a mim e o loiro tentou se desculpar.
Começamos a rir e eu puxei os dois pelo braço, já que não queria estar atrasada para a minha primeira aula. e eu teríamos a tal aula em grupo e eu estava nervosa, mesmo que tentasse não demonstrar. Nick estaria nessa aula e Brigitte também, o que não seria muito agradável. Para a minha sorte, sabia exatamente onde ficava a sala, nos poupando tempo nos corredores. Niall ficou pelo caminho, na sua própria sala, e nós duas corremos até o andar térreo.
Por sorte conseguimos chegar a tempo ao nosso destino. O salão de dança era maior do que qualquer sala de ballet que eu já tivesse visto. Deviam caber umas 200 pessoas lá dentro. Todas as paredes eram cobertas por espelhos. Em um canto estava um piano de cauda e em outro canto havia barras de ballet com rodinhas. O chão era coberto por uma madeira escura e bem encerada que faria as sapatilhas deslizarem. me puxou para uns bancos próximos à porta, onde deveríamos deixar as nossas coisas.
- Algum sinal da oxigenada? – Perguntei em um sussurro, tirando as minhas roupas e revelando a meia-calça rosa claro e o collant de mesma cor que eu já usava por baixo. Peguei uma saia de seda preta e amarrei na cintura. Troquei os sapatos por uma sapatilha sem ponta e arrumei meu cabelo em um coque perfeito.
- Nenhum... – olhou em volta antes de parar a íris em mim. – E olá, bailarina.
- Idiota. – Senti o seu olhar me medindo e estudando o meu “uniforme”. Ela se apressou em tirar as roupas e se preparar para a aula. Notei o quanto a sua roupa de dança era diferente da minha. usava uma calça legging que ia até a metade da canela e algo que deveria ser um vestido um pouco mais colado na parte do tronco e rodado na parte da ‘saia’; todas as peças na cor preta, incluindo as sapatilhas. Os cabelos presos em um rabo de cavalo desleixado caíam próximos à nuca. – Você realmente está no curso errado, .
- Eu sei! – Ela gargalhou e eu só balancei a cabeça em reprovação.
A primeira aula foi muito boa e passou rápido até demais. Brigitte chegou atrasada, então não pode entrar na sala, o que me deixou muito feliz. Não porque ela seria prejudicada, mas porque assim eu teria um pouco de paz. Nick apareceu a tempo de poder entrar e trocamos olhares e sorrisos em alguns momentos durante a aula. Eu estava tão concentrada que muitas vezes não escutava nem os chamados de . O professor Hofstheder era muito exigente e severo, mas me elogiou algumas vezes, fazendo umas meninas entortarem o nariz pra mim. É claro que eu não dei importância pra nenhuma delas e continuei com as minhas piruetas. Essa aula consistiu em apresentarmos o que a gente sabia para que o professor pudesse analisar o nível de experiência da turma inteira, já que todos os alunos de todos os níveis estavam juntos em um canto só. Aquilo deveria servir para avaliar se os alunos novos seriam capazes de acompanhar os mais adiantados e vice versa.
Na hora do intervalo, fui me vestir no banheiro do primeiro andar e me deixou sozinha, alegando que “não iria colocar a roupa normal se teria que se fantasiar novamente para a próxima aula”. Pra ela era fácil, já que estava usando um vestido e uma calça. Já eu, estava de meia calça e collant. De certa forma ela tinha razão, porque seria perda de tempo trocar de roupa completamente. Então apenas transformei o coque em um rabo de cavalo frouxo e me enrolei no meu sobretudo. Tirei as sapatilhas e calcei os sapatos no lugar. Dei uma olhada no meu reflexo no espelho e sorri. Eu estava ali... Eu estava em Londres, estudando onde sempre sonhara. Tudo parecia estar no lugar certo.
Deixei o banheiro com um sorriso nos lábios e nem notei que Zayn me esperava do lado de fora.
- , espera! – Ele me chamou e eu me virei em sua direção.
- Ei, Zayn. – Não desfiz o sorriso, mas estava receosa.
- Tem um minuto? – Zayn passou a mão pelos cabelos e eu afirmei que sim. Caminhamos até perto de umas janelas e ele continuou: - Eu estava preocupado com você, porque não me atendeu ontem...
- Não precisava se preocupar. Eu estou bem, Zayn, juro.
- Eu sinto muito pelo que aconteceu. Aquela não era a forma que eu queria que a noite acabasse. – Eu podia ver a sinceridade em seus olhos.
- Também não era o que eu queria, acredite. – Olhei em volta procurando Brigitte involuntariamente. Eu era forte, mas não queria mais problemas pro meu lado. – Eu tenho que ir, ok?
- Eu terminei com ela. – Zayn disse assim que eu comecei a andar, me fazendo parar no mesmo instante. – Logo depois que você foi embora.
- Poxa, eu sinto muito... Tá, não sinto. – Nós dois rimos. – Eu nunca entendi porque vocês estavam juntos, aliás.
- Eu também não, pra falar a verdade. Acho que só aconteceu. – Ele deu de ombros.
- Você merece alguém melhor, Zayn. – Sorri e passamos a caminhar em direção ao refeitório.
- Você está me assustando, francesinha. Não me chamou de Malik ainda. – Zayn sorriu e passou um braço em volta dos meus ombros.
- Olha a intimidade, Malik. – Me desvencilhei de seu abraço e fingi estar brava, mas é claro que ele não acreditou.
- Como foi a primeira aula? – Ele sorriu se contentando em apenas andar ao meu lado.
- Foi ótima... Melhor até do que eu esperava! – Contei animada. – E eu até gostei do professor Hofstheder, que todos dizem ser um carrasco.
- Eu lembro que reclamava bastante dele... Mas que bom que você gostou, porque ele é um dos professores mais antigos daqui e não pretende ir a lugar nenhum por um bom tempo. Pelo menos é o que eu escuto por aí.
- E como foi a sua primeira aula? Cantou muito? – Perguntei sorrindo. Era impossível não sorrir ao lado dele.
- Na verdade, essa minha aula não teve nada a ver com canto. – Ele explicou. – Só piano.
- Piano? Sério?
- Sim... Eu costumava tocar só violão, mas já aprendi tudo que podia. Então resolvi melhorar as minhas habilidades no piano.
Logo chegamos ao refeitório e nos juntamos aos nossos amigos; que ocupavam uma mesa mais ao canto. Como qualquer escola ou faculdade aquele refeitório possuía grupinhos que podiam ser diferenciados com apenas um olhar. Não prestei muita atenção, mas tratou de me explicar como funcionava a “pirâmide” da LRA. No caso, o primeiro nível da pirâmide era onde os primeiranistas e os losers eram classificados. No meio estavam aqueles que conseguiam se dar bem, mas não ligavam tanto para status, ou não tinham o potencial de se destacar entre os outros. No topo, como já era de se esperar, os populares. Que incluíam Niall, Zayn, Brigitte e a própria . Isso explicava todos os olhares na direção dos meninos e toda as meninas que cumprimentavam nos corredores. Eu achava que estava no “primeiro nível”, por aquele ser meu primeiro semestre, mas a ruiva me explicou que eu estava pelo menos no meio, por andar com os populares. Como eu realmente não ligava pra nada daquilo, dei de ombros e peguei uma maçã que estava na bandeja de Niall. Como ele tinha ido buscar um guardanapo para a namorada, não viu.
- , COLOCA DE VOLTA! – se desesperou, me assustando.
- Por quê? O que eu fiz de errado? – Coloquei a maçã no lugar, espantada.
- Eu não acho que ela estava aí... Ele vai notar. – Zayn girou a maçã, tentando colocá-la na posição original.
- Gente, sério, qual o problema?
- Niall não divide comida. – Zayn me entregou a maçã que estava na própria bandeja. – Com ninguém.
- Uma vez nós brigamos porque eu peguei uma uva de seu prato. – balançou a cabeça e Niall se juntou a nós na mesa.
- Quem mexeu na minha comida? – Ele nem ao menos sentou antes de perguntar.
- Ninguém, Niall. Deve ser impressão sua... – Zayn disfarçou e eu dei uma mordida na maçã que ele me entregou, como se não soubesse de nada.
Terminamos de comer e deixamos o refeitório para ir à busca de nossas salas. Os meninos teriam essa aula juntos, então seguiram para a esquerda. Eu e fomos pela direita. A aula era de “dança contemporânea” e a professora parecia um amor de pessoa. Tirei meu casaco e calcei as sapatilhas.
- Me disseram pra ficar de olho em você. – Holly, a professora e diretora do curso, se aproximou de mim enquanto eu guardava as minhas coisas em um banquinho de madeira.
- Sério? Por quê? – Fiquei preocupada.
- Oh, não se preocupe, querida. Não é nada ruim. A Agnes me mandou prestar atenção em você. – Ela piscou pra mim. – Não me decepcione!
- Não irei... – Sorri para ela.
A professora se afastou e foi até o aparelho de som. Trocou os CDs e eu e caminhamos até o centro da sala, de frente para os espelhos. Holly colocou a música para tocar e eu me espantei. “Hips don’t lie” da Shakira não era exatamente o que eu esperava. riu da minha cara de espanto.
- Quero ver a bailarina rebolar agora. – Continuou rindo de mim. Que ótima amiga, não?
- Bom dia, alunos. – Sim, alunos. Porque na minha sala de quinze pessoas, cinco eram homens. – Bem vindos à primeira aula de dança contemporânea. Aqui vocês vão aprender que não é importante serem bailarinos... E sim dançarinos. Espero que vocês sintam-se à vontade para mexer o esqueleto.
A professora nos deu as boas vindas e explicou mais ou menos como as coisas funcionariam. já começou a dançar antes mesmo da professora mandar e eu só fazia rir.
- Essa primeira aula vai ser mais livre. – Holly informou, começando a andar pela sala. – Então podem se soltar... Mas não tanto, . Podem formar duplas, trios... A sala é de vocês.
E com isso, ela se calou. A música acabou, deixando “Whenever, wherever” da mesma cantora ter início. Eu conhecia esse estilo e adorava dançá-lo. O problema era que eu costumava dançar sozinha no meu quarto e não na frente de outras pessoas.
- Vem, . Vamos dançar perto da janela... – me puxou e me arrastou com ela.
- Perto da janela? Tá doida? E se alguém ver?
- Ninguém vai ver, boba. – Ela já começara a dançar, mexendo o corpo de um lado para o outro.
Notei que o olhar da professora estava em mim, então tratei de me mexer. Não iria decepcioná-la. Fechei os olhos e deixei a música entrar em mim, assim como havia feito na festa do sábado passado. Antes que percebesse, meu quadril já estava indo de um lado para o outro e meus pés se mexendo pelo chão. me imitou e nós duas rimos. No ritmo da música, mexi os braços na frente do meu corpo, como se fosse uma espécie de onda.
As músicas foram passando e eu me soltava cada vez mais. Quando vi, eu estava girando no meio do salão com os braços abertos e um sorriso no rosto. A aula havia acabado e os alunos começavam a ir embora, mas eu continuava perdida nas batidas da música La Tortura, de frente ao espelho. também já tinha parado de dançar e começava a juntar as coisas. Holly pareceu perceber que só eu dançava e se juntou a mim. Ficamos lado a lado e ela acompanhava os meus movimentos. Aquilo era muito estranho, afinal, ela era a professora ali.
- Você tem pique, hein, garota? – Holly e eu paramos de dançar quando o CD acabou.
- Eu amo dançar... Não tenho culpa! – Eu ri e ela sorriu.
- Isso é muito bom. Mas acho que tem alguém te esperando. – E ela apontou para a porta.
Eu me virei e dei de cara com uma carrancuda e dois meninos rindo atrás dela. Provavelmente Zayn estava tirando com a cara dela e Niall acabou rindo. É claro que eu também comecei a rir da cara que ela estava fazendo, sem nem saber o que tinha acontecido. Peguei as minhas coisas e voltei a me enrolar no sobretudo e guardar as sapatilhas na mochila.
- Hey, deixem a minha pequena em paz! – Passei o braço em volta dos ombros da minha amiga e saí andando, fazendo os outros dois nos seguirem.
- Me protege, . Eles estão dizendo que eu dancei como uma pata choca. – Ela explicou, mas eu comecei a gargalhar sem parar, fazendo-os rirem ainda mais e ela se soltar de mim. – Até você?
- Desculpa, linda. – Tentava controlar as minhas risadas, mas estava difícil.
- Não vou te dar carona nunca mais! – Bufou.
- Não tem problema, eu dou carona a ela. – Zayn sorriu pra mim daquele jeitinho cheio de segundas intenções.
- , me desculpa! Por favor, não me deixa ter que depender dele! Eu não quero ter que entrar naquele carro. – Foi a vez de rir e Zayn ficar emburrado.
- Ei! O que você tem contra o meu carro? – Ele parecia indignado.
- Eu não gosto de pensar no que pode ter acontecido naqueles bancos. Ew. – Começamos a andar em direção à saída.
Zayn não se defendeu, até porque ele devia saber que eu tinha razão. E eu não conseguia mais esperar a chegada do meu carro; odiava ter que depender dos outros, mesmo que eles não se importassem em me dar carona. Mais uma vez fomos ao estacionamento e eles se preparavam para entrar no carro de Zayn.
- Você vem, ? – Niall perguntou quando me viu parar atrás deles.
- Eu vou ficar por aqui mais um pouco. O Harry vem me buscar pra almoçarmos juntos. – Expliquei.
- Hmmmmm, almoço com o Styles? – me olhou como se quisesse dizer alguma coisa com aquilo. Ouvi Zayn bufar, dando a volta no carro e parando em frente a porta do motorista.
- Eu não posso te dar uma carona e ele te leva pra almoçar? – O menino rolou os olhos.
- Daqui a seis anos você pode até me levar pra jantar. – Brinquei
- Prefiro te levar café na cama. – E aquele sorriso sacana apareceu em seus lábios.
- Olha a intimidade, Malik! – Eu começava a gostar daquela frase.
- Isso tudo é ciúme, Zayn? – Niall se meteu.
- Ciúme? Dela? Não mesmo. – Bufou mais uma vez.
- Sei, aham. – Comecei a rir e vi que fez algum comentário dentro do carro.
- Cala a boca, pata choca. – Zayn se irritou e eu ri mais ainda.
Todos logo se despediram de mim e foram embora. Eu fui até um banco de pedra que havia ali perto e me sentei para esperar Harry. Chequei meu celular e vi uma mensagem dele: “Estou aí em 5.”
Capítulo XI
Já era manhã de terça feira e eu estava sentada em um ônibus de dois andares em direção à academia. Como a minha única aula particular da semana não era tão cedo naquele dia, não pude pegar carona com Lou e Liam nem com . A aula particular dela era na sexta feira, então tinha a terça feira livre. Eu agradeci por meu dia livre ser na sexta, já que seria como se o meu final de semana começasse mais cedo. De qualquer forma, eu não me importava em pegar ônibus, porque eles eram bem confortáveis e nunca estavam cheios demais. A única coisa que realmente me desanimava era os três quarteirões que eu tinha que caminhar do ponto de ônibus até a Academy.
Chovia um pouco do lado de fora, então eu abri a minha sombrinha ao sair. Sim, tinha começado a levar uma na mochila. Senti pena da minha bota ao pisar sem querer em uma poça de água, mas não havia muito que fazer. Segui o meu caminho me encolhendo dentro do meu casaco de lã, tentando afastar o frio. Por mais incrível que pareça, eu não demorei quase nada pra chegar à minha “escola”. Subi as escadas com cuidado pra não escorregar e empurrei as pesadas portas de madeira que ficavam fechadas quando estava chovendo. Um pequeno grupo de alunos conversava e andava com pressa pelo caminho que eu me lembrava ser do auditório. Eu não costumava ficar escutando conversas alheias, mas eles estavam falando tão alto que eu não pude deixar de ouvir quando falaram: “Eu não acredito que vão revelar a peça hoje. Geralmente enrolam até o meio do semestre.” Liguei uma coisa à outra e entendi do que se tratava aquele furor; o tal espetáculo que era apresentado cada final de semestre.
Segui o grupo, curiosa. Eu também queria saber qual era a peça que estaríamos apresentando. “Estaríamos” porque eu iria participar nem que fosse como figurante, ou mesmo como uma árvore se fosse o caso. Não estava tão familiarizada em como as coisas funcionavam por ali, mas tinha entendido o peso que aquelas apresentações teriam no meu futuro acadêmico e até mesmo depois dele. Entrei no auditório, que já estava com as luzes apagadas, em silêncio. Comecei a andar pelo corredor, procurando alguma figura conhecida.
- Psssssss.
- Quem me chama? – Sussurrei, olhando em volta.
- Pssssss, ! Aqui. – Zayn acenou para mim, em uma das fileiras de trás.
- Eu não vou me sentar com você! – Tentava sempre manter a voz baixa para não chamar atenção.
- Por que não? – Ele também sussurrava.
- Pelo que eu me lembre, você não é do tipo que fica quieto durante essas reuniões no auditório.
- Vem logo, . – Bufou um pouco alto demais.
- Silêncio aí atrás. – A diretora Agnes, que estava no palco e falava algo ao microfone, reclamou. Senti meu estômago congelar e torci para que estivesse escuro demais para eu ser reconhecida. Me sentei no lugar vazio mais próximo que encontrei, sentindo minhas bochechas arderem.
- Viu o que você fez? – Zayn havia saído do lugar em que estava e se sentou ao meu lado.
- Shhh. – Fiz sinal de silêncio, levando o dedo indicador até os meus lábios e ele apenas riu.
A diretora continuou o discurso dela e eu tentei pegar o bonde andando. Ela enrolou bastante, falando que era sempre uma honra dirigir a peça de encerramento do semestre e como era um orgulho ver os seus pupilos brilhando no palco.
- É com muita felicidade que eu anuncio qual será a peça que iremos encenar esse semestre... – Ela fez um suspense e eu ficava cada vez mais curiosa. – Romeu e Julieta!
O auditório gritou em comemoração; principalmente as garotas. Eu aproveitei o embalo e bati palmas também. Romeu e Julieta era meio clichê, mas não deixava de ser uma história bonita.
- Eu amo essa história... É tão romântica. O amor deles... Eu nunca vi igual. – Disse com um suspiro.
- Eu acho que é um exagero. – Zayn disse ao meu lado e eu o encarei.
- É claro que é um exagero! Mas essa é exatamente a questão. O amor louco e exagerado. – Falei inspirada. – Vai dizer que você nunca teve um amor desses?
- Eu não. Amores assim não existem. – Ele falou descrente e eu rolei os olhos, levantando.
- De qualquer forma, eu quero participar dessa peça. – Fui saindo do auditório junto com os outros alunos e Zayn me seguia.
- Então eu irei assistir! – Sorriu.
- Você não vai participar?
- Eu nunca participo. Acho ridícula essa coisa toda. Frescura. – Deu de ombros.
- Sei... – Zayn sempre parecia manter aquela postura de badboy, mas eu sabia que ele não era só aquilo. Não poderia ser.
Deixamos esse assunto acabar e fomos nos afastando da multidão. Eu deveria estar uns dez minutos atrasada para a minha aula, mas como todos os professores estavam no auditório, eu não achei que teria problema.
- Ei, ! Espera! – Ouvi alguém me chamar e me virei pra ver quem era. Vi Nick correndo na minha direção e sorri inconscientemente.
- Oi, Nick. – Esperei ele chegar e senti Zayn enrijecer ao meu lado.
- Oi! Tudo bem? – Nicholas me cumprimentou sem nem olhar para o menino ao meu lado.
- Tudo ótimo! Gostou da peça escolhida? – Era a primeira vez que nos falávamos depois de sábado, então eu tentava me manter calma e afastar o nervosismo.
- Gostei muito. Romeu e Julieta sempre foi um dos meus romances preferidos. Vou fazer o teste para o papel de Romeu.
- Uau, Nick. Eu espero que você o consiga! – Sorri sincera.
- Eu gostaria que você fosse a minha Julieta. – Senti as minhas bochechas corarem e não consegui responder.
- Quando são os testes mesmo? – Zayn se juntou a conversa, praticamente se colocando entre Nick e eu.
- Semana que vem, na quarta e quinta. Quarta feira são os primeiros... E quinta feira o callback. – Nick nos explicou. – Bem, eu tenho que ir... Estou atrasado.
- Eu também estou... Então até logo, Nick. – Ele se despediu de mim deixando um beijo um tanto demorado na minha bochecha e acenou um “tchau” para Zayn.
- Já vai tarde. – Zayn falou quando Nicholas já estava longe demais para escutar.
- Eu achei que você não participava dessas peças. Que era tudo “frescura”. – Fiz aspas no ar e gargalhei.
- Frescura? Eu nunca falaria isso! – Ele se fez de ofendido e eu ri mais ainda.
Mesmo sem foi fácil achar a minha sala no quinto andar. O docente já me esperava e eu tive uma surpresa ao ver quem era. O senhor Hofstheder seria o meu professor particular. Ele me explicou que costumava dar aquelas aulas apenas para alunos mais avançados, dos últimos semestres, mas que a diretora o pediu para me acompanhar pelo menos no primeiro mês. Troquei a minha roupa normal pelas roupas de ballet e me preparei para darmos início.
- Na aula de segunda feira eu notei que você precisa melhorar os seus saltos. Ganhar mais confiança. – Ele me examinava com seriedade enquanto eu me alongava. – Mas primeiro eu gostaria de ver a sua ponta. Pode trocar de sapatilha, por favor?
- Claro... – Terminei os alongamentos e troquei a sapatilha pela de ponta, amarrando delicadamente a fita de seda em volta do meu tornozelo. – Pronto.
- Ótimo. – O professor andou até onde eu estava e esticou a mão para que eu a segurasse. Não entendi muito bem o que ele queria com aquilo, mas a segurei. Com um movimento da mão livre, ele me indicou que eu devia ficar na ponta dos pés.
Me equilibrei em cima da ponta sem me apoiar na mão do professor. Em seguida, ele me pediu para dar alguns passos pela sala enquanto me olhava. O obedeci, aproveitando para dar alguns giros. Ora eu girava em cima de um pé só, ora dos dois. Sempre mantinha meus braços em uma circunferência perfeita em frente ao meu corpo ou acima da minha cabeça. Meus olhares estavam presos em um local fixo, me impedindo de ficar tonta.
- Muito bom, muito bom... Agora quero testar uma coisa. – Ele me fez parar em frente ao espelho e ficou atrás de mim, me segurando pela cintura.
Eu não gostava muito de todo aquele contato corporal, mas não podia reclamar. Ele era um ótimo profissional, então devia saber o que estava fazendo. Me mandou fazer 90º com as pernas e assim eu fiz; me colocando em cima da ponta esquerda e levantando a perna direita até formar um ângulo reto perfeito. Estiquei os braços e o professor começou a andar em círculos, me fazendo girar. Aquela posição era um tanto dolorida e me fazia sentir a minha perna queimar, mas eu aguentei com um sorriso. Dores faziam parte do dia-a-dia de uma bailarina, então eu já estava mais que acostumada.
A aula teve duração de mais ou menos uma hora e meia e o professor usou esse tempo para conhecer um pouco mais das minhas manias e habilidades na ponta. Preciso dizer que meus pés estavam latejando quando finalmente me livrei das sapatilhas? Achei que não. O senhor Hofstheder parecia estar com pressa, então me deixou sozinha na sala. Me vesti normalmente e procurei o meu celular dentro da mochila. Havia uma mensagem de Zayn; eu sabia que era dele porque salvou o número do garoto na minha agenda sem que eu percebesse.
É claro que eu ri depois de ler a mensagem. Desde quando ele assinava como “Malik”? Juntei o resto das minhas coisas na minha mochila e a pendurei em um ombro só. Segui rapidamente para o estacionamento, tentando adivinhar a quem o “estamos” se referia. E, por mais que nunca fosse admitir em voz alta, eu não queria voltar pra casa sem vê-lo novamente. Eu continuei o caminho inteiro repetindo para mim mesma que ele era “perigo” e eu não devia cair nessa novamente.
- ! – Zayn, que estava encostado e um carro prateado, sorriu ao me ver. No que eu estava pensando mesmo?
- Hey, guys. – O cumprimentei e Niall; que estava parando em frente ao amigo.
- Vem, . Estamos indo almoçar. – Niall me chamou. Aparentemente os dois estavam só me esperando pra partir.
- Desculpa, mas eu já falei que não entro no carro dele. – Usei essa desculpa novamente, apontando para Zayn. Ficar trancada em um espaço tão pequeno com aquele garoto seria perigoso demais.
- Não seja por isso. – Zayn sorriu, abrindo a porta do banco do passageiro do carro prateado. – Eu troquei de carro com a minha mãe.
- Você fez o quê? – Não acreditei no que acabara de ouvir. Ele parecia ter um carinho muito grande pelo seu Land Rover para simplesmente trocar por um Volvo.
- Pelo menos agora você vai poder aceitar a minha carona. – Muito bem, Zayn, acabe com as minhas desculpas esfarrapadas! Ele continuou com a porta aberta, esperando que eu entrasse. – Anda logo, eu estou com fome.
- Vamos, ... já está lá esperando. – Niall também estava parado, aguardando algum movimento meu.
- OK! Vocês venceram. Mas só porque eu estou com muita fome. – Bufei e entrei no carro passando por Zayn, que fechou a porta ao meu lado.
Niall entrou no banco de trás e Zayn logo estava sentado ao meu lado. Coloquei o sinto de segurança e os meninos riram de mim. Não tenho culpa se não confio nas habilidades do motorista, tenho? Claro que não. Tentei ignorar o cheiro delicioso do perfume que o vento que entrava pela janela de Malik jogava direto no meu rosto. Liguei o rádio do carro para ocupar os meus pensamentos cantarolei a música que estava tocando.
Em aproximadamente vinte minutos já estávamos parando em frente a um restaurante chamado Nando’s. A fachada de pedra era bastante convidativa e, por dentro, a ambientação me fez sentir bem à vontade. Aparentemente aquele era o restaurante preferido de Niall, pois seus olhos brilhavam quando a gente entrou. Até mesmo alguns garçons pareciam conhecê-lo.
- Meu pudincup! – Escutamos um grito de uma voz conhecida e nos viramos na direção de .
- Minha cerejinha! – Niall correu até ela e Zayn e eu trocamos olhares e começamos a rir.
- Gente, vão acabar pensando que vocês estão pedindo uma sobremesa. – Me juntei a eles e abracei a minha amiga quando ela largou o loiro.
- Isso só aconteceu uma vez. – Ela se defendeu e meu causou algumas risadas.
- Sério? – Gargalhei.
- Pior que sim. Mas até que o pudim de cereja estava gostoso. – Zayn puxou a cadeira para que eu sentasse, mas eu me sentei na cadeira ao lado da de . Sim, faço birra mesmo.
Logo estávamos todos sentados à mesa e eu folheava o cardápio. Os pratos pareciam deliciosos e eu logo descobri que aquele era um restaurante de frango. Tinha asinhas de frango, coxa de frango, frango disso, frango daquilo, frango, frango, frango. Por sorte eu gostava de frango, caso contrário não iria comer nada. Olhei para como se pedisse ajuda, pois eu não sabia o que pedir. Ela sorriu e apontou um prato no meu Menu, sussurrando um: “É muito bom.” O garçom veio até a nossa mesa e anotou os nossos pedidos. Eu pedi o que indicara e um suco de maçã.
- ... Os meninos te contaram a novidade? – Perguntei assim que o garçom foi embora.
- Novidade? – Ela olhou os meninos como se estivesse falando: “Tem uma novidade e vocês não me falam nada?” – Não contaram nada. São uns imprestáveis.
- Eu não sou imprestável! – Niall tentou se defender. – Eu só não fico tão ansioso com essa peça de fim de semestre.
- OMG. Já falaram o tema da peça? – A voz de soou tão aguda que eu tive que tapar os ouvidos pra não ficar surda.
- Sim, ! – Eu comemorei com ela.
- E qual é? Qual? Qual? – Os olhinhos claros dela pareciam brilhar.
- Não digo. – Cruzei os braços.
- Romeu e Julieta. – Zayn respondeu, me fazendo lançar um olhar feio em sua direção.
- ROMEU E JULIETA? – falou ainda mais alto. – Que perfeito!
- Eu sei! Você vai participar, né?
- É claro que sim, . Li esse livro mais de cinco vezes. Já sei até qual papel eu quero. – Enquanto eu e conversávamos, Niall e Zayn falavam sobre outra coisa totalmente diferente.
- Qual? Julieta?
- Julieta? Não mesmo. Quero ser a Senhora Capuleto. – daria uma ótima Julieta. Já que seu sonho era ser uma atriz, nada mais óbvio do que pegar o papel principal. Mas, aparentemente, ela já tinha a mente formada em qual papel seria o melhor pra ela.
- Sério? Achei que você ia querer o papel principal.
- Até que eu poderia... Mas a Julieta é muito avoadinha, muito apaixonada. Sonhadora. – parecia inspirada pra falar dela. – Você sim, daria uma Julieta perfeita.
- Eu? – Me assustei. – É claro que eu adoraria... Mas sou do primeiro período, . Claro que não vou conseguir o papel principal.
- Não fique pensando assim, . Pelo menos tente. Se não conseguir, vai ser porque não deu e não porque teve medo de tentar. – Até que pra uma pessoa tão pequena, tinha coisas grandes pra falar.
- Quem sabe, né? – Falei pensativa. – Eu acho que o Nick vai pegar o papel de Romeu.
- Não se eu puder evitar. – Zayn falou tão baixo que parecia que tinha pensado alto. Todos da mesa pararam o que estavam fazendo para encará-lo, inclusive eu.
- Zayn vai participar? – o olhou desconfiada.
- “Eu sou o badboy de Bradford” – Niall afinou a voz, tentando imitar Zayn. – “Eu não participo dessas coisas.”
- Eu nem falo mais isso! – O moreno tentou se defender, mas terminou fazendo um bico tão grande que eu só consegui rir.
O garçom logo voltou com os nossos pedidos e começamos a comer. Eu desafiei Zayn a pegar uma batata frita do prato de Niall e ele aceitou. É claro que Niall deu um chilique no meio do restaurante quando notou as batatas que estavam faltando, falando que não dividia comida. Aquela cena me lembrou tanto o Joey de F.R.I.E.N.D.S que eu comecei a rir sozinha. nos repreendeu e disse que deveríamos deixar o namorado dela em paz, mas era tão divertido ver o menino irritado que nós não iríamos parar nem tão cedo. Pelo menos em uma coisa eles tinham razão; aquele restaurante era muito bom. Nunca comi um frango tão gostoso quanto aquele. O suco também era maravilhoso. No final do almoço, eu e dividimos uma sobremesa e cada um dos meninos comeu a sua própria. Bando de gordos, não?
Acabamos ficando por lá mais do que pretendíamos, conversando e rindo de tudo. Parecíamos uns idiotas, mas eu nunca me senti tão feliz como naquela tarde. Já que era a minha primeira vez no Nando’s, Niall fez questão de pagar a conta inteira. Eu relutei no começo, falando que não era justo, mas era impossível discutir com ele. Tinha que ser namorado de mesmo.
Quarta e quinta-feira passaram normalmente, sem grandes acontecimentos. A não ser pela noticia de que os testes para a peça foram adiados para uma semana depois do previsto. Eu fui às aulas com e sempre nos juntávamos a Zayn e Niall. E eu posso dizer que começava a me acostumar com a presença de Malik, por mais que as suas brincadeirinhas ainda me tirassem do sério. Nick também tentava se aproximar de mim várias vezes, mas nunca trocávamos mais que dez palavras. Não sei se era pela falta de assunto entre nós dois, ou por sempre sermos interrompidos por um dos meus amigos.
Já era sexta feira e eu havia dormido até as duas horas da tarde. A melhor parte de não ter aula é poder dormir até mais tarde e isso eu fiz com muito gosto. É claro que quando acordei encontrei três chamadas não atendidas da minha amiga, mas ela teria que me entender. Saí do banheiro, onde acabara de tomar um banho quente, e vesti uma roupa bastante confortável, daquelas que se usa pra ficar em casa. Por incrível que pareça, eu não estava com fome.
“DING DONG”, fez a campainha, me assustando. Saí do meu quarto em direção ao andar de baixo. Quase tropecei no último degrau, pra variar, e ri sozinha da minha falta de coordenação motora. Era incrível que eu conseguisse me equilibrar em uma sapatilha de ponta quando eu mal conseguia andar com meus dois pés sem cair. Girei a chave na fechadura e abri a porta, dando de cara com os olhos verdes de Harry.
- Onde está a sua chave? – Sim, ele tinha a chave da minha casa. Até porque parecia passar mais tempo lá do que na própria residência.
- Eu esqueci, mãe. – Ele bagunçou os cabelos encaracolados e sorriu daquele jeito inocente.
- Entra, curly boy. – Dei espaço pra ele passar e assim que Harry entrou em casa eu pulei nas costas dele, envolvendo o seu pescoço com os braços. – Weeeeeeeee.
- Oh, não! Eu fui atacado. Ahhhhh. – Ele segurou as minhas pernas, dando-me mais apoio, e gargalhou junto comigo.
- Aiô, Silver! – Dei tapinhas em suas costas e Harry começou a correr pela casa. Era sempre assim quando nós dois ficávamos sozinhos; parecíamos crianças. – Ao infinito e além!
- O Buzz é que fala isso, . E se você está montado um cavalo, deveria ser o Woody, ou a Jessie. – Explicou como se fosse o maior conhecedor de filmes infantis.
- Cala a boca e corre, Bala no Alvo! – Baguncei os cabelos dele e ri.
Haz obedeceu e saiu correndo até a sala de jantar, onde deu a volta na mesa de madeira, imitando barulhos de relincho. Eu estava rindo tanto que quase caí das suas costas, mas consegui me segurar a tempo. Meu celular começou a tocar no andar de cima e eu apontei para Harry, que começou a correr até lá. A escada era perigosa, mas ele não diminuiu a velocidade, então eu tive que me segurar com ainda mais força nos ombros largos do meu amigo. Assim que chegamos ao meu quarto, Harry se jogou na minha cama, me fazendo cair ao seu lado. Ele estava ofegante e com as bochechas rosadas e eu só conseguia rir ainda mais. Além de tudo, o danado ainda pegou o meu iPhone e atendeu a ligação.
- A está ocupada no momento, mas posso anotar o recado? – Fez uma voz séria e eu tentei roubar o celular da sua mão.
- Harry Styles, me dá isso agora! – Gritei, mas ele se levantou e ficou de pé na minha cama. Eu fiz o mesmo, mas ele continuava mais alto que eu. Aliás, quem consegue ser maior que ele? Ninguém.
- Oh, oi, ! É o Harry sim. – Ótimo, agora ela ia ficar pensando besteira.
- Me dá o meu celular. – Pedi bicuda, cruzando os braços.
- Shh, fica quieta. – Ele falou pra mim, voltando a sua atenção para o telefone em seguida. – Claro que vamos.
Desisti de brigar pelo telefone, já que seria uma causa perdida. Apenas voltei a me sentar na cama e cruzei as pernas. Harry pulou para o chão e foi até as minhas coisas, procurando algo. O pior era que enquanto ele procurava, ia derrubando as coisas pelo caminho. Fiquei puta com aquela bagunça, mas também não adiantaria reclamar. Ele pareceu achar o que queria e anotou algo em um pedaço de papel.
- Ok, entendi sim. – Falava a . – As 20hrs? Certo... Não precisa, eu tenho carro... Ela é uma aproveitadora mesmo, bem vinda ao meu mundo.
- Wtf? – Olhava para Harry, indignada. Além de não saber quais eram os planos que eles estavam fazendo, eu ainda era chamada de aproveitadora? Ele só me encarava e fazia caretas.
- Até logo, . Pode deixar que eu falo sim. – Harry finalmente desligou e me entregou o aparelho.
- E então?
- E então o quê? – Ele se jogou na minha cama, deitando todo espaçoso.
- Harold.
- Não gosto quando me chama de Harold. – Fez um biquinho, mas eu continuei encarando-o séria. – Vamos sair com seus amigos hoje.
- Eu, você, Lou, Liam e ? – Torci.
- Nop. Você, eu, e o namorado dela e aquele do topete. E ela mandou você não se vestir como criança. – Harry falou e gargalhou, ganhando uma almofadada na cara.
Capítulo XII
- Já estamos aqui na frente, . – Falei quando ela atendeu a minha ligação, olhando para o lado de fora da janela do carro de Harry.
- Venham até a porta e eu já vou buscar vocês! – Ela respondeu.
Ambos saímos do carro e eu arrumei a minha roupa antes de começar a andar em direção à porta do bar. Bar não... Do Pub. Um letreiro vermelho piscava e deixava as palavras “Karaoke Night” em evidência. Eu sempre amei karaokês, então seria uma noite legal. Pelo menos era o que eu esperava. apareceu em menos de dois minutos e nos levou para dentro. O lugar estava meio cheio, então segurei a mão de Harry para não nos perdermos. Tive que desviar de umas três pessoas pra não acabar suja com alguma bebida sendo derramada em mim, mas logo chegamos a mesa em que Niall e Zayn conversavam animadamente. Pela quantidade de garrafas de cerveja vazias que pude ver em cima da mesa, os dois já estava bebendo há um bom tempo.
- Olha quem chegou! – nos apontou para os meninos e o olhar de ambos foi de mim para Harry.
- Hey, guys. – Cumprimentei os dois.
- Não sabia que você ia trazer o seu namorado. – Zayn falou enquanto encarava a minha mão entrelaçada na de Harry.
- Ele não é meu namorado. – Olhei para Harry, que ria. Eu não havia nem notado que ainda segurava a sua mão.
- É bom te ver, . – Niall ignorou o amigo e se levantou para me abraçar.
Soltei Haz para poder abraçar Niall, que sussurrou algo na minha orelha, mas eu não entendi muito bem o que era. Em seguida, o loiro cumprimentou Harry e eu acenei para Zayn, já que ele nem ao menos se levantou para me abraçar, ou algo do tipo. Não que eu quisesse abraçá-lo, só pra que fique claro. Nos sentamos na mesa – não literalmente, óbvio – e tratou de pedir mais bebidas para todos.
- Então, o que vocês vão cantar? – Niall perguntou, me fazendo olhar em volta. O lugar estava bem cheio e eu não costumava cantar na frente de estranhos. Claro que pra Harry seria fácil, já que ele tinha uma voz incrível.
- Cantar? Eu não vou cantar aqui, Niall, sinto muito. – Ri.
- Vamos, ... – Harry tentou me convencer. – Eu já te ouvi cantar e a sua voz não é tão ruim.
- Tá vendo? Sua voz não é tão ruim. – fez todos nós gargalharmos e eu continuei balançando a cabeça em negação.
- É a sua primeira vez aqui, então vai ter que cantar alguma coisa. É tradição entre os alunos da academia. – Zayn balançou os braços como se eu não tivesse escolha.
- Deve ser tradição entre os alunos de música, porque eu não tenho obrigação de saber cantar! – Tentei me defender, mas ninguém me deu ouvidos.
- Eu vou colocar o nome de vocês na lista. – já foi levantando e os meninos me impediram de ir atrás dela.
Observei a pequena ruiva ir até uma mesa onde uma mulher anotava algo em um caderno. Ao lado da mesa estava um palco que devia ter pouco mais de um metro de altura, onde uma menina um tanto desafinada cantava uma música que eu não conhecia. O que mais me surpreendeu é que aquele não era um karaokê normal, onde os participantes ficavam de frente para uma TV de onde saia o som e as legendas. Perto do palco ficava uma banda que tocava as músicas ao vivo e não tinha nenhuma televisão com legendas. Acho que esse deveria ser o desafio... Cantar como se estivesse em um show de verdade. Aquele Pub era muito popular entre os alunos da Academy, segundo meus amigos, e eu começava a entender o porquê.
As nossas bebidas chegaram alguns segundos depois que voltou a se sentar, indicando que não demoraria muito pra chegar a nossa vez. Olhei em direção ao palco e a menina já havia parado de cantar e recebia aplausos da platéia. Dei um gole no meu cosmopolitan e fiz uma careta. Aquela bebida estava bem mais forte do que a da festa de Zayn. Os meninos riram da minha cara e também pegaram as suas taças, levantando no alto para fazer um brinde.
- A novas amizades. – Harry começou.
- A muitas risadas! – sorriu.
- A beber até cair. – É claro que o bêbado do Niall falaria algo assim.
- A uma noite incrível. – Zayn falou me encarando e eu agradeci por não estar tão claro, já que as minhas bochechas deveriam estar vermelhas.
- A nós. – Terminei o brinde e todos nós batemos nos copos uns dos outros e bebemos.
Todos os meninos viraram os copos deram gritos de animação. É claro que eu não bebi tudo de uma vez, mas balancei a cabeça e comecei a rir. Um homem subiu no palco com o microfone em uma mão e um papel na outra, indicando que chamaria os próximos a se apresentar. “Niall Horan e Horan.”
- Não acredito que vocês usaram o mesmo sobrenome de novo. – Zayn riu, levando uma mão até a própria testa.
- E nem me convidaram pro casamento! – Me fiz de indignada.
- Foi um casamento relâmpago, então ninguém foi convidado. – levantou e puxou o namorado.
Os dois foram correndo para o palco e enquanto Niall foi falar com a banda, pegou um dos microfones. Ela não parecia ter vergonha alguma, em momento nenhum, e por isso eu a invejei.
- Boa noite, pessoal! – falou, recebendo aplausos e gritinhos. Principalmente vindos de mim. – Nós gostaríamos de dedicar essa música a uma pessoa muito especial que entrou na nossa vida há pouco tempo, mas que já se tornou indispensável. E como hoje é a primeira vez que ela vem ao Pub, vamos homenageá-la!
Olhei para os dois e não segurei o sorriso. Estava surpresa com aquilo; porque é claro que eles estavam falando de mim. O som de piano começou e eu me arrepiei completamente quando a melodia de “Home – Philip Philips” tocou. Eu tinha amigos perfeitos e sabia disso. Não só aqueles dois, mas Harry, Liam, Louis e até mesmo Zayn estavam incluídos. A melhor coisa do mundo é se sentir amada e ao lado daqueles idiotas eu me sentia a pessoa mais amada do mundo.
- Hold on to me as we go. (Segure-se em mim enquanto vamos) As we roll down this unfamiliar road and although this wave is stringing us along… (Enquanto descemos por essa rua desconhecida e mesmo que essa onda esteja nos arrastanto...) - Eles começaram a cantar, me deixando mais arrepiada ainda.
A voz de e de Niall se misturavam de uma forma emocionante, e eu sabia que eles cantavam com o coração. É possível que todo mundo que eu conheço canta bem? Não quero desmerecer a minha amiga, mas a voz do loiro era simplesmente contagiante. Ele estava no curso certo, com toda certeza. O casal caminhava pelo palco totalmente desinibido. até balançava o braço livre de um lado para o outro, fazendo a platéia seguir os seus movimentos.
- The trouble, it might drag you down. (Os problemas podem te levar pra baixo) If you get lost, you can always be found. (Se você está perdida, pode sempre ser encontrada) Jus know you’re not alone. (Apenas saia que você não está sozinha) ‘Cause we’re gonna make this place your home… (Porque nós vamos fazer desse lugar o seu lar) - Encerraram a música e eu aplaudi de pé, com lágrimas nos olhos.
Aquele foi um jeito deles falarem que eu não estaria sozinha e que me achariam se eu ficasse perdida dentro de mim mesma. Eles fariam Londres ser a minha casa e, de certa forma, já era mesmo. Os dois voltaram para a mesa e eu os abracei ao mesmo tempo.
- Isso não se faz! – Falei com a voz chorosa.
- Foi só uma forma de mostrar pra você o quanto é importante pra gente. – Niall me fez sorrir ainda mais.
- Não chore! Ou vai borrar o rímel. – riu, mas ela também parecia estar com os olhos molhados.
- Eu te amo, . – A abracei mais uma vez e Niall foi se sentar em seu lugar. Nós duas nos apertamos com tanta força que chegou a doer, mas eu não liguei. Era a primeira vez que eu tinha uma amiga como ela. Porque por mais que eu tivesse os meus amigos, com ela era diferente. Poderíamos conversar sobre roupas e futilidades, mas também sobre coisas mais sérias. Eu sabia que ela iria me entender em qualquer situação e muitas vezes nos comunicávamos apenas com olhares. – Eu não sei o que faria sem você.
- Eu também te amo, . – Ela me olhou e nós duas estávamos quase chorando. – Você é a melhor amiga que eu poderia ter.
- Acho que eu vou chorar. – Harry estragou o clima do momento, mas nos fez rir com o seu choro falso e exagerado.
- Idiota. – Soltei a minha amiga e me sentei no colo de Haz. – Não precisa ter ciúmes... Você sabe que eu também te amo, cupcake.
- Sei? Não sei de nada! – Fez um bico gigante e eu dei um beijo estalado em sua bochecha.
- Espera... Cupcake? E depois reclama do meu pudincup! – reclamou, com as mãos na cintura.
- Preciso de mais uma dessas. – Zayn se levantou com a garrafa vazia de cerveja e parecia aborrecido.
- Alguém ficou com ciúmes. – Niall riu e eu mostrei a língua pra ele.
- Ele gosta de você? – Harry perguntou ao meu ouvido.
- Claro que não. Só é chato assim mesmo. – Expliquei e deixei o assunto morrer.
O ‘apresentador’ do karaokê chamou mais duas pessoas e logo foi a vez de Harry. É claro que ele foi sorridente até lá e se posicionou bem ao centro do palco. Falou o nome da música que iria cantar para a banda e voltou o seu olhar para a platéia. “Isn’t she lovely” era uma de minhas músicas preferidas e ficou ainda mais bonita na voz dele. Já estava óbvio que Harry sabia cantar bem e ainda era muito bonito. É claro que a parte feminina da platéia foi à loucura, gritando e praticamente gemendo. Ele mandou alguns beijos para as meninas, mas o que me surpreendeu mais foi a felicidade que ele parecia estar sentindo ali em cima. Era como se cantar em um palco fosse o que ele havia nascido pra fazer. Eu mesma não conseguia tirar os olhos dele ou parar de sorrir. A música chegou ao fim e mais uma vez ele foi aplaudido por todos que estavam presentes, incluindo algumas garçonetes.
- Acho que agora é a sua vez, . – falou animada.
- O quê? Eu? Já? – Resmunguei, não querendo levantar quando o homem chamou o meu nome.
- Você vai se sair muito bem, eu tenho certeza! – Niall tentou me encorajar, mas eu já sentia borboletas no estômago. E não das boas.
- Anda, ! Não é tão ruim. – Harry, que já havia voltado para a mesa, me fez levantar. Será que tudo pra ele não era tão ruim?
- Ok, ok! – Me dei por vencida. – Mas eu não quero ir sozinha. Vem comigo, ?
- Não mesmo. – A cachorra se negou.
- Harry? – Tentei.
- Eu acabei de ir, . Não vou de novo.
- Eu canto com você. – Zayn me surpreendeu e se levantou. – Se você quiser...
- É claro que sim! – Sorri em agradecimento, por mais que tenha ficado ainda mais nervosa.
Nós dois caminhamos até o palco e eu senti as minhas pernas tremerem. Malik sussurrou que tudo ficaria bem e perguntou se eu conhecia a música Give Your Heart A Break”, da Demi Lovato; porque supostamente era boa pra duetos. Eu afirmei que sim e ele foi falar com a banda. Me entregaram um microfone e eu olhei para a platéia pela primeira vez. Um canhão de luz quase me cegou quando foi focado diretamente em mim. Zayn veio para o meu lado e sorriu, me encorajando. Eu sorri de volta, mesmo sem saber exatamente o que estava fazendo. O piano começou a tocar e eu respirei fundo.
- The day I first met you, you told me you’d never fall in love... (No dia em que eu te conheci, você me disse que nunca se apaixonaria) – Comecei a cantar e olhei para Zayn, como se perguntasse porque ele não estava cantando também. Ele não fez nada, apenas sorriu e balançou a cabeça, me indicando a continuar. – But now that i get you, I know fear is what it really was. (Mas agora que eu te entendo, eu sei que era apenas medo) – Até que eu estava pegando o jeito e como ninguém me vaiou ou atirou tomates, eu fui me soltando aos poucos e começando a me mexer e andar um pouco. – Now here we are. (Agora estamos aqui) So close, yet to far... (Tão próximos, mas ainda tão distantes) Haven’t I passed the test? (Eu não passei no teste?) When will you realize that, baby, I’m not like the rest? (Quando você vai perceber que, baby, eu não sou como o resto?)
- Don’t wanna break your heart, wanna give your heart a break… (Não quero partir seu coração, quero dar um descanso para o seu coração) - Zayn me acompanhou e nós dois começamos a cantar juntos. Eu olhei pra ele e sorrimos ao mesmo tempo. – I know you’re scared it’s wrong, like you might make a mistake. (Eu sei que você está com medo que seja errado, como se fosse cometer um erro) There’s just one life to live, and there’s no time to wait, to waste, so let me give your heart a break… (Só há uma vida para seviver e não há tempo a perder, então me deixe dar um descanso ao seu coração)
- On Sunday you went home alone, there were tears in your eyes. (No domingo você foi pra casa sozinha, havia lágrimas nos seus olhos) – Zayn cantou sozinho e eu apenas olhei pra ele e ele pra mim. Era como se quisesse dizer algo e, por um momento, eu me lembrei do desastre da festa. – I called your cell phone, my love, but you did not reply. (Eu liguei para o seu celular, meu amor, mas você não respondeu)
- The world is ours, if we want it, we can take it, if you just take my hand. (O mundo é nosso se quisermos. Podemos tomá-lo se você apenas pegar a minha mão) – Cantamos juntos novamente e ele andou até onde eu estava. – That’s no turning back now… Baby, try to understand… (Não há como voltar agora. Baby, tente entender)
Mais um refrão começou e Zayn segurou a minha mão. Eu não me esquivei do seu toque, como das outras vezes. Entrelacei os nossos dedos e sorri. Sim, sorri enquanto cantava e ele fez o mesmo. Aquele não era o Zayn “badboy” que tentava se dar bem em tudo, ou que enxergava segundas intenções e um mero “bom dia”. Aquele era o Zayn que eu gostaria de conhecer.
- n your lips are on my lips... And our hearts beat as one. (Quando os seus lábios estão nos meus lábios... E nossos corações batem como um só) But you slip under my finger tips… (Mas você escapa entre os meus dedos...) - Cantei sozinha e comecei a andar pra trás. Ele ficou parado, o que fez nossas mãos começarem a se soltar, assim como a letra da música. – Everytime you run. (Todas as vezes que corre)
- Baby, try to understand. Don’t wanna break your heart, wanna give your heart a break. (Baby, tente entender. Eu não quero partir o seu coração, quero dar um descanso ao seu coração) – Zayn soltou a minha mão, mas se aproximou e mim e cantou olhando em meus olhos.
- ‘Cause you’ve been hurt before. (Porque você foi machucado antes) I can see it in your eyes. (Eu consigo ver nos seus olhos) You try to smile it away, some things you can’t disguise. (Você tenta fazer passar com um sorriso, mas certas coisas não se pode disfarçar) – Minha voz saiu tão intensa que eu mesma me assustei.
- Don’t wanna break your heart, maybe I can ease the ache, the ache… (Não quero partir o seu coração, talvez eu conseguida amenizar a dor, a dor) So let me give your heart a break… (Então me deixe dar um descanso ao seu coração) - Terminamos a música juntos e os aplausos me fizeram acordar. Por um momento eu havia esquecido onde estávamos e que as pessoas estavam nos assistindo. Por um momento era só eu e ele.
Retomei a minha consciência e Zayn voltou a ser o garoto de antes, piscando para as meninas que se jogavam aos seus pés. Ele desceu do palco e esticou a mão pra me ajudar a descer, mas eu apenas o ignorei e desci sozinha. Fomos para a mesa e todos estavam espantados.
- ... Você nunca me disse que sabia cantar assim... – foi a primeira a falar. Será que estava bêbada?
- Assim como? – Ri, pegando um copo de água que estava em cima da mesa sem realmente me importar com quem seria o dono. Minha garganta estava seca.
- Como um anjo. – Ela colocou as mãos em baixo do rosto, fazendo uma pose angelical. Sim, ela estava bêbada.
E aparentemente não era a única que havia exagerado no álcool, porque Niall estava rindo escandalosamente de uma besteira qualquer. Harry também não estava muito atrás, pois fazia caras e bocas e falava mais devagar que o normal.
Meia hora depois, Haz já tinha ido cantar novamente e eu tentava controlar as bebidas dos que restaram na mesa. Não me leve a mal, eu não sou do tipo careta que não gosta que ninguém beba enquanto eu estou por perto, mas eles já estavam ficando alegres demais. puxou Niall pela gola da camisa e os dois foram dançar. Zayn e eu ficamos sozinhos na mesa e eu comecei a rir das palhaçadas que ele fazia.
- Olha, ... Eu sou um vampiro! – Zayn colocou dois palitos de dente embaixo do lábio superior e começou a fazer cara de mal.
- Para com isso, Malik! – Comecei a rir, mesmo sem querer. – Você pode se machucar. Vai acabar cortando o lábio.
- Se eu me machucar, você vai ter que dar beijinho pra sarar.
- Bêbados não sabem o que estão falando! – Rolei os olhos em meio a risadas e puxei os palitos da boca dele.
- Ei, isso doeu! – Reclamou, massageando o lábio. – Agora você vai ter que me beijar.
- Talvez nos seus sonhos! – Empurrei o seu rosto para o lado quando ele começou a se aproximar com um biquinho.
- Qualquer uma estaria doida pra me beijar.
- Então eu acho que não sou qualquer uma. – Parei de rir um pouco e bufei. Se ele achava que começaria a me comparar com as outras que ele pegava, estava muito enganado. – Com licença.
Me levantei e o deixei sozinho na mesa. Segui para a pista de dança improvisada onde descia até o chão e atraia olhares em sua direção, mas nem se importava. No palco, Niall e Harry cantavam “I Will survive” a plenos pulmões. É claro que eu comecei a rir e também me joguei na pista. gritou ao me ver e puxou as minhas mãos, me fazendo girar. Claro que nós duas quase caímos, mas quem liga?
- Vamos lá pra cima! – A ruiva começou a andar em direção à escadinha que dava passagem para o palco.
- Você ta louca? Não mesmo! – Tentei puxá-la de volta, mas era impressionantemente mais forte que eu. Quando me dei conta, já estávamos em cima do palco.
- Você disse que não era estudante de música e não tinha obrigação de cantar. Então dance!
Eu queria correr dali e me esconder, mas seria impossível. Resolvi entrar na onda e comecei a dançar ao lado de Harry, que continuou cantando. estava na outra ponta e coreografava e interpretava a música. O moreno me ofereceu o microfone e nós cantamos o refrão juntos. Tenho certeza que me enrolei nas palavras, mas também não liguei. Estava rindo mais que tudo. Zayn chegou à pista de dança e começou a dançar desengonçado. Não sei se ele realmente não sabia dançar, ou se era culpa da bebida. Só sei que eu já estava rindo muito e ao vê-lo minhas risadas só fizeram piorar. Sem perceber, comecei a dançar encarando-o. Ele com certeza percebeu, pois sorriu maroto e se aproximou do palco.
- Dança comigo? – Zayn fez uma reverência e eu pensei em dizer não.
- Por que não? – Dei de ombros.
Eu estava dançando em cima de um palco, com centenas de pessoas me assistindo, ao lado de dois garotos que pareciam ter acabado de sair do armário e uma ruiva bêbada. Que mal faria dançar com Zayn? Ele provavelmente não se lembraria de nada no dia seguinte mesmo. Segurei a sua mão e desci do palco, tropeçando nos meus próprios pés. Típico! Por sorte, Zayn me segurou pela cintura e eu não caí no chão.
- Opa, cuidado. – Ele sorriu, me ajudando a retomar o equilíbrio. E olha que ele era o bêbado da história!
- Obrigada. – Gargalhei e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
Aparentemente mais ninguém queria cantar, então os meninos continuaram com o show. Os dois garotos levavam jeito para a coisa, mas só fazia palhaçadas. Eles começaram a cantar um cover dos Beatles: “She loves you”. É claro que como uma fã dos Beatles desde pequena, eu puxei Zayn para o meio da pista e começamos a dançar. A batida da música era bem dançante, então até ele acertou uns passinhos. Imitávamos coreografias dos anos 60 e ele me girava pelo espaço todo. Minha saia voava e meus cabelos logo estavam em meu rosto, mas eu não me importava. Quando não estava segurando a minha mão, ou me puxando, Zayn rodopiava sozinho e balançava os braços. Minhas bochechas chegaram a doer de tanto que eu ri e o garoto não estava muito atrás, gargalhando o tempo todo. Eu sabia que ele ficaria bonito de qualquer jeito, até mesmo todo suado e desarrumado como estava, mas aquilo já era demais. O olhar, o sorriso, os músculos modelados perfeitamente pela camisa...
A música acabou e nós dois retomamos o fôlego. Eu aproveitei aquela pausa pra colocar os pensamentos no lugar, ou seja, mandar os pensamentos impróprios para o fundo da minha memória. Tinha certeza que eles voltariam a me assombrar mais tarde.
- Essa vai para os casais da platéia! – Harry anunciou a próxima música. – Ela se chama “Talking to the moon.”
Sorri no mesmo instante que ele começou a cantar. Seria possível que Hazza conhecia todas as minhas músicas preferidas? Fiquei parada apenas olhando-os cantar por uns segundos. Era uma música bastante lenta e casais começaram a se formar pela pista de dança. Zayn se aproximou cauteloso e eu me virei de frente pra ele. Não falamos palavra alguma, mas as suas mãos envolveram a minha cintura e meus braços o seu pescoço. Nossos corpos se juntaram e começamos a dançar devagar, indo de um lado para o outro como se ninguém mais importasse. Sei que é besteira e que eu não devia estar me deixando levar, mas eu realmente sentia como se estivéssemos sozinhos ali. Deitei meu rosto no ombro de Zayn e a ponta do meu nariz tocou seu pescoço. Senti que ele ficou arrepiado com aquilo e ri baixo. Sabia que ele estava sorrindo e eu não precisei olhá-lo pra perceber aquilo. Fechei os olhos e inspirei, deixando aquele perfume -que eu tanto gostava de evitar- me entorpecer.
- Por hoje é só, pessoal! – O organizador do karaokê começou a se despedir e eu me perguntei há quanto tempo a música já tinha acabado. Levantei a cabeça, mas não fiz questão de afastar o meu corpo do de Zayn.
- Achei que você tinha dormido aí. – Ele riu e eu revirei os olhos.
- Pra onde vamos agora? Alguém conhece uma festa? – Uma risonha se aproximou e eu e Malik nos separamos.
- Agora nós vamos pra casa, . Nada de festa. – Ela fez um bico enorme quando eu cortei o seu barato, mas tenho certeza que parte disso foi por ter usado o seu nome inteiro; coisa que ela odiava.
- chata. – Niall me mostrou a língua e eu revidei com uma careta.
Nós fomos até o caixa e Harry e eu não precisamos pagar, por ser a nossa primeira vez. Se mais Pubs em Londres fossem assim, eu iria visitar um novo a cada semana. Saímos do estabelecimento e chegamos até o estacionamento. E foi então que encontramos um problema. Um bem grande, aliás. Zayn dera carona à e Niall, mas nenhum dos três estava sóbrio o bastante para dirigir. Deixar o carro no estacionamento do Pub e pegar um taxi também estava fora de cogitação, já que o lugar ia ficar fechado até a próxima sexta. Ou seja: Qualquer carro que fosse deixado por ali estaria preso até a próxima semana e ninguém podia ficar sem transporte.
- E agora? Esses três aí não estão em condições de dirigir. – Me virei para Harry.
- Não cabem todos do meu carro... – Passou a mão pelos cabelos, pensativo.
- O que estão cochichando aí? – se pendurou no meu ombro e quase fui ao chão.
- Estamos decidindo o que fazer, já que você e o pudincup vieram com o senhor-eu-preciso-de-mais-mil-dessas. – E apontei para Zayn, que não conseguia nem abrir o próprio carro.
- Eu posso levar o casal ternurinha no meu carro e você leva o Zayn no dele. – Harry teve essa brilhante conclusão.
- E depois que eu deixar o Malik em casa com o carro, volto de taxi? Sozinha? Não mesmo!
Zayn finalmente conseguiu abrir o carro e estava quase sentando no banco do motorista, mas eu fui mais rápida e corri até ele. Harry segurou quando eu me afastei e indicou a ela e Niall para entrarem em seu carro, escondidos de mim.
- Onde o senhor pensa que vai? – Segurei a porta do carro, impedindo Zayn de ir a qualquer lugar.
- Te levar em casa, é claro. – Seus olhos estavam entreabertos e sua voz saiu embargada.
- Claro que vai. – Ironizei, mas pelo sorriso que ele me deu não deve ter entendido que eu não falava sério.
- Te ligo amanhã, . – Harry gritou quando passou ao lado do Volvo, já dentro de seu carro e levando os outros dois consigo.
- HAROLD! – Gritei de volta, mas era tarde demais. Ele partiu e me deixou sozinha com o bêbado. Digo... Zayn.
- Parece que somos só nós dois agora, gata. – Gata? Pronto, era só o que me faltava.
- Tá de brincadeira? – Choraminguei, escondendo o rosto em minhas mãos.
Já que não tinha mais jeito, eu fiz Zayn levantar e ir para o banco de trás. Ele resmungou algo como “Ninguém dirige o meu carro”, mas eu rebati que aquele carro era na verdade da mãe dele. Cinco minutos depois ele já estava apagado. Além de tudo, aquela ainda era a minha primeira vez dirigindo um carro britânico; ou seja, tudo ficava do lado contrário ao que eu estava acostumada. Tive vontade de desistir por um minuto e me senti fraca. Odiava me sentir assim, então segui em frente justamente por isso. No começo foi meio complicado, mas como as ruas estavam praticamente vazias, fui pegando o jeito devagar.
Olhei Zayn pelo retrovisor e pensei no que a mãe dele acharia na hora que seu filho mais velho entrasse em casa completamente bêbado. E o pior é que não deveria ser a primeira vez, mas mesmo assim eu me senti mal por ela. Pelo que me contou, ele era o homem da casa desde que seu pai fora embora, tendo que cuidar da mãe e das três irmãs. Então era normal que ele quisesse se divertir de vez em quando e esquecer toda a pressão que deveria ser depositada nele. Mas ao mesmo tempo... Não era justo com a sua mãe. Odiei-me por me importar tanto assim, mas só tinha uma coisa que eu poderia fazer. Na verdade, só tinha uma coisa que eu deveria fazer.
- Ei, essa não é a minha casa. – Zayn teve essa brilhante conclusão quando entrávamos na minha casa. Ele mal conseguia andar, então eu passei seu braço por cima do meu ombro e o arrastei até as escadas.
- É a minha casa, Malik. – Expliquei. – E fala baixo, porque tem gente dormindo.
- Uhhh. – Ele sorriu cafajeste e eu acabei rindo. Será que até bêbado ele só pensava besteira?
- Nada de “uhh”. Eu fiquei com pena da sua mãe, por isso te trouxe pra cá.
- Querendo agradar a futura sogra. – Disse assim que terminamos de subir as escadas.
Eu o ignorei, é claro, e rolei os olhos. Abri a porta do meu quarto e o deixei sentado na minha cama. Voltei a fechar a porta, por causa do barulho, e coloquei a minha bolsa e casaco dentro do closet. Aproveitei pra pegar algumas peças de roupas que serviriam em Zayn. Claro que as roupas não eram minhas, porque ele com toda certeza não iria caber em nenhuma das minhas camisolas. Separei uma camiseta do The Strokes e uma calça de moletom cinza que pertenceram ao meu irmão antes que eu as roubasse.
- Eu vou tomar um banho e depois você vai, ok? – Ele assentiu com a cabeça e eu caminhei até o banheiro, deixando as roupas dele em cima da cama.
Fechei a porta, mas não cheguei a trancar, imaginando que o menino ficaria onde estava me esperando voltar. Tirei os sapatos, a saia e a blusa, ficando apenas com as roupas íntimas. A porta se abriu de repente e Zayn correu até o vaso sanitário. Eu me assustei, e cobri o corpo com as mãos. O menino se ajoelhou e começou a vomitar. Eu deveria ter ficado com nojo, ou reclamado pela forma que ele entrou, já que eu poderia estar pelada. Mas só consegui sentir pena dele. Sim, pena. Deveria estar muito enjoado, já que misturou as bebidas no Pub. Eu caminhei até ele e me abaixei. Teria segurado os seus cabelos se fosse uma mulher, mas apenas repousei a minha mão em seu ombro e apertei de leve.
- Vai passar... – Fiz um carinho por ali, sem saber mais o que falar. Ele logo parou de colocar o estômago pra fora e me olhou envergonhado. – Melhorou?
- Um pouco... – Eu o ajudei a levantar e Zay se apoiou na pia, lavando a boca e o rosto.
- Eu acho que você deve tomar banho primeiro. – Nem lembrava que estava quase sem roupa alguma até sentir o menino me olhar pelo reflexo do espelho. Mas ele não me olhava com quartas intenções e eu tinha certeza que estava se sentindo mal por ter atrapalhado o meu banho. – Um banho quente seria mais gostoso, mas você precisa é de água fria!
- Água fria? – Choramingou. Eu afirmei que sim e caminhei até o chuveiro, ajustando a temperatura da água.
- Pronto. Eu vou estar aqui fora e qualquer coisa você me chama, ok? – Caminhei até a porta, pronta pra sair.
- ... – Ele me chamou e eu voltei a olhá-lo. Zayn estava visivelmente sem jeito. Parecia uma criancinha envergonhada. – Você... Pode me ajudar?
- Te ajudar a tomar banho?
- É melhor deixar pra lá. Eu me viro. – Ele deu um passo, se afastando da pia, e quase se desequilibrou.
- Zayn! – Fui até ele. – Você está tonto, é claro que eu ajudo.
O fiz encostar mais uma vez na bancada do banheiro, de frente pra mim dessa vez. “Não acredito que estou fazendo isso”, era só o que passava pela minha cabeça quando eu segurei a barra da camisa que ele usava. Comecei a levantá-la devagar, impedindo o meu olhar de fazer um caminho pelo abdome e peitoral que começava a aparecer. Ele levantou os braços pra me ajudar a tirar a peça de roupa e me olhou de forma engraçada. Eu acabei rindo com aquilo e olhei para a próxima peça de roupa que teria que ir embora.
- Pode me ajudar com isso? – Perguntei e ele riu. Tirou os tênis com os próprios pés e fez o mesmo com as meias.
- Isso ajuda?
- Não era disso que eu estava falando, Malik! Tire as suas calças! – O olhei em reprovação e ele riu de novo.
- Já? Sem nem um jantar antes? – Ele brincou, mas desabotoou a calça jeans e eu a observei cair de suas pernas.
- Calado. – O repreendi, mas acabei rindo. – Agora entra no chuveiro!
Ajudei-o a caminhar até o chuveiro depois de explicar que ele teria que tomar banho de cueca. Que por sinal, era uma boxer preta. Agradeci mentalmente por não ser branca, daquelas que ficariam transparentes depois de molhadas. Ele entrou no box e apoiou uma mão na parede. Fui distraída por um momento e acabei passando os olhos pelas costas de Zayn, estudando cada traço, cada linha e cada músculo. Ele virou de frente pra mim e eu repeti o ato, quase babando pela perfeição do seu corpo. Além de reparar nas mil tatuagens que ele tinha, é claro. Começava a me sentir uma aproveitadora. Balancei a cabeça negativamente e afastei pensamentos impróprios para menores de idade e o fiz entrar embaixo do chuveiro. Ele gemeu de frio e eu senti pena mais uma vez. Claro que comecei a rir das caretas que ele fazia e acabei sendo puxada pra dentro do cubículo de vidro.
- O que você está fazendo? – Tentei me soltar dele, fazendo de tudo pra não gritar com os pingos de água fria que batiam na minha pele.
- Não vou deixar você ficar rindo de mim! – Zayn me puxou pra baixo do chuveiro, gargalhando do meu desespero.
- Mas você é que está bêbado! Não eu! – Finalmente me soltei e nós dois saímos de debaixo d’água. – Eu posso tomar banho quente.
- Cadê o apoio? – Ele continuou rindo de mim e eu lhe entreguei um sabonete.
- Não sou muleta pra dar apoio. – Ok, talvez eu estivesse um pouco bêbada sim, porque essa piadinha foi terrível. Pelo menos ele riu.
- Você também não sabe fazer piada! – Gargalhou, começando a passar o sabonete pelo corpo.
Ignorei seus movimentos sensuais e me ocupei em lavar seu cabelo. Seus fios escuros deslizavam entre os meus dedos e o shampoo logo fez espuma. Eu queria perguntar se ele tinha algum creme especial que fazia o cabelo ficar tão macio assim, mas me contive.
Logo ele estava limpo e um pouco mais sóbrio. Entreguei-lhe uma toalha felpuda pra que pudesse se secar e o mandei pra fora do banheiro. Antes que ele saísse pra que eu pudesse tomar o meu banho direito, expliquei que tinha um colchão em baixo da minha cama que ele deveria pegar pra dormir. É claro que Zayn estava achando que iria dormir comigo, mas eu logo tratei de destruir aqueles sonhos. Assim que fiquei sozinha no banheiro, tirei as roupas que ainda me restavam e entrei no chuveiro. Claro que só depois de esquentar a água.
A noite havia sido realmente incrível. Cada dia parecia ser melhor que o anterior e eu estava me acostumando com a vida agitada que tinha em Londres. Em Paris era totalmente diferente, já que eu quase nunca saía de casa. A não ser pra ir à escola e a ensaios, ou quando Lou me arrastava pra ir ao cinema e coisas assim. Nada muito animado. Sem falar que era a primeira vez que eu dava banho em um homem que não fosse o meu irmão. Se babá de bêbado desconhecido? Isso eu já tinha feito. Mas dar banho? Não até aquele momento.
Devo ter demorado pouco mais de vinte minutos pra terminar o banho e me vestir com um pijama de mangas compridas. Segui para o quarto e encontrei uma surpresa: Zayn estava dormindo na minha cama. E não era como se ele tivesse adormecido ali por acidente, já que estava todo enterrado embaixo das cobertas. Eu pensei em acordá-lo, mas ele estava tão tranqüilo que eu não consegui. Pelo menos Malik tinha vestido o pijama improvisado e arrumado as suas coisas na minha mesinha de cabeceira. O celular dele estava piscando ali em cima e eu li a frase: “Você tem uma nova mensagem de: Mum.” Ela devia estar preocupada. Peguei o aparelho e li a mensagem.
Eu não sabia que o nome do meio dele era Javadd... Dei de ombros e apertei no botão pra responder:
Enviei e torci para ser convincente o bastante. Já que o senhor Malik estava na minha cama, eu puxei o colchão e arrumei a minha cama improvisada pelo chão mesmo. Estava pronta pra apagar a luz do abajur quando o celular começou a piscar novamente.
Capítulo XIII
O relógio da mesinha de cabeceira marcava pouco mais de 13h40min quando eu consegui deixar a preguiça de lado e me sentar no colchão. Imagens da noite passada passaram na minha mente e eu não seguirei um sorriso. Harry e Niall cantando, bêbada, Zayn no chuveiro... Ahh, Zayn no chuveiro. A água gelada escorrendo pelo corpo e arrepiando a sua pele... “Gatinhos. Bolo de chocolate. Algodão doce!” Tentei ocupar a minha mente com coisas mais puras. Olhei para o lado e notei que Zayn ainda dormia profundamente e seria melhor que ele continuasse assim, já que teria uma baita ressaca ao acordar.
Levantei com cuidado e fui em direção à porta tentando fazer o máximo de silêncio possível. Deixei o meu quarto e preferi usar o banheiro do corredor para fazer a minha higiene e não acabar acordando o meu “convidado”. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo alto e escovei os dentes.
- ? Tem comida pronta lá na cozinha. – Louis bateu na porta do banheiro e eu a abri quase que no mesmo momento.
- Eu gosto de comida. – Ri de mim mesma, já que estava parecendo Niall.
- Alguém acordou de bom humor hoje. – Meu irmão sorriu e passou o braço em volta dos meus ombros para descermos juntos.
- O que posso fazer? Eu dormi bem, só isso. – Dei de ombros, sorrindo.
Chegamos à cozinha e o cheiro de panquecas e mel me preencheu, fazendo a minha fome aumentar. Louis foi para a sala assistir televisão e me deixou sozinha com Liam, que era quem estava cozinhando.
- Bom dia, Leeyum. – Caminhei até ele praticamente saltitando e deixei um beijo em sua bochecha.
- Já é boa tarde, . – Ele sorriu, mas não se virou pra me olhar.
- Pra mim só vai deixar de ser bom dia depois que eu comer. – Sentei na bancada da pia e comecei a balançar os pés no ar.
- Tem um carro prata aí na porta.
- Ah, eu sei! – Falei descontraída. – É o carro do Zayn. Ele ainda está dormindo...
- Hm. – Liam sempre foi do tipo comunicativo e alegre, mas naquela tarde ele estava muito estranho.
- O que foi, Liam? Porque você está assim?
- Não é nada, . – Ele falou ainda sem me olhar.
- E te conheço e sei que tem algo te incomodando. Mas deixa pra lá. – Rolei os olhos. Se ele não queria falar, eu não iria insistir.
- Eu também achei que te conhecia.
- O que quer dizer com isso? – Naquele ponto eu já começava a me perguntar o que tinha feito de errado.
- É só que eu fiquei tão preocupado como que você poderia pensar naquele dia que a Candice passou a noite aqui... – Ele largou a frigideira com violência dentro da pia ao meu lado e eu me assustei com o barulho, descendo da bancada em um impulso. Liam começou a despejar as palavras em cima de mim. – Mas parece que você também é uma qualquer.
- O que você acabou de dizer? – Tudo aconteceu tão rápido que eu mal pude acreditar no que estava ouvindo. Liam pareceu arrependido no mesmo momento em que falou tudo, como se não tivesse pensado direito. Mas não importava, porque tinha me machucado do mesmo jeito.
- ... – Coçou a nuca e tentou tocar o meu braço, mas eu me afastei. – Eu não queria...
- Como você pode pensar algo assim de mim? Eu não transei com o Zayn, Liam. Nem ao menos dormimos na mesma cama. – Comecei a falar um pouco alto de mais e vi pelo canto de olho que Louis veio ver o que estava acontecendo. – Ele só estava bêbado demais pra ir pra casa e eu o trouxe aqui. Porque eu me preocupo com os meus amigos.
- Eu pensei... Eu só... – Ele gaguejou e eu me afastei ainda mais.
- Mas pense o que quiser, porque eu não te devo explicação nenhuma.
Deixei a cozinha o mais rápido que pude, perdendo completamente a fome. Enquanto eu subia as escadas, escutei meu irmão falando pra Liam não vir atrás de mim, porque acabaria piorando as coisas. Ainda bem que ele sabia disso. Eu tinha pequenas lágrimas nos olhos, mas não eram de tristeza. Era decepção e quase raiva. Voltei para o meu quarto e tranquei a porta. Zayn ainda estava dormindo e eu comecei a cogitar a possibilidade de ele estar desmaiado. Respirei fundo umas cinco vezes e pensei em coisas boas. Não valia a pena ficar irritada por uma besteira.
Aproximei-me da minha cama e sentei com cuidado. Zayn parecia estar em paz. Ele estava deitado com as costas na cama e o rosto virado na minha direção. Seu peito subia e descia com a respiração lenta e eu senti vontade de tocá-lo. Não sei exatamente o porquê, mas estiquei a mão e passei a ponta dos dedos pela testa dele, brincando com alguns fios de cabelo que estavam bagunçados por ali. Parei por um momento, esperando alguma reação. Nada. Deslizei os dedos pela lateral do rosto de Zayn, indo até a maçã do rosto e seguindo caminho pelo nariz. Desci pelos lábios e perdi o meu olhar por ali. Eram tão vermelhos e bem desenhados... Na verdade, todas as partes dele deveriam ter sido desenhadas por anjos. Ele se mexeu um pouco e eu recolhi a mão. Zayn resmungou alguma coisa sem sentido e suspirou. Eu sorri e o observei abrir um pouco os olhos.
- Hora de acordar... – Sussurrei.
- Hum? – Resmungou, puxando o edredom pra cima do rosto.
- Zayn... Acorda... – Abaixei o cobertor e ele me encarou desnorteado.
- ? O que você está fazendo aqui? – Perguntou sonolento, fechando e abrindo os olhos.
- Na verdade... É você que está aqui. – Ri. – Você está na minha casa, Zayn. Eu não quis te levar pra casa naquele estado ontem.
- Eu não me lembro de nada... – Ele começou a se sentar e levou uma mão até a testa. – Ai, minha cabeça.
- O nome disso é ressaca. E das grandes.
- Que roupas são essas? – Olhou para o próprio corpo e percebeu que aquelas roupas não eram as dele.
- São do meu irmão. Depois que eu te dei banho, você as vestiu pra dormir.
- Você me deu banho? – Ao mesmo tempo em que parecia assustado, ele estava rindo.
- Ahn... É. – Falei demais. Eu poderia ter dito que ele havia se lavado sozinho, mas não! Tive que falar que EU dei banho no infeliz. – Mas você estava de cueca, então não tem problema.
- Me sinto violado. – Brincou, fazendo uma cara de espanto.
- Se serve de consolo, você também me viu de calcinha. – Acabei rindo com a lembrança de nós dois no chuveiro.
- Vi?! Agora sim eu estou com raiva por não lembrar de nada!
- Você realmente não se lembra de nada? Nadinha?
- Bem... Eu lembro de cantar. E também lembro da dançando no palco. – Nós dois rimos. – E eu também lembro de cantar com você...
- Só isso? – Então ele não se lembrava da nossa dança... Enquanto eu não conseguiria esquecer. Mas seria melhor assim.
- Tem mais coisa?
- Nada importante. – Menti e levantei da cama. – Vem.
- Pra onde vamos? – Também foi levantando e me seguindo até a porta.
- Já que eu estou cuidando de você, vou fazer isso direito! Primeiro você vai ao banheiro, lavar esse rosto de sono, e depois vai me encontrar na cozinha. Meu irmão tem um remédio ótimo pra ressaca.
- Sim, chefe.
- ! ! ! – Louis gritou descendo as escadas. – Tenho uma surpresa pra você!
- Eita, Lou ta aprontando alguma coisa. – Ri e abaixei a cabeça, encostando a testa na mesa da sala de jantar. Zayn estava sentado na minha frente, com uma garrafa de “energy juice” nas mãos. – E eu já falei pra você não perguntar o que tem aí, Zayn. Só beba, porque vai ajudar.
- Tem certeza? Eu nem consigo ver a cor desse troço, porque você colocou em uma garrafa escura! – Ele balançava o líquido e tentava sentir algum cheiro. – E se for uma coisa gosmenta?
- Larga de frescura, Malik. Bebe logo! – Levantei a cabeça e fiz careta para o moreno. – Uh oh.
Louis entrou na sala de jantar e trouxe uma caixa preta em suas mãos. Zayn o olhou com curiosidade, mas eu sabia exatamente o que estava ali dentro; o motivo dos meus pesadelos. Meu irmão mais velho riu da minha cara de tristeza e colocou a caixa em cima da mesa.
- Lembra disso, ? – Puxou a tampa da caixa para abri-la e tirou um par de patins azuis.
- Hm? O que é isso? Não faço ideia! – Me fiz de desentendida e ele riu de novo.
- Wow! Eu adorava andar de patins! – Zayn pegou outro par de dentro da caixa e começou a brincar com as rodinhas. – Por que você está fazendo essa cara, ?
- Porque ela mal consegue ficar em cima de um desses. – Louis me dedurou.
- Em minha defesa... É muito complicado. – Cruzei os braços. – Mas onde você os encontrou?
- Nosso pai veio aqui ontem e trouxe. Estava no armário da despensa dele. – Explicou.
- O papai esteve aqui? Você falou pra onde eu fui?
- E trouxe a Lux. – Choraminguei quando escutei, porque adoraria ter visto a minha pequena. – Eu disse que você foi encher a cara com garotos da Academy.
- LOUIS! – Eu tenho um irmão que é realmente um amor. É claro que Zayn morreu de rir. – Espero que você não tenha falado isso.
- Quem é Lux? – Zayn perguntou.
- Nossa meio-irmã por parte de pai. – Lou respondeu enquanto ajeitava alguma coisa no meu patins.
- Não sabia que você tem uma meio-irmã... Está escondendo-a de mim por quê? – Ele fez uma cara de safado e eu sorri irônica.
- Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Malik. E ela tem dois anos de idade.
- Muito nova pra mim. Mas de qualquer forma, eu prefiro a irmã dela. – Piscou. É claro que Louis me olhou com um sorrisinho no canto dos lábios que me deu vontade de bater nele. Bater nos dois, na verdade.
- Tá, claro. – Rolei os olhos. – Beba seu energy juice e pare de falar besteira.
- Então, ... Lembra do que me prometeu, né? – Louis levantou uma sobrancelha.
É claro que eu me lembrava... Há quase um ano atrás, fiz meu irmão comprar pra mim aqueles patins, porque todos sabiam andar menos eu. Então eu estava cansada de ver ele e Harry patinando por aí e eu tendo que seguir na bicicleta. O problema é que aprender a usá-los acabou sendo mais complicado do que eu achava. É claro que ter equilíbrio deveria ser algo fácil para uma bailarina capaz de ficar horas em cima da ponta do pé, mas não era; não pra mim. Minha sorte é que os patins ficaram na casa do meu pai, em Londres, então eu os deixei para trás quando o verão acabou e tivemos que voltar pra Paris. Louis ficou super irritado, falando que tinha gastado o próprio dinheiro pra me dar aquele presente e o mínimo que eu poderia fazer era tentar aprender. Então eu prometi que assim que voltássemos à Londres, eu deixaria ele tentar me ensinar.
- Lembro sim, Lou. – Choraminguei, aceitando o meu destino.
- Ótimo! Começaremos as aulas hoje mesmo. – Voltou a guardar os patins dentro da caixa e foi para a sala sem nem me dar tempo de reclamar.
- Você vai ver que é fácil, . Vou te ensinar umas técnicas que... – Zayn já começou a se convidar pra assistir a aula.
- Você ainda vai estar aqui? – Brinquei, querendo irritá-lo. – Terminou?
- Terminei sim... Até que não estava tão ruim... – Levantei e ele me entregou de volta a garrafa vazia. Antes que eu pudesse chegar à cozinha, Zayn começou a “tremer” na cadeira como se estivesse tendo convulsões, fazendo uma cara engraçada.
- Zayn? O que está acontecendo? – É claro que eu estava preocupada, principalmente quando ele caiu no chão –se jogou– e ficou tremendo lá. Eu me aproximei assustada e tentei segurar seus ombros. – Zayn!
- Você disse que o nome era energy juice... – De repente ele parou com aquela brincadeirinha e começou a rir; provavelmente da minha cara.
- Isso... Não... Se... Faz! – Dei tapas nele entre cada palavra. – Idiota!
Saí de perto dele, irritada. Entrei na cozinha, mas ainda conseguia escutar as risadas. Teria sido realmente engraçado se eu não achasse que ele estava tendo um ataque. Vai saber, né? Ele podia ter alergia ou algo assim. Caminhei até a pia e comecei a lavar os pratos pra me distrair. A frigideira ainda estava lá no mesmo estado em que Liam deixara e ele devia estar trancado no quarto, pensando no que fez. Contanto que eu não precisasse olhar pra ele, poderia ir pra qualquer lugar.
Zayn entrou na cozinha e eu permaneci de costas pra ele, com as mãos ensaboadas e dando total atenção a um copo de vidro. Senti a sua aproximação, mas continuei focada. Quando ele se preparava pra falar ou fazer alguma coisa, o celular em seu bolso começou a tocar.
- Hey, mum... – Ele atendeu e eu me virei um pouco, fitando-o por cima do ombro. – É, eu ainda estou aqui na casa... Do meu amigo? – Me olhou. – Que eu falei na mensagem ontem? – Terminei de lavar os pratos e sequei as mãos. Zayn ainda me olhava como se perguntasse: “Você tem algo a ver com isso?” E eu respondi: “Culpada.” Apenas mexendo os lábios. Não queria que a mãe dele escutasse a minha voz e ficasse pensando besteira. – Claro, não se preocupe... Eu já vou. Tá bem, mãe. Eu também te amo.
- Que coisa mais linda! – Ri quando ele desligou. – Você não parece ser do tipo que fala “eu te amo” para a mãe.
- Cala a boca, . – Foi a vez dele de ficar irritado comigo. Mas logo abriu um sorriso e continuou. – Ela está preocupada... Quer que eu vá pra casa.
- Que pena que você não vai estar aqui pra me ver cair do patins! – Falei irônica enquanto ele mexia no celular. Deveria estar procurando a mensagem que a mãe dele disse que recebeu.
- É realmente uma pena... Mas eu vou pedir ao Louis pra gravar um vídeo e me mostrar depois. – Ele riu.
Ajudei Zayn a recolher as coisas e o levei até o carro. Estava gostando de passar um tempo com ele, apesar de sempre acabar ficando irritada com as suas gracinhas. Ele não era a pior pessoa do mundo, vamos concordar. Nos abraçamos antes que ele entrasse no carro e eu constatei que estávamos passando para um nível mais avançado no nosso relacionamento. Deixamos de ser colegas e começávamos a virar amigos. Claro que depois do quase banho que tomamos juntos não podia ser diferente. Ele partiu e eu me pequei observando o Volvo dobrar a esquina. Quando o carro já não podia mais ser visto, me virei e dei de cara com Louis parado no batente de casa. Ele já estava vestido com uma bermuda marrom, uma camisa listrada (pra variar) e os patins nos braços.
- Vá se trocar e eu te espero aqui! – Mandou.
Não respondi nada, mas o obedeci e entrei correndo em casa. Subi as escadas com pressa e passei pelo corredor mais rápido ainda. Não queria acabar encontrando Liam no caminho. Tirei meus pijamas e procurei pelo closet alguma roupa que eu não me importaria em sujar, ou até mesmo rasgar. Pelas minhas previsões, eu iria cair muito. Me vesti apropriadamente e prendi os cabelos em coque alto.
Voltei a deixar o quarto, que estava muito bagunçado por sinal, e fui de encontro ao meu irmão. Louis conversava animadamente com uma senhora que molhava as plantas; provavelmente a nossa vizinha. Acenei pra ela educadamente e meu irmão viu que eu já estava pronta. Os dois se despediram e a mulher nos convidou para ir até a casa dela mais tarde, porque faria cookies. É claro que Lou aceitou o convite na mesma hora.
Começamos a caminhar na direção da área da piscina, já que ali perto também tinha uma espécie de espaço próprio para skate, patins, bicicleta e coisas assim. Eu teria preferido ficar na rua de casa, já que a probabilidade de alguém me ver seria muito menor. Mas Louis argumentou que seria perigoso demais por causa dos carros e que tinha medo de eu ser atropelada. Claro que dei um tapa em sua cabeça quando ele fez uma gracinha.
Assim que chegamos à pracinha – que estava vazia, graças aos deuses – Louis já me mandou calçar o patins e ele fez o mesmo. Me sentei em um banco de mármore e tirei os sapatos, trocando-os pela arma que seria responsável pela minha morte. Lou sentou ao meu lado e me imitou. Porém, ele foi muito mais rápido e logo levantou. Se exibindo, foi até o outro lado e voltou de costas.
- Metido. – Falei baixo.
- Eu escutei isso! – Riu.
- Era pra ouvir mesmo! Agora venha cá e me ajude a levantar...
- Okay! Primeiro você vai só tentar ficar em pé, já que nem isso conseguiu da outra vez. – Eu estava com os braços esticados e ele segurou as minhas mãos. Me puxou com cuidado até eu encontrar apoio.
- Mas da outra vez eu não conseguia parar de rir porque você e o Harry não paravam de fazer palhaçada! – Meu pé direito foi muito pra frente e eu quase perdi o equilíbrio, mas Louis colocou o próprio patins na frente do meu e o fez parar. – Wow.
- Pare de reclamar e se concentre, ! – Brigou comigo. – Agora eu quero que você vá arrastando um pé após o outro... Pode fazer isso?
- Não me solta. – Segurei suas mãos com força, o impedindo de me largar, mas assenti. Devagar e quase sem sair do lugar fiz o que ele pediu. Arrastei os pés um depois do outro, tentando andar. – Assim? Não parece certo...
- Você precisa deslizar um pouco mais. Deixa eu mostrar. – E me soltou. Com o susto, eu abri os braços e curvei o corpo para frente. Não estava nada bonita, mas pelo menos consegui achar um pouco de equilíbrio. Ele começou a deslizar os pés, tentando me dar um exemplo do que eu deveria fazer. – Entendeu?
- Talvez... – Eu mal respirava, com medo de cair. Ao ver aquela minha pose, Louis começou a rir e eu tentei não fazer o mesmo.
- Agora é a sua vez. Venha até mim, mera mortal. – Esticou os braços. Ele ainda estava um pouco longe, mas acho que era proposital.
- Olha como fala comigo. Eu ainda posso mandar cortarem a sua cabeça! – Acabei rindo. Mexi os pés do jeito que ele fizera e consegui sair do lugar. Ainda parecia meio desajeitada, mas pelo menos estava me mexendo.
- Você está indo muito bem... – Lou sorriu companheiro. Eu já estava quase chegando até onde ele estava, mas o infeliz caminhou pra trás na mesma hora em que eu investi contra a sua mão. Ou seja: Perdi completamente o pouco de equilíbrio que tinha e fui de cara ao chão. Não literalmente, porque usei minhas mãos para amortecer a queda. – Desculpa, !
- LOUIS! – Gritei! Era exatamente por isso que eu não gostava quando ele tentava me ensinar. Sempre dizia que ia me segurar, mas acabava soltando. – Eu vou te matar!
- Pra isso você teria que me alcançar! E desse jeito não vai nem chegar perto. – Saiu de perto de mim, rindo. Eu fiquei de joelhos, calculando como faria para levantar.
- Eu posso te matar enquanto você estiver dormindo. Melhor aprender a dormir com o olho aberto. – Eu estava emburrada, principalmente por ele não querer me ajudar.
- Que meeeeeeedo. – Levou as mãos para o rosto e fez uma cara de espanto.
Eu apoiei as duas mãos no chão e tentei encostar as rodinhas do patins ali também. No começo não deu muito certo e eu acabei caindo de novo. Dessa vez, batendo a bunda no chão. Gemi de dor e Louis riu mais ainda. Tentaria de outra forma. Mantive as mãos firmes no chão, mas ao invés de jogar o corpo pra frente, coloquei a bunda pra trás. Não sei como, mas consegui ficar de cócoras. Já era um começo. Sem me importar com a vulgaridade, fui empinando a bunda até estar com as pernas retas. Metade do caminho já foi... Eu mesma comecei a rir porque não conseguia levantar o tronco. Qualquer força que eu fizesse com os pés, faria o patins escorregar.
- Lou, me ajuda... – Implorei. – Boo bear... Por favor...
- Você sabe que eu não consigo negar quando você me chama assim. – Bufou e veio até mim. Parou ao meu lado e segurou a minha cintura. – Pode levantar agora.
- Se você me soltar, eu realmente te mato. – Mas ele não me soltou. Segurou minha cintura com mais firmeza e eu finalmente fiquei de pé.
Continuamos tentando andar em cima daquele objeto mortal de seis rodas por um bom tempo. Ou melhor, eu continuei tentando e Louis ficou se exibindo. Provavelmente torcendo para que alguma garota aparecesse e ficasse encantada com as suas habilidades. Meu professor fajuto decidiu que antes de aprender a andar, eu deveria aprender a levantar. Eu já havia caído umas quatro vezes quando comecei a pegar as manhas pra levantar. Meus joelhos estavam totalmente ralados e um de meus cotovelos sangrava e sujava o meu casaco. Meu próximo banho seria muito dolorido...
Eu já estava suada e Louis pareceu olhar em algum ponto atrás de mim. Não ousei me virar, porque não queria cair de novo. Ele me puxou até o banco e eu me sentei, agradecendo eternamente por aquilo. Se abaixou para pegar seus sapatos, mas não tirou o patins.
- Eu vou indo pra casa, ok? De patins eu chego mais rápido! – Usou essa desculpa e patinou até a calçada.
- E me deixar voltar sozinha? – Não adiantou, pois ele já estava indo.
Eu o segui com o olhar e percebi Liam parado há alguns metros de mim. Nossos olhares se encontraram e eu desviei quase no mesmo instante. Fingi não ter notado a sua presença e comecei a tirar os patins. Ele foi se aproximando devagar, esperando alguma reação da minha parte.
- ? Eu... Eu posso conversar com você? – Sua voz era baixa e ele parecia medir cada palavra.
- Claro. – O olhei pela primeira fez, depois de calçar o meu tênis. Não esperei por ele e comecei a caminhar de volta pra casa.
- Me desculpa, ... Pelo que eu disse mais cedo. – Liam encarava os próprios pés e andava ao meu lado. – Você não é como nenhuma outra. Eu não devia ter pensado aquilo... Na verdade, eu nem pensei. Só saiu...
- Doeu, Liam. – Eu o olhei e meu coração não aguentou. Ele parecia realmente arrependido e chateado. – Mas eu entendo...
- Entende? – Dessa vez ele é que me olhou.
- Eu sei como é sentir ciúmes, Liam. Senti o mesmo quando vi a Candice na cozinha. – Dei de ombros, me entregando.
- Sentiu? – Continuava confuso.
- É claro! Você é um dos meus melhores amigos... Então é normal sentir esse tipo de ciúme de irmão. Do mesmo jeito que você sentiu hoje. O Louis sempre dava ataques assim quando me via com outros garotos. – Dei de ombros quando viramos uma esquina.
- Ciúme de irmão? ...
- Mas não se preocupe, vocês ainda são os homens da minha vida. – Ri e passei um braço por cima dos ombros dele. Como eu era mais baixa, tive que ficar na ponta dos pés e ele me envolveu pela cintura. – Agora desfaz essa cara amarrada porque eu quero o seu sorriso.
- Só se eu ganhar um beijo. – Liam falou quando paramos na frente de casa.
- Chantagem? Mas eu aceito. – Sorri e larguei o patins na grama, virando de frente pra ele.
- Você primeiro. – Continuou com a cara fechada, segurando o riso.
- Tudo bem! – Havia um brilho no olhar dele e eu aproximei o meu rosto. Pressionei os lábios contra a bochecha esquerda de Liam e demorei uns bons segundos assim. Antes mesmo que nos separássemos, pude sentir que ele sorriu. Eu acabei sorrindo junto e nos afastamos.
- Impossível não sorrir assim! – Senti um toque de desapontamento em sua voz, mas devia ser impressão minha.
- Fizeram as pazes? – Louis deveria estar brincando de porteiro, porque sempre aparecia na porta!
- Eu não consigo ficar brava com essa carinha linda. – Apertei o queixo de Liam levemente. Ele sorriu mais uma vez e fomos entrando em casa.
- É... – Ele respondeu e eu caminhei até a sala de jantar, deixando os dois no hall de entrada.
- Falou pra ela? – Louis sussurrou, mas mesmo assim eu consegui entender. A minha curiosidade me fez parar pra tentar escutar o resto.
- Não consegui, Louis...
- Por que não? Você é realmente muito ruim com mulheres, Payne.
- Eu sei.
- É bom que você melhore. Ou vai esperar aquele Zayn fazer o que você não consegue?
Decidi parar de escutar aquela conversa pelo bem da minha sanidade mental. Cheguei na cozinha e peguei a garrafa d’água, me servindo. Estava morrendo de sede. Meu irmão gritou que estava indo comer cookies na casa da vizinha e Liam se juntou a mim. Eu senti que ele queria falar algo, mas tinha medo de saber o que era. A voz de apareceu na minha cabeça e eu senti um frio na barriga. “O Liam gosta de você, .” Por mais que eu tentasse não acreditar naquilo, estava ficando cada vez mais difícil. Terminei o meu copo e o olhei em silêncio. Se ele quisesse falar, eu iria ouvir.
- ... – Olhei em seus olhos e ele corou.
- Sim, sweety?
- A Candice me pediu pra perguntar qual shampoo você usa. Porque ela gostou do seu cabelo. – Liam falou depois de um longo suspiro. Nada daquilo fazia sentido.
- Ahn... Depois eu passo o nome pra ela. – Não consegui lembrar o nome do meu shampoo, obviamente. Tinha me preparado pra uma coisa e o que ouvi foi outra totalmente diferente. – Eu tenho que ir, ok? Preciso tomar um banho e limpar esses cortes.
- Tudo bem... – Seu olhar era triste quando o deixei na cozinha. Escutei o barulho de algo caindo, mas não tenho certeza se foi uma queda ou alguém derrubou de propósito.
Capítulo XIV
Já era terça-feira e eu estava sentada nas escadarias da Academy ao lado de . Ela não tinha aula naquele dia, mas foi pra lá do mesmo jeito só pra ficarmos fofocando. Como não falei com ela no domingo e passei a segunda-feira inteira enrolando pra contar como foi o meu fim de semana, ela me sequestrou depois da minha aula particular e me obrigou a falar tudo.
- Então deixa ver se eu entendi... – Ela arrumou o óculos nos olhos. – Você levou Zayn para a sua casa, os dois tomaram banho juntos, ele dormiu na sua cama, Liam te chamou de puta, você se esfolou toda andando de patins, Liam pediu desculpas, Liam pediu um beijo, Louis disse que Liam devia te falar algo antes que Zayn fizesse isso e Liam foi falar com você, mas acabou falando da Candice?
- Precisa de mais dedos? – Ri do jeito que ela ia enumerando os acontecimentos nas mãos. – Você não entendeu quase nada. Sim, eu levei o Zayn até a minha casa, mas só porque não queria ter que voltar de taxi pra casa. Nós não tomamos banho juntos, tecnicamente, e estávamos vestidos. Ele dormiu na minha cama, mas eu não estava lá! Liam não me chamou de puta exatamente, só entendeu errado porque teve ciúmes. A parte do patins até que é verdade e Liam pediu desculpas sim, mas não pediu um beijo. Não desse jeito que você está pensando! E essa história que o Louis falou... Eu realmente não entendi.
- Respira, ! - Ela riu e eu recuperei o fôlego por ter falado tudo de uma vez só. – Isso tudo aconteceu em um dia só... Uau.
- Só pra me deixar louca! – Choraminguei e encostei a cabeça nos joelhos.
- Posso falar a minha teoria? – A ruiva perguntou, olhando por cima dos óculos e eu acabei sorrindo por lembrar meu avô.
- Não mesmo! – Recusei, mas ela fez um bico tão grande que eu me rendi. – Tá bem, . Fala.
- Eu acho que o Liam continua gostando de você... E era sobre isso que o Louis estava falando. Que ele deveria te chamar pra sair antes que Zayn fizesse isso. Mas eu não sei se você já notou, o Liam é muito tímido. Ele demorou meia hora pra conversar direito comigo quando eu o conheci. E a Candice... Pode ser só um jeito pra tentar te esquecer.
- Pra começar, ele não precisa se preocupar com o Malik. – Balancei a cabeça. Zayn nunca me chamaria pra sair, porque eu tinha certeza que não fazia o tipo dele. – E o Liam nunca foi tímido comigo... Desde o primeiro momento. Além do mais, não é como se eu não desse oportunidade pra ele falar algo...
- Mas é diferente falar sobre coisas idiotas e sobre vocês dois namorando. – Até que ela podia ter razão, mas eu não queria ter que ficar pensando naquilo.
- Quem está namorando? – A voz de Niall apareceu atrás de nós duas e ele logo se sentou entre eu e a namorada.
- Vocês dois, é claro! – Sorri e baguncei os cabelos claros do irlandês.
- Não precisa mudar de assunto só porque eu cheguei. – Ele se fez de ofendido.
- Eu nunca faria isso!
- A gente estava falando sobre uns amigos fofos da . – devia estar tentando fazer ciúmes em Niall.
- Ah, é? – E ele mordeu a isca!
- É sim... – Entrei na brincadeira. – Eu estava falando pra ela de como os cabelos cacheados de Harry são macios. E aqueles olhos verdes... E as covinhas... Ele é perfeito.
- E a voz? Nossa, ele canta muito bem! – alfinetou e Niall a olhou bravo.
- Você deveria namorar com ele, então! – Cruzou os braços e levantou da escada, descendo os degraus.
- Eu prefiro loiros! – Ela levantou rindo e foi atrás dele.
Eu fiquei ali sentada, rindo dos dois. Niall estava tentando correr de , mas ela conseguia ser mais rápida que ele.
- Por que o Niall quer matar a ruivinha? – Zayn sentou ao meu lado e eu senti um arrepio percorrer meus braços. Por sorte estava de casaco e ele não percebeu.
- Ela fez ele ter ciúmes do Haz. – Ri mais uma vez, ainda sem me virar para encará-lo.
- Do Harry? Ah, ele é legal. – Zayn também riu ao ver que e Niall estavam caídos no chão.
- Ele é meu anjinho. – Um sorriso bobo apareceu nos meus lábios e eu encarei minhas mãos.
- Aliás, acho nós vamos ao Pub essa sexta de novo... Vocês dois deveriam ir também. – Era assim que Zayn me convidava pra sair com eles?
- Eu não posso ir. Já tenho planos pra essa sexta. – Levantei da escada e passei as mãos pela calça, tirando qualquer sujeira. – Mas acho que ele está livre!
- Uhh, tem planos? Vai sair com o Nick? – Zayn fez uma careta e eu ri.
- Com o meu pai! Nós vamos jantar. – Passei a mochila por cima do meu ombro e comecei a descer as escadas.
É claro que Zayn me seguiu escada abaixo e nos juntamos ao casal. Se antes eles estavam brigando, agora faziam totalmente o contrário. Já tinham levantado do chão, mas estavam se agarrando no meio da calçada.
- Get a room! – Exclamei e os dois se separaram, rindo.
- Você está é com inveja. – estirou a língua.
- Totalmente. – Rolei os olhos com ironia. – Eu já vou indo, ok?
- Não vai pegar carona com a gente hoje? – Niall perguntou.
- Sorry, hoje não. Tenho que passar em um restaurante e pegar almoço para as minhas crias. Depois passar em uma locadora... E comprar sorvete. Os meninos vão chegar mais cedo do trabalho e nós vamos fazer alguma coisa lá em casa, como nos velhos tempos. – Expliquei, mas esperava que não ficassem chateados por eu não ter convidado-os.
- Tudo bem, ... Nos vemos amanhã, então. – Minha amiga me abraçou e os meninos apenas acenaram.
A noite já começava a cair quando finalmente conseguimos decidir qual filme assistiríamos primeiro. Quando saí da Academy acabei pegando um taxi e o motorista foi muito simpático, me indicando uma boa locadora. Além disso, ele ainda me esperou ao lado de fora, sem cobrar mais por isso. Claro que eu não demorei, já que já tinha em mente os filmes que queria alugar: Grave Encounters e As Branquelas. Um de terror e um de comédia; perfeito. Em seguida, fui até um restaurante que tinha todos os tipos de comida em um lugar só, já que cada um dos meus amigos queria uma coisa diferente. Harry queria tacos, Louis pediu macarrão e Liam, algo de peixe. Pra mim, escolhi o bom e velho sanduíche com batata frita. Ok, sem aparte do velho.
Assim que cheguei em casa e troquei de roupa, nós comemos tudo e fizemos uma bagunça enorme, como sempre. Jogamos algumas partidas de Guitar Hero e eu venci todos pelo menos uma vez. A discussão realmente começou quando nós fomos escolher a ordem dos filmes. Eu estava pedindo pra começar pelo filme de terror, já que o de comédia iria tirar as cenas ruins da nossa cabeça. Mas como ninguém nunca me dá ouvidos, eles votaram pra que começássemos pelo filme de comédia.
Eu estava na cozinha com Harry, preparando as bacias de pipoca. Liam e Louis estavam na sala, arrumando o lugar pra ficarmos todos confortáveis. Eu cantarolava uma música da Beyoncé e Harry reclamava que eu estava atrapalhando-o. Quer uma dica? Nunca brinque com ele quando estiver cozinhando, porque isso o deixa furioso. Mas é claro que eu não tinha medo do curly boy, por isso peguei o frasquinho que continha sal e o usei de microfone.
- To de left, to the left! – Fiz um passinho de dança ridículo.
- , você viu o sal? – Continuei dançando e cantando sem nem escutar o que ele estava dizendo.
- To the left, to the left. Everything you own is in the box to de left!
- , cadê… - Ele me encarou irritado e pegou o meu microfone quando percebeu que era o que ele estava procurando.
- Hey! Eu estava cantando. – Tentei pegar de volta e ele levantou o saleiro para o alto. Eu odiava que ele fosse tão alto.
- Get out of my kitchen! – Fez uma cara engraçada e eu tive que obedecer, ou então a pipoca não ficaria pronta.
Cheguei à sala e encontrei os outros dois fazendo uma guerra de travesseiros. Eles haviam afastado o sofá para trás e tirado a mesinha de centro do lugar, colocando um colchão de casal e um de solteiro lado a lado ali. Assim todos poderíamos ficar juntos em frente à televisão. Claro que eu não ia ficar só olhando os dois correrem de um lado para o outro, então peguei o travesseiro mais próximo e entrei na briga. Lou estava de costas pra mim na hora do meu ataque, portanto não viu quando eu bati em sua cabeça e caiu deitado no colchão. Eu esperava que Liam fosse me ajudar a bater nele, mas estava errada. A única coisa que vi foi o tecido branco vindo em minha direção e abaixei em uma tentativa de escapar. Louis aproveitou esse momento e jogou o travesseiro na minha barriga. Eu soltei um grito seguido por risadas. Acabei caindo de joelhos no colchão e quando meu irmão tentou me atacar novamente, Liam me defendeu e bateu nele com uma almofada. Liam gritou um “HAHA”, mas eu o surpreendi e joguei o travesseiro em suas costas. Foi a vez de Louis rir.
Quando já estávamos ofegantes e cansados de lutar bravamente, Harry entrou na sala com uma bacia de pipoca em cada mão. Ele nos reprovou com o olhar, mas eu o mandei um beijo no ar.
- Podem agir como pessoas civilizadas agora? – Ele brincou. Harry seria o último a poder falar aquilo, já que ele era tão bagunceiro quanto nós. Haz era do tipo que topava tudo e meu irmão sempre testava seus planos e idéias malucas com ele.
- Só porque eu estou com fome. – Ri e fui pegar uma bacia de pipoca.
- Lou, meu boo bear, você divide essa comigo? – Em um momento muito gay, Harry se virou para o meu irmão e fez uma cara angelical.
- Claro que sim, meu cupcake. – Louis respondeu mais gay ainda.
- Meu boo bear e meu cupcake. – Falei como se fosse óbvio, enciumada. Mas não me importava que os dois tivessem aquele amor todo um com o outro e até gostava. Perdi a conta de quantas vezes apanhei por falar que eles tinham um relacionamento secreto e até os apelidei de Larry Stylinson.
- Vem pra cá, . Deixa os dois aí e nós dividimos essa que ta com você. – Liam me chamou. Virei para olhá-lo e ele já estava sentado no colchão com as costas apoiadas no sofá.
- Mas essa pipoca é só minha. – Brinquei e logo me sentei ao seu lado.
Com Liam do meu lado direito, Louis ocupou o esquerdo e Harry sentou na outra ponta. Colocamos o filme As Branquelas pra rodar e começamos a comer. Aquele era um filme que todos poderiam assistir dez vezes, mas continuaria sendo muito engraçado. Desde o começo nós gargalhamos e eu quase engasguei quando Louis imitou a voz de uma das irmãs Wilson.
- Eu nunca sei quem é quem. – Liam comentou ao meu lado.
- Brittany é mais alta e Tifanny é a outra. – Expliquei enquanto pegava mais um punhado de pipoca.
- Esses olhos azuis delas/deles me dão arrepios...
- Você não gosta de olhos azuis? – O encarei e abri bem os olhos. Minhas íris também tinham a cor azul, assim como as de Lou e nosso avô.
- Eu amo os seus... Digo, eu amo olhos azuis! – Tentou se justificar. – É que essa lente de contato é estranha.
- Eu to brincando, Leeyum. Eu também não gosto delas. – Ri e voltamos a prestar atenção no filme.
Depois de quase quarenta minutos, eu estiquei a mão até a bacia de pipoca sem saber que já estava vazia. Na mesma hora, Liam fez o mesmo que eu e nossas mãos acabaram esbarrando. Nos entreolhamos e eu sorri. Notei que ele estava corando e meu sorriso só aumentou. O barulho do filme nos fez desconectar os olhares e eu passei a bacia vazia para que Harry a colocasse no chão.
Durante todo o resto do filme eu tentei permanecer imóvel e mal me mexia pra respirar. Tinha medo de acabar esbarrando novamente em Liam. Não é que eu estivesse evitando o seu toque, é só que eu não saberia o que fazer. Eu não sabia o que ele queria. Tinha medo de fazer algo por influencia das ideias de e acabar sendo “rejeitada”.
Assim que os créditos apareceram na tela da televisão, eu, Lou e Haz batemos palmas. Não sei exatamente o motivo, mas sempre que o filme era bom nós acabávamos aplaudindo. Outra mania que acabou permanecendo durante os anos. Liam nos olhou como se fossemos pessoas loucas e eu gargalhei.
- Posso colocar o outro filme? – Louis esticou os braços para cima e se espreguiçou.
- Eu preciso lavar as mãos pra tirar o sal da pipoca. E acho que vocês também deveriam fazer isso! – Levante-me do colchão.
Fui até o banheiro do primeiro andar. Não costumava usar aquele banheiro, mas estava com muita preguiça para subir as escadas e ir até o banheiro do meu quarto. Pude ouvir barulhos na sala mesmo estando com a porta fechada e imagino que os meninos me obedeceram e também foram lavar as mãos. Assim que saí do banheiro Liam e Harry pararam de conversar e olharam pra mim. Eu sabia que estava atrapalhando, então peguei meu celular em cima da estante da TV e fui procurar o meu irmão. Lou estava bebendo água na cozinha e eu fiquei pela sala de jantar. Apressada, digitei uma mensagem para :
E em menos de um minuto já recebia a resposta:
Pra ela tudo era sempre tão simples! Eu acabei rindo com aquela mensagem e Louis saiu da cozinha. Nós dois voltamos para a sala e eu deixei o meu celular no mesmo lugar de antes.
- Agora vamos assistir o de terror! – Harry se aproximou do aparelho de DVD e foi trocar os filmes.
- Liam, tem certeza que vai ficar ao lado da ? – Meu irmão se ajeitou em seu lugar e eu voltei para o meu.
- Por quê? – Perguntou confuso.
- Porque ela tem mania de apertar quem estiver por perto nas horas de susto. – Aquilo era verdade, de fato. Não que eu tivesse medo, mas gostava de apertar algo durante as partes tensas.
- Eu vou apertar você, Lou! – Ri.
- Eu não me importo. – Liam deu de ombros e eu sorri.
Todos deitamos no colchão e nos cobrimos com um edredom grosso. As janelas estavam fechadas, mas mesmo assim estava frio ali dentro. O filme começou tranquilo e eu estava relaxada. A história do filme era a seguinte: Um grupo de investigadores paranormais ia até um hospício abandonado para investigar os acontecimentos estranhos que ocorriam lá. Claro que isso não daria certo, concorda? O que me deixava mais apreensiva é que a filmagem foi feita como no filme REC e A Bruxa de Blair, como se as filmagens fossem verdadeiras.
Enquanto eu assistia ao filme passar, fui me encolhendo devagar. Tinha a impressão de que algo iria acontecer a qualquer momento. A tela da TV ficou escura e a cena mostrava a visão noturna da câmera. Para piorar, o personagem principal filmava bem devagar e na minha cabeça já passava as milhares de coisas que poderiam aparecer há qualquer momento. Senti um roçar de dedos na minha mão e não olhei para o lado pra confirmar que era Liam. Quase por reflexo também mexi meus dedos e brinquei com os dele. Aos poucos nossas mãos foram se entendendo e nossos dedos se entrelaçaram. Quando eu ficava tensa, por causa do filme, acabava apertando a mão dele e recebia carinhos do polegar do mesmo.
Quando a primeira pessoa do filme morreu, houve um barulho tão grande que eu acabei me encolhendo e me aproximando ainda mais de Liam. Deitei a minha cabeça no ombro dele e senti a sua respiração pesar. Com a mão livre, comecei a acariciar o braço do menino e ele apoiou a cabeça sobre a minha. Não demorou muito pra que ele soltasse a minha mão e passasse o braço por meus ombros e eu me deitasse em seu peito. Já não conseguia mais prestar atenção ao filme e só escutava os batimentos acelerados do coração que pulsava próximo a minha orelha. Seus dedos acariciavam o meu braço e os meus dedilhavam a barriga de Liam. Por mais incrível que pareça, eu não estava com segundas intenções. Apenas fazia carinho e gostava dos que recebia. Estiquei o pé para encontrar os dele e entrelacei nossas pernas. Fechei os olhos por um segundo e o sono chegou, fazendo-me adormecer sem querer.
Sabe quando você está tento um sonho tão bom que deseja não acordar mais? Foi bem assim naquela manhã. Eu estava em uma praia, correndo em liberdade, sentindo o vento balançar os meus cabelos e só fazia sorrir. Um homem estava na minha frente e eu tentava alcançá-lo, mas como em todos os meus sonhos, eu não conseguia correr rápido. Nem ao menos sabia quem ele era... Digo, o “eu” do sonho o conhecia e até mesmo chegou a chamá-lo, mas o meu “eu” de verdade não o reconhecia. Tudo começou a ficar claro demais e o mar foi sumindo aos poucos. Eu estava despertando. Tentei segurar a mão estendida do meu “companheiro”, como se aquilo fosse me impedir de acordar, mas ele também se tornou cada vez mais distante.
Me mexi na minha cama tentando voltar a dormir e terminar o sonho, mas foi inútil. Comecei a retomar os meus sentidos e pude sentir algo pesado em cima da minha barriga. Abri os olhos o mais devagar possível e dei de cara com o rosto de Liam, que dormia no meu travesseiro. O peso sobre a minha barriga era o braço dele. Apertei os olhos tentando entender o que era aquilo tudo e lembrei-me da noite passada. Eu devia ter dormido durante o filme, e o pior, em cima dele. Ou o melhor, dependendo do ponto de vista. Do meu outro lado Harry e Louis dormiam abraçados. Era a cena mais fofa do mundo e eu não podia deixá-la ser esquecida nunca. Com cuidado para não acordar nenhum dos três, me desfiz do abraço que estava recebendo e me levantei. Peguei meu celular em cima da estante e abri na câmera. Primeiro tirei uma foto de Harry e Lou, em pelo menos três ângulos. Em seguida, fotografei Liam, que parecia um bebê. Comecei a rever aquelas fotos e meu olhar bateu no relógio: Passava das sete e meia da manhã e minha aula começaria as oito. Eu estava super atrasada!
Tentei não me desesperar, mas foi inútil. “Eu não vou conseguir chegar a tempo...” Corri até o segundo andar e entrei como um furacão no meu quarto. Por sorte já tinha separado a roupa que queria usar e a vesti de qualquer jeito. Os meninos ainda estavam dormindo e não seria justo acordá-los em um dia de folga. Eu também não poderia ligar para e fazê-la se atrasar comigo. Bufei, decidindo pegar um taxi.
Saí de casa o mais rápido que consegui e ainda tive que caminhar até a portaria do condomínio. Pelo menos tive um pouco de sorte e o porteiro me ajudou a encontrar um taxi livre. Tentava não olhar no meu relógio para não aumentar o meu desespero, mas já sabia que não daria tempo. O trânsito de Londres não foi tão gentil comigo quanto eu esperava que fosse. Por mais que eu tentasse apressar o motorista, ele me olhava pelo espelho e falava: “Eu não posso passar por cima dos carros, moça.” Moça? Não gostei.
Joguei uma nota com um valor bem maior do que o preço da corrida, mas não tinha tempo de esperar pelo troco. Praticamente pulei do carro ainda em movimento e corri pela calçada até chegar à escadaria. Incrivelmente não tropecei em nenhum degrau e continuei o meu caminho. Minha aula seria no último andar e eu desejei ter asas. A minha única saída foi continuar correndo pelos corredores e desviando de pessoas até chegar à escada de incêndio. O elevador demoraria demais pra chegar e eu já não tinha mais tempo a perder.
No terceiro andar eu já estava morta de cansaço e sem ar. Meu corpo não aguentava mais continuar, então eu tive que parar e me apoiar na parede. Respirei fundo e senti a vista ficar escura. Dica: Nunca saia de casa sem comer nada e corra como se estivesse em uma maratona. Me sentei em um degrau qualquer pra evitar uma queda e chequei as horas. 8h20min. Não poderia entrar na sala de aula mesmo que conseguisse chegar até o quinto andar com vida.
Fiquei sentada ali até parar de ofegar como um cachorro depois de um passeio e tentava decidir o que faria. Tinha duas horas livres até a minha próxima aula. Poderia ir comer alguma coisa na cafeteria da Academy, mas estava enjoada demais por ter chegado atrasada pra tentar comer qualquer coisa. Meu perfeccionismo não me permitia falhar e aquilo era uma falha. Uma muito grande, aliás. Como eu pretendia me destacar assim? E o pior... Agnes disse que estaria de olho em mim e com certeza aquilo não passaria batido. Adeus chances de pegar “matérias” de níveis mais avançados.
Se eu continuasse parada e pensando naquelas coisas acabaria chorando ou me jogando da escada. Levantei do batente e decidi dar uma volta naquele andar mesmo. Seria uma oportunidade de espiar os outros alunos, já que todas as portas das salas tinham uma parte de vidro. Saí da escada e encontrei o corredor completamente vazio. Aparentemente eu era a única a “matar aula”. A primeira sala que eu encontrei era de uma turma de teatro, já que eles estavam encenando uma cena de Hamlet. Sim, aquela onde o cara segura o crânio e pergunta: “Ser ou não ser? Eis a questão.” Assisti por um tempo até ficar entediada e passei para a próxima sala. Vazia.
Pulei algumas salas e encontrei uma onde um casal dançava enquanto o resto da turma assistia. Com a porta fechada eu não conseguia escutar qual era a música, mas os dois eram tão encantadores que não havia necessidade de uma trilha sonora. O homem estava de costas para mim e eu não conhecia a bailarina que girava e subia e descia da ponta. Só sabia que nunca tinha visto uma dança tão linda em toda a minha vida. Ele a levantava para o alto e aos poucos ela ia se curvando sobre ele até quase se beijarem. Mais um rodopio aconteceu e eles trocaram de lado. O bailarino ficou de frente pra mim e eu descobri que era Nicholas. Ele logo notou a minha presença atrás da porta, mas não perdeu a concentração por nenhum segundo. Pelo contrário, parecia querer me mostrar o seu melhor. Não que precisasse, já que eu já estava encantada.
Nunca imaginaria que Nick era tão bom dançarino. Eu viajei em seus movimentos e acabei sorrindo. Ele também sorriu e a professora olhou na minha direção, como se estivesse querendo saber para onde ele estava olhando. Me escondi atrás da parede e decidi não atrapalhar mais.
Caminhei até o fim do corredor e parei em frente à última porta. Mesmo ele estando de costas, vi que era Zayn que estava sentado em um piano de cauda. Em pé ao seu lado estava um homem ruivo, provavelmente o professor, que lhe entregou uma partitura. Zayn a folheou algumas vezes e falou algo que eu não fui capaz de escutar. Maldita porta a prova de som. O professor se afastou um pouco e Zayn dobrou as mangas da camisa, se preparando para tocar algo. Eu sempre fui apaixonada pelo som de piano, tanto é que quis aprender quando era mais nova, mas tive que me dedicar ao ballet. Não iria perder a oportunidade de ouvi-lo tocar. Girei a maçaneta da porta e prendi a respiração, com medo que a madeira rangesse e eu fosse denunciada. O que não aconteceu e eu pude respirar aliviada. Não abri muito a porta, só o suficiente para que o som pudesse chegar até os meus ouvidos.
Os dedos de Zayn começaram a deslizar sobre as teclas e os pés se mexiam no ritmo da música, provavelmente pisando naqueles pedais que eu nunca entendi a utilidade. Eu não conhecia a música, mas era linda. Bem lenta e um tanto triste. Ele começou a cantar e eu fiquei hipnotizada.
- I don’t know where I’m at. (Eu não sei onde estou) I’m standing at the back and I’m tired of waiting. (Eu estou parado na parte de trás e estou cansado de esperar) – A voz dele era rouca e ao mesmo tempo suave. Eu podia sentir todo o sentimento por trás da letra da música. – Waiting here in line, hoping that I find wath I’ve been chasing... (Esperando aqui na fila com esperança de encontrar o que eu estive procurando)
Eu poderia ficar ali escutando até que a aula acabasse, mas quando a música chegou ao segundo refrão eu fui interrompida. Alguém me cutucou por cima do ombro e eu me assustei. Já imaginava que era a diretora pronta pra me expulsar, mas sorri por me virar e ver que era apenas Niall.
- Sabia que é feio espiar os outros? – Ele me fez fechar a porta da sala, para não sermos escutados.
- Já ouvi isso em algum lugar... – Mordi o meu lábio inferior, envergonhada por ter sido pega.
- Você pode entrar na sala pra assistir, sabia? – Ele tentou abrir a porta, mas eu o impedi. Não queria que Zayn soubesse que eu estava o escutando.
- Deixa pra lá, eu já tenho que ir mesmo...
- Você não devia estar na aula? estava te procurando mais cedo.
- Deveria sim, mas acabei perdendo a hora. – Escondi o rosto nas mãos e choraminguei.
- Não fica assim, . – Ele me abraçou. – Aposto que ninguém nem sentiu a sua falta.
- Poxa, Nialler, obrigada. – O abracei de volta e acabei rindo.
- Tem certeza que não quer entrar? Eu gosto muito dessa música e acho que você também ia gostar...
- Eu realmente tenho que ir, mas quem sabe outro dia, né?
- Tudo bem, . Te vejo na saída, então? – Ele sorriu, mostrando o aparelho invisível nos dentes.
- Como sempre! – Deixei um beijo em sua bochecha. – Só não conta pra ninguém que você me viu aqui, ok?
- Pode deixar! – Niall fez um “joinha” com a mão e entrou na sala.
Eu observei Zayn se levantar do banco para abraçar Niall quando o viu. Os dois deveriam ser realmente melhores amigos e até Ed se juntou a eles. É claro que eu ri quando Niall tentou empurrar o professor e ficar com Zayn só pra ele. Meu celular começou a vibrar no bolso da minha calça e eu já sabia quem era. A aula provavelmente havia acabado e estaria me procurando em todo canto.
Claro, porque se eu morri estaria lendo a mensagem dela direto do além. Ri sozinha, me afastando da sala. Fui até o elevador enquanto digitava uma resposta:
Capítulo XV
Já era sexta feira e eu estava em meu closet tentando achar alguma roupa para usar. Papai estaria passando em mais ou menos uma hora para buscar eu e meu irmão e irmos jantar em algum restaurante chique, então eu tinha que estar apresentável. Meus cabelos estavam amarrados em um coque apertado, para que formassem cachos quando eu os soltasse e meu corpo estava coberto pelo meu roupão felpudo. Nada do que eu via parecia me agradar e eu já começava a ficar irritada.
- Toc toc. – Liam disse, já entrando no quarto. A minha porta estava aberta, então não havia necessidade de esperar uma resposta.
- Hey, Leeyum. – Choraminguei, parando encostada na porta do closet.
- Seu irmão me mandou ver se você já estava pronta... – Ele deu uma boa olhada no meu roupão. – Acho que não.
- Não mesmo! – Nós dois rimos e eu caminhei até ele, o abraçando pela cintura. Liam me abraçou de volta e depositou um beijo em minha cabeça.
Depois da noite em que assistimos o filme “abraçados” e, tecnicamente, dormimos juntos, nosso tratamento um com o outro mudou um pouco. Agora era mais fácil nos ver abraçados pela casa, ou eu sentada no colo dele enquanto recebia carinhos na cintura e beijinhos no ombro. Mas nunca passava disso. Não que eu me recusasse, mas ele não parecia tomar uma atitude mais drástica, como me beijar ou coisa parecida. E também tinha a Candice, já que eu não sabia se os dois estavam de fato namorando, mas ela costumava ligar pra ele algumas vezes durante o dia, o que me fazia acreditar que tinha algo acontecendo.
- Eu preciso de um amigo gay. – Resmunguei, diminuindo um pouco o abraço.
- Quer que eu vá chamar o Harry? – Ele me fez gargalhar um pouco alto demais. Tadinho do meu cupcake.
- Até que não seria uma má idéia, já que ele se veste bem. – Cogitei a possibilidade de pedir a sua ajuda.
- Eu gosto quando você usa saia.
- Sério?
- Sim... Você tem pernas bonitas. – Coçou a nuca, tímido.
- Então acho que sei o que usar! – Sorri e voltei para o closet.
- Vai ficar linda com qualquer coisa. – Falou tão baixo que eu me perguntei se deveria ter escutado. Liam logo deixou o quarto e fechou a porta para que eu pudesse me arrumar em paz.
Não demorou muito para que eu estivesse arrumada e pronta para descer. Meu quarto estava tão bagunçado que me dava até vergonha. A cama estava toda revirada e eu já deveria ter trocado os lençóis, mas admito que ainda não tinha feito isso porque não queria que o cheiro que Zayn deixou ali fosse embora. Sim, eu deveria estar ficando louca e sabia disso. Mas não é todo dia que um modelo Armani que cheira a Gucci dorme na minha cama.
Saí do quarto para encontrar os meus três meninos brincando de Uno na sala. Harry e Liam estavam de pijamas e eu desconfiava que o primeiro estivesse se mudando de vez para aquela casa. Meu irmão estava mais arrumado; com uma calça jeans escura, camisa roxa e uma jaqueta jeans por cima.
- Lou, o papai ainda vai demorar? – Anunciei a minha presença na sala e os três pararam de jogar para me olhar.
- Mudança de planos, ... Nós vamos jantar na casa dele mesmo, então eu vou dirigindo. Parece que a Lux ta dodói e não querem tirar ela de casa. – Meu irmão me explicou e fez um bico ao falar da nossa irmã.
- Você está muito bonita. – Liam me elogiou e eu sorri, corando. Harry aproveitou que estavam distraídos e devolveu algumas de suas cartas ao monte, ficando com apenas três na mão.
- Harry. – O chamei e ele se assustou, achando que eu iria denunciá-lo. – Boa noite.
- Bo-boa noite, . – Gaguejou, mas estava um pouco aliviado.
- Vamos, Lou? – Fui até Liam e o beijei na bochecha, me despedindo.
Logo saímos de casa e entramos no carro. Diferente de Liam e Zayn, Louis não abria a porta pra mim. Eu tinha sorte só de ele me esperar entrar pra começar a andar. Não demorou muito e já passávamos pelos portões do condomínio. Era incrível como aquele mesmo trajeto podia ser tão rápido de carro e tão terrivelmente lento quando eu estava a pé. Por isso eu mal podia esperar o meu baby chegar, já que eu não precisaria mais depender de ninguém pra me levar aos lugares. “Espere só mais uma semana e seu carro vai chegar, .” Meu irmão tentava me acalmar quando eu começava a ameaçar processar a empresa que estava fazendo o transporte do meu veículo.
A noite nas ruas de Londres estava normal. Não havia estrelas no céu coberto por nuvens e provavelmente começaria a chover há qualquer momento. Quase todas as noites naquela cidade cinzenta eram assim; “sem graça”. Mas eu gostava. Sempre fora fã de dias chuvosos, frio, casacos de lã, luvas e todas essas coisas com cara de inverno. Quando estava nevando então? Pra mim era o paraíso! Claro que eu também nunca negava alguns raios de sol de vez em quando, principalmente quando viajava até a praia.
- Hey, Lou... – O chamei distraída, olhando as luzes que piscavam nos postes.
- Sim, ?
- O que tá rolando entre o Liam e a Candice? – Ele sorriu ao escutar a minha pergunta e eu quase me arrependi de tê-la feito.
- Eu sabia que você iria me perguntar isso mais cedo ou mais tarde. – Seu sorriso aumentava. Só eu sabia como Louis gostava de adivinhar os meus passos.
- E então? – Continuei encarando-o. Só ele sabia como eu odiava aquele seu suspense.
- Eles não estão namorando, nem nada... – Deu de ombros, parando em um sinal vermelho e me olhando. – Mas não é isso o que a Candice acha. Já percebeu que ela liga pra ele todos os dias?
- Exatamente por isso que eu perguntei! – Tive que rir ao me lembrar das caretas que Liam fazia ao ver o nome dela piscando no visor de seu celular. – Mas porque ele não conversa direito com ela e esclarece tudo?
- Você não gosta dela, né? – Gargalhou.
- I strongly hate her. – Fiz uma careta. Eu realmente a odiava e não adiantaria mentir para o meu irmão, já que ele tinha o poder de ler a minha mente.
- Mas você a odeia porque gostaria de estar no lugar dela, ou porque não vai com a cara da coitada? – “Coitada”? Ele ia mesmo começar a defender aquela garota?
- Eu nunca fui com a cara dela! – Exclamei.
- ... – Me olhou pelo retrovisor, desconfiado.
- Olhe pra frente, Louis! – Virei para o outro lado, evitando seu olhar. – Eu só acho que ele merece alguém melhor...
- Como você? – Lá estava aquele sorrisinho sabichão. – É o que ele quer.
- Como é? – Virei o rosto com tanta força que o senti estalar e gemi de dor.
- Vai dizer que nunca percebeu, ? Ele tem uma queda por você e não é de hoje. Só que ele não sabe bem como lidar, ou como te chamar pra sair. Liam realmente não leva jeito com isso. E ainda tem a Candice pra complicar tudo...
- Hm... – Eu escutava todas aquelas palavras atentamente. Sim, aquilo já estava claro pra mim, mas era a primeira vez que alguém realmente confirmava em voz alta.
Não soube mais o que falar e Louis percebeu isso. Graças a Deus ele sempre foi muito bom em respeitar o meu espaço e continuamos em silêncio até chegar ao apartamento de meu pai. O manobrista veio até o carro e abriu a porta para que eu pudesse sair. Em seguida ele esperou meu irmão também sair e partiu para estacionar o carro. Aquele prédio tinha tanto luxo que eu não sabia se conseguiria me acostumar a morar ali. Meu pai sempre gostou de coisas boas. Carros bons, apartamentos bons, roupas de marca... E, por sorte, tinha muito dinheiro pra gastar com suas regalias. Apesar de rico, ele não era daqueles esnobes que se achavam superiores a todo mundo. Papai sempre foi humilde e tratava a todos com igualdade.
Não demoramos muito para entrar no elevador e eu apertei o botão para a cobertura. Eu e Louis nos entreolhamos e eu acabei fazendo alguma piadinha sobre ser um milagre ele não estar usando suspensórios. Recebi um “cala a boca” e ri mais ainda. A porta do elevador abriu e já entramos no hall de entrada do apartamento, como em Gossip Girl.
- Eu sabia que tinha ouvido risadas! – Rachel, a nova mulher de meu pai, se aproximou de nós dois com um sorriso enorme no rosto. – Você está cada dia mais linda, .
- Obrigada, Rach. – Nos abraçamos. – Amei o seu novo corte de cabelo! Está bem melhor repicado assim.
- Foi ideia do seu pai! – Ela piscou pra mim e foi abraçar o meu irmão. – Ele está na cozinha, aliás.
Tirei meu casaco e o pendurei em um armário próprio pra essas coisas e comecei a ir em direção à cozinha. Fazia algum tempo que não via o meu pai e estava com saudades. Era sempre assim, já que ele trabalhava demais. Cheguei à cozinha e sorri com o que vi: Meu pai estava com um avental florido e checava algo no forno. Vê-lo cozinhar era algo novo, coisa que nunca fizera quando era casado com a minha mãe. Rachel realmente estava fazendo dele um homem diferente; um homem feliz.
- Eu estava torcendo para que você não estivesse tentando cozinhar hoje. – Brinquei e ele se virou na minha direção.
- ! – Seu sorriso era enorme e eu pude ver que ele estava feliz em me ver.
- Daddy! – Fui até ele e o abracei.
- Quando você ficou tão crescida assim? – Após retribuir o abraço, ele me fez dar uma voltinha e eu fiquei vermelha. – Até parece uma mulher.
- Para com isso! – Eu ri. – Ainda sou só uma garotinha.
- Como eu queria que isso fosse verdade... – Sorriu de forma paternal, quase dizendo que eu sempre seria a sua bebê.
- Onde está a minha pequena? – Resolvi mudar de assunto antes que tivesse que escutar alguma história embaraçosa de quando eu era criança.
- Ela está no quarto. Porque não vai vê-la enquanto eu termino o jantar? E fale pro seu irmão vir falar comigo.
Nem precisei chamar Louis, já que ele entrou na cozinha assim que eu saí de lá. Rachel arrumava algo na mesa de jantar e eu fui até o quarto da minha irmãzinha. A porta estava entreaberta e eu espiei antes de entrar. Lux estava sentada em um tapete felpudo cor de rosa – assim como quarto inteiro – e brincava com um cachorrinho de pelúcia. Mais precisamente, dava mamadeira e conversava algo que eu não entendia o que era. Abri a porta o suficiente para que eu pudesse passar e a pequena me olhou na mesma hora.
- ! – Ela sorriu tanto que até deixou a chupeta cair de sua boca.
- Baby girl! – Lux era a criança mais fofa do mundo e eu amava cada pedacinho dela. Ao contrário de outras crianças, ela não fazia o tipo birrenta e mimada, mesmo tendo absolutamente tudo. – Como você está, meu amor?
- Dodói eu. – Me sentei no tapete também e ela levou a mão até a testa, como se estivesse sentindo a própria temperatura. Provavelmente sua mãe tinha feito isso algumas vezes e ela repetia.
- Está dodói? – Ela afirmou com a cabeça e eu toquei em seu pescoço. Estava um pouco quente sim, mas a febre estava baixa. – Você vai ficar boa logo, tá? E aí vamos nadar lá em casa.
Lux bateu palmas e acenou que sim mais uma vez. Me levantei com cuidado, odiando ter escolhido uma saia tão justa e que impossibilitava os meus movimentos.
- Quer ir ver o Lou? Ele está lá fora.
- Boo? Quero. – Sorriu novamente e esticou os bracinhos para que eu a carregasse.
Abaixei-me novamente e entreguei a chupeta para que ela a segurasse. Em seguida, a peguei por baixo dos braços e trouxe seu pequeno corpo até o meu. No mesmo instante em que a firmei em meus braços, Lux começou a brincar com os meus cabelos. Não sabia a graça que ela via neles, mas parecia gostar muito e enrolar as mãozinhas nos meus fios castanhos. Fomos até a sala e encontramos Louis e meu pai sentados no sofá, assistindo algum jogo de futebol. Pela forma que meu irmão cobria os olhos com as mãos deveria ser do time deles.
- Olha quem ta aqui, Lou.
- Minha princesinha! – Ele sorriu e se levantou. Também era louco por ela. Na verdade, quem não era?
- Boo-boo. – Lux se jogou nos braços dele e eu ri.
Louis a segurou e começou a brincar de aviãozinho. Ela gargalhava tanto que nem parecia estar doente. Deixei os dois brincando e fui me sentar ao lado de meu pai. Dei uma olhada para a tela da TV e tentei assistir o jogo, mas eu nunca fui muito fã de futebol então bufei entediada.
- Eu estava esperando você fazer isso. – Meu pai riu e desligou a televisão.
- Algumas coisas nunca mudam. – Também ri e sentei de lado, ficando de frente pra ele. – Mas você não precisa parar de assistir por minha causa.
- Minha filha é mais interessante que o final do campeonato. – Sorriu. – Como está tudo na escola?
- Escola, pai? – Rolei os olhos. – Ao menos fale “academia”, ou “Academy” que é como todos falamos.
- Tudo bem, senhorita crescida. Como está tudo na Academy?
- Bem melhor! – Sorri satisfeita. – Tudo está ótimo... As aulas são puxadas, mas é assim que eu gosto. Quarta feira eu tenho um teste para a peça de fim de semestre!
- Um teste? Pra qual papel? – Ele parecia realmente interessado.
- A peça é Romeu e Julieta... Então eu vou tentar conseguir o papel de Julieta.
- O papel principal? Uau, isso é grande!
- Eu sei! Mas como eu sou uma “caloura”, não criarei muitas esperanças. Geralmente dão o papel principal pra quem está no último ano, então...
- Ei, ei, pode parar! – Papai me interrompeu e colocou a mão no meu ombro. – Se a academia é tão boa quanto você diz, eles vão ser justos e dar o papel principal pra quem for o melhor. E eu sei que posso ser suspeito pra falar, mas você é a melhor dançarina que eu já conheci.
- Obrigada, pai... – Eu poderia ser a única dançarina que ele conhecia, mas o que importava era que meu pai acreditava em mim.
- E você tem muitos amigos por lá? Seu irmão me disse que você saiu semana passada...
- Tenho alguns... – Olhei para Louis de soslaio e ele fingiu não estar escutando a nossa conversa. – A minha melhor amiga se chama . Ela é meio doidinha, mas um amor de pessoa!
Ficamos conversando por mais vinte minutos até que Rachel nos chamou para jantar. O cheiro estava delicioso e eu estava com muita fome. Papai sentou na ponta da mesa e eu me sentei ao seu lado esquerdo, com Rachel na minha frente. Louis estava ao meu lado e Lux na frente dele, sentada na cadeirinha de bebê. A lasanha estava tão bonita que eu fiquei com água na boca. Tudo bem que não era a mesma coisa de quando a minha avó cozinhava, mas ainda parecia deliciosa. Todos foram se servindo e começando a comer. Meu pai abriu uma garrafa de vinho e eu pedi uma taça. Ele ficou surpreso, mas não reclamou. Acho que aos poucos estava percebendo que eu realmente já parecia mais com uma mulher do que uma garotinha que costumava esperar ele chegar do trabalho pra ouvir uma história de ninar.
- E então, ... – Rachel chamou a minha atenção e eu terminava de engolir uma garfada de lasanha. – Algum garoto interessante na sua vida?
- Ahn. – A pergunta me pegou de surpresa e eu não sabia o que responder. Ela sorriu da minha reação e meu pai também me olhou. Olhei pra ele e em seguida para Rachel. Antes de responder, peguei meu copo e dei um gole.
- Tem pelo menos três. – Louis respondeu antes que eu pudesse falar qualquer coisa e eu engasguei com o vinho.
- Três? Que história é essa? – Meu pai se preocupou. Meu irmão realmente adorava me fazer passar por vadia.
- Nick, Liam e Za... AI. – Meu irmão estava disposto a criar a minha fama enquanto eu tentava retomar o ar, então não o deixei terminar e chutei a sua perna por baixo da mesa.
- Não é nada disso, pai. São só amigos. O Louis está brincando. – Tentei contornar a situação, mas ele parecia não me escutar.
- Nick? Esse Liam não é o que está morando com vocês? E o que é “Za”?
- Daddy, me escuta… - Respirei fundo e olhei pra Rachel, pedindo ajuda. – Nicholas é um amigo da academia... E o Liam é esse mesmo, mas também não passamos de amigos. E o Zayn... É um amigo da .
- Não é que eu pense que você não vai namorar, ou beijar na boca... – Meu pai começou e eu escondi o rosto nas mãos. Momento constrangedor mode on. – Mas só espero que tenha cuidado. Você tem camisinhas em casa? Se quiser posso trazer umas pílulas do hospital pra você...
- Pai! – Meu rosto devia estar mais vermelho que um tomate e meu irmão só fazia rir ao meu lado. – Não preciso de nada disso!
- Mark, deixe a menina em paz. Isso é coisa de mulher e ela sabe que pode sempre vir falar comigo. – Rachel se intrometeu e pareceu acalmar meu pai. – Não sabe?
- Claro que sei! – A agradeci com o olhar e voltamos a comer.
Louis iria me pagar por aquilo, ahhh, se ia! Depois da lasanha, Rachel serviu um suflê de chocolate que estava simplesmente divino. Eu comi pelo menos dois pedaços enormes. Lux também pareceu adorar, porque no final da refeição estava com a boca toda suja de chocolate. Meu pai conversava com a esposa e meu irmão começava a tirar a mesa; claro que não por vontade própria. Me levantei e peguei a minha irmãzinha no colo. Usei um guardanapo para limpar o seu rosto e ela riu enquanto eu fazia caras engraçadas. Meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa que estava em cima co sofá.
- Vamos ver quem está ligando pra gente, Luxy?
Ela não entendeu absolutamente nada, mas balançou a cabeça em afirmação e nós fomos até o sofá. Me sentei e a coloquei no meu colo enquanto procurava o meu iPhone e torcia pra que desse tempo de atender. “FaceTime: calling” era o que dizia. Cliquei para aceitar a chamada e a imagem dela logo preencheu a tela. De acordo com o que Zayn tinha me falado eles deveriam estar no Pub, mas eu não reconheci lugar em que esta estava.
- Hey, ! – Ela sorriu. – Quem é essa coisa fofa no seu colo? Eu não sabia que você tinha uma filha!
- A tem uma filha? – Escutei a voz de Niall e ele se juntou à namorada. Percebi que os dois estavam em uma cama. – Oi, lindaaaaaa.
- Hey, guys. – Ri da bagunça que eles estavam fazendo. – Essa é a Lux, minha irmã mais nova. Diz oi, Lux.
- Oi... - Ela falou bem baixinho e um tanto tímida, mas acenou pra eles.
- Que gracinha que ela é! – fazia palhaçadas tentando chamar a atenção de Lux e estava conseguindo.
- Tinha que ser minha irmã, né? – Me gabei. – Onde vocês estão, aliás?
- Estamos na casa do Zayn. O Pub estava muito chato, então viemos fazer uma festinha aqui. – Minha amiga explicou.
- E ele sabe que vocês estão ficando animadinhos no quarto dele? – Brinquei.
- Ele está aqui também e eu acho que quer participar... – Niall disse e eu gargalhei.
- Zayn, diz oi pra ! – virou o próprio celular e apontou a câmera para Zayn; que estava sem camisa, se me permite o comentário.
- Vas happening? – Ele sorriu e pegou o celular. Por sorte da minha sanidade mental, focou apenas em seu rosto. O que também era algo muito bom de se olhar. – Essa é a famosa Lux?
- Hey, Zayn! É sim. A minha pequena. – Sorri e deixei um beijo na bochecha dela, que já não entendia mais nada.
- Está na casa do seu pai? – Ele perguntou.
- Sim, acabamos de comer.
- Isso explica o alface no meio dos seus dentes. – Na hora que Zayn falou aquilo eu gelei.
- Como é? – Cobri a boca com uma mão e já comecei a passar a língua pelos dentes. Ele gargalhou.
- Eu to brincando, . Você está perfeita, como sempre. – É claro que ele estava brincando! Eu nem ao menos tinha comido alface!
- Idiota. – Rolei os olhos, mesmo querendo rir.
- Eu tenho que devolver o celular agora, ou me mata. Ela já está me olhando feio! – Ele se despediu e assoprou um beijo pra mim e um pra Lux, que o imitou.
- E aí, girl? Voltei. – sorriu. – Já decorou o texto que vai apresentar na quarta?
- Texto? Que texto? – Me assustei.
- Para o teste? Hello? Você vai ter que apresentar uma cena de Romeu e Julieta. – Como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, me explicou.
- Eu não fazia idéia que teria que fazer isso... Pensei que só precisaria dançar. – Até na minha voz era possível ver o desespero que me dominava.
- O que você faria sem mim? – balançou a cabeça em negação. – Eu vou te ajudar, ok? Vamos ensaiar até você decorar o livro todo, se for preciso. Porque se você não for a Julieta, a Brigitte vai ficar no seu lugar. E eu não quero ter que contracenar com ela!
- Eu realmente não sabia o que faria sem você... – Sorri, um pouco mais aliviada. – Agora eu tenho que ir, ok? Meu irmão já está me chamando pra ir embora. Aliás... Tenho uma coisa pra te contar.
- COMO ASSIM DIZ QUE TEM QUE IR E DEPOIS FALA QUE TEM ALGO PRA CONTAR? – Gritou e até Lux se assustou.
- Depois eu conto, ! Beijo. Tchau meninos! – Falei alto suficiente pra que eles escutassem, mas não esperei uma resposta.
Desliguei o celular e Lux me olhou. Ela devia estar achando que eu era algum tipo de mágica por conseguir ver pessoas em um celular. Eu fiz uma caretinha e ela riu. Eu me sentia muito bem quando a fazia rir, porque me sentia a pessoa mais engraçada do mundo. Levantei com ela em meu colo e a abracei bem forte antes de entregá-la para a mãe. Tinha vontade de morar com meu pai só pra ficar mais perto dela, ou até mesmo levá-la pra morar comigo. Mas acho que meu pai tinha um ataque de vez, com todos os filhos dele morando sozinhos. Também me despedi dele e da minha madrasta. Eu avisei pra ela levar Lux pra ficar comigo quando a pequena estivesse melhor da gripe e assim ela poderia ter um dia pra ficar só com meu pai. Ele gostou muito daquilo, afirmando que precisava de uma noite romântica de vez em quando e eu puxei Lou para dentro do elevador antes que nosso pai começasse outra conversa constrangedora.
- Muito obrigada, Louis. – Falei em tom severo depois que as portas se fecharam.
- Pelo quê? – Ele se fez de desentendido, mas riu.
- Você sabe muito bem!
Chegamos em casa em quase trinta minutos. Louis foi atender uma ligação na cozinha e me deixou sozinha na sala. Aquilo me pareceu meio suspeito, já que era muito tarde pra alguém estar ligando. Dei de ombros e tirei os sapatos. Eu adorava usar saltos, mas meus pés sempre ficavam muito doloridos depois que eu os tirava. Escutei o barulho de alguém descendo a escada e me virei para olhar Liam andar até o meu encontro.
- Eu sabia que tinha escutado alguém entrar! – Mesmo sonolento, o garoto sorriu pra mim.
- A gente te acordou? – Sentei no braço do sofá e comecei a massagear o meu pé direito.
- Não, não... Eu não estava dormindo. Estava tocando violão e tentando terminar uma música pra passar o tempo.
- Você está escrevendo uma música? Posso ouvir? – Já comecei a me animar. Eu amava ouvir Liam cantar, ainda mais se fosse uma de suas criações.
- Ainda não está pronta, então não. – Contraiu os lábios e balançou a cabeça.
- Poxa! Tudo bem. – Fiz um biquinho. – Vocês homens tem sorte por não usarem salto!
- Alguns de nós usam. – Deu de ombros e eu gargalhei. – Quer ajuda pra subir as escadas?
- Sim, por favooooor! – Choraminguei e ele se aproximou ainda mais, com aquele sorriso impecável sempre no rosto.
- Pula aí. – Virou de costas e se abaixou um pouco para que eu pudesse subir.
- Eba! – Comemorei e pulei nas costas dele, sem me importar em estar de saia.
Liam passou os braços por baixo dos meus joelhos e eu o abracei pelo pescoço. Logo começamos a subir as escadas e ele tinha o maior cuidado do mundo, como se eu fosse uma boneca de porcelana.
- Espera, espera! – Exclamei e ele obedeceu. – Podemos ir à cozinha, primeiro? Quero pegar o meu chá pra não ter que voltar aqui depois.
- Você é que manda. – Liam deu meia volta e desceu as escadas.
Fomos até a cozinha e Louis estava com uma expressão preocupada. Já havia desligado o celular e encarava um lugar qualquer, mas seu olhar estava vazio. Assim que ele nos viu, sorriu e fingiu que estava tudo bem; murmurou um “boa noite” e sumiu. Liam também notou que algo estava errado, mas nenhum de nós falou coisa alguma. Ele caminhou até a geladeira e parou de lado para que eu pudesse pegar a minha garrafinha de chá gelado.
- Você sempre bebe chá antes de dormir? – Perguntou.
- Sim... Desde criança. É meio bobo, né?
- Não é bobo coisa nenhuma. Nada que vem de você é bobo. – Ele me olhou de lado e eu dei um beijo em sua bochecha. – Podemos ir, duquesa?
- Sim, podemos! – Sorri por ele ter me chamado assim.
Dessa vez não o interrompi quando voltamos a subir as escadas e ele logo me colocou no chão. Eu torcia pra não tê-lo machucado, até porque sabia que não era a pessoa mais leve do mundo. Nos despedimos com um abraço bastante demorado e fechei a porta do meu quarto. Notei que Liam ainda demorou um pouco do outro lado, pois eu podia ver a sua sombra por baixo da porta. Por um segundo eu achei que ele fosse me chamar e finalmente contar tudo que estava engasgado em sua garganta, mas é claro que eu estava errada. Não que eu passasse todos os dias esperando uma declaração e também não estava apaixonada por ele. Mas me sentia atraída e já não tinha mais aquele medo de antes. Nós éramos amigos o suficiente pra não deixar nada abalar aquilo, mesmo que nosso “envolvimento” terminasse mal.
Incrível como uma pessoa acaba criando expectativas mesmo sem querer, né? Resolvi não me preocupar mais com aquilo e deixar rolar. Eu não tinha pressa alguma e ele viria falar comigo quando estivesse pronto. Me tranquei no banheiro e tomei um banho quente e demorado; perfeito para me preparar para uma longa noite de sono.
Capítulo XVI
Era terça feira à noite, véspera dos testes para a peça do semestre. Eu estava na casa de e iria dormir lá para irmos juntas no dia seguinte. Já havíamos estudado e ensaiado várias cenas do livro/filme Romeu e Julieta e eu já não aguentava mais. Estávamos no quarto dela e eu a assistia encenar pela décima vez a parte que iria apresentar. Mas é claro que eu estava distraída brincando com Félix, o gatinho persa da minha amiga. Ele era uma bola de pelos e muito carinhoso. Não parava de se esfregar no meu joelho, como se estivesse me pedindo carinho. E é claro que eu sempre coçava atrás da sua orelha e o escutava ronronar.
- E então, achou essa versão melhor do que aquela? – Ela me perguntou ao terminar a sua encenação.
- Hum? – iria me matar por não ter prestado atenção, tenho certeza.
- ! Você não prestou atenção em nada do que eu falei? – Colocou as mãos na cintura e me encarou.
- Claro que prestei atenção! Mas você vai se sair muito bem de qualquer jeito, então não precisa ficar se matando assim. Você tem um dom para essas coisas que eu queria pegar emprestado. – Cruzei os braços e Félix levantou a cabeça na minha direção. – Gostaria que me emprestasse esse gatinho também.
- Ele só é assim com você, porque eu tenho certeza que já achei um papel onde ele planejava a minha morte. – se sentou ao meu lado e o gato saiu correndo quase na mesma hora. Eu gargalhei e ela me lançou um olhar mortal. – Mas voltando ao que interessa... É claro que eu vou me dar muito bem. E você também.
- Duvido muito. – Coloquei um travesseiro atrás da minha cabeça e relaxei, já me sentindo em casa. – Mas pensamento positivo!
- É assim que se fala. – Fez sinal de figas com os dedos e se levantou. Eu a observei sentar em frente ao computador dela e abrir na página do Twitter.
- Niall vai fazer o teste também? – Perguntei distraída, mudando a minha atenção para o teto.
- É claro que vai! Mas ele é como eu... Não gosta dos papeis com muita concorrência. Acho que tinha se decidido por Mercucio. – Ela voltou para a cama e trouxe a câmera consigo. – Vem cá, vamos tirar uma foto pra eu postar.
- Foto? – Me exaltei. – Meu cabelo está horrível, . Nem vem!
- Deixa de frescura, idiota. Os meninos é que estão pedindo!
Mesmo que eu continuasse me negando a tirar aquela bendita foto, a conseguiria de qualquer jeito. Ela tinha um poder de persuasão que me impressionava. Rolei os olhos em concordância e ela se sentou ao meu lado. Mirou a câmera em nossa direção e eu a abracei de lado, sorrindo. O flash machucou os meus olhos e eu fiz uma careta que, por sorte, não foi fotografada. Resmunguei um “tira essa luz assassina” e ela riu, mudando algo na configuração da câmera.
- Não gostei dessa, vamos tirar outra. – Ela reclamou sem nem ao menos me deixar ver a foto.
- Vou começar a cobrar. – Resmunguei mais uma vez e nós duas rimos.
Então tiramos a segunda foto, onde eu fiz uma careta e ela mostrou a língua. Na terceira, estava me dando um beijo na bochecha e eu fazia cara de “eca”. Quarta: Nós duas em frente ao espelho fazendo “pose de Brigitte”. Quinta: Nós duas rindo e olhando uma para a outra; o que mais gostei naquela foto é que meu dedo bateu sem querer no botão e a foto nos pegou de surpresa, ficando bem espontânea. Sexta: Eu fazendo uma pose dramática. Sétima: Nós duas pulando em cima da cama. Oitava: Félix tentando se livrar do abraço da dona enquanto eu ria. O que era pra ser uma foto se tornou um photoshoot. Tiramos aproximadamente vinte e cinco fotos e a minha barriga doía de tanto rir. Ela foi procurar o cabo USB e eu me sentei em frente ao computador. Queria postar alguma coisa embaraçosa como se fosse falando, mas nada vinha na minha cabeça. Sim, eu era terrível em fazer meus amigos pagarem mico.
“O que fazer quando cabelo ruivo pintado em farmácia começa a desbotar” E apertei enter. Em seguida digitei outro: “Ops, aqui não é Google.”
ficaria puta porque não havia nada que ela idolatrasse mais do que seu cabelo naturalmente ruivo. Eu comecei a rir das respostas que “ela” estava recebendo por causa da minha brincadeira e a própria entrou no quarto.
- Por que você está rindo?
- Por nada... – Tentei disfarçar, mas correu até mim e começou a procurar o que eu tinha feito em seu Twitter.
- EM FARMÁCIA? – Ela gritou e eu gargalhei mais ainda. – , eu vou te matar!
- Para de frescura! Oh, o Niall ta te defendendo. – Apontei para a tela do computador onde Niall twittara: “@ difamando a minha menina @. Não acredite em tudo que lerem #realredhead” – Como ele sabia que era eu?
- Porque ele já teve provas de que eu sou ruiva natural. – Ela me olhou com uma cara de safada que eu só podia rir. – E sabe que você está aqui, então juntou dois mais dois.
- Não é justo! – Fiz um bico e ela me expulsou de sua cadeira. Não tive outra escolha a não ser voltar para a cama.
Peguei o meu iPhone entrei na minha própria conta do Twitter. Tinha que ficar de olho para o caso de ela começar a postar coisas ao meu respeito também. logo passou as nossas fotos para o computador e abriu um programa para editar fotos. Ela não adicionou efeito algum, mas fez uma montagem com três fotos nossas: A que ela estava beijando o meu rosto, nós duas pulando na cama e aquela espontânea que era a minha preferida. Logo postou e adicionou a legenda:
Até que não foi uma má idéia tirarmos aquelas fotos, já que eram as primeiras de nós duas juntas. E com certeza eu queria registrar aquele momento, por mais simples que fosse. Aproveitei para comentar:
“@NiallOfficial: Uma história de amor e ódio.”
“@Louis_Tomlinson: @ vai quebrar a sua cama ”
Acabamos rindo de todos os comentários, até mesmo do de Louis. Mais RT foram chegando e eu comecei a me sentir bastante popular. Para aquilo devia ser normal, mas pra mim – que só tinha 50 followers – era algo muito emocionante.
- Viu quem comentou agora? – Ela me perguntou e eu mandei meu Twitter atualizar.
Senti um frio gostoso na barriga e acabei sorrindo. me olhou e eu entendi exatamente o que ela estava pensando. Antes de começarmos a ensaiar eu havia contado tudo que tinha acontecido, incluindo a noite inocente de filmes até o que Louis me falou no carro. Ela ficou se achando ainda mais e voltou a repetir aquela frase: “Eu sempre estou certa!” Quase na mesma hora em que eu respondi mais um comentário apareceu.
“@zaynmalik: Linda como sempre @ e a pequena @ . Pensando seriamente em invadir uma festa do pijama.”
- Isso é novo... – Suspirei com aquele elogio de Malik. – Desde quando ele diz que eu sou linda?
- Há muito tempo antes de você descobrir. – Piscou pra mim. – E parece que o Twitter vai virar um campo de duelo...
“@zaynmalik: Deixe a porta aberta @ #onmyway”
Nós duas nos entreolhamos. Os dois estavam, em teoria, brigando pra ver quem viria nos ver. Ou me ver. Zayn seria bem capaz de já estar pegando a chave do carro e Liam com certeza traria o meu chá. Não seria legal ter os dois no mesmo lugar, já que Liam supostamente gostava de mim e Zayn havia me chamado de “linda como sempre”.
parecia ter lido os meus pensamentos e impediu qualquer um de vir nos ver. Além do mais, já era bem tarde e teríamos que acordar cedo no outro dia. Minha amiga se despediu de todos e foi ao banheiro escovar os dentes; o que por sorte eu já tinha feito. Enquanto isso, fui arrumando a cama dela, onde nós duas iríamos dormir. Eu já estava bem enrolada no cobertor quando peguei meu celular para também avisar que já estava indo dormir.
“Volto pra casa amanhã e tomaremos chá juntos, ok @Real_Liam_Payne? xx”
“@zaynmalik Boa noite, badboy.”
Saí do Twitter antes que qualquer um pudesse responder e começar uma conversa. Eu precisava dormir, porque o dia seguinte seria tenso. Ninguém teria aulas, então poderíamos acordar um pouco mais tarde, já que os testes só começariam depois das 10hrs da manhã. Eu pretendia estar o mais relaxada possível e repassava uma parte do texto na minha mente. voltou para o quarto e se deitou ao meu lado. Eu me preparava pra dizer “boa noite” e ela apagou a luz e me perguntou:
- Liam ou Zayn?
- Como assim, , ficou louca? – Gargalhei.
- Você entendeu... Se tivesse que escolher entre os dois, quem seria? E não adianta negar, porque eu vejo a sua cara quando está perto dos dois. – Será que eu era óbvia assim?
- Não quero responder.
Eu me sentia atraída pelos dois, é claro. Mas não morria de amores por ninguém e estava muito bem do jeito que estava; sozinha. Tudo bem que seria ótimo ter uma companhia masculina mais íntima pra dividir as emoções e até mesmo pra matar algumas vontades acumuladas pelo tempo. Mas a minha última relação não acabou nada bem, então eu me proibi de me envolver demais com qualquer um desde então. Ou era o que eu gostava de acreditar. Para a minha consciência era bom eu achar que era forte e que iria me segurar bastante antes de mergulhar de cabeça e um sentimento que poderia não dar em nada. Mas era só um olhar mais intenso de Zayn, ou um carinho de Liam que eu ficava arrepiada. E, acredite, odiava isso.
- Eu não sei... – Finalmente desisti de me segurar e comecei a falar o que vinha me perturbando. Deveria ser bom colocar essas coisas pra fora, principalmente confiando em alguém como eu confiava em . – Os dois são tão diferentes, sabe? O Liam é fofo e divertido e nós podemos conversar por horas. E ele é carinhoso demais... Mas falta alguma coisa, sabe? E O Zayn tem aquela atitude de badboy que ao mesmo me irrita e me atrai. Mas eu acredito que tem algo escondido dentro dele, algo que eu já vi algumas vezes, mas bem rápido... Então os dois são opostos.
- Uau. – Eu não podia ver, mas sabia que ela estava sorrindo. Eu suspirei depois de desabafar tudo aquilo e realmente tinha sido bom. As coisas começaram a fazer sentido na minha cabeça. – Vamos ver o que o tempo vai mostrar, ok?
- Esse é o meu lema de vida! – Brinquei. Sentia que ela estava se segurando pra não me contar alguma coisa, mas nunca gostei de insistir.
- Boa noite, ...
- Boa noite, mon chéri.
Nós acordamos com o alarme do meu celular tocando às nove horas da manhã. Cada uma teve dez minutos no banheiro para tomar banho e trocar de roupa, já que não queríamos nos atrasar. A mãe de preparou um café da manhã tão maravilhoso que eu percebi o quanto comia mal em casa. Tinha bolo de milho, scones de todos os tipos, cookies, omeletes... Ela deve ter ficado achando que eu era uma morta de fome, porque comi de tudo. Só saí da mesa quando gritou que iríamos chegar tarde se não fossemos logo. Depois de ameaças e xingamentos, levantei da mesa e agradeci à senhora Dashwood pela hospitalidade.
e Harry tinham algo em comum: Ambos gostavam de dirigir rápido. Por esse motivo, não demoramos muito para chegar até a Academy. O céu estava aberto e o dia não estava tão frio quanto o normal. A falta de chuva fez o transito ser menor e aquilo me agradou muito. Odiava ficar meia hora parada no mesmo lugar. estacionou o carro e encontramos várias pessoas fantasiadas. Literalmente fantasiadas como os personagens da peça. Eu particularmente achei que aquilo já era forçar muito a barra e devia concordar comigo, porque não parava de rir de uma menina com uma fantasia horrível de Julieta.
Os testes seriam no auditório e eu torcia pra que fossem acontecer por ordem de chegada, já que queria me livrar logo daquele nervosismo que me consumia. Seguimos pelo caminho que eu já conhecia bem e não havia sinal de Niall ou Zayn. Apesar de duvidar muito que Zayn fosse comparecer aos testes, algo dentro de mim sentia vontade de vê-lo.
- Está procurando alguém? – deu um risinho quando entramos no auditório e me viu correr os olhos pelas cadeiras ocupadas.
- A diretora. – Menti. Aquele era o lugar onde eu havia visto Zayn pela primeira vez e era meio difícil entrar ali e não esperar vê-lo.
- Claro. – Ironizou.
Puxei pela mão e caminhamos até a primeira fila de cadeiras. Ela reclamou que só os nerds sentavam na frente, mas eu não dei ouvidos. Queria ser vista pelos professores e principalmente pelos diretores. Eu balançada a perna direita pra cima e pra baixo, nervosa. Imagina se os testes fossem acontecer na frente de todos os outros? Eu teria um ataque do coração. Estava acostumada a dançar na frente de quantas pessoas fosse, desde que não precisasse falar nada. Quando o auditório já estava mais ou menos cheio, a diretora Agnes subiu no palco e procurou o microfone.
- Bom dia, alunos. Vamos logo ao que interessa, pois não tenho tempo a perder. – Séria como sempre, ela andava de um lado para o outro e olhava nos olhos de todos os alunos mais próximos; inclusive os meus.
- Vamos todos virar pedra. – sussurrou na minha orelha e eu segurei o riso.
- Os testes irão funcionar da seguinte maneira: Em grupos de cinco pessoas vocês irão vir para o auditório e cada um vai se apresentar enquanto os outros assistem. Depois que se apresentarem, devem deixar o telefone e email para contato com o professor Sheeran, para que possamos avisar caso sejam chamados para o callback amanhã. Vamos ao que interessa?
Alguns professores afirmaram que sim e a diretora falou alguma coisa com o professor ruivo que eu tinha visto na sala com Zayn aquele dia. Ele olhou em minha direção e afirmou alguma coisa que eu não entendi o que era. Agnes mandou todos se retirarem e assim que e eu nos levantamos para também sair, o ruivo nos fez parar.
- Vocês podem ficar. Já que estavam na frente, serão as primeiras. Me chamo Ed e estarei acompanhando vocês durante todo o processo. – Eu congelei e quis me matar. Outras três meninas que estavam ao nosso lago também não gostaram muito da notícia. Acho que eu fui a única a me animar, já que ficaríamos livres logo.
Esperamos o auditório ficar vazio e nos sentamos na segunda fileira, porque a primeira foi ocupada pelos professores. Ed nos perguntou quem gostaria de começar e como mais ninguém iria se oferecer, eu levantei o braço. Ele me chamou para o palco e assim que eu me levantei, Agnes me fez parar.
- Quero que a senhorita Tomlinson seja a última. – Pronto, era só o que faltava. Voltei a me sentar e uma menina alta se ofereceu para ir no meu lugar.
segurou a minha mão, provavelmente querendo me acalmar. Eu não sabia se ser a última daquele grupo seria algo bom ou ruim. Como não tinha escolha, decidi que esperaria pra ver. A menina subiu no palco e se apresentou. Seu nome era Alissa e ela queria o papel de Julieta. Pegou o microfone e começou a cantar uma música que eu não conhecia, mas que praticamente contava a história de Romeu e Julieta. Em pouco mais de cinco minutos a menina terminou e ninguém se manifestou. Eu teria começado a aplaudir, mas preferi imitar os outros.
Minha amiga foi a segunda a subir no palco e ela foi simplesmente perfeita. Recitou tudo perfeitamente e sua linguagem corporal era bem melhor interpretando do que dançando. Realmente estava no curso errado. A terceira se foi... E a quarta também. Preciso dizer que, além da minha amiga, todas as outras queriam o mesmo papel que eu e nenhuma me impressionou tanto. “Nunca subestime seu concorrente” era o que eu tentava manter em minha cabeça.
- , só falta você. – A professora Holly me pediu pra ir até o palco. O seu sorriso reconfortante me deu um pouco mais de confiança.
- Tudo bem... – Antes de me levantar, troquei os sapatos pelo meu par de sapatilhas de ponta que tinha trazido na bolsa.
- O que você está fazendo? – sussurrou pra mim. Aquilo era novo, já que não tínhamos ensaiado nada que envolvesse a dança.
- Ficando confortável. – Sussurrei de volta e terminei de amarrar as fitas em volta do meu tornozelo.
Finalmente subi ao palco e olhei todos que estavam ali. me dava força e sorria, sussurrando: “Eu sei que você consegue.” Holly também sorria e até mesmo Ed Sheeran. O professor Hofstheder me estudava criticamente e Agnes parecia querer ser surpreendida.
- Meu nome é Tomlinson e eu gostaria de interpretar Julieta, da casa dos Capuleto.
Sentir todos os olhares em cima de mim era um pouco assustador, mas eu tentei “ir para o meu lugar feliz.” Cheguei até o centro do palco e respirei fundo três vezes, fechando os olhos. Meu avô me ensinara essa técnica de relaxamento quando eu ainda era uma criança e tinha um trabalho pra apresentar na frente da sala inteira, mas estava com medo. Acabei sorrindo por lembrar da minha família e dos meus tempos de criança. O riso de Lux, o cheiro da torta de maçã com canela da minha avó, os abraços do meu pai, a argila molhada em minhas mãos quando eu tentava ajudar a minha mãe em suas obras de arte, as brincadeiras com Harry, implicâncias do meu irmão, carinhos de Liam, ciúmes de Niall e até mesmo da voz de Zayn cantando... De repente eu me senti leve. Como se não houvesse mais ninguém naquele auditório além de mim.
Meus braços se abriram como fossem asas e eu os balancei para trás, lenta e graciosamente. Senti o meu corpo flutuar e logo fiquei em cima da ponta dos pés. Estava de vestido e sem nenhuma roupa de ballet por baixo, mas aquilo não me impediu de dar um pequeno giro e levar os braços até o alto, formando um oval perfeito acima da minha cabeça. Minhas mãos voltaram para o centro do meu corpo e eu as observei descer enquanto fazia pequenas ondulações com os dedos. Desci da ponta, mas continuei dançando e trocando os pés de um lado para o outro. Minha postura era perfeita e eu parecia deslizar pelo palco. Tinha que recitar as minhas falas e não via forma melhor de fazer aquilo.
- Romeu, Romeu. Ah! Por que és tu, Romeu? Renega o pai e despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque Capuleto deixarei de ser logo... – me ensinou que para dar credibilidade, eu deveria me colocar no lugar da personagem e sentir o que ela sentia. Minha dança sempre me ajudava a contar uma história e naquele momento não foi diferente. Os meus passos leves se tornaram mais firmes, como se eu estivesse em uma luta interna comigo mesma que, por um lado estava apaixonada por um inimigo, mas estaria disposta até mesmo a renegar a minha própria família. – Romeu, risca teu nome e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
Encerrei o texto e rodopiei uma última vez, em cima de um pé só, enquanto a minha outra perna foi dobrada e formava o número quatro. Assim que voltei a pisar com os dois pés no chão, cobri o rosto com as duas mãos, sem de fato encostar nele. Olhava pra baixo e estava quase ofegante. Eu podia não ser uma boa atriz, mas o ballet sempre me ensinou a passar para o público o que eu estava sentindo. Mais do que inesperadamente todos me aplaudiram; bem, quase todos. As meninas que se apresentaram antes de mim e me aplaudiram de pé. Holly bateu palmas e sorriu, sentada mesmo. Ed tirou algumas lágrimas dos olhos e também fez o mesmo que os outros. Agnes acenou com a cabeça, parecendo satisfeita. E aquilo era o suficiente pra mim.
Já era noite quando me deixou na porta de casa. Nós duas passamos o dia inteiro sem fazer absolutamente nada de útil, apenas passeando de carro e parando em três Starbucks diferentes. Assim que cheguei em casa contei tudo para Louis e Liam, já que Harry não estava por ali. Eles foram positivos e repetiram que eu conseguiria o papel, mesmo que eu já estivesse nervosa por não ter recebido nenhuma ligação ou mensagem me chamando para o callback do dia seguinte, sendo que já tinha recebido a dela.
- Você deveria ligar pra nana e contar como foi o teste, . Eu falei com ela esses dias e contei que você estava nervosa. – Louis batucava nas minhas canelas enquanto eu estava deitada no sofá e com as pernas em cima dele.
- Você falou com ela e nem me disse? – Fiz um bico e levantei do sofá.
Não esperei a resposta do meu irmão e subi as escadas até chegar ao meu quarto. Meu celular estava em cima da mesinha de cabeceira, onde eu o havia deixado, e logo disquei um número que eu sabia de cor. Deitei no meio da cama e levei o aparelho até a minha orelha, esperando alguém atender.
- Oui? – Meu avô atendeu com aquele francês perfeito e eu senti uma pontada de saudade bem no meio do coração.
- Papa? Que saudade... – Era a primeira vez em um longo tempo que eu falava com ele, mas era como se estivéssemos nos visto no dia anterior.
- , mon petit. Como você está? – Ele devia estar sorrindo do outro lado e eu queria chorar.
- Eu estou muito bem, papa. E você? E a nana?
- Você sabe... A casa está vazia sem você, mas estamos bem. Eu acho que estou gripado, porque ando tendo essas dores de cabeça, mas não há nada com o que se preocupar. – Aquilo me alertou um pouco, mas ele não mentiria pra mim e como disse que não deveria me preocupar, resolvi deixar de lado.
- A vovó está cuidando direitinho de você? Não quero saber do senhor gripado! – Escutei a sua risada e meus olhos marejados arderam.
- Está sim, querida. Você sabe como a minha Jolene é uma boa curandeira.
- Ela é a melhor! – Funguei, me lembrando de todas as vezes que estive doente e minha vó cuidou de mim. – Papa, eu estou ligando pra contar sobre o meu teste para a peça.
- Então você não está ligando porque sentiu saudades do seu velho avô? – Pareceu ofendido, mas eu sabia que era brincadeira. – E como foi, huh?
Contei pra ele sobre a minha manhã inteira, especialmente sobre o teste e como eu me senti leve e nervosa ao mesmo tempo. Contei sobre e como ela estava sendo a melhor amiga que eu poderia pedir e como ensaiamos na noite passada. Ele ficou muito animado em saber que eu me adaptara muito bem em Londres, mas disse que Paris sempre estaria ali pra mim caso eu quisesse voltar. Disse também que meu quarto continuava do mesmo jeito em que eu o deixara e que era lá que ele passava as tardes lendo. Poderíamos passar a noite inteira conversando, mas estava tarde e nós dois precisávamos dormir. Nos despedimos com um “Je’ taime” cheio de sentimento e nostalgia. Quando eu deixei o telefone de lado meus olhos transbordaram. Eu não comecei a chorar compulsivamente, mas algumas lágrimas escorreram pelas minhas bochechas.
- Tá tudo bem, ? – Liam estava parado na porta do meu quarto com uma bandeja nas mãos.
- Tá sim, Li. – Limpei as lágrimas e sorri. Sentei-me na cama e dei um espaço para que ele fizesse o mesmo. – O que é isso aí?
- Você disse que tomaríamos chá juntos, então... – Sorriu adorável como sempre e também se sentou. Apoiou a bandeja no meu colchão e serviu duas xícaras com o líquido que estava em um bule. – Eu sei que você gosta de chá gelado, mas esse é o único que eu consigo fazer e sei que fica bom.
- Uau, chá na cama. – Sorri mais ainda com aquela ação da parte dele. Peguei uma das xícaras e assoprei antes de dar o primeiro gole. – Hm... Maçã?
- Acertou! – Liam também deu um gole no seu chá e fez uma careta. – Queimei a língua!
- Você tem que tomar cuidado! – Gargalhei. – Tem que assoprar.
- Chá gelado é realmente melhor. – Ele também riu e começou a se servir de açúcar com uma faca.
- Como você espera pegar açúcar com uma faca, Liam?
- Porque é mais fácil do que pegar com um garfo! – Ele tentou se justificar, mas só me deixou mais confusa ainda. – Eu tenho medo de colheres.
- De colheres? – Ri alto, mas tentei voltar ao normal. Se o medo era real, eu não deveria rir. – De verdade?
- Desde pequeno. – Fez uma carinha envergonhada e eu sorri.
- Todo tem medos, Li. Mas não precisa se envergonhar disso. – Coloquei a minha mão livre sobre a dele e acariciei com o polegar.
Ficamos ali conversando e rindo até terminarmos o nosso chá. Eu me ofereci para lavar tudo, mas ele me impediu. Disse que eu deveria dormir logo após tomar o chá, ou então perderia o efeito e eu começaria a falar durante a noite, reclamando que não tinha feito o ritual direito. O problema era que eu realmente costumava falar enquanto dormia e aquele comentário de Liam me fez pensar que ele já tinha escutado algo. O garoto ficou ali comigo até eu sair do banheiro, já de pijamas e pronta pra dormir.
Me deitei na cama e ele me cobriu com o edredom grosso. Beijou a minha testa, sussurrou “Boa noite”, apagou a luz e saiu. Fiquei ali no escuro tentando não pensar em nada. Fechei os olhos e torci pra dormir logo. Se eu não adormecesse, acabaria pensando na vida. Pensando em como Liam era fofo e sabia cuidar de mim, ou no fato de não ter visto Zayn durante a manhã na Academy. Poderia pensar também no porque de não ter recebido uma resposta sobre o callback. E até mesmo pensar em como meus avós estavam longe e aquilo doía mais do que eu podia explicar. Tarde demais, só consegui dormir depois de rever cada segundo da minha vida.
- Como assim o Ed não te ligou? – parecia decepcionada.
Estávamos sentadas na escada mais uma vez e aquele começava a se tornar o nosso point. Eu estava em um degrau acima do dela e contava que não tinha sido convocada para o segundo teste, ou seja: Estava fora da peça, ou em um papel sem importância. Estava arrasada e não sabia o que fazer. Bem, não tinha exatamente o que ser feito a não ser aceitar o meu destino. O nível da LRA devia ser bem acima do meu, realmente. A Academy estava praticamente vazia, já que também não teria aula naquele dia e só os alunos convocados apareceram. Na verdade, os alunos convocados e eu. Até mesmo Brigitte e as suas seguidoras estavam por ali.
- Simples assim, . – Dei de ombros e passei a mão pelos cabelos.
- Aqui estão as minhas garotas preferidas! – Niall apareceu e Zayn estava atrás dele.
- Vocês dois fizeram o segundo teste? – Sim, eu estava chocada. Não sabia nem que Zayn participara do primeiro, imagine ser chamado para o segundo.
- Sim, acabamos de fazer. – Niall se sentou ao lado da namorada e os dois começaram a trocar demonstrações de afeto. – Você não?
- Não. – Respondi ranzinza. – Acho que não passei. Ou talvez vá ser uma árvore.
- Não liga pra isso, . Essas peças nem são tão boas assim. – Malik se sentou ao meu lado e devia estar tentando me consolar. Não de uma forma muito boa, diga-se de passagem. – Eu acho que são uma frescura!
- Então por que você está participando? – Perguntei ríspida.
- Porque as garotas adoram. – Piscou pra mim, admitindo que a única razão que o levou a entrar na peça foi uma razão idiota. Incrível como alguém assim conseguia um papel e eu, que estaria disposta a dar o meu sangue pela peça, não teria nem uma segunda chance.
- Eu não acredito que você é tão raso assim, Malik. – Estava irritada e já fui me levantando. e Niall tinham parado de se agarrar para me olhar. – Eu achava que tinha mais alguma coisa aí dentro, mas vejo que estava errada. Você é só mais um garotinho sem conteúdo e que pensa com a cabeça de baixo.
Eu realmente explodi. Nunca fui de ter ataques de raiva, mas aquilo já era demais. Eu estava cansada da pose de badboy de Malik e desistira de procurar aquele Zayn que conheci quando cantamos juntos, ou quando estávamos no banheiro da minha casa e ele parecia indefeso. Minha amiga não sabia o que fazer e impediu Niall de vir atrás de mim. Ela deveria entender os meus motivos e preferiu não se intrometer. Zayn ficou ali na escada, do mesmo jeito que eu o deixei. Não parei pra olhar pra trás quando comecei a ir embora, mas tenho certeza que ele ficou com o olhar vazio e sem saber o que me responder. Eu devia ser a primeira pessoa a falar com ele daquele jeito.
Caminhei até encontrar um taxista livre e entrei no veículo. Estava irritada demais pra andar três quadras e ainda ter que esperar um ônibus aparecer. Disse o endereço para o motorista e tentei ser o mais simpática possível, afinal, ele não tinha culpa nenhuma do que estava acontecendo. Meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa e eu pensei que seria , mas tive uma surpresa quando li o nome “Zayn Malik” na telinha. Ignorei sua chamada quatro vezes até que recebi a mensagem:
Bufei. Além de vazio, ele ainda era chato? Pelo menos não era mentiroso, porque continuou ligando infinitamente até que eu resolvi atender.
- O que você quer, Malik? – Perguntei seca.
- Um dia. – Respondeu.
- O quê?
- Sim. Um dia. Quero que saia comigo amanhã; só nós dois. E aí vou te mostrar que não sou o que você pensa de mim.
- Duvido muito, Malik. – Rolei os olhos. Que história era aquela?
- Só um dia, . Por favor. Passo às duas horas da tarde pra te buscar, nós saímos, eu te deixo em casa e aí você decide se nunca mais quer me ver na sua frente de novo.
- Hum. – Suspirei. Não sabia se era a coisa certa a fazer, mas resolvi aceitar. – Um dia, Malik.
Desliguei o celular e o guardei na bolsa novamente. “Onde eu estou com a cabeça?” Realmente não sabia. Minha loucura estava aumentando diariamente e eu devia começar a ter cuidado com aquilo.
- Problema com um garoto? – O motorista me perguntou, encarando-me pelo retrovisor e eu sorri.
- O pior deles.
Capítulo XVII
Eu estava no meu quarto e encarava o relógio digital na minha mesinha de canto. 13:30, era o que piscava na tela. Eu tinha exatamente trinta minutos até a chegada de Zayn e estava preocupada. Não, não era preocupação com o que vestir, porque aquela parte eu já tinha dominado. Estava preocupada porque não sabia o dia que me esperava. Não fazia ideia do que iríamos fazer e não gostava da idéia de passar a tarde ao lado de Zayn agindo como um idiota. Senti vontade de desistir, mas já tinha dado a minha palavra e não poderia voltar atrás. Eu só torcia pra que ele também cumprisse a sua palavra e me mostrasse que a idéia que eu tinha dele estava errada.
Me olhei no espelho do banheiro e borrifei meu perfume preferido nas laterais do meu pescoço e pulsos. O dia em Londres continuava fresco e sem chuvas. O céu azul brilhava do lado de fora da minha casa e me convidava para um passeio. Se eu não fosse sair com Zayn, provavelmente passaria o dia na piscina, torrando embaixo do Sol. Meu celular vibrou com a chegada de uma mensagem e eu fui ver o que era.
Contei para sobre a ligação de Zayn assim que cheguei em casa no dia anterior, mas é claro que ela já estava sabendo daquilo. Devia estar ao lado dele enquanto nos falamos no telefone e eu não duvido nada que tenha sido idéia dela. O que me irritou é que ela chamou aquilo de “encontro” e não era o caso.
Respondi e deixei o celular em cima da cama enquanto procurava meus brincos. Não queria ir muito cheia de coisas, então só coloquei um cordão simples no pescoço, uma pulseira em volta do pulso direito, deixei os cabelos soltos caindo pelos meus ombros em ondulações grandes e a minha franja jogada de lado. Não estava super arrumada, mas também não estava feia.
Pontualmente as 14hrs alguém tocou a campainha. Corri até a porta do meu quarto e vi que Louis estava descendo pra atender. Pensei em ir em seu lugar, mas congelei. Estava nervosa e não sabia o motivo.
- Você vai lá? – Louis me perguntou parado no meio da escada. Ele também sabia do meu compromisso e estava com aquele sorrisinho irritante.
- Vou... Não... Não sei. – Estava confusa e meu irmão riu de mim. – Você vai lá e diz que eu to terminando de me arrumar, ok?
- Eu vim buscar a ... – O som da porta sendo aberta e a voz de Zayn vindo em seguida me fez congelar. Liam devia ter aberto a porta pra ele.
- Shit. – Xinguei baixinho. – Vai lá, Lou. E seja legal!
O mandei descer e me tranquei no quarto. Eu devia estar parecendo uma garotinha se preparando para o primeiro encontro. Por mais que NÃO fosse um ENCONTRO. “Isso, , continue repetindo. Vai que alguém acredita.” Rolei os olhos com a minha própria consciência e respirei fundo. “Você é forte. Só vai sair com ele pra dar uma volta e depois volta pra casa. Nada demais.” Nada demais, nada demais. Não seria nada demais! Finalmente consegui me tranquilizar e retoquei o gloss claro em meus lábios. Peguei a minha bolsa e guardei o celular dentro dela, partindo para o andar de baixo.
Zayn estava sentando no sofá ao lado de meu irmão e os dois conversavam. Liam estava parado do outro lado da sala, não gostando nada daquela história de eu sair sozinha com ele. Fiquei mais tranquila ao ver que Zayn também não estava tão arrumado; mas ainda continuava bonito como sempre. Ele usava uma camisa xadrez vermelha e preta, por dentro uma camisa branca com a palavra “YES” em preto, calça jeans clara e um Converce nos pés. Por mais simples que estivesse ainda parecia um modelo italiano. Os três garotos me olharam assim que entrei na sala e Zayn se levantou.
- Hey... – Ele sorriu e passou a mão pelos cabelos, me olhando dos pés até a cabeça.
- Hey, Malik. – Acabei sorrindo junto. – Não sabia o que íamos fazer hoje, então espero que eu esteja bem vestida.
- Está perfeita. – Seu sorriso parecia não querer desaparecer. – Podemos ir?
- Podemos sim. – Apontei para a porta de saída e esperei ele passar por mim. – Tchau, Lou. Tchau, Li.
Liam apenas acenou sem graça e Louis nos acompanhou até a porta. Ele me deu um beijo na bochecha e disse para Zayn que me queria em casa antes das dez horas da noite. Rolei os olhos. Desde quando ele se comportava como o meu pai? Zayn só riu e disse pra ele não se preocupar. Andamos até o Volvo e ele abriu a porta pra mim. Entrei no carro e esperei ele dar a volta e fazer o mesmo. Até aquele momento ele estava normal, sem se comportar como um idiota e sem fazer comentários desnecessários. Passamos pelos portões do condomínio e eu senti que precisava falar algo.
- Zayn... – Suspirei. – Eu não quis falar com você daquele jeito ontem... Não foi justo.
- Não se preocupe, . Eu mereci. – Me olhou assim que o carro parou em um sinal vermelho. – As vezes tenho essa mania de ser chato, então não precisa se desculpar.
- Tudo bem. – Sorri, olhando para a rua em nossa frente. – Pra onde vamos afinal?
- É uma surpresa! Mas já estamos chegando.
Estávamos passando por uma parte da cidade que eu não conhecia. Londres era enorme e eu de fato não conhecia muita coisa, mas vamos ignorar essa parte. Zayn continuou dirigindo e trocamos olhares de vez em quando, sem falar nada. Sempre que desviava o olhar, eu acabava sorrindo, mas escondia aquilo dele. Zayn estacionou o carro em uma rua quase deserta e eu olhei em volta. Não tinha quase nada lá, a não ser alguns prédios.
- O que estamos fazendo aqui? – Não tinha certeza se queria descer do carro naquele lugar.
- Para de ser medrosa, ! – Ele riu de mim e já foi descendo.
- Não é medo! – Resmunguei e também desci do carro sem esperar ele abrir a porta pra mim.
- Mas não se preocupe, não é aqui que vamos passar a tarde. – Zayn foi andando pela calçada e eu o acompanhei. – Sabia que é possível alugar bicicletas aqui em Londres?
- Não fazia ideia... – Caminhamos até umas bicicletas empilhadas lado a lado. Não havia ninguém tomando conta delas e estavam super bem cuidadas. Realmente Londres era uma cidade de outro nível. – Vamos andar de bicicleta?
- Pra chegar ao nosso próximo destino, sim. – Ele riu com a minha animação e tirou a corrente de uma bicicleta e me “entregou”. – Pensei em alugar patins, mas não sabia se era a melhor ideia.
- Realmente não era! – Arregalei os olhos e ri. Afastei um pouco a minha bicicleta para que Zayn pudesse pegar a dele regulei a altura do banco. – Eu sempre amei andar de bicicleta!
- Eu imaginei. – Sorriu mais uma vez.
Nós caminhamos pela calçada, puxando as bicicletas, até chegarmos a uma grande avenida. A quantidade de carros que passava por ali era impressionante. Zayn me mostrou que havia uma parte da rua reservada para ciclistas e ela estava vazia. Eu sorri aliviada, já que acabaria sendo atropelada se tivesse que passar entre os carros. Ele me ajudou a preparar a bicicleta e subir nela. Como a minha saia não era curta e nem apertada, eu consegui sentar e ainda ficar segura de que ninguém veria mais do que devia. Deixei a minha bolsa na cestinha da bike e Zayn montou na dele.
- Nós vamos seguir esse caminho até o fim, ok? É só ir em frente. – Ele explicou e eu já dei o primeiro impulso pra fazer a bicicleta andar.
- Me alcance se pudeeeeeeeeeer! – Gritei em meio a risadas e pedalei com força, pegando velocidade.
- Me espera! – Também riu e começou a tentar me alcançar.
Nós dois parecíamos duas crianças apostando corrida. Alguns carros buzinavam ao nosso lado, provavelmente porque eu estava gritando, mas não dei a mínima. Meus cabelos eram bagunçados pelo vento e eu adorava aquela velocidade. Sem falar que a sensação de liberdade era enorme. Parei de correr, mas continuei com uma velocidade boa, deixando Zayn ficar ao meu lado. Eu o olhei e ele também estava se divertindo.
- Olha, sem uma mão! – Falou ao segurar o guidão com apenas uma mão.
- Sem mão nenhuma! – Ri e abri os braços. Aproveitei para batê-los como asas e senti que estava voando.
- Você vai acabar caindo. – Zayn voltou segurar com as duas mãos e eu fiz o mesmo.
- Medroso!
Pedalamos até chegar à região central a beira do rio Tamisa. O London Eye podia ser visto há alguns metros e mais ao fundo o Big Ben. Era uma paisagem linda e eu desejei ter uma câmera fotográfica guardada na bolsa. Deixamos as bicicletas presas em um lugar próprio pra isso e Zayn me levou até um tipo de calçadão. Caminhamos por uma calçada de tijolos que ficava entre um gramado muito verde e extenso e o rio. Crianças corriam por todos os lados e as mães iam atrás. Outras pessoas passeavam com seus animais e eu só conseguia sorrir olhando aquilo tudo. Era realmente bom ver as pessoas alegres depois de escutar tanta coisa ruim nos noticiários e jornais mundiais.
- Vem cá, eu quero te mostrar uma coisa. – Zayn me fez tirar a concentração do que havia em minha volta e eu o olhei com curiosidade.
- O que é? – Caminhamos por mais ou menos três minutos e Zayn sorria como se estivesse animado com alguma coisa.
- Hey, Jack! – Ele ignorou a minha pergunta e cumprimentou um homem de aparência e vestes simples.
- Menino Zayn! – Jack pareceu feliz em vê-lo. – Faz tempo que não vem por aqui.
- Ando muito cheio de coisas na academia, mas você sabe que eu nunca esqueceria um velho amigo. – Zayn tratava aquele homem com intimidade e eu nunca poderia imaginar uma cena mais estranha. Não por pensar que o homem de rua fosse inferior, mas Zayn não fazia do tipo que se envolvia com questões sociais. – Essa é , uma amiga.
- Oi... – Sorri e me aproximei dos dois. Estiquei a mão educadamente para que ele a apertasse. – Muito prazer.
- O prazer é todo meu, senhorita. – Ele pegou a minha mão e beijou.
- Jack é um artista de rua, . Um dos melhores. – Zayn explicou.
- Mas as coisas estão meio paradas ultimamente... As pessoas não dão mais valor ao Jazz como costumavam. – Jack balançou a cabeça enquanto falava. Devia ser difícil ter que depender do que as pessoas te davam na rua. Como eu sempre tive tudo que precisei não tinha idéia da outra realidade.
- Talvez possamos te dar uma ajudinha... – Zayn me olhou confuso, mas eu tinha uma ideia. – Porque você não toca alguma música mais conhecida? Um clássico... Como dos Beatles, por exemplo. Ou qualquer uma que esteja tocando na rádio agora. Zayn pode cantar.
- É uma ótima idéia! - Jack se animou e entregou um violão para Zayn e pegou um tambor. Nem ao menos esperou pra ver o que Zayn iria falar.
- E a pode dançar. – Malik falou e eu fiz uma careta. Dançar? Ali no meio da rua?
- Por favor, . Ajude um amigo. – O mais velho tentou me persuadir e eu acabei concordando.
- Tudo bem, tudo bem! – Deixei a minha bolsa junto das coisas de Jack e fiquei tranqüila que ninguém iria pegá-la.
Os outros dois foram combinar a música que iriam cantar e eu peguei uma caixinha de papelão que Jack usava para recolher os trocados que conseguia das pessoas e a coloquei um pouco mais pra frente, ficando visível. Não havia muito ali dentro, então eu peguei uma nota de cinco libras que tinha no bolso e coloquei ali; como encorajamento. Notei que algumas pessoas começavam a nos olhar, sabendo que algo iria acontecer. Podia ser loucura, mas era por uma boa causa. Olhei para trás e eles estavam prontos. Não sabia muito bem o que ia fazer, mas eu também estava pronta.
Jack começou a bater os pés no chão e tocar seu instrumento. Zayn também começou a tocar o violão e uma música animada começou. Primeiro eu fiquei apenas observando os dois e só mexia o corpo no mesmo ritmo, mas sem sair do lugar.
(Então isso é o que você quis dizer quando você falou que estava cansado?)
And now it’s time to build from the bottom of the pit right to the top!
(É hora de construir a partir do fundo do poço direto ao topo)
Don’t look back.
(Não olhe para trás)
Zayn começou a cantar e é claro que a sua voz atraiu ainda mais olhares. Eu comecei a dançar sem prestar atenção na coreografia. Me preocupei em seguir a melodia e o meu instinto.
(Arrumando minhas malas e dando um tempo à academia)
I don’t ever want to let you down. I don’t ever wanna live this town.
(Eu não quero te decepcionar. Eu não quero deixar esta cidade)
‘Cause after all… This city never sleeps at night.
(Porque afinal… Essa cidade nunca dorme a noite)
Jack batucava e sorria na medida em que as pessoas iam se aproximando e deixando moedas ou dinheiro em papel na sua caixinha. Zayn caminhou até onde eu estava e cantou olhando pra mim enquanto eu dançava em semicírculos. Eu levantava e abaixava os braços descontraída e dava pequenas voltinhas e até mesmo pulinhos. O sorriso em meu rosto era enorme.
(É hora de começar, não é?)
I get a little bit bigger but then I’ll admit, I’m just the same as I was…
(Fico um pouco convencido, mas depois eu admitirei, sou o mesmo que eu era...)
Why don’t you understand?
(Por que você não entende?)
I’m never changing who I am.
(Eu nunca vou mudar quem eu sou)
Circulei Zayn enquanto saltitava e balancei a saia de um lado para o outro. Um circulo de pessoas foi se formando e cada vez parecia chegar mais. Algumas criancinhas foram para a frente do círculo e bateram palmas. Outros começavam a tirar fotos.
(Então, este é o lugar onde você caiu, e à mim só resta vender)
Your path to heaven runs through miles of clouded hell, right to the top.
(Seu caminho para o paraíso passa por quilômetros de inferno nublado, direto ao topo)
Don’t look back. Turn into rags and giving the commodities as a rain-check.
(Não olhe para trás. Virando-se em trapos e deixando seus bens de lado)
{refrão}
Eu caminhei até as criancinhas e puxei uma para dançar. Era uma menininha de cabelos castanhos e ela começou a balançar o vestidinho da mesma forma que eu balançara a minha saia. Tive que rir porque ela era simplesmente muito fofa. Chamei as outras crianças pra dançarem com a gente e elas logo vieram correndo. Eles deram as mãos e fizeram uma forma de ciranda, girando para um lado e depois para o outro. Me deixaram no meio e eu girei com os braços abertos. Era um momento tão mágico, por mais simples que fosse. Eu me senti genuinamente feliz.
(Esta estrada nunca pareceu tão solitária. Esta casa não queima lentamente até as cinzas)
It’s time to begin, isin’t it? I get a little bit bigger but then I’ll admit, I’m just the same as I was… Now don’t you understand? I’m never changing who I am.
{2x}
Assim que a música acabou, todos bateram palmas. Foi um barulho tão alto que eu gostaria de poder saber quantas pessoas estavam ali assistindo. Os flashes das câmeras continuaram por mais algum tempo e as criancinhas se despediram e voltaram para as suas famílias. Se alguém me contasse o que havia acabado de acontecer, eu não teria acreditado ou acharia exagero. Mas parecia que o parque todo tinha parado pra nos assistir. A caixinha de papelão de Jack ficou pequena para a quantidade de doações que ele recebeu.
- Isso foi incrível! – Corri até Zayn e o abracei assim que ele devolveu o violão para o dono.
- Você foi incrível. – Apesar de o meu abraço ter pego-o de surpresa, ele retribuiu. – Foi um sucesso com as crianças.
- Eu gosto de crianças. O problema é quando elas crescem. – Ri e nos soltamos. Eu fui recolher a caixinha de Jack e entregar pra ele. – Espero que isso ajude.
- Bloody hell! Eu nunca consegui tanto dinheiro assim aqui. – Ele sorriu e começou a arrumar as notas e moedas em um saquinho meio surrado. – Obrigado, . E obrigado, Zayn.
- Foi um prazer ajudar, Jack. – Eu sorri. A sensação de fazer algo bom por outra pessoa é uma das melhores do mundo, eu tenho certeza.
- Pode deixar que nós vamos voltar. – Zayn o abraçou. – Agora temos que ir, certo?
- Vou ficar esperando, então. Até logo. E foi um prazer, senhorita.
Acenei um ‘tchau’ para Jack e de repente lembrei de quem ele me lembrava: Jack Sparrow! O cabelo, a expressão facial e até mesmo as roupas... Será que o seu nome “Jack” veio em homenagem ao pirata? Perguntaria aquilo depois. Peguei a minha bolsa e nós retomamos o nosso caminho. Eu já começava a ver Zayn com outros olhos. Começamos a andar pela grama e em determinado ponto ele se sentou. Eu fiz o mesmo e senti um arrepio ao encostar as pernas na grama gelada.
- Eu disse que iria te mostrar quem eu realmente sou, certo? – Ele começou e eu assenti com a cabeça. – Então vamos fazer assim... Você pode me perguntar qualquer coisa que quiser e eu vou responder com sinceridade.
- Qualquer coisa? – Olhei pra ele de forma desafiadora.
- Qualquer coisa, por mais que esse seu olhar tenha me deixado com medo. – Ele riu e eu me ajeitei na grama, ficando de frente pra ele.
- Qual é a sua cor preferida? – Iria começar devagar.
- Eu estava com medo disso? – Ele gargalhou de forma gostosa. – Vermelho.
- Seu maior medo?
- Água!
- Eu sabia que você não toma banho! – Fiz uma careta e ri de novo.
- Não água nesse sentido, sua besta. Lugares com muita água... Porque eu não sei nadar. – Zayn fez uma cara de coitadinho que me deixou com o coração na mão.
- Eu posso te ensinar, se quiser. – Ofereci. – Próxima pergunta... Comida preferida?
- Galinha! Qualquer tipo. – Ele respondeu e eu já sabia a minha próxima pergunta.
- Um sonho?
- Ser um grande cantor. Fazer a diferença e me sentir no topo do mundo...
- E por que você se esconde atrás dessa pose de badboy? – Zayn ficou tenso e respirou fundo.
- Eu sabia que você ia perguntar isso... – Seu sorriso sumiu, mas ele não pareia bravo com a minha pergunta. – Quando eu era menor, durante a escola e ensino médio, eu sofri muito bullying... Pode não parecer agora, mas eu era excluído e as pessoas pegavam no meu pé só por eu ser diferente. Sabe? Meu pai é muçulmano, então metade de mim também é. Crianças podem ser muito cruéis quando querem. Me chamavam de terrorista e coisas horríveis. Então quando cheguei ao último ano do colegial resolvi que não iria mais aguentar essas provocações e foi quando essa minha fama de “badboy”, como você chama, começou. Usei isso como uma forma de proteção, um escudo. E as pessoas passaram a querer andar comigo e a me respeitar. Foi o jeito que eu achei de me enturmar e ser parte de algo.
- Eu não fazia ideia... – Estava chocada com todas aquelas informações. Não fazia ideia que a infância dele havia sido tão difícil.
- Agora eu posso te fazer uma pergunta? – Ele abriu um meio sorriso, como se falasse: “Está tudo bem, eu superei essa fase”.
- Claro que pode. – Afirmei.
- Porque você me evitava? me contou que você me chamava de “perigo”. – Fez aspas no ar e riu. É, falando em voz alta eu parecia muito idiota.
- Vou matar aquela menina. – Escondi o rosto nas mãos. Não era pra ela ter contado aquilo pra ele! De qualquer forma, respirei fundo e me preparei pra tocar em um assunto delicado. – Tá bem, vamos pelo começo. Quando eu tinha dezessete anos eu conheci esse garoto... Ele era bonito, popular, mais velho, aparentava ter tudo aquilo que uma garota desejava. Era um garoto encantador. Mas mal sabia eu que aquilo não era verdade. Não sei exatamente como, mas nós começamos a sair juntos e acabamos namorando. Dois meses depois ele disse que me amava e nós fizemos tantos planos juntos... – Suspirei. Zayn me olhava com atenção e parecia já saber onde essa história ia terminar. – E eu entreguei pra ele uma coisa que nunca poderia pegar de volta. Algo que eu estava guardando pra alguém especial e achava que ele era esse alguém. Duas semanas depois... PUFF. Ele sumiu. Não atendia mais as minhas ligações e nem respondia as minhas mensagens. Quando eu ia a casa dele, a mãe falava que ele estava viajando, ou que não estava em casa. Eu fiquei arrasada. Não queria voltar pra escola, ou comer... Enfim. Quando eu te conheci, pensei que fosse como ele. Por isso eu tive tanto medo de me aproximar. Eu acreditava que quanto mais me afastasse de você, mais protegida ficaria.
- Uau, que cara idiota. – Falou irritado. – Se algum dia ele aparecer por aqui... Você me avisa, ok?
- Vai bater nele, Malik? Aviso sim. – Acabei gargalhando, mesmo sempre ficando tensa com aquele assunto. – Eu nunca contei isso pra mais ninguém além de Harry e meu irmão.
- Então posso me sentir importante? – Levantou uma sobrancelha e eu sorri.
- Claro que sim! - Eu começava a confiar em Zayn, principalmente por estar vendo aquele lado que eu sabia estar escondido e que não eram todos que conseguiam conhecer. Ele estava se abrindo pra mim, então porque não abaixar a minha guarda e deixar ele se aproximar?
- Vem, temos que ir! – Zayn olhou no relógio em seu pulso e se levantou.
- Pra onde vamos agora? – Ele me ajudou a levantar e me entregou a minha bolsa.
- Outra surpresa. Mas temos que ir logo, ou não vai dar tempo.
Eu já não estava entendo mais nada quando ele me puxou pela mão e saímos correndo. Desviamos de algumas pessoas e até assustamos alguns cachorros. Zayn parecia atrasado pra algo e eu o segui. Enquanto corríamos, eu só conseguia pensar no toque que a sua mão tinha na minha. Na sua pele macia aquecendo a minha... Começava a se tornar impossível não sorrir ao lado dele. Tudo que ele fazia, tudo que falava e até mesmo o modo que mexia a boca pra falar me atraia. Mais do que antes. Não sei se é por causa da honestidade que ele estava tendo comigo, já que Zayn estava sendo “ele mesmo” ou o “verdadeiro Malik”, ou se eu sempre fui atraída por ele e só estava deixando a minha guarda baixar agora. Provavelmente as duas coisas combinadas com uma tarde linda e divertida.
Continuamos correndo até estarmos próximos o suficiente do London Eye. Olhei o topo da roda gigante e meu pescoço chegou a doer. Era realmente MUITO alto. Mais do que eu podia imaginar. A fila também estava enorme, mas Zayn me mandou esperar por ele ali. Eu concordei e ele passou por baixo da facha que organizava a fila e passou na frente de algumas pessoas. Estava querendo arrumar confusão? Era o que parecia, já que um homem reclamou. Zayn falou com o atendente e eu estava longe demais pra escutar o que era. Só entendi quando ele me chamou e eu tive que furar fila também. Pedi mil desculpas e fui passando na frente de todo mundo.
- Você está maluco, Zayn? O que estamos fazendo? – O questionei e o atendente já nos mandou entrar em uma cabine que tinha acabado de esvaziar.
- Estamos nos preparando pra ver a vista mais bonita de Londres! – Ele sorriu como se não houvesse nada de errado em passar na frente de pessoas que deveriam estar esperando há horas. – Só aproveita, . Vai valer a pena.
- Se você diz, né? – Fui convencida facilmente e entrei na cápsula de vidro. Zayn me seguiu e o homem travou a porta. Achei aquilo estranho, porque deveria caber pelo menos mais vinte pessoas ali dentro. – Não tem mais ninguém vindo com a gente?
- Eu pedi pra essa cabine ser só nossa. – O olhei confusa e a roda gigante começou a girar bem devagar. – Os funcionários são subornados facilmente aqui.
- Tá explicado! – Ri e caminhei até a parede de vidro. – É a segunda vez que alguém me traz aqui...
- Sério? Eu achei que seria algo especial. Droga!
- Meu pai foi o primeiro. – Sorri e olhei para Zayn, que pareceu mais aliviado. – Mas eu era bem pequena, então não aproveitei nada.
- Então não conta, . Essa é a primeira vez que você vai aproveitar! – Ele se inclinou no ferro de segurança e nós dois ficamos ali, apenas encarando a paisagem.
Na medida em que íamos subindo, o horizonte ficava maior. Aos poucos as pessoas foram se tornando apenas pontinhos escuros e os carros pareciam formiguinhas. Zayn ia apontando os monumentos e me contando curiosidades sobre eles, como o ano em que foram criados, ou nas vezes que os visitou quando era criança. Também me mostrou onde ficava o melhor restaurante da cidade e as boates que eu deveria conhecer. Claro que ele prometeu me levar em um tour completo por todos os “hot spots” de Londres. Demoramos quinze minutos para chegar exatamente na metade do passeio e a roda gigante parou no ponto mais alto.
- O que aconteceu? – Olhei em volta, começando a me preocupar. Imagina se houvesse algum problema técnico? Eu já comecei a pensar em todo o trabalho que teriam pra me tirar dali. – Estamos presos?
- Calma, ! – Zayn gargalhou do meu susto e mal se mexeu. – Essa parada faz parte da surpresa.
- É agora que você me conta que é um assassino e escolheu esse lugar pra me matar? – Brinquei, parecendo realmente séria.
- Como você descobriu o meu plano? Eu levei meses planejando tudo! – Colocou a mão na testa e me olhou com indignação.
- Muito engraçado, Zayn! – Coloquei as mãos na cintura e o encarei, esperando uma explicação melhor.
- Você realmente não pode aproveitar o momento, né? Olhe em volta! Eu te trouxe aqui pra ver o pôr-do-sol mais bonito da cidade.
Zayn não estava impaciente e parecia ansioso pra ver a minha reação. Eu olhei pra frente e fiquei impressionada com o que encontrei. O Sol brilhava exatamente na minha frente e o vidro protegia os meus olhos dos raios. Apoiei as duas mãos no corrimão em minha frente e fiquei ali parada, só olhando o sol ir descendo e o crepúsculo brilhar no céu limpo.
- É tão... Incrível... – Fiquei quase sem palavras. Não havia a necessidade delas, pra falar a verdade.
- É algo mágico, não? – Ele sorria ao meu lado.
- Com toda certeza...
- Não espere pelo momento perfeito, pegue o momento e o torne perfeito... – Zayn falou em um sussurro e eu sorri. Ele tinha razão quando disse que era o pôr-do-sol mais bonito.
- Obrigada, Zayn... Por me mostrar. – Minha voz também saiu baixa e eu o senti pousar a mão sobre a minha com cuidado. Eu não recusei o seu toque como teria feito antes.
- Eu gostei de dividir isso com você. - Tive que olhar pra ele.
Seus olhos cor de avelã brilhavam com o reflexo da luz e estavam ainda mais cintilantes que o normal. Zayn também olhou pra mim e ficamos conectados até ele tirar a mão de cima da minha. Meu corpo virou de frente pra ele em um movimento involuntário e ele fez o mesmo. Sorriu sem mostrar os dentes e pousou a mão abaixo da minha orelha, segurando a minha nuca e acariciando a minha bochecha com o polegar. Envergonhada com o tom avermelhado de minhas bochechas, olhei pra baixo, mas também sorri. Zayn delicadamente me fez olhar novamente pra ele e eu subi o olhar demoradamente pelo queixo, lábios e finalmente encarei mais uma vez aqueles olhos. Senti uma intensidade tão grande na forma que ele me observava que um arrepio percorreu a minha espinha. Nossos sorrisos foram diminuindo devagar e mais lentamente ainda ele se inclinou em minha direção. Fechei os olhos e também me inclinei, esperando o que estava por vir. Senti a respiração pesada de Zayn bater em meu rosto e em seguida ele pressionou os lábios fechados contra os meus. Minhas mãos traçaram um caminho até a nuca do menino e ele me envolveu pela cintura com os braços. Quase que imperceptivelmente me puxou mais pra perto de seu corpo e nós dois mexemos os lábios um pouco; entreabrindo-os. A língua dele encontrou a minha iniciamos um beijo lento. Arrisquei e passei os dedos entre os fios macios do cabelo de Zayn e ele pareceu gostar, já que deixou o beijo um pouco mais intenso. Os lábios dele tinham um gosto impossível de ser descrito em palavras. Eu também senti um pouco do sabor de cereja do meu gloss labial, que, graças a Deus, não era daqueles grudentos que só atrapalham. Foi um primeiro beijo perfeito e eu não queria que acabasse. A roda gigante voltou a se mover quando Zayn e eu separamos as nossas bocas, mas continuamos bastante próximos. Ele encostou a testa na minha e eu abri os olhos devagar. O lado de fora da cabine já estava bem mais escuro do que antes e não havia mais resquício algum do sol.
- Eu gosto mais desse Zayn do que daquele outro. – Ri baixo, retomando o fôlego.
- Eu também gosto mais dessa que não se afasta de mim. – Ele sorriu e continuou me abraçando pela cintura.
Eu deitei a cabeça em seu ombro e nós dois ficamos aproveitando aqueles últimos minutos que teríamos ali dentro enquanto nossa cabine terminava de descer. Eu era intoxicada pelo cheiro delicioso que a roupa dele tinha e respirei fundo algumas vezes só pra senti-lo mais forte. Me senti bem nos braços deles, me senti protegida de uma forma que nunca achei que poderia. Todo aquele “medo” que eu tinha, havia ido embora. Zayn não era quem eu achava... Ele era diferente, era melhor.
Quando saímos do London Eye e tivemos que caminhar até onde deixamos as bicicletas, Zayn passou o braço em volta dos meus ombros e eu me encolhi em seu abraço. A noite começou a esfriar e eu me arrependi por não ter levado um casaco. Ele até me ofereceu a sua camisa xadrez, mas era tão fina que não adiantaria muita coisa. Fiquei com mais frio ainda quando estava em cima da bicicleta e o vento batia direto contra o meu corpo. Pelo menos o exercício que estava fazendo esquentava um pouco as minhas pernas.
Logo chegamos ao Volvo da mãe de Zayn – que ele estava tentando confiscar de vez – e pudemos ligar o aquecedor. Minha barriga roncou de fome e eu não sabia onde enfiar a cara. Mas Zayn só riu e disse que também estava com fome. Nós paramos pra jantar em uma lanchonete, por mais que Zayn insistisse em me levar em um restaurante melhor. Mas eu não estava vestida bem o suficiente pra ir a um lugar chique como o que ele queria.
- Então é assim que Zayn Malik trata uma garota no primeiro encontro? – Perguntei assim que a garçonete saiu após anotar os nossos pedidos. – Primeiro praticam uma atividade física, depois uma boa ação por um amigo... Então ele a leva pra ver uma das paisagens mais bonitas que ela já viu na vida e depois vão jantar algo cheio de calorias?
- Eu não sabia que isso era um encontro. – Ele sorriu, sentado na cadeira em frente a minha. É, até mesmo eu já começava a chamar aquilo de “encontro”.
- E não é? Ainda bem, porque eu não costumo beijar no primeiro encontro. – Rebati, piscando o olho direito.
- Então quando vamos sair em um encontro oficial? – Ele esticou a mão até pegar a minha e começou a brincar com os meus dedos.
- Não seria você que deveria responder isso? – Joguei os meus cabelos para trás dos ombros usando a mão livre e sorri.
- Então você gostaria de... – Começou a me convidar, mas eu o interrompi antes que continuasse.
- Você não pode me convidar assim, Zayn! Não sabe como funciona? – Eu ri e ele pareceu confuso. – Primeiro nós vamos nos encontrar nos corredores da Academy. Trocaremos olhares e eu vou fingir que não te vi... Você vai se aproximar e puxar um assunto qualquer, só porque quer ter uma desculpa pra falar comigo. Vamos conversar por um tempo e eu direi que tenho que ir para a aula, mesmo que não queira me afastar ainda... Começarei a andar e você vai me puxar pelo braço, me fazendo parar. Eu te olharei confusa e aí é que você vai poder me convidar pra sair.
- Uau! – Ele riu e eu suspirei, já imaginando uma cena de um filme de romance. – Vou precisar te perguntar quando for te pedir em casamento também, pra não fazer errado.
- Muito engraçado, Malik. – Entrelaçamos os dedos.
A garçonete chegou trazendo os nossos pedidos e ela encarou as nossas mãos em cima da mesa. Olhou pra ele e depois pra mim, com aquela cara de: “O que essa menina está fazendo ele?” Me senti tão desconfortável que acabei soltando a mão dele e esperando-a colocar a comida na mesa. Cada um pediu um sanduíche com Milk Shake e dividiríamos a porção de batatas. Dei um gole na minha bebida e fechei os olhos ao sentir o sabor do morango, me deliciando. Escutei Zayn rir e abri os olhos. Ele apontou para a boca dele, bem acima dos lábios pra ser mais precisa.
- O quê? – Perguntei confusa.
- Está com bigode. – Riu mais ainda.
- Gosh! – Peguei um guardanapo em cima da mesa e me limpei, envergonhada.
- Isso acontece. – Quando olhei novamente pra ele, Zayn também tinha um bigode de Milk shake e eu gargalhei alto. – O que foi?
- Você tem uma coisinha melada aqui. – Apontei para a minha boca do mesmo jeito que ele fizera antes, mas o menino continuou se fingindo de desentendido.
- Na sua boca? – Zayn brincou e se levantou da cadeira pra se inclinar sobre a mesa e selar os lábios nos meus. – E agora?
- Agora nós dois estamos sujos! – Reclamei depois de retribuir o selinho e me limpei mais uma vez. Aproveitei para pegar outro guardanapo e limpá-lo também.
Nós dois comemos até ficarmos cheios e até mesmo brigamos pelas batatas fritas que foram sumindo cada vez mais rápido. As bebidas também acabaram e eu me senti uma morta de fome. Zayn fez tanta palhaçada durante o jantar e eu já não sabia se estava passando mal por ter comido muito ou de tanto rir. Nem vimos à hora avançar e já passava das 21h30min quando ele pagou a conta e nos preparamos pra ir embora.
As luzes da minha casa estavam apagadas quando Zayn estacionou na calçada e já saiu carro para abrir a porta pra mim. Eu agradeci o cavalheirismo com uma reverencia e ele sorriu, me acompanhando até a porta. Demorei mais que o suficiente para atravessar o caminho de pedra, porque não queria que ele tivesse que ir embora. A tarde tinha sido mais do que agradável e a noite melhor ainda. Eu mal via o tempo passar ao lado de Zayn e começava a acreditar naquele ditado que diz que “o tempo voa quando a gente se diverte.”.
- Eu realmente gostei do dia de hoje, Zayn... – Disse assim que paramos na porta de casa.
- Eu deveria agradecer por você ter me dado essa oportunidade de te mostrar que existe algo por baixo da jaqueta de couro e de todas as tatuagens.
Ele segurou uma de minhas mãos e entrelaçou os nossos dedos novamente. Chegamos naquele momento tenso em que a mulher enrola pra achar a chave da porta, só pra que o homem tome alguma atitude e a beije. Mas no nosso caso não foi nada tenso. Ele usou a mão que estava presa na minha para me puxar e colar nossos corpos, eu já tratei de envolvê-lo pelo pescoço e nossos lábios se encaixaram novamente. Aquele beijo foi um pouco mais tranquilo que o primeiro, já que estávamos um pouco mais familiarizados com as manias um do outro e foi bem fácil encontrar o nosso ritmo. Eventualmente, Zayn soltou a minha mão e segurou na lateral da minha cintura, apertando delicadamente. Ele deitava a cabeça de um lado para o outro enquanto investia a língua contra a minha e eu o acompanhava.
A porta da casa se abriu com rapidez e, talvez cedo demais, nós nos separamos. Olhei para o meu irmão com raiva por causa da interrupção e ao mesmo tempo com vergonha por ter sido flagrada. E ele, por outro lado, não sabia se fazia alguma piadinha ou se dava uma de irmão ciumento e brigava com Zayn. Esse último apenas sorriu e cumprimentou o meu irmão.
- Oi, Louis. – Sorriu casualmente. – Sua irmã está entregue.
- Passaram das dez horas. – Lou olhou no relógio em seu pulso.
- Só dez minutos, Lou. – Rolei os olhos. – Eu já vou entrar, ok?
- Agora. – Meu irmão tentou contestar, mas eu o fiz entrar primeiro e fechei a porta antes que ele pudesse voltar.
- Desculpa por isso. – Apontei a porta com a cabeça, mas Zayn sorriu.
- Não tem problema algum. Ele está certo em querer te proteger. – Passou as mãos pelos cabeços bagunçados e eu sorri, lembrando de quando eu mesma tinha feito aquilo horas atrás.
- Então tudo bem... Aliás! Teremos uma noite de jogos aqui amanhã. Você devia vir. – Não sabia se estava fazendo bem em convidá-lo, já que não queria parecer grudenta nem nada, mas convidei do mesmo jeito. – e Niall vem também.
- Noite de jogos?
- É uma coisa dos Tomlinson. – Dei de ombros. Daria trabalho demais pra explicar tudo.
- Te vejo amanhã, então.
Zayn mais uma vez me deu aquele sorriso maravilhoso e eu acenei pra ele. Assim que me virei para abrir a porta de casa, ele voltou correndo até onde eu estava, me puxou e roubou um selinho. Eu me assustei, claro, mas praticamente me derreti na mesma hora. Ele finalmente se afastou e assim que começou a atravessar o jardim, os regadores foram acionados e Zayn teve que correr pra não se molhar muito. Eu fiquei rindo e ao mesmo tempo queria matar o meu irmão, já que ele tinha ligado os jatos de propósito.
Entrei em casa com um sorriso enorme nos lábios e até ignorei o riso do meu irmão, que estava na sala. Passei direto pelo hall de entrada em direção as escadas. Subi até o meu quarto e Lou veio atrás, claro. Deixei a minha bolsa em qualquer lugar e me joguei na cama.
- , você tem uma coisinha no seu rosto. – Lou ficou parado na porta.
- O quê? – Comecei a tocar meu rosto inteiro, querendo descobrir o que era.
- Um sorrisinho sapeca. – Ele respondeu e eu ri. Sim, ri. Em outros momentos, teria jogando um travesseiro na cara dele, mas estava feliz demais pra isso. Apenas me levantei e fui até ele.
- Boa noite, Louis. – Segurei na maçaneta da porta, pronta para fechá-la na cara dele.
- E como foi o encontro? – Louis tentou extrair alguma informação de mim, mas só o que eu respondi antes de fechar a porta foi:
- Não foi um encontro.
Capítulo XVIII
Eu estava dormindo tão bem que seria difícil acordar. Meu cobertor estava quentinho e o travesseiro frio. Sem falar que eu estava mergulhada em uma tranquilidade incrível. Só saí do sono REM quando o barulho da minha porta sendo aberta me incomodou. Eu virei para o lado oposto e cobri meu rosto com o travesseiro para espantar a claridade. Percebi que tinha mais de uma pessoa ali quando senti alguém sentar na ponta da minha cama e outra tentar puxar meu travesseiro. Eu resmunguei sonolenta, mas as pessoas não me deixaram dormir em paz.
- It’s time to get up, in the morning... (É hora de acordar, pela manhã) – Escutei Liam começar a cantar e dedilhar um violão, mas ainda assim não me mexi.
- Got Starbucks breakfast for you… (Tem café da manhã da Starbucks pra você) - Louis cantarolou com a voz suave. Até que era gostoso ser acordada daquele jeito. – Or any other brand… (Ou qualquer outra marca)
- We drove to miles to get it. So you better get up and eat it… (Nós dirigimos duas milhas pra comprar. Então é melhor você levantar e comer) - Foi a vez de Harry se juntar ao coro e eu senti que alguém ficou em pé na minha cama.
- SO YOU GOTTA GET UP! (ENTÃO VOCÊ TEM QUE LEVANTAR) – A suavidade foi embora completamente e meu irmão começou a pular na cama e gritar, fazendo uma bagunça enorme e Harry arrancou os meus travesseiros.
- IT’S TIME TO GET UP! YOU HAVE TO GET UP! (É HORA DE LEVANTAR! VOCÊ TEM QUE LEVANTAR!) - Os três gritavam e eu já estava super irritada.
- Saaaaaaaai! – Tentei me esconder em baixo do cobertor, mas foi inútil. Os meninos o jogaram pra fora da cama e eu abri os olhos, brava.
- It’s time to... (É hora de...) – Quando viram que eu já estava acordada e pronta pra assassinar alguém, eles pararam de pular e a calmaria voltou. – Get, up... (Levantar...)
- Eu odeio todos vocês. – Fiquei sentada na cama e cocei os olhos.
- Você nos ama, . – Harry se jogou em cima de mim e deitou nas minhas pernas.
- Não, não. Eu ainda vou me vingar por todas as vezes que você me acordou, Styles. – Olhei pra ele e tentei tirá-lo de cima de mim. – Você também entrou para a minha lista negra, Liam.
- Eu? A ideia não foi minha, , eu juro! – Liam levantou as mãos para o alto, querendo se livrar da culpa.
- Eu estou nessa lista desde os quatro anos de idade, então não precisa se preocupar. – Louis deu tapinhas no ombro do amigo.
- Starbucks, é? – Levantei uma sobrancelha.
- Só pensa em comida! – Harry bagunçou os meus cabelos -mais do que já estavam- e eu o olhei com cara feia. – Mas sim. Eu passei lá quando estava vindo pra cá. Trouxe só pra você, . Viu como sou legal?
- Tudo bem, eu te odeio um pouco menos agora. – Sorri e devolvi o “cafuné”. O ruim de bagunçar o cabelo de Harry é que ele já é bagunçado naturalmente, então não faz muita diferença.
Haz saiu de cima de mim e eu pude levantar da cama para ir até o banheiro e fazer a minha higiene. Mandei os meninos arrumarem o quarto e Lou saiu correndo para se livrar daquela tarefa. Quando finalmente saí do banheiro com os dentes escovados e o cabelo preso em um rabo de cavalo, encontrei Liam sozinho cobrindo a minha cama. Harry devia ter escapado também e o coitado ficou com todo o trabalho. Eu não sabia o que Louis tinha falado para Liam, nem se tinha contado sobre o beijo que presenciou, mas ele parecia normal demais, então eu achava que não tinha contado nada. Como ele iria explicar? Na verdade nem eu mesma sabia como definir o que tinha acontecido na noite passada e não sabia se aquilo voltaria a acontecer. Podia ter sido algo de momento e nós dois nos deixamos levar. A questão era que eu veria Zayn novamente em algumas horas e não saberia como agir. Devia cumprimentá-lo com um beijo? Ou fingir que nada tinha mudado? O ruim de não se envolver com ninguém há quase dois anos era – além dos motivos óbvios – que você acaba perdendo o jeito com a coisa.
- Pronto, o quarto está arrumado e agora você já pode descer pra tomar o seu café da manhã. – Liam abriu a porta pra mim e me acompanhou até o primeiro andar.
- Eles te deixaram sozinho, né? É sempre assim, Li. Pra fazer bagunça esses dois são os melhores. Mas pra arrumar qualquer coisa... Esqueça! – Nós dois rimos.
- Estou começando a me sentir um pai dessas duas crianças.
- Daddy! – Brinquei. – Isso é que dá ser o mais responsável em uma casa onde moram pessoas loucas.
Entramos na sala de jantar e um prato com alguns scones e um muffin de chocolate estava me aguardando em cima da mesa. Meus olhos brilharam e eu corri até lá. Sentei na cadeira que costumava ser a minha e Liam sentou na minha frente. Harry e Lou estavam na cozinha e eu podia vê-los pela bancada americana. Eu comecei a tomar o meu café da manhã e minha boca logo estava cheia de chocolate. Eu já disse que a Starbucks tem o melhor muffin de chocolate do mundo? E também o melhor frappuccino de caramelo, do qual eu bebi um gole para não engasgar. Harry sabia todos os meus gostos, então acertou em cheio ao me levar aquele café da manhã.
- Liam, você chamou a Candice pra vir hoje? – Louis se inclinou sobre a bancada e ficou nos observando.
- Não chamei. E espero que ela não adivinhe que vamos ter essa reunião aqui em casa, ou é bem capaz de aparecer do nada. – Ele rolou os olhos. Então as coisas realmente não estavam indo nada bem entre os dois...
- Amém! – Harry falou e me fez rir. Rir até demais, pra falar a verdade.
- E você, ? Chamou alguém? – Meu irmão perguntou e eu engoli em seco.
- Sim... Meus amigos da Academy. Os que vocês já conhecem. – Dei de ombros como se não fosse nada de mais. – O Niall, Zayn e a .
- Zayn... Aquele cara é legal. – Harry trocou olhares com Louis e os dois me encararam. Ótimo, ele devia saber de alguma coisa.
- É sim. – Dei de ombros novamente e me concentrei no meu muffin que já estava acabando.
- Aliás, , a ligou pra cá umas três vezes. Disse que você não atende mais o celular e que ela vai te matar. – Liam roubou um de meus scones e eu não me importei. Não aguentaria comer tudo mesmo.
- Ahh, depois eu falo com ela... – Eu sabia que estava doida pra saber os detalhes do meu passeio com Zayn, mas eu não sabia como contar pra ela. Por isso preferi ignorá-la até a hora que a visse naquela noite. – Não deve ser nada importante.
- Claro que não. – Louis gargalhou e Liam não entendia mais nada.
Mandei meu irmão calar a boca e terminei o meu café da manhã em paz. Ele foi atender uma ligação em seu quarto e Liam foi assistir seus desenhos na sala. É, com certeza ele era o pai responsável, aham. Levantei e fui à cozinha para jogar as coisas no lixo. Harry ainda estava lá e procurava alguma coisa nos armários.
- Vocês não tem farinha nessa casa?
- Tente no armário de cima, Hazza. Aí é onde guardamos as panelas. – Fui até lá eu mesma e fiquei na ponta dos pés pra poder pegar o pacote de farinha que ainda estava fechado. – Vai cozinhar?
- Estava pensando e fazer uns cupcakes mais tarde. – Harry deu um sorriso tão adorável que meu coração se derreteu.
- Meu pequeno cupcake vai fazer cupcakes? – O abracei pela cintura. – Eu posso te ajudar? Deixa, deixa?
- Você promete que não vai me atrapalhar? – Harry adorava cozinhar e sabia fazer muita coisa, mas odiava quando eu dizia que iria ajudá-lo e só fazia atrapalhar.
- Promeeeeeeeto. De mindinho.
- Tudo bem, então você pode me ajudar. – Ele deixou um beijo na minha testa e nos afastamos. – Como aqui não tem todos os ingredientes, eu vou ao mercado ali na esquina. Você precisa de alguma coisa?
- Deixa eu fazer uma lista pra você! – Ri e ele fez uma careta. Possivelmente se arrependeu de ter perguntado aquilo.
Assim que encontrei um papel e anotei pelo menos seis coisas que eu precisava, entreguei a minha lista para Harry e ele se foi. Tadinho, sempre fazia tudo que a gente pedia e nunca negava nada. Ele podia ser o mais novo do grupo, mas com certeza era o que tinha o maior coração. Louis já tinha desligado o telefone e mais uma vez fez aquela cara de preocupação. Eu perguntei o que tinha acontecido e ele disse que era coisa do trabalho, mas Liam me disse que não sabia de nada quando eu perguntei e aquilo me deixou desconfiada. Meu irmão não costumava esconder as coisas de mim, então ou aquilo era muito sério e ele não queria me preocupar ou realmente era algo do trabalho. Que, aliás, não estava agradando-o em nada. Ele ia e voltada do trabalho de cara fechada, alegando que não era aquilo que ele tinha prazer em fazer. Claro que adorava fotografar, mas havia algo faltando. Lou costumava falar que sentia que estava destinado para algo maior.
- , chegou! – Liam berrou da escada e eu abri a porta do quarto, ainda enrolada na toalha.
- Pede pra ela subir, por favor? – Senti que ele deu uma boa olhada nas minhas pernas nuas. – Sozinha.
- Pode deixar. – Sorriu e desceu para chamá-la.
Eu passei meia hora só pra encontrar uma roupa pra usar, já que encontrei um dilema. Não queria me arrumar de qualquer jeito, porque não queria estar feia na hora que encontrasse Zayn. E ao mesmo tempo não podia me vestir como uma princesa, pra que ele não ficasse achando que era tudo por causa dele. Acabei me decidindo por uma roupa simples, mas que não me deixava parecida com uma mendiga. entrou no quarto enquanto eu estava trancada no banheiro, terminando de me vestir.
- Tomlinson, é melhor você aparecer aqui agora. – estava brava e tinha razão. Afinal, ela devia estar super curiosa. – Pode se esconder, mas não vai conseguir fugir.
- Eu não estou me escondendo, . – Gargalhei. – Só estou me arrumando. Ou quer me ver pelada?
- Uhh, proposta tentadora! – Ela também riu.
Me perfumei e passei um lápis preto nos olhos. Em seguida, penteei os cabelos que ainda estavam molhados e os deixei soltos mesmo. Até que eu estava apresentável. Deixei o banheiro e a minha amiga estava sentada na minha cama, mexendo no meu celular.
- Pronto, apressada. Cheguei. – Fui até ela e dei um beijo na bochecha da mesma.
- Vamos direto ao ponto. O que aconteceu ontem?
- Como assim? Nada aconteceu ontem, . – Eu sempre fui horrível em mentir para meus amigos e o sorriso que apareceu no meu rosto me denunciou.
- Se nada aconteceu, porque o Zayn postou isso aqui no Twitter? – Ela me entregou o meu celular e estava aberto na página dele. – Sem falar nesse sorrisinho aí.
Eu olhei para a tela do meu celular e tentei encontrar o que ela estava falando. Como eu não era viciada em Twitter e dificilmente entrava lá não tinha visto nenhuma atualização dele e nem de ninguém.
Eu não fazia ideia do que aquilo significava e nem mesmo sabia se era uma indireta pra mim. Ele podia estar se referindo a outra coisa... Vai que algo aconteceu depois que ele chegou em casa? Podia ser. De qualquer forma, eu não queria me encher de esperanças e confundir as coisas.
- Eu não sei, . Não leio mentes pra saber o que ele quis dizer com isso. – Bufei e saí daquela tela, guardando o celular no bolso. – Mas se você quer tanto saber, nós dois passeamos pelo centro. Tivemos uma boa conversa, demos uma volta no London Eye e depois comemos alguma coisa e ele me trouxe pra casa.
- Nossa, ! Você é muito chata, sabia? Cadê os detalhes? Cadê a emoção? – jogou uma almofada em mim, mas eu desviei.
- Toc toc. – Liam disse, batendo na porta. – Harry chegou e está te chamando lá embaixo, .
- Depois terminamos essa conversa. Vamos descer?
Não esperei pela resposta dela, já tendo certeza de que recusaria sair do quarto antes que eu contasse tudo detalhadamente. Quando abri a porta pra sair do quarto, ela não teve outra alternativa a não ser me seguir. Liam foi até o próprio quarto e eu desci as escadas, procurando meu outro amigo. Como ele tinha acabado de chegar do mercado deveria estar na cozinha.
- Yo, Hazza. Trouxe a minha encomenda? – Entrei no cômodo imitando uma gangster. Niall estava por ali também e riu de mim.
- Shhh, ! A alma do meu negócio é a descrição. – Harry entrou na brincadeira e pegou uma sacola de papel. – Uma caixa de morangos frescos, leite condensado, uma lata de chantilly...
- E onde está o principal? – Fui pegando as coisas que ele foi me entregando e guardei o chantilly e morangos na geladeira.
- Limões e uma garrafa de tequila. – Ele riu assim que eu abracei a garrafa.
- Obrigada, Haaaaaz!
- Epa, o que é isso aí? – Niall já esticou o olho. Bêbado do jeito que era, não poderia ser diferente.
- Eu sempre sou a única que não bebe quase nada pra tomar conta dos amigos que ficam loucos demais. Hoje é a minha vez de me divertir um pouco! – Deixei a garrafa transparente em cima da bancada.
- Exatamente, hoje é a noite das garotas! – me abraçou de lado e nós rimos. - Agora vamos lá pra sala?
Todos obedeceram à ruiva, menos Harry que ficou ali para arrumar os ingredientes do cupcake. Ela foi na frente, seguida pelo namorado e eu fui atrás. Louis estava na sala, arrumando o espaço para as nossas brincadeiras. Como seria uma noite de jogos, precisaríamos de bastante espaço. Quando eu atravessava o hall para me juntar a eles, a campainha tocou. Eu fiquei paralisada e todos olharam pra mim, confusos. A não ser que Candice tivesse resolvido aparecer, Zayn era quem estava tocando na porta. Me arrependi de não ter tomado uma dose de tequila na hora que Harry me entregou a garrafa, mas já era tarde demais. Respirei fundo e dei meia volta, caminhando até a entrada. Girei a maçaneta e abri a porta, dando de cara com um Zayn sorridente. Ele vestia uma calça jeans, camiseta cinza e uma jaqueta daquelas de estilo colegial; totalmente charmoso. Esqueci de respirar por um momento, sem conseguir parar de encarar aquela figura angelical parada na minha frente.
- Oi, . – Ele foi o primeiro a falar e eu saí do meu transe, indicando pra ele entrar em casa.
- Hey. – Me odiei por não saber o que falar e acho que ele notou que eu estava sem jeito.
Zayn deu dois passos na minha direção e me abraçou pela cintura. Eu retribui o abraço e o envolvi pelo pescoço. Aquele abraço durou mais que um abraço normal entre dois amigos e, assim que nos separamos, ele apoiou a mão na minha bochecha encostou os lábios aos meus. Fechei os olhos na mesma hora e retribui o selinho, desejando que ele se tornasse algo maior. Mesmo sem poder ver, eu sabia que todos os outros estavam nos encarando. Zayn sorriu assim que nos olhamos outra vez e eu fiz o mesmo, sentindo as bochechas queimarem. Eu me ocupei em fechar a porta de casa e evitei olhar para , que estava boquiaberta. Zayn me esperou e fomos juntos para a sala. Niall praticamente pulou em cima dele e eu fui me sentar ao lado da minha amiga.
- E você ainda me fala que NADA aconteceu, ? – Ela brigou comigo.
- Tudo bem, talvez algo tenha acontecido...
- Nem o Niall sabia disso! Vocês dois resolveram guardar segredo por quê? – Apesar de estar brava por eu não ter contado nada, ela sorria animada. Era como se estivesse realizando o sonho de me ver com alguém.
Consegui acalmar depois de prometer que contaria tudo pra ela depois. Zayn cumprimentou os outros garotos e se sentou ao meu lado. Eu sorri pra ele e meu irmão se levantou, indo até o meio da sala. Assim como a noite em que assistimos os filmes, o sofá estava encostado na parede e a mesinha de centro foi retirada dali para termos mais espaço.
- Boa noite, senhoras e senhores. – Ele começou a falar, gesticulando e imitando uma voz de locutor de rádio. – Bem vindos à “Noite de Jogos dos Tomlinson”. Meu nome é Louis The Tommo Tomlinson, e eu serei o seu anfitrião hoje.
Todos bateram palmas e riram. Louis era o “anfitrião” das noites de jogos, e praticamente de todos os nossos eventos familiares, desde que éramos crianças e ele realmente levava jeito. Era sempre muito descontraído e dramático, arrancando risadas o tempo todo com as suas idiotices. Ele tinha algumas fichas nas mãos, como um apresentador de televisão e parecia ler alguma coisa ali.
- E que comecem os jogos! – Lou gritou e todos nós comemoramos. – Por que não começamos com um jogo simples?
- MEGAMIND! – Eu gritei e meu irmão apontou pra mim. Os únicos que conheciam o jogo eram eu, ele e Harry, mas todos os outros iriam pegar o jeito fácil. – Vocês vão entender o espírito da noite de jogos e logo vão gritar também.
- Duvido muito. – riu da minha animação.
- Parece divertido. – Zayn bateu o joelho no meu, me encorajando. Com isso, eu olhei para e mostrei a língua.
- Muito bem, competidora! Já que você escolheu o jogo, vai ser a primeira! – Lou esticou a mão pra mim e eu a segurei, levantando. – Quem será o seu adversário?
- Eu aceito o desafio. – Harry também se levantou e nós nos encaramos desafiadoramente.
- Vou explicar como as regras para que os novos competidores possam entender. – Louis falou ainda no personagem de apresentador e começou a andar de um lado para o outro, encarando cada um dos jovens no sofá. – Eu farei uma série de perguntas difíceis para um participante dentro de um período determinado de tempo enquanto o outro fica em um lugar diferente, para não ouvir as respostas do seu adversário. E no final, veremos quem respondeu mais perguntas dentro do tempo. Alguma dúvida?
Eu e Harry falamos que não e os outros começaram a torcer por nós. Eu estreitei o olhar para o meu adversário e ele levantou os pulsos como se estivesse se preparando para uma luta. Louis perguntou quem gostaria de começar e Haz disse que eu podia ser a primeira. Primeiro as damas, certo? Ele foi para a cozinha e levou seu iPod junto, para escutar no volume máximo e não ouvir as perguntas. Louis e eu nos preparamos para começar o jogo.
- Vamos lá, , eu confio em você. Primeira pergunta: - Ele ligou o cronômetro e começou a marcar o tempo. – Se você pudesse trocar de lugar com qualquer celebridade, quem seria? E por quê?
- Ahn... – Pensa rápido, pensa rápido. – Jennifer Aniston! Porque ela participou de FRIENDS.
- Escolha interessante. Segunda pergunta: Quem é a sua pessoa preferida no mundo inteiro?
- Louis Tomlinson, porque ele é a pessoa mais engraçada do mundo. – Respondi em uma respiração só, rindo. Minha experiência naquele jogo me ensinou a puxar saco do apresentador.
- Ótima resposta, você vai ganhar pontos extras por isso! – Louis sorriu convencido e fingiu jogar os cabelos por cima do ombro. – Próxima pergunta: Se você fosse morrer amanhã, qual seria seu último pedido?
- Eu pediria... Oh, Gosh. – Passei as mãos pelo cabelo, tentando pensar em alguma coisa. – AH! Eu pediria pra ter uma festa de despedida, com todos os meus amigos e pessoas que eu amo!
- Awn, que linda, . – riu.
- Próxima pergunta, rápido! Se você pudesse escolher um lugar pra conhecer, qualquer lugar, qual seria e por que?
- Essa é fácil! Grécia, porque lá tem praias bonitas.
- Próxima: - Antes que Lou pudesse continuar, o cronômetro apitou, mostrando que o meu tempo havia acabado. – É, não tem próxima. Muito bem, competidora. Pode ir chamar o seu adversário, por favor.
Fiz um bico por ter terminado o meu tempo, sabendo que poderia ter ido bem melhor. Os que estavam assistindo bateram palmas pra mim e eu agradeci, mandando beijos no ar para todos. Logo corri até a cozinha pra chamar Harry, que estava balançando a cabeça no ritmo da música que tocava em seu iPod.
- Hazza. Haz? – O cutuquei e ele se virou pra mim, tirando os fones da orelha. – Sua vez.
- Já? E quantas você respondeu? – Nós fomos em direção à sala.
- Você não tem chance, Harry. Eu já ganhei. – Cantei vitória para deixá-lo inseguro e fui me sentar no sofá entre e Zayn.
- Veremos! – Me olhou desafiador e andou até o centro da sala. – Pode começar, Lou. Estou pronto!
- Muito bem, muito bem, vamos lá!
Enquanto os meninos estavam se preparando, eu tirei as sapatilhas e coloquei os pés para cima do sofá. Zayn, que estava ao meu lado esquerdo, me olhou e deixou um beijo na minha bochecha. Eu olhei de volta pra ele e simplesmente sorri. Ficamos nos encarando e trocando risadas sem motivo até Louis chamar a nossa atenção. Nós não precisávamos falar coisa alguma pra saber o que o outro estava pensando, porque naquele momento só uma coisa passava na nossa cabeça: A distância entre nossos lábios. Eu sentia vontade de agarrá-lo ali mesmo, sem ligar de sermos assistidos, mas eu não podia. Liam estava ali e eu tinha medo de magoá-lo de alguma forma.
- Terceira pergunta, rápido! – Louis gritou e eu me perguntei quais haviam sido as primeiras respostas de Harry, já estava totalmente aérea e só prestava atenção em Zayn. – Se você fosse morrer amanhã, qual seria seu último pedido?
- Eu pediria mais dias de vida! – Aquela era realmente uma boa resposta.
Antes que Lou pudesse passar para a próxima pergunta, o cronômetro apitou. Aparentemente Harry só tinha respondido três perguntas e eu quatro, o que significava que eu era a vencedora. Louis revisou as fichas em sua mão e fez um suspense.
- E quem ganhou foi... Tomlinson! – Ele gritou e eu pulei do sofá, comemorando.
- Você perdeeeeu, você perdeeeeu! – Cantarolei apontando para Harry.
- Injusto! Você roubou! – Haz era um péssimo perdedor e se jogou no chão. – Eu não quero mais brincar!
- Curly, não fique assim. – Louis foi consolar Harry e eu ri daquela criança que fazia birra.
- Eu quero jogar Guitar Hero. – Liam se levantou do sofá e olhou pra mim. – Alguém topa?
- Eu to dentro! – Niall se ofereceu pra jogar com ele e eu fiquei um pouco aliviada. Não teria coragem de negar um pedido de Liam e minha vontade naquela hora não era de jogar vídeo game.
- Então vocês vão jogar Guitar Hero enquanto eu vou colocar o meu celular pra carregar... – Olhei diretamente pra Zayn. – No meu quarto.
teria vindo comigo, mas acho que entendeu a minha indireta para Malik e foi ajudar os meninos a ligar o jogo. Eu subi as escadas sem olhar pra trás e fui até o meu quarto, deixando a porta aberta, claro. Em menos de dez segundos eu a escutei fechar e senti duas mãos me puxando pela cintura. Zayn encostou o peitoral nas minhas costas e beijou o meu ombro.
- Vai carregar o celular, é? – Ele distribuiu beijos pelo meu ombro, indo até o meu pescoço.
- Fui muito óbvia? – Ri baixo, me controlando para não ficar arrepiada com aqueles beijos.
- Só um pouco. – Zayn também riu e me fez girar, ficando de frente pra ele. – Mas eu gostei.
- Então eu não me importo em ser óbvia.
Passei os braços em volta do pescoço do menino e ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha antes de me abraçar pela cintura. Encostou a testa na minha e ficamos trocando selinhos delicados até eu me cansar daquela provocação e o segurar com certa força pela nunca, o impedindo de tirar os lábios dos meus. Em troca daquilo, recebi uma mordida no meu lábio inferior que desencadeou em um beijo. O beijo mais intenso que já ocorrera entre nós dois. Ele tinha a mão direita espalmada nas minhas costas, sempre me mantendo perto dele, e a outra mão brincava na minha cintura; ora apertando, ora acariciando. Eu, por outro lado, adorava passar as mãos pelos cabelos dele e roçar as unhas pela nunca do mesmo. Nós não saímos do lugar, apenas ficamos ali parados enquanto as nossas línguas brincavam de pega-pega.
Só parei o beijo quando já estava sem fôlego. Zayn segurou o meu rosto com as duas mãos e me fez olhar pra ele. Meus olhos azuis encontraram os castanhos dele e eu me perguntei qual cor formaria se misturássemos os dois. Ele só ficou me olhando com um sorriso indecifrável. Eu acabei rindo.
- Por que você está me olhando assim?
- Eu gosto de te olhar... – Ele respondeu e eu estreitei os olhos. – Se você soubesse como é linda, também gostaria de se olhar.
- Mas assim eu acabaria me apaixonando por mim mesma. – Ri, ignorando o rubor em minhas bochechas que aquele comentário causou.
O ranger da porta abrindo fez Zayn soltar o meu rosto, mas nãos nos distanciamos. Eu olhei na direção da porta com um frio na barriga, temendo que fosse Liam. Não é que eu fosse ficar escondendo o que quer que fosse aquilo que eu começava a ter com Zayn, mas se gostasse de alguém, não gostaria de vê-lo nos braços de outra. Liam era simplesmente muito importante pra mim para que eu não me preocupasse com aquilo. Relaxei ao ver que era apenas Harry.
- Estou atrapalhando algo? – Ele perguntou com um sorriso infantil nos lábios.
- Não. – Tentei disfarçar.
- Sim. – Zayn respondeu na mesma hora que eu, o que me fez gargalhar e dar um tapinha em seu ombro.
- De qualquer forma... – Harry rolou os olhos. Devia estar aprendendo aquilo comigo. – Vamos pedir pizza e queremos saber qual sabor vocês querem. E sim, todos já perceberam a sua demora pra achar o carregador, .
- Ops. – Zayn sussurrou na minha orelha e eu ri.
- Já vamos descer, ok? – Falei para Haz e ele saiu, nos deixando sozinhos novamente.
- Sorte que não foi o seu irmão. Ele teria me arrastado daqui pela orelha.
- Teria mesmo! – Gargalhei do comentário, jogando a cabeça para trás. – Mas ele gosta de você. Na verdade, todos gostam.
- Até você? – Levantou uma sobrancelha.
- Principalmente eu! – Sorri e pressionei os lábios no dele, em um selinho demorado. – Agora vamos, antes que meu irmão realmente apareça aqui.
Zayn resmungou alguma coisa e me puxou novamente quando eu tentei andar até a porta. Eu não sabia se era fraca demais ou se ele era forte, porque com um simples puxão eu já estava nos braços dele mais uma vez. Não resisti ao beijo que recebi, mas o interrompi antes que virasse algo mais quente. Finalmente consegui tirar ele do quarto e descemos as escadas de mãos dadas. Meu irmão estava no telefone e pedia as pizzas. Harry apareceu novamente e me puxou para a cozinha. Será que estava tentando me tirar de perto de Zayn?
- Deixa que o seu homem resolve as pizzas e você vem me ajudar com a sobremesa. – Harry pareceu muito gay falando: “Seu homem” e eu acabei rindo.
- Antes você não queria nem que eu entrasse na cozinha e agora está pedindo a minha ajuda? Isso é ciúme, Haz? – Me apoiei na bancada americana e cruzei os braços. Ele começou a pegar os ingredientes que já tinha separado a tarde e nem me olhou.
- É sim! – Admitiu mais rápido do que eu esperava. – Você é minha primeiro.
- Ownt, que coisa mais linda! – Fui até ele e o abracei pelas costas. – Eu sempre vou ser a sua estrelinha e você o meu cupcake, Haz.
- É bom que seja assim mesmo, . Porque ele não vai te roubar de mim. – Harry virou para me olhar e estava sério. Seus olhos verdes brilhavam e eu sorri.
- Não vai mesmo. Ninguém vai. – Fiquei na ponta dos pés e nos abraçamos.
Assim que encerramos a cena melosa, pudemos nos concentrar no nosso trabalho. Harry disse que faria a massa e eu podia fazer o recheio. Aceitei aquela divisão e enquanto ele foi colocando algumas coisas dentro da batedeira (que eu nem sabia que tinha), eu fui fazer um ganache. Peguei uma barra de chocolate e comecei a partir em pedacinhos menores e fui colocando tudo dentro de um “pote” de vidro. Em seguida, coloquei o chocolate no microondas para derreter. Não tinha paciência para dar “banho Maria”, então faria o melhor que conseguisse assim mesmo. Depois de derretido, adicionei mais alguns ingredientes para que o chocolate ficasse um pouco mais cremoso.
- , se você continuar comendo assim não vai sobrar nada pra colocar nos cupcakes. – Harry reclamou, me pegando no flagra quando eu comi uma colherada do chocolate.
- Eu só estava provando! – Falei com a boca cheia e nós rimos.
- Cadê o Zayn pra ver a sua elegância?
- Blaaaaah. – Abri a boca e Harry fez cara de nojo.
Haz jogou um pouco de farinha em mim, mas não sujou o meu cabelo. Caso contrário, ele iria morrer. Eu reclamei com um grito e olhei em volta. Não tinha pra jogar nele a não ser o chocolate e é claro que eu não faria aquilo. Seria um pecado muito grande. O ameacei com um “você me paga” e voltamos a nos concentrar nos nossos afazeres. Harry estava mais adiantado do que eu e já colocou uma bandeja de cupcakes no forno. Como ainda tinha massa na batedeira, ele a deixou por ali e foi para a sala. Eu teria reclamado de ficar sozinha na cozinha se não tivesse visto Zayn se aproximando.
- Precisa de ajuda? – Ele ficou atrás de mim, com o queixo na divisão entre o meu ombro e pescoço.
- Isso faz cócegas! – Gargalhei e me encolhi. Zayn riu no meu pé do ouvido e me deixou arrepiada, mas acho que ele não percebeu. – Tem uns morangos na geladeira. Você pode pegar e lavar pra mim?
- Você é que manda, . – Deixou um beijo na minha bochecha e foi fazer o que eu pedi.
Com toda certeza eu podia me acostumar com aquilo. Ainda era estranho ver aquele lado de Zayn, mas eu estava gostando. Pelo canto de olho, vi que ele abriu o pote de morangos e começou a lavar de um por um. Uma forma mais rápida seria lavar todos de uma vez, mas ele estava tão lindo que eu fiquei calada. Enquanto terminava de preparar o recheio, olhei a batedeira que Harry havia deixado descuidada e tive uma ideia.
- Hey, Zayn. – O chamei, com um sorriso sapeca. Ele me olhou. – Você sabe guardar segredo?
- Claro que sim. – Deixou os morangos lavados em um canto e me olhou curioso. – O que você vai aprontar?
- Só quero deixar os cupcakes um pouco mais gostosos. – Me fiz de inocente enquanto peguei a garrafa de tequila.
- Você é louca, ! – Ele riu, mas não me desencorajou.
- Vai ser o nosso segredinho. – Eu fiz um sinal pra ele parar de rir alto e fazer silêncio. Abri a garrafa e despejei um pouco do liquido na batedeira, misturando tudo em seguida.
- Eu espero que fiquem bons...
- O quê? – Harry entrou na cozinha e me viu com a garrafa na mão. – Já vai beber?
- Vou sim. – Tentei disfarçar, mas não tinha outra saída a não ser servir uma dose de tequila pra mim. – Aceitam?
- Não, obrigado. – Zayn riu da cara que eu estava fazendo, mas ainda que ele negasse iria beber comigo.
- Mas você disse que queria. – Falei entre dentes e servi uma dose pra ele também.
- Eu disse? – Pegou um dos copinhos, inconformado.
- Sim!
Levantei o meu copo e fizemos um brinde. Harry nos observava, então não dava pra jogar a bebida fora. Sim, eu tinha planos em ficar bêbada naquela noite, mas não sabia que começaria tão cedo. Não passava nem das oito e meia da noite ainda! Virei a bebida na minha boca e engoli de uma vez. Zayn fez o mesmo, mas não fez careta como eu. Só riu da minha cara mais uma vez. Eu teria estirado a língua pra ele se não estivesse tão ocupada em sentir a queimação em minha garganta. Harry riu de nós dois e tirou a primeira bandeja de cupcakes do forno. Eu logo tratei de recheá-los com o ganache e pedacinhos de morango partido; mesmo ainda quentes. O cozinheiro colocou a última porção no forno e Zayn e eu trocamos um risinho confidente.
Para que Haz não desconfiasse de nada, nós resolvemos ir para a sala. Aproveitamos para levar a garrafa de tequila, sal e algumas rodelas de limão com a gente. Ninguém jogava mais, mas todos conversavam animadamente. Não consegui entender qual era o assunto, mas também não me importava muito. Coloquei a bebida em cima da mesinha de centro que estava no canto da parede oposta ao sofá e a campainha tocou.
- Acho que a pizza chegou! – Niall parecia um esquilo faminto pela forma que levantou a cabeça pra olhar em direção a porta.
- Eu vou atender. – Louis se levantou, mas eu o impedi. Todos me olharam confusos e eu olhei para .
- Hey, . Eu tenho um desafio pra você.
- Uhhhhhhhh. – Harry e Louis falaram em coro. Eles já sabiam como aquilo funcionava.
- Como assim? – Ela me olhou confusa.
- O que o nosso querido anfitrião não explicou, é que durante a noite de jogos serão feitos alguns desafios. – Cruzei os braços, ainda encarando a minha amiga. – É uma escolha sua aceitar ou não, mas as consequências de negar um desafio não são muito legais.
- Acredite, não são mesmo. – Harry falou baixinho e eu ri, lembrando da última vez que ele negou um desafio e acordou com um bigode mal desenhado em seu rosto com uma caneta permanente que demorou três dias pra sair.
- Tudo bem, ! – Me fuzilou com os olhos. – Qual é o desafio?
- Eu desafio você a ir buscar a pizza... Sem blusa. – Falei com simplicidade, sentando no braço do sofá, com Zayn e pé atrás de mim.
- Você ta louca? – Niall agarrou a namorada antes mesmo que ela pudesse dar a resposta. A campainha tocou novamente.
- Não se preocupe, Niall, você também vai ter a sua vez. – Louis sorriu maléfico.
- E então, ? – Insisti.
- Desculpa, pudincup, mas eu tenho que fazer isso. – se soltou dele, levantou e tirou o casaco e a blusa.
Ela ficou apenas de calça jeans e um sutiã cor de rosa. É claro que Niall, enciumado, tampou os olhos de Harry e Liam, que eram os garotos mais próximos. Zayn olhava pra ela, mas não por causa da pouca quantidade de roupas. Ele estava rindo do jeito que ela xingava até a minha quarta geração. Nós demos o dinheiro pra ela pagar e ficamos assistindo pelo hall de entrada. abriu a porta e o entregador quase teve um ataque do coração. Devia estar pensando que o seu maior sonho iria se realizar. É claro que ele estava enganado e fechou a porta na cara dele depois de pegar as pizzas. Ela foi direto para a sala de jantar e deixou a comida em cima da mesa. Todos nós fomos até lá e batemos palmas. Até que tinha se saído bem. Niall levou a blusa pra ela e a fez vestir.
Devoramos as quatro pizzas em menos de uma hora e voltamos para a sala. Cada um também comeu um cupcake, mas infelizmente ainda não foram os que estavam batizados com a bebida. Sentei em um dos cantos do sofá e, obviamente, Zayn se sentou ao meu lado e segurou uma de minhas mãos. Liam se sentou no chão, encostado nas minhas pernas, e eu acabei brincando com seus cabelos com a minha mão livre. Ele acabou deitando a cabeça nos meus joelhos e eu não parei com o cafuné. Niall e Lou também sentaram no sofá. e Harry entraram discutindo na sala, chamando a atenção de todos. Ele parecia ter contado pra ela da vez que negou um desafio e ela o chamou de frouxo. Então os dois começaram a brigar. Até que era uma cena bem engraçada, porque era uma pessoa bem pequena e Harry parecia gigante perto dela, mas ela era quem estava “gritando” e ele só ria.
- Então vamos ver quem é o frouxo! – Harry cansou das provocações da ruiva e ela gostou daquilo. – Pode me desafiar.
- Ótimo! – gargalhou e apontou pra mim. – Venha cá, .
- Você vai desafiar o Harry, eu não tenho nada a ver com isso! – Parei de fazer carinho em Liam e abracei Zayn, querendo que ele me protegesse.
- Você ta no meio, , vem logo! – Ela bateu o pé no chão.
Zayn me abraçou de volta, tentando me ajudar. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, já estava com uma dose de tequila na mão. Eu não entendia muito bem o que ela queria, mas sabia que não ia prestar. Harry me puxou, alegando que não sofreria sozinho.
- Tire o sweater, por favor. – mandou e eu tive que obedecer. – Muito bem, agora deite no chão.
- Isso não vai dar certo... – Resmunguei e todos da sala olhavam de mim para .
Ela se abaixou até onde eu estava e segurou na barra da minha blusa, levantando-a até um pouco abaixo do meu busto. Eu cobri o rosto com as mãos, envergonhada por estar com a barriga de fora. Dei uma rápida olhada em Zayn pela brecha dos meus dedos e vi que ele mordia o lábio inferior quanto me olhava.
- Eu sei que você queria estar no lugar do Harry agora, Z-boy. – também devia ter percebido o olhar dele em cima de mim e o menino nem se preocupou em disfarçar.
- Quem não queria? – Deu de ombros e Louis levantou a mão. Eu ri um pouco, por mais que ainda estivesse nervosa.
- Vamos ao que interessa! Harry, é o seguinte. Você vai lamber o sal na barriga dela, depois beber essa dose de tequila e pegar o limão que ela vai segurar com a boca. – Enquanto explicava, fez um caminho com o sal na minha barriga (acima do umbigo até o começo das costelas) e me colocou ¼ de limão na minha boca. – Pronto?
- Hum hum. – Tentei pedir pra esperar, mas o único som que saiu da minha boca foi “hum”, já que ela estava ocupada com o pedaço de limão.
- Vou considerar isso como um sim! – Harry riu.
Ele segurou o copo com uma mão e usou a outra para se apoiar no chão, após ter ajoelhado e inclinado o corpo em minha direção. Harry me olhou segundos antes de tocar a minha barriga com os lábios. Como se não bastasse aquele desafio, ele ainda resolveu brincar. Primeiro deu uma mordida na parte baixa da minha barriga, roçou a boca pelo meu umbigo e finalmente chegou até o sal. Arrastou a língua pelo caminho inteiro e depois virou a bebida de uma vez. Eu o encarava descrente. Por mais que eu tentasse ignorar, ele fizera tudo de uma maneira extremamente sexy. Ainda faltava a pior/melhor parte; o limão. Harry me olhou com aqueles olhos verdes e me segurou pela nuca, levantando-me até que eu estivesse apoiada nos cotovelos. Ele sorriu e aproximou o rosto do meu, mordendo uma parte do limão. O gosto do suco azedo invadiu a boca e Haz logo puxou o limão de vez, me deixando ali sem saber o que fazer.
- Wow. – Até pareceu desconcertada com a cena.
- Harry, eu nunca vou conseguir te olhar da mesma forma. – Ri quando ele me ajudou a levantar.
- Perdeu, Zayn. – Harry comentou e eu abaixei a minha blusa.
- É o que veremos. – Ele respondeu e levantou do sofá.
Tudo aconteceu tão rápido que eu mal consegui acompanhar. Zayn avançou em cima de mim e prendeu uma das mãos no meu cabelo. A última coisa que vi antes de fechar os olhos foi sua boca se aproximando cada vez mais rápido. Ele me beijou com tanta vontade que eu desejei estar sozinha com ele. Sua língua invadiu a minha boca com urgência, mas não de forma violenta. Acho que aquela foi uma forma de “marcar território”, como se ele quisesse deixar claro que eu –de alguma forma- era dele. O puxão em meu cabelo foi diminuindo aos poucos e ele deslizou as mãos pela lateral do meu corpo, me deixando toda arrepiada. Sem falar no calor que se espalhou pelo meu corpo. Escutei gritinhos de comemoração ao meu redor, mas eles estavam distantes. Tudo que eu realmente escutava era a respiração ofegante de Zayn que batia em meu rosto. Eu subi as minhas mãos até os ombros dele e apertei com as unhas. O senti ofegar com um pouco mais de vontade e sorri com aquilo. Será que eu tinha esbarrado em um ponto fraco?
- Quem você prefere? – Zayn interrompeu o beijo e sussurrou nos meus lábios.
- Sempre foi você. – Sussurrei de volta e roubei um selinho rápido.
- Agora vocês dois podem parar de melação, por favor? Ou então vão para o quarto logo! – se meteu. Devia ser bom pra ela ver como eu me sentia quando ficava de vela.
- Prefiro a segunda opção. – Zayn piscou pra ela e eu o repreendi com o olhar, me afastando.
- Não dê ideia, ! – Liam riu, entrando na brincadeira.
Aquela foi uma reação que eu esperaria de qualquer um menos dele. Pra falar a verdade, Liam não havia demonstrado estar chateado ou desconfortável com nada, em momento algum. Eu cheguei a o ver conversando com meu irmão daquele jeito que faziam quando o assunto era eu, mas nenhum dos dois parecia estranhar o fato de eu e Zayn estarmos nos tornando íntimos. Aliás, quem pareceu mais incomodada foi e eu não sabia o motivo. Falaria sobre aquilo com ela depois.
- Quem quer uma segunda rodada de cupcakes? – Mudei o assunto completamente antes que mais alguma coisa acontecesse e observei todos levantarem as mãos. – Vou buscar, então!
- Não demore, porque eu estou com fome. – Niall disse e sentou no colo dele.
- Amor, você acabou de comer uma pizza inteira sozinho!
- Pizza não alimenta!
Niall tentava se defender, mas só causou risadas em todos. Eu fui para a cozinha e peguei a última bandeja de cupcakes. Eles já estavam recheados com o meu chocolate e morangos e eu tinha certeza que eram os embebedados. Para disfarçar o gosto da bebida, eu os cobri com uma camada generosa de chantilly e também coloquei um moranguinho em cima de cada um. Estavam lindos e, provavelmente, deliciosos.
Assim que tudo estava pronto, voltei para a sala e entreguei um cupcake para cada. Niall abocanhou a cobertura e ficou todo sujo. aproveitou para limpá-lo, mas com a própria boca. Eu fiz uma careta e brinquei falando “Ewww”. Minha amiga me mostrou o dedo do meio e eu me fiz de ofendida. Nós continuamos brincando até que Zayn sujou a minha bochecha de chantilly. Eu o encarei brava e ele só riu. Antes que pudesse se desculpar, eu peguei o meu próprio cupake e “gentilmente” enfiei na cara dele. Ou seja, Zayn ficou com o rosto todo sujo e foi a minha vez de rir. A partir dali as coisas só pioraram. Liam me imitou e sujou o meu irmão, que revidou, mas acabou atingindo Harry.
Logo estávamos correndo pela casa, atirando bolinhos e cobertura uns nos outros. O chão estava todo melado e eu tinha que tomar cuidado pra não cair. Também pegamos farinha e ovos que estavam em cima da bancada americana e o atiramos para todos os lados. Eu tentava desviar dos ataques que vinham em minha direção, mas não obtive sucesso e acabei levando um ovo na testa. Com certeza ficaria um galo ali, mas eu não liguei. Estava rindo demais pra me importar com qualquer coisa. Eu corri para a sala e assisti Zayn escorregar e cair no chão. Eu teria me preocupado se ele não tivesse começado a rir no mesmo instante, com o cabelo todo sujo de farinha.
Capítulo XIX
“BONG BONG BONG” era o que eu sentia na minha cabeça quando acordei naquela tarde de domingo. Parecia que eu ia explodir de tanto latejar de dor. Eu me mexi na cama e acabei esbarrando em alguém. Abri os olhos, assustada, mas logo vi que era que também dormia ali. Eu não lembrava como tinha chegado na cama e muito menos como a noite passada havia acabado. Minha última lembrança era de estar conversando com em um canto e Niall nos chamando pra jogar alguma coisa que envolvia shots de tequila.
- , acorda... – A balancei devagar, ainda meio sonolenta.
- Sai, mãe. – Ela resmungou, me empurrando para o lado.
- Eu não sou a sua mãe! – Gargalhei, me arrependendo totalmente em seguida. Qualquer movimento brusco que eu fizesse tornava a minha dor de cabeça pior. – Já passa das quatro horas da tarde, !
- Não me chama assim! – Rosnou, mas pelo menos estava acordada.
- Eu preciso de informações. – Falei ao me sentar devagar na cama. – O que aconteceu ontem?
- Além de você ficar muito bêbada? – virou de frente pra mim e riu. – Nada ruim aconteceu se é o que te preocupa. Até porque você tem uma amiga muito boa que cuidou de você a noite inteira.
- Detalhes, !
- Ok, ok! Mas não grita. – Ela pressionou a testa com os dedos. Devia estar do mesmo jeito que eu. – Depois que nós bebemos muito naquela brincadeira que o meu Nialler inventou, fomos jogar twister. Mas preciso dizer que ninguém ganhou? Você também dançou em cima da mesa, aliás. Querendo tirar a roupa, mas eu não deixei.
- Ai. Meu. Deus. – Peguei um travesseiro e o abracei, escondendo o rosto. – Mudança de planos, eu não quero saber de mais nada, ok?
- É melhor mesmo... – riu novamente eu quis entrar embaixo da cama e não sair nunca mais.
Ficamos conversando na cama por mais alguns minutos até resolvermos tomar alguma providência com as nossas dores de cabeça. Com certeza meu irmão teria um pouco de energy juice para curar a minha ressaca. Saí do quarto com ao meu encalço e descemos as escadas em direção à cozinha. Assim que entramos na sala de jantar, Liam apareceu com um sorriso impecável nos lábios. Ele não devia ter bebido tanto quanto eu.
- Bom dia, princesa. – Liam me abraçou e beijou a minha bochecha.
- Não seria ‘boa tarde’, Leeyum? – Retribuí o abraço e sorri.
- Isso não é hora para sermos técnicos, . – Ele riu, me soltando. – Seu remédio está em cima da mesa.
- Cof cof. – limpou a garganta nem um pouco discreta. – Bom dia pra você também, Liam.
- ! Eu nem te vi aí. Boa tarde! – Liam coçou a nuca, acenando para a minha amiga.
Nada de abraços para ela? Então tá. Fiquei rindo daqueles dois e peguei uma das duas canecas que estavam em cima da mesa. Apontei a outra para e dei um gole na minha bebida. O gosto de tangerina era agradável, mas os outros ingredientes (desconhecidos, diga-se de passagem) que meu irmão colocava ali dentro deixavam o energy juice um pouco amargo. Não era a minha bebida preferida, mas fazia milagres. E não era só uma cura para a ressaca, mas também um energético muito potente. Lembrei da ceninha que Zayn fez na primeira vez que bebeu o energy juice e fiquei rindo sozinha. Meus amigos me olharam sem entender nada; rolou os olhos, achando que eu estava louca, e Liam riu comigo, sem precisar saber do motivo. Porque, sim, ele era bobo assim; capaz de rir só porque você está rindo.
Olhei em volta, prestando atenção pela primeira vez. Eu podia não me lembrar da noite passada inteira, mas sabia que havia acontecido uma guerra de comida. A sala, o corredor, a cozinha... Tudo estava limpo. Até mais limpo que antes, pra falar a verdade. Duvidava muito que qualquer um dos meus amigos tivesse se disposto a fazer uma faxina na casa. parecia não notar nada de diferente, já que bebia da sua caneca e vazias caretas a cada gole.
- Hey, Li. – Perguntei ao puxar uma cadeira para me sentar.
- Sim? – Liam me olhou e eu terminei a minha bebida antes de continuar.
- A fada da limpeza passou por aqui? – Perguntei com uma risada.
- Eu sabia que tinha algo estranho aqui! – notou finalmente e eu ri mais ainda.
- Ahh, é verdade! Eu esqueci de contar... – Liam encostou o corpo na mesa e cruzou os braços. – Você conhece uma moça chamada Dorota?
- Dorota? – Aquele nome não me era estranho... – Dorota! É claro! Ela foi a minha babá desde que eu nasci. Mas quando meus pais se separaram, ela voltou para a Inglaterra e eu só a via quando vinha passar as férias aqui... Mas o que isso tem a ver com a limpeza da casa?
- Pelo que eu entendi, ela veio visitar e acabou ficando mais tempo pra limpar tudo. – Liam explicou. – E seu irmão está pensando em contratá-la pra trabalhar aqui.
- Mas ela não pode trabalhar aqui como empregada... Dorota é da família. – Fiz um bico de lado e minha dor de cabeça já começava a diminuir.
- Mas pode ser uma boa ideia, . Porque eu não quero mais ser a sua babá. – riu e eu fiz uma careta pra ela. Que menina chata!
Minha melhor amiga também terminou a bebida dela e nós três fomos para a sala. Ficamos assistindo TV até que resolveu ir embora e eu e Liam ficamos sozinhos. Passamos mais um tempo assistindo desenhos e ele me levou até o seu quarto para me mostrar o seu último ensaio fotográfico. Eu comentava todas as fotos que ele me mostrava e apontava as coisas que gostava, ou que ele poderia melhorar; como iluminação e essas coisas. Mas é claro que o profissional ali não era eu e, apesar de tudo, Liam era um bom fotógrafo. Conversamos sobre várias coisas, mas Zayn não estava incluído em nada. Era como se Liam quisesse ignorá-lo e eu preferia assim. Ele me contou que, mesmo gostando do seu trabalho, também não era aquilo que ele achava que seria. Assim como Lou comentou um dia. Eu tinha certeza que os dois não ficariam muito tempo naquele estúdio e isso me preocupou. Liam só estava em Londres e longe de sua família por causa daquele emprego e a ideia de ele ir embora não me agradava em nada. Eu já estava mais do que apegada àquele menino que mais parecia um filhote de labrador e não o deixaria partir.
A segunda feira chegou mais rápido do que eu esperava e trouxe consigo as minhas aulas cansativas. A cada dia que passava, os professores pareciam cobrar sempre mais. Perdi a conta de quantas vezes tive que dormir com os pés enfaixados para não sujar a minha cama de sangue. Essa primeira aula foi aquela onde todos os alunos ficam juntos em um salão enorme. Por um lado eu gostava daquela aula, porque era uma forma de comparar o meu nível com o dos outros bailarinos. Mas por outro... Eu tinha que aguentar Brigitte durante uma hora e meia. Fazia de tudo para ignorá-la e ficar o mais distante possível da oxigenada, mas ela gostava de me provocar. Sempre estava tentando me atrapalhar e até me fez cair no chão quando eu estava na metade de uma pirueta. Todos os alunos viram aquilo, mas não havia nada que pudessem fazer. Eu já tinha ouvido falar que o mundo do ballet era muito competitivo, mas era a primeira vez que algo assim acontecia comigo.
e eu deixamos a sala de aula pra trás e eu tentava andar sem mancar. Sim, além de tudo, a vaca ainda me fez machucar o tornozelo quando me derrubou. Estávamos indo em direção ao refeitório quando Brigitte e as suas duas seguidoras passaram rindo ao meu lado. É claro que elas estariam indo pra lá também! Eu tentava ser forte, mas a cada passo que dava a pontada de dor que eu sentia me fazia lembrar o sorrisinho “eu sou melhor que você” que a loira dava toda vez que me olhava.
- , você pode ir até o refeitório sem mim? Não estou com tanta fome assim...
- Tá brincando, ? – Paramos de andar e ela me encarou séria. – Você não fazer isso só porque a ridícula vai estar lá. Não pode fugir dela assim.
- Eu não estou fugindo de ninguém! – Rolei os olhos. – Só quero ignorar a existência daquele desperdício de vida o máximo que eu puder.
- Eu não vou conseguir te fazer mudar de ideia, né? – já começava a pegar o jeito de como as coisas funcionavam comigo. Eu só afirmei que não e ela bufou. – Então pelo menos vai até a enfermaria e dá uma olhada nesse pé?
- Vou sim. – Fiz um “x” no peito, como uma promessa.
disse que passaria lá pra me ver depois que comesse alguma coisa e eu fui em direção à enfermaria. Nunca tinha estado lá antes, mas foi fácil de encontrar graças às placas de informação. Uma enfermeira idosa, mas de aparência bem cuidada, me atendeu assim que eu entrei na sala. As ‘paredes’ eram de vidro, o que permitia a visão do lado de fora e vice versa. Aquela falta de privacidade me deixou um pouco desconfortável, mas eu também notei que tinha uma cortina de correr que protegia as duas macas hospitalares.
- Em que posso ajudar, senhorita? – A moça sorriu pra mim.
- Eu acho que dei um jeito no meu tornozelo, porque não consigo pisar direito... – Expliquei e apontei para o meu pé dolorido.
- Vamos dar uma olhada nisso, minha querida.
Ela estava sendo tão simpática comigo que eu fiquei super tranquila. Fomos até uma das macas e ela me ajudou a subir. Fiquei mais ou menos na metade do ‘colchão’ e a minha perna direita ficou esticada. Também tirei o meu sapato e agradeci não estar com a meia calça que ia até os pés, porque aquilo só iria complicar as coisas. A senhora Mary (descobri se nome depois de ler no crachá) tocou o meu tornozelo levemente e eu gemi de dor. Foi pior ainda quando ela girou o meu pé e eu senti como se ele estivesse se quebrando por dentro.
- Desculpe, querida, não queria machucar.
- Não tem problema... – Fingi ser forte. – É algo sério?
Antes que a enfermeira pudesse responder, Zayn apareceu do nada e parecia que estava correndo em uma maratona, porque estava quase sem ar. Era a primeira vez que eu o via depois da noite de sábado e não conseguia lembrar nem de como havíamos nos despedido. Acho que aquele foi um dos motivos que me deixou tão nervosa quando o vi.
- Que aconteceu? falou que você quebrou o pé! – Ele estava tão preocupado que eu esqueci a minha dor por um momento e sorri.
- E você não sabe como a sua amiga é exagerada, Zayn? – Ao ver que eu estava bem, ele pareceu se acalmar um pouco. – Não quebrei nada. Certo?
- Certo. – Mary respondeu. – Não precisa se preocupar, a sua namorada está bem.
- Eu não sou... – Fiquei vermelha quando a enfermeira usou aquele termo.
- Ainda bem! – Zayn interrompeu quando eu tentei corrigi-la. – Mas o que ela tem?
- Ela só torceu levemente o pé. Vê como está inchado? Essa moça tem que deixar o pé em repouso agora, então nada de fazer esforço. O que incluí ir pra casa agora.
- Ir pra casa? Eu ainda tenho aula, não posso ir pra casa! – Me desesperei. Já tinha faltado uma aula e não queria perder outra.
- , se a médica está falando que você não pode fazer esforço, você não vai fazer esforço! – Zayn falou todo autoritário e eu me senti uma criancinha.
- Eu vou enfaixar seu tornozelo pra que você não force demais e pode deixar que eu levo um atestado para a secretaria. Não se preocupe, querida, isso não vai te prejudicar.
Bufei baixo e cruzei os braços. A enfermeira pegou uma faixa e envolveu todo o meu pé direito, principalmente na região do meu tornozelo. Zayn só ria das caretas que eu fazia e eu já não sabia mais se era por causa da dor ou do jeito que aqueles dois estavam me tratando. Tudo bem, o “certo” seria eu descansar e não fazer esforço, mas eu não conseguia aceitar que Brigitte estava me fazendo perder uma aula importante. A senhora também me deu uma pomada que deveria aliviar o inchaço e prometeu que eu já poderia voltar a dançar no dia seguinte. Tive que prometer que ficaria de cama e me cuidaria direitinho.
- Vamos? – Zayn pegou a minha mochila e passou por cima do próprio ombro.
- Vamos pra onde? – O olhei sem entender.
- Tem certeza que você não bateu a cabeça também? – Ele gargalhou. – Eu vou te levar pra casa, bobinha.
- Não precisa, Zayn. Você ainda tem uma aula hoje e eu posso muito bem pegar um taxi. – Desci da maca quase caí no chão. Me apoiar em um pé machucado não era a ideia mais inteligente.
- Você é mais importante que uma aula, . – Ele me segurou pela cintura, me impedindo de cair no chão. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Zayn passou o braço embaixo dos meus joelhos e começou a me carregar.
- Zayn! – Me segurei nos ombros dele. – Você vai me derrubar! Eu ainda consigo andar.
- Dá pra ficar quieta? – Ele riu. – Eu não vou deixar você cair.
Vendo que não teria muita escolha, o deixei me carregar para fora da enfermaria. Não vou negar que era bom sentir os braços fortes de Zayn ao meu redor e a visão que eu tinha de seu rosto era maravilhosa. Fomos nos aproximando da saída e apareceu junto com Niall.
- O que aconteceu com a minha pequena? – Ela falou, preocupada. Com certeza aquela cena de Zayn me carregando piorava as coisas.
- Essa criança vai ficar de repouso e eu vou cuidar dela. – Zayn respondeu e rolei os olhos.
- Estou de castigo, ! – Fiz um biquinho e o garoto aproveitou para colar os lábios nos meus, roubando um selinho. – Pode ser que eu comece a gostar disso.
- Safada! – Niall brincou e nós rimos.
- Eu te ligo mais tarde, ok? – Mandei um beijo para o casal.
Quando passamos pela escadaria, Brigitte estava lá. Zayn nem ao menos virou o rosto, mesmo com os chamados dela. A oxigenada sempre competia comigo e tentava me sabotar, prova disso era o meu tornozelo machucado por culpa dela. E algo me dizia que me ver nos braços do ex-namorado dela não seria muito bom. Zayn me colocou dentro do carro e deu a volta pra entrar também.
- Até quando você vai me carregar? – Perguntei já mais calma e menos birrenta quanto Zayn me carregava escada acima. – Eu me sinto uma princesa.
- Eu te carrego até quando você quiser, princesa . – Ele riu e eu passei as unhas pela nuca dele, acariciando. Notei que aquilo o deixou arrepiado e sorri.
Entramos no meu quarto e ele me colocou delicadamente na cama. Para melhorar, Zayn ainda arrumou os meus travesseiros e colocou uma almofada embaixo do meu pé. Eu adorava ser mimada daquele jeito e com certeza ficaria mal acostumada.
- Você precisa de alguma coisa? Quer água, ou algo pra comer? – Permaneceu parado ao lado da minha cama.
- Zayn, eu não estou doente... – Eu o olhava, rindo. Bati no espaço vazio ao meu lado, para que ele sentasse. – Eu só quero você.
- Me quer, é? – Sorriu sacana e eu percebi o sentido das minhas palavras. Ele tirou os sapatos e se deitou ao meu lado, com o cotovelo na cama e a cabeça apoiada na mão.
- Não! – Gargalhei.
- Nem um pouco? – O cafajeste aproximou o rosto do meu e eu olhei para o outro lado na mesma hora. Aproveitando que tinha o meu pescoço livre, ele roçou os lábios ali e me causou um arrepio. – Tem certeza?
- Cala a boca. – Ri baixo e olhei pra ele novamente.
Nossos rostos estavam tão próximos que eu não pude deixar de sentir o hálito quente de Zayn bater no meu rosto. Nos olhamos por uns segundos e eu o puxei devagar pela nuca, acabando com qualquer distância entre os nossos lábios. Começamos trocando alguns selinhos que foram se transformando em algo maior. Minha língua avançou um pouco e foi de encontro à dele. Trocamos brincadeiras e deixamos o beijo o mais lento possível. Era como se estivéssemos aproveitando cada momento, cada detalhe. Nada poderia nos atrapalhar, já que estávamos sozinhos em casa. Na minha cama... A coisa começou a esquentar demais quando eu senti aponta gelada dos dedos de Zayn traçando uma pequena linha na minha barriga, por baixo da minha blusa. Eu segurei a sua mão por reflexo e a afastei. O beijo parou quase no mesmo instante e meus olhos azuis se abriram devagar. Ele se afastou um pouco.
- Desculpa... – Zayn falou enquanto estudava a minha expressão.
- Não precisa se desculpar. – Eu sorri, passando a ponta dos dedos pelo rosto dele. – Só vamos com calma, ok?
- Você é que manda. – Ele também sorriu e encostou os lábios nos meus mais uma vez. – Aliás, o que aconteceu com o seu pé?
- Achei que nunca ia perguntar. – Ri, rolando os olhos. – Foi a sua querida Brie. Como você já deve saber, nós duas temos uma aula juntas. E hoje ela esbarrou “sem querer” em mim e eu dei um mau jeito no tornozelo na hora que caí.
- Isso não foi legal da parte dela. – Zayn falou parecendo irritado. Já era a segunda vez que ela fazia algo contra mim e ele não gostava nada daquilo.
- Mas deixa pra lá. Pelo menos não quebrou nem nada... – Mudei de assunto assim que pude. Ficar falando sobre a ex do cara que você está começando a se envolver não é legal.
Era incrível como nós dois podíamos conversar por horas e parecia que apenas minutos haviam passado. Zayn me fazia rir de praticamente qualquer coisa que saísse da sua boca e eu adorava aquilo. Às vezes eu tinha impressão de que o conhecia há anos. Quem sabe de uma vida passada, não é? Ele acariciava os meus cabelos e eu repousava o rosto no ombro dele. Aquela era uma posição tão confortável que eu poderia pegar no sono a qualquer momento.
- ? Você escutou isso?
- Hm? O quê? – Pisquei algumas vezes para afastar o sono.
- Eu escutei um barulho lá embaixo. Seu irmão está em casa? – Assim que parei pra prestar atenção notei que de fato havia alguém no andar de baixo.
- Não, ele e o Li geralmente só voltam pra casa a noite. – O olhei assustada. – Será que é assalto?
- Fica aqui e eu vou lá ver...
Zayn levantou da cama, mesmo que eu tivesse tentado impedi-lo. Desejei mais do que nunca estar com o tornozelo curado pra poder correr atrás dele. O garoto saiu do meu quarto, mas deixou a porta aberta. Ele parecia um espião, pisando com cuidado para não fazer barulho algum e olhava para os lados. Eu teria rido se não estivesse com tanto medo. Olhou pra mim fazendo um sinal de silêncio, levando o indicador até os lábios e sumiu da minha visão. O ouvi descer as escadas devagar e sentei na cama. Não conseguia mais ficar deitada. Meu susto aumentou assim que escutei um grito agudo vindo da cozinha. Mas não era um grito de Zayn e sim de uma mulher. O mais estranho é que ela começou a gritar por socorro e eu decidi que não ficaria ali sem fazer nada.
Era mais difícil andar com o pé enfaixado porque eu não conseguia pisar direito. Resultado: Tive que sair do quarto e passar pelo corredor pulando como um saci e me apoiando na parede. A parte mais crítica foi de fato a escada. Se eu já tropeçava nela usando os dois pés, imagine daquele jeito. Escutei Zayn pedir calma para a intrusa da casa e ela ainda continuava gritando. O estranho que ela chamava ele de ladrão. Dorota! É claro que deveria ser ela. Lembrei do que Liam me falou sobre meu irmão querer contratá-la e era a única explicação que eu conseguia pensar. Terminei de descer a escada com vida e vi Dorota correr atrás de Zayn com um rolo de macarrão nas mãos. O coitado estava desesperado e, logo que me viu, se colocou na minha frente pra me proteger.
- Essa mulher é louca, ! Vá pra sala!
- Não, Zayn... Ela não e louca. – Ri e passei na frente dele, deixando Dorota me ver e parar de tentar assassinar o meu amigo. – E ele não é um assaltante, Dora.
- Pequena , como você cresceu! – A mulher largou o rolo de macarrão em cima da mesa e correu para me abraçar. Não correu literalmente, mas se aproximou de forma rápida.
- É tão bom te ver! – A abracei de volta e Zayn continuou sem entender o que estava acontecendo. Dorota continuava do mesmo jeito que eu me lembrava, exceto pela maior quantidade de rugas em seu rosto.
- O que você está fazendo em casa tão cedo? Lou me falou que você só chegaria na hora do almoço. – Ela olhou desconfiada para Zayn.
- Dorota, esse é Zayn. Um amigo da Academy. Eu machuquei o tornozelo e ele me trouxe pra casa. – Expliquei e apontei para o meu pé enfaixado. Zayn me segurava pela cintura, me dando equilíbrio já que eu só tinha um pé no chão. – E, Zayn, essa é Dorota. Ou Dora, como eu chamava quando era pequena. Ela praticamente me criou.
- É um prazer, Dorota. – Ele esticou a mão para que ela a apertasse.
- Me desculpe por ter tentado te matar antes. – Dorota sorriu e os dois apertaram as mãos.
- E a senhorita não deveria estar na cama? – Zayn me olhou.
- Ora, me desculpe se eu tive que descer pra salvar a sua vida, monsieur.
- Agora que já estou a salvo, vou te levar de volta. – Sem mais nenhuma palavra, ele me carregou novamente.
- Eu vou fazer algo pra vocês almoçarem, tá bem? Já que eu vim aqui pra preparar um almoço surpresa para a minha pequena , mas foi ela quem me surpreendeu. – Dorota parecia falar sozinha e já foi para a cozinha.
Zayn estava me carregando de volta para o quarto, mas eu pedi para ficarmos na sala mesmo. Pelo menos lá tinha televisão e seria mais fácil pra ir comer quando o almoço já estivesse pronto. Como não tinha nenhum programa interessante, acabamos decidindo escolher um filme. Zayn riu da minha coleção, falando que eu só tinha musicais e filmes de romance. Até que não era mentira, mas falando assim parecia que eu era uma adolescente melosa. Não tenho culpa se amo filmes de terror, mas prefiro alugá-los de vez em quando do que comprar e só assistir uma vez. O moreno pegou a capa do filme “Diário de uma paixão” e disse que nunca havia assistido. Eu fiquei espantada, porque aquele era o meu filme preferido de todos os tempos. Já sabíamos o que assistir! Zayn relutou no começo, mas eu fiz chantagem emocional e ele acabou aceitando.
Como sempre fui muito folgada, simplesmente deitei no sofá e passei as pernas por cima de Zayn. Ele não se importou nem um pouco e até fez massagem no meu pé machucado. Assistimos o filme e algumas vezes eu sussurrava as falas dos personagens mesmo sem perceber. Na verdade quem notou aquela minha mania foi Malik. Fiquei com muita vergonha e tentei me controlar pra não repetir aquilo. Pausamos o filme assim que Dorota nos chamou para comer. Não deixei Zayn me carregar dessa vez e ele só me ajudou a ir pulando até a mesa.
A comida de Dora só perdia para a da minha avó. Posso dizer que Zayn também gostou, porque repetiu o prato duas vezes. Ele amava frango, então adorou aquela refeição. Dorota sentou-se à mesa com a gente, querendo saber das “novidades”, do que eu estava achando da cidade e blábláblá. Zayn também entrou na conversa e disse que seria o meu guia turístico. A minha babá percebeu que tinha algo acontecendo entre nós dois e até perguntou se estávamos namorando. Eu quase engasguei com o suco e respondi que não antes que Zayn pudesse fazer qualquer comentário capaz de me deixar vermelha de vergonha.
Liguei para Louis e avisei do que tinha acontecido com o meu pé, porque ele reclamaria de eu não ter contado antes de ele chegar em casa e todas essas cosas de irmão mais velho. Eu disse que estava em casa, mas omiti a parte que Zayn estava comigo ali. Conhecendo Lou, ele ficaria pensando milhares de besteiras e acabaria se atrapalhando no trabalho que já nem estava tão bom assim. Eu e o meu acompanhante do dia terminamos de assistir o filme e, pra variar, eu estava chorando com a última cena. Zayn riu de mim no começo, mas ao ver que eu realmente estava emocionada, ele me abraçou.
Capítulo XX
A terça feira começou tranquila e eu não tive que dar de cara com Brigitte em nenhuma das minhas aulas. Graças ao repouso forçado e à pomada milagrosa que Mary me deu, eu já pude voltar a dançar e não perdi mais nenhuma aula. Por mais que ainda sentisse um pouco dor, eu tentava testar os meus limites até não aguentar mais. Dores são comuns no ballet e eu treinei o meu corpo para suportar aquilo desde pequena.
Depois que acabamos as aulas do dia, fomos todos para a casa de Zayn. Admito que só concordei em ir depois que me assegurou que a mãe dele não estaria por lá. Sim, eu tinha vontade conhecê-la e sempre me falaram muito bem dela, mas eu ainda assim ficava nervosa. Só não estava pronta ainda. O dia estava mais frio que o normal e aquilo indicava que o inverno se aproximava, me deixando muito feliz. Eu estava protegida das temperaturas baixas dos pés à cabeça e amava roupas de inverno.
Aquela era a segunda vez que eu ia até a casa de Zayn e as coisas estavam bem diferentes. Não haviam copos usados no jardim, nem uma pista de dança no meio da sala. O lugar estava bem mais claro do que da última vez e muito bem mobilhado. Em cima de uma estante haviam alguns porta retratos com fotos de Zayn e outras pessoas que eu não conhecia.
- São lindas, né? – Zayn me abraçou por trás e apoiou a cabeça no meu ombro.
- São sim. – Sorri e encostei a minha cabeça na dele. – Suas irmãs?
- Minhas pestinhas. – Ele riu, olhando para a foto que eu estava apontando. - Doniya, Waliyha e Safaa.
- Gostei dos nomes.
- São estranhos, eu sei. – Riu mais uma vez e me virou de frente pra ele devagar.
- Não são estranhos! São diferentes. Eu gosto disso. – Sorri sincera, passando os braços em volta do pescoço do mais alto. – Onde elas estão agora?
- Elas ainda estão na escola. Tempo integral, sabe? – Me abraçou pela cintura e encostou a testa na minha.
- Coitadinhas. – Ri baixo e colei nossos lábios.
- Podem parar de se agarrar por um segundo? – falou ao nosso lado.
- Invejosa. – Falei depois de me separar de Zayn, imitando as vezes que ela mesma me chamou assim.
Nós três fomos para a sala. Eu e Zayn sentamos em um sofá e sentou em outro, onde Niall já estava, em frente ao nosso. Até que nós quatro éramos bem fofos. Dois “casais”. Ou um casal e meio, já que Zayn e eu não tínhamos nada sério para usarmos aquele termo. Todos ali éramos melhores amigos e precisávamos uns dos outros. Eu sinceramente não conseguia me imaginar sem aqueles três bobos ao meu lado todos os dias. Até sentia vontade de agradecer à senhora da secretaria por me mandar sentar ao lado de no dia em que nos conhecemos.
- Então podemos começar a reunião? – arrumou os óculos de grau sobre o nariz.
- Que reunião é essa que até agora eu não entendi? – Cruzei as pernas, olhando a minha amiga.
- É a nossa reunião anual para definir detalhes da nossa festa de Halloween. – Explicou como se fosse óbvio.
- Anual? – Zayn riu ao meu lado.
- Não me importo que essa seja a nossa primeira reunião. É anual e pronto! – A ruiva ficou emburrada. – Vamos ao que interessa e parem de me irritar!
- É, não façam isso com a minha cerejinha. – Niall a puxou para um beijo.
- Não faremos, prometo! – Ri. – Mas ok... Quais são os detalhes que precisamos definir?
- Bem, antes de tudo: O local. – soltou o namorado e todos demos atenção a ela. – Zayn, tudo certo pra fazemos a festa aqui?
- Afirmativo. Minha mãe vai levar as meninas pra visitar nossos avós em Bradford. A casa está liberada.
- Por que as festas sempre tem que ser aqui? Não tenho boas lembranças da última. – Cruzei os braços.
- Essa festa não vai ser nada como a outra... – Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os nossos dedos, me fazendo descruzar os braços. – Eu te prometo.
- Eventos assim são melhores na casa de alguém do que em clubes, ou casas de festa com regras e hora pra acabar. E nós não conhecemos ninguém que more em uma casa tão grande quanto essa e que seja afastada da civilização. Aqui não tem vizinhos pra reclamar do barulho. – falou.
- Tá bem, tá bem! – Dei de ombros e comecei a brincar com os dedos de Zayn.
- Acho que a segunda coisa mais importante é o tema, né? – Niall perguntou. – Ano passado foi o tema “Assassinato”.
- Que tipo de tema é esse? – riu. Ela ainda não conhecia nenhum dos meninos naquela época, então não estava na última festa de Halloween.
- Não ria, ok? – Zayn pareceu ofendido. Tinha certeza que aquele tema foi idéia dele. – O legal é que as pessoas podiam vir fantasiadas de assassinos ou assassinados.
- Que criativo. – Gargalhei irônica e os meninos me encararam.
- Ok, foi um pouco lame. – Niall concordou e eu gargalhei mais.
- Bom, esse ano vai ser melhor, ok? – Dei um beijo na bochecha de Zayn, que ainda estava emburrado.
- Sim, porque nós duas estamos no comando agora! – comemorou.
- Então pensem em um tema, suas experts. – Zayn levantou do sofá e eu fiquei ali rindo. – Niall, vem me ajudar na cozinha.
- Vou sim, meu amor. – O loiro levantou e deixou nós duas sozinhas na sala.
- Que crianças. – Rolei os olhos. – Mas enfim. Você tem alguma idéia?
- Eu estava pensando em “Caça as bruxas”, ou algo assim. – Ela veio até o sofá que eu estava e sentou ao meu lado.
- Não sei... Não é muito generalizado? Assim todos vão vir de bruxos ou caçadores. Seria melhor algo com mais opções...
- Criaturas da noite?
- Muito óbvio.
- Super heróis?
- Muito “não assustador”.
- Então o que você sugere? – levantou os braços começando a se irritar.
- Porque não filmes? - Foi a primeira coisa que passou em minha cabeça.
- Qual filme? – Ela não estava levando muita fé na minha idéia.
- Não um filme só, . – Rolei os olhos. – Filmesss. As pessoas podem se fantasiar de personagens dos seus filmes preferidos. Eu acho que, quando a gente cresce, o Halloween é uma forma que temos de vestir qualquer fantasia sem parecermos ridículos. Então as pessoas podem se vestir de princesas de contos de fadas ou agentes secretos e até vampiros e lobisomens. Se parar pra pensar, há uma quantidade enorme de fantasias que podemos escolher. Assim não ficaremos presos a seres do mal e clichês.
- É uma ótima idéia, ! Mas eu queria ter pensado nisso primeiro. – Estreitou os olhos para mim. – E a partir de agora... Eu pensei!
- E no fim da festa... Podemos fazer uma premiação como nos Oscars, sendo que as categorias são do tipo: Fantasia mais criativa, ou fantasia mais assustadora...
- Exatamente! Podemos deixar uma caixa em algum lugar pra que as pessoas possam votar nessas categorias. Assim todos vão estar concorrendo e será uma votação justa!
Estava decidido o tema da festa e eu não parava de ter idéias. Ficamos conversando sobre aquele assunto e decidindo as decorações. Até mesmo pensando em algumas brincadeiras típicas de Halloween. Zayn e Niall estavam demorando demais pra voltar, então nós decidimos ir atrás deles. Assim que chegamos na cozinha sentimos um cheiro delicioso. Por incrível que pareça, os dois estavam cozinhando. Como ninguém havia almoçado ainda, eles deviam ter resolvido solucionar aquele problema. Me aproximei de Zayn sorrateiramente, antes que ele notasse que eu estava ali.
- O que estão fazendo? – Sussurrei baixinho na orelha dele e vi os pelos em sua nuca eriçarem.
- Que susto! – Ele riu e eu fui para o lado do mesmo, me apoiando na bancada ao lado do fogão. – Macarrão... É a minha especialidade.
- Você quer dizer que é a única coisa que você sabe fazer? – riu. – É o mais fácil, Zayn!
- Não sou obrigado a saber cozinhar. – Ele deu de ombros, nem ligando para as provocações dela.
- Harry também não é obrigado a saber cozinhar, mas ele sabe. – Alfinetei.
- Então pede pra ele cozinhar pra você. – Zayn parou de me olhar e se concentrou totalmente na panela de macarrão a sua frente.
- Talvez eu peça mesmo! – Ri da cara de irritação que ele fazia. – Mas eu quero provar da sua comida primeiro.
- Mas o Harry cozinha melhor que eu. Porque o Harry sabe cozinhar. E o Harry... – Zayn fazia caretas e mais caretas e eu ria de todas.
O segurei pelo queixo e interrompi sua frase com um beijo para que ele calasse a boca. Aquilo seria ciúme? Eu torcia para que sim. Meu beijo o pegou de surpresa, mas ele não resistiu. Deixou a panela de lado e me segurou pela cintura, deixando o meu corpo pressionado entre o seu e a bancada. Niall reclamou alguma coisa, mas eu nem prestei atenção no que era. Estava distraída demais com a língua de Zayn que brincava com a minha para prestar atenção em qualquer coisa. A casa poderia pegar fogo e eu estaria nem aí. Deslizei a mão pelo pescoço dele e parei na nuca. Puxei alguns fios de cabelo que havia ali e ele sorriu entre o beijo. Apertou a minha cintura com mais força e eu suspirei nos lábios dele. Podia sentir meu coração batendo acelerado contra o peito dele. Todo o frio que veio com o começo de inverno sumiu completamente e deu lugar ao calor que Zayn me causava. Senti vontade de sentar na bancada e envolvê-lo com as minhas pernas e aquele pensamento me fez parar. Eu não me permitia passar dos limites, nem mesmo um pouco. Acho que a minha experiência com o meu primeiro e único namorado me deixou com um pé atrás. Traumatizada, se quiser chamar assim. Empurrei Zayn pelo peito e ele se afastou. Olhou-me confuso, como se tivesse feito algo errado e não sabia o que era.
- Desculpa... – Foi a primeira coisa que saiu da minha boca. Me sentia envergonhada e não conseguia olhar pra ninguém. – Eu tenho que ir ao banheiro.
- , você tá bem? – me olhava com preocupação.
- Sim, só preciso lavar o rosto! – Forcei um sorriso ainda sem olhar ninguém.
- ... – Zayn me chamou, mas eu já estava saindo da cozinha.
Eu me sentia idiota por reagir daquela maneira. Racionalmente eu sabia que não tinha nada de mais em um beijo mais quente, ou alguns amassos de vez em quando. Eu era jovem e deveria estar acostumada a esses contatos físicos. e Niall estavam se agarrando quase o tempo todo e eu não me sentia desconfortável ao lado deles nem achava que era errado. Mas emocionalmente aquele era o meu ponto fraco, digamos assim. Algo acontecia na minha cabeça; algo que eu não conseguia controlar. Imagens da minha “primeira vez”, que na verdade foi a única, apareciam na minha cabeça e principalmente o que veio depois. O sofrimento, a frustração de ser usada. Dois anos haviam passado, mas eu não conseguia esquecer.
Acabei não indo para o banheiro e sim para a área da piscina. Eu precisava de ar. Me sentei na ponta de uma espreguiçadeira e fiquei encarando as pequenas ondas que rajadas de vento formavam na água. Zayn devia me achar maluca. Já era a segunda vez que eu o parava e tinha certeza que eu era a única a dizer não pra ele. Vamos ser sinceros, o que um garoto como Zayn poderia querer com alguém como eu? Principalmente porque ele podia ter qualquer uma que quisesse. Era melhor eu começar a me acostumar com a idéia de ficar sem ele, mesmo que não quisesse.
- Posso me sentar aqui? – chegou onde eu estava e puxou a outra espreguiçadeira pra mais perto da minha.
- Pode sim. – Falei baixinho, me encolhendo dentro do meu cardigan.
- O que aconteceu, ? – Ela perguntou com calma.
- Nem eu mesma sei... – Suspirei. – Ora está tudo bem... E depois uma voz na minha cabeça grita “pare!”.
- Mas eu não entendo, . Você não gosta do Zayn? – não sabia do meu passado, então era difícil explicar pra ela.
- É claro que eu gosto. Até demais. – Olhei-a pela primeira vez. – Não é isso, é que... Minha relação passada não terminou tão bem, então eu acabo ficando com um pé atrás.
- Entendi... – Sorriu de canto, compreensiva. – Mas você não pode ficar presa a essas coisas, sabe? Não vale a pena.
- Acredite, eu sei que não! Mas é difícil. – Me senti mais boba ainda.
- Você sabe que eu estou aqui pra qualquer coisa, não sabe? Ao seu lado. Pra sempre. – Ela segurou a minha mão e eu sorri.
- Sei sim, . Obrigada. – Fiz carinho na mão dela. – Zayn ficou muito bravo?
- Bravo? Claro que não. Mas ele ficou preocupado. – riu baixo. – Ele também gosta de você, .
- Você acha mesmo?
- Acho sim. Eu nunca vi Zayn assim... Ele é outra pessoa quando está com você. – Sorriu sapeca. – Você faz dele uma pessoa melhor.
- Se você diz... – Não pude evitar um sorriso.
- Isso mesmo. Eu gosto de você sorrindo! – se levantou e me puxou pela mão. – Agora vamos comer!
Depois que nós quatro comemos do maravilhoso macarrão de Zayn, fomos para o quarto dele. A tensão que eu estava sentindo logo foi embora após a minha conversa com e pude curtir o resto do dia com meus amigos. estava sentada em uma poltrona oval em um dos cantos do quarto e tinha um notebook no colo. Ela estava procurando alguma loja que fabricasse troféus para encomendarmos as nossas estatuetas do Oscar. Niall brincava com Boris, o cachorro preto de Zayn, e esse último fazia algumas ligações para empresas de decoração. Nós não tínhamos muito tempo antes da festa de Halloween, então deveríamos resolver tudo o mais rápido possível. Assim como Niall, eu não estava fazendo nada de útil naquele momento. Olhar o quarto inteiro estava sendo mais divertido pra mim do que de fato ajudar a planejar a festa. A cama de casal ficava no centro do quarto, em frente a um guarda roupa embutido na parede. Alguns bonecos de ação, carrinhos e outros brinquedos estavam arrumados em uma prateleira alta. Era um quarto bem legal e cheio de coisas divertidas. Eu podia imaginar Zayn sozinho em uma tarde, brincando com seus carrinhos. Uma mesa de madeira servia de apoio para alguns papeis espalhados cadernos diversos. Em um dos cadernos estava escrito: “Composições.”
- O que é isso? – Perguntei curiosa enquanto abria o caderno.
- Epa! – Zayn foi até onde eu estava e tirou o caderno das minhas mãos. – Isso você não pode ver.
- Por que não? – Tentei pegar o caderno novamente. Estava óbvio que aquele era o caderno onde ele escrevia as suas músicas. – Por favor, Malik!
- Talvez um dia. – Ele se afastou e guardou o caderno dentro do guarda roupa.
- Isso não é justo. – Fiz bico e me sentei na cama.
- Gente, acho que consegui! – bateu palmas, animada. – Podemos encomendar pela internet mesmo. Quantos vamos pedir?
- Uns quinze? – Arrisquei.
- Tantos assim? – Ela questionou. – São Oscars. Eles devem ser especiais!
- , de duzentas pessoas, só quinze vão ganhar. Acredite, vai ser especial.
- A tem razão, . – Niall concordou comigo, deixando Boris de lado por um tempo.
O cachorro correu animado pelo quarto e pulou na cama. Eu me assustei quando ele veio pra cima de mim, mas não por medo. Zayn riu e eu comecei a brincar com o cachorro. Boris tentava “pegar” a minha mão enquanto fazia um caminho com ela pela cama. Não me importava em bagunçar os travesseiros contanto que o bichinho continuasse balançando o rabo do jeito que estava fazendo. Era simplesmente adorável e eu logo estava de joelhos na cama, latindo pra ele.
- Ele gosta de você. – Zayn disse ao entrar na brincadeira.
- A é ótima com animais! Até o Félix gosta dela. – bufou.
- Se o Félix gosta dela, qualquer um gosta dela. – Niall riu.
- Eu amo cachorros! Meu sonho é ter um Husky Siberiano. – Falei voltando a sentar na cama.
- Eu estou impressionado! Boris não costumava ser assim com as outras garotas que... – Zayn parou de falar e eu o encarei com uma sobrancelha levantada.
- Com as outras garotas que o que, Malik? – O olhei séria.
- Que nada. Era besteira. – Ele coçou a nuca.
- Outras garotas que você trouxe aqui. – Parei de brincar com o cachorro e me levantei da cama. Não daria ataque de ciúme, mas também ficaria perto dele naquele momento.
- Uhhh. – Niall colocou mais lenha na fogueira e Zayn bateu na própria testa, se culpando pela besteira que falou.
Eu fui me sentar ao lado de para ajudá-la com a encomenda das estátuas. Os meninos ficaram conversando e Boris veio pra perto de mim, deitando a cabeça no meu colo. Ele era realmente uma gracinha e eu fiquei acariciando-o atrás da orelha. Parecia que Zayn conseguira reservar várias iluminações e máquinas de fumaça. Sem falar em teias de aranha falsas, morcegos para pendurar no teto e mais coisas assustadoras. O tema poderia não ser exatamente de Halloween, mas a decoração da casa seria. Niall escreveu uma lista de comidas que poderiam ter aparência e nomes assustadores, mas que também eram deliciosas. Eu estava começando a ficar realmente ansiosa com aquela festa.
- Você já sabe a sua fantasia? – me perguntou.
- Ainda não... Mas não vamos contar um para o outro a nossa fantasia. Vamos fazer mistério até o dia da festa. Eu amo surpresas! – Sorri.
- Você sempre esconde isso de mim mesmo, então acho que pode ser legal. – Eu duvidava muito que conseguisse ficar calada durante tanto tempo, mas seria legal vê-la tentar.
- Eu topo. – Zayn levantou a mão.
- Eu também. – Niall sorriu. – E a lista de convidados?
- Acho que podemos chamar a maioria das pessoas da Academy... – Minha amiga falou pensativa.
- Sim, mas não só a “elite”. – Fiz aspas no ar. – Tem umas meninas da nossa sala que são bem legais... Eu não gosto dessa história que pessoas do primeiro nível não são convidadas pra essas festas.
- Mas você foi. – Niall nos entregou a lista de comidas e bebidas.
- E veja como terminou! – Dei uma risada sarcástica e Zayn me olhou com pesar.
- Eu sinto muito, ... Pela outra festa. – Ele disse.
- Eu sei, Z. Não se preocupa, eu já superei. – Dei de ombros e Boris latiu no meu colo. Ele estava dormindo, mas parecia sonhar com algo. Eu sorri.
- Por falar nisso... – chamou nossa atenção. – Vamos convidar a Brigitte e companhia?
- Claro que sim. – Respondi e todos me olharam com espanto. – O que? Só porque ela me humilhou na frente de todo mundo, sempre me tratou mal e me fez machucar o tornozelo?
- Uh... Óbvio! – A ruiva me encarou como se eu estivesse louca.
- , é exatamente por tudo isso que ela fez que precisamos convidá-la. Pra mostrar que eu sou superior e que ela pode fazer tudo contra mim, mas que nunca vai conseguir me abalar!
- Já pensou em escrever livros de auto-ajuda? – Ela riu.
- Idiota. – Também ri e baguncei os cabelos dela. – Também vamos convidar os meus meninos.
- Seus meninos? – Zayn parou o que quer que estivesse fazendo e me olhou desconfiado.
- Sim. Meu irmão, Liam e Haz. E, acredite, dessa vez eles vão vir!
- Ahhh, claro que você vai trazer o Harry! – Zayn fez uma careta.
- Eu não acredito nisso! – Ri. – Você tem ciúmes do Harry!
- Não tenho ciúmes de ninguém. – Ele bufou. – Mas mesmo assim, eu vi o jeito que ele lambeu a sua barriga aquele dia e você gostou.
- É? E todo mundo viu o jeito que você me agarrou depois que ele fez isso!
- Além do mais... – se meteu. – Não é com o Harry que você devia tomar cuidado e sim com o Liam.
- ! – A repreendi.
Antes que ela falasse mais alguma coisa, eu coloquei a minha mão sobre a boca dela. quase derrubou o notebook no chão e Niall pegou o objeto antes que algum acidente acontecesse. Boris se assustou com o meu movimento brusco e a minha amiga tentou afastar a minha mão, mas é claro que não conseguiu. Ela ainda tentava murmurar algumas palavras e eu não tive outra escolha a não ser pular em cima dela. Como resultado, nós duas acabamos caindo da poltrona e rolando pelo chão. Os outros dois idiotas que estavam assistindo começaram a gritar “Briga! Briga!” e nós duas acabamos rindo. Pelo menos aquele assunto chato havia acabado.
Depois que resolvemos todos os detalhes da festa, me deixou em casa. Já era noite e eu podia ver as luzes da sala acesas, o que significava que os meninos deviam ter chegado do trabalho. Abri a porta de casa com a minha chave e quase esbarrei em Louis, que andava de um lado para o outro com o telefone na orelha. Ele me olhou com os olhos arregalados e Liam e Harry se juntaram naquele pequeno hall. Eu sorri para todos eles, mas o que recebi em resposta não foi nada agradável.
- Onde você estava, ? Não dá noticias e nem atende mais o celular? – Lou praticamente voou para cima de mim. – Não tem noção do quanto ficamos preocupados?
- Calma, Lou... – Admito que fiquei um pouco assustada. Desde quando precisava dar satisfações assim? Além do mais, ele devia saber que eu estava com e não precisava ficar preocupado daquela forma. Olhei de Haz para Liam e eles não estavam tão desesperados como meu irmão. – A bateria do meu celular acabou, mas eu estava na casa de Zayn, com e Niall. Nada de mais! Não precisa me morder!
- E você não pensou em usar o celular de algum deles pra avisar que demoraria pra vir pra casa? – Rebateu.
- Você também não pensou em ligar pra algum deles e perguntar de mim. – Eu já começava a ficar irritada.
- Mate, não precisa reagir assim... – Harry tentou me ajudou e colocou a mão sobre o ombro de Louis.
- O que importa é que a já chegou em casa e nada de ruim aconteceu, ok? – Liam falou.
- Tanto faz. – E com esse comentário seco, meu irmão virou as costas e partiu para o andar de cima.
- Que bicho mordeu ele? – Perguntei enquanto o resto de nós começou a andar para a sala.
- Não liga pra ele, . Só está estressado. – Harry se jogou no sofá.
- Ele ficou assim depois que a sua avó ligou... – Liam também foi para o sofá e eu me sentei entre os dois.
- Nana ligou? Era algo sério? – Fiquei preocupada. Para meu irmão estar agindo daquela forma devia ter acontecido algo.
- Não sabemos, porque ele não deixou ninguém escutar e também não falou nada depois. – Harry pegou uma de minhas mãos e fez carinho, querendo me tranqüilizar. Ele sabia o quanto meus avós eram importantes pra mim.
- Estava com o Zayn, é? – Liam mudou de assunto, me fitando.
- E com a e o Niall. – Deixei claro que não estava sozinha com Zayn na casa dele. – Estávamos tendo uma reunião!
- Reunião de que? – Haz perguntou e eu gargalhei ao lembrar a minha tarde.
- Reunião da festa de Halloween! – Respondi animada. – E se vocês não forem dessa vez, podem me esquecer!
- É claro que nós vamos! – Liam sorriu de canto. – Deveríamos ter ido na primeira festa também, mas isso não vai se repetir.
- E vai ser festa a fantasia?
- Sim, Hazza! – Sorri e apertei a mão dele com um pouco de força demais. – Mas o tema não é só “Halloween”.
- E qual é? – Os dois perguntaram na mesma hora.
- Filmes!
- Qual filme? – Liam perguntou confuso e eu revirei os olhos.
- Não um filme só, Li. – Rolei os olhos. Será que ninguém me entendia?
- Do tipo... Qualquer um pode se fantasiar de qualquer coisa, contanto que seja inspirado em algum filme. – Harry explicou e eu sorri orgulhosa.
- Muito bem, Styles. – Baguncei os cabelos dele. – E é bom que vocês sejam criativos na escolha de suas fantasias. Teremos algumas surpresas durante a festa.
- Adoro surpresas! – Liam ficou animado e eu levantei do sofá, me afastando dos dois.
- Espero que adore mesmo. – Ri. – Agora eu vou tentar falar com o Louis.
Os meninos assentiram com a cabeça e ficaram conversando por ali enquanto eu subi as escadas e parei em frente a porta do quarto do meu irmão. Bati fraco e não recebi resposta alguma. Voltei a bater com um pouco mais de força e encostei a orelha na madeira, a fim de tentar escutar alguma coisa. Quase caí pra trás de susto quando Louis destrancou a porta. Ele não chegou a abrir, mas eu considerei aquilo como uma permissão para entrar. Girei a maçaneta com cuidado e espiei pela fresta. Meu irmão esta de pijamas, sentado no meio da sua cama bagunçada. O quarto estava bem escuro e a única fonte de luz era um abajur de neon.
- O que há de errado, Lou? – Caminhei devagar pelo quarto, sentando na ponta da cama.
- Não é nada, ... – Suspirou.
- Você vai mesmo tentar mentir pra mim? Liam disse que vovó ligou...
- Aquele linguarudo. – Louis fez uma careta. – É, ela ligou sim. Só pra saber como nós estamos, nada importante.
- Se não foi nada importante, porque você ficou assim? – Eu não estava reclamando com ele e a minha voz era tranquila.
- Estresses do trabalho, pra falar a verdade. As coisas estão cada vez piores. – Deu de ombros. Eu sabia que não era só aquilo, mas não fazia parte da minha personalidade ficar cobrando algo que a pessoa não queria falar.
- Lou, você não pode deixar isso te perturbar assim! Se não está satisfeito, porque não se demite?
- Por incrível que pareça tenho pensado nisso sim. Acho que meu único motivo pra não ter feito isso ainda é o Liam. Não quero deixá-lo sozinho lá.
- Awn, que coisa mais linda. – Sorri. – Então vocês dois podem pedir demissão e montar uma banda!
- Claro! – Louis riu com a minha brincadeira. – Eu, Liam e Harry. Uma boyband, o que acha?
- E o nome vai ser The Rogue! – Gargalhei. Meu irmão parecia estar voltando ao seu normal e era bom escutar a sua risada escandalosa novamente.
Capítulo XXI
Sabe aqueles dias frios que você só quer dormir durante a manhã inteira, principalmente porque está começando a chover? Então. A minha quinta feira começou exatamente desse jeito. Imagine o meu mau humor pra colocar uma roupa decente e ter que deixar meu pijama quentinho de lado. Ainda mais tendo que pegar um ônibus tecnicamente cheio e ainda descobrir que a Starbucks mais próxima da Academy estava fechada para reformas. Pois é, meu dia não estava sendo nada agradável. Eu tentava manter um sorriso no rosto e continuar positiva de que tudo iria melhorar, mas estava cada vez mais difícil.
Imagine a minha frustração ao finamente subir a escadaria da academia e descobrir que as minhas aulas do dia haviam sido canceladas. Sim, CANCELADAS. Assim, sem mais nem menos. Do na-da. Senti vontade de bater em alguém, ou pelo menos fazer uma queixa na secretaria, porque aquela era uma falta de responsabilidade! Já estava retornando para as escadas quando escutei gritando o meu nome no corredor. Pois é, ela adorava me fazer passar vergonha. Levei uma mão até a testa e fechei os olhos, esperando que ela se aproximasse de mim. Todos que estavam por ali ficaram nos encarando.
- ! – Ela me abraçou sorrindo tanto que seria capaz de rasgar a boca. – Escutou a novidade? Temos o dia livre!
- O dia livre que eu poderia passar na cama, se alguém tivesse me avisado! – Respondi ranzinza e a abracei de volta.
- Ai, que atitude ruim! Abstrai, . O que importa é que não vamos ficar cansadas de tanto dançar. – Ela segurou a minha mão e começou a andar na mesma direção em que havia vindo, me puxando junto.
- Acontece que eu gosto de me cansar de tanto dançar, ok? – Bufei fazendo corpo mole e dando mais trabalho para me puxar. – Pra onde estamos indo?
- Para o terceiro andar. Os meninos nos convidaram pra assistir uma aula deles. – Paramos em frente ao elevador.
- E não podemos usar as escadas? – Bufei novamente. Eu estava reclamando de tudo e sabia disso. Se quisesse subir pelas escadas, eu reclamaria para usarmos o elevador.
- Mas você está chata, hein? – Soltou a minha mão e apertou as minhas bochechas, rindo. Ela não tem medo do perigo? – Você está indo ver o seu amor e ainda assim fica com essa cara amarrada?
- Malik não é meu amor! – Que absurdo era aquele? – E eu fico com cara amarrada o quanto quiser.
- Que seja. – Riu mais uma vez e as portas do elevador se abriram.
Nós duas entramos e eu fiquei calada a subida inteira. Não demorou muito para as portas serem abertas mais uma vez e o numero três aparecer na tela digital do elevador. praticamente saltitou para fora e eu olhei em volta. Já tinha estado ali antes, mesmo não tenho nenhuma aula naquele andar. Ah, é! Quando cheguei atrasada para a primeira aula dias atrás acabei passeando por aqueles corredores... Foi exatamente quando vi Zayn tocar piano pela primeira vez. Aquela lembrança me deixou um pouco mais leve e eu já não estava mais tão estressada quanto antes.
- É só chegar perto do menino que você já fica toda boazinha de novo... E ainda tem a cara de pau de falar que ele não é o seu amor? – sorriu daquele jeitinho sabichão que só ela sabia e eu acabei sorrindo junto, mesmo sem querer.
- Cala a boca, ok? – Paramos na frente da última porta; aquela em que eu fiquei espiando.
A ruiva riu e abriu a porta sem nem pedir licença. A sala era bem maior do que eu me lembrava e totalmente diferente das salas de dança. As paredes não eram cobertas por espelhos e sim por alguns instrumentos musicais e um quadro negro cheio de rabiscos. O piso era coberto por carpete, o que era uma boa ideia, já que os pés do piano preto arranhariam a madeira. Zayn estava sentado em um pequeno tablado abaixo do quadro negro e prestava atenção aos papeis em suas mãos. Niall afinava um violão, mas notou a nossa presença ali. Era incrível como a sua postura mudava ao ver . Eu tinha certeza que aqueles dois ainda iriam se casar. Ed Sheeran também estava ali na sala. Ele era professor dos meninos e eu me lembrava muito bem dos seus cabelos avermelhados e sardas nas bochechas.
- Olha quem chegou. – Niall deixou o violão de lado e foi até a namorada.
- Suas garotas preferidas! – Ri, lembrando o jeito que ele costumava nos chamar. Zayn levantou a cabeça assim que escutou a minha voz e sorriu. – Hey, Malik.
- Tomlinson! – Me chamou pelo sobrenome, coisa que nunca fazia, e nós dois rimos. Eu caminhei até onde ele estava e me sentei ao seu lado. – Você está cheirosa hoje.
- Quer dizer que eu estava fedida nos outros dias? – Ele havia se inclinado para me dar um beijo nos lábios, mas depois daquela última frase eu me afastei, esperando uma boa resposta.
- Claro que não! Eu só estava querendo dizer que hoje você está cheirosa... Mas nos outros dias também estava... Porque você semp... – Eu o puxei pela nuca e colei os lábios nos dele. Tinha que interrompê-lo, ou ele ficaria se complicando ainda mais.
- Eu entendi. – Sussurrei entre os lábios dele depois de separar o selinho e sorri.
- Estou começando a gostar de ser interrompido. – Zayn também sorriu e fez carinho na minha bochecha.
- É o jeito que nós mulheres temos pra mandar vocês calarem a boca. – Gargalhei baixo.
- Eu sabia! – Ed falou, se sentando ao meu lado. Me assustei porque ele chegou do nada. – , certo?
- Exatamente! – Sorri para o ruivo e apertei a mão dele.
- Eu me lembro de você no teste para a peça... – Ele falou pensativo e eu me controlei profundamente para não ser muito mal educada na minha resposta.
- Não sei por que! – Ri sem humor. – Eu não fui nem boa o bastante pra ser chamada para os segundos testes.
- O callback nem é tão importante, ... – Zayn passou o braço pelos meus ombros e me abraçou de lado. Eu sabia que ele só estava falando aquilo pra me consolar, mas senti bem com o seu toque.
- Até parece! – Rolei os olhos e encostei a cabeça no ombro do moreno.
- Você foi muito bem, . Se não te chamaram, deve ter outro motivo. – Ed também tentou encorajar. – Agora podemos começar essa aula, por favor? Não tenho o dia inteiro.
Sheeran era tão legal que nos deixou bem a vontade. Ele disse que as aulas dele eram bem descontraídas e que nós duas poderíamos aparecer por ali sempre quiséssemos. Até mesmo disse que nós podíamos experimentar qualquer instrumento. foi logo para a bateria que, graças a Deus, ficava em uma parte lateral da sala, dentro de uma espécie de estúdio. Niall foi ajudá-la e Zayn se sentou no piano. Eu fiquei ali perto, quietinha, só observando; não queria atrapalhar a aula. Ed colocou uma partitura aberta na frente do mais novo.
- Eu adoro essa música. – Zayn falou com um sorriso. – O Ed escreve as letras mais bonitas que eu já vi, . Essa que eu vou tocar é dele...
- Qual o nome? – Encostei o corpo no piano e tentei ler a página aberta.
- Wake me up. – Ed Sheeran respondeu. – Eu escrevi pra uma ex namorada e o Zayn aqui canta bem melhor que eu!
- Cuidado, ele pode estar querendo roubar a sua garota. – Brinquei.
- Por que eu roubaria a dele se já tenho a minha? – “Minha”. Aquela palavra dele demorou um pouco mais que o normal para entrar na minha cabeça. Senti o rubor de minhas bochechas e Zayn começou a tocar o piano. Eu agradeci por não ter que responder mais nada. – I should ink my skin with your name. (Eu deveria marcar a minha pele com o seu nome) Take my passport out again, and just replace it. (Tirar o meu passaporte de novo e apenas substituí-lo) See, I could do without a tan, on my left hand, where my fourth finger meets my knuckle. (Sabe, eu poderia ficar sem bronzeado na minha mão esquerda onde meu quarto dedo encontra a minha articulação) And I should run you a hot bath… (E eu deveria te preparar um banho quente...) - A voz de Zayn já era tão gostosa de ouvir normalmente que quando ele cantava eu sentia os joelhos estremecerem. De vez em quando ele olhava para as teclas do piano e para a partitura, mas sua atenção maior era focada em mim. Não consegui conter um suspiro ou outro, o que o fazia sorrir. Eu não lembrava mais se Ed estava por ali ou não, mas também não importava. A melodia calma e a voz suave de Zayn combinadas naquela harmonia me fizeram esquecer até do meu nome. E a letra da música também era incrível. Percebi que era bem pessoal, porque o autor descrevia algumas manias da pessoa para quem ele estava cantando e eu senti como se conhecesse a ex namorada de Ed. Ele devia ganhar um prêmio por escrever tão bem e eu gostaria de conhecer mais do seu trabalho, mas a minha atenção naquele momento não estava no autor da letra, e sim em quem estava interpretando-a. Aquele garoto que era dono de olhos tão brilhantes que eu poderia ficar olhando o dia inteiro. – And maybe I fell in Love when you woke me up... (E talvez eu tenha me apaixonado quando você me acordou)
A música acabou e eu só conseguia pensar em uma coisa. Fui até Zayn e me sentei em seu colo, de lado. Ele me olhou sem saber o que eu queria, mas o sorriso em seus lábios era lindo. Eu sorri de volta e passei um dos braços em volta do pescoço dele, ficando ainda mais colada. Levantei o seu rosto levemente com a minha mão embaixo do queixo do mesmo e juntei nossos lábios. Fiz aquilo com tanta suavidade que ele acariciou a minha cintura ao me abraçar por ali; não apertou como teria feito nas outras vezes. Zayn inclinou o rosto para o lado oposto do meu e passou a língua bem devagar entre os meus lábios, pedindo passagem. Claro que eu permiti que o beijo se aprofundasse e minha língua encontrou a dele. Posso dizer com toda certeza do mundo que aquele foi beijo mais delicado e mais cheio de sentimento que nós dois já trocamos. Eu não sabia dar nome àquele sentimento, mas sabia que era bom e, o mais importante, sabia que era retribuído.
- Eu espero que obtenha essa reação quando cantar essa música também! – Ed falou ao nosso lado e então eu lembrei que não estávamos sozinhos ali.
- Ahn... – Falei meio sem jeito ao me separar de Zayn. Também saí de seu colo, por mais que ele tivesse reclamado com um bico enorme. – É uma música muito bonita, Ed. Ela seria louca se não gostar.
- Então isso tudo foi só por causa da música? – Zayn cruzou os braços indignado. – Eu não tenho culpa nenhuma nisso?
- É claro que tem! O que me encantou foi o pacote inteiro. – Sorri pra ele.
- Zayn, por que você não mostra pra ela a melodia que você compôs? – O professor perguntou e eu já fiquei animada.
- Por favoooooooor. – Juntei as duas mãos no peito e fiz o meu melhor biquinho.
- O que você me pede e eu não faço? – Zayn sorriu pra mim.
- Muita coisa, na verdade. Não quis me mostrar as músicas que você escreveu!
- Você quer escutar a melodia ou não? – Reclamou e deixou um espaço para que eu sentasse ao seu lado no banco em frente ao piano.
- Claro que quero! – Parei de reclamar e me sentei.
Ed nos deixou sozinhos ali e foi ver Niall e , já que os dois não deram mais noticia de vida. Zayn me explicou que costumava escrever a letra da música primeiro e depois criava a melodia, mas que Ed pediu que ele fizesse ao contrário de vez em quando, só pra treinar. Então aquela semi-canção ainda não tinha nome nem nada. Eu só queria escutar alguma criação dele.
Mais uma vez Zayn voltou a apertar as teclas do piano e a música começou. Enquanto a mão esquerda fazia uma coisa, a direita estava ocupada com algo completamente diferente. Aquele era o maior motivo que me impediu de aprender a tocar qualquer coisa naquele instrumento, porque ter a atenção em dois lugares ao mesmo tempo não era pra mim. E algo que chamou a minha atenção é que ele não precisava de partitura pra tocar aquela música; já sabia de cabeça. Olhar o seu sorriso crescer toda vez que eu balançava a cabeça no ritmo da música era engraçado. Eu podia imaginar ele cantando algo naquele ritmo. Não sabia se estava ficando louca, mas tinha certeza que ouvia a voz dele em minha cabeça.
- É uma melodia linda, Zayn. – Eu sorri e segurei a mão dele assim que a música acabou.
- Talvez no futuro entre um violão ou uma guitarra de fundo. – Ele deu de ombros.
- E eu quero poder escutar você cantá-la. – Nossos dedos se entrelaçaram.
- Você realmente quer ver uma música que eu escrevi, né, ? – Me olhou e encostou a testa na minha.
- Só se você quiser me mostrar... – Fechei os olhos e fiquei sentindo aquele perfume tão próximo. – Quem sabe um dia você escreve uma pra mim.
- Eu já escrevi. – Sussurrou.
- O quê? – Abri os olhos para perceber os dele me encarando.
- Eu escrevi uma música pra você, ... Ainda não tem melodia, mas eu escrevi após a festa de encerramento das férias.
- Mas a gente mal se conhecia... – Falei baixinho, ainda surpresa com aquela noticia.
- Eu não precisei te conhecer direito pra ficar inspirado por você.
- Algum dia eu vou escutar essa música? – Sorri e passei a ponta dos dedos pela lateral do pescoço dele.
- Quando estiver pronta. Eu prometo. – E assim ele selou nossos lábios.
Enquanto nossos amigos não apareciam, Zayn ficou tentando me ensinar alguns acordes e eu até consegui tocar um “Do re mi” meio desafinado. Admito que fiz mais bagunça e ri do que prestei atenção. Meu dom não era tocar, e sim dançar. Seria a mesma coisa se eu fosse ensinar Zayn a fazer o plié.
- Zayn, você pensou naquilo que eu te falei? – O professor voltou e trouxe e Niall consigo.
- Pensei um pouco... Mas não sei, Ed. – Eu olhei de um para o outro, meio que perguntando sobre o que se tratava aquela conversa. – Ele está querendo que eu entre em uma banda.
- Sério? Isso é muito legal! – Eu disse.
- Seria, se existisse realmente uma banda onde eu pudesse entrar.
- E eu já falei que resolvo essa parte! – O ruivo cruzou os braços. – Você tem o Niall também. E eu ajudaria como produtor.
- Ótimo, uma banda com duas pessoas. – Zayn riu.
- Por que não cinco? – Na minha cabeça já passavam milhares de idéias, uma mais maluca que a outra. Lembrei da conversa que tive com Louis poucos dias atrás, sobre criar uma boyband. A idéia era brincadeira na hora, mas podia dar certo.
- Acho que sei no que você está pensando, ... – também estava pensativa. Se a nossa conexão estivesse funcionando, ela estava pensando no mesmo que eu.
- Do que vocês estão falando? – Niall estava mais confuso que o normal.
- Só estava pensando aqui... Meu irmão e os outros meninos sabem cantar também... – Falei devagar, aguardando as risadas ou os “não” que poderia escutar.
- E nós já sabemos que o Harry e o Ni deram um show quando cantaram juntos no karaokê. – me apoiou.
- Sim, porque estávamos brincando! Formar uma banda é algo totalmente diferente. – Niall parecia relutante.
- Mas poderíamos trabalhar nisso. As boybands estão voltando, sabia? – Ed pareceu gostar da nossa ideia.
- Eu não sei... – Zayn também não parecia estar gostando muito daquela ideia.
- Não falem não agora. – Pedi. – Podemos ir todos juntos ao Pub novamente... E aí vocês cantam juntos uma vez. Só uma vez. Pra ver o que acontece...
- Por favor? – A baixinha também pediu e os meninos acabaram concordando em fazer aquele teste.
Parecia loucura e eu tinha noção disso. Zayn e Niall provavelmente gostariam de ter carreira solo, então entrar em um grupo com outros quatro garotos não seria a primeira escolha de nenhum deles. Eu só torcia para que eles tentassem ver o lado positivo também. Harry esteve em uma banda quando estava no colégio, mas aquilo não deu certo. Meu irmão não estava feliz com o seu trabalho e aquela poderia ser a saída para Liam não ter que voltar para Wolverhampton caso não desse certo na agência fotográfica. O caso é que, por mais que fosse uma maluquice, poderia dar certo. Principalmente se Ed fosse ajudar como estava prometendo. Resolvi parar de tocar no assunto naquele momento. Já tinha falado a minha opinião e me ajudou. Eu falaria com ela a sós depois, para bolarmos um plano e juntar os cinco. Não adiantaria só conversas, nós teríamos que mostrar pra eles que aquilo poderia funcionar.
- Eu quase esqueci! – falou assim que nos sentamos na escadaria de entrada da Academy. Ela começou a procurar algo dentro da sua bolsa enorme. – Onde é que eu enfiei?
- Tudo bem aí, ? – Ri enquanto a minha amiga quase entrava na bolsa.
- Juro que tenho medo do que pode estar escondido aí dentro. – Zayn riu. Ele estava sentado em um degrau acima do meu e eu estava entre as suas pernas, apoiando as costas no peitoral dele.
- Dá pra vocês dois calarem a boca? – Ela se irritou e nos fez rir. – Achei!
- Como essa caixa coube aí? – Niall perguntou e nós olhamos para uma caixa de sapato preta que ela nos mostrava.
- A pergunta certa seria: Como você perdeu essa caixa aí? – Perguntei e senti Zayn gargalhar perigosamente perto da minha orelha.
- Mas primeiro: O que tem aí? – Ele também perguntou e rolou os olhos.
- Os convites para a festa de Halloween, é claro! – A ruiva abriu a caixa e nós vimos os envelopes pretos com escrita em prata.
- Você escreveu em todos eles? – Niall pareceu espantado. Na verdade, eu também estava. Quase trezentos convites escritos em uma caligrafia perfeita, com direito a nome e endereço de cada um dos convidados?
- Eu faço um bom serviço, ok? – A menina se gabou. – Mas temos que enviar esses convites até amanhã no máximo. A festa já é semana que vem!
- Por que não me chamou pra ajudar, ? Ontem eu não fiz quase nada. – Falei, fitando-a com meus olhos azuis.
- Porque a senhorita vai levar até o correio. – Me entregou a caixa que era mais pesada do que aparentava. – Acho que o Zayn não se importaria de ir com você.
- Não mesmo. – O menino sussurrou na minha orelha e eu fechei os olhos por impulso. Odiava esse poder que ele tinha sobre as minhas reações.
- Então está decidido! E eu já peguei o meu convite e o do Nialler. , pegue o seu e o dos meninos, já que eu não coloquei endereço nesses. Zayn, faça o mesmo. – Mandou e nós obedecemos, já procurando tais convites dentro da caixa.
O primeiro que achei foi o de Zayn e entreguei para o dono. Em seguida encontrei o de Liam, Louis e Harry, não necessariamente nessa ordem. Continuei procurando o meu e só fui encontrá-lo no fundo da caixa. Sim, era o último. Devia ter sido o primeiro que aminha amiga fez, por isso estava no fundo. Guardei os convites que levaria pra casa dentro da minha bolsa e deixei a caixa ao meu lado. Prestei atenção no envelope preto em minha mão. realmente teve trabalho, porque ele era artesanal e cheio de detalhes. Rasguei o pequeno lacre que fechava a carta e na parte de dentro da aba do envelope já encontrei um pequeno texto em caneta dourada:
(As bruxas estão cacarejando)
Bats are flying by.
(Morcegos estão voando por perto)
It’s bound to be a wild night.
(Está fadado a ser uma noite selvagem)
‘Cause someone’s gonna die…
(Porque alguém vai morrer)
Seria bem assustador receber uma carta com esse poema, principalmente se eu não soubesse do que se tratava. Era Halloween e havia captado o espírito da coisa. Tirei o papel de dentro do envelope e o desdobrei para ler o que estava escrito. pensou em todos os detalhes, porque até manchas de sangue artificial marcavam o papel.
- O convite está perfeito, ! – Sorri ao guardar o meu envelope na bolsa.
- Obrigada. – Ela sorriu e balançou os cabelos, se achando.
- Bem, então acho melhor irmos logo... – Olhei para Zayn atrás de mim. – Como ainda é cedo, pode ser que comecem a entregar hoje mesmo.
- Mas eu estou com tanta fome. – Ele fez um bico e me abraçou pela cintura, impedindo-me de levantar. Era a hora do almoço e nenhum de nós havia comido nada na hora do intervalo, então ele tinha motivos pra estar com fome assim.
- Quem precisa de comida? – Brinquei e Niall levantou a mão. – Tudo bem! Nós podemos ir almoçar depois de passar no correio.
- Antes. – Zayn me balançou de um lado para o outro, tentando me convencer.
- Depoooooois! – Eu apenas ri. – Não vamos demorar lá de qualquer jeito. Você pode ficar esperando no carro e eu faço o serviço!
- Eu não vou conseguir te fazer mudar de ideia, né?
- Não, não vai. – Ri novamente.
- Tá bem, você venceu! – Zayn me soltou e eu pude levantar.
- Ótimo! – Sorri e estiquei a mão para ajudá-lo a levantar também. – Te ligo mais tarde, . Tchau, Niall!
- Eu disse que não ia demorar! – Falei assim que entrei no carro. – Agora podemos ir comer.
- Você demorou sim. – Zayn fez uma careta e eu ri. Logo o carro começou a andar novamente. – Onde quer almoçar?
- Podemos ir para a minha casa. Hoje é o dia em que a Dorota vai pra lá, então ela deve ter feito um almoço bem gostoso!
- Ela me assusta um pouco... – Falou baixinho quando paramos em um sinal vermelho.
- Sério? – Gargalhei alto. – Deve ser porque ela tentou te matar no dia em que vocês se conheceram, mas ela é um amor de pessoa, acredite.
- Tudo bem, eu vou tentar não ficar nervoso perto dela. – Ele também riu.
- É melhor, porque ela pode sentir o medo em suas presas. – Fiz uma cara séria e Zayn me olhou assustado. Tadinho!
Eu logo comecei a rir e ele viu que eu estava brincando. Enfrentamos um pouco de trânsito, mas não ficamos estressados. Quando o carro parava nos semáforos, Zayn me olhava e gostava de mexer nos meus cabelos. Ora ele passava a minha franja por trás da minha orelha e ora bagunçava tudo. De um jeito ou de outro, ele sempre me fazia rir. Eu também gostava de tocar nele de vez em quando; fosse acariciando sua nuca quando ele tinha que olhar pra frente e prestar atenção na rua, ou roubando alguns selinhos quando o carro estava parado. Se alguém me falasse que eu estaria fazendo isso há alguns meses atrás, eu só iria rir e chamá-lo de louco.
O carro de Zayn já devia ser conhecido pelos porteiros do meu condomínio, porque ele conseguiu entrar sem precisar de nenhuma identificação. Cinco minutos depois de passar pelos portões o carro já era estacionado em frente à calçada da minha casa. Começava a chuviscar, então não esperei Zayn abrir a porta pra mim e já fui saindo do carro. Nós dois corremos pelo caminho de pedra até a porta de casa. Eu escorreguei e quase caí, porque o chão estava úmido. Abri a porta de casa e deixei Zayn passar primeiro.
- , é você? – A voz de Dorota vinha da cozinha.
- Sou eu sim, Dora. E trouxe um convidado. – Zayn me olhou com cara de espanto e eu ri, sussurrando as próximas palavras: - Fica calmo.
- Quem? Aquele jovem adorável que eu conheci? – Ela perguntou, se referindo ao próprio Zayn.
- Viu só? – Continuei sussurrando pra ele, mas aumentei a voz para responder à minha babá. – É ele mesmo!
- Venham aqui me ver! Eu estou terminando o almoço. – Nos chamou e eu puxei o garoto pela mão.
- O cheiro está ótimo. – Falei ao entrar na cozinha.
- É bom te ver novamente, Dorota. – Zayn forçou um sorriso.
- Que gentil! – Ela sorriu e o abraçou. Acho que foi o abraço mais desconfortável que eu já vi. Fiquei rindo enquanto os observava. – Espero que você goste de panquecas!
- Eu adoro! – Sorriu e me olhou.
-Então vamos deixar você terminar em paz, ok? – Também abracei a minha babá. Sim, eu ainda a chamava de babá.
Zayn foi o primeiro a sair da cozinha e eu o segui em direção à sala. É claro que ele tentou subir as escadas e ir até o meu quarto, mas eu o puxei pelo braço. Seria bem mais seguro ficar ali na sala, onde apenas sentaríamos no sofá, do que em meu quarto, onde deitaríamos na cama... Sala, é. Melhor, aham. Tirei os sapatos e as meias, me jogando no sofá em seguida. Zayn seguiu o meu exemplo e tirou os tênis. Eu ri porque ele já estava se sentindo em casa o suficiente para andar descalço por ali.
- Do que você está rindo? – Ele perguntou enquanto eu gargalhava.
- De nada, ué. – Continuei a rir, deitando no sofá com a cabeça em uma almofada.
- Você não vai me dizer? – Me encarou sério, segurando os meus pés. Ele estava bolando algum plano, eu sabia disso.
- Não vou! – Gargalhei mais alto e Zayn puxou as minhas pernas, me fazendo quase cair do sofá. – O que você está fazendo? Eu vou cair!
- Então me diz do que você está rindo! – Levantou as minhas pernas e eu fiquei com metade do corpo no sofá e metade fora.
- Eu estou rindo de você, seu bobo! – Tentei me segurar nas laterais do sofá.
- Isso é pior ainda! – Zayn riu e me puxou um pouco mais.
- Para de me puxar! – Eu não conseguia parar de rir e isso dificultava a minha tentativa de me segurar.
- Peça desculpas por rir de mim!
- Nunca! – Eu tentava mexer as pernas para me soltar, mas Zayn era muito forte. – Me solta! Solta!
- Te soltar? Tudo bem. – Zayn deu de ombros e soltou as minhas pernas. O problema é que eu estava com metade do corpo fora do sofá, então eu acabei caindo de qualquer jeito.
- Zayn! – Reclamei assim que caí de bunda no chão.
- Opa. – Ele riu.
Como vingança, eu agarrei as pernas dele assim que ele tentou andar, o que acabou rendendo na queda dele. Eu dei uma risada do tipo: “Muahaha” e ele ficou me olhando sem acreditar no que eu havia feito. Eu sabia que poderia ter o machucado e isso me preocupou por um tempo, mas a risada dele me tranquilizou. Entrei no riso e fiquei de joelhos para levantar do chão. Zayn não permitiu que eu me afastasse e me puxou pela mão, fazendo-me cair deitada no chão. Ele subiu em cima de mim, mas sem fazer peso. Seu rosto estava a centímetros do meu.
- Será que você poderia parar de me derrubar? – Perguntei. Meus olhos estavam passeando pelo rosto perfeito do garoto e meu lugar preferido, naquele momento, a boca avermelhada dele.
- Ou então você vai fazer o que? – Me desafiou e notou a direção do meu olhar, o que o fez se aproximar ainda mais e tentar encostar os lábios nos meus. Eu virei o rosto na mesma hora e ele beijou a minha bochecha.
- Ou então eu nunca mais te beijo! – Aquilo era algo difícil até pra mim, mas era a única coisa que eu tinha pra usar contra ele.
- But if you deny me one of your kisses... I don’t know what I’ll do. (Mas se você me negar um de seus beijos, eu não sei o que farei) – Zayn cantarolou e me deixou sem reação.
- Você cantou uma música do McFly? – Pisquei algumas vezes.
- Um passarinho verde me contou que é a sua banda preferida, então... – Ele sorriu. Eu estava maravilhada com aquilo.
- Sendo assim, você pode me derrubar quantas vezes quiser. – Ri e toquei o rosto dele com a ponta dos dedos.
- Eu prefiro te beijar quantas vezes eu quiser. – Zayn também riu e encostou o nariz no meu, em um beijo de esquimó.
- Concordo. – Sussurrei.
Após o meu sussurro Zayn finalmente acabou com toda a distância entre nossos lábios e os juntou. Passei meus dedos entre os cabelos dele, entreabrindo os lábios para dar início ao beijo lento. Assim como na sala de música, aquele momento entre nós dois foi calmo e tinha uma carga emocional muito grande. Eu sentia um frio na barriga que também não sabia explicar, mas gostava. O menino estava em cima de mim e uma de suas mãos acariciava a lateral do meu corpo enquanto a outra tocava o meu rosto. Nossas bocas se encaixavam perfeitamente. O chão de madeira devia estar frio, mas quando eu estava perto de Zayn tudo que conseguia sentir era calor. Não necessariamente o calor sexual, mas sim um “aquecimento”, aquele conforto que eu tinha só de estar ao lado dele.
- Ora, ora, ora, o que temos aqui? – Dorota estava parada na entrada da sala e nós nos separamos um pouco.
- Nada, Dora! – Me senti envergonhada e cobri o rosto com as mãos. Eu não me importava de ter sido flagrada pelo meu irmão, ou por meus amigos, mas com ela era diferente. A mulher que havia trocado as minhas fraldas e praticamente me criado... Era estranho.
- Nada? É assim que vocês jovens estão chamando hoje em dia? – Ela riu.
- O almoço está pronto? – Mudei de assunto e finalmente consegui olhar pra ela. Zayn já estava em pé e me olhava com um sorriso sapeca no rosto. Aposto que ele estava achando graça da minha timidez.
Capítulo XXII
O fim de semana chegou e trouxe com ele a preguiça. Passei praticamente o sábado inteiro lendo revistas na cama e atendendo as ligações de , que sempre me fazia um convite e eu recusava todos. Não queria ter que tirar o pijama quentinho e sofrer em cima de um salto alto só porque ela queria ir para um bar, ou algo assim. Meu notebook estava aberto ao meu lado e de vez em quando eu passeava pelo Tumblr e Twitter, mas nada que me prendesse por mais de cinco minutos. Enquanto eu terminava de ler uma coluna sobre esfoliação de pele, uma janelinha apitou no meio da tela do meu computador. Me assustei mais ainda quando vi que era uma chamada no Skype e quem estava me ligando era Zayn.
Eu não sabia muito bem o que fazer. Fiquei nervosa e afastei as revistas para o lado e coloquei o notebook em minha frente. Passei as mãos pelos meus cabelos e tentei arrumá-los da melhor forma que pude. Quer um conselho? Não lave o cabelo e depois passe a tarde inteira deitada em cima dele, porque o resultado final é um cabelo amassado e desgrenhado. O melhor que eu pude fazer foi amarrá-lo em um coque alto e torcer para que a minha webcam não me deixasse tão esquisita. Aceitei a chamada e esperei as câmeras carregarem.
- Vas happening? – Zayn fez uma voz engraçada. Ele também estava no quarto dele, deitado de bruços na cama.
- Oi, Malik. – Sorri. – Juro que ainda vou entender essa sua frase de efeito.
- Se é frase de efeito, não precisa ser entendida. – Ele riu. – Só apreciada.
- Hmm, que filosófico! – Também ri. – Tudo bem com você?
- Tudo ótimo, . E por aí?
- Estou bem! Passei o dia inteiro sem fazer nada. – Gargalhei da minha preguiça e encostei em um travesseiro.
- Eu percebi. O único jeito pra eu te ver hoje foi por trás de uma tela de computador. – Zayn mudou de posição e deitou de lado, apoiando o cotovelo na cama. Garotos que usam regata deveriam ser proibidos de flexionar o bíceps daquela maneira.
- Eu sei, Z. Desculpa. – Fiz um bico de lado. – Sentiu a minha falta?
- É claro que senti. Quem você acha que mandou a te ligar o dia inteiro?
- Zayn Malik admitindo sentir falta de alguém? Isso é novidade pra mim. – Afastei um pouco o computador e me deitei de barriga pra baixo no colchão.
- Você não é só alguém, . – O sorriso que seguiu a sua fala me fez desejar estar ao lado dele naquele momento. Maldita preguiça!
- Nesse caso... Por que você não passa aqui amanhã?
- Eu já ia fazer isso mesmo, mas ainda bem que você me convidou. – Fez uma cara engraçada e eu ri.
- Então você planejava aparecer aqui sem mais nem menos? E se eu estivesse com outro? – Perguntei me fazendo de séria, como se fosse possível acontecer algo desse tipo.
- Ahh, é assim? – Ele também ficou sério. – Pode deixar que sempre que eu quiser te ver, ligarei com três dias de antecedência pra marcar horário. Não quero atrapalhar a sua agenda de compromissos.
- Ai, meu Deus! – Ri alto e balancei a cabeça sem acreditar que Zayn estava realmente falando aquilo. – Para de ser idiota, Zayn!
Nós dois rimos sem motivos por mais dez minutos. Eu não era muito fã de Skype ou outras redes sociais, porque não sabia como dar sequência a uma conversa. Se pessoalmente eu já era terrível em puxar assunto, por meios tecnológicos eu era pior ainda. Mas aquela noite com Zayn estava sendo mais do que agradável. Eu não estava mais preocupada com o meu cabelo bagunçado ou com a minha aparência desleixada, pois o que importava era a companhia.
Uma buzina soou em um volume tão alto que até Zayn escutou do outro lado e se assustou. Devia ser o carro de algum dos vizinhos, já que o carro do meu irmão tinha um tom mais grave. Quando o som se repetiu mais quatro vezes, eu rolei os olhos e sentei na cama. Teria que ir ver que escândalo era aquele que estava acontecendo na frente da minha casa. Do jeito que aquele condomínio era cheio de frescura quanto a barulhos e regras da boa vizinhança o desavisado que continuava a “perturbar a paz” poderia se meter em problemas.
- É melhor eu ir ver o que está acontecendo... – Tive até que falar um pouco mais alto para ser escutada.
- Sem problemas, . Te vejo amanhã? – Zayn sorriu e acenou um “tchau” cheio de vontade de me pedir pra ficar mais um pouco.
- Com certeza! – Assoprei um beijo e observei o sorriso dele aumentar pela última vez antes de abaixar a tela do meu notebook e encerrar a nossa sessão no Skype.
Ainda com um sorrisinho no rosto, eu levantei da cama e corri para fora do quarto indo escada a baixo. A buzina irritante não parava de gritar e a porta de casa estava aberta. Assim que vi Liam e Harry rindo de algo no jardim eu não sabia se devia ficar mais preocupada ou me tranquilizar. Provavelmente nenhuma das duas coisas. Me juntei a eles e antes que perguntasse o que estava acontecendo, obtive a minha resposta. Louis estava dentro de um carro vermelho. Ou melhor... Ele era vermelho por baixo de toda a lama e sujeira que o cobria.
- Finalmente você apareceu! – Harry se virou na minha direção, mas eu passei direto por ele e fui até meu irmão.
- Surpresa! – Louis ficou em pé, aproveitando que a capota do conversível estava abaixada.
- O que é isso? – Eu também já sabia a resposta para aquela pergunta, já que reconheceria o meu carro até embaixo d’água. – O que aconteceu com o meu bebê?
- Eu sei que ele está um pouco sujo... Mas pelo menos chegou, né? – Lou desceu do carro e foi até onde eu estava.
- Um pouco sujo? Parece ele estava enterrado em um pântano! – Eu não estava fazendo drama, o carro realmente estava muito sujo. Mas Louis tinha razão, pelo menos meu carrinho já estava comigo novamente e eu não teria que depender de caronas ou ônibus. – Você sabe o que aconteceu pra demorarem tanto pra entregar? Paris não é longe daqui.
- O dono da transportadora disse que tiveram alguns “problemas”, mas não entrou em detalhes. – Ele falou e me entregou as chaves. – Podemos levar ao lava-jato amanhã e ele vai ficar novinho em folha.
- Tudo bem. – Murmurei baixinho. – Vai ficar tudo bem, meu amor...
- Ela está mesmo falando com o carro? – Escutei Liam perguntar para os meninos, mas preferi ignorar.
- Você ainda não viu nada. – Harry foi quem respondeu. – Esse carro é realmente um bebê pra ela.
Do que adianta ser um domingo se você não consegue dormir até tarde? Foi com esse pensamento que eu acordei bufando naquela manhã. Não que eu estivesse irritada, muito pelo contrário, mas estava planejando dormir até a hora do almoço. Infelizmente a imagem do meu carro totalmente sujo estacionado ao lado de fora da minha casa me assombrava ao ponto de não me deixar dormir. Não, eu não sou uma louca por limpeza que chega a ter pesadelos se algo estiver minimamente fora do lugar, mas meu carro era algo precioso pra mim. Eu o tinha desde os dezessete anos, quando ganhei de meu pai como presente de aniversário. E não era só um veículo ou meio de transporte; era um símbolo de independência que me permitia ir para qualquer lugar sem precisar de ninguém. Como meus avós sempre confiaram muito em mim, eles não ficavam perguntando para onde eu ia ou de que horas estaria em casa novamente... Então era perfeito só pegar o carro e sair dirigindo sem destino. Por isso e outras coisas eu tinha um carinho e cuidado muito grande com o meu “bebê”, como gostava de chamar.
Aceitando que eu não conseguiria voltar a dormir, me sentei na cama e levantei devagar. Caminhei até a janela e abri as cortinas. O Sol não estava brilhando no céu porque era coberto por nuvens acinzentadas, mas o dia não estava feio. Era apenas mais uma manhã normal e fresca. Estiquei os braços para me espreguiçar e uma idéia me ocorreu. Eu poderia usar aquela manhã que não estava tão fria para lavar o carro! Seria mais barato do que levar para um lava-jato e eu com certeza teria mais cuidado e dedicação do que qualquer um. Além do mais, seria divertido. Fui até o banheiro e fiz a minha higiene matinal. Prendi os cabelos em um coque baixo e usei uma faixa para segurar a minha franja, partindo para o closet em seguida. Peguei o primeiro bíquini que achei em uma das gavetas e também vesti um short jeans por cima.
Os outros moradores ainda estavam dormindo (sorte a deles!) então a casa inteira estava em silêncio. Desci as escadas tranquilamente até chegar à cozinha. Em algum lugar dali eu teria que encontrar produtos de limpeza. Comecei a procurar nos armários, vasculhando de um em um, até achar um balde, uma esponja e uma espécie de sabão líquido. Aparentemente eu tinha tudo que precisava para começar o meu trabalho. Parti para o lado de fora da casa e lá estava o meu carro coberto pela lama. Antes de qualquer coisa, usei o controle do carro para subir os vidros e a capota, já que pretendia lavar apenas o lado de fora. Achei a mangueira que usávamos para regar o jardim quando não chovia largada na grama e usei-a para encher o balde. Também usei o jato da mangueira para tirar o excesso de sujeira e boa parte da lama que já havia secado e formado algumas crostas duras que dariam muito mais trabalho para sair manualmente.
Demorei pelo menos meia hora pra limpar as laterais do carro, incluindo os vidros e detalhes das portas. Minhas pernas tinham manchas de lama e meu corpo estava úmido. Não cheguei a ficar molhada literalmente, mas sempre que os respingos de água batiam na minha pele eu tinha um arrepio de frio. Com a esponja na mão, eu espalhei um pouco de sabão na tampa da frente do carro e comecei a esfregar. Meu braço estava doendo, mas eu não podia parar.
- Bom dia, . – A voz de Liam me fez virar em sua direção. Ele estava parado na varandinha de casa e tinha uma caneca na mão.
- Bom dia, Leeyum! – Sorri, parando o que estava fazendo por um instante.
- Acordou cedo hoje. – O menino ainda estava meio sonolento e começou a se aproximar. Eu pude sentir o cheiro do café que ele estava bebendo. – Você realmente não conseguiu esperar pra limpar o carro, né?
- Você conseguiria? – Coloquei uma mão na cintura e ri baixo. – Meu carro é lindo demais pra estar todo sujo!
- É realmente um bom carro... Conversível, fácil de dirigir e a direção é do lado esquerdo!
- Graças a Deus é do lado esquerdo, porque eu nunca vou conseguir dirigir os carros ingleses. É estranho demais. – Me inclinei um pouco e voltei a trabalhar. Não tinha tempo a perder.
- Já tentou? Não é tão ruim depois que você pega o jeito. – Liam começou a rodear o meu carro, estudando-o.
- Uma vez só, mas, mas... – Bufei pela minha falta de argumentos. – Agora eu não preciso tentar!
- Um dia eu te mostro e você vai ver que não é um bicho de sete cabeças. – Ele virou a caneca e terminou a sua bebida. – Quer ajuda?
- Achei que nunca ia oferecer! – Eu ri. – É claro que sim. Você pode ficar com a parte de trás e eu termino essa que já comecei.
- Tá bem! – Sem mais nem menos Liam tirou a camisa, ficando apenas de bermuda. Admito que o olhei na hora em que fez isso, mas desviei o olhar antes que ele notasse.
O meu ajudante deixou sua caneca de lado, pegou a mangueira e começou a trabalhar. Eu estava bem concentrada no meu próprio serviço e limpava o vidro do carro. Muitas vezes eu tive que praticamente me deitar em cima do capô para alcançar os lugares mais afastados e acabava me molhando. Liam tinha sorte de ser alto, mas isso não o dava o direito de ficar rindo de mim quando eu quase escorregava por causa do sabão.
- Hey, . – Ele me chamou. – Está usando a esponja?
- Por enquanto não... Troca pela mangueira?
- Manda! – Liam pediu e eu atirei de qualquer jeito a esponja cheia de sabão pelo ar. Ele foi pego de surpresa, mas conseguiu pegar o objeto. O problema é que, com o susto, o menino acabou segurando com muita força e espirrou espuma no próprio rosto. – !
- Desculpa! – Não consegui segurar o riso. – Você é que disse “manda”!
- Mas não falei isso pra você jogar como uma doida! – Fez uma careta enquanto limpava o rosto.
- Se você prestasse atenção, isso não teria acontecido. – Joguei a cabeça para trás e gargalhei alto. Minha barriga até doeu do tanto que eu estava rindo.
- Pare de rir! – Liam reclamou e me pegou de surpresa ao apertar o “gatilho” da mangueira e espirrar uma quantidade razoavelmente grande de água em mim.
- AI! – Gritei por não estar esperando aquele golpe baixo. – Isso não vale!
- Ah, não é? – Algo no olhar dele me disse que eu não gostaria do que estava por vir.
Ele mirou em mim novamente e tentou me acertar com o jato de água. Felizmente, pra mim, abaixei rápido o suficiente e consegui escapar. Liam não desistiu e correu atrás de mim, me fazendo correr na direção oposta a dele. Para ser mais exata, ele ficou de um lado do carro e eu do outro.
- Liam, para de brincadeira! – Me abaixei usando a janela do carro como escudo. Ele estava rindo e eu também.
- Não é brincadeira. É vingança! – Ele gritou e tentou me acertar novamente, correndo mais uma vez.
- Sai daqui! – Gargalhei e também corri.
Minha sorte é que a mangueira já não tinha mais como esticar e Liam teve que recuar. Aproveitei para dar a volta completa no carro e pegar o balde cheio que tinha deixado na grama. Não contei com a rapidez de Liam e senti a água gelada molhar a parte de trás do meu short e minhas pernas. Gritei mais uma vez e me virei pra ele. Na primeira oportunidade que tive, joguei a água do balde e o atingi em cheio. Pelo menos agora ele estava tão molhado quanto eu.
- Você vai ver só! – Liam pegou a esponja que havia caído no chão e a jogou em mim.
- Socorro! – Não sei exatamente pra quem eu gritei por socorro, mas naquela altura não estava preocupada em fazer sentido. Eu me cobri tentando proteger o meu rosto e a esponja acabou atingindo a minha barriga. – Fui atingida!
- É assim que nos vingamos em Wolverhampton! – Comemorou todo cheio de si e eu peguei a esponja mais uma vez e a atirei nele. Acabei atingindo o seu rosto e Liam parou de me perseguir, cobrindo um dos olhos e fazendo uma careta de dor. – Meu olho!
- Você tá bem? – Me preocupei de verdade, correndo até ele. – Li, me fala!
- Ahá! – Ele gritou ao tirar a mão do olho. O sem graça estava brincando o tempo todo e eu havia me preocupado pra nada.
Não sabia se batia nele por ter me assustado ou se corria dele. Optei por essa segunda opção e me virei de costas para tentar fugir. Liam foi mais rápido, pra variar, e me abraçou pela cintura, levantando os meus pés do chão. Foi uma cena bem parecida com o dia na piscina, quando ele me carregou e me jogou na água, mas a diferença era que ele não tinha onde me jogar, então ficou me girando enquanto eu me debatia e morria de rir. O mais forte também estava rindo e nenhum de nós notou que um carro prateado já havia sido estacionado atrás do meu e uma figura masculina se aproximava.
- Parece que você não mentiu quando disse que estaria com outro. – A voz de Zayn fez Liam parar de girar e eu senti o estômago gelar de susto.
- Você chegou! – Me separei de Liam e sorri para o recém chegado. Eu não havia me esquecido que ele viria me ver, só não sabia a hora que ele apareceria.
- Hey... – Liam o cumprimentou um pouco tenso.
- Cheguei sim. – Zayn ignorou o meu outro amigo e eu senti a tensão crescer ainda mais.
- Liam estava me ajudando a lavar o carro. – Expliquei. Não que eu devesse alguma explicação, mas era óbvio que Zayn não havia gostado nada do que viu.
- Eu vou entrar... – Liam falou baixo e se retirou. Não sei se ele queria não piorar as coisas ou se estava querendo evitar assistir alguma troca de carinho entre eu e Zayn.
- Só porque eu cheguei? – Zayn comentou com ironia e eu o reprovei com o olhar.
- Não faz assim! – Me aproximei. – Ter ciúme não combina com você.
- Não é ciúme! – Reclamou, mas eu não o dei ouvidos.
Fiquei na ponta dos pés e o segurei pelo rosto com as duas mãos. Não queria acabar entrando em uma discussão boba e, principalmente, estava com saudade dos lábios dele nos meus. Não me aproximei muito porque não queria molhá-lo também, mas Zayn não pareceu se importar ao me abraçar com força pela cintura. Eu sorri assim que nossos lábios se encontraram e fechei os olhos. Zayn devia estar tentando me engolir, porque deu início ao beijo com tanta vontade e quase violência que eu me assustei. Era o jeito dele de provar para si mesmo que eu estava com ele naquele momento e não pertencia a mais ninguém. Cada dia que passava, Zayn me ganhava e me conquistava mais um pouco. Eu já não conseguia tirá-lo do meu pensamento e as tais “borboletas no estômago” pareciam mais pombos gigantes. Eu tinha medo de dar nome àquele sentimento que estava florescendo e não queria me precipitar, mas às vezes era difícil ignorar. Preferi parar de pensar em qualquer coisa e apenas prestar atenção no nosso beijo. Eu retribui da melhor forma possível, mostrando pra ele que também tinha toda aquela vontade que ele sempre fez questão de demonstrar. Aos poucos a velocidade foi diminuindo, como se ele começasse a ficar mais calmo. Eu passei a mão direita entre os fios escuros do cabelo de Zayn e o abraço em minha cintura afrouxou, mas não se desfez. Quando as nossas respirações já estavam ofegantes, nos separamos com um pouco de relutância.
- Eu preciso de um banho. – Foi a primeira coisa que eu consegui falar e Zayn sorriu cheio de segundas intenções.
- Precisa, é?
- Não nesse sentido, idiota! – Ri e dei um tapinha em seu ombro.
- Não importa o sentido, . Posso te ajudar em todos que você quiser. – Piscou.
- Eu sei tomar banho sozinha, Malik. – Rolei os olhos, mas sorri. Me afastei e comecei a andar na direção da entrada de casa.
- Você já me deu banho! – Ele me seguiu. – É justo.
- Mas é diferente, porque você estava bêbado! – Aparentemente ele ainda iria insistir bastante.
“TOC TOC” Alguém batia na porta do meu banheiro pela quarta vez. Desde que eu comecei a tomar banho fui incomodada primeiro por Harry, avisando que chegou, em seguida Zayn veio perguntar se eu tinha me afogado e Louis foi o terceiro, mas eu não entendi muito bem o que ele queria. O importante mesmo é que todos eles estavam atrapalhando o meu momento de banho. Eu já estava vestida quando fui interrompida pela última vez, mas ainda estava secando o cabelo.
- Quem é agora? – Perguntei alto o suficiente para o som da minha voz não ser abafado pelo barulho do secador.
- Sou eu. – Liam respondeu.
- A porta está destrancada, Li. Pode entrar. – Deixei o secador de lado e peguei a escova de cabelo.
- Você está vestida? – Ele perguntou ao abrir a porta e espiar por uma fresta.
- Não, Liam. Eu vou deixar você entrar aqui enquanto eu ainda estou pelada. – Ironizei, mas não fui grossa. – Claro que estou vestida, besta.
- Só estava me certificando, oras! – Liam riu e entrou no banheiro. – Você está linda.
- Mas eu nem estou arrumada! – Olhei o meu reflexo pelo espelho. Não, eu não estava “linda”; estava super simples. – É só um vestidinho...
- , quando alguém te faz um elogio, você deve aceitar, sabia?
- Desculpa. – Fiz um biquinho. Eu tinha essa mania chata de “não aceitar elogios”, ou não saber como responder a eles. – Então obrigada pelo elogio!
- Bem melhor. – Cruzou os braços e continuou me olhando. – O Zayn falou alguma coisa?
- Sobre o quê? – Assim que terminei de arrumar o cabelo e prender a minha franja de lado com uma presilha, comecei a passar o lápis de olho.
- Sobre nós. Digo... Sobre mim, ou o que ele viu quando chegou.
- Não falou nada, Li. Não precisa se preocupar com isso. – Coloquei o lápis de lado assim que meus olhos claros estavam bem marcados. Borrifei um perfume no meu pescoço e pulsos. – E também não tinha nada de mais...
- Talvez pra você não tenha. – Ele falou baixo e eu o encarei.
- Como assim?
- Olha, ... – Liam fechou a porta e nós ficamos dentro do banheiro. Eu não estava entendendo o que ele queria, mas seu olhar era sério. – Eu não consigo mais fazer isso. Não consigo mais fingir que não sinto nada por você.
- Mas, Liam... – Tentei interrompê-lo, mas ele me fez parar de falar ao colocar o indicador sobre os meus lábios.
- Por favor, me deixa terminar. – Falou em um suspiro e eu balancei a cabeça em afirmação. – Eu gosto de você, , muito. Você é uma garota incrível e eu nunca conheci ninguém assim, com todas as suas pequenas manias... Desde que eu te vi naquela estação de trem, não consigo pensar em outra coisa. Eu tentei não fazer disso uma grande coisa, por nós morarmos na mesma casa e você ser a irmã do meu melhor amigo, por isso me envolvi com a Candice. Mas não adiantou. Eu devia ter falado tudo isso antes e te chamado pra sair, mesmo que você dissesse não, mas eu fui um idiota por ter esperado até agora. E eu sei que você está com outro e não se preocupe, porque eu não vou fazer nada pra atrapalhar. Mas tenha certeza que eu não vou desistir.
Eu não sabia o que responder, não sabia o pensar, não sabia o que fazer. Não esperava por aquela declaração e ele devia saber disso. Liam deixou um beijo na minha testa e saiu do banheiro com um pequeno sorriso. Devia se sentir aliviado, de certa forma, por finalmente descarregar tudo aquilo que estava guardando de mim. Minha maior preocupação é que aquilo mudasse a nossa amizade. Eu não queria que o clima entre a gente ficasse entranho e não queria ser tratada de forma diferente. Para mim as coisas estavam perfeitas como estavam. Também não queria ele me “esperasse”. Não seria justo com ele e nem comigo. Fiquei me olhando no espelho, estudando a minha expressão de espanto. Não nego que as palavras do meu amigo mexeram comigo, mas ao mesmo tempo eu preferia que Zayn tivesse falado aquelas coisas em seu lugar. Ótimo, eu estava confusa. Confusa com tantas coisas que nem mesmo conseguia definir o motivo da minha confusão.
Como ficar ali sozinha não iria resolver absolutamente nada, resolvi sair do quarto e me juntar aos meninos. Assim que cheguei à sala, encontrei Zayn sozinho no sofá. Nenhum sinal dos outros três meninos, o que era muito estranho.
- Olha quem finalmente apareceu! – Zayn sorriu ao se levantar e andar ao meu encontro.
- Eu nem demorei muito. – Fiz um bico e o abracei assim que ele se aproximou o suficiente.
- Tá tudo bem, ? – Me abraçou de volta e beijou o topo da minha cabeça.
- Está sim. Porque não estaria? – Ri nervosa. Era melhor mudar de assunto... – Onde está todo mundo?
- Eles foram para alguma praça, se eu entendi bem. Estão nos esperando lá. – Separamos o abraço e Zayn me guiou para a porta. – Vamos?
- Ahh, sei qual é a praça! – Sorri ao me lembrar do dia em que Lou tentou me ensinar a andar de patins. – Vamos.
Zayn me deixou passar primeiro e fechou a porta da minha casa assim que saímos. O jardim estava bem mais arrumado do que eu o havia deixado quando fui tomar banho e alguém tinha terminado de lavar o meu carro. Algo me dizia que eu já sabia quem. Fui despertada dos meus pensamentos quando Zayn segurou a minha mão e entrelaçou os dedos nos meus. Caminhamos de mãos dadas pela calçada enquanto eu indicava o caminho que deveríamos seguir para chegar até a praça. O garoto ria ao meu lado falando que aquele condomínio era enorme e que alguma celebridade deveria morar por ali e eu não sabia.
- Quem sabe você se muda pra cá quando ficar famoso! – Brinquei. – E aí sim eu vou conhecer uma celebridade.
- Quem disse que eu vou me lembrar de você quando ficar famoso?
- É claro que vai! Como você acha que eu vou aparecer nas capas de revistas se não me aproveitar da sua fama?
- Que aproveitadora! – Ele gargalhou. – Eu sei que você não faria isso.
- E eu sei que você não esqueceria dos velhos amigos. – Soltei a mão do menino e o abracei de lado. Zayn passou o braço por cima dos meus ombros e continuamos o resto do caminho naquela posição.
- Você acredita, ? Que um dia eu vou ficar famoso? Não só pela fama... Mas você acha que eu serei reconhecido pelo meu trabalho? – Zayn ficou pensativo e até um pouco aéreo. Eu teria dado tudo pra saber o que se passava naquela cabecinha.
- É claro que sim! – Parei de andar ao notar que ele estava cabisbaixo. – É o seu sonho, não é? Então por que não daria certo? Você tem talento e pode conseguir tudo que quiser.
- Eu queria ter essa sua certeza. – Ele encarou os próprios pés e eu fiquei na frente dele.
- Hey... – Delicadamente apoiei o indicador embaixo do queixo bem definido de Zayn e o fiz olhar pra mim. – Eu não quero que você duvide disso, ok? Porque o seu futuro vai ser brilhante e qualquer um pode ver isso. Hoje você pode estar aqui... Mas amanhã vai estar no topo do mundo.
- Você vai estar lá comigo? – Um sorrio apareceu enquanto ele me escutava. Zayn acariciava a minha bochecha com o polegar e nossas testas se encostaram.
- Sempre. – Sussurrei.
Fechei os olhos assim que o outro fez o mesmo e encostou os lábios nos meus. Ficamos naquele selinho por alguns segundos até começarmos a mexer os lábios e aprofundar o contato. Zayn desceu as mãos pela lateral dos meus braços e parou ao entrelaçar nossos dedos mais uma vez. O beijo não durou muito, mas foi o suficiente pra me provar aquilo que, no fundo, eu já sabia. Toda a confusão foi embora da minha cabeça e eu sabia o que queria; ele. Parecia certo, parecia “feito pra ser”. Demorei um pouco mais para abrir os olhos e, assim que o fiz, encontrei-o sorrindo pra mim. Um sorriso que falava mais que qualquer palavra, que qualquer declaração. Eu me sentia bem, confiante e feliz. Não sorrir de volta foi impossível.
Voltamos a caminhar e não falamos mais nada. O silêncio que se estabeleceu entre nós era confortável e um quase podia ler o pensamento do outro. Trocávamos olhares de vez em quando e sorrisos cheios de significado surgiam.
- Até que enfim vocês chegaram! – Louis foi o primeiro a notar a nossa aproximação. – Eu já estava indo atrás de vocês.
- Preguiçoso do jeito que você é, Lou? Seria mais fácil você mandar o Harry. – Falei enquanto andávamos até a parte da grama em que os meninos estavam sentados. Eu evitei um pouco olhar para Liam, mas notei que ele segurava um violão.
- Talvez. – Meu irmão riu e abriu a roda para que nós pudéssemos sentar com eles.
Eu me sentei ao lado de Harry e Zayn sentou entre eu e Lou. Liam estava na minha frente e sorria como se nada estivesse acontecendo, o que me tranquilizou um pouco. Harry falou que eles estavam cantando e que Liam estava esperando para mostrar a nova música que tinha escrito. Eu me lembrava dele comentando que estava trabalhando em algo e que mostraria quando estivesse pronta, então aquele devia ser o momento.
- Essa é aquela música que você estava escrevendo? – Perguntei.
- É sim, . – Sorriu, afinando o violão.
- Você escreve muitas letras? – Zayn foi quem perguntou. Eu não me meti e deixei os dois conversarem, já que eu ainda queria ver os dois juntos em uma banda.
- Algumas... – Respondeu simpático. – Eu geralmente escrevo usando experiências próprias como inspiração.
- Isso é bom. Torna o sentimento mais autentico.
- Dá pra vocês dois pararem de papo? Estou curiosa pra escutar essa música! – Cortei o assunto antes que fosse um pouco longe demais. Os dois só riram e Liam se preparou pra começar.
- O nome é Loved you first. – Liam começou a dedilhar o violão e eu gelei ao escutar aquele titulo. Não deveria ser pra mim, não poderia ser pra mim.
(Garota, deveria ser eu dirigindo até a sua casa, batendo na sua porta e beijando a sua boca)
Holding on your hand, dancing in the dark.
(Segurando a sua mão, dançando no escuro)
‘Cause I was the only one who loved you from the start.
(Porque eu fui o único que te amou desde o começo)
Liam cantou diretamente pra mim. Ele não se importava em deixar na cara, mas eu torcia para que Zayn não percebesse nada. Tentei desviar o olhar, mas não consegui. Eu estava presa naqueles versos.
(Mas quando eu vejo você com ele, isso despedaça o meu mundo)
Because I’ve been waiting all this time to finally say it, but now I see your heart has been taken
(Porque eu estive esperando esse tempo todo pra finalmente dizer isso, mas agora eu vejo que o seu coração foi tomado)
and nothing could be worst.
(E nada podia ser pior)
Baby, I loved you first.
(Baby, eu te amei primeiro)
Meu irmão olhava pra mim como se esperasse uma reação. Ele sabia que aquela música era pra mim e, por mais que eu não quisesse admitir, eu também sabia. Liam estava louco? Uma pessoa não pode simplesmente aparecer do nada e falar várias coisas que você não estava preparada para ouvir e depois cantar uma música como aquela. “I loved you first.”
(Garota, deveria ser eu ligando no seu telefone, falando que você é a única e que nunca vou te deixar ir)
I never understood what love was really like, but I felt it for the first time looking in your eyes.
(Eu nunca entendi o que o amor era, mas pude sentir pela primeira vez olhando em seus olhos)
I had my chances, could’ve been where he is standing.
(Eu tive as minhas chances, podia ter estado onde ele está)
That’s what hurts the most, girl, I came so close but now you’ll never know…
(Isso é o que mais machuca, garota, eu cheguei tão perto e agora você nunca vai saber...
Baby, I loved you first…
(Baby, eu te amei primeiro)
Capítulo XXIII
Na minha opinião o pior dia da semana era terça feira. tinha o dia de folga, então não aparecia na Academy nem que fosse paga e o intervalo dos meninos era na hora da minha única aula. Ou seja: Eu ficava sozinha durante a maior parte da manhã. Sem falar que era o dia em que eu passava duas horas trancada em uma sala com o professor Hosftheder. Ele costumava extrair tudo de mim durante as aulas particulares e estava ficando cada vez mais difícil.
Eu estava na barra, me alongando, e o professor adorava corrigir a minha postura. Minha coluna estava totalmente reta enquanto eu levantava a perna direita e a mantinha estendida na minha frente, mas não era o suficiente. O homem tocou as minhas costas com a mão esplanada e apoiou a outra no meu abdome.
- Você não está fazendo esforço, . – Ele falou com rispidez e eu tive que me segurar para não dar uma resposta mal educada. – Trave o abdome!
- Eu estou tentando. – Falei ofegando. Minha perna estava queimando e eu não podia abaixá-la. Tinha um pouco de apoio porque estava segurando na barra ao meu lado, mas ainda assim era difícil.
- Você não está tentando o suficiente! – Reclamou e apertou minha barriga e costas. – Isso, é exatamente assim.
- Ugh. – Murmurei e voltei a perna para a posição inicial.
- Voltaremos para a barra depois. – O professor rolou os olhos, provavelmente entediado com a minha falta de habilidade.
- Sim, senhor. – Fui até o centro da sala e fiquei de frente para o espelho. Passei a mão pela testa, limpando um pouco de suor, e arrumei a minha saia de seda transparente na minha cintura.
- Muito bem. Um, dois, um, dois. – O senhor Hofstheder começou a contagem e batia palmas fortes no mesmo ritmo. Eu já estava acostumada com aquilo, mas ainda achava ridículo. – E plié...
Encostei um calcanhar no outro e coloquei as mãos na cintura. Contraí o abdome e levantei o queixo. Com a ordem do professor, flexionei os joelhos em um plié delicado. Minha sorte em ser francesa era que todos os nomes de passos de ballet eram na minha primeira língua, então mesmo que eu esquecesse o nome de um, podia só lembrar o significado da palavra e conseguia acertar. me odiava por isso e reclamava que as coisas não deveriam ser tão fáceis pra mim. Aham, fáceis. Tá bem.
- E relevé... – Outra ordem se seguiu e eu “desflexionei” os joelhos. – Termine com um Grand Jeté e podemos voltar para a barra. É inútil continuar com esses passos que você já domina.
Apenas afirmei com a cabeça e o professor foi para perto do espelho. Eu caminhei até a diagonal da sala e respirei fundo algumas vezes. Aquele salto seria fácil, então eu não perdi tempo. Corri até pegar impulso suficiente para pular o mais alto que consegui e estiquei os joelhos e as pontas dos pés. Meus braços foram para cima da minha cabeça em outro semicírculo. Pousei no chão novamente em cima de um pé só e mantive o outro estendido atrás de mim. Não achava aquilo muito difícil, mas o professor sempre parecia impressionado quando eu repetia o salto.
Finalmente a aula acabou e o professor me liberou. Eu segui para o banheiro do terceiro andar, pois era o que sempre estava vazio naquele horário, e já procurava o meu celular na bolsa. Eu estava exausta e meu corpo já começava a doer, mas tinha combinado com que a ajudaria a encontrar uma fantasia para ela usar na festa de Halloween que aconteceria em três dias. Eu já estava com a minha pronta e mesmo que o combinado fosse não contar para ninguém até a hora da festa, não podia deixar sozinha e sem fantasia. Ela gostava de insistir que o meu senso de moda era perfeito e que se o ballet não desse certo, eu poderia virar uma estilista famosa. De qualquer forma, passaria na casa dela para depois irmos às compras.
Entrei no banheiro e me certifiquei de que não havia ninguém ali dentro. Deixei as minhas coisas em cima do balcão de mármore claro e disquei o número de . Coloquei no modo viva-voz. Enquanto minha amiga não atendia, eu comecei a tirar as roupas de dança; começando pela saia de seda e sapatilhas.
- Quem é? – atendeu. Pela sua voz eu senti que ela acabara de acordar.
- Não se deu nem ao trabalho de olhar o meu nome na tela do seu celular? – Ri.
- Ah, oi, ... Ainda estou de olhos fechados, dê um desconto.
- Você acabou de acordar, sua imprestável? Eu devia passar aí em dez minutos!
- Eu consigo me arrumar em dez minutos! – Ela tentou me convencer.
- Por que será que eu não acredito nisso? – Rolei os olhos mesmo que ela não pudesse ver e terminei de tirar a meia-calça cor de rosa. – Mas tudo bem. Eu vou enrolar um pouco por aqui e passo aí em VINTE minutos, ok?
- Vai ver o Malik? – Escutei ela rir do outro lado da linha.
- Vou ver o Nialler. – Provoquei-a.
- HEY! – gritou e eu agradeci por não estar com o telefone na orelha. – Ele é meu, ok? Se contente com o seu moreno e deixe o meu loiro em paz.
- Vou tentar... Mas você sabe que eu não resisto àqueles olhos azuis.
- Se quer olhos azuis se olhe no espelho! – Ela reclamou e eu ri alto.
- Tá bem, ruiva. – Terminei de me vestir e tirei o celular do viva-voz. – Te vejo daqui a pouco, ok? Vista algo quentinho, pois hoje está frio.
- Certo, mãe. – Nós duas rimos. – Mande um beijo para os meninos.
Desligamos e eu pude sair do banheiro. Aproveitando que já estava no terceiro andar, fui em direção à sala dos meninos. Eu já sabia onde todas as salas ficavam e era difícil eu me perder. Quem diria que aquela menina que não sabia por onde andar na primeira semana de aula estaria se saindo tão bem um mês depois. Cheguei até a porta da sala de música e espiei pela parte de vidro. Os meus dois amigos e o professor Ed Sheeran estavam rindo de alguma coisa. Bati levemente na porta depois de ter certeza que não estaria atrapalhando nada. Os três olharam na minha direção na mesma hora e me chamaram pra entrar.
- Bonjour! – Os cumprimentei assim que entrei na sala.
- Bonjour, mon chéri. – Zayn foi o primeiro a levantar e vir na minha direção com um sorriso.
- Eu já falei que amo quando você fala francês? – Sorri abracei o mais alto pelo pescoço.
- Não, mas é bom saber. – Seu sorriso aumentou e ele me envolveu pela cintura, deixando alguns beijos rápidos nos meus lábios.
- Nós deveríamos ter falado com ela primeiro. Agora os dois não vão se soltar. – Niall falou para Ed e eu acabei rindo, me separando de Zayn.
- Você sabe que é o meu loiro preferido, Nialler. – O irlandês se levantou e eu o abracei.
- Ainda bem! – O menino riu e eu passei para o último.
- E você é o meu ruivo preferido, Ed. – Também o abracei.
- Aposto que sou o único que você conhece. – Brincou, mas era meio que verdade, já que ele era o único ruivo que eu conhecia.
- Isso é detalhe!
- Além do mais, só eu posso ser o preferido dela. – Zayn passou os braços em volta dos meus ombros de forma possessiva.
- E você é, Malik. – Sorri e olhei pra ele, roubando um selinho em seguida.
- Vai assistir a essa aula com a gente? – Perguntou-me depois de retribuir o selinho. – Você é sempre bem vinda aqui, .
- Eu sei disso... Mas vou sair com a , então só passei aqui pra dar um oi pra vocês. – Fiz um pequeno bico. Eu queria poder ficar por ali, mas não tinha como.
- Eu posso te deixar na casa dela. – Zayn me balançou de um lado para o outro devagar, ainda sem me soltar.
- Eu vim de carro, então não precisa.
- Só me diz não! – Me soltou finalmente e se afastou, fingindo estar chateado.
- Zayn! – Fui atrás dele, rindo. – Me pede algo mais fácil que eu te digo sim!
- Me liga quando chegar em casa? – Virou de frente pra mim novamente.
- Claro que sim.
- Get in, loser. We’re going shopping! – Me senti a própria Regina George ao parar o conversível na porta do prédio de . Ela já estava me esperando por ali e riu da minha cara.
- Eu já falei que amo o seu carro? – sorriu e pulou para dentro do carro sem nem abrir a porta. A capota estava abaixada, então ela não teve dificuldade. – E eu sempre quis fazer isso! Me sinto em uma série de TV americana!
- Se estivermos em Gossip Girl, eu sou a Serena. – Ri da animação da minha amiga e dei partida no carro.
- Eu sou a Blair então? Ela é diva! – Arrumou os óculos escuros nos olhos e fez uma cara de metida.
- Imagino o Niall falando: “Eu sou... Chuck Bass.” – Gargalhamos alto. Sim, nós duas éramos muito idiotas quando estávamos juntas.
Rodamos alguns quilômetros até achar uma loja de fantasias que parecesse de boa qualidade e eu estacionei o carro. foi a primeira a descer, já tagarelando sobre as idéias que teve para sua fantasia e pedindo a minha opinião. Nós entramos na loja e uma moça bem bonita veio nos atender. A ruiva logo a dispensou, falando que eu era toda a ajuda que ela precisaria e me senti levemente envergonhada. A moça só estava fazendo o trabalho dela, oras! Antes de se afastar, a funcionária nos deu uma dica e falou para subirmos até o segundo andar, porque lá era onde as melhores fantasias estavam. A agradecemos e partimos para a escadinha bem escondida no fundo da loja.
Ao chegarmos ao final da escada em espiral, encontramos um mar de fantasias. Várias araras atoladas das mais variadas roupas coloriam o depósito. Eu tinha certeza que encontraríamos todos os tipos de coisa ali dentro e meus olhos brilharam. Sabia que não estava ali por mim, até porque a minha fantasia já estava bem guardada no closet, mas não resisti a um sorriso.
- Vamos à luta! – partiu para um lado e eu a segui.
- Você pelo menos tem alguma idéia do que quer, ? – Perguntei-a, começando a vasculhar entre os cabides. Seria mais fácil encontrar o que estava procurando se soubesse o que estava procurando.
- Quero algo sexy e criativo. – Ela também passava de uma fantasia para a outra.
- Eliminou bastante! – Rolei os olhos.
Nós duas ficamos atravessando de um lado para o outro e eu mostrava algumas fantasias que achava interessante. Claro que recusava todas. Encontrei fantasias que iam desde Sininho até Darth Vader. Ofereci uma fantasia de Ariel e até falei sobre as duas serem ruivas, mas ela rejeitou. Disse que achou legal a parte de escolher uma ruiva, mas que uma sereia seria muito simples. Pois é, eu também não concordo com ela, mas fazer o que? foi para uma arara e eu a acompanhei, ficando do outro lado da mesma arara.
- ... – Queria contar pra ela sobre a declaração de Liam no meu banheiro.
- Sim? – Me olhou por cima dos cabides.
- O Liam disse que gosta de mim. – Falei rápido. Ficar enrolando só iria piorar.
- Qual a novidade? – Deu de ombros. – A gente já sabia disso.
- Sim, mas dessa vez ele falou diretamente pra mim. Sem enrolar. Me olhando nos olhos.
- SÉRIO? – Finalmente ela demonstrava alguma emoção. – O que ele disse? O Z. escutou?
- Sério... – Suspirei. – Ele falou que gosta de mim e que não vai desistir, mesmo sabendo que eu estou com outro. E é claro que Zayn não sabe disso... Eu fiquei com medo de contar e ele se afastar. Pra piorar, Liam cantou uma música que supostamente escreveu pra mim e que fala sobre uma menina que ele amou primeiro, mas que já é de outro. E o Zayn escutou, mas acho que não percebeu nada, porque o resto do dia acabou bem...
- Uau. – digeria aquelas informações. – E você se sentiu balançada com o que o Liam falou?
- Na hora eu achei que sim... – Parei um pouco de olhar as fantasias e fitei a minha melhor amiga. – Mas depois que eu vi o Zayn... Tudo se encaixou.
- Isso é bom, ... – sorriu. – Posso te fazer uma pergunta, mesmo que já saiba a resposta?
- Claro.
- Você está... Apaixonada pelo Zayn? – Perguntou finalmente.
Eu não gostava de usar palavras tão fortes para definir, mas tinha feito exatamente aquilo. Talvez por medo de me iludir, ou de me precipitar. O caso é que nem na minha própria cabeça eu usava a expressão “estar apaixonada.” Mas chega um ponto em que a pessoa não pode mais fugir, sabe? Não pode se enganar com algo que já é óbvio. sabia a resposta para aquela pergunta e eu também.
- Sim, ... – Respondi com a voz trêmula, olhando para um ponto fixo no nada.
- Isso é tão fofo! – A baixinha atravessou as fantasias da arara para chegar no mesmo lado que eu estava e me abraçou. – Quando você vai contar a ele?
- Ahn, nunca? – A abracei de volta, mas já cortei o seu barato. – E você também não vai, !
- Tá bem... Mas então vocês nunca vão falar sobre isso?
- Eu não sou adivinha, . – Bufei. – Só não quero acabar falando demais e estragar tudo. Eu estou gostando do jeito que estamos agora... E além do mais, não sei se ele sente o mesmo. Então vai que eu assusto o garoto? Não mesmo!
- Mas e se ele também estiver apaixonado por você?
- , você já olhou pra mim? – Parei com as mãos na cintura. – Eu sou só uma garota normal e sem graça. Já ele...
- Pode parar por ai. – Me repreendeu. – Vocês já se viram juntos? Todo mundo já notou que vocês dois são um casal, . Vocês combinam.
Rolei os olhos tentando ignorar a ruiva. Me afastei um pouco fingindo procurar alguma coisa, mas na verdade eu só queria que aquele assunto acabasse. Não queria ter que ficar escutando que eu era “boa suficiente” pra ele ou que existia a possibilidade de Zayn ter se apaixonado por mim. Tudo que eu queria era encontrar logo a fantasia de para que pudéssemos ir comer.
- Eu ainda não acredito que você achou essa fantasia, ! – me agradecia com felicidade enquanto nós duas entrávamos no restaurante. – Eu vou ficar linda e super sexy!
- Você sempre está linda e super sexy! – Ri da minha frase, tentando parecer o menos lésbica possível. – Mas o Niall vai amar. Porque vocês dois não vão fantasiados como um casal?
- Eu pensei nisso, pra falar a verdade. – Sentamos em uma mesa perto da parede de vidro que dividia o lado de dentro do restaurante e o de fora. – Mas ele já escolheu a fantasia que vai usar na sexta. E não, ele não me falou.
- Mas o certo é não falar mesmo! – Comecei a olhar o cardápio.
- Eu devia te bater por ter idéias assim!
também pegou o cardápio dela e demoramos muito para decidir os nossos pedidos. Quando falo “muito” eu quero dizer realmente muito. O garçom foi e voltou para a nossa mesa três vezes até termos decidido. Eu pedi um prato com sushi e preferiu um peixe frito com batatas. Agora me responda uma coisa: Quem pede pra ir a um restaurante japonês e pede peixe frito? É, só ela mesmo. Mas como eu não sou de reclamar, cof cof, deixe-a ser feliz e pedir sua fritura. Também pedimos sucos de sabores diferentes que logo foram servidos em taças bem enfeitadas com pedacinhos de fruta.
- Quando será que vão revelar os resultados da peça? – perguntou casualmente e eu quase engasguei com o meu suco.
- Não sei... Mas também não me importo. – Fiquei brincando com o canudinho e ela percebeu que aquele ainda era um assunto delicado pra mim.
- Desculpa, ... Não falei sobre isso por mal...
- Sei disso, . E não precisa se preocupar. – Tentei fingir que não me importava, mas foi difícil. – Eu estou feliz por você e pelos meninos... Porque tenho certeza que vão conseguir os melhores papeis.
- Mas e você? – Ela me olhava tentar pegar um pedaço de laranja que tinha escapado da borda do copo.
- Eu vou estar na platéia pra aplaudir vocês. – Forcei um sorriso. – Ano que vem eu tento de novo...
O assunto foi interrompido assim que o garçom voltou com os nossos pratos. Meu sushi parecia muito apetitoso e eu até salivei. A diferença entre a minha comida e a de era óbvia. Enquanto o meu prato estava dividido em pequenas porções coloridas, o dela estava coberto por um filé de peixe e muita bata frita.
- Você é tão elegante, ! – Ri enquanto a ruiva enchia a boca de bata frita.
- Blaaaaah. – Ela abriu a boca cheia de comida e eu olhei em volta, torcendo para que mais ninguém estivesse admirando aquela cena.
- Eeeeeeeeew! Para com isso! – Tive que rir e ela acabou fazendo o mesmo, o que quase causou a sua morte por engasgamento. – Além de ser nojenta ainda não sabe mastigar!
- Cala a boca, sua chata! – reclamou comigo enquanto ainda tentava recuperar o ar.
- Ora você me ama por achar a melhor fantasia pra você, ora me chama de chata! Quem entende?
me respondeu mostrando o dedo do meio e um casal de velhinhos que estava na mesa ao lado da nossa a repreendeu com o olhar. Preciso falar que ri ainda mais depois disso? Achei que não. De qualquer forma, nós duas seguimos com o nosso almoço em paz e os assuntos mais variados foram surgindo, como os planos para juntar os nossos cinco meninos em uma banda, ou sobre como seria a festa de sexta feira... E é claro que o tópico “Zayn” apareceu várias vezes, principalmente por ficar repetindo que eu havia admitido que estava apaixonada por ele.
- Você não acha que é rápido demais? – Perguntei em um suspiro, finalmente largando meu hashi de lado. – Quero dizer... Eu não o conheço há tanto tempo assim.
- , dá pra parar de pensar assim? Eu também “não te conheço há tanto tempo assim”, mas já tenho certeza que você é a minha melhor amiga e o amor da minha vida. – Fez aspas no ar e me fez rir do seu exagero. – E nem venha me falar que é diferente, porque não é. Quando as coisas são feitas pra dar certo, elas simplesmente dão.
- Então me desculpe, senhorita sabe tudo!
- De qualquer forma, é normal ter um pé atrás, então não precisa se desculpar. – sorriu pra mim de forma companheira. – Também é normal se apaixonar por alguém que está tão próximo de você. Não é como se fosse amor, certo?
- Certo. – Respondi já um pouco mais aliviada. Talvez se apaixonar não seja algo tão complicado quanto eu estava achando e talvez não precisasse de anos de convivência para sentir um sentimento mais forte que apenas amizade. De fato não era amor... Talvez um dia esse sentimento viesse a nascer, mas quem pode falar ao certo, né? – Obrigada, . Você sempre sabe o que falar pra me deixar bem. Até parece o meu avô.
- Sério? Então eu quero conhecer esse senhor tão genial quanto eu. – Brincou e me arrancou uma risada. Eu até podia imaginar os dois entretidos em uma conversa filosófica. Foi só pensar em Charles que meu coração apertou de saudade.
Depois de mandar a minha dieta –inexistente, diga-se de passagem– para os ares com um pedaço gigantesco de torta de chocolate, nós duas pagamos a conta e deixamos o restaurante para trás. Os velhinhos olharam para a minha amiga da mesma forma de antes, enquanto saíamos, e dessa vez eu apanhei por rir.
Deixei em casa e segui o meu próprio caminho em seguida. O meu relógio de pulso marcava 15h30min quando eu entrei na minha própria casa. O lugar estava completamente vazio, o que era até um pouco triste. Eu já estava acostumada a nunca ficar sozinha, então não sabia muito bem o que fazer. Resolvi ir para a sala e assistir um pouco de TV até alguém chegar, mas o que acabou chegando foi o sono.
A televisão ainda estava ligada quando eu acordei com o meu celular apitando em cima da mesinha de centro da sala. Eu levei um susto tão grande que quase caí do sofá. “Nossa, eu preciso mudar esse alerta de mensagem.” Pensei ao coçar os olhos e tentar acordar direito. Se fosse uma ligação eu teria me desesperado para atendê-la, mas como era apenas uma mensagem, quem quer que fosse poderia esperar cinco minutos. Me espreguicei e bocejei duas vezes até conseguir me mexer e sentar no sofá para poder esticar o braço e pegar o meu iPhone.
“Tah, de quantas aboboras você precisa mesmo? – Lou.” Era o que dizia a mensagem. Por um momento achei que ele estava ficando louco, mas foi aí que eu me lembrei do que ele estava falando. Eu pedira pra ele trazer algumas aboboras pra casa quando estivesse voltando do trabalho. Iria esculpir algumas delas para usar na decoração da festa de Halloween e sabia que ao lado da agência em que ele trabalhava havia uma loja com as melhores.
“12. Grandes de preferência. Love you. xxxxxxxx” Eu sabia que era uma quantidade grande, por isso exagerei na quantidade de “x”. Talvez aquilo amolecesse o coração de meu irmão e ele não se importasse em carregar tantas aboboras pra cima e pra baixo. Mesmo que Zayn insistisse em comprar as aboboras já prontas, eu queria fazer pelo menos algumas. Além de ser divertido passar o dia inteiro fazendo aquelas obras de arte, nós já estávamos comprando muita coisa pronta.
Por falar em Zayn, eu havia prometido a ele que ligaria assim que chegasse em casa, mas ainda não havia o feito já que peguei no sono antes de realmente fazer qualquer coisa. Aproveitei que estava com o celular na mão e procurei o nome dele na minha agenda de contatos.
- Vas happening, ? – Depois de três “beeps” Zayn atendeu a minha ligação daquele mesmo jeito de sempre.
- Vas happening, Zayn. – Respondi mesmo sem saber se aquele era o jeito certo de usar aquela expressão. Coloquei as pernas para cima do sofá e deitei novamente.
- Olha só, você está pegando o jeito! – Ele riu. – Estava com a até agora?
- Na verdade, eu cheguei em casa há algumas horas, mas acabei pegando no sono, sabe como é... – Rolei os olhos para mim mesma e me senti idiota por não conseguir tirar um sorriso do rosto. Como aquele garoto me deixava assim só por escutar a sua voz? – Achar uma fantasia pra ela foi mais fácil do que a gente pensava.
- E você não vai me contar qual é a sua, certo?
- Certo! – Soltei uma risada baixa.
- Se eu estivesse na sua frente, tenho certeza que me contaria. – Zayn falou e eu tive certeza que ele estava levantando uma das sobrancelhas, cheio de segundas intenções.
- Como pode ter tanta certeza? – Parei de rir, mordendo o meu lábio inferior já imaginando as formas de persuasão que ele poderia usar para me arrancar informações.
- É simples, . Você não resiste ao meu charme. – O menino disse e eu acabei rindo mais uma vez. – Ei, para de rir! Não é uma piada. Eu estou falando sério!
- Tá bem, Malik, continue se iludindo. – Gargalhei alto, tirando uma com a cara dele.
- Não estou me iludindo! É você que pensa que me engana. – Ele estava sorrindo do outro lado da linha, eu sabia disso.
- Enfim! – Cortei o assunto antes que eu falasse alguma besteira por estar imaginando demais aquele sorriso perfeito. – Está tudo certo para a festa na sexta?
- Está sim! Minha mãe vai embora na quinta e as encomendas foram confirmadas. Aliás, ... Eu queria te pedir um favor.
- Claro, pode falar. – Preciso dizer que aceitaria qualquer coisa que ele me pedisse àquela altura?
- É que algumas entregas estão marcadas para a manhã e como eu vou estar na aula, não vai ter ninguém em casa pra receber. – Onde ele estava querendo chegar com aquilo? – Então eu estava pensando... Quem poderia fazer isso por mim?
- E é claro que você pensou em mim, já que eu tenho a sexta feira livre de aulas. Acertei?
- Que bom que você aceitou, . Amanhã eu te entrego uma chave extra e te explico tudo. – Zayn encerrou o assunto mesmo que eu não tivesse aceitado ainda.
Então, aparentemente, Zayn me emprestaria a chave da casa dele para que eu ficasse sozinha lá esperando as entregas para a festa. Ou ele tinha ficado louco de vez, ou realmente confiava em mim. Eu preferia acreditar na segunda opção. Antes que eu pudesse negar e falar que era responsabilidade demais pra mim, a porta da casa se abriu e eu escutei Louis gritando o meu nome. Provavelmente precisava de ajuda com as aboboras.
- Já vou, Lou! – Tapei o meu celular com a mão para não deixar Zayn surdo e respondi o meu irmão. – Não, não foi com você, Zayn. É que os meninos acabaram de chegar aqui com as aboboras que eu vou esculpir.
- Você realmente não mudou de idéia, né? Eu já te disse que poderíamos ter comprado prontas e...
- Shh, Malik! – O repreendi. Não queria entrar naquela discussão de novo. – Eu tenho que ir, ok?
- É o Zayn? – Louis gritou do hall de entrada, colocando duas aboboras grandes no chão. – Fale que eu mandei oi.
- Aliás, meu irmão está mandando “oi”. – Ri. Até que eles estavam se tornando bons amigos.
- Mande outro! – Zayn respondeu animado. – Ele vai pra festa, né?
- Sim, todos os meninos vão. E eu nem precisei obrigar ninguém!
- Ótimo. Oh... Eu vou te deixar ir agora, ok? Boa noite, , te vejo amanhã.
- Até amanhã, Malik. – Desliguei o celular com um sorriso bobo.
Capítulo XXIV
Quarta e quinta-feira passaram sem muita emoção, tirando o fato que as minhas horas livres se resumiram a esculpir aboboras e que Zayn realmente me deu a chave extra para sua casa. Niall viu o momento em que ele me entregou a chave e até fez uma gracinha, falando que nós já estávamos “nesse estágio do relacionamento”. Eu o teria mandado calar a boca se não estivesse prestando mais atenção na cara que Brigitte fez ao também assistir a cena. A oxigenada até que tinha parado de tentar me matar durante as aulas, mas ainda virava a cara pra mim quando nos cruzávamos nos corredores. Zayn comentou que ela ia atrás dele de vez em quando, mas que ele só a ignorava. Eu tentei não ligar para aquelas informações, mas foi impossível. Tive ciúmes sim, mas só o admiti para .
De qualquer forma, a sexta-feira chegou e era finalmente o dia da tão esperada festa de Halloween. Estacionei o carro dentro da garagem da casa de Zayn, já que ele havia me dado instruções para fazer isso. O lugar estava quase vazio e a minha única companhia durante aquela manhã seria Boris, que logo veio correndo ao meu encontro por ter escutado o barulho do portão da garagem abrir e fechar. O animal provavelmente achava que era um de seus donos, mas não pareceu tão desapontado a me ver.
- Hey, Boris! – Me abaixei até ficar na altura do bichinho e fiz carinho atrás de sua orelha. Ele balançou o rabo em felicidade e lambeu o meu rosto. Teria sido algo nojento se eu não gostasse tanto dele. – Seu pai avisou que eu viria hoje?
Me chame de louca se quiser, mas eu sempre fui daquelas que tratam animais de estimação como pessoas. Não no sentido de vesti-los com roupas esquisitas, mas eu conseguia estabelecer uma conversa duradoura com eles, mesmo não recebendo uma resposta literal. Boris latiu pra mim e eu não consegui decifrar o que ele estava querendo dizer, mas resolvi aceitar como um latido de boas vindas. Eu me levantei e fui até o banco traseiro do meu carro, de onde tirei uma mala. Sim, uma mala. Ali dentro estava a minha fantasia e tudo que eu precisaria pra me arrumar, ou seja: Maquiagem, secador de cabelo, cremes corporais e etc. Como eu tinha me disposto a ajudar na decoração da casa, teria que me arrumar por ali mesmo, já que voltar pra casa seria perder tempo.
Saí da garagem com Boris me seguindo e cheirando a minha mala. Ele devia estar achando que era um brinquedo, porque tentava morder as rodinhas. Algo me dizia que ele iria querer brincar com a decoração e acabar me atrapalhando. De qualquer forma, segui meu caminho até o quarto de Zayn. Iria deixar a minha mala ali, já que não tinha coragem de deixar em nenhum outro lugar. Vamos ser sinceros aqui, eu sempre fui muito desligada, então poderia acabar esquecendo alguma coisa minha naquela casa. O que seria pior: Zayn achar no quarto dele e depois me devolver, ou uma de suas irmãs e até a própria mãe dele encontrar por aí? Se você respondeu opção ‘b’, acertou! Terminei de subir as escadas e encontrei a porta do quarto de Zayn. Mesmo que eu não tivesse estado lá antes, seria fácil de achar, já que naquele corredor havia apenas uma porta com o nome “ZAYN” desenhado em spray preto.
Meus olhos se arregalaram assim que eu girei a maçaneta e olhei aquele quarto. Em cima da cama estavam várias caixas de papelão com coisas pretas saindo pelas beiradas. Me aproximei com cuidado já esperando algum rato sair de lá e encontrei um post it amarelo colado em uma das caixas.
Fiquei ali parada tentando organizar meus pensamentos. É, eu tinha mais coisas pra fazer do que imaginava. E o pior? Estava sozinha. Zayn só chegaria na hora do almoço e mesmo assim o trabalho maior acabaria pra cima de mim. “Isso mesmo, . Se ofereça pra ajudar!”
- É... – Falei sozinha. – O dia vai ser longo.
Passava da uma hora da tarde e eu já estava morta de cansaço. Zayn não dera sinal de vida e eu já tinha rodado aquela casa milhões de vezes. Recebi todas as entregas de comida e as arrumei na cozinha. As teias de aranha falsas que achei em uma das caixas de papelão já estavam em lugares estratégicos e as minhas aboboras esculpidas estavam espalhadas pelo jardim de entrada, só o que faltava seria acendê-las. A empresa de luzes já tinha instalado canhões de luz no teto da sala e eu já tinha montado a pista de dança que ficaria por ali. Boris não me atrapalhou em nada, muito pelo contrário, ele foi uma companhia e tanto.
Me joguei em um sofá que ainda estava por ali e fechei os olhos por dois segundos. Minhas pernas doíam de tanto subir e descer as escadas e meus braços estavam cansados de carregar coisas pesadas. Meu cabelo devia estar todo bagunçado e eu nunca agradeci tanto por estar usando roupas confortáveis.
- ? – Senti um carinho na minha bochecha e abri os olhos para ver Zayn ali na minha frente.
- Hey, você chegou! – Sorri meio sonolenta, mesmo que não estivesse dormindo.
- Demorei? – Ele se sentou ao meu lado, sorrindo.
- Demorou muito! – Ri ao puxá-lo para um abraço.
- Mas eu trouxe comida. – Justificou-se e segurou o meu queixo devagar para deixar um selinho em meus lábios.
- Então está perdoado! – Respondi já encarando a sacolas do Nando’s que Zayn trouxera. – O Niall sabe que você passou lá?
- Na verdade sim! Ele e ficaram por lá, mas eu sabia que precisava vir aqui e te alimentar. – Ele riu e já me passou a sacola de comida.
- Era o mínimo que você podia fazer, já que está me mantendo aqui como refém! – Brinquei e levantei do sofá, indo para a cozinha. Pois é, eu já estava me sentindo em casa.
Zayn me seguiu e se sentou à mesa da cozinha, me observando servir a comida em dois pratos. Ele não reclamou por eu estar mexendo em tudo como se eu mesma morasse ali e até gostou por eu ter nos servido. O menino me contou como foi o dia na Academy e contou que todos que passaram por ele confirmaram a presença na festa. Até mesmo Brigitte disse que viria. Sei que a culpa de convidá-la era minha, mas talvez eu não tivesse pensado direito sobre isso.
- E o que ela disse? – Perguntei colocando um pedaço grande de frango na boca.
- Eu não lembro direito, ... – Zayn coçou a nuca e não me convenceu. Levantei uma das sobrancelhas e ele resolveu contar. – Tá bem... Ela disse algo como: “Te vejo mais tarde. Eu estarei vestida de Julieta e espero que você seja o meu Romeu.”
- That bitch. – Bufei depois de engolir em seco. – Aposto que ela só falou isso porque sabia que você me contaria. E é claro que com isso ela também se referia à peça!
- Por isso eu não queria te contar... Eu sabia que você ficaria assim. – Zayn me olhava como se pedisse desculpas por ela. Ele sabia que ela me irritava profundamente, principalmente por me odiar sem eu nunca ter dado um motivo.
- Assim como? Eu estou normal. – Dei de ombros e forcei um sorriso que logo se transformou em uma careta. Não adiantava mentir pra ele. – Mas ela provavelmente está certa. Você vai conseguir o papel de Romeu e ela o de Julieta.
- Não pensa assim, ... – Ele esticou a mão em cima da mesa até segurar a minha. Já havia um tempo que eu tentava me acostumar com a idéia de ter falhado no teste e já estava na hora de deixar isso pra lá.
- Vamos esquecer isso, ok? Como está a sua comida?
Pois é, eu sou ótima em mudar de assunto! Continuamos o almoço em paz e o assunto Brigitte não voltou a surgir. De fato a comida estava deliciosa e aquela pausa para descanso foi o suficiente para que eu recarregasse as energias e pudesse me preparar para a tarde de arrumações.
Com Zayn ao meu lado foi mais fácil pra decorar os espaços, já que ele pegava qualquer coisa pesada demais ou alta demais. A única coisa que nos atrapalhava era a dificuldade que nós dois tínhamos de ficar concentrados por muito tempo nas nossas tarefas, pois paramos várias vezes só pra trocar olhares, beijos, brincadeiras e coisas do tipo. No final do dia o nosso trabalho valeu muito à pena. O pôr-do-sol trouxe a escuridão e a atmosfera perfeita para uma noite de Halloween.
O jardim da frente estava enfeitado com lápides que saiam da terra e pareciam de verdade, além de Jack-o’-lanterns assustadores. Quem olhasse para a casa pelo lado de fora poderia ver silhuetas como sombras nas janelas. O bar já estava montado e os funcionários que Zayn contratara para a festa estavam chegando. As luzes e máquinas de fumaça foram ligadas e a mesa de DJ fora montada na frente da ‘pista de dança’, ao lado de um mini palco onde aconteceria a premiação do Oscar no fim da noite. Garçons entravam e saiam da cozinha, já arruando as comidas em bandejas e mesas próprias para isso. Resumindo: O som já estava tocando em um volume razoavelmente alto, as decorações estavam decorando, as luzes estavam piscando, os convidados chegando e eu... Bem, eu ainda não estava nem perto de ficar pronta.
- Tem certeza que ela não se importaria, Zayn? – Perguntei pela quarta vez ao entrar no quarto da mãe dele.
- Claro que tenho certeza, . Pode usar o banheiro e tudo que quiser. – Ele estava parado na porta e sorria pra mim. – Eu vou estar me arrumando no meu quarto e se precisar de alguma coisa é só me chamar.
Nem esperou a minha resposta e já fechou a porta, me deixando sozinha naquele quarto enorme. Tentei não bisbilhotar no que não era meu, mas foi impossível. Patricia tinha bom gosto de verdade. Os quadros pendurados na parede do quarto me lembraram um pouco as obras de arte da minha mãe, me deixando um pouco mais a vontade. O relógio digital do quarto mostrava que faltavam dez minutos para as oito, ou seja: Dez minutos até a hora em que a festa estava marcada pra começar. Obviamente eu não conseguiria me arrumar a tempo, mas poderia diminuir o meu atraso se parasse de olhar em volta e fosse finalmente tomar o meu banho.
Tirei de dentro da minha mala uma nécessaire com os meus produtos de higiene pessoal. Já estava me sentindo uma intrusa ali dentro, então não iria abusar e utilizar as coisas da dona da casa. Fui para o banheiro e tentei fazer menos bagunça possível. Lavei o corpo e o cabelo da melhor forma que consegui sem demorar muito. Aproveitei para relaxar embaixo da água quente por alguns minutos. Meu dia havia sido longo e eu não queria deixar de aproveitar a festa por estar cansada demais.
Acelerando o processo: Em meia hora mais ou menos eu já estava limpa e terminava de arrumar os meus cabelos. Não tinha nada muito elaborado em mente, então apenas cacheei algumas partes do cabelo e arrematei com uma trança que ia de um lado até o outro. A maquiagem perfeita para a minha fantasia era forte, mas não muito demorada, então levei apenas uns sete minutos para terminá-la. Meu vestido preto estava cuidadosamente esticado sobre a cama e eu logo tratei de vesti-lo. Também me enfeitei com jóias, passei um perfume doce, calcei o salto e só faltavam alguns toques finais: Uma coroa preta em forma de galhos e a máscara. Olhei-me no espelho admirando a minha fantasia de Cisne Negro, constatando que estava pronta pra descer.
Já do lado de fora do quarto da mãe de Malik, caminhei até a escada, mas parei no primeiro degrau. Olhei para a festa que já bombava no andar de baixo e não repreendi um sorriso. Tudo parecia estar no lugar certo e as pessoas se divertiam. Eu conseguia ver de longe, já que o vestido dela era o mais chamativo de todos. Minha amiga estava fantasiada de Jessica Rabbit e fazia jus àquela personagem, pois estava totalmente sexy e perfeita. Niall estava com ela, é claro, e estava vestido de Indiana Jones. Pois é, eu fiquei tão surpresa quanto você ao vê-lo com aquele chicote e chapéu de arqueólogo. Minha atenção não estava presa no casal porque eu procurava outra pessoa: Zayn. Mas nenhum sinal dele.
Eu me preparava para descer quando uma luz forte me cegou. Quem quer que estivesse comandando a iluminação da festa parecia ter me notado, porque me focalizou com um canhão de luz bem poderoso; diga-se de passagem. Várias pessoas começaram a se virar e olhar na minha direção. Eu não sabia se devia dar meia volta e me esconder ou se deveria descer as escadas e fazer uma entrada dramática. Escolhi a segunda opção, me sentindo o centro das atenções. Aproveitei que uma das minhas músicas preferidas estava quase no final e entrei na onda. Segurei o corrimão com uma mão e coloquei a outra na cintura; abri o meu melhor sorriso e comecei a descer devagar. Já que eu estava fazendo aquilo, faria direito. Eu podia ver algumas pessoas perguntando coisas como: “Quem é aquela?”, ou: “Você a conhece?” e tenho que admitir que eu me senti MUITO bem. Pelo visto a minha mascara conseguiu me esconder daqueles que não me conheciam tão bem, mas não de quem estava no fim da escada me esperando. Zayn finalmente apareceu e ele estava vestido bem formalmente e com uma capa presa em seus ombros. Também usava uma maquiagem no canto dos lábios que imitava sangue e eu logo constatei que ele era o Conde Drácula. Eu pude ver que ele estava sorrindo e mostrando aqueles dentes brancos perfeitos. Senti meus joelhos ficarem fracos por um momento e tive sorte de estar segurando no corrimão da escada já que, caso contrário, eu teria caído e estragado aquela minha entrada dramática.
- Me daria à honra dessa dança? – Zayn estendeu a mão na minha direção e se curvou em uma reverência.
- Eu adoraria. – Segurei a sua mão e ele nos guiou até a pista de dança.
Não falamos nada com palavras, já que nosso olhar dizia tudo. As pessoas abriram caminho para nós dois e continuavam me encarando com curiosidade. Chegou a um ponto em que eu já não sabia se eles estavam admirando a minha fantasia, ou se ainda não sabiam quem eu era. Sabe aquelas cenas de filme adolescente onde os convidados da festa formam um circulo e o casal principal fica no meio? Foi mais ou menos assim que aconteceu naquele momento. A minha música de entrada acabou e deu espaço para Stay – Rihanna preencher o cômodo. Zayn envolveu a minha cintura com um braço e segurou a minha mão esquerda com a sua direita, me fazendo pousar a minha mão livre sob o ombro do menino. Nossos olhares se conectaram de tal forma que eu mal podia prestar atenção em qualquer coisa que não fosse ele. Eu era guiada pelo salão e nós dois valsamos como se fossemos os únicos por ali. De vez em quando eu sorria e sentia o meu corpo flutuar. A sensação de estar nas nuvens era desconhecida pra mim até aquele momento. Eu me sentia bem com Zayn, me sentia feliz. Eu o olhava e via quem ele realmente era. Sentia em meu íntimo que podia confiar nele e me entregar. Seu olhar me passava a segurança que eu precisava pra ser eu mesma e não me importar com meus defeitos e inseguranças. Ninguém nunca havia me feito sentir aquelas coisas e era um pouco assustador... Mas um assustador bom. Um “assustador” que não te faz querer voltar atrás e sim continuar, ver onde aquilo vai dar. De alguma forma eu sentia que aquele era o começo de algo.
- Você está muito bonita. – Zayn me despertou de meus pensamentos ao sussurrar. Notei que já não encarava mais os olhos dele e sim os lábios avermelhados do mesmo.
- Você também, Malik. – Sorri mais uma vez.
Aos poucos fomos parando de nos mover e aproximamos mais os nossos corpos. Já não estávamos mais no centro da atenção de todos, pois mais pessoas voltaram a dançar, mas ainda éramos donos da atenção um do outro. Sem medo de borrar o meu batom, Zayn acabou com a distância que ainda separava as nossas bocas. Eu delicadamente envolvi a nuca dele com as mãos e dei espaço para que a sua língua fosse de encontro à minha. Borboletas selvagens tomaram conta de mim e eu senti que ele ficou arrepiado. Sendo bem sincera, eu não desejava sair dali nunca. Demos seguimento ao beijo lento, explorando cada cantinho da boca um do outro. Parecia que não nos víamos há dias, mesmo que tivéssemos passado a tarde inteira juntos.
- Sem querer atrapalhar os pombinhos, mas já atrapalhando... – nos interrompeu. Zayn e eu nos separamos com relutância e a encaramos com raiva. – Ei, não me olhem assim! Eu tenho direito de falar com a minha melhor amiga, não tenho?
- Não quando ela está ocupada, . – Zayn foi quem respondeu e eu só consegui rir.
- Eu posso ficar ocupada mais tarde, Zayn. – Deixei um selinho rápido nos lábios dele só pra que perdesse o bico gigante que estava fazendo. – Mas ela está certa... Ainda tenho que falar com os convidados.
- Mas, mas, mas...
- Mas nada, Zayn. – A ruiva o calou e virou pra mim em seguida. – Seu irmão e os meninos já chegaram e estão perguntando por você.
- Onde eles estão?! – Perguntei animada. Eu mal podia esperar pra ver as suas fantasias.
- Da última vez que eu os vi, estavam lá fora. Vem, vamos procurar por eles.
saiu me puxando pra fora da pista de dança e Zayn gritou algo como “Eu vou pegar bebidas pra gente”, mas não tenho certeza se era isso, já que a música estava realmente alta e ele estava um pouco distante. Fui desviando de pessoas aqui e ali e até consegui pegar um salgadinho ou outro das bandejas que os garçons seguravam. Saímos da casa e fomos parar na área da piscina, mas os meninos não estavam mais por ali. Paramos um pouco para olhar em volta até escutar um grito que só podia vir de uma pessoa...
- Hey, meninaaaaaas. – Louis chamou a nossa atenção. É, ele estava ficando mais gay a cada dia que passava. Os três meninos estavam em uma parte mais afastada do jardim, sentados em uns bancos de pedra que eu nunca nem tinha notado por ali.
- Achei eles, . – Avisei para a menina que estava indo na direção errada.
Andei pela grama morrendo de medo de enfiar o salto fino dos meus sapatos na terra e acabar caindo. Graças a Deus eu consegui encontrar um jeito de me equilibrar direito e chegar até os meus amigos sã e salva. Eles se levantaram pra me abraçar e eu estudei as roupas de cada um. O primeiro a me cumprimentar foi Liam, que estava vestido de Batman. Aquela não foi uma surpresa tão grande, já que ele amava o super herói. Harry Styles foi o segundo que me abraçou, mas tenho que chamá-lo de Harry Potter, porque o uniforme de Hogwarts ficou muito bem nele. Meu irmão foi o último e sua fantasia me fez rir. Não existia um Danny Zuco do filme Grease melhor que ele. A jaqueta de couro, a calça colada, os sapatos brilhantes e o cabelo arrumado com muito, mas muito gel estavam perfeitos.
- Vocês estão ótimos! – Falei assim que terminamos os abraços e cumprimentos. - Adorei todas as fantasias.
- A sua também está ótima, . – Harry sorriu. – Nós estávamos tentando adivinhar do que você viria fantasiada, mas todos erramos.
- Sério? E o que vocês achavam?
- Eu achei que você seria a Mortícia Adams. – Liam voltou a se sentar e ofereceu o banco ao seu lado para que eu me sentasse.
- Foi uma das minhas opções. – Afirmei sentando onde havia sido indicado. – E você, Haz?
- Uma princesinha. – Respondeu.
- Nossa, Harry! – Gargalhei. – Essa ainda é uma festa de Halloween, então eu não viria como uma princesinha.
- Eu falei pra ele! – Louis se pronunciou. – E eu achava que você se fantasiaria de Wendy.
- Awn, que gracinha, Lou! – Sorri pra ele. – Aposto que só pensou isso porque nós brincávamos de Peter Pan quando éramos pequenos.
- Quem brincava do quê? – Zayn chegou com as nossas bebidas e me entregou um copo verde com as bordas sujas de “sangue”.
- Louis e eu brincávamos de Peter Pan quando éramos menores. – Dei um primeiro gole na minha bebida. Hm, menta. – Ele era o Peter e eu a Wendy!
- Mas isso não é meio que incesto? – Niall Indiana Jones Horan também se juntou a nós.
- Claro que não! Eca. – Louis fez careta pra mim e eu só ri, mesmo que compartilhasse do mesmo nojo.
- Ele tá certo, . – Harry concordou com Niall. Eles estavam loucos!
- Não mesmo! Isso não tem nada a ver... – Tentei tirar aquela idéia da cabeça deles, mas parecia impossível.
- Na verdade tem sim. – Zayn balançou a cabeça em afirmação. – Porque Peter e Wendy são um casal. Tem beijo e tudo.
- Obrigada por estragar a minha infância, Niall! – Lancei um olhar feio na direção dele.
- Hey, não culpe o meu pudincup pela sua infância incestuosa! – defendeu o namorado e causou risada em todos. Bem, em todos menos em mim e meu irmão.
Os seis pareciam bem entretidos em discutir aquele assunto de brincadeiras infantis que não são mais tão inocentes quando crescemos. Todos e absolutamente todos pareciam dispostos a tirar uma com a minha cara toda vez que eu abria a boca pra falar alguma coisa. Aquilo me irritou de tal forma que eu preferi ficar calada e só balançar a cabeça em concordância ou discordância. De qualquer forma, eu estava mais entretida na minha bebida do que em qualquer outra coisa. O liquido não parecia tão gostoso no começo, mas assim que a sua boca se acostumava com a menta e a vodka até que ficava uma mistura bem gostosa.
- Hey, guys, eu vou pegar algo pra comer. – Levantei e os únicos que me olharam foram Liam e Zayn.
- Eu vou com você. – Zayn se ofereceu, mas assim que se levantou do banco o celular em seu bolso começou a tocar. – Opa... É a minha mãe. Eu preciso atender.
- Pode ir atender! – Ri do desespero do menino ao olhar o nome da mãe piscar na tela do aparelho.
- Nesse caso, eu vou junto. – O Batman já se levantou todo sorridente e Zayn se afastou acenando para nós dois, como se dissesse: “Vão vocês dois.”
- Então vamos, Li. – Sorri para o meu amigo e senti os olhares de , Lou e Harry em cima de nós. O único que não parecia entender nada era Niall.
Andei ao lado do super herói pela grama até nos afastarmos dos outros e chegarmos de volta à área da piscina. Eu sabia que Liam me olhava praticamente o tempo todo, mas tentava não fazer daquilo grande coisa. Nós tivemos momentos sozinhos depois daquela tarde no meu banheiro, quando ele disse o que sentia por mim, então não havia razão para ficar um clima ruim entre a gente naquele momento. Entramos na casa e a quantidade de fantasias diferentes que os convidados usavam dava um ar divertido à festa. Não é todo dia que você vê o Freddy Krueger conversando com a Chapeuzinho Vermelho.
- Eu vou pegar mais uma pra você, ok? – Liam pegou a taça vazia que eu segurava.
- Obrigada! – Sorri em agradecimento. – Eu vou na cozinha ver se arrumo algo pra gente comer e te encontro aqui, certo?
- Só não pegue nada que pareça ainda estar vivo. – Ele riu e eu fiz o mesmo.
De fato todas as comidas que eu estava vendo as pessoas comerem eram bem temáticas; ou seja: Tortas que pareciam pedaço de intestino, mini cachorros-quentes parecidos com dedos no meio de pães e outras coisas que eu não sabia direito o que eram, mas que também não queria ter que comer pra descobrir. O responsável pelo cardápio da festa se esforçou bastante pra tornar aquilo um banquete dos horrores. Niall havia se superado.
Liam foi na direção do bar e eu parti na direção contrária. Passei pela pista de dança me esquivando de alguns bêbados que tentavam me tirar pra dançar e acabava rindo deles. Eu não levava nada daquilo por mal, já que eles nem me conheciam e provavelmente iriam se esquecer em cinco minutos. Finalmente cheguei na cozinha e no mesmo instante desejei ter ficado pelo jardim. Brigitte estava saindo de lá seguida pelas suas duas amigas de estimação, como sempre. Ela não mentiu pra Zayn quando disse que iria se fantasiar de Julieta, porque era exatamente assim que ela estava. Odeio admitir isso, mas ela estava bonita. Seu vestido vitoriano era justo no busto, mas caía em castas de tecido e ia até os pés. O cabelo loiro e oxigenado estava ainda maior que o normal e descia em uma trança bem arrumada. Ela deve ter notado que eu a estudava porque o seu sorriso vitorioso (e nojento) apareceu.
- Ora, ora. – Ela andou na minha direção, me medindo dos pés à cabeça. – Então você teve mesmo coragem de vir? Achei que depois da última festa...
- Achou mesmo que eu deixaria de fazer qualquer coisa por sua causa? – Cruzei os braços, interrompendo-a. Sorri debochada, como se não me importasse com nada do que ela pudesse fazer. Por dentro eu sentia vontade de correr, me afastar e não ter que olhar para a menina que possivelmente conseguira o papel que eu mais desejava na peça da Academy e ainda me tirava do sério apenas por respirar.
- Eu esperava que não. Assim vai ser mais divertido quando você perder. – Brigitte olhou para as amigas e soltou uma risadinha irritante, como se as outras duas soubessem do que ela estava falando e eu não. O que de fato não deixava de ser verdade, porque eu não fazia idéia do que iria “perder”.
- Que eu saiba, quem perdeu algo aqui foi você. – Rebati mesmo sem saber do que se tratava aquilo que ela estava falando, mas tendo certeza que ela entendia perfeitamente do que eu estava falando. – Você perdeu o namorado, não foi?
- Vamos meninas. Não quero perder meu tempo e minha beleza com qualquer uma. – Brigitte me olhou com cara feia, me odiando ainda mais com aquela minha última pergunta. Eu não gostava de ser “má”, ou tocar na ferida das pessoas, mas ela merecia!
Mesmo sabendo que a oxigenada não mediria esforços pra fazer eu me arrepender de ter dito aquilo, fui até o balcão da cozinha com um sorriso de satisfação. Ela gostava de jogar; isso eu já tinha percebido. E se era uma adversária que ela queria, era o que ia ter. Olhei em volta procurando algo pra comer e tentando esquecer o último acontecimento. A noite estava sendo boa demais pra deixar um estresse insignificante me atrapalhar. Depois de procurar pelas caixas de comida que deveriam estar por ali, bufei em frustração. Eu me lembrava perfeitamente de ter colocado todas as encomendas em um lugar só. Será que os garçons mudaram tudo de lugar? Porque era impossível que a comida tivesse acabado.
- Precisa de ajuda? – Uma voz masculina apareceu atrás de mim. Eu imaginei que fosse algum funcionário e já me preparei pra reclamar.
- Na verdade... – Comecei séria, me virando na direção da voz percebendo que não era quem eu esperava. – Nick! Você é um zumbi!
- Te assustei? – Riu e fez uma pose de zumbi. Sinceramente aquela era a melhor fantasia de morto-vivo que eu já vira na vida. Ele devia ter passado horas fazendo a maquiagem e rasgando roupas para que ficasse naquele estado.
- Assustou sim! – Sorri pra ele. – Veio procurar comida também?
- O seu cérebro. – Brincou me dando um olhar tão sério que por um segundo eu cheguei a acreditar. – Estou brincando, !
- Então não me olha assim! Sua fantasia está boa demais pra esse tipo de brincadeira.
- Tudo bem, desculpe! – Se aproximou de mim. Até demais, pra falar a verdade. Nick não chegou a ficar colado em mim, mas ainda estava mais próximo do que eu gostaria. – Falando sério, eu estava procurando por você. Daí te vi entrando aqui e resolvi te seguir.
- Bem... Agora você me achou! – Coloquei as mãos na cintura. – Está curtindo a festa?
- Estou sim, mas tenho que dizer que gostei mais da festa passada. – Me fitava com aqueles olhos azuis brilhantes.
- Mas por que? Não gosta do Halloween?
- Não é isso. – Deu mais um passo na minha direção. – É que a essa altura, eu já estava quase te beijando.
- Ahn... – Olhei em volta, procurando uma saída. Nicholas se aproximava cada vez mais, achando que tinha alguma chance. Ele era um cara bem legal e poderia se tornar um bom amigo, mas seria só isso. Durante as manhãs na Academy ele agia totalmente diferente e eu começava a achar que Nick era o tipo de cara que usa festas/baladas e etc para “conseguir” as garotas. – Nick...
- Acho que dessa vez não seremos interrompidos. – Sorriu galanteador e investiu o rosto na direção do meu. Claro que eu virei o rosto e me afastei o máximo me pude, ficando colada no balcão.
- ? – Liam entrou na cozinha naquela hora e nos olhou. Ele viu a minha expressão de “me tira daqui” e encarou Nicholas.
- Pelo visto eu estava errado. – O outro menino riu debochado e se afastou alguns passos.
- Liam, eu estava te procurando! – Menti, indo até o seu encontro. – Desculpa, Nick, mas é um assunto sério. Nos falamos depois, ok?
Não fiquei ali pra escutar o que Nicholas iria me responder e puxei Liam pelo braço. Esse último quase derrubou as bebidas que segurava tamanha foi a força que eu usei para tirá-lo dali. Ele me olhou com curiosidade, mas já devia imaginar o que tinha acontecido. Eu só conseguia agradecer internamente por ter sido salva a tempo. Não, eu não iria beijar Nick, por motivos bem óbvios. Mas “dar um fora”, ou magoar pessoas assim não era bem o meu estilo. Sempre preferi me fazer de desentendida e não ter que passar por aqueles momentos constrangedores. Em Paris era bem fácil, já que ninguém se interessava por mim, mas em Londres estava sendo um pouco mais complicado. Acho que o fato de eu ser uma garota “estrangeira” e com um sotaque diferente era um atrativo a mais pra mim.
- Quem era aquele? – Liam sussurrou e me passou um copo de Cosmopolitan. Nós dois saímos de perto da cozinha e eu não arrisquei olhar pra trás.
- Ninguém importante. – Respondi com rapidez. Dei um gole na minha bebida e aproveitei que estávamos na sala para puxá-lo até a pista de dança. – Vem, Batman, vamos dançar.
- Batman não dança! – Relutou, mas ainda assim me acompanhou até lá.
- Que bom que você não é o Batman verdadeiro então! – Ri.
Vi Liam rolar os olhos por trás de sua máscara e ri mais ainda. Ele deu um longo gole na sua bebida, como se estivesse tomando coragem para dançar. Eu fazia o mesmo que ele, bebericando do meu canudo e sentindo a minha garganta queimar levemente, mas a diferença era que eu não precisava de coragem pra fazer algo que tanto amava. Foi só a música que estava tocando chegar à metade que eu comecei a me animar. Mexi os ombros em sincronia com o meu quadril e balancei a cabeça de um lado para o outro. As luzes que piscavam e giravam em todas as direções animavam todos que estavam ao meu redor e Liam logo entrou na dança. Eu tentava não derrubar a minha bebida ao mover os braços e jogá-los pra cima. O menino que estava na minha frente fazia pacinhos de dança engraçados. Ora ele era um robô, ora dançava a macarena. Pois é, ele tinha razão em dizer que o Batman não dança, pois os dois tinham aquilo em comum.
- Esse é o melhor que você pode fazer? – Perguntei alto o suficiente pra ser escutada e acabei rindo mais uma vez.
- Eu disse que o Batman não dança! – Deu de ombros e também riu, mas não parou de tentar dançar.
- Vem cá, deixa eu te ajudar. – Rolei os olhos divertida e deixei as nossas bebidas pela metade na bandeja do garçom que estava passando ao nosso lado.
- Ei, eu estava bebendo... – Resmungou.
- Depois você pega outra, Li. Agora eu vou te ensinar a dançar.
- Boa sorte com isso. – Sorriu.
Eu preferi ignorar aquele sorrisinho do garoto e o puxei pelo quadril, segurando-o junto ao meu. Liam me olhou de forma engraçada, como se eu estivesse ficando louca ou me aproveitando dele, mas tenho certeza que estava gostando. Comecei a nos balançar de um lado para o outro devagar e ele colocou as mãos na minha cintura.
- Você sente isso?
- Eu to sentindo muita coisa. – Ele respondeu e eu o repreendi com o olhar. Estava tentando ensiná-lo e ele ficava com gracinha? Admito que a expressão em seu rosto era tão fofa que eu acabei cedendo e sorrindo.
- É sério, Leeyuuuuuum. – Bufei na tentativa de fazê-lo se concentrar. – Tá sentindo o movimento do meu quadril no seu? É só se deixar levar... Imagine que você está no mar e as ondas estão te balançando.
O soltei, mas Liam ainda segurava a minha cintura. Ele afirmou com a cabeça e começou a guiar os nossos movimentos, mexendo o corpo de um lado para o outro. Ainda estava fora do ritmo da música que tocava, mas já era um começo. O problema é que ele começou a fazer palhaçadas como antes, me fazendo desistir de ensiná-lo qualquer coisa. Liam me soltou e começou a balançar os braços desengonçadamente e eu olhei em volta, preocupada em passar vergonha por estar ao lado daquele menino.
- Liam, o que você está fazendo? – Levei uma mão até a minha testa no estilo ‘facepalm’ e ele só riu.
- Você disse pra eu imaginar que estou no mar... Essa é uma tsunami! – Brincou e segurou uma de minhas mãos, me fazendo girar rápido.
- Gosh, Li! Você vai me derrubar!
Mesmo com o meu grito, o menino não parou de me girar. Eu mal mexia os meus pés com medo de cair, mas ainda assim sentia meu corpo girar sem sair do lugar. Na terceira volta eu já começa a ficar tonta, mas Liam só fazia rir. Tentei parar, mas acabei pisando em falso e tropeçando nos meus próprios pés. Eu cairia se alguém não tivesse me segurado bem na hora em que perdi o equilíbrio.
- Já bebeu tanto assim, ? – Graças a Deus era Harry me ajudando a retomar o fôlego e esperar a tontura passar.
- Não! A culpa é desse seu amigo que ficou me girando. – Me defendi e os dois se olharam, rindo de mim em seguida. Belos amigos eu tenho.
- Tadinha da minha amiga! – foi a única eu pareceu ter compaixão por mim e me abraçou. O que eu não esperava foi o sussurro que veio em seguida: - Sabe onde fica a sala de TV? Zayn está te esperando lá.
- Como? – Olhei-a sem entender assim que partimos o abraço. Nenhum dos meninos parecia ter nos escutado, já que Harry e Liam começaram a dançar escandalosamente.
- Vai logo, ! É por ali. – A ruiva apontou o caminho.
Mesmo sem entender completamente o que eu devia saber, segui pelo caminho que a minha amiga indicou. Logo saí da pista de dança, automaticamente saindo da sala, e virei a direita antes de chegar à área da piscina. Uma porta de madeira separava a festa de um corredor que eu nem sabia da existência. Entrei ali disfarçadamente para não ser seguida por ninguém e comecei a olhar entre as outras portas que havia ali dentro. Aquela casa ficava cada vez maior, ou era impressão minha?
A única porta que não estava trancada era a última e foi exatamente ali que eu entrei. A tal “sala de TV” parecia bem grande. Eu não consegui ver muitos detalhes porque tudo estava escuro e a única fonte de iluminação era a janela meio aberta, cujas cortinas eram sopradas de forma macabra pra dentro do cômodo. O quarto não era engolido pela escuridão e nem era claro demais. De qualquer forma, meus olhos começavam a se acostumar com a falta de luz. “Será que eu entendi errado?” Me perguntava internamente. Eu começava a ficar nervosa, imaginando as mil coisas assustadoras que poderiam estar escondidas ali. Dei alguns passos na direção da janela, sempre com cuidado pra não esbarrar em nada.
- Zayn? – Chamei por ele, mas não tive resposta. Olhei em volta. – Isso não tem graça...
- Eu sabia que você estaria aqui, Odile. – Uma voz rouca soou bem no meu ouvido e eu gelei no mesmo instante. Só pra deixar claro, Odile era teoricamente o nome da menina que se transformava em cisne negro na história. – Mas uma jovem não deveria andar sozinha por aí...
- Talvez eu só tenha vindo aqui na esperança de te encontrar... – Reprimi um sorriso ao entrar na brincadeira de Zayn e senti as suas mãos tocando os meus braços e subindo até meus ombros. – Conde Drácula.
- Essa não foi uma decisão tão sábia, minha jovem... – Sussurrou.
Com a mão direita, Zayn afastou os meus cabelos e me fez inclinar o pescoço para um lado. Senti minha pele arrepiar-se assim que ele a tocou com os lábios. Aproveitando que o meu vestido era tomara-que-caia, arrastou a boca a partir do meu ombro, indo até a minha clavícula. Eu fiquei ali parada, com os olhos fechados e aproveitando cada segundo daquela brincadeira que, àquela altura, já se tornava uma provocação e tanto. Senti a respiração do menino bater contra o meu pescoço e suas mãos grandes apertarem a minha cintura. Nós estávamos bem próximos e Zayn finalmente fez aquilo que eu estava esperando desde que ele aparecera; cravou os dentes com força na minha pele e sugou devagar. Se ele fosse um vampiro de verdade, estaria fazendo um bom trabalho. Eu apertei os olhos por causa da dor, mas não reclamei. A única coisa que escapou entre os meus lábios foi um suspiro bem parecido com um gemido. Meu corpo amoleceu, por isso fiquei feliz em estar sendo apoiada por ele, caso contrário teria me desequilibrado. Zayn percebeu o efeito que causou sobre mim riu baixo, me virando de frente pra ele.
- Sabia que sangue de cisne é o meu preferido? – Me abraçou pela cintura e eu tive rir daquela frase.
- Um Conde Drácula vegetariano? – O envolvi pelo pescoço. – Isso é novidade.
- Essa frase não foi muito boa, né? – Ele riu e colou os lábios nos meus, me dando um selinho bem demorado.
- Não mesmo! – Gargalhei depois de retribuir o beijo. – Eu achei que você queria falar comigo, porque a foi toda misteriosa quando me mandou vir aqui. Eu estava preocupada.
- Eu quero falar com você sim, mas não precisa se preocupar. – Ele me olhava com um pequeno sorriso no rosto, mas quem conseguia não se preocupar? – É o seguinte... A me falou do que vocês conversaram quando saíram pra comprar a fantasia dela e...
- Ela fez o que? – Arregalei os olhos. A primeira coisa que me veio em mente foi a conversa que tivemos quando eu admiti que estava sentindo mais que amizade por Zayn e ela insistindo que eu deveria contar pra ele. Me afastei do menino na mesma hora, escondendo o rosto com as mãos. – perdeu o juízo, só pode. Eu falei pra ela não te contar, mas ela contou do mesmo jeito!
- ... – Ele me chamou, mas eu o ignorei.
- Por que ela fez isso? – Eu falava mais comigo mesma do que com ele. – Por que ela foi te contar que eu estou apaixonada por você?!
- Você o que? – Zayn me olhou surpreso, como se aquilo fosse novidade pra ele.
- Eu o que, o que? – Parei de tagarelar por um minuto e o fitei de volta. – Não foi isso que ela te falou?
- Não... – Aquela expressão de surpresa não saía do rosto dele e quem quis sair dali fui eu. – Ela me contou sobre a sua preocupação com a peça...
- Mas eu pensei que... Porque nós... E também... – Nenhuma das minhas tentativas de formar frases deu certo e eu só fiquei ali sem saber o que fazer e falando coisas sem sentido. – Eu não devia ter falado nada... Mon Dieu, você não devia saber disso, porque agora vai querer se afastar de mim. Tudo bem, eu entendo. Quer saber? Vamos esquecer, ok? Esquecer que eu falei isso e esquecer o que mais você quiser.
Além de começar a falar francês quando fico nervosa, falar demais é um de meus defeitos nesse sentido. Eu andava de um lado para o outro sem conseguir olhá-lo nos olhos. Estava mais envergonhada do que tudo e não sabia se me jogava da janela de uma vez, ou se saia pela porta mesmo. “Muito bem , cada vez se superando.” Calei a boca, mas não o meu pensamento. Comecei a me xingar internamente e parti na direção da porta. Meu objetivo era sair dali o mais rápido possível e esse plano teria dado certo se Zayn não tivesse agarrado o meu pulso e me puxado na direção dele. Fiquei meio sem entender, mas o que há pra se entender quando o cara mais lindo que você conhece te prende junto a ele? Absolutamente nada.
Não consegui escutar nem mesmo os meus pensamentos quando Zayn me surpreendeu e me beijou sem explicação nenhuma. Eu não relutei por momento algum e só o segurei pela nuca e deixei o beijo acontecer. Devia ser um bom sinal... Pelo menos ele não estava pirando como eu achei que faria ao descobrir que eu estava apaixonada por ele. Enquanto o menino segurava nos meus cabelos com uma das mãos, a outra estava espalmada nas minhas costas, impedindo-me de me afastar um centímetro que fosse. O beijo se aprofundava cada vez mais e foi o mais longo que nós dois já trocamos. Só nos separamos quando estávamos ofegantes demais pra continuar.
- O que foi isso? – Juntei todo o ar em meus pulmões pra conseguir perguntar aquilo.
- Um beijo. – Sorriu como se não fosse óbvio e beijou o topo da minha testa. – Um muito bom aliás.
- Disso eu sei, né? – Ri baixinho, sem querer me distanciar daquele perfume que grudava na minha pele com tanta facilidade. – Mas... O que isso significa?
- Isso significa que eu gostei de saber do que você sente. Significa que eu gosto quando você mais parece uma tagarela e eu tenho que te calar de alguma forma. Significa que eu vou te trazer pra perto de mim sempre você tentar se afastar. Significa que eu sou doido por você, .
- Eu não sei nem o que falar... – Era verdade, já que eu não conseguia pensar ou formular uma frase melhor que aquela. As palavras de Zayn iam e voltavam na minha cabeça e eu sorria. Era um sorriso de surpresa e de felicidade. Nem nos meus maiores sonhos eu esperava escutar algo daquele tipo.
Demoramos mais alguns minutos na sala de televisão antes de voltarmos para a festa. Não nos separamos mais em momento algum; dançamos, bebemos e até comemos aquelas coisas estranhas que Niall tinha inventado. brincava falando que queria saber o que aconteceu no quarto de TV e eu só estirava a língua pra ela, prometendo que contaria tudo depois. Louis e Niall pegaram a urna onde os votos para a premiação estavam sendo colocados e foram calcular o resultado. Só quando eles voltaram -vinte minutos depois- foi que eu percebi que não tinha votado. De qualquer forma, já era tarde demais. O DJ deu uma pausa em sua playlist e os canhões de luz focalizaram o pequeno palco que eu havia montado ali perto.
- Então, , pode ir lá. – Niall me entregou o primeiro envelope dourado e eu o encarei.
- Ir onde? – Segurei o papel, mas não me mexi.
- No palco. Dar início à premiação, fazer o discurso de abertura... Essas coisas!
- E porque eu deveria ir? – Olhei para todos os meus amigos, mas nenhum deles parecia querer ficar no meu lugar.
- Porque essa idéia foi sua. – riu de mim e foi me empurrando para o meio das pessoas que esperava algo acontecer.
- Só entregue o primeiro prêmio, ... Depois nós vamos revezando. – Zayn me encorajou.
Ele me entregou uma das estatuetas que encomendamos e me acompanhou até o palco. Sentir centenas de olhos me encarando não foi a melhor sensação do mundo, mas eu teria que superar aquilo. Caminhei até o centro, onde um microfone me esperava. Respirei fundo e preparei o meu melhor sorriso. Seria a primeira vez que eu bancaria a apresentadora e tinha medo de gaguejar.
- Boa noite, pessoal! – Comecei, mesmo sem saber se estava fazendo aquilo certo.
- Boa noite! – Muitos me responderem em uni som.
- LINDA! – Harry gritou, me fazendo rir.
- Maravilhosa! – entrou na brincadeira.
- Obrigada, muito obrigada. – Mandei beijos para eles e me senti uma atriz famosa no Oscar verdadeiro. – Então vamos ao que interessa! No início da festa, nós pedimos para que vocês votassem nas fantasias que mais gostassem de acordo com algumas categorias, certo? Já temos o resultado e vamos começar com as premiações!
- LET’S DO THIS! – Alguém que eu não conhecia começou a gritar e aplaudir tão alto que foi seguido por quase todos no salão. Até que estava sendo divertido estar ali em cima e o nervosismo já tinha ido embora.
- A primeira categoria é: Fantasia mais Sexy! Uhhh. Sem mais delongas, the Oscar goes to... – Falar aquela última frase era um sonho sendo realizado. Fiz um pouco de suspense, é claro, e abri o envelope lacrado. Tirei o papel de dentro e sorri ainda mais ao ver quem era a ganhadora. – , como Jessica Rabbit!
Todos aplaudiram e a ganhadora gritou e pulou. Ela abraçou o namorado, que a beijou, e veio andando em direção ao palco onde eu a esperava. Nós sorrimos uma para a outra e nos abraçamos. Eu a entreguei o seu troféu e sussurrei “Parabéns” pra ela. foi até o microfone e literalmente fez um discurso de agradecimento.
- Eu nem acredito que ganhei esse prêmio! É uma honra tão grande... Ai, por onde eu começo? – A ruiva olhava para o prêmio e para o publico, sem parar de sorrir. Eu logo desci do palco e fui me juntar aos outros. – Primeiro eu gostaria de agradecer a todos que votaram... E é claro que eu não poderia esquecer da minha fada madrinha que achou essa fantasia pra mim... Minha melhor amiga, !
- I LOVE YOU, ! – Gritei pra ela, que sorriu e acenou.
Assim que a minha amiga finalmente saiu do palco, a premiação continuou. Eu gostaria de ter entregado outros troféus, mas não iria tirar a oportunidade de outras pessoas. Tudo estava correndo bem tranqüilo e divertido. Liam ganhou o prêmio de melhor super herói, Harry ganhou na categoria de “melhor personagem de filme adaptado de um livro”, uma menina da minha turma de dança ganhou o de fantasia mais criativa e Zayn ganhou o prêmio de melhor personagem clássico. Pelo menos esses foram os ganhadores que eu conhecia.
- A próxima premiação que eu quero assistir de perto é o Brit Awards. – Abracei Zayn de lado, deixando de prestar atenção no que acontecia em cima do palco.
- É? Por quê? – Me olhou curioso.
- Porque eu vou estar lá como sua acompanhante, já que você vai estar concorrendo ao prêmio de artista revelação do ano. – Sorri animada, já sonhando com o vestido que estaria usando. – E você vai precisar de alguém pra abraçar quando ganhar. Ou prefere uma pessoa qualquer que foi contratada pra estar lá?
- Eu prefiro você em qualquer situação. – Alisou a minha bochecha e quando se preparava pra me beijar, a voz de nos fez olhar na direção do palco.
- Eu tenho aqui nas minhas mãos o nome do ganhador do último prêmio da noite! – A baixinha estava novamente falando ao microfone e levantava o último envelope preto. – Aliás, esse é o mais importante. O prêmio de melhor fantasia!
- Quem vocês acham que ganhou? – Perguntei para os meninos ao meu lado e ninguém me respondeu.
- Você vai ver já. – Louis fez sinal de silêncio com a mão.
- É, . Shhh. – Zayn também me fez calar e eu rolei os olhos, desistindo de comentar qualquer coisa.
- E o Oscar vai para... – olhou em volta, aumentando o suspense. – Tomlinson, como Cisne Negro!
- Hã? – Fiquei no mesmo lugar, sem acreditar. Eu ganhei mesmo? Como assim? De verdade?
- Eu sabia! – Zayn vibrou ao meu lado e me abraçou. – Parabéns, !
- Eu... Tem certeza? – Louis, Liam, Harry e Niall me abraçaram de uma vez só e eu me senti esmagada. Sorri ainda meio atordoada. A ficha parecia não querer cair. Tá que não era um Oscar de verdade e aquele prêmio não tinha um “valor” real, mas pra mim significava muito.
- Claro que é você! Vá lá pegar o seu prêmio. – Meu irmão sorriu.
Eu comecei a andar na direção do palco e as pessoas abriram caminho pra mim, todas me aplaudindo. Meu sorriso crescia cada vez mais, assim como a minha animação. Parecia que eu estava finalmente entendendo o que estava acontecendo. me ajudou a subir no palco e me abraçou com tanta força que eu cheguei a ficar sem ar. Ela me entregou a minha estatueta e me falou pra ir agradecer no microfone. É claro que eu fui correndo fazer o meu discurso. Quando eu era pequena e assistia a premiações em casa, ficava imaginando como seria o meu discurso. Todos eles começavam com: “Eu gostaria de agradecer aos meus pais que sempre acreditaram em mim...”, mas esse não seria um bom começo; não naquele momento.
- Bem, eu realmente não esperava por isso. Uau! – Sorri olhando para a platéia que sorria de volta pra mim. – Acho que só o que eu tenho a dizer é obrigada! Obrigada a todos que votaram. Vocês não sabem o valor que isso aqui tem. Muitos devem se lembrar da última festa e de como não acabou nada bem pra mim... E hoje receber esse prêmio é como se eu estivesse indo do poço para o topo! Então obrigada mais uma vez. De verdade.
Eu era só sorrisos e no fim do meu discurso fui aplaudida mais uma vez. Eu não podia ver Brigitte e nem ao menos sabia se ela ainda estava na festa, mas tinha certeza que ela ficaria sabendo daquele meu prêmio e que não gostaria nada. Ela devia ser acostumada a sempre estar na melhor posição, mas naquela noite o altar era meu.
Capítulo XXV
É estranho como as coisas podem ser, não é mesmo? Um dia todos te olham torto, como se você fosse uma estranha que não pertence àquele lugar... E no outro, você se torna popular, conhecida e pessoas realmente param pra conversar com você. Era exatamente essa mudança que eu estava vivendo. Aparentemente depois da festa de Halloween eu havia atingido um novo patamar na “pirâmide” hierárquica da Academy. Não sei muito bem como aconteceu, mas o importante era que os alunos me tratavam de forma diferente, não mais como se eu fosse só uma caloura.
Naquela manhã eu estava na aula em grupo, como todas as segundas feiras, mas estava cercada por meninas que eu só conhecia de vista. estava ali também e só ria da forma que eu tentava lidar com toda aquela “nova popularidade” que eu começava a ter. Pra ela era fácil, já que era do tipo que é amiga de todo mundo; um modelo para garotas e alvo de cobiça para os meninos. Ela devia enfrentar isso desde o colegial, mas eu não. Digamos que no meu passado acadêmico eu sempre fui o patinho feio. Sem muitos amigos, sem muitas habilidades nas matérias escolares e etc. Mas depois da última festa, quando eu ganhei o prêmio mais importante da noite, as coisas mudaram drasticamente.
- Você realmente mereceu, . – Uma menina do segundo nível chamada Jessica alguma coisa me falou enquanto passava a mão no meu braço. – Aquele seu vestido foi o mais lindo que eu já vi!
- Obrigada... – Sorri meio sem saber o que responder.
- Onde você comprou? Aposto que trouxe de Paris! – Outra menina entrou na conversa, mas eu não captei o nome dela.
- É verdade! Você tinha mesmo que ser de Paris, porque pra ter um bom gosto assim... – Uma terceira garota me impediu de responder a segunda e eu começava a ficar perdida.
- Todas as roupas dela são lindas, já percebeu isso? – Jessica comentou com a última garota e eu comecei a me perguntar se ainda fazia parte daquela conversa.
- Tá bem, tá bem, a é linda e perfeita e depois ela passa o nome das lojas que frequenta em Paris. Agora, por favor, vocês podem deixar a menina respirar? – finalmente parou de rir de mim e fez as meninas pararem de tagarelar. – Além do mais, o professor quer começar a aula!
- Ai, você jura que passa? – Àquela altura eu já não sabia mais quem estava falando e me resumi a sorrir e acenar, afirmando que sim.
Depois que as meninas se afastaram e e eu ficamos sozinhas, trocamos olhares e começamos a rir. Eu sabia o que ela estava pensando e vice-versa. O Sr. Hofstheder logo tomou a frente da classe e começou a passar exercícios de aquecimento, nos mandando dividir a sala em dois grupos. Como a turma era muito grande, iríamos ter que intercalar entre a barra e o chão. e eu fomos para o lado esquerdo, que era o oposto da barra. Nenhuma de nós era muito fã daquela madeirinha chata, então estávamos evitando-a o máximo possível.
- Então você dormiu mesmo no apartamento do Nialler esse fim de semana? – Perguntei com um sorriso sapeca nos lábios, já começando a me alongar. Sentei no chão e estiquei as duas pernas na minha frente, me curvando para encostar nos joelhos com a ponta do nariz.
- Sim... Mas dormir não foi bem o que fizemos. – continuava de pé enquanto alongava os braços. – Foi a vez do Niall escolher uma página do Kama Sutra dessa vez, por isso passamos o fim de semana inteiro tentando chegar naquela posição.
- ! – Arregalei os olhos, surpresa com a naturalidade que ela teve ao falar aquilo. – Esse não é o tipo de coisa que se conta!
- Você é a minha melhor amiga, . Se eu não contar isso pra você, vou contar pra quem? – Ela se sentou ao meu lado e imitou o meu último movimento. Já eu, comecei a puxar a ponta dos pés para trás.
- Ahn... Pra ninguém?! – Falei como se fosse óbvio.
- Claro que não, ! Quando você tiver a sua primeira vez com o Zayn, tenho certeza que vai querer me contar. Eu sempre quis saber como ele é na cama, mas não tenho coragem de perguntar. – A sua última frase saiu mais baixa que a primeira, então tenho certeza que ela só pensou alto, por isso resolvi ignorar.
- Bem, eu não ficaria esperando isso acontecer tão cedo, se fosse você. – Mudei de posição, ficando agora com a perna direita estendida na lateral do meu corpo e a esquerda relaxada. Eu mais uma vez puxava a ponta do meu pé.
- Por que não? Você não se sente atraída por ele nesse sentido? – me perguntava curiosa, imitando todos os meus movimentos.
- Não é isso ...
- Ai, meu Deus, você é virgem?! – A ruiva perguntou um pouco alto demais e atraiu alguns olhares na nossa direção.
- Shhhhhh! – Exclamei, quase batendo nela. – Virgem eu não sou, mas é complicado...
- Quantas vezes você já fez sexo, ? – Mais uma vez ela perguntou alto demais para o meu gosto e eu já começava a ficar constrangida.
- Uma. – Falei baixinho, trocando as pernas.
- Meu amor, você não sabe o que está perdendo! – Começou a rir, mas ao ver a minha cara séria, ela parou. – Se você só fez uma vez, ainda é praticamente virgem. Eu aposto que nem aproveitou. Você gostava dele?
- É claro que eu gostava dele... – Fiquei um tanto melancólica ao tocar naquele assunto. – E achava que ele gostava de mim também. Mas estava enganada.
- Deixa eu adivinhar... Ele foi a sua “relação passada que não terminou bem”? – Perguntou e eu confirmei com um aceno de cabeça. – Por isso você fica com um pé atrás de se envolver tanto... Agora tudo faz sentido!
- Exatamente, Sherlock. – Sorri de canto.
Terminei de me alongar no chão e puxei para a barra. Os grupos já estavam trocando de lugar e nós não podíamos ficar pra trás. Bem, eu não podia. Porque se dependesse da minha amiga, ela não se importaria em ficar totalmente perdida na aula, até porque não queria estar ali. Diferente das outras salas, a barra dali não ficava colada ao espelho, o que permitia fileiras de alunos tanto de um lado quanto do outro. foi para um lado e eu fiquei do outro, dessa forma nós ficamos lado a lado e ainda podíamos nos olhar. O professor ficou nos rodeando, por isso evitamos conversar naquele momento. Eu tratei de me concentrar no meu alongamento.
Segurei na barra com a mão direita e a ponta de um dos pés com a esquerda, mantendo o outro firme no chão. O professor costumava me desafiar com aquela posição durante as nossas aulas particulares e eu queria mostrar que estava treinando para melhorar. Comecei a esticar para o alto a perna que estava segurando, sem dobrar o meu tronco. Respirei fundo e mantive o queixo reto. Eu estava em uma posição de quase 180º e minhas duas pernas doíam, mas eu contei até cinco antes de voltar a perna para baixo com graciosidade.
- Muito bem, , vejo que está melhorando. – O professor me elogiou e eu sorri com orgulho de mim mesma. – Talvez você devesse aprender algo com a sua amiga, .
- Claro, professor. – respondeu com um sorriso falso e foi só ele nos dar as costas que ela fez uma careta.
- ! – Sussurrei em repreensão, prendendo o riso. – Você devia mesmo aprender algo comigo.
- Ha ha ha, muito engraçada. – Também recebi uma careta e não agüentei segurar um riso baixo.
Nós teríamos continuado aquela discussão se uma voz vinda do além não tivesse prendido a nossa atenção. Tá bem, não foi uma voz do além... Foi apenas a diretora Agnes falando através das caixas de som em um canto da sala. Certo, se paramos para considerar que era ela quem estava falando, até pode ter algo do além nisso aí.
- Bom dia, alunos. – Ela começou. Pelo eco que o som tinha, assumi que havia caixas de som como aquela em todas as salas e corredores. – É com grande prazer que eu informo que o nosso baile anual de inverno acontecerá em duas semanas. Grandes surpresas acontecerão nessa noite, incluindo a revelação do resultado para a peça Romeu e Julieta. Espero ver todos lá... Agora podem voltar para as suas aulas, obrigada.
Gritos e palmas encheram a sala. Eles poderiam estar mais animados com o baile, mas só o que eu conseguia pensar era nesse bendito resultado. Sim, eu já estava conformada com a minha rejeição, mas precisava mesmo ser em um baile? Com todos ali ao meu redor comemorando suas vitórias?
- Eu AMO esse baile! – me balançou, tirando-me do meu estupor. – Tá que esse será o meu primeiro, mas já ouvi falar tanto... Dizem que a decoração é a coisa mais linda do mundo.
- Então você tira fotos e me mostra depois, ok? Porque eu não vou pra esse baile.
- Mas, ... – Fez um biquinho. – Eu já falei que você não pode deixar essas coisas te abalarem...
- Formem duas filas, por favor. – O professor falou alto e sério, como sempre. – Se preparem para o Fouetté e eu voltarei em um instante.
- Qual é esse mesmo? – cochichou pra mim e o professor foi até a porta da sala, atender alguém que estava lá.
- Você nunca vai aprender esses passos? – Sussurrei de volta pra ela e ri. Nós duas fomos nos juntar aos outros que já formavam as filas. – Eu vou te mostrar só mais essa vez.
A puxei para o final da fila, já que não queria ninguém vendo a minha demonstração. Ela ficou me olhando e eu rolei os olhos; o que ela faria sem mim, huh? Coloquei a minha perna direita na minha frente e ‘joguei’ a outra perna para o lado, sendo que o peso dela me fez girar. Rodopiei me equilibrando sob a perna direita e a esquerda continuava a me dar o impulso que eu precisava. Prendi o olhar em um lugar fixo para que eu não ficasse tonta e meu rosto só acompanhava o giro quando não podia mais ficar parado. Meus braços estavam em frente ao corpo, estendidos em uma oval.
- Eu já ia pedir a um voluntário para demonstrar o passo, mas vejo que a senhorita já fez isso. – O professor já havia voltado e eu parei de girar de repente, vermelha. Eu só estava mostrando pra , não pra turma inteira... – Você está dispensada, . A diretora está te esperando do lado de fora da sala.
- Obrigada, professor. – Olhei pra como se perguntasse: “Estou encrencada?” e ela só balançou a cabeça.
Aquele movimento não foi o suficiente pra me tranqüilizar, já que na minha cabeça eu já começava a imaginar as milhares de coisas que pudesse ter feito de errado. Desde quando a diretora me esperava do lado de fora da sala? Desde quando ela esperava qualquer um do lado de fora da sala? Peguei as minhas coisas no banco de madeira que eu costumava usar de cabide e me dirigi até a porta da sala. Podia sentir meu coração quase saindo pela boca. Infelizmente, passei por Brigitte no meu caminho e ela soltou um: “Isso que dá ser exibida.” Bem maldoso. Pensei em responder, mas estava nervosa demais pra falar qualquer coisa.
A senhora magricela realmente estava me esperando ali e me cumprimentou com um balanço de cabeça. Aquela mulher nunca sorri? Fui até ela com um sorriso discreto, já que eu sorrio, e vi que ela não estava sozinha. Nicholas estava atrás dela, distraído com algo em seu celular. Aí mesmo é que eu fiquei mais confusa ainda.
- Espero não ter atrapalhado a sua aula, senhorita Tomlinson. – Ela tocou o meu ombro e caminhamos até Nick. Assim que me viu, ele guardou o celular e abriu um sorriso enorme.
- Claro que não! – Tentei responder o mais naturalmente possível e sorri de volta para o garoto. Era a primeira vez que eu o via depois da festa de sábado, mas se a minha teoria estivesse certa, ele não tentaria nada constrangedor naquele ambiente.
- Ótimo. – Respondeu seca. – Vamos ao que interessa. Vocês dois sabem por que eu os chamei aqui?
- Estamos encrencados? – Pensei alto e Agnes me olhou de forma estranha.
- Não. Na verdade é bem o contrário. Eu os chamei aqui porque tenho um convite pra vocês dois. – Um convite? Ok, aquilo parecia começar a ficar bom. – Como vocês já devem saber, o baile de inverno está se aproximando e todo o ano nós temos apresentações especiais criadas pelos próprios alunos. E eu gostaria que vocês dois fossem a atração final. Que fechem com chave de ouro!
- Eu concordo, mas ela já disse que não vai! – Escutei falar enquanto eu me aproximava. Ela estava no refeitório; em uma mesa com Niall e Zayn. Eu não sabia do que falavam, mas já desconfiava que fosse sobre mim. – E vocês sabem bem o porquê.
- O porquê de que? – Me intrometi e sentei entre ela e Zayn. – Bom dia.
- Bom dia, . – O rosto de Zayn se iluminou de uma forma tão linda com aquele sorriso que eu recebi após o seu ‘bom dia’ que eu tive que puxá-lo pra um beijo rápido.
- Estávamos falando sobre você não querer ir ao baile de inverno. – Niall me respondeu, confirmando minha desconfiança.
- É. E nós achamos uma besteira você perder... – concordou com o namorado.
- Isso mesmo. E se você não for, eu também não vou. E eu quero muito ir, então você vai ter que conviver com essa culpa pra sempre. – Zayn fez drama e eu ri.
- Bem, então eu posso ficar tranqüila que não vou precisar carregar essa culpa. – Respondi.
- Então você mudou de idéia? – Minha amiga bateu palmas em comemoração.
- Eu meio que fui obrigada a mudar de idéia. – Rolei os olhos e ninguém entendeu nada. – A diretora me fez um convite e eu tive que aceitar... Ela me chamou pra dançar no baile. Eu acabei de voltar do escritório dela onde nós dois fomos nos informar sobre alguns detalhes.
- Isso é ótimo, ! Eu e o Niall também vamos nos apresentar lá e... Espera, você disse nós “dois”? – O tom de voz de Zayn mudou em dois segundos de animado para preocupado.
- Nick estava lá também... Nós vamos ter que dançar juntos. – O motivo que me levou a não começar a contar a novidade por aquela parte foi a reação que eu sabia que iria receber dos três.
- Nick? O mesmo que ia te beijar na festa de boas vindas se eu não tivesse atrapalhado? – Niall foi o primeiro a pirar.
- O mesmo Nick que ia tentar te beijar na festa de Halloween? – seguiu o exemplo do loiro.
- O mesmo Nick que eu nunca fui com a cara? – Zayn foi o último. Ele não estava tão agitado quanto os outros dois, mas seu semblante era sério, quase indecifrável.
- Gente, calma! Ele não é tão ruim assim... – Tentei amenizar a barra de Nicholas, mas só recebi um olhar feio. – Pode ser que ele tenha tentado algo no passado, mas esse caso é extremamente profissional. Um convite desse não aparece todos os dias, então eu não tive escolha...
Sei que não consegui convencer muito bem com aquele meu argumento, mas era o único que eu tinha. Niall foi o primeiro a aceitar e logo começou a me perguntar o que eu iria dançar, ou qual seria a minha ordem de apresentação, já que ele e Zayn seriam os terceiros. Quando falei que seria a última, entrou na onda e já começou a dizer que eu era muito importante e blábláblá. Zayn continuou sério por mais tempo e eu só consegui fazê-lo desamarrar aquela cara quando o enchi de beijos pelo rosto todo. Gostava de vê-lo com ciúmes, mas preferia os seus sorrisos.
- Hey, vocês viram que o Winter Wonderland chegou? – tirou um panfleto da bolsa e eu vi o desenho de um parque de diversões naquela folha colorida.
- Mon Dieu! Eu adorava ir nesse parque quando era pequena e vinha passar o natal aqui! Fica no Hyde Park, né? – Peguei o papel de uma vez, nada delicada. – É tão divertido! As luzes, os brinquedos e o algodão doce... Ahh, o algodão doce...
- Epa, não vai começar a babar no meu papel. – pegou de volta, mas eu continuei sonhando acordada. – Nós vamos lá, né?
- Temos que ir antes da época de chuvas, então aconselho irmos logo. – Niall falou com a boca cheia. Ele era o único que ainda estava comendo algo e, como sempre, eu não tinha comido nada.
- Vamos amanhã? – Zayn perguntou mais pra mim que para os outros e segurou a minha mão por baixo da mesa.
- Amanhã eu não posso... Prometi aos meninos que ia com eles fazer as compras do mês. – Entrelacei nossos dedos e encostei o rosto no ombro do moreno.
- Hmm, dona de casa. – Niall brincou.
- E depois de amanhã?
- Por mim tudo bem, mesmo que você não se importe. – parecia ressentida com a falta de atenção que estava recebendo, mas nós sabíamos que era brincadeira.
- Depois de amanhã eu não tenho nada. – Sorri.
- Então iremos depois de amanhã. – Zayn também sorriu e passou o nariz pelo meu.
- Espera um pouco... Teremos um encontro duplo? – A outra menina quase gritou de felicidade.
- Bem, nós dois não tivemos um encontro sozinhos ainda... – Olhei para Zayn e ele se fez de desentendido. – Mas eu acho que sim.
- Meu sonho será realizado! – sorriu mais uma vez e olhou no relógio, descontraída. – Ai meu Deus, ... Nós temos cinco minutos pra entrar na sala.
- COMO É? – Foi a minha vez de praticamente gritar. Eu estava tão entretida naquela conversa que perdi a noção do tempo e nem notei que as pessoas em nossa volta começavam a se retirar do refeitório e ir para as suas respectivas salas. – Estamos atrasadas!
- Vamos, vamos! – Ela me apressou, passando a própria bolsa pelo ombro e me entregando a minha.
- Tô indo. – Me levantei desesperada. – Vemos vocês na saída!
- Você tem certeza que sabe onde fica esse supermercado, Liam? – Eu estava no banco de trás do carro, pra variar, e ele dirigia enquanto Louis tentava se localizar no GPS do próprio celular. – Porque nós já passamos por essa árvore cinco vezes! Estamos andando em círculos.
- Eu já disse que sei o caminho... – O motorista tentava acalmar os meus nervos, mas não estava executando um trabalho muito bom. – Todas as árvores são iguais, por isso você acha que já passamos por essa cinco vezes.
- Dobra à direita aqui! – Louis exclamou do nada e Liam virou o carro de uma vez para não perder a entrada. O veículo fez um movimento tão brusco que eu fui jogada contra a porta e a minha cabeça bateu no vidro da janela.
- Outch! – Reclamei depois do susto, passando a mão onde havia machucado. – Vocês dois não podem ter um pouco mais de cuidado não?
- Você está bem? – Lou se virou na minha direção, visivelmente preocupado. Eu até começava a me arrepender por estar sendo tão chata, mas foi então que eu percebi que ele não olhava pra mim, e sim para o vidro. – Pensei que essa cabeçuda tivesse te machucado.
- Seu precioso carro está intacto, Louis. – Estreitei os olhos. – Eu é que não estou.
- Isso é pra você parar de reclamar. – Ele riu.
- Desculpa, ... – Liam ria um pouco daquela situação. – Eu tive que virar rápido pra não perder a rua.
- Não tem problema, Li. Eu vou sobreviver. – Ainda passava a ponta dos dedos sob o pequeno calombo que começava a se formar na minha testa. – Só preciso de um pouco de gelo...
- Olha só, pelo menos conseguimos achar o supermercado. – Lou apontou para o ASDA gigantesco que se aproximava bem na nossa frente.
Não demoramos muito pra encontrar uma vaga e estacionar o carro. Louis abriu a porta para que eu saísse e era o mínimo que ele podia fazer depois de me causar danos permanentes e ainda rir de mim. Nós três começamos a caminhar em direção à entrada e eu fiquei no meio dos dois meninos. Até que era uma cena bem divertida, já que eles pareciam meus guarda-costas, principalmente por estarem usando óculos escuros. Durante a minha infância eu constantemente me sentia como a Hermione e seus dois melhores amigos, mas com Harry no lugar de Liam. Vamos concordar que era um sentimento bem badass para uma menina entre os doze e quinze anos. Aliás, porque Harry não estava ali conosco? Ele era o que mais cozinhava e praticamente morava com a gente, então deveria estar nos ajudando também, oras!
- Hey, lads... Eu vou pegar um carrinho e encontro vocês lá dentro, ok? – Falei para eles, já indo na direção dos carrinhos.
- Desde quando você fala “lads”? – Lou parou no meio do caminho, me olhando de forma engraçada.
- Eu estou me tornando uma ótima britânica, não concordam? – Fiz os dois rirem e cada um de nós seguiu o próprio caminho.
Pelo canto do meu olho, observei os dois se abraçarem de lado e caminharem para dentro da loja. Sorri com aquele bromance e balancei a cabeça negativamente envolta em pensamentos. Eu amava aqueles dois idiotas. Na verdade... Amava os meus seis idiotas, o que incluía Niall, , Zayn e Harry. Não sei como uma pessoa só podia ter tanta sorte em ter seis anjos da guarda, mas eu tinha aquela sorte. Ainda com o sorriso bobo em meu rosto, cheguei até as duas fileiras de carrinhos vermelhos. Lembro de uma época simples, quando era só puxar um carrinho de supermercado para ele se desprender dos outros e ficar livre para o uso, mas aquele ali parecia não querer me obedecer de jeito nenhum. Não sei quem foi o funcionário que os arrumou daquela forma, mas gostaria de encontrá-lo para explicar que um não precisava ficar em cima do outro para que estivessem arrumados. Tentei de todas as formas possíveis até finalmente conseguir puxar o bendito carrinho. Como aquela tarde já não estava sendo tão boa pra mim, não fiquei surpresa ao machucar o pulso quando puxei o carrinho de mau jeito.
- Ahh, que legal! O que falta agora? – Resmunguei sozinha, empurrando o carrinho para a entrada do supermercado.
As portas automáticas se abriram pra mim e eu senti a diferença de temperatura entre o lado de dentro e o de fora. Enquanto o estacionamento estava frio por causa do inverno que se aproximava, os aquecedores mantinham uma temperatura um pouco mais elevada ao lado de dentro. Sentir aquele conforto preencher o meu corpo me fez esquecer um pouco as minhas dores e respirar fundo, pensando que tudo iria ficar bem. Assim que finalmente entrei na ala de compras, comecei a olhar para os lados a procura dos meus amigos. Eles não deveriam estar muito longe, mas o ASDA era um supermercado tão grande que eu poderia passar anos a procura dos dois.
Deixando meu exagero de lado, cruzei alguns corredores e nada de avistar nenhum dos meus companheiros de casa. O supermercado não estava tão cheio, mas andar empurrando aquele carrinho me atrasava um pouco. Resolvi deixá-lo em um canto só enquanto eu olhava no último corredor mais próximo de mim. Se não os encontrasse ali, usaria meu telefone para localizá-los. Foi só me afastar alguns metros que uma mulher correu até o MEU carrinho e começou a puxá-lo. Dei meia volta e fui até lá o mais rápido que consegui.
- Com licença, senhora... – Segurei a parte da frente do carrinho, impedindo-o de mexer. A mulher se assustou, até porque sabia que estava fazendo algo errado, e segurou a parte de trás com força. Eu tentava permanecer calma e educada. – Esse carrinho é meu. Eu só o deixei aqui enquanto fui procurar os meus amigos e...
- Sinto muito, mas ele estava largado aqui. – A minha educação não adiantou de nada, porque aquela mulher foi ríspida em sua resposta. – E achado não é roubado.
- Achado não é roubado? – Ri sem humor. – Eu achava que isso aqui era um supermercado e não o jardim de infância.
- O carrinho é meu! – Ela continuou a insistir. Você pode achar que era só um carrinho e seria bem mais fácil voltar lá pra fora e pegar outro, mas eu não havia machucado o pulso e perdido quase vinte minutos pra conseguir aquele carrinho por nada!
- Escuta aqui, senhora. Você quer esse carrinho? Ok! Mas vai ter que me levar junto. – Deixei toda a minha boa vontade de lado e falei entre dentes, passando uma perna após a outra para dentro do carrinho. Sim, eu entrei nele e me sentei, cruzando os braços. A mulher me olhou como se eu fosse uma louca e saiu de perto apressada. – Isso mesmo, vá embora!
- Wow, isso foi demais, ! – Liam surgiu atrás de mim. Não sei há quanto tempo ele e Lou estavam ali, mas aparentemente tinham assistido tudo. – Um pouco paranóico, mas ainda assim demais.
- Você defendeu o seu carrinho like a boss! – Louis levantou a mão para que eu batesse nela. – High Five.
- Obrigada, meninos. – Ri e bati na mão do meu irmão em comemoração.
- Eu peguei isso aqui pra você, . – Lou me entregou um pacote de ervilhas congeladas.
- E o que eu devo fazer com isso? – Peguei o pacote e comecei a rir.
- Colocar na testa, é claro. – Liam me respondeu e começou a empurrar o carrinho. Aparentemente eu ia continuar ali dentro.
- Eu não vou andar por aí com um saco de ervilhas congeladas na testa. – Olhei para os dois como se estivessem loucos; bem como a mulher de antes me olhou.
- Você é que sabe. – Lou deu de ombros. – Se quer ir ao seu encontro duplo amanhã com um galo na cabeça, o problema é seu.
- Eu odeio quando você tem razão, Louis! – Me rendi e encostei o pacote gelado na minha testa. Resmunguei um pouco de dor e frio, mas era melhor do que ficar com a cabeça inchada.
Passamos pelo primeiro corredor, segundo, terceiro... Parando de cinco em cinco minutos e pegando coisas que nos agradavam. Quero dizer, os meninos iam pegando as coisas e eu arrumando no carrinho, pois não queria sair dele. Preciso confessar algo: Eu achava que fazer a “feira” seria bem mais complicado do que realmente foi. Minha mãe teria um treco se estivesse ali, mas como não estava, nos preocupamos apenas em encher o carrinho de besteiras. Quase não pegamos coisas saudáveis. A não ser que você considere sorvete de morango, ou varinhas de alcaçuz como fruta.
- , olha aqui pra foto. – Lou me chamou e eu olhei em sua direção. Ele estava com o celular apontado na minha direção e se preparava pra tirar uma foto.
- Eu estou tão engraçada assim pra você querer registrar esse momento? – Devia estar mesmo. Imagine uma menina de 19 anos sentada em um carrinho cheio de porcarias e segurando ervilhas congeladas na cabeça. Parecia mais uma criança, sei disso. Os meninos riram e eu fiz um bico para que ele tirasse a foto. Não daqueles bicos do tipo: “Sou sexy tirando foto no espelho pra colocar no facebook.” E sim: “Machuquei a cabeça e tive que passar por isso. Sintam pena de mim.”
- Essa vai direto pro Twitter. – Lou tirou a foto e se afastou um pouco, me impedindo de ver o que ele estava escrevendo.
- Você ficou louco, Lou? – Me assustei. A minha cara devia estar horrível e mesmo assim ele ia postar aquela foto?
- Agora já foi. – Sorriu satisfeito.
Liam parou de empurrar o carrinho e foi pegar mais alguma coisa nas prateleiras. Eu não esperei mais nada pra pegar o meu celular dentro da bolsa e abrir no Twitter. Queria ver o que o traste do meu irmão fizera. É só comigo que os sites demoram três vezes mais pra abrir quando mais se precisa? Porque o celular só fez o favor de carregar a página quando Lou começou a rir escandalosamente de algo. Deslizei o dedo pela tela até encontrar o que eu estava procurando.
Era o que dizia a legenda da foto. Até que não foi algo tão ruim quanto eu esperava e a minha cara não estava tão estranha. O motivo que levou o meu irmão a rir daquele jeito? Simples! O comentário da minha melhor amiga:
Capítulo XXVI
“Winter Wonderland, Winter Wonderland...” Não sei se estava mais animada com a música dentro da minha cabeça, ou com dancinha desengonçada que eu fazia ao me arrumar. Tudo parecia estar ao meu favor, já que naquele dia não estava chovendo, eu demorei menos de dez minutos para escolher a roupa que usaria e o meu cabelo estava comportado e me obedeceu quando fui arrumá-lo do jeito que queria. Estava quase na hora marcada para os meninos passarem pra me buscar e começara a me mandar mensagens pra me apressar. Combinamos de ir todos em um carro só, então Zayn passaria na casa de Niall e , respectivamente, antes de vir até a minha casa. Eles alegavam que eu demorava muito pra ficar pronta, por isso seria a última. Injusto! É só o que tenho a declarar.
Entrei no banheiro para dar um último retoque na maquiagem e passar perfume. Eu até que estava apresentável e, o mais importante, confortável. Aquela roupa me permitiria correr, pular, girar e aproveitar todos os brinquedos que o parque de diversões teria a me oferecer. Aproveitei que estava ali e procurei um pequeno espelho para guardar na bolsa, assim como um batom mais claro; nunca se sabe quando vamos precisar, né?
- , seu transporte chegou. – Harry Cupcake Styles falou da porta do meu quarto e eu me apressei.
- Já estou indo, Hazza. – Gritei em resposta e corri para fora do banheiro, puxando a minha bolsa e enfiando as coisas dentro dela de qualquer jeito.
- Se divirta, ok? – Me desejou assim que eu passei por ele e saí do quarto.
- Pode deixar! – Sorri e baguncei os cabelos cacheados dele. – Vocês também.
- Vamos tentar. – Escutei Lou gritar do quarto dele e ri.
- Não me esperem acordados. – Brinquei e fui até a escada, começando a descer. – Fui!
Passei pelo hall de entrada e peguei o meu chaveiro na fechadura da porta. Não sabia a hora que voltaria e realmente não queria ficar presa do lado de fora. Tranquei casa depois de sair e me virei pra olhar os meus amigos pela primeira vez. Zayn estava encostado na porta do carro, me esperando do lado de fora. Falar que ele estava lindo não vai ser uma novidade, porque quando esse menino está feio? Nunca, pois é. Mas o sobretudo preto que ele vestia o deixou mais charmoso que o normal e o Converse desenhado que usava nos pés deu um ar descontraído ao look. O outro casal estava no banco de trás, acenando pra mim pela janela.
Me aproximei do carro sorrindo e olhando para Zayn. Eu tinha que cumprimentá-lo primeiro, é claro! Ele também andou na minha direção e abriu os braços para que eu me encaixasse ali. Nós nos abraçamos e eu respirei fundo para inalar aquele perfume tão delicioso que exalava do pescoço dele.
- Oi, . – Falou baixinho, me fazendo olhar pra ele.
- Oi, Malik. – Ri e dei um beijo rápido nos lábios dele. – Pronto para a diversão?!
- Super pronto! – Ele também riu e aparentava estar tão animado quanto eu.
- Nós existimos também, ok? – devia estar tentando cair do carro, porque ela ficou de joelhos no banco e colocou metade do seu corpo para fora da janela.
- Vocês estão aí também, é? – Me separei de Zayn e fui abraçar a minha amiga. – Eu estou brincando, idiota! Não faz essa cara.
- Eu estava morrendo de saudades! – A ruiva me apertou.
- Nós nos vimos há menos de quatro horas, ! Na Academy, lembra? – Rolei os olhos, divertida. – Hey, Ni!
- E aí, ?! – O loiro sorriu e fez a namorada entrar de uma vez no carro para que pudéssemos ir.
- Não temos tempo a perder. – Zayn segurava a porta do carona aberta, me esperando entrar.
- Eu estou tão ansiosa! – Já podia sentir um frio na barriga ao imaginar todos os brinquedos que estavam me esperando. Entrei no carro e já coloquei o sinto de segurança enquanto a porta era fechada.
- Eu também... – Zayn falou baixo, quase em um sussurro, e olhou para Niall.
Chegamos ao Winter Wonderland em aproximadamente meia hora. O transito estava calmo para um começo de tarde no meio da semana e o parque não estava tão cheio; pelo menos não na parte que eu conseguia ver. O Hyde Park era gigante e aquele parque de diversões ficava bem no centro dele, então tivemos que caminhar alguns metros a pé por dentro da área verde. estava com uma câmera fotográfica na mão e não parava de tirar fotos. Eu queria registrar aquele momento e não via problema nenhum em ser fotografada, mas o que me irritava era que ela nos pegava despreparados. Zayn passou o braço em volta dos meus ombros e eu o abracei de lado pela cintura; a ruiva não perdeu tempo e eu só senti o flash no meu rosto.
- ! – Reclamei e Zayn só riu. – Se eu ficar cega, a culpa vai ser sua.
- Para de reclamar, ! Um dia quando estivermos bem velhinhas você vai olhar pra essa foto e me agradecer. – Ela deixou a câmera de lado por um momento e nós quatro andamos lado a lado até a entrada do Winter Wonderland.
- Isso se eu ainda conseguir enxergar. – Resmunguei.
- Relaxa, ... Olha onde estamos. Aproveite! – Zayn beijou a minha testa e eu senti todo o estresse abandonar o meu corpo na mesma hora. – Quero que hoje seja um dia perfeito.
- É uma data especial e eu esqueci?
- Todo dia ao seu lado é uma data especial. – Ele respondeu e eu senti um calafrio. De onde estava vindo todo aquele romantismo?
- Awn, que coisa mais linda! – Sorri e parei de andar, ficando na frente dele.
Zayn sorriu de volta e entendeu o que eu estava querendo. Me abraçou pela cintura e eu fiquei na ponta dos pés para igualar a nossa altura. O envolvi pelo pescoço e ele não esperou mais nada pra juntar os lábios aos meus. Minha boca estava gelada por causa do frio, mas logo começou a esquentar assim que o garoto modelou-a com a dele. Nossas línguas se encontraram e um choque elétrico percorreu o meu corpo. Eu já conhecia aquele beijo, mas a cada dia que passava ele me dava novas sensações, me deixava mais viciada; presa àquilo. Infelizmente aquele momento de carinho não durou muito, já que nós sabíamos que tinha mais gente nos observando, inclusive crianças.
- Vem, gente, nós já pegamos os tickets. – Niall nos chamou e apontou para , que já estava bem distante, olhando balões de gás hélio.
- Estamos indo! – Zayn o respondeu e segurou a minha mão.
Preciso dar um pequeno aviso antes de continuar: Quando eu entro em um parque de diversões, lojas de brinquedo, festas infantis e etc, eu viro uma criança de cinco anos. Foi bem isso o que aconteceu ali... Eu comecei a correr para dentro do parque, puxando Zayn pela mão. Ele não me impediu e até me acompanhou, gargalhando enquanto me seguia. Passamos por , que se assustou, e Niall se juntou a nós.
- EI, ESPERA POR MIM. – A ruiva tentou no alcançar e eu ri da cara que ela fez.
- Anda logo, ! – Paramos de correr para esperá-la e recuperarmos o ar. Eu olhei em volta, admirada com as novas atrações e o pouco das luzes que já estavam acesas. – Aonde vamos primeiro?
- Power Tower! – Niall e gritaram.
- Eu quero ir ao Wild Maus. – Zayn disse ao mesmo tempo.
- Que bom que todos chegamos a uma conclusão. – Ri. – Nós vamos em todos, mas temos que escolher um pra ir primeiro...
- Podemos ir no que está mais perto. – apontou para o carrossel e meus olhos brilharam.
- Carrossel é pra crianças! – Niall resmungou.
- Quem disse isso? – Olhei pra ele com espanto. – Carrossel é algo mágico.
- Por mim não tem problema. – Zayn deu de ombros e o loiro viu que não teria outra escolha.
Eu bati palmas, animada, e fomos andando até o carrossel de dois andares. Sim, dois andares. Só estando em Londres mesmo. O brinquedo era lindo e cheio de animais como: elefante, cavalo marinho, rena, águia, cavalo, tigre e muitos outros. A fila não estava muito grande, mas ainda assim teríamos que esperar um pouco. A maioria das pessoas ali estava com crianças ou eram crianças, o que fez Niall nos olhar como se ele tivesse razão o tempo todo. Como ele nunca reclamava de nada, logo começou a conversar com um menininho de aproximadamente quatro anos.
- Qual o seu nome, buddy? – Ele sorriu e o menininho segurou na perna da mãe dele, envergonhado.
- Niall, você tá assustando a criança! – Zayn riu divertido ao meu lado. Niall estava na nossa frente e atrás de mim.
- Eu só estava tentando ser amigável, poxa.
- Você só está fazendo isso da forma errada. – Também ri e o irlandês fez um bico, desapontado.
- Qual é a forma certa, então? – Perguntou, cruzando os braços.
- Não tem uma “forma certa”. – Fiz aspas no ar, mas não foi o suficiente para convencê-los. Rolei os olhos e passei na frente de Niall, ficando mais perto do menininho. Abaixei até ficar quase na altura dele e sorri amigável. – Oi, pequeno.
- Oi... – O menininho me respondeu inseguro, ainda segurando na perna da mãe. Ela nos olhava, mas não me mandou sair de perto do filho.
- Você já sabe em qual bichinho vai andar? – Apontei para o carrossel e o menor balançou a cabeça, afirmando que sim. – Deixa eu adivinhar... O cavalo?
- Uh-uhn. – Ele negou com a cabeça e abriu um pequeno sorriso.
- Hm, é claro que não. – Fiz uma cara pensativa e ele riu. – E o dragão? Ele é bem legal.
- Sim! – Balançou a cabeça e soltou a mãe. – O dragão é grande.
- É grande mesmo! Às vezes eu até tenho medo dele.
- Não precisa ter medo... – O garotinho era tão fofo que eu tinha vontade de levá-lo pra casa comigo. Ele parecia realmente preocupado por eu ter medo do dragão. – Eu te salvo!
- Você me salva? – Sorri com aquela fofura. – Então eu não terei mais medo. Posso saber o nome do meu salvador?
- Greg. – Ele falou dengoso, com um sorriso que não tinha preço.
- Eu me chamo .
- Com licença, eu posso tirar uma foto dos dois? – havia se aproximado e perguntava para a mãe de Greg.
Ela afirmou que sim e até se afastou um pouco para não aparecer na foto. Eu apenas me virei um pouco e fiquei ao lado do menininho. Nós dois sorrimos e contou até três antes de disparar o flash. Ela realmente tinha que parar de usar aquilo! A fila começou a andar, finalmente, e chegou a nossa vez de entrar. Nos despedimos de Greg e entramos no carrossel. Eu fui direto para o segundo andar, subindo as escadas. Zayn me seguiu e os outros dois também. Nós tínhamos que correr pra pegarmos os melhores animais. Desviei de algumas pessoas e consegui chegar onde queria.
- Viu, ? Você não precisa ter medo. – Zayn falou do nada, fazendo uma careta.
- Eu arrumei um salvador! – Ri, mas ele não achou graça. – Você está mesmo com ciúmes de uma criança?
- Não é ciúme! – Rolou os olhos. – Eu só esperava que você falasse que já tem alguém pra te salvar.
- E eu tenho? – Me fiz de desentendida e aproximei-me dele. O solavanco que o brinquedo deu a começar a rodar me fez perder o equilíbrio.
- Tem sim. – Ele me segurou pela cintura, impedindo-me de cair. Eu acabei sorrindo.
Demos um selinho demorado e ele me ajudou a subir em um cavalo marinho esverdeado. Com o bicho subindo e descendo foi mais difícil do que se estivesse parado, mas ainda assim eu consegui sentar nele depois de muitas risadas. Zayn montou em um leão que estava na minha diagonal, Niall estava em uma águia e o único animal próximo aos nossos que estava sobrando foi um porco. Você pode imaginar a cara que estava fazendo ao montar nele, né?
- Tá vendo como é legal, Ni? – Ri e levantei os braços para o alto, sentindo o brinquedo subir e descer. – Weeeeeeeee.
- É muito emocionante mesmo. – Por mais que tenha sido irônico, ele riu e entrou na brincadeira.
Fizemos palhaçada durante as três voltas lentas que o brinquedo deu. Zayn tentou ficar em pé no seu leão, mas só o que conseguiu foi uma reclamação do funcionário que estava por ali. tentou tirar onda com ele, mas eu o defendi fazendo uma piadinha envolvendo ela e o porco. Niall parecia ser o que mais estava gostando daquele brinquedo, porque ria o tempo inteiro. Eu gostaria de passar um dia dentro da cabeça dele, só pra ver como é que é, porque ele sempre era cheio daquela felicidade e via o mundo do jeitinho especial que só ele conseguia. Acho que ele e eram tão perfeitos um para o outro por conta disso. Saímos do brinquedo um pouco tontos e eu tive que segurar a minha amiga para que ela não caísse.
- Agora é a minha vez de escolher o brinquedo. – Zayn sorriu maleficamente eu tive medo do que estaria por vir. – O trem fantasma.
- Isso! – Comemorei. Eu não tinha medo dessas coisas e acabava achando mais engraçado do que assustador.
- Nããããão. – choramingou. – Eu tenho medo!
- Você pode segurar a minha mão, cerejinha. – Niall a abraçou, mas ainda assim ela estava relutante.
- E eu posso segurar a sua mão, Honeybuns? – Pulei no pescoço de Zayn, exagerando na melosidade. Ele riu e me segurou.
- É claro que pode, babycakes. – Falou e foi a minha vez de rir. Aparentemente tínhamos inventado apelidos ‘fofos’ um para o outro.
Nós quatro começamos a caminhar até o trem fantasma lado a lado. Aquele encontro duplo estava sendo mais divertido do que eu imaginava. Se eu não estivesse com Zayn, e vice-versa, eu aposto que teria sido bem chato ver nossos amigos se agarrando, mas naquele caso era só virar para o meu “acompanhante” e fazer o mesmo que eles. Ficar de vela não é nada bom e eu sabia bem disso.
Avistamos o nosso próximo destino e já começou a tremer. O brinquedo parecia um castelo e era todo escuro. As janelas eram pintadas de preto com algumas manchas avermelhadas que deveriam represar sangue. Senti um pequeno frio na barriga, mas não era medo. Demos sorte por não enfrentar nenhuma fila e um carrinho de dois lugares já estava a nossa espera. Como eu e Zayn estávamos na frente, acabamos sendo os primeiros a entrar. Nos sentamos e esperamos o funcionário fechar a trava de segurança. Com um solavanco nada delicado, o carrinho começou a andar e a porta que levaria para dentro do castelo se abriu.
- Tchaaaaau. – Acenei para os outros dois que ficaram lá esperando a chegada do carrinho deles e o que eu vi em seguida foi o escuro. – Ai meu Deus!
- Tudo bem, ? – Zayn riu de mim e segurou a minha mão, me confortando.
- Tudo sim, eu acho! – Também ri e passei o meu braço pelo dele, me aconchegando em seu corpo. Eu não estava com medo, mas não custava nada me sentir ainda mais protegida, não concorda?
Como tudo continuava no escuro, nós não vimos a descida chegando e eu me assustei com a queda do carrinho. Zayn também estremeceu ao meu lado, mas não gritou e nem falou nada. A primeira luz que eu vi foram dois olhos vermelhos que nos seguiram até o carrinho fazer uma curva para a direita. Finalmente foi possível ver o que estava ao nosso redor assim que entramos em uma nova sala, mas eu desejei continuar no escuro. O lugar era horrível: Tinha correntes no teto, ferramentas de tortura, máquinas que eu não tinha idéia do que faziam -mas sabia que eram pra alguma coisa ruim- e a boneca de uma mulher ensangüentada deitada em uma mesa de madeira. Olhei tudo aquilo com receio e abracei Zayn ainda mais. O carro continuou a atravessar aquela sala e passou bem ao lado da tal boneca ensanguentada. Mas o que eu não sabia era que aquela não era mesmo uma boneca. Imagine o tamanho do susto que eu levei quando a mulher começou a gritar e se contorcer na mesa de madeira. Eu gritei mais uma vez e Zayn tremeu. Ele não chegou a gritar literalmente, mas fez um barulho ao se assustar também. Eu fechei os olhos com força, querendo tirar aquela imagem da minha cabeça.
- Ok, eu não estava esperando por isso! – Falei ainda de olhos fechados. Saímos daquele quarto de tortura e nos entreolhamos.
- A vai ter um ataque cardíaco. – Zayn gargalhou e eu também ri ao imaginar a cena.
Continuamos o nosso passeio até chegar à outra sala. O chão era coberto por uma névoa misteriosa e o movimento da fumaça lembrava um lago. Até que aquilo não era assustador, mas a sensação que algo ia acontecer não me largava. O som alto de um grunhido me fez tremer e olhar para Zayn como se perguntasse: “O que foi isso?” e ele não sabia a resposta, pois parecia tão aterrorizado quanto eu. Pelo menos o carrinho não parava de andar e o que quer que viesse a acontecer não iria durar muito tempo.
- O que foi aquilo? – Zayn apontou para o meu lado, me fazendo pular no banco e olhar naquela direção.
- O que? – Perguntei com a voz trêmula. – Você viu alguma coisa? Será que é um monstro?
- Não... Eu acho que é a sua dignidade indo embora. – Brincou com uma risada gostosa.
- Malik! Isso não tem graça. – Diminui um pouco o aperto em seu braço e dei um pequeno tapa em seu ombro. – Até parece que você não se assustou também!
O menino não teve tempo de me responder, porque um esqueleto caiu em cima de nós. Ok, ele não caiu literalmente em cima da gente, mas chegou bem perto disso. Por sorte o esqueleto estava grudado em algum tipo de corda ou coisa parecida e apenas se aproximou o bastante pra nos assustar. Zayn gritou dessa vez e eu só dei um pequeno pulo sem sair do lugar. O esqueleto foi recolhido e o carrinho continuou o percurso.
- Cof cof. – Forcei uma tosse, olhando o menino ao meu lado com deboche. – O que ia dizendo?
- Cala a boca. – Ele riu e eu ri mais ainda.
- Vem calar! – Respondi como uma criança birrenta e continuei rindo.
Zayn me olhou como se aceitasse aquele desafio e o que se seguiu foi bem simples. Ele segurou na lateral do meu rosto e o puxou para perto do dele. Eu parei de rir na mesma hora e fechei os olhos. Entreabri os lábios, encaixando-os nos dele e demos início a um beijo. Minhas mãos procuraram os ombros do garoto, mas pararam na gola do sobretudo que o aquecia. Tudo a nossa volta desapareceu... Os barulhos horripilantes se tornaram ruídos, os monstros e criaturas que deviam nos assustar não fizeram efeito algum e nem mesmo o movimento brusco do carrinho nos atrapalhou. Ficamos trocando carinhos até sentirmos a luz voltar a tocar a nossa pele. O passeio tinha acabado e nos separamos com relutância.
- Não podemos ir de novo? – Zayn alisou a minha bochecha, querendo continuar aquela sessão de amasso.
- Eu acho que tem mais gente querendo andar nesse brinquedo, Zayn... – Falei baixinho, roubando um último beijo rápido.
O funcionário do parque abriu a trava de segurança e nos deixou sair. Até que aquele brinquedo tinha sido divertido e a melhor parte foi o final, é claro. Zayn segurou a minha mão e foi o suficiente pra me fazer esquecer de algo importante que eu não fazia mais idéia do que era. Dei de ombros e começamos a nos afastar do trem fantasma e procurar outra atração. Eu estava me sentindo corajosa, com vontade de experimentar algo com mais adrenalina... Foi aí que eu vi a Power Tower. Uma torre de aproximadamente muitos metros de altura onde as pessoas eram levadas até o topo e depois sofriam uma queda livre muito rápida.
- Eu quero ir ali! – Apontei para o brinquedo.
- Tem certeza? – Zayn parecia um pouco apreensivo.
- Tenho sim! Vamos, vamos, vaaaaaaaaaaaamos? – Fiz um biquinho e sabia que ele não iria resistir.
- Então vamos, , mas você tem que me prometer uma coisa. – Fomos andando em direção ao brinquedo. – Que não vai rir de mim se eu gritar.
- Eu prometo!
Passamos vinte minutos na fila da Power Tower, mas pelo menos esse tempo foi bem aproveitado. Nós dois não no agarramos ali, mas usamos o tempo para conversar, fazer brincadeiras um com o outro e rir, mas rir muito. Zayn admitiu que estava nervoso de andar naquele brinquedo e que não gostava muito de altura, mas eu o convenci a experimentar. Disse que estaria ao lado dele e que nada de mal iria acontecer.
- Eu estou começando a me arrepender disso... – Falei quando chegou a nossa vez de entrar e procurar um lugar vazio.
- Agora nós vamos até o fim. – Zayn também tinha um pé atrás, mas tentava me encorajar. – Eu te ajudo...
Como os bancos eram um pouco altos demais e a minha roupa escorregava, eu não estava conseguindo subir no brinquedo. Zayn desceu do próprio lugar só pra me ajudar e eu sorri com aquilo. Existia alguém mais fofo? Acho que não. Ele me segurou pela cintura e teve uma facilidade tremenda pra me levantar e me sentar no brinquedo; aproveitou pra fechar a trava de segurança que parecia um colete. Eu me acomodei e confiei que estava segura; bem mais segura do que estaria se algum funcionário tivesse me ajudando no lugar dele. Depois de conferir se eu estava bem presa, Zayn voltou para o seu lugar e também se assegurou ali. Uma funcionária passou conferindo as travas e me falou pra colocar a minha bolsa entre as minhas pernas, já que assim ela estaria mais segura. Eu aceitei o conselho e a prendi ali, já que não queria a minha bolsa voando pelo parque.
- Está preparado, Zayn? – Eu olhava pra frente e para o chão, já temendo a hora que o brinquedo começasse a se mexer, mas o silêncio do menino me fez olhá-lo. – Zayn?
- Hm? – Ele respondeu baixo. Estava agarrado à barra de segurança e tinha os olhos fechados com força. Coitadinho, estava com medo mesmo.
- Awn, baby... – Sorri e estiquei o braço até tocá-lo no ombro, querendo confortá-lo.
- Do que você me chamou? – Zayn abriu os olhos e me olhou com um sorriso maior que tudo. Só então é que eu me toquei do que tinha acabado de fazer. “Baby”
- Nada. – Respondi rápido e me senti idiota com aquela resposta. – Digo... Eu te chamei de Zayn, só isso.
O garoto continuou sorrindo como um bobo e eu sabia que ele não cairia naquela minha tentativa de disfarçar o que eu havia falado. O timing do brinquedo não poderia ser melhor, porque assim que ele começou a subir, o assunto foi deixado de lado. Zayn voltou a fechar os olhos, mas ainda tinha aquele sorriso no rosto. Eu olhei pra baixo e segurei no ferro que me mantinha presa. Estávamos ganhando velocidade rápido demais e muitas pessoas a nossa volta começaram a gritar. Eu parei de olhar pra baixo e levantei o rosto, admirando a vista. A torre era bem mais alta do que parecia quando vista de baixo e o horizonte era lindo. Eu podia ver boa parte verde do Hyde Park e alguns prédios ao longe. O sol estava do lado oposto do brinquedo, então eu pude admirar aquela vista sem meus olhos lacrimejarem. Olhei para o meu lado e Zayn estava sério, rígido, quase sem respirar. Pensei em falar pra ele abrir os olhos e aproveitar o panorama, porém, aquilo só iria assustá-lo ainda mais.
O brinquedo parou. Eu olhei pra cima, checando se já havíamos chegado ao topo e o frio na minha barriga se tornou o pólo norte. “É isso. Agora vamos cair. E morrer. Não, não morrer. Só cair em queda livre. A queda da morte.” Minha consciência estava descontrolada e me assustava mais do que devia. Eu balançava os meus pés com nervosismo, desejando encostá-lo em algum lugar. Na minha cabeça eu contava até três várias vezes, como se fossemos cair assim que eu chegasse ao número três e aquilo me preparasse um pouco para o que estava por vir. Não adiantou, pois continuamos parados lá no alto. Acho que aquele brinquedo tinha um sexto sentido e ficava esperando a gente se distrair para, então, voltar a se mover. Digo isso porque foi exatamente o que aconteceu. Eu estava totalmente desprevenida, voltando a apreciar a vista e... BUM. Gritei com o susto e tudo aconteceu muito rápido. Meus cabelos ficaram em pé, literalmente, e meu corpo levantou do banco. Eu estava voando, mas a sensação não era boa.
Se eu tivesse fechado os olhos perderia a queda, pois despencamos tão rápido que deve ter levado menos de cinco segundos pra voltarmos ao chão. Estava ofegante e agradeci internamente por ter acabado. Foi até legal e a adrenalina corria acelerada pelas minhas veias, mas não era algo que eu gostaria de repetir tão cedo. Passei as mãos pelos cabelos, tentando fazê-los voltar para o lugar e já comecei a soltar a tranca que me mantinha presa ali. Saltei do brinquedo e olhei para Zayn pela primeira vez depois de descermos. Ele estava no mesmo lugar, petrificado. Seu rosto estava pálido e seus lábios sem cor. Corri até ele e eu mesma abri o espaço para ele passar e sair.
- Você está bem? – O segurei pela mão até que ele estivesse pisando no chão novamente.
- Nunca... Mais... – Respondeu com esforço e eu o abracei ali mesmo.
- Desculpa, tá? Eu não devia ter pedido pra você vir comigo... – Eu estava me sentindo mal por ele, por isso apertei o abraço e sussurrei: - Mas tá tudo bem agora.
- Não foi culpa sua, . Só vamos sair daqui, ok? – Ele parecia um pouco melhor e já começava a sorrir.
Eu assenti e nos dirigimos até a saída do brinquedo, novamente de mãos dadas. Ajeitei a minha bolsa em meu ombro e, graças a Deus, ela não saiu voando durante a queda do brinquedo. Caminhamos sem direção até que eu escutei o toque do meu celular dentro da bolsa. Parei de andar e assim que peguei o meu iPhone na bolsa gelei ao ler o nome que estava na tela: “Abi.” Olhei para Zayn e nós devíamos estar pensando a mesma coisa. Então a sensação de estar esquecendo algo veio porque eu realmente estava esquecendo algo: Nossos amigos. Pode parecer impossível esquecer duas pessoas assim, mas quando saímos do trem fantasma, tudo que eu consegui prestar atenção se resumiu ao menino maravilhoso que estava ao meu lado.
- Hey, ... – Atendi meio receosa e já esperando as reclamações que iria escutar.
- Tomlinson! Se você e Zayn Malik quiserem um tempo a sós, é só avisar, ok? Não precisam sumir do nada! – Ela reclamou e eu afastei o telefone para não ficar surda.
- Desculpa, ruivinha linda! – Fiz a minha melhor voz arrependida na esperança de amolecer o coração dela. – Onde vocês estão? É só falar e nós vamos até vocês.
- Não venha tentar se desculpar! Eu estou com raiva e... – parecia mesmo irritada e eu escutei o som do celular sendo arrancado da mão dela.
- Oi, , é o Niall. – Pude escutar os berros da menina no fundo da ligação, mas pelo menos o garoto estava mais calmo. – Nós estamos aqui na xícara maluca, tem como vocês virem pra cá? Já estamos na fila...
- Tudo bem, Ni, já estamos indo aí. – Encerramos a ligação e Zayn me olhava rindo.
- Estamos muito encrencados? – Ele coçou a nuca.
- Ela usou nosso nome completo. – Fiz uma careta engraçada e ele entendeu que estávamos MUITO encrencados.
Já havia escurecido quando nos perdoou por termos esquecido-os no trem fantasma e nós pudemos voltar a aproveitar o dia no parque de diversões. Eu estava terminando o meu segundo algodão doce e Niall atacava um cachorro quente. Decidimos só comer alguma coisa depois de andar em todos os brinquedos que poderiam nos enjoar e por isso estávamos mortos de cansaço quando finalmente sentamos em um banco de madeira. A noite chegou e as luzes do parque foram acesas, deixando o lugar ainda mais lindo e colorido do que já era. Eu pegava pedaços de algodão doce e os levava até a boca, sorrindo cada vez que ele derretia na minha boca.
- Meninas, nós já voltamos, ok? – Zayn se levantou e Niall o seguiu.
- Onde vocês estão indo? – Perguntei colocando um pedaço enorme de algodão doce rosa na minha boca.
- Vamos pegar mais comida pro Niall. – Ele respondeu.
- Não querem que a gente vá junto?
- Não, ... Deixa os meninos irem. – me segurou quando eu tentei levantar e eu precisei olhar pra ela para perceber o quanto aparentava estar cansada.
- Encontramos vocês no lago, ok?
Os meninos se afastaram e eu fiquei sozinha no banco com ao meu lado. Aquele algodão doce estava tão delicioso que eu não me importaria em ficar ali a noite inteira sem prestar atenção em mais nada. A ruiva ao meu lado me olhava e ria sem parar, afirmando que eu parecia uma criança e estava me lambuzado toda. Mentira, é claro, porque ninguém pode se “lambuzar” com algodão doce. No máximo, os meus dedos e o canto da minha boca estavam um pouco sujos, mas nada que um pouco de água não resolvesse.
- Você não ama parques de diversões? – Fiz uma pergunta retórica, olhando em volta. Todas as pessoas felizes passeando a nossa volta, todas as luzes dos brinquedos e das lojinhas... Aquele era um bom lugar pra se estar com amigos.
- Não mais do que você. – Minha amiga respondeu com um sorriso.
- Eu realmente amo isso aqui. – Ri baixo e terminei de comer o algodão doce. – Vamos ao banheiro? Preciso me lavar.
- Que preguiça, ... O banheiro fica tão longe! Eu estou cansada, sabia? – Resmungou parecendo uma velha e revirou a bolsa procurando alguma coisa. – Usa isso aqui, oh.
- , para de ser preguiçosa! – Eu também estava cansada, mas não podia ficar andando por aí com as mãos cheias de açúcar. – O que é isso?
- Lencinhos umedecidos. – Me entregou um dos lencinhos e eu teria que me contentar com aquilo. – Eu sempre carrego alguns na bolsa quando vou sair com crianças.
- Também faço isso quando vou sair com a Lux! – Sorri e já comecei a limpar a boca e minhas mãos. – EPA! Eu não sou criança.
- Claro que não! – Respondeu irônica. – Só tem algodão doce até na bochecha porque é muito adulta.
- Minha bochecha ta suja? – Fiz uma voz de criança e um biquinho, passando a ponta do lenço na minha bochecha. É, eu estava mesmo suja ali.
Depois de me limpar totalmente, joguei o lencinho sujo em cima de e ela soltou um grito tão agudo que até cachorros do outro lado da cidade deviam ter escutado. Eu comecei a rir, mas rir muito na cara de nojo que a minha amiga fez e me arrependi de estar fazendo aquilo na mesma hora, pois a menina me atacou. Sei que apanharia se não tivesse levantado na mesma hora em que ela investiu na minha direção.
- Volta aqui! – também levantou e eu corri até ficar a poucos metros de distância dela.
- Vai ter que me pegar! – Mostrei a língua e coloquei as mãos na cintura, fazendo a minha melhor pose infantil. – A última que chegar ao lago é a mulher do padre.
- Eu não acredito que você disse isso, ! – colocou as mãos no rosto, rindo por sua melhor amiga ter cinco anos de idade, mas entrou na brincadeira. – E eu também não acredito que vou fazer isso...
correu na direção do lago e eu fiz o mesmo. O parque estava mais cheio do que quando chegamos lá e por isso tive que desviar de algumas pessoas, mas mesmo assim recebi reclamações por estar correndo. Aquilo me irritou um pouco, já que as pessoas costumam ir a um parque de diversões para se divertir, então o que havia de errado no que eu estava fazendo? Nada! De qualquer forma, não deixaria ninguém atrapalhar o dia maravilhoso que eu estava tendo e decidi ignorar e continuar com a corrida.
Como eu estava na frente desde o começo, foi fácil ganhar a corrida e chegar até a beira do lago. Como o inverno ainda não havia chegado ao seu ápice, brincadeiras na água ainda eram permitidas, como por exemplo: Pescaria esportiva, passeios de bote e pedalinho. Até mesmo algumas pessoas poderiam se arriscar a nadar na parte mais rasa, ou alimentar os patos. Eu me curvei um pouco, apoiando as mãos nos joelhos e recuperando o ar perdido durante a correria. logo se juntou a mim e estava mais ofegante ainda.
- Eu... Te mato... Me fazer... Correr... – Falava entre puxadas de ar.
- Pelo menos assim você faz exercício! – Disse com uma gargalhada.
- Tá me chamando de gorda, sua vaca?
- Ei, vocês duas! – Um grito seguido por um assovio chamou a nossa atenção. Reconhecemos que se tratava de Niall, mas não conseguimos encontrá-lo a nossa volta. – Aqui!
- ONDE? – Perguntei alto, olhando em todas as direções; até mesmo para o céu.
- Zayn, elas não estão nos vendo! – O irlandês gritou e eu escutei a risada que me dava arrepios em algum lugar atrás de mim.
- Ahá! – Me virei na direção do lago e finalmente encontrei os dois “fantasmas” que estavam rindo da nossa cara. – O que vocês estão fazendo aí?
- Não é óbvio? Estamos nos preparando para a queima de fogos! – Niall respondeu e “estacionou” o pedalinho que estava pilotando o mais perto de nós que conseguiu. Ele estava em um e Zayn em outro.
- Tem espaço pra gente aí? – já foi andando para o muro de cimento não muito alto que dividia o lago e a parte de terra que os pedestres caminhavam.
- , você vai cair! – Tentei impedi-la, mas era tarde demais. Niall a ajudou a pular e ela logo estava sentada ao lado dele. – Vocês estão loucos!
- Vem, ... Tem espaço pra você aqui. – Assim que Niall se afastou, Zayn parou o pedalinho no mesmo lugar que ele. Eu me aproximei, mas ainda estava receosa.
- Eu sei que tem espaço, mas e se eu cair no rio? – Subi no muro e cometi o erro de olhar para baixo. Entre o pedalinho e a “mureta” havia pelo menos trinta centímetros de água.
- Eu pulo pra te pegar! – Zayn sorriu e se levantou com cuidado, esticando a mão pra mim.
- Mas você não sabe nadar! – Eu não falei aquilo de forma que o magoasse, até porque ele riu.
- Por você, eu aprendo em cinco minutos! Agora vem logo, , os fogos já vão começar!
- Já vou...
Tomei coragem e saltei para dentro do pedalinho esverdeado. Segurei a mão de Zayn e ele me puxou com cuidado. Sorri da minha vitória e nós dois nos sentamos lado a lado para começar a pedalar. Na França, os pedalinhos geralmente tem pedais dos dois lados, ou seja, as duas pessoas tem que pedalar para que ele se mexa. Mas em Londres era diferente... Apenas o lado de Zayn tinha esses pedais e eu fiquei uns bons segundos procurando os meus. Assim que me contentei em não ter o que fazer com os pés, decidi apenas relaxar e aproveitar o passeio. Niall e já estavam bem na nossa frente, mas Zayn não demorou muito pra nos levar até o meio do lago. Só nos restava ficar ali e esperar o espetáculo de fogos de artifício começar.
- Olha, olha! – Apontei para o céu escuro, seguindo o caminho brilhoso que o primeiro foguete deixou. Ele logo explodiu bem em cima de nossas cabeças como uma chuva de purpurina dourada. – É tão mágico...
- Você é tão linda... – Zayn falou em um sussurro e eu o olhei sem esperar por aquilo. Minhas bochechas ganharam um tom avermelhado e ele me olhava como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo.
- Do que você está falando? – Meu sorriso era tímido e você já deve saber que eu não boa em aceitar elogios, então a minha única reação foi desconectar nossos olhares e fitar o chão.
- É a verdade, ... – Ele levantou o meu rosto pelo queixo e eu tive que voltar a encará-lo. – Você é linda e parece que nem sabe disso, mas talvez esse seja o motivo que te torna ainda mais incrível. Você não precisa se esforçar. Desde que eu te vi naquele auditório, no primeiro dia, eu percebi que você era diferente das outras só pelo jeito que revirou os olhos quando me viu.
- E você provou ser alguém totalmente diferente do que eu esperava. – Nós dois rimos e eu não sabia mais como responder a todos aqueles elogios. Também não conseguia tirar os olhos dele, mesmo com os fogos de artifício que brilhavam acima de nós.
- Eu consegui uma coisa pra você... – Zayn tirou algo de dentro de seu sobretudo e meu sorriso aumentou ainda mais ao ver que era um ursinho de pelúcia.
- Awn, que gracinha! Obrigada, Malik! – Assim que o ursinho me foi entregue, eu o abracei com força e sorri para o moreno. O ursinho tinha o tamanho do meu antebraço e seu pelo era marrom claro, daquele bem fofo e gostoso de acariciar. O mais engraçado era que ele estava vestindo um sweater natalino com a frase “Be mine?” costurada. - É impressão minha, ou esse ursinho está me pedindo pra ser dele?
- Na verdade... – Zayn não riu da minha brincadeira como eu esperava que ele fizesse. – Eu estou te pedindo pra ser minha namorada.
- Está? – Demorei quase um minuto inteiro pra formular aquela palavra. Eu sou uma pessoa estranha, vamos concordar. Em certas situações eu sou a melhor pra pessoa pra dar respostas, conselhos e etc, mas quando se trata de elogios, perguntas constrangedoras ou que envolvam romances, eu simplesmente travo e não sei como responder de forma “não patética”. Borboletas voltaram a se mexer dentro de meu estômago assim que aquelas palavras deixaram os lábios de Zayn e um arrepio percorreu a minha espinha.
- Estou... Você aceita ser a minha namorada, ? – Perguntou com um sorriso. Eu adorava o tom que a palavra “minha” tinha na voz dele.
- É claro que sim! – “Muito bem, , finalmente uma resposta concreta!” Eu estava feliz demais pra discutir com a minha consciência e a ficha parecia demorar um pouco pra cair. Então eu estava namorando? E o melhor... Com Zayn Malik?
Melhor do que a minha resposta foi o que eu fiz em seguida. O puxei pela nuca e juntei os nossos lábios de uma vez, mas com cuidado para não acabar machucando-o com a minha brutalidade. A queima de fogos nem podia ser comparada com as explosões que eu sentia dentro de mim. Pela primeira vez na vida eu me sentia confortável em dizer que estava namorando. Pela primeira vez eu sentia que aquilo era certo, que eu podia mergulhar de cabeça e era isso que eu pretendia fazer.
Capítulo XXVII
Quando acordei naquela sexta feira de manhã senti meu mundo pesar. Não porque algo ruim tinha acontecido, mas sim por eu estar caindo de sono. É isso que dá passar a noite inteira ao telefone com o seu namorado. Pois é, eu ainda estava me acostumando com aquela palavra, mas adorava repeti-la na minha cabeça, por mais que ainda fosse fora do comum falar em voz alta. Imagine então como foi difícil contar as novidades ao meu irmão... Mesmo que ele tenha adivinhado que algo aconteceu no momento em que eu pisei dentro de casa após passar o dia no Witer Wonderland. Lou disse que eu estava com mais cara de idiota que o normal e como eu estava alegre demais pra começar uma briga, ele chegou a pensar que eu estivesse doente. Liam acabou ouvindo a nossa conversa e ficou sabendo da noticia, mas, mais uma vez, ele me surpreendeu com a sua reação, desejando-me felicidades e espantando o clima desconfortável assim que ele tentou se instalar entre nós.
Tive que tomar um banho para espantar a minha preguiça, já que a manhã seria longa. Sei que sexta-feira é o meu dia de folga da Academy, mas com o baile de inverno se aproximando eu e Nicholas usaríamos todo o nosso tempo livre para ensaiar. Ensaiar o que? Também não faço idéia. O lado bom de nós mesmo criarmos uma apresentação é que temos total liberdade para ousar e literalmente criar. Mas o ruim é que você pode ficar um pouco perdida e sem saber por onde começar. De qualquer forma, seria um desafio que eu estava pronta pra aceitar. Agnes oferecera uma sala no quinto andar para que nós usássemos durante qualquer hora do dia. A diretora se mostrou muito entusiasmada ao nos colocar juntos para montar aquele ato de encerramento da festa e até ofereceu nos dispensar de aulas caso fosse necessário.
Não era nem sete horas da manhã quando subi a escadaria da London Royal Academy com meu copo de frappuccino da Starbucks na mão e entrei naquele primeiro corredor vazio. Meu parceiro de dança ainda tinha trinta minutos até a hora que marcamos de nos encontrar, mas eu preferi chegar mais cedo para poder me alongar e me preparar. Como ele era do último semestre e tinha uma grande bagagem de apresentações nas costas, eu estava um pouco nervosa de não conseguir acompanhá-lo, então quanto mais preparada eu estivesse, melhor. O lugar vazio me propiciou uma caminhada silenciosa e rápida até o elevador que parecia estar me esperando.
Não muito tempo depois, eu já estava no último andar e procurava a sala que seria a minha fonte de inspiração. O que eu não sabia era que ela seria tão bonita. Comparada às salas das minhas outras aulas, aquela dali era o paraíso. Uma metade era coberta por janelas e a outra era preenchida por espelhos que iam do chão até o teto. Não havia barra alguma naquele ambiente e o único objeto era um aparelho de som de última geração. Eu duvidava até que soubesse mexer nele de tão tecnológico que aparentava ser. Como não tinha tempo a perder, fui terminando a minha bebida enquanto trocava de roupa. Obviamente eu não fiquei pelada por ali, já que estava com o meu “uniforme” de ballet por baixo da calça jeans e blusa: Meu costumeiro collant cor de rosa, meia calça fina e só o que faltava era a saia transparente que eu amarrava na cintura e as sapatilhas de dança. Meu cabelo já estava amarrado e preso com uma rede, então eu fiquei pronta em um instante.
Fui até o aparelho de som e procurei alguma música entre todos os CD’s que já estavam ali dentro. Não foi difícil achar uma melodia que me agradasse e eu pude finalmente começar os meus exercícios. Caminhei até o centro da sala, parando de frente para o espelho e de costas para a porta. Primeiro me alonguei de todas as formas possíveis, fosse girando o pescoço em todos os lados, ou esticando as pernas para o alto e puxando o meu calcanhar. Todos esses anos de ballet me deixaram com um corpo bastante flexível, o que me permitia fazer movimentos que pareciam complicados para outras pessoas, mas que pra mim eram bem simples.
Meu próximo exercício não foi tão complicado e o objetivo era alongar as minhas pernas. Para resumir, eu ficava brincando de subir e descer das pontas dos pés. Como a sapatilha que eu estava usando naquele momento não era a sapatilha de ponta, eu forçava ainda mais os meus dedos e treinava o meu equilíbrio. Eu tinha uma contagem silenciosa na minha cabeça que era mais ou menos assim: 1, 2, 3... Eram as etapas que meu corpo levava para levantar totalmente e 4, 5, 6 meus movimentos para baixo, onde eu terminava em um plié.
Perdi a noção do tempo completamente com os exercícios que se seguiram e não percebi as duas pessoas que estavam paradas na porta da sala. Pelo visto os alunos já começavam a chegar para as suas aulas e Nick não deveria estar muito longe. Ao terminar um salto qualquer, olhei para o reflexo do espelho na minha frente e vi e Zayn cochichando alguma coisa. Me assustei por não saber que estava sendo observada, mas sorri por serem aqueles dois.
- Sabiam que é feio espiar? – Fui até os dois, com as mãos na cintura.
- Você estava tão linda dançando que não queríamos atrapalhar, . – foi a primeira a falar algo e Zayn parecia nem escutá-la; só olhava pra mim com um sorriso.
- Bom dia, babe. – Sim, Zayn estava começando a me chamar daquele jeito. Durante a nossa conversa na noite anterior ele soltou alguns apelidos carinhosos que me derretiam e me faziam corar, mas eu estava tranquila porque não podia ser flagrada.
- Bom dia... – Acabei também ignorando a ruiva e abracei o menino como se não o visse há dias. Ele me deu um selinho demorado, mas logo nos largamos.
- O que você tá fazendo aqui hoje? Não é o dia que você não tem aula? – A outra menina me perguntou.
- Ela veio por causa do Nicholas. – Zayn respondeu no meu lugar e afinou a voz ao falar o nome de Nick com desdém.
- Não é bem assim! – Ri com aquela demonstração de ciúme. – Eu vim hoje porque vamos ensaiar para o baile de inverno... E eu já disse pra não se preocupar que não vai acontecer nada.
- E por que não vai acontecer nada? – Ele perguntou e eu já sabia onde aquilo ia dar. Nós já tínhamos passado por isso antes.
- Você sabe por quê. – Cruzei os braços e rolei os olhos, me recusando a entrar na onda dele.
- Você tem que falar. – Insistiu. ficou ali ao nosso lado, sem entender nada.
- Não vai acontecer nada... Porque eu sou sua. – Murmurei a última parte, mas foi o suficiente. – Satisfeito, Malik?
- Eu preferia que você falasse mais alto, mas já é um começo. – Ele riu puxou o meu rosto pra deixar um beijo estalado na minha bochecha.
- Não está na hora da aula de vocês? – Ri com o exagero do menino ao me agarrar e o abanei para que se afastasse. Não que eu quisesse que ele realmente se afastasse, mas eu não gostava de ficar com muita intimidade na academia por aquele ser um lugar de “trabalho”, digamos assim.
- Ihh, já tá expulsando a gente. Vamos embora, Zayn. – puxou-o pelo braço e foram andando para fora da sala.
- Pelo menos eu te vejo no intervalo? – Ele gritou enquanto era arrastado e eu fiquei no batente da porta, os observando se afastar.
- Talvez! – Eu ri e mandei um beijo no ar para os dois.
Vire-me para entrar na sala novamente, mas avistei Nick se aproximando ao longe e parei ao dar meia volta. Ele não estava sozinho e sorriu a me ver. A professora Holly o acompanhava e também sorria, como sempre. Acho que de todos os professores da Academy, ela era a mais querida. Sempre estava fazendo brincadeiras e conversando com todos que encontrava, mesmo se não fossem seus alunos. Além de muito legal, ela também era super competente e dedicada. Acho que era por essas e outras razões que ela era a coordenadora do curso de dança e uma das organizadoras principais do espetáculo de encerramento.
- Bom dia, . – Ahh, e ela também era a única docente que me chamava pelo apelido. – Animada com o baile de inverno?
- Bom dia, Holly. Oi, Nick. – Sorri para os dois e nós três seguimos para dentro da sala. – Estou muito animada! E bem nervosa também.
- Você vai ser ótima, . – Nick me confortou e foi para um canto, se preparar.
- Os dois vão, ok? – A professora se virou pra mim. – Eu sei que essa vai ser a primeira vez que você se apresenta na frente dos alunos, então é normal ficar nervosa. Mas confie no seu potencial e tudo vai dar certo!
- Obrigada... – Sorri realmente agradecida por aquelas palavras.
- Além do mais, você tem um parceiro maravilhoso que também vai te ajudar, certo Nick?
- É claro que sim! Mas acho que ela não precisa de ajuda. – Ele calçou as sapatilhas masculinas e caminhou até o meu lado. – Vamos começar?
- Eu vou deixar vocês dois sozinhos. Bom ensaio, meninos. Se precisarem de qualquer coisa, eu estou aqui pra ajudar. – A professora Holly se despediu com um sorriso amigável.
Acenei para ela enquanto se afastava e depois olhei para Nicholas. Nós sorrimos um para o outro, mas foram sorrisos diferentes. Ele estava normal e feliz, enquanto eu estava meio receosa. Lembrei-me de quando o conheci e ele agia todo tímido, mas extremamente charmoso. O que era totalmente diferente de como ele estava naqueles últimos dias. Claro que Nick continuava tendo o seu charme, é só que eu não o via da mesma forma. Talvez porque a minha atração total estivesse voltada para o meu... Namorado. E também, Nicholas não era mais tímido como antes, bem pelo contrário. O menino deve ter percebido o meu desconforto e por isso resolveu falar algo.
- Vamos esclarecer algo de uma vez, ok? – Falou, mas não tinha seriedade alguma em sua voz. – Você é bonita, divertida, e sim, eu queria ficar com você... Mas já sei que você está namorando o Malik e eu ligo demais pra você pra tentar fazer qualquer coisa que pudesse atrapalhar uma futura amizade entre a gente. Então não precisa se sentir estranha na minha presença e não vamos deixar nada atrapalhar o nosso desempenho juntos. Além do mais... Eu já tenho outra pessoa em vista.
- Amigos... Sem clima estranho... Entendi. – Eu bati continência em afirmação e gostara bastante daquele discurso. Eu gostava de Nick porque ele era daquele tipo que fala na lata, sem enrolar; fosse ao tentar me beijar, ou explicando que não faria mais aquilo.
- Então vamos lá, você tem alguma idéia? – Nick estava pronto para o trabalho assim como eu, o que me alegrou.
- Nenhuma... – Admiti. – Tudo que eu consigo pensar é naquele dia que eu te vi dançando com a garota durante a sua aula. Mas também não quero copiar...
- Mesmo que você quisesse copiar, não poderia. – Ele riu. – Não era uma dança coreografada, sabe? Nós inventamos na hora e a beleza disso é que sempre é uma coisa única... A gente se deixa levar e só sabe o resultado no final, mas não conseguimos repetir os mesmos passos nunca.
- Wow, eu não sabia disso! – Fiquei encantada com aquela técnica e desejei estar no último ano só pra ter uma aula como a dele e experimentar eu mesma. É claro que eu já havia “me deixado levar” pela dança várias vezes, mas sempre fiz isso sozinha. – Parece tão divertido...
- Quer tentar? – Perguntou prontamente e eu assenti na mesma hora.
- É claro que sim!
Nick sorriu com a minha atitude animada e foi até o aparelho de som da sala para selecionar uma música. Eu perguntei o que deveria fazer ele respondeu um: “O que você quiser.” Dei de ombros e fui para o lado oposto ao dele. A melodia que começou era totalmente instrumental e não era nem tão lenta, nem tão rápida. Tinha uma batida legal e eu logo entendi o que Nicholas queria dizer com “se deixar levar”. Reconheci ser uma versão da música Sway do Michael Buble. Ele veio andando na minha direção com alguns giros e deslizadas de seus pés e eu também fui a sua direção, me movendo com leveza e agilidade. O conjunto todo era bem sensual, principalmente por causa do ritmo da música e dos movimentos que Nick fazia com o quadril. Nos encontramos no meio da sala e ele me segurou pela cintura. Minha primeira reação foi mergulhar no chão e me livrar de seus toques. Não por eu estar rejeitando-o, mas sim por que fazia parte do que aquela música me fazia sentir.
Ele sorriu aceitando aquela minha fuga de seus braços como se fosse um desafio e eu sorri ao olhá-lo por cima do meu ombro depois de ter levantado e começar a me afastar dele de costas. O menino foi ao meu encontro e me abraçou por trás. O mais legal de tudo era que nós dois não parávamos de dançar e eu deixei-o me guiar por uns instantes, deslizando com o corpo junto ao dele. Nick me girou e eu aproveitei essa oportunidade para me afastar mais uma vez. Ele dava um passo na minha direção e eu dava um passo para trás. Nós dois sorriamos com aquelas ‘provocações’ e ninguém queria perder o jogo. O menino esticou a mão na minha direção e eu o encarei com uma sobrancelha levantada. Não tinha muita certeza do que ele queria, mas segurei sua mão do mesmo jeito. Ele me puxou com força e me fez rodopiar rápido sem soltar a minha mão. Eu estava um pouco zonza quando parei de girar e ele beijou a minha bochecha com um sorriso maroto. Ponto pra ele. Eu não iria deixar barato e logo tratei de me soltar dele. Fiz de conta que daria um tapa em seu rosto, mas o mais velho segurou a minha mão na mesma hora em que a levantei. Largou-a para longe em seguida e eu aproveitei aquele movimento para escorregar para o lado.
A música estava chegando ao fim e nós precisaríamos de um final. Em todas as apresentações e danças de ballet, o mais divertido é exatamente a última parte e como eu sempre fui fã de entradas e saídas dramáticas não podia deixar aquele momento ser diferente. Nick se afastou rapidamente e me chamou com a mão. Eu sabia o que ele queria dizer, mas não estava tão certa que conseguiria. Meu ponto fraco era pular para que alguém me segurasse e era exatamente isso que ele estava querendo que eu fizesse. Respirei fundo, decidindo que ao menos tentaria. Tomei distância e corri na direção do menino que se preparava pra me pegar. Me aproximei dele cada vez mais rápido e contei até três na minha mente para tomar impulso no chão e pulei. Admito que fechei os olhos. Se eu caísse, pelo menos não veria a queda. A força do meu parceiro me surpreendeu na hora que ele segurou nas laterais da minha cintura e levantou-me acima de sua cabeça. Eu dobrei um dos joelhos, formando um “4” com as pernas e estiquei os braços e até a ponta dos dedos. Abri os olhos e levantei a cabeça no mesmo momento em que a música chegou ao fim.
Graciosamente fui colocada no chão e abracei Nicholas na mesma hora. Ele me abraçou de volta, rindo da minha excitação. Eu nunca havia dançado assim com ninguém e algo que dizia que não era o fato de estarmos dançando sem combinar nada e sim de estarmos dançando juntos. Ele era um dançarino e tanto e eu só percebera isso naquele instante. De qualquer forma, estava grata por ter sido escolhida entre tantas outras pra dançar com ele.
- Isso foi muito legal, Nick! – O soltei, mas continuei com animação.
- Eu sabia que você ia gostar! – Soltou uma risada rouca. – Vai ser mais fácil criarmos uma coreografia assim do que se formos parando pra pensar em cada passo...
- Então vamos lá!
- Chega, Nick. Por favor. Preciso de um tempo pra respirar... – Deitei no chão de madeira da sala, fazendo de tudo para não ofegar.
- Só mais uma vez, , vamos... – O menino caminhou até o meu lado e me cutucou com a ponta do pé.
Nós estávamos dançando há duas horas e meia sem parar nem pra beber água e eu estava super cansada. Nicholas parecia ser movido à bateria solar, porque sua energia não acabava nunca! A coreografia da nossa apresentação para o baile de inverno estava se formando aos poucos e as idéias que começávamos a ter iam se encaixando. Nosso desempenho até que estava muito bom, se pararmos para considerar que era o nosso primeiro ensaio. Além disso, nós nos divertimos mais do que eu esperava. Nick se mostrou muito engraçado e paciente ao me ajudar em passos que eu não dominava, mas eu descobrira que ele tinha mania de continuar, persistir e dificilmente aceitava intervalos. Se eu me achava perfeccionista... Aquele garoto era o dobro.
- Nãonãonãonão. – Choraminguei e escondi o rosto nas mãos. – Preciso de pelo menos vinte minutos de descanso, Nick. Ou eu vou falar pra Agnes que você está me torturando e me mantendo em cativeiro.
- Meu Deus, como você é dramática, ! – Ele riu e estendeu a mão. – Mas você venceu. Vem, vamos tomar um ar.
- Obrigada! – Sorri aliviada e segurei na mão dele, logo sendo puxada e levantada do chão. – Quer ir comer algo no refeitório?
- Não, mas você pode ir... Eu vou dar uma passada na sala da professora Holly. – Nick suspirou de forma muito suspeita.
- Espera... Então você e a Holly...? – Sorri querendo saber de tudo. Sei que parecia uma menininha fofoqueira, mas quem liga?
- Shhhh! – Fez sinal de silêncio com a mão. – Ninguém pode saber, porque ainda somos professora/aluno, mas sim...
- Desde quando?! – Eu estava animada demais pra me conter. Aquele era um babado e tanto.
- Nós saímos pela primeira vez na segunda... Mas, , você tem que me prometer que não vai contar a ninguém. Ninguém mesmo. E ela também não pode saber que você sabe... Já foi complicado demais fazê-la aceitar sair comigo. – Nick estava tão sério ao me pedir para prometer aquilo que eu entendi a importância daquele assunto.
- Eu prometo, Nick... Pode confiar em mim. – Sorri. – Mas depois você vai me contar detalhes, ok? Por favor!
- Nós ainda estamos nos conhecendo, então não tem nada muito pra contar... – Enquanto conversávamos, ele juntava as suas coisas para sair da sala e eu fazia o mesmo, enrolando-me no meu cardigan. – Mas eu conto sim.
- Ótimo! – Pendurei a minha mochila nas costas e fomos andando até a porta.
- Te encontro aqui em meia hora? – Ele me perguntou com um sorriso, já saindo para a direita no corredor.
- Ok! – Fui pela direção contrária. – Hey, Nick! Boa sorte!
Gritei e recebi um aceno como resposta. Tecnicamente aquela não foi a atitude mais discreta que eu poderia ter tido, mas ninguém passava por ali mesmo... Nick também não pareceu ficar bravo com a minha curiosidade ou comentários, então eu fiquei tranquila. “Abi precisa ficar sabendo disso!” Eu já ia procurar o meu celular na mochila e mandar uma mensagem pra ela, mas lembrei da promessa que fizera a Nick. Melhores amigas não devem guardar segredo uma da outra e ao mesmo tempo aquele era um segredo sério. Holly poderia perder o emprego e Nick ser expulso da Academy. Pois é, eu estava em um dilema. Contar ou não contar? Eis a questão.
Foi com essa discussão interna que eu andei pelo corredor até encontrar o banheiro mais próximo. Para minha sorte ele estava vazio e eu poderia aliviar a minha bexiga em paz. Não que eu me importasse se mais alguém quisesse usar o banheiro na mesma hora que eu... Mas enfim. Entrei em um dos cubículos espaçosos e pendurei meu cardigan e mochila em um gancho preso à parede. Já era difícil demais ter que usar o toilet com aquelas camadas de roupas de ballet para eu ainda ter que me preocupar com acessórios.
Fiz o meu “serviço” e levei mais tempo pra me vestir do que para me despir. Durante essa minha demora, eu escutei a porta do banheiro se abrir e duas pessoas entrarem. Aliás, percebi que eram duas pessoas porque escutava duas risadas diferentes. Fiquei naquela situação constrangedora: Será que eu saio daqui? Será que eu fico escondida até essas duas irem embora? As espiei por uma brecha da porta e vi seus reflexos no espelho. Eram as duas discípulas de Brigitte que retocavam a maquiagem. “Por que? Por que não podia ser qualquer outra pessoa?” Pelo menos a abelha rainha não estava por ali, então poderia ser pior. “Não vai ter problema se eu sair... O banheiro é público!” Eu tentava me encorajar, mas o que escutei em seguida me fez congelar:
- Você soube da novidade? – A mais alta falou com uma voz irritante.
- Duuh, é claro que sim! – A magricela respondeu. Um dia eu ainda vou descobrir o nome das duas, mas por enquanto vamos chamar a magricela e Cruela e a mais alta de Devil. – Mesmo que não consiga acreditar que aquela está namorando o Zayn.
- Certo?! – Devil riu escandalosamente e eu fiquei petrificada. As duas começariam a falar de mim? Aí é que eu não sairia de lá mesmo. – Mas não é como se fosse durar, ou algo parecido.
- Pois é. – Cruela fez uma careta horrível ao retocar o batom. – Eu não sei o que ele viu nessa garota. Os dois não tem nada a ver um com o outro... É só olhar pra eles que você vai perceber a diferença.
- Você vai ver só, amiga, daqui a pouco o Zayn se cansa e volta para a Brie. Essa sim é mulher pra ele.
- Concordo! – As duas riram irritantemente. – Ela vai conseguir ele de volta rapidinho.
Queria que elas terminassem logo de se maquiar –o que não estava fazendo muita diferença, já que as duas continuavam com a mesma cara de vilã de desenho animado- para que eu pudesse sair correndo dali. De repente o cubículo em que eu estava começou a ficar menor. Sei que essa sensação era apenas psicológica, mas ainda assim era desesperadora. Mesmo tentando evitar ser atingida por aquelas palavras, não pude deixar de avaliar. Será que a diferença entre eu e Zayn era tão grande assim? Tirando a parte física, claro, já que ele era dono de uma beleza estupenda e eu... Bem, eu era normal. , Niall e até meu irmão costumavam falar que nós éramos um casal bonito e eu sempre acreditei neles. Além do que, Malik e eu dividimos os mesmos gostos nos mais variados quesitos.
Foi então que eu liguei uma coisa à outra... Elas não deviam estar falando do Zayn que eu conhecia; do meu Zayn. Sim, porque tecnicamente existem dois Zayns... Ok, isso está confuso demais. O que eu estou querendo dizer é que o Zayn Malik da Academy era o badboy de Bradford. O menino com “más atitudes”, personalidade forte, orgulho e ego inchado. Enquanto o meu Malik era doce, carinhoso, preocupado, dedicado, sonhador, inseguro e imperfeitamente perfeito. O meu namorado era o verdadeiro Zayn Malik e poucas pessoas o conheciam. Infelizmente, ou felizmente, aquelas duas garotas e a maioria dos outros alunos só conheciam a fachada; a imagem que Zayn estava tão acostumado a passar só pra ser aceito. Olhando pelo ponto de vista da Cruela e Devil, elas estavam certas. Ele era o mau caminho e eu o “bom caminho” (se é que existe essa expressão), ele era o preto e eu o branco. Éramos tão opostos que não conseguíamos combinar. Nós dois sabíamos que não era verdade e desde o nosso primeiro encontro não oficial no centro de Londres, ele me mostrou quem era por trás do status de badboy e foi por esse que eu me apaixonei.
Para complicar as coisas, Zayn não podia se dividir em dois e agradar a todos ou deixar a pose de badboy de um dia para o outro; assim como não podia deixar de ser quem era por dentro. Não seria certo. Admito que era a primeira vez que eu parava pra pensar naquilo e fiquei um pouco assustada. Eu só costumava pensar em como era bom estar com ele e como nada mais importava. Isso não deixava de ser verdade, mas em um ambiente onde a sua posição social e status importam até mesmo no seu desempenho profissional, não poderíamos deixar essa questão de lado. Eu não sabia o que fazer e nem sabia se existia algo para se fazer...
Demorei tanto tempo envolta em pensamentos que nem percebi quando as duas meninas juntaram suas coisas e foram embora. Eu agradeci internamente e fui lavar as mãos e passar uma água no rosto. Evitei olhar o meu próprio reflexo no espelho, já que deveria estar com a cara horrível. Sabia que seria perseguida por aquelas teorias durante o dia inteiro e só ficaria pior. Respirei fundo. Provavelmente a minha meia hora de descanso estava acabando e eu teria que voltar para a sala sem comer nada. O que era até bom, já eu não conseguiria manter nada no estômago.
Deixei o banheiro pra trás e caminhei encarando os meus próprios pés, não vendo a pessoa na minha frente e provocando o nosso confronto. Levantei o olhar preocupada, já esperando pelo pior. Pude sorrir aliviada quando vi que era apenas Jessica, uma garota do segundo semestre de dança. A mesma que puxou assunto comigo na aula segunda feira.
- Desculpa, Jessica, eu não te vi. Estava meio distraída...
- Não tem problema algum, , imagine. A culpa foi minha também! – Ela sorriu gentil. – Eu estava mesmo procurando por você!
- Por mim? – Perguntei curiosa. – Bem, agora você achou!
- Vou direto ao assunto... Você conhece uma boate chamada Storm?
- Não conheço, desculpa... – Passei a mão pelos cabelos, forçando um sorriso. – Na verdade eu não conheço boate alguma aqui de Londres.
- É claro que não! Que cabeça a minha. Imagine, você, uma francesa perdida em Londres... É claro que não conhece. – Ela riu divertida. Acho que Jessica gostava de lembrar constantemente que eu era de Paris e acabava exagerando de vez em quando, mas ela sempre era tão educada comigo que eu não me importava. – De qualquer forma, o meu pai é dono dessa boate. E amanhã é o meu aniversário, então eu vou comemorar lá!
- Parece divertido! – Sorri pressentindo um convite.
- Vai ser sim! E eu gostaria muito que você fosse, . E pode chamar aqueles seus amigos também... E o seu namorado, é claro.
- Eu vou sim, pode contar comigo. – Senti um arrepio quando ela não se referiu a Zayn pelo nome e sim como meu namorado. – E vou arrastá-los comigo.
- Ótimo! – Jessica ficou radiante. – Então eu vou colocar o nome de vocês na minha lista vip, certo? Aí vocês não precisam ficar na fila nem nada.
- Melhor ainda!
- Aqui está o endereço direitinho e também o meu telefone. Qualquer coisa é só me ligar. – Me entregou um papel cor de rosa com várias informações anotadas.
Eu agradeci e prometi que não iria faltar o aniversário dela por nada. Nos despedimos com um abraço tímido e ela seguiu o próprio caminho. Antes de voltar para a minha própria sala, parei no bebedouro para pelo menos matar a minha sede. Eu já estava me sentindo um pouco melhor e tudo que estava precisando era de mais duas, três, quatro horas seguidas de dança.
Cheguei tão tarde em casa naquela noite que quase dormi durante o banho. O cansaço conseguia ser maior que eu, mas pelo menos eu tinha a consciência limpa que fizera um bom trabalho. Nick era o melhor dançarino que eu conhecia e ele me ensinou tanto que eu nem vi o tempo passar. Só quando a sala ficou escura é que nós decidimos que seria hora de parar e retomaríamos o trabalho outro dia. Passei o ensaio inteiro sem pensar no que presenciei no banheiro, porém, foi só entrar no meu carro e começar a dirigir pra casa que o assunto voltou a me perturbar. “Não vai durar muito.” “Eles não combinam.” Nada disso me agradava. Durante o banho então?! Aí que eu pensei mesmo.
Como de costume, toda sexta feira Harry dormia lá em casa e acabava passando o final de semana. Nesta noite ele era quem estava fazendo o jantar enquanto Louis e Liam bebiam cerveja e assistiam televisão. Eu estava na sala, mas não no sofá como de costume e sim em uma cadeira. Meus pés estavam mergulhados em uma bacia de água morna e sal, para que perdessem o inchaço causado pelas horas que passei na ponta. Eu sempre cuidei do meu corpo e principalmente dos meus pés, já que são o meu objeto de trabalho, então aquele era um ritual que eu fazia pelo menos três vezes na semana.
- Você está quieta hoje, . – Liam chamou a minha atenção e eu olhei pra ele.
- Eu só to cansada, Li. – Forcei um sorriso. Liam poderia acreditar em mim, mas pelo olhar que recebi de meu irmão, era o único.
- Como foi o ensaio? – Lou perguntou, provavelmente querendo me arrancar algo.
- Muito bom! – Pude sorrir sincera. – Nick e eu conseguimos nos entender na dança e eu acho que a nossa apresentação vai ser linda.
- E pessoas de fora vão poder assistir? – Liam parecia curioso. – Eu nunca te vi dançar ballet...
- Sinto muito, Leeyum, mas o baile é só pra alunos. – Fiz um bico de lado.
- Acho que você é o único que ainda não a viu dançar. – Meu irmão falou pensativo. – Está perdendo um espetáculo.
- Não exagera, Lou. – Ri daquele comentário, mas me senti muito bem em ser elogiada por ele. Louis podia sempre estar fazendo brincadeiras e tirando onda com a minha cara, mas era um irmão muito bom e me apoiava em tudo.
- Poxa, agora eu quero ainda mais! – Liam cruzou os braços. – Você podia dançar aqui na sala mesmo, só pra eu assistir.
- Quem sabe um dia, né? – Ri e tirei os pés de dentro da bacia, secando-os com uma pequena toalha em seguida. – E como foi o trabalho de vocês?
- Horrível. – Os dois responderam de uma vez só.
- Tão ruim assim? – Gargalhei.
- E o jantar está servido. – Harry nos interrompeu. Ele estava com o rosto sujo de molho branco, por isso deduzi que teríamos macarrão para o jantar.
- Já era a hora! – Louis se levantou e nós o seguimos.
- Haz, você tá sujo. – Fui até ele com um sorriso sapeca e limpei o molho do seu rosto com o polegar. Em seguida, deixei um beijo estalado no local e o menino sorriu como uma criança. – Agora está limpo!
- Obrigado, ! – O menino de cabelos cacheados riu e me abraçou de lado para podermos nos juntar aos outros dois que já estavam atacando a comida.
Cada um de nós tinha o seu lugar na mesa de jantar: Eu ficava na ponta esquerda, Harry e Liam eram os próximos – um sentado de frente para o outro – e Lou ao lado de Harry. As outras cadeiras podiam ser ocupadas por quem mais estivesse com a gente, mas aquelas eram as nossas e nós nunca trocávamos. Mania, sabe? De qualquer forma, comecei a comer. Harry era um ótimo cozinheiro e, só pra variar, aquele macarrão estava divino. Por mais que eu não tivesse me alimentado direito durante o dia inteiro, eu não consegui comer nem a metade do que coloquei no prato. Os meninos conversavam animadamente e faziam reclamações sobre o trabalho. Aparentemente o dia de Liam e Louis havia sido horrível porque o chefe deles estava cada vez mais exigente e em cima dos dois. Pelo menos foi isso que eu entendi, já que não estava prestando muita atenção em nada. Eu olhava para o macarrão em meu prato como se fosse a coisa mais importante do mundo e brincava com o garfo de um jeito qualquer.
- Lembra disso, ? – Harry riu, mas eu não sabia do que ele estava falando. – ?
- Hm? Desculpa, Hazza eu não ouvi... – Os três pararam de rir e ficaram me olhando sem saber o que falar. Ótimo, estraguei o clima do jantar. – Lou, posso falar com você?
Não esperei ele responder e fui levantando da mesa para sair da sala de jantar. Passei correndo pelo hall de entrada e subi as escadas na mesma velocidade. Antes de subir, notei que Liam e Harry me olharam com preocupação, mas respeitaram a minha vontade de falar apenas com Louis. Esse último me seguiu com pressa e logo nós dois estávamos no meu quarto. A primeira coisa que fiz ao entrar no meu refugio foi me jogar na cama e abraçar um travesseiro em cima do meu rosto. Lou fechou a porta e se juntou a mim, sentando na minha frente.
- O que está te perturbando, ? – Perguntou baixinho, acariciando a minha perna como forma de encorajamento.
- Ughhh. – Bufei em frustração comigo mesma. Abaixei o travesseiro e sentei na ama pra poder olhar para Louis. – Eu vou te contar...
Fiz um relatório básico sobre o que havia escutado no banheiro, minhas teorias e minhas inseguranças. Fui bem detalhista ao explicar os motivos que Zayn tinha pra ser duas pessoas diferentes, ou seja: Ser o cara legal com os amigos de verdade e o badboy para qualquer pessoa que não o conhecesse direito. Lou entendeu o lado dele, mas também compreendeu o que estava me perturbando.
- Mas, ... Eu acho que Zayn não se importa com essa diferença entre vocês. Ele gosta muito de você.
- Eu sei que gosta... Mas por agora. – Suspirei. – Quero dizer, hoje ele não se importa com isso, mas quem me garante que vai ser assim pra sempre? E se ele acordar um dia e perceber que estar comigo não é o melhor pra ele? As pessoas estão começando a falar e eu tenho certeza que ele já escutou muito mais do que eu. Estou insegura... Eu nunca tive nenhum relacionamento como esse, por mais que ainda esteja no começo. Eu não quero perdê-lo, Lou...
- E você não vai! Eu já vi algo parecido com isso... – Louis tinha um sorriso no rosto e eu não sabia o que significava. – Você já assistiu Grease, certo?
- Você me obriga a assistir a esse filme pelo menos uma vez por mês, então sim. – Rolei os olhos. O que o filme preferido dele tinha a ver com isso? – Mas e daí?
- Você lembra o que a Sandy faz no final do filme? A mudança de atitude e de estilo? Ela fez aquilo pra se adaptar... Pra entrar no mundo do cara que ela gostava, pra fazer parte do mundo dele. – Ele explicou e até que fazia algum segundo. – Ela não deixou de ser quem era e não mudou na parte de dentro. Porque a aparência é só um detalhe superficial, mas você já percebeu que importa pra muita gente. Então porque não tenta fazer o mesmo? Porque não prova pra todo mundo que você pode sim ser quem eles esperam que seja?
- Só por um dia? – Mudar quem eu era estava fora de cogitação, mas a idéia de Louis até que era boa. Eu só precisava de um dia. Só um dia pra mostrar que eu podia me adaptar ao mundo de Zayn. Uma pequena mudança na minha atitude e roupas... Seria uma boa. Eu iria surpreender muita gente e mostrar a Brigitte que se ela quiser tirar meu namorado, terá que passar por mim primeiro.
- Só por um dia. Só pra provar que eles estão errados. – Sorriu.
- Obrigada, Lou... – Também sorri e o abracei. Meu irmão sempre soube me dar ótimos conselhos e mesmo quando não podia ajudar, escutava tudo que eu tinha a falar; todos os meus desabafos.
- Sempre que precisar, . – Retribuiu o abraço e beijou a minha testa. – Você não quer descer e terminar o jantar?
- Eu realmente estou sem fome... Mas você pode ir. Aproveita e explica pros meninos que eu não estou louca. – Ri e encostei as costas no travesseiro que estivera abraçando.
- Então eu vou, mas antes de dormir venho aqui checar como você está. – Ele se levantou e caminhou até a porta do quarto.
- Só volte se trouxer chá.
Louis fez uma careta antes de desaparecer porta a fora. Eu suspirei e sorri, terminando de deitar na cama. Me sentia bem mais leve e com as idéias no lugar. Era incrível como só aquela conversa foi capaz de me ajudar e me deixar mais tranqüila. Eu aproveitaria a festa de aniversário de Jessica no dia seguinte pra fazer a minha mudança de estilo, já que eu tinha certeza que pelo menos metade da Academy estaria lá. Por falar nisso... Eu ainda tinha que contar a Zayn, e Niall sobre a festa. Peguei meu celular em cima da minha mesinha de cabeceira e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, vi que tinha duas mensagens não lidas do meu namorado. Sorri curiosa e abri a primeira mensagem:
E então abri a segunda:
Tive que rir! Imaginei a cara que ele devia estar fazendo ao se achar “grudento” e fiquei sorrindo por saber que ele sentia a minha falta. Não passamos muito tempo juntos naquele dia, já que eu não tive intervalo e apenas nos vimos bem cedo e quando ele e foram se despedir de mim na hora de irem pra casa. O fato é que eu também sentia falta dele... Demais até. Sabe quando a pessoa não sai do seu pensamento? Porque eu sei.
“Também estou com saudades, baby. Como você está? xx ps: Pode ser grudento, eu não me importo. :p” – Foi o que respondi. Após clicar em “enviar” procurei os números de e Niall; iria mandar a mesma mensagem para os dois:
Também enviei as mensagens e não precisei esperar muito pela minha primeira resposta. Era Zayn:
Antes de começar a responder decidi ler as outras duas mensagens que também chegaram:
morreria se visse o namorado dela falando comigo desse jeito. Tratei de responder a todos pela ordem de chegada:
“Vamos à festa daquela Jessica... Em uma boate chamada Storm, conhece? O pai dela é dono de lá e estaremos na lista VIP”
“Quero te ver na Storm amanhã, gatinho. Rola?”
É, eu entrei na brincadeira com Niall e sabia que não iria demorar pra tirar satisfações comigo. Fiquei rindo sozinha enquanto mexia no meu celular e a resposta de Zayn veio em segundos:
“Para de reclamar, Malik! Você é o mais velho, tem que dar o exemplo.”
“Vou começar a ficar ao lado do Louis quando ele estiver contra você.”
“Mas você já faz isso!”
“Tem razão... Mas enfim.”
“É claro que eu tenho razão! O que vai fazer amanhã?”
Os outros dois também responderam às minhas mensagens e eu logo fui ler:
“Amanhã? Terei que inventar alguma desculpa pra enrolar a minha namorada, mas faço qualquer coisa por você.”
Ri dessa última mensagem de Niall e o respondi antes da minha melhor amiga:
“Me ame pra sempre! haha Não fiz nada... A Jessica só me convidou. Então está combinado. Amanhã às 23hrs.”
Zayn me respondeu:
“Na verdade tenho sim... Boate Storm, às 23hrs.”
Capítulo XXVIII
Fui dormir cedo na noite anterior e estava tão cansada que nem sonhei com nada, infelizmente. O que me acordou naquele sábado de manhã foi o barulho da chuva forte batendo contra a minha janela. Seria um dia frio... Era sempre assim quando amanhecia chovendo. Eu não me importava com baixas temperaturas, mas o lado ruim da chuva é que as ruas ficam molhadas e com isso o transito fica pior que o normal. Me espreguicei devagar, criando coragem pra deixar o meu cobertor quentinho e ir fazer a minha higiene. Eu já estava sem sono e pronta para um novo dia, mas a vontade de ficar mais uma hora só rolando na cama era maior que tudo.
Antes de me render ao colchão, resolvi levantar de uma vez e me arrastar até o banheiro. A primeira coisa que fiz foi “me aliviar” e em seguida lavei as mãos e escovei os dentes. Não há nada melhor do que sentir os dentes limpos e aquele gostinho de chiclete do creme dental. Resolvi que continuaria de pijamas e só peguei um casaco grosso de lã e me enrolei nele para poder sair do quarto, já que tinha certeza que o resto da casa estava bem mais frio que ali. Penteei os cabelos e assim que eles estavam no lugar enfiei os pés em um chinelo qualquer.
Deixei o meu quarto e me aproximei da escada, escutando conversas vindas do andar de baixo. Quanto mais eu me aproximava mais vozes surgiram como, por exemplo, uma voz feminina que eu sabia conhecer, mas não conseguia lembrar a quem pertencia. Fui direto para a sala e tive uma surpresa ao ver quem estava ali: Anne, a mãe de Harry.
- Olha quem acordou cedo hoje! – Esse era o jeito de Louis falar bom dia.
- Anne, quanto tempo! – Ignorei o meu irmão e caminhei até a mulher que eu conhecia desde pequena. – O que a traz aqui?
- Como você cresceu, . – Ela levantou-se do sofá e nos abraçamos. – Meu filho não sai mais dessa casa, então eu vim fazer uma visita. Já que vocês não vão mais à minha casa como quando eram crianças, não é?
- Nós não quisemos incomodar... – Nos separamos e a mulher voltou a sentar, puxando-me junto. – Mas é claro que eu senti a sua falta! Por que a Gemma não veio com você?
- Ela também me troca pelos amigos, então eu não a vejo tem uns três dias. Mas eu aviso que você perguntou por ela. – Anne sorriu. – Como está a sua mãe?
- Ahn... – Troquei olhares com Lou e Harry. Eu não tinha noticias da minha mãe em muito tempo. Na verdade, não falava com ela desde que me mudara pra Londres, então não sabia como responder àquela pergunta. Minha mãe e a mãe de Harry costumavam ser amigas há alguns anos atrás e ninguém sabe ao certo o que aconteceu para que elas se perdessem contato. – Ela está do mesmo jeito de sempre.
- Peça pra ela me ligar quando falar com ela de novo, tá bem? Quem sabe nós não marcamos um encontro de mães? – Disse animada. Seria bom para a minha mãe sair um pouco do mundinho dela e conversar com uma velha amiga, mas eu duvidava muito que ela fosse vir até Londres.
- Pode deixar que eu falo sim. – Era mais fácil concordar do que ter que explicar tudo. – Que cheiro é esse?
- São os biscoitos de gengibre que eu estava fazendo. Meninos, porque vocês não vão dar uma olhadinha neles? – Anne pediu e os dois meninos se levantaram para ir até a cozinha. Liam devia estar por lá, já que eu não o vira ainda. – Agora que estamos sozinhas podemos falar do que é importante!
- Como assim, Anne? – Ri da cara que ela fez em seguida.
- Garotos! – Também riu e segurou em uma das minhas mãos. – Harry me disse que você está namorando.
- Estou sim... – Soltei uma risada nervosa e as minhas bochechas deviam estar ficando vermelhas.
- Me conte tudo! É o bonitinho que também mora aqui?
- Liam? Não, ele é só um bom amigo... O nome do meu namorado é Zayn e nós nos conhecemos onde eu estou estudando agora. – Comecei a falar. Anne é daquele tipo de mãe que age como se também fosse da turma e você acabava contando tudo pra ela sem se importar.
- Seus olhos até brilham ao falar dele! – Aquele comentário me pegou de surpresa e eu tenho certeza que fiquei mais corada ainda. – Já percebeu que a sua voz também muda?
- Não per... – Limpei a garganta para melhorar a minha voz que acabou saindo mais fina que o normal. – Não percebi!
- Tá vendo só? – Ela riu. – Eu me lembro de quando conheci o pai do Harry... Nós nos apaixonamos no momento em que nos conhecemos. Mas infelizmente... Bem, você sabe como terminou.
- Sei sim... – Suspirei. No mesmo ano em que Harry e eu nos conhecemos, Des (o pai dele) saiu de casa. Eu ainda me lembro o quanto ele ficou arrasado e do quanto chorou. Quando se é uma criança, não esperamos que coisas assim aconteçam e, infelizmente, acontecem. Só fico feliz por ter estado ao lado do meu amigo naquele momento difícil, pois ele precisou de todo apoio que conseguiu. – Mas agora você está com o Robin e tudo está no lugar novamente!
- Isso mesmo, . – Anne sorriu e se levantou. – Bem, eu tenho que ir agora.
- Mas já? – Fiz um bico de lado e também levantei do sofá.
- Sim, querida... Eu gostaria de ficar mais, mas só vim mesmo pra dar um beijo em você e no seu irmão.
- Mas volte, tá bem? – Fomos saindo da sala em direção à porta de entrada.
- Pode deixar! – Ela me abraçou.
- Você é de casa, Anne, não esqueça disso. – A abracei de volta e logo nos separamos. – Harry, sua mãe está indo embora.
- Tchau, muuum. – Harry gritou da cozinha.
- Não deixe os meus biscoitos queimarem, ok? – Ela gritou de volta e se virou pra mim. – São daqueles que você gosta! Eu trouxe prontos de casa, mas coloquei no forno aqui pra vocês comerem quentinhos.
- Obrigada, Anne, você é sempre um amor. – Abri a porta de casa e a mulher saiu.
Ainda estava chovendo um pouco, então ela teve que correr até o carro que estava estacionado atrás do meu. Assim que ela partiu rua a baixo, um carro da FedEx estacionou naquela vaga. Correios não costumavam fazer entregas regulares nos sábados, então devia ser algo importante. O carteiro desceu do carro com uma caixa branca em mãos e seguiu para o caminho de pedra da minha casa. Eu teria fechado a porta se ele fosse para a casa ao lado da minha, mas como não era o caso, eu só esperei.
- Bom dia, senhorita. – O carteiro se aproximou.
- Bom dia! – Sorri simpática.
- Eu tenho uma entrega para o senhor Payne... Liam Payne. – Leu o nome no topo da caixa e voltou a me fitar. – Ele mora aqui?
- Mora sim, quer que eu o chame?
- Você mesma pode receber, na verdade. Eu só preciso que assine aqui. – Me entregou um papel e uma caneta.
- Certo... – Peguei os objetos e apoiei na madeira da porta para assinar o meu nome. Senti como se estivesse dando um autógrafo e ri sozinha da minha idiotice. – Pronto!
- Obrigado. – Fizemos uma troca: Eu entreguei o papel e a caneta e ele me entregou a caixa que era mais pesada do que parecia.
- Tenha um bom dia. – Sorri para o moço e ele seguiu seu caminho.
Fechei a porta com o quadril, já que minhas mãos estavam ocupadas demais, e segui para a cozinha onde Harry tirava os biscoitos de gengibre do forno. Louis estava olhando-o tão intensamente que os dois pareciam um casal. Eu já devia estar acostumada com esses “Larry moments”, mas ainda me perguntava quanto tempo faltava para que os dois resolvessem admitir que estão juntos de uma vez! Liam estava bebendo leite em uma caneca e estava com um bigode branco enorme. Eu ri assim que coloquei a caixa pesada sobre a mesa da sala de jantar e decidi não avisar que ele estava sujo.
- Liam, chegou uma entrega pra você. – O chamei. – Diretamente de Wolverhampton.
- Isso! – Ele respondeu como um menininho e deixou a caneca em cima da bancada americana. Segundos depois ele já estava ao meu lado com uma faca na mão pra abrir a caixa.
- O que tem aí dentro? – Perguntei curiosa.
- Algumas coisas que eu pedi pros meus pais enviarem... – Liam abriu a caixa e eu fiquei cega com todas as coisas altamente coloridas que estavam ali dentro. – Vamos ver o que temos aqui...
- Omg, esse é um fantoche do Caco? – Apontei para um boneco verde em forma de sapo. Era o maior objeto da caixa, por isso foi a primeira coisa que eu vi.
- É sim! – Liam riu e tirou o sapo da caixa, colocando a mão por dentro e imitando a voz do personagem em seguida: - Oi, . Como vai você?
- WOW! – Gargalhei daquela imitação. Eu não fazia idéia que Liam interpretava o fantoche tão bem. – Eu estou muito bem, senhor Caco. E você?
- Com uma visão tão linda quanto você? Eu não podia estar melhor. – O garoto continuou com a imitação.
- Ora, como você é fofo! – Dei um beijo no boneco e Liam sorriu.
- Eu é que devia ganhar esse beijo! – O menino reclamou, já com a própria voz, e deixou o brinquedo de lado. Voltamos a olhar o que havia dentro da caixa e ele retirou alguns DVD’s de lá. – Meus filmes!
- Mais desenhos?! Eba! – Assim que o dono das coisas me entregou aqueles DVD’s, eu comecei olhar de um por um. – Toy Story 1, 2 e 3... Tarzan, Vida de Inseto, Carros, Os Simpsons e... Branca de Neve?
- Branca de Neve? – Ele riu nervoso. – O que isso está fazendo aí? Ruth deve ter colocado na caixa por engano.
- Aham, claro que foi ela. – Gargalhei sem acreditar em nada do que ele estava falando. Deixei os filmes de lado pra ver o que mais estava por ali.
Eu gostaria de chamar aquela caixa de “Tesouro infantil”, porque maravilhas cada vez maiores saiam ali de dentro. O Caco não foi nada comparado ao boneco original do Woody, que além de ter o nome “Liam” escrito embaixo da bota, ainda falava: “Tem uma cobra na minha bota”. Eu passei uns cinco minutos brincando com o cowboy até Liam me passar o outro item: Um snapback do homem aranha que eu logo tratei de colocar na cabeça. Os outros meninos se juntaram a nós e trouxeram os biscoitos que Anne preparara. Começamos a comer enquanto olhávamos os brinquedos e itens de coleção de Liam. Ele parecia um menino de onze anos com aquela quantidade de brinquedos.
Quando todas as coisas já estavam fora da caixa, nós decidimos assistir a um dos filmes novos. Eu e Harry votamos por Branca de Neve, mas os outros meninos queriam assistir Carros. Deu empate, mas Louis correu para colocar o filme que ele queria no aparelho de DVD e isso decidiu qual assistiríamos. Nos acomodamos no sofá com um prato enorme de biscoitos de gengibre e aquele seria o nosso almoço.
Acho que tomar banho foi a parte mais fácil da minha preparação para aquela noite. Meus cabelos também foram razoavelmente fáceis de dominar, já que eu os deixei soltos e bem bagunçados. Minha maquiagem demorou mais que o normal para ficar pronta, visto que eu não era acostumada com uma sombra tão forte quanto a que estava usando e o batom vermelho parecia veludo nos meus lábios. Eu estava na frente da minha cama, olhando para as roupas que separara pra usar na boate... Definitivamente não seria a minha escolha em outra situação. O short mais curto que eu achei no closet + uma blusa preta totalmente transparente + sutiã com Spike dourado que chamava MUITA atenção + jóias de caveirinha = Badgirl. Pelo menos era melhor pensar que eu teria uma noite de badgirl do que uma noite de vadia.
Deixei de enrolação e pulei para dentro daquelas roupas, figurativamente, é claro. Calcei os sapatos coloquei as jóias nos seus devidos lugares em meu corpo. Quase não me reconheci no espelho do banheiro quando fui passar o perfume mais uma vez (só pra garantir) e dar uma bagunçada extra nos meus fios castanhos. Eu estava diferente, mas aquele era o meu objetivo desde o começo. Não sei se estava fazendo certo em escutar o conselho de Louis, mas não tinha mais volta. Eu ia fazer aquilo. Respirei fundo e comecei a treinar caras e bocas. Minha “fantasia” não teria efeito algum se eu não desenvolvesse algumas atitudes mais fortes. Quando percebi já estava piscando para o meu reflexo e colocando o dedo no canto boca, me fazendo de sexy. Tive que rir da quão ridícula eu parecia. A meu ver eu estava bem, mas precisava de uma segunda opinião. Foi com isso em mente que eu voltei para o quarto e tirei meu celular do carregador, digitando uma mensagem na mesma hora:
Não deu nem cinco minutos e Louis já entrava esbaforido e quase derrubava a porta do meu quarto. A expressão em seu rosto era do tipo: “Onde está o incêndio?” e eu só ri do desespero do meu irmão.
- ! – Reclamou ofegante. – “S.O.S” é um código que só pode ser usado em questões de vida ou morte e, pelo que eu estou vendo, você não está morrendo!
- Não briga comigo, Lou! Esse é um caso de vida ou morte. – Apontei para as minhas roupas e dei uma voltinha sem sair do lugar. – Como estou?
- Wow! – Parece que ele estava reparando no meu visual pela primeira vez, pois sua boca formou um “O” e seus olhos igualmente azuis aos meus se arregalaram.
- Acho que vou considerar isso como um: “Você está legal.” – Sorri.
- Tente: “Perfeita”. – Louis também sorriu e eu comecei a me sentir um pouco mais confortável dentro daquele modelito.
- E você acha que essa história vai dar certo? – Suspirei indo até o closet pegar o meu sobretudo preto. O clima ainda estava frio e eu não pretendia congelar antes mesmo de chegar à Storm.
- Só tem um jeito de saber... – Apontou para fora do quarto com a cabeça. – Vamos fazer um teste?
- Eu estou nervosa! – Ri, me sentindo patética por estar nervosa de uma coisa tão besta. – Mas vamos lá.
Louis estava se divertindo com tudo isso e foi o primeiro a sair do quarto, descendo as escadas e reunindo os meninos na sala. Eu peguei os meus documentos, dinheiro, celular e chaves de casa e guardei tudo dentro da minha bolsa de mão. Apaguei a luz do quarto antes de sair e não demorei muito para começar a descer as escadas. Passei pelo hall de entrada e assim que pisei na sala, os três pares de olhos foram pra cima de mim. Louis sorria como o idiota que é, Harry tinha a mesma expressão de quando meu irmão me viu pela primeira vez e Liam parecia enfrentar um dilema interno tão grande que eu não conseguia decifrar o que ele estava pensando.
- Hey, boys. – Encostei meu corpo na parede mais próxima e coloquei uma das mãos na cintura, com uma mordidinha discreta no lábio inferior.
- Quem é você e o que fez com a minha babycheks? – Fazia tempo que eu não escutava aquele apelido que Harry me dera quando éramos mais novos e eu acabei sorrindo.
- ... Eu quase não te reconheci... – Liam ainda estava pasmo, o que me fez sentir as bochechas queimarem. – Você está...
- Linda! – Louis completou a frase.
- Maravilhosa. – Haz falou ao mesmo tempo.
- Genuinamente bonita. – Liam ignorou os dois e deu a sua própria resposta. Confesso que gostei mais da resposta dele do que dos outros.
- Obrigada, gente... – Passei a mão pelos cabelos sem saber muito bem como reagir.
- Que horas você vai? – Louis abriu espaço no sofá para que eu me sentasse.
- Marcamos de sair daqui as 23hrs, porque estamos na lista VIP, então não precisamos chegar bem na hora. – Respondi indo me sentar onde me foi indicado.
- É o Zayn que vem te buscar? – Liam perguntou.
- Mais ou menos... – Olhei pra ele. – Ele vai pegar um taxi e e Niall vem com ele, daí iremos todos juntos pra lá. Não vamos cometer o mesmo erro da outra vez, já que não quero ter que trazer um bêbado pra casa.
- Mas agora é diferente, , porque vocês estão namorando. – Harry tinha um sorrisinho sapeca e eu sabia exatamente onde ele queria chegar. – E podem... Você sabe... Aproveitar mais...
- Eu não sei do que você está falando, Harry. – Foi a minha vez de arregalar os olhos. Estamos mesmo entrando nesse assunto?
- Eu também não sei. – Louis fechou a cara, dando uma de irmão ciumento.
- Aham, tá bem. – Harry gargalhou e Liam preferiu se ausentar daquele assunto.
- Aliás, Lou... Estou contando com o energy juice, ok?
- Sei disso! E já vou deixar na geladeira pra você. – O melhor irmão do mundo é o meu, não concorda?
Não tive nem tempo de agradecer, já que a campainha tocando chamou a atenção de todos. Era hora de ir! Levantei do sofá e vesti o meu sobretudo, atacando todos os botões. Enquanto eu me cobria, Liam deu um pulo e correu para ir atender a porta. Eu não entendi muito bem o que aconteceu em seguida, porque ver Zayn e Liam se abraçando como se fossem bons amigos era estranha demais por si só. Escutei um “E aí, cara?! Quanto tempo.” Seguido por: “Faz tempo mesmo, porque você não aparece por aí mais vezes?” Olhei para Harry e Louis que pareciam não entender mais que eu e deram de ombros. É, a noite seria diferente.
- Isso aqui tá realmente muito cheio... – foi a última a descer do nosso táxi e todos a esperávamos do lado de fora.
A Storm não parecia ser tudo aquilo que falava, ao menos não do lado de fora. Era basicamente uma caixa de metal grande e alta, aparentemente descuidada e enferrujada, com algumas janelas tão escuras que era impossível ver o que acontecia do lado de dentro. A fila de pessoas que queriam entrar ali devia estar dando a volta no quarteirão e eu arrisco a dizer que até reconhecia um rosto ou outro da Academy.
- E muitos não vão nem conseguir entrar. – Niall foi para o lado da namorada.
- Felizmente não fazemos parte deles. – Sorri e puxei Zayn pela mão.
Nós passamos direto para a frente da fila e eu escutei alguns xingamentos. Devia ser chato ficar horas esperando em uma fila e de repente quatro pessoas chegarem do nada e poderem entrar. Infelizmente não havia nada que eu pudesse fazer por eles, então só ignorei os gritos e me aproximei do segurança que devia ter o tamanho de um guarda roupa.
- Boa noite, monsieur. – Sorri simpática, mas não obtive reação.
- O final da fila é pra lá. – Respondeu seco.
- Sei disso. É por isso que estamos aqui. – Respondi cínica. Apontei para a lista que ele estava segurando: - Tomlinson.
- Só um momento... – Levantou a sobrancelha e olhou rapidamente entre os poucos nomes que estavam na lista de VIP’s. – Oh... Me desculpe, senhorita, pode entrar.
- Obrigada. – Engraçado como a postura do segurança mudou completamente quando ele percebeu que eu não devia ser uma qualquer. Ele acenou para um companheiro dele, que tratou de abrir as portas pesadas.
- E vocês? – O segurança barrou os outros três e com isso Zayn teve que soltar a minha mão. Eu só dei meia volta e cutuquei o grandão no ombro.
- Eles estão comigo. – Falei e já puxei os três que permaneceram calados o tempo todo.
Nós quatro conseguimos entrar e eu já estava bufando pelo trabalho que tivemos. Se com quem está na lista VIP é assim, imagine com os outros meros mortais? Vai ver é por isso que muitos desistem de esperar e vão embora. Deixei o estresse de lado e olhei em volta, ficando chocada com o que vi. O lado de fora não tinha absolutamente nada a ver com o de dentro. Estávamos em uma espécie de recepção e as luzes e paredes vermelhas já davam o clima para a festa que estava acontecendo poucos metros dali. O segurança que abriu a porta para nós nos guiou até uma mulher que estava vestida formalmente.
- Boa noite e sejam bem vindos à Storm! – Ela sorriu simpática. – Creio que vocês estão aqui para o aniversário da Jessica, certo? Por aqui, por favor.
- Eu não acredito nisso... – sussurrou e eu olhei pra ela. – Estamos indo para o segundo andar! Eu nunca fui lá, mas dizem que só as pessoas mais importantes conseguem uma reserva.
- É claro, ... Jessica é a filha do dono desse lugar. Quer alguém mais importante que ela? – Também sussurrei, rindo em seguida. Nós fomos até uma porta preta no canto da recepção. A mulher foi a primeira a subir as escadas em espiral.
- É verdade... Acho que preciso mudar de melhor amiga, então. – A ruiva brincou e também começou a subir a escada, seguida por Niall.
- Tá vendo como as coisas são? Quando acham alguém melhor, somos trocados! – Falei para Zayn, que riu.
- Eu não te trocaria, . – Abraçou-me pela cintura e deixou um beijo na minha bochecha. Ele devia estar evitando a minha boca por causa do batom vermelho. De fato não seria bom eu já chegar à festa toda borrada. – Até porque não existe ninguém melhor que você.
- Você só está falando isso porque sou sua namorada. – Sussurrei bem perto dos lábios dele e dei meia volta antes que ele tentasse qualquer coisa.
O puxei pela mão e também fomos subir as escadas. Olhei pra trás de vez em quando e notei que Zayn não tirava os olhos de mim e sorria o tempo todo. No final da escada havia outra recepção, porém era menor que a do andar de baixo. A recepcionista nos atendeu e a primeira moça que nos guiou até ali logo desapareceu. Ela nos explicou que poderíamos deixar os nossos casacos ali, pois havia um segurança responsável por tomar conta deles e é claro que aproveitaríamos aquela mordomia toda, até porque ninguém pretendia passar a festa inteira tomando conta de casacos e bolsas.
foi a primeira a tirar seu casaco pesado e revelar o vestido verde água um tanto curto demais; mas ela estava linda como sempre. Niall vestia uma camisa de mangas compridas na cor azul escuro e uma calça preta por baixo do próprio casaco; simples, mas charmoso. Foi a vez de Zayn tirar o sobretudo e me fazer pensar mais uma vez que ele deveria ser um modelo. Estava vestindo uma camisa social escura com os dois últimos botões abertos, uma calça skinny preta e o bom e velho Converce de cano médio. Fiquei perdida na beleza do meu namorado por segundos suficientes para a recepcionista chamar a minha atenção e perguntar se eu preferia ficar com o meu casaco. “Então é isso... Vamos lá.” Pensei, começando a desabotoar o meu próprio sobretudo. Como ninguém tinha visto as minhas roupas ainda, eu me preparava para a “surpresa”. Podia não ser nada demais e eles poderiam nem notar a diferença, mas também podia ser o contrário; e eu contava com isso. Assim que todas as abotoações estavam desfeitas, deixei o casaco escorregar pelos meus ombros e o segurei com uma mão, o impedindo de cair no chão. Entreguei-o para a mulher, juntamente com a minha bolsa, e me virei para encarar os meus amigos que ainda não falavam nada.
- Ai. Meu. Deus. – estava sorrindo mais que tudo ao me olhar dos pés à cabeça. – Você está tão diferente! Está linda, .
- , eu consigo ver... – Niall olhava diretamente para a minha blusa. Ótima maneira de me lembrar que era transparente. – Você. E gosto do que vejo.
- Hey! – Zayn deu um soco no braço do amigo. – Não olha pra ela assim, ok?! É minha.
- Não foi isso o que ela me disse ontem à noite. – O loiro piscou e eu gargalhei alto, lembrando da nossa conversa por mensagens.
- Epa, não escuta o que ele está falando! – Ri mais uma vez, entrelaçando os dedos nos de Zayn e o tirando de perto dos outros dois. Fomos até a porta que daria entrada à boate, mas ele me segurou e me impediu de dar mais um passo.
- Espera. – Me puxou devagar até estar com as mãos na minha cintura e nossos corpos colados o bastante. – Eu ainda não falei o que achei.
- E o que você achou? – O envolvi pelo pescoço e mordi o lábio inferior.
- Eu achei... – Roçou o nariz pelo meu de leve e eu fiquei olhando aqueles olhos amendoados que me prendiam de todas as formas possíveis. – Que você está incrível. Parece que a cada dia que passa você fica mais linda.
- Baby... – Sorri. Eu não tinha mais o que falar, então só juntei os nossos lábios em um beijo rápido, mas cheio de sentimentos misturados.
- Vocês dois vão ficar aí trocando saliva, ou vão vir logo?
nos fez parar o que estávamos fazendo e eu senti vontade de contar pra ela o quanto odiava quando ela fazia isso. Da próxima vez eu deixá-la-ei falando sozinha e não largarei Zayn de jeito nenhum, pode escrever isso! Como o clima já tinha acabado mesmo, nós nos abraçamos de lado e fomos até onde outro casal nos esperada, já que eles estavam bem na nossa frente. As portas foram abertas e a música me deixou surda na mesma hora. O salão em que entramos era enorme e não estava tão cheio quanto eu esperava. A pista de dança tinha apenas umas vinte pessoas que se divertiam com o remix do DJ que estava em uma caixa de vidro, mas que ainda assim permitia a interação com os convidados. O bar ficava no oposto dessa pista de dança e era igualmente grande e colorido, com fotos de vários drinks que eu nunca vira na vida. Mais a frente, pela direita, ficava uma área reservada para o “descanso”, com mesinhas e sofás bem confortáveis. As luzes eram baixas em todos os cantos, mas não chegava a ser escuro.
- A aniversariante está ali... Vamos falar com ela. – Apontei para Jessica, que estava sentada em um sofá rodeada por outras meninas.
- Eu acho que não a conheço... – Zayn disse ao meu lado. Ele era mais tímido do que aparentava, por mais incrível que pareça.
- Mas ela conhece você! – Ri, olhando-o. – Quem não conhece Zayn Malik?
- Muita gente, ok? – Fez uma careta.
- Vem logo, amor. – Comecei a caminhar na direção da minha colega e o arrastei comigo.
Assim que Jessica nos viu, comentou algo com as amigas e todas olharam na nossa direção. A aniversariante se levantou e nós nos aproximamos dela. As outras meninas não deviam ser da Academy, pois não reconheci nenhuma delas. Não que eu estivesse em um ponto em que conhecesse todos os alunos de lá, mas reconheceria pelo menos o rosto da metade – mesmo que não soubesse o nome nem de três. A que aparentava ser a mais nova delas olhou para Zayn de tal forma que eu achei que iria engoli-o inteiro, despertando o meu ciúme. Estreitei o olhar entrando na defensiva. O moreno ao meu lado parecia não ter notado coisa alguma, mas a criatura entendeu o recado, pois logo encarou os próprios pés.
- Oi, Jessica! Feliz aniversário. – A abracei forte, com um sorriso. – Esse é Zayn, meu namorado. Zayn, essa é a Jessica.
- Muito prazer, Jessica. – Zayn também a abraçou, mas foi bem menos carinhoso que eu. Eu sabia que a garota já o conhecia, mas apresentar os dois seria menos constrangedor do que falar: “Hey, você já conhece o meu namorado, mas ele não faz idéia de quem você seja!”
- Que bom que vocês vieram! – Jessica parecia realmente feliz em nos ver ali. – Espero que gostem de tudo. Hoje o bar está liberado, até o sol nascer e o DJ aceita pedidos, então fiquem a vontade!
- Hmm, gostei disso! – Ri, já imaginando qual seria a primeira bebida nova que eu iria provar. Olhei em volta procurando a minha amiga ruiva, mas não vi nem sinal dela. – A também está aqui com o Niall... Mas eu não sei pra onde eles foram...
- Tenho certeza que eu vou vê-los logo. Amei sua roupa, . – Antes que eu pudesse agradecer o elogio, ela se virou para as amigas. – Sabia que ela é francesa? É por isso que até o jeito de andar dela é diferente.
- Ahn... – Olhei para Zayn sem saber e deveria ficar ali pra escutar falarem de mim na terceira pessoa ou se poderia sair de fininho e ir curtir a festa. Ele parecia saber o que eu estava pensando e riu da minha falta de tato para lidar com a atenção que recebia.
- Nós vamos procurar os outros dois, certo, Jessica? – Zayn chamou a atenção dela quando eu já nem sabia mais do que falava, só que era sobre mim. – Feliz aniversário!
O menino me tirou de perto daquele grupinho que parecia pretender ficar fofocando durante a noite toda. Olhei em volta, ainda não tinha idéia de onde e Niall foram se meter, mas também pouco me importava. Eu estava com a única pessoa que realmente queria estar e era o suficiente. Caminhamos até o bar, aproveitando que ele estava bem vazio. Sentei em um dos bancos giratórios e pensei que Zayn sentaria ao meu lado, mas o que ele fez foi bem melhor: Me abraçou por trás e descansou o queixo no meu ombro, espiando o cardápio que eu começava a abrir para ler.
- O que você vai querer? – Perguntei, correndo os olhos por todas aquelas opções.
- O mesmo que você, . – Falou baixinho perto da minha orelha. Como a minha blusa não tinha manga alguma, ele notou quando todos os pelos do meu braço ficaram eriçados por culpa dele. – Pode escolher.
- Então nós vamos tomar esse aqui. – Apontei para a foto de uma taça com um líquido avermelhado, tentando não gaguejar enquanto falava. Procurei o barman em seguida. – Dois cherrybomb’s, por favor.
- Você é que manda! – O homem balançou a cabeça e começou a preparar as bebidas na nossa frente.
- Você não chamou o Liam e os outros pra virem? – Zayn perguntou e eu o olhei de lado.
- Chamar eu chamei, mas eles não quiseram. – Dei de ombros. Ainda era estranho ver Zayn perguntando diretamente por Liam. – Acho que por ser uma festa de aniversário eles ficariam meio sem graça.
- Entendi. – Sorriu. – É até melhor, porque eu não tenho que te dividir com mais ninguém.
- Você não teria que me dividir nem se todos os meus amigos do mundo estivessem aqui. – Exagerei, já que não tinha tantos amigos assim. Mas pelo menos foi uma forma boa de mostrar pra ele que a minha atenção seria só dele de uma forma ou de outra.
- Nem se o príncipe da Inglaterra aparecesse aqui? – Soltou o nosso abraço e girou o meu banco para que eu ficasse de frente pra ele.
- Depende... O príncipe William ou príncipe Harry? – Me fiz de pensativa.
- E tem diferença, ? – Olhou-me sério.
- Claro que não, seu bobo. – Ri daquele ciúme ridículo e passei a mão direita pelo topete bagunçado do menino. Os fios escuros deslizaram macios entre os meus dedos e ele fechou os olhos com o meu carinho. – Você é lindo, Malik.
- De onde saiu esse elogio? – Abriu os olhos pra me olhar e eu ri baixo.
- Uma garota não pode elogiar o próprio namorado sem um motivo aparente?
- Pode sim, Tomlinson. – Zayn me fez rir pela milésima vez naquela noite.
- Aqui está a bebida de vocês. – O simpático barman colocou as duas taças no balcão na nossa frente e saiu para atender outras pessoas.
- Yay! – Comemorei virando o banco novamente de frente para o balcão. Zayn veio para o meu lado, mas ainda ficou perto o bastante para que eu sentisse seu cheiro a cada respiração. Peguei a minha própria taça e a ergui. – Um brinde!
- A nós. – Ele pegou a própria taça e encostou na minha.
- Que assim seja! – Concordei com aquele brinde e dei o primeiro gole na minha bebida. O líquido rasgou a minha garganta com tanta força que eu não evitei uma careta. Apesar de muito forte, até que era gostoso. Cereja não era o meu sabor preferido de bebida, mas aquele drink não era tão ruim.
Zayn também fez uma careta ao experimentar a bebida e acho que gostou bem menos que eu, o que me fez rir. e Niall resolveram aparecer e eu nem precisei perguntar onde eles estavam, pois o vestido torto da minha amiga denunciou que eles estavam se agarrando em algum lugar. Só fiquei com medo de perguntar onde. Os dois também pediram bebidas diferentes e ficamos os quatro próximos ao bar observando os outros convidados que chegavam. A noite estava seguindo bem agradável e eu já não me sentia tão pelada quanto no começo.
Alguns colegas dos meninos se aproximaram para cumprimentá-los e eu fui apresentada. Todos foram simpáticos e eu retribui tudo com um sorriso. Acredite se quiser, mas eu fui perguntada várias vezes se estudava na London Royal Academy, já que ninguém parecia me reconhecer. Só depois que Zayn explicava quem eu era é que eles pareciam recordar. Um ou outro até pareceu meio chocado ao entender que a menina que geralmente usa roupas claras e pouca maquiagem estava vestida como eu estava naquela boate. Apesar de todo o “tumulto” que eu estava causando com essa minha mudança repentina de estilo, eu fui aceita muito bem.
- Eu amo essa música! – Olhei na direção da pista de dança quando as primeiras batidas de Like it's her birthday – Good Charlot começou a tocar. Deixei o meu copo meio vazio (ou meio cheio, dependendo da sua filosofia de vida) em cima do balcão e dei um pulo pra descer do banco. – Zayn, dança comigo?
- Eu não danço, babe... – Ele me olhou com uma cara de preguiça e eu fiz um biquinho.
- Dança sim! Você já dançou comigo antes. Não lembra?
- Eu só danço quando fico muito bêbado. – Respondeu com uma risada e eu já me preparava pra ficar sentada durante a festa inteira.
- Eu danço com você, . – sorriu e segurou a minha mão. – Vamos deixar esses chatos aí.
A ruiva estirou a língua para o próprio namorado que também não queria dançar com ela e fomos correndo de mãos dadas para a pista de dança. O lugar não estava tão cheio e nem tão vazio; na quantidade perfeita. Acenamos para o DJ e ele fez o mesmo. Nós duas parecíamos duas menininhas rindo, e olhe que não bebemos quase nada. Só queríamos nos divertir sem ligar para o que os outros estivessem pensando, então começamos a dançar como bobas. fazia a dancinha do robô e eu jogava os braços pra cima enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. Jessica estava por ali também e veio se juntar a nós.
Nós três cantamos o refrão da música juntas e rimos mais ainda. A aniversariante não ficou muito tempo conosco, pois tinha que ir dar atenção aos outros convidados, mas só aqueles minutinhos já foram suficiente pra mostrar que ela era legal. costumava dizer que a menina era interesseira e só queria se aproximar de mim por “eu ser de Paris” e até que eu concordei com aquilo por um tempo. Só reparei que era apenas ciúme de quando Jessica foi embora e a ruiva me abraçou, sussurrando: “Não vai me trocar por ela, né?” Eu logo respondi que não e a abracei com mais força ainda. Eu amava aquela ruiva boboca e não seria nada sem sua amizade. Não a trocaria nem se pudesse, por nada nesse mundo.
Uma nova música começou, mas eu não a conhecia. De qualquer forma, continuei dançando como se fosse a minha música preferida. ficou rígida de repente, como se estivesse vendo um fantasma. Eu estava de frente pra ela e tentei perguntar: “O que foi?”, mas a música estava alta demais pra que ela me escutasse. Ela parou de dançar e apontou para algo atrás de mim, na direção do bar. Me virei preocupada e também congelei assim que vi o motivo do susto: Brigitte. Ela estava perigosamente perto de Zayn e os dois conversavam. Ele estava agindo normalmente, mas a garota passava a mão pelo braço dele, obviamente flertando, e ainda por cima dava uma daquelas risadinhas que perseguem meus pesadelos. O pior de tudo é que Zayn parecia não notar o que ela estava querendo e por isso não se afastava. Niall estava sozinho em um canto e olhava pra gente como se falasse: “Eu não tenho culpa.” E realmente não tinha. Brigitte lançava alguns olhares na minha direção, só pra ter certeza que eu assistia enquanto ela se jogava pra cima do MEU namorado. Senti vontade de vomitar só de lembrar que ela também já tinha chamado-o assim, durante bem mais tempo que eu. “Ela vai conseguir ele de volta rapidinho”, a voz de uma das amigas da oxigenada veio em minha mente e devia ser exatamente isso que ela estava tentando fazer; conseguir ele de volta.
- Deixa eu dar uns tapas nessa garota? Eu vou dar uns tapas nessa garota. – tentou andar até eles, mas eu a segurei antes que fizesse uma besteira.
- Não, ! Não vale a pena.
- Vale uma galinha inteira, ! Ela está merecendo e não é de hoje. – Bufou irritada. – Eu odeio essa garota! Você não vai ficar aqui sem fazer nada enquanto ela dá em cima dele, vai?
- Não mesmo. – Sorri sapeca, com uma idéia se formando na minha cabeça. – Mas vou fazer algo bem melhor do que bater nela.
- O que? – me olhou curiosa.
- Mostrar pra ela que ele está comigo agora.
- Como isso pode ser melhor do que bater nela, ? – parecia enfurecida com a minha falta de violência.
- Você vai ver! – Rolei os olhos.
Deixei-a sozinha na pista de dança e fui até a cabine do DJ. Jessica falou que ele aceitava pedidos, certo? Seria a minha vez de pedir uma música. O homem logo me notou assim que eu dei uma batida não tão delicada no vidro e abriu uma janelinha, me passando um iPad. Sim, ele me entregou um iPad pra que eu escrevesse ali a música que eu quisesse pedir. O que aconteceu com papel e caneta? Também não sei! De qualquer forma, digitei ali o que queria e devolvi o tablet. Agradeci e o DJ disse que a minha música seria a próxima.
Àquela altura, já tinha se juntado ao namorado e fazia caretas na direção de Zayn e Brigitte. Ela se aproximava cada vez mais e mesmo que ele tentasse se afastar, ela parecia não entender que ele não queria nada com ela. Cruela e Devil também estavam por ali, um pouco mais atrás deles, e trocavam sussurros. Toda a raiva que eu senti daquelas duas meninas quando as escutei no banheiro estava voltando. “Sem graça” era o que elas achavam de mim? HA HA, vamos ver quem é a sem graça agora.
- Um minuto de atenção, por favor... – O DJ interrompeu a música que estava tocando e começou a falar ao microfone. Seria a minha hora, então eu caminhei até o centro da pista de dança. – Essa garota adorável gostaria de dedicar uma música ao sortudo namorado. Zayn Malik, essa é pra você.
Acabei sorrindo com aquela apresentação e senti o meu rosto queimar com todos os olhares que recebi. Aparentemente mais da metade daquele salão sabia quem era Zayn Malik e por isso sabiam que eu era a sua namorada, ou seja, quem estava dedicando a música. Em outra situação eu teria corrido ou pelo menos cortado o contato visual com o menino que me olhava sem entender nada. Não era o momento de sentir vergonha, era o momento de provar que Zayn era meu.
(Procurando por uma garota que estava aqui, mas agora ela se foi)
Felt so good even though she did me wrong.
(Foi tão bom mesmo ela sendo errada comigo)
She knows what i want but she’s bad for me…
(Ela sabe o que eu quero, mas ela é ruim pra mim)
She gets what she wants when she’s touching me…
(Ela consegue o que quer quando está me tocando)
I should've known better but she took my self-control.
(Eu devia saber, mas ela tomou o meu auto controle)
Sim, eu pretendia dançar pra ele e foi exatamente isso que eu fiz quando a música começou. Zayn olhava na minha direção e quase não piscava, fazendo Brigitte se roer de raiva. Mais pessoas dançavam a minha volta, mas eu sabia que a atenção dele era somente minha. Comecei mexendo o corpo no ritmo da música, descendo as mãos pela lateral do meu corpo até parar no quadril. O garoto seguiu as minhas mãos com o olhar, mas voltou a fitar o meu rosto a tempo de me ver mordendo o lábio inferior da forma mais sexy que eu consegui. Ele sorriu meio sem reação, só me assistindo.
(Você pode pegar o meu coração como uma criminosa)
Won’t you make me believe I’m the only one?
(Vai me fazer acreditar que eu sou o único?)
So grab me by the neck and don’t you ever let go.
(Então me agarre pelo pescoço e nunca solte)
Mess me up so good until i’m beggin’ for more…
(Me bagunce tão bem até que eu esteja implorando por mais)
You can tear me apart like an animal, like an animal, animal…
(Você pode me destruir como um animal)
Joguei a cabeça para trás, passando uma mão pelos cabelos. Rebolei devagar de um lado para o outro até o refrão começar acelerar. Meu corpo era dominado pela melodia e meus movimentos eram sincronizados e sensuais. Eu só costumava dançar daquela forma quando estava sozinha no meu quarto e tinha certeza que ninguém podia me ver, mas naquele momento eu era praticamente o centro das atenções e não dava a mínima. Zayn deu um gole na bebida amarelada que estava em sua mão, mas continuou me olhando por cima da borda do copo.
(Eu sei que estou me aproximando do caminho de corações partidos)
Hope she's coming back to finish what she started.
(Espero que ela esteja voltando pra terminar o começou)
I never see the claws ‘till she’s touching me.
(Eu nunca vi as garras até ela estar me tocando)
She’s holding me so tight, it's getting hard to breath.
(Ela está me segurando tão forte que está ficando dificil de respirar)
I'll never win the game, but it feels too good to care…
(Eu nunca vou ganhar esse jogo, mas é bom demais pra importar)
Virei de costas, mas ainda lançava olhares por cima do meu ombro, com um sorriso malicioso nos lábios. Mexi os ombros na media em que o meu quadril obedecia a sua vontade própria e meu corpo foi abaixando devagar, rebolando de um lado para o outro. Fiquei uns cinco segundos apoiada nos calcanhares pra começar a levantar tão lentamente quanto me abaixei, passando as mãos pelas minhas coxas. Eu estava provocando Zayn e ele estava gostando. Na verdade não só ele, mas qualquer um que quisesse me assistir e os olhares que eu recebia enchiam o meu ego de uma forma que eu jamais achei que pudessem.
(Me agarre pelo pescoço e nunca solte)
Mess me up so good until I’m begging' for more.
(Me bagunce tão bem até que eu esteja implorando por mais)
Girl you tear me apart like an animal, an animal, animal.
(Garota, você me destroi como um animal)
Take me to the dark and don't you ever let go…
(Me leve para o escuro e nunca solte)
I like it when you treat me like an animal…
(Eu gosto quando você me trata como um animal)
Voltei a encarar o meu namorado de frente e vi que ele terminara todo o líquido em seu copo, largando-o na frente de Brigitte. Aliás, a cara que a loira estava fazendo não tinha preço; ela me olhava com desprezo, mas eu sentia a sua inveja. Sorri cínica pra ela, mas Zayn não notou, já que o olhar dele estava em outro lugar: No meu corpo. Acho que nunca havia me sentido tão desejada até aquele momento. Pelo menos não no sentido mais íntimo da palavra. Zayn não esperou a música terminar pra sair de perto do bar e caminhar na minha direção. Diminuí um pouco os meus movimentos ao notar a sua aproximação e mordi o meu lábio inferior mais uma vez; aquilo estava virando uma mania. O mais alto não falou palavra alguma antes de me segurar pela nuca e juntar os nossos lábios com urgência. A primeira coisa que fiz depois de entreabrir os lábios foi agarrar os ombros dele com tanta força que as minhas unhas quase furaram a camisa social do mesmo. Acabei arrancando um gemido de dor e tive que sorrir satisfeita durante o beijo. Nossas línguas se encontraram e começaram a brincar como já era de costume, porém com uma intensidade tão grande que foi difícil me segurar pra não suspirar alto demais. Zayn escorregou as mãos pelas minhas costas e me puxou tanto que eu achei que ele pretendia nos fundir em um só. Deslizei as mãos dos ombros até a nuca dele e uma subiu para os cabelos que eu tratei de puxar sem dó.
Aquele era um beijo quente e o meu corpo pegava fogo. Não sei se era o ambiente que estava ficando mais cheio e com isso eu começava a suar, ou se era o fato de eu estar nos braços de um menino lindo que beija muito bem que me fazia querer tirar a roupa. Ei, não nesse sentido! Ok, talvez nesse sentido... Shh! Meus pensamentos já não faziam mais sentido e meus instintos começavam a falar mais alto, então era a hora da minha consciência chata entrar em ação e gritar: “PARE.” Então eu parei, mas não antes de dar uma mordida no lábio inferior de Zayn e deixá-lo escapar entre os meus dentes devagar.
- O que há com você hoje? – Zayn sussurrou nos meus lábios, com um sorriso maroto.
- Acho que eu preciso de água. – Falei baixinho com uma risada.
- Eu pego pra você, vem.
Zayn segurou a minha mão e nós dois deixamos a pista de dança. Ele me pediu pra encontrar um acento livre e esperar por lá enquanto pegava algo para bebermos. Lancei um olhar na direção do bar e constatei que não havia mais nenhum sinal de Brigitte, graças a Deus, então o soltei e fui até a área de descanso. Achar um espaço vazio foi fácil, visto que a pista de dança estava mais cheia que nunca e eram poucas as pessoas que estavam sentadas por ali. Escolhi uma mesa mais afastada, para que pudéssemos conversar sem sermos atrapalhados pela música. Aproveitei que ela era próxima à parede as cadeiras eram na verdade um banco enorme e estofado que mais parece um sofá.
Foi bom finalmente sentar depois de dançar tanto, principalmente por já sentir meus pés latejando dentro dos saltos. É nessas horas que eu percebo o quanto tênis e sapatilhas são confortáveis. Eu sentia vontade de tirar os sapatos e deitar, mas uma dama nunca faz isso; principalmente em uma boate tão luxuosa quando aquela.
- Aqui está você! – Zayn deve ter demorado um pouco mais do que devia para me achar. Ele trazia duas garrafas esverdeadas nas mãos, com a palavra “HOOCH” escrita no rotulo.
- Que diabos é isso? – Arqueei uma sobrancelha pegando uma das garrafas e abrindo espaço para que ele se sentasse.
- Você nunca tomou Hooch? – Ele riu da minha falta de cultura britânica e eu balancei a cabeça. Zayn sentou-se ao meu lado e eu passei as pernas por cima das dele, ficando de lado no sofá, mas de frente pra ele.
- Não mesmo! – Cheirei a boca da garrafa tentando decifrar o que era e dei um gole em seguida. – É limonada? É cerveja? Nunca vamos saber!
- Pode ser os dois! Uma cerveja de limão. – Zayn acariciava as minhas pernas com uma mão e a outra virava a “cerveja de limão” na boca.
- Ok, pode ser! – Ri um pouco e bebi mais alguns goles. – Até que eu gostei dessa tal de Hoock.
- Hooch. – Corrigiu-me com um biquinho engraçado.
- Como?
- O nome... É Hooch. – Repetiu com paciência.
- Hooocc? – Tentei mais uma vez, mas sabia que não acertaria tão cedo. – Meu sotaque me atrapalha!
- Babe, nem é tão complicado... – Gargalhou da minha dificuldade e jogou a cabeça para trás, rindo como uma criança.
- É claro que é! – A risada dele era tão gostosa de se ouvir que eu acabei rindo junto. – Eu vou chamar de Hoo-hoo, ok?
- Hoo hoo não é um Pokémon? – Riu mais ainda e eu já começava a me estressar.
- Eu não sei, Malik! – Fiquei um pouco mais séria e continuei bebericando da minha bebida que eu chamo do jeito que quiser. – O único Pokémon que eu conheço é o Pikachu.
- Hey, ... – Zayn tentou chamar a minha atenção, pois eu não olhava mais pra ele.
- O que é? – Minha curiosidade foi maior que o meu orgulho e me rendi, fitando-o.
- Pika, pika... Pikachuuuuuu. – Zayn colocou a sua garrafa na mesa a nossa frente e usou as mãos como garras, afinando a voz e tentando imitar o Pikachu. É claro que eu não aguentei e comecei a rir.
- Ai, que idiota! – Ri ainda mais alto.
- Essa é a que eu gosto. – Sorriu e me olhou daquele jeito... Apaixonado. – Você estava diferente mais cedo.
- Estava? E você não gostou? – Minhas íris passeavam pelo rosto perfeito dele, captando cada detalhe.
- Gostei sim... Porque eu gosto de você de qualquer jeito, . Mas gosto ainda mais quando você é você. – Ele continuava com os carinhos na minha perna e eu começava a relaxar.
- Então você notou, né? Digo... A minha mudança de roupas e essas cosias. – Passei a mão pelos meus cabelos, nervosa com o que poderia escutar.
- Notei, mas não entendi.
- Eu só... Queria pertencer ao “seu mundo”. – Fiz aspas no ar, mas Zayn pareceu entender bem menos. – Vai me dizer que nunca escutou comentários de que eu não combino com você? Ou que você é bom demais pra mim e blábláblá? Eu só queria mudar isso... Nem que fosse por uma noite.
- Eu não quero que você mude por mim, que precise mudar pra ser “aceita”. – Suspirou. – Eu te aceito, . Não é suficiente?
- É claro que é. – Segurei a mão dele e acariciei com o polegar. – Eu só fiquei com medo que...
- Que? Pode falar... – Me pedia com calma.
- Que você acreditasse nesses comentários. – Falei de uma vez, encarando os nossos dedos entrelaçados.
- Eu nunca vou acreditar em nada do que me falem contra você, . Essas pessoas? – Olhou em volta, dando ênfase no que dizia. – Elas não te conhecem. Elas não me conhecem. Nós dois nos conhecemos e é o que importa. Entendeu?
- Entendi sim. – Sorri bem aliviada. Aquilo era tudo que eu precisava ouvir pra tirar as coisas ruins da minha cabeça.
- Não pense mais besteira, francesinha.
Zayn se inclinou na minha direção e eu sorri até o momento que os nossos lábios se encostaram. Toquei o rosto dele com a minha mão direita e fiquei acariciando a pele macia da sua bochecha devagar. Nossas respirações se misturavam e mal mexíamos os lábios, apenas aproveitando o momento, a presença um do outro. Eu não acreditava que duas pessoas tão diferentes pudessem ser tão iguais de tantas formas perfeitamente imperfeitas até conhecê-lo. Não queria me apressar e nem imaginar um casamento entre nós dois, mas era impossível dizer que não me importaria se a nossa magia acabasse dali a uma semana.
Capítulo XXIX
- , você não vai escapar! – Gritei enquanto corria atrás dela pelo corredor do primeiro andar da Academy. – Isso é importante! Eu não sei por que você está com tanto medo.
- Eu não quero alguém me examinando, ! Vai doer. – A menina choramingava e eu já começava a desistir de persegui-la.
Naquela segunda feira as nossas aulas haviam sido canceladas para que cada aluno pudesse fazer um “exame de rotina”. Funcionava mais ou menos como aqueles testes que os atletas tem que fazer pra poder competir, mas no nosso caso era bem mais importante. Como usamos cada centímetro do nosso corpo, os ossos podem sair do lugar ou músculos ficarem frágeis e só com certos exames é que esses problemas são detectados. De fato era bem desconfortável, principalmente se você não é acostumada com alguém te apertando até você ficar sem ar – como era o caso de . Por mais que eu tentasse tranquilizar a minha amiga, nada do que eu falasse parecia adiantar. Nós éramos as últimas e a maioria das pessoas já tinha ido embora. Eu também gostaria de estar a caminho de casa, mas a minha querida não facilitava a minha vida em nada.
- Quer saber? Se não quiser, não faça! Cansei de insistir. – Bufei e dei meia volta.
- Você não vai ficar brava comigo, vai? – Ela não veio atrás de mim, mas pelo menos se virou na minha direção.
- O que você acha, ? – Também não me virei pra falar com ela e continuei o meu caminho em direção à enfermaria.
- Eu não gosto que me chame pelo meu nome! – Não sei por que aquilo a irritava tanto, mas estava pouco me importante. Eu só estava querendo ajudá-la e ela parecia não enxergar isso.
- Eu não ligo se você gosta ou não, . Pelo menos não quando eu estou tentando fazer algo para o seu bem. – Fui ríspida e a deixei falando sozinha.
Eu odiava brigas com todas as minhas forças e evitava ao máximo qualquer desentendimento, mas tem hora que a pessoa não aguenta mais. Infelizmente e eu enfrentamos a nossa primeira briga. Eu sabia que não era nada demais e que em meia hora nós estaríamos de bem novamente, por isso não esquentei muito com aquilo e segui o meu caminho. A enfermaria estava vazia como o esperado e a senhora Mary, que eu já conhecia, estava por ali. Ela parecia feliz em me ver e logo me mandou entrar na sala de vidro que ainda me deixava desconfortável. Deixei a minha mochila em uma cadeira vazia e tirei a minha blusa, ficando apenas de calça legging e collant de ballet. Eu já sabia como esses exames funcionavam, então não daria muito trabalho.
- Senhorita Tomlinson, como é bom vê-la andando sob os dois pés novamente! – A senhora sorriu ao me ajudar a sentar na maca.
- Graças à senhora e aquela pomada milagrosa! – Sorri de volta e deitei na maca de barriga pra cima. – Aliás, eu nunca tive a chance de agradecer de verdade... Então obrigada!
- Imagine, querida, eu estou aqui pra isso. – Colocou os óculos sob o nariz afinado antes de continuar. – Podemos começar? Você tem sentido alguma dor em qualquer parte do corpo?
- Nada fora do normal, pra dizer a verdade. Só quando eu passo muitas horas dançando é que meus pés começam a doer, mas aí eu os coloco de molho em uma bacia com sal e água morna.
- Está certinha... – Começou a sentir as minhas costelas e apertar cada uma. – Aqui dói?
- Agora que você está apertando, sim... – Ri nervosa na tentativa de disfarçar um gemido de dor, mas não adiantou. – Outch.
- Desculpe, querida, eu sei que dói, mas é o necessário. – Terminou de sentir as minhas costelas e anotou algo em um papel. – Por enquanto está tudo certo. Você poderia deitar de lado, por favor?
- Claro... – Deitei como ela pediu, apoiando o lado direito na maca. A senhora voltou a sentir as minhas costelas, porém procurou algum ponto mais abaixo delas.
- Isso pode doer um pouco, tá bem? – E sem nem contar até três ou dar um aviso melhor, Mary forçou a mão para baixo da minha costela. Era como se ela quisesse, literalmente, passar a mão através da minha pele e arrancar o meu coração.
- Um pouco? – Foi impossível segurar o gemido de dor dessa vez e eu acabei soltando todo o ar que tinha em meus pulmões.
- Respire fundo, por favor... – Pediu, me fazendo encará-la com descrença. Até parece que seria fácil assim, né? Fiz o melhor que pude, mas não consegui segurar por muito tempo; não com ela empurrando a mão cada vez mais pro fundo. – Muito bem.
- Mon Dieu. – Suspirei pesadamente quando ela me soltou e deitei de bruços na maca, recuperando o fôlego.
- Eu sei que é horrível, querida... – Mary aproveitou a posição em que eu fiquei para sentir as minhas panturrilhas. Eu começava a dar a razão a por ter fugido, pois a dor que eu senti em seguida foi quase insuportável. – Acho que achei um nó no seu músculo, ...
- Um o que? – Tentei olhar pra ela, mas fui obrigada a continuar na mesma posição.
- Um nó. Não é nada que deva te preocupar, mas só vai piorar, então eu vou relaxá-lo agora, certo?
Porque ela me perguntava se nem esperava a minha resposta? A enfermeira começou a massagear a minha panturrilha, mas não daquela forma gostosa que muitas pessoas até pagam depois. Era uma dor horrível, principalmente no lugar do tal nó. Eu sentia uma pontadinha naquele local durante as minhas danças, mas não sabia que era algo sério. Minha única saída foi abraçar um travesseiro fino que estava ali por cima e torcer pra que acabasse logo.
Depois de todo o sofrimento que passei na mão de Mary, pude sair da enfermaria/abatedouro e procurar meus amigos, pois eles deveriam estar me esperando. Fiquei surpresa por ver que estava sentada em um banco bem próximo de onde eu estava e tinha uma expressão bem engraçada no rosto. Ela devia estar sondando se eu ainda estava brava com ela ou não.
- Hey, bitch. – Chamei-a pra andar junto comigo e o sorriso que ela abriu em seguida mostrava que tudo estava bem.
- Como foi? – Ela me abraçou de lado, passando o braço em volta da minha cintura.
- Um pedacinho de céu! – Falei com ironia e ri ao passar o braço em volta dos ombros dela. – Onde estão os meninos?
- Estão na escada, como sempre. Está com saudades do namorado? Porque ele não parava de perguntar por você. – Rolou os olhos. – Por isso é que eu vim atrás de você. Já não aguentava mais ouvir Zayn perguntando: “Será que ela está bem?” ou “Será que ainda vai demorar muito pra sair de lá?” Eu to te falando, , ele está insuportável.
- Não era você que dizia que eu fazia dele uma pessoa melhor? – Gargalhei e quase inconscientemente comecei a andar mais rápido. A verdade é que eu também estava louca para vê-lo.
- E faz! Mas só quando está ao lado dele. Quando você está em outro lugar... Pff, ele vira um chato.
- Não fala assim dele, ok? – Olhei pra ela de cara feia.
- Não fale de quem? – Um Zayn sorridente surgiu na nossa frente assim que passamos pelas portas de entrada/saída da Academy.
- Baby! – Larguei a minha amiga de qualquer jeito e praticamente corri para abraçá-lo.
- Alguém está feliz em me ver! – O menino sorriu mais ainda e me abraçou pela cintura, levantando-me alguns centímetros do chão.
- Eu estava com saudades. – Balancei os pés no ar e, logo que os encostei novamente no chão, separei o abraço.
- Blaaaaaah. – fez uma cara de nojo e desceu as escadas para encontrar o próprio namorado.
- Como foi a sua manhã? – Preferi ignorar a ruiva e me concentrar no garoto na minha frente.
- Produtiva. – Passou a mão pelos cabelos, também ignorando a outra garota. – Estamos escrevendo uma música para o Snow Ball.
- Sério? Tenho certeza que está ficando perfeita. – Sorri e Zayn segurou a minha mão.
- Se o Niall ajudasse, seria mais fácil. – Resmungou me fazendo rir. – Mas enfim! , eu queria falar com você...
- É algo ruim? – Fiquei tensa. Que eu saiba essas coisas de “eu quero falar com você” ou “precisamos conversar” nunca terminam bem.
- Claro que não. – Sorriu, me tranqüilizando. – Eu quero te levar pra jantar hoje.
- Uhh, nosso primeiro encontro oficial? – Soltei uma risada baixa, pousando as mãos nos ombros do menino.
- Exatamente. – Me segurou pela cintura e deixou um beijo nos meus lábios. – Aceita sair comigo?
- Eu adoraria. – Afirmei que sim com a cabeça e ficamos trocando selinhos demorados.
- Te pego as oito?
- Perfeito! – Nos abraçamos mais uma vez antes de irmos nos juntar a e Niall na escada.
- O que vocês dois estavam cochichando ali atrás? – perguntou, curiosa como sempre, enquanto nos sentamos em um degrau.
- Temos um encontro hoje à noite. – Respondi animada.
e Niall falaram um “Hmmm” engraçado e eu rolei os olhos. Me senti na quarta série de novo. Eu teria reclamado da infantilidade dos dois se o toque do meu celular não tivesse me chamado. Incrível como você pode passar o dia inteiro com o celular na mão e nada acontecer, mas quando ele está perdido pela sua bolsa, até sua tia de quarto grau resolve ligar. Eu revirei a bolsa e olhei em cada bolso, achando o celular quando a música estava quase acabando. Zayn ria do meu desespero, mas eu ignorei e atendi a ligação antes mesmo de ver quem era.
- Alô?
- ! Ainda bem que consegui falar com você... – Era Rachel, minha madrasta.
- Oi, Rach! Aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupada com a forma que ela me cumprimentou.
- Não se preocupe, não aconteceu nada de ruim... É só que eu recebi um convite para um desfile, mas foi meio em cima da hora. Então estou atrasada pra uma prova de roupas e não tenho com quem deixar a Lux, porque seu pai está trabalhando... – Rachel falou rápido demais e eu tive que prestar atenção em dobro para entender. – Você está em casa?
- Eu ainda estou na academia, mas Liam está em casa. Ele teve o dia de folga hoje. – Expliquei. Os três que estavam ali comigo me olhavam curiosos, tentando entender o que estava acontecendo. – Pode deixar ela lá em casa e eu já chego...
- Muito obrigada, ! De verdade. Você pode avisar o Liam pra mim? Eu já estou chegando...
- Claro que sim, eu já vou ligar pra ele! – Afirmei e encerramos a ligação.
- O que houve, ? – Zayn perguntou enquanto acariciava o meu braço.
- Minha baby girl vai passar a tarde comigo hoje! – Falei com um sorriso enorme. – A mãe dela vai provar umas roupas hoje para o próximo desfile...
- A sua madrasta é modelo, né? Eu tinha esquecido... – disse pensativa.
- É sim! Mas ela estava meio parada desde que Lux nasceu, então essa pode ser uma chance pra ela voltar às passarelas.
- Então você vai ter que ir embora agora? – Meu namorado fez um biquinho, como se não quisesse que eu fosse.
- Vou sim... Mas não se preocupe, porque a gente vai se ver mais tarde. – Puxei-o para um beijo rápido antes de levantar da escada. – Tchau, e tchau, Nialler.
- Até mais tarde! – Zayn acenou pra mim e eu desci a escada com um sorriso no rosto.
Fui procurando a chave do meu carro dentro da bolsa enquanto discava o número de Liam no meu iPhone. Fazer duas coisas ao mesmo tempo é o que há. Terminou que eu não consegui fazer uma coisa nem outra, já que tive que parar de digitar quando derrubei a chave no chão acidentalmente. Por sorte não caiu em nenhuma poça de água e rapidamente eu a peguei de volta e abri o carro. Esperei estar sentada no banco do motorista pra tentar discar o número de meu amigo novamente.
- Oi? – Liam atendeu com a voz sonolenta.
- Li? Sou eu, . – Tive que rir, já que provavelmente tinha o acordado. – Te acordei, né?
- Mais ou menos. – Ele também riu.
- Desculpa! Oh... Eu to ligando pra avisar que a Rachel vai passar aí pra deixar a Lux, ok? Você pode ficar com ela até eu chegar?
- Aquela coisa fofa? Claro que posso. – Pude escutá-lo se mexer na cama, provavelmente saindo dela. – Você vai demorar?
- Eu já estou saindo daqui, mas depende do transito. – Rolei os olhos, imaginando os minutos que eu teria que passar dentro do carro se as ruas estivessem congestionadas como de costume; ainda mais por causa da hora.
- Tudo bem, , te vejo daqui a pouco. Dirija com cuidado! – Liam sempre se preocupava com a minha segurança e eu achava muito fofo.
- Onde está a minha princesinha? – Perguntei ao abrir a porta de casa.
- Quem chegou, Lux? – Escutei a voz de Liam vindo da sala e deixei a minha bolsa em um cabide no hall de entrada. – Vai lá ver!
- ! ! – A pequenina apareceu correndo onde eu estava e a sua risada me fez rir junto. – Chegou !
- Luxy, meu amor! – Peguei-a no colo com facilidade, mas ela estava mais pesada que da última vez que eu fizera aquilo. Também parecia maior que da última vez... – Que saudades que eu senti! O tio Liam cuidou bem de você?
- Uhu. – Respondeu, ainda rindo. Eu não agüentei e enchi as bochechas da minha irmãzinha de beijos.
- Oi, . – Liam apareceu e estava um pouco ofegante.
- Tudo bem com você, Liam? – Ri.
- Essa menina corre demais, sabia? – Falou.
- Você estava dando trabalho pra ele, Lux? – Perguntei para a menina em meus braços.
- Sim! – Jogou a cabeça pra trás, rindo.
- Muito bem! – Também ri e só Liam permaneceu sério.
- Quem está com fome? – Dorota apareceu do nada, me assustando.
- Eeeeeeeu! – Lux levantou os braços gordinhos para o alto.
- Dora, eu nem sabia que você estava por aí! – Sorri para a minha babá. – Mas eu devia ter desconfiado por causa desse cheiro maravilhoso!
- Eu fiz uma macarronada especial hoje!
- Hm, tudo isso pra Lux, é?
- Rachel falou que ela já comeu, ... – O homem me informou e a pequena fez um biquinho me olhando.
- Não conta pra mommy? – Lux olhou para Liam e ele sorriu.
- Só se eu ganhar um beijo. – Cruzou os braços, chegando mais perto.
- Ok! – Concordou com aquele trato e pulou dos meus braços para o dele. Por sorte ele a segurou a tempo. – Smáck!
- Que beijo gostoso! – Liam riu porque Lux falava “smáck” toda vez que mandava beijo ou beijava alguém. Ele também deu um beijo na pequena e sussurrou pra ela como se estivesse contando um segredo: - Será que o beijo da sua irmã é tão gostoso assim?
- , tio Li quer beijo seu. – Ela falou com a maior naturalidade do mundo e eu devo ter ficado mais vermelha que um tomate, pois sabia exatamente o tipo de beijo que ele queria.
- Agora não é hora de beijo e sim de comer! Venham logo, pois a mesa já está posta.
Por sorte Dorota percebeu o quanto eu estava sem graça e mudou o assunto da conversa. Eu fui a primeira a ir para a sala de jantar e sentar na minha cadeira como de costume. Liam pegou uma almofada do sofá da sala e a colocou na cadeira ao lado da minha, pra que Lux ficasse da altura da mesa e pudesse ficar segura, sentando na frente dela em seguida. Ele era tão cuidadoso até nos pequenos detalhes e eu admirava isso nele; entre várias outras coisas.
Dorota nos serviu de um por um e eu duvidava que fosse conseguir comer a montanha de macarrão que cobriu o meu prato. Por mais que eu tivesse falado que não estava com muita fome, ela insistiu que eu estava magra demais e precisava me alimentar direito. Teria entrado em uma discussão alegando que uma bailarina não pode comer muito, mas já sabia como terminaria, então não valia a pena gastar argumentos em uma causa perdida. Pelo menos em uma coisa ela estava certa... Aquela era uma macarronada especial, pois estava muito, muito, muito boa. Lux também parecia estar gostando, pois sua boca e bochechas logo ficaram cobertas por molho de tomate. Foi uma luta impedir que ela sujasse as roupas, mas eu consegui fazê-la terminar de comer limpa.
- Qual o seu segredo, Dora? – Liam perguntou após engolir uma garfada do macarrão.
- Muito amor! – A mulher respondeu da cozinha.
- Ela nunca conta o ingrediente secreto, Li. – Expliquei.
- Mas eu não ia contar pra ninguém! – Disse cabisbaixo.
- Se eu contasse o meu ingrediente secreto ele não seria mais secreto. – Dorota chegou àquela brilhante conclusão.
- Você devia se contentar em ao menos poder provar da comida dela, porque daqui a pouco a rainha vai descobrir a melhor cozinheira de toda a Inglaterra e nós ficaremos sem a nossa. – Brinquei.
- Que exagero, ! – Ela riu. – Eu ainda mandaria uma marmita pra vocês. Umas sobras do castelo, sabe?
- Tá vendo como as coisas são? – Perguntei a Liam e ele só riu.
Enquanto nós dois terminávamos de comer, Dorota pegou Lux e foi ajudá-la a lavar o rosto e as mãos. Também ficou brincando com a pequena no chão da sala e eu só escutava a música que ela costumava cantar pra mim quando eu era criança. Tive que sorrir com todas aquelas lembranças que voltaram de repente e saí da mesa de jantar para também ir até a sala. Liam me seguiu curioso e nós dois sentamos no sofá pra ficar olhando as duas.
- Ela me lembra muito você, ... – Dorota falou com um suspiro. – Eu te conheci mais nova ainda, acredita?
- Eu não lembro como nos conhecemos, Dora... Mas lembro que você sempre esteve comigo, mais até que a minha mãe.
- Você era a minha bebê, a minha menina. – Falou melancólica. – E a Lux tem os seus olhos. É como se estivéssemos voltado no tempo e eu ainda pudesse te carregar nos braços.
- Não comece a chorar, Dora, por favor. – Pedi com a voz embargada. Se ela continuasse com aquele assunto, quem iria chorar seria eu.
- Tem razão! – Se abanou e levantou do chão com certa dificuldade. – Tenho muitos pratos pra lavar. Qualquer coisa me chamem, sim?
- Pode deixar. – Liam foi quem respondeu e eu tirei Lux do chão para colocá-la no meu colo.
- Obrigada, Dorota. – Sorri para a mulher que deixava o cômodo e me voltei para Lux. – Do que você quer brincar agora, princesa?
- Vamos brincar de salão de beleza? – Aquela era uma das maiores frases que Lux falara, ao menos perto de mim, então eu não podia negar.
- Vamos sim! Lá no meu quarto? – Perguntei e ela afirmou com um movimento de cabeça. Eu a coloquei no chão e a pequena já começou a andar em direção a escada.
- Brinca com a gente? – Parou no primeiro degrau.
- Achei que não ia me chamar! – Liam levantou e foi atrás dela.
Eu segui os dois e como Lux era quem estava na frente, nós demoramos mais que o normal pra chegar até o segundo andar da casa. Como a baixinha não alcançava a maçaneta do meu quarto, Liam foi quem abriu a porta pra ela e a colocou sentada na cama; pois também era alta demais para que subisse sozinha. Eu fui direto para o banheiro e peguei alguns batons, maquiagens e produtos de cabelo para a nossa brincadeira. Assim que voltei para o quarto e coloquei tudo aquilo em cima da cama, Lux sorriu como se estivesse no paraíso.
- Quem vai primeiro? – Sentei na cama, ao lado de Liam e de frente pra Lux.
- Tio Li! – Ela falou enquanto escolhia um batom bem rosa.
- Epa... Que história é essa? – Liam me olhou com espanto e eu dei de ombros.
- Você quis brincar, então vai ter que brincar! – Ri da cara que ele estava fazendo.
- Mas você vai ter que me deixar bem lindo, hein? – Falou com Lux, inclinando o rosto na direção dela.
- Certo! – Luxy comemorou e segurou o queixo dele com a mãozinha esquerda. O batom rosa shock estava na direita e ela começou a passar nos lábios dele.
- Essa é a sua cor, Li! – Gargalhei. Lux estava passando mais ao redor na boca dele do que no lugar certo, mesmo que estivesse usando toda a sua coordenação motora.
- Halaucaa. – Murmurou com a boca fechada, mas eu sabia que ele estava tentando falar “Cala a boca”.
- Eu posso te ajudar, baby girl?
- Pode, . – Sorriu adorável como sempre e me entregou uma sombra azul BEM chamativa. – Ati, oh.
- Acho que ele vai ficar lindo com essa sombra. – Sim, eu estava me divertindo com aquilo. Provavelmente bem mais do que devia. Abri a sombra e me preparei pra começar a passar. – Fecha os olhos!
- Humhuuuuum. – Murmurou mais uma vez, mas pelo menos me obedeceu. Ele resmungava baixinho enquanto eu deixava a área acima de seus olhos completamente azul.
- Abre? – Lux me passou uma caixinha de blush e eu devolvi pra ela depois de abrir. – Brigada.
- Imagine, Luxy. Sabe o que está faltando? – Ela me olhou curiosa e Liam me olhou com medo. – Alguns enfeites de cabelo!
- Ótimo! – Li falou irônico e eu mostrei a língua pra ele, ficando de joelhos na cama e pegando algumas presilhas em forma de flor e borboletas.
- Shhh. – Pedi silêncio e Lux riu, também se divertindo muito em pintar as bochechas dele de vermelho. O cabelo do menino não era tão grande, mas ainda assim eu consegui prender os enfeites por ali.
- Tá pronto! – A menininha fechou o pote de blush e bateu palmas.
- Deixa eu ver... – Fui até o lado dela para poder olhar a nossa obra de arte de frente e comecei a rir ao ver o resultado final. E quando eu falo que comecei a rir, é porque eu ri muito. Cheguei ao ponto de ter que deitar na cama de tanto gargalhar. – Perfeito!
- Para de rir, ! – Liam reclamou comigo, mas não aguentou segurar o próprio riso depois de se olhar em um espelho de mão que Lux o entregou. – Meu Deus...
- Gostou? – A mais nova perguntou inocente, realmente achando que ele estava bonito com aquela maquiagem toda borrada.
- Amei! – Respondeu e eu já conseguia rir menos. – Mas agora é a minha vez. Muahaha.
- Eita, Lux, quem será que ele vai maquiar? – Olhei pra ela fingindo estar com medo.
- Eita! – Me imitou como se aquela fosse a palavra mais engraçada do mundo.
- Eu vou maquiar quem escolheu essa brincadeira, é claro! – Apontou para a minha irmã, que escondeu o rosto nas pequenas mãos. – Nem adianta se esconder, mocinha.
- Ele faz a sua maquiagem e eu arrumo o seu cabelo, o que acha? – Daquela opção Lux gostou, por isso eu voltei a me sentar e a coloquei sentada entre as minhas pernas, de frente pra Liam.
- Vou te deixar bem linda! – O menino pegou um lápis de olho e levantou o rostinho dela.
- Linda ela já é! – Sorri ao pegar a minha escova de cabelo e começar a pentear os fios loiros e finos da bebê. – É a menina mais linda do mundo.
- Tinha que ser, já que ela é a sua cara. – Liam sorriu pra mim e logo voltou a se concentrar no seu trabalho. – Está pronta!
- Mas já? – Deixei a escova de lado e me inclinei para olhar o rosto de Lux. – Liam!
- O que? Ela me maquiou de menina... Eu tive direito de desenhar um bigode nela. – Cruzou os braços como uma criança emburrada.
- Deixa ver! – Lux estava sorrindo, mas assim que viu o seu reflexo no espelho o sorriso se transformou em um ‘o’ espantado. – Epa.
- Tio Li é bobo, né? – Falei com ela, que concordou balançando a cabeça. – Vamos tirar uma foto e mostrar pra mamãe?
Lux deixou eu tirar uma foto dela, então tirei o celular do bolso e coloquei na câmera. A pequena olhou para Liam e ele fez um biquinho, pedindo desculpas. Mas até que ela estava bem fofa – como sempre. Aproveitei que ela estava distraída e tirei a foto. Já fui abrindo o Twitter, pois não perderia tempo, e postei a foto com a seguinte legenda:
- Então, como eu estou? – Perguntei a Liam, que estava sentado no sofá com Lux em seu colo. Eu apontei para as minhas roupas e dei uma voltinha sem sair do lugar.
- Você está mesmo perguntando a minha opinião sobre as roupas que vai usar pra sair com outro cara? – Ele me olhava dos pés à cabeça com certo pesar.
- Eu perguntaria a outra pessoa, mas você é o único que está aqui. – Coloquei as mãos na cintura. Dorota havia partido quando eu estava no banho, Louis ainda estava no trabalho e Harry não aparecera naquele dia. – Por favor?
- Você está perfeita, . Como sempre. – Se rendeu e sorriu. – Não é, Lux?
- Minha irmã é linda. – A pequena falou e eu teria apertado as bochechas dela se a campainha não tivesse tocado.
- Zayn já chegou? Ainda falta meia hora... – Olhei para o relógio em meu pulso e passei a mão pelos cabelos. – Já vou!
Gritei, mas não saí do lugar. Liam me olhou como se perguntasse: “O que você está fazendo?” e eu respirei fundo. Estava nervosa. Muito nervosa. “Respira, . Vai dar tudo certo. Ele já é seu namorado e você se sente a vontade com ele, então porque está assim?” Conversei comigo mesma, decidindo que não adiantava eu ficar ali parada. Respirei fundo duas vezes e caminhei até a porta, contando até três antes de abri-la. Preparei o meu melhor sorriso, mas me senti muito idiota ao ver que não era Zayn e sim Rachel.
- Wow, isso tudo é pra me receber? – Minha madrasta me abraçou.
- Claro! – Ri e, assim que o abraço se partiu, dei espaço para que ela passasse. – Lux está lá na sala.
- Ela se comportou? – Perguntou e fomos andando até onde Liam brincava com a pequena.
- Como um anjo!
- Mommy! – Lux desceu do sofá assim que viu a mãe aparecendo e correu até ela.
- Minha princesinha! – Rachel levantou a filha até o alto, fazendo a gargalhar. – Que bigode é esse?
- Foi o tio Li. – Apontou para Liam e o entregou na cara de pau.
- Oi, Liam! Eu nem o vi aí. – Minha madrasta sorriu pra ele.
- Tudo bem, Rach? – Sorriu de volta e acenou. – Em minha defesa, ela também me pintou.
- Mommy, mommy... – Lux balançou o ombro da mãe até ter sua total atenção. – vai sair com o namorado.
- Hã? – Me fiz de desentendida, arregalando os olhos. Rachel não sabia que eu estava namorando... Porque ela contaria ao meu pai. Eu senti vontade de matar Liam, porque ele foi quem contou aquele detalhe para a minha irmãzinha.
- É mesmo, ? – Rachel olhou pra mim com um sorriso curioso e animado. – Namorado?
- Então... Pois é... – Não adiantaria eu negar, então admiti de uma vez. – Mas está tarde, então é melhor vocês irem pra casa...
- Agora eu vou ficar aqui até ele chegar! – A mulher foi até o sofá com Lux. – Qual o nome do garoto?
- Zayn Malik. – Liam respondeu e eu escondi o rosto nas mãos, ainda parada na entrada da sala.
- E ele é bonito? É mais velho? – Perguntava como se aquela fosse a novidade do ano e ela precisava saber de todos os detalhes.
- Rachel, não me faça perguntas difíceis! – Eu estava visivelmente sem graça. – Nós temos a mesma idade.
- E ele é bonito? – Repetiu a pergunta que eu estava tentando ignorar.
- É sim. – Não tive saída a não ser responder e acabei sorrindo.
- Awn, você está apaixonada! – Fez uma cara engraçada. – Esses sorrisos só aparecem assim quando se está apaixonada.
“É isso, eu vou morrer de vergonha!” Pensei, sentando em uma poltrona próxima e escondendo o rosto nas mãos mais uma vez. Lux estava tão cansada que começou a pegar no sono, mas mesmo assim Rachel não queria ir embora antes de conhecer Zayn. Liam deitou a pequena no próprio colo e ficou acariciando seus cabelos até ela dormir de verdade. Não demorou muito pra escutarmos um carro subindo a rua e a loira me olhou insinuante. Mordi meu lábio inferior ao escutar uma porta de carro sendo fechada e senti um frio na barriga já sabendo o que estava por vir. O carro de Louis era bem mais barulhento, então não seria o meu irmão... “DING DON”, soou a campainha, me fazendo levantar na mesma hora. Rachel fez o mesmo e eu saí da sala sem precisar olhar pra trás pra saber que ela estava vindo junto. Abri a porta novamente com um sorriso que eu nem sabia que estava em meu rosto.
Dessa vez era Zayn de verdade e ele também sorria. Seu cabelo estava arrumado de uma forma diferente do de costume e ele estava mais lindo do que nunca. Vestia uma jaqueta de couro por cima de uma camisa cinza, calça jeans também preta e um sapato marrom escuro; mais formal que os tênis que ele costumava usar. O que mais chamou a minha atenção foi o que ele tinha em mãos: Um buquê de tulipas cor de rosa.
- Boa noite. – O menino disse formalmente, mas com um sorriso brincalhão.
- Boa noite, Zayn. - Sorri da mesma forma.
- Isso é pra você... – Entregou-me o buquê e aproveitou para se aproximar mais.
- Como sabia que tulipas são as minhas flores preferidas? – Perguntei sincera e o abracei com cuidado para não machucar as minhas flores e nós dois trocamos um selinho. – Obrigada.
- Eu não sabia, na verdade. Mas achei que combinavam com você.
- Awwwwwwn. – Rachel chamou a nossa atenção e por um momento eu tinha esquecido que ela ainda estava lá. Zayn a olhou sem entender.
- Essa é a minha madrasta, Rachel. – Apontei pra ela. – Rach, esse é Zayn, o meu namorado.
- Muito prazer. – Ele sorriu e estendeu a mão pra ela.
- Encantada. – Rachel ia apertar a mão dele, mas Zayn a segurou e beijou as costas da mão dela. – Que cavalheiro! Você escolheu bem, . Ahh, e ele é bonito mesmo...
- E é por isso que eu não vou te convidar pra entrar. – Falei para o menino, morrendo de vergonha por causa dos comentários da madrasta.
- Não tem problema algum. – Riu. – Nós temos que ir de qualquer forma... Está quase na hora da nossa reserva.
- Então vamos... – Sorri mais uma vez e me virei pra Rachel uma última vez. – Coloca em um vaso pra mim?
- Claro, . – Pegou as minhas flores e piscou. – Se divirtam, meninos.
- Obrigado!
Zayn acenou para ela e me esperou fechar a porta atrás de mim para segurar a minha mão, entrelaçando os nossos dedos, e me guiar até o carro prateado. Aliás, parecia que ele realmente trocara de carro com a mãe para sempre. Eu me sentia culpada por aquilo, é claro, mas gostava bem mais do Volvo confortável e aconchegante do que o Land Rover gigantesco.
- Chegamos... – Zayn disse ao tirar as mãos dos meus olhos. Ele estava fazendo um mistério enorme sobre onde iríamos jantar durante todo o caminho, inclusive me obrigando a permanecer com os olhos tapados até estarmos na entrada do restaurante.
- Não sei por que você fez esse...
Perdi as palavras assim que olhei para o lugar em minha frente. Por um momento eu me senti novamente em Paris, já que aquele restaurante francês fazia uma réplica perfeita aos estabelecimentos gastronômicos da minha cidade. “La Poule Au Pot” era o nome. Passei os olhos pelas mesinhas na calçada, marca registrada das delicatessens francesas, e sorri em nostalgia. A música instrumental que vinha do lado de dentro combinava perfeitamente com a decoração e eu poderia apenas fechar os olhos e me imaginar caminhando pela margem do rio Sena.
- Zayn... – Suspirei atônita. – Aqui é incrível...
- Eu sabia que você ia gostar. – Ele sorria satisfeito. Devia estar planejando me surpreender a algum tempo.
- Como você achou esse lugar? – Demos as mãos e começamos a andar para a parte de dentro do restaurante.
- Eu tive que passar a madrugada inteira na internet, mas valeu à pena. – Explicou com uma carinha fofa. Eu não aguentei e tive que parar de andar para beijá-lo nos lábios. – Valeu muito à pena!
- Bobo. – Sorri e voltamos a caminhar em direção ao maître que já nos esperava.
- Bonne nuit. – O senhor de paletó nos cumprimentou em um francês perfeito. Perfeito mesmo, não daqueles que alguns ingleses tentam imitar. – O senhor tem uma reserva?
- Sim, está no nome Malik. – Respondeu formal.
- Por aqui, por favor...
O maître nos indicou o caminho e fomos seguindo-o. Do lado de dentro, o restaurante era ainda mais incrível e parisiense. Nas paredes havia várias fotos de monumentos famosos do país, como o Arco do triunfo, Porte Saint-Martin e, é claro, da Tour Eiffel. Algumas partes do teto eram cobertas por parreiras de uvas falsas, lembrando as vinícolas francesas. Aquele restaurante era de fato um pedacinho de Paris no meio da Inglaterra e eu não teria me sentido mais a vontade naquela noite se estivéssemos em outro lugar.
Chegamos a uma área separada, onde apenas uma mesa redonda para duas pessoas estava posta bem ao centro. O lugar era ideal para um jantar romântico e eu cheguei a pensar se era um exagero tudo aquilo para um primeiro encontro, oficial ou não. Tenho certeza que muitos casais ficaram noivos ali e não seria o nosso caso. Obviamente eu estava encantada demais com o lugar inteiro pra reclamar ou me importar, até porque estava tudo perfeito. Um detalhe que me surpreendeu é que o teto daquela parte era coberto por uma clarabóia redonda que nos permitia ver o céu acima de nós.
Zayn puxou a cadeira para que eu me sentasse e ele logo foi para a própria cadeira em frente à minha. O maître nos apresentou ao nosso garçom – que descobrimos se chamar Pierre – e foi embora, nos desejando um bom jantar. Pierre acendeu duas velas redondas no centro da mesa e nos entregou um cardápio para cada. Disse que voltaria em instantes, mas que nos deixaria bem à vontade.
- Se eu soubesse que você sorriria desse jeito, não teria demorado tanto pra te trazer aqui. – Zayn falou e me fez perceber que eu estivera sorrindo o tempo todo.
- Isso não tem importância, Zayn. – Segurei a mão dele sobre a mesa. – O que importa é que estamos aqui agora e eu não consigo imaginar um encontro mais perfeito.
- Tem certeza? – Começou a brincar com os meus dedos.
- Bem... – Olhei pra cima. – Só se o céu estivesse claro, mas eu já desisti de ver estrelas aqui em Londres.
- Isso é verdade... – Falou pensativo. Se eu não o conhecesse, diria que estava imaginando um jeito de fazer as estrelas aparecerem. – Vamos escolher o jantar?
- Vamos! – Respondi um pouco mais animada do que deveria.
Eu não estava esfomeada, mas a minha curiosidade pra saber se o Menu seguia a linha da decoração era enorme. Nós nos soltamos por um momento para poder folhear o cardápio e eu corri os olhos pelas entradas, pratos principais e sobremesas. Aquele meu sorriso voltou ao notar que todos os nomes estavam em francês. É claro que eu entendi tudo, mas Zayn tentava ler com uma cara engraçada.
- Já sabe o que vai querer? – Perguntei com uma risada.
- Ahn, sei sim... – Piscou algumas vezes.
- Você não está entendendo nada, né?
- Nadinha. – Se rendeu, frustrado.
- Posso anotar os pedidos? – Pierre voltou e Zayn me olhou como se pedisse ajuda.
- Je veux le Saumon à la sauce Hollandaise. – Comecei com o meu pedido, falando em francês só pra matar a saudade e o garçom parecia entender tudo. – Et lui Le Suprême de poulet.
- E pra beber? – Pierre olhou para Zayn.
- A mademoiselle é que está escolhendo hoje. – Ele sorriu.
- Le Chardonnay, s'il vous plaît. – Finalizei o pedido com um sorriso e o garçom terminou de anotar o nosso pedido.
- Excusez-moi. – Pierre pediu licença e se afastou.
- Você fica tão sexy falando francês. – Zayn sorriu maroto e eu rolei os olhos divertida.
- Obrigada! – Pisquei em uma tentativa de ser sedutora, mas o menino acabou rindo. – Não vai querer saber o que eu pedi pra você?
- Alguma coisa com poule? – Levantou uma das sobrancelhas, desconfiado.
- Poulet. – O corrigi. Ele costumava rir do meu sotaque e das palavras que eu não conseguia pronunciar direito, então me senti muito em invertendo o jogo. – Quer dizer “frango”.
- Nesse caso... Muchas gracias. – Falou e me fez rir.
- Isso é espanhol, Malik! – Levei uma mão à testa, me controlando pra não rir muito alto. Eu sabia que ele estava brincando, mas ainda assim foi engraçado.
Enquanto eu tentava ensinar Zayn a pronunciar “merci beaucoup”, o garçom retornou trazendo o nosso Chardonnay. Dei o primeiro gole no meu vinho e quase engasguei com o biquinho fofo que meu namorado fazia ao treinar a língua francesa. Ele exagerava de vez em quando só pra me fazer rir, mas eu fingia que não sabia disso.
- Ei, babe... – Zayn também deu um gole no vinho e demorou um pouco degustando-o.
- Sim? – Sorri. Eu amava quando ele me chamava daquele jeito.
- Você tem planos pra sábado?
- Não que eu saiba... – Tentei pensar em algum compromisso que eu pudesse ter, mas estava livre no sábado. – Na sexta eu tenho ensaio com o Nick, mas sábado eu não tenho nada.
- De novo esse cara? – Bufou.
- É quase o último ensaio! Não precisa ficar com ciúmes. – Sorri e peguei a mão dele em cima da mesa mais uma vez, acariciando com o polegar. Eu sabia que ele não resistiria ao meu carinho. – Mas por que, baby?
- Não é ciúme! – Ele podia negar, mas não me enganava. – E a minha mãe quer te conhecer, então ela está insistindo que eu te leve lá em casa...
- Sua mãe? – Engoli em seco. – Quer me conhecer?
- Quer sim... – Envolveu a minha mão com as dele ao perceber que eu começava a suar frio. – Ela disse que eu nunca falei tanto de uma garota, então está curiosa pra saber quem você é.
- O-o que você fala? – Gaguejei. É, eu estava nervosa. Muito nervosa, pra falar a verdade. Eu nunca fui apresentada formalmente a uma sogra e a minha primeira e única sogra antes da mãe dele não gostava nada de mim.
- , você está branca... – Se preocupou. – É só a minha mãe...
- Exatamente, Zayn! É a sua mãe! – Passei a mão livre pelo meu cabelo. – E se ela não gostar de mim?
- Ela vai te adorar, . – Sorriu. – Minha mãe é bem legal, você vai ver.
- também me falou que ela é legal, mas ainda assim eu fico nervosa. – Suspirei, mas acabei cedendo. – Mas eu vou adorar conhecê-la...
- E as minhas irmãs também.
- Eu não estou nervosa em conhecer as minhas cunhadas! – Sorri um pouco mais tranquila.
- Com licença, posso servir o dîner?
Pierre voltou do nada, carregando uma bandeja com os nossos pedidos. Ambos afirmamos que ele poderia nos servir e demos o espaço necessário para que o garçom colocasse o meu prato de salmão na minha frente e o frango de Zayn na frente dele. O cheiro estava delicioso e a decoração nos pratos estava linda. Nossas taças de vinho foram repostas e pudemos começar a comer.
- Bon apétit!
Zayn estacionou o Volvo em frente a minha casa, mas nenhum de nós queria sair do carro. Uma chuva torrencial começara a cair mais ou menos no meio do caminho entre o restaurante e o condomínio, então usei a desculpa de que não queria me molhar para ficar um pouco mais ali dentro do veículo quentinho e Zayn escondeu uma sombrinha que ficava embaixo do banco do motorista, achando que eu não estava vendo. Ambos sabíamos que a verdade era que nós ainda queríamos passar mais um tempo juntos, porque parecia que a manhã e noite inteiras não eram o suficiente. Mas pensa comigo... Se eu entrasse em casa agora, o que teria pra fazer? Nada! Então seria bem mais produtivo ficar trancada em um carro com o meu namorado... Produtivo e perigoso, mas isso é um mero detalhe que vamos esquecer, ok? De qualquer forma, nós decidimos abaixar as costas dos bancos para que ficássemos mais confortáveis e praticamente deitados; claro que ele no dele e eu no meu. Já toda a vontade, tirei os sapatos e deitei de lado, dobrando os joelhos em cima do banco.
- Eu realmente gostei dessa noite, Zayn... – Não tirava os olhos dele de jeito nenhum.
- Eu sabia que você ia gostar daquele restaurante! – Sorriu.
- Não estou falando só do restaurante. Claro que eu me senti em casa, a comida estava maravilhosa, as velas, a música instrumental... – Suspirei. – Mas estar com você foi a melhor parte.
- Sabe qual foi a minha parte preferida? – Perguntou e eu balancei a cabeça em negação e ele continuou. – Quanto nós estávamos de mãos dadas e as outras pessoas nos olhavam.
- Como assim? – Abri um pequeno sorriso.
- Foi bom mostrar pra outras pessoas que você está comigo... – Passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar do meu, um pouco tímido. – É difícil explicar, mas na minha cabeça eu pensava: “É isso mesmo que vocês estão vendo, essa garota linda está comigo.” Ou “Essa mulher incrível é minha.”
- E você está certo... Eu sou sua. – Eu não sorria mais como antes e nem morria de rir, mas não era por estar triste; muito pelo contrário. Apenas fitava-o com serenidade, estudando cada detalhe, cada mania e cada movimento por menor que fosse. Eu queria guardar aquele momento na memória.
- Eu gosto de ouvir você falando isso. – Zayn também estava calmo, quase paciente. Ele tocou o meu rosto com a ponta dos dedos e eu fechei os olhos, só sentindo os carinhos. – E gostei muito de ouvir você falando francês.
- De verdade? – Sorri quando ele tocou os meus lábios e abri os olhos devagar para vê-lo afirmar que sim com a cabeça. Sussurrei: - Vem cá... Chega mais perto...
- Assim? – Também falou em sussurros e inclinou o corpo para cima do meu, aproximando nossos rostos até que nossos lábios estivessem quase se roçando.
- Uhum... – Fitei-o intensamente uma última vez antes de fechar os olhos e tocá-lo delicadamente nos ombros. - Embrasse-moi...
Zayn não precisava saber falar francês pra entender o que aquelas palavras significavam. Eu queria um beijo... Mas não só um beijo, sim todos os sentimentos que vem com ele, sejam físicos ou emocionais. Eu queria os lábios dele nos meus, brincando, se confundindo. Nossas respirações fundidas em uma só. Nossos corações acelerados... Nunca pensei que uma paixão pudesse mexer comigo desse jeito, mas estava feliz em descobrir que podia sim. O menino afastou alguns fios de cabelo do meu rosto com uma mão e apoiou a outra no banco pra não fazer muito peso em cima de mim. Finalmente encostou os lábios nos meus e ficou dando algumas sugadas de leve no meu inferior até que eu encaixei nossas bocas de uma vez. Arrastei a língua entre os lábios de Zayn para pedir passagem e a dele foi mais rápida e encontrou a minha. Igualmente devagar fui subindo as mãos para o pescoço do mesmo e acariciava cada centímetro de pele que eu podia tocar. Senti-o ficar arrepiado quando meus dedos subiram pelos seus cabelos e aumentei a intensidade do beijo por uma fração de segundos, só pra ele entender que eu havia percebido e gostado. O garoto, por sua vez, tocou a lateral do meu corpo desde abaixo das minhas costelas até o quadril. Não existia nada de vulgar naqueles toques e eu não o parei quando senti sua mão na minha coxa, apertando-me com certo cuidado. O barulho da chuva batendo no carro a nossa volta me deu uma tranquilidade imensa e eu poderia passar o resto da noite ali, ou em qualquer outro lugar, contando que Zayn estivesse comigo.
Nos separamos com um pouco de relutância quando já estávamos bastante ofegantes. Meus lábios formigavam um pouco, mas não era uma sensação ruim. Não trocamos palavra alguma, apenas ficamos nos observando; cúmplices. Só havia uma coisa que nós poderíamos falar naquele momento, mas talvez ainda não estivéssemos prontos pra isso.
Capítulo XXX
O professor Hofstheder deve ter acordado de bom humor naquela terça feira, pois não me obrigou a repetir o mesmo exercício várias vezes na nossa aula juntos e até me liberou meia hora antes do usual. Não que eu não gostasse da disciplina, mas tinha ido dormir tão tarde na noite anterior que estava bem cansada. Culpa de quem? Exatamente, culpa do Malik que, além de não me deixar sair do carro antes da uma hora da manhã, fez questão de não sair da minha cabeça nem por um segundo para que eu pudesse pegar no sono. Mas eu daria o troco... Ainda não sabia como, mas daria!
Aproveitei meu tempo livre para confirmar com Nick o nosso ensaio da próxima sexta e segui para a sala de música em que Niall e Zayn deveriam estar tendo aula, aproveitando que era no mesmo andar. Fiquei parada na entrada, espiando pela parte de vidro, até que Ed me notou e convidou-me para entrar com um aceno. Assim que eu abri a porta e pude ouvir o que se passava ali dentro, escutei Zayn falando algo como: “Eu já disse que não posso, Niall! Minha mãe quer que eu vá com ela comprar as coisas que a gosta.” E depois disso o loiro pareceu bem aborrecido.
- O que está acontecendo? – Foi só eu falar que os dois meninos que estavam discutindo se viraram na minha direção.
- Esse seu namorado é um imprestável! – Niall reclamou, mas Zayn o ignorou.
- Oi, babe! – Veio em minha direção com um sorriso.
- Bom dia! – Também sorri e fiquei na ponta dos pés quando ele me abraçou. – Bom dia, Niall. Bom dia, Ed.
- Bom dia, . – O ruivo e o irlandês falaram ao mesmo tempo.
- Por que o Ni está bravo? – Perguntei ao moreno assim que separamos o abraço.
- Porque eu não posso sair com ele hoje a tarde. – Rolou os olhos como se fosse a milésima vez que falava isso. – Mas hoje a minha mãe vai me arrastar até o supermercado pra fazer compras para a nossa convidada especial.
- Malik, eu não quero dar trabalho! – Falei séria. Não havia necessidade alguma de irem fazer compras só por minha causa.
- Não é trabalho nenhum, . – Sorriu e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
- Ei, dá pra vocês prestarem atenção no meu problema? – Niall entrou no meio de nós dois.
- Desisto de dar aula pra vocês... – Ed falou baixo como se tivesse pensado alto e todos o ignoramos. Tadinho...
- Foi mal, Nialler. – O abracei de lado e fiz um biquinho. – Por que você não sai com a sua namorada?
- Eu adoraria, mas ela também vai sair com a mãe dela hoje. – Também fez um bico de lado. – É o Dia das Mães, por acaso? Todo mundo vai fazer algo com a mãe hoje!
- Menos eu, já que a minha mãe está beeeem longe! – Ri do drama do meu amigo e então uma idéia me ocorreu: - Já sei! Por que você não vai comigo pra casa?
- Sério? – Niall sorriu.
- Como é? – Zayn se espantou.
- É! Harry vai pegar o Just Dance 4 da “irmã dele” e nós vamos jogar. – Fiz aspas no ar. Não acreditava nem por um minuto que aquele jogo era da Gem. – Vai ser legal. O que acha?
- Acho uma ótima idéia. – Sorriu mais ainda, feliz por finalmente ter algo pra fazer.
- Epa, epa, epa. – Zayn cruzou os braços. – Quando você não pode sair com a sua namorada vai sair com a minha?
- Você também não pode sair com a sua hoje, Malik. – Rebati com uma sobrancelha levantada e um sorriso cínico nos lábios.
- Touché. – Niall alfinetou.
- Não é legal quando os dois ficam contra mim. – Zayn ficou emburrado e eu ri.
- Não faz assim! – Balancei-o devagar pelo ombro e Niall se afastou. – Lembra o que eu te falei ontem à noite?
- Que o meu beijo é muito bom? – Perguntou convencido e eu fiquei vermelha ao me lembrar que realmente falei isso. – Ou que você não vive sem mim?
- A primeira parte pode até ser verdade, mas eu nunca falei que não vivo sem você! – Gargalhei, fazendo-o descruzar os braços e demos as mãos. – Lembra do que eu falei quando você contou que as suas irmãs pegam no seu pé?
- Você falou que sempre ficaria do meu lado. – Balançou as nossas mãos de um lado para o outro como uma criança de cinco anos de idade.
- Isso serve pra qualquer pessoa! – Me inclinei na direção dele, roubando um selinho inesperado. – O Niall só quer companhia.
- Eu odeio quando você faz isso. – Reclamou, mas acabou sorrindo.
- Isso o que?
- Está certa. – Deu de ombros.
- Então você me odeia sempre? – Pisquei. Eu devia estar pegando a mania de em sempre achar estar certa.
- Meio a meio. – Soltou a mão da minha e a subiu devagar pelo meu braço. – Metade do dia eu te odeio e a outra metade eu gosto um pouco de você.
- Aham, sei! – Ri irônica e olhei em volta. – Vocês dois não deveriam estar escrevendo uma música para o baile de inverno?
- Esses dois são os piores alunos da academia toda, ! – Ed respondeu, jogando as mãos para cima no estilo “eu desisto!”
- Então é melhor eu sair daqui e deixar vocês trabalharem. – Ameacei andar até a porta, mas Zayn me segurou.
- Não vai... Eu e o Niall vamos fazer alguma coisa, mas fica aqui. Por favor? – Fez uma carinha tão fofa que eu não conseguiria dizer não. – É o único tempo que vamos ter juntos hoje.
- Eu fico, baby... – Sorri e baguncei os cabelos dele. – Mas você não pode falar comigo e vai se concentrar! Eu só vou ficar aqui e olhar vocês.
- Isso mesmo! – Ed se juntou a nós e tocou Zayn no ombro. – Pode ir para a mesa e terminar a letra da música enquanto eu ensino a a tocar piano.
- Sério?! – Meus olhos brilharam a escutar aquelas palavras.
- Sério? – Zayn parecia relutante e a reação dele não tinha nada a ver com a minha. – Tenho mesmo?
- Vai logo, Zayn! – Ed apontou para o canto onde Niall já rabiscava algo em um caderno.
O moreno demorou um pouco pra acreditar que teria mesmo que ir, mas acabou se dando por vencido. Ele se afastou e Ed me guiou até o piano de cauda que eu vira Zayn tocar algumas vezes. Sentei-me no banquinho em frente ao instrumento e enquanto Ed foi pegar outra coisa para que ele mesmo pudesse sentar, eu arrisquei apertar algumas teclas. Quando meu irmão e eu éramos menores e nossos pais ainda estavam juntos, ele teve algumas aulas de piano e eu acabava espiando de vez em quando, o que levou o professor a me ensinar a música “Parabéns pra você”. Fazia tanto tempo que eu não tocava que não tinha certeza se ainda lembrava, mas valeu a tentativa. As teclas eram mais pesadas do que eu esperava, mas mesmo assim consegui extrair um som agradável. Não vou dizer que acertei todas as notas, mas pelo menos dava pra entender qual era a canção que eu tentava tocar.
- Uau, eu não sabia que você tocava tão bem. – Ed sentou-se ao meu lado depois que a minha música acabou e eu fiz uma careta com aquela zoação.
- Pois é! Eu sou quase uma Tchaikovsky. – Me gabei de brincadeira.
- Eu vou te dar alguns pontos por você saber esse nome, ok? – Riu.
- Muito obrigada. – Também ri. – Você pode tocar algo pra eu escutar?
- Pensei que você queria aprender. – Perguntou, mas eu já afastei um pouco o meu banco para que ele se aproximasse do piano.
- Eu quero, mas não vou aprender tudo em uma aula só... Então adoraria escutar você tocar.
- Tudo bem... – Se preparou para começar a tocar. – Se você conhece Tchaikovsky, deve conhecer esse aqui...
Notei que Ed respirou fundo e deixou as costas eretas, corrigindo sua postura. Aparentemente não é só no ballet que a postura é importante; anotado! Escutei as primeiras notas da música e já percebi qual era: Fur Elise de Beethoven. Até mesmo quem não entende de música conhece aquela, então foi fácil descobrir. O que me encantou é que os dedos de Ed eram tão ágeis e os sons saíam tão perfeitos que eu me perguntei o quão bom pianista ele realmente era. Devia ser um dos melhores do país, o que justificava a sua fama na Academy e a sua popularidade entre os alunos. Era meio difícil não julgá-lo pela aparência desleixada e roupas nada formais, mas Ed Sheeran escondia um baú de talento por trás de tudo aquilo. Zayn e Niall podiam ser invejados por terem um professor tão bom e que, além de tudo, ainda era um amigo bastante íntimo.
- Ed... Isso foi incrível! – Bati palmas e ele sorriu em agradecimento.
- Obrigado, meus fãs, obrigado! – Fez uma espécie de reverência e eu ri.
- Eu posso te pedir uma coisa?
- O que quiser... – Me olhava com curiosidade.
- Já me falaram que as músicas de todas as apresentações do baile de inverno vão ser tocadas ao vivo mesmo... Mas eu gostaria que você tocasse durante a minha. – Fiz um biquinho achando que seria difícil convencê-lo.
- Eu adoraria, ! – Concordou até mais rápido do que eu esperava. – Você já tem uma música em especifico?
- Pra falar a verdade não... – Balancei a cabeça em negação, começando a notar o quanto Nick e eu estávamos atrasados... E eu achava que estava adiantada. Tsc.
- Não precisa se desesperar, ok? Vou te mostrar algumas que eu acho que você pode gostar e depois mostramos ao seu parceiro.
E foi assim que a minha aula de piano foi para o espaço. Claro que era bem melhor decidir qual seria a música da minha apresentação, mas eu tinha realmente vontade de aprender algo novo. Ed pegou algumas partituras e tocou algumas músicas clássicas. De vez em quando eu notava que Zayn estava me encarando, mas fingia não perceber só pra ver quanto tempo ele demorava pra desviar o olhar.
- Mas, ... Nós acabamos de comer. – Niall resmungava deitado no sofá da minha casa. – Não temos que esperar uma hora antes de jogar?
- Isso é pra nadar, Niall! – Ri e tentei puxá-lo pra fora do sofá, mas não adiantou. Aquele menino é mais pesado do que aparenta. – Harry, me ajuda aqui?
- Na verdade, ... Eu concordo com ele. – Haz estava deitado no chão, encarando o teto e com a mão na barriga.
- Vocês não deviam ter comido tanto! – Levei uma mão à testa, decepcionada por ter amigos tão preguiçosos.
Niall realmente veio passar o dia comigo e quando chegamos em casa fomos direto para a cozinha e fizemos o almoço. Ni me ensinou a fazer uma tal de “carbonara” que até que ficou bem gostosa, mas ele e Harry – que chegou na metade do processo – comeram demais. Demais mesmo. E o resultado foi aquele; dois gordos morrendo de preguiça e sem forças nem pra levantar.
- Eu desisto de vocês, ok? Vou jogar sozinha. – Ameacei com os braços cruzados, mas não fiz efeito algum.
- Isso mesmo, . – Niall colocou uma almofada sobre o rosto e eu não duvidava nada que ele começaria a roncar em instantes.
- Comece sem a gente... – O mais novo pediu.
- Eu odeio vocês dois.
É claro que eu estava brincando e eles sabiam disso, até porque começaram a rir do meu drama. Dei de ombros e terminei de configurar o jogo na televisão. Tive que sincronizar os meus movimentos com os sensores da TV e isso demorou um pouco, mas pelo menos foi o tempo que Harry levou para sair do chão e se arrastar para o sofá, onde deitou com Niall. Alguém teria ciúmes daquela cena... E não, eu não estava falando de . O jogo começou a funcionar e eu me preparava pra escolher a minha música, mas um barulho na porta de entrada me fez parar. Liam e Louis surgiram do nada, o que era muito estranho já que ainda era horário de trabalho. A expressão no rosto dos dois também não era das melhores e eu comecei a ficar preocupada.
- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei, deixando o Xbox de lado.
- Fomos demitidos. – Louis respondeu, mas nem parecia tão triste assim.
- Tá falando sério? – Aquela noticia me pegou de surpresa, por mais que eu soubesse que os dois não estavam satisfeitos com o trabalho.
- O que aconteceu? – Harry parecia se livrar da preguiça e ele e Niall deram espaço para os meninos sentarem no sofá também.
- Na verdade, eu fui demitido e o Lou pediu demissão por causa disso... – Liam corrigiu o meu irmão e parecia um pouco mais abalado. – Foi uma besteira, pra ser sincero.
- Não importa mais, de qualquer forma. A gente já não tinha mais saco pra passar o dia inteiro ali. – Lou se sentou ao lado de Niall e o cumprimentou.
- Eu lembro de vocês reclamando... – Tentei me manter positiva e pensar que tudo ficaria bem, mas tinha algo que não saia da minha cabeça. – Mas, Li... Você veio pra Londres por causa desse emprego. Agora vai ter que voltar pra Wolverhampton?
- Não imediatamente. – Coçou a nuca. Ele também devia estar pensando o mesmo que eu. – Ainda vou tentar ficar aqui por mais dois meses e tentar achar outra coisa pra fazer...
- Nós não vamos deixar você ir embora. – Lou deu batidinhas no ombro do amigo, como encorajamento.
- Mas não se preocupem... Meus pais podem pagar a minha parte da casa enquanto eu ainda não arrumar um emprego. – Aquilo devia ser difícil para Liam, já que ele era bem orgulhoso quanto a essas coisas.
Já estava mais que claro que Liam era um morador da casa e não mais apenas um hóspede, por isso ele ajudava nas despesas. A casa era nossa, então não havia o preço do aluguel, mas em compensação a vida em Londres acaba sendo bem cara por si só, ainda mais em um condomínio de luxo como aquele em que morávamos. Eu não estava preocupada em como iríamos pagar as contas, pois meu pai não se importaria em dar uma ajudinha extra, mas sei que Liam e meu irmão não gostariam de depender financeiramente de ninguém. De qualquer forma, nós teríamos que dar um jeito nisso.
- Não esquenta com isso, Li. Eu só quero que você possa ficar com a gente. – Falei sincera e ele sorriu.
- Nós vamos dar um jeito em tudo. – Louis também sorriu.
- Já que estamos falando de problemas... Eu também tenho algo a confessar. – Harry chamou a nossa atenção e eu não sabia se me preparava pra uma piada ou algo realmente sério. – Eu saí da universidade há duas semanas... E estou trabalhando em uma padaria durante a manhã.
- Por quê? – Louis o encarava sem acreditar. Tá certo que Harry não parecia tão animado com as aulas de direito e eu não o enxergava como um advogado, mas ter uma formação superior sempre foi algo importante para a família dele. Por isso eu fiquei um pouco espantada com aquela noticia. – E o mais importante, Haz, por que você não contou pra gente antes?
- Eu não sabia como falar... Não sei, senti vergonha. – Suspirou. Eu olhava para Harry e só queria abraçá-lo. Ele devia estar se sentindo mal e eu sabia que tinha mais coisa por trás daquela história, mas só conversaria com ele a sós depois. – Tem mais uma coisa...
- O que é agora? – Bufei mais preocupada ainda. Desde quando uma tarde que deveria ser apenas de diversão se tornava um desastre?
- Gemma está indo morar nos dormitórios da faculdade dela... E a minha mãe quer voltar para Cheshire no final do ano.
- Hã? – Senti um aperto enorme no coração e caí sentava na mesinha de centro. – Você não vai embora...
O silêncio mais desconfortável que eu já presenciei na vida se instalou na sala. Harry olhava para o chão e Lou encostou a cabeça no ombro dele, sem saber o que falar. Liam também estava cabisbaixo, provavelmente pensando nos próprios problemas. Eu continuei sentada na mesinha de centro sem nem me preocupar com o peso que eu estava fazendo no tampo de vidro. Sempre fui fã de “plot twists” em livros e filmes, mas na vida real? Não estava gostando nada!
- Ahn... Eu sei que sou novo aqui, mas alguém pode me explicar? – Niall levantou a mão como um aluno faria na sala de aula se tivesse uma dúvida. Eu geralmente teria me prontificado a explicar tudo, mas estava chocada demais para sequer pensar direito.
- Eu explico... – Louis começou, vendo que eu continuaria calada. – A família do Harry não é daqui, Niall. Anne, a mãe dele, se mudou pra cá quando ele era pequeno pra que pudesse estudar em uma boa escola, já que Holmes Chapel em Cheshire é só um vilarejo. E agora a Gemma está saindo de casa e o Harry saiu da universidade...
- A Anne não tem mais o que fazer aqui. – O interrompi com um suspiro.
- Minha mãe não quer mais ficar longe da família... – Haz estava quase chorando, pois ele apertou os lábios do jeito que fazia quando tentava se segurar.
- Mas nós somos a sua família agora, baby cakes. – Lou passou o braço em volta dos ombros de Harry, me dando uma ótima idéia.
- Harry, porque você não se muda pra cá? – Falei do nada, fazendo todos os quatro meninos me olharem espantados. – Ué... Porque essas caras? Minha idéia faz sentido! Ele já passa praticamente todos os dias aqui, temos um quarto vazio lá em cima que só serve como guarda tralhas... Desse jeito ele não teria que voltar pra Cheshire e seria mais um pra dividir as despesas.
- Você é um gênio, ! – Louis sorriu.
Minha idéia podia ter saído do nada e nenhum de nós tinha pensado direito naquilo, mas situações desesperadas exigem medidas desesperadas. Eu não deixaria Harry ir embora, não agora que estávamos tão próximos. E muito menos Liam... Porque ele podia ser novo na família, mas tinha a mesma importância.
Em duas horas mais ou menos, nós cinco conseguimos combinar direitinho o que faríamos. Sim, cinco, porque Niall se mostrou muito eficiente no sentido de dar idéias. Harry aceitou se mudar para a nossa casa e estava bem animado, afirmando que sempre quis morar com amigos, mas não tinha intimidade suficiente com ninguém além de Lou, Liam e eu. Ele continuaria trabalhando na padaria, pois gostava de lá e o salário era bom. Li também ficou mais tranqüilo quanto ao assunto de pagar as contas, por mais que eu tivesse alegado desde o começo que ele não precisava se preocupar.
Quando o relógio marcou três e meia da tarde, eu finalmente consegui convencer os meninos a jogarem Just Dance 4 comigo, nem que fosse para acalmar os nervos de vez. Pois é, eu não descansaria enquanto não jogasse aquele jogo, redundâncias a parte. Mais uma vez conectei o vídeo game e me preparei para escolher a primeira música.
- Ok, quem quer ir primeiro? – Olhei para os quatro garotos sentados no sofá após ter afastado a mesinha de centro para ter mais espaço. Nenhum deles se mexeu. – Calma, um de cada vez!
- Eu posso começar. – Claro que Liam não me deixaria sozinha nessa, então ele tratou de levantar e fazer alguns movimentos para se alongar. – Mas você sabe que eu não sei dançar.
- Sei sim... – Gargalhei ao lembrar das minhas tentativas de ensiná-lo a dançar na festa de Halloween. – Mas o que vale é a intenção, ok?
- E vocês aí... – O menino se virou para quem estava nos assistindo. – Nada de rir!
- Aí já é pedir demais. – Lou já se preparava pra tirar uma com a cara dele. – Harry, vai pegar a câmera?
- É pra já! – Haz saltitou pela sala e foi até as escadas.
- Eeeeeeepa! – Liam reclamou e ameaçou ir atrás do menino, mas eu o impedi.
- Deixa eles, Li! Vamos escolher a música... – Segurei na mão dele e comecei a ver as opções que o jogo nos dava.
- Eu conheço essa! – Falou quando “Disturbia” da Rihanna apareceu na tela. – O que acha?
- Pode ser!
Assim que a música foi decidida, eu enrolei um pouco mais que o necessário pra selecionar as opções e dar inicio ao jogo. Tudo isso para que Harry pudesse voltar com a câmera de vídeo. Liam estava bem concentrado e parecia querer fazer um bom trabalho - mesmo que não pudesse me vencer - e nem viu quando Lou pegou a câmera com Haz e começou a nos gravar. Eu sempre fui a favor de registrar esses momentos entre amigos e gostava bem mais de vídeos do que de fotografias, porque fotos mostram o momento e o vídeo em si mostra uma risada, uma palavra, ou uma cena que você poderia querer rever várias vezes. Acenei para a câmera com um sorriso e mandei um beijo no ar. Lou virou o objeto na própria direção e disse algo como: “Bem vindos ao primeiro programa do Tommo. Hoje teremos uma competição...” e continuou falando como se realmente fosse um apresentador de TV. Meu irmão sempre levou jeito para falar e fazer qualquer coisa em frente a uma câmera, principalmente porque tinha uma capacidade incrível para improvisar.
Eu teria gostado de continuar prestando atenção no que Louis falava, mas devia me concentrar na partida que estava começando. Não tenho certeza se Liam já havia jogado Just Dance alguma vez na vida, mas ele parecia tão perdido com os primeiros passos que eu tive que rir. Já eu, como a boa viciada que sempre fui, tirei de letra. Não vou mentir e dizer que os meus primeiros movimentos foram perfeitos, mas eu fui pegando o jeito.
- Como você consegue? – Liam parecia desesperado e repetia os movimentos totalmente atrasado. – É rápido demais, !
- Não é não! É só olhar os bonequinhos. – Tentei ajudá-lo, mas seria difícil.
- Eu estou olhando os bonequinhos! – Balançou os braços na hora certa e conseguiu acertar alguns passos.
- Você está olhando os bonequinhos errados, Leeyum! – Ri demais e acabei errando. – Não olhe os dançarinos no meio da tela... Olhe os que estão embaixo da tela. Eles aparecem antes de você ter que fazer o passo!
- Isso não faz sentido nenhum! – Levou as mãos até a cabeça, mas continuou mexendo o resto do corpo.
Eu não era a única pessoa rindo do meu adversário, porque Niall ria cada vez mais e ainda por cima daquele jeito bem escandaloso que só ele conseguia. Louis continuava passeando pela sala com a câmera em mãos e gravava tudo. Liam viu o que ele estava fazendo e tentou se esconder, mas ao ver que perderia o jogo bem mais rápido se continuasse daquele jeito, desistiu e permitiu ser filmado. Aproveitei quando a câmera passou por mim pra fazer algumas gracinhas como mandar beijo e piscar.
- Tomlinson, senhoras e senhores! Também conhecida como , ou pequena Tommo! Minha baby sister. – Lou me apresentou. – Um talento nato na dança e em frente às câmeras, vejam só!
- Olá, gente! – Acenei para a câmera, mas logo voltei a minha atenção para o jogo.
- Esse que está ao lado dela é o senhor Liam Payne! – Lou atravessou na nossa frente e parou ao lado do menino. – Não tão talentoso na dança, mas ainda assim um prêmio para os seus olhos.
- Uhh. – Liam sorriu se achando depois daquele comentário e piscou para a câmera.
- Vamos ver quem vai levar a vitória... – A música já estava perto de acabar, então Louis focalizou na TV e filmou os últimos acertos e erros.
É meio óbvio falar que eu ia ganhar, né? Sei que a minha vitória não surpreendeu ninguém, mas eu ainda me senti muito bem. Fiz a minha dancinha de comemoração e Liam me empurrou devagar, fingindo estar bravo. “Ela roubou!” era o que ele gritava. Ninguém o deu ouvidos e me parabenizaram, mandando-o ir para o canto da vergonha. Eu não sabia se ria mais do bico de Liam ou de Niall levantando e dizendo que conseguiria me vencer.
No começo ninguém queria brincar, mas foi só verem o quanto podia ser divertido que todos queriam ter a sua vez. Eu dancei contra Niall e venci. Depois Louis e Harry foram um contra o outro... Harry venceu. Liam e Niall se enfrentaram e Niall conseguiu ganhar. Liam + eu novamente e Louis + eu... Ninguém ganhou de mim. Por mais cansada que eu começasse a ficar, não desistia nunca. Era a vez de Harry ir contra mim e ele estava conversando alguma com Liam, o que foi bem suspeito, se posso comentar. Arqueei uma sobrancelha tentando escutar os cochichos, mas o assunto morreu assim que eu cheguei perto.
- Escutar conversas alheias é feio, ! – Harry colocou as mãos na cintura, reclamando como uma velha.
- Então vamos acabar com isso logo, curly! – Fui até o meu lugar e olhei para a televisão. – Você pode escolher a música, já que eu vou te vencer de qualquer jeito.
- É o que veremos! – Me olhou de modo desafiador, mas não me assustou.
- Sinto um clima pesado por aqui, caros telespectadores! – Lou continuava com a câmera e filmava tudo. – Façam suas apostas!
- 10 pounds na ! – Niall levantou a mão.
- 20 pounds no Harry! – Liam apostou contra mim.
A música que Harry escolheu foi On the Floor, da JLo. Aquela foi uma escolha corajosa, já que requeria bastante rebolado e sincronia. Eu estava louca pra ver Harry rebolando até o chão e nunca agradeci tanto por Louis estar gravando aquele momento, pois era algo que eu gostaria de ver e rever, ver e rever, ver e rever...
Logo começamos a dançar e nos mexer. Harry não seguia os passos que apareciam na TV e inventava os próprios; um mais estranho que o outro. Eu não estava entendendo nada, mas pelo menos assim eu disparei na frente, já que podia errar um passo ou outro, mas acertava a maioria. Haz devia estar tentando me atrapalhar, pois acabamos esbarrando vez ou outra. Eu já estava pronta pra reclamar, mas ele finalmente começou a seguir os passos certos, porém, eu não via o garoto que se aproximava por trás de mim.
- Agora, Liam! – Harry gritou e eu mal percebi quando braços fortes agarraram as minhas pernas.
- O QUE É ISSO? – Gritei quando Liam me colocou nos ombros. Eu me senti um saco de batatas e a minha próxima visão foi as costas de Liam. – ME SOLTA, PAYNE!
- Desculpa, , mas foi a única saída! – Ele segurava as minhas coxas e eu esperneava, mas não parecia fazer efeito nenhum.
- ISSO NÃO É JUSTO! – As vezes eu esquecia do quanto Liam é forte e tenho certeza que ele aproveitava os momentos em que me carregava (que eram muitos, por sinal) pra tirar uma casquinha. – EU VOU PERDER!
- Exatamente! – Harry gritou. Então era sobre isso que eles estavam cochichando!
- NIALL, ME AJUDA! – Eu estava praticamente de cabeça pra baixo e não gostava disso. Minha única saída foi apelar para o melhor amigo do meu namorado e ver se conseguia alguma compaixão.
- Eu vou te salvar, ! – Niall levantou, mas assim que Liam viu esse movimento, começou a correr.
- LIAM, VOCÊ VAI ME DERRUBAR! – Me senti uma donzela de desenhos animados e estava sendo raptada. Apesar de saber que Liam não deixaria nada de ruim acontecer comigo, ainda era tenso estar sendo chacoalhada por aí.
O meu sequestrador correu para fora da sala e passou direto pelo hall de entrada, abrindo a porta e partindo para fora de casa. Eu não sabia se me segurava ou se ria, porque aquela era uma cena bem engraçada. Niall veio atrás da gente trazendo Louis e Harry consigo, mas nenhum dos dois parecia querer ajudar. Lou continuava com a maldita câmera e Harry só gargalhava e batia palmas. Eu gritava por socorro, mas não adiantava em nada. Liam corria pela grama e mesmo estando me segurando conseguia ser mais rápido que o loiro.
Não sei bem o que aconteceu, mas Niall pulou em cima da gente e agarrou as pernas de Liam, desequilibrando-o. Eu dei um grito tão alto ao sentir que estávamos caindo que a nossa vizinha com certeza teria escutado. Pelo bem da minha vida, Liam acabou caindo de lado, ou seja: Não bati a cabeça em lugar nenhum. Meu quadril ficaria bem dolorido, mas pelo menos eu não morri. Para me vingar e dar um troco naqueles meninos, fechei os olhos para me fingir de morta. Ou melhor... Me fingir de desmaiada, já que não conseguiria prender a respiração por muito tempo. Deixei o corpo mole assim que Liam me soltou na grama, rindo muito. Niall também gargalhava e Harry foi o único que pareceu perceber que algo havia acontecido comigo. Eu não estava vendo nada, obviamente, mas senti duas mãos grandes segurando os meus ombros.
- ? – Hazza me balançou. – Gente, a não tá bem!
- O que aconteceu? O que foi que eu fiz? – Escutei Liam ao meu lado.
- ! Fala alguma coisa, ... – Harry quase chorava e eu tive um pouco de pena.
- Alguém chama uma ambulância! – Liam estava MUITO preocupado.
- Zayn vai me matar... – Niall pensou alto.
- Não precisa. – Lous se aproximou. Droga! Ele saberia que era mentira. – Harry, segura a câmera aqui.
- O que você vai fazer?
Harry não sabia o plano de Louis, mas eu sim... Logo que senti as mãos do meu irmão fazendo cócegas nas minhas costelas desatei a rir. Seria impossível continuar me fazendo de desmaiada depois de ser atacada no meu ponto fraco. Abri os olhos e vi que Liam e Niall já estavam mais aliviados e até sorriam um pouco. Harry nos filmava e eu tentava segurar as mãos de Lou, mas era impossível. Eu tentei me arrastar pela grama, mas acabou sendo pior, pois Louis sentou em cima das minhas pernas enquanto eu estava de barriga para baixo e me dominou.
- Eu disse que não precisava de uma ambulância!
- LOUIS, ME SOLTA! – Comecei a gritar novamente. – SOCORRO!
- Que bagunça é essa? – Assim como eu havia previsto, a nossa vizinha apareceu no próprio jardim, assustada com todo aquele barulho e confusão.
- Desculpe, Marge! Não queríamos incomodar. – Aparentemente Louis conhecia-a pelo nome. Ao menos ele me soltou e Liam me ajudou a levantar e limpar um pouco da grama que estava no meu cabelo.
- Ora, são só vocês, crianças? Achei que era alguma confusão! – Do mesmo jeito que saiu, a senhora voltou para dentro de casa.
- Marge? – Olhei para o meu irmão e os outros meninos riram. – Está cheio de intimidade!
- Ela é a sua namorada, Louis? – Harry o zombou.
- É você que gosta de mulheres mais velhas aqui, Hazza. – Lou rebateu e eu gargalhei.
- Vamos entrar logo, gente. Preciso sentar! – Puxei Liam com uma mão e Niall com a outra, indo para dentro de casa.
Harry e Louis finalmente guardaram a câmera e nós voltamos para a sala. Liam foi o primeiro a sentar no sofá e eu me joguei lá em seguida. Estava realmente cansada. Sem nem pedir permissão, me arrastei até as pernas de Li e descansei a cabeça ali. Niall levantou as minhas pernas para poder sentar, mas eu não me encolhi. Os outros dois meninos estavam com fome, então foram para a cozinha fazer o nosso lanche. Eu escutava as vozes de Niall e Liam, mas elas começaram a ficar bem distantes e eu já não entendia mais o assunto da conversa. Tudo ficou escuro...
Quando acordei na minha naquele fim de noite, não fazia idéia do que tinha acontecido ou de como chegara até o meu quarto. Fiquei atordoada até entrar em baixo do chuveiro para tomar um banho bem tomado (pois eu estava precisando) e despertar. Minha última lembrança era deitar no colo de Liam... “Eu devo ter adormecido e alguém me trouxe até aqui”, pode ter sido uma conclusão óbvia, mas eu tinha acabado de acordar, então dê um desconto.
O ruim de dormir durante a tarde é que meu sono fica completamente desregulado e eu não consigo dormir novamente nem tão cedo. Foi exatamente isso o que aconteceu... Depois de descer para jantar - já vestindo pijamas e limpa - e constatar que Niall havia ido embora e Liam e Louis já estavam dormindo, eu fiquei girando na cama de um lado para o outro. Deixei um abajur ligado para que eu pudesse ficar olhando as tulipas cor de rosa que ganhara na noite anterior e que Rachel colocara em um vaso na minha mesinha de cabeceira. O ursinho que Zayn usara pra me pedir em namoro não saía da minha cama e eu o abraçava com carinho, absorta em pensamentos.
Comecei a lembrar das vezes que eu não conseguia dormir e a minha avó Jolene preparava o meu chá preferido e me contava histórias de ninar. Meu avô costumava ficar parado na porta do quarto, nos observando... E ele só saia de lá depois que eu apagava completamente. Que apresentar os dois para Zayn e tinha certeza que se dariam bem demais! Também gostaria de apresentá-lo à minha mãe, mas já não sabia como seria a sua reação. Eu falava com o meu papa no mínimo uma vez por semana e sempre perguntava sobre ela e, segundo ele, mamãe estava começando a ser mais responsável. Aparentemente foi preciso que ela ficasse longe dos filhos pra poder acordar e ver o que estava perdendo. Por mais que fosse difícil pra mim falar isso, eu sentia falta dela. Mesmo com o jeitinho maluco e infantil de ser.
Fiquei de joelhos na cama para poder dar uma olhada nas fotos em minha parede. Era em momentos assim que eu agradecia por ter colado aquelas imagens tão perto de onde eu pudesse ver com facilidade. Meus olhos foram direto para uma fotografia em especial... Devia ser Natal, o que explicaria a árvore enfeitava com bolas vermelhas e azuis, e eu devia ter mais ou menos cinco anos de idade. Estava sentada em um lado do colo de meu pai e meu irmão no outro, sendo que ele deveria ter sete anos. Minha mãe estava de pé e olhava para o meu pai, completamente apaixonada. Papai olhava pra Louis e eu ria de alguma coisa muito engraçada na época. Hoje em dia eu já não consigo mais lembrar a história por trás daquilo, mas é impossível olhar a foto e não sorrir. A nostalgia começou a tomar conta de mim e eu passei para outra foto:
Já alguns anos mais tarde, eu estava vestida como um floco de neve e meu avô me entregava um buquê de rosas vermelhas. Daquela foto eu me lembrava... Louis era quem havia tirado-a após uma das minhas apresentações de ballet. Nem meu pai ou minha mãe puderam ir me assistir por culpa do trabalho e eu tinha ficado bem triste com isso, mas depois que vi as flores esqueci todos os problemas! Aquela foi a primeira vez que eu recebia um buquê. Quem diria que anos depois eu teria recebido outro e ainda por cima de um namorado?!
O barulho de algo batendo contra o vidro da minha janela me fez sair dos meus devaneios. “Será que um morcego está tentando entrar aqui?” Agradeci por estar tudo fechado, já que eu não conseguiria lidar com um bicho das trevas naquela madrugada. Preferi ignorar e voltei a deitar na cama, me preparando pra apagar o abajur e tentar dormir. Uma batida mais forte na janela me fez parar o que eu estava fazendo e comecei a me preocupar. Dessa vez eu tive que me aproximar da janela e na metade do caminho mais uma batida me surpreendeu. “O que é isso?” Afastei as minhas cortinas e abri a janela, espiando o céu a procura de morcegos.
- O que você está procurando aí em cima? – Uma voz masculina me assustou e eu quase caí pra fora da janela. Por sorte eu conhecia bem o dono da voz e não tive medo que fosse um estuprador ou coisa parecida.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei aos sussurros, mas não evitei um sorriso.
- Eu sempre vi as pessoas fazendo isso nos filmes, então resolvi tentar. – Podia estar escuro, mas eu conseguia ver claramente a expressão de divertimento no rosto de Zayn.
- Você é maluco, Malik! – Ri baixo com medo de fazer algum barulho e acabar acordando alguém. – Mas você não podia fazer isso mais tarde? São duas horas da manhã!
- Já são duas horas? – Olhou para o relógio no próprio pulso. – Vem, nós temos que ir!
- Ir pra onde? – Ele realmente estava maluco... Era a única explicação. – Eu não vou sair de casa agora!
- Vai sim! – Riu. – Vem logo, babe. Ou eu vou ter que subir aí e te arrastar?
- Não vai subir aqui coisa nenhuma! E eu também não vou descer. Já é tarde!
- , eu acho que vou ter que ser um pouco mais claro com você. – Começou a falar mais alto e eu fiquei com medo que alguém na casa da vizinha o escutasse. – Isso é um sequestro.
- Um sequestro? – Sorri contra a minha vontade.
- Isso mesmo. Agora desce logo ou vou subir. – Deu ênfase na palavra ‘vou’ e parecia estar se divertindo mais do que devia.
- Já que você não está me dando outra opção! – Rolei os olhos, dando-me por vencida. – Espera eu trocar de roupa!
- Não demora!
Eu podia estar sendo cabeça dura, mas era tudo charme. Quem não ficaria feliz com uma visita do namorado no meio da madrugada? Eu com certeza fiquei. A parte que me deixou meio apreensiva era ter que sair. Zayn poderia me levar pra qualquer canto, mesmo que não fossem muitos os lugares que ainda estavam abertos naquela hora. Assim que voltei para dentro do quarto, fechei a janela e a cortina porque nunca se sabe quem pode te espiar trocar de roupa. Corri direto para o banheiro e escovei os dentes, passei um perfume básico e amarrei os cabelos em um coque desarrumado. Em seguida, fui até o closet e peguei as primeiras roupas que encontrei, sem me preocupar muito se eram arrumadas ou não. O clima lá fora parecia estar frio e eu não queria ter que sofrer em cima de um salto alto, por isso priorizei o conforto. Também peguei uma bolsa qualquer e guardei a minha chave de casa e celular ali dentro.
Ao abrir a porta pra sair do quarto, fiz o maior silêncio que consegui. Se fosse na casa dos meus avós, a escada teria me denunciado com um rangido, mas tive sorte e consegui chegar ao primeiro andar sem ser notada. Olhei para a chave que estava na fechadura da porta de entrada e quis matar o meu irmão por ter um sininho em seu chaveiro. Qualquer movimento que eu fizesse ali seria denunciado e qual seria a graça de sair escondida no meio da noite se alguém me descobrisse? Nenhuma! Por isso só havia uma coisa que poderia ser feita; sair pela janela. Eu tinha três opções: A janela da sala, a da cozinha ou da sala de jantar. Fiquei com a primeira opção, pois era a maior janela.
Não tive trabalho em abri-la em silêncio e muito menos em pular para o lado de fora. Na minha cabeça passava a melodia da música tema do filme Missão Impossível e eu me senti muito badass com a minha própria trilha sonora. Avistei Zayn próximo ao carro dele corri pelo caminho de pedra, torcendo para não tropeçar no escuro. Ele viu a minha aproximação e também correu ao meu encontro. Para completar a cena do filme, eu pulei nos braços dele que, por sua vez, me segurou com força e me girou no ar. Nós dois rimos baixo, claramente felizes em estarmos nos vendo. Assim que coloquei os pés no chão novamente, puxei-o para um beijo. Não foi o mais intenso que já trocamos, mas falava tudo que era preciso: “Eu sentia a sua falta.” “Estou feliz em te ver.” E “Você é louco, mas ainda bem que está aqui.”
- Vamos logo, porque o lugar onde estamos indo fica longe daqui. – Zayn me segurou pela mão, guiando-me até o carro. – E não adianta perguntar nada!
- Eu não ia perguntar. – Mesmo que estivesse morrendo de curiosidade! – Eu te conheço o suficiente pra saber que não há nada que você goste mais de fazer do que surpresas.
- Aprendeu direitinho!
Zayn sorriu e abriu a porta pra mim. Sei que ele fazia isso todas as vezes que eu tinha que entrar ou sair de um carro, mas não me cansava. Na verdade, adorava todo esse cavalheirismo que ele tinha comigo. O menino deu a volta no carro e também entrou, colocando o cinto de segurança e me olhando com um sorriso sapeca nos lábios. Ele devia estar bolando alguma coisa e queria ver a minha reação, pois era isso que aquele sorriso significava. Eu ri e me acomodei no banco do carona. Como nosso “passeio” seria longo, eu queria estar bem confortável.
Passamos pelo portão do condomínio e Zayn acenou para o porteiro. Isso explicou bastante, como por exemplo como ele entrou no meio da madrugada em um complexo de luxo sem nenhum tipo de aviso. Os dois já deviam ser amiguinhos. Eu não me importava que o meu namorado tivesse acesso livre à minha casa, mas se isso acontecesse com outras pessoas eu começaria a achar inconveniente.
- Como foi o seu dia hoje? – A rua estava praticamente vazia, então ele pode olhar pra mim ao perguntar. – Niall se comportou?
- É claro que ele se comportou! – Estreitei os olhos e ele riu disso. – Meu dia foi bom... Cheio de altos e baixos. Fortes emoções!
- É? E o que aconteceu? – Zayn não parecia perguntar só por educação. Ele tinha interesse em saber sobre o meu dia, queria que eu dividisse com ele.
- Pra começar... Lou e Liam saíram do emprego! – Sentei de lado no banco, de frente para ele.
- Mas isso é bom, certo? – Paramos em um sinal vermelho e ele pode me olhar. – Você já me disse que eles não estavam gostando de lá mesmo.
- Tem o lado bom e ruim, porque talvez o Liam tivesse que ir embora se não encontrasse outro emprego logo... Já que ele veio pra Londres por causa desse emprego e tal. – Expliquei.
- Ahh, é verdade! E o que vocês vão fazer?
- É aí que chegamos à outra parte da história... – O carro voltou a andar e Zayn teve que olhar para a estrada, mas ainda me escutava atentamente. – Vou resumir, porque agora complica um pouco. O Harry saiu da faculdade e por isso teria que voltar para a sua cidade natal com a mãe no fim do ano, mas é claro que nós não deixaríamos. Então ele vai morar com a gente também!
- Que bom que ele não vai embora, mas... – Me olhou pelo retrovisor. – Você vai morar em uma casa com três homens?
- Bem... Um homem e dois suspeitos, porque eu ainda acho que meu irmão e Haz tem um caso. – Ri e ele me acompanhou.
- Eu sempre soube que tinha algo rolando entre os dois! – Entrou na brincadeira.
Meia hora se passou enquanto conversávamos sobre aquele assunto. Zayn até mesmo se ofereceu pra ajudar na mudança de Harry, mesmo que ainda não tivéssemos uma data marcada. Qualquer ajuda seria muito bem vinda, pois eu já podia imaginar toda a bagunça que os meninos acabariam fazendo e largando a maior parte pra cima de mim. Pelo menos com Zayn ao meu lado, eu poderia fazê-lo me ajudar.
Eu estava tão distraída com os assuntos dentro do carro e com todos os olhares que Zayn e eu trocávamos que nem percebi quando saímos da cidade. Olhei em volta pela primeira vez e não vi prédios ao meu redor, apenas árvores. Estávamos em uma estrada pouco iluminada e eu só fiquei mais curiosa ainda, tentando imaginar onde poderíamos estar indo. Eu nunca havia passeado pela Inglaterra de carro, mas começava a achar que era isso que estava acontecendo. Sei que não adiantaria nada perguntar para onde estávamos indo, então eu teria que esperar pra ver.
- E como foi a sua tarde de compras hoje, baby? – Perguntei voltando a olhar pra ele.
- Foi boa... – Respondeu um pouco relutante. – A minha mãe comprou comida suficiente para alimentar um exercito, mesmo eu falando que você é apenas uma pessoa. Ela fez questão de comprar peixe, carne vermelha, carne de frango...
- Eu falei que não queria dar trabalho! – O interrompi, me sentindo mal. Se há algo que eu realmente odeio é dar trabalho, principalmente se for para a sogra que eu ainda nem conheço.
- Sei disso, babe, mas não se preocupe. – Ele sorriu pra mim. – Ela faz isso com muito gosto.
- Tentarei não ficar mais ansiosa do que já estou. – Ri nervosa e passei a mão pelos cabelos, jogando a franja para o lado.
- Tenho certeza que ela vai te adorar.
- Ela gostava da Brigitte? – Perguntei com um pouco de medo de não gostar da resposta.
- As duas nunca se conheceram, pra falar a verdade. – Respondeu e eu acabei rindo um pouco alto demais. – Acho que você gostou de saber disso...
- Mais do que você pode imaginar! – Tentei controlar os meus risos. – Mas por que não?
- Eu nunca tive coragem de apresentar as duas. – Deu de ombros enquanto virava o carro para a direita, saindo do asfalto e entrando em uma rua de terra bem estreita e cercada por faias dos dois lados. – A Brie não é do tipo de garota que se apresenta para os pais.
- E mesmo assim você ainda a chama de “Brie”. – Cruzei os braços. Já não bastava eles terem sido namorados em um passado nada distante, ele ainda tinha que chamá-la pelo apelido?
- Está com ciuminho, é? – Foi a vez de Zayn rir e eu estirei a língua pra ele.
- E se eu estiver?
- Fica mais linda ainda. – Tirou uma das mãos do volante para virar o meu rosto na direção dele. Eu acabei sorrindo da carinha fofa que ele estava fazendo.
Odiei não conseguir ficar séria ou brava com Zayn por muito tempo, mas quem em sã consciência conseguiria? Ainda mais quando ele dava aquele sorrisinho com a língua bem próxima aos dentes. Fiquei encarando a perfeição dele até escutar o motor sendo desligado e sentir o carro parar. Olhei pra frente sem saber o que esperar e não vi nada além de luzes bem distantes. Um circulo brilhante chamou a minha atenção e eu fiquei tempo o bastante observando-o para descobrir que aquilo era nada menos que o London Eye e aquelas “luzes” que eu estava vendo era na verdade Londres vista de longe. Olhei para Zayn e ele era só sorrisos. Como não desligamos o farol do carro, eu percebi que estávamos em um mirante e que uns vinte metros na nossa frente havia um precipício. Sabe aqueles morros de filme, onde o casal principal vai para observar a paisagem? Era em um lugar mais ou menos como esse que nós estávamos.
Abri a porta do carro e saí, ainda um pouco surpresa com as luzes no horizonte. Eu não sabia que passamos tanto tempo na estrada a ponto de estarmos tão longe da confusão de cidade grande que tomava conta de Londres. Fui para a frente do carro com muito cuidado pra não acabar rolando montanha a baixo e Zayn também saiu do carro e foi ao meu encontro.
- É tão silencioso... – Fechei os olhos e apenas fiquei escutando o barulho que o vento fazia ao soprar as folhas. Nem mesmo no meu condomínio que era afastado de tudo eu tinha tanto silêncio assim.
- Ainda não viu a melhor parte, . – Falou baixinho, me fazendo abrir os olhos e fitá-lo com curiosidade.
- Qual?
- Você disse que queria ver estrelas... – Apontou para cima.
Eu segui a direção do dedo de Zayn e olhei para cima pela primeira vez. Pode parecer difícil de imaginar, mas eu vi o céu mais estrelado que poderia existir. Meu queixo caiu e eu senti vontade de chorar. Sempre fui muito boba com essas coisas e aquela imagem ficaria pra sempre na minha memória. Palavras não conseguirão fazer jus àquele pedacinho do paraíso, mas eu vou tentar: O céu escuro era a tela e os milhões e milhões de pontinhos brilhantes a obra de arte. Uma estrela parecia acabar ficando por cima da outra, já que não tinha espaço suficiente para todas elas; algumas eram maiores que as outras e mais iluminadas. Ao centro da minha área de visão havia uma mistura de cores que ia do azul um pouco mais claro ao roxo e amarelo. Minha respiração ficou pesada e eu me senti bem pequena diante daquele milagre da natureza. Meus olhos ficaram marejados e eu não me importaria em deixar algumas lágrimas escaparem. Não vi nem sinal da Lua, mas ela não seria necessária.
- Zayn... – Segurei a mão dele, ainda olhando para cima. – É perfeito...
- Esse lugar aqui é o meu cantinho especial. – Falou em um sussurro e eu sabia que ele estava sorrindo. – Não há ninguém que eu gostaria mais de dividi-lo do que com você...
- Eu não sei o que falar... – Era verdade, pois eu estava encantada demais pra conseguir pensar em qualquer coisa ou formular frases.
- Não precisa. – Falou baixinho e beijou o meu ombro, ficando de frente pra mim em seguida. – Dança comigo?
- Mas não tem música nenhuma tocando... – Abaixei o olhar até o meu namorado.
- Tem sim. É só prestar atenção ao nosso redor.
Com isso, Zayn me puxou até o meio de onde estávamos e me envolveu delicadamente pela cintura. Eu o abracei pelo pescoço e nossos rostos ficaram bem próximos. Comecei a prestar atenção no que ele tinha pedido, tentando perceber os sons ao nosso redor. Não foi difícil notar o farfalhar das folhas, passarinhos cantando ao longe... Até mesmo o som de um pequeno riacho que corria em algum lugar da floresta não tão distante de nós dois. Ouvi o som que nossos pés faziam ao pisar na grama quando começamos a nos mover devagar, o som de nossas respirações... Tudo o que eu escutava era de uma simplicidade tremenda, mas ainda assim tinha grande importância. Aquela era a nossa música. Ninguém mais poderia tê-la e também não a escutaríamos em outro lugar, ou com outras pessoas. Era um momento mágico que eu gostaria de eternizar.
Nossos passos eram simples e lentos, mal nos tirando do lugar. Suspirei me sentindo leve e deitei a cabeça no ombro de Zayn, relaxando totalmente. Poderíamos estar no meio do nada, mas eu me sentia segura nos braços dele. Nem mesmo o vazio tão próximo de nós conseguia me assustar, pois eu sabia que se eu caísse, de alguma forma, ele me pegaria. Parece loucura, mas naquele momento eu não duvidava que ele tivesse criado asas e estivesse me levando para perto das estrelas. Sentia meu corpo leve e o chão não parecia estar embaixo dos meus pés. Por um momento não era a gravidade que me segurava; era Zayn.
Como o menino era mais alto que eu, ele deitou a própria cabeça sobre a minha e me abraçou cada vez mais. Zayn parecia gostar de me ter bem perto, me segurar e me impedir de sair do seu alcance. Eu sentia vontade de falar algo, mas três palavras estavam entaladas na minha garganta. Naquele momento eu tive certeza delas, mesmo em tão pouco tempo juntos. Se for verdade o que falam sobre cada pessoa ter a sua metade andando por aí, eu tinha encontrado a minha.
- Zayn... – Meu chamado saiu mais como um suspiro.
- Hm? – Também falava baixo.
- Obrigada por dividir esse lugar comigo... – Levantei a cabeça devagar, fitando-o.
- Eu dividiria o mundo com você, . – Ele sorriu e segurou o meu rosto com as duas mãos.
Gentilmente depositou os lábios sobre os meus e os mexeu devagar. Eu retribui todos os selinhos demorados e carinhosos como se fossem a coisa mais preciosa do mundo. E realmente eram. Voltei a abrir os olhos assim que a boca dele já não estava mais tão próxima à minha e sorri como a garota mais feliz do mundo. Ele também sorriu e entrelaçou os nossos dedos, me guiando novamente em direção ao carro. Me ajudou a subir no capô do veículo e eu me acomodei quase deitada ali em cima, com as costas no vidro. O menino pegou algo no banco traseiro e eu logo vi que era um cobertor de lã. Sorri quando ele também subiu no capô e se deitou ao meu lado, cobrindo a nós dois com aquele pano. Eu me aproximei o suficiente para deitar a cabeça no ombro dele e ainda poder admirar o céu estrelado acima.
- Tá vendo aquela constelação ali? – Apontou para uma fileira de estrelas brilhantes.
- Aquela ali no meio? – Perguntei, também apontando.
- Essa mesmo. – Ele olhou pra mim com a maior cara de nerd. – É a Ursa Maior.
- Sério? – Olhei dele para a tal constelação, tentando imaginar o desenho de um urso. Sempre adorei estrelas, mas era uma negação para identificar algo além das Três Marias. Que por sinal eram quaisquer três estrelas próximas.
- Não faço idéia! – Ele riu e eu mais ainda. – Pode ser que seja!
- Ai, Malik! – Gargalhei e balancei a cabeça negativamente. – Só você mesmo.
- Eu não sou um astrônomo, ué. – Levantou as mãos, alegando que não tinha culpa alguma.
- Você não sabe o nome de nenhuma? – Voltei a olhar para o céu, completamente hipnotizada.
- Sei sim. – Respondeu e eu duvidei muito. – Daquela ali.
- E qual é? – Perguntei desconfiada.
- . – Disse sério.
- Com certeza aquela estrela tem o meu nome! – Fui irônica e o olhei estreitando os olhos.
- Esse céu é nosso, ... Podemos dar o nome que a gente quiser.
- Então eu não quero só uma estrela com o meu nome! – Fiz bico. – Quero uma constelação.
- Você é aquela constelação ali... – Apontou para um conjunto bem brilhante de estrelas que deviam formar alguma coisa que eu não conseguia identificar. – A mais brilhante.
- Agora está melhor! – Ri convencida e apontei para uma outra constelação, bem ao lado da minha. – E você é aquela.
- É? Por que?
- Porque está bem perto de mim. – Olhei pra ele. – E é assim que eu gosto.
- Eu acho que aquilo são planetas. – Continuou olhando para cima enquanto eu o observava.
- Acabou com o meu romantismo! – Reclamei com uma risada e ele gargalhou de forma gostosa.
- Desculpa. – Me olhou com um sorriso.
- Não olha pra mim, Malik! Continua olhando pra cima. – Virei o rosto dele com cuidado para não acabar machucando-o.
- Por queeeee? – Perguntou de forma arrastada, mas me obedeceu e continuou olhando para o céu.
- Porque eu estou vendo o reflexo das estrelas nos seus olhos. – Mordi o lábio inferior, contemplando os olhos amendoados de Zayn que estavam ganhando um tom bem mais colorido e brilhante que o normal.
Depois de alguns segundos ele voltou o rosto para a minha direção e apenas sorriu. Eu não reclamei e fiz o mesmo que ele, esticando a mão direita até tocá-lo. Deslizei a ponta dos dedos pela lateral do rosto de Zayn desde a testa até o queixo, estudando cada traço. A linhas que surgiam no canto de seus olhos quando ele sorria, o pouco da barba por fazer que se entendia sobre todo o maxilar, o jeito que os lábios dele acabam sendo puxados mais para a esquerda do que para a direita entre um sorriso e outro... Eu queria decorar tudo para que na hora que fechasse os olhos pudesse vê-lo. Senti uma das mãos dele acariciando a minha cintura por baixo do cobertor e fiquei arrepiada com aquele toque porque ele estava tocando diretamente na minha pele. Minha blusa e casaco deviam ter levantado um pouco na hora que eu deitei e ele se aproveitara disso, mas eu não me importei.
- Baby... – O chamei mais uma vez, fazendo-o abrir os olhos. – Canta pra mim?
- O que você quer que eu cante? – Passou o nariz gelado pelo meu e eu sorri involuntariamente.
- Pode ser o que você quiser... – Pedi baixo. – Eu só quero te escutar cantar.
- Então eu já sei... – Zayn limpou a garganta e respirou fundo para começar: - Look at the stars, see how they shine for you... And all the things you do... (Olhe para as estrelas, veja como elas brilham pra você... E todas as coisas que você faz...)
A voz de Zayn saiu aveludada, bem melhor que a do cantor original daquela música que eu tanto amava. Eu fiquei olhando-o e passeando a íris desde os lábios que se mexiam devagar até os olhos que mal piscavam ao me observar. Ele olhou para cima e eu o acompanhei, me encantando novamente com a quantidade de estrelas que nos iluminavam.
(Eu vim)
I wrote a song for you and all the things you do.
(Eu escrevi uma canção pra você e todas as coisas que você faz)
And it was called Yellow.
(E era chamada Amarelo)
So then I took my turn. Oh what a thing to have done.
(E então eu esperei a minha vez. Oh, que coisa eu fiz)
And it was all Yellow…
(E tudo estava Amarelo)
O garoto passou o braço em volta do meu corpo e eu me aproximei ainda mais, deitando a cabeça sobre o peitoral do mesmo. Passei uma de minhas pernas por entre as dele e as entrelacei. Zayn continuou cantando rente a minha orelha e acariciou os meus cabelos com delicadeza.
(Sua pele… Oh, yeah, sua pele e ossos)
Turn into something beautiful.
(Se transformaram em algo bonito)
Do you know?
(Você sabe?)
You know I love you so…
(Você sabe que eu tea mo tanto…)
Eu sabia que era só uma música, mas ela era cheia de significados e cabia a mim acreditar neles ou não. Zayn era quem havia escolhido a música que estava cantando pra mim e tinha pelo menos duas opções: Ou ele gostava muito daquela música e foi a primeira que apareceu em sua mente, ou então ele estava querendo me dizer algo com ela. Preferi não ficar preocupada com teorias, não naquela noite. Escolhi não pensar em nada e apenas curtir aquela voz maravilhosa cantando só pra mim.
(Eu atravessei o oceano. Eu superei barreiras por você)
Oh what a thing to do. 'Cos you were all yellow.
(Oh, que coisa pra se fazer. Porque você era toda amarela)
I drew a line. I drew a line for you.
(Eu tracei a linha. Eu tracei a linha por você)
Oh what a thing to do and it was all yellow.
(Oh, que coisa pra se fazer. E ela era toda amarela)
Acho que o fato de não ter um acompanhamento instrumental por trás das palavras tornou tudo mais cru e mesmo assim mais suave. Não havia ninguém por perto e eu sentia que estávamos sozinhos no mundo inteiro. O tempo parecia ter parado ali em cima e, mesmo com a cidade ao longe, só o que existia era Zayn, eu e as estrelas.
(E a sua pele… Oh, yeah, sua pele e ossos)
Turn into something beautiful.
(Se transformam em algo bonito)
Do you know? For you I'd bleed myself dry.
(Você sabe? Por você eu daria todo o meu sangue)
It's true, look how they shine for you.
(É verdade, olhe como elas brilham pra você)
Look how they shine for...
(Olhe como elas brilham…)
Zayn encerrou a música e eu suspirei pesadamente. Levantei o rosto para poder olhá-lo, pois só o que eu queria era contemplar a sua beleza. Não falo apenas da beleza superficial, porque essa aí era mais que óbvia. Estou me referindo à sua beleza inferior, a todos sentimentos que ele escondia por dentro. O coração enorme que eu sabia que ele tinha e as suas manias e trejeitos. Zayn era um menino encantador em todos os sentidos. Eu sabia que o conhecia, mas mesmo assim ele conseguia me surpreender mais a cada dia que passávamos juntos. Eu tinha orgulho em fazer parte de sua vida e mais ainda de poder chamá-lo de meu. Pode me achar suspeita pra falar essas coisas, mas Zayn era um grande homem.
Sem falar coisa alguma, eu o envolvi pela nuca encostei os lábios aos dele. Tive um pouco mais de urgência do que antes e logo tratei de fazer a minha língua quente encontrar a dele. Zayn retribuiu o meu beijo e me puxou para mais perto, fazendo-me praticamente subir em cima dele. Escorregou as mãos pelas minhas costas e parou na parte baixa da minha espinha, novamente tocando a minha pele exposta. Modelei os lábios dele com os meus e inclinei o rosto para o lado contrário ao dele sempre que invertíamos as direções. Deixei uma perna de cada lado do corpo de Zayn e me sentei sobre o seu quadril, sem me importar com o contato que nossos corpos estavam tendo. Na verdade isso era o que eu mais estava gostando. As mãos masculinas voltaram a se mexer, mas dessa vez começaram a subir pelas minhas costas, arrastando um pouco da minha blusa junto.
Não sei o que aconteceu exatamente, mas interrompi o beijo da forma mais sutil que consegui. Zayn me olhou como se tivesse feito algo errado e começou a tirar as mãos de mim lentamente. Senti ódio de mim mesma por não seguir adiante com aquilo que acabaria acontecendo entre nós dois mais cedo ou mais tarde. Estava sendo cada vez mais difícil resistir e eu sabia que meus sinais confusos embaralhavam as idéias do meu namorado, mas ele nunca perguntou nada, apenas entendia os meus limites e respeitava-os. Nós dois estávamos namorando há apenas uma semana, então acho que devia ser normal aquela minha reação. Mesmo que tenha a impressão de estar com ele há anos...
- Você acredita em vidas passadas? – Ele perguntou parecendo ler os meus pensamentos.
- Acho que sim... – Sorri sem saber muito bem como responder. Saí de cima dele e voltei a deitar no capô do carro. – Por quê?
- Porque se for verdade... Você acha que nós dois podemos ter nos conhecido? – Me abraçou por trás assim que eu me virei.
- É uma possibilidade. – Sorri com aquela conchinha inesperada. – Mas eu gostaria de conseguir lembrar.
- Não sei se eu iria querer lembrar... – Suspirou bem na minha orelha e deslizou a mão pelo meu braço até que seus dedos encontraram os meus. – E se eu tiver feito algo ruim pra você? E se eu te machuquei? Não conseguiria viver com isso na consciência.
- Você nunca me machucaria, Zayn. Nem em uma vida passada e nem nessa...
Capítulo XXXI
- ? – Escutei a voz de meu irmão atrás de mim assim que comecei a subir as escadas. - Onde você estava?
- Ahn... – Fiquei paralisada e não consegui nem me virar para encará-lo. Como eu iria explicar ao meu irmão que estava chegando em casa depois de ter escapado de madrugada e adormecido nos braços do meu namorado no meio do nada até as oito horas da manhã? – Eu acabei de chegar da Academy, Lou...
Menti e não fiquei ali pra esperar uma resposta. Louis sempre sabia quando eu estava mentindo e naquele momento não seria diferente, por isso preferi correr escada acima e me trancar no meu quarto. Foi mais fácil falar que eu tinha voltado mais cedo da Academy do que admitir que eu tinha perdido a aula. Pois é, Zayn e eu acabamos pegando no sono em cima do carro e só acordamos quando o sol começou a nos incomodar. Por incrível que pareça, eu não fiquei desesperada por ter pedido um dia na academia. Acho que a minha noite foi tão boa que nada seria capaz de me aborrecer...
Eu era só suspiros quando me joguei na cama. Meu corpo estava um pouco dolorido por eu ter dormido de mau jeito, mas aquela era a minha única preocupação na vida. Ainda não tinha esquecido nenhum detalhe da noite passada... As estrelas brilhando, a distância da civilização, a falta de problemas, a paz, Zayn... Ah, Zayn. Sorri sozinha ao lembrar de todas as nossas conversas, confidencias, segredos que trocamos com olhares.
- , vem dar uma ajudinha aqui? – Louis bateu na porta do quarto, me fazendo voltar para a realidade.
- Já vou, Lou. – Revirei os olhos, mas continuei sorrindo.
- Não demora!
Pelo visto eu não teria escapatória no que quer que meu irmão estivesse aprontando. Voltei a levantar da cama e fui para o closet. Tirei o sweater que estava vestindo e o aproximei do rosto. É claro que o cheiro de Zayn estava impregnado na peça de roupa, por isso eu resolvi escondê-la em uma gaveta. Pode ser infantil, mas eu queria mantê-la daquele jeito para que eu pudesse cheirá-la sempre que quisesse ou sentisse saudade do meu namorado. “O que está acontecendo comigo?” Pensei ao tirar os sapatos e as meias e largá-los em qualquer lugar. Eu não me reconhecia, já que nenhum outro garoto havia mexido comigo ao ponto que eu tivesse que esconder uma peça de roupa só porque ela tinha o cheiro dele. Podia ser estranho, mas eu gostava. Gostava muito, pra falar a verdade.
Antes que Louis tivesse que me chamar novamente, saí do quarto e quase tropecei em uma caixa que fora colocada no meio do corredor. Resmunguei baixinho por ter batido o pé na quina da caixa, mas não doeu tanto quanto poderia ter doído. Pela segunda vez em toda a minha estadia naquela casa a porta do quarto ao lado do meu estava aberta. Louis devia estar em algum lugar ali dentro, mas o lugar estava bagunçado demais pra que eu pudesse encontrá-lo.
- Boo bear? – O chamei, entrando no quarto e parando ao lado de uma pilha de roupas + edredons + panos + etc.
- GRAAAAAAAAAAR. – Um monstro saiu da pilha de coisas e agarrou as minhas pernas.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH. – Gritei com o susto e meu coração só faltou sair pela boca. Comecei a espernear pra me soltar do monstro até que percebi que não era monstro coisa nenhuma. – LOUIS!
- Você devia ter visto a sua cara! – Me soltou e começou a gargalhar como uma hiena.
- Eu vou te matar!
Me joguei em cima dele na pilha de roupas e comecei a bater nele. Até que acertei alguns tapas, mas não parecia surtir efeito algum, já que Lou não parava de rir e se debater. Joguei algumas peças de roupa em cima da cabeça dele, tentando sufocá-lo – de brincadeira, obviamente, pois ainda amo o meu irmão. Ele começou a pedir desculpas e se livrou das coisas que eu jogara em cima dele, me abraçando em seguida. Fiquei sem reação, mas o abracei de volta, com uma pequena risada.
- Eu estava com saudades de te assustar, . – Falou.
- Eu não! – Choraminguei e acariciei os cabelos do mais velho. Louis não era do tipo que procura ter contato físico o tempo todo (a não ser com Harry, mas você já deve imaginar o porquê), então eu aproveitaria aquele momento até o fim.
- Vamos parar de drama? – Tudo que é bom dura pouco, mas pelo menos ganhei um beijo na bochecha. – O Haz vai começar a trazer as coisas dele pra cá hoje, então temos que abrir espaço nessa confusão.
- Já? Mas ele não ia esperar até o fim do mês? – Perguntei enquanto levantava e ajudava Lou a fazer o mesmo.
- Esse era o plano, mas ele ficou com medo que Anne tentasse fazê-lo mudar de idéia. – Deu de ombros e começou a recolher as roupas do chão para colocá-las dentro de uma caixa.
- Pobre Anne... – Suspirei. Seria difícil pra ela ver os dois filhos indo embora, ainda mais por todos serem muito apegados. – Aliás, onde está o Liam?
- Foi ajudar o Harry. Ele poderia ter te levado até a Academy hoje de manhã, já que seu carro deve estar com algum problema pra você ter saído sem ele hoje... – Louis falou com um sorrisinho do tipo: “Você não me engana”.
- A-ahn, é... Eu não fui de carro pra aula hoje... – Droga, droga. Eu havia deixado pontas soltas na história de ter chegado mais cedo em casa! Claro que Louis percebeu que meu carro ainda estava na frente de casa quando eu já não estava mais... Droga. – passou aqui pra me pegar e fomos juntas.
- É mesmo? – Parou o que estava fazendo e cruzou os braços, olhando pra mim. – Estranho... Porque ela ligou aqui em casa, querendo saber por que você não foi à Academy hoje.
- Damn it, ! – Xinguei baixinho, desistindo de inventar mais alguma desculpa. – Quando ela ligou?
- Meia hora antes de você tentar entrar em casa escondida.
- Então você já sabia? – Levei uma mão à testa, deixando de lado a mala que eu estava tentando levar pra fora daquele quarto.
- O tempo todo. – Riu da minha cara.
- E por que não me falou nada, seu imprestável?
- Porque eu queria ver até quando você ia levar essa história adiante! – Continuou rindo e jogou um bichinho de pelúcia em cima de mim.
- HEY! ISSO... Fluffy! – Comecei a reclamar, mas assim que vi qual bichinho era aquele, comecei a sorrir. – Você estava escondido aqui? Achei que tinha te perdido na viagem...
- É uma criança! – Resmungou baixinho e eu o ignorei.
Louis ainda tinha um pingo de cavalheirismo, por isso tratou de carregar as caixas mais pesadas para fora do quarto. Eu juntei todas as minhas coisas que estavam perdidas por ali: Alguns livros, brincos, colares, enfeites de decoração e coisinhas assim. Coloquei tudo dentro da minha maior mala de viagem – incluindo coisas maiores que nem eram minhas – e a arrastei para o meu quarto. A deixaria guardada embaixo da minha cama até arrumar um lugar melhor. O que mais importava naquele momento era liberar o quarto de Harry. Ainda era estranho chamar assim, mas eu estava muito animada com toda aquela mudança.
Meu irmão teve a brilhante idéia de separarmos algumas coisas para doação, como agasalhos que ninguém usava mais, roupas velhas, brinquedos e tudo mais que não fosse fazer falta ou que fosse ser mais útil para outras pessoas. O sentimento que você ganha ao fazer algo bom para outras pessoas não tem preço, de verdade. O homem da casa começou a empilhar caixas do lado de fora da casa e eu me ocupei em passar um pano molhado no chão do quarto que já começava a ficar bem mais vazio.
- Até que em fim vocês chegaram! – Escutei a voz de Louis no andar de baixo e supus que os meninos tinham retornado. – Como a Anne reagiu?
- Ela chorou... – Harry o respondeu. Deve ter sido um momento bem triste para os dois, já que aquela mudança marcava o começo de uma nova etapa da vida de todos.
- Sinto muito, Hazza. Mas não é o fim do mundo... Vocês ainda vão se ver muito. – Lou deu apoio. – Liam o que é isso na sua mão?
O tom que meu irmão mais velho usou naquela pergunta dirigida a Liam foi o suficiente pra me fazer sair do quarto e largar meu material de trabalho de qualquer jeito pelo chão. Minha curiosidade falou mais alto e eu desci as escadas pulando dois degraus de cada vez. Harry estava arrastando algumas malas para a sala e Lou seguia Liam para a sala de jantar. É claro que eu fui atrás dos dois últimos, mas primeiro dei um beijo na bochecha de Haz.
- Você não fez isso... – Louis olhou dentro da caixa de sapato que Liam depositou sobre a madeira da mesa e balançou a cabeça negativamente.
- Hey, ! – Liam sorriu a me ver. – Vem ver isso aqui!
- Qual o motivo dessa bagunça toda? – Fiquei entre os dois garotos e quase gritei ao ver o que tinha dentro da caixa. – Que coisinhas mais fofas!
- Não são lindas? – Li sorriu, feliz com suas novas tartarugas.
- Onde você as achou? – Peguei uma com cuidado e a coloquei na palma da minha mão. Era tão pequena que devia ser o tamanho do meu polegar.
- Sabia que tem um Pet Shop na rua da casa do Harry? – Perguntou enquanto pegava a outra tartaruguinha da caixa. – Essas eram últimas duas tartarugas da vitrine e eu não consegui deixá-las lá.
- Você vai mesmo ficar com elas? – Louis perguntou, entortando o nariz.
- Por favor, mommy, deixa a gente ficar com elas? Por favor, por favor? – Fiz voz de criança e Liam riu.
- Vou sim! – O dono das tartarugas afirmou.
- Alguém pode vir me ajudar aqui? – Harry chamou e eu e Liam olhamos para Louis ao mesmo tempo.
- Eu to indo. – Rolou os olhos e saiu dali.
- Qual o nome delas? – Voltei a olhar para a pequenina na minha mão, que tentava caminhar.
- Deles! – Me corrigiu. – São dois machos. E ainda não tem nomes...
- Eu achei que eram um casal! – Fiz um biquinho de lado. – Esse daqui tem cara de Archimedes.
- Como uma tartaruga tem cara de Archimedes, ? – Riu, mas deu de ombros. – Então esse vai ser o nome dele.
- Eba! – Sorri e deixei a tartaruga de volta na caixa. – Vai pensando o nome desse aí que eu vou pegar uma bacia de água...
- ÁGUA? Você vai afogar as tartarugas? – Também colocou o bichinho que segurava dentro da caixa e me seguiu até a cozinha.
- Claro que não, Leeyum! – Rolei os olhos e comecei a procurar qualquer coisa que pudesse servir de banheira. – Essas tartarugas são aquáticas... Não viu a pele entre os dedinhos?
- Vi sim... – Parou na porta, apenas me olhando.
- Você não faz idéia de como cuidar de tartarugas, né? – Finalmente achei um potinho cor de rosa que serviria direitinho para o que eu estava querendo.
- Não deve ser tão difícil assim, . São tão pequenas.
- Bebês são pequenos também. – Rebati e peguei umas folhas de jornal que estavam em cima da bancada. – Vem, vamos fazer uma casinha pra elas!
Provavelmente eu estava ficando mais animada do que devia, já que as tartarugas nem eram minhas! Mas ao mesmo tempo, se eu as deixasse sob os cuidados de Liam, elas morreriam de fome. Passei pela sala de jantar, hall de entrada e subi as escadas com um pouco de pressa. Liam me seguiu e também ignorou os chamados de Lou e Harry. Ambos entramos no quarto dele e eu olhei em volta, estudando qual seria o melhor lugar para deixar as tartarugas. Pelo menos enquanto não arrumássemos um aquário grande o suficiente para as duas, teríamos que ficar de olho nelas.
O quarto de Liam era menor que o meu, mas maior que o de Lou. Acho que a grande diferença é que meu irmão não consegue deixar o quarto arrumado, então isso diminui o espaço. Aquele parecia o cômodo mais divertido da casa por causa da quantidade de bonecos e brinquedos de desenhos animados. Lembra da caixa de coisas que os pais de Liam mandaram? Então! Aquilo e muito mais era o que enfeitava o quarto do menino. A cama dele era de casal e estava encostada à parede, embaixo da janela. Em frente à cama ficava um guarda-roupa e ao lado da porta de entrada havia uma escrivaninha. O melhor lugar pra colocar as tartaruguinhas seria entre a cama e o guarda roupa.
- Li, você pode encher esse pote de água, por favor? – Sentei no chão e entreguei o pote para ele.
- As tartarugas são macho e você pega um pote rosa? – Deixou a caixa de sapato ao meu lado e foi até o banheiro da sua suíte. – Assim vai confundir os meninos.
- O vai confundir eles é você chamando de “meninos”. – Ri e cobri um pedaço do chão entre o guarda-roupa e os pés da cama de Liam. – Daqui a pouco eles vão pensar que são meninos de verdade e não tartarugas.
- Será que foi isso o que aconteceu com as Tartarugas Ninjas? – Liam falou aquilo com tanta seriedade que eu desconfiei que ele estivesse realmente desconfiado daquela teoria.
- Com certeza! – Gargalhei alto e peguei a bacia de água que me foi entregue. – E você ainda não pensou em um nome para o amigo do Archimedes?
- Eu tive uma tartaruga quando era pequeno e o nome era Boris... – Deitou na cama de barriga para baixo e ficou me olhando colocar umas folhas de alface que vieram dentro da caixa em cima do jornal. Eu preferi ignorar o fato de o cachorro de Zayn também se chamar Boris. – Estava pensando em fazer uma homenagem a ela.
- Boris II! – Sorri e também deitei de bruços, mas no chão. Deixei a bacia na minha frente e coloquei as duas tartaruguinhas dentro da água com cuidado. Não queria assustá-las. – Viu como elas ficam felizes na água?
- Ficam mesmo! – Liam se aproximou da ponta da cama pra observar os bichinhos começando a nadar. – Archimedes e Boris II. Gostei.
- Agora vamos tirar uma foto pra mostrar a todos como vocês são lindos. – Falei com as tartarugas e Liam riu de mim. – E você aí pode pegar o seu notebook e começar a procurar tudo que puder sobre tartarugas! Ser pai não é fácil.
Liam me obedeceu e ligou o notebook. Do jeito que ele era responsável, iria pesquisar até sobre o nome cientifico daquela espécie de tartaruga. Ele me olhava de vez em quando, mas eu só conseguia prestar atenção nos animais. Peguei o celular no meu bolso e me preparei para tirar uma foto das tartaruguinhas e já corri para postar no Twitter:
Em menos de dez segundos depois eu já recebi uma resposta. Era de Liam:
E ao lado do tweet havia uma foto minha brincando com as tartarugas dentro da água. Eu não sabia nem que ele tinha tirado aquela foto, mas pelo menos estava bonitinha.
- Liam, eu mandei você pesquisar e não ficar tirando fotos minhas! – Briguei de brincadeira e guardei o celular no bolso da calça.
- Eu não resisti! Desculpa. – Riu e voltou a se concentrar na pesquisa.
- Será que eu desculpo o daddy, minhas crianças? – Perguntei para as tartarugas já adorando a idéia de ser a mãe delas.
- Onde você estava essa manhã, ? – Liam perguntou sem me olhar e eu senti a minha barriga esfriar. – O seu carro estava aí, mas você não...
- Pois é, eu saí de madrugada... – Coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Liam estava aceitando o meu namoro com tanta naturalidade que eu comecei a não me importar de contar as coisas pra ele. Além do mais, era um de meus melhores amigos, então eu me sentia bem em dividir. – O Zayn apareceu aqui do nada e me sequestrou!
- E pra onde vocês foram?
- Você acredita se eu falar que não faço idéia? – Ri baixo. – Era um lugar muito longe... Até saímos da cidade. Ele me levou pra ver estrelas, acredita? Daí nós acabamos perdendo a hora...
- E dormiram juntos? – Parecia preocupado com a resposta ao perguntar.
- Sim... – Senti as minhas bochechas corarem, mas assim que percebi o duplo sentido da pergunta, tentei corrigir. – Mas nada aconteceu entre nós dois! Na verdade, nunca aconteceu nada assim...
- Então vocês dois nunca...? – Sorriu aliviado.
- Nunca mesmo. – Escondi o rosto com uma mão. Aquele assunto era constrangedor, mesmo com Liam.
- Mas você já...? – Ele parecia muito interessado naquele assunto.
- Já sim. – Por mais tímida que eu ficasse, não me importava em responder. – Só uma vez... Com um ex namorado que não vale a pena mencionar.
- Entendi, entendi! – Riu da minha falta de tato. – Mas você está certa, . Não deve sair por aí tendo intimidade... Nem com seu namorado. Na verdade, só devia estar próxima assim de quem você vê todos os dias... Na sua própria casa...
- Você está flertando comigo, Liam Payne? – Ri e a piscadinha que ele deu em seguida me vez corar novamente. Seria melhor mudar de assunto. – Achou alguma coisa sobre as tartarugas?
- Achei sim... – Riu da minha mudança de assunto, mas respeitou. – Essa espécie é conhecida como Tartaruga Pintada... E elas são carnívoras quando pequenas.
- Carnívoras?! – Afastei o dedo que eu estava usando para acariciar Boris II com medo que me mordesse.
- Pois é! – Limpou a garganta para ler um pedaço: - Existem aproximadamente vinte tipos de tartarugas pintadas, mas elas são bem parecidas. Quando pequenas, se alimentam mais de carne, gafanhotos, peixes ou ração para tartaruga. Quando se tornam adultas passam a se alimentar mais de plantas.
- Interessante... – Nós estávamos mais despreparados do que eu imaginava. – Acho que temos que voltar naquele Pet Shop, Li.
- Porque?! Eu não quero devolver meus filhos! - Desesperou-se.
- A gente não vai devolver ninguém! – Sentei no chão e apoiei as costas na cama. – Mas nós temos que comprar essa ração e um aquário! Eles não vão gostar dessa banheira por muito tempo.
- Harry e Lou não se importam se a gente sair?
- A gente nem está ajudando mesmo... – Dei de ombros e tirei as tartarugas da água, colocando-as no jornal. O pote era muito fundo para que elas saíssem sozinhas, então era melhor já deixá-las fora. – É só a gente pedir pra terem cuidado e não entrarem aqui.
- Tem certeza que não quer ajuda? – Perguntei ao olhar para Liam. Nós havíamos acabado de sair do carro e ele carregava um aquário enorme.
- Eu já falei que não precisa, . Você já está carregando os peixes. – Apontou para o saco transparente de peixinhos coloridos que eu segurava. Mal sabiam eles que seriam comida...
- Mas peixes são leves. – Rolei os olhos enquanto caminhávamos pela calçada.
- Ei, aquele não é o carro da ? – Liam perguntou e eu segui a direção do seu olhar até encontrar o New Beetle amarelo que com certeza era da minha amiga.
- Deve ser...
Nós dois passamos pelo caminho de pedra até a varanda de entrada. A porta estava aberta, então eu só girei a maçaneta e passei, esperando Liam também passar para só então fechar atrás de nós. A primeira coisa que ouvi foi a voz de uma certa ruiva que eu conhecia muito bem vindo do andar de cima da casa. Olhei para Liam em confirmação das suas desconfianças e ele riu. Ambos subimos as escadas e ele foi direto para o próprio quarto, já que o aquário devia estar pesado. Fui atrás dele apenas para deixar os peixes em cima da escrivaninha, mas logo voltei para procurar a minha melhor amiga. Passei os olhos pelo quarto de Harry, mas apenas ele e Lou estavam ali dentro. Os dois aparentavam estar bem cansados e o motivo daquilo era bem óbvio: Passaram o dia inteiro subindo e descendo escadas com caixas pesadas e arrumando o novo lar do menino de olhos verdes.
- ? – Bati na porta do meu próprio quarto enquanto a abria devagar.
- Então essas são as flores que Zayn te deu? – Perguntou assim que me viu. estava com as minhas flores na mão e eu senti um ciúme terrível.
- CUIDADO! – Corri até ela e coloquei as tulipas novamente no vaso de água. – Não brinca com elas!
- Desculpa aí! – Riu e levantou os braços. – Mas elas são lindas.
- São mesmo, né? – Sorri toda boba. – São as minhas preferidas.
- Malik acertou em cheio, então. – Me abraçou com força. – Eu estava com saudades, ! Faz tanto tempo que não te vejo.
- Eu também estava com saudades... – A abracei de volta e baguncei seus cabelos vermelhos. – Como foi a aula hoje?
- Normal. – Deu de ombros e sentou na minha cama. – A professora Holly perguntou por você... E acho que o Nick também estava te procurando, porque ele ficou na porta da sala aula inteira.
- Sei... – Mal sabia que Nick estava esperando a pseudo-namorada dele e não eu... Mais uma vez foi difícil guardar o segredo de Nick e Holly, mas eu havia prometido que não contaria a ninguém que os dois estavam juntos. Sentei-me de frente para e dei de ombros. – Eu falo com ele depois.
- Vamos ao que interessa, ok? – Segurou uma de minhas mãos e sorriu toda cheia de intenções. – Onde você e Zayn estavam essa manhã? E não pense nem por um segundo que eu vou acreditar que foi uma mera coincidência os dois faltarem no mesmo dia!
- Não adianta eu mentir pra você, né? – Ri e me preparei para contar a história. – Bem... Ele veio aqui ontem de madrugada, dizendo que nós tínhamos um lugar pra ir... Você não acreditaria, ! A gente saiu da cidade e foi ate o meio do nada, mas com certeza valeu a pena. Eu nunca vi um céu tão estrelado na vida! Foi uma noite perfeita.
- Awwwwwwn, que coisa mais linda! – Apertou as minhas bochechas. – Você até ficou vermelha!
- Para, ! – Afastei as suas mãos. Não precisava que ela me falasse aquilo, pois eu podia sentir o meu rosto esquentando.
- E o clima esquentou?! – Perguntou curiosa.
- Bastante! – Cobri o rosto com um travesseiro e só deixei os olhos a mostra. – Mas não aconteceu nada, antes que você pense que eu estou grávida!
- Se nada aconteceu... Como o clima esquentou, ?! – Aquela minha noticia parecia ter estragado a animação dela, mas o que eu poderia fazer? Mentir?
- O clima esquentou por que... – Suspirei. – Eu senti... Ele...
- OMG! – começou a rir descontroladamente e eu não duvidava que um dos meninos fosse acabar aparecendo no quarto. – E É GRANDE?
- , cala a boca! – Joguei o travesseiro nela, mas acabei rindo junto. – Eu não vou responder isso! Além do mais, não é como se eu tivesse muita experiência pra comparar, né?
- Então eu aposto que é! – Gargalhou mais alto ainda e eu congelei ao ver Liam entrando no quarto.
- Hey, ! Não fala mais comigo? – Se juntou a nós na cama e aparentou não ter escutado nada do nosso assunto anterior.
- Foi mal, Liam! – Ela sorriu e deu um beijo na bochecha dele.
- Soube que temos dois amiguinhos novos? – Perguntei, passando um braço ao redor do menino.
- Eu vi a foto que você postou no Twitter, mommy. – Riu.
- Eu consegui arrumar o aquário sozinho! – Me olhou com orgulho de si mesmo. – Querem ir lá ver?
- Queremos sim! – Respondi por nós duas, já que seria bem capaz de falar: “Nós vamos daqui a pouco, porque estamos conversando sobre as partes íntimas do namorado da .”
Naquela sexta-feira eu não tinha aula, mas o meu segundo ensaio com Nick me tirou da cama cedo demais. Dirigir até a Academy levou mais tempo que o normal, pois o asfalto estava completamente molhado pela chuva e eu tive cuidado dobrado. Nicholas me encontrou logo na escada e o primeiro assunto da nossa conversa foi o relacionamento dele com Holly. Como nem os amigos dele sabiam daquela história ele só podia comentar comigo, então eu não me importava de escutar. Aparentemente a professora ficou sabendo que eu sabia de tudo e teve um pouco de pé atrás. Eu não a culpava, é claro, pois era a carreira dela que estava em jogo ali, mas eu afirmei para Nick que nunca contaria pra ninguém e ele acreditava em mim.
A primeira metade do nosso ensaio correu muito bem e nós dois estávamos cheios de idéias. Eu falei que Ed tocaria o piano durante a nossa apresentação no baile de inverno e ele aceitou muito bem, afirmando que admirava bastante o professor, mas nunca teria coragem de pedir algo assim. Nós resolvemos dar uma pausa para recuperar o fôlego, então ambos deitamos no chão de madeira e ficamos conversando sobre besteiras sem sentido.
- Por favor, , me conta! – Nick tentava me convencer a contar o ingrediente secreto da torta de maçã com canela da minha avó, mas não tinha sucesso.
- Eu poderia te contar... – Olhei séria para o menino deitado ao meu lado. – Mas eu teria que te matar depois!
- Assim você seria presa, .
- Eu seu fazer parecer um suicídio. – Pisquei. – Porque fazer parecer um acidente já é muito mainstream.
- TOMLINSON. – Uma desesperada entrou correndo na sala e eu quase tive um ataque do coração.
- Quem morreu? – Nick perguntou, também assustado.
- , o que foi? – Levantei do chão e na minha cabeça já passava milhões de coisas horríveis.
- Ninguém... Morreu... – Falou ofegante, limpando o suor da testa. – Tenho... Te mostrar... Coisa...
- Tem que me mostrar uma coisa? – Repeti um pouco mais tranqüila.
- Isso... Vem comigo... – Fez sinal de “joinha” com a mão e acenou um oi rápido para Nick. Ela já saiu andando pelo corredor sem nem me esperar.
- Eu já volto, Nick... – Acenei pra ele e fui atrás de . – Espera por mim!
Mas a menina não me esperou... Pra falar a verdade, ela apressou o passo. Tive que correr para alcançá-la e não fazia idéia de para onde estávamos indo. Por mais que eu pedisse pra ela esperar, a única resposta que eu recebia era ”Vem logo”. A preocupação começava a voltar. Pelo menos eu sabia que não era nada de ruim com os meninos, já que eles deviam estar no terceiro andar e nós duas no quinto.
- Entra aqui! – Me puxou para dentro de uma sala que eu nunca tinha estado antes. Tudo que havia ali dentro era uma mesa, uma cadeira e um notebook.
- Dá pra me falar o que está acontecendo? – Cruzei os braços, começando a me irritar.
- Espera... – Foi para a frente do computador e respirou fundo. – Lembra que você estava procurando um jeito de juntar os meninos em uma banda?
- Lembro sim... – Rolei os olhos. – Mas nenhum pareceu muito fã dessa idéia. Eles não acreditam que podem chegar a algum lugar e blábláblá.
- Eu achei a solução pra esse problema! – Ela virou o notebook na minha direção. – E se der certo... Eles vão acreditar.
- The X Factor? – Perguntei meio céptica. – Não sei se você percebeu, , mas a temporada desse ano já começou e está na metade!
- , dá pra ler o que tá escrito? – Apontou para a tela e eu me rendi.
- “Então você acha que tem o X Factor? Mas por alguma razão não está participando dessa temporada?” – Comecei a ler em voz alta com uma entonação de locutora. – “Essa pode ser a sua chance de se apresentar no palco do X Factor, na frente de milhões de pessoas. Acesse o site abaixo e se informe.” O que é isso?
- É um concurso, ... – Explicou o óbvio e virou o computador mais uma vez de frente pra ela. – Quem quiser participar deve mandar um vídeo cantando ou algo do tipo pra lá... Os cinco melhores vão ser escolhidos pela produção e passar para a segunda etapa.
- E qual é a segunda etapa? – Perguntei, começando a me interessar.
- Agora vem a parte interessante! – Ela sorriu. – Na segunda etapa, é o público que vai escolher entre esses cinco melhores. Escuta isso: “Concorra pela oportunidade de se apresentar na final Ao Vivo do X Factor, com direito à photoshoot profissional, entrevista para a Teen Vogue uk.com e uma chance única na carreira de qualquer um.” E não são só artistas solo que podem concorrer... Grupos estão incluídos também!
- Isso é ótimo, ... Mas você acha que eles vão aceitar gravar esse vídeo? – Sentei na beira da mesa. – Você viu como eles reagiram quando a gente tocou nesse assunto de boyband.
- Eles ainda estão com a mente fechada, achando que as boybands de hoje ainda são como as de antigamente, onde todos dançam em sincronia e são famosos pela aparência. – Explicou. E devia ter razão, porque até eu mesma tinha essa mesma idéia em mente. – Mas eles tem que ver que não é mais assim. E isso só vai acontecer quando ganharem esse concurso.
- Você está certa. – Sorri, já imaginando os cinco se apresentando na frente de todas aquelas pessoas...
- O único problema é o que você já falou, eles aceitarem gravar o vídeo.
- Eu já sei! – Saltei da mesa e comecei a andar de um lado para o outro, pensativa. – Os meninos não precisam saber que estão participando do concurso. Quero dizer, nós podemos gravar esse vídeo e mandar pra lá... Se eles passarem para a segunda etapa, vão ver que nós estávamos certas o tempo todo...
- Isso é genial! – Ficou me observando andar de um lado para o outro. – Mas não seria obrigá-los a ficar juntos?
- Não estamos obrigando... Estamos acreditando neles. – Parei de caminhar e olhei para . – Já até sei onde vamos gravar esse vídeo sem que eles achem estranho.
- No Pub. – Ela leu meus pensamentos.
- Na noite de karaokê!
- A próxima noite de karaokê é amanhã... O que acha? – voltou a mexer no computador.
- Amanhã eu vou conhecer a minha sogra... – Senti aquele frio na barriga voltar. – E agora tenho que voltar para o ensaio. A gente se fala mais tarde, ok?
Capítulo XXXII
A pouca luz que entrava pela janela da cozinha me serviu de aviso; eu já não tinha tanto tempo a perder. Havia combinado com Zayn de chegar a casa dele pouco antes das oito horas e ainda tinha que tomar banho, me arrumar e blábláblá. Não digo que eu estava atrasada, mas poderia estar mais adiantada que aquilo. O que prejudicou o cronograma que eu havia criado foi a minha ideia totalmente em cima da hora de cozinhar alguma sobremesa para levar ao jantar. Não me senti bem em dar tanto trabalho para Patricia, então era o mínimo que eu poderia fazer. Como a minha avó sempre tinha as melhores receitas, resolvi ligar pra ela e pedir socorro. Claro que ela me ajudou e me passou a receita de um Cheesecake de morango e creme. Não era a minha torta preferida, mas ainda era muito gostosa. Harry havia se oferecido para trazer uma torta pronta da padaria em que trabalhava, ou ao menos me ajudar a cozinhar em casa, mas eu não aceitei. Queria fazer tudo sozinha, queria agradar a minha sogra de qualquer jeito e queria que ela gostasse de mim. Isso não é algo tão incomum, certo?
De qualquer forma, a minha torta estava quase pronta e eu poderia retirá-la do forno em alguns minutos. Enquanto esperava o timer apitar, comecei a fatiar alguns morangos que usaria para decorar. Eu estava cansada, pois passara o dia inteiro na cozinha, mas a minha motivação era grande. Mais uma vez o meu perfeccionismo gritava e eu queria acertar até os mínimos detalhes.
- ? – Lou apareceu na bancada americana. – Tudo bem por aí?
- Tudo sim. – Sorri. – Ainda não coloquei fogo na cozinha!
- Fico feliz com isso! – Riu e tentou pegar um pedacinho de morango recém cortado, mas o tapa que dei em sua mão o fez recuar. – Oucth!
- Não é pra você, Louis! – Reclamei. – Mas sobrou um pouco de massa da receita e está guardada na geladeira. Depois você pede pro Harry colocar no forno, ok?
- Eu sabia que você não esqueceria dos amigos. – Sorriu abertamente e puxou o meu rosto para deixar um beijo na minha bochecha. – Aliás, você está toda suja de farinha...
- Sei disso! – Ri desejando ver a minha cara. – Mas eu vou tomar banho logo.
- Ainda está nervosa? – Observava as minhas mãos cuidadosas partindo os morangos em três pedaços.
- É tão óbvio assim? – Sorri em uma tentativa de passar confiança, mas não adiantou.
- É bem óbvio. – Concordou com um balanço de cabeça. – Mas vai dar tudo certo, . Ela seria louca se não gostasse de você.
- Se você diz, né? – Peguei os morangos partidos e os coloquei em um prato de vidro. – falou que ela é legal, então eu vou tentar ser positiva.
- Isso mesmo, . – Ele deu a volta na bancada americana e entrou na cozinha, indo até a geladeira e procurando algo.
O cronômetro em formato de pinguim começou a pular em cima da bancada de mármore da pia avisando que a torta estava pronta. Dei um tapinha no timer e peguei duas daquelas luvinhas que suportam o calor e abri o forno, tirando a torta de lá com todo cuidado do mundo. Tudo que eu não precisava naquele momento era uma queimadura. Antes que eu pudesse desenformar a sobremesa, teria que deixar esfriar por uns minutos. Louis pegou uma garrafa de água e começou a beber, rindo da minha vontade de fazer tudo perfeitamente.
- Vamos para a sala? – Meu irmão me chamou. Como eu não tinha nada pra fazer durante algum tempo, concordei.
- Tem algum filme passando? – Saímos da cozinha lado a lado em direção à sala.
- Descobriremos isso agora. – Ele chegou ao sofá primeiro e se jogou lá, tomando a maior parte do espaço.
- Essa aqui é a escada... – Escutei a voz de Liam e me virei na direção do hall de entrada. Ele trazia o notebook dele nos braços e falava com a tela. Assim que entrou no cômodo em que eu e Lou estávamos, virou o computador na nossa direção. – Essa aqui é a nossa sala.
- E quem é essa bela jovem? – Uma voz veio do notebook e eu deduzi que ele estava no Skype.
- Pai! – Liam o repreendeu, balançando a cabeça. Eu acabei sorrindo e fiquei esperando as apresentações. – Essa é a . , esse é o meu pai...
- Muito prazer, senhor Payne! – Me aproximei de Liam e acenei para a tela. – Parabéns por ter criado um filho tão bom quanto o Li.
- Ouviu isso, pai? Eu disse que estava me comportando! – Foi até o sofá e se sentou, colocando o computador na mesinha de centro. Pelo menos Louis havia se tocado e dado um espaço para outras pessoas se acomodarem.
- O prazer é meu, ! – O senhor quase careca sorriu e ignorou o filho. – Mas não se deixe enganar pela aparência de bom moço... Qualquer coisa é só me avisar que eu mesmo vou aí e busco ele de volta.
- Pode deixar, senhor Payne. – Ri e me juntei aos meninos no sofá. Abracei Liam pelo pescoço e continuei: - Mas agora o Liam é nosso, então ele vai ter que ficar aqui pra sempre.
- Isso mesmo. – O menino concordou e me olhou com um sorriso bobo.
- Oi, eu sou o Louis! – Lou puxou o computador na própria direção e se apresentou. – Sou irmão da e também moro aqui.
- Prazer em conhecê-lo, Louis. – Respondeu simpático e eu soltei Liam, limpando um pouco de farinha que tinha caído em sua camiseta. – Então vocês três moram aí?
- Na verdade somos quatro... – Liam enquadrou o notebook de forma que nós três estivéssemos aparecendo. – Ainda falta o Harry, pai. Ele vai terminar de se mudar pra cá até domingo.
- Vocês devem fazer uma bagunça enorme aí. – Sr. Payne gargalhou e eu o acompanhei.
- Mas assim que é bom! – Respondi.
- E eu que achei que você era quem colocava ordem nesses marmanjos, ... – Se fez de desapontado, mas logo sorriu.
- Ela até tenta! – Louis bagunçou os meus cabelos e eu só não bati nele porque estávamos na frente de “visitas”.
- A é a nossa pequena. – Liam me olhou pelo reflexo da tela e eu corei.
- Sou a mascote! – Entrei na brincadeira, mas me preparei pra levantar. – Com licença, mas eu tenho que ir terminar a torta... Até logo, senhor Payne!
- E ainda por cima cozinha? – Acenou para mim. – Até!
Saí da sala enquanto escutava Liam sussurrando: “Obrigado por não me matar de vergonha, pai”, mas não escutei a resposta. Aquele devia ser o dia oficial de conhecer pais, era a única alternativa. Admito que fiquei imaginando se Liam tinha criado toda aquela história de mostrar a casa para o pai só pra que eu pudesse conhecê-lo antes de conhecer a família de Zayn. O pouco de experiência que eu tinha me levou a aprender que Liam gosta de “ser o primeiro”.
Foi com aquele pensamento martelando na minha cabeça que eu entrei na cozinha e fui direto até o cheesecake. Aparentemente ele tinha se firmado direitinho e estava solto na forma. Verifiquei se estava morno o suficiente e o virei em cima de um prato de porcelana bem delicado. Eu torcia para que estivesse gostoso, mas bonito eu sabia que estava. O resultado final se dividiu em três camadas: O biscoito na parte de baixo, creme de morango no meio e por cima o creme de queijo. Peguei os morangos partidos e os arrumei no topo da torta; um maior no meio e outros pequeninos ao redor, formando um desenho. Sorri com a minha própria criação e a coloquei na geladeira. A deixaria ali dentro até a minha hora de sair.
Aparentemente o meu trabalho de mestre cuca estava encerrado, então eu poderia começar a minha arrumação. Soltei os cabelos durante o meu caminho para fora da cozinha e sala de jantar, passando rapidamente por onde os meninos estavam só para avisar que estava indo tomar banho e ninguém devia mexer na minha torta. Eles até que poderiam tentar, mas enfrentariam a minha fúria terrível.
Eu demorei tanto naquele banho que desconfiei ter acabado com a água do mundo. Dramas a parte, eu precisei lavar meus cabelos pelo menos duas vezes para ter certeza que não restava mais farinha alguma escondida por ali. Também passei o sabonete pelo corpo inteiro até ficar completamente limpa. Era incrível o quanto eu me sentia mais leve depois do banho. Saí do banheiro enrolada no meu roupão branco e felpudo e fui direto para o closet, torcendo não demorar muito para encontrar uma roupa apropriada.
E de fato não demorei, já que o primeiro vestido em que eu bati o olho foi o escolhido. Parecia coisa do destino, pois eu só havia usado-o uma vez ou outra e geralmente deixava-o no fundo do closet. Como a noite estava esfriando, também escolhi um sweater branco e sapatos fechados que combinavam com a bolsa que eu usaria. Carreguei as peças para fora daquele pseudo-quartinho e coloquei-as direitinho na minha cama.
“Muito bem, ! Vamos com calma, uma coisa de cada vez!” Respirei fundo, fazendo de tudo para manter a tranquilidade. Voltei para o banheiro e já peguei o secador de cabelos e uma escova redonda. Eu nunca fiz essas coisas de conhecer a família do namorado antes, por isso não sabia se existia alguma regra ou coisa parecida. Não sabia se devia ir de cabelo solto, armado, em rabo de cavalo... E também tinha vergonha demais para perguntar uma bobeira daquela para . Acabei decidindo fazer um coque meio desarrumado, pois era simples, fácil de fazer e bem elegante. Deixei o secador de lado assim que tirei a maior parte da umidade dos meus fios castanhos e os prendi com alguns grampos de cabelo. Consegui deixá-los arrumados e ao mesmo tempo descontraídos. Cabelo: Check!
A segunda e terceira parte da arrumação foi bem rápida. Apenas passei a maquiagem clara, como de costume, e entrei nas roupas. “Viu? Foi fácil! Você está pronta!” Continuei a minha discussão interna ao caminhar até a frente do espelho. “Por favor, não faça nada pra nos envergonhar...” Falei para o meu reflexo e agradeci por ninguém estar me vendo. Com certeza me achariam louca e já bastava eu mesma achando aquilo. Dei uma voltinha sem sair do lugar pra ter certeza que estava... Perfeita. Quantas vezes já falei essa palavra? Muitas. Mas a perfeição era o que eu estava tentando alcançar, mesmo sabendo que não estava nem perto disso.
- É hora de ir... – Falei em voz alta pela primeira vez e voltei para o quarto.
Sentei na ponta da cama e calcei os sapatos. Salto não é a escolha mais sensata para uma pessoa tão estabanada quanto eu, principalmente quando fico nervosa, mas ainda assim foi a minha. Pensei em usar uma sandália baixa, mas não surtiria o mesmo efeito. Vamos concordar que um sapato de salto dá um ar de elegância, de mulher. Eu só teria que torcer para não tropeçar e acabar derrubando o cheesecake...
Estacionei o carro no fim da rua sem saída da casa de Zayn. O lado de dentro da residência estava totalmente aceso, inclusive o jardim. Como era a segunda vez que eu dirigia sozinha até lá, não me perdi e não cheguei atrasada. Meu relógio marcava sete horas e quarenta minutos, então eu estava dentro do horário combinado. Olhei para a torta no banco ao meu lado e me senti um pouco mais aliviada por ela estar intacta e linda como o planejado. “E agora? Será que eu vou até lá e toco a campainha?” Eu odiava não saber o que fazer, então decidi pegar o celular e mandar uma mensagem para o garoto que estaria me esperando:
“Você quer que eu vá aí te buscar?”
“Sim, por favor!!!!!!!”
Sorri e guardei o celular na minha bolsa. Entrar na casa com Zayn ao meu lado seria bem mais fácil. Desci do carro de uma vez, carregando o cheesecake em uma das mãos. Fiquei esperando na calçada e Zayn não demorou nada para aparecer. Como a fã de moda que eu sempre fui, reparei no que ele estava vestindo: Uma camisa branca de mangas compridas, aquela velha calça skinny preta e Vans azul marinho nos pés. Lindo como sempre. Acho que eu nunca o vira sorrir tanto! Ele praticamente correu ao meu encontro e eu deixei a torta em cima do capô do carro para poder abraçá-lo. Zayn passou os braços em volta da minha cintura e me apertou.
- Baby! Oi pra você também. – Sorri e Zayn nem me respondeu. Colou os lábios nos meus a primeira chance que teve e eu retribuí àquele beijo cheio de saudade.
- Oi, . – Sussurrou nos meus lábios assim que separou o beijo. – Como você está?
- Um pouco nervosa, mas bem... E você? – Passei as mãos pelos cabelos negros e macios do rapaz.
- Ansioso! – Respondeu. – Todas estão loucas pra te conhecer!
- Então vamos logo! – Tive que sorrir. Zayn estava tão animado para me apresentar à sua família... Aquilo deveria significar muito pra ele, então decidi me animar também. Eu queria deixá-lo orgulhoso de mim, orgulhoso de ser o meu namorado. – Eu trouxe uma sobremesa...
- Isso é cheescake? – Apontou para a minha torta assim que eu a peguei de cima do capô.
- É sim! Você gosta?
- Eu adoro! – Sorriu e pegou o cheesecake com uma mão, entrelaçando nossos dedos com a outra. – Você com certeza vai ganhar pontos com isso.
- Então eu preciso de pontos? – Me fiz de ofendida.
- Claro que não. – Riu ao pararmos na porta de entrada que já estava aberta. – Pronta?
- Acho que sim... – Apertei a mão dele com um pouco de força e ele a acariciou com o polegar.
Atravessamos a casa até chegarmos à sala, onde as quatro mulheres nos esperavam. Elas estavam sentadas no sofá principal lado a lado, mas se levantaram assim que nos viram. Eu senti um frio na barriga enorme, mas o sorriso que recebi de todas foi tão acolhedor que eu comecei a achar que não seria tão ruim quanto eu imaginava. A primeira que eu vi foi Patricia, a mãe de Zayn. Ela não era nem tão alta e nem tão baixa; mais ou menos da minha altura. O que eu achei mais legal é que ela tinha um piercing de argola no nariz. Em seguida, olhei para as outras três meninas: A mais alta, que deveria ser a mais velha, ria na direção do irmão. A mais nova, que eu lembrava se chamar Safaa, era a que mais sorria pra mim. A última estava parada na ponta, meio quieta, mas também parecia alegre.
- Bem vinda, ! – Patricia foi a primeira a se aproximar e Zayn soltou a minha mão para que eu pudesse abraçá-la.
- Muito obrigada, Patricia. – Me surpreendi por não ter gaguejado. – É um prazer.
- O prazer é todo nosso, querida. – Sorriu e separou o abraço. – E me chame de Trisha.
- Tudo bem! – Sorri e olhei para a pequena garota que se aproximou em seguida. – Você deve ser a Safaa, certo?
- Isso mesmo. – Respondeu meio tímida. – Você é muito bonita.
- Obrigada, pequena... – Sorri lisonjeada, ignorando a possibilidade de Zayn ter subornado-a a falar aquilo, e me abaixei um pouco para poder abraçá-la. – Você também!
- E eu nem precisei pedir pra ela falar isso. – Zayn riu atrás de nós.
- Hey. – A mais quieta também veio me abraçar, mas não se demorou muito. – Meu nome e Waliyha.
- Prazer em conhecê-la! – Fui bem simpática, mesmo achando que ela não tinha ido com a minha cara.
- Ela é assim mesmo... – Zayn cochichou ao meu pé do ouvido, lendo os meus pensamentos. Apenas o olhei e sorri como quem diz: “Não tem problema.”
- Finalmente o Zayn trouxe alguém pra casa! Nós estávamos começando a ficar preocupadas. – A mais velha tirou uma com a cara dele e eu não agüentei não rir do seu tom de deboche. – Se é que me entende.
- Entendo sim. – Pisquei com cumplicidade e nos abraçamos. A garota de cabelos escuros era mais velha que eu, mas me senti a vontade falando com ela. – Doniya, né?
- Isso mesmo, . – Sorriu, já me chamando pelo apelido.
- Ahh, eu trouxe uma sobremesa pra vocês. – Apontei para o cheesecake que Zayn ainda segurava. – Zayn me contou de todo o trabalho que eu causei, então era o mínimo que eu podia fazer.
- Você não causou trabalho nenhum! – Trisha olhou para Zayn de cara feia. – Parece deliciosa! Onde você a comprou?
- Na verdade, fui eu que fiz. – Sorri enquanto as outras andavam de volta para o sofá e as segui.
- Que menina prendada! – A mais velha me fez sentar ao lado dela.
- Essa daí é pra casar. – Doniya brincou.
- Eu sei. – Zayn sorriu e piscou pra mim, fazendo-me rir.
- Filho, porque você não vai colocar a torta na geladeira? Nós não vamos fazer nada com a sua namorada, não se preocupe. – Patricia pediu e Zayn fez uma careta de tédio. Assim que ele se foi, a mulher se virou pra mim. – Ele está com medo que a gente conte alguma coisa embaraçosa sobre ele.
- Como do dia que ele foi para a escola com o fundo da calça rasgada, mas só percebeu quando chegou em casa. – A irmã mais velha riu e eu senti pena dele, mas acabei rindo também.
- Tadinho! – Levei uma mão até a boca, tentando parar de rir ao ver que o dito cujo estava retornando.
- Sabia que ele costumava fazer montagens no photoshop? – Foi a vez de Waliyha falar alguma coisa. – Pra fingir que ele conhecia a Megan Fox.
- Mas nenhuma ficou muito boa... – Doniya falou pensativa.
- EI! – Zayn sentou-se ao meu lado e quase matou as irmãs com o olhar. – Nós já conversamos sobre isso!
- Ahh, Zayn, qual é? É nossa obrigação como irmãs!
- Muuuuuum! – O menino choramingou para a mãe e eu ri mais uma vez.
- Ele tem razão, meninas. Parem! – Trisha o defendeu e as duas iriam começar a resmungar, mas preferiram levantar e cada uma foi para um canto.
- Bem melhor assim. – Zayn passou um braço em volta dos meus ombros. Safaa era a única irmã que continuava na sala, mas ela não estava sentada no sofá; apenas olhava pra mim de longe.
- O que houve, pequena? – Perguntei a ela com um sorriso.
- Nada... – Respondeu, mas andou até Zayn e sussurrou algo em seu ouvido.
- Há algo errado, filha?
- Ela quer sentar ao lado da . – Zayn riu baixo e a menor parecia envergonhada.
- Senta aqui, Safaa! – Me afastei um pouco de Zayn para que a menina pudesse se sentar entre nós dois. Assim fiquei entre a menininha e Trisha.
- Obrigada. – Se acomodou no sofá.
- Seus olhos são lindos sabia? – Elogiei-a e ganhei um sorriso enorme em troca.
- São iguais aos seus! – A pequena apontou para o meu rosto.
- Nós duas temos olhos azuis, mas os seus são bem mais lindos. São grandes... – Gesticulei bastante. Sempre fui boa com crianças e naquele momento não estava sendo diferente. – Não concorda, Zayn?
- Eu concordo que as duas tem olhos lindos e azul é a minha cor preferida. – Deu a resposta mais diplomática possível e eu ri.
Patricia logo se levantou e foi para a cozinha terminar o jantar. Eu me ofereci para ajudar, mas Safaa não deixou. Ela parecia ter gostado bastante de mim e eu não a culpava. Era a mais nova de três irmãos que eram bem mais velhos que ela, já que tinha apenas nove anos de idade. Como eu tinha Lux, estava acostumada a lidar com crianças e as adorava. Prova disso foi o amiguinho que fiz na fila do carrossel no Winter Wonderland. Diferente das outras duas garotas, aquela dali não tentava me contar histórias embaraçosas sobre Zayn, o que o deixou bem aliviado.
Nós conversamos sobre escola, ballet, brinquedos, filmes, programas de televisão e coisas do tipo. Zayn era um irmão muito bom, pois sempre estava elogiando a pequena e a fazendo rir. Isso me fez começar a pensar que ele seria um ótimo pai, mas eu logo calei a minha consciência. Doniya voltou para sala enquanto o assunto da vez era o nascimento da boneca de Safaa e eu notei pela primeira vez a blusa que ela estava vestindo. Nada mais e nada menos do que uma blusa estampada com a capa do último CD do McFly. Como a boa fangirl que sou, quase gritei na mesma hora. Meu queixo caiu levemente e eu sustentei um sorriso enorme.
- Galaxy Defender? – Foi o que eu perguntei e, ao ouvir aquelas palavras, Doniya também sorriu do mesmo jeito que eu.
- Você também? – Perguntou animada.
- SIM! – Respondi um pouco mais alto do que deveria, mas nem me importei.
- Lá vamos nós. – Zayn reclamou com tédio, rolando os olhos.
- Por que você não me contou que a sua irmã gosta de McFly, Malik?
- Ele é um imprestável! – Doniya já foi se sentando no sofá em frente ao nosso. – Você também é da época de 5 Colors?
- Com certeza! – Poderia falar sobre aquele assunto eternamente. – Eu sinto muita falta de quando eles eram losers e quase ninguém conhecia...
- Eu também! Eles mudaram bastante nos últimos anos e acho que muita gente ia concordar conosco. – Suspirou. – Eu tenho algumas amigas que até deixaram de gostar deles por causa disso.
- Admito que não sou apaixonada pelas novas músicas... Mas ainda é o McFly! Nós vimos aqueles meninos crescerem!
- É o que eu sempre falo! – Sorriu. – Você já os conheceu pessoalmente?
- Vem, Safaa, vamos ajudar a mum. – Zayn levantou e puxou a irmã mais nova pela mão.
- Vai lá, baby. – Acenei pra ele e logo voltei a minha atenção para a outra. – Só nos meus sonhos, Doniya! Já fui em shows, mas nunca cheguei a conhecer nenhum...
- Me chame de Dony, ! – Falou com uma risada. – Aqui em Londres é bem fácil encontrar com eles...
- Você já os encontrou? – Arregalei os olhos. – Eu não sei como reagiria se estivesse saindo de uma Starbucks e esbarrasse no Tom!
- Ele é um bobão, então provavelmente te faria rir! Tenho uma lista de Starbucks que ele geralmente frequenta... Nós podemos ir a procura dele algum dia. – Aquele era um convite? Eu torcia para que fosse.
- Daremos uma de stalkers? – Ri, mas estava realmente animada com aquela idéia.
- Se você quer chamar assim... – Também riu. – Nunca encontrei ninguém que quisesse fazer isso comigo.
- Agora você achou! – O pior de não ser amiga de nenhuma outra Galaxy Defender era não poder falar sobre a sua banda preferida ou fazer coisas que a envolvessem, como sair pela cidade à procura dos seus ídolos. Aparentemente eu havia encontrado uma companheira para fazer essas coisas e estava bem contente.
- Meninas... – A mãe de Zayn voltou para onde estávamos. – Depois vocês continuam a conversa, mas agora venham jantar.
Mais uma vez aquele sorriso convidativo estava no rosto dela e eu logo levantei ao lado de Dony. A menina passou o braço pelo meu e me guiou até a sala de jantar. Sem enfeites para festas e sem dezenas de pessoas a casa inteira ficava bem diferente e eu até que preferia assim. A família de Zayn era muito legal e eu não sei porque estava tão nervosa antes. Safaa era uma fofa, Dony e eu nos identificamos de cara e Trisha era mesmo tudo que havia falado. A única que ainda estava meio distante era Waliyha, mas ela não chegava a me tratar mal. Devia apenas ser o jeito quieto dela.
A mesa estava posta e bem arrumada. Eu não poderia esperar por um jantar mais britânico, pois o que vi foram: Batatas assadas, feijão branco, peixe frito, linguiça de frango e salada. Para qualquer pessoa que não fosse de lá, aquele jantar seria no mínimo diferente. Eu não estava acostumada com aquela combinação de comida, mas estava disposta a dar uma chance e provar de tudo. A Inglaterra e a França tem muitas coisas em comum, mas a culinária é definitivamente um ponto de diferença. Enquanto os franceses são mais sofisticados, os ingleses tem como prato típico o “fish’n chips”, que se trata apenas de peixe frito e batata frita. Eu não estava nem louca de reclamar, já que Trisha parecia ter perdido muito tempo apenas para me preparar aquela refeição, então eu seria bem agradecida.
Zayn puxou a cadeira para que eu sentasse e ele mesmo ocupou o meu lado direito. Patricia sentou-se na minha frente e Doniya ao lado dela. Safaa sentou na ponta da mesa do meu outro lado e Waliyha a ponta oposta. Todos começaram a se servir e eu fiz o mesmo, meio que sem saber por onde começar. Preferi observar Zayn fazer o seu prato primeiro e eu acabei imitando-o, porém coloquei bem menos comida. Não é que eu não estivesse com fome, mas não seria educado me servir com uma montanha de comida no primeiro jantar na casa do meu namorado.
- Então, ... – Patricia começava a puxar um assunto. – Zayn me disse que você é da França.
- Nascida e criada! – Respondi após engolir um pedaço de batata. – Minha família por parte de mãe é francesa e inglesa por parte de pai, então acho que sou uma mistura dos dois.
- É uma mistura perfeita. – Zayn falou e eu senti o rosto esquentar.
- Awn. – Dony comentou e eu ri baixo. – Meu irmãozinho está apaixonado!
- Eu tenho que falar, ... Nunca vi Zayn assim. – A mãe dele sorria. – Ele parece outra pessoa ultimamente. Você faz muito bem pra ele.
- Zayn é um garoto maravilhoso, Trisha. – Segurei a mão dele por baixo da mesa. – Então pra falar a verdade, é ele que me faz bem.
- Ahh, isso me lembra que eu quero te mostrar uma coisa após o jantar! – Falou, levando uma garfada de comida até a boca em seguida.
- Mum, o que você quer mostrar? – Zayn ficou nervoso ao meu lado.
- São só alguns álbuns de quando você era pequeno, filho.
- Não, não, não! – Reclamou e eu ri.
- Eu vou adorar vê-los! – Concordei e Zayn me olhou com uma careta. – Que foi, baby? Deixa eu ver como você era pequeno...
- É a primeira vez que eu conheço uma namorada do meu filho, então me deixe fazer essas coisas de mãe. – Pelo visto Zayn não teria escapatória.
- Só prometa que não vai me envergonhar... – Choramingou.
- Irmãozinho, você já pediu isso antes... – Doniya balançou a cabeça. – E não funcionou.
- , essa é a última vez que eu te trago aqui, ok? – Zayn levou a mão aos olhos, frustrado.
- Por queeeeê? Eu gostei da sua família! – Fiz um bico.
- Não se preocupa, , você ainda vai vir muito aqui. – A irmã mais velha me olhou. – Temos muito o que conversar sobre os McGuys.
- Isso mesmo! – Sorri animada. – E temos que perseguir o Tom!
- Como é que é? – Senti Zayn ficar sério ao meu lado.
- Tom Fletcher... O loirinho do McFly. O que tem a covinha fofa... – Provoquei.
- Eu sei quem é Tom Fletcher. – Fez uma careta enciumado.
Todos que estavam na mesa riram daquele ataque de ciúmes, menos o enciumado, é claro. Continuamos com o jantar tranquilamente. Fui bem interrogada, se é que posso comentar. Trisha queria saber sobre a minha família, meus planos para o futuro, meus gostos e desgostos... Não me senti mal em responder, pois ela só estava querendo me conhecer. Eu elogiei bastante a comida e falei a verdade quando disse que aquele era o melhor feijão branco que eu já havia comido. Todo estranhamento que tive no começo foi embora assim que eu comecei a comer. Até mesmo cheguei a repetir o prato!
- Espero que tenham guardado espaço para a sobremesa... – Patricia entrou na sala de jantar com o meu cheesecake em mãos. – Porque eu estou louca pra provar essa torta que a minha nora fez!
- Eba! – Safaa comemorou.
- Eu espero que esteja boa... – Sussurrei nervosa.
- Eu tenho certeza que está. – Zayn beijou a minha bochecha e eu olhei pra ele com um sorriso.
Trisha foi quem partiu a torta e serviu uma fatia generosa a todos. Modéstia a parte... O cheesecake estava maravilhoso! Assim que dei a primeira garfada só faltei fechar os olhos e suspirar, porque o sabor estava divino. A parte de baixo estava bem crocante, o meio cremoso e a parte de cima melhor ainda... À medida que as meninas iam provando, iam fazendo elogios e até mesmo pedindo a receita. Eu falei que teria que pedir à minha avó, já que a receita era dela, mas provavelmente não teria problema algum.
No final da sobremesa eu tentei ajudar a dona da casa a levar os pratos sujos para a cozinha e lavá-los, mas ela não permitiu. Apenas pediu para que eu voltasse para a sala aguardasse enquanto ela arrumava tudo. Waliyha e Safaa foram os seus respectivos quartos e Dony avisou que iria procurar os tais álbuns que eu iria ver. Ou seja: Eu e Zayn ficamos sozinhos. Ele me abraçou de lado e caminhamos até onde nos foi indicado e o menino se jogou no sofá, me puxando para o lado dele.
- Baby, cadê o Boris? – Perguntei sobre o sharpei que eu não havia visto ainda. – Estou com saudade dele!
- Ele está no meu quarto... – Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e passou o polegar pela minha bochecha. – Mas sabe do que eu estou com saudade?
- Não sei... – Sussurrei com sorriso sapeca nos lábios.
A aproximação do rosto dele me deu a entender exatamente do que ele tinha saudades. Não que eu ainda tivesse alguma dúvida, mas enfim. Fechei os olhos assim que pude sentir a respiração quente dele batendo em meu rosto e o segurei levemente pela nuca. Nossos lábios se tocaram e foram entreabertos no mesmo instante. Não demoramos nada para chocarmos uma língua contra a outra e darmos início a mais um daqueles beijos apaixonados. O frio em minha barriga não demorou a aparecer e eu acabei sorrindo quando tive meu lábio inferior mordiscado. Deslizei os dedos entre os fios negros do cabelo de Zayn e os puxei de leve, também recebendo um sorriso em troca. Eu estava tão perdida com todas aquelas caricias que não escutei quando mais alguém se aproximou e sentou ao meu lado.
- Sem querer atrapalhar... – Era Patricia.
- Mon Dieu! – A voz da minha sogra tão próxima assim me assustou e por isso eu acabei interrompendo o beijo de uma vez. – Desculpa... Eu não sabia que você estava aqui...
- Não precisa ficar assim, querida. – Ela riu e isso só serviu pra me deixar mais vermelha ainda.
- Não podia ser um pouco menos inconveniente, mum? – Zayn passou a mão pelos cabelos, obviamente irritado com a interrupção. – Nós estávamos aproveitando!
- Malik! – O reprimi. E isso lá era coisa de se falar para a mãe?
- Depois vocês aproveitam mais. – Piscou. – A Dony trouxe o álbum que eu falei!
- Eba! – Sorri e me inclinei na direção da minha sogra pra poder olhar as fotografias.
Zayn resmungou algo ao meu lado, mas já estava bem mais conformado do que antes. Trisha me passou o álbum grosso e de aparência antiga para que eu mesma pudesse passar as páginas. Eu sorri ao imaginar o que poderia estar ali dentro, preparando-me para a fofura que eu estava prestes a ver. Abri o “livro” e já me deparei com um baby-Zayn super lindo e sorridente. Parecia que ele tinha entre 5-6 anos e estava naqueles estúdios fotográficos onde a mãe leva os filhos só pra poder se gabar do quanto são lindos.
- Que coisinha mais linda! – Falei com a voz mais fina que o normal, ainda babando por aquela foto. – Eu não sabia que você era tão fofo!
- Eu ainda sou fofo! – Fez um biquinho e passou o braço em volta dos meus ombros.
- É sim! – Ri e passei a página para olhar a outra foto.
- Tiramos essa foto no aniversário de cinco anos! – Trisha sorriu e passou a página. – E esse aí é o pai dele...
- Zayn tem os olhos dele... – Aquela página era cheia de fotos de Zayn ao lado do pai e os dois estavam sorrindo em todas. Acho que a foto que eu mais gostei era uma que o bebê estava em uma cadeirinha e o pai brincava com o pezinho dele.
- Acho engraçado você ter falado dos olhos deles... – Suspirou com pesar. – Foram esses olhos que fizeram eu me apaixonar.
- Eu te entendo. – Nem pensei no que estava falando e mudei a minha atenção para Zayn, que sorria pra mim.
Mudamos para a próxima foto e mais outra e outra e outra... E eu que achava que Zayn não podia ser mais fofo! Minhas bochechas até começaram a doer do tanto que eu ri e sorri. Algumas fotos eram bem fofas, como a foto em que ele estava com uma chupeta na boca e dormia tranquilamente no colo da mãe, por exemplo. Outras eram bem engraçadas e ele fazia caretas ou estava vestido com roupas de alguma irmã. Não foi tão embaraçoso quanto Zayn achava que seria e eu adorei cada imagem e cada coisa que a mãe dele falava. Era incrível o quanto eu já estava me sentindo em casa e a vontade para conversar com a pessoa que eu estava super nervosa para conhecer. Acabei falando mais um pouco de mim e da minha infância, inclusive como foi quando meus pais se separaram e perderam total contato. Trisha me explicou que quando ela e Yaser (o pai de todos os quatro filhos dela) se separaram, tudo ocorreu da forma mais pacifica possível e que eles se falavam toda semana, por mais que ele morasse em Bradford.
O álbum chegou ao fim e antes que ela quisesse me mostrar a coleção de filmes caseiros que tinha guardada, Zayn falou que eu estava com saudades do cachorro e por isso subiríamos para o quarto dele. Aquilo não era mentira, até porque eu havia perguntado sobre o animal, mas algo me dizia que a intenção do menino não era tão pura assim. Como o instinto de mãe sempre fala mais alto, Patricia também sabia que aquela não era toda a verdade, porém não nos impediu de levantar do sofá. Eu dei uma leve arrumada no meu vestido, torcendo para que não estivesse tão amassado quanto eu achava. Despedi-me brevemente da minha sogra e Zayn me puxou pela mão antes que nós duas pudéssemos começar um novo assunto.
Subimos a escada e passamos pelo caminho que eu já conhecia bem. Zayn abriu a porta do quarto para que eu pudesse entrar primeiro e soltou a minha mão. O quarto estava mais frio do que eu esperava, por isso eu acabei me encolhendo dentro do meu próprio casaco. Diferentemente das outras vezes que eu estivera ali dentro, o cômodo estava bem arrumado; a cama feita e nenhum papel espalhado pela escrivaninha. Corri os olhos pelo lugar inteiro até encontrar uma bolinha preta dormindo em cima do tapete. Eu não iria acordá-lo, mas Zayn assoviou e o bichinho acabou acordando. Assim que me viu, levantou com pressa e correu na minha direção. Eu ri quando ele ficou de pé e apoiou as patas frontais nas minhas coxas.
- Heeeey, buddy! – Fiz cafuné em Boris, que balançou o rabo e latiu em resposta. – Eu também senti sua falta, coisa linda!
- Pode soltar ela, Boris! – Zayn me abraçou por trás e colocou o rosto no meu ombro. – É só minha!
- Eu posso ser um pouco dele também! – Ri e virei o rosto para poder fitá-lo. – Se você é o pai, eu sou pelo menos a madrasta!
- Claro que não pode ser dele “também”. – Fez careta para o cachorro e eu ri mais uma vez daquela possessividade toda.
- Não escuta o que o seu pai esta falando, Boris!
Fiz um pouco mais de carinho no pequeno e ele logo saiu de cima de mim e voltou para o tapete macio. Devia estar com sono, pois logo se encolheu e cobriu os olhos com as patas. Eu achei aquilo tão fofo que soltei mais um “Awwn”. Zayn me soltou e caminhou até a própria cama, tirando os sapatos e se jogando nela.
- Pode ficar a vontade, ... – Ele sorriu. – Sua entrevista já acabou.
- Então isso foi realmente uma entrevista, né? – Balancei a cabeça com a confirmação das minhas suspeitas. Também caminhei até a cama e me sentei na ponta para poder começar a tirar os sapatos. – Achei que só eu estava achando isso!
- Com o interrogatório que a minha mãe te fez... Com certeza foi. – Zayn caminhou de joelhos até o meio da cama e se sentou com as costas apoiadas na cabeceira.
- E como você acha que eu me saí? – Mordi o lábio inferior e fui me juntar a ele, mas acabei ficando deitada ao seu lado.
- Muito bem. – Passou a mão pela minha franja caída, retirando-a dos meus olhos. – Todas gostaram muito de você, babe.
- Eu espero que sim... Estava tão nervosa. – Comecei a brincar com a barra da camisa branca do meu namorado.
- Até fez uma sobremesa! – Gargalhou e eu não entendi a graça.
- Do que você está rindo, seu besta?! – Bufei e ele riu mais ainda.
- Só estava pensando no que eu vou ter que cozinhar quando for conhecer os seus pais.
- Essa eu quero ver! – Foi a minha vez de rir. – Quando for conhecer o meu pai, é melhor preparar um banquete inteirinho!
- Vai ser tão ruim assim? – Pareceu começar a ficar assustado.
- Um pouco. – Gargalhei divertida. – Mas meu pai é bem... Incomum. Vai te encher de perguntas embaraçosas.
- Acho que vou me sair bem. – Sorriu presunçoso, mas mal sabia ele o que o esperava. – Aquela que estava na sua casa é a sua madrasta, né?
- Rachel? É sim! Ela estava louca pra te conhecer... E acho que vai ser mais fácil te apresentar oficialmente a ela do que ao meu pai.
- Eu quero conhecer a Lux. – Ficou todo bobo ao falar da minha irmã mais nova. – Eu lembro de quando te ligou pelo FaceTime e ela estava no seu colo.
- Minha princesa é muito linda, né? Mas também... Com uma mãe que é modelo não poderia ser diferente.
- Eu achei ela bem parecida com você, isso sim. – Tocou o meu queixo e fez uma cara engraçada. – Quero que a nossa filha seja igual a ela.
- Wow, vai com calma, Malik! – Eu sabia que ele estava brincando, mas mesmo assim.
- O que é? – Se fez de sério. – Eu ainda vou casar com você, .
- Aham, tá bem. – Ri. – Eu venho conhecer a sua família e você já fala de casamento?
- Qual o problema nisso?
- Nenhum, nenhum. – Continuei rindo e sentei de joelhos na cama. Seria melhor mudar de assunto. – Agora vamos ao que interessa... Me mostra a música que você escreveu pra mim?
- Não sei do que você está falando. – Deu de ombros, se fazendo de desentendido.
- Sabe sim! – Eu não desistiria. – Você disse que escreveu uma música pra mim quando eu e a fomos assistir uma aula sua!
- Ahhh, sei! Eu perdi aquela música. – Mentiu.
- Claro que não, Malik! – O balancei pela perna, parecendo uma criancinha querendo alguma coisa. – Me mostra logo!
- Não é pedindo assim que você vai conseguir me convencer. – Zayn, por sua vez, parecia um adulto que não queria me mimar.
Rolei os olhos. Pelo visto teria que usar outras armas para conseguir o que eu queria. Armas que todas as mulheres usam para conseguirem o que querem. Eu fiz a maior cara de inocente que consegui e Zayn levantou uma das sobrancelhas, desconfiado. Fui engatinhando ate onde ele estava e sentei-me sobre as pernas dele. Automaticamente ele colocou as mãos na minha cintura e ficou me olhando com um sorriso que dizia: “Quero só ver o que você vai fazer.” E realmente iria ver... E sentir. Passei as mãos por entre os cabelos dele – coisa que eu adorava fazer – e aproximei o rosto do dele. Comecei a dar pequenas sugadas nos seus lábios rosados, mas antes que ele me beijasse eu escorreguei os lábios até o queixo do mesmo. Observei-o fechar os olhos enquanto eu distribuí mordidinhas pela extensão do maxilar e fui me aproximando cada vez mais do pescoço. Deixei a minha respiração bater na orelha direita de Zayn e suspirei baixinho, roçando os dentes pelo lóbulo. Minhas mãos ágeis trabalhavam por um caminho que subia e descia pelos braços dele, usando as unhas ora ou outra. Senti que ele estremeceu.
- E pedindo assim, huh? – Sussurrei. Não demorei muito para arrastar os lábios pelo pescoço dele e distribuir alguns beijos molhados.
- Hm... – Suspirou e me apertou na cintura com certa força. – Assim você consegue tudo...
- Então canta pra mim... – Olhei pra ele mais uma vez e sorri com o que conseguira. Acabei saindo de cima dele e me sentei na sua frente.
- Ainda não está completamente pronta, ok? – Perguntou e limpou a garganta, preparando-se.
- Tudo bem! – Sorri com curiosidade.
- Her eyes, her eyes, make the stars look like they’re not shining. (Os olhos dela, os olhos dela, fazem as estrelas parecer que não tem brilho) Her hair, her hair, falls perfectly without her trying… (Os cabelos dela, os cabelos dela recai perfeitamente sem ela ter que fazer nada) - Zayn começou a cantar e eu rolei os olhos. Por mais que a voz dele estivesse linda, aquela música não era dele. – She is so beautiful, and I tell her everyday... (Ela é tão linda, e eu falo isso pra ela todos os dias)
- Baby! – O interrompi e joguei um travesseiro nele. – Não sabia que o seu nome é Bruno Mars!
- Ele é que roubou essa música de mim! – Riu jogando a cabeça pra trás e eu o olhei com repreensão. – Tá bem, você venceu! Mas vamos fazer isso direito, então.
Eu assenti como se fosse o que eu estava falando desde o começo, mas ele não me escutava! Observei Zayn levantar da cama e ir pegar algo dentro do guarda-roupa. Eu ocupei o lugar que ele estivera e encostei-me à cabeceira, fazendo ‘pernas de índio’. O menino não demorou muito para retornar com um violão claro nas mãos. Eu sorri bem ansiosa, já que seria melhor do que eu estava imaginando. Não falei mais nada e apenas fiquei observando ele afinar as cordas do violão depois de se sentar na minha frente. Vez ou outra ele levantava os olhos pra mim e eu notei que estava tímido. Me surpreendendo mais ainda, ele pegou um óculos de grau em cima da mesa ao lado da cala e o colocou sobre o nariz. Era a primeira vez que eu o via usando algo daquele tipo e gostei muito do resultado. Zayn ganhou um ar intelectual e altamente sexy, principalmente porque a armação lembrava um wayfarer. Ele sorriu e bagunçou os cabelos, se preparando para começar.
(A garota com quem eu vi… Ela teve que ir embora)
But you look amazing standing alone.
(Mas você está incível parade sozinha)
So c’mon, c’mon, move a little closer now.
(Então vamos lá, vamos lá, chegue um pouco mais perto agora)
C’mon, c’mon, ain’t no way you’re walking out.
(Vamos lá, vamos lá, você não vai fugir de jeito nenhum)
Ele começou a cantar e tocar e eu não sabia pra onde olhar. Estava bem dividida entre os lábios, os olhos e as mãos rápidas que mudavam os acordes do violão. Como tanta perfeição assim cabe em uma pessoa só? Seria uma pergunta que eu adoraria saber responder, mas tinha que me contentar em aproveitar. E, acredite, eu estava aproveitando.
(Vamos lá, vamos lá, me mostre do que você é capaz)
I’ve been watching you all night. There’s something in your eyes…
(Eu estive te observando a noite intera. Existe algo nos seus olhos...)
Saying c’mon, c’mon and dance with me, baby.
(Falando vamos lá, vamos lá e dance comigo, baby)
Yeah, the music is so loud. I wanna be yours now…
(Yeah, a música está tão alta. Eu quero ser seu agora...)
A música em si não era nada do que eu esperava; era bem melhor. Eu lembrava de Zayn falar que havia escrito a música depois da festa de boas vindas, mas eu não fazia idéia de que a letra era tão... Assim. Eu me lembrava dele me observando, tentando se aproximar e demonstrar que estava interessado. Mas eu quase não o conhecia, então achava que seria apenas mais uma na lista de Zayn Malik se desse muita moral pra ele. Hoje em dia eu já sabia que a primeira impressão que eu tinha dele não era nada correta e justamente por isso é que eu fiquei tão surpresa por saber que ele “queria ser meu” desde aquela noite.
(Então vamos lá, vamos lá e dance comigo, baby)
The one that I came with... Didn’t know how to move.
(A garota com quem eu vi… Não sabia como se mexer)
The way that you let your hair down, I can tell that you do.
(Pelo jeito que você se solta, eu posso ver que você sabe)
So c’mon, c’mon, move a little closer now.
(Então vamos lá, vamos lá, chegue um pouco mais perto agora)
C’mon, c’mon, ain’t no way you’re walking out.
(Vamos lá, vamos lá, você não pode fugir de jeito nenhum)
~refrão~
Podia ser a primeira vez que eu escutava aquela música, mas o refrão era tão contagiante que eu arrisquei cantar junto. Claro que eu acabei me embolando toda e isso o fez rir enquanto cantava. Pelo menos Zayn estava vendo o quanto eu realmente estava gostando da música. Ninguém havia escrito uma música pra mim antes (tirando aquela que Liam supostamente fez pra mim) e eu me senti muito importante. Quase uma musa inspiradora de verdade.
(A cada passo que eu dou, eu sinto cada vez mais)
She's calling out, she’s a lucky girl.
(Ela está chamando, ela é uma garota de sorte)
My heart is racing, she's turing around.
(Meu coração está accelerando, ela está se virando)
I reach for her hand and I say:
(Eu alcanço a sua mão e falo:)
Zayn mal olhava para o violão, porque não queria perder nenhuma reação minha. Eu podia senti-lo me estudando a cada palavra e a minha resposta não poderia ser melhor. Eu estava encantada e poderia levantar e começar a dançar ali mesmo. Depois dessa última parte, ele me olhou com tanta intensidade que eu achei que iria derreter. Em seguida parou de tocar o violão para cantar sem o acompanhamento do instrumento:
(Yeah, eu estava te observando a noite inteira)
There’s something in your eyes.
(Existe algo nos seus olhos)
Saying: c’mon, c’mon and dance with me baby.
(Falando: Vamos lá, vamos lá e dance comigo, baby)
Yeah, the music is so loud...
(Yeah, a música está tão alta)
I wanna be yours now…
(Eu quero ser seu agora)
Acho que o que eu mais gostava na voz de Zayn era a forma que ele sustentava as notas mais altas e as prolongava. Claramente eu gostava de todas as partes naquele garoto e era bem suspeita pra falar, justamente por ser total e completamente apaixonada por cada detalhe, cada pedacinho daquele garoto de olhos lindos. Ele encerrou a música e deixou o violão de lado, esperando alguma palavra minha.
- Eu amei, baby... – Suspirei.
- De verdade? – Sorriu.
- É claro que sim, seu bobo! – Rolei os olhos, mas também sorri.
- E eu não vou ganhar nada em troca?
Ele perguntou com aquele sorrisinho maroto no canto dos lábios que sempre o denunciava. Eu continuei com o meu sorriso e caminhei de joelhos até onde ele estava. Fui pega de surpresa quando Zayn me segurou pela cintura e me girou ao me puxar contra a cama. Acabei gritando baixo pelo susto, o que fez Boris levantar a cabeça para nos olhar. Zayn começou a rir e se inclinar sobre o meu corpo, já que eu me acomodei com as costas sobre o colchão. Ele cariciou a lateral do meu rosto e a graça foi indo embora e deixando espaço àquele clima que sempre se estabelecia quando nós dois estávamos próximos assim. O menino passou o nariz pelo meu e eu respirei profundamente por um ato de reflexo. O abracei pelo pescoço e acariciei suas costas por cima da camisa branca. Senti que o corpo dele fez mais peso sobre o meu, mas não achei ruim. Ficamos sustentando aquele olhar por mais alguns segundos até que nossos lábios se tocaram.
Senti um choque delicioso percorrer o meu corpo no instante em que aquele beijo se iniciou. Seria possível que um sempre ia ficando melhor que o outro? Eu com certeza poderia me acostumar a isso. Uma das mãos de Zayn passou pelos meus cabelos e pousou na minha nuca, fazendo uma pequena massagem ali. Ele puxava-me sempre para mais perto e eu desejava qualquer contato que o meu corpo pudesse ter com o dele. Esquecendo completamente que eu estava usando vestido, passei um de meus pés pela perna do garoto, subindo e descendo. Aquilo o agradou, pois logo levou a mão livre até a minha perna e acariciou desde o meu tornozelo até o meu joelho, onde parou por uns segundos. Continuou o caminho por baixo da saia do meu vestido, mas não subiu mais do que até a metade da minha coxa. Eu estava ofegante e cada espaço do meu corpo pedia por aquilo. Os toques de Zayn pareciam fogo contra a minha pele e eu estava louca pra me queimar. Imitei o que ele fizera antes e mordi seu lábio inferior, puxando pra mim e só soltando depois de abrir os olhos e notar que ele também me observava.
Nós dois tentamos recuperar o fôlego sem parecer que estávamos morrendo afogados. Retirei os meus braços de volta dele, mas não fiz questão de afastá-lo. Dedilhei o rosto do menino com cuidado, como se ele fosse feito de porcelana e qualquer toque mais brusco pudesse quebrá-lo. É fácil perceber que eu adorava tocá-lo e prestar atenção em cada tracinho que pudesse ser percebido. Eu sentia os batimentos do coração dele acelerando contra o meu peito e o meu não estava tão diferente assim. Gostaria de passar a noite inteira ali ao lado dele, sem falar nada, apenas trocando segredos silenciosos por meio de olhares.
- You're the closest to heaven that I'll ever be… (Você é o mais perto do paraíso que eu vou conseguir chegar) - Cantarolei em um sussurro confidente e Zayn ficou me olhando daquele jeito. – And I don’t wanna go home right now... (E eu não quero ir pra casa agora...)
- And all I can taste is this moment, and all I can breathe is your life… (E tudo que eu posso provar é esse momento, e tudo que eu respiro é a sua vida) - Também cantou baixinho, mesmo que não estivesse seguindo a ordem certa da música. – I just don’t wanna miss you tonigh. (Eu só não quero sentir a sua falta essa noite)
- I just want you to know who I am… (Eu só quero que você saiba quem eu sou)
Capítulo XXXIII
O período da manhã na segunda feira passou bem tranqüilo. Eu tive que enfrentar o mau humor de Brigitte durante a aula em grupo, mas ela não tentou me matar nem nada parecido. E eu também estava me sentindo bem mais confiante após ter passado a noite do sábado com Zayn e também boa parte do domingo, já que ele acabou aparecendo lá em casa com filmes e pipoca. Teria sido mais romântico se Louis, Harry e Liam não tivessem se auto-convidado para a nossa seção de cinema, mas ainda assim foi muito bom. O fato é que eu estava bem feliz e nada parecia conseguir me abalar. Dizem que depois da tempestade vem a calmaria, certo? Eu estava naquela calmaria durante tanto tempo que começava a me preocupar se aquela teoria poderia funcionar ao contrário. Bem, teria que esperar pra ver e não ficaria pensando nisso.
disse que estava com saudades de me dar carona, por isso foi me buscar em casa pela manhã e prometeu que me levaria aonde eu quisesse aquele dia. Além de me divertir muito no carro com ela, eu pouparia a gasolina e o meio ambiente. Na hora do almoço nós duas encontramos os nossos respectivos namorados e resolvemos ir para o apartamento de Niall, só pra variar um pouco a rotina. Era a primeira vez que eu ia ate aquele lugar e gostei muito. Não era muito espaçoso e continha apenas uma cozinha, sala e um quarto com banheiro. Como ele morava sozinho, o tamanho era ideal. O que achei mais divertido é que a decoração era bem irlandesa; almofadas com estampa de trevo, a própria bandeira do país emoldurada na parede, algumas fotos dele na casa dos pais... O loiro realmente tinha orgulho de ser de onde era.
Os meninos cozinharam o nosso almoço e não tocaram fogo no apartamento, o que já foi bom demais. Além disso, a comida ficou bem saborosa. Não era nada muito elaborado, mas as coisas boas da vida estão nos detalhes mais simples. me ajudou a tirar a mesa e colocar os pratos sujos e panelas na pia da cozinha, mas assim que ameacei mandar ela fazer outra coisa, a ruiva escapuliu. Ou seja: O trabalho sujo, literalmente, sobraria pra mim. Arregacei as mangas longas da minha blusa e me contentei com o meu triste destino.
- Ainda está lavando pratos, babe? – Zayn entrou na cozinha e eu o olhei de cara feia.
- Eu poderia ter terminado se alguém resolvesse me ajudar! – Bufei e terminei de lavar uma panela que me deu muito trabalho. – Não entendo porque eu tenho que fazer tudo isso sozinha!
- O trato foi esse! Quem cozinha não limpa. – Veio até o meu lado e encostou-se ao balcão.
- Engraçado, porque eu não lembro da cozinhando!
- Até parece que você não conhece a cabecinha de fogo. – Riu, mas tinha razão. Esperar que arriscasse quebrar uma de suas unhas seria o mesmo que esperar neve em setembro.
- Uma garota pode sonhar, né? – Dei de ombros com um sorriso. Eu não conseguiria me livrar da tarefa doméstica. – Aliás, onde o casal se meteu?
- E você ainda pergunta? Eles foram ter um momento sozinhos. – Disse com um sorrisinho insinuante e se aproximou mais um pouco. – Acho que deveríamos ter o nosso...
- Claro! Quando eu terminar aqui podemos ter todos os momentos que você quiser!– Olhei pra ele e sorri cínica. – Se você me ajudasse eu terminaria mais rápido...
- Então eu ajudo! – O sorriso que ele ainda mantinha no rosto me deixou bem desconfiada, mas resolvi tentar ignorar. Qualquer ajuda seria bem vinda.
- Eu já estou ensaboando, então você pode enxaguar...
Tentei passar um prato cheio de sabão para Zayn, esperando ele ficar ao meu lado esquerdo. Para minha surpresa, ele ficou atrás de mim, com o corpo bem colado ao meu. Rolei os olhos divertida, tentando imaginar o que ele estava planejando fazer. Afastou os meus cabelos para um lado do pescoço e deixou o outro bem livre. Primeiro encostou os lábios no meu ombro e os arrastou ate a base do meu pescoço. Eu fechei os olhos inconscientemente e quase derrubei o prato que estava na minha mão. Um arrepio percorreu a minha espinha assim que Zayn escolheu um lugar no meu pescoço e começou a beijar não tão delicadamente. Ficava cada vez mais difícil resistir e eu tive que me apoiar no balcão em minha frente, já que meus joelhos ficaram trêmulos.
- Zayn... – Tentar fazê-lo parar não era bem o que eu queria, mas ainda tinha que terminar de lavar a louça.
- Shhh... – Sussurrou na minha orelha e... E... Qual é o meu nome mesmo?
“Ponto fraco, ponto fraco!” Era o que cada poro do meu corpo gritava. Uma descoberta assim não passaria despercebida, então Zayn sorriu orgulhoso. Suas mãos tocaram a lateral do meu quadril, apertando de leve. Continuou com os lábios perigosamente perto do meu ouvido e rodeou-o com a pontinha da língua. Eu já não sabia mais o que fazer, as minhas mãos não me obedeciam mais e pouco me importava. Larguei a esponja em qualquer lugar e deixei o prato ensaboado em cima dos outros. Inclinei ainda mais o pescoço e suspirei alto. Mordi o meu lábio inferior para suprimir algum barulho mais intenso, mas Zayn não parecia satisfeito. O menino mordiscou o lóbulo da minha orelha e voltou a descer a boca pelo meu pescoço, mudando de caminho e seguindo para o meu maxilar. Enquanto distribuía alguns beijos, começou a me girar tão lentamente que eu quase não percebi até estar de frente pra ele. Abri os olhos e vi algo diferente nos olhos do meu namorado; desejo. Acabei sorrindo com aquilo mesmo sem saber muito bem como reagir.
Meus instintos falaram mais alto e eu o puxei pela nuca com urgência. Minhas mãos estavam molhadas, mas eu não me importei e muito menos ele. Encaixei os nossos lábios e retribuí quando Zayn comandou um beijo cheio de paixão e fogo. Nossas línguas pareciam brigar uma com a outra e eu não acho que alguma poderia sair vencedora. Finquei as unhas na nuca do mesmo e ele mordeu o meu inferior por reflexo. A mordida que levei foi um tanto forte e chegou a doer, mas isso não nos fez parar. O gosto de sangue que preencheu os nossos lábios indicava que ele havia me cortado, mas aquilo só nos fez aumentar a intensidade do beijo. Agora ele passeava as mãos pelas minhas costas e pressionava-me contra o balcão. Minha mão direita se perdeu nos cabelos do moreno e os puxou com certa força. Isso foi o suficiente para que Zayn me levantasse com um impulso e me colocasse sentada sobre a bancada da pia. Já eu, o envolvi com as pernas pela cintura e o prendi ali, sentindo todo o contato que eu precisava. Separei o beijo assim que meu lábio começou a doer demais, mas não paramos por ali. Ele gostou de me provocar? Ótimo, mas eu também sabia fazer isso.
Abri o zíper do casaco que ele usava e o derrubei por entre os ombros do mais alto. Zayn me olhava com luxúria e eu sorria maliciosamente. Como a camisa xadrez que ele estava usando aquele dia era de botões, eu resolvi brincar com eles. E com “brincar” eu quero dizer: Comecei a abrir de um por um, começando de cima pra baixo e beijando cada centímetro de pele que eu ia descobrindo. Arrastei a língua pela base do pescoço, o que o fez jogar a cabeça para trás e apertar as minhas coxas. Usei todo aquele contato para apertá-lo ainda mais entre as minhas pernas e beijei a tatuagem de caveira que Zayn tinha bem próxima ao peitoral. Eu já estava no terceiro botão e pretendia continuar se não tivesse escutado um barulho alto de algo se espatifando no chão. Zayn também se assustou, por isso nós dois acabamos parando tudo que estávamos fazendo para olhar em volta.
Constatamos que algum de nós havia batido em um copo de vidro que estava perdido por onde eu estava sentada e ele foi ao chão. Acho que aquela interrupção veio em boa hora e serviu para que nós dois retomássemos a consciência. Não estávamos sozinhos naquela casa e poderíamos ser flagrados a qualquer momento. Acabei rindo e Zayn beijou o topo da minha testa, ainda meio desconcertado.
- O que houve? Vocês estão bem? – Niall apareceu correndo na cozinha, provavelmente preocupado por causa do barulho.
- , você... – chegou logo atrás, mas parou de falar assim que me viu sentada na bancada e Zayn quase sem camisa. O pior foi o sorrisinho que ela sustentou. – Entendi tudo.
- Não entendeu nada! – Senti as bochechas tomarem um tom avermelhado e saltei de onde estava sentada.
- Eu te ajudo a limpar isso... – Zayn falou para Niall, também querendo mudar o rumo da conversa. Trocamos alguns olhares significativos antes que eu passasse pela porta da cozinha e fosse até a sala.
- , espera! – me seguiu com pressa.
Eu tentava me preparar para a conversa que estava prestes a ter com , pois ela não deixaria aquela oportunidade passar. Se tem algo que ela gostava de fazer, era de me constranger. Passei a mão pelos cabelos, tentando colocá-los no lugar. Também arrumei a minha blusa, pois ela havia subido consideravelmente. Fui até o sofá de três lugares e me sentei na ponta. se jogou no espaço ao meu lado e me olhou como se esperasse noticias.
- O que foi? – A encarei de volta, fingindo que nada havia acontecido.
- Como assim o que foi? – Arregalou os olhos. – Antes você corria dele e agora os dois ficam se agarrando por aí?
- A coisas mudam. – Dei de ombros, mas o olhar que recebi da ruiva me fez entender que não era explicação suficiente. – Eu não estou mais tão paranóica quanto antes...
- Isso é ótimo, ! – Bateu palminhas animadas. – E você acha que já podem ter a primeira vez?
- Shhhhhhhhhhh! – Tapei a boca dela com uma mão. O apartamento não era tão grande assim e eu não queria ser escutada. – Vamos com calma, ! Mas quem sabe, né?
- Isso mesmo! – Abaixou o tom, mas ainda sorria bastante.
- Não sei porque você se importa tanto com isso... – Ri da cara dela. – Eu não vou te contar sobre o desempenho dele.
- Eu não preciso estar envolvida nisso pra querer o bem de dois amigos e... EPA, COMO ASSIM NÃO VAI CONTAR?
- Não vai contar o que? – Niall voltou para a sala e Zayn estava atrás dele.
- Nada não, Nialler. – Respondi antes que transformasse aquilo em um debate. – E desculpa pelo seu copo, aliás.
- Eu já expliquei que foi minha culpa, , não se preocupe. – Zayn se sentou no braço do sofá e eu o abracei pela cintura.
- Nossa culpa, baby. – Sorri e ele passou a mão pelos meus cabelos.
- Isso acontece! – Niall também sorriu. Para ele tudo sempre estava bom. Mesmo se o copo tivesse sido o seu preferido ele não se importaria, contanto que seus amigos estivessem felizes também.
- , de que horas a Rachel vai passar aqui? – perguntou enquanto olhava no relógio da parede.
- Acho que umas três horas mais ou menos. – Também olhei para o relógio e constatei que faltava pouco mais de vinte minutos.
- Pra onde vocês vão? – Zayn sentou-se ao meu lado assim que eu empurrei e abri espaço no sofá.
- Ela vai me ajudar a encontrar um vestido para o Snow Ball. – Expliquei e encostei a cabeça no ombro do menino, sentindo-o me envolver pelos ombros. – Eu já tenho a roupa que vou usar durante a dança, mas tinha me esquecido completamente que não vou passar o baile inteiro de tutu.
- “Tutu.” – Niall repetiu e gargalhou do nada. Pra variar, ele era o único rindo. Até mesmo , que geralmente ria das mesmas coisas que ele, estava encarando-o como quem diz: “Não acredito que ele está rindo disso.”
- Enfim! – Também o deixei pra lá e continuei a minha história. – Acho que ela vai me levar na agência em que trabalha... Parece que existe uma área só de roupas que foram usadas nos desfiles.
- Agência de modelos, é? – Levantou uma sobrancelha. – Do tipo onde tem modelos se trocando pelos cantos?
- Aonde você quer chegar com isso, Malik? – Fiquei séria.
- Lugar nenhum. – Se fez de inocente. – Posso ir junto?
- Idiota. – Dei um tapinha no ombro dele. Eu sabia que Zayn só estava falando aquelas coisas pra me provocar e prova disso foi a risada que ele deu após “apanhar”. – Não pode ir junto coisa nenhuma!
- Poxa. – Fez um bico que eu logo beijei, fazendo-o sorrir em seguida. – Quem precisa de modelos?
- Exatamente! – Ri.
- ... – chamou a minha atenção. – Posso fazer uma pergunta bem pessoal?
- Claro que pode... – Respondi com um pouco de receio.
- Seu pai já é mais velho... – Começou com cuidado. – Como ele conseguiu uma modelo?
- Meu pai não “conseguiu uma modelo”, . – Fiz aspas no ar, mas não me senti ofendida com aquela pergunta. – Eles se amam... E eu sei que pode parecer estranho por causa da diferença de idade, mas se você ver os dois juntos vai achar que meu pai é mais novo que eu.
- Ele deve ser bem legal, então! – sorriu.
- É legal sim! Mas ele consegue ser pior que o Lou. – Balancei a cabeça lembrando de todos os micos que meu pai já me fez passar.
- Meu Deus! – Zayn riu ao meu lado.
Nós continuamos conversando sobre modelos e desfiles e todo esse universo fashion que eu gostávamos tanto. Os meninos não estavam entendendo nada do que nós estávamos falando, mas continuaram ao nosso lado mesmo entediados. Zayn podia não entender de marcas ou as últimas tendências da estação, porém é só você olhar pra ele pra perceber que o menino tem bom gosto, dessa forma ele acabou se envolvendo mais na conversa do que Niall. Escutei meu celular tocando dentro da minha bolsa e tive que me levantar para ir até onde havia deixado as minhas coisas. Como água mole em pedra dura tanto bate ate que fura, eu finalmente aprendi a guardar o meu iPhone em um lugar só para que eu não tivesse que ficar meia hora procurando aquele pedacinho de tecnologia.
- Whatup? – Atendi. Sim, eu mudava a minha forma de atender ligações constantemente.
- ? Sou eu! – A voz de Rachel soou do outro lado da linha.
- Hey, Rach! Já está vindo?
- Se você me passou o endereço certo eu já estou aqui embaixo.
- É? Então eu vou descer... – Pendurei a minha bolsa sobre o ombro e os outros três se levantaram.
- Seu namorado está por aí?
- Ele está sim... – Olhei para Zayn, que ficou curioso na mesma hora.
- Pede pra ele descer com você, por favor?
- O que você tá aprontando? – Perguntei com medo da resposta.
-
- Tá bem... – Tive que concordar e desligamos. Zayn ainda me olhava. – Baby, ela quer que você desça comigo...
- Então vamos! – Sorriu, bem mais aliviado do que eu. Virou-se para e Niall e disse: - Eu já volto, mas não tranquem a porta!
Ele passou por mim e abriu a porta, já indo chamar o elevador para que nós não perdêssemos tempo. Niall caminhou até mim e nos abraçamos. veio em seguida, me pedindo pra ligar pra ela assim que chegasse em casa. Eu concordei, é claro, mas já avisei que não contaria nada sobre o vestido que eu iria escolher. O chamado de Zayn avisando que o elevador já estava naquele andar me apressou e com isso eu fui ao encontro dele.
Como Niall morava no terceiro andar, não demoramos muito para chegar ao térreo. A primeira coisa que Zayn fez ao sair do elevador foi pegar a minha mão e entrelaçar os nossos dedos. Caminhamos até a portaria e eu vi o carro de Rachel parado bem na frente do prédio. Infelizmente minha irmãzinha não estava com ela, mas seria até melhor. A coitadinha não iria gostar de passar o dia inteiro nos seguindo pra cima e pra baixo enquanto eu provava mil roupas. Minha madrasta estava encostada no carro e sorriu assim que nos viu. Posso dizer que ela se comportou bem melhor do que da primeira vez e já não fez nenhum escândalo por eu ter um namorado.
- Aí está a minha enteada preferida! – Abriu os braços e abraçou eu e Zayn ao mesmo tempo. – E o meu genro preferido!
- Oi, Rach! – Ri ao participar daquele abraço um tanto desengonçado.
- É bom vê-la novamente, Rachel. – Zayn sorriu.
- Você parece anda mais bonito na luz do dia! – Falou para ele, mas piscou pra mim. – Deixa eu te perguntar... Você tem planos para quarta feira?
- Por que? – A pergunta dela não foi pra mim, mas eu queria saber o motivo antes de deixar Zayn responder.
- Nenhum! – Os dois pareceram me ignorar e Rachel sorriu com aquela resposta dele.
- Perfeito! Então vocês dois vão jantar lá em casa. – Me olhou. – Seu pai está louco pra conhecer o seu namorado, .
- Você contou a ele? – Arregalei os olhos. Isso não era bom. Não que ele não pudesse saber... Eu só gostaria de ter tido um pouco mais de tempo para me preparar psicologicamente.
- É claro que sim! – Rach respondeu como se não tivesse escolha. – Mas vai ser algo bem simples, não se preocupe.
- Eu com certeza estarei lá! – Zayn estava tão animado com a idéia de conhecer o meu pai que eu fiquei impressionada.
- Então está marcado! – A loira usou a chave do carro para destravá-lo e já abriu a própria porta. – Agora temos que ir, ... Até mais, Zayn!
- Até logo, Rach! – Ele acenou pra ela enquanto observava-a entrar no carro e logo se virou para mim. – Se cuida, tá?
- É claro que vou me cuidar. – Sorri e ele me abraçou pela cintura. – Como sempre!
- Mas você pode encontrar homens modelos por lá... E eu não quero que fique olhando pra eles. – Zayn podia ter inventado a música “I’m sexy and I know it”, mas quando se tratava de mim ele se tornava o garoto mais inseguro da face da terra.
- Eu já tenho o meu modelo bem aqui. – Baguncei os cabelos dele com carinho e juntei os nossos lábios para um selinho demorado. Quase não consegui me soltar de Zayn, por isso Rachel buzinou para me apressar. – Te vejo depois, ok?
- Me ligue antes de ligar pra !
Após sairmos do prédio de Niall, Rachel fez bastante mistério sobre onde iria me levar. Tá que eu já sabia que iríamos até a agência de modelos em que ela trabalhava, mas eu não fazia idéia de onde ficava. Passamos pela Oxford Street e eu fiquei ainda mais curiosa. Não sabia que havia algo mais além de lojas naquela parte da cidade, mas a mulher me explicou que todos os prédios daquela rua eram comerciais e várias empresas de moda tinham seus escritórios ali. Paramos em frente a um dos prédios mais altos e pegamos o elevador até a cobertura.
Rachel abriu as portas brancas de madeira fina e eu fiquei bem animada com o que vi. Era a minha primeira vem em uma agência de modelos e não fazia idéia que era daquele jeito... Parecia mais um atelier de estilista. Eu costumava imaginar que era apenas um estúdio fotográfico, ou coisa assim. Mas a realidade era que parecia um cenário de filme. O lobby do escritório era bem espaçoso e me fez questionar o tamanho das outras salas. Em um canto havia uma mesa onde algumas pessoas trabalhavam e estudavam fotos diferentes, talvez selecionando as melhores modelos para um possível desfile. No outro canto, mulheres altas e esbeltas conversavam com um homem baixinho e totalmente gay. A decoração daquela sala era bem minimalista e elegante. Os detalhes eram em preto, mas a cor predominante era o branco. Muitas das paredes eram tomadas por janelas gigantescas que nos permitiam ver a vista do lado de fora. Como aquele prédio era realmente muito alto, a nossa visão de Londres era bem ampla.
- Você trabalha aqui? – Fomos entrando e eu olhava tudo com curiosidade.
- É bem legal, né? – Ela sorriu e acenou para o baixinho que conversava com as modelos. – Aquele ali é o fotografo chefe.
- Eu não sabia que aqui também era uma agência fotográfica...
- Aqui é um pouco de tudo, na verdade. A Models One é a maior agência de modelos da Europa. – Explicou. – O que você está vendo é só um pedaço.
- Wow! – Tudo era tão lindo que eu quase fiquei de queixo caído. – Eu adoraria trabalhar aqui!
- Pensei que você queria ser dançarina e não modelo!
- E eu quero! Mas aqui é tão legal que eu não me importaria de mudar de carreira. – Brinquei, rindo em seguida.
A loira me puxou pelo braço e me fez atravessar aquela sala, atraindo alguns olhares. Eu me senti completamente deslocada ali, mas levantei o queixo e a segui. Não adiantaria nada eu me sentir mal perto daquelas modelos maravilhosas, por isso resolvi prestar atenção no objetivo que me levou a estar ali. Fomos até uma porta de vidro fosco e Rachel bateu três vezes, esperando uma resposta.
- Vou te apresentar à presidente da Models One. – Sussurrou pra mim.
- Pode entrar... – Uma voz veio do outro lado da porta.
Minha madrasta abriu a porta e passou primeiro, indo cumprimentar a dona da sala. Eu entrei depois e me ocupei em fechar a porta com cuidado. Na França bater com força é falta de educação, e como aquela porta era bem pesada eu tive que tomar cuidado redobrado.
- Essa é a , minha enteada de quem eu lhe falei. – Ouvi a voz de Rach e me virei na direção dela. – , essa é a...
- Carine Roitfeld. – A interrompi, chocada por estar frente a frente com aquela mulher.
- Então você me conhece? – A mulher de cabelos dourados levantou da cadeira atrás de sua longa mesa de vidro e veio até onde eu estava parada.
- Quem não a conhece? – Sorri. Carine Roitfeld foi a editora chefe da Vogue francesa durante dez anos, mas havia renunciado ao cargo recentemente. – É um prazer conhecê-la, de verdade. Eu sou uma grande fã do seu trabalho.
- Gostei da sua enteada, Rachel. – Sorriu mostrando os dentes e me abraçou. – Eu também já ouvi bastante ao seu respeito, .
- Sério? Se eu soubesse que você estava trabalhando aqui, eu teria vindo bem antes. – Eu admirava aquela mulher e estava emocionada em conhecê-la.
- Nesse caso, vamos culpar a Rachel por não ter nos apresentado!
- Desculpa! Eu não sabia que você era uma fã tão grande, . – Rachel se desculpou, mas estava sorrindo.
- Tá brincando? Eu tenho todas as edições da Vogue francesa de 2005 até 2011!
- Se você é uma fã tão grande de moda, deveria vir no nosso próximo desfile. – Carine estava mesmo me convidando?
- Eu adoraria!
- Então está combinado! – A mulher se virou para Rachel. – Não esqueça de trazê-la, está bem?
- Com certeza eu não esquecerei. – Me abraçou de lado. – Agora nós temos que ir... Você está com a chave do closet?
- Ahh, estou sim. Só um minuto...
Carine voltou para trás da mesa de vidro e procurou algo em suas gavetas. Aquele dia estava sendo melhor do que eu poderia sequer sonhar. Nunca na minha vida eu esperava conhecer uma das editoras de moda mais famosas do mundo inteiro. É claro que ao mesmo tempo em que eu estava feliz por Rachel ter me levado ali, também queria matá-la por demorar tanto para fazê-lo. A presidente daquela agência logo achou o que estava procurando e entregou a chave para Rachel. Nós nos despedimos e seguimos para fora daquele escritório, mesmo que eu ainda tivesse muitas perguntas a fazer para Carine.
A primeira coisa que fiz ao sair da sala foi perguntar a Rachel se Carine era realmente tão legal quanto todos costumavam falar e ela afirmou que o que eu presenciei foi só um pouco de toda a simpatia que aquela mulher guardava. Editoras de moda costumam ser rígidas e exigentes, mas o que mais me agradava em Carine é que ela era um amor de pessoa. Deixando a minha fangirl interior de lado, passamos por um corredor estreito que nos levava até uma porta de correr que deveria ser o tal closet. Rachel encaixou a chave na fechadura e empurrou a porta pesada em seguida, tendo que se esforçar bastante para abri-la.
- E voilá! – Apontou para o interior do cômodo, mas ele estava escuro demais para que eu pudesse ver qualquer coisa.
- Esqueceu de acender a luz...
- Ah, é verdade. – Riu por ter esquecido esse pequeno detalhe e passou pela porta, procurando o interruptor na parede. Eu me aproximei um pouco mais até que as luzes foram acesas. – Agora sim, voilá!
“Closet” era como chamavam aquele lugar? Tem certeza? O lugar era GIGANTE! Bem maior que a minha casa inteira, se duvidar! Eu me senti no paraíso e fui logo entrando sem nem esperar por Rachel. Em um canto do quarto estava um sofá bem confortável e uma mesinha com algumas xícaras, onde a mulher que me acompanhava foi sentar.
- Vá em frente, , escolha o que quiser! – Meu sorriso só aumentou com aquelas palavras.
- Tá falando sério?
- Claro que sim! Esse é o closet onde deixamos as roupas que foram usadas nos ensaios e que os donos nos deram de presente. – Explicou e segurou a minha bolsa assim que eu a entreguei. – Você vai ter que devolver depois de usar, mas pode escolher qualquer peça.
Eu apenas assenti com um balançar de cabeça e corri para o meio das roupas, passando por várias araras e guarda-roupas transparentes que me permitiam ver o lado de dentro. Primeiro passei pelas calças, leggins e shorts, organizados por cor, tamanho e marca. Eu desejei ter um carrinho de compras pra poder escolher tudo que eu quisesse e levar todas as novidades para casa, mas estava ali pra escolher apenas um vestido e não gostaria de abusar da boa vontade da minha madrasta. Continuei o meu percurso até chegar aos vestidos. Os primeiros que vi foram uns curtos e florais que eu conhecia de algum desfile cujo a marca eu não me lembrava. Avistei a placa: “Gowns”, que era exatamente o que eu estava procurando e me dirigi até lá.
Se eu não estivesse tão focada na minha carreira como dançarina, com certeza tentaria algo no ramo da moda, pois era uma segunda paixão, digamos assim. Eu não sabia costurar e muito menos modelar ou desenhar, mas adorava juntar peças de roupas e formar novos looks. Passei direto pelos vestidos escuros em direção aos claros. O nome do baile era “Snow Ball”, então eu não iria aparecer lá toda vestida de preto. Chanel, Gucci, Valentino, Elie Saab, Vera Wang... Tantas marcas famosas juntas em um lugar só... Suspiros e suspiros. Havia vestidos ali que eu nunca seria capaz de comprar nem com o dinheiro da venda do meu carro.
Tirei um vestido dourado da arara e o olhei com um sorriso. Não era o ideal para aquela ocasião, mas eu tinha certeza que ele ficaria lindo em mim. Era de um ombro só e tinha pedrarias brilhantes que iam até a cauda. Coloquei-o no lugar com medo de estragar e passei para o próximo e o próximo e o próximo. Na medida em que as cores foram clareando, eu comecei a me apaixonar mais ainda por aqueles vestidos. Minha íris pousou sob um vestido que estava meio escondido, por trás de outros. Havia algo ali... Algo que prendeu a minha atenção. Afastei tecidos e mais tecidos, quase caindo dentro do guarda roupa e achando a passagem secreta para Nárnia, mas pelo menos consegui agarrar o cabide e tirá-lo ali de dentro. “É esse...”, foi o meu primeiro pensamento. Eu nem havia provado-o ainda, mas sentia no meu interior que não encontraria nenhum vestido mais perfeito que aquele. O tecido branco e esvoaçante era bem volumoso e suave, cheio de detalhes e bem encorpado na parte que ficava mais próxima ao corpo.
Chamei por Rachel, mas eu estava distante demais para ser escutada sem gritar. Carreguei aquele vestido como se fosse a coisa mais preciosa e voltei por todo o caminho que me levara até ali. Mais uma vez senti vontade de roubar uma saia ou outra, mas não me atrevi.
- Rach? – A chamei novamente assim que voltei para o começo do closet.
- Oi, , só um minuto. – Ela acenou para eu esperar um pouco, já que estava falando ao celular. – Sim, meu amor, ela está aqui... Claro, só um minuto. , seu pai quer falar com você.
- É ele no telefone? – Sorri e peguei o aparelho. – Oi, daddy!
- Minha ! – Escutei a voz animada do meu pai do outro lado da linha. – Como você está, filha?
- Estou ótima! E você? – Sentei no sofá ao lado da minha madrasta.
- Estou muito bem! A Rach me disse que seu namorado aceitou vir jantar aqui na quarta feira...
- Aceitou sim, mas ele não teria muita escolha, né? – Rolei os olhos.
- Exatamente. – Riu. – Mas o que há de errado em um pai conhecer o namorado da filha?
- Nada, pai, nada... Só se comporte, ok?
- Eu sempre me comporto! – Respondeu ofendido.
- Claro que se comporta! – Falei irônica. – Aposto que você até já separou uma caixinha com todas as minhas lembranças de quando eu era pequena!
- Ern... Claro que eu não fiz isso... – Negou, mas não me convenceu.
- É bom que não faça! – Acabei rindo e Rachel também, provavelmente sabendo o que o marido dela havia feito. Aproveitou para pegar o meu vestido e observá-lo.
- Tudo bem, filha. – Eu podia vê-lo fazendo um biquinho infantil. – Mas você conseguiu encontrar o que precisava? Rach me disse que ia te levar pra procurar uma roupa...
- Eu acho que achei sim, pai... Só falta ela dizer se posso usar o vestido que eu escolhi! – Olhei para a mulher e ela fez que sim com a cabeça.
- E como vai a procura? – Carine entrou no ‘closet’, olhando em volta.
- Dad, tenho que ir, ok? Até depois! – Desliguei bem rápido para prestar atenção na mulher que acabara de chegar.
- achou a coleção de inverno da Marchesa! – Rachel a respondeu primeiro, levantando e mostrando o vestido branco.
- Eu me apaixonei por esse vestido! – Também levantei.
- Você tem bom gosto, menina. – Carine tocou no vestido e sorriu. – É um dos meus preferidos.
- E não precisa se preocupar, ok? Vou devolver em perfeito estado!
- A é muito cuidadosa, então ela vai cuidar desse vestido com a vida dela. – Rach sorriu e pousou a mão no meu ombro. Eu adorei aquela propaganda toda.
- Por que não fazemos assim... Você fica com esse vestido de presente e depois me conta como foi esse baile enquanto tomamos chá?
- Eu não sei nem o que dizer... – Estava chocada. Além de ganhar um vestido lançamento da nova coleção da Marchesa, eu ainda teria a oportunidade de tomar chá com Carine Roitfeld? Bom demais pra ser verdade.
- Diga que sim! – Passou o braço pelo meu e me guiou até a porta de um guarda-roupa também branco. – Agora vamos escolher as jóias!
- Vamos! – Sorri sem acreditar no que estava escutando.
Carine abriu a porta do guarda roupa e revelou uma outra sala; bem menor que a primeira, por sinal. Nós duas entramos ali dentro e mulher foi até um painel digital para digitar uma senha que desligava o alarme. Automaticamente a parede se abriu e várias gavetas foram saindo e revelando as jóias mais lindas e valiosas que eu já vira na vida. Caminhei até a primeira gaveta e passei os olhos por cada anel que encontrei ali. Tive medo de tocar em algum e acabar estragando de alguma forma. A minha acompanhante andou até a gaveta do meio da parede oposta a que eu estava e pegou uma caixinha aveludada.
- ? Vem aqui, por favor... – Chamou-me e eu obedeci na mesma hora.
- Sim, Carine? – Fui até o lado da mulher e a esperei abrir a caixa.
- O que você acha desse colar?
- Woooooow! – Levei a mão até os lábios, espantada. Carine tinha um bom gosto incrível.– É lindo!
- Você acha que combina com o seu vestido? – Sorriu.
- Com certeza! – Sorri mais ainda quando ela voltou a fechar a caixinha e me entregou.
- Também é um presente!
Eu mal podia acreditar em todos os presentes que estava recebendo. Além do vestido e do colar, Carine também me deu um par de brincos, um anel e uma pulseira de brilhantes. Sim, de brilhantes! Eu não tinha certeza se chegaria a usar aquela pulseira por medo de algo ruim acontecer a ela, mas agradeci bastante por aquele presente. Ela até mesmo disse que era uma pena não ter muitos sapatos ou bolsas para nós olharmos, mas disse que se algo novo aparecesse, mandaria Rachel me entregar. Eu não sabia se ela tinha realmente gostado tanto assim de mim pra estar sendo tão legal, ou se todas aquelas coisas só ficavam trancadas por ali e não faziam diferença na vida de ninguém. A primeira opção era bem melhor, por isso foi a que eu escolhi. Rachel acabou aparecendo por ali, falando que estava na hora da babá de Lux ir embora, por isso nós tínhamos que ir. Carine só me deixou ir embora assim que trocamos telefones e me fez prometer que não esqueceria de marcar o chá. Eu estava tendo um dia de princesa e não conseguia parar de sorrir.
Antes de Rachel me deixar em casa nós duas paramos em uma lanchonete para comer alguma coisa e eu acabei comprando sanduíches e batata frita para os meninos que deviam estar esfomeados em casa. Prova disso era que os três estavam me esperando ao lado de fora da casa e só faltaram me derrubar no chão pra poder pegarem as sacolas de comida que eu estava carregando. Liam foi o único educado o suficiente para me ajudar com a caixa enorme onde o vestido estava sendo guardado e até me acompanhou ao meu quarto para deixá-la em cima da cama.
- Como foi o dia de vocês hoje? – Perguntei ao tirar os sapatos e sentar na cama.
- Normal, eu acho... Eu dormi o dia inteiro. – Riu, dando uma mordida no próprio sanduíche em seguida.
- Que coisa feia! – Gargalhei. – Eu trabalhando pra ganhar a vida... E você sem fazer nada!
- O que posso fazer? Uns de nós tem a vida boa. – Deu de ombros, brincando. – Mas aconteceu alguma coisa, ...
- O quê? – A seriedade de Liam me preocupou um pouco.
- Eu vi o Lou chorando... Não sei exatamente o porquê e ele não me viu, mas com certeza estava chorando.
- E isso foi do nada? – Louis não costumava chorar pelos cantos, então algo realmente devia ter acontecido.
- Nós estávamos jogando vídeo game na sala... E aí ele recebeu uma ligação e subiu pra atender no quarto. – Explicou, deixando o sanduíche de lado um pouco. – Daí eu fui atrás dele pra saber se ia continuar jogando, porque demorou muito pra voltar... E aí ele estava chorando na ponta da cama.
- Então foi depois da ligação que ele começou a chorar? – Não era a primeira vez que Louis ficava triste após uma ligação misteriosa, mas sempre que eu perguntava o que era ele mudava de assunto ou falava que não era nada.
- Foi sim... – Li respondeu, fazendo um bico de lado.
Preferimos mudar de assunto momentaneamente, mas eu iria tentar descobrir o que estava acontecendo com Lou depois. Liam quis saber sobre o meu dia com Rachel e é claro que eu contei tudo nos mínimos detalhes. Ele não sabia quem Carine Roitfeld era, mas ficou feliz por mim, já que eu a admirava tanto. Mostrei o vestido e todas as coisas que ganhei, até mesmo provando-o pela primeira vez. Liam disse que eu deveria ser modelo por caber perfeitamente naquele vestido, mas eu só consegui rir. Ele terminou o sanduíche e dividiu a batata frita comigo, por isso eu falei que gostava demais de comer para ser uma modelo e foi a vez dele de rir.
- Aí estão vocês dois! – Harry apareceu na porta do quarto, sem camisa. – Nós estamos indo pra piscina, querem vir?
- Mas está tão frio! – Liam resmungou.
- A piscina tem aquecedor. – O mais novo respondeu.
- Então eu vou! – Li levantou e os dois ficaram olhando pra mim.
- Harry Styles, você sabe que tatuagens são permanentes, né? – Apontei para a borboleta gigantesca que ele tinha na barriga. Aquela deveria ser a centésima que ele fazia e daqui a pouco estaria coberto por elas.
- É claro que eu sei! E você não reclamou quando eu fiz a estrela em sua homenagem! – Reclamou.
- Mas a estrela foi uma das primeiras! – Levantei e fui até onde ele estava, fazendo-o dar uma voltinha. – Agora você tem um barco, um aperto de mãos, pássaros, mascaras de teatro, gaiola, um coração, frases e outras vinte! Sua mãe devia te colocar de castigo.
- Não briga comigo, ! – Ele fez um biquinho e me abraçou com força.
- Sai, Harry! – Ri e tentei me soltar dele.
- Só se você vier para a piscina com a gente. – Falou e me apertou ainda mais. – Me ajuda, Liam!
- Vem com a gente, ! – Liam também me abraçou e eu já começava a me sentir espremida.
- Se vocês continuarem me apertando assim, eu não vou pra lugar nenhum, já que vou estar morta! – Fiz drama, mas pelo menos eles me soltaram. – Me esperem trocar de roupa!
Acabei concordando em ir para a piscina, mesmo com a preguiça enorme que eu estava sentindo. Empurrei os dois meninos para fora do quarto e corri para o closet, procurando a primeira roupa de banho que eu pudesse encontrar.
Ao chegarmos à área da piscina, a água estava tão quente que uma camada de fumaça cobria a superfície inteira. Liam foi o primeiro a entrar, por isso fiquei mais tranqüila, já que eu lembrava bem da última vez em que estivemos ali e ele me arrastou para dentro da piscina a força. Harry entrou em seguida, mas Louis ficou sentado na borda, apenas com os pés para dentro. Meu irmãozinho estava começando a me preocupar, por isso fui até ele após deixar o meu roupão em uma espreguiçadeira.
- Hey, Boo bear. – Sentei ao lado de Louis e também coloquei os pés dentro d’água.
- Oi, ... – Forçou um sorriso. – Eu nem falei direito com você, né?
- Não se preocupa com isso. – Encostei a cabeça no ombro dele e sorri. – Você está muito quieto ultimamente...
- Estou? Deve ser impressão sua! – Tentou desconversar, mas eu o conhecia bem demais pra aceitar aquela resposta.
- Lou... Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe?
- Sei sim, ...
- Por que eu sempre vou estar ao seu lado e vou te ajudar no que for. – O abracei de lado e deixei um beijo estalado na bochecha. – Say what you need to say. Say what you neet to say... (Fale o que você precisa falar. Fale o que você precisa falar...)
- Você não sabe cantar, . – Lou riu da minha tentativa de animá-lo com uma música, mas eu só estirei a língua e ele também me abraçou.
- It's better to say too much, than never to say what you need to say… (É melhor falar demais do que nunca falar o que você precisa falar) - Ignorei o que ele falou sobre os meus dons musicais e continuei cantando. Começar uma música do nada estava se tornando uma mania e eu culpava meus amigos cantores por isso.
- Even if your hands are shaking and your faith is broken. Even as the eyes are closing, do it with a heart wide open. (Mesmo se as suas mãos estão tremulas e a sua fé está quebrada. Mesmo enquanto os olhos estão fechando, faça isso com o coração bem aberto) – Lou acabou sorrindo e cantou comigo, mas é claro que a voz dele era bem mais bonita que a minha.
Capítulo XXXIV
Será possível que eu estava mais nervosa em apresentar Zayn para o meu pai do que em conhecer a mãe dele? Era o que estava parecendo, pois eu não parava de andar de um lado para o outro na sala de casa. Eu já estava arrumada e toda pronta para ir para esse tal jantar, só esperando Zayn me buscar. Seria melhor nós dois irmos juntos, já que eu não queria chegar lá sem ele e muito menos o contrário. Louis já havia partido há mais ou menos vinte minutos, já que ele também queria estar presente para assistir o espetáculo. Conhecendo o nosso pai, eu só não sabia dizer se seria um espetáculo de comédia ou drama.
- Você vai acabar furando o chão desse jeito. – Liam riu, andando até mim e segurando-me pelos ombros.
- É bom que assim eu já vou ter algum lugar pra me enterrar depois dessa noite. – Ri sem humor algum.
- Eu não quero morar em uma casa com um cadáver! – Harry desceu as escadas, mas eu me arrependi assim que olhei pra ele.
- Hazza! – Reclamei por ele estar totalmente pelado e tapei os olhos com a mão.
- Ai, meu Deus! – Liam me soltou e também cobriu os olhos.
- O que foi? – Perguntou como se não houvesse nada de errado em ficar andado pelado por aí.
- Você está pelado! – Espiei por uma brecha entre os meus dedos e dei de cara com a bunda branca dele. – Eu sei que você se sente livre assim... Mas não pode ser livre no seu quarto?
- O Louis nem tá aqui pra aproveitar! – Liam comentou. Ele também devia gostar de Hazza e Lou como um casal. Ponto pra Larry. – Além do mais, você já devia estar pronto!
- Vocês dois vão sair? – Levantei uma sobrancelha e olhei para Li.
- Com o Niall! – Harry respondeu e eu fiquei mais curiosa ainda.
- E posso saber aonde vocês vão?
- Só vamos à um Pub que ele conhece. – Li deu de ombros.
- Bebeeeeeeeeeer. – O de cabelos cacheados se jogou no sofá, mas pelo menos ele cobriu “as partes” com uma almofada.
- Eu não posso beber! Só tenho um rim!
- Awn, poor Leeyum! – Acabei rindo, mas o abracei.
- Fica rindo de mim e depois me abraça? Quem entende? – Me abraçou de volta e escondeu o rosto no meu pescoço. – Você está cheirosa...
- Obrigada! – Sorri. – É Chanel.
- É você. – Respondeu e eu corei.
- Para com isso! – Ri e separamos o abraço. – Não pode me deixar vermelha, Liam.
- Você fica ainda mais linda assim, eu não tenho culpa! – Continuou me deixando vermelha e Harry fingia que nem estava mais ali, apenas nos observando.
A campainha tocou e eu fiquei aliviada. Com certeza seria Zayn, mas o menino que estava no sofá foi o primeiro a se mexer e correu para atender a porta, sem se importar por estar pelado. Eu só queria ver a reação do meu namorado ao chegar na minha casa e encontrar um homem pelado. Ele já tinha muito ciúme de Harry e eu tinha certeza que só iria piorar. Eu tentei ir atrás do curly, mas Liam segurou a minha mão e me puxou. Eu o olhei sem entender nada e ele só me agarrou pela cintura.
- Li, o que você está fazendo?
- Eu não deixo você ir! – Respondeu com um bico. – Eu sinto sua falta, . Quando foi a última vez que fizemos algo juntos?
- Ontem nós passamos a noite inteira juntos!
- Mas não é a mesma coisa... Você sempre está saindo com o Zayn, mas só fica comigo quando estamos em casa. – Olhou pra baixo, meio chateado.
- Sweety... – Levantei o rosto dele na minha direção. – Eu prometo que nós vamos sair logo, tá bem? Só nós dois. Eu prometo.
- Então tá bem... – Deu um pequeno sorriso.
- , porque um homem pelado atendeu a... – Zayn entrou na sala e parou de falar assim que viu Liam e eu abraçados.
- Hey, baby! – Sorri para ele e Li me soltou.
- Oi, Zayn! – O menino ao meu lado acenou e Zayn acenou em resposta.
- Até depois, ok? – Me virei para Liam e beijei a sua bochecha.
- Cuida bem da minha pequena, Zayn. – Liam pediu e Zayn fez uma careta.
- Eu vou cuidar bem da minha , não se preocupe. – Deu ênfase no “minha” e eu o arrastei para fora da sala, passando por Harry e saindo de casa o mais rápido possível.
- Às vezes eu acho que moro em um hospício. – Comentei antes de ser puxada para um beijo de cumprimento.
Estávamos dentro do elevador do prédio de meu pai assim que eu escutei meu celular apitar dentro da minha bolsa. Era uma mensagem de Louis que dizia: “Eu sinto muito, . Muito mesmo.” Não entendi absolutamente nada daquilo e muito menos Zayn, que viu a minha cara de espanto e também leu a mensagem de meu irmão. Tinha algo errado e eu sentia isso. De repente a subida do elevador se tornou mais lenta do que o normal e eu devia estar suando frio. Zayn entrelaçou os nossos dedos e beijou o topo da minha testa, querendo me acalmar.
- Vai dar tudo certo, ... – Sorriu companheiro e acariciou o meu rosto.
- Sei disso. – Afastei todos os pensamentos ruins e me aproximei mais um pouco dele para poder roubar um beijo rápido.
A voz automática do elevador avisou que havíamos chegado ao nosso destino e as portas se abriram, revelando o hall de entrada do apartamento e nós dois entramos lado a lado. A primeira coisa que eu vi foi uma criança correndo de um lado para o outro. Em um primeiro momento eu achei que pudesse ser Lux, mas era grande demais pra ser ela. Outra criança totalmente diferente também passou correndo e eu já começava a entender a mensagem de Lou. Aqueles dois eram os meus primos, filhos da irmã do meu pai. Apertei a mão de Zayn por reflexo e ele me puxou para que continuássemos a andar. Mais pra frente eu encontrei uma sala de estar repleta por pessoas que não via há alguns anos. O primeiro que reconheci foi meu avô por parte de pai, Keith, que fumava um charuto na varanda. Em seguida vi a minha avó Margaret e os meus tios Simon e Ruth, pais das crianças que eu vi correndo: Heidi e Ben.
- A sua família inteira está aqui? – O menino ao meu lado perguntou nervoso.
- A parte que mora em Londres sim... – Respondi da mesma forma que ele, ainda sem acreditar no que via. Nunca agradeci tanto por ter a maior parte da família do meu pai morando em Doncaster.
- Eles chegaram! – Escutei a voz do meu pai e todos que estavam na sala se viraram para nos encarar. – Minha filha, como é bom vê-la.
- É bom te ver também, pai... – Forcei um sorriso e o abracei assim que ele se aproximou.
- E você deve ser Zayn, huh? – Papai apertou a mão de Zayn, que tinha um sorriso impecável no rosto. – Eu sou Mark, o pai da sua namorada.
- Muito prazer, senhor. – Continuou sorrindo e me olhou como quem diz: “Tá vendo? Não está sendo tão ruim.”
- Por favor, me chame de pai! – Meu pai falou simplesmente e eu arregalei os olhos sem acreditar no que ouvia.
- Dad! – Chamei a atenção do mais velho, impedindo Zayn de responder qualquer coisa. – Porque você não me avisou que estaria dando uma festa?
- Porque eu sabia o que você ia dizer, é óbvio. – Rolou os olhos. Provavelmente eu havia pegado essa mania dele, mas enfim. – E todos queriam conhecer o seu pretendente.
- “Pretendente”? Essa expressão ainda existe? – Eu estava surpresa demais com tudo aquilo para me esforçar e ser a filha simpática. Desde quando um simples jantar se transforma em uma festa de noivado?
- Eu vou adorar conhecer todos, . – Segurou a minha mão mais uma vez e sorriu daquele jeito que sempre me acalmava.
- Está vendo só? – Mark sorriu orgulhoso e nos deu espaço pra ir falar com meus familiares. – Às vezes ela é muito ranzinza.
Ouvi meu pai sussurrar para Zayn e ele acabou rindo e concordando. Eu preferi ignorar, já que falar alguma coisa só iria provar aquela teoria. Passamos pelos meus tios e os cumprimentamos rapidamente. Para ser bem sincera, aquele casal não estava ali para conhecer o meu “pretendente” e sim pela comida de graça. Meu pai era o filho prodígio, o orgulho da casa, mas a irmã dele era completamente o contrário, então não se deu tão bem na vida assim e ainda por cima arrumou um marido que era pior que ela. Não me entenda mal, eu adorava os meus tios com todo o meu coração, mas às vezes a folga deles não tinha limites. Em seguida veio a minha avó Margaret, que foi bem simpática com Zayn e realmente gostou de conhecê-lo. É claro que ela não tinha nada a ver com a minha avó Jolene, que teria tratado-o como um verdadeiro príncipe, mas foi o suficiente. Por último veio o meu avô Keith, que deixou o charuto de lado assim que nos viu.
- , minha neta... – Abraçou-me. – Alguém já lhe disse que você está linda?
- Eu falo isso pra ela todos os dias. – Zayn sorriu e fez meu avô olhar pra ele. – Muito prazer, senhor Tomlinson. Sou Zayn Malik.
- O prazer é meu, Zayn Malik. – Keith sorriu e os dois apertaram as mãos.
- Vovô, Zayn também toca piano como o senhor... – Falei, tentando achar algo em comum entre os dois.
- O senhor também toca? – O mais novo perguntou interessado.
- Eu tocava quando era mais novo... Hoje em dia a idade não me permite mais. – Respondeu entristecido. – Aproveite enquanto pode, rapaz.
- Ok... – Intervi mais uma vez. Será que alguma pessoa não podia ter um assunto normal? – Nós vamos procurar o Lou, tá bem?
- Eu estou bem aqui. – Meu irmão apareceu atrás da gente e eu puxei os dois para longe de qualquer adulto constrangedor.
- Baby, eu sinto muito por você ter que passar por isso... – Olhei para o meu namorado, realmente sentindo muito por tudo aquilo.
- Eu já falei que não tem problema algum, . – Ele riu. – Pra falar a verdade, eu estou achando bem divertido.
- Só vai melhorar! – Louis riu. – Já abriram duas garrafas de vinho.
- Parfait. – Respondi irônica e olhei em volta, procurando a única pessoa que realmente me importava em ver. – Cadê a Lux?
- Ainda estava dormindo... Acho que vocês podem ir até o quarto dela. – Meu irmão respondeu.
Eu assenti com a cabeça e segurei Zayn pela mão, guiando-o para o caminho do quarto da minha irmãzinha. Tivemos que passar mais uma vez pelos meus tios que não paravam de comer. Ben também estava por ali, escondendo a boneca da irmã que chorava em um canto. Eu também sentia vontade de chorar e ir embora dali, mas não teria escapatória. Meu pai estava na cozinha e partia uns pedaços de queijo para repor a bandeja de frios que estava na mesa da sala e eu corri o suficiente para não ser notada por ele. Zayn ria de todas as minhas caras e bocas e pra ele aquela reunião familiar estava sendo algo normal. Eu abri a porta do quarto de Lux com cuidado e acabei encontrando Rachel lá dentro. Ela fez sinal para nós dois entrarmos e foi o que fizemos.
- Oi, ! – Beijou a minha bochecha e partiu para Zayn, falando aos sussurros. – Tudo bom, Z.?
- Tudo ótimo! – O menino a respondeu.
- Será que a pequena ainda demora muito a acordar? – Perguntei baixinho.
- Ela acabou de acordar, mas voltou a dormir... – A mãe da bebê riu. – Daqui a pouco ela acorda de novo... Fiquem aqui e eu vou ver como está tudo lá fora, ok?
Nós concordamos e ela se foi. Eu me aproximei do berço da minha irmã e dei uma espiadinha. Lux dormia tranquila, abraçada com um paninho e chupando uma chupeta cor de rosa. Zayn ficou ao meu lado e sorriu ao vê-la ali. Ele passou o braço em volta dos meus ombros e beijou o meu rosto. Por um segundo eu senti como se fossemos os pais e estivéssemos olhando a nossa filha dormir pela primeira vez em um quarto só dela. Balancei a cabeça para afastar aqueles pensamentos e o menino me olhou confuso.
- O que foi, ? – Manteve o tom de voz baixo, me olhando.
- Nada, babe. – Respondi e tentei ser bem convincente. – Ela não é linda?
- Ela é perfeita. – Voltou a olhar todo bobo para a mais nova e eu acabei sorrindo.
Ficamos em silêncio apenas observando-a abraçados. Aquele quarto era um tipo de esconderijo, já que ninguém entraria lá tão cedo, então Zayn e eu estávamos a salvo de mais conversas constrangedoras, pelo menos por um tempo. Lux começou a se mexer mais que o normal e foi abrindo os olhinhos devagar. Assim que a chupeta caiu de seus lábios, ela começou a reclamar coisas que não podiam ser entendidas e foram se transformando em um choro baixinho. Assim que ela me viu, esticou os bracinhos sonolenta, querendo que eu a tirasse dali.
- Minha baby girl acordou? – Perguntei ao abaixar a grade do berço para poder pegá-la.
- ... – Falou baixo, parando de chorar um pouco, e abraçou o meu pescoço assim que a tive nos braços.
- Sou eu, Luxy. – Beijei-a na bochecha gordinha e Zayn pegou a chupeta no berço. – Esse é o Zayn...
- Ei, princesa... – Ele parecia não querer assustá-la, por isso apenas entregou a chupeta para a pequenina.
- Zay? – Perguntou ao começar a acordar propriamente e olhou pra ele pela primeira vez.
- Algo assim. – Zayn sorriu pra mim e eu ri.
- Ele é meu namorado, Lux. – Assim que escutou aquela palavra, ela levantou a cabecinha para me olhar.
- Tio Li não? - Ela perguntou e eu desejei que não tivesse o feito.
- Claro que não, baby girl! Tio Li é meu amigo. – A expliquei e ela pareceu entender.
- Eu que sou o namorado dela! – Zayn não ficou com ciúmes, mas fez um bico.
- Ele não é lindo, Lux?
- Uhum. – A menor coçou os olhinhos com as pequenas mãos.
- Vocês é que são lindas! – O menino se inclinou na minha direção e juntou os lábios aos meus. Nós escutamos Lux gargalhar, por isso nos separamos para olhá-la.
- Você também quer beijo, Luxy? – Ri e Zayn e eu nos entreolhamos.
Antes que ela pudesse perceber ou responder, nós dois beijamos as bochechas gordinhas da pequena, um de cada lado. Ela gargalhou mais uma vez e estava ficando cada vez mais difícil me segurar para não morder aquele pedacinho de algodão doce loiro. Como eu não estava nem um pouco afim de sair daquele quarto calmo e silencioso, levei a bebê em meus braços até uma bancada, onde a deitei e troquei sua fralda. Não era a minha primeira vez fazendo aquilo, mas Zayn não conseguiu segurar uma careta quando eu lhe passei a fralda suja para que ele a jogasse no lixo. E pensar que um menino com duas irmãs mais novas já deveria ter perdido o nojo dessas coisas; tsc.
Coloquei Lux no chão e acendi a luz de teto, apagando o abajur fraco que iluminava o quarto parcialmente. A pequenina apertou os olhos devagar, se acostumando com a nova claridade, e logo puxou Zayn pela mão para levá-lo até uma mesinha com pequenas cadeiras em volta. Ela o fez se sentar em uma daquelas cadeiras que não suportavam o tamanho dele e depois veio atrás de mim, para também me sentar ao lado do meu namorado. Como a boa irmã que sou, a obedeci e fiquei esperando pra ver o que ela iria fazer.
- Vamos brincar de chazinho, Lux? – Perguntei e ela afirmou que sim com a cabeça.
- Eu quero o meu chá de maçã verde, senhorita. – Zayn já foi entrando na brincadeira.
- Tó. – Antes de começar a preparar o “chá”, Lux me entregou uma boneca.
- O que é isso? – Perguntei sem entender muito bem, mas segurei a boneca como se fosse um bebê de verdade.
- Sua filha, . – Respondeu com um sorrisinho.
- É claro que é a nossa filha, babe. – Zayn devia estar adorando aquilo, pois era bem a cara dele começar a falar de filhos ou casamento. – Qual é o nome dela?
- Eu gosto de Emma. – Dei de ombros, decidindo também brincar.
- Emma Tomlinson Malik. – O suposto pai do bebê falou todo orgulhoso. – Gostei.
- Você está gostando mais dessa história do que devia, Malik. – Arranquei uma risada dele. – É só uma brincadeira, ok?
- Por enquanto! Eu já disse que nós vamos ter vários filhos juntos. – E lá vinha ele com aquela história de novo.
- Vários? Quantos exatamente? – Ri.
- Uns cinco! – Falou sério. – Pra começo!
- Eu não sou uma cachorra pra ter tantos filhos assim! – Reclamei.
- Wooof. – Imitou um latido e até mesmo Lux riu daquela imitação, mesmo sem ter entendido a nossa conversa.
- Aqui está o chá! – Lux se aproximou da mesinha e colocou uma xícara na minha frente e outra na frente de Zayn, nos servindo com o chá invisível.
- Obrigada, pequena. – Sorri pra ela e peguei a xícara, levando-a até os lábios e fingindo dar um gole.
- Você tem que assoprar primeiro, ! – Zayn reclamou comigo e assoprou a própria xícara de brinquedo.
- Tá quente! – A loirinha entrou na onda dele e eu rolei os olhos.
- Desculpa! Eu vou assoprar, oh... – Assoprei o chá e Lux sorriu mais uma vez.
- Tá gostoso, Zany? – Perguntou para o menino, que riu.
- Tá uma delicia! – Respondeu. – Você poderia me dar a receita?
- Aham! – Riu e em seguida apontou para a boneca que ainda estava em meus braços. – Emma tá com fome?
- A Emma está com fome sim... Você pode fazer um leitinho pra ela? – Pedi e observei a minha irmã sair de perto da mesa e ir procurar algo no seu baú de brinquedos.
- Mas, ... – Zayn começou com um sorriso maroto e eu o olhei. – Acho que a Emma está na idade de tomar leite materno.
- Ah, é? – Perguntei com uma sobrancelha elevada e ele apontou para o meu decote com uma piscadinha, me fazendo rir. Terminei dando um tapa no ombro dele, que resmungou em reclamação. – Idiota.
- Quantos anos Lux tem? – Mudou de assunto ao ver que não conseguiria nada ali. – Ela é muito esperta.
- Quase dois. – Respondi enquanto a olhava preparar uma mamadeira. – Mas já começou a falar quando tinha nove meses.
- E qual foi a primeira palavra dela? Não vale falar “Star”!
- Queria eu! – Fiz um bico de lado. – A primeira palavra dela foi “Hally”.
- Hally?
- Yep. Ela estava tentando falar “Harry”. – Expliquei e Zayn pareceu surpreso.
- Harry? Seu amigo Harry?
- Esse mesmo! Os dois são absolutamente apaixonados um pelo outro.
- Sei... – Ficou enciumado e cruzou os braços. – Ela devia ser apaixonada por mim, já que eu sou o cunhado dela!
- Ela só está te conhecendo hoje, Zayn! Mas não se preocupe, porque ela vai gostar de você também. – Virei o rosto dele na minha direção. – Por enquanto já não basta uma de nós apaixonada por você?
- Pode ser... – Deu de ombros como quem diz “tanto faz” e voltou a olhar pra frente.
- Tanto faz? – Perguntei ofendia e também não toquei mais nele.
Zayn viu que eu estava chateada com o que ele falou, mesmo sabendo que era apenas brincadeira, então ele me abraçou de lado com força e me balançou, quase me derrubando da cadeirinha. Eu tentei me soltar dele, fazendo um bico maior que de criança, mas não adiantou. O menino começou a encher o meu rosto de beijos descontrolados e eu acabei rindo. A boneca em meus braços caiu no chão, mas eu não me importei muito. Segurei-o pelo rosto, fazendo parar de me atacar com aqueles beijos. Ele apenas me olhou com aquele sorriso branco e impecável e eu balancei a cabeça negativamente, mas também sorria. Zayn avançou contra o meu rosto novamente, porém dessa vez ele conectou os nossos lábios da forma certa e com delicadeza. Não nos beijamos de forma tão intensa quanto desejávamos, mas trocar selinhos demorados foi o suficiente para acalmar a saudade que um sentia do toque do outro.
- , quero a mommy. – A voz de Lux nos separou e eu a olhei.
- Quer a mommy, é? – Fiz um bico, pois aquilo significava que nós teríamos que deixar o quarto.
- Quero... – Lux devia estar escutando o barulho que vinha do lado de fora e por isso não queria mais ficar ali dentro.
- Então vamos lá pra fora? – Já fui levantando e ajudando Zayn a fazer o mesmo, já que ele quase ficou entalado naquela cadeirinha. – Sabe quem está aí também? A Heidi e o Ben!
- Eba! – Bateu palmas e sorriu por descobrir que seus primos estavam ali, o que significava que ela teria alguém com uma idade próxima a dela pra brincar.
Zayn foi quem pegou-a no braço e Lux não achou ruim, muito pelo contrário. Até começou a brincar com o brinco preto que ele tinha na orelha. Eu sorri ao ver os dois criando laços e fui abrir a porta para que pudéssemos passar. Zayn me seguiu e nós logo voltamos para a sala, onde minha tia Ruth foi a primeira a nos abordar. Ela começou falando que meu pai estava nos procurando e comentou como as torradas com tomate seco estavam deliciosas. Eu apenas concordei, mesmo ainda não tendo provado nenhuma delas. Heidi também apareceu e chamou Lux para brincar, então Zayn a colocou no chão e a pequenina foi correndo junto com a prima. Demos um jeito de despistar a minha tia, mas demos de cara com meu pai.
- Zayn, eu estava mesmo querendo conversar com você! – Meu pai o envolveu pelos ombros. – Por que não vamos até o sofá e você me conta um pouco mais da sua vida?
- Claro... – Pela primeira vez na noite eu vi Zayn ficar nervoso.
- Posso ir também? – Perguntei com um sorriso, mesmo sabendo que a resposta seria sim.
- , porque não vem me ajudar na cozinha? – Rachel apareceu do nada e me puxou pelo braço. Zayn me olhou como se pedisse socorro, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. – Lá tem vinho...
- Vinho? Eu preciso de vinho. – Suspirei. Não conseguiria passar por aquela noite sóbria, por isso a palavra “vinho” foi como música para os meus ouvidos.
Dessa forma os dois homens foram na direção do sofá da sala e eu tive que ir até a cozinha com Rachel. Eu tinha muito medo de todas as coisas que meu pai pudesse falar e ao mesmo tempo tinha pena de Zayn por ter que responder as perguntas constrangedoras que eu sabia que Mark faria. A última coisa que eu queria naquela noite era deixar os dois sozinhos, mas na primeira oportunidade que teve, a minha madrasta me afastou deles.
- Tem certeza que é uma boa idéia deixá-los sozinhos? – Perguntei enquanto procurava uma taça em um armário da cozinha.
- Você tem que deixar os dois se entenderem, . – A mulher respondeu e já se ocupou em abrir uma nova garrafa de vinho branco.
- Mas eles não podem fazer isso comigo do lado pra controlar a situação? – Achei o que estava procurando e entreguei o copo para Rachel encher.
- Eu conversei com o seu pai hoje a tarde e ele não vai falar nada de mais... – A madrasta falou, mas eu acabei rindo, pois devia ser uma piada.
- Rach, é do meu pai que estamos falando! – Fiz sinal para que ela colocasse mais bebida no meu copo, já que não havia passado nem da metade.
- Vamos esperar pra ver, então. – Sorriu tentando me encorajar e também se serviu de vinho. – Sabe quem sempre me pergunta sobre você?
- Quem? – Dei o primeiro gole na minha bebida.
- Carine! – Meu sorriso só aumentou ao escutar aquele nome.
- Sério?! E o que ela pergunta?
- Sobre como você está e coisas assim... Ela até mandou uma coisinha pra você. Depois me lembre de te dar.
- Que coisinha?! – Detalhes! Será que Rachel não era familiar com esse termo?
- É uma caixa! Mas eu não abri pra ver. – Deu de ombros como se não fosse importante, mas eu só fiquei mais curiosa ainda.
Rachel não me deu mais nenhuma informação sobre o que Carine havia me mandado e eu já começava a imaginar o que poderia ser. Uma revista autografada? Um convite para a Fashion Week de Londres? Uma proposta de trabalho como sua assessora na Models One? Tá que esse último não poderia vir em uma caixa, mas vai saber, né?! Eu bebericava do meu vinho e vez ou outra espiava pela porta da cozinha na tentativa de ver o que meu pai e Zayn estavam fazendo, mas Rachel tentava me manter ocupada o suficiente para que eu não ficasse prestando atenção nos dois. Missão impossível, diga-se de passagem. A única saída da mulher foi me ocupar com o Cordon Deux que estava no forno. Desde que eu falei para a loira que a comida preferida de Zayn era frango, ela provavelmente ocupou as horas livres de seu dia procurando as receitas mais gastronomicamente requintadas que envolvessem aquele ingrediente. Foi fácil ver o quanto ela estava querendo impressioná-lo, pois tudo parecia perfeitamente delicioso.
Aproveitando que eu já estava por ali mesmo, me servi da torrada com tomate seco que a minha tia havia elogiado tanto e ver se ela estava certa. “Não é que essa torrada está boa mesmo?” Pensei e afirmei com a cabeça. Eu deveria estar parecendo uma louca por balançar a cabeça como se estivesse conversando com alguém, mas na verdade só estava comendo alguma coisa. A minha primeira taça de vinho também se foi e eu tratei de enche-la. Minha intenção não era ficar bêbada ao ponto de cair no chão sem conseguir me equilibrar em cima do salto alto, porém eu pretendia usar o álcool para me deixar um pouco mais tranqüila e desencanada. Por um lado era bom ter um pai como o meu, já que ele não se importava que eu estivesse bebendo.
- ? – Zayn entrou na cozinha, me procurando. – Ah, Rach, o Mark está te chamando.
- Já vou indo... Obrigada, Zayn. – A mulher passou por nós e se virou na minha direção antes de sair: - Me chama quando o frango estiver pronto, ok?
- Pode deixar! – Acenei para Rachel e abri os braços para que Zayn se aproximasse. – Hey, baby.
- Quantas taças dessa aí você já tomou? – Perguntou com um sorriso e caminhou até mim, passando os braços em volta da minha cintura.
- Essa é só a segunda! – Respondi ao passar um braço em volta dos ombros dele. – Quer também?
- Não posso. – Me deu um selinho rápido e sorriu. – Estou dirigindo.
- Ahh, é verdade. – Sorri boba e dei um longo gole na bebida. – Como foi a conversa com meu querido pai?
- Foi boa, eu acho... – Riu da cara que eu estava fazendo. – Seu pai é bem legal, , não sei por que você estava tão preocupada.
- Ele não falou nada constrangedor sobre mim? – Levantei uma das sobrancelhas, achando muito difícil nada estranho ter acontecido.
- Claro que não! Ele falou coisas muito legais sobre você e disse o quanto é uma filha maravilhosa. – Aquilo realmente não parecia tão ruim, mas a forma que Zayn me olhou em seguida denunciou que tinha mais. – Mas ele me deu algumas camisinhas.
- Ele o quê? – Senti vontade de me esconder e por isso virei a taça de vinho nos meus lábios, engolindo tudo de uma vez e fazendo uma nova careta. – E o que você disse?
- Eu agradeci. – Riu e tirou a taça vazia da minha mão, me impedindo de enchê-la novamente. – Mas também falei que nós ainda não fizemos...
- E o que ele disse? – O interrompi antes que terminasse a frase.
- Ele perguntou se eu tenho algum problema lá embaixo. – Riu mais ainda ao me contar. – E quando eu disse que não, ele quis saber por que ainda não fizemos. Aliás, porque ainda não fizemos?
- Zayn! – Ri nervosa por efeito do vinho. Isso não é coisa que se pergunte. – Essas coisa não são assim!
- Sei disso, babe. – Encostou a testa na minha e acariciou a minha cintura. – Eu só estava brincando. Você precisa do seu tempo e eu sei respeitar. Nem que eu tenha que esperar até o dia do nosso casamento.
- Lá vem você falando de casamento de novo! – Rolei os olhos e soltei uma risada baixa. Entrelacei meus dedos atrás da nuca dele e as deixei por ali.
- Quando vai acreditar que eu ainda vou me casar com você? – Passou o nariz pelo meu e eu fechei os olhos. – E não se esqueça da nossa Emma.
- Tá bem, Malik, não vou esquecer. – Fui meio irônica em minha resposta, mas e realmente não iria esquecer. Tinha certeza que isso ficaria martelando na minha cabeça durante muito tempo, mesmo contra a minha vontade.
- Sua boca está cheirando a vinho... – Sussurrou nos meus lábios e eu tive que abrir os olhos para olhar pra ele.
- É? – Perguntei no mesmo tom baixo e rocei os lábios aos dele.
Zayn não perdeu aquela oportunidade e mordeu o meu inferior, prendendo entre os dentes. O pequeno machucado que eu tinha ali (causado por outra mordida daquele mesmo garoto) latejou um pouco, mas eu não reclamei. Ao invés de soltar o meu lábio, Zayn o chupou e me pressionou mais uma vez contra a bancada da cozinha. Eu começava a notar um padrão, sem saber se ele realmente gostava de balcões e coisas do tipo, ou se realmente apreciava ter o meu corpo tão próximo ao dele. Só pra deixar claro, eu também não reclamei. O envolvi pelo pescoço com os meus braços e pude sorrir marota quando finalmente tive o meu lábio liberto. Fechei os olhos e investi contra o rosto do outro, mas ele o afastou na mesma hora. Abri os olhos confusa e encontrei um sorriso bem mais maroto que o meu. Aquele era um tipo de jogo? Porque se fosse... Eu estava gostando.
Acabei sorrindo divertida e foi a vez dele de voltar a aproximar o rosto do meu. Claro que eu não me renderia assim tão fácil, então me esquivei e minha boca foi parar no queixo dele, onde mordi com certa força. Escutei uma reclamação, porém não foi o suficiente para me parar. Zayn me olhou enquanto mordia o próprio lábio inferior e aproveitou que meus cabelos estavam soltos para emaranhar a mão direita no meio deles e segurar. Eu não tinha mais pra onde fugir e, sinceramente? Não queria mesmo. O que eu fiz em seguida foi fechar os olhos e deixar que nossos lábios se confundissem em um só. Eu poderia ter bebido duas taças cheias de vinho, mas estava com sede. Sede dele; e foi isso o que demonstrei naquele beijo, puxando-o pela gola da camisa, massageando a língua dele com a minha e praticamente brincando de pega-pega dentro das nossas bocas.
Escutei que alguém entrou na cozinha, mas depois de ser interrompida tantas vezes enquanto estava nos braços de Zayn, a pessoa acaba se acostumando e deixando de se importar. É claro que nós diminuímos um pouco a “temperatura” do nosso momento de carinho, se é que me entende, porém não nos separamos muito. Continuamos aquele beijo que poderia ser eterno até escutar alguém limpar a garganta. Pelo tom da voz que fez tal barulho eu decifrei que era Louis chegando para atrapalhar a nossa alegria, o que foi mais um motivo para eu demorar tudo que pude para enfim descolar dos lábios macios e extremamente apetitosos do meu namorado.
- Por mais que eu odeie ter que presenciar essas cenas... – Louis começou, me fazendo olhar pra ele por cima do ombro de Zayn. – Tenho que admitir que vocês formam um casal legal.
- Se não gosta, não fique assistindo. – Respondi sendo chata de propósito, mas meu riso que se seguiu denunciou que eu estava apenas brincando. – Mas obrigada, Lou.
- Disponha. – Sorriu e olhou em volta. – A Rach me pediu pra vir ver se o jantar já está pronto...
- Ai, meu Deus! – Me afastei de Zayn rapidamente e corri até o forno. – Eu me esqueci completamente!
- Acho que tenho um pouco de culpa nisso... – Zayn disse preocupado. Eu seu que ele não se perdoaria se o jantar tivesse ido por água abaixo por que ele me distraiu.
- Deu pra salvar. – Suspirei aliviada e peguei uma luva térmica, retirando a bandeja de alumínio do forno. – A Rach ia me matar!
- Então ainda bem que eu apareci por aqui. – Louis simplesmente encostou-se à geladeira e cruzou os braços.
- Ainda bem mesmo! – Deixei a bandeja em cima da bancada que eu estivera encostada há poucos segundos e retirei a luva da minha mão. Joguei-a no peito do meu irmão e puxei o outro garoto pela mão. – Termine de arrumar a comida e eu vou falar pra dona da casa vir te ajudar.
Sei que Lou não sabia o que fazer, mas eu também não tinha idéia. Preferi sair da cozinha antes que mais alguma coisa acabasse sobrando pra mim e meu irmão não reclamou. Algo me dizia que ele iria tirar uma casquinha daquela comida que estava parecendo tão gostosa antes que fosse posta à mesa. Zayn me seguiu sem falar nada, por mais que eu tenha sentido que ele ficou um pouco tenso ao passar ao lado de meu pai. Tenho certeza que a conversa que eles tiveram não fora tão boa ao ponto de querer repetir a dose. Já bastava meu pai dar camisinhas pra ele; eu não precisava de uma aula sobre contraceptivos naquela altura da minha vida. Ter um familiar médico é bom por várias razões, mas aquela não era uma delas.
Também passamos por Rachel e eu avisei que já tinha tirado o Cordon Deux do forno, o que a fez parar de conversar com meu tio Simon e ir até a cozinha. Continuei o meu trajeto com Zayn segurando firmemente a minha mão até chegarmos em uma ponta mais afastada do sofá. Fui a primeira a me sentar, mas deixei um espaço para que o menino fizesse o mesmo. As crianças estavam brincando ali por perto Ben passou correndo por nós.
- Peguei você! – Falei ao agarrar o meu primo de sete anos pela cintura.
- ! – Ele disse depois de gritar com o susto que levou.
- Não fala mais comigo não, é? – O fiz se sentar no meu colo e dei um beijo em sua bochecha.
- Desculpa, eu não te vi! – Eu sabia que era mentira, mas o loirinho de cabelos lisos era tão fofo que eu deixaria passar. – Vem brincar com a gente?
- Depois do jantar eu brinco com vocês, tá? – O abracei e não quis mais largar até ele fazer um barulho de estar sendo esmagado.
- Eu posso brincar com vocês também? – Zayn bagunçou o cabelo de Ben, que olhou pra ele e balançou a cabeça afirmando que sim.
- Benster, esse é o Zayn, meu namorado. – Apresentei os dois e sorri. – E esse gordo aqui é o meu primo Ben!
- Gorda é você! – O menor respondeu com uma risada.
- Como é que é? – Perguntei entre dentes e fiz cara de brava, enchendo-o de cócegas em seguida.
Zayn riu ao meu lado e Ben conseguiu escapar do meu colo, voltando para onde estava brincando com as duas meninas. Eu amava cada uma daquelas crianças, inclusive Heidi, com quem eu ainda não havia falado. Sei que estava passando mais tempo com os pequenos do que com os adultos da minha família, mas quem pode me culpar? Zayn também ficava mais a vontade com eles do que com os outros, por isso não me importei. O próprio acabou passando o braço por trás do meu corpo e eu me encostei ao dele, descansando a cabeça no ombro do mesmo. Os carinhos que recebi em meus cabelos me fizeram suspirar e quase adormecer ali mesmo.
- O jantar está servido! – Meu pai anunciou e eu despertei devagar, recebendo um beijo na bochecha vindo de Zayn.
Após o jantar, Ben, Heidi e Lux arrastaram Zayn e eu até a varanda, onde haviam colocado um tapete e vários brinquedos. Eu estava um pouco relutante em ter que sentar no chão, mas Zayn não me deu muita escolha ao me puxar e quase me fazer cair sentada no colo dele; coisa que nenhum de nós dois teria se importado que acontecesse. Aparentemente a brincadeira da vez seria construir bijuterias com aquelas miçangas coloridas que vem em várias formas e modelos. Nós separamos todos os tipos no centro para que não houvesse brigas e cada um pudesse usar o que quisesse.
- , corta pra mim? – Heidi me entregou um rolo de linha e uma tesoura sem ponta. A menina era apenas dois anos mais velha que Lux.
- Corto sim... – Antes que eu pudesse começar a cortar um pedacinho da linha para que ela começasse sua obra de arte, minha irmã engatinhou até o meu colo e ficou sentada ali.
- Acho que alguém ficou com ciúmes. – Zayn comentou e eu olhei para Lux, que estava com um bico que conseguia ser maior que o de Liam.
- Ownt, que gracinha! – Ri e comecei a cortar pedaços de linha. Entreguei o primeiro para Lux, depois para Heidi e por ultimo um para Ben.
- Ei, eu não vou ganhar um? – O único que faltava receber um pedaço reclamou e eu rolei os olhos.
- Você sabe cortar sozinho, Malik!
- Eu posso me machucar, ... – Fez uma carinha de criança pidona que eu não consegui resistir por muito tempo.
- Qual tamanho você quer?
- Não precisa ser muito grande... – Pegou a ponta da linha e apontou para onde eu deveria cortar. – Aqui tá bom.
- Você é que manda. – Ri e passei a tesoura onde ele indicara. – Pronto, baby.
- Obrigado. – Agradeceu-me com um selinho e Lux riu do mesmo jeito de antes, quando nós nos beijamos na frente dela no quarto. – Essa menina vai ser uma beijoqueira quando crescer!
- Quando crescer?! Ela já deu o primeiro beijo.
- Sério? – Riu jogando a cabeça pra trás daquele jeito que eu tanto gostava.
- Pior que sim! Com o Charlie, né, Lux? – Ao ouvir o nome do amiguinho, a pequena olhou para os lados como se o procurasse.
- Chalie? – Perguntou.
- Charlie e Lux! – Expliquei pra ela, que continuou sem entender. – Ou como eu gosto de chamar... Chux!
- Chux... – Repetiu. – Tá aí, gostei!
Paramos de falar naquele assunto para podermos nos concentrar nas nossas bijuterias. Lux pediu a minha ajuda, por isso eu me ocupei em ajudá-la a colocar as miçangas naquela linha que era fina demais pra ela acertar sozinha. Ora ou outra Heidi também pedia a minha ajuda e a minha irmã mais nova não gostava nada quando eu parava pra auxiliar a nossa prima. Ben era o único que conseguia fazer sozinho. Bem... Ele e Zayn, por mais que esse último não me deixasse ver o que ele estava fazendo.
Logo nossos avós vieram se despedir, pois estavam indo embora. Eu me levantei para abraçar cada um, mas as outras crianças pareciam não dar muita importância. O que mais me surpreendeu é que quando Lux teve que sair do meu colo, ela foi para o de Zayn, que ficou ultra feliz. Meu avô foi o primeiro a me abraçar, entupindo-me com aquele cheiro de charuto. Ainda bem que a minha avó Margaret veio em seguida, disfarçando o odor com o seu perfume amargo.
- Foi adorável vê-la, minha querida. – Simpática como sempre, arrumou uma mecha do meu cabelo que estava fora do lugar.
- Eu concordo, vovó. – Sorri. – Eu acompanho vocês até o elevador...
- Então vamos, só me deixe pegar o meu casaco... – Keith é quem passou primeiro, me dando tempo de virar na direção de quem estava na varanda.
- Sweety? – Chamei por Zayn, que conversava animadamente com Lux. – Eu já volto, tá?
- Não vou sair daqui. – Sorriu.
Deixei a área da varanda pra trás e fui ao encontro de mus avós que se despediam de meu pai e Rachel. O jantar devia estar acabando, pois meus tios também se preparavam pra ir embora e tentavam esconder um pedaço do bolo que fora a sobremesa dentro da bolsa que tinha as coisas dos meus priminhos. Eu torcia para que os filhos deles não crescessem como os pais. Até que no geral aquela reunião familiar não havia sido um desastre completo. Quero dizer... As coisas poderiam ter sido bem piores do que realmente foram. Além do mais, aquela era a minha família. Com todos os defeitos e qualidades, sem tirar nem por, era o que eu tinha e por isso seria eternamente grata a todos. Felizmente Zayn estava aceitando fazer parte dela do jeito que era e isso me fez relaxar para aproveitar o restinho da noite. Eu estava tão absorta em pensamentos que só reparei que estava perto do elevador quando Margaret falou comigo.
- Diga ao seu namorado que eu adorei conhecê-lo, sim? – Deu-me um último abraço.
- Eu digo sim, pode deixar. – Após nos abraçarmos, eu segurei a porta do elevador para que ela e o marido pudessem entrar. – Até logo!
- , segure o elevador! – Meu tio Simon gritou e o meu avô foi quem segurou a porta para esperá-lo.
- Também já vão? – Fiquei de joelhos no chão e abri os braços para que Heidi e Ben viessem me abraçar.
- Eu queria ficar, mas a mamãe não deixou. – A pequenina fez bico.
- Já está tarde e vocês tem aula amanhã! – Ruth respondeu.
- Ihh, nesse caso ela está certa! – Deixei um beijo na bochecha de cada um e a vez de Ben fazer bico, não gostando nada do que eu falara. – Mas eu prometo que qualquer dia desses passo lá pra buscar vocês e vamos todos brincar mais, tá bem?
- Promete? – Ele tocou a ponta do meu nariz e eu fiz uma careta.
- Claro que eu prometo! – Levantei.
- A Lux também pode ir? – Heidi me olhava.
- É claro que pode! – Observei os quatro entrarem no elevador e acenei.
- Tchau, . Boa noite. – Meu tio se despediu e a porta automática fechou.
Dei meia volta e encontrei meu irmão quase roncando no sofá de tão cansado que devia estar. Rachel terminava de recolher os pratos e copos sujos que estavam espalhados pela casa e meu pai estava bastante ocupado lavando os que já se encontravam na cozinha. “Acabou o pesadelo e eu sobrevivi...” Era o que eu pensava. E olhe que nem precisei ficar bêbada ou coisa parecida! Atravessei a sala e balancei o meu irmão quando passei por ele, fazendo-o despertar. De uma coisa a minha tia estava certa; o dia seguinte era dia de aula e por isso estava na hora de também irmos embora. Louis quase foi ao chão e eu bufei por ter um irmão tão idiota.
Cheguei na entrada da varanda e fiquei parada por ali, observando enquanto Lux e Zayn dançavam valsa. A pequena devia estar se sentindo a própria princesa, pois Zayn a rodopiava e fazia reverências. Ri daquela cena tão linda e aquele assunto que eu tentava evitar acabou surgindo na minha cabeça como eu sabia que iria. “Ele vai ser um ótimo pai...” Por mais que eu tivesse balançado a cabeça para afastar aquele pensamento, sabia que estava certa. “Quem sabe ele tá falando sério quando diz que vamos casar e ter filhos, né?”
- Zayn? – Chamei a atenção dos dois e eles pararam de dançar.
- Vem dançar com a gente, ! – Estendeu a mão para que eu me juntasse, mas eu acabei puxando-o para perto de mim ao invés de eu mesma ir.
- Está tarde, baby. É melhor a gente ir. – Passei a mão pelos cabelos dele com um meio sorriso.
- Eu vou te deixar em casa, né? – Beijou a minha bochecha.
- O Lou está de carro, então eu acho melhor voltar com ele, já que você mora do lado oposto...
- Poxa... – Curvou os lábios para baixo e choramingou.
- Não faz assim, oh... – O abracei pela cintura e encostei a cabeça no peito dele. – É que eu fico preocupada em você ter que voltar pra casa sozinho depois de me deixar... Pelo menos aqui é um pouco mais perto.
- Eu sei que você está certa, mas eu queria passar mais tempo com você. – Retribuiu o meu abraço, envolvendo-me pelos ombros.
- A gente vai se ver na Academy, então nem vai dar tempo de você sentir a minha falta. – Pena que eu não podia falar o mesmo sobre mim...
- Isso é mentira! – Me apertou com mais força antes de me soltar. – Eu fiz uma coisa pra você.
- O que? – Meus olhos brilhavam de curiosidade.
- Isso aqui... – Pegou a minha mão direita e colocou uma pulseira em volta do meu pulso.
Eu sorri ao ver aquela bijuteria que ele mesmo havia feito, descobrindo o motivo que o levou a esconder seu trabalho de mim enquanto estávamos sentados na varanda. Pude ler o nome “Star” formado por algumas miçangas com letras. Fora isso não havia mais nenhuma forma de organização ou padrão, ou seja: As outras pedrinhas foram adicionadas aleatoriamente, formando uma bagunça completa de cores e formas. Acho que era justamente isso que tornava aquele bracelete tão especial.
- Eu amei...
Capítulo XXXV
- , a apresentação é amanhã! – Não tinha nenhum tom de comemoração na voz de Nicholas e ele estava sendo um pé no saco naquela sexta-feira.
- Eu sei disso, Nick! – Joguei as mãos para o alto e caminhei até a barra de ballet em frente ao espelho. Inclinei-me sobre ela e respirei fundo. – Mas o que você quer que eu faça? Eu não consigo dar esse pulo, não consigo!
- Eu quero que você se esforce mais!
Nós dois estávamos bem cansados devido às longas horas de ensaio que enfrentamos naquela manhã, mas ele devia estar me testando, já que não parava de me cobrar. Nossa rotina estava pronta e preciso admitir que a apresentação seria linda. A única coisa me preocupando era um salto que Nick insistia em adicionar a ela. Não era um salto normal, como os que eu estava acostumada, e eu não consegui realizá-lo em nenhuma das nossas tentativas. Quando eu cheguei mais perto de acertar, acabei perdendo o equilíbrio e caindo no chão. A partir daí só fiquei mais preocupada ainda em me machucar antes do “grande dia” ou até mesmo ir ao chão durante a apresentação. Realmente não tinha como decidir entre um ou outro, já que os dois eram péssimos.
- Você está de brincadeira, né? – O olhei pelo reflexo do espelho e não sabia se devia começar a chorar ou gritar com ele. – Me esforçar mais? Não sei se você percebeu, mas quem está toda esfolada de tanto cair no chão aqui sou eu!
- Mas você não está se concentrando! – Bufou.
- Eu desisto, Nick! – Seria melhor sair dali do que acabar brigando mais ainda e falar algo que eu pudesse me arrepender depois. Saí de perto da barra e comecei a andar em direção à saída da sala, pisando forte.
- Ei, espera! – Me parou no meio do caminho e eu nem ao menos o olhei. – Me desculpa, ... É que quando eu fico nervoso, eu fico assim.
- Eu também estou nervosa, sabia? É a primeira vez que eu vou dançar em frente à Academy inteira e quero que tudo seja perfeito! Mas aparentemente não vamos ser perfeitos porque eu acerto a droga desse pulo! – Falei tudo de uma vez e quase perdi o ar.
- Calma, calma. – Segurou os meus ombros e eu respirei fundo. – Vamos ser perfeitos sim, você vai ver! E eu acredito que você vai conseguir dar esse pulo...
- Duvido muito. – Rolei os olhos e ri irônica.
- Vamos tentar uma última vez? – Ele pediu e eu choraminguei. – Por favor, vai? Diz que sim?
- Você não vai mesmo desistir disso, né? Argh, tá bem!
Descobri algo novo aquela manhã: Nick conseguia ser pior que eu quando queria alguma coisa. E olhe que eu já era muito chata! Como não teria outra escolha, balancei a cabeça de um lado para o outro e balancei os ombros, meio que me preparando. O meu parceiro de dança sorriu satisfeito e me soltou, indo para o canto da sala. Eu fiz aquele sinal de “tô de olho em você”, também indo para o meu lugar, e ele só riu. “Fique calma, , vai dar tudo certo.” Repeti várias vezes na minha cabeça. Quem sabe assim eu acredito, né?
Foquei o meu olhar em Nick, já que ele seria o meu ponto de apoio. Demorei um pouco demais para começar a minha corrida em direção a ele, mas pelo menos consegui sair do lugar. Ao chegar na metade do caminho que nos separava, fiz plié para pegar impulso no chão e saltei. Eu poderia ter me concentrado um pouco mais, mas não via o motivo, já que tinha certeza que terminaria no chão. Abri as minhas pernas até formar o ângulo de 180º, desejando que eu só precisasse fazer aquilo. Com a mesma velocidade que as abri, voltei a juntar uma perna à outra. Nick se apressou a me segurar pela barriga e me levantar para o alto. Eu o olhei com um sorriso, mas ele me reprovava com os olhos.
- O que é? O salto foi bom! – Reclamei e ele me colocou no chão.
- O salto foi bom sim, mas não foi o que combinamos!
- Tudo bem, Nick, eu vou aprender a voar e aí nós fazemos o que você quer, ok? – Por mais que eu tentasse não me estressar, estava sendo cada vez mais difícil.
- Pelo menos se você não conseguir virar, ainda podemos fazer esse pulo de frente mesmo. – Deu de ombros. – E se você cair, é só fingir que esse era o nosso objetivo o tempo todo. Se você começar a sangrar, é até melhor, porque aí a nossa apresentação vai ser bem polêmica.
- Isso mesmo, Nicholas, pensamento positivo! – Ironizei, mas acabei rindo.
- Vai dar tudo certo! – Me puxou para um abraço e me deu um cascudo.
- Você vai se arrepender de ter feito isso! – Reclamei e o empurrei.
Ele começou a correr pela sala e eu fui atrás. Nick me irritara a manhã inteira, então aquele seria o momento da minha vingança. Dei sorte de o chão da sala ser tão encerado, pois o garoto tinha medo de escorregar e acabava correndo bem devagar, o que me deu a chance de alcançá-lo. Para alguém que já caiu tantas vezes em um curto período de tempo, o medo de escorregar acaba indo embora. Aproveitei que as minhas pernas estavam acostumadas a saltar e pulei em cima de Nicholas, agarrando-o pelos ombros e levando nós dois ao chão. Ele gritou e eu soltei uma risada maléfica no maior estilo “Muahaha”. O que eu não sabia era que estávamos sendo vigiados, por isso a voz feminina que apareceu em seguida me assustou muito.
- Eu não vou nem perguntar o que está acontecendo. – A diretora estava parada na porta da sala, provavelmente se perguntando o porquê de ter escolhido justamente aquele casal pra ser o encerramento do baile de inverno.
- Diretora... Oi. – Falei meio sem jeito, saindo de cima de Nick e arrumando a minha saia de chifom.
- Olá, Srt. Tomlinson. Sr. Hoult. – Continuou séria como sempre. – Podem me acompanhar, por gentileza?
- Claro!
- Viu? Estamos encrencados por culpa sua. – O menino sussurrou na minha orelha e eu dei uma cotovelada em suas costelas.
Nenhum de nós três falou mais coisa alguma. A diretora deixou a sala e eu fui correndo pegar a minha bolsa e muda de roupas no banquinho de madeira como de costume. Pelo menos Agnes teve compaixão e esperou que eu me juntasse a ela e Nick do lado de fora. Seguimos adiante, passando pelo corredor deserto e chegando até o elevador. Aproveitei aquele percurso pra me cobrir com o meu cardigan comprido. Nunca gostei de ficar andando por aí com o uniforme de ballet e ninguém pareceu se importar com o que eu estava fazendo. Era melhor me enrolar com aquele agasalho do que perder tempo indo até o banheiro e trocar tudo. Principalmente por Agnes aparentar estar com pressa.
O elevador nos levou até o subsolo, onde eu nunca havia estado até aquele momento. O lugar não parecia um porão abandonado como o que eu achava e era perfeitamente iluminado e limpo. Passamos pelo único caminho até ele terminar em uma porta branca de madeira. Agnes a abriu e revelou um verdadeiro salão de baile, o qual estava quase totalmente decorado com o tema da festa que aconteceria no dia seguinte. disse que o “baile de inverno” tinha esse nome por ser uma espécie de celebração ao início do inverno. Pode até ser óbvio demais, mas os enfeites eram em formato de flocos de neve e derivados.
Olhei em volta e estudei cada detalhe daquele salão: O teto era bem alto e tinha lâmpadas caindo em uma espécie de cascata que ia de um lado outro, mas não eram todas que estavam acesas. No centro do salão estava um espaço realmente grande e vazio, onde deveria ser a pista de dança. Ao redor estavam algumas mesas redondas que ainda não foram totalmente arrumadas e nem ao menos cobertas por uma toalha ou coisa assim. Mais ao fundo e em frente á pista de dança estava um palco de mais ou menos um metro e meio de altura, onde algumas pessoas arrumavam instrumentos. Entre essas pessoas eu consegui avistar certo garoto que eu reconhecia mesmo estando de costas.
Um sorriso surgiu em meus lábios e a vontade de correr até o meu namorado e abraçá-lo era maior que tudo. Eu cheguei até mesmo a me virar na direção do palco e dar um passo naquela direção, mas Nick me impediu. O olhei sem entender, mas ele indicou a diretora com um aceno de cabeça e eu deduzi que ela deveria querer dar algum aviso importante, já que tinha nos arrastado até ali. Terminei ficando no mesmo lugar e perdendo Zayn do meu olhar, já que ele começou a conversar com um garoto baixo e nem ao menos tinha notado a minha chegada no salão.
- Bem, acho que todos já estão aqui, então eu posso começara falar. – Voltei a olhar para Agnes e notei que não era mais apenas eu e Nick que estávamos por ali: Jessica estava ao lado de Brigitte e mais três meninas que eu não conhecia, um quarteto de estudantes de teatro, uma garota que eu sabia que cantava e mais outras pessoas que eu não me preocupei em identificar. – Como podem ver, o baile de inverno vai continuar a acontecer aqui e esse é o espaço que vocês terão para se apresentar...
Olhar novamente na direção do palco foi uma péssima idéia, pois assim que meu olhar encontrou o de Zayn, eu já não consegui prestar atenção em mais nada do que a diretora falava. Não sabia há quanto tempo o garoto estava me olhando, mas o seu sorriso denunciava que já fazia um tempo. Ele acenou de longe e eu fiz o mesmo, com um sorriso que conseguia ser maior que o dele. “Oi.”, apenas mexi os lábios e ele respondeu da mesma forma: “Oi, .” Fez uma palhaçada em seguida, pegando duas baquetas da mão do garoto com quem estivera conversando momentos antes e fingiu tocar uma bateria invisível. Eu ri e cobri a boca com as mãos, tentando não chamar a atenção de quem estava ao meu redor.
- Então Nicholas e serão os últimos. – Escutar o meu nome me fez olhar para a diretora e me perguntar o que eu poderia ter perdido. – Certo?
- Certíssimo. – Nick respondeu ao ver que eu estava mais perdida que cego em tiroteio.
- É... – Falei só pra não ficar calada.
- Muito bem. Outro aviso que eu também tenho que dar é que no fim da noite estaremos revelando os primeiros resultados da peça Romeu e Julieta, por isso alguns de vocês que estavam pensando em sair mais cedo devem ficar até o final. – Ou seja, eu deveria ir embora o mais rápido possível pra não ter que escutar que Brigitte seria o par romântico de Zayn assim que eles ganhassem os papeis principais, o que era bem óbvio que iria acontecer. – Observem bem o espaço e decidam se precisam mudar alguma coisa nas suas apresentações. Caso contrário, estão liberados.
Me impressionava cada vez mais o fato de aquela diretora não saber sorrir, pois ficava séria o tempo inteiro. Coitado do marido dela, se é que ela tinha um... De qualquer forma, a senhora se afastou e foi falar com algum professor de teatro que estava esperando por ali. Eu olhei para o espaço da pista de dança, imaginando se a minha própria apresentação caberia ali dentro, mas tinha certeza que sim.
- O espaço é bem legal... – Nick se virou pra mim após também estudar o local.
- É sim... Mas acho que não teremos espaço pra fazer aquele pulo que você queria. – Menti. – Mas ele nem era tão importante, né? Então não tem problema se a gente deixar ele de lado...
- Boa tentativa, . – Riu. – Tem espaço de sobra pra fazer o pulo.
- Droga. – Resmunguei.
- Você não vai conseguir escapar!
- Escapar do que? – Senti braços fortes me envolvendo por trás e Zayn beijou a minha bochecha após perguntar.
- Das garras da morte! – Dramatizei.
- A não confia em mim, então não quer fazer o passo mais importante da nossa apresentação. – Nick explicou e eu senti Zayn me apertar mais ainda. – Mas eu já falei que ela vai se sair bem.
- É claro que vai! – Me olhou de lado. – Ela é sempre perfeita em tudo que faz.
- Que exagerado! – Sorri e inclinei o rosto na direção do de Zayn, dando-lhe um selinho demorado.
- Eu vou indo, ok? – Nicholas devia estar se sentindo deslocado, por isso preferia ir embora. – Nos falamos mais tarde, ?
- Com certeza. – Eu tentei abraçar o meu parceiro, mas Zayn me prendeu em seu abraço. – Descanse!
- “Nos falamos mais tarde, ?” – Zayn fez uma voz fina imitando Nick assim que este foi embora.
- Para de ser chato, Malik! – Acabei rindo daquela imitação e virei de frente para o garoto, passando os braços em volta do pescoço do mesmo.
- Vai defender o amiguinho, é? – Fez birra e me olhou sério.
- E se eu for? – Provoquei.
- Eu não deixo! – Riu. Acho que Zayn até tinha tentado ficar bravo comigo, mas não conseguiu resistir aos meus sorrisos.
- Oi, pombinhos. – Aquele garoto com quem Zayn estivera conversando no palco se aproximou.
- Olá! – Desfiz o abraço e me virei para o recém chegado.
- Meu nome é Josh. Josh Devine. – Pegou a minha mão e a beijou, totalmente galanteador. – Você deve ser a .
- Pode me chamar de . – Sorri tentando ignorar o rubor de minhas bochechas.
- Josh é o nosso baterista. Ele sempre toca quando eu e Niall temos alguma apresentação, mas não estuda aqui. – Zayn explicou.
- Isso explica eu não lembrar de ter te visto por aqui! – Comentei.
- , você não pode lembrar de todo mundo que estuda aqui. – Meu namorado rolou os olhos.
- Mas eu lembraria dele. – Pisquei para Josh de brincadeira, mas mesmo assim ele corou.
- Epa. – Zayn notou o que eu fizera. – É melhor a gente ir encontrar a e o Niall antes que eu perca a namorada para um baterista.
- Você sabe o que falam sobre bateristas, né? – Josh sorriu convencido.
- Que são bons com as mãos? – Mordi o lábio só pra causar mais ciúme ainda.
- Ok, é realmente hora de ir embora.
Zayn sabia que eu e Josh estávamos apenas brincando, mas mesmo assim me agarrou pela cintura e praticamente me arrastou para fora do salão de baile. O que restou para fazer foi acenar para o baterista de longe e tentar não acabar tropeçando e caindo no chão, já que Zayn estava andando rápido demais. Nós deveríamos estar indo até a sala de aula de , pois pelo horário a aula de Niall já tinha acabado e a dela estaria acabando.
- Hey, eu ainda tenho que me trocar!
Uma coisa que eu amo em sanduicherias londrinas é que os funcionários não se importam se você acabar ficando por lá durante horas depois de terminar comer. E foi exatamente isso que , Niall, Zayn e eu fizemos; resolvemos ficar estirados nos bancos do Burger King após o almoço. Eu nunca havia comido tanta batata frita em uma refeição só e estava quase passando mal. tentou me controlar, falando que eu deveria maneirar na comida para ainda caber no meu vestido de baile, mas essa lembrança me fez comer ainda mais. Culpa do nervosismo que me dominava! Eu sempre invejei aquelas pessoas que param de comer quando estão nervosas, mas comigo era exatamente o contrário: Eu comia sempre mais e depois ainda ficava com o peso na consciência e me achava gorda demais.
Eu estava praticamente deitada em um daqueles bancos estofados, aproveitando que estava bem no canto, e tinha as minhas pernas em cima de Niall, que estava sentado ao meu lado e batucava nas minhas canelas com dois canudos. Zayn estava do meu outro lado e tinha a cabeça deitada no meu ombro; fazendo ocupar a cadeira em frente a minha e quase babar na mesa. Coloquei a mão sobre a barriga e ri sozinha. Os outros três me olharam como se eu fosse louca e se perguntavam qual era a graça.
- Eu comi tanto que até estou triste... – Ri mais uma vez.
- Mas você está rindo... Tristeza não deveria ser o contrário? – estava tentando achar algum ponto de lucidez naquele meu comentário.
- Sim, mas o caso não é esse! – A olhei e balancei a cabeça. – É só que... Ficar triste por comer demais é meio patético.
- Principalmente quando muitas pessoas ficam tristes por não ter o que comer. – Niall me olhou com cara feia e Zayn acabou rindo também. – Qual é a graça agora?
- Eu não sei! – Gargalhou mais uma vez e eu fiz o mesmo.
- Por que estamos rindo? – Levei uma mão ao rosto, mas não consegui parar de rir.
- Vocês estão loucos! – nos olhou com decepção.
- Acho que o Zayn andou dividindo a erva dele com a . – Niall comentou com a namorada e eu gargalhei.
- Shhhhhhhh, Niall! – Zayn jogou uma bolinha de guardanapo no loiro. – Nós ainda não estamos nesse nível. Minha erva é uma coisa preciosa e eu não posso dividir com qualquer pessoa.
- Heeeeeeey! – Dei uma cotovelada nele. – Eu não sou qualquer pessoa, ok? Pare de esconder essa erva de mim!
- Tsc tsc tsc. – Uma senhora que passou por nós nos reprovou, provavelmente tendo escutado o que estávamos falando.
- A gente divide com você também, moça! – Falei sem pensar, fazendo meus amigos rirem. Eu não costumava dar respostas assim, principalmente para pessoas de idade, o que me fez começar a achar que tinha algo na minha bebida.
- Você está louca mesmo. – ainda ria e a senhora apressou o passo para se distanciar da gente.
- Deve ser o sono! – Cocei os olhos e Zayn me olhou com um sorriso, deixando um beijo na minha bochecha. – Quando eu chegar em casa vou dormir a tarde toda!
- Epa, como é essa história? – A ruiva levantou a cabeça e a apoiou na mão. – Você esqueceu que vamos ao salão?
- Se ferrou, . – Niall riu.
- É hoje? Não acredito. – Fiz um bico enorme. – Porque você teve que marcar uma hora no salão de beleza em plena sexta feira?
- Pra podermos nos preparar para o baile de amanhã!
- Vocês nem precisam disso! – Zayn desencostou a cabeça do meu ombro. – As duas já são lindas.
- Awn, que namorado fofo. – Ri e o puxei pelo queixo até estar com os lábios juntos aos dele.
- Por que você não fala algo assim, pudincup? – fez uma careta esperando uma boa resposta do namorado.
- Porque você teria uma resposta diplomática pra me explicar o que duas garotas precisam fazer em um salão de beleza!
- Ele tem razão, , é bem isso o que você faria. – Zayn concordou após eu ter liberado a boca dele.
- E eu adoraria saber que explicação é essa, porque ainda estou com muita preguiça de passar o dia inteiro em um salão! – Resmunguei.
- Duas palavras pra você, . – Fez o número ‘2’ com os dedos. – Girl time. Nunca mais passamos um tempo juntas, só nós duas!
- E não podemos fazer isso na minha casa? Ou até na sua!
- Claro que não! Salão de beleza é um santuário para mulheres. Não sei como as coisas funcionam lá em Parrí, mas por aqui é assim. – Zombou o meu jeito de falar ‘Paris’, o que me fez mostrar a língua pra ela. – Vai ser divertido... Nós podemos fofocar, falar mal das pessoas, olhar revistas de moda... Eu até deixo você puxar saco daquela Corine.
- Carine! – A corrigi e rolei os olhos. – Mas tudo bem, você me convenceu!
- Carine não é aquela que mandou uma caixa pra você? – Zayn devia se lembrar da “coisinha” que Carine pediu a Rachel para me entregar na noite em que ele foi conhecer a minha família.
- É ela mesma! – Sorri animada. – , você tem que ver que sapatos lindos ela me mandou! Uma palavrinha pra você: Dior!
- Tá vendo? Esse é o tipo de coisa que se fala durante o “girl time” de vocês. – Niall fez aspas no ar, entediado com nossos comentários sobre moda, sapatos, bolsas e derivados, já que ele tinha sido obrigado muitas vezes a escutá-los. – Especialmente quando os namorados de vocês estiverem bem longe, tendo um “boy time”.
- Por falar em “boy time”. – Também fiz aspas no ar, imitando-o de propósito. – O que você achou de sair com o Harry e o Liam no sábado?
- Eles são bem legais! – Sorriu. – É uma pena que o Liam não bebeu com a gente, mas foi uma noite divertida. Quer ver a foto que ele tirou de mim e do Harry?
- Claro que quero! – Na minha cabeça já passava as milhões de situações que poderiam estar por trás daquela tal foto.
- Hm, já estão até tirando fotos juntos? – Zayn entortou o nariz, com ciúmes do seu melhor amigo.
- Você sabe que é o meu primeiro amor, Z. – Nialler piscou e pegou o celular no bolso para procurar tal foto. – Aqui, .
- Deixa eu ver... – Peguei o celular e a primeira coisa que eu fiz foi rir alto ao ver a imagem. – Narry!
- Narry? – Niall perguntou sem entender.
- Niall + Harry. – Zayn explicou. – Ela tem mania de juntar dois nomes e formar um só.
- Vocês dois são “Ziall”, aliás. – Sorri e entreguei o celular para que Zayn também visse a foto. – Agora eu quero uma foto de vocês!
- Minha e dele? – O loiro perguntou.
- Qual o problema, Niall Horan? Não pode mais tirar fotos comigo? Só com seu novo amiguinho? – Meu namorado ficava muito fofo tendo ataques de ciúmes.
- Haz é um amiguinho muito fotogênico! Nós temos milhares de fotos juntos. – Falei com um sorrisinho ao pegar o meu próprio celular dentro da bolsa.
- Até você, Tomlinson? – Fechou a cara pra mim.
- Eu to brincando, idiota. – Gargalhei e passei por cima de Niall para que ele ficasse ao lado de Zayn. Quase caí sentada no colo dele, o que fez o moreno resmungar ainda mais. – Vai logo, façam uma pose!
Acho que Zayn ainda ficou fazendo charme por uns dois minutos, reclamando que Harry acabaria substituindo ele como meu namorado e como melhor amigo de Niall. Eu só fiquei rindo e escutei voltar a falar que ele estava tendo ciúmes do garoto errado, já que Liam era quem realmente representava perigo por gostar de mim. Eu a belisquei por baixo da mesa, pois não queria que Zayn soubesse desse pequeno detalhe, principalmente porque os dois pareciam se gostar um pouco e eu tinha certeza que poderiam se tornar bons amigos se tivessem a oportunidade de passar um tempo juntos. Por fim “Ziall” parou de brigar e os dois se abraçaram. Cada um fez uma cara diferente e eu não perdi tempo em bater a foto. “Bater a foto?” Em que anos estamos mesmo? Anyway, você entende o que eu quero dizer.
Aproveitamos aquele embalo pra tirar várias outras fotos, não só dos meninos, mas também de mim e . A ruiva pegou o próprio telefone e me puxou para que tirássemos juntas fazendo várias caretas engraçadas e até mesmo fingindo que éramos bem sensuais. Um funcionário em simpático viu o que estávamos fazendo e trouxe duas coroas coloridas, daquelas que todo Burguer King dá para os clientes. Nós duas o agradecemos e colocamos na cabeça, voltando a tirar fotos. Os meninos se juntaram a nós e continuamos a fotografar.
Quando as minhas bochechas já estavam doendo de tanto que eu ri, fiz guardar o telefone afirmando que a minha beleza estava cansada. É claro que ela perguntou: “Qual beleza? Só se for a interior.” E eu tive vontade de bater nela, mas como queria que ela me passasse as fotos daquela tarde, seria melhor não fazer nada. A ruiva era aspirante a fotógrafa, por isso era de se esperar que ela não enrolasse para passar fotos para um pendrive ou até mesmo por email, porém o que ela tinha de talento tinha de preguiça.
- Hey, ? – Zayn me chamou e assim que eu o olhei pude escutar um “clic” vindo de seu celular.
- Por favor, me diz que isso não foi uma foto! – Reclamei.
- Agora sempre você me ligar é essa foto que vai aparecer. – Sorriu orgulhoso e me mostrou a tela do seu celular, afastando o aparelho assim que eu tentei pegá-lo. – Linda como sempre.
- Linda? Onde? – Acho que eu tinha fotos piores que aquela, mas mesmo assim não era uma que eu gostaria de ser associada: Minha boca estava entreaberta, como se eu estivesse na metade de uma frase, e um dos meus olhos parecia estar maior que o outro. Sem falar que o meu cabelo estava um horror! – Você não vai apagar isso, né?
- Não mesmo. – Riu e guardou o celular.
- Tá tudo muito bom, tá tudo muito lindo... – se pronunciou e todos olharam pra ela. – Mas nós temos que ir, .
- Já? – Fiz bico.
- Não! – Zayn se jogou por cima de Niall e me abraçou, impedindo-me de levantar. Há um motivo para Zayn sempre se sentar ao meu lado, mas infelizmente naquela hora ele estava do outro lado da mesa, por isso praticamente esmagou o amigo.
- Sorry, Zaynster. – começou a me puxar pela mão, quase arrancando o meu braço fora.
- Cuidado, gente, eu sou uma só! – Reclamei tentando me soltar dos dois que estavam me disputando. – Baby, eu tenho que ir com ela porque já tinha prometido.
- E precisa cumprir? – Fez um biquinho.
- Se tem uma coisa que você deve saber sobre mim... É que eu nunca descumpro uma promessa. – Mordi o bico que ele fazia e ambos sorrimos em seguida.
- Isso mesmo! – me soltou e olhou diretamente para Niall. – O que é algo que certas pessoas deveriam fazer.
- Uhhh, senti um clima aí. – Ri e esperei levantar para poder fazer o mesmo.
Nialler não se pronunciou e apenas fingiu que não sabia do que ela estava falando. Eu não iria esquecer aquele assunto e tinha certeza que me contaria se algo tivesse acontecido. Os meninos também se levantaram e nos acompanharam até a porta. A minha amiga ainda estava com a coroa dela na cabeça, por isso uma criança riu e apontou para ela. Agradeci por ter guardado a minha na bolsa, pois não agüentaria uma criancinha rindo da minha cara. Zayn e Niall tiveram que arrastá-la pra fora do restaurante, impedindo-a de ir reclamar com a menina que ainda ria. Atitude sábia, diga-se de passagem.
- , posso ir dirigindo? – Como não estava com o carro dela, nós teríamos que ir para o salão com o meu.
- Claro que pode. – Joguei a chave do meu conversível vermelho e ela a segurou no ar.
- Tem certeza que vai deixar ela dirigir o seu carro? – Zayn me abraçou de lado e ficamos nos olhando.
- É melhor do que ter que aguentá-la no banco de trás, gritando e jogando os braços pra cima.
- Ei, isso só aconteceu uma vez!
tentou se defender, mas eu mal a escutava. Minha atenção estava em outra coisa; ou melhor, outra pessoa. Já disse que sempre adorei a forma que Zayn dividia a atenção entre meus lábios e meus olhos? Era a forma dele de dizer: “Eu quero te beijar.” E, acredite, eu não o fazia esperar muito tempo pra realizar aquela vontade. O abracei pelo pescoço e aproximei nossas bocas, mas não cheguei a beijá-lo de uma vez. Ficamos brincando com os lábios um do outro enquanto o mundo a nossa volta se silenciava. Zayn me abraçou ainda mais e eu tive que ficar na ponta dos pés para igualar nossas alturas. Quando nossas línguas finalmente se chocaram, senti um arrepio percorrer a minha pele e me entreguei ainda mais àquele beijo. Pensar que poderia ser a última vez que estaríamos tão juntos assim até o dia seguinte me fez apertá-lo ainda mais contra o meu corpo. Uns podem pensar: “Hey, pra que tanto drama? Vocês vão se ver amanhã!” Mas “amanhã” é tempo demais, principalmente quando se está apaixonada.
O salão de beleza que me levou parecia coisa de cinema. A recepção em si parecia aquelas de hotel e todos os ambientes eram bem climatizados. Sem falar que todos os funcionários te tratavam como se você fosse parte da realeza. Como ainda era tecnicamente cedo, o lugar não estava cheio, por isso nosso horário foi adiantado e quatro mulheres vieram nos chamar na sala de espera, onde estávamos até então.
Seguimos para outra sala e elas nos indicaram duas poltronas gigantescas onde deveríamos sentar; ou deitar, já que eram cadeiras reclináveis. É claro que já foi logo ocupando uma e deitando como se estivesse em casa. Eu acabei fazendo o mesmo, mas me mantive bem mais comportada, já que sou uma dama. Duas mulheres foram para o lado dela e duas continuaram comigo. Pelo visto enquanto uma cuidasse das minhas mãos, a outra cuidaria dos meus pés. Geralmente eu fazia as minhas unhas sozinha, mas com certeza poderia me acostumar àquela mordomia toda.
- Eu poderia morar aqui. – Sorri ao fechar os olhos e relaxar naquela cadeira super confortável.
- Isso porque você não queria vir, né? – Minha amiga riu ao meu lado. – Podemos ir ao que interessa? De quem vamos falar mal primeiro?
- , que coisa feia! – Abri os olhos para fitá-la e acabei rindo da cara de “eu não tenho culpa” que ela fez. – Por que temos que falar mal de alguém? Não podemos apenas comentar que a nossa querida Brigitte vai estar mais que insuportável depois de amanhã?
- O que vai acontecer amanhã? – Perguntou e eu voltei a minha atenção para a mulher que lixava as minhas unhas.
- Agnes falou que os papeis principais serão revelados amanhã, no fim da noite.
- E você ainda acha que ela vai ganhar o papel principal?
- Você não? – A olhei de lado. – Ambas sabemos que ela é uma das melhores dançarinas da Academy!
- E mesmo assim ela não foi a convidada pra fechar as apresentações do Snow Ball. – Cantarolou confiante.
- E nem eu fui chamada para o callback! – Respondi da mesma forma.
- Mesmo assim, você não sabe o resultado ainda! Ninguém sabe! – Eu sentia que começava a ficar irritada com o meu pessimismo. – Você e o Zayn vão acabar ganhando os papéis principais e aí quero ver você admitir que eu estou certa!
- Com licença? – A moça que estava cuidando das minhas mãos chamou nossa atenção. – Eu não queria me meter, mas preciso dizer que você não deveria estar sendo tão negativa com algo que ainda nem aconteceu.
- Obrigada! – estava agradecendo-a por concordar com ela. – Vai ver assim essa cabeçuda escuta.
- E mesmo que você não ganhe esse tal papel principal... – Foi a vez da manicure de se intrometer. – Não vai ser divertido pelo menos participar? Você tem que dar o seu melhor de uma forma ou de outra.
- Acho que vocês tem razão... – Me rendi.
- Qual é a peça, que mal lhe pergunte?
- Romeu e Julieta. – Respondi. – Eu fiz o teste para o papel de Julieta, mas ficarei feliz com qualquer um.
- Assim que se fala! – A minha manicure sorriu de forma engraçada e olhou para a minha amiga. – E qual papel você quer?
- Sra. Capuleto! – Fez cara de metida.
- E eu tenho certeza que você vai conseguir esse papel, . Você é uma atriz incrível!
- Espero que as duas voltem aqui pra nos contar como foi esse resultado, porque vamos ficar torcendo. – A moça que cuidava dos meus pés falou pela primeira vez.
- Pode deixar!
Continuamos conversando animadas e aquelas manicures/pedicuras se mostraram bem curiosas. Nós não nos importamos nada de comentar e fofocar com elas, até mesmo respondendo as suas perguntas. Acho que é isso que as mulheres fazem ao ir em salões de beleza, né? Contar dos problemas para estranhos? Parece uma espécie de terapia, pra falar a verdade. Até que eu estava gostando muito de ter prometido a que a acompanharia durante aquela tarde, sem falar que nós duas estávamos mesmo precisando de um tempo só pra nós duas.
Quatro mãos realmente trabalham mais rápido que duas, pois em mais ou menos vinte minutos nossas unhas já estavam bem cuidadas e pintadas. Eu pedi para a moça que estava fazendo os meus pés ter um cuidado dobrado, pois eu teria uma apresentação de dança importante e não podia ter nenhuma unha encravada e me incomodando. Ela entendeu perfeitamente o que eu quis dizer e fez uma massagem divina nos meus pés, daquele tipo que te deixa andando nas nuvens. reclamou que eu estava tendo atenção especial, por isso acabou ganhando uma massagem também.
- , você nem vai dançar amanhã! – Ri quando levantamos daquelas poltronas deliciosas.
- Mas vou ter que me aguentar em cima de um salto alto, ok? – Fez careta pra mim.
- Aham, tá bem. – Gargalhei.
- Uhh, se não é a minha ruiva preferida?! – Um homem super “alegre” apareceu do nada na nossa frente e abraçou . – Há quanto tempo você não em aqui, meu bem?
- Jean Paul, meu cabeleireiro preferido! – Sorriu e olhou pra mim por cima do ombro dele. – Já faz um tempo, né? Mas hoje eu vim pra fazer uma super hidratação!
- Já estava na hora mesmo! – Se virou pra mim. – E quem é essa belezura?
- Essa é a minha amiga !
- Oi... É um prazer. – Estiquei a mão para cumprimentá-lo, mas ao invés de apertá-la, ele segurou a ponta dos meus cabelos.
- Virgem, com certeza! – Falou ao examinar meus fios castanhos e eu não soube nem o que falar.
- Como? – Arregalei os olhos e riu da minha cara.
- Não é isso que você está pensando, pervertida. – Continuou rindo e Jean a acompanhou.
- Seu cabelo é virgem, querida. – Explicou com a voz cínica. – Nunca levou química, tinta, na-da.
- Ahh, sim! – Ri do quão idiota eu devia estar parecendo naquele momento.
- Mas nós vamos mudar isso hoje! – devia estar louca!
- Ótimo! Já sei exatamente o que fazer... – Virou de costas pra nós e começou a andar. – Uhh, girl, você vai ficar um arraso!
- , eu não vou pintar o cabelo! – Fiquei parada no mesmo lugar e ela segurou as minhas mãos.
- Por favor, ... O Jean é um cabeleireiro ótimo! E não vamos pintar o seu cabelo de verde ou algo assim! – Tentou me acalmar, mas só a citação de pintar o meu cabelo de verde me fez arregalar os olhos mais uma vez. – Calma! Você nunca quis dar uma mudada no visual?
- Já... Mas sempre acabei mudando de idéia. – Respondi sem acreditar muito que estava quase concordando com aquela idéia.
- Então pronto! Vamos começar devagar... Eu não vou te deixar ruiva como eu, não se preocupe. E se você não gostar, pode sempre voltar para o que era antes. – Ela estava disposta a me convencer.
- Eu não sei... – Continuei relutante.
- Você não vira britânica antes da primeira makeover! – Sorriu de orelha a orelha e eu senti que ela havia me convencido com aquele argumento.
- Nada muito exagerado, ok? – Rolei os olhos.
praticamente gritou e me puxou até a sala onde Jean Paul já separava amostras de tinta para que eu pudesse escolher. Como não tinha experiência nenhuma com aquele assunto e muito menos sabia qual cor combinaria mais comigo, decidi deixar tudo nas mãos da minha amiga e do cabeleireiro. Algo me dizia que eu iria me arrepender eternamente dessa decisão, mas já que estava na chuva, iria me molhar.
Deixei os dois discutindo o meu futuro e fui me sentar em uma cadeira giratória que ficava em frente à bancada de Jean, me olhando no espelho. Acho que aquele foi um momento de despedida, já que eu fiquei brincando com os meus cabelos castanhos e guardando na memória a forma e cor que eles tinham. “Isso vai ser bom, . Mudar faz bem...” a parte da minha consciência que gostava daquela idéia tentava confortar a parte que achava tudo aquilo uma loucura. Deixei aquela discussão interna assim que se sentou na cadeira ao meu lado com um sorriso de satisfação nos lábios.
- E aí? – Perguntei com uma mordida no meu lábio inferior.
- Você vai ver quando estiver pronto! Sei que vai amar o resultado. – Aquela resposta deveria ter me tranquilizado, mas só me deixou mais apavorada ainda.
- ... – Choraminguei e Jean também se aproximou.
- Pronta para a mudança radical? – O homem perguntou super afeminado e eu escondi o rosto nas mãos. – Não fique assim, queridinha. Você vai gostar da sua primeira vez.
- Eu já ouvi isso antes e não foi o que aconteceu! – Falei nervosa, sentindo-o começar a separar os meus cabelos em partes. Eu estava com medo demais pra olhar.
Tudo bem que eu nunca havia pintado os meus cabelos antes, mas sabia um pouco como tudo funcionava. Jean andava de um lado para o outro, pegando potes e bisnagas com algo bem cremoso e misturava tudo em um potinho. Meu cabelo já estava completamente dividido e separado em várias mechas, me tranquilizando um pouco mais. Eu cheguei àquele momento na vida que você para e pensa: “Tudo bem, não tem mais jeito, eu estou mesmo fazendo isso.”, então tive que me acostumar com a idéia de que estaria completamente mudada em poucas horas.
Minha amiga se mostrou muito companheira enquanto tinha o cabelo dela cuidado por outra pessoa. Ela sempre estava me falando que tudo ficaria bem e que eu deveria confiar mais no bom gosto dela, coisa que eu achava muito difícil no começo. A gente se conhecia há o que? Dois meses? Três? Era tempo suficiente pra ela me conhecer e saber do que eu gostaria ou não, certo? Certo? Concordo!
- As senhoritas desejam alguma coisa? – Uma senhora bem simpática se aproximou e olhou para mim e para com um sorriso maternal.
- Adoro essa parte! – Sorriu como uma criança que se preparava pra pedir um doce. – Eu quero uma daquelas rosquinhas que você trouxe pra mim da outra vez! E o que você quer, ?
- Ahn... Eu não sei! O que posso pedir?
- Qualquer coisa. – A senhora continuou sorrindo daquele jeito.
- Qualquer coisa... Qualquer coisa? – Achei difícil de acreditar que eu poderia escolher qualquer coisa.
- Qualquer coisa! – não foi nem de perto tão paciente quando a moça. – Anda logo, ! Eu quero as minhas rosquinhas!
- Desculpa! – Nunca funcionei bem sobre pressão, mas teria que fazer o meu melhor. – Quero... Um frozen yogurt de baunilha e pêssego.
- Uhh, ótima escolha! – Jean me olhou pelo espelho e piscou. Eu começava a achar que aquele “uhh” era a sua frase de efeito.
- Eu volto já. – A moça anotou os nossos pedidos e se afastou.
- Você devia ter pedido as rosquinhas também. São divinas. – levou a mão até os lábios como os italianos fazem quando a comida está muito boa, me fazendo rir.
- E você devia ter me falado isso antes de me apressar! – Briguei.
- Não tenho culpa se você demorou meia hora pra decidir o que queria! – Falou no mesmo tom.
- Meninas, calma... Não quero que destruam uma amizade tão linda bem aqui na minha cadeira. – Jean dramatizou mais do que devia e fingiu secar uma lágrima.
- Não se preocupa, J. – sorriu. – É sempre assim.
- Podemos brigar, mas a gente se ama. – Também sorri e mandei um beijo pra ela.
- Vocês são lésbicas ou algo assim? – Sussurrou para nós.
- Não mesmo! – Gargalhei alto. – Nós temos namorados, ok?
- Você já conhece o meu Nialler! – se fez de ofendida. – Ah, e ela é a namorada do Zayn.
- Uhhhh, girl! Aquele pedaço de céu na terra?
- Acho que é esse mesmo... – Respondi. É normal ter ciúmes de um cabeleireiro gay de meia idade?
- Psiu, . – me chamou e tinha uma revista em mãos.
- O que é... – Parei na metade da pergunta ao ver quem estava na capa da nova Elle. – CARINE!
- Você está apaixonada por essa mulher e ela ainda aparece justamente na capa da revista que eu pego pra ler? – Atirou o objeto na minha direção e eu o segurei.
- É o destino! – Ri da minha sorte e comecei a folhear aquela revista.
Senti que um dos indivíduos que estavam perto de mim comentaram algo comigo, mas eu estava distante demais pra escutar qualquer coisa. Passei as páginas rapidamente até encontrar o que eu estava procurando: A entrevista exclusiva com Carine Roitfeld. Eu não estava apaixonada por ela, como havia brincado, mas vamos concordar que ela era um exemplo de mulher! Independente, bem sucedida, inteligente e, acima de tudo, muito simpática. Você pode achar que eu falo tão bem dela por causa de todas as coisas que ganhei da mesma, mas isso não é verdade. Eu continuaria a idolatrá-la mesmo se não pudesse nem ao menos pegar algo emprestado do closet da Models One.
- Aqui diz que ela está criando a própria marca de roupas! – Falei após ler um trecho da entrevista.
- Fascinante. – A outra menina fingiu bocejar. – Ela vai te dar mais roupas quando tiver essa marca própria?
- Eu espero que sim! – Ri interesseira. – Mas ficarei contente se ganhar pelo menos um convite para o desfile...
- Que chatice!
- Bom saber que você acha isso! – Tirei os olhos da revista para encará-la. – Se eu puder levar uma convidada, não será você!
- Uhh, girl! Me leva no lugar dessa boba! – Jean parou de passar um produto na ponta dos meus cabelos, me fazendo prestar atenção na cor que estava na ponta do pincel.
- Jean Paul, por favor, me diga que você não está pintando a ponta dos meus cabelos de azul! – Me desesperei.
- Claro que não, bobinha! – Riu, mas não me convenceu. – Não é só porque a química é azul que a cor da tinta também vai ser!
- Relaxa, . – também tentou me acalmar.
- Vou tentar... – Respirei fundo.
A voz na minha consciência começou a gritar que aquilo era uma má idéia e que eu não deveria acreditar em tudo que a minha amiga falava, mas já era tarde demais. Todas as mechas que Jean havia dividido do meu cabelo estavam enroladas com papel alumínio e esperavam a tal química fazer efeito. Pelo menos a minha raiz continuava intacta, então a mudança aconteceria só nas pontas. também tinha que esperar a hidratação fazer efeito, então continuou sentada ao meu lado enquanto nossos cabeleireiros foram descansar em outra sala. Não sei quem estava pior; eu com pedaços de alumínio no cabelo, ou ela com uma touca térmica que cobria quase a sua cabeça inteira. Acabamos rindo uma da outra e ainda bem que as nossas bolsas estavam longe, pois assim ninguém iria pegar o celular pra registrar aquele momento de vergonha alheia.
- Aqui está o que vocês pediram... – Aquela mesma senhora voltou e entregou uma caixa com rosquinhas para e entregou-me o yogurte em seguida.
- Obrigada! – Agradecemos na mesma hora.
- Qualquer coisa é só me chamarem, sim? – A moça era muito simpática, mas em sua cabeça só devia estar passando: “Por favor, não me chamem mais.”
- Então essas são as rosquinhas que você acha tão gostosas? – Dei uma boa olhada na comida da minha amiga, que as escondeu. – Na França chamamos isso de Crueller.
- Que nome difícil! – Riu e nem ao menos tentou pronunciar. – Eu gosto de chamar de se-queria-provar-devia-ter-pedido-pra-você.
- Não quero mais, senhora egoísta! – Estirei a língua pra ela e me concentrei no meu delicioso doce, dando a primeira colherada. – Isso aqui sim tá bom!
- E como chamam yogurt em Parrí? – Perguntou.
- Em Parrí... Chamamos de yaourt. – Respondi com a boca cheia.
- Onde estão os seus modos, ? – Riu de mim e eu abri a boca, mostrando a minha língua cheia de comida. – Eeeeeew! Que francesa mais mal educada!
- Besta. – Tive que rir. Até quando eu seria “a estrangeira”?
- Já que estamos falando nisso... – Engoliu um pedaço da rosquinha que mastigava. – É verdade que os franceses não tomam banho todos os dias?
- Você está mesmo perguntando isso? – Se há algo que eu nunca gostei são esses mitos regionais e infelizmente as pessoas só prestam atenção nos ruins. – É verdade que os ingleses bebem o dia inteiro?
- Alguns de nós bebem. – Riu, mas ao menos entendeu a minha indireta.
- Pronta pra ver o resultado? – Jean Paul perguntou, mas eu ainda tinha os folhos fechados.
Depois que eu e terminamos de comer nossos doces, ainda tivemos que esperar mais quarenta minutos até os nossos cabeleireiros voltarem e nos mandarem até o lavatório. Nós duas nos separamos pela primeira vez, já que os únicos lavabos disponíveis estavam bem distantes um do outro. Como era o único jeito, cada uma foi para o seu lugar e eu preciso admitir que aquela espécie de poltrona conseguia ser mais confortável que aquela em que eu tive minhas unhas feitas. Também reparei que Jean não foi quem lavou o meu cabelo, pois ele apenas ficou vigiando enquanto uma funcionária fazia o “trabalho sujo”, por assim se dizer. Claro que eu não me importei, pois ela parecia ter mãos de anjo e desembaraçou os meus cabelos milagrosamente devagar e ainda fez uma massagem relaxante no meu couro cabeludo.
Após toda essa lavagem, voltamos para o salão principal e eu sentei novamente na cadeira em frente à bancada de Jean, porém, de costas para o espelho. Pois é, eu realmente só poderia ver o resultado no final. já estava pronta e com o cabelo bem seco assim que comecei a ter o meu secado por outras duas mulheres e o cabeleireiro chefe só dava dicas e palpites. A minha amiga e ele trocavam sorrisos que eu não sabia o que queriam dizer, mas a minha curiosidade só aumentava. Eu decidi fechar os olhos e só voltei a abri-los quando escutei aquela pergunta.
- Não tenho certeza! – Ri e ele girou a minha cadeira de frente para o espelho, mas não tinha nada de diferente... – Eu continuo do mesmo jeito...
- Espere até ver a parte de trás! – voltou com aquele sorriso e Jean pegou um espelho menor pra poder me mostrar a parte de trás do meu cabelo.
- Voilá. – Exclamou e também sorriu.
- Wooooooooooow. – Acabei sorrindo também ao ver o resultado. Mexi nos meus fios, estudando a nova cor. A parte de baixo do cabelo estava bem clara desde a raiz, sendo que as outras mechas de cabelo estavam daquela cor apenas nas pontas. Era uma espécie de californiana avançada. Não estava nada natural, mas tenho que concordar que estava lindo. – Eu amei!
- Eu falei que você ia gostar. – estava realmente certa... Como sempre.
Capítulo XXXVI
Eu não sabia exatamente onde estava, mas tinha certeza que estava dançando. De alguma forma a minha parte física e a mental estavam separadas, pois eu pensava uma coisa e o meu corpo fazia outra totalmente diferente. Quando eu tentei ir para a direita, minhas pernas pegaram impulso no chão e me fizeram voar. Literalmente voar... Não tinha telhado naquele local, por isso logo cheguei às nuvens. Eu sabia que estava sonhando e parte de mim tinha consciência, mas ao mesmo tempo eu não tinha o controle da situação, o que foi um pouco frustrante. Pelo menos eu não estava sendo perseguida por um monstro ou coisa parecida.
De repente uma árvore surgiu na minha frente e eu consegui desviar dela a tempo de evitar algum acidente. Continuei flutuando de um lado para o outro, rodeando a tal árvore enquanto suas folhas iam caindo. Do mesmo jeito que apareceu, ela desapareceu rapidamente e eu senti o espaço a minha volta tremer. Já que eu não estava no chão não deveria existir terremotos ou coisa assim, mas quem iria explicar isso para um sonho? Só o que eu sei é que a tremedeira começou a ficar cada vez mais forte, deixando-me verdadeiramente assustada. A parte de mim que estava dormindo de verdade começou a despertar e eu senti o meu corpo na cama, embaixo das cobertas e até mesmo senti que estava com o rosto no travesseiro, mas o tremor não parava. Foi então que eu bati a mão em algo duro e pequeno, logo recobrando a lógica e descobrindo que era o meu celular vibrando. Então não tinha terremoto nenhum?
- Alô... AI. – Peguei o celular de qualquer jeito, mas a minha mão estava mais dormente do que eu esperava, por isso o bendito aparelho caiu com tudo no meu rosto.
- Babe? Você tá aí? – A voz estava um pouco distante, mas eu sabia quem era.
- Hey... Tô aqui sim... – Respondi meio embargada e sonolenta, me virando para o outro lado e usando a mão “boa” para segurar o iPhone perto da minha orelha.
- Eu te acordei, né? – Riu do outro lado da linha e eu só suspirei.
- Não, não... – Tentei mentir, mas é claro que ele não acreditaria. – Eu só estava cochilando.
- Vou fingir que acredito. – Eu sabia que Zayn estava sorrindo. – Só liguei pra ouvir a sua voz...
- Minha voz é horrível quando eu acordo! – Resmunguei baixinho, porém não evitei um sorriso.
- Então você estava dormindo sim! – Fui pega na mentira e nem sequer me importei.
- Estava mesmo. – Dei de ombros e abri um pouco os olhos. – Que horas são?
- Pouco mais de seis e meia.
- VOCÊ ME ACORDOU AS SEIS E MEIA DA MADRUGADA? – Me descontrolei, mas você entende o meu problema aqui.
- Ei, muita gente já está acordada a esse horário, ok? – Soltou uma risada gostosa. – Você também devia deixar essa preguiça de lado e levantar.
- Eu tenho direito de ser preguiçosa, ok? – Rebati. – Fiquei no salão ontem a tarde inteira e a noite o meu irmão inventou de ir jogar squash na quadra!
- Por falar em salão... me disse que você sofreu uma mudança radical. – Comentou cuidadoso. Ligou pra escutar a minha voz? Aham, certo. Ele devia estar ligando pra saber se eu estava careca ou algo assim.
- É. Eu fui obrigada “mudar o visual”. – Fiz aspas no ar com a mão livre e me senti muito idiota quando lembrei que ele não podia ver. – Mas até que eu gostei bastante do resultado!
- E não vai me dizer o que fez?
- Não mesmo! – Ri. – Só vai ver pessoalmente.
- Eu tinha medo que você falasse isso. – Bufou. – Pelo menos eu vou te ver hoje!
- Isso mesmo, baby. As 20hrs, como combinamos. – Mordi o lábio em um misto de ansiedade e medo de ele não gostar do meu novo cabelo.
- Mal posso esperar. – Escutei um suspiro. – Está nervosa?
- Um pouco... – Fiz uma careta. – Um pouco bem grande, pra falar a verdade!
- Vai dar tudo certo, ... Melhor do que você imagina!
- Obrigada por tentar me tranqüilizar... – Cocei os olhos e bocejei. – Mas e você? Está nervoso também?
- Nem um pouco! – A animação dele era de se invejar. – Já estou acostumado com essas coisas e além do mais, Niall vai estar lá comigo... É melhor subir ao palco com alguém do que sozinho.
- Hmmmmmm, entendo... – Era muito bom saber disso, pois seria um argumento a mais que eu teria pra explicar o porquê de mandar o vídeo para o concurso do X Factor mesmo sem eles saberem daquele plano.
- Só um minuto, ... – Me mandou esperar e eu senti que afastou o celular do rosto. – Eu disse que já vou, mum! (...) É ela sim. (...) Não, mum. (...) Era importante! (...) O Boris sabe esperar! (...) OK!
- Tudo bem aí? – Ri daquela meia conversa que eu escutei.
- Minha mãe mandou dizer que está mandando um beijo... – Senti o tédio em sua voz e ri mais uma vez. – Agora eu tenho que ir passear com o cachorro.
- Mande outro beijo pra ela, certo? E um para o Boris também!
- E eu não ganho? – Tenho certeza que ele estava fazendo bico.
- Mais tarde você ganha quantos beijos quiser. – Sorri já imaginando que ele iria cobrar.
Encerrei a ligação antes que ele pudesse reclamar e joguei o celular de qualquer jeito ao meu lado. Até pensei em voltar a dormir, mas duvidava muito que isso fosse acontecer, por isso teria que me acostumar com a idéia de que estava levantando da cama em pleno sábado às sete horas da manhã. Eu poderia tentar ficar com raiva de Zayn, mas ambos sabemos como isso acabaria. Assim que pisei no chão do banheiro – que era de madeira e não de carpete como o resto do quarto – notei o quanto aquela manhã estava fria. Por mais que eu estivesse de meias, ainda conseguia sentir a temperatura do piso e isso me fez desejar ter pantufas. Fiz toda a minha higiene matinal, mas não tomaria banho naquela hora nem que ameaçassem de morte. Tá que um banho bem quentinho seria gostoso, mas e na hora de sair? Não gosto nem de imaginar!
Deixei os meus cabelos soltos mesmo e os joguei para frente, de forma que eu pudesse ver as minhas pontas claras a qualquer momento. É, eu havia gostado dessa mudança bem mais do que admitia em voz alta. já era insuportável demais sabendo que estava sempre certa pra eu ainda acariciar o ego dela com comentários daquele tipo.
Saí do quarto sem me importar em estar de pijamas, contanto que eu estivesse quentinha. Aparentemente o inverno estava mesmo se aproximando rápido demais e logo, logo nós teríamos que começar a usar o aquecedor interno da casa. Todas as portas do corredor estavam fechadas, o que me fez imaginar que os meninos ainda estavam dormindo. Bocejei ao me espreguiçar quando desci o primeiro degrau da escada. O segundo ainda pareceu mais difícil de descer, assim como o terceiro, quarto... Para resumir, eu demorei uns três minutos pra fazer algo que geralmente levava segundos. Eu não sou do tipo de pessoa que acorda com fome, ou que toma café da manhã todos os dias, mas aquela manhã foi um caso a parte. O nervosismo que me perturbava me fez querer comer e por isso eu atravessei a sala de jantar para chegar até a cozinha. Ao contrário do que eu achava, Harry não estava dormindo, pois eu o encontrei próximo à bancada americana com um bule nas mãos. Pelo menos eu não era a única pessoa com frio, já que o menino estava todo empacotado e tinha ate uma touca cinza na cabeça.
- Bom dia, curly. – Anunciei a minha presença e reparei que a minha voz ainda estava bem sonolenta; assim como o resto de mim.
- Bom dia, princesa. – Se virou na minha direção com um sorriso e abriu os braços para que eu o abraçasse. – Caiu da cama?
- Fui tirada dela! – Fiz um bico maior que eu e me enterrei nos braços do mais alto. – E você?
- Eu perdi o sono mesmo. – Me apertou contra o seu corpo e passou as mãos pelos meus braços, me deixando um pouco mais quente. – Quer chá?
- Quero sim! – Sorri. Eu sempre gostei mais de chá gelado, mas aquela manhã pedia uma bebida mais calorosa. O soltei com relutância e fui pegar a minha caneca no armário. – É de que?
- Maçã com laranja. – Serviu o próprio copo e me esperou entregar o meu para também enchê-lo. – E não vale colocar açúcar!
- Sem açúcar? O que está acontecendo com vocês ultimamente? Parece que todos querem me transformar em uma britânica. – Rolei os olhos. Primeiro aquela história de que uma pessoa “não vira britânica antes da primeira makeover” e agora chá sem açúcar?
- Nós britânicos não nos chamamos de britânicos. – Me entregou a minha caneca. – Somos ingleses.
- Entendi, professor Styles. – Ri e assoprei o líquido em meu copo antes de dar o primeiro gole. – Nada mal, nada mal...
Harry também tinha preparado alguns scones que trouxera do trabalho e os colocou em uma bandeja de madeira. Se o plano fosse realmente me transformar em uma cidadã inglesa, eu preferia mesmo começar com chá e scones, pois duvidava muito que um dia conseguiria comer ovo, lingüiça de porco, bacon e feijão branco para começar o dia. Ele também adicionou uma geléia de goiaba, granola e uma coisa branca e cremosa que eu não tinha idéia do que poderia ser. Como o primeiro andar da casa estava consideravelmente mais frio que o de cima, nós decidimos ir para o quarto de Harry, pois era o único que tinha televisão. Ambos subimos as escadas com cuidado e o menino foi primeiro, carregando a bandeja com as comidas e eu fiquei encarregada de levar as canecas com o chá.
- Já falei que amo café na cama? – Sorri ao entrar no quarto e observar Hazza se esconder em baixo do cobertor, ficando apenas com os braços e a cabeça para fora, e deixar as comidas na metade da cama.
- , você ama qualquer coisa na cama. – Riu e pegou a caneca que eu lhe entreguei. – Se pudesse se casava com ela.
- Eu não tenho culpa se camas são tão gostosas, ok? – Rolei os olhos e finalmente me juntei a ele embaixo das cobertas. Continuei bebericando o meu chá e Harry pegou uma colherada daquele negócio branco. – O que é isso, aliás?
- Mingau de aveia. – Falou com a boca cheia.
- Eeeeeeew, Harry! – Fiz uma careta. Não sabia se estava com mais nojo do mingau em si ou dele quase cuspindo o mingau em mim.
- Não fale ew antes de provar! – Me ofereceu uma colher, mas eu neguei com a cabeça.
- Obrigada, mas eu fico com a geléia! – Parti um scone ao meio e comecei a recheá-lo. – Liga a TV? Deve estar passando desenho!
- Count Duckula! – Comemorou com a boca cheia novamente e quase me assustou. Count Duckula era um desenho que eu lembrava de assistir algumas vezes quando era pequena, mas duvidava muito que ainda passasse na televisão. Observei Harry esticar o braço pra pegar o controle remoto e ligar o aparelho que ficava preso à parede, em frente à nós.
- Scooby Doo! – Foi a minha vez de celebrar com a boca cheia de scone com geléia assim que a TV ligou em um canal infantil.
- Eu sabia que tinha ouvido vozes! – Um Liam mais sonolento que eu abriu a porta do quarto e também entrou. – O que estamos comendo?
- Bom dia, Leeyum! – Sorri pra ele e me aproximei mais de Harry, deixando espaço para que o outro menino se juntasse a nós na cama. – Temos granola, scone, geléia, chá e essa coisa branca que eu não aconselharia ninguém a comer!
- Ei, essa coisa branca tem sentimentos. É um mingau de aveia. – Harry explicou.
- Ew. – Liam teve a mesma reação que eu, o que me fez rir satisfeita. Ele se sentou ao meu lado e eu dei mais um gole no meu chá.
Continuei comendo o meu bolinho e foi bem difícil não me sujar ou sujar o cobertor de Harry. Como esse ultimo tem uma mania de limpeza incrível, ele me olhava com cara feia sempre que um farelo acabava caindo na cama e eu limpava na mesma hora. Liam se alimentou mais da granola e Harry continuou comendo a papa. Quero dizer... O mingau delicioso. Nós parecíamos criancinhas assistindo desenho, já que em todas as partes mais emocionantes um se encolhia perto do outro. Constantemente eu sentia o joelho de Liam bater no meu, mas preferi pensar que era culpa do pouco espaço que estávamos dividindo do que uma ação intencionalmente proposital.
- Harry, lembra quando você foi àquela festa a fantasia vestido de Scooby? – Só aquela lembrança foi capaz de me fazer rir enquanto eu abaixava minha caneca de chá pela metade.
- Oh, God. – Harry abaixou a cabeça e apertou as têmporas. Ele devia estar tentando esquecer seu passado.
- Como era essa fantasia? – Liam nos olhou sem entender o motivo da graça.
- Deixa que eu explico! – Levantei uma mão antes que mais alguém tentasse falar qualquer coisa. Me virei de frente para Liam e tentei controlar as minhas risadas. – Era tipo um macacão, sabe? Que ia desde os pés até o pescoço... E uma cabeça gigante!
- Não esqueça do rabinho... – Haz me fez gargalhar e permaneceu na mesma posição de antes.
- Um rabinho? – Li também riu ao imaginar.
- Eu acho que tenho uma foto no meu computador! Depois eu te mostro. – Balancei a cabeça e bebi meu chá. Harry me olhou com os olhos arregalados.
- Você tem fotos minhas no seu computador? – Perguntou.
- Eu tenho fotos de todos vocês no meu computador!
- Harry... Nós moramos com uma stalker e nem sabíamos. – Liam riu.
- Eu espero vocês dormirem pra coletar fios de cabelo e pedaços de unha... – Falei com tanta seriedade que eles acreditaram por um segundo ou dois.
Terminei meu chá e coloquei a caneca vazia no criado mudo, junto à de Harry; também vazia. Três pessoas esfomeadas podem até comer depressa, mas Liam, Haz e eu devemos ter batido um recorde, pois logo não havia mais nenhum grãozinho de granola para contar história. Tiramos todos os utensílios sujos de cima da cama e nos acomodamos por ali. Eu continuei entre os dois garotos e puxei o cobertor até o meu pescoço. Scooby-Doo terminou e um outro desenho que eu nunca consegui lembrar o nome começou e por mais concentrada que eu tentasse ficar, não conseguia manter meus olhos abertos. Comecei a piscar mais demoradamente até não conseguir mais abrir os olhos. “Só vou descansar a vista um pouquinho...”
- , você tá fazendo de novo... – Escutei a voz de Harry e o senti me balançar devagar.
- Hm? – Abri os olhos devagar pra ver que ele e Liam estavam tão sonolentos quanto eu. – O quê?
- Você tá falando enquanto dorme... – Foi Li quem respondeu, já que Harry voltou a cair em um sono profundo. Nem ao menos se mexeu na cama e também não me olhou.
- Desculpa... – Falei baixinho.
A verdade era que eu não tinha culpa e nem sabia como controlar essa minha “mania”. Mas também não sou uma louca que fica contando histórias ou fofocando todas as vezes que pega no sono. Isso só acontece de vez em quando e são geralmente coisas sem nexo algum. Lembro que uma vez Louis me disse que eu estava fazendo tanto barulho que ele teve que ir ver se eu estava bem, mas assim que entrou no quarto, me viu sentada na cama falando algo do tipo: “Eu tenho que pegar o navio. Eu vou perder o navio.” O mais estranho é que eu nunca lembro de ter falado nada e muito menos de como era o sonho.
Eu me sentei na cama de Harry devagar, sem querer acordar nenhum dos dois novamente. Notei que a televisão estava desligada, mas eu não fazia idéia de há quanto tempo. O relógio digital na cômoda marcava 14h20min da tarde, o que indicava que eu havia dormido muito; o que era bom, já que eu precisaria estar bem descansada para o fim do dia. Desistindo de voltar a dormir e correr o risco de falar o que não devia, enfrentei um caminho tortuoso para sair de baixo das cobertas e descer da cama sem chamar atenção. Pelo menos a minha missão foi realizada com sucesso e a porta não rangeu quando eu a abri para sair do quarto.
Louis já devia ter acordado também, pois não estava em seu quarto quando fui checar, o que me fez rumar para o primeiro andar. Desci as escadas com a velocidade normal, agradecida por estar com bem menos sono do que antes. Primeiro passei pela sala, mas não havia nem sinal do meu irmão. Antes de tentar procurá-lo na cozinha, escutei uma melodia vinda do lado de fora da casa e espiei pela janela. Era Lou que estava sentado na escadinha que separava a varanda de casa do jardim e dedilhava um violão. Ao mesmo tempo que eu não queria atrapalhá-lo, sentia muita vontade de descobrir o que ele estava fazendo. Como a minha curiosidade consegue ser maior que eu, optei por sair de casa e ir até lá.
- If I don't say this now I will surely break as I'm leaving the one I want to take… (Se eu não falar isso agora tenho certeza que enlouquecerei enquanto deixo pra trás a única coisa que quero levar) - Ele cantava, mas assim que eu me sentei ao seu lado na escada, parou.
- Continua, Lou... – Pedi baixinho.
(Perdoe a pressa, mas apresse-se e espere)
My heart has started to separate.
(Meu coração começou a se partir)
Oh, oh, oh. Oh, oh, oh.
Be my baby… I’ll look after you.
(Seja minha garota… Eu tomarei conta de você)
Voltou a cantar assim que eu pedi, me deixando escutar a sua voz suave. Muitos cantores por aí tem a voz áspera ou rouca, o que é bom também, mas Lou tinha uma voz diferente. Posso ser suspeita pra falar por sermos irmãos, mas a voz de Louis era macia, gostosa de escutar. Ele não costumava ficar cantando pelos cantos o tempo inteiro, mas de vez em quando tinha aqueles momentos onde gostava de ficar sozinho ao piano ou violão e cantar suas músicas preferidas. Era uma espécie de “escape”, uma forma de expressão quando suas palavras não eram o suficiente. Eu me achava muito sortuda quando podia presenciar essas cenas, principalmente por acontecerem quando ele estava com algum problema e precisava organizar seus pensamentos.
(E agora, amor firme. Tão poucos vem e não vão)
Will you won't you, be the one I always know?
(Você será aquela que eu sempre conhecerei, não é?)
When I'm losing my control, the city spins around.
(Enquanto eu perco o controle, a cidade gira ao meu redor)
You're the only one who knows, you slow it down…
(Você é a única que sabe, você desacelera...)
Ele cantava com tanta paixão que eu fiquei arrepiada; e não era por causa do frio que entrava em contato com a pele do meu rosto e minhas mãos. Lou olhou pra mim apenas naquela parte, o que me fez prestar atenção na letra mais do que antes. É verdade, né? Que são poucos aqueles que vem e não se vão... Mas independente de qualquer coisa, nós dois sempre estaríamos juntos, sempre nos conheceríamos. Foi o laço de sangue que nos juntou em um primeiro momento, mas foi a nossa amizade e nosso amor que nos deixou tão ligados assim. Eu tinha muito orgulho em dizer que ele era meu irmão.
(É sempre ter e nunca prender. Você começa a parecer com um lar)
What's mine is yours to leave or take. What's mine is yours to make your own.
(O que é meu é seu pra pegar ou largar. O que é meu é seu pra fazer seu)
Oh, oh, oh. Oh, oh, oh.
Be my baby… And I’ll look after you.
(Seja a minha garota… E eu cuidarei de você)
Me encolhi dentro do meu pijama grosso quando uma rajada de vento assoprou os meus cabelos. Lou voltou a olhar para os próprios dedos que trabalhavam incessantemente nas cordas do instrumento. Eu arriscaria cantar aquela última parte do refrão com ele, mas não me atrevi. Não se deve atrapalhar um anjo em momentos assim, porque era com um anjo que Lou estava parecendo. Suas expressões eram suaves como a voz, suas mãos se mexiam naturalmente e a respiração estava equilibrada. A única coisa que eu estranhei foi o vazio em seus olhos. Louis sempre foi cheio de vida, alegre e quase hiperativo, porém não era bem isso que ele estava demonstrando nos últimos dias.
- Você sabe que eu sempre vou cuidar de você, né? – Perguntou com um sorrisinho de lado.
- Sei sim, Boo. – Meu sorriso foi um pouco maior que o dele.
- Não importa o que aconteça... – Deixou o violão de lado e me indicou para chegar mais perto.
- Eu sei, eu sei. – Me arrastei pelo batente até poder abraçá-lo de lado e encostar a cabeça em seu ombro. – Mas não vai acontecer nada.
- Caso aconteça, . – Soltou uma risada nasalada, mas eu duvidava que ele estivesse achando graça.
- Faz tempo que você acordou? – Preferi mudar de assunto e ele me abraçou pelos ombros.
- Umas duas horas. – Começou a brincar com as pontas descoloridas do meu cabelo. – Onde você estava? Seu quarto e o de Liam estavam vazios, eu achei que tinham saído.
- Eu estava dormindo no quarto do Harry. – Ri da cara de ciúmes que meu irmão fez. – O Li ainda tá lá.
- Vocês fizeram uma festa do pijama e não me chamaram?
- Em nossa defesa... Ninguém planejou nada! – Tentei me explicar. – A gente acordou cedo, daí fomos ver desenho lá e puff! Pegamos no sono.
- Espera... Você acordou cedo em um sábado? – Levantou uma sobrancelha, desconfiado.
- Né? – Dei de ombros. – Zayn me ligou e me acordou!
- E o que ele queria de tão urgente?
- Escutar a minha voz... – Fiquei com uma cara de boba tão grande que Louis riu.
- Que frescura! – Gargalhou e ganhou um tapa no braço em troca.
- Não é frescura, Louis! – Reclamei. – Eu acho fofo...
- Awwwwn, minha irmãzinha está apaixonada! – Me esmagou em seu abraço.
- Está sim! – Falei quase sem ar.
- Eu acho que nunca te vi assim, tão feliz. – Diminuiu um pouco o aperto, mas não me soltou.
- E eu estou feliz, Lou... – Suspirei. – Por que não estaria? Eu moro em uma cidade maravilhosa com três idiotas que eu amo muito, tenho amigos perfeitos, um namorado de tirar o ar e ainda estou fazendo o que amo.
- Sua vida é perfeita! – Riu.
- Tão perfeita que eu fico com medo. Não sei se é justo tanta felicidade pra uma pessoa só.
- Você merece, . – Beijou a minha testa.
- E você está muito meloso hoje! O que tá acontecendo?
- Eu já falei que gostei do seu novo cabelo? – Mudou de assunto descaradamente.
- Sim, ontem quando eu cheguei em casa!
A hora de me arrumar para o baile de inverno estava chegando e com ela vinha o nervosismo que eu tentava controlar. Já tinha tomado banho e arrumado o meu cabelo em uma trança que ia de um lado ao outro da minha cabeça, assim como já fizera todo o meu ritual “pré dança”. Ou seja, já tinha preparado a minha sapatilha de ponta e praticamente quebrado-a toda. Eu não era nem louca de usar uma sapatilha nova em uma apresentação, já que não estaria acostumada a ela, mas tive a consciência de escolher a “menos acabada” entre a minha coleção. Mesmo assim ainda precisei testá-la e gastá-la para que não escorregasse demais e muito menos me fizesse quebrar o pé. Era só o que me faltava, sair da festa direto para o hospital.
Afastei aqueles pensamentos nada positivos da minha cabeça e voltei a me concentrar no que estava fazendo. O único lado ruim de me apresentar naquela festa seria a troca de roupas. Por dois motivos muito simples: 1º- Eu teria que levar uma mochila com a minha segunda roupa, o que acabava com todo o glamour de chegar toda arrumada ao salão de baile. Ninguém merece estar com um vestido perfeito e ter que carregar uma mochila. 2º- Enquanto eu estivesse dançando, teria que deixar o meu vestido, sapatos, jóias e derivados em uma sala separada. Eu não achava que seria roubada ou coisa assim, mas o fato de esses presentes tão preciosos estarem longe de mim e possivelmente próximos de outras pessoas me assustava.
“Meu Deus, ! Pare de pessimismo! Vai dar tudo certo.” Briguei comigo mesma e guardei o vestido que acabara de dobrar na tal mochila. Ali dentro já estavam a minha sapatilha, umas presilhas para o caso de acidentes envolvendo o meu cabelo, meia calça cor de rosa e outras coisinhas que eu usaria para me preparar. “É isso... Tudo esta no lugar certo e agora eu só preciso me vestir.”
- ? – Era Liam batendo na porta, pra variar. Sempre que eu tenho algum lugar pra ir e estou me arrumando, ele resolve aparecer com algum recado.
- Já vou! – Gritei antes que ele resolvesse entrar e me ver de roupa íntima. Peguei uma toalha e me enrolei, finalmente chegando até a porta e abrindo uma brecha para que eu pudesse vê-lo. – Sim?
- O Zayn chegou. – Aquelas três palavras me desesperaram.
- Já? Que horas são? – Será que eu estava tão atrasada assim?
- Ainda são sete e meia, . Você tem tempo. – Riu. – Eu só vim avisar, caso você já estivesse pronta e tal...
- Em vinte minutos eu desço, tá bem? – Sorri um pouco mais tranquila e fechei a porta quando Liam se foi.
Tenho certeza que ele só chegou cedo assim porque queria ver o meu cabelo logo. Como eu o prendi em uma trança, infelizmente Zayn não poderia vê-lo completamente, mas as mechas claras estavam mescladas com as escuras e formavam um desenho bem bonito. Não tinha mais tempo a perder, por isso fui direto para o banheiro fazer a minha maquiagem: O bom e velho lápis preto, delineador mais grosso na pálpebra, uma sombra pastel que pudesse combinar com minhas duas roupas da noite e um blush rosado nas bochechas. Demorei pouco mais de dez minutos até estar perfeitamente maquiada e finalizei com um batom claro nos lábios. Eu podia escutar reclamando por não ser um batom mais escuro, mas eu estava no clima de usar um claro, então pronto! Hunf. Claro que não esqueci do perfume e das jóias. Sei que estava receosa em usar o bracelete de brilhantes, mas ele era tão lindo que eu não poderia deixá-lo trancado em uma caixa para sempre.
Meu próximo passo foi tirar o vestido branco do cabide no closet e vesti-lo. Eu ainda achava incrível caber dentro de uma roupa que apenas modelos usaram antes de mim e o quanto ele ficava bem ajustado ao meu corpo. Era quase como se tivesse sido feito sob medida pra mim. Toda garota tem suas manhas na hora de se vestir, mas naquela noite eu me superei ao fechar sozinha o zíper que ia da base das minhas costas até o topo do vestido. Eu estava me sentindo uma verdadeira princesa e fiquei girando sem sair do lugar só pra ver o tecido esvoaçar.
A caixa que Rachel me entregou a pedido de Carine estava em cima da minha cama e eu já sabia exatamente o que tinha dentro dela. Além do sapato Dior que eu já havia falado para , também encontrei uma clutch bem delicada que fechava o meu look. Calcei os saltos que não eram tão altos assim e peguei as coisas que teria que levar; minha bolsa de mão e a mochila. Como de costume, me olhei uma última vez no espelho do banheiro e parti para fora do quarto.
Eu havia demorado mais de vinte minutos pra me arrumar, mas ainda estava dentro do prazo se levarmos em consideração que eu tinha que estar pronta às 20hrs e ainda eram... 20h10min? Ok, pode ser que eu estivesse realmente atrasada, mas quem se importa? A pressa é inimiga da perfeição! Torcendo para que ninguém reclamasse da minha demora, comecei a descer as escadas com todo cuidado possível. O vestido era longo e volumoso demais e eu poderia pisar nele e cair em qualquer descuido. Como quase todos os finais de semana, os meninos iriam sair para alguma boate ou bar e por isso também estavam bem arrumados. O primeiro que eu vi foi Harry, seguido por Louis e Liam.
Os três ficaram na minha frente e me impediram de ver Zayn e vice versa. Haz pegou a minha mochila, afirmando que levaria até o carro, Lou me desejou boa sorte e Liam disse que eu estava linda como sempre. Por fim eles acabaram indo embora e me deixaram sozinha na sala com o garoto que eu olhei pela primeira vez. Fiquei sem palavras assim que o vi, pois ele estava encantador. Parecia um príncipe de roupa social, que incluía paletó, gravata e tudo que tinha direito. O jeito que ele me olhava não era muito diferente ficamos parados tentando recuperar a linda de pensamento.
- Oi, Zayn. – Fui a primeira a falar e me aproximei dele. Ao contrário do que eu esperava, ele não falou nada e apenas ficou me olhando, o que me deixou sem jeito. – Essa seria uma boa hora pra você falar alguma coisa...
- Acho que eu nunca vi alguém tão linda... – Finalmente falou algo e foi a minha vez de não saber como responder. Ele segurou o meu rosto com as duas mãos e ficou me estudando de perto. – Eu sei que falo isso todos os dias, mas você é incrivelmente linda. Ao ponto que eu fico sem formas de expressar o que sinto quando estou com você.
- Os seus olhos já expressam tudo que eu preciso saber. – Sorri meio tímida.
Zayn também sorriu e afirmou que sim com a cabeça. Nós dois ficamos trocando olhares e eu agradeci mentalmente por os meninos terem ido embora logo e nos deixado a sós. Tudo bem que a pressa que eles tiveram para ir embora foi meio estranha, mas quando eles foram normais? O mais alto me fez sair de meus pensamentos assim que pressionou seus lábios contra os meus. Fechei os olhos automaticamente e procurei os ombros do mesmo com as minhas mãos. Cada um inclinou o rosto para um lado e demos início a um beijo cheio de carinho. Ele soltou o meu rosto e deslizou as mãos pela minha nuca, seguindo para as minhas costas. Aproveitou para me puxar mais pra perto e eu o envolvi pelo pescoço. Seus lábios macios se moviam contra os meus e o perfume adocicado me entorpecia. Era como se o momento não pudesse fica mais perfeito.
- O que você mudou no cabelo? – Perguntou assim que separamos os rostos e me olhou confuso, não notando nada de diferente.
- Você não pode ver porque está preso... – Expliquei e dei meia volta. – Mas tá vendo que tem algumas partes brancas?
- Estou sim... São as pontas? – Aproveitou que eu estava de costas para me abraçar e beijar o meu pescoço. – Eu gostei!
- Mas você nem viu direito! – Ri e descansei a cabeça o ombro dele.
- Eu já gosto de tudo em você. É o suficiente. – Sorriu e beijou a minha bochecha, partindo o abraço rápido demais. – Podemos ir?
- Podemos sim! – Dei uma olhada em mim mesma, checando se tudo estava no lugar.
Entrelacei os dedos nos de Zayn e pudemos sair da sala e passar pela porta de casa que já estava aberta. Tranquei a porta depois de passar e guardei a minha chave na bolsa. Zayn se precipitou e foi um pouco na frente, mas parou na metade do caminho de pedra pra me esperar. O frio que durou o dia inteiro poderia ter ido embora, mas não foi isso o que aconteceu. Se duvidar a temperatura ainda caiu mais, o que foi terrível pra mim, pois eu teimei em não usar um casaco. Meu vestido era perfeito demais e deveria ser mostrado, por isso eu preferi passar frio. Fui de encontro ao meu namorado e fiquei chocada ao ver o nosso transporte. Uma limusine preta e um chofer nos aguardavam na calçada.
- Nós vamos ao baile de limusine? – Perguntei com um sorriso.
- A convidada de honra não pode chegar em um carro qualquer. – Riu da minha expressão.
- Isso é tão legal! – Comemorei realmente animada. Eu nunca havia andado de limusine antes, mas estava louca pra ter a minha primeira vez.
- Você acha mesmo? Foi idéia da minha mãe... – Passou a mão pelos cabelos meio desconfiado. – Mas a Doniya disse que era brega.
- É perfeito, Zayn. – Ele me guiou até o carro. – Não escute a sua irmã, ok?
- Tudo bem. – Sorriu e esperou eu entrar primeiro, já que o motorista abriu a porta para nós.
Aquela limusine era como as que vemos em filmes: O interior era todo estofado e tinha até um espelho no teto. O chão era de carpete e em uma ponta havia um balde com gelo, uma garrafa e duas taças de vidro. Eu abaixei a cabeça para poder entrar e logo me acomodei na metade do banco. Ou seria sofá? Porque parecia mesmo um sofá. Zayn veio logo atrás, após dar as instruções para o chofer. Ele se sentou ao meu lado e pegou a tal garrafa que estava dentro do balde com gelo.
- Eu não posso beber, Zayn. – Segurei a taça que me foi entregue. – Vou dançar...
- Eu sei disso, babe. – Sorriu como se já estivesse preparado para qualquer situação. – Isso é suco. Só coloquei em uma garrafa de vinho pra ficar mais elegante.
- Você pensa em tudo! – O observei abrir a garrafa e nos servir. Ainda bem que o carro não se mexia com tanta velocidade, pois isso impediria acidentes e manchas no meu vestido branco.
Não demoramos quase nada pra chegar até a Academy. Pelo menos não pareceu demorar... Zayn e eu bebemos o suco durante metade da viagem e a outra metade ficamos conversando sobre as coisas mais idiotas. Como sempre, ele me fez rir com coisas que nem eram tão engraçadas assim. Em determinado momento o garoto me roubou um beijo inesperado e eu dei o troco, puxando-o para um mais longo. Foi aí que o motorista fechou a parte de vidro que o separava de nós e tivemos mais privacidade. Não sei o que ele esperava que fosse acontecer por ali, mas eu agradeci por não ter ninguém nos observando pelo retrovisor.
De qualquer forma, o chofer abriu a porta para que saíssemos e Zayn passou primeiro. Ele me aguardou descer com cuidado e pegou a minha mochila nada elegante. Harry havia mesmo deixado-a no carro e eu já teria me esquecido dela se o motorista não nos lembrasse. Pois é, eu sou lerda assim mesmo, não me julgue. Passei o braço pelo de Zayn e nós dois fomos para a escadaria. O local estava totalmente iluminado e enfeitado, desde o corrimão até a porta de entrada. O lado de dentro, então? Parecia outro lugar e não mais aquela “escola” que eu frequentava todos os dias. Um caminho foi formado pelo chão, indicando o lado certo que os estudantes deveriam ir. Algum material que parecia algodão foi posto no chão para lembrar a neve e desenhos de snowflakes enfeitavam as paredes.
Se o lado de fora estava assim, eu esperava ver o lado de dentro do salão! Ao invés de pegarmos o elevador para o subsolo, preferimos ir pelas escadas que estariam bem mais vazias. Eu não me importei e nem reclamei, o que já era um passo muito grande para alguém tão preguiçosa quanto eu. No meio do caminho da nossa descida, encontramos a professora Holly. Ela estava meio descabelada e ofegante, sem falar em seu batom vermelho que estava um pouco borrado. Zayn pareceu não notar nada e muito menos prestar atenção, mas eu já imaginava o que teria acontecido com ela. Ou “quem” teria acontecido. Fora isso, a mulher estava linda. Seu vestido comprido era um tomara que caia azul escuro com pedrarias brilhantes que iam até a barra. Ela viu a mochila que Zayn carregava e pediu que a entregasse, pois já sabia o que era. Também me indicou a sala que eu deveria ir para trocar de roupa e era lá que minhas coisas ficariam guardadas. Eu agradeci e ela sumiu das nossas vistas.
Ficava cada vez mais difícil não poder comentar com ninguém sobre o relacionamento da minha professora com o meu parceiro de dança, mas é claro que eu não abriria a boca pra falar nada. A escada chegou ao fim e já entramos direto no salão de baile. Todos os meninos e meninas estavam vestidos formalmente, o que foi uma mudança e tanto para o que eu estava acostumada. Ao longe vi os diretores e professores conversando em uma mesa bem grande. Ed estava por lá também, mas parecia meio deslocado e super desconfortável dentro da roupa formal. Parei de olhar as pessoas e focalizei a minha atenção na decoração. Muita coisa havia mudado desde o dia anterior. Agora alguns flocos de neve estavam pendurados por cordas e davam a impressão de neve caindo. As mesas redondas estavam cobertas por toalhas bem claras e todas tinham centros de mesa cheios de flores e uma única vela acesa no topo de cada arranjo. O clima de inverno só ficou na atmosfera mesmo, pois a temperatura do salão estava bem agradável.
e Niall ainda não deviam ter chegado, pois eu não conseguia enxergá-los em lugar nenhum. Uma banda estava no palco principal e embalava as poucas pessoas na pista de dança com algumas musicas nem tão lentas e nem tão animadas. Atravessamos o salão até chegarmos perto de uma árvore branca que estava ali apenas como decoração. Mas também, né? O que uma árvore estaria fazendo em um salão no subsolo? Nada! Um garoto que eu nunca tinha visto antes se aproximou de nós e parecia conhecer Zayn, pois os dois se abraçaram.
- Pal, o Josh tá te procurando lá no backstage. – O menino falou e só percebeu que eu estava por ali uns segundos depois. – Ah, oi.
- Hey. – O cumprimentei com um aceno de cabeça, mas ele parecia apressado demais pra que eu puxasse conversa.
- , esse é o Sandy. Também é da banda que toca com a gente. – Me explicou. – Você se importa se eu for ver o que o Josh quer?
- Claro que não! Pode ir. – Sorri para encorajá-lo.
Não vou mentir e dizer que gostaria de ficar sozinha por ali, mas eu não poderia dizer não. Só torcia pra que não fosse nada ruim e que tudo estivesse certo para a apresentação dos meninos. Antes de partir Zayn deixou um selinho em meus lábios e prometeu que não demoraria muito. Eu respondi que ele poderia demorar o tempo que fosse preciso, pois eu ficaria bem. Uma mentira que eu mesma queria poder acreditar. “Vamos, , você é uma menina forte. Consegue ficar sozinha por um tempo.” Isso mesmo, consciência, me encoraje! Observei os dois se afastando e quase correndo para uma portinha ao lado do palco onde se encontrava uma placa escrito: “Backstage.”
Revirei a minha bolsa de mão a procura do meu celular e digitei uma mensagem rápida para : “Estou perto da árvore assustadora no salão. Venha pra cá quando chegar!” Eu esperava que ela entendesse o que eu quis dizer com “árvore assustadora”, já que aquela era a única árvore em todo o local. Eu ainda não conseguia entender completamente o objetivo daquele enfeite, mas até que quanto mais eu o olhava, mais agradável parecia. Dei de ombros e tentei me distrair com outra coisa. Jéssica passou por mim com algumas amigas e todas acenaram pra mim. Eu fiz o mesmo, mas elas não se aproximaram para me tirar da solidão. Pensei até mesmo em ir atrás de Ed Sheeran, já que eu tinha um pouco de intimidade com ele e com certeza o ruivo gostaria mais de conversar comigo do que com seus colegas de trabalho.
- Heeeeey, ! – Nicholas me assustou ao chegar já me abraçando e me girando no ar.
- Jeez, Nick! – Ri e me segurei nele até encostar os pés no chão novamente. – Está feliz hoje, hein?
- Por que não estaria? – Me soltou e sorriu maroto. É, eu sabia muito bem o motivo da felicidade dele e a mancha vermelha que ele trazia no canto dos lábios comprovava minhas suspeitas.
- Você poderia ter um pouco mais de cuidado, isso sim! – Passei a ponta da língua no meu polegar e usei a saliva para limpá-lo. É claro que o menino fez cara de nojo, mas me deixou terminar. – Aliás, você e a Holly, porque ela passou por mim toda descabelada! E eu sei muito bem o motivo.
- Sabe, é? – Levantou uma sobrancelha e sorriu convencido, piscando em seguida. – Poderia ter sido você, .
- Obrigada pela informação, mas eu estou bem com o meu namorado. – Ri e dei uma batidinha no ombro do menino. – Mas eu estou feliz por vocês dois. Parece que as coisas estão ficando sérias, né?
- Holly é bem difícil, pra falar a verdade... – Riu. – Mas eu estou conseguindo entrar nela.
- Ew! – Gargalhei ao levar aquela frase pelo duplo sentido.
- Não desse jeito, sua pervertida! – Arregalou os olhos, ofendido. – Bem... Talvez desse jeito.
- OK! Vamos mudar de assunto. – Balancei a cabeça de um lado para o outro tentando afastar aquelas imagens mentais. – Está preparado para o nosso grande momento?
- Meu bem, eu nasci pronto! – Fez sinal de “jóia” com a mão, levantando o polegar. – E você, huh? Está mais calma?
- Bem mais calma, pra ser sincera. – Respirei fundo. – A gente ensaiou bastante. Eu sei os passos. Você me ajuda se eu errar alguma coisa. O salto ainda me deixa nervosa, mas isso é só um detalhe. Um detalhe bem pequeno. É. Aham.
- Wow, wow. Tem certeza que está calma mesmo? – Me segurou pelos ombros, interrompendo o meu monólogo, e me puxou para um abraço. – Eu não vou te deixar cair. Você confia em mim, certo?
- É claro que eu confio! – O abracei de volta e tentei me acalmar.
- Ei, você não é o Zayn. – A voz de nos fez interromper o abraço e eu a olhei de cara feia.
- Isso é jeito de se cumprimentar as pessoas, ? – Questionei-a.
- E aí, ?! Oi, Nicholas. – Niall se mostrou bem mais educado que a namorada e sorriu para nós dois.
- Tudo bem, Niall? – O menino sorriu de volta e se virou para . – Boa noite, .
- Oi. – Forçou um sorriso pra ele e me abraçou. – Você está um arraso, .
- Merci. – Sorri e a olhei direito pela primeira vez. – Você também esta linda!
- , eu vou procurar... Uns amigos. – Fez uma careta por quase ter falado “Holly” ao invés de “uns amigos”. – Te vejo mais tarde, certo? Até depois, pessoal.
- Tudo bem, Nick. Juízo com os seus amigos. – Ri, mas o outro casal não entendeu a graça.
- Tchauzinho. – Não porque, mas estava sendo em falsa com ele, por isso a belisquei no braço. – AI, CACHORRA!
- Se comporte! – Rolei os olhos e me virei para Niall. – Um tal de Andy veio procurar o Zayn pra resolver algo no backstage... Não é melhor você ir lá também?
- Você quis dizer Sandy? É o nosso baixista. – Nos explicou, mesmo que aquela informação não fosse mudar a minha vida em nada. – Eu vou lá... Se comportem, meninas.
- Sempre! – Respondi enquanto ele beijava a namorada e se afastava de nós.
- Agora que estamos sozinhas você pode me falar... – se aproximou de mim e sussurrou. – Que ceninha foi aquela que eu presenciei?
- Qual ceninha, ? Nick só estava tentando me tranquilizar. – Estiquei o pescoço para ver o motivo de as pessoas estarem começando a formar um círculo em volta da pista de dança. – Não sei se você percebeu, mas hoje é uma noite bem importante.
- E o seu namorado não podia te tranquilizar?
- Se ele estivesse por aqui pelo menos, né? – Bufei e a puxei pela mão. – Vem, acho que vai ter alguma apresentação.
E de fato ia. Assim que eu consegui arrastar para perto da multidão e conseguirmos um bom lugar para assistir, quatro meninas apareceram no centro do salão. As luzes diminuíram e elas ocuparam suas posições. Demorei um pouco demais pra perceber que Jess estava ali junto com as outras meninas que eu vira no começo da festa. A mesma banda de antes começou a tocar e até mesmo um violino se juntou ao som do violoncelo, guitarra, piano e outros instrumentos que já faziam música. Tive a impressão que era uma verdadeira orquestra que nos deliciava com a música suave, mas nada lenta, que se iniciou.
As bailarinas também começaram a dançar com suas sapatilhas cor de rosa e roupas idênticas. Cada uma sorria mais que a outra e seus passos eram sincronizados. Foi algo bem divertido de assistir e estava realmente maldosa aquela noite, pois não demorou a comentar que as meninas estavam parecendo coelhinhos saltitantes. Eu acabei rindo, pois ela tinha razão. Mal encostavam no chão e já estavam pulando de novo? O pior é que não era saltos propriamente ditos, eram pulinhos mesmo. Eu tentei fazer uma cara séria, pois não gostaria que ninguém risse durante a minha própria apresentação, o que me tirava o direito de rir “delas”. No geral a dança estava entretendo o público e eu teria assistido até o final se a minha melhor amiga não tivesse me puxado para fora do círculo, sem nem me avisar. Eu quase tropecei no meu vestido, mas consegui driblar as pessoas que apareciam no meu caminho.
- Pra onde estamos indo? – A segui sem reclamar, mas queria saber o nosso destino.
- Eu preciso de uma bebida! – Continuou segurando a minha mão até chegarmos em uma mesa comprida onde alguns comes e bebes estavam arrumados.
- Essa festa não vai ter álcool, . – Peguei um copo branco de plástico e me servi com um pouco de ponche. – Ainda estamos um espaço acadêmico.
- Eu sei disso, bobinha. – Piscou e também colocou um pouco de ponche no próprio copo. Em seguida tirou um frasco prata da bolsa e o abriu. – Por isso trouxe de casa.
- Não acredito nisso! – Ri ao ver ela despejar o líquido transparente dentro do copo e misturar. – Mas até que explica o seu comportamento.
- Você acha mesmo que eu iria passar por essa chatice sem alguma bebida mais encorajadora? – Tentou colocar bebida no meu copo, mas eu a impedi. – Não quer?
- Não posso beber antes da dança. – Dei um gole no meu ponche de groselha. – E a festa não está tão chata assim...
Olhei em volta... Tá, poderia estar um pouco paradona e tudo mais, principalmente quando a primeira apresentação acabou. E não era uma balada com jogos de luz e máquinas de fumaça, além de estarmos sendo constantemente vigiados pelos professores e por “Agnes, A Megera”. Mas pelo menos estávamos entre amigos e o ponche estava maravilhoso, sem falar que eu estava usando o vestido mais caro que já tinha visto e ele era completamente lindo. Antes que a banda pudesse voltar a tocar suas músicas, um senhor baixinho subiu ao palco e pegou o microfone. Eu sabia que ele também era um diretor, mas raramente o via pela Academy, já que a parceira dele era quem comandava tudo. Pelo que eu me lembrava da primeira reunião no auditório, ele era muito querido pelos alunos. Tirei de perto da mesa de bebidas para que pudéssemos ter uma visão melhor do palco e conseqüentemente escutar o diretor.
- Boa noite, meus queridos alunos! – Começou o discurso.
- Boa noite! – Todos responderam; inclusive eu.
- Foi com essa belíssima apresentação que eu tenho a honra de dar início ao Baile de Inverno da London Royal Academy! – Abriu os braços como se nos desse as boas vindas e sorriu daquele jeito que eu já sabia que ele fazia. – Mas vamos agitar um pouco as coisas, sim? Toby, é com você!
- Muito obrigado, Gavin! – Assim que o diretor se afastou, o tal Toby tomou o microfone e começou a falar com a gente. – Estão todos prontos pra dançar MUITO? Não quero ver ninguém parado!
Assim que o vocalista terminou de falar, a batida da nova música começou e é claro que eu a conhecia. The Ready Set não era lá uma banda muito conhecida pela Europa, por isso eu fiquei surpresa assim que “Give Me Your Hand” começou a tocar no volume máximo. Eu amava aquela música e era impossível escutá-la sem pelo menos me mover no mesmo lugar. Aproveitando que estávamos em uma festa mesmo, virei a minha bebida e esvaziei o copo. Coloquei-o em cima da mesa mais próxima de mim e me virei pra .
- Vamos dançar? Eu amo essa música! – Bati palmas silenciosas e a olhei pidona.
- Tudo bem... Mas eu vou levar a minha bebida.
É claro que acabaria concordando comigo, mas mesmo se não quisesse dançar, eu iria sozinha. Isso nunca foi um problema pra mim, porém fiquei feliz em ter uma companhia, já que Zayn e Niall tinham nos abandonado. Nos infiltramos na pista de dança e eu fiz questão de chegar o mais perto do palco que consegui. não entendia porque nós não podíamos ficar onde estava mais vazio, mas eu precisava ficar próxima das caixas de som.
Já comecei jogando os braços pra cima e pulando enquanto dava uma voltinha sem sair do lugar. Uma espécie de “uhul” escapou pelos meus lábios, mas a música estava alta demais pra eu ser escutada. Minha amiga estava mais preocupada com o seu copo do que comigo, por isso rolei os olhos com uma risada e a deixei pra lá. Ao menos ela ainda não estava caindo e nem falando besteira. A pista estava bem mais cheia do que antes e eu comecei a retirar o que dissera; a festa não estava chata coisa nenhuma! Claro que eu iria preferir estar ao lado do meu namorado, mas não deixaria aquilo atrapalhar a minha diversão. Eu segurei o meu vestido um pouco acima do tornozelo só pra poder ter um pouco mais de liberdade. Me mexi de um lado pra o outro no ritmo da musica e pulei mesmo estando de salto. Olhei mais uma vez para o vocalista, que viu o quanto eu estava me divertindo e gostando daquela música. Ele então se ajoelhou no palco bem na minha frente e eu prestei atenção nele sem parar de dançar.
- She said: “I love this song! I’ve heard it before.” Give me your hand! (Ela disse: “Eu amo essa música! Eu já a escutei antes.” Me dê a sua mão!) – Cantou olhando diretamente nos meus olhos e esticou a mão para que eu entregasse a minha. É claro que eu não perdi tempo e segurei a mão dele.
- This is the best song ever! (Essa é a melhor música de todos os tempos!)– Também cantei e ele sorriu. Beijou as costas da minha mão e se afastou para continuar a apresentação.
- OH MY GOD! – me abraçou de lado e teve que me gritar pra ser ouvida. – ELE É TÃO FOFO!
- É SIM! – Concordei com uma gargalhada e a puxei para dançar comigo. Não sei onde tinha largado o seu copo, mas já estava sem ele.
- ME APRESENTA? – Perguntou com uma expressão engraçada no rosto.
- VOCÊ TEM NAMORADO! – Acabei com os sonhos da minha amiga, que fez bico.
- MAS CADÊ ELE?
- BEM ALI! – Apontei para os dois meninos que atravessavam a multidão para chegarem perto de nós.
- Finalmente eu te achei! – Zayn me abraçou e sussurrou na minha orelha.
- Você demorou! – Fiz um biquinho e o toquei na nuca.
- Desculpa, baby. – Deixou um selinho no meu bico, me fazendo sorrir. – Dança comigo?
- Achei que você não dançava! – Ri, mas aceitei.
A nova música começou a tocar assim que a primeira acabou. Aquela banda tinha uma playlist realmente muito boa e não queriam deixar o ritmo cair. Cada vez mais pessoas se juntavam na pista, gritando, dançando e cantando. Se quem dança os males espanta, eu já não tinha mais “male” nenhum. Ou seria “quem canta”? Tudo que eu menos queria é fazer sentido, por isso só prestei atenção em Zayn, já que ele começou uma dança louca e desengonçada. Eu não o parei e até mesmo me juntei ao garoto. Quando fomos perceber, estávamos fazendo os passos da macarena e rindo como dois idiotas. e Niall não estavam muito diferentes de nós.
Dei uma voltinha e Zayn me puxou pela cintura, colando o corpo nas minhas costas. Eu aproveitei essa posição para inclinar o pescoço em um tipo de convite que ele logo aceitou. Senti seus lábios não tão delicadamente tocando o meu ombro e fechei os olhos. O menino os arrastou e me segurou pela lateral do meu quadril, que eu fiz questão de colar no dele. Passei um braço para trás, segurando-o pelos cabelos e puxei ali. Zayn revidou e me mordeu na curva entre o meu pescoço e ombro. Eu reclamei, mas sorri e o olhei. Não perdemos tempo e rapidamente eu já estava virada de frente para o moreno mais uma vez. O puxei pela gravata e juntei as nossas bocas. Não sei se era por causa da música, da minha animação, da vibe ou por Zayn ter ficado tão sexy de terno, mas eu precisava dos lábios dele nos meus. O beijei com urgência e ele me deixou comandar por algum tempo, porém logo me segurou com firmeza pela nuca e praticamente me mostrou “quem é que manda”. Preciso dizer que adorei aquela atitude? Óbvio que não. Apenas me deixei levar e sorri entre o beijo, ainda segurando-o pelo tecido da gravata.
- Zayn, temos que ir... – Escutei a voz de Niall bem perto de nós, mas não quis soltar o meu namorado. – Depois vocês se agarram mais...
- , deixa eles irem. – também me apressou e eu não tive outra escolha a não ser soltá-lo.
- Já está na hora? – Zayn perguntou para o amigo, mas não tirou os olhos de mim.
- Sim, somos os próximos...
- Não demora... – Sussurrei nos lábios de Zayn, mas o deixei ir.
- Quer assistir do backstage? – Me deu um último beijo.
- Quero assistir daqui, bem perto do palco! – Sorri e senti um frio na barriga.
Os meninos se foram e eu abracei . Acho que estava mais ansiosa em ver os nossos meninos se apresentando do em eu mesma me apresentar. As borboletas ficaram loucas no meu estômago e eu não parava de sorrir. Seria a primeira vez que eu os veria apresentando uma música original e ainda mais em cima de um palco, com várias pessoas assistindo e uma banda atrás. A ruiva ao meu lado me olhava como se fosse desmaiar e devia estar passando pelo mesmo que eu. A banda que estava animando a festa parou de tocar e foram saindo pela lateral, fazendo todos pararem de dançar e prestar atenção no que estava acontecendo.
Apertei a mão de entre as minhas em uma tentativa de fazer o nervosismo diminuir, mas não parecia dar certo. Logo, logo eu estaria começando a suar frio e isso não era nada bom. Um movimento começou a surgir nas cortinas do backstage e um menino baixinho entrou e se dirigiu até a bateria. Eu acenei para Josh enquanto alguns gritos já começaram a ser ouvidos. O baixista e um guitarrista também entraram e se soltou de mim, reclamando que eu estava quebrando os dedos dela. Amiga ingrata, isso sim! De repente os meninos entraram correndo no palco, um vindo de cada lado e pararam bem na nossa frente com seus microfones. A platéia foi a loucura, mas ninguém gritou mais alto que eu.
- London Royal Academy, vocês estão prontos? – Niall foi o primeiro a gritar.
- SIM! – Respondemos em uníssono.
- Você acha que eles estão prontos, Nialler? – Zayn provocou e me olhou com um sorriso. – Então vamos lá! Nós escrevemos essa música para duas garotas essenciais nas nossas vidas... E ela se chama...
- One Thing! – Niall o interrompeu e a guitarra começou a tocar.
(Eu tentei ficar calmo)
But, when I'm looking at you…
(Mas quando eu estou olhando pra você..)
I can't ever be brave.
(Eu nunca consigo ser corajoso)
'Cause you make my heart race.
(Porque você faz o meu coração acelerar)
Zayn foi o primeiro a cantar e olhou diretamente pra mim quando o fez. Além de dedicar aquela música a mim, ele ainda tinha que me olhar daquele jeito? Devia estar querendo me fazer ter um ataque do coração. Eu não parava de sorrir poderia rasgar o rosto a qualquer momento. As outras pessoas que estavam a nossa volta também pareciam estar gostando, pois gritavam sempre e batiam palmas. Era possível sentir certos olhares de inveja caindo sobre mim, mas eu não iria prestar atenção nisso. Não quando o namorado mais perfeito do mundo estava cantando pra mim.
(Me fez cair do céu)
You are my kryptonite.
(Você é a minha kryptonita)
You keep making me weak, yeah.
(Você continua me deixando fraco, yeah)
Frozen and can't breathe.
(Congelado e sem conseguir respirar)
A bateria se juntou aos outros instrumentos e deu um novo nível a música. Sem falar que foi a vez de Niall cantar e soltou vários beijos na direção dele, que sorriu todo bobo e piscou. Enquanto Zayn não tinha que cantar, ele ficava fazendo passinhos de dança sem sair do lugar e balançava a cabeça no ritmo da música. Tive um momento de fangirl e gritei: “Zayn lindo!” E claro que eu ri de mim e o garoto fez o mesmo. Ele estava feliz e eu também. Na verdade, os dois estavam muito felizes e acenavam para a platéia.
(Alguém terá que ceder agora…)
'Cause I'm dying just to make you see…
(Porque eu estou morrendo só pr ate fazer enchergar…)
That I need you here with me now…
(Que eu preciso de você comigo agora…)
'Cause you've got that one thing!
(Porque você tem aquela uma coisa)
Cantaram juntos e se entreolharam com um sorrisinho lindo no rosto de cada um. Eles estavam orgulhosos de si mesmos e eu estava orgulhosa dos dois também. Não sei como essas coisas funcionam no mundo da música, mas devia ser maravilhoso você escrever uma música e receber um feedback positivo como o que eles estavam recebendo naquele momento. Comecei a dançar e balançar os braços, ainda sorrindo muito.
(Então saia, saia, saia da minha cabeça)
And fall into my arms instead.
(E caia nos meus braços ao invés disso)
I don't, I don't, don't know what it is.
(Eu não, eu não sei o que é)
But I need that one thing and…
(Mas eu preciso de uma coisa)
You've got that one thing!
(E você tem essa “uma coisa”)
O refrão começou e foi quando os meninos soltaram o microfone do pedestal e começaram a correr pelo palco. É claro que a platéia foi à loucura e nos aproximamos ainda mais. Tenho que dizer que os dois possuíam uma presença de palco que muitos artistas famosos invejariam. Eles acenavam, pulavam e interagiam com todos que conseguiam. Dei uma rápida olhada em volta e podia jurar que vi Agnes sorrir discretamente pela primeira vez na vida. Devia estar se gabando por dentro e pensando o quanto ela era boa por comandar a escola em que aqueles meninos talentosos estudavam. Voltei a minha atenção para o meu namorado a tempo de vê-lo assoprar um beijo na minha direção.
(Agora estou subindo pelas paredes)
But you don't notice at all.
(Mas você nem nota)
That I'm going out of my mind.
(Eu estou perdendo a cabeça)
All day and all night…
(O dia inteiro e a note inteira)
Niall teve o seu solo mais uma vez e começou a andar em direção ao centro do palco novamente, já que ele estava na ponta esquerda e Zayn na direita. Olhei para a namorada dele e vi que ela estava fazendo um coração com as mãos. “Esse é o meu Nialler!” Ela gritava para as meninas que tentavam chamar a atenção dele. Eu não duvidava que ela pudesse atacar qualquer uma delas só por causa de ciúmes; ainda mais com o nível de álcool que corria em seu sangue.
(Alguém tem que ceder agora)
'Cause I'm dying just to know your name.
(Porque estou morrendo só pra saber o seu nome)
And I need you here with me now…
(E eu preciso de você comigo agora…)
'Cause you've got that one thing!
(Porque você tem aquela “uma cosa”)
Os instrumentos pararam de tocar e os cantores começaram a bater palmas no ritmo correto. Não demorou muito e todos estavam imitando-os, principalmente eu, e o som percorreu todo o salão. Minha parte preferida em shows sempre foi aquela em que a platéia tinha uma chance de participar da apresentação e foi bem isso o que aconteceu. Era possível sentir o calor humano, se por assim dizer. Os olhos de Zayn até brilharam quando ele e Niall cantaram juntos e só a multidão que os assistia dava a melodia necessária. O loiro trocou de lado e foi para a direita enquanto o outro voltou para seu lugar de origem e conectou o olhar ao meu.
(Então saia, saia, saia da minha cabeça)
And fall into my arms instead.
(E caia nos meus braços ao invés disso)
I don't, I don't, don't know what it is…
(Eu não, eu não, eu não sei o que é…)
But I need that one thing and you’ve got that one thing.
(Mas eu preciso dessa “uma coisa” e você tem essa “uma coisa)
O ultimo solo de Zayn deve ter sido o melhor de todos. Apenas a guitarra o acompanhou com poucos acordes e ele apontou pra mim durante cada palavra de cada frase, inclinado na minha direção e não deixando dúvidas que aquela música era pra mim. O lugar ao nosso redor ficou em silêncio e eu sorri pela centésima vez. Pode ser meio brega o que eu vou falar agora, mas passarinhos deveriam ter inveja da voz daquele garoto, pois era algo de outro mundo. Eu tinha muita sorte de tê-lo pra mim, de poder dividir minhas felicidades e tristezas e também ser aquela pra quem ele correria ao ter algum problema. Aparentemente eu tinha “uma coisa” que ele precisava, mas nenhum de dois sabia o que era.
A apresentação chegou ao final e Zayn teve que se afastar de mim para receber os aplausos e gritos da platéia. Niall foi de encontro a ele e os dois fizeram uma referencia em agradecimento, nos fazendo aplaudir ainda mais. Infelizmente o show deles tinha acabado e eu desejei que tivesse mais. Na verdade acho que todos queriam mais, pois as reclamações foram muitas quando a banda deixou os instrumentos de lado e se prepararam pra deixar o palco. Mas eu sabia que não seria a última vez que os veria sob os holofotes... Não mesmo. Aquela noite só tinha me dado mais vontade ainda de seguir com o plano.
Ao invés de também irem para o backstage, a dupla saltou do palco e correu ao nosso encontro. Mesmo que muitos tentassem parabenizar os meninos, nenhum deles pareceu dar muita atenção. agarrou o namorado ali mesmo e eu a imitei. Porém, enquanto os dois se comeram na pista de dança, eu apenas abracei Zayn pelo pescoço com força. Ele me envolveu pela cintura e me levantou do chão, rodopiando com o rosto escondido no meu pescoço. A felicidade dele era óbvia e isso encheu o meu coração apaixonado.
- Baby, você foi incrível! – Falei enquanto ainda girávamos.
- Você gostou da música? – Me colocou no chão e encostou a testa na minha.
- Eu amei! Cada pedacinho.
“Como eu vou superar isso?!” Era a única coisa que se passava pela minha mente após assistir a apresentação solo de Brigitte. Eu podia não gostar da garota, mas tinha que concordar que ela era uma dançarina de mão cheia. Sua interpretação do Lago dos Cisnes foi impecável, mesmo eu achando que a escolha do tema tenha sido um tanto clichê. De uma forma ou de outra, eu me senti terrível e fui até uma mesa mais afastada fiquei ali até que alguém sentisse a minha falta. O que aconteceu bem mais rápido do que eu gostaria. se sentou ma cadeira em frente à minha e Zayn ocupou a que estava ao lado da minha. Como eu estava com a cabeça escondida em meus braços em cima da mesa, não pude olhar pra ele, mas sabia que estava preocupado. Talvez sem saber a razão para a minha tristeza/ansiedade, mas sabia que havia algo errado.
- ... – Tocou o meu braço com a ponta dos dedos. – Não fica assim. Eu sei que você vai ser perfeita...
- Você viu a apresentação dela? – Levantei o rosto.
- Vi. Mas e daí? – Deu de ombros. – Eu sei que a sua vai ser melhor que todas. Até melhor que a minha, o que é bem difícil de acontecer.
- Tem certeza? – Perguntei nem um pouco convencida daquilo.
- Claro que eu tenho! Você não viu como eu estava gostoso em cima daquele palco? – Não era disso o que eu estava falando, mas ele me fez rir de qualquer jeito.
- Só você mesmo, Malik. – Balancei a cabeça e o puxei pela gravata novamente, juntando nossos lábios demoradamente. – Aliás, você devia usar gravatas mais vezes, porque eu adorei te puxar assim.
- Vai acabar me enforcando! – Reclamou, mas sorriu. – Vem, nós vamos dançar.
- Até que pra alguém que não dança você está bem animado. – Disse assim que ele se levantou e esticou a mão pra mim.
- Vem logo, ! – Falou impaciente e me puxou pela mão. – Vocês dois vem?
negou com a cabeça enquanto tirava os sapatos e os empurrava pra baixo da mesa. Niall tinha um prato de docinhos nas mãos e parecia um hamster ao encher as bochechas de comida. Aproveitei que os dois ficariam ali mesmo e dei a minha bolsa para a ruiva tomar conta. Ela não se importou nada e acenou quando eu e Zayn nos distanciamos. A pista de dança estava mais vazia que nunca, pois a maioria das pessoas estava se alimentando ou bebendo daquele ponche que realmente estava bom. Acho que foi pela falta de audiência que a banda agora tocava uma música lenta para embalar os casais que dançavam juntos.
Slow Dancing in a Burnig Room – John Mayer era a música da vez. A balada era calma e contagiante ao mesmo tempo. Zayn fez uma reverência assim que chegamos ao meio do salão e eu fiz o mesmo; segurando as laterais do meu vestido e curvando levemente. Ambos sorrimos e ele estendeu a mão direita. Eu logo a segurei e ele me guiou para perto de seu corpo. Pousei as mãos em seus ombros e o menino me envolveu pela cintura. Balançamos de um lado para o outro, namorando os olhos um do outro. Na última vez em que dançamos assim, apenas o céu e as estrelas foram nossas testemunhas, mas mesmo estando entre tantas outras pessoas era como se nada tivesse mudado. Éramos embalados pela melodia calma e batimentos dos nossos corações. Zayn encostou a lateral do rosto no meu, me fazendo fechar os olhos.
Eu fiquei em paz, daquele jeito que só ele conseguia me deixar. Zayn devia ter me chamado pra dançar justamente porque sabia que conseguiria me acalmar e me preparar para a minha apresentação que seria a próxima. Eu sabia que ele se preocupava comigo e que acreditava em mim. No fundo eu também acreditava em mim, mas o nervosismo conseguia superar tudo. E eu queria deixá-lo orgulhoso da mesma forma que ele me deixou ao se apresentar. Mesmo sabendo que eu estaria dançando com Nicholas, um menino que não o agradava nada, queria que ele gostasse do que iria ver. Minha respiração se confundiu com a dele assim que nossas testas se encostaram. Eu podia sentir o seu hálito batendo sob os meus lábios, mas não nos beijamos. Era o suficiente apenas estarmos juntos e nos movendo pelo salão.
- Não quero atrapalhar vocês... – Pensando no diabo...
- Hey, Nick. – Sorri pra ele sem mostrar os dentes e Zayn me abraçou um pouco mais de forma protetora.
- Temos que ir trocar de roupa. – Eu tinha medo que ele falasse isso.
- Tá bem... – Devo ter ficado branca na mesma hora e comecei a tremer. – Baby... E-Eu vou indo...
- , respira fundo. – Acariciou a lateral do meu rosto e sorriu encorajador. – Eu te vejo daqui a pouco, sim?
- Uhum. – Concordei e respirei fundo três vezes.
- Cuide da minha garota, Nick. – Pediu e sorriu para o meu parceiro.
Foi a minha vez de beijar o meu namorado antes de seguir o meu próprio caminho. Diferente do que eu achava, não era no backstage que nós nos trocaríamos. Nick me informou que havia uma sala onde apenas os dançarinos usariam. Como éramos os últimos, a sala estaria vazia, o que me agradou muito. Saímos do salão de baile e subimos as mesmas escadas que Zayn e eu usamos para entrar lá. Ninguém falou coisa alguma, pois até ele pareceu estar se concentrando. Não havia motivo para pânico e eu tinha certeza que me sentiria bem a vontade assim que a minha música começasse a tocar. Um pouquinho de TPA (tensão pré apresentação) é sempre normal.
Em cinco minutos entramos na primeira sala à esquerda e ela estava realmente vazia como eu suspeitava. Logo encontrei a minha mochila em um canto e uma outra que deveria pertencer à Nick. Ele foi logo desatando a gravata borboleta e tirando paletó, deixando-os em uma cadeira. Foi então que algo me ocorreu... Nós teríamos que trocar de roupas juntos.
- Você quer que eu espere você se arrumar e aí eu volto? – Perguntei sem querer olhá-lo se despir.
- Não dá tempo, . Temos que nos trocar agora mesmo. – Me olhou por cima do ombro, já que estava de costas pra mim. – Eu prometo que não vou espiar.
- Aham, sei! – Ri nervosa e tive que aceitar. – Pelo menos abre aqui pra mim?
- Claro... – O menino se aproximou de mim com a camisa social desabotoada e eu me impedi de olhá-lo mais do que devia. É claro que ele estava sorrindo, mas pelo menos abriu o zíper do meu vestido até o final.
- Obrigada. – Segurei a parte de cima para que o meu vestido não deslizasse pelo meu corpo e Nicholas acabasse vendo o que não devia.
O garoto voltou para o próprio lugar e eu dei uma última checada pra ver se ele realmente não estava espiando. Em seguida eu tive que agir rápido. Como não estava de sutiã, tirei o vestido e os sapatos, ficando apenas de calcinha. Não foi uma sensação nada agradável, porém eu devia ser profissional e encarar mais aquele desafio. Também tirei meu anel, bracelete, colar e brincos, deixando tudo em cima da mesa com cuidado. Puxei a minha mochila e cacei a meia calça fina. Eu preferia vesti-la sentada, mas não me atreveria a virar para o outro lado e pedir emprestada a cadeira que Nicholas usava de cabide. Posso ter demorado mais que o normal pra fazer tal coisa, mas consegui subir a meia até a minha cintura. Em seguida, vesti o meu collant rosa e joguei o meu vestido por cima dele, me sentindo bem melhor estando vestida.
Pude finalmente me virar e notei que o garoto já estava pronto e me observada, usando um macacão bege bem colado ao corpo e sapatilhas masculinas. Eu não sabia há quanto tempo ele estava me olhando, mas o conhecia bastante pra saber que fazia certo tempo sim. O reprovei com o olhar e me ocupei em calçar as minhas sapatilhas, checando duas vezes só pra ter certeza que estavam bem presas. Subi e desci da ponta para me alongar e fiz alguns pliés enquanto prendia a minha franja para trás. Também dei uma reforçada no blush só pra que ficasse mais visível e Nick bufou impaciente.
- Podemos ir? – Cruzou os braços.
- Só falta uma coisa que eu gostaria de te falar... – Dei um meio sorriso e caminhei até ele, segurando suas mãos. – Eu não sei se vamos ter outra oportunidade como essa, Nick, por isso gostaria de te dizer que foi muito bom trabalhar e dançar com você. Nós tivemos nossos estranhamentos algumas vezes, mas isso faz parte, né?
- É verdade... Eu também gostei muito, parceira. – Ele sorriu. – Mais uma coisa... Se você não quiser fazer aquele salto, não faça. Pode mudar a coreografia e eu te acompanho.
- Obrigada, Nick. – O abracei por impulso e fui correspondida. – Merde!
Como no mundo das artes desejar boa sorte não é bom, nós nos xingamos com carinho e estávamos prontos pra ir. Bem na hora, Holly apareceu na porta para nos chamar, dizendo que trancaria a sala até a nossa volta. Fiquei bem mais tranquila com aquela noticia e fui a primeira a sair, deixando os dois se despedirem sozinhos. Desci os degraus da escada de dois em dois, com um pouco de pressa para voltar ao salão. Assim que voltei para o baile, algumas pessoas acenaram pra mim. Não sei se era por educação, ou se realmente me conheciam, mas eu não fazia idéia de quem fossem. Me perguntei para onde deveria ir em seguida e desejei ter esperado Holly e Nick, mas já era tarde demais.
- Precisa de ajuda pra se achar? – Ed chegou ao meu lado, sorrindo com suas sardas e esticando o braço na minha direção.
- Desesperadamente! – Sorri e passei o braço pelo dele. – Você ainda vai tocar, né?
- Claro que sim! – Afirmou e começamos a andar pela lateral do salão. – Vocês já foram anunciados, então não vai demorar muito... Eu já falei com o Nick, mas você ainda não sabe. As luzes vão se apagar completamente e você vai entrar pelo meio da pista de dança. Só um foco vai estar em você... E aí o espetáculo começa, ok?
Eu apenas respondi com um aceno de cabeça, pois voz nenhuma quis sair da minha garganta. Ed beijou a minha mão e foi até a porta que levaria ao backstage. Um piano de cauda fora posto no centro do palco e era pr’ali que o ruivo deveria ir. Eu respirei fundo mais algumas vezes, me concentrando e girando o pescoço de um lado para o outro. O circulo já havia se formado ao redor da pista de dança e eu procurei algum rosto conhecido, mas falhei em encontrar algum. Nick estava do outro lado e acenava pra mim. Eu gostaria de estar tão calma quanto ele, mas estava fazendo o meu melhor.
Assim como Ed havia me informado, as luzes se apagaram de uma vez e eu quase não consegui ver nada. O murmúrio foi geral e pessoas que não sabiam o que estava acontecendo ficaram um pouco assustadas. Eu segui a minha deixa e passei por um espaço livre, fazendo de tudo para não bater em ninguém e obtive sucesso ao me posicionar no centro da pista e me preparar. Meus pés ficaram em primeira posição e tanto os meus braços quanto o meu rosto estavam voltados para baixo. O canhão de luz foi focalizado apenas em mim e eu senti que era o centro das atenções. O professor ruivo não demorou muito para começar a tocar e fazer todo o meu nervosismo desaparecer. Subi nas pontas dos pés e comecei a me mover com leveza, arrastando um pé após o outro e levantando os meus braços até acima da minha cabeça em um circulo perfeito. Em seguida, abri os braços pela lateral do meu corpo, abaixando-os devagar. Meu rosto também levantou e eu olhei para frente, elevando o queixo. Não quis olhar pra ninguém, evitando qualquer distração. Minhas pernas se manteram perfeitamente alongadas e eu não toquei o chão com a parte de trás dos meus pés em momento algum.
A melodia se tornou um pouco de nada mais rápida e eu me virei para trás, observando Nick finalmente aparecer e outro canhão de luz ser focado apenas nele. Eu dei um passo em sua direção, mas ao invés de continuar, parei apoiada na perna direita e estendi a esquerda para trás, formando um ângulo de noventa graus perfeito. Estiquei o braço direito na direção do rapaz e deixei o outro um pouco mais atrás. Nick dançou até onde eu estava e segurou a minha mão, encostando um joelho no chão e dobrando a outra perna. Com esse movimento, ele me fez abaixar e o que antes era uma meia abertura se tornou uma completa com 180º. Nós queríamos contar uma história, por isso nossas expressões faciais faziam parte da apresentação. Nenhum de nós sorria, mas nossos olhos se comunicavam. Eu tentava demonstrar pureza e ele parecia querer adentrá-la. Em um movimento rápido, Nick levantou ainda segurando a minha mão. Consequentemente eu também levantei e voltei a ficar com o tronco ereto, aproveitando o embalo para dar um giro sobre a ponta direita antes de encostar o outro pé no chão.
Nicholas se moveu com pressa e segurou nos dois lados da minha cintura. Quando um dos pés dele se movia, o meu fazia o mesmo. Seguimos essa dança com movimentos iguais até que o tempo da música voltou a mudar se tornou mais um pouco agitado. A única diferença entre nós dois era que enquanto ele procurava o meu olhar, eu fugia do dele. Em determinado ponto, meu parceiro me levantou para o alto e eu mexi os braços como se fossem asas e eu estivesse voando. Na mesma velocidade em que me levantou, me colocou no chão e repetiu o ato por mais três vezes exatas enquanto dava uma volta completa. Quando eu estava no chão mantinha meus braços próximos ao meu corpo, mas ao estar no alto, os abria completamente. Era como se eu tivesse asas, mas só conseguisse voar com a ajuda daquele ser que era Nick.
Nos separamos mais uma vez e eu dancei para longe dele, sem nunca descer da ponta. Meus pés já estavam doendo, mas eu ignorei aquilo com meu melhor suspiro. Tentei voltar a “voar” movendo os braços com leveza para cima e para baixo, mas nada parecia dar certo. Eu realmente precisava da ajuda... Dele. Rodopiei sem sair do lugar até parar de frente para o homem que me esperava com os braços abertos. Ele também precisava de mim. A próxima mudança de ritmo ocorreu e me preparei para aquela parte que tanto me preocupava: O salto. Ainda não estava tão certa do que faria, mas saberia quando estivesse no ar. Dei os primeiros passos na direção do outro, já pegando impulso no chão e é claro que para isso eu precisei pisar com o pé inteiro. Em segundos eu já estava no ar continuava ganhando altura. Rodopiei uma vez e, antes de voltar ao chão, consegui estender as pernas perfeitamente; uma para frente e uma para trás. Meus braços muito disciplinados se mexeram com agilidade e me ganharam equilíbrio. Aquele salto era muito difícil de fazer, justamente por requerer força e agilidade. Por algum motivo eu estivera com medo de realizá-lo, mas acabei conseguindo. A platéia que nos assistia fez um “ohhhh” em conjunto e alguns até bateram palmas.
Antes que eu pousasse completamente, Nick me segurou pela cintura e me levantou. Em menos de um segundo me fez girar de frente para o teto e me segurou com apenas uma mão bem espalmada das minhas costas. Arqueei as costas de forma que eu ficasse quase dobrada ao meio e joguei a cabeça para trás, de olhos fechados (algo chamado “the perfect lift”). Uma coisa que eu não estava esperando e que ninguém havia me avisado aconteceu: milhares de pequenas bolinhas brancas começaram a cair do teto, lembrando mesmo flocos de neve. Mais uma vez a platéia foi à loucura e eu me senti muito bem por dentro. Aos poucos Nicholas foi me abaixando e eu escorreguei pelo seu corpo. Mesmo quando meus pés tocaram o chão, eu continuei descendo até estar sentada no piso gelado. Meus braços, porém, continuaram apontando para cima e isso facilitou a hora em que Nick segurou as minhas mãos e me fez levantar como se eu fosse uma boneca bem leve e rodopiar até estar de frente pra ele novamente.
Encaixei minha mão na dele e apoiei a outra em seu ombro. Ele segurou a minha cintura e começamos a valsar pelo salão. Meu vestido leve ia até o joelho e esvoaçava na medida em que nós dois nos movíamos. Olhei para o meu parceiro e ele sorriu pra mim discretamente, querendo dizer: “Eu sabia que você conseguiria.” Tive que sorrir de volta. Nick aumentou a firmeza de seu aperto em minhas costelas e eu fiz o mesmo em onde o tocava. Durante uma volta da nossa valsa, eu levantei a perna direita e a estiquei para frente, dobrando bem a outra e também a levantei. Eu estava flutuando entre aquela “neve” que não parava de cair e o meu parceiro continuou a nossa dança, como se eu fosse tão leve quanto uma pluma.
A parte final da música começou e o ritmo ficou mais lento; quase como no começo. Isso me fez voltar a tocar o chão e Nicholas parar o que estava fazendo. Voltei a subir na ponta e dei uma pirueta enquanto o outro ainda segurava a minha mão. Nos segundos finais, ele me puxou para perto, interrompendo meu giro, e eu me “joguei” para a nossa lateral, fazendo-o inclinar o corpo na minha direção e quase me fazer encostar no chão. Ed parou de tocar e o aplauso foi geral. Assobios e gritinhos emocionados também encheram o salão. Os flocos brancos começavam a parar de cair e eu já pude sorrir assim que Nick voltou a me levantar e me abraçou.
A nossa apresentação havia sido perfeita e eu sabia disso; todos sabiam. Me soltei do meu parceiro e muitas outras pessoas vieram me abraçar e me parabenizar. Eu agradeci a cada um, mas estava procurando alguém especial. Nick também foi ocupado por pessoas, por isso eu consegui dar uma escapada até avistar Zayn; que também tentava chegar até mim. resolveu colocar ordem naquela bagunça e gritou: “NAMORADO PASSANDO. SAI DA FRENTE.” Eu ri daquele exagero, mas pelo menos deu certo. Um caminho de pessoas assustadas se abriu e Zayn pode correr ao meu encontro. Me joguei nos braços dele nos abraçamos.
- Eu não fazia idéia que você dançava assim, ! Eu sabia que você dança bem, claro... Mas isso foi surreal! – Ele parecia bem animado e eu estava radiante.
- Foi bom mesmo, né? – Dei um pulinho sem sair do lugar.
- Fiquei até com inveja! – veio me abraçar também e eu a apertei contra mim.
- Se você se esforçasse, poderia dançar como eu. – Ri e a soltei, partindo para abraçar meu amigo irlandês.
- Ninguém pode dançar como você. – Minha amiga continuou puxando saco e eu gostei muito de todos os elogios.
- Parabéns de verdade, . Foi épico! – Niall beijou a minha bochecha. – Até a Brigitte ficou de queixo caído.
- Uau! – Alguém falou ao microfone e nos impediu de continuar aquela conversa. – Não consigo pensar em uma forma melhor para encerrar o nosso Baile de Inverno! Muito obrigado por essa apresentação, e Nicholas!
- O diretor sabe o seu nome! – sussurrou como se aquilo fosse grande coisa e eu acenei para o senhor.
- Algo me diz que essa não vai ser a última vez que veremos os dois juntos. – Sorriu como se tivesse uma novidade muito grande pra contar e olhou para Agnes, que estava ao lado dele. – Posso contar agora?
- Vá em frente. – A diretora afirmou sem animação nenhuma.
- Muito bem! – Comemorou e voltou a atenção para nós. – É com muito gosto que eu venho parabenizar e anunciar o nosso Romeu e a nossa Julieta!
- Hã? – Olhei em volta sem entender absolutamente nada. De quem ele estava falando?
- É você, ! – me sacudiu, tentando me fazer acordar do meu estupor. – Você é a Julieta!
- Parabéns, princesa. – Zayn sorriu e beijou a minha bochecha como parabenização.
- Eu? Mas como? Eu nem... Eu... Mas... – Me perdi no meio das palavras. Enquanto eu gostaria de ficar feliz por ter conseguido o papel principal, me senti triste por Zayn não ser o meu Romeu.
Capítulo XXXVII
Pela terceira vez seguida eu discava o número do celular do meu avô, mas não obtinha resposta. Era o fim de tarde do domingo e ele já deveria ter chegado de sua caminhada, por isso eu não entendia o porquê de não estar me atendendo. Ele costumava sempre andar com o celular e sempre atender a minha ligação antes mesmo do terceiro toque. Sempre nos falávamos ao menos uma vez por semana para contar as novidades ou só pra matar a saudade que um sentia do outro. Me mexi impaciente na cama e deixei o celular de lado por um instante. Decidi esperar que ele visse as chamadas não atendidas e retornasse. Tudo bem que Charles não era um expert em tecnologia, mas ele sabia o básico.
A porta do meu quarto estava aberta, por isso eu via todas as vezes que algum dos meninos passava por ali. Liam estava limpando o aquário de suas tartarugas, Louis assistia um jogo de futebol pelo computador e o mais novo era quem mais perambulava pelo corredor sem ter nada pra fazer. Pobre Harry, devia estar tão entediado! Eu pensei em chamá-lo pra fazer alguma coisa ou apenas para ficarmos conversando, mas logo o meu celular começou a tocar e vibrar perto do meu joelho. Peguei o objeto na mesma hora e sorri ao ler: “Papá” na tela, abaixo da foto daquele senhor simpático. Arrastei o dedo pelo vidro e atendi a ligação.
- Bonjour, papá!
- Boa tarde, minha ! Como você está? – A voz dele estava mais fraca que o normal, quase sonolenta. Devia ter acabado de acordar.
- Eu estou muito bem! – Sorri. – E o senhor? Eu te acordei?
- Não me acordou, não se preocupe. – Tossiu baixo. – Eu só estou um pouco resfriado, mas estou bem, querida.
- Ainda está resfriado? Vô, você tem falado a mesma coisa desde a semana passada... – É claro que eu fiquei preocupada! Mas se fosse algo sério de verdade, tenho certeza que ele me falaria.
- Eu estou melhorando, de verdade! – Senti um sorriso em sua voz e tentei não me desesperar antes do tempo. – Mas vamos falar de algo melhor, ok? Como foi o baile de ontem?
- Ahh, papá... – Suspirei com as lembranças da noite anterior. – Foi perfeito! Eu queria que você tivesse assistido a minha apresentação, porque acho que foi a melhor até hoje.
- Eu tenho certeza que você estava linda e daria tudo pra ter visto. Eu sinto falta de ver você dançando pela sala, sabia?
- Também sinto falta disso! – Fiz um biquinho inconsciente. – Mas estamos quase em dezembro e eu vou passar o natal com vocês... Então teremos muito tempo pra dançar juntos.
- Teremos sim, ...
- Eu tenho mais uma novidade pra contar! – A animação em minha voz era clara enquanto eu me preparava pra contar a melhor noticia que recebia em dias. – Ontem revelaram o casal principal da peça... E eu serei a Julieta!
- Eu já sabia disso! – Comemorou. – Lembra que eu sempre disse que você conseguiria?
- Lembro sim! – Ri.
- E o seu namorado ganhou o papel de Romeu? Eu me lembro que você falava muito bem dele.
- Infelizmente não... Quem ganhou esse papel foi o Nick. O mesmo que dançou comigo ontem. – Minha felicidade diminuiu um pouco ao lembrar desse detalhe. – Ainda não sabemos qual papel ele ou os meus amigos pegaram, já que só vão revelar amanhã.
- Bem, com certeza os papeis deles também vão ser bons.
- Não tenho dúvidas disso! Mas você acha que o Zayn vai ficar chateado? Quero dizer... Ele ficou muito feliz por mim e tal, mas eu sei que no fundo ele queria pegar o papel principal também.
- Por que ficaria chateado, ? Tenho certeza que ele só ficou orgulhoso por você.
- Eu não sei... Só não quero ficar comemorando que consegui o papel que eu queria e ele não!
- Querida, se isso está te incomodando, eu acho que vocês devem conversar e esclarecer tudo. Porque você tem mais é que comemorar sim. E apoiá-lo em qualquer papel que ele conseguir, do mesmo jeito que Zayn te apoiaria se você não fosse Julieta. Eu posso não conhecê-lo, mas você fala tão bem desse garoto que ele deve ser uma boa pessoa.
- Você está certo, papá. Eu farei isso. – Conversar com o meu avô era bom causa disso; ele sempre sabia o que falar pra tirar o peso das minhas costas.
- Princesa, eu preciso ir... Sua avó quer que eu a leve até a farmácia.
- Já? – Meu sorriso desapareceu. Nós costumávamos nos falar por horas, mas aquela conversa havia durado muito pouco. – Mas tudo bem... Mande um beijo para a nana por mim?
- É claro que eu mando. – Escutei o que pareceu ser um suspiro. – Se cuide, ... E seja uma boa menina. Não se esqueça de manter a cabeça levantada, certo?
- Papá, isso não é uma despedida... – Não gostei do rumo que aquela história estava tomando. – Nós vamos nos falar logo!
- Eu sei disso! Mas só saiba que eu te amo muito e que sempre vou ter muito orgulho de você, não importa o que você faça. Seja forte.
- Eu te amo, vovô. – Disse com todo o meu coração.
- Je t’aime.
Logo que desligamos a ligação eu senti um aperto terrível no meu coração. Uma daquelas sensações ruins, sabe? Como se algo de mal fosse acontecer, mas eu não conseguia decifrar o que era. Me senti tonta por um momento e tive que deitar a cabeça no travesseiro para esperar passar. O fato é que eu não gostei da forma como meu avô falara comigo, pois pareceu uma despedida. Mas eu sabia que não seria nada disso ele também sabia! De qualquer forma, preferi não pensar em coisas desse tipo, já que só me deixaria mais triste ainda. “Deve ser só impressão minha.” Pensei e fechei os olhos com força. Logo a sensação ruim começou a ir embora e a tontura também. Tudo estava bem...
- NÃO TEM COMIDA NENHUMA NESSA CASA?
Escutei Harry gritando no andar de baixo, provavelmente na cozinha. Nós não tínhamos ido ao supermercado há um bom tempo e a comida estava mesmo acabando. Como eu almoçava fora de casa na maioria dos dias e sempre pedíamos jantar por telefone, não dei muita importância para aquele fato, mas Hazza parecia estressado. Logo escutei passos na escada e o menino de cachos castanhos apareceu na minha porta.
- , quer ir ao mercado da esquina comigo?
- Eu tenho que me vestir? – Fiz cara de preguiça, pois não aguentaria me arrumar só pra ir até a esquina.
- Não precisa... Eu também vou vestido assim. – Apontou para as próprias roupas. Até que Harry e eu não estávamos tão diferentes, pois ele estava de pijamas e meias e eu com quase isso.
- Se é assim, eu vou! – Levantei da cama em um pulo e guardei meu celular no bolso da minha calça de moletom.
Haz assentiu com a cabeça e foi chamar o meu irmão. Eu calcei as minhas Uggs e segui para o quarto do último garoto. Não precisei bater na porta, pois ela já estava aberta, e encontrei Liam brincando com Boris II e Archimedes em cima da sua cama. Ele fazia barulhos com a boca que não chegavam a ser palavras de verdade, mas mesmo assim parecia que os três estavam tendo uma conversa muito interessante. Eu me aproximei devagar, torcendo para não ser notada.
- Bu! – Sussurrei bem perto da orelha dele, fazendo-o se virar na minha direção com um pulo.
- ! Que susto! – Colocou a mão sobre o coração e fez cara de bravo. – Eu podia ter derrubado os meus filhos.
- Que tipo de pai faria isso, Li? – Ri e me sentei em uma das pernas dele, passando o braço em volta de seus ombros. – Coloca eles pra dormir, daddy, porque nós vamos ao mercado.
- Nós vamos fazer compras agora? – Levantou uma sobrancelha e passou o braço na minha cintura. – Não está meio tarde?
- Não vamos fazer compras, Leeyum, presta atenção! – O balancei de leve e ri. – Vamos ao mercadinho da esquina só pra comprar algo pra comer.
- Ahh, sim! – Fez cara de entendido e também riu. – Me dá só um minuto pra trocar de roupa, então?
- Não precisa trocar de roupa! Eu e o Harry vamos de pijama mesmo. – Levantei e fui até a porta. – Essa é a graça! Vem logo.
- , me ajuda a convencer o seu irmão? – Mal saí de um quarto e Harry já me puxou para o outro.
- Vocês não podem ir sem mim? – Louis nem tirou o fone de ouvido e continuou encarando a tela do computador. – Acabamos de entrar no segundo tempo... É um jogo decisivo.
- Por favor, Boo Bear... Não vai ser o mesmo sem você. – Fui até ele e o abracei pelos ombros. Acabei olhando para a tela do computador também e li quais eram os times que estavam jogando. – Além do mais, o seu time perdeu esse jogo de três à dois.
- Como você sabe? – Me olhou com os olhos arregalados e as expressões nos rosto de Liam e Harry não estavam muito diferentes.
- Porque esse jogo foi ontem. – Apontei para a tela e rolei os olhos. – Tá vendo? Não é ao vivo.
- Ótimo. – Lou bufou e eu ri quando ele desligou o computador de uma vez só; claramente irritado. – Parece que eu vou ao mercado com vocês de qualquer jeito.
Nos chame de preguiçosos se quiser, mas fomos até o mercado na esquina de carro. Em nossa defesa, ele não ficava na esquina da minha casa e sim na esquina do condomínio, o que deixava tudo bem mais longe do que já era. Além do mais seria muito perigoso uma criança, duas garotinhas e eu saírem andando por aí no escuro. Harry e Louis sendo as garotinhas e Liam sendo a criança, é claro. Se alguém viesse nos assaltar acabaria sobrando pra eu defender todos. Obviamente, a verdade maior era que todos estávamos cheios de preguiça. De um jeito ou de outro, chegamos ao mercadinho 24hrs e atraímos olhares curiosos na nossa direção. Não, não nos olharam por sermos muito atraentes e sim por estarmos vestidos como se tivéssemos apenas caído da cama e nos arrastado até ali. Mas pelo menos eu tive a capacidade de calçar algum sapato, pois Liam e Harry estavam de meias e Louis completamente descalço. Agradeci por não haver nenhuma restrição para entrar naquela loja e não demos viagem perdida.
Cada um foi logo pegando uma cestinha de metal para colocar as suas próprias compras e indo para corredores diferentes. Aquele mercado não era tão grande quanto o ASDA onde fazíamos as compras do mês, mas tinha a maioria das coisas que nós precisávamos com urgência. Harry passou por mim e foi até a área da padaria. Ele estava com muita fome, por isso foi direto par onde sabia que encontraria comidas prontas. Liam estava na área de frutas e verduras e selecionava as melhores maçãs para colocar na sua cesta. Louis estava no corredor de bebidas, mas não parecia achar o que queria.
Eu resolvi parar de vigiá-los e procuraras as minhas próprias mercadorias. Como sempre, passei direto pelas coisas saudáveis e nem olhei para o lado. A primeira coisa em que coloquei a mão foi um pacote de mini marshmallows. Aquele corredor em que eu entrei só tinha doces e coisinhas gostosas. Todas a cores, variedades e marcas faziam meus olhos brilharem. Eu suspirei e quase troquei a cesta por um carrinho e o enchi de coisas gordas. Me segurei e apenas peguei uma caixa de cookies, um pacote de Cheetos, uma calda de caramelo e Chantilly. Pois é, eu estava parecendo mais uma criança do que uma bailarina que devia manter a forma, mas quem se importa? Eu com certeza não.
Infelizmente aquele corredor chegou ao fim e eu tive que passar para o próximo. Decidi me aventurar na sessão de congelados, mas antes de chegar até o freezer mais próximo, algo chamou a minha atenção: Uma caixa de Yorkshire Tea sozinha na gôndola. Provavelmente era a última, por isso a peguei e coloquei dentro da minha cesta. Devia ser isso o que meu irmão estava procurando na área de bebidas, já que ele sempre amou esse chá e o nosso estava acabando. Tentei seguir meu caminho, mas uma risada estrondosa captou a minha curiosidade. Com certeza era Liam rindo de alguma coisa e eu logo fui atrás dele na área de enlatados.
- O que está acontecendo? – Perguntei assim que encontrei os três garotos.
- Hey, . – Lou me cumprimentou com uma risada. – O Harry estava tentando fazer malabarismo... Mas não deu muito certo.
- Para de rir! – Hazza reclamou enquanto massageava a sua testa. – Ainda dói!
- Ei, não façam isso com o meu cupcake! – Caminhei até o dito cujo e fiquei na ponta dos pés para beijá-lo na bochecha.
- Obrigado, . – Sorriu todo fofo pra mim e depois fez uma careta para o meu irmão.
- O que você ta comendo, Li? – Voltei a minha atenção para Liam ao notar que ele mastigava algo.
- Mini cenouras! – Esticou o pacote de plástico na minha direção. – Quer?
- Wow! Eles fazem cenouras em miniatura agora? – Peguei uma daquelas verduras pequenas e adoráveis, mesmo que eu não fosse tão fã.
- Ew. – Louis entortou o nariz ao me ver morder a cenoura.
- O que? São gostosas! – Liam as defendeu.
- Lou odeia cenouras... Mas eu não sei por quê! – Dei de ombros e me virei para meu irmão. – Aliás, achei seu chá!
- Eu estava procurando por ele! – Sorriu assim que eu lhe entreguei a caixa de Yorkshire Tea. – Agora já podemos ir pra casa.
- Ainda tenho que pegar mais uma coisa, mas podem ir para o caixa...
Informei e comecei a me afastar dos meninos. Não sei se eles me obedeceram e foram mesmo para o caixa, mas também dei de ombros. O mercado não estava tão cheio e provavelmente não haveria filas, por isso não tinha urgência em que guardassem um lugar pra mim também. O único que me acompanhou foi Liam, ainda mastigando suas cenouras. A sessão de frios e congelados ficava no fundo do estabelecimento, o que nos fez praticamente atravessar de norte a sul, porém, valeu à pena. Fui direto para o freezer que guardava os potes de sorvete e o meu companheiro segurou a porta de vidro enquanto eu me demorei para escolher o sabor que eu iria levar.
- Qual eu escolho? – Perguntei para mim mesma em voz alta enquanto estudava todas as marcas e sabores diferentes. – Ben & Jerry!
- Psiu. – Liam chamou a minha atenção e eu logo vi o que ele tinha desenhado no vidro embaçado do freezer: “I ♥ u”
- Awwwwwwwn, eu também te amo, Leeyum!
Essa foi a mensagem que eu li assim que comecei a subir as escadas que rapidamente me levaram até a entrada da Academy. É claro que a minha curiosidade começou a apitar e isso me fez correr o resto do percurso até as grandes portas de madeira e já ir pelo caminho que eu bem conhecia para o auditório. Custava ela ter me falado se os resultados foram bons? Ou qual papel ela conseguiu? Ou qual papel Zayn conseguiu? Vamos ser sinceros aqui, por mais que eu quisesse saber se a minha amiga conseguiu o papel de Senhora Capuleto como tanto desejava, eu estava morrendo pra saber quem meu namorado iria interpretar. Não esbarrei em ninguém, por mais que alunos e mais alunos tenham passado por mim em uma pressa tremenda. Alguns comemoravam e outros choravam até demais. Por favor, né? Não era um enterro nem nada assim!
Finalmente cheguei ao auditório e corri os olhos por todo o local à procura de feições familiares. Até que não estava tão lotado e o que quer que fosse acontecer ali ainda não tinha começado, pois uma verdadeira bagunça se instalou entre as fileiras de cadeiras estofadas. Aparentemente não havia nenhum chororô por perto e isso me agradou. Fiquei na ponta dos pés para olhar por cima de um grupo de garotas que fofocavam na minha frente e encontrei duas cabeças ruivas, uma loira e um topete: Bingo! Só estranhei o fato de meus amigos estarem logo na primeira fileira, já que todos são integrantes de carteirinha do “fundão”, mas me pus a ir encontrá-los.
- Olha quem chegou! – Edward, que conversava com Niall, foi o primeiro a me notar.
- Oi, Ed! – Sorri para o professor e logo fui abraçada pelo meu namorado -já que ele deixou falando sozinha e veio até o meu encontro antes mesmo que eu pudesse falar com qualquer outra pessoa. – Oi, baby.
- Bom dia, babe. – Beijou os meus lábios e sorriu. – Ou eu deveria dizer... Julieta?
- “Babe” está bom. – Sorri de volta e separamos o abraço para que eu pudesse cumprimentar os outros. – Hey, cerejinha e pudincup. Como estão?
- Eu poderia estar melhor. – deu de ombros e nem se levantou da cadeira para me abraçar.
- Bom dia, . – Niall sorriu e acenou. – Não esquenta com a ... Ela só está irritada com o papel que ficou.
- Espera... Então ela não vai interpretar a minha mãe? – A pessoa encarregada de distribuir os papeis devia ter estado bêbada quando decidiu essas coisas. Zayn logo voltou a sentar e me puxou para o seu colo. – Qual papel você conseguiu, ?
- Ama. – Rolou os olhos entediada.
- Ama quem? – Perguntei sem entender e todos riram de mim. – O quê?
- Não ama de amar... Ama de “babá”, “dama de companhia”. – Niall explicou e a ruiva fez careta.
- Ok, , eu não deveria falar nada, mas já que você está fazendo tanto drama... – Ed nos fez olhar em sua direção, mas permaneceu emburrada. – O motivo que te deram esse papel é que a Ama aparece muito mais do que a Sra. Capuleto. Então nós achamos que seria um desperdício do seu talento interpretar um papel tão pequeno.
- Tá vendo, ruivinha? Vai ser bom! – Passei um braço em volta dos ombros de Malik e sorri para a garota. – Qual papel você pegou, Ni?
- Serei seu primo, . – Sorriu.
- Tebaldo? É um bom papel. – Afirmei e olhei para Zayn, me preparando para uma pergunta que me fazia ter medo da resposta. – E você?
- Bem... Eu estarei interpretando o Páris. – Suspirou visivelmente decepcionado, mas forçou um sorriso.
- Awkward... – cantarolou e eu lancei um olhar feio pra ela.
- Tenho certeza que você vai se sair bem de qualquer jeito, ok? – Olhei para o garoto mais uma vez e fiz um pequeno carinho em sua bochecha. – Além do mais... Eu acho que essa Julieta vai esnobar o Romeu e querer ficar com o seu noivo. A história teria um final bem melhor se fosse assim desde o começo!
- Eu concordo com você. – Sorriu e passou o nariz pelo meu.
- Bom dia, pessoal. – A voz de Nick me assustou um pouco. Era só falar dele que a criatura aparecia?
- Hey, Nick?! – O cumprimentei, mas os outros apenas acenaram.
- Posso falar com você um instante?
- Claro! – Estranhei aquela confidencialidade toda, mas ele devia ter seus motivos. Me virei para Zayn e deixei um beijo em seus lábios antes de levantar e dizer: – Eu já volto, tá?
- Tudo bem. – Fez cara feia, mas me deixou ir.
Nick nem me esperou e já foi se distanciando um pouco. Eu não sabia se ele queria fazer algum comentário em segredo, ou se simplesmente não se sentia a vontade perto dos meus amigos. Mas quem o culparia? Sempre que ele chegava perto era tratado com indiferença por ou recebia olhares feios de Zayn. O único que o tratava bem era Niall, mas esse pequeno raio de Sol sempre tratava todos bem, então acho que não conta. Só o que me restou a fazer foi ir atrás do garoto até perto do palco para escutar o que ele tinha a dizer.
- E aí, Nick? Algo errado?
- Não, não... Pelo contrario. – Sorriu. – É só que depois do resultado de sábado eu não tive a oportunidade de te dar os parabéns por conseguir o papel principal! Parece que nós vamos trabalhar juntos novamente, né?
- Obrigada, Nick! Parabéns pra você também. – Por mais que eu preferisse que Zayn fosse meu par romântico, estava feliz por Nick.
- Quando eu falei pra Holly que você seria a Julieta perfeita, ela...
- Espera! – O interrompi. – Você falou de mim pra ela? Sobre esse papel?
- Ué, falei... , aonde você vai?
Escutei Nicholas me chamar, mas não dei ouvidos. Apenas me virei de costas pra ele e comecei a andar a procura da professora. “Agora tudo faz sentido...” Uma teoria da conspiração se formava na minha cabeça e eu precisava encontrar Holly imediatamente. Acabei tendo que passar direto pelos meus quatro amigos, que me olharam sem entender absolutamente nada, e finalmente encontrei quem eu procurava. Infelizmente a mais velha estava conversando animadamente com uma aluna, então eu teria que esperar. Porém, quando me viu, Holly dispensou a garota educadamente e pediu que eu me aproximasse. Ela podia ser a minha professora preferida, mas aquele assunto que estávamos prestes a tratar me deixou nervosa.
- ! Eu estava mesmo procurando você. – Sorriu e me abraçou. – Sua apresentação com o Nicholas foi de tirar o fôlego!
- Obrigada. – Retribuí o abraço, mas o fiz ser o mais breve possível. – Olha, professora, eu vou direto ao ponto, certo? Por que vocês me deram o papel principal na peça? Se foi só por que o Nick pediu, eu acho que deveriam dá-lo para alguém que realmente mereça.
- Você quer saber por que nós a escolhemos? – Apesar das minhas acusações, ela continuou serena.
- Francamente? Sim, porque eu nem ao menos fui chamada para o callback! Como posso simplesmente ganhar o papel mais cobiçado?
- Você não precisou fazer o callback. , você é de longe a melhor bailarina dessa academia. Talvez não por ter mais experiência ou por já ter uma bagagem de espetáculos no seu currículo, mas porque você é a mais esforçada. – Explicou e eu nem soube com responder. – Ou você acha que ninguém percebe como você sempre chega mais cedo que todo mundo e passa a maior parte dos intervalos se alongando ou treinando algo que teve dificuldade?
- Mas tem tantas garotas que dançam, cantam e interpretam... – Ainda não estava convencida.
- Você não precisa cantar pra mostrar às pessoas o que está querendo dizer. – Tocou o meu ombro, querendo me encorajar. – E quanto a parte da atuação... Isso nós podemos resolver. Teremos até janeiro pra ensaiar e te fazer ser uma boa atriz.
- Tudo bem... – Eu começava a me sentir um pouco mais aliviada.
- Pare de pensar besteira, ok? Você merece sim esse papel. – Brincou com uma mecha do meu cabelo. – Aliás, eu adorei essa nova cor.
- Obrigada! – Ri baixo e mexi nas minhas próprias pontas claras. – é que me obrigou a mudar.
- Essa garota não tem jeito mesmo, né? – Com certeza foi uma pergunta retórica e nós duas rimos. – Agora vá se sentar, porque eu acho que não vamos demorar pra começar a reunião.
Então aquilo era uma reunião? Bom saber. Eu obedeci a professora e admito que comecei a me sentir bem melhor; principalmente após todas as coisas boas ao meu respeito que ela falou. Quando me virei para voltar ao meu lugar, Ed passou por mim. Aparentemente todos os professores já tinham que se dirigir ao palco. O ruivo estirou a língua pra mim e eu acabei rindo. Às vezes esquecia que ela um docente, já que mais parecia um aluno e ainda por cima daqueles bem bagunceiros. tinha guardado um lugar pra mim entre ela e Zayn e, por mais que eu quisesse sentar no colo do meu namorado novamente, me sentei ali.
Não tive tempo de explicar sobre a minha conversa com a professora Holly, por mais que eles tivessem me perguntado sobre isso, porque as luzes foram diminuindo lentamente e os alunos que ainda se encontravam de pé correram para achar um lugar vazio. Eu já esperava que Agnes fosse tomar o centro do palco como ela sempre fazia, mas foi o diretor Gavin que apareceu com o microfone na mão. Como sempre, foi ovacionado pelos alunos e eu também o aplaudi.
- Muito obrigado, muito obrigado! – Sorriu e mostrou os dentes brancos. – Bom dia, queridos alunos! Meus pupilos preferidos! Primeiramente, eu gostaria de parabenizar a todos por seus papeis no nosso magnífico espetáculo de encerramento de semestre! E lembrá-los que “não existem papéis pequenos... E sim, atores pequenos”!
- Isso foi pra você, baixinha. – Zayn sussurrou para e eu gargalhei o mais baixo que consegui. Ele adorava fazer piadas com a altura dela e eu sempre acabava rindo.
- Como vocês devem saber, a partir da semana que vem começaremos os primeiros ensaios e orientações para a peça. Cada um de vocês receberá um roteiro e apenas as suas partes estarão marcadas no seu próprio. Eu aconselho já começarem a estudar as suas falas, porque nós não pensaremos duas vezes em te substituir por alguém melhor! – Pela primeira vez eu vi o diretor sério. – Agora eu chamo ao palco... Meu querido amigo Colin!
- Obrigado, Gavin, por essas palavras tão inspiradoras. – Um homem que eu nunca vira até então saiu de trás das coxias e tomou o lugar do diretor. – Bom dia a todos! Meu nome é Colin Wall e eu serei o diretor da peça que vocês estão tão animados em participar. Mas se querem um conselho... Não fiquem!
Já deu pra perceber que aquele diretor conseguia ser pior do que a diretora Agnes. Uma coisa que eles tinham de diferente é que Colin chegava a sorrir... Mas seu sorriso era cínico, sarcástico, desprezível ou amedrontador. Isso quando não conseguia ser os quatro de uma vez só. Ao menos o homem parecia ser um bom profissional. Ele nos explicou que separou cada um dos roteiros de um por um e que não se importou com todo o trabalho que teve em dividir as falas e adicionar próprios comentários, desde que o resultado final fosse o que ele esperava. “Eu não aceito nada menos do que a perfeição”, foram suas palavras exatas ao falar sobre o que esperava dos “atores principais”. Eu congelei na mesma hora e apertei a mão de Zayn, já que estávamos de nãos dadas o tempo inteiro. Colin não seria o único responsável por montar o espetáculo (já que Holly, Ed e uma tal de Lana estariam encarregados da dança, música e teatro –respectivamente), mas que ele estaria a par de tudo e sempre daria a palavra final. Enquanto eu tentava não encará-lo como um carrasco, já fazia piadinhas sobre ele trazer um chicote para os ensaios.
Apesar das ameaças e reclamações, eu já começava a ficar ansiosa com essa peça. Bem mais do que estava antes, pra ser mais correta. Toda aquela história de “eu não mereço” e blábláblá escorreu pelo ralo; figurativamente, é claro. Logo me peguei imaginando que às vezes a vida toma caminhos engraçados, mas que nos levam ao mesmo lugar. Cabe a nós apreciar a viagem. Se eu tivesse sido chamada para o callback, não teria discutido com o Zayn sobre isso e ele não teria me pedido uma chance de mostrar seu verdadeiro interior. Ou seja, nós não teríamos saído e muito menos nos beijado no London Eye. Resumindo: Possivelmente não estaríamos juntos agora, mas eu ainda assim teria o papel principal. Olhando para trás, eu não gostaria de mudar nada. Talvez só fosse dar um recado para a minha consciência e pedir calma. Muita calma.
Acabamos sendo dispensados das nossas aulas do dia, pois quando a reunião finalmente acabou já passava das dez e meia da manhã. Você pode pensar que foi uma perda de tempo e que teríamos aproveitado muito mais se estivéssemos em aula, mas muito pelo contrário! Não tive uma manhã tão produtiva assim há dias. Nick e eu fomos apresentados para Colin e ele foi bem mais simpático conosco do que estava sendo quando falava com o grupo todo. Nós seríamos os únicos a ter um tempo semanal com o diretor da peça para recebermos orientações mais pessoais. No começo não seria algo tão puxado, mas depois do “Christmas Break”, nossos encontros seriam quase diários. Ao mesmo tempo em que eu não estava tão desesperada pra passar tanto tempo na companhia de Nick, me sentia melhor do que se o meu parceiro fosse ser um completo estranho. Também recebi o tal roteiro e fiquei de boca aberta. O objeto mais parecia uma enciclopédia com as suas 200 páginas de texto e comentários a caneta. O roteiro conseguia ser maior que o próprio livro Romeu & Julieta.
Após muito tempo discutindo e argumentando, eu consegui convencer a todos de irmos até a Starbucks mais próxima. O dia estava bem frio e tudo que eu precisava era um café bem quentinho e um chantilly bem docinho e... Chega, né? Enfim. Em compensação por eu ter escolhido o local para onde iríamos, fui eleita para ser a pessoa encarregada de ficar na fila e fazer os pedidos. Literalmente eleita, pois até fizeram uma votação e a única pessoa que não votou em mim fui eu mesma. O pior de tudo foi ter que decorar os pedidos gigantescos que os outros três fizeram e eu tenho certeza que foi tudo de propósito. Mas...... Como eu estava realmente de bom humor, decorei tudo e aguardei pacientemente a minha vez chegar enquanto mexia no celular e atualizava o meu Twitter.
É claro que eu tive que postar alguma coisa! Na mesma hora em que apertei a tecla “Tweet” comecei a me sentir como aquelas garotas que tiram foto de comida e até mesmo considerei fazer um Instagram. Na verdade o único motivo que eu alegava ter para não ter um ainda era simples e se resumia em uma palavra: “Modinha.” Um aviso apareceu na tela do meu celular, avisando que eu tinha uma resposta de @Louis_Tomlinson:
“E você deveria estar procurando um emprego, @Louis_Tomlinson!”
Eu não deixei barato e tenho certeza que se Harry ou Liam estivessem com ele naquele momento, também estariam rindo da mesma forma que eu estava. “Touché” foi a única resposta que recebi do meu irmão. Acabei rindo mais uma vez e a pessoa que estava na minha frente na fila olhou pra mim como se eu fosse louca. Resolvi guardar o celular, mas antes que o colocasse dentro da bolsa, recebi outra resposta:
Sorri por ter um namorado tão fofo e levantei os olhos para procurar o garoto. Ele estava na mesa com e Niall, mas guardava um lugar pra mim ao seu lado. Também mexia no celular, mas assim que sentiu que estava sendo vigiado, olhou para frente e notou que eu estivera estudando-o. Meu sorriso aumentou assim que vi o dele e escutei uma voz me chamando.
- Senhorita? – A atendente devia estar me chamando há algum tempo. – Posso anotar seu pedido?
- Ah, sim, desculpa! – Deixei Zayn rindo e dei atenção à mulher jovem que me chamava. – Eu fiquei meio distraída...
- Aquele garoto bonitinho estava te olhando, né? – Comentou enquanto esticava o pescoço para olhar Zayn. – Ai, se ele me desse bola...
- Ahn... – Levantei uma sobrancelha e a observei morder o lábio. – Aquele garoto bonitinho é o meu namorado.
- Ai, me desculpa! Que cabeça a minha! Eu não sabia... – Ela ficou vermelha na mesma hora e eu ri. – Seu pedido, por favor?
- Claro, claro. – Deixei aquela história pra lá e me concentrei no que iria pedir. – Eu vou querer um chocolate quente tradicional com cobertura extra, um Macchiato de caramelo, Coffee Frappuccino e um Macchiato Latte com uma porção dessas panquecas com cobertura de blueberry.
- Algo mais?
Afirmei que não e paguei por tudo com o meu lindo cartão de crédito que eu mal usava para algo além de comida. Meu pai devia achar que eu era uma baleia toda vez que a fatura chegava pra ele pagar. Dei nossos nomes (ou quase isso) e peguei a nota fiscal, podendo me virar e ir até a nossa mesa. Zayn devia me conhecer melhor do que eu pensava, pois o lugar que guardou para mim era na ponta e ao lado do vidro que permitia quem estava do lado de dentro olhar o lado de fora; pra mim, o lugar perfeito. Ele foi um perfeito cavalheiro e levantou para que eu pudesse sentar e até me ajudou com a cadeira. Eu o agradeci com uma reverência e coloquei a minha bolsa em cima da de , em uma cadeira desocupada ao lado dela.
- A funcionária que me atendeu estava de olho em você. – Falei para Zayn e ele sorriu mais do que devia.
- Estava, é? – Eu diria que ele fez uma pose de modelo, mas quando esse garoto não faz pose de modelo? – E ela é bonita?
- Eu não sei! Por que não vai lá e descobre? – Falei um pouco irritada. – Aproveita e pergunta se ela quer ser a sua nova namorada.
- Nova namorada? O que aconteceu com as outras? – Ele devia estar adorando me ver com ciúmes.
- Cala a boca, Malik. – Dei um tapa em seu braço com toda a minha força, mas mesmo assim não fiz efeito algum.
- Essa mulher não fica linda quando está com raiva? – Me abraçou (lê-se: me agarrou) e perguntou para e Niall, que até então estavam só assistindo a nossa “briga”.
- Me solta! – Reclamei ainda com a cara amarrada, mas Zayn não me deu ouvidos.
Na verdade, eu acho é que ele gostou de ser rejeitado por mim e apertou o abraço, impedindo-me de me soltar. Por mais que eu me debatesse, ele era forte demais pra mim. Vendo que não iria a lugar nenhum, resolvi ficar parada e olhar pra ele com cara de séria. O garoto apenas riu de mim e tentou roubar um beijo, mas eu virei o rosto. Então ele começou a beijar e mordiscar o meu ombro, aproveitando onde as suas mãos estavam localizadas para fazer cócegas nas minhas costelas. Eu comecei a rir e me contorcer, mesmo que tentasse brigar com ele. Escutei falando: “Um casal não é lindo no começo do namoro?”, toda encantada, mas Niall apenas respondeu: “Será que as minhas panquecas vão demorar muito?”.
- Para, Zayn! – Pedi com os olhos cheios de lágrimas de tanto rir.
- Só se você me der um beijo!
- Não! – Neguei, mas ele ameaçou voltar a me atacar de novo. – Espera! Eu dou.
- Muito bem. – Fez um bico enorme e eu ri antes de deixar um beijo estalado na bochecha dele. – Epa, assim não!
Zayn reclamou do meu beijo nada romântico e eu rolei os olhos. Como não tinha outra opção, eu teria que passar por esse grande sacrifício e beijá-lo direito. Discretamente olhei para o lado e lá estava a atendente, nos olhando de vez em quando. Meu namorado tentou seguir a direção do meu olhar, mas eu o impedi. Segurei seu queixo com certa firmeza e o fiz olhar apenas pra mim, já que a minha atenção também voltou a ser só dele. Nós dois sorrimos ao mesmo tempo e eu aproximei os nossos lábios, mas não os encostei propriamente. Apenas fiquei roçando-os e brincando dessa forma, até escutar uma reclamação baixa de Zayn e sentir sua mão em minha nuca. Ele me prendeu de tal forma que eu não conseguiria fugir e tampouco era o que eu pretendia fazer. Entreabri os lábios para finalmente dar passagem para a língua macia de Zayn e a encontrei com a minha. Nossas bocas também foram encaixadas perfeitamente e nossos lábios brincavam um com o outro. O som de nossas respirações se misturando era a única coisa que eu conseguia ouvir e eram a mais bela melodia. Poderíamos ter prolongado o beijo até que ficássemos ofegantes, mas eu ainda estava com um pouco de “raiva” por causa do ciúme que ele me fez sentir. Por esse motivo, fiz questão de interromper o beijo e deixá-lo com vontade de mais.
- Nunca mais fale que tem outras namoradas! – Eu sabia que ele só estava brincando, mas mesmo assim pedi.
- Eu só tenho você. – Sorriu com o rosto bem perto do meu e roubou um selinho. – Eu só quero você.
- Muito bem. – Acabei sorrindo também.
- Agora que os pombinhos já fizeram as pazes... – sorriu ainda encantada. – Acho que estão chamando a gente...
- Tomlinson, Horan, Malik e... Ama? – O atendente pareceu meio confuso ao ler o último nome e eu não agüentei segurar o riso.
- Você não fez isso, ! – O sorriso de se foi e ela devia estar querendo me matar por causa da piadinha. Mas pelo menos eu não era a única rindo, já que Niall até me deu um “high five” e Zayn riu descontroladamente. A ruiva se levantou, mas nos olhou uma última vez antes de ir pegar os pedidos. – Vocês me pagam. Os três! Ah, e Niall? Nada de página nova hoje!
- Espera, meu amor... Minha princesa, volta aqui... – O loiro foi atrás dela e eu até me apoiei na mesa de tanto rir.
- Página do quê? – Zayn não entendeu nada, mas eu sabia bem do que estavam falando.
- Do Kama Sutra. – Respondi um tanto baixo, pois haviam crianças por perto.
- Eu achei que era algum livro de receitas. – Balançou a cabeça negativamente, talvez tão chocado com nossos amigos quanto eu.
O outro casal demorou um pouco pra voltar e eu temia saber o motivo. Ou os dois resolveram fazer as pazes em cima do balcão mesmo e na frente de todos, ou então tinha matado Niall, o que era bem possível. Enquanto estávamos sozinhos, Zayn me escutou falar sobre o quanto seria legal se Tom Fletcher entrasse pela porta da Starbucks a qualquer momento e ele disse que se isso acontecesse, iria me trancar no banheiro só pra não correr o risco de me perder para o vocalista do McFly. Eu expliquei que ele já era casado e que tinha até uma tatuagem com a letra do nome da esposa, mas não adiantou.
- Eu ainda vou fazer uma tatuagem com o seu nome, sabia? – Comentou e me fez gargalhar alto. – Por que você está rindo?
- Porque isso é muito brega, baby! – Gargalhei novamente.
- Eu tenho o nome do meu avô tatuado e não acho brega! – Se fez de ofendido.
- Mas é diferente, Zayn! – Segurei a mão dele em cima da mesa. – Você fez uma homenagem ao seu avô. Não a uma namorada.
- Mas e se eu quiser fazer uma tatuagem em sua homenagem? – Ele parecia querer insistir naquele assunto.
- Aí você pode fazer algo mais relativo. Algo que me represente, mas que ainda assim seja simples. – Olhei para a mão dele e acariciei a pequena tatuagem de pássaro que havia ali. – De todas as suas tatuagens, essa é a minha preferida.
- Então eu farei uma assim pra você. – Sorriu e beijou a minha testa.
- Mas espere pra fazer quando já estivermos casados, ok?
- Então você acredita que nós vamos casar um dia? – Seu rosto se encheu de luz e foi como se ele tivesse acabado de vencer uma batalha épica.
- Aqui está o seu chocolate quente e eu espero que tenham colocado sal ao invés de açúcar. – chegou e me impediu de responder Malik, o que me agradou muito.
- Obrigada, ruivinha. – Peguei a caneca branca que quase foi derrubada em cima de mim e dei uma lambida na montanha de chantilly que estava no topo.
- Esse tal de frappuccino é bom mesmo, . – Zayn comentou ao dar o primeiro gole na bebida que eu havia lhe recomendado. Eu só não pedi a mesma coisa porque uma vez na vida quis uma bebida quente.
- Eu falei que era! – Fiz uma cara de: “E não é óbvio?” e ele riu. – Aliás, eu sei fazer um frappuccino que fica melhor do que esse.
- Sério? – Niall também pareceu interessado.
- Sério! Vocês podem aparecer lá em casa qualquer dia desses e eu faço pra gente. – Arrisquei dar um gole no meu chocolate quente e quase queimei a boca.
- Bem feito! Se queimou, haha. – riu de mim e eu estreitei os olhos.
- Correção! Vocês menos a podem aparecer lá em casa qualquer dia desses e eu faço pra gente!
Capítulo XXXVIII
Quarta feira nunca foi o melhor dia na Academy, mas também não era o pior. Pelo menos até aquele dia em questão, onde resolveu aparecer de TPM e acabar com a minha manhã. Sendo uma mulher também, eu até que compreendia que certa vez no mês nós ficamos um pouco mais sensíveis e emocionalmente instáveis, porém já era assim praticamente todos os dias. Quero dizer, ela nunca foi a pessoa mais calma do mundo e tinha um jeito bem explosivo e espevitado. Com os hormônios elevados, então? Era uma bomba atômica que só precisava de um pequeno sopro para explodir e dizimar a raça humana inteira. Ok, talvez não a raça humana inteira... Mas ao menos a minha vida estava em jogo.
Nós duas não pegamos a primeira aula juntas, o que foi um alivio pra mim e um pesadelo para ela. Como eu e Nick tivemos um encontro com o diretor Colin, tive que deixá-la nas mãos da nossa professora de técnica corporal. A matéria em si era bem legal e quase não envolvia a dança propriamente dita, mas a ruiva insistia que a docente pegava no pé dela sem motivo algum. Com o temperamento que a minha amiga estava, eu já podia imaginar as duas rolando escada abaixo, atracadas nos cabelos uma da outra. Por esse motivo, só voltamos a nos encontrar na hora do intervalo, quando acabamos nos esbarrando no corredor principal do primeiro andar. Ela só faltou me morder, mas se acalmou um pouco ao ver que era só eu e não algum estranho desavisado. A menina estava procurando pelo próprio namorado, só que não fazia ideia da mensagem que eu mandara para ele e Zayn horas mais cedo: “Alerta vermelho! Já é tarde demais pra mim, mas salvem-se!” Eles saberiam do que se tratava.
- Onde será que aquele duende irlandês se meteu? – Perguntou mais para si mesma do que para mim e olhou para fora da janela do corredor na tentativa de enxergar os andares acima do nosso.
- Não sei, ... Ele deve estar ocupado... – Falei com todo cuidado possível.
- Ocupado com o quê? O que pode ser mais importante que a própria namorada? – Se virou para mim como se estivesse me acusando.
- E-eu não se-ei... – Gaguejei e dei um passo para trás.
- Desculpa, ... – Parou um pouco para pensar nas próprias atitudes após notar o meu medo. – É que eu fico complicada nesses dias.
- Eu sei disso, baixinha. – A toquei com cuidado sobre o ombro. – Só... Tente respirar fundo.
- Não me peça calma! – Informou.
- Eu vou te pedir pra comer chocolate, isso sim! – Ri, mas até que não era uma má idéia. – Vamos até o refeitório? Eu pago!
A normal teria falado que chocolate iria fazer mal para a sua pele de bebê, mas aquela desequilibrada que estava ao meu lado aceitou na mesma hora. Por sorte nós não estávamos longe da área da lanchonete, portanto chegamos lá em um estalar de dedos. Não que eu tenha estalado os dedos pra contar... Mas você entende onde eu quero chegar. Enfim. Pedi a minha amiga que fosse me esperar em uma mesa e que ela tentasse ficar o mais confortável possível enquanto eu iria pegar algo para nós comermos. Aparentemente mais calma, ela seguiu o seu caminho e eu fui para o final da pequena fila que se formava perto da mesa onde ficavam as comidas.
Mesmo a London Royal Academy sendo uma escola de artes bem luxuosa e renomada, a parte da cantina deixava a desejar. O sabor dos alimentos até que era bom, mas a variedade era mínima. Um dia eu gostaria de ter uma conversa séria com a diretora Agnes para formular um cardápio novo que eu tenho certeza que agradaria tanto nutricionistas quanto os alunos que eram obrigados a lanchar ali todos os dias. Peguei uma bandeja azul assim que foi possível e tentei não escutar a conversa das meninas que estavam na minha frente, mas foi meio impossível. “Amiga, não tem nada light nesse inferno?” – Uma perguntou com a voz aguda e irritante. “Eu sei, amiga! Por isso temos que comer o menos possível!” – A segunda respondeu. Eu simplesmente rolei os olhos e preferi ignorar. Primeiro porque não gosto de pessoas que falam “amiga” a cada dois segundos. E segundo porque eu não fui com a cara delas. Não é que eu estivesse julgando-as, mas esse papinho de “temos que comer pouco para não engordar” não colava comigo. Meu lema era: “Coma o que quiser, seja feliz e depois faça muito exercício pra manter a forma.” Graças a Deus a dança sempre foi um ótimo meio de queimar as calorias extras!
A primeira coisa que eu coloquei em minha bandeja foi um pratinho com três cookies médios. Também me servi de uma maçã, dois pudins de chocolate, um tipo de salgado que eu não tinha certeza do que era, uma garrafinha de suco de laranja e uma barrinha de chocolate que eu nunca vira por ali antes. Cogitei a possibilidade de alguém tê-la perdido por ali, mas não anunciaria o meu achado. precisava dela mais que qualquer um. Minha vez no caixa logo chegou e as duas patricinhas se afastaram e cochicharam algo depois de ver toda a comida que eu estava levando. A senhora que comandava a caixa registradora já me conhecia, por isso me cumprimentou e até puxou um papinho rápido. Daqueles que não são muito importantes e que nenhuma de nós de fato prestou atenção na hora de responder ou perguntar alguma coisa. parecia impaciente demais assim que paguei e pude me dirigir até a mesa em que ela estava. Nos sentamos perto da porta e uma de frente para a outra. Eu deixei a bandeja no centro e a menina já foi logo atacando a barra de chocolate. Eu peguei um dos pudins e uma colher de plástico.
- Eu não sabia que vendia esse chocolate aqui... – Falou com a boca cheia, mas eu não era nem louca de reclamar.
- Pois é... – Preferi concordar do que explicar que tinha encontrado-o por acaso. – Coma o pudim depois, porque ele está uma delicia! E também tem suco, maça e esse outro negócio aí... Mas eu posso voltar lá e pegar outra coisa se você quiser.
- ! Calma... Eu já estou melhor. – Sorriu pra mim, mas seus olhos ficaram marejados. – Você é uma amiga tão boa...
- ... Você vai chorar? – Pronto, era só o que faltava. Além de irritada, ela também ficava melosa? – Não fica assim, sweetie.
- Não vou chorar...
fungou e fez uma careta para conter as lágrimas. Eu não duvidava nada que ela fosse começar a chorar histericamente, reclamando de como a vida dela era difícil e que nem o próprio namorado conseguia encontrar. Eu não sabia se deveria rir daquela situação, ou fingir que era algo normal, então resolvi apenas me concentrar no meu pudim e deixá-la com seu chocolate. Por falar em namorado... Avistei Zayn e Niall entrando na cafeteria, bem distraídos. Em um dia normal eu teria começado a sorrir na direção dele, mas com bem na minha frente era arriscado demais. Para duas pessoas que deveriam estar se escondendo, os dois estavam lerdos demais. Tentei chamar a atenção deles e foi quase impossível não fazer um barulho muito grande. Pelo menos a ruiva estava de costas pra eles e não via nada. Niall foi o primeiro a me notar e ficou petrificado. Sua primeira reação foi dar meia volta e tentar sair correndo do refeitório, mas não notou que tinha alguém atrás dele e acabou esbarrando na pessoa e derrubando uma bandeja no chão.
- O que foi isso? – olhou na direção dos meninos no mesmo instante e eu encostei a testa na mesa.
- Tanto trabalho pra nada. – Pensei alto e quis matar aqueles dois por não serem nada discretos. Bem, pelo menos eu havia feito a minha parte e tentado protegê-los da fera.
- NIALL HORAN, AÍ ESTÁ VOCÊ! – Minha amiga viu que era o namorado sumido que finalmente resolvera aparecer e levantou da mesa como um furacão.
- Oi, minha cerejinha. – Falou todo manso. – Eu estava te procurando!
- Estava me procurando nada! – Foi atrás dele e eu a segui, abandonando meu pudim pela metade. – Vocês dois estavam é fugindo!
- , calma... – Tentei ajudar, mas me arrependi no mesmo instante em que as palavras saíram de minha boca.
- Não me pede calma! – Gritou e as lágrimas voltaram a aparecer.
- Quer sair daqui? – Zayn sussurrou pra mim enquanto o outro casal se ocupava em brigar.
- Desesperadamente. – Até arregalei os olhos para responder.
Zayn parecia um super espião, olhando para os lados e verificando se a barra estava limpa. Nós dois fomos saindo de fininho em direção à porta que nem estava tão longe assim. Tínhamos a esperança de não sermos notados por Niall e muito menos por , mas isso não deu tão certo. “Aonde vocês pensam que vão?” foi a última coisa que ouvimos antes de começar a correr. Zayn agarrou a minha mão e me puxou para o lado de fora. Eu o acompanhei na maior velocidade que consegui e desviei de algumas pessoas que abriram caminho. Eu não sabia para onde estávamos indo e nem se ainda éramos perseguidos por um irlandês e uma inglesa chorona, mas continuei indo em frente.
- VOLTEM AQUI. – Era a voz de se aproximando.
- ME LEVEM COM VOCÊS! – Niall gritou e eu acabei rindo.
- Entra aqui, ! – Zayn me puxou para dentro do elevador vazio e apertou o botão para o quinto andar.
- Fecha a porta, fecha! – Me desesperei enquanto risadas saiam de minha garganta.
- Não sou eu que controlo! – O menino também ria e assim que os outros dois apareceram na nossa frente, o elevador fechou.
- Você sabe que ela vai matar a gente, né? – Encostei na parede do elevador e respirei fundo para retomar o fôlego.
- Eu estou mais preocupado com o Niall... Você viu como ela olhou pra ele? – Riu alto.
Logo o elevador chegou ao último andar e as portas automáticas se abriram. Ambos saímos com cuidado, pois os nossos predadores poderiam estar por perto. Não falamos coisa alguma e nem ao menos sussurramos. Algumas salas estavam tendo aulas e, além de não querer atrapalhar ninguém, também não poderíamos ser vistos pelos professores. Rondamos metade do caminho até escutarmos a voz de ao longe. Ainda não podíamos vê-la, mas precisávamos de algum esconderijo.
- E agora, o que a gente faz? – Sussurrei.
- Já sei! – Me segurou pela mão novamente e fomos correndo até a escada de incêndio. – Entra aqui!
- Mas essa escada não desce! – Assim que entramos no local, a primeira coisa que eu vi foi uma escada que levava até o andar de cima, parando em uma porta com os dizeres: “Apenas pessoal autorizado”.
- Acho que eles foram por ali! – Agora era a voz de Niall que estava perto demais.
- Não temos escolha! – Zayn respondeu baixo e começou a subir as escadas. Eu o segui sem nem pensar nas consequências. Só o que eu queria era fugir.
- Isso é tão emocionante! – Ri e também subi as escadas.
Zayn abriu a porta sem nem saber o que havia do outro lado e nenhum de nós se importou com o aviso de “perigo”. Entramos na cobertura e um vento frio assoprou os meus cabelos na direção do meu rosto. Ainda rindo, o menino fechou a porta atrás de nós e eu me senti um pouco mais segura ali. “Eles nunca vão os encontrar aqui!” Pensei e olhei para os lados pela primeira vez. Não era a toa que eu estava sentindo tanto frio: Ao nosso redor não havia paredes e muito menos um teto. Estávamos literalmente em cima da Academy. É claro que havia uma pequena mureta que cercava os arredores e impedia maiores acidentes, mas eu começava a entender o aviso de “perigo”.
- Que lugar legal. – Zayn também reparou em onde estávamos e caminhou até o parapeito.
- Cuidado, baby... – Meu chamado não o impediu de se inclinar sobre a mureta que ia até a sua cintura e olhar para baixo. Tive que ir atrás dele e agarrá-lo pelo casaco. – Malik, se comporta!
- Eu não vou cair, . – Voltou para a posição normal e passou um braço ao meu redor. – Só queria ver se era alto.
- É claro que é alto, seu bobo! – Me enterrei em seu abraço e me senti um pouco mais quente. – Estamos no sexto andar!
- Eu nunca vim aqui antes. – Olhou para o horizonte e passou a mão pelo meu braço. Ele deve ter notado que eu estava com frio, pois tentou me esquentar o máximo que pôde.
- Eu consigo ver o meu carro daqui! – Apontei para o único carro vermelho no estacionamento.
- Quem não consegue ver o seu carro?! – Riu. – É o mais chamativo.
- Ei, não fale mal do meu baby! – O olhei brava.
- Seu baby sou eu. – Piscou e passou o nariz pelo meu.
- Você entendeu o que eu quis dizer... – Respondi num sussurro, pois minha voz quase não saiu. Culpa do efeito que o perfume de Zayn tinha sobre mim.
- Não entendi nada. – Brincou e mordiscou o meu lábio. Se eu não tivesse sentido algo molhar o meu rosto, teria ficado paralisada.
- Isso é chuva? – Juntei todas as minhas forças para formular uma frase com três palavras e Zayn olhou pra cima.
- Eu acho que sim... – O céu estava bem escuro, como sempre, e novas gotas finas voltaram a molhar a minha bochecha. – Com certeza é chuva!
- Então é melhor a gente ir. – Sequei uma gota mais grossa que caiu na testa de Zayn com a manga do meu cardigan e ele concordou.
- Vamos antes que você comece a tremer! – Demos meia volta e continuamos abraçados.
A chuva de Londres não perdoa mesmo, pois logo começou a cair cada vez mais pesada. Bem que ela poderia ter nos esperado chegar até a porta, mas não! Zayn e eu tivemos que correr o curto percurso até o lugar por onde entramos e eu fui a primeira a segurar a maçaneta. Para a minha surpresa e desespero, o objeto de metal não fez nada. Nem girou pra cima, nem pra baixo, muito menos para os lados. O mais alto notou a minha expressão de preocupação e também tentou abrir a porta, mas nada aconteceu.
- Me diz que nós não estamos presos aqui... – Escondi o rosto nas mãos, com medo da resposta.
- Eu acho que estamos... – Falou enquanto ainda tentava abrir a porta, mas usando a força dessa vez. – Essa merda só abre pelo lado de dentro!
- E agora? – Toquei meus bolsos na procura do meu celular e me odiei por ter esquecido a minha bolsa no refeitório. – Seu celular tá aí?
- Não... – Também revirou os bolsos. – Droga! Eu o deixei na sala de música...
- Espera, nós estamos mesmo presos aqui? – Ri nervosa sem acreditar que aquilo estava de fato acontecendo. A chuva continuava a cair e meus cabelos já estavam bem molhados, assim como a parte de cima da minha roupa.
- Alguém pode ir para o estacionamento e ver a gente... – Correu para o parapeito novamente. – HEY?! ESTAMOS PRESOS AQUI EM CIMA! ALGUÉM?
- Zayn, estão todos em aula agora. Ninguém vai para o estacionamento em menos de uma hora. – Não queria desanimá-lo, mas aquela gritaria não adiantaria de nada. Me apertei dentro do meu agasalho na tentativa de diminuir o frio, o que obviamente não aconteceu.
- SOCORRO! – Nem me deu ouvidos e continuou gritando.
- Tudo bem, faça o que quiser! – Dei de ombros e o deixei pra lá.
Logo eu fiquei completamente encharcada e não demoraria muito pra começar a bater os dentes. “Era só o que me faltava. Além de perder aula, ainda vou ficar gripada?” Ri sozinha da ironia do destino e sentei no chão em qualquer lugar. Ainda estava cansada de tanto correr e a minha calça já estava molhada mesmo. Zayn caminhou de um lado para o outro, tentando chamar a atenção de alguém. Eu já saberia que isso não ia dar certo, mas não o impediria de tentar. A única coisa que me incomodou é que ele estava começando a ficar estressado. Claro que tinha todos os motivos do mundo, já que estava tão molhado quanto eu e o frio se tornava cada vez mais insuportável. Mas em que ficar irritado iria ajudar? Absolutamente nada.
- Zayn, vem pra cá... Isso é inútil. – O chamei mais uma vez.
- Inútil é você ficar aí sem fazer nada. – Falou sem pensar e ainda por cima em um tom que não me agradou nada.
- Como é que é? – Ri sem humor e me levantei de uma vez. – Você quer que eu faça alguma coisa, é isso que você quer?
- É sim! – Malik afirmou da mesma de antes e me olhou um tanto bravo.
- Então ta! – Por um impulso de adrenalina, eu me apoiei no parapeito e subi nele. Fiquei de pé e comecei a pular para cima e pra baixo, balançando os braços. O medo de cair passou longe depois daquele desaforo que fui obrigada a escutar. – SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA.
- , VOCÊ FICOU MALUCA? – Zayn se alterou mais ainda a me ver ali em cima. – DESCE JÁ DAÍ!
- Não vou descer! – Rebati ao olhar pra ele. – Estou sendo útil. Não é o que você quer?
- Você está sendo idiota! – Reclamou e me agarrou pelas pernas.
- Me solta! – Dei um gritinho com o medo de cair e o empurrei assim que fui colocada no chão. – Você é que é um idiota!
Tentei dar alguns tapas no braço de Zayn, mas ele se esquivou. Eu estava com raiva e ele também. Claro que por motivos diferente, mas nós dois estávamos alterados. Aquela era a nossa primeira briga e ele segurou as minhas mãos quando tentei dar alguns socos na direção dele. Obviamente não acertei nenhum. Acabei ficando mais brava ainda ao tentar me soltar e não consegui.
- Me larga, Zayn Javadd Malik! – Resmunguei e ele começou a rir. – Do que você está rindo agora?
- De você! – Respondeu com uma gargalhada. Eu já não entendi mais nada. Ora ele parecia querer me bater e depois já estava rindo? – Parece um cachorro molhado e ainda me chama pelo nome completo.
- Você é um idiota mesmo!
Bufei e acabei conseguindo me soltar. Dei meia volta e comecei a me afastar daquele garoto. Uma briguinha tão ridícula foi capaz de me tirar do sério, principalmente depois que ele começou a rir de mim. Do nada, senti meu pulso direito sendo agarrado com força e fui puxada de volta na direção de Zayn. Tentei gritar um: “O que é?”, mas fui interrompida pelos lábios gelados que foram colados nos meus. Com a mesma força que me puxou pelo pulso, me segurou pela nuca e me impediu de me afastar novamente. Pela primeira vez na vida eu realmente tentei me afastar e até tentei empurrá-lo novamente, mas não consegui. O braço livre de Zayn me agarrou pela cintura e também não soltou mais. Toda a minha sanidade foi embora quando senti sua língua quente se arrastando pelos meus lábios e praticamente a abocanhei na mesma hora. Passei os braços em volta do pescoço de Malik e o apertei contra mim da mesma forma que ele fazia. Atacamos os lábios um do outro, transformando a raiva e irritação em desejo e vontade um do outro. Vez ou outra, ele inclinava o rosto para o lado contrário e eu o acompanhava, investindo a minha língua contra dele sempre que possível. Um aperto mais urgente em minha cintura me fez gemer de dor sob os lados do garoto, fazendo-o sorrir cafajeste. A chuva nos acompanhava e caía sobre os nossos rostos, tornando aquele beijo mais molhado do que já era.
- Você é louco! – Ofeguei assim que separamos os nossos lábios.
- Por você. – Sorriu e eu acabei rindo com aquele clichê, mas até que gostei.
- Menos, Malik, bem menos! – Roubei um selinho e escutamos um rangido de porta.
- Então é aqui que vocês estão! – A voz de parecia até mesmo uma canção de anjos.
- SEGURA A PORTA! – Zayn gritou antes que Niall também passasse a fechasse. – Ela só abra pelo lado de dentro.
- Não teria sido engraçado se eu tivesse deixado a porta bater? – Niall riu, mas foi o único.
- , eu nunca fiquei tão feliz em te ver! – Me separei de Zayn e corri para abraçar a minha amiga.
- Saaaaai! Você não vai me molhar! – Correu de mim.
- Como vocês nos acharam? – Zayn também se aproximou da saída para podermos ir embora.
- Falaram que tinha uma doida tentando se jogar daqui de cima. – Niall deu de ombros. – Daí nós viemos ver se era a nossa doida.
- Ai, minha nossa, ! O que aconteceu com você? – Dorota veio correndo na minha direção assim que eu entrei em casa. – Caiu dentro do Tamisa?
- Oi, Dora... – Tremi um pouco ao tirar o meu casaco molhado e entregar para a moça. – Eu acabei pegando um pouquinho de chuva hoje.
- Pois trate de subir e tirar essa roupa molhada, porque não quero a minha menina gripada! – Pediu e me acompanhou até a escada. – Depois chame o meninos e venham almoçar.
- Pode deixar!
Sorri para a babá e subi as escadas com pressa. Já não aguentava mais aquelas roupas molhadas contra o meu corpo. Meus lábios estavam roxos e eu aparentava mais palidez do que o comum. Não falei com nenhum dos meus companheiros de casa e entrei direto no meu quarto, fechando a porta e correndo para o banheiro. Larguei a minha mochila (que felizmente lembrou de pegar no refeitório) em cima da bancada da pia e comecei a me despir. A calça jeans foi a peça mais difícil de retirar, porque ela parecia ter encolhido com a chuva e grudado nas minhas coxas. Quando já estava completamente nua, peguei a minha toalha branca e me sequei completamente. Apenas o meu cabelo continuou molhado, mas nada que não secasse naturalmente.
Indo até o closet, separei algumas peças de roupa bem quentinhas: Uma calça de moletom cor de rosa, outra camisa de banda que roubei de meu irmão e um sweater de lã bem fofo. Não estava pronta para nenhum desfile de moda, mas pelo menos comecei a sentir as minhas juntas novamente. Não me atrevi a tentar pentear meu cabelo, pois acabaria sofrendo sem chegar a lugar nenhum, então o deixei solto e pude sair do meu quarto e atravessar o corredor para chegar no de Louis.
- Toc toc. – Usei uma onomatopéia ao invés de realmente bater na porta que estava fechada.
- Pode entrar! – Harry respondeu, mesmo não sendo o quarto dele.
- Vocês estão tendo uma reunião e eu não fui convidada? – Perguntei enquanto abria a porta e pude ver Liam, Louis e Harry sentados lado a lado na cama.
- É que nós temos um clube só de meninos, . Foi mal. – Louis deu de ombros e eu fiz bico.
- Isso é muito injusto! – Cruzei os braços, fingindo birra. – No meu reino não são permitidos clubes onde eu não posso entrar!
- É verdade, Lou. – Harry concordou comigo.
- Manda cortarem a cabeça dele! – Liam me pediu com um sorriso maléfico.
- Depois do almoço, porque agora eu estou com preguiça. – Ri e os chamei com um aceno. – Dora mandou avisar que a comida está pronta.
- EBA! – Os três meninos praticamente pularam da cama e eu me assustei tanto que dei alguns passos para trás.
- Quem chegar por último vai beijar um sapo! – Tinha que ser Louis pra falar uma coisa dessas.
- Espera a gente! – Harry desceu as escadas atrás de Louis e Liam foi atrás.
- Cuidado pra não... OUTCH. – Escutei um barulho alto e só vi uma bola feita por três garotos rolando escada abaixo.
- Crianças. – Rolei os olhos e desci as escadas com calma. Passei por cima dos três e ainda olhei pra trás antes de ir para a sala de jantar: - Todos vocês vão beijar um sapo!
Eu estava me sentindo muito diva naquele momento, por isso mandei um beijo no ar e saí rebolando até a minha cadeira. Bem... Rebolando no sentido figurado, é claro. Ainda reclamando de dor, os meninos se juntaram a mim. Como sempre, cada um em seu lugar específico. O cardápio da vez era um caldo/sopa com alguns pedaços de verdura e galinha. Eu geralmente não comeria algo assim se outra pessoa além de Dorota tivesse sido a cozinheira. Fui a primeira a me servir, pois os meninos estavam discutindo pra ver quem deles iria ‘beijar o sapo’.
- Quem deixou essa toalha molhada no sofá? – Dorota perguntou brava ao entrar ali e todos fiaram calados.
- Não fui eu! – Levantei a mão para me livrar da culpa que não era minha mesmo.
- Nem eu! – Liam me imitou.
- Foi o Louis! – Haz também levantou a mão, entregando o meu irmão.
- Eeeeeei!
- Pode ir estender no lugar certo, senhor Tomlinson. – A mulher jogou a toalha em cima da cabeça de Lou e foi para a cozinha falando sozinha. – Esse menino não toma jeito. E olha que é o mais velho!
- Pelo menos ele tomou banho, né? – Comentei e acabei fazendo todos rirem. Menos o próprio Louis.
Depois do almoço nós quatro fomos para a sala e deixamos Dorota fazer seu serviço e arrumar a sala de jantar. Pra mim ainda era estranho ver a pessoa que me criou trabalhando como uma ‘empregada’, por isso eu me ofereci para ajudar a lavar a louça. Mesmo insistindo muito, ela não deixou e ainda fez Liam me carregar para fora da cozinha. Esse garoto parecia estar ficando mais forte a cada dia que passava, mas enfim. Fui a primeira a me esparramar pelo sofá, ocupando a maior parte do espaço. Liam sentou na área entre os meus pés e o braço do sofá, que, aliás, foi onde Harry sentou. Pobre Lou foi o único que ficou sem lugar, então resolveu fazer algo de útil e tentar ligar o aquecedor interno da casa. Eu não era a única com frio pelo visto. Sempre adorei lareiras, fogueiras e essas coisas mais rústicas, mas infelizmente aquela casa não tinha nada disso.
- Hey, sabem o que eu notei? – Perguntei encarando o teto. Os garotos me olharam e eu continuei. – Nós não mudamos o recado da secretária eletrônica depois que o Haz se mudou pra cá.
- A gente tem uma secretária eletrônica? - Harry pareceu confuso, mas eu não o culpava. Era bem raro alguém ligar para o nosso telefone fixo e ainda mais deixar uma mensagem na secretária eletrônica.
- É claro que temos. – Ri e levantei do sofá.
Louis voltou para a sala no mesmo instante e ocupou parte do meu lugar, mas eu não me importei muito. Fui até o telefone branco que ficava em uma das prateleiras da estante e apertei um botão que acionava a saudação atual. Todos nós esperávamos com curiosidade, pois havia tanto tempo que gravamos aquela mensagem que nem ao menos lembrávamos como era. “Olá! Você ligou para os Tomlinson ou Payne.” Eu comecei falando na gravação. “No momento nós não podemos atender, porque estamos muito ocupados sendo incríveis.” – Louis. “Mas deixe o seu recado depois do beep e nós retornaremos assim que possível! Beeeep. (...) AHÁ! Brincadeirinha, é outro beep.” E assim Liam encerrava a parada toda. Meu único pensamento ao escutar aquilo novamente era: “Ai, como somos idiotas.” E era bem verdade.
- Eu quero participar disso aí! – Harry deve ter achado bem divertido e não idiota.
- Então vamos gravar uma nova! – Sorri em concordância e levei o aparelho até a mesinha de centro. – Como vai ser?
- Tem que ser algo bem legal... – Liam e os outros três se aproximaram do telefone e eu me sentei no chão.
- Você falou a mesma coisa da outra vez e olhe o resultado! – Balancei a cabeça negativamente e comecei a mexer nas configurações da máquina.
- Ei, a idéia foi minha na outra vez! – Meu irmão reclamou.
- Então você não pode mais dar idéias. - Falei baixo para que ele não ouvisse. – Hazza, o que você acha?
- Acho que seria legal se cada um falasse uma palavra... – Pareceu bem concentrado ao explicar. – E a gente fosse improvisando...
- Vamos tentar! – Sorri para encorajar o meu amigo, mas duvidava que o resultado fosse ser algo bom. – Prontos? 1... 2... 3!
- Hi! – Louis começou.
- Você... – Liam.
- Ligou... – Eu.
- Para... – Harry.
- A casa... – Louis novamente.
- Espera, não era pra falar só uma palavra de cada vez? – Interrompi a gravação.
- Mas “a” é artigo, então não conta como palavra. – Explicou.
- É claro que conta! – Liam concordou comigo.
- Então vamos de novo. – O mais novo de todos apertou o botão de gravação e começou: - Hello...
- Você... – Li.
- Ligou... – Eu.
- Para... – Lou.
- . – Mudei o rumo da frase.
- Liam.
- Louis.
- Ou Harry!
- Nós... Ei! – Interrompi mais uma vez. – Não é “ou Harry”, Harry.
Aquilo iria demorar mais do que esperávamos, por isso resolvemos parar um pouco e ensaiar. Seria mais fácil se escolhêssemos algo simples, ou se uma pessoa só falasse, mas todos queriam opinar e participar. Por fim, acabamos votando em cada um ter a sua chance de gravar uma mensagem e nós salvaríamos a que ficasse melhor. Como eu estava comandando a máquina, teria que ser a última.
- 1, 2, 3... Pode ir, Harry.
- Hello... Você ligou para Liam, Louis, ou para mim! Que sou o Harry. No momento nenhum de nós pode atender porque estamos muito ocupados com algo importante. Deixe um recado e nós retornaremos em seguida! – O garoto falou super devagar, como sempre, por isso o “beep” apareceu em poucos segundos depois que ele terminou de falar.
- Minha vez! – Louis levantou a mão e eu acenei com a cabeça que ele poderia começar a falar. – Se você ligou para esse número, deve saber quem mora aqui. Deixe seu nome e telefone e nós retornaremos assim que possível. Dependendo de quem você seja. Ou talvez nós apenas vamos te ignorar. Beep.
- Bem amigável, Lou. – O olhei com negação. – Pode ir quando estiver pronto, Li.
- Ok... Oi! Nós provavelmente estamos em casa, mas a preguiça é maior do que a vontade de atender ao telefone. Deixe o seu recado e, a não ser que você seja um de nossos pais, ligaremos de volta até o fim do mês.
- Eu sou a única que não está gostando de nada disso? – Rolei os olhos entediada. – Minha vez... Se você está escutando essa mensagem, é porque...
- ESTAMOS SENDO SEQUESTRADOS! – Louis me interrompeu e se jogou no chão, fazendo um barulho bem alto.
- Ou estamos dando uma festa e o som está muito alto! – Liam entrou na conversa e fez som de beatbox com a boca. – E provavelmente não te convidados... Sorry.
- Mas também podemos só estar com preguiça de atender... – Harry se juntou.
- Provavelmente só estaremos fora de casa. – Dei de ombros e finalizei a mensagem: - Já sabe o que fazer depois do beep!
Eu deveria ter ficado com raiva por eles terem me atrapalhado, mas até que a mensagem ficou boa. Não havia dúvida de que aquela seria a escolhida e nós chegamos em um acordo. Por mais que eu achasse que ninguém iria nos ligar naquele telefone, eu fiquei ansiosa para ver as reações que conseguiríamos.
No fim da tarde, Harry e Liam foram jantar fora e me deixaram sozinha em casa com o meu irmão. Nenhum de nós dois quis ir com eles por motivos bem diferentes: Lou estava assistindo um filme super interessante na TV a cabo e eu ainda tinha duzentas páginas de um roteiro para ler. Pelo menos já havia parado de chover há algum tempo e o aquecedor começou a fazer efeito. Sempre gostei mais de frio do que de calor, como todos já sabem, mas de vez em quando é bom se sentir quentinha dentro de casa. Sem falar que eu tinha uma sessão no meu closet só com roupas e verão e foi bom vestir um shortinho cinza e uma regata branca após o banho só pra variar.
Deixei os meus cabelos soltos e me joguei na minha cama deliciosa. Pensei em ficar deitada, mas tinha certeza que o sono logo tomaria conta de mim. Por esse motivo, tive que me contentar em ficar sentada e apenas encostei as costas na minha montanha fofa de travesseiros. “Vamos lá, Romeu e Julieta... É hora de ler a história de vocês.” Pensei comigo mesma, por mais óbvio que isso soe. Peguei o roteiro que já tinha separado em cima da minha mesinha de cabeceira e comecei a folhear as primeiras páginas. O mais incrível é que todas as folhas possuíam anotações em caneta, o que me fez imaginar o tempo enorme que Colin devia ter gastado em cada um.
“Pode pular essa parte. Você só entra na terceira cena.” Era o que dizia a primeira instrução. Me senti o próprio Harry Potter lendo o livro de poções do Príncipe Mestiço e ri com esse pensamento bobo. Respirei fundo e tentei me concentrar mais. Passei algumas páginas até encontrar a tal “Cena III – Ato I”. Comecei a ler: “Julieta está no jardim, distraída com as flores. Dia/manhã. Começa a cantar*. Falas: (...) Escuta a Ama chamando-a.”
- Espera... Começa a cantar? – Falei sozinha e corri os olhos pelo papel na procura de uma explicação: “* Falar com o professor de música para decidir qual canção será apresentada.” Ninguém me falou nada sobre isso!
Pela primeira vez eu fiquei assustada com aquela peça. Dançar? Perfeito. Atuar? Um pouco. Mas cantar? Isso já era demais. Claro que sendo uma Tomlinson a minha voz não poderia ser horrível, mas eu não era uma cantora! Colin deveria achar uma solução... “Eu posso dublar outra pessoa... Muita gente faz isso.” Era o único jeito! Será que Nick teria que cantar também? Ser a personagem principal daria trabalho e eu tinha certeza disso. Procurei me acalmar e continuar a minha leitura. Passei para algumas páginas posteriores e minha íris captava algumas palavras chave, tai como: Troca de roupa, mudança de cenário, solo de ballet... E até mesmo: “Desce do teto segurada por uma corda. ps: Talvez/revisar!” Super legal, pra não dizer o contrário.
Tirando essas partes que me deixavam um pouco aflita e ansiosa demais, o roteiro era muito bom. As falas e tramas eram exatamente iguais ao que Shakespeare propôs em sua obra. Na sua grande maioria, os comentários do diretor também eram bastante esclarecedores e me enchiam de idéias e inspiração. Quando eu me preparava para passar para o segundo ato, um som de violão começou a entrar pela minha janela entreaberta. “O que o Louis está fazendo lá fora a essa hora?” Me perguntei e deixei o roteiro de lado. A música continuou e ficou um pouco mais alta, como se Louis estivesse bem embaixo da minha janela. Levantei da cama e fui até lá, empurrando o vidro mais pra fora do que já estava e pude ver quem estava ali fora.
- O que vocês dois estão fazendo aqui? – Sorri ao ver que Niall era quem estava tocando o violão e Zayn estava ali também; apenas me olhando.
(Não tente me fazer ficar ou me pergunte se estou ok)
I don’t have the answer.
(Eu não tenho a resposta)
Don’t make me stay the night,
(Não me peça pra passar a noite)
or ask if I’m alright
(ou me mergunte se estou bem)
I don’t have the answer…
(Eu não tenho a resposta)
Minha pergunta não foi respondida, mas quem era eu pra me importar? Zayn começou a cantar alto o suficiente para que eu pudesse escutar do andar de cima e meu sorriso se tornou maior ainda. Niall apenas continuou tocando e dedilhando as cordas do violão enquanto se mexia de um lado para o outro. Aquilo era um sonho? Será que eu havia dormido lendo o roteiro? Me belisquei disfarçadamente e constatei que não era um sonho coisa nenhuma e que eu estava mesmo recebendo uma serenata.
(Mágoa não dura para sempre)
I’ll say I’m fine.
(Eu direi que estou bem)
Midnight ain’t no time for laughing,
(Meia noite não é hora pra rir)
When you say goodbye…
(Quando você diz adeus...)
Zayn abria os braços e interpretava a música. Ele não tirava os olhos de mim por nem um minuto e vez ou outra soltava uma risada gostosa. Eu não sabia se era a primeira vez que ele fazia isso para alguém, mas com certeza estava se divertindo. Imagine eu, então? Continuei ali na janela, inclinada sobre o parapeito e encantada com aquele garoto tão perfeito que cantava só pra mim.
(Isso torna os seus lábios tão beijáveis...)
And your ki-i-iss, unmissable…
(E o seu beijo, imperdível…)
Your fingertips so touchable,
(A ponta dos seus dedos, tão tocáveis,)
And your eyes, irresistible…
(E os seus olhos, irresistíveis…)
Que refrão era aquele? Fiquei totalmente arrepiada com aquelas palavras e mal pude acreditar. Pela forma que Zayn cantava era fácil de perceber que ele mesmo havia escrito aquela letra. Ele poderia ter até mesmo cantado um cover pra mim que eu continuaria amando a surpresa, mas nada era melhor do que uma música vinda do seu interior. O vento jogou os meus cabelos para trás, mas, mesmo eu estando com roupas um tanto curtas, não fui incomodada pelo frio. Na verdade, mal o sentia.
(Eu tentei me perguntar:)
Should I see someone else?
(Dev over outra pessoa?)
I wish I knew the answer.
(Eu queria saber a resposta)
But I know if I go now…
(Mas se eu for agora…)
If I leave, then I’m on my own tonight…
(Se eu for embora, então eu estarei sozinho essa noite…)
I’ll never know the answer.
(Eu nunca saberei a resposta)
Desejei ter uma escada perto da minha janela para que ele pudesse subir, ou ao menos uma trepadeira como nos filmes. Aqueles metros de altura que nos separavam eram poucos, mas ao mesmo tempo pareciam ser km inteiros. Eu queria tê-lo em meus braços, porém saberia esperar. Queria abraçá-lo e beijá-lo, mas ao mesmo tempo desejava que aquela serenata não acabasse nunca.
(Está nos seus láios, e no seu beijo)
It’s in your touch and your fingertips
(Está no seu toque e na ponta dos seus dedos)
And it’s in all the things and other things
(E está em todas as coisas e outra cosas)
That make you who you are,
(Que te fazem quem você é,)
And your eyes… Irresistible.
(E os seus olhos... Irresistíveis)
A chuva que durou o dia inteiro serviu para alguma coisa, pois o céu não estava mais tão coberto por nuvens e até mesmo a Lua resolveu aparecer e também assistir aquela cena que fazia o meu coração bater mais rápido. A combinação do silêncio da noite com a voz de Zayn e o Luar formava o quadro perfeito. Como se não bastasse, Niall ainda começou a fazer um coro de fundo bem baixinho. Não chegava a “atrapalhar” o meu namorado e tornava a melodia ainda mais gostosa de se ouvir. Eu olhei para o loiro com um sorriso de agradecimento e logo voltei a minha atenção para o que cantava. De repente ele estava com um buquê de rosas vermelhas nas mãos e eu quase me esqueci de como se respira. A música havia chegado ao fim, infelizmente, e ele deveria estar escondendo aquelas flores até aquele momento.
- É alguma data especial? Eu mereço tudo isso? – Perguntei sem abandonar o sorriso em meus lábios.
- Você merece algo especial todos os dias, ... – Zayn respondeu com aquele olhar apaixonado que me derretia. – Merece receber flores em um dia qualquer, não só em datas especiais. Alguém que te conheça até nos mínimos detalhes e que saiba o quanto você não gosta de clichês, mas chora no final de cada filme romântico que assiste. Merece escutar o quanto é linda todos os dias, mesmo que você nunca acredite em mim quando eu falo isso.
- Zayn... – Suspirei. Eu não sabia o que falar só sorrir. Aquela era a coisa mais linda que eu já havia escutado na vida.
- Eu só queria que você soubesse que eu não seria o mesmo sem você. – Também suspirou. – A minha vida não seria a mesma sem você.
- Que coisa mais linda! – Niall se pronunciou pela primeira vez e Zayn lhe lançou um olhar feio. – O que foi?
- Oi, Niall. – Ri apesar dele ter atrapalhado o momento.
- E aí, ? – Acenou. – Será que eu posso entrar? Vocês dois podem ficar trocando declarações, mas eu estou congelado!
- Da próxima vez eu venho sozinho. – Zayn pensou alto e balançou a cabeça.
- Vão para a porta, ok? Eu já vou descer! – Avisei e fechei a janela.
Ao dar meia volta, encontrei Louis parado na minha porta, com os braços cruzados e uma sobrancelha levantada. O olhei como se perguntasse: “Você escutou?” e ele afirmou que sim com a cabeça. Senti as minhas bochechas queimarem, mas ignorei. A verdade era que eu ainda estava digerindo todas aquelas palavras e mais uma vez achei difícil de acreditar. Quando eu poderia imaginar que Zayn Malik estaria me fazendo uma serenata tão romântica e ainda por cima me falar tantas coisas apaixonadas? Naquela altura eu já deveria estar acostumada com as suas surpresas, mas nunca conseguiria esperar por elas! Louis me acompanhou quando eu saí do quarto e desci as escadas. Atravessei o hall e abri a porta o mais rápido possível, me jogando nos braços do namorado mais perfeito do mundo.
- Obrigada pela surpresa! – Abracei-o pelo pescoço e o enchi de selinhos rápidos e seguidos.
- Isso quer dizer que você gostou? – Envolveu-me pela cintura e retribuiu todos os beijos.
- É óbvio que sim! – Sorri e separei o abraço, mas o segurei pela mão e o levei para dentro de casa. – Pode entrar, Nialler.
- Achei que iam me esquecer do lado de fora! – Reclamou, mas acabou entrando. Ele deixou o violão encostado na parede e me olhou dos pés a cabeça. – Pernas bonitas.
- Niall! – Ri e olhei para mim mesma. Tá certo que o meu short era muito curto, mas ele precisava notar? Não tenho culpa, já que não estava esperando visitas, ora!
- Hey, é da minha namorada que você está falando! – Me entregou as flores e deu um soco no braço de Niall.
- E da minha irmã. – Louis resolveu se pronunciar.
- Tudo bem, Lou? – Niall o cumprimentou.
- Se quiser, eu posso ir vestir uma calça... – Falei apenas para Zayn enquanto os outros dois se abraçavam.
- Não! – Respondeu rápido demais e mordeu o lábio. – Prefiro que fique assim.
- Tá bem... – Também mordi o lábio, tentando imaginar o que ele poderia estar imaginando. – Vou colocar essas flores em um vaso, ok?
Joguei os cabelos para o lado, em uma tentativa de fazer charme que aparentemente deu certo. Zayn encarou o meu pescoço e o seu olhar teria seguido para o meu decote, mas meu irmão fez o favor de nos interromper e começar a falar com ele. Mesmo eu tendo virado de costas para ir até a cozinha, senti um olhar sobre mim. Lá vinham os hormônios começando a ficar eriçados... Mas que jogue a primeira pedra quem não ficaria assim estando perto de Malik, principalmente com aquela barba por fazer super sexy emoldurando seu rosto perfeito.
Chegando na cozinha, enchi de água o mesmo vaso onde havia deixado as tulipas que ganhara até o dia em que elas morreram. Será que eu sempre ganharia flores assim? Com certeza não acharia ruim. Coloquei as rosas dentro do novo lar que elas teriam e as cheirei, suspirando aquele perfume tão gostoso. As deixei de lado um pouco e aproveitei que estava perto da pia para molhar as mãos e passá-las pelo rosto e nuca. Meu objetivo era diminuir um pouco aquele calor e algo me dizia que o culpado não era o aquecedor interno da casa.
- Tá quente aqui, né? – A voz de Zayn me fez girar em sua direção e eu notei que ele não estava mais vestido com a jaqueta, e sim com uma camisa azul bastante colada em seu corpo.
- Bem quente... – Dividi meu olhar entre os braços e o peitoral quase definido pela camisa.
- Eu concordo. – Niall, o inconveniente, também resolveu aparecer na cozinha. – Não seria uma boa hora pra fazer aquele frappuccino que você prometeu?
- Então foi por isso que você veio até aqui? – Cruzei os braços.
- O que? É claro que não! – Tentou me convencer, mas não acreditei. – Por favor, ?
- Não precisa fazer se for dar trabalho. – Zayn passou a mão pelos cabelos e se encostou à bancada americana.
- Eu não me importo! – Sorri e comecei a procurar alguns ingredientes nos armários. – Niall, pode ir perguntar se o meu irmão também vai querer?
Minha tentativa de tirar Niall da cozinha falhou miseravelmente, pois ao invés de ir até a sala e perguntar pra Louis, o garoto apenas gritou sem sair do lugar. É claro que a resposta foi sim e logo mais um apareceu por ali. Eu queria ficar sozinha com Zayn. Eu precisava ficar sozinha com ele. Talvez fosse por causa da temperatura elevada, ou das coisas que o escutara falar durante a serenata... Mas o meu corpo pedia por algo a mais. Não era a única a estar sentindo isso, pois em cada movimento novo eu podia sentir os olhos de Zayn sobre mim. Fiquei na ponta dos pés para alcançar uma prateleira mais alta e senti que a minha regata subiu alguns centímetros que foram o suficiente pra fazer o garoto se aproximar. Ele não fez nada de mais, apenas ficou me olhando e de vez em quando passava a língua pelos lábios; o que pra mim era o suficiente.
Logo eu já estava com todos os ingredientes necessários para fazer o frappuccino, incluindo os mini marshmallows, chantilly e calda de caramelo que comprara no mercado no último domingo. Os meninos conversavam animadamente sobre alguma coisa que eu não de importância e comecei a preparar a bebida dentro do liquidificador.
- O que vocês vão fazer na próxima sexta? – Zayn perguntou olhando pra mim e pra Louis.
- Eu estou livre! – Lou respondeu primeiro e então olharam pra mim.
- Durante a tarde eu vou sair com o Liam... – Expliquei.
- Só vocês dois? – Niall levantou uma sobrancelha e olhou para Zayn como se esperasse uma reação.
- Sim... Faz tempo que a gente não faz nada só nós dois, então eu prometi pra ele que iríamos sair. – Sorri. – Só não sei pra onde vamos...
- Tenho certeza que vai ser um lugar bacana. – Zayn passou o braço em volta dos meus ombros e beijou o meu rosto. Acho que Liam era o único garoto que não o fazia ter ciúmes. – Mas e durante a noite? Não tem nada?
- Nadinha! Por que?
- Porque a quer ir no Pub. Vai ser a noite de karaokê, sabe? E ela insiste que todo mundo vá. – Olhou para Lou. – Inclusive você e os meninos.
- Ah, é verdade! – O PLANO. Como eu poderia ter esquecido? – Eu acho que todos têm que ir mesmo. Vai ser divertido!
- Por mim tudo bem. – Lou sorriu. – E por quê a não quis vir com vocês?
- Ela nem sabe que estamos aqui... – Niall respondeu e eu ri baixo.
- estava uma fera hoje! Culpa da TPM. – Expliquei.
Após o frappuccino ficar pronto e todos nós tomarmos até a última gota, ficamos conversando pela sala de jantar por uns vinte minutos. Niall foi o que mais gostou, como já era de se esperar, e repetiu algumas vezes. O pior é que não sobrou mais nada do que eu tentei guardar para quando Liam e Harry voltassem para casa. O que os olhos não vêem, o coração não sente, certo?
- Ei, Niall... Por que você não vem me ajudar a arrumar a cozinha? – Meu irmão se levantou e eu o olhei espantada. Aquilo era um milagre e tanto, mas a piscadinha que ganhei em seguida me fez entender.
- É, Ni, vai lá... – Insisti.
- Mas, mas... – Tentou se negar, mas não conseguiria!
- É justo Niall, já que foi você quem pediu pra ela fazer. – Zayn também entendeu o que estava acontecendo e o irlandês não teve escolha.
- Tá bem! – Bufou e se levantou.
Enquanto meu irmão e meu quase cunhado iam até a cozinha, Zayn e eu trocamos olhares significativos. Eu levantei da cadeira e indiquei as escadas com a cabeça. É óbvio que ele também se levantou e nós corremos para fora da sala de jantar. “Estamos ficando bons em fugir das pessoas.” Esse pensamento me fez rir sozinha e Zayn nem pareceu ter notado, pois estava com tanta pressa de chegar ao andar de cima quanto eu. Não tropeçamos em nenhum degrau e quando eu fui perceber, já estava puxando-o para dentro do meu quarto e fechando a porta.
O menino foi até a minha cama esse sentou, ainda me olhando daquele jeito. Eu sorri de lado e também fui até lá. Sem falar nada, me sentei em seu colo e passei as mãos entre os cabelos dele, sem me importar em bagunçá-los. Zayn, por sua vez, passou as mãos pelas minhas pernas e as arrastou até chegar na minha cintura. Acabei com a distância entre nossos rostos e conectei nossos lábios de uma vez. Fiquei brincando e mordiscando por ali até receber um aperto mais violento na cintura. Era como se estivéssemos esperando por aquele momento sozinhos a um bom tempo de ninguém mais podia esperar. Antes de beijá-lo, o olhei uma última vez e inclinei meu corpo sobre o dele, fazendo-o deitar. Fui puxada mais uma vez e cada parte dos nossos corpos se encostavam de alguma forma.
Já desistindo de esperar mais qualquer segundo, Zayn atacou os meus lábios e procurou a minha língua com a dele. Minhas mãos fizeram um caminho dos ombros para o peitoral masculino e desceram ainda mais pela barriga, parando apenas na barra do tecido. Me atrevi a tocar a sua pele com as unhas e o senti estremecer embaixo de mim. Movi o meu quadril em um gesto lento e provocante ao mesmo, sem nem ao menos ligar para o que aquelas ações pudessem acarretar. Sem querer ficar por trás, Zayn também me tocou por baixo da minha blusa; subindo e descendo as mãos pelas minhas costas. Senti que ele estava perigosamente perto do fecho do meu sutiã e mordi seu lábio inferior com força. Afastei nossos rostos alguns centímetros e terminei de fazer o que as minhas mãos começaram; tirar a camisa azul que ele vestia e jogá-la em qualquer canto do quarto. Ficando tão surpreso quanto eu, o garoto semi-nu sorriu em excitação. Ao invés de tocá-lo nos lábios novamente, me aventurei em seu pescoço e suguei uma parte de sua pele; fazendo questão de marcar.
- ? – Uma batida na porta me fez querer matar Louis. – Papai está no telefone e quer falar com você.
- Shit! – Xinguei em frustração. Não teria outra escolha a não ser ir atender.
Capítulo XXXIX
“Now I gotta cut loose, footloose. Kick off your Sunday shoes.” A música tema do filme Footloose tocava em um volume relativamente alto no aparelho de som do meu quarto e eu cantava internamente enquanto dançava toda desengonçada. Era finalmente o dia em que eu e Liam sairíamos juntos e o meu humor estava ótimo. Era o meu dia livre da Academy, por isso pude dormir até mais tarde e tomar um banho bem demorado após o almoço. “Please, Louise, hold me off of my knees. Jack, get back! Come on before we crack!” Eram quase duas horas da tarde e, segundo Li, esse seria o horário que nós deveríamos sair de casa. Eu também achava que era cedo demais, mas como eu não era a organizadora do nosso passeio, me mantive quieta. As pessoas tem uma mania incrível de não me contar pra onde vão me levar e isso complica bastante na hora de escolher uma roupa, pois eu nunca sei se vou estar preparada ou não. Como o frio havia dado uma maneirada e o meu companheiro para aquele dia já tinha comentado que gosta quando eu deixo as pernas “a mostra” optei por um vestido e mais algumas peças de roupa para me vestir. “Everybody cut, everybody cut. Everybody, everybody cut footloose!”
A música acabou bem a na hora de me deixar escutar o toque do meu celular em cima da cama. Eu não sabia há quanto tempo ele já estava tocando e por isso tive que deixar o closet apressadamente e me jogar em cima do colchão em uma tentativa de agarrar o aparelho. Infelizmente, assim que pulei na cama, o celular acabou sendo arremessado para o chão. “Droga de física!” Pensei enquanto me arrastava para o chão e finalmente consegui pegar o iPhone. “Zayn Malik” estava ligando, segundo a tela de vidro.
- Vas happening? – Finalmente atendi.
- Vas happ... EI! Você roubou a minha frase de efeito! – Reclamou e eu ri.
- Desculpa, baby. Eu não resisti! – Levantei do chão e me sentei na ponta da cama. – Te fiz esperar muito tempo?
- Um pouco... Eu já estava desistindo. Por que demorou?
- Eu estava ouvindo música enquanto me arrumo pra sair, então nem escutei o toque antes. – Apoiei o aparelho entre o meu rosto e ombro, aproveitando para calçar os sapatos.
- Não tem problema, . Ainda não sabe pra onde vão?
- Não tenho idéia! – Bufei com curiosidade. – Como foi o dia na Academy hoje?
- Normal... Mas eu senti a sua falta. – O escutei suspirar. – E falei com o Ed hoje, sobre aquele probleminha que você estava preocupada.
- Falou? E o que ele disse?
- Que vai te ajudar! Mas que você não tem escapatória...
- Damn it! – Reclamei, mas já estava um pouco mais conformada com o meu destino. – Por falar nisso, tudo certo pra hoje a noite, né?
- Com certeza! falou sobre isso a manhã inteira. Eu estou começando a achar que ela está aprontando algo. – Riu, mas mal sabia ele que era verdade.
- Não deve ser nada, não se preocupe. – Menti. Se não conseguisse se acalmar e disfarçar, nós não conseguiríamos atingir nosso objetivo para aquela noite. – As nove horas estaremos lá!
- Você não quer mesmo que eu vá te buscar, né? – Pareceu triste e eu o imaginei fazendo um bico.
- Não é que eu não queira! Eu só estou tentando ser prática... Todo mundo aqui de casa vai, então não faz sentido você vir até aqui só pra isso. – Expliquei com uma voz manhosa, tentando fazê-lo entender.
- Eu entendo... – Não, não entendia. – O que importa é que eu vou te ver hoje!
- Mas, por favor, só não fique bêbado como da outra vez!
- Até parece que você não gostou de me dar banho! – Gargalhou. – Quem sabe dessa vez eu não possa estar sem roupa, huh?
- Malik! – Senti as bochechas queimarem, mas não deixei de imaginar a cena e considerar aquela proposta.
- O quê? Você pode estar sem roupa também, ué. – Eu quase podia ver o sorriso malicioso nos lábios dele.
- , já tá pronta? – Liam entrou no quarto, pois a minha porta estava entreaberta, mas parou assim que me viu no telefone. – Desculpa, eu não sabia que estava ocupada.
- Hey, Li... Já estou pronta sim, só um minuto! – Afastei o celular do rosto pra poder falar com Liam, e logo em seguida voltei a minha atenção para Zayn. – A gente conversa sobre isso mais tarde, Malik.
- Então você vai pensar no assunto? Yay! – Comemorou como uma criancinha e ambos rimos.
- Não foi isso o que eu disse! – Rolei os olhos. – Até depois.
- Se divirta hoje, mas não muito. Até mais tarde, .
- Agora estou pronta pra ir! – Encerrei a ligação e me virei para Liam. – Estou vestida apropriadamente para o nosso passeio?
- Está perfeita!
- Aonde você quer ir primeiro? – Liam perguntou assim passamos pelos portões de ferro e paramos em frente a um mapa.
- Eu ainda não acredito que estamos em um Zoológico! – Sorri verdadeiramente animada e corri os olhos pelo tal mapa, tentando decidir qual caminho tomar. – Podemos vir por aqui... Eu quero ver os pinguins!
- Ótima escolha! – Também sorriu e indicou o caminho à nossa direita.
Devo dizer que Liam acertou em cheio a escolha para o nosso passeio. Mesmo que meu irmão pudesse ter ajudado, eu sabia que o mérito de pensar naquele lugar era todo dele. Zoológico, parque de diversões e circo. Minhas três “atrações infantis” preferidas. Deixando de lado os parques aquáticos, claro. Pois em Londres atrações envolvendo água não são muito populares e você já deve imaginar o motivo: Clima. Era a minha primeira vez naquele Zoo depois de anos e tudo parecia bem diferente do que eu conseguia me lembrar. Havia novos bichos, novas atrações, novos ambientes... E tudo muito bem cuidado. Liam e eu caminhamos lado a lado pelo caminho de terra que era rodeado por árvores e vegetação rasteira.
Durante nosso percurso a caminho da “Praia dos Pinguins”, como era chamada, passamos por algumas áreas abertas onde macacos de todos os tipos pulavam e faziam bagunça. Eles ficavam concentrados em uma espécie de ilha artificial rodeada por água, o que os impedia de se aproximarem dos visitantes. Devia ser uma vida um tanto entediante, se pararmos para pensar. Mas pelo menos eles pareciam felizes com seus brinquedos, casinhas e troncos e nunca iriam passar fome. Liam apontou para uma babuíno fêmea que carregava um filhote nas costas e paramos um pouco de andar para observá-los.
- O filhote parece com você. – Ele falou.
- Por quê? – Arregalei os olhos sem conseguir notar nenhuma semelhança entre eu e aquele ser peludo.
- Você sempre está se pendurando nas nossas costas. – Riu e afirmou com convicção.
- Heeeeeeeey! – Tentei pensar em algo que o provasse errado, mas até que era verdade. Terminei dando de ombros e aceitando. – Pelo menos somos fofos! E se eu sou o filhote, você é a mãe.
- E por que isso? – Voltou a caminhar e eu o acompanhei.
- Porque você é protetor... Sempre quer ter certeza que todos a sua volta estão bem e faz de tudo pra nos ajudar. – Falei com um sorriso sincero.
- Então vem cá que eu vou catar seus piolhos! – Passou o braço em volta dos meus ombros e afundou o chapéu que eu usava na minha cabeça.
- Liam! – Fiquei cega por um momento, já que o chapéu cobriu os meus olhos e me desesperei pra me soltar. – Saaaaai!
- Já entendi tudo! Você está usando esse chapéu pra não atrair os macacos! – Gargalhou e correu atrás de mim quando eu comecei a me afastar.
- Cala a boca, Liam! – Acabei rindo também e parei de correr quando consegui colocar o acessório da minha cabeça no lugar certo. – Você tem inveja de mim porque quase não tem cabelo!
- Meu cabelo está crescendo, ok? – Passou a mão pelos cabelos curtos que já começavam a crescer um pouco mais desde o seu último corte.
- Acho que você nunca mais vai cortar tanto, né? – Voltamos a andar lado a lado.
- Não mesmo! Eu já cansei das piadinhas do seu irmão. – Bufou, mas logo sorriu ao olhar pra frente. – Aquilo é um urso?
Liam não esperou uma resposta e muito menos me deu tempo de olhar na direção que ele apontava, pois começou a correr até lá. Na direção oposta também corria um menino de mais ou menos quadro anos de idade e a sua mãe vinha logo atrás, preocupada. Por um momento eu mesma me senti uma mãe e Liam seria o meu filho. Ri ao me imaginar tentando carregar o garoto, mas nós dois acabaríamos caindo no chão. Resolvi também correr e ir até a jaula onde supostamente morava um urso. Eu estava usando um salto alto, mas não era daqueles finos; o que não me fez cair durante o meu percurso até perto do meu amigo.
- Olha só, ! – Os olhos de Liam brilhavam quando ele me chamou. A única coisa que separava um urso pardo de nós dois era um vidro grosso que não fez eu me sentir segura nem por um segundo.
- Li, você deveria se afastar um pouco... – Fiquei com pelo menos três passos de distância, mas o menino não me deu ouvidos.
- Para de ser medrosa! É seguro, vem. – Esticou a mão na minha direção e o urso se aproximou ainda mais, sentando no chão e colocando as duas patas contra o vidro. – Viu como ele é inofensivo?
- Só você mesmo pra chamar um urso de inofensivo! – Ri e segurei a mão dele, sendo puxada para perto dele e do animal.
- Ele é lindo. – Sorriu enquanto o animal gigante nos observava.
Liam também tocou o vidro, pousando a mão bem onde a pata do urso estava. Diferentemente do que eu achei que fosse acontecer, o animal não se afastou. Ele apenas ficou olhando para o garoto com curiosidade. Aproximou o focinho do vidro em uma tentativa frustrada de cheirá-lo e Li se aproximou mais ainda. Era uma cena divertida de se ver e provavelmente seria única. Sem perder mais tempo, lembrei que estava com a minha câmera fotográfica na bolsa e tratei de tirá-la dali e ligá-la. O menino continuou entretido demais pra perceber quando eu tirei algumas fotos dele e do urso juntos. Só quando eu fui ver o resultado é que ele notou meu momento de paparazzi.
- Olha como essa foto ficou linda. – Passei a câmera para Liam, querendo mostrar a imagem em que ele e o gigante marrom trocavam um olhar intenso e o humano sorria encantado. – Eu adoro fotos espontâneas!
- Adora, é? – Apontou a câmera na minha direção e eu só escutei o clique. Ele riu da minha cara e eu rolei os olhos.
- Assim não, Liam! – Tentei pegar a máquina de volta, mas ele continuou batendo fotos minhas.
Por mais que o outro estivesse se divertindo muito fazendo aquilo, eu não estava gostando nada de ser fotografada tão loucamente. Pela primeira vez me senti como uma pessoa famosa e mesmo cobrindo o meu rosto com as mãos não consegui pará-lo. As fotos deveriam estar ficando horríveis pela forma que Liam ria toda vez que tirava uma nova. Não tive outra escolha a não ser dar as costas pra ele e me afastar. É claro que fui seguida e ele continuou com aquela sessão de fotos. Pessoas a nossa volta até pararam o que estavam fazendo pra nos olhar, imaginando qual celebridade eu deveria ser. Pedi para que Li parasse, mas ele não me deu ouvidos. Mais uma vez eu me vi correndo e tentando escapar dos flashes, chegando a olhar para trás durante a minha corrida e averiguar se ainda estava sendo perseguida.
- Já parei, ! – Avisou e eu parei de correr.
- Jura? – Levantei uma sobrancelha meio desconfiada.
- Juro! Mas olha como essa foto ficou legal... – Foi a vez dele de me entregar a câmera.
- Deixa eu ver... – Por mais que duvidasse um pouco do que ele estava falando, me deixei levar e olhei para a tela digital. A foto realmente estava muito boa... Foi tirada durante a minha corrida, no momento em que eu olhei pra trás e acabei rindo. Meu cabelo e roupas estavam sendo balançados pelo vento e até a luz parecia apropriada. – Wow!
- Eu sou um fotografo bom ou não? – Sorriu convencido.
- Tenho que concordar, viu? É sim.
- É claro que a modelo ajuda muito. – Piscou.
- Por falar em modelo! – Voltamos a caminhar em frente e Liam rolou os olhos, provavelmente já sabendo aonde eu queria chegar. – Tem noticias da Candice?
- Não tenho e nem quero ter. – Colocou as mãos dentro do bolso da calça e chutou uma pedrinha que estava no caminho.
- Por que não? Ela parecia tão legal! Eu gostava dela. – Minha voz saiu trêmula, denunciando a minha mentira.
- Claro que gostava! As duas eram melhores amigas. – Ironizou e riu da minha cara. – Candice era grudenta demais... Ela pegava intimidade muito rápido.
- Liam... Ninguém teve intimidade mais rápido que nós dois. – Soltei uma risada nasalada e procurei os olhos dele com os meus.
- Mas é diferente, . Você... É você. – Me olhou e eu notei o rubor em suas bochechas.
- Você me olha como se eu fosse perfeita... – Foi a minha vez de olhar para o chão. – Eu tenho medo de acabar te decepcionando.
- Isso aí é impossível. – Sorriu com serenidade e tocou o meu ombro com dele, pois estávamos andando realmente próximos. – Mas está certa... Você não é perfeita, porque a perfeição é chata. Você é você e isso é o bastante pra mim.
- Pra mim também. – Pude sorrir um pouco mais aliviada por não estar sendo colocada em um pedestal e deitei a cabeça no ombro de Liam.
Senti que a sua respiração ficou pesada quando eu fiz isso, mas não cheguei a me afastar. Ele passou o braço em volta da minha cintura e seguimos abraçados. Para mim aquilo era uma coisa que eu faria com qualquer amigo, mas sabia que para ele tinha um valor totalmente diferente. Ao mesmo tempo em que eu não queria dar falsas esperanças, não iria mudar o meu comportamento com ele. Em poucos minutos já pudemos ver a Praia dos Pinguins e eu levantei o rosto pra ver melhor. Não nos separamos até estamos próximos o bastante para ver os pingüins que nadavam de um lado para o outro. Como o Zoológico era muito grande, devia ser impossível ficar cheio e muito tumultuado em um lugar só, o que era bem legal e nos dava liberdade pra curtir cada atração com tranquilidade. Ali por perto, por exemplo, não havia ninguém.
Diferente do urso, eu não tive medo de me aproximar do vidro transparente e olhar de perto os bichinhos que nadavam de um lado para o outro. Eles eram tão fofos! Com suas asas próximas ao corpo e cores que pareciam um paletó... Foi impossível não rir do jeito que uns andavam de um lado para o outro. Eu estava tão entretida que nem notei quando um guia do próprio Zoo se aproximou de nós.
- Vocês sabiam que os pinguins andam mais rápido que os humanos? – O homem falou e chamou a nossa atenção.
- Sério? – Fiquei realmente surpresa e tentei imitar o andar dos pingüins. – Mas eles tem os pés tão pequeninos!
- Sério! – Riu da minha imitação e bateu no vidro que os separava da gente. – Dizem que não é permitido bater no vidro, né? Mas os pinguins são criaturas muito curiosas, por isso sempre vem ver o que está acontecendo.
- Eles estão vindo! – Sorri e me abaixei um pouco para ver os três curiosos que se aproximaram. – Oi, amiguinhos!
- Meu nome é Brandon, prazer. – O funcionário apertou a mão de Liam e eu continuei brincando de fazer movimentos para os pingüins assistirem.
- Eu sou o Liam e essa é a . – Nos apresentou e eu apenas acenei para Brandon.
- Vocês gostam de pinguins? – Perguntou.
- Tá brincando? Eles são tão fofos! – O respondi e Liam concordou com a cabeça.
- Então gostariam de alimentá-los?
Aquela pergunta me surpreendeu e eu afirmei que sim no mesmo instante. Liam também aceitou, mesmo que tenha falado que tinha um pouco de medo dos bicos afiados. Brandon foi muito gentil e simpático, nos chamando para segui-lo. Sem perder tempo, fomos atrás dele até chegarmos a uma área onde era permitida apenas a entrada de funcionários. Eu sempre tive vontade de interagir com animais em um zoológico, mas nunca tive a oportunidade. Bem, não até aquele momento, pelo menos. Entramos em uma sala toda de madeira e o mais velho foi até um freezer e tirou de lá um balde cheio de peixes pequenos.
- Tem algo que a gente precise saber? – Liam estava parado atrás de mim, um pouco tenso. – Como o que não fazer...
- Bem... Vocês não podem olhar diretamente nos olhos deles, ou serão atacados. – Explicou com uma cara séria.
- Bom saber! – Ri e olhei para o meu amigo. – Li, calma... Foi só uma piada.
- Foi sim! Eles são bem amigáveis. – Brandon concordou comigo e abriu uma outra porta que nos levaria até o lado de dentro da ‘praia’. – Vamos?
- Vamos! – Fui a primeira a passar.
Liam e Brandon vieram em seguida, sendo que o primeiro preferiu manter um pouco de distancia no começo. Andamos pela grama verde até chegarmos na areia. Eu não me atrevi a chegar muito perto da água por medo de cair. Algo me dizia que estava muito mais fria do que aparentava. Alguns pinguins nos viram e correram na nossa direção. Eles deveriam saber que aquele balde cinza significava “almoço”. Apesar de pequeninos, os pinguins eram muitos e logo estávamos rodeados por dezenas deles. Liam subiu em uma pedra mais alta quando um bichinho em especial tentou bicar o laço do tênis dele.
- Ahn... Uma ajudinha aqui, por favor? – Chamou.
- Awn. Leeyum fez um amiguinho! – Gargalhei e recebi uma careta em troca.
- Não se preocupe, ele não vai te machucar... – O outro homem afirmou, mas dessa vez nem eu mesma consegui acreditar. – Aqui, ... Pode pegar um peixe.
- Eba! – Sorri e sobrei um pouco as mangas do meu cardigan para não o sujar e peguei um dos peixes pelo rabo. – Olha, Li! Eu vou dar comida pra eles!
- Muito legal, . – Sorriu, mas não chegou perto. Aproximei o alimento de um pinguim, mas outro foi mais rápido e roubou da minha mão.
- Que coisa feia! – Peguei outro peixe e dei para aquele que não tinha comido ainda. – Tem pra todo mundo!
- Quer ver algo legal? – Brandon voltou para o meu lado e eu nem havia percebido que ele tinha saído.
- Quero sim... – Prestei atenção no outro balde que ele segurava e vi que aqueles peixes ainda estavam vivos.
- Nós não queremos que eles fiquem mal acostumados, por isso gostamos de fazê-los caçar. – E falando isso, despejou o balde dentro da água e os peixes ficaram loucos. A maioria dos pinguins foi atrás, quase atropelando uns aos outros.
- O Liam tem duas tartarugas e nós também fazemos isso... Soltamos uns peixinhos na água e elas vão atrás! É tão engraçado. – Ri e Brandon sorriu.
- , cuidado! – Um grito de Liam me assustou e eu percebi que o pinguim que estava atacando-o anteriormente vinha em minha direção.
- Ahh, esse é o Ricky!
- Ricky? É um nome engraçado pra um animal. – Não fiquei com medo e dei um peixe para o pequeno.
- Ele gosta de você.
- Eu também gosto dele! – Sorri e o alimentei novamente.
- Pode fazer carinho nele, se quiser.
- Cuidado, ! – Liam finalmente desceu da pedra, mas continuou longe.
- Fica calmo, Li! – Ri e me abaixei um pouco, tocando delicadamente a penugem da parte de trás da cabeça de Ricky. – Nós somos amigos, né?
Continuei acariciando o pinguim até que ele fechou os olhos e quase caiu pra trás. Eu tinha mesmo colocado-o pra dormir? Senti vontade de levá-lo pra casa, como naquele filme “Os pinguins do papai”, mas não daria muito certo, já que Liam e ele não pareciam se dar muito bem.
- Não sei porque você não quis brincar com os pinguins, Li! – Disse assim que paramos em frente ao habitat das tartarugas gigantes. – Foi tão legal.
- Legal são esses aqui! – Entortou o nariz. – E eu não queria ficar cheirando a peixe.
- Eu não estou fedendo! – Cheirei as minhas mãos e braços.
Após brincar bastante com Ricky e ainda alimentar mais alguns pinguins, Brandon me guiou até o banheiro para que eu lavasse as mãos até estar limpa novamente. Mesmo assim, Liam insistia que eu estava com cheiro de peixe e fazia caretas todas as vezes que eu o tocava. Chegamos a um ponto onde eu passei as mãos pelo rosto dele de propósito. Como eu tinha escolhido o último animal que visitamos, foi a vez do garoto de escolher nosso próximo destino. Não sei o que tartarugas tem de tão especial, mas ele parecia ser fascinado por elas.
- Será que meus bebês vão ficar desse tamanho? – Perguntou inclinando-se sobre o vidro.
- Eu espero que não! – Ri e me sentei em um banco que havia ali perto, pensativa. – Imagina uma mordida de um bicho desses!
- Tem razão... Se já doeu quando o Boris II me mordeu, imagine se ele ficar desse tamanho. – Se aproximou de mim e sentou ao meu lado.
- Li... Nós somos amigos, certo?
- Somos? Eu não fazia idéia! – Brincou e eu lhe dei uma cotovelada fraca.
- Eu to falando sério! – Bufei. – Preciso de um conselho...
- O que a perturba, pequena flor?
- Pequena flor? – Gargalhei alto.
- Fala logo o que é! – Insistiu.
- Tá bem, tá bem! – Parei de rir aos poucos e respirei fundo, pois o assunto era sério. – Como a gente sabe... Que está pronta?
- Pronta pra que?
- Pronta, Liam... Pronta! – O olhei significativamente sem conseguir ser mais clara.
- Ah... Pronta pra... Ahh! – Finalmente entendeu e pareceu um pouco desconfortável. – Oh...
- Para de fazer esses barulhos! – Escondi o rosto nas mãos. Já era constrangedor demais estar falando sobre isso com ele.
- Não tem uma fórmula secreta, , pra cada um é diferente. Mas acho que você só sabe.
- Hm... – Aquilo não era o que eu queria escutar.
- Você acha que está pronta? – Olhou para frente, me evitando.
- Às vezes eu acho que sim... No calor do momento principalmente, sabe? Mas depois eu paro e penso: “E se tivesse acontecido mesmo?” e fico com medo de acabar me arrependendo. – Suspirei.
- Mas... Você gosta do Zayn, não gosta?
- É claro que sim! Demais até. – Olhei para os meus próprios dedos. – O problema não é ele, o problema sou eu! É algo na minha cabeça que não está certo.
- , eu não consigo imaginar um mundo onde que o problema seja você.
- Pois você vive nesse mundo, pequeno gafanhoto. – Ri e levantei do banco, estendendo a mão pra ele. – Podemos continuar o passeio?
- Você é que manda! – Segurou a minha mão e também se levantou.
Na teoria seria a minha vez de escolher qual animal iríamos visitar em seguida, mas Liam insistiu que tinha um lugar especial que gostaria de me levar. Eu acabei aceitando e o deixei guiar o caminho. Perto do habitat das tartarugas havia uma fonte bem engraçada onde um elefante cuspia água pela tromba e nós paramos ali antes de continuar o passeio. Aproximamo-nos até que alguns respingos da água tocaram a nossa pele. Havia algumas moedas no fundo da fonte, o que fez Liam pegar duas moedas no próprio bolso e me entregar uma delas, afirmando que deveríamos fazer um pedido. Ele foi o primeiro enquanto eu ainda pensava no que poderia pedir. “O que uma garota que tem tudo pode pedir?”
- Guarda essa moeda pra um sorvete, Li. – A devolvi. – Eu não preciso de mais nada além do que eu já tenho!
- Então deixa eu pedir pra você. – Fechou os olhos e jogou a moeda na fonte.
- O que você pediu?
- Não posso contar, né?! – Disse como se fosse óbvio. E era mesmo.
- Isso não vale! Se o pedido foi pra mim, eu deveria ficar sabendo!
- Quando se realizar eu conto. – Tocou a ponta do meu nariz com o dedo. – Me empresta a sua câmera?
- Você não vai jogar a minha câmera na fonte, né? – Tirei a câmera da bolsa e o entreguei do mesmo jeito. Liam não seria louco...
- É claro que não. – Riu. – Espera aqui...
Assenti com a cabeça e o observei se afastar e falar com um casal que estava passando na mesma hora. Pelo visto, Liam tinha pedido para que eles tirassem uma foto de nós dois e só então eu me toquei que ainda não tínhamos tirado nenhuma foto juntos; apenas minhas e dele separadamente. O garoto veio até o meu lado e me abraçou pela cintura. Eu o abracei pelo ombro e olhei na direção da câmera. Nós dois sorrimos e lá se foi a nossa primeira foto. Digo primeira porque Liam os fez tirar pelo menos cinco fotos nossas em posições bem diferentes. Na segunda foto, Liam me carregava e fingia que estava me jogando na fonte. Fingindo entre aspas, porque meu grito de medo foi de verdade. A terceira foto foi mais ou menos assim: Nós dois de pé na beira da fonte; eu com os braços abertos e ele fazendo uma pose de super herói. Sentido? Cadê? Quarta foto: Cada um imitando um animal; eu era um leão e o menino um urso. A última foi a minha foto preferida, pois e não estava esperando por ela: Só sei que nossos rostos estavam bem enquadrados e eu ria enquanto ele beijava a minha bochecha.
Depois de caminhar por quase vinte minutos inteiros nós conseguimos chegar até a próxima parada. Eu não entendi muito bem o que uma estufa gigante estava fazendo no meio de um zoológico até entrarmos nela. Uma verdadeira floresta tropical havia sido criada ali dentro para servir de casa para milhares de borboletas coloridas e das mais variadas espécies. Meu queixo caiu ao entrar pela primeira vez em um borboletário e aquela era a reação exata que Liam estava esperando. Eu fiquei tão encantada que nem o esperei pra começar a explorar aquele lugar. Passei por uma árvore bem alta e encontrei um pequeno córrego que desaguava em um laguinho onde algumas borboletas rodeavam. Aquele lugar parecia mais uma floresta encantada e talvez o lar de fadas e duendes. Pulei algumas pedras para atravessar o lago e acabei afastando algumas borboletas que voaram para todos os lados.
- Isso aqui é incrível! – Abri os braços e respirei fundo, inalando todo aquele ar puro.
- , não se meche! – Olhei na direção do garoto sem entender nada, mas o obedeci. Ele fez o mesmo caminho que eu com a câmera em mãos e apontou pra mim.
- Você me assustou porque queria tirar uma foto? – Rolei os olhos e fechei os braços.
- Não se mexe! Só confia em mim, ok? E dá pra sorrir, por favor?
- Quero só ver. – Me mantive parada e forcei um sorriso. Pelo visto o meu sorriso falso não foi o suficiente, pois Liam fez uma careta. Pelo menos eu acabei rindo de verdade e ele pode tirar a foto.
- Tem uma borboleta no seu chapéu. – Explicou e tão devagar quanto uma lesma aproximou a mão da minha cabeça. Quando fui ver, ela já estava caminhando sobre as costas da mão dele.
- As borboletas aqui não tem medo da gente, né? – Sorri ao olhar as asas coloridas daquela espécie em questão.
- Elas estão acostumadas... Nascem aqui e morrem aqui.
- Falando assim é meio triste. – Acariciei a borboleta e ela começou a voar no mesmo instante, nos fazendo segui-la com o olhar.
- É melhor do que elas correrem risco de nem chegar a sair do casulo.
- Hey, o que é aquilo? – Apontei para alguma coisa qualquer atrás de Liam.
Como eu já esperava, ele se virou no mesmo instante e me deu tempo de correr para trás de uma árvore e me esconder. O escutei falar: “Muito engraçado, . Agora você quer brincar, é?” Segurei o riso, mas nunca fui muito boa nisso. Ele iria me escutar se eu continuasse ali, por isso esperei um momento de distração para me emaranhar entre algumas folhas maiores e passar para o outro lado. Ouvi passos atrás de mim, mas não vi ninguém. “Será que tem algum bicho por aqui?” Eu devia ter pensado nisso antes de me enfiar dentro do mato, mas não! Minha única saída foi continuar indo em frente e torcer pra chegar em algum lugar visível. Meu maior medo era que fosse um sapo. Até um tigre eu aceitaria, mas um sapo? Socorro!
Um movimento mais violento nas folhas ao me lado me assustou ainda mais. Se fosse uma pessoa, eu já teria visto alguma silhueta ou coisa parecida, portanto devia ser realmente um animal selvagem que estava querendo me comer. Ou quem sabe uma borboleta gigante! Sei que a minha sanidade passou longe de mim nessa hora, mas o que você esperava?
- Liam? – Chamei por ele em uma tentativa de obter ajuda. – Eu só estava brincando antes...
A minha brincadeira inocente de esconde-esconde se tornaria a minha última aventura antes de morrer. Quem diria? Eu podia ler as manchetes do dia seguinte: “Menina é encontrada morta no borboletário do Zoo nacional. Causas desconhecidas.” Mais uma vez as folhas voltaram a se mexer, mas dessa vez foi na minha frente. Um grunhido e a visão periférica de algo pulando em cima de mim me fizeram gritar alto e tentar correr, mas fui segurada por duas garras enormes que seguraram a minha cintura e uma risada horrenda tomou... Epa. Risada? Olhei para a “fera” que estava me agarrando e não era ninguém além de Liam que ria da minha cara de susto.
- Ainda bem que é você! – Me joguei em seus braços e o abracei. Em um outro momento eu teria batido nele por ter me assustado, mas eu fiquei tão aliviada por ver que não era nenhum sapo assassino que nem me importei.
- Eu vim te salvar! – Escondeu o rosto no meu pescoço e inspirou com vontade.
- Meu herói! – Ri com as cócegas que aquilo me causou e logo nos separamos.
“Pronta para a última parada do dia?” Foi o que escutei antes de Liam tirar as mãos da frente dos meus olhos e me deixar ver onde estávamos. Já era o fim do dia e meus pés começavam a pedir arrego. Eu desejei estar usando tênis ou até mesmo um chinelo mais confortável, mas teria que agüentar só mais um pouco. Na minha mão estava um pingüim de pelúcia que Li havia comprado pra mim depois que nós comemos alguma coisa na lanchonete e pudemos ir para a última atração. “Guardar o melhor para o final” era algo que aquele meu companheiro sabia fazer muito bem, pois fiquei maravilhada ao abrir os olhos e me sentir dentro de um aquário. Não literalmente, é claro. Bem... Talvez literalmente se levarmos em consideração que para todos os lados que eu olhava, só via água e seres marinhos. A luz ali dentro também era reduzida e isso criava uma atmosfera de oceano. Bem em cima das nossas cabeças passou o maior mamífero que eu já tinha visto assim de perto: Um tubarão baleia de muitos metros de comprimento.
- E aí, o que achou? – Parou perto da parede de vidro, mais uma vez com as mãos dentro do bolso.
- Com certeza essa é a melhor parte! – Sorri e fui até ele, olhando os peixes que pareciam nem se importar com a nossa presença ali. – Aqui seria o paraíso pra mim quando eu era pequena...
- Por que? Você gostava do mar?
- Eu sempre gostei de água, mar, lago... Qualquer coisa assim. – Suspirei. – É bem bobo, mas meu sonho era ser uma sereia.
- Aí é que você ia cheirar a peixe mesmo. – Brincou e me fez rir.
- Você nunca vai esquecer isso, né? – Comecei a andar pelo túnel e ele me seguiu. – Não se preocupe, porque eu vou tomar banho quando a gente chegar em casa!
- É bom mesmo, porque é a primeira vez que eu vou até esse Pub que você tanto fala e não posso causar uma má impressão.
- O Pub! É verdade... Que horas são? – O olhei desesperada. Nós não podíamos nos atrasar.
- Nós temos tempo, . Fique tranquila.
Era meio difícil ficar tranquila com aquele assunto. Se tudo desse certo, uma grande mudança aconteceria na vida de todos nós. E pensar que nenhum dos meninos fazia idéia do que estaria prestes a acontecer... Mesmo que eles não ganhassem o prêmio final, com certeza seriam vistos e conhecidos por muitas pessoas. Poderia não dar em nada, mas ao mesmo tempo poderia ser algo muito bom. De um jeito ou de outro, e eu iríamos gravar o vídeo e mandá-lo para o X Factor. Nosso tempo estava acabando, pois o concurso só duraria mais duas semanas e logo em seguida os primeiros resultados seriam revelados.
Enquanto eu estava perdida em pensamentos caminhando serenamente até a próxima parte do Aquarium, Liam se manteve atrás de mim, sem falar nada. Eu seguia alguns peixes pequenos até que um tubarão os assustou e me assustou também. Ri sozinha e vi que Liam também sorria ao me olhar. Você pode pensar que eu estava errando em não conversar nada com Liam durante o nosso passeio por aquele corredor comprido e até mesmo falar que eu estava ignorando-o, mas não era verdade. Certas vezes, ações são mais fortes que palavras e ele sabia o quanto eu estava feliz por estar ali. E o menino também parecia feliz em simplesmente me observar ao longe enquanto eu não era mais ninguém além de mim mesma.
Outra verdade é que não tinha muito para se fazer ali dentro, mas eu poderia passar horas encarando o nada. Uma raia passou flutuando ao meu lado e eu fiz um passo de dança, rodopiando e elevando os braços. Escutei a risada de Liam e agradeci mentalmente por não haver mais ninguém ali por perto além de nós dois.
- Sabe por que eu gosto tanto da água? – Virei de frente para ele.
- Não faço idéia...
- Porque ela nos dá a sensação de voar... Já percebeu? É como se estivéssemos flutuando no nada... – Abri os braços e olhei pra cima, girando devagar sem sair do lugar. – O ballet também me dá essa mesma impressão. De estar voando.
- Dança pra mim... – Pediu em um sussurro e me fez olhar pra ele.
- Aqui?
Afirmou que sim com a cabeça e eu olhei em volta. Ninguém além dos peixes e Liam iriam me ver, então por que não? Acabei concordando, pois me lembrava de ter prometido que um dia ele me veria dançar e sinceramente não havia um espaço mais perfeito do que aquele. Fui até um canto e tirei meus sapatos; tudo bem que não estava com nenhuma sapatilha, mas as minhas meias grossas teriam que servir. Também deixei a minha bolsa ali no chão e me preparei para improvisar alguma dança. Liam não tirava os olhos de mim por momento algum, com medo de perder algum movimento. Subi na ponta dos pés e dei inicio a uma dança suave e delicada. Meus braços se mexiam tão lentamente quanto o resto do meu corpo. Logo eu já estava girando pelo ‘salão’ e me juntando á dança dos animais magníficos à minha volta. Não havia música ao meu redor, mas eu não precisava dela, pois no meu imaginário a melodia mais bonita era composta.
Liam, que me observara parado desde o início, andou até onde eu estava e me fez parar de dançar. Eu o olhei com certa confusão em meus olhos e ele simplesmente ficou me olhando com aqueles olhos castanhos que ganharam um tom mais azulado por culpa das luzes daquele ambiente. Ficamos frente a frente e ele tocou o meu rosto com a mão direita. Tentei desviar o olhar simplesmente por ter ficado tímida, mas fui impedida. Liam segurou o meu rosto e me fez olhar em sua direção. O que eu não estava esperando naquele momento aconteceu; O mais alto fechou os olhos e encostou os lábios aos meus. Por reflexo eu acabei fechando os olhos também, mas não me mexi mais. Não sei se ele esperava que eu retribuísse um beijo ali, mas só o que eu fiz foi me afastar o suficiente para que os nossos lábios não estivessem mais se tocando. Eu não podia simplesmente empurrá-lo ou sair correndo e gritando que aquilo era errado, até porque Liam sabia disso.
- Você não devia... – Sussurrei e olhei para baixo, envergonhada.
- , me desculpa... – Ele parecia estar recobrando os sentidos e também não me olhou. Aos poucos se afastou de mim e se virou de costas. – Eu não sei o que aconteceu...
- Ei, não se preocupa... – Andei até ele e pousei a mão sobre seu ombro. – Vamos só esquecer, tá bem?
- Eu não quero esquecer. – Aquele sussurro me pegou de surpresa e eu já não sabia mais o que falar.
- É melhor a gente ir embora, Li...
- Quero ver alguém falar que eu estou cheirando a peixe agora! – Avisei ao começar a descer as escadas.
Assim que Liam e eu chegamos em casa depois do nosso adorável passeio que terminou de forma não tão adorável assim, fui direto para o banho e demorei mais que o normal para me lavar. Não era que eu estivesse tão suja assim, mas me perdi em pensamentos durante boa parte do tempo. “O que foi aquele beijo?” ou “Será que eu dei a entender que queria também?” eram bons exemplos do que estava me perturbando. O que mais me assustava, porém, era o seguinte: “Devo contar pra Zayn do que aconteceu?” Por um lado eu sabia que a resposta correta para essa pergunta seria “sim”, já que eu não gostava de esconder nada do meu namorado, principalmente relacionado a esse tipo de coisa. Mas ao mesmo tempo não queria que ele ficasse com raiva de Liam ou algo assim, muito menos queria que nós entrássemos em uma discussão por um motivo tão sem importância. Por mais que eu fosse louca por Liam e o considerasse muito... Ele não era Zayn. O sentimento que eu sentia pelo meu garoto era completamente diferente do que eu sentia por Li e nunca nem passaria pela minha cabeça trocar um pelo outro.
Ao menos depois do banho eu estava me sentindo bem mais leve e relaxada. Em poucas horas estaria saindo para me divertir com os meus amigos e saberia me dizer o que eu deveria fazer. A minha roupa de ir para o Pub estava separada em cima da cama, mas eu escolhi vestir pijamas para descer até a sala e ver o que os meninos estavam aprontando.
- Agora você está cheirosa! – Louis me encontrou no meio do caminho e me abraçou pela cintura, até mesmo me levantando do chão e carregando-me até perto do sofá.
- Alguém está de bom humor! – Baguncei os cabelos lisos do meu irmão assim que fui colocada no chão.
- A noite está bonita, , por que eu não estaria de bom humor?
- Ok... – Me sentei no braço do sofá e encarei os outros dois meninos que estavam ali. – Qual o nome dela?
- Olivia. – Harry respondeu e Lou jogou uma almofada em sua direção.
- Uhhh, Olivia? – Sorri já querendo saber de tudo. – Detalhes, por favor?
- Não é nada...
- Shiu, Louis! Deixa o Harry contar. – Mandei todos calarem a boca e Liam também ficou só escutando.
- É uma loirinha que mora na casa da rua de trás... Nós estávamos passeando de skate e.. Uhn... Louis... – Harry começou contar a história, mas... Bem, Harry é o Harry, então ele falava tão devagar que eu quase não aguentava mais.
- Hazza, eu só quero saber do que aconteceu! Não pedi pra você contar a história do Álamo, então para de enrolar?
- Deixa que eu conto, mas já falei que não tem nada de mais. – Lou, que estava sentado ao meu lado, se deu por vencido. – Como o Harry disse... A Olivia mora na rua de trás e eu a atropelei de skate sem querer... Foi assim que nos conhecemos e...
- Awwwwwwwn, como em um filme de romance! – Apertei as bochechas do meu irmão e ele me olhou com tédio.
- Ela é bem legal, . – Harry se levantou e foi procurar algo na estante.
- Você devia chamá-la pra sair com a gente hoje, Lou! – Sorri e bati palminhas, animada em conhecer a minha possível futura cunhada.
- Eu não sei... E se ela tiver um namorado?
- Seria mais engraçado se ela tivesse uma namorada. – Liam falou pensativo e eu gargalhei.
Ele tinha razão... Imagina se Louis a chamasse pra sair e de repente a menina aparece lá com a namorada? Eu fiquei rindo por uns cinco minutos, falando que com a sorte do meu irmão, isso era bem capaz de acontecer. Harry aproveitou para alfinetar e falar que ela tinha mesmo cara de quem “curte” e levou outra almofadada na cara. Logo a sala se tornou um campo de batalha e todo mundo se atacava com almofadas, travesseiros ou qualquer coisa que pudesse servir como arma. Até mesmo o acento do sofá foi atirado em mim e eu quase fui ao chão. Pelo menos consegui segurar o objeto e atirá-lo na pessoa que me atacou: Louis. Infelizmente eu não tinha tanta força assim, então quem acabou sendo pego de surpresa foi Liam, que não tinha nada a ver com a história. Teríamos continuado até ficarmos exaustos, mas o celular do meu irmão começou a tocar em cima da estante e nós nos entreolhamos.
- Eu aposto que é a Oli! – Afinei um pouco a voz e corri na direção do aparelho.
- Me dá isso aqui! – Louis tentou pegar o próprio celular, mas eu fui mais rápida.
- Saaaaaaai. – Escapei do alcance dele e atendi a ligação. – Você ligou para o Tommo, mas ele não pode atender! Posso anotar o recado?
- ? É você? – A voz era da minha avó e estava bem fraca. – Querida...
- Nana? O que houve? – Parei de rir na mesma hora e todos me olharam com preocupação.
- Oh, meu amor... É o seu avô... Ele... – Jolene parecia estar segurando o choro e aquilo apertou o meu coração em um nível que nem consigo explicar.
- O que aconteceu com o papá? – Perguntei aflita e senti meus olhos arderem.
Algo não estava certo.
- Ele se foi...
Foram essas três palavras que fizeram o meu mundo desmoronar. Ao mesmo tempo em que milhões de coisas passavam pela minha cabeça, nenhuma delas era clara o suficiente pra ser entendida. Escutar o choro da minha avó e receber aquela noticia completamente do nada me deixou sem reação. Respirar também foi impossível, pois eu tentava puxar o ar, mas ele não vinha. Meus pulmões não tinham força suficiente e algo deixou a minha visão turva. A única coisa que eu sabia naquele momento é que eu já não segurava mais o celular e senti o meu corpo começar a mergulhar em uma escuridão fria.
Capítulo XL
Meu corpo estava completamente dolorido, como se eu tivesse batido em um lugar muito duro ou como se um carro tivesse passado em cima de mim. Eu senti que estava acordando de um sono profundo, mas não me sentia descansada. Me mexi e abri os olhos apenas o suficiente para ver que estava na sala e deitada no sofá. Não fazia idéia do que havia acontecido e não me lembrava de nada das últimas horas, provavelmente por ter acabado de acordar e ainda estar meio grogue. Olhei em volta e encontrei Liam de costas pra mim, olhando para fora da janela e Harry estava sentado na escada, com a cabeça encostada aos joelhos. Louis era o que estava mais perto de mim, mas também tinha a cabeça abaixada. O silêncio que tomava conta do cômodo era triste.
Devo ter feito algum barulho ao me sentar sobre o sofá, pois todos se viraram na minha direção. Um parecia mais preocupado que o outro e foi só quando vi as lágrimas nos olhos avermelhados do meu irmão que tudo começou a voltar aos poucos para a minha memória. A ligação... Aquela ligação que eu teimei em atender achando que seria alguma coisa boa, mas que não tinha nada disso.
- Como você está se sentindo, ? – Liam se sentou ao meu lado e tocou o meu ombro com cuidado.
- Eu não sei... – Minha própria voz saiu arrastada, quase falha. Toquei a minha testa ao sentir uma pontada terrível e olhei para Louis. – Me diz que não é verdade...
- Eu gostaria tanto de poder dizer isso... – Sussurrou e veio até o meu lado. Eu senti que se ele falasse mais alguma coisa acabaria chorando.
- Mas eu não entendo... Eu falei com ele na segunda feira... Como isso pode ter acontecido? – Mais uma vez as milhões de perguntas sem resposta invadiram a minha mente. Eu precisava de uma explicação!
- ... O nosso avô... Ele estava doente... – As palavras de Louis soaram como facas perfurando o meu peito, mas eu não me atrevi a interrompê-lo. – Há mais ou menos dois meses nós descobrimos que ele estava com um problema no coração e alguma hora isso iria acontecer...
- Dois meses? Então aquelas ligações misteriosas que você recebia... Por que ninguém me falou nada?
- Sim, aquelas ligações eram da vovó dando noticias... Ninguém sabia que seria tão rápido assim, ... Ele mesmo não queria que você ficasse sabendo, porque acreditava que ainda suportaria por alguns anos e... – Naquele ponto em diante Louis não conseguiu falar mais nada. Sua voz sumiu completamente e lágrimas molharam o seu rosto.
Eu não pediria mais nenhuma explicação, porque tão pouco gostaria de ouvi-las. Minha primeira reação foi abraçar o meu irmão com força, querendo apoiá-lo. De certa forma parecia que e a ficha ainda não tinha caído pra mim e eu tinha esperanças que logo estaria acordando e descobrindo que nada passava de um mero pesadelo. Enquanto as lágrimas de Lou caiam sobre o meu pijama, meus olhos continuaram secos. Não por eu não sentir vontade de chorar, muito pelo contrário. O pior sentimento do mundo é quando você sente uma dor tão grande que ela fica entalada em sua garganta. Você não consegue gritar, não consegue chorar... Nem ao menos falar se torna possível. Essa dor toma conta de cada pedaço de você e é mais forte que tudo. Por um momento você não quer que a dor vá embora, porque isso já se tornou impossível de tal maneira que você só deseja o alivio. Só deseja conseguir colocar pra fora tudo que está te matando por dentro. Mas o alivio não vem... Só mais sofrimento.
- Eu quero ver a nana... – Pedi baixinho.
- Eu sei disso... – Louis fungou e eu sequei suas lágrimas quando ele me olhou. – Nós vamos voltar a Paris hoje mesmo, pela manhã.
- Que horas são? – Eu estava tão perdida que nem havia notado que começava a amanhecer.
- Cinco e meia... Você desmaiou e apagou por muito tempo, . – Liam tocou o meu cabelo e eu sabia que nos ver naquele estado o corroia por dentro. – Eu te ajudo a arrumar uma mala pra levar...
- Não precisa. – Forcei um sorriso e me levantei. – Eu... Eu me viro.
Eu não estava sendo mal agradecida, apenas precisava de um tempo sozinha. Talvez assim conseguisse organizar os meus pensamentos e compreender a guinada que a minha vida estava tomando. Ninguém me impediu de ir até a escada e subir para o meu quarto. Me tranquei lá dentro e já fui pegando a minha mala embaixo da cama. Meus atos estavam sendo totalmente automáticos e eu não prestava muita atenção em nada. Nunca pensei que a próxima vez que eu estaria indo para a minha cidade natal seria pra dar adeus à pessoa mais importante na minha vida. Mas talvez ele estivesse lá me esperando... Talvez tudo fosse um mal entendido... E se o “Ele se foi” que a minha avó falou quisesse dizer que ele foi até a vendinha da esquina pra tomar um café como fazia todas as manhãs de domingo? E se...
Mas não era. Mesmo sem querer acreditar e sem nunca aceitar, eu não veria o meu avô novamente. Coloquei a minha mala em cima da cama sem me importar em amassar as roupas que estavam por ali. Me dirigi até o closet e fui puxando as primeiras peças de roupa que encontrei, sem prestar muita atenção se elas combinavam e simplesmente as joguei dentro da mala. Não tinha certeza de quanto tempo passaríamos lá, mas deviam ser o suficiente. Também aproveitei para separa o que usaria durante a viagem e meu passaporte e outros documentos. Por mais que eu tentasse respirar fundo, não tinha sucesso algum e acabava só suspirando pesadamente. Também não tive forças para puxar a mala para o chão depois que a fechei, causando um barulho um tanto alto quando ela caiu no chão com tudo.
- Tá tudo bem aí dentro, ? – A voz de Harry veio do lado de fora do quarto e eu abri a porta pra ele.
- Uhum. – Mantive uma pose forte. – Só tive um probleminha com a mala...
- Já fez a mala? Eu posso levar ela lá pra baixo pra você... – Entrou no quarto e pegou a minha mala do chão. – Lou pediu pra avisar que vocês vão sair o mais cedo possível, então troque de roupa, tá bem?
- Obrigada, Haz...
Antes de sair do quarto, Harry me abraçou com força e eu deitei a cabeça em seu peito. Tentei respirar fundo novamente, mas foi em vão. Se continuasse assim, eu logo começaria a ter dificuldade para respirar. O menino beijou o topo da minha cabeça e passou as mãos pelo meu rosto. Tive que olhar em seus olhos verdes e percebi que ele também estivera chorando. “Eu sempre vou estar do seu lado, viu?” Foi sua frase antes de me deixar ir trocar de roupa e sair do meu quarto. Ainda era muito surreal tudo aquilo que estava acontecendo e eu resolvi simplesmente não pensar. Me concentrei com todas as minhas forças para me trancar dentro de uma bolha e fingir durante todo tempo possível que nada estava acontecendo.
Quando o Sol terminou de nascer e o relógio bateu exatamente sete horas da manhã Liam e Harry nos deixaram na porta do aeroporto. Não havia a necessidade de eles ficarem com a gente porque não demoraríamos muito tempo para embarcar. Eu sempre preferi viajar de trem, mas não seria capaz de aproveitar aquele trajeto de maneira alguma, por esse motivo resolvemos ir de avião mesmo. Dessa forma chegaríamos em pouco mais de vinte minutos, já que Paris ficava ali do lado. Meu irmão e eu não precisamos pegar um carrinho nem nada disso, graças a nossa pouca bagagem. Louis logo foi para a fila do checkin e eu preferi ficar sentada em uma poltrona enquanto o esperava. Fiquei observando as minhas mãos ainda sem querer pensar no motivo que me levava a estar ali.
- ! – Escutei alguém chamar o meu nome, mas assim que levantei o rosto para olhar na direção de Louis, notei que não havia sido ele. – Aqui...
- Oi? – Minha voz mal saiu e eu olhei de um lado para o outro. – Zayn?
Finalmente enxerguei quem estava falando comigo e vi que era realmente o meu namorado que caminhava na minha direção arrastando uma mala preta. Não entendi o que era aquilo, mas pouco me importava. Levantei de onde estava e comecei a correr até o encontro dele. Assim que cheguei perto o bastante de Zayn para abraçá-lo, larguei a minha bolsa no chão e passei os braços em volta do pescoço dele, que me envolveu com força e também deixou suas coisas pra lá. Eu escondi o rosto no pescoço dele e deixei os meus suspiros escaparem silenciosamente. Zayn me confortou com um carinho nos meus cabelos e eu sabia que ele não poderia fazer o tempo voltar atrás, mas pude me sentir um pouco melhor só por ele estar ali.
- Eu to aqui, ... – Falou baixo na minha orelha.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei com a voz fraca assim que o olhei.
- Louis me ligou ontem pra avisar o que tinha acontecido... – Passou os polegares na minha bochecha como uma caricia. – Eu não podia deixar você passar por isso sozinha.
- Obrigada... – Continuei abraçada a ele e deixei um pequeno beijo em seus lábios.
Zayn não me fez aquela pergunta que tantos outros fariam em seu lugar: “Como você está?” ou “Você está bem?” e eu agradeci por isso. Colocar o que eu estava sentindo em palavras só tornaria tudo pior, pois eu não sabia como definir. Ele também não falou os clichês de que tudo ficaria bem, ou que meu avô foi para um lugar melhor. Apenas ficou ao meu lado, me dando todo o apoio que eu precisasse. Poderia não saber o que dizer vez ou outra, mas me daria colo e um ombro aonde chorar (mesmo que tudo que eu menos quisesse naquele momento fosse chorar). Peguei a minha bolsa do chão e ele a sua mala, nos preparando para ir atrás de Louis, mas assim que nos viramos, ele mesmo nos encontrou.
- Zayn? – Também pareceu confuso ao vê-lo por ali.
- Ele vai com a gente, Lou. – Segurei na mão do meu namorado e entrelaçamos os dedos.
- Se não tiver problema...
- Problema nenhum! Você precisa despachar a mala? – Meu irmão forçou um sorriso, mas seus olhos estavam fundos.
- Não, não... Eu já peguei a minha passagem pela internet e essa mala vai na mão mesmo.
O chamado para o nosso vôo interrompeu aquela conversa e demos sorte de estar bem perto do portão de embarque, pois não demoramos muito pra achar o caminho que deveríamos seguir. Nós três fomos lado a lado e ninguém falou coisa alguma. Zayn se mostrou bem cuidadoso comigo, pois sempre procurava me olhar e checar se eu não desabaria. De vez em quando Lou também me abraçava e forçava um sorriso na minha direção, mas estava bem claro que ele poderia começar a chorar a qualquer momento.
Passamos pela área de segurança e não havia fila nenhuma, por isso nossas coisas passaram bem rápido por aquela máquina de raio X e pelo detector de metal. Eu fui a encarregada de mostrar as nossas passagens para um funcionário. Os meninos vieram bem atrás e conversavam algo que eu não deveria ouvir. Diferentemente do que eles queriam, eu fiquei atenta à conversa e entendi muito bem quando Zayn perguntou quando seria o... Enterro. Ouvir aquela palavra pela primeira vez me espantou, pois durante aquelas poucas horas desde que recebera a notícia, não tinha passado pela minha mente que esse era o real motivo pelo qual estávamos viajando tão apressadamente: Para enterrar o meu avô. Gelei ao escutar a resposta de Lou: “Assim que o hospital liberar o corpo, faremos o funeral... O enterro deve ser amanhã cedo.” O corpo? Isso não estava certo. Nada ali estava certo. “Seja forte, , seja forte!” Eu repetia várias vezes a mesma coisa e não me permitiria desmoronar. Não quando outras pessoas precisavam que eu fosse forte.
- Já podemos embarcar... – Os interrompi de propósito, pois não queria mais saber daquele assunto.
- O portão da British Airways é por aqui. – Lou indicou e eu o deixei ir na frente.
- Eu não queria que a sua primeira vez em Paris fosse desse jeito... – Falei para Zayn enquanto deitava a cabeça em seu ombro no banco de trás do táxi que estava nos levando até a casa da minha avó.
- Não pensa nisso, . Eu só estou feliz por estar aqui com você.
Durante o caminho inteiro eu não olhei para fora da janela uma única vez. Sim, eu estava “feliz” por estar de volta ao meu lar, mas tudo estava em preto e branco. As paisagens que eu tanto amava perderam o brilho e nada mais me agradava. Ao oposto de mim, Lou não tirava os olhos da rua. Ele devia estar tentando se distrair e matar a saudade da nossa terra.
Parei pra pensar em quantas oportunidades eu havia perdido e me arrependi amargamente disso. E se eu tivesse tirado alguns finais de semana para visitá-lo? A passagem de avião nem era tão cara assim e em vinte minutos eu já estaria de volta. E se eu não tivesse me mudado para Londres? Teria passado aqueles quase dois meses e meio ao lado do meu avô e acompanharia a sua doença. E se eu pudesse ter cuidado dele durante aquele tempo? E se eu tivesse percebido que algo estava errado há tempos atrás? E se? E se?!
- Pode parar na frente daquela casinha ali. – Lou indicou para o motorista.
- Já chegamos? – Consegui olhar pela janela e encontrar o lugar que fora o meu lar por mais da metade da minha vida.
- Já sim, .
O carro foi parando aos poucos e eu suspirei ao abrir a porta e sair. Era bom esticar as pernas depois de tanto tempo sentada em um táxi francês tão apertado. Acho que eu estava mal acostumada demais com os táxis londrinos e até tinha me esquecido de como algumas coisas funcionavam por ali. Louis pagou o trajeto e foi ajudar o motorista a tirar as malas da parte de trás do carro. Zayn me seguiu até a calçada e me abraçou por trás, também olhando para a casinha a nossa frente. Eu guardava tantas memórias ali dentro que fiquei arrepiada ao sentir o cheiro da grama recém cortada.
- Uh, ... Eu não preciso saber falar francês, certo?
- Claro que não, baby. – Soltei uma pequena risada quase inaudível. – Aqui todo mundo fala inglês.
- Ainda bem! – Beijou a minha bochecha. – Mas você pode ser a minha tradutora se eu precisar.
- Exatamente! – O olhei de lado e lhe dei um selinho. – Vamos entrar?
- Pode ir na frente... Eu vou ajudar o Lou com as malas.
- Não demorem. – Pedi.
O menino assentiu com a cabeça e me soltou de seu abraço. Eu respirei fundo e tive sucesso dessa vez. Arrumei a minha bolsa sobre o meu ombro e caminhei exatos dez passos até chegar à porta de entrada. Como a nossa chegada já estava sendo esperada, não precisei bater na porta e fui prontamente entrando. Também não me sentiria nada bem tocando na campainha da minha própria casa. Desigualmente do que eu estava acostumada, o interior estava silencioso. O ranger da porta anunciou a minha entrada e um pequeno sorriso escapou em nostalgia.
- ! – Minha avó apareceu com suas roupas claras como sempre e outro sorriso apareceu no meu rosto só por estar a vendo.
- Nana! – Me precipitei até o seu encontro e a abracei com certa força. - Tu me manques...
- Eu também senti sua falta, minha querida. – Me abraçou de volta e sorriu. – Seu irmão está lá fora?
- Oui, nana... E o meu namorado veio também. – Demorei um pouco mais para soltar o abraço, pois estava perdida naquele cheiro de roupa limpa que ela sempre teve.
- Quero muito conhecer esse jovem... Seu avô sempre me falava dele. – Ao falar de meu avô o seu sorriso desapareceu por completo.
- Tenho certeza que você vai gostar dele... Como estão as coisas aqui na casa? Parece que nada mudou. – Tentei abordar um assunto mais indireto, pois não queria vê-la chorar.
- Seu quarto continua do mesmo jeitinho, querida. Depois pode ir lá olhar!
- Ótimo! – Dei um beijo na bochecha de minha avó e nos viramos ao escutar a porta ranger mais uma vez.
- Nana? – Louis apareceu e Zayn vinha logo atrás, um pouco acanhado.
- Aí está você, Boo bear. – A senhora se afastou de mim e foi abraçá-lo.
Eu conseguia imaginar como a minha vó devia estar se sentindo, já que acabara de perder o grande amor de sua vida. Louis a acolheu e já começou a chorar novamente. Acho que as pessoas tem formas diferentes de lidar com a dor da perda... Enquanto meu irmão quase não conseguia parar de chorar, eu me sentia... Vazia. Não sentia felicidade e nem tristeza. O choque da noticia havia passado e levado consigo qualquer sentimento que eu pudesse ter. Minha cabeça girava com milhões de acusações e duvidas, mas a única coisa que me restava era a dor física; a pontada na minha cabeça, os calafrios sob a minha pele, o desconforto na boca do estômago.
- E você deve ser o Zayn. – Minha avó havia virado de frente para ele e Lou já levava as malas para dentro da casa.
- Sou sim, senhora. – Beijou a mão da minha avó e sorriu com pesar. – Eu sinto muito pela sua perda...
- Obrigada pelo sentimento, querido.
- Nana, eu vou ver o meu quarto, tá bem? – Segurei a mão de Zayn para que ele viesse comigo e ambos pegamos as nossas malas.
Algo estava me chamando até aquele quarto e eu não sabia o que era. Talvez fosse a saudade arrumando uma forma de aparecer, ou apenas a esperança de sentir alguma coisa, nem que fosse nostalgia. Zayn me acompanhou escada acima e me ajudou com a bagagem, pois eu estava mais fraca do que imaginava. O cheiro amadeirado de pinheiros encheu os meus pulmões e eu sorri sem muita vontade. O corredor do segundo andar pareceu menor do que eu me lembrava e logo cheguei até o meu quarto. Deixei a mala de lado e abri a porta para o meu antigo refúgio. Minha cama, meu guarda roupa, minha pequena janela, minha mesinha de cabeceira... As coisas realmente estavam do mesmo jeito que havia deixado e aquilo me fez sorrir mais uma vez.
- Bem vindo ao meu quarto! – Abri os olhos e suspirei, dando espaço para Zayn entrar também.
- É tão diferente do seu quarto de Londres... – Passou a ponta dos dedos sob a minha cama de solteiro e se sentou, encarando as paredes e o guarda roupa. – Isso é um pôster do N’sync?
- Ei, não me olhe assim! – Cruzei os braços. – Eles eram famosos quando eu era nova, ok?
- Ainda bem que você falou “famosos” e não “bons”. – Gargalhou e eu fiz uma careta.
- Se você vai falar mal dos meus garotos, pode sair daqui! – Apontei para a porta e bati o pé no chão.
- Desculpa, desculpa! – Levantou as mãos para o alto. – Por favor, me deixa ficar no quarto da pequena Tomlinson!
- Deixo... Mas se comporte! – Fiz cara de brava e me juntei a ele na cama.
- Mas eu não vou ser obrigado a escutar Bye Bye Bye a tarde inteira, certo? – Continuou tirando com a minha cara e joguei um travesseiro em seu rosto.
- Cala a boca, Malik!
- Ai, ! Isso machuca, sua violenta. – Fez um bico e deixou o travesseiro de lado.
- Bem feito! – Dei de ombros e não podia me importar menos. – Não permito que você fale mal da minha boyband.
- Você tem uma queda por boybands, né?
- Pode-se dizer que sim!
Eu não demorei nada para tirar os sapatos e me deitar na cama. Zayn continuou sentado e eu coloquei as pernas sob as dele. Conversamos como se nada de ruim estivesse acontecendo e eu adorei aquilo. Quanto mais eu pudesse fugir da realidade, melhor. Falei sobre a minha escola antiga, meus colegas, coisas que gostava de fazer quando ainda morava por ali... Também mostrei algo na madeira da cama que eu tinha gravado com o estilete anos atrás; apenas o meu nome, mas era algo bem radical pra mim. Pegamos alguns brinquedos meus que ainda estavam por ali e montamos um teatrinho. Eu era uma boneca com vestido de princesa e ele era um dinossauro.
- Socorro, socorro! – Fiz uma voz em fina e mexi os braços da bonequinha.
- Raaaawr, rawr! Rawr? Rawrrrr, rawr? – Zayn imitou o barulho de um dinossauro e foi tão engraçado que eu acabei rindo.
- O que você está fazendo? – Gargalhei.
- Sou um dinossauro, , o que você queria? – Rolou os olhos.
- E como você sabe que esse é o barulho que eles faziam?
- Como mais poderia ser? – Limpou a garganta e se preparou para fazer outra imitação. – IHHHHH. IIIIIIIIIIIIIIIIIH. Assim?
- Ai, que idiota! – Ri mais uma vez e joguei a minha boneca no chão, também tirando o dinossauro da mão dele e jogando para o lado.
- Não joga a nossa filha no chão! – Tentou pegar a boneca e fez uma careta dramática assim que ela caiu. – Que mãe desnaturada!
- Essa boneca feia não é a minha filha! – Cruzei os braços e sentei na cama.
- É claro que é! Ela tem os seus olhos. Tá vendo como são azuis e vesgos?
- Vesgos? Malik, meus olhos não são vesgos! – Dei um tapa em seu ombro e ele só riu.
- Não os dois... Só o da direita, oh. – Apontou para o meu olho direito e aproximou o dedo do meu rosto. Acabei ficando vesga naquele momento por ter acompanhado o trajeto. – Viu só?
- Para com isso! – Dei um tapa na mão dele, mas gargalhei mais uma vez. – Só você mesmo pra me fazer rir!
- Estou treinando pra bobo da corte. Caso a música não dê certo, eu preciso de uma segunda opção, né? – Segurou as minhas mãos e me puxou para o seu colo.
- Isso é verdade. – Deixei uma perna de cada lado do corpo de Zayn e comecei a brincar com a gola da camisa do mesmo. – Minha segunda opção é virar stripper.
- Não mesmo! Você é minha. – Me abraçou pela cintura e me prendeu ali, como se eu fosse fugir pra alguma boate de strip a qualquer momento.
- Mas eu preciso ganhar a vida! – Acariciei seus cabelos e fiz um biquinho.
- Eu te sustento. – Sorriu e encostou a testa na minha, passando o nariz pelo meu. – Não é você que sempre diz que eu vou ser grande?
- E vai! – Roubei um selinho. – Mas eu não sou mulher pra ser sustentada por homem nenhum!
- Quem vai fazer o meu jantar quando eu chegar em casa? – Levantou uma sobrancelha. – Preciso de uma mulher pra cuidar de mim!
- Você tem a sua mãe! Eu não vou ficar esquentando a barriga atrás de um fogão pra alimentar um marmanjo!
- “Star, me faz um sanduíche enquanto eu tomo banho! Tive um dia muito cansativo hoje.” – Engrossou a voz.
- “Faz um você mesmo, seu folgado!” – Afinei a minha e ri baixo.
- Que esposa terrível que você vai ser! – Me olhou decepcionado.
- É só não casar comigo, ué. Simples assim! – Mordi a bochecha do outro e ele reclamou.
- Queridos? – Minha avó bateu na porta. – O almoço está pronto!
Admito que não consegui comer quase nada e também mal pude sentir o gosto da comida. O clima durante o almoço foi bem pesado, mesmo eu e Zayn tentando puxar alguns assuntos para aliviar a tensão. Lou mal tocou na comida, assim como eu, e a minha avó não se sentou a mesa conosco, pois preferiu ir para o quarto e descansar um pouco. O único que aproveitou mesmo a comida toda foi o meu namorado. Depois que ele estava bem cheio, nós fomos todos para a sala e nos apertamos no único sofá que havia ali.
- Agora eu entendo por que você falava que a sua avó é a melhor cozinheira do mundo. – Zayn comentou enquanto brincava com os meus dedos.
- Você tem que provar as sobremesas dela. – Dei um meio sorriso e beijei a bochecha dele.
- Vocês dois não se desgrudam mesmo, né? – Lou rolou os olhos, pois estava de vela ali.
- Da próxima vez traremos a Olivia e aí você não reclama!
- Quem é Olivia? – Zayn me olhou curioso.
- É a namorada lésbica do Lou. – Expliquei casualmente.
- Como é?! – Quase engasgou com o nada e olhou para o meu irmão.
- Não vou ter essa conversa de novo!
O mais velho se levantou do sofá com tédio. Eu sabia que aquela história não era verdadeira e só estava tentando amenizar os humores. Não queria irritá-lo nem nada parecido, mas ele não parecia estar chateado comigo. O coitado devia estar com tanta coisa na cabeça e tão abalado que não tinha nem vontade de me xingar, o que já era estranho por si só. Eu continuava tentando me manter centrada e escondida na minha bolha de vidro protetora. Antes que Lou pudesse chegar até as escadas, alguém tocou na campainha e o fez dar meia volta.
- Já vai... – Avisou e caminhou até a porta.
- Estão esperando alguém? – Zayn perguntou ao meu lado e eu apenas neguei com a cabeça.
- Louis... – Escutei uma voz feminina ao longe, provavelmente da pessoa que acabara de chegar. – Meu filho, quanta saudade!
- Hey, mum...
Com aquela resposta de Louis eu confirmei todas as minhas desconfianças. Era a minha mãe que estava ali, mas o que eu estava esperando? O pai dela havia partido, então é claro que ela gostaria de ficar perto da mãe. E provavelmente sabia que seus filhos também acabariam aparecendo eventualmente e não perderia a oportunidade de vê-los. Nós não nos falávamos há um bom tempo e a nossa despedida não foi lá essas coisas, mas ainda era a minha mãe, certo? A mulher de estatura média e cabelos castanhos logo apareceu na sala e olhou de mim para Zayn. Um homem que eu não conhecia também surgiu enquanto conversava com o meu irmão.
- ... Você está tão linda... – Caminhou na minha direção.
- Obrigada... – Levantei do sofá e ela me puxou para um abraço.
- Adorei o seu novo estilo, querida. – Enquanto me abraçava, mexeu nas pontas claras do meu cabelo. – Londres fez bem pra você.
- Eu também acho, mum. E como você está? – Forcei um sorriso assim que nos separamos e apontei para o garoto no sofá. – Esse é o Zayn... Meu namorado.
- Muito prazer, senhora. – Se levantou e cumprimentou a minha mãe.
- Me chame de Jay, por favor. – Sorriu e apertou a mão dele. – Eu também gostaria de apresentar alguém especial pra vocês... Dan, querido?
- Sim, darling? – Aquele homem de aparência simpática abraçou a minha mãe pelos ombros e olhou para mim. – Você deve ser a , correto?
- Isso mesmo... Dan, certo? – Tentei sorrir o mais sincera possível. – Vocês dois estão juntos?
- Estamos noivos! – Jay respondeu com certa animação e me mostrou o anel de noivado em sua mão esquerda.
- Parabéns para os dois! – Sorri, realmente me esforçando para ficar feliz com aquela noticia, mas mais uma vez não senti nada. – E pra quando é o casamento?
- Estamos pensando no ano que vem... Talvez no verão. – Suspirou e olhou apaixonada para o homem.
Ver a minha mãe com outra pessoa era um tanto estranho. Desde que meu pai a deixara, ela não se envolvera com mais ninguém e eu sempre achei que nunca seria capaz de esquecê-lo, mas aparentemente eu estava errada. Tenho estado errada sobre muitas coisas ultimamente, mas isso não vem ao caso agora. Ao menos Johanna parecia feliz ao lado dele... Ao lado do noivo. Como um casal pode ficar noivo em tão pouco tempo? Minha mãe sempre foi impulsiva, então até que fazia sentido. Dan também parecia bem legal e eu tenho certeza que gostaria dele em um futuro próximo. Só desejava não ter sido apresentada a ele em um momento tão conturbado, mas quem somos nós pra controlar?
As quatro pessoas que estavam na sala decidiram ir até a sala de jantar, pois lá teria espaço para que todos se sentassem e pudessem conversar. Eu os segui, é claro, e sentei entre meu irmão e Zayn. Dan fez um pequeno resumo da sua vida: Trabalhava em um hospital, era quatro anos mais velho que a minha mãe e absolutamente amava cachorros! Ganhou pontos comigo, com certeza. Além disso, tinha duas filhas de um outro casamento: Phoebe e Daisy, gêmeas. Bem... A nossa família estava crescendo. Louis + eu + Lux e agora Phoebe e Daisy estariam se juntando à nossa “irmandade”. Coitado de Lou, pois ele teria que aguentar quatro irmãs mais novas... Ugh. Tudo bem que aquelas duas não seriam nossas irmãs de sangue, mas o pai delas estaria se casando com a nossa mãe... Que confusão!
Aproximadamente uma hora se passou e foi o tempo que levamos para contar um pouco sobre nós mesmos também. Lou contou sobre a carreira de fotógrafo e como isso não havia dado certo como ele esperava, Zayn explicou o que fazia na Academy e encantou a minha mãe com a sua simpatia. Minha vez chegou e nisso eu tive que falar do curso de dança, das festas, das aulas, da minha apresentação com Nick e da peça de fim de semestre, sem falar que pediram um relatório completo sobre como eu e Zayn nos conhecemos.
- Mas chega de falar da gente! – Interrompi aquele assunto quando já estava com a boca seca de tanto falar. – E vocês dois? Como aconteceu essa coisa louca?
- Bem... – Dan olhou para a minha mãe como se pedisse permissão para contar aquela história. – Eu nunca fui muito fã de arte, mas foi o destino que me levou até a exposição nacional desse ano. Sua mãe estava lá, sabia? E foi a melhor artista!
- Então foi lá que vocês se conheceram? – Zayn perguntou.
- Foi... Mas não foi bem assim que nos encontramos, não é, querido? – Minha mãe riu. – Dan acabou tropeçando e caiu em cima de uma das minhas esculturas!
- Uau! – Forcei um riso educado.
- Imagine como a sua mãe ficou uma fera, ! – Dan balançou a cabeça. – E eu ainda tive que convencê-la a me deixar levá-la para jantar.
- Parece coisa de filme. – Lou brincava com um grão de arroz que encontrou por ali. – Mas eu também estou muito feliz por vocês dois.
- Oh, mon Dieu! Olhe só a hora! – Minha mãe se alarmou ao olhar no relógio de pulso. – Temos que ir, meninos...
- Ir pra onde? – Perguntei confusa, mas também levantei da mesa quando os outros o fizeram.
- Babe... O funeral do seu avô... – Zayn segurou a minha mão, como se quisesse estar me segurando ao me dar aquela informação.
- Ahh, é verdade... Já está tudo pronto? – Suspirei e evitei olhar para o meu irmão. Com certeza seus olhos já começariam a ficar marejados mais uma vez.
- Está sim, meu bem. – Minha mãe deu um sorriso triste e olhou em volta. – Onde está a sua avó?
- Jolene está no quarto... Ela foi descansar um pouco após o almoço. – Zayn colocou uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha e informou à minha mãe.
- Eu vou lá chamar ela, ok? – Respirei fundo e deixei um beijo nos lábios do meu namorado.
Minha mãe devia estar fazendo o mesmo que eu; sendo forte e não querendo deixar ninguém vê-la se abalar. Dessa forma, ela sempre sorria e escondia todos os seus sentimentos bem dentro de si. Eu só agradecia por ela ter um cara tão legal quanto Dan ao seu lado, pois dessa forma ela não estaria sozinha em um momento tão sensível. Ninguém evitou a minha saída e eu pude seguir para o segundo andar. A porta do quarto dos meus avós estava entreaberta, por isso caminhei até lá com cuidado.
Dei uma primeira espiada no interior do quarto com pouca luz e encontrei a minha avó sentada no lado da cama que costumava ser do meu avô e tinha uma peça de roupa nas mãos. Eu não precisaria chegar mais perto pra saber que era uma camisa do grande amor da vida dela, mas resolvi me aproximar do mesmo jeito. Assim que entrei no quarto, a senhora levantou o olhar na minha direção e indicou o espaço ao seu lado para que eu me sentasse. Não demorei nada pra atender aquele pedido silencioso e me acomodei.
- Essa era a camisa que eu mais gostava que ele usasse... – Falou baixinho enquanto olhava para aquele tecido azulado.
- Eu também sempre gostei quando ele usava azul. – Sorri fraco. – Destacava os olhos dele.
- Aqueles lindos olhos cor do mar... – Suspirou apaixonada. – Foi a sua mãe que chegou?
- Foi sim, nana... E o Dan veio com ela.
- Você o conheceu? Ele é um cavalheiro, . E as filhinhas dele também são uns amores.
- Assim eu vou ficar com ciúmes, hein? – Emiti uma pequena risada e a senhora também sorriu.
- Você sempre vai ser a minha . – Beijou a minha bochecha e se levantou. – Tem algo que eu gostaria que ficasse pra você.
- O que, nana? – Observei curiosa enquanto ela foi até a sua caixinha de jóias sob a penteadeira e tirou alguma coisa de lá.
- É o anel que o seu avô usou pra me pedir em noivado... Não é de brilhantes, porque naquela época ele não tinha condições, mas eu não consigo imaginar uma jóia mais bonita que essa. – Voltou a se sentar ao meu lado e colocou o anel delicado na palma da minha mão. – E agora ele é seu.
- É realmente lindo... – Estudei aquele anel e li que o nome do meu avô estava gravado na parte de dentro. – Mas eu não posso aceitar.
- É claro que pode, . Ele nem cabe mais em mim mesmo! – Pegou o anel e a minha mão, escolhendo o dedo em que iria colocá-lo. – Assim você sempre vai ter algo que te lembre o seu avô.
- Obrigada. De verdade. – Dei mais uma olhada no meu anelar antes de abraçar a senhora. Não seria legal continuar insistindo que não iria aceitar, até porque eu gostei muito daquele presente. – Ahn... Está na hora de ir, nana...
- Eu sei, minha querida, eu sei...
A pequena capela aonde aconteceria o velório do meu avô estava super decorada com rosas brancas e coroas de flores que tentavam alegrar o ambiente, mas é óbvio que falhavam terrivelmente. Eu não havia entrado ainda, mas se do lado de fora já estava assim... Por dentro pareceria um verdadeiro jardim. O lugar estava cheio e isso não me espantava em nada. Charles era um senhor muito querido por todos os familiares e amigos, então era óbvio que muitos iriam comparecer para prestar aquela última homenagem. Louis estava amparando a minha avó e os dois foram os primeiros a entrar, seguidos por Dan e minha mãe. Todos estavam vestidos de preto e com aquele chapéu que tem um tipo de véu para cobrir o rosto, muito sofisticados. Eu ainda não havia trocado de roupa desde que saíra de Londres, mas por ironia do destino também vestia cores escuras. Zayn, que se manteve sempre perto de mim, me olhou de lado enquanto eu tentava tomar coragem pra entrar naquela recinto.
- ? Por que você parou? – Tocou o meu ombro enquanto eu me mantive firme no mesmo lugar.
- Eu não sei que quero entrar aí... – Olhei todos aqueles arranjos de longe e as pessoas que iam entrando. – Não quero que me olhem com pena, não quero ser abraçada por estranhos e ter que escutar que tudo vai ficar bem, ou que perguntem como eu estou. Mas acima de tudo... Eu não quero que a última imagem que eu vou ter do meu papá seja dentro de uma caixa de madeira.
- Então nós não precisamos entrar. – Ficou na minha frente para que eu não visse mais nada. – Quer que eu vá avisar a sua mãe?
- Não precisa... Quando acabar a gente volta pra cá. – O olhei com um sorriso forçado e entrelacei nossos dedos. – Anda comigo?
- É claro que sim! – Respondeu com um sorriso mais sincero que o meu. – Aonde vamos?
- Vamos ver se eu ainda sei andar por Paris! – Mudei a nossa direção e dei as costas para a capela.
- Vou ganhar um tour pela cidade das luzes? – Me acompanhou pela calçada de pedra e começamos a descer a rua.
- Com uma guia particular! – Me senti a própria expert, mas mal sabia ele que eu nunca fui muito boa em me localizar.
Nossos passos não eram nem tão lentos e nem rápidos demais. Afinal, nenhum de nós estava com pressa mesmo. Nos preocupamos apenas em curtir a paisagem que aquela ruela nos mostrava. Não era outono, mas algumas folhas caíam sob as nossas cabeça na medida que o vento balançava os galhos. Ao notar que estava com um pouco de frio, Zayn me abraçou pelos ombros e eu o abracei pela cintura, colocando a mão no bolso do seu casaco. Se eu não estivesse enganada, logo encontraria o que estava procurando e nosso “tour por Paris” realmente começaria. Além do idioma, havia muitas diferenças entre a minha terra natal e Londres, sendo uma delas a correria do dia-a-dia. Enquanto Londres era agitada e cheia de pessoas nas ruas o tempo inteiro, Paris era calma e tranquila. Foi exatamente isso o que estávamos presenciando durante aquela nossa caminhada que levou mais ou menos vinte minutos até chegarmos ao ponto de táxi mais próximo. Usualmente eu teria usado o metrô, mas naquela hora de um sábado, ele estaria bem cheio como em qualquer outra cidade.
- Bonjour. – Um taxista bigodudo nos abordou educadamente. - Comment puis-je vous aider?
- Bonjour, monsieur. – O cumprimentei da mesma forma e Zayn nos olhou sem entender nada, como sempre. – O senhor está livre?
- Oui, mademoisele. – Afirmou que sim que e abriu a porta para o banco de trás do seu carro.
Eu fui a primeira a entrar e Zayn veio em seguida. Eu tinha quase certeza que aquele motorista falava inglês, mas preferi manter o nosso idioma original durante aquela conversa. Se eu começasse a falar em outra língua, ele poderia achar que eu era uma turista e me cobraria mais pelo trajeto do que o preço real e isso não seria nada bom, principalmente quando andar de taxi já era caro o suficiente. Dei as coordenadas de onde queria ir e o carro logo entrou em movimento, saindo daquela rua estreita e desembocando em uma avenida um pouco mais larga.
- Você sente falta daqui, ? – Zayn tinha o olhar perdido pela janela, conhecendo tudo aquilo que era novo pra ele.
- Às vezes... – Segui a linha de visão dele e quase fiquei tonta com as árvores que passavam rápido demais ao nosso lado. – Mas eu tenho um namorado que sempre vai achar algum restaurante que me lembre de casa!
- Você sempre está se referindo a esse lugar como “casa”... – Voltou sua atenção para mim, na espera da resposta.
- Mas aqui é a minha casa, não é? O meu lar... O lugar onde eu cresci, onde sempre vou ter alguém esperando por mim? Não é isso o que “casa” significa?
- Eu acho... E você gosta de Londres?
- Eu adoro Londres. – Contraí as sobrancelhas. – A cidade, as pessoas, o clima louco, a neblina... Principalmente certo garoto que eu conheci quando me mudei pra lá. Mas não me peça pra escolher entre as duas cidades, porque seria impossível!
- Não vou pedir isso se você me falar quem é esse tal garoto. – Sorriu convencido já sabendo qual seria a minha resposta.
- O Niall, é claro! – Rolei os olhos em ironia e ele riu. – É claro que é você. Quem poderia ser?
- Você tem o Liam, o Harry e até aquele tal de Nicholas lá. Podia ser qualquer um.
- Mas é você, idiota. – O puxei pelo queixo e colei os nossos Lábios.
- Ohh, l’amour de jeunesse... – O motorista nos observava pelo retrovisor e eu senti as bochechas queimarem.
- O que ele disse, ? – Zayn sussurrou pra mim, mas eu não me atreveria a traduzir.
- Ele disse que já estamos chegando. – Menti.
- Eu posso não saber falar francês, mas sei que não foi isso o que ele falou!
- Foi sim. Shhhh. – Pedi aos céus que ele não continuasse com aquele assunto e dei sorte de realmente estarmos chegando ao nosso destino.
O motorista estacionou o automóvel na frente do Bois de Vincennes, um de meus parques preferidos na cidade inteira. É claro que perto do Hyde Park não era nada, mas eu preferia assim... Pequeno. Comecei a pegar a minha carteira dentro da bolsa pra poder pagar o nosso translado, mas o senhor foi tão legal conosco que disse que não precisaríamos pagar nada. Segundo ele, o “l’amour de jeunesse” o inspirava e por isso queria nos dar aquele presente. Foi aí que Zayn não entendeu absolutamente mais nada e tampouco eu expliquei.
Tudo a nossa volta era verde, verde e mais verde. Dentro do parque não havia calçada ou asfalto, o que obrigava todos a pisarem na grama, mas ainda assim era tudo muito bem cuidado. Zayn me seguiu quando eu comecei a entrar no parque e caminhar até uma árvore alta perto do lago. A grama úmida deveria estar gelada, só que eu não me importava. Considerando tudo que estava acontecendo, aquela seria a última das minhas preocupações.
- Gostei daqui. – Zayn sorriu e se sentou na grama antes de mim. – Já estou me sentindo em contato com a natureza.
- Cuidado pra não acabar virando um hippie, ok? – Brinquei e também me sentei. Passei a mão direita pelos cabelos e Zayn a olhou.
- Ei, você não estava usando isso antes... – Segurou a minha mão e tocou o anel prateado.
- Ahh, é! Minha avó me deu quando estávamos conversando no quarto dela... – Mexi na jóia com o polegar, observando-a refletir a luz do sol. – Foi com esse anel que meu avô a pediu em casamento.
- É lindo, .
- Eu também acho. – Sorri e antes que eu pudesse falar qualquer coisa o meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa.
- Será que é o Lou? – Perguntou ao me ver retirar o aparelho do bolso em que eu o deixava guardado.
- Não... É a . – Atendi a ligação e levei o aparelho até a minha orelha. – Oi, ruivinha.
- ? Oi, minha amiga... Como você está? – Soou preocupada.
- Como você acha que ela está, ? Por favor, né? – A voz de Niall apareceu ao fundo e me arrancou uma risada baixa.
- Eu estou com saudade de vocês dois. – Fiz um bico e olhei Zayn se levantar e sussurrar um: “Eu volto já.”
- Nós também estamos com muita saudade, ! E como está o tempo por aí?
- Sério, ? É assim que você quer puxar assunto?
- Eu só quero saber se está chovendo, ué... – Eu sabia que aquilo era mentira, mas dei de ombros.
- Está com algumas nuvens no céu, mas eu acho que só chove amanhã... – Olhei para cima enquanto falava. – E aí?
- Chovendo como sempre! – Bufou como se a chuva estivesse atrapalhando todos os planos dela. – Escuta, ... Eu tenho que te falar uma coisa...
- Mais coisa ruim? – Pela voz dela a noticia não podia ser boa. – Fala logo!
- O Zayn... Ele sumiu! Não atende o celular, ninguém sabe onde ele foi parar... E a casa dele está vazia. Nós estamos desesperados e...
- , ei! Calma! – Ri. – Eu sei onde o Zayn está.
- Sabe? Onde?!
- Ele está aqui, sua besta. Veio comigo pra Paris.
- E ele parte sem avisar? Como é que ele pode fazer isso?
- ? – Alguém apareceu ao meu lado e não era Zayn.
- , eu tenho que ir. – Não tirei os olhos daquela figura masculina e nem esperei a minha amiga se despedir para desligar. – Anttonie...
- É você mesma! Eu sabia disso. – A última pessoa que eu gostaria de ver estava parada na minha frente e agia como se fossemos bons amigos. – Eu estava falando para a Penélope que era você, mas ela não acreditava!
- É, sou eu. – Respondi com indiferença, sem nem ao menos olhar para onde apontou ao falar da Penélope.
- Você está tão diferente da última vez que eu te vi! – O loiro me media com os olhos e não notava o quanto eu estava sendo fria ao encará-lo de volta. – O que está fazendo por aqui? A última noticia que eu tive de você é que estava se mudando...
- Yep, me mudei. Mas o meu avô morreu, então eu vim enterrá-lo. – Esperava que a minha indiferença o deixasse desconfortável e assim ele pudesse se afastar logo.
- Eu sinto muito, . – Não, não sentia.
- Claro. – Sorri irônica.
- Bem, eu tenho que ir... – Já vai tarde. – Mas eu gostaria de te ver de novo... Ainda sabe onde eu moro? Vamos fazer uma festinha lá em casa hoje. Daquelas, lembra? Aparece por lá.
- Claro! Eu não perderia por nada nesse mundo, pode me esperar. – Fui tão irônica que Anttonie devia ser muito burro ou muito cheio de si pra achar que eu estava falando sério.
- Ótimo! Quem sabe assim nós não relembramos os velhos tempos?
Não precisei responder àquela atrocidade, pois ele logo se afastou. Sim, Anttonie estava mais bonito do que eu me lembrava, mas só o que eu consegui sentir ao olhar pra ele foi repulsa. Cada pedacinho de mim pedia distância e foi complicado manter a classe e não mandá-lo ir à merda. O segui com os olhos e encontrei Penélope mais ao longe; a menina que havia chegado mais perto de ser a minha amiga durante o colegial. Um sorrisinho malvado apareceu em meus lábios assim que eu percebi o quanto ela tinha engordado e só o que eu pensava era: “Bem feito!”
- Quem era aquele? – Zayn logo voltou e trazia na mão um algodão doce gigante.
- Ninguém importante. – Dei de ombros e quase babei pelo doce. – Isso é pra mim?
- É sim! – Sorriu e me entregou a nuvem cor de rosa. – Eu vi que você não comeu quase nada o dia inteiro... Eu tinha que te alimentar de qualquer jeito e sabia que não iria resistir a isso.
- Você me conhece tão bem. – Sorri e peguei um pedacinho do algodão doce para levá-lo até a boca. Mais uma vez eu não senti gosto de nada, mas continuaria a comer; por Zayn.
- Aquele garoto era um velho amigo? – Voltou a falar de Anttonie e eu engoli a seco. – Eu gostaria de conhecer seus amigos daqui.
- Zayn... – O interrompi. – Aquele garoto é o Anttonie. O meu ex.
- O que fez aquilo com você? – Seu rosto que antes estivera límpido, se tornou vermelho de raiva. – O que aquele filho da puta queria com você? Eu vou lá meter um soco na cara dele e já volto.
- Ei, espera! Não vale a pena. – O segurei, impedindo de se levantar. – Ele teve a capacidade de me chamar pra uma festa e relembrar dos velhos tempos. Argh!
- Ok, agora ele vai ver só. – Tentou levantar mais uma vez.
- Não vai não! – O puxei de novo. – Baby, só vai ser pior. Vamos ignorar, ok? Não quero ter que olhar pra ele de novo e nem causar confusão aqui.
- Tudo bem... – Estava relutante, mas aceitou. – Mas se ele voltar, vai se arrepender do dia que nasceu.
- Deixa isso pra lá e me ajuda a comer aqui, vai. – Ofereci o algodão doce.
- Não mesmo, . É todo seu e você vai comer.
- Poooxa. – Resmunguei baixinho com um bico. – A propósito! Você não avisou aos meninos que estava vindo? estava preocupada.
- Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa! – Bateu na própria testa. – Mas tudo foi muito rápido, então não tive tempo de avisar a ninguém.
- Mas Trisha sabe, né? – Levantei uma sobrancelha enquanto mastigava. – Não quero que a sua mãe pense que você fugiu comigo!
- Sabe sim, pode ficar tranquila. – Riu. – Mas mesmo que ela achasse isso... Ficaria tranquila por eu estar com você.
- Uhh, estou com tanta moral assim? – Pisquei brincalhona e aproveitei para dar uma mordida no doce cor de rosa.
- Mais do que você pensa. – Jogou a cabeça para trás ao rir e recostou-se à árvore próxima de nós.
Algumas pessoas passeavam de canoa no lago a nossa frente e sorriam, brincavam e se divertiam como nada de errado estivesse acontecendo. Bem, para elas nada de errado estava acontecendo... Senti uma pontada de inveja de uma criança em especial que estava pescando com um senhor mais velho; possivelmente o próprio avô. Parte de mim só quis ir até ela e falar: “Aproveite tudo que puder.”
Uma coisa que eu sempre odiei foi ter que vestir uma roupa dentro do banheiro depois de tomar um banho quente. Não sei, mas tenho a impressão de que não consigo me secar direito. Provavelmente é culpa do vapor que toma conta de toda a atmosfera, mas não me peça pra explicar esse fenômeno físico, porque eu não conseguiria. Ou seria químico? O que importa é que foi exatamente isso o que eu tive que fazer. Como meu quarto estava sendo ocupado por Zayn no momento, eu não poderia me trocar lá. Com muita dificuldade vesti um pijama bem quentinho que achei na minha mala e enrolei os meus cabelos molhados com a toalha, me encarando no espelho por longos minutos. Minha aparência estava terrível e eu parecia um zumbi. A noite não tardou a cair e com isso o frio piorou. Zayn e eu voltamos para casa assim que minha mãe ligou e avisou que o velório havia acabado, mas ela já não estava mais lá quando chegamos. Segundo minha avó, Jay teve que acompanhar Dan em alguma coisa das filhas dele e eu preferi não ficar sabendo de detalhes. Estava aceitando numa boa a “nova família” que ela estava começando a construir, desde que não esfregassem na minha cara que as filhas de outra teriam a mãe dedicada que eu mesma nunca tive. Passei a mão pelo espelho na minha frente e limpei um pouco do vapor, como se isso fosse fazer aqueles últimos pensamentos irem embora.
Deixei o banheiro do corredor para trás e quase esbarrei em Louis, já que ele deveria estar me esperando sair de lá para tomar o próprio banho. Pedi desculpas por ter demorado tanto, mas ele nem reclamou como normalmente faria. Já disse que odiava ver o meu irmão assim? Pois é, odiava mesmo. Minha próxima parada foi o meu antigo quarto, onde achei um garoto também de pijamas deitado em um colchão no chão ao lado da minha cama. O que me surpreendeu é que ele estava com o meu celular na mão e parecia estar mexendo em tudo.
- O que o senhor está fazendo? – Coloquei as mãos na cintura e o encarei com os olhos estreitos.
- Você recebeu uma mensagem da Lux! – Se sentou no colchão ao notar a minha presença e esticou o telefone na minha direção.
- Quanto tempo eu passei no banho? Não sabia que tinha demorado tanto assim que a minha irmã de um ano e meio aprendeu a digitar. – Peguei o iPhone mesmo assim e me sentei na beira da minha cama.
- Ok, a Rachel mandou uma mensagem da Lux! – Rolou os olhos e se aproximou das minhas pernas, apoiando o queixo no meu joelho. – Melhor assim?
- Muito melhor. – Sorri.
Enquanto eu procurava a tal mensagem, fazia cafuné na cabeça de Zayn. Seus cabelos ainda estavam molhados e sem penteado algum, ou seja, sem aquele topete característico e bem bagunçados. Notei também que ele havia mudado praticamente todas as configurações do meu celular, como o pano de fundo, localização dos aplicativos e não duvidava nada que meu toque também tivesse sido alterado, mas isso só descobriria depois. Fui até as mensagens e vi que tinha recebido duas imagens de Rachel. Onde a primeira era uma foto de Lux e dizia: “Sinto falta da minha big sis.” E na segunda ela estava com Heidi e Bem: “Só faltou você.” Rach devia saber o que tinha acontecido e sabia que aquelas fotos iriam me alegrar pelo menos um pouco. Sorri com saudades da minha baby girl e me preparei para responder, mas Zayn também já havia feito isso.
- “Weyhey, que bebês mais lindos! Sinto saudade de todos.” – Li em voz alta e o olhei com uma sobrancelha levantada. – Wheyhey? Zayn, desde quando eu falo “weyhey”?
- Não fala? – Fez uma careta de confusão.
- Claro que não! Quem fala isso é o Niall! – Balancei a cabeça negativamente. – Belo jeito de conhecer a namorada, hein?
- Desculpa, Carmem Miranda. – Riu enquanto me encarava e eu não entendi nada.
- Quem?
- Carmem Miranda... E uma mulher que usava frutas na cabeça. – Apontou para a toalha que eu tinha enrolado nos cabelos. – Eu acho que ela era brasileira, mas não tenho certeza.
- Zayn Malik, um poço de cultura! – Ri baixo e soltei o cabelo. – Quem diria?!
- Nhá, eu só vi em um desenho. – Deu de ombros.
- Ahá! Eu sabia que você não poderia ter aprendido isso em um livro.
- O que você quer dizer com isso? – Me olhou incrédulo.
- Ahh, você sabe... – Foi a minha vez de dar de ombros.
- Me chamou de burro!
Antes que eu pudesse perceber o que estava acontecendo, Zayn agarrou os meus pulsos e me puxou para o colchão dele. Eu soltei um pequeno grito de susto e o olhei espantada quando o menino subiu em cima de mim. Ele se sentou sobre o meu quadril e prendeu as minhas mãos ao lado do meu rosto, me deixando sem movimentação alguma.
- Fale que eu sou inteligente!
- Ou então o que? – O desafiei.
- Ou então você sentirá a minha fúria.
- Acho que já estou sentindo... – Mordi o meu lábio inferior e falei sem pensar. – Quero dizer, você é inteligente, Zayn, sem duvidas! Só não faz muito o estilo culto, sabe?
- É? Então talvez você devesse ir lá com aquele Anttonie! – Foi ele que falou sem pensar dessa vez e se arrependeu no mesmo instante.
- Sai de cima de mim. – Falei seca, mas ele não se mexeu. Talvez estivesse averiguando se eu falava sério ou não. – Já pedi pra sair.
- ... Eu não quis dizer isso...
Zayn relutou no começo, mas acabou soltando os meus pulsos e saindo de cima de mim. Eu levantei do colchão, ainda séria, e fui em direção à saída do quarto. Ele poderia ter falado qualquer coisa, menos tocado no nome do garoto que mais me machucou em toda a minha vida, tanto é que eu ficara “traumatizada” por causa dele. Antes que eu pudesse chegar até a porta, senti mãos me puxando pela cintura e me girando até que eu estivesse encostada na parede. Zayn prendeu o meu corpo com o dele e deixou as mãos ao lado da minha cintura.
- , me desculpa. – Procurou meus olhos e manteve os rostos bem próximos. – Eu não pensei no que falei... Foi estúpido.
- Sei disso... – Falei baixo ao encarar aquelas orbes amendoadas. Minha força de vontade de me afastar dele se foi por água abaixo.
- Eu nunca te deixaria ir, de qualquer jeito. – Sorriu de canto ao ver que eu já me derretia. – Com ninguém.
Acabei sorrindo também e tomei a primeira atitude de colar os lábios aos dele. Zayn não se afastou e nem me negou, até mesmo gostando bastante da minha iniciativa. Suas mãos subiram pelos meus braços e uma delas parou na minha nuca enquanto a outra colocava uma mecha dos meus cabelos despenteados atrás da orelha. Já eu, passeei as mãos e unhas pelo abdômen dele, arrancando pequenas reações físicas que me mostravam o poder que meus atos exerciam. Nossos rostos tombaram para lados opostos na medida em que aprofundamos o beijo e encontramos a língua um do outro. Acho que nós dois precisávamos daquele momento mais íntimo que dividimos, mesmo com toda a confusão que girava em torno de nós. Ainda não tendo durado muito, foi o suficiente para nos relaxar um bocado.
- Acho que é hora de dormir. – Acabei com a animação de Zayn ao sussurrar contra os seus lábios, tendo certeza que ele queria mais. No fundo eu também queria, mas não estava com cabeça pra isso. – Amanhã será um dia longo...
- Estraga prazeres. – Murmurou com um sorriso sapeca, mas se afastou. – Eu tenho mesmo que dormir no chão?
- Claro que sim! Como vou ter certeza que você não me atacar no meio da noite se eu te deixar dormir comigo? Principalmente depois dessa fúria toda. – Pisquei.
Devia passar das quatro horas da manhã quando eu acordei naquela madrugada sem conseguir respirar. Meus olhos ardiam e eu não sabia o que estava acontecendo, mas o meu rosto e travesseiro estavam bem molhados. Foi então que eu percebi que estava chorando... Não conseguia lembrar se estivera tendo um sonho ou se comecei a chorar do nada, mas eu não parecia mais ser capaz de segurar aquilo que tentei ignorar durante o dia inteiro. Olhei para baixo e meus olhos estavam acostumados com a escuridão o suficiente para que eu pudesse ver Zayn dormindo tranquilamente. Eu não queria que ele me escutasse e não poderia acordá-lo. Enquanto ainda tinha forças, me pus para fora do colchão e coloquei a mão sobre os lábios, tentando me segurar. “Mais um pouco, só mais um pouco...” Eu implorava pra mim mesma e quase caí no meio do caminho entre a minha cama e a porta do quarto.
O resto da casa também estava escuro, por isso cambaleei até o andar de baixo sem saber muito bem o que fazer. Àquela altura as lágrimas escorriam do meu rosto e eu quase não conseguia ver nada na minha frente. O pior tipo de choro é aquele silencioso. Aquele de quando todos estão dormindo. Aquele onde você sente na sua garganta e seus olhos se tornam embaçados por causa das lágrimas e você só quer gritar. É o choro em que você tem que prender a sua respiração e segurar seu estômago pra continuar quieta. É chegar ao ponto que você não consegue mais respirar. É aquele choro de quando você percebe que a pessoa que a pessoa mais importante pra você se foi e nunca mais vai voltar.
Não consegui chegar até o sofá e acabei caindo de joelhos em frente a ele. Calafrios percorriam a minha pele e aquele entorpecimento havia finalmente me deixado e eu pude começar a sentir. Mas eu não senti o alivio como eu gostaria, pelo contrário. Tudo que eu senti foi dor e mais dor. Não era mais a dor do choque, como quando eu fiquei sabendo do que aconteceu e sim a dor de finalmente entender que aquela era a minha nova realidade. Meu avô estava morto. Tudo que ele era, tudo que eu conhecia... Agora não passariam mais de uma memória, de um passado feliz. Eu nunca mais o veria na minha frente, nunca mais escutaria a sua risada e nunca mais me sentaria em seu colo pra escutar uma história. Meu herói havia me deixado e nós não tivemos nem ao menos a chance de nos despedir. Havia tantas coisas que eu gostaria de poder ter dito, coisas que ele deveria saber, mas outras que talvez nem fizesse idéia... Enquanto uma de minhas mãos tapou a minha boca novamente evitando um soluço alto de escapar, a outra pressionou o meu peito. Eu podia sentir, literalmente, uma parte de mim morrendo. Eu estava tremendo, literalmente. Ainda tinha dificuldade de respirar e era como se o cômodo em minha volta estivesse se fechando contra mim.
Meu coração estava partido e aquela nostalgia que me atingiu em seguida só piorou tudo. As recordações de um momento que não voltariam e que eu gostaria de ter aproveitado mais. Da mesma forma que eu pensei em avisar a menina no parque mais cedo, eu gostaria que alguém tivesse me avisado. Um dos piores sentimentos é você desejar ter feito mais, ter aproveitado mais... Sei que todos os momentos que eu tive com o meu avô foram especiais e que eu nunca iria me esquecer de nada disso. O que mais perfurava o meu peito era achar que eu poderia ter feito mais. Durante os dois últimos meses de vida do meu avô eu estive ausente, longe. Sorrindo, cantando, dançando... Como se nada de ruim estivesse acontecendo a pouca distância de mim. Louis sabia de tudo e estava bem embaixo do meu nariz. Eu poderia ter perguntado mais vezes o que eram aquelas ligações que o deixavam triste, ou porque Liam o viu chorando quando ele pensava que estava sozinho. Eu deveria ter feito alguma coisa. Não adiantaria ficar com raiva de ninguém por não terem me contado, pois isso não traria o meu avô de volta. Nada o traria pra mim novamente.
Eu precisava de alguma coisa pra me segurar naquele momento, algo palpável que me fizesse sentir ao menos um pouco melhor. Me coloquei de pé com uma força que nem sabia que tinha e corri para a lavanderia. Os meus soluços começavam a escapar e eu não era capaz de diminuir o volume, mas cheguei a um ponto onde eu nem me importava mais. O cesto de roupas sujas estava no lugar de costume e parecia intocado há um bom tempo. Fui até o objeto e o revirei, mesmo sem conseguir enxergar muito bem foi fácil encontrar uma camisa social masculina que pertencia a papá. Não demorei nada pra vesti-la por cima das minhas próprias roupas e me abraçar. O cheiro dele estava ali, impregnado no tecido da peça. Para evitar uma nova queda, me apoiei sob o tanque de mármore e abaixei a cabeça encarando o nada.
- Je suis désolée... – Murmurei tão baixo que eu mesma quase não me escutei. – Me perdoa, papá... Me perdoa... Por favor... Eu nunca devia ter te deixado...
Meus pedidos de desculpa foram em vão, pois eu não recebi resposta alguma e tampouco poderia ser diferente. Comecei a me mexer novamente e a me arrastar para outro cômodo. Não sabia muito bem a minha nova direção, mas passei pela cozinha e fui terminar na porta da casa. Sabe aquela vontade de sair por aí sem se importar com nada? Eu só queria sumir... Sumir de mim mesma, de toda a dor. Queria sumir da realidade e até pensei que seria bom se um carro passasse por cima de mim e me fizesse perder a memória. Assim eu não conseguiria me lembrar de nada e no momento era só o que eu almejava.
- ? – A voz de Zayn descendo as escadas me alarmou. – É você que está aí?
- Eu já vou subir... – Tentei manter a minha voz firme, mas praticamente gaguejei. Não me virei para encará-lo por vergonha. – Pode me esperar lá.
- Não faz isso, ... Não me afasta.
Diferente do que eu havia pedido, Zayn não me esperou no quarto e em nenhum outro lugar. Ele veio até o meu encontro e me abraçou com força por trás, encostando o rosto no meu pescoço. Seus braços me envolveram com tanta força e cuidado que eu não agüentei. Os soluços que estavam lutando contra mim finalmente venceram e eu desabei. Meus joelhos fraquejaram em com isso eu comecei a voltar ao chão. O menino não me deixou cair, apenas me apoiou até que eu estivesse sentada na madeira. Ele também se sentou e me puxou para dentro do seu abraço, praticamente colocando-me sob o seu colo. Me senti uma menininha indefesa e meus prantos saiam cada vez mais altos. Zayn colocou o meu rosto entre seu ombro e pescoço e alisou os meus cabelos enquanto tentava me reconfortar.
- Eu não queria chorar, não queria! – Solucei com a voz chorosa e agarrei a camisa do pijama que ele vestia.
- Você não precisa fingir que é forte o tempo inteiro... – A voz dele também estava fraca, como se estivesse se segurando pra não começar a chorar também. – Não precisa fazer de conta que está tudo bem e não deve se preocupar com o que os outros vão pensar. Chore se você precisar... Faz bem.
- Baby... – Tentei formular uma frase, mas não consegui.
Zayn me abraçou mais ainda e eu já não me sentia mais sozinha. Estava com ele ali e tive certeza de que poderia contar com um porto seguro em qualquer situação, por pior que fosse. Ele não traria o meu avô de volta e não poderia fazer tudo passar de uma vez, mas me acolheria e cuidaria de mim quando eu precisasse. Me sentia aparada e os meus soluços voltaram a se tornar silenciosos. Eu não precisava sair de casa pra sumir da realidade... Precisava estar nos braços dele.
Capítulo XLI
- Bom dia, sunshine... – Uma voz suave me fez despertar e eu senti algo tocando o meu rosto.
- Hm? – Murmurei ainda sonolenta, tentando abrir os olhos.
- É hora de acordar, babe. – Continuou falando baixo e eu não precisei olhar pra saber que era Zayn tentando me tirar do sono que me envolvia tão graciosamente.
- Que horas são? – Abri um dos olhos e fiz uma careta com a claridade.
- Oito e meia... Eu sei que é cedo, mas... – Continuava fazendo carinhos no meu rosto e mantinha um sorriso impecável, ajoelhado no próprio colchão do chão e inclinado sobre mim.
- Como eu cheguei aqui ontem? – O interrompi sem me lembrar de muitas coisas da noite passada.
- Você dormiu nos meus braços, ... Na sala, lembra? Daí eu te trouxe pra cá.
- Lou e nana? Eles já foram?
- Você acorda cheia de perguntas, hein? – Riu baixo. – Sim, já foram... E eu avisei que você não queria ir.
- Obrigada... – Suspirei e forcei um sorriso, me esticando um pouco até beijá-lo na bochecha.
- Não me agradeça ainda... – Sorriu com o meu beijo de bom dia, mas eu o fitei sem entender. Logo ele se juntou a mim na cama e deitou o rosto no meu travesseiro. – ... Eu sei que você não vai gostar de ouvir isso, mas eu acho que deveria ir. Por ele, sabe? Prestar essa última homenagem.
- Eu não quero ir, Zayn. – Desviei o olhar. – Não quero vê-lo ali dentro.
- Ele não está mais lá... Não sei o que tem do outro lado, mas com certeza ele foi pra o lugar melhor que a gente tanto ouve falar. O que vai estar dentro do caixão é só o que o prendia aqui. Uma cápsula. – Falava com cuidado, medindo as palavras para que eu não tivesse outra crise de choro. – O seu avô está no seu coração, por mais clichê que seja. E é pra esse que você nunca vai precisar dizer adeus.
- Eu acho que você está certo... – Por mais que eu não quisesse escutar, tinha que admitir que Zayn estava com a razão. – Ainda dá tempo?
- Claro que sim. – Sorriu encorajador e beijou a minha testa. – Eu vou me trocar no quarto do Lou pra te deixar a vontade, aqui, tá?
- Uhum.
Concordei com um aceno de cabeça e o observei se levantar e pegar a sua mala preta e sair do quarto. Zayn estava sendo de tremenda ajuda e eu sinceramente não sabia o que faria sem ele. Estaria perdida, com toda certeza. Meus olhos ardiam um pouco e deviam estar vermelhos. Pelo que eu me lembrava, havia chorado por horas até não ter mais forças e foi nesse momento que eu devo ter pegado no sono. Zayn não falou nada, mas me abraçou e me acolheu o tempo inteiro; me protegeu. E era por ele que eu tentaria ser forte e iria até o enterro que já deveria estar acontecendo. Meu maior medo de ir era ter que aceitar a perda, era tornar tudo mais real do que já era.
Levantei-me devagar, evitando uma tontura, mas sem conseguir espantar uma pontada na cabeça. Acho que eu deveria me acostumar com essa dor chata na minha cabeça, mesmo que ela não fosse nada comparada à ferida na minha alma. Caminhei até a minha bagagem no canto do quarto e procurei alguma peça de roupa que serviria para a programação do dia, dando sorte de encontrar um vestidinho preto bem comportado. O lado de fora devia estar frio, mas eu não me importava. Meu avô sempre gostou quando eu usava vestidos, pois o lembrava de quando eu era pequena, então eu o usaria como parte da homenagem. Tratei de me despir dos pijamas e da camisa social que eu ainda estava usando e deixei tudo em cima da cama. Vesti a peça preta e também peguei o sobretudo preto que encontrei na mala.
Eu queria estar linda para o caso de Charles estar nos olhando lá de cima... Ou de qualquer lugar que ele pudesse estar. Não me preocupei em passar maquiagem alguma e muito menos arrumar o cabelo. Apenas o penteei e deixei-o cair liso sob as minhas costas. Em seguida, calcei um sapato baixo e coloquei um óculos escuro no rosto, escondendo bem as minhas olheiras. Em pouco tempo já estava pronta e guardava meu celular dentro do bolso, evitando levar alguma bolsa. Não estava em condições de levar muita coisa nas mãos, pois com certeza acabaria perdendo tudo. Meu quarto ali não tinha um espelho, então tive que me olhar no reflexo da janela, mas aquilo não me importava muito. Eu mesma não me reconheci e isso apertou o meu coração até que fui obrigada a respirar fundo.
Bem, era o melhor que eu poderia fazer em tão pouco tempo. Deixei o quarto bagunçado do jeito que estava e ao abrir a porta já encontrei com Zayn no corredor. Ele também estava vestido de preto e com um sobretudo semelhante ao meu. Um cachecol acinzentado aquecia o seu pescoço e o deixava charmoso como sempre. Ao me ver, se desencostou da parede e deu passo na minha direção.
- Podemos ir?
- Só preciso escovar os dentes... Cinco minutos?
- Enquanto isso eu vou ligar para o taxi... – Tirou um pedaço de papel do bolso. – Sua avó deixou comigo para o caso de você mudar de ideia.
Eu sempre tive uma idéia fechada de o que um cemitério deveria parecer. Lápides quebradas, grama mal cuidada, sujeira, terra, árvores secas, neblina cobrindo o chão... Um verdadeiro cenário de terror e eu não poderia estar mais errada. Pelo menos naquele caso. O cemitério onde meu avô seria enterrado era relativamente pequeno comparado com os outros da cidade e por aquele motivo estava em condições ótimas, se é que eu poderia falar isso. Havia lápides sim, umas mais antigas do que outras, só que isso não significava que estivessem abandonadas por ali. Uma grama bem esverdeada cobria o lugar de norte a sul e algumas árvores cheias de folhas chacoalhavam com o vento. Ironicamente falando, o Lumière Cimetière era cheio de vida. Alguns pingos de chuva caíam do céu, mas eu e Zayn éramos protegidos pelo grande guarda chuva que comportava nós dois perfeitamente. Já estávamos caminhando por uns dez minutos a procura de qualquer movimentação, mas estava sendo complicado encontrar.
- Tem certeza que é por aqui? – Perguntei com as mãos dentro dos bolsos, olhando em volta.
- Eu acho que sim... – Não foi convincente. – Não prefere ligar para o seu irmão?
- Eu não sei se o celular dele está no silencioso, então tenho medo de atrapalhar...
- Tem razão... – Passou o braço por trás de mim e me puxou pra perto.
- Obrigada por me fazer vir, Zayn... Eu provavelmente iria me arrepender de ficar em casa.
- Eu sei que é difícil, , porque eu já passei por isso. Mas fugir só piora as coisas, sabia?
- Sei disso agora. – Forcei um meio sorriso e encostei a cabeça ao ombro do mais alto. – Você está escutando algo?
- Parece um violino, né?
Olhamos à nossa direita, na direção de onde a melodia estava vindo. Um grupo de pessoas estava reunido ao longe e mesmo que eu não pudesse reconhecer ninguém, sabia bem que era o que procurávamos. Dei mais uma olhada para Zayn, como se estivesse querendo mais algum encorajamento e ele me olhou como se entendesse exatamente o que se passava pela minha cabeça. Beijou a minha testa e eu fechei os olhos por um momento, respirando fundo e mudando a direção dos meus passos. Calmamente começamos a ir em direção da aglomeração e a cada passo dado a música ficava mais clara e facilmente reconhecível: While My Guitar Gently Weeps – The Beatles. Charles sempre foi um grande fã dos “garotos de Liverpool”, por isso eu não estanhei nada a escolha daquela trilha sonora.
A cada novo passo dado, eu queria voltar três. Não estava arrependida de estar ali, mas tinha muito medo de ver o que estava no centro do circulo de pessoas que lamentavam e se abraçavam. A chuva havia diminuído, por isso Zayn fechou o guarda-chuva e segurou a minha mão, indicando o lado que deveríamos ir. Como era mais alto que eu, deve ter avistado a minha avó, pois era até ela que estávamos marchando. Meu irmão se encontrava firmemente parado ao lado da senhora e seu olhar era triste. Jay e Dan estavam um pouco mais ao lado, assim como algumas primas da minha mãe e outros familiares que eu lembrava vagamente de quem eram. Mantive meu olhar levantado até passarmos entre as pessoas e chegarmos na frente do circulo. Cumprimentei a minha avó com um olhar, que sorriu a me ver ali. Ela não foi a única a notar a minha presença, pois algumas pessoas comentaram algo entre si em um cochicho discreto e apontaram na minha direção. Como não fui no velório, a minha chegada ali também não deveria ser esperada.
O líder religioso que fora escolhido para realizar aquela cerimônia de adeus não me era nada estranho e eu saia que já tinha visto-o alguma vez antes. Ele deveria ser amigo da família, pois minha avó nunca pediria a um estranho para prestar aquela última homenagem ao meu avô. O senhor que estava mais perto do caixão fechado era o único vestido de branco e discursava algo que eu parei para escutar:
- Há o tempo que devemos viver e o tempo que devemos partir. O tempo para dizer “oi” e o tempo para dizer “adeus”. Mesmo que seja muito difícil dizer adeus agora, nós devemos limpar as lágrimas dos nossos olhos e continuar de alguma forma... – Olhava para todos ao nosso redor, mas eu tinha certeza que era a única que o olhava de volta. – E quando for a nossa vez de partir... Os outros estarão nos dando adeus e será a nossa vez de falar “oi” novamente.
- Tudo bem, ? – Lou sussurrou na minha direção e eu apenas afirmei que sim com a cabeça, totalmente envolvida pelas palavras do padre.
- Hoje estamos aqui para celebrar a partida de uma pessoa muito querida para todos nós. Porque a morte deve ser tratada como uma porta... Uma passagem. Onde deixamos esse mundo para trás e encontramos outro totalmente diferente. Sem dor, sem sofrimentos, sem doença... Apenas a paz e serenidade. – O homem falava baixo, porém podia ser escutado por todos. – E um dia nós estaremos juntos novamente e vai ser como se tempo nenhum tivesse passado...
O senhor continuou falando sobre partidas, sobre o que poderia nos aguardar do “outro lado” e que aquele não era o fim para a trajetória do espírito e coisas assim. Ele tentava amenizar o sofrimento e nos dar ao menos um pouco de esperança de que todos voltaríamos a nos ver um dia, pois repetiu isso ao menos três vezes. Por mais que eu tentasse com todas as forças me agarrar àquela esperança, esse futuro parecia longe demais e não era o suficiente pra mim. Como eu usava um par de óculos escuros, as lágrimas que molhavam os meus olhos foram escondidas por um tempo, mas elas logo trataram de escorrer pelas minhas bochechas. Não me preocupei em limpá-las, pois seria inútil, já que tinha certeza que outras mais vinham por aí. Mantive as minhas mãos dentro dos bolsos do meu sobretudo, protegendo-as do frio que agora só tocava o meu rosto e minhas pernas.
A cerimônia continuou naquele mesmo ritmo por algum tempo e a “banda” de instrumentos de corda seguiu tocando algumas das músicas preferidas do meu avô. Muitas delas me lembravam de um tempo mais simples, onde eu podia deitar na minha cama com a certeza de que o veria novamente, ou das vezes onde eu o peguei dançando com a minha avó na cozinha e ficava escondida apenas desejando encontrar um amor como o deles um dia. Meus avós se conheceram no colégio e permaneceram juntos desde então, passando mais da metade da vida inteira juntos. Para Jolene aquela perda com certeza estava sendo bem pior do que para qualquer um de nós, pois ela não deveria mais saber viver sem o marido. Ao menos eu sabia que ela não desistiria e isso me tranqüilizava um pouco.
- Alguém gostaria de falar alguma última palavra? – O cerimonialista terminou seu discurso e deu espaço para que alguém tomasse o seu lugar.
- Eu quero... – Não tinha certeza do que estava fazendo e muito menos do que iria falar, mas precisava falar algo. Era a minha última chance.
Todo mundo olhou na minha direção e a minha avó era a única que sorria. Zayn tocou o meu ombro como carinho e Lou também me encorajou. Minha mãe levou a mão até os lábios, segurando o choro. Eu retirei o óculos e o guardei no bolso, caminhando até o lugar onde o padre estivera momentos atrás. Fiquei de frente para o buraco na terra onde seria a última morada do corpo do meu avô e senti um arrepio muito ruim ao ver o quanto era fundo. Antes que eu pudesse começar a falar, Louis se aproximou pela lateral e me entregou um único botão de rosa branca.
- Meu nome é ... Alguns de vocês podem não me conhecer, mas eu sou a neta de Charles e gostaria de me despedir... – Respirei fundo.
- Fique a vontade, .
- Quando se é uma criança a gente não espera que algo assim vá acontecer. Nunca passa pela nossa cabeça que um dia teremos que dizer adeus para o nosso herói, porque para nós... Ele é imortal. Nós mesmos somos imortais. Quando se é uma criança não se sabe o que é a morte e por isso não temos medo dela, nos sentimos invencíveis. O caso é que com o passar do tempo a gente começa a entender que as coisas não são bem assim. Passamos a entender o perigo de fazer algo impulsivo, de atravessar a rua sem olhar para os dois lados... Começamos a crescer. E com essa maturidade vem o medo. Ficamos cientes que a nossa passagem pela Terra não é eterna, mas mesmo assim, mesmo sabendo disso... Nós nunca estamos preparados quando o dia realmente chega. Apenas desejamos silenciosamente que seja diferente, que coisas assim não aconteçam com a gente. Pior do que partir é ver uma pessoa que você ama ir embora e é isso o que nós estamos fazendo aqui hoje. – Tentei manter a minha voz o mais clara possível, mas dali em diante seria bem complicado. As lágrimas continuavam a cair e eu tentava lutar contra elas. Olhei para o caixão mais uma vez e senti um aperto no meu coração, fazendo-me olhar para o céu. - Eu nunca pensei que teria que dizer isso, papá... Nunca pensei que estaria te falando adeus um dia. Eu vou sentir tanto a sua falta, tanto! Não vai ter um dia que passe que eu não vá lembrar tudo aquilo que o senhor me falava, todos os seus poucos sorrisos que eram os mais verdadeiros possíveis. E eu só tenho a agradecer, pois todas as lições que o senhor me ensinou são coisas que eu vou levar comigo para o resto da vida. Espero que o senhor esteja me olhando aqui embaixo, porque eu sempre vou estar te procurando aí em cima. O nosso segredo vai ficar guardado no meu coração, assim como nós prometemos. Por você eu vou tentar ser forte, ok? Porque eu sei que é o que você iria querer... Obrigada por tudo. Obrigada por sempre acreditar em mim quando nem eu mesma acreditava. Obrigada por cuidar de mim e por me tornar essa pessoa que eu sou hoje. E espero que tenha te dado orgulho... Pode ter certeza que sempre farei de tudo pra continuar te deixando orgulhoso. Eu te amo, papá. Para além do sempre. Espero te ver em breve...
Funguei ao terminar a minha despedida e joguei a rosa branca de Louis sob o caixão. Me senti um pouco mais leve, tendo a certeza de que o meu avô escutara as minhas palavras de alguma forma. Não recebi uma salva de palmas, mas todos que me olhavam estavam com o coração na mão. Minha mãe tinha os olhos mais vermelhos e até mesmo Zayn parecia ter chorado. Alguns homens de paletó se aproximaram e seguraram algumas cordas presas à madeira do ataúde e começariam a abaixá-lo dentro do buraco na terra. Agora a banda tocava uma versão bem mais calma de “All You Need Is Love” e eu não conseguiria ficar ali parada.
Fiz meu caminho para o meio da multidão e passei esbarrando entre algumas pessoas. Não queria que ninguém me seguisse e parece que fui entendida, pois pessoa alguma veio atrás de mim. Eu havia falado tudo que precisava e não agüentaria ver o final daquele funeral, não aguentaria ver o meu avô sendo enterrado por mais que repetisse o tempo inteiro na minha cabeça que aquele “receptáculo” estava vazio e a alma de papá estava em um lugar melhor, em um mundo mais bonito. Continuei chorando e me afastando cada vez mais rápido daquela parte do cemitério. A música ficou inaudível em questão de minutos e foi então que eu percebi que estava correndo. Sim, correndo o mais rápido que eu podia, desviando de árvores e lápides. Precisava sair dali, de perto de toda aquela atmosfera melancólica.
Passei as mãos pelos meus olhos, evitando a minha visão de ficar turva e acabar me fazendo tropeçar e cair no chão. Ironicamente a chuva voltou a cair, mesmo que continuasse fraca. Avistei uma saída a poucos metros de mim, mesmo não sendo no mesmo caminho pelo qual eu havia entrado, e continuei correndo até lá. Pela velocidade eu estava ganhando, os pingos de chuva pareciam mais facas que cortavam o meu rosto, mas não me importei. Na verdade, não me importava com muita coisa naquele momento, só queria correr, correr e correr. Correr até não sentir mais as minhas pernas, até que a dor física se tornasse tão insuportável ao ponto de amenizar a dor emocional.
Passei pelos portões de ferro enquanto soluços escapavam entre os meus lábios e pessoas me olharam assustadas. Como eu estava toda vestida de preto e saindo de um cemitério, ou eu era uma assombração ou uma pessoa que estava sofrendo com a perda de alguém querido. Não fiquei por perto pra ver qual das duas opções as pessoas resolveriam aceitar e continuei com a minha correria. Meus olhos voltaram a ficar embaçados e eu não consegui parar a tempo antes de começar a atravessar uma rua movimentada. Também não vi o que me atingiu, só senti uma pancada bem forte no meu quadril que me jogou do outro lado da rua. Tentei gritar com o susto e com a dor, mas não consegui emitir som algum.
- Meu Deus, menina, você está bem? – Uma voz masculina se aproximou de mim.
- Eu...
Tentei falar e me mexer, mas não consegui. Acabei ficando deitada no asfalto enquanto uma confusão começou a acontecer a minha volta. Pessoas preocupadas e outras apenas curiosas tentavam falar comigo, mas eu só conseguia chorar e desejar conforto. Eu sabia que havia sido atropelada e sabia que a culpa era minha. Também sabia que já estavam chamando uma ambulância, mas preferia que me deixassem ali. Por um momento preferia fechar os olhos e esperar pela morte que parecia tão doce e suave comparada a confusão de coisas que eu sentia. Não estava sendo dramática, apenas não queria mais sentir nada. “Eu estou pronta...” Uma mentira que me obrigava a aceitar. Meus olhos reviraram uma vez e eu senti que estava apagando. Involuntariamente o meu corpo continuou lutando para permanecer vivo e minhas pálpebras foram abertas para que eu encontrasse uma luz forte batendo sobre o meu rosto. Foi aí que eu pude vê-lo... Meu avô. Apenas a sua expressão. Eu sabia que era ele... Vindo me buscar...
“Beeep... Beep... Beeeeep.” Um barulho contínuo e irritante me fez despertar de um sono que eu nem mesmo sabia que estava tendo. Mexi os olhos em uma tentativa falha de abri-los e também me movi sob a superfície em que eu estava deitada. Uma dor aguda em meu pulso direito me fez gemer e finalmente conseguir ver o que estava acontecendo e me encontrei dentro de um quarto estranho. Não precisei olhar a agulha furada em meu braço pra perceber que estava em um hospital e tomava soro. O barulho que me acordou era daquela máquina que mostra os batimentos cardíacos e o “Beep” era um bom sinal. Fora isso, não havia ninguém ali, nem ao menos um recado que pudesse me informar do que estava acontecendo, ou de quem me levara até ali.
Minha família devia estar tão preocupada! Zayn e Louis ficariam loucos me procurando pelo cemitério inteiro e a minha mãe teria um treco ao descobrir que eu não tinha ido pra casa. Ao mesmo tempo que eu queria ligar pra eles e avisar onde estava, não podia trazer mais essa preocupação pra ninguém. “Muito bem, ... Com todos esses problemas, você ainda inventa de dar mais trabalho?” Não, não! Bati na minha própria testa com a mão direita e isso acabou arrancando com tudo a agulha da minha veia e causou um pequeno corte no meu pulso que começou a sangrar. Reclamei baixinho e apertei ali com força. Eu estava perdida e não sabia o que fazer, mas o pior de tudo ainda era estar sozinha; estar sozinha e não poder pedir ajuda a mais ninguém. Talvez se eu fosse até o corredor pudesse encontrar uma enfermeira pra me ajudar...
Decidi sair daquela cama nada confortável e tirei o lençol que me cobria de cima de mim. Também não estava usando as minhas roupas, e sim aquela camisola de hospital. Pelo menos não era daquela completamente aberta atrás, protegendo o meu corpo de ficar a mostra na medida em que eu começasse a andar. Ainda apertando o pulso, pisei no chão e quase cambaleei. Eu deveria estar mais fraca do que imaginava e tudo girou. Tive que me segurar na parede pra não ir ao chão mais uma vez e o meu quadril latejou de dor bem no lugar onde o carro havia batido. Levantei a camisola até encontrar uma mancha roxa que devia ter uns dez centímetros de comprimento. “Droga!” Balancei a cabeça em negação e segurei o choro. Não precisava de uma opinião média pra saber que aquilo estava feio.
Arrastei um pé após o outro, fazendo o meu caminho em direção à porta daquele quarto. Não sabia que horas eram, mas devia passar das quatro horas da tarde por causa da programação que passava na televisão que encontrei pendurada em um canto do corredor vazio. “Eu devo ter sumido a tarde inteira...” Me sentia muito culpada pela preocupação que estava causando, mas talvez ninguém estivesse me procurando... Talvez só estivessem pensando que eu precisava desse tempo sozinha. É, aham. Vamos pensar assim, ok? Difícil.
Domingo deveria ser um dia tranqüilo naquele hospital, pois eu não via nenhum médico ou enfermeiro passeando pelo corredor e também não sabia qual caminho deveria seguir. Só andei em frente tentando espiar dentro de uma sala ou outra. Aquele hospital era público, mas super limpo e bem cuidado, diferente do que se vê em outros lugares, ao menos assim eu não daria mais gastos para a minha família. Chegando ao final do primeiro corredor, tive uma escolha a fazer: Ir para a direita ou esquerda. Uma placa tinha uma seta apontando para cada lado com as palavras “Recepção” e “Berçário”, respectivamente. Qualquer pessoa normal teria ido pelo caminho da recepção, pois lá com certeza teria alguém para dar informações, mas não eu. A minha curiosidade me levou a ir pela esquerda e procurar o tal berçário que não deveria ficar muito longe.
E não ficava mesmo, já que prontamente cheguei até uma parede que tinha a sua metade coberta por um vidro, permitindo quem estava do lado de fora ver o que ocorria ali dentro. Vários bercinhos estavam ocupados por bebês super fofos. Uns dormiam, outros chupavam dedo, e ainda tinha um que estava bem acordado e observava tudo que acontecia à sua volta. Esse último bebê era o que estava mais próximo ao vidro e eu sabia que era um menino por causa do seu manto azul claro. Dei uma batida de leve para chamar a atenção do neném e ele logo me olhou curioso.
- Oi, coisa fofa! – Falei baixo, mesmo sabendo que não seria escutada. Um sorriso escapou no meu rosto quando eu acenei para o pequeno e ele mexeu os braços gordinhos na minha direção.
Ele era tão inocente, tão puro... Mal sabia todas as coisas que teria que passar ao começar a crescer. Suspirei e o sorriso se desfez, dando lugar ao vazio na minha expressão. Os pais dele deveriam estar tão felizes! Assim como os avós, principalmente se fosse seu primeiro neto. Me impedi de continuar aquela linha de raciocínio, caso contrário acabaria chorando mais uma vez.
- Aí está você! – Uma mulher com um uniforme esverdeado parou ao meu lado. – Eu estava te procurando! Acabei de ir ao seu quarto e a senhorita não estava lá!
- Desculpa...? – Não estava muito certa do que falar. – Eu estava procurando ajuda...
- Pois já achou! Mas vamos te levar de volta para o quarto, pois não está em condições de ficar andando por aí! – Ela me pegou pelo braço e me arrastou para longe do berçário. – A propósito, meu nome é Sam e sou a enfermeira responsável por você, querida.
- Sou . – Tente parecer simpática, mesmo estando sendo obrigada a voltar para o quarto entediante.
- Uhh, eu sabia que o seu nome seria tão bonito quanto você. – Sorriu.
- Ahn, você se importaria em dizer como eu vim parar aqui?
- Que cabeça a minha! Claro que não... – Segurou o meu pulso e viu o corte que já não sangrava tanto quanto antes, me lançando um olhar feio. – Você foi atropelada e a ambulância a trouxe aqui... Mas estava sozinha. Por isso nem sabíamos o seu nome.
- E as minhas roupas?
- Estão secando, não se preocupe. Mas fora isso não tinha mais nada com você... Nem uma bolsa.
- E um celular? Dentro do bolso do casaco? – Me desesperei.
- Desculpe, querida, não tinha nada no seu casaco.
- Droga! – Fiz uma careta.
- Não se exalte! Você precisa ficar em repouso. – Me repreendeu. – Estava muito fraca quando chegou aqui e foi uma sorte não ter quebrado uma costela.
- Quando eu vou poder ir pra casa?
- Bem, você vai ficar sob observação hoje, mas acho que já vai ter alta amanhã cedo. – Abriu a porta do quarto para que eu entrasse e foi abrir as cortinas da janela.
- Amanhã? – Arregalei os olhos.
- Sim... Mas tem alguém que você queira avisar? Eu posso ligar pra você. Já teríamos feito isso, mas também não encontramos nenhum documento contigo.
- Não, não... Não tenho ninguém.
Me doeu falar aquilo, porque ao mesmo tempo que era verdade, também era uma mentira. Eu teria alguém pra ligar e avisar que estava no hospital se eu pudesse de fato avisá-lo... Mas como não podia, não tinha ninguém. Vidinha complicada essa, viu? Me rendi às ordens da enfermeira Sam e voltei para a cama um tanto quanto dura. Ela mesma me cobriu e pegou novamente aquela agulha com o soro para colocar no meu braço, mas eu choraminguei.
- Eu não gosto disso... – Fiz bico e me encolhi para longe dela.
- Mas eu tenho que colocar em você, ... Porque seus exames mostraram que você está fraca.
- Mas isso dói! – Sam devia estar acostumada a lidar com crianças teimosas, mas eu conseguia ser pior do que uma quando queria.
- Podemos fazer um trado? – Perguntou e eu afirmei que sim com a cabeça. – Eu vou trazer algo pra você comer e a senhorita vai se alimentar direito. Assim eu deixo você ficar sem o soro ate a hora de dormir. Fechado?
- Eu não to com fome... – Babucilei, mas ao ver o olhar repreendedor da enfermeira, me arrependi. – Fechado!
- Assim está melhor. – Levantou uma sobrancelha. – Baunilha ou tapioca?
- Me surpreenda. – Dei de ombros.
Era a primeira vez que eu ficava internada, mas já tinha experiência o suficiente pra saber que comida de hospital nunca é boa. Justamente por isso eu não me importava muito com o sabor que um pudim iria ter. Sam piscou em resposta e me deu o controle da televisão do quarto para que eu pudesse me distrair enquanto ela não voltava com a comida, mas qualquer coisa que estivesse passando ali não iria tirar da minha cabeça a única coisa que passava por ela: A “imagem” que tive de meu avô antes de desmaiar.
Agora que estava consciente, podia me lembrar claramente de ter visto-o sorrir pra mim daquela forma reconfortante que só ele conseguia. No momento do acidente eu achei que fosse um chamado dos céus atendendo o meu pedido para acabar com o meu sofrimento, mas ali, deitada na cama do hospital... Eu agradeci por estar enganada. Eu não queria morrer de verdade, claro que não! Mas fui egoísta o suficiente pra achar que sim... Imagina o sofrimento que a minha avó iria ter ao perder a neta e o marido em um período tão curto de tempo? E a minha mãe? Ela com certeza se sentiria culpada por tudo que me fez nos últimos anos e por toda a sua ausência na minha vida. E quanto a Louis, Harry, Liam, Niall e ? Perderiam uma amiga que eles amavam muito. O mesmo serviria pra Zayn... Que esteve do meu lado em todos os momentos e provavelmente estaria ali também, se eu deixasse. Meu pai, Rachel... Principalmente Lux, que me tinha como um modelo do que ela gostaria de ser quando crescesse. Eu não podia morrer, não poderia abandonar todas aquelas pessoas que precisavam de mim do mesmo jeito que eu precisava deles.
Admito que possa ter alucinado e imaginado que vi o meu avô, mas isso ficou marcado dentro de mim de tal forma que eu não conseguiria esquecer ou deixar pra lá. Nunca fui dessas que acredita em revelação espiritual ou milagres, claro que também nunca tive nada contra quem acredita, mas a minha mente aberta para coisas novas me fez pensar no “e se?”. E se foi mesmo real? E se o que eu vi foi a forma de o meu avô mostrar pra mim que estaria sempre comigo mesmo que eu não pudesse vê-lo? E se ele fosse o meu anjo da guarda? Chegar a essa conclusão me fez sorrir. Mas sorrir de verdade mesmo, não os sorrisos forçados que eu estava tão acostumada a dar ultimamente.
- Toc toc! – Sam abriu a porta e trouxe consigo um carrinho no estilo daqueles de hotel e em cima dele estava uma bandeja de comida. – Demorei?
- Nem um pouco. – Balancei a cabeça e me sentei.
A enfermeira se aproximou de mim e inclinou um pouco a cama automática, coisa que eu nem sabia que era possível. Também colocou os travesseiros nas minhas costas para que eu ficasse mais confortável. Aquela mordomia toda me agradava muito, diga-se de passagem. A agradeci com um sorriso e antes de me dar o almoço/jantar, pegou o meu pulso novamente e deu uma boa olhada. Provavelmente estudando se precisaria fazer um curativo e deve ter constatado que sim, pois pegou um kit de primeiros socorros que também estava no carrinho e tirou de lá uns pedaços de gaze e esparadrapo. Borrifou um spray e eu resmunguei de dor. Teria assoprado o local, mas não quis parecer mais com uma criança do que já estava. Em seguida, ela colocou a gaze por cima do machucado e o envolveu com o esparadrapo.
- Agora está bem melhor! – Sorriu e se virou para pegar a comida.
- Obrigada, Sam. – Sorri com sinceridade e a ajudei a colocar a bandeja sob as minhas pernas. – Você não precisava estar fazendo tudo isso por mim.
- Claro que precisava! – Riu baixo e tirou a tampa que cobria o “prato principal”. – Você me lembra muito a minha filha, .
- Mesmo? – Ergui as sobrancelhas e peguei uma colher que encontrei ali por cima.
- Sim... Ela faleceu no ano passado, sabe? – Sam disse isso com tanta naturalidade que eu até fiquei nervosa. – Mas só de olhar pra você eu já me sinto um pouco mais perto dela.
- O que aconteceu com ela? Se é que eu posso perguntar... – Comecei a mexer na sopa de legumes e peguei uma colherada.
- Pode sim, eu não me importo. – Sentou-se na ponta da cama e me vigiou comer. – Minha Allie sofria com depressão... Mas ela nunca disse nada pra mim ou pra qualquer outra pessoa, por isso não pude fazer nada pra ajudar. Até que um dia... Já era tarde demais. Ela tirou a própria vida...
- Eu sinto muito, Sam, de verdade... – Senti um aperto no coração ao escutar aquela história e quase não consegui engolir um pedaço de brócolis. – E as vezes as pessoas mais próximas de nós tem algum problema e a gente não consegue ver. Mas não é porque não nos importamos, só... Tendemos a acreditar no que é melhor e não no que está na frente dos nossos olhos.
- Isso mesmo. – Sorriu com pesar. – E como está a sopa, huh?
- Está boa... Um pouco sem sal. – Peguei outra colherada e levei até a boca.
- Comida de hospital não pode ter sal algum, sabia? Faz mal. – Explicou. – Mas vamos conversar e você vai comendo aos poucos. Daqui a pouco acaba e você nem percebeu!
- Tá bem! – Concordei depois de engolir e peguei o copo de suco de laranja para ajudar a descer.
- Me conte mais sobre você? Até agora eu só sei o seu primeiro nome.
- Bem... Meu sobrenome é Tomlinson e eu sou daqui mesmo, mas atualmente estou morando em Londres...
- Londres? Dizem que é lindo, mas eu nunca tive a oportunidade de ir conhecer.
- É lindo sim! – Concordei com a boca cheia de sopa e quase babei.
- E o que você faz lá?
- Eu estudo em uma academia de artes... Faço Ballet Clássico.
- Você se lembra do nosso trato? – A noite havia caído devagar e Sam tentava me convencer a honrar a minha palavra e deixá-la colocar o soro no meu pulso.
- Mas, mas, mas... – Resmunguei e acabei me rendendo. – Tudo bem!
- Boa menina.
Sam sorriu, mas eu fiz uma careta nada amigável. Estiquei o braço e preferi olha na direção oposta. Aparentemente a minha veia do braço esquerdo não era boa suficiente e com isso a enfermeira teve que enfiar a agulha novamente pelo meu pulso cortado, fazendo doer mais do que antes. Choraminguei como um bebê e fiz a mulher rir da minha desgraça. Se ela não tivesse sido tão legal comigo durante o dia todo, eu provavelmente a xingaria. Depois de algumas tentativas, finalmente conseguiu achar a minha veia e a perfurou com a agulha. Logo comecei a sentir o líquido entrando no meu sistema e o desconforto voltou.
- Muito bem, ... Não tente tirar sozinha de novo ou vai se machucar, entendeu?
- Entendi, Sam. – Respondi ranzinza.
- Amanhã cedo eu volto aqui com o médico pra fazer uns últimos exames e te dar alta, ok? – Diminuiu a inclinação da mesa e eu logo estava deitada mais uma vez. – Tá vendo aquele botão ali? Se precisar de algo, é só apertar e alguém vem correndo.
- Obrigada mais uma vez. – Sorri de canto, com o humor um pouco melhor dessa vez.
- De nada, querida. Mas eu ainda ficaria mais tranquila se tivesse alguém aqui com você... – Suspirou. – Tem certeza que não pode ligar pra nenhum amigo ou familiar?
- Eu estou bem, Sam... De verdade. – Menti.
- Você é quem sabe, criança. – Não me chamou assim no sentido pejorativo e sorriu. – Boa noite.
- Boa noite...
Fechei os olhos antes que a mulher saísse, querendo convencê-la de que eu realmente iria dormir, e a esperei apagar as luzes e fechar a porta do quarto. Mesmo depois de ficar no escuro, ainda era possível ver onde as coisas estavam só com a claridade que entrava pela janela alta do quarto e pela fresta embaixo da porta. Sam ainda ficou do lado de fora por alguns segundos e eu a esperei se afastar mais para bufar impaciente e sentar na cama. Olhei para o meu pulso e tirei a agulha, um pouco mais cuidadosa do que da primeira vez, mas ainda assim saiu um pouco de sangue. Usei o mesmo curativo de antes para tapar a ferida e respirei mais aliviada. Qualquer coisa eu explicaria que tirei o soro apenas pra ir ao banheiro e depois não soube colocar de volta. Isso mesmo!
Entediada de ficar naquela cama, saltei para o chão e me arrependi por não ter sido mais delicada. O machucado na lateral do meu corpo ainda doía bastante e eu mal conseguia me mexer com velocidade sem quase cair no chão e começar a chorar. Meu maior medo era que ficasse algum tipo de seqüela ou mancha, mas acho que só descobriria isso na manhã seguinte, quando o médico viesse me olhar. Sem querer sofrer por antecipação, atravessei o quarto até chegar à janela. Foi bem difícil de desemperrar o vidro, mas consegui abri-lo e sentir o vento frio bagunçar os meus cabelos molhados por causa do banho que eu havia acabado de tomar. A chuva se foi, mas o frio de inverno veio com tudo e eu me perguntei o que estariam fazendo na minha casa... Queria ser uma mosquinha pra voar até lá e ver se estava tudo bem e também me odiei por ter perdido o meu celular. Os meninos deveriam estar tentando me ligar milhares de vezes e a minha falta de resposta os preocuparia.
Suspirei e olhei para o céu, dando de cara com uma Lua cheia bem grande. Sorri ao lembrar do “segredo” que papá e eu dividíamos... Era algo bem bobo, na verdade, mas ainda assim queria dizer muito para nós dois. Costumávamos dizer que não importa onde estivéssemos... Seja na mesma cidade ou do outro lado do mundo, a Lua que nos ilumina sempre é a mesma e que nós dois podemos nos comunicar através dela. Agora mais do que nunca eu iria me apegar àquele segredo e torcer para que ele também, estando onde estivesse.
- Hey, papá... Como está tudo aí em cima? Só fazem dois dias e por aqui parece que se passou uma eternidade desde que você se foi. Eu sinto tanta saudade que você não faz idéia. – Suspirei ao conversar com a Lua, esperando por uma resposta que não viria. – Eu estive pensando em umas coisas, sabe? Coisas que eu acho que preciso fazer... Espero que o senhor fique orgulhoso de mim. Ahh, se puder... Avisa pra nana que eu estou bem? Eu sei que é feio sumir sem dar noticias assim, mas eu não sabia o que fazer... O senhor entende, né? Agora que é o meu anjo da guarda...
Capítulo XLII
- Bom diaaaa... Meu Deus, que quarto frio é esse?! Quem abriu essa janela?!
Eu não precisei abrir os olhos pra saber que havia amanhecido e Sam vinha me acordar. Os passos dela denunciaram quando correu até a janela que eu acidentalmente havia esquecido aberta na noite anterior e a fechou com dificuldade. O quarto realmente estava frio, pois eu estava toda enrolada no cobertor de lã e parecia uma bolinha. Foi muito difícil encontrar uma posição confortável que não fizesse muita pressão na lateral machucada do meu corpo, por isso eu demorei muito pra conseguir dormir e ainda não estava pronta pra acordar. Sam voltou para a lateral da minha cama e eu me fingi de morta. “Não se mexa. Não respire. Ela pode pensar que você está em coma e ir embora.” Senti um carinho nos meus cabelos e acabei suspirando.
- Está na hora de acordar, ... – Me balançou de leve. – Daqui a pouco o médico chega pra te examinar! Ou você prefere ficar aqui mais um dia?
- Não quero! Estou acordada! Já acordei! – Mesmo sonolenta, dei um pulo na cama e me sentei, recebendo uma pontada nas costelas e ficando com a visão turva. – Outch.
- Calma, calma! – Riu baixo e apertou o meu braço de leve, ajudando-me a sentar direito. – Você tirou o soro de novo, né? Eu sabia!
- Eu tive que ir ao banheiro, Sam... Não tenho culpa. – Menti e fiz cara de inocente.
- Claro que teve. – É, ela não acreditou naquela minha desculpa e inclinou a cama novamente para que eu pudesse ficar sentada e confortável. – Mas tudo bem. Eu trouxe o seu café da manhã!
- Não estou com fome, Sam. – Fiz um bico e acariciei o curativo no meu pulso. Dormir em cima dele não foi nada bom.
- Mas vai ter que comer mesmo assim! – Tirou a bandeja do carrinho e a colocou no meu colo. – Como ontem você comeu o pudim de tapioca, hoje eu trouxe o e baunilha.
- Espero que seja bom, pelo menos.
Todos sabemos que eu nunca fui a pessoa mais feliz durante a manhã, imagine em um hospital e ainda tendo que comer aquela comida horrível... Pff! Pelo menos o pudim de baunilha estava com uma cara melhor do que o de tapioca e o resto da comida também estava um pouco mais apresentável. O prato principal era uma porção de ovos mexidos, duas torradas de pão e um potinho de geléia de goiaba. Ao lado também havia um pratinho com salada de frutas e outro com uma gororoba alaranjada que eu não comeria de jeito nenhum! Para beber, um copo de leite quente. Poderia ser pior, né?
- Hoje nós não podemos ficar conversando, porque o hospital está um pouco cheio... Então trate de comer tudo, certo? – Riu da careta que eu fiz ao provar a primeira garfada dos ovos e puxou o carrinho para levar embora. – Quando eu voltar, trarei as suas roupas e o médico. Bon apetit!
- Tudo bem, Sam... Obrigada.
- Você nunca para de agradecer, menina?
A enfermeira sorriu daquele jeito que eu já conhecia, realmente feliz em ajudar e não porque era a sua obrigação. Ela saiu do quarto e me deixou sozinha ali dentro com a bandeja de comida que poderia sair andando sozinha a qualquer momento. Pensei em ligar a televisão, mas provavelmente não teria nada de bom passando ali. Respirei fundo e engoli mais uma garfada do meu café da manhã, desejando estar em casa. A minha avó com certeza teria feito algo bem mais gostoso do que aquilo, como panquecas e cauda de chocolate, ou croissants de queijo gorgonzola. Eu senti uma pontada no peito e não foi de dor, e sim de saudade. Saudade dela, de Louis... Saudades de Zayn. De seus olhos com cor de avelã que podiam enxergar a minha própria alma e também de seus lábios avermelhados que se encaixavam tão perfeitamente aos meus.
Não gostava de ficar tanto tempo longe dele, principalmente por estar tão vulnerável quanto eu estava naquele momento, mas acho que teria que me acostumar. Certas coisas vinham nublando os meus pensamentos e eu precisaria tomar novas decisões rápido, mesmo que bem no fundo já soubesse o que iria terminar acontecendo. Suspirei e tentei deixar essas coisas guardadas no fundo da minha consciência, pois ainda não era a hora de fazer nada. Só o que eu precisava fazer era terminar de comer e torcer para que o médico chegasse logo e pudesse me dar alta. Eu teria que dar alguma desculpa para o meu sumiço e já sabia bem o que iria falar. Nada tornaria o que eu fiz aceitável, principalmente por estar sumida por mais de vinte e quatro horas, mas era o melhor que eu podia fazer.
Um pedaço de morango, um pedaço de manga e um pedaço de kiwi foram as únicas coisas que eu consegui comer da salada de frutas e acabei deixando a bandeja de lado. Dei alguns goles no copo de leite só pra ajudara descer e também o deixei pra lá. Sam iria brigar por eu não ter comido quase nada, mas quem poderia me culpar? Eu sentia falta de comida com sal! Passei as mãos pelos cabelos em uma tentativa de colocá-los no lugar, pois pela primeira vez pensei no quanto eles deveriam estar bagunçados.
- Olha quem voltou! – A minha enfermeira preferida voltou para o quarto e não estava sozinha assim como prometeu. – , esse e o Dr. Pierre! Ele te atendeu ontem, mas você estava desmaiada, então provavelmente não se lembra.
- Não me lembro mesmo. – Ri daquela obviedade e balancei a cabeça. – Muito prazer, doutor.
- O prazer é meu! – O médico era um tanto jovem para o meu gosto, mas quem era eu pra julgar? Ele veio até o meu lado e apertou a minha mão em cumprimento. – Fico feliz em ver que você está acordada! Como se sente?
- Estou com um pouco de dor na costela... E por aqui. – Apontei para a área onde ficava o meu machucado do quadril e depois mostrei o meu pulso. – Aqui também.
- Dr. Pierre, a foi a paciente que mais me deu trabalho! – Sam me denunciou. – Ficou tirando o soro o tempo inteiro e ainda não comeu quase nada!
- Ei! – Fiz careta para a mulher que deveria ser a minha cúmplice e não quem iria me entregar assim.
- Mas quem pode culpá-la, Sam? Essa comida é muito ruim. – O médico piscou pra mim e eu ri.
- Exatamente! – Concordei e a mulher nos olhou incrédula.
- Vou levar isso aqui para a copa e já volto com as suas roupas, querida. – Sam se despediu e saiu do quarto.
- Posso te examinar? – Pierre pediu e eu afirmei que sim com a cabeça. – Você disse que está com dores na costela, certo?
- Sim... – Toquei na região abaixo do meu busto, na lateral, sentindo bem de onde a dor estava vindo. – Por aqui.
- Ontem fizemos um raio-x e você não está com nada quebrado aí dentro, então é só a dor da pancada mesmo, ok? – Tocou devagar sobre o local e eu mordi o lábio me impedindo de reclamar de dor. – A senhorita teve muita sorte.
- Sorte? Claro! – Ri sem humor. – Eu estou com uma mancha enorme no corpo!
- Essa mancha que você está falando é um hematoma. – Afastou um pouco o cobertor e pediu minha permissão para levantar a camisola. É claro que eu permiti, mesmo ficando um pouco envergonhada. - Um hematoma é causado quando os minúsculos vasos sanguíneos são danificados ou quebrados como resultado de um golpe na pele. A área escura é o vazamento de sangue desses vasos para dentro dos tecidos...
- O senhor está tentando me tranquilizar ou me deixar mais apavorada ainda? – Meus olhos estavam arregalados na medida em que ele ia explicando tudo. – Quanto tempo esse hematoma vai ficar em mim?
- Bem, como nós aplicamos gelo assim que você chegou aqui... Acho que em três semanas já vai começar a clarear. – Explicou e pegou dois frascos de dentro do seu jaleco branco. – Eu trouxe essa pomada e um remédio que vai te ajudar a aliviar a dor. Tome uma a cada doze horas, ok?
- Obrigada... – Peguei o remédio tarja preta e a pomada que tinha um cheiro bem ruim. Eu não queria passar três semanas com aquela coisa horrível no meu corpo, por isso cuidaria muito bem do meu hematoma.
- Agora me deixe ver isso aqui no seu pulso. – Pegou o meu braço e retirou o curativo. – Nada mal... Mas vou fazer um novo, porque não quero que você vá pra casa com isso aberto. Pode pegar uma infecção e piorar.
- Então eu já vou poder ir pra casa? – Sorri um pouco mais animada.
- Vai sim!
O médico também sorriu e pegou o kit de primeiros socorros que Sam havia deixado por ali na noite anterior. Ele molhou a gaze com um líquido alaranjado e em seguida colocou-a sobre o corte no meu pulso e usou o esparadrapo para prender ali. Diferentemente do que a enfermeira fizera, Pierre não usou nenhum spray que faria o meu machucado arder e fiquei aliviada com isso. Outra coisa que também me dava muito alivio era ninguém ter me perguntado o que aconteceu para que eu tivesse sido atropelada ao sair de um cemitério. Parando pra pensar agora... Seria um tanto irônico se eu tivesse realmente morrido. É, meu humor estava bem negro naquela manhã.
- Bem, acho que não tenho mais nenhuma recomendação pra você, . Só me prometa que vai se cuidar, sim? E se alimente direito, porque sua taxa de glicose está baixa e é por isso que você tem estado tão fraca. – Me olhou sério enquanto examinava uns papéis dentro de uma pasta marrom. – Estamos entendidos?
- Sim, senhor. – Bati continência e ele riu.
- Melhor assim. – Me entregou um cartão de papel com o seu número e telefone. – Me ligue se precisar de alguma coisa.
Afirmei que sim com a cabeça, mas mal sabia ele que meu pai também era um médico e seria pra ele que eu correria se tivesse algum problema. Só torcia pra que nada de mal voltasse a acontecer comigo, até porque já basta de desgraça, né? Dr. Pierre saiu do quarto e Sam não deveria estar muito longe de voltar com as minhas roupas. Eu finalmente poderia ir pra casa e ao mesmo tempo em que estava ansiosa para isso, tinha medo da reação que minha família teria.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, não é? Comprovei esse ditado popular ao descer da cama de hospital sem sentir uma dor mais forte do que a esperada e não cambaleei pela primeira vez. Foi bom esticar as pernas e os braços, pois parecia que eu tinha passado horas na mesma posição. Caminhei até o banheiro do quarto para fazer a minha higiene pessoal completa, até mesmo escovei os dentes com uma escova e pasta que Sam conseguira me arrumar. A água da torneira estava gelada, por isso quase me arrependi de ter lavado o rosto.
- ?! Ai, meu Deus, ela sumiu! Alguém me ajuda aqui? – Uma Sam desesperada estava no quarto e eu tive que correr de volta pra lá, com a toalha na mão e o rosto pingando.
- Ei, eu só estava no banheiro! – Acenei para a mulher, mostrando que eu ainda estava por ali.
- Que susto, menina! – Respirou aliviada ao me encontrar e colocou a mão sobre o coração. – Eu trouxe as suas roupas.
- Yay! – Celebrei ao olhar meu vestido e sobretudo em cima da cama.
- Precisa de ajuda?
- Acho que consigo me vestir sozinha, Sam, mas obrigada. – Sorri.
- Tudo bem... Seus sapatos estão aí também, oh. – Suspirou. – Quando estiver pronta, pode ir até a recepção e dar o seu nome, porque eu já deixei o seu transporte de volta pra casa reservado.
- Você é um amor, Sam... Eu não sei o que teria feito sem a sua ajuda. – Posso ter me precipitado, mas fui até a mulher e abracei-a.
- Eu só fiz o meu trabalho, querida. – Me abraçou de volta e mexeu nos meus cabelos. – Se cuide, certo? De verdade.
- Eu vou me cuidar sim. – Prometi e nos separamos.
Sam não falou mais nada e limpou uma lágrima do canto dos olhos. Ela não tinha se apegado tanto assim a mim, mas devia estar novamente se lembrando da própria filha; de quem eu a lembrava. Nos despedimos com um último sorriso e aquela seria a última vez que eu a veria na vida. Logo fui deixada em paz naquele quarto frio e sem decoração alguma para poder trocar de roupa. Tive sorte por ter um vestido e não uma calça ou algo mais apertado para vestir, já que isso provavelmente machucaria o meu hematoma mais ainda. Se eu tinha entendido alguma coisa do que o médico falara, era que eu não deveria forçar muito a minha pele ferida.
- Pode parar aqui, por favor? – Pedi para o motorista que diria a ambulância que me levaria de volta pra casa.
O homem bem simpático disse que sim e parou o carro em uma esquina. Ali não era bem a casa da minha avó e eu ainda teria que caminhar um quarteirão inteiro, mas seria melhor do que chegar naquele veículo nada discreto. Eu não queria preocupar ninguém e por isso não poderia sair de uma ambulância e caminhar como se nada tivesse acontecido. Também não pretendia contar que passei o último dia em um hospital depois de ter sido atropelada. Sim, ainda estava com o curativo no meu pulso direito, mas ele era escondido pela manga comprida do casaco e ninguém iria examinar o meu corpo a procura de machucados, o que tornaria mais fácil esconder o hematoma.
Pude descer do carro e me despedir do homem que era o marido de Sam e ele acenou na medida em que eu me afastei do carro. Passei as mãos pelos meus cabelos, mais uma vez tentando colocá-los no lugar e desejei ter uma escova escondida no meu bolso, mas ele estava vazio. Quero dizer... Vazio além da pomada e comprimidos que Dr. Pierre havia me receitado. Ao menos não estava chovendo e não pioraria a gripe que eu possivelmente começaria a ter em breve.
Meus passos eram apressados e eu não podia esperar pra ver a minha avó e falar que eu estava bem e que nada de ruim havia acontecido. Também me preparava para escutar reclamações, mas isso seria o de menos. Eu precisava ir pra casa. Virei a esquina e a primeira coisa que vi foram luzes vermelhas e azuis piscando na calçada em frente a residência da minha família. “O que esta acontecendo?” Me desesperei com a viatura policial e o guarda que conversava com Dan. A partir dali, percorri o resto do caminho em uma correria angustiante, com medo de imaginar o que pudesse estar ocorrendo.
- ! – Dan gritou ao ver a minha chegada e logo várias pessoas apareceram atrás dele.
- O que houve? Porque a policia está aqui?! – Perguntei confusa e finalmente cheguei até a casa.
- Eles estavam procurando por você!
O policial me olhou com certa raiva, supostamente achando que eu era mais uma menina mimada que sumia sempre que queria e deixava a família preocupada. Seu olhar falava: “Eu não acredito que perdi um dia de trabalho pra nada.” Eu logo comecei a entender o que estava acontecendo ali. Como havia “sumido” há mais de vinte e quatro horas, já podia ser considerada uma pessoa desaparecida e ninguém hesitou em colocar a polícia atrás de mim. Jolene foi a primeira a vir de encontro a mim e me abraçar.
- Nós estávamos tão preocupados, minha querida! Onde você estava? – Ela não estava brava como eu esperava, apenas feliz em me ver.
- Eu encontrei com uma amiga e passei a noite na casa dela... – Menti. – A Pâmela, lembra?
- E custava alguma coisa avisar, ? – Meu irmão estava assustado e bravo ao mesmo tempo.
- Eu perdi o meu celular... – O olhei cheia de culpa e minha avó se soltou de mim. – Desculpa...
- Não adianta pedir desculpas! Você sabe o que nos fez passar?! Todas as coisas que nós achamos que poderia ter acontecido?
- Louis, já chega. – Zayn surgiu ali pela primeira vez e impediu meu irmão de continuar com aquele discurso que logo me faria começar a chorar. – O que importa agora é que ela está bem.
Lou bufou e me deu as costas, entrando em casa. Ele estava muito chateado comigo e era compreensível. Me senti pior do que já estava quando Dan foi ligar para a minha mãe e avisar que eu apareci. Pelo visto ela estava dirigindo pelas ruas a minha procura desde o nascer do Sol. Nana foi conversar com o policial e agradecer por toda ajuda, deixando eu e Zayn frente a frente. O seu olhar não era de raiva, apenas de preocupação. Antes de mais nada, o menino me envolveu em seu abraço e eu pude relaxar o corpo no dele. Me senti segura como se nada de ruim pudesse me acontecer agora; finalmente eu estava em paz.
- Você está gelada, ... Vamos entrar? – Me perguntou ao beijar a minha bochecha e eu inspirei o seu perfume.
- Vamos...
Afirmei e não nos separamos. Zayn me guiou para dentro de casa e eu não arrisquei olhar para o meu irmão que estava sentado no sofá. Ele permaneceria com raiva de mim por mais um tempo e eu já estava preparada pra agüentar suas reclamações, principalmente por saber que ele estava com a razão. Fomos direto para as escadas e ao chegar no segundo andar, fui direto para o meu quarto. A minha cama estava arrumada e o colchão de Zayn não estava mais no chão, era quase como se ninguém tivesse dormido ali dentro. Algo que me pegou de surpresa foi ver o meu celular em cima do meu travesseiro.
- Eu achei que tinha perdido! - Corri até o objeto e praticamente o abracei.
- O Louis o encontrou na grama quando nós estávamos te procurando... – Zayn se sentou na ponta da cama e me olhou como se quisesse perguntar algo. – Quem é Jane Doe?
- Quando não sabem o nome de alguém, geralmente o chamam de John Doe... Jane Doe é o feminino. Mas por que? – Não entendi o que aquela pergunta tinha a ver com qualquer coisa, mas respondi do mesmo jeito.
- Isso aqui caiu do seu casaco quando você chegou. – Esticou uma etiqueta na minha direção e parecia preocupado, quase decepcionado.
- O que... – Peguei a etiqueta onde se lia: “Jane Doe, Hospital de Paris”. Não precisei ler mais nada pra saber que tinha sido pega na mentira.
- Que aconteceu com você, ? – Perguntou com paciência, me dando a confiança que eu precisava pra contar.
Respirei fundo e andei até a porta, fechando-a. Se eu ia contar a história verdadeira, não queria que mais ninguém ouvisse. Zayn me observou preocupado e não perguntou mais nada. Eu voltei ate o meio do quarto, parando de frente para o outro. Com isso, tirei o meu sobretudo e deixei de lado, mostrando o curativo no meu pulso.
- Meu Deus, ! Você fez isso? – Puxou a minha mão delicadamente para olhar o meu machucado de perto.
- Não, não fui eu... – Neguei, querendo evitar que ele pensasse que eu tinha tentado me matar ao cortar o pulso. – Eu fui atropelada, Zayn. E me levaram até o hospital...
- Quem? Quem te levou? Porque você não avisou a ninguém?
- Eu não sei quem me levou, porque desmaiei com a pancada... – Limpei uma lágrima que teimou em cair dos meus olhos. – E eu não queria preocupar ninguém falando que estava no hospital, mas acho que não adiantou muito, né?
- Eu queria ter cuidado de você. – Me soltou e olhou para o meu rosto. – Deve ter sido assustador ficar sozinha em uma hora dessas.
- Um pouco... Mas a enfermeira que cuidou de mim foi um amor. – Dei um meio sorriso e segurei a barra do meu vestido. Ainda faltava a pior parte daquilo tudo. – Tem mais...
Zayn observou eu levantar o vestido e virar de lado, mostrando o hematoma na minha pele. Ele não levou aquilo pelo duplo sentido e nem prestou atenção no meu corpo mais do que deveria. E eu também não me senti envergonhada por praticamente estar “me despindo”. O queixo dele caiu ao ver o roxo na minha pele e o tocou com a ponta dos dedos. Eu recuei um pouco por causa da dor que aquilo causaria e ele se interrompeu.
- Eu não quebrei nada... Só estou um pouco dolorida. Mas o médico me deu uma pomada e alguns remédios pra dor, então acho que eu vou ficar bem. – Forcei um sorriso e abaixei o vestido.
- Ainda bem. – Também sorriu e me puxou devagar para o seu colo. – Eu devia ter te seguido ontem... Quando você saiu correndo. Eu não podia ter te deixado.
- Shh, não pensa assim. – O envolvi pelo pescoço e encostei nossos rotos. – Eu precisava de um tempo sozinha, sabe? Pra pensar...
- Só espero que já tenha pensado o bastante, porque eu não vou mais te deixar sozinha. – Me olhou com seriedade.
- É isso mesmo o que eu quero. – Sorri e juntei os nossos lábios em um selinho.
O que deveria ser um beijo rápido se tornou algo mais profundo rapidamente. Não sei se era só eu, mas simplesmente não consegui me separar dele. Era como se eu precisasse daquilo, como se os lábios de Zayn fossem um remédio para todas as minhas dores e preocupações. Ele me envolveu pela cintura com todo cuidado do mundo, evitando tocar no local do meu machucado, e ainda assim me manteve o mais perto possível. Nosso beijo não foi “quente”, mas foi carinhoso. Apenas ficamos curtindo um ao outro, matando todas as saudades e podendo relaxar por estarmos juntos.
- Nós vamos voltar pra Londres hoje a tarde... – Falou ao beijar a minha bochecha.
- Já? – Fiz um biquinho.
- Já sim, mocinha. Não estamos de férias. – Me olhou com uma cara engraçada e eu acabei rindo. – Ou você esqueceu que tem um roteiro enorme pra memorizar?
- Não esqueci... – Me senti um pouco desconfortável e levantei do colo de Zayn. – Acho que preciso tomar um banho. Tirar esse cheiro de hospital, sabe?
- Tem razão. – Também se levantou. – Depois me chame pra passar a pomada no seu machucado.
- Você vai passar? – Levantei uma sobrancelha.
- Claro que sim! Eu vou cuidar de você, babe.
Depois que eu tomei o meu banho bem quentinho e super relaxante, Zayn cumpriu o que prometeu e passou a pomada no meu hematoma. Ele foi tão gentil e carinhoso que eu quase não senti dor alguma. Também não me importei nada em ter que ficar deitada com a roupa um pouco levantada para dar espaço de passar o remédio por toda a área arroxeada. Acho que a parte mais tensa foi quando a minha mãe tentou entrar no quarto, mas a porta fechada de chave. Por mais que eu tivesse explicado que nada de mais estava acontecendo entre meu namorado e eu naquele momento, ela não me deu ouvidos e quis saber se estávamos usando “proteção”. Que tipo de mãe pergunta isso para uma filha de 19 anos que recentemente estava trancada em um quarto com o namorado? Todas? Ah, sim.
Pelo menos não demoramos tanto assim pra descer e encontrar a família reunida na mesa da cozinha. Era a hora do almoço e o cheiro estava delicioso, como sempre, mas eu não estava com fome alguma. Apenas me sentei com os outros por educação e os observei comer. Zayn virou um fã de carteirinha das receitas da minha avó e até pedia algumas dicas, mesmo que eu soubesse que ele nunca iria testar nenhuma delas, era muito fofo vê-los interagindo. Louis e Dan conversavam sobre trabalho enquanto se deliciavam com as enchiladas.
- Querida, você não vai comer nada? – Minha mãe perguntou com um olhar de preocupação. – Está tão magrinha...
- Eu já comi no... Na casa da Pam! – Quase falei “no hospital” e Zayn me olhou alarmado. – Então não estou com fome...
- Mas coma alguma coisa... Nem que seja só a sobremesa. – Vovó entrou na conversa e se levantou para ir ate o fogão e pegar a tal sobremesa. – É a sua preferida!
- Torta de maçã com canela! – Sorri ao ver a torta e mesmo que eu estivesse empanturrada iria comer ao menos um pedaço.
- Eu também quero! – Zayn esticou o pescoço.
- Só depois que você terminar o almoço, querido. – Vovó o olhou séria, mas sorriu em seguida.
- Aw, nanaaaaaa. – Ele fez um bico enorme e ficou emburrado.
- “Nana”? – Ergui uma sobrancelha. – Os dois já estão nessa intimidade?
- Ihh, você perdeu muita coisa, . Nós somos bons amigos agora, não é, Jolene?
- Exatamente. – A senhora partiu um pedaço bem generoso da torta e o colocou em um prato pra mim. – Vocês dois tem que vir me visitar logo, tá bem?
- Pode deixar que a vai me trazer aqui mais vezes. – Meu namorado piscou para ela.
- Claro... – Suspirei e preferi me concentrar no pedacinho de céu que eu parti e levei até a boca. – Nhomnhom.
- Está gostosa? – Lou sorriu pra mim pela primeira vez desde que eu voltara pra casa.
- Está sim... – Sorri de volta, mesmo que um pouco insegura. – Você não está mais com raiva de mim?
- Eu não estava com raiva, pequena... Era só preocupação. Você sabe bem como eu fico. – Abaixou o olhar. – Me desculpa?
- Claro que sim, Tommo.
Trocamos mais um sorriso e ele terminou o almoço em seu prato. Nana também o serviu da torta e eu resmunguei algo do tipo: “Esse pedaço tá muito grande!” Mesmo que eu não fosse comer tudo, tinha um ciúme muito grande da minha comida preferida. Sim, eu estava sendo egoísta, mas ninguém me deu importância, então acho que não tem problema. Zayn foi o último a terminar, portanto o último a começar a comer da sobremesa. O coitado estava tão emburrado que Dan até mesmo fez uma brincadeira que piorou tudo. Falou que teríamos que sair logo e não daria tempo de terminar a refeição.
- Baby, é só uma brincadeira! Você vai acabar engasgando assim! – Soltei uma risada baixa ao ver Zayn se apressando para comer.
- Nós não temos que ir agora? – Perguntou com a boca cheia.
- Vocês ainda tem algumas horas pra aproveitar. – Dan também riu.
- Obrigada por levar a gente até a estação, Dan.
- É um prazer, . Eu vou adorar passar mais um tempo conhecendo vocês. – Sorriu adoravelmente. O noivo de minha mãe estava saindo melhor que a encomenda. – Sentirá saudades do seu país?
- Vou sim. – Respondi rapidamente e peguei o meu prato vazio para levá-lo até a pia. – Quem me ajuda a lavar os pratos?
- Eu ajudo, babe. – Zayn já tinha terminado de comer mesmo, então se levantou para me acompanhar.
- Não mesmo! Deixem que eu lavo tudo. – Jay me surpreendeu muito e pegou a louça da minha mão, impedindo-me de começar o trabalho. – Sua avó tem algo que gostaria de conversar com você, .
- Tem? – Olhei para Jolene e ela já me esperava na porta da saída.
- Pode vir aqui por um segundo, querida?
Olhei de Zayn para Lou e os dois pareciam saber do que aquilo se tratava, mas nenhum me falou coisa alguma. Não sabia se deveria me preocupar e fui de qualquer jeito, torcendo para que fosse algo simples. Temia que fosse algum tipo de despedida por eu estar voltando à Londres em poucas horas e meu coração não iria aguentar isso. Não depois da despedida mais difícil que eu tivera no dia anterior. Nana sorria acolhedora e isso me tranqüilizou. Passamos direto pela sala lado a lado e aparentemente nosso destino seria o segundo andar, pois também subimos a escada e só paramos ao estar na frente da porta do quarto dela.
- ... Eu te chamei aqui porque tenho um assunto meio delicado pra tratar com você. – Começou. – As coisas do seu avô... Bem... Eu e a sua mãe andamos conversando e achamos melhor doar pra caridade.
- Eu já imaginava isso, nana... – Respirei fundo. Por mais que não gostasse da idéia de outra pessoa ter os bens do meu papá, sabia que era a coisa certa a se fazer. – É o que ele ia querer.
- Isso mesmo... Meu Charles sempre gostou de ajudar os outros e essa teria sido a sua última vontade. – Tocou meus cabelos e sorriu. – Mas também não achamos justo doar tudo e não deixar nenhuma lembrança dele pra você e o seu irmão.
- Como assim?
- Em cima da cama tem uma caixa de memórias... Como aquelas que você fazia quando era pequena pra guardar as suas coisas. Lembra? – Perguntou e eu afirmei que sim com a cabeça. – Ela esta vazia... Então eu quero que você a preencha com todas as coisas que possam te lembrar do seu avô.
- Obrigada, nana... – Sorri e a abracei. – O Lou não se importa que eu faça isso primeiro?
- Ele é que pediu isso! Disse que você dá mais valor às pequenas coisas do que ele.
- Tudo bem... Eu prometo que não vou pegar muito.
- Fique a vontade, .
Nana sorriu e abriu a porta para que eu pudesse entrar no quarto. Ela não me seguiu como eu esperava e apenas fechou a porta atrás de mim para que eu realmente ficasse a vontade. Era a segunda vez que eu entrava naquele quarto desde que voltara de Londres e a primeira vez que eu realmente prestava atenção em tudo. O lado da cama que costumava ser do meu avô estava bem feito e o seu travesseiro perfeitamente arrumado, quase como se ninguém nunca tivesse se deitado ali. As coisas dele, por outro lado, deviam estar do mesmo jeito que deixara. Foi difícil pra mim não começar a ficar toda emocional, mas eu havia prometido para papá na noite anterior (durante a nossa conversa secreta) que eu não ficaria chorando pelos cantos. Por esse exato motivo, eu respirei fundo e me concentrei naquela tarefa dura que eu tinha pela frente.
Assim como Jolene me falou, havia mesmo uma caixa vazia em cima da cama, onde eu poderia guardar os meus pequenos tesouros. O objeto em si já lembrava um tesouro, diga-se de passagem, pois era de madeira e tinha formato de um baú. Não era muito grande e facilmente poderia ser carregado para qualquer lugar. Fui até ele e o abri, examinando o seu interior revestido por um veludo vermelho e brilhante. Bem, eu teria que começar em algum lugar, não é? Então por que não começar pela mesinha de cabeceira de Charles? Sentei-me de joelhos no chão e parei de frente para aquele criado mudo que ironicamente deveria ter várias histórias pra contar. Sobre ele estavam algumas folhas de jornal, um abajur e o objeto que eu acho que era o mais usado por meu avô: Seu óculos de meia Lua. Era raro não ver aquelas lentes penduradas no pescoço ou no rosto angular de seu dono. Com um sorriso nostálgico no rosto, o peguei e coloquei sobre a cama; com certeza iria para o baú.
Segui passeio ainda me demorando na mesinha, dessa vez passando para a gaveta que ela escondia. Ali dentro era um verdadeiro guarda tralhas e eu poderia encontrar qualquer coisa desde botões despareados até um esmalte que eu perdi tempos atrás. Revirei algumas coisas aqui e ali, porém o que mais me chamou atenção foi um caderninho de capa de couro com folhas um pouco amareladas pelo tempo. Eu sabia bem o que era aquilo mesmo sem abri-lo. Meu avô tinha várias manias e uma delas era ler muito, só que não parava por aí. Cada vez que encontrava alguma frase ou mensagem bonita em um de seus livros, ele escrevia naquela espécie de diário para que não se esquecesse ou para o caso de querer refletir. Mais um item que eu iria levar comigo!
A próxima peça que eu queria encontrar não seria uma surpresa, pois eu sabia exatamente o que era, apenas não sabia muito bem onde estaria guardada. Resolvi começar olhando no guarda roupa e a primeira coisa que fiz ao abrir as portas de madeira foi respirar fundo. O cheiro de poutpori caseiro que usávamos para impedir o mofo de chegar até as nossas roupas seria impossível de não reconhecer. Passei alguns cabides para um lado, outros para o outro... Sempre me demorando bastante em estudar todas as camisas que eu já havia visto papá usar, umas que até foram presente meu. Quem quer que fosse receber aquelas roupas como doação teria muita sorte, pois o primeiro dono delas tinha um bom gosto tremendo. Puxou a mim, com certeza. Ou seria o contrário? Isso não é hora para sermos literais, então deixe-me continuar a história. Tive que abrir a terceira gaveta e “cavar” até o fundo dela pra achar o que estava procurando: O sweater vermelho de lã que eu passara um verão inteiro ajudando a minha avó a costurar só pra dar de presente para ele no natal. Foi também na época em que eu estava mais viciada em Harry Potter (livros e filmes), por isso fiz questão que tivesse um “T” amarelo bem grande no centro. Quase como o dos Weasley, mas nesse caso era o da família “Tomlinson”. Por mais egoísta que isso soe, aquele sweater era muito especial e eu não queria que ninguém mais o tivesse. Check!
Deixando os três objetos próximos do baú, atravessei o quarto em direção ao banheiro da suíte. Lá dentro pude notar que ainda tinham duas toalhas penduradas, com as palavras “Il” e “Elle” em uma caligrafia bem delicada. “Ele” e “Ela” respectivamente. Ainda iria demorar para a minha avó se acostumar com a vida sozinha, por isso eu acreditava que ela ainda teria certos hábitos que seriam difíceis de perder. Contanto que ela não se apegasse a idéia de que aquilo mudaria o presente e começasse a viver uma mentira, eu não me importava. Não me leve a mal, eu não sou uma completa bipolar que um dia não quer aceitar uma coisa e no outro dia está julgando quem faz a mesma coisa. É só que eu compreendo que essa atitude não é a mais saudável e me preocupo muito com a minha nana. Outra razão pra isso é que eu estava seguindo o pedido que meu avô me fez na última vez em que nos falamos pelo telefone; eu estava sendo forte. Pedidos a parte, me concentrei na bancada do banheiro e nos vários produtos de higiene que estavam ali espalhados. Meu olhar caiu diretamente sob um frasco de perfume quase no final, com apenas um dedo de liquido, e foi exatamente esse que eu peguei. Retirei a tampinha para cheirar e ver se era o certo, me deliciando com o cheiro adocicado que costumava perfumar Charles em qualquer ocasião.
Quando meu trabalho no banheiro acabou, eu voltei até a cama e deixei o perfume junto com as outras coisas. Não pretendia pegar muitas outras coisas, já que ainda devia deixar um tesouro para o Lou, mas tinha um último lugar que eu queria olhar. Meu avô era aposentado há muitos anos, mas ainda guardava uma pasta social, daquele estilo maleta mesmo, e lá guardava algumas coisas que eram especiais pra ele. Por sorte eu sabia onde ele a escondia e também sabia a sua senha para abri-la; “0422”, a data do seu casamento com a minha avó. Assim que tirei a pasta preta de debaixo da cama e usei o código para destravá-la, pude ver todas as coisinhas guardadas ali: Várias cartas amarradas juntas por um laço vermelho, alguns cartões postais, uma chave antiga que eu não fazia idéia do que abria/fechava, algumas fotografias em preto e branco e outras coisinhas mais. Minha avó com certeza gostaria de ficar com aquelas lembranças para ela mesma, portanto eu não me atrevi em pegar quase nada. Não resisti e recolhi para mim uma foto do meu avô de quando ele era pequeno e um estojo preto que continha uma caneta daquelas mais antigas, onde ainda se usava recarga de tinta. Pensei em guardar a maleta novamente, mas algo chamou a minha atenção: Um relógio de bolso. O objeto era prateado e com alguns detalhes em ouro. Podia não marcar mais o tempo, mas ainda era muito elegante. Nas suas laterais estavam gravadas as iniciais “C.T” e pelo que eu me lembrava vagamente, fora um presente do próprio avô do meu avô. Na época deles devia estar na moda aquele tipo de relógio e foi a última coisa que eu levaria como lembrança do meu avô.
Deixei a mala onde a achei, como se nada tivesse passado por ali. Me sentei na ponta da cama e dei uma boa olhada em todas as coisas que eu havia coletado. “É, nada mal.” Puxei o baú delicadamente para perto de mim e comecei a arrumação. Primeiro coloquei o sweater vermelho bem dobrado e as outras coisas menores por cima. Recapitulando: Óculos de meia Lua, diário de quotes, perfume quase no final, relógio de bolso e caneta. Para outra pessoa aqueles objetos colocados juntos não teriam valor ou sentido algum, mas para mim poderiam significar o mundo. Assim que todos estavam bem arrumados e seguros, fechei a tampa do baú e o carreguei para fora do quarto.
Pelo que pude ver, ninguém estava pelo segundo andar e o meu quarto já estava vazio novamente, pois nem a minha mala e nem a de Zayn estavam por ali. Já devia estar na hora de partir, mas meu coração estava tranquilo, pois eu sabia que voltaria logo. Não cometeria o mesmo erro duas vezes e não perderia todas as oportunidades possíveis que eu pudesse ter ao lado da minha avó. Minha visão estava um pouco limitada por conta do objeto de madeira em minhas mãos, mas isso não me impediu de descer as escadas sem cair, logo me levando de encontro com um Louis afobado que cruzou o meu caminho.
- Achei que não fosse sair de lá nunca! – Reclamou e subiu as escadas.
- Desculpa! – Gritei, mas não tenho certeza se fui ouvida.
- Meu bem, pegou tudo que queria? – Nana veio ao meu encontro com uma vasilha transparente em mãos.
- Peguei sim! – Mostrei o baú que eu carregava e dei uma boa olhada no que ela trazia. – O que isso?
- É um pequeno lanchinho para a viagem de vocês. Não achou que eu fosse te deixar ir embora sem levar a sua torta, achou?
- Não precisava, nana! Eu vou voltar logo, você vai ver. – Sorri e a segui para fora de casa, sussurrando minhas últimas palavras: - Antes do que você imagina...
- Minha filha, eu vou sentir tanto a sua falta! – Jay estava conversando com Zayn e Dan perto do carro do seu noivo, mas assim que me viu mudou o que estava fazendo e veio me abraçar.
Primeiro pegou o meu baú e o entregou para Zayn, pedindo-o para guardar na minha mala. Em seguida ela me puxou para si e me enterrou em seu abraço. Se eu devo tirar algo bom dessa história toda é que eu vi o quanto a minha mãe estava mudada. Não parecia mais aquela mulher inconsequente que podia ser mais infantil do que eu e agora estava se comportando como uma mulher. Ou melhor, como uma mãe. Tinha certeza que Dan era o culpado por essa nova fase na vida dela e me senti genuinamente feliz pelos dois, já que pareciam se completar de uma maneira maravilhosa e equilibrada. Olhando para o passado naquele momento, eu começava a reparar que a minha ida para Londres estava sendo bem mais pacifica do que na primeira vez. Antes era como se eu estivesse fugindo dos meus fantasmas e naquela tarde eu não tinha do que fugir. Bem... Talvez fugir da dor da perda e da saudade, mas como se foge de algo que está dentro de você?
- Eu também vou, mum... – Dizem que não há nada melhor que o amor materno e era como se eu estivesse sentindo isso pela primeira vez depois de séculos, por isso demorei bastante para soltá-la. – Mas vamos nos falar logo...
- Sei disso, princesa. – Sorriu e mexeu nos meus cabelos. – Vou precisar da sua ajuda pra escolher o meu vestido de noiva, viu?
- É claro que vai! – Sorri de volta e olhei para Dan. – Eu também quero conhecer as minhas novas irmãs!
- Vocês vão se dar muito bem, , eu tenho certeza. – O homem parecia gostar daquela de idéia de nos juntar todos em uma família grande e feliz, portanto o deixei sonhar.
- Depois eu quero ver uma foto delas, tá bem? – Pedi e fui ao encontro do meu namorado, já abraçando-o pela cintura e o fazendo encostar na porta do carro de Dan.
- Pronta pra ir? – Ele me perguntou ao me envolver protetoramente pelos ombros.
- Eu acho... – Respirei fundo e escondi o rosto entre seu ombro e pescoço, do mesmo jeito que fazia quando estava preocupada ou pensativa.
- Cuide bem da minha pequena, Zayn. – Johanna pediu e eu o apertei ainda mais com meu enlace.
- Não precisa pedir duas vezes, Jay.
Nossa viagem de trem foi bem agradável, como sempre, e passou mais rápido do que eu esperava. Talvez por eu ter adormecido no colo de Zayn enquanto ele me fazia cafuné, mas isso não vem ao caso agora. Como não sabíamos se o nosso transporte atrasaria para chegar até a Kings Cross, preferimos não pedir para nenhum dos meninos virem nos buscar e apenas pegarmos um taxi de lá para casa. Não foi uma decisão tão sábia, por conta do trânsito e o do preço que pagamos por um translado tão demorado, mas ainda assim foi o que nos restou. Zayn preferiu me acompanhar até em casa antes de ir para a própria e eu tinha certeza que o motivo disso era me obrigar a passar a pomada de cheiro ruim mais uma vez. Sim, eu adorava ser cuidada e paparicada, mas não queria que ele demorasse tanto pra chegar na própria casa. A viagem inteira tinha sido cansativa e ele mais do que ninguém precisava descansar. Zayn havia sido um namorado de ouro e não havia palavras no mundo que eu pudesse usar para agradecê-lo o suficiente.
- Aposta quanto que a casa está um verdadeiro caos? – Lou perguntou ao girar a chave na fechadura da porta de entrada.
- Prefiro não apostar. – Balancei a cabeça em negação.
Era bom estar de volta e eu realmente sentia falta de Liam e Harry, mesmo só tendo ficado longe por três dias e meio. Também não via a hora de matar as saudades da minha ruiva preferida e do meu irlandês lindo. “Se você está certa do que vai fazer, terá que se acostumar com essa saudade.” A minha consciência chata voltou a me perturbar e eu a mandei calar a boca, pois ainda não era a hora de tratar daquele assunto. Resolvi prestar atenção na correria e gritos que ouvi dentro da casa quando Lou anunciou a nossa chegada. Meu irmão deu espaço para que eu e Zayn entrássemos atrás dele e foi bem a tempo de ver um Liam ofegante chegar até o hall.
- Finalmente vocês chegaram! – Abriu os braços sorridentes e eu fui a primeira a ir abraçá-lo.
- Leeyum! – Sorri e passei os braços em volta do pescoço dele, ficando na pontinha dos pés. Ele me apertou pelas costelas com certa força e eu reclamei de dor. – Uhhhh.
- O que foi? Eu te machuquei? – Ameaçou me soltar, mas eu não deixei. Por mais que estivesse doendo, foi bom senti-lo.
- Não foi nada, Li, eu to bem.
- E eu? Não ganho abraço? – Harry já tinha cumprimentado Lou e Zayn, só faltando eu.
- Claro que vai, Hazza! – Finalmente deixei Liam ir e parti para o de cabelos encaracolados. – Senti tanta falta do meu cupcake!
- Também senti a sua, . – Também me envolveu pelas costelas e me levantou do chão. Em outra ocasião eu teria adorado esse movimento, mas estava com dor demais para segurar outro gemido de dor. – O que há de errado?
- Cólica. – Menti e tentei parecer o mais verdadeira possível.
- Bem, agora que a minha garota está entregue, eu acho que vou indo. – Zayn colocou as mãos dentro do bolso e eu senti um frio ruim na barriga.
- Zayn... – Respirei fundo. – Antes de você ir... Podemos conversar?
- Estou encrencado? – Perguntou com uma risada, mas ficou sério assim que viu que eu não o imitei.
- Vamos para o meu quarto...
Segurei na mão do moreno e o tirei de perto dos outros três. Senti que ele estava suando e sua pele estava gelada, provavelmente por conta do nervosismo que estava sentindo sem saber do que se tratava aquela conversa. A verdade era que eu também estava muito nervosa e temia começar a chorar e não conseguir falar o que queria. Nós dois subimos as escadas e ele se demorou mais do que eu para entrar no meu quarto. As coisas lá dentro estavam do jeito que eu me lembrava de ter deixado e até as roupas que eu usaria na nossa noite de karaokê estavam no canto mais afastado da cama. No meio dos meus travesseiros estava o ursinho que Zayn me dera e ao lado dele o pinguim de Liam. Tanta coisa havia acontecido em tão pouco tempo que a minha cabeça começou a doer com a volta de todas as lembranças, planos não executados e acontecimentos loucos. Zayn me olhou com preocupação, franzindo a testa e sem tirar os olhos de mim. Vendo que não conseguiria passar por aquilo de pé, sentei-me no colchão e pedi para que ele fizesse o mesmo.
- , você está me preocupando...
- Eu vou direto ao assunto, tá bem? – O olhei e me arrependi eternamente disso. Seus olhos estavam brilhantes e molhados, como se ele estivesse esperando o pior. Sim, consciência, agora é a hora de falar sobre aquilo. – Eu vou voltar pra Paris...
- Por que? Esqueceu alguma coisa lá? Tenho certeza que a sua avó pode mandar pelo correio, ou...
- Não, Zayn. – O interrompi. – Eu vou voltar de vez. Estive pensando muito nesses últimos dias, principalmente sozinha lá no hospital... E eu não quero que aconteça com a minha avó a mesma coisa que aconteceu com papá.
- Então era por isso que você estava agindo estranho o dia inteiro? Você não pode ir embora, . – Sua expressão se tornou indecifrável. – Não pode largar tudo aqui como se nada tivesse acontecido.
- Eu não vou fazer isso... – Puxei o ar, mas ele não veio. – Amanhã eu vou na Academy, conversar com a Agnes e ver se podem segurar a minha vaga por pelo menos um ano e...
- Um ano? – Foi a vez dele de me interromper, com a voz fraca. – E quanto a nós dois?
- Eu... – Perdi a frase completamente e encarei as minhas mãos sem saber o que falar. – Paris não é tão longe assim... Nós ainda podemos nos ver...
- Não vai ser o mesmo que te ver todos os dias.
E com essa simples frase ele saiu do meu quarto tão rapidamente que eu quase perdi a lágrima que escorreu em seu rosto. Já não sabia mais se aquilo era o fim de nós dois, ou se iríamos tentar continuar juntos com toda a distância e também não podia ir atrás dele. Ao menos não naquele momento. Minha decisão de voltar para Paris já estava tomada e nada me faria mudar de idéia. Talvez não fosse ser uma coisa permanente e talvez depois de um ano eu pudesse voltar... Mas era isso o que eu tinha que fazer. Era meu dever acompanhar a minha avó durante esse primeiro período, pois agora ela ficaria sozinha. Era meu dever... Mesmo que isso significasse perder a pessoa mais incrível que eu já conheci.
Capítulo XLIII
Acho que depois que a gente passa a noite inteira chorando até finalmente pegar no sono é de se esperar que se acorde com uma dor de cabeça chata, não é? Foi bem isso o que aconteceu comigo naquela terça-feira. Na noite anterior eu havia contado a minha decisão para Lou, Harry, Liam, e até Niall, mas a reação de nenhum deles foi pior que a de Zayn. É claro que pelo telefone – como foi no caso do meu casal de amigos – não tinha muito o que eles pudessem fazer. Preciso dizer que ficou arrasada? No começo teve um pouco de raiva de mim, mas logo compreendeu os meus motivos, mesmo não concordando com eles. Todos os outros foram igualmente compreensivos, ainda que tivessem reclamado do quanto sentiriam a minha falta e coisas do tipo. A verdade era que eu também sentiria falta de cada um deles, mas nada me faria mudar de idéia.
Como eu pretendia sair da Academy por pelo menos um ano, não vi importância em pegar a minha aula daquele dia. Por essa razão me dei ao luxo de dormir até um pouco mais tarde e só levantei da cama realmente após as dez e meia da manhã. A casa estava em completo silêncio e o motivo era mais do que óbvio. Não aguentei ficar lá por muito tempo, portanto troquei os pijamas confortáveis por uma roupa e peguei o carro para ir resolver o mais rápido possível a minha questão acadêmica.
Quase dei viagem perdida ao chegar na London Royal Academy e descobrir que a diretora estava de folga por questões de saúde e não estaria de volta até o dia seguinte. O diretor Gavin estava por lá, mas não era com ele que eu precisava falar. Como Agnes foi quem me auxiliou desde o começo do semestre, era a ela que eu devia explicações. Tinha certeza que a pior pare da nossa conversa seria eu ter que falar sobre a minha desistência do papel principal na peça. Eles teriam que encontrar outra Julieta, mas isso não seria uma tarefa tão difícil. O que doía mais não era o trabalho que eu estaria dando para a LRA em mudar o seu espetáculo e sim ver todo o meu esforço ir por água abaixo. Era como se eu tivesse nadado pra morrer na praia.
O translado de elevador até o terceiro andar demorou mais do que o de costume; ou pelo menos foi o que pareceu pra mim. A sala de música dos meninos ficava naquele andar e eu torcia para que eles estivessem em aula. Meu plano original não era atrapalhar nenhum dos dois, então eu só queria ficar escondida atrás da porta e observá-los fazer as suas coisas. Se eu tivesse coragem suficiente, depois da aula acabar iria entrar finalmente falar com eles. Zayn não deu noticias depois da nossa conversa no meu quarto e eu também não fui atrás. Não por orgulho, mas sim por não saber exatamente o que falar caso ele atendesse a minha ligação. O que acontece é que eu ficava nervosa só de pensar em olhar pra ele ou ouvir o que teria pra me falar.
Mesmo demorando muito, consegui chegar ao meu destino e atravessar o corredor. Não me impedi de olhar em volta e espiar uma sala ou outra. Eu sentiria falta daquelas paredes brancas, dos quadros que as enfeitavam... Dos alunos que costumavam acenar na minha direção mesmo sem nunca ter tido uma conversa comigo e, claro, dos meus amigos. Seria difícil mudar a rotina que eu já estava acostumada a ter, mas às vezes o certo a se fazer não é o mais fácil. Passei pela sala de Nick, mas ela estava vazia. Eu ainda não tinha falado com ele sobre a minha mudança porque também devia uma explicação pessoalmente ao meu parceiro.
Seguindo em frente, olhei para a última sala no fim do corredor... Mesmo de longe era possível ver um movimento dentro dela, mas chegando perto eu consegui conferir que apenas Niall, e Ed estavam lá dentro. Ou seja: Nenhum sinal do meu namorado ou ex-namorado... Nenhum sinal de Zayn, pra simplificar. Além dele não estar lá dentro, Ed não parecia estar dando aula, já que estava no colo do namorado e os três conversavam. Esse motivo foi o que me levou a entrar na sala sem nem pedir permissão.
- ! – gritou, me assustando por eu ter sido notada tão rapidamente.
- Ei, ruivinha. – Sorri tentando o meu máximo não parecer deprimida e ela se jogou nos meus braços.
- Eu morri de saudade nesses últimos dias... – Prendeu o meu pescoço e não quis mais soltar. – Como vou sobreviver depois que você for embora?
- Eu não vou morrer, ... E nós vamos nos falar todos os dias.
- Promete? – Fez um biquinho enorme e choramingou.
- É claro que eu prometo! Não vou esquecer de nenhum de vocês. – Olhei para Ed e Niall atrás dela. – Nialler, tira a sua namorada de mim, por favor?
- , eu também quero abraçar a ! – Foi Ed quem se aproximou e fez cócegas na ruiva para que ela me largasse.
- OK, OK, JÁ SAÍ! – A pequena não resistiu e terminou desfazendo o abraço. Por um momento imaginei que ela pudesse me prender em seus braços pra sempre, só pra me impedir de voltar para Paris.
- Obrigada, Ed. – Fiquei na ponta dos pés para abraçar o professor. Mesmo que ele não fizesse muito o tipo que demonstra afeto publicamente, me abraçou de volta com certo carinho.
- Fico triste em saber que você está nos deixando, Julieta. – Bagunçou os meus cabelos. – Eu estava ansioso em trabalhar com você.
- Eu não estou deixando ninguém! Por que vocês continuam falando isso? – Rolei os olhos, mas não estava chateada. Me afastei de Ed e andei até Ni, que permanecera quieto o tempo todo. – Não vai me dar um abraço?
- Só se você prometer que não vai ser o último. – Era a primeira vez que eu via Niall triste e não gostava nada disso.
- Mesmo que eu estivesse indo embora amanhã não seria o último! – Sorri e o puxei. – Parem de pensar assim!
- Então você não vai embora amanhã? – Me abraçou pela cintura.
- Acho que só vou no final da semana... – Expliquei. – Eu acabei de voltar do escritório da Agnes, mas ela não estava lá. Então vou ter que esperar ela ficar boa da tal gripe pra poder resolver toda a burocracia e...
- Então você ainda não esta oficialmente desmatriculada?! – gritou mais uma vez. Alguém deu café pra essa menina?
- Essa nem é uma palavra, . – Ri e me soltei de Niall depois de dar um beijo em sua bochecha. – Mas é verdade, eu ainda não estou... Desmatriculada.
- Yay! Então você ainda tem chances de ficar. – Comemorou.
- Eu já tomei a minha decisão... Não tem chance de eu ficar... – Coloquei as mãos no bolso do meu casaco e olhei para os meus próprios pés. – Mas podemos mudar de assunto, por favor?
- Ela está certa, gente, vamos mudar de assunto. – Ed estava do meu lado novamente e eu gostava disso. – Quer escutar a música que a gente está trabalhando?
- É claro que sim! – Sorri e deixei a minha bolsa em cima da mesa pra ficar mais confortável. – Ahn... E o Zayn... Ele não devia estar aqui também?
- Ele não veio hoje, ... – Niall respondeu como se estivesse pisando em ovos; se é que entende o que eu quero dizer.
- Ah, sim. – Meu sorriso desapareceu. Ele sabia que eu estaria na Academy aquele dia e preferiu faltar a me ver.
- Ele não está te evitando... – segurou a minha mão e caminhamos até perto do piano onde Ed se preparava pra começar a tocar.
- Eu não o culpo. – Dei de ombros por mais que meu estômago estivesse se revirando. – Então, Eddy, qual é a música que você vai me mostrar?
- O nome é The A Team... Mas ainda não está terminada, então não reclame, ok? – Ele sorriu e me ajudou a mudar de assunto de novo.
- Eu nunca vou reclamar! – Me inclinei sobre o piano e apoiei um braço nele. – Tenho certeza que é linda.
- White lips, pale face. (Lábios brancos, rosto pálido) Breathing in snowflakes. (Respirando flocos de neve) Burnt lungs, sour taste… (Pulmões queimados, gosto azedo)
Ed começou a dedilhar a melodia no piano e a cantar ao mesmo tempo. Sua voz aveludada não foi o suficiente pra prender a minha atenção, por mais improvável que isso possa parecer. Minha cabeça estava em outro lugar, em outra pessoa... Eu queria saber o Zayn estava fazendo, se ele sentia a minha falta como eu sentia a dele... Eu precisava saber se nós havíamos chegado ao fim ou se ele gostava de mim o suficiente pra agüentar a distância. Quando decidi voltar para o meu país, não passou por mim a idéia de terminar com ele. Além de não ser o que eu queria, seria puro egoísmo. Como eu seria capaz de fazer isso depois de todo o apoio que ele me deu? Depois de tudo que fez por mim? Zayn ficou ao meu lado nos bons e maus momentos e eu só queria que ele também estivesse ali naquele.
me cutucou de leve, chamando a minha atenção. Ela devia ter percebido o quanto eu estava distante e me conhecia o suficiente pra saber o que se passava na minha cabeça. Levantei a cabeça pra olhar pra ela e só encontrei apoio na sua expressão. Ela já não me questionava mais sobre as minhas escolhas, só mostrava que queria o melhor pra mim. Antes de qualquer pessoa, a ruiva sabia bem o quanto eu gostava de Zayn e o quanto eu precisava dele, por isso devia entender o que eu estava sentindo com tudo isso. Era óbvio que a minha partida não estava sendo difícil só para aqueles que ficavam, como estava sendo pra mim também. Eu podia não estar em Londres há tanto tempo assim, mas sentia como se tivesse passo a minha vida inteira ali. A idéia de não ver os meus melhores amigos todos os dias era aterrorizante.
- It's too cold outside for angels to fly... (Está muito frio lá fora para anjos voarem) – A música chegou ao fim e eu bati palmas como se tivesse prestado atenção a apresentação inteira.
- Ótima música! – Sorri tentando parecer verdadeira. – Como todas, Ed. Por que você não tem um contrato com uma gravadora mesmo?
- Ninguém gosta muito do meu estilo. – Deu de ombros.
- Eu não acredito nisso. – Balancei a cabeça. – Você toca, canta... E as suas letras? Por favor, né?! Você vai ser grande!
- A tem mania de achar isso. – Uma voz surgiu atrás de mim e minha consciência me fez com gelar com a possibilidade que pudesse ser Zayn.
- Ah, oi, Nick. – Me virei na direção do moreno um tanto quanto decepcionada.
- Wow, pode ficar mais triste em me ver, isso não me magoou nada! – Ironizou e me fez rir do seu drama.
- Não é isso! Desculpa. – Balancei a cabeça e fui até ele. – Eu só... Achei que fosse outra pessoa.
- É, eu não sou o seu namorado perfeito. – Fez uma careta, ignorando completamente a presença dos amigos de Zayn ali. – Mas não tem nem um tempinho pra um amigo?
- Sempre, Nick. – Sorri com um suspiro. – Eu tenho mesmo que falar com você...
- É algo sério? – Se preocupou.
- HAHA. – Niall riu de propósito. – Boa sorte!
- Eu não tenho mais certeza se quero falar com você... – Nick fez uma careta engraçada ao ficar com medo do comentário de Niall.
- Para de besteira! – Repreendi o irlandês com o olhar e puxei Nicholas pela mão. – Já volto, mates.
Nick relutou um pouco, mas eu o arrastei pra fora da sala de música do mesmo jeito. Ele era o meu único amigo que ainda não sabia da “novidade da semana” e eu precisava contar o mais rápido possível. Sim eu já o considerava como um amigo. As semanas que passamos juntos ensaiando para o Snow Ball serviu para que passássemos de: “Possíveis ficantes” para “Amigos nada coloridos” e eu gostava daquilo. Infelizmente não teríamos a oportunidade de dançar juntos novamente, mas eu iria me lembrar para sempre de cada passo que criamos; até mesmo das nossas quedas desastrosas. Fui até uma janela aberta que era virada para o jardim da Academy e Nick me seguiu.
- , você está começando a me preocupar.
- É só que eu não agüento mais falar isso. – Suspirei sem conseguir olhá-lo. – Eu estou indo embora, Nick. Eu estou voltando pra Paris.
- Hm. – Foi só o que respondeu.
- Você poderia falar algo mais que isso? – Ri sem realmente achar graça naquilo e o encarei.
- Eu não sei o que falar... – Comprimiu os lábios. – É só que eu nunca imaginei que fosse escutar algo assim de você. Nunca pensei que fosse desistir do seu futuro como bailarina. Quero dizer, eu soube do que aconteceu com o seu avô e sinto muito por isso, de verdade. Mas daí jogar fora tudo que você construiu até aqui?
- Até que pra alguém que não sabe o que falar, você falou muita coisa. – Voltei a contemplar o jardim lá de baixo. – E eu não estou jogando nada fora... Só darei uma pausa. Naquele manual de regras estava escrito que em certos casos é possível trancar o curso por até um ano.
- É sim... Mas a maioria não volta depois de um ano. E se volta, não consegue mais acompanhar. Perdem o jeito, sabe?
- Eu não vou perder o jeito! Vou treinar todos os dias, assim como eu fazia antes de vir pra cá.
- Já vi que não tem como tirar essa idéia da sua cabeça. – Foi ele quem suspirou dessa vez e me abraçou de lado. – Então acho que só me resta aceitar a perda de uma parceira maravilhosa.
- Eu tenho certeza que você vai encontrar uma melhor ainda, ok? – Me virei para abraçá-lo propriamente. – E eu vou sempre vir visitar... E não perderei a peça de fim de semestre por nada nesse mundo.
- Mas ainda seria melhor se você estivesse participando dela! – Imitou ao fazer bico e me soltou.
- Ai, chega de despedidas! – Sequei meus olhos que começavam a ficar molhados e vi que já saía da sala de música e trazia a minha bolsa consigo. – Hey, !
- Eu vou indo, ok? Ainda tenho aula. – Rolou os olhos. – Mas me avise se for ter alguma festa de despedida. Até mais, . Tchau, !
- Tchau! – Sorriu pra ele pela primeira vez e passou o braço pelo meu. – Até que não é uma má idéia, sabe? Essa festa de despedida.
- Você só quer uma desculpa pra ficar bêbada! – Ri e começamos a andar. – Cadê o Nialler?
- Ele está no telefone com o... Pai dele.
- Está no telefone com o Zayn? Pode falar, . – Toda a minha risada foi embora. – Ele é que está bravo, não eu.
- Ele não está bravo com você, . – Tentou me convencer, mas falhou. Eu apenas revirei os olhos e continuei andando mesmo sem saber pra onde. – De qualquer forma, eu só pedi pro Ni ligar pra ele e avisar que você está aqui...
- Você pediu pra ele ligar, ? – Pelo meu tom de voz, ela percebeu que fez algo errado. – Zayn sabia que eu viria hoje e foi justamente por isso que ele faltou. Ele não quer me ver!
- Argh, eu só estava querendo ajudar, ok? – Bufou. – Odeio ver vocês dois assim.
- Também odeio... – Concordei um pouco mais calma. Ela só queria ajudar e por isso não podia culpá-la. Até porque, se fosse ao contrário eu teria feito exatamente a mesma coisa. – Vai ver ele só precisa de um tempo, né?
- Isso mesmo! – Sorriu. – Dê um tempo pra ele assimilar tudo.
- Pra onde estamos indo, aliás? – Perguntei assim que paramos em frente ao elevador.
- Para as escadas, é claro! – Riu e apertou o botão para chamar o elevador. – Essa pode ser a última vez que nos sentamos lá.
- Awn, eu vou sentir falta disso! – Sorri já começando a sentir nostalgia. – Mas não se preocupe, porque eu sempre vou me lembrar de você quando estiver nas escadarias do Palais Garnier com a minha nova amiga.
- Que história é essa, ? – Me olhou com cara feia eu tratei de entrar no elevador. – Já entendi tudo! Você viu seus antigos amigos quando esteve lá esse fim de semana e é por isso que vai voltar!
- Claro que não, idiota! – Ri e a puxei pra dentro também. – Na verdade, eu encontrei o meu ex... Anttonie. Mas ele não seria um motivo pra eu voltar, e sim pra me mudar pra China!
- Você não me contou dessa parte! – Seu queixo caiu. – Na verdade, não me contou nada dessa viagem!
- O que eu poderia contar, ? Que foram os três dias mais tristes da minha vida? – O elevador começou a descer.
- Você tem que estragar tudo mesmo, né? – Cruzou os braços. – Pode começar me contando sobre esse encontro com o seu ex.
- Não foi nada de mais... Eu e o Zayn estávamos em um parque... – Suspirei ao me lembrar daquele dia que foi tão bom por um lado e tão ruim por outro. – E aí Anttonie estava lá também.
- E o Z. viu o boy? – estava super curiosa, então resolvi brincar um pouco.
- Viu sim! E os dois até brigaram por minha causa! Teve soco, sangue, chutes! – Gesticulei bastante enquanto explicava, só pra apimentar a história. – Você devia ter assistido!
- Sério?! – Bateu palmas animada, me puxando pra fora do elevador quando chegamos no primeiro andar.
- Claro que não, ! – Gargalhei. – Anttonie foi falar comigo quando Zayn estava comprando algodão doce e foi embora antes que ele voltasse.
- Você é muito sem graça! Sabia disso?
- E você reclama de tudo! Reclama quando a história é exagerada e reclama quando não é!
- Sei disso! – Estirou a língua.
Não demoramos muito pra chegar à nossa escadaria que estava vazia como de costume. Tudo bem que aquele lugar não era exatamente nosso, até porque era uma propriedade pública, mas como ninguém costumava ficar lá tanto quanto nós, era bem fácil no sentirmos “os donos do pedaço”. Mesmo sendo menor que todos nós, ela sempre se sentava em um degrau abaixo do meu. Niall costumava sentar ao lado dela Zayn atrás de mim. Mas acho que nunca mais sentaríamos naquela posição novamente...
- Espero que você saiba que eu vou te dar uma lista de compras com coisas que você deve mandar pra mim, ok?
- Que interesseira! – Fiz-me de ofendida. – Mas não se esqueça que você pode sempre me visitar. E vai ter um quarto só pra você.
- Um quarto só pra mim? – Me olhou como uma criança olha para um doce. – Estou quase largando tudo aqui e me mudando com você!
- Como o Louis vai continuar aqui, o quarto dele de lá vai estar vazio. – Expliquei e comecei a brincar com os cabelos da menina. – E não acho que o Ni iria gostar dessa idéia.
- Eu não iria gostar de qual idéia? – O dito cujo apareceu finalmente e se sentou ao meu lado.
- Da idéia de eu levar a sua cerejinha pra França comigo. – Abracei a menina pelo pescoço e quase a sufoquei, fazendo-a ofegar e rir.
- Se ela for, eu terei que ir junto. – Deu de ombros.
- Awn, que coisa mais linda. – Apertei as bochechas rosadas de Niall.
- Meu namorado não é perfeito? – o puxou para um beijo assim que soltei os dois.
- É sim! – Sorri. E realmente era... Não, eu não desejava que Zayn quisesse largar tudo e vir pra Paris comigo, mas ficaria feliz de saber que ele ao menos pensou nisso. Nem que de brincadeira! – Bem, vou deixar os pombinhos a sós agora.
- Pra onde você vai? – perguntou ao me ver levantar.
- Vou pra casa! Ainda tenho muita coisa pra arrumar.
- Te vemos amanhã?
- Acho que sim... Mas eu aviso, ok? – Mandei um beijo para os dois.
Os preguiçosos nem se importaram em levantar para me abraçar. Se era assim quando eu estava indo embora, imagine se fosse ficar! Amigos ingratos, muito ingratos! Mas que eu amava mais que tudo nesse mundo. Desci as escadas devagar, quase como se não quisesse chegar ao seu fim.
Depois de dirigir pra casa com a capota do carro abaixada e uma música animada no último volume (já que eu estava me obrigando a melhorar meu humor) era normal que o meu cabelo estivesse totalmente bagunçado. Já sabendo que isso seria motivo de gozação entre os meus amigos, parei na frente da janela da sala pra me olhar pelo reflexo do vidro e arrumar minhas madeixas castanhas. É, eu sei que teria sido mais fácil me olhar no retrovisor do carro, mas quando me lembrei desse pequeno detalhe já era tarde demais. A cortina daquela janela estava meio fechada, como sempre, apenas deixando uma aresta descoberta. Por mais que eu quisesse colocar o meu cabelo no lugar, o que vi do lado de dentro da casa foi mais interessante. Meus três colegas de casa estavam na sala e não tinham idéia de que estavam sendo vigiados. Acho que era exatamente isso o que tornava aquele momento tão único, pois eu podia vê-los sendo eles mesmos... Pra melhorar ainda mais, eles estavam jogando twister. Sim, aquele jogo onde os participantes tem que fazer várias posições loucas em cima de um tapete colorido. Haz e Lou estavam praticamente enroscados um ao outro enquanto Liam servia de juiz e girava a “roleta”. O que esse último não sabia era que eu podia claramente ver que ele estava roubado. Como meu irmão e o curly-boy estavam ocupados demais tentando não cair, não podiam ver que Li fingia rolar a roleta (redundância mandou lembranças) e fazia a seta parar exatamente onde ele queria. Ou seja, trapaceava e dava as posições mais complicadas para que os pobres jogadores as realizassem.
- Pé direito... Vermelho! – Liam dissimulou. – Louis, é você.
- Como você espera que eu faça isso, Payne? – Meu irmão reclamou. – Só se eu me dobrar ao meio.
- Vai logo, Lou! Não é tão difícil. – Harry gargalhou e quase caiu no chão.
- É fácil pra você que tem dois metros de perna! – Sassy Louis sempre foi o meu Louis preferido. A não ser pelo “drunk Louis”, porque esse não tinha preço.
A posição dos dois era muito engraçada, porque Harry estava praticamente sentado em cima de Lou e nenhum dos dois parecia muito firme. Coloquei a mão sobre os lábios pra não rir muito alto e ser descoberta ali, já que pretendia ficar assistindo até não poder mais. Louis pelo menos chegou a tentar colocar o pé direito na bolinha vermelha, mas como já era de se esperar, não deu muito certo. Ele acabou caindo em cima de Harry e os dois foram ao chão de vez. A cara de espanto de todos e a risada de Liam acabaram me causando risos também. É, devia ser uma hora boa pra entrar em casa e dar os parabéns para o vencedor do jogo. Balancei a cabeça enquanto ainda ria daqueles três idiotas e abri a porta da frente para anunciar a minha chegada.
- Louis, você não ganhou coisa nenhuma! – Escutei Harry reclamar.
- Ganhei sim! Você tocou o chão primeiro! – Lou rebateu superior. – As regras são claras!
- Que bagunça é essa? – Apareci na sala e os dois correram na minha direção. Li continuava rindo no sofá.
- , o Louis está falando que ganhou o jogo...
- E ganhei mesmo, porque ele caiu no chão e não eu...
- EI, EI. – Interrompi os dois que me enchiam de informações atropeladas. – Eu estava assistindo essa partida de vocês, escondida ali na janela...
- Então você pode dizer quem venceu! – Harry sorriu e piscou pra mim. Estaria tentando me seduzir?
- Claro que pode, irmãzinha. – Lou me abraçou de lado, também querendo um pouco da minha simpatia.
- Bem, de acordo com o que eu vi... O vencedor é o Liam. – Cruzei os braços e olhei para o próprio, que parecia suspeito. – Porque ele trapaceou o jogo inteiro e vocês nem notaram.
- Eu sabia que tinha algo errado! – Harry se fez de decepcionado e começou a guardar o jogo.
- Liam, você nunca mais vai ter a minha confiança! – Meu irmão exagerou.
- Poxa, ! Você tinha que me dedurar? – Li fez careta na minha direção.
- Eu não consigo ficar calada quando vejo uma injustiça! – Deixei a minha bolsa e casaco no braço do sofá e me sentei ao lado do garoto que ainda estava ali. – Mas você sabe que eu te amo, Leeyum.
- Então, ... – Lou chamou a minha atenção. – Você falou com a diretora?
- Ela não foi à Academy hoje. – Aquele assunto estava de volta na minha vida rápido demais. – Amanhã eu vou lá de novo pra tentar resolver isso logo.
- Não precisa de pressa... – Dos moradores daquela casa, Liam era o mais chateado. Meu irmão era o meu irmão, por isso seria impossível deixarmos de nos ver e Harry me teve morando em outro lugar a vida inteira, por isso os dois deviam estar mais acostumados com aquela idéia do que Li. – Paris não vai sair de lá... Porque não vai com calma e quem sabe... Mês que vem você se muda?
- É, acho que mês que vem é uma boa. – Haz começou a andar em direção à saída da sala e começo da sala de jantar.
- Boa tentativa. – Ri e rolei os olhos. Por um lado eu estava com pressa de fazer a minha mudança, pois sentia que prolongar essa “despedida” só pioraria tudo, mas por lado eu não queria ter me despedir. É, minha consciência estava bem bagunçada, mas eu ainda sabia o que era o certo a se fazer. – Eu estou com fome! O que vamos almoçar?
- Uau, há quanto tempo eu não escuto você falar que está com fome? – Liam me olhou espantado e eu o empurrei de leve pelo ombro.
- Cala a boca, Liam! – Levantei do sofá.
- Ora diz que me ama... Ora me manda calar a boca. – Veio atrás de mim quando eu fiz o mesmo caminho que Harry.
- Nós temos uma história de amor e ódio, Li. Ainda não se acostumou?
É claro que eu estava brincando, porque era humanamente impossível alguém odiar Liam. Ele me seguiu até a cozinha, onde Harry vasculhava os armários e geladeira, provavelmente pensando o mesmo que eu: “O que vamos comer?” Aparentemente em uma casa onde quatro adolescentes/jovens adultos moram sozinhos, ninguém se preocupa ou lembra de fazer compras. Fiquei inclinada sobre a bancada americana e Liam se juntou à procura do Elo perdido, pois era bem isso o que estava parecendo.
- Vocês não vão encontrar nada por aí. – Lou estava com o telefone fixo na mão e um folheto na outra, parado perto da mesa da sala de jantar. – Vou pedir comida chinesa, alguém aceita?
- EU! – Levantei as duas mãos para o alto e corri atrás dele que, por reflexo, também correu. – LOUIS, VOLTA AQUI.
- Alou? Só um instante, tem uma esfomeada correndo atrás de mim. – Respondeu a alguém no telefone e atravessou a sala. – Eu ligo depois. , dá pra ter calma?
- Você sabe há quanto tempo eu não como comida chinesa? – Cruzei os braços ao parar de correr e também chegar à sala mais uma vez. – Posso olhar o cardápio?
- Isso não é muito um cardápio, mas da pro gasto... – Esticou o pedaço de papel na minha direção.
- Sou o segundo a olhar! – Harry se juntou a nós e Liam o seguia.
- Sempre sou o último em tudo. – Li fez um bico enorme.
Depois de rir um pouco do drama que Liam estava fazendo, eu me joguei no sofá para poder ler o panfleto do restaurante chinês com um pouco mais de tranqüilidade. Lou estava certo ao falar que aquilo não era um cardápio, pois se tratava apenas de metade de um papel dobrado ao meio com nomes e preços de pratos que eu não fazia idéia do que pudessem ser. Viver perigosamente nunca foi muito a minha praia, mas eu daria uma chance àquele “Machuria Garden”. Liam e Harry se inclinaram na minha direção para também dar uma espiada e tentar descobrir o que iriam comer.
- Acho que eu vou pedir esse Sze... Chuan? – Tente mandar uma francesa que adotou o idioma inglês falar uma palavra dessas e vai ver como é difícil. – Szechuan! Deve ser isso. E um rolinho primavera, se não for pedir muito. AH, e não esqueça os biscoitinhos da sorte.
- Que faminta. – Meu irmão rolou os olhos e anotou o que eu iria querer no bloco de notas do seu próprio celular. Como ele era quem iria fazer os pedidos mesmo, era melhor anotar e não correr o risco de esquecer.
- Pode pedir o Yakisoba vegan pra mim. – Harry e a sua escolha saudável me fizeram sorrir.
- É errado eu não saber o que pedir? – Liam parecia confuso. – Tudo parece bom e ruim ao mesmo tempo...
- Pede o mesmo que eu? Também não sei o que é, mas se for ruim nós sofremos juntos! – Fiz um biquinho.
- Por mais tentadora que essa sua proposta seja... Acho que fico com esse ai que tem camarão. – Apontou para o papel. – “Zhān miànbāo xiè de camarão”.
- Você só quer esse porque leu camarão no meio! Pelo que sabemos, pode muito bem significar “vísceras de camarão”. – Fiz cara de nojo, mas seria impossível convencê-lo a arriscar comigo.
- Veremos quando chegar. – Piscou desafiador. – Ah, eu também quero biscoitinhos da sorte.
- Eu também! – Haz fez uma carinha fofa e infantil.
- Enquanto vocês pedem, eu vou deixar essas coisas no meu quarto, tá? – Peguei meu casaco e a minha bolsa.
Me demorei mais que o necessário para sair do sofá, mas que culpa eu teria se ele era simplesmente muito confortável? Não era surpresa nenhuma alguém acabar adormecendo por ali e acordar só no dia seguinte se sentindo super relaxado. Ninguém me seguiu quando eu fui até as escadas e os deixei para trás, ainda discutindo alguma coisa sobre o nosso almoço. Passei pelo corredor e todos os quartos estavam com suas portas abertas, o que tornou meio impossível não dar uma pequena espiada em seus interiores. Se houvesse uma competição, o quarto de Lou ganharia o prêmio de mais bagunçado, Liam ficaria em segundo... E eu nem tenho tanta certeza se Harry entraria na disputa. Ele podia ser o mais novo de todos, mas tinha uma organização impecável. Tia Anne o criou muito bem.
Voltando a prestar atenção no que me dizia respeito, entrei no meu próprio quarto. Ele não era tão bagunçado assim, mas também não era impecável. Prova disso foi o fato de eu ter largado o casaco que estava em minhas mãos em cima da escrivaninha e não ter me importado quando ele foi ao chão no mesmo instante. A preguiça era maior e a cama estava parecendo aconchegante demais pra que eu passasse mais um minuto fora dela. Tirei os sapatos e as meias e me joguei naquele projeto de nuvem cheio de travesseiros. Tá aí... Aquele era um móvel que eu adoraria levar pra Paris comigo, mas infelizmente ele não caberia no meu quarto.
O incrível é que por mais que eu tentasse não pensar nesse assunto, ele sempre acabava voltando do nada. Mesmo que eu quisesse aproveitar meus últimos dias em Londres, ainda tinha muito o que decidir sobre a minha vida em Paris. O que eu iria fazer ao chegar lá? Deveria arrumar um emprego? Entrar em alguma companhia de dança temporária? Será que eu ficaria fora da Academy só durante um ano, ou pensar assim era só me enganar? Encarei o teto e desejei ter Zayn ao meu lado naquele momento. Por mais que ele não pudesse me ajudar, apenas a sua presença já seria tranqüilizadora. Eu possivelmente não o veria nem tão cedo, então tinha que me acostumar com a falta que ele fazia. Na ausência de um namorado, a melhor amiga era a melhor pedida, e foi com esse pensamento que eu revirei aminha bolsa à procura do meu celular.
Foi a mensagem que digitei pra ela. Sim, eu sabia que ela iria me atrapalhar mais do que ajudar e aquela só era uma desculpa para chamá-la até a minha casa. Eu queria aproveitar cada hora que pudesse passar com aquela ruiva elétrica e também tentaria arrancar uma informação sobre o dono dos meus pensamentos. Como já era de se esperar, não demorei muito a receber uma resposta.
“Estarei esperando! Traga o chocolate, ok? Love ‘ya.”
“Abusada!”
Dar banho em um gato? Não era surpresa nenhuma Félix não gostar dela! Tudo estava explicado agora. Comecei a rir imaginando o bichinho tentando fugir da dona e acabar arranhando-a toda. Pobre .
Depois do almoço – que nem foi tão ruim assim, diga-se de passagem – eu subi até o meu quarto pra começar a arrumar as minhas coisas para a mudança. Imagine o meu choque ao descobrir que eu tinha mais coisas do que quando chegara em Londres meses atrás. Isso com certeza me daria mais trabalho, pois eu não deixaria nada pra trás. Foi revirando as minhas roupas que percebi o quanto o meu estilo havia mudado essencialmente. Agora eu usava combinações um pouco mais ousadas do que o velho conjunto “camiseta + calça jeans + tênis” e em cores diversas. Eu tinha roupas pretas na mesma quantidade que tinha brancas e o intervalo entre elas era bem preenchido por todos os tons de cores. Sem falar da mudança em meu cabelo e até as minhas próprias atitudes. Eu era acostumada a ficar no canto e quase não ter “voz”, mas atualmente eu tinha uma atitude bem mais forte e estava acostumada a ter a minha parcela de atenção dos outros. Poderia não ser a aluna mais popular da Academy, mas com certeza não estava no fundo da pirâmide.
Bem, como eu teria que começar por algum lugar, resolvi antes de mais nada pegar uma caixa de papelão (sim, uma das que sobreviveram da minha última mudança) e deixá-la aberta em cima da minha cama. Antes a minha tática para iniciar era: “Empacotar as coisas mais importantes”, mas como eu ainda demoraria um pouco para voltar à Paris, não podia guardar todas as minhas roupas e ficar uma semana com as mesmas peças. Então acho que seria melhor começar por aquilo que não iria precisar nem tão cedo e eu sabia bem o que era: Minhas coisas de ballet. Era ruim pensar que aquilo que me levou à Londres era também a primeira coisa que eu estaria encaixotando para ir embora. Como eu possuía bem umas trinta sapatilhas em todos os formatos, tamanhos e funcionalidades e ainda por cima cuidava delas melhor do que de mim mesma, levei-as delicadamente até a caixa marrom. As arrumei da forma mais adequada que consegui, de forma que elas não ficassem amassadas e nem que ocupassem tanto espaço assim. Algumas meias mais velhas e polainas também foram parar ali dentro só pra economizar.
Mais uma caixa se foi, duas, três. Logo o canto do meu quarto estava parecendo mais um depósito que qualquer coisa. Quer saber o pior? Eu não estava nem na metade da metade do trabalho, pois só o que eu havia guardado era: As benditas roupas de ballet, biquínis e roupas de banho, vestidos de festa e essas coisas mais arrumadas e alguns casacos pesados que eu só usava durante o período de neve. É, eu realmente tinha muito mais coisa do que antes. “Culpa da , que sempre me arrasta pra gastar por aí!”, sim, eu a culpava! Quem diz que Londres não é um lugar de compras está muito enganado, pois uma das minhas atuais marcas preferidas era dali. Ahh, como eu sentiria falta das lojas da TOPSHOP. “Aliás, onde está aquela criatura ruiva?” Fazia algumas horas que eu havia chamado-a para me ajudar, mas até aquele momento nem sombra dela.
Já que eu tinha trabalhado muito enchendo as minhas quatro caixas, merecia um descanso. Eu sei que sou preguiçosa, ok? Não precisa passar na minha cara. O caso é que eu estava farta de ficar sozinha. Isso é que dá viver rodeada de amigos o inteiro, você acaba esquecendo de como se virar sem eles. Talvez esse fosse ser um problema mais tarde, mas tudo ao seu tempo, certo? Saindo do meu quarto, parei no meio do corredor para decidir onde deveria ir. Tecnicamente eu tinha duas opções: Número 1 – Ir até o quarto de Liam e passar um tempo conversando sobre tudo sem dizer nada. 2 – Ir até a sala onde meu irmão e Harry estavam e atrapalhar um possível momento de amor entre os dois. Adivinha qual opção eu escolhi? Pois é, a primeira.
- Li? – Falei ao bater duas vezes na porta do quarto dele.
- Pode entrar, . – Deu permissão e eu não pensei duas vezes.
- Não estou atrapalhando nada? – Abri a porta devagar e espiei o que ele estava fazendo.
- Nunca atrapalha. – Sorriu um pouco e me chamou para sentar ao seu lado na cama. – Eu só estava afinando o violão.
- Então porque o violão está tão longe de você? – Apontei para o instrumento encostado na parede oposta. – Virou telepata?
- Virei! – Riu. – Eu sei exatamente o que você está pensando.
- Ah, é? – Levantei uma sobrancelha e me finalmente me sentei. Fiquei encarando-o com os braços cruzados.
- Sim! Você está pensando que eu não consigo te enganar e a minha desculpa de estar afinando o violão foi terrível.
- Pelas barbas de Mérlin, você acertou! – Bati palmas e ri. – Vai me falar o que estava fazendo?
- Eu não estava fazendo nada, juro. – Balançou a cabeça e sentou de frente pra mim. – Só estava pensando.
- Ihh, isso e pior do que o que eu imaginava! No que pensava? – Eu podia até estar sendo intrometida, mas se ele estava com algum problema, eu gostaria de ajudar.
- Em você. – Respondeu mais rápido do que eu esperava. – E em mim.
- Mas no que exatamente? – Eu também perguntei rápido demais e provavelmente nem pensava direito aonde aquela conversa poderia terminar.
- No nosso beijo de sexta... – Era nesse assunto que eu não queria que a história terminasse, mas fiz algo pra impedir? Claro que não! Também é que eu estivesse evitando aquela conversa, pois mais cedo ou mais tarde acabaríamos falando disso, mas tanta coisa aconteceu desde aquele dia que eu vinha preferindo fingir que o beijo nunca aconteceu. – É por causa disso que você está indo embora?
- É claro que não, Leeyum! – Acima de tudo eu não gostaria que ele pensasse isso. – Eu nunca iria embora por culpa sua...
- Ainda bem, porque eu não gostaria de te perder. – Olhou para baixo e suas bochechas obtiveram um tom mais avermelhado.
- Ninguém vai me perder! – Me aproximei um pouco mais e o abracei. – Não pense besteira, certo?
- Certo. – Retribuiu o abraço e eu pude sentir que ele cheirou os meus cabelos.
- Aliás, por falar em violão, tem algo que eu quero te dar. – Desfiz o abraço e o olhei com um sorriso sapeca?
- O que é? – Também sorriu.
- Não é nada muito grande, então não se anime! Mas é uma palheta que eu tenho há alguns anos... Não me pergunte o porquê, eu só tenho. – Dei de ombros. – E quero que fique com ela pra poder lembrar de mim sempre que for tocar!
- Então eu aceito! Mas agora estou me sentindo mal, porque também quero te dar algo...
- Não precisa me dar nada. Mas se insiste tanto, eu não iria negar aquela sua camiseta que eu amo!
- Eu sabia que você iria acabar roubando ela mais cedo ou mais tarde. – Balançou a cabeça em negação. – E nem ao menos cabe em você!
- Eu sei que quase sumo dentro dela, mas vai dizer que eu não ficaria sexy? – Pisquei e joguei os cabelos para o lado.
- Ficaria... – Respondeu baixo com tanta sinceridade que me fez corar.
- Então você pega a camisa e eu vou procurar a sua palheta, tá bem? – Levantei da cama e fez “positivo” com a mão.
Eu sabia que teria muito trabalho em encontrar a tal palheta, pois mal conseguia me lembrar onde ela estava. Nunca toquei musica nenhuma e todas as vezes que tentei segurar um violão, acabava usando os dedos pra brincar com as cordas, por isso realmente não sabia o motivo de ter aquela palheta. De um forma ou de outra, ainda me lembrava que ela era roxa (a cor preferida de Liam) e tinha o meu nome desenhado com aquelas canetas permanentes. Seria um bom presente de despedida, certo? Aliás, porque eu não havia pensado nisso antes? Eu poderia deixar algo meu com cada um dos meus amigos, como algo que eles pudessem olhar ao ter saudades ou simplesmente pra lembrar-se de mim. Não sabia exatamente o que dar, mas ainda tinha um tempo pra pensar nisso.
Atravessei o corredor mais uma vez ao sair do quarto e Liam e entrei no meu próprio. Seria como procurar uma agulha no palheiro, mas eu iria encontrar aquela palheta de um jeito ou de outro. Primeiro fui até a minha escrivaninha e revirei os potes de lápis e caixinhas de enfeite que haviam por ali; nem sinal dela. Ainda por ali, abri as duas gavetas e também procurei incessantemente, mas não achei nada além de papéis sem sentido, desenhos inacabados, moedas, tampas de caneta e esse tipo de tralha. Maldita desorganização! Eu já desejei ser uma cientista pra inventar um mecanismo que encontra tudo aquilo que a gente perde. Quase como um “beeper”, que aciona o objeto que se quer e ele começa a apitar, indicando onde está. Mas com certeza eu acabaria perdendo ele também.
“Já sei!” Menti para mim mesma e entrei no closet, já abrindo uma gaveta onde eu guardava algumas das minhas jóias e coisas assim. Afastei algumas caixas de colares daqui, umas pulseiras dali, finalmente captando alguma coisa roxa com o olhar. Sorri na esperança de ser o que eu estava procurando, só que imagine a minha decepção ao ver que não era. Além de não ser nem ao menos roxo de verdade, o broxe em formato de flor também não era meu. “Ih, tenho que lembrar de devolver à , ou ela me mata.” Tá aí, esse broxe podia ser o que eu ia pedir pra ela de “presente de despedida”, porque se eu ia dar algo, nada mais justo do que ganhar também, não é? Obrigada por concordar. Assim que fui devolver o broxe a gaveta temporariamente, ele acabou escorregando da minha mão e caindo no chão por acidente. Eu não podia ser mais desastrada, tenho certeza.
Acabei me sentando no chão para procurar o broxe que havia sumido da minha vista e comecei a tatear o carpete, até mesmo colocando a mão em baixo de um vão não tão pequeno assim entre a madeira do “guarda roupa” do closet e o próprio chão. Meus dedos acabaram esbarrando em algo maior que o broxe e eu me assustei por um instante, mas resolvi pegá-lo de qualquer forma. Consegui tirar o objeto de lá e meu sangue esquentou assim que vi o que era. Uma caixa um tanto pequena e empoeirada com embalagem de presente e um laço no topo. “O que isso está fazendo aqui?” era o que eu pensava, mas a pergunta melhor seria: “Como eu pude esquecer disso?” Um flashback passou pela minha mente, me levando até a ultima vez que eu vi meu avô com vida, na estação de trem de Paris. Nós nos despedimos e ele me deu um presente, falando que eu só deveria abrir assim que o meu trem partisse. O problema é que quando o trem partiu, eu acabei pegando no sono e esquecendo completamente daquilo. A cena onde eu derrubava a minha bolsa e virava o seu conteúdo bem naquele lugar do closet também estava naquele flashback e me deixou arrepiada.
Sem mais conseguir esperar, puxei a ponta do laço de fita de qualquer jeito e abri a caixa, louca pra ver o que estava no seu interior. Mesmo se eu tivesse tentado adivinhar o que havia ali dentro, teria falhado, pois encontrar aquela caixinha de música foi uma surpresa. Era um objeto arredondado em cores pastel que iam do azul bebê até o rosa claro, algumas flores delicadas e com linhas sinuosas enfeitavam toda a sua lateral e o desenho de uma bailarina sentada com as pernas dobradas estampava a tampa. Na parte de trás havia uma “chave giratória” que dava corda. Era algo tão pequeno e frágil que eu tive que abrir a tampinha com muito cuidado. A caixinha de música que cabia na palma da minha mão começou a tocar uma melodia calma que me fez sorrir. Não me demorei muito naquele detalhe, pois um pedaço de papel branco dobrado ao meio chamou a minha atenção. Deixei a caixinha de música de lado por um instante e me concentrei em abrir o bilhete, logo achando a letra do meu avô. “La vie est une aventure... Vá viver a sua.” Aquela frase era bem o estilo do meu avô, bem o que ele falaria pra mim, se é que não havia falado e eu só não me lembrava. Meus olhos ficaram embaçados com lágrimas, mas eu ainda sorria. Ver a letra de papá e ainda por cima sem ter procurado ou sem esperar... Foi mais do que eu podia pedir.
Voltei a dobrar o papel cuidadosamente e o coloquei no mesmo lugar em que estava, pegando a caixinha de música para estudá-la com mais cuidado. As notas musicais já haviam parado de tocar, mas eu não a fiz repetir. No interior da tampa havia um pequeno espelho e uma frase em dourado gravada nele: “Home is where the heart is.” Aquelas simples palavras me atingiram como um raio. Além de serem de uma música do McFly – e meu avô devia saber disso – foi como se toda a minha perspectiva estivesse mudando, como se eu estivesse errada esse tempo tudo e finalmente conseguisse ver a luz. “O que eu estou fazendo?” Balancei a cabeça com as milhões de novas idéias e interpretações daquela música que começou a se repetir na minha cabeça. “Casa é onde o coração está”, mas onde estava o meu coração? Em Paris, onde só o que eu tinha eram algumas memórias de uma infância e adolescência não tão boa? Ou em Londres, onde eu era verdadeiramente feliz e tinha um futuro? “Eu não posso ir embora...”, falava pra mim mesma ao pensar em todos os planos que eu teria que deixar para trás se continuasse com essa mudança, todas as promessas que eu estaria quebrando. Eu não podia simplesmente desistir de todas as oportunidades que me esperavam, não podia... Não podia desistir da minha aventura.
Não é que de repente eu não me importasse mais com a nana e fosse deixá-la sozinha em casa, mas o que eu acreditava ser o certo era na verdade o errado pra mim. Não era a minha hora de voltar, de deixar tudo que eu havia construído até ali se dar por perdido. Não seria o que o meu avô gostaria que eu fizesse. Me peguei encarando-me no pequeno espelho por tempo demais enquanto as poucas lagrimas escorriam pelo meu rosto. “Eu vou ficar. Eu vou ter a minha aventura.” Considerei aquilo praticamente como um ultimo pedido do meu avô e eu o atenderia custe o que custar. A campainha tocando me fez despertar dos meus devaneios e imaginar que era finalmente chegando e acabei sorrindo com a felicidade que ela sentiria ao me ouvir falar que eu ia ficar. Ouvi algumas vozes no andar de baixo, porém não dei muita atenção.
Levantei do chão trazendo comigo a minha caixinha de música e a caixa de presente aonde ela viera. Deixei tudo em cima da minha cama e passei as costas da mão por baixo de meus olhos, disfarçando o meu choro. Também respirei fundo para recuperar o fôlego e acalmar os meus batimentos cardíacos. Não seria nada legal ter um ataque do coração naquela altura da coisa. O que antes eram apenas murmúrios se tornaram uma discussão mais séria e eu pude entender o que estava acontecendo.
- SAI DA MINHA FRENTE. – Um Zayn revoltado gritou e eu senti o estômago congelar.
- Zayn, não faz isso! – Lou devia estar impedindo-o de subir, com medo do que ele pretendia fazer.
- NÃO, LOUIS, ELA VAI ME OUVIR. – Gritou mais uma vez. – EU NÃO VOU DEIXAR ELA IR.
Aquilo era o suficiente pra mim, eu tinha que descer logo. Temendo que alguma briga pudesse começar, saí do meu quarto e corri até as escadas. Queria ver Zayn e abraçá-lo, falar que eu não ia mais embora e pedir desculpas por sequer ter pensado nisso. Toda a saudade que eu sentia dele pareceu triplicar naquele momento e eu não estava com nem um pouco de medo por ele estar tão bravo. Continuei correndo até a metade da escada, onde eu parei petrificada. Todos que estavam no hall de entrada também pareceram ter a mesma reação a me ver e notei que Zayn parou de respirar. Era como se estivéssemos nos vendo pela primeira vez depois de muitos anos separados e ninguém mais sabia o que falar. Ele estava com a aparência cansada, com algumas olheiras embaixo de seus olhos e eu sabia que a causadora de tudo isso era eu. Sem mais conseguir esperar, corri o resto do caminho para descer as escadas e não parei até estar nos braços dele. Louis e Liam, que estava ali também, abriram espaço para mim e só ficaram observando com curiosidade. Zayn não me negou aquele abraço como poderia ter feito, mas me apertou contra si com uma força que eu nunca havia visto antes. Era como se ele não fosse me soltar nunca mais e eu não me importaria nada com isso. Escondi o rosto em seu pescoço e respirei aquele perfume que me fazia mais falta do que eu esperava e fechei os olhos.
- Eu te amo, Zayn... – Falei só pra ele ouvir. Aquela declaração era diferente da que eu fazia para os meus amigos... Era maior. Eu amava-os, claro, mas de uma outra forma. Pela primeira vez na vida eu me senti completamente certa e segura ao falar aquelas três palavras que tem um peso tão grande. – E eu não vou embora.
- Eu amo você, . De todas as formas que eu posso. – Eu não falei que o amava na esperança de ouvir de volta, mas confesso que me senti muito bem quando ele disse aquilo. – É sério que você não vai embora?
- É sim. – O olhei sem partir o abraço. Seus olhos estavam brilhando e eu tive que sorrir com a sua perfeição. – Todo esse tempo eu estava achando que a minha casa ficava em Paris só porque e onde eu cresci... Mas eu não podia estar mais errada. A minha casa é aqui. Onde você está.
Capítulo XLIV
- But I swear, she will never... Never drive my TVR.
Cantarolei no banheiro vazio do quinto andar enquanto eu trocava as minhas roupas normais pelo uniforme de ballet. Eu já havia perdido muitas aulas nos últimos tempos e por isso acordei super cedo naquela quarta feira para poder correr atrás do tempo perdido. Meu humor estava bem leve, mesmo ainda sendo manhã, afinal... Tudo parecia estar voltando para o lugar aos poucos. Eu e Zayn estávamos juntos e nos amávamos, meu futuro e presente ainda estavam em Londres, meus amigos não ficariam sem mim, e o mais divertido... Eu teria o prazer de assistir o susto que levaria ao me ver entrando na sala de aula. No dia anterior, a criatura nem ao menos se deu ao trabalho de me ligar pra avisar que não iria mais para a minha casa e me deixou esperando. De certa forma até que foi bom, porque assim eu e o meu namorado pudemos aproveitar esse tempo sozinhos. Pra me vingar, também não liguei pra ela e não avisei sobre a minha mudança de planos, inclusive fiz Zayn me prometer que não contaria nem pra ela e nem para Niall. Eu queria fazer uma surpresa e aquela seria das grandes.
A minha aula começaria em mais ou menos cinco minutos, mas mesmo se eu estivesse atrasada tenho certeza que a professora Holly me deixaria entrar. Levando em conta o quanto ela e Nicholas estavam íntimos, era mais que provável que ele tivesse contado sobre a minha volta para Paris. Como a mulher era a minha professora preferida e eu também devia ser uma de suas melhores alunas – modéstia a parte – ela ficaria feliz em saber que foi apenas um surto momentâneo. Me olhei no espelho e encarei o meu reflexo com um sorriso. Agora sim eu conseguia me reconhecer, agora sim eu era eu. Talvez até um “eu” melhorado, pois resolvi seguir ao pé da letra o que aquele bilhete tão simples do meu avô pedia. Ele queria que eu vivesse a minha vida como uma aventura e não podia deixar medos me prenderem ou me fazerem recuar. Eu iria ousar mais e já dei o primeiro passo naquele dia mesmo: Estava usando preto, o que raramente acontecia, um vestido de dança um tanto quanto justo e decotado e o coque em meu cabelo estava bem frouxo, quase desleixado.
“É isso aí, , vamos arrasar!” Ri comigo mesma e recolhi todas as minhas coisas do banheiro. Pendurei a minha mochila sob o meu ombro e deixei aquele lugar para trás, já dando de cara com alguns alunos no corredor. Houve uma pausa geral nos assuntos quando eu passei e senti que a parcela masculina era a que mais me observava. Felizmente Zayn não estava ali para notar e causar alguma confusão por causa de ciúmes ou coisa assim e eu pude andar direto para a minha sala que era a terceira porta à direita. Espiei pela parte de vidro e estava ali dentro, sentada em um canto, meio cabisbaixa. Holly estava perto dela e mexia em algo no aparelho de som enquanto os outros alunos já se alongavam espalhados pela sala.
Respirei fundo e fiz a minha melhor cara de “é apenas mais um dia normal”. Abri a porta da sala e meus colegas foram os primeiros a me olhar e murmurar um bom dia enquanto eu atravessava a sala. nem levantou o rosto e Holly finalmente notou a minha chegada. Ela sorriu visivelmente surpresa e feliz por eu não ter ido embora. Em seguida olhou para a minha amiga, provavelmente pensando o mesmo que eu. “Será que ela não vai me notar?”
- Bom dia, . – A cumprimentei e larguei a minha mochila ao seu lado casualmente.
- ? – Levantou o rosto e me estudou dos pés até a cabeça. – Eu estou sonhando?
- Talvez... Eu tenho asas ou algo assim? – Olhei para os meus ombros em brincadeira e ri.
- ! – A sua ficha pareceu cair e levantou de uma vez, pulando em cima de mim. – O que você está fazendo aqui?!
- Como assim? Eu tenho aula junto com você... – A abracei de volta.
- Para de brincadeira, menina! Pra você estar aqui...
- É, eu não vou embora. – A interrompi e nos soltamos.
- AI MEU DEUS! – Gritou em animação e todos da sala olharam na nossa direção.
- Ainda bem que você resolveu ficar, ! – Holly, que estivera escutando a nossa conversa, tocou o meu ombro e sorriu sincera. – Eu não queria perder a minha melhor aluna.
- Epa, pensei que a sua melhor aluna era eu! – reclamou e nem ela mesma acreditou naquilo que falara, então nós três rimos.
- Eu também estou feliz por ficar, professora. – Ainda ria um pouco da minha amiga.
- Muito bem, então podemos começar a aula? – A docente perguntou não só para mim, mas como para todos da sala.
- Sim! – Respondi prontamente enquanto os outros resmungavam um “não”.
- Já sabem o que fazer, formem duplas e vão se alongando.
- Quem será a minha dupla hoje? – Olhei em volta pensativa e a professora voltou a mexer no som.
- Ha ha, muito engraçada. – passou o braço pelo meu, super possessiva, e me arrastou até perto da janela onde costumávamos ficar. – Agora pode me explicar que milagre aconteceu pra você resolver ficar?
- Vamos dizer que o meu avô ainda me faz surpresas mesmo depois de partir. – Sentei-me ao chão fazendo uma abertura de quase 180º com as pernas.
- Não vai me dizer que ele apareceu pra você, né? Tipo... O espírito dele... – Fez uma cara de susto e sussurrou as últimas palavras. Ela imitou a minha posição e encostou a ponta dos pés nos meus.
- Claro que não, idiota. – Rolei os olhos. – Mas até que seria bem legal... Enfim, ele me mostrou que a vida e uma aventura e deve ser vivida. Por isso eu não podia voltar pra Paris!
- Eu sempre gostei desse senhor. – Sorriu e demos as mãos. Vez ela me puxava e esticava as minhas pernas, vez eu fazia isso com as dela. – E também acho bom que você esteja superando tão bem.
- Estou mesmo, né? – Suspirei. – Isso me deixa bem culpada, . Eu não deveria estar mais deprimida ou sentida? Quero dizer, é claro que eu sinto muita falta do papá e desejo que ele estivesse aqui... Mas eu comecei a aceitar...
- , me deixe te interromper por aqui. – Mudamos de posição, onde eu fiquei deitada no chão com as pernas para cima e ela girava os meus pés de um por um. – Superar não é esquecer, não pensar ou ignorar. Não é ganhar ou perder, não é esquecer as memórias e não é ter pensamentos tristes. Superar não é a perda e não é a derrota. É apreciar as memórias, mas seguir em frente. É ter uma mente aberta e confiante para o futuro. Superar é ser agradecida pelas coisas que te fizeram rir e as que te fizeram chorar, o que você tem, o que você tinha e o que você vai ganhar. Superar é ter a coragem para aceitar o que mudou e a força pra seguir em frente. Superar é crescer.
- Isso e lindo, ... – Por sorte não fiquei com lágrimas nos olhos depois de ouvir todas aquelas coisas. – Conclusões filosóficas antes das oito horas da manhã...
- Sou uma verdadeira poeta, minha cara amiga. – Me ajudou a levantar com um sorriso convencido em seu rosto. – Agora é a minha vez.
- Já tiveram tempo suficiente, né? – Holly nos chamava para o meio da sala e a minha amiga reclamou por ter acabado de se deitar.
- Talvez um outro dia, . – Ri e a deixei para trás.
- Que melhor amiga essa que eu fui arrumar. – Me fuzilou por não ajudá-la como havia feito comigo.
- Sei que todos conhecem essa música, portanto não será muito difícil entrarem no ritmo. – A professora ligou o som com o controle remoto e a música “She’s a maniac” começou a tocar em um volume um tanto quanto alto. – , Melanie, Jô, Bill, Ann e Lisa... Quero vocês no plano superior. Quanto ao resto, no inferior.
Aquela tarefa era bem interessante, pois alguns de nós deveria dançar apenas em um plano e interagir com os alunos do outro plano. Ou seja, enquanto eu devia dançar na ponta dos pés ou o mais “alta” possível, dançaria pelo chão, de joelhos ou até mesmo deitada. Holly devia ser a melhor professora de técnica corporal do país, pois ela sempre inventava novas formas de trabalhar o nosso corpo inteiro. Aquela era a única aula em que eu podia realmente extrapolar e me jogar na dança. Eu já não tinha mais vergonha de nada e conhecia todas as pessoas que estavam ali dentro comigo, por isso não havia motivos para me segurar e tentar agir normalmente. Bill veio para o meu lado e começamos a dançar; não necessariamente um com o outro, apenas relativamente próximos. Ele saltitava e eu joguei os braços para cima, mexendo os pés como se o chão estivesse muito quente e eu não pudesse encostar ali por muito tempo. Algumas meninas andavam de quatro e davam cambalhotas, mas estava de barriga encostada no chão e fingia estar nadando. Não sei bem como ela chamava aquilo de dança, mas não segurei uma risada.
- ZAYN, ZAY, ZAYN. – correu para o lado de fora da Academy.
Assim que a nossa última aula do dia acabou, nós fomos até o banheiro e nos trocamos como de costume. É claro que ela foi mais rápida que eu e logo ligou para o namorado, pedindo para que ele e Zayn nos encontrassem na escadaria em dois minutos, pois ainda não tínhamos nos visto naquela manhã. Além do que, o loiro não sabia da novidade do momento. O caso é que estava tão desesperada pra contar aquilo pra alguém que nem me esperou e saiu correndo pelo corredor do primeiro andar, me fazendo apressar o passo para acompanhá-la.
- Espera por mim!
- ZAYN, CADÊ... ACHEI! ZAYN! – A ruiva gritou mais ainda quando o encontrou sentado na escada e rolou dela pra chegar até ele.
- Bom dia, love... – A ignorou completamente e sorriu na minha direção. Se levantou e deixou uma baixinha confusa na escada. – Como foram as aulas?
- Ótimas! – Sorri de canto a canto e caminhei até Zayn como se estivesse flutuando. O abracei ficando na ponta dos pés e colei os nossos lábios em um selinho. – Mas eu prefiro quando elas acabam e eu posso ficar com você.
- Eu perdi alguma coisa? – Niall perguntou para a namorada.
- É exatamente o que você está pensando, Ni. Ela vai ficar. – explicou bem animada. – Mas custava me falar que você já sabia, Malik? Eu vim toda animada pra te contar!
- Você saberia disso se cumprisse o que promete e tivesse ido até a minha casa ontem. – Fiz cara feia pra ela.
- Mas já era de se esperar que eu não fosse te ajudar a fazer a mudança!
- Ei, vocês duas, dá pra parar de brigar? – Niall se pôs de pé. – O que importa é que a nossa vai continuar aqui!
- Minha . – Zayn sussurrou e beijou a minha bochecha, me fazendo olhar pra ele e nem perceber quando Niall e entraram nosso abraço.
- Abraço em grupo! – me apertou e eu gargalhei.
- Socorro! Vocês vão me esmagar! – Eu ainda não estava totalmente curada do hematoma no meu quadril, por isso ele ainda doía um pouco, mas eu estava tão feliz naquele instante que nem me importei.
- Oh em gee, nós temos tanta coisa pra fazer, ! Temos que passar o texto da peça juntas, tirar as medidas para os figurinos, fazer as compras para o natal... , TEMOS QUE FAZER AQUILO. – Minha amiga desesperada começou a andar de um lado para o outro e arregalou os olhos ao lembrar daquilo que pensou que eu tivesse esquecido.
- Eu sei disso! – A repreendi com o olhar, pois não era hora e nem local de falar sobre... Bem, aquilo. – Sexta feira. Ainda dá tempo, certo?
- Sim, mas temos que correr. É até domingo...
- Só eu não sei do que vocês duas estão falando? – Zayn cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.
- É coisa nossa, sweety. – Respondi como se nosso assunto não tivesse importância. – Coisa de mulher.
- Aposto que tem algo a ver com o ciclo... – Niall cochichou para Zayn, mas não foi nada discreto.
- Que ciclo? – Pareceu mais confuso ainda. Os dois ficaram nos encarando como se estivessem tentando descobrir o maior segredo nacional.
- Não faço idéia. – Ni levou o indicador e o polegar ao próprio queixo e estreitou os olhos. – Mas acho que algo tem que sincronizar ou algo assim.
- Dá pra vocês dois pararem de paranóia? – Ri e rolei os olhos ao mesmo tempo, puxando os dois pelas mãos. – Podemos ir comer?
- Sim, senhora. – Responderam ao mesmo tempo.
Comecei a descer as escadas com um menino em cada mão e eu sabia que vinha atrás de nós por causa do barulho dos seus sapatos. Ninguém reclamou por eu estar nos guiando para o estacionamento e eu não devia ser a única a estar com fome por ali. Não estava chovendo ainda, mas o dia estava nublado. Não demoramos nada pra chegar até os nossos carros, mas algo nos impediu de entrar neles.
- Bom dia, alunos. – A diretora Agnes devia ter acabado de chegar na Academy. – , soube que você queria falar comigo.
- Ahn, sim... – Mexi nos cabelos nervosa. Como eu falaria que não era nada por eu ter mudado de idéia? Precisava falar alguma coisa, qualquer coisa. – Eu só queria falar que estou pronta para o papel principal. Vou cantar, aprender a atuar e dançar até sangrar.
- É muito bom ouvir disso, mas eu já sabia. – Me respondeu com um de seus super raros sorrisos. – Eu confio em você, . Sei que não cometi um erro ao te dar esse papel.
- Obrigada, diretora. Não vou te decepcionar!
Nos despedimos brevemente e ela retomou o seu caminho para que eu pudesse seguir o meu. Zayn era o único que ainda me esperava fora do veículo, já que havia pulado para dentro do meu e Niall estava no Volvo. Meu namorado esticou a mão para que eu a segurasse logo o fiz, para que ele pudesse me puxar pra mais perto até estarmos abraçados mais uma vez. Seu sorriso me falava tudo que eu precisava saber: Que o que falamos no dia anterior ainda era verdade e que eu não estava sonhando com aquilo.
- Estou orgulhoso de você. – Me segurou pela cintura.
- Eu sei que está... – Brinquei com os cabelos em sua nuca. – E eu estou fazendo isso por você.
- Então faça por nós dois. – Encostou a boca na minha e ficamos trocando alguns selinhos.
- HEY, VOCÊS DOIS. – Niall gritou de dentro do carro prateado e buzinou. – Dá pra andarem mais rápido?
- VOCÊ NUNCA BEIJOU A , ENTÃO NÃO SABE COMO É! – Zayn gritou de volta e me pegou de surpresa.
- Malik! A academia inteira não precisa ficar sabendo que meu beijo é bom! – Olhei em volta preocupada que alguém pudesse ter nos ouvido. – E o Niall tem razão, nós temos que ir.
- Tá bem, tá bem! – Fez cara de triste e soltou a minha cintura. – Pra onde estamos indo mesmo?
- Nando’s!
Tirei a chave do carro da minha bolsa e o destranquei, ouvindo Niall comemorar no carro ao lado por estarmos indo ao seu restaurante preferido. Não estava com nenhum desejo específico de comida, por isso não me importava em ir até aquele estabelecimento, além de estar com muita vontade de provar uma sobremesa nova. estava no banco de trás, onde sempre gostava de andar quando não estava dirigindo, e já pedia pra ligar o radio ou colocar algum de meus CD’s. Eu já ia fazer isso de qualquer forma, só queria tirar o carro daquela vaga apertada primeiro. Zayn acenou pela janela do próprio carro e saiu primeiro, me fazendo segui-lo. Aquilo era até melhor do que se eu tivesse que ir na frente, já que provavelmente acabaria pegando uma rua errada e faria todos nós ficarmos perdidos. Também não demoramos nada para dar a volta na pequena praça em frente ao prédio da Academy e sair em uma das avenidas de Londres.
era a pessoa mais impaciente que eu conhecia, pois não me esperou ligar o rádio e ela mesma se esticou para o banco da frente e mexeu em alguns botões. Reclamei que ela iria acabar mudando a configuração inteira e depois sobraria pra mim, mas como sempre, a ruiva não me deu ouvidos. Pelo menos ela conseguiu sintonizar e achar uma estação boa. A música que estava tocando não era muito conhecida, mas soava agradável aos meus ouvidos.
- ... – Logo que paramos no primeiro sinal vermelho eu a chamei. – Se eu te contar uma coisa, você promete que não faz um escândalo?
- Claro que prometo!
- Tudo bem... Sei que essa promessa não vai adiantar de nada, mas vou te contar assim mesmo. – Respirei fundo torcendo para que ela não gritasse. – Você lembra que Liam e eu saímos na sexta à tarde, né?
- Lembro... Vocês foram ao Zoo, se eu não me engano. Mas o que tem?
- O dia inteiro foi muito divertido e agimos como os bons amigos que somos, mas... No final do passeio, ele me beijou.
- Woooooow, tá falando sério? – Esticou o pescoço para olhar na minha direção e seus olhos estavam arregalados. – E o que você fez?!
- O que eu podia fazer, ? Liam é importante demais pra mim pra que eu o empurrasse ou lhe batesse!
- Você o beijou de volta?! – Colocou a mão sobre os lábios, mais espantada ainda.
- Não! Quero dizer... Eu não sei! – Bufei apertando o volante com força. Meus atos eram automáticos, pois já estava acelerando mais uma vez e dobrando em uma rua. – Eu não retribuí o beijo, sabe? Mas também não saí correndo.
- Eu não sei nem o que falar... – Grande ajuda, , valeu. – E como você e o Liam estão se tratando? Você contou para o Zayn?
- Tudo aconteceu tão rápido que eu nem tive muito tempo de processar direito. Logo que chegamos em casa eu tive a noticia que meu avô morreu e horas depois já estava em Paris, preocupada com outra coisa bem pior. – A espiei pelo retrovisor. – E eu não contei nada para o Zayn... Será que eu devia?
- Claro que não! – Balançou a cabeça para dar ênfase às suas palavras. – , tudo que nós não queremos agora é uma confusão entre eles. Eu conheço o Zayn muito bem pra saber que ele não entraria em uma banda com um cara que beijou a namorada dele.
- Eu também sei disso, mas não contar não seria como esconder algo dele?
- Tecnicamente falando, sim. Só que não podemos esquecer que não significou nada pra você, então não é como se fosse uma traição ou coisa assim.
- Acho que você está certa... – Suspirei mais calma observando a traseira do carro de Zayn entrar na minha direita. – Agora podemos falar de um assunto bem melhor?
- Sim, por favor! – Sorriu.
- Eu disse que o amo, . – Também sorri e mordi o lábio.
- Para o Liam?!
- Não, idiota! Para o Malik! – Essa garota precisava urgentemente de comida, pois estava devagar demais.
- FINALMENTE! – Riu. – Eu já sabia disso, . Você o ama desde que ele te pediu em namoro. Talvez até antes disso! E tenho certeza que ele falou de volta.
- Falou sim... E fez questão de repetir a noite inteira.
- Awn, como são lindos! – Sorriu pra mim e depois virou para o lado e fingiu vomitar, achando que eu não veria.
- Falsa! – Gargalhei e já pude avistar o Nando’s no final da rua.
- O que você vai fazer essa tarde? Se estiver livre podemos tomar aquele chocolate quente...
- Sorry, hoje não dá! A Lux e meus primos pequenos vão lá pra casa hoje. Ficarei de babá!
- Ihh, sinto muito, . – Fez cara de quem comeu e não gostou como se aquilo fosse uma coisa ruim.
- Por que? Eu amo os meus pequenos! – Sorri enquanto dirigia até o estacionamento. – Além do mais... Eu não estarei sozinha com eles. O Zayn vai me ajudar.
- Hmmm, já entendi tu-do! – Sorriu sapeca e piscou pra mim pelo retrovisor. – Só tenham cuidado, porque crianças são muito impressionáveis e não podem ver vocês dois se agarrando pelos cantos!
- Vamos tentar. – Pisquei de volta e gargalhei.
Eu ainda seguia o Volvo quando encontrei um lugar onde o meu carro cabia perfeitamente. Não, meu conversível não era um carro gigante, mas também não era dos menores, o que constantemente me trazia dores de cabeça da hora de encontrar uma boa vaga. Zayn e Niall ficaram para trás quando passamos por eles e eu manobrei para parar o automóvel no espaço certo. Mais uma vez não usou a porta e pulou para fora do carro, quase sendo atingida pela capota que começava a se fechar. Como o tempo começou a ficar um pouco instável, seria perigoso demais deixar o meu carro descoberto. Assim que tudo estava desligado e fechado, pude pegar a minha mochila no banco ao meu lado e descer para ir ao encontro da minha amiga.
Passei o meu braço em volta do de e fomos para a calçada, procurando os meninos com os olhos. Nenhum deles estava nos esperando, o que me fez achar que eles eram muito mal educados por não acompanharem as suas damas, ou então eficientes o suficiente para ir pegar uma mesa. Como o Nando’s era bem popular, era comum ficar cheio nas horas de almoço e jantar, entretanto, como os três já eram bem conhecidos ali eu não acreditava que teria algum problema quanto a isso. A ruiva abriu a porta para que nós duas entrássemos no restaurante e um garçom fez sinal para que o seguíssemos. Nos entreolhamos e resolvemos ir atrás dele mesmo sem ter certeza se era o certo a se fazer.
- Seus amigos as aguardam, senhoritas. – Apontou educadamente para uma mesa mais afastada onde Zayn e Niall já olhavam os cardápios.
- Merci, monsieur. – Dei o meu melhor sorriso e assisti o garçom corar.
- Ahn... Po-pode me chamar de algo. – Se embaralhou nas palavras e gaguejou, fazendo rir, mas eu continuei com o mesmo sorriso. – Digo, digo, pode me chamar se precisar de algo.
- Eu chamarei.
Assenti com um aceno e arrastei para a nossa mesa. Ela ainda olhou para trás mais uma vez enquanto nos afastávamos e cochichou que o tal garçom ainda estava nos olhando. Ou melhor, me olhando. Eu afirmei que não tinha nada de mais no que eu havia feito, mas desde quando ela escuta algo do que eu falo? Zayn se levantou assim que nos aproximamos e puxou a cadeira ao seu lado para que eu pudesse me sentar. Niall não o imitou, fazendo a sua namorada bufar e reclamar da vida.
- Que namorado incompetente. – Reclamou, mas Ni estava tão entretido no cardápio que nem percebeu que era com ele. – , você vai me ensinar a falar francês. Quem sabe assim eu arrumo um namorado tão bonito quanto aquele garçom que estava flertando com você.
- Que história é essa? – Zayn levantou uma sobrancelha e eu a repreendi com o olhar.
- Não é nada, baby. Loucura dela.
- Loucura minha? Aham! – Riu irônica e olhou para o meu namorado, pronta pra me denunciar. – A foi toda “mercier, monsir” pra cima do cara!
- Pra começo de conversa, é “merci, monsieur”, não isso aí que você falou. – A imitei ao falar e depois olhei para Zayn. – Eu só agradeci por ele ter nos mostrado onde vocês estão.
- Sei... – Levantou um pouco da cadeira para olhar em volta e checar se alguém me observava.
- Po-pode me chamar de algo. – afinou a voz ao imitar o pobre garçom e eu tive que rir, mesmo sem gostar daquela gozação.
- Cala a boca, !
As minhas crianças só chegariam às duas e meia da tarde, o que me deu um tempinho para tomar um banho rápido e trocar de roupa depois que eu cheguei do almoço. Também aproveitei para dar um jeito na casa, como esconder coisas afiadas, pontudas e que quebrariam com facilidade. Dar conta de uma criança que aprendeu a correr a pouco tempo já era complicado demais, imagine três. Tudo bem que Lux, Heidi e Ben não eram os mais endiabrados do mundo, mas ainda eram crianças! Na cozinha, eu escondi todos os copos e pratos de vidro nos armários mais altos, assim como facas e tesouras. Seria a primeira vez que eu iria ficar sozinha com os três de uma vez só e queria que tudo desse certo. Zayn estaria chegando há qualquer momento, pois havia me mandado uma mensagem avisando que estava na esquina, Harry pegou um turno extra no trabalho e Louis e Liam estavam fugindo da creche, por isso preferiram ir para qualquer outro lugar. Eu nem reclamei com esses dois últimos, pois seria um pouco constrangedor passar a tarde com o meu namorado e o garoto que gostaria de ser o meu namorado. Não que eu achasse que Liam pudesse fazer alguma coisa, ou tratá-lo mal, mas eu mesma acabaria agindo estranho e deixando na cara que tinha algo errado. Já que eu estava na cozinha mesmo, me servi de um copo de água e dei o primeiro gole.
- Pensativa? – Uma voz que saiu do nada quase me fez engasgar.
- Que susto, Zayn! – Tossi um pouco e me virei para encará-lo. – Como você entrou aqui?!
- Pela porta? – Sorriu cheio de si e cruzou os braços.
- Disso eu sei, né? – Falei com desdém e coloquei o meu copo pela metade dentro da pia. – Nem toca mais a campainha? O porteiro nem avisa mais que uma visita chegou?
- Eu já sou de casa. – Riu de forma gostosa e andou até o meu encontro. – E se eu tocasse a campainha, não teria chances de te flagrar trocando de roupa, ou no banho.
- Sempre com um plano na manga, Malik.
Acabei rindo daquela brincadeira, mas sabia que tinha um fundo de verdade em suas palavras. Depositei um beijo rápido em seus lábios e segurei a mão do mais alto para que pudéssemos ir até a sala. Pelo que eu me lembrava “Zayn + cozinha” não é uma combinação muito boa; ou quem sabe seja a melhor delas, dependendo do ponto de vista. Mas o caso é que estávamos esperando companhia, então não seria nada legal eles chegarem e nós dois estarmos desarrumados ou descabelados. Aposto que ele também sabia daquilo, por isso resmungou quando o puxei pelo hall e o forcei a sentar no sofá comigo.
- Essas crianças são as mesmas que eu conheci na casa do seu pai, certo? – Perguntou assim que eu passei as pernas por cima das dele e entrelaçou nossos dedos.
- Sim, aqueles anjinhos. – Afirmei e comecei a brincar com os dedos dele.
- Anjinhos? Não tenho tanta certeza... A Lux tem uma cara de sapeca!
- Hey, não fala assim da minha baby girl! – O repreendi. – Aliás, fique atento, porque hoje vai ser um teste pra ver se você vai ser um bom pai ou não.
- E se eu não for? – Mediu as nossas mãos e é claro que a dele era bem maior que a minha.
- Aí teremos que terminar. – Dei de ombros. – Não posso ficar com uma pessoa que não vai saber cuidar bem dos meus doze filhos.
- DOZE? Uau... – Me olhou impressionado. – Se você quer ter tantos filhos assim, é melhor começar a fabricá-los.
- Você acha?! – Gargalhei e encostei-me ao braço do sofá.
- Tenho certeza! – Continuou com a brincadeira e se aproximou um pouco mais. – E posso te ajudar, se quiser...
- Eu acho que quero... – Respondi baixinho, mas alto o suficiente para ser escutada.
Entrelacei os dedos aos dele mais uma vez e mordi o meu lábio inferior. Creio que Zayn entendeu aquilo como uma provocação, pois logo se inclinou sobre mim e levou a minha mão que estava presa à dele até acima da minha cabeça, fazendo-me descer um pouco mais no sofá até estar deitada sobre o mesmo. Aproveitando-se da posição, o menino também se deitou sobre mim, por mais que ele não fizesse peso algum. Tocou a ponta do meu nariz com o seu e nossos hálitos se misturaram. Trocamos alguns olhares até que soltou a minha mão e eu pude segurá-lo pela nuca e acabar com a distância que parecia bem maior do que realmente era. Mexemos os lábios em sincronia, dando início a um beijo molhado e apaixonado, pra não falar outra coisa. Fiz aquilo que tanto gostava e passei os dedos entre os fios negros de Zayn, já que eu era a única pessoa que ele realmente deixava fazer isso, sem nem mesmo se importar em ter o penteado que demorava tanto pra aperfeiçoar destruído. Sem querer ficar pra trás, desceu a mão que não estava usando de apoio no sofá pela lateral do meu corpo até chegar na minha coxa, onde apertou um pouco e levantou com cuidado, de forma que ele pudesse ficar entre as minhas pernas. Não me importei nada com aquilo e fiz questão de prendê-lo um pouco mais, começando a sentir coisas.
Brincalhão, Zayn interrompeu o beijo com uma mordida no meu lábio inferior e escorregou a boca até encontrar o meu pescoço. Continuei com os olhos fechados, mas dessa vez as minhas mãos passearam por seus ombros largos e eu jurava poder sentir seus músculos das costas se contraindo. Soltei um pequeno suspiro ao ter a minha pele sugada, sabendo que ficaria uma marca ali. Assim que me preparava para tentar algo mais audacioso, o barulho da campainha soou em alerta e eu abri os olhos com um susto. Zayn parecia não perceber nada, pois continuou me apertando e beijando a minha clavícula.
- Baby, alguém tocou na porta... – Sussurrei, pois estávamos próximos da janela e tive medo que quem quer que fosse pudesse me escutar.
- É impressão sua... – Murmurou tentando me beijar de novo.
- Zayn, para com isso! – Ri do desespero que ele estava e juntei todas as minhas forças para poder tirá-lo de cima de mim. – JÁ ESTOU INDO!
- Agora que estava ficando bom! – Reclamou como uma criança birrenta e eu consegui sair do sofá.
Eu sabia que estava ficando bom, talvez bom até demais. Dei um jeito na minha roupa, tentando colocá-la no lugar, e passei a mão pelos cabelos. Tentei ao máximo fingir que nada tinha acontecido e que quem quer que fosse não havia atrapalhado nenhuma troca de afeto entre duas pessoas com os hormônios a flor da pele. Respirei fundo para igualar a minha respiração e girei a fechadura para abri-la. Dei de cara com Rachel e as três crianças, uma sorrindo mais que a outra. Lux estava no braço da mãe e o outro casal de irmãos estava mais a frente. Todos eles pareciam bem animados com o dia que teríamos à nossa frente, mas o sorriso da minha madrasta não tinha preço. Pelo que eu sabia, a mais velha ia tirar o dia livre em um tipo de SPA, então realmente estava ansiosa com o seu próprio dia sem crianças ou afazeres domésticos.
- Hey, pequeninos! – Os cumprimentei com um sorriso bem grande e Lux voou para os meus braços. Ela tinha mania de se jogar para as outras pessoas, por isso tínhamos que ficar bem atentas perto dela. – Luxy!
- ! – A loirinha me abraçou e Ben e Heidi também abraçaram as minhas pernas.
- Como vocês estão? Prontos para a diversão?! – Coloquei a minha irmã no chão e me abaixei para poder abraçar os outros dois. – Oi, Rach!
- , você não tem idéia do quanto eles estão felizes. – A loira sorriu. – Lux quase não conseguiu dormir depois que você ligou ontem pra convidá-los pra vir aqui.
- Eu também estou feliz. – Dei um beijo na testa dos três e me levantei. – Não precisa se preocupar, viu? Eles vão ficar bem.
- Tenho certeza que sim. – Tirou uma bolsa um tanto quanto grande das costas e me entregou. – Aí estão algumas coisas que eles podem precisar... E você tem o meu número, então pode me ligar se algo acontecer.
- Não vai acontecer nada, Rach, vá curtir o seu dia livre! – Fiz sinal de “vá embora” com a mão e pendurei a bolsa no meu próprio ombro.
- Tudo bem, eu vou... – Suspirou. Mesmo que ela quisesse ter o seu dia de descanso, também devia ser difícil sair de perto de Lux. – Tchau filha...
- Tchau, mummy. – Lux acenou para a mãe, mas não prestou muita atenção, pois estava agarrada na minha perna enquanto Heidi segurava uma de minhas mãos.
- , quer ver o brinquedo novo que eu ganhei? – Ben segurou a minha outra mão e também me puxou para um lado.
- Quero sim, Bennie... Porque não vai lá pra sala com as meninas enquanto eu dou tchau para a tia Rach, huh?
- Tá bem! – Sorriu e segurou a irmã e Lux pela mão. Às vezes ele parecia um homenzinho, pois era bem responsável e compreensivo para a idade.
- Então até mais tarde, . – Minha madrasta me abraçou com força e eu retribuí da mesma forma.
- Aproveite!
Rachel ainda deu uma espiada por cima do ombro antes de partir de vez. Por mais que confiasse em mim, devia ter um pé atrás por ficar longe da sua primeira filha. De qualquer forma, ela se foi e eu não esperei ela entrar no carro para fechar a porta de casa. Eu tinha várias atividades em mente e se quisesse realizar todas, deveríamos começar logo. Me direcionei para a sala onde as crianças e Zayn já se cumprimentavam. O mais velho fazia sinal de “high five” e apenas Lux não soube como responder aquilo. Ben e Heidi sentaram-se no sofá e a minha irmã veio ao meu encontro pedir colo. Eu a levantei na mesma hora e também fui me juntar aos outros no sofá.
- Vocês se lembram do Zayn, né? – Sorri e troquei olhares com o moreno.
- Ele é seu namorado! – Ben respondeu com uma cara de sapeca que me fez rir.
- Eu gosto desse garoto. – Zayn também riu e bagunçou os cabelos do meu primo.
- , podemos ver um filme? – Heidi me olhou com os olhinhos brilhando.
- Vocês querem ver um filme agora? – Comecei a brincar com alguns cachinhos finos no cabelo da bebê em meu colo. – Ou poderíamos ir para o parque e assistir um filme na volta, o que acham?
- Parquinho! – Lux balançou a cabeça e sorriu animada.
- Isso, vamos ao parque! – Ben pulou do sofá e Heidi o imitou.
- Então está decidido! Weeeeee. – Comemorei junto com eles e também me levantei, ainda carregando Luxy. Deixei a mochila que Rachel me entregou por ali mesmo, pois, como o parque não ficava longe de casa, ninguém precisaria de nada que estava ali dentro.
- , posso brincar no parque também? – Zayn me seguiu e fez bico.
- Só se você prometer que vai ter cuidado! – Desde quando ele virava uma criança e eu a mãe?
- Eu prometo! – Bateu continência. – Palavra de escoteiro.
- Você foi escoteiro? – O menino mais novo perguntou.
- Não... Mas eu já acampei.
O mais alto parecia não querer decepcionar o garoto, por isso acho que ele estava inventando aquela história de ter acampado. Se havia uma coisa que não combinava nada era Zayn, um cara super hiper mega vaidoso no meio do mato, sem banheiro ou espelhos. Mas por outro lado... Ele também parecia gostar de se aventurar e experimentar coisas novas, por isso resolvi dar a ele uma chance. Os irmãos já nos esperavam na porta e, diferentemente do que eu acreditava, nenhum dos dois correu quando eu a abri e pudemos rumar em direção ao parque. Lux não me soltava de jeito nenhum e eu já não sabia se era ciúmes ou preguiça. Pelo menos com ela em meu colo eu podia beijar as suas bochechas quantas vezes quisesse, mesmo que isso a irritasse um bocado.
- Baby girl, tem certeza que não quer ir no chão como a Heidi e o Ben? Você está pesada.
- Não... – Me agarrou mais ainda com medo que eu a soltasse.
- Eu posso levar ela, se quiser. – Zayn tocou a bochecha de Lux com o indicador e ela o olhou.
- O que você acha, huh? Quer ir com ele? – Sorri encorajadora e ela afirmou que sim com a cabeça, um pouco tímida.
- Quer ir nas minhas costas? – Paramos de andar pela calçada e Zayn ficou na minha frente, se abaixando um pouco para que eu pudesse ajudá-lo.
- Uhum. – Lux se esticou e eu tive que agir rápido, caso contrário ela poderia cair.
- Isso mesmo... – Coloquei-a sentada nos ombros de Malik e ele segurou as suas perninhas. – Está segura?
- Eu estou segurando ela, , não se preocupe. – Sorriu e pegou uma de minhas mãos, entrelaçando os nossos dedos.
- Não estou preocupada! Eu confio em você. – Fiquei na ponta dos pés para dar-lhe um beijo na bochecha, mas ele foi mais rápido e roubou um selinho.
Escutei Ben gargalhar e vi que ele estivera nos observando. Não sei por que, mas ele se divertia muito em ver eu e Zayn fazendo coisas de namorados. Ao mesmo que eu me perguntava se ele tinha alguma “namoradinha” na escola e por isso ficava rindo, lembre-me do que falou sobre crianças serem impressionáveis. Tudo que eu não queria era que ele saísse por aí repetindo o que me via fazendo e depois se alguém perguntasse onde ele aprendeu essas coisas, respondesse que foi comigo. Aí com certeza a minha tia nunca mais deixaria nem ele ou Heidi passarem o dia comigo.
Lux brincava com os cabelos já bagunçados de Zayn e puxava sem querer de vez em quando. Ele não se importava nada e até fazia brincadeiras, fosse imitando um cavalo e dando alguns pulinhos, ou fingia que ia cair e ela gargalhava de felicidade. Por um momento eu não consegui tirar os olhos daqueles dois e sorrir. Era a segunda vez que se encontravam e, por mais que Lux estivesse tímida no começo, já pareciam bem íntimos. Segurei a mão de Heidi de um lado e Zayn segurou a de Ben do outro para que pudéssemos atravessar a rua. O condomínio não estava tão movimentado assim e nenhum carro passara por nós durante o nosso translado, mas quando se está com crianças, todo cuidado é pouco. Literalmente.
- Então, Dee-Dee, em qual brinquedo você quer ir primeiro? – Balancei o bracinho dela enquanto passávamos para o outro lado da calçada.
- Na casinha! – Apontou feliz para a casinha de bonecas em tamanho real e nem esperou uma resposta minha para soltar a minha mão e começar a correr. – Vem, Lux!
Ben também se soltou de Zayn e foi correndo para o balanço. Lux deve ter se arrependido de não ter ido no chão, pois se desesperou para seguir os primos mas não pôde. Tentei pedir para que ela se acalmasse enquanto eu a tirava dos ombros de Zayn, mas não adiantou. A loirinha mexia as pernas e os braços tentando ir mais rápido, mas isso só me atrapalhou mais. Por fim, consegui carregá-la e assim que a soltei, foi direto para a casinha com Heidi. Meu namorado me abraçou de lado e eu encostei a cabeça em seu ombro. Se alguém passasse por ali agora, poderia jurar que eles eram nossos filhos. Gravidez na adolescência é o que há! Tsc.
Como a maioria da nossa família inglesa por parte de pai ainda morava em Doncaster, a maioria dos nossos primos também era de lá, deixando apenas Heidi e Ben em Londres. Sendo assim, Ben só tinha meninas pra brincar e por isso acabava se isolando um pouco e muitas vezes brincava sozinho. Eu não gostava nem um pouco disso, portanto sempre fazia questão de dar atenção pra ele e entrar nas brincadeiras, o que me fazia ser muito querida; não só por ele, diga-se de passagem. Zayn também percebeu que ele estava sozinho no balanço e as duas meninas já tinham se distraído completamente dentro da casinha de madeira. Trocamos olhares e um sorriso que já dizia tudo. Apontei o “trepa-trepa” com a cabeça e ele afirmou que sim, também com a cabeça. Sem me falar nada, ele começou a correr até o brinquedo.
- Quem chegar por último perde! – Gritou quando já estava no meio do caminho.
- Ei, isso não vale! – Gritei de volta e me pus a correr. – Vem brincar com a gente, Benny!
- Você vai perder, ! – Entrou na brincadeira e também correu.
- Espera por mim! – Tentei chamar a atenção de alguém, mas não adiantou. Ben acabou chegando antes mesmo de Zayn e eu com certeza seria a última.
- Ganheeeeeei. – O mais novo comemorou, já se emaranhando no meio do brinquedo.
- é perdedora. é perdedora... – Zayn cantarolou ao também chegar no brinquedo.
- Essa competição não valeu! – Estirei a língua para os dois e também entrei no trepa-trepa, me segurando em alguns ferros e começando a subir. – Eu quero uma revanche.
- Então quem chegar ao topo primeiro ganha! – Ben nem terminou de falar para começar a subir no brinquedo. Por mais que seus braços e pernas fossem pequenos, ele tinha uma habilidade tremenda em escalar.
- Essa eu não vou perder! – Me apressei em subir o mais rápido que consegui. Como já estava pelo menos na metade do caminho, consegui chegar ao topo antes de Zayn, mas ainda assim perdi para o mais novo.
- Quem é o perdedor agora, baby? – Levantei uma sobrancelha e me sentei em um ferro, segurando nas laterais para não acabar caindo.
- O Zayn é perdedor! – Ben riu e apontou para ele.
- E você é o Homem Aranha, porque eu nunca vi alguém escalar tão rápido! – Falou impressionado, fazendo o garotinho se sentir o próprio super herói.
Zayn terminou de subir e se sentou ao meu lado, deixando as pernas em frente as minhas, o que de certa forma me deixou mais presa e com menos perigo de escorregar e acabar caindo. Desastrada como sou, agradeci por aquele cuidado com um sorriso. Ben até que ficou por ali conosco um pouco, mas só ficar sentado não era algo realmente interessante para ele, o que o levou a descer e partir para outro brinquedo. Ali de cima podia ver vários telhados de casas e árvores que cercavam o condomínio, assim com a quadra de esportes e a piscina que raramente era usada no inverno. Eu não fazia idéia do tamanho daquele complexo, mas dava pra perceber que era muito grande.
- Você leva jeito com crianças. – Comentei ao olhar para o homem ao meu lado.
- Você acha? – Me olhou de volta e deu de ombros. – Todos os meus primos tem mais ou menos a minha idade, então além da Safaa eu nunca tive muito contato com elas.
- Ah, eu acho sim. O que você falou sobre o Homem Aranha? Ele vai ficar pensando nisso até a próxima semana! – Ri e apontei para o pequeno que subia no escorregador pelo lado oposto e fingia soltar teias pelo pulso.
- Podemos ter um filho como ele? Deixa, deixa? – De novo aquela brincadeira. Desse jeito eu ia acabar acreditando.
- Um dos doze? Podemos sim! – Ri. – Depois da Emma.
- Antes da Emma! Porque assim o pequeno Thor pode proteger a irmã.
- THOR?! – Perguntei com uma gargalhada alta. – Meu filho não vai se chamar Thor!
- Por que não? Aí ele seria melhor amigo do Loki. – Cruzou os braços como se aquilo fizesse algum sentido.
- E quem é Loki? – Ergui uma das sobrancelhas.
- É o filho do Liam... Você não ia entender, foi uma conversa que tivemos. – Descruzou os braços, decidido a esquecer aquele assunto. Liam e Zayn conversando? Isso era novidade...
- Espera, espera... Vocês dois conversam? Quero dizer, quando eu não estou por perto?
- Tem algum problema, babe?
- Não, não, claro que não... – Forcei um sorriso. “Calma, é algo normal seu namorado querer ser amigo dos seus amigos.”
- Você ficou nervosa. – Sorriu de lado. – Quando você fica assim começa a repetir as palavras, como “não, não” e “espera, espera”.
- Eu faço isso? – Escondi o rosto nas mãos. Porque todos percebem as minhas manias menos eu?
- Faz sim. – Tirou as minhas mãos do meu rosto e tirou a franja dos meus olhos. – Mas não se preocupe, nós não falamos sobre você. Pode ficar tranquila que ele não me conta os seus desastres domésticos.
- Acredito muito. – Ri um pouco mais tranquila em saber que eu não era o assunto das conversas entre os dois. – E se quiserem filhos com esses nomes, adotem gêmeos pra vocês e se casem! Ou então comprem cachorros.
Zayn riu do meu exagero e disse que preferia a primeira opção, pois sempre achou que Liam fazia o seu tipo. Para piorar, ele ainda se fez de gay e disse que só se aproximou de mim pra chegar perto dele e me fez rir mais uma vez, por mais que eu estivesse tentando permanecer séria. Um trovão alto chamou a nossa atenção e me fez olhar em volta. O céu começava a escurecer rapidamente e logo a chuva iria cair. Resmunguei alguma coisa parecida com “é melhor irmos pra casa” e comecei a descer do trepa-trepa. Confesso que meu pé escorregou em determinado momento e meu coração acelerou com a adrenalina, pois eu jurei que fosse cair. Por sorte tive tempo de me segurar com as duas mãos em uma barra mais alta e acabei ficando pendurada. Aproveitando que não estava tão longe do chão, pulei e fiz de conta que o meu escorregão foi proposital e ninguém pareceu notar nada. Eu me preparava para ir chamar as meninas na casinha de bonecas, mas a voz de Zayn me fez parar.
- Psiu, babe. – Me fez virar de volta em sua direção.
- O que você está fazendo, Malik? – Perguntei ao ver que ele estava de cabeça para baixo, se segurando apenas pelos joelhos dobrados no ferro.
- Eu também quero ser o Homem Aranha. – Sorriu e esticou uma mão na minha direção para que eu me aproximasse, mas logo voltou a usar as duas para se segurar.
- Ah, é?! – Eu sabia bem onde ele queria chegar com aquilo. – Bem... Só tem um jeito de saber se você pode ser o Homem Aranha ou não.
Sorri divertida, ainda sem acreditar muito no que eu estava prestes a fazer. Zayn me olhava como se medisse até onde eu realmente poderia ir e considerei aquilo quase como um desafio. Terminei de me aproximar e o garoto quase não se mexeu, permanecendo de cabeça para baixo. Parei quando nossos rostos estavam a centímetros de distância e o meu nariz quase encostava ao queixo dele e vice-versa. Notei que Zayn logo fechou os olhos e resolvi brincar mais um pouco. Rocei nossos lábios e deixei alguns selinhos, tocando a lateral de seu rosto com as mãos. Aos poucos fui aprofundando o beijo, dando algumas sugadinhas nos lábios do outro para só então encaixar nossas bocas. Por estar de cabeça para baixo, foi um pouco complicado no começo para acharmos o nosso ritmo e nos encontrarmos, mas um já conhecia o outro bem o suficiente para chegarmos a um acordo e fazer aquele beijo acontecer. A posição inusitada me fez me imaginar dentro do filme do Homem Aranha e por incrível que pareça, eu gostei da sensação que a novidade me trouxe. Naquele momento que dividimos, me esqueci completamente das crianças e do que eu deveria estar fazendo, apenas voltando para a realidade quando um pingo de água caiu na minha cabeça.
Sem me desesperar, parei o beijo devagar e sorri ao abrir os olhos e ver que Zayn também sorria. Eu o ajudei a se levantar e ele tocou a testa como se estivesse tonto. Me preocupei, pois se ele inventasse de cair ali de cima, eu não seria capaz de aguentar o seu peso. Isso é que dá, ser tão pequena. Felizmente nada de ruim aconteceu e ele conseguiu chegar são e salvo à grama, me abraçando assim que teve a primeira oportunidade, inclusive fazendo os meus pés saírem do chão.
- E então, passei no teste? – Continuou me carregando naquele abraço enquanto andava até a casinha de bonecas.
- Não sei se você daria um bom Homem Aranha, considerando que tem medo de altura... – Me segurei nos ombros dele. – Mas com certeza é o meu super herói.
- É o suficiente pra mim. – Sorriu satisfeito e me colocou no chão, beijando a minha testa em seguida. – Eu vou lá buscar o Ben...
- Ok, sweetie. – O observei se afastar por longos segundos e balancei a cabeça para voltar à realidade. Estava começando a chover e teríamos que voltar pra casa logo. Me abaixei para espiar o interior da casinha pela janela e chamar as meninas. – Girls, temos que ir.
- Mas já? – Heidi fez bico.
- Só mais um pouco, ... – Lux também insistiu.
- Outro dia a gente volta, tá? É que está começando a chover. – Abri a portinha para que elas saíssem. – Nós vamos assistir um filme, comer alguma coisa... Vai ser divertido!
- Eba! – Minha irmã foi a primeira a sair e segurou a mão de Heidi para que ela viesse junto. – Vamos, Deedee.
- Prontas pra ir? – Zayn voltou, mas Ben não estava ao seu lado, e sim nos seus ombros. Mas não da mesma forma que Lux estivera antes, pois estava praticamente jogado em um de seus ombros como um saco de batatas.
- Não vou nem perguntar o que é isso. – Balancei a cabeça sem acreditar muito naquilo, mas pelo menos Ben estava rindo e se divertindo. – Vamos logo porque a chuva está piorando.
Coloquei o capuz do casaco de Lux sobre a cabecinha dela para que não se molhasse muito e entreguei o meu próprio casaco para Dee se cobrir. Demos as mãos e começamos a voltar pelo mesmo caminho de antes, mas com um pouco mais de pressa dessa vez. Durante o caminho todo Zayn fazia palhaçadas e fingia que ia deixar Ben cair, que, por sua vez, gritava pedindo socorro. As meninas estavam entretidas demais em uma conversa cujo assunto eu não conseguia entender e só me restava olhar para todos. Pelo que parecia, estávamos nos divertindo bastante e nada de ruim tinha acontecido. Eu torcia para que continuasse assim e não havia motivos para ser diferente.
Como estávamos quase correndo, demoramos pouco mais de cinco minutos para estarmos de volta em casa. Parecia um milagre, mas assim que estávamos protegidos pelo telhado da varandinha de entrada, uma chuva assustadoramente forte começou a cair. Teríamos nos encharcado se tivéssemos saído do parque um minuto depois. Zayn abriu a porta e deu espaço para que as crianças entrassem primeiro, já que Ben já estava no chão novamente. Também passei antes dele e fui envolvida por um casaco de moletom cinza, o mesmo que ele estivera usando. O frio logo foi embora e assim como o calor, também fui invadida por ondas do cheiro de Malik que estava grudado naquela peça de roupa. Eu estava no paraíso.
- Crianças, vão lavar as mãos, ok? – Fui até a sala e pedi. – Ben, pode ajudar as meninas, por favor?
- Deixa comigo! – O pequeno já devia saber onde o banheiro da sala ficava, pois logo indicou o caminho para as mais novas.
- E o que eu faço, chefe? – Zayn encostou-se à parede e cruzou os braços. Eu sempre amei quando ele usava camisa azul, mas já era um crime me olhar do jeito que ele estava fazendo.
- Você vai... – Mordi o lábio afastando todos os pensamentos pecaminosos. Não era hora pra isso. – Subir até o quarto do Liam e pegar um filme pra gente assistir. Ele só tem desenhos lá, então não deve ser muito difícil.
- Você é que manda. – Deu meia volta e começou a subir as escadas.
Juro que tentei não encará-lo enquanto subia as escadas e muito menos reparei nas suas costas coladas na camisa ou nas suas pernas modeladas pela calça justa. “Star, concentre-se!” Resolvi escutar a pequena voz na minha cabeça e fazer o meu caminho para a cozinha. Teria que me virar com o que tinha por ali e tentar fazer um lanche saudável para quatro crianças esfomeadas. Sim, Zayn estava incluído nisso. Pelo que eu me lembrava, tinha um pacote de pão de forma dentro de algum armário e queijo na geladeira, o que me resultaria em um queijo quente delicioso! Também incrementaria com alguns biscoitos e suco. Geração saúde, com certeza. Ri sozinha das minhas próprias piadas e comecei a reunir os ingredientes para começar a minha obra prima: O pão (que realmente estava no armário), o queijo (que não poderia faltar) e o pote de manteiga. Também peguei alguns pratos para que eu pudesse montar os sanduíches e lavei as mãos antes de começar.
Me distraí completamente passando um pouco de manteiga em cada fatia de pão que eu havia separado e quando fui perceber estava fazendo a mesma coisa duas vezes. Não é que eu estivesse pensando em algo exato... Sabe aqueles momentos que você só viaja? Sim, eu estava viajando na maionese. Ou deveria dizer... Viajando na manteiga? Huh? Huh? “Deus, eu estou andando muito com o Harry.” Apenas ele fazia essas piadinhas sem graça, então era de se esperar que Hazza fosse a minha má influência. Passei para a segunda etapa: Colocar uma fatia de queijo em cada sanduíche.
- Encontrei O Rei Leão, meu filme preferido de quando eu era criança. – Zayn voltou de sua busca e colocou o DVD em cima da bancada americana. – Eu deveria me preocupar por um cara de dezenove anos ter o filme da Branca de Neve?
- Ahh, não! – Ri e fiz aspas no ar. – Esse filme é da “irmã” do Li.
- Interessante. – Também riu e ficou me olhando. – Ele tem várias fotos suas no quarto dele.
- Tem? – Fiquei surpresa, mas continuei com o meu trabalho.
- Do lado de dentro da porta do guarda roupa... Eu vi porque estava procurando os filmes. – Veio para o meu lado e começou a me ajudar com o lanche. – Tem uma foto sua com uma borboleta na cabeça... E outras de vocês dois em uma fonte.
- Tiramos essas fotos quando fomos ao Zoológico. – Expliquei e fechei os dois primeiros sanduíches. – Ele deve ter revelado quando eu estava em Paris.
- Você está linda em todas elas. – Me tocou com o cotovelo e eu sorri. – Nós dois não temos muitas fotos juntos, ...
- Então já vamos dar um jeito nisso! – Não queria que ele sentisse ciúmes ou “menos importante”. – Você pode terminar o lanche? Eu vou dar uma olhada nos pequenos, porque eles estão quietos demais!
- Posso sim, love. – Prontamente ocupou o meu lugar.
- Tem suco de maçã na geladeira, viu? – Peguei o DVD em cima da bancada e apontei para a geladeira em seguida.
Zayn só afirmou que sim com a cabeça e eu o deixei sozinho na cozinha. É óbvio que eu fiquei bem surpresa com aquela noticia que Liam tinha revelado as fotos daquele dia, principalmente por ele não ter me contado, mas esse não foi o motivo que me fez afastar-me de Zayn. Eu realmente queria ver o que as crianças estavam fazendo e tinha um bom motivo pra isso. Assim que cheguei na sala, encontrei Lux tentando ficar de pé no braço do sofá e isso não acabaria bem. Benny e Deedee também estavam se aventurando por ali e eu corri até a minha irmã, já que era a mais vulnerável.
- Posso saber o que vocês estão fazendo? – Segurei Lux pela cintura e a dei mais equilíbrio e segurança.
- Estamos brincando de piratas, . – Ben respondeu, parando o que estava fazendo.
- É, e a Lux estava andando na prancha. – Heidi se sentou e eu vi que ela estava usando o meu casaco como uma capa.
- Só se ela estiver sendo punida por excesso de fofura! – Ri e ataquei a pequena, me jogando no sofá e puxando-a pra cima de mim.
- Pala, ! – Lux tentava se esquivar e ria das cócegas que eu começava a fazer.
- ATACAAAAAAAR! – Ben gritou e foi a minha vez de ter medo.
Como eu tinha que me proteger do tal ataque, soltei Lux e a deixei fugir. Ben e Heidi se jogaram em cima de mim e eu acabei caindo deitada no sofá. Eles não sabiam muito bem como, mas deviam estar tentando fazer cócegas em mim também. Como nunca fui de cortar o barato de ninguém – cof cof – fingi que estava sofrendo e comecei a me debater. Mesmo que o sofrimento fosse de mentirinha, minhas risadas eram verdadeiras, assim como as das três crianças.
- SOCORRO! OS PIRATAS ESTÃO ME ATACANDO! – Levantei os braços pedindo pela ajuda que não viria.
- Você não tem chance contra mim! – Ben subiu no braço do sofá e fez uma pose de capitão, enquanto Lux prendia os meus pulsos e Heidi os meus pés.
- Por favor, deixe-me ir, oh capitão todo poderoso.
- Só se você me disser onde o tesouro está escondido!
- Eu digo! Prometo que digo! – Choraminguei fingindo estar desesperada.
- O lanche está pronto... – Zayn entrou na sala carregando uma bandeja e riu ao ver o que estava acontecendo ali.
- O tesouro chegou. – Também ri e todos me soltaram. Acho que a comida era mais interessante que a brincadeira.
- Calma, calma! – Zayn levantou a bandeja alto o suficiente para que ninguém alcançasse. – Tem pra todo mundo!
- Por que vocês não sentam no sofá, huh? – Levantei e fui ajudá-lo.
Crianças são uma coisa linda, mas temos que concordar que elas não se cansam nunca. Prova disso e que correram de volta para o sofá e se sentaram como eu havia pedido. “Estou ficando velha demais pra isso...” Começava a mudar de idéia quanto aos meus planos de ter doze filhos. Acho que um já está de bom tamanho, né? Aham, concordo. Zayn depositou a bandeja em cima da mesinha de centro e entregou um pratinho de plástico com um queijo quente (partido ao meio pela diagonal e sem as bordas do pão) para cada um, me deixando espantada com aquele cuidado todo. Enquanto ele servia os copos de suco, eu peguei o DVD que foi parar no chão para começar o filme. Se Liam soubesse disso, arrancaria os poucos cabelos que lhe restava, pois tinha o maior cuidado com as suas coisas. “Espera... Por que eu não consigo parar de pensar nele?!” Minha consciência teria que ficar sem resposta, porque se eu fosse começar a pensar nessas coisas acabaria dando uma de e exagerando.
Assim que televisão foi ligada e eu terminei de colocar o filme para rodar, me virei para as quatro pessoas que estavam no sofá. Deedee, Lux e Ben (nessa mesma ordem) comiam e se lambuzavam com o sanduíche. Zayn, por outro lado, estava na menor parte do “L” que o sofá formava. Essa parte era a que ficava de lado para a TV, mas pelo menos cabíamos nós dois juntos. O menino abriu os braços em um convite no mínimo tentador, não me deixando outra opção a não ser “correr” para lá e me encaixar em seu abraço. Como a menina folgada que sou, tirei as sapatilhas e coloquei os pés para cima, encostando a cabeça no ombro de Zayn e praticamente me deitando ali. É claro que não o incomodei em nada, e fui envolvida carinhosamente por seu abraço.
A chuva lá fora aumentava cada vez mais e o barulho dos pingos batendo contra o vidro da janela chegava a ser bem alto. Alguns trovões enfeitavam a festa e eu parecia ser menor que as crianças, pois elas assistiam o filme tranquilamente e eu estremecia a cada novo raio. No começo até que tentei esconder o meu medo, mas em determinado ponto não foi mais possível. Zayn começou a me fazer um cafuné tão gostoso que eu cheguei a piscar demoradamente algumas vezes, completamente relaxada.
- Não precisa ter medo, babe... – Sussurrou.
- Medo? De que? – Me fiz de desentendida levantei o rosto para olhá-lo nos olhos. Quase na mesma hora mais um trovão soou e me fez apertá-lo em meu abraço por impulso.
- Medo disso. – Riu da situação e me puxou mais pra perto.
- Sou patética, né? – Rolei os olhos e fiz um bico de lado.
- Não só por isso... – Zombou de mim indiretamente e levou um tapa no ombro como resposta. – Outch!
- Bem feito! – Fiz careta. – Você também é patético, ok?
- Ah, sou? – Seu sorriso continuava impecável, como se meu insulto não surtisse efeito algum. – Mas você me ama do mesmo jeito.
- Não amo! – Tentei negar, porém acabei sorrindo com aquela fala dele. – Só um pouco. Bem pouco. Quase nada!
- Não sabe nem mentir! – Riu e segurou o meu rosto pelo queixo, pegando-me de surpresa e roubando um beijo.
- Continue pensando assim! – Após retribuir o beijo roupado, pisquei dissimulada.
- É assim, ?
- ... – Heidi nos interrompeu e me fez olhar pra ela. – Porque o irmão do Mufasa não ajudou ele?
- Como eu posso explicar? – Perguntei para mim mesma e olhei a tela da televisão, constatando que estava na parte mais triste do filme todo.
- O Scar era o irmão mais novo do Mufasa, por isso tinha inveja dele e queria ser o rei. – Zayn foi mais rápido que eu e começou a explicar. – A única forma de fazer isso foi traindo o irmão...
- O que é muito feio e errado! – Acrescentei uma liçãozinha de moral básica, mas a pequena nem prestava mais atenção em mim.
- Isso mesmo, , ensine o que é certo. – Zayn riu, mas eu sentia que ele estava era implicando comigo.
- Obrigada, Malik. – Aceitei o elogio de qualquer forma.
Mais uma vez voltei a me acomodar nos braços fortes do meu namorado e resolvi prestar atenção no filme. Quem sabe assim eu não conseguiria esquecer a trovoada do lado de fora? Veja bem, chuva, frio, neve... Todas essas coisas me agradam bastante. Mas trovões, raios e relâmpagos? De jeito nenhum! Também não chegava a ser um medo irracional que me traria pesadelos ou coisa assim, eu simplesmente não gostava. Não me sentia confortável e pronto. Lux também não devia gostar muito da tempestade, pois assim que fui ver, ela já estava engatinhando pelo sofá e arrumando um lugarzinho entre eu e Zayn. Segurei a sua pequena mãozinha para que ela se sentisse mais segura e o menino passou os dedos pelos fios loiros de seu cabelo fino.
Parecia que estava adivinhando, pois um trovão mais forte cortou o silêncio e foi seguido por um pipoco próximo demais daquela casa, o que acabou causando a queda da energia. A televisão e todas as luzes se apagaram de uma vez, pegando as crianças de surpresa e inclusive eu. Com o susto, Heidi gritou e aquilo deu mais medo em Lux do que o próprio apagão. Minha irmã mais nova começou a chorar e olhar em volta, provavelmente sem entender nada. Acho que foi o efeito bola de neve, pois o choro de Lux assustou Heidi, que gritou novamente e desesperou Ben, que a abraçou com medo. Por um momento eu não sabia o que fazer e olhei para Zayn como se pedisse ajuda.
- Fiquem calmos, tá? A energia caiu por causa da chuva, mas isso é normal e não vai demorar pra voltar... – Pediu calmamente e se aproximou das duas crianças mais afastadas de nós.
- Shh, baby girl... – Peguei Lux no colo e a abracei, tentando confortá-la. – Ouviu o que o Zayn falou? Não precisa ter medo, é só por causa da chuva...
- Tá iculo... – Choramingou se escondendo no meu pescoço.
- Tá escuro? – A sala realmente estava escura sendo mais iluminada pelos raios que caiam de vez em quando, o que assustava mais ainda. – Tive uma idéia! Porque não vamos todos para o meu quarto? Eu tenho uma lanterna lá!
Todos concordaram com um balanço de cabeça, uns mais desesperados que os outros. Levantei com Lux grudada no meu pescoço e Zayn provou o quanto era forte ao também deixar o sofá e trazer uma criança em cada braço. Mas é claro que ele era forte... Se conseguia me carregar com facilidade, também daria conta de duas crianças de cinco e sete anos. Atravessei a sala com cuidado para não acabar chutando algum prato ou copo que porventura viesse a estar no chão e Zayn me seguia. Eu arrumaria aquela bagunça depois, visto que o que importava naquele momento era acalmar os nervos gerais e deixar tudo bem novamente. Subir a escada com pouca luminosidade foi a parte mais complicada do trajeto até o segundo andar, mas como não estava um breu completo, conseguimos chegar sãos e salvos. A porta do meu quarto já estava aberta, então só entrei lá e deixei a minha irmã sentada na cama. Fui procurar a lanterna dentro do meu closet e Zayn também colocou Dee e Ben ao lado de Lux, aproveitando para sentar ali enquanto me esperava. A minha cortina estava bem aberta, por isso o quarto estava mais claro que a sala. Apenas peguei a lanterna dentro da minha gaveta de tralhas para o caso de mais alguma coisa acontecer e precisarmos dela.
- Por que não montamos uma cabana? – Zayn perguntou para os meninos e eu já começava a captar aquela idéia.
- Eu acho que é uma ótima idéia. – Fui me juntar a eles. – Podem descer da cama enquanto a gente monta?
Ainda que não estivessem certos do que estávamos falando, concordaram em descer da cama e esperar próximos à parede. Zayn afastou meus travesseiros e tirou o lençol mais fino que cobria a cama. “No único dia que eu realmente arrumo a minha cama, nós temos que bagunçá-la...” Fiquei de pé sobre o colchão e amarrei uma ponta do lençol no lustre que pendia do teto, torcendo para que ele não quebrasse e nem caísse sobre nós. Zayn pegou as outras pontas e amarrou na cabeceira da cama, dando mais espaço para o interior da nossa barraca. Até que o resultado ficou bem legal e aconchegante. As crianças também pareceram gostar, pois assim que tudo estava mais ou menos pronto, correram de volta para a cama e só Lux precisou de ajuda para subir, já que era alta demais pra ela. Cada um pegou um travesseiro ou almofada e sentou mais para o fundo da cabana, ficando bem protegidos pelo teto. Zayn se sentou na ponta e eu me deitei na parte que restou.
- Esse ursinho é seu, ? – Heidi acabou encontrando o meu ursinho de pelúcia escondido entre os travesseiros.
- É meu Teddy, Dee. – Olhei para Zayn com um sorriso. – Ganhei do meu namorado.
- Ele é muito fofo! – A pequena brincava com o bichinho e Zayn fez uma cara engraçada ao perceber que não era dele que ela falava, e sim do brinquedo.
- É sim! Nós dormimos agarradinhos todas as noites. – Estiquei a mão para fazer carinho no urso.
- Sorte a dele. – Zayn comentou ao meu lado para que só eu escutasse.
- O que a gente vai fazer agora? – Ben cruzou os braços. – Estou entediado.
- Vocês querem desenhar? – Olhei para os três e recebi uma resposta positiva. – Ok, vou pegar as canetinhas...
- Não demora... – Meu namorado pediu, me fazendo rir.
- Eu nem vou sair do quarto. – Rolei os olhos, divertida.
Zayn também riu do seu exagero e continuou sentado na cama enquanto eu me levantava para procurar as canetinhas de colorir. Normalmente elas ficariam em cima da minha escrivaninha, mas depois da minha arrumação geral, elas foram parar em outro lugar. “Acho que guardei na gaveta...” Bingo! Meu estojo cor de rosa estava mesmo na gaveta, ao lado da caixinha com lápis de cor, mas aquele material não serviria para o que eu tinha em mente. Saltei de volta para a cama e dessa vez me mantive sentada. Primeiramente eu abri o estojo e despejei todas as canetas na cama, agradecendo por estarem bem tampadas, caso contrário, meu lençol terminaria cheio de manchas coloridas.
- Não esqueceu de nada, ? – Zayn pegou a canetinha na cor vermelha. – Cadê o papel?
- Quem precisa de papel... – Sorri sapeca e puxei seu braço direito. – Quando temos um caderno de desenhos bem aqui?
- Ei, ei, ei... Você não está pensando o que eu acho que você está pensando, certo?
- Quem quer pintar as tatuagens dele? – Perguntei para as crianças e ignorei as reclamações do mais velho.
- Eu! – Deedee pegou a caneta rosa e se aproximou.
- Eu também quero. – Ben já foi destampando a canetinha azul e também chegou mais perto.
- Eu telo... – Lux pegou a caneta verde e segurou a outra mão de Zayn; aparentemente querendo fazer outra tatuagem além daquelas já existentes.
- Isso sai com água, certo? – Me perguntou com uma sobrancelha levantada ao ver os menores já começarem a rabiscar a sua pele.
- Talvez. – Dei de ombros e ele arregalou os olhos. – Estou brincando, babe! É claro que sai com água. E você também não vai ter alergia, não se preocupe.
- Assim está melhor. – Riu mais tranqüilo. – Aliás, porque você não tem nenhuma?
- Nenhuma o que? – Franzi o cenho, mais lerda que tudo. Peguei a caneta vermelha de sua mão e levantei a manga da camisa do mesmo.
- Tatuagem, ! – Rolou os olhos do mesmo jeito que eu fazia e gargalhou por isso.
- Não sei, pra falar a verdade... Mas até que era de se esperar, já que meu irmão e Harry parecem um caderno de rabiscos ambulante. – Ri e balancei a cabeça, começando a desenhar algo no ombro de Zayn. – Acho que eu tenho medo da dor. Além disso, gosto de coisas originais, então só faria uma tatuagem se fosse algo exclusivo.
- E se eu desenhar uma pra você? – Perguntou com naturalidade e me fez levantar o olhar para o seu.
- Você faria isso? – Sorri animada com aquela idéia.
- É claro que sim. – Também sorriu e eu quase podia ver as milhões de idéias passando por sua cabeça.
- Mas eu não quero nada muito grande... E algo delicado...
- Você é que manda.
- Yay! – Comemorei e voltei a me concentrar no meu próprio desenho. – Ah, e você vai ter que ir comigo e me deixar apertar a sua mão!
- Combinado.
- E não pode rir de mim se eu gritar...
- Tudo bem, . – Se divertiu com o meu nervosismo.
Então era oficial? Eu ia mesmo fazer uma tatuagem?! Ao mesmo tempo em que eu estava louca pra contar a novidade para os meus amigos tatuados, tinha medo que eles acabassem se empolgando demais e decidindo também fazer novas tattoos. O caso é que eu não queria ser responsável por influenciar aquele tipo de comportamento. Zayn ficou bem parado enquanto eu terminava a minha obra de arte e não se importou em estar tendo os braços desenhados e riscados quase sem nexo algum. Heidi estava bem ocupada pintando a tatuagem dos dedos cruzados e Ben se divertia pintando a palmeira. Lux, por outro lado, desenhava o que devia ser um boneco daquele de pauzinhos.
- E voilá! – Sorri ao terminar de desenhar os lábios vermelhos, como se alguém tivesse deixado uma marca de batom ali.
- Hey, até que ficou legal...
- Nem pense nisso, Malik!
- Pensar no que? – Se fez de desentendido, mas nós dois sabíamos o que ele estava pensando.
- Você não vai tatuar esse beijo! Eu não deixo. – Cruzei os braços e fiz cara de séria.
- E quem disse que você tem que deixar?
- Eu mesma! Além do mais, o único beijo que você pode ter é esse aqui. – Aproximei o rosto do dele e selei nossos lábios. Diferentemente de Zayn, quando eu roubava um beijo era bem mais delicada e cuidadosa.
- Esse beijo é bem melhor... – Sorriu ainda de olhos fechados e eu não consegui resistir.
O segurei delicadamente pela nuca, impedindo-o de se afastar. Apenas fiquei brincando com aqueles lábios avermelhados, trocando selinhos demorados e apaixonados sem nunca me cansar. Ahh, como eu amava aquele menino... Tudo sobre ele me encantava. Seu jeito misterioso de quem guarda os segredos mais íntimos, mas que podia me contar todos eles com apenas um olhar. Seu cheiro, seu gosto, seu toque eram irresistíveis. Quase como na música que um dia ele cantou pra mim na serenata. O sentimento mais frustrante era tentar colocar em palavras tudo o que eu sentia quando estava ao lado dele e não conseguir, pois não havia palavras doces o suficiente em qualquer idioma que fosse.
Assim que paramos aquela troca de carinhos, apenas ficamos nos olhando e trocando pequenos sorrisos e suspiros –principalmente da minha parte. Estava pronta pra falar alguma coisa quando uma música bem conhecida começou a tocar, mesmo que em um volume muito baixo. Era o meu celular tocando, eu tinha certeza! Fiz um bico por ter que me separar de Zayn, mas tratei de ficar em pé na cama e pular para o chão, correndo porta a fora. Preciso dizer que quase destruí a nossa cabaninha? Achei que não! Malik ficaria tomando conta das crianças, por isso fiquei tranquila em descer correndo pela escada, torcendo para que o meu celular não parasse de tocar. Fui direto para a sala, pois lembrava que tinha deixado o aparelho pela estante, como de costume.
- Já vai, já vai! – Pedi mesmo sabendo que ninguém me escutaria. Agarrei o iPhone e li o nome “Mum” na telinha. Aquilo me surpreendeu, mas não demorei nada pra atender. – Allo.
- Minha ! – Minha mãe falou do outro lado. – Como você está, meu amor? Eu estava com saudades!
- Mas nós nos falamos ontem mesmo, maman! – Ri. Desde quando minha mãe era tão apegada a mim assim? – Mas eu estou bem... E você?
- Estou ótima! Cada vez melhor. – Pela animação em sua voz ela devia ter alguma novidade pra contar. – Os planos para o casamento então de vento em popa.
- Primeiramente, eu fico muito feliz em saber que você está tão bem assim! Segundo, eu não acho que ainda se diz “de vento em popa”. – Caminhei até o sofá e me sentei. – Terceiro... Você sabe que ainda falta quase um ano pra esse casamento acontecer, certo?
- A sua avó fala a mesma coisa! – Riu como se estivesse se divertindo muito. – Mas o Dan e eu estamos muito animados. Foi exatamente por isso que eu te liguei hoje...
- Pode falar, mum.
- Dan me pediu o seu telefone, pra que ele possa falar com você sobre as idéias e os planos que estamos fazendo... Tem problema?
- Claro que não tem problema! Eu vou adorar saber de tudo. – Sorri, já que aquele assunto sempre foi algo que me encantou desde que eu assisti o casamento de meu pai e Rachel. – Serei a conselheira oficial?
- Isso mesmo! Então eu vou dar o seu telefone e ele logo vai falar com você.
A idéia de conversar com Dan me agradava bastante, porque desde que o conheci ele se mostrou muito simpático e legal. E é claro, a parte mais importante: Dan fazia a minha mãe realmente feliz. Jay parecia ter mudado da água para o vinho e eu sabia que a culpa disso era o seu novo amor. Finalmente parecia ter esquecido o meu pai e nunca mais voltou a tocar no nome da minha madrasta. Mesmo tendo perdido o pai há pouco tempo, ela estava superando e seguindo em frente assim como eu e a culpa daquilo com certeza era do seu noivo. Minha mãe também perguntou sobre Zayn e Louis, até mesmo de Harry e sua mãe. Aproveitei que estávamos naquele assunto para avisar que Anne sentia saudades e que as duas deveriam se falar para colocar o assunto em dia e coisa e tal.
O assunto fluiu de maneira bem confortável, como eu gostaria que tivesse sido a vida inteira. Provavelmente continuaríamos nos falando por mais tempo se eu não tivesse escutado um barulho vindo do andar de cima, seguido por um choro de criança. Algo devia ter acontecido e aquilo me preocupou um pouco. Levantei do sofá na mesma hora e pedi desculpas para a minha mãe, falando que precisava ir. Ela não entendeu muito bem o que estava acontecendo, porém me deixou desligar e avisou mais uma vez que Dan entraria em contato comigo. Assim que encerrei a ligação, guardei o celular no bolso e terminei de correr até o meu quarto.
Assim que passei pela porta, encontrei um Zayn desesperado andando de um lado para o outro e Heidi chorando sentada no chão. Ben e Lux ainda estavam sentados na cama e olharam pra mim como se não entendessem o que estava acontecendo. Pelo que eu pude perceber, o joelho de Deedee estava sangrando um pouco, mas não parecia nada sério. Zayn, por outro lado, estava pálido como se tivesse visto um fantasma. Fui até a minha priminha e a tirei do chão, juntando seu pequeno corpo ao meu e mantendo-a no meu colo. Praticamente no mesmo instante ela parou de chorar e abraçou o meu pescoço, secando suas lágrimas na minha roupa.
- O que houve aqui? – Perguntei balançando-a devagar de um lado para o outro.
- ... Eu sinto muito... Nós estávamos brincando e ela escorregou... – Zayn avançou na minha direção e quase se atrapalhou nas palavras. – Foi um acidente...
- Baby, calma... – Ri do seu desespero e sentei na ponta da cama, acomodando Heidi ao meu lado. – Ela é uma criança, essas coisas acontecem.
- Mas ela estava chorando... E eu não sabia o que fazer...
- Foi só o susto, né? – Olhei para a loirinha que já estava bem mais calma. – Vamos colocar um Band-Eid e vai ficar tudo bem.
- Me desculpa, Dee? – Zayn ficou de joelhos na nossa frente e a pequenina sorriu.
- Eu caí sozinha, não foi culpa sua. – Tocou o ombro dele de leve e, naquele momento, eu podia jurar que ela era mais madura do que ele.
Capítulo XLV
- LOUIS! Cadê a sua câmera de vídeo?! – Eu andava de um lado para o outro da casa a procura daquele objeto e, por mais que perguntasse repetitivamente, ele não me respondia.
- Pra que você a quer, ? – Parou na porta do próprio quarto enquanto eu terminava de subir as escadas. – Você tem uma máquina fotográfica, sabia?
- Mas a sua é melhor! – Fiz o meu maior bico. – e eu queremos começar um canal no Youtube e pra isso precisamos da sua câmera de vídeo...
- Pessoas ainda fazem isso? – Levantou uma sobrancelha, mas começava a ficar balançado.
- É claro que sim! Por favor, Lou? Seja o melhor irmão do mundo e me empreste... – Segurei suas mãos e comecei a balançar como uma criancinha. – Eu juro que vou ter cuidado!
- Urgh, tudo bem, ... Mas tenha cuidado mesmo, certo? – Se soltou de mim desesperadamente e entrou no quarto.
- Yes! – Fiz sinal de vitória e comemorei com uma dancinha nada ridícula, pra não dizer o contrário.
- Aqui está... – Louis suspirou e por fim me entregou uma maleta onde guardava as coisas da sua câmera; como tripé, lentes, carregador e etc.
- Obrigada, obrigada, obrigada! – Segurei aquela maleta com cuidado e deixei um beijo estalado na bochecha do meu irmão.
- Aham, claro.
Louis sempre me emprestava as suas coisas e nunca me negava nada, mas é claro que isso me custava muitos pedidos e puxação de saco. Francamente nunca entendi porque ele fazia tanto drama, já que no final acabaria cedendo mesmo. Ainda comemorando a minha vitória, atravessei o caminho até o meu quarto e me tranquei lá dentro, figurativamente falando. , que viera direto para a minha casa depois da sua aula naquela sexta-feira, saiu do meu banheiro com vários bobs enrolados no seu cabelo. Segundo ela, aquela era “uma tentativa nova de cachear as mechas sem sujeitar os fios delicados ao calor e maltrato do babyliss”. Quem iria discutir com ela? Eu é que não! Meu notebook estava aberto em cima da minha cama e foi em frente a ele que eu me sentei. também se dirigiu até lá, mas levou consigo uma bolsa de cremes e produtos de beleza que trouxera de casa.
- E aí, ele acreditou na história do Youtube? – Perguntou enquanto começava a revirar a sua nécessaire.
- Ficou um pouco desconfiado, mas acreditou... – Sorri com o sucesso da nossa mentira e apontei para a maleta em meu colo.
- Eu falei que era melhor a gente ter falado que ia gravar a nossa primeira relação juntas, mas você não me deu ouvidos... – fez cara de safada e piscou na minha direção. Só ela mesmo pra pensar algo assim.
- Cala a boca, ! – Rolei os olhos, mas não contive uma risada. – Aí é que ele não ia me emprestar mesmo.
- Ou então pediria pra participar.
- Ewwwwww! – Balancei a cabeça tentando tirar aquela imagem da minha cabeça.
- Mas então, qual é o plano mesmo? – A ruiva parecia mais preocupada em ler o rótulo de um de seus produtos do que prestar atenção em mim.
- Pela milésima vez... Nós vamos gravar hoje, editar amanhã e enviar o mais rápido possível! – Expliquei com calma, já abrindo a maleta preta e procurando as baterias.
- Disso eu sei, né?! – Me olhou entre um produto ou outro que encontrava. – Até porque o concurso só vai até a meia noite de amanhã... E pelo que eu tenho lido, os produtores já tem assistido diariamente o que o pessoal manda e já tem seus favoritos.
- Sem pensamento negativo nessa casa! – Levei as mãos para o alto como se aquilo fizesse parte de algum ritual para afastar as energias negativas. – Mas se essa não é a sua duvida o que você ainda não entendeu sobre o plano?
- Eu ainda não entendi como vamos convencer os cinco a cantar juntos. – Separou dois cremes na sua frente e encontrou um pote vazio no meio de suas coisas. – Você sabe tão bem quanto eu o quanto eles não gostaram dessa idéia de formar uma banda...
- Essa parte pode deixar comigo. – Pisquei pra ela e liguei a câmera de vídeo para checar o nível de bateria. – Eles só não querem formar uma banda porque não sabem o quanto seriam bons.
- E você sabe? – Levantou uma sobrancelha, começando a misturar os seus cremes no pote vazio.
- O que há de errado com você hoje, ? Não preciso ser uma expert em música pra entender que os cinco se completam. – Minha amiga estava muito pessimista para o meu gosto e por isso tinha que mudar aquela sua atitude. – Vamos analisar... O Harry tem aquela voz rouca e profunda que te causa arrepios, o Liam tem os falsetes mais bonitos que eu já ouvi, Lou é como se fosse o baixo, porque ele tem a voz macia e praticamente dá a harmonia para a melodia. O Zayn tem os maiores alcances e aquela voz criada por anjos, e eu não preciso nem falar sobre o Niall, porque esse você conhece muito bem!
- Você está certa, ... Desculpa. Eu só estou nervosa. – Fez bico e parou um pouco o que estava fazendo. Com um suspiro continuou: - É que... Já imaginou o que pode acontecer se eles forem selecionados para a segunda etapa? Ainda mais se ganharem o concurso?! A vida de todos nós vai mudar...
- Mas não é isso o que nós queremos? – Também suspirei. Era a primeira vez que eu realmente parava pra pensar nisso. – E além do mais, mesmo que eles se tornem a banda mais famosa do mundo não vão se esquecer da gente. Isso não vai mudar.
- Eu espero que não. – Sorriu um pouco menos abalada. – Não precisamos pensar nisso até terça feira!
- O que tem terça feira? – Voltei a me concentrar na minha tarefa e tirei as baterias da câmera, logo as conectando ao carregador e esse último a tomada.
- O resultado da primeira etapa já sai na terça... Por isso temos que correr. – Terminou de misturar a sua gororoba cremosa com uma paleta e começou a aplicá-la ao rosto.
- Temos mesmo e... Ew, o que você tá fazendo? – Fiz careta de nojo ao vê-la se cobrir com aquele troço.
- Isso se chama “máscara de argila”, meu bem. Retira dez anos de idade. – Continuou se empapando em todos os lugares possíveis do rosto, deixando apenas os olhos e lábios sem.
- Então você quer terminar com oito anos de idade? – Ri, pois apesar de tudo ela estava bem engraçada.
- Mais ou menos isso. – Também riu ao se dar conta do que acabara de falar e voltou a procurar algo em sua bolsa. – Tenho algo aqui pra você! É um esfoliante caseiro. Eu mesma fiz.
- Não tenho certeza se quero... – Permaneci relutante ao vê-la tirar um frasco de vidro com um líquido de três densidades diferentes.
- Não seja preconceituosa! Isso aqui faz milagres. Você usa no corpo inteiro na hora do banho e sai de lá como se estivesse no céu. – Colocou o vidro na minha mesinha de cabeceira, sem aceitar minha negação. – É feito com açúcar, limão e azeite.
- Se você diz, Shrek...
Ri sozinha da minha própria piada, pois não achou a mínima graça. Dei uma lida rápida no manual da filmadora, ou seja: Passei os olhos pelas páginas e prestei mais atenção nas figuras do que nas instruções. Ah, qual é?! O que de tão difícil poderia ter escrito ali? Além do mais, eu já tinha baixado vários programas de edição de vídeo no meu computador e qualquer problema com o áudio ou imagem poderia ser corrigido ali. Tá que eu também não era uma fera da computação, mas sempre fui seguidora da teoria que é mexendo que se aprende. , por outro lado, não podia se importar menos com o nosso plano para aquela noite! Ela devia estar pensando que o foco da gravação seria ela, porque não parava de se cobrir de cremes e produtos de beleza. Eu só olhava pra ela e rolava os olhos, jurando que a minha amiga havia se inscrito no programa: “Brigitte por um dia.” Se existisse algo assim na televisão eu perderia o resto de fé que ainda tinha na humanidade e poderia me matar tranquilamente, pois nem o outro lado poderia ser tão ruim assim.
Depois de ficar entediada de tanto ler nomes técnicos e dar mais uma olhada no Pinnacle – Studio Plus (o programa de edição que comentei mais acima), resolvi me render ao meu lado feminino. Não, eu não ia passar a máscara de abacate, ou seja lá do que, que insistia em dividir comigo e também não ia colocar pepinos nos meus olhos, mas o esmalte em minhas unhas já começava a descascar e era hora para mudar a cor. Deixei a maleta no chão e a câmera em cima da escrivaninha, pois tudo o que menos queria era derramar acetona em cima dela e assinar o meu próprio atestado de óbito. Fui até o closet e peguei a caixinha de esmaltes e produtos para unhas em uma das maiores gavetas. Eu podia não ter as últimas novidades em maquiagem ou produtos para cabelo, porém devo admitir que esmaltes sempre foram o meu ponto fraco. Na minha coleção não faltava cor alguma, desde o índigo ao branco que brilha no escuro. me estudou em todos os meus movimentos, só faltando gritar quando viu a quantidade de esmaltes que eu despejei em cima da cama.
- Eu nunca mais vou a um salão de beleza na vida!
- Uhh, girl, o Jean não vai gostar nada de saber disso! – Imitei o cabeleireiro que pintou meus cabelos e gargalhei. – O ruim é que eu não sei tirar cutículas, por isso só pinto as unhas... Mas não fica feio!
- Não tem importância! Ninguém vai ficar prestando atenção nisso mesmo. – Ficou sentada de frente pra mim e eu encostei-me em um travesseiro grande. – Qual cor você vai usar?
- Como eu passei essa semana com um esmalte claro... Acho que vou usar esse vermelho aqui.
- Qualquer cor fica linda em você, . – Sorriu e pegou um esmalte preto e um dourado. – Acho que vou combinar esses dois!
- Perfeito.
Cada uma de nós pegou um pedaço de algodão e molhou no removedor de esmaltes para remover os nossos esmaltes (duh). Como o meu era bem claro e já estava quase pela metade, consegui retirá-lo em segundos. , coitada, demorou pouco mais de um minuto. Como ela não tinha muita experiência naquele assunto, tive que dar algumas dicas, como por exemplo: Ela devia começar pela mão esquerda e deixar o frasco em questão o mais perto possível, pois não ia querer demorar muito com o pincel fora dele. Fora isso, pedi para que me observasse e acompanhasse os meus movimentos, mas isso não seria nada fácil. “Uma garota deve aprender essas coisas sozinha!” Foi o que ela falou que me fez desistir de auxiliá-la. A partir daí me preocupei apenas com as minhas próprias unhas. Primeiramente passei uma camada de base em cada mão e enquanto as esperava secar, senti meu celular vibrar no travesseiro ao meu lado.
- Quem é Dan? – perguntou curiosa espiando a telinha do aparelho.
- É o noivo da minha mãe... Lembra que eu te falei dele? – Pelo menos era uma mensagem e não uma ligação. – Eu estou ajudando-o a decidir algumas coisas para o casamento.
- E o que ele quer agora?
- “Acabei de encomendar vinte desses para os centros de mesa. O que acha, ?” – Li em voz alta e deixei a ruiva espiar a foto que ele mandou junto com a mensagem. – Dan, Dan, Dan... Não faz isso comigo!
- Ele tem mal gosto, mas pelo menos ele tenta... – tentou me consolar e o celular começou a vibrar na minha mão. – O que foi agora?
- “Mudança de planos! O que acha desses?” – Uma segunda foto chegou e eu fiquei mais desesperada ainda. – O que eu falo, ?
- Manda uma foto pra ele também... Mas de um centro de mesa com flores.
- Tá bem... Vamos procurar.
Por um momento eu deixei as minhas unhas de lado e entrei na internet pelo próprio celular. Eu juro por todos os deuses que o iPhone foi a melhor invenção tecnológica até hoje. Digitei algumas palavras chaves no Google, torcendo para encontrar alguma coisa logo. Eu até que gostava bastante de estar ajudando meu futuro padrasto e a minha mãe naqueles assuntos do casamento – por mais que ainda faltasse muito tempo para tal ocasião – e ficava meio assustada com a quantidade de coisas que deveriam ser feitas. Me julgue se quiser, mas eu baixei um aplicativo chamado “Casando – Vestida de Noiva”, que tinha várias listas do que deveria ser decidido meses antes e algumas coisas pareciam complicadas demais. Por essa e outras razões eu começava não querer ter o meu próprio casamento.
“Ou quem sabe esse se você quer algo maior: (x)”
“Mas esses não tem peixes...”
“Eu sei que esses não tem peixes, Dan, mas é justamente o meu objetivo!” Pensei em responder isso, mas não seria muito educado da minha parte, ainda mais por ele ser um cara tão legal que só não tinha muita noção de estilo. Já começava a entender porque a minha mãe quis tanto que ele entrasse em contato direto comigo; ela sabia que eu não deixaria ele tomar nenhuma decisão exagerada ou brega. Meu sexto sentido fashion não seria machucado desse jeito. “Eu vou ter muito, muito trabalho...”
Qual é o objetivo de ter um carro grande se mesmo assim as pessoas ainda vão apertadas no banco de trás? Sinceramente eu não sei e essa era a filosofia que passeava pela minha mente durante o nosso caminho de casa para o Pub. Além de ter me obrigado a usar uma roupa que ela mesma escolheu pra mim, demorar demais durante o banho (culpa de todos aqueles cremes e produtos), ela ainda não deixava ninguém sentar muito próximo a ela por “medo de amassar seu vestido”. Se era assim, a ruiva deveria ir no banco da frente onde Liam estava, e não entre Harry e eu no banco de trás. Preciso falar que o meu irmão era quem dirigia? Pra piorar ele ainda fazia curvas bruscas demais de propósito, só pra fazer reclamar e quase me bater.
- O que você quer que eu faça, ? Quer que eu vá no colo do Harry pra você ter metade do banco inteiro só pra você? – Reclamei tentando não me estressar demais.
- Eu sabia que devia ter ido no banco de trás! – Liam bateu na própria testa, me fazendo desarmar toda a raiva que tentava se formar dentro de mim. – Poderia estar com a no colo agora!
- Uhh. – comentou baixinho para só eu escutar e me olhou com aquela cara.
- Calma aí, Payne. – Ri ao mesmo tempo em que lancei um olhar mortal para a outra menina. – Na verdade, quem deveria ir na frente é essa chata aqui.
- Hey, eu não sou chata! Só quero estar bem arrumada quando chegarmos ao Pub.
- E pra isso você precisa me desarrumar? – Rolei os olhos.
- Ei, crianças, vocês podem parar de discutir por um minuto? – Meu irmão fingiu ter um pingo de maturidade.
- Você continua linda, . – Liam virou um pouco de lado para poder me olhar.
- Obrigada, Leeyum. – Apertei a sua bochecha e ele reclamou com uma careta.
- , até parece que o Zayn não vai te desarrumar quando você chegar lá. – falou nem um pouco delicada.
- Shhhhhhhh. – Tapei a boca dela com uma mão, mesmo que estivesse corando e com um sorriso bobo.
- O lugar é aquele ali, Lou... – Harry, que estivera absorto no seu próprio mundinho durante a discussão inteira, apontou para o pub na esquina. – Onde tem o letreiro, tá vendo?
- Thanks, Hazza. E tem lugar pra estacionar?
- Tem sim. – Fui eu quem respondeu. – Mas se quer uma dica, não pare no estacionamento. Tem uma rua ali por trás que é melhor pra deixar o carro.
- Uma rua? É segura? – Lou não acreditava mais na irmãzinha?
- É claro que é! Estou falando com a voz da experiência. – Expliquei e gargalhou ao meu lado. – O que foi agora?
- Você... Com a “voz da experiência”. – Gargalhou mais uma vez.
- Shut up.
Rolei os olhos. realmente estava nervosa quanto aos nossos planos para aquela noite e isso afetava completamente o seu humor. Uma hora ela estava super simpática e feliz, mas outra era um Deus nos acuda. Eu particularmente estava mais ansiosa do que com medo e tinha certeza que tudo daria certo. Lou acabou seguindo o meu conselho e entrando uma rua antes da rua própria do Pub, para poder fazer a volta e estacionar na rua que eu indiquei. Dali pra frente se comportou como uma lady, Liam não voltou a fazer comentários sobre a minha pessoa e Harry começou a se animar; contando da primeira vez que estivemos naquele lugar e como estava ansioso para cantar novamente. Troquei olhares significativos com a ruiva ao meu lado, pois isso era bom, muito bom. Até que, pra falar a verdade, eu sabia que “convencer” Hazza daquela história toda não seria nada complicado. Como é fácil de perceber, Harry sempre estava disposto a qualquer coisa, por mais idiota que fosse. Lou o acompanharia de qualquer jeito, visto que os dois eram almas gêmeas. Liam também faria o que eu quisesse, contanto que pedisse com jeitinho. Niall só precisava de umas cervejas para se desinibir e também entrar na onda dos meninos, principalmente se a namorada usasse as chantagens de sempre. Zayn era a peça que me daria mais trabalho, já que sempre fora orgulhoso demais e, claro, seu primeiro plano era seguir uma carreira solo.
Durante meus devaneios, Louis estacionou o carro e os meninos começaram a descer, me deixando para trás, só encarando o nada. Despertei apenas quando alguém bateu na janela ao meu lado e fez sinal para que eu saísse também. Meio desnorteada por ter perdido a noção do tempo, pendurei minha bolsa no ombro e saltei para fora do automóvel. Não demoramos nada pra começar a andar em direção ao Pub que nem estava tão longe assim, pois podíamos ver um movimento abaixo do letreiro colorido que piscava a mesma frase de antes: “Karaoke Night”. O vestido de não estava nada amassado, como já era de se esperar, mas em comparação o meu quase virava do avesso. Tive que correr alguns passos para alcançar meus amigos que não se importaram em me esperar atacar a fivela do meu salto que teimou em se soltar.
- Vocês não vão me esperar mesmo? – Bufei apertando a minha jaqueta contra o corpo por causa da rajada de vento que me atingiu.
- Aqui está frio, ... Vamos entrar logo! – acenou pra mim, mas se eu corresse um pouco mais acabaria caindo e virando o pé.
- Eu estou tentando! – Respondi entre dentes.
- Precisa de ajuda aí? – Liam gritou, mas ele já estava na entrada do pub e o segurança o fez entrar antes que eu pudesse responder.
- ... – Harry tentou me chamar, mas o mesmo aconteceu com ele.
Como eu estava uns bons três metros de distância de todos eles, acabei sendo deixada para trás mais ainda, especialmente quando um grupo de umas cinco pessoas chegou à porta mais rápido e formou uma pequena fila. “Eu não vou reclamar, não vou me estressar, vou permanecer calma...” Repeti para mim mesma várias vezes; dentro da minha cabeça, é claro. Eu já estava aparentando ser louca o suficiente pra ainda começar a falar sozinha do nada. O segurança se mostrou bem eficiente ao olhar as identidades de quem ia entrando e logo chegou a minha vez. Entreguei o meu documento e forcei um sorriso, tentando não aparentar nervosismo. Além de estar com muita cara de criança naquela foto, minha ID ainda era de Paris e isso chegou a me causar alguns problemas burocráticos simples.
- Tenha uma boa noite, senhorita. – O segurança não sorriu, mas foi simpático o suficiente ao me deixar passar.
- Obrigada, o senhor também. – Não sei bem que tipo de boa noite ele poderia ter parado na porta o tempo inteiro, mas não me custava nada ser simpática de volta.
A ambientação do Pub continuava do mesmo jeito que eu conseguia me lembrar. As luzes piscando, a atmosfera divertida e aconchegante ao mesmo tempo... É, aquele lugar me trazia boas lembranças. Tentei ficar na ponta dos pés para procurar os meus amigos, mas só o que consegui encontrar foi um mar de cabeças flutuantes. Ok, talvez não tão flutuantes assim, mas enfim. Passei livremente por algumas pessoas aqui e ali, até porque o lugar não estava muito cheio a ponto de me fazer esbarrar em alguém. Eu estava quase atravessando o salão quando senti uma mão agarrar o meu pulso e me segurar. Minha primeira idéia do que fazer foi gritar, mas olhei em volta e descobri que não havia motivo algum para pânico.
- Achei você! – Zayn sorria ao me levar pra junto dele.
- Baby! – O abracei pelo pescoço e juntei os nossos lábios em um selinho na primeira chance que tive. – Você me assustou.
- Pensou que fosse outra pessoa? – Acariciou a lateral do meu rosto após retribuir o meu beijo.
- Pensei sim... – Ri e passei a mão pelos fios do cabelo dele. – Já estava prestes a gritar.
- Era só me chamar que eu viria correndo te salvar. – Desfez o abraço, mas segurou a minha mão com força. – Vem, todo mundo já está na mesa...
- Esses imprestáveis nem me esperaram! – Assim que Zayn começou a andar, fui seguindo-o e fazendo caretas.
- Eles falaram que você estava demorando demais pra andar. – Me olhou com um sorrisinho e eu estreitei os olhos.
- É difícil correr com isso aqui, ok? – Apontei para os meus sapatos com a mão livre e bufei, logo avistando a mesa suficientemente grande para caber as sete pessoas.
Da última vez que eu estivera ali, me lembrava bem de ter ficado em uma mesa mais afastada do palco, mas aquela ali ficava bem próxima dele; ao lado da “pista de dança”. Não sabia há quando tempo Zayn estava por ali, mas devia ter chegado bem cedo pra conseguir uma mesa tão bem localizada. estava sentada entre uma cadeira vazia, que devia ser de Niall, e Harry, que já tinha uma garrafa de cerveja na mão. O seguinte era Louis e por fim Liam. Ao lado desse último estavam mais duas cadeiras vazias que serviriam para Zayn e eu.
- Weyhey, olha quem chegou! – Niall surgiu atrás de mim, com um drink em cada mão.
- Whasup, Nialler? – O observei depositar as bebidas em cima da mesa e se virar para mim.
- Você está bonita hoje, . – Sorriu mostrando seus dentes recém arrumados e livres do aparelho, abraçando-me em seguida.
- Obrigada. – foi quem agradeceu por mim. – Eu escolhi as roupas que ela está usando hoje!
- É verdade... Fui obrigada a obedecer a sua namorada. – Ri baixo e nos separamos.
- Ela vez uma boa escolha. – O loiro continuou e foi sentar-se ao lado da ruiva.
- Mas não é difícil achar alguma roupa que fique bem nela. – Zayn falou para e eu percebi que era a única ainda de pé.
- Awn, quanto amor! – bebia do seu drink que Niall trouxera.
Apenas sorri com aquilo tudo e finalmente me sentei. Por mais incrível que pareça, Zayn foi quem sentou ao lado de Liam e os dois já começaram a conversar animadamente. fez Niall trocar de lugar com ela para que pudéssemos ficar juntas e trocamos olhares de quem está pensando na mesma coisa. Eu gostava muito que os dois estivessem se tornando tão amigos assim, mas tinha medo do que Liam pudesse contar. Eu não queria que meu namorado ficasse sabendo do “beijo” que aconteceu entre Li e eu e ainda seria pior se ele descobrisse por outra pessoa. Por mais que eu tentasse acalmar a minha consciência, alegando que o beijo não foi nada de mais, não era algo que eu gostaria que acontecesse o contrário. A idéia de outra pessoa beijando Zayn era repulsiva.
- Então, gente, quem vai cantar primeiro? – , a sutileza em pessoa, foi direto ao assunto.
- Esse karaokê é pra qualquer um? Achei que era só para os alunos da LRA... – Liam parecia animado com aquela idéia de poder cantar.
- É sim! – Respondi com um sorriso. – E você e Louis são obrigados a cantar, porque é a sua primeira vez aqui no Pub.
- Quem disse isso? – Lou duvidou de mim mais uma vez.
- São as regras, Tommo. Odeie o jogo, não o jogador. – Dei de ombros mesmo sem ter certeza se aquele ditado era assim mesmo.
- Eu sei que eu quero cantar! – Harry levantou a mão.
- Eu também. – Niall riu alto. Do que? Também não sei. – Nós temos que dar outro show, Harry.
- De novo não! – Gargalhei ao balançar a cabeça. – Não vão cantar I Will Survive mais uma vez, né?
- Eu me lembro disso! – Zayn também riu.
- Não lembra não! – Olhei para o moreno. – Você estava bêbado demais pra se lembrar de qualquer coisa!
- Isso é o que você pensa. – Piscou se aproximando mais de mim e me fez sentir um frio na barriga.
- Como assim? Você se lembra?
- Eu lembro de tudo, babe. – Sorriu, segurando a minha mão por baixo da mesa, apoiando-a na minha coxa. – Lembro da primeira vez que dançamos juntos... Lembro de ser levado pra sua casa... E, principalmente, lembro de você no chuveiro.
- Malik! – O olhei com repreensão, mesmo que estivesse rindo daquelas revelações. – E porque você não me falou nada?
- Porque eu não sabia se era apropriado falar que me lembro de você quase sem roupa, francesinha. – Com esse quase sussurro, aproximou os nossos rostos de vez e juntou nossos lábios, desarmando qualquer reação que eu pudesse vir a ter.
- Isso é tudo muito lindo, mas alguém ainda tem que ir colocar os nossos nomes na lista! – chamou a minha atenção e me fez interromper o beijo rápido demais. – Já está começando a encher e eu não quero ficar esperando a noite toda.
- Deixa que eu vou. – Falei ainda sem tirar os olhos de Zayn, mordendo o meu lábio inferior discretamente. Deixei a minha bolsa por cima da mesa mesmo e levantei. – Aproveito e pego algo pra beber. Alguém quer alguma coisa?
- Pra mim não, . – Liam negou.
- Eu estou bem. – Harry levantou a garrafa que bebia.
- O bar está bem cheio, ... Se você for agora vai demorar mais. – Niall confirmou o que eu já desconfiava.
- Talvez sim... – Abri o zíper da minha jaqueta e a tirei, deixando na cadeira. Também passei a mão pelos cabelos e dei uma bagunçada. – Talvez não.
Pisquei para o irlandês e mandei um beijo no ar para quem continuava na mesa. me olhou como quem dizia: “Você não presta mesmo.” E só me fez rir. Não tenho culpa em usar meu charme para conseguir alguma coisa, tenho? Claro que não! Essa é uma arma que toda mulher deve usar. E não é como se eu fosse pedir as bebidas de graça... Só iria consegui-las um pouco mais depressa. Dei meia volta e me afastei da mesa. Antes de ir ao bar, teria que dar os nossos nomes para o homem que estava na mesinha ao lado do palco, segurando uma prancheta e uma caneta. Ele era quem ficava responsável pelas apresentações e tinha um papel importante no plano, mesmo que não soubesse disso. Caminhei a passos largos na sua direção, quase saltitando. O homem levantou o olhar assim que notou a aproximação de alguém e eu sorri.
- É com você que eu falo pra poder cantar, certo? – Eu já sabia a resposta, mas aquele foi o meu jeito de puxar assunto.
- Isso mesmo. – Também sorriu em resposta. – Qual o seu nome?
- Tomlinson, Tomlinson. – O observei escrever o meu nome na prancheta. – E eu também gostaria de colocar os meus amigos na lista...
- Pode falar... – Não tirou os olhos do seu papel.
- Harry Styles, Liam Payne, Louis Tomlinson, Niall Horan e Zayn Malik. – Optei pela ordem alfabética para que ninguém tivesse ciúmes. – Ah, e eles vão cantar juntos, ok?
- Os cinco? – Terminou de anotar os nomes e me encarou. – Tá aí, isso eu nunca vi.
- Sim, sim... Vai ser bom, pode confiar. – Sorri de volta. – Tudo certo?
- Certinho, . Logo eu te chamo. – Levantou-se e pegou o microfone.
O homem, que eu ainda não sabia o nome, foi até o palco onde uma menina acabara de cantar, pronto para anunciar a próxima atração. Pelo que pude ler do papel dele, ainda tínhamos um tempo para nos preparar e aproveitar a noite enquanto outras pessoas cantavam. Por mais incrível que isso pareça, eu não estava com medo de cantar na frente daquela centena de pessoas e até estava bem animada com isso. Karaokês são supostos a ser bem divertidos, até porque ninguém é obrigado a saber cantar bem, o que me agradava bastante. Além do mais, todos os meus amigos estariam ali comigo, me apoiando mesmo que eu cantasse pior que uma pata choca.
Minha tarefa estava cumprida por enquanto e tudo parecia estar encaminhado. Suspirei contendo um pequeno sorriso e dei mais uma volta, atravessando a pista de dança que ainda estava bem vazia. Várias pessoas riam a minha volta, brincando e se divertindo. A quantidade de copos vazios que eu encontrava ao olhar rapidamente pelas mesas era exorbitante e os poucos garçons que trabalhavam ali eram chamados a todo o instante. Não me era estranho que nenhum tivesse ido até a minha mesa, obrigando Niall a ir até o bar e agora eu também. Não demorei nada pra encontrar a confusão de pessoas que tentava chamar a atenção dos bartenders. Uns falavam mais alto que os outros e ninguém parecia chegar a um acordo. Eu teria tranquilamente ficado em uma fila, mas organização era a última coisa que eu encontraria ali. Quase fui atropelada por uma mulher que tinha desistido e saiu bufando, me dando a chance de ocupar o seu lugar próximo ao balcão. Mesmo se eu levantasse a mão e chamasse alguém, não seria escutada e muito menos atendida. “Eu preciso arrumar um jeito de chamar a atenção de alguém...”
Olhei em volta procurando alguma coisa, mas só o que eu consegui encontrar foi um banco daqueles que geralmente se encontra em bares e tabernas. “Ahá!” Quase foi possível ver uma lâmpada acendendo em cima da minha cabeça quando eu tive uma idéia. Puxei o banco pra mais perto de mim e recebi um olhar feio de um garoto loiro, mas claro que o ignorei. Apoiei um dos pés na madeira do banco também usei o balcão como suporte; impulsionando-me para cima dele, terminando de joelhos sobre o estofado do assento. Assim, fiquei mais alta que todo mundo ali e com certeza seria notada.
- Com licença? – Balancei uma mão para o alto tentando me manter equilibrada. – Alguém pode me atender, por favor?
- Estou às ordens, senhorita. – O barman de olhos azuis sorriu galanteadoramente na minha direção e se aproximou. – Em que posso lhe ser útil?
- Eu gostaria de um Bloody Mary, por favor... – Sorri em retorno, mas não da mesma forma, é claro.
- Seu desejo é uma ordem. – Fez sinal de positivo com a mão e se afastou para ir preparar minha bebida.
- Merci. – Aproveitei para descer do banco e sentar-me sob o mesmo.
- A francesa tem um nome? – Um garoto apareceu ao meu lado, inclinando-se no balcão e praticamente assoprando o seu hálito de bêbado no meu rosto.
- Tem sim. – Me afastei o suficiente para que ele não ficasse tão próximo de mim. – E ela também tem um namorado.
- Eu não me importo com isso, gracinha. – Tentou tocar o meu rosto, mas afastei a sua mão.
- Que bom pra você. Se importaria de sair? – Tentei ser educada, mas a minha paciência para bêbados estava bem curta.
- Não faz assim, linda. Vamos conversar... – Continuou testando os meus limites e tocou a minha coxa parcialmente descoberta. – Quer sair daqui? Podemos ir pra outro lugar...
- Eu não quero conversar. – Falei gentilmente e segurei a mão dele na minha perna em um movimento rápido, agarrando um de seus dedos e o virando quase chegando ao ponto de quebrá-lo. – E se você quiser continuar com sua mão intacta, sugiro que saia daqui.
- Wow, wow, calma... – Fez uma careta de dor e eu o deixei puxar a mão de volta. – Estou indo, não precisa entrar na violência.
- Já vai tarde. – Comentei pra mim mesma assim que ele foi embora.
- Deve ser difícil pra você ter que aguentar esses caras. – O homem que estava me atendendo voltou e deixou um copo em minha frente.
- Eu sei me virar. – Dei de ombros e peguei um canudo para tomar a minha bebida. – Você tem que anotar o meu nome, certo? Pra cobrarem na saída?
- Por conta da casa.
E não é que eu terminei usando o meu charme para conseguir a bebida de graça? Não que eu tenha feito isso de propósito, claro. Agradeci mais uma vez e desci do banco, já dando o primeiro gole na minha bebida. O bartender caprichou no álcool, porque só naquela prova eu já senti a garganta queimando. Ao me afastar daquela bagunça e refazer o meu caminho, pude notar que a pista de dança já estava um pouco mais animada e que o casal que cantava “Endless love” fazia o maior sucesso. O homem da prancheta acenou pra mim assim que me viu novamente e depois apontou para o relógio, querendo dizer que não faltava muito para a minha vez de cantar. Inconscientemente dei dois goles longos no Bloody Mary e afirmei que sim com a cabeça. O som de meus saltos batendo no chão continuou quando me virei para mesa onde meus amigos estavam e conversavam como se eu não fizesse falta alguma. Zayn ainda conversava com Liam e mexia as mãos como se imitasse o movimento de um avião. Esse último sorriu discretamente pra mim e eu acabei retribuindo.
- , vampiros não são imortais! – Harry praticamente gritou.
- É claro que são! – Ela rebateu da mesma forma, irritada.
- , fala pra ela! – Haz nem me esperou chegar direito e já foi me puxando para o meio daquela discussão. – Se eles são imortais, como é que podem morrer?!
- Eles são imortais porque não morrem, Harry! São mortos. É diferente. – A ruiva me ignorou, por sorte a minha.
- Não é diferente nada. Se pode morrer, não é imortal!
- Vocês dois que me incluam fora dessa. – Ri daquela discussão sem cabimento algum e me sentei, passando um braço e volta do de Zayn.
- Demorou, babe... – Ele interrompeu a conversa com Liam e pegou a minha bebida para dar um gole antes mesmo que eu oferecesse.
- Tinha muita gente lá como o Ni falou. – Deixei um beijo na bochecha dele. – Mas sobre o que vocês estavam falando? Não quero atrapalhar.
- Sabia que o pai do Liam trabalha em uma fábrica de aviões? – Respondeu animado.
- Não sabia... Sério, Li?
Sei que Liam começou a falar sobre aviões e como estaria trabalhando com o seu pai se não tivesse se mudado para Londres, mas eu não prestei tanta atenção assim. Acabei ficando distraída com as mãos de Zayn que logo seguraram a minha. Fiquei brincando com seus dedos quentes como se fossem a coisa mais importante do mundo e vez ou outra me perdia nos olhares que ele lançava pra mim. O outro menino não se importou e muito menos pareceu perceber que eu não podia estar menos interessada naquele assunto. Eu não estava tentando ser mal educada e não me distraí porque não me importava, apenas aconteceu. Louis deve ter notado que Zayn também começava a prestar mais atenção em mim do que ao nosso redor e por isso chamou a atenção de Li para começar um novo assunto com ele.
- Sua pele está mais macia que o normal hoje... – Zayn subiu uma das mãos pelo meu braço, ombro e terminou na minha nuca, fazendo um carinho leve por ali.
- Droga! – Ri, mas ele não entendeu nada. – Não fale isso pra , ok?
- Por que não? – Arqueou uma sobrancelha e deslizou os dedos pela lateral do meu pescoço.
- Ela me deu um creme de esfoliação para a pele e disse que ele fazia milagres... – Fechei os olhos por culpa daquelas caricias. – Mas você sabe como ela fica quando está certa.
- Insuportável. – Concordou comigo e riu baixo, tocando a minha bochecha com os lábios.
Esse toque me deixou mais arrepiada do que eu gostaria de admitir, mas estava entorpecida demais pra tentar disfarçar. Continuei com os olhos fechados quando Zayn fez seu percurso até a minha boca. Minha mão esquerda fez um caminho até a gola da camisa que ele usava e a deixei por ali. Entreabri os lábios assim que a língua dele pediu passagem e tratou de encontrar a minha. Como sempre, o nosso beijo parecia uma dança; um tango, se quiser chamar assim. Ele continuou com os carinhos no meu pescoço, já percebendo que eu gostava daquilo provavelmente mais do que deveria. Já eu, brinquei com os lábios do rapaz, sentindo o gosto da minha bebida misturada à dele. Se não me engano, tinha um toque de limão e vodka. Eu sabia que o casal tá terminara de cantar, mas não fazia idéia de que qual era a nova musica que animava o local, pois só o que ouvia eram ruídos. Ruídos e a minha respiração descompassada.
- ? Tomlinson? – Uma voz que não era de nenhum dos meus amigos chamou a minha atenção.
- Ela já vai... – falou para alguém e fez Zayn parar o beijo devagar.
- Vou pra onde? – Olhei em volta ainda um pouco abobalhada. Não era surpresa que eu não pudesse escutar a música tocar, pois não havia nenhuma. – Espera... Sou eu?
- Vai, ! Já te chamaram. – Niall riu da cara que eu estava fazendo e apontou para o palco.
“Ok, ok, tudo vai dar certo...” O lado bom de não saber que a minha vez de cantar estava próxima era que eu não ficara nervosa por antecedência. Mas em compensação tudo aconteceu de uma vez só, começando pelo frio na boca do estômago. Me apoiei na cadeira e me pus de pé, sentindo vários olhares em cima de mim. Eu sabia qual música iria cantar e estava bem confiante quanto a isso, mesmo sabendo que a minha voz não fora feita para tal ato. O apresentador, se por assim chamar, me aguardava perto das escadas e me ajudou a subir. Os holofotes iluminavam o centro do palco, onde um pedestal apoiava o microfone. Fui informada para ir até a banda e informar qual seria a minha música e obedeci no mesmo instante.
- LINDA! UHUUUUL! – gritou e bateu palmas, me fazendo corar e nem olhar na direção dela.
- , certo? – O pianista foi bem amigável comigo e me deixou um pouco mais tranquila. – Já fez sua escolha?
- Sim... – Respirei fundo. – Conhece Talking to the moon do Bruno Mars?
- Ótima escolha. Bem sentimental. – Sorriu e estralou os dedos. – Qual o seu tom?
- Ahn... Eu não tenho idéia do que você está falando... – Passei a mão pelo cabelo, colocando a minha franja no lugar.
- Não tem problema, vamos descobrir quando você começar. Não se esqueça de respirar, certo? E se esquecer a letra, não fique nervosa, apenas continue. – Aquelas dicas, por mais óbvias que fossem, me deram um pouco de idéia do que eu teria que fazer.
- Respirar e continuar... Captei! – Fiz sinal de positivo com os dedos.
Não era a minha primeira vez naquele palco, mas era minha primeira vez sozinha. Isso me deixou um pouco insegura, mas eu tentei afastar esses pensamentos com todas as minhas forças. Me virei mais uma vez na direção do microfone e notei que tinha uma platéia em frente ao palco, composta por todos os meus amigos. Todos sorriam e se preparavam como se estivessem no meu show, até mesmo gritando e batendo palmas quando eu me aproximei do pedestal. Foi meio que um efeito dominó, pois quando eles bateram palmas, outras pessoas do Pub fizeram a mesma coisa. Desejei pedir para que não esperassem grande coisa, mas também não quis ser tão pessimista assim. “Vamos encarar isso como um treinamento. Vou ter que cantar na peça mesmo...” O garoto ao piano esperava o meu sinal para que ele e o resto da banda pudessem começar a tocar.
- Boa noite a todos! Eu gostaria de dedicar essa música a alguém que eu perdi muito recentemente, mas que nunca pareceu tão próximo quanto agora... – Foram as minhas palavras ao microfone. Quem me conhecia, sabia exatamente de quem eu estava falando e era o que importava. Dei uma olhada para a banda e fiz que sim com a cabeça, já escutando as primeiras notas daquela música que significava tanto pra mim ultimamente.
(Eu sei que você está em algum lugar lá fora)
Somewhere far away.
(Um lugar bem distante)
I want you back. I want you back…
(Eu te quero de volta. Eu te quero de volta...)
My neighbors think I'm crazy, but they don't understand.
(Meus vizinhos acham que estou louca, mas eles não entendem)
You're all I had…
(Você era tudo que eu tinha...)
Comecei a cantar e as palavras foram saindo e fluindo pelo microfone. A cor do holofote era branca e clara, mas assim que o responsável pelos efeitos técnicos entendeu a mensagem que eu estava querendo passar, mudou o tom para algo mais azulado e sereno, até mesmo mais fraco. Isso me permitiu olhar mais para frente e não pra baixo como antes. Até que não estava sendo tão ruim, de jeito nenhum.
(À noite, quando as estrelas iluminam o meu quarto…)
I sit by myself talking to the moon…
(Eu sento sozinha, falando com a Lua…)
Trying to get to you… In hopes you're on the other side talking to me too.
(Tentando chegar até você… Com esperanças que você está do outro lado, falando comigo também)
Or am I a fool who sits alone talking to the moon?
(Ou eu sou uma boba que senta sozinha, falando com a Lua?)
Toquei o microfone com a mão direita, ganhando um pouco mais de confiança e deixei a outra livre para se mover como quisesse, seguindo a melodia. Acho que vi algumas lágrimas no olho de Lou, mas podia ter sido enganada pela iluminação. e Niall estavam abraçados e balançavam de um lado para o outro, sem tirar os olhos de mim. Harry e Liam também me observavam, mas o único que parecia realmente me entender era Zayn. Ele não se mexia, não sorria e nem chorava. Só... Me compreendia. Ele sabia que aquela era a minha homenagem para o meu avô e, mais do que ninguém, sabia o quando eu sentia a sua falta. Até porque foi em seus braços que eu chorei.
(Estou me sentindo famosa. O assunto da cidade)
They say I've gone mad. Yeah, I've gone mad.
(Eles dizem que eu fiquei maluca. É, eu fiquei maluca)
But they don't know what I know…
(Mas eles não sabem o que eu sei…)
Cause when the Sun goes down someone's talking back.
(Porque quando o Sol se põe, alguém está falando de volta)
Yeah, they're talking back…
(Yeah, estão falando de volta)
Meu próprio corpo ia levemente de um lado para o outro, sem nunca me afastar do pedestal. Ninguém estava me vaiando ou me mandando sair, o que era um bom sinal e me deu forças para continuar. Eu ainda não sabia o que o pianista quis dizer com o “meu tom”, mas parecíamos ter nos entendido, já que eu cantava sem ter que esforçar muito as minhas cordas vocais. É claro que eu também não tinha treinamento algum, por isso logo fiquei um pouco sem ar, mas não foi o suficiente pra me fazer parar de cantar. Levei a mão ao peito e fechei os olhos, imaginando o que papá diria ao me ver ali em cima, na frente de tantas pessoas. Arriscando e fazendo algo novo... Ahh, ele diria que estava orgulhoso de mim, como sempre.
(Você me escuta chamar?)
Cause every night I'm talking to the moon.
(Porque todas as noites eu estou falando com a lua)
Still trying to get to you.
(Ainda tentando chegar até você)
In hopes you're on the other side talking to me too.
(Com esperanças que você esteja do outro lado, também falando comigo)
Or am I a fool who sits alone talking to the moon?
(Ou sou uma boba que senta sozinha, falando com a Lua?)
I know you're somewhere out there.
(Eu sei que você está em algum lugar lá fora)
Somewhere far away...
(Algum lugar bem distante...)
Assim encerrei a música e voltei a abrir os olhos, escutei vários aplausos, principalmente de quem estava bem na minha frente. Eu me sentia leve e triste porque a minha vez tinha acabado. Quem sabe depois eu poderia cantar de novo, certo? Ainda mais se fosse uma música para alegrar os ânimos que com certeza eu havia abaixado com aquela música do Bruno. Mais uma vez ninguém pareceu ter odiado e eu sorri com satisfação. gritava e batia palmas quando eu me aproximei da borda do palco, esperando alguma ajuda pra descer. Zayn foi o primeiro a vir na minha direção, com um sorriso impecável. Esticou as mãos até tocar a minha cintura e eu me apoiei nos ombros dele, pulando e pousando graciosamente no chão.
- Você foi maravilhosa, babe. – Tocou o meu rosto.
- E você é suspeito pra falar! – Ri, mas acreditava no que ele falava. O abracei forte em comemoração ao meu sucesso (modéstia a parte) e outros vieram me cumprimentar também.
- Você devia mudar para o nosso curso, . Falo sério. – Niall bagunçou os meus cabelos.
- Papá teria adorado. – Meu irmão apertou o meu nariz, coisa que não fazia em anos.
- Sei disso, Lou. – Sorri e afastei a mão dele com brincadeira.
- E agora eu gostaria de chamar ao palco... – O apresentador ocupou o espaço que antes era meu e se preparou para anunciar o próximo nome.
- ... – me chamou e eu apenas afirmei que sim com a cabeça. Ela sorriu de volta e me mostrou a câmera que estava em sua mão.
- Harry, Liam, Louis, Niall e Zayn!
- LINDOS! – A ruiva também gritou pra eles.
- Nós cinco? De uma vez? – Liam olhou na minha direção, assim como os outros quatro.
- Eu dei os nomes de vocês... Ele deve ter feito confusão e achou que era um grupo só. – Menti. – É melhor vocês irem assim mesmo.
- Vão logo! O Steve já chamou, agora vão ter que ir. – foi empurrando o namorado para o palco onde Harry já estava.
Mesmo um pouco relutantes, os meninos subiram ao palco e fizeram uma rodinha. Possivelmente estavam querendo decidir uma música que os cinco conhecessem e eu tinha certeza que não seria muito difícil. Olhei em volta procurando o meu Oscar de melhor atriz e quase não parava de se mexer de tão nervosa que estava. Ela mesma pediu para gravar a apresentação, o que seria o mais sensato, já que eu sentia que podia desmaiar a qualquer instante. “É isso... Essa é a hora...” Pensei tentando me controlar e acenei para Zayn assim que ele olhou na minha direção enquanto Louis foi falar com a banda. Outros quatro pedestais foram colocados próximos ao que já estava lá e cada garoto ocupou o seu. A ordem foi a seguinte: Louis, Niall, Zayn, Liam e Harry; da esquerda para a direita. Como já era de se esperar, um alvoroço começou da parte feminina da platéia. Cinco meninos lindos juntos em cima de um palco... Como poderia ser diferente? A melodia começou e eu fui pega de surpresa com a escolha deles: Torn.
(Eu achei ter visto uma garota trazida à vida)
She was warm she came around like he was dignified.
(Ela era carinhosa, ela se aproximou como se fosse digna)
She showed me what it was to cry.
(Ela me mostrou o que era chorar)
Well you couldn't be that girl I adored.
(Bem, você não podia ser aquela garota que eu adorava)
You don't seem to know or seem to care what your heart is for.
(Você não parece saber ou se importar com pra que serve o seu coração)
I don't know her anymore…
(Eu não a conheço mais)
Liam foi o primeiro a começar a cantar, dominando o primeiro verso. Ele segurou o microfone e interpretou as suas palavras, querendo contar a sua história. Sua expressão facial era centrada, como se ele estivesse levando aquilo muito a sério; talvez sério até demais pra um show de karaokê. Mesmo assim, sua performance era bem natural e ele não precisava forçar nada. De vez em quando nossos olhares se cruzavam, mas ele também dava atenção ao resto da platéia. se movia de um lado para o outro, tentando pegar o melhor ângulo de todos e focando principalmente em Liam durante a sua parte.
(Não há nada onde ela costumava se deitar)
My conversation has run dry.
(Minha conversa esgotou)
That's what's going on… Nothing's fine I'm torn.
(É isso o que está acontecendo… Nada está bem, eu estou despedaçado)
I'm all out of faith. This is how I feel.
(Estou sem fé. É assim que eu me sinto)
I'm cold and I am shamed lying naked on the floor.
(Estou frio e envergonhado, deitado nu no chão)
Illusion never changed into something real.
(Ilusões nunca mudam pra algo real)
I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn.
(Estou em acordado e consigo ver que o céu perfeito está despedaçado)
You're a little late I'm already torn.
(Você está um pouco atrasada, eu já estou despedaçado)
Harry cantou o primeiro refrão e foi perfeito em cada nota, como era de se esperar. Sua voz rouca deu um toque pessoal àquela música que originalmente era cantada por uma mulher e qualquer um que não a conhecesse poderia achar que era própria dele. Hazza colocava tanto esforço e paixão em sua voz que as veias de seu pescoço chegaram a ficar mais evidentes em algumas de suas notas maiores. Ele foi o primeiro a perceber o que estava fazendo, mas isso não o fez parar. Inclusive fez algumas gracinhas e sorriu para a câmera. Nas últimas estrofes do refrão, Niall e Zayn se juntaram em uma espécie de coro. Os dois harmonizaram alguns “uhhhh”, ou algo parecido, para dar ainda mais ritmo à música.
(Então eu acho que a vidente está certa)
I should have seen just what was there
(Eu devia ter visto só o que estava lá)
And not some Holy light.
(E não alguma luz divina)
But you crawled beneath my veins and now I don't care, I have no luck…
(Mas você rastejou entr as minhas veias e agora eu não me importo, eu não tenho sorte...)
I don't miss it all that much.
(Eu já não sinto tanta falta)
There's just so many things that I can't touch.
(Existem tantas coisas que eu não consigo tocar)
I'm torn…
(Estou despedaçado...)
Eu estava tão emocionada com os meus cinco meninos cantando em cima daquele palco que nem notei quando a pista de dança começou a ficar cada vez mais cheia de espectadores que queriam vê-los de perto. Cada um parecia profissional e juntos eram o paraíso em forma de homens. Zayn cantou depois de Harry e aquele trecho fez jus a sua voz. Sei que sou suspeita pra falar e não é a primeira nem segunda vez que eu comento isso, mas a afinação vocal desse garoto é algo de outro mundo. Qualquer um podia ver que ele nascera pra estar sob os holofotes e iria longe de um jeito ou de outro. Meus olhos azuis deviam estar mais límpidos do que nunca, já que eu sentia que podia chorar a qualquer momento. Arrepios já nem faziam mais efeito, pois eu estava entorpecida. também tinha sumido da minha área de visão e eu temia procurá-la e perder um segundo sequer daquele verdadeiro espetáculo.
(Eu estou sem fé, é assim que eu me sinto)
I'm cold and I am shamed lying naked on the floor.
(Estou frio e envergonhado, deitado nu no chão)
Illusion never changed into something real.
(Ilusões nunca se transformam em algo real)
I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn
. (Eu estou bem acordado e posso ver que o céu perfeito está despedaçado)
You're a little late, I'm already torn.
(Você está um pouco atrasada, já estou despedaçado)
Torn…
(Despedaçado...)
Os cinco se juntaram para o segundo refrão, as suas vozes se misturaram e, de certa forma, se tornavam uma só. Eu nunca estive tão certa de algo na vida quanto estava naquele momento. Admito que cheguei a pensar algumas vezes que havia a possibilidade de não dar certo a junção deles, até porque sempre devemos olhar os dois lados da moeda, mas vendo-os ali na minha frente, se divertindo como nunca e fazendo algo que amavam... Era o impulso que eu precisava pra batalhar e passar por cima de qualquer coisa que os impedissem de ficarem juntos; fossem os egos e orgulhos ou “haters” que pudessem aparecer no caminho. Louis ganhou um pouco mais de destaque quando os outros quatro diminuíram o volume de suas vozes e o deixaram “roubar a cena” por uns instantes.
(Não há nada onde ela costumava se deitar)
My inspiration has run dry.
(Minha inspiração secou)
That's what's goin' on…
(É isso que está acontecendo…)
Nothing's right I'm torn…
(Nada está certo, eu estou despedaçado…)
A banda parou de tocar e Niall tomou o microfone, até mesmo dando um passo mais a frente. Algo que só então me ocorreu é que eles não tiveram tempo algum de ensaiar ou dividir as partes que cada um cantaria, portanto foi puro improviso. Ainda assim eles não se atropelaram ou se confundiram em momento algum. Mais uma vez, era como se tudo fluísse naturalmente. Os meninos trocavam olhares entre si, sorriam e até faziam algumas brincadeiras. Era realmente lindo e a platéia estava curtindo tanto quanto eu. Absolutamente todos que estavam perto do palco acenavam, batiam palmas, os encorajavam e algumas garotas mais oferecidas até gritavam certos elogios que não vou contar aqui. Se fosse em outro momento eu teria ficado cheia de ciúmes, mas havia coisas mais importantes me preocupando. O único irlandês do grupo olhou na direção de meu irmão, como se pedisse para que ele terminasse a música e assim Louis o fez. Respirou fundo e colocou toda a sua alma naquelas últimas palavras:
(Eu estou sem fé. É assim que me sinto)
I'm cold and I am shamed bound and broken on the floor.
(Estou frio e envergonhado, amarrado e quebrado no chão)
You're a little late I'm already torn…
(Você está um pouco atrasada, eu já estou despedaçado...)
Torn…
(Despedaçado...)
- ! Desce daí! – Mesmo brigando comigo e tentando me segurar, ria. – Você vai quebrar essa mesa!
- Obrigada por me chamar de gorda, sua amiga ingrata! – Gargalhei me esquivando das suas mãos ágeis e continuei dançando em cima da mesa. – Eu só estou me divertindo...
- Zayn, dá pra você controlar a sua namorada? – A ruiva se virou para o moreno, mas ele estava gostando demais do meu “show” pra fazer alguma coisa.
Zayn apenas se juntou às nossas risadas e continuou me observando, claramente divertindo-se com tudo aquilo. Eu virava o segundo copo de Kamikaze e quase me engasguei com cubo de gelo que fui inventar de chupar. Espera... Eu disse “segundo”? Quis dizer “quarto”. Ou seria o quinto? Sexto... Isso não importa! O caso é que depois que Harry descobriu essa bebida deliciosa de limão, eu não consegui maneirar no álcool e virei um atrás do outro. Com as minhas inibições nos pés, não existia ninguém que pudesse me segurar ou me impedir de fazer o que me passava pela cabeça. E, naquele momento, tudo o que eu queria era dançar. Nada melhor do que fazer isso em cima da mesa!
Chegamos a um ponto da noite onde não era mais necessário colocar o nome na lista pra poder cantar no karaokê, já que a maioria das pessoas estava tão louca quanto eu. Por esse motivo, qualquer um podia simplesmente subir ao palco e arrasar na cantoria. Eu não havia voltado aos holofotes depois da minha homenagem ao meu avô, mas estava louca de vontade. Harry e Niall mataram a vontade que os consumiam desde o começo da noite e se apresentaram com uma música do Michael Bublé e os outros três também subiram ao palco, mas eu estava distraída demais pra prestar atenção em qual canção era a da vez.
- Tomlinson, maldita hora a que eu decidi dormir na sua casa hoje, porque agora eu tenho que ficar de babá! – Rolou os olhos ou fez uma careta. De qualquer forma ela não estava nada feliz. – Ou você desce daí, ou eu mesma vou ter que te buscar!
- Pode vir, gatchenha. – Pisquei e a chamei com o dedo indicador, rindo por achar mais graça do que realmente tinha. – Não precisa me olhar assim, já entendi, já entendi... Eu desço... Mas com uma condição.
- Lá vem bomba. – Cruzou os braços e eu me ajoelhei na mesa para quase igualar as nossas alturas. – Fala, .
- Eu desço daqui se você cantar comigo! – Deixei o meu copo já vazio perto dos outros e arregalei os olhos com um sorriso animado.
- Eu canto em francês se for o caso, mas desce da mesa antes que você caia. – Terminou sorrindo com a minha condição e esticou a mão na minha direção.
- O show já acabou? – Zayn nos observava de perto e não parava de sorrir. Mais alguém estava “alegre” demais, se é que me entende.
- Mais tarde eu faço outro showzinho... Só pra você. – Pisquei com a minha noção de o que era ser sexy aumentada e o semblante do meu namorado foi de alegremente bêbado para maliciosamente animado em 2.5 segundos.
era a única pessoa sóbria do grupo de sete pessoas e por isso era a mais mal humorada. A coitada tinha que aguentar uma melhor amiga que fazia o que lhe desse na telha, o namorado dessa amiga que a apoiava em todas as loucuras, o próprio namorado que estava ensinando um grupo de pessoas a dançar como um irlandês e ainda ter que se preocupar com três adolescentes/adultos que não podiam ser encontrados em lugar nenhum. Não estranharia se Lou e Haz estivessem em um canto rindo das coisas mais idiotas e inventando as piadas mais sem graça do mundo, mas e Liam? Se eu estivesse com pelo menos metade da minha noção cognitiva funcionando também teria me preocupado com o seu paradeiro. Ele não costumava beber sempre por causa da sua saúde, porém todos merecem um descanso de vez em quando.
Tive um pouco de problema pra descer da mesa, já que ao menos estava preocupada com a minha roupa curta e não estava afim de mostrar a calcinha para a metade do bar. Estar de salto alto também não foi de grande ajuda. Zayn segurou a minha mão esquerda e a direita, ambos me dando apoio para pular para o chão. Vamos ignorar o meu quase tropeço para conseguir me equilibrar e o fato de eu ter derrubado um copo de vidro que se espatifou no chão. A minha sorte é que ninguém estava ligando para praticamente nada e os garçons se mantiveram ocupados a noite inteira.
- Wow, vai com calma, Lindsay Lohan. – riu e eu gargalhei alto, realmente achando aquilo engraçado.
- Eu estou bem, eu estou bem! – Respirei fundo e pude me soltar dos meus amigos e ficar de pé sozinha. – Agora não se esqueça do que me prometeu, !
- Eu estava esperando que você esquecesse. – fez bico quando eu envolvi Zayn em um abraço. – Não demore aí, ou eu vou acabar desistindo desse mico.
A menina se afastou e me deixou sozinha com Zayn, que me envolveu pela cintura e escondeu o rosto no meu pescoço. Sua barba mal feita roçou na minha clavícula e acabou fazendo cócegas, causando uma crise de risos da minha parte e da dele também. O que costumava causar arrepios acabou sendo motivo de graça e assim que Zayn voltou a me olhar seu rosto estava iluminado e feliz. Não sei se era a bebida continuando a fazer efeito ou se o garoto estava ainda mais lindo. Não precisei ficar na ponta dos pés para igualar as nossas alturas, já que o salto alto já fazia isso muito bem. O envolvi ainda mais pelo pescoço e pressionei os lábios contra os dele. Não transformamos aquilo em um beijo mais profundo, pois ficamos trocando selinhos e sorrisos que vez ou outra se transformavam em risadas sem motivo.
- Eu te amo, Malik. – Sorri ainda mais, fazendo carinho nos cabelos dele.
- Eu sei. – Respondeu convencido e levantou uma sobrancelha.
- É só isso que você vai falar? – Também elevei uma sobrancelha, esperando uma resposta melhor que aquela.
- Claro que não, babe. – Sorriu e beijou o topo da minha testa. – está te chamando.
- Idiota! – Me soltei de seus braços mesmo sabendo que ele estava brincando.
- EU TE AMO, . – O louco gritou no meio do pub enquanto eu começava a me afastar. – É ISSO MESMO, ELA É A MINHA NAMORADA.
Não me preocupei em olhar pra trás ou para os lados, mas sabia que muitos estavam olhando pra mim e que Zayn ainda sorria daquele jeito lindo de sempre. sorria para nós dois com uma carinha fofa e me esperava em cima do palco. Dois pedestais estavam montados com microfones e um deles já estava sendo ocupado pela ruiva. Não me preocupei em subir as escadas e pulei direto para o meio do palco; não literalmente, é claro. Mais uma vez tropecei e gargalhei da minha própria falta de coordenação. Fui olhada com reprovação pela minha amiga, mas o carinha do piano também riu. Prefiro pensar que ele riu “comigo” do que “de mim”, mas isso é um detalhe. Fui até o meu lugar e a minha companheira sussurrou que já havia escolhido a música e que eu a conhecia muito bem, então só deveria “entrar na onda”, segundo a própria. A banda começou a fazer o seu trabalho e eu realmente conhecia a canção...
- YO, I'll tell you what I want, what I really, really want. (YO, eu te digo o que eu quero, eu realmente, realmente quero.) So tell me what you want, what you really, really want. (Então me diga o que você quer, o que você realmente, realmente quer) I'll tell you what I want, what I really, really want. So tell me what you want, what you really, really want. – começou a cantar e parecia mais animada que eu! Aposto que seu drama todo pra cantar comigo era só charme. Ela pegou o microfone e mexeu os lábios de forma engraçada ao cantar. - I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really, really, really wanna zigazig ahh... (Eu quero, eu quero, eu quero, eu realmente, realmente, realmente quero...)
- If you want my future, forget my past. (Se você quer o meu future, esqueça o meu passado) If you wanna get with me, better make it fast. (Se você quer ficar comigo, é melhor ser rápido) – Foi a minha vez de me apoderar do meu microfone e arrasar na cantoria. Minha voz saiu firme e suave ao mesmo tempo, por mais que essa frase não tenha sentido algum. O importante é que eu estava me divertindo e me senti uma das Spice Girls. – Now don't go wasting my precious time. (Agora não vá gastar o meu tempo precioso) Get your act together we could be just fine. (Se componha e nós podemos nos dar bem)
- If you wanna be my lover, you gotta get with my friends. (Se você quer ser meu namorado, tem que se dar bem com os meus amigos) Make it last forever, friendship never ends. (Faça durar para sempre, amizade nunca acaba) – Nós duas ficamos de frente uma para a outra e nos juntamos para cantar esse refrão. Eu me embolei um pouco em algumas palavras por estar rindo demais, mas ninguém parecia ligar. Zayn podia ter começado a dançar sóbrio depois que me conheceu, mas era durante as nossas bebedeiras que ele se entregava mais as batidas da música. Ele se mexia como se ninguém pudesse vê-lo e prendeu a minha atenção por uns eternos segundos. – If you wanna be my lover, you have got to give. (Se você quer ser o meu namorado, você tem que doar) Taking is too easy, but that's the way it is… (Receber é muito facil, mas é assim que as coisas são)
- Oh, what do you think about that? Now you know how I feel. (O que você acha sobre isso? Agora você sabe como eu me sinto.) Say, you can handle my love, are you for real? (Diga, você aguenta o meu amor? Você está falando sério?) – Enquanto cantava e acenava para o “publico”, eu fazia passinhos desengonçados e jogava a cabeça pra trás e os braços para o alto. Liam e Louis voltaram a aparecer do nada e o mais velho tinha a câmera em mãos, filmando tudo. Aquilo era algo que eu não gostaria de gravar, com toda certeza. – I won't be hasty, I'll give you a try. ( Eu não serei apressada, te darei uma chance) If you really bug me then I'll say goodbye. (Se você realmente me perturbar, então eu direi adeus)
- Yo I'll tell you what I want, what I really, really want. So tell me what you want, what you really, really want. – Essa história de decidir quem canta qual parte era mais difícil do que eu esperava, por isso eu e a minha amiga acabamos nos atropelando.
- So, here's a story from A to Z. (Então, aqui está a história de A a Z.) You wanna get with me, you gotta listen carefully. (Você quer ficar comigo, escute com cuidado) – Eu não queria pegar a parte de rap da música porque tinha certeza que me atrapalharia toda; o que aconteceu praticamente nessa parte toda. Eu já não conseguia cantar direito sóbria, imagine com o nível alcoólico no meu sistema elevado. Isso não me impediu de fazer a minha performance e imitar uma gangster profissional, sem falar que rebolei de um lado para o outro e andei pela frente do palco inteira. - Easy V doesn't come for free, she's a real lady. And as for me, ha you'll see. (V* fácil não vem de grace, ela é uma dama de verdade. E quanto a mim, ha, você vai ver)
- Slam your body down and wind it all around. (Jogue o seu corpo e gire) Slam your body down and zigazig ah… - tomou a frente e balançou os braços de um lado para o outro. Eu me juntei a ela pra cantar a parte final e dividimos um microfone só.
- If you wanna be my lover… (Se você quer ser meu namorado)
Capítulo XLVI
“I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn. You're a little late I'm already torn...” A apresentação dos meninos foi muito boa, eu sei disso, mas sonhar com eles cantando Torn já era um pouco demais, não acha? Meu corpo estava um pouco dolorido, mas nada que um relaxante muscular não resolvesse em vinte minutos. Minha cama estava quentinha e embalava o meu sono tranqüilo. estava ali também, pois eu conseguia sentir o cheiro de seu shampoo de maçã verde mesmo sem ter que abrir os olhos. O fato de eu começar a perceber esses pequenos detalhes era a prova que eu precisava pra entender que estava despertando e acordando, porém, a música do meu sonho não se cessou quando eu abri levemente o olho direito e fiz careta com a claridade.
- Olha quem acordou! – falou alto demais e me fez resmungar e puxar o edredom lilás até o meu ouvido. – Oh, desculpe. Estou gritando? Ou foi você que beber demais ontem a noite?
- Shhh, linda... Fala baixinho... Bom dia, raio de sol... – Sussurrei dando uma espiada na minha amiga, notando que o meu notebook estava aberto em seu colo. Ambas sabíamos que eu passara dos limites na noite anterior e por isso devia ser o mais carinhosa possível com aquela garota que sempre cuida tão bem de mim. – O que você está fazendo?
- Editando o vídeo dos meninos. Não temos muito tempo pra mandar... – Falou normalmente, aparentemente me desculpando pela bebedeira. – Eu dei uma mexida no som e na imagem, pra melhorar a iluminação e tirar um pouco dos gritos.
- Tiveram muitos gritos, né? – Sorri ao me lembrar do grande sucesso dos meninos e já consegui descobrir o meu rosto para sentar na cama. – Eles foram incríveis.
- Foram mesmo! E eu odeio dizer isso, mas estava certa ao ter essa idéia de juntar todos. – Arrumou o óculos de grau sob o nariz e sorriu cheia de si.
- Como é? Primeiro que você AMA fazer isso. E segundo... A idéia não foi sua coisíssima nenhuma! – Contei nos dedos e ri daquela loucura que escutava. – Eu me lembro muito bem quando EU dei essa idéia!
- Você pode ter dado a idéia, mas que achou esse concurso fui eu. – Estirou a língua.
- Por pura sorte. – Dei de ombros. – Mas isso não importa agora. O que temos que fazer?
- Bem... Pelo que eu entendi, só precisamos preencher essa ficha de inscrição com os dados dos participantes... – Minimizou a janela do vídeo e me mostrou do que estava falando. O site do X Factor tinha uma área reservada só para esse concurso de novos talentos e tudo estava bem explicado ali, pelo menos na parte que deu pra ler. – Eu estava te esperando acordar, porque tem coisa aqui que eu não sei.
- Pode perguntar o que quiser e eu respondo. – Provavelmente tinha duvidas quanto ao nome completo de algum dos meninos e datas de nascimento. Levantei da cama com cuidado pra não acabar ficando tonta e amarrei os cabelos de qualquer jeito, usando a liguinha que sempre ficava em meu pulso. – Só vou ao banheiro, mas estou te escutando.
- Então vamos do começo... – Tirou os olhos de mim assim que virei de costas e mexeu no computador. – Por ordem alfabética, o nome completo e data de nascimento. Harry é o primeiro, certo?
- Yep. – Deixei a porta do banheiro encostada para que pudéssemos nos comunicar enquanto eu fazia a minha higiene matinal. – Harold Edward Styles. Dia primeiro de fevereiro, 1994.
- Eu não sabia que ele era tão novo! – A escutei falar mesmo com o barulho da descarga. – Próximo! Liam ou Louis?
- , você não conhece o alfabeto? – Ri, me concentrando em colocar um pouco de pasta de dente na minha escova cor de rosa. – Liam James Payne, 29 de agosto, 93.
- Só um minuto... – Também escutei o barulho de teclas e com isso comecei a escovar os dentes. – E eu conheço o alfabeto sim, só estou te testando. Louis Tomlinson, esse eu sei.
- Quase. – Falei com a boca “cheia”. – Louis William Tomlinson. 24 de dezembro, 91.
- Véspera de natal! Aliás, o aniversário dele está chegando. Vai ter festa?!
- Eu acho que vamos fazer alguma coisa, mas ainda não falei com ele...
- Moving on... Quem é agora? A, b, c, d... – Sim, ela começou a recitar o alfabeto.
- Niall Horan, sua besta. – Rolei os olhos e quase machuquei a gengiva por estar rindo. – Esse você sabe, né?
- Claro que sei! Niall Pudincup Horan.
- Troque o “pudincup” por “James” e aí tudo certo. – Peguei um pouco de água com as mãos para fazer gargarejo. – Huhum huum hum, hum?
- Não entendi nada depois de huhum. – Riu.
- Você sabe o aniversário dele, certo? – Traduzi depois de lavar a boca e me secar com a toalha.
- 13, setembro, 93. Bingo! – A vi comemorar assim que saí do banheiro.
- O último, mas não menos importante... – Suspirei com um sorriso bobo e me sentei na ponta da cama. Diferente do que eu esperava, não estava de ressaca e meu corpo começava a perder as dores. – Zayn Jawaad Malik. 12 de janeiro, 93.
- Pronto! – Fez sinal de “ok” com os dedos depois que terminou de digitar. – Agora precisamos de um número de celular para contato... Posso colocar o seu?
- Pode sim. – Cruzei as pernas. – Mas isso me torna a empresária da banda?
- Mais ou menos. – Digitou mais algumas coisas, o que me fez pensar que ela sabia o meu número de cor. – Acho que é só isso. Quer ver o vídeo antes de mandar?
- Eu confio na sua capacidade. E tenho medo de começar a chorar de emoção se for ver a apresentação de novo. – Abracei os joelhos e fiz bico.
- Então ótimo! Aliás, o Zayn está lá embaixo te esperando. – Falou super naturalmente e me fez pular da cama.
- Como é?! E você não me avisa? – Passei a mão pelo cabelo amarrado, abaixando alguns fios bagunçados.
- Ele me mandou uma mensagem quando você estava no banheiro...
Nem esperei pelo resto da frase e já comecei a correr para fora do quarto e escada abaixo. Desde quando ele ia para a minha casa em um sábado de manhã e avisava e não eu? Desde quando ninguém me avisa quando o meu namorado vem me visitar? “Isso não importa, .”, minha consciência me fez ficar calma na medida do possível e eu consegui chegar na sala de casa. Entretanto, apenas Harry estava por ali e se deliciava com uma xícara de chá. “Bom dia, Tah”, foi o que ele falou, mas eu o ignorei ao dar meia volta. Atravessei o hall novamente e terminei na sala de jantar. Toda a minha pressa foi embora assim que eu avistei Zayn encostado na bancada americana conversando com Louis.
- , acordou! – Louis me viu primeiro e acenou com um sorriso.
- Morning, beautiful. – Zayn se virou ao escutar o meu nome e sorriu com os braços abertos.
- Bom dia! – Sorri mais ainda e saltitei até ele, me jogando em seus braços. – Eu não estava dormindo até agora, é que a imprestável demorou pra me avisar que você estava aqui.
- Não fala mais comigo? – Vi pelo canto do olho que Louis cruzou os braços.
- Ela também não falou comigo. – A voz de Harry veio atrás de mim, mas não me esforcei para olhá-lo.
- Feliz um mês de namoro. – Zayn sussurrou na minha orelha.
- Você lembrou! – Fiquei bem surpresa e o encarei, ignorando qualquer outra pessoa. – Feliz primeiro mês de namoro!
- Como eu iria esquecer? – Tocou meu nariz com a ponta do seu e foi a minha deixa para roubar um selinho demorado. – Vim te buscar pra irmos passear. Topa?
- Claro que sim! – Dei um pequeno pulo sem sair do lugar. – Pra onde vamos?
- Você vai saber quando chegar lá. – Beijou a minha bochecha e meu sorriso diminuiu um pouco.
- Então como vou saber o que vestir? – Cruzei os braços, mas ele não largou a minha cintura.
- já deve ter cuidado disso pra você.
- Vocês dois estão cheios de segredo comigo hoje! – Olhei para o lado emburrada, mesmo sabendo que devia confiar naqueles dois.
- Vai valer à pena, . – Balançou-me de um lado para o outro na tentativa de me fazer sorrir; o que conseguiu na mesma hora.
- Tudo bem! – Rolei os olhos com um riso baixo. Ele não se cansava de conseguir tudo que queria? – Me dê uns minutos pra trocar de roupa, então?
- Só não demore muito. – Sorriu e me soltou.
- É melhor sentar, Zayn. – Lou deu a entender que eu demorava pra me arrumar, mas ele sempre era o último a ficar pronto e não eu!
- Muito engraçado. – Fiz careta para o meu irmão e me dirigi para a saída, passando por Harry. – Bom dia, Hazza-bear.
- Bom dia, bella. – Ele bagunçou os meus cabelos quando nos cruzamos e sorriu.
Depois que Harry arriscou no italiano ao me chamar de bella, eu saltitei o resto do caminho pelo hall até chegar nas escadas. Corri para o quarto, pois já não tinha mais tempo a perder. Eu não iria dar esse gostinho a Louis de jeito nenhum. Ao abrir a porta, quase a levei ao chão e gritou de susto. Eu teria rido se não tivesse me assustado também, mas por outro motivo. Pelo menos metade das minhas roupas estava fora do closet e espalhadas pelo chão e móveis. Parecia que um furacão passara por ali e meus olhos se arregalaram. Eu já tinha entendido que ela iria escolher a roupa que eu deveria usar nesse tal passeio, mas tinha mesmo que fazer aquela bagunça toda?
- Não vou nem perguntar. – Só cruzei os braços e balancei a cabeça.
- Melhor assim. – Sorriu toda sapeca e apontou para um conjunto de roupas esticado em cima da minha cama. – Diga aí, ... Eu devia ser a sua personal stylist.
- Acho que podia ser pior... – Não dei o braço a torcer na frente dela, mas até que o resultado ficaria legal.
- Mal agradecida! – Segurou a minha mão e me puxou para dentro do quarto, fechando a porta. – Eu vou te ajudar!
- Eu ainda sei trocar de roupa sozinha, . – Resmunguei, mas não adiantou. A menina foi pegar alguma coisa em sua maleta e eu já me preparava para os milhares de cremes que ela me obrigaria a passar.
- Ainda bem que você tem uma pele bonita quando acorda, então eu não terei muito trabalho por esse lado. Mas teremos que dar um jeito nesse seu cabelo aí. – Nem me olhou ao pegar um pote roxo com o desenho de uma uva nas laterais.
Como sempre, eu não teria escolha alguma. Acenei que sim com a cabeça e dei um pequeno suspiro, tirando a blusa do meu pijama e vestindo o sutiã preto e sem alças que separara junto das outras peças de roupa. Eu não estava fedendo e nem me sentia suja, por isso um banho não era muito necessário. A calça do pijama também se foi rapidamente e deu lugar à meia calça preta que ia até um pouco acima do joelho. Usei o desodorante que encontrei no meio das coisas e corri pra entrar na saia e blusa que me foi escolhida. Como também não iria morrer de frio, vesti a jaqueta pesada por cima de tudo. Foi fácil me arrumar até ali, mas então puxou a cadeira da minha escrivaninha e me mandou sentar nela.
- Vai ficar linda! – Cantarolou e soltou os meus cabelos assim que eu me acomodei na cadeira.
- E você sabe para onde serei levada? – Arqueei uma sobrancelha na tentativa de conseguir alguma informação.
- Sei sim. – Usou a minha escova de cabelo para pentear os meus fios castanhos e prestou bastante atenção nas pontas claras. – Mas não te digo.
- É claro que não! – Cruzei os braços e fiz uma pequena careta ao ter o cabelo puxado. – Outch!
- Não reclama! – Parou por um instante e jogou algumas coisas em cima de mim. – Vai se maquiando enquanto isso.
- Ok, ok. – Levantei as mãos em sinal de paz e peguei o pequeno espelho e o lápis de olho no meu colo. – Eu só estava curiosa...
- Depois desse tempo todo você ainda não conhece o namorado que tem? Ele adora fazer surpresas, principalmente pra você. – Pegou o pote roxo –que eu descobri ser um modelador de cabelo- e separou algumas mechas para arrumar.
- Eu sei disso! – Parei um pouco de pintar os meus olhos para observar o sorriso bobo que apareceu em meus lábios.
- Você sempre faz essa cara quando fala dele. – Notei que ela me olhava pelo reflexo do espelhinho e minhas bochechas ganharam um tom mais avermelhado.
- Não sei do que está falando! – Meu sorriso acabou crescendo e voltei a me concentrar na maquiagem que eu tentava fazer.
- Então devia ver a cara que ele faz quando escuta o seu nome. – Brincava com o meu cabelo e o enrolava nos dedos, provavelmente tentando criar algumas ondulações. – É bem engraçado, pra falar a verdade.
- Se você diz... – Tentei não ficar pensando naquilo, mas gostei muito do que escutei. Após o lápis de olho, fiz um risco suave com o delineador em cada pálpebra e finalizei com uma sombra cor de rosa bem clara. Ainda era cedo e eu não queria me arrumar como se estivesse indo para uma festa. – Como estou?
- Perfeita! – Se inclinou sobre mim para olhar o meu rosto e me passou um batom da mesma cor da sombra. – Já estou quase terminando o seu cabelo.
E realmente estava quase terminando. Menos de um minuto depois ela já estava lavando as mãos no banheiro para tirar a cremosidade causada pelo modelador e eu mexia nos cabelos super animada. Não importava o quanto eu os bagunçasse, os fios se tornaram obedientes e voltavam para o lugar. Eu teria que dar um jeito de roubar aquele modelador, mas não tinha tempo pra isso agora. me entregou a bolsa que eu deveria levar e informou que tudo que eu precisava já estava ali dentro. Tive medo de espiar e encontrar uma faca ou coisa parecida, mas conhecendo aquela ruiva não seria nada impossível. Também fui obrigada a colocar um chapéu na cabeça, pois segundo a minha stylist, eu ficava fofa com esse tipo de acessório e poderia tirar quando chegássemos “lá”. Mas quem disse que ela disse onde esse tal de “lá” ficava? Me perfumei bastante e coloquei algumas jóias para finalmente calçar as botas de cano médio. Tudo que eu menos queria era um salto alto, mas teria que fazer aquele esforço.
- Babe, está pronta? – Zayn bateu na porta.
- Prontíssima!
O bom de se ter um namorado, além das razões óbvias, é que quando você está com frio pode se aninhar nos braço dele e ser aquecida da forma mais gostosa do mundo. Era bem assim que Zayn e eu caminhávamos pelo bosque; abraçados e agarrados um ao outro. As pequenas gotas de chuva que caiam do céu eram interceptadas pelas folhas das árvores altas que tomavam conta das laterais do caminho que percorríamos, por isso não nos incomodavam. Zayn continuava sem querer me contar para onde estava me levando, mas àquela altura eu pouco me importava. Só de estar ao lado dele e longe do resto do mundo já era perfeito. Eu também não ligaria a mínima se nosso passeio fosse pela floresta cheia de animais selvagens e mosquitos insuportáveis. O clima poderia estar pior e eu continuaria feliz. Tinha um namorado perfeito no meu braço direito e um café quentinho no esquerdo. Ah, é, passamos em uma Starbucks antes de seguirmos com o passeio.
- Ainda falta muito pra chegar? – Perguntei ao levantar o rosto para olhar Zayn, que manteve o seu para frente.
- Você perguntou a mesma coisa cinco minutos atrás! – Riu divertido.
- Sorry. – Fiz bico. – Eu só estou curiosa...
- Como sempre. – Me olhou com aquele mesmo sorriso impecável e tocou o meu queixo com a ponta dos dedos. – Mas dessa vez a minha resposta vai ser diferente... Porque nós chegamos.
- Chegamos?! – Separei o abraço para olhar em volta animada. – Onde estamos?
- Estamos em Little Venice. – Apontou para o canal em nossa frente, onde o rio Tamisa corria tranquilamente em seu curso e alguns barcos alongados estavam parados em sua margem. – Está vendo aquele ali?
- O barquinho colorido? – Olhei para onde ele estava apontando. O barco devia ter uns quatro metros de comprimento e era bem estreito, mas seguro e aconchegante.
- Esse barquinho é chamado de narrowboat, pela sua forma estreita. Muitas pessoas costumam viver nesses barcos, sabia? – Segurou a minha mão e nos aproximamos da margem.
- Então você teve a idéia de comprar um pra morarmos juntos? – Me abaixei perto da janela pra conseguir ver melhor o lado de dentro.
- Quase isso. – Riu. – Não vamos morar... Mas vamos passar o dia em um.
- Sério?! – Sorri bem animada com aquela nova aventura que teríamos pela frente. – Até que pra alguém que tem medo de água, você sempre dá um jeito de ficar perto dela.
- O que posso dizer? Não há nada que eu não faça por você. – Deu o primeiro passo e pulou para a traseira do barco, esticando a mão para que eu fizesse o mesmo.
- E onde está o piloto? – Peguei todo o apoio que consegui e me juntei a Zayn na popa da embarcação.
- Você está olhando pra ele. – Me deixou absorvendo aquela informação e foi desatar a corda que amarrava o barco na doca.
- Malik, você já dirigiu um barco desses antes?
- Não. Mas sempre existe uma primeira vez, né? – Desceu os três degraus que levavam até a entrada da cabine e eu o segui. – E acredito que o termo correto seria: “Pilotar um barco desses”.
- Entendi, capitão. – A aventura seria maior do que eu imaginava.
Zayn tirou uma chave do bolso para poder abrir a porta da cabine e me deixou entrar primeiro, como o bom cavalheiro que era. Disse para eu me sentir em casa e foi bem isso o que eu fiz. O lado de dentro parecia uma casinha de bonecas, pois tudo era pequeno e bonitinho. Logo na entrada, um sofá-cama vermelho tomava metade do espaço e foi ali que eu deixei a minha bolsa e chapéu. Um pouco mais adiante havia uma “cozinha”, ou seja: uma bancada, fogão, frigobar e pia; seguida por uma espécie de mesa com apenas duas cadeiras. Não sei como alguém consegue de fato morar em um narrowboat, porque é simplesmente pequeno demais! De qualquer forma, continuei o meu passeio para conhecer aquela embarcação e encontrei duas portas no fim do corredor: A primeira era a entrada do banheiro igualmente pequeno e a seguinte levava para frente do barco, onde a cabine do piloto ficava. Mesmo o barco ainda não estando ligado, ou seja lá qual for o termo certo, a correnteza do Thames já nos colocava em curso. Fui para o lado de fora sabendo que Zayn me seguiria. Com certeza aquela surpresa me pegou desprevenida, já que eu nunca teria pensado em algo assim.
- E então, o que acha? – Como era de se esperar, Zayn se juntou a mim na parte da frente da embarcação.
- Isso é tão legal! – Sorri e subi a pequena escada que levava até a parte mais frontal. – Vem aqui...
- Você não está pensando no que eu acho que está pensando... Está? – Riu, mas me seguiu de qualquer forma.
- Estou! – Também ri e o esperei se juntar a mim ali em cima. A primeira coisa que fiz foi dar as costas pra ele e abrir os braços no maior estilo Titanic. – Oh, Jack... I’m flying!
- Só não caia, Rose! – Segurou as minhas mãos e se posicionou atrás de mim, dando-me todo o equilíbrio que eu precisava.
- Every night in my dreams, I see you, I feel you... That’s how I know you go on… - Fala sério, não há momento melhor pra cantar a música tema do filme mais romântico dos últimos tempos do que em um barco de verdade. – Far across the distance and spaces between us...
- Como cantora você é uma ótima bailarina. – Zayn me interrompeu com uma risada e acabou com todo o romantismo do momento.
- Malik! Uau, muito obrigada. – Cruzei os braços desistindo de interpretar a Rose ou qualquer outra personagem. Eu sabia que não cantava bem, ainda perto de quem estava, mas ele tinha mesmo que passar na minha cara?!
- O que foi que eu falei? – Se fez de inocente, mas as suas risadas o denunciavam. Zayn me segurou pela cintura e fez-me girar até estar de frente pra ele. – Por que você não deixa a cantoria pra mim e fica só com a dança?
- É melhor mesmo. – Dei de ombros e acabei sorrindo por não conseguir ficar brava com ele nem de brincadeira. – Mas seria bom ter uma segunda opção...
- Eu sei qual pode ser a sua segunda opção. – Sorriu malicioso e me puxou mais pra perto.
- Você não está pensando no que eu acho que está pensando, está? – Tentei imitar a voz dele por engrossa a minha, mas acabou não dando muito certo.
Fiz o garoto rir e a minha única alternativa para pará-lo foi colar as nossas bocas. Ok, não a minha única alternativa... Mas a minha preferida, com certeza. O envolvi com os braços pelo pescoço e toda a graça desapareceu em um fechar de olhos. Modelei os lábios dele com os meus, sendo o mais delicada possível. Zayn fez o mesmo e retribuiu o beijo com paixão e quase calor; se é que me entende. Fiquei o mais parada possível, pois ainda tinha um pouco de noção de onde estava e não seria nada legal cair no rio, principalmente por ser a única ali que realmente sabia nadar. O garoto em meus braços também não se mexeu muito, mas algo não estava certo ali... E não, eu não me referia às pessoas que podiam estar nos olhando de outros barcos e nem de pedestres que passeavam pelas margens do rio. O caso é que a nossa própria embarcação começou a mover-se de forma um tanto estranha.
- Baby... Você está sentindo isso? – Afastei um pouco os nossos rostos e olhei para os lados.
- Estou... – Sussurrou, mas não estávamos falando da mesma coisa.
- Não isso... – Estreitei os olhos em reprovação e dei meia volta para descobrir o que me incomodava. – Nós saímos do curso... Zayn, vamos bater!
É óbvio que eu me desesperei, mas Zayn ainda levou alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Culpa do sangue que demorou para subir para a sua outra cabeça, cof cof. Como eu já desconfiava, um narrowboat não foi feito para ficar navegando por aí com o seu motor desligado e por esse motivo foi fácil começarmos a virar de lado, causando a proa e a popa a irem de encontro com as margens do canal – que era bem mais estreito que o comprimento do barco. Ao retomar seus sentidos, meu namorado saiu correndo o mais rápido que pode até a cabine de pilotagem e eu fui deixada ali sem saber o que fazer. Em questões de segundos nós iríamos nos chocar e eu tinha medo até de pensar nos danos que poderiam ser causados à embarcação. “O que eu faço agora?!” Olhei em todas as direções possíveis e Zayn não parecia estar menos perdido que eu. Por impulso, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi pular de volta para a passarela de pedra onde a batida iria acontecer. A distância não era muito grande, por isso obtive sucesso no meu salto. Escutei um grito perguntando o que eu estava fazendo, mas não tinha tempo para explicar o meu plano.
Enquanto Zayn sofria pra dar partida no motor do barco e obter controle sobre ele, eu me abaixava até quase ficar de joelhos no chão. Para a minha sorte, o narrowboat não era tão pesado assim, então consegui segurar a sua “ponta” e empurrá-lo para longe da borda, evitando a colisão. Bem a tempo, o motor finalmente resolveu cooperar conosco e a velocidade do barco aumentou consideravelmente, voltando a apontar para frente e seguir seu curso. Vi Zayn comemorar na cabine do capitão e eu fiz o mesmo, esquecendo de um pequeno detalhe; como eu iria voltar?
- , nós conseguimos! ? – Zayn parecia me procurar, achando que eu já estava dentro do barco novamente.
- Zayn, eu preciso de ajuda! – Eu andava em passos largos pela calçada, tentando criar coragem para pular em uma distancia bem maior que antes.
- O que você ainda está fazendo aí? – Levou as mãos até a cabeça e gargalhou achando aquela situação extremamente hilária.
- Eu estava salvando o nosso passeio! – Gritei em resposta tentando ser mais rápida.
- Mas o passeio só vai ser bom se você estiver do lado de cá! – Caminhou até a borda e esticou as mãos na minha direção, ainda rindo.
- Então você deveria me ajudar! – Com certo esforço consegui tocar na mão dele com a ponta dos meus dedos, mas ainda não era o suficiente. – E não ficar rindo como um maluco!
- Ok, ok, desculpa! – Tentou segurar o riso e agarrou a minha mão com força. – Agora você tem três segundos pra pular.
- Como assim? – Minha resposta não viria da boca dele, porque assim que eu olhei para a minha frente, vi que a calçada só tinha mais alguns poucos metros antes de se transformar em um túnel por onde só embarcações passavam. – Deixa pra lá!
Como eu não tinha mais tempo pra criar coragem ou pensar em uma forma mais segura de saltar para dentro do barco, respirei fundo para pular de qualquer jeito. Zayn entrelaçou nossos dedos com mais firmeza, sem rir tanto dessa vez. Utilizei alguns princípios do ballet, como dobrar o joelho e pegar o maior impulso possível no chão, e me joguei de qualquer jeito nos braços do garoto que me aguardava. Em questão de segundos tivemos que nos abaixar para não bater a cabeça no túnel e com isso acabamos nos atrapalhando e caindo na madeira úmida. Por sorte não tivemos muitos danos e eu não torci o pé mesmo estando com um salto tão gigante quanto aquele.
- Você está bem? – Perguntei ao sair de cima de Zayn, mas continuando abaixada.
- Acho que você quebrou minhas costelas quando caiu em cima de mim. – Fez uma careta de dor e eu realmente me assustei. – Estou brincando, sua besta.
- Você é muito idiota, sabia disso? – Rolei os olhos e o empurrei assim que ele tentou se levantar, causando uma nova queda.
- ! – Riu depois de voltar ao chão e tentou agarrar o meu braço. – Era uma brincadeira!
- Sai daqui! – O túnel acabou e junto com os poucos raios de Sol que atravessavam as nuvens, eu pude me levantar e sair de perto do garoto caído. – Não quero saber!
- Volta aqui! – Levantou-se mais rápido do que eu gostaria, me fazendo apressa o passo.
- Não!
Eu não estava brava ou com raiva, por isso até ria de vez em quando durante a minha tentativa de fuga. Fui direto para a entrada do barco e passei correndo pelo corredor apertado até chegar na dita cozinha. Foi naquele momento que eu parei para olhar pra trás e descobrir que Zayn já não me seguia mais, o que me surpreendeu, e eu não escutava mais som algum além do barulho normal da água do rio correndo abaixo de mim. Aquilo era suspeito, muito suspeito... Conhecendo Zayn como eu conhecia, tinha certeza que ele estava aprontando algo. Fui dando pequenos passos para trás, sempre mantendo o olhar na porta aberta no fundo do barco, aguardando alguém aparecer ali do nada. Uma corrente de ar vindo por trás de mim balançou os meus cabelos levemente eu senti um pequeno arrepio.
- RAAAAAAAAWR. – Fui agarrada pela cintura por dois braços fortes e levantada do chão.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Mesmo sabendo que era Zayn, fui surpreendida e gritei me debatendo para me soltar daquele terrível monstro que queria comer as minhas entranhas. – MALIK!
- TOMLINSON! – Me imitou até no tom que eu usei e me colocou no chão, mas não me soltou. – Você devia ter visto a sua cara...
- Eu não acredito que você fez isso! – Escondi o rosto nas mãos ignorando as risadas que eu escutava. Ele devia ter dado a volta pelo lado de fora do barco e eu me senti no mínimo muito burra por não ter antecipado isso. – E não acredito que eu caí nessa!
- Eu sou um gênio, . – Deixou um beijo estalado na minha bochecha e se jogou no sofá avermelhado que estava próximo de nós, me levando junto.
- Como é que eu fui me apaixonar por alguém tão idiota, meu Deus?! – Olhei para cima ao fazer a minha pergunta retórica e Zayn se acomodou no pseudo divã.
- Eu sei como. – Apoiou a cabeça em uma almofada para ficar mais confortável e tirou os tênis com os próprios pés.
- Pois essa eu quero escutar. Como? – Arqueei a sobrancelha e me inclinei para tirar os meus próprios sapatos e ficar confortável. Já que não queria cair mais uma vez, também retirei a meia calça escorregadia e a guardei dentro das botas.
- É simples, babe. – Assim que terminei de ficar a vontade, Zayn segurou o meu braço com cuidado e fez com que eu me deitasse ao seu lado. – Sou irresistível.
- Nah, você está certo. – Dei de ombros e me acomodei em seus braços, entrelaçando as nossas pernas para ocupar o menor espaço possível naquele sofá que já não era tudo isso. – A verdadeira dúvida aqui é como você se apaixonou por mim.
- Essa é mais fácil ainda! – Pegou a minha mão direita e começou a brincar com os meus dedos. Seu olhar estava preso a eles e ao anel que a minha avó me dera e eu nunca tirava. Diferente de antes, aquilo não seria mais uma piada ou brincadeira. – Eu me apaixonei porque você sempre sorria.
- Fácil assim? – Sorri sem nem perceber e o olhar dele se voltou para os meus olhos.
- Fácil assim. – Também sorriu e encostou a testa à minha.
- Então você não é tão idiota assim... – Ri baixo e toquei seu rosto com a ponta dos dedos que o distraiam anteriormente. – Mas é bobo.
- Acho que posso conviver com isso. – Mordiscou o próprio lábio inferior e atraiu minhas íris no mesmo instante.
- Eu gosto quando estamos juntos... Só nós dois. – Levantei o olhar para estudar o rosto anguloso e perfeito demais daquele garoto, que de perto ficava ainda mais lindo.
- Yeah? Por quê?
- Porque é fácil. Eu posso ser eu mesma, sem precisar me preocupar em ser perfeita o tempo todo. A bailarina perfeita, a amiga perfeita, a filha perfeita... Eu sou só... Só eu. – Suspirei ao terminar de falar, acariciando a lateral do pescoço de Zayn com a ponta das unhas, arrancando um arrepio discreto.
- Pra mim, quando você é só você... Isso sim é perfeição.
Eu não sabia o que responder e tampouco precisava. Apertei um pouco mais o abraço e deitei o rosto no peito de Zayn, podendo sentir a sua respiração pesar. Ele encostou a cabeça na minha e começou a passar os dedos pelo meu cabelo, desembaraçando alguns fios e fazendo um cafuné gostoso. Todos os problemas ficaram para trás e aquela paz que sempre me atingia quando Zayn e eu ficávamos juntos tomou conta do barco inteiro. Aparentemente o narrowboat estava em “piloto automático” e fui assegurada que nenhum outro acidente poderia acontecer e fechei os olhos tranquila.
Infelizmente, aquela tranquilidade não durou muito, me obrigando a confirmar o ditado popular que diz que “tudo que é bom dura pouco”. Minha bolsa ainda estava em um canto do sofá e ela começou a vibrar e tocar. A não ser que aquele fosse um novo dispositivo fashion, era o meu celular que estava recebendo uma ligação. “She’s a very kinky girl... The kind you won’t take home to mother...” E de acordo com aquela música, eu já sabia bem quem era a criatura infeliz que tentava falar comigo. Fechei os olhos com força, torcendo para que o toque se encerrasse e eu não fosse obrigada a atender.
- Uhn, ? – Fui cutucada de leve. Zayn devia achar que eu estava dormindo e por isso não me mexi para atender.
- Já ouvi... – Abri os olhos e fiz um bico enorme. – É a . Você se importa se eu atender?
- Não mesmo. – Sorriu e levantou o corpo até ficar sentado. – Eu vou preparar as coisas para o nosso almoço enquanto isso.
- Só não se perca. – Também me sentei e o observei se espreguiçar demoradamente.
É claro que ele não iria se perder, porque o barco era pequeno demais até pra isso. Sim, foi uma piada, pode rir agora. Haha. Enfim, ao tempo em que eu consegui pegar o meu celular de dentro da bolsa, já desistira de ligar, mas quem não desistiria de falar com ela era eu. O momento ‘cuddles’ entre Zayn e eu já tinha sido arruinado pela sua interrupção, então eu tratei de retornar a ligação. Ela podia não bater bem da cabeça e ser impulsiva, mas sabia que eu estaria curtindo a minha comemoração de um mês de namoro, por isso não ligaria a não ser que fosse algo importante.
Levei o aparelho até a orelha e dei uma última olhada em Zayn, que procurava algo dentro do frigobar. Ele não estaria nem um pouco interessado na conversa com a minha melhor amiga, mas ainda assim preferi sair da cabine quentinha e enfrentar o lado de fora. Meus pés descalços não gostaram muito daquela idéia, porém não os dei muita escolha e os obriguei a pisar na madeira fria. devia estar testando a minha paciência, pois esperou até o último beep para atender.
- Hey, little bunny, como está o passeio amoroso? – Eu podia quase ver a sua carinha de “owwnt”.
- Estava ótimo até você me ligar! – Respondi com menos da metade da sua animação. – E “little bunny”?
- Achei que precisávamos de um apelido fofo! Já estamos nesse nível de relacionamento.
- Ok, bitch, eu concordo. – Ri de mim mesma e me sentei na escadinha; aquilo iria demorar. – Mas anyway... Espero que você tenha me ligado por algo importante.
- Por que eu te liguei mesmo? – Rolei os olhos ao escutá-la falar aquilo. – AH, É! Eu mandei o vídeo certo? E aí você recebeu um email de resposta...
- Espera, espera... – Levantei a mão direita em sinal de “pare” mesmo que ninguém pudesse ver. – Eu recebi um email? Como você sabe?
- Por favor, ... “McFly123” não é uma senha muito difícil de ser adivinhada. – Droga! Eu devia saber que deixar o meu notebook nas mãos dela não seria uma boa idéia. – Eu mandei o seu email na ficha de inscrição, junto com o seu número de telefone. E adivinha?! Recebemos a confirmação! Os meninos estão oficialmente no concurso!
- Yaaaaaay! – Vibrei um pouco alto demais. – E o que dizia no email?
- Nada muito sério, só que os produtores e uma equipe especial estarão avaliando pra escolher os melhores e blábláblá... E que o resultado sai no dia onze de dezembro. Acho que era só um email automático, mas mesmo assim, né?
- Onze de dezembro?! Isso já é semana que vem... – Fiquei preocupada com aquela data porque quem poderia me garantir que o nosso vídeo seria visto a tempo?
- Quarta feira, pra ser mais exata. Mas não se preocupe, , vai dar tudo certo... – Ela não parecia tão certa daquilo, mas tentava nos acalmar.
- Vai sim, claro que vai! – Forcei um sorriso e me obriguei a me manter positiva. – Sem querer ser chata nem nada, , mas eu tenho um tenho um namorado me esperando lá dentro...
- Já entendi tudo. – Deu um daqueles risinhos de quem entende até demais. – Vá lá, little bunny. Aproveiteeeeeee.
- Aproveitareeeeeei. – A imitei cantarolando, mas me senti um tanto ridícula ao fazer isso. – Bye, little bitch.
E com essa despedida carinhosa eu desliguei o telefone e o guardei no bolso da minha jaqueta. Pude me levantar da escada e voltar para dentro da cabine, onde a primeira coisa em que bati os olhos foi Zayn, que se encontrava no mesmo lugar de antes; na “cozinha”. A única diferença era que ele não estava mais todo agasalhado como antes e seu casaco se encontrava junto da minha bolsa no sofá. Eu podia entender bem porque ele estava apenas com a sua camisa branca, já que o forno do fogão parecia estar ligado e isso alterava bastante a climatização do ambiente. Ei, lembra quando eu disse que gostava quando ele usa azul? Acontece que eu também gosto quando ele usa branco. Ou preto. Ou qualquer outra cor, vamos combinar. Também já sentindo o frio ir embora, deixei minha jaqueta escorregar pelos meus ombros e cair para trás. A joguei de qualquer jeito por cima da de Zayn e caminhei até o mesmo.
- O que o capitão/chef vai fazer para o nosso almoço hoje? – Fiquei na ponta dos pés para poder abraçá-lo por trás e pousar o meu queixo em seu ombro, bem como ele gostava de fazer comigo.
- Pizza caseira! – Me olhou de esguelha e sorriu todo orgulhoso de si mesmo.
- Você que fez isso? – Dei uma espiada na bancada um pouco suja de farinha e na massa que ele tinha em mãos.
- Eu mesmo. – Como não tínhamos um rolo de macarrão por ali, ele teve que estirar a massa com as próprias mãos e ficou super sexy ao fazer isso. – Você não vai me ajudar?
- Eu adoraria, sabe? – Comecei a distribuir alguns beijos pelo pescoço e ombros do garoto. – Mas tem um pequeno problema...
- Qual? – Perguntou com a voz um tanto trêmula, o que fez sorrir.
- Eu não consigo tirar as mãos de você. – Sussurrei em seu pé do ouvido com uma risada baixa em seguida.
O que eu falei era completamente verdade, pois minhas mãos começaram a passear pelas costas de Zayn, sentindo cada linha, cada traço que a camisa escondia pelo bem da minha sanidade. Tentando não perder a concentração no que estava fazendo, ele continuou a amassar a massa, por mais bobo que isso soe. Tenho certeza que meus carinhos fizeram-no repetir a mesma coisa pelo menos três vezes e foi bom me sentir no comando pelo menos uma vez na vida, já que aquelas provocações costumavam acontecer de forma contrária.
- ... Espero que saiba que o que você está fazendo só vai atrasar o nosso almoço. – Pude ver que ele fechou os olhos e apertou os lábios um no outro após umedecê-los.
- Você venceu! – Dei um último beijo em sua nuca e parei com as minhas carícias. – O que eu faço pra ajudar?
- Quem falou que você devia parar? – Fez uma cara engraçada quando fiquei ao seu lado procurando algo pra fazer. – Eu não ligo pro almoço, foi só um comentário!
- Teremos tempo pra isso depois! – Ri e me inclinei sobre ele pra receber um beijo rápido antes de me ocupar com o pote de molho de tomate. – Agora vamos ao que interessa... Eu posso não saber cozinhar quase nada, mas creio que o próximo passo é colocar o molho na massa, certo?
- Précisemment. – Enrolou a língua para arriscar o francês e o resultado foi muito bom. Ele me passou a massa para que eu pudesse espalhar o molho, enquanto ele mesmo foi fatiar o queijo. – Espero que goste de pizza quatro queijos.
- Pizza é pizza. – Afirmei com a cabeça e derramei um pouco do molho na massa. – Tem alguma colher por aí?
- Ou, nesse caso, pizza um queijo só. – Falou tão baixo que eu quase não escutei, mas comecei a rir assim que entendi. – Colher? Opa...
- Zayn, você não trouxe uma colher? – Ri mais ainda do namorado desligado que eu tinha e lavei as mãos, já sabendo onde isso iria acabar. – Se o Liam tivesse esquecido, eu até entenderia...
- O Liam? – Olhou-me sem entender muita coisa e eu percebi que tinha falado alto demais.
- É... Ele tem medo de colheres. Mas não me pergunte o porquê. – Tive que secar as mãos molhadas na barra da saia, porque pelo visto Zayn também se esqueceu do pano de prato. Já devidamente higienizada, usei os dedos para espalhar bem o molho de tomate. – É isso que eu chamo de colocar a mão na massa...
- E depois eu é que sou idiota! – O outro gargalhou jogando a cabeça para trás.
- Estou aprendendo com o mestre! – Estirei a língua e aproveitei que Zayn estava distraído para desenhar um coração de molho de tomate em sua bochecha.
- Eeeeei! – Reclamou assim que percebeu o que eu fizera.
- É um coração, baby! – Fiz uma carinha fofa tentando amolecê-lo.
- Eu não ligo se é a Monalisa! Pode tratar de limpar.
- Você é muito chato, sabia? – Rolei os olhos. Enquanto ele espalhava o queijo pela pizza, eu voltei a ficar na ponta dos pés e o envolvi de lado, com cuidado para não acabar sujando-o ainda mais. Estiquei a pontinha da língua e a arrastei pelo coração, fazendo-o desaparecer. – Hm, até que o molho é gostoso!
- Só o molho é gostoso? – Sorriu daquele jeito maroto e eu voltei para o meu lugar, lambendo a ponta dos dedos.
- Você é meio salgado... – Fiz careta, lavando as mãos e me segurando pra não rir.
- Wow, , muito obrigado! – Usou o quadril pra me empurrar para o lado e lavar as próprias mãos.
- De nada, sweetheart. – Gargalhei baixo e dessa vez sequei as minhas mãos na calça jeans que ele usava.
- , agora a minha bunda vai ficar molhada! – Reclamou mais uma vez ao fechar a torneira. O pior é que depois de escutar a frase sair de sua boca, ele se juntou a mim e nós dois rimos descontroladamente. – Você vai ver só!
- Tira a mão, sai! – Ri um pouco mais alto tentando afastar as mãos molhadas que Zayn queria secar na minha blusa. – Eu não sou uma toalha!
Minhas reclamações não adiantaram de nada, porque ele só descansou depois de se vingar e secar as mãos no tecido fino da minha roupa. Minha única saída foi me afastar o mais rápido possível até estar sentada na ponta livre do sofá. Zayn não pode me seguir porque era parte do seu trabalho colocar a pizza na bandeja que deveria ir para o forno. Aquela pausa me deu tempo de passar as mãos pelo meu cabelo e sentir o cheiro de uva que saía deles. O clima da embarcação já começava a mudar mais uma vez e o frio voltava, principalmente agora que eu estava bem molhada. E não, não leve pelo duplo sentido. Ou talvez sim... Não! “Star, se controle.”
- Temos quarenta e cinco minutos enquanto a pizza não fica pronta. O que quer fazer? – Marcou alguma coisa no relógio e eu olhei em volta, cansada de ficar ali dentro.
- Quero explorar! – Peguei a minha jaqueta e a entreguei para Zayn, já começando a vestir o casaco dele em seguida.
- , você sabe que trocou, né? – Me olhou como se eu estivesse louca, mas foi logo passando os braços para dentro da minha peça.
- Claro que eu sei! Mas não tenho culpa se fico bem nas suas roupas. – Dei uma voltinha sem sair do lugar pra mostrar como o casaco preto caia perfeitamente em mim. Ficava um pouco grande demais... Mas ainda assim era perfeito! – Então não posso te deixar com frio, certo?
- Você adora roubar as minhas roupas. – Cruzou os braços. – Esse é o terceiro casaco que acho que nunca mais vou usar.
- Pois pode ter certeza. – Dei alguns passos até ele pra poder segurar a sua mão. – Vem, vamos explorar!
- Babe, estamos em um barco. Onde você quer explorar? – De repente eu era a criança da relação e Zayn fez corpo mole para me acompanhar.
- Mexe essa bunda molhada e vem logo! – Ri mais do que devia da minha própria piadinha sem graça e só soltei a mão do rapaz quando chegamos ao lado de fora da cabine. – Qual a graça de se estar navegando se a gente não vê o que está acontecendo do lado de fora?
- O que está passando por essa cabecinha? – Bateu na minha testa como se fosse a madeira de uma porta e eu bufei.
- Só me segue, ok?
Dei meia volta, mas ainda tive tempo de ver Zayn fazendo caretas em uma tentativa de me irritar. Acabei rindo daquela infantilidade e deixei pra lá, porque o dia estava sendo legal demais pra começar a reclamar por alguma besteira. Assim que chegamos naquele narrowboat, uma das primeiras coisas que notei foi uma escada na lateral que levava até o telhado e era bem ali que eu queria “explorar”. O meu acompanhante deve ter percebido o que eu pretendia fazer, por isso até me ajudou a subir a pequena escada e me seguiu. Como o barco não estava andando tão depressa, nós conseguimos ficar de pé com facilidade. Olhando a paisagem pela primeira vez, constatei que não estávamos mais no mesmo lugar de antes, porque éramos rodeados por pinheiros e não haviam outros barcos por perto.
- Tá vendo só? – Abri os braços, indicando a nossa volta. – E nós estávamos perdendo essa vista linda do lado de dentro!
- Pois eu tinha uma vista linda desde que saímos da sua casa. – Sentou na metade do telhado e indicou para que eu fizesse o mesmo.
- Por que? – Eu já esperava por uma resposta meio “cheesy”, mas daria aquela chance à ele. Passei por Zayn para ficar na sua frente e me acomodei entre as suas pernas, encostando as costas em seu peitoral.
- Porque você se tornou tudo que eu via.
- Awwwwwwwn, que namorado mais lindo! – Ri ao ser envolvida por ele em um abraço apertado.
- Essa foi boa, não foi? – Devia estar pensando no mesmo que eu, porque começou a rir também.
- Foi ótima, baby! – Cruzei as pernas por ainda lembrar que estava usando saia e me acomodei mais no corpo de Zayn. – Posso te fazer uma pergunta?
- Claro que pode. – Encostou o rosto ao meu assim que deixei a minha cabeça cair pra trás e pousar no ombro do mesmo.
- Ontem, no Pub... Você gostou de cantar com os meninos, não gostou?
- Por que será que eu sabia que essa seria a sua pergunta? – Beijou a minha bochecha com carinho e eu fechei os olhos. – Mas sim, eu gostei... Foi algo diferente.
- Diferente é bom, certo?
- Certo. – Pude ver o seu sorriso porque parei de olhar pra frente e virei um pouco o corpo para o lado, encontrando seus olhos com os meus.
- Eu acho que poderia morar em um barco desses, sabia? – Mudei de assunto e dei uma batidinha no telhado embaixo de mim. – É tão sereno e quieto... Eu poderia me acostumar com o tamanho.
- Sério? Que bom, porque esse era o plano o tempo todo. – Passou uma mecha do meu cabelo pra trás da minha orelha e por um momento eu achei que falasse sério. – Bem vinda à nossa nova casa!
- Yay! – Comemorei entrando na brincadeira e abri os braços fazendo gestos entusiasmados. – Agora vamos poder navegar os sete mares, viajar pelo mundo inteiro... Dá pra imaginar que aventura seria?!
- Você tem falado muito sobre aventuras ultimamente... – Sorriu com o meu exagero, mas me estudava com atenção. – Por que?
- Eu tenho? Nem percebi... – Parando pra pensar, ele até que podia ter razão. – Lembra quando eu falei sobre o presente que o meu avô me deixou? E que eu achei há pouco tempo?
- A caixinha de música? – Se lembrou no mesmo instante do que eu estava falando e balancei a cabeça em afirmação.
- O caso é que... Dentro dessa caixinha tinha um bilhete. Só um pedacinho de papel mesmo, onde papá escreveu algo como “A vida é uma aventura” e que eu devia viver. – Olhei para os meus próprios pés ao falar aquilo, porque tinha medo de começar a chorar do nada. – Acho que isso acabou ficando na minha cabeça.
- É uma coisa boa pra ficar na sua cabecinha de vento... – Cutucou a minha testa novamente, me fazendo olhar pra ele.
- Cabecinha de vento? – Cruzei os braços, emburrada. – Por que isso agora?
- Só uma cabecinha de vento esquece de colocar a tampa quando está fazendo pipoca de panela...
- EI, ISSO SÓ ACONTECEU UMA VEZ! – Me exaltei, mas o maior motivo de preocupação veio depois: - Mas como é que você sabe disso?!
- Um passarinho verde me contou. – Deu de ombros se fazendo de desentendido e a sua expressão o denunciou.
- LIAM! – Estreitei os olhos e meu queixo caiu. – Eu já falei que não gosto dessa amizade que vocês dois estão tendo?
- Só porque nós ficamos falando de você o dia inteiro? – Zayn riu da cara que eu fiz ao escutar aquilo e tratou de se desmentir. – Mais uma vez, eu estou brincando, ! Você tem que parar de me levar tão a sério.
- Foi mal se eu acredito no meu próprio namorado, ok?! – Fiz mais drama que o necessário, já descruzando os braços. – Mas já que estamos falando sobre isso... Sobre o que garotos conversam? Por exemplo, em uma noite do pijama... Qual é o assunto?
- Pra começo... Nós não chamamos de “noite do pijama”. E depois, não é nada demais. Só conversamos sobre esportes, música, filmes...
- Bo-ring! – O interrompi entediada. – Vocês não falam sobre garotas? Fofocas? Novidades?
- Ahn... Nós somos garotos, . Então falamos sobre coisas de garotos.
- Ser garoto é tão chato! – Sim, eu parecia uma menina de cinco anos falando isso, mas pelo menos o fiz rir.
- Ser garoto é bem legal, sabia? – Puxou as minhas pernas com cuidado, mudando a direção do meu corpo e deixando-me completamente de lado pra ele. – Porque podemos fazer isso...
Colocou uma mão de cada lado do meu rosto, puxando-o para si com o mesmo cuidado que me girou. Minhas pálpebras pesaram instantaneamente e fechei os olhos enquanto inclinava e rosto para a esquerda, esperando o que estava por vir. Nesse caso, ser uma garota também era bem legal, porque eu pude segurá-lo pela nuca e entrelaçar meus dedos em seus cabelos. Entreabri os lábios no mesmo instante que pude sentir os dele sendo pressionados nos meus e me entreguei àquele beijo que eu tanto desejava. Dessa vez não havia problemas com o narrowboat ou espectadores que me separariam de Zayn e tenho certeza que ele sentia o mesmo. Minha única preocupação era sentir a respiração tranqüila dele que batia suavemente no meu rosto e os meus dedos ágeis que traçavam caminhos pelos braços e ombros do meu garoto. Porque naquele momento mais que em qualquer outro, ele era meu.
- Esses foram os 45 minutos mais rápidos que eu já vivi! – Ri baixo com um pouco decepção assim que o alarme do relógio de pulso de Zayn começou a apitar.
- Eu não me importo de comer pizza queimada... – Ainda com os olhos fechados, me impediu de levantar e tentou conseguir outro beijo.
- Mas eu me importo... – Resmunguei entre um selinho e outro. – Você se esforçou tanto pra fazer esse almoço...
- Tudo bem, tudo bem... – Juntou os lábios em um bico gigante na tentativa de me amolecer.
- Depois do almoço eu te dou quantos beijos você quiser...
- Babe, eu não quero iiiiiiiiir. – Acredite ou não, Zayn estava fazendo manha na varanda da minha casa enquanto me abraçava tão forte que eu quase perdi o ar.
- Eu sei disso... Mas é seu primo! Você tem que ir... – Acariciei as suas bochechas com os polegares e ele choramingou. – Além do mais, festa de aniversário sempre tem coisas gostosas pra comer!
- Então vem comigo?! – Sorriu com a própria idéia brilhante, mas a cara que eu fiz em seguida o desencorajou.
- Eu adoraria, de verdade. Mas nem conheço o menino... E é uma festa para a família!
- Mas você é família. – Zayn podia ser pior que ao me pedir alguma coisa, mas ele eu conseguia “controlar”.
- Não necessariamente! – Sorri de canto mesmo querendo pedi-lo pra ficar o resto da noite comigo.
- Mas eu estou com saudades... Quase não ficamos juntos hoje. – O bico não parecia querer sair da boca dele e tampouco o seu enlace em minha cintura.
- Baby, são oito horas da noite. Nós passamos o dia inteiro juntos hoje. – Ri baixo fazendo um pequeno cafuné em seus cabelos enquanto meu olhar admirava cada pequeno detalhe de seu rosto. – E por mais que eu vá sentir saudades no momento que entrar por essa porta, você tem que fazer o que é certo e ir para a festa do seu primo...
- Arghh. – Resmungou, me fazendo rir. – Ok.
- Isso mesmo! – Continuei rindo e o abracei com força, escondendo meu rosto em seu pescoço. – Aproveite e mande um beijo para a sua mãe e irmãs.
- Tem certeza que eu não posso entrar nem pra dar oi para os lads? – Retribuiu o meu abraço com ainda mais força.
- Eu digo que você mandou oi, porque se te deixar entrar aí, nunca mais sai! – O olhei sem partir o abraço, mantendo nossos rostos bem próximos. – Se divirta na festa, ok? Mas não muito...
- Vou me cuidar, . – Sorriu entendendo bem o que eu queria dizer e juntou os nossos lábios uma última vez. Ou talvez penúltima...
- Isso mesmo! – O enchi de selinhos demorados, tentando prolongar a nossa despedida. – Te deixar ir está sendo um pouco mais difícil do que eu esperava...
- Agora você me entende! – Riu baixo e eu finalmente o soltei.
- É melhor eu entrar primeiro. – Balancei a cabeça em negação, me dando mais coragem pra virar as costas e segurar na maçaneta da porta.
- Hey, ... – Sua voz me fez parar mais uma vez e apenas virar o corpo o suficiente para olhá-lo. – Eu te amo.
- Eu sei... – Sorri completamente entorpecida e segurei a maçaneta da porta com mais força, me proibindo de correr até lá. – Mas eu te amo mais.
Ambos já sabíamos como aquela discussão poderia se estender por horas, então preferi correr para o lado de dentro e guardar a última visão do sorriso bobo de Zayn no fundo da minha memória. Por sorte não havia nenhum espelho por ali, caso contrário eu teria me sentido ridícula com o sorriso mais bobo ainda que estampava a minha cara. Com suspiros e mais suspiros, encostei o meu corpo à madeira da porta fechada atrás de mim, esperando o ronco do Volvo de Zayn soar e mostrar que ele estava mesmo indo embora. Por mais que meu coração tenha se apertado um pouco, o certo era ele partir. Eu estava entrando naquela família, mesmo que aos poucos, e não queria ser conhecida como “a garota que não deixa o Zayn sair com os familiares.”
- Meu namorado é um sonho! – Uma voz feminina que eu não esperava escutar chamou a minha atenção. estava parada na entrada da sala e me olhava como se EU estivesse pensando aquilo que ela falou.
- Você ainda está aqui? – Rolei os olhos por não aguentar mais a presença da minha melhor amiga por ali.
- É claro que estou! Ei, onde você está indo?
A ruiva tentou me segurar quando eu parti em frente até as escadas. Mais que claramente ela ia me seguir, por isso não me preocupei em chamá-la ou coisa parecida. Eu sabia que os meninos estavam na sala, pois escutei as suas vozes, mas seria mais fácil lidar com sozinha e depois enfrentá-los. Todos ficavam super curiosos pra saber tudo que acontecia na minha vida, mas se fosse o contrário eu também gostaria de saber de tudo. Meu quarto estava bem mais arrumado do que antes e por isso a pseudo-moradora devia ganhar um prêmio. Ninguém falaria que um furacão vermelho passou pelo closet afim de separar as roupas que eu ainda usava, tamanha era a organização do cômodo.
Ainda com o sorriso no meu rosto e um pouco mais contente com a presença de , joguei minha bolsa e casaco em cima da escrivaninha. Em seguida, pulei deitada na cama e encarei o teto sem falar nada. Conhecendo a outra garota, ela devia estar cheia de perguntas e se roendo de curiosidade. A observei se aproximar e sentar na cama para me ajudar a tirar os meus sapatos, ação que me espantou demais. Estiquei as pontas dos pés e escutei um estralo, como se eles estivessem agradecendo pela liberdade. A minha ajudante se deitou ao meu lado e apoiou o rosto nas mãos, me encarando cheia de perguntas no olhar.
- E então? – Ergueu uma sobrancelha.
- Oi, ! – Sorri me fazendo de besta. – Quanto tempo!
- Para de enrolar, ! Pode começar a falar. – Bufou e usou um travesseiro pra bater em mim. – Como foi o passeio?!
- Outch, ei! Sem violência, por favor. – Ri e abracei o objeto fofo depois de ser atingida por ele. – Foi tão lindo, ... Tudo foi perfeito. Não sei nem por onde começar a falar, porque todas as partes foram as minhas preferidas.
- Awwwwwn, que gracinha! – Sentou-se de joelhos e sorriu de orelha à orelha. – E aonde vocês foram?
- Sabe que eu não sei?! Ficamos rodando pelo canal... Começamos e terminamos em um lugar chamado Little Venice. – Dei de ombros, até porque não prestei muita atenção no caminho que fizemos. – Demos a volta completa, por isso levamos quase o dia inteiro...
- Zayn disse que vocês iam passear de barco, mas não especificou! Little Venice é lindo, né?
- Tudo foi lindo, . Principalmente a companhia. – Suspirei e cobri o rosto com o travesseiro. Eu já estava acostumada a falar daquelas coisas com a minha amiga, mas não deixava de ficar vermelha em nenhuma das vezes.
- Só tem uma coisa que eu quero te perguntar... – Não precisei olhá-la pra saber o que vinha pela frente. – Aconteceu?
- Claro que não! – Deixei o travesseiro de lado e me sentei na cama. – Nosso passeio não foi pra isso... Foi? Você acha que era o que o Zayn queria? Quero dizer, nós estávamos sozinhos no meio do nada... E tivemos alguns momentos mais quentes... Ai, meu Deus, esse era o plano não era?
- Dá pra parar de se desesperar? – riu da minha preocupação. – Zayn não falou nada disso pra mim e nem pro Niall, então acho que se o objetivo dele fosse esse, você saberia.
- Eu acho que sim... – Respirei fundo.
Aquele assunto já não me deixava tão nervosa e apreensiva quanto antes, tanto é que eu já não corria e não parava Zayn do nada durante os nossos amassos. Só acho que a oportunidade e o momento ainda não haviam chegado porque, por mais que eu não fosse propriamente virgem, queria que tudo fosse... Especial. E com isso eu não quero dizer que a nossa comemoração de um mês de namoro não foi especial; só acabou não rolando. Eu e Zayn não precisávamos dessa demonstração carnal, porque só estarmos juntos, nos divertindo e felizes um com o outro era o suficiente. Eu sabia que o sexo viria como um bônus consequentemente, mas nenhum de nós precisava daquilo pra se afirmar na relação. Nós tínhamos isso de diferente de e Niall, porque os dois pareciam considerar “aquilo” como parte fundamental do namoro. Não vou julgar qual maneira é a correta ou a mais provável de dar certo, já que éramos todos diferentes. O importante mesmo era que ninguém estava insatisfeito em suas devidas situações.
também aprendeu a maneirar nos comentários maldosos ou explícitos demais, respeitando o meu espaço e me apoiando em qualquer coisa que eu falasse. Ainda era entranho vê-la falando sério e sendo honesta mesmo quando eu não queria escutar certas coisas, entretanto, isso mostrava que o relacionamento entre nós duas também estava amadurecendo. Ela me contou tudo sobre o próprio dia, ficando bem animada na parte que disse que ganhou todos os meninos quando jogaram Rock Band – mesmo que eu ainda duvide muito, mas enfim. Fez questão de passar na minha cara que Liam não perguntou de mim uma vez que fosse e aquilo me incomodou um pouco, mas não soube explicar o motivo. Harry, por outro lado, teve ataques de ciúme e ameaçou várias vezes me ligar e pedir para que eu voltasse mais rápido. E o pior era que eu também senti falta do meu cupcake e de todos os outros, mas a presença de Zayn tomava conta de tudo que eu via, de tudo que era o necessário pra mim. Vai ver é por isso que falam que o amor é cego... Porque eu ficava cega ao lado dele.
Minha seção “girl talk” foi interrompida pelo toque do meu celular apitando dentro da bolsa. Por mais que eu pedisse para esticar o braço e pegá-la pra mim, a ingrata se fez de preguiçosa e não me fez aquele favor. Como a minha curiosidade sempre foi maior que tudo nesse mundo, me arrastei pra fora da cama e fui até a escrivaninha, puxando a cadeira pra poder me sentar. Não me leve a mal, eu não sou uma sedentária; é só que minhas pernas estavam cansadas de todo esforço que fiz durante o dia. Como a bolsa não estava cheia, achei o iPhone em poucos segundos, vendo na tela que eu recebera uma mensagem:
Capítulo XLVII
O que eu chamo de aproveitamento do dia é quando você só tem uma aula durante a manhã e usa o resto dela pra ensaiar outras coisas ou adiantar um trabalho. Tendo dito isto, vamos parar pra analisar o “professor” Collin, que ficou me esperando do lado de fora da sala até que a minha aula particular se encerrou: O diretor da peça me perseguia em todos os intervalos pra dar dicas ou fazer comentários relacionados ao roteiro que eu já devia ter decorado e eu fingia estar com tudo sobre controle, mesmo que ainda não estivesse nem na metade de onde eu deveria estar. Naquela terça feira, infelizmente, eu não consegui fugir e muito menos me esconder, pois Colin ficou na porta do banheiro quando eu tentei usar a desculpa de que precisava trocar o collant de ballet pelas minhas roupas normais. Claro que demorei mais que o necessário, na esperança que ele fosse embora. Sei o que você deve estar pensando: “Nossa, essa garota sofreu tanto pra conseguir o papel principal e agora não dá valor?” Eu dou valor sim, ok? Acontece que o dia da minha reunião com o homem era só na quarta feira e eu ainda tinha sanidade mental suficiente pra saber que ainda faltavam pelo menos 24hrs até a chegada daquele dia. Ou quase isso...
Por outro lado, trabalhar com Nick estava se tornando cada vez mais fácil e ele não me olhava como mais que amiga de forma alguma; até porque parecia ter se afirmado com Holly. Os dois formavam um casal extremamente fofo, principalmente quando a professora ficava desconcertada ao lado dele e acabava exagerando ao tentar disfarçar, o que acabava deixando mais na cara ainda. Perdi a conta de quantas vezes salvei a pele dos dois, inventando desculpas ou falando que o garoto estava comigo quando, na verdade, estava com a docente. Desenvolvemos uma amizade verdadeira da forma mais improvável possível, mas acabou acontecendo e eu ficava feliz com isso. Claro que eu não podia comparar com a amizade que eu tinha com os outros meninos, mas ainda assim era boa. Nós dois nos apoiávamos durante os ensaios e Nick sempre conseguia me fazer relaxar quando eu parecia estar cobrando muito de mim mesma. Ele era tão perfeccionista quanto eu e estava naquele ramo há bem mais tempo, por isso parecia sempre ter um bom conselho pra me dar.
Nós dois estávamos em cima do palco do auditório, encenando o momento em que Julieta vê Romeu pela primeira vez. Ou pelo menos tentando... Porque se eu não sabia o roteiro inteiro ainda, imagine o meu parceiro. Por sorte, além de nós dois, apenas o diretor estava por ali. Aliás, quando dizem que as aparências enganam, você deve acreditar. Antes eu costumava achar que Collin era do tipo malvado e que não escutava ninguém, mas isso logo se provou ser mentira. Ele aceitava sim os nossos palpites e não exigia nada além do que nós poderíamos dar. O problema é que aquela manhã eu não era a única sem vontade de ensaiar, então não estávamos rendendo nada.
- Onde está a profissionalidade? – Colin estava em algum dos bancos do auditório, mas eu não conseguia enxergá-lo devido a pouca luminosidade.
- Desculpa, diretor! Mas eu não posso trabalhar assim! – Tentar segurar o riso enquanto Nicholas faz palhaçadas era praticamente impossível, por isso tive que me encostar à cadeira que havia sido colocada sobre o palco.
- Não me olhe assim, , foi você quem não seguiu a deixa! – Nick tentou se defender.
- E desde quando dar uma pirueta e falar “OLÉ” é uma deixa? – Lembrar daquela cena não foi nada legal, porque eu desatei a rir novamente. – Eu devia ter começado uma dança espanhola? Da próxima vez vou trazer castanholas então!
- Mi arrendo, huh! – O diretor se levantou abruptamente, seguindo para a porta de saída sem falar mais coisa alguma.
- Desde quando ele fala espanhol? – Nick se aproximou de mim e cochichou.
- Isso é italiano. – Dei um tapa de leve em sua testa, com a maior cara de “para de ser lerdo”. – Podemos ir embora, ou ele vai voltar?
- Acho que ele não vai voltar... Mas devemos sair daqui logo. – Correu até a ponta do palco e saltou para o chão, me esperando segui-lo. – Só por precaução...
- Tem razão! – Fiz o mesmo caminho que Nick e também pulei, negando qualquer ajuda da parte do mesmo.
Alcancei a minha bolsa em uma das primeiras cadeiras do auditório e saímos correndo como dois fugitivos. O medo de ter que passar mais uma hora ali dentro era grande demais. Já devia passar do meio dia e o meu estômago implorava por comida, mas essa era a menor das minhas preocupações. O pobre do meu namorado devia estar me esperando na escadaria, porque era isso o que tínhamos combinado antes de eu ser raptada pelo diretor Collin, e estar com Nick quando deveria estar com ele não ajudaria o meu caso. Como eu não tinha culpa, esperava que tudo ficasse bem. Meu amigo me seguia quando passei de fugitiva para espiã secreta, averiguando se havia algum sinal de “perigo” quando passamos pelas portas de madeira do auditório. O corredor estava completamente vazio, então pudemos relaxar e parar de correr.
- Hey, ... – Nick diminuiu o passo, coisa que fazia quando queria me falar alguma coisa. – Você viu que companhia vai estar se apresentando aqui no fim do ano?
- Companhia? De ballet? – Me virei de frente pra ele, parando de andar completamente. Ao se tratar desses assuntos eu ficava um pouco desesperada.
- Bolshoi... – Aquela palavra foi o suficiente pra me fazer arregalar os olhos e segurá-lo pelos ombros.
- TÁ BRINCANDO COMIGO? – O balancei. – E quando os ingressos vão começar a ser vendidos?!
- Essa é a parte ruim... Não vão. – Minha animação foi pelo ralo quando Nick cortou o meu barato. – É uma apresentação especial, só pra convidados... Então os convites não vão ser comercializados.
- Que droga! – O soltei e cruzei os braços. A companhia de ballet do Bolshoi era simplesmente uma das maiores do mundo e seus espetáculos conhecidos até por quem não era do ramo. Eu sabia que eles estariam passando pela Inglaterra em alguma data próxima, mas o que Nick falou tirou todas as minhas esperanças de assisti-los. – Vai ser tão perfeito...
- Não se preocupe... Eu te conto como foi, ok? – Voltou a andar, me deixando pra trás e super confusa.
- VOCÊ VAI?! – Quase gritei e a minha voz ecoou pelo ambiente, seguida pelo barulho dos meus passos apressados para acompanhá-lo.
- Eu consegui dois convites, porque minha mãe está ajudando uma das organizadoras. – Se divertia com o meu sofrimento. – Mas nem me olhe assim, porque eu já chamei a Holly pra ir comigo.
- Que amigo mais legal que você é! – Fiz um bico enorme, mas não teria jeito. É claro que ele levaria a namorada ao invés de mim, por mais que meu lado egoísta discordasse.
- Dizem que até a rainha vai estar lá... – Apimentou a minha raiva e eu tive que redobrar as minhas táticas de controle psicológico.
- A rainha? – Choraminguei. Nick afirmou que sim com a cabeça e finalmente chegamos ao lado de fora da Academy. – Eu te odeio, Nicholas.
- Eu também te amo, . – Falou alto demais pro meu gosto, me deixando sem entender o uso de seu tom de voz.
Digo... Sem entender até eu ver quem estava parado ali perto: Zayn. Algo me dizia que um não ia com a cara do outro e Nick provavelmente falou sua última frase só como provocação. Eu senti vontade de bater nele ou pelo menos empurrar escada a baixo, mas me resumi a ignorá-lo e andar até o meu namorado. Zayn aparentava não ter escutado as palavras do meu possível-futuro-ex-amigo, pois sorriu e também fez um caminho até onde eu estava.
- Por que demorou tanto? – Me puxou para um abraço e não me deixou responder até tascar um beijo nos meus lábios. – Você está tão linda hoje, sabia? É a namorada mais linda! A minha namorada mais linda.
- Calma, baby. – Ri daquela marcação de território mais que óbvia e balancei a cabeça. – Eu demorei porque estava com Nick e Collin. O diretor continua em cima de mim.
- Nick? Oh, é, eu nem te vi aí... – Acenou para o menino que estava atrás de nós, mas não deu muita importância.
- Tudo bem, eu já estou indo embora mesmo... – Nicholas também não fazia questão de conversar com ele e eu só queria que aquele momento constrangedor acabasse. – Tchau, ... Chegue cedo amanhã, ok? E não esqueça das castanholas.
- Ah, pode deixar! – Me virei do jeito que pude, porque Zayn não me soltou e muito menos me deixou despedir-me direito do outro garoto. – Até amanhã, Nick.
- Até amanhã, Nick. – Zayn afinou a voz e me imitou, fazendo-me rir daquele ciúme. – Não gosto desse cara.
- Baby, pode parar. – O reprovei com o olhar, torcendo para que Nicholas já tivesse ido embora e não pudesse escutar. – Eu sei que você não vai com a cara dele, mas...
- Vai defender esse garoto? – Soltou o meu corpo e cruzou os braços, sério.
- Não vou defender ninguém! Só estava falando que ele é meu amigo, então eu gostaria que um pudesse ficar na presença do outro por mais de cinco minutos. – O envolvi pelo pescoço procurando o seu olhar, mas ele virou o rosto na direção oposta. - Sabe no que eu estava pensando durante o ensaio inteiro?
- Em como Nicholas é um bom ator? Em como ele é o seu par perfeito?
- Não! – Rolei os olhos tentando não rir. O segurei delicadamente pelas laterais do rosto, obrigando-o a olhar pra mim. – Eu só conseguia pensar em como queria que aquilo acabasse logo, porque tudo o que eu queria era estar aqui fora, com você. Na verdade, não importa onde eu esteja porque só o que eu realmente quero fazer é estar com você.
- O tempo todo? – Falou baixinho, meio que sem querer se dar por vencido.
- O tempo todo! – Sorri e rocei os lábios nos dele, com cuidado. – Por falar nisso...
- Hm? – Meus carinhos o fizeram desmanchar a cara amarrada e até mesmo fechar os olhos.
- Você tem mesmo que ficar aqui hoje à tarde? – Trocamos alguns selinhos calmos, como se eu estivesse tentando fazê-lo mudar a resposta que eu já sabia que iria receber.
- Tenho... – Bufou baixinho. – Ed pediu ajuda com umas coisas... Mas se você pedir com carinho, sabe que eu esqueço tudo que ele pediu...
- Sei... E é por isso mesmo que eu não vou pedir! – O beijei na ponta do nariz e nos afastei alguns centímetros. – Não quero que Ed me fique com raiva de mim, porque depois quem vai acabar sofrendo com ele sou eu!
- Besteira. – Riu e começou a brincar com os fios da minha beanie. – Você vai mesmo sair com os meninos?
- Só com o Hazza e o Li. – Mordi o lábio inferior ao mesmo tempo em que dei um sorriso. – Vamos comprar a nossa árvore de natal!
- Você sabe que ainda estamos no começo de dezembro, né? – Rio da minha animação e bateu na minha testa com a bolinha felpuda que brincava.
- Sei, duuh. – Afastei as mãos dele do meu rosto e entrelacei nossos braços, andando até o começo da escada. – Mas se demorarmos muito, todas as árvores boas vão acabar. E sim, eu sei que é algo bobo, mas montar a árvore de natal sempre foi algo importante pra mim...
- Nada que vem de você é bobo... – Começou a rir no mesmo instante em que terminou de falar e eu só fiz careta.
- Idiota! – Bufei. – Pelo menos você vai almoçar com a gente, né?
Depois de ser levada pra almoçar por Zayn, Liam e Harry, eu e os dois últimos partimos em nossa missão de procura à árvore perfeita! Como não fui de carro até a Academy, meu namorado foi a minha carona até o restaurante e em seguida o resto de nós pegou o Range Rover que costumava ser de Louis, mas acabou se tornando “o carro da família”, porque todos os meninos o usavam. Tudo teria sido bem simples se Harry ou Liam quisessem dirigir e eu tivesse ido no banco de trás como sempre, entretanto, os meninos acharam que estava na hora de eu começar a aprender a dirigir um carro inglês. Pense no meu desespero, porque a única vez que eu dirigi um carro com o volante do lado direito foi quando tive que levar o carro de Zayn até a minha casa. Se já foi complicado com as ruas vazias por ser madrugada, imagine agora que era o horário que as pessoas voltavam para o trabalho depois de sua hora de almoço.
- Você vai entrar na primeira direita após o semáforo, ok? – Harry apontou o caminho, já que ele era quem conhecia o lugar para onde estávamos indo e estava no banco ao meu lado.
- Se esse trânsito resolver andar... – Afirmei com a cabeça e buzinei, colocando a cabeça pra fora da janela em seguida e gritando: - ANDA LOGO!
- Meu Deus, ! Eu já pedi pra você parar de gritar com as outras pessoas. – Liam reclamou, se abaixando no banco de trás. – Alguém ainda vai sair do carro e vir aqui tirar satisfações com você.
- Podem vir! É COM VOCÊ MESMO QUE EU ESTOU FALANDO! – Gritei mais uma vez para o carro vermelho na minha frente, já que o motorista colocou o braço pra fora e me mostrou o dedo do meio. – Vocês dois é que me mandaram dirigir esse carro, então aguntem!
- De quem foi essa idéia mesmo? – Harry se divertia com os meus ataques e eu também. Ele encarou Liam pelo retrovisor, o culpando por ter tido essa idéia maravilhosa de me deixar dirigir.
- Eu admito que posso não ter pensado direito nisso...
- FINALMENTE! – Exclamei alto uma última vez quando os carros voltaram a andar. Eu estava sendo “chata” de propósito, é claro, apenas pra me vingar daquilo que estava sendo obrigada a fazer. Harry era o único que sabia disso, portanto era o único rindo dentro do carro, deixando um Liam confuso e tenso.
Assim que dei partida novamente parei de buzinar e gritar, me tornando a motorista pacífica que sempre fui. Dobrei à direita como fui aconselhada e depois fui em frente, por uma rua estreita, mas vazia. Liam já conseguiu sentar-se direito sem se esconder de possíveis motoristas que quisessem vir “tirar satisfações” por causa do meu mau comportamento e até começou a cantarolar uma música natalina, nos fazendo entrar no clima. Vez ou outra eu o espiava pelo espelho do retrovisor, sem nunca deixar que ele me notasse fazendo isso, apenas para admirá-lo se divertir e ser ele mesmo. Esses eram um dos momentos que eu me perguntava o que tinha de errado comigo e me convencia de que era um comportamento completamente normal entre dois amigos.
- Chegamos! – Hazza me fez voltar meus olhares para a rua e apontou para uma floricultura ou coisa assim, cheia de placas com desenhos de árvores e propagandas natalinas. – Tem uma vaga ali na frente... Ei, onde você está indo?
- Só nos seus sonhos você acha que eu vou conseguir estacionar ali! Já viu o tamanho desse carro? – Um motorista mais experiente até que estacionaria com destreza e técnica, mas eu? Só em sonhos! Meu carro era bem menor que o Range e ainda assim eu teria um pouco de dificuldade. – Vamos procurar um pouco mais...
- Você não vai encontrar outra vaga por aqui, . Não sei nem como encontramos aquela...
- Mas, Haz...
- Pode dar ré, não tem nenhum carro vindo...
- Eu não consigo...
- Consegue sim, é só andar logo...
- Tive uma idéia melhor! – Pisei no freio de uma vez. Toda essa pressão estava me deixando louca, então eu tinha que fazer alguma coisa. – Você estaciona lá e eu espero os dois na floricultura, ok?
- Você não pode parar o carro no meio da rua! – Liam chamou por mim, mas foi inútil.
Eu “estacionei” o veículo no meio da rua mesmo e nem me importei. Não estava brava nem irritada, só não agüentava mais ninguém me dando ordens ou me pressionando pra fazer coisas que eu não queria! Pareço mimada, sei disso, mas que seja! Tirei o cinto de segurança e abri a porta do carro, correndo para a calçada antes que algum dos meninos resolvesse me impedir. Só quando eu estava em uma distância segura, pude olhar pra trás e ver que Harry pulou para o meu lugar e já dava meia volta pra estacionar na tal vaga em frente à loja. Ele era o melhor motorista entre nós, mesmo sendo o mais jovem. Em menos de cinco minutos, o Range estava perfeitamente encaixado na vaga pequena demais e os garotos se juntavam a mim.
- Você é doida, . – Liam foi o primeiro a chegar e passou o braço pelos meus ombros, fazendo-me dar as costas a Harry e seguir para dentro da loja. – Mas eu gosto.
- Que mentira, Leeyum! Não sou doida... – Fiz bico, mas o abracei pela cintura.
- Vocês dois aí... – Hazza gritou e nós demos meia volta para olhá-lo. – É por aqui.
- Ah, eu sabia disso! – Separei o abraço, mas puxei Liam ela mão, indo na direção contrária. – Só foi um teste.
- Aham... – Liam riu atrás de mim, me seguindo para uma porta de onde se lia: “Árvores de Natal”.
Harry ganhou uma cara de “Claro que foi só um teste” e passou primeiro pela porta, fazendo eu e Liam segui-lo sem falar mais nada. Continuamos de mãos dadas até chegarmos no interior de uma estufa que era, no mínimo, gigante. Ali dentro havia fileiras e mais fileiras de pinheiros de todos os tamanhos, cores e tipos. Eu nem sabia que existiam tantas espécies assim... O chão era todo coberto por folhas e galhos, nos dando a impressão de estar dentro de uma floresta de verdade. O teto era coberto por um vidro fosco que quase não nos deixava ver o lado de fora e as paredes eram altas e coloridas. Meu queixo caiu um pouco, porque eu fiquei encantada com aquele lugar. Comecei a andar entre uma árvore ou outra, sem me afastar muito, e meus olhos já procuravam aquilo que eu pretendia encontrar.
- Em que posso ajudá-la? – Um senhor baixinho surgiu de trás de uma árvore próxima a mim e eu me assustei um pouco. – Perdoe-me, senhorita. Não pretendi assustá-la.
- Não problema... Eu só não estava esperando... Não tem problema. – Me senti envergonhada e só queria puxar a minha touca até o queixo e me esconder.
- Walter, certo? – Harry e Liam se aproximaram, ficando de cada lado. – Eu vim com a minha mãe aqui no ano passado e nós compramos uma árvore com você.
- Oh, sim, eu me lembro! Você comprou a minha Astória. – Tocou o queixo pensativo e depois sorriu.
- Astória? – Liam perguntou com a sobrancelha arqueada.
- O pinheiro se chamava Astória. – Harry explicou.
- Você dá nome pra todas as árvores? – Dar nomes tudo bem, mas depois se lembrar de cada um? – Isso é incrível!
- Isso é loucura. – Liam sussurrou na minha orelha pra que o senhor não escutasse e eu o repreendi com o olhar.
- Suponho que vieram procurar um pinheiro, certo? – Walter se virou e começou a andar, nos fazendo ir atrás. – Tenho certeza que vão encontrar o que procuram... Os maiores ficam por ali e os menores do outro lado. Fiquem a vontade!
- Tenha cuidado, ... Ele pode conversar por horas. – Hazza fez uma cara engraçada, mas eu percebi que ele falava sério.
- Tá bem... – Afirmei com uma risada discreta.
- Quase me esqueci! Aceitam bengala de açúcar? – O homem virou de uma vez e nos estendeu o doce vermelho e branco. Mamãe ensinou a nunca aceitar doce de estranhos, mas naquela altura nós já nos conhecíamos muito bem, certo?
- Obrigada! – Minha primeira comida natalina do ano! Ahh, como eu sempre amei esses docinhos! Peguei uma das bengalas de açúcar e já a virei de cabeça pra baixo, mordendo a ponta.
- Eu também aceito... – Liam se serviu e entregou a última a Harry.
- Por falar nisso, vocês sabem como esses docinhos surgiram? – O homem voltou a andar e eu logo entendi o aviso de Harry. – Há muitos e muitos anos atrás, em um vilarejo não muito longe daqui...
Não acredito que vou ter que ficar escutando essas histórias! Assim vamos passar o dia inteiro aqui...” Era só o que me faltava! Olhei para os lados procurando alguma forma de escapar. Pelo jeito que Harry diminuiu a velocidade dos seus passos, ele pensava na mesma coisa que eu. Nos entreolhamos e ele apontou a sua esquerda com a cabeça. Tentei chamar Liam, mas ele muito próximo de Walter; era arriscado demais. Tive pena de deixá-lo pra trás, mas não tinha outra escolha. Antes que eu pudesse perceber, Harry agarrou o meu braço e me puxou para onde tinha apontado. Nos escondemos atrás de uma árvore alta até ter certeza que a barra estava limpa e que ninguém nos procurava.
- Pobre Liam... – O olhei uma última vez antes de me virar para o outro garoto. – Perdemos um grande amigo.
- Foi por uma boa causa. – Tocou o meu ombro em consolação. – Vamos ao que interessa?
- Você acha que existe alguma árvore com o meu nome? – Entrelacei o braço ao dele e já comecei a olhar para os lados.
- não é nome de árvore...
- Então qual é um bom nome pra uma árvore? – Atravessei alguns corredores, tentando procurar árvores não tão gigantes quanto àquelas perto de mim.
- Não sei... Folhuda?
- Folhuda? Quantos anos você tem, Haz? – Ri daquela resposta que uma criancinha de cinco anos teria dado.
- Senhora Folhuda. Porque não? – Também riu.
Para andar mais rápido, nós dois resolvemos nos soltar e realmente prestar atenção nos pinheiros a nossa volta. Ele foi para um lado e eu para o outro, mas ainda conseguíamos nos olhar e conversar sobre qualquer coisa que passasse pela nossa cabeça. Ele me contou sobre o trabalho na padaria e de todas as receitas que tinha aprendido, prometendo que testaria algumas em casa. Eu fiquei morrendo de vontade de comer o muffin de blueberry, só pra constar.
Respirei fundo várias vezes, só pra sentir o cheiro de natureza me invadir, trazendo consigo ainda mais do espírito natalino. O natal em si sempre foi a minha comemoração preferida, porque é a mais cheia de tradições e costumes. Decorar a árvore de natal era a primeira tradição e com certeza a mais divertida, porque todo ano ela acaba sendo diferente e cada vez mais linda e cheia de coisas. Sem falar dos presentes que guardamos embaixo... Ahh, os presentes! Isso me lembrava que eu ainda não tinha comprado os presentes de ninguém e tinha que fazer isso antes que as lojas ficassem cheias. Mais uma vez a diferença entre o meu país de origem e aquele meu lar atual era muito grande, mas graças aos finais de ano que passei na casa do meu pai eu já era bem familiarizada com o natal inglês e até tinha algumas idéias pra juntar as duas culturas. Me perdi em pensamentos enquanto tocava algumas folhas com as pontas dos dedos, totalmente distraída.
- Last Christmas I gave you my heart, but the very next day you gave it away. (No natal passado, eu te dei meu coração, mas no dia seguinte você se livrou dele.) – A voz de Harry me trouxe de volta para o presente. Ele estava cantando baixinho, mas eu ainda conseguia escutá-lo. – This year to keep from tears, I’ll give it to someone special. (Esse ano, pra me impedir de chorar, eu o darei para alguém especial)
- “Once bitten and twice shy”, (“Gato escaldado tem medo de água fria”) I keep my distance but you still catch my eyes… (Eu mantenho distância, mas você ainda chama a minha atenção) - O peguei de surpresa começando a cantar também. Eu podia não ter uma voz como a dele, mas ainda gostava de arriscar. Haz riu assim que viu o que eu estava fazendo e andou ao meu lado, com as árvores baixas entre nós. – Tell me, baby. Do you recognize me? Well, it’s been a year. It doesn’t surprise me. (Me diga, baby. Você me reconhece? Bem, já faz um ano. Isso não me surpreende.)
- I wrapped it up and sent it, with the note saying “I love you”. I meant it. (Eu embrulhei e enviei, com um bilhete dizendo “Eu te amo”. Era verdade.) – Continuou a música, dessa vez um pouco mais alto. A sua voz rouca ecoava pelo espaço e eu acabei sorrindo demais. – Now I know what a fool I’ve been, but if you kissed me now I know you’d fool me again. (Agora eu sei como fui bobo, mas se voê me beijasse agora, eu sei que me enganaria de novo)
- Crowded room, friends with tight eyes. (Quarto cheio, amigos com olhos cansados.) Hiding from you and your soul of ice. (Me escondendo de você e dessa sua alma de gelo) My God, I thought you were someone to rely on… (Meu Deus, eu achei que você fosse alguém que eu podia confiar) - Naquele ponto eu já estava me divertindo e imaginando que tudo era a gravação de um clipe, por isso exagerei na interpretação e só faltava começar a dançar. – Me? I guess I was a sholder to cry on... (Eu? Acho que eu fui um ombro pra chorar)
- Last Christmas I gave you my heart, but the very next day you gave it away! (No natal passado eu te dei o meu coração, mas no dia seguinte você o jogou fora) – Curly entrou na onda e também dramatizou, levando uma mão ao peito como se seu coração estivesse partido.
- Então é aqui que vocês estão?! – Liam imitou Walter e apareceu do nada, quase me fazendo esbarrar nele. – E estão cantando?
- Oops. Fomos flagrados, Hazza. – Gargalhei e tentei me esconder atrás de um pinheiro.
- Foi essa sua voz desafinada que o atraiu! – Tirou uma com a minha cara, ganhando um tapa na testa em troca. – Ai!
- Bem feito! – Liam devia estar do meu lado. – Acharam alguma coisa?
- Todas são lindas, Li. Não sei como me decidir...
- Ótimo, porque eu achei a perfeita... – Me pegou pela mão e indicou o caminho. – Enquanto eu aprendia como surgiu a primeira árvore de natal, encontrei um pinheiro que vocês vão gostar...
- Pelo menos foi um passeio instrutivo, não? – Harry tentou amenizar a nossa culpa por tê-lo abandonado, mas o olhar que Liam lhe deu não foi nada amigável.
- Foi mal por isso... – Eu devia ser a única que me sentia genuinamente mal por tê-lo abandonado, já que Haz só fazia rir.
- Até que enfim vocês chegaram! Eu já estava preocupado. – Lou abriu a porta de casa depois de escutar a buzinada que eu fiz questão de dar só pra anunciar nossa chegada. – Não tinha uma árvore maior?
- Por mais que eu aprecie a sua ironia, Boo Bear, essa árvore foi a que nós gostamos mais. – Desci do carro e joguei as chaves pra Liam. – E o nome dela é Berenice.
- Berenice? – Fez uma cara bem estranha se aproximando no veículo pra ver melhor o pinheiro que estava amarrado ao capô do carro.
- Não pergunte. – Harry balançou a cabeça em negativa e segurou uma ponta da corda, já que ele estava ajudando o outro menino a libertar a árvore.
- Tirem a Berê daí e eu já volto, ok? – Mandei beijos no ar e saí correndo antes que alguém me parasse.
- Onde você...
Sei que Louis gritou por mim, mas não fiquei lá pra saber o que ele queria. Aproveitei para saltar os degraus até a varanda de e entrada e me esquivei porta à dentro. Na hora de colocar o pinheiro em cima do Range eu quase quebrei um braço, então não queria passar pela mesma situação duas vezes. Ok, eu posso ter exagerado um pouco, pois no máximo quebraria uma unha, mas isso não vem ao caso agora. Continuei em frente até chegar no corredor do segundo andar, dessa vez sem correr, e entrar no meu quarto. Tirei os sapatos para ficar confortável, permanecendo de meias, e sentei na cama. “Celular, celular, cadê você?” Revirei a minha bolsa a procura desse objeto que sempre dava um jeito de ir parar nas profundezas mais obscuras, mesmo que eu o deixasse apenas em um lugar exato. “AHÁ!” Consegui agarrar o iPhone e deslizar o dedo pra destravar a telinha. Toda essa minha correria pra dentro de casa tinha um propósito (além da minha falta de vontade em ajudar com o pinheiro). Selecionei um número conhecido e digitei a seguinte mensagem:
“Hey, love! Eu estava falando de você agora mesmo. Ed está sendo legal como sempre e te mandou oi. Tenho certeza que você escolheu uma árvore bem legal, me manda uma foto depois?”
“Preferia que você mesmo viesse ver a árvore, mas se prefere uma foto...”
“Quando eu for aí, a última coisa que vou querer ver é essa árvore.”
“Nesse caso eu mando quantas fotos quiser! Haha. Mas o que falava de mim?”
“Nada de mais... Só que eu já sei a música que você vai ter que cantar na peça.”
“WAIT, WHAT? Sério? Qual?”
“Não posso te falar... Amanhã o Ed vai te mostrar. Ele se ofereceu pra acompanhar o seu ensaio.”
“Ele se ofereceu ou você pediu pra ele ficar de olho em Nick?”
“Tem alguma diferença entre as duas coisas?”
- , Lou mandou avisar que vamos começar a decorar sem você... – Liam apareceu na porta do quarto com um sorriso enorme, mas ao mesmo tempo parecendo exausto.
- Podem tratar de me esperar! Ninguém começa sem mim. – Exclamei balançando um braço pra que ele fosse avisar aos outros pra me esperar. – Já estou indo, ok?
- Vou dar um jeito nos dois. – Piscou como se tivesse tudo sob controle e foi embora.
“Ed também está me chamando, ele quer que eu afine os violões. Argh. Posso te ligar quando chegar em casa?”
“Ficarei esperando... Boa sorte aí. Je t’aime, mon amour.”
“Love you too, beautiful.”
Com o sorriso bobo que todos já esperávamos, guardei o celular no bolso da calça e tirei a touca do meu cabelo. Por sorte ele não estava muito bagunçado, por isso só o prendi em um coque alto. Agora sim eu estava super confortável e pronta para as horas de arrumação que me aguardavam. Diferentemente do que eu achava, Liam não desceu para falar com os outros meninos, pois ele acabava de sair do quarto de meu irmão carregando uma caixa. Pelo que pude ler na lateral, era uma entrega do correio e o remetente vinha de Paris. Meu sorriso se tornou ainda maior quando eu me toquei do que era aquilo: As antigas decorações que estavam guardadas na casa de vovó. Nana tinha decidido que não iria montar uma árvore de natal esse ano, por motivos um pouco óbvios, e como passaria o feriado na casa de Dan e sua família junto com a minha mãe, fez questão de mandar todos os apetrechos que nós quatro poderíamos precisar para a nossa própria festa.
Liam desceu as escadas primeiro e eu o segui. Ele não devia estar vendo nada pela frente, por causa da caixa que tapava a sua visão. Como a boa amiga que sou, depositei minhas mãos em seus ombros pra dar-lhe um pouco de direção; ou pelo menos foi essa a desculpa que eu usei para tocá-lo. Li também não se importou nada quando eu o apertei de leve em uma massagem discreta. Harry e Louis nos olharam quando entramos na sala e eu pude sorrir satisfeita com o pinheiro que havíamos comprado. A árvore estava no canto da sala, perto da parede e entre o sofá e a estante da televisão. Sua folhagem era bem verde e seus galhos fortes e um pouco compridos; sua altura era maior que a minha, então eu não seria a pessoa ideal pra decorar o topo. Harry pegou a caixa de Liam e colocou ao lado de outra que ele mesmo trouxera da casa de sua mãe, onde eu li a palavra “pisca-pisca”.
- O que é isso, Hazza? – Fui até as duas caixas e abri primeiro a dele, encontrando um emaranhado de fios.
- São luzes natalinas! – Sorriu orgulhoso. – Tem coloridas e de uma cor só...
- Elas são lindas. – Com cuidado as tirei da caixa na esperança de desembaraçá-las, mas foi inútil. – Você as separa, ok?
- Mas... – Antes que ele se negasse, lhe entreguei a bola de fios e parti para a segunda caixa. – Ta bem...
- Alguém tem uma tesoura? – Me sentei no sofá e coloquei a encomenda na mesinha de vidro a minha frente.
- Usa isso, . – Lou voltou da cozinha com uma faca na mão e me entregou.
- Cuidado pra não se machucar... – Liam advertiu, preocupado como sempre.
- Vou tentar... – Sorri e passei a lâmina da faca pelas laterais da caixa, rasgando o que a mantinha fechada. Fiz isso com bastante delicadeza e precisão. – Prontinho!
- Retiro o que eu disse... A caixa é que devia ter cuidado com você.
- Isso mesmo, Liam. Eu daria uma ótima assassina... – Tentei fazer uma expressão misteriosa com os olhos e toquei a ponta da faca com o indicador. – Melhor aprender a dormir de olhos abertos.
- Ela pensa que assusta alguém. – Harry cochichou para Louis na tentativa de não me deixar escutar.
- Eu ouvi essa, Styles! – Apontei a faca na sua direção e mantive o olhar duro, mesmo sabendo que não o assustaria.
- Não aponte isso para o meu Hazza. – Louis defendeu o marido e tirou a faca da minha mão.
- Podemos começar? – Fiz bico por perder a minha arma mortal, mas resolvi me concentrar no que realmente importava ali. – Harry, como andam as luzes?
- Ahn... Muito bem...
O mentiroso nem havia começado a fazer a sua tarefa, mas foi para um canto e se sentou no chão com a maçaroca em seu colo. Eu ri baixo do trabalho que ele iria ter, sabendo que eu acabaria indo ajudá-lo. Lou se ajoelhou ao meu lado e abriu a caixa para que pudéssemos ver o que nossa avó mandara. Foi como se estivéssemos de frente para a penseira do Dumbledore, onde muitas de nossas memórias podiam ser vistas: Bolas brilhantes em vermelho, azul e verde, pequenos pingentes de anjos coloridos, ursinhos, bonecos e flocos de neve em miniatura... Até mesmo algumas meias que nós dois a “ajudamos” a bordar. Daquelas que se coloca no pé da cama na véspera de Natal pra que o papai Noel coloque doces ou carvão, dependendo do seu comportamento. Tá vendo só? Como não amar o natal?! Liam também veio espiar, fazendo Harry ficar super curioso, mas sempre que ele perguntava o que tinha dentro da caixa, alguém o mandava prestar atenção na própria tarefa.
Sem querer perder mais tempo, eu peguei uma pinha de plástico e levantei do sofá indo até a árvore. Os outros dois meninos fizeram o mesmo que eu e todos colocamos as primeiras decorações na árvore. Se tirássemos tudo da caixa acabaríamos perdendo ou bagunçando tudo, portanto resolvemos deixar ali dentro mesmo e iríamos pegando as coisinhas devagar. Eu tentava espalhar os ornamentos e rodeava a Berenice tantas vezes que quase fiquei tonta, mas os meninos ocuparam um pedaço cada e encheram de bugigangas. É, não podemos deixar garotos fazerem o trabalho de uma garota.
- Qual cor vamos usar? – Liam perguntou enquanto eu pendurava uma pequena árvore na árvore (haha).
- Cor de que? – Minha pergunta foi respondida assim que eu o olhei. Li estava com uma bola de plástico pendurada em cada orelha como se fossem brincos enormes e eu comecei a rir na mesma hora.
- O que? Eles não ficam bem em mim? – Fez uma pose de modelo e eu gargalhei mais ainda.
- Para com isso, Liam! – Ainda rindo, fui até ele e retirei as bolinhas com cuidado. – E respondendo a sua pergunta... Vamos usar vermelho. Sempre vermelho!
- Por que vermelho? – Louis continuava perto da árvore e eu já sabia o que vinha por aí. – Você sempre escolhe vermelho! Eu gosto de azul.
- Eu também gosto de azul, Lou, mas natal é vermelho e verde! – Guardei a bolinha azul na caixa e fui pendurar a vermelha. – Viu? Vermelho e verde!
- Mas eu quero colocar as azuis... – Cruzou os braços e bateu o pé direito no chão. Tem certeza que ele é o mais velho?
- Tudo bem, Lou, não precisa fazer birra... Vamos fazer uma votação. Eu voto em vermelho... – Fiquei na ponta dos pés pra tentar espiar Harry do outro lado do quarto. – Hazza, vermelho ou azul?
- Vermelho! – Gritou sem nem prestar muita atenção no nosso assunto, pois estava literalmente enrolado no meio das luzes.
- Harry, eu confiava em você. – Louis reclamou, mas ele não entendeu nada. – Então pendura as vermelhas mesmo.
- Mas o Liam ainda não votou! – Qual o objetivo de uma democracia se todos os envolvidos não tiverem o seu voto?
- É claro que ele vai votar no que você escolher, . – Rolou os olhos e se jogou no sofá.
- Ele tem razão. – Li deu de ombros, nem se importando em ser tão óbvio.
- Ok, então está decidido! – Fiz uma dancinha em comemoração e fui procurar outras bolinhas vermelhas. – Tommo, levanta a bunda daí e faz alguma coisa.
- Tommo, levanta a bunda daí e faz alguma coisa. – Tentou me imitar fazendo caretas e acabou levantando de qualquer jeito. – Precisa de ajuda aí, Harry?
- Você acha? – Haz estava quase chorando de desespero, porque acabou ficando preso entre os fios.
Passar a tarde com aqueles garotos era sinônimo de risadas, então imagine como era morar com eles. Tínhamos nossos momentos baixos também, como toda família, mas os pontos altos eram bem maiores. Brigas eram quase nulas e as poucas que tínhamos acabavam em brincadeiras que nos aproximavam ainda mais. Se existe uma vida perfeita, essa com certeza é a minha. Com várias bolas vermelhas na minha mão, fiquei na ponta dos pés pra espalhá-las pela parte de cima. Liam estava me ajudando e vez ou outra alcançava um ponto mais alto que eu; fazendo-me sentir super nanica.
- Essa árvore vai ficar linda! – Comentei com um sorriso infantil.
- Como você.
Assim que a nossa árvore de natal ficou pronta, nós decoramos a parte de fora da casa com uma guirlanda e as luzes que não foram colocadas no pinheiro foram parar no telhado e janelas. Ainda faltavam alguns detalhes, mas isso seria resolvido com o tempo. Eu estava cansada e meus braços doíam, pelo menos valia à pena. Também tomei um banho rápido e vesti o pijama mais quentinho que encontrei no closet, me trancando no quarto após o jantar. O dia seguinte seria cheio e eu queria que chegasse logo, pois a curiosidade de finalmente descobrir qual seria a música que eu teria que cantar me consumia. Horas atrás eu falara com Zayn e foi divertido como sempre, mas a saudade que eu estava sentindo do seu toque só fez aumentar. Aproveitei pra mandar várias fotos das nossas decorações natalinas e até mesmo minhas fazendo palhaçada próxima a elas. Minha garrafinha de chá estava vazia na minha mesa de cabeceira e o edredom cobria boa parte do meu corpo.
Eu devia estar dormindo um sono tranqüilo embalado pelos anjos, mas algo me impedia de pregar os olhos. O pior? Eu não fazia idéia do que era. A minha cama não estava quente e nem fria, meu travesseiro continuava fofo como sempre e o quarto estava totalmente escuro, então minha insônia não podia estar sendo causada por nenhum desconforto. Também não tinha nada de ruim me preocupando... “É, eu tenho muito azar mesmo.” Só podia ser azar! Que outra explicação eu poderia usar? Nenhuma. Como sempre, o meu celular estava ao meu lado e foi ele que eu peguei pra poder ver as horas: 04h30min da manhã. Se continuasse assim, seria mais fácil ficar acordada até o dia seguinte. Bufei com irritação e cruzei os braços. “O que eu faço agora?” Sou uma pessoa paciente, mas aquilo já era demais. Meu corpo queria dormir, até a minha alma queria dormir, mas a minha cabeça não deixava! Era só deitar a cabeça no travesseiro e fechar os olhos que as minhas epifanías tinham início, tais como: “Mas qual é o significado da vida?” ou “Quais são as cores do céu?”
- É isso. Não vou dormir! – Falei comigo mesma e me sentei na cama, tomando uma decisão. – Vou descer pra tomar café e ficar assistindo algo na televisão.
Se alguém pudesse me escutar naquele momento, juraria que eu perdi o juízo. Tirei o cobertor de cima de mim jogando-o para o lado como se o coitado tivesse culpa de algo. Com meu pijama de mangas compridas, não precisei vestir nenhum casaco, pois já estava suficientemente agasalhada. Abri a porta do quarto com cuidado, na intenção de não fazer barulho algum. Todas as portas estavam fechadas e o corredor escuro; pelo menos os meninos estavam tendo uma noite melhor que a minha. Argh. Na ponta dos pés, atravessei o caminho até as escadas, mas algo me fez parar antes mesmo de começar a descer. Minha mão estava no corrimão, mas meus ouvidos captaram algo diferente do silêncio. Uma música, pra ser mais exata, vindo do quarto de Liam. “Ele não está dormindo?” Como se eu precisasse de uma desculpa para ir atrás dele, dei meia volta deixando a minha curiosidade me guiar.
Encostei o ouvido na madeira da porta daquele quarto só pra me certificar de que não estava louca ou coisa parecida, e realmente não estava. A melodia só ficou mais alta quando eu girei a maçaneta e abri uma pequena brecha para que eu pudesse espiar. Sem saber se seria bem vinda ou não, apenas procurei Liam com os olhos e o encontrei sentado no parapeito da janela, de costas pra mim. O resto do quarto estava escuro, mas ele era iluminado pela luz do poste elétrico da rua. Seria bem mais romântico dizer que ele era banhado pela Lua, mas eu duvidava muito que o céu de Londres não estivesse completamente escuro e nublado. Eu esperava que ele estivesse com o seu violão nas mãos, porém estava enganada. O garoto tinha uma gaita nos lábios e mexia as mãos devagar. Ta aí... Eu não sabia que ele tocava esse instrumento, o que me fez imaginar todas as outras coisas que eu também não sabia sobre ele.
A melodia que saia de seus assopros era calma e delicada com um toque muito grande de melancolia, chegando a ser triste. Algo me dizia que eu a conhecia, mas não conseguia recordar naquele momento. Um calafrio tomou conta de mim e eu não duvidava que meus olhos fossem ficar marejados a qualquer momento. Será que ele estava triste? Será que essa música mostrava como ele se sentia por dentro? Estava com saudades de casa, da sua família? Sentia-se sozinho? Todas essas dúvidas e questionamentos me deixaram mal. Eu gostava demais daquele garoto pra suportar vê-lo sofrer. O pior de tudo? Eu sabia que pelo menos parte daquela culpa era minha e de mais ninguém. Queria correr até ele e abraçá-lo, queria protegê-lo do que quer que fosse... Queria deixá-lo bem, o que claramente não estava.
The winner takes it all. The loser's standing small… (O vencedor leva tudo. O perdedor fica menor...) Como não percebi antes que música era essa? É claro que eu a conhecia! Recordar a letra da música só me fez ficar pior ainda e me sentir bem mais culpada. Não culpada apenas por saber que eu era a causadora daquele mal que Liam sentia e expressava através da música, mas também por me sentir confusa. Confusa quanto aos meus sentimentos, sem saber se adiantava continuar ignorando o que quer que fosse aquilo que eu sentia por Liam. Sim, eu estava namorando Zayn e o amava muito, é claro! Nunca seria capaz de magoá-lo de forma alguma... E por outro lado, queria dar a Liam o que seu olhar me pedia todos os dias... Ótima hora pra não conseguir dormir, né? Não sei se era algum delírio da minha mente cansada ou se meu coração me fazia revelações e admitia para si mesmo o que estava acontecendo. The winner takes it all. (O vencedor leva tudo.)The loser has to fall. (O perdedor tem que cair) It's simple and it's plain… Why should I complain? (É simples e é claro… Porque eu deveria reclamar?)
Eu não podia mais ficar ali, escutando o que acabaria com o resto da minha sanidade. Da mesma forma que a abri, fechei a porta cuidadosamente. Para a minha sorte Liam não me escutou, pois a música não cessou quando eu me afastei. Toquei a testa com a mão e senti a minha temperatura cair. Estava gelada e o clima não era o responsável por isso, e sim a situação onde eu me encontrava. Precisava falar com alguém, alguém que pudesse me entender ou ao menos me escutar. Desejei com todas as forças ainda ter o meu avô ali, porque ele com certeza saberia o que falar e suas palavras me tranqüilizariam. A segunda pessoa que costumava sempre estar certa me veio na cabeça e era com ela mesmo que eu tentaria falar. Não me importava se estava tarde demais pra ligar pra alguém, pois não conseguiria ficar sozinha com esses pensamentos perturbadores; não naquela noite.
Entrei no quarto correndo, com meus olhos totalmente acostumados ao escuro. Fechei a porta, mas ainda não era o suficiente, pois qualquer um me escutaria. Agarrei o celular onde o deixara e fui para o banheiro, sem me importar em acender a lâmpada. Parecer uma louca já não era grande coisa naquele momento, então fui na onda e também entrei no Box do chuveiro. Na minha cabeça, o vidro seria mais um obstáculo para o som da minha voz atravessar e, de certa maneira, tinha esperanças de que meu segredo ficasse guardado naquele cubículo. Encostei-me a parede e, enquanto meus dedos trabalhavam pra digitar o número da minha confidente, deslizei lentamente até estar sentada no chão e com os joelhos próximos ao meu peito.
- Atende, atende... Por favor... – As chamadas se tornavam cada vez mais longas e eu segurava o aparelho bem próximo à minha orelha. – ?
- ? Que horas são? – A voz sonolenta da minha amiga atendeu a ligação e eu me senti mal por tê-la acordado. – Estou atrasada para a aula?
- Ainda é madrugada... Eu só preciso conversar. – Suspirei e encostei a testa nos meus joelhos.
- Pela sua voz você não parece nada bem... O que houve, ? – não gritou ou reclamou por eu estar perturbando-a tão tarde da noite e tenho certeza que ela me abraçaria mesmo sem saber o que aconteceu.
- O pior é que eu não sei nem como explicar. – Ri baixo sem humor nenhum. – É possível... Gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?
- ... Eu sabia que você acabaria percebendo isso. – Ela também suspirou, tentando espantar o sono. – É o Liam, não é?
- Uhum... – Admiti baixinho.
- Eu vejo o jeito que ele olha pra você, mas também sei como você olha pra ele. – Eu não sabia o que falar, por isso preferi apenas escutá-la. – É normal se sentir assim... Dividida. Porque Liam é um cara bem legal e está sempre perto de você, mais até que o Zayn já que vocês moram sob o mesmo teto. Mas isso não significa que você o ame menos...
- Eu amo o Zayn, ... Muito... – Segurei o choro que ameaçava sair. – Mas também sinto algo pelo Liam...
- Você se lembra como estava próxima do Liam pouco antes de começar a ficar com o Zayn?
- Lembro... – Levantei a cabeça e passei a mão pelos cabelos, nervosa. – Estávamos muito próximos.
- Exatamente. Vocês tem um assunto inacabado. – Aquilo fazia muito sentido, até mesmo pra mim que estava meio confusa das idéias. – Quando você está com Liam, você é quem gostaria de ser. Mas com o Zayn... Você é quem você deve ser.
- Então eu não sou uma má pessoa?
- É claro que não, sua boba... – Ela riu baixinho, o que me tranquilizou. – É normal, ok? Você pode sentir algo pelo Liam... Mas no final sempre vai ser o Zayn.
Capítulo XLVIII
Uma das coisas boas de se chegar bem cedo na Academy é que o estacionamento está quase completamente vazio, facilitando o meu trabalho de achar uma vaga perto da entrada. Ainda dentro do carro consegui avistar uma figura ruiva e agasalhada do pés à cabeça esperando a minha aparição por ali. não tinha motivo algum pra chegar tão cedo quanto eu, mas o fato de ela estar por ali mostrava que eu tinha uma amiga melhor do que imaginava. Eu já estava bem melhor do que na noite anterior e até consegui dormir por umas duas horas, sendo que nada disso teria sido possível se não pudesse contar com ela em qualquer horário ou situação.
Peguei a minha bolsa no banco ao meu lado e a pendurei no ombro, preparando-me pra encarar o vento frio que assoprava com força as árvores do lado de fora. Coloquei os meus óculos escuros no rosto porque pelo menos isso esconderia os meus olhos cansados e olheiras. Retirei a chave da ignição e também a guardei na bolsa. Daí pra frente seria uma cena de filme se eu não estivesse tão sonolenta: Abri a porta do carro e saí em câmera lenta, com os meus cabelos sendo jogados ao vento e balançando com charme. Espiei por cima das lentes escuras e sorri no maior estilo bondgirl, seja lá o que isso significar. Ela sorriu de volta e levantou do degrau onde estivera aguardando e abriu os braços, me convidando pra um abraço.
- Bom dia, minha flor do campo. – Sorriu ainda mais e foi me encontrar na calçada.
- Bom dia, cabecinha de fogo. – Mesmo ela sendo mais baixinha que eu, me enterrei em seus braços para receber aquele abraço que eu tanto precisava.
- Como você está, huh? – Me apertou em seu abraço e eu deixei um beijo em sua bochecha.
- Estou bem, coisa linda. Só precisava dormir um pouco. – Nos separamos e ela seguiu de volta para a escadaria, me fazendo segui-la. – Ainda estou com sono, mas isso é um detalhe.
- Um detalhe que eu acho que posso resolver! – Ela fez aquela cara de quem pode resolver qualquer problema e tirou um copo da Starbucks de dentro da sua maxibag. – Um Macchiato quentinho só pra você!
- ... – Meus olhos brilharam ao ver aquele copo tampado e perfeitamente confeccionado por deuses do Monte Olimpo. – Eu já falei que te amo?
- Já, mas eu não me canso de ouvir! – Fez cara de apaixonada e me entregou a bebida.
- Hm, hmmm... – Falei com a boca cheia após me deliciar com o primeiro gole. – Eu te amo, ! Com cobertura de caramelo!
- Você me ama com cobertura de caramelo? – Riu.
Não foi bem isso o que eu quis dizer, mas estava ocupada demais com o meu Macchiato pra perder tempo corrigindo-a. Apesar da minha bebida quentinha, resolvemos entrar na Academy pra fugir das baixas temperaturas que tomavam conta de Londres naquela manhã. Assim como o lado de fora, os corredores e pátio estavam vazios, nos deixando bem confortáveis em não ter que olhar ou falar com qualquer outra pessoa. Eu ainda tinha vinte minutos até a chegada de Nick e Collin, então poderia aproveitar um pouco mais da companhia de antes que ela tivesse que partir para a sua aula (que, aliás, eu teria que faltar) e me concentrar em tentar enganar o diretor da peça de que eu sabia exatamente o que estava fazendo. Ficar em alguma sala não seria tão confortável quanto as cadeiras do auditório, portanto foi pra lá que seguimos.
Para a nossa sorte, o lugar não estava fechado e algum funcionário deveria ter acendido todas as luzes e colocado um piano de calda no canto do palco, pois eu me lembrava muito bem de não ter nenhum instrumento por ali no dia anterior. Zayn devia estar certo Ed me mostraria a canção que eu teria que aprender e fazer várias simpatias pra não desafinar. não sabia nada sobre esse assunto, já que quando perguntei pareceu mais perdida que eu. Nos sentamos nas cadeiras do meio da terceira fila, ficando bem confortáveis. Tirei os sapatos e coloquei os pés em cima da cadeira em minha frente, quase deitando por ali.
- E quando os seus ensaios começam? – Perguntei após um longo gole no meu café.
- Você realmente não lê o roteiro, né? – Riu da minha cara e eu fiquei sem entender. – Todas as datas de ensaios estão nas últimas folhas...
- Eu leio sim! Só não cheguei no final ainda...
- Aham, claro. Mas de qualquer forma... – Não adiantava tentar enganá-la e eu sabia disso, mas ainda arriscava. – Nosso primeiro ensaio geral é essa sexta feira, mas eu acho que não vai ser lá grande coisa. Acho que só vamos começar a pegar pesado mesmo depois do Christmas Break.
- Mon Dieu, eu havia me esquecido do Christmas Break! – Meus olhos brilharam com a lembrança de que logo teríamos duas semanas de “férias”. – Não falta muito tempo, né?
- Pouco mais de uma semana! – Comemorou. – O semestre está passando muito rápido...
- POR FALAR EM PASSAR MUITO RÁPIDO! – Quase fiz cair da cadeira quando me sentei direito pra poder expressar toda a minha ansiedade. – Você sabe que dia é hoje, né?
- Quarta feira, ué. – Deu de ombros como se não tivesse nada de mais nisso.
- E? – Levantei uma sobrancelha esperando a ficha dela cair, mas estava complicado. – ... The X Factor...
- Bloody shit! É hoje?! – Quase que como vingança pelo que eu fiz, a menina deu –literalmente- um pulo da cadeira e ficou de pé, me fazendo derrubar o copo vazio da Starbucks no meu colo. – Eu não estou preparada pra isso!
- Pois pode ficar. – Agradeci mentalmente por não me sujado e deixei o copo de lado. Também tirei os meus óculos escuros tentando não me importar com os comentários que eu sabia que ouviria. – Hoje às nove e meia começa o programa... Eu não sei como eles vão anunciar os cinco finalistas, mas provavelmente vão enrolar bastante.
- Aham, aham, aham. – Não voltou a sentar e começou a passar as mãos pelo cabelo. – E se eles não forem finalistas? A gente mandou muito em cima da hora, ... Ou se não gostarem? E se eles forem sim um dos finalistas? E se eles ficarem com raiva da gente? E se...
- Ei, ei, calma... – A puxei de volta para o banco. – Agora é tarde demais pra ficar pensando nas conseqüências. Se eles não passarem nessa etapa, só nós duas saberemos disso. Mas se eles passarem... , tenho certeza que vão gostar da noticia. Na menor das hipóteses, só vai ser uma chance de aparecerem na TV. O resto a gente vê depois.
- Como você consegue estar tão calma? – Me olhava com espanto.
- É o sono. – Respondi simplesmente. Se meu corpo e mente não estivessem tão cansados eu com certeza estaria pior que ela. – Você vai pra casa do Ni hoje?
- Já vou direto depois da aula...
- Ótimo! Então vocês dois vão assistir, certo? – Perguntei enquanto ela mexia na sua bolsa a procura de algo.
- É claro que sim! E... Fica quieta, ! – Brigou comigo porque eu me mexi na hora em que ela tentou passar algo no meu rosto. – E você vai fazer os meninos assistirem também.
- O que é isso? – Parei de lutar, mas ainda não tinha tanta certeza do que era aquilo.
- Base. Preciso dar um jeito nessas suas olheiras, credo. – Espalhou o creme abaixo dos meus olhos. – Acho que a parte mais difícil vai ser convencer o Zayn a assistir...
- Acho que sei quem pode me ajudar com essa parte...
Assim que terminou de me embelezar, pude pegar o meu celular dentro da bolsa. Se tudo desse certo, ele iria assistir o programa de um jeito ou de outro. A ruiva ficou me observando com curiosidade e até com medo do sorriso maléfico que se instalou nos meus lábios. Bem... Não tão maléfico, até porque se tratava de mim, né? Mais uma vez a sorte estava do nosso lado, pois eu encontrei o número de telefone que estava precisando em poucos segundos. leu o nome na tela, ficando mais confusa ainda por não saber de quem se tratava. Só a olhei como quem diz: “Você já vai ver” e ela resolveu esperar. Pensei em ligar, mas ainda era bem cedo e eu não queria acabar acordando outra pessoa antes da hora, por isso optei por mandar a mensagem:
- Quem é Dony? – Eu estava até vendo começar a ter ciúmes da minha cunhada.
- É a irmã mais velha do Zayn... Nós trocamos mensagens de vez em quando, a maioria sobre o McFly, mas acho que ela pode ajudar.
- Eu espero que sim! – Sorriu um pouco mais calma por sua melhor amiga não estar sendo roubada.
- Bom dia, jovens. – Uma voz masculina anunciou sua presença e ambas nos viramos para o diretor Colin que atravessava o auditório com sua velha pasta preta.
- Bom dia, senhor Wall. – tinha medo dele, por isso era o mais formal possível.
- Bom dia, Colin! – Fui bem informal, já com certo nível de intimidade.
- Uhh, “Colin”. – sussurrou e eu só não bati nela porque mais alguém chegou.
- Meus fãs, eu cheguei. – Nicholas fez o mesmo caminho que o professor, sentindo-se o próprio rei da cocada preta.
- Hey, Nick. – Acenei e ri de sua palhaçada, mas eu era a única.
- Bom dia, . – Todo sorridente veio se juntar a nós na terceira fileira. – Tudo bem, ?
- Tudo. – Forçou um sorriso amarelo e se levantou. – Tá na minha hora... Se cuida, . Te vejo depois.
- Tchau... – Acenei sem muita graça. Essa inimizade que ela tinha com o meu parceiro de dança me deixava super constrangida, mesmo que ele parecesse não ligar. – Desculpa por ela, ok?
- Não precisa se desculpar todas as vezes que algum dos seus amigos é indiferente comigo. – Deu de ombros. – Já me acostumei.
- Mas não é justo! Eu queria que eles vissem o quanto você é legal. – Fiz bico e cruzei os braços, aproveitando pra espiar o diretor e ver se já iríamos começar o ensaio.
- Você sabe disso, então é o que importa. – Cutucou a minha bochecha com o indicador e me fez sorrir. – Trouxe as castanholas?
- Não trouxe... – Comecei a levantar ao ver o diretor nos chamando com a mão. – Pode me emprestar as suas?
- Outch. – Nick riu do meu sorriso sacana e fechou as pernas assim que eu passei por ele, se protegendo.
Brincadeiras a parte, estava na hora de encarar um assunto muito sério, por isso eu e o garoto fomos até a frente do palco como de costume e nos sentamos ali. O diretor parecia estar de bom humor, porque sorriu nos cumprimentando direito e começando a explicar o faríamos naquele dia. Ele disse que tentaríamos novamente encenar a cena em que Romeu e Julieta se conhecem, mas que dessa vez nos ajudaria. Eu conhecia a história, pois havia lido o livro e visto o filme, então não seria tão complicado. Além do mais, estava bem mais disposta do que da última vez, mesmo estando quase desmaiando de sono. O bom daquele ensaio era que eu não precisava de uniforme de ballet, então permaneci descalça e com a minha roupa quentinha e confortável ao subir no palco. Nick me seguiu e Colin foi o único a usar as escadas.
Sem muita enrolação, o docente marcou alguns lugares estratégicos no chão com pedaços de fita, mostrando onde deveríamos começar e terminar a cena; assim como outros detalhes importantes. O palco onde o espetáculo aconteceria ainda não havia sido definido, mas com certeza não ficava na Academy. Recordo falando que o último foi no London Theatre e eu não me importaria que fosse lá novamente.
- Muito bem, Julieta, lembre-se que é a festa da sua família. Todos estão bebendo, dançando e se divertindo. – Colin nos fazia imaginar um cenário quase perfeito e a nossa imaginação fazia o resto. Ele mexia os braços com animação e até dava alguns pulinhos como se realmente estivesse naquela festa. – Você está com as suas primas e todos vão formar uma grande roda... Fique aqui.
- Certo. – Fui para o meu lugar de origem, já me imaginando com um longo vestido rodado e os outros personagens ao meu redor. Enquanto Colin ia explicar a parte de Nick, fiquei fingindo rodar meu vestido invisível e dançar uma música de época. – La La La. Dançando, me divertindo...
- Gosto do seu entusiasmo. – O homem acenou com a cabeça, me pegando de surpresa. – Agora, Romeu... Você está na casa dos seus inimigos. Perdido dos companheiros que vieram com você, na tentativa de esquecer a tua Rosalina. Seu amor não correspondido.
- Se meus olhos devotos falsidade tão grande sustentarem, que em fogueira de suas lágrimas morra sem piedade, como hereges passíveis de cegueira. – Nick recitou com tanta facilidade que eu parei o que estava fazendo para observá-lo. – Mais linda que ela! Nunca o Sol radiante no mundo todo viu tão bela amante.
- Wow... – Falei baixinho, quase não percebendo quando Colin veio até mim para me guiar até o meio do palco, mas ainda olhava para Nick.
- Era isso o que achava até esse momento. Então você a vê... Uma jovem com a pele tão branca como a neve. Olhos azuis como a água do rio mais cristalino... – Enquanto falava essas coisas, me fazia girar e valsar pelo salão enquanto segurava a minha mão. Dessa parte eu gostava, pois podia fazer o que eu mais sabia; dançar. – Um ser tão puro, mas que esconde algo mais por trás do olhar. Uma faísca que prende a sua atenção por completo. A partir desse momento você tem uma adoração inexplicável por ela.
- Que dama é aquela que enriquece o braço daquele cavalheiro? – Nick deslizou pelo palco como se falasse com alguém. Era como se ele tivesse mudado da água pro vinho, pois nem se falava mais de castanholas e era como se soubesse o livro inteiro de cor.
- Desconheço-a, meu senhor. – Colin me soltou, mas me fez continuar a minha dança com um homem invisível. Foi até Nick para dar seqüência à cena.
- Oh! Ela ensina a tocha a ser luzente. Dir-se-ia que da face está pendente da noite, tal qual jóia mui preciosa da orelha de uma etíope mimosa. Bela demais para o uso, muito cara para a vida terrena. Como clara pomba ao lado de gralhas tagarelas, anda no meio das demais donzelas. Vou procurá-la, ao terminar a dança porque a esta rude mão possa dar a ansa de tocar nela e, assim, ficar bendita. Meu coração, até hoje, teve a dita de conhecer o amor? Oh! Que simpleza! Nunca soube até agora o que é beleza!
Depois da longa e produtiva manhã de ensaio, me convenceu a ir junto com ela para a casa do Niall, pelo menos pra almoçar e passar a tarde. Sabendo que eu concordei, Zayn se ofereceu pra ir também e já dá pra imaginar a bagunça que tudo virou! Como ninguém queria cozinhar ou lavar pratos, acabamos pedindo comida tailandesa e comendo na própria embalagem. Era a minha primeira vez provando dessa cultura, então no começo foi meio estranho, mas logo me acostumei. Já me sentindo em casa, deixei os meninos conversando na sala e puxei para o quarto do dono na casa, deitando na cama espaçosa. Eu não me importaria que os dois se juntassem a nós e até teria ficado pela sala se eles não estivessem tão interessados em uma partida de golfe. Segundo Niall era a final do campeonato e como ele sabia o nome de todos os colocados, deduzi que era um pouco fã. Só um pouco, quase nada.
- , , ... – Eu estava deitada de barriga para baixo, com o meu celular em mãos e esperava a ruiva sair do banheiro.
- O que foi, desesperada? – Abriu a porta enquanto secava as mãos pra que eu pudesse falar o quer que fosse.
- A Dony respondeu! – Cochichei. O apartamento não era tão grande assim e mais ninguém poderia me escutar.
- O que ela disse? – A cama fez um barulho enorme quando ela se jogou e eu desconfiei até que tinha quebrado. – Não fale nada!
- Ok... – Gargalhei deixando todas as minhas piadinhas pra trás. – Ela falou: “Pode pedir qualquer coisa, . Uma Galaxy Defender não pode deixar a outra na mão!”
- Galaxy Defender? – Entortou o nariz.
- Você não entenderia. – Daria trabalho demais explicar, então me concentrei em respondê-la: -“Preciso que você faça seu irmão assistir o X Factor hoje, as 21hrs. Acha que consegue?”
- Tomara que sim! – mudou de posição e deitou encarando o teto.
- “Considere feito.” Yay! – Comemorei e deixei o meu celular em qualquer lugar da cama. – Agora eu posso dormir!
Mesmo estando brincando, puxei o travesseiro branco de Niall e o coloquei na cabeça, me afundando naquela cama confortável e fechando os olhos com um suspiro. Se não estivesse ali comigo falando sobre como foi a aula que eu perdi, com certeza teria caído em um sonho profundo. Segundo ela, a professora estava de TPM e por isso não queria dar aula. E não, não era a senhorita Holly. Por isso dividiu a turma em duplas e pediu para que fizessem vários exercícios, um mais chato que o outro. Ter achado graça naquilo só piorou a situação, pois colocou na cabeça que a culpa de ela ter ficado sozinha na sala era minha. Mas que culpa eu tenho se ela não gosta de se socializar com alunos do primeiro nível? Exatamente. Nenhuma!
- Posso entrar? – A voz de Zayn me fez abrir os olhos.
- Só um minuto, ainda estamos nos vestindo! – brincou e Zayn abriu a porta no mesmo instante.
- Não vale me enganar assim, . – Sua expressão era de desapontamento.
- Vem cá... – O chamei manhosa, ignorando o assunto totalmente. Estava meio sonolenta e só queria que ele ficasse o mais próximo de mim possível.
- Como recusar um chamado desses? – Zayn já estava sem sapatos, por isso apenas subiu na cama e ficou entre e eu.
- Finjam que eu não estou aqui... – virou de costas pra nós e se entreteu com um joguinho eletrônico qualquer.
- Você parece cansada... – Meu namorado se aproximou ainda mais, apoiando a cabeça no mesmo travesseiro que eu.
- Não consegui dormir bem essa noite... – Eu sabia que tocar nesse assunto com ele não era a idéia mais sensata, pois poderia acabar falando demais. Ter o seu rosto tão próximo ao meu era uma tortura e uma satisfação ao mesmo tempo. Eu podia sentir a sua respiração e isso me fez sorrir.
- Deve ser nervosismo com a peça... Não pode ficar assim. – Começou um carinho bem delicado nos meus cabelos e eu me aconcheguei em seu peito. – O que conversou com o Ed hoje?
- Ele me mostrou a música, mas disse que ainda podem ter mudanças, então só vamos começar a trabalhar nela semana que vem... – Aproveitei que a camisa que ele usava tinha três botões e a abri discretamente, brincando por ali com a ponta dos dedos em seguida. – Você vai me ajudar?
- No que precisar. – Beijou o topo da minha cabeça e não se importou com meus carinhos. – Se eu tiver que dançar... Você também me ajuda?
- Ajudo... – Tentei me manter séria, mas não aguentei segurar as gargalhadas. – Desculpa, Zayn... Eu não queria rir, mas seria engraçado...
- Também vou rir de você quando estiver cantando toda desafinada! – Para se vingar, Zayn aproveitou a nossa proximidade e atacou as minhas costelas, me enchendo de cócegas.
- PARA COM ISSO! – Rindo mais ainda, tentei me esquivar e me soltar, mas ele era forte demais. – , ME SALVA.
- Nem estou aqui. – A menina nos ignorou parcialmente, pois eu sabia que ela ria de mim.
- MALIK, PARA COM ISSO! – Gritei mais uma vez e dessa vez consegui empurrar o meu próprio corpo para o lado. O problema é que eu havia esquecido que três pessoas ocupavam aquela cama, então eu estava na ponta e acabei rolando para o chão. – Bugger!
- ! Me desculpa! – Zayn me viu caída no chão e se preocupou. – Você está bem?
- Estou, eu acho... – Apesar da dor na parte baixa da minha coluna, eu comecei a rir por me sentir bem patética.
- Eu sinto muito mesmo. – O menino também riu e esticou a mão pra me ajudar.
Logo que voltei para a cama, se sentou e reclamou pelo xingamento que eu usei ao cair. Para usar as suas próprias palavras, “se eu quisesse virar uma inglesa de verdade, deveria aprender a xingar melhor”. Eu é que não ia ficar por aí gritando “fucking cunt” toda vez que caísse ou me machucasse, até porque não sou a pessoa mais coordenada do mundo. Zayn riu das loucuras da nossa amiga e deu um jeito de carinhosamente expulsá-la do quarto para que ficássemos sozinhos. Depois de muito inventar que Niall estava assistindo o campeonato de golfe só por causa das mulheres com pouca roupa que faziam propagandas durante os intervalos, correu para a sala e aparentemente demoraria pra voltar.
Meu namorado pareceu bem preocupado por ter me feito cair da cama, principalmente por lembrar que o hematoma no lado esquerdo do meu quadril, causando pelo acidente de carro semanas atrás, ainda não tinha sido sarado completamente. Só ele sabia o quanto a manchinha roxa – por menor que estivesse ficando – me incomodava, então ele não se perdoaria se atrasasse ou atrapalhasse o processo de cura. Por mais que eu tentasse tranquilizá-lo de nada ruim tinha me acontecido, não fui dada ouvidos e praticamente obrigada a aceitar uma massagem no local. Bem, dessa parte eu gostei, é claro, mas fiz um pouco de charme negando por uns... Dois segundos, até aceitar e me acomodar mais uma vez deitada de barriga pra baixo e com os braços ao lado do meu corpo.
- Sua mão está gelada... – Exclamei baixinho assim que os dedos ágeis de Zayn começaram a tocar o pedaço de pele nua entre o cós da minha calça e a barra da minha camisa.
- Isso te incomoda? – Escutei um sorriso em sua voz e em seguida ele “pulou” para cima de mim, sentando-se sobre as minhas pernas, mas sem fazer peso algum.
- Nem um pouco... – Fechei os olhos, deixando o meu corpo relaxar contra o colchão. A verdade é que o toque de Zayn poderia estar frio como um cubo de gelo e mesmo assim eu não me importaria.
- Eu mal consigo ver o seu machucado, ... Já está ficando boa. – Como se usasse isso como desculpa, levantou a minha blusa até pouco acima da metade das minhas costas, passeando as mãos espalmadas por todo o local.
- Agora ele fica coberto pela calça...
Eu soltava suspiros e mais suspiros, tentando manter o controle sobre meus sons. O meu massagista particular apertava os dedos em pontos estratégicos da minha pele, causando uma dor boa e relaxante; se é que existe algo assim. Preferi não falar mais nada e apenas me preocupar em inspirar e espirar tranquilamente. Do jeito que eu estava, seria capaz de pegar no sono a qualquer momento e tenho certeza que Zayn não se importaria. Já eu... Me importaria muito em perder aquele momento tão delicioso por causa de uma noite mal dormida. O garoto arriscou subir uma das mãos por baixo da minha blusa dobrada e senti seus dedos roçarem pelo fecho do meu sutiã, mas ele não o abriu. Não que eu fosse impedi-lo de tentar qualquer coisa, porém não reprimi um sorriso ao sentir os apertos em minha nuca e ombros quando sua mão continuou subindo.
Após dar certa atenção para os meus pontos de estresse, ele voltou a deslizar a mão até a parte baixa da minha cintura. Senti que ele brincou com as minhas covinhas abaixo da minha espinha e senti um pouco da pressão que seu corpo fez no meu quando o garoto se inclinou em minha direção. Não precisei abrir os olhos pra saber o que ele pretendia fazer e apenas aguardei o momento em que os seus lábios tocaram a minha bochecha. Sorri com o pequeno carinho e não arrisquei espiar quando sua boca juntou-se ao lóbulo da minha orelha. Os poucos pelos em meu braço se arrepiaram gritando “PONTO FRACO. ALERTA VERMELHO!” e eu apertei o lençol da cama inconscientemente. Minha reação não poderia passar despercebida e a risada nasalada e divertida que Zayn soltou, ainda perigosamente próxima à minha orelha, arrepiou-me mais uma vez.
Apesar de estar adorando a massagem e as provocações, meu interior pedia por algo que não podia mais esperar pra ter. Notando que eu queria mudar de posição, Zayn me deixou dar meia volta e deitar com as costas na cama, podendo olhar pra ele direito. Seu sorriso ainda conseguia ser maior que o meu e, assim que o abracei pelo pescoço, ele voltou a inclinar-se sobre mim. Fechamos os olhos no mesmo instante em que nossos lábios se chocaram com delicadeza até estarem perfeitamente encaixados. Sem pressa alguma, movimentei os meus contra os dele e fui de encontro à sua língua com a minha. O frio que antes vinha de suas mãos desaparecera completamente, deixando um rastro de fogo por onde encostavam na minha pele.
Algo naqueles toques, tanto de nossos corpos quanto de nossos lábios, era viciante. Clichês e aquele papo de “eu não consigo viver sem você” nunca colaram muito comigo, mas nos momentos em que Zayn e eu estávamos próximos assim eu começava a mudar de idéia. Pensar em não ter mais aqueles carinhos e olhares todos os dias da minha vida doía mais do que eu podia agüentar, então talvez começar a acreditar que o “para sempre” existe era a melhor saída. Se acreditasse que almas gêmeas existem mesmo, Zayn seria a minha. Nós dois nos completávamos de uma maneira maior que a terrena, maior que a humana; se é que dá pra entender. Eu precisava dele no sentido mais cru da palavra e sentia que a recíproca era verdadeira. Podia ser culpa da falta de sono ou da confusão de sentimentos que estava rondando a minha cabeça ultimamente, mas tudo que eu sabia naquele momento era que o amor incondicional, irracional e irrefutável que eu sentia por Zayn era verdadeiro e eu me seguraria a ele com todas as minhas forças.
- Você tem alguma idéia do quanto eu te amo? – Perguntei em um sussurro, evitando ofegar após o nosso longo beijo.
- Agora eu tenho. – Manteve a voz na mesma altura da minha e sorriu, abrindo devagar aqueles olhos amendoados que me tiravam o ar. – ...
- Hm? – Suspirei com um sorriso discreto, observando-o sair de cima de mim e deitar ao meu lado. Zayn segurou uma de minhas mãos e entrelaçou os nossos dedos.
- Casa comigo? – Seus olhos eram sinceros, mas eu sabia que era uma brincadeira. Deveria ser.
- Caso. – Soltei uma risada baixa.
- Ei, qual é a graça? – Também riu, mesmo sem entender o meu humor.
- Nenhuma! – Balancei a cabeça e segurei o seu rosto com a minha mão livre, roubando um beijo rápido. Já em um clima mais descontraído e leve, levantei o tronco até estar sentada na cama e me espreguicei, voltando a minha blusa para o lugar certo.
- Eu gostava mais de como estava antes... – Zayn sorriu de forma sapeca apontando para a minha barriga recém coberta e continuou deitado de lado.
- Eu sei disso, Malik. Estava gostando até demais. – Imitei o sorriso dele e depois apontei para a porta com a cabeça. – Mas o que os nossos amigos inocentes iriam pensar se entrassem aqui e me vissem com a blusa no pescoço?
- Que eu sou muito sortudo! – Riu e também se sentou, ficando de frente pra mim. - , o que você quer de presente de Natal?
- De onde saiu essa pergunta?! – A mudança completa de assunto me pegou de surpresa enquanto eu passava as mãos pelos cabelos, colocando-os no lugar.
- Niall e eu estávamos conversando sobre isso ontem e algo que você falou me lembrou disso. – Deu de ombros sem dar muita importância. – E então?
- Eu quero um bebê... – O olhei com toda a seriedade que consegui juntar e ele pareceu se assustar por um segundo ou dois.
- Então vamos dar um jeito nisso! – Também ficou sério por uns dois segundos e pulou em cima de mim, nos fazendo deitar na cama mais uma vez.
- Zayn, para! – Gargalhei enquanto era atacada e o empurrei pra sair de cima de mim. – Você é louco! Mas falando sério... Você já me dá tudo que eu preciso.
- Você não é divertida, . – Me reprovou pela minha resposta, mas pelo menos me soltou.
- Mas e o que você quer de presente?
- Você já me dá tudo que eu preciso. – Me imitou na maior cara de pau, mas acho que eu já devia esperar por isso.
- Ugh. Eu devia ter perguntado primeiro, não devia?!
Pontualmente às 20h20min da noite o alarme do meu celular começou a apitar e avisar que estava na hora de acordar. Após passar quase a tarde inteira no apartamento de Niall, fui para casa e simplesmente me joguei na cama do mesmo jeito que estava e apaguei. Se não tivesse programado o despertador horas antes, teria dormido até o dia seguinte e perdido o episódio mais importante de toda a oitava temporada do X Factor inglês; pelo menos pra mim. Mesmo ainda um pouco sonolenta e sem saber nem como se usa as pernas para sair da cama, cocei os olhos e desliguei o toque irritante que vinha do meu iPhone. Como a porta do meu quarto estava aberta, pude escutar barulhos de conversas vindo do andar de baixo.
Cambaleei para o corredor do segundo andar praticamente me arrastei escada abaixo, guardando meu celular no bolso do casaco que vesti pelo caminho. Julgando pela bagunça que vi na sala de jantar, os meninos já haviam comido e nem se deram ao trabalho de me esperar! Não que eu estivesse com fome, ou que o nervosismo fosse me permitir comer alguma coisa, mas ser considerada sempre é bom. Passei direto até chegar na sala, com o sono começando a me deixar em paz. Harry e Liam estavam na extremidade esquerda e direita, respectivamente, do sofá e Lou sentava no chão, abraçado com uma almofada, mesmo que ainda tivesse muito espaço para nós quatro.
- Olha quem acordou! – Harry notou a minha chegada e bateu no espaço vazio ao seu lado.
- Achamos que você ia dormir até amanhã... – Louis sorriu pra mim enquanto eu atravessava a sala para ir até o sofá.
- Bem que eu queria mesmo! – Sorri de volta e me joguei no sofá, deixando Harry passar um braço pelas minhas costas e me abraçar. – Você está cheiroso, Hazza.
- Eu tomei banho. – Beijou a minha testa depois que me aninhei em seus braços. Ainda era estranho pensar que ele era mais novo que eu e conseguia ser consideravelmente maior. – Você devia tentar.
- HA-HA-HA, muito engraçado. – Fiz careta, mas até que ele tinha razão, pois ainda não tomara banho desde que acordara. – Tenho certeza que o Liam não se importaria com o meu cheiro!
- Não mesmo. – Li se pronunciou pela primeira vez, abrindo os braços e esperando que eu fizesse com ele o que fazia com Harry.
- Ei, ela é minha! – Haz apertou o nosso abraço e fez cara feia para Liam, que não gostou nada.
- Não briguem por mim! – Ri ao me sentir disputada assim. Liam devia estar com ciúmes de Harry e vice versa, mesmo que pelos motivos mais bobos do mundo, então resolvi não dar a vitória para nenhum dos dois. – Eu sou do Boo Bear.
- Ihh, sai pra lá! – Louis tentou me impedir de sentar ao lado dele, mas fiz corpo mole e só desisti quando estava praticamente sentada em seu colo. – !
- Louis! – O imitei e até fiz cara de brava, então ele percebeu que não teria escolha.
- O que vamos assistir agora? – Meu irmão rolou os olhos, mas me deixou colocar as pernas sobre as dele.
- Vai começar o X Factor! Já tá na hora... – Olhei para o relógio digital na parede e aproveitei um momento de distração de Lou para roubar o controle remoto de sua mão.
- E desde quando você assiste isso, ? – Haz levantou uma sobrancelha, mas ninguém me impediu de mudar o canal.
- Desde sempre, ué! – Não sei se foi por culpa do nervosismo, mas minha voz falhou e denunciou a minha mentira. – Ok, nem sempre... Mas já assisti alguns episódios paralelos e é muito bom!
- Eu assisti as primeiras temporadas porque o Simon é jurado... – Liam comentou e eu o olhei como quem pede ajuda. – Mas pode ser que essa temporada também esteja boa. Quem sabe?! Vamos ver.
- Isso mesmo! – Comemorei e aumentei o volume da TV.
Eu sabia que seria fácil convencer os meus amigos a assistirem aquele programa comigo. Não por eu conseguir qualquer coisa que quisesse, mas por causa do gênero do mesmo. No fundo todos eles achavam legal que novos talentos musicais tivessem essa chance de se mostrar e, possivelmente, ganhar um contrato de cinco milhões de dólares. Eles poderiam não ter a coragem de se inscrever na competição de verdade, mas invejavam quem subia ao palco toda semana. Isso era claro nos olhos de cada um. Graças aos deuses da música, Harry, Liam, Louis, Niall e Zayn tinham duas anjas da guarda que deram o primeiro empurrãozinho para que eles pudessem ver seus sonhos virando realidade.
Logo que a primeira vinheta de abertura passou na tela, toda a nossa atenção estava presa ao programa. Eu não sabia o que esperar e nem se o concurso manteria a sua “regra” de anunciar os vencedores da primeira etapa naquela noite, mas tinha que esperar pra ver. O nervosismo que me consumia desde que acordei naquela noite só fazia aumentar e eu balançava os pés de um lado para o outro. Assim que o tal de Dermont O’Leary se apresentou como o host do programa e chamou os mentores, meu coração começou a tremer dentro do peito. Literalmente tremer... Foi então que eu percebi que era o meu celular no bolso do casaco e não o meu coração. Menos mal, né? Era uma mensagem de uma das minhas cunhadas e eu já imaginava o assunto:
Meu sorriso ao ler a mensagem foi tão animado que Louis tentou esticar o pescoço para ler o que estava escrito, mas eu não deixei. Pedi privacidade e ele entendeu; ou quase isso. Encaminhei essa mesma mensagem de Donyia para , incluindo uma minha própria perguntando se tudo estava sobre controle quanto a Niall. Mesmo com a sua demora pra responder, o garoto que menos me preocupava era ele, pois era só fazer com carinho que Ni atenderia a qualquer pedido. Quando eu já desistia de aguardar uma resposta da minha ruiva preferida, o celular vibrou na minha mão:
“Espero que não demore...”
Minha resposta foi breve e quase sem emoção. Não é que eu não estivesse animada, muito pelo contrário. Só não sabia nem como colocar os meus pensamentos em ordem, quanto mais formular uma resposta com mais de quatro palavras? “E se eles não passarem?” “E se eles passarem, mas não gostarem que a gente se meteu onde não era chamada?” “E se eles não passarem e descobrirem isso?” “E se eles passarem e gostarem?” Mais uma vez só me restava esperar pra ver. Assim como todas as coisas boas da vida, qualquer que fosse o resultado, todos teríamos uma grande surpresa. Para tentar disfarçar os meus nervos acelerados, levantei do chão e me joguei no sofá entre Liam e Harry. Nenhum dos dois me olhou, pois estavam entretidos demais com a apresentação de um homem chamado Marcus Collins que cantava a música Moves Like Jagger e animava a platéia toda. Como a boa bailarina que sou, prestei bastante atenção nas dançarinas que coreografavam em volta dele.
Apenas quando voltamos do terceiro intervalo do programa é que o assunto do concurso apareceu. A primeira vaga das cinco disponíveis foi preenchida por uma garota que aparentava ter quinze anos de idade, mas com uma voz de trinta. Carly alguma coisa. Não fiquei nada feliz, mas ainda tínhamos quatro vagas pra manter a esperança. Eu e trocamos mensagens durante metade do show e nenhum dos meninos parecia ligar muito para o que acontecia na televisão, desconfiando apenas dos gritos e reclamações que eu não conseguia disfarçar quando a segunda, terceira e quarta vaga foram tomadas. Cada nova apresentação, cada novo comentário dos juízes e do apresentador faziam o meu sangue correr mais rápido e o meu coração quase sair pela boca.
- Essas garotas são muito boas... – Harry comentou distraído ao meu lado.
- São mesmo. – Eu concordaria com qualquer coisa que qualquer um falasse, até porque não estava prestando muita atenção, mas foi só parar pra escutar as quatro meninas que deviam ter a minha idade que eu fiquei chocada. Elas realmente eram muito boas. – Quem são?
- Little alguma coisa, não captei o nome todo... – Liam também parecia encantado por elas e isso me incomodou. – A loira tem uma voz muito poderosa...
- Se você diz. – Dei de ombros e olhei para as minhas unhas, deixando de lado a “girl band” que arrasava no palco.
- Alguém está com ciúmes... – Louis cantarolou para Harry, que riu.
- Cala a boca! – Dei um tapa na cabeça de meu irmão e Haz se protegeu de mim com uma almofada.
Liam, por sua vez, se divertiu com aquela cena toda e deve ter gostado muito de me ver com ciúmes. Mesmo que eu nunca fosse admitir sentir isso. Uma coisa todos tinham razão era que aquela loira que eu não sabia – e nem queria saber – o nome tinha a voz mais “diferente”, digamos assim, que eu já ouvira. Pelo menos em uma mulher, é claro. Nós telespectadores não éramos os únicos a achar isso, pois após o seu solo na música cada um dos juízes ficou de pé para aplaudi-la; assim como a platéia. A Academy estava perdendo uma aluna e tanto... Pois essa garota talvez fosse digna até mesmo do papel principal da peça. “Ei, o que você está falando?” Minha consciência foi alertada quando o surto de “baixa confiança” tentou me persuadir a me sentir inferior. “Você pode não ser uma cantora, mas é a melhor dançarina do mundo! E além do mais, a música que Ed passou pra você aprender, é bem fácil. Vai ver só como vai surpreender a todos!” Naquele momento de nervosismo, em uma escala, minha mente só trabalhava com 08 ou 80, pois eu me sentia realmente mal ou incrivelmente bem.
- Ela nem é tão boa assim! – Falei do nada, mesmo sabendo que o assunto já havia mudado. Atraí todos os olhares na minha direção e meus lábios se contraíram em uma careta.
- Mas olha como ela é bonita, ! – Harry apontou para a TV. A apresentação já havia acabado, mas os mentores davam as suas críticas.
- Você já viu olhos azuis que brilham tanto assim? – Liam perguntou a Harry e foi demais pra mim.
- Vai lá atrás dela então, Liam! E você também, Harry. Se casem e tenham lindos filhinhos de olhos azuis. – Levei as mãos para o alto, irritada. Qualquer chance de gostar daquela banda ia por água abaixo. – Com licença.
- , onde você vai? – Lou me chamou quando passei por ele e fui em direção à sala de jantar. Ele se divertia com tudo que estava acontecendo.
- Eu descobri o nome dela! – Percebi pelo canto do olho que Harry vinha atrás de mim, só pra provocar ainda mais. – Futura senhora Styles!
- Não, ela vai ser a senhora Payne!
Eu sabia que eles estavam apenas brincando, mas isso não me deixava nem um pouco menos irritada. Pra começo de conversa, só tinha uma vaga restante do concurso e minhas esperanças estavam por um fio. Segundo, eu realmente fiquei impressionada com a banda inteira daquela loira que parecia ter encantado os meninos. E terceiro, sempre fui possessiva demais, principalmente com aqueles que eu amo, então ver Liam e Harry babando por outra pessoa na minha frente não era lá mais a situação mais agradável. Em quarto lugar... Nós precisamos mesmo de uma quarta razão?! Acho que não.
Bufei ao atravessar a mesa de jantar, tentando despistar os meninos. O que não adiantou em nada, já que cada um foi para um lado e eu fiquei encurralada no meio. Aos poucos eu parava de me irritar com os seus comentários e passava a segurar o riso. “É só brincadeira deles...” O bichinho do ciúme parecia me deixar em paz, mas ainda tinha que me livrar daqueles garotos sem dar o braço a torcer.
- Me deixa passar! – Cruzei os braços ao olhar de um para o outro, me mantendo o mais concentrada possível para não rir.
- Por quê? Está com medo de tentar passar por nós e ser atacada? – Liam levantou uma das sobrancelhas, me fazendo pensar no que me aconteceria se eu realmente tentasse.
- Claro que não! – Claro que sim! Observei-os dar um passo na minha direção. – O que é isso? Se ficar o bicho pega e se correr o bicho come?
- Mais ou menos. – Harry usou as mãos como garras e se aproximou um pouco mais.
- Para com isso, gente! – Arregalei os olhos analisando as minhas opções. – O que é aquilo?
- O que?! – Li e Haz olharam ao mesmo tempo para o lugar no teto que eu apontei, dando-me a chance de me abaixar e passar por baixo da mesa o mais rápido que eu consegui.
- Estou livre! – Comemorei com uma risada, seguindo até o hall engatinhando e correndo o resto do caminho até a sala.
- Não por muito tempo! – Louis apareceu de surpresa atrás de mim e me agarrou pela cintura.
- LOUIS! SOLTA! – Me debati. Pois é, eu odiava ser a mais fraca entre os meninos porque sempre acabava sendo capturada como uma boneca de pano.
- Tudo bem. – Deu de ombros e me soltou antes do que eu esperava, me fazendo cair no chão.
- SOCORRO! – Gritei entre risos e a última coisa que vi foram três homens se jogando em cima de mim e quase me esmagando completamente.
- Você não devia ter corrido! – Liam foi o segundo a se deitar sobre mim, ainda ficando em cima de Lou.
- Ou ficado com ciúmes. – Harry acrescentou, sendo a cereja do bolo.
- Não consigo respirar! – Fizemos uma bagunça tão grande que eu quase não reparei na música conhecida que vinha de algum lugar na sala. – EI, ESPERA! Estão escutando isso?
“Nothing is fine, I’m torn! You’re a little late and this is how I feel…” Assim que fizemos silêncio e encaramos a televisão, o estado de choque foi geral. Ninguém fazia idéia do que estava acontecendo e eu não estava muito diferente. Demorei uns dez segundos para assimilar tudo que acontecia ao mesmo tempo e o meu grito de felicidade fez os três meninos atônitos saírem de cima de mim. Levantei-me em um salto que desafiava leis da física e corri até estar de frente ao aparelho de televisão. O X Factor estava acabando e o último grupo a passar para a segunda etapa foi anunciado. É claro que eu reconheceria os cinco meninos que apareciam cantando em um clube de karaokê em qualquer lugar.
- Por que nós estamos na TV? – Harry foi o primeiro a quebrar o silêncio.
- Eu não acredito nisso! – Bati palmas com um sorriso maior que eu, ainda de olhos vidrados na tela plana.
- O que está acontecendo? – Liam se levantou e foi até o meu lado, querendo alguma luz.
- ... – Lou também me chamou, mas só me virei pra eles depois que os créditos do programa começaram a subir. – O que você fez?
- Não me matem, ok? – Eu pulava sem sair do lugar, nem tentando conter a minha animação. – Mas eu e inscrevemos vocês cinco nesse concurso de novos talentos do X Factor... E vocês passaram pela primeira fase!
Capítulo XLIX
Se a minha ficha tinha demorado dois dias pra cair, imagine a dos meninos, que não faziam idéia do que estava acontecendo. Diferente do que era de se esperar, ou não, os cinco garotos ficaram mais do que felizes ao saber dessa oportunidade de competir pelo prêmio final do concurso do X Factor; claro, depois que a fase de choque passou. Até mesmo Zayn, que era quem me preocupava mais, aceitou numa boa ter sido “obrigado” a se juntar aos outros quatro. O caso é que valia a pena tentar. Se eles ganhassem e chegassem à final, poderiam se mostrar para o mundo e tentar seguir em frente com a carreira (seja levando a banda pra frente ou se dividindo em artistas solo), ou se perdessem a segunda etapa, voltariam pra as suas vidas normais como se nada disso tivesse acontecido. Não haveria lados negativos nessa história. Pelo menos era o que eu repetia para mim mesma todas as vezes que uma certa insegurança resolvia atacar.
Eu, Zayn, Niall e , nessa respectiva ordem, estávamos sentados no meio de algumas dezenas de alunos no auditório. Era a primeira reunião oficial de Romeu & Julieta, mas nenhum de nós quatro conseguia concentrar o foco nos professores ou no diretor que agora tomava o microfone para passar algumas informações. Minha sorte era que Nicholas estava ao meu lado direito e escutava tudo com atenção. Qualquer aviso mais importante seria captado por ele e mais tarde eu ficaria sabendo. Dei uma leve olhada para a minha esquerda e notei que Zayn e Ni se inclinavam sobre um pedaço de papel e rabiscavam palavras quase furiosamente. A mesma cena se repetira na tarde anterior, por isso eu já sabia do que se tratava.
Em função de vencer o concurso, todos nós teríamos que nos esforçar para conseguir votos. A votação online e aberta para o público só seria liberada no sábado, mas era bom que tivéssemos algumas cartas na manga para, digamos... Vender o peixe. Todos os nossos familiares/amigos/colegas/conhecidos/etc iriam votar no grupo dos meninos, mas ainda não seria o suficiente. Para expandir o nosso público (sim, nosso, pois eu me sentia parte da banda), tive a brilhante idéia de usar os meios sociais para interagir com possíveis “eleitores”, se por assim dizer, e conseguir votos. Fosse criando uma página no Facebook, Twitter oficial, Tumblr e até um possível canal no Youtube onde postaríamos mais vídeos dos meninos.
Infelizmente nada disso seria possível sem algo que havia passado despercebido antes, mas era um tanto essencial: O nome da banda. O que os meninos ao meu lado estavam tentando fazer tão enfurecidamente era exatamente isso, brincando com palavras na tentativa de encontrar alguma luz e inspiração para criar um nome original para a mais nova boy band da Inglaterra – e em breve do mundo.
- Porque não tentamos juntar as letras do nome de cada um e formar uma palavra? – estava mais elétrica que o normal desde a noite de quarta-feira e cochichou para chamar a nossa atenção.
- Z, N, L, L, H... – Niall rabiscou o papel e todos nos entreolhamos. Nada de bom sairia daquelas quatro letras. – Por que não temos nomes mais fáceis de juntar? Como N’sync, por exemplo.
- Hu... Ni, eu não acho que N’sync é a junção dos nomes deles... – Também mantive a minha voz razoavelmente baixa.
- Eu desisto. – Zayn deixou sua caneta de lado e bufou baixo. – Podemos nos chamar The Potato Chips e eu não me importo.
- Eu tenho quase certeza que essa banda já existe... – A garota ruiva coçou o queixo, caçando no fundo da sua memória onde poderia ter escutado um nome assim antes.
- The potato... Ships. Como a nave, , não batatinha… - Ajudei a minha amiga a se lembrar e Zayn me olhou com aquela cara de “você está mesmo mais preocupada com isso?” e eu deitei a cabeça em seu ombro, afim de melhorar a situação para o meu lado. – Não fica assim, baby. Tenho certeza que vocês vão pensar em alguma coisa...
- Vão mesmo! – me acompanhou. – Acho que os cinco devem se reunir e passar um bom tempo juntos. Sem distrações.
- É uma ótima idéia, cerejinha. Precisamos nos conhecer como uma banda. – Niall era, de longe, o mais animado com essa história toda de banda. Mesmo que Harry chegasse bem perto.
- Pode ser... – Zayn deu de ombros, mais preocupado em beijar a minha testa do que permanecer naquele assunto que já o estressava.
- Psiu, ? – Antes que eu pudesse falar algo ou roubar beijos e suspiros do meu namorado, Nick me cutucou com cuidado.
- Sim? – Me separei de Zayn com relutância e fitei quem me chamava.
- Estão chamando a gente ali... – Apontou para o canto do palco, onde Holly e uma senhora já de idade nos encaravam. Só ali é que eu percebi que o diretor já tinha parado de perambular com o microfone e alguns alunos formavam grupos ali ou aqui.
- Só a gente? – O aceno positivo de Nick indicava que eu teria que deixar os meus amigos cedo demais. Me virei para os três e já não me preocupei tanto com o tom da minha voz. – Eu tenho que ir, tá? A professora está chamando...
- Sempre com esse daí. – , com sua doçura de sempre, entortou o nariz para Nick, mas por sorte ele já não estava perto pra escutar.
- Não vou continuar discutindo sobre isso, . Nick e eu temos obrigações. Somos... – Me segurei para não terminar a frase com as palavras “um par”, pois isso faria Zayn apoiar a minha amiga e eu não queria mais uma cena de ciúmes que envolvesse os três. - ...Companheiros de peça.
- Nos encontramos logo, certo? – Zayn não parecia tão feliz assim em me ver ir embora com seu arqui-inimigo, mas compreendia que a culpa não era minha.
- Mais rápido do que você pensa. – Eu já havia me levantado da cadeira, mas me curvei para deixar um beijo em seus lábios antes de partir. – Juízo vocês três.
- Já estou com saudades! – Niall gritou e fingiu chorar descontroladamente.
Sim, meus amigos são todos idiotas. Mas essa era a melhor coisa neles. Nick me esperava no meio da rampa do corredor, estendendo o braço para que pudéssemos ir juntos até a suposta namorada dele e a outra mulher que eu não fazia idéia de quem fosse. Me apoiei na curva de seu braço e tive a leve impressão de escutar reclamações atrás de mim, preferindo não me virar pra olhar o que era. A Srt. Holly tinha um sorriso bem amigável estampado no rosto quando nos aproximamos e apontou para a outra mulher.
- Senhor Hoult, você deve se lembrar da nossa figurinista, certo? – Chamar Nick pelo sobrenome era uma forma de disfarçar o relacionamento secreto entre os dois e eu não contive um sorrisinho cúmplice. Ainda gostava de ser a única pessoa a saber que estavam juntos. – , gostaria que conhecesse Margot Clearwater. Ela é a responsável por todos os figurinos do espetáculo.
- Muito prazer... – Tentei sorrir simpática, mas algo nela me dava arrepios. Talvez fosse a verruga preta em seu queixo, ou quem sabe o olhar negro que pairava sobre mim cheio de julgamento. – A senhora vai fazer todos os figurinos?
- Não pense que sou velha demais para o trabalho só por causa da minha aparência. – Levantou uma sobrancelha, mais ríspida do que eu gostaria.
- Eu não... – Tentei me justificar, mas naquele caso era melhor permanecer calada. Holly me lançou um olhar que dizia: “ela é assim mesmo, não se preocupe”, o que me aliviou um pouco.
- É um prazer revê-la, Margot. – Nick fez uma reverência e a senhora sorriu. É, pelo visto era só de mim que ela não gostava.
- Digo o mesmo, meu jovem. – Tocou-lhe o rosto como as tias distantes fazem ao ver o sobrinho crescido depois de muitos anos.
- Bem, vamos ao que interessa? – A professora interrompeu as apresentações e apontou para a porta branca ao lado do palco, que eu já sabia levar até as coxias. – Vocês serão os primeiros a tirar as medidas porque Colin ainda quer conversar com o dois antes de serem liberados.
Ótimo. Mais conversa com o meu diretor preferido! Posso ter sido um pouco cínica nessa última frase, mas meus sentimentos pelo diretor da peça eram bons. Eu gostava das nossas seções juntos e admirava sua dedicação, o único problema era que eu tinha medo de não exceder suas expectativas; já que ele esperava ver em mim a Julieta reencarnada. Eu tentava elevar o meu nível a cada novo encontro, mas tinha certa dificuldade durante os diálogos no idioma vitoriano. Margot se mexeu quase como uma tartaruga e andou ao lado de Holly até a porta. Nick e ficamos um pouco para trás e nossos olhares queriam dizer a mesma coisa.
- Ela parece uma bruxa de uma daquelas histórias infantis, né? – Sussurrou ao meu pé do ouvido. – Aposto dez pratas que ela mora em uma casa de doces pra atrair criancinhas, assim como em João e Maria.
- Gosto mais da versão atual de João e Maria... Aquela em que eles caçam as bruxas. – Falei no mesmo tom e fingi segurar um arco e flecha invisível e disparar contra a senhora, causando risos em nós dois.
Por sorte minha, ninguém mais nos ouviu e logo estávamos em um dos camarins do backstage do auditório. Dentro dessa sala bem iluminada havia algumas araras com roupas variadas de outras apresentações, um espelho enorme que ia do chão até o teto, uma cadeira com rodinhas e uma mesa com papeis e lápis. Margot sentou-se sobre essa cadeira e deslizou até a lateral do espelho. Se antes ela já parecia uma bruxa, agora era uma bruxa fora de moda, pois tirou do pescoço um par de óculos com aros de oncinha e os colocou sobre a ponte do nariz. Nos olhando por cima das lentes, querendo saber quem tomaria uma atitude primeiro, mexeu o queixo como se arrumasse a dentadura dentro da boca.
- E então? – Sua voz se tornava ainda mais desagradável agora que os ruídos do auditório haviam sido eliminados.
- Primeiro as damas. – Nick praticamente me empurrou na jaula do leão e quando fui ver já estava na frente do espelho. O lancei um olhar feroz pelo reflexo, mas só ganhei um sorriso desleixado em troca.
- Deixe-me ajudá-la.
Holly não estava nada satisfeita com a traição que eu recebera e se juntou a mim, pegando a minha mochila de ombro e o meu casaco. Por sorte estava com uma calça leggin colada e uma blusa que também ficava rente ao corpo, então não teria que me despir para ter as minhas medidas anotadas. Tirei as sapatilhas dos pés e as chutei para a minha frente; ato que não agradou nada Margot. O que é? Ela estava esperando mais delicadeza ou etiqueta?! Só podia ser. Depois de um suspiro, a mais velha deslizou com as rodinhas pelo chão novamente até ficar atrás de mim. Esticou uma fita métrica em torno do meu quadril e depois olhou para Nick.
- Rapaz, poderia anotar as medidas que eu for falando? – Acho que usou toda a sua simpatia com o meu companheiro, o que não deixava nada de resto pra mim.
- É claro que sim! – O garoto se mexeu até a mesa e pegou o caderninho que a costureira indicava com a ponta do dedo.
- Anote o nome da sua amiga no topo da página e vá anotando o que eu disser... – Informou. Ótimo, agora todos naquela sala ficariam sabendo das minhas medidas. – Contorno de quadril... 88. Cintura: 62. Manequim 36. Quase 37, mas vamos fazer um esforço.
Na medida em que Margot deslizava a fita métrica pelo meu corpo sem nem pedir licença, ditava os números para Nick, que me olhava de esguelha e anotava tudo. Eu não me achava gorda demais e nem magra demais, mas depois daquela sessão de tortura com certeza sairia com a minha auto estima balançada. Tive meu busto, braço, pernas e até mesmo meu pulso medidos. Minha altura também foi tirada e descobri ter 1,72m, noticia que me alegrava muito, já que meu irmão tinha 1,71m, mas não acreditava quando eu afirmava ser mais alta que ele. Um centímetro podia ser pouco, mas ainda assim contava como diferença.
- Você pensa em fazer algum regime? – A voz de Margot me tirou de meus devaneios e eu a encarei sem saber se aquilo era uma indireta ou não.
- Eu não gosto de regimes... – Falei quase sem voz, sentindo-me desconfortável e invadida.
- Hm. Pena. – Disse simplesmente, fazendo milhões de criticas passarem pela minha cabeça.
- Eu estou gorda? – Me olhei no espelho com certo espanto. Já tinha sido mais reta no abdômen, mas não chegava a ter pneus pulando para fora da calça.
- Próximo? – Me ignorou e olhou para Nicholas, que assumiu o meu lugar.
- Você está ótima, . – Holly me devolveu meus pertences e tentou me acalmar. Ela também era mulher e por isso sabia das inseguranças que rondavam o universo feminino. Como se estivesse lendo meus pensamentos, acrescentou: – Não fique sem comer e nem faça alguma loucura.
Depois daquela manhã 50% produtiva e 50% preocupante, não me espantei em não ter conseguido comer direito durante o almoço. Os meninos notaram que havia algo de errado nisso, mas tentei disfarçar como pude e disse que estava tudo bem. Também sei que eles não acreditaram em mim, mas quando o relógio de casa bateu as 15h30min eles pareciam ter esquecido e deixado a preocupação de lado. Agradeci mentalmente por isso, já que qualquer um deles falaria que eu estava me importando com besteira e que minha forma estava ótima. Eu concordaria até algumas horas atrás, mas depois do meu encontro com Margot, algo tinha mudado. Não era por pura vaidade que eu estava começando a reparar no meu peso, e sim pelos anos de experiência que ela devia ter nas costas. A Academy não contrataria qualquer uma para fazer seus figurinos, o que me fazia pensar que aquela senhora tão chata conhecera bailarinas e bailarinos com corpos esculturais durante seus trabalhos. E se ela não gostou da minha silhueta... Bem, era porque tinha motivos.
Como Dorota não deu o ar da graça durante essa semana (por motivos pessoais), havia muito trabalho doméstico acumulado esperando a boa vontade de alguém se mexer e fazer alguma coisa. Em uma casa onde moram três homens e uma mulher, não era surpresa alguma quando eu fui a primeira a ter uma atitude. Além do mais, precisava me distrair e essa seria a saída perfeita. Com uma cesta de plástico na mão, revirei o meu quarto em busca de roupas sujas e que precisavam ser lavadas. Olhei embaixo na cama, no banheiro... E até mesmo entre as cortinas achei peças que pediam um banho. Logo meus braços começaram a fraquejar devido ao peso, mas levei aquilo como um exercício. Liam havia se disposto a me ajudar e acabava de passar por mim no corredor, quase derrubando tudo que tinha em mãos. Contendo o riso, fui até o quarto ao lado do meu, chutando a porta para esperar que Harry me atendesse.
- A porta tá aberta... – Haz cantarolou lá de dentro.
- Estou meio sem mãos aqui... Vem logo, Harry! – Não briguei, mas meu tom de voz passava urgência. Também pudera, cheia de coisa nas mãos anda ter que abrir a porta?
- A que devo a sua visita? – O garoto abriu a porta e quase caiu pra trás ao me ver. – Demorei muito pra abrir a porta? , você foi engolida por um monstro de roupas?
- Eu invejo a sua imaginação, pequeno cupcake. – Ri com um balanço de cabeça. – Mas ainda estou viva. Só vim ver se você tem alguma roupa pra lavar...
- Agora que você falou... – Harry levantou os braços para cheirar a camisa cinza que usava e a puxou por trás, deixando o seu torço branco e tatuado a mostra. – Aqui e...
- Harry, calma! – Ri quando ele atirou a camisa em cima de mim e começou a tirar as próprias calças. – É, acho que podemos dizer que você não é tímido.
Eu já havia visto Harry usando bem menos que aquela boxer branca que cobria as suas... “Partes preciosas”. Principalmente por ele ter uma mania incrível de andar pelado por aí, desde pequeno. Mas agora Harry estava crescendo e seu corpo tomando uma forma mais... Encorpada? É, essa é única palavra que eu consigo usar pra descrever. O moreno crescia mais bonito a cada dia e às vezes era difícil não olhar quando ele passava ao meu lado do jeito que veio ao mundo. Ainda assim... Ele era meu irmãozinho mais novo e eu não sentia qualquer tipo de atração física por ele. Aham. É. Balancei a cabeça involuntariamente, discutindo comigo mesma se eu havia esquecido de como se anda até que minhas pernas deram meia volta e eu comecei a descer as escadas.
- Se eu encontrar dinheiro no bolso, ficarei com ele! – Avisei já perto do hall de entrada.
- Falou comigo? – Liam parecia confuso ao me encontrar no meio do caminho.
- Com o Harry. – Apontei para as escadas com um ombro e o menino pegou a cesta de roupas da minha mão. – Conseguiu lugar a máquina de lavar?
- Mais ou menos... – Me deu as costas e eu o segui. – Porque uma máquina precisa de tantos botões assim? Pra mim só o de “liga” e “desliga” já estava de bom tamanho.
- A arte de lavar roupas é algo complicado, Li. – Me senti a expert no assunto e atravessamos a sala de jantar até chegar na cozinha, onde Liam abriu com o pé uma porta de correr. – Precisamos saber o ciclo das roupas, a textura, os produtos que devemos usar...
- Por isso é mais fácil mandar lavar roupa fora. – Resmungou. – Tem muita gente que faz isso, sabia?
- Mas muita gente não tem lavadora em casa! O que não é o nosso caso.
Atrás da cozinha existia uma espécie de quarto escondido. Eu quase nunca ia lá, porque Dorota considerava como o seu cantinho sagrado. Qualquer bagunça ali dentro era motivo de guerra! Mas em situações desesperadas, as medidas também são desesperadas. Minha montanha de roupas sujas estava grande demais para que eu passasse mais uma semana acumulando e acumulando. Não devia ser tão difícil assim, certo? Encarei as duas máquinas de tamanho semelhante a um fogão tradicional e parei para pensar. Uma era a máquina e a outra a secadora... Mas qual era qual? Liam estava ali dentro também e me olhava na espera de uma resposta.
- E então? O que fazemos agora?
- Agora colocamos as roupas dentro da maquia... – Levantei a tampa de Inox da sofisticada lavadora e torci pra que fosse a certa. – Mas só as coloridas... Vamos lavar as brancas separadas, ou vai manchar tudo.
- Sim, senhora. – Bateu continência como se fosse um soldado. – Acho que esqueci uma camisa no banheiro... Já volto!
Liam se apertou entre mim e a lavadora de roupa pra conseguir sair da lavanderia e sumiu do meu campo de visão. Despejei algumas das minhas roupas na máquina, junto com outras de Liam, Lou e a camiseta de Harry. Jeans também deveria ser lavado separadamente, por isso deixei a calça de lado por um instante. A caixa de sabão em pó estava na altura da minha cabeça, no armário, então puxei-a com cuidado e derramei um pouco do pó no compartimento apropriado. “Quem sabe mais um pouquinho...” Dei de ombros e derramei mais um pouco da farinha azul e dei de ombros. Que mal iria causar? No máximo as roupas ficariam mais cheirosas.
- Cheguei! – Meu ajudante voltou com uma camiseta na mão e a jogou na máquina aberta.
- Cesta! – Comemorei brincalhona, trocando de lugar com ele e passando para a cozinha. – Agora é só ligar e esperar a magia acontecer.
- Só mais uma coisa... E, pronto!
Escutei Liam falar mais alguma coisa, mas não sabia ao que ele se referia, já que me ocupei em pegar um copo de água na geladeira. Todos esses... Cinco minutos de trabalho duro haviam me deixado com uma sede horrível. Exageros a parte, é claro. Dora teria uma surpresa e tanto quando chegasse e descobrisse que lavamos as roupas... Talvez até ficasse orgulhosa! Sorri um pouco boba com esse pensamento e terminei de beber a água em meu copo, deixando-o na pia em seguida. “Ah! Quase me esqueci!” Voltei apressada para a lavanderia e passei mais uma vez por Liam, ficando no canto direito, onde deixara a calça de Harry. Fui observada com atenção, mas não me importei. Vasculhei bolso por bolso, encontrando uma nota de cinco libras na minha ultima tentativa. Comemorei e guardei no meu próprio bolso. Não era um valor tão grande, mas pagava um sorvete.
- Que coisa feia... – Fui reprovada com um suspiro.
- Uma garota tem que ganhar a vida, né? – Ri e bati sobre o bolso onde havia guardado a nota. – Se você não me dedurar, eu divido com você.
- Temos um trato. – Liam também riu e fez menção de esticar a mão, mas um movimento mais brusco da máquina de lavar nos assustou. – O que foi isso?
- Deve ser normal... – Olhávamos no mesmo ponto e eu torcia para estar certa.
Foi então que começou o nosso pesadelo: A tampa se abriu um pouco, mais ou menos dois centímetros, mas ainda era o suficiente pra que uma espuma branca começasse a escapar. Liam e eu nos olhamos sem saber o que estava acontecendo e nossa primeira reação foi fechar a tampa com mais força. Em seguida fechei a porta da lavanderia, praticamente nos trancando ali dentro. O mesmo barulho de antes voltou a nos perturbar e a máquina quase saía do lugar, balançando de um lado para o outro.
- O que fazemos agora? – Perguntei passando as mãos nos cabelos.
- A conhecedora da arte de lavar roupas aqui é você! – Soltou a tampa da máquina na esperança de que o barulho parasse, porém, com isso a espuma voltou a sair.
- Mas eu não conhecia essa parte da arte... – Me desesperei tentando jogar a espuma de volta para dentro da máquina de lavar. – Eu coloquei pouco sabão!
- Você colocou sabão?! Eu coloquei sabão! – Então estava explicado o que havia acontecido! A cena seria cômica se eu não estivesse começado a ficar ensopada de espuma. – Já sei...
- O que você... LIAM! – Ao me virar pra ver o que meu amigo faria pra resolver nosso problema, senti suas mãos agarrando as laterais do meu quadril e me levantando até que eu estivesse sentada em cima da tampa da máquina, quase batendo a cabeça no armário.
- Ainda assim não adianta! – Ele gargalhou ao meu ver praticamente cavalgando aquele eletrodoméstico, já que os movimentos e barulhos não queriam parar de jeito nenhum.
- Eu vou escorregar! – Acabei rindo também, tentando me segurar em qualquer lugar. Com os pulos que eu dava, a tampa abria e fechava, deixando montanhas de sabão voarem para o chão. Logo a nossa lavanderia estaria coberta por espuma.
- Cuidado pra não... – Liam deu um passo na minha direção, provavelmente vindo me ajudar, mas pisou em falso e ele mesmo acabou caindo. – Cair.
- Li-i? Você-ê est-tá bem?– Ri mais ainda olhando-o desaparecer no mar branco. Eu pulava tanto pra cima e pra baixo que parecia estar gaguejando. – Onde dês-desliga-a essa co-oisa?
- Tenta apertar algum botão! – Gritou, mas eu ainda não conseguia enxergá-lo. Àquela altura a espuma chegava até a altitude do meu joelho e em breve seriamos sufocados pelo sabão. Fechar a porta não tinha sido a atitude mais sábia, pois o lugar apertado ficava menor ainda e as bolhas não tinham pra onde escapar.
- ACHEI! – Dei meia volta tentando ler o visor digital da máquina de lavar apertei em “Cancelar”. No mesmo instante o touro mecânico que só devia deixar as roupas mais limpas morreu. Olhei de volta para onde havia visto Liam da última vez, mas ele não voltou a aparecer. – Conseguimos, Leeyum! Liam?
- RWAAAAAAAAR. – O menino deu um pulo e saiu do meio da espuma, jogando um punhado em mim.
- Muito engraçado! – Dessa vez não me assustei, mas escondi o rosto com as mãos pra não ser atingida nos olhos.
- Foi engraçado sim, ... – Aproveitou que a minha guarda estava baixa pegou mais um bocado da espuma e começou a colocar sobre a minha cabeça. Eu já conseguia sentir meu couro cabeludo ficando molhado e resolvi tomar uma atitude.
- Para com isso, Paaaaaayne. – Minha ultima palavra saiu mais arrastada do que deveria, pois saltei da maquia e perdi o equilíbrio ao pisar no chão. A madeira estava mais escorregadia do que eu imaginava, pois teria ido ao chão se Liam não tivesse me segurado. – Essa foi por pouco! Quase que eu caí como uma jaca mole, assim como você.
- Ah, é? – Levantou uma sobrancelha, não gostando nada da minha brincadeira. A próxima coisa que senti foi seu pé se arrastando atrás do meu e me tirando o equilíbrio mais uma vez.
- LIAM! – Gritei ao ser derrubada, mas não deixei barato e o puxei pela gola da camisa. Eu podia ter caído, mas pelo menos o levei junto.
- Você é maluca, ? – Reclamou ao ficar sentado, mas eu comecei a rir tanto que não pensei nem na possibilidade de tê-lo machucado.
- Você é que começou a guerra! – Fiquei de joelhos o mais rápido que pude e enchi a mão de espuma, jogando no meu adversário da melhor forma que consegui.
Em dez segundos nós dois já parecíamos duas crianças do jardim de infância, engatinhando um atrás do outro e vendo quem se sujava mais. Ambos estávamos parecendo dois pintos no lixo, mas meu cabelo grande e emaranhado me deixava com a aparência pior que a dele. O espaço estreito da lavanderia me fazia esbarrar nas quinas e objetos grandes, mas a dor era o menos me importava naquele momento. Eu ria tão descontroladamente que mal escutava os xingamentos de Li quando a espuma entrou em sua boca.
- O que é que está acontecendo aqui?! – Louis abriu a porta de uma vez, nos fazendo parar com a nossa guerra como se tivéssemos sido pegos em flagrante.
- Ops... – Dissemos em conjunto.
- , tem certeza que não quer vir com a gente? – Lou apareceu na porta do meu quarto com uma toalha amarrada à cintura e outra à cabeça.
- Tenho sim, Boo... – Fiz um pequeno bico enquanto passava a escova de cabelo entre os meus fios molhados. – Mas aproveitem, ok?
- Você é que sabe. – Deu um meio sorriso e se virou para entrar no próprio quarto.
Depois de limpar toda a bagunça que eu e Liam fizemos na lavanderia de casa, conseguimos terminar de lavar todas as roupas e boa parte delas já estava seca e dobrada perfeitamente. Apenas as que precisavam ser passadas é que continuaram dentro de um cesto, esperando por Dorota. Tomei um longo banho na tentativa de relaxar depois da minha tarde de trabalho braçal e fiz uma hidratação rápida nos cabelos; daquela que não requer mais de quinze minutos. Enquanto trocava a toalha por roupas mais confortáveis, como um shot de algodão e uma camiseta, recebi vários convites para sair. Era uma noite de sexta feira e a cidade não iria dormir antes das três horas da manhã! Ou pelo menos esse foi o argumento que Harry usara para tentar me convencer. Eu não estava querendo ser chata, só tinha algumas coisas pra fazer em casa... Coisas muito importantes, diga-se de passagem. Pelo menos não precisei me sentir culpada em acabar com o barato dos meninos, porque eles decidiram ir mesmo sem mim. Desconfio que Niall, Zayn e também foram incluídos no passeio de Lou, Haz e Li, mas nada me faria mudar de idéia.
- Toc toc. – Liam usou uma onomatopéia para chamar a minha atenção e me virei na direção da porta, parando no meio do caminho que eu fazia até o banheiro. – Porque você não vai com a gente?
- Não é por mal, Leeyum! É só que o Nick vai passar aqui amanhã de manhã... E não seria legal eu acordar com ressaca ou cansada demais. – Tentei me explicar e, surpreendentemente, a expressão facial que tomou conta do menino foi a mesma que Zayn fizera ao receber a mesma noticia. – Ele vai me dar uma ajuda com as falas da peça.
- Sei, sei... É mesmo uma pena. – Não parecia estar tão convencido assim das intenções da visita do meu colega, mas aceitou com um levanto de sobrancelha. – De qualquer forma... Poderia me dar uma ajuda?
- Claro, sweety. Do que você precisa?
- Eu não faço idéia do que usar... – Coçou a nunca meio sem jeito. – Poderia escolher uma roupa pra mim?
- É claro que sim! – Me senti um tipo de babá, ou até mesmo mãe, se prontificando para escolher o que o filho iria usar na sua primeira noitada com amigos. – Já te encontro no seu quarto, ok?
- Valeu, ! – Fez um aceno com a mão e também partiu.
Balancei a cabeça, rindo comigo mesma. Mas é pra isso que servem as amigas, né? Dei a minha própria volta e entrei no banheiro, deixando a minha escova de cabelo cor de rosa sobre a bancada da pia e agarrando a de dentes de mesma cor. A pasta também era rosa e comecei a notar um padrão ali. “Uau, eu gosto muito de rosa...” Mais da metade das minhas coisas dentro daquele cômodo era dessa tonalidade, até mesmo as paredes que possuíam certo toque salmão. Dei de ombros sem querer me atentar muito àquele detalhe e me preocupei em continuar escovando meus dentes brancos. Não havia comido nada desde o almoço, mas me enganava alegando que não sentia fome. O caso é que mesmo depois de ter me distraído bastante e tirado algumas idéias ruins da minha cabeça, os olhares julgadores de Margot ao tirar as minhas medidas não me abandonaram.
Cuspi a espuma e fiz gargarejo, também jogando a água gelada no meu rosto, talvez para acordar ou simplesmente pra me distrair com a sensação de frio e deixar os pensamentos inseguros guardados no fundo da minha memória. Apaguei a luz do banheiro ao sair, mas deixei a do quarto acesa. Ainda voltaria pra lá depois de separar o modelito para Liam. Usar esse termo “modelito” pode até ser gay, mas contanto que fosse escutado apenas dentro da minha cabeça, não haveria problema algum!
O barulho de água correndo informava que Liam estava tomando banho, mas utilizei a minha utilidade para entrar no quarto sem ser convidada. A porta da suíte estava entreaberta e deixava uma fresta de luz e vapor invadir o cômodo maior. O cheiro de creme de barbear e sabão preencheu os meus pulmões e controlei a minha vontade de chegar mais perto do banheiro. Segui direto para o guarda roupa na tentativa de achar alguma roupa adequada para Liam usar. A primeira coisa que percebi foram as fotos grudadas no interior da porta de madeira. Recordava já ter ouvido falar que havia fotos minhas ali, mas esperava que outras pessoas também a enfeitassem; como de seus pais ou até mesmo de amigos de Wolverhampton. Nada. Apenas fotos de nós dois juntos, ou só minhas.
Preferi dar de ombros e não pensar no que aquilo significava, até porque todos já sabemos bem o motivo que levava Liam a ter fotografias minhas pregadas em um lugar de fácil alcance. Mexi entre um cabide e outro, passeando os olhos pelas tonalidades das camisas penduradas, desejando que algum tipo de ordenação pudesse ser usado ali. Talvez, se eu ficasse bem entediada, voltaria ali para organizar as peças por cor e ocasião; como havia feito com as de meu irmão. Estava tão distraída naquele pedacinho do mundo de Liam Payne que nem percebi quando o chuveiro foi desligado e o dito cujo parou a poucos metros de mim.
- Encontrou alguma coisa interessante aí? – A voz masculina me fez virar e desejei não tê-lo feito. Liam também usava uma toalha amarrada à cintura, mas diferentemente do meu irmão, ele estava extremamente sexy. O cabelo bagunçado e o corpo levemente molhado só aumentaram a minha imaginação.
- Quase! – Tentei disfarçar o rubor em minhas bochechas e voltei a encarar as roupas. – Você tem MUITAS camisas de super heróis.
- São um hobby. – Senti sua risada encher meus ouvidos e tive que me segurar pra não virar mais uma vez.
- Pra onde vocês vão mesmo? – Levantei uma sobrancelha, concentrando-me em minha dura tarefa. Peguei uma calça jeans escura e a atirei na cama atrás de mim.
- Acho que é um restaurante mexicano chamado Cucarachas. – Rio do nome do estabelecimento e vi de soslaio que ele apontava para uma das gavetas. – Pode me passar uma cueca, por favor?
- Restaurante mexicano? Aceito Fajitas pra viagem! – Tentei descontrair o ambiente na tentativa de não deixar o meu nervosismo transparecer. Ele iria se trocar na minha frente? Ou, no caso... Nas minhas costas? De qualquer forma, abri a gaveta indicada e puxei a primeira peça íntima que encontrei. – Aqui, Li.
- Obrigado! – Parecia casual demais, tranqüilo demais, levando em consideração que eu acabara de ver a sua gaveta de roupas de baixo. – E pode deixar que não me esquecerei das suas Fajitas.
- É bom mesmo! – Tirei dois cabides do guarda roupa: O primeiro com uma camisa branca e o segundo com uma outra camisa de botões, essa última sendo de um azul bem claro. Não estava frio e nem quente, mas só pra prevenir, também peguei uma jaqueta jeans acinzentada e coloquei tudo em cima da cama; onde a calça já não estava mais. – E pode usar aquele Sneaker branco? Acho que vai ficar bem legal.
- O que eu faria sem você, ? – Abraçou-me assim que eu virei em sua direção. Ainda estava sem camisa, mas pelo a calça jeans já estava em seu lugar.
- Absolutamente nada! Agora vou deixar você se trocar em paz. – Assim que nos separamos, fui até a porta, mas não sem antes dar uma espiada por cima do meu ombro. – Aliás... Eu gosto de boxers.
“Eu gosto de boxers.” Repeti na minha cabeça e rolei os olhos da minha própria frase ridícula. “Sério, ? Sério?” Eu sabia que falara besteira, mas o tom avermelhado que Liam ganhou nas bochechas foi o suficiente pra me deixar satisfeita. Eu não costumava sair por aí comentando sobre o tipo de cueca que eu gosto ou deixo de gostar, mas naquele momento simplesmente... Escapuliu. Voltei para o meu quarto antes de falar mais alguma coisa de que pudesse me arrepender e passei os dedos pelos cabelos que, por falar nisso, estavam mais sedosos do que nunca. Ao lado da minha cama, sob a minha mesinha de cabeceira, se encontrava o que seria a minha distração pelo resto da noite. Infelizmente não era um iPod, um DVD, um jogo de vídeo game e nem ao menos um livro... Era o roteiro de Romeu & Julieta que eu vinha falhando tão miseravelmente em decorar. As folhas estavam marcando onde eu havia terminado na ultima vez em que o pegara pra estudar, mas tinha uma leve impressão de que seria melhor começar tudo de novo.
Peguei o grosso caderno de qualquer jeito e também o meu celular. Se eu ficasse pelo quarto, acabaria me distraindo com alguma coisa idiota ou até mesmo cairia no sono. Por isso aproveitaria o silêncio da casa pra poder ficar em paz e ler no sofá da sala. Desci as escadas e encontrei com meu irmão e Harry parados perto da porta, ambos bem arrumados e cheirosos. O mais alto usava uma camisa de manga comprida azul e repleta de corações e pontinhos brancos; a qual eu podia jurar ser da marca Burberry, e uma calça jeans skynny mais apertada que a minha. Lou não ficava pra trás e usava uma camisa social listrada, com um casaco mais desleixado pra dar a impressão de “high low”. Os dois estavam lindos, mas eu ainda queria ver Liam usando a minha criação.
- Liam, vai demorar? – Louis bateu o pé no chão, impaciente.
- Amei a camisa, Harry. – Sorri ao passar rapidamente para a sala e deixar meu roteiro em cima da mesinha de centro.
- Foi presente da minha mãe! – Sorriu de volta e pareceu uma criancinha a fazê-lo.
- Não cabia mais nela? – Louis fez uma piada e só ele estava rindo.
- Pois eu achei muito linda. E muito máscula também... – Eu podia não ter tanta certeza da última parte, mas ninguém precisa saber desse detalhe.
- Já cheguei, já cheguei! – Li desceu as escadas correndo e o seu perfume estava ainda mais forte que dos outros dois. – Como estou?
- Lindo! – Comemorei com orgulho do meu look. – Mas falta alguma coisa...
- O que? – Parou de frente pra mim e eu descobri o que era.
- Fica melhor assim, oh... – Desci o olhar dos olhos para o pescoço de Liam e terminei nos primeiros botões da camisa, abrindo-a até a metade. – Pronto!
- Obrigado. – Sorriu em agradecimento e deixou um beijo na minha testa.
- Está de olho em alguma garota, Liam? – Louis brincou, provavelmente porque Li estava bonito de verdade.
- Estou, mas ela resolveu ficar em casa hoje. – Respondeu na maior naturalidade e eu encarei o teto.
- Ui. – Harry me cutucou disfarçadamente, como se eu não tivesse entendido a indireta pra mim.
- Bom, meninos... Se divirtam, ok? – Passei entre os três e abri a porta.
- Já está expulsando a gente! – Lou fez uma careta, mas passou por mim e deixou um beijo na minha bochecha. – Não espere acordada!
- Até depois, . – Harry foi o segundo a passar, beijando a minha outra bochecha.
- Se mudar de idéia, já sabe onde estamos... – Com outro beijo em minha testa, Liam também se foi.
Fiquei observando-os irem até o carro e se acomodarem. Ainda dei alguns acenos de despedida para então fechar a porta de casa e trancar com a chave. De repente tudo pareceu tão vazio que eu até mesmo me assustei. Era sempre uma confusão tão grande naquela casa que, quando os meninos não estavam, eu me sentia estranhamente solitária. O primeiro pensamento que se passou pela minha cabeça foi: “Ainda bem que a casa não fica vazia assim por mais que uma noite!” Mas será que isso continuaria sendo verdade? E se os meninos alavancassem em uma carreira musical e começassem a viajar por meses para divulgar o seu trabalho? Ou até mesmo uma situação um pouco menos extrema... E quando eles começassem a se casar e mudar para as suas próprias casas? Eu ficaria sozinha?
“Ok, chega de drama!” Pedi a mim mesma e sacudi a cabeça. Ainda faltava muito tempo pra uma dessas coisas acontecerem... Não faltava? Rumei para a sala e me joguei no sofá, mantendo o controle da TV o mais longe possível de mim e o meu celular na mesa de centro. A voz da procrastinação tentou me convencer a checar o twitter, as mensagens... Até mesmo os meus emails! Mas fui mais forte e resisti a tentação. Uma vez com o celular na mão, seria difícil deixá-lo de lado e me concentrar no que era importante de verdade. Peguei o roteiro e o abri na primeira página, olhando de relance para o relógio na parede. Ainda eram 19h40min, o que me dava várias horas antes de ter que ir dormir.
Depois do que pareceu ser quatro horas de leitura, eu não saíra nem da página número vinte. As palavras e expressões travavam a minha língua e eu tentava culpar o meu sotaque. Se para uma pessoa inglesa aquelas frases rebuscadas já davam certo trabalho, imagine pra mim, que dominava melhor um idioma completamente diferente! Mas não era do meu feitio desistir; não depois de tudo pra conseguir e manter essa chance de interpretar a personagem principal. Seria tão mais fácil se eu pudesse só dançar... Pois seria bem mais simples se eu pudesse apenas interpretar com o meu corpo e meus movimentos, sem ter que usar a minha voz pra nada. Entretanto, como a vida não é um mar de rosas, eu teria que me contentar e “dar a cara a tapa”. Nunca agradeci tanto por Nick ter se disposto a me ajudar com qualquer coisa que eu precisasse. Seria a primeira vez que ele me visitaria em casa, sem falar que nós só nos vimos fora da Academy durante as festas de Halloween e de início de aulas, o que não contava muito. Eu estaria nervosa se não soubesse do relacionamento de Nicholas com a professora Holly, mas naquele momento estava bem tranqüila. Nós só iríamos passar algumas falas e eu o obrigaria a me ensinar seus truques pra recitar tão perfeitamente.
“Ela ensina a tocha a ser luzente. Dir-se-ia que da face está pendente da noite, tal qual jóia mui preciosa da orelha de uma etíope mimosa. Bela demais para o uso, muito cara para a vida terrena. Como clara pomba ao lado de gralhas tagarelas, anda no meio das demais donzelas. Vou procurá-la, ao terminar a dança porque a esta rude mão possa dar a ansa de tocar nela e, assim, ficar bendita. Meu coração, até hoje, teve a dita de conhecer o amor? Oh! Que simpleza! Nunca soube até agora o que é beleza!” Li na minha cabeça e fui me lembrando como Nick a recitou aquele dia no ensaio, sem nem pestanejar. Eu tentava me ver como a Julieta, com aquela beleza tão genuína e inspiradora, que fizera dois homens caírem de amores aos seus pés.
Enquanto tentava achar semelhanças entre nós duas e até mesmo ignorando a pontada de inveja que eu sentia dela, fui distraída quando a campainha de casa soou. Será que eu podia me fingir de morta? Ou fazer de conta que ninguém estava em casa? Devia ser apenas Marge, a vizinha... Ou talvez Olivia, uma menina que morava na rua de trás e que eu ainda não tivera a oportunidade de conhecer. Como não estava esperando ninguém e todos os meus amigos estavam, provavelmente, se empanturrando de nachos e enchendo a cara de margaritas; um verdadeiro banquete mexicano, fiquei encolhida no sofá, mas não foi o suficiente. A campainha voltou a tocar e eu bufei. Deixei o roteiro de lado e me espreguicei devagar. Ao menos, se fosse Marge mesmo, ela poderia estar querendo entregar um prato de biscoitos. Sim, eu estava tentando não comer, mas a fome já era tanta que eu começava a escutar alguns roncos vindo do meu estômago.
Atravessei o corredor calmamente, pois se a pessoa tinha esperado até agora, esperaria mais um pouco até eu chegar na porta. Destranquei com a chave e abri um sorriso fraco, um tanto falso. Não pra ser antipática, apenas pra mostrar que não era educado aparecer na casa da pessoa depois do horário de recolher – se é que ainda existe algo assim, mas enfim. Assim que vi quem me esperava na varanda, toda a falsidade foi embora e uma emoção que eu já conhecia encheu o meu peito. Zayn segurava uma sacola de papel e tinha o sorriso mais lindo do mundo nos lábios mais lindos ainda. Antes de falar qualquer coisa, me joguei em seu pescoço como se não o visse há dias. Fui envolvida com a mesma urgência e ganhei um breve beijo nos lábios.
- Zayn, o que você está fazendo aqui? – Minha voz não tinha tom de desapontamento algum. Olhei no relógio, imaginando que já era bem tarde, mas comprovei que as horas não voam quando a gente não se diverte. – Já passam das... Nove e meia?
- Eu trouxe brownie e sorvete... – Apontou para a sacola. – E também queria te ver...
- Você me ganhou em “brownies”. – Ri baixo, deixando a minha parte esfomeada falar mais alto. – Pode entrar!
- Depois de você. – Fez uma espécie de reverência e me deixou passar pela porta.
- Mercí. – Agradeci com outra reverência e passei, puxando-o comigo pela mão. – Achei que você sairia com os meninos hoje...
- O Niall me chamou, mas ao saber que você não ia... – Me puxou pelo pulso antes que eu pudesse chegar à sala de jantar e juntou nossos corpos. – Eu preferi mudar os meus planos.
- Estou feliz que tenha mudado... – Na distância que estávamos, não foi necessário mais que um sussurro. O segurei delicadamente pela lateral do rosto e selei os nossos lábios em um beijo um pouco mais prolongado que o primeiro.
- Se eu soubesse que você ficaria tão feliz, eu teria vindo mais cedo. – Não me largou, mas começamos a andar para a cozinha.
- Foi bom você só ter chegado agora. – Dei meia volta e Zayn me abraçou de lado para que andássemos mais rápido. – Eu estava estudando o roteiro da peça, mas não tive muito sucesso. Ao menos foi bom tentar!
- Ainda com dificuldade? – Puxou um banco de madeira de baixo da bancada americana e sentou ali.
- Esse é o mínimo que eu posso falar. – Balancei a cabeça com descrença de mim mesma e passei os dedos entre os fios escuros de Zayn. Dei uma pequena voltinha e fui até o armário para pegar os pratos e talheres. – Brownie com sorvete, é?
- Brownie de chocolate e sorvete de baunilha! – Acrescentou e tirou os doces de dentro do saco.
- Meus preferidos! – Celebrei com um sorriso infantil e meus olhos brilharam quando encarei aquele pecado gastronômico cobre a bancada. – Eu estou com tanta fome!
- Viu como sou um bom namorado? – Pegou um dos pratos que eu coloquei perto de nós e começou a nos servir enquanto eu me acomodava ao seu lado.
- Você é um namorado perfeito, Malik. – Antes mesmo que a colher de sorvete que Zayn ia colocar no meu prato, peguei um pedaço de brownie e dei uma mordida um tanto... Grande. – Hm, hm, hmmmm.
- Alguém estava com fome. – Ele riu e eu nem me importei em manter a compostura. Já estava toda desarrumada e ainda por cima vestida com pijama... Que mal tinha em atacar o bolo?
- Faz anos que eu não como! – Falei sem pensar após engolir. – Estava com fome mesmo.
- Eu espero que o dicionário tenha mudado o significado de “anos” para “duas horas atrás”, porque se a senhorita não jantou... – Aí vinha uma reclamação, eu podia sentir.
- É claro que eu jantei! – Menti. – Foi só modo de falar...
- Mas coma mais, só por precaução. – Arqueou as sobrancelhas e colocou mais um pedaço de brownie no meu prato, seguido de mais sorvete.
- Powde dewixwar. – Coloquei a mão na frente da boca, mas ainda assim falei enquanto mastigava uma nova mordida.
- Quanta classe, Tomlinson. – Me fez rir, logo atacando o seu próprio doce.
Depois da terceira mordida no brownie e na segunda colherada cheia de sorvete, comecei a pensar em todas as calorias que poderia estar ingerindo naquela brincadeira. As palavras de Holly acertaram em cheio a minha mente, me pedindo pra não deixar de comer e em seguida olhei para o sorriso que Zayn abria cada vez que me via comer daquela surpresa que ele se dispusera a fazer. Zayn viu como eu fiquei mexida depois do encontro com Margot e eu sabia que ele me conhecia o suficiente pra saber que aquilo ficaria na minha cabeça mais do que devia, então desconfiava que os brownies com sorvete tivessem um propósito maior que o aparente. O que ele falou em seguida confirmou as minhas teorias antes do que eu imaginava.
- Você é linda, ... – Engoliu um pouco de sorvete e continuou me olhando. – Do jeito que você é.
- Eu sei o que você está tentando fazer... – O olhei um pouco envergonhada, colocando metade do segundo bolinho no prato. – Você está preocupado. Mas não precisa!
- Me pedir pra não me preocupar com você é como pedir para o Niall dividir o último pedaço de pizza. – Aquela comparação me fez rir, mesmo que eu não quisesse.
- Pode tentar, mas é inútil! – Dei de ombros e também causei risadas no outro.
- Exatamente. – Esticou o braço e pegou o brownie do meu prato, melando-o com sorvete. – Vou ter que fazer barulho de avião também?
- Eu adoraria ver isso! – Minha risada baixa saiu pelo nariz, pois eu já abria a boca esperando-o aproximar o doce.
- Boa menina. – Sorriu satisfeito quando eu mordi mais da metade e balancei a cabeça negativamente. Algo me dizia que ele ficaria vigiando minhas refeições de agora em diante. – Está suja aqui, babe...
- Hm? – Franzi o cenho enquanto terminava de mastigar e Zayn passou a ponta do polegar no canto dos meus lábios, tirando um pouco de sorvete que estava por ali. – Obrigada.
- E eu? Estou sujo? – Nem se deu ao trabalho de disfarçar enquanto pegava uma colher e sujava praticamente sua boca inteira com o sorvete de baunilha.
- Ah, só um pouquinho... – Dei de ombros como se não soubesse o que ele queria e limpei as mãos em um guardanapo que encontrei ali perto.
- É? Só um pouco? – Tocou na minha perna com o joelho, pedindo alguma reação mais eficaz da minha parte.
- Quase nada... – Sorri marota e levantei do banco. – Mas acho que posso limpar.
Zayn permitiu que eu me aproximasse, com aquele sorrisinho que queria dizer “achei que teria que ser mais óbvio”. Inclinei o rosto na direção do dele e no momento em que nossas respirações se misturaram, ele fechou os olhos. Comecei com alguns beijos que “batiam na trave” e ainda o olhava na esperança de receber uma reclamação. Meu desejo foi atendido como se tivesse lido a minha mente, pois Zayn segurou a minha cintura na intenção de pedir mais. Nada mais justo que também atendê-lo, certo? Cerrei as pálpebras e juntei nossas bocas delicadamente, arrastando a minha língua pelo espaço onde eu sabia ter sorvete. O gosto da baunilha logo me invadiu e eu desejei mais. Zayn subiu uma mão pelas minhas costas e me prendeu junto de si, o que agradou-me bastante. Minhas próprias mãos, que até então estavam repousando sobre seus ombros, subiram até a nuca e seguraram ali com força suficiente para que eu pudesse me mexer até estar sentada no colo do garoto.
Cair do banco era a última de nossas preocupações no momento, pois só prestávamos atenção em como nossos lábios se chocavam com vontade e quase brigávamos pelo sabor leve do brownie, mas ainda assim bastante doce. A mão de Zayn que continuava em minha cintura deslizou até a minha perna e seu apoio me deu mais segurança. Sem que eu percebesse, ou não, meu quadril se mexeu lenta e quase imperceptivelmente em algumas direções, provocante. Nunca agradeci tanto por estar sozinha em casa. Era incrível como apenas um toque, uma conexão entre nossos corpos para que eu perdesse todas as minhas barreiras de proteção e até mesmo o sentido de meus pensamentos. A cozinha podia começar a pegar fogo a qualquer momento que eu só perceberia depois que tudo estivesse em cinzas. Mesmo equilibrados naquele lugar nenhum de nós tinha... Mobilidade suficiente.
- Acho que devemos ir para a sala... – Zayn sussurrou em meus lábios e eu não me atrevi nem a abrir os olhos. – Lá é mais...
- Confortável. – Completei a sua frase quando ele não parecia pensar direito nos argumentos que usaria e concordei de bom grado em ir para outro lugar.
Fiz a menção de descer de seu colo, mas Zayn me interrompeu e levantou com tudo. Prendi minhas pernas em volta da cintura dele como um ato de reflexo e escorreguei os lábios pelo pescoço que me parecia macio demais e tentador demais para os meus dentes. Incrivelmente não batemos em nada no caminho para fora da cozinha, mas isso também era algo que pouco me importava. Qualquer dor que móveis pudessem causar em mim não eram absolutamente nada comparada ao desejo que emanava de todos os poros da minha pele. Deixei uma mordida um pouco mais forte em uma área estratégica do pescoço de Zayn, chupando o local para me assegurar de que ficaria uma marca ali; uma marca minha. O menino parecia saber meu plano diabólico de marcar território, por isso soltou uma risada gostosa perto da minha orelha. Perto demais.
Só percebi que estava de volta à sala quando senti a gravidade me puxando para baixo e bati as costas nada delicadamente contra o sofá. Eu teria reclamado se Zayn não tivesse prontamente se deitado sobre mim e acabado com a distância entre nossas bocas. Mais um beijo de força inebriante teve início e minhas mãos se perderam pelas costas do homem, empurrando a jaqueta para fora de seus ombros e arranhando-o por cima da camisa. Era como se nada pudesse me parar e Zayn não ficava pra trás, apertando os nossos corpos na tentativa de provar errada a lei que afirma que “dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço”. Senti suas mãos tateando as minhas costas e contornando a linha que ia da minha nuca até a parte baixa das costas, mas não parou por ali. Arriscou um movimento mais ousado e apertou a minha bunda. Vendo que eu não tive nenhuma reação negativa, soltou o ar assim que separou nossos lábios e mordiscou o meu inferior.
- Tá de brincadeira comigo? – Bufou irritado por alguma razão e eu ainda estava aérea demais pra entender o que estava acontecendo.
- O que... – Mas então eu escutei: O toque do celular dele. – Você tem que atender?
- Esse é o toque da minha mãe... – Calculou por uns dois segundos se deveria atender ou não e logo deu de ombros. – Vai pra caixa postal.
- Baby... – Por mais que eu quisesse continuar, Trisha poderia estar no meio de uma emergência.
- Eu conheço esse tom... – Soltou um muxoxo e saiu de cima de mim, sentando em uma parte livre do sofá e voltando a pegar a jaqueta que eu jogara no chão. – Mas não acabamos por aqui!
- Claro que não. – Mordi o lábio inferior e também sentei, tentando me recompor. Meu cabelo estava perfeitamente arrumado antes de Zayn chegar, mas agora parecia um ninho de passarinho.
- O que é, mum? – Atendeu a ligação de qualquer jeito.
- Fala direito, Malik! – Cochichei para não atrapalhar e faltou pouco para que ele me mostrasse o dedo do meio.
- Aham, aham... Eu sei, mum... – Rolou os olhos e eu acabei me divertindo com aquilo mais do que devia. – É, eu tô aqui na ... Sim, eu digo que você mandou oi... Ela adorou os brownies... Mum, eu tenho que ir, viu? Pode deixar... Eu também te amo...
- Que filho mais adorável! – Comentei ao ver que ele já encerrara a chamada.
- Sorte a sua que a sua mãe nunca te liga! – Deixou o aparelho ao lado do meu na mesinha de centro e encontrou as costas na almofada do sofá, respirando fundo.
- Como assim, sorte? – Deixei uma gargalhada escapar. – Acha que é sorte que o noivo da sua mãe ligue e mande mensagem todos os dias pra tirar duvidas sobre assuntos de casamento?
- Dan continua testando a sua paciência? – Já mais calmo, Zayn ergueu os cantos da boca em um sorriso.
- Está pior que nunca! Acredita que ele está pensando e comprar borboletas congeladas pra soltar na hora do “eu aceito”? – Fiquei de joelhos no sofá e fiz gestos para representar o momento do vôo das borboletas. – Mas eu falei que as asas delas podem demorar pra descongelar e que isso podia ser ruim.
- Ao menos você o fez mudar de idéia. – Não sei se ele riu mais da minha mímica ou da idéia de Dan, mas o caso que é foi impossível ouvir sua risada e não rir junto. O jeito que os olhos dele se comprimem e seu nariz entorta de leve é simplesmente encantador demais. – Por falar em asas... Lembra que me pediu pra desenhar algo pra você tatuar?
- É claro que sim! – Senti um frio na barriga por nervosismo adiantado, mas lembrava muito bem daquela conversa.
- Eu fiz alguns rabiscos, mas espero que goste... – Levantou levemente pra tirar um papel branco do bolso. – É algo bem simples, como você pediu... E posso fazer de novo se não gostar.
- Tenho certeza que vou amar! – Só faltei arrancar o papel da mão de Zayn quando este me entregou o papel dobrado. Logo tratei de abri-lo e só soube sorrir.
- Gostou? – Estudava a minha expressão, tentando ler o meu veredicto.
- É perfeita, Zayn... – Falei baixinho, ainda observando aquelas asas tão delicadas e que ainda pareciam fortes o bastante. – Essa frase...
- Eu tentei escrever aquilo que você disse ser a última coisa que seu avô te disse. – Sorriu com cuidado por estar tocando naquele assunto. – É a minha letra, mas você pode trocar pela dele. É bem fácil, é só...
- Não, Zayn. – O interrompi, puxando seu olhar do papel pra mim. – Está perfeita assim.
- Tem certeza? – Sim, eu tinha certeza. Queria a sua letra gravada em mim, pois isso mostrava o quanto eu estava certa de meus sentimentos por ele. Sei que disse que tatuar nome de namorado/a na pele é besteira, mas aquilo era outra coisa.
- Nunca estive tão certa. – Suspirei por saber que era verdade. – Pode marcar um encontro com o seu tatuador...
- E nós iremos juntos. – Pegou a minha mão e beijou os nós de meus dedos.
- Isso mesmo! – Me derreti ao seu toque e praticamente desmanchei.
- Essa sala costumava ter um banheiro... – Comentou olhando para os lados.
- Atrás da árvore de natal! – Ri e apontei para a porta bem escondida atrás do nosso pinheiro decorado.
- Eu sabia!
Levantou com um olhar de espião super secreto e segurou meu queixo para levantar meu rosto e deixar um leve beijo em meus lábios. Retribui no mesmo instante e o observei se afastar para ir até o banheiro. Meu olhar se perdeu na árvore de natal e me peguei olhando os enfeites. As bolas vermelhas e brilhantes, as luzes que piscavam... Ainda não tinha planos para o natal – já que não poderia ir à Paris, devido ao convite que minha avó recebeu para passar o natal com a família de Dan (o que não me incluía... ainda) -, mas sabia de uma coisa: Queria passar ao lado dos meus amigos. Quem sabe não fizéssemos a nossa própria ceia? É, iria conversar sobre isso com eles. Seria tão divertido!
O barulho de algo vibrando sob o vidro da mesinha de centro chamou a minha atenção e meu olhar. Achando que era o meu próprio aparelho, me aproximei um pouco para averiguar, sentindo um calafrio na espinha ao perceber do que se tratava. Não era o meu celular, mas sim o de Zayn que alertava o recebimento de uma mensagem. Eu não faço o tipo bisbilhoteira e desconfiada, mas aquele caso algo prendeu meu interesse. “Brigitte” era o nome do remetente. O que ela poderia querer com ele? Tentava me acalmar e convencer a mim mesma de que não deveria ser nada demais, porém, a curiosidade foi maior. Peguei o aparelho e apertei para ler a tal mensagem, claramente disposta a encarar o que quer que estivesse escrito ali dentro.
Senti uma náusea se apoderar do meu estômago e um turbilhão de perguntas invadirem a minha mente. Brigitte... Na casa de Zayn? Um lado da minha consciência tentava encontrar uma explicação plausível para aquilo, mas parecia cada vez mais impossível. Mesmo que ela tivesse feito uma visita inocente... Porque teria tirado o colar que estava usando? Quem tira o colar quando está na casa de outra pessoa? Que eu saiba, garotas costumam tirar o colar quando vão dormir, ou tomar banho... E eu não aceitava nenhuma dessas opções. Não podia aceitar. Pra começo de conversa, não queria aceitar nem que ela estivera com ele na noite anterior. Em sua casa.
O barulho da porta do banheiro sendo destrancada me tirou de minhas especulações e eu simplesmente me levantei e larguei o aparelho celular em cima do sofá. Virei de costas antes que Zayn pudesse me olhar e deixei a sala. Não tinha coragem e nem vontade de olhá-lo. Não quando a minha raiva e frustração eram maiores que qualquer coisa. Vai ver eu sou o tipo desconfiada e ciumenta, mas só não percebera isso até aquele momento, até porque não tivera motivos.
- Babe, onde você está indo? – Pela sua voz, eu sabia que ele sorria. Por enquanto.
- Guardar o sorvete na geladeira. – O cinismo estampava a minha voz. – Ah, e a Brie mandou uma mensagem, Hon.
- Ela... – Senti que sua voz se tornou pálida, se é que é possível algo assim. Não o olhei, mas sabia que ele tinha lido o mesmo que eu. – ...
- Não é o que eu estou pensando? – Ri sem humor algum, prevendo o que ele poderia falar. – Por favor, né?
- Não é mesmo! – Me seguiu até a cozinha, com o celular em mãos. Pelo menos Zayn foi sensato o bastante para permanecer uns três metros longe de mim.
- Claro que não é! A sua ex-namorada, que me ODEIA por sinal e já deixou claro que quer te tirar de mim, fez uma visitinha amigável. – Eu pegava os pratos
e talheres de qualquer jeito, jogando-os na pia e sempre de costas para o outro. – Que ótima explicação.
- Eu quero te explicar, mas você poderia olhar pra mim? – Sua voz era mais amena que a minha, mas ainda possuía resquícios de preocupação.
- Então explique. – Terminei de soltar tudo que estava em minhas mãos e me virei de frente pra Zayn, colocando as mãos na cintura. Não iria baixar a guarda.
- Brie... Brigitte foi sim à minha casa ontem. – Se corrigiu assim que viu bufar por causa do apelido que eu não suportava. – Mas não aconteceu nada. Ela só queria me devolver um livro que eu emprestei há alguns meses. Só isso...
- E ela não podia esperar até a manhã pra devolver na Academy? Que eu saiba, infelizmente, ainda estudamos no mesmo lugar. – Cruzei os braços com impaciência. Algo ali não cheirava bem. Brigitte com um livro? Ela fazia mais o tipo de quem se distrai fazendo os outros de capacho ou lendo alguma revista de fofoca.
- Eu concordo, ... Mas ela apareceu de surpresa, o que eu podia fazer? – Passou a mão pelos cabelos, com seus olhos amendoados que antes seriam capazes de me expor tudo, mas que naquele momento estavam trancados com um cadeado. – E não tenho idéia de que colar é esse, pois ela não ficou lá por mais de dez minutos.
- Foram minutos suficiente pra que ela o perdesse. – Ri mais uma vez e desviei o olhar. – Esse não é o problema, Zayn. O que mais dói é que você não me contou sobre isso. Não quero saber do que você faz nas vinte e quatro horas do seu dia, mas acho que visitas da sua ex-namorada estão incluídas na lista do que deve ser compartilhado com a atual.
- Eu não contei porque não teve importância alguma... – Ele se aproximou mais rápido do que eu consegui me afastar e ficamos próximos demais. – E não queria que reagisse assim.
- Claro que eu não ia gostar de ficar sabendo disso, mas seria melhor do que acabar descobrindo dessa forma. – Minha voz vacilou. Eu ainda sentia a raiva dentro de mim, mas a presença de Zayn tão próxima assim me entorpecia. Quase quebrava as barreiras que eu lutava pra segurar. – Eu te contei que Nick vem aqui amanhã. E nós nunca tivemos nada.
- Eu sei. – Ele se enrijeceu ao escutar o nome do meu amigo, mas sabia que não estava em condições de falar nada a respeito disso, por isso mudou de assunto. – , olha pra mim.
- Para, Zayn. – Tentei tirar a mão dele do meu queixo quando ele virou meu rosto delicadamente em sua direção, mas era como negar água depois de meses no deserto. – Eu estou chateada...
- Sei que está... E por isso eu peço desculpas. – Foi só conectar o olhar ao dele mais uma vez que eu senti o peso sobre o meu peito se esvaindo. – Você confia em mim?
- É claro que confio em você. – Por mais que não quisesse, cada uma de minhas células confiava cegamente nele. Não adiantava esconder. – Não confio é nela.
- Esquece essa garota. – Passou o polegar pela minha bochecha e eu me perdi em seus carinhos. – Eu te amo, e prometo que nada assim vai voltar acontecer.
- Eu acredito em você... – Suspirei com um sorrisinho fraco querendo se formar no canto da minha boca. – Só tenho medo de te perder.
- Você não pode me perder, Anjo. – Me puxou para o seu peito e eu me enterrei ali, adorando o som do meu novo apelido. – Eu sou seu.
Capítulo L
- Já vai, já vai! – Gritei ao sair da cozinha correndo.
Levando em conta que fui dormir pouco depois das 01h30min da manhã, meu humor estava leve quando acordei às oito horas daquele mesmo dia. Apesar de ser cedo, levantei com um sorriso no rosto e vesti uma roupa que era até arrumadinha demais pra usar dentro da própria casa. Nick tocava a campainha pela segunda vez e devia estar tentando acordar o resto do condomínio, pois não parava nem com os meus avisos de já estar chegando. Eu tinha certeza que era ele, pois não esperava que mais ninguém fosse aparecer ali tão cedo em pleno sábado. Girei a chave na fechadura, mas não abri a porta completamente, apenas o suficiente para que eu pudesse espiar o meu parceiro de olhos azuis e pele alva que também podia ser conhecido como o meu Romeu.
- Trouxe o que eu pedi? – Arqueei uma sobrancelha e ele sorriu.
- Dois expressos no capricho. – Mostrou a bandeja que guardava dois copos altos de café. Aquela era a sua passagem de entrada para o meu lar, então fiquei feliz que não tivesse se esquecido.
- Senha correta! – Terminei de abrir a porta e dei espaço para ele entrar.
- Eu tenho que comentar, ... Você tem uma coisa muito louca com café Starbucks. – Se sentiu em casa e foi olhando tudo ao seu redor quando passou pelo hall de entrada.
- Não tenho culpa se cafeína é o que me mantém de pé durante essas horas matinais. – Além do mais, quem em sã consciência não gosta da Starbucks? Recebi a bandeja com os cafés e procurei o que tinha o meu nome escrito. – Pode deixar a sua mochila pela sala, ok? Estou fazendo café da manhã pra gente.
Como a cozinheira de mão cheia que nunca fui, saltitei o resto do caminho de volta à cozinha. Até eu mesma me espantava com aquele bom humor inesperado e tinha certeza que essa felicidade possuía nome e sobrenome: Zayn Malik. Na noite anterior, após nossa discussão causada pela mensagem de Brigitte, voltamos para a sala e não fizemos nada além de conversar, assistir TV, encarar o teto na procura de formigas e outras coisas idiotas desse tipo. Claro que também trocamos muitos e muitos beijos, porém o clima não voltou a esquentar tanto como no inicio da noite. Apesar de ter me convencido de que não havia com o que me preocupar e que a versão verdadeira dos fatos era a que Zayn me contara, algumas imagens perturbadoras assolavam a minha mente por vontade própria. Vamos concordar que imaginar a ex-namorada do seu namorado ocupando o seu lugar, mesmo que por segundos que fossem, podia ser bem perturbadora e acabava com qualquer clima.
Me impedindo de voltar a pensar nessas coisas, deixei os cafés sobre a bancada de madeira e dei meia volta, parando junto do pote de inox cheio até a metade com um creme branco. O cheiro estava delicioso e eu quase esqueci um waffle dentro da torradeira (ou fazedora de waffles, mas isso não vem ao caso agora). Com a ajuda de um garfo, tirei-o de lá e coloquei junto aos que já estavam prontos em um prato branco de vidro. Ao lado deste, haviam alguns outros com comidas típicas de café da manhã, como: Ovos mexidos, bacon, torrada, alguns potes com geléia e scones. Escutei a risada de Nicholas atrás de mim e dei uma olhada em sua direção, querendo saber o motivo da graça.
- O que foi? – Arqueei uma sobrancelha.
- Você está esperando um batalhão ou só eu? – Nick se encostou à porta da geladeira e também ficou me olhando.
- Essa é a primeira vez que você vem aqui, então eu queria deixar uma boa impressão, ué. – Dei de ombros e peguei dois pratos (o de waffles e o de ovos mexidos), passando por ele e seguindo para a sala de jantar. – E os meninos ainda estão dormindo, mas vão estar famintos quando acordarem...
- Ah, é... Você mora com o seu irmão e um amigo, certo? – Nick também pegou alguns pratos e me seguiu. Eu não pedi ajuda, mas também não neguei. – Eu os conheço?
- Um irmão e dois amigos. – Corrigi arrumando a mesa para o café da manhã. – Em teoria você os conhece, mas não foram devidamente apresentados ainda. Lembra da festa de Halloween? O Batman, Harry Potter e o Danny Zuko?
- Aquele era pra ser o Danny Zuko? – Fez uma cara estranha e eu lhe dei um tapa no braço ao estarmos lado a lado novamente.
- Ei! – Reclamei. – Aquele era o meu irmão, ok?
- Enxergo a semelhança. – Riu divertidamente, mas não estou certa de que entendi o que ele quis dizer.
- Só não vou brigar com você porque ainda preciso dos seus conselhos.
Nem as implicâncias de Nick conseguiriam me tirar do sério, disso eu tinha certeza. Assim que toda a comida já estava disposta na mesa, nos sentamos frente a frente prontos para atacar. Diferente da noite anterior, eu não estava preocupada com o valor calórico daquela refeição e esperava que a minha consciência só voltasse a pesar em um futuro bem distante. Nicholas não esperou eu fazer as honras e já foi se servindo de bacon e ovos. Achei engraçado a naturalidade de seus atos e me perguntei se nós dois já estávamos em uma fase tão íntima da nossa amizade. Pensando melhor, não devia estar tão surpresa, porque desde que chegara àquele país, fazer amizades não tinha sido algo tão difícil. “Deve ser algo no sangue inglês.” Pensei. Sem querer esperar mais nada pra provar do banquete, me servi com um waffle dourado e quentinho, cobrindo-o com a calda de Blueberry que Harry sempre trazia da padaria onde trabalhava, e um pouco de mel. Senti o par de olhos me julgando como se eu estivesse acabando de contrair diabetes, mas pouco me importei.
- Pra ficar mais doce, só se eu colocasse o dedo no seu café. – Nick insinuou, fazendo-me rir.
- Por falar na sua doçura... – Limpei a boca com um guardanapo após mastigar e engolir uma garfada do waffle. – Como vai a nossa Holly?
- Ótima, como sempre. – Sua voz até mudou quando tocamos naquele assunto e me perguntei se também acontecia isso quando eu falava de Zayn. – Ela aceitou ir ao teatro comigo, assistir ao Bolshoi.
- Droga! – Brinquei, mas toda brincadeira tem um fundo de verdade. Se Holly não quisesse ir com Nick, isso significaria que eu seria a sua segunda opção de companhia. E, acredite, eu queria ir a essa apresentação. – Mas falando sério... Ela seria maluca se não aceitasse e eu fico muito feliz por vocês.
- Você sabe como eu gostaria de poder te levar também, . – Ele foi sincero ao falar isso. – Mas essa é uma das poucas ocasiões que poderemos sair como um casal. Pelo que andei averiguando, nenhum dos outros professores ou diretores foram convidados.
- Melhor ainda! Assim vão poder aproveitar a noite como namorados. – Comemorei encantada.
- Nós ainda não usamos a palavra com “N”. – Meio sem jeito, deu um gole no seu café.
- NÃO?! – Perguntei um pouco alto demais. – Por que não? É óbvio que os dois estão namorando...
- Eu não sei, ... Às vezes acho que Holly é demais pra mim. – Suspirou e encarou fixamente o resto de ovo em seu prato. – Ela é uma mulher de verdade, sabe? Mais que isso! Ela é...
- Awwwn. – Uma espécie de gemido/suspiro/barulho não identificado saiu pelos meus lábios ao perceber o quanto Nick realmente gostava dela. Não era mais um caso aluno/professor qualquer, onde o perigo e a adrenalina de fazer algo “errado” comandava. Eles estavam juntos porque se gostavam. – Não quero que pense assim, ok? Eu tenho certeza que se isso fosse verdade, os dois não estariam arriscando tudo que está em jogo aqui.
- É isso que me preocupa. E se ela perceber que não vale a pena continuar com isso? Eu não quero perdê-la... – Nick ficava mais fofo a cada segundo e completamente diferente do garoto brincalhão que tirava onda com a minha cara sempre que podia.
- Você não vai perdê-la. Eu prometo. – Nunca fui de prometer em vão e não teria falado isso se não fosse verdade. Eu estava disposta a fazer o que estivesse em meu alcance para ajudar os dois no que fosse preciso. – Pode contar comigo, Nick. Se precisar de alguma desculpa, de algum álibi... Estou com vocês.
- ... – Nicholas ficou sem palavras, mas seus olhos tinham um “obrigado” bastante implícito. Eu entendia que era a única que sabia dos dois e por isso era a única que poderia servir de apoio.
- De nada. – Sorri completando o que ele não conseguia dizer. – Mas podemos parar de besteira e ir ao que interessa?
- Só estava te esperando, Julieta. – Levantou da cadeira e eu fiz o mesmo.
Antes que pudéssemos chegar aos finalmentes, recolhi as louças sujas da mesa e as levei para a cozinha. Algum dos meninos deveria acordar logo e por isso não havia a necessidade de guardar o que havia restado do café da manhã. Ainda no seu caminho de boa vontade, Nick se prontificou a lavar os pratos e mais uma vez eu não reclamei. O deixei ensaboando os talheres enquanto terminava a minha bebida cafeinada. Para tirar o gosto amargo da boca, dei uma corrida até o banheiro mais próximo e escovei os dentes. No caminho de volta para a sala, peguei o meu roteiro e um caderninho quase totalmente em branco, onde eu pudesse anotar qualquer dica ou informação importante que pudesse receber.
- O dia está tão lindo lá fora, ... Quer mesmo ficar aqui dentro? – Nick pegou a sua mochila do braço do sofá e apontou para a porta. – Sua varanda também parece confortável.
- Por mim tanto faz. – Dei de ombros. Algo me dizia que Nick tinha alguma razão pra não querer ficar ali, mas eu conseguia imaginar qual era. – Vamos pra lá, então!
- Eu odiaria desperdiçar os raios de Sol. – Foi na frente e abriu a porta pra mim, cavalheiro.
- Ahn, Nick... Acho que a sua idéia de “dia lindo” está meio conturbada. – Parei no batente da varanda e olhei para o céu. Não havia um raio de Sol sequer que conseguisse atravessar completamente a camada de nuvens, mas ainda assim o dia não chegava a estar escuro e chuvoso. – Tem certeza que não prefere ficar no sofá fofinho e quente?
- Onde está aquela garota que praticamente deitou na grama na primeira noite em que nos conhecemos? – O tom de voz de Nick tinha um ar de desafio. Ele passou por mim e foi até o meio do jardim de entrada, ignorando o caminho de pedra e se sentando na grama verde.
- Ainda está aqui...
Rolei os olhos. Eu me lembrava bem do que ele queria dizer, mas eram situações bem diferentes. Primeiramente, naquela noite eu estava levemente alterada por causa do álcool que percorria o meu sistema. Segundo, o clima de Londres estava bem mais ameno naquela época, já que atualmente entrávamos com força total no inverno. Mesmo sem estar muito certa daquela idéia, Nick podia ter razão... Um pouco de contato com a natureza não mata ninguém, né? Rolei os olhos uma segunda vez, dessa vez para mim mesma. Pulei os degraus e fui até o encontro de Nicholas, me sentando à sua frente e fingindo não estar incomodada com as pontas geladas que espetavam minhas pernas pouco cobertas. “Você me paga, Nick!” O ameacei dentro da minha cabeça e respirei fundo, não deixando o meu exterior me denunciar. Se era um desafio que ele queria, eu havia acabado de aceitar.
- E então? Mais alguma exigência? – Apoiei o meu roteiro em minhas pernas e ele pegou o próprio.
- Não julgue as minhas intenções! Só estou querendo criar mais inspiração. – Respirou fundo como se estivesse provando a sua tese, mas eu ainda não estava cem por cento convencida. – Faz parte do meu método. Você quer a minha ajuda ou não?
- Desculpa, desculpa! – Levantei as mãos na altura do ombro e dei o braço a torcer. – Por onde começamos?
- Primeiro eu gosto de fazer alguns alongamentos faciais. – Deu uma pequena pausa em sua fala para fazer caretas de todos os tipos e logo continuou: - Pode tentar você agora.
- Assim? – O imitei. Abri e fechei a boca em todas as direções possíveis, abrindo e fechando os olhos e mexendo o nariz. Não era a cena mais bonita do mundo, mas devia ter um propósito.
- Linda. – Não reprimiu uma risada e eu estirei a língua pra ele. – Agora tente mexer os braços e fazer sons. Não faça essa cara! Eu falo sério.
- Que tipos de som? – Mexi os braços para os lados e para cima, me esticando e parecendo um boneco inflável de posto de gasolina. – MAAAAAAAAAAAH. IIIIIIIIIIIIIIIIH. UH OH UH OH.
- Eu pedi pra fazer sons, não imitar um macaco. – Riu quase histericamente e eu não resisti; dei-lhe um tapa na cabeça com o meu roteiro. – Tudo bem, tudo bem! Chega de aquecimento!
- Fico feliz que eu esteja divertindo-o, Nick. – Cerrei os olhos, mas podia sentir os músculos do meu rosto um pouco mais relaxados. Ou algo perto disso. – E como vamos resolver o meu problema?
- O seu problema de pronuncia? – Assenti como resposta. – Eu já estava chegando nessa parte. Vamos simplesmente treinar.
- Como assim? – Eu ainda sabia o que “treinar” significava, mas não podia ser algo assim tão simples.
- A prática leva a perfeição. – Piscou presunçoso e pegou o meu roteiro, abrindo-o na página nove. – Quem você quer ser? Sansão ou Gregório?
- Gregório... – Encarei a página que eu já havia lido várias vezes. Sansão e Gregório eram os primeiros personagens a entrar em cena, mas não conseguia ver muita importância nos dois. Eram apenas empregados da casa dos Capuleto. – Mas eu não devia ser a Julieta?
- Você é sempre apressada assim? – Me pediu calma com o olhar e apontou para a página que escolhera. – Vamos começar devagar, com um diálogo qualquer. O que quero aqui é soltar a sua língua.
- Hm, tá bem... – Esperei uma piadinha infame sobre “soltar a minha língua”, mas ela não veio. Nick devia estar no modo profissional. – Pode começar.
- Por minha palavra, Gregório, não podemos levar desaforo pra casa! – Sua exclamação foi tão voraz que quase me assustei. Quase.
- É certo... Para não ficarmos desaforados. – Respondi, sem muita certeza do que falava.
- O que quero dizer é que quando fico encolerizado puxo logo a espada! – Nick mal precisava olhar para o roteiro e já entoava a sua fala.
- Sim, mas se quiseres viver, toma cuidado para não ficar encolarinhado. – Já eu, mal tirava os olhos do papel.
- Quando me irritam, eu ataco prontamente! – Fez um movimento brusco com a mão e mais uma vez me pegou despreparada.
- Esse Sansão é um chato. – Comentei indignada. Nick me olhou feio e eu voltei a me concentrar na cena: - Mas não te irritas prontamente para atacar!
- Agora estamos chegando em algum lugar... Gostei da entonação, . – Limpou a garganta e voltou para o personagem, esbravejando: - Até um cachorro da casa dos Montecchio me deixa irritado.
- Nick, podemos ir para a minha parte? – Pedi com um biquinho. Ele levantou os olhos e me estudou por uns instantes. – Eu não quero reclamar dos seus métodos, mas me sentiria mais tranqüila se já estivéssemos treinando o que eu realmente preciso saber.
- E adianta discutir com você? – Balançou a cabeça, mas era um bom sinal. – Página 29.
- Você decorou até as páginas? – Folheei rapidamente e logo constatei o que já imaginava: A página estava certa e era a primeira aparição de Julieta.
- Tenho talento. – Sorriu, mas não de forma condescendente. Levantou-se com um impulso e estendeu a mão pra mim. – Vem.
- Pra onde? – Segurei a sua mão e me pus de pé. Diferente do que achava, não fomos para lugar nenhum, apenas ficamos de pé. – Já entendi.
- A primeira técnica básica do teatro é a improvisação. Então vamos brincar! – Sorriu animado, soltando a minha mão e ocupando uma posição mais afeminada. – Julieta? Deus me perdoe, mas onde está a menina?! Oh, Julieta!
- Que é que houve? Quem me chama? – Segurei na barra do vestido, tentando passar inocência com a minha voz.
- Force menos. Se deixe levar. – Cochichou, mas não sei por que, já que só eu poderia escutá-lo de qualquer forma. – Vossa mãe.
- Senhora, aqui estou eu! Que desejais? – Imaginar Nick como uma dama da sociedade era bem engraçado, mas me segurei para não rir.
- Foi para falar de casamento que te chamei. Filha Julieta, dize-me: Em que disposição estás para isso? – Nick deu um passo na minha direção e tocou-me carinhosamente no ombro.
- É uma honra com a qual jamais sonhei... – Confessei em um fio de voz, dando um passo para trás e apoiando a mão que não segurava o roteiro sobre o peito.
- Pois estamos na época de pensar em casamento. Mais jovens do que vós, aqui em Verona, senhoras de respeito, já mães. – Nick me rodeou e eu o observei. – Pa
ra ser breve: O valoroso Páris requesta vosso amor. Que dizes? Sois capaz de amar o jovem?
- Vou ver se prendo nele os meus olhares... – Minha voz tremeu por uns instantes e provavelmente até Nick sabia o por que. Falávamos de Páris, o personagem que Zayn
interpretaria. Pensar em amá-lo era bem fácil pra mim, mas não podia ser para Julieta. – Mas a vista chegar além não há de do que me consentir vossa vontade.
- Ainda está muito forçada. Você tem que pensar como Julieta, sentir como Julieta e ser como Julieta. – Suas palavras soaram duras demais, me deixando pior do que eu já me sen
tia.
- Fácil pra você falar! Tem um talento nato pra isso.
- Você não está se esforçando o suficiente. – Disparou. Eu sabia que Nick não queria me magoar, porém, também não estava me animando tanto assim.
- Eu estou tentando! – Choraminguei e cruzei os braços, apertando o texto contra mim. – Também estou tentando não desistir, mas tá ficando difícil. Quando é que a dança começa?
- Eu não tenho essa informação mais do que você tem. – Parou de frente pra mim e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – Eu sei que está sendo difícil pra você, entrar em uma área que não tem domínio... Acredite, no meu primeiro ano eu estava do mesmo jeito.
- Duvido muito. – Bufei olhando pra baixo. Às vezes eu me esquecia que Nick estava no último período e eu no primeiro. Talvez por isso eu me sentisse tão mal em falhar ao tentar acompanhar o seu nível.
- Eu já disse que vou te ajudar, não disse? – Levantou o meu rosto de forma amigável. – É uma promessa.
- Eu acredito. – Senti que aquela promessa tinha tanta importância pra ele quanto a que eu fizera mais cedo. A atmosfera voltou a se tornar leve e a esperança me invadiu mais uma vez. – Obrigada, Hoult.
Eu poderia tê-lo abraçado por causa do calor do momento e da gratidão que eu estava sentindo. Também teria sido correspondida, mesmo que de surpresa. O que impediu nosso abarcamento foi a chegada de um carro cinza que estacionou em frente à minha calçada. Não precisei esperar o motorista saltar do Volvo pra saber exatamente quem era. Cruzei os braços desconfiada, discutindo internamente os motivos que poderiam ter levado Zayn até ali. Dentre todas as possibilidades, a mais verdadeira era que a sua curiosidade de espionar o que Nick e eu estávamos fazendo sozinhos era grande demais. Com o sorriso mais inocente – e que não me enganava nada – o moreno desceu do automóvel e caminhou em nossa direção.
- Bom dia! – Cumprimentou como quem não quer nada.
- Bom dia, Malik. – Mesmo desconfiada de suas intenções, não negaria que estava feliz em vê-lo. – O que está fazendo aqui?
- Vim fazer uma visita aos meus amigos. – Apontou para a casa com a cabeça e segurou na lateral da minha cintura, afastando-me alguns metros de Nick e prendendo-me a si. – E nunca é ruim ver a minha namorada.
- Veio visitar os meninos, é? – Levantei uma sobrancelha e fui surpreendida por um beijo roubado. – Não tem nada a ver com o meu encontro com Nick?
- Nick? Oh, eu nem tinha te visto aí. – Sorriu falso para o meu parceiro e o cumprimentou com um aceno de cabeça. – Como vai, Nicholas?
- E aí?! – Nick também não se esforçou para quebrar aquele clima entre os dois e eu já comecei a me sentir desconfortável.
- Eu também não acho ruim ver o meu namorado... – Trouxe a atenção de Zayn de volta pra mim, abraçando-o pelo pescoço. – Mas estamos trabalhando aqui.
- Sei disso, sei disso. – Beijou minha testa e bochechas, exagerando na marcação de território. – E como eu disse, vim visitar meus amigos.
- Claro! – Ri baixo e tentei me soltar, mas foi inútil. – Então pode entrar e acordá-los. Aconselho deixar meu irmão por último, só por precaução.
- Não quer entrar comigo? – Escorregou os lábios até uma distância perigosa dos meus lábios e eu arfei após o seu sussurro.
- Talvez mais tarde... – Tive que me segurar ao pouco de sanidade que ainda me restava, caso contrário não conseguiria fazer nada. – Tem café da manhã na mesa. Chame os meninos e vão comer!
- Não tenho outra escolha, né? – Afrouxou o abraço e seu rosto ganhou uns traços mais sérios. – Se cuide.
- Sempre! – Fiquei na ponta dos pés para roubar mais um selinho e finalmente nos soltamos.
Ainda relutante e sem se despedir de Nick, Zayn voltou para o caminho de pedra e seguiu para dentro de casa. Não sei o que se passava em sua cabeça naquele momento, mas devia ter ido até ali na esperança de que a sua chegada fosse interromper os meus ensaios com Nick ou, pelo menos, que ele pudesse assistir. Se já era difícil me concentrar com Zayn apenas no meu pensamento, imagine se ele estivesse presente de verdade? Assim não teríamos Julieta alguma no fim do semestre. Senti a aproximação de Nicholas e fiquei tensa, pois já esperava algum comentário maldoso.
- Ao menos dessa vez ele mesmo veio espionar.
Às duas horas da tarde, Nick foi embora. Nós havíamos passado vários textos aleatórios e eu já começava a notar os efeitos do nosso treinamento, pois não enrolava tanto a língua quanto antes; até me sentia um pouco boba por encontrar tanta dificuldade no começo. Acabamos almoçando juntos e sozinhos, pois os meninos pareciam ter se trancado dentro do quarto de Louis e eu tive medo de me intrometer e acabar atrapalhando alguma coisa. Eles precisavam daquele momento, como a própria falara antes... “Precisavam passar um tempo juntos como uma banda”.
Às três horas da tarde, eu estava completamente entediada. Tentei assistir algo na TV, ler alguma matéria interessante em revistas, ler um livro, arrumar a casa... Mas nada disso parecia prender a minha atenção por mais de cinco minutos. Eu queria me mexer, queria pular, nadar, fazer o que fosse! Só não queria mais ficar dentro de casa. Mais uma vez a vontade de bater à porta do quarto de Lou e roubar pelo menos um dos quatro meninos que estavam ali dentro para me fazer companhia. Talvez Harry, pra darmos uma volta de carro pelo condomínio a toda velocidade. Talvez Lou, para jogar futebol no campo. Ou que tal Liam? Mas a minha primeira opção com certeza seria Zayn. Poderíamos não fazer nada, só sentar de frente um para o outro, e já seria a tarde perfeita. Entretanto, não me atrevi a atrapalhá-los.
Às três e meia eu já dava a quarta volta no quarteirão de casa. Minha melhor opção foi vestir uma roupa de ginástica – que há tempos eu não usava – e sair pra correr. Não era algo que eu estava acostumada a fazer, principalmente por levar uma vida semi-sedentária, mas estava disposta a mudar isso. Não adiantaria ficar sem comer ou fazer um regime louco se eu não fizesse algum exercício para equilibrar. A dança não parecia estar sendo suficiente, então talvez aquilo fosse. O clima parecia estar do meu lado, mantendo-se fresco e sem chuva. Algumas gotas de suor escorriam do meu rosto e isso era prova de que o meu esforço estava surtindo algum efeito. Meus pés batiam contra a calçada e me impulsionavam para frente, mantendo um ritmo constante e não tão rápido, mas ao mesmo tempo não tão devagar.
- Hey, com licença! – Escutei uma voz feminina me chamando e diminuí os movimentos até conseguir parar.
- Sim? – Me virei preocupada, já achando que tinha derrubado algo durante a minha corrida.
- Posso correr com você? – Uma garota, que tinha mais ou menos a minha altura, cabelos longos com um tom loiro claro, olhos castanhos e um sorriso simpático, estava vestida quase igual a mim, apesar de aquelas roupas parecerem mais adequadas para ela do que pra mim. – Não tem problema se você disser não... Eu vi você sozinha e achei que podia querer companhia...
- Eu aceito a sua companhia sim! – Sorri de volta, meio ofegante. – Me chamo .
- Muito prazer, . – Encurtou a distancia entre nós e não perdemos tempo. Não voltei a correr como antes para poder conversar enquanto caminhávamos. – Meu nome é Olivia, mas todo mundo me chama de Liv.
- Olivia? Você é a Olivia? – Reprimi uma risada. Então aquela era a tal garota de que Louis falara? Eu podia ver sua animação, pois Liv era realmente bonita.
- Desculpe, mas você já ouviu falar de mim?
- Algumas vezes... – Assenti, deixando-a mais confusa ainda. – Você conheceu o meu irmão algumas semanas atrás... Louis Tomlinson?
- Aquele do skate? – Bingo! Olivia riu como se lembrasse de algo engraçado. - É seu irmão?
- Esse mesmo! – Dobramos a esquina e apertamos o passo, começando a trotar.
- Eu me lembro dele... E tinha um outro garoto com ele quando fui atropelada.
- Bem alto e com rosto de criança? – Perguntei e foi a vez dela de assentir. – Esse é o Harry.
No final das contas Olivia se mostrou ser bem mais do que eu imaginava. Era uma garota simpática e, apesar de sua beleza, não era metida ou coisa parecida. Seu estilo era bem hippie e eu não duvidava nada que ela tivesse algumas tatuagens de flores ou símbolo da paz por baixo das roupas de ginástica. Não que eu estivesse pensando sobre isso, é claro. Em vinte minutos de caminhada e conversa, já constatei que nos daríamos bem. Infelizmente esse não seria o mesmo caso com . Não digo que já pretendia me tornar super amiga de Olivia, mas se um dia fossemos ficar juntas no mesmo cômodo novamente e acabasse estando lá também, as duas levariam um choque. Enquanto era elétrica, irritante, cheia de manias, certa de tudo e muito cabeça dura, Liv aparentava ser... Mais fácil de lidar.
Descobri que a minha nova colega estudava História em alguma universidade grande de Londres. Não lembro muito bem o nome, mas sabia que era importante. Além de escutar coisas sobre ela, também falei bastante sobre mim; como o que me trouxe àquele país, onde eu estudava e os meus planos para o futuro. Olivia escutou tudo atentamente e sempre perguntava mais, porém, acho que era apenas por educação ou costume. Continuamos correndo e tomamos um novo caminho, indo além da praça e do parquinho. Quando o assunto quis dar uma trégua, decidimos esquentar as coisas e apostar corrida até o fim do condomínio. Preciso falar que perdi? Meu condicionamento físico estava totalmente despreparado para competir com alguém que corria todos os dias, o que era o caso da minha oponente.
- Não vale... Você me pegou desprevenida... – Ofeguei e parei de correr no meio do caminho, sentando na calçada para descansar.
- Você está certa. – Sentou-se ao meu lado e me passou uma garrafinha de água. – Tem razão em estar cansada, já que começou a correr antes de me encontrar.
- Isso mesmo! – Eu podia estar correndo há mais tempo que ela, mas duvidava que esse fosse o fator da minha incapacidade de terminar a corrida. Agradeci pela água com um sorriso e a despejei na boca, sentindo o líquido me hidratar e amenizar o calor que eu estava sentindo. – Foi ótimo correr com você, Liv, mas acho que vou pra casa.
- Tudo bem, já está ficando tarde... – Olhou no relógio. Eu não fiz o mesmo, mas pela posição do Sol, devia passar das cinco da tarde. – Nos vemos outro dia?
- Você sabe onde eu moro. – Levantei com um pouco de dificuldade e me estiquei. – Vamos fazer isso mais vezes! Estou livre todas as tardes.
O trajeto de volta pra casa pareceu mais demorado e bem mais longo. Não sei se é porque os músculos das minhas pernas pediam por descanso ou se a falta de companhia era mesmo tão ruim assim. A única coisa que importava era que eu já me sentia mais forte e mais saudável, sem falar de mais suada e com mais calor. Tirei o moletom assim que entrei em casa e o joguei direto na cesta de roupa suja. Minha calça e meu top também estavam sujos, mas eu não era louca de tirá-los antes de chegar ao banheiro. Vai que algum dos meninos decide aparecer e me encontra com tão poucas roupas? Eu morreria de vergonha. Subi as escadas com relutância, quase desejando ter um elevador ou ao menos uma escada rolante que me levasse ao segundo andar com menos esforço. A porta de Louis estava entreaberta e considerei isso como um convite.
- Posso entrar? – Empurrei a porta devagar, na esperança de pegá-los de surpresa.
- ! ! ! – Harry levantou de onde estava e me puxou para dentro do cômodo. – Temos novidades!
- Novidades boas? – Questionei, mas pelos sorrisos que cada um dos cinco meninos ostentava era bem óbvio que sim. – Quando foi que o Niall chegou aqui?
- Há uma hora mais ou menos. – O próprio loiro me explicou e acenou como “oi”.
- Fica aqui, porque nós queremos te apresentar. – Haz continuava super animado e me guiou até a frente da cama de Lou.
- Me apresentar a quem? – Eu estava cada vez mais confusa. Não conseguia ver mais ninguém ali que eu já não conhecesse e tivesse que ser apresentada.
- Vamos mesmo fazer isso, Harry? – Liam foi levantado da cama a força e colocado de frente pra mim, ao lado dos outros quatro.
- Shhhh! – Harry riu em resposta e todos os meninos se abraçaram de lado. – Nós somos...
- O One Direction! – Todos falaram ao mesmo tempo e eu fiquei meio sem reação. Harry era de longe o mais animado e Zayn totalmente o oposto, com aquele olhar de “não acredito que fui convencido a fazer isso”.
- One Direction? – Ri da apresentação teatral, mas achava que sabia do que se tratava. – É o nome da banda?!
- Sim! – Niall deu um pulo sem sair do lugar, animado por causa dessa novidade tremenda. Eu bem sabia o quanto eles estavam sofrendo pra encontrar um nome.
- One Direction... One... Direction... 1-D... – Fiquei treinando o nome para me acostumar e gostei de como soava. – Adorei! Parabéns, guys!
- Foi idéia do Harry, mas todos gostamos. – Lou deu um tapinha no ombro do amigo.
- Onde você estava? – Zayn deu alguns passos na minha direção, mas eu me afastei.
- Eu estava correndo, então estou suada. – Expliquei a minha reação contrária a dele, mas tinha certeza que isso não iria impedi-lo de chegar mais perto.
- Não ligo pra isso. – Sorriu e me puxou pelo pulso. Deu um beijo na minha testa e depois continuou. – Posso te dar um banho se quiser.
- Vão para o quarto, vocês dois! – Niall brincou e empurrou Zayn na minha direção. Acabei sendo encostada à parede e o garoto ficou mais perto ainda.
- Não seria má idéia... – Mordi o meu lábio provocante, fingindo que falava sério.
- Mesmo? – Uma incredulidade misturada à esperança brilhou nos olhos de Zayn, mas fomos interrompidos antes que eu pudesse responder.
- , quero te mostrar uma coisa. – Liam estava sentado em uma cadeira com rodinhas, em frente ao computador.
- Liam quer me mostrar uma coisa. – Dei de ombros e empurrei Zayn de leve, escapando daquele momento... Tentador.
- Valeu, Liam. – Meu namorado reclamou com um muxoxo.
- Isso aqui é importante! – Tentou se defender.
- Pode mostrar... – Me posicionei atrás da cadeira e olhei para a tela do computador, onde reconheci o Youtube.
- Colocaram os vídeos no canal do X Factor Uk. – Apontou para o quadradinho onde o vídeo que eu e mandamos estava. – O nosso também.
- E aí?! – Sorri animada, querendo saber o resto da noticia.
- Já temos quinze mil visualizações. – Zayn respondeu, parando ao meu lado.
- Em um dia?! – Era bom demais pra ser verdade...
- Em seis horas. – Meu queixo caiu quando Liam me corrigiu.
- Uau... – Minha palavra saiu como um suspiro, pois era um número grande demais para apenas seis horas. Se todas essas pessoas que assistiram tivessem votado neles... Já seria um começo. Um bom começo.
Capítulo LI
- Qual é mesmo o nome dessa menina? – perguntou enquanto girávamos pela sala, ignorando todas as minhas tentativas de permanecer concentrada.
- Olivia. – Rolei os olhos, mas ela não podia ver porque estava atrás de mim.
Diferente dos outros dias, depois do ensaio geral da peça na quinta feira, nós tivemos aula normal; a última antes do Christmas Break. A professora havia passado vários passos de dança e nós devíamos imitá-los com precisão. Eu arrastava a sapatilha no chão ao rodopiar e a minha saia de seda girava junto. Como o ritmo não era tão lento, minha amiga não reclamava tanto daquela aula quanto as outras, mas naquele dia em especial estava particularmente enciumada. Cometi o grande erro de ter contado que conheci uma menina nova no condomínio e que tínhamos passado a correr juntas todas as tardes. Até a chamei para vir junto e praticar exercício, mas é claro que ela se negou. “Você já tem a sua amiguinha. Pra que eu iria junto?”, foram suas palavras exatas.
- Hm, e como ela é? – Sua voz não podia ser menos interessada.
- Loira, olhos castanhos e um físico de dar inveja. Além de ser super legal. – Comentei com um sorrisinho de canto. Eu sabia que aquela era uma provocação, mas não tinha nada que ficar perguntando a mesma coisa milhões de vezes seguidas.
- Talvez você devesse apresentá-la a Rachel. Assim ela poderia tentar a carreira de modelo, já que tem um físico de dar inveja. – Desdenhou, mas até que era uma boa idéia.
- Quem sabe? – Dei de ombros enquanto fazia um novo passo e olhava a professora pelo reflexo do espelho a nossa frente.
- Quem sabe? – Me imitou de uma forma engraçada e eu me segurei para não rir. – Não sei porque você gostou tanto dessa menina.
- E eu não sei por que você já a odeia sem nem conhecer! – Mas eu sabia sim. Ciúme.
- Silencio aí atrás! – A professora Laura chamou a nossa atenção e eu congelei.
Pedi desculpas com um aceno e olhei feio para , que já estava ao meu lado novamente. Nós continuamos com os passos que ficavam cada vez mais rápidos e complicados. Dei um pulo para o lado esquerdo e quase esbarrei nela por não estar prestando tanta atenção, fiz um movimento com os braços, passando-os pela frente do corpo e parando do lado contrário, até que os pés acompanharam e meu corpo estava completamente de lado. Outros movimentos como esse se seguiram e eu agradeci por estar com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto. Só mesmo essa aula pra me fazer suar e sentir calor em pleno inverno.
- . – cochichou e eu a olhei. – Não olhe agora, mas tem um gatinho na porta que não tira os olhos de você.
- Como é? – Sussurrei de volta enquanto virava o rosto na direção que ela falou.
- Eu disse pra não olhar agora! – Ela riu e eu parei de dançar na mesma hora em que vi quem eram as pessoas espremidas da porta pra poder me ver.
- Com licença, professora... Posso ir lá fora um instante? Eu não pediria se não fosse importante. – Eu odiava interromper a aula, mas era uma emergência.
- Volte logo. – Disse simplesmente, mas considerei aquilo de forma positiva.
Afirmei com a cabeça que voltaria logo, mas não contava muito com isso. Acenei discretamente para e corri em direção à porta, onde as pessoas se afastaram pra me deixar passar e sair da sala. A primeira coisa que fiz foi abraçar Harry, já que ele era o mais próximo. Liam e Louis estavam ali também e sorriam do meu desespero. Era a primeira vez que eles me faziam uma visita assim e eu estava mais do que feliz por tê-los ali. Pra mim era mais do que um prestígio ter meus melhores amigos em um lugar que eu gostava tanto.
- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei ao abraçar o último deles.
- Viemos conhecer o professor Edward. – Liam falou, um tanto formal demais.
- Ed? – Sorri. Eu já devia imaginar! – E o que acharam? Ele é super legal, né?
- É sim. E parece que quem mais gostou dele foi o Harry. Os dois quase não paravam de conversar. – Lou me contou.
- Eu sabia que vocês iam se dar bem! – Olhei para Haz e depois para os lados. – Niall e Zayn estavam com vocês?
- Eles ainda estão na sala. Nós também já temos que voltar, só viemos aqui dar uma espiadinha em você. – Harry me encarou dos pés à cabeça, dando ênfase na “espiadinha”.
- E eles não quiseram vir me ver também? – Fiz um bico de lado, querendo que meu namorado estivesse ali também.
- Até que tentaram, mas Ed não deixou eles virem. – Lou deu de ombros.
- Ele teve medo que os dois desistissem de voltar pra sala depois de ver você e a . – Li sorriu e brincou com a saia que eu vestia por cima do colant.
- Entendi... – Suspirei. Era melhor assim mesmo. – Eu tenho que voltar para a sala agora, mas vejo vocês na saída?
- Boa aula, . – Lou fez um sinal de adeus com a mão e fingiu secar uma lágrima. Dramático como sempre, claro.
Acenei um beijo para os três e dei meia volta, voltando para a sala. Lá dentro tudo tinha mudado. Os alunos não estava, mais intercalados em filas e a professora já não demonstrava movimentos. Pelo que entendi, nós é que deveríamos demonstrar os passos de dança que eram mais legais para nós, contanto que fossem conhecidos. Todos formaram uma fila e, como se era de esperar, estava em último lugar. Fui até ela ainda sorrindo e feliz com a surpresa que acabara de ter e Laura nem pareceu ter notado a minha chegada. O primeiro aluno foi até o meio da sala e fez o Moon Walk. Seus movimentos foram impressionantes, mas previsíveis.
- O que os meninos estavam fazendo aqui? – perguntou baixo, mas a música que ecoava pela sala nos permitia conversar em segurança.
- Eles vieram conhecer o Ed! – Expliquei animada. – Devem cantar juntos algumas músicas e ouvir dicas profissionais... Acho que é importante pra eles.
- Com toda certeza! Niall me disse que Ed está com várias idéias pra o One Direction! – Demos um passo para frente quando a segunda aluna foi fazer seu movimento.
- Eu gosto desse nome cada vez mais. Acho que o Harry acertou em cheio. – Observei a terceira menina fazer alguns passos de um clipe da Katy Perry. Um pouco menos previsível.
- Eu acho idiota. – Disse simplesmente. – Não tem significado algum!
- Como não tem significado, ? Achei que alguém tão profunda como você entendia de letra! – A olhei sem entender como podia estar falando aquilo e a fila continuou a andar. – O caso é que eles são cinco pessoas diferentes, de personalidades diferentes e que vieram de lugares diferentes, mas que tem um sonho em comum. Só tem uma direção a seguir... Uma direção. One Direction.
- Que fofo! – Levou as mãos ao rosto, finalmente entendendo o que eu já achava ser óbvio. – Mas podemos falar de algo mais importante no momento?
- O que? – Continuamos a andar.
- Está quase na minha vez e eu ainda não sei o que fazer! – segurou a minha mão e tentou fazer uma cara de cachorro sem dono, mas eu só a olhei com negação.
- Eu só estava esperando você perguntar! – Ri. – Sabe fazer a minhoca? Ou algum passo de Embalos de Sábado a noite?
- Você me deu uma grande idéia! – Celebrou e demos mais alguns passos.
- Vai fazer a minhoca? – Torci mentalmente para que ela dissesse sim, imaginando-a se mexendo no chão como uma lombriga.
- Engraçadinha. – Estirou a língua. – Você vai ver!
Menos de cinco segundos depois a professora indicou que era a vez da ruiva. Fiquei sozinha na fila e a observei tomar o centro, aguardando o que ela iria fazer. Infelizmente minhas esperanças morreram assim que ela imitou um pedaço de uma coreografia do filme que eu recomendara, abaixando e levantando a mão direita com o dedo indicador apontando para cima e para baixo. Eu a aplaudi, mas fui a única na sala. Na verdade, ninguém aplaudiu, mas também não foi aplaudido. A minha vez chegou antes mesmo que eu me desse conta disso e fui para o meio. Esperei alguns instantes para a música entrar na minha cabeça e me lembrei de alguns verões passados, quando a coreografia de uma música era tão ridícula que acabou contagiando meio mundo e todos acabaram aprendendo. Não, eu não estou falando do YMCA.
Fiz os passos do refrão de Crank That – Soulja Boy e me senti a própria rapper ou dançarina de hip hop. Só escutei a risada de assim que terminei, mas ela também me aplaudiu. Viu?! Não fui previsível! A professora encerrou a aula quando viu que ninguém mais restava para se apresentar e nos desejou um feliz natal. Também aproveitei para me despedir dos outros alunos que eu só veria em duas semanas. Era pouco tempo, mas ainda assim eu estava super animada por causa daquela folga que teríamos. , por outro lado, achava super injusto eu ter a sexta feira livre de aulas e ela não, o que significava que o Christmas Break dela só começaria no dia seguinte, enquanto o meu começava... Bem, naquele momento.
Foi discutindo sobre isso que recolhemos as nossas coisas e saímos andando pelo corredor. Muitas pessoas que tiveram a mesma sorte que eu passavam por nós e acenavam cumprimentos de boas festas e bom descanso. Até mesmo alguns professores que juntavam as suas coisas e passavam por nós quase gritando em comemoração às “férias” deixaram a minha melhor amiga irritada. Enquanto nós procurávamos um elevador para subir até o terceiro andar e encontrar os meninos, peguei o meu celular dentro da bolsa para conferir as horas e notei uma mensagem nova na caixa postal. Fiz sinal para esperar e levei o aparelho até a orelha:
Desliguei a mensagem antes mesmo que ela acabasse, imaginando que Harry fosse ficar enrolando daquele jeito para sempre. Porque ele não podia ir direto ao ponto? Essa era uma das razões pela qual eu quase nunca falava com ele por telefone. Outra coisa que eu não entendia era porque ele não tinha escolhido me contar aquilo pessoalmente, mas o que importava era que nós teríamos uma festa pra ir em breve.
- Qual é a piada? – segurou o elevador aberto para que eu pudesse passar antes dela.
- Era o Harry... Ele está planejando uma festa surpresa para o Lou! Mas bico fechado, porque ele não pode saber. – Entrei e apertei o botão com o número três.
- Eu sei o conceito de uma festa surpresa, . – Semi-cerrou os olhos. – O que devo comprar de presente pra ele?
- Eu realmente não sei... – Parei um pouco, pensativa. Eu não sabia nem o que eu daria de presente pra ele.
- Como não sabe? Louis é seu irmão! – Me olhou como se eu tivesse cometido um crime terrível. – Não quero nem ver o que eu vou ganhar de presente de natal!
- Para a sua informação, eu já sei o que vou te dar de presente de natal! – Menti torcendo para ser convincente. A verdade é que eu tinha me esquecido desse pequeno detalhe e não sabia que presente de natal daria aos meus amigos.
- Espero que seja algo bem grande e bem lindo! – Saiu do elevador rebolando quando as portas se abriram.
- Vai ser, vai ser... – Anotei aquela informação na minha lista mental de compras: “Presente da – Grande e lindo” e a segui.
Mais pessoas passaram por nós no caminho para a última sala daquele andar. Todas as aulas pareciam ter terminado e isso causava um pequeno tumulto, mas não era de fato uma bagunça. Acabei esbarrando em alguém sem querer e já me preparava pra pedir desculpas quando percebi que era apenas Nicholas. Nos abraçamos no mesmo instante e eu quase fui xingada ao desejar boas férias e dizer que era o meu último dia na Academy. Ele também teria aula no dia seguinte e quis me matar por eu já estar livre. Como estava com um pouco depressa, não pôde ficar conversando comigo e logo se despediu, afirmando que iria me ligar qualquer dia desses para fazermos alguma coisa.
Olhei em volta à procura de para que pudéssemos continuar com o passeio até a sala dos meninos e percebi que ela já estava bem na frente, sem nem me esperar. Saí correndo atrás da imprestável desejando estar de tênis e não de sapatilha, pois eu quase escorregava e por isso não conseguia ser tão rápida. Mesmo com os meus chamados, a garota chegou primeiro à sala e entrou.
- ! – Briguei mesmo sabendo que não seria ouvida e segurei a porta antes que ela se fechasse completamente.
- E onde está a minha namorada? – Escutei a pergunta de Zayn assim que entrei e quis bater em por não ter me esperado.
- Está aqui! – Apesar de ofegante, respondi. Ele estava encostado ao piano, onde Liam apertava algumas notas. Niall e Louis mexiam em algumas partituras e Harry e Ed conversavam tão animados que pareceram nem notar a minha chegada.
- Oi, Anjo. – Sorriu alegre e andou na minha direção, passando os braços em torno da minha cintura. – Onde você estava?
- Estava me despedindo de um amigo, mas não era nada importante. – Preferi omitir a parte de que esse amigo era Nick e colei nossos lábios em um beijo rápido. – Como você está?
- Agora que eu tenho você em meus braços, estou ótimo. – Retribuiu o meu beijo e deixou outro um pouco mais demorado em meus lábios. – Adivinhe aonde vamos hoje.
- Vamos a algum lugar hoje? – Dei um pequeno pulo sem sair do lugar, imaginando todos os lugares em que poderíamos ir. – Onde?!
- Vamos fazer nossas tatuagens! – Respondeu animado, me fazendo congelar.
- É? – Forcei um sorriso, tentando disfarçar o nervosismo. – Isso é... Espera, você também vai fazer uma tatuagem?
- Eu gostei tanto da sua que acabei ficando inspirado e fazendo uma pra mim. – Colocou meu cabelo para trás da orelha e tocou minha bochecha com o polegar. – Você não mudou de idéia, certo?
- Mudar de idéia? Claro que não! Só estou... Ansiosa. – Com aquele pequeno toque eu já fiquei mais tranqüila. – Estou pronta pra ser tatuada!
- Vocês vão fazer tatuagens? – Meu irmão estava ouvindo a conversa e se aproximou de nós dois.
- Quer vir com a gente? – Zayn o convidou e eu quase o bati.
- Malik! Você já deu uma olhada no meu irmão? Não se pode convidar uma pessoa cheia de tatuagens pra fazer mais! – Revirei os olhos.
- Eu acho que vou sim. – Lou ignorou as minhas reclamações e olhou apenas para Zayn. – Estou querendo fazer uma frase no peitoral, mas estava sem oportunidade.
- Então nós três vamos! – Passei um braço pelos ombros de Louis e o juntei em nosso abraço. Eu tive dezenove anos para conhecer o meu irmão e sabia muito bem que se ele já estava querendo fazer aquela tatuagem há algum tempo, nada o faria mudar de idéia. Melhor aceitar de uma vez. – Mas primeiro precisamos almoçar.
- Alguém falou em almoço? – Dessa vez foi Niall que se aproximou e se juntou ao abraço antes que o desfizéssemos.
- Abraço em grupo? – Liam também se juntou a nós.
- Vocês estão me esmagando! – Ri baixo e me soltei dos braços dos quatro, escapando por baixo.
Mesmo depois que eu já tinha saído daquele abraço coletivo, os meninos continuaram se agarrando e fazendo brincadeirinhas. Depois que Niall e Liam voltaram para seus afazeres, Lou e Zayn continuaram conversando sobre tattoos e desenhos. Eu queria a atenção do meu namorado, mas ele estava distraindo Louis e aquilo podia ser uma coisa boa. foi conversar com Ed e Harry ficou sozinho. Fui até ele no tablado próximo ao quadro negro e o levei para um canto mais afastado. Era a oportunidade perfeita para falarmos sobre a festa surpresa e acabar com todas as minhas duvidas.
- Haz, eu escutei a sua mensagem... – Falei em um tom baixo e sentei em um banco de madeira. – Qual é a sua idéia?
- Eu imaginei! – Sorriu e se sentou na minha frente. – Sabe como ele sempre reclama que nasceu na véspera de natal, então nunca sente como se pudesse ter uma festa de aniversário?
- Sei sim...
- Eu encontrei a solução! Vamos dar uma festa de aniversário... Antes do aniversário! – Harry contou como se tivesse descoberto a cura para o câncer e eu sorri com a sua animação.
- Acho uma idéia ótima! E quando pretende dar essa festa?
- Esse sábado. – Falou casualmente como se dar uma festa surpresa fosse a coisa mais fácil do mundo e dois dias que ele tinha fossem mais que suficiente. – E tem mais! Essa festa vai ter duas partes...
- , temos que ir... – Zayn me chamou do outro lado da sala.
- Já vou! – Acenei em resposta e me virei para Harry. – Depois conversamos mais sobre isso...
Depois do almoço, Lou, Zayn e eu fomos para a loja de tatuagens ou salão de tatuagens, dependendo de como você quiser chamar, com o Volvo cinza. Harry levaria o meu carro para casa e Liam dirigia o Range Rover. disse que levaria Niall pra casa, mas eu desconfiava que ela fosse acabar ficando por lá também, fazendo quem sabe o que. O importante era que todos estavam bem encaminhados e eu mais nervosa do que nunca. Olhei em volta da loja espaçosa, deixando pra trás todos os meus pré-conceitos. Na minha cabeça salões como aquele deviam ser sujos e cheios de motoqueiros ou lideres de gangues cobertos por tatuagens, mas não podia estar mais enganada. A parede da frente tinha janelas bem grandes que permitiam ver o lado de fora e as outras eram cobertas por desenhos ou fotos de pessoas com tatuagens mais lindas que as outras. Por um momento eu desejei fazer muitas delas e entendi porque Harry e Louis continuavam adicionando várias ao corpo.
- Eu já volto, tá? – Zayn deu um beijo na minha testa acenou para que Louis o acompanhasse.
- Não demore... – Pedi com um sorriso.
Os meninos foram até a mesa onde a recepcionista terminava uma ligação e eu fiquei ali parada, olhando o desenho de uma árvore de cerejeira que uma mulher tinha tatuado na base das costas e que se desenvolvia delicadamente até chegar aos ombros. Fiquei tão distraída que não vi quando um homem de aproximadamente vinte e cinco anos de idade se aproximou sorrateiramente.
- Gostou? – O homem perguntou e eu levei um pequeno susto que logo tratei de disfarçar.
- É linda. – Respondi sem tirar os olhos da imagem.
- Você também. – Apoiou o braço na parede e me encarou quase descaradamente.
- Eu gosto de como os galhos seguem o movimento da cintura. – O ignorei, pois era o melhor a se fazer.
- Isso aqui é pra você. – Ele tirou um pedaço de papel do bolso e me entregou.
- O que é isso? – Mesmo relutante, segurei o papel e o abri, vendo uma série de números.
- Meu telefone. – Piscou e eu já começava a me irritar. – Me liga, gata.
- Você tem cinco segundos pra sair de perto da minha garota. – A voz de Zayn me tranqüilizou instantaneamente. Com ele ali, o homem logo iria embora. – Eu estou falando sério.
- Wow, não precisa ficar assim, amigo. Nós só estávamos conversando. – O homem era bem maior que Zayn, mas isso não o intimidava. Pra falar a verdade, eu nunca havia visto Zayn tão firme e frio. Eu amassei o pedaço de papel e o cara tocou o meu ombro.
- Tire as mãos dela. Agora. – Falou entre dentes e eu afastei o toque do estranho.
- Vamos sair daqui. – Tudo que eu menos queria era uma briga naquele momento.
Passei o braço pelo dele e o tirei dali. Eu não duvidava da força de Zayn ou da sua capacidade de lutar, mas não queria ter que assistir a isso e não suportaria que ele sofresse um arranhão que fosse. Mesmo relutante, consegui levá-lo de volta à mesa da recepção onde Louis nos esperava. Por sorte o homem não voltou a vir atrás de mim e saiu pela porta, me deixando bem mais relaxada. A secretária chamada Judy sorriu simpática e se apresentou, dizendo que já seríamos atendidos. Louis foi o primeiro a ser chamado, porque Zayn pediu para que eu e ele fossemos atendidos ao mesmo tempo por duas pessoas diferentes. Ele queria que passássemos por isso juntos em uma tentativa de me manter tranqüila, e tenho que concordar que foi uma ótima idéia.
- Eu podia ter arrebentado aquele cara. – Bateu com o punho fechado na parede.
- Eu sei disso! – Toquei seus ombros com carinho, apertando de leve e tentando mantê-lo calmo. – Mas já passou... Eu sou sua e é o que importa.
- Aquele idiota... – Fechou os olhos e apertou as têmporas, respirando profundamente.
- Por mais que seja meio excitante te ver assim... – Dei um sorrisinho malicioso assim que Zayn voltou a abrir os olhos.
- É? – Acabou sorrindo também e deixando a raiva de lado.
- Uh hu... – Mordi o lábio inferior e puxei mais pra perto pelo pescoço.
- Me fale mais sobre isso... – Seu tom de voz era baixo e cheio de segundas intenções. Zayn me segurou pela lateral do quadril e encostou a testa à minha.
- Acho que gostei de ver você assim... Possessivo... – Brinquei com os fios em sua nuca enquanto falava baixinho pra ninguém mais escutar. – Defendendo o que é seu...
- Tudo isso aqui é meu. – Me apertou com mais força e me puxou pra perto. Seu tom se voz mais uma vez foi firme e um arrepio tomou conta de mim.
- Eu acho que está na nossa hora... – Falei totalmente sem vontade, mas não tinha muita escolha. Se continuássemos naquele assunto o resultado não seria nada apropriado para o local onde estávamos.
- Como é? – Fez uma careta que me fez rir.
- Vamos fazer as nossas tatuagens! – Apontei com a cabeça para a secretária que nos aguardava.
- Eu não queria chamar vocês pra não atrapalhar... – Judy explicou e Zayn a olhou de cara feia. – Estão prontos pra vocês.
- Obrigada, Judy! – Fiz Zayn me soltar mesmo com a sua resistência e entrelacei os dedos nos dele. – Estamos prontos?
- Estamos. – Alisou a minha mão com o polegar e indicou o caminho que já conhecia bem. – Vai dar tudo certo.
- Sei disso... – Não tinha tanta certeza quanto demonstrava.
Atravessamos o salão e passamos pela mesa da recepção, seguindo pela direita e chegando em um novo cômodo onde várias macas parecidas com as de hospital estavam espalhadas. Algumas estavam vazias, mas a maioria era ocupada por pessoas sendo tatuadas. Uma ou outra fazia caretas de dor e outras estavam mais tranqüilas. De qualquer maneira, não prestei muita atenção para não acabar me apavorando de vez. Zayn acenou para um homem careca que nos aguardava perto de duas daquelas macas com estofado de couro azul. Fomos até ele, mas eu me escondi inconscientemente atrás do meu namorado enquanto caminhávamos.
- What’s up, man? – O tatuador cumprimentou Zayn com um daqueles apertos de mão que todo homem parece conhecer.
- Quanto tempo, Ami. – Sorriu como se fosse íntimo do homem. – Essa aqui é a minha namorada.
- . – Apertei a mão que Ami estendia. – Muito prazer.
- , foi o Ami aqui que fez muitas das minhas tatuagens, como o lobo na minha perna e todas as minhas caveiras. – Contou. Se aquele homem fez as caveiras de Zayn então eram muitas mesmo. – E a do passarinho que você gosta tanto.
- Uau, então ele tem talento!
- Que bom que gosta do meu trabalho, porque sou eu quem vai tatuar a sua hoje. – Sorriu mais uma vez e indicou uma das macas para que eu pudesse me acomodar. – A Judy já me entregou os desenhos que você passou pra ela, Zayn.
- Ótimo! Então podemos começar? Quem vai fazer em mim? – Zayn se sentou na maca ao lado da minha e sorriu pra mim, querendo passar confiança.
- Você se lembra do Many? – Ami apontou para o homem que estava próximo a nós, mas que não fora notado ainda. – Podem combinar a sua enquanto eu converso com a minha amiga .
- Pode falar, Ami. – Imitei uma falsa coragem e fitei o meu tatuador.
- O seu desenho é bem simples, então deve levar no máximo uns vinte minutos e não deve doer muito, dependendo do local. – Explicou o mais profissional possível. – Onde você quer colocá-la?
- Nas costelas... Lado esquerdo. – Toquei o local com a ponta dos dedos e levantei o braço pra mostrar onde queria. – Vai doer muito?
- Eu serei sincero com você, ok? Essa é uma região delicada, porque ossos doem mais que músculos, mas a dor varia muito de pessoa pra pessoa. Você pode sentir muita dor, mas também pode não sentir nada.
- Ok, acho que não quero sentir mais nada. – Ri de nervosa e aceitei que começássemos logo.
Coloquei as pernas sob a maca, mas continuei sentada. Dei uma boa olhada em Zayn, que também tinha terminado de conversar com Many. Eu vi o papel que o tatuador segurava com o desenho de duas asas e uma boca entre elas. A tatuagem dele seria bem mais detalhada que a minha e ficaria perfeita nele, até porque eu já achava que sabia bem onde ele pretendia colocá-la. Meu palpite foi confirmado assim que Zayn tirou o casaco e a camisa, deixando-os na maca para usar de apoio para a cabeça. Por uns instantes não consegui olhar para nada que não fosse o abdômen definido do meu namorado. Eu sabia que ele tinha um corpo bonito e já tinha visto-o de perto, mas senti como se fosse a primeira vez. O menino notou o meu olhar e sorriu divertido, flexionando os braços pra me matar de vez.
Eu percebi o que ele estava querendo fazer e balancei a cabeça para afastar os meus pensamentos impróprios para menores de dezoito anos. Suspirei e sorri de volta. Dois podiam jogar esse jogo e era isso o que eu pretendia fazer. Entrei na onda e também tirei o casaco, sentindo todos os olhares em mim. Bem... Se a minha tatuagem seria na costela, era óbvio que eu não ficaria vestida pra isso, certo? Troquei o uniforme de ballet por roupas normais antes de sair da Academy e por isso, quando tirei a blusa de mangas compridas, fiquei com um sutiã comportado, mas ainda assim era um sutiã. Zayn teve a mesma reação que eu, encarando meu colo e minha barriga, porém, foi bem mais explícito do que eu.
- Será que você poderia babar menos? – Perguntei com tom de brincadeira e deitei de lado na maca com o lado esquerdo para cima.
- O que é? Eu só estava tentando ver se o seu machucado foi curado direito. – Também se deitou, ficando de barriga pra cima.
- Agora eu vou marcar o desenho na sua pele, ok? – Ami nos ignorou e aproximou um papel transparente da minha pele, marcando-a com o desenho das asas e da frase que eu teria marcada permanente no meu corpo. – O lugar está bom? É isso mesmo que você quer?
- Está perfeito! – Dei uma boa olhada no local sabendo que eu levaria aquela decisão para o resto da vida. – Podemos começar.
- Ótimo! Já estou com tudo pronto. – Puxou uma cadeira e ligou a máquina de tatuar, ou seja lá o nome dela. – Vou começar com uma linha pequena e aí você me diz o que achou.
- Certo, certo. – Afirmei que sim com a cabeça e me mantive o mais quieta possível. A próxima coisa que senti foi um pequeno choque na pele, me fazendo reprimir um gemido de dor. – Ok, acho que posso agüentar isso...
- Muito bem, . – Zayn segurou a minha mão e brincou com os meus dedos. Many já o tatuava sem esperar por nada e eu me senti um pouco boba.
- Então vamos lá! – Ami molhou a ponta da máquina em sua mão no potinho de tinta preta na bandeja ao seu lado se curvou sobre mim.
Admito que poderia ter sido bem pior do que eu estava esperando. Eu chegava a sentir a agulha sendo arrastada e furando a minha pele, causando um pouco de dor, mas dava pra suportar. Fiz uma careta ou outra quando ele chegava bem em cima do osso, mas não cheguei a gritar hora nenhuma. Por essa razão me senti bem orgulhosa de mim mesma e Zayn parecia sentir o mesmo, já que sorria pra mim entre as suas próprias caretas. Apoiei a cabeça no meu casaco dobrado pra ficar mais confortável e poder olhar para ele em todo momento. Eu queria puxá-lo para um beijo, mas não seria muito seguro, então reprimi aquela vontade repentina culpando a nossa falta de roupas por aquele desejo.
De vez em quando eu espiava o trabalho de Ami e ele me perguntava se estava tudo bem. Eu afirmava que sim com a cabeça e sorria pelo bom trabalho que o tatuador estava fazendo. O desenho que Zayn fizera especialmente pra mim estaria gravado na minha pele junto com a frase de meu avô que tanto me inspirava. Dias antes andei pesquisando o significado por trás de tatuagens de asas e o que descobri foi bem interessante. Pelo que li, asas podiam significar pureza, segurança, liberdade e outras coisas. Sem falar que asas de anjo especificamente tem significados ainda mais profundos, pois sem elas eles não são nada. Quero dizer... São as asas que lhe dão a graça e por isso são arrancadas quando os anjos caem do céu. As penas queimam ao chegar à Terra, mas uma delas ainda é guardada pelos Arcanjos... Ok, talvez eu tenha lido demais. Mas o que importa de verdade é que eu estava ainda mais apaixonada por aquele desenho e Zayn acertara em cheio na sua escolha.
- Ainda estão por aí? – Louis chegou perto das nossas macas e se sentou na ponta da minha.
- Já acabou a sua, Lou? – Tive que perguntar, já que não conseguia olhar pra ele.
- Minha frase está perfeita! – Considerei aquilo como um sim. – É no mesmo lugar da de Zayn.
- E qual é a frase? – O outro menino perguntou para matar nossa curiosidade.
- It is what it is. – Senti que ele estava sorrindo.
- Eu quero ver! – Estiquei o pescoço e só o que vi foi Ami fazendo cara feia.
- Vai poder ver quando eu terminar!
- Desculpa... – Voltei a deitar a cabeça e vi que Zayn ria. – O que foi?
- Eu sabia que você não agüentaria ficar parada por muito tempo. – Continuou rindo e foi a vez de Many reclamar.
- Zayn, se você rir assim mais uma vez vai me atrapalhar.
- Bem feito! – Desdenhei e segurei o riso pra não acabar ouvindo reclamação novamente.
- Judy tem uma TV se você quiser assistir enquanto espera. – Ami deu uma furada mais violenta e eu senti que agora ele fazia as letras e intercalava com o papel higiênico que usava pra limpar o pouco de sangue que acabava saindo. – Não falta muito para a terminar, mas o Zayn ainda vai ter que ficar aqui mais um pouco.
- E o que me garante que ela vai sair do lado dele quando estiver livre? – Lou me conhecia tão bem!
- Absolutamente nada. – Fui eu quem respondeu e meu irmão riu.
- Quando passamos de carro eu vi uma sorveteria na esquina. Acho que vou dar um pulo lá...
- Aceito um Milk Shake, por favor. – Levantei o braço, já que não tinha como olhar pra ele.
- Vocês tem que provar o Milk Shake de Ferrero Rocher que eles tem. É bom demais. – Many deu uma parada no trabalho para demonstrar com um gesto o quanto era gostoso.
- Pois é desse aí mesmo que eu quero! – Fechei os olhos em uma careta e suspirei. Seria melhor me concentrar no Milk Shake do que na dor que parecia estar aumentando.
- Tudo bem... – Lou parecia entediado por ter que me trazer algo e por eu estar sendo tão mole com algo que ele já sofrera tantas vezes antes. – Quer algo, Zayn?
- O que eu quero você não pode me dar. – Aquela resposta me fez olhar para Zayn e notei que suas íris miravam exatamente o meu decote.
- Ok, essa é a minha deixa pra ir embora. – Aposto qualquer coisa que Louis fez cara de nojo ao se afastar de nós.
- Já estou quase acabando aqui... – Ami informou.
Os últimos traços foram ainda piores que os primeiros. Acho que o segredo é que eu deitei naquela maca esperando uma dor muito grande e por isso quando não sofri tanto assim acabei fincando surpresa e relaxando, o que acabou causando a dor no final... Pode ser que não faça tanto sentido assim, mas na minha cabeça era uma boa teoria. Ami finalizou com cuidado e eu senti a agulha afundando ainda mais na minha pele. “Está acabando. Só mais um pouco!” Repeti para mim mesma. Zayn esticou a mão e tocou o meu cabelo, bagunçando alguns fios. Seu toque era tão terno que eu esqueci da dor por preciosos instantes.
- Prontinho! – Ami borrifou algo que parecia muito com água e eu senti a pele arder quando ele secou com um algodão. – Pode ir dar uma olhada no espelho e volte pra cobrirmos.
- Tudo bem! – Sentei sobre a maca e saltei para o chão.
- Ficou ótima, babe. – Zayn deve ter visto quando eu levantei.
- Tenho certeza que sim! – Dei pequenos passos para chegar até o espelho que ficava ali perto e virei de lado para estudar o resultado final. – Nossa, Ami... Ficou melhor do que eu esperava! Eu simplesmente amei.
- Fico feliz que tenha gostado tanto assim! Agora venha aqui que eu vou te ensinar como cuidar.
- Pode falar, estou ouvindo! – Obediente, voltei para a maca e fiquei sentada de frente para ele. Senti os dedos quentes de Zayn deslizando por minha coluna e tentei ignorar.
- O básico que você precisa saber é o seguinte... – Ami pegou uma pomada transparente de embalagem azul e aplicou suavemente por cima da tatuagem. – Estou fazendo esse curativo pra impedir alguma infecção e bactérias, porque a sua pele está fragilizada. Você deve manter a gaze por no mínimo duas horas. Pode tomar banho, mas cuidado pra não ensopar e nem esfregar a tatuagem. Sol? Não diretamente, ou com bastante protetor solar.
- Entendi! – Fiz sinal de ok e o tatuador terminou de cobrir minha nova tattoo.
- Você vai ver só, logo vai querer fazer outras! – Me encorajou e entregou a blusa para que eu pudesse me vestir.
- Eu que o diga. – A voz de Louis veio pela lateral e ele carregava o meu Milk Shake em uma mão e tomava do seu próprio na outra.
- Você chegou rápido! – Estiquei os braços como uma criancinha pede doce. – Dá! Dá!
- Eu vim rápido porque a minha irmãzinha merecia um prêmio depois da sua primeira tattoo. – Desconfiei que houvesse algo estranho na sua frase, mas preferi acreditar que Lou fizera aquilo pela bondade de seu coração.
- Obrigada, Boo bear! – Peguei o meu copo quase gigante e dei o primeiro gole, deixando o sabor do chocolate com amêndoas me invadir. – Bloody mercy... é bom demais!
- Eu falei que era bom! – Many se gabou.
- Anjo, eu quero provar... – Zayn me cutucou devagar no meio de minhas costas.
- Nem pensar, Zayn! Você não vai se mexer e nem sair daqui. – Many o segurou antes que tivesse a chance de levantar.
- Mas isso é tortura! Só um gole... ?
- Não vou deixar meu amor passar vontade. – Fiz bico e olhei pra ele naquela maca, fazendo um bico maior que o meu. – Lou, segura aqui, por favor.
- Por que eu estou com medo disso? – Louis segurou o meu corpo e arqueou uma sobrancelha.
Ignorei suas caretas e me virei até ficar deitada na maca de barriga pra baixo. Zayn pareceu ler meus pensamentos, pois abriu um sorriso maior que tudo. Ainda bem que as macas estavam bem próximas, fazendo com que fosse mais fácil pra eu me inclinar sobre Zayn sem cair e, principalmente, sem atrapalhar o trabalho do tatuador e nem estragar a tatuagem. Segurei a lateral do rosto de Zayn e encostei os lábios nos dele, encaixando-os. Sorrateiramente arrastei a minha língua até receber passagem e o permiti chupá-la para sentir o gosto do Milk Shake. Aprofundei o beijo depois de um suspiro, deslizando a minha mão até a nuca de Zayn e a deixei ali. Com o braço que tinha mais mobilidade, ele tocou meus cabelos e fez pequenas caricias, me instigando a continuar. Não sei o que acontece quando nós dois estamos juntos, mas é algo que nem eletricidade pode ser comparada.
- Essa é a minha irmã, senhoras e senhores! – Louis ironizou assim que relutantemente separei-me do meu namorado.
- Gostou do Milk Shake? – Passei o nariz pelo de Zayn de olhos fechados, sorrindo sapeca.
- É o melhor que eu já provei. – Roubou um selinho. – Mas só pra ter certeza, acho que deveria provar de novo...
- Nem pensar! – Many se meteu mais uma vez. – Já terminei uma asa, daqui a pouco vocês vão poder se pegar em paz.
- Vai demorar muito! – Resmunguei, mas sentei novamente e peguei minha bebida. Teria que acalmar os hormônios com chocolate.
Capítulo LII
Pelo que parecia ser a quarta vez eu conferia se os presentes que eu havia comprado na noite anterior estavam bem escondidos. Mais tarde naquele mesmo dia teria a festa surpresa de Louis e, mesmo que não fosse entregar o seu presente antes da data certa, preferi sair pra comprar o presente de natal de todos os meus amigos antes que as lojas e shoppings ficassem abarrotados de pessoas que se esqueceram desse pequeno grande detalhe assim como eu. Não me preocupei com o tamanho ou valor monetário dos presentes e sim com o valor sentimental. Fiz questão que fossem carinhosos e que mostrassem que eu realmente tirei um tempo para escolhê-los. O que não deixa de ser verdade, já que eu passei o dia inteiro fora de casa para encontrar tudo que queria. Por sorte, todos os pacotes embalados couberam dentro do closet, atrás dos meus vestidos longos. Eu poderia ter colocado-os embaixo da árvore de natal, mas quem me garantia que os meninos não iriam espiar?!
Saí do closet assim que escutei um barulho no quarto e encontrei Harry olhando embaixo da cama. Ele não percebeu quando eu caminhei até o seu lado e cruzei os braços, esperando-o parar com o que quer que estivesse fazendo. Como o menino não parecia se tocar, eu tive que fazer alguma coisa. Me inclinei e o apertei na cintura, assustando-o mais do que esperava. Harry deu um pulo e acabou batendo a cabeça na madeira da cama.
- Hazza! Você está bem, sweetie? Desculpa! – Me ajoelhei no chão e o ajudei a se sentar.
- Outch, ! Porque fez isso? – Massageou o lugar machucado e eu me senti pior ainda.
- Desculpa, desculpa! Só estava tentando chamar a sua atenção! – O puxei devagar e enchi sua cabecinha cacheada de beijos, fazendo-o rir.
- Tudo bem, eu te desculpo! – Me afastou quando percebeu que eu comecei a bagunçar seus cabelos e ambos levantamos. – Eu estava procurando coisas legais pra levarmos hoje... Você sabe aonde.
- Sei sim! – Sorri em confidencia. – Mas estou a um passo na sua frente. Já separei tudo que encontrei dentro daquela mochila que está na cadeira.
- Eu sabia que podia contar com você, . – Harry caminhou até onde eu indicara e espiou dentro da mochila. – Aliás, a Olivia já chegou e está te esperando lá embaixo.
- O Lou está conversando com ela? – Me acomodei sentada na cama e cruzei as pernas.
- Está sim. Por quê?
- Então daqui a vinte minutos nós voltamos lá pra baixo. – O fiz se sentar ao meu lado.
- Você está tentando fazer algo acontecer? – Isso porque falam que Harry é lerdo. Coitadinho.
- Sweetie, eu estou tentando fazer tudo acontecer. – Pisquei. – Por mais que goste de vocês dois como um casal, ainda quero um sobrinho. Se eles se derem bem, a Liv pode concordar em ser sua barriga de aluguel.
- Achei que fossemos adotar um bebê chinês. – Abraçou o travesseiro como se fosse um bebê de verdade.
- Podemos decidir isso depois! Não é importante agora. – Fiz um movimento exagerado com as mãos. – O que importa é que eu vou chamar a Liv para a festa, ok? Para a segunda parte.
- Por falar nisso, quem vai com a gente para a primeira parte?
- Vamos repassar, então. Pra que não haja dúvidas. – Cruzei as pernas como um índio em cima da cama e numerei com os dedos. – Primeiro você e o Liam vão para o local combinado, onde os convidados vão chegar. Já falei com meu pai e meus tios e todos confirmaram. Zayn também vai pra lá, aliás. Enquanto isso, e Niall já vão estar organizando a segunda parte. Estou pensando em mandar a Olivia pra lá também, mas não sei se é seguro colocar ela e a ruiva no mesmo lugar sem supervisão.
- Acho que você está certa. – Harry começou a brincar com uma bolinha daquelas de apertar que eu tinha ao lado da minha cama. – Fala pra ela que nós ligamos assim que estivermos indo. A distância é a mesma, então vamos chegar quase ao mesmo tempo.
- Por falar em distância, você conhece o caminho, certo? Não quero ficar perdida no meio do nada!
- Confie em mim, . Vai dar tudo certo. – Sorriu confiante e eu acabei acreditando.
- Bem, então eu vou indo. Não quero que a Liv pense que os franceses tem má pontualidade. – Levantei com um salto e peguei minhas chaves e celular em cima da mesinha de cabeceira, também tirando um cardigan solto no braço da cadeira e o jogando sobre o ombro. – Volto logo!
- Aonde vocês vão? – Harry me seguiu para fora do quarto.
- Vamos até a casa dela. Acho que uma boa oportunidade para darmos mais um passo na nossa amizade. – Comentei descendo as escadas.
- Só não perca a hora! – Parou no meio do caminho e foi para o próprio quarto, me deixando descer sozinha.
- Aí está ela! – Louis se levantou do sofá onde estivera conversando com Olivia e a menina fez o mesmo.
- Oi, ! Você demorou. – Até mesmo aquilo não pareceu uma reclamação em sua voz de tão simpática que era. – Podemos ir?
- Podemos sim! E me desculpe pela demora. Fiquei meio presa com algumas coisas...
- Sem problemas!
O quarto de Liv era simplesmente legal demais. Ficava no sótão e por isso tinha o teto rebaixado na diagonal e a cama ficava abaixo da parte rebaixada e um pega-pesadelos colorido enfeitava o espaço sob o colchão. Perto da janela havia um daqueles colchões bem fofos que servem para se apreciar o lado de fora da forma mais confortável possível. O chão era de uma madeira clara e alguns tapetes floridos o enfeitavam. Do lado oposto encontrei uma daquelas cadeiras suspensas que parecia uma bolha de sabão. Na parede, uma estante cheia de livros me fez pensar se ela teria algum pra me emprestar. Talvez pudéssemos trocar! Gostei de tudo naquele quarto e naquela casa. A mãe de Olivia também era super adorável. Sem falar em Scott, o caçula da família, de doze anos. Uma coisinha pequena atravessou o quarto correndo e eu me assustei.
- Liv, cuidado! Tem um rato ali! – Apontei para onde eu tinha visto, mas o bicho correu para dentro de uma casinha de bonecas que estava no canto. – Eu juto que vi!
- Um rato?! Não, ... É só o Bob. – Riu e caminhou tranquilamente até a casinha que, depois de prestar bem atenção, não era uma casinha de “bonecas”.
- Você tem um rato chamado Bob? – Eu sabia o que tinha visto e era grande demais pra ser um hamster amigável.
- Não é um rato! É um porco-espinho. – Se virou na minha direção com o bichinho em mãos e eu teria me assustado se Bob não fosse tão adoravelmente fofo.
- E ele não é perigoso? – Mexi o dedo indicador perto do focinho dele e o pequeno quase ficou tonto, me fazendo rir. – Oi, little Bob.
- Só é perigoso se você pisar nele por acidente. – Liv deu de ombros e fez carinho nele. – Quer segurar?
- Posso? – Estiquei as mãos em forma de concha para que a minha nova amiga pudesse colocá-lo dentro dela. – Ele é pesado!
- É meu gordinho! – Fez carinho em Bob mais uma vez e foi até a própria cama, se jogando nela. – Pode se sentir bem à vontade, viu?
- Eu já estou bem à vontade. – Era verdade. Ainda segurando Bob, tirei os sapatos e deixei em um cantinho. – Ele fica solto pela casa?
- Pelo meu quarto. – Explicou. – Seria perigoso deixá-lo correndo por aí, então eu o deixo aqui, mas de vez em quando o levo pra passear.
- Liam tem duas tartarugas e às vezes eu também as levo pra passear pela casa. – Me abaixei para colocar o porco-espinho no chão e olhei em volta mais uma vez. – Seu quarto é muito legal, sabia?
- Obrigada. – Se sentou e sorriu como se o meu simples elogio significasse o mundo. – Aqui costumava ser um depósito de tralha, mas papai me deixou transformar em um quarto.
- Você fez um belo trabalho! – Não me senti enxerida em estar olhando tudo, pois já me sentia em casa. Estudando a prateleira de livros, bati os olhos em algo que não era uma obra literária e sim uma coroa de flores. – Nossa, sabe em quem essa coroa ficaria linda?
- Naquela sua amiga ? Se quiser pode levar pra ela! – Liv ofereceu assim tão facilmente que fiquei espantada. – Tenho várias dessa.
- Eu ia falar do Harry, mas posso levar pra ele mesmo assim? – Peguei o enfeite com cuidado. Não queria abusar da menina, mas podia devolver depois, certo?
- Claro que sim, . Fique a vontade.
- Obrigada, Liv. – A coloquei na minha própria cabeça para usá-la até chegar em casa. Se fosse deixá-la em qualquer outro lugar, acabaria esquecendo. – Aliás, tenho um convite a te fazer.
- Um convite?
- Sim! – Me sentei ao seu lado na cama. – Hoje nós vamos dar uma festa surpresa para o Lou! E eu adoraria que você fosse!
- Hoje? Assim, em cima da hora? Eu nem comprei um presente...
- Não se preocupe com isso, ok? O importante é que você vá! – Não a deixaria negar aquele convite de jeito nenhum. – Eu te passo o endereço e o horário por mensagem.
- Sendo assim, eu aceito. – Passou a mão pelos cabelos loiros eu a invejei por ter fios tão comportados. – Todos do One Direction vão estar lá?
- Vão sim! Todos e... Espera, como você sabe?
- Não me ache estranha, por favor! – Escondeu o rosto nas mãos. – É só que eu assisto X Factor e vi o resultado do concurso. Na mesma hora reconheci o Louis e o Harry, então passei a acompanhar. Até os sigo no Twitter e votei por eles várias vezes.
- Então como comandante oficial do fã clube 1D, eu te dou as boas vindas ao nosso exercito! – Bati continência. – E como membro honorário, sua primeira missão é encontrar novas Directioners!
- Directioners? – Riu e fez uma caretinha.
- Acabei de inventar. – Dei de ombros. - Acho que é um bom nome pra nós.
- Eu gosto. É contagiante!
Os únicos que ainda estavam em casa eram eu e Louis. Liam e Harry saíram horas atrás, usando a desculpa que Gemma os havia convidado para conhecer seu novo apartamento na faculdade, mas a verdade era que eles estavam indo para o restaurante reservado para a primeira parte da festa surpresa de meu irmão. Eu também precisava de uma desculpa para tirar o aniversariante de casa sem levantar suspeitas e já sabia exatamente o que falar. Todos os anos o hospital em que meu pai trabalha dá uma festa de fim de ano; como uma confraternização. Usei isso ao meu favor e Lou acreditou quando eu afirmei que papai requisitava a nossa presença na festa pontualmente às nove horas daquela noite.
Coloquei meu celular na bolsa de mão após ler uma mensagem de Zayn que confirmava a sua chegada no restaurante. Se posso citar seu comentário: O lugar estava bem enfeitado e o bolo faria Louis sorrir. Deixar tudo nas mãos de Harry foi a melhor decisão que qualquer um poderia tomar, já que o menino realmente se esforçava pra deixar tudo impecável.
Por falar em impecável, era bem assim que eu estava me sentindo em frente ao espelho. Meu reflexo sorria pra mim e quase falava: “Você está linda.” Minha escolha de roupa não poderia ter sido melhor e o vestidinho preto modelava as minhas curvas. A festa seria no estilo Black Tie e eu estava louca para ver os meninos de paletó e gravata! Saí do banheiro pressionando um lábio contra o outro para espalhar o batom vermelho e apaguei a luz do quarto ao atravessá-lo em direção à saída.
- Lou? Estou pronta. – Cheguei ao corredor olhando em volta. – Lou?
- Já estou aqui embaixo, . – A voz dele veio da escada.
Obviamente Louis estava me esperando no primeiro andar e seu quarto já estava com as luzes apagadas assim como o meu. Desci os degraus com calma, pois – milagrosamente - não estávamos atrasados. Meu irmão já estava parado na porta e segurava a minha mochila em uma mão e a porta aberta com a outra, esperando que eu passasse para que pudéssemos ir. Ele estava lindo, mas isso não é novidade. Vestia preto dos pés à cabeça com uma camisa social que fazia jus à sua forma. Seu cabelo estava com o topete ondulado de sempre e desde o começo da escada eu já conseguia sentir o seu perfume.
- Alguém está bonito hoje. – Sorri e passei a mão pela lapela da camisa dele, tirando qualquer resquício de amassado.
- Você também está muito bonita, . – Me olhou dos pés à cabeça e eu dei uma voltinha rápida sem sair do lugar. – Mas pra quê tem que levar essa mochila mesmo?
- São só alguns brinquedos antigos que quero levar pra Lux. – Menti e peguei a mochila antes que ele resolvesse abri-la e encontrar enfeites e coisas divertidas que não pareciam nada com brinquedos para crianças. Talvez a coroa de flores que eu estava levando para Harry entrasse nessa categoria, mas isso não vem ao caso. – Vou deixar na mala do carro por enquanto. Me empresta a chave?
- Aqui. – Tirou a chave do ranger do bolso e me entregou.
- Thanks, Boo.
Mandei um beijo no ar e saí caminhando pelo caminho de pedra até o carro estacionado na calçada. Louis se ocupou em trancar a casa e guardar o próprio chaveiro e eu o deixei para trás. Destravei o Ranger e fui direto para a sua traseira, abrindo o compartimento de porta malas. O lugar era tão espaçoso que duas pessoas poderiam sentar ali e ainda ficar bem confortáveis, o que facilitava muito um dos meus planos para aquela noite. Larguei a minha mochila em qualquer canto e fechei a porta do porta-malas. Dei meia volta no automóvel e entrei para me sentar no banco do passageiro. Lou não demorou muito a se juntar a mim e logo lhe devolvi a chave para que pudéssemos partir.
- Onde vai ser a confraternização mesmo? – Perguntou enquanto manobrava o carro e começava a descer a rua em direção à saída do condomínio.
- No The Dorchester. Parece que o ano foi bom para o hospital, pra terem reservado o restaurante do hotel. – Olhei para a janela. Minha mentira funcionaria melhor que eu não o olhasse nos olhos. – Tenho um mapa aqui. Conhece o caminho?
- Fica perto do Hyde, certo? – Acenou para o porteiro que abriu os portões de ferro.
- Yep! Pode pegar a Kings e entrar na Shaftesbury. – Apontei o caminho que deveríamos seguir, me sentindo muito bem por ter decorado o nome de algumas ruas de Londres.
- Achei que pela Wardour era mais rápido. – Acelerou para não ficar parado no sinal vermelho e eu tive que me segurar na porta.
- Seria se não existisse trânsito. Pela Shaftesbury não vamos ficar presos no tráfego e a Park Lane fica bem perto. – Dobramos à direita.
- Desde quando você é um GPS humano? – Louis me olhou pelo retrovisor e o seu sorriso mostrava que ele não desconfiava de nada.
- Você não sabe o quanto eu já me perdi por essas ruas! – Ri e me acomodei no banco, vendo as luzes passando tão rápido pelas janelas que se tornavam borrões coloridos. – Tive que aprender a me localizar da forma mais difícil.
Eu realmente estava certa quanto ao caminho escolhido, pois encontramos uma rua quase completamente deserta. A rua Shaftesbury estava vazia em comparação com as outras avenidas e desse jeito chegaríamos logo na festa. Há cada km rodado eu ficava mais ansiosa. Pelas minhas contas, quase cem pessoas estariam nos esperando no restaurante do hotel e Lou não fazia idéia! Eu queria muito ver a sua cara de surpresa e torcia pra que alguém registrasse tudo. Minha perna direita parecia não conseguir ficar quieta e subia e descia o tempo todo. Paramos em um sinal vermelho, mas eu sabia que já estávamos quase chegando.
- Tudo bem, ? Você parece nervosa. – Lou se virou na minha direção e eu congelei.
- Nervosa? Eu só estava pensando sobre o X Factor. Gostaria de saber se vocês já tem muitos votos. – Falei torcendo pra parecer natural. Eu devia ganhar um prêmio por encontrar desculpas tão rápido assim.
- Isso tem me deixado nervoso também. – Concordou e voltou a atenção para a rua, me tranqüilizando. – Mas só saberemos no dia primeiro.
- Sei disso. – Suspirei. Minha preocupação com aquele assunto não era uma total mentira, pois eu pensava nesse concurso várias vezes ao dia revisando todas as possibilidades de resultado. – Ah, sabe quem é fã de vocês?
- Quem?
- Sua queridíssima Olivia. – Sorri sapeca, olhando-o de esguelha. – Ela disse que te reconheceu assim que o vídeo passou na TV e tem acompanhado a banda desde então.
- Pelo menos temos um voto. – Deu de ombros como se aquela noticia não fosse nada de mais, mas eu podia jurar ter visto um brilho diferente em seus olhos. – Porque está me olhando assim?
- Por nada, Louis. – Ri ao revirar os olhos. Ele me dava trabalho demais! Daqui a pouco eu teria que empurrar a menina pra cima dele.
- Acho que chegamos... – Mudou de assunto com um risinho que o entregou.
E realmente tínhamos chegado. O hotel cinco estrelas estava bem à nossa frente e um manobrista nos chamou para a rampa que ficava bem em frente à entrada. Lou dirigiu até lá e dois funcionários abriram as portas para que pudéssemos sair. Arrumei o meu vestido assim que fiquei de pé e respirei fundo, reprimindo uma risada de animação. Estávamos quase lá e eu não podia colocar tudo a perder por não conseguir conter a minha felicidade. Peguei o meu celular dentro da bolsa enquanto Lou ainda conversava com o manobrista e assinava um papel para poder retirar o carro na hora da saída. Eu devia avisar que estávamos entrando e por isso digitei uma rápida mensagem para Harry:
“Podem vir! Estamos apagando as luzes.”
Aquela era a resposta que eu precisava, então voltei a guardar o telefone antes que alguém percebesse. Atravessei a rampa até estar ao lado do meu irmão e passei o braço pelo dele, caminhando para as portas de vidro que foram abertas por outros funcionários uniformizados. Sempre fui muito fã de hotéis justamente por causa do luxo que eles exalavam. Era só entrar no lobby que eu já começava a me sentir sofisticada e parte da nata inglesa. Olhei em volta para achar alguma placa que indicasse a direção para o restaurante e segui para lá, trazendo o aniversariante comigo. Não precisamos pedir informações e ninguém nos parou para perguntar aonde estávamos indo, o que me tranqüilizou bastante. Se alguém nos interrompesse, Louis responderia que estávamos indo para uma festa de fim de ano que não estava acontecendo de verdade e seria muito difícil explicar para o funcionário o que estava acontecendo sem estragar a surpresa.
Caminhamos pelo carpete avermelhado e subimos algumas escadas que levariam até o próximo andar, onde o bar e o restaurante principal estavam localizados. De vez em quando eu olhava para o mais velho e sorria. “Ele não faz idéia...” era o que eu pensava. Lou apenas arqueava a sobrancelha e balançava a cabeça negativamente, provavelmente me achando louca. Harry realmente falou sério ao dizer que ia apagar as luzes, pois a porta do restaurante estava aberta, mas lá dentro se encontrava um completo breu.
- Tem certeza que estamos no lugar certo? – Louis passou primeiro, olhando em volta e tentando enxergar qualquer coisa. Eu fiquei um pouco atrás, só esperando o que estava por vir.
- SURPRESA! – As luzes foram acesas e todos que estavam ali dentro gritaram em uma voz só, batendo palmas e assoviando.
- O que é isso? – Lou quase caiu pra trás com o susto, mas começou a rir assim que entendeu o que estava acontecendo.
- Feliz aniversário, Boo Bear! – Passei um braço em volta de seus ombros e o abracei de lado, finalmente podendo sorrir tanto quanto eu queria.
- Você sabia disso? – Me olhou com o rosto iluminado e ainda muito surpreso.
- Claro que sim! Mas idéia foi do Harry, então é a ele que você deve agradecer. – Apontei para Haz, que ria perto dos outros e nos olhava. – Vá falar com os seus convidados!
Com meu encorajamento, Louis foi até Harry e o abraçou tão intensamente que eu achei que fossem cair. Fiquei parada perto da entrada e olhei para todos que estavam ali: Toda a nossa família por parte de pai que morava em Londres tinha comparecido em peso. Uns três garotos conversavam com Liam e esperavam para também falar com Louis, me fazendo deduzir que eram da antiga agência fotografia onde eles trabalharam. Até mesmo Ed estava por ali, mas o que mais me fez sorrir foi ver que Stan, Fizzy e outros amigos de infância de Lou vieram diretamente de Doncaster para prestigiá-lo naquele dia. Acenei para eles em cumprimento e fiquei feliz por saber que se lembravam de mim mesmo que nunca tenhamos tido tanta intimidade assim. Continuei olhando a multidão na procura de uma pessoa em especial.
Senti um par de olhos amendoados em cima de mim e consegui encontrar o dono dele encostado à parede oposta a onde eu estava. Apesar do smoking preto e da gravada bem amarrada, seu sorriso era completamente travesso. Zayn estava com as mãos dentro do bolso e não tirava as íris de mim nem por um instante, convidando-me a me aproximar. Foi exatamente isso o que fiz, desfilando até ele e ignorando algumas pessoas que me chamavam. Não fiz isso por falta de educação, é só que o imã que me ligava a Zayn era mais forte que qualquer norma de etiqueta. Ele desgrudou da parede e esticou a mão na minha direção assim que cheguei perto o suficiente para alcançá-la. A segurei com a minha direita e o menino me fez girar, passando por baixo do seu braço e terminando com o corpo junto ao dele. Aquele movimento foi quase dançado e eu sorri surpresa com a sua desenvoltura.
- Bonsoir, mademoiselle. – Falou baixo e tocou a lateral do meu rosto com uma mão e segurou a minha cintura com a outra. Antes que eu pudesse responder, ele pressionou os lábios contra os meus, fazendo-me fechar os olhos.
- Uh la la. – Pisquei algumas vezes e suspirei com um sorriso. – Bonsoir, monsieur.
- Então eu falei certo? – Acariciou a minha bochecha e eu afirmei que sim com a cabeça.
- Certíssimo! – Ri baixo e dei um pequeno passo para trás, só pra poder olhar em volta. – Esse lugar está muito legal.
- Você tem que ver o bolo! – Já era a segunda vez que ele falava sobre o tal bolo e a minha curiosidade aumentou.
- Onde está?! Eu quero ver! – Estiquei o pescoço pra tentar achar a mesa de doces, mas muitas pessoas estavam na frente.
- Eu te mostro.
Zayn terminou de separar o abraço e segurou a minha mão de forma protetora, abrindo caminho entre convidados e sempre olhando pra trás e abrindo aquele sorriso que eu tanto amava. Era impossível não acabar sorrindo junto, por mais que isso me fizesse parecer muito boba. Enquanto andávamos, pude olhar em volta e reparar na decoração: Algumas bexigas de gás flutuavam soltas pelo teto e fitas coloridas pendiam delas, uma faixa de três metros estava pendurada no fundo do restaurante com a frase: “Feliz 21, Louis!” e abaixo dela estava a mesa do bolo. Assim que bati o olho no bolo entendi porque Zayn parecia tão animado. A obra de arte tinha três andares e incluía o nome e idade do aniversariante, mas essa não era a parte mais divertida. Literalmente sentado em cima do último andar havia um boneco que se assemelhava perfeitamente ao meu irmão. Metade dele estava com a calça vermelha e camisa listrada que eram peças chave do guarda roupa dele, e a outra metade era uma espécie de popstar.
- O que achou? – Zayn perguntou quando eu comecei a rir. – Legal, né?
- Muito legal! – Afirmei e olhei os doces que enfeitavam o resto da mesa. – Ainda é cedo pra roubar um desses?
- É sim! – Riu e me abraçou por trás, me puxando para longe da mesa.
- Só um... – Testei esticar as mãos para roubar um doce que fosse, mas Zayn era mais forte do que eu. – Poxa, Malik, você é um chato!
- Minha namorada tem três anos de idade. – Falou sozinho e riu na minha orelha, destruindo qualquer tipo de resistência.
- E você me ama mesmo assim. – Me encostei em seu corpo, dando pequenos passos por um caminho que era guiado por ele.
- Não. – Sua negação me fez encarar seu rosto preocupada, mas o sorriso que brincava por ali me tranqüilizou um pouco. – Eu te amo por causa disso.
- Você me ama porque eu pareço ter três anos de idade? – Fiz uma careta. Eu sabia o que ele queria dizer, mas gostava de perturbar. – Isso é meio pedófilo, sabia?
- Você é tão engraçada, . – Foi irônico e me fez rir mais ainda.
- Senso de humor é a minha melhor qualidade! – Parei de andar e me virei de frente pra ele. – Onde estamos indo?
- Seu pai quer te ver. – Apontou com a cabeça para o nosso lado direito, onde estava a mesa da minha família.
- Eu me esqueci completamente! – Bati na própria testa por ter esquecido que mais pessoas queriam falar comigo, mas culpava Zayn por me distrair.
Me separei do meu namorado para me aproximar da mesa redonda onde meu pai e Rachel conversavam animadamente. Lux e Heidi estavam ali também, de pé, e dançavam ao som da música baixa que tocava. Zayn me acompanhou e ficou atrás de mim para me esperar cumprimentar meus familiares. O primeiro a me notar foi Mark, meu pai, que se levantou e sorriu carinhoso e cheio de saudades.
– Daddy! – Sorri de volta.
- Achei que não fosse falar comigo! – Papai abriu os braços e eu fui ao seu encontro, abraçando-o.
- É claro que eu vinha falar com vocês. – Prolonguei o carinho o máximo que eu pude e fechei os olhos, aproveitando a proteção que só um abraço de pai pode dar. – Eu sinto muita saudade.
- Nós também sentimos a sua, filha. – Acariciou os meus cabelos e eu o olhei. – Você com certeza fica mais bonita a cada vez que nos vemos.
- Sou um cara de sorte. – Zayn comentou. Eu não queria nem saber quais foram os assuntos da conversa que aqueles dois tiveram antes de eu chegar.
- , eu adorei o seu vestido! – Rachel foi a segunda a me abraçar, demorando bem menos que meu pai.
- Obrigada! É Chanel. – Joguei os cabelos por cima do ombro, me sentindo a própria modelo. Era bom ter alguém que gostasse tanto de moda quanto eu. – Onde está a minha pequena?
- Lux, olha quem chegou... – Minha madrasta chamou a atenção da filha, que parou o que estava fazendo para olhá-la.
- ! ! – Com seu vestido armado balançando, ela veio ao meu encontro.
- Baby girl, você parece uma princesa! – A segurei por baixo dos braços e a levantei até que estivesse em meu colo.
- Ela está crescendo tão rápido. – Zayn brincou com o lacinho vermelho que enfeitava seus cabelos loiros e ela riu. – Daqui a pouco vai estar maior que você, Anjo.
- Vai mesmo! – Deixei um beijo estalado na bochecha da menor e a coloquei no chão mais uma vez. – Oi, Deedee.
- Oi, . – Minha prima mais nova sorriu e acenou. – Vem brincar?
- Agora não posso, pequena. – Fiz bico, torcendo para que ela me perdoasse. – Tenho que falar com os outros convidados. Quem sabe depois?
- Tá bem... – Fez uma carinha triste, mas ela e Lux logo voltaram a brincar.
- Pai, vou procurar os meninos, tá bem? – Avisei como despedida e ele voltou a sentar na mesa ao lado da esposa.
Foi a minha vez de segurar Zayn pela mão e sair andando. Eu pretendia encontrar Liam e Harry, porque tinha certeza que meu irmão estava ocupado demais pra me dar um pouco de atenção que fosse. Mas quem poderia culpá-lo? Era a sua festa. Por mais que Lou desejasse ser jovem para sempre e tivesse medo de crescer, ele estaria fazendo vinte e um anos em alguns dias e isso era motivo de comemoração. Em alguns países aquela é a maioridade, então algo de importante deve ter. Encontrei os meus dois procurados no centro do salão, com bebidas em mãos e conversando animadamente. Zayn me acompanhou até lá, sempre acariciando os meus dedos entrelaçados aos seus ou tocando o meu braço.
- Heeeeey, boys! – Acenei para eles com a mão livre e interrompi a conversa. – O que estão tomando?
- Sangria. – Harry sorriu com os dentes vermelhos por causa da bebida vermelha.
- Suco de uva. – Liam também respondeu, mas não parecia tão feliz quanto Haz.
- Vou pegar algo pra bebermos, tá? – Zayn beijou a minha bochecha e se afastou.
- Meninos, a festa está linda! Vocês estão de parabéns. – Olhei em volta mais uma vez, tentando pegar um balão que flutuava em cima da minha cabeça. – E estão lindos com essas roupas formais!
- Você acha que o Lou gostou? – Harry olhava para um ponto mais distante, onde Louis ria ao lado de Stan.
- Tá brincando? É óbvio que ele amou. – Liam tocou o ombro de Harry. – Nós fizemos um bom trabalho escondendo tudo.
- Deveríamos entrar para a Scotland Yard ou montar uma seita secreta. – Comentei de brincadeira, mas não seria má idéia.
- Uma taça de vinho branco para a minha francesa. – Zayn voltou mais rápido do que eu esperava e me entregou a bebida.
Me joguei no sofá que ficava no canto do salão do restaurante e Zayn se sentou ao meu lado. Tomei apenas duas taças de vinho, mas o estômago vazio fez o álcool subir de vez. Eu não estava bêbada, é claro, só precisava de um tempinho sentada. Joguei a cabeça para trás rindo de alguma coisa que eu nem ao menos me lembrava o que era. Provavelmente tinha sido só uma piada sem graça que Zayn contou. Cruzei as pernas porque era uma moça de família e olhei para o meu namorado. Ele parecia estudar todos os cantos do meu rosto e eu desejei mais do que qualquer coisa saber o que se passava em sua mente.
- No que está pensando? – Me aproximei um pouco mais até que nossas pernas estivessem se encostando. Ele passou um braço por trás do meu ombro e me acomodei em seu corpo.
- Só estou pensando. – Respondeu como se não fosse importante e brincou com as pontas dos meus cabelos.
- Há algo errado? – Franzi o cenho e Zayn encostou a testa à minha.
- Claro que não, Anjo. – Ficamos nos olhando e ele foi o primeiro a sorrir.
- Gosto quando me chama assim... – Confessei desconectei os olhares; talvez por vergonha. Mantive as minhas mãos ocupadas com a gravata macia que enfeitava o pescoço do garoto.
- É? – Me olhava com cuidado, ainda acariciando os meus cabelos.
- Gosto de tudo que você faz. Gosto de como me olha e de como seus dedos deslizam pela minha pele. Gosto de como nossas mãos se encaixam e do sabor dos seus lábios. Gosto quando seus braços estão ao meu redor e quando você me protege. Gosto de pensar em você o dia inteiro e de sentir a sua falta mesmo depois de passar horas ao seu lado. Gosto de saber que nós dois somos verdade. – Falei todas aquelas coisas sem olhar pra Zayn com medo de gaguejar ou me perder, mas ele sabia que eu estava sendo sincera.
Quando nossos olhares finalmente se cruzaram, ele me envolveu ainda mais com o braço e tocou o meu queixo com a ponta dos dedos, levantando o meu rosto. Não precisei de uma resposta para sorrir. Ambos aproximamos nossos rostos ao mesmo tempo, parando a milímetros de distancia, prolongando aquele momento e sentindo o hálito quente um do outro. Fechei os olhos com força, querendo ficar ali pra sempre. Não me importei mais em estar no meio de uma festa onde meus familiares passeavam livremente. Só queria... Ser dele. Respirei fundo ofegando antes mesmo de começar o beijo. Nossos narizes se esbarraram devagar, pedindo uma aproximação ainda maior.
Acho que nenhum de nós agüentava mais adiar o inevitável, então o segurei delicadamente pelo pescoço e, como uma música chega ao ápice, transformamos nossas bocas em uma só. Ainda sem fazer muitos movimentos, apenas ficamos curtindo e aproveitando o contato um do outro. Gradualmente aumentamos a velocidade até que nossas línguas estivessem brincando e se perdendo. Arfei por impulso, tentando puxá-lo mais pra perto, mesmo que soubesse que pra isso acontecer eu teria que estar em seu colo. Nosso beijo durou pouco, mas foi o suficiente para me deixar sem ar.
- Sabe o que eu queria agora? – Zayn perguntou enquanto tocava meu lábio inferior com o polegar.
- O que? – Abri um pouco os olhos e sorri, já esperando que vinha por aí.
- Esquecer a segunda parte da surpresa e subir pra algum quarto. – O sorriso travesso voltou a aparecer.
- Já quer dormir, baby? – Me fiz de inocente e mordi a pontinha do seu dedo. – nos mataria! Nem pense nisso.
- Chata. – Recostou-se ao sofá e cruzou os braços.
- Quem tem três anos agora? – Também cruzei os braços, mas gargalhei. – Mas você me lembrou de uma coisa importante...
- O que? – Não conseguiu fazer birra por muito tempo e me olhou curioso enquanto eu procurava algo dentro da bolsa.
- Preciso ligar pra ruiva. Sabe como está tudo por lá... – Peguei o meu aparelho de celular e disquei seu número de chamada rápida. – Só espero que ela não esteja muito bêbada...
- Já está querendo demais. – Zayn riu e eu sabia que ele estava certo.
- Digaê, meu amor! Não, Niall, é a ... – Ouvi seus gritos quando atendeu e a música de fundo atrás dela estava exageradamente alta.
- Oi, coisa linda! – Ri daquela situação toda. – Como está tudo por aí?
- Bem animado! – A música começou a parecer mais distante, então ela devia estar se afastando da confusão. – Vocês estão perdendo a melhor festa.
- Acho que não vamos demorar muito por aqui... Vou tentar apressar as coisas. – Olhei para Zayn, que captou a mensagem na mesma hora e se levantou. – Chegamos aí em meia hora, ok? Tente não beber tudo antes.
- Não prometo nada, gatinha. Venha logo!
Desliguei a chamada assim que voltou a gritar com Niall e a minha vontade de ir para a segunda parte da festa cresceu ainda mais. A proposta de Zayn havia sido tentadora, mas nós não podíamos simplesmente abandonar todos os planos e fugir. Levantei do sofá enquanto ainda guardava o iPhone na minha bolsa de mão e procurei algum dos meninos com o olhar. Os quatro estavam reunidos perto da mesa do bolo e eu vi que mais pessoas começaram a se aproximar. Atravessei o salão em passos rápidos. Zayn realmente tinha me entendido e adiantara as coisas. O aniversariante não podia sair sem cortar o bolo primeiro, correto?
- Vem, . Vamos cantar os Parabéns! – Liam segurou a minha mão, guiando-me pelo caminho.
- Já não era sem tempo! – Saltitei até chegar na frente do semi-círculo de pessoas que se aquecia para fazer as honras.
- ! – Louis me chamou e eu olhei na sua direção. – Vem pra cá.
- Tem certeza? – Questionei, mas não fiquei parada. Fui para trás da mesa e fiquei ao lado dele.
- Claro que sim. – Me abraçou de lado. – Pelo menos dessa vez você não precisa de uma cadeira pra ficar de pé ao meu lado.
- Não é a hora de ficar lembrando a nossa infância, Lou. – Senti um aperto no coração, mas era um aperto bom. O puxei com cuidado e deixei um beijo estalado em sua bochecha. – Feliz aniversário, big brother.
- Então vamos lá... – Papai também tinha se aproximado e acendeu as velas do bolo. Alguém também diminuiu as luzes para que pudéssemos começar a cantar.
Happy birthday to you.
Happy birthday, dear Louis.
Happy birthday to you.
A canção era curta demais, por isso a repetimos duas vezes. Todos batiam palmas e cantavam a plenos pulmões, deixando Louis no centro de todas as atenções. Essa parte do aniversário pode ser um tanto constrangedora se você não sabe o que fazer. O certo é bater palmas e cantar pra você mesmo? Ou se deve ficar parado e apenas sorrir? Meu irmão não tinha esse problema, porque fez uma dança desengonçada e engraçada enquanto cantávamos pra ele, o que me fez rir. Podia não ser o dia oficial do aniversário, mas querendo ou não ele estava envelhecendo. Nós estávamos envelhecendo. Não éramos mais as criancinhas que tinham que se equilibrar em bancos para alcançar o topo do bolo e nossos pais não estavam mais tão perto para nos impedir de cair. Louis faria vinte e um anos em breve, o que o tornava um adulto completo, mesmo com a sua personalidade de criança. Por um momento me peguei com lágrimas nos olhos, tratando de afastá-las antes que alguém percebesse.
- Não esqueça de fazer um pedido... – Sussurrei para ele assim que a música acabou.
- Eu não esqueceria da melhor parte! – Sussurrou de volta e se inclinou para assoprar as velas em forma de estrela.
- ! – Harry estava me chamando e eu o procurei no meio da multidão. – Vem cá!
- Já vou... – Assim que o avistei, deixei Louis cortando o bolo e me esquivei de alguns convidados que entravam na frente. – Temos que ir, né?
- Você está com a sua chave aí? – Passou o braço pelo meu e nos afastamos um pouco mais da aglomeração. – Eu falei com a Rachel e ela concordou em levar os presentes e o que sobrar do bolo lá pra casa.
- Ótimo... – Olhei para a minha madrasta que nos seguia. Abri a minha bolsa e tirei o meu chaveiro com um pingente da Torre Eiffel. – Obrigada, Rach.
- Será um prazer! – Ela guardou a chave na própria bolsa. – E pode deixar que eu encerro tudo por aqui...
- Você é a melhor! – A abracei rapidamente em agradecimento e me virei para Harry. – Onde estão os outros?
- Liam foi pegar o carro. Stan e os outros nos encontram lá. – Olhou em volta vendo o que ainda faltava e eu o imitei. – Só falta o Louis e o...
- Zayn! – Acenei para meu namorado que parecia me procurar no meio da multidão e ele correu até o nosso encontro.
- O que está acontecendo?! – Louis o seguiu e mais uma vez parecia confuso. – Onde estamos indo?
- Louis, sweetheart... Você não achou mesmo que seria só isso aqui, certo? – Mordi o lábio tentando conter a minha animação. – Estamos indo para a festa de verdade.
Mesmo sem entender direito, ele concordou em nos seguir. Ninguém precisava correr até a saída do restaurante, mas a nossa vontade de chegar logo à segunda etapa era grande demais. Sem falar que as chances de alguém nos interromper era bem menor. Segurei Zayn por uma mão e Louis por outra, seguindo Haz que guiava o caminho. Gostaria de ter me despedido direito da minha irmãzinha, mas não tínhamos tempo. Alguns dos adultos ainda acenaram para nós e, felizmente, não puxaram um assunto maior.
Já no lobby tivemos que parar de correr. Não seria adequado “perturbar a paz de quem estava hospedado em um hotel cinco estrelas”, segundo um funcionário que nos advertiu. Mas por favor, né? Era quase meia noite! Quem poderia estar acordado e passeando pela recepção? Sinceramente não sei. Ao menos não demoramos muito para encontrar Liam do lado de fora. Ele já estava trás do volante e Louis entrou ao seu lado. Harry e Zayn foram no banco de trás, sem saber porque eu não os segui. Lembra de quando eu comentei sobre os meus planos mais cedo? Estava na hora de colocá-los em pratica. Abri a porta do porta-malas e pulei pra dentro, fechando atrás de mim. Fiz sinal de positivo para Liam pelo retrovisor e ele deu partida.
- ,o que você está fazendo? – Louis se curvou sobre o banco para poder olhar pra trás.
- É mais fácil trocar de roupa aqui atrás. – Expliquei e sentei no “chão” do porta-malas. A minha mochila estava onde eu a deixara e logo tratei de abrir o zíper pra tirar o que tinha ali dentro.
- Trocar de roupa, é? – Zayn também tinha se interessado pelo que eu estava fazendo e se debruçou sobre o banco pra ficar de olho em todos os meus atos.
- Você não achou que eu fosse continuar usando esse vestido, achou? Também trouxe camisas mais leves pra todos vocês. – Ri e despejei todo o conteúdo da mochila na minha frente. – E pode tratar de olhar pra lá!
Mais uma vez Zayn fez birra, mas eu consegui obrigá-lo a não espiar. Já seria complicado o suficiente ter que trocar de roupa em um carro em movimento para ainda ter que me preocupar em ser flagrada sem roupas. A primeira coisa que fiz foi atirar as camisas masculinas que trouxe para os meninos: Uma preta com gola em V para Harry, uma branca com estrelas pretas para Liam e Lou ganhou uma camisa cinza com mangas pretas que iam até a altura do cotovelo. Para Zayn, acabei roubando uma camisa emprestada de Liam – já que o tipo físico dos dois era semelhante – e também empacotei um de seus sweaters que acidentalmente foram parar na última gaveta do meu closet. Acidentalmente. Claro.
Todos se ocuparam em vestir as próprias roupas, menos o motorista, o que me deu uns minutos de segurança para me despir em paz. Tirei os saltos e já senti meus pés relaxarem. Em seguida, me inclinei para trás o máximo que pude e coloquei as pernas para cima, passando um short jeans por baixo do vestido. Seria mais apropriado tirá-lo depois que a minha calcinha de renda preta estivesse protegida. Me pegado de surpresa enquanto eu abria o zíper lateral do meu vestido, o carro fez uma volta um tanto brusca, me fazendo cair de lado e desatar a rir. Zayn olhou para trás, checando se eu estava bem, e também começou a rir da minha falta de equilíbrio. Me recuperei após alguns segundos e xingamentos que pediam para Liam ter mais cuidado e continuei com a minha troca de roupas.
Já livre do tubinho preto e do blazer, minha mobilidade se tornou maior. Tratei de enfiar um top curto que substituiria o sutiã e joguei por cima um sweater escuro e super confortável. Calcei meias e um par de tênis, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo para finalizar. Não estava vestida para uma balada ou festa de gala, mas para o meu próximo compromisso da noite eu estava perfeita. Os meninos também ficaram prontos na mesma hora e me arrependi de não ter tentado espiá-los. Ah, por favor, né? Não é como se eu fosse uma tarada ou coisa parecida.
- Harry, tenho uma coisa pra você! – O cutuquei no ombro para chamar sua atenção.
- O que é? – Sorriu curioso e olhou para as coisas que ainda estavam espalhadas pelo porta malas.
- Ta dahhh... – Encontrei a coroa de flores que ganhei de Liv e coloquei sob os cachinhos bagunçados de Hazza. – Ficou lindo!
- Yaaaaay! – Riu e olhou o próprio reflexo no retrovisor do carro. – Sou um Flower!Child.
- Você é um Flower!Child, o Lou é um punk rocker cheio de tatuagens e eu... – Revirei minhas tralhas mais uma vez até achar uma tiara de orelhinhas. – Sou uma gatinha! Meooooow.
- Eu quero ser alguma coisa também... – Zayn se virou até ficar de joelhos no banco e procurou no porta-malas qualquer coisa que ele pudesse usar de enfeite.
- Awn, baby! – Fiz um biquinho por não ter trazido nada pra ele. Eu só não achei que ele fosse ficar interessado... – Eu já sei o que você pode ser.
- O que? – Parou de procurar e me olhou também ficar de joelhos para tentar igualar nossas alturas, mas mesmo assim ele ainda ficou um pouco mais elevado.
- Você é o meu badboy! – O envolvi pelo pescoço e beijei o seu queixo, já que era onde a minha boca alcançava.
- Gostei disso. – Riu e inclinou o rosto, juntando os lábios aos meus.
Acho que todo adolescente que se preze já freqüentou alguma festa na floresta com direito a fogueiras crepitantes e música indie, mas eu não sabia o que esperar de uma. Vinte minutos depois da hora que eu falei para que iríamos chegar, nós finalmente pulamos do Ranger negro e eu pude olhar em volta e ficar novamente encantava com o que estava diante dos meus olhos. A área de campo em que nós estávamos era completamente cercada por uma floresta densa digna de filmes de terror, mas não era hora de ficar com medo. Mais à frente, um lago tranqüilo que me lembrava muito do Lago Negro de Hogwarts era perturbado por jovens pra lá de animados que tentavam fazer pedrinhas de cascalho pular sobre a superfície. A uns três metros da margem, a fogueira poderosa aquecia uns ou outros e ainda servia de forno para quem tentava cozinhar algum lanche mais prático. Do lado esquerdo, uma caminhonete com a parte de trás aberta servia de “palco” para as caixas de som ligadas a um notebook de onde saia a música animada que embalava a festa. Estávamos muito longe da civilização e isso trazia uma sensação de liberdade que fazia qualquer um querer arriscar e ir um pouco mais longe.
Um grupinho de meninas estava sentado na grama e ria de qualquer coisa. Eu as reconheci no mesmo instante como sendo colegas da Academy, mesmo que não pudesse dizer seus nomes naquele momento. Elas também me reconheceram e trataram de acenar para mim e para os meninos que vieram logo atrás. Não se como, mas os amigos de Louis que vieram de Doncaster já estavam por ali e aparentavam ter chegado mais rápido que nós. “Eu disse para Liam que estávamos pegando o caminho mais longo!” Reclamei interiormente, mas já era tarde demais pra me preocupar com aquilo. Estávamos ali e era o que importava. Caminhei pela grama tentando encontrar mais rostos conhecidos e quase fiquei paralisada ao ver uma cena que nem nos meus maiores sonhos eu esperava ver: Uma ruiva e uma loira conversavam e gesticulavam como se fossem amigas há anos e a primeira até tocava o braço da outra de vez em quando. Ver e Liv tão felizes juntas me fez fazer uma careta. Não por ciúmes ou coisa parecida, mas porque eu achava que elas não seriam capazes de se dar bem assim.
Balancei a cabeça negativamente para retomar poder sobre as minhas pernas e me obriguei a dar passos largos até as minhas amigas. Esqueci completamente de Zayn, que me chamava, porém, era por uma boa causa. Eu precisava ver aquele milagre de perto. Com toda certeza ele me perdoaria por estar sentindo falta de uma companhia feminina, então não me importei. A iluminação no campo era quase nenhuma, se resumindo apenas à luz da Lua cheia que brilhava no céu e à fogueira, e ainda assim eu conseguia ver claramente os modelitos das duas garotas. Liv vestia uma saia de cintura alta colorida que ia até os tornozelos, uma blusa customizada com um laço amarrado na cintura, e um cardigan solto que a protegia do frio. tinha uma legging de couro sintético e uma bata azul que ia até a metade da coxa, com um desenho de uma caveira mexicana. A junção das duas era realmente... Improvável.
- Atrapalho alguma coisa? – Cheguei perto delas com as mãos nos bolsos, como quem não quer nada.
- ! – foi a primeira a pular no meu pescoço e me abraçar. – Minha flor de jabuticaba, você chegou!
- Cheguei, meu pedacinho de morango. – Ri e a abracei de volta, olhando para Liv por cima do ombro da ruiva. – Nós temos muitos apelidos carinhosos.
- Entendi! – Liv sorriu.
- Ainda bem que você veio! – Soltei a minha melhor amiga para abraçar Olivia, mas não de uma forma tão íntima.
- Não resisto a estar perto da natureza. – Seu perfume era amadeirado, por isso desconfiei do quanto ela realmente gostava de estar perto da natureza.
- O local está ótimo mesmo. – Olhei em volta e todos pareciam estar se divertindo. – O Ni fez um ótimo trabalho em achar esse lugar.
- Tinha que ser meu pudincup! – fez uma cara apaixonada e Liv me olhou com uma sobrancelha arqueada.
- Não pergunte. – Respondi simplesmente. – Como vocês duas se conheceram, aliás?
- A me encontrou. – Olivia sorriu.
- Eu vi essa jovem chegando e estava completamente sozinha. E você sabe como eu não gosto de ver ninguém deslocada, então tive que me aproximar. – mexia os braços ao contar aquela história como se fosse algo realmente divertido. – Acabamos nos dando muito bem e não nos separamos desde então!
- Que fofas. – Ri. – Fico feliz que tenham se dado bem.
- Está brincando? – abraçou Liv de lado. – Essa guria tem um porco espinho! Sabe o quanto isso é legal?
- É muito legal! Eu conheci o Bob. – Cruzei os braços. Agora sim o ciúme estava começando a nascer.
- Você quer dizer o Rob? – A ruiva fez uma careta ao achar que EU errei o nome do bichinho.
- É Bob mesmo. – Liv a corrigiu meio sem graça e cochichou na minha direção: - Eu repeti isso mil vezes, mas acho que a bebida não deixa algumas informações ficarem na cabeça dela por muito tempo...
- Sei como é... – Cochichei de volta com outra risada.
- Bebida? Alguém falou em bebida? – Os olhos da semi-bêbada brilharam e ela olhou em volta. – ! Você ainda está sóbria! Temos que dar um jeito nisso! Liv, vá roubar uma garrafa de tequila e te encontramos... Bem, aqui mesmo.
- Por mais divertido que isso pareça, acho que preciso comer alguma coisa antes. – Falei antes que Olivia pudesse se mexer. – Vou tentar encontrar um desses cachorros quentes que o pessoal está comendo e acho vocês depois, pode ser?
- Eu fico de olho nela. – Mais uma vez Liv falou só para eu ouvir.
- E traga a tequila! – gritou na minha direção quando comecei a me afastar.
Ela realmente estava mais pra lá do que pra cá e eu teria me preocupado em sair de perto dela se não estivesse em boas mãos. Pensei em ir até a fogueira e perguntar onde encontraram as salsichas que estavam assando, mas preferi procurar por uma pessoa que com certeza poderia me ajudar. Zayn e Liam estavam conversando mais à frente, Harry e Louis dançavam com outros amigos ao som de We R Who We R da Ke$ha, mas só fui encontrar a minha vítima quando vi um ser saltitando pela grama como se não tivesse problema algum no mundo inteiro. E não devia ter mesmo, já que é de Niall Horan que estamos falando aqui. Levei a mão a testa, gargalhando por causa daquele duende loiro irlandês e me pus a ir atrás dele antes que pudesse perdê-lo de vista.
Assim que Niall me viu, parou de dançar e fingiu estar dançando pra mim e me seduzindo. Teria sido uma cena bem sensual se os movimentos dele não fossem tão exagerados. O menino balançava os braços na minha direção e me chamava com o dedo indicador, mexendo o quadril pra frente e pra trás, sem falar na sua risada que era – no mínimo – escandalosa. Continuei rindo e também dancei no caminho até ele, só que bem menos explicita. Assim que estávamos próximos o suficiente, abri os braços e Niall pareceu não entender o meu pedido por um abraço de pessoas normais. Ele se curvou na altura do meu quadril e me abraçou por ali, levantando-me consideravelmente do chão.
- NIALL! – Exclamei com o susto, tento que me segurar firme em seus ombros para não cair.
- ! – Imitou meu tom de voz e achou aquilo mais engraçado do que realmente era.
- Você e a são almas gêmeas mesmo! – Balancei a cabeça, mas foi um comentário mais pra mim do que pra ele. – Me põe no chão!
- Não gosta de ser alta? – Além de estar me carregando pelas coxas, Niall ainda começou a girar. Logo ele ficaria tonto e acabaria caindo, eu só esperava não estar mais em seus braços quando isso acontecesse. – Weeee.
- Niall, é sério! – Não consegui ficar séria, mas ainda estava desesperada pra tocar o chão novamente. Resolvi tomar medidas drásticas: - Onde está a comida?!
- Achei que não ia perguntar! – Parou de girar como se eu tivesse falado a palavra mágica e me soltou de uma vez. Quase me desequilibrei ao tocar o chão, porém meus anos de ballet me ensinaram a dobrar os joelhos na hora certa. – Vem comigo.
- Eu vou, só não me carregue de novo. – Pedi, duvidando que fosse adiantar de alguma coisa. – Estou morrendo de fome!
- Não tinha comida no restaurante? – Ni fez um caminho pela lateral do campo, quase próximo a uma das entradas da floresta.
- Até que tinha, mas não deu pra comer muito por lá. – Dei de ombros e continuei seguindo-o. – Eu queria os doces, mas Zayn não me deixou comer nenhum antes de cantarmos Parabéns! E depois não deu tempo.
- Aqui não tem essas frescuras. Você pode comer o que quiser, na hora que quiser. – Eu duvidava que pudesse ter uma grande variedade de alimentos por ali, mas dei o braço a torcer. Niall foi em frente até chegarmos na lateral da caminhonete de onde a música vinha.
- Como eu não vi isso aqui antes? – Fiquei chocada por ser tão lerda. Uma tenda havia sido posta ali e embaixo dela pude ver uma mesa, varias caixas empilhadas e latões térmicos para manter as bebidas geladas.
- Como na terra do nunca, você tem que acreditar pra poder ver. – Niall levantou as mãos e voltou a abaixar devagar mexendo os dedos e eu quase vi gliter caindo deles. – O que quer comer? Cachorro quente? Pão? Salsicha? Temos muitas opções.
- Fico com um cachorro quente.
Muitas opções? Tá bem. Niall fez sinal de positivo com a cabeça e deu a volta na mesa, pegando algumas coisas nas caixas. Quando voltou, estava com uma salsicha crua enfiada em um palito e um pão partido ao meio em cima de um guardanapo. A higiene do local podia ser um pouco questionável, mas a minha comida parecia limpa. O que os olhos não vêem o coração não sente, certo? Recebi a comida com uma expressão no rosto que podia ser traduzida como: “O que eu devo fazer com isso?” e Ni explicou que eu deveria ir até o fogo e assar a salsicha. Isso eu já desconfiava, mas como saberia que ela estava pronta? Era a minha primeira vez fazendo jantar em uma fogueira, mas acho que eu teria que esperar pra ver.
Me despedi de Niall falando que estava esperando por uma garrafa de tequila e o menino se animou. Em parte eu me arrependi de ter falado aquilo, já que Liv ganharia mais um pra ficar de babá. Querendo fugir da responsabilidade, rumei para a fogueira que parecia dançar. O vento tinha dado uma maneirada, então as chamas não balançavam por todos os lados. Só de começar a me aproximar já pude sentir o meu corpo se aquecer, principalmente as minhas pernas descobertas. Ninguém que eu conhecia estava ali por perto e todos os outros já pareciam ter acabado de comer e foram se distrair com outras atividades. Escolhi um ponto na areia e me sentei, sem me importar em ficar suja ou não. Minha maior preocupação naquele momento era assar a minha salsicha! E sim, eu sei que se eu fosse um homem essa frase seria muito estranha.
Equilibrei o pão em cima da perna e estiquei o braço para juntar a salsicha ao fogo. Não sabia se deveria deixar as chamas tocarem nela de fato, ou se o calor em volta da fogueira seria suficiente, mas acabei indo com a primeira opção mesmo. Meu olhar divagou pelas águas calmas do lago agora que ninguém mais atirava pedras contra elas. Cheguei muito perto de suspirar, mas uma sombra cruzou a minha lateral por alguns segundos e voltou a se esconder na escuridão, me causando uma sensação horrível como se fosse um mau pressentimento. Olhei em volta procurando quem pudesse ser o dono ou a dona dessa sombra, torcendo pra encontrar o rosto alegre de algum dos meus amigos, mas foi em vão. Não tinha ninguém perto de mim.
“A não ser que...” A sensação ruim voltou a me perturbar quando olhei em direção a floresta escura e estranhamente calma. Podia jurar que vi uma movimentação entre os troncos, mas me neguei a acreditar que pudesse ser qualquer coisa. “É impressão sua! Você levou um susto e por isso sua cabeça está inventando coisas. Não há com o que se preocupar.” Tentei acalmar a mim mesma e voltei a atenção para a minha salsicha. Era melhor me atentar a ela, porque algumas manchas pretas começavam a cobri-la. Seu eu demorasse um pouco mais, estaria toda queimada. Afastei o palito do fogo e usei o pão para segurar a salsicha e terminar de montar o meu cachorro quente. Dei alguns sopros de leve para não acabar queimando a boca e dei a primeira mordida.
Para a minha primeira vez assando algo em uma fogueira, eu estava de parabéns. Não tinha torrado a comida e nem deixado-a crua demais. O sabor também não estava ruim, mas sabia que não poderia levar crédito por essa parte. Niall e se empenharam bastante para fazer a segunda parte da surpresa de Louis e também estavam de parabéns. Tinha certeza que meu irmão não se esqueceria nunca desse aniversário. Continuei comendo tranqüila, desejando ter trazido um copo de refrigerante ou água pra me ajudar a engolir. Escutei passos pela grama atrás de mim e fiquei com medo de me virar para olhar, mesmo que a má sensação não acompanhasse mais a presença.
- Posso te fazer companhia? – Respirei aliviada ao ver Liam se sentar ao meu lado.
- Uhum. – Murmurei com a boca cheia de cachorro quente.
- Por que você está isolada aqui, ? – Brincava com um palito parecido com o que eu tinha antes, mas na ponta dele existiam dois marshmallows.
- Não estou isolada! – Respondi depois de engolir. – está com a idéia de me embebedar, então me sinto mais segura estando com o estomago forrado.
- Ela está como o Niall? – Gargalhou e algo me dizia que sua experiência com o irlandês não havia sido tão diferente da minha.
- Acho que ainda consegue estar pior. – Afirmei com a cabeça ao dar uma nova mordida no cachorro quente. – Aceita?
- Você precisa mais dele do que eu. – Negou minha oferta de dividir o cachorro quente e dei de ombros.
- Mais pra mim! – Brinquei. – Está uma delicia.
- Eu imagino. – Liam sorriu, me olhando com aqueles olhos castanhos e quase sem piscar, como se fazer isso fosse o fazer perder qualquer movimento meu.
- Li... Você passou por aqui alguns minutos atrás? – Tentei me manter natural, mas torci para escutar um sim.
- Não, . Acabei de chegar. – Desconfiou e olhou em volta. – Por que?
- Por nada não. É besteira. – Menti e terminei de comer o cachorro quente. – Onde estão os outros?
- Louis e Harry estavam com aquele Stan montando os fogos de artifício, Niall estava preparando shots de tequila e... Bem, o Zayn estava te procurando, mas eu te achei primeiro. – Li aproximou o espeto de marshmallow do fogo. Eu pensei em olhar em volta e procurar Zayn com o olhar, mas me sentiria mal por Liam. Ele claramente queria um tempo comigo, caso contrário teria avisado ao meu namorado que me encontrou.
- Agora eu estou me sentindo em um filme americano. – Apontei para o que ele estava fazendo e sorri, abraçando os joelhos junto ao peito.
- Acredita que eu nunca acertei? – Rolou os olhos de si mesmo. – Sempre ficam queimados demais.
- É porque você está fazendo errado... – Me arrastei pela areia até estar mais próxima dele e coloquei minha mão sobre a sua, afastando um pouco mais o espeto do fogo. – E também não pode ficar aí por tanto tempo.
- Quando... Quando sei que está pronto? – Demorou um pouco para formular a frase e, mesmo que eu estivesse olhando para a fogueira, sentia que ele olhava para o meu rosto.
- Quando o marshmallow ficar assim. – Retirei o espeto do fogo e soltei sua mão. – Prontinho.
- Mas ele está queimado... – Olhou para o doce e eu bufei.
- Isso é normal. Deixa eu te mostrar. Primeiro você tem que tirar essa casquinha... – Assoprei de leve o marshmallow quente fazendo um biquinho e em seguida usei a ponta dos dedos para puxar a casquinha e revelar o doce derretido que ficava por baixo. – Agora pode comer.
- Isso é incrível! – Liam ficou surpreso com a minha demonstração e tratou de comer enquanto eu lambia os meus dedos sujos com o pouco de marshmallow que havia me sujado.
- Achei vocês! – Um Harry ofegante apareceu perto da fogueira e se ajoelhou ao nosso lado.
- Estava correndo, Hazza? – Dei espaço para ele se sentar entre nós, mas o menino negou.
- Liam, estão te chamando... – Harry começou a explicar. – Nós vamos cantar!
- Uma apresentação do One Direction?! – Comemorei e já fui me levantando e batendo a areia pra fora da minha perna. – Era tudo que eu podia pedir!
- Então vamos! – Liam também se levantou e Harry fez o mesmo.
Eu podia não estar bêbada, mas estava tão animada com aquela noticia que imitei Niall ao começar a saltitar. Os meninos correram para poder me acompanhar e eu já avistei o local para onde deveríamos ir. Eu sabia que os cinco ensaiaram algumas músicas juntos e já se sentiam como uma banda, por isso estava louca pra ver o quanto eles tinham melhorado desde a última vez em que eu os vira cantar Torn no Pub. Lembra da caminhonete onde as caixas de som estavam? Agora quem estava ali em cima eram: Niall, Zayn e Louis. Niall estava sentado em cima de uma caixa preta, afinando seu violão. Louis estava de pé e falava algo que eu não podia escutar. Por último estava Zayn, sentado no chão da traseira do carro e balançando os pés pra fora. Ao redor deles era formado um semi-circulo e Harry me ajudou a passar até ficar na frente. Assim que Zayn me viu, ele pulou para a grama e veio na minha direção.
- Onde você estava? – Perguntou ao segurar minhas mãos.
- Perto da fogueira, comendo um cachorro quente. – Sorri de canto para amenizar o meu “sumiço”. – Liam me achou e disse que você estava me procurando.
- Sim, porque eu preciso de um beijo de boa sorte. – Os cantos de seus lábios levantaram em um sorriso.
- Só de boa sorte? – O segurei pelo queixo e roubei um selinho rápido. – Boa sorte!
- Assim não... – Zayn enlaçou a minha cintura e me fez dar meia volta, parando inclinada em seus braços. Se não fosse pelo seu aperto forte, eu teria parado no chão. Ele estava inclinado sobre mim e parecia uma daquelas cenas de filme quando o homem deita a mulher em seus braços para terem o primeiro beijo. Não perdi tempo e passei os braços em volta do seu pescoço, juntando nossos lábios em seguida. Escutei alguns gritinhos de comemoração e foi essa falta de privacidade que nos fez não aprofundar o beijo.
- Isso é que eu chamo de beijo de boa sorte. – devia estar em algum lugar atrás de mim.
- Você não precisa de sorte. – Sorri divertida quando nos separamos e Zayn voltou a me levantar.
- Não queria arriscar. – Fez uma pequena carícia no meu rosto antes de beijar a minha testa e voltar para o seu lugar de origem.
- Não acredito que vou ver eles se apresentarem ao vivo! – Ouvi Liv comentar enquanto me recompunha. Já tinha esquecido que ela era fã dos meninos. – A melhor decisão que eu tomei foi vir nessa festa.
- Viu só? Eu falei pra você vir! – Fiquei entre ela e enquanto os meninos trocavam as últimas informações.
- Aliás, você nunca que me disse que seu namorado está na banda também! – Olivia me olhou feio, mas eu não tinha culpa. Não via Zayn como “parte da banda”, via ele como “meu Zayn”.
- Em minha defesa, não sabia que você os conhecia até essa tarde! – Levantei as mãos na altura do ombro.
- Boa noite, pessoal! Obrigado por virem aqui está noite. – Liam não precisou de um microfone para impor a sua voz. – Agora vamos cantar uma música especialmente dedicada ao homem da noite... Uma salva de palmas para nosso querido Louis!
- Arrasa, Boo bear! – Gritei enquanto batia palmas e, apesar dos outros gritos e assovios, sei que ele me escutou.
- Essa música se chama... Forever Young. – Zayn, que continuou sentado na caminhonete, anunciou a música e deu o sinal que Niall precisava para começar a tocar.
(Vamos dançar com estilo, vamos dançar por um tempo)
Heaven can wait, we're only watching the skies.
(O paraíso pode esperar, estamos apenas assistindo os céus)
Hoping for the best, but expecting the worst.
(Torcendo para o melhor, mas esperando o pior)
Are you gonna drop the bomb or not?
(Você vai soltar a bomba ou não?)
Liam foi o primeiro a começar a cantar e se sentou sobre uma caixa de som que estava por ali. Eu adorava aquela música, porque, além de ser um clássico, tinha uma mensagem muito forte que sempre acabava me deixando arrepiada. Os outros meninos se entreolhavam com sorrisos que mostrava o quanto eles estavam felizes por estarem juntos e eu não sabia pra quem olhar primeiro.
(Nos deixe morrer jovens ou nos deixe viver para sempre)
We don't have the power but we never say never.
(Não temos o poder, mas nunca dizemos nunca)
Sitting in a sandpit, life is a short trip.
(Sentandos em uma caixa de areia, a vida é uma viagem rápida)
The music's for the sad men…
(A música é para os homens tristes)
Harry foi o segundo, saindo de onde estava “escondido” na caminhonete e foi para a frente, cantando para os céus com os braços abertos. Eu ri da carinha fofa que ele acabou fazendo, mas aquele arrepio que eu comentei anteriormente apareceu quando a voz rouca do menino alcançou a última nota. Olhei em volta e todo mundo que estava naquela festa parou qualquer coisa que estivesse fazendo pra prestar atenção nos cinco meninos que cantavam com a alma. Naquele momento a música nos conectava e todos eram um só.
(Alguns são como água, alguns são como o calor)
Some are a melody and some are the beat.
(Alguns são a meodia e alguns são o ritmo)
Sooner or later they all will be gone.
(Mais cedo ou mais tarde tudo vai ter ido embora)
Why don't they stay young?
(Porque não ficamos jovens?)
Foi só Haz ir para o lado de Liam e também se sentar na caixa de som desligada que Niall começou a sua parte. O loiro não parou de tocar e até se empolgou um pouco mais, piscando para . A ruiva, que estava do meu lado direito, mandou um beijo assoprado em resposta e eu podia jurar que vi um brilho em seus olhos. Mas um brilho no sentido figurado... Ela estava quase chorando. E eu entendia. Passei um braço em volta dos ombros dela a abracei de lado. me envolveu pela cintura com um braço e encostou a cabeça no meu ombro, sem desgrudar os olhos do namorado.
(É tão dificil envelhecer sem uma razão)
I don't want to perish like a fading horse
(Eu não quero perecer como um cavalo enfraquecido)
Youth lis ike diamonds in the sun…
(Juventude é como diamantes ao sol)
And diamonds are forever.
(E diamantes são para sempre)
Mesmo a homenagem sendo pra ele, Louis não ficou pra trás e cantou com tanta intensidade que as veias em seu pescoço saltaram um pouco. Mais uma vez fiquei arrepiada ao ver o meu irmãozinho cantando sobre ser jovem para sempre. Eu não queria voltar àquele assunto e ficar deprimida, mas não deixei de pensar mais uma vez que não éramos mais criancinhas... E isso me assustava. Eu queria ser jovem pra sempre. Eu queria me sentir inabalável, eu queria viver intensamente para o resto da minha vida e permanecer jovem... Ao menos por uma noite.
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever or never.
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca)
Forever young, I want to be forever young.
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever, or never
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca)
A canção inteira estava com um nível emocional realmente alto, mas o refrão ganhou de longe. Além de os cinco meninos se juntarem em um coro harmonizado, todos que estavam assistindo também entraram na onda e começaram a cantar. O que incluía Liv, e até mesmo eu. Levantamos os braços livres pra poder balançar de um lado para o outro no ritmo da música. Ninguém além de quem estava naquele campo poderia nos escutar, mas cantamos a plenos pulmões, como se Forever Young fosse um hino de liberdade ou um grito de guerra. A pouca luminosidade só tornou o momento mais íntimo e quem estava quase chorando agora era eu.
(Tantas aventuras não puderam acontecer hoje)
So many songs we forgot to play.
(Tantas músicas nós esquecemos de tocar)
So many dreams swinging out of the blue.
(Tantos sonhos balançando do nada)
We let them come true…
(Deixamos que eles virem realidade)
Zayn encerrou a música e eu não consegui tirar os olhos dele do começo até o fim do trecho. Sorri cheia de orgulho por poder falar que o meu namorado era o dono se uma das vozes mais bonitas que esse mundo já escutara. Não me importo em ser suspeita pra falar isso, porque era o que eu achava. Principalmente assim, sem nenhum acompanhamento de instrumento, já que Niall parou de tocar e deixou o amigo cantar a cappella. Liam deu um tapinha no ombro de Zayn e os dois sorriram um para o outro. olhou pra mim e o seu olhar falava algo mais ou menos assim: “Os dois estão muito amigos agora e você está ferrada.” Já a minha resposta se pareceu muito com isso: “Cala a boca!”
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever or never.
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca)
Forever young, I want to be forever young.
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever, or never
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca)
Os meninos já haviam parado de cantar, mas nós que estávamos assistindo repetimos o refrão. Era como se a nossa vida dependesse disso. Todos os cinco sorriram com a resposta positiva que receberam da sua apresentação e só teria sido melhor se a música fosse uma original deles. O que, aliás, eu estava louca para ouvir! Comecei uma salva de palmas que foi acompanhada e até alguns gritinhos de comemoração foram ouvidos. Os cinco começaram a descer da caminhonete e o primeiro a chegar ao chão foi Zayn, já que ele estivera sentado na parte mais baixa dela.
- Baby, isso foi lindo! – Sorri de canto a canto e abri os braços pra que Zayn pudesse me abraçar.
- Espere até estarmos no palco do X Factor! – Passou os braços ao meu redor em um abraço apertado.
- Ora, ora, alguém está bem confiante! – Ri baixo e escondi o rosto no pescoço dele, deixando um beijo por ali.
- Não é você que diz que temos que permanecer confiantes?
- E tem mesmo! – O olhei. – Vocês já ganharam.
- Eu não podia concordar mais. – Liam se auto-convidou para entrar no abraço e quando fui perceber estava entre os dois garotos em uma espécie de sanduíche.
- Detesto atrapalhar um momento de carinho entre um triangulo amoroso... – me puxou por entre os meninos e eu quase fui ao chão. – Mas estão chamando vocês dois pra carregar o resto das caixas...
- Que caixas são essas? – Olhei pra onde a minha amiga estava apontando, mesmo sabendo que não era comigo que ela falara.
- São os fogos de artifício. – Liam andou até a lateral do carro e pegou uma caixa de papelão grande. – Quer ajudar?
- Uma princesa não pode carregar caixas pesadas! – Zayn beijou a minha testa antes de ir pegar a sua própria caixa.
- Então ainda bem que ela não é uma princesa. – seguiu os meninos e pegou uma caixa bem menor do que as outras. – Faz alguma coisa, !
- Ihh, alguém chegou na fase dois da bebedeira. – Liam cochichou ao passar por mim.
- Nem me fale. – Rolei os olhos.
tinha três fases quando ficava bêbada: Na primeira, ela ficava super alegre e completamente louca e sem limites. Gostava de sair por aí gritando e girando com os cabelos ao vento. Na segunda fase, começava o pesadelo. Começava a ficar mandona e reclamava com todo mundo sobre as coisas mais bestas. Já a terceira e última fase era a que antecedia o blackout. Ela meio que se arrependia da fase número dois e ficava um tanto... Deprimida. Pedia desculpas, quase se afogava nas próprias lágrimas e, claro, amava todo mundo. Para evitar ser xingada ou coisa parecida, resolvi deixar de drama e também ajudar com as caixas.
Zayn seguiu Liam pelo campo na direção do lago e eu fiz o mesmo, carregando aquela caixa menor que me entregara. Ela mesma só estava carregando uma caixa de fósforos e um isqueiro. Eu poderia muito bem ter falado pra ela “fazer alguma coisa”, mas tinha certeza que receberia uma resposta mal educada que provavelmente não saberia como responder. Preferi deixar de lado e me preocupar em não tropeçar em alguma pedra e cair por causa do escuro. Era fácil distinguir as silhuetas próximas ao fogo e sorri inconscientemente ao ver Louis e Olivia conversando próximos às águas do lago. Niall foi quem nos recebeu e indicou onde deveríamos deixar as nossas caixas empilhadas.
- Vamos nos preparar para o show! – Zayn sorriu e segurou a minha mão, atravessando pela areia até encontrar um bom lugar para ficarmos.
- ‘Cause, baby, you’re a firework! – Cantei enquanto saltitava pela areia para segui-lo. Zayn me olhou com uma cara engraçada. – O que?! Ah, por favor, eu tinha que cantar essa música!
- Tudo bem, não vou falar nada. – Se fez de inocente, mas eu sabia bem o que ele estava pensando. – Senta aqui.
- Isso me lembrou de uma coisa que eu queria te perguntar! – Observei Zayn se sentar na areia primeiro e me acomodei entre as suas pernas, ficando com as costas apoiadas em seu peito. – Está tudo certo para a festa de natal lá em casa, né?
- Está sim. – Passou os braços em volta do meu ombro e eu me aninhei ainda mais. – Falei com a minha mãe hoje de manhã.
- E ela ficou muito chateada? – Tudo que eu menos queria era a minha sogra com raiva de mim!
- Um pouco... Mas disse que já imaginava que eu fosse querer passar o feriado com você. – Olhava para mim com um sorriso que dizia que eu não devia me preocupar.
- Se quiser, pode passar o natal com a sua mãe e no dia seguinte vai lá pra casa pra podermos abrir os presentes... – Aquela não era uma opção muito boa, mas era melhor do que Trisha ficar chateada por culpa minha. Devia ser difícil para uma mãe passar o primeiro natal sem o único filho homem. – Eu já falei com o Ni e a e os dois vão dormir lá pra poder ficar até a manhã de natal.
- Você acha mesmo que eu vou perder a oportunidade de dormir na sua casa? – Sorriu mais malicioso do que devia e o reprovei com o olhar. – Além do mais, minha mãe e as meninas vão pra Bradford. Se eu fosse com elas, só voltaria ano que vem.
- Ano que vem? Eu não posso ficar duas semanas sem você! – Fiz bico e segurei seus braços ao meu redor, impedindo-o de me soltar. – Já viu o quanto o ano está passando rápido?! A véspera de natal já é essa terça-feira.
- Nosso primeiro natal juntos. – Zayn beijou a minha bochecha e eu suspirei, olhando para o lago e para as pessoas que se divertiam na nossa frente.
- O primeiro de muitos! – Sorri. – Sabe o que seria bom?
- O que? – Perguntou baixo.
- Neve! – Respondi com uma risada ao ver o primeiro rastro de fogos de artifício partindo o céu escuro.
- Agora? – Arqueou uma sobrancelha como se eu estivesse falando algo estranho.
- Não, idiota. – Rolei os olhos, mas queria dizer aquilo de forma carinhosa. – No natal... Eu me lembro de um ano que estava nevando no natal, mas já faz tanto tempo que eu sinto saudade.
- Pena que aqui em Londres só neva nos meados de janeiro e fevereiro...
- Sei disso. – Eu poderia ter ficado emburrada, já que realmente queria um pouco de neve no meu natal, mas de que adiantaria? – Eu queria ir pra New York. Lá sempre neva no natal...
- Quer fugir comigo pra New York, Anjo? – A voz dele era tão séria que eu me perguntei se ele falava sério.
- Agora?
- Depois dos fogos. – Piscou.
Até que fugir para um aeroporto sem nada além da roupa do corpo parecia uma aventura ótima. Se não fosse o pequeno detalhe do passaporte e visto para os EUA, tenho quase certeza de que seríamos capazes de fazer essa loucura e sumir sem mais nem menos, sem avisar a ninguém, e só aparecer de novo depois do Ano Novo. Encerramos aquele e qualquer assunto para prestar atenção na queima de fogos que acontecia bem em cima das nossas cabeças. Explosões de todas as cores enfeitavam a noite escura e o reflexo das luzes batia sobre as nossas peles, também nos colorindo. Era impossível não sorrir. O espetáculo não tinha uma ordem de tamanho ou de “espécies” de foguetes, até porque quem estava disparando-os não era nenhum tipo de profissional e sim apenas garotos, porém, ainda era um encanto para os olhos.
Terminei olhando em volta quando Zayn me abraçou mais. Todos pareciam estar acompanhados... Stan e Fizzy (os amigos de Doncaster) pareciam bem mais íntimos do que eu recordava, e Niall estavam abraçados de uma forma fofa e engraçada, Louis e Olivia estavam sentados lado a lado, Harry estava ocupado demais acendendo os fogos e Liam... Bem, Liam estava sentado sozinho na areia, com o olhar perdido, alguns metros atrás de Zayn e eu. Tenho certeza que de vez em quando ele olhava para nós, o que me deixou bem triste. Me doía vê-lo assim, principalmente por ser um cara legal e que merecia uma namorada tão boa quanto ele. Cheguei até mesmo a pensar em Candice, mas lembrei do ditado “Antes só do que mal acompanhado.”
- Zayn... – O chamei baixo, em tom de confissão. Ele me olhou e continuei: - Acho que precisamos achar uma garota para o Li.
- Eu concordo com você. – Olhou para trás, na direção de Liam, e depois voltou a sussurrar. – Deve ser ruim ficar sozinho assim. Já tem alguém em mente?
- Pior que não... Parece que não conheço ninguém interessante!
- E a Olivia? – Apontou com a cabeça na direção da garota.
- Já tenho outros planos pra ela. – Apontei discretamente para meu irmão.
- E alguém da Academy? Talvez a sua amiga Jess?
- Ew, não! – Balancei a cabeça. Eu gostava da menina e tal, mas ela não era garota pra Liam. – Eu não acho que ela seja o tipo dele.
- E qual é o tipo dele?
- Não sei. – “Eu”, pensei em responder.
- Baby, olha o que eu faço pra você! – Gritei para Zayn enquanto mexia a “varinha” (na falta de um nome melhor) que tinha em mãos até formar um coração.
Na caixa pequena que eu carreguei para perto do lago tinha vários sparklers, daqueles que a gente acende e ele começa a brilhar. Todos pegaram vários e começaram a acender de um por um, correndo pelo campo e dançando ao som da música que voltou a tocar. O meu em especial soltava muita fumaça, por isso me permitia criar vários desenhos no ar, incluindo aquele coração que fiz pra Zayn. Ele riu em resposta e tentou me imitar, mas seu coração parecia mais uma bola deformada. É claro que eu mandei um beijo pra ele e disse que amei, mas não precisava saber da verdade, certo?
- Weeeeeee... – Abri os braços e girei sem sair do lugar, fazendo um circulo de fumaça me envolver.
- Olha como o meu é lindo, ! – estava há alguns metros de distância, mas naquele momento ninguém estava perto de ninguém.
- É lindo sim! – Parei de girar pra ver o desenho de ondas que ela fazia com a sua varinha. – Mas o meu é melhor!
- Exibida! – Estirou a língua enquanto eu desenhava no ar uma estrela perfeita.
Zayn podia ser um ótimo desenhista no papel, mas com aquele negócio prateado ele era um desastre! O coitado não conseguia definir os seus desenhos, mas a culpa não era sua. Eu sabia que ele estava tentando caprichar e por isso demorava demais pra terminar um movimento, o que atrapalhava tudo. O segredo era ser rápido! Tentei explicar pra ele, mas ficava meio difícil no meio de toda a fumaça que nos cercava. Era um tumulto muito grande, entretanto, até bonito ver todas aquelas luzes piscando e todas as pessoas felizes correndo e gritando por aí. Eu sentia que nada de ruim poderia me atingir. Mesmo com as faíscas que saiam da segunda varinha que acendi com um isqueiro, nada poderia me machucar.
- Eu desisto! – Zayn jogou fora o sparkle que segurava e cruzou os braços.
- Awn, tem alguém que não sabe brincar? – Fui até ele e balancei o meu próprio em sua frente.
- Tem alguém que não sabe brincar? – Fez careta e puxou o sparkle da minha mão, também jogando-o no chão.
- Malik! – Foi a minha vez de cruzar os braços e ficar emburrada.
- Não fica assim, . – Riu da minha criancice e segurou meu rosto com as duas mãos. – Já vai começar a parecer uma criança de três anos?
- E se eu for? – Continuei com os braços cruzados e um bico nos lábios.
- Aí eu não vou poder fazer isso... – Aproximou o rosto do meu ainda mais e roçou nossos lábios.
- Só isso? É muito pouco. – Reprimi um sorriso.
- E isso? – Mordeu meu lábio inferior e o puxou com os dentes.
- Ainda é muito pouco... – Descruzei os braços e agarrei a barra da minha camisa, pois, caso contrário, teria agarrado-o de uma vez.
- Ahh, você é muito difícil! – Riu e me soltou, dando alguns passos pra trás. – Vou procurar alguém mais fácil!
- Pode ir! Aposto que ninguém vai te querer. – Olhei para as minhas unhas, como se não ligasse a mínima para as ameaças do outro.
- Quer apostar? – Parou de andar quando já estava há pelo menos dez passos de mim.
Eu não queria apostar em algo que com toda certeza perderia. Quem seria capaz de dizer não pra Zayn? Nem eu mesma consegui! E olha que eu tentei bastante... Mas era difícil demais resistir à todo aquele charme. O garoto continuou lá parado, esperando a minha resposta. Eu não acreditava que ele fosse de fato procurar alguém “mais fácil”, mas era um risco que eu não pretendia correr. Acabei deixando um sorriso sapeca escapar e me pus a correr na direção do meu namorado. Ele apenas ficou lá me esperando, com um sorriso igual ao meu. Assim que cheguei perto o suficiente, me joguei em seus braços e o envolvi pelo pescoço. Zayn me segurou firme pela cintura e me fez levantar as pernas e prendê-las em volta da sua cintura.
Sem esperar mais nada, o puxei para um beijo apaixonado. Com os meus lábios colados aos dele e nossos corpos entrelaçados eu me sentia a mulher mais feliz do mundo. Zayn me deixava completa, inteira. Era como se todos os pedacinhos do meu ser voltassem ao lugar. Por incrível que pareça, eu sempre queria mais, eu não conseguia me cansar do toque que a sua língua fazia na minha, ou de como nossos lábios chegavam a doer com o tamanho da nossa intensidade. Assim que Zayn investia contra a minha boca e inclinava um rosto para um lado, eu o imitava e inclinava para o outro. Continuamos naquela brincadeira até eu começar a desprender as minhas pernas e voltar a pisar no chão.
- Não vai atrás de outra... – Pedi com a testa ainda encostada à dele.
- Nunca. – Sorriu. Eu podia sentir seus dedos acariciando a minha pele por baixo do meu sweater.
- Eu te amo, Zayn. – Fiquei na ponta dos pés e o abracei de novo, dessa vez permanecendo assim por bem mais tempo. – Tanto que isso até me deixa louca!
- Eu te amo, minha pequena. – Me apertou com força contra si, abrigando o rosto na curva do meu pescoço.
Ficamos parados naquele abraço, deixando nossos amigos correr a nossa volta, bebendo, comendo, ainda se divertindo com os sparkles e curtindo a noite. Devia passar das três horas da manhã, mas nós dois não podíamos querer estar em nenhum outro lugar. O sentimento que eu nutria por aquele garoto conseguia ser maior que amor; se é que existe algo assim. Era impossível colocar em palavras uma coisa que consumia, dilacerava e tomava conta de cada centímetro de mim. Eu seria capaz de ficar louca se não pudesse tê-lo perto, se não pudesse sentir o seu cheiro grudado na pele. Zayn tinha total controle sobre mim e todo o mundo podia ver.
- Eu vou até o banheiro, tá bem? – Nos separamos e eu afirmei que sim com a cabeça.
- Volte logo! – Pedi e acenei enquanto ele se afastava.
- Meu amor! – chegou tão rápido que eu mal vi.
- Geez, ! – Balancei a cabeça. – Quer me matar?
- Ihh, tá assustadinha, é? – Ela riu e deu um gole no copo vermelho que segurava como se fosse a coisa mais importante da sua vida.
- Quantos desse você já tomou? – Perguntei, mas já sabia a resposta: Vários.
- Só alguns. – Riu escandalosamente como faria após ouvir uma piada realmente engraçada. – Eu já disse que te amo muito, ? Sério mesmo. Você mora no coração.
- Fase três, aí vamos nós. – Falei pra mim mesma e ri do esforço que fazia pra formular frases.
- Com licença... – Um garoto loiro de olhos verdes e aparência bem simpática chamou a nossa atenção. – Você é ?
- Sou eu sim... – Sorri na tentativa de descobrir se eu o conhecia, mas a minha mente estava em branco.
- Seu namorado me pediu pra te entregar isso aqui. – Estendeu um copo igual ao de .
- Ah, obrigada! – Peguei o copo e dei o primeiro gole ao ver o entregador se afastar.
- Finalmente você está bebendo alguma coisa! – bateu palmas. – Vamos virar! Não quero nem saber. No 3... 3!
- O que?! Me espera! – Gargalhei, mas entrei na brincadeira e derramei o líquido na minha boca, engolindo tudo o mais rápido que consegui.
- Ganhei! – A ruiva terminou primeiro e amassou o copo em seguida, jogando-o no chão.
- Não vale, porque você começou antes. – Fiz uma careta por causa do gosto ruim que a bebida deixou na minha boca.
- Para de fazer careta, . Seja forte. – Balançou a minha cabeça até quase me deixar tonta, mas consegui afastar suas mãos a tempo. – Espera aqui, tá bem?
- Pra onde você vai?
- Pegar mais algumas doses pra gente! – Não escutou meus chamados e já foi dançando e rebolando em alguma parte do campo.
Alguém devia estar mexendo nos aparelhos de som, porque o volume da música aumentou consideravelmente. Tapei os ouvidos quando meus tímpanos começaram a arder e me curvei, olhando para os lados na tentativa de encontrar alguém que pudesse diminuir um pouco esse barulho que começava a me deixar louca. Eu precisava sair de perto, precisava ir para um lugar mais calmo. “Desde quando eu estou com dor de cabeça?” Me perguntei, mas não consegui encontrar uma resposta. Comecei a arrastar meus pés pela grama, sem conseguir identificar a direção em que estava indo. Olhei para o chão abrindo e fechando os olhos quando a minha visão começou a ficar turva. Eu sabia que havia algo errado, mas não conseguia identificar o que era.
Ao menos a música tinha diminuído... Assim como qualquer outro barulho ou qualquer fonte de luz. Olhei em volta e tudo que consegui ver foram troncos tortos de árvores e folhas podres que cobriam o chão. De uma coisa eu tive certeza... Não estava mais no campo e sim na floresta. “O que eu estou fazendo aqui?” Estiquei a mão e consegui me apoiar em um pinheiro, respirando fundo e tentando afastar o bolo que começava a se formar na minha garganta. Sempre que eu levantava o olhar, ficava tonta e tinha que encarar o chão novamente. Minha cabeça estava uma completa bagunça, pois eu sabia que estava perdida, mas não fazia idéia de como isso era possível. Em um segundo eu estava conversando com e no outro... Eu estava ali; no meio do nada.
Coloquei a mão no peito, tentando acalmar o meu coração que batia descontroladamente, se esforçando para bombear sangue pelas minhas veias. Dei alguns passos sem tropeçar e minhas pernas pediram arrego. Eu sentia como se tivesse acabado de correr uma maratona e a minha boca estava seca. Eu precisava sentar. Para a minha sorte, consegui avistar um toco de madeira que devia ter sido uma árvore antes de ser arrancada e fui até ele, fazendo um esforço enorme para me sentar. Assim que o fiz, o tronco se mexeu. Se mexeu não... Correu de mim, me fazendo cair com tudo no chão até estar completamente deitada na terra suja, encarando o céu.
Devia ser algum tipo de fenômeno da natureza, pois milhões de estrelas cadentes passaram ali, bem em cima da minha cabeça. A terra também começou a girar rápido demais, me obrigando a tapar os olhos e choramingar. Eu precisava continuar, precisava voltar a andar e achar um caminho... Eu só não sabia como, mas tinha que me mexer. Juntei todas as minhas forças para me colocar de quarto e engatinhar para frente, já que a única noção de direção que eu conseguia ter era “pra frente” e “pra trás”. Usei as mangas do meu sweater para proteger as palmas das minhas mãos de possíveis arranhões, mas os meus joelhos não tinham a mesma sorte. Minha tentativa de gritar foi impedida por uma lufada de ar que escapou dos meus pulmões, me deixando momentaneamente sufocada. Lutei para puxar o oxigênio e era como se quanto mais eu tentasse, mais eu falhava. Cogitei a possibilidade de estar me afogando, mas sabia que não estava na água, pois podia sentir as folhas se quebrando embaixo de meus dedos enquanto eu me arrastava.
Fuja! Uma voz, que ao mesmo tempo em que parecia um sussurro gritava pra mim, me fez parar. Busquei alguma coisa nas sombras até onde o meu olhar alcançava, mas não consegui ver nada. Só não sabia se isso era bom ou ruim. Disse para mim mesma que não podia parar e voltei a me mexer mais uma vez, desesperada por alguma luz. Fique de pé, agora. E corra. A voz voltou a me assombrar e por um momento eu achei que a conhecesse. Achei não... Eu tive quase certeza. Mas não podia ser... Existia algo de traiçoeiro naquela voz, algo em que eu não sabia se podia confiar ou não. “Eu não consigo!” respondi, mas sabia que a resposta fora apenas em minha cabeça. Corra! Corra! Corra!
A voz crescia e repetia a mesma coisa, me fazendo tampar os ouvidos para encontrar um pouco mais de alívio. De alguma forma consegui me colocar de pé e caminhar. A sensação de estar sendo observada me invadiu e, como se já não bastasse, me desesperei ainda mais. Com as mãos junto ao corpo – na tentativa de me proteger - comecei a correr; ou o mais perto disso que consegui. Obedecendo apenas ao meu instinto, dobrei a direita e depois a esquerda, sem conseguir diferenciar absolutamente nada na vegetação. “Zayn!” chamei, sabendo que ele não me ouviria. “Onde está você, Zayn?!” Continuei correndo e tropeçando em algumas raízes mais altas, mas sem nunca parar. Só percebi que estava chorando quando senti o gosto salgado das lágrimas preencher a minha boca. Continue. Vamos, , continue. Você está quase lá... Infelizmente não era a voz de Zayn que eu escutava e me pedia pra continuar.
Espiei ao meu redor, mas ainda não conseguia ver mais que um palmo em frente ao meu rosto. Parei de correr quando algo passou pela minha mente... “Como você sabe o meu nome?” Exigi saber, dando voltas sem sair do lugar e esperando qualquer coisa sair das sombras e me atacar. As dores em meu corpo me provavam que eu não estava sonhando. Aquilo era pior que um pesadelo, pois era real. “Eu perguntei como você sabe o meu nome?” Urrei com raiva e frustração, mas a resposta não veio. Ela nunca viria. Meus olhos ardiam por conta das lágrimas e eu já não sabia mais de que lado tinha vindo e por onde deveria ir. Dava passos sem nexo e sem direção certa. . A voz estava ainda mais hostil que antes e assoprou perto da minha orelha. Me virei na direção do som com o medo me consumindo de dentro pra fora.
A próxima coisa que senti foi a terra embaixo de meus pés se mexendo, derrapando. E então eu estava caindo. Até tentei me segurar em alguma coisa, mas foi inútil. Gritei, fiquei sem ar, quis vomitar. Uma confusão de sentimentos terríveis me acompanhou enquanto a gravidade me engolia. O chão chegou rápido demais e não foi nada gracioso com o meu corpo, me fazendo bater em cheio com as costas e cotovelos. A cabeça e as pernas vieram depois, permanecendo imóveis por mais que eu quisesse sair dali. Mais uma vez tudo girou e continuaria assim. Meus olhos começaram a pesar e fechar. Eu iria perder a consciência e sabia que não demoraria pra estar completamente apagada. Tenha calma agora... Já acabou.
Capítulo LIII
Não tenho certeza se o que me acordou foram os pingos fracos da chuva que batia no meu rosto ou o desconforto por estar em uma posição completamente estranha. Abri os olhos sofrendo com a claridade que me acertava em cheio. Nos primeiros segundos de consciência, fiquei confusa sem saber por que estava ali no meio do nada, deitada em um chão sujo e lamacento, mas assim que as imagens da noite anterior me atingiram, eu levantei com um impulso até estar sentada. Minha visão ficou turva, mas apenas o suficiente para me situar um pouco mais. Eu me lembrava vividamente de todo o terror que eu sofrera correndo pela floresta e toda a confusão que se passou pela minha cabeça. Ali, no claro, eu tinha certeza que alguém tentara me fazer algum mal. Minha cabeça latejou com as milhares de dúvidas e preocupações e só o que eu queria agora era voltar pra casa.
Com um pouco mais de facilidade do que no dia anterior, me coloquei de pé e respirei fundo. Ainda estava perdida, mas pelo menos tinha um pouco de noção do que deveria fazer. Meus ouvidos conseguiam captar um barulho de água correndo, o que provava que eu não podia estar muito longe do rio. Se eu pudesse achá-lo, talvez conseguisse seguir o seu curso de volta ao campo. Mas será que alguém ainda estaria lá? Meus amigos não iriam embora sem mim, iriam? A não ser que pensassem que eu já tinha ido embora primeiro... Não! Eles não me deixariam pra trás, porque saberiam que eu não sumiria sem avisar ninguém. Toquei os bolsos do meu short na esperança de poder ligar para alguém e avisar onde eu estava, mas foi em vão. O aparelho celular não estava ali, o que só queria dizer que eu o perdera pela floresta e seria impossível achá-lo. Olhei para trás e para cima, vendo o barranco de onde eu havia caído. Era uma parede de terra de quase três metros de altura e eu teria morrido se caísse em cima de uma pedra ou um tronco mais pontudo.
Passei as mãos pelos meus cabelos emaranhados, constatando que ainda estavam presos, mas algo gosmento os fez ficar duros e secos. Tive medo até mesmo de encontrar algum inseto perdido entre os meus fios se procurasse demais. “Vamos sair daqui.” Falei para mim mesma e comecei a andar para a esquerda, sempre atenta ao barulho do rio. Evitei olhar para as minhas pernas e encontrar algum corte, já que sentia os meus joelhos arderem. Pretendia chegar em casa primeiro e depois me preocupar com os machucados. “Será que tem algum bicho selvagem por aqui?” Me arrependi amargamente daquele pensamento, pois o barulho das folhas sendo quebradas embaixo dos meus pés foi amplificado e por um instante achei que podia estar sendo seguida. Me manter no controle da situação era mais difícil do que parecia.
Não sei se o tempo correu mais rápido ou se meus passos aceleraram, porque quando dei por mim, tinha encontrado o rio... Sorri quase inconscientemente com aquele fio de esperança que me fez continuar. Tentei correr com pressa, mas vacilei. Minhas pernas estavam fracas e o resto do meu corpo não parecia estar muito melhor. Entretanto, eu precisava correr, precisava chegar em algum lugar. Fiz uma nova tentativa de sair do lugar e dessa vez deu certo. Lembrei de algo que Liv me falou durante uma das nossas corridas pelo condomínio: “o segredo é controlar a respiração”. No começo eu podia não ter entendido muito o que ela queria dizer com isso, mas ao começar a respirar pelo nariz e soltar pela boca ganhando velocidade e ritmo, agradeci mentalmente pelas suas orientações.
O rio corria ao meu lado na direção contrária a minha e, se eu entendia qualquer coisa de geografia, sabia que estava indo na direção correta. Tudo bem que a minha roupa não era feita pra corridas e muito menos aquele meu tênis, mas era o melhor que eu podia fazer. Conhece o ditado que diz que correr na chuva molha mais? Eu o comprovei naquela manhã. Quando estava parada ou caminhando, apenas sentia o pequeno chuvisco que me incomodava um pouco, porém, foi só começar a correr que os pingos se transformaram em lâminas afiadas que pareciam cortar a pele fina do meu rosto. Coloquei as mãos em cima dos olhos para protegê-los e não deixei a dor me atrasar.
Algo chamou a minha atenção no horizonte que se aproximava depressa e eu pensei que estivesse delirando. Algumas luzes em azul e vermelho piscavam cada vez mais próximas e eu cheguei a fechar e abrir os olhos com força na tentativa de fazê-las desaparecer, mas elas continuavam lá, chamando por mim. “O que esses carros de policia estão fazendo aqui?” A resposta para essa pergunta era óbvia demais! Deviam estar me procurando, é claro! Pus-me a correr ainda mais rápido, acenando com uma mão e tentando gritar que eu estava bem e que tinha achado o caminho de volta. A minha voz não saiu, pois eu estava rouca demais pra falar qualquer coisa. Ficar no sereno a noite inteira com certeza não me fez bem.
Assim que consegui avistar o campo onde a festa aconteceu na noite anterior notei o quanto o cenário havia mudado. Já não tinha mais fogueira ou pessoas alegres brincando. O som das músicas fora substituído pelo das sirenes e não havia mais nenhum sinal da caminhonete ou da tenda que guardava as comidas e bebidas. Eu conseguia distinguir vultos masculinos, mas eles eram grandes demais e adultos demais para ser qualquer um dos meus amigos. Isso me preocupou. Onde estaria o meu irmão e Harry? Liam, Zayn e Niall? Ou até mesmo e Olivia? Será que algo tinha acontecido com eles? E se, assim como eu tinha certeza de que fizeram algo comigo, tivessem feito algo com eles também?
Esses pensamentos me sufocaram e me paralisaram. O choque da realidade me deu um tapa na cara e os meus joelhos ficaram fracos. Quando vi, estava caindo na areia e meus olhos se fecharam. Meu corpo fraco permaneceu quieto, deitado ali, quase sem vida, mas a minha consciência não foi totalmente perdida, eu não estava desmaiando. Apenas estava fraca demais para lidar com qualquer coisa séria.
- Olha ela ali! – Uma voz grave, masculina e desconhecida chamou por outras. – Onde estão os médicos?
- ! – Essa segunda voz eu consegui reconhecer. Era correndo na minha direção junto com o policial que me viu primeiro.
- Hmm... – Tentei falar alguma coisa quando se jogou na areia ao meu lado deitou a minha cabeça em seu colo.
- Está tudo bem, ... Você nos achou... Vai ficar tudo bem agora... – Ela estava quase chorando.
- Temos que levá-la para a ambulância e depois para o hospital. – Uma terceira voz se aproximou e eu senti o meu corpo sendo erguido do chão.
- Você não vai levá-la pra nenhum lugar antes dos outros chegarem. – estava firme e eu senti o seu toque na minha mão.
- Onde estão? – Consegui formular uma frase inteira e entreabri os olhos, recuperando um pouco mais os movimentos. – Estão bem?
- Os meninos estão te procurando pela floresta, ... Mas estão todos bem, não se preocupe. – A voz da ruiva era sincera, por isso fiquei tranqüila.
- Já avisamos à patrulha que você apareceu e logo todos estarão de volta. – O policial não tinha tanta paciência quanto a minha amiga, mas também não chegava a ser rude.
- Eu sinto muito... – Choraminguei, mesmo sabendo que não tinha culpa alguma.
- Shh, ... Tudo vai se acertar. – soltou a minha mão assim que nos aproximamos da ambulância que estava ali perto.
Eu não queria ter que ir para o hospital de jeito nenhum, até porque sabia que meu pai estaria lá e tudo que eu menos queria era preocupá-lo. O policial me colocou no chão e eu fingi estar me recuperando milagrosamente. Um paramédico sorridente me ajudou a sentar em uma maca que estava dentro do veículo e não o permitiu fechar a porta. Pelo menos assim eu me sentia mais segura e calma. Fui envolvida por um grosso cobertor azul e me enrolei ainda mais, sentindo o frio me deixar aos poucos. Logo fui capaz de respirar normalmente e ficar com os olhos completamente abertos.
O homem que estava cuidando de mim fez alguns testes básicos para ver se tudo estava bem comigo, como me fazer seguir uma luz com os olhos e responder o meu nome e sobrenome, ou mês em que estávamos. Como respondi automaticamente que me chamava Tomlinson e que o mês era Dezembro de 2012, ele afirmou que eu não tinha sofrido nenhum dano aparente e que o único problema com que deveríamos nos preocupar era com a baixa temperatura do meu corpo. Por fim, ele me deu uma garrafa de água mineral e pediu para que eu bebesse tudo para me hidratar.
- Então, pode explicar o que aconteceu? – O policial ficou parado na minha frente, com um bloquinho preto em mãos.
- Ela acabou de aparecer e você já quer que ela seja capaz de falar?! – colocou as mãos na cintura e bateu o pé no chão.
- Desculpe, senhorita, mas só estou fazendo o meu trabalho aqui. – Respondeu olhando pra mim e eu assenti.
- Não tem problema, , eu posso falar. – Afirmei para a minha amiga e forcei um sorriso. Com meu corpo começando a ficar mais quente, eu já me sentia melhor. A água que eu bebericava de vez em quando também parecia fazer milagres, umedecendo a minha garganta. – Não foi nada me mais, pra falar a verdade...
- O que aconteceu exatamente? – Deu ênfase à última palavra.
- Nós estávamos na festa ontem, certo? E sabe como é... Sou jovem, acabei me excedendo e bebendo demais. Achei que seria engraçado brincar de esconde-esconde, mas acabei me perdendo na floresta. – Menti. Não queria ter que contar a verdade para aquele policial e acabar indo parar na delegacia pra prestar depoimento de alguma coisa. Evitei olhar para enquanto explicava tudo, porque ela saberia que eu estava mentindo. – Pensei em ligar pra pedir ajuda, mas perdi o meu celular, então resolvi esperar amanhecer pra procurar o caminho de volta.
- Então você simplesmente esperou doze horas pra resolver procurar o caminho? – Arqueou as duas sobrancelhas, me julgando na cara dura. O homem parecia entediado, como se estivesse me odiando por ter feito ele dirigir até aquele lugar no meio do nada e ainda por cima por causa de uma brincadeira adolescente.
- Doze horas? – Repeti. Como eu poderia ter ficado apagada por tanto tempo?
- Você sumiu durante doze horas, ... Nós estávamos mortos de preocupação, achando que alguém pudesse ter lhe seqüestrado... – falava com calma e sem querer me assustar. – A Liv até voltou para o condomínio pra te procurar, mas você não estava em casa, então chamamos a policia. Mandamos todos embora e começamos a te procurar.
- Eu sinto muito... – Me desculpei mais uma vez, me sentindo horrível por ter estragado a festa de todo mundo. Em seguida, me virei para o policial. – Eu acabei pegando no sono e perdi a hora. Foi só isso o que aconteceu.
- Se lembrar de mais alguma coisa, me ligue. – Tirou um cartão do bolso, onde eu podia ler “Detetive J. Jones” e me entregou. – Não quer ir ao hospital e fazer alguns exames só pra ter certeza que...
- Não! – Respondi rápido demais. – Eu só preciso ir pra casa e descansar.
- Vocês precisam de uma carona? – Perguntou enquanto guardava o seu bloquinho de volta no casaco.
- Não, obrigada. – respondeu. – Os meninos já estão voltando.
Assim que falou aquilo, levantei a cabeça e vi quatro pessoas andando na nossa direção, sendo que três delas corriam e o último só andava. Louis, Niall e Liam estavam se aproximando cada vez mais rápido e um outro policial os seguia. Nenhum sinal de Zayn ou Harry, mas me senti aliviada por ver o meu irmão. Saltei da ambulância e me segurou para que eu não tropeçasse, mas não me impediu de ir até Louis, que abriu os braços para mim. Ainda me enrolando com o cobertor azul, deixei que ele me abraçasse e fechei os olhos. Eu tinha tanto pra falar, tanto pra me desculpar, tanto para perguntar eu acabei não falando nada. Pela sua respiração eu pude perceber o quanto ele estava aliviado em me ver. Mesmo com o meu rosto todo sujo, ele beijou a minha testa e me olhou com cuidado.
- O que aconteceu? Você está bem? – Afastou a minha franja do rosto.
- Eu estou bem sim, Lou... Me desculpa. A sua festa... Eu estraguei tudo, né? – Não cheguei a chorar, mas a minha expressão era triste.
- Claro que não, ! Você não estragou nada. Só quero ter certeza que você está bem mesmo. – Abraçou-me mais uma vez, com bastante força. – Sabe que se algo acontecesse a você, nana nunca me perdoaria, não sabe?
- Ela te mataria... – Respondi com uma risada fraca. Em seguida olhei para Liam e Niall, ambos com olheiras embaixo dos olhos. – E vocês também... Me desculpem. Eu nem imagino o que eu os fiz passar.
- Como Louis falou, o importante é que você está bem. – Liam foi o segundo a me abraçar.
- E até que foi divertido brincar de caça ao tesouro... – Niall brincou, me abraçando depois de Liam. – Você sendo o tesouro, claro.
- Só você mesmo, Ni. – Ri, abraçando-o de volta. – Pena que ninguém ganhou!
- ... – A voz de me fez olhar pra ela.
A ruiva estava apontando um ponto atrás de nós, onde mais pessoas se aproximavam. Dois policiais vinham na frente e dois garotos os seguiam. Harry vinha mais atrás, com as mãos dentro dos bolsos e o corpo encolhido para se proteger do frio. Zayn era o primeiro e olhava para todos os lados na minha procura até que sua íris se conectou à minha. Segundos depois nós estávamos andando em direção um ao outro até estarmos próximos o suficiente para nos abraçarmos. Diferentemente dos outros meninos, eu o envolvi pelo pescoço, segurando o cobertor e enrolando nós dois dentro dele. Zayn me segurou pela cintura com tanta força que teria doído se eu não estivesse tão aliviada em vê-lo.
- Eu pensei que tinha te perdido. – Confessou em um fio de voz, beijando o meu rosto úmido.
- Não fala assim... – Pedi baixinho, afastando um pouco o rosto pra poder olhar pra ele.
- Eu estava te procurando e não conseguia achar em lugar nenhum... Eu revirei essa floresta inteira!
- Shhh... Eu sei, eu sei... – Colei os lábios aos dele devagar ao notar que se continuássemos naquele assunto, ambos começaríamos a chorar. – Agora estamos juntos e eu só quero ir pra casa...
Lar doce lar. Assim que chegamos em casa, fomos direto para a sala e eu fui obrigada a me sentar no sofá. Fisicamente, eu já me sentia bem mais forte e capaz de me mexer e andar para onde quer que fosse, mas os meninos me tratavam como se eu estivesse doente ou pudesse quebrar a qualquer momento. Niall, e Zayn também fizeram questão de me acompanhar até em casa e juraram que só sairiam de lá depois que eu estivesse na cama pronta para dormir até o outro dia. Eu sabia que não adiantaria nada discutir com eles, então prometi que faria isso, mas primeiro precisava de um tempo pra colocar as idéias no lugar.
Zayn se sentou ao meu lado no sofá e ocupou o outro. Harry foi para a cozinha junto com Niall e Liam para que os três pudessem preparar algum almoço – ou jantar, já que passava das seis e meia da tarde -, pois todos estavam com fome. Bem, todos menos eu, como já era de se esperar. Louis se sentou na minha frente, apoiado na mesinha de centro. Durante todo o trajeto de volta pra casa no carro, eu pensei muito sobre o que tinha acontecido na noite passada e sabia que mais cedo ou mais tarde teria que falar sobre aquilo. Nada melhor do que conversar com o meu irmão, meu namorado e minha melhor amiga, certo? Especialmente porque eu sabia que ninguém tinha engolido a história de que eu fiquei bêbada tão rápido assim a ponto de me emaranhar na floresta e cair no sono acidentalmente por doze horas.
- Gente... – Chamei a atenção dos três que estavam ao meu lado e me preparei para falar em voz alta o que antes só admitia em pensamento. – Eu acho que alguém me drogou.
- Como é? – Zayn foi o que mais se alterou. Suas linhas de expressão estavam duras e seus olhos profundos.
- Conta isso direito, ... – acariciou o meu ombro por cima do cobertor que eu “ganhara de presente” do paramédico.
- Eu não podia estar bêbada, porque não bebi nada... Quero dizer, não bebi quase nada. Só um copo. – Tentei não olhar pra ninguém enquanto fazia meu discurso. Fazia sentido eu ter sido drogada, pois só isso explicaria a velocidade que os efeitos começaram, a tontura, as alucinações, a confusão mental... Só uma droga poderosa faria isso.
- Eu sabia que tinha algo estranho na história que você contou! – me interrompeu. – Você só tomou aquele copo que o Zayn pediu pra te entregar, né?
- Espera, eu não pedi pra ninguém entregar nada. – Zayn fez engasgar com aquela informação, mas eu já sabia disso.
- Foi o que eu pensei. – Segurei a mão de Zayn e entrelacei nossos dedos. – Eu acho que foi aquele cara que me entregou o copo que colocou alguma coisa na bebida. Tinha que ser algo muito forte, porque... Os efeitos foram terríveis.
- Eu não consigo nem imaginar o que você passou... – A ruiva escondeu o rosto nas mãos e apoiou os cotovelos nos próprios joelhos.
- Esse cara, como ele é? Você o conhece? – Louis se levantou e começou a andar de um lado para o outro.
- Só lembro que ele é loiro e de olhos claros... – Rebusquei em minha memória qualquer informação mais útil, mas foi em vão. – Na hora eu pensei que o conhecesse de algum lugar, mas agora já não tenho tanta certeza.
- Eu nunca devia ter te deixado sozinha, Anjo... – Zayn parecia ter perdido a raiva e agora estava decepcionado consigo mesmo. Ele me envolveu pelos ombros e acomodei-me em seus braços.
- Você não a deixou sozinha... – levantou o rosto e me olhou como se pedisse milhões de desculpas. – Eu deixei.
- Não foi culpa sua... E nem de ninguém! – Levantei do sofá e encarei os três, deixando o cobertor pra trás. – Esse cara, seja lá quem for... Ele tentou fazer algo, mas não conseguiu. Não sei como, mas eu escapei do que quer que ele estivesse querendo fazer. É claro que eu gostaria que nada tivesse acontecido, mas aconteceu. E isso não vai mudar. Nós podemos ficar pensando nisso, ou podemos seguir em frente.
- Ela está certa... – Lou concordou comigo. – O melhor a se fazer agora é esquecer.
- Eu só quero tomar um banho e deixar essa madrugada pra trás... – Pedi com sinceridade, mesmo sabendo que Zayn não se esqueceria tão cedo.
- Então vá e descanse... – Meu namorado se levantou e caminhou até onde eu estava. Segurou as minhas mãos e fez carinho com os polegares. – Eu vou estar aqui quando você acordar.
- Tem certeza? Você também está cansado. – Entrelacei nossos dedos e sorri de canto.
- Nunca estive tão certo de algo. – Soltou uma das minhas mãos para acariciar o meu rosto e encostar os lábios aos meus.
- Obrigada. – Suspirei e, em seguida, olhei para encolhida no sofá. – Mas faça o Niall levá-la embora. Ela precisa dormir.
- Eu cuidarei de tudo, pode ficar tranqüila.
Eu estava tranqüila, pelo menos em parte. Estava em casa e esta segura, o que era o que importava de fato. Me despedi de todos e parti para o andar de cima, me trancando no meu quarto para não ser perturbada. Tudo estava do mesmo jeito que eu havia deixado: As cortinas da janela bem fechadas, minhas cobertas bagunçadas e ao mesmo tempo muito confortáveis e uma muda de pijamas limpa sobre o meu travesseiro. Aquela quietude era um verdadeiro santuário e tudo que eu precisava era de longas horas de sono.
Passei direto para o banheiro e não me importei em acender a luz. Quanto mais eu demorasse pra me olhar no espelho melhor. Não fiquei no escuro completo, já que ainda não era noite e alguns raios que conseguiam escapar pelas frestas da minha cortina entravam por baixo da porta. Despi-me devagar, sentindo minha pele arder nos lugares onde eu fora arranhada e sabia que durante o banho seria ainda pior. Deixei todas as roupas empilhadas em um canto e soltei o meu cabelo com muita dificuldade. Pulei para dentro do Box e abri a água em uma temperatura morna, deixando-a estabilizar para então entrar embaixo do chuveiro e me deixar ser lavada.
Encostei a testa na parede e deixei a água escorrer pelo meu corpo e senti camadas de sujeira escorrendo pelas minhas pernas. Fiz algumas caretas com a dor dos machucados, mas agüentei bravamente. Pedaços de folha e lama caiam nada delicadamente aos meus pés. Tratei de encher a minha esponja de sabão e esfreguei cada centímetro dos meus braços, pescoço e costas até onde alcançava. Já podia começar a me sentir mais limpa e então passei para o meu cabelo, o que seria bem mais trabalhoso. Tive que repetir uma mão cheia de shampoo pelo menos três vezes pra conseguir tirar toda a areia e pedacinhos de sujeira que faziam questão de grudar e não sair nem depois de muito implorar.
Não fiz questão de demorar muito tomando aquele banho, pois meu emocional ainda estava abalado e eu acabaria começando a chorar se deixasse a minha mente divagar. Me sequei com cuidado e penteei os cabelos, aproveitando para passar um remédio contra infecção nos cortes mais aparentes que eu tinha na minha coxa esquerda, cotovelo direito e alguns menores nos meus braços. Não estava com nenhum machucado que precisasse levar pontos e muito menos algum que pudesse deixar cicatrizes. Em menos de uma semana eles começariam a sumir e eu estaria perfeita de novo. Dei uma olhada na minha tatuagem e ela continuava linda como nova. Eu teria me desesperado se algum galho tivesse me arranhado ali e deformado o meu desenho.
Eu estava cansada e várias coisas percorriam a minha cabeça, por isso não me espantei ao começar a pensar que a minha tattoo pudesse ter me protegido. Não a tatuagem de uma forma literal, é claro, mas eu tinha sido protegida de alguma forma. Por um anjo da guarda? Por asas? Quem sabe?! Eu acreditava que poderia ter sido. Agora que a minha consciência estava no lugar certo, não consegui evitar e pensar naquela voz. Sim, a voz que me mandou correr e fugir. Só de pensar no meu desespero ao escutá-la durante a madrugada, senti um arrepio ruim percorrendo a espinha. Tive mais certeza do que nunca que escutara a voz do meu avô. “Papá, era você?” Perguntei mentalmente sabendo que a resposta nunca viria. Mas não importava mais, certo? Como eu mesma falara mais cedo, só queria seguir em frente e esquecer o que aconteceu. Dali pra frente eu teria cuidado redobrado e, se voltasse a encontrar o garoto que me drogou, estaria pronta pra tirar satisfações. O que mais me dava forças naquele momento era saber que eu não estava sozinha.
Deixei a toalha molhada de lado pra vestir o pijama quentinho e só faltava uma coisa pra que eu pudesse me enterrar embaixo das cobertas e apagar. Fui até o closet, onde deixava o baú com as coisas de meu avô bem protegido e o abri até avistar a caixinha de música azul. Trouxe ela de volta para o quarto comigo e dei corda. Aquela melodia calma seria a minha canção de ninar. Aquele velho aperto de saudade que vinha junto com as lembranças de meu avô apareceu, mas era mais nostálgico do que doloroso. Deitei, cobrindo-me até o pescoço e abrindo a caixinha para que a música começasse. Eu estava em meu abrigo e nada poderia me atingir agora.
Capítulo LIV
- Vocês querem parar de comer a minha massa? – Bati nas mãos de Liam e Harry assim que eles investiram pela terceira vez com uma colher para a minha bacia de massa de brownies.
O natal finalmente havia chegado e com isso as preparações para a ceia que aconteceria à noite também vieram. A casa inteira estava uma completa confusão, ao menos a parte da sala de jantar e cozinha. Todos os meninos se propuseram a ajudar e no começo até que tudo andou conforme o planejado, mas foi só eu começar a misturar os ingredientes do brownie de chocolate que Li e Haz desandaram. Eu não estava irritada e nem estressada, pois prometera a mim mesma que aquele dia seria um dia feliz, como tinha que ser! Como não havia dormido muito bem nos últimos dois dias por conta de certo acontecimento que não preciso comentar, concentrei-me em canalizar toda a minha energia restante nas comemorações natalinas. Eu gostava demais do natal para acabar com a sua magia.
- , você é a única menina que eu conheço que não gosta de massa crua. – Liam estava debruçado sob a bancada americana e me olhava trabalhar.
- Eu não fui sempre assim, sabia? – Coloquei a mão sobre o peito como se me preparasse pra contar uma história triste. – Na última festa do pijama na casa da , eu comi tanto dessa massa que passei mal. Agora fico enjoada só de pensar...
- Sobra mais pra gente! – Harry tocou no meu ombro e me fez olhar para a direita, passando pela minha esquerda e roubando uma colherada de massa pela direita.
- Harold!! – Briguei com uma risada. – Vocês querem que eu deixe o brownie assim? Falo sério, vou desistir de colocar no forno!
- Queremos! – Liam e Harry responderam ao mesmo tempo.
- Não mesmo. – Louis entrou na cozinha com um saco preto nas mãos. – Pode continuar, , vou colocar esses dois pra fazer alguma coisa e te deixar em paz.
- Isso. – Comemorei com uma dança desengonçada e peguei a bandeja onde iria despejar a massa para levá-la ao forno.
- Eu já estou fazendo alguma coisa. – Harry jogou a sua colher na pia e foi para o fogão, onde mexia uma panela onde cozinhava algo que cheirava muito bem.
- Então Liam, já pra sala. Você vai me ajudar a arrumar os presentes embaixo da árvore. – Lou apontou para a porta e esperou o outro se mexer.
- São tantos assim? – Perguntou ao se dirigir para a porta.
- Você vai ver. – Lou riu misterioso e veio para o meu lado, tirando algo de dentro do saco preto. – Olha o que eu achei.
- Um gorro! – Arranquei das mãos dele o objeto vermelho e branco e o coloquei na minha cabeça. Agora eu estava completamente natalina, da cabeça aos pés.
- Curly. – Louis jogou outro gorro na direção de Harry, que se virou bem a tempo de pegá-lo no ar.
- Agora todos somos ajudantes do Papai Noel. – Hazza riu como uma criança e colocou o gorro na cabeça, mas quase não conseguiu conter os seus cachinhos.
- Lou, você tem um minuto? – Perguntei, mesmo já sabendo da resposta. Dei meia volta para colocar a bandeja no forno e em seguida me virei para o meu irmão. – Tenho uma coisa pra você...
- Vou ganhar algo? – Seus olhos azuis brilharam e eu o puxei pela mão.
- Só se vier comigo!
Sorri ansiosa para ver a cara dele ao descobrir o que estava ganhando. Saí da cozinha em direção ao hall de entrada e logo passei pelas escadas. De relance avistei Liam tentando encontrar uma forma de organizar as dezenas de presentes embaixo da árvore. Sim, eu finalmente havia tirado os presentes que comprei de dentro do meu closet e os outros meninos fizeram o mesmo. Pelo que consegui contar, tínhamos um total de 24 presentes e isso porque , Niall e Zayn ainda não haviam chegado com os próprios. Por isso eu amava o natal... Presentes por todos os lados! E não, eu não tentei espiar o que havia dentro de nenhum deles. Ainda.
Arrastei Louis até o segundo andar e ambos entramos no meu quarto. O deixei de pé perto da minha cama enquanto fui procurar algo no fundo do closet e só saí de lá quando encontrei uma caixinha de couro que abria pelo centro, enfeitada com um laço vermelho em cima. O único presente que não foi para debaixo da árvore de natal. Lou sorriu, já sabendo do que se tratava – mesmo não conhecendo o conteúdo do presente – e aceitou a caixa assim que eu a entreguei.
- Feliz aniversário, Boo bear. – Meu irmão só era chegado em demonstrações de afeto quando necessário e aquele momento era mais do que isso, então o puxei para um abraço antes de deixá-lo abrir o presente. – Está tudo bem em não querer crescer, contanto que você não deixe de viver.
- Mais uma frase do caderno de papá? – Riu ao retribuir o meu abraço. – Já é a sexta que você usa essa semana.
- Estou ficando boa nisso! – Separei o abraço. Louis tinha razão, eu andava me tornando adepta às frases filosóficas que encontrava no caderninho de anotações do nosso avô. – Mas abra logo esse presente, ande! Quero ver o que acha.
- Pensei que não fosse me deixar abrir! – Tirou o laço de fita vermelho do topo do presente e me entregou. Em seguida, abriu a caixinha e quase gritou. – Um Rolex?
- Não é todo dia que se faz vinte e um anos, né? – Dei de ombros. Era um presente caro, mas ele merecia. – Além do mais, aceite isso como um presente do nosso pai também. Querendo ou não, foi com o cartão de crédito dele que eu comprei.
- Obrigado, . – Me abraçou mais uma vez. O segundo abraço em um dia só?! Uau.
- De nada. – Sorri marota e grudei o laço que eu segurava no topete perfeito do menino. – Tem as suas iniciais gravadas.
- Eu vi. – Deixou o laço onde eu o coloquei e virou o relógio de cabeça para baixo, onde as letras “L. W. T.” estavam gravadas em uma caligrafia delicada. – É perfeito.
- Perfeito pra você! – Fui até a porta do quarto. – Agora podemos voltar aos nossos afazeres? Teremos uma festa acontecendo mais tarde!
- Sim, senhora. – Passou por mim em direção ao próprio quarto. – Quem te nomeou a organizadora da festa mesmo?
- Eu, é claro. Guarde seu presente e desça. Te quero na cozinha em cinco minutos! – Brinquei com uma voz séria e comecei a descer as escadas. – Ou então descontarei do seu salário!
- Eu devia estar recebendo salário? – Louis gritou, mas resolvi ignorar.
Desci os degraus de dois em dois, já dominando a arte de descer as escadas sem tropeçar, e parei no meio do hall. “O que eu tenho pra fazer agora?” Pensei. De um lado, Harry estava na mesa da sala de jantar, enfeitando uma casinha de gengibre. Do outro, Liam sofria para arrumar os presentes. Dos dois, quem parecia estar precisando de mais ajuda era o segundo, então foi até ele que eu andei. O menino parecia mais interessado em brincar com os lacinhos e fitas do que de fato organizar tudo.
- Que coisa feia! – Cheguei sorrateiramente, pegando-o no flagra ao tentar levantar a tampa de um presente.
- ! Eu não estava fazendo nada, eu só... – Tentou se justificar, mas viu que não adiantava de nada. – Tem o meu nome no cartão!
- Eu sei que tem. – Tomei o presente da mão dele e me sentei no chão, próxima ao pinheiro enfeitado. – Fui eu mesma quem escreveu.
- Esse é o presente que você vai me dar? – Sorriu e se sentou no lado oposto ao meu, com a árvore entre nós.
- É sim, mas não vai ter graça se você ver antes! – Coloquei a caixa em minhas mãos bem próxima a parede e atrás de várias outras. – Só podemos abrir os presentes amanhã, na manhã de natal.
- Eu não entendo isso que você tem com tradições. – Balançou a cabeça em negação, mas estava sorrindo.
- Acho que aprendi isso com a minha mãe. – Peguei outra caixa, lendo o cartão que falava que era um presente de Harry para Louis. – Ela podia ser maluquinha da cabeça, mas todo natal era a mesma coisa. Eu e Louis acordávamos cedo pra ajudá-la na cozinha e meu pai tirava folga do trabalho, então nós acabávamos fazendo várias coisas juntos. Sempre era uma luta pra conseguir dormir na véspera de natal, porque eu queria ficar esperando o papai Noel... Mas então nós escutávamos uma história e comíamos chocolate quente perto da lareira. Depois disso eu só lembrava de acordar na minha cama no dia seguinte e ir correndo para a sala e abrir meus presentes.
- Parece divertido. – Liam me escutava com atenção.
- E era... – Suspirei, arrumando três caixas lado a lado. – Até que meus pais resolveram se separar e tudo mudou. Você tem sorte, Li, por ter seus pais juntos.
- Achei que você já tinha se acostumado com isso, . Quero dizer... Já faz algum tempo e tal.
- Eu já me acostumei sim, claro. Até porque os dois já seguiram em frente e construíram novas famílias. Eu gosto muito do Dan e se a Rachel não tivesse se casado com meu pai, eu não teria a Lux. Hoje em dia está tudo bem, mas na época foi terrível.
- Não posso nem imaginar o que você passou. – Liam podia não imaginar, mas eu via em seus olhos que ele sentia muito.
- Eu acho que hoje em dia essas coisas de divorcio são normais. – Dei de ombros. – Só os seus pais e os pais do Ni ainda estão no primeiro casamento.
- E você acha que o seu vai ser assim também? – Parou um pouco com a arrumação para estudar minhas reações. – Quero dizer... Você acha que vai se casar uma vez e viver pra sempre com o mesmo cara?
- Eu espero que sim. – Sorri. – Não sonho com um casamento perfeito, sabe? Eu sei que haverá brigas e desentendimentos, mas vai ser mais que isso. Eu quero me casar com alguém que valha a pena passar por isso.
- E eu tenho certeza que vai. – Jogou uma bolinha vermelha que enfeitava a árvore e ela caiu no meu colo.
- Como chegamos nesse assunto mesmo? – Ri balançando a cabeça. Pendurei a bolinha de volta na árvore e me levantei. – Ainda temos muito o que fazer! Você acha que consegue arrumar isso aí sozinho?
- Agora que eu vi como se faz... – Ficou de joelhos para abranger uma área maior da árvore e fez sinal de positivo.
- Ótimo! E eu ainda tenho que achar um lugar pra pendurar essas meias... – Caminhei devagar até o sofá, onde sete pés de meias diferentes estavam separadas. – Espero não ganhar carvão na minha meia...
Eu podia levar aquelas tradições muito à sério, mas não me importava nem um pouco. Eram essas pequenas coisas que me faziam feliz e, já que não machucavam ninguém, não fazia mal me dedicar a elas. Escutei a risada de Liam atrás de mim, mas não dei atenção. Peguei as meias e olhei em volta. Nós não tínhamos uma lareira pra pendurar em cima, mas tínhamos uma estante bem grande, então teria que servir. É claro que eu não iria prender as meias com pregos, porém, dei muita sorte por ter uma estante com pequenas gavetas. Cada gaveta tinha um puxador redondo, os quais usei para prender as meias. Não ficou a coisa mais linda do mundo, mas teria que servir.
Louis finalmente desceu as escadas e eu olhei no relógio pendurado na parede. Ele levou mais de cinco minutos! Pelo visto, ter dado um relógio de presente pra ele não fez muito efeito. Piadinhas a parte, o segui para a sala de jantar. Naquele cômodo, Harry ainda trabalhava na sua casinha de gengibre e ela estava adoravelmente fofa. O telhado fora coberto por uma massinha branca que lembrava a neve, janelinhas foram criadas com bengalas de açúcar e a porta de biscoito dava um toque especial.
- Pelo menos na casa dos senhores Biscoito vai ter neve. – Puxei uma cadeira e me sentei. Além da casinha, Harry também fez alguns biscoitos de gengibre na forma de bonequinhos, os quais ainda precisavam ser enfeitados. – Lou, trás os enfeites que estão aí em cima, por favor?
- Claro... – Gritou da cozinha. – Vocês não acham que tem muita comida aqui?
- Natal tem que ter muita comida! – Harry respondeu, levantando o rosto sujo de cobertura.
- E o que sobrar, nós comemos amanhã. – Sorri já sentindo a boca salivar. Louis logo voltou para a sala de jantar e colocou na mesa uma bandeja cheia de potinhos com confeitos coloridos. – Obrigada.
- O que eu faço agora, chefe? – Meu irmão me olhou.
- Eu tenho uma tarefa muito importante pra você! – Apontei para uma caixa de papel no canto daquela sala e Lou caminhou até ela. – Você tem arrumar um lugar pra pendurá-los.
- Viscos? – Tirou uma plantinha de plástico de dentro da caixa e eu sorri.
- Yep! Mas nem pense em colocar em lugares impróprios, como no banheiro ou na porta de entrada! – Adverti enquanto escolhia o primeiro enfeite que colocaria no Sr. Biscoito. – A não ser que você queira beijar todos que entrarem.
- Como você e a serão as únicas mulheres a vir aqui hoje, eu passo. – Segurou a caixa nos braços e se preparou para sair.
- Eu chamei a Liv. – O olhei de soslaio para captar sua reação.
- Pensando melhor... – Foram as suas últimas palavras antes de se retirar.
Balancei a cabeça a reprimir uma risada. Eu torcia para que Olivia viesse, mesmo sabendo que seria difícil. Ela me contou que sua família tinha planos, mas que tentaria dar uma passada na nossa festa, nem que fosse só pra desejar feliz Natal. Lou não precisava saber desse detalhe, claro. Desde a festa surpresa de Louis no lago, nós duas não havíamos passado muito tempo juntas, mas sempre tentávamos trocar algumas mensagens pelo Twitter. Liv se mostrou muito preocupada comigo pelo incidente da floresta e até mesmo me deu um colar com o pingente de uma pedra esverdeada, dizendo que era para a minha proteção. Eu não acreditava muito nessas coisas, mas apreciava a sua ação.
Deixei o universo pra trás, me concentrando em enfeitar os biscoitinhos de gengibre. O primeiro ganhou até uma cartola de bisquit e um bigode de chocolate. Também lhe dei uma roupinha fofa e, claro, botões de gota de chocolate. O segundo eu enfeitei como se fosse uma dama, com um vestido e flores na cabeça. Os outros ganharam penteados malucos e roupas rasgadas (como o biscoito zumbi) ou uma gravatinha e colares de perola. Todos estavam muito fofos e pareciam deliciosos. Vez ou outra eu roubava uma gota de chocolate escondida de Harry e comia. Bem, mesmo que o menino notasse eu não me importaria, até porque seria a minha vingança.
- ? ! – Harry estalou os dedos na minha frente como se estivesse chamando a minha atenção há horas. – Você pode atender a porta?
- Ah, sim. – A campainha estava tocando?
Só fui escutar quando me levantei. Eu tinha ficado tão distraída com os biscoitos que não escutei nada ao meu redor. Limpei as mãos na minha calça e arrumei o gorro em minha cabeça. Quem quer que fosse teria a impressão que entrara na fábrica do Papai Noel. Ri sozinha dos meus próprios pensamentos e girei a chave na fechadura, destrancando a porta e abrindo-a. Tive uma surpresa muito grande ao ver meu pai, Rachel e Lux parados na varanda. Meus olhos demoraram mais na minha pequena, pois ela tinha um gorrinho igual ao meu e um casaco de oncinha que a protegia do frio. Não era uma combinação muito boa, mas ela não deixava de estar linda.
- Que surpresa! – Me atirei nos braços do meu pai, recebendo um abraço bem apertado. – Feliz natal, daddy!
- Feliz natal, filha! – Beijou a minha cabeça e acariciou meus cabelos. – Trouxemos alguns presentes pra colocar embaixo da sua árvore.
- Podem entrar! Ainda estamos arrumando tudo. – Assim que separamos o abraço, dei espaço para que meu pai entrasse e em seguida abracei a minha madrasta. – Feliz natal, Rach.
- Feliz natal, . – Me abraçou de volta e também entrou. – Que cheiro bom é esse?
- Deve ser o peru! Harry passou a manhã inteira temperando-o. – Sorri e olhei para quem ainda faltava cumprimentar. – Oh, meu Deus... O papai Noel esqueceu uma de suas ajudantes aqui?
- Sou eu, ... – Lux tirou o gorro da cabeça e eu fingi estar surpresa.
- Luxy, é você? Eu quase não a reconheci. – Me abaixei até ficar da altura da pequena e puxá-la para um abraço. – Eu já falei que você está muito grande?
- Da sua altura? – Colocou a mãozinha na testa e depois na minha, como se estivesse nos medindo.
- Está quase da minha altura! – Beijei a sua bochecha gordinha e me levantei para que pudéssemos entrar.
- Eu escutei a voz da minha Lux? – Harry saía da sala de jantar procurando a menor.
- Hally! – Lux soltou a minha mão e correu ao encontro do menino. Ela parecia mais em feliz em vê-lo do que à sua própria irmã.
- Às vezes eu acho que ela gosta mais de você do que de mim. – Cruzei os braços com um bico, mas ninguém me deu importância.
- Achou certo, não é Lux? – Harry a colocou nos braços e a pequena afirmou que sim com a cabeça, mas eu sabia que ela concordaria com qualquer coisa que “Hally” falasse.
Deixei os dois brincando na sala de jantar; enquanto Harry mostrava a casinha de gengibre e a menina fingia ser um dos biscoitos. Preferi ignorar meu ciúme e ir até o outro cômodo. Cheguei a tempo de ver meu pai abraçando Louis e lhe desejando um feliz aniversário. Rachel estava de pé perto da árvore de natal e colocava dois presentes em cima de outros. Pelo que entendi quando Liam passou por mim, ele estava indo buscar algo no carro, então fiquei sozinha com a minha família na sala.
- Vocês não querem ficar para a nossa ceia? – Me sentei no braço do sofá e coloquei os pés pra cima.
- Adoraríamos, , mas já prometemos que passaríamos o natal com os meus pais. – Rach se sentou ao meu lado. – Vamos ver a vovó Valerie, não é, Lux?
- Nany! – A pequenina entrou correndo na sala com Harry ao seu encalço.
- E a viagem até Brighton é um pouco longa. – Meu pai respondeu e pegou Lux no colo. – Vovô construiu uma casinha pra ela.
- Que divertido! Quero uma foto, ok?
- Nós mandaremos várias fotos quando chegarmos lá, . – Rachel tocou a minha perna e se levantou. – É melhor irmos...
- Mas já? Vocês mal chegaram! – Também me levantei e fui até meu pai e Lux, abraçando os dois ao mesmo tempo. – Fiquem mais um pouco.
- Não podemos ficar... – Papai beijou a minha testa e tinha quase um pedido de desculpas na sua voz. – Só viemos deixar o seu presente. Aliás, tenho certeza que você vai amar!
- Tudo bem, tudo bem. – Os soltei e dei de ombros. – Eu entendo... Então levem os presentes de vocês também.
- Nós temos presentes? – Rachel sorriu ao me ver andar até a árvore de natal.
- É claro que tem! – Peguei três caixas perfeitamente embrulhadas e entreguei para a mulher. – O cor de rosa é o da Lux e eu espero que ela goste!
- Presente! Dá... – Lux tentou pegar a caixa, mas meu pai a segurou com mais força, impedindo-a de se jogar nos braços da mãe.
- Só pode abrir amanhã... Ou então o papai Noel vai esconder todos os outros presentes e te colocar na lista de meninos maus. Você não quer isso, certo? – Segurei a mão da mais nova e dei um beijo.
- Não... – Senti que Lux não estava tão certa da sua resposta, mas teria que esperar.
Todos nos despedimos e Harry quis levar Lux até o carro. Ok, talvez eu entendesse o carinho que um nutria pelo outro. Ele era super carinhoso tratava Lux de igual pra igual. Ao mesmo tempo em que ela se sentia uma princesa perto dele, também sentia que ele era o seu príncipe e por isso o idolatrava. Meu ciúme poderia ser muito pior e eu entendia o lado dela. Se eu tivesse tido um Harry quando era mais nova, também reagiria da mesma forma. A pequena tinha sorte por ter tanta gente que babava por ela. Acabei acompanhando-os para o lado de fora e foi justamente nesse momento que meu pai ficou muito empolgado, conversando com Liam – que encontramos no caminho – e Louis sobre o surgimento da banda, concurso do X Factor e etc. Aí já viu, né? Todos ficaram mega animados e só o que me restou foi rir.
Rachel estava com a chave do carro, então o destrancou e abriu a porta de trás, onde pude ver a cadeirinha de criança instalada. Lux odiava aquela cadeirinha e eu percebi isso quando ela resmungou bastante ao ser colocada ali e quase não deixou a mãe atacar o sinto de segurança. Minha irmã mais nova podia ser um anjo de menina quando queria, mas era só fazer algo que a contrariasse que ela virava uma peste. Por sorte isso nunca aconteceu quando eu era a responsável por cuidar dela, então acabava ficando um pouco aliviada. Consegui acenar um beijo pra ela antes da porta ser fechada e em seguida Rach chamou meu pai para que fossem embora. A visita havia sido curta demais, mas eu os entendia. Ao menos pude entregar os presentes sem ter que dirigir até o apartamento deles.
- , olha o que eu achei... – Assim que o carro desapareceu e Louis e Harry entraram, Liam parou ao meu lado e me entregou um objeto.
- Meu celular! – Sorri ao segurar aquele objeto que nunca mais achei que veria. – Onde você o encontrou?! Achei que tivesse perdido...
- Estava no porta-malas do carro. Você deve ter deixado cair enquanto trocava de roupa. – Explicou e devia ter razão.
- Obrigada, Leeyum! – Destravei a tela, vendo o número gigante de chamadas não atendidas e mensagens. Senti um calafrio e preferi guardar o aparelho no bolso. Eu não estava pronta pra ler todas as mensagens preocupadas dos meus amigos quando eles achavam que eu havia desaparecido. Não ainda.
Eu sabia que alguém batia na porta do quarto, mas não de muita atenção. Provavelmente era querendo me apressar ou Louis dizendo que começariam a comer sem mim. O caso é que eu acabei me enrolando um pouco nos enfeites natalinos e com isso demorei para subir até o meu quarto e tomar banho. Quando deixei o primeiro andar, todos os três convidados haviam chegado e estavam super arrumados. Minha amiga usava um vestido verde super curto e os dois garotos que chegaram com ela não ficaram pra trás: Zayn ainda desafiava as leis da genética e parecia um modelo italiano com a camisa social preta e os dois últimos botões abertos. Niall estava com uma camisa de malha branca e uma jaqueta que parecia muito um blazer, então estava fino e charmoso. Tenho que comentar que algo me dizia que escolhera aquela roupa pra ele, mas enfim.
A única que demorou demais pra ficar pronta fora eu, mas resolvi esse problema em meia hora. Depois de um banho bem tomado, cabelo escovado e roupas vestidas, fiquei pronta para encantar meus convidados. Modéstia parte, é claro. Coloquei meu celular no bolso escondido na lateral do meu vestido e apaguei a luz do quarto. Assim que abri a porta, quem quer que fosse a pessoa que estivera me apressando minutos antes, já havia desistido e ido embora. Do corredor do segundo andar era possível escutar as conversas animadas dos meus amigos e não pude deixar de sorrir.
- We wish you a Merry Christmas... – Cantarolei ao descer as escadas, mas mantive a voz baixa para que ninguém me escutasse. – We wish you a Merry Christmas and a happy New Year...
- Olha quem resolveu nos dar o ar da sua graça. – Louis me encontrou no pé da escada e estendeu a mão como um verdadeiro cavalheiro. – Puis-je?
- Oui, s'il te plaît! – Segurei a sua mão e fiz uma meia reverência, segurando a barra do vestido. Me senti uma princesa ao ser escoltada até a sala.
- Já chegou falando francês! – Zayn estava sentado no sofá, na ponta mais próxima a mim, e sorria abobalhado. Às vezes eu esquecia o quanto ele gostava de me ouvir falar em outra língua, mesmo que não entendesse nada.
- Oh, mon amour! C'est bon de te voir! – Sorri e caminhei até ele para me sentar comportadamente em seu colo.
- Eu não sei o que você acabou de falar, mas concordo. – Riu e me abraçou pela cintura, beijando a minha bochecha.
- Ela disse que é bom te ver. – Louis traduziu e cortou todo o mistério que eu tentava fazer.
- Ennuyeux! – Rolei os olhos com aquele pequeno insulto e voltei a fitar o meu namorado, que ainda sorria. – Mas ele está certo.
- E você está linda. – Acariciou o meu joelho descoberto pelo vestido e senti um arrepio leve.
- Como sempre. – Joguei os cabelos por cima do ombro, convencida.
- Não fala mais com os velhos amigos? – Niall estava na outra ponta do sofá e me olhava com um bico. Eu já havia cumprimentado todos antes de subir para tomar banho, mas aparentemente tinha que fazer tudo de novo.
- Eu nem ti vi aí, Niall! – Ironizei com uma risada e dei um selinho em Zayn antes de me levantar para ir cumprimentar o loiro. – Só não espere que eu sente no seu colo.
- Por que não? – Fez-se de ofendido, mas levantou do sofá para me abraçar.
- Porque eu ouvi dizer que a sua namorada é ciumenta! – Deixei um beijo estalado na bochecha dele e depois olhei em volta. – Onde está ela, aliás?
- Acho que ela está na cozinha com o Harry. – Liam apontou o caminho.
- Ok, então eu já volto... – Acenei para os meninos que continuariam conversando ali na sala.
Ninguém me interrompeu, mesmo que o olhar de Zayn mostrasse que ele queria ficar comigo. Eu logo voltaria para os seus braços, mas primeiro precisava mostrar o meu modelito para , visto que ela era a única a entender de moda tanto quanto eu; ou quase isso. Passei pelo hall de entrada até chegar na sala de jantar. O cômodo estava simplesmente lindo! Eu podia ter me atrasado, mas com certeza valeu a pena. Uma toalha vermelha com detalhes em verde cobria a grande mesa de madeira e, sobre esta, vários pratos natalinos enchiam os olhos e estômago de quem quer que passasse por ali. Tínhamos peru, farofa com passas, arroz de lentilha, bolo de frutas secas, biscoitos de gengibre, batata assada, algumas saladas e frutas vermelhas. É, realmente tinha MUITA comida...
Peguei uma cereja na bandeja de frutas e a levei à boca antes de continuar o caminho até a cozinha. e Harry realmente estavam por ali e tentavam encontrar algo nos armários ao lado da geladeira. Terminei de mastigar a cereja e joguei o caroço no lixo antes de ir abraçar a minha digníssima amiga . Ela ainda estava com a consciência um pouco pesada desde o último sábado, então me tratava como um amor de pessoa. Eu até que gostava de não ser xingada com tanta freqüência, mas sentia falta da velha .
- Quando você fez compras sem mim? – Parou com as mãos na cintura, me olhando dos pés à cabeça após nos abraçarmos. – Eu me lembro muito bem de ter visto esse vestido na vitrine da Annabelle & Co.
- Na sexta feira passada! – Admiti. – Não esperava que eu fosse te convidar pra vir comigo comprar o seu presente de natal, certo?
- Na verdade esperava sim! – Fez bico, mas logo desarmou a cara emburrada. – De qualquer forma, o vestido fica melhor em você do que no manequim.
- Né? – Ri e dei uma voltinha, fazendo a saia do vestido rodopiar. – E o que vocês estão procurando?
- As taças de vinho. Pra tomar limonada... – Harry estava parado próximo a pia e acrescentou a última parte ao notar meu olhar reprovador. Eu andava meio cética com bebidas alcoólicas ultimamente.
- Elas estão aí em cima... – Fui até o menino e abri o armário. Quase que no mesmo instante, uma coisa verde (presa por um fio fino) caiu e ficou pendurada sob as nossas cabeças. – Ah, não...
- Olha quem está embaixo do visco do amor! – comemorou e eu escondi o rosto nas mãos.
- Ah, é... Louis escondeu um aqui. – Harry comentou, na maior lerdeza.
- E você não pensou em falar isso antes? – O encarei sem acreditar. – Tipo antes de nós dois estarmos embaixo dele?
- Já sabem as regras! – gargalhou, claramente se divertindo com tudo aquilo. – Estão parados embaixo de um visco, tem que beijar!
- Eu tenho mesmo que beijar o Harry? – Fiz uma careta. Seria quase como beijar Louis!
- Eeeeei, o que tem de tão ruim nisso? – Haz cruzou os braços e eu rolei os olhos.
- Nada! – Acabei rindo da minha falta de sorte. – Ok, vamos acabar logo com isso. E mantenha a sua língua dentro da boca!
- ! – Harry reclamou, me surpreendendo. – Não quero que o nosso primeiro beijo seja assim.
- Eu não acredito que estou ouvindo isso. – Pensei alto e o observei com certa curiosidade.
- Ai, como eu queria estar com a minha câmera aqui! – bateu palmas e eu senti vontade de bater nela.
Harry me segurou pelos ombros e eu dei um passo para trás inconscientemente. Ele me reprovou com os olhos e me fez encostar o corpo contra a bancada ao nosso lado. Ok, aquela situação começava a ficar séria demais para o meu gosto. Eu só torcia pra que Zayn não entrasse ali do nada e entendesse tudo errado. Afastei esses pensamentos com um balanço de cabeça. Na verdade, afastei qualquer tipo de pensamento, pois era o certo a se fazer naquele momento. Respirei fundo, aceitando o meu destino. Beijar Harry não poderia ser tão ruim assim, certo? Ele era bonito e tal. Mas ainda era o meu Hazza. Fui tirada de meus pensamentos assim que o menino segurou as minhas mãos e me fez apoiá-las em sua nuca. “Ele vai fazer tudo? Ok.” Contra todos os meus instintos, olhei pra cima, encontrando os olhos verdes do garoto com os meus azulados.
O de cabelos cacheados parecia querer prolongar aquele momento mais que o necessário e isso me deixou um tanto impaciente. Deslizou as mãos pela lateral do meu corpo até segurar a minha cintura com delicadeza e passou o nariz pelo meu. Fechei os olhos no mesmo instante e fiquei parada. Talvez justamente pela minha falta de atitude é que Harry demorou para encostar nossos lábios, me instigando à procurar os dele com os meus. O contato logo veio e me surpreendi ao notar que os lábios do menino eram mais macios do que eu jamais imaginara. Não cheguei a sentir calafrios como no beijo de Liam e muito menos aquele choque elétrico que Zayn dava ao me beijar, mas ainda foi... Bom. Notei que estava prendendo a respiração, então acabei suspirando devagar no rosto de Harry para não ficar sem ar. Com isso, ele acabou aproximando o corpo ainda mais do meu até que separamos os rostos por fim. Não havia sido um beijo de cinema e nós só trocamos o mínimo de saliva possível, porém tive certeza de que estava com as bochechas vermelhas.
- Ficou quente aqui, né? – não ria mais e até se abanava com um prato de vidro.
- Foi tão ruim assim? – Harry deu um passo para trás, mas não antes de colocar uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
- Ahn... – Esqueci como se fala por um instante e limpei a garganta, me recompondo. – Poderia ter sido pior!
- Até perdeu a fala! – voltou a rir e eu a fuzilei com os olhos.
- Acho melhor voltarmos para a sala, né? – Me afastei de Harry antes que mais algum visco milagrosamente caísse sobre nós e puxei a minha amiga pelo pulso.
- Já estou indo, não precisa arrancar o meu braço fora! – Apressou o passo para poder me seguir, mas me fez diminuir a velocidade ao soltar um cochicho nada discreto: - Até agora você já beijou três de cinco. Quem será o próximo?
- ! Isso é coisa que se fale? – A repreendi, mas resolvi entrar na brincadeira. – É claro que eu não vou beijar o meu irmão, então só sobra um...
- É verdade. – Sorriu marota, demorando demais pra perceber a quem eu me referia. – Espera aí!
- Nialler, meu bem, cadê você? – A deixei para trás e corri até a sala.
- Estou aqui, ... – O irlandês continuava no mesmo lugar no sofá, sorrindo como se não estivesse sabendo de nada.
- Bem quem eu estava procurando! – Passei direto por Zayn, que arqueou as sobrancelhas, e me joguei no sofá entre ele e Ni.
- Zayn, segura a sua namorada! – entrou como um furacão, tentando se equilibrar sobre os saltos. – Pudincup, sai daí agora!
- O que está acontecendo? – Zayn obedeceu a ruiva e me puxou para perto de si; coisa que não me incomodou nada.
- Harry, porque você está com um batom cor de rosa na boca? – Liam foi quem notou a prova do crime no momento em que Harry pôs os pés na sala.
- ? – Louis devia saber bem o que tinha acontecido e, quando me chamou, fez todos os outros olharem pra mim.
- Não perguntem. – Levei uma mão à testa, me escondendo. Ao menos todos pareceram deixar aquele assunto passar.
- E onde estão os copos que você foi buscar? – Li mais uma vez falou com Harry e mais uma vez todos olharam pra mim.
- Está investigando um caso, Sherlock? – Rebati para Liam, que se calou.
- Tudo bem, eu vou buscar. – Meu irmão deu de ombros e se levantou.
Como Liam acabou seguindo-o, resolveu ir atrás. Algo me dizia que o meu beijo e de Harry não seria o único que a animaria de assistir. Eu só torcia para que Louis tivesse esquecido de onde escondeu os viscos e caísse na própria armadilha; com Liam. Haz se sentou ao lado de Niall, começando um assunto que eu não me importei em escutar. Olhei para Zayn ao meu lado e o menino sorriu. Ele ainda segurava o meu braço como se eu fosse fugir e isso me fez rir. Acabei me soltando dele para poder passar o braço em volta de seus ombros. O moreno descansou a cabeça ali e ficou me observando. Mais uma vez senti as bochechas esquentarem, porque eu simplesmente não conseguia me acostumar com aqueles olhares.
- O que você vai fazer no Ano Novo? – Quebrou o silêncio com aquela pergunta que me pegou desprevenida.
- Não sei... Não tinha parado pra pensar nisso. – Até aquele momento eu só tinha me preocupado com a festa de natal, pra ser bem sincera. – Por que?
- Minha família tem um chalé em Wiltshire, que ninguém vai estar usando... – Algo que dizia que eu já sabia onde ele queria chegar, mas Zayn estava tão fofo ao falar meio tímido que eu o deixaria terminar. – Então eu estive pensando... Você não gostaria de ir até lá comigo?
- Está me convidando pra viajar com você, Malik? – Sorri divertida, indo direto ao ponto. – Só nós dois?
- Estou. Não é uma cidade muito grande, mas é bem bonita. – Aproximou o rosto do meu pescoço e deixou um beijo ali. – Não vou prestar atenção em nada além da companhia mesmo. E é um problema irmos sozinhos?
- Muito pelo contrário. – Mordi o lábio inferior. Me imaginar em uma casa sozinha com Zayn durante alguns dias era bom demais pra ser verdade. – Eu adoraria viajar com você.
- Podemos ir no dia 30 e voltar no dia primeiro, por causa do resultado do X Factor. – Sorriu, animando-se com nossos planos de viagem.
- Perfeito! – Entrelacei nossos dedos. – Por falar nisso... Está ansioso?
- Pra viajar com você? É claro que sim. Eu já estava pensando em te levar lá há algum tempo, mas não sabia se seria cedo demais...
- Não, Zayn! Não é disso que eu estou falando. – Uma risada escapou por entre meus lábios. – Quero saber se você está ansioso com o resultado...
- Estou mais nervoso que ansioso... – Sua mão que estava entrelaçada à minha ficou fria de repente.
- Eu também estou! – Fiz carinho em sua palma com o polegar. – Mas tenho certeza que vocês vão ganhar. Sabe a conta do Twitter que vocês criaram para a banda?
- Sei... O que tem? – Voltou a descansar o rosto no meu braço. – Niall me disse que a é quem posta a maioria das coisas.
- Nós revezamos! – Me defendi. – Geralmente postamos fotos de vocês, ou contamos as últimas novidades... Também desejamos feliz natal e essas coisas que agradam o eleitorado. O Liam adora fazer twittcams, aliás.
- Ah, é... Eu assisti à última. – Riu de forma gostosa como se soubesse de algo que eu não. – Ele fez um tour pela casa e até mostrou o seu quarto!
- Ele fez o que? – Arregalei os olhos, mas tratei de me concentrar no que era realmente importante. – Enfim! Vocês já tem muitos seguidores sabia? E pelo que eu vi... Seus fãs são bem leais.
- Como diz a música... Vamos esperar o pior, mas torcer pelo melhor. – Aquela foi a deixa para deixar o assunto de lado e eu respeitei. Zayn se aproximou com um sorriso travesso. – Por que não fazemos algo mais interessante?
- Algo mais interessante, é? Acho que sei exatamente o que você quer dizer... – Também me aproximei, mas não o beijei como queria. Apenas fiquei brincando e roçando nossos lábios de vez em quando. – Vamos dançar!
- Vamos... Ahn? – Zayn pareceu muito confuso ao me ver levantar do sofá e ir em direção à estante da sala. – Não era bem isso o que eu tinha em mente, babe.
- É claro que era! – Ri divertida e liguei a TV e o aparelho de DVD onde eu já tinha posto um CD de músicas natalinas preparado pra tocar. – Pode levantar!
Mesmo com o meu pedido, Zayn não se mexeu. Era como se ele estivesse chateado por eu ter negado alguns beijos. Assim que Jinlge Bell Rock – por mais clichê que fosse – começou a tocar, eu me virei na direção do menino no sofá e comecei a andarem sua direção no ritmo da música. Eu o chamava com o dedo indicador e sorria encantadoramente. Sem conseguir resistir por muito tempo, Zayn riu dos passos que eu usava para convencê-lo a se juntar a mim e bagunçou os cabelos. Niall e Harry também olhavam para nós dois e se o meu namorado não aceitasse o meu convite logo, eu puxaria um deles. Zayn pareceu perceber isso, então acabou levantando em um impulso e segurou a minha mão esquerda com a sua direita e segurou a minha cintura com a livre. Aquela música não era ideal para se dançar valsa, mas eu não iria reclamar. Ele estava dançando comigo e era o que importava.
Começamos a girar pela sala e eu agradeci por ter lembrado de tirar a mesinha de centro dali, caso contrário iríamos acabar batendo nela. A única coisa que nos apresentava um pouco de perigo era a árvore de natal que piscava com suas luzes coloridas. Em um daqueles passos mais divertidos, Zayn me girou e meus saltos deslizaram na madeira do chão. Gargalhei um tanto alto, divertida, e me apoiei nos ombros do outro para recuperar o equilíbrio. Ele também ria e começamos a tentar outros movimentos. Pra mim era fácil, claro, mas Zayn tinha um pouco de dificuldade em me acompanhar, o que acabava me fazendo rir mais ainda. O ensinei a fazer alguns movimentos com os pés, indo para trás quando eu ia pra frente e vice versa, mas só o que me rendeu foram alguns pisões e tropeços. Ele realmente estava no curso certo, porque dança não seria um bom caminho.
Entrando na onda musical, Niall e Harry também levantaram e começaram a dançar um com o outro. Não sei o que era mais engraçado: Os dois querendo decidir quem seria o homem e quem seria a mulher, ou Zayn mexendo o quadril de um lado para o outro. Ok, pensando melhor... O primeiro era engraçado e o segundo era sexy. Muito sexy. Se o último continuasse daquele jeito, eu acabaria subindo para o segundo andar e esqueceria completamente da festa no andar de baixo. Poderia até não ser tão ruim assim... “Concentre-se, !” Briguei comigo mesma e puxei Zayn pelos ombros para que pudéssemos dançar mais juntos. Não era uma música lenta, mas fomos embalados um pelo corpo do outro. Nos olhamos, nos sentimos. Acima de tudo, ignoramos os dois palhaços ao nosso lado.
- O jantar está quente, pessoal! – apareceu na entrada da sala e nos chamou para ir comer.
- Nãããão! – Abracei Zayn com mais força, sem querer sair dali. Eu estava curtindo tanto que não queria parar. – Só mais cinco minutinhos, mummy!
- Eu quero provar os seus brownies, babe. – Zayn beijou o meu ombro e usou aquela desculpa, mas eu sabia que ele só estava tentando escapar.
- Vamos comer, ... – Harry segurou o meu braço, provavelmente querendo ajudar o amigo e banda a fugir.
- O que é isso?! Um complô contra mim? – Terminei me dando por vencida e fui me juntar a minha amiga na saída.
- Você nunca vai adivinhar o que aconteceu! – Sussurrou pra mim assim que estávamos em uma distância segura os outros.
- Lou e Liam? – Perguntei com o cenho franzido e a risadinha que ela deu em seguida confirmou tudo que eu precisava saber.
- Eu acho uma ótima idéia fazer o casamento no verão, mãe! – Sorri sozinha me mexendo na cama pela milésima vez. – Porque vocês não fazem a cerimônia naquela capela onde o papá e a nana se casaram?
- Dan e eu discutimos isso, mas como não é o primeiro casamento de nenhum de nós, preferimos escolher um lugar mais... Casual. – Minha mãe respondeu do outro lado da linha. Ela parecia tão... Alegre. – Mas não se preocupe, , ainda usarei um vestido longo e branco.
- Ainda bem que você falou isso! Eu já estava quase tendo um ataque do coração aqui. – Ri, trocando o celular de orelha. – Também tenho sonhado com o vestido que eu vou usar!
- Tenho certeza que vamos encontrar o vestido mais lindo pra você, filha. – Jay suspirou tão profundamente que eu me questionei se ela estava imaginando o meu próprio vestido de noiva. – Bem, eu vou passar o telefone para a sua avó e depois Dan quer falar com você, tudo bem?
- Claro que sim, mum. E mande lembranças à sua sogra por mim! – Ri mais uma vez ao lembrar que era na casa da família do noivo que minha mãe estava passando o feriado. – E feliz natal!
- Mãe, é a ! – Escutei-a gritar para alguém de lá e esperei pacientemente. – Feliz natal, querida. Eu te amo muito.
- , é você? – A voz macia de minha avó Jolene logo encheu meus ouvidos e eu sorri como uma criança.
- Nana, que saudade! – Era tão bom ouvir a voz dela... – Como está tudo por aí?
- Eu havia me esquecido como o natal sem seu avô é chato. – Nana suspirou, mas não me pareceu triste. Até mesmo arriscou uma risadinha. – E essa casa é uma bagunça completa que eu acabo ficando distraída.
- Acho que estou percebendo isso! São gritos que eu estou escutando?
- Oh, sim... Phoebe e Daisy ganharam um pula pula de presente de natal e não descem dele por hipótese alguma! – Imaginei a minha avó sentada em uma cadeira de balanço enquanto observava suas novas “netas adotivas” brincando. – As meninas são adoráveis. Não como você, é claro, mas vão se dar bem.
- Tenho certeza que sim, nana. – Não tinha não.
- Mas me conte... Sua mãe me disse que você está dando a sua própria festa de natal? – Sua voz tinha aquele tom de “você está crescendo tão rápido.”
- É verdade! Mas é só para amigos. Nós acabamos de comer e eu os deixei lavando os pratos pra vir aqui e ligar pra vocês! – Ri da minha própria preguiça.
- Sempre arrumando um jeito de escapar das tarefas domésticas! – Ela também riu de forma gostosa. – Certas coisas nunca mudam! E o jovem Zayn? Como ele está?
- Ele está... Bem! – Me impedir de responder com “perfeito”. – Aliás, ele me pediu pra te desejar um feliz natal e disse que está com saudades da sua comida.
- Ora, mas isso é muito bom de se ouvir! Fale pra ele vir me visitar e eu farei questão de recebê-lo com um banquete!
- Assim você vai engordar o meu namorado! – Ao falar aquilo acabei pensando no corpo perfeito e definido de Zayn. “Abortar! Abortar!” – Quem sabe qualquer dia desses não aparecemos por aí?
- Eu vou adorar! – Disse e eu sabia que era verdade. Ninguém ficaria mais feliz com uma visita surpresa do que nana. – Tenho que ir agora, meu bem, mas nos falamos logo. Eu prometo. Dan está me rondando como um tubarão! Acho que ele quer mesmo falar com você.
- Tudo bem, nana, até depois. Se cuide, sim? Eu te amo tanto... – Me despedi, torcendo para não demorar muito pra falar com ela novamente.
- Alou, ? Aqui é o Dan! – Aquela forma de atender ligações dele nunca perdia a graça.
- Oi, Dan! Feliz natal! – Ri, mas tendei não deixar muito na cara que ele era o motivo da graça.
- Não vou tomar muito do seu tempo, ok? Meu Deus, como as mulheres da sua família falam! – Foi a vez dele de rir. – De qualquer forma, eu e a sua mãe gostaríamos de te fazer um pedido. Um pedido de coração mesmo.
- Ahn, pode falar, eu estou escutando... – Parecia sério, então era melhor eu prestar atenção.
- Nós gostaríamos muito que você fosse a nossa madrinha de casamento! Também vamos falar com o seu irmão para que ele seja o padrinho, mas preferimos falar com você primeiro. Então, o que me diz?
- Uau, Dan... Eu sinceramente não sei nem o que falar... – Aquele convite me pegou de surpresa. – É claro que eu aceito! Como não aceitaria?
- Então é oficial! Jay, querida, ela aceitou! – A última frase não foi pra mim, então eu só esperei que ele falasse com a minha mãe. – Nos falamos em breve! Feliz natal, .
- Feliz natal, Dan!
Ainda rindo, desliguei a chamada e fitei o nada. Seria divertido ter Dan na família. Preciso dizer que minha mãe tinha um ótimo gosto para homens; primeiro meu pai e agora Dan. “Esse casamento vai ser divertido.” Pensei sozinha e guardei o celular no bolso. Me virei na direção da porta e calcei mais uma vez os sapatos que tinha tirado ao sentar na cama. Saí do quarto e encontrei Niall no corredor, que parecia muito animado com alguma coisa. Ou ele estava procurando o banheiro, ou queria me contar algo.
- O que houve, Ni? – Perguntei curiosa.
- Está nevando, ! Vai ver, vai ver! Lá fora! – Niall só faltou ar cambalhotas de felicidade e apontou escada abaixo.
Nevando? Como poderia ser? Eu teria mesmo um natal branco como nos filmes? Não fiquei ali parada esperando obter respostas. Sem nem me preocupar em estar usando sapatos de salto, corri para o primeiro andar e encontrei a porta aberta. Na minha passagem para fora da casa, não encontrei ninguém do lado de dentro, o que indicava que todos foram ver a neve. Eu não estava com casaco algum, mas mal me importava. Só o que eu queria era ver o meu maior desejo para aquele natal se realizar. Passei correndo pela varanda e desci os degraus, olhando por todos os lados e procurando a tal neve.
Quando eu me preparava pra brigar com Niall por ele ter me enganado, senti pequenas bolinhas brancas caindo sobe o meu cabelo e meus braços. Logo as bolinhas foram aumentando de quantidade, caindo sempre mais e mais. Sorri e abri as mãos em forma de concha pra pegar alguns flocos de neve e foi então que eu percebi... Aquilo não era neve de verdade. Eram daquelas bolinhas de isopor. Além disso, era só em mim que elas estavam caindo, pois os outros meninos, que me olhavam com sorrisos cúmplices, estavam limpos. Sem saber muito o que estava acontecendo, olhei para cima do telhado da varanda, de onde as bolinhas estavam caindo. Tive uma surpresa ao ver Zayn sentado ali em cima, com um saco de bolinhas de isopor nas mãos, continuando a derrubá-las em cima de mim.
- O que é isso?! – Ri com os braços abertos, deixando a neve falsa encher o meu cabelo e roupa.
- Você disse que queria neve! – Ele respondeu. – Esse foi o único jeito que eu consegui fazer nevar.
- Você é louco, Malik! – Girei com os braços ainda abertos, aproveitando a minha surpresa. – Mas eu amei!
- A tem o melhor namorado do mundo. – falou atrás de mim.
- Ei, eu estou bem aqui, sabia? – Niall reclamou.
- Tenho mesmo! – Parei de girar antes que ficasse tonta e pedi para Zayn descer com um aceno. – Baby, vem aqui pra que eu possa te agradecer direito!
- Chamando assim, eu vou agora! – Primeiro jogou o saco vazio e depois pulou do telhado. Sim, pulou do telhado.
- Malik, você vai se machucar! – Tapei os olhos para não ver a queda e só voltei a abri-los quando duas mãos grandes seguraram a minha cintura.
- Feliz natal, Anjo. – A minha preocupação foi embora ao vê-lo são e salvo.
Meu pobre coração já não agüentava mais tantas emoções assim, então o melhor a se fazer foi puxá-lo para um beijo. Envolvi Zayn pelo pescoço e juntei nossos lábios de uma vez, até com um pouco de violência. No começo doeu um pouco, mas nenhum de nós pareceu se importar. Eu só precisava ter a boca dele perfeitamente encaixada à minha. Não demoramos para encontrar o nosso ritmo e aproveitar aquele enlace. estava completamente certa ao dizer que eu tinha o melhor namorado do mundo, porque era verdade. Que outro cara realmente escuta o que a namorada fala e faz absolutamente de tudo para atender até os seus desejos mais impossíveis? Fazer nevar seria realmente impossível, mas Zayn se esforçou pra dar um jeito de trazer a sensação de estar nevando.
- Feliz natal... – Respondi assim que nos separamos.
- Agora podemos mostrar a última parte da surpresa? – A voz de Louis me vez olhar em volta.
Não sei por quanto tempo fiquei de olhos fechados nos braços de Zayn, mas foi o suficiente para que acendessem algumas velas e a espalhassem pelo gramado. Agora que a “fila de pessoas” no meio do jardim havia se desfeito, eu pude ver o que eles escondiam: Não chegava a ser uma fogueira, mas uma churrasqueira redonda estava acesa e sem a grelha de cima, o que quebrava um galho danado. O fogo era baixo, mas ainda seria o suficiente para esquentar sete pessoas. Ao redor dessa churrasqueira estavam alguns cobertores forrados na grama para que nos sentássemos e outros dobrados para nos enrolar. Também ganhamos coroas de papel; uma tradição inglesa que eu adorava. Queria uma vermelha para combinar com o meu vestido, mas acabei ficando com uma azul para combinar com os meus olhos.
- Isso é lindo! – Sorri. Quantas vezes mais eu seria surpreendida naquela noite?
- Essa parte foi idéia do Liam. – Zayn apontou para o garoto que sorria tímido.
- Não chega a ser uma lareira, mas... – Balançou os ombros e eu sabia exatamente o que ele queria dizer.
- É perfeito, Li. – Suspirei. – Muito obrigada.
- Podemos começar com isso logo antes que eu comece a chorar? – segurou a minha mão com carinho e me guiou até uma parte do lençol.
- Começar com o que? – Me acomodei ao lado de e Zayn ocupou o outro lado.
- Louis teve uma idéia... – Harry explicou e se sentou ao lado de Zayn, seguido por Liam, Louis e por último Niall. Formamos um círculo em volta do fogo e cada um se cobriu com um lençol ou manta.
- Não me diga que vamos ter que cortar um pedaço do nosso cabelo e jogar no fogo... – Brinquei.
- Não mesmo! – Zayn colocou a mão na cabeça, protegendo o seu topete.
- O meu acabou de crescer de novo! – Liam choramingou.
- Vão me deixar falar ou não? – Louis bufou quase impacientemente. Assim que todos olharam para ele, pode começar a explicar a sua idéia. – O natal é um momento de estar com quem se ama, de pensar nesse ano que já está acabando e no próximo que vai começar em alguns dias. Então eu pensei que talvez cada um pudesse falar um pouco sobre o que se é grato e sobre o que gostou nesse ano.
- É uma ótima idéia, Lou! – Niall riu. – É como se fosse um discurso do dia de ação de graças.
- Como não temos um dia de ação de graças aqui e muito menos na Irlanda, fique quieto e deixe o menino falar! – brigou com o namorado, mas ele só a agarrou e roubou um beijo.
- Seguindo em frente... – Lou rolou os olhos. – Quem quer começar?
- Eu posso começar. – Levantei a mão ao ver que ninguém mais se voluntariaria. – Eu quero falar com cada um de vocês individualmente, tá? Porque sinto que há coisas que devem ser ditas antes que seja tarde demais.
- Já vi que vai ser bom! – Harry esquentou as mãos no fogo e se preparou para escutar o que eu tinha pra falar.
- Ok, vamos lá... – Respirei fundo para começar o meu discurso. Dei um meio sorriso e olhei para Louis. – Vou começar por você! Lou, meu irmão... Você é tão mais que isso. Nós sempre fomos muito próximos, mas acho que vamos ter que concordar que nos tornamos bem mais próximos depois que viemos pra cá. Eu sinto que você encara o papel de homem da família e que toma conta de mim da melhor forma que encontra... Mas podemos dizer que nós dois cuidamos um do outro, né? Porque às vezes eu é que pareço a irmã mais velha e você a criança da casa. Deus, eu nem posso acreditar que você está fazendo vinte e um anos! Você não sabe disso e eu provavelmente não vou ter coragem de repetir em voz alta nunca mais, mas eu te admiro desde que me entendo por gente. Você sempre foi o meu ídolo, se por assim dizer. Lou, era em você que eu me espelhava... Era com você que eu queria me parecer ao crescer. Sei que nunca vou chegar aos seus pés, mas já me sinto muito feliz em ainda te ter tão perto assim. Nós tivemos as nossas brigas enquanto crescíamos e isso é normal! O importante é que nunca nos perdemos. Eu só queria que você visse o quanto é bom e o quanto tem um coração maior que o mundo. Eu tenho muito orgulho de poder dizer que sou sua irmã, Boo bear. E por isso eu te amo.
“Harry... Meu cupcake de morango com cereja e granulado! Só eu sei o quanto é bom te ver todos os dias e ter a certeza de que não precisarei te dizer adeus mais uma vez quando as férias acabarem. Você é o meu melhor amigo desde que eu consigo me lembrar. Já fazem o que? Sete anos? Oito? Parece muito mais que isso. Você me entende, me aceita e se parece comigo de tantas formas que eu não consigo nem colocar em palavras! Nós passamos por uns maus bocados, né? O divorcio dos seus pais e dos meus... Nós nos apoiamos em todos os momentos importantes. Hazza, quando nós nos conhecemos não existia celular, twitter, facebook, email e nenhuma dessas redes sociais. Muitas vezes nós dois passávamos seis meses sem sequer trocar um oi, porque a ligação de um país para o outro era muito cara. Mas nós dois achamos um jeito de driblar essa distancia e continuamos amigos apesar de tudo. Eu sempre sabia que, ao chegar aqui pra passar as férias na casa do meu pai, você estaria me esperando. E era como se eu nunca tivesse partido. Eu sei que sou muito sortuda por ter alguém como você na minha vida e, pode ter certeza, eu não vou te deixar ir a lugar algum! Eu sou eternamente grata pela sua presença na minha vida, Harry. E eu te amo.
“Liam. Eu me lembro na primeira noite que passei nessa casa... Parando pra pensar agora, parece que faz tanto tempo, né? Naquela noite eu não consegui dormir e resolvi descer pra fazer um chá ou me distrair e te encontrei na sala, também sem sono. Lembra? E nós conversamos por horas e horas como se fossemos velhos conhecidos! Naquele primeiro momento eu já pude sentir o quanto você era diferente de qualquer um. Você se abriu pra mim e me deu a confiança que eu também precisava pra me abrir. Nós dois nos conectamos com um estalo de dedos e eu não posso nem começar a agradecer por você ter me deixado entrar na sua vida... Uma garotinha com problemas de fazer amigos até conversar com um garoto sem me sentir insegura. Acho que foi o seu jeito tão seguro de si mesmo e sem se importar com a opinião dos outros que mais me chamou a atenção naquele primeiro momento. Você é um garoto maravilhoso e obrigada por dividir isso comigo. Nós dois temos algo que ninguém dessa roda seria capaz de entender e eu sei que você entende. Eu te amo, Leeyum. Do fundo do meu coração.
“Meu irlandês preferido, Niall! Você é tão precioso, Ni. É tão difícil encontrar alguém como você no mundo de hoje. Porque o seu coração é puro como de uma criança e eu falo isso da melhor maneira possível. Você é generoso, é altruísta e sempre coloca a felicidade dos outros na frente da sua. Ver os seus amigos bem é a coisa mais importante do mundo pra você e eu admiro isso. Também admiro a forma como você é capaz de qualquer coisa pra ajudar qualquer um que esteja precisando. Eu sou muito grata por ter a luz que você leva por onde quer que passe. Seu sorriso contagia qualquer um e eu sei que o mundo vai ver isso também. Basta dar uma chance. Eu te amo, pequeno duende.
“Abi, por favor não chore! Eu não sei nem por onde começar, porque se não fosse por você, eu tenho certeza que não seria metade das coisas que sou hoje. Primeiramente, você me trouxe duas pessoas maravilhosas que eu nunca poderia ter conhecido se não fosse pela sua influência. Obrigada pelos conselhos de irmã, pelos abraços e pelo apoio. Obrigada pelas ligações de madrugada quando eu não conseguia dormir. Você me mostrou que não tem problema me sentir confusa às vezes, que é normal ter dias que a gente se sente mal. Você me ensinou a me aceitar e a ver que eu posso ser forte, que eu consigo vencer desafios e, principalmente, que você sempre vai estar ao meu lado ao enfrentar os meus monstros. É a minha garota, a minha melhor amiga. Foi com esse jeitinho elétrico e fora do normal que você me conquistou desde o primeiro dia. Obrigada por tudo. Eu te amo, ruivinha.
“O último, mas não menos importante... Zayn. Ou Malik, como eu gosto de chamar. Acho que nós dois já passamos por todos os tipos de situações, né? Situações de felicidade, de surpresa... Mas as que mais marcam são aquelas de dor. Quando eu simplesmente não sei se poderia ter superado se você não estivesse ao meu lado. Porque eu sei que posso cair e me quebrar em pedaços, mas você sempre vai estar lá pra juntar todas as partes quantas vezes for preciso. Ao seu lado eu não tenho medo de ser quem eu sou por dentro, ou de mostrar os meus defeitos. Eu não me importo em te mostrar meu lado ruim, ou de te contar os meus medos e sonhos mais loucos. Zayn, antes de você entrar na minha vida eu duvidava que fosse capaz de me abrir dessa forma pra algum garoto. Você me mostrou o que é o amor, por mais bobo e ridículo que isso soe, mas é verdade! Isso que eu sinto por você é grande demais pra sequer tentar explicar. Você me consome, me sufoca. E ao mesmo tempo é o meu ar, meu alivio. Você é tudo, Zayn. Se doa por inteiro sem esperar nada em troca. Não posso prometer que farei todos os seus problemas sumirem, mas prometo que você não precisará enfrentá-los sozinhos. Eu não poderia ser mais grata por alguém do que eu sou por você. Quando nos conhecemos, eu tentei fugir de todas as formas. Tentei me afastar, tentei ignorar isso que eu senti por você a partir da primeira vez que trocamos um olhar. Mas era mais forte que eu, né? Ainda é mais forte que eu. Eu tinha medo de você, mas agora eu só tenho medo de te perder. Eu te amo. Da melhor forma que eu sei, da melhor forma que eu posso.
Quando terminei todas as minhas declarações a minha boca estava seca, mas eu não me importei. Sequei algumas lágrimas que molhavam meu rosto e olhei em volta, sorrindo ao perceber que não era a única chorando. tinha o nariz vermelho e o punho da manga direita de Louis estava bem úmido. Harry sorria como se as minhas palavras tivessem batido no fundo de seu coração e ele agradecia por isso. Niall pareceu ainda mais iluminado e alegre, revezando o olhar entre o fogo e eu, ainda absorvendo as minhas palavras. Liam tinha o cotovelo apoiado na perna e a mão sobre os lábios, sem palavras. Zayn foi o último pra quem eu olhei, já sabendo que ficaria presa em sua expressão. Ele não tirara os olhos de mim por momento algum. Sua pele ganhou um tom mais avermelhado por conta da luz que emanava do fogo e o reflexo das chamas dançava em seus olhos amendoados. Zayn segurou uma de suas mãos com as suas duas e levou até os lábios, onde beijou cada articulação dos meus dedos; ação que queria dizer mais do que qualquer palavra. Eu sabia que o meu amor por ele era correspondido com a mesma intensidade. Não... Eu sentia.
- Como você espera que a gente consiga falar alguma coisa depois disso? – secou novas lágrimas e fungou.
Geralmente a hora mais chata é quando a festa acaba e todo mundo tem que ir embora. Mas naquele dia, ninguém iria pra casa – até porque, todos já estavam em casa. As comidas que sobraram estavam dentro da geladeira e a louça foi lavada e guardada nos devidos lugares. Já havia sido decidido que Niall, e Zayn dormiriam na minha casa para que todos pudessem abrir os presentes juntos na manhã de natal, e o que deu a maior confusão foi decidir em que quarto cada um dormiria. Claro que Zayn se ofereceu para dormir no meu e eu aceitei prontamente, mas a única ruiva do recinto quis porque quis ficar comigo, até mesmo rejeitando o quarto que Harry prontamente cedeu para ela e Niall. No fim das contas, ela acabou ficando no meu quarto mesmo e os meninos se dividiram: Zayn indo para o quarto de Liam e Niall indo dormir com Louis. Harry alegou que era injusto ele ficar sozinho, então acabou se convidando para ir para o quarto de Lou e Niall. Não sei como fariam caber todos ali dentro, mas não era problema meu.
Fui a primeira a tomar um banho sem molhar o cabelo e fiz a minha higiene para dormir. Vesti um pijama bem quentinho e joguei por cima de tudo o sweater vermelho que roubara das coisas de papá quando estive em Paris da última vez. Enquanto se arrumava, fui cuidar de umas últimas tradições natalinas. O lado de fora da casa já estava arrumado e a churrasqueira fora guardada, mas eu consegui roubar duas velas vermelhas que antes enfeitavam o jardim. Abri a porta de entrada devagar, sem querer chamar a atenção de ninguém, e fui até a “grade” de madeira da varanda. Apoiei as duas velas ali e tirei uma caixinha de fósforos do bolso. Antes que eu pudesse acender o primeiro, escutei uma voz atrás de mim.
- O que você está fazendo, ? – Zayn se aproximou devagar e eu notei que ele também vestia pijamas.
- Nada! – Respondi por impulso e depois ri. – Promete que não vai me achar boba?
- Você sabe que eu já acho isso. – Tocou as minhas costas e beijou a minha testa, me encorajando a contar. – Prometo.
- Em Paris temos essa tradição de acender velas na porta de casa, antes de dormir. E deixar que elas queimem até o outro dia. – Risquei o fósforo e acendi a primeira vela. – Não sei exatamente o motivo, mas eu acho bem bonito.
- Não é para o papai Noel, certo? – Arqueou uma sobrancelha.
- Claro que não! – Ri e cochichei as próximas palavras: - Pro papai Noel é o leite com biscoitos que está perto da árvore.
- Eu sabia que tinha sido você! – Riu jogando a cabeça pra trás e eu acabei rindo também.
- Quer parar de rir da minha cara? – O repreendi. – Eu deixo você acender a última vela.
- E eu posso fazer um pedido ou coisa parecida? – Sorriu e pegou a caixinha de fósforos da minha mão.
- Não é uma vela de aniversário, Malik! – Ri mais uma vez e o abracei pela cintura, me aninhando em seu corpo. – Além do mais, achei que você já tinha tudo que podia pedir.
- E tenho. – Deixou um selinho em meus lábios antes de finalmente acender a vela. - Minha primeira tradição francesa!
- Muito bem, baby! – Comemorei e deixei um beijo no seu maxilar, que era onde eu alcançava sem ele ter que se inclinar na minha direção. – Eu conheço outra tradição que você vai gostar muito.
- E qual é? – Me abraçou e ficamos nos olhando enquanto éramos iluminados apenas pelas duas velas.
- Carregar uma estrangeira pra cama! – Disse travessa.
- Acho que essa vai ser a minha tradição preferida! – E com isso ele passou um braço pela parte de trás dos meus joelhos e me pegou no colo, causando algumas risadas da minha parte.
- Weeee. – O envolvi pelo pescoço.
Zayn não apresentou dificuldade alguma ao entrar em casa e fechar a porta atrás de nós enquanto me carregava. Também não se importou em apagar todas as luzes do primeiro andar antes de seguir pelas escadas. Aquela festa de natal com certeza havia sido melhor do que eu poderia querer. Nós nos divertimos, cantamos canções natalinas à beira da fogueira, conversamos, comemos muito e rimos até ficar sem ar. Agora eu podia ficar ansiosa com o Ano Novo, pois algo me dizia que ele conseguiria ser ainda melhor que o natal. Entretanto... Ainda tinha o dia seguinte pra ficar animada. Eu tentava pensar em todos os presentes que poderia ganhar, mas não fazia idéia do que seriam. Cá entre nós? Estava mais curiosa pra saber o que ganharia de Zayn. Como ele tinha mania de me surpreender, eu sabia que não adiantava ficar especulando ou tentando adivinhar, pois nunca acertaria.
Chegamos ao andar de cima e a porta do meu quarto era a única que ainda se mantinha aberta. ainda devia estar no banheiro, por isso Zayn e eu teríamos mais alguns minutos a sós. Ele me colocou delicadamente na cama e eu sorri como agradecimento. Pensei em prolongar o beijo quando tive meus lábios pressionados pelos dele, mas abaríamos prolongando até demais e estava na hora de dormir! É óbvio que eu aproveitei bastante o gosto de pasta de dente de hortelã misturado com a minha de morango e também acariciei bastante os cabelos já bagunçados de Zayn.
- Boa noite, Anjo. – Beijou a minha testa e me cobriu com o edredom colorido.
- Não esqueça que vamos acordar bem cedo, tá? – Bocejei sentindo o sono chegar e puxei o meu ursinho da sorte (sim, o que Zayn me dera de presente). – Até amanhã, sweetie.
- Eu te amo... – Foram as últimas palavras dele antes de apagar a luz e fechar a porta.
Suspirei feliz da vida, apertando ainda mais o ursinho contra o meu peito. Como alguém tão perfeito quanto Zayn poderia existir? E mais importante... Como ele poderia ser meu?! De qualquer forma, fechei os olhos ainda com o sorriso brincando em meus lábios e deixei o sono se aproximar. Escutei um barulho de porta abrindo e fechando, sabendo que era saindo do banheiro. Soube que ela estava fazendo seu caminho para a minha cama, mas o grito que ela deu me assustou mais do que devia.
- Bloody hell! – Xingou. – Quem colocou o pé da cama aqui?
- Tudo bem aí? – Perguntei como uma boa amiga, mas comecei a rir descontroladamente ao imaginar a cena de batendo o pé na quina da cama e depois pulando em um pé só!
- Cala a boca, ! – Senti um peso no colchão ao meu lado e deduzi que ela estava se deitando.
- Não brigue comigo, porque foi você que inventou de dormir aqui!
- Um erro de que me arrependerei para o resto da vida.
Capítulo LV
A manhã chegou mais rápido do que eu imaginava. Por um lado isso me deixava feliz, porque era a hora de abrir os presentes! Mas por outro lado – bem maior que o primeiro – eu ainda estava morrendo de sono e desejava poder dormir mais. “Vamos acordar cedo amanhã”, eu falara. Disso sim era que eu me arrependeria eternamente. já havia levantado há quase dez minutos e acabava de liberar o banheiro pra mim. Tentando me fazer de morta, cobri o rosto com o travesseiro e fiquei bem parada. Por que a minha cama tinha que ficar tão confortável justamente quando eu deveria levantar?
- Ela ainda está assim? – Escutei alguém entrar no quarto, mas não me mexi. – Bom dia, minha ruiva.
- Bom dia, Nialler! – A menina respondeu ao namorado e se sentou no meu lado da cama, quase esmagando os meus pés. – Essa daí consegue ser pior que o namorado!
- Acredita que Zayn foi o primeiro a acordar? – Niall riu, despertando um pouco do meu interesse.
- Vocês poderiam ir conversar em outro cômodo, por favor? – Pedi devagar e com a voz embargada, tentando segurar o sono que queria escapar.
- A bela adormecida fala. – balançou as minhas pernas, me encorajando a acordar. – Levanta, ... Só falta você.
- Todo mundo já acordou? – Fiz um biquinho ao tirar o travesseiro do rosto, agradecendo por descobrir que Niall e ainda estavam de pijama. Ao menos assim eu não precisaria tomar banho ou trocar de roupa.
- Já estão todos lá na sala. – Niall se ajoelhou e encostou a cabeça na cama, sorrindo com aquela carinha fofa. – Te esperando pra começar a abrir os presentes.
- Não é justo eu fazer vocês esperarem... – Cocei os olhos e bocejei. – Tudo bem, vou levantar... Podem ir na frente que eu não demoro.
- Até parece que eu vou cair nessa! – puxou o resto do cobertor de cima de mim e começou a me sacudir novamente. – Você tem cinco minutos pra levantar essa bunda daí e ir ao banheiro.
- Para de me balançar! – Bufei. Nunca a ensinaram a não irritar uma pessoa que não é muito amigável pela manhã? – Estou indo, estou indo!
Antes que eu assassinasse a minha melhor amiga em plena manhã de natal, me arrastei para fora da cama e me tranquei no banheiro. Evitei olhar para e Niall, temendo o que os dois poderiam começar a fazer na minha cama assim que ficassem sozinhos no quarto. “Ok, ok, eu estou calma... Não estou estressada.” Repeti para mim mesma várias vezes na frente do espelho. “Só vamos escovar os dentes, lavar o rosto e descer pra descobrir todos os presentes lindos que você ganhou!” As palavras “presentes” e “ganhou” colocadas em uma mesma frase tinham um potencial mágico, pois já me senti mais alegre só de imaginar o que me aguardava na sala. Será que eu ganharia roupas? Perfumes? Filmes em DVD? Eu não fazia idéia! Na verdade, poderia ganhar até mesmo uma agenda telefônica ou um porta retratos que ficaria mais do que feliz.
Fiz a minha higiene básica e lavei o rosto com água fria, mandando todo o sono embora. Após escovar os dentes, amarrei os cabelos em um coque alto e meio bagunçado, porque eu não estava com paciência para arrumá-lo. Me olhando no espelho pela última vez, tive vontade de rir. Minha cara de sono estava praticamente amassada e as minhas roupas não ajudavam muito. Pelo menos eu não estava com olheiras e, segundo , a minha pele era boa pela manhã. Vai entender, né? Eu mesma já desistira. Abri a porta do banheiro com medo de encontrar um casal atracado na minha cama, mas fiquei bem feliz com o que vi. O casal ternurinha não estava mais por ali e Zayn estava praticamente deitado na minha cama. Uma tentação, aliás. Ao contrário do que eu imaginava, ele não estava com o pijama que eu o vira usar na noite passada, e sim com uma calça jeans e blusa de mangas compridas. Ao menos estava calçando meias e não um tênis.
- Bom dia, mon amour. – Sorri e caminhei até ele. Com um namorado vaidoso como o meu, já era de se esperar que ele ficasse arrumado até mesmo dentro de casa.
- Bom dia, Anjo. – Se levantou para me abraçar e eu me acomodei em seu peito. – Achei que você não ia mais acordar.
- Tá brincando? Eu fui a primeira a acordar! – Nem eu mesma acreditara naquilo e tinha certeza que Zayn também não.
- Claro que foi, . – Riu da forma gostosa que enchia os meus ouvidos e me olhou. – Podemos ir agora?
- Só mais uma coisa! – Toquei o rosto dele com a mão e juntei nossos lábios em um selinho demorado. – Agora sim podemos ir.
Não desfizemos o abraço para sair do quarto e descer as escadas. As portas dos quartos dos meninos estavam abertas, o que mostrava que eu realmente havia sido a última a acordar, ou pelo menos levantar da cama. Pela rápida olhada que dei no quarto de meu irmão, vi um colchão no chão e a cama mais bagunçada que o normal. Ele e Harry deveriam ter dormido juntos e Niall no chão. Mais um ponto para Larry! Sim, eu tinha um placar. Zayn beijou a minha testa e seu sorriso denunciava que ele estava tramando alguma coisa e eu só não sabia o que era.
Ao entrarmos na sala, vi que todos estavam acomodados no sofá ou na poltrona macia que rodeava o centro da sala. Todos os presentes foram arrumados mais para frente da árvore de natal – que estava com as luzes pisca-pisca desligadas, aliás – e arrumados daquela forma pareciam ter duplicado de quantidade. e Liam se entreolhavam com sorrisinhos cúmplices e por um momento eu me senti deslocada como se todos soubessem de algo menos eu. Zayn me soltou e ficou encostado na parede da sala, esperando que eu tivesse alguma atitude. Ok, só porque eu dera início aos discurso na noite passada, tinha que dar inicio à entrega de presentes também? Então vamos lá! Dei o primeiro passo na direção das caixas quando uma delas se mexeu. Eu olhei para os lados, me perguntando se mais alguém havia visto aquilo e eu não estava completamente louca.
- Ahn... Essa caixa acabou de se mexer! – Apontei para o embrulho.
- É o seu presente. – Zayn sorriu travesso mais uma vez e logo continuou: - Você disse que queria um bebê, então...
- Por favor, me diga que você não roubou um bebê! – Me ajoelhei na frente da caixa, com uma mistura de curiosidade e preocupação. Pelo que percebi, a caixa não estava completamente fechada, o que não sufocaria qualquer coisa que pudesse estar ali dentro. Abri a tampa sem nenhum cuidado e uma coisinha em preto e branco com olhos azuis pulou em cima de mim. – Um cachorro?!
- Awwwwwwwwn! Você tinha razão, Zayn, ele é lindo! – quase gemeu ao meu lado, mas eu estava entretida demais pra prestar atenção em qualquer coisa além daquele filhote de Husky Siberiano.
- Oi, neném! – Fiz carinho no filhote que não parava de tentar morder os meus dedos. O coitadinho devia estar agoniado dentro da caixa. – Por favor, me diga que ele não estava aqui desde ontem!
- É claro que não! – Zayn também se ajoelhou ao meu lado e fez carinho no pequeno. – Eu fui buscá-lo hoje cedo, porque sabia que você daria trabalho pra acordar.
- Me conhece tão bem! – Ri, mas não tirei os olhos do meu novo animal de estimação. O bichinho era simplesmente lindo demais! A parte de baixo era quase toda branca como um algodão, e a parte de cima bem preta. A cabecinha era uma mistura das duas cores, o que acabava formando um desenho lindo. – Qual o nome dele?
- Você é que vai escolher. – Zayn se levantou e eu fiz o mesmo, carregando meu novo bebê.
- . – Falei ao ter o rosto lambido. – Não sei porque, mas ele tem cara de !
- Oi, ... – veio falar com o cachorro e eu quase não deixei que ela o tirasse dos meus braços. – Calma, , eu não vou roubá-lo!
- Não vai mesmo! – Fiz careta e depois me joguei nos braços de Zayn. – Obrigada, baby! Eu amei!
- Eu sabia que você iria gostar. – Me abraçou de volta e beijou a minha bochecha.
- O único problema é que agora eu estou com vergonha de entregar o seu! – Olhei para a montanha de presentes, onde os meninos começavam a trocar os próprios.
- Mas eu quero o meu presente! – Zayn fez bico e me soltou, apontando para a árvore. – Pode ir pegar.
- Tudo bem, tudo bem! – Desisti, sabendo que não teria outra escolha. Dei meia volta e foi muito fácil achar o presente dele, já que era o mais fino e mais alto. – Não é um cachorro nem nada parecido... Mas é de coração.
- Tenho certeza que vou gostar, ! – Zayn tinha as mãos no bolso, mas logo segurou o presente para desembrulhá-lo. – É um quadro?
- Feito especialmente pra você! – Acrescentei, antes que ele pensasse que era “só um quadro”. Assim que Zayn rasgou o embrulho, sorriu ao ver o conteúdo. Era um desenho feito em caneta preta no fundo branco, onde o London Eye estava em primeiro plano e o horizonte de Londres em segundo. Na cabine mais alta da roda gigante havia uma menina e um menino de mãos dadas. – Quero que você sempre olhe pra esse quadro e lembre da primeira vez que saímos juntos. E do nosso primeiro beijo.
- Isso aqui é incrível, ... – Zayn adorava desenhos e era bom nisso, então eu sabia que ele iria gostar.
- E olha quem fez. – Apontei para a assinatura no canto do quadro.
- Jack? – Piscou algumas vezes. – O meu Jack?
- Cara, você tem um Jack? – Niall, que provava a jaqueta que ganhara de , se meteu na nossa conversa. – Não basta ter uma , tem que ter um Jack também?
- Jack é um amigo das antigas... – Zayn respondeu sem se importar com o que Ni estava insinuando.
- Então você gostou! – Comemorei por ter acertado no presente. Tá que não era algo enorme, mas o significado emocional era o que contava. – Muito bem, quem é o próximo?
A sala inteira já estava uma completa bagunça. Os meninos trocavam presentes entre si e, pelo que eu pude ver, gostavam muito de todos os que recebiam. Cada um escolheu um canto para guardar os próprios presentes e não acabar misturando com os dos outros. Como o único presente que eu recebera até o momento estava correndo pela sala e se embolando nos embrulhos rasgados, seria meio difícil mantê-lo quieto em um canto. era pequeno e devia ter a altura de um livro, mas era bem gordinho e parecia ter mais energia que todos daquela sala juntos. Eu sabia que ele cresceria e ficaria possivelmente no meu tamanho (se ficasse de pé, claro). acabava de abraçar Harry, pois ganhara dele um par de óculos que eu gostaria que fosse meu, e se virou pra mim.
- Pode me dar o meu presente grande e lindo agora! – A menina riu e abriu os braços.
- Não é tão grande assim... Mas são lindos! – Peguei uma caixa quadrada da Nars que continha alguns produtos de beleza dos quais ela tanto gostava. – Vamos trocar!
- Ok! – A ruiva me entregou uma caixa da Chanel e pegou a própria.
Dentro da caixa branca que me deu havia alguns produtos de maquiagem, tais como: Uma base para o tom da minha pele – que eu sempre tive muito trabalho para encontrar –, um lápis de olho e rímel pretos e o que não podia faltar... Um batom vermelho aveludado. Eu gostei tanto daquele presente quanto ela gostou do dela, pois já abriu as embalagens e começou a cheirar todos os produtos. A vendedora me assegurou que eram de uma linha nova e eu tive a sorte de não tê-los ainda. Nos abraçamos e eu decidi colocar a minha caixinha da Chanel sob o braço do sofá.
- , vem cá! – Lou me chamou.
- Já vou! – Sorri para o meu irmão e peguei o seu presente antes de andar até ele. – Aqui! Abre o seu primeiro. Quero ver se você gosta!
- Não tinha algo menor? – Louis deixou o presente embrulhado que segurava na estante e pegou o pacote extremamente grande que eu lhe entreguei.
- Abre logo! – Pedi quase impaciente, ansiosa pra ver o que ele acharia do leão gigante de pelúcia, parecido com um que ele tinha quando era menor.
- Você não fez isso... – Lou riu e abraçou o leão.
- Você sempre gostou de leões! – Eu quase podia imaginá-lo montando naquele brinquedo.
- Obrigado, irmãzinha. – Colocou o leão embaixo do braço e pegou o que havia deixado na estante momentos antes. – Esse aqui é pra você.
- O que será isso? – A minha pergunta foi retórica e logo descobri o que estava em baixo do papel de presente: Uma espécie de caderno com folhas amareladas e capa dura, semelhante ao de meu avô.
- Eu sei que você sente falta do papá e das suas histórias... – Lou levantou o meu rosto pelo queixo, fazendo-me fitá-lo. – Mas está na hora de começar as suas.
- Obrigada, Boo bear! – O abracei com todo cuidado para não deixar o leão cair. – Você é o melhor irmão que eu podia querer!
- Não vai me fazer chorar! Já basta ontem. – Riu e cortou o abraço, olhando para algo atrás de mim. – Acho que mais alguém quer falar com você...
- É? – Olhei para trás, vendo de quem se tratava. – Leeyum!
- Feliz natal, ! – Liam sorriu encantadoramente, estendendo uma caixinha da Tiffany & Co. impossível de não reconhecer! Lou se afastou para continuar a sua jornada e nos deixou “sozinhos”.
- Não é um anel de noivado, certo? – Sorri e puxei a fitinha branca para ver o conteúdo. – É linda, Liam...
- Uma âncora simboliza esperança e fidelidade. – Explicou. – É o que eu vejo em você.
- Profundo! – Sorri. Aquela âncora era delicada e eu tinha certeza que significava mais do que ele estava me contando, além de não ser um pingente comum, como de coração ou de estrela. – Eu realmente amei! Assim que vestir algo mais que pijamas, vou colocar!
- Vai ficar linda com ela. – Sorriu mais uma vez e coçou a nuca.
- Ah! O seu presente. Quase me esqueci. – Aproveitei que estava próxima à árvore de natal e me abaixei para procurar o presente de Liam. – Está em algum lugar por aqui... Achei!
- Você escondeu bem, huh? – Gargalhou e pegou a caixa quadrada que eu lhe entreguei.
- E agora você pode espiar a vontade! – Dar presentes ou fazer algo bom para alguém que se gosta não tem preço, mas o sorriso de Liam ao ver a Polaroid foi um pagamento bem legal.
- Não acredito que você lembrou! – Ficou super animado, tirando-a da caixa e olhando todos os mecanismos da sua máquina.
- Você não é o único que se lembra das nossas conversas. – Cruzei os braços, orgulhosa da minha memória.
Liam me abraçou em agradecimento e tivemos que ir por caminhos diferentes. Peguei o presente de Niall e o cassei pela sala inteira, encontrando-o no hall de entrada, sentado no chão e brincando com . Fiquei observando o meu pequeno tentar pegar um laço de fita que Niall balançava e ri. Eu não o ganhara há nem uma hora inteira e já estava completamente apaixonada por aquela bolinha de pelos. Depois de alguns instantes, o loiro me notou e pudemos trocar nossos embrulhos. Eu lhe dei um livro de receitas de dez minutos, pois ele precisava se alimentar direito e, já que morava sozinho, o meu presente viria a calhar. Em troca, recebi um sweater verde com um trevo de quatro folhas costurado no meio. A peça mais irlandesa que eu teria em meu guarda roupa, com toda certeza.
Hazza foi o último e eu o encontrei sentado no sofá. Fui até ele e me sentei ao seu lado, sorrindo por ver que o presente embrulhado em seu colo tinha o meu nome escrito com a sua caligrafia. Trocamos de pacote e eu o deixei abrir o meu primeiro. Passei várias noites em claro pra montar aquele presente, mas valeu a pena. Não sei como “mixtapes” eram tão famosas há décadas atrás, porque pense em uma coisa difícil de gravar! Ao menos consegui encher três fitas cassetes com as músicas preferidas de Harry e também encontrei um reprodutor das tais fitas. O hipster interior do menino de olhos verdes ficou louco com o meu presente vintage e já quis começar a escutar as músicas. Eu tive que lembrá-lo que ainda não tinha recebido o meu em troca. Harry consegue ser lerdo demais às vezes.
O importante é que eu acabei ganhando aquele presente e tive certeza de que choraria ao folhear o álbum de fotografias personalizado em uma madrugada sem sono. Pelo visto eu não fui a única a perder noites em claro, porque Harry vez um tremendo trabalho. Comecei a passar algumas páginas, sorrindo cada vez mais. Ao que entendi, o álbum seguia uma ordem cronológica com fotos de nós dois desde que éramos pequenos até os dias atuais. Além das fotos, Haz colou canhotos de ingressos, embalagens de chocolate, passagens de avião e todas essas coisas que tinham algo a ver com a nossa trajetória. Em cada página ou detalhe, ele puxara uma seta pra escrever recadinhos carinhosos ou piadinhas sem graça que eram simplesmente a cara dele. Se alguém captou o sentido de “presentes emocionais” esse alguém era Harry.
No final das contas, a sala estava coberta por papeis rasgados, fitas, caixas e todo tipo de lixo; até mesmo plástico bolha. Seria o pesadelo para quem teria que limpar, mas era o paraíso de , que – quando não estava tentando arrancar os enfeites da árvore de natal – se escondia entre os embrulhos. Zayn se sentou ao meu lado e carregou o cachorro para o seu colo, deixando o chão livre para que Niall e Harry juntassem as sobras dos presentes em sacos de lixo. Eu teria ajudado se não estivesse mais interessada em criar laços com o meu bebê. Zayn ria de mim todas as vezes que eu começava a conversar com , mas eu não ligava. Ele me deu o filhote porque quis, agora teria que agüentar as conseqüências.
- Sobraram três presentes! – segurou as duas caixas finas com a marca da Apple na lateral e uma maior sem marca alguma. – Por favor, me diga que quem ganhou esse iPad fui eu!
- Por favor, me diga que esse é o presente do meu pai! – Torci com os dedos cruzados.
- Sortuda! – atirou uma caixa de iPad pra mim e outra para o meu irmão.
- Yaaaaaay! – Comemorei, mas antes que pudesse abrir meu tablet, também me entregou a caixa maior.
- Esse outro é o da Rachel. – Informou.
- Adoro o natal! – Ri mais feliz do que devia e peguei o cartão no topo da caixa antes de abri-la. – “Feliz natal, . ps: Peça para o Zayn me agradecer.” Eu tenho um mal pressentimento sobre isso...
E estava certa em me preocupar. Abri a caixa sem deixar mais ninguém ver o conteúdo e fechei a tampa com rapidez assim que notei o que era. Mesmo sem prestar muita atenção, eu sabia que eram alguns conjuntos de langerie, por isso Zayn deveria agradecê-la. Em outro momento eu teria ficado vermelha ou sentido vergonha, mas o meu único pensamento era: “Agora já tenho o que usar na minha viagem com Zayn.”.
Às três e meia da tarde juntou suas coisas e foi embora. Aparentemente alguns de nós ainda tinham família por perto e queriam passar o dia de natal com ela. Niall, como o bom namorado que era, foi junto para a casa da sogra. Por mais que eu fizesse questão que dormisse na minha cama, ele ainda não brinquedos, uma coleira e outras coisas que cachorros precisam. Ao buscar o animal na casa de seu primeiro e antigo dono, Zayn ganhou um pouco de ração, mas não duraria dois dias inteiros; principalmente porque o meu filho parecia um morto de fome. Mas quem poderia reclamar? Depois de correr a casa inteira, era compreensível que ele ficasse com o apetite aberto. Algo que aprendi sobre é que ele gostava de seguir as pessoas. Qualquer um que passasse por ele virava um alvo e era seguido até perder a graça. Outra coisa que também me fazia rir era o fato de o filhote conseguir subir as escadas, mas ficar com medo de descer, então ele começava a latir pra pedir ajuda.
Depois do almoço eu criei coragem para trocar os pijamas por uma calça jeans escura e uma camisa de mangas longas e bem ajustada ao corpo. Zayn prometeu me levar à um pet shop que abria em feriados para que pudéssemos comprar as coisas que nosso filho necessitava e Liam se ofereceu para ir junto. Se ofereceu não; se convidou. O que importa é que, depois que e Niall se foram, eu calcei um par de botas sem salto e vesti um sobretudo para que pudéssemos sair. Liam teve que atender uma ligação de seus pais, por isso sentei em um degrau da escada e observei enquanto Louis e corriam de um lado para o outro do hall. Zayn estava fazendo algo na cozinha e por isso eu era a única “desocupada” e fui obrigada a atender a porta assim que a campainha tocou.
- Quem é? – Cantarolei ao chegar perto o bastante para ser escutada por quem quer que estivesse do outro lado.
- ? Sou eu, Nick!
- Whatsup, Niiiiiiicky? – Abri a porta deixando a minha gangster interior transparecer.
- Acho que bati na porta errada. – Ele riu e me puxou para um abraço.
- Claro que não! – Gargalhei quase sendo sufocada pelo outro. – Quero te apresentar à alguém!
- Não é a sua mãe, certo? – Me soltou e passou a mão pelos cabelos. – Não estou apresentável.
- Claro que não, idiota. – Rolei os olhos e me virei para dentro da casa. – ... Vem cá garoto. ? !
- Ok... – Nick esticou o pescoço, mas não entendeu nada.
- Ele ainda não aprendeu que esse é o seu novo nome. – Expliquei e o puxei para dentro de casa. – Lou, cadê o neném?
- Alguém chamou o super ? – Meu irmão apareceu no hall segurando o meu cachorro pelas costelas.
- Então esse é o ? – Nick parecia iluminado, como se visse que eu não estava louca de vez.
- É o meu bebê. – Segurei o filhote enquanto Nick e Louis se cumprimentavam e tive meu pescoço lambido. – Ele é um beijoqueiro.
- Tudo bem, pulguento? – Nicholas fez carinho atrás da orelha de e eu o reprovei com os olhos.
- Pulguento é você! – Estirei a língua e coloquei o cachorro no chão, observando-o voltar a correr. – Eu juro, acho que ele tem pilhas Duracell.
- Ou é filho da sua amiga . – Até que Nick poderia ter razão, pois a semelhança era enorme. – De qualquer forma... Eu vim trazer o seu presente de natal.
- Eu vou ganhar um presente de natal? – Bati palmas silenciosas e sorri. – Cadê, cadê?
- Em algum lugar por aqui... – Procurou algo dentro do casaco e acabou tirando de lá um envelope branco e dourado. – Você me deve tanto por isso.
- Nicholas... Não brinca comigo... Isso é o que eu acho que é? – Segurei o envelope com delicadeza e rasguei o lacre, gritando ao ver que era sim um convite para o espetáculo do Bolshoi. – Como você conseguiu?
- Tenho meus contatos. – Deu de ombros e eu não agüentei. Me joguei em seus braços e o abracei com muita força. – , você vai me derrubar!
- O que está... Acontecendo. – Zayn deve ter escutado os meus gritos e resolveu sair da cozinha e ver o que se passava na entrada de casa. – Nicholas. Eu devia imaginar.
- Baby, olha o que ele conseguiu... – Me separei do meu parceiro e mostrei o convite para Zayn, que fingiu ficar feliz só porque sabia o quanto era importante pra mim.
- Legal. – Forçou um sorriso e fuzilou meu amigo com o olhar. – Louis, posso falar com você?
- Yep... – Lou acenou um tchau para Nick e seguiu Zayn para a cozinha.
- Estou com problemas? – Nick balançou a cabeça.
- Nhá... Eu teria mais medo do . – Ri.
- Ao menos é a minha hora de ir embora... – Bagunçou os meus cabelos. – Minha namorada está me esperando.
- Uhhh, já estão se chamando de namorados? – Pisquei. – Parabéns!
- Você estava certa, , e eu segui seus conselhos. – Suspirou apaixonado. – Passo aqui pra te buscar às oito amanhã, ok?
- Amanhã? – Dei mais uma olhada no convite. – Como vou encontrar uma roupa decente até amanhã?
- Tenho certeza que você vai dar um jeito nisso. – Beijou a minha bochecha e acenou para , que estava subindo as escadas. – Tchau, pulguento!
- Ainda acho que devíamos ter feito uma lista... – Liam empurrava o carrinho enquanto passávamos para o final do primeiro corredor.
Quando Zayn disse que conhecia um pet shop ótimo, eu esperava uma lojinha de esquina como outra qualquer e não um verdadeiro supermercado para bichinhos de estimação! Fiquei encantada com a quantidade de coisas coloridas que encontrei ali dentro e tive muita vontade de comprar um castelo que ocuparia metade da minha sala. Tudo bem que o castelo era para gatos, mas tenho certeza que gostaria de se esconder entre os tubos e almofadas felpudas. Liam ia empurrando o nosso carrinho ainda vazio e Zayn e eu estávamos um pouco mais atrás, de mãos dadas e olhando tudo que estava nas prateleiras.
- Leeyum! – Zayn imitou o jeito que eu o chamava. – Qual a dificuldade de ir olhando as prateleiras e pegar o que gostarmos?
- Eu só não quero esquecer de nada. – Deu de ombros. Esse era o bom e velho Liam, sempre preocupado demais com os mínimos detalhes.
- Não vamos esquecer, tá? – O tranqüilizei com um sorriso. – O mais importante é a comida...
- O criador me explicou que a melhor comida pra ele é comida de verdade. – Zayn comentou, mas eu não levei muita fé naquilo desde o começo. – Não me olha assim, ! O importante é que tenha todos os nutrientes que precisa.
- Ainda temos aquela carne moída em casa, Li? – Perguntei. – Me sentirei mais segura se misturarmos a carne com aquela ração que ele já está acostumado. Depois podemos mudar aos poucos.
- Harry é o Top Cheff, mas eu acho que temos sim. – Afirmou com a cabeça. – Olhem o carrinho e eu vou procurar a ração.
- Ok! – Tive que me soltar de Zayn para ir segurar o carrinho.
- E então, babe... – Não muito tempo depois que Liam se afastou, Zayn juntou o corpo ao meu por trás, me prendendo entre ele e o carrinho. – Já se acostumou com a idéia de deixar nosso filho por três dias?
- Por que eu o deixaria? – Comecei a empurrar o carrinho devagar. Ficar parada não resultaria em coisa boa.
- Você ainda vai pra Wiltshire comigo, né? – Encostou o queixo ao meu ombro.
- Claro que sim! – Choraminguei ao entender aonde ele queria chegar. – Não vamos levá-lo com a gente?
- Talvez no futuro, ... Ele já sofreu uma mudança de ambiente recentemente. Acho que não seria bom ficar levando-o pra cima e pra baixo. – Infelizmente, Zayn tinha razão.
- Você acha que ele vai se esquecer de mim? – Fiz bico.
- Como ele esqueceria a própria mummy? – Beijou a minha bochecha e me fez sorrir.
- Acho que você tem razão... – Parei de andar com o carrinho e me virei de frente para o outro. – Além do mais... A mummy precisa de um tempo a sós com o daddy.
- Eu gosto de como isso soa... – Me envolveu pela cintura e trocamos alguns selinhos carinhosos.
- Eu também! – Sorri, mas dei um jeito de escapar dos seus braços. – Mas ainda não está na hora, então vamos continuar a fazer as compras do enxoval do bebê.
Se eu já estava tão animada assim com as compras para o meu novo cachorro, imagine quando fosse montar o enxoval do meu filho de verdade. Parando pra pensar, seria quase a mesma coisa, não? Mas no lugar de mamadeiras, eu estava procurando pratinhos de água e comida e a caminha macia substituiria o bercinho. Além de ser a minha cor preferida e a cor dos meus olhos, azul também era a cor dos olhos de , por isso achei uma boa combinação escolher todas as coisas do dito cujo daquela cor. Zayn escolheu uma caminha que tinha pelo menos o triplo do tamanho atual de , então o comportaria por muito tempo. Liam logo voltou com um saco de ração para filhotes e duas tigelas; uma para água e uma para a própria ração. Esse último também encontrou alguns panfletos com dicas de como cuidar do seu novo filhote ou “coisas que todo marinheiro de primeira viagem deve saber sobre Huskys”. Não pergunte como ele encontrou, mas já era de se esperar isso de Liam.
Passamos pelo corredor intitulado “higiene” e eu fiquei chocada com a quantidade de coisas que vi. Por um momento achei que estivesse em uma farmácia ou coisa parecida e até olhei em volta pra conferir que ainda estava na Pet Store. Enquanto eu escolhia uma escova de dentes e escova de cabelo - ou escova de pelo – um funcionário muito educado se aproximou e indicou alguns produtos, como shampoo e condicionador que não causaria alergias no meu pequeno, e remédios que era sempre bom ter por perto, pois nunca se sabe quando vamos precisar. Continuando com as compras, escolhi uma coleira que parecia bem resistente à puxões e cachorros energéticos, mas que ao mesmo tempo parecia bem confortável. Ainda naquela seção, encontrei uma placa de identificação com localizador eletrônico (acredite ou não), onde gravaria o meu telefone, endereço e, claro, o nome do filhote. Assim, se por ventura ele viesse a se perder ou até fugir, eu teria como encontrá-lo novamente.
O corredor mais divertido foi com certeza o de brinquedos. Não sei se o que dizem sobre cachorros não enxergarem todas as cores é verdade, mas qualquer um ficaria louco com aquelas bolinhas coloridas ou brinquedinhos de fazer barulho. Peguei uma bolinha alaranjada, na esperança de brincar de pegar com em um futuro próximo, e alguns outros brinquedos de morder. Tudo para que meu filhote não ficasse entediado e resolvesse atacar meus sapatos ou móveis. Louis podia até estar bem animado com o seu novo sobrinho, mas seria só encontrar um de seus Toms mastigado que alguém teria problemas. Alguém = eu.
- Eu não consigo escolher! – Bufei segurando um ursinho de pelúcia em cada mão e me virei para os meninos atrás de mim. – Qual dos dois?
- Eu gosto do cachorro marrom. – Zayn apontou para o que estava na minha mão direita. Por incrível que pareça, ele já parecia entediado.
- Eu gosto do alce... – Liam complicou a minha tarefa e escolheu o outro, parecendo tão interessado naquele assunto quanto o outro.
- Vou levar os dois, então! – Os joguei no carrinho, desde que era a única alternativa sensata. – E também vou levar essa vaquinha e esse outro cachorrinho que parece um irmão do bebê.
- , você sabe que ele é um cachorro e não uma criança de verdade, certo? – Zayn riu da minha empolgação.
- Eu só quero que ele se sinta bem. – Fiz um biquinho de lado e abracei o último bicho de pelúcia que colocaria no carrinho.
- Não foi assim que eu planejei passar o meu natal. – Liam balançou a cabeça em negação.
- Ninguém te chamou pra vir, Payne! – Retruquei. – Me ajude a achar uma manta e podemos ir pra casa.
- Eu te dou dez pounds se você achar essa manta. – Zayn cochichou para Liam, mas eu escutei.
Capítulo LVI
Pela primeira vez em dias eu consegui dormir até as 13hrs da tarde. E ainda teria ido mais longe se uma criatura peluda não me tirasse do sonho bom que eu estava tendo. não gostou tanto da sua caminha quanto eu esperava, por isso preferiu passar a noite inteira na minha. Perdi a conta de quantas vezes acordei com um focinho gelado na minha orelha, ou algo mordiscando o meu pé. No geral o filhote não deu trabalho algum, porém, o único problema era que ele conseguia descer da cama, mas não subir. Então sempre que o pequeno pulava pra fora e resolvia querer voltar, começava a chorar e eu tinha que puxá-lo de volta.
Foi exatamente assim que ele me acordou aquela tarde; choramingando e cavando o colchão. Ele estava de pé, com as patas dianteiras apoiadas na cama e tentava pular, mas não conseguia. Se qualquer outra pessoa tivesse me acordado, eu teria reclamado e ficado de mau humor, mas com foi totalmente o contrário. Acabei rindo e o puxei para a cama mais uma vez. O bichinho queria brincar, então começou a correr pela cama como um foguete e balançava o rabo e fugia quando eu tentava pegá-lo de novo.
- Você já acorda animado, Bo? – Falei com sem esperar muito uma resposta. – Quer brincar? Cadê o brinquedo?! Pega o brinquedo ali...
Apontei para o cachorro de pelúcia marrom, esperando que fosse buscá-lo e nada aconteceu. continuou pulando como um louco e eu comecei a imaginar o que ele acharia de brincar em uma cama elástica. Desistindo de pedi-lo para pegar o brinquedo, deixei a preguiça de lado e me coloquei de joelhos na cama, pegando-o eu mesma. O filhote pareceu entender esse meu movimento, pois pulou em cima do bichinho pra impedir-me de pegar. Fui mais rápida e começamos a brigar pelo ursinho de pelúcia. Ele parecia uma criança e com certeza tinha a energia de uma.
Teríamos continuado com a brincadeira se o meu celular não tivesse começado a vibrar em cima da minha mesinha de cabeceira. Joguei o bichinho de pelúcia no canto do quarto e ficou louco, indo atrás do brinquedo. Gargalhei divertida, encantada com tudo que ele fazia. Busquei meu celular pra ver quem me mandava uma mensagem tão cedo assim e sorri ao ver o nome da minha madrasta na tela. Ela devia estar querendo saber o que eu tinha achado dos presentes e possivelmente arrancar algum comentário sobre a reação de Zayn. Abri a mensagem e me deparei com uma foto de Lux usando o sweater que lhe dei de presente.
“Ficou perfeito! Ela gostou das sapatilhas também?”
“Gostou tanto que já disse que quer ser bailarina quando crescer.”
“Missão cumprida! Haha. Aliás, obrigada pelos presentes! Lou também amou o iPad.”
“E você? Só gostou do iPad?”
“Não... Eu gostei dos outros também. Você adivinhou o que eu estava precisando.”
“Toda garota com um namorado bonito como o Zayn precisa estar sempre com coisinhas novas, se é que me entende.”
“Só me diga que meu pai não sabe nada sobre isso! Eu não quero que ele faça certos comentários da próxima vez que me ver.”
“Nós mulheres temos que nos unir, . Pode ficar tranqüila que será o nosso segredo.”
“Obrigada! Ahh, diga para Lux que ela vai ter um amiguinho pra brincar quando vier aqui de novo! (x)”
Enviei uma foto que tirara de na noite passada e pude imaginar a animação da minha irmãzinha ao descobrir que eu tinha um cachorro fofo com quem ela poderia brincar. Não quem se cansaria primeiro, mas minhas apostas estavam em Lux. Parei de me comunicar com Rachel assim que meu relógio biológico apitou e eu tive que me levantar para ir até o banheiro. me seguiu e tentou morder meus pés, ainda querendo brincar. O ignorei por um momento, já que precisava me aliviar. Acendi a luz do banheiro e me deparei com uma pequena poça no meu tapete branco. Coloquei as mãos na cintura e olhei para o cachorro ao meu lado, que balançava o rabo como se não tivesse nada a ver com aquilo. “Pelo visto mais alguém se aliviou aqui!” Eu poderia brigar com para começar a educá-lo, mas algo me dizia que ele não entenderia nada. De acordo com um dos panfletos que Liam arrumou na Pet Store, não adiantava brigar com os filhotes horas ou minutos depois que eles fizeram a coisa errada, pois não iriam se lembrar. “Bem, pelo menos não foi no meu carpete.” Dei de ombros.
Não me importei em ser observada por enquanto fazia a minha higiene matinal e escovava meus dentes. O cachorro também pareceu um pouco entediado enquanto eu deixava os pijamas para trás e vestia algo mais casual. Ou seja, um short jeans com estampas floridas e uma camisa listrada de mangas compridas. Nos pés, uma sandália com apenas algumas tiras. Deixei o cabelo solto, mas usei uma faixa para segurar a franja. Ainda no closet, peguei a coleira azul de e me virei para sair.
- Quem quer passear? – Falei com o cachorro afinando a minha voz e ele pulou mais uma vez. – Ok, acho que o seu nome deveria ser Jumper. Vem cá, vem cá.
Bati nas minhas pernas esperando que se aproximasse, mas isso também não aconteceu. O cachorro era meu há quase dois dias e eu não esperava que ele fosse começar a me obedecer imediatamente, mas eu podia tentar, né? Quem sabe com a minha repetição constante ele não acabaria pegando o jeito? Ao menos consegui mantê-lo parado para encaixar a correia na coleira em volta de seu pescoço e estávamos prontos pra ir passear. Com um puxão, me arrastou até a porta e esperou pacientemente que eu a abrisse para que ele pudesse passar. “Quando esse cachorro crescer eu vou ter problemas, porque ele já é forte agora!” Balancei a cabeça com uma risada e também saí do quarto, guardando o meu celular no bolso.
- Boa tarde, ! – Harry estava no corredor quando eu passei e beijou a minha bochecha. – Indo passear?
- Nosso primeiro passeio como mãe e filho! – Sorri enquanto balançava o corpo inteiro para cumprimentar Haz.
- Aproveite o ar livre, pequeno. – Se curvou e fez carinho no filhote.
- Onde estão os meninos? – Olhei em volta, investigando os quartos de Liam e Louis com os olhos, mas nenhum deles estava por ali.
- Foram jogar futebol no campo. – Massageou o peito como se sentisse uma dor ali.
- E por que você não foi junto?
- Não estou me sentindo muito bem... – Como se para dar ênfase ao que falava, um espirro escapuliu. – Acho que é gripe.
- Awn, eu sinto muito, Hazza! – Fiz carinho em seu ombro. – É melhor você ir deitar... Quando eu voltar te faço um chá bem quentinho.
- Obrigado, . – Fungou.
Nos despedimos com um abraço, pois estava impaciente. Harry realmente não parecia nada bem, pois seus olhos estavam fundos e o nariz vermelho como o de um palhaço. Meu instinto me pedia pra ficar e cuidar dele, mas agora eu tinha novas responsabilidades. Huskys são conhecidos por serem ativos e precisarem de constante exercício, especialmente nos tempos frios. Então eu aproveitaria que os outros meninos da casa estavam jogando futebol e iria fazer-lhes uma visita no campo. Comecei a descer as escadas, mas algo ficou pra trás. Olhei para o meu cachorro que esticava uma patinha na minha direção como se pedisse ajuda.
- Ainda não consegue descer, huh? – Subi três degraus e o peguei no colo. – Pular da cama e descer degraus não é tão diferente assim, Bo.
Não resisti e enchi o filhote de beijos. Seu pelo era macio e deslizava entre os meus dedos, tornando muito difícil soltá-lo. pareceu retribuir os beijos, pois lambeu o meu pescoço e acabou espirrando com o meu perfume. Foi um espirro curto e agudo, quase como o som dos seus latidos. O mantive em meus braços até atravessar o hall e sair de casa. Teria continuado acariciando meu bichinho se ele não tivesse ficado tão animado ao ver que estávamos do lado de fora e quase se jogou dos meus braços para ir até o chão. “Já entendi, já entendi!” O coloquei no chão depois de checar sua coleira mais uma vez e ele disparou pela calçada. Quase perdi o braço com o novo puxão que levei, mas o segui.
Colocando exageros de lado, deixei me guiar enquanto ia conhecendo o condomínio. Ele parava aqui e ali, marcando seu território – se por assim dizer – e eu o esperava terminar. Seria uma boa idéia treiná-lo para apenas fazer as suas necessidades fora de casa, pois isso pouparia muitos dos meus tapetes. O único ponto negativo disso é que nos dias de chuva eu não poderia levá-lo para passear. A não ser que colocasse galochas e uma capa de chuva em ! Consegue imaginar como ele ficaria lindo? Porque eu consigo. Assim o clima de Londres não afetaria a rotina que eu começava a criar.
Depois de quase dez minutos de tanto andar e parar, consegui chegar à área da piscina e do campo de futebol, onde Liam e Louis jogavam. Pelo que pude ver, Liam era o goleiro e se atirava na grama verde sempre que Louis chutava a bola na direção do gol. Como já era de se esperar, meu irmão acertava a maioria das vezes e Liam batia na grama e se curvava sobre ela em protesto. Acabei rindo alto demais daquela cena, o que delatou a minha chegada. Os meninos acenaram e eu corri até lá com em meu encalço. Passei pela grade entrada da quadra e, aproveitando que o lugar era todo cercado, soltei a cólera para que meu pequeno pudesse correr livre.
- Olha quem apareceu! – Liam se jogou na grama mais uma vez, fazendo correr até ele pra ver o que estava acontecendo.
- Quem está ganhando? – Me aproximei de Lou e passei um braço em volta de seus ombros.
- Eu, é claro. – Se gabou e me envolveu pela cintura. – Quer jogar?
- Vá para o gol, Tommo! – Pisquei confiante.
- Vamos lá, Tomlinson. Me deixe orgulhoso. – Lou bateu no meu ombro e correu para o gol da direita, já que o da esquerda estava sendo ocupado por Li e .
O respondi com um “Pode deixar” convencido, mesmo que toda a minha convicção não passasse de uma fachada. Eu não era tão boa assim com esportes, mas ainda sabia chutar uma bola, então não devia ser tão difícil assim, certo? Me abaixei para desatar a minha sandália e fiquei descalça, sentindo a grama fria sob a sola do meu pé. Louis já pegara as luvas de goleiro e se aquecia fazendo algumas flexões. Tantos anos convivendo com o garoto me ensinaram que aquilo não passava de uma tentativa de me intimidar, porém, eu também sabia o quanto ele era bom naquele jogo. Estralei os dedos e girei a cabeça para me alongar.
Corri até onde a bola estava posicionada no campo, há alguns metros do gol, e parei. Dei alguns pulos sem sair do lugar e em seguida treinei como a chutaria. Devia ser algo bem engraçado de se ver, pois Lou gargalhou na minha direção e flexionou os joelhos, esperando a minha bomba. Cheguei a assistir alguns jogos de futebol na TV, mesmo que não entendesse quase nada, e tentei uma “manobra” que muitos jogadores pareciam saber executar com perfeição. Para resumir, fingi que ia chutar para um lado e acabei chutando para o outro. Como era de se esperar, Lou segurou a bola, mas não precisou fazer muito esforço. Falhei miseravelmente ao chutar e o meu lance foi mais fraco do que eu esperava. Pra completar meus dedos ainda ficaram doloridos por terem pegado de mau jeito no objeto redondo.
- Uau. Essa foi uma jogada ótima! – Lou foi irônico e gargalhou.
- Eu sou uma dançarina, ok?! – Tentei justificar a minha falta de talento naquele esporte. – Quero ver você fazer um sissone!
- Wow, wow... Não precisamos entrar em xingamentos aqui. – Liam se aproximou. – O problema é que você está chutando errado.
- Como alguém chuta errado, Leeyum? – Cruzei os braços.
- Você está chutando com a ponta do pés. Não com a palma. – Apontou para o próprio pé, ilustrando o que queria dizer.
- Ah... – Afirmei com a cabeça e depois fiz careta. – Hã?
- Ok... Vou deixar vocês aí e impedir o meu sobrinho de comer aquela borboleta. – Lou me fez olhar na direção de , que perseguia uma pobre borboleta que voava baixo. – E essa é uma frase que eu nunca pensei que fosse dizer.
- Vou te mostrar, . – Liam conseguiu a minha atenção novamente quando Lou saiu correndo para brincar com o meu filho. – Espera aqui.
- Tá bem... – O observei correr até onde Louis largara a bola de futebol e a pegou.
- Pronto. – Voltou para onde eu estava e deixou o objeto na minha frente. – O que você tem que prestar atenção é que não pode chutar de qualquer jeito. Tem que calcular o ângulo.
- Calcular o ângulo! Saquei. – Afirmei com a cabeça e me preparei para chutar quando Liam me fez parar. – O que?
- Você ainda está fazendo errado! – Riu e me puxou com cuidado até se posicionar atrás de mim. Perto demais. Seu pé se moveu atrás do meu e tive que me segurar em seus braços pra não perder o equilíbrio. – Sente isso?
- Eu sinto a sua perna... – Respondi agradecendo mentalmente por estar de costas pra ele, dessa forma Liam não podia ver o rubor em minhas bochechas. Usando a própria perna, ele movimentava a minha para frente e para trás.
- Abra o pé um pouco mais... – Aconselhou enquanto aparava a minha cintura.
- Como se abre um pé, Liam? – Gargalhei. – Tem um bisturi aí?
- Não assim, sua besta. – Também riu. – Dobre o pé!
- Não está facilitando! – Ri mais uma vez e Liam decidiu sair de trás de mim e se ajoelhar para me mostrar o que eu deveria fazer com o pé. – Só isso? Porque não falou antes?
- Eu tentei! – Se levantou e ficou ao meu lado. – Agora tente chutar. Não esqueça de colocar toda a sua força em uma perna só.
- É melhor se afastar!
Adverti com uma risada e o observei me obedecer. Assim que todos estavam à uma distância segura do meu pé, fiz o que Liam ensinou e “dobrei” o pé para pegar um bom ângulo. Bati na bola com a palma do pé e acertei o gol. É claro que era bem mais fácil quando não tinha nenhum goleiro por ali e só o que eu fiz foi chutar pra frente, mas mesmo assim! A bola pegou bem mais velocidade do que na minha primeira tentativa e não saiu do rumo que eu a mandei. Quando a rede branca começou a balançar, dei um grito de felicidade e corri até Liam, literalmente pulando em seus braços.
- Eu consegui! Eu consegui! – Abracei Liam pelo pescoço. – Obrigada!
- Eu só te ensinei a chutar! – Riu, mas me abraçou de volta, demorando um pouco demais pra me soltar.
- Acho que mereço uma volta olímpica, não? – Perguntei torcendo para que ele dissesse que sim.
- Vá em frente. – Deu espaço para que eu pudesse passar.
Comecei a correr em volta do campo com os braços abertos, enquanto cantava a música tema das Olimpíadas. Eu estava me animando demais por uma coisa tão simples, mas não me importei. Talvez fosse que me fazia ficar boba assim, talvez a alegria do filhote liberasse o melhor de mim. Rimas à parte, passei correndo por Lou e pelo animal. Quando me dei conta, os dois começaram a correr atrás de mim e a minha volta olímpica se transformou em uma corrida pela minha vida. conseguia ser mais rápido que nós dois e acabou me alcançando e se misturando com os meus pés. Acabei tropeçando para não pisar nele e fui ao chão. Louis foi o primeiro a começar a rir e Liam o seguiu. O filhote não me mordeu nem nada parecido, mas voltou a me atacar com aquelas lambidas que começavam a me fazer cócegas.
- Alou? – Zayn atendeu a minha ligação no terceiro toque.
- Hey, baby! Sou eu. – Sorri inconscientemente por escutar a sua voz. – Tudo bem?
- Estou sozinho em uma casa enorme... Só estaria melhor se a minha namorada estivesse aqui. – O escutei sorrir do outro lado. – Quer vir me fazer companhia?
- Não sabe como eu gostaria de poder ir! – Ri e me sentei na cama com cuidado para não amassar o vestido. – Daqui a pouco Nick vai passar aqui e vamos ao Ballet.
- Ugh, esse Nicholas. Eu não vou com a cara dele, sabia? – Bufou, me fazendo imaginar a sua cara de irritado.
- Quem não sabe disso, Malik? – Rolei os olhos com um sorriso nos lábios. Eu adorava vê-lo com ciúmes. Ou ao menos escutá-lo, como era o caso. – Aliás, seu filho sente a sua falta!
- ? Ele está aí com você?
- Agora não... Lou está mantendo-o entretido pra que ele não resolva brincar com o meu vestido. – Passei as mãos pelo tecido felpudo do meu vestido de gala. Até que pra quem teve apenas um dia para arrumar uma roupa apresentável, eu estava bem bonita. – Esse menino não cansa nunca! Você tinha que ver o quanto ele correu hoje a tarde no campo!
- Ele está te dando trabalho, huh? – O escutei gargalhar. – Ainda prefiro ver o que você está vestindo. Nada muito curto, eu espero.
- Zayn Malik acha que vai controlar o que eu uso? – Balancei a cabeça com os olhos semicerrados. – Mas para a sua informação... Estou bem comportada.
- Muito bem! E não é que eu queira controlar o que você usa, só acho justo não estar tão atraente quando for sair com um cara que não seja eu. – Falou como se tivesse toda razão do mundo. – O que é bem impossível.
- Não seja bobo, Zayn! – Ri e alterei a minha voz para algo mais travesso: - Agora porque não me conta o que você está usando?
- Só uma bermuda preta... Sem camisa... – Falou devagar, sabendo que me provocaria.
- Aquele convite pra ir até aí ainda está de pé? – Mordi meu lábio inferior.
- Deixarei a porta aberta. – Escutei sua risada rouca. – Aliás, você deveria ter uma cópia da chave.
- Claro! E a sua mãe acharia isso muito normal. – Ri. O que Trisha faria se o filho desse a chave da casa para a namorada de apenas dois meses? – Vamos fazer assim... Quando você sair de casa e for pra um lugar só seu, aí sim você me dá a chave, ok?
- Anjo, quando eu sair de casa você vai morar comigo. – Disse como se aquela fosse a decisão mais simples do mundo.
- Está me chamando pra morar com você? – Me fiz de surpresa.
- Estou te pedindo pra casar comigo. – A voz de Zayn saiu quase séria demais.
- Malik! Quando você vai parar de brincar com essas coisas? – Passei uma mão pelos cabelos, conferindo se o penteado trabalhoso que eu fizera ainda estava no lugar.
- Assim que você acreditar que eu falo sério.
- Tá bem, Tá bem! – Ri baixo.
- “Tá bem, tá bem.” – Me imitou. – Ficou nervosa, ?
- Cala a boca! – Ri mais uma vez e dessa vez senti as bochechas queimarem. – Alguém tocou a campainha... Acho que tenho que ir.
- Então não vai vir pra cá? Droga!
- Baby, nós vamos viajar depois de amanhã! – Levantei da cama e verifiquei se o vestido amassou. – E eu terei muito tempo pra te aproveitar sem camisa.
- Bom saber das suas intenções para essa viagem, ! – Se fez de ofendido, mas eu sabia que ele estava adorando essa minha versão sapeca.
- É, eu é que sou a má intencionada nesse relacionamento. – Peguei a minha bolsa em cima da escrivaninha e a coloquei embaixo do braço para conseguir abrir a porta. – O que você vai ficar fazendo enquanto eu estiver fora?
- Acho que Niall e vem pra cá e vamos assistir algum filme. – Pareceu mais entediado do que deveria. – Me avisa quando voltar pra casa?
- Aviso sim! E se cuide, ok? – Parei no topo da escada, tentando prolongar aquela conversa o máximo possível.
- Você é que tem que se cuidar! – Seu tom ganhou um toque de despedida que não me agradou, mas eu tinha mesmo que ir. – E aproveite... Eu sei o quanto você queria ir assistir a esse espetáculo.
- Obrigada, baby! Ainda sinto a sua falta...
- Também sinto a sua, Anjo. – A vontade de beijá-lo só fez aumentar. – Eu te amo.
Encerrei a ligação assim que notei que era observada do fundo das escadas. Nick e Louis me encaravam como se esperassem alguma reação. Balancei a cabeça por nenhum deles ter falado nada esse tempo todo e guardei o aparelho na minha bolsa de mão. Dei uma última conferida nos cabelos e na roupa, segurando a barra do vestido para não tropeçar enquanto descia a escada. Nicholas, que estava vestido impecavelmente fino dos pés à cabeça e me ajudou a descer os últimos degraus. Lou segurava nos braços e parecia cada vez mais apegado ao bichinho. Pelo menos assim eu ficaria tranqüila em deixar o filhote pra trás quando fosse viajar com Zayn.
- Uau. – Nick beijou as costas da minha mão de forma galanteadora. – Você está de tirar o fôlego.
- Você também não está nada mal, Nicholas. – Sorri e me virei para meu irmão. – Tchau, Lou. E tchau, Bo!
- Divirtam-se, crianças. – Louis nos acompanhou até a porta.
- Até depois, Louis! E tchau, pulguento. – Nick acenou para os dois.
- Para de chamar ele assim! – Só não empurrei o garoto porque tive medo de amassar o seu paletó.
Louis fechou a porta de casa e Nick me guiou pelo caminho de pedra até a limusine que estava estacionada na calçada. Seria a segunda vez que eu andaria em um daqueles carros longos desde que chegara a Londres, mas dessa vez sabia que a surpresa não era pra mim. O menino devia estar querendo impressionar a namorada, por isso não fiz nenhum comentário engraçadinho. O motorista abriu a porta e me deixou entrar primeiro. Ergui meu vestido até a altura dos joelhos me curvei para poder passar pela porta sem bagunçar meu cabelo. Só os deuses da beleza sabem o quanto eu trabalho reproduzir aquele coque. Assim que consegui me arrastar até o banco mais próximo, notei a mulher sentada mais ao fundo. Holly sim estava de tirar o fôlego. Usava um vestido comprido aveludado com o decote tomara que caia e bem ajustado ao corpo. Se só de vê-la sentada eu já sabia que estava linda, imagine de pé! Nicholas estava certo quando falava que ela era uma mulher e tanto.
- Oi, professora! – Me sentei ao seu lado, sorrindo.
- ! Me chame de Holly, por favor. Aqui não sou sua professora. – Trocamos alguns beijos nas bochechas, como as madames fazem em filmes. – Aqui sou sua amiga.
- Tudo bem, Holly, desculpe! Você está muito bonita. – Olhei o vestido dela mais uma vez, morrendo de vontade de perguntar quem o desenhara. – Nick devia ter ciúmes!
- E tenho mesmo! – O menino entrou e foi para o outro lado da professora.
- Nossa... – Pensei alto, encarando os dois.
- Algo errado? – Holly pareceu nervosa enquanto o carro começava a andar.
- Não é isso! É só que... Vocês dois formam um casal lindo. – Falei com sinceridade.
- Bem, obrigada. – A mulher segurou a mão do namorado e os dois se olharam. – É bom ouvir isso.
- A é a nossa fã número um, Ollie. – Nick a chamava de Ollie? Isso é fofo demais!
- Sou mesmo! Os defendo até a morte. – Ri, cruzando as pernas.
- Acho que você é a única pessoa que nos entende. – Holly suspirou. – Nicky estava certo em falar que podemos confiar em você.
- E podem mesmo. Mas não vamos falar sobre isso, ok? Hoje deve ser uma noite feliz! – Comentei animada. – Nós vamos assistir ao Bolshoi!
- É a sua primeira vez? – Holly entendia a minha animação. – Eu lembro da minha. , é algo surreal! Você vai amar.
- Sei disso! Só tenho medo de ficar deprimida. De sentir que nunca vou ser como eles...
- Não seja boba, ... – Nick começou. – É claro que você não vai ser tão boa quanto eles. Achei que isso já estava claro.
- Nicholas! – Holly o repreendeu, mas eu nem liguei.
- Não se preocupe, Holl. Eu já estou acostumada. – Se ela era minha amiga, eu podia chamá-la de Holl, certo? – Nick é sempre um amor comigo.
- Sou sincero, o que posso fazer? – Nick deu de ombros, mas seu sorriso era verdadeiro.
- De qualquer forma, não fique pensando assim. Apenas aproveite o espetáculo!
Resolvi aceitar o conselho da professora e ignorar os outros insultos de Nicholas. Achei que, por estarmos na presença da namorada dele, o menino tentaria se comportar e ao menos fingir que era maduro para a sua idade. Infelizmente, eu não podia estar mais errada. Ele continuou me alfinetando e delatou todas as minhas dificuldades para Holly. Até mesmo contou sobre os vexames que eu passei quando estávamos repassando os textos de Romeu e Julieta e disse que o diretor precisou voltar a usar ante-depressivos quando começou a trabalhar comigo. Eu acabava rindo de todas as coisas que ele falava, assim como Holly. Ninguém o levava a sério, então pelo menos isso me tranqüilizou. Eu ainda queria que a professora me visse como uma boa aluna; não só por estar guardando o seu segredo, e sim por causa do talento que eu sabia que tinha.
O trajeto até a Royal Opera House, onde o espetáculo aconteceria, foi razoavelmente rápido. A noite já estava sendo muito divertida e eu estava feliz em estar ali com duas pessoas que gostavam e entendiam tanto de ballet quanto eu. Claro que adoraria dividir esse momento com Zayn, pois ele era meu namorado e eu gostaria de dividir tudo com ele, mas era algo diferente. Nick aproveitaria muito mais que Zayn, porque ele era um verdadeiro bailarino e repartia aquela paixão comigo. Quando a limusine parou na entrada da casa de espetáculos percebi o quanto as minhas mãos estavam suando. O lugar estava absolutamente lotado! Outros carros igualmente chiques paravam por ali para que os passageiros saltassem com todo o luxo possível e caminhassem pelo tapete vermelho até as escadarias que levavam á entrada. Jornalistas e todo o tipo de imprensa também estavam por ali, capturando qualquer coisa que lhes fosse interessante.
- Estou me sentindo uma celebridade... – Sorri sem poder esperar para sair do carro e deixar os flashes me cegar momentaneamente.
- Eu não posso descer aqui... – Holly lamentou. – Pelo menos não com vocês dois. Essas filmagens com certeza vão aparecer em algum jornal ou na televisão.
- Ela está certa. – Nick olhou pra mim com a mesma decepção da namorada e eu me senti mal por eles.
- Então vem comigo, Holly... Nick pode entrar depois e nos encontrar lá dentro. Toda mulher merece um momento como esse em frente às câmeras. – Tentei.
- Seus amigos sabem que você veio com Nick. Seria estranho aparecer comigo de repente. Não podemos correr riscos. – Suspirou e olhou para o namorado. – Vá com ela. Eu conheço uma entrada lateral que não vai estar tão cheia assim.
- Tem certeza? – Acariciou a lateral do rosto de Holly e ela assentiu.
- Podem ir! Eu vou ficar bem. – Forçou um sorriso. – Lá dentro vai ser melhor...
- Não demore a nos encontrar, ok? – Os dois se beijaram rapidamente e eu evitei olhar. – Estaremos no salão principal.
- Aproveitem o tapete vermelho!
Eu ainda me sentia mal por causa daquela confusão e não sabia se suportaria esconder um relacionamento de todos à nossa volta. Pelo menos Holly e Nick sabiam que não precisariam agüentar aquilo por muito mais tempo, já que Nick se formaria em alguns meses e os dois estariam livres para andar de mãos dadas por aí. Assim que o motorista abriu a porta, esticou a mão para que eu pudesse sair em segurança. Quase no mesmo instante em que pisei no tapete vermelho, vários fotógrafos começaram a disparar flashes na minha direção e aí é que eu me senti como uma estrela de cinema mesmo. Aquele evento era restrito para a nata da sociedade, então era de se esperar que qualquer convidado recebesse aquele tipo de atenção. Sorri da melhor forma que pude e tentei parecer natural. Nick logo me acompanhou e eu passei o braço pelo dele, ganhando segurança para poder enfrentar todas aquelas escadas. Vestido longo + salto alto + degraus + eu = uma combinação nada perfeita.
Ao menos nenhum repórter tentou falar conosco, então pudemos seguir nosso caminho em paz. Mostramos nossos convites para o funcionário de blazer que nos recebeu na porta e fomos indicados a seguir o caminho para o tal salão principal que Nick falara momentos antes. Pelo visto meu parceiro estivera ali outras vezes e sabia por onde andar, me deixando aproveitar tudo ao meu redor sem ter que me preocupar em ficar perdida. O lado de dentro era esplendoroso, pois essa é a única palavra que consigo usar para descrever. Por um momento me senti dentro do palácio de Buckingham. Nunca havia estado lá, mas imaginava que fosse exatamente assim. Pilastras grossas de mármore branco seguiam altas até o teto. O piso de cerâmica detalhada reluzia com elegância e formava um desenho tão grande que eu não conseguia enxergar o que era. As paredes eram cobertas por um papel de parede bege claro com alguns desenhos e linhas orgânicas douradas. Não me surpreenderia se fosse ouro.
- , você vai acabar babando. – Nick cochichou ao meu lado e eu percebi que estava boquiaberta desde que entramos no salão.
- Não tenho culpa se todos aqui parecem da realeza. – Falei no mesmo tom para não ser ouvida por mais ninguém.
- Você também pode ser. – Ao falar isso, Nick nos guiou até um grupo de senhores que conversava em um canto e limpou a garganta para chamar a atenção de todos. – Com licença, senhores. Eu gostaria de lhes apresentar a Duquesa da Dinamarca.
- Ora, é um prazer enorme! – Um dos senhores beijou a minha mão e sorriu como se acreditasse naquela história. Fuzilei Nick com o olhar e o desgraçado só riu. – Como vai, Duquesa?
- Muito bem, obrigada... – Sorri amarelo. – É sempre bom estar em Londres.
- Que belo sotaque a senhorita possui. – Outro homem me reverenciou. Pelo menos ele não conseguiu identificar que meu sotaque era na verdade francês. – Tão nova também, para já ser Duquesa.
- O segredo está na água! – Arrisquei, querendo sair dali antes que fosse desmascarada. – Vão me dar licença, senhores, estou à procura do Príncipe Harry.
- Oh, o jovem Windsor! – O terceiro riu. – Aquele ali sempre tem a atenção das moças, não é mesmo?
- E como! – Nick era mais forte do que eu imaginava e eu não conseguia puxá-lo de jeito nenhum. – Essa daí falou nele a viagem inteira! Se o virem, por favor, digam-no que está à sua procura.
- Com certeza, meu jovem! – O primeiro piscou pra mim. – Acho mesmo que o que essa cidade precisa é de uma boa aliança.
- Ótimo! – Afirmei como se tivesse certeza daquilo.
Por fim, consegui tirar Nicholas de lá e o arrastei para um lugar longe o bastante de qualquer pessoa. O menino começou a rir como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo e eu sentia que era essa piada. Em toda a minha vida nunca havia feito nada parecido e o mais estranho era que Nicholas parecia saber exatamente o que estava fazendo. Admito que me senti bem por uns instantes, fingindo ser a duquesa, entretanto, não seria nada legal se descobrissem que nós éramos apenas dois adolescentes que fingiam ser o que não eram.
- Você é mais louco do que eu pensava! – Briguei em voz baixa. Seguranças rondavam o salão e eu não queria ser expulsa dali por fazer barraco.
- Posso até imaginar a manchete de amanhã: Duquesa da Dinamarca é vista procurando o príncipe inglês. – Gargalhou mais uma vez, colocando a mão sob a barriga.
- Gosto mais dessa: “Assassinato brutal acontece em plena Royal Opera House – Responsável ainda não foi encontrado”. – Imitei a voz de um locutor de rádio e acabei rindo também.
- O que é tão engraçado? – Holly sorriu ao nos encontrar e entrelaçou a mão à do namorado.
- A tem um encontro com o príncipe Harry! – Nick respondeu antes que eu pudesse falar qualquer coisa.
- Mesmo? – A professora arregalou os olhos em surpresa, mas pareceu gostar daquela noticia.
- Não! – Desmenti a história. – Seu namorado é maluco, sabia? Boa sorte pra você, sinceramente.
- Ahh, não faz assim, ! Eu só quero o melhor pra você. – Tocou o meu ombro e me sacudiu devagar. – Nada seria melhor para essa cidade do que uma boa aliança!
- Para a sua informação... Estou muito bem com Zayn, ok? – Cruzei os braços. Eu tinha um namorado maravilhoso e não o trocaria por príncipe algum. – Temos até um filho juntos.
- O pulguento? – Nick riu do espanto de Holly e explicou: - Ela ganhou um cachorro de presente de natal do namorado.
- Um cachorro? Que gracinha! Qual é a raça? – Pareceu mais comovida com o meu presente do que Nick gostaria.
- É um Husky Siberiano! Ainda é filhote, então é bem pequeno. – Respondi. – Já estou com saudade dele.
- Eu imagino que sim! Tive um pastor alemão quando era criança e nós éramos inseparáveis.
- Eu deveria ter te dado um cachorro de presente de natal também? – Nick abraçou a mulher de lado. Ele conseguia ser maior que ela de salto.
- Claro que não, Nicky! Eu adorei a corrente que você me deu. – Sorriu adoravelmente doce e mais uma vez eu olhei para o lado enquanto eles trocavam carícias.
- Pessoal, acho que devemos ir... Já estão começando a entrar. – Informei assim que o fluxo de pessoas indo em uma direção só aumentou.
Os dois concordaram comigo e fomos seguindo os outros convidados. De acordo com os nossos convites, nós três deveríamos sentar na área C. Eu sabia que não era um lugar tão privilegiado assim, mas eu já me sentia contente o bastante por estar ali. Mais uma vez minhas mãos começaram a suar quando subi por um novo lance de escadas, mas não por causa do medo de cair. Eu estava prestes a ver uma apresentação que mudaria a minha visão de perfeição para sempre. Não era qualquer companhia de ballet que estaria se apresentando, era a melhor e maior companhia do mundo INTEIRO. Um arrepio tomou conta dos meus braços e o que eu menos sentia naquela hora era frio. Na verdade, estava quase suando de ansiedade.
Terminamos de subir a escada e desembocamos em um outro salão; bem menor que aquele primeiro. Três portas muito altas estavam lado a lado, com novos funcionários auxiliando cada convidado a chegar ao seu devido segmento. Mais para frente havia outro corredor, mas eu não fazia idéia de onde ele levaria. Nick e Holly foram para a fila da porta que levaria à área C e eu os segui. Todas as pessoas que passavam por mim trajavam vestidos longos como os meus nas mais variadas cores e tecidos, mas na minha opinião a pessoa mais bem vestida ainda era Holly. Seu pretinho básico não tinha nada de básico e esbanjava elegância.
- Duquesa? O que a senhorita faz aí? – Aquele senhor que beijou a minha mão no salão parou de frente à mim. Eu entendia sua confusão, afinal, o que uma duquesa estaria fazendo na fila para a área C?
- Ouve uma confusão com o meu convite e me mandaram pra cá... – Soei tão convincente que eu mesma comecei a achar que era uma duquesa.
- Que infortuno! – Pareceu chocado com a incompetência dos funcionários e eu forcei uma expressão decepcionada. – Gostaria de vir comigo? Tenho um lugar vago na classe A e ninguém seria mais digno de preenche-lo que a senhorita.
- Eu adoraria! – Aceitei na mesma hora com o meu melhor sorriso. – Se não for causar confusão, é claro...
- Imagine, será um prazer. – Esticou o braço na minha direção para que eu me juntasse à ele e aos amigos.
- , você não vai nos deixar aqui, vai? – Nick soltou um muxoxo antes que eu pudesse me afastar.
- Sou a duquesa da Dinamarca! – O corrigi. – E só tem um lugar a mais, então...
- Vá lá, . E aproveite! – Holly sorriu para que eu acompanhasse o homem. – Nos encontramos no intervalo.
- Obrigada. – Acenei para ela e Nick e caminhei até o meu salvador. – Vamos?
- A minha neta ficará contente ao saber que assisti à apresentação ao lado da duquesa. – Começou a andar em direção ao portão oposto àquele e eu o acompanhei. – Me chamo Kenneth.
- O prazer será todo meu, Kenneth. E mande minhas lembranças à ela.
Tudo bem, o que eu estava fazendo poderia ser errado e muito feio, mas eu teria tempo de sentir remorso depois. Só o que me importava ali era poder assistir ao espetáculo de perto. Não sabia como a área C era, mas área A era perfeita. Pra falar a verdade, aquele espaço inteiro de apresentação era perfeito. As cortinas pesadas, o chão de carpete vermelho, o teto alto e o lustre grandioso que pendia dele... Meu pescoço doeu só de olhar pra cima. Segui Kenneth até que encontramos seus dois amigos, aqueles que estavam no salão principal, e fiquei ainda mais surpresa ao descobrir que sentaríamos na primeira fila, quase exatamente ao centro. A única coisa entre mim e o palco seria a orquestra, porém, esta ficava em um nível mais baixo, não atrapalhando a minha visão.
- Vai nos dar a honra de assistir ao espetáculo em sua doce companhia, duquesa? – Um dos homens falou.
- Se não for um incomodo...
- É claro que não! – Kenneth falou ao meu lado. – Estes são Marchal e Joel.
- É um prazer vê-los novamente. – E era só eu continuar falando assim que enganaria a todos.
- Não teve sorte em encontrar o príncipe? – Joel perguntou em tom educado, mas curioso.
- Infelizmente nós nos desencontramos. – Menti e sentei onde me foi indicado, ficando entre Kenneth e Marchal. – Talvez na hora do intervalo...
- Olhe, ele está bem ali. – Olhei na direção em que Joel apontava e quase engasguei. Não era apenas o príncipe Harry que estava em um dos camarotes à minha esquerda, mas a família real inteira. Eu não estava tão perto para ver detalhes, entretanto, tinha certeza que a rainha sorria. – Devemos acenar para mostrar que você está aqui?
- Oh, não, não... Não quero que o nosso encontro seja assim, se é que me entendem. – Forcei uma risadinha e eles concordaram.
- Vai começar... – Kenneth informou e quase instantaneamente as luzes diminuíram de intensidade.
A primeira parte da apresentação durou três horas, mas pareceu que foi apenas meia hora. Eu mal pisquei e me mantive imóvel durante o show inteiro. Claro, excluindo ocasionais aplausos, sorrisos, risadas, “ohhh”s e pulinhos sem sair do lugar. Emocionada é pouco para o que eu fiquei. Todos os bailarinos, exatamente TODOS eram mais perfeitos do que eu imaginava. Eles possuíam uma técnica perfeita e eu tive que segurar o choro pra não acabar borrando a minha maquiagem. Ao contrário do que eu temia, não me senti mal por mim mesma. Na verdade, ver aqueles bailarinos que eram tão melhores que eu me fizeram querer melhorar, me esforçar mais até alcançar um nível que eu julgava ser impossível.
Usando a desculpa de que ia ao banheiro para retocar a maquiagem e aproveitando que estávamos no intervalo, me despedi de Joel, Marchal e Kenneth e voltei para o salão principal. As entradas que davam para a rua agora estavam fechadas e em um canto do cômodo foram postas mesas com comes e bebes sofisticados. Alguns garçons de roupas brancas também circulavam e foi com um deles que consegui uma taça de champanhe. Espumante não era muito a minha bebida preferida, mas presumi que uma duquesa estaria acostumada. Para todos os casos, eu era uma e não podia fazer feio.
Dei um pequeno gole no líquido, apenas para molhar os lábios, e comecei a minha procura por Nick e Holly; não necessariamente nessa ordem. Rodeei o salão, me esquivando de pessoas que arriscavam alguns passos de dança embalados pela música que preenchia o cômodo e eu não fazia idéia de onde vinha, também não dando muita importância. Fui avistar Nicholas conversando com um homem e uma mulher que eu nunca vira na vida e experiências de mais cedo me faziam crer que ele também não. Sem querer interromper qualquer que fosse o assunto, me aproximei e não fiz questão de anunciar a minha chegada, apenas ficando por perto para escutar o que falavam sem parecer mal educada.
- É um prazer finalmente conhecer a sua esposa, Dr. Tully. – Nick falou com toda sua educação. – Eu estou aqui com a minha namorada.
- E onde ela esta? – A esposa do Dr. Tully tinha uma voz um tanto esguichada, mas não foi isso que me assustou. Há poucos metros de nós uma senhora de idade observava o meu amigo com atenção, claramente escutando cada uma de suas palavras.
- Eu também adoraria conhecer a namorada de um dos meus melhores alunos! – A diretora Agnes desistiu de espiar ao longe e se aproximou.
- Oh, querido, eu demorei? – Tive que agir rápido, segurando a mão de Nick e sorrindo para os três. – Diretora, como é bom vê-la aqui!
- O que você está fazendo? – Nicholas sussurrou no meu ouvido ao fingir dar um beijo no meu rosto.
- Salvando a sua pele. – Usei o mesmo tom e depois me virei para os outros. – A fila do banheiro estava enorme, então terei que retocar a maquiagem depois.
- Com licença. – O Sr. e Sra. Tully se despediram e nos deixaram à sós com Agnes.
- Até depois, doutor. – Nicholas passou o braço em volta dos meus ombros para que parecêssemos mais íntimos. – Mas então, diretora, que surpresa! Não sabia que você viria.
- Uma surpresa e tanto! – Comentei um tanto tensa, olhando para os lados e checando constantemente se Holly estava em qualquer lugar que pudesse ser vista pela diretora.
- Meu convite se perdeu no correio e eu quase não pude vir hoje! – Ela comentou, séria como sempre.
- Fico feliz que tenha vindo. – Menti descaradamente.
- Vamos aproveitar que vocês estão aqui e tirar uma foto? – A mulher sorriu pela primeira vez na vida, o que provava que ela não desistiria daquela idéia.
- Ahn, claro... – Nick me olhou como se pedisse ajuda, mas eu não sabia mais o que fazer.
Acabamos concordando em tirar a foto. O que havia de mal nisso? Nada. Era o que eu dizia para mim mesma, mas não tinha tanta certeza assim. Agnes não demorou nada em achar um fotógrafo que pudesse tirar a nossa foto e me surpreendeu ainda mais quando disse que apenas de Nick e eu apareceríamos nela. A mulher gostava de mandar até fora da Academy, pois exigiu que nossa foto fosse tirada nas escadas e que Nicholas deveria ficar em alguns degraus abaixo do meu para que tivéssemos a mesma altura. Qual a finalidade disso? Também não sei. Entreguei meu copo para um garçom que passava e me ajeitei. Também fui obrigada a abraçar Nick para que parecêssemos realmente um casal.
“Que ótima idéia que você teve, , falando que é a namorada dele!” Briguei comigo mesma. Eu podia ter dito que era amiga da namorada dele e que a menina estava passando mal, então teve que ir embora. Ou qualquer outra coisa! Mas tudo bem, o que estava feito, estava feito. O importante é que eu fiz o certo para proteger os meus amigos e ninguém nunca ficaria sabendo disso. Sorri o mais verdadeiramente que consegui e Nick fez o mesmo. Não precisei ver a foto para saber que realmente parecíamos namorados.
- A foto ficou ótima! – Lá vinha Agnes com aquele sorrisinho horripilante mais uma vez.
- Tenho certeza que sim! – Ironizei, mas consegui disfarçar. Senti a minha clutch vibrar a abri para pegar o meu celular. O nome “Holly” que aparecia na tela me fez congelar. – Com licença, eu tenho que atender...
- Tudo bem, querida, eu vou com você. – Nick devia ter entendido do que se tratava, então tratou de nos afastar de Agnes.
- O que faremos agora? – Perguntei pra ele antes de levar o telefone à orelha e poder atender. – Holly, onde você está?
- Eu estou vendo vocês, mas não olhe agora! – Advertiu-me com um sussurro. – Não posso ficar aqui, , Agnes não pode me ver!
- Eu sei disso, mas como vamos sair? – Olhei em volta preocupada, mas Nick estava na minha frente, então impedia a diretora de me ver. – A entrada por onde você veio?
- Está fechada, eu já chequei. – Pela sua voz eu notei que ela estava assustada, mas também não era pra menos. – Estou perdida! Vou perder o meu emprego e nunca mais conseguirei nenhum! Minha carreira acabou.
- Holly, mantenha a calma! Não se desespere, nós vamos dar um jeito nisso! – Eu sentia a adrenalina percorrendo as minhas veias e sabia que precisava arranjar de um jeito de sair dali. E rápido.
- , sei que não é hora pra isso, mas seus amigos estão vindo pra cá. – Nick apontou discretamente com a cabeça por cima do ombro e avistei Joel, Marchal e Kenneth andando na nossa direção. – Quer que eu os mande embora?
- Não, eu tive uma idéia! – Respondi à Nick, podendo sentir as engenhocas do meu cérebro formulando um plano e em seguida falei com Holly pelo telefone. – Vou tirar a gente daqui, ok? Siga os meus movimentos.
- O que você vai fazer, ?! Espera, não me diga. Eu confio em você. – Ela respirou fundo como se tomasse coragem. – Eu te sigo.
- Duquesa? – Kenneth foi o primeiro a chegar. – Está fugindo de nós?
- Claro que não! Na verdade, eu preciso muito da sua ajuda. – Meu tom era sério, diferente do que eu usara com eles anteriormente. – Vocês seriam capazes de me ajudar sem fazer perguntas?
- Posso fazer só uma pergunta? – Joel sorriu. – É um segredo de estado? Porque se for, eu estou dentro!
- É sim, claro que é! – Afirmei e os três fizeram um semicírculo em volta de mim para poder escutar o que eu tinha a dizer. – Ok. Joel, está vendo aquela senhora de roxo? Eu preciso que a distraia. Ela não pode me ver aqui. Kenneth, preciso que você me ajude a sair. E Marchal... Consegue ver uma mulher de preto atrás de mim? Ela também tem que sair daqui, mas não pode ser vista. Por ninguém.
- Mulher de roxo? Entendi. – Joel assentiu com a cabeça e foi na direção de Agnes.
- Eu sei por onde você pode sair. – Kenneth firmou para mim e depois se virou para Marchal. – Ala Oeste. Te encontro lá com a dama de preto em três minutos.
- Estarei lá em dois!
E com isso, todos se separaram. Minha noite de celebridade se transformou em um filme do James Bond. Joel levou a distração muito à sério, pois eu consegui enxergá-lo falando com alguns seguranças e depois dois deles andaram em direção à Agnes, levando-a para um canto mais afastado. Eu não sabia ao certo o que tinha acontecido, mas não pude ficar pra assistir. Tudo que eu tinha certeza era que ela permaneceria distraída por alguns minutos e era só o que eu precisava. Nick seguiu quando Kenneth nos indicou um caminho e eu praticamente tive que correr para alcançá-los. Marchal não estava mais no meu campo de visão, mas eu tinha certeza que Holly estaria segura em suas mãos.
Passamos por um corredor estreito que levava até uma escada escura. No fim dela eu conseguia ver uma porta de vidro semelhante às da entrada e luzes que piscavam indicavam que por ali conseguiríamos chegar ao lado de fora. Os homens foram os primeiros a descer e eu ergui o vestido a uma altura um tanto boa para conseguir fazer o mesmo que eles. Agarrei no corrimão para ter mais segurança e todos paramos na porta, esperando que Holly aparecesse. Àquela era uma fuga perfeita e eu estaria me divertindo se não fosse algo tão sério.
- Holly! – Nick exclamou ao vê-la no topo da escada.
- Vão, vão, vão! – Marchal exclamou lá de cima, vigiando pra ver se ninguém os seguira.
- Ela não me viu, eu tenho certeza disso! – Holly passou como um furacão por mim e agarrou a mão estendida de Nick.
- Pode ir tranqüila, duquesa. – Kenneth segurou a porta aberta pra mim depois que Nick e a outra mulher passaram. – Foi uma honra poder ajudá-la.
- Muito obrigada, Kenneth! E agradeça aos outros também. – Passei pela porta, mas me virei para fitá-lo mais uma vez. – Caso vá à Dinamarca algum dia, me procure!
- Não me esquecerei desse convite! – Ele sorriu e acenou. – Agora vá!
O obedeci e corri em direção à Holly e Nick, que já estavam bem mais adiantados do que eu. Já não havia mais tanta necessidade de correr, pois estávamos do lado de fora, porém, a animação era grande demais. Além do que, eu sabia que Holly só se sentiria segura mesmo quando estivéssemos dentro de um carro e indo pra casa. Não ficamos para assistir a segunda metade do espetáculo e isso me deixava um tanto triste, claro, mas tinha coisas mais sérias pra me preocupar. Reprimido uma risada, tentei correr mais rápido.
- Táxi! – Nick chegou à calçada e esticou o braço, fazendo o carro preto dar uma parada brusca. – Vem, !
- Já vou! – Gargalhei mais uma vez, tornando a minha respiração ainda mais ofegante.
- Por que você está rindo? – Nick segurou a porta para que Holly entrasse primeiro e depois a seguiu.
- Porque essa fuga foi incrível! – Respondi assim que também me joguei no banco de trás e fechei a porta ao meu lado.
- Alguém vai me explicar essa história de duquesa? – Holly nos questionou e Nicholas e eu apenas nos entreolhamos.
Capítulo LVII
- , tem certeza que você só vai viajar por três dias? – Louis ajudava Zayn a carregar o carro com as minhas malas. Sim, malas. No plural.
- Eu sei, eu sei, posso ter exagerado um pouco... – Até que eu gostaria de ajudá-los, mas estava muito ocupada curtindo os últimos momentos com o meu filho. – Mas sou uma garota. Prefiro levar coisas demais do que deixar algo pra trás e precisar.
- Deixa ela, Louis. – Zayn piscou na minha direção e conseguiu encaixar a minha nécessaire entre a própria mala e a minha outra.
Comparando as nossas malas, Zayn não ficava muito atrás. Ele era tão vaidoso quanto eu, por isso tinha uma mala igualmente grande. O único porém dessa história é que eu estava levando uma nécessaire para comportar meus produtos mais delicados (como shampoo, sabonete, cremes para o corpo, perfume e maquiagem) e uma bolsa para guardar o iPad que ganhei de natal, carregadores de celular, secador de cabelo e outras coisas básicas que eram grandes ou volumosas demais para ir na minha bolsa de mão. Nada muito fora do comum, como podem ver! Se estivesse viajando conosco, aposto que levaria o triplo das minhas coisas.
Meu namorado não reclamou da minha bagagem e estava só sorrisos a manhã inteira. Ao menos ele estava tão animado quanto eu para passar esse tempo o meu lado. Ao mesmo tempo em que eu estava muito tranqüila em passar três dias em uma casa apenas com Zayn, estava ansiosa pelas coisas que poderiam acontecer. Justamente por causa disso é que eu passara horas a fio pendurada no telefone com a minha melhor amiga, escutando conselhos e discutindo outras coisas constrangedoras que não vale a pena serem mencionadas agora. “Eu estou pronta, Abi”, lembro-me claramente de afirmar. E naquele momento, às sete horas da manhã, eu ainda não mudara de idéia. Sei que o convite de Zayn não foi tão intencional assim, e com isso esperava surpreendê-lo. Ainda não sabia como fazer a minha aproximação sutil, porém, do jeito que Zayn e eu éramos ao estar juntos, tinha certeza que tudo aconteceria naturalmente.
- Você vai sentir falta da mummy? – Falei para em meu colo enquanto acariciava o pelo em seu pescoço. – Claro que vai! Não me olha assim, Bo... O tio Lou vai cuidar muito bem de você! Não vai? Louis!
- Ah, está falando comigo? – Lou riu e se virou na minha direção assim que a mala do carro foi fechada. – Depois que você ganhou esse cachorro eu não sei mais se está falando com ele ou se ficou louca de vez e fala sozinha.
- Acho que falar com um cachorro e falar sozinha não tem muita diferença, né? – Liam escutou a nossa conversa enquanto descia os degraus da varanda. O menino sorria.
- Bom dia, Leeyum! – O cumprimentei. – Achei que não fosse acordar antes de eu ir embora!
- Claro que não! – Abriu os braços para que eu o abraçasse e assim o fiz, fazendo ficar no meio de nós dois. – Eu tinha que te desejar uma boa viagem.
- Acho que já podemos ir... – Zayn tinha aberto a porta do passageiro onde eu deveria me sentar.
- Estou dividida! – Fiz um bico enorme ao me separar de Liam. Queria ir com Zayn, mas também queria ficar com .
- Vamos, babe... Vai ser divertido. – Zayn andou até onde eu estava e tocou o meu rosto com uma mão. – Nós dois em um chalé...
- Não podemos ser três em um chalé? – Tentei, mas já sabia a resposta. – Tudo bem, Malik. Você venceu.
- Vem pro papai... – Zayn pegou dos meus braços e o acariciou antes de entregá-lo à Liam. – Cuide bem do meu filho, Liam.
- Pode deixar. – Li riu e mal esperou nos afastarmos para começar a brincar com o pequeno. – Vamos nos divertir muito enquanto a mamãe está fora!
- Não preciso dar as recomendações de novo, certo? – Olhei séria para o meu irmão. No dia anterior, tínhamos conversado sobre o que poderia ou não fazer durante a minha ausência; como por exemplo, passear todos os dias e nunca ser solto da coleira.
- Não se preocupe, ! – Lou rolou os olhos e me puxou para um abraço rápido. – Vai ficar tudo bem. Aproveite.
- Pode deixar! – Dei um pulinho sem sair do lugar e Zayn riu atrás de mim. – Cuide bem do Haz, ok? Diga que eu mandei um beijo e espero que ele melhore do resfriado!
- Ah, é! Ele pediu pra avisar que deseja uma boa viagem. – Liam acrescentou.
- Até o ano que vem, lads! – Acenei. – Tchau, !
Por incrível que pareça, assim que dei tchau para o cachorro, ele respondeu. Não com palavras de verdade, mas latiu. O que era quase a mesma coisa se pararmos pra pensar. Ri e coloquei as mãos sobre o peito, achando tudo aquilo fofo demais. Será que ele já começava a entender que seu nome era ? Eu torcia para que sim! Teria corrido para beijar o filhote se Zayn não me arrastasse para dentro do carro. Aquela foi a coisa mais sensata a se fazer, caso contrário demoraríamos mais uma hora pra conseguir sair de casa. O garoto fechou a porta depois de me colocar no Volto e eu me acomodei enquanto ele dava a volta para se sentar ao meu lado.
Segundo o motorista, a nossa viagem não demoraria mais que duas horas, mas ainda assim era tempo demais pra se estar dentro de um carro. Ao menos eu estava com uma roupa super confortável e já tirei os sapatos assim que Zayn deu a partida. Ele não se importou com a minha folga, muito pelo contrário. Apenas sorriu e ligou o rádio. Uma música desconhecida começou a tocar, mas nenhum de nós prestou muita atenção. Mantivemos o volume baixo para que ainda pudéssemos conversar sem ter que acabar gritando ou coisa parecida.
- Como é Wiltshire, baby? – Subi os pés para o banco e mantive os joelhos dobrados. Não dei a mínima atenção ao que passava pelas janelas, já que a paisagem mais bonita estava bem na minha frente.
- Wiltshire é um distrito, na verdade. Onde vamos ficar se chama Castle Combe. – Explicou revezando os olhares entre mim e a estrada. – É um vilarejo de quase dois séculos e os moradores conservam a mesma arquitetura até hoje. Você vai adorar! O chalé fica um pouco distante da cidade, mas Castle é tão pequena que acaba sendo perto.
- Lá deve ser lindo!
- E é! Já faz alguns anos que não vou a casa, mas pelo que me lembro é bem legal também. É cercada por uma floresta e um lago passa por perto...
- Já estamos chegando?! – Perguntei olhando em volta, mas não havíamos chegado nem ao centro de Londres ainda.
- Calma, babe... Vamos chegar logo. – Tocou a minha perna com a mão que não estava no volante e fez carinho com o polegar.
- Sei disso, é só que estou ansiosa! E pelo que você falou, o lugar deve ser muito divertido. – Suspirei e coloquei a minha mão sob a dele. – Estou precisando entrar em contato com a natureza.
- Falando assim você parece hippie! – Riu de forma gostosa, jogando a cabeça pra trás. – Está passando muito tempo com a Liv?
- Pior que estou! – Também ri ao me tocar que começava a captar algumas das características dela. – Mas tenho que admitir que Liv é uma boa companhia, sabia?
- Não deixe ouvir você falar isso...
- Deus me livre! – Falei rápido demais, como se pedisse pra ele não contar nada daquele assunto pra ela. – e Liv são opostos completos! Eu amo a ruiva, mas Olivia me trás uma calmaria tremenda. Então é bom equilibrar.
- Vocês são como as Meninas Super Poderosas. – Parando pra pensar naquilo, até que ele tinha razão.
- Por que eu tenho que ser a Docinho? Ela é a mais estressada! – Cruzei os braços. Minha MSP preferida sempre foi a Lindinha porque ela era a mais adorável. Agora eu teria que ser a Docinho só por causa da cor do cabelo?
- Assim como você quando acorda. – Zayn disparou, me fazendo encará-lo descrente.
- Malik! – O empurrei de leve. – Quem vai ter que acordar do meu lado durante esses dias é você mesmo. Então boa sorte em me deixar mais estressada ainda
- Eu te desestresso rapidinho. – Fomos obrigados a parar em um sinal vermelho e me tornei o centro das atenções do outro. v
- Boa sorte com isso! – Ri.
- Não preciso de sorte. – Com isso, Zayn se inclinou levemente na minha direção e roubou um beijo.
- Não mesmo. – Mordi o lábio inferior sabendo que ele tinha razão. – Deve ser horrível ser você.
Eu e Zayn acabamos rindo e fiz uma lista de todas as coisas que ele podia usar para conseguir o que quisesse. Não só de mim, mas de qualquer pessoa. Pois é, era muito difícil ser ele! Super convencido, o menino concordou com tudo que eu falei, fazendo-me rir mais ainda. Assim que saímos de Londres e chegamos à estrada, me acomodei ainda mais no banco. De vez em quando olhava para Zayn com um sorriso, mas deixamos a música que tocava no rádio encher os nossos ouvidos. Além de ter ido dormir tarde por causa da conversa com , ainda acordei cedo para poder viajar. Não fiquei espantada quando o balanço do carro se tornou algo extremamente embalador e uma sonolência tomou conta de mim. Tentei me manter de olhos abertos e mal percebi que adormecera.
- Babe? Chegamos... – Uma voz um pouco distante falava comigo e eu me mexi um pouco até me situar de onde estava.
- O que aconteceu? – Pisquei os olhos meio preocupada, lutando contra o sono e a preguiça.
- Você apagou durante a viagem inteira. – Zayn sorria pra mim, já com o carro desligado. – Não quer ir conhecer a casa?
- Chegamos! – Sorri um pouco lerda e calcei meus sapatos novamente para saltar do carro.
- Vamos levar as coisas pra dentro e depois podemos voltar à cidade pra almoçar. – Também desceu do carro e já foi para a parte de trás, jogando um molho de chaves na minha direção primeiro. – Vá em frente!
- Não demore! – Sorri e corri em direção ao chalé em minha frente.
Zayn tinha razão ao falar que a casa era cercada por uma floresta, mas eu não conseguia ver o lago. “Uma coisa de cada vez, , uma coisa de cada vez.” Olhei para o chalé e não pude deixar de me sentir curiosa para explorar o lado de dentro. Pelo que percebi por essa primeira impressão, a casa era basicamente construída por uma madeira escura e antiga, mas ainda parecia segura. As acomodações iam até um segundo andar, mas esse parecia menor que o primeiro. Fiquei feliz por não haver mais nada além daquela casa de campo pelos arredores, pois algumas das janelas iam do chão até o teto, o que tornaria a privacidade impossível de se ter caso casas vizinhas dividissem aquele espaço. Claro que cortinas pesadas e escuras impossibilitavam de ver o lado de dentro, então teria que esperar pra ver.
Parei de correr ao chegar na porta e girei a chave na fechadura. Por mais que Zayn afirmasse que mais ninguém estaria usando aquela casa durante a nossa estadia, preferi entrar com cuidado e gritar um “Olá?” que avisaria a minha chegada. Como não obtive resposta, abri mais a porta e finalmente entrei. A primeira coisa que encontrei foi uma sala de estar com direito a um sofá branco e algumas almofadas pretas de frente à uma parede onde uma lareira de verdade dava o charme que toda casa de campo devia ter. Em cima dela também encontrei uma TV embutida na parede, mas duvidei que fosse desperdiçar algum tempo assistindo-a.
Segui para a direita até passar por um arco na parede que substituía portas e cheguei à sala de jantar que era ligada à cozinha. O lugar era bem amplo e espaçoso, com móveis de madeira e utensílios em prateleiras e armários elevados. Não saí abrindo a geladeira ou qualquer outro compartimento, mas sabia que estavam vazios. Provavelmente Zayn e eu teríamos que comprar mantimentos para esses três dias que passaríamos ali, principalmente porque a cidade ficava um pouco distante e não seria legal termos que pegar o carro toda vez que sentíssemos fome. Depois da cozinha/sala de jantar encontrei três portas. A primeira era um pequeno banheiro, a segunda um quarto com uma cama de solteiro e um beliche, e a última levava ao lado de fora, onde uma pequena varanda estava montada com mobílias de jardim.
Voltei para a sala e vi que as minhas malas já estavam por ali, mas Zayn ainda devia estar trazendo as dele. Não o esperei se juntar a mim e subi a escada rente à parede do fundo da sala de estar, indo me aventurar pelo segundo andar. A primeira porta que encontrei estava bem na minha frente e levava à uma outra varanda. Diferente da do primeiro andar, aquela era toda fechada por janelas de vidro transparente que me permitia ver a belíssima vista. Árvores, árvores, algumas montanhas ao longe e mais árvores. Os móveis também eram arrumados, sofisticados e com um toque vintage por causa da madeira. Não encontrei poeira em quase canto nenhum, o que estranhei bastante. Ou aquela casa fora recentemente usada, ou alguma fada madrinha andou limpando tudo antes da nossa chegada.
Saí daquele cômodo e fui até a última porta que havia naquele andar, sem deixar de notar os porta-retratos pendurados nas paredes do corredor. Vi fotos de Zayn quando era pequeno e também das suas irmãs; até mesmo de pessoas que eu não conhecia, entretanto, por causa da semelhança, deduzi que eram da família. Ao abrir a última porta, encontrei o que devia ser o quarto principal. Uma cama de casal com lençóis brancos e grossos foi a primeira coisa que eu vi, me rendendo um arrepio gostoso. Um guarda-roupa tomava conta de uma das paredes e a oposta a essa tinha uma mesa para duas pessoas e cadeiras rústicas.
O banheiro da suíte era simplesmente uma graça! A porta que o separava do quarto principal era de correr e particularmente pesada, o que me deu um pouco de trabalho no começo, mas foi só desemperrar a roda que consegui entrar no cômodo. Mais para o fundo e embaixo de uma janela cinza estava uma banheira majestosa de cerâmica branca. Na lateral também encontrei um Box de chuveiro, privada e uma bancada enorme de madeira onde a pia era colocada. Acima dessa bancada também havia um espelho igualmente grandioso. Acabei voltando para o quarto e olhei mais uma vez para a cama. Tantas coisas se passaram pela minha cabeça e eu prendi a respiração por um momento. Deixei a minha bolsa sobre o colchão alto e toquei o edredom com a ponta dos dedos.
- Vejo que encontrou o meu lugar preferido da casa. – Zayn estava encostado à porta de entrada do quarto, com as mãos nos bolsos e o sorriso levemente torto brincando nos lábios.
- É um lugar... Confortável. – Sorri pra ele. – Mas acho que ainda prefiro aquela varanda ali do outro lado do corredor.
- Posso fazer você mudar de idéia. – Arqueou uma sobrancelha levemente sugestivo e me fez cruzar os braços.
- Quero vê-lo tentar. – O desafiei com uma mordida discreta no lábio.
- Eu adoro um desafio. – Caminhou na minha direção e me fez descruzar os braços pra que ele pudesse segurar minhas mãos. – Está com fome?
- O desafio é me fazer comer? – Entrelacei os dedos aos dele e acabei rindo. – Vou ganhar almoço na cama?
- Talvez amanhã, quando tivermos alguma comida em casa pra que eu possa cozinhar pra você. – Fez uma expressão engraçada e eu não conseguia tirar os olhos dele por hipótese alguma. – Mas por agora... Vamos à cidade?
- Vamos! Eu estou louca pra conhecer Castle Combe!
Soltei uma das mãos dele para poder pegar a minha bolsa em cima da cama, mas antes que eu pudesse alcançá-la, Zayn me puxou novamente. Mais uma vez me senti uma bonequinha pra ele, pois sempre era puxada, girada, levantada e derivados. Claro que não me importava com isso, contanto que não ficasse tonta. Dessa vez, Zayn me abraçou pelas costelas e o envolvi pelos ombros, já sabendo o que iria acontecer. Nossos lábios se chocaram com delicadeza, mas bastante vontade. O beijo que trocamos não se aprofundou tanto quanto poderia, mas seria o suficiente por agora.
- Você poderia ter visto a cidade no caminho pra cá. – Não soltou o abraço ainda, me segurando perto. – Mas dormiu a viagem inteira!
- Hey! – Fiz bico como se não tivesse culpa alguma. – Foi sem querer.
- Eu sei, babe, estou brincando. – Beijou a minha bochecha e finalmente me deixou ir pegar a minha bolsa. – E você ronca.
- Não ronco não! – Que maluquice era aquela? Pelo riso de Zayn, soube que ele estava brincando. Mas dois podiam jogar esse jogo... – Ao menos ninguém que dormiu comigo reclamou.
- Como é? – A graça desapareceu de seu rosto e deu lugar ao ciúme. Eu simplesmente passei por ele porta a fora. – Quem poderia reclamar, ?
- Tantas pessoas! – Fui irônica. Como se ele não soubesse a resposta, né? - Você sabe que é brincadeira, idiota. Não faz essa cara!
- Não estou fazendo cara nenhuma. – Deu de ombros, mas vi de soslaio que ele fizera uma careta.
- Aham, claro que não. – Ri e parei no topo da escada, esticando a mão na direção dele. – Podemos ir?
- Cuidado com essa escada. Quando Brie veio aqui, ela quase caiu. – Zayn falou de um jeito que deixava claro que era uma provocação. Talvez uma vingança por eu ter feito ciúmes primeiro.
- Ah, é? Pena que ela não quebrou o pescoço! – Cruzei os braços e desci a escada, furiosa.
- Ei, espera por mim! – Tentou me seguir, mas fui mais rápida.
- Pede para a Brie te esperar. – Rolei os olhos e não olhei pra trás.
Um lado de mim sabia que ele só falara de sua ex-namorada para que eu sentisse ciúmes, mas o outro sentia muita raiva por que a minha única inimiga já estivera naquela casa. Comecei a imaginar o que os dois poderiam ter feito ali e me senti enjoada. Atravessei a sala como um furacão e abri a porta de entrada da mesma forma, quase correndo pela grama.
- , onde você está indo? – Zayn gritou atrás de mim.
- Pra longe de você! – Rebati. Eu podia não saber o caminho, mas estava indo para algum lugar.
- Você não é a única que consegue brincar, sabia? – Pelo tom da sua voz, eu sentia que ele estava se aproximando. – !
- Sai! – Não precisei olhar pra trás pra saber que ele estava correndo e fiz o mesmo. Passei direto pelo Volvo, avistando uma estrada de terra que provavelmente levaria até a cidade.
- Eu nunca trouxe a Brigitte aqui, . – Gritou mais uma vez e me fez diminuir o ritmo dos meus passos minimamente. – Você é a primeira e sabe disso! Agora dá pra parar de correr?
- Por que você tem que brincar assim? – Parei de correr e me virei na direção de Zayn; que estava mais perto do que eu imaginava.
- Porque gosto quando você fica brava. – Lá vinha aquele sorriso torto mais uma vez. Com dois passos ele já estava na minha frente, mas não chegou a encostar em mim.
- E eu não gosto quando fala dela. – Cruzei os braços.
- Até quando vai ter esse ciúme idiota? – Enrolou as mãos nas pontas do meu cachecol e mal me mexi. Eu conhecia os efeitos daquela aproximação. Sabia que não sustentaria a minha raiva por tanto tempo assim. – Vou ter que repetir que amo você?
- É um começo. – Dei de ombros, mas acabei soltando um sorrisinho frouxo. – Não esquece da parte que fala que é meu.
- Eu sou seu, Anjo. – Me puxou pelo cachecol e pressionou os lábios nos meus, deixando alguns selinhos lentos. – E é você que eu amo.
- Agora promete que não vai mais tocar no nome dessa oxigenada. – Eu já estava bem mais calma.
- Prometido. – Sorriu. – Podemos voltar para o carro agora? A não ser que queira ir a pé...
- Por mais que eu queira entrar em contato com a natureza... – Entortei o nariz em uma careta engraçada.
- Esse sorvete de alpiste é bom? – Perguntei enquanto andávamos pela calçada da praça do centro da cidade (a única, por sinal). Havíamos acabado de almoçar em um restaurante super fofo e resolvemos dar uma volta pela cidade enquanto desfrutávamos sorvetes em casquinha. O meu era tradicional de chocolate e o dele de alpiste.
- É pistache, . – Me corrigiu enquanto apertava seu braço em volta de mim. – Quer provar?
- Mas você tem que concordar que parece alpiste. – Parei de frente pra ele e apontei para o sorvete do mesmo. – Tá vendo? Tem até esses negocinhos...
- Quer provar ou não? – Perguntou meio impaciente, tentando não rir das minhas palhaçadas.
- Quero! – Sorri e esperei ele me passar a própria casquinha, ou me deixar dar uma lambida.
- Aqui. – Parecendo uma criança de cinco anos, Zayn encostou o sorvete no meu queixo de propósito.
- Zayn! – Gargalhei na minha tentativa de brigar com ele. Acabei limpando o meu queixo com o polegar e em seguida o levei à boca. – Hm, nada mal.
- Eu disse que é bom.
- E está certo. – Comi um pouco do meu próprio sorvete e o passei pelos lábios como se fosse um batom. – Quer provar o meu?
- Você faz ser muito difícil dizer não... – Zayn segurou na minha nuca com a mão livre e começou “limpar” os meus lábios; dando pequenas sugadas ou lambidas. O problema era que ele fazia isso de forma desengonçada de propósito, o que acabou me fazendo rir.
- Você está me babando toda! – O empurrei de leve e voltei para o seu lado para que pudéssemos voltar a andar.
- Desde quando tem nojo da minha baba? – Me acompanhou com passos lentos.
- Desde que a sua língua começou a parecer com uma lesma andando no meu rosto! – Tudo bem que essa comparação não era das melhores, mas foi o que eu consegui pensar.
-Blaaaaahr. – Abriu a boca e mexeu a língua verde por causa do sorvete. Eu não sabia se ria ou se me escondia.
- Ew!
Não havia tantas pessoas assim na rua, mas ainda fiquei preocupada com o que pensariam se vissem aquela cena. Nunca morei em cidades pequenas, mas sabia como tudo funcionava em uma. Todos se conhecem e opinam sobre as vidas um dos outros. Castle Combe não chegava nem a ser uma cidade direito, com as suas cinco ruas, então eu imaginava que se um casal fosse visto perturbando a ordem de um vilarejo histórico, no dia seguinte todos saberiam. Zayn reconheceu alguns moradores no restaurante e vice-versa, não chegando a trocar mais de duas palavras. Só aquele pequeno encontro já me fez ver que a família Malik, que tinha uma casa nos arredores, era bem popular. Não gostaria que da próxima vez que a minha sogra resolvesse usufruir de sua casa de campo, ficasse sabendo do que o seu filho aprontou.
- Lembra quando me disse que nós não tempos muitas fotos juntos? – Perguntei assim que nos sentamos em um banco de pedra para terminar nossos sorvetes.
- Uhum. – Respondeu com a boca cheia de alpiste. Quero dizer, pistache. – O que tem?
- Eu trouxe a minha câmera. – Sorri e tirei o objeto da bolsa. – Quero ver você reclamar agora!
- Eu reclamava porque tinha razão! – Franziu o cenho. – Quero fotos suas pra espalhar pelo meu quarto.
- Já estou vendo tudo... – Balancei a cabeça, séria. – Você vai ser um daqueles caras obcecados pela namorada que colocam uma foto do rosto dela estampado nos travesseiros e como papel de parede.
- Pelo menos é uma foto! – Pareceu mais sério ainda. – Agradeça enquanto eu não coloco o seu rosto na almofada! E faço um risoto com o que sobrar.
- Acho que você está assistindo muito à Hannibal.
- Qual é? Você é gostosa, . – Sei que não devia ter ficado corada com esse comentário, mas o sorriso travesso de Zayn tornava difícil resistir.
- Vamos tirar as fotos ou não? – Mudei de assunto.
- Vamos sim!
Dizendo isso, Zayn tirou a câmera da minha mão e começou a mexer em alguns dos botões. Não sei bem se ele entendia alguma coisa dos mecanismos fotográficos, mas também não me importei. Ao menos assim eu teria um tempo para terminar o meu sorvete. A bola de sorvete já havia ido embora há minutos atrás, mas ainda tinha a casquinha de biscoito pra poder me deliciar. Alguns farelos caíram na minha roupa, mas não liguei. Apenas umas batidinhas seriam capazes de me deixar limpa novamente. Dei uma mordidinha na ponta mais alta da casquinha e escutei um clic bem silencioso. Olhei para o lado e era Zayn que mirava a câmera na minha direção.
- O que você está fazendo?! – Perguntei com a boca cheia enquanto os clics continuavam. – Zayn!
- Você disse pra tirarmos fotos! – Riu enquanto olhava as últimas fotos que tirara. – Só estou fazendo isso.
- Eu disse pra tirarmos fotos juntos. – Consegui engolir e desisti de comer a casquinha. A joguei no lixo ao lado do banco e recuperei a câmera. – Chega mais perto.
- Assim? – Zayn escorregou pelo banco até estar bem grudado em mim.
- Não tanto! – Balancei a cabeça, mas até que apreciei aquela proximidade toda.
Cansado de fazer palhaçada, ele se afastou apenas alguns centímetros e começamos a tirar fotos. Qualquer um que passasse por nós pensaria que éramos dois bobos e teriam razão. Na primeira foto nós dois sorrimos para a máquina fotográfica como pessoas normais, mas isso logo mudou. Fizemos caretas, poses estranhas, bicos, estiramos a língua, rimos, nos entreolhamos... Foi uma experiência bem divertida, mas me senti frustrada com o fato de Zayn ser tão incrivelmente bonito. Não chegamos a ficar estranhos um ao lado do outro, entretanto, a diferença ainda era exorbitante.
Levantamos do banco para dar mais uma volta na praça e eu pedi para que Zayn posasse pra mim. Mudei as funções da câmera para que a tela digital apagasse e eu o focalizasse pelo quadradinho – como nas máquinas analógicas. O menino fazia algumas poses de vez em quando, mas na maioria ele só estava parado e olhava para o lado ou para a câmera. Bem simples, certo? Não! Era como se ele virasse um modelo profissional. Não sei como explicar, mas Zayn era simplesmente fotogênico. Os papparazis ganhariam na loteria com ele, porque não consigo imaginá-lo “feio” em uma fotografia. Pra falar a verdade, não consigo imaginá-lo feio em nenhuma situação. Diferente de mim. Vamos ser sinceros aqui, sei que não sou uma pessoa de aparência ruim, mas também sou uma Miss Inglaterra. Ou Miss França, no meu caso. Mudaria uma coisa aqui ou ali, mas me aceitava como era. Não que eu tivesse outra escolha, claro.
- Você não cansa? – Perguntei ao bater uma última foto antes de guardar a câmera.
- De que? – Bagunçou os cabelos, comprovando o meu ponto.
- De ser tão lindo assim! – Cerrei os olhos e me sentei ao seu lado na borda de algo que deveria ter sido uma fonte há séculos atrás.
- Preferia ter um namorado feio? – Arqueou uma sobrancelha.
- Quero ter você como namorado. Não me importaria com a sua aparência. – Passei o braço pelo dele e encostei a cabeça em seu ombro. – Mas é claro que eu não me importo em você ser o homem mais bonito do mundo. Só não me importaria de te acompanhar...
- Do que você está falando, ? – Sentia seu olhar em cima de mim. – Você é linda.
- Eu sei que você acha isso e é o suficiente pra mim. – Dei de ombros querendo encerrar aquele assunto.
Não me importava em parecer fraca na frente dele, mas era de mim mesma que eu tinha vergonha. Sempre quis ser aquele tipo de pessoa que se ama por inteiro e que não se sente insegura com a aparência, mas desde pequena tenho algumas dessas crises de mulher. Apesar disso, repetia para mim mesma que não iria demonstrar. Olhei pra frente, fitando aquela rua de pedras por onde nenhum carro passava. Na verdade, não sei dizer se qualquer um dos moradores daquele vilarejo possuía um carro. Tudo era próximo demais, então eles poderiam simplesmente caminhar até o seu destino ou chamar por telefone um transporte que os levasse até a cidade mais próxima.
- Essa cidade me lembra Verona. – Falei ao abraçar Zayn ainda mais. – Uma Verona mais antiga, claro.
- Verona é a cidade Romeu e Julieta, não é?
- É sim... – Sorri. – Eu nunca estive lá, mas acho uma cidade linda.
- Vou te levar lá um dia. – Aquele comentário me fez olhar pra ele. – Por que está me olhando assim?
- Porque eu te conheço! – Balancei a cabeça em reprovação. – Sei que você é bem capaz de aparecer amanhã com duas viagens para a Itália.
- O que há de errado em querer levar a minha Julieta para conhecer o mundo? – Riu porque sabia que eu estava certa. – Como anda com o texto, aliás? Ainda está tendo dificuldade?
- Ouço barulho! Preciso andar depressa... Oh! Sê bem vindo, punhal. Tua bainha é aqui. Repousa aí quieto e deixa-me morrer. – Recitei a minha última fala e sorri orgulhosa de mim mesma. – Estou melhorando! Ainda tenho algumas frases pra decorar, mas já sei pelo menos a metade!
- Wow! Queria conseguir decorar com tanta facilidade assim. – Zayn sorriu surpreso e eu acabei fazendo o mesmo. – Pelo menos tenho menos falas que você. Já que sou só o Páris...
- Hey! Você não é “só o Páris”. – Não gostava de ver Zayn se sentindo mal por ter um papel pequeno na peça. – Vai ser o melhor Páris que essa cidade já viu!
- E eu vou morrer também! Além de poder brigar com o Nicholas. – Comemorou como se fosse uma cosa boa. – Na peça, claro...
- Mesmo que você fosse adorar brigar com ele na vida real. – O soltei para poder cruzar os braços e parecer séria.
- Eu iria adorar defender o que é meu, isso é verdade. – Colocou uma mexa dos meus cabelos pra trás da minha orelha. – Andei ensaiando a minha cena de morte. Quer ver?
- Claro que quero! – Aquilo ia ser bom!
- Não queria estragar o suspense, mas como você vai estar de olhos fechados, não poderá ver a cena. – Zayn explicou e se levantou.
O menino foi para a minha frente e se preparou. Eu cruzei as pernas e fiquei esperando-o encenar o que quer que estivesse planejando, acreditando que ele falava sério. Não sabia se Zayn começaria a cantar como em musicais ou simplesmente... Morrer. Mantive a minha atenção centrada no menino quando ele começou. Primeiro fingiu levar uma punhalada no peito e em seguida olhou o sangue invisível em suas mãos. Então começou a cambalear e fraquejar, terminando por cair de joelhos no chão e xingar os céus em silêncio. Eu só esperava que ele estivesse brincando e aquela não fosse realmente a sua cena de morte. Quando Zayn caiu no chão e teve alguns espasmos, foi impossível segurar o riso.
- Ok, baby, muito bom! – Levantei e fui até ele, esticando a mão para ajudá-lo a sair do chão. – Você devia ganhar um Oscar!
- Devia mesmo, né? – Zayn segurou a minha mão, mas acabou levantando por conta própria. Ele estava orgulhoso de si mesmo e preferi deixá-lo ser feliz e pensar que a sua encenação foi boa de verdade.
Após fazer algumas compras no mercadinho local, Zayn e eu voltamos para casa às 15h30min da tarde e o Sol já começava a dar indícios de começar a se por. Os dias de inverno estavam ficando cada vez mais curtos e isso ainda me era um tanto estranho. Estacionamos o carro perto da entrada da casa, mas quando fiz menção de ir até a porta, Zayn me impediu e disse que queria me mostrar algo. Já sabendo que ele não me daria nenhuma informação além daquela, resolvi segui-lo sem reclamar. A única coisa que pode me dar alguma dica foi vê-lo tirar do porta-luvas do Volvo duas lanternas. Desconfiei que houvesse alguma caverna escondida naquela floresta e o menino estivesse pensando em explorá-la. Há alguns meses atrás eu teria concordado com isso sem nem questionar, mas depois dos acontecimentos da festa surpresa do meu irmão, comecei a ter um pé atrás de entrar em florestas que eu não conhecia. Ao menos nesse dia eu não estava sob o efeito de nada ilícito e muito menos sozinha.
- Baby, o que você está aprontando dessa vez? – Me encolhi dentro do sweater e ajeitei o cachecol em meu pescoço por causa do frio.
- Apenas confie em mim, ok? – Ele sorriu ao estender a mão pra mim. – Sei o que estou fazendo.
- Eu confio em você. – Admiti, mas demorei alguns segundos para segurar a sua mão. – Só não sei se confio no seu senso de direção.
- Tá brincando? – Riu e demos alguns passos na direção da floresta que cercava a casa. – Eu conheço esse lugar como a palma da minha mão. Já perdi a conta de quantas vezes fiquei perdido aí dentro quando era criança.
- Isso devia me confortar? – Entrelacei os dedos nos dele a fim de me sentir mais segura e estudei a floresta.
Até que não era tão assustadora assim, pra falar a verdade. As árvores eram longas e altas e seus troncos eram retos. As raízes não saiam tortas do chão e isso dificultava qualquer tropeço. A grama estava em um tom que variava do verde escuro para o marrom e algumas flores e vegetação local ainda arriscavam desabrochar apesar do tempo frio. O Sol ia abaixando na nossa frente e os poucos raios que penetravam a floresta eram o suficiente para nos guiar pelo caminho. De repente senti uma tranqüilidade tremenda e todo o receio foi embora.
- Eu estou aqui pra te confortar. – Acariciou a minha mão com o polegar e eu sorri. – Vou te manter segura.
- Meu super herói! – Soltei a mão de Zayn pra poder abraçá-lo de lado e continuamos andando. – Super Zayn!
- Sempre achei que seu tivesse um nome de super herói seria algo mais divertido eu isso. – Comentou entretido, indicando o lado que deveríamos seguir.
- Como qual? – Dobramos à direita e chegamos a uma espécie de trilha de terra estreita ladeada pelas árvores.
- Vas happening man! – Disse mais animado do que deveria e me fez rir.
- Ok, esse bem mais legal... – Fui irônica, mas Zayn não gostou e acabou abaixando a minha touca até cobrir os meus olhos. – Já entendi, já entendi! Sem fazer brincadeiras com o Vas happening man!
- Aprendeu rápido. – Riu enquanto eu tinha muito trabalho para voltar a arrumar meus cabelos e a touca.
- Existem animais por aqui? – Finalmente consegui me ajeitar e olhei para Zayn com curiosidade.
- Animais? Do tipo leões e elefantes?
- Na verdade, eu estava pensando mais em alces, ou veados... – Dei de ombros. – Mas se quiser ir com elefantes ou leões tudo bem pra mim.
- Só algumas corujas e pássaros. Ah, e um lince das montanhas, mas nada que nos preocupe. – Ao ver a minha cara de espantada, Zayn tratou de se desmentir. – Foi uma piada, .
- Eu sabia disso! – Não sabia não. – Só não sou muito fã de imaginar que há um animal selvagem me observando.
- RAWR. – Imitou um rugido de um tigre ou algo do tipo e acabou me assustando.
- Malik! – Me soltei de seus braços e o empurrei. Não estava zangada, apenas não amei a brincadeira, mas terminei rindo. – Idiota.
- Me chamando de idiota com um sorriso desses, eu não consigo ficar bravo. – Se reaproximou e passou o dedo mindinho pelo meu, prendendo-o ali.
- Você não consegue ficar bravo comigo e ponto final. – Sorri ainda mais e continuamos andando em frente. – É uma rua de duas mãos.
- Pode até ser, mas você bem que tenta. – Riu baixo afirmando com a cabeça.
- Só quando você fala de quem não deve. – Franzi o cenho como se perguntasse “você quer mesmo falar sobre isso?” e ele se calou.
- Já estamos chegando. – Fez uma careta engraçada ao mudar de assunto.
Zayn não mentiu ao falar que estávamos chegando, pois logo avistei a saída da floresta. Demos mais uns dez passos e meus olhos foram atingidos pela claridade. Não que estivesse extremamente claro, apenas mais claro que dentro da floresta. Assim que meus olhos se acostumaram com aquela nova lucidez, fitei a campina ao meu redor. O lugar era simplesmente enorme e minhas íris se perdiam no horizonte. Consegui enxergar várias montanhas nos ladeando e algumas casinhas bem pequenas por conta da distância. O chão ainda era coberto por grama, mas intercalava-se com tufos de capim que batiam na altura dos meus joelhos e flores brancas.
- Isso aqui lindo demais! – Sorri encantada, adentrando mais ao campo. Apontei para uma construção ao longe. – Aquilo é um castelo?
- Costumava ser. Hoje em dia é um hotel. – Passou por mim e se sentou em uma parte de gama baixa e se sentou. – Foi ele que nomeou a cidade.
- Eu só precisava de um vestido pra me sentir uma princesa. – Fui até ele e me sentei ao seu lado, tirando os sapatos e esticando as pernas na minha frente.v
- Uma princesa também precisa de uma coroa. – Ao falar isso, Zayn gentilmente tirou a touca dos meus cabelos e começou a arrancar algumas das pequenas flores brancas.
- O que você está fazendo? – Minha pergunta foi respondida assim que ele começou a enfeitar meu cabelo com as flores.
- Arrumando o seu cabelo, vossa majestade. – Brincou.
- Me deixe bem bonita, por favor. – Ri e coloquei para trás as mexas que caíam para frente do meu corpo. – Tenho um compromisso muito importante hoje à noite.
- Seria ousadia de minha parte perguntar qual compromisso? – Podia sentir os cabos das flores se prendendo em meus cabelos na medida em que Zayn os enfeitava.
- Claro que não. – O olhei de esguelha. – Tenho um encontro com o príncipe de Bradford. Vamos jantar juntos.
- Ouvi falar muito bem desse jovem. Dizem pelo reino que ele é muito bonito e muito talentoso. – Nada modesto, por sinal. – O que você acha?
- Já vi melhores. – Dei de ombros.
- Estraga prazeres. – Riu e terminou com o meu cabelo. Desejei ter um espelho pra ver como eu estava. – Agora temos que ficar bem quietos.
- Por que? – O olhei sem entender. Estava tentando me mandar calar a boca?
- Você vai ver. – Sorriu travesso e eu entendi que teria que esperar pra ver.
Decidi obedecer Zayn e prestar atenção ao pôr-do-sol que acontecia bem diante dos meus olhos. Algumas nuvens brincavam no céu enquanto ele ganhava uma cor arroxeada com um toque de laranja. Os últimos raios do Sol se despediam e beijavam a superfície das colinas, deixando tudo com um toque de ouro. O vento se divertia com os meus cabelos e balançava os fios, assoprando a minha franja bagunçada para trás. Olhei para Zayn ao meu lado e ele também prestava atenção naquele milagre da natureza que acontece todos os dias, mas muitas vezes passava despercebido.
Foi impossível não lembrar do primeiro pôr-do-sol que assistimos juntos, naquele dia no centro de Londres. Tanto havia mudado... Zayn e eu crescemos um dentro do outro, dividimos nossos medos mais íntimos, nossos segredos mais embaraçosos e conseguíamos nos entender com uma simples troca de olhares. Eu o amava e sentia isso em cada fibra do meu corpo. Não havia espaço para dúvidas, incertezas ou inseguranças. Ele era o meu porto seguro, minha wonderwall. Eu sabia que seria capaz de fazer qualquer coisa por ele, pois Zayn era a coisa mais importante na minha vida. Também sabia que se falasse isso pra alguém, diriam que eu ainda era muito nova pra saber o que é amor de verdade ou pra afirmar algo assim, mas não me importava. Devemos manter próximo a nós aquilo que nos faz feliz e quem me fazia incondicionalmente feliz era ele; em todos os sentidos da palavra.
Logo a coloração alaranjada deu espaço ao azul turquesa de começo de noite em plenas 17hrs. Continuei bem quieta e abracei as pernas, encostando o queixo em meus joelhos. Zayn estava bem próximo e beijou o meu ombro como se me pedisse paciência. Eu o olhei mais uma vez e sorri. Antes que pudesse procurar os seus lábios com os meus, algo chamou a minha atenção pelo canto do meu olho. “Agora eu estou ficando louca? Podia jurar que vi...” Voltei a olhar para frente para ter certeza que não era nada. Ao contrário do que eu pensava – e felizmente -, não estava ficando louca. Uma pequena luz esverdeada se acendeu há alguns metros na nossa frente e foi seguida por outra e outra e outra... Logo estávamos cercados por pontinhos brilhantes que começavam a flutuar. Meu queixo caiu sem que eu percebesse e fiquei de pé. Os bichinhos não pararam de voar com o meu movimento e isso me fez sorrir.
- São vaga-lumes. – Zayn confirmou o que o que eu já desconfiava.
- Você não cansa de me surpreender? – Sussurrei com medo de espantar os vaga-lumes. – Eles estão me chamando pra dançar!
- E eu estou te chamando pra ficar comigo. – Levantou da grama e me abraçou pela cintura.
- Dança com a gente! – Pedi envolvendo-o pelo pescoço.
- Eu...
- Eu não danço, . – O interrompi já sabendo o que falaria. – Vai começar com isso de novo?
- É a verdade... – Fez um pequeno bico.
- Não é nada! – Fiquei na ponta dos pés e beijei o bico dele. – Você já dançou comigo antes.
- E você sabe muito bem como foi desastroso. – É, nesse caso ele tinha razão.
- Poxa. – Foi a minha vez de fazer bico e voltei a pisar com os calcanhares no chão. – Pode ao menos me ver dançar?
- Isso eu posso fazer... – Sorriu torto e roubou mais um selinho antes de se sentar na grama mais uma vez.
Eu não estava em um palco, mas me sentia em um espetáculo. Os vaga-lumes eram meus companheiros, a Lua meu holofote e Zayn minha platéia. Não me importei de pisar na grama e no capim com os meus pés descalços, e comecei a dançar um ballet delicado. Fiquei na ponta dos pés e girei por aí, com meu cabelo flutuando durante os rodopios e algumas flores brancas se soltando. Meus braços faziam movimentos precisos e suaves acima da minha cabeça enquanto meus pés programavam alguns passos pra lá e pra cá. Era impossível não sorrir enquanto coreografava, já que eu estava fazendo uma das coisas que mais amava e era rodeada por algo mágico. Os vaga-lumes não tinham medo de mim e alguns até pousaram sobre a minha mão e meus braços, me fazendo rir.
- Eles gostam de você. – Zayn riu.
- Eu também gosto deles! – Parei de dançar quando minha mão direita foi atacada por pelo menos dez insetos. Eles não me morderam ou me feriram, apenas ficaram passeando e piscando por ali. – Sempre quis caçar vaga-lumes, mas nunca visitei um lugar assim.
- Caçar vaga-lumes? – Arqueou as sobrancelhas e levantou. – Eu não consigo imaginar você caçando nada.
- Sou uma pessoa da paz, isso é verdade. – Sacudi a mão para afastar os bichos e encostei-me ao corpo de Zayn, ficando de costas pra ele para poder observar a paisagem à nossa frente. – Estava imaginando aqui.
- Droga! – Zayn exclamou atrás de mim ao passar os braços pelas minhas costelas.
- O que houve?
- Fiz uma aposta com Liam pra ver quanto tempo você ficaria sem falar em . – Pelo olhar de decepção de Zayn, presumi que ele havia perdido a aposta. – Eu apostei que você agüentaria vinte e quatro horas.
- Desculpa, baby. – Ri. – Se dividir o prêmio comigo, eu finjo que não falei nada e deixo você ganhar.
- Temos um trato. – Beijou a minha bochecha. – Você já está com saudades do pequeno, não está?
- Estou! – Choraminguei. – Quando voltarmos para o chalé eu vou ligar pra os meninos e perguntar como ele está. Também quero saber do Hazza, porque ele estava muito mal quando saímos de casa.
- Quer voltar agora? Está começando a esfriar... – Me apertou contra o seu corpo e beijou o meu pescoço. Dei sorte de estar com um sweater de mangas compridas, caso contrário o meu arrepio teria sido mais do que óbvio.
- Está com as lanternas aí, certo?
- Tem medo do escuro?
Depois do jantar, fomos para a sala e passamos duas horas conversando sobre qualquer coisa sem importância e descansando no sofá. Eu já ligara para Louis e recebera um relatório completo sobre tudo que acontecia em casa. estava muito bem, mas não gostava de ficar em qualquer lugar que não fosse embaixo da minha cama. Aquilo me alegrou e me fez pensar que ele podia estar sentindo a minha falta tanto quanto eu sentia a dele. A mãe de Zayn também ligou para saber como o filho estava e até falou comigo, querendo saber se a casa estava em ordem e me falando pra ficar confortável como se fosse minha também. Agradeci a minha sogra preferida e mandei um beijo para as outras meninas. Dony tentou falar comigo, mas o irmão dela não permitiu. Ele alegou que fofocaríamos a noite inteira e que a última coisa que ele queria ouvir era duas meninas falando sobre Tom Fletcher.
- Acho que vou tomar banho... – Comentei enquanto encarava o teto, com as pernas em cima das dele e bem deitada no sofá.
- Está precisando. – Zayn concordou com a cabeça, acariciando as minhas canelas.
- Hey! – Ri colocando a mão sobre a barriga. – Você não deveria falar isso quando as minhas pernas estão tão próximas às suas partes preciosas.
- Isso é uma ameaça? – Segurou as minhas mãos com firmeza e me puxou para o seu colo.
- É um aviso. – O segurei pelo pescoço e me ajeitei em cima de suas pernas. – Pra você ter cuidado comigo.
- Uhh, estou com medo... – Desdenhou com aquele sorrisinho torto que me tirava do sério.
- E deveria! – O apertei mais um pouco no pescoço, mas não o suficiente para sufocá-lo. Aproximei nossos rostos e capturei o lábio inferior do menino com os dentes e o puxei pra mim.
- Essa doeu! – Reclamou assim que o soltei e pude sorrir satisfeita.
- É pra você aprender a ter cuidado comigo! – Falei ameaçadora, mas nem eu mesma comprei aquele peixe. Juntei nossos lábios mais uma vez, deixando um beijo lento em carinhoso por ali. – Falando sério... Preciso de um banho! – Comecei a brincar com a gola da camisa de Zayn. – Posso ir?
- Vá lá em cima, no quarto principal. – Apertou as minhas coxas com carinho. – Vou tomar banho aqui em baixo mesmo e te encontro depois.
- Ok! Te vejo daqui a pouco. – Roubei um beijo antes de me levantar.
Peguei meu sapato e bolsa que estavam por ali e rumei para as escadas no fundo da sala. Eu já conseguia andar pela casa sem me perder e me sentia muito bem no clima rústico que todos os cômodos de madeira proporcionavam. Vi que Zayn me fitava subir para o andar de cima até que me perdeu de vista. Foi só atravessar o corredor do segundo andar e entrar no quarto principal que senti um frio tremendo na barriga. Talvez por saber que passaria a noite com meu namorado ali, ou talvez por ter certeza que faríamos mais que simplesmente dormir. Respirei fundo repetindo várias vezes dentro da minha cabeça que não era hora de ficar paranóica, pois eu não tinha com o que me preocupar. “Uma coisa de cada vez. Primeiro passo: Tomar banho.”
A desculpa de tomar banho que usei para me preparar não foi tão falsa assim, afinal, eu realmente precisava me lavar. Estar com aquelas roupas desde que saí de Londres não era a sensação mais higiênica do mundo. As minhas malas ainda estavam onde as deixara mais cedo naquele dia e foi até ali que eu me dirigi. Deitei o objeto no chão e abri o zíper, me deparando com a montanha de coisas que eu conseguira enfiar ali dentro. “O que se deve usar em uma ocasião dessas?” Rolei os olhos desejando que estivesse ali pra me aconselhar. “Celulares existem, sabia?” Minha própria consciência me irritava às vezes. Levantei do chão e peguei a minha bolsa, levando-a e a nécessaire comigo para dentro do banheiro, onde me tranquei. Derramei todo o conteúdo da bolsa sobre o balcão da pia, com pressa demais para procurar o iPhone com calma. Disquei o número de e torci para que ela atendesse rápido.
- Atende, atende, atende... – Após o que pareceram dez mil bipes, atendeu.
- Pode falar, minha nega. – Sua voz carinhosa me acalmou como um balde de água fria nos nervos.
- Estou no banheiro de Zayn... – Falei sem saber muito se aquela frase teria algum sentido.
- Hmm, nice! – A escutei gargalhar. – Estava se sentindo... Suja? Teve um dia... Interessante?
- Ainda bem que você me entende. – Ri em uma mistura de embaraçamento com alivio. – Mas não. A noite é que vai ser interessante. É por isso que estou te ligando.
- Quer saber algumas posições legais? Deixa eu pegar o meu livro aqui, só um minuto... – Antes que eu pudesse negar, senti que afastou o telefone do ouvido e começou a falar com outra pessoa. – Nialler, pega o Kama Sutra lá no quarto, por favor?
- ! O Niall está aí? Sai de perto dele agora! – Minhas bochechas queimaram instantaneamente. – Não quero uma posição! Quero uma conversa normal com a minha melhor amiga antes de fazer sexo pela primeira vez com o meu namorado. E estou te colocando no viva-voz, então não grite.
- Falar em voz alta e direta já é um bom começo, , está no caminho certo. – Pelos ruídos do telefone, senti que ela realmente se afastou do próprio namorado. – O que te preocupa?
- Não acho que algo me preocupe... – Comecei a tirar as roupas para entrar no chuveiro e cometi o erro de me olhar assim no espelho. – Ok, retiro o que eu disse. Ele vai me ver pelada!
- Não me diga que você está preocupada com isso. – Riu como se estivesse ouvindo uma piada. – Eu já te vi de biquíni e sei que o seu corpo é bonito. A não ser que você tenha um polvo lá embaixo, vai se sair bem. Por falar em polvo... Está depilada?
- Sou uma bailarina, , não posso me dar ao luxo de usar um collant sem estar depilada. – Terminei de me despir e aproveitei para retirar algumas das flores que resistiram e continuaram presas aos meus cabelos. – Que roupa devo usar?
- , minha querida... Eu sei que faz muito tempo que você não se diverte, mas sexo geralmente é feito sem roupas. Essa é justamente a parte divertida.
- Dessa parte eu ainda me lembro, ok? – Acabei rindo contra a minha vontade e liguei o chuveiro. Poderia ter optado pela banheira, mas temi a vontade de me afogar. – Mas não posso aparecer pelada lá na sala e chamar ele para o quarto!
- Por que não?! É assim que eu faço. – Comentou casualmente, mas eu preferia ser poupada de certos detalhes. Enquanto ela falava, entrei no chuveiro para começar o meu banho. – Você tem razão. Ache uma camisolinha na sua mala... De preferência com alguma cor clara. Adoro simbolismos e vai ser como se você estivesse deixando a sua pureza de lado e se tornando uma mulher! Vá lá, Julieta. Se divirta com o seu Romeu.
- Ainda não estou pronta pra desligar! Preciso tirar algumas dúvidas. – Molhei os cabelos com cuidado para deixar qualquer sujeira escorrer pelo ralo. – Mas você tem que prometer que não vai rir.
- Prometido! Manda.
- E se... Doer? – Suspirei ao colocar um pouco de shampoo na palma da mão. – Sei que não sou virgem, mas só fiz a coisa uma vez. E se o treco não rompeu direito?
- O treco e a coisa? Voltamos a usar eufemismos? Tudo bem. – Ela também suspirou. – O treco pode não ter rompido direito mesmo e o coiso de Zayn, se for como eu imagino, será grande demais. Então, para todos os casos... O que você tem que fazer é simplesmente relaxar. Assim tudo vai ocorrer como nos conformes vai ser bom para os dois.
- Se você resolver abandonar a carreira de bailarina, fique a vontade pra se tornar ginecologista. – Ri. – Ou psicóloga.
- Sou boa mesmo, não sou? – Se gabou. – Agora vamos desligar e termine o seu banho. Você precisa de um tempo só seu para poder se concentrar.
- Tudo bem, ... Muito obrigada. – Sorri em agradecimento mesmo que ela não pudesse vê-lo.
- Imagine, minha flor do campo. Estou aqui pra isso. – Eu sabia que ela também sorria. – E, ? Tudo vai dar certo. Vocês se amam e não há com o que se preocupar.
{N/A: Essa cena contém elementos impróprios para menores. ps: É sexo mesmo. Se não gosta, pode pular para a próxima parte. Mas a quem estamos querendo enganar, não é mesmo? Enjoy. :3}
Depois de um banho bem relaxante e mais vinte minutos de preparação, eu estava pronta e com os cabelos secos artificialmente. Ou seja, usei um secador para dar um ar mais arrumado e ao mesmo tempo simples ao meu cabelo. Não exagerei muito, pois não queria que parecesse ter acabado de sair do salão, mas fiz um bom trabalho. Usei um hidratante corporal para dar um toque mais macio à minha pele e finalmente me senti bem relaxada. Desliguei o meu aparelho celular para ter certeza que nada nos interromperia e torcia para que Zayn esquecesse o dele no andar de baixo. Abri completamente as cortinas na janela, mas não cheguei a abrir o vidro. Dessa forma, o quarto seria iluminado apenas o necessário, o que era muito bom pra mim. Fui até a cama e a arrumei desarrumando-a; tirei o edredom grosso e o dobrei até a ponta, deixando a cama o mais convidativa e confortável possível. “É isso aí, ... Vamos fazer isso.” Sorri sozinha. Destranquei a porta do quarto e saí para o corredor, parando no topo da escada.
- Baby? – O chamei na esperança de ouvir uma resposta.
- Estou aqui, babe, o que houve? – Escutei a sua voz e senti um frio gostoso na barriga.
- Você pode vir aqui um instante? – Pedi com a voz mais inocente que consegui fazer.
- Estou subindo!
Ouvir aquilo foi a minha deixa para voltar para o quarto. Deixei a porta entreaberta para que não houvesse a necessidade de bater para entrar e parei perto da cama. Sempre achei engraçado quando as pessoas tentam encontrar uma posição sedutora para aguardar o companheiro ou a companheira em filmes, mas na vida real era um tanto desesperador. O pior? Eu não tinha tanto tempo assim para avaliar as minhas opções. Eu deveria deitar na cama? Ficar de joelhos sobre ela? Ficar de pé? Resolvi me sentar na ponta superior da cama, perto dos travesseiros. Apoiei uma das mãos no colchão e arrumei meus cabelos para que eles seguissem essa mesma direção. Mordi o lábio inferior inconscientemente, aguardando o momento que Zayn me veria assim. Passos pesados se aproximaram e o menino abriu a porta. Ele estava descalço e com uma bermuda preta e uma camiseta qualquer. Seus cabelos ainda estavam molhados por causa do banho e seu olhar pareceu me estudar da mesma forma que eu acabara de fazer.
- Anjo... – Aparentou estar estupefato, o que era bem a reação que eu esperava. – Você...
- Shhh...
Com aquele pedido de silêncio e um sorriso que dizia muitas coisas, caminhei até Zayn e o segurei pelas laterais do rosto. Fiz questão de encostar os nossos corpos o máximo que consegui para deixar bem claro o que queria. Encostei os lábios em seu maxilar, pois era onde eu alcançava sem ficar na ponta dos pés, e arrastei-os até os lábios quentes do garoto. Ele, por sua vez, pousou as mãos nas laterais do meu quadril, ainda sem muita reação com o que estava acontecendo. O cheiro de sabão estava em sua pele e o gosto da pasta de dente ainda brincava em seu hálito. Uma combinação perfeita com os odores amadeirados daquele quarto. Zayn retribuiu o curto beijo que trocamos e foi o suficiente para que eu entendesse que ele queria aquilo tanto quanto eu.
Dei um pequeno passo para trás e me dirigi de costas até a cama, trazendo-o junto comigo ao segurar sua mão direita. Só cheguei a soltá-lo para me ajoelhar no centro da cama. Zayn fez o mesmo e ficou de frente pra mim. Passou a ponta dos dedos pela lateral do meu rosto e afastou a franja que caía em meus olhos. Acabei sorrindo por ele estar sendo tão extremamente delicado e incrivelmente bonito. A luz penetrava o quarto e nos banhava, batendo diretamente e de um jeito muito mágico nos olhos cor de avelã que ganharam um brilho ainda mais intenso que o normal. O abracei pelo pescoço e inclinei o rosto para o lado assim que os lábios dele se apoderaram do meu. Zayn arrastou os lábios pelo meu ombro, fazendo uma das alças da minha baby-doll escorregar. Mordi o lábio para evitar um suspiro, mas não entendi esse meu objetivo, já que eu não conseguiria me segurar por muito tempo.
Enquanto o garoto passeava as mãos pelas minhas costas, me puxando para si cada vez mais e cobrindo o meu pescoço de beijos macios, segurei a barra de sua camisa e aventurei as minhas mãos por dentro dela. Zayn se arrepiou ao meu toque e aproveitei aquela reação para continuar subindo as mãos pelo abdômen e sentindo os músculos se contraírem embaixo de meus dedos. Se afastou um pouco para me ajudar a acabar com aquela provocação e tirou a própria camisa, jogando-a em qualquer canto do quarto. Em seguida, apoiou as minhas costas novamente e me fez deitar na cama com a cabeça no travesseiro. Zayn queria que eu ficasse o mais confortável possível e era impossível não ficar encantada com qualquer movimento que fazia. Ele não me atacou ou pareceu querer forçar nada. Nossos movimentos eram naturais e ambos estávamos saboreando o momento.
Zayn se inclinou levemente sobre mim e parou por uns segundos que pareceram minutos. Apenas ficamos nos olhando e analisando a perfeição que cada um tinha nos olhos do outro, porque era isso o que eu sentia; me sentia perfeita através do olhar dele e essa era uma das melhores sensações que eu presenciara até ali. Arrastei a mão pelo centro do tronco do outro de baixo para cima, dedilhando as tatuagens em seu peito e ombros até envolvê-lo pela nuca e trazê-lo para perto. Zayn fechou os olhos assim que sentiu meus lábios contra os dele e segurou a lateral do meu corpo. Modelei os lábios dele com os meus e senti o seu corpo começando a fazer certo peso sobre o meu. O moreno encaixou uma das pernas entre as minhas, causando um primeiro contato mais íntimo que me fez arfar de uma forma gostosa.
Com isso, prendi uma das mãos em seus cabelos úmidos e os acariciei sem puxar. Nossas línguas se chocavam com veracidade e calma ao mesmo tempo, fazendo nossos lábios serem pressionados cada vez mais e nossas cabeças tombarem para lados opostos. Usando a mão livre, percorri as costas de Zayn até onde alcançava, fazendo-o investir contra o meu corpo e irradiar o seu calor por todo o cômodo. Ele desceu as mãos pelas minhas pernas e parou no meio das coxas, acariciando com o polegar e apertando de leve. Me fez envolver a sua cintura com uma delas e aumentar a fricção em sua própria perna que continuou entre as minhas. Aquele movimento mais ousado acabou arrancando de mim um gemido curto que interrompeu o beijo, mas foi muito bem vindo. Zayn me soltou e apoiou as mãos no colchão ao meu lado para tirar o seu peso de cima de mim. Ele roubou alguns selinhos demorados antes de se afastar e abaixar o corpo até a altura dos meus joelhos.
Me acomodei mais na cama e minha respiração pesou quando começou a beijar por ali e fazer um caminho de beijos pelas minhas pernas, intercalando entre uma e outra. Fechei os olhos para me concentrar, mas não consegui pensar em absolutamente nada além de como os lábios dele eram extremamente macios contra a minha pele quente. Zayn subiu até as minhas coxas e começou a levantar a camisola de seda branca até a metade da minha barriga, onde também beijou com todo carinho. Arqueei as costas contra a cama em um ato inconsciente, suspirando alto. Eu deixava-o fazer absolutamente tudo que quisesse, pois cada toque, cada movimento era agradável. Levantei os braços para deixá-lo terminar de tirar aquela peça de roupa e senti as bochechas queimarem por só estar de calcinha. Zayn se deitou ao meu lado, virado pra mim e com o corpo apoiado na sua lateral. O olhei com uma nova mordida nos lábios e ele sorria.
Deslizou dois dedos pela minha barriga, desde abaixo do meu umbigo, passando por entre o meu busto e seguindo pelo meu pescoço até o queixo. Aquele traçado me lembrou muito o toque de um pincel, como se eu fosse a tela e ele o pintor que estava centrado e apaixonado pela sua obra de arte. Também deitei de lado e encostei-me à ele, juntando nossos troncos naquele contato íntimo e tive quase certeza de que meu coração acelerado seria sentido por ele através do meu peito. Zayn dedilhou a minha coluna e brincou com as covinhas no seu fim, tocando perigosamente o cós da minha roupa de baixo. Acabei por envolvê-lo novamente com a perna e dessa vez consegui sentir mais diretamente o contato da parte dele na minha. Duvidei até que estivesse vestindo algo por baixo da bermuda preta e aquilo me agradou mais do que eu achei que poderia.
Mais uma vez nossos lábios se chocaram e toquei as costelas de Zayn com as unhas, descendo pelo desenho de sua lateral. Não consigo pensar em uma parte dele que não fosse perfeitamente esculpida e firme abaixo de meus dedos. Também sei que depois daquela noite eu nunca conseguiria olhá-lo da mesma forma e me sentia confortável com isso. Nós estávamos dando mais um passo no nosso relacionamento, mas pra mim era mais que isso. Eu estava conseguindo me entregar completamente mais uma vez, mesmo depois de tantos anos achando que nunca seria capaz de fazer isso. Zayn me mostrava todos os dias que era digno de confiança e um homem bom. Até mesmo chegava a pensar que ele merecia muito mais do que tudo aquilo que eu podia lhe dar, mas estava feliz em ser a sua escolha, até quando ele me deixasse ser.
Voltei a deitar com as costas na cama e o trouxe pra cima de mim, deixando-o entre as minhas pernas. As mãos de Zayn me tocaram por inteiro, deslizando por cada centímetro do meu corpo e eu fiz o mesmo com o dele. Nos explorávamos e nos conhecíamos ainda mais. Interrompi o beijo para escorregar a boca até a orelha do mesmo e sussurrar de forma embargada que o queria por inteiro e que desejava ser totalmente dele. Com isso, Zayn me olhou tão profundamente que senti que ele olhava dentro da minha alma e descobria coisas sobre mim que nem eu mesma tinha conhecimento. Lentamente foi se colocando de joelhos sem sair do lugar e voltou a tocar a lateral do meu corpo até chegar no cós da minha calcinha, onde segurou com cuidado e a arrastou para baixo das minhas pernas. Seu olhar fez o mesmo caminho e me fez ferver.
Sem esperar a minha ajuda, Zayn se livrou da própria bermuda e meu palpite anterior esta correto. Senti a minha respiração pesar mais uma vez e respirei com dificuldade ao vê-lo daquela forma; completamente nu. Ao menos estávamos quites. Continuei deitada ali enquanto ele saiu da cama e foi até a sua própria mala, pegando alguma coisa que foi fácil deduzir que era um preservativo. Sinceramente não sei como ele se lembrou daquele detalhe, porque eu com certeza não lembraria. Zayn voltou para a cama, já devidamente ‘arrumado’, com tanta rapidez que culpei o imã que nos mantinha grudados o tempo inteiro. Suspirei com um sorriso que queria dizer “eu estou pronta” e olhar dele me pedia pra confiar que ele teria cuidado. Senti um pouco de vontade de rir por causa do nervosismo, mas foi só ter meus dedos presos aos dele que a vontade se foi.
Colocando-se em cima de mim novamente, Zayn usou os dedos para tocar a minha intimidade e se posicionar ali. Arfei mais uma fez com aquela provocação necessária e tive a minha bochecha beijada da forma mais carinhosa possível. Prendeu a minha mão entrelaçada à sua acima da minha cabeça, mas só o que senti com aquele ato foi uma segurança tremenda. Zayn encostou a testa na minha para que pudéssemos nos olhar enquanto dava a primeira investida lenta e tranqüila para se encaixar em mim. Eu estava certa no banheiro, pois doeu. Não foi uma dor enorme ou impossível de agüentar, apenas um desconforto momentâneo até que eu me adequasse a ele. A minha pequena careta me denunciou e Zayn me olhou preocupado, parando seus movimentos até ter certeza que eu estava bem. Usei a minha mão solta para acariciar a lateral de seu rosto e avançar contra a sua boca, indicando que ele deveria continuar.
Não fiquei apenas parada na cama e mexi o quadril em sincronia com o dele até que seu membro estivesse completamente em mim. Zayn voltou a tirá-lo até a metade e em seguida encaixou-se mais uma vez. Cada vez que esse movimento era repetido, cada parte do meu corpo ficava mais e mais entorpecida, fazendo a dor ir embora e deixar apenas o prazer. Por mais que o moreno tentasse se controlar, acabava soltando suspiros nos meus lábios e eu mesma já desistira de controlar meus gemidos. Posso afirmar com toda certeza que nunca senti algo tão bom em todos meus 19 anos de existência e a única coisa que passou pela minha cabeça e ainda tinha algum sentido era: “Era isso o que eu estava perdendo? Ahh, se eu soubesse antes...” Mas agora que sabia, não iria esquecer.
Os nossos movimentos gradualmente foram ficando mais rápidos e até um pouco bagunçados, mas acabávamos nos entendendo. Ao escutar meus gemidos mais longos e agudos, Zayn acabava se empolgando e aumentando de velocidade, me fazendo delirar, literalmente. Fiquei tranqüila por não ter mais ninguém na casa, então não me importei em ser um pouco barulhenta. Só me importava com Zayn e em ser tão boa pra ele quanto ele estava sendo pra mim. Naquela noite nós nos tornamos um só, conectados emocional e fisicamente. Nosso amor se provou ser maior do que eu já acreditava que era e a nossa primeira vez estava sendo perfeita. Éramos homem e mulher. Éramos um do outro.
Capítulo LVIII
Acordar na manhã seguinte foi mais fácil do que eu imaginava. Talvez por ter dormido muito bem depois de uma noite cansativa ou então devido à companhia que adormeceu ao meu lado. O que importa é que, assim que os primeiros raios de Sol banharam o meu rosto descoberto, sorri ao despertar com um humor tão maravilhosamente leve que eu até desconfiei se ainda era eu mesma. Ao abrir os olhos, notei que estava virada na direção da janela, na ponta da cama. Era coberta pelo edredom de lã, mas não precisei me olhar para saber que ainda estava pelada. Um sorriso surgiu em meus lábios ao lembrar da noite anterior e de todos os momentos bons que eu vivera pela primeira vez. “Eu te amo tanto, ...” Era a última coisa que eu lembrava de escutar antes de adormecer como uma pedra. Mas uma pedra feliz.
Me virei na direção contrária na cama, na esperança de dar de cara com um anjo dormindo, mas o lugar que Zayn deveria estar ocupando se encontrava vazio. Com certeza ele deveria ter acordado e arrumado algo bem importante pra fazer, pois era a única explicação que eu conseguia encontrar para ter sido deixada para acordar sozinha. Me estiquei no meio da cama de forma preguiçosa, criando coragem para ir procurá-lo. Minha mão foi para o seu travesseiro e acabou esbarrando em um pedaço de papel de caderno, de onde logo reconheci a caligrafia fina de Zayn:
Sorri enquanto cogitava a possibilidade de continuar na cama e fingir não ter acordado, só pra que Zayn me trouxesse o café na cama. A verdade era que eu também sentia a sua falta e não agüentaria esperar que ele voltasse, pois – conhecendo seus dotes culinários – aquilo poderia levar muito tempo. Me pus sentada na cama e me levantei dela devagar, evitando tonturas desagradáveis. Procurei a minha calcinha pelo chão e ri ao encontrá-la perto da porta do banheiro. Aproveitei que estava por ali e fiz uma rápida higiene matinal para voltar ao quarto e vestir a blusa de Zayn que também estava largada pelo chão. Não me importei em estar com poucas roupas, mas depois da noite anterior isso não seria mais um problema.
Deixei o quarto para trás e pensei em ir até a varanda daquele andar para apreciar a vista que deveria estar incrível durante a manhã, mas sabia que uma vista mais bonita ainda estava me esperando na cozinha. Desci as escadas e já pude sentir um cheiro gostoso que eu não conseguia decifrar o que era. Atravessei o cômodo e vi um baú de madeira em cima do sofá que não estava lá na noite anterior. Suprimi a minha curiosidade e caminhei até o arco que separava a sala da cozinha e me deparei com Zayn sem camisa, de costas pra mim. Ele não notou a minha chegada, o que me deu alguns minutos para observá-lo. Eu sabia vira muito mais que aquilo apenas horas antes, mas com a luz do dia, seus músculos e traços estavam bem mais definidos, o que era um convite e tanto.
- Bom dia! – Desisti de ficar olhando de longe e caminhei até ele, abraçando-o pelas costelas e ficando na ponta dos pés para poder apoiar o queixo em seu ombro.
- Bom dia, beautiful! – Ele sorriu abertamente, feliz em me ver. – Cuidado, não quero te queimar...
- O que está cozinhando? – Dei um beijo na bochecha dele e me afastei alguns passos, encostando na bancada e o olhando-o de lado. – O cheiro está ótimo.
- Ovos Benedict. – Respondeu todo cheio de si e dei uma espiada na panela que ele mexia. – Também conhecido como ovos mexidos com bacon!
- Delicioso! – Sorri. – Quer ajuda?
- Já estou acabando por aqui, mas pode ir colocando a mesa se quiser. – Indicou com o ombro alguns pratos ao meu lado.
- Prefiro colocar minhas mãos em outra coisa. – Acabei rindo com o duplo sentido daquela frase e voltei a ficar atrás de Zayn. – Alguém já te disse que você tem ombros lindos?
- A minha mãe costuma dizer isso. – Comentou enquanto eu o massageava perto da nuca. – Mas ela fala que eu sou lindo por inteiro. Coisas de mãe.
- Ela não está mentindo. – O beijei ali e dedilhei a linha que dividia suas costas antes de me afastar e pegar os pratos. – O que é aquele baú que está no sofá?
- Ei, eu preferia que você continuasse me ajudando daquela outra forma... – Ele riu ao me ver andar na direção da mesa. – Bonitas pernas. E essa camisa ficou melhor em você do que em mim.
- Também concordo que você fica melhor sem camisa do que com ela. – O olhei por cima do ombro em um charme e arrumei um prato em frente ao outro. – Mas você não respondeu a minha pergunta. O baú?
- Ah, é. Achei umas coisas que podemos usar na festa de ano novo... A maioria era das minhas irmãs, mas aposto que elas nem lembram mais. – Colocou os ovos mexidos em um prato mais fundo e também o levou para a mesa, passando por mim quando me dirigi até a geladeira.
- Você não me disse que estamos indo há uma festa... – Peguei a garrafa de suco de laranja que era uma das poucas coisas que estava ali dentro. – Achei que passaríamos a virada do ano aqui... Sozinhos...
- Depois que prova, não quer saber de outra coisa. – Zayn se gabou retoricamente e senti seus braços me abraçando por trás. – Podemos ficar se você quiser.
- Agora eu quero ir pra essa festa! – Andamos abraçados até a mesa e eu coloquei o que segurava ali em cima, me virando de frente para ele em seguida. – Não sabia que uma cidade tão pequena comemorava o Ano Novo com uma festa.
- Na verdade, a festa não é na cidade. É no Manor House. – Explicou como se aquilo devesse fazer algum sentido pra mim. – O hotel...
- O que parece um castelo? – Sorri animada e dei um impulso no chão para ficar sentada sobre a mesa.
- Esse mesmo. – Afastou meus cabelos do pescoço e segurou meu queixo para que eu o olhasse. – A senhorita recebeu um convite do príncipe para acompanhá-lo até o baile.
- Bem, então você terá que dizer a ele que eu agradeço o convite, mas recuso. – Pousei minhas mãos sobre seus ombros. – Estou de olho em outro acompanhante.
- É? Posso saber quem? – Afastou os meus joelhos e se colocou entre as minhas pernas, nos aproximando ainda mais.
- O cozinheiro. – Sorri, envolvendo-o pelo pescoço com os meus braços. – Mas acho que tenho que provar a comida primeiro, só pra ter certeza que é uma boa troca.
- Você pareceu bem satisfeita ontem a noite, provando outra coisa. – Sorriu maroto e encostou os lábios aos meus.
- Você é terrível! – Ri e escondi o rosto em seu pescoço para que ele não visse que aquele comentário me fez corar. – E eu estou com fome!
- Então vamos comer. – Beijou o topo da minha cabeça e se afastou para que eu pudesse descer.
- Vamos! – Desci da mesa e me sentei novamente, dessa vez em uma cadeira. Zayn sentou-se à minha frente e pegou uma colher para se servir de ovos “Benedict”. Eu peguei uma fatia de bacon com a mão mesmo e o levei à boca. – O bacon está bem crocante...
- Minha especialidade de café da manhã! Bacon frito e ovos. – Comeu uma garfada dos seus ovos. – Para o almoço teremos a minha outra especialidade...
- Macarrão! – O interrompi por já saber a resposta. – O que também é a especialidade de jantar... Porque é o que jantamos ontem.
- Talvez seja melhor você cozinhar nossas próximas refeições...
- É uma boa idéia. – Ri e me servi de mais bacon e ovos.
- Hm, a Abi ligou. – Falou depois de engolir o que mastigava. – Ela disse que não consegue ligar no seu celular, então ligou no meu...
- Esqueci o celular desligado ontem. – E não teria lembrado se Zayn não comentasse aquilo. – O que ela queria?
- Detalhes. – Me olhou significativamente e me arrependi de ter perguntado. – Mas já contei tudo que ela precisa saber.
- O que você falou? – Arregalei os olhos. – Deixa pra lá, não quero saber!
- Apenas confirme se ela perguntar algo. – Piscou. – Isso serve pro Niall também.
- Niall ligou?! – A situação só fazia piorar. Ao menos eu estava longe dos dois e não precisava escutar as piadinhas de o dia inteiro.
- Os dois ligaram juntos, na verdade. – Zayn estava tranqüilo demais para o meu gosto, então talvez eu não precisasse me preocupar tanto. – Foi tipo uma conferência.
- Ainda bem que eu estava dormindo! – Resolvi deixar aquele assunto constrangedor de lado e me concentrar nos ovos em meu prato.
Até que o nosso café da manhã não foi de todo ruim. Zayn podia não ser um mestre cuca, mas era bom com temperos, o que não deixou os ovos salgados demais e nem sem gosto. Como já falei antes, o bacon estava crocante no ponto certo. Não conversamos mais sobre nossos amigos e nem sobre a noite anterior, mas era fácil nos pegar encarando um ao outro como se trocássemos indiretas. O clima geral estava muito leve e divertido. Fui a primeira a terminar de comer, já que não estava tão faminta quanto imaginava. E como a cozinha e a sala de jantar eram praticamente embutidas, me levantei com o meu prato e copo sujos para adiantar a limpeza de tudo. Zayn ainda se demorou um pouco mais e sua refeição, mas logo me deu o resto das louças para que eu pudesse terminar de lavar.
- Onde está o pano? – Procurei algo para secar as minhas mãos, mas não encontrei nada.
- Pano? Que pano? – Zayn estava encostado ao arco de entrada, me esperando terminar.
- Pano de prato? Toalha? Qualquer coisa pra secar as minhas mãos... – Me virei em sua direção, mas a expressão que ele ganhou me dizia que não havia pano algum.
- Quer que eu vá pegar uma toalha no banheiro? – Coçou a nuca.
- Não precisa, eu seco em outro lugar. – Sorri inocente e fui até ele. Zayn desconfiou das minhas intenções, mas isso não me impediu de passar as mãos por seu peito e “enxugá-las”. – Na falta de uma toalha melhor...
- Ei, essa água está gelada! – Reclamou com uma risada e me agarrou para se secar na minha camisa (que na verdade era dele).
- Malik, para! – Gargalhei tentando me soltar. – Agora eu vou ficar molhada!
- Tem razão, acho melhor tirar a camisa... – Me largou e olhou-me com seriedade, querendo que eu realmente fizesse o que ele aconselhara.
- Boa tentativa. – O empurrei de leve pelo ombro. – Podemos ir ver o baú agora?
- Você é mesmo curiosa, né? – Indicou o arco para que eu pudesse passar.
- Nos conhecemos há tanto tempo e você ainda não aprendeu isso?
Passei por ele e fui até a sala sabendo que seria seguida. Também sabia que Zayn estava quase babando pelas minhas pernas, mas isso não vem ao caso agora. Como se eu morasse naquele chalé há anos e pudesse me sentir em casa, pulei pelo encosto do sofá e me sentei no braço do objeto. Não esperei o outro me acompanhar e já abri o baú de madeira, bem parecido com o que eu tinha escondido em meu closet, mas esse era quadrado e um pouco maior. Como não tinha um cadeado ou coisa parecida, a única dificuldade que se pôs em meu caminho foi o peso da tampa, porém, não brigamos por muito tempo. Ali dentro encontrei várias coisas que não soube identificar de primeira. Tirei alguns lenços coloridos que deviam ser echarpes que fizeram sucesso há algumas décadas atrás, seguida por papeis envelhecidos com um cheiro forte de café.
- Baby, você e as suas irmãs costumavam brincar de caça ao tesouro?
- VOCÊ ACHOU O MAPA? – Ele quase pulou em cima de mim pra poder pegar o papel em minha mão e me fez rir. – Eu não acredito que estava aqui esse tempo todo.
- Pode me explicar? – Arqueei uma sobrancelha. Pra que tanta emoção por um pedaço de papel velho?
- No último verão que meus pais vieram juntos pra essa casa, eu e as meninas pedimos pra brincar de caça ao tesouro, então eles concordaram em esconder algumas coisas e depois fizeram esse mapa. Já estavam separados, mas ainda tentavam fazer coisas juntos por causa da gente... – Zayn não tirava os olhos do mapa enquanto explicava e eu sentia em sua voz que era algo delicado. – Mas enfim. No meio do jogo, eu e Waly acabamos brigando e a brincadeira foi suspensa. Depois disso perdemos o mapa e nunca mais recuperamos as coisas que eles esconderam.
- E você sabe o que eram essas coisas? – Coloquei a mão sobre o ombro dele, querendo encorajá-lo a falar mais sobre os pais e esses tempos felizes de quando a família inteira estava reunida.
- Não faço idéia. – Tirou os olhos do papel com uma risada. – Mas já devem ter sido encontradas por outras pessoas mesmo, não tem importância.
- Como você pode ter certeza? – Peguei o papel quando Zayn o soltou dentro do baú. – Eu acho que devemos terminar a brincadeira.
- , fazem mais de sete anos... Mesmo se ninguém achou, as coisas já devem ter apodrecido. – Deu de ombros, mas eu não deixaria aquilo barato.
- O que é que custa? – Levantei do sofá e estendi a mão para que ele me seguisse. – Não temos nada pra fazer mesmo. Vamos trocar de roupa e ir recuperar as suas coisas perdidas!
- Não acredito que estou fazendo isso. – Rolou os olhos, porém, acabou concordando.
- Tem certeza que sabe pra onde estamos indo? – Perguntei ao quase tropeçar em um galho.
Zayn e eu seguíamos o mapa do tesouro que acabou nos levanto para a floresta. Diferentemente do dia anterior, nós não estávamos seguindo uma trilha previamente criada, e sim nos aventuramos pelo centro da mata. Não que meu senso de tempo e direção fossem tão afiados quanto gostaria, mas podia jurar que estávamos andando em círculos há uns bons quinze minutos. Eu segurava uma pá de jardim em uma mão e me apoiava no braço de Zayn com a outra. Quanto menos perigo nós corrêssemos, melhor. O dia também amanhecera frio; mas bem frio mesmo! O que nos fez agasalhar cada pedacinho de corpo com blusas de mangas compridas, casacos pesados e tênis ou bota – no meu caso.
- Você tem que perguntar isso a cada três minutos? – Zayn parou de andar para que eu recuperasse o equilíbrio e me passou o mapa.
- Ora, me desculpe se eu sou um pouco cética quanto a andar em uma floresta que eu não conheço! – Apertei os olhos e voltei a minha atenção para o mapa. – Seus pais fizeram um trabalho muito bom com isso aqui...
- Eles achavam que tinham que compensar o divórcio de alguma maneira, então se esforçavam bastante. – Me ajudou a passar por cima de um tronco para que pudéssemos continuar o “passeio”. – E “cética”? Tem um dicionário escondido aí?
- Não preciso de um dicionário! – Afastei as suas mãos quando ele tentou checar no meu casaco se eu escondia algo, o que acabaria me causando cócegas. – Conheço palavras difíceis, ok?
- Minha namorada é uma nerd. – Riu, me fazendo rolar os olhos. – Para onde devemos ir agora, Einstein?
- Vinte passos por essa direção... – Apontei para frente. – Se você não errou o caminho, devemos sair no rio.
- Não seria mais fácil só andarmos até o rio? Não quero ter que contar passos!
- Zayn, você tira toda a diversão da coisa, sabia? – O olhei com uma falsa braveza e me afastei enquanto contava os passos na minha mente. – Além do mais, se não seguirmos as instruções corretamente, não vamos encontrar o tesouro!
- O tesouro que não está mais lá, você quer dizer? – Me seguiu, mas eu duvidava que ele estivesse contando os passos também.
- Meu namorado é um chato. – Fingi pensar alto e olhei para trás, descobrindo que Zayn não estava mais lá. – Baby? Isso não tem graça!
Por um minuto pensei que Zayn tivesse se perdido, mas ele não podia ser tão lerdo assim. Podia? E a não ser que uma coruja gigante tivesse capturado-o, nenhum animal poderia ter causado o seu sumiço. Voltei alguns passos e analisei o chão a procura de algum buraco em o menino poderia ter caído e não achei nada. Bem, isso só podia indicar que ele estava se escondendo de mim. “Correção: Meu namorado é uma criança.” Rolei os olhos pelo que parecia ser a quinta vez em menos de meia hora e cruzei os braços.
- Eu vou continuar sem você, hein? – Ameacei sacudindo o mapa, sabendo que era observada. – Tudo bem, já entendi! Não te chamo mais de chato. Prometo.
- É bom mesmo. – Dois braços me envolveram por trás e eu sorri.
- Só isso? – O olhei de lado. – Você desistiu rápido demais!
- Quer que eu me esconda de novo? – Ameaçou me soltar, mas foi só o suficiente para que virássemos de frente um para o outro. – Além do mais, escondido eu não poderia fazer isso...
Zayn me abraçou ainda mais e procurou os meus lábios. Acabei me inclinando um pouco para trás, até que minhas costas encontraram o tronco de uma árvore. O menino percebeu que havia me encurralado e aproveitou a situação para me prender anda mais entre o tronco e o seu corpo. A minha preocupação de terminar com um lagarto entrando do meu casaco foi embora assim que a língua quente de Zayn pediu passagem. O beijo dele faria qualquer coisa valer a pena. O envolvi pela nuca, puxando seu rosto ainda mais pra perto do meu. Investimos um contra o lábio do outro com tanta força que chegou a doer.
- Não sabia que as instruções do mapa incluíam pegação na floresta. – Ri me sentindo muito boba por falar aquilo e Zayn fez o mesmo.
- Tudo deveria incluir pegação. – Encostou nossas bocas mais uma vez, mas dessa vez não demorou tanto. – Pena que já vamos embora amanhã, porque tem vários lugares que eu gostaria de te mostrar...
- É verdade, já vamos voltar amanhã... – Fiz um biquinho, desejando poder aproveitar o chalé e Zayn por mais tempo. – Por que mesmo? Nossas aulas não começam até a semana que vem...
- O resultado do X Factor sai amanhã, babe. Esqueceu? – Roubou mais um selinho antes de se afastar e segurar a minha mão para que continuássemos o caminho.
- Holy shit, é verdade! – Como eu podia ter me esquecido disso? – E é claro que temos que voltar! One Direction precisa estar reunida para ver o resultado...
- Exatamente. – Por mais incrível que pareça, Zayn começou a contar os passos.
- Mas vamos mudar de assunto antes que eu fique mais ansiosa do que já estou! – O deixei contar e apenas o segui até que o chão gramado se transformou em cascalhos. – Isso porque eu nem estou na banda...
- Acho que estamos chegando perto... – Olhou para o mapa e apontou para o tronco de uma árvore quebrada que parecia estar ali há muito tempo. – Não acredito que essa árvore ainda está aqui.
- É embaixo dela que temos que cavar? – Saltitei alguns passos para me adiantar e Zayn me seguiu. Eu poderia ter me atentado à vista, mas estava mais preocupada em encontrar o tesouro.
- “Embaixo do tronco mágico devem cavar, se o tesouro almejam encontrar.” – Leu o que estava escrito no mapa e eu sorri. – Você vai demorar um pouco pra encontrar, já que não tem nada aí.
- Você vai ver só! – Estava cansada de Zayn duvidando de mim, mas não iria começar uma discussão.
- Ou não vou ver nada. – Me acompanhou até o tronco caído e se sentou em uma das pontas.
Preferi não responder e guardar o direito de falar “bem que eu avisei” para mais tarde. Como só havia uma parte do tronco que não encostava no chão de pedras, eu sabia bem onde cavar. Retirei a pá que trouxera do chalé do meu bolso de trás e me abaixei para começar a cavar. Tudo bem que aquele chão não era o lugar mais confortável do mundo, mas era tudo que eu tinha. Sabia que cavaria bastante, então o mínimo que eu podia querer era estar sentada. Só torcia para que a minha calça não estragasse ou se rasgasse. Afastei as primeiras pedras com as mãos para facilitar meu trabalho e escutei Zayn rindo. O olhei e ele estava com os braços cruzados. Apenas fiz uma careta em sua direção e continuei com o meu trabalho, resmungando coisas que nem eu mesma entendia.
“Ele vai ver só. Quando eu encontrar o tesouro, não vou dividir!” Pensei em quanto fazia caretas. Sim, eu parecia ter perdido todo o juízo. Zayn só fez rir mais ainda da minha cara e continuei a ignorá-lo. Finquei a pá na terra e comecei a cavar. Ao menos com todo aquele exercício eu espantaria o frio e me manteria aquecida. O ruim era que não tinha muito espaço para jogar a terra fora, então eu tinha que puxá-la para perto de mim e acabava derramando alguns grãos na minha roupa. Já tinha ido longe demais pra desistir agora, portanto, continuaria a cavar nem eu chegasse ao centro da terra! Para exagerar um pouco mais, digamos que eu não me importaria de chegar à China.
- Vamos, babe... Desista... – Depois de alguns minutos, Zayn pareceu cansar de me esperar. – Venha apreciar essa vista.
- Eu jurava que ia... Achar? – Enfiei a pá um pouco mais fundo e acabei atingindo algo mais sólido que terra. – Baby...
- Encontrou? – Saiu do tronco e se ajoelhou ao meu lado. – Tem certeza eu não é um esqueleto de animal?
- Só se esse animal for quadrado... – Enfiei a mão no buraco e tive certeza de que encontrara algo importante. Puxei um objeto azul que parecia um saco de supermercado, envolvendo uma caixa. – Viu só?
- Não acredito que você realmente achou! – Zayn sorriu e me ajudou a levantar. – Vamos abrir!
- Você devia abrir, baby. Afinal, são coisas suas. – Nos sentamos no tronco e me preocupei em limpar minha calça.
- Então vamos abrir juntos.
Até que era uma boa solução, afinal, eu tinha feito o trabalho duro! Zayn arrancou a sacola azulada e a deixou de lado, me passando a caixa quadrada de madeira que era o verdadeiro tesouro. Hesitei um pouco, já que não sabia o que podia encontrar ao abrir aquela caixa. Segundo Zayn, ela estivera abandonada por mais de sete anos e isso era tempo mais que suficiente para que bichinhos desagradáveis (como larvas ou minhocas) entrassem ali. “Ew.” Ao perceber a minha demora, o menino encostou no meu joelho com o próprio e sorriu. Assenti em resposta e abri a caixa finalmente, suspirando aliviada por não ter encontrado baratas ou qualquer coisa do gênero. Na verdade, as coisas pareciam estar em bom estado. Esquecidas pelo tempo, claro... Mas ainda em bom estado. A caixa em si parecia um pouco úmida, mas fora isso tudo estava seco.
- Que gracinha! – Tirei um pequeno espelho da Hello Kitty e me olhei no reflexo. – Espero que seja das suas irmãs...
- Claro que esse espelho é meu! – Brincou e arrumou o topete enquanto se olhava no objeto. – O que mais tem aí?
- Um par de abotoaduras... Uhh, parece ouro! Algumas moedas, um chaveiro de ursinho... – Fui pegando as coisas com cuidado e entregando-as a Zayn. – O que é isso aqui?
- O que? – Perguntou, mas continuou olhando para as coisas em sua mão enquanto eu ainda estudava a caixa.
- Um papel. – Retirei com cuidado a folha levemente amarelada do fundo da caixa. – É uma carta, Zayn...
- Quer ler?
- Não. A carta é sua, então acho que você devia ler. – Não cheguei a abri-la, mas pude ler no envelope que aquele papel vinha de “Papai”.
Deduzi que era importante, ainda mais pelas coisas que Zayn me contara. Ele sentia falta de seus pais juntos, mais até do que eu sentia dos meus. Apesar dos muitos anos que já haviam passado, o menino não parecia superar ou ao menos aceitar; claro que não tinha outra escolha além daquela, mas fazia o que podia. Peguei o espelho, o chaveiro e as outras coisas e coloquei tudo dentro da caixinha mais uma vez. Equilibrei-a dobre o tronco e entreguei o papel para Zayn. Ele me olhou como se falasse que eu não precisava me afastar, entretanto, eu não obedeci àquele pedido. Apenas beijei-lhe os lábios e me virei na direção do lago.
Agora sim eu podia prestar atenção na paisagem ao meu redor. Castle Combe não parava de me surpreender e eu me perguntava se algum diretor de cinema já descobrira aquele lugar. Além de um campo maravilhoso, eu descobria um lago extenso cercado por outras montanhas e pinheiros altos. O mar de cascalhos continuava até às margens do rio esverdeado que se mexia tranquilamente com as rajadas de vento. Não cheguei a tocar na água, mas sabia que ela estava, perdoe a minha redundância, gelada como gelo. Arrisquei chegar mais perto e parei aí. Apertei meu casaco contra o corpo e passei a língua pelos lábios para umedecê-los. Dei uma pequena olhada para trás, querendo saber se estava tudo bem com Zayn ou se eu precisaria me aproximar imediatamente. A parte ruim de não ter lido a carta primeiro é que eu não sabia se Zayn estava pronto para lê-la. Não que eu pudesse impedi-lo de qualquer coisa, apenas gostaria de protegê-lo o quanto pudesse.
O menino estava curvado e apoiado nos joelhos com os cotovelos. Uma de suas mãos segurava a carta e a outra tampava a boca. Pensei ter visto-o tremer um pouco, mas preferi achar que era fruto da minha imaginação. Algo vibrando no bolso do meu casaco me fez voltar a olhar para frente e pegar o meu celular. Era uma mensagem de Harry:
“Awwn, assim você me mata, Hazza!”
“Todos aqui sentem a sua falta, na verdade. ):”
“Eu também sinto... Como está tudo? Você está melhor?”
“Lou mal me deixa sair da cama! É meio irritante, mas pelo menos estou melhorando e tenho um companheiro peludo. Liam também está bem. Mande lembranças a Zayn.”
“Mandarei, sweety. Agora tenho que ir, porque ele está vindo pra cá. Ligo pra vocês depois da meia noite, mas feliz ano novo. xx”
- Obrigado, ... – Falou contra a minha pele, me abraçando com força. – Por me fazer vir até aqui.
- É claro... – Acariciei-lhe os cabelos. – O que dizia a carta?
- Meu pai... Pedia desculpas por ter ido embora e nos deixado. Prometia que sempre faria de tudo pra não perder nada e que sempre estaria por perto. – Levantou o rosto para me explicar e eu senti que ele se segurava.
- E ele cumpriu isso, não foi? – Toquei seu rosto com uma mão e o acariciei com o polegar. – Mesmo sem vocês encontrarem essa carta.
- Ele disse que ainda era apaixonado pela minha mãe. E que ela era o grande amor de sua vida... – Repuxou os lábios em um meio sorriso. – Mas que as vezes isso não é o suficiente.
- Essas coisas acontecem, baby... Não significa que é sempre assim. – Sorri o mais confiante que consegui e passei os lábios pelos dele. – O que importa é que tudo está bem.
- Eu te amo, Anjo.
- Eu amo você.
- , você está linda. – Zayn parou na porta aberta do banheiro e me olhou dos pés à cabeça. – Mas não vai... Congelar?
- Provavelmente, mas isso é só um detalhe. – Ri enquanto terminava de me maquiar. – Não se preocupe, você não vai ter que andar por aí com uma mulher roxa. Vou usar um sobretudo bem quentinho. A festa não vai ser ao ar livre, certo?
- Não totalmente... Pelo que li no iPad, a festa é no salão, mas o campo de golfe vai estar aberto. – Deu meia volta e foi se sentar na cama.
- Você realmente gostou do meu iPad, não foi? – O olhei sem precisar sair do banheiro e coloquei os brincos nas orelhas. – Baby, você não está fazendo isso certo...
- Disso eu sei, mas é o melhor que eu consigo! – Tentava amarrar uma gravata preta em volta de seu pescoço e não tinha muito sucesso com isso. – Ajuda?
- Claro! – Mesmo tendo certeza que não teria muito mais sucesso que ele, voltei para o quarto. – É só passar essa ponta por aqui... E dá a volta...
- Você não tem idéia do que está fazendo, né? – Riu enquanto brincava com a barra do meu vestido e eu tentada arrumar a sua gravata.
- Nem umazinha. – Acabei rindo também e tirei aquela fita preta de seu pescoço. – Acho que você devia ir sem gravata mesmo. É mais casual.
- É a única opção... – Levantou assim que eu me afastei e voltei para o espelho do banheiro. – O que você está procurando?
- A minha coroa. – Fiz um bico enquanto juntava as minhas coisas espalhadas sob a bancada de madeira.
Depois de voltarmos para casa àquela manhã, terminei de olhar as coisas do baú enquanto Zayn foi ligar para o pai. Me mantive bem entretida com a variedade de coisas que encontrei naquela caixa, sendo que eu não conseguia identificar a metade delas. Laços de cabeça, aqueles turbantes de seda e alguns pingentes que deduzi serem usados na testa eram algumas das coisas que mais me interessaram. O menino disse que poderíamos usá-los para a festa de Ano Novo no Hotel, mas duvidei muito que fosse ser uma festa à fantasia. Além do que, todos os óculos e tiaras comemorativas tinham a data de 2012 e estávamos entrando em 2013, o que, a não ser que encontrássemos um portal para o passado, seria... Cronologicamente equivocado. A única coisa que realmente prendeu a minha atenção foi uma coroa de prata que estava perdida pelo fundo. Quem sabe eu não poderia brincar de Duquesa mais uma vez?
- A sua coroa está aqui, . – Zayn apareceu no banheiro com o objeto em mãos. – Esqueceu que a deixou na cama?
- Ah, é verdade! – Sorri aliviada e peguei o objeto para colocá-lo sobre a cabeça. – Mas ninguém pode me culpar... Quando subimos para o quarto, você estava muito interessado em tomar banho.
- Quem pode me culpar? – Sorriu travesso e parou ao meu lado; ambos olhando os nossos reflexos no espelho. – Não é todo dia que eu recebo um convite pra tomar banho com a realeza.
- Idiota. – Ri baixo conferindo os últimos detalhes do meu look. – Mas de uma coisa você tem razão... Foi um bom banho.
- Temos que repetir. – Beijou meu ombro nu e me fez sorrir.
- Com toda certeza. – O olhei com uma sobrancelha levantada. – Podemos ir antes que eu desista dessa festa?
- Vou pegar nossos casacos!
Zayn estacionou o carro próximo à entrada do hotel e me ajudou a descer. Não havia nenhum manobrista na porta, mas aquilo não me surpreendeu. Como já cheguei a comentar anteriormente, Castle Combe não parecia ser o tipo de cidade onde os moradores andam de carro para cima e para baixo, então gastar dinheiro com um manobrista para o hotel parecia desnecessário. Além do que, o estacionamento não era tão distante assim, então não morreríamos por caminhar alguns metros. Só de sair do carro já senti as minhas pernas tremerem de frio e agradeci por elas serem a única parte do meu corpo eu estava descoberta. Zayn, por outro lado, estava elegante e quentinho: Usava uma calça jeans preta, camisa branca de linho, blazer preto e, por cima de tudo, um meio sobretudo cinza. Ainda estava sem a gravata, mas ela não fazia falta alguma.
Agradeci mentalmente quando entramos no lobby do hotel e fomos atendidos pelo próprio dono. Pelo visto o Manor House Hotel gostava de se manter próximo aos seus convidados, por isso o senhor meio careca nos acompanhou cordialmente até o salão de baile. Bem, até o salão de festas, mas prefiro chamar de salão de baile. O lugar não chegava a ser extremamente grande, mas era o suficiente para conter as duzentas pessoas que comemorariam a virada do ano ali. Em um canto do salão estava uma banda de cordas que tocava alguma música sem graça para que ninguém dançasse, no lado oposto encontravam-se algumas mesas redondas de dois ou quatro lugares, e mais ao fundo estava a porta de vidro que levava ao lado de fora. Pelo que pude observar pelas janelas, o exterior do hotel estava iluminado e movimentado, mas como não estava afim de passar frio mais uma vez, preferi evitar a nossa saída o máximo possível.
- Espero que gostem da festa! – O senhor careca sorriu. – Naquela mesa temos alguns papeis e uma urna, onde estaremos sorteando um final de semana em nossas acomodações. Só o que precisam fazer é escrever o que esperam do próximo ano ou as suas resoluções e depois da meia noite daremos o resultado.
- Obrigado, Geroge. – Zayn o chamou pelo nome, o que me fez pensar que os dois já se conheciam.
- Tenham uma boa noite. – Sorriu para nós dois e se afastou para cumprimentar novos convidados que entravam no salão.
- Eu nem tinha pensado nisso! – Falei meio que para mim mesma e Zayn tocou as minhas costas com a mão.
- No que? – Perguntou enquanto andávamos até a mesa da urna.
- Em resoluções para o ano que vem! – Expliquei. – Geralmente eu sou muito animada com essas coisas no começo, mas desisto delas antes do meio do ano.
- Eu sempre cumpro as minhas resoluções. – Sorriu convencido, mas eu duvidei muito que ele falasse sério.
- Ah, é? Então qual foi a sua promessa pra esse ano? – Cruzei os braços em desafio.
- Conhecer uma garota bonita e fazê-la feliz. – Respondeu o mais galanteador possível.
- Brega! – Gargalhei um tanto alto e descruzei os braços. – Mas valeu a tentativa.
- Eu tentei. - Também riu e balançou os ombros, pegando um papel e uma caneta de cima da mesa. – O que vai escrever aí?
- Não tenho certeza... – O imitei e fiquei olhando paras linhas em branco. Eu poderia escolher tanta coisa... – “Ser uma princesa.”
- Porque você gostaria de ser uma princesa quando já é uma rainha?
- Baby, você está pegando fogo hoje! – Sorri um tanto balançada por aquele elogio que, com toda certeza, foi melhor que o “conhecer uma garota bonita” e blábláblá. – Então me ajude. O que devo mudar?
- Não é algo que você deve mudar, literalmente, mas... – Zayn parou um pouco para me observar e esperei pelo resto de sua resposta. – Acho que você deveria acreditar mais em si mesma.
- Como assim?
- É só que você é sempre a primeira a acreditar nos outros. Você acreditava que eu e os meninos daríamos uma boa banda e acredita que vamos ganhar o concurso. Acredita que Abi vai ser uma ótima atriz e que aquele Nicholas vai ter uma carreira ao se formar... – Começou como se tivesse medindo as palavras para não me magoar. – Mas quando se trata de você... Não é bem assim. E você é incrível, . Eu sinceramente não acredito que exista algo no mundo que você não seja capaz de fazer. Só queria que você visse isso também.
- Você realmente pensa assim, né? – Sorri sem nem ao menos perceber e balancei a cabeça. – É uma boa resolução.
- Sua vez! – Piscou esperando que eu devolvesse o favor. – O que deve ser a minha resolução de ano novo?
- Acho que você devia ser mais ousado. Tentar coisas novas... Sair da sua zona de conforto, sem se preocupar com o que os outros pensam sobre isso. – Falei naturalmente, não como se o criticasse. – Você não sabe as coisas que pode descobrir se tentar!
- Ser mais ousado... – Cochichou enquanto rabiscava em seu papel. – O que acha de começar pulando de pára-quedas?
- Hey, essa resolução é sua, não minha! – Ri e também escrevi no meu papel para depositá-lo na urna. – Mas por que não começa com algo mais simples?
- Você vai me chamar pra dançar, não é? – Leu os meus pensamentos. – A banda nem está tão animada assim...
- Me conhece tão bem! – Suspirei e o peguei pela mão. – E você mesmo me ensinou que nem precisamos de música pra dançar.
- Mas, babe... – Resmungou já sabendo que eu não o daria ouvido.
- Já esqueceu da sua resolução?
- Achei que essas resoluções só teriam efeito a partir do ano que vem. - Fez careta e me seguiu para longe da mesa com a urna.
- Não tem problema se adiantarmos algumas horinhas.
Dei de ombros e levei Zayn até uma mesa de dois lugares que ficava na diagonal da pista de dança que ainda estava completamente vazia. Mas quem podia culpar os convidados? Ou aquela banda era realmente ruim, ou só estavam esperando que o primeiro casal fizesse as honras. Olhei em volta enquanto desabotoava o meu sobretudo, notando que eu e meu acompanhante éramos os mais novos em todo o recinto. Claro que algumas pessoas aparentavam ter entre vinte e cinco e trinta anos, mas não passava daí. Talvez por isso ninguém estava dançando... Porque adultos tem essa mania chata de esquecer o quanto é bom mexer o esqueleto como se mais ninguém estivesse olhando. Isso não aconteceria comigo... De jeito nenhum.
Pendurei meu casaco no braço de uma das cadeiras da mesa e fiquei bem feliz pelo salão estar com a temperatura mais elevada que no lado de fora. Assim eu podia exibir o meu vestido brilhante e felpudo para qualquer um que quisesse ver. Zayn me imitou e tirou o próprio casaco, deixando-o na própria cadeira. Arrumei a coroa em minha cabeça para que ela não caísse enquanto eu dançava e estiquei a mão na direção do meu namorado. Ele estava um pouco relutante em aceitar o meu convite, mas me conhecia o suficiente para saber que eu não o deixaria em paz. O lado ruim de namorar uma bailarina é que nós sempre queremos dançar em todas as oportunidades que temos. Zayn entrelaçou os dedos aos meus e nos guiei até a pista de dança, ficando razoavelmente perto da banda.
- Então podemos começar essa festa?! – O líder da banda surgiu e falou ao microfone.
- Tá vendo só? – Cochichei para Zayn. – Estavam esperando alguém criar coragem!
- Chama isso de coragem? – Cochichou de volta e passou um braço pela minha cintura, nos aproximando. – Eu chamo de loucura.
- O que tem em sermos um pouco loucos de vez em quando? – Fiz uma careta engraçada para provar o meu ponto e Zayn só riu. Me virei na direção da banda e gritei: - Bota pra quebrar!
- “Bota pra quebrar”, ? – Riu mais ainda, me reprovando com o olhar. – Estamos quase em 2013, mas parece que você parou em 1998.
- Cala a boca e dança comigo! – Dei um passo para trás, segurando suas mãos com as minhas.
- Vamos começar a noite com alguns clássicos para lembrar que os anos passam, mas algumas coisas são eternas. – Depois de falar com a banda, o vocalista se apoderou do microfone para anunciar a música. – Essa primeira música será uma homenagem ao meu grande amigo... Bruce Springsteen!
- Você acha que ele conhece o Bruce? – Perguntei como brincadeira assim que a música começou a tocar.
Não esperei uma resposta de Zayn para começar a dançar. Eu dava um passo para um lado e depois para o outro, ainda segurando-o pela mão e fazendo-o me imitar. Aquela música era completamente dançante e isso me animava mais do que devia. Fechei os olhos para absorver a letra e a melodia. Acabei soltando o menino assim que ele começou a rir de mim, mas preferi ignorar. Me mexi pelo salão, balançando as mãos de forma desengonçada, com as palmas voltadas para cima. Terminei rindo também e abrindo os olhos novamente para fitar meu acompanhante. Fui surpreendida quando vi que ele também dançava e se entregava à música. Não sei se deveria culpar Bruce ou a sua nova resolução de fim de ano, mas aquilo era o que eu chamava de mexer o esqueleto. Ele meio que balançava o quadril de um lado para o outro pra frente e pra trás enquanto suas mãos estavam fechadas em punho próximas ao seu peito.
- Me diga mais uma vez por que você não dança? – Coloquei as mãos na minha própria cintura e parei uns segundos para assisti-lo.
- Você me disse pra ousar, não foi? – Notei que suas bochechas ficaram um pouco vermelhas e sorri.
- E você está seguindo ao pé da letra! – Fiz sinal de positivo com a mão e voltei a me mexer, dessa vez rodeando-o ao dançar. – Muito bem, Malik!
Zayn sorriu e começou a se sentir mais confiante para se soltar ainda mais. Enquanto eu balançava os braços em cima da cabeça e rodopiava devagar, ele arriscou alguns movimentos estilo Michael Jackson que não tinham nada a ver com Bruce Springsteen, mas a intenção era o que contava. Além do que, ele estava tão sexy e parecia se divertir tanto que não me atreveria a falar nada além de “parabéns” ou “você está ótimo”. Algumas pessoas se sentiram encorajadas e se juntaram a nós na pista de dança. Uma senhora de olhos claros e vestido florido trouxe o marido dela para o meio do salão e os dois começaram a se embalar e dançar. Os dois deviam estar juntos desde sua juventude e foi fácil imaginá-los dançando aquela mesma balada há trinta anos. Me impedindo de continuar a olhar aquele casal adorável, Zayn segurou a minha mão direita e guiou até seus braços para que ficássemos mais próximos.
- Pensando nos seus avós? – Segurou a minha cintura com uma mão e entrelaçou nossos dedos com a outra. Apontou com a cabeça para o casal de velhinhos e eu entendi do que estava falando.
- Estava pensando em nós dois, na verdade. – Sorri e pousei minha mão livre em seu ombro.
- Somos tão ruins assim? – Sussurrou na minha orelha e beijou a minha bochecha em seguida.
- Não é isso, besta! – Ri e voltei a olhar os dois. – Será que vamos ficar velhinhos juntos? Essa cosa de primeiro amor que dura pra sempre, sabe? Olha pra eles! Não parecem apaixonados?
- Prefiro olhar pra você. – Zayn capturou o meu olhar e sorriu. – Não... Prefiro beijar você.
Com essa última frase ambos paramos de dançar e nos olhamos por segundos até que nossos olhos pesassem e fossem fechados. O envolvi pelo pescoço e tive a minha cintura enlaçada. Cada um deitou a cabeça para um lado e nossos lábios se encontraram com calma. Como em cenas de filmes de romance, levantei um de meus pés do chão, dobrando o joelho. Me senti boba com aquilo e acabei rindo baixo entre o beijo. Zayn abriu os olhos e me olhou com curiosidade, mas não interpretou aquilo como algo ruim. Apenas passou o polegar no canto da minha boca, limpando o borrado em meu batom. Balancei a cabeça negativamente querendo dizer que não era nada e ele aceitou a minha resposta. Ainda explorando a década de 80, o vocalista deu inicio à próxima música; que reconheci ser: Time Of My Life – Bill Medley.
- Eu já volto, ok? – Zayn beijou as costas da minha mão. – Vou pegar algo pra bebermos.
- Não demore! – Sorri e acenei com a cabeça que ele poderia ir. – Espero aqui!
- Não dance com mais ninguém. – Ameaçou com o cenho franzido e se afastou.
- Ele é um bom partido! – A senhora de vestido floral falou na minha direção e eu nem percebera que ela e o marido estavam nos observando.
- Eu sei! – Continuei observando Zayn andar até um garçom e depois me virei para o outro casal. – Mas o seu também é um bom partido!
- Agora que eu o coloquei na linha, é sim. – A moça riu simpática e marido olhou para os lados como se não soubesse do que ela estava falando.
- Há quanto tempo estão juntos? – Me aproximei do casal para que não precisasse gritar. – Se não se incomodam com a minha curiosidade...
- Uma vida inteira, pra ser bem exata. – A senhora olhou para o marido com um sorriso doce.
- Mais de setenta anos... – O homem a olhou da mesma forma.
- Nossa, isso é muito tempo! Qual o segredo?
- Persistência. – O senhor respondeu. E eu que achava que eles iam responder “amor”. – As vezes os tempos são difíceis, porque não é tudo um mar de flores...
- Mas no fim persistimos e tudo dá certo. – A mulher o completou. – Vocês ainda são jovens, criança. Aproveitem.
- Aproveitaremos sim! – Zayn havia voltado e me entregou uma das taças que segurava. – Se me dão licença, gostaria de roubar a minha rainha por uns instantes.
- Vão se divertir! Ninguém quer ficar falando com dois velhos. – A mais velha acenou um “tchau”.
- Quem você está chamando de velho? – O marido dela rebateu.
Zayn e eu nos entreolhamos e preferimos nos afastar. Com certeza não seria muito legal ficar assistindo os dois discutirem a relação. Dei um primeiro gole no meu champanhe e as bolhas fizeram cócegas na minha língua. Mais uma vez eu estava tomando espumante... Aquilo poderia virar um hábito. Quase não notei a pequena framboesa que flutuava dentro da taça. O cavalheiro que me escoltava até a nossa mesa, puxou a cadeira para que eu pudesse me sentar e seguiu para a própria.
- O último brinde de 2012? – Levantou a taça com um sorriso impecável.
- À um 2013 ainda melhor!
- Vem logo, Zayn! – Eu estava de salto, mas era ele quem corria devagar.
- Ainda temos tempo, ! – Me seguia pelo campo até a aglomeração de pessoas que se reuniam ao redor de um coreto. – Faltam cinco minutos até a meia noite!
- Cinco minutos passam muito rápido, sabia? – Parei de correr e me virei na direção dele, tirando as mãos do bolso do meu casaco para apressá-lo com gestos.
- Estou indo! – Riu e correu até o meu encontro, me abraçando pela cintura e tirando-me do chão.
- O que você está fazendo? – Acabei dobrando os joelhos e rindo ao me segurar nos ombros de Zayn para não cair.
- Cinco minutos passam rápido! – Me imitou e continuou me carregando até entrarmos no coreto.
- Que sem graça, Malik. – O reprovei depois que já estava pisando sobre meus próprios pés.
- Eu gosto de te carregar. – Deu de ombros e sorriu travesso.
- Disso eu já sei, baby! – Ri e olhei para os lados. Aquele coreto estava enfeitado com rosas brancas para dar boa sorte e todos ao nosso redor pareciam tão ansiosos pela virada do ano quanto eu. – Pronto para dar adeus ao ano velho?
- Pronto pra dizer olá ao ano novo. – Segurou as minhas mãos, me puxando mais pra perto. – Últimas palavras?
- Claro que sim! – O abracei com um sorriso e limpei a garganta para continuar: - Felicidade pode ser encontrada até nos tempos mais difíceis, só precisamos lembrar de acender a luz.
- Você está citando Albus Dumbledore? – Zayn riu jogando a cabeça pra trás.
- Você sabe que eu estou citando Albus Dumbledore? – Sorri orgulhosa pelo namorado que tinha. – Mas não importa! Sua vez.
- Feche os olhos e aproveite a montanha russa que é a vida. – Fez a sua expressão mais concentrada.
- Sábias palavras, Zayn Malik. Sábias palavras. – Bati palmas devagar, impressionada com aquela frase.
- CONTAGEM REGRESSIVA! – Alguém gritou atrás de nós e me fez dar um pulinho sem sair do lugar. – Dez, nove, oito...
- Está quase na hora! – Comemorei com uma risada.
- Cinco, quatro, três... – Zayn me encarou profundamente e encostou a testa à minha. – Dois...
Não chegamos a terminar a contagem, pois eu o envolvi pela nuca e o puxei para um beijo. Midnight kiss, literalmente. Não consegui pensar em uma forma melhor de acabar o ano e começar o próximo. Era ali que eu queria ficar, que eu precisava ficar. Nos braços dele. Zayn também pareceu gostar muito daquela minha atitude, pois me apertou como se não fosse soltar nunca mais. Várias pessoas começaram a gritar e a pular ao nosso redor, mas tudo se tornou uma filmagem em câmera lenta. Senti que alguns confetes foram lançados ao ar e caiam lentamente sobre os nossos rostos e nem isso foi o suficiente para nos atrapalhar.
- Feliz ano novo, baby! – Comemorei, puxando-o para um selinho.
- Feliz ano novo, Anjo. – Sorriu ao tirar alguns papeis prateados da minha cabeça.
- Aqui, oh... – Arranquei um botão de rosa do enfeite mais próximo e o entreguei à Zayn. – Pra te dar sucesso nesse novo ano!
- É isso o que uma rosa branca representa? – Cheirou o meu presente em seguida colocou-o no bolso do casaco.
- Provavelmente não. – Balancei a cabeça com uma risada. – Deus, eu não consigo parar de rir! Isso porque só tomei uma taça...
- Você só está feliz! – Zayn tocou o meu queixo com o dedo indicador. – E eu acho lindo.
- É você que está me fazendo feliz, sabia? Olha pra esse lugar incrível que você me trouxe! E é mais que isso... É tudo que você faz todos os dias! Eu tenho sorte em ser sua namorada, Zayn.
- A sorte é toda minha, acredite. – Soltou a minha cintura e começou a procurar algo no bolso do blazer. – E também tenho algo pra você.
- Tem? O que é? – Mordi o lábio curiosa e quase engasguei com o vento ao ver a caixinha preta e aveludada que ele segurava. – Zayn...
- Não é um anel de noivado, antes que você me chame de louco e saia correndo! – Explicou com um riso e eu respirei aliviada. Abriu a caixinha e revelou o anel antes de começar a falar: – Mas eu quero me casar com você um dia. E se você aceitar esse anel, ele vai simbolizar a minha promessa de ser verdadeiro a você. De não te forçar a fazer nada que você não queira e de sempre te entender até nos momentos de silêncio. De falar quando você tem comida presa ao seu dente, ou sujeira no canto do olho. De aparecer na sua cada às duas horas da manhã quando você estiver se sentindo sozinha, principalmente com um pote do seu sorvete preferido. Prometo dividir os meus sonhos e te apoiar nos seus. Eu prometo te deixar orgulhosa de falar: “Esse cara é o meu namorado.” Eu prometo fazer todas essas coisas sem esperar nada em troca. Eu realmente me importo com você, . E quero continuar te chamando de minha.
- Eu te amo tanto! – Foi só o que eu consegui falar, pois me segurava pra não começar a chorar a qualquer instante.
- Isso quer dizer que você aceita? – Segurou a minha mão direita, que tremia um pouco, para colocar o anel no meu dedo anelar.
- É claro que sim...
Capítulo LIX
Eu sabia que estava despertando, mas tentava segurar o sono com todas as minhas forças invisíveis. Alguns flashes da noite anterior surgiam na minha mente enquanto a minha consciência era recuperada aos poucos: “Zayn, aonde você pensa que vai?”, eu me lembrava de falar enquanto me enrolava em uma colcha de sofá. “Vou ter que ir ao porão e tentar concertar o fuzil. Ou quer ficar a noite inteira sem energia?” Ahh, é... Quando a festa de Ano Novo teve fim, voltamos para casa e nem vinte minutos depois uma tempestade começou a cair. Juro que nunca vi tanta chuva junta em uma noite só! O caso é que essa chuva acabou causando uma queda de energia e a casa inteira ficou no completo escuro, com exceção da lareira da sala que permaneceu acesa. “Não consegui encontrar nada! A fiação dessa casa é mais velha do que eu pensava.” Ele explicou assim que voltou para a sala, completamente ensopado. “Ao menos me deixe tirar essa sua roupa molhada...”
Suspirei pesadamente ao despertar de vez. Aquela última imagem de Zayn se despindo era a explicação que eu precisava para entender o porquê de estar acordando em cima do tapete felpudo da sala, em frente à lareira apagada e com apenas metade do corpo coberta pela colcha. Abri os olhos lentamente, sentindo Zayn se mexer atrás de mim. Eu tinha certeza que ele estava acordado há algum tempo, pois deslizava o dedo indicador pela linha que dividia as minhas costas. Aquele carinho logo de manhã cedo foi mais que bem vindo e me fez sorrir e virar o rosto para o outro lado, observando o garoto de cabelos extremamente bagunçados e ar sonolento.
- Bom dia... – Cochichei em um fio de voz. – Dormiu bem?
- Levando em consideração que passei a noite no chão... – Riu preguiçosamente e se esticou até deitar o rosto em meu ombro nu. – Não podia ter dormido melhor.
- Fico feliz que a noite ao meu lado não tenha sido tão ruim assim. – Sorri e puxei uma almofada para apoiar a cabeça. – A energia voltou?
- Para a nossa sorte sim, ou então estaríamos congelando. Você tem que ver como está lá fora... – Começou a distribuir beijos por um caminho até a minha nuca.
- Se você continuar desse jeito, eu não vou querer sair daqui nunca... – Suspirei com um arrepio ao sentir a barba curta do maxilar de Zayn roçando contra o meu pescoço.
- Meu objetivo está sendo alcançado. – Sussurrou perto da minha orelha e deu uma mordida no lóbulo.
- Já acordou pegando fogo? – Ri ao controlar um gemido. Ele brincava com os meus pontos fracos e isso era golpe baixo. Especialmente ao acabar de acordar.
- Qual o problema, ? Já estamos pelados mesmo. – Também riu e saiu de cima de mim para poder me olhar.
- Eu já falei que você é terrível? – Balancei a cabeça para os lados e apoiei o rosto na mão direita, esquecendo que o anel em meu dedo espetava. Olhei para o objeto em minha mão e sorri. – Mas tem bom gosto para jóias, isso tenho que admitir.
- Gostou mesmo do anel? – Puxou a minha mão delicadamente para brincar com o meu dedo. – Achei incrível ter acertado o tamanho em cheio.
- Eu amei! E parabéns, porque cabe certinho. – Analisei a pedrinha solitária e brilhante em meu pseudo-anel-de-quase-noivado. – Quando foi que você o conseguiu?
- Duas semanas depois que eu te conheci. – Zayn não parecia estar brincando, por isso o olhei um tanto surpresa. Ok, bastante surpresa.
- Está falando sério?
- É claro que sim. – Se sentou sobre o tapete e encostou-se ao sofá, cobrindo as suas “partes” com a ponta da colcha que ainda me tapava. – Não mereço um prêmio por isso?
- Interesseiro! – Ri divertida, porém, ele até que tinha razão. Merecia um prêmio por acreditar tanto assim que me conquistaria ou, ao menos, por ser tremendamente maluco. – Mas talvez mereça sim...
- Isso! – Zayn comemorou com um sorriso travesso enquanto eu saia do chão para sentar em seu colo.
- Se você continuar dormindo assim, vai perder a neve em Londres... – Zayn falou ao meu lado enquanto acariciava a minha perna.
- Eu dormi de novo? – Me mexi no banco do carro com aquela minha pergunta retórica. – Devia ter alguma coisa no meu leite, porque toda vez que pegamos a estrada, eu pego no... Espera, você disse “neve”?
- Parece que não foi só Castle Combe que sofreu com a tempestade. – Deu partida no carro quando o sinal ficou verde novamente. Percebi que estávamos na Aldersgate Street, então não demoraríamos muito pra chegar ao meu condomínio. – A neve ainda está fina, mas até amanhã o chão vai estar todo coberto.
- Eu adoro a neve de Londres! – Sorri me esticando para ver o chão através da janela do carro. – Os postes de luz, as cabines telefônicas, as árvores, tudo coberto pela neve!
- E o frio que parece querer fazer nossas orelhas caírem! – Zayn pareceu bem animado com aquilo, mas entendi o seu sarcasmo.
- Baby! – O repreendi, mas deixei passar. – Castle Combe deve ficar lindo quando está nevando... Pena que tivemos que voltar pra casa tão cedo.
- Duvido que você conseguisse passar mais três dias sem . – Riu olhando pra frente.
- Quem falou qualquer coisa sobre ficar sem o Bo? – Ri voltando a me encostar confortavelmente no banco do Volvo. – Nós voltaríamos pra buscá-lo, é claro!
- Voltar até aqui só pra buscá-lo?
- Claro que sim! Vai me dizer que você não está com saudades do Boris? – Cruzei os braços.
- É claro que estou! Mas ele está comigo há anos. – Continuou dirigindo e falava como se, por ser meu há pouco tempo, eu me importava menos com ele. – E Boris está com a minha mãe em Bradford, então eu teria que esperar mais para vê-lo de qualquer jeito.
- Quando eles voltam? Temos que apresentar Boris ao irmão mais novo.
- No final da semana que vem. – Riu e olhou algo pelo retrovisor. – Você acha que eles vão se dar bem?
- Espero que sim! E tenho certeza que vai cansá-lo. – Também ri ao imaginar os dois juntos e olhei pra frente. – Lar doce lar!
Seria possível que eu estivesse sentindo saudades de casa depois de apenas três dias? Fiquei super feliz ao acenar para o porteiro que abriu os portões do condomínio. Por mais que eu tivesse gostado e aproveitado bastante nossa estadia no chalé, queria a minha cama, o meu quarto, a minha casa e principalmente... Meus meninos. Não era só de que eu sentia falta, mas também de Lou, Li, Hazza, Ni e Abi. Zayn disse que avisaria para os dois últimos quando estivéssemos perto de casa, assim eles poderiam ir pra lá também. Aparentemente eu perdi essa conversa por telefone quando estava dormindo, mas confiava que todos estariam nos aguardando.
Zayn continuou dirigindo pelas ruas estreitas e teve cuidado redobrado. A pista estava meio escorregadia por conta da geada fina que caíra de madrugada e ninguém queria causar acidentes. A grama que costumava ser verde agora tinha uma cor um tanto esbranquiçada e aparência congelada. O aquecedor do carro estava ligado e com isso os vidros da janela ficaram um pouco embaçados e não me importei em limpá-los. A minha preocupação maior foi apenas passar o braço na frente de Zayn e apertar a buzina do carro. O menino riu de mim como se eu fosse maluca, porém já sabia que eu era fã de uma chegada dramática. Estacionamos o carro na calçada em frente à casa e eu abri a porta antes mesmo que o veículo parasse completamente. Claro que eu ajudaria o meu namorado a descarregar o carro, mas primeiro tinha que resolver questões mais urgentes.
- Ô de caaaaasa. – Abri a porta e vi cinco figuras correrem na minha direção.
- Eu disse que eram eles! – Abi foi a primeira a aparecer no hall de entrada e logo me puxou para um abraço. – Nós temos tanto pra conversar, ! Você tem tanto pra me contar, na verdade. Porque não retornou nenhuma das minhas ligações, sua cachorra?
- Também senti sua falta, ruiva. – Separei o abraço e a olhei como quem diz: “Agora não!”
- Little sister! – Lou foi o próximo a me abraçar. – Feliz ano novo!
- Feliz ano novo, Boo Bear! – O abracei com força. – Tentei ligar pra você depois da meia noite, mas ninguém me atendeu...
- Nós acabamos saindo ontem... Fomos assistir a queima de fogos do Tamisa. – Harry explicou ao também me abraçar.
- Vejo que meu cupcake já está bem! – Sorri após beijá-lo na bochecha.
- Onde está seu namorado? – Niall foi o quarto e beijou a minha testa quando me abraçou.
- Está lá fora, tirando as coisas do carro... – Apontei para a porta com um aceno de cabeça. – Porque vocês não vão ajudá-lo?
- Vamos, Louis? – Niall chamou o meu irmão e Haz foi junto.
- Está faltando alguém... Cadê o Li? – Perguntei ao virar em direção à sala, encontrando o último garoto parado e sorrindo. – LEEYUM!
- ! – Imitou o meu grito ao vê-lo e me escondi em seus braços. – Que bom que você voltou, pequena.
- Eu realmente senti a sua falta. – O apertei pelas costelas. – Você cuidou bem do meu filho? Cadê o pequeno?
Assim que os meninos saíram de casa e aquele corredor ficou mais vazio e silencioso, pude escutar um latido fino vindo do topo da escada. Dei alguns passos para frente ao soltar Liam e observei a figura em preto e branco que tentava descer os degraus, mas não conseguia. Aparentemente nada havia mudado desde que eu me fora, dois dias e meio atrás, e o filhote ainda não sabia descer a escada. Agora que a sua mummy estava de volta, eu trataria de ensiná-lo a fazer todo o trajeto. Enquanto ele ainda não aprendia, eu não me importaria de carregá-lo sempre que fosse preciso. Subi as escadas correndo, já falando com o pequenino com aquela voz aguda e irritante, que o deixava bem feliz. Pude escutar mandando Liam ir ajudar os outros meninos e tive certeza que seria encurralada a qualquer instante.
- Vamos para o nosso quarto, neném? – Perguntei a , trazendo-o para meu colo e deixando meu rosto ser lambido. – Antes que a ruiva malvada nos faça perguntas constrangedoras!
- Não precisa se preocupar, , as perguntas constrangedoras são só pra ela. – Abi fechou a porta do meu quarto com pressa assim que nós três estávamos ali dentro. – Pode começar.
- Você sentiu falta da mamãe? – Sentei na cama com o pequeno tentando se equilibrar de pé sobre as minhas pernas. – Sentiu, meu amor? Awn, eu também senti!
- , eu terei que te torturar pra conseguir as minhas respostas? – Abi cruzou os braços sem paciência e se sentou na minha frente.
- Pode até tentar, mas duvido que consiga. – Ri enquanto abraçava e fazia carinho em seu pescoço. A minha amiga bufou, então resolvi dar o braço a torcer. – Tudo bem! O que você quer saber?
- Tudo! Com detalhes. Como foi a viagem? – Tirou os sapatos e abraçou os joelhos em cima da cama como se esperasse uma história muito boa.
- Para definir em uma palavra... Perfeita. Você não tem noção do quanto Castle Combe é um vilarejo bonito. Parece um cenário de filme medieval, sabe? E tem um campo de vaga-lumes, um rio enorme e uma floresta encantadora. Sinceramente? Espero voltar logo. E o chalé da família de Zayn é uma gracinha. Super confortável e bem rústico mesmo. – Contei tudo aquilo com um sorriso, sem nunca largar o meu cachorro. – Sem falar que Zayn foi um cavalheiro em todos os momentos e fez com que eu me sentisse em casa.
- Fico feliz, ! Vocês precisavam de um tempo a sós. – Seu sorriso doce se transformou em um bem mais sapeca, o que gritava “lá vem bomba!” – Mas de diga, minha querida... Como vocês aproveitaram esse tempo?
- Muito bem, se posso comentar. – Acabei rindo. – Aproveitamos desde a primeira noite. E durante o banho... E na frente da lareira...
- Nossa, isso...
- Duas vezes. – A interrompi e encerrei aquele meu comentário de vez.
- ! – Abi gargalhou histérica, adorando a nova eu. – Está de parabéns! E você gostou? Como Zayn se saiu?
- No começo fiquei um pouco nervosa, pra falar a verdade. Mas a nossa primeira vez foi linda e calma. Zayn me tocava como se eu pudesse quebrar a qualquer movimento mais brusco, sabe? – Suspirei com as lembranças daquela noite. – No segundo dia já foi completamente diferente! Ele tem um lado calmo e tranqüilo, mas também consegue ser urgente daquele tipo “eu te quero aqui e agora!”
- Hmmmmm, eu sempre desconfiei disso! – Bateu palmas, ainda com aquela animação toda. Alguém tocou a campainha, mas assim que fiz menção de me levantar, Abi me impediu. – Você não vai a lugar nenhum! Os meninos atendem. Deve ser a Liv.
- Você avisou pra ela que eu voltava hoje? – Me acomodei novamente na cama e se deitou de barriga para baixo para que eu o acariciasse.
- Eu liguei pra ela essa manhã e antes de vir pra cá, mas ela disse que estaria ocupada com algum jardim... Ou algo do tipo. Acho que mudou de idéia. – Deu de ombros e começou a brincar com os pés do filhote. – Vou te contar, essas pessoas com espírito hippie são muito estranhas.
- Abi! – A repreendi.
- Não me entenda mal, ... Eu já adoro essa garota. Mais até do que achei que poderia gostar. – Os carinhos da ruiva fizeram morder a minha mão como se fosse a mão dela, o que me fez reclamar baixo. – Eu sou uma pessoa sociável.
- Com toda certeza! – Ri massageando a minha mão direita até que a outra puxou-a para si. – O que foi isso?
- Eu é que pergunto o que é isso! – Olhou de perto o anel em minha mão. Ah, isso. – Eu não sabia que você tinha esse anel.
- Porque não tinha mesmo. – Sorri de canto e puxei a minha mão de volta, admirando meu anel. – Zayn me deu após a virada do ano novo.
- Ele te pediu em casamento? – Arregalou os olhos com espanto, mas eu quase pude escutar os sinos da igreja tocando dentro de sua cabeça.
- Sim e não. – Tentei esclarecer, mas sabia que a confundi mais ainda. – Ele não me pediu em casamento... Mas esse anel é uma prova de que um dia ele vai pedir, sabe? Eu achei muito fofo.
- É fofo sim. – Fez bico. – Porque o meu Nialler nunca fez uma coisa dessas? Eu achei que ele fosse me dar um anel como esses, mas... EI, ESPERA AÍ. Agora tudo faz sentido.
- Só se for pra você. – Pensei alto com uma careta. – O que faz sentido, Abi?
- Há mais de três meses atrás, eu achei um recibo de uma joalheria no apartamento do Ni... E você me conhece, se eu descobrisse que ele me daria um anel, gostaria de recebê-lo na hora. – Era bem verdade, pois Abi não esperaria uma surpresa, por maior que fosse. – E quando eu o questionei sobre isso, Niall falou que o recibo não era dele e sim de Zayn. É claro que eu não acreditei na época, porque ele tinha acabado de romper com a Brigitte e não estava com mais ninguém. Todavia, agora tudo faz sentido!
- Uau. – Acabei sorrindo novamente. Abi acabara de confirmar que Zayn comprara aquele anel duas semanas após me conhecer... Não que eu não tivesse acreditado no menino em primeiro lugar, mas você entende o meu ceticismo.
- Você acredita em amor a primeira vista, ? Porque eu acho que foi isso o que aconteceu com Zayn. – Olhou meu anel mais uma vez. – Eu nunca vi um garoto tão apaixonado por uma garota quanto ele é por você. Não falo isso só por causa desse anel, ou de viagens românticas... Sou sincera quando falo que vocês foram feitos um para o outro.
- Meninas... – Niall entrou no quarto sem nem bater e suas bochechas estavam um pouco vermelhas. – Vocês vão querer ver isso.
- Ver o que? – Peguei no colo, já me levantando para ver o que estava acontecendo.
- Ok, é melhor eu explicar antes de descermos. – Impediu a passagem de qualquer um para fora do quarto e em seguida olhou seriamente para a namoradão. – Não pirem, ok?
- Vá diretamente ao ponto, por favor! – Eu começava a me preocupar.
- Nós não ganhamos o concurso do X Factor. – Falou devagar, o que não explicava toda a sua euforia de antes. Ao ver nossos olhares de “como você sabe?”, ele continuou. – Uma equipe de TV está lá embaixo, pra gravar um recado para a equipe vencedora e coisa e tal.
- Acho que querem reforçar a idéia de que “o que importa é competir”. – Abi comentou, bem mais calma do que eu esperaria.
- Isso não faz sentido... – Senti um nó na garganta. Então era isso? O fim de One Direction? – Porque você está tão feliz assim, Ni?
- Porque nós vamos aparecer na televisão, ué! – O loiro respondeu.
É claro que Niall estaria feliz! Mesmo se não fossem aparecer nem pra desejar parabéns aos outros competidores, ele estaria radiante só pela oportunidade de ter participado desse concurso. Assim que tudo já estava explicado, o irlandês nos deixou sair do quarto e foi na frente. Eu estava realmente me sentindo mal... Como iria olhar nos olhos dos outros meninos, sabendo que tinham perdido o concurso? Eu os fizera passar por aquela situação constrangedora, afinal de contas, a idéia havia começado comigo. Eu repetira milhares de vezes que eles iriam ganhar o concurso e os fiz ter esperanças. Mas o que mais poderia ter feito? Eu realmente acreditava que eles iriam conseguir...
Abi seguia o namorado e eu fui a última a entrar na sala. Os outros quatro meninos estavam alinhados no sofá e o loiro se juntou à eles na ponta da esquerda. Zayn estava no canto mais afastado e me chamou para ir até ele. Seu sorriso era triste, mas de aceitação. Não parecia estar bravo ou chateado comigo, assim como nenhum dos outros garotos. O clima da sala estava pesado e pelo menos quatro câmeras estavam montadas em cantos estratégicos da sala. Agradeci por estar mais ou menos arrumada e me repreendi, pois aquele era o último de nossos problemas. Me sentei no braço do sofá ao lado de Zayn e deitou a cabeça na curva do meu braço. Ele até que podia ser bem amigável e não estranhar ninguém, mas quando o número de desconhecidos era grande demais, o pequeno ficava... “Acanhado.”
- Vocês duas foram quem mandaram o vídeo para o site, certo? – Uma mulher de óculos de grau olhava para mim e para Abi com um sorriso amigável. – Me chamo Susan.
- . – Levantei a mão em um aceno não muito animado e forcei um sorriso. – Ela é a .
- Muito bem... Eu entendo que vocês estão chateados por terem perdido, mas vamos tentar manter o espírito esportivo, certo? – Dessa vez Susan falava para todos na sala. – Vamos começar mostrando pra vocês o que os outros grupos perdedores já falaram só pra terem uma idéia e então filmaremos a mensagem de vocês, ok?
- Tudo bem. – Lou deu de ombros.
- Jack, poderia ligar o televisor, por favor? – A mulher pediu para um homem de boné e ele assentiu.
- Em três, dois, um... – Ligou a TV ao terminar de contar.
- Olá, One Direction. Aqui quem fala é Simon Cowell. – Ninguém soube o que falar quando o criador do programa apareceu na tela da TV e milhares de pessoas da platéia vibravam atrás dele. – Primeiramente eu gostaria de agradecer em nome de todo o programa por terem participado e tentado uma chance de ganhar o primeiro concurso para descobrir novos talentos além do programa normal. No final do dia, a decisão caiu nas minhas mãos. Claramente vocês não tem tanta experiência como uma banda quanto os outros competidores. Em um lado positivo, isso deu certo. Minha cabeça estava dizendo: “É um risco”, mas o meu coração estava dizendo que vocês mereciam uma chance. Mas eu tive que tomar uma decisão e avaliar todos os prós e cons de todos os participantes. Então tive que escolher uma banda de verdade. Meninos... Vocês são talentosos demais pra deixar escapar. Parabéns.
Um. Dois. Três. Três segundos foi o que levamos para entender o que estava acontecendo ali. Três segundos para que a sala inteira – com exceção de mim e dos produtores – começasse a pular. Os cinco jovens se abraçaram e gritaram, mas eu mal pude entender qualquer coisa. Até mesmo escapou de meus braços e começou a comemorar enquanto pulava no sofá. Então eles haviam ganhado e tudo aquilo foi só uma “brincadeira”? Esse tipo de surpresa era bem o estilo de Simon, pois todos sabíamos que ele gostava de dar noticias ruins para depois dar noticias boas. Permaneci sentada no sofá para assimilar tudo aquilo. Um minuto atrás eu estava me sentindo super mal e agora estava tão feliz que mal conseguia raciocinar direito. Com toda certeza levei mais de três segundos para que a minha ficha caísse.
- ! – Zayn me chamou e o mundo voltou a girar normalmente. – Nós ganhamos!
- Vocês tem tanto pra fazer! – Disse após fazermos um brinde.
Antes que Susan e o resto da equipe fossem embora, eles se sentaram com os meninos para conversar sobre os detalhes do programa e dos prêmios do concurso. Preferi me ausentar daquela confusão e arrastei Abi comigo para o andar de cima para que pudéssemos dar mais privacidade a todos, mas é claro que eles explicaram exatamente tudo o que foi falado nessa “reunião”. Segundo a produtora, o photoshoot aconteceria na quinta feira daquela mesma semana e a entrevista só seria marcada após a final do X Factor – que era quando eles deveriam se apresentar; dali uma semana. A mulher foi muito simpática, pelo que soube, e disse que eles deveriam se preocupar com uma coisa de cada vez. Bem, eu estava preocupada com um pequeno detalhe... Eles teriam que apresentar uma música original. Você deve estar pensando: “Ahh, mas eles tem músicas originais, então qual é o problema?” O problema, pequeno gafanhoto, é que, já que eram uma banda, eles deveriam criar uma música juntos. Os cinco. Não apenas um deles e depois dividirem as partes!
Mas ainda era cedo demais para pensar e certos detalhes e tudo o que queríamos fazer era sair para comemorar. Todos tomaram banho e trocaram de roupa, inclusive eu, para que nos encontrássemos no Pub às 22hrs. Só saímos de casa depois que o episódio do The X Factor foi ao ar e pudemos ver nossas caras de espanto pela televisão. Como não era uma sexta feira, o karaokê não estava funcionando, o que tornou o Pub apenas um pub... Assim o lugar estava bem mais vazio que o normal e bem mais tranqüilo também. Sem bêbados esbarrando suas bebidas na gente e sem mulheres peitudas dando em cima de nossos homens. Ok, talvez algumas mulheres peitudas dando em cima de nossos homens. Foi só os meninos aparecerem na televisão uma vez que a fama já começava a persegui-los. Imagine então depois de aparecerem ao vivo na final do programa?
- O que aconteceu com “vamos por partes”? – Lou perguntou ao me olhar por cima do seu próprio copo de cerveja.
- Ela tem razão, lads. – Liam, que estava ao meu lado direito, concordou comigo. – Não podemos deixar tudo pra última hora e esperar que dê tudo certo...
- Não podemos falar disso outro dia? – Abi pediu com tédio.
- Só estou dizendo que vocês deveriam montar um cronograma... Sei lá. – A ignorei. – Estabelecer prioridades e...
- Chatice! – me interrompeu.
- Vamos aproveitar a noite pra comemorar. Amanhã pensamos nisso... Ok? – Zayn estava a minha esquerda e pediu ao acariciar a minha mão.
- Tudo bem... Só me prometam que eu vou poder ir com vocês no dia do photoshoot! – Pedi com um sorrisinho angelical.
- Nós não iríamos sem você. – Beijou a ponta do meu nariz e sorriu de volta.
- Yay! – Comemorei. Eu sabia que não apareceria nas fotos, mas mesmo assim estava animada. – Aquele ali não é o Josh?
- Onde? – Niall esticou o pescoço para olhar na direção que eu estava apontando. – É sim! E o Sandy está com ele.
- Nossos instrumentos chegaram. – Zayn foi o primeiro a se levantar para chamar a atenção dos amigos e Niall o seguiu.
- Nós devemos ir? – Harry olhou para Lou e depois pra mim.
- Eu vou apresentar vocês... – Rolei os olhos. Uma garota tem que fazer o que uma garota tem que fazer. Também me levantei e toquei o ombro de Liam, já que ele era o mais próximo. – Venham comigo.
- Eu vou ficar aqui, ok? – A ruiva se convidou para ficar na mesa e eu a lancei um olhar de “preguiçosa!”.
Josh e Sandy pararam no meio do trajeto até a nossa mesa, pois Zayn e Niall foram de encontro aos amigos. Eu me lembrava de ter visto-os algumas vezes ao sair com meu namorado, mas a única vez em que chegamos a conversar direito foi na época do Snow Ball. Liam, Lou e Harry me seguiram e pararam um pouco atrás de mim. Me senti como uma mãe levando os filhos para o primeiro dia de escola e tendo que apresentá-los na frente da turma. Josh me viu primeiro e desistiu de cumprimentar Zayn para me abraçar. Ele conseguia ser mais baixo que eu e isso era simplesmente adorável. Sandy apenas acenou na minha direção e isso o deixou a salvo dos olhares mortais do meu namorado ciumento.
- Hey, Josh! Quanto tempo. – Sorri quando ele me soltou.
- E você continua com os mesmo olhos. – Também sorriu, mas não entendi muito bem se aquilo era um elogio ou se estávamos falando o óbvio.
- Obrigada. – Agradeci mesmo sem saber se devia e me virei para os três garotos atrás de mim. – Esse aqui é meu irmão Louis e nossos amigos Harry e Liam.
- Oi! – Lou acenou.
- E aí? – Liam sorriu.
- ‘Sup? – Harry incorporou um gangster e me fez rir.
- Estamos montando uma gangue, sabe? – Brinquei. – Bem... Vou deixar vocês conversarem em paz!
Falando isso, me afastei. Os meninos deviam conversar com o baterista e o baixista sobre o X Factor e convidá-los para tocar juntos. Sim, era um ótimo convite e impossível e recusar, mas mesmo assim eu os deixaria resolver isso sozinhos. Tudo estava bem e eu me senti tranqüila. Era bom demais poder olhar para os meus amigos e saber que eles estavam prestes a realizar seus maiores sonhos, ainda mais por eu ter ajudado-os como podia. Eu e Abi acreditamos nos cinco quando nem eles mesmo acreditavam e agora tínhamos o direito de falar: “Eu avisei.”
Capítulo LX
Naquela manhã de quinta-feira comecei a pensar seriamente em usar o caderno que Louis me deu de presente de natal para anotar certas coisas que eu não deveria esquecer. Coisas bem simples, como “Não irritar nos dias de TPM”, “Não adormecer escutando música no último volume com fones de ouvido”, “Não esquecer a janela aberta, a não ser que queira congelar durante a madrugada”, mas uma lição que eu estava aprendendo agora, e com certeza iria para o topo da lista, era: “Não deixar o iPad conectado à conta do Twitter de uma Boyband em ascensão”, porque, Deus do céu, como eles recebiam mentions e novos seguidores! Para resumir, o barulhinho irritante acabou me acordando em plenas oito horas da manhã! teve mais sorte que eu e continuou dormindo mesmo quando eu o dei um beijo de bom dia e levantei da cama ara ir ao banheiro. Ok, por um lado era bem legal que o Twitter oficial do One Direction estivesse bombando e que o fandom dos meninos estivesse aumentando diariamente, mas porque eu precisava ser acordada? Ainda estava de férias, pelas barbas de Merlin!
- Ok, vamos ver o que as directioners estão aprontando essa manhã. – Falei sozinha ao pegar o iPad de cima da minha escrivaninha e mexeu uma das pernas traseiras como se estivesse sonhando. – Você é um directioner também, né, Bo?
O cachorro voltou a dormir tranquilamente e nem se importou em me responder. Esse ingrato. Deixando minhas maluquices de lado, sentei no meio da cama com o aparelho eletrônico em meu colo. Eu ainda estava me acostumando a mexer nele, mas já pegava o jeito rapidamente. Entrei no Twitter e li algumas das últimas mensagens que a conta recebia. Ao menos metade dos 86.785 followers já havia mandado alguma coisa, então era meio impossível ler tudo, mas eu tentava bastante. Pra ser sincera, eu entrava mais naquela conta do que na minha própria e nem preciso comentar que os meninos eram preguiçosos demais para fazer o mesmo. Não que eles não se importassem com essas “fãs” que começavam a aparecer do nada, mas tinham seus próprios novos seguidores e davam atenção á eles individualmente.
Foi o meu primeiro tweet para revelar que alguém entrara naquela conta e o suficiente para que algumas ficassem loucas. Aquilo ainda era novo pra mim, que não estava nem na banda, mas gostava bastante de milhares de pessoas –garotas em sua maioria exorbitante- que conseguiam reconhecer o talento dos meninos. Eu não queria nem imaginar o publico que eles alcançariam após a apresentação ao vivo na próxima terça-feira.
“@Louis_Tomlinson, é você, meu marido?”
“Aquele @zaynmalik do @OneDirection é tão gato!!!!!!!!”
“Todos do @OneDirection são fofos e carismáticos! Viu a carinha deles quando receberam a noticia do Simon? Como não apaixonar?”
“Faz tempo que não me encanto com uma banda assim!”
“Boa sorte no photoshoot, meninos! Vocês merecem.”
“Mal posso esperar para ver essas fotos!”
Algumas das respostas que li falavam sobre os meninos serem lindos, fofos, talentosos e etc, etc. Impedi o meu lado ciumento de ter um ataque e gritar “SÃO MEUS!” e apenas tratei de responder algumas meninas diretamente; e essas sim é que davam ataques! “Será que eu sou assim com o McFly?” Me questionei, mas tive medo de pensar na resposta.
“Tem alguma pergunta? Ficarei feliz em responder! Querem saber #fatos1D?”
Antes de ser a empresária ou publicitária da banda, eu era uma fã também. Não só deles, mas de outras celebridades. Portanto, sabia o quanto era bom descobrir coisas novas, segredos e derivados sobre aquele fandom, principalmente quando alguém se dedica à responder perguntas ou tirar um tempo para dar uma visão de dentro do mundo que rodeia meu motivo de “fangirlisses”. Eu não pensava em momento algum trazer ibope para o meu lado e nem conseguir mais followers do que os meus 70. Apenas entendia o que essas garotas estavam passando e fazia por elas o que gostaria que tivessem feito por mim.
“Quando o @Real_Liam_Payne vai fazer outra twitcam?”
“É verdade que você mora com a banda, @? E tem um cachorro?”
“Queremos #fatos1D sim!!!”
Me preocupei em ler apenas perguntas e comentários positivos. Não que já houvesse muitos haters em cima dos meninos, mas toda atenção vem com o lado bom e o lado ruim. Separei algumas perguntas para responder e também segui algumas meninas; adorando vê-las fazer escândalo por ver que eram reconhecidas.
“Prometo que vou perguntar sobre a próxima Twitcam e aviso pra vocês! Também pedirei aos meninos para se juntarem em uma só, ok?”
“Eu moro com 3/5 da banda! Meu irmão, Liam e Harry! Tenho um cachorro sim e ele é o mascote da banda. Se chama !”
“Vamos lá, vou listar alguns fatos pra vocês! #fatos1D”
“#1 Os meninos não sabiam que estavam inscritos no concurso e foram colocados em uma banda por “acaso”! Mas acabou dando tudo certo.”
“#2 Louis e Harry se conhecem há anos, o que também acontece com Niall e Zayn! Liam é o mais novo da família, mas já parece estar roubando o coração de Zayn.”
“#3 Harry: Tem mania de ficar pelado o tempo inteiro!”
“#4 Louis: É o mais velho da banda. Por mais incrível que pareça...”
“#5 Liam: Tem duas tartarugas que cuida como se fossem seus filhos! Na verdade, ele cuida de todos nós como se fossem seus filhos. Daddy Direction?”
“#6 Niall: Importado diretamente da Irlanda! Isso explica o sotaque fofo.”
“#7 Zayn: Tem três irmãs adoráveis, tem mania de tatuar caveiras no corpo e desenhar é um de seus talentos escondidos.”
Digitei tudo que veio em minha mente, mas eu sabia de tantas coisas que tive que reduzir bastante as informações. Não podia simplesmente falar nosso endereço ou dizer que Niall e Zayn estudavam na Academy. Conhecendo fãs do jeito que são, não me assustaria de encontrar garotas acampadas na porta do condomínio ou fazendo de tudo para se matricularem na London Royal Academy. Cof cof. “Vou fingir que nunca pensei em stalkear Tom Fletcher ou qualquer um dos outros meninos.” Cof cof. Uma pequena batida na porta do meu quarto me fez levantar os olhos do iPad.
- Sim? – Perguntei.
- Eu sabia que tinha escutado algo... – Uma cabeça flutuante apareceu com um sorriso bobo. – Bom dia, .
- Bom dia, Leeyum, pode entrar! – Sorri de volta e bati no espaço vazio da cama ao meu lado, convidando-o.
- Alguém perdeu a hora hoje? – Deixou a porta entreaberta e se sentou onde eu indicara. Liam fez um pequeno carinho no topo da cabeça de . – Não quer ir passear?
- Liam! – O repreendi. Aquela era a palavra mágica e só de escutá-la, o cachorro abriu os olhos. – Não se deve falar a p-a-l-a-v-r-a passear perto dele!
- Acho que você soletrou a p-a-l-a-v-r-a errada. – Constatou o meu erro óbvio e riu. Enquanto isso, se desenterrava de dentro dos lençóis e bocejava.
- Droga! – Acabei rindo também. – Ainda estou acordando, dê um desconto.
- Claro! – Pegou o cachorro nos braços enquanto o pequeno se espreguiçava e ganhou aquelas lambidinhas de bom dia. Em seguida, apontou para o iPad em meu colo que não parou de piscar ou apitar desde que ele entrara. – O que está fazendo?
- Falando com as suas fãs! Mas agora vou ter que parar e ir p-a-s-s-e-a-r com o cachorro por culpa sua. – Fiz uma careta.
- Pode deixar que eu passeio com ele, . – Sorriu e se levantou, levando nos braços. – E você pode ligar para a Rachel enquanto isso. Louis não quis me dizer o que era, mas parece que ela tem noticias!
- Tudo bem...
“Será que minha madrasta está grávida de novo?!” Isso foi a primeira coisa que se passou pela minha cabeça, mas era difícil de acreditar. Liam deixou o meu quarto após pegar a coleira de no closet. Digitei uma breve despedida para as directioners no Twitter, mas garanti que voltaria mais tarde com noticias sobre o photoshoot e tudo mais. Ainda com o eu amor por produtos da Apple, peguei o meu iPhone e digitei o número de Rachel, esperando-a atender pacientemente.
- Bom dia, ! – A voz alegre dela atendeu.
- Bom dia, Rach. Como está tudo por aí? – Seria falta de educação ir direto ao ponto.
- Tudo ótimo, como sempre! E aí?
- Os meninos estão bem animados e eu estou do mesmo jeito. – Ri baixo.
- Pois prepare-se pra ficar mais animada ainda... – Senti que as “noticias” vinham por aí. – Eu cheguei ao trabalho normalmente hoje, há mais ou menos uma hora. E adivinha só? A Models One está uma completa confusão! Estão arrumando o estúdio principal, sabe? E só fazem isso quando o ensaio fotográfico vai ser grande...
- Rach, eu te amo, mas você pode ir direto ao ponto?! Estou curiosa aqui...
- Ah, sim, claro. – Respirou fundo. – Enfim, o ensaio dos meninos vai ser aqui, na Models One. E a sua querida Carine é a produtora.
- NÃO ACREDITO! – Mas acreditava sim. A Models One ainda era a maior agência de modelos/fotográfica da Europa, então era óbvio que o X Factor contratasse os seus serviços.
Eu já havia separado a roupa que usaria para acompanhar os meninos durante o photoshoot, mas ao descobrir que ele aconteceria no escritório da Models One tudo mudou. Antes eu era uma amiga que iria acompanhar os ganhadores do concurso em seu primeiro ensaio fotográfico; agora era uma jovem adulta que devia impressionar seu ícone fashion. Isso me fez demorar um pouco mais que o previsto para me arrumar, já que não saí do banheiro até estar satisfeita com o meu trabalho. Ao menos não cheguei a atrasar os meninos e ninguém brigou comigo durante o caminho. Como eu ainda me lembrava como chegar ao escritório, pegamos um atalho e chegamos rapidamente ao prédio na Oxford Street. Rachel já estava nos esperando lá e desceu até o estacionamento para nos ajudar a passar pela portaria sem ter problemas com a segurança. Eu, Lou, Li e Haz ganhamos crachás com os nosso nomes e o glamour começou daí.
- , você está tão... Elegante. – Rachel comentou quando entramos no elevador e apertou o botão para a cobertura.
- Obrigada! – Sorri com o elogio e me olhei no espelho do fundo do elevador.
- Ela está tentando conseguir um estágio aqui! – Lou riu com a sua própria brincadeira.
- Mesmo?! Porque se for verdade, posso falar com Carine e tenho certeza que ela acharia algo pra você fazer... – Rach me fez virar em sua direção e quase arregalei os olhos.
- Está falando sério?! – Sorri esperançosa, mesmo que aquilo nunca tivesse passado pela minha cabeça.
- Por que não? Você tem uma noção de moda melhor que muitos que trabalham aqui mesmo. – Minha madrasta tocou o meu ombro enquanto falava e acariciou o pelo sintético em meu casaco.
- Você não está pensando em começar a trabalhar aqui, está? – Liam perguntou.
- Na verdade, estou... – Afirmei positivamente com a cabeça. – O que eu terei pra fazer depois que vocês saírem em turnê mundial? Ficar em casa esperando vocês chegarem?
- Vocês vão fazer uma turnê? – A outra mulher perguntou e foi a sua vez de arregalar os olhos.
- A é muito positiva... – Harry explicou o meu exagero.
Não tive tempo de me defender, pois as portas automáticas do elevador foram abertas e revelaram a entrada do escritório. Eu já conhecia aquele lugar, mas confesso que certas coisas mudaram. Rachel estava certa ao contar a sua história e falar que encontrou uma bagunça completa ao ir trabalhar. As portas de madeira fina estavam abertas e várias pessoas andavam de um lado para o outro, arrastando araras com roupas ou câmeras e utensílios fotográficos. Por mais que toda aquela correria me agradasse muito e eu já quisesse começar a trabalhar na mesma hora, foram três pessoas que prenderam mais a minha atenção. Niall estava sentado em um sofá próximo á mesa da recepção e, ao seu lado, Zayn segurava uma criança loira de cabeça para baixo que ria como se não houvesse amanhã. Rachel avisou que chamaria Carine e por isso se afastou. Os meninos que vieram comigo me seguiram até o sofá para encontrar o resto de sua banda e fui a primeira a falar algo:
- O que você está fazendo com a minha baby girl?! – Fingi estar brava e Lux acenou enquanto dava gritinhos gostosos e era sacudida de um lado para o outro.
- Estou ensinando-a a limpar o chão. – Zayn se levantou e continuou segurando a própria cunhada pelos pés. – Vamos mostrar a ela, Luxy?
- Yaaaaay! – Foi só o que a pequena conseguiu responder quando Zayn a fez arrastar o rabo de cavalo bagunçado pelo chão.
- Você vai deixar a minha baixinha tonta. – Harry se fez presente e assim eu desisti de conseguir um abraço da minha própria irmã.
- Hally! – Foi colocada de pé no chão e correu na direção do menino, meio tonta.
- Agora é que eu não ganho um beijo mesmo! – Cruzei os braços, fuzilando Harry com o olhar.
- Quem disse? – Zayn me abraçou de lado e beijou a minha bochecha, me fazendo descruzar os braços na mesma hora.
- Bem melhor agora! – Sorri e me virei de frente pra ele, roubando um beijo breve. – Está preparado?
- Eu nasci preparado! – Piscou e desfizemos o abraço, mas demos as mãos.
- Literalmente, né? – Rolei os olhos. – Você é um modelo, Malik. Vai até ser contratado pra fazer algum catálogo.
- Quem sabe assim vocês não trabalham juntos aqui? – Liam se aproximou para cumprimentar o meu namorado.
- Como assim? – Zayn arqueou as sobrancelhas e eu apenas balancei os ombros como se não fosse importante.
- Depois eu explico. – Olhei em volta. – Hey, Ni!
- Oi, ! – O loiro conversava com meu irmão, porém me olhou ao escutar seu apelido.
- Cadê a Abi? – A presença da ruiva seria um tanto impossível de não notar, por isso estranhei não tê-la visto ainda.
- Ela não vem... Está de TPM, então preferiu ficar em casa. – Explicou. – Disse que tinha medo de vir e acabar estragando esse dia pra todo mundo.
- Que pena! – Fiz bico. – Mais tarde eu vou vê-la...
- Leve chocolate. – Zayn cochichou e eu não pude não pensar na última vez que tivemos que enfrentar a sua fúria.
Todos pararam de conversar assim que Rachel nos chamou para segui-la. Passamos pela recepção e eu finalmente consegui ter Lux em meus braços. Ainda não havia nem sinal de Carine, mas outros estilistas que eu sabia ter visto em matérias de revistas de moda cruzaram o nosso caminho. Me mantive o mais calma possível, começando a levar muito a sério a possibilidade de começar a trabalhar ali. “Imagine quantas pessoas eu conheceria... Quantos desfiles...” Suspirei sozinha. Não estava pensando em largar o curso da Academy, mas seria capaz de fazer duas coisas ao mesmo tempo, certo? Sem falar que iria ganhar o meu próprio dinheiro e não teria que depender unicamente do meu pai para bancar as minhas despesas.
Assim que atravessamos infinitos corredores, chegamos ao tal estúdio principal. O lugar era bem parecido com aqueles que aparecem em programas de TV como “America’s Next Top Models”. Em um canto havia vários objetos que poderiam ser usados durante o ensaio; como um sofá, violão, skate e etc. No centro estava o lugar onde as fotos seriam tiradas: Um toldo branco perfeitamente colocado e todas aquelas parafernalhas que servem para dar a luz ideal. Senti uma vontade enorme de pegar o iPad na bolsa e twittar que os meninos já haviam chegado ao estúdio, mas foi aí que a vi... Carine Roitfeld. Sem correr até ela na primeira oportunidade que tive, observei Rachel chamar os meninos para irem se arrumar e Lux acabou indo junto. “Bem, já que estou sozinha mesmo...”
- Desculpe, mas você não pode ficar aqui. – Antes que eu me mexesse, uma menina que aparentava ter a minha idade ou pouco mais caminhou na minha direção com toda elegância possível, mas a sua voz era mesquinha e antipática.
- Ela está comigo. – Carine se aproximou antes que eu pudesse falar qualquer coisa. – Obrigada por seus serviços, Rebecca, mas porque não vai ver se precisam de você no departamento de contas?
- Ahn, claro... Desculpe-me. – A tal Rebecca foi a interpretação viva da frase: “saiu com o rabo entre as pernas.”
- Essa menina me dá nos nervos... – Comentou mais para si mesma. – , querida!
- Carine! – Trocamos alguns beijos no rosto e eu usei toda a minha força psicológica para ficar centrada e tranqüila. – É sempre um prazer vê-la.
- Digo o mesmo, com toda certeza! – Ainda com aquele sorriso simpático, me guiou até algumas poltronas na diagonal da área onde a seção fotográfica aconteceria. – Sente-se! Fique a vontade.
- Obrigada! Esse lugar aqui é muito legal. – Sentei em uma poltrona vinho e a mulher se sentou ao meu lado. – É a minha primeira vez em um estúdio, mas preciso dizer que é bem como eu imaginava.
- E como você imaginava eu fosse?
- Incrível! – Respondi simplesmente e Carine riu.
- Você vai gostar quando começarmos a fotografar! Nossos profissionais são muito competentes.
- Tenho certeza que sim! – Olhei em volta e não havia nem sinal de Susan ou qualquer uma das pessoas que eu conhecera na última terça-feira. – Não tem ninguém do programa aqui?
- Conversei com a produção em uma reunião ontem e acho que já sei o que eles estão esperando. – Explicou. – Mas de qualquer forma, alguém vai aparecer aqui no fim do dia e ver como está tudo.
Naquele momento, Niall, Liam, Harry, Louis e Zayn – respectivamente – voltaram ao estúdio usando roupas totalmente diferentes das que usavam quando chegaram ali. Além, é claro, de estarem com os cabelos arrumados e com um pouco de maquiagem no rosto. Eles pareciam uma banda profissional e agiam como se já tivessem passado por isso várias vezes antes. O fotografo já estava conversando com eles e, pelo que entendi, começariam com algumas fotos em grupo para depois prestar atenção em cada um individualmente. Carine se levantou para também conversar com todos e eu continuei ali, sem estar muito certa do que fazer.
- , mummy pediu pra ficar com você. – Lux era tão pequena que quase não a vi chegar ao meu lado.
- Então senta aqui, pequena. – A puxei para o meu colo. – Temos que ficar bem quietas pra assistir os meninos tirar fotos, ok?
- Shhh. – Colocou o dedinho sobre a boca em sinal de silêncio.
Lembra quando eu falei que os meninos pareciam uma banda profissional? Bem, retiro completamente o que disse. Após os primeiros cinco minutos de photoshoot, eles começaram a se comportar como os cinco idiotas que eram. Por mais que o fotografo Steve pedisse para que eles se concentrassem, era aí que os meninos agiam como crianças. Louis parecia o líder da bagunça e sempre estava aprontando algo novo. Ao menos eles acabavam fazendo todo mundo rir e ninguém chegava a brigar com eles de fato. Fazendo uma pausa para que os maquiadores pudessem retocar o seu trabalho inicial, Carine e Rachel me chamaram para ir até o canto em que elas estavam conversando. Deixei Lux adormecida na poltrona que tinha o dobro de seu tamanho e fui até lá.
- Vocês estão lindos. – Falei para os cinco assim que passei por eles. – Só tentem se comportar, ou vamos ser expulsos daqui!
- Desculpe, mãe. – Lou fez uma careta que mostrava bem que ele não pretendia se comportar.
- , venha... – Rachel me levou até o sofá que eu avistara anteriormente. – Queremos falar com você.
- É algo sério? – Fiquei assustada, já imaginando que teria que deixar o estúdio. – É porque eu dei algumas idéias para as fotos antes? Posso ficar calada!
- É algo sério sim, mas não é nada ruim. – Rach explicou para me tranqüilizar.
- Eu gostei bastante das suas idéias! – Carine sorriu ao que me sentei entre ela e minha madrasta. – Te chamamos aqui porque a Rachel falou que você está querendo trabalhar aqui...
- Ahn, é verdade... – Concordei ainda que meio sem jeito. – Não tenho experiência nem nada, mas aprendo rápido. Além do que, sempre gostei de moda...
- Todo mundo começa em algum lugar, né? – Rach me encorajou.
- Nós estávamos conversando justamente sobre isso. – Carine completou. – Desde a primeira vez que você veio aqui, eu comentei que haveria espaço pra você, mas Rachel disse que você estava muito focada na sua carreira como bailarina, por isso não fiz um convite formal. Entendemos que não pode se dedicar completamente aos dois, mas estou disposta a te dar uma chance se quiser tentar.
- Isso é sério?! – Sorri. – O que eu teria que fazer?
- Aqui sempre há muito trabalho, então não faltaria o que fazer. – Ponderou. – Mas eu particularmente gostaria que me ajudasse em produções, editoriais, essas coisas. Principalmente por ver que você tem boas idéias.
- Você não tem idéia de tudo que iria aprender, . – Rach afirmou, animada com a idéia de trabalharmos juntas. – Sem falar que eu estou aqui quase todos os dias, então poderia te ajudar no que fosse.
- Não sei se você sabe, mas estou criando a minha própria linha de roupas... – Mas eu sabia. Tinha lido sobre isso pela primeira vez durante a minha ida ao salão com Abi e continuara me mantendo informada desde então.
- A Mulberry? – Perguntei, já sabendo a resposta.
- Exatamente. Bem, essa nova etapa da minha carreira tem me mantido bem ocupada, então seria bom ter um apoio a mais. – Se inclinou um pouco na minha direção como se contasse um segredo. – Sem falar que eu confio mais no seu potencial do que em Rebecca...
- Não sei nem o eu dizer... – Não conseguia parar de sorrir. Eu sabia que estava recebendo um voto de confiança enorme e isso me deixava tensa. Feliz, mas tensa.
- Não vamos decidir nada agora, certo? – Carine tocou o meu joelho amigavelmente. – Pense sobre essa proposta, pondere as suas prioridades e, se ver que é algo que lhe interessa, me procure.
- Muito obrigada. Pode deixar que vou pensar sim...
- Podemos voltar ao trabalho? – Steve chamou a atenção de todos. – Quero tentar uma abordagem diferente agora. Vamos para a parte individual? Carine?
- Steve, você conhece a ? – A mulher se levantou e me indicou para segui-la.
- O que? – Cochichei assustada para Rachel, que pegou a minha bolsa e me mandou segui-la.
- Eu a vi dando dicas para os meninos, sim... – O fotografo acenou na minha direção e eu fui até onde os dois se encontravam.
- Vou deixá-la ao seu dispor. Estou com uma dor de cabeça muito forte, então sentarei ali para apenas observar. – Explicou, mas nem se importou em mentir melhor. Eu sabia que era um teste; ela queria me fazer sentir um gostinho do que eu poderia ter se aceitasse seu convite.
- Muito bem, , bem vinda à equipe. – O homem sorriu.
- Obrigada... Eu acho. – Minhas ultimas palavras saíram mais como um sussurro. Olhei para frente e notei que os cinco meninos me observavam com curiosidade.
- Com licença... – Carine piscou na minha direção e voltou a se sentar com Rachel.
- Como eu estava falando, acho que devemos começar a fotografar individualmente agora. – Steve se voltou apenas para mim. – Por onde quer começar?
- Harry. – Chamei o garoto, sabendo que seria mais fácil começar com ele. – Acho que ele deve ser o primeiro.
- Então vamos lá! – Concordou com a cabeça.
Os meninos saíram de onde estavam e deixou apenas Harry, que se preparava para ter a sua chance de brilhar. Todos os meninos foram se sentar para poder observar, mas Zayn permaneceu de pé, ao meu lado. Trocamos alguns olhares e sorrisos, mas eu tentava me manter o mais concentrada no photoshoot possível. Meu namorado não era burro, portanto entendeu do que as minhas conversas com Carine se tratavam e também não exigiu a minha atenção inteiramente pra ele. Da mesma forma que eu gostava de vê-lo fazer algo em que era realmente bom, ele apreciava a minha excitação de estar ajudando o fotografo durante o ensaio; mesmo que minimamente. Eu podia não entender nada de fotografia, mas conhecia Harry o suficiente pra saber seus melhores ângulos ou as expressões faciais que ele seria capaz de fazer.
- Pode olhar pra mim, agora? – Steve pediu ao modelo.
- Harry, incline a cabeça para a direita. – Pedi e acabei rindo quando ele inclinou para o outro lado. – A sua direita!
- Claro! Eu sabia. – O menino também riu e Steve capturou essa cena em um clic.
- Ótimo... – O fotógrafo continuou batendo fotos enquanto Harry se mexia e ele mesmo mudava de ângulo, ajoelhando no chão por fim. – Pode se sentar no chão agora.
- Haz, apóia o corpo em cima de um braço e olha para a câmera... Isso. Agora põe a perna mais pra cá... – Fiquei dando algumas dicas e o menino obedecia todas elas.
Steve não se importava que eu opinasse, mas sabia o meu lugar e não tentava fazer mais que ele. Vez ou outra eu andava até Harry e arrumava suas roupas de um jeito ou de outro; como por exemplo, levantar a gola de seu blazer para que ele ganhasse um ar mais brincalhão e sexy. Estava me esforçando para não deixar nada passar e agradar à Carine, que me observava a todo momento. E pensar que eu havia acordado naquele dia achando que apenas assistiria o photoshoot dos meninos, mas que agora estava praticamente participando dele e ainda com a possibilidade de ter aquilo como trabalho.
Mais duas pessoas chegaram e entendi que eles eram fotógrafos como Steve. Bem, as câmeras em volta de seus pescoços os denunciaram, então foi fácil deduzir o que eles faziam. O profissional me apresentou como sua ajudante e me senti bastante orgulhosa de mim mesma, mesmo sabendo que ele só estava sendo simpático. Os três começaram a discutir alguma coisa que eu teria prestado atenção se Zayn não tivesse colocado as mãos no bolso do meu casaco ao me abraçar carinhosamente por trás. Ele não saíra do meu lado durante momento algum da seção fotográfica de Haz e bem no fundo eu sabia que a sua presença era o que me mantinha mais centrada e tranqüila possível.
- É bem excitante ver você mandando assim... – Cochichou para que só eu escutasse e beijou a minha bochecha.
- Não sabia que gostava de ver uma mulher no comando, Malik... – Me encostei em seu corpo e o respondi no mesmo tom.
- Nem eu. – Riu baixo, passando o queixo pela lateral do meu pescoço.
- Harry, terminei com você. – Steve nos fez interromper aquele assunto. – Pode seguir a Leight até aquela mesa ali e ela vai te explicar o que fazer!
- Obrigado, Steve. Foi um prazer. – Harry engrossou a voz e fingiu ser um homem bem mais velho que era.
- Você foi ótimo, Harry. – Sorri para o menino e me virei para Zayn, fazendo-o me soltar. – E você... É o próximo.
- Isso é uma ordem? – Zayn levantou uma sobrancelha, o que me fez sorrir travessa.
- Sim. E vai logo! – O empurrei com delicadeza para o centro do estúdio.
- É melhor obedecer. – Steve riu e me encarou. – O quer fazer com esse aí?
- Tenho tantas idéias passando pela minha cabeça que você nem faz idéia. – O respondi com um olhar inocente e Zayn foi o único a perceber a minha farsa. – Mas vamos com calma, né? Baby... Eu quero que você me seduza.
- Fácil. – Deu um passo na minha direção, mas o impedi de me agarrar.
- Não desse jeito! – Ri e o empurrei de volta para o lugar certo. – Assim seria muito fácil.
- Vocês são namorados? – Steve perguntou, se divertindo com nós dois.
- Depende de como esse photoshoot vai sair. – Brinquei. – Use os seus olhos, Zayn... Pra você é fácil ficar bonito em uma pose, porque você já é incrivelmente bonito, mas isso não vem ao caso. Quero que me conquiste com o olhar. Ou a câmera, no caso.
- É como falamos... – O fotógrafo se preparou para começar a disparar os flashes. – Faça amor com a câmera.
- Prefiro fazer amor com ela. – Zayn apontou para mim com um sorrisinho torto.
- Se concentre! – Briguei com ele para evitar ficar mais vermelha do que já estava.
O modelo realmente se concentrou e deu um show. Me arrependi um pouco de ter pedido para que ele seduzisse a câmera, pois isso significava que ele seduziria todas que pudessem ver aquelas fotos. Steve bateu uma seqüência de fotos enquanto Zayn mudava de poses. Não precisei falar quase nada, pois o moreno sabia o que estava fazendo. Se duvidar, ele tinha passado horas em seu quarto, de frente para o espelho testando seus melhores ângulos e expressões. Não falo isso apenas me referindo àquele ensaio, mas também para questões do dia-a-dia. Zayn era o homem mais vaidoso que eu conhecia. De vez em quando, durante a nossa viagem até Castle Combe, o pegava se encarando no reflexo de qualquer coisa que refletisse a sua perfeição. Claro que eu acabava rindo daquelas cenas e acabava ganhando um xingamento.
- Prontinho. – Steve fez sinal de positivo mais rápido do que eu esperava. – Pode ir para onde Harry estava antes.
- Como eu me saí? – O menino relaxou e sorriu. – Ainda sou seu namorado?
- Você foi perfeito, como já era de se esperar. – O puxei para um abraço de parabenização. – Chama o Lou pra mim?
- Já estou aqui! – Meu irmão levantou a mão e ocupou o lugar onde Harry e Zayn estiveram minutos antes.
- Ótimo! – Steve não perdeu tempo e já começou a fotografar ou ao menos a testar a luz e a câmera. – Gostei da idéia da . Pode seduzi-la também?
- Tá falando sério? – Lou gargalhou alto e eu fiz uma careta.
- Não acha ela atraente? – O mais velho não afastou a câmera do rosto.
- Olha... Ela é bonita e tal, mas não me sinto bem em seduzir a minha irmã...
- Oh, eu não sabia disso. – Steve acabou rindo do seu erro. – Pode me seduzir então?
- Agora está melhor. – Louis brincou e eu só esperei que seu namorado (aka Harry Styles) não o escutasse.
Quando voltamos para casa, não consegui decidir quem estava mais cansado. Os meninos se divertiram muito durante a sua primeira seção de fotos e não conseguiram calar a boca durante todo o trajeto de volta para o condomínio. Também me diverti bastante, mas sempre tinha aquela pequena pressão em cima de mim por estar sendo observada o tempo inteiro. Aproveitei para contar que a conversa do elevador com Rachel acabou rendendo mais do que o esperado e Carine de fato arrumaria algo para eu fazer na Models One caso me interessasse. Decidi deixar aquilo de lado um pouco, pois eu ainda precisava pensar e conversar com Abi – a minha conselheira oficial – já que ela saberia o certo a se fazer. Outro motivo pelo qual eu evitei tocar naquele assunto mais uma vez é que, querendo ou não, era o momento dos meninos. Eles haviam ganhado o concurso e estavam curtindo seus quinze minutos de fama. Eu deixaria que isso continuasse assim sem buscar atenção pra mim.
“Os meninos vão fazer uma twittcam agora pra contar como foi tudo. Sei que prometi fotos e não esqueci. Aqui estão:”
“Foi difícil fazê-los se concentrar... (x)”
“Sexy @Harry_Styles. (x)”
“Sexy @zaynmalik. (x)”
“Sexy @Real_Liam_Payne com uma rosa! (x) ps: A rosa não foi idéia minha...”
“@Louis_Tomlinson usando um Converse pela primeira vez na vida! (x)”
Ainda usando meu tablet para mexer na conta da banda, postei algumas fotos que consegui tirar escondida, respondi twetts, segui mais fãs... Essas coisas de sempre. Cof cof. Louis, Harry e Liam foram para o quarto do meu irmão e se preparavam para fazer a sua primeira twitcam em conjunto. Todos, principalmente Liam, já haviam feito isso antes, mas era a primeira vez que os três se juntariam em uma só. Niall e Zayn não iriam participar, mas três quintos de One Direction é melhor que nenhum, certo? Eu já havia servido o jantar de e o deixara comendo na cozinha. Quando o filhote terminasse, poderia subir as escadas e me encontrar no quarto; até lá eu iria assistir a twittcam sozinha. Cheguei a trocar de roupas por algo mais confortável, mas nada muito arrumado.
- HEEEEEEEEEEEY! – Liam foi o primeiro a gritar para a câmera do computador e agradeci por não estar usando fones de ouvido. – Boa noite, gente! Trouxe o Louis e o Harry para essa nova seção de twitcam!
- E aí, gente? – Lou acenou para a câmera. Era estranho estar olhando-os pela tela do meu computador, sendo que estavam no quarto ao lado.
- Olá! – Haz bateu retinência. – Estamos com 5.000 views? Só isso?
- O que temos que fazer pra conseguir mais gente? – Liam arrumou o boné que usava na cabeça. – “Tirem a roupa?” Vocês são perversos!
- Se chegarmos a vinte mil podemos pensar no caso! – Harry, o mais propicio a ficar pelado, respondeu.
- Vamos falar sério agora, pessoal... – Liam parou de brincadeira e eu me endireitei na cama para prestar atenção. – A seção de fotos... Foi incrível! Uma experiência que com certeza não poderemos esquecer. E se conseguimos essa oportunidade foi por causa de todo mundo que votou na gente...
- É verdade. – Lou concordou. – Então queremos dizer um muito obrigado, não só a quem votou, mas quem está nos assistindo agora, ou assistiu nosso vídeo, nos viu pela televisão na última terça-feira...
- Obrigado a todo mundo! – Haz resumiu.
- Somos apenas cinco meninos com um sonho em comum, e esperamos fazer o melhor com essa oportunidade que vocês nos deram! – Li.
- “Vocês merecem!” – Harry se aproximou da tela para ler os comentários. – Olha! Zayn está assistindo também!
- Heeeeeey, Zaynie! – Liam acenou. – Sinto sua falta!
- “Eu te amo, Leeyum!” – Louis leu em voz alta o comentário de Zayn em resposta.
- Eu te amo mais! – Li respondeu e eu assisti tudo aquilo de braços cruzados.
“Quando vocês se casaram?” – Escrevi meu próprio comentário e enviei.
- A está assistindo também! – Harry apontou para a tela.
“A irmã do Louis?” – Alguém perguntou nos comentários.
“Ela é tão lindaaaaa! E super simpática!” – Outro comentário.
- Parece que você tem fãs também, . – Meu irmão sorriu.
“Cadê ela, hein?”
“Aparece, !”
“Gente, vocês estão me deixando constrangida!” – Digitei. – “A twitcam é da banda! Eu não sou da banda. Me deixem quieta aqui...”
- Pare de ser boba, ! Vem aqui dar um oi. – Liam me chamou. – Você é da família. Eles querem te ver.
“Aparece, ... Quero te ver!” – Zayn. – “E meu filho, onde está?”
“Seu filho está jantando!” – Respondi o comentário com um sorriso.
“Vocês dois tem um filho?”
“Cadê ele? Quero ver! É um bebê de verdade?”
“São casados?”
- Vocês querem ver meu sobrinho? – Lou. – Vem logo, ! E trás o .
“Vocês venceram.”
Ainda não acreditava que havia pessoas querendo me ver. Pra começo de conversa, eu não era da banda. Em segundo lugar, a maioria dos telespectadores era do sexo feminino; o que implicava que elas gostariam mais de ver um homem (ou três) do que uma mulher (eu). “Aposto que é porque eu sou irmã do Lou, então querem agradar a cunhada.” Claro que algumas comentavam que não queriam me ver, mas era uma minoria, então facilmente a ignoramos. Levantei da cama com um pouco de vergonha e passei as mãos pelos cabelos para poder arrumá-los. Chamei por algumas vezes, mas ele não veio porque eu o chamei, e sim porque já estava no corredor. Peguei o filhote no colo e rumei para o quarto de meu irmão.
- Aí está ela! – Liam abriu espaço na cama ao seu lado para que eu me juntasse a eles.
- Vocês tem certeza disso? – Perguntei meio tímida. Uma coisa era falar com mil pessoas por trás de um iPad; outra totalmente diferente era na frente de uma webcam.
- Vem logo, . Elas são legais. – Harry, que estava na cadeira com rodinhas, deslizou até mim e praticamente me puxou a força.
- Eu sei que são legais! Tenho falado com elas faz um tempo. – O reprovei com o olhar por quase ter me derrubado e me sentei entre Liam e Lou. – Oi, pessoal! Quanto tempo. Esse aqui é o meu bebê...
- É o mascotinho da casa. – Liam acariciou o pelo de . – Fala oi, ...
- Se ele falar alguma coisa, ficarei assustada. – Ri e levantei o filhote para que ele acenasse com a patinha. – Muito bem, meu filho.
- “Quando vocês farão uma twitcam com a banda toda?” – Harry leu. – Acho que amanhã, né?
- Ou no sábado. – Lou falou. – Vamos estar na casa de Zayn esse final de semana, pra ensaiar...
- E ninguém me conta nada? – Cruzei os braços com no meio deles. – Vão me abandonar aqui!
- Você é que vivia falando que precisamos nos preparar para o show! – Harry tentou se defender.
- Mas não disse pra ficarem longe de mim! – Fiz bico, esquecendo que estávamos na frente de mais de treze mil pessoas. Pois é, os viewers aumentaram... – Não estou convidada?
- Desculpa, . – Aquilo era um não.
- “Está convidada sim!” – Li o comentário de Zayn. – Viu? O dono da casa me convidou!
- Você não tem uma peça grande vindo por aí e também precisa se preparar? – Louis tinha razão, infelizmente. – é bailarina, gente. E ela vai representar Julieta de Romeu & Julieta em uma peça.
- Estão desejando boa sorte. – Haz sorriu.
- Obrigada!
Capítulo LXI
No domingo a note, já fazia quase três dias que eu não via nenhum dos meninos. Os cinco resolveram ficar acampados na casa de Zayn e só ligavam de vez em quando para falar que estava tudo bem e que ninguém tinha se matado ainda. Pelo que soube, Sandy, Josh e um tal de Dan também acabaram aparecendo lá ocasionalmente e entendi que estavam levando os ensaios a sério mesmo. Isso me fez aceitar ficar em casa “sozinha” e agradeci muito ter pra dormir comigo. Aquela casa era grande demais pra uma pessoa tão pequena quanto eu. se curara da TPM e por um milagre consegui convencê-la a sair de casa para irmos até uma Starbucks qualquer. A neve de Londres chegou oficialmente e parecia pretender ficar por muito tempo. Eu ainda gostava de ver o chão coberto pela neve, mas não era fã das escorregadas que quase me levavam ao chão; sem falar que a ruiva morria de rir da minha cara quando isso acontecia.
- Então, Abi, ansiosa para voltar à Academy amanhã? – Perguntei assim que pegamos nossos cafés no balcão e voltamos para a nossa mesa de sempre.
- Claro que não! – Respondeu rabugenta assoprando a sua xícara de latte quente. – Tivemos muito pouco tempo de descanso! Sem falar que só vamos ter férias de novo em julho, . Em JU-LHO.
- Sei disso! – Comentei em uma mistura de animação e desanimo ao mesmo tempo. – Mas não era assim na sua escola? Digo... Sempre entramos de outubro até dezembro, paramos duas semanas para o Christmas Break e aí ficamos até julho tendo aulas. Pelo menos temos o verão inteiro de férias! Já devia ter se acostumado.
- Só porque estou acostumada não quer dizer que aprecio essa metodologia educacional. – Conseguiu beber um gole do seu café e eu fiz o mesmo. – O lado bom que a megera da Agnes me deixou pegar algumas aulas com a turma de teatro.
- Sério? Abi, isso é ótimo! É o que você sempre quis, não é? – Pousei a xícara na mesa e me recostei à cadeira almofadada.
- É sim! E dessa vez a minha mãe não pode falar nada. – Sorriu mostrando os dentes. – O ruim é que não terei todas as aulas com você...
- Não tem importância. – Dei de ombros. – Holl me disse que meu horário vai mudar um pouco nesse fim de semestre, porque terei que me focar cem por cento na peça.
- Holl? – Arqueou uma sobrancelha. – Desde quando você e a professora Holly são tão íntimas assim?
- Não somos. – Menti, querendo dizer: “Desde que nos tornamos amigas por eu estar guardando o segredo que poderia destruir a carreira dela.” – É só uma abreviação.
- Sei. – Não deu muita atenção àquilo. – E como anda o seu texto e tal? Já decorou tudo?
- Pelo menos esse afastamento dos meninos serviu pra alguma coisa. Pude terminar de decorar as minhas falas. Só há algumas mais longas que ainda preciso me concentrar pra pegar a manha, mas ainda tenho tempo. – Expliquei confiante. – Nick e eu nos comunicamos de vez em quanto, pra passar o texto por telefone, então estamos na mesma página. Agora devemos nos focar nas coreografias.
- Isso você vai tirar de letra, . Tenho certeza. – Tocou a minha mão carinhosamente e eu sorri pelo apoio. – Mal posso esperar para começarmos a ensaiar juntas! Nós vamos aparecer em várias cenas, sabia?
- Então, mãezinha? Oh Deus! Por que estás triste? Se forem tristes tuas novidades, conta-as alegremente. – Citei uma das frases de Julieta para a Ama e em seguida ri. – Até na peça somos melhores amigas.
- Só não morra de verdade, ok? – Ambas rimos.
Antes que continuássemos aquele assunto e antes mesmo de terminarmos nossos cafés, um garçom anunciou os nossos nomes e trouxe a nossa comida para a mesa assim que nos identificamos. Era a primeira vez que eu jantaria em uma Starbucks, então não sabia muito o que esperar. Se mantivessem a mesma qualidade das bebidas e lanches, até que seria uma refeição agradável. Meu Panini de almôndegas estava dividido em dois e o queijo derretido transbordava. Pelo olhar que Abi deu no meu jantar, ela estava se arrependendo amargamente de ter pedido uma salada com frango grelhado. Sorri como quem diz “eu avisei que você deveria pedir algo com mais calorias, porque na hora você vai querer um pedaço do meu e eu não vou dar”, mas acabei dando. O Panini era grande demais; até pra mim que sempre gostei de comer.
- Você é a melhor amiga do mundo, sabia? – Disse após morder o próprio Panini, deixando a salada no meio da mesa para que ambas pudéssemos comer dela.
- Ou talvez só queira que você engorde comigo. – Dei de ombros ao mastigar um pedacinho de tomate.
- Por falar em engordar, você nunca me mostrou as fotos do ensaio dos meninos! Eu só vi aquelas que você postou pelo Twitter da banda.
- O que isso tem a ver com engordar? – Ri tentando achar alguma semelhança entre os dois assuntos, mas deixei pra lá. – Você podia ter ido junto... Não foi porque não quis, então agora vai ter que esperar ser lançado como todas as outras.
- Mas eu não sou como as outras! – Falou de boca cheia e depois fez bico.
- Não é mesmo. – Entortei o nariz com aquela falta de modos da minha amiga e continuei a comer uns pedacinhos de salada. – Depois eu te mostro, ok? As fotos estão no iPad...
- Eba! – Comemorou ainda de boca lotada. – E você já pensou sobre a proposta da Corine?
- Carine. – A corrigi pelo que parecia ser a décima vez. – Mas sim e não. Tenho pensado bastante sobre isso, mas ainda não me decidi. Preciso da sua opinião.
- Claro que precisa. – Se gabou, mas deixou o Panini de lado. – Você conhece os procedimentos. Primeiro: Lado bom dessa história toda?
- Ok. A- Eu ganharia meu próprio dinheiro. B- Ganharia mais independência, maturidade, experiência. C- Estaria trabalhando ao lado de uma mulher que eu idolatro desde os meus quinze anos. D- Pense em todos os desfiles que eu poderia ir, todos estilistas e modelos que eu conheceria... – Suspirei enquanto contava nos dedos ao ir falando. Meu sorriso aumentava em cada letra. – Sem falar que é um emprego dos sonhos.
- Você seria tipo aquela garota do Diabo Veste Prada, mas sem ter que pegar café ou levar almoço! – Abi também sorria. – Mas vamos nos concentrar aqui. Pontos negativos?
- Eu tenho medo de aceitar esse emprego e... Bem, medo de aceitar qualquer emprego e acabar me desviando do meu propósito. Digo, e se eu ficar presa e não tiver tempo de ensaiar, freqüentar as aulas... E a peça? Eu preciso estar totalmente dedicada a ela. – Meu suspiro mudou. Não era mais de esperança, e sim de desapontamento. – Agora é a sua vez de me dar uma solução plausível e ai eu falo que você é a melhor amiga do mundo e que eu não seria nada sem você.
- O que eu acho que você deve fazer é simples... Só tem como saber se vai ficar presa por esse trabalho ou se vai conseguir equilibrar suas duas paixões se tentar. Converse com a Co-Carine. E peça um tempo de experiência; uma semana ou duas, pra ver se você gosta. Caso sim, ótimo. Caso não, bem, ao menos você não desistiu de cara. – Abi era genial. – Sua vez!
- Abi, você é a melhor amiga do mundo e eu não sei o que faria sem você! – Ri e dei uma mordida no meu Panini.
- Nah, eu sei que sou demais!
Pode ser verdade, mas uma coisa que não era é “humilde”. Nunca foi; duvidava que chegasse a ser um dia. Entretanto, Abi era minha melhor amiga e eu a amava com todo o meu coração. Era um amor diferente do que eu sentia por Zayn, Lou, minha mãe ou qualquer outra pessoa que eu pudesse conhecer. Ela era minha irmã de alma; como se uma alma só tivesse se dividido em duas, ocupando dois corpos diferentes. Eu podia tentar ficar com raiva dela, mas não durava mais de dez minutos. Abi estaria lá pra mim da mesma forma que eu estaria pra ela. Nos entendíamos mais que qualquer pessoa no mundo e seriamos capazes de dar a vida uma pela outra. Aquela ruiva era minha irmã gêmea perdida desde o nascimento, mas demos um jeito de nos encontrar.
Terminamos nosso jantar em paz, apreciando uma salada bem temperada e um Panini delicioso. Também bebemos todo o café e ficamos fofocando por bem uns vinte minutos, até que cansamos das paredes amareladas da Starbucks e aquele cheiro inconfundível de... Café. Aproveitamos que havia um parque há poucos quarteirões de distância e fomos dar uma voltinha para admirar o inverno de Londres. Deixamos o carro na frente da cafeteria mesmo, pois seria mais seguro e a caminhada nos aqueceria. Uma neve fina e, obviamente, gelada começou a cair e ficar presa em nossos cabelos e roupas. Muitos casais passeavam naquele parque, talvez pelo mesmo motivo que eu e Abi tínhamos ou até por causa da pista de patinação que era montada ali todo inverno. Provavelmente a segunda opção.
- Por favor, ... Só uma voltinha... Nem tem tanta gente assim. – Abi tentava me convencer a acompanhá-la na pista de patinação.
- Não gosto de patins! – Cruzei os braços. Eu ainda lembrava do desastre de quando Lou tentou me ensinar a andar de patins e não me atreveria a passar por isso de novo; no gelo. – Você pode ir! Eu fico aqui te olhando...
- Mesmo?! Mas nós viemos aqui pra ficar juntas. – Abi estava dividida.
- E ainda vamos estar juntas. – Sorri e indiquei com a cabeça para que ela fosse. – Vá se divertir! Eu vou tentar ligar para Zayn enquanto isso...
- Já entendi tudo! Quer me despachar pra falar com o amor! – Riu e me entregou a sua bolsa. – Mas eu aceito! E não vá embora sem mim!
- Não caia, ok? Me deixe orgulhosa! – Gritei enquanto a menina se afastava.
Observei Abi se afastar com seus cabelos vermelhos flutuando atrás de si. Ela ficava ainda menor na medida em que a distância entre nós duas aumentava e acabei rindo disso. Infelizmente ela estava longe demais para ouvir as minhas piadinhas maldosas, mas poderia guardá-las pra depois. Acabei também andando na direção da pista de patinação, mas fiquei encostada nas grades que rodeavam o gelo. Com a bolsa de Abi em um braço e a minha própria no outro, fiquei observando três crianças que patinavam melhor do que eu seria capaz de patinar um dia e isso porque elas não deviam ter nem oito anos de idade ainda. Para não me sentir tão deprimida pela minha falta de coordenação motora, preferi pegar o meu celular e digitar uma mensagem:
Preferi mandar uma mensagem antes de ligar, pois tinha medo de acabar atrapalhando. Isso já acontecera antes, quando eu liguei para Harry, e não acabou muito bem. Não chegaram a brigar comigo nem nada parecido, mas fiquei com a impressão de que tinha atrapalhado algo importante. Voltei a olhar para frente sem tirar o celular da mão, apenas torcendo para que Zayn desse algum sinal de vida logo. E deu. Cinco minutos depois de a minha mensagem ter sido enviada, o aparelho vibrou na minha mão.
- Baby? – Atendi tentando conter a minha animação.
- Hey, , você está no viva-voz! – Zayn explicou.
- Oi, pessoal! – Cumprimentei quem quer que estivesse lá.
- Queremos que você escute uma coisa. – Harry parecia bem animado. – Prontos? 1, 2, 3...
- You’re in southend, whit a friend. (Você está em southend, com um amigo) I don’t like him and I don’t like to prete-e-end. (eu não gosto dele e não gosto de fingir) – Identifiquei a voz de Liam, Harry e Zayn.
- Why can’t you see? He looks at me… (Porque você não vê? Ele olha pra mim...) Yesterday he stared stroking my kne-e-e. (Ontem ele começou a torcer o meu pé-é-é) – Lou e Niall finalizaram.
- O que achou? – Uma voz perguntou. Demorei alguns segundos para perceber que era Josh.
- Uhn... O que é isso? – Ri. O ritmo da “música” que eles cantaram até que era bem legal, mas a letra? Não me impressionou.
- É a nossa primeira música como banda, ! – Liam gargalhou do outro lado da linha.
- Posso ouvir o resto?
- Não tem resto ainda... – Lou.
- Vocês passaram três dias juntos e só criaram duas frases?!
- Estou te tirando do viva-voz! – Zayn pegou o telefone e deve ter levado-o à orelha. – Oi, babe, que saudade!
- Zayn Malik, é melhor você me falar que vocês tem mais que duas frases! – Pedi impaciente.
- É claro que temos! – Sua gargalhada me tranqüilizou. – Era só uma brincadeira, .
- Ainda bem! – Respirei fundo para me acalmar, olhando as dezenas de pessoas que patinavam na minha frente. – Já está sendo ruim demais ficar esse tempo todo sem te ver... Pelo menos espero que esteja valendo à pena.
- Nada é tão bom assim que valha a pena ficar longe de você. – O barulho do lado dele da linha diminuiu e deduzi que Zayn estava se afastando dos meninos. – É só algo que precisamos fazer...
- Eu sei disso, baby... Não estou reclamando. Só realmente sinto a sua falta. – Acenei para Abi ao longe, que entrava na pista para patinar. – Nos veremos amanhã, certo?
- É claro que sim. E onde você está? Escuto gritos...
- Estou em um parque com Abi. Jantamos na Starbucks e tenho certeza que ela me arrastou pra cá com a intenção de me matar. – Ri, me virando de costas para a pista e caminhando até um banco de madeira. Limpei um pouco da neve que se acumulara e me sentei. – Mas eu consegui escapar e ela foi patinar no gelo sozinha.
- Ainda com medo de patins, huh? – Quase pude vê-lo jogando a cabeça pra trás ao rir.
- Não é bem medo. – Me encolhi nas minhas roupas quentinhas e limpei alguns flocos de neve que caíram em meu nariz. – É precaução. Não sou louca o suficiente pra sair deslizando no gelo sobre lâminas afiadas!
- Eu entendo como isso pode dar errado. – Riu mais uma vez.
- Obrigada! – Foi a minha vez de rir.
Alguns segundos se passaram e esses segundos se transformaram em minutos. Três minutos, para ser exata, e nenhum de nós falou nada. Apenas fiquei ouvindo a sua respiração e ele a minha. Fechei os olhos e por um instante era como se estivéssemos frente a frente. Infelizmente ele não estava lá quando voltei a abrir os olhos e encarar a grama branca. A noite estava tão bonita, o parque coberto pela neve... Eu realmente queria ter os braços de Zayn me aquecendo naquele momento.
- ? O que há de errado? – Zayn perguntou após ouvir meu suspiro pesado.
- Não é nada. – Eu não podia contar pra ele. – Posso... Pedir uma coisa?
- Qualquer coisa.
- É bem bobo, na verdade... Tipo, muito bobo mesmo. – Balancei a cabeça, trocando o aparelho de orelha. – Você... Canta pra mim?
“Through chaos as it swirls. It's us against the world…” Aquela música simplesmente não queria sair da minha cabeça, mas também pouco me importava. O melhor de tudo é que eu me lembrava dela na voz de Zayn, pois o menino havia cantado-a inteira pra mim na noite anterior, enquanto Abi patinava e nós estávamos em uma ligação quase eterna. Só sei que minha orelha estava vermelha quando finalmente desligamos – contra a minha vontade. Eu estava na sala de ballet da Academy, aquela onde acontecem as aulas em grupo toda segunda-feira, e esperava o professor Hofstheder chegar. Ele não era de se atrasar, mas acho que o Christmas break o deixou com os relógios desregulados. O importante é que ninguém parecia se importar com aquela demora, pois todos estavam com aquela preguiça pós-feriado que gruda na gente e não quer largar. estava ali comigo, pois ainda teríamos aquela aula juntas apesar da nossa mudança de horários, então conversávamos animadamente.
- Como está a sua bunda? – Perguntei ao tentar conter uma risada.
- Muito dolorida, obrigada por perguntar. – Abi fez uma careta, trocando o apoio de um braço para o outro. – Mal consigo me sentar direito!
- Não vou falar que avisei, mas eu avisei. – Finalmente me permiti rir e sentei no chão, de frente para a minha amiga. – Patinação no gelo não é um esporte muito seguro.
- Agora eu sei disso. – A ruiva estirou a língua pra mim. – E a culpa não foi minha! Eu estava lá fazendo meus paços dignos de competição de dança no gelo e aquela criancinha saiu do nada e entrou na minha frente. Ou eu a matava, ou caia no chão. Fiz o que era certo. Me sacrifiquei por um bem maior.
- Você é uma heroína, sinceramente.
- Eu sei! – Também se permitiu rir. – E o que você fez ontem, depois que eu te deixei em casa?
- Assisti uma maratona de Doctor Who na BBC. – Respondi já esperando ser chamada de nerd ou geek. – Pelo menos com os meninos fora de casa eu posso assistir o que quiser na televisão.
- Eles não dormiram em casa ontem?
- Quando saí de casa hoje de manhã, o carro estava na calçada. Mas não sei que horas chegaram, porque eu já estava dormindo. – E mesmo que tenha tido muita vontade de entrar no quarto de todos eles para dar bom dia, acabei deixando-os dormir em paz. – Deviam estar cansados demais...
- Ni voltou pra casa às três da manhã. – O jeito que Abi falou me fez pensar que eles estavam morando juntos. – É, eu estou ficando uns dias na casa dele... Você não é a única que precisa de uns dias a sós com o seu namorado!
- Então isso explica as suas olheiras! – Gargalhei e balancei a cabeça para afastar certos pensamentos do que Abi e Niall poderiam ter feito quando ele “chegou em casa às três da manhã.”
- Pare de rir, ! – Deu um tapa no meu joelho, pois era onde ela conseguia alcançar sem ter que se mexer muito. – Você só está com inveja.
- Bom dia, alunos, vamos logo com isso. – O professor enfim apareceu e estava com pressa. – Formem duplas e vão para a barra.
Sem falar mais nada, puxei Abi pelos pulsos e a ajudei a se levantar. Ainda duvidava que ela fosse capaz de dançar, se alongar e derivados – por causa da queda no gelo que a fez machucar o coxi -, mas ainda assim a arrastei até uma das barras que estavam colocadas no centro da sala. Ambas estávamos com roupas parecidas: Collant, meia calça, sapatilha e a saia fina amarrada à cintura; com a pequena diferença de que o meu uniforme era cor de rosa e o dela era preto. Nossas “cores” meio que seguiam a linha da nossa personalidade, pois enquanto Abi era forte, destemida, hiperativa, confiante e certa de si mesma, eu gostava de pensar que era doce, delicada, cuidadosa e coisas do tipo. Mais uma vez, opostos que se entendem muito bem. De qualquer forma, Abi ficou atrás de mim e imitava qualquer movimento que eu fizesse.
- Não quero vocês duas juntas. – O professor interrompeu nossa seção de alongamentos. – , você vai ficar com a Jane.
- Como é que é? – Abi perguntou com uma voz esganiçada. Jane era uma garota do segundo semestre, mas era só isso que eu sabia sobre ela.
- Se você vai questionar os meus métodos de ensino, aconselho que se retire da sala. – Sr. Hofstheder mal alterou o seu tom de voz, mas a lançou um olhar autoritário.
- Abi, vá. – Acenei para que ela fosse procurar Jane.
- De que lado você está? – Minha amiga se afastou, pisando forte.
- Então. – Rolei os olhos para me virar completamente para o professor. Abi não ficaria com raiva de mim nem mesmo até o final da aula. – Com que eu devo ficar?
- Com alguém mais do seu nível. – Deu meia volta para que eu o seguisse até outra barra. – Senhorita Jones.
- Quem? – Minha resposta foi respondida assim que a figura loira oxigenada apareceu na minha frente. – Brigitte Jones? Seu nome é Brigitte... Jones?
- Qual o problema disso? – A menina perguntou com toda superioridade.
- Sério?! – Gargalhei enquanto o professor se afastava para formar novas duplas pela sala. - Tipo... Bridjet Jones? O diário de Bridjet Jones?
- Uma coincidência deplorável, admito. – Bufou e se segurou na barra para começar os exercícios. – Agora dá pra parar de rir e apenas tentar não me atrapalhar? Já é ruim o suficiente o professor ter nos colocado juntas, não preciso que você ainda me atrapalhe.
- Oh, Brigitte... Eu estou tão feliz hoje que nem você consegue me irritar. – Sorri, sem deixá-la chegar aos meus nervos.
- Quem sabe eu possa tentar? – Uma das amigas da oxigenada estava por ali também, pronta para defender a sua abelha rainha. Nunca gostei de abelhas.
- Deixe-a aproveitar essa felicidade em quanto pode, Marcie. – Brigitte falou para a amiga. – Sabemos que não vai durar.
- Mudança de planos, . Você vem comigo. – Nick aparatou ao meu lado e me puxou pelo braço. Não perguntei nada antes de acompanhá-lo, apenas feliz por estar sendo tirada de perto de Brigitte.
- Seu timing não podia ser melhor... – O agradeci com um meio abraço assim que paramos na barra mais próxima ao espelho. – Sinto que fui ameaçada.
- Aquilo foi uma ameaça, não foi? – Nick riu, também sentindo a ameaça de Brigitte.
Foi a mensagem que li em meu celular assim que a aula acabou e eu finalmente pude pegar o aparelho. Não precisei ler o nome de Zayn na tela para saber que era ele. Tínhamos combinado de nos encontrar na escadaria durante o intervalo, mas a dor no quadril de Abi aumentara consideravelmente, então tive que arrastá-la para a enfermaria. Literalmente arrastá-la, pois a menina ainda tinha pavor daquele lugar. Eu esperava que a enfermeira soubesse exatamente o que fazer, ou pelo menos receitasse uma daquelas pomadas milagrosas para dor. A deixei entrar primeiro e fiquei pra trás para digitar uma mensagem para Zayn:
“Chegamos em cinco minutos!”
- . – Abi me chamava do lado de dentro da enfermaria. – Não me abandone aqui, cachorra!
- Já estou indo! – Rolei os olhos e dei meia volta para também entrar ali. – Não precisa me xingar!
- Srt. Tomlinson, é bom revê-la. – Mary me cumprimentou com um sorriso. – Vejo que a sua amiga não é tão calma quanto você.
- Ela é medrosa. – Sorri da mesma forma, me sentando em uma cadeira próxima à mesa da mulher. – Está com uma dor no quadril, porque caiu ontem quando estava patinando no Hyde.
- Então vamos dar uma olhada...
- Vocês poderiam parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? – Abi reclamou.
- Perdão, senhorita. – Mary puxou uma cortina e revelou a maca que eu já conhecia bem. – Pode se deitar, por favor?
- Prefiro continuar de pé. – Olhou da maca para a senhora e depois pra mim, esperando algum apoio.
- Abi, é só pra ela olhar se há algum machucado... – Tentei.
- Cerejinha?! – Um Niall assustado entrou correndo na enfermaria. – Você está bem?! Zayn disse que tinha desmaiado...
- Você deve ter entendido errado. – Zayn o seguia, mas estava bem mais calmo e pelo seu sorriso, Ni não entendera nada errado.
- Como eu estava dizendo... – Os interrompi. – Ela só vai dar uma olhada, Abi. Só dará a injeção se for necessário.
- INJEÇÃO? – deu um passo pra trás e eu ri.
- Ela está só brincando, querida. – Mary não gostou da minha brincadeira.
- Vocês dois, esperem lá fora. – Niall também não era fã de uma brincadeirinha de nada, ou duas, e nos mandou sair.
Ainda rindo, mandei um beijo para a minha amiga e saí da enfermaria. Caminhei até uma janela do corredor, mas não fiquei muito tempo observando a vista do lado de fora. Dei meia volta e parei de frente para Zayn. O menino me seguiu e parou a alguns metros de distância de mim, com as mãos nos bolsos do casaco, o cabelo bagunçado e o sorriso torto nos lábios. Fiquei observando-o até que um sorriso também apareceu em meu rosto. Era a primeira vez que nos víamos em muitos dias, o suficiente para me deixar louca de saudade.
- Oi, Malik. – Falei ainda de longe.
- Bom dia, Tomlinson. – Arqueou uma sobrancelha.
- Ainda lembra de mim? – Cruzei os braços. – Agora é famoso achei que...
Me impedindo de terminar aquela frase, Zayn acabou não só com a distância entre os nossos corpos, como dos nossos lábios. Ele apoiou as duas mãos na lateral do meu rosto e, apesar do frio em seu toque, não me afastei e retribuí ao beijo. Não chegamos a nos agarrar no meio do corredor, mas foi o suficiente para que soubéssemos o quanto o tempo que passamos sem nos ver havia sido terrivelmente ruim. Todo esse tempo que Zayn passou trancado em casa com os meninos, eu me senti “deixada de lado”, por mais que não gostasse de admitir essa minha insegurança. Mas agora percebia que ficar longe de mim havia sido ruim pra ele também e que, assim como ele falara na noite anterior, em nosso telefonema, era algo que ele tinha que fazer. E isso eu entendia. Desde o dia em que Abi e eu mandamos o vídeo, eu entendia que nossas vidas e tudo aquilo que estávamos acostumadas poderia mudar. E estava mudando, mesmo que devagar.
- O grande dia está chegando. – Sorri ao entrelaçar os nossos dedos e começar a andar lentamente pelo corredor, na direção que levaria ao auditório.
- Eu sei! – Sua animação era visível. – Você acha que poderia faltar aula amanhã?
- Amanhã é terça, então eu teria um encontro com o professor Hofstheder, mas minha aula foi suspensa até o dia da peça... – Pensei alto. – Só iria ensaiar com Nick, mas acho que posso remarcar. Por que?
- Susan ligou e pediu para que fossemos ao estúdio do X Factor pra fazer a passagem de som e essas coisas. – Comentou como se fosse algo que se fala todos os dias e eu acabei rindo, pois sabia que ele estava pulando de alegria por dentro. – E eu gostaria que você fosse junto.
- Acha mesmo que eu perderia essa chance?! – Só de imaginar que eu estaria indo conhecer o “por trás das câmeras”, já ficava nervosa. – Conte comigo!
- Acho que vai ser bem legal. Pelos episódios do programa que eu já assisti, eles tem uma estrutura enorme...
- Por falar nisso! Vão ter outras dançarinas lá... – Parei de andar e me coloquei de frente para o moreno. – Então você tem que jurar que não vai prestar atenção em nenhuma.
- Tá falando sério? – Duvidou com uma risada, mas quando viu que eu não fiz o mesmo, entendeu que a minha preocupação era legitima. – Eu prometo que não vou olhar pra nenhuma dançarina. A única dançarina da minha vida é você, .
- Você tem que jurar! – Insisti.
- . – Pousou as mãos sobre os meus ombros e se fez de ofendido. – Acha que eu mentiria pra você?
- Você já fez isso antes. – Cruzei os braços e, dessa vez, não falava tão sério.
- Quando? – Desafiou com o cenho franzido.
- Ela não morre. – Respondi. – Você disse que ela morria, mas ela não morre.
- Ok, agora você despertou o meu interesse. – Me soltou para também cruzar os braços. – Quem morreu? Ou não morreu.
- A Hazel. – Pelo olhar que recebi, ele precisava de mais informação que aquilo. – Na primeira vez que você foi ao meu quarto, pegou o livro que eu estava lendo e contou o final. Você disse que ela morria, mas era mentira.
- Você terminou o livro? – Sorriu e eu afirmei que sim com a cabeça. Zayn voltou a tocar em mim, dessa vez segurando em meu quadril. – Tudo bem, ela não morre. Mas como você se sentiu ao descobrir que eu menti?
- Irritada por você ter me feito pensar durante meio livro que ela morria! – Rebati com o último fio de reprovação que ainda restava em mim. O contato de Zayn era forte demais, entorpecente demais. – E aliviada... Surpresa pela reviravolta do final...
- Exatamente. – Tirou um fio rebelde do meu rosto e o colocou atrás de minha orelha. – Não teria sido tão marcante assim se tivesse acontecido justamente o que você achava que ia acontecer antes que eu te contasse o que acontecia, mesmo não acontecendo como eu contei que acontecia. Entendeu?
- Não... – Ri com o nó que aquela frase deu em minha cabeça. – Ou talvez sim. Um pouco. Mas como você sabia que eu achava que ela não iria morrer?
- Porque você acredita em amores impossíveis.
Capítulo LXII
“Muito bem, , essa é a hora de colocar em pratica tudo que você treinou! Não nos faça passar vergonha.” Pedi para mim mesma com os olhos fechados enquanto o grande carro preto parava na entrada dos estúdios do The X Factor Uk. Um motorista em uma vã preta havia passado pontualmente às 9hrs da manhã na porta de casa para nos buscar e nos levar até ali, pois, segundo Susan, esse seria um tipo de ensaio para que aconteceria mais tarde naquela noite. Esse mesmo homem abriu a porta de trás para que nós quatro pudéssemos descer. Segundo ele, o carro com os outros dois membros da banda (ou seja, Niall e Zayn) estava a caminho, mas poderíamos ir na frente para sair do frio. Aquela entrada ainda estava bem bagunçada e várias pessoas corriam para lá e para cá, carregando fios, panos, ferros e todo tipo de material de construção. Mesmo com o trabalho inacabado, deu pra sentir que era um programa de televisão de verdade. Minha ficha ainda não tinha caído e duvidava que isso fosse acontecer em qualquer momento próximo. Me afastei um pouco dos meninos enquanto eles combinavam o horário que o motorista deveria nos buscar novamente na hora do programa e observei todo o espaço a minha volta.
Como em uma premiação de cinema, o chão estava todo coberto por um carpete vermelho de aparência aveludada em forma de “L”, mas não fofo o suficiente para prender o salto das mulheres que estariam caminhando por ele; inclusive o meu. Uma área que abrangia mais que esse tapete vermelho era coberta completamente por um toldo branco, montado para afastar a neve de todos que fossem ficar por ali. Uma mulher vestida inteiramente de preto e com um daqueles microfones de walkie talkie preso à orelha saiu pela porta do estúdio e duas outras pessoas a seguiam com pressa. Pelo que pude escutar, a parte lateral do tapete seria onde os “fãs” iriam ficar enquanto aguardavam os convidados, competidores e jurados terem a sua chegada triunfal. Já o “corredor” do “L” que levava até a porta de entrada seria reservada para imprensa; fotógrafos, jornalistas, editores de revista, apresentadores de programas e etc. Não quis me intrometer nos assuntos que não me diziam respeito, então parei de escutar conversas alheias para prestar atenção nos três meninos que pararam ao meu lado, prontos para entrar.
Susan também passou pela porta e estava bem mais sorridente que a Mulher do Walkie Talkie, mesmo com algumas bolsas escuras abaixo de seus olhos. Ela nos cumprimentou e me tratou como se eu fizesse parte da banda. Bem, não literalmente parte da banda, já que ela não me ofereceu um microfone nem nada, mas não me ignorou por ser apenas uma “amiga” ou o “+1” em um convite como qualquer outra poderia ter feito. Era a terceira vez que a víamos, contando o dia do resultado e ensaio fotográfico, o que nos deixava um pouco mais tranqüilos e a vontade. Louis agia como o líder, então qualquer pergunta ou informação era dada a ele e Liam ia logo atrás, querendo se manter informado de tudo. Isso acabou deixando Harry para trás, mas ele não se importou. Ele estava tão feliz por simplesmente estar ali que não dava a mínima para a falta de atenção que recebia da produtora. Eu, por outro lado, me juntei a ele e entrelacei nossos dedos com um sorriso. Não como eu teria feito com Zayn, mas ainda de forma carinhosa.
- Dá pra acreditar? – Perguntou enquanto a sua mão grande envolvia a minha menor.
- Na verdade, dá sim. – Passamos pela porta de entrada, chegando a um corredor largo e muito, muito comprido. – A minha premonição estava correta!
- Como sempre. – Haz riu, mostrando suas covinhas.
- Meninos, se juntem aqui, por favor! – Susan chamou, mas ao contrario do que imaginei, não falava comigo e Harry; sim com Lou e Li. Será possível que esses meninos já começaram a fazer bagunça?
- Uhn, desculpe. – Liam deixou quieto o objeto em que mexia e arrastou Louis com ele pela gola da camisa.
- Não se preocupem, é normal que estejam agitados agora, pois isso tudo é novo pra vocês. – A mais velha ponderou, mal sabendo que eles eram “agitados” regularmente. – Só quero apresentar alguns lugares para que não se percam.
- Estamos ouvindo, Susan. – Sorri. Como a matriarca da família, era meu dever tentar controlar as crianças.
- Ótimo! Bem, primeiramente... Sejam bem vindos ao backstage do The X Factor! – Tirou um bloquinho do bolso de seu blazer executivo e sorriu abrindo os braços. Ela logo nos deu as costas e começou a andar, nos fazendo segui-la. – É aqui que a magia acontece! Está vazio agora, mas na hora do show fica uma loucura. Muitos artistas também irão se apresentar hoje, então se sintam sortudos!
- Com certeza! – Lou esticou a mão para tocar em algo não identificado, mas bati em sua mão para que ele ficasse quieto. – Outch, !
- Eu li que Robbie Williams vai estar aqui. – Liam comentou.
- Oh, sim, vai mesmo! Robbie, Nicole das Pussycat Dolls, Cheryl Cole, Demi Lovato... Todo o tipo!
- Demi Lovato? – Quase engasguei. – Achei que ela era do X Factor Us...
- E é. – Susan me olhou por cima do ombro com um sorriso que queria dizer mais do que ela podia. – Mas digamos que a Demi trouxe uma surpresa... Enfim, na hora do show vão saber.
- Mal posso esperar! – Liam aqueceu uma mão na outra para disfarçar seu nervosismo. – Aliás, poderemos assistir o show?
- É claro que sim! – A produtora parou de andar assim que chegamos ao fim do corredor, onde algumas portas estavam dispostas; uma maior no fundo e algumas de tamanho normal na parede lateral. – Quando os outros chegarem, entregarei seus crachás e com isso vocês poderão circular por onde quiserem. Podem ir até a platéia, voltar pra cá... Só peço que evitem os primeiro quinze minutos e os últimos, pois geralmente é quando os espectadores mais tentam invadir.
- Invadir? – Repeti. Pela TV, aquele programa parecia pacifico e não com espectadores que tentam invadir o backstage!
- Teremos o dobro da segurança hoje, então não há com o que se preocupar. – Nos assegurou e abriu o bloquinho em sua mão.
Susan leu algumas coisas no papel em sua mão e voltou a nos olhar com aquele sorriso amigável de sempre. Algo me dizia que ela gostava muito daquele emprego. Mas quem não gostaria? Ela cruzava com celebridades diariamente! E o salário não devia ser tão baixo assim, no final das contas... De qualquer forma, ela explicou que as portas à nossa direita eram os camarins e a maior, que ficava no fundo, era – literalmente – o backstage; ou seja: A parte de trás do palco, com aquela escadinha por onde os competidores deixam para trás a família na torcida e se preparam para entrar no estrelato. Ou algo perto disso. Não chegamos a entrar lá, mas os episódios do programa que eu assistira eram suficiente para que soubesse como era. Um homem de meia idade saiu por aquela porta e uma música que eu não conhecia chegou aos meus ouvidos, o que me fez deduzir que mais alguém estava ensaiando por ali.
A produtora explicou mais ou menos qual era o camarim de cada apresentação. O primeiro da esquerda para a direita era o camarim dos apresentadores, o segundo dos artistas convidados, o terceiro era o nosso e de mais algumas pessoas que não lembrei o nome, e o último pertencia aos três finalistas do programa. Também me atentei aos seus nomes, pois com certeza não iria guardá-los na memória. Tinha muita coisa acontecendo de uma vez só, então seria melhor que eu me preocupasse com o mais importante. Enquanto Zayn e Niall não chegavam, não havia muito o que ser feito, então a mulher nos acompanhou até o “nosso” camarim. A porta estava trancada, mas isso logo foi resolvido pela chave mestra da produtora.
Fui a primeira a entrar no camarim, pois uma onda de cavalheirismo surgiu nos meninos e eles permitiram que as damas passassem antes deles. Como sempre, prestei atenção em todo o design do interior. Na parede a nossa direita, uma bancada enorme ia de uma ponta à outra com espelhos extremamente limpos e aquelas cadeiras de salão de beleza. Na parede oposta a essa, algumas mesas com toalhas avermelhadas estavam vazias, mas fomos informados que ali estaria coberto de comidas e bebidas quando voltássemos mais a note. Por fim, na parede do fundo, um sofá realmente grande que poderia facilmente acomodar quinze pessoas.
- Posso me acostumar a isso. – Sorri ao ir até uma das cadeiras de salão de beleza e me sentar como se fosse uma artista. – Onde estão meus cabeleireiros?
- Alguém tem uma tesoura aí? – Lou me seguiu e parou atrás de mim, reunindo todos os meus fios castanhos em sua mão e fingindo cortar metade dele fora.
- Deixa pra lá, não quero mais um cabeleireiro! – Me esquivei de seu toque com uma risada.
- Vou deixar vocês aqui, sim? Aquela portinha ali é um banheiro, caso precisem. – Susan apontou para uma porta quase escondida ao lado do sofá. – Qualquer coisa é só me chamarem.
- Obrigada, Susan! – Respondi por todos nós, já que Harry havia se sentado na cadeira ao lado da minha e Louis começava a fazê-lo girar.
- Não vamos sair daqui. – Liam a assegurou, sentando na cadeira ao meu lado. Ao menos ele estava comportado!
- Eu realmente ficarei surpresa se não formos expulsos daqui antes mesmo do fim do dia. – Apontei para Lou e Haz atrás de mim assim que girei a minha cadeira para ficar de frente a Liam.
- Eles só estão animados... – Li os defendeu, provavelmente por saber que não conseguiria se comportar por muito tempo.
- Todos estamos! – Tirei a alça da minha bolsa do ombro e a deixei em cima da bancada de madeira branca ao meu lado. – Nervoso para finalmente conhecer suas fãs?
- Acho que mais até do que pra conhecer o Robbie Williams. – Riu. – Uma coisa é falar com eles pelo computador, ou nas Twitcams... Agora vai ser pessoalmente, né?
- É verdade, mas acho que você não tem com o que se preocupar. As meninas que eu conheci no Twitter são muito fofas, sinceramente. Algumas delas já confirmaram presença hoje à noite! Tanto lá na porta pra esperar vocês chegarem quando para assistir o show da platéia.
- Ah, é... Você é a responsável oficial do fã clube, né? – Liam se encostou mais à sua cadeira, ficando bem confortável.
- Em teoria! – Gargalhei, trocando as pernas cruzadas de lado. – Gosto de interagir com elas, porque me sinto importante. Mas sei que não ligam pra mim e sim pra vocês. Só me tratam bem porque sabem que se for o contrário, vocês ficarão chateados.
- Ninguém seria capaz de te tratar mal, Anjo. – Só por aquele apelido, meu coração palpitou mais rápido. Zayn acabava de entrar pela porta do camarim, seguido por Niall e uma mulher de cabelo lilás claro que puxava uma arara cheia de roupas.
- Baby! Finalmente vocês chegaram! – Saltei da cadeira para ir abraçar meu namorado, tendo que me colocar na ponta dos pés para alcançar seus lábios e deixar um beijo rápido. – Perderam todo o tour pelo backstage.
- Demoramos porque a sua madrasta atrasou! – Niall explicou, mas sem raiva alguma.
- Rach está aqui? – Arqueei uma sobrancelha.
- É claro que estou! – A voz veio da mulher de cabelo lilás, que virou de frente pra mim e tirou os óculos escuros.
- RACHEL, O QUE VOCÊ FEZ COM O SEU CABELO? – Me soltei de Zayn, pois tinha outras preocupações em mente.
- Gostou? Foi idéia do seu pai! – Ela riu balançando os cabelos recém tingidos.
- Eu gostei. – Zayn ocupou a cadeira em que eu estivera sentada.
- Eu também gostei! – Sorri rodeando a minha madrasta para olhar direito. – É meu pai que me preocupa. Pra ele ter dado uma idéia assim, deve estar pensando em aparecer com um piercing na nuca.
- Eu acho isso legal também. – Zayn se esticou, segurando a minha mão e me puxando mais pra perto dele.
- Ficaria legal em você. – Falei enquanto subia em seu colo, me colocando de lado e passando as pernas pelo braço da cadeira. – Não em um médico de cinqüenta anos!
- Seu pai não é tão velho assim... – Rachel riu e levou a arara que trouxera para o canto do camarim. – Acho que ficou algo no carro... Eu já volto.
- Eu vou com você! – Lou se ofereceu pra ajudar, mas ele só estava querendo andar por aí.
- Sobre o piercing na nuca... – Zayn me envolveu com força pela cintura. – Acho sexy.
- É? Então por que não coloca um? – Passei um braço por seus ombros e acariciei com as unhas a pele atrás de seu pescoço.
- Já tenho uma tatuagem na nunca, então não ficaria legal. – Eu lembrava disso, mas queria que onde ele iria chegar. – Mas em você...
- Pode parar por aí! – Balancei a cabeça, negando. – Ainda estou superando a tatuagem que você me coagiu a fazer. Não quero nada entrando no meu corpo por um bom tempo.
- Tem certeza? – O sorriso travesso que surgiu com esse sussurro de duplo sentido me fez corar.
- Estou pensando em fazer outra tatuagem... – Liam, que ainda estava no mesmo lugar desde que chegamos àquele quarto, chamou a nossa atenção. Por um instante eu esquecera que ele estava ali...
- Sério, bro? – Zayn perguntou, me ajeitando em seu colo. – Onde?
- Algo por aqui... – Passou a mão sobre a parte interna do seu ante-braço. – Só não sei o que ainda.
- Sua mãe vai te matar! – O olhei como se o reprovasse. – Mas de qualquer forma, tenho certeza que você vai fazer uma boa escolha. Eu gosto das suas tatuagens.
- E não gosta das minhas? – Zayn arqueou uma sobrancelha, enciumado.
- Não é isso que estou dizendo. Posso terminar de falar? – Rolei os olhos impacientemente. – É que todas as tatuagens to Li tem algum significado profundo. Olha para o Harry e depois pra ele.
- Hey! – Haz reclamou, sentado no sofá enquanto conversava com Niall.
- Harry é um caderno de rabiscos humano! Todo desenhado. – Ri ignorando o garoto de cabelo cacheado. – Mas o Liam não. Ele pensou bastante tempo pensando em cada uma.
- Eu também fiz isso. – Zayn fez bico.
- Com algumas, sim. – Beijei seu bico. Meu namorado se preparava pra falar mais alguma coisa em sua defesa, mas o impedi. – Sério, Zayn? “Don’t think I wont”? Você pensou muito tempo sobre tatuar isso no seu quadril e não mudou de idéia?
- É o nome de uma música, ok?
Depois de meia hora trancados, figurativamente, naquele camarim, Susan voltou para nos levar até onde a magia acontecia; o palco. A banda foi na frente, conversando com técnicos de som sobre coisas que eu não entenderia nem se tentasse. Sandy, Dan e Josh também acabaram aparecendo, mesmo que nenhuma van tenha ido buscá-los em casa; por isso a demora. Rachel ficou no camarim para separar algumas roupas para os meninos provarem quando terminassem de passar o som, por isso me vi sozinha sentada em uma das cadeiras do auditório. Os oito garotos que eu conhecia, estavam sobre o palco e andavam de um lado para o outro, com microfones desligados nas mãos, fingindo cumprimentar os fãs invisíveis. Um técnico de luz conversava com Zayn e Liam sobre alguma coisa que eu não conseguia escutar o que era, mas parecia importante.
O estúdio era realmente grande, maior até do que a televisão parecia mostrar. Olhando em volta, encontrei alguns camarotes nas laterais e um mar de cadeiras ia de onde eu estava até além do que minha visão permitia. A minha esquerda, o tablado dos juízes, com quatro cadeiras e aquela mesa retangular. Quando eu poderia ter imaginado que estaria ali? Se alguém me dissesse isso há três meses, eu acharia que era brincadeira. Tirei algumas fotos com o meu celular para ter de lembrança, pois não pretendia postar nenhuma delas no Twitter. Não sabia se era permitido fotografar o estúdio do programa assim, então preferi guardar as imagens apenas pra mim. Algumas dançarinas com roupas coladas passavam a coreografia em um canto mais afastado da arena e Zayn não olhava para nenhuma delas. Estava mantendo a sua promessa!
- Oi... – Um dos três garotos que se aproximaram sem que eu nem percebesse me cumprimentou. – Se importa?
- Ahn, oi... Claro que não, podem sentar. – Sorri simpática, afastando as minhas pernas para que os três pudessem passar por mim e ocuparem cadeiras ao meu lado. Só de olhar pra eles pude perceber que não eram dali. Seus corpos musculosos demais, pele bronzeada demais e sotaque diferente demais.
- Você é da banda? – O segundo, de cabelo na altura das orelhas e que estava sentado entre os outros dois, perguntou.
- Sim. – Respondi por impulso, mas tratei de me corrigir. Algo na presença daqueles meninos me desconcertava. – Quero dizer... Não estou na banda. Mas estou com a banda. São meus amigos.
- Ah, é! Nós os vimos na TV, lembra, Wes? – O da ponta, de cabelo loro meio espetado, falou com o amigo que estava ao meu lado.
- Então você é Wes? – Perguntei esperando que algum deles se apresentasse.
- Onde estão meus modos? – O tal do Wes arrumou o boné de aba reta em sua cabeça e esticou a mão na minha direção. – Wesley Stromberg. Mas pode me chamar de Wes.
- Keaton Stromberg. Somos irmãos. – O do meio, de cabelo grande e que parecia ser o mais novo entre os três também apertou a minha mão.
- Drew Chadwick. – O loiro de cabelo espetado não apertou a minha mão, mas beijou as costas dela. – Sou o irmão adotivo.
- É um prazer. – Sorri, sabendo que era a minha vez de me apresentar. – Tomlinson, Tomlinson.
- Vocês aqui se apresentam com o sobrenome primeiro... – Keaton riu, confirmando minhas suspeitas de que eles não eram do Reino Unido.
- Eu sabia! De onde vocês são? – Virei um pouco em meu acento para que pudesse ficar virada pra eles.
- Estados Unidos. – Wes comentou. – Cali.
- Cali... Califórnia? – Repeti só para ter certeza.
- Essa mesma. Já esteve lá? – O de cabelo espetadinho sorriu encantadoramente.
- Só em sonhos. Nunca estive pro lado de lá, mas sempre quis conhecer LA.
- Somos de Huntington Beach, que fica uns quarenta minutos de L.A, sem transito. – Keaton completou.
- E o que vocês estão fazendo tão longe de casa? – Perguntei torcendo para não estar abusando com a minha curiosidade.
- Participamos da última edição do X Factor americano como um grupo; Emblem3. Não chegamos a ganhar, mas as coisas funcionaram pra nós mesmo assim. – Wesley começou a explicar e fitei suas orbes claras. – Estamos lançando nosso primeiro CD e a Demi nos convidou pra vir até aqui com ela. Apresentar uma música... Expandir o nosso público, sabe?
- Sei... – Mais ou menos. – Então vocês são a grande surpresa! Susan ficou fazendo mistério o dia inteiro.
- Acho que estragamos a surpresa. – O mais afastado bagunçou os cabelos e riu.
- Espera... – Ajeitei a minha postura na cadeira. – Então vocês são famosos?
- Em Cali sim. – Keaton respondeu, mas não de forma prepotente.
- Uau, sendo assim, eu preciso de um autógrafo! – Pedi sem saber se eu mesma falava sério ou não.
- Tem algum papel aí? – O mais perto de mim sorriu.
- Deixa eu ver... – Abri a minha bolsa e vasculhei, mas o único papel que consegui encontrar era a embalagem de um bombom, então não serviria. – Não tenho nada.
- Você vai estar aqui à noite, não vai? – Ainda foi Wes que perguntou e senti que ele torcia para ouvir uma resposta positiva.
- Vou sim! Chegarei umas oito horas. – Não sabia qual a necessidade de falar até mesmo à hora que chegaria, mas culpava os genes californianos. – Hm, vou trazer um papel, então! E aí vocês autografam pra mim?
- Claro. – Drew sorria.
- Com licença... Uh... Você é ? – Uma menina de cabelos cacheados estava de pé ao meu lado. Pela sua roupa, soube de cara que era uma das dançarinas.
- Sou eu sim. – Respondi curiosa.
- Estão te chamando lá no palco... – Olhei na direção que ela apontou e vi que oito garotos estavam parados lado a lado com a mesma pose; de braços cruzados, me encarando.
- São seus seguranças? – Wes riu, mas não falou aquilo de forma que os ofendesse.
- De certa forma. – Também ri e me levantei para seguir a dançarina, mas primeiro me virei para fazer minhas despedidas. – Vejo vocês mais tarde, então?
- Mal posso esperar. – Mais uma vez Wes foi quem me respondeu e acenei para os três.
- Por aqui... – A dançarina simpática me ajudou a descer.
- Obrigada. – Sorri para ela em agradecimento e me virei novamente. – Qual música de vocês devo escutar?
- Chloe. – Drew respondeu e eu quase o corrigi falando que meu nome era . – O nome da música é Chloe.
- Chloe. Anotei! – Falei figurativamente e dessa vez me virei definitivamente para ir embora.
Eu não estava flertando com nenhum dos três e também não me interessara desse jeito. O que acontece é que eles eram diferentes dos garotos que eu convivia e isso despertou a minha curiosidade. Digamos que era apenas um interesse de conferência internacional, se por assim dizer. Eles pareciam simpáticos e eu realmente queria ir pra casa e escutar a música que me recomendaram. A dançarina e eu estávamos voltando para o palco, mas antes que eu pudesse usar a escada lateral para subir, ela parou como se quisesse me falar algo.
- Me chamo Danielle... – Se apresentou. – Danielle Peazer.
- Bonito nome. – Sorri. – Sou , mas acho que você já sabe disso.
- É, sei sim. – Ela riu um pouco desconcertada. – Eu queria te fazer uma pergunta...
- Claro, pode falar. – Dei as costas para o palco e virei de frente para Danielle.
- Sabe o garoto bonitinho? Que tem algumas tatuagens no braço? – Começou a falar em sussurros, meio tímida. Bonitinho e com tatuagens no braço? Minha mente parou em Zayn. – Só algumas tatuagens! Não o seu namorado, claro.
- O de olhos azuis? – Seria Lou? Ou Liam? – Ou com a tatuagem de setas?
- Acho que o nome dele é Liam... O das setas mesmo.
- Você gosta dele? – Por mais que um lado meu estivesse enciumado, Danielle poderia ser quem eu estava procurando.
- Hm... Eu acho que ele é fofo... – Passou a mão pelos cabelos, mas não foi capaz de domar os cachos selvagens. – Mas ele não tem ninguém, certo?
- Não, não! – A assegurei, tentando manter a minha voz o mais baixa possível. – Quer que eu passe o seu telefone pra ele?
- Você faria isso? – O seu rosto se acendeu e ela me mostrou o papel que estava enrolado na palma da sua mão.
Respondi que sim e Dani me entregou o papelzinho. Sim, Dani. Estamos intimas, beijos. Enfim. Ela logo voltou correndo para as suas amigas e parecia uma garotinha de colegial indo contar que tinha um encontro com o capitão do time de futebol. Balancei a cabeça rindo e subi as escadas que davam para o palco. Tudo bem que eu não conhecia Danielle e tinha medo de estar dando o seu telefone para... Liam. Justamente pra ele... Mas não era hora de ser egoísta, até porque vinha querendo “amarrá-lo” com alguma garota há um tempo. Não necessariamente uma desconhecida, porém, era o que eu tinha naquele momento e teria que servir. Sem falar que a garota era bonita e eu sempre me simpatizei pela área de seu trabalho. Cof cof.
Assim que me juntei aos meninos, eles se dispersaram e voltaram para seus afazeres. Desconfiei que só tivessem me chamado até ali pra me tirar de perto dos três meninos absurdamente encorpados e charmosos que puxaram papo até que fossemos interrompidos. Uma bateria estava no canto do palco e Josh foi até o seu instrumento. Me perdi um pouco ao olhar para os telões gigantescos que estavam ali, bem na minha frente. Mesmo que desligados, eles ainda eram de uma tecnologia impressionante. Eu sabia que o photoshoot dos meninos seria passado ali e sentia arrepios só de imaginar a apresentação.
- Acho que alguém fez amigos... – Niall provocou, mas o ignorei.
- Aham, aham. – Segurei Zayn pelo pulso e o afastei dos outros. – Preciso falar co você.
- Tá bem... – Me seguiu com um pouco de receio e até insegurança. – Você vai terminar comigo?
- O que? Tá maluco, Malik? – Parei de andar quando já estávamos seguros e o olhei. – De onde tirou essa idéia?
- Você parecia tão entretida conversando com aqueles caras... – O Zayn que eu estava acostumada teria reclamado feito uma cena de ciúmes, mas aquele Zayn parecia vulnerável e até... Ameaçado.
- Não precisa se preocupar, eles não são o meu tipo. – Sorri, querendo me concentrar em algo mais urgente. – Enfim! Lembra que queríamos arranjar uma pretendente para o Li?
- Lembro... – Já parecia mais aliviado.
- Acho que encontrei uma. – Bem, ela me achou, mas isso não vem ao caso. Dei um passo para frente e envolvi Zayn pela cintura em um abraço que parecia normal. – Estou colocando o telefone dela no seu bolso, pra que você entregar a ele.
- Por que sinto que você está se aproveitando dessa situação? – Acabou me abraçando pelos ombros e me enterrando em seu peito.
- Porque é verdade. – Ri, deixando as minhas mãos enfiadas nos bolsos traseiros da calça dele mais que o necessário. Antes de tirar, dei uma apertada de leve que o fez gargalhar.
- E por que você mesma não entrega? – Continuou me abraçando mesmo depois que minhas mãos fizeram um caminho até sua cintura.
- Porque isso é coisa de garotos!
Pontualmente às sete horas da note todo mundo estava pronto. Resolvemos nos reunir em uma casa só, o que acabou sendo a minha própria – para a minha felicidade. Rachel, e eu estávamos trancadas no meu quarto, tendo um momento entre garotas. A mais velha vez a maquiagem e cabelo de todo mundo, já treinando para quando Lux fosse maior. Os meninos estavam no andar de baixo, mas era só isso o que eu sabia. Não tinha visto-os arrumados por inteiro, mas já imaginava o quanto estavam lindos e elegantes em suas roupas formais. Para a minha surpresa, minha madrasta não cuidou apenas das roupas que a banda deveria usar, também como a minha e a de . Preciso falar que o bom gosto dela era tremendo? Achei que não. Aproveitando os últimos momentos que tinha com o meu filho, o coloquei no meu colo sem me importar que o meu vestido ficasse cheio de pelos ou coisa parecida. Não queria que isso acontecesse, é claro... Mas era um risco a se correr. estava ao meu lado na cama, com os pés para cima. Literalmente para cima, já que todos os meus travesseiros foram parar embaixo de seus pés.
- Pode me explicar de novo por que você está assim? – A perguntei com uma careta, tentando não rir.
- É simples, minha querida! Eu sempre coloco os pés pra cima, antes das festas, porque isso faz com que o sangue corra mais facilmente. – Explicou e só faltaram os óculos de grau para que ela parecesse ainda mais nerd. – Então isso evita que o meu pé inche, me possibilitando mais horas de conforto em cima de um salto. Você devia tentar.
- Nah, eu não preciso disso. Depois que você passa horas em cima da pontas dos pés, começa a saber o que é dor de verdade. – Comentei enquanto mordiscava o meu dedo mindinho da mão esquerda. – Sapato de salto já não me incomoda mais.
- Bem, eu não saberia o que é isso. – riu, pois sabia que estava certa. Um dos motivos pelo qual ela estava repetindo o primeiro semestre de dança, era que ela tinha pavor a sapatilhas de ponta, então só as usava quando era a única saída. Já eu... Não tinha muita escolha.
- ... – Rachel estava sentada na cadeira da minha escrivaninha e acabou mexendo no mouse do meu notebook. O descanso de tela se foi e o site que estivera navegando horas atrás me denunciou. – Esses não são os meninos que estavam conversando com você no estúdio?
- São sim. – Afirmei. – Da esquerda pra direita, Keaton, Wesley e Drew. Os dois primeiros são irmãos...
- Tomlinson, porque você não me falou que eles eram tão fofos assim? – tirou um dos travesseiros de baixo dos pés e o jogou em mim, o que acabou assustando e o fez latir.
- Hey, cuidado! – Reclamei. – E eu falei sim!
- Não, você falou que conheceu três americanos. Só isso! – Levantou abaixando o seu vestido e ficou atrás de Rach na cadeira. – A minha idéia de “americanos” não era bem... Assim.
- Do que importaria? Você tem namorado! – Foi a minha vez de jogar um travesseiro nela. – A música deles até que é bem legal.
- É essa que está aberta aqui? – Rach maximizou o meu music player e colocou Chloe pra tocar.
- Essa mesma! – Meu corpo começou a se mexer suavemente de um lado para o outro no ritmo da música.
- Quem é Chloe? É a namorada de algum deles? – estava interessada demais.
- Não necessariamente. Chloe pode ser qualquer garota que se sinta inferior ás outras garotas por não ter essa idéia de beleza que a sociedade padronizou. Seios grandes, curvas e uma barriga lisa. Maquiagem, cabelo sempre arrumado, essas coisas. – Comecei explicando. – Porque o que importa não é a aparência e ela é linda de qualquer jeito, só precisa acreditar nisso. Porque ele acredita. Ou eles. E é o que importa.
- Desde quando você é expert em Emblem3? – arqueou a sobrancelha, mas fui impedida de responder pela porta do quarto sendo aberta.
- Não agüento mais escutar essa música! – Louis fez uma careta, como se eu tivesse escutado-a o dia inteiro. Ou quase isso...
- O que houve, Lou? Chegaram? – Rach desligou a música para escutar o meu irmão falar.
- Tem três carros aí na frente, parece que vocês vão em um separado e a banda vai em outra... – Deixou a porta aberta, nos chamando pra ir com um aceno de mão.
- Então vamooooos. – cantarolou, pegando seus sapatos e saindo do quarto com ele ainda na mão.
- Seu casaco, ! – Rachel se levantou e tirou o próprio casaco e o de da ponta cama. – Essa menina vai congelar.
- Lou, chama o Zayn pra mim? – Pedi.
- Agora, ? Temos que ir... – Ficou meio receoso, mas acabou gritando o nome do amigo. – ZAYN, CORRE AQUI. Não demore.
- É rápido, eu prometo.
Sorri para o meu irmão em agradecimento e Rachel também deixou o quarto. foi ver que movimentação toda era essa no corredor e acabou saindo também. No fim das contas, fiquei sozinha no quarto à espera de meu namorado. Enquanto ele não aparecia, me preocupei em calçar meu sapato e conferir se tudo estava no lugar certo. Meu casaco estava ao meu lado, então só faltava vesti-lo. Uma sombra pousou sobre mim e levantei o olhar para encarar Zayn. Era impossível me cansar de vê-lo naquelas roupas formais. Ele era bonito com qualquer uma – até mesmo sem nenhuma –, mas quando usava calça social, blazer e gravata, ficava ainda mais incrível. Um homem inteiro. Levantei da cama para que ele também pudesse me ver e sorri com o brilho em seu olhar.
- Você parece uma princesa. – Deu alguns passos na minha direção até ficar realmente próximo.
- Só falta a coroa, mas achei melhor deixá-la em casa. – Ri, feliz porque as nossas alturas finalmente quase se igualavam quando eu usava salto. – Você também não está nada mal.
- Obrigado, mas isso é óbvio. – Piscou como quem diz: “Eu sei o quanto estou perfeito.” – Você queria me dizer algo? Temos que ir...
- Eu sei, eu sei... Não vai demorar muito. – Voltei a me concentrar no que eu tinha pra falar e segurei as duas mãos dele com as minhas. – Eu só queria te desejar sorte. Pra que você aproveite essa noite como o começo de uma carreira maravilhosa. Sei que vai dar tudo de si e vai ser incrível como sempre, mas só quero que saiba que eu estou orgulhosa de você. Então... Boa sorte.
- Não preciso de sorte quando tenho você. – Zayn falou com um suspiro, suas íris conectadas às minhas. Era como se ele me agradecesse. Não pelo “boa sorte”, mas por mim.
Durante todo o trajeto até os estúdios do X Factor tentei me manter o mais calma possível, sentada entre Rachel e no banco de trás daquele carro preto. O motorista não era nem de longe tão simpático como o da van de mais cedo, pois recusou todas as tentativas da minha amiga ruiva de puxar conversa. A forma dela de tentar acalmar os próprios nervos era falar pelos cotovelos, mais do que fazia normalmente, e nem eu nem Rachel estávamos em condições emocionais para responder às suas perguntas sem noção. Enquanto a minha madrasta olhava a paisagem pela janela, eu estudava as minhas próprias mãos. Por um lado estava nervosa porque sabia que em breve estaria entre pessoas famosas e não sabia como iria reagir, mas por outro estava quase tendo um ataque cardíaco por causa dos meninos. Eu já os vira se apresentar antes, mas naquela noite era completamente diferente. Seria o lançamento do One Direction. A sua estréia propriamente dita. Confiava no potencial de cada um individualmente, mas como banda eu não tinha dúvida alguma de que seria tudo perfeito. Mesmo assim eu me encontrava nervosa e ansiosa, querendo que acabasse logo, mas também desejando que fosse um momento eterno. Entende o meu dilema?
O carro parou de uma forma um tanto brusca e finalmente levantei o olhar para ver onde estávamos. Sorri inconscientemente ao estudar o estúdio lotado de pessoas que riam, gritavam e batiam palmas. Nos encontrávamos há alguns metros de distância do tapete vermelho e nosso veículo atrás do dos meninos. Não poderíamos passar pelo tapete vermelho junto com eles, obviamente, mas iríamos logo atrás, como suas convidadas especiais. O fato de eu não receber tanta atenção assim me deixava mais tranqüila, mas sabia que seria fotografada algumas vezes. Me estiquei para cima de e nós duas ficamos espiando pela janela fechada enquanto os cinco desciam de seus carros e eram recebidos por Susan. Eles pareciam tão nervosos quanto eu, mas extremamente animados.
- Tem algo errado... – cochichou e apontou para Niall, que parecia preocupado.
- Vamos lá. – Acabei ficando preocupada também e a pedi para abrir a porta com o olhar.
- Onde vocês estão indo? – O motorista perguntou com um certo tom de autoridade em sua voz, mas foi completamente ignorado.
já estava de saco cheio daquele homem, por isso a sua reclamação foi um impulso a mais para que ela abrisse a porta do carro e pulasse para fora. No mesmo instante, o vento gelado bagunçou nossos cabelos. Segui a minha amiga pelo asfalto levemente coberto de neve e senti que Rachel vinha logo atrás. Na medida em que nos aproximávamos, as expressões dos meninos ficavam ainda mais sérias e tensas, mas Susan sorria. De certa forma eu sentia que não era nada terrivelmente sério, mas ainda assim não estava livre de preocupações. Os meninos levantaram o olhar assim que nos viram e Susan os imitou.
- Olá, meninas. – Ela sorriu, mas não consegui fazer o mesmo.
- O que está acontecendo? – Fui para o lado de Zayn e segurei a sua mão, esperando uma resposta de qualquer pessoa.
- Eu estava explicando como as coisas vão acontecer. – A produtora continuou. – Dermont vai recebê-los no tapete e fazer algumas perguntas... O de sempre, para a gravação. Porque isso já vai ao vivo para o ar e também no telão do estúdio.
- Mas nós não vamos poder falar com as pessoas. – Lou parecia irritado e olhou para o chão.
- As que estão esperando ali na entrada? – Perguntei enquanto esticava o corpo para olhar na direção do tapete vermelho. Diferente daquela manhã, o lugar estava lotado de seguranças, repórteres e principalmente: Fãs. – Mas algumas delas estão aqui só por causa dos meninos...
- São regras do programa. – Susan me olhou como se não tivesse nada que ela pudesse fazer. – Todos vão acenar, mas seria perigoso demais chegarem perto.
- Vão ficar desapontados. – Zayn apertou a minha mão.
- E pensar que não quisemos falar com eles... – Liam suspirou baixo. Eu sabia que não só ele como todos os outros quatro estavam ansiosos por esse primeiro contato com o público que possivelmente votou para levá-los até ali. E agora que chegou o grande momento, não poderiam agradecer pessoalmente.
- Não é culpa de vocês... – tentou, mas também não sabia o que falar.
- Temos que ir. – Susan falou para a banda. – Vou levá-los até lá. Meninas, vocês podem vir também, mas fiquem um pouco atrás sim?
- Não vamos atrapalhar o momento deles, pode deixar. – Forcei um sorriso, sincera.
- Então vamos! – A produtora sorriu animada e segurou no ombro de Louis e Harry, pois eram os mais próximos.
- Não acredito nisso... – Zayn suspirou, ainda decepcionado. – , eles vão ficar chateados...
- Eu sei... – Sustentei seu olhar com o meu. – Eu farei alguma coisa.
- Como assim? – Mesmo que levemente, sua expressão clareou.
- Vá, fale com o apresentador, sorria e faça o que veio pra fazer... – Ficamos um pouco pra trás quanto conversávamos. O segurei pelo rosto e sorri na tentativa de passar-lhe confiança. – Eu vou dar um jeito.
Mesmo sem saber exatamente o que, iria fazer alguma coisa. Zayn sorriu acreditando que eu tinha algum plano em mente e juntou os lábios aos meus antes de seguir o resto da banda. me olhou como quem diz: “O eu vai fazer?” e o meu olhar em resposta quis dizer que eu não fazia a mínima idéia. Mesmo ficando um pouco para trás, eu, a ruiva e Rach seguimos os meninos até o começo do tapete vermelho. Quase fiquei surda com os gritos femininos que surgiram assim que os cinco jovens apareceram propriamente. A maioria delas segurava papei e canetas, pedindo autógrafos e batendo fotos da melhor forma que conseguiam. Eles apenas acenaram para elas, sorrindo. Meu coração quebrou um pouco quando eles se entreolharam pesadamente por ter que obedecer as regras.
Rachel tocou o meu ombro e me pediu para que eu lhe entregasse o meu casaco. Ela queria que eu caminhasse pelo tapete vermelho e mostrasse o meu vestido. Quase me esqueci desse pequeno detalhe... A peça cor de rosa que eu estava usando seria um dos primeiros lançamentos da Mulberry – a marca de Carine -, e havia sido dada de presente pra mim para que eu pudesse usá-la como divulgação. Os fotógrafos e as câmeras dos programas de TV acabariam captando a minha presença e eu poderia usar isso como divulgação da nova marca. Não tinha um conhecimento tão grande assim de propostas de marketing, mas sabia que estaria trazendo publicidade para a marca. Não me importei com aquilo de forma nenhuma e até gostei de ser uma das primeiras a usar a roupa.
Livre do meu casaco que me protegia do frio, observei os meninos se juntarem ao apresentador do programa e começarem a ser entrevistados. Eu teria dado quase tudo pra poder escutar o que estavam falando, mas estava longe demais para escutar qualquer coisa que não fossem os gritos de excitamento das meninas que estavam ali por causa deles. Acabei rindo da situação toda. Havia o lado ruim, claro, mas nada acabaria com a felicidade daquela nova experiência que todos estávamos tendo. Respirei fundo ao ter uma idéia e torcer para que desse certo. Arrumei os meus cabelos e vestido, dando os primeiros passos do meu trajeto pelo carpete. andava ao meu lado, se sentindo a própria atriz famosa, acenando para quem ela nunca vira antes e mandando beijo para seus fãs imaginários. Ri mais uma vez e criei coragem para me afastar das duas mulheres que me acompanhavam.
- O que você está fazendo? – me chamou.
- Deixa ela... – Rachel me encorajou a continuar.
- Oi, ahn, com licença... – Andei até a pequena multidão que era separada do tapete vermelho por uma grade de ferro. Aumentei a voz para ser ouvida, mas apenas algumas meninas me deram atenção. Bem, teria que ser o suficiente. – Estou aqui pra avisar que os meninos sentem muito por não poderem vir aqui falar com vocês...
- Por que não? – Uma baixinha parou de gritar para me escutar.
- São ordens do programa! Acreditem, eles não tem nada a ver com isso! – Expliquei. Os meninos estavam proibidos de irem até ali; eu não. – Adorariam estar aqui falando com vocês, mas não deixaram...
- Pode entregar isso aqui pra eles? – Uma outra garota esticou uma sacola de presente não muito grande na minha direção. Sua expressão me dizia que ela precisava dar aquilo para eles.
- Claro que sim! – Segurei o objeto um pouco receosa, mas sorri. – Eu tenho que ir agora, ok?
- Obrigada, ! – A baixinha sorriu enquanto segurava a câmera na minha direção.
- De nada.... Espera, você sabe o meu nome? – Meus olhos se arregalaram levemente com aquele reconhecimento.
- Todas conhecemos você, ! – A que me entregara o presente riu da minha surpresa.
- ! – Uma voz masculina me chamou. Me virei para ver Zayn esticando a mão na minha direção. Aquilo fez as meninas gritarem ainda mais. – Vem, babe, vamos entrar...
- Já vou! – Avisei pra ele com um sorriso e me virei para as meninas. – Até logo! Espero que gostem do show!
Mais gritos soaram enquanto eu corria para longe delas. Agarrei a mão de Zayn assim que cheguei perto o bastante e flashes quase me cegaram quando passamos pelo corredor da imprensa. Alguns repórteres fizeram perguntas, mas o barulho incessante das pessoas atrás de nós me impediram de entender qualquer coisa. Só escutei quando Zayn agradeceu pelo que eu havia feito e sorri em sua direção, orgulhosa de mim mesma por ter tido essa atitude. Dois seguranças abriram as portas do estúdio e entramos naquele corredor extenso que já era conhecido. Assim como o lado de fora, o interior estava diferente do que vivenciamos pela manhã. Pessoas ainda corriam para lá e para cá, mas dessa vez levavam microfones ou carregavam câmeras em seus ombros para filmar tudo que acontecia no backstage. Zayn e eu encontramos o resto dos nossos amigos, mas Rachel e sumiram de vista. Segundo Niall, Rach fora guardar os casacos no camarim e a ruiva a seguiu para conhecer o lugar.
- Onde estão as celebridades? – Perguntei com uma risada ao olhar em volta. Muitas pessoas passavam por aqui e por ali, todas vestidas formalmente, o que dificultava saber se eram participantes ou funcionários do programa.
- Você está segurando a mão de uma. – Zayn acariciou a minha mão com o polegar e eu ri.
- Que honra! – Usei a minha mão livre para me abanar. – E posso beijar uma celebridade?
- Pode deixar que eu cuido dessa parte pra você, Zayn. – Liam segurou a minha mão que me abanava e me puxou na sua direção. Congelei quando meu namorado me soltou e Li me abraçou, colando os lábios na minha bochecha. – Pronto!
- Eu tinha uma outra idéia de beijo, mas tudo bem. – Zayn riu, sem se importar com a troca de carinhos entre Liam e eu.
- Posso dar um em você também! – Liam gargalhou, indo abraçar o meu namorado.
- Eu perdi alguma coisa? – Ri junto. – Desde quando vocês são namorados?
- É impossível resistir ao meu charme, . – Zayn respondeu, abraçando Liam de lado pelos ombros.
- Sendo assim, vou deixá-los a sós! – Balancei a cabeça negativamente e me afastei alguns passos.
Harry e Louis estavam mais a frente, conversando sozinhos, por isso fui até eles e os envolvi pelos ombros. Fiquei meio desequilibrada devido à grande altura de Harry e pouca altura de Lou. Ficamos em uma escadinha, já que eu estava no meio. Ambos me abraçaram pela cintura e não falamos nada pra começar a caminhar pelo corredor. Algumas pessoas acenavam pra eles, que sorriam de volta.
- Na boa, posso me acostumar com isso. – Lou acenou para uma menina que o reconheceu.
- Tenho certeza que pode. – Afirmei. Meu irmão sempre gostou de ser o centro das atenções, o que era bem percebível em sua personalidade, então ele se daria muito bem com a fama. – Onde estamos indo?
- Dar uma voltinha! – Harry respondeu e continuamos andando. – Rach está te chamando.
- Onde? – Olhei para onde ele apontava e encontrei a mulher de cabelos lilás me chamando com movimentos exagerados. – Por que eu acho que ela está aprontando algo?
- Talvez por causa desse olhar de Lux. – Lou se referia à carinha que nossa irmã tinha quando estava fazendo algo errado e sabia que seria pega, mas não se importava.
- É melhor eu ir... – Suspirei.
Soltei os dois meninos e balancei a cabeça. Rach sorriu e também andou na minha direção, puxando a minha mão para que eu andasse mais rápido. Quase tropecei com a pressa toda que ela estava e fiquei ainda mais sem entender quando paramos perto de um espelho e uma cadeira estilo “diretor de cinema”.
- Rach, o que...
- Arrumei uma entrevista pra você! – Me interrompeu com um sorrisinho.
- Os meninos são a banda, Rach, não eu. – Ela só podia estar ficando louca!
- A entrevista não tem nada a ver com música, sua boba! – Olhei para a mulher que anotava algumas coisas ao nosso lado e depois para Rach novamente.
- Vai ser uma entrevista sobre dança? – Arrisquei.
- Melhor ainda... Moda! – Piscou e eu entendi tudo. Deveria fazer propaganda da Mulberry. – Tudo bem pra você? Não vão fazer perguntas difíceis... E se puder incluir o nome da Models One ou da Carine em algumas respostas...
- Já entendi tudo. – Afirmei com a cabeça. – Vou receber alguma coisa por estar fazendo propaganda da marca?
- Se você aceitar a proposta que Carine lhe fez... – Mesmo estando brincando antes, aquela resposta de Rach despertou a minha curiosidade.
- Achei que ela queria a minha ajuda em produções... – Tentei conseguir algumas informações.
- Digamos que ela tem alguns planos pra você. Mas depois conversamos sobre isso, sim? – Segurou a minha mão mais uma vez e caminhamos até a moça que parara de anotar. – Essa é a Samantha. Nós nos conhecemos há anos atrás, na faculdade! Imagine a minha surpresa ao descobri-la aqui hoje. Fazendo uma matéria para o seu blog.
- Muito prazer, Samantha. – Sorri o mais simpática que pude e apertei a sua mão. – .
- Rachel me disse que você gosta de moda e essas coisas... – Comentou, me indicando a cadeira-de-diretor. – Poderia responder algumas perguntas? São para o site, como ela já falou. Tudo bem a vontade, eu prometo.
- Claro que sim. – Aceitei.
A “entrevista” acabou se estendendo um pouco mais do que devia quando Samantha e eu nos entretemos em uma longa conversa sobre coisas que poderiam soar fútil para outras pessoas, mas que para nós era muito interessante. Um fotógrafo tirou algumas fotos minhas para colocar no tal blog e fiz questão de repetir algumas vezes a marca e a empresa de modelos que era sempre tão boa pra mim. Em seguida, Rachel me disse que eu havia me saído muito bem e que todas as minhas respostas foram naturais. Até mesmo soube que tinha um “dom” para essas coisas. Claro que a minha madrasta estava exagerando, mas não vou negar que gostei daquela atenção nova. Quando as minhas obrigações foram encerradas, pude voltar a aproveitar a noite em um programa de televisão.
Niall e conversavam e trocavam carinhos inocentes encostados à parede da porta do camarim, pelo lado de fora. Me juntei aos dois com um sorriso, sem saber como explicar o eu tinha acabado de acontecer. Eles pararam de conversar e deram espaço para que eu me juntasse à eles na parede.
- Isso aqui não é um conto de fadas? – Usei a corrente fina da minha clutch para pendurá-la ao ombro, cansada de segurar na mão. – Ou um sonho? É, um sonho.
- Pra mim é um sonho mesmo. – Niall sorriu e o pior é que era verdade.
- Onde você estava, ? – conseguia ser menor que o loiro até mesmo quando usava salto, então estava bem encostada ao corpo dele.
- Dando uma entrevista para um blog de moda. Nada muito sério, mas me senti uma modelo famosa. – Ri do meu próprio exagero. – Essa noite não podia ficar mais glamorosa, podia?
- Na verdade pode sim! – Niall piscou. – Não esqueçam que os namorados de vocês estarão no palco daqui a algumas horas.
- Nem me fale! Estou tentando não desmaiar antes disso. – Coloquei a mão sobre o peito e respirei fundo, mantendo a calma. – A música ainda é a mesma?
- Espero que sim! Porque se não for, alguém vai ter problemas. – olhou para o namorado como se ameaçasse. – Zayn te falou que fomos a inspiração deles?
- Não falou! – Mas eu já desconfiava e realmente torcia para que fosse verdade. – Isso explica vocês não terem nos mostrado nada do que ensaiaram...
- É uma surpresa. – Ni falou o obvio.
- Sabemos esperar. – Assenti antes que começasse a reclamar. Os dois trocaram um beijo e me senti uma vela ambulante. – Onde está o dito cujo, aliás?
- Zayn? Ele estava louco atrás de você. – O menino me informou e deixou a ruiva sair de seu abraço. – Acho que foi por ali.
- Não, acho que ele está no camarim. – o corrigiu rápido demais. – Porque não vamos ver se ele está lá primeiro enquanto o Ni vai ver se o encontra aqui fora?
- Mas eu tenho certeza que o vi pra lá... – Voltou a apontar para a nossa esquerda e o repreendeu.
- Vocês dois estão estranhos... – Fiz uma careta e ri. Quem os entendia? – Vou procurá-lo sozinha mesmo e vocês podem se... Aproveitar. Mas não exagerem!
- , espera... – tentou me parar, mas Niall a agarrou.
Preferi não ver o que os dois fariam em seguida e dei as costas pra eles. Niall e eram um casal muito íntimo e isso era obvio, só me espantava que eles não mudassem o comportamento enquanto estavam em um lugar público e cheio de câmeras como aquele. Balancei a cabeça e ri sozinha, indo pelo caminho que o irlandês informou ter visto Zayn me procurando. Ele não gostava quando eu me afastava ou me perdia por muito tempo – um de seus traços era sempre querer saber onde eu estava – já que tinha sempre uma proteção muito grande do que era seu. E, bem... Nada podia ser mais seu do que eu. Não chegava a ser uma proteção sufocante, por isso eu não me importava.
Andei em linha reta por quase cinco minutos, olhando para todos os lados a procura do meu namorado. O corredor estava quase no final quando finalmente o encontrei. Dei um passo na direção do menino, mas congelei ao ver que ele não estava sozinho. Uma menina com metade da barriga de fora o fazia companhia. Não demorei para reconhecê-la como sendo a loira que tanto me irritara na noite em que assisti àquele mesmo programa com os meninos. Aparentemente ela e as suas outras três amigas eram um dos finalistas. Fiquei alguns segundos absorvendo aquelas imagens, sem saber o que fazer. Zayn estava me procurando? Não era o que parecia. Ele parecia muito bem acompanhado com a menina que ria de algo que ele falara e fazia questão de tocá-lo sempre que podia. Ela estava flertando com ele e só um idiota não perceberia. O que mais me irritou é que ele não se afastava e parecia estar se divertindo muito ela, pois também ria o tempo inteiro. A risada que deveria ser só minha.
Pensei sinceramente em ir até eles e “marcar” o meu território, me apresentando como a namorada dele e fazendo-a se tocar que não importava o quanto desse em cima dele, o menino já tinha dona. Não que eu não confiasse nele, de forma alguma, é só que aquela cena me incomodou bastante. Eu esperava encontrá-lo a minha procura, mas senti como se não importasse mais e aquilo me incomodou. Sabendo que não valeria a pena fazer um escândalo ou causar uma cena naquele lugar nada particular, engoli toda a raiva dentro de mim e dei meia volta. Meus olhos encontraram o de , parada bem atrás de mim. Eu sabia que ela tinha visto o mesmo que eu, mas não parecia nem de longe tão surpresa quanto. “É, ela já sabia disso.” Balancei negativamente a cabeça e dei de ombros querendo fazer de conta que não me importava, mas não consegui me convencer.
- ... – Ela me chamou.
- Não tente. – Respondi simplesmente antes de passar direto por ela.
Respeitando o meu espaço, a minha amiga não me seguiu. Não sei pra onde ela foi, mas também não me importava. Só o que eu queria era sair dali se ser notada por Zayn. Em outras ocasiões teria desejado que ele viesse atrás de mim dissesse que era meu, mas naquele momento eu tive medo. Medo de acabar não ouvindo aquilo, ou de não conseguir acreditar. A minha insegurança estava maior que o ciúme. Aquela garota era linda, por mais que eu odiasse admitir isso. Tinha curvas voluptuosas como as minhas nunca seriam, olhos grandes e brilhantes, um cabelo claro que caía sobre os seus ombros, e sem falar na voz... Eu não escutara a sua conversa com Zayn, mas ainda me lembrava de como ela cantava.
Abri a porta do camarim assim que já estava bastante afastada da cena que me incomodaria durante a noite inteira. A sala espaçosa estava cheia de gente, mas não me importei em reconhecer ninguém. Minha visão estava turva, mas lágrimas não eram as culpadas. Muitas risadas enchiam os meus ouvidos, assim como o som de garrafas sendo abertas, seguidas de brindes de boa sorte. Eu sabia que Lou, Harry, Liam e Niall estavam por ali, mas não me importei de ir até eles. Com certeza veriam a minha expressão preocupada e tudo que eu menos queria era colocar em palavras o que eu presenciara minutos antes. Encontrei uma ponta do sofá vazia e rumei até lá, sentando e cruzando as pernas com cuidado para eu meu vestido não mostrasse mais do que devia. Apoiei uma mão no braço do sofá e a outra foi até o meu rosto, apertando as têmporas.
- Parece que você precisa de uma bebida. – Mesmo que eu não reconhecesse a voz, o sotaque entregou a identidade do menino que sentou ao meu lado. – Está tudo bem?
- Tudo ótimo. – Forcei um sorriso e abri os olhos para receber uma taça de espumante. – Oi, Wes.
- Você se lembra de mim! – Sorriu verdadeiramente surpreso, aceitando a minha vontade de não contar que não estava tudo bem. – Inglesas tem uma boa memória.
- Francesas, na verdade. – O corrigi e dei um primeiro gole na bebida. – Sou de Paris, mas moro aqui há alguns meses. Mas meu pai é inglês...
- Isso explica! – Exclamou, ficando confortável no sofá ao meu lado. – Que as inglesas me perdoem, mas os franceses... Ah, os franceses sabem fazer as coisas.
- Mas está gostando de Londres? – Preferi mudar de assunto, me esforçando para me distrair.
- Não tive muito tempo pra conhecer a cidade, mas é um lugar bonito. E frio. – Sorriu, logo adicionando com uma careta: - Muito frio!
- Não é sempre assim, sabe? No verão até que dá pra sair de casa sem casaco... – Tentei defender a cidade. – Até que começa a chover... Mas enfim.
- Vocês também tem algumas palavras diferentes aqui, o que me confunde! – Bebeu um gole da própria bebida antes de continuar. – Sweet é a mesma coisa que candy, mas fui descobrir isso da pior forma!
- Não pode ser tão diferente assim... – O imitei e terminei a minha taça de uma vez.
- Como você chama uma bebida como Coca-cola? – Arqueou uma sobrancelha para me testar.
- Cold drink? – Respondi com uma pergunta.
- Soda. – Marcou o número um com a mão. – Estação do ano que vem depois do verão?
- Autumn. – Não é obvio?
- Fall. – Levantou um segundo dedo. – Um acompanhamento de sanduíche?
- Chips.
- Fries. Aquilo que existe em prédios para que não precise usar as escadas?
- Lift...
- Elevator. – Continuou contando nas mãos até que eu o interrompesse.
- Ok! Ok! Já entendi! – Ri. – Você pode ter razão. São vocabulários diferentes!
- O sotaque britânico é bonito. – Wes pegou o meu copo e colocou ao lado do seu em uma mesinha à nossa frente.
- O seu sotaque também é bonito! – O elogiei com um sorriso; verdadeiro dessa vez.
- Nem me faça falar o que é bonito em você! – Apoiou o braço no sofá, o corpo virado na minha direção. – Pra começar, esses lindos olhos azuis.
- Para com isso! – Gargalhei timidamente, cobrindo o rosto com as mãos.
- Essa risada contagiante... – Continuou.
- Onde estão os outros meninos? – Mudei de assunto antes que minhas bochechas queimassem ainda mais e descobri o rosto.
- Bem ali. – Apontou para Drew e Keaton, que nos olhavam e cochichavam algo.
- Oi! – Acenei pra eles.
- Você viu a nossa apresentação? – Wes chamou a minha atenção novamente.
- Vocês já se apresentaram? – Cruzei os braços. Eu devia ter perdido enquanto estava na entrevista. – Perdi vocês cantando Chloe?
- Abrimos o programa... – Explicou. – Mas posso cantar pra você.
- Uma apresentação particular? Gosto disso! – Descruzei os braços e também virei de frente pra ele.
- Chloooooooe... I know your sister turns everyone on. – Começou a cantar pra mim, os olhos verdes brlhando. – But you’re the one I waaaaant...
- Front page magazine, everybody says that she’s the queen. – O interrompi, cantando junto. - But that’s you to me and I just wanna let you know that…
- Você conhece! – Ficou surpreso.
- Posso ter escutado algumas vezes… - Admiti em parte e acabei levantando o olhar naturalmente, encontrando Zayn entrando pela porta. Minha fisionomia ficou tensa, mas Wes não notou.
- Nossa primeira fã francesa! – Brincou e eu apenas forcei uma risada. Meu olhar preso em Zayn, que me estudava e em seguida encarava o garoto ao meu lado não tão amigavelmente. – Ah, eu trouxe seu autógrafo!
- Sério? – O olhei rapidamente, e espiei meu namorado de esguelha. Ele tentou vir na minha direção, mas o impediu. Provavelmente para dar uma bronca e falar como eu não gostei de tê-lo visto conversando com a loira e então ele não tinha direito de reclamar.
- Aqui. – Me passou um papel.
- Obrigada! – Voltei a minha atenção para o menino que estava sendo tão simpático. Recebi o papel dobrado que ele me entregou e o abri para ler: “Caso um dia vá para Cali e precise de um guia turístico, me ligue. Wes. x” e um número de telefone na ponta. – Pode deixar que eu vou me lembrar disso!
Guardei o número dele na minha bolsa e agradeci por ele não pedido o meu. Claro que não o negaria e mais tarde mandaria uma mensagem inocente para que ele também pudesse ter como se comunicar comigo... Mas como eu ainda podia sentir o olhar gelado de Zayn sobre nós dois, não quis piorar tudo e sair dando o meu número para outro cara. Continuei conversando com Wes, mantendo as minhas risadas em um mínimo, até que uma sombra nos cobriu e nos fez levantar o olhar.
- Muito prazer. – Zayn esticou a mão na direção de Wes. – Zayn Malik.
- Wesley Stromberg. – Sorriu ao apertar a mão do meu namorado.
- ... – Zayn se virou pra mim, com a fisionomia mais calma que antes. – Posso falar com você? Por favor?
- Claro. – Assenti com a cabeça e toquei o ombro de Wes. – Com licença...
- Toda. – Tocou as minhas costas para me ajudar a levantar.
Não sei se Zayn preferiu ignorar aquela bondade toda do meu novo amigo estrangeiro ou se virou de costas pra nós pra não ficar assistindo nossa troca de gentilezas. Sorri mais uma vez para Wes e acompanhei Zayn até um canto mais afastado de todos. Ele tentou tocar a minha cintura, mas me esquivei levemente. Não seria capaz de continuar chateada e centrada no que me perturbava se ele começasse a me acariciar. Por esse mesmo motivo, cruzei os braços e encostei as costas na parede, olhando para qualquer lugar que não fosse os seus olhos amendoados. Ainda assim sabia que Zayn procurava os meus.
- Babe... – Começou a falar, com a voz de quem pede desculpas. – me contou que você me viu conversando com a Perrie...
- Perrie? Então esse é o nome dela? – O olhei por curtos segundos e cruzei os braços.
- , ela não é nada... – Tocou os meus ombros e cometi o erro de deixar. – É só uma garota que eu acabei conhecendo.
- Não é esse o problema, Zayn. Eu entendo, a gente conhece pessoas, ainda mais agora que você está prestes à aparecer na frente de milhares! – O olhei, me mantendo firme. – O caso é que me falaram que você estava procurando por mim, mas quando te encontrei era como se eu nem fizesse falta!
- É claro que você fez falta! Eu estava louco procurando por você. Só fui falar com a Perrie porque queria saber se ela tinha te visto. – Achei aquilo difícil de acreditar, por isso bufei. – Falo sério. Perguntei: “Você viu a menina mais bonita desse mundo andando por aí?”
- E o que ela respondeu? “Você está de frente pra ela, darling.” E aí começaram a conversar? – Ironizei, batendo o pé.
- Não foi bem assim. – Coçou a nuca, preferindo mudar de assunto. – Sabe quem eu também conheci?
- Quem, Malik? – Rolei os olhos.
- Uma garota chamada Demi Lovato. Conhece? – Dessa vez ele prendeu a minha atenção de verdade. – Ela quer te conhecer.
- Você falou de mim pra Demi Lovato? – Só esperava que aquilo não fosse uma mentira pra me fazer perder a cara feia.
- Falei que foi por causa da música dela que nós nos aproximamos. – Continuou, subindo a mão que ainda restava em meu ombro até o meu pescoço. – Quando cantamos Give Your Heart a Break juntos no karaokê.
- E aí ela falou que queria me conhecer? – Levantei uma sobrancelha.
- Ela disse queria conhecer a garota que “deu um tempo ao meu coração”. – Zayn falou aquilo com tanta seriedade que acabou me fazendo rir.
- Smooth. – Brinquei ainda rindo. Droga! Ele tinha destruído todas as barreiras que eu tentara manter entre nós. – Idiota.
- Pelo menos te fiz rir! – Me imitou e passou os braços pela minha cintura, enlaçando-me em um abraço. – Me desculpa?
- Não precisa pedir desculpas... – Suspirei, me dando por vencida e abraçando-o de volta.
- One Direction? – Susan gritou da porta do camarim. – Hora de se preparar! Vocês entram em dez minutos.
- Já? – Zayn cochichou ainda me abraçando. – Achei que teríamos mais um tempo juntos...
- Vamos ter todo o tempo do mundo juntos depois... – O segurei pela parte de trás do pescoço e sorri. Mesmo que estivesse quase desmaiando de emoção, tentei passar segurança pra ele. – Agora vá lá e me deixe orgulhosa.
- Me acompanha até a porta? – Roubou um selinho.
- Acha mesmo que precisa pedir? – Pisquei.
Eu e Zayn nos juntamos aos outros meninos e na porta, com estranhos desejando boa sorte aos cinco. Minhas mãos estariam tremendo se eu não tivesse segurando firmemente a de Zayn entre as minhas. Até parecia que era eu prestes à subir no palco! Todos seguimos Susan para fora do camarim e em direção à porta pesada que separava o corredor da parte de trás do palco. No caminho acabamos esbarrando em alguém que não me era estranho, mas não reconheci no mesmo instante. Só depois que Liam sussurrou ser Robbie Williams é que meu queixo caiu. Teria ido pedir uma foto se não estivesse tão concentrada nos meus meninos.
- Podem passar aqui... – Susan continuou nos guiando até o espaço perto da escada que levaria até o palco.
- Estão ouvindo esse barulho? – Harry sorria, esfregando uma mão na outra.
- São as pessoas que vieram ver vocês! – colocou as mãos na lateral do próprio rosto, respirando fundo várias vezes.
- , fica de olho nela, ok? – Niall pediu. – Sinto que vai desmaiar a qualquer instante.
- Pode deixar que eu cuido dela! – Sorri esticando uma mão na direção da minha amiga.
- Vocês vão ter que ir pra lá agora, meninas... – Susan já estava nos expulsando. – Rachel já está ali, esperando para dar uns últimos retoques no visual deles...
- Só mais uma coisa, por favor! – A pedi. – Abraço em grupo?
Abri os braços esperando que todos viessem e foi isso o que aconteceu. Os meninos, incluindo Dan, Sandy e Josh, se juntaram em um abraço só e eu estava no meio, torcendo para não ser esmagada. Acabamos rindo, mas a energia que veio daquele abraço estava tão gostosa que todos se sentiram mais seguros; inclusive eu. Em seguida, abracei cada um individualmente e também desejei boa sorte. O último foi Zayn, que demorou muito pra me soltar. Ele estava suando frio, super nervoso, mas meu beijo de despedida foi o melhor que pude dar para relaxá-lo. Nos despedimos enquanto o homem do som chegava para entregar os microfones de cada um.
Segurei a mão de para tirá-la dali e fomos para uma portinha na lateral, guardada por dois guardas do tamanho de armários. Tirei da bolsa o meu crachá e o coloquei no pescoço assim que fez o mesmo. Dessa forma, os homens nos deixaram passar em segundos já estávamos na frente do palco, tentando nos esquivar de pessoas animadas que gritavam para o homem que cantava um cover do Michael Jackson em cima do palco. Eu estivera ali durante a manhã, quando tudo estava vazio e sabia o quanto o lugar era gigante, mas agora parecia menor por causa das milhares de pessoas que estavam ali assistindo o show. A cadeira dos juízes também estavam todas ocupadas e quase gritei ao ver aquelas figuras que só conhecia pela TV.
- Vem por aqui, acho que tem um espaço pra gente... – A puxei devagar pela mão, com medo de nos perdermos.
- , se eu falar uma coisa, você promete que não grita? – Assim que paramos perto de uma das “arquibancadas”, falou na minha orelha.
- Posso tentar... – Concordei.
- Aquele ali não é o Tom? – Apontou para um dos camarotes suspensos do segundo andar e eu segui o seu olhar.
- Tom, que Tom? – Apertei os olhos para tentar enxergar apesar das luzes na direção contrária. – TOM FLETCHER! , É O TOM! E O DANNY! OLHA O DANNY! , ME BELISCA!
- Você disse que ia tentar! – Ela riu do meu desespero, mas a ignorei.
- , , são eles! E a Gi e a Georgia estão ali também! – Continuei apontando para eles e pulando sem sair do lugar. Algumas pessoas perto de mim me encararam e também não dei importância. – Porque eles estão tão longe? Porque não foram para o backstage?
- Porque você os mataria! – Gargalhou, me puxando e me obrigando a prestar atenção no palco. – Agora se concentra, porque acho que os meninos são os próximos...
- Obrigado, Marcus, por essa apresentação incrível! – O apresentador tomou o centro do palco, falando ao microfone. – E agora... O momento que todos estavam esperando... Vamos dar as boas vindas ao... ONE DIRECTION!
Gritei. Mas gritei alto mesmo, batendo palmas. Não fui a única, então duvidei que a minha voz pudesse ser reconhecida. Meu coração foi a mil, quase saindo pela boca. segurou a minha mão, completamente pálida e sem reação. Ela estava gelada e senti que poderia desmaiar. Perguntei se estava tudo bem e ela afirmou que sim, a respiração rápida e descompassada. Não tivemos tempo de nos preocupar, porque as luzes logo foram apagadas e somente o palco tinha algumas luzes aqui ou ali. Antes que os meninos pudessem aparecer, o photoshot começou a passar nos telões gigantescos. Meu coração desafiou a biologia e começou a bater ainda mais rápido, quase saindo do meu peito. Levei as mãos à boca, segurando lágrimas que começavam a querer sair. Era verdade... Eles estava ali, depois de tudo... Era o momento deles. Uma música começou a tocar e os telões laterais abriram, revelando Sandy e Dan em um e Josh e sua bateria em outro. O carrinho automático levou a bateria até fora da área daquele telão ele voltou a se fechar para que as fotos continuassem a passar.
You're turning heads when you walk through the door.
Don't need make-up, to cover up.
Being the way that you are is enough.
Everyone else in the room can see it…
Everyone else but you...
O telão do meio foi aberto e com isso os cinco meninos apareceram lado a lado, em cima de uma plataforma que logo foi abaixando para que eles pudessem pular no palco em si. Liam foi o primeiro a cantar, colocando todo o seu coração e alma naquelas palavras. Ele levantou o braço como se estivesse cumprimentando todos que estavam assistindo. Logo os meninos se espalharam pelo palco, pulando e balançando os braços no ritmo da música. A platéia foi a loucura, gritando e pulando junto com eles. Algumas meninas atrás de nós até estavam com placas com o nome da banda e mensagens carinhosas. As últimas frases foram de Harry, que cantou com a sua voz rouca e fez o publico delirar.
The way that you flip your hair gets me overwhelmed.
But when you smile at the ground it ain't hard to tell…
You don't know oh, oh…
You don't know you're beautiful!
If only you saw what I can see…
You'll understand why I want you so desperately.
Right now I'm looking at you and I can't believe.
You don't know oh, oh…
You don't know you're beautiful, oh, oh…
But that's what makes you beautiful!
Cantaram o primeiro refrão em uma voz só e eu já não consegui ficar parada. Comecei a dançar e balançar os braços no ritmo da música. Lágrimas ainda tentavam sair, mas eu as impedia porque tudo que não precisava naquele momento era água atrapalhando a minha visão. Bati palmas junto com as 13 mil pessoas que assistiam tudo com a mesma animação que eu. logo saiu de seu estado catatônico e começou a curtir também. Enquanto os cinco corriam pelo palco e apertavam as mãos de meninas que estavam mais perto do palco, esqueci completamente que Tom Fletcher e Danny Jones estavam tão perto de mim. Eles não era nada comparados ao que os garotos em cima do palco representavam pra mim.
To prove I'm right I put it in the song
I don't know why, you're being shy
And turn away when I look into your eyes
Zayn escaneou a platéia à minha procura e assim que nossos olhos se encontraram, ele os manteve firme ali. Cantou o seu solo com a voz que eu tanto amava e sabia que era só minha. Quem liga se aquela Perrie estava dando em cima dele? Ele era meu e eu tinha certeza que nunca faria nada pra me magoar. Sorri porque sabia que ele podia ver isso. Eu estava imensamente orgulhosa, assim como já havia falado antes. Uma lágrima teimosa escapou pela lateral do meu olho esquerdo, mas tratei de limpá-la. Em seguida os meninos começaram a bater palmas, cantando juntos um: “Na-na-na-na na-na-na-na-na” e a platéia os imitou, batendo palmas no mesmo ritmo de um lado para o outro.
The way that you flip your hair gets me overwhelmed.
But when you smile at the ground it ain't hard to tell.
You don't know, oh, oh…
You don't know you're beautiful…
Harry cantou o refrão sozinho, sem a ajuda de nenhum instrumento, e todos os meninos se posicionaram atrás dele, em uma espécie de triângulo. Não foram todos os meninos que ganharam solos, mas isso não importava. Em vários momentos eram uma voz só, um coração só, uma banda só. Quando a apresentação acabou, eles ficaram lado a lado, abraçados. Fizeram uma reverência enquanto recebiam seus merecidos aplausos e gritos em resposta. Até mesmo os jurados ficaram de pé para aplaudi-los. Eu duvidava que ainda tivesse alguma voz depois de gritar durante a apresentação toda, as lágrimas agora rolando com mais força. Lágrimas de felicidade.
- In-crível! – Simon Cowell os elogiou. Simon! O que costuma ser chato e critico! Meu apresso por ele só aumentou. – Podem se apresentar?
- É bom te ver, Simon! – Liam foi o primeiro. – Boa noite, X Factor! Meu nome é Liam!
- I’m Harry Styles. – Haz foi o segundo, com uma das mãos para trás e os pés alinhados elegantemente.
- My name’s Louis Tomlinson.
- I’m Niall. Niall Horan.
- My name is Zayn.
Capítulo LXIII
Nos últimos dois dias as coisas escalaram regularmente rápido. Se Niall e Zayn já eram populares na Academy, após o X Factor eles se tornaram o centro das atenções. Não só na Academy propriamente dita, mas em todos os lugares que eles passavam – o que incluía o resto dos meninos da banda – alguém acabava reconhecendo-os. Pobre Harry, mal tinha sossego na padaria em que trabalhava, mas pelo menos as vendas dobraram, o que fez a dona do lugar ficar bem feliz. Eu também acabava sendo reconhecida por conseqüência, especialmente em minhas visitas casuais à Starbucks, e era o mais simpática possível. Claro, depois que o momento de “é comigo mesmo?!” passava. Ainda não havia me acostumado completamente com os meus novos seguidores no Twitter, mas culpo os meninos, que ficaram fazendo propaganda e agradecendo a e a mim por ter mandado o vídeo para o concurso e ter dado a eles aquela chance. Algumas meninas também nos agradeceram por ter “levado os cinco meninos para as vidas delas”. Não tive ciúmes nem dos pedidos de casamento que Zayn recebeu, pois eu entendia. Mais uma vez o fato de eu ser uma fangirl vinha a calhar e me fazia observar as cosas pela perspectiva delas.
Deixando esse mundo de glamour e fama de lado, era hora de me concentrar na realidade e encarar o longo trabalho que eu tinha pela frente. Já passavam das nove horas da manhã de quinta-feira e isso queria dizer que eu estava há duas horas e meia seguidas presa em uma das salas da academia, com a presença do diretor Colin – diretor da peça e não diretor da escola - e a queridíssima professora Holly. O homem estava sentado em uma cadeira de madeira e só nos observava de longe enquanto a professora me passava os passos da minha primeira coreografia. Ela seria um tipo de apresentação á personagem Julieta, quando a menina está correndo pelo casarão dos Capuleto e foge da sua Ama como brincadeira. A música que preenchia a sala era rápida e ao mesmo tempo calma; uma coisa que não sei como explicar, mas chegava a fazer sentido. Eu trotava pela sala, atravessando de um lado para o outro em cima da ponta dos pés. Só pra mudar um pouco, meu uniforme de ballet aquele dia estava mais... Fluido e composto que o de costume, o que também me protegia do frio.
- E um, dois, três... Pula! – Holly me seguia enquanto eu atravessava a sala e batia palmas ao contar. – Um, dois, três, vai.
Fiz como ela mandou e saltei no “três”, elevando os braços e trocando um pé pelo outro, pousando no chão com a maior graça que consegui, o que não me era tão difícil assim. Cof Cof. A professora sorriu como encorajamento e continuou a contar enquanto eu dançava pela sala. Colin gritou “expressão facial”, o que era algo que nós já havíamos conversado antes. Ele gostava de me lembrar constantemente que eu também estava interpretando; que agora era uma atriz. E por isso devia sempre lembrar de sorrir e agir como se fosse a verdadeira Julieta. “Lembre-se, ... Você está brincando de se esconder da sua babá.” Com esse pensamento, repeti a minha última seqüência de gestos e olhei para os lados com uma risadinha, tendo certeza de que não seria encontrada.
- Essa menina é uma profissional! – Colin brincou, finalmente se levantando da cadeira e caminhando até mim.
- Onde está o meu Oscar? – Parei de girar um pouco para recuperar a respiração e limpei gotas solitárias de suor na minha testa enquanto ria.
- Vai receber um após o espetáculo, tenho certeza. – O diretor ticou o meu nariz com o indicador e fiz uma careta. – Vamos repetir?
- Tudo de novo? – Holly parou ao meu lado, falando o que eu não consegui. – Essa menina não agüenta. Estamos exigindo dela desde as seis horas da manhã.
- Sei e meia... – Colin a corrigiu. – O que me diz, ?
- Ahn... Acho que podemos repetir mais uma vez... – Não era bem o que eu queria, já que meu corpo pedia dez minutos de descanso.
- Essa é a minha garota. – Fez sinal de “ok” com os dedos e fez Holly bufar.
- Da última vez que eu chequei, a professora responsável por essa aluna ainda era eu! – Bateu o pé. – Vamos tirar meia hora de intervalo e voltamos aqui depois.
- Eu concordo com isso também. – Ri, alongando uma perna e depois a outra.
- Girl Power? – Colin fez uma careta, mas acabou afirmando com a cabeça. – Meia hora. Nem mais nem menos.
- Nick não vai ensaiar comigo hoje? – Perguntei ao caminhar até as minhas coisas no banco oposto da sala.
- Vocês vão ensaiar juntos amanhã. – Holly disfarçou um sorriso ao falar do namorado secreto. – Estarão sozinhos, então podem usar qualquer sala que estiver vazia.
- Obrigada, professora. – Sorri pela informação recebida e me esforcei para chamá-la de “professora” ao invés de “Holl”. Peguei a minha mochila e a pendurei em cima do ombro após vestir o meu casaco estofado. Não pretendia deixar os corredores aquecidos da Academy, então não iria congelar. – Volto em meia hora. Nem mais nem menos.
Os dois acenaram pra mim enquanto corri para fora da sala, parando encostada na parede do lado de fora para trocar as sapatilhas por botas de chuva – daquelas estilo jardineira, que eu também usava na neve ou em tempos mais frios. Continuei o meu caminho pelo corredor do terceiro andar, procurando qualquer sinal de vida que pudesse me fazer companhia. Com o meu novo horário de ensaios, minhas aulas ficavam em tempos completamente diferentes de todos os meus amigos, o que me deixava um pouco solitária durante os intervalos. Quando eu estava ocupada, eles estavam livres e quando eu estava livre... Bem, acho que já dá pra entender a lógica da coisa. Me aproximei da janela daquele andar e pude ter uma visão mínima das janelas dos outros andares no interior daquele mesmo prédio.
No andar abaixo do meu, avistei Jade e Emily, que eu sabia ser do terceiro semestre, mas nunca trocamos mais que cinco palavras. Ir até ela para passar o tempo estava fora de questão. Continuei abaixando o olhar até o primeiro, observando Agnes conversar com alguém animadamente. Por incrível que pareça, a diretora estava sorrindo. Não um sorriso enorme e natural, mas era o máximo que ela conseguia fazer. Prossegui observando-a até que descobri que a pessoa que a acompanhava era Brigitte, o que tornou a cena ainda mais estranha. Balancei a cabeça negativamente e me afastei de costas, sem esperar que alguém estivesse atrás de mim.
- Opa. – Uma voz masculina, seguida de papeis sendo derrubados soou quando minhas costas esbarraram em algo.
- Me desculpa! – Me virei assustada, já sentindo as bochechas corarem levemente por ser tão desastrada. Antes mesmo de olhar quem era, me abaixei e comecei a juntar alguns dos papeis derrubados.
- Se você não fosse namorada do meu amigo, eu acharia isso bem romântico. – Um ruivo com sardas nas bochechas se ajoelhou na minha frente para me ajudar.
- Eddy! – Sorri tranqüila ao ver que era apenas o professor Sheeran. – Não está dando aula aos meninos?
- Eu não sou o único professor deles, . – Riu ao terminar de recolher as partituras que eu derrubara.
- Mas você é o único que eu conheço, então perdoe o meu erro! – Levantei, espiando as partituras e cifras que ele segurava. – Músicas novas?
- Certamente. – Sorriu com aqueles olhinhos verdes piscando em animação. – Quer aprender uma?
- Aprender? Mas eu não sei tocar! – O olhei como se o achasse louco. – E nem sou uma cantora.
- Não... Mas é uma artista. Você consegue contar histórias usando o seu corpo, porque não tentar fazer isso usando a voz e os dedos? – Tentou me convencer e eu comecei a cogitar a possibilidade de aceitar. – Então, o que me diz?
- Consegue me ensinar em vinte minutos?
- Posso tentar.
Foi a terceira mensagem de Zayn que recebi nos últimos cinco minutos. Eu já estava livre de aulas e ensaios naquele dia e poderia ir pra casa, mas o menino parecia me querer ao seu lado naquele exato momento. Eu também desejava isso com todas as minhas forças, o problema é que eu pretendia ao menos trocar de roupa antes de sair da Academy e congelar. A temperatura caiu consideravelmente naquele dia de janeiro e já não havia mais nenhuma superfície sem ao menos um pouco de gelo. Vários caminhões corriam as ruas de Londres diariamente para retirar a neve do asfalto e prevenir acidentes, mas nas ruas mais afastadas isso causava pequenas montanhas de neve na calçada, o que dificultava a vida dos pedestres. Felizmente eu estava com a minha bota que ia até a metade das minhas canelas e se precisasse andar, seria protegida por elas.
Me olhei no espelho do banheiro conferindo se tudo estava no lugar certo. Além de quentinha, eu estava adorável com aquelas roupas e acabei rindo com esse pensamento. Digitei uma resposta para Zayn falando que estava a caminho antes de guardar tudo dentro da minha mochila e vestir as luvas que afastariam o frio dos meus dedos já levemente avermelhados. Parecendo uma esquimó, deixei o banheiro para trás enquanto duas meninas ocupavam o meu lugar anterior. Elas estavam empacotadas assim como eu e pequenos flocos de neve enfeitavam seus cabelos, confirmando as minhas suspeitas sobre a situação do lado de fora da Academy. Por sorte escolhi o banheiro mais próximo da entrada/saída, o que me fez chegar as escadarias em apenas alguns passos.
Com o chão mais frio do que nossos corpos agüentariam, ninguém conseguia sentar nos degraus da escada, por isso encontrei , Niall e Zayn parados no fim dela. O casal conversava animadamente, mas meu namorado digitava algo em seu próprio celular; provavelmente me apressando mais uma vez. Sinceramente não sei o que ele queria tratar comigo que era tão urgente assim, mas também não o faria esperar mais. Puxei o capuz do meu casaco para cima da minha cabeça na esperança de proteger minhas orelhas e bochechas do frio e desci as escadas com todo cuidado para não acabar escorregando. Niall foi o primeiro a me ver e eu coloquei o dedo indicador sobre os lábios, pedindo para que ele não me denunciasse. também notou isso, mas não foi tão discreta quanto o namorado e seu sorriso acabou me entregando.
- O que foi, ? – Zayn se virou para trás e deu de cara comigo tentando assustá-lo. – O que estava tentando fazer, babe?
- Nada! – Rolei os olhos do sorriso divertido que o menino ganhou ao estragar meus planos malignos. – Muito obrigada, !
- Não tenho culpa, eu juro! Você sabe que eu não consigo me segurar de coisas assim. – levantou as mãos como se estivesse se rendendo e a deixei pra lá.
- Eu acho que supero. – Sorri vendo a fumaça sair de meus lábios enquanto falava e abracei Zayn pelo pescoço. Com a quantidade de roupas que nos cobria era meio difícil sentir o toque um do outro, mas ainda era bom me sentir em seus braços. – Você parecia desesperado pra me ver! Aconteceu algo?
- Mais ou menos. – Passou a ponta do nariz sobre o meu, o que nos aqueceu levemente. – Posso ver a chave do seu carro?
- Claro... – Arqueei uma sobrancelha desconfiada, mas tirei a chave que guardava no meu bolso e a entreguei a ele.
- Obrigado. – Beijou a minha testa e em seguida virou para , atirando a minha chave para que ela pegasse. – Cuide bem desse carro. Não quero nenhum arranhão.
- Espera, por que você deu a minha chave pra ela? – Olhei para os três e era a única que parecia não entender.
- Porque eu estou te seqüestrando, oras. – Zayn sorriu, mostrando todos os seus dentes brancos e entrelaçou os dedos nos meus.
- Se importaria de explicar as condições desse seqüestro? – Sorri de canto.
- Te levarei para a minha casa, onde te manterei em cativeiro por tempo indeterminado. Refeições e atividades extracurriculares estão incluídas na programação. – Pelo sorriso torto de Zayn eu soube exatamente o que ele queria dizer com “atividades extracurriculares”.
- Sua mãe e as meninas ainda não voltaram? – Ponderei, mesmo sabendo que aquilo não o impediria de me levar até a sua casa.
- Ela só voltam no fim da semana. Talvez sexta ou sábado...
- Elas tem que voltar pelo menos no sábado! – Franzi o cenho.
- O quem no sábado? – Niall perguntou, completamente esquecido.
- No sábado nada. – Respondi ao loiro e olhei para Zayn, que sorria por saber do que eu falava. – No domingo, por outro lado... É o aniversário do meu bebê.
- já vai fazer aniversário? – O outro menino continuou sem entender e fez rolar os olhos.
- Meu outro bebê. – Ri e abracei Zayn pelas costelas, apertando-o contra mim. – Meu bebê maior que vai fazer vinte anos.
- Então... – Ni ia tentar falar outra besteira, mas se estressou.
- Oh, for God’s sake, Niall! – Reclamou, mandando-o calar a boca. – É o aniversário do seu melhor amigo e você não lembra?
- Já? Mas você não teve um aniversário no ano passado? – Sério, Niall havia começado a beber cedo naquele dia.
- Esse é o bom de aniversários, Niall. Acontecem todo ano. – Zayn envolveu meu corpo em um abraço e beijou o topo da minha cabeça.
- Quando é o seu, ? Acho que nunca perguntei isso... – O irlandês ignorou as caretas da namorada e acabei rindo dos dois.
- O meu aniversário foi semana passada, Horan. – O olhei com desapontamento, mas o coitado pareceu tão assustado que preferi me desmentir de uma vez. – Estou brincando! Meu aniversário só em julho, Nialler.
- Que alivio. – Sorriu.
- Ei, eu achei que isso era um seqüestro... – Olhei para o garoto em meus braços com uma sobrancelha levantada.
- Tem razão. – Riu de forma gostosa e o vapor de seu hálito fresco se misturou com o meu. Zayn soltou o abraço em meus ombros e logo agarrou meu quadril e me jogou por cima do ombro como se eu fosse um saco de batatas. Ou um saco de plumas, devido a facilidade que ele teve. – Tchau pra vocês que ficam.
- Malik! – Reclamei ao ficar de cabeça para baixo. – Se você me derrubar...
- , não acredito que mesmo depois de todas as vezes que eu te carreguei, você ainda acha que vou te derrubar.
- Ok, acho que você tem razão... – Dei a ele aquele voto de confiança e resolvi admirar a vista que tive da parte de trás daquele garoto. – Tchau, lads!
- , você não teve infância? – Zayn gargalhava ao fazer corpo mole, o que dificultava o meu trabalho de puxá-lo para fora de casa. – Acabamos de almoçar! Não temos que esperar uma hora antes de fazer esse tipo de coisa?
- Não vamos nadar, porque (a), você não pode. E (b), a sua piscina está congelada! – O soltei depois de ver que minha força não seria o suficiente para trazê-lo comigo até o quintal, mas fiquei surpresa quando ele me acompanhou de boa vontade. – Só vamos brincar na neve e pra isso não precisamos esperar uma hora depois de comer.
- Valeu a tentativa. – Suspirou com um sorriso que me fez rolar os olhos. Até sendo chato ele conseguia ser terrivelmente charmoso.
- Boris não vai vir? – Olhei por cima do ombro enquanto enfiava as botas na neve espalhada pelo quintal enquanto andava e vi o cachorro preto nos observando de dentro da casa, protegido por um vidro.
- Ele não é muito chegado em frio e essas coisas. – Seguiu o meu olhar com o próprio e fitou o animal. – Espere só até você encontrar uma namorada que mande em você, aí quero ver se vai ficar aí dentro!
- Então eu mando em você?! – Parei de andar quando chegamos em um lugar apropriado para as nossas atividades e cruzei os braços. Realmente gostando daquela história de mandar em Zayn.
- Claro que não! – Tentou se corrigir, mas já era tarde demais.
- Vem logo, Malik! – Pedi mandona e me ajoelhei na neve, sentindo um novo frio tomar conta dos meus joelhos, mas não o suficiente pra me fazer levantar. – Vamos fazer um boneco de neve! Você faz a base e eu farei a parte do meio, ok?
- Você é que manda. – Zayn piscou.
No fundo de seu olhar, eu podia ver que não mandava em porcaria nenhuma. Primeiro porque ele era bem maior e muito mais forte do que eu, o que acabaria me dando uma desvantagem e me obrigaria a fazer qualquer coisa que ele realmente quisesse que eu fizesse e, em segundo lugar, o ego do meu namorado era grande demais pra que ele me deixasse comandar na relação onde ele era o “alfa”. Meninos... Tsc. Complicado com eles, pior sem eles. O mais engraçado é que Zayn parecia gostar da minha felicidade ao “pensar que mandava” e “dar ordens” para que ele obedecesse, então acabava me deixando aproveitar e não começava uma discussão.
Deixei meus devaneios de lado e me concentrei na minha missão. Eu tive infância sim e já fizera muitos bonecos de neve durante a minha vida, o problema é que eu sempre ficava com a parte mais fácil; a de enfeitar o homenzinho com gravetos, pedras, cenouras e etc. Portanto, apresentei um pouco de dificuldade para começar a juntar a neve em um montinho. Fiz algumas caretas durante o processo, mas não desisti. Minhas mãos ainda estavam protegidas pelas luvas, o que me ajudou um pouco. Senti o olhar de Zayn sobre mim, me estudando e tentando decifrar o que se passava na minha cabeça, porém, ao notar que era descoberto, desviava o olhar e dava uma risadinha quase tímida. Ficamos naquela brincadeira de jardim de infância até que quebrei o silêncio para contar algo que realmente achei interessante mencionar.
- Tive uma aula com o Ed hoje. – Comentei, cansando de ficar de joelhos e sentando de uma vez sobre a neve úmida. – Ou algo perto disso. Ele tem muitas músicas bonitas, sabia?
- Claro que eu sei disso, . Ele é meu professor, lembra? – Riu sem me olhar, concentrado na base do boneco de neve.
- Não precisa ficar com ciúmes! – Brinquei, arrumando um punhado de neve sobre o meu bolo deformado. – Ele está me tentando me ensinar a cantar.
- Para a peça? – Levantou o olhar na minha direção finalmente.
- Não necessariamente. Só vou ter que cantar um trecho na peça, graças aos deuses do teatro, mas acho que ele está tentando me transformar em uma artista completa. – Expliquei com um balanço suave de cabeça. – Do tipo que dança, canta e interpreta. Posso ir para a Brodway quando terminar o curso!
- Você daria uma ótima Christine de O Fantasma da Ópera. – Duvidava que ele falasse sério, mas aquele elogio me agradou. – Canta pra mim?
- Eu já vou cantar pra você no domingo! Não exagere. – Tentei escapar usando aquela desculpa.
- Não quero que você cante Parabéns Pra Você! – Negou e continuou me encarando com tanta intensidade que pensei que a neve ao meu redor fosse derreter. – Quero que cante uma música de verdade.
- Baby, você é o cantor do nosso relacionamento e eu sou a dançarina. Não vamos trocar de papeis. – Não sustentei o olhar dele com o meu, pois estava certa de que seria hipnotizada a fazer o que quer que ele pedisse.
- Lembrarei disso na próxima vez eu você me pedir pra dançar com você. – Deu de ombros casualmente.
- Está me chantageando, Malik? – Aquela minha pergunta fez um sorriso torto surgir no rosto dele e fui respondida. – Ugh, promete que não vai rir?
- De coração cruzado. – Fez um X sobre o peito e parou tudo que estava fazendo pra poder me observar. – Ou seja lá como se fala isso...
- Of all the money that I had, I spent it in good company. / And all the harm that I've done, alas it was to none but me. / And all I've done for want of wit, to memory now I can't recall… - Comecei a cantar, apesar de toda a minha vergonha. Evitei olhar para qualquer lugar que não fosse as minhas próprias mãos. Na medida que a minha voz suave continuava a quase sussurrar as palavras, Zayn se tornava mais atraído e mais preso. Quase como se eu fosse uma sereia que o encantasse com minha serenata. - So fill to me the parting glass. Goodnight and joy be with you all. / Of all the comrades that I had, they're sorry for my going away… / And all the sweethearts that I had, They would wish me one more day to stay. / But since it falls unto my lot that I should rise and you should not.
- I'll gently rise and I'll softly call, "goodnight and joy be with you all!” - Zayn continuou aquele meu trecho e o olhei com um sorriso. Sua voz era tão mais bonita que a minha que parecia até um crime eu cantar perto dele. – The Parting Glass é uma música linda. Entendo porque Ed está te ensinando ela.
- Fica mais linda ainda na sua voz. – Sorri por estar sendo sincera. Em seguida, olhei para a minha parte do boneco de neve e bufei em desistência. – É oficial, fazer um boneco de neve é mais difícil do que parece! Isso aqui tá mais pra um quadrado do que pra uma barriga.
- Não é todo mundo que tem uma habilidade e construir bonecos de neve. – Zayn se gabou porque levou o mesmo tempo que eu para fazer uma base relativamente grande e firme. Juntei um punhado em minha mão sem que ele notasse e atirei a bola de neve na sua direção. – HEY!
- Minha mira é boa, pelo menos. – Ri enquanto ele se limpava dos flocos de neve que explodiram a se chocar contra seu ombro.
- Quero ver se a sua corrida é boa também.
Não precisei de mais nada para entender aquilo como uma ameaça. Zayn sabia que eu estava brincando, mas isso não o impediria de se vingar. Levantei do chão abandonando o meu pseudo boneco de neve e me pus a correr na direção contrária a do meu namorado. Ambos sabíamos que eu era mais lenta que ele e por isso foi um cavalheiro ao me deixar ter uma pequena vantagem. Como estava de costas pra ele, não vi a bola chegando em minha direção e fui atingida na lateral do quadril, o que me fez cambalear e parar de correr. Minha fuga não adiantaria de nada, pois Zayn aparentemente também era bom de mira. O lancei um olhar fulminante, mesmo sabendo que não surtiria efeito nenhum no meu oponente. Me curvei para formar outra de bola de neve em minhas mãos e fui surpreendida por outro ataque que acabou batendo bem no topo da minha cabeça; me fazendo cair de bunda na neve. Não fui a única a rir da minha cena patética quando a gargalhada de Zayn chegou até os meus ouvidos.
Ele se levantara e começava a andar na minha direção, amassando uma nova arma de gelo para atirar em mim. Fiz uma careta com receio e enfiei as duas mãos na neve ao lado do meu corpo, retirando punhados da forma que eu conseguia. Era tarde demais para me preocupar em arrumá-las em forma de bola e atirei do jeito que pude. A primeira passou longe de Zayn e ele riu mais uma vez. A segunda, terceira e quarta, porém, foram atiradas de forma tão desengonçada que acabaram causando uma chuva de neve em cima do menino e o fez errar a própria tacada. Pensei ter escutando-o gritar que se rendia, mas só parei com minhas investidas assim que ele se jogou na neve ao meu lado, fingindo ter sido ferido em batalha.
- Você venceu, você venceu! – Ele riu protegendo o rosto com os braços. – Diga aos meus filhos que eu morri depois de lutar bravamente.
- Por que você mesmo não fala? – Parei de atacá-lo e rir, colocando a mão sobre a barriga e olhando significativamente. Minha atuação foi tão convincente que Zayn ficou pálido.
- O que? Você... ... É se-sério? – Gaguejou, coisa que nunca acontecia com Zayn-Malik-todo-seguro-de-si.
- Claro que não, seu idiota! – Caí na risada e o empurrei contra neve até que ele ficasse completamente deitado sobre ela. – Mas obrigada por me chamar de gorda!
- É que, você sabe, com todas essas camadas aí, a gente acaba imaginando... – Segurou meus pulsos com as mãos e me puxou para cima dele. – Quem sabe se você estivesse com menos roupas...
- Boa tentativa! – Me sentei sobre o quadril masculino, mas bani suas mãos assim que elas tentaram se apoderar dos botões do meu casaco. – E se fosse verdade? E se eu estivesse grávida?
- O que qualquer homem faria... – Envolveu a minha cintura, me fazendo curvar o corpo sobre o dele. – Fugir e nunca mais aparecer por aqui.
- Malik! – Briguei com ele, mesmo rindo por saber que era brincadeira. – Muito descente da sua parte!
- Se você estivesse grávida, eu faria você e essa criança as pessoas mais felizes do mundo. – Aquela declaração me pegou de surpresa e toda a graça desapareceu.
- Você já me faz a pessoa mais feliz do mundo. – Sussurrei, forçando o ar a deixar os meus lábios em forma de vapor.
Zayn sorriu, envolvendo a minha nuca com a sua luva gelada, mas não me importei com aquele frio repentino em contato com a minha pele. Fechei os olhos e me deixei guiar por ele, urgentemente invadindo a sua boca com a minha língua em busca de conforto, de carinho. Ele me envolveu com os braços ainda mais, de forma protetora. Minhas mãos continuaram espalmadas em seu torço coberto pelo casaco cinza enquanto nossos rostos tombavam para lados opostos. Meus lábios estavam frios e secos, mas foi só Zayn cuidar deles com toda a vontade que trazia engarrafada dentro de si que eles se tornaram quentes e úmidos, me dando um conforto enorme. Me mexi sobre o corpo dele devagar, recebendo um gemido rouco que escapou de sua garganta. Fui pega de surpresa ao notar que aquele meu movimento foi de encontro à protuberância que começava a surgir na parte inferior do corpo abaixo do meu.
- Anjo... – Ele sussurrou sobre os meus lábios.
- Eu fiz algo errado? – Perguntei quase com medo da resposta.
- Não... – Sorriu da minha preocupação, o que me tranqüilizou. – É só que está frio aqui. E eu não posso ter uma performance tão boa...
- Entendi. – Ri ao tirar o corpo de cima do dele. – Vamos entrar então.
{+ 18}
Entramos e também subimos as escadas em direção ao quarto de Zayn. Boris nos seguiu achando que teria companhia, mas o seu dono logo o impediu e o deixou do lado de fora quando fechou a porta. Tive um pouco de pena, o que logo mudou assim que o menino na minha frente tirou os sapatos sujos de neve e também se livrou dos dois casacos que usava, incluindo a camisa branca à lista de coisas que foram parar no chão. Tirei o meu casaco pesado e também as minhas botas, seguindo para as meias. Só consegui ir até aí, pois meu olhar foi preso ao torso firme de Zayn, levemente bronzeado apesar de ser inverno. Estudei os ossos de seu pescoço delicadamente definidos, descendo por todas as tatuagens que ele possuía espalhadas pela parte superior, continuando no abdômen de músculos firme de pele macia que em breve estaria completamente coberto pelas minhas impressões digitais. Minhas orbes azuis só pararam ao encontrar os centímetros da boxer preta que escapava do cós da calça jeans que ele usava. Recuperei os sentidos após aqueles segundos que pareceram minutos quando Zayn deu mais um passo na minha direção. Ameacei tirar o meu sweater que ia até a metade das coxas, mas a voz de Zayn me impediu.
- Não. – Levantou o meu queixo com uma das mãos e usou a outra para entrelaçar nossos dedos. – Eu quero tirar.
Fechei os olhos inconscientemente quando Zayn tracejou a linha do meu maxilar com os lábios, inclinando o pescoço para que ele pudesse ter mais liberdade. Lentamente meu rosto e mão foram soltos e os dedos ágeis e brincalhões do menino agarraram o tecido do meu sweater, levantando-o agonizantemente devagar. Os toques que esbarravam na minha pele recém descoberta me causavam arrepios e calafrios gostosos. Todo o frio que eu sentira do lado de fora da casa tinha ido embora completamente e a temperatura continuava a subir na medida que minha peça de cima foi arrancada e jogada para o lado. Minha langerie de renda preta chamou a atenção do homem que segurava a minha cintura com firmeza e seus olhos antes claros e brilhantes se tornaram cheio de luxuria e desejo.
Segurei meu lábio inferior entre os dentes enquanto o observava marcar a minha pele momentaneamente com mordidinhas que seguiram até o vale entre os meus seios. Zayn me mantinha perto dele com a mão direita enquanto a esquerda envolvia e brincava com o meu busto ainda coberto, obrigando pequenos murmúrios a largarem meus lábios entre abertos. Não percebi que estivera apertando os ombros de Zayn com tanta força até que ele reclamou de dor, mas não me fez parar. Olhei rapidamente para a marca que meus dedos deixaram e gostei daquela sensação.
- ... – Meu nome nunca fora pronunciado de forma tão profana antes, nem mesmo por Zayn. Ele escorregou as mãos pelas minhas costas e parou na parte inferior da mesma, me prendendo contra ele e fazendo-me perceber novamente a rigidez dentro de sua calça.
- Hm... – Resmunguei sem confiar na minha voz.
- Eu quero fazer você se sentir bem...
Meus joelhos amoleceram, me fazendo procurar apoio contra o corpo dele. Aquela reação da minha parte o agradou bastante, por isso escutei sua risada arrastada brincando em meu ouvido. Aproveitando a minha pouca altura comparada à dele, beijei a base de seu pescoço como se pedisse para que ele continuasse, querendo que ele me fizesse sentir aquilo que eu mais desejava no momento. Zayn era gentil, mesmo que suas ações estivessem sendo mais diretas agora. Apoderando-se de ambos os lados da minha cintura, ele me levantou do chão, me obrigando a prender minhas pernas em torno de si. Caminhou até a cama com o meu corpo bem enlaçado ao seu e ambos deitamos no colchão confortável, sobre os lençóis brancos perfeitamente arrumados. O menino forçou seu corpo por cima do meu enquanto lutava pra abrir o fecho do meu sutiã fazendo o mínimo de peso possível.
Assim que aquela próxima peça de roupa deixou o meu corpo, afrouxei meu aperto em sua cintura para que ele pudesse descer o próprio corpo sobre o meu e fazer com que seus lábios encontrassem um de meus seios, envolvendo o bico levemente rígido, língua brincando travessamente com ele enquanto o outro era apertado entre o polegar e indicador. Arqueei as costas sem perceber e fechei os olhos após fitar o teto. Alguns suspiros eram arrastados pela minha garganta enquanto aquela sensação só fazia crescer e irradiar pelo meu corpo inteiro.
- Olhe pra mim. – Pediu e eu logo o obedeci, voltando minhas íris em sua direção.
Um muxoxo de reclamação veio a tona assim que meu busto foi deixado de lado quando Zayn levantou seu tronco até estar sentado entre as minhas pernas. Passei as mãos desajeitadamente pelos meus cabelos já bastante bagunçados enquanto especulava internamente qual seria o próximo movimento do outro. Um sorriso tímido brincou em meus lábios assim que ele segurou a lateral da minha legging, arrastando-a para baixo do meu quadril e continuando pelas minhas pernas até que eu estivesse apenas em minha calcinha. A pequena peça mal parecia conter tudo que precisava devido à sua renda delicada que combinava com o sutiã previamente tirado de mim. O observei enquanto o fogo irradiava de suas orbes amendoadas e apreciava a peça que mantinha minha intimidade completamente coberta.
Meus joelhos foram afastados de forma igualmente gentil e já não consegui mais manter os olhos abertos. Agarrei o lençol da cama quando lábios quentes e macios me provocaram com beijos na parte interna da minha coxa, subindo perigosamente perto da virilha. Um gemido mais claro encheu o quarto e chegou igualmente rápido aos ouvidos de Zayn, que mordiscou minha pele em resposta.
- Zayn... P-por favor... – Praticamente implorei que ele continuasse e apertei o lençol com mais força.
- O que você quer? – Provocou mesmo que já soubesse a minha resposta, querendo escutá-la em voz alta.
- M-me toque... – Sussurrei sem conseguir manter a foz firme.
- Boa menina.
Com aquelas duas palavras, Zayn usou o dedo indicador para afastar a renda para o lado e se apoiou com os cotovelos na cama. A próxima coisa senti foram os lábios habilidosos do menino se aproximando do meu centro e a língua quente do mesmo brincando por ali. Meu peito subia e descia na medida em que minha respiração ficava mais descompassada. Suas mãos continuaram em minhas pernas, mantendo-as afastadas para que ele pudesse prosseguir. Zayn logo tratou de envolver o ‘botão’ levemente inchado em minha intimidade e usou os lábios para estimular enquanto sugava de forma alternada, mas sempre mantendo o cuidado de não me causar nenhum desconforto. Minha mão direita procurou os cabelos macios e levemente molhados por causa da neve que derretera ali e se entrelaçou nos fios, puxando. Aquela foi a minha forma de pedir mais.
Meu pedido foi atendido prontamente, meu namorado usando os lábios e a língua juntos para o meu prazer. Nada se passava pela minha cabeça naquele momento. Mesmo que eu quisesse pensar, não conseguia. Só sentia o calor crescendo incessantemente enquanto era invadida e revirei os olhos, arriscando levantar o pescoço para observá-lo se deliciar com o meu gosto. Uma das mãos dele largou a minha coxa para que o dedo do meio pudesse acariciar a minha entrada em movimentos circulares e logo forçar seu caminho pra dentro devagar. Os lábios novamente pressionados contra o meu clitóris enquanto ele chupava como se a sua vida dependesse disso. Meus gemidos já eram completamente descontrolados enquanto chamava o nome dele para quem quisesse ouvir, virando o rosto para o outro lado, sem força nenhuma sobre as minhas próprias ações.
Zayn saiu de onde estava e se deitou ao meu lado, mas com o indicador ainda brincando dentro de mim enquanto se acomodava de uma forma que ficasse confortável para nós dois. Encostei as costas em seu peito e beijos foram distribuídos por toda a minha nuca, fazendo novos arrepios percorrerem o meu corpo inteiro. Meus pés entrelaçaram-se aos de Zayn e reclamei baixinho quando a mão dele deixou a minha intimidade. O olhei como quem pede por mais e o sorriso torto subiu até os seus lábios brincalhões. Para a minha felicidade, o homem só havia feito aquele pequeno intervalo para que dessa vez pudesse invadir a minha peça de roupa rendada por cima e assim tivesse um contato mais abrangente comigo. Seu polegar se posicionou sobre a minha área mais sensível enquanto esfregava devagar em círculos. Dois dedos forçaram sua entrada no meu meio sem pedir ou avisar, o que me fez arfar e mexer o quadril contra o dele, mais uma vez esbarrando no volume – conseqüentemente provocando outro gemido rouco da parte dele.
- Mais rápido... – Pedi.
Meus pedidos estavam sendo tratados como ordens e logo eram atendidos pelo garoto que levava a frase “se sentir bem” ao pé da letra, pois só o que eu sentia era o prazer que aquele ato tão íntimo provocava em ambos. Zayn sabia que ninguém nunca havia me tocado assim antes e isso o agradava. Nós havíamos feito sexo algumas vezes antes, durante a nossa viagem a Castle Combe, mas os dias que passamos distantes depois de retornar a Londres pareciam ter aflorado nossos desejos e escondido o pudor tão fundo que não conseguiria ser encontrado nem tão cedo. Continuei mexendo o quadril para que, além de provocá-lo, suas investidas pudessem continuar aumentando de velocidade e intensidade até que eu não agüentasse mais. Em poucos segundos chegaria ao ápice e Zayn percebeu quando as minhas paredes se tencionaram em volta de seus dedos; ainda assim não o impedindo de últimas investidas. Um som arrastado deixou a minha garganta para trás enquanto eu chamava o nome daquele homem que acabara de me dar um orgasmo em poucos minutos, usando apenas os dedos e a boca.
- Hmmm... – Meu corpo relaxou e eu mal me mexia, tamanho entorpecimento que me fora causado.
- Fuck... – Xingou contra a pele do meu pescoço.
Horas depois do nosso momento no quarto, descemos para a sala e permitimos que Boris nos acompanhasse. Eu estava nas nuvens e duvidava que qualquer coisa pudesse me aborrecer minimamente durante o resto da noite. O relógio marcava oito horas enquanto ficávamos esparramados no sofá em frente à televisão. Zayn ainda sem camisa e vestindo uma bermuda confortável embaixo de mim e eu por cima dele; usando apenas o meu sweater que continha a parte superior de meu corpo e metade da de baixo. Enquanto assistíamos a um filme qualquer, meu corpo pequeno em relação ao do meu namorado subia e descia conforme a sua respiração.
- Sobre o que é esse filme mesmo? – Perguntei enquanto meus cílios longos se arrastavam pelo peito de Zayn enquanto piscava.
- É uma história sobre coragem e esperança, provando que você deve tentar seguir seus sonhos mesmo que todas as chances estejam contra você. – Explicou como se já tivesse assistido àquele filme milhões de vezes.
- Já pensou em ser treinador motivacional? – Ri, me aninhando ainda mais nos braços dele. – Você poderia viajar o país inteiro dando palestras e tal...
- Só se eu pudesse te levar junto. – Brincou com os meus cabelos e beijou o topo da minha cabeça.
O sentimento que eu tinha ao estar tão perto assim de Zayn era indescritível. Mesmo quando paramos de conversar para assistir o filme, eu ainda me concentrei mais nos batimentos de seu coração do que na televisão propriamente dita. Poderia adormecer ali e ficar para sempre. Ao lado de Zayn eu sentia que nada podia me atingir ou me machucar. Estava segura, onde deveria estar. Ele continuou acariciando os meus cabelos enquanto meus pés brincavam com os dele, como se aquela pequena troca de carinhos fosse tudo que precisássemos.
O som as campainha tocando me fez levantar o olhar. Quem poderia ser àquela altura? A primeira coisa que se passou pela minha cabeça foi a mãe de Zayn chegando mais cedo de viagem para surpreender o filho, mas ela não tocaria na porta, tocaria? Niall e também poderiam ser, pois eles tinham mania de ir entrando de uma vez ou ao menos ter uma chegada mais... Escandalosa. Zayn riu ao tentar sair de baixo de mim, mas não conseguiu, pois eu fiz corpo mole e o prendi ainda mais em meu corpo. Uma sensação estranha percorreu a minha espinha e eu me vi com medo de deixá-lo ir. Como se nunca mais fosse tê-lo pra mim novamente. Me assegurando de que não demoraria, nos virou no sofá para que eu caísse deitada de lado e se esquivou do meu toque. Trocamos um selinho demorado e ele caminhou preguiçosamente até a porta de entrada.
Me coloquei de joelhos sobre o estofado para poder observá-lo abrir a porta. Sua fisionomia ficou tensa e assisti enquanto alguém o entregou um envelope pardo. Mais uma vez aquela sensação ruim me causou calafrios não tão bons quanto os de antes e Zayn fechou a porta, aproveitando para passar a chave. Seu olhar curioso encontrou o meu preocupado quando fez o seu caminho de volta até a sala. Quem quer que fosse na porta, havia partido e isso era um bom sinal, certo? Era o que eu esperava. O menino se sentou ao meu lado enquanto abria a entrega e meu sangue congelou assim que vi a única coisa escrita do lado de fora do envelope: “Eu tentei te avisar.” Aquilo quase soava com uma ameaça.
- O que tem aí dentro, Zayn? – Perguntei enquanto ele tirava o primeiro papel de dentro do envelope.
- Parece uma matéria de jornal. – Respondeu e seu maxilar foi tencionado. Espiei por cima de seu ombro e congelei ainda mais ao ver que era uma foto minha ao lado de Nick; a mesma que tiramos durante o Bolshoi, pouco antes de termos que fugir. – Porque diz aqui que ele é o seu namorado, ?
- Deve ser algum engano... – Franzi o cenho ao receber o papel. Li algumas palavras onde o meu olhar bateu e, pelo que entendi, Agnes falava o quanto estava orgulhosa do casal de namorados de também eram seus melhores alunos na Academy. Eu teria apreciado o elogio se um balde de água fria não tivesse sido jogado sobre mim, figurativamente.
- Por favor, me diz que é mentira. – Deixei de encarar o pedaço de jornal e meu coração apertou ao ver a dor nos olhos de Zayn. O menino se levantou do sofá, passando as mãos desesperadamente pelos cabelos – Como você pôde, ?
- É claro que é mentira! – Coloquei as mãos na lateral do meu rosto apoiei os cotovelos no joelho. O que estava acontecendo? Não sabia dizer. – Você não acha mesmo que...
- Eu não sei o que eu acho! – Me interrompeu. Seus olhos estavam escuros, quase negros de raiva. Ele me olhava com desprezo, o que foi a mesma coisa de enfiar uma faca na minha barriga e girar. Me preparei para me defender, mas fui impedida por mais acusações que Zayn derramou em cima de mim. – Você me traiu! E quando eu falava que não gostava desse filho da puta você o defendia. Agora eu vejo o porquê! Há quanto tempo ele está te fodendo?
- Não acredito que você está falando isso... – Fiquei em choque, sem conseguir assimilar aquelas palavras atiradas em mim. Queria explicar o que aconteceu na noite do Bolshoi, mas como poderia fazer isso sem entregar o segredo dos meus amigos e acabar com suas vidas?
- Eu é que não posso acreditar em mais nada do que você fala! – Se aproximou como um furacão e eu achei que fosse levantar a mão na minha direção, o medo percorrendo a minha alma. Cheguei para trás por impulso e ele arrancou a folha de jornal da minha mão. Olhou linha por linha como se estivesse se auto-castigando. – Bem que Brigitte me avisou, mas não quis escutar. Já tenho ouvido falar que esse Nicholas anda se escondendo por aí com uma menina que ninguém sabe quem é, mas agora já está bem claro! Seu plano teria sido perfeito se não tivesse sido flagrada por esse jornal.
- Brigitte? – Repeti. Tudo começou a fazer sentido. Ela tinha armado aquilo pra mim e, pela reação instantânea de Zayn, já devia estar plantando coisas na cabeça dele há um bom tempo. – Você vai mesmo acreditar na palavra dela sobre a minha?! Zayn, se eu pudesse explicar...
- Então explique! – Gritou e pegou um vaso de cerâmica em cima da mesa de centro e o jogou na parede, espatifando em milhares de pedacinhos. Tremi com o estrondo causado e lágrimas encheram os meus olhos. Lágrimas de medo.
- E-eu... Eu n-ão posso... – Gaguejei sem conseguir olhá-lo por muito tempo. Não tinha explicação. Ou eu contava tudo, o que incluía Holly e Nick, ou não contava nada. E não podia contar sobre os dois. Não seria capaz de quebrar sua confiança assim.
– Você mentiu pra mim esse tempo todo. Como foi capaz de olhar na minha cara e dizer que me amava?
- Por que eu te amo... Isso é verdade! Eu nunca tive nada com o Nicholas... – Minhas palavras se embolaram no choro que estava começando a subir na minha garganta. Zayn tinha que acreditar. Ele precisava enxergar. – Zayn, me escuta...
Por mais que eu pedisse uma chance para me explicar, ele me deu as costas e andou até o canto da sala. Fui atrás sem ter muita certeza do que falar. Ele tinha que confiar em mim. Essa era a minha única esperança de parar com aquela briga e esquecer esse mal entendido todo. Ele estava magoado e eu via em seus olhos que estava acreditando na matéria de jornal. Consegui pegar o papel novamente e dei mais uma olhada. A matéria falava claramente que éramos namorados e que “estávamos muito felizes em acompanhar a nossa diretora durante aquele espetáculo”. Óbvio que alguém distorcera os fatos para causar um impacto maior, sem nem se importar com as conseqüências que suas palavras poderiam causar.
- Zayn... – Cometi o erro de tocá-lo no ombro direito e meu pulso foi detido no mesmo instante
- Não me toque. – Sua voz se tornou áspera, como se tivesse nojo de mim. Apesar disso, ele continuou segurando o meu pulso com força, me jogando de encontro com a parede. Minhas costas estremeceram com o choque e eu tive que ter muito cuidado para não pisar nos cacos da cerâmica quebrada. – Nunca mais me toque.
- Você está me machucando... – Gemi com o choro. Zayn deve ter achado que eu me referia a dor emocional, pois gargalhou com sarcasmo e apertou ainda mais meu pulso relativamente pequeno comparado à sua mão forte.
Àquela altura eu já estava completamente desesperada, ciente de que Zayn poderia e provavelmente iria me machucar se eu continuasse parada ali. Esse era um lado dele que eu nem imaginava existir, mas infelizmente estava conhecendo de camarote. Quase senti como se fosse outra pessoa ali na minha frente e não o garoto por quem eu me apaixonei. Como ele podia não acreditar em mim? Devia estar bêbado de raiva, perdido em todas as mentiras que Brigitte devia ter contado no passar dos dias. Ela deixou bem claro que o tiraria de mim e parecia ter finalmente sucedido. O mais estranho era que a dor em meu peito não era direcionada a ela, e sim a menino que acabava de jogar fora todos os momentos que passamos juntos nos últimos meses. Nossos sonhos, nossos segredos, nós. Era ele que deveria acreditar em mim, me defender e ficar ao meu lado. Era ele que prometera todas aquelas coisas e que jurara me proteger de tudo. Contradizendo as suas palavras, era justamente esse mesmo menino que quebrava todas as suas promessas sem nem ao menos me dar um voto de confiança. A única pessoa que eu julgava impossível me machucar era aquela que amedrontava.
As lágrimas rolavam pelo meu rosto, visivelmente acabada com aquilo que estava se apoderando do meu namorado. “Ex-namorado.” Me corrigi internamente com um soluço. Não agüentava mais ficar ali escutando acusações que deixavam a boca que me beijara tão docemente horas atrás e corri. Minha atitude o fez soltar o meu braço e o apertei contra o peito. Não pensei duas vezes em correr até a porta, girando a chave de qualquer jeito na fechadura e fugindo daquela casa que costumava ser um refúgio pra mim.
- Não volte mais. – Foi a última coisa que ouvi.
Certamente não pensei nas conseqüências de sair correndo pela neve sem proteção alguma. Após vinte minutos de corrida em disparada da casa de Zayn é que os efeitos do frio começaram a ser maiores que a adrenalina que bombeava sangue pelo meu corpo. Meus pés começaram a afundar na neve, chegando até um pouco acima do tornozelo. Aquilo doía e queimava a sola do meu pé, mas ao menos me obrigava a continuar com a minha caminhada, já que a falta de ar me impossibilitava de retomar a minha corrida. Como Zayn morava há quilômetros de outras pessoas, me vi apavorada ao não encontrar nenhum carro na rua; muito menos taxis ou ônibus. Minhas pernas começavam a falhar e meus braços se mantiveram presos ao meu corpo. Precisava achar uma solução rápida, ou então cairia ali mesmo e ninguém sabe o que poderia acontecer comigo.
Minha visão ficou turva enquanto os danos emocionais causados ao meu psicológico se chocavam com os efeitos climáticos. Eu já havia participado de términos dolorosos antes, tanto como telespectadora ou passando por isso em primeira pessoa – quando Anttonie e eu nos separamos -, mas nada foi nem de perto tão devastador quando ver o sofrimento de Zayn. Ele realmente acreditara que tinha sido traído e isso acabava comigo, pois eu sabia como ele estava magoado. Ao mesmo tempo, tentei ter raiva. Raiva por saber que eu não tinha culpa daquilo, pois não fizera nada. Raiva de Brigitte por infernizar a minha vida até conseguir o que tanto queria. Quase como um milagre, encontrei um objeto vermelho e um tanto estreito há metros na minha frente. “Uma cabine telefônica...” Pisquei os olhos esperando aquela miragem desaparecer como no deserto, mas puxei o ar com mais força ao descobrir que ela continuava ali, se aproximando na medida em que meus pés se arrastavam pelo gelo.
Uma vez dentro da cabine, me tranquei ali e encostei o corpo ao vidro. Não é como se a cabine estivesse aquecida, mas pude me proteger um pouco das rajadas de vento que bagunçaram os meus cabelos e cortaram as minhas pernas descobertas. Respirei fundo para levar oxigênio aos meus pulmões, o que se provou uma tarefa muito difícil. Fechei os olhos sentindo os meus cílios endurecerem enquanto tentava pensar no que fazer. Com a baixa oxigenação em meu corpo, achei muito difícil achar uma solução para o meu problema. “Ajuda. Preciso de ajuda.” Pensei ao colocar a mão sobre o gancho do telefone na minha frente. Nem mesmo os três dígitos da policia eu conseguia recordar, de tão em choque que estava. Minha única alternativa foi confiar nos meus instintos e deixar que meus dedos discassem o único de número de telefone que me vinha em mente, mesmo que nenhum nome fosse ligado à ele.
- Alou? – Uma voz um tanto sonolenta atendeu a ligação a cobrar.
- Harry? – Solucei, feliz por escutar a voz dele depois que toda a minha esperança de continuar consciente por mais de cinco minutos foi embora. – Eu preciso de ajuda...
- ? , onde você está? O que aconteceu? – Barulhos de cobertas sendo jogadas para o alto e de uma cama rangendo me fizeram imaginá-lo saindo do quarto.
- Harry, vem me buscar... – Pedi sem conseguir distinguir as minhas respostas das perguntas dele. Minha cabeça estava uma confusão e meu corpo fraquejava. – Eu não sei onde estou... Meu celular não tá comigo... Estou com frio...
- , eu vou te buscar, mas preciso que me diga onde está. Você me ligou de um telefone público, não foi? – Aquelas palavras se embaralharam, por mais que eu tentasse prestar atenção. – Preciso que você me faça um favor. Por favor, , eu já estou saindo daqui, só preciso que me diga os números que estão na etiqueta de metal do telefone, perto do painel de discagem. Se você conseguir olhar isso pra mim, eu posso te localizar...
- Harry... – Gemi sentindo a pouca consciência se esvair entre meus dedos. Eu estava assustada e sabia que ele também, principalmente por não saber o que acontecera comigo pra me deixar naquele estado. – S02784.
- Fique aí e me espere chegar... , por favor.
- Logo...
Capítulo LXIV
A melhor coisa sobre dormir, é que você esquece da realidade por um tempo. Tudo some. Todas as preocupações, os medos, os receios... Tudo vai embora e só o que resta é o nada. Você só fica deitada lá. Sem consciência. A pior coisa sobre dormir é que você tem que acordar. E a manhã chega como um tapa na cara, trazendo todas as dores que pareciam distantes algum tempo atrás. Em segundo tudo está bem, mas no seguinte é como se o mundo parasse de girar. Foi bem assim o que aconteceu comigo naquela manhã de sexta-feira.
Acordei com um sorriso depois de me espreguiçar devagar, mas foi só abrir os olhos para que ele sumisse. Eu não estava no meu quarto e não estava na minha cama. “O que estou fazendo no quarto do Harry?” Apertei os olhos para me situar e desejei não ter feito isso.
Eu lembrei. Lembrei do olhar machucado de Zayn ao abrir o envelope pardo, das suas palavras me sufocando, do desespero em meu peito ao não conseguir encontrar uma forma de me explicar... Lembrei de me trancar em uma cabine telefônica e escorregar devagar até estar sentada no chão frio por não conseguir me sustentar em pé. Lembrei de Harry me carregando para fora de lá e me deitando no banco de trás de seu carro, coberta por seu casaco de lã. Lembrei de voltar para casa e não querer ficar sozinha no meu quarto. Lembrei de contar para o meu melhor amigo sobre tudo que havia acontecido, deixando de fora o segredo que ainda carregava só pra mim. Eu continuava mantendo a minha promessa de não contar para ninguém sobre o relacionamento secreto professora/aluno; fardo que parecia pesar cada vez mais.
Eu estava sem Zayn... A ficha demorava pra cair, mas aos poucos consegui assimilar tudo que havia acontecido na noite anterior. Nossa última briga por causa de ciúmes terminou sendo a definitiva. Tentei me mexer na cama em busca de conforto, mas me senti paralisada e sem força alguma. Era como se um tijolo estivesse colado ao meu peito e a cada minuto que passava ia ficando mais e mais pesado, deixando um desconforto e uma dificuldade de respirar agonizante. Eu só queria conseguir me livrar desse tijolo, mas era impossível e eu sabia bem disso. Só desejava entender... Como tantas memórias podiam ser ignoradas tão facilmente. Como Zayn podia ser tão forte assim pra me mandar embora de sua vida sem nem pensar duas vezes? E o pior, por causa de uma mentira.
- Olha quem acordou... – O dono daquele quarto entrava pela porta e falava devagar, do jeito que se trata uma criança assustada.
- Harry... – Falei, mas a minha voz saiu esganiçada. O olhei com os olhos marejados, sem nem me importar em tentar sorrir. – Você não devia estar no trabalho?
- Me dei o dia de folga. – Colocou o objeto azul em sua mão em cima da mesinha e meu olhar o seguiu. Aquela era a coleira de , mas não foi isso o que me prendeu. Ao lado dessa mesma mesinha estava a minha mochila... A mesma que eu deixara na casa de Zayn quando corri de lá.
- Ele trouxe aqui? – Perguntei em um misto de confusões. Acho que ainda tinha a esperança de que ele tivesse caído em si e visto o quanto fora idiota ao duvidar de mim. Torci para que Harry respondesse que sim e que ele estava no andar de baixo, me esperando para que pudéssemos conversar.
- Não... – Sua negação me fez apertar ao peito o lençol que me cobria. Harry deixou que o cachorro entrasse no quarto antes de fechar a porta e escorregar para a cama ao meu lado. – Niall trouxe aqui essa manhã, ... Eu sinto muito.
- Ele sabe? – Parte de mim desejava que Niall colocasse juízo na cabeça do amigo, mas era meio óbvio que Zayn não escutaria ninguém. logo pulou na cama e se aninhou em minhas costelas.
- Sabe. E também concorda comigo, achando que essa história toda é um mal entendido idiota. – Puxou parte do cobertor para cima de si mesmo e deitou de lado, me observando. – Mas você sabe... Ele não pode escolher um lado.
- Sendo que ele já escolheu. – Suspirei. É obvio que ficaria ao lado do seu melhor amigo. – E os outros meninos? Você contou pra eles?
- Eles sabem que há algo errado, mas estão respeitando o seu espaço. Eu não contei nada, porque não sabia o que você gostaria de dizer. – Continuou mantendo a calma em seu discurso, acariciando meus cabelos de leve.
- Melhor assim. – Acenei levemente com a cabeça, puxando mais pra perto e beijando o topo de sua cabeça. – Não quero que me olhem com pena...
- Ninguém vai te olhar assim, . – Harry prosseguiu com os seus carinhos mesmo que eu não o olhasse. Vendo que eu não falaria mais nada, perguntou: - Você ainda está com medo dele?
- Não... Eu só sinto falta dele. Demais. – Admiti, juntando todas as minhas forças para sentar na cama e encostar na cabeceira. – Mas eu sei que ele não me machucaria.
- ... Você não viu o seu braço, viu? – Aquele questionamento me pegou de surpresa. O que o meu braço tinha a ver com qualquer coisa?
- Por que? – Algo me dizia que eu já desconfiava do que ele estava falando e levantei a manga direita do meu sweater, gemendo ao ver as marcas de dedos levemente avermelhadas no meu pulso, onde Zayn apertara com força durante nosso conflito.
- Ele é um idiota por fazer isso com você e estou me segurando pra não ir atrás dele. – Harry bufou, a raiva começando a transparecer.
- E-ele não quis fazer isso... Não estava pensando... – Abaixei a manga rapidamente. – Foi s-sem querer.
- Por que você está defendendo-o depois do que ele te fez? – Tentava não se alterar, mas eu sabia que ele não gostava da atitude que eu estava tendo. – , ele te tratou como... Não sei nem o que! E você ainda o defende?
- Por que eu o amo, Harry. Com todo o meu coração. – Meus olhos azuis encontraram os seus verdes, uma pequena lágrima molhando o meu rosto enquanto fungava. – Eu quero odiá-lo. Eu quero ficar com raiva dele, porque sei que tenho esse direito... Quero dizer que não sentirei falta do seu toque, do seu cheiro... Todos os dias. Mas eu não consigo. Porque eu sei que vou. Vai ser difícil olhar pra ele e não ser dele. Essa foi uma escolha dele e eu tenho que aceitar, porque é a minha única opção, mas só por isso. Talvez um dia eu possa esquecer...
- Eu vou te ajudar, ok? – Envolveu a minha mão com a sua.
- Eu sei que vai. – Forcei um sorriso, mas ele se parecia com qualquer coisa menos com o que deveria ser.
- Falo sério. – Apertou minha mão. – Lembra aquele verão em que Caroline e eu terminamos? Você esteve lá por mim. Durante três meses, você não saiu do meu lado. Agora é a minha vez.
- Harry... – Neguei com a cabeça, sabendo o que ele tinha em mente.
- Não me venha com essa de “Harry”. Está combinado. Eu serei seu diretor de reabilitação. – Dessa vez foi ele quem sorriu.
- Mas...
- Shhhh! – Me interrompeu. – Fique aqui e eu vou pegar o sorvete e podemos chorar.
- Eu achei que você ia me ajudar a superar! – Tentei falar enquanto ele se afastava com pressa, mas duvido que tivesse me escutado.
Harry devia estar planejando várias atividades para tirar a minha mente do término do namoro e eu sabia que a sua intenção era boa. O único problema disso é que eu não queria. Por mais masoquista que isso fosse, não queria “superar”, não queria esquecer. O amor que eu sentia por Zayn era muito forte e eu me apegara a ele mais do que qualquer coisa no mundo. Não queria ter que ouvir: “Vai ficar tudo bem.” Ou “Essa dor vai passar”, porque eu sabia de tudo isso. Com o tempo acabaria esquecendo de tudo... E sabia que aconteceria a mesma coisa com ele. Zayn me esqueceria e me deixaria para trás. Nós nos tornaríamos estranhos e isso me assustava. Lágrimas voltaram a rolar do meu rosto, as paredes começaram a apertar em volta de mim e o quarto se tornava cada vez menor. “Tenho que sair daqui.”
Sabendo que ninguém me deixaria sair sozinha no estado emocional em que eu me encontrava, teria que fugir. Pois é, fugas estão se tornando mais familiares do que eu desejava. Pensei em ir até o meu quarto para trocar de roupa, mas não arriscaria entrar lá e dar de cara com todas as lembranças que meu refugio guardava. Levantei da cama com um impulso, temendo que Harry voltasse antes que eu tivesse a chance de escapulir. Fui até o guarda roupa do menino e procurei algo que poderia servir em mim, acabando por escolher uma camisa branca com a frase “Hipsta Please”, um par de jeans preto que teria que caber em mim e dei muita sorte de achar um de meus antigos Converse perdidos entre os sapatos dele. Meu casaco vermelho devia estar dentro da bolsa que Niall trouxe e isso me protegeria do frio.
Ao terminar de trocar de roupa, um aperto tomou conta do meu coração. Aquele casaco vermelho estava encharcado com o perfume de Zayn. Todos os abraços que trocamos enquanto eu o usava o fez de esponja, sugando aquela lembrança dolorosa de que eu provavelmente nunca o teria tão perto de mim novamente. Passos ao lado de fora do corredor me apressaram. estava de pé sobre a cama, balançando o rabo pra mim. Dei-lhe um abraço rápido, desejando levá-lo comigo. “Não conta pra ninguém, tá?” Sussurrei para que ele guardasse o meu segredo e dei meia volta, indo até a janela. Não era a passagem mais segura, mas teria que servir.
Nunca gostei de ficar sozinha, mas naquele momento os meus pensamentos eram a minha melhor companhia. Meu celular vibrava dentro do meu casaco e eu o ignorava da mesma forma que fizera nos últimos quarenta minutos. Após sair escondida do condomínio, continuei a pé até o ponto de ônibus mais próximo, escolhendo o primeiro que passou para me levar a qualquer lugar. Olhei para o lado de fora durante a viagem inteira, sem prestar atenção em nada. Apenas desci quando algo em meu interior me avisou para fazer isso. Ao contrário do que eu desejava, sabia perfeitamente onde estava. O apartamento de ficava há alguns quarteirões dali. Meu inconsciente devia ter me levado até aquele bairro porque sabia o que eu precisava mais do que o meu consciente. Ainda desejava ficar sozinha comigo mesma, mas talvez pudesse ficar “sozinha” com a minha melhor amiga.
Um pensamento irritante me impediu de ir diretamente até a portaria e chamar por ela. E se Niall estivesse lá? E se Zayn estivesse lá com eles? Eu não conseguiria olhá-lo, não ainda. A ferida ainda estava muito fresca e se ele aparecesse na minha frente, 99% das chances estavam voltadas para que eu me jogasse em seus pés e pedisse para voltar. Pois é, eu seria capaz de fazer isso, já que parecia a única alternativa que apagaria a dor em meu peito. Terminei ficando na esquina, encostada a um poste de luz que começava a acender. Não tinha idéia de que horas eram, mas o céu parecia querer começar a escurecer. Respirei fundo e tirei o celular do bolso, me sentindo mal por ver todas as chamadas e mensagens de Harry que eu tão deliberadamente ignorara. Ele só estava tentando me ajudar e era isso que eu fazia? Eu era uma pessoa terrível.
O respondi sem nem ao menos ler as mensagens anteriores, sabendo que elas me deixariam com a consciência mais pesada do que já estava. Em seguida digitei uma mensagem para :
“Pelo menos você fala comigo! Estou em casa sim. Pode me explicar o que está acontecendo? Niall está me ignorando e nem me fale do seu namorado!”
Recebi uma resposta segundos depois de enviar a minha pergunta. Pelo visto ela não sabia o que tinha acontecido, o que significava que eu teria que contar. Eu teria que falar em voz alta mais uma vez. Respirei fundo, segurando as lágrimas que emergiram ao ler as palavras “seu namorado”. Em qualquer outra situação eu teria rido do que os dois estavam aprontando com ela, mas aquele dia era diferente.
“Hm, parece séria... Vou avisar na portaria que você vai subir.”
“Obrigada.”
Por mais que eu tentasse parecer simpática com o porteiro de quando ele abriu a porta para que eu pudesse passar, meus olhos avermelhados e rosto inchado denunciaram que eu não estava bem. Ele até mesmo perguntou se eu precisava de ajuda com alguma coisa ou se queria esperar um pouco antes de pegar o elevador. Devia estar com medo que eu desmaiasse lá dentro ou coisa parecida. Agradeci com um sorriso fraco, mas disse que conseguiria chegar até lá sã e salva.
Uma vez dentro do elevador, me encarei no espelho; minha aparência pior do que eu imaginava. Meus cabelos pareciam não ver uma escova há dias, olhos fundos e com olheiras de dois metros, nariz vermelho por conta do choro constante, roupas amassadas e tortas... Eu estava acabada. Antes que as portas se fechassem, uma garota morena entrou para me fazer companhia. Apertei o andar que queria ir e ela fez o mesmo. A diferença entre nós era gritante e me encolhi em um canto como se a minha presença pudesse incomodá-la. A menina parecia ter acabado de sair do salão de beleza enquanto eu parecia ter caído do caminhão de lixo. Pois era assim que eu me sentia, tanto pelo lado de dentro quanto de fora.
Para a minha sorte, meu andar chegou primeiro e pude sair de lá antes que o pouco da auto-estima que eu guardava fosse embora pelo ralo. Toquei a campainha do apartamento e torci para que a minha amiga abrisse a porta. Se o pai ou a mãe dela atendessem, poderiam achar que eu era uma mendiga que conseguiu entrar escondida no prédio e escolhera aquele lar para assaltar. Uma sombra parou atrás da porta e a chave foi girada na porta. Olhei para os meus próprios pés e a voz feminina me fez congelar.
- Uhn... Sim? – A mãe de segurava a porta aberta.
- Boa tarde, senhora ... – Ou seria boa noite? – me disse que eu podia subir...
- , dear! É você, quase não a reconheci. – Sorriu envergonhada e deixou que eu adentrasse ao apartamento. – Ela está no quarto, pode se sentir a vontade.
- Obrigada... – Os cantos de meus lábios foram levantados, mas ainda não parecia um sorriso.
Passei pela sala daquele apartamento e vi Félix, o gatinho persa da minha amiga, brincando com uma sacola plástica. Ninguém parecia se importar com aquele bichinho, então ele continuava a encher a sala de pedacinhos de plástico rasgado. “Sortudo.” Para eu estar achando um gato sortudo, algo muito errado estava tomando conta da minha cabeça. Como já conhecia bem o caminho para o quarto de , não esperei a mãe dela me acompanhar e também não bati na porta para entrar. A minha amiga estava na frente da mesinha do seu computador, mexendo em algum site que não me importei saber qual era. Assim que fechei a porta atrás de mim, ela olhou na minha direção e o seu sorriso logo desapareceu.
- Você está horrível! – Foi a primeira coisa que ela falou.
- Eu me sinto horrível. – Dei de ombros, não sendo capaz de segurar as novas lágrimas.
- ... O que aconteceu? – Correu na minha direção e me abraçou com força, me deixando esconder o rosto em seu ombro e chorar o quanto quisesse.
- Acabou, ... – Falei com a voz chorosa, apertando-a ainda mais. – Eu e Zayn... Nós terminamos.
- Não... – Sussurrou, claramente surpresa. – Senta aqui, , me conta o que aconteceu.
- A Brigitte aconteceu. – Funguei ao ser guiada para a cama dela. Antes de me sentar, tirei o meu casaco e sapatos. então sentou de joelhos no meio do colchão e me fez sentar de frente pra ela. – Não sei se consigo explicar...
- Pode contar a versão curta dos fatos, não quero que fique lembrando disso... – Como se lesse meus pensamentos, me confortou com um toque em meu ombro.
- Ela encontrou uma matéria de jornal que dizia que Nick e eu éramos namorados. Claro que jornais mentem e esse entendeu tudo errado! O problema é que Brigitte vinha enchendo a cabeça dele de coisas e... – Funguei com mais força, quase soluçando. – Ele preferiu acreditar nela.
- Olha, agora o Zayn se superou! O que tem na cabeça daquele menino? Acho que de tanto fumar um beck os neurônios foram todos reduzidos. – Balançou a cabeça, com a mesma raiva que Harry ficara ao escutar a mesma história. Ela entrelaçou nossos dedos em um carinho calmo e chiou ao ver as marcas no meu pulso. – Me diz que não foi ele que fez isso.
- ... Foi sem querer... – Puxei o braço de volta e escondi as marcas com a minha própria mão.
- Sem querer ou por querer, ele não tinha o direito de encostar um dedo em você!
- Podemos não falar sobre isso? – Limpei as lágrimas que atrapalhavam a minha visão e a outra me entregou uma caixinha de lenços.
- Claro, claro. – Aceitou mudar de assunto, mas algo me dizia que ela não esquecia. – Como você está se sentindo?
- Como um nada. Literalmente, um nada! Sinto que não sou boa o suficiente e que talvez Zayn esteja certo em não me querer. Quero dizer, olha pra ele e olha pra mim... Essa confusão toda foi só uma chance que ele teve pra se livrar de mim. – Solucei quase sem ar após falar tudo aquilo.
- Você não podia estar mais errada, . – indicou o seu colo para que eu me deitasse sobre ele. Ela ainda parecia um pouco alterada, mas tentava se concentrar em mim. – Não pode ficar achando que você é a culpada ou que não é boa pra ele, porque acredite... Você é a melhor cosa que apareceu na vida do Zayn e ele só é estúpido o bastante pra não ver isso.
- Ele está cego. As mentiras que Brigitte pôs na cabeça dele o cegaram... – Deitei naquela cama e encostei a cabeça nas pernas dela.
- Dê um tempo e ele vai perceber o que fez... – Começou a desembaraçar os meus cabelos com cuidado. – E aí vocês poderão conversar direito, com calma. Antes que perceba, já vão estar juntos e novo...
- Acha mesmo? – costumava estar certa, então me agarrei àquela pequena luz no fim do túnel.
- Ele te ama, . Isso ninguém pode negar, nem ele mesmo. O orgulho dele está magoado, porque querendo ou não, qualquer um que ler aquele jornal vai pensar que você é do Nicholas e não dele. – Eu não tinha pensado por aquele lado e senti um aperto. Zayn sempre foi possessivo e protetor quando se tratava de mim. Pensar em milhares de pessoas achando que eu pertencia a outro... – Zayn pode ser tudo, mas ele não teria te dado esse anel se não fosse sincero com suas promessas.
- Eu tinha esquecido que estava usando esse anel... – Olhei a pedrinha brincando entre os meus dedos. – Acho que já me acostumei com ele.
- E ele fica lindo em você, não me entenda mal... Mas você sabe que tem o direito de ficar com raiva do Zayn, certo? Pode ficar magoada também, afinal... Ele foi um idiota.
- Sei sim. – Afirmei com a cabeça. Entre saber disso e realmente ficar com raiva dele havia um precipício infinito. – Mas também não quero falar mais disso.
- Então não vamos mais falar sobre isso! – deu uma batidinha no meu ombro para que eu me levantasse. – Você vai dormir aqui em casa hoje e teremos uma noite do pijama. Vou pedir pra minha mãe fazer cookies e faremos coisas de meninas!
- Da última vez que você falou isso, acabei pintando o cabelo. – Forcei um sorriso, gostando muito daquela idéia.
- E viu como ficou linda?! – Riu. – Por falar nisso, temos que dar um jeito na sua aparência. Vá tomar um banho e eu vou pegar algumas roupas pra você. Parece até que assaltou o guarda-roupa do Harry!
+++
Após meia hora tomando um banho quente e me aproveitando dos milhares de cremes e produtos que tinha, vesti um pijama muito fofo que ela separara pra mim. Uma camisa de mangas compridas de um tecido que parecia escorregar na minha pele e um short de algodão com desenhos de muffins ingleses. O corredor já estava cheirando a cookies e supus que a mãe dela tinha mesmo atendido ao pedido da filha. Eu não vou dizer que já tinha superado o término e que estava 100% inteira, mas o banho e a conversa com a minha amiga foram o bastante para que eu parasse de chorar a todo instante. Parei na porta do quarto de ao escutar que ela conversava com alguém; provavelmente pelo celular. Não quis ficar escutando a conversa dos outros, mas foi mais forte que eu.
- Niall, me diga que você não concorda com essa história toda! (...) Ah, pelo menos você tem mais de dois neurônios. (...) Não! (...) Eu sei, ela está no banho agora. (...) Como acha que ela está?! Diga pra ele que vai ter que se entender comigo pelo que fez no braço dela! (...) Como assim o que? Ah, faça-me o favor, Zayn! (...) Ah, oi, Niall. (...) Eu não me importo se ele está bebendo. (...) Vá atrás dele, ué! (...)
- ? – Abri a porta finalmente.
- Tenho que ir. Te ligo depois. – E desligou a chamada. – Oi, ! Viu como o banho te fez bem?
- Quem era no telefone? – Perguntei apesar de já saber a resposta.
- Ninguém importante. – Largou o aparelho em cima de uma prateleira baixa e me olhou. – Pronta para uma noite de garotas?
- Como ele está? – Sentei na ponta da cama, abraçando um dos joelhos.
- Você ouviu, né? - Bufou pela sua falta de discrição e sentou na cadeira do computador. – Ele está... Mal. Segundo o Niall, não parou de beber desde essa manhã. O perigo agora é que ele está querendo pegar o carro...
- Não preciso saber mais. – Pedi encarando o chão. – O pior é que Brigitte é a culpada por tudo isso e agora ela deve estar na casa dela, feliz da vida!
- Quer ir até lá? – perguntou animada demais. – Acho que sei onde ela mora e podemos jogar alguns ovos na porta... Ou tocar a campainha e dar uns tapas bem dados naquela cara de pata choca! Particularmente gosto dessa segunda opção.
- Eu também gosto. – Uma risadinha frouxa deixou os meus lábios e me surpreendi. – Mas não podemos sujar as nossas mãos com ela.
- Mas podemos sujar as nossas mãos com chocolate, certo? – sorriu assim que a mãe dela entrou no quarto com um prato de biscoito e dois copos de leite.
- Obrigada, senhora . – Agradeci ao receber um dos copos.
- Me chame de Lucy, querida. – Sorriu. – Bem, qualquer coisa eu estarei no quarto, sim?
- Obrigada, mum. – falou de boca cheia, o que fez Lucy revirar os olhos. – Ela me ama.
- Não tenho dúvidas. – Fui um pouco sarcástica e dei um gole na minha bebida.
- Já está até fazendo piadinhas. – riu, terminando seu primeiro cookie. Ela me passou o prato e se virou para mexer no computador mais uma vez. – Acho que vou até te contar a novidade.
- Qual novidade? – Apesar do cheiro maravilhoso e de não ter comido nada desde a noite anterior, deixei o prato de lado, me concentrando apenas no leite.
- Quando foi a última vez que você entrou no Twitter da banda?
- Ontem de manhã... Por que? – Arqueei uma sobrancelha. Twitter da banda. Banda do meu ex-namorado.
- Viu quem é o novo seguidor?
- , eles tem muitos seguidores novos diariamente. Como vou saber?
- Achei que você saberia se o senhor Tom Fletcher começasse a seguir também... – Falou casualmente e me espiou por cima do ombro com aquele sorrisinho sapeca.
- Se você estiver brincando comigo, eu juro que te mato. – Puxei um pufe roxo e me sentei ao lado dela para olhar a tela do computador. – E no estado de espírito que estou, falo sério.
- Então olhe aqui a prova. – deu alguns cliques com o mouse e quando fui ver, era verdade. - “Tom Fletcher follows you.”
- Holly... – Segurei um xingamento. – DM! DM! DM!
- Ok, ok, não precisa gritar! – Riu e me obedeceu, abrindo a caixinha de mensagens diretas. – O que eu falo?!
- Eu estive sonhando com esse momento a minha vida inteira... – Pensei alto, mas a garota começou a digitar aquilo. – , NÃO!
- O QUE? Não é isso que é pra digitar? – Fez uma careta e apagou tudo. – “É uma honra sermos seguidos por tamanho ídolo.” Que tal?
- Brega. – Franzi o cenho. – Não sei o que falar...
- “Hey, Tom, aqui quem fala é a , uma das “empresárias” da banda. Sou uma grande fã do seu trabalho desde 2006 e preciso dizer que é uma honra estar falando com você agora.” – Leu o que ia digitando.
- Melhorou... – Ainda não perecia a primeira frase ideal, mas senti um frio gostoso na barriga. – Será que ele vai responder?
- Acho que ele já respondeu. – Apontou para a tela, mas tive medo de olhar. – “Nesse caso, é um prazer conhecê-la, . Como vai?”
- Ele falou isso mesmo? – Levantei o rosto e quase gritei. – Tom Fletcher sabe o meu nome... Tom Fletcher quer saber como eu estou...
- “Terminei com o amor da minha vida, então estou bem ruim. Mas e você, senhor covinha?” – A menina só podia estar brincando com a minha cara.
- Você não vai mandar isso! – Tentei tirar a mão dela do mouse, mas acabei apertando para enviar. – Shit! Senhor covinha, ?!
- Ops... – Riu. – Mas olha, ele está respondendo... “Sinto muito em saber disso, de verdade. Eu estou bem... Se importa se eu lhe der um conselho?”
- Sai, sai, sai! – Empurrei a cadeira de rodinhas dela para o lado e fiquei na frente do teclado, deixando meu copo de lado.
“Claro que não me importo! Qualquer conselho seu seria muito bem vindo.”
“Everyday should be a new day to make you smile and find a new way of falling in love.”
“Ei, essa frase é de uma música!”
“Então você é mesmo fã.”
“Estava me testando, Fletcher?”
“Li essa frase com um som ameaçador. Devia ter medo?”
“Do or do not, there is no try.”
“E agora você citou Yoda.”
“Eu estava te testando. Como saberia se você é o verdadeiro Tom ou não?”
“Tem razão. Eu posso ser um impostor.”
“Exatamente. Só poderei saber se você é o verdadeiro Tom se tivermos algum código secreto.”
“Gosto de onde isso está indo... Continue.”
“Quando nos vermos algum dia, fale: “Eu gosto do seu cadarço.” Isso provará que estou falando com o verdadeiro.”
“E como vou saber que você é você mesma?”
“Também preciso de um código...”
“Já sei! Responda: “Obrigada, eu os roubei da rainha.”
“É bom que você seja você mesmo, porque se eu for detida por suspeita de roubo, alguém precisará pagar a minha fiança.”
“Feito.”
- A tem um encontro com Tom Fletcheeeeeeer. – cantarolou, me fazendo rir. Aquela pequena conversa com um de meus ídolos me distraiu bastante.
- Cala a boca, ! – Estirei a língua pra ela. – Ele é casado.
- É uma pena. – Cuspiu farelos de cookie na minha direção enquanto falava.
- Ew, ew! Epa, você não deixou cookie nenhum pra mim?
Capítulo LXV
No sábado de manhã, deixei a casa de e fui para a minha própria. Meu humor estava bem mais... Estabilizado, digamos assim. Ainda passei o dia inteiro largada no sofá ou na cama de qualquer um dos meninos, apenas assistindo filmes e me sentindo mal por mim mesma. Acabei contando pra eles o que havia acontecido, mas deixei de fora aqueles detalhes cruciais que ninguém poderia saber. Nick também acabou me fazendo uma visita ao anoitecer, pois liguei para contar o que acontecera, caso Zayn ou alguém pudesse confrontá-lo sobre a nossa tal dita “relação secreta”. É óbvio que ele se sentiu tremendamente mal por se achar o culpado daquela confusão toda e disse que iria falar com Zayn e contar tudo. Eu não deixei, afirmando que a merda toda já estava feita e que – se ele não acreditou em mim – não acreditaria nele.
Além das minhas atividades cinematográficas, também aproveitei o dia para ficar com , já que estava sendo uma mãe muito desnaturada ultimamente. O filhote parecia sentir que eu estava mal, pois não saiu do meu lado nem enquanto tomava banho. Seu astral sempre animado serviu para me distrair por algumas horas enquanto brincávamos pela neve. Aquele clima de inverno ainda era difícil pra mim, mas o cachorro adorava e rolava pela montanha branca como se fosse apenas areia ou uma grama fofa. Antes de dormir, me ligou para checar como eu estava e não me deu nenhuma noticia de Zayn; o que por um lado era bom, já que eu devia mesmo me acostumar com isso, mas por outro, me matava por dentro não saber como ele estava. Ainda que ela me desse noticias, eu não sabia o que gostaria de ouvir. Saber que ele estava bem mostraria que me esquecia mais facilmente do que eu jamais conseguiria. E saber que ele estava mal... Bem, isso me deixaria culpada e preocupada.
Falando de coisas boas agora, eu tinha um novo amigo no Twitter. Ninguém mais, ninguém menos que Tom Fletcher. Judd e Jones acabaram me seguindo também, mas não trocamos mais de duas palavras. Eu estava me sentindo a pessoa mais sortuda do mundo, mesmo que não conversássemos sobre coisas pessoais. O nosso assunto principal era a banda dos meninos, ou seja, Tom falava o quanto havia gostado da apresentação deles no X Factor e aconselhava que deveríamos levar CDs demos em gravadoras para fazer propaganda, pois quem sabe assim alguém se interessaria e gostaria de assinar um contrato com eles. A partir dos Twittes que recebi de Tom, ganhei novos followers curiosos que queriam saber quem eu era. O que pareceu ser o mais popular foi mais ou menos assim: “@, a garota que roubou os cadarços da rainha.”
No domingo de manhã, acordei mais deprimida que o normal. Há uma semana atrás, os meus planos para aquele dia não incluíam ficar duas horas na cama criando coragem para levantar, mesmo que não houvesse força nenhuma em meu corpo. Era o aniversário de Zayn. O primeiro que eu passaria ao lado dele, mas pelo visto isso não iria mais acontecer. O presente que eu comprara pra ele estava escondido no fundo do closet e provavelmente nunca corresponderia ao seu destino. As pessoas deviam estar com uma mania comum de esconder as cosas de mim, principalmente quando se tratava de ligações, o que só me deixava uma solução: Escutar atrás da porta até saber do que se tratava. Niall ligou para Louis, chamando todos os meninos para irem até a casa de Zayn por causa de uma reunião que a mãe dele havia preparado. Pelo que entendi, ninguém quis ir de cara, mas Trisha insistia em conhecer a banda do filho, o que os deixou meio sem jeito de negar.
Já na cozinha, ouvi Harry e Liam trocando sussurros, tentando achar uma forma de ir para essa festinha de aniversário sem que eu ficasse sabendo. Eles temiam que eu ficasse chateada ou que achasse que estavam do lado de Zayn, quando não era bem assim. Em primeiro lugar, os cinco eram uma banda. Além disso, eram amigos. O que tornava complicado se ignorarem completamente, o que também não era o que eu queria. Pensando mais claramente, eu sabia que nossas vidas deveriam seguir em frente e que só porque não me sentia confortável estando no mesmo lugar que Zayn, não significava que os outros também não se sentiriam. Poupando-os de qualquer constrangimento, fingi que na sabia de nada e falei que ia sair de casa para dar um passeio, deixando-os livres para fazer o que quisessem.
De certa forma não estava mentindo, já que deixei o condomínio para dar uma volta pela cidade. Dessa vez fui de carro e não pretendi me encontrar com ninguém. Havia coisas que eu precisava fazer, lugares pra ir e pensamentos para organizar. Coisas que eu só conseguiria fazer sozinha. Coisas que não tivera coragem até aquele momento. Parei o carro na primeira vaga que encontrei, no centro de Londres. Quando falo “centro de Londres” não me refiro à geografia da cidade, e sim o centro cultural. Para ser mais exata, estava no Jubilee Gardens, onde Zayn e eu fomos no nosso primeiro encontro não oficial. Estar ali, andando sozinha pelo caminho entre o rio e o parque, trouxe uma sensação de nostalgia indescritível. Não foi tão doloroso quanto eu achei que pudesse ser. Percorri aquele espaço com as mãos nos bolsos até encontrar uma figura conhecida tocando violão a alguns metros de mim.
- Boa tarde, Jack. – Sorri fraco, observando o homem. Suas roupas não pareciam nem de longe tão quentinhas quanto as minhas. – Faça chuva ou faça neve, você está aqui!
- Um velho tem que ganhar a vida, não é? – Parou de tocar assim que me viu e sorriu de canto a canto. – É bom te ver, !
- Digo o mesmo. E você não está velho. – Olhei disfarçadamente para a caixinha de papelão aberta com algumas moedas e notas diversas. Não era muito, mas ao menos não estava vazia. – Isso se chama experiência!
- Nesse caso, eu tenho muita experiência! – Riu de uma forma que pareceu mais uma tosse do que qualquer coisa. – O que está fazendo por aqui?
- Só estou dando uma volta. Precisava clarear a mente, então nada melhor que um pouco de ar livre, certo?
- É isso o que eu sempre digo! – Um calafrio tomou conta de Jack, o que o fez se encolher. Como eu imaginava, ele estava com muito frio... – Como Zayn está?
- Bem, eu acho... – Aquela pergunta veio mais rápido do que eu esperava e arrisquei uma resposta, mesmo sem saber se Zayn estava bem mesmo. – É aniversário dele hoje.
- Então por que você não está com ele? – Perguntou como se soubesse que havia algo errado, mas não quisesse tirar conclusões precipitadas.
- Ele... Nós não estamos... – Me interrompi assim que Jack afirmou com a cabeça. Ele entendera onde eu queria chegar, me poupando.
- Sinto muito, de verdade. – Sorriu de canto, daquele jeito que as pessoas fazem quando dão os pêsames para os que acabaram de perder alguém. – Mas, ei! Nunca se sabe o dia de amanhã, certo?
- Com certeza! – Forcei um sorriso e fingi ser mais forte do que realmente era.
– Bem, vou te deixar voltar ao seu passeio. Não foi pra conversar comigo que você veio aqui.
- Não fale assim, Jack, é sempre bom conversar com você. – Cruzei os braços, o estudando. – Ao menos me deixe te ajudar. Fique com isso aqui...
- , eu não posso aceitar... – Tentou se esquivar quando tirei o cachecol marrom do meu pescoço e coloquei em volta do dele.
- É claro que pode! Não vou te deixar com frio. Você precisa mais do que eu. – Também tirei a touca que estava em meus cabelos e coloquei sobre a cabeça do outro. – Agora está bem estiloso.
- Obrigado, ... – Sorriu. Minha ajuda podia não ser tão grande assim, mas era o mínimo que eu podia fazer. – Deixe eu te dar algo em troca.
- Não precisa, Jack! – Neguei, mas ele também não me deixaria escapar.
- É pouco, mas é de coração. – Tirou do bolso um pingente prateado com um coração na ponta, feito de tampas de garrafa.
- Você é um artista! – Sorri agradecendo aquele presente e o coloquei em volta do pescoço. – Obrigada, Jack. Te vejo depois, sim?
E com um aceno, nos despedimos. Eu já considerava aquele homem como um amigo, mesmo tendo-o visto poucas vezes antes. Algo me dizia que ele tinha uma boa alma e isso era o suficiente para que eu confiasse nele. Voltei ao meu caminho, chutando algumas pedrinhas e observando as marcas que a sola da minha bota causava na neve rala. Só voltei a olhar pra frente quando senti que estava sendo seguida – tipo com um sexto sentido me avisando - olhei para trás. Havia apenas duas meninas conversando atrás de mim, então resolvi ignorar aquela sensação estranha. Só então quando ouvi o meu nome sendo chamado é que parei de andar e me virei mais uma vez.
- Oi? – Perguntei meio que para o nada, já que não via ninguém que eu conhecesse e Jack já estava distante demais.
- Eu disse que era ela! – Uma menina de cabelos bem negros falou para a sua amiga.
- Você é Tomlinson, não é? – A segunda perguntou, correndo até onde eu estava com a de cabelos negros em seu encalço. – Irmã do Louis Tomlinson do One Direction?
- Sou sim... Você os conhece? – Sorri, colocando uma mexa do cabelo atrás da orelha.
- Claro que sim! – A primeira pulou no mesmo lugar. – Todo mundo da nossa escola ama eles!
- Você tão linda! – A segunda menina me elogiou e não soube muito o que fazer.
- Obrigada... Eu acho. – Sussurrei as últimas palavras, um pouco sem jeito. Aquelas meninas pareciam chiuauas cheios de energia e bem animados com algo que, nesse caso, era eu.
- Os meninos estão aqui com você também? – A de cabelos negros olhou em volta, esperançosa.
- Não, sou só eu... Desculpa.
- Ah, não tem problema! Demos muita sorte de te encontrar aqui. – Foi a segunda que sorriu pra mim, com o celular na mão. – As meninas da nossa sala nunca vão acreditar nisso!
- Podemos tirar uma foto com você? Por favor! – A primeira.
- Claro que sim, fiquem a vontade...
Assim que aceitei tirar uma foto com as meninas, elas se revezaram. Primeiro fiquei ao lado da de cabelos mais escuros enquanto a segunda capturou a imagem e vice versa. Eu já havia sido reconhecida algumas vezes e era sempre a mesma coisa; meninas perguntando se eu era eu e se algum dos meninos estava junto comigo. Ainda assim, era bem difícil me acostumar. Não eram todas que pediam fotos e eu nunca sabia o que fazer. Devia abraçá-las? Devia colocar as mãos nos bolsos? Devia sorrir ou fazer careta? No final acabava escolhendo um sorriso natural e me inclinava um pouco na direção da pessoa. As duas directioners foram muito simpáticas comigo e isso me ajudou a relaxar.
Não querendo prolongar aquela conversa mais que o necessário, disse que realmente precisava ir embora e elas entenderam. Acenei um “tchau” amigável e elas continuaram falando o quanto eu era simpática e blábláblá. Ao mesmo tempo em que me senti lisonjeada por aquele carinho, tinha um pé atrás. As duas poderiam estar me tratando assim só porque eu conhecia a banda que elas gostavam, mas ao virar de costas, poderia também ser alvo de xingamentos ou coisa parecida. Mas, sinceramente? Eu tinha mais coisas com o que me preocupar, então esse assunto logo se esvaiu da minha lista de preocupações. Inconscientemente me peguei pensando no que Zayn falaria quando eu contasse pra ele sobre ter sido reconhecida na rua... Mas ele não falaria nada, porque eu não podia contar.
Continuei caminhando em direção ao London Eye, tentando me apegar com força aos momentos bons que passara ali, desejando que eles pudessem voltar. Sabia que era impossível e que eu não tinha um relógio que voltava no tempo, mas uma garota pode sonhar, certo? E, quem sabe, poderia ter razão. Vai ver Zayn só precisava de um tempo pra perceber o erro que cometera e assim poderíamos conversar... Pois eu tinha certeza que o aceitaria de volta; eu precisava tê-lo de volta. A pessoa que eu fui no dia que cheguei em Londres pela primeira vez era uma garota completamente diferente daquela que eu era agora. E isso só fora possível – em grande parte – por causa do menino de olhos mais lindos que eu podia conhecer. Aquele velho aperto em meu peito era um lembrete constante que eu tive tudo, que era feliz, mas agora não tinha mais nada.
Cheguei à pequena fila do London Eye, ficando em último lugar até que a minha vez chegou. O tempo de inverno e época do ano era bem propício para que o parque inteiro estivesse vazio; ou quase isso. Um casal foi na cabine a minha frente e o funcionário perguntou se eu gostaria de acompanhá-los, mas preferi ir sozinha. Não sabia como reagiria ao chegar no topo e as lembranças do primeiro beijo que Zayn e eu trocamos me atingisse e não queria que me vissem chorar. Assim que a minha cúpula de vidro foi aberta, me apressei para entrar sem nem ver uma mulher se aproximando.
- Com licença... Minha filha poderia ir com você? – Falou, apontando para uma menina de óculos bem escuros, que olhava para o lado. – Ela quer muito dar uma volta, mas eu tenho medo de altura...
- Não tem problema algum... – Respondi sem ter coragem de negar aquele pedido.
- Obrigada. Lily, querida, ouviu isso? Venha, me dê a sua mão... – A senhora encaminhou a filha para dentro da cabine.
- Eu sou cega mãe, não surda. – A menina bufou, me pegando de surpresa. Então era por isso que ela usava óculos escuros quando quase não havia Sol.
- Menina, não fale assim! – A mãe de Lily ficou mais triste do que brava e logo se afastou. – Eu vou estar te esperando aqui, viu?
- Tudo bem, mãe.
Lily e eu ficamos sozinhas na cúpula de vidro quando a porta foi selada e o funcionário acenou, indicando que a roda gigante começaria a andar. Me aproximei da frente e me apoiei levemente da barra de segurança, não sabendo se devia olhar para a menina que me acompanhava – que caminhou com cuidado até que suas mãos encostaram no vidro – ou para o horizonte. Ela fez quase os mesmos movimentos que eu, se inclinando para frente como se pudesse ver a paisagem que começava a aparecer na nossa frente. “Será que eu devo falar alguma coisa?”
- Uhn, me desculpe pela minha mãe... – Lily quebrou o silêncio antes que eu tivesse que fazê-lo. – Ela sempre foi protetora, mas depois que isso aconteceu, se tornou pior ainda.
- Eu entendo. Mães são assim mesmo. – Balancei a cabeça em compreensão enquanto ela apontava para os próprios olhos.
- Você pode perguntar o que aconteceu, se quiser... – Suspirou. – E não se preocupe, não vou pedir pra tocar o seu rosto nem nada disso, mas gostaria de saber o seu nome.
- , me chamo . – Respondi sem tirar os olhos dela. A menina não devia ter mais que quatorze anos. Não estava tão certa se podia mesmo perguntar sobre o “problema” dela, mas Lily se mantinha positiva agora que a mãe dela não estava presente. – Então... O que aconteceu?
- Não fui sempre assim... Perdi a visão há pouco mais de dois anos. Tive uma espécie de câncer raro que tomou conta dos meus olhos. E aí tive duas opções... Ou removia de uma vez ou corria o risco de continuar com a visão e o câncer se espalhar para o meu cérebro. – Sorriu enquanto falava, mas não em uma espécie de humor negro de mal gosto. Lily parecia de fato orgulhosa de si mesma. E deveria... Pois aquela era a sua história de batalha. – Acho que já dá pra ver o que eu escolhi, né?
- Sinto muito, Lily. De verdade... – Era a única coisa que eu podia falar.
- Não precisa, sinceramente. Posso parecer louca, mas foi quando perdi a visão que comecei a dar mais valor às coisas. – Lily podia ter pouca idade, mas falava com maturidade. – Mas não vou entrar em detalhes, porque você não deve estar afim de escutar sobre a minha vida.
- Não me importo. – Respondi calmamente.
Apesar do meu sinal verde, a garota não quis continuar com o seu discurso. Tentei não ser preconceituosa e não julgar o que eu não entendia, mas porque ela fazia tanta questão de andar no London Eye? Não me entenda mal, ela podia fazer o que quisesse! Eu só esperava entender o valor sentimental que aquela roda gigante podia ter pra ela. Não perguntei mais nada quando a nossa conversa chegou ao fim. Ambas continuamos olhando pra frente, cada uma envolta em seus próprios pensamentos. Lily colocou as palmas das mãos no vidro e sorriu. Só o que eu conseguia imaginar era como seria difícil acordar vendo o mundo e todas as suas cores e no mesmo dia não ter mais esse sentido tão importante e que muitas vezes passava despercebido.
Por Deus, ela era só uma criança. Não tenho certeza se eu mesma seria capaz de passar por tudo que ela passara e continuar sorrindo. Essa é uma daquelas situações que a gente não espera que aconteça conosco até que ela realmente aconteça. Tanto a visão quanto a fala e a audição são coisas essenciais para o ser humano e muitas vezes nós não damos o valor necessário exatamente por achar que sempre as teremos. Eu começava a entender a frase de Lily ao falar que após perder a visão começou a dar mais valor às coisas. Como poderia ser diferente? Ela sofrera uma perda tão gigante que precisava se ocupar com aquilo que ainda tinha.
Pensei em Zayn. Entretanto, não em como sentia a sua falta e não em o quanto o queria ali comigo. Sim, eu queria que ele estivesse ali dentro comigo, mas, assim como Lily, precisava encarar de frente o que o destino colocara no meu caminho. Pensei em todas as horas que passei chorando nos últimos dias e pensei na garota ao meu lado. Havia tantas coisas mais sérias para eu me preocupar. Tantos motivos piores que um término de namoro para se chorar... Não estava diminuindo a dor que estar sem Zayn me causava, apenas tentando olhar aquilo por outro ponto de vista. Se eu contasse pra ela o motivo que me entristecia, Lily teria todo o direito de rir da minha cara e me chamar de louca. Sem trocadilhos e mesmo que sem querer, aquela menina que entrou por acaso na minha cabine acabava de abrir os meus olhos.
- O que você está vendo? – A menina perguntou assim que sentimos a roda gigante parar.
- O Sol está começando a se pôr e o céu está em um tom meio alaranjado. Londres inteira está bem branca por causa da neve, o que inclui o teto das casas e prédios. O chão também... E o teto dos carros. – Comecei a descrever. Lily não podia ver, mas podia imaginar. – A ponte Whaterloo está incrivelmente linda. Estamos bem longe, mas parece um cenário de filme. É algo realmente inesquecível. Gostaria que você pudesse ver...
- Posso sentir, o que é quase a mesma cosa. – Sorriu após ouvir cuidadosamente as minhas palavras. – Sabe aquilo que falam que quando você perde um sentido, os outros são aguçados? É mais ou menos verdade. Eu não posso farejar como um cachorro e nem escutar tão diferente assim de você, mas posso sentir.
- Você... Pode me mostrar? – Mesmo sem ter certeza do que queria dizer, arrisquei.
- Claro. – Se virou na minha direção, mesmo que seus olhos parecessem me atravessar por trás daqueles óculos. Ela sorria de animação. – Pode me ajudar?
- O que você precisa? – Segurei as mãos de Lily assim que ela as esticou na minha direção.
- Vamos sentar no meio da cúpula. Pode ser?
- Uhum... – A trouxe comigo para o centrou e a ajudei a se sentar. Fiz o mesmo em seguida.
- Agora feche os olhos. E como não posso ver se você está de olhos fechados mesmo, é bom que obedeça! – Ela mandou de forma brincalhona e eu obedeci.
- Estão fechados, eu prometo. – Também sorri.
- Coloque as mãos no chão e relaxe o corpo inteiro... Não pense em nada. Apenas sinta.
Fiz como ela pedi e espalmei as mãos no chão, ao lado do meu corpo. Respirei fundo pelo nariz e soltei pela boca. Repeti essa ação algumas vezes até começar a relaxar. Meu corpo aos poucos foi se tornando a par do que estava acontecendo. Eu não via nada, mas sentia que estávamos descendo. Sentia as engrenagens se movendo e sentia o peso da gravidade. Não abri os olhos por nem um segundo, escutando ao meu redor o som do vento correndo e batendo contra o vidro da cúpula. Me senti grata por poder experimentar aquilo, mas me senti mais grata ainda ao abrir os olhos e ver que nada mudara. Lily sorria. Não sei bem do que, mas ela sorria. E seu sorriso, de uma forma engraçada, me trazia esperança. Logo ela quebrou o silêncio e falou:
- Às vezes temos que fechar os olhos pra poder enxergar.
- Olá? Tem alguém em casa?
Chamei mesmo sabendo que ninguém me responderia. O único movimento dentro da casa foi um filhote não mais tão pequeno assim que desceu as escadas correndo ao meu encontro. Levei uns segundos para assimilar que aprendera a finalmente passar do segundo andar para o primeiro sem a ajuda de ninguém. Larguei as sacolas que carregava e me ajoelhei no chão, deixando o pequeno pular em cima de mim e o parabenizei. Enchi o pequeno de beijos enquanto ria e falava cosas do tipo “Isso mesmo, baby!” e “Mummy está orgulhosa de você”. Claro que ele me entendia e balançava o rabo em felicidade. Seus olhinhos azuis brilhavam como piscinas e a sua emoção em me ver era sem preço. Vai ver é por isso que falam que o cachorro é o melhor amigo do homem. Eu sabia que nunca me abandonaria e não confiaria em ninguém mais do que ele confiava em mim. Sem falar que nunca mentiria pra mim!
- Você comeu? Está com cheiro de ração! – Fiz cafuné em sua cabecinha e levantei. – Ajuda a mamãe a levar as coisas? !
Gritei por ele, mas não adiantou. O cachorro começou a correr escada à cima e em seguida desceu de novo, como se quisesse me mostrar novamente o que tinha aprendido. Fiz festa mais uma vez assim que ele pulou e apoiou as patas dianteiras nos meus joelhos. Peguei as minhas sacolas sem ajuda alguma e subi para o meu quarto com me seguindo. Antes de voltar de vez para casa, fiz um pouco de terapia feminina: Compras! Passei em uma livraria e passei horas folheando livros até que escolhi três para comprar. Nenhum deles de romance, só pra constar. Tomei sorvete apesar do frio, comprei dois pares de sapatos, revistas de moda, o primeiro CD desconhecido em que bati o olho quando entrei na loja de CD’s e por último, mas mais importante... Uma pizza grande de calabresa. Essa última que eu ainda não havia comido e carregara até o quarto comigo.
“Tah, fomos dar uma volta. Não devemos demorar muito, mas se cuide. Nós te amamos. H. L. L.”
Esse foi o bilhete que encontrei preso por um adesivo de coração na porta do meu quarto. Deixei as minhas compras em cima da cama e tive todo cuidado do mundo com a minha pizza. Ela fazia parte do meu plano de “aproveitar as pequenas coisas” e “seguir em frente com aquilo que te faz feliz”. Durante o resto da descida do London Eye, Lily continuou me inspirando. Ela me contou mais algumas histórias de como foi quando ela perdeu a visão de vez e decidiu que ficaria louca se não seguisse em frente. A jovem de quatorze anos e meio (sim, eu perguntei) me mostrou que estava tudo bem não estar bem. Que nós podemos cair de vez em quando, só não podemos continuar no chão. Me ensinou que se a gente não cuidar de nós mesmos, ninguém vai. Que temos que nos amar e nos dar um descanso de vez em quando. Isso me vez tomar uma decisão. A partir dali, eu pensaria em mim, porque está tudo ok em ser egoísta de vez em quando. Eu iria começar devagar, fazendo coisas que gostava e que sentia falta. Naquele instante, eu sentia falta de entrar nas minhas roupas velhas e comer pizza até passar mal.
Como os meninos não estavam em casa, não me importei em fechar a porta para me trocar. ainda era baixinho demais pra subir na cama alta sozinho e por isso ficou no chão me observando, por mais que o cheiro da pizza tivesse chamado a sua atenção. “Não senhor, não vou dividir com você!” Falei pra ele, que chiou baixo. Quando já estava dentro da minha calça de moletom preta e um sweater de lã, calcei meias e amarrei o cabelo em um coque bagunçado. Além de pegar a caixa de pizza mais uma vez, peguei meu celular dentro da bolsa, meu iPod, uma caneca e o caderno ainda em branco que Louis me dera de presente de natal.
- Quer escrever alguma coisa, ?
Sorri para o cachorro e o fiz me seguir mais uma vez para o andar de baixo. Uma vez na sala, coloquei a pizza na mesinha de centro e o resto das minhas coisas ali do lado. Tirei uma das almofadas do sofá e improvisei uma mesinha japonesa, daquela que fica no chão mesmo e ainda assim é bem confortável. Abri a caixa da pizza e peguei a primeira fatia, dando uma mordida generosa. sentou ao meu lado, estudando o meu jantar com aqueles olhos pidões. Murmurei algo com a boca cheia e neguei dividir com ele aquele pedacinho de paraíso.
- Você não vai me abandonar, vai, pizza? Achei que não.
Continuei dando mordidas grandes até que aquele pedaço sumisse como num passe de mágica. Limpei as mãos na calça mesmo, sem me importar se isso era nojento ou não. Segurei o meu iPod e coloquei no modo aleatório, aumentando o volume até o máximo. Podia não ser muita coisa, mas com a casa em silêncio completo, a acústica era perfeita. Segurei um novo pedaço de pizza na mão esquerda e usei a direita para abrir o caderno de capa dura na segunda folha. Não que a primeira estivesse usada, mas sempre tive essa mania estranha de poupar a primeira folha de todos os meus cadernos, com medo de querer fazer um tipo de introdução no futuro e não poder por ter usado aquela bendita folha. Mesmo que isso NUNCA acontecesse.
- O que eu escrevo?
Perguntei para mim mesma. Eu tinha um caderno inteiro a minha disposição. Um caderno que poderia guardar os meus segredos, meus pensamentos mais confusos, minhas palavras de desespero e de esperança, mas não fazia idéia de por onde começar. Tentar colocar meus pensamentos em ordem era a mesma coisa de tentar arrumar um castelo de cartas usando vendas para os olhos. Impossível! “Calma, . Uma coisa de cada vez. Por que não começa pelo começo? Pela sua infância?” Minha consciência me dizia para começar a minha autobiografia, ótimo. Mas até que não era uma má idéia. Não, não estou falando que ia começar a minha autobiografia... Estou falando que era uma boa idéia começar pela minha infância. Antes de começar a escrever qualquer coisa, desenhei uma bonequinha no rodapé da página, daquelas de palitinho mesmo. Mordi a minha pizza e deixei que as palavras saíssem da ponta da caneta.
“Quando eu era mais nova, costumava colocar os braços dentro da blusa e sair por aí fingindo que não tinha braços. Eu recomeçava um jogo de vídeo game toda vez que estava prestes a perder. Dormia com todos os meus bichinhos de pelúcia para que nenhum deles ficasse com ciúmes. Eu tinha uma caneta com seis cores e tentava apertar todos os botões de uma vez. Colocava refrigerante na tampinha da garrafa e fingia que estava tomando shots. Esperava atrás da porta pra assustar alguém, mas acabava desistindo porque ficava cansada. Fingia estar dormindo só pra que meu pai me carregasse para a cama. Eu costumava pensar que a Lua seguia o meu carro. Assistia as gotas de chuva rolar pela janela e fazia de conta que estavam em uma corrida. Acabava engolindo sementes sem querer e ficava aterrorizada, achando que uma árvore cresceria na minha barriga. Quando eu era mais nova não podia esperar pra crescer. O eu estava pensando?”
Repeti aquela mesma pergunta na minha cabeça, sem conseguir encontrar uma resposta. Terminei meu segundo pedaço de pizza e fiz uma pequena pausa antes de ir para o próximo. já desistira de tentar ganhar um pedaço e pulou para o sofá, deitando lá e deixando a cabeça perto da minha. Vez ou outra ele dava um pequeno espirro e acabava me fazendo rir. Mudei de página e nessa eu sabia exatamente o que fazer. Apenas segurei a caneta no meio da minha mão e comecei a rabiscar. Sem direção, sem objetivo. Apenas risquei aquela folha até que ela estivesse uma bagunça de linhas e formas. Teria continuado se o celular não tivesse começado a tremer em cima da mesinha. Larguei o pedaço de pizza pela metade e limpei as mãos no meu guardanapo improvisado na minha perna. Era uma mensagem de Dony e pensei duas vezes antes de abrir.
“Ele te contou?”
“Abi me contou, quando perguntei onde você estava. Ele sente a sua falta, . Só é orgulhoso demais pra admitir isso.”
“Acho difícil de acreditar.”
“Só dê um tempo pra ele... E aí ele vai se tocar.”
Por que continuavam me falando a mesma coisa? Por que eu devia dar um tempo pra ele perceber que errou? Que eu saiba, ele não me deu nenhum tempo pra provar que eu falava a verdade. Preferiu acreditar nas mentiras de uma ex-namorada que nunca fez nada além de infernizar a minha vida. Eu sentia falta dele, de verdade. Mas era a minha vez de acreditar em mim. E eu não queria dar um tempo para ele pensar. Até aquele momento estive encarando tudo como uma solução temporária, contando que ele iria cair em si e me procurar; e eu o aceitaria de volta. Não era bem isso que eu pensava mais. Teria recaídas? Claro que sim, pois sou humana. Entretanto, tentaria ser forte. Teria que ser forte.
- Cala a boca, Harry! Ela está dormindo... – Ouvi a voz de Louis, mesmo ainda estando bem sonolenta.
- Não acredito que não sobrou nem um pedacinho pra mim. – Haz sussurrou e não me importei em abrir os olhos, grogue demais pra fazer qualquer coisa que não fosse me mexer preguiçosamente no sofá.
- Shh. – Dessa vez foi Liam que pediu silêncio. – Eu vou levá-la pra cama...
Os meninos devem ter concordado com um aceno de cabeça, porque eu não ouvi mais nada. Apenas senti braços fortes me carregando daquele jeito que se carrega uma noiva. Ainda sonolenta e mais pra lá do que pra cá, resmunguei algo em um idioma estranho e me aconcheguei no colo de Liam, envolvendo-o pelo pescoço e deitando o rosto em seu ombro; olhos completamente fechados. Minha respiração era calma e eu me sentia segura. Ele pousou os lábios delicadamente em minha testa e quando fui perceber, já estava na minha cama. Fui coberta pelo edredom grosso e me aconcheguei no meio dos travesseiros. Sem ter noção do que estava falando, comecei:
- Li, eu sei que vocês foram no aniversário do Zayn. – Admiti do mesmo jeito que admitiria que gosto de chocolate.
- Sa-sabe? – Gaguejou de surpresa.
- Un-hum. – Afirmei com a cabeça e um sorriso abobado; tudo culpa do sono. – Mas não se preocupe. Não vou contar a ninguém... Shhhh.
- Achei que as suas conversas durante o sono não tinham sentido...
Capítulo LXVI
E lá estava eu, na segunda-feira, dirigindo para a Academy enquanto escutava o CD que comprara na noite anterior. Dei muita sorte por ter escolhido uma banda boa, mesmo que aleatoriamente. O estilo era meio indie, o que fugia dos que eu regularmente escutava, mas aquele tal de Chris Drew e sua banda NeverShoutNever era realmente bom. As músicas não tinham letras muito complicadas e a maioria falava de paz, amor pelos outros e essas coisas assim. “Nota mental: Perguntar para Liv se ela já conhece essa banda, pois é a cara dela.” O nome da música que eu estava ouvindo no momento em que estacionei o carro na minha vaga de costume era ‘What is Love?’, uma pergunta que nem o próprio cantor conseguia responder.
Mas eu sabia o que era o amor; sabia porque o sentia queimando dentro do meu peito, não de uma forma tão boa quanto gostaria. Fiquei ali dentro do carro com a desculpa de terminar de ouvir aquela música, mas na verdade estava com medo de entrar na academia porque sabia que o risco de cruzar com Zayn pelos corredores era grande demais e eu não sabia se estava preparada pra isso. Desde a noite em que brigamos, eu não o via, e isso me aterrorizava. Minha cabeça estava bem certa do que deveria fazer; ignorá-lo. Ele mesmo me pedira aquilo quando fez questão de não me querer novamente em sua casa, então eu iria atender o seu pedido. Zayn me pediu para ignorá-lo quando não confiou em mim e colocou uma mentira ridícula entre nós dois. O meu coração, por outro lado... Tentava achar desculpas e justificativas, defendendo Zayn e tentando me convencer a esquecer aquele plano de me manter forte por fora, já que por dentro eu estava bem acabada e não seria capaz de enganar a mim mesma quanto a isso.
Desliguei o som e peguei a minha mochila no banco ao meu lado, pendurando a alça em meu ombro direito. Só de abrir a porta já senti o frio gostoso atravessar as minhas roupas e chegar na minha pele. Aquele inverno estava sendo rigoroso, mas ainda assim me agradava. Tranquei o conversível pelo controle remoto pendurado em meu chaveiro e o guardei em um bolso qualquer, me preocupando apenas em seguir pela calçada até a entrada da Academy. Eu podia estar um pouco longe, mas via claramente um amontoado de pessoas formando um círculo em volta de algo que não conseguia identificar. No começo, imaginei que fosse alguém tocando violão ou dançando – daquele jeito que vemos em filmes americanos sobre escolas de música -, mas ao ver uma ruiva segurando uma loiro enfurecido, comecei a me preocupar.
Niall se debatia, querendo entrar na roda, mas não deixava. Ela parecia cada vez mais preocupada na medida que eu começava a correr e me aproximar da confusão. Tive um mal pressentimento daquilo quando a minha amiga me olhou petrificada e sibilou um “Star, não chegue perto.” Não a obedeci e me enfiei dentro da rodinha que murmurava e gritava coisas de encorajamento para que a briga que acontecia ali no meio continuasse. Engoli em seco ao distinguir as duas figuras masculinas que rolavam no chão. Nick e Zayn, atracados um contra o outro. Não precisei perguntar a ninguém o que encadeara aquela briga, porque sabia muito bem que qualquer um dos dois poderia ter começado com provocações até que o outro perdesse a cabeça.
Nicholas estava deitado no chão, tocando a área abaixo de seu nariz e constatando que estava sangrando. Antes que ele pudesse levantar e investir contra Zayn, as portas da Academy se abriram. Congelei imaginando que pudesse ser Agnes vindo ver o que estava acontecendo e com certeza preparada para expulsar os dois alunos. Não tinha tanta certeza se podia ficar calma na hora que vi Holly descer as escadas e parar a briga de uma vez. Ela olhou para Nick com preocupação, se segurando para não correr ao encontro do namorado. Já o olhar que dirigiu a Zayn foi irritado, quase fulminante.
Zayn’s Pov:
Violência nunca foi uma boa solução para problemas, disso eu sei. Mas quem disse que eu estava procurando uma solução? Não consegui olhar para a cara daquele Nicholas e me segurar, sabendo do que ele tinha feito. Ainda bem que segurou Niall, porque não sei o que teria sido capaz de fazer se alguém tentasse me segurar. Eu já havia brigado com meu melhor amigo na noite anterior – mesmo que não de forma tão física assim – e não queria ter mais motivos ainda para ser considerado uma pessoa explosiva. Em parte, culpo a bebida por ter me feito falar tudo que falei e depois ter que escutar o que não queria. Niall e todos os outros ficaram do lado de ; o que incluía as minhas irmãs e até a minha própria mãe. Não me pergunte como elas ficaram sabendo, porque se dependesse de mim, isso não aconteceria tão cedo.
- Zayn Malik, queira me acompanhar. – A voz de uma das professoras de dança me trouxe de volta para a realidade.
- Que porra é essa, só eu? – Me exaltei. Que eu saiba uma pessoa não pode brigar sozinho. Então, se eu iria ser expulso, gostaria de levar aquele garoto junto.
- Agora. – A mulher segurou a porta que dava para dentro da Academy, esperando que eu passasse.
Lancei um olhar de “Isso ainda não acabou” para Nicholas, me sentindo muito orgulhoso de ter atingido o seu nariz de forma tão certeira. Queria ver o que achariam de um Romeu subindo ao palco com nariz quebrado. A multidão que nos cercava tinha várias reações diferentes. Umas pessoas comemoravam e batiam palmas, apreciando aquele espetáculo logo pela manhã. Outras estavam horrorizadas, desejando que Holly me entregasse à diretora e que eu recebesse o que merecia. me olhava preocupada e Niall balançava a cabeça em negação. Me virei para seguir o caminho que a professora indicava, mas senti meu corpo paralisar, como se eu estivesse grudado no chão por cola permanente. Foi então que eu a vi. Seus cabelos castanhos um tanto bagunçados, modelando um rosto angelical, lábios levemente avermelhados e pele clara. Senti meus batimentos cardíacos triplicarem de velocidade quando nossos olhares se conectaram. não se permitiu me encarar por muito tempo e encarou o chão como se fosse a coisa mais importante de sua vida. Ela não estava bem e eu sabia disso. As manchas embaixo de seus olhos azuis cansados denunciavam noites mal dormidas que ela tentara esconder ao olhar para o chão.
- Zayn. – A professora me chamou novamente, perdendo a paciência que eu duvidava que ela tivesse, pra começo de conversa.
- Já ouvi. – Me virei desistindo de olhar para a garota que tivera o meu coração nas mãos e o esmagara tão deliberadamente.
- Eu acompanho vocês. – Brigitte correu irritantemente devagar, com aquele salto agulha que sempre me tirou do sério batendo contra as pedras da escada. Será que nem quando estava frio ela usava outra coisa?
- O assunto que tenho pra tratar não envolve você, Srt. Jones. – A professora Holly começou a andar e nós dois a seguimos.
- Qualquer assunto que envolva o Zayn, me envolve. – A loira rebateu. Ela estava achando que só porque me ajudou a abrir os olhos eu voltaria pra ela? Estava bem enganada.
- Não tem problema, Brie, eu te encontro mais tarde. – Me desfiz do seu toque em meu braço e indiquei com a cabeça para que ela fosse embora.
- Vou estar na sala no fim do corredor. Não demore! – Mandou beijos no ar, gesto que também costumava fazer. A diferença entre as duas era que conseguia ser doce ao fazer aquilo e Brigitte... Ainda era Brigitte.
A docente que me acompanhava entrou na primeira sala vazia que encontrou e me mandou fazer o mesmo. Achei bem estranho não termos ido direto para a sala da diretora, mas talvez fosse receber só uma advertência. É, teria que pensar em outra maneira de expulsar Nicholas da Academy.
- Não estamos indo para a diretoria? – Perguntei só pra confirmar.
- Sabe, Zayn, para um cara esperto, você é muito burro. – Fui pego de surpresa por aquela acusação.
- Você é uma professora, não devia estar falando comigo assim. – Rebati. Não escutaria desaforos, não depois de tudo.
- Depois que você ouvir o que eu tenho pra contar, provavelmente serei demitida de qualquer jeito. Então ao menos me deixe falar o que eu quiser. – Se apoiou na mesa de madeira que encontrou em um canto e respirou fundo. Puxei uma cadeira qualquer e a encarei sem emoção alguma.
- Isso é sobre a , não é? – Eu devia ter desconfiado. As duas eram quase tão próximas quanto eu era próximo de Ed.
- Sim. E sobre como você estragou tudo.
- Ok, você vai me dizer que o jornal estava mentindo? É, eu cogitei essa possibilidade. – Levantei, me recusando a escutar mais besteiras que só iriam me machucar e irritar. – Mas falei com a própria diretora e ouvi da boca dela que...
- não é a namorada do Nicholas, Zayn. Eu sou. – Aquela confissão me fez parar antes de chegar até a porta. – Estamos escondendo isso há alguns meses e ela era a única que sabia. Eu fui ao Bolshoi com eles, sabia? Mas Agnes apareceu lá do nada e quase fomos descobertos. Se não fosse pela , eu não estaria mais aqui. É proibido o relacionamento entre uma professora e um aluno, sem falar que meu currículo estaria marcado com isso para sempre. Então ela nos protegeu, falando que estava lá com ele. A nunca te traiu, Zayn. O que ela fez foi ser fiel e manter as suas promessas.
- Eu... Eu não... – Tentei absorver aquilo tudo de uma vez e isso só serviu para que uma dor de cabeça surgisse.
- E se você acha que eu poderia estar mentindo sobre isso, bem, fique a vontade. – Passou por mim e foi até a porta, parando um pouco antes de sair para falar mais alguma coisa: - Mas valeria à pena correr os riscos que estou correndo, agora que você sabe dessa história, por causa de uma mentira?
Sem esperar a minha resposta, ela saiu da sala e me deixou lá sozinho com a minha culpa. Me senti sufocado, lembrando de todas as palavras duras que lancei para ao acusá-la de algo que agora eu sabia que ela não tinha culpa. Me arrastei até a cadeira em que estivera previamente e me sentei, apoiando as mãos nos joelhos e o rosto nas mãos. Meu pensamento foi para o olhar assustado da menina enquanto ela corria em disparada para fora da minha casa, sem proteção alguma contra o frio. Na hora não pensei em nada, mas agora me sentia um monstro por deixado-a correr desse jeito. Tão pequena, tão frágil... se acha forte, durona e tem aquela mania de fingir sempre que está tudo bem. Mas eu a conhecia mais que isso e sabia que por dentro ela estava assustada.
O que eu havia feito? Preferira acreditar em todas as mentiras de Brigitte. foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e eu dei um jeito de foder com tudo e mandá-la embora. Não me espanta que todos ficaram do lado dela após ouvir o que aconteceu. “Muito bem Zayn, você passou de otário para idiota completo.” Passei as mãos pelos cabelos enquanto a ficha caía e me mostrava o quanto eu tinha errado com aquela menina que me entregou tudo; que foi minha por inteiro. Quando a conheci, ela me contou sobre o seu ex-namorado francês e eu jurei para mim mesmo que não seria como ele, que não a faria sofrer. Mas e agora? E agora que tinha feito algo ainda pior que ele? Não podia deixar isso assim. Teria que fazer alguma coisa para reparar o meu erro. Eu sabia que o que eu fizera não tinha perdão, mas não iria desistir sem lutar. Eu tinha que consegui-la de volta, tinha que concertar tudo.
Deixei a sala como um furação, agradecendo por Brigitte não estar me esperando do lado de fora. Ela sim era a única culpada de todas as merdas que aconteciam na minha vida, mas eu não devia estar tão longe assim por ter creditado em tudo que me falou. Não sou de bater em mulheres – mesmo que elas forem tão desprezíveis quanto a minha ex-namorada -, mas não sei o que faria se aquela menina aparecesse na minha frente. Nunca entendi muito bem o que me levou a namorar com aquela “oxigenada” como meus amigos costumavam chamar. Quando estávamos juntos, não chegávamos a ter conversas produtivas, ela não sabia nada sobre mim e eu também não me importava em saber nada sobre ela. Antes da entrar na minha vida, eu não dava muito valor à sentimentos e essas coisas, encarando Brigitte como sexo fácil. Ela queria o status que receberia por ser a minha namorada, e em troca eu ganhava o que quisesse na cama.
Terrível, eu sei. Mas na época me parecia uma boa troca. No primeiro dia em que vi no auditório, fiquei encantado com a sua beleza. Não só por causa de seus olhos azuis brilhantes, ou sua boca carnuda, mas por ela ser diferente das outras garotas com quem havia me envolvido no passado. Ela tinha um toque de inocência, de querer se proteger. A partir dali eu sabia que precisava tê-la. Qualquer uma teria se derretido com o meu charme, mas assim que ela rolou os olhos da minha piscada, soube que seria um desafio. E eu gostava de desafios. Depois dali foi muito fácil me apaixonar por ela e não desejar mais nada nesse mundo que não fosse estar com ela, fazendo-a feliz.
- Niall? – Perguntei com o telefone grudado à orelha, só percebendo que estava ligando para ele depois que fui atendido. – Preciso saber...
- Não foi expulso? Que sorte! – Niall riu, sem prestar atenção no que eu falava. – Estava apostando com Ed e...
- NIALL. – Gritei, chamando a atenção de alunos que passavam por mim no corredor. – Dá pra calar a boca e me escutar?
- Desculpa, estressadinho. O que houve?
- Eu fui um idiota. Preciso encontrar a .
- Finalmente percebeu isso, mate. Já estava achando que as poucas células de Brigitte passaram pra você. O que te fez perceber isso?
- Não importa agora, a ainda está com você? – Por mais que eu não gostasse de Nicholas, respeitava Holly e manteria o segredo dos dois.
- Não, ela já foi pra aula. estava com ela, se isso ajuda...
- Ajuda sim. Sabe qual é a sala?
- Segundo elas é a última sala do primeiro andar... É uma bem grande, então não deve ter como perder.
- Obrigado.
Desliguei a chamada sem esperar Niall se despedir e enfiei o celular no bolso de trás da minha calça jeans. No primeiro andar eu já estava, então percorri o corredor enquanto olhava de porta em porta. Procurei em todas elas, já ficando desesperado por não ver nem a sua sombra. Por mais que eu estivesse louco para encontrá-la, não fazia idéia do que iria falar. Desculpas não seriam o suficiente e eu sabia disso. Também sabia que não iria desistir até tê-la em meus braços novamente. Percebi que estava correndo quando esbarrei em um menino da minha turma e fui xingado até a minha terceira geração. Não me importei em pedir desculpas e parei na porta da última sala daquele andar, espiando o lado de dentro pela área de vidro.
A sala era simplesmente enorme, bem maior que qualquer uma das minhas. Todas as paredes eram cobertas por espelhos e algumas barras de madeira estavam espalhadas pelo centro da sala. Pelo menos cem bailarinos estavam ali dentro, mas não achei difícil encontrar quem eu procurava. Apresentando um contraste bem grande, ela era a única a vestir rosa claro dos pés a cabeça. Sorri inconscientemente ao observar o que ela fazia. Estava de pé em um banco comprido e largo e dançava devagar equilibrada na ponta dos pés. Umas vinte pessoas a observavam, mas ela parecia não notar. Estava tão concentrada em seus movimentos que era como se estivesse em outra dimensão completamente diferente. Uma dimensão que eu tivera a chance de conhecer todas as vezes que dançamos juntos.
estava de pé ao lado dela, mas fora do banco. Preocupada que a amiga pudesse cair de um lugar alto e não muito firme. Eu não tinha aquele medo, pois sabia que ela não iria cair. Posso não entender nada de ballet, mas quando subia na ponta dos pés era como se algum tipo de campo de proteção a envolvesse. A menina era invencível. Fazia movimentos impossíveis para qualquer um com menos talento que ela e ainda sorria como se fossem fácil. Em um rodopio mais ousado, saltou para o chão e pousou com tamanha leveza que imaginei que ela tivesse asas. e aqueles que a assistiam bateram palmas. O olhar de ao perceber que seu show fora assistido não teve preço. A morena riu, colocando as mãos sobre os lábios e a abraçou de lado, falando algo que seria impossível para eu escutar.
não estava arrumada, seus cabelos presos rebeldemente em um coque desfiado e aquele uniforme simples de ballet. Mas era aí que eu a achava mais bonita. Não quando ela estava em vestidos justos e maquiagem, mesmo que ela continuasse incrível quando se vestisse assim. É só que quando ela usava pijamas com o dobro do seu tamanho, meias coloridas e o cabelo bagunçado, aí que era que eu conseguia ver o quanto era louco por ela. Quando ela deitava no chão, rindo de algo que aconteceu há anos atrás. Quando não tentava impressionar ninguém e toda a barreira que construía em volta de si abaixava. Quando ficava animada demais por coisas pequenas e quando tratava um cachorro como se fosse seu filho de verdade... Aí é que eu não podia tirar os olhos dela.
’s POV
Aquela primeira aula foi particularmente... Interessante. A briga de Nick e Zayn foi o assunto principal entre todos os grupinhos de alunos e era muito fácil notar os seus olhares curiosos em cima de mim, achando que eu tinha alguma coisa a ver com aquilo. E tinha, de fato, mesmo que não fosse realmente culpa minha. O professor nos deixou ter a manhã livre para ensaiarmos ou fazermos o que bem entendêssemos. Com a peça se aproximando na velocidade da luz, os alunos mais responsáveis se reuniram em cantos para passar suas próprias coreografias e eu acabei fazendo o mesmo. Tudo bem que o cenário que estaria no palco era diferente do que eu tinha naquela sala, mas fiz o melhor que pude. Usei um banco e passei a minha coreografia ali em cima. não quis treinar, como já era de se esperar, e ficou apenas me vigiando, com medo que eu acabasse caindo ali de cima.
Dançar sempre me trouxe calma e paz, por isso fui capaz de me fechar em um universo só meu, onde pude ignorar as risadas escandalosas de Brigitte. Era como se ela fizesse questão que eu escutasse e soubesse o quanto ela estava feliz. voltou a repetir o seu plano de ir dar umas bofetadas na cara de pastel daquela loira, porém, a impedi. Uma briga por dia já era o suficiente. Por falar em briga, Nick havia sido removido da academia para ir ao hospital e dar um jeito no seu nariz. Eu teria ido com ele se não tivesse tanto para fazer durante aquela manhã. Pelo menos ao que parecia, ninguém seria expulso.
Por mais incrível que pareça, todos saíram vivos daquela aula. estava faminta, então foi encontrar o namorado no refeitório. Além de não estar com fome, temi encontrar Zayn com os dois e ainda não estava acostumada com a idéia de ser encarada da forma que fui essa manhã. Era como se ele me culpasse por tudo de ruim que acontecia no mundo. Foi tão doloroso que não agüentei dois segundos daquilo e tive que encarar o chão. Esperei todos os alunos saírem da sala, o que incluiu o professor. Ainda não estava cansada, então aproveitaria um tempinho livre para passar mais alguns passos. Ao menos enquanto dançava poderia me distrair e pensar em qualquer coisa que não fosse o meu ex-namorado. Sim, ainda era ruim falar desse jeito, mas ao menos era uma forma de me lembrar que o que passara não iria voltar.
Havia acabado de dar uma pirueta em cima da perna direita, trazendo a esquerda bem próxima ao corpo e parei de frente para o espelho, com os braços acima da cabeça. Levantei o queixo com um sorriso, como deveria fazer no dia da peça, mas ele não durou nada. Sem querer, olhei para o reflexo que a porta fazia no espelho e congelei. Zayn estava encostado na madeira da porta, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça. O olhar cansado, a barba totalmente mal feita, os lábios repuxados para um canto. Meu coração acelerou ao vê-lo assim; tão vulnerável. Abaixei os braços devagar, ainda sem entender o que ele podia estar fazendo ali. Pisquei algumas vezes e ele não sumiu. “É, não estou sonhando.” Suspirei e dei meia volta, saindo do meio da sala e andando até as minhas coisas.
- Sempre gostei de te ver dançar... – Zayn finalmente entrou na sala propriamente. Sua voz cheia de culpa, não mais acusadora como da última vez que eu a escutara.
- Sempre gostei de dançar. – Respondi com um abano de ombros, sem dar muita atenção às borboletas que faziam uma revolução no meu estômago. – Já estou saindo, então fique a vontade pra usar a sala.
- Não vim usar a sala. – Se aproximou devagar, cauteloso. Por mais que eu tentasse arrumar as minhas coisas, minhas mãos se embolavam e eu acabava derrubando mais do que guardando na mochila. – Vim falar com você.
- Estou atrasada, então não vai dar. – Não o olhei por instante algum, receosa de ser puxada para dentro daqueles olhos amendoados.
- Sua próxima aula é só daqui a duas horas.
- Pois é, mas eu vou ter uma seção com o Ed agora e já estou atrasada. – Falei mais uma vez, com a voz um pouco mais ríspida. Não estava sendo mal educada, mas como ele esperava ser tratado? – Mas por que estou te contando isso? Não é como se você acreditasse em mim mesmo.
- Por favor, . Eu só quero cinco minutos. Sei que não tenho o direito de te pedir nada, mas por favor. – Deu mais um passo na minha direção, parando apenas quando eu o olhei.
- Fale. – Desisti de enfiar o meu casaco de lã dentro da mochila e larguei tudo de lado. Me virei completamente de frente para Zayn e fui corajosa o bastante para não perdê-lo de vista.
- A-aqui? – O que ele esperava? Que eu fosse tomar um café com ele para que pudéssemos colocar as novidades em dia?
- Sim.
- Tudo bem, uh... – Ele não parecia saber muito bem o que falar, mas estava se esforçando. – Holly conversou comigo... Ela me contou tudo. Eu fui um idiota, .
- Então você acredita em qualquer um menos em mim? – Levantei a sobrancelha e apertei os braços no peito. Não estava com raiva, apenas magoada.
- Eu acho que nunca duvidei de você, só estava... Cego. Enganado por mentiras sem importância. E sei que não posso te pedir desculpas, , porque o que eu fiz foi horrível. Se você soubesse o quanto eu me arrependo! Nunca devia ter pensado que você pudesse me... – Parou antes de continuar. Sempre tive uma facilidade tremenda de ler Zayn, e seus olhos me diziam que ele realmente sentia muito. Meu coração apertou por vê-lo perto de chorar. – Foi Brigitte! Você nunca gostou dela e tinha razão! Ela é uma menina baixa que seria capaz de fazer qualquer coisa só pra conseguir o que ela quer...
- Mas não foi ela que deixou de acreditar na minha palavra, foi? – O interrompi com calma. – Não era ela que me conhecia mais que qualquer pessoa e mesmo assim ficou do lado de alguém contra mim. Não foi ela que me prometeu nunca me fazer chorar, mas aqui estamos nós.
- Eu sei, eu sei... Fui eu, sei disso. E eu sinto tanto... – Os olhos avermelhados de Zayn não foram capazes de suportar as primeiras lágrimas e ele pareceu não se importar.
- Zayn... – Me interrompi, sem saber exatamente o que falar. Balancei a cabeça devagar, sentindo as minhas próprias lágrimas brotarem. Dei um passo para trás, querendo ir embora.
- Não, não, por favor. Eu não sei o que vou fazer sem você na minha vida, . – Ele acabou com a distância entre os nossos corpos, se ajoelhando no chão e abraçando o meu quadril. Sua cabeça ficou encostada à minha barriga e todas as minhas barreiras se desmancharam. – Sem o seu sorriso, sem o seu carinho... Eu queria mudar o que aconteceu, mas eu não posso. E não posso ficar sem você, porque eu te amo tanto...
- Não... Eu não consigo, você é uma pessoa totalmente diferente agora. Eu costumava te imaginar como alguém que nuca me machucaria, nunca, nunca. – Toquei os cabelos do menino com a minha mão direita, fazendo um carinho delicado. Não suportava vê-lo assim e as minhas lágrimas eram prova disso. Zayn segurava seus soluços, molhando o meu collant. – Até ontem, o que você falou agora era tudo que eu gostaria de ouvir. Mas eu não consigo mais, Zayn... Tudo mudou.
- Para de falar assim, ... – Ainda chorando baixinho, ele se levantou e segurou o meu rosto com as duas mãos, me olhando dentro da alma. – Olhe nos meus olhos. Olhe nos meus olhos e diga que não me ama mais.
- Eu te amo, Zayn, é claro que eu te amo. Mas às vezes isso não é o suficiente... – O segurei nos ombros, com medo de soltá-lo, mesmo que soubesse que era o certo a se fazer.
Levei dois segundos para assimilar que o que eu acabara de falar era o mesmo que o pai dele escrevera na carta sobre a mãe dele. Com isso, Zayn acabou chorando mais. Me odiei por não ter pensado em outra coisa para falar ou para confortá-lo. Ficamos naquela sala, nos olhando de perto pela última vez. Minha visão ficou um pouco turva, mas pisquei com força pra afastar a água. Arrisquei também secar as lágrimas do outro com o meu polegar. Zayn fechou os olhos quanto toquei o seu rosto, descendo a ponta dos dedos até os lábios rosados – que ele usou para beijá-las. Estar tendo aquela conversa doía mais do que simplesmente tivéssemos deixado as coisas como elas estavam. Zayn realmente só precisou de tempo para cair em si, mas eu temia que fosse tarde demais.
- Não pode ser só isso. Não podemos ter chegado ao fim. – Encostou a testa à minha quando o envolvi pela nuca e deixei.
- Mas chegamos... – Sussurrei, tentando parar o meu choro. O soltei e tirei suas mãos do meu rosto. – Eu sinto muito.
- Então porque você ainda está usando esse anel? – Segurou a minha mão direita e olhou do anel que brincava em meu dedo anelar.
- Eu... Eu não sei. – Balancei a cabeça e tirei a mão da dele. Em um impulso, me coloquei na ponta dos pés e juntei nossos lábios. Nós dois sabíamos que aquele era um beijo de despedida, por isso aproveitamos como se fosse o primeiro. Mesmo se tivesse durado horas, ainda teria sido pouco demais. Antes que mudasse de idéia, separei nossos lábios e olhei para o chão. – Adeus, Zayn.
- E agora? – Perguntou enquanto secava as lágrimas na camisa e eu juntava as minhas coisas do jeito que elas estavam. – Devo te ignorar quando passar por você? Devo falar oi como se fossemos velhos amigos?
- Fale oi... – Também me livrei das minhas lágrimas e pendurei a mochila sobre o ombro. – Mas não faça de conta que nunca significamos nada um para o outro.
Depois da última conversa que tive com Zayn, pensei em desmarcar o encontro com Ed e me trancar no banheiro, mas de que isso me ajudaria? Eu só ficaria lá chorando e pensando em como as coisas haviam mudado em menos de uma semana. Tratei de beber um copo de água e limpar o rosto, como se estivesse feliz e fosse um dia normal. É claro que no instante em que pisei na sala de aula, o professor viu que havia algo errado. Ele não insistiu tanto assim em saber o que tinha acontecido, só perguntou se eu queria ir pra casa. Ficar em casa ou ficar ali... Não teria muita diferença pra falar a verdade. Tanto em um lugar quanto no outro, tudo a minha volta me lembraria Zayn. Ao menos na Academy eu tinha que fingir ser forte para que ninguém me visse fraquejar. Eu não daria aquele gostinho a Brigitte. Não mesmo.
- Tem certeza que não quer vir com a gente, ? – estava tentando me convencer a ir com ela à entrevista do meninos para a Teenvogue.co.uk pelos últimos minutos.
- É claro que tenho! – Afirmei com a cabeça. – Ed e eu temos muitas músicas pra aprender!
- Mas se você quiser ir, ... – Ed começou a falar e fiz uma careta pra ele. – Ou não. Temos muitas músicas pra aprender!
- Viu? – Voltei a olhar a ruiva. – Além do mais, vou passar a tarde inteira aqui, dando os últimos retoques para a peça...
- A tarde inteira?! – Fez cara de preguiça e eu ri. – Tudo bem. Mas me prometa que não vai passar o dia inteiro sem comer.
- Eu prometo! – Ou não. Quem sabe?
- Ficarei de olho nela, , pode ir tranqüila. – Ed a assegurou.
- Fale para os meninos que eu desejei boa sorte, ok? – Pedi. – E peça para o Harry tentar falar mais rápido. E para o Louis se comportar... Deus, essa entrevista vai ser terrível sem eu lá!
- Exatamente! Ainda dá tempo de vir... – fez um biquinho, mas eu neguei com a cabeça.
- Vá embora! Xô! – A expulsei, apontando para a porta.
Estirando a língua na minha direção e depois fazendo um coração com as mãos, saiu pela porta e eu não a vi mais naquele dia. Pela parte de vidro na madeira da porta, pude ver que ela pulou nas costas do namorado e os dois saíram abraçados pelo corredor até que meu olhar não os alcançasse mais. Um pequeno aperto tomou conta do meu coração, já que eu tinha mais aquilo que o casal tinha. Balançando a cabeça para afastar lembranças e momentos nostálgicos, olhei para o professor ruivo na minha frente. Sheeran tinha três folhas arrumadas lado a lado sobre o piano.
- E então? Vai me ensinar a cantar como a Beyoncé? – Perguntei com uma falsa animação.
- Vou te ensinar a cantar como a . – Piscou com uma risadinha.
- Diplomático, Eddy. Aprecio a sua tentativa de me fazer pensar que posso cantar. – Ri baixo, sem muita graça, mas também sem parecer melancólica demais.
- E você pode! – Ele abriu a tampa do piano e começou a dedilhar algumas notas devagar para se aquecer. – Pra provar isso, tenho um convite a te fazer.
- Que tipo de convite? – Arqueei uma sobrancelha ao me inclinar sobre o instrumento e apoiar o cotovelo sobre o mesmo.
- Já ouviu falar da Apple & Pear’s? É um café no sul da cidade... – Começou e quando balancei a cabeça para responder que não conhecia, ele continuou: - Todo mês eles abrem uma noite especial, com o microfone aberto pra quem quiser apresentar alguma coisa. Seja música, poesia, monólogos... É algo muito interessante e eu acho que você iria gostar.
- Está me convidando para um encontro, Edward? – Brinquei com um sorriso.
- Eu sei que você está cheia de coisas pra fazer, com a peça e tudo... Mas gostaria de te convidar pra cantar comigo nessa noite.
- Eu?! Ed, fico lisonjeada, mas não acha que deveria convidar alguém mais... Experiente pra isso? – Ele devia estar ficando maluco.
- O problema é que eu escrevi uma música que só terá o mesmo efeito se for um dueto. – Explicou daquele jeitinho fofo que tinha. – E ela se encaixa com você.
- Tem certeza que quer que eu cante com você? – Perguntei mais uma vez, ainda não sabendo se ele tinha pensado direito sobre aquilo.
- Positivo.
- Então conte comigo!
Capítulo LXVII
- Bom dia, !
Um Nicholas meio sorridente me esperava na porta do auditório. Naquela quarta-feira eu havia sido informada de que teria que chegar mais cedo para resolver uns últimos detalhes técnicos da peça de fim de semestre. Por um lado isso era muito ruim, pois eu estava super sonolenta e ainda um pouco lerda (tente acordar às seis horas da manhã depois de ter ido dormir as duas –escutando seus amigos falando sobre como foi a primeira entrevista como banda- e vai saber do que estou falando), mas por outro, isso me impedia de encontrar qualquer pessoa indesejada pelos corredores. Ou, no caso, desejadas até demais. Eu ainda não vira Zayn depois da nossa conversa definitiva e preferia que continuasse assim até que o meu coração e meu cérebro entrassem em sincronia. Meu lado emocional estava um verdadeiro caco, pois era incrível como tudo e absolutamente TUDO me lembrava dele. Já o meu lado racional, sabia que o certo a se fazer era me manter distante.
Forcei um sorriso para o meu Romeu e acenei um “olá” entre um bocejo ou outro. O menino riu, divertindo-se do meu sono, e passou um braço pelos meus ombros para que pudéssemos entrar no auditório. Ele sussurrou algo como “a bruxa está aí”, mas só entendi o que quis dizer quando vi uma figura curvada e... Antiga em uma das primeiras fileiras de cadeira. Margot, a figurinista. Tinha que ser! Ao lado dela havia algumas araras com cabides e roupas das mais coloridas e distintas, que julguei serem algumas das fantasias que usaríamos na peça. Tentei sorrir com mais força, curiosa para ver as minhas próprias roupas, mas me impedi de tal ato ao lembrar do meu primeiro encontro desastroso e tenso com aquela mesma mulher.
- Não faça essa cara, . – Nick sussurrou com outra risada. É, ele estava se divertindo muito às minhas custas. – É só uma costureira...
- Fácil pra você falar, porque ela te ama! – Finalmente abri a boca pra falar alguma coisa enquanto descíamos o caminho até a frente do palco.
- E ela fala! – Riu pela milésima vez e me soltou. – Vem, eles tem algumas novidades pra gente.
- Novidades? Que tipo de novidades?
Minha pergunta ficou sem resposta, pois o diretor Colin saiu de trás das coxias com o celular preso à orelha. Não o celular literalmente, mas aqueles aparelhos tecnológicos auditivos, que parecem fones de ouvido sem fio. Ele acenou para mim e Nick sem parar de falar com quem quer que estivesse do outro lado da linha e eu finalmente notei o pequeno estúdio fotográfico que havia sido montado ali em cima. Não era nada muito elaborado, apenas uma espécie de cúpula côncava de cor branca, que serviria de cenário, uma câmera sobre um tripé e aquelas coisas cinzentas/de alumínio ou algo assim, que são usadas para focalizar a luz. Ao menos é isso o que eu acho que elas fazem... Mas enfim. Mesmo contra a minha vontade, fomos até lado de Margot e meu companheiro foi o primeiro a cumprimentá-la.
- Bom dia, Margot. – Ele sorriu galanteador. – Qual é o seu segredo? Você parece mais jovem a cada dia.
- Puxa saco. – Pensei alto, mas não o suficiente para ser escutada. Enquanto a minha presença não era notada, deixei a minha mochila em cima de uma cadeira qualquer e fui bisbilhotar as fantasias.
- Oh, Nicky, você é sempre tão gentil! – A mais velha riu e eu fiz uma careta.
- , venha falar com a nossa figurinista! – O moreno me chamou. O que aconteceu com o termo “costureira”?
- Uh, bom dia, Margot. – Sorri o mais simpática que consegui e acenei de longe mesmo, ainda entretida com as roupas. – São todos os figurinos?
- Bom dia, senhorita. – Levantou-se com a ajuda de Nicholas e deu alguns passos na minha direção. – Não terminei todos os personagens, mas os seus figurinos estão todos aí sim.
- São lindos. – Suspirei, encantada com o tecido esvoaçante de um dos vestidos. Todas as peças pareciam extremamente fluidas e leves, o que daria um ótimo efeito ao dançar. – Você fe um ótimo trabalho!
- Que bom que gostou, querida. – “Querida”? Então é só elogiar que ela fica mansa? – Vamos fazer uma prova hoje, porque ainda dá tempo de fazer qualquer ajuste maior... Mas creio que não terá problema algum.
- Eu confio no seu talento, Margot. – Nicholas veio para o meu lado e rolei os olhos para que só ele visse, o que o fez rir.
- Bondade sua! – Margot não notou nada e olhou em volta. – Só vamos esperar...
- Dave Morgan! – Colin a interrompeu, pulando do palco e apontando para alguém que acabara de entrar ali. – Já não era sem tempo.
- Bom dia, Wall. Desculpe o atraso, eu estava falando com o pessoal da gráfica. – O tal de Dave correu o resto do caminho em direção ao diretor e apenas acenou para mim, Margot e Nick. – Vejo que já montaram o meu set.
- Seu ajudante está com Donna. Não sei onde eles foram... Ora, lá estão eles! – Mais duas pessoas entraram no auditório, com a mesma pressa que Dave. – Ótimo. Como dizia, Dave, tem noticias da gráfica?
- Conseguimos passar na frente dos outros pedidos e se conseguimos entregar essas fotos até o meio dia, a partir de amanhã os convites já podem começar a ser vendidos. – O fotógrafo sorriu orgulhoso de sua competência e Colin só faltou dar um pulo de emoção.
- Brilhante! Então vamos, porque não temos a perder! Venha, vou te apresentar aos nossos protagonistas. – Colin chamou os três profissionais que acabavam de chegar.
- É com a gente. – Puxei Nick pelo pulso e o arrastei pelo resto do caminho até que estivéssemos de frente às outras quatro pessoas. Margot preferiu ficar pra trás. – Olá...
- Aqui está a nossa Julieta! – O diretor segurou o meu ombro e praticamente me empurrou pra cima dos seus companheiros. – E o nosso Romeu!
- Dave. Sou o fotógrafo que vai fazer as fotos para o cartaz e convite do espetáculo. – Dave Morgan se apresentou, beijando as costas da minha mão e em seguida cumprimentando Nick. – Essa é Donna, a maquiadora, e Ashton, meu ajudante.
- É um prazer. – Apertei a mão dos outros dois. – Fotos do cartaz e convite?
- Bem, sim... Colin não contou que você terá o seu rosto estampado pela cidade inteira? – Dave perguntou, animado demais pro meu gosto.
- Me-eu rosto? – Gaguejei, mas tratei de me recompor. – Não me falaram nada...
- Na verdade, o rosto de vocês dois, mas entende o propósito. – O fotógrafo continuou, andando até o palco e fazendo com que os seguíssemos. – E, claro, nos 2.300 convites...
- Dois mil? – Repeti. Não caberiam duas mil pessoas naquele auditório. Olhei em volta tentando imaginar que espécie de mágica eles fariam e a risada de Nick chamou a minha atenção. – Porque só eu pareço... Surpresa? Pra não dizer “espantada”.
- Você não sabe onde será o espetáculo, sabe? – Franziu o sonho com uma expressão engraçada.
- Não... – Respondi meio desconfiada.
- Já esteve na Opera House, ? – Foi Colin quem prendeu a minha vigilância dessa vez.
- Sim... – É claro que eu já estivera lá e a fotografia de Nick e eu em jornais da semana passava provava isso. Essa lembrança apertou o meu coração como uma mão gelada, mas me mantive centrada.
- Quero dizer... Já esteve no palco da Opera House? – Se corrigiu, com o sorriso de quem apronta algo.
- Shut up! – Cobri meus lábios com as mãos, espantada. Eu tinha entendido o que achava que tinha entendido? – Nick!
- Eu sei! – Nicholas balançou os meus ombros, não tão surpreso quanto eu, e sussurrou as últimas palavras: - Holly me falou isso há duas semanas. Acredite, minha reação foi a mesma.
- E você não pensou em me falar nada?!
- Surpresa!
Já eram dez horas da manhã quando fui liberada para um pequeno intervalo. Todo o processo de prova de roupas fora registrado por Dave e preciso dizer que era como se o fotógrafo nem estivesse lá! Todos os figurinos caíram como uma luva e isso foi capaz de me deixar momentaneamente mais tranqüila após a grande descoberta que eu havia feito aquela manhã. Senti muita vontade de bater em Nicholas por ele não ter me contado que iríamos nos apresentar na Opera House, mas provavelmente a culpada era Holly. A mulher devia ter sido coagida a divulgar aquilo para o namorado e eu temia os tipos de chantagem que ele poderia ter usado. Após essa etapa, o diretor Colin escolheu o vestido que eu deveria usar para fazer as fotos com Nicholas e esse último também teve seu figurino escolhido.
O processo da seção de fotos foi bem parecido com a dos meninos, na Models One, a única diferença é que dessa vez eu estava na frente das câmeras e não por trás. Fizemos várias fotos, tanto juntos quanto individuais. Não cheguei a ver a escolhida, mas tinha uma leve intuição de que já sabia qual era: Uma das primeiras que tiramos, onde Nick e eu nos olhávamos “apaixonadamente” e “próximos demais”. Ou pelo menos essas foram as instruções de Dave. Fora o frio na barriga que eu sentia a cada segundo, tudo ocorreu na mais perfeita paz.
- , eu não consigo... – Ambas estávamos andando lado a lado no corredor, a caminho da saída da Academy; onde Niall devia esperar por nós.
- , eu já falei que Zayn não veio hoje. É só o Nialler... – Tentou me acalmar.
- Não é disso que eu estou falando. Eu não consigo... Me apresentar na frente de tantas pessoas assim. – É claro que contei tudo para ela no mesmo instante em que nos encontramos, na esperança de ser acalmada. – Eu achei que seria algo menor... Tipo uma apresentação de escola.
- Às vezes você esquece que essa é a melhor academia de artes do país... – Pareceu falar sozinha, sem me deixar nem um pouco mais calma. – , esse espetáculo é esperado há muito tempo. É claro que teria que ser em algum lugar grande... Sem falar que ouvi uma conversa que no próximo semestre não haverá outra peça, só ano que vem. Porque querem se concentrar apenas nessa...
- Eu devia me sentir melhor com isso? – Arfei, enfiando as mãos no bolso do meu casaco. – , eu estou pirando aqui!
- Como a minha professora de teatro fala... Inspira, espira, não pira! – A ruiva viu, mas ao ver que eu não via a graça, parou. – Só o que eu acho é que, se você não fosse se sair bem, ninguém teria te escalado pra esse papel. Todo mundo por aqui já sabe o quanto você é boa. É só assistir os seus ensaios que dá pra ver o quanto você é profissional.
- Duas mil pessoas... – Repeti pelo que parecia a décima vez naquela manhã.
- Ainda acho pouco! – Passou o braço pelo meu. – O mundo inteiro deveria te assistir.
Eu sabia que só estava sendo uma boa amiga e falava aquelas coisas para me acalmar, então sorri de canto, passando uma mecha de cabelo para trás da orelha. Só torcia pra que ela estivesse certa e preferi ignorar o frio que crescia na minha barriga. “Oito dias. Eu só tenho mais oito dias antes do espetáculo...” Vários pensamentos bombardeavam a minha cabeça, mas esse era o que mais me assustava. Como é que o semestre havia passado tão rápido assim? Era como se aquela ainda fosse a minha primeira semana e por um momento desejei que fosse mesmo. Mas não era; não podia ser. Nada voltaria a ser o que era antes...
- E esse tal de Dave... É bonito? – me tirou de meus devaneios e eu não soube se devia rir ou bater nela.
- , quantas vezes tenho que te lembrar que você tem namorado? – Acabei rindo mesmo. – Que, aliás, estamos indo encontrar agora!
- Não é pra mim, sua besta! É que agora que você está solteira, sabe como é...
Aquele comentário teria me feito brigar com ela ou pelo menos me fazer sentir aquele aperto no peito que já se tornava costumeiro, mas nem ao menos a escutei terminar me falar; meus pensamentos em um lugar mais à frente. Brigitte apareceu no corredor a alguns metros na nossa frente, arrastando um garoto igualmente loiro. A semelhança dos dois era impressionante, o que mostrava que deveriam ser parentes. Irmãos? Talvez. A escutei falar alguma coisa do tipo “você não devia estar aqui” e congelei no mesmo lugar enquanto ela o empurrava para fora da Academy. Não foi a semelhança entre os dois que me espantou, e sim o sentimento de “eu já o vi antes” que me invadiu. continuou falando ao meu lado até perceber que não era escutada. Seguiu então o meu olhar e fingiu uma tosse.
- Eu sei que está difícil achar um homem decente hoje em dia, mas não precisa apelar pra família Jones. – Razoou ao meu lado, apontando com a cabeça para a nova direção que Brigitte tomava. Depois de expulsar o menino da academia, ela rumava para o que parecia ser o banheiro feminino daquele andar.
- Você o conhece? – Perguntei ainda sem sair do lugar.
- Só de vista. Parece que são primos. – Deu de ombros.
- Tem que ser ele... – Falei sozinha, correndo até a porta de saída para tentar dar mais uma olhada no garoto loiro.
- Sua alma gêmea? – correu atrás de mim, sem entender a seriedade daquilo. – , espera! Quem é ele?
- O cara que me entregou o copo com a droga... No aniversário do Louis! Eu tenho certeza! – Despejei a minha desconfiança, olhando na direção que Brigitte sumira. – Não consegue se lembrar?
- Eu estava muito bêbada pra lembrar de qualquer coisa, mas acredito em você... – Parou de rir, olhando para Niall, que agora subia as escadas; preocupado com as nossas caras de espanto. – , onde você está indo?
- Atrás dela. – Falei entre dentes, seguindo pelo corredor com pressa.
- O que você vai fazer? – Veio atrás de mim, deixando o namorado pra trás.
- Algo que eu já devia ter feito há muito tempo. – Quase rosnei, a raiva tomando conta de mim.
- Me diz que você vai bater nela, por favor me diz que você vai bater nela! – Vibrou atrás de mim quando parei na porta do banheiro.
- Se for preciso. Só não deixa ninguém entrar, ok?
Ela afirmou que sim com a cabeça e foi a minha deixa para empurrar a porta de madeira do banheiro. Duas meninas desconhecidas passaram por mim na direção oposta e tive certeza que estava sozinha naquele cômodo com a oxigenada. Brigitte estava dentro de um dos boxes e me encostei à bancada da pia, decidida a esperar o tempo que fosse preciso. Um turbilhão de coisas se encaixava rapidamente na minha cabeça e eu me senti muito burra por não ter feito aquelas conexões antes. Mas é claro! Tudo de ruim que acontecia, todas brigas e desconfianças... Tudo aquilo terminava sempre em uma direção só; apontando para Brigitte. Agora eu estava mais certa do que nunca; aquele garoto que ela tentava tirar da Academy com tanta pressa era o mesmo que me entregara o copo batizado com a droga que me fez passar pela pior experiência da minha vida. Eu poda ver o seu rosto vívido na minha memória. O barulho da descarga sendo soada me avisou que a menina estava saindo. Aquele não era o lugar mais higiênico para se ter uma conversa, mas era o único onde ela não teria escapatória.
- O que é isso? Está me seguindo agora? – A menina pareceu surpresa a me ver, mas se esforçou para se recompor e caminhou até uma das torneiras.
- Estou aqui pra conversar com você, Brigitte. – Falei calmamente. ficaria decepcionada, mas bater nela não era a minha primeira opção. – Só quero que me responda... O que foi que eu te fiz? Porque você faz tudo que está ao seu alcance pra infernizar a minha vida?
- Ai, meu Deus, que drama... Não estou infernizando a sua vida, . – Revirou os olhos enquanto se olhava no espelho e retocava o batom, já depois de ter lavado as mãos. Soltou uma risada antes de continuar: – Só estou me divertindo um pouco. Não tenho culpa se é legal implicar com você.
- Legal? – Repeti, sentindo o meu peito subir e descer na medida que minha respiração acelerava. Apoiei uma mão sobre a bancada de madeira, encarando-a descrente. – Você acha divertido quase ter me matado?
- O-kay, agora você está ficando maluca. – Guardou o batom rosa de volta na bolsa e ambém se virou pra mim. – Do que você está falando?
- Você sabe exatamente do que eu estou falando, Brigitte. Você mandou o seu primo ou seu lá o que colocar algo na minha bebida. – Ao escutar as minhas palavras, a sua postura se tornou mais rígida. – Ele me drogou porque você pediu.
- Era pra ser só uma brincadeira. – Novamente veio com aquele tom de desdém, como se não tivesse importância.
- Eu fiquei inconsciente por doze horas. Caí de um buraco de quase seis metros e não consigo lembrar de quase nada que aconteceu aquela noite. Só lembro de estar muito assustada... – Me interrompi, não querendo mais recordar esse pesadelo. – Não com sei que tipo de brincadeiras você está acostumada, mas pra mim isso é algo muito sério.
- Eu não sabia... – Ficou quase estupefata por alguns instantes, provavelmente pensando nas conseqüências que ela mesma teria se aquela história chegasse até os ouvidos da diretora.
- E o pior é que você tentou incriminar Zayn... Me fazendo pensar que ele teria colocado a droga na minha bebida. Mas essa não foi a primeira vez que você tentou me colocar contra ele, não é? Apareceu na casa dele no meio da noite e depois inventou ter perdido um colar por lá, sabendo que eu pensaria besteira ao saber disso. – Minha voz saia mais dura na medida que as minhas revelações eram admitidas em voz alta. – Você devia saber que eu não acreditaria em nada que viesse de você.
- Pena que não pode falar o mesmo sobre o seu namoradinho, não é? Ou melhor... Ex-namoradinho. – Gargalhou como uma vilã de desenhos animados e meu desprezo por ela aumentou. – Imagine a minha surpresa ao descobrir que ele era o elo fraco do relacionamento e não você. Não sabe o quanto foi fácil fazê-lo acreditar em tudo que eu tinha pra contar.
- Eu não sabia que você podia ser tão baixa assim... – Falei com nojo.
- Pode falar que sou baixa, mas eu chamo isso de saber o que eu quero e ir atrás até conseguir. – Jogou os cabelos para o lado e deu alguns passos em direção a saída.
- Engraçado... – Meu tom de deboche a fez parar e mais uma vez estávamos de frente uma para a outra. Àquela altura eu já me preparava pra falar tudo que estava entalado na minha garganta há muito tempo. – Porque eu não acho que você tenha conseguido o que queria. Mesmo não estando mais comigo, Zayn também não está com você. Ele te despreza, Brigitte. E eu posso estar errada em muita coisa, mas disso tenho certeza... Zayn nunca será seu. Não importa o que você faça, ele merece coisa melhor do que uma vadia qualquer. E sabe disso.
- Escuta aqui, garota! – Ameaçou vir pra cima de mim, mas a batida que dei na madeira da bancada da pia a fez parar e se calar.
- Escuta aqui você. – Me impus sobre ela, mostrando que não tinha medo. Minha voz não estava contida e tive quase certeza que podia ser escutada do lado de fora. – Eu estou cansada de você. Então pra mim chega! Preste bem atenção no que vou falar agora, Brigitte, porque é o único aviso que eu vou te dar. Você vai me deixar em paz. Nunca mais vai chegar perto de mim ou dos meus amigos, ou eu juro que vai se arrepender.
- Oh, estou com tanto medo... – Ela podia negar, mas estava com medo sim. Talvez por nunca ter me visto daquela forma, não sabia muito bem como reagir.
- Então faça o teste. – Sorri ameaçadoramente.
Vendo que a loira ainda estava absorvendo as minhas palavras, dei as costas pra ela e me retirei do banheiro. e algumas pessoas estavam reunidas na porta, mas ao verem que alguém estava saindo, tentaram se dispersar. Como eu desconfiara, nossa conversa pode sim ser escutada do lado de fora e o sorriso da minha melhor amiga mostrava que ela estava muito orgulhosa de mim. Puxei ela e Niall para longe daquele lugar e paramos perto de algumas salas, sem de fato entrar em nenhuma delas. O irlandês me olhava um pouco surpreso, mas também sorria. Assim que nós três estávamos distantes da aglomeração de curiosos, também sorri; minha respiração ainda um pouco descompassada.
- Quem é você? – Niall perguntou retoricamente, ainda sorrindo.
- Acho que é hora de mudar de atitude. – Falei ao respirar fundo. – Cansei de agüentar tudo calada.
- Não sei quem é você ou o que fez com a minha , mas estou gostando... – riu e me abraçou. – A coisas que você falou pra Brigitte... Uaaaau!
- Vocês escutaram?
- Yeah! E foi incrível. – Niall gargalhou daquele jeito escandaloso. – Ainda não acredito que você a chamou de vadia.
- E se ela for reclamar com a diretora? – A ruiva franziu o cenho.
- Que vá. – Dei de ombros. – Quero ver o que a diretora vai dizer ao descobrir o que Brigitte e o priminho dela fizeram. Aí vamos ver quem sai por cima de quem.
Até que eu estava gostando dessa minha nova atitude e não pretendia parar por aí. Podia estar me escondendo atrás de uma postura forte, mas que fosse! No fundo eu sabia que era uma forma de proteção dos meus sentimentos, de não querer mostrar o quanto realmente estava magoada. O caso é que eu tinha duas opções: Ficar triste pelos cantos, pensando em como as coisas poderiam ter sido diferentes e encontrando mais pessoas pra culpar... Ou poderia ligar o foda-se e parar de me importar. Eu estava cansada de mim, de ser a boa aluna, a boa menina, a boa bailarina... Só queria fugir de mim mesma; ao menos por um canto.
- Vocês querem fazer alguma coisa? – Perguntei, arrumando a mochila em cima do meu ombro direito.
- , você não tem ensaio agora? – arqueou as sobrancelhas. De fato eu tinha, mas não me importava.
- Talvez... – Dei de ombros e tirei o celular do bolso da minha calça jeans, digitando uma mensagem rápida para Nick: “Estou passando mal, preciso ir pra casa.” E mostrei o celular para os outros dois. – Não tenho mais.
- O que vamos fazer? – Niall foi o primeiro a aceitar o meu convite.
- O que quisermos. – Mordi meu lábio inferior, sorrindo travessa.
- , o que você está fazendo?! – gritava na minha direção, me fazendo rir mais ainda.
- Nada! – Respondi inocentemente, me apoiando em uma parte de pedra que me serviria de apoio. – Só quero ver melhor...
Depois que saímos da Academy, ficando rodando pouco mais de uma hora pelas ruas de Londres, decidindo o que poderíamos fazer. É claro que o transito me irritava bastante, então vez ou outra eu simplesmente colocava a cabeça pra fora da janela e gritava coisas em francês que ninguém mais entendia. veio no mesmo carro que eu e Niall nos seguia com o próprio, já que não pode largá-lo no estacionamento da academia. O engraçado é que quando eu tentava despistar o garoto ou apostar corrida, reclamava, falando que a pista estava lisa demais por causa da neve. Desde quando ela é chata assim? Digo... Sempre foi um pouco chata, claro, mas a ruiva costumava ser a primeira a querer fazer loucuras. Porque quando EU queria ser um pouco imprudente ela reclamava?
No final das contas, acabamos chegando à Trafalgar Square, mais precisamente no monumento gigantesco que tinha no centro dela. Muitos turistas tiravam fotos por ali e alguns grupinhos de amigos passeavam de um lado para o outro. Eu, por outro lado, queria fazer mais que apreciar aquele pedaço de cultura inglesa. Um leão de cobre bem grande chamou a minha atenção desde que estacionamos, então eu não perdi a primeira oportunidade que tive para correr até ele. e Niall me seguiram, claro, mas era a minha amiga que estava tentando me impedir de subir no animal de pedra.
- Você quer é nos fazer ser presos! – Reclamou mais uma vez, mas era tarde demais.
- Pra de reclamar e vem também! – Me impulsionei para cima da plataforma e sentei em cima do leão. – Vou partir sem vocês.
- Pra onde vamos? – Niall também não escutou a namorada e subiu ali também, com uma facilidade bem maior.
- Niall Horan!
- Acho que a cerejinha está brava. – Cochichei para Ni e ri. – Estamos indo para Nárnia! Avante, Aslan!
- Vocês dois estão loucos. – A ruiva colocou uma mão na cintura e apontou para a placa de onde se lia “Proibido subir” com a outra.
- É só uma regra boba, . Ninguém obedece. – Tentei. v
- Diga isso para aqueles policiais! – Apontou para dois homens fardados que corriam na nossa direção.
- E agora, o que a gente faz? – Niall me perguntou. Os homens ainda estavam um pouco distantes, mas isso logo mudaria.
- Agora a gente corre! – Gargalhei e escorreguei para o chão novamente.
- Não vou correr. Não fiz nada de errado. – cruzou os braços, mas a agarrei pelo pulso em seguida.
- Você é cúmplice!
É fácil imaginar a quantidade de olhares que atraímos ao sair correndo no meio das pessoas. Eu já não segurava mais , já que ela só estava me atrasando. Ao invés disso, deixei Niall puxar a namorada e fui na frente para abrir caminho. De vez em quando olhava para trás e via pessoas entrando no caminho dos policiais, nos ajudando a ganhar tempo para despistá-los. Não acreditava que nos prenderiam se nos alcançassem, mas nossa brincadeira poderia ser vista como depredação de um lugar público; o que nos obrigaria a pagar uma multa um tanto alta. Por mais séria que a situação fosse, eu não conseguia parar de rir. Essas risadas misturadas à falta de ar causada pelo ar frio me faziam arfar, mas não parei de correr.
Mesmo sem saber para onde estava indo, puxei meus dois amigos para uma espécie de beco vazio. Outro dia que fosse eu teria ficado com medo de entrar ali, mas naquele momento simplesmente não me importava. Me abaixei atrás de uma lixeira alta e larga, avisando para o outro casal fazer a mesma coisa. resmungava coisas sem sentido, preocupada com o que a mãe dela falaria se a policia telefonasse para ela. O irlandês, por outro lado, se divertia tanto quanto eu; ou quase isso.
- Isso foi tão legal! – Ri, já começando a respirar normalmente. – Podemos fazer de novo?
- Você está maluca de vez. Acho que Brigitte bateu a sua cabeça contra a privada. – voltou a reclamar. Eu já estava ficando irritada com isso.
- Acho que a quebrou... – Niall comentou com a namorada.
- Vocês é que são uns chatos! – Os reprovei com a cabeça e levantei. – Acho que despistamos eles...
- Que lugar é esse? – olhava na direção contrária da minha, o que me obrigou a dar uma volta. – Acho melhor irmos logo.
- Parece um bar. – Ni explicou. – Sinuca, essas coisas...
- Eu gosto de jogar... – Menti. Nunca havia segurado um taco de sinuca na vida.
- Não, não, não... – Minha amiga tentou me impedir, mas fui mais rápida.
- Podem ir embora se quiserem. – Avisei antes de abrir a porta preta e ser intoxicada pelo cheiro de suor masculino + charutos.
Capítulo LXVIII
Admito que estar em cima do palco enorme da Opera House foi mais gostoso do que eu esperava. É claro que o lugar estava vazio – se ignorarmos os outros alunos que também passeavam por ali – e o cenário ainda não estava totalmente montado, mas isso são detalhes que podemos ignorar. Naquela sexta-feira, a diretora Agnes e Colin organizaram uma espécie de excursão para que nós pudéssemos nos familiarizar com o lugar onde estaríamos nos apresentando dali a exatamente uma semana. Todos os participantes da peça foram divididos em grupos e cada um teria o seu próprio horário para conhecer as instalações do local, para que não houvesse bagunça caso fossemos todos de uma vez. Devo dizer que fui particularmente sortuda em ter sido escalada para o horário da tarde, o que me rendeu preciosas horas de sono durante a manhã. No meu grupo estavam também: , Niall, Zayn, Nick, Sean, Gwen, Kim, Matthew e Brigitte. Os quatro penúltimos já tiveram alguns ensaios comigo, mas nosso relacionamento era estritamente profissional.
Tivemos um período de quinze minutos para conhecermos o local inteiro, mas isso só me manteve entretida durante os cinco primeiros. Enquanto Nick sumiu por aí com a professora/namorada, não me senti a vontade para passear pelo backstage ao lado de , Niall e Zayn. Eu e esse último estávamos nos falando, mas não saia do básico. Eu preferia ignorar os olhares que ele lançava na minha direção e geralmente respondia suas perguntas com sim ou não. Em outra época eu teria segurado as lágrimas ao olhar pra ele e praticamente desmoronado com o mero toque de nossos braços, mas naquele dia estava sendo bem diferente. Pois é, eu continuava com a minha atitude de “não ligo pra nada” – ou quase nada – e me apegava a ela cada vez mais. Decidindo ficar sozinha mesmo, sentei na segunda fileira de cadeiras, com os pés apoiados na cadeira na minha frente e o fone de ouvido enfiado nas minhas orelhas. Enquanto escutava uma música relativamente alta e gritante, senti alguém cutucando o meu ombro.
- É melhor ser importante. – Bufei, tirando um dos fones da minha orelha.
- Receio que seja. Preciso dar os últimos retoques daquela menina ruiva e dos outros dois que estão com ela... – Era Margot que me perturbava. – Como você não está fazendo nada, poderia chamá-los pra mim, por favor?
- Tenho mesmo? – Respirei fundo entediada. A velha, digo, senhora, afirmou que sim com a cabeça e deu meia volta. – Ok, ok!
Desliguei a minha música e enfiei o pequeno iPod de qualquer jeito na mochila, deixando-a jogada no banco mesmo. Eu já tinha que ir atrás de três pessoas em um lugar ENORME, o que menos queria era ainda ter que carregar peso. Com preguiça de ter que dar a volta na fileira de cadeiras, resolvi pular por cima do banco em minha frente, sem me importar de pisar no estofado delicado e avermelhado que parecia tão limpo antes de receber a sola dos meus sapatos. Notei que algumas pessoas por ali observavam a minha falta de zelo, mas o meu olhar duro fez com que ninguém se aproximasse para reclamar. “Melhor assim.”
Passei pelo caminho que levava até a porta escondida do backstage e passei sem pedir licença. Sean, que faria o papel do meu pai na peça, me informou que vira os meus três amigos na direção dos camarins e foi pra lá que eu rumei. A parte de trás do palco era bem maior do que eu poderia imaginar. Havia salas e mais salas, um segundo andar, escadas que desciam e subiam... Era uma verdadeira bagunça, mas pelo menos tudo era bem sinalizado e placas mostravam o caminho que eu queria seguir. Algumas tábuas frouxas rangiam baixo enquanto eu passava, mas não dei muita importância. O resto do assoalho em geral era bem firme e encerado; um verdadeiro luxo. Cheguei na área dos camarins mais rápido do que eu esperava. Dois deles estavam abertos e vazios, o que me mostrava que meus amigos só poderiam estar no terceiro. Girei a maçaneta, mas parei ao escutar o meu nome. Eles deviam estar falando sobre mim lá dentro, por isso abri apenas uma fresta para que eu pudesse escutar.
- Ed me disse que a estava doente, mas ela não parece... – Zayn comentou.
- Isso é porque ela realmente não está doente. Só disse isso pra fugir dos ensaios. – me entregou e fiz uma careta de tédio.
- O que está acontecendo com ela? – Zayn mais uma vez questionou.
- Ela está agindo assim desde que conversou com Brigitte. – Niall foi quem explicou e dessa vez sorri com orgulho de mim mesma.
- Como é que é? Ela conversou com Brigitte? – O moreno era surdo ou o que?!
- “Conversar” não é bem o termo. – riu. – Digamos que a oxigenada venha merecendo escutar umas verdades há um tempo e a falou tudo que nenhum de nós nunca falou.
- Você devia ter visto, Zayn, a foi incrível. – Foi a vez do loiro de rir. – Tirando a parte que ela quase nos fez ir para a cadeia!
- Cadeia? – Zayn repetiu. Sério, alguém dá um cotonete pra esse menino.
- Ugh, nem me lembre disso! – arfou e eu segurei uma risada. – E depois ainda fomos expulsos de um bar de sinuca. Você tem noção do quão louca a pessoa precisa ser pra ser expulsa de um bar desses?!
- Pff. – Bufei baixo, ainda sem ser notada espiando atrás da porta. Fala sério, eu não tinha feito nada demais! Só por ter atrapalhado alguns jogos, quebrado uma garrafa de whisky com mais de cinqüenta anos de idade e discutido com uma garçonete eu sou louca?!
- Aliás, onde você estava ontem? Sumiu o dia inteiro. – Ni o questionou.
- Uh, eu só... Ando ocupado... Tem algumas coisas que eu preciso resolver. – Não vou mentir e dizer que não fiquei minimamente curiosa, mas logo deixei isso pra lá. Eu não tinha mais nada a ver com os afazeres do meu ex-namorado.
- Você ainda vai fazer o que disse na entrevista? – suspirou.
- O que? Quando falei que vou fazer de tudo pra tê-la de volta? – Perguntou, e deve ter afirmado com a cabeça, pois ele logo continuou: - Vou sim. Agora mais do que nunca.
Nesse instante eu parei de ouvir e me virei para ir embora. Não queria mais escutar aquela conversa e também não fiz questão de avisar a eles que Margot os esperava. De repente senti um pouco de raiva de Zayn. Quem ele achava que era pra pensar que poderia me ter de volta assim tão fácil? Que eu soubesse, ele não estava fazendo grande coisa para conseguir as minhas desculpas. A verdade é que eu não queria que ele me tivesse de volta. Eu não queria voltar, porque isso significaria ter que sentir, pensar, me preocupar com todas as coisas que eu deixara pra trás desde a discussão com Brigitte. E, acredite, não me importar doía bem menos.
No meu trajeto de volta para o salão foi um tanto apressado. Sean me perguntou se eu havia encontrado quem procurava, mas não lhe dei atenção suficiente para formular uma resposta. Apenas segui em passos longos até estar novamente passando pela porta que me levaria à frente do anfiteatro. Eu não ficara ausente por mais de dez minutos, mas o cenário do palco estava consideravelmente diferente. Onde antes estava uma fonte que era mais leve do que aparentava, agora estava a tão famosa sacada de Romeu e Julieta. É claro que o elemento cenográfico não era de pedra como o original, mas aparentava ser tão alto quanto. A pintura, por outro lado, fazia jus aos mínimos detalhes; o que também incluía algumas plantas artificiais e a trepadeira pela qual Nick teria que escalar.
- E então? – Margot me tirou das minhas observações.
- Não encontrei nenhum dos três. – Menti com um aceno de ombros. Eu estava me tornando convincente.
- ! , venha cá... – Colin estalou os dedos três vezes enquanto me chamava.
- Já vou! – Mas será possível?! Uma pessoa não pode ter um minuto de calma? Respirei fundo e fui em direção ao palco, procurando uma escada ou qualquer coisa que pudesse me ajudar a atravessar o “buraco” onde a orquestra ficaria durante o espetáculo. Apenas encontrei uma tábua de madeira e tratei de me equilibrar sobre ela.
- , você vai cair... – Nick me esperava na outra ponta da tábua, com as mãos estendidas para me receber.
- Oh, Romeu! Não me deixas cair, meu Romeu. – Parei no meio da tábua, dramatizando e encostando as costas da mão direita à testa.
- Dê-me vossa santa mão, Julieta. E deixa-vos cair, nunca irei! – Sorriu e esticou mais a mão, até que eu caminhasse até ele e nossos dedos se encostassem.
- Tu me salvaste! – Disse assim que fui praticamente levitada até o centro do palco, pois Nicholas demonstrou a sua força ao segurar a minha cintura com a mão que estava livre e me carregar até ali.
- Eu sentirei saudade de vocês dois. – Colin nos observava e parecia um tanto melancólico. – Mas não é a hora para despedidas. Ainda. Bem, vamos ao que interessa. , pode subir na sua varanda.
Obedeci aquele comando com muito agrado, pois estava curiosa para ver como era tudo ali em cima. Enquanto o diretor e Nick conversavam alguma coisa que eu já não podia mais escutar, me perdi atrás das cortinas da lateral direita do palco. Ali atrás, nas coxias, não foi difícil encontrar a escada improvisada que levava até o cenário da varanda. Chegando lá em cima, me senti levemente zonza. O lugar era quase da mesma altura que o segundo andar da minha casa, mas era algo que eu havia de me acostumar. A sacada em si tinha pouco mais de dois metros de comprimento, o que me dava bastante espaço para caminhar.
Me movimentei e dei alguns giros, simplesmente para me divertir; sem falar que estava me sentindo a verdadeira Julieta. Nick estava vestindo uma calça jeans, mas os pés estavam calados com uma sapatilha preta, por isso ele se movia pelo palco enquanto dançava o seu solo. Colin o vigiava e Holly assistia tudo de uma cadeira na platéia, gritando de lá mesmo algumas dicas ou lembretes do que o aluno/namorado deveria fazer para melhorar o seu desempenho. Minha atenção foi puxada para um ponto do anfiteatro – mais precisamente naquela bendita porta escondida que levava até o backstage. Uma garota ruiva com um vestido que parecia ter o dobro do peso dela, um loiro e um moreno com calças de lycra e uma camisa de mangas compridas entraram ali. Tive que rir, porque Niall parecia realmente incomodado com aquele seu figurino.
- Eu tenho mesmo que usar essa meia calça? – Ele fazia caretas, puxando o tecido e em seguida soltando-o.
- Não fique assim, Nialler! – Fui até a ponta da sacada, me inclinando para olhá-los. – Essa calça deixa a sua bunda maior!
- Muito obrigado, . – Olhou para os lados com os braços cruzados, mas, ao não conseguir me achar, acabei rindo. – ?
- Aqui em cima, idiota. – Avisei. já tinha me visto e eu desconfiava que Zayn também, mas não olhei pra ele em busca de confirmação.
- Como você chegou aí em cima? – O loiro fazia jus à sua coloração de cabelo e o deu um tapa na parte de trás da cabeça. – Outch, o que é?!
- Ela subiu pela escada, Niall. – Zayn abriu a boca e meu olhar acabou encontrando o dele.
- Pelo menos alguém tinha que ter mais de dois neurônios. – Sorri de canto. Mas não um sorriso que dizia que éramos melhores amigos, apenas um sorriso que fazia jus a minha piada. – Ou quase isso.
- Psiu. – Um chamado atrás de mim me fez virar sem esperar a resposta. Era Nick, que já havia escalado a trepadeira artificial. – Você ainda é minha.
- Romeu ciumento! – Ri e fui até ele, deixando meus amigos para trás. – Oi.
- Temos que beijar agora. – Nick piscou; ato que só eu consegui ver.
- Assim? Nem um jantar antes? Ou um cortejo, no caso? – Ri, começando a me inclinar sobre ele. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde teríamos que trocar um beijo, já que nos outros ensaios, o diretor gritava “corta” bem no momento em que nossos lábios estavam prestes a se encostar. Naquele dia, porém, eu me encontrava bem mais acostumada a essa idéia. – Ou talvez em um lugar mais vazio?
- Você quer dizer um lugar onde o seu ex-namorado não esteja assistindo? – Nick cochichou com um sorriso provocador.
- Ele está olhando? – Perguntei no mesmo tom.
- Não tira os olhos daqui desde que eu te chamei. – Olhou para a platéia de soslaio, mas não fiz o mesmo.
- Ótimo! – E com essa última palavra, segurei Nick pelas laterais do rosto e o puxei para um beijo. Não foi nada mais que um toque leve de lábios, mas sabia que seria o suficiente para incomodar Zayn.
- Porque ele está preso? – Harry apareceu na varanda de casa, completamente coberto dos pés a cabeça. Pelo menos quando estava nevando ele evitava ficar andando pelado por aí.
- Ele não está preso! – Eu estava sentada na neve onde costumava ser o gramado da minha casa, com pulando na minha frente e rolando no gelo até que seu pelo ficasse cheio de flocos de neve. – Só está na coleira, porque eu acho perigoso soltar...
- Mas ele não fugiria. – O menino alto se sentou ao meu lado, quase tombando para trás, o que me fez rir. – Fugiria, ?
- Não quero fazer o teste. – Respondi calmamente enquanto o cachorro corria para pular em cima das pernas de Haz. Eu até podia estar em uma fase “não ligo pra porra nenhuma”, mas arriscaria o meu filhote; de jeito nenhum.
- Por favor, ? Deixa ele correr por aí... Ser livre! – Brincava com o animal, tentando pegar as patinhas dele.
- Harry, é muito independente. Sem falar que é bem mais rápido que a gente. Se soltarmos ele, nunca mais o pegamos. – Expliquei enquanto fazia um montinho de neve na minha frente. – Ele pode nos seguir pela casa, mas já tentou chamá-lo contra a vontade dele? É uma missão impossível.
- Eu prometo que consigo pegar ele de volta... – Parecia não querer deixar essa idéia de lado até que eu concordasse. Rolei os olhos e o encarei. Aqueles olhos verdes bem abertos, tentando me convencer.
- Tudo bem, Hazza... Mas você pega ele! – Bufei baixo, me dando por vencida. Acabei rindo com a felicidade de ao ser libertado da correia.
- Viu? Nada de ruim está acontecendo... – Sorriu orgulhoso da sua idéia, mas essa felicidade toda pareceu não durar muito. – , onde você está indo?
- Ele vai correr! Não faça movimentos bruscos! – Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo de falar “eu avisei”. Harry não me obedeceu e se levantou.
O cachorro entendeu aquilo como uma brincadeira de perseguição, como se ele devesse correr e Harry fosse atrás dele. então correu em disparada, dobrando na calçada e quase sumindo do meu campo de visão. Haz foi atrás do pequeno e eu não fiquei para trás. Os dois corriam bem mais rápido que eu, mas isso não me impediu de pelo menos tentar. Eu não devia ter entrado naquela onda e nunca devia ter aceitado soltá-lo da coleira. Apesar de estar ganhando tamanho e peso, ainda era um filhote e por isso as suas idéias e atitudes eram de uma criança de cinco anos. Ele não conhecia os perigos de correr para o meio da rua e ser atropelado por um carro. A sorte é que aquele fim de tarde de sexta-feira estava calmo.
Por mais que Harry gritasse, o cachorro não o obedecia e continuou correndo até dobrar a esquina. Pensei em ligar para Liv, pois aquele era o caminho da casa dela e, se fosse o suficientemente rápida, poderia entrar na frente e pegá-lo antes que pudesse fugir de novo. Entretanto, duvidei que tivéssemos tempo pra isso. A falta de ar logo apertou os meus pulmões quando o vento gelado tinha trabalho para entrar pelas minhas narinas. Eu precisava arrumar uma forma de pará-lo. Parei de correr, respirando fundo e juntando todas as minhas forças em uma coisa só.
- ! – Gritei. No meu tom havia mais que um chamado; aquilo era uma ordem. Por mais incrível que pareça, o cachorro parou onde estava e olhou pra mim. – Aqui!
- Você viu isso? – Harry perguntou, claramente divertido. – Ele parou! E agora está vindo pra cá...
- Bom menino. – Sorri ainda sem acreditar e me ajoelhei, batendo no chão para que ele viesse ao meu encontro.
- Mas eu também o chamei! – Encurtou a distância entre nós assim que o cachorro já estava em meus braços. – Por que ele não me obedeceu?
- Acho que ele sabe quem manda nessa casa. – Ri, apertando o filhote contra mim. Seu nariz gelado tocou a pele do meu pescoço, causando um pequeno calafrio. Eu estava mais tranqüila agora que o tinha perto. – E você... Nunca mais invente uma coisa assim!
- Desculpa... Eu achei que ele não fosse correr. – Passou a mão pelos cachos castanhos e os empurrou para trás; o que não durou muito, já que os fios rebeldes logo voltaram para o lugar.
- Não tem problema, mas da próxima vez escute o que eu estou falando, ok? – O puxei pelo braço para que pudéssemos andar de volta para casa.
- Claro que sim. – Me envolveu pelos ombros, nossas alturas ficando mais diferentes agora que estávamos lado a lado. – Você não contou como foi lá na Opera House...
- Foi bem legal, Harry! – Sorri, olhando para o chão na nossa frente. – Os cenários são magníficos! E terminei de ver os meus figurinos hoje... AH! O Niall vai ter que usar aquelas meia-calças coladas, sabe? Todos vão, na verdade... Mas ele ficou bem engraçado.
- Você tirou alguma foto? – Ouvi sua gargalhada rouca e o olhei. – Eu preciso ver isso!
- Infelizmente não! – Também ri, fazendo carinho no pelo de e tirando algumas sujeiras. – Mas você vai poder ver no dia da peça. Vai assistir, né?
- Não perderia por nada. Eu e os meninos já compramos os nossos ingressos, só falta esperar chegarem pelo correio.
- Yay!
O meu nervosismo logo desapareceria quando eu me concentrasse em todas as pessoas queridas que estariam na platéia, me assistindo. Meu pai e Rachel também compraram seus ingressos, mas preferiram ir até a bilheteria mesmo. Quanto a meus tios e avós, eu achava mais difícil que fossem me assistir, mas não duvidava nada que papai tivesse comprado ingressos para a família inteira. Também havia convidado Dan, minha mãe e nana, mas não podia esperar que eles largassem tudo em Paris só pra vir assistir uma apresentação de ballet, por maior que fosse.
Terminamos o caminho até a nossa casa conversando sobre mais coisas que me alegravam, mas que confundiam Harry. Ter que explicar a diferença entre três sapatilhas de ponta não foi a tarefa mais fácil do mundo, mas fiz o que pude. Eu sabia que ele não estava nem um pouco interessado nesse assunto, mas me deixava falar simplesmente porque sabia a importância que tinha pra mim. Harry me observava enquanto eu explicava tudo e me olhava como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. Esse era um dos motivos que eu mais gostava de conversar com ele, pois Haz se entregava inteiramente ao momento e você tinha certeza que ele não pensava em mais nada que não fosse aquele assunto do momento.
- Aí estão vocês! – Liam nos esperava na porta, mas não arriscou sair de casa. Suas roupas não eram tão grossas assim, então ele estaria mais protegido ali dentro mesmo.
- Tem algo errado? – Questionei com uma sobrancelha levantada, observando-o guardar o celular de volta no bolso. Eu tinha um pouco de trauma com ligações misteriosas e noticias ruins.
- Não, não... – Li sorriu, suas bochechas corando levemente. – Dani ligou e...
- Dani ligou? Hmmmmmmmmmmmmm. – Brinquei. – Então vocês estão se dando bem, huh?
- Ela é bem legal, . Mas nada aconteceu! – Riu ainda envergonhado e nos deixou entrar na casa. – Ainda...
- , deixa o menino falar! – Lou me interrompeu, descendo as escadas.
- Falar o que? – Coloquei no chão e me voltei para o menino.
- Dani nos convidou para uma festa hoje, na casa de um amigo dela. – Liam informou. – Estão afim?
- Eu topo! – Fui a primeira a levantar a mão. Era disso que eu precisava... Uma boa festa.
Harry foi o nosso motorista àquela noite. Eu estava ao seu lado esquerdo e os meninos no banco de trás, como se fossem as nossas crianças. Dani enviou o endereço da casa do amigo dela por mensagem e Harry afirmou saber onde ficava. No começo eu duvidei um pouco daquilo, mas assim que o Range preto foi estacionado entre tantos outros carros na frente de uma casa gigantesca, dei uma chance ao curly e acreditei no que ele falava. Aquela casa não ficava em um condomínio, mas tinha pelo menos o dobro do tamanho da minha. Ninguém estava nos jardins da frente por causa do frio e o interior parecia estar bombando. Luzes piscavam nos três andares do estabelecimento e as pessoas que eu conseguia ver pelas janelas pareciam mais pra lá do que pra cá.
Sorri animada, querendo correr para a festa de uma vez e me jogar na pista, nas bebidas e nas pessoas. Não necessariamente nessa ordem. Haz riu ao meu lado depois de ver a minha animação e eu só consegui balançar a cabeça. Não precisei esperar muito para descer do veículo e logo estávamos os quatro atravessando a rua para chegar no caminho sem neve que nos levaria até a entrada da casa. Vi que Liam digitou alguma coisa em seu celular, provavelmente avisando a possivel-futura-namorada que havíamos chegado, e a menina de cabelos cacheados logo apareceu pelo mesmo lugar onde deveríamos entrar.
A primeira coisa que Danielle fez foi abraçar Liam. Eu teria ficado com um pouco de ciúmes, mas preferi não me importar. Em seguida passou para Haz e Lou, que estavam lado a lado. Ela foi muito simpática com todos e por último falou comigo, me abraçando como se nos conhecêssemos há anos. Sorri simpática quando ela explicou onde deveríamos deixar os nossos casacos, já que o interior da casa era bem aquecido e nós não precisaríamos nos preocupar em passar frio. Também dei um jeito de enfiar a minha bolsa de mão ali dentro, pois não estava afim de me preocupar com nada naquela noite, muito menos em perder o meu celular e todas as coisas que trouxera ali dentro. Por fim, eu estava apenas com o meu vestido vermelho e já começava a mexer o corpo disfarçadamente no ritmo da música contagiante que embalava todos os cantos da casa.
- Você está linda, Dani. – Sorri mais uma vez, olhando-a em seu vestido preto.
- Ei, eu ia falar isso agora mesmo! – Liam reclamou com um sorriso ainda maior que o meu.
- Obrigada vocês dois. – A menina agradeceu, mas é óbvio que gostou mais do elogio de Li do que do meu. Ao perceber que o encarava por muito tempo, se virou pra mim. – Não trouxe o seu namorado, ? Zayn, certo?
- Nós não estamos mais juntos! – Falei o mais naturalmente que pude.
- Sinto muito... Mas nesse caso, posso te apresentar a alguns amigos que eu tenho aqui. – Ela piscou. – Tenho certeza que adorariam e conhecer...
- Obrigada, mas vou passar! – Ri olhando em volta. Com toda certeza mais da maioria daquelas pessoas trabalhava no ramo da dança, pois era muito difícil ver alguém parado ou fazendo passos simples. – Quero me afastar de envolvimentos por um tempo. Só quero me divertir!
- Caso mude de idéia, é só me avisar. – Afirmou e segurou a mão de Liam. – Quero te apresentar a uns amigos...
- Vamos lá, então! – Ele entrelaçou os dedos aos dela e se virou brevemente na direção daqueles que ficavam: - Vejo vocês mais tarde?
- Aproveitem a festa! – Acenei enquanto ele e a menina se afastavam.
- Bem, isso foi estranho... – Harry riu.
- Nem me fale. – Suspirei, focando a minha atenção no meu irmão e em Haz.
- O que querem fazer agora? – Lou perguntou mais para Harry do que pra mim e senti a indireta.
- Porque não vão andar por aí e ver se encontram algo de bom? – Sugeri. – Eu vou procurar algo louco pra fazer...
- ! – O mais alto me repreendeu, mas Lou apenas riu. – Se cuide, ok?
- Cuidado é o meu nome do meio. – Pisquei e acenei para os dois antes de me perder na multidão.
Eu não sabia se Lou estava planejando levar Harry para um canto afastado e dar uns pegas por ali, mas não queria ficar no meio de nenhum plano que meu irmão tivesse para com o meu possível-futuro-cunhado. “É... Parece que todos estão se arrumando e eu aqui...” Sacudi a cabeça para afastar aqueles pensamentos sem sentido e comecei a andar em uma direção qualquer. Como não conhecia aquela casa, era meio difícil encontrar um bar ou algo do tipo, mas não desisti de encontrar alguma bebida. Dobrei a esquerda depois de andar por uns dois minutos e comecei a ver cada vez mais pessoas com copos avermelhados nas mãos. “Bingo!” Me aproximei de uma garota loira que segurava dois copos de vidro com um líquido dourado.
- Oi! Hey... – Tive que falar alto para ser ouvida por cima da música e a garota me olhou com um sorriso, fazendo-me continuar. – Onde você conseguiu essa bebida?
- Na cozinha! É por ali. – Apontou o caminho e quase derrubou um dos copos. – Opa! Oh, estão fazendo shots!
- Obrigada!
Agradeci com uma risada, realmente achando graça da falta de coordenação motora da menina, mas parei ao pensar que eu mesma não estaria tão diferente dela dali algumas horas. Segui pelo caminho que me foi indicado e me surpreendi ao achar tão rapidamente assim a tal cozinha. As portas não eram portas comuns, e sim daquelas de vai e vem, estilo bar de faroeste. Tive que me esquivar de algumas pessoas risonhas que saiam de qualquer jeito e segurei uma das “abas” da porta, impedindo-a de bater na pessoa que vinha atrás. Para não ficar de porteira, passei pra dentro na primeira oportunidade que tive e me surpreendi a ver a mesa colocada no centro da cozinha. Não era uma mesa comum, e sim de pingue-pongue. Algumas garrafas estavam espalhadas por ali, assim como copos e taças dos mais variados tamanhos. Um homem que devia ser no máximo três anos mais velho que eu estava preparando algumas doses de tequila e foi até ele que eu andei.
- O que uma garota tem que fazer pra conseguir uma bebida aqui? – Perguntei dissimulada, colocando uma mão na cintura.
- Se a garota for como você, só precisa pedir. – Não demorou nem cinco segundos pra responder e a escaneada que ele me deu teria me deixado tímida, mas só serviu pra aumentar o meu ego.
- Então eu gostaria de uma dessas, por favor. – Mordi o meu lábio inferior após o pedido e o observei arrastar um copinho até deixá-lo na minha frente.
- Quer limão e... – Não o deixei terminar de oferecer limão e sal e virei a bebida pura mesmo. – Sal.
- Eu acho que estou bem. – Ri e depositei o copo na mesa.
- E então? – Sorriu mais para a esquerda do que para a direita, ato que achei extremamente sexy.
- Bem... – Parei pra pensar um pouco, ainda saboreando a queimação na minha garganta. – Ainda estou pensando direito, então acho que preciso de outra.
- Você é das minhas. – Gargalhou e passou as mãos pelos cabelos extremamente negros; um contraste com seus olhos acinzentados. Ele logo me passou mais um copo e tomou outro em sua mão. – Um brinde?
- A essa poção mágica! – Levantei a minha taça e bati na dele; levando-a aos meus lábios em seguida.
- Você é dançarina? – Perguntou após virar a sua bebida do mesmo jeito que virei a minha. Notei que ele me olhava dos pés à cabeça. – Você tem pernas de dançarina.
- Bailarina. – O corrigi com um sorriso e voltei a abaixar o copo.
- Então não. – Levantou uma sobrancelha como se soubesse que eu levaria aquilo como uma provocação.
- O que quer dizer com isso? – Cruzei os braços.
- Ah, você sabe... Bailarinas são meio... – Por não encontrar uma palavra melhor para definir, o menino balançou os braços devagar como se dançasse uma música clássica. – Nós dançarinos temos mais gingado.
- Eu adoraria provar que você está errado. – Não recuei quando ele me “ofendeu” e entendi aquilo como algo pessoal.
- Quando quiser. – Piscou, se divertindo as minhas custas.
- Agora. – Puxei mais um copinho com o líquido dourado como outro e o virei de uma vez, dessa vez fazendo uma careta.
- Depois de você. – Indicou a porta com o braço.
Ok, eu não estava naquela festa há nem vinte minutos direito e já tinha arrumado um par pra dançar? É, essa noite prometia. Passei pela porta de vai-e-vem e não me importei de segurá-la para o outro passar. Escutei a sua risada atrás de mim ao quase ser atingido e só me virei para esperá-lo chegar ao meu lado. Eu teria saído andando, mas não conhecia muito bem aquela casa, então tive medo de acabar chegando em algum quarto por acidente e o estranho entendesse aquilo como um convite. Ele logo tocou as minhas costas com a mão espalmada e me guiou entre as pessoas que acenavam e sorriam em sua direção. A pista de dança ficava no centro da casa, mesmo que a música alta pudesse ser desfrutada de qualquer lugar. Não havia DJ ou coisa do tipo, mas um equipamento de som, conectado a um computador MAC quebravam o galho muito bem. Muitas pessoas abriram caminho quando passamos e ficamos bem no centro da pseudo-pista. Um globo de espelhos girava sob nós e vários raios de luz eram refletidos por ele, iluminando a sala inteira.
“Prove”, foi a palavra que li nos lábios daquele menino na minha frente. Apesar de estar usando salto alto, ele conseguia ser mais alto que eu; talvez até maior que Harry e olhe que isso é alguma coisa. Aceitei aquela provocação como um desafio e ele ficou me observando começar a mexer o corpo no ritmo da música. Mesmo sem nunca ter participado de uma “batalha” na pista de dança, já assistira filmes o suficiente para saber como funcionavam. Comecei mexendo o quadril de um lado para o outro, usando os braços pra fazer movimentos de ondas. Acredite, é mais legal do que soa. O garoto riu de mim, como se perguntasse se era só aquilo que eu sabia. Foi a minha vez de piscar, então comecei com uma série de movimentos seguidos. Lembrei das minhas aulas de técnica corporal e não me restringi ao plano central. Dei um giro que seria considerado de ballet, mas aumentei a velocidade e fiz meu salto escorregar pelo chão liso. As três doses de bebida que tomei anteriormente subiram a minha cabeça de uma vez, me deixando levemente tonta, mas ignorei isso e dobrei os joelhos, parando no chão enquanto arqueava as costas para trás.
Algumas pessoas a nossa volta pararam o que faziam para olhar pra mim. Uns ou outros comemoraram o meu passo ousado e logo tratei de levantar sem encostar as mãos no chão, jogando o quadril levemente para a direita. Sorri satisfeita para aquele menino que eu ainda não sabia o nome e joguei os cabelos por cima do ombro, como se me gabasse. Ele fingiu bocejar e começou com a própria dança enquanto eu o assistia. Deus dois passos na minha direção e parou, me encarando nos olhos poucos e segundos depois desmoronou. Não literalmente, é claro. É só que o menino de cabelos negros fingiu cair no chão e em seguida usou os pés intercalados para levantar o corpo inteiro com a maior facilidade do mundo. Por um minuto achei que ele não tivesse ossos, pois sua dança fluía como um sopro de vento. Tentei manter a minha expressão de “não estou impressionada”, mas foi meio difícil quando tive a minha cintura envolvida.
Uma coisa tenho que admitir, por mais irritante que o garoto fosse, ele era bom. Começamos a dançar juntos, deixando a nossa pequena batalha de lado. Acho que ambos havíamos provado um para o outro do que éramos capazes e foi o suficiente. Nossos corpos ficaram muito próximos e eu jogava a cabeça para trás enquanto ele segurava firme a minha cintura, o que me permitia arquear as costas para trás até que meu cabelo solto quase se arrastasse no chão. Depois disso, voltei a ficar ereta e passei os braços em volta do pescoço do menino. Por mais que eu quisesse, não conseguia me sentir atraída por ele. Sabia que era bonito, claro, mas não tinha vontade de fazer algo além de dançar. Maldito Zayn que não saia da minha cabeça! Me proibindo de continuar pensando no meu ex, aproximei os lábios da orelha daquele menino que me distraia tão bem.
- Eu nem sei o seu nome... – Falei alto para poder ser escutada.
- E precisa? – Continuou dançando e riu da cara de reprovação que eu fiz ao escutá-lo. – Joshua Brand.
- Tomlinson. – Me apresentei mesmo sem ter sido questionada. – Você conhece o dono da casa?
- Conheço sim... Ele é um cara muito incrível. – Fomos saindo da pista de dança e deduzi que fosse ser apresentada ao tal dono da casa. – Não o conhece?
- Não! Mas não estou aqui de penetra, caso ache isso. – Ri ao ter que me explicar. – A Dani me convidou.
- Danielle? Ela falou mesmo que traria amigos... – Paramos em um canto da sala, onde podíamos conversar melhor. – Ah, olha o dono da casa ali!
- Onde? – Olhei para onde Joshua apontava e dei de cara com os nossos reflexos. Demorei mais que o normal para entender que era um espelho e que o menino sorria e acenava pra mim. – É você?! Meu Deus, que vergonha!
- Não fique com vergonha, afinal, você não está aqui de penetra. – Gargalhou e acenou para alguém atrás de mim. – Tenho que ir falar com os outros convidados... Me espera aqui?v
- Acha mesmo que eu vou ficar aqui plantada te esperando? – Questionei com a sobrancelha arqueada.
- Espero que não. – Deu um passo na minha direção e sussurrou na minha orelha as próximas palavras: - Assim vai ser mais divertido te procurar.
Conforme a madrugada foi caindo, garrafas e mais garrafas foram sendo acumuladas pelos cantos da casa e tenho certeza que pelo menos metade de uma delas era mérito meu. Não digo que meu pai ficaria orgulhoso se me visse naquele momento, mas eu só estava querendo me divertir um pouco! Não encontrara Louis, Liam ou Harry desde o momento que chegamos naquela casa, então precisei encontrar uma forma de me distrair sozinha mesmo. Não tenho culpa se a única atividade que me parecia tentadora era dançar em cima de uma mesa de madeira em uma das salas de convivência. Ao menos me encontrava acompanhada por mais duas garotas que dançavam ao meu lado. Com exceção os garotos luxuriosos que não tiravam os olhos das minhas pernas, mais ninguém parecia prestar atenção em mim, o que me mostrava que eu não estava fazendo mal a ninguém. Joshua foi outro que sumiu das minhas vistas, mesmo que eu não tivesse ficado procurando-o por aí.
- TODO MUNDO PRA PISCINA! – Algum bêbado gritou na outra sala. O sujo falando do mal lavado, eu sei.
As pessoas ao meu redor começaram a correr e a gritar enquanto pulavam na direção da tal piscina. Eu é que não ia ficar de fora dessa e tratei de descer da mesa. Acabei tropeçando nos meus próprios pés e fui ao chão, caindo sentada. Minha primeira reação foi rir de mim mesma enquanto tentava levantar, mas meu salto não deixava. O mundo girou mais rápido ao meu redor e juntei toda a noção de tempo e espaço que ainda me restava para arrancar os sapatos dos pés e me levantar com muito esforço. Não tenho muita certeza, mas acho que alguém também me ajudou a sair dali e me juntar a multidão que aparentava estar tão sóbria quando eu.
Passei duas vezes pelo mesmo lugar antes de perceber que estava andando em círculos e tomei um caminho diferente, chegando até a tal área da piscina. Algumas pessoas apenas molhavam os pés na beirada e outras mergulhavam de roupa e tudo. Antes que você pense que estávamos todos ficando loucos, tenho que informar que tudo aquilo era coberto e a densa fumaça que saía da superfície da água provava que era aquecida. Procurei algum rosto conhecido, mas mais uma vez falhei em encontrar qualquer pessoa. Os três deviam estar se agarrando por aí e eu só torcia para que não me deixassem para trás ao irem embora. Caminhei até a única cadeira de praia que encontrei e coloquei os meus sapatos ali em cima. Em seguida, olhei para mim mesma, tentando decidir o que fazer.
Como meu pudor fora embora completamente após a quinta dose de tequila, tateei as minhas costas em busca do zíper do meu vestido; abaixando-o até o final do fecho assim que o encontrei. Depois disso foi fácil deixar o tecido vermelho escorregar pelas minhas pernas. Não fiquei completamente nua, é claro, mas quase isso. A minha langerie igualmente vermelha me protegia de olhares mais curiosos que tentavam enxergar embaixo da renda. Não fiquei muito tempo ali parada, pois logo me pus a correr e pulei com as pernas abraçadas ao peito. O barulho a minha volta estava tão alto que senti uma paz tremenda ao mergulhar até o fundo da piscina e sentir o meu corpo sendo movimentado apenas pelo empuxo que logo me levaria de volta à superfície.
Já que a maioria das pessoas estava no lado fundo, nadei até o raso, mas parei quando o nível da água bateu no meu busto. Fiquei mergulhado e batendo na água como se fosse uma criança de cinco anos quando vai na piscina sozinha pela primeira vez. Ri de mim mesma e senti duas mãos segurando o meu quadril por trás. Me assustei e girei na mesma hora, dando de cara com dois olhos castanhos e um sorriso alegre. Era Liam e isso me acalmou. Na verdade, fez mais que isso. Sem pensar, o envolvi pela cintura com as pernas e usei os braços para fazer o mesmo em seu pescoço. Por mais que meu abraço tenha pegado-o de surpresa, Li também me envolveu pela cintura. Deixando os meus instintos comandarem as minhas ações – ou talvez a bebida – puxei a nuca dele na minha direção até que os nossos lábios estivessem encaixados.
O beijo que trocamos começou de forma meio bagunçada e urgente, mas fomos encontrando o nosso ritmo. Era como se Liam estivesse aguardando aquele momento há muito tempo, pois me apertava contra si com certa necessidade. Eu retribuía a cada investida de sua língua e passeava as mãos pelos ombros nus do menino, descobrindo então que ele estava sem camisa. Não me atrevi a descer as mãos mais do que no nível do abdômen extremamente definido do outro e aos poucos senti que estávamos nos mexendo dentro da água. Senti as minhas costas baterem contra algo duro e logo entendi ser a borda da piscina, Liam estava me prendendo entre ele e o concreto, com medo que eu fosse fugir.
Apesar de bom, tinha algo de errado naquilo. De repente eu me senti mal, porque aquele beijo significava mais para Liam do que pra mim. Enquanto a parte de mim que estava bêbada demais para se importar gritava: “Continue, aproveite”, a parte mais ajuizada e que – não importa quantas mudanças de atitude eu viesse a ter – se importava completamente com aquele menino nos meus braços pedia: “Pare. Se não parar por você, pare por ele.” Resolvi escutar essa última voz e interrompi o beijo da mesma forma que o comecei. Liam pareceu meio desnorteado, mas feliz. Aquilo apertou o meu coração.
- M-me desculpa, Li... Eu não devia... – Tentei me desculpar e desfiz o enlace de minhas pernas na cintura alheia.
- Não se desculpe, , eu gostei. – Sorriu.
- Liam, não... Não faz isso. Eu não consigo... – Minhas palavras saiam embaralhadas, mas eu tentava fazer algum sentido. – Não posso fazer isso agora...
- Por você eu posso esperar. – Desgrudou alguns fios molhados da minha testa e os colocou pra trás.
- Não é justo. Não é justo com você e não é justo comigo, e... Ai, meu Deus, a Dani... – Escondi o rosto nas mãos por uns instantes até voltar a falar. – Vá atrás dela, Liam. Ela realmente gosta de você. Eu queria estar pronta pra você, mas não estou. A Dani está...
- ... – Tentou me chamar, mas era tarde. Eu já estava nadando para longe dele.
Capítulo LXIX
- Para, ... – Resmunguei ao empurrar o cachorro para o lado.
De uma coisa eu tinha certeza; estava na minha cama. Não fazia a mínima idéia de que horas eram, mas pouco me importava. Por mais que eu tentasse voltar ao sono calmo de que me tirara, sabia que seria inútil. Ao começar a recobrar a consciência, fui atingida por uma dor de cabeça que parecia já estar ali há algum tempo. Agradeci por meu quarto estar bem escuto, pois ao menos os meus olhos estavam protegidos da luz do dia que parecia brilhar do lado de fora da janela. Ao ver que eu estava acordada, o cachorro começou a lamber o meu rosto e acabei permitindo-o tal ato de carinho. “Quem precisa de um namorado quando se tem você?” Pensei ao forçar um sorriso e acariciar o pequeno atrás da orelha. Respirei fundo e fiz uma careta ao me mexer na cama. Esse movimento brusco fez o meu estômago revirar e uma pontada o invadiu. Eu iria vomitar.
Sentar na cama também não trouxe uma sensação tão boa assim, visto que a minha visão escureceu e minha cabeça girou com a tontura começando a se fazer presente. Tentei reclamar, mas a minha boca estava seca demais para que qualquer som saísse. Me sentia desidratada e envergonhada, mesmo sem saber pelo que. Acho que o pior sintoma da ressaca não é nem a parte física – por mais que essa seja uma merda também -, mas sim a ressaca moral. Aquela vergonha de não conseguir lembrar de quase nada da noite anterior e poder apenas contar com a esperança de não ter feito besteira alguma. Ao recuperar o equilíbrio um pouco mais, me arrastei apara fora da cama, usando os móveis como apoio para conseguir chegar até o banheiro sem cair.
Uma vez lá dentro, fechei a porta com o pé por não querer que entrasse ali e achasse que eu estava brincando. O que eu menos precisava era de um filhote tentando morder os meus pés enquanto eu colocava tudo para fora. Com uma mão na barriga, me ajoelhei no chão e me inclinei sobre o toilet. Dali pra frente, preferi fechar os olhos a observar o líquido que forçava o seu caminho para cima da minha garganta. A queimação que esse ato causava era simplesmente horrível. Comecei a soluçar ao não conseguir respirar e me senti pior do que já estava antes. Com a mão que não estava apoiada no chão, afastei os meus cabelos para que não ficassem mais sujos do que já estavam naturalmente e só pude agradecer quando meu estômago pareceu se aquietar.
Fechei a tampa do objeto a minha frente e apertei o botão prateado que mandaria aquilo embora. Limpei a boca com as costas da mão e me sentei no chão mesmo, quase chorando com o incomodo que percorria o meu corpo inteiro. Xinguei baixo por causa do frio em minhas pernas e pela primeira vez notei o que estava vestindo: Nada. Ok, não “nada” literalmente, mas estava apenas nas minhas roupas de baixo, o que é praticamente a mesma coisa. “Dear Lord, o que eu aprontei ontem?” Rebusquei em minha memória lembranças mais esclarecedoras, sentindo-me bem frustrada ao recordar apenas até um certo ponto. Lembrava de estar bebendo com Joshua e depois de estar bebendo sozinha. Talvez eu tenha dançado em cima de uma mesa, mas não conseguia ter certeza. Os meninos poderiam me explicar...
Primeiro eu precisava de um banho. Levante do chão com dificuldade e fiz meus movimentos serem os mais lentos possíveis, sem querem ser atingida pela tontura novamente. Antes de ir para o Box do chuveiro, peguei a minha escova de dente e a cobri com a pasta azul. Coloquei-a na boca para começar a tirar o gosto amargo e caminhei até estar embaixo da água morna do chuveiro. Não me importei em tirar a langerie antes de ser completamente molhada, apenas desejando que o alívio viesse logo. Tudo bem que na noite anterior eu já devia estar a par das conseqüências que me perseguiriam no dia seguinte, mas ninguém pensa na ressaca enquanto está bebendo! Só o que eu almejava era ficar bem logo.
Após meia hora de um banho meio relaxante, meio dolorido, deixei o banheiro me sentindo um pouco mais limpa do que anteriormente. Meu hálito cheirava a menta e minha pele a lírios, o que era uma combinação bem legal. Com uma toalha amarrada em volta do corpo e outra nos cabelos, descobri que não era a única criatura na minha cama. Liam estava lá também, deitado como se fosse o seu próprio colchão. Eu sorri como se dissesse “bom dia” e ele retribuiu da mesma forma, um pouco corado nas bochechas; como se estivesse envergonhado por ter me pegado de toalha.
- Liam! A pessoa que eu queria ver! – Exclamei ao me dirigir até o closet, parando na porta antes de ir procurar o que usar. – Tenho algumas perguntas para o senhor.
- Pode perguntar! – Respondeu um pouco nervoso.
- O que eu fiz ontem a noite? – Perguntei com uma meia risada, dividida entre a vergonha e a graça.
- Ern... Você não lembra? – Sua postura ficou um pouco tensa, o que me assustou.
- Eu deveria lembrar de alguma coisa? – Segurei a toalha com mais força, como se aquilo fosse me acalmar.
- Não, não. – Forçou um sorriso que não me convenceu muito. – Você só dançou e se divertiu.
- Ufa! Ainda bem. – Voltei a rir e respirei aliviada. – Acordei com essa sensação de que havia feito algo muito ruim...
- Você não matou ninguém, não se preocupe. – Gargalhou baixo.
- Diga isso para a minha ressaca, porque ela parece querer me matar. – Rolei os olhos e até mesmo isso fez a minha cabeça doer.
- Quanto a isso, acho que tenho a solução... – Li levantou da cama e tirou uma cartela de remédios do bolso traseiro da calça, colocando-a ao lado de uma garrafinha prateada. – Paracetamol e energy juice!
- Você é um salvador! – Sorri em agradecimento. – Só vou colocar um pijama confortável e tomar...
- Pijama? Acho melhor você vestir algo mais apresentável, . Temos visita lá embaixo. – Se dirigiu até a porta do quarto para me deixar trocar de roupa em paz, mas aquela noticia não me agradou tanto assim.
- Quem está aí? É a ? Me diz que não é ela! – Me desesperei. Eu amava a ruiva, mas não quando estava com dor de cabeça e quase desmaiando. – Não sei se tenho energia suficiente pra lidar com ela agora...
- Não se preocupe, não é a . – Riu e abriu a porta finalmente. – Mas ainda assim você vai precisar de energia. E não demore!
- Não vou.
O assegurei com um sorriso de canto, ainda tentando especular quem estava ali embaixo. Se não era , também não deveria ser Niall. Nick? Possivelmente, se ele quisesse ensaiar ou passar nosso texto, mas achava improvável. Mudei levemente os meus planos e me sentei na cama para engolir uma das pílulas do remédio e usei o energy juice para fazê-lo descer. Era disso que eu precisava; algo para me hidratar e algo para controlar a minha dor de cabeça. Em breve eu já estaria novinha em folha, o que me agradava. Sem falar que agora eu podia respirar tranqüila por saber que não fizera nada de que pudesse me arrepender depois. tentou pegar a toalha que estava em meus cabelos, o que me fez rir e desistir de lutar contra ele. O filhote tentava chamar a minha atenção como se quisesse me lembrar de que tinha que ir passear. Quem o acostumou com essa mania de ir dar uma volta assim que acordamos? Ah, é. Eu.
Depois de começar a me hidratar, rumei mais uma vez para o closet, dessa vez deixando as toalhas em cima da cama. Dorota me mataria se visse aquela cena, mas ao menos ela estava de férias e não ficaria sabendo do meu lapso momentâneo de desorganização. Primeiramente coloquei roupas de baixo confortáveis. Acho que não ter um namorado é bom por isso; não precisamos nos preocupar em estar sempre preparadas para o caso de termos que nos despir na frente de outra pessoa. “Oh, Bob, como senti a sua falta...” Ri sozinha ao puxar a calcinha do Bob Esponja para cima das minhas pernas. Em seguida, meu trabalho foi muito simples. Me vesti com uma calça jeans escura, camisa de lã listrada e um casaco mais pesado por cima. No pé, botas sem salto. Também me protegi com um cachecol e enfiei meus cabelos em uma touca. Como ainda estavam molhados, não quis que congelassem durante o meu passeio com .
Peguei a coleira do animal e a coloquei no bolso, junto com meu celular. Quem quer que fosse a visita no andar de baixo, teria que esperar. Chamei com um assovio e ele pulou da cama no mesmo instante. Nossa comunicação estava melhorando a cada dia, isso tenho que comentar. Não é que ele viesse todas as vezes que eu o chamasse, mas quando lhe era conveniente, atendia meus convites. Abri a porta do quarto e ele partiu em disparada para as escadas, já sem medo de descer ou subir. O gritinho infantil que escutei quando o animal chegou ao andar de baixo me fez sorrir. Eu reconheceria aquela risada em qualquer lugar, o que me fez rir junto. “Lux.”
Imitei o pequeno ao correr para o andar de baixo e fui direto para a sala. Lou e Rachel conversavam no sofá e Harry estava sentado no chão ao lado da minha irmã e pulava entre os dois. Liam devia estar na cozinha, mas não cheguei a ir procurá-lo. Com Lux sentada, ficava da mesma altura que a cabeça dela. Mesmo que a pequena tentasse abraçá-lo e seus carinhos não fossem tão delicados assim, o filhote não tinha medo ou era hostil com ela. Os dois pareciam estar se dando muito bem, diga-se de passagem. Harry e Louis pareciam estar tão bem quanto Li, o que me incomodou um pouco. Eu era a única que sofria com os efeitos pós-álcool?
- Luxy! – A chamei, me surpreendendo por ter recuperado a voz completamente.
- ! – A mais nova sorriu ao me olhar e acenou, dividindo a sua atenção entre mim e .
- Bom dia, pessoal. – Cumprimentei o resto das pessoas da sala com um sorriso.
- Vai sair, ? – Rachel também sorriu, porém, fez uma expressão engraçada ao ver que eu estava agasalhada dos pés à cabeça; literalmente.
- Tenho que levar o baby pra passear. Ele não faz as necessidades dentro de casa. – Expliquei, tirando a coleira do bolso.
- Mummy, posso ir? – Lux se levantou com a ajuda de Harry e correu até os joelhos da mãe.
- Porque não vamos todas? – Rach sorriu e afirmou com a cabeça, pegando o casaco de oncinha da filha e fazendo-a se agasalhar.
- Passeio em família! – Lou também foi se auto-convidando para vir conosco, mas a nossa madrasta o impediu.
- Sinto muito, Lou, mas é um passeio só de meninas. – A loira que agora tinha cabelos lilás se levantou e trouxe a filha pela mão enquanto nós nos preparávamos pra sair.
- Girly time! – Brinquei enquanto me abaixava para prender a correia na coleira azul que já tinha no pescoço. – Vamos passear, sweetie!
latiu como resposta e acabou assustando Lux, mas a pequena começou a rir enquanto o chamava com a mãozinha rechonchuda. Algo me dizia que Rachel queria falar a sós comigo, o que explicava bem a forma que ela impedira Louis de vir conosco. Tentei não me preocupar com o assunto daquela conversa e dei de ombros, me preparando para voltar a levantar aquelas barreiras que vinham me protegendo muito bem desde que eu desistira de me importar. Abri a porta já destrancada e nós quatro seguimos para o lado de fora. Apensar de ser inverno e o chão ainda estar coberto por neve, o Sol nos deu a honra de sua presença. Não digo que o clima chegou a ficar quente, mas meu queixo também não bateu de frio.
- Quer segurar a coleira, Lux? – Ofereci para a pequena.
- Sim! – Ela balançou a cabeça afirmativamente, esticando o braço para que pudesse pegar a ponta da cordinha. – Vamos au au...
- Ela está tão grande! – Comentei para a outra mulher, olhando a criança que agora batia um pouco acima da metade da minha coxa. – E linda.
- Todo mundo fala que ela se parece mais com você do que com o Lou. – Sorriu enquanto andava ao meu lado, sem tirar os olhos da filha.
- Isso é verdade. Nós duas somos lindas. – Ri e logo continuei. – Lou sempre foi mais parecido com a nossa mãe e eu com nosso pai... Acho que isso explica.
- Faz todo sentido! – Afirmou e me observou como se segurasse a vontade de falar algo.
- Desembucha, Rach. – Bufei tranquilamente. – Eu sei que você está querendo perguntar algo desde que saímos de casa.
- O que aconteceu com você e Zayn? – Tudo bem que eu pedi pra ela desembuchar, mas aquela pergunta tão direta me pegou desprevenida.
- O que te contaram? – Talvez se eu prolongasse o meu tempo de resposta, pudesse formular algo desencanado, sem demonstrar fraqueza.
- Não muito. Fiquei sabendo disso no dia da entrevista, quando você não apareceu por lá. Tentei perguntar o que tinha acontecido e ninguém me disse nada. – Não tirava os olhos de mim, mesmo que eu olhasse para frente e não de volta pra ela. – Só quando a entrevistadora perguntou quem estava namorando e apenas o Niall levantou a mão é que eu entendi.
- Zayn não falou nada? – Me concentrei para não gaguejar.
- Ele disse que tinha uma namorada, mas que foi idiota demais e a deixou ir embora.
- Bem, foi exatamente isso o que aconteceu. – Ainda que eu não tivesse lido a entrevista que já estava no site, acabava ouvindo direta ou indiretamente do que ela se tratava. – Ele foi um idiota.
- Ele também disse que não vai desistir... – Espiou a minha reação, esperando que eu ficasse surpresa.
- É o que ele diz. – Dei de ombros, pensando rápido para mudar o rumo do assunto. – E eu não sabia que você estava participando tão ativamente das questões da banda!
- Eles precisam de um adulto por perto... Sei que sabem se cuidar sozinhos, mas não custa nada dar uma forcinha, né? – Sorriu, aceitando a mudança.
- Você está certa. O cinco são crianças grandes! – Ri baixo, apertando o cachecol em volta do meu pescoço. – Como está o meu pai?
- Do mesmo jeito de sempre! – Foi a vez dela de rir. – Trabalhando muito, claro. Ah, ele pediu pra falar que você está linda no convite da peça.
- Eu ainda não vi esse convite! – Escondi o rosto nas mãos. – Como ele é?
- Dourado... Tem algumas partem em auto-relevo que parece ouro. Também tem a data, horário, endereço...
- Rach! – A interrompi, voltando a olhá-la. – Quero saber como é a foto!
- Ah, sim, desculpe! Você está caída, meio morta... E o Romeu te segurando. Algo assim.
- Facilitou muito. – Balancei a cabeça, mas achava que me lembrava qual foto era essa.
Só fui perceber que estávamos longe o suficiente quanto chegamos à parede alta de tijolos vermelhos que separava o condomínio particular do resto do mundo. Ali dentro, protegida, eu me sentia segura. Mais uma vez comecei a pensar nas paredes que começava a construir dentro de mim mesma, querendo me proteger do mundo lá de fora, que podia e costumava me machucar. Por sorte, a voz de Lux me tirou desses pensamentos que tomavam uma direção não muito agradável, quase como rachaduras. Como já havíamos caminhado relativamente muito, a pequena estava cansada de segurar a coleira e de andar. Rachel ficou com e eu peguei a pequena no colo, beijando a sua bochecha algumas vezes antes que ela começasse a rir e me pedisse pra parar.
O caminho de volta para casa foi mais longo, pois já havia feito todas as suas necessidades e agora queria brincar na neve, nos obrigando a parar todas as vezes que ele via um montinho desavisado. Lux ria nos meus braços e quase se jogava no chão para ir atrás dele, mas a mãe dela achou melhor que eu continuasse segurando-a, caso contrário não chegaríamos antes da hora do almoço. Nossos assuntos também foram mais simples e menos dolorosos que os de antes, apenas comentando sobre as minhas expectativas para a próxima sexta-feira e coisas do tipo.
A porta de entrada estava entreaberta, o que me espantou um pouco. Eu podia jurar que havia fechado-a atrás de mim quando saímos para o passeio, mas quem sabe, né? Rachel soltou da coleira, que entrou correndo em casa, e tirou Lux dos meus braços. Desconfiei que as duas precisavam dar uma passadinha no banheiro, por isso também as deixei ir na frente. Uma vez no hall de entrada, tirei o cachecol e a touca dos meus cabelos, deixando-os livres para terminar de secar. Um cheiro diferente parecia dominar a casa inteira e ficava mais forte na medida em que eu me aproximava da sala. Ao chegar ao cômodo, quase caí pra trás de susto e apertei os olhos para ver se era um sonho. O chão e móveis estavam cobertos por vasos de flores, das mais variadas cores e espécies. Minha sala havia sido transformada em uma floricultura e ninguém avisa? Os meninos ficaram ao meu lado, sorrindo cúmplices.
- O que é isso? – Ri, cruzando os braços. – Alguma fã achou o endereço daqui e resolveu mandar esse... Presente?
- É um presente sim, mas não são pra gente. – Lou tocou o meu ombro, me encorajando a chegar mais perto das flores.
- São pra quem? – Não me mexi, tendo um mal pressentimento.
- Pra você, . – Liam foi o primeiro a notar o meu receio. – São do...
- Joguem fora. – Não o deixei terminar a frase, pois já sabia muito bem de quem se tratava.
- Por que? Elas são lindas... – Harry tentou me fazer mudar de idéia. – Tudo bem que não podemos deixar todas aqui na sala, mas se espalharmos pela casa...
- Não quero ver nenhuma dessas flores. – Minha voz era firme, certa do que eu estava falando. – Eu já pedi pra jogar fora, por favor. Ou então leve pra sua casa, Rach, mas não quero nenhuma.
- ... – Rachel tentou falar comigo, mas eu já estava subindo as escadas com pressa.
- Joguem fora, ou eu mesma faço isso!
Um misto de raiva e decepção se confundiu dentro de mim enquanto meu peito subia e descia com a respiração acelerada. Bati a porta com força atrás de mim e me joguei na cama, ganhando uma posição fetal. Então era assim? Zayn estava pensando que eu iria me derreter por causa de algumas flores?! Ele só podia estar ficando louco! Se esperava que eu fosse voltar correndo pra ele, podia esperar sentado, pois iria demorar. Qualquer garota poderia ser amolecida por aquela atitude, mas não eu! Eu sabia que valia um esforço maior que aquilo. O pior é que um choro que vinha se mantendo preso na minha garganta há algum tempo ameaçou querer fugir. Eu não queria chorar, não queria me sentir fraca. Mesmo estando sozinha, não iria admitir para mim mesma que sentia falta dele. Zayn errara comigo e eu não estava pronta para perdoá-lo.
Precisava fazer algo pra me acalmar e uma idéia que não havia passado pela minha cabeça até aquele momento me ocorreu. Se alguém me escutasse, acharia que eu estava louca, mas só havia uma pessoa no mundo inteiro que seria capaz de me fornecer algum conforto em situações como aquela. Me sentei no meio da cama, pegando o celular no bolso do casaco e deixando minhas botas caírem dos meus pés. Olhei para aquela tela acesa do iPhone, tomando coragem. Então disquei aquele número que não esqueceria nem em um milhão de anos e imaginava que nunca mais estaria discando. Levei o aparelho até a orelha, decidindo que se precisava chorar, seria por um motivo maior que o termino de um namoro.
- Bonjour! – Meu coração apertou ao ouvir aquela voz que eu esperava nunca mais escutar. Eu sabia que não era ele atendendo, mas a mensagem na secretária eletrônica me atingiu como um gosto amargo. – Você está ligando para a caixa postal de Charles Tomlinson. Por favor, deixe sua mensagem após o sinal e retornarei assim que possível.
- Gostaria que fosse verdade, papá, e que o senhor pudesse retornar a minha ligação. – Comecei, olhando o nada na minha frente. Lágrimas logo rolariam do meu rosto e abracei os joelhos no peito para poder me deixar fraquejar. – Eu sinto tanto a sua falta, sabia? Quando penso em você é que eu sei o que é isso de verdade. Penso em todas as coisas que eu gostaria de ter lhe dito e em todos os momentos que eu poderia ter aproveitado mais. Isso é o que me consome, que me quebra em duas; saber de todas as oportunidades que perdemos. Mas agora é tarde demais pra isso, porque tempos assim não vão voltar... Papá, eu só queria que você estivesse aqui agora. Tem tanta coisa acontecendo na minha vida, tanto que eu gostaria de poder dividir com você. Faltam seis dias para a minha apresentação como Julieta, acredita? Parece que foi ontem que nós dois estávamos conversando sobre isso. Se o senhor pudesse me atender hoje, diria que eu iria me sair muito bem e que devia manter a cabeça erguida... É o que eu vou fazer. Por você eu serei forte, papá... Só quero que saiba que...
- Mensagem finalizada. – Dessa vez foi uma voz automática que me interrompeu e encerrou a ligação.
- Eu te amo. – Suspirei as últimas palavras, já com o celular longe da orelha.
Já que estava chorando mesmo, deixei os soluços escaparem contra um de meus travesseiros. Ah, como seu sentia falta do meu avô! Por que todo mundo tinha que me deixar? Eu não era boa o suficiente? Uma raiva conhecida voltou a crescer dentro de mim, me fazendo bater contra o colchão enquanto meus gritos frustrados eram abafados pelo travesseiro. Eu tinha raiva do mundo por ser um lugar tão feio, dos céus por estarem escuros, raiva do frio, do calor, do nada, do tudo. Eu tinha raiva especialmente por não conseguir discernir o que me deixava com raiva pra começo de conversa. Odiava essa dor que me consumia e que parecia crescer mais e mais a cada tentativa de ignorá-la. Fingir não me importar e fingir que não estava sendo afetada por nada a minha volta funcionou por um tempo, mas em compensação... Agora que eu estava sendo obrigada a sentir tudo de volta, a dor parecia ter triplicado. Não era só por Zayn que eu estava chorando. Era por meu avô, pela minha mãe, pela minha avó... Até mesmo pelo meu pai, que estava na distância de uma visita.
Eu sentia falta de casa e chorava ainda mais por não saber onde isso ficava. Costumava me sentir segura e “em casa” quando estava nos braços do garoto que eu amava, mas agora não podia mais ter isso. Estava me sentindo perdida, me afogando nos meus próprios soluços que cresciam cada vez mais altos. Xinguei o universo por todas as coisas das quais o culpava. A frustração e raiva se misturavam em uma bola de fogo que queimava a minha pele e a minha alma. Sem pensar, joguei tudo que estava na minha cama para o chão. Comecei pelos travesseiros, segundo para o edredom e lençóis. Não descansei até estar tudo revirado. Corri para a minha escrivaninha e descontei nela a minha raiva, empurrando tudo de cima dela para o chão enquanto gritava. Até o abajur da minha mesinha de cabeceira foi espatifado.
Meu coração estava acelerado e parecia querer sair pela boca. O enjôo que senti quando acordei voltou com tudo, mas com uma pequena diferença. Eu não sentia que ia vomitar, apenas arfei com a dor das pontadas. Mesmo que o meu quarto não estivesse quente, eu comecei a sentir a elevação da temperatura na minha pele, seguida pela queda imediata. Aquilo não eram calafrios, era algo pior. Um medo me invadiu como uma onda que me arrastava pela correnteza sem que eu soubesse nadar. No fundo da minha consciência algumas lembranças aterrorizadoras me fizeram pensar na última vez que eu sentira aquela mesma coisa anos atrás. Minhas mãos começaram a tremer enquanto eu gritava a plenos pulmões.
- LOUIS! – Gritei uma segunda vez, agora com os soluços começando a me sufocar.
- ! – Meu irmão também gritou por mim e, segundos depois, entrou no quarto a tempo de me ver cair sentada no chão.
- Louis... – Envolvi meu irmão pelo pescoço assim que ele se sentou na minha frente e me puxou para o seu colo.
- Calma, , está tudo bem... Você está segura...
Ele acariciava os meus cabelos enquanto eu agarrava o tecido de sua camisa e praticamente gritava contra ela. Minha mente era uma completa confusão, me impedindo de pensar direito em qualquer coisa que fosse. Flashbacks de cenas parecidas com aquela rompiam na minha memória, o que me assustava ainda mais. Lou também parecia que ia chorar, tamanha era a sua preocupação comigo. O fato de ele saber exatamente o que fazer me mostrava que talvez não fosse a primeira vez que ele interrompia um ataque como aquele. “Você está bem”, sussurrava na minha orelha ao balançar os nossos corpos em um movimento de vai-e-vem como se estivéssemos em uma cadeira de balanço.
- , me escuta. – Segurou os meus pulsos e os prendeu no meu próprio peito, obrigando-me a parar de me debater. Balancei a cabeça negativamente, com medo de algo que não sabia nem o que era. – Você está respirando. Sente isso? É você. Você está segura, .
- Não, não, não... – Funguei e fui abraçada com força.
- Louis, vou ligar para o seu pai... – Rachel informou, parada na porta do quarto. Acabei levantando o olhar para encarar ela, Liam e Harry nos observando horrorizados.
- Não precisa, ela já está melhorando. – Lou continuou a me abraçar, nos balançando. – Alguém pega um copo de água e açúcar?
- Eu pego! – Liam saiu correndo pelo corredor.
- Viu? Você está bem... Você está bem... – Repetia calmamente enquanto beijava a minha testa. Não consegui responder, apenas fiquei encolhida em seu colo, respirando pesadamente.
- O que foi isso? – Rach se sentou na cama desfigurada. Não a olhei, mas pela sua voz pude ver que ela ainda estava em choque.
- Um tipo de ataque de pânico. – Aquelas simples palavras me fizeram encarar o meu irmão. – Você costumava tê-los quando era bem nova... Não se lembra?
- Não... – Balancei a cabeça, porém, aquilo explicava os flashbacks.
- Eles não eram tão constantes assim e aconteceram até os seus seis anos de idade. – Explicou, secando o meu rosto. – Geralmente aconteciam quando você era sobrecarregada por muitos sentimentos de uma vez só. Acho que foi isso o que aconteceu hoje. , foi por causa desses ataques que você entrou na escola de ballet...
- Mas eu não me lembro de nada... – Sussurrei e segurei o copo de vidro que me foi entregue.
- O nome disso é memória seletiva, eu acho. Lembro que seu pai já me explicou sobre o assunto. – Rachel se esticou para acariciar o meu cabelo.
- Você nunca se perguntou porque gosta tanto de dançar? – Lou questionou e eu simplesmente neguei com a cabeça. Sempre achei que fosse pelos motivos óbvios. – O ballet sempre foi o seu escape. Sempre te deu segurança e serviu para te tirar da realidade um pouco. , o ballet te salvou.
Depois do meu “mini” ataque de pânico, os meninos começaram a ficar mais atentos do que nunca. Todos faziam de tudo para me agradar, menos Louis, é claro. Lou me tratava como se nada tivesse acontecido e era exatamente isso que eu precisava naquele momento. A sensação ruim de literalmente estar em pânico era aterrorizadora e eu só queria que o mesmo que aconteceu quando eu era pequena acontecesse; queria esquecer que esse episódio chegou a se repetir. Pedi que os três não contassem para ninguém, pois não queria acabar preocupando mais pessoas. Eu lembrava vividamente os olhares de choque no rosto daqueles dois garotos que presenciavam o acontecido pela primeira vez e não suportaria que isso se repetisse. Rachel e Lux acabaram indo embora no fim da tarde, após ter certeza que eu estava completamente bem. Não voltei a ter momentos de raiva ou medo, mas precisava de respostas.
Foi em busca dessas respostas que liguei para a minha mãe, sem me importar com o valor da conta telefônica após a nossa conversa de quase duas horas. O importante é que ela me explicou que esses ataques começaram a se tornar mais freqüentes por culpa dela e do meu pai, já que eles brigavam quase o tempo inteiro dentro de casa; coisa que criança nenhuma merece assistir. Eu também nunca fui muito boa em colocar pra fora os meus sentimentos, o que me fazia contê-los até que eu não agüentasse mais e então explodisse em um desses eventos terríveis. O fato de eu nunca ter sido capaz de fazer amigos também dificultava os meus desabafos. Ao ir crescendo, contei fielmente com a dança para manter o equilíbrio entre o meu corpo e a minha mente, deixando que as palavras que não saiam pela minha boca pudessem ser entendidas pelos meus movimentos. Minha mãe até mesmo falou que essa era uma razão pela qual a minha dança era tão “forte”.
No passar da nossa conversa, comecei a lembrar de algumas vezes que voltei a quase ter esses ataques, mas em um nível mais fraco. Primeiro quando meus pais admitiram que iriam se separar, aos meus 12 anos. Depois quando Anthonny sumiu após tirar a minha virgindade. Nessas duas ocasiões, Louis esteve fielmente ao meu lado, cuidando de mim e me acalmando quando eu precisava. Tempos depois, voltei a presenciar aquela sensação sufocante durante a madrugada em Paris, no dia antes do funeral do meu avô. Eu despenquei em prantos e Zayn foi quem conseguiu me acalmar. Mais tarde naquele mesmo dia, voltei a ter um ataque; quando fugi do enterro e acabei sendo atropelada pelo carro que me fez ir para o hospital. Observados separadamente, esses acontecimentos podiam ser considerados como drama adolescente, mas agora que eu tinha o conhecimento do meu passado com ataques de pânico, compreendi que eram mais que isso.
Falar que me senti fraca e indefesa era pouco. Eu gostava de me considerar forte, de pensar que agüentava muita coisa. O que por um tempo era até verdade, mas ao acumular muita coisa na cabeça, era fácil cair. E eu odiava isso. Odiava os olhares que começava a receber de Harry e Liam. Sabia que apenas estavam preocupados comigo e apreciava o gesto, mas não queria ser tratada com diferença. Não queria ser uma boneca de porcelana, que todo mundo tem um cuidado extra ao manusear. Eu só queria... Me sentir normal novamente. Após o jantar – que fui obrigada a engolir, diga-se de passagem – me retirei para o meu quarto e deixei a porta aberta. Não queria que ficassem batendo na porta o tempo inteiro só pra checar se eu ainda estava bem. Para manter a minha cabeça ocupada, arrumei toda a bagunça que havia feito e me concentrei em ler o meu roteiro, procurando revisar algumas das minhas falas para sexta-feira.
- ? – Harry bateu na porta, ainda que ela estivesse aberta. Ele trazia duas xícaras de chá em uma mão só, o que me fez sorrir.
- Quantas coisas você consegue segurar em uma mão só, Haz? – Ri, deixando o roteiro de lado e chamando-o para se aproximar.
- Muita coisa! – Ele também riu e fechou a porta atrás de si ao entrar. – Chá verde?
- Com leite? – Arqueei a sobrancelha. Quando o menino afirmou que sim com a cabeça, eu aceitei a xícara. – Obrigada, mas não precisava fazer isso.
- Fazer isso o que? Eu só estava fazendo um pouco de chá pra mim e pensei: “Porque não dividir com a princesa dessa casa?” – Sorriu, mostrando as covinhas na sua bochecha. Estreitei os olhos e o fiz rir. – Tudo bem! Eu sei que não precisava, mas você me assustou hoje...
- Eu também me assustei, Haz, pode ter certeza. – Admiti com um suspiro, bebendo um longo gole do chá verde. – Mas estou bem agora...
- E vai continuar assim. – Harry se acomodou na cama, cruzando as longas pernas. Seus olhos verdes estavam extremamente brilhantes aquela noite.
- Você está diferente. – Comentei. – Está... Brilhando.
- Sexto sentido? – Riu, confirmando que tinha mesmo algo diferente.
- Quem é? – Sorri, mesmo desconfiando da resposta.
- , eu não sei... É diferente... Estou confuso... – Se eu não o conhecesse há tantos anos, também teria me confundido.
- Hazza, é normal gostar de meninos também. – Ri enquanto ele se embolava com as próprias palavras e deixei a minha xícara de lado. – Eu gosto!
- Como você sabia? – Fez uma carinha engraçada, meio tímido.
- Se algum garoto olhar pra mim da forma que você olha pro Lou, eu me caso com ele. – Era a primeira vez que estávamos conversando abertamente sobre aquele assunto, mesmo que eu já desconfiasse dos sentimentos de Harry pelo meu irmão há algum tempo. Muito tempo. – Ele sabe?
- Talvez. – Suspirou, bebendo seu chá. – Ontem, na festa, nós dois...
- Eu sabia! – Gargalhei. – Posso não me lembrar de tudo, mas tinha certeza que vocês dois se pegaram!
- ! – Ganhei uma travesseirada na cabeça e fui obrigada a me calar. – Não foi nada demais, de qualquer jeito. Mas eu quero que seja algo demais...
- E eu tenho certeza que ele pensa a mesma coisa, acredite. – Acariciei a minha cabeça, onde fora atingida. – Só acho que a sua declaração tem que ser alguma coisa épica. Você bem conhece o Lou.
- Disso eu também sei, mas como vou “me declarar” se nem consigo colocar em palavras tudo que eu sinto? Tudo que eu quero?
- Ele sempre gostou de te ouvir cantar... – Pisquei com a indireta, esperando que ele entendesse o que eu queria dizer. – E acho que sei exatamente como te ajudar.
Capítulo LXX
Assim como veio, o final de semana foi embora rápido. A terça-feira na Academy prometia ser animada, pois trouxe consigo o nervosismo e a ansiedade de vésperas de peça. As pessoas corriam de um lado para o outro nos corredores, com instrumentos musicais ou peças de roupas que lembravam muito os figurinos que Margot estava preparando. No dia anterior, todo o elenco do espetáculo havia sido suspenso de aulas para que pudéssemos fazer um ensaio geral. O palco do auditório daquela academia não era tão grande, mas teve que servir. Me senti bem mais tranqüila quando esse ensaio geral acabou do que quando começou, pois no fim tive mais que certeza que já tinha tudo decorado na ponta da língua e na ponta dos pés. Minha conexão com Nick estava ainda maior do que na nossa apresentação do baile de inverno e soube que éramos o par perfeito; pelo menos naquele caso.
Voltando para a terça-feira... me enviara uma mensagem mais cedo naquele dia, pedindo que eu fosse direto para o quadro de avisos no primeiro andar, então fui diretamente pra lá assim que cheguei na academia. Ainda não sabia direito qual era a urgência toda que ela tinha, mas preferi não questioná-la via mensagem. Me esquivei de dois meninos que carregavam uma mesa de uma sala para a outra e quase esbarrei em uma menina desavisada. Os nervos realmente estavam contagiando o lugar inteiro, porque posso jurar que nunca vi uma correria maior. Se aquele dia ainda já estava assim, imagine na própria sexta-feira de manhã?! Seria o verdadeiro caos.
- , aí está você! – correu até o meu encontro assim que me viu.
- Bom dia, cabecinha de fogo! – A cumprimentei com um abraço apertado.
- Você voltou mesmo, hein? – Ela sorriu assim que nos separamos. – Ainda bem, porque eu não queria ser presa...
- Não sei, eu gostava da rebelde... – Niall ficou de pé atrás da namorada e riu daquele jeitinho que só ele tem.
- Bom dia pra você também, Nialler. – Balancei a cabeça. Não é que eu tivesse “voltado”, mas depois do meu ataque de sábado, preferi não evitar completamente os meus sentimentos a não ser que fosse realmente preciso. Eu não podia mudar quem eu era, não podia fingir ser outra pessoa completamente desencanada. Todo mundo tem fazes assim, certo? Bem, a minha havia durado quatro dias. – O que vocês tinham de tão importante pra me mostrar no quadro de avisos?
- Vou resumir a história pra que você não fique tão chocada quanto eu, ok? – voltou a falar e eu afirmei com a cabeça. – Lembra que eu falei que os exames são meio de surpresa?
- Exames médicos? – Elevei a sobrancelha direita. Eu já havia feito um exame médico naquele semestre e pra mim já bastava!
- Não, ... Exames de mudança de nível. – Ni explicou.
- A prova semestral? – Perguntei, esperando que eles dissessem que não. – “A” prova?
- Isso mesmo, que bom que você sabe do que se trata, porque a nossa é em... – passou o braço pelo meu, dando meia volta e me arrastando pelo caminho que eu passara pra chegar ali. Olhou no relógio da parede e continuou: - Dez minutos.
- DEZ MINUTOS? – Meu quase grito chamou a atenção de algumas pessoas.
- Boa sorte, girls. – Niall acenou ao ir pelo lado contrário do nosso. – Meu exame é agora.
- Tchau, pudincup! – assoprou um beijo pra ele e eu continuei calada, apenas andando na direção que me era indicada. – Fala alguma coisa, .
- Co-como são esses exames? – Engoli em seco, parando apenas quando chegamos à porta do elevador. – São como os testes de admissão?
- Mais ou menos... – O tom que ela usou não serviu pra me tranqüilizar. – A diferença é que esses exames tem duas etapas e a nossa apresentação solo tem que ser na frente de todo mundo.
- Ah, ok. – Respirei fundo. Normal, claro. – E como é essa primeira etapa?
- Você vai se sair muito bem, nem se preocupe. – O elevador abriu as portas e nós duas entramos. – É só a nossa sala e um professor. Ele vai pedir alguns passos, usando aqueles nomes estranhos e temos que mostrar que sabemos o que ele quer dizer.
- E você está calma assim, por que...? – Apertei o botão do terceiro andar e esperei ele começar a mexer.
- Porque eu tenho a minha cola!
Falando aquilo, piscou pra mim e entendi que eu era essa “cola” que ela estava se referindo. Não iria negar ajudar a minha amiga caso ela precisasse se lembrar de algum passo ou coisa parecida, mas ambas sabíamos que ela não era do tipo discreta. Preferi apenas concordar com a cabeça e esperar pacientemente que o elevador parasse no nosso destino para que pudéssemos sair. tagarelava, desejando que a professora Holly fosse a docente a administrar o nosso teste, já que qualquer outra ficaria de marcação com ela. Mal sabia que até mesmo Holly pegaria no pé dela. Na verdade, eu não sabia nem porque a minha amiga se importava. Não havia nada no curso de dança que a agradasse, pois seu sonho ainda era fazer teatro.
O caminho do elevador até a nossa sala foi bem curto. Algumas das meninas que eram do primeiro semestre como nós duas também estavam entrando na sala e eu já comecei a me preparar para trocar de roupa ali mesmo. Ainda bem que meu uniforme de ballet já estava por baixo da minha calça jeans e sweater, porque assim não precisei acompanhar até o banheiro. Ela até que me pediu companhia, mas, se eu fosse junto, acabaríamos demorando mais que o necessário. Pedi para que a ruiva andasse rápido e quase corri para dentro da sala. Prendi a respiração ao ver que era o professor Hofstheder que estava ali para nos acompanhar. Meus colegas de turma o olhavam com um pouco de receio, pois nunca tiveram uma aula com ele, além da aula em grupo – que era bem maior e bem mais complicado de se ter um contato direito com o professor. Eu, por outro lado, já tivera muitas aulas particulares ao lado daquele homem severo e sabia muito bem o que esperar.
Falei “bom dia” só por educação e fui correspondida com um aceno de cabeça; que já era mais do que eu esperava. Fui até um canto e joguei a minha mochila naquele banquinho de madeira que era praticamente reservado pra mim. Também tirei a calça e o sweater, depois de tirar o tênis dos pés. Em seguida, foi só pegar a saia fina dentro da mochila assim como minhas sapatilhas de ponta. Tratei de me aprontar e amarrar os cabelos de forma comportada, querendo começar a me alongar o mais rápido possível. Agora que estava ali na sala, não me sentia tão nervosa quanto antes. E, ao mesmo tempo, me sentia mais preocupada com a próxima etapa, onde eu teria que apresentar um solo que não tinha nem ensaiado.
- Não foi tão ruim assim, ... – Tentava consolar a minha amiga enquanto caminhávamos na medida em que a fila do refeitório andava também.
- Não foi? – Riu ironicamente. – Eu não sabia de quase nada! E achei muita sacanagem o professor ter nos separado. Você era a minha chance!
- Sei disso... E sinto muito. – Fiz um meio bico, e me servi de uma porção de ovos com bacon. Novidade: A cafeteria da Academy tinha contratado um novo chef de cozinha, por isso o cardápio estava bem mais apetitoso. – Pode me passar essa lata de chá gelado, por favor?
- Pêssego ou limão? – Perguntou, mas já foi logo pegando a que estava mais perto dela.
- Pêssego, claro. – Ri por ser justamente aquela que me entregou e continuamos andando.
- Você sabe que se eu não passar dessa vez, vou ser convidada a me retirar daqui, não sabe?
- Nem brinca com isso! – Empurrei a bandeja da outra com a minha já que a fila andou, mas ela estava entretida demais fazendo drama. – Você tem que se sair bem na próxima etapa, ... Tem alguma idéia de solo?
- Ontem eu assisti o filme Anna Karenina, então estou pensando em fazer algo inspirado nela. Sabe como é.
- Sei... – Menti. Já havia assistido a esse filme, mas não fazia idéia de como tiraria um solo de ballet dele.
- Ugh, cansei dessa fila. Ainda vai querer mais alguma coisa?
Balancei a cabeça negativamente e saímos daquela fila para ir até a do caixa. A academia em si podia ser “de graça”, ou “do governo”, mas a cantina era algo bem caro, diga-se passagem. Ambas esperamos a nossa vez, pagamos e fomos procurar uma mesa vazia que pudéssemos ocupar. Nick acenou ao longe, avisando que tinha guardado lugares para mim e . A cutuquei com o cotovelo devagar, apontando na direção do meu amigo. É claro que ela resmungou alguma coisa, porém, não teve muita escolha quando eu a deixei para trás e fui me juntar ao moreno de olhos azuis. Ou ela sentava em uma mesa sozinha enquanto esperava o seu namorado de paradeiro questionável, ou vinha atrás de mim.
- Nicky! – O cumprimentei com uma piscadela de olho ao colocar a minha bandeja na mesa redonda e puxar a cadeira pra me sentar ao lado dele.
- ! – Riu e também piscou pra mim, se dirigindo à outra menina em seguida. – Olá, .
- Olá, Nicholas. – Fez pouco caso dele e sentou ao meu lado, recebendo um chute na canela. – Outch! Quero dizer... Bom dia, Nick!
- Assim está melhor. – Ri e a menina estirou a língua pra mim. – Três amigos lanchando juntos!
- Esses ovos são bons? – Nick perguntou, roubando um pouco dos meus ovos mexidos.
- Intimidade é uma coisa, né? – O reprovei com o olhar e em seguida me servi da mesma coisa. – Ah, onde você estava ontem a tarde? Queria te chamar pra passar o texto, mas você não me atendeu...
- É verdade, foi mal por isso... – Deu um golo no seu copo de leite. – Estava ocupado.
- E essa tarde?
- Ocupado.
- Amanhã?
- Nope.
- Nicholas! – Briguei. – O que é mais importante que ensaiar?
- Não posso te contar. – Deu de ombros como se aquilo não fosse me deixar com mais curiosidade ainda. – E nem pense em me chutar por baixo da mesa também!
- Chato. – Eu parecia uma criancinha resmungando.
- , você o chamou para hoje à noite? – perguntou, interrompendo a nossa pequena discussão.
- O que tem hoje à noite? – Olhou a ruiva, interessado.
- Nada, você vai estar ocupado. – Sorri dissimulada após dar alguns goles no meu chá gelado pra ajudar o café da manhã a descer.
- Isso é realmente injusto. – Foi ele que resmungou agora e eu me diverti.
Continuei comendo enquanto Nicholas tentava arrancar informações de , que também não contou o que estaríamos fazendo naquela noite. Tudo bem que a noite de microfone aberto onde eu cantaria junto com Ed não era algo tão secreto assim, mas ela parecia adorar vê-lo se mordendo de curiosidade. Acho que era a primeira vez que os dois conversavam civilizadamente sem se tratar mal. Sim, era estranho. E sim, era melhor do que se o clima na nossa mesa estivesse tenso. Terminei meus ovos com bacon e me concentrei em terminar o meu chá de pêssego, de olho no pudim de chocolate na bandeja de Nick. Talvez eu pudesse trocar minhas informações por aquela sobremesa. Isso! Quando me preparava para oferecer aquela troca justa, uma voz conhecida se fez ouvida pelos auto-falantes posicionados nos cantos do refeitório.
- Bom dia alunos! Aqui quem vos fala é o professor de música, Ed Sheeran. – Ed começou, me dando vontade de rir. – Não se preocupem, não estou aqui pra cancelar os exames finais!
- Droga! – soltou um muxoxo.
- Sinto muito, . – Niall também falou do microfone, como se estivesse ouvindo a nossa conversa.
- Ok, isso foi sinistro. – Ri, curiosa pra saber do que aquilo se tratava.
- Obrigado pelo comentário, Horan, mas vamos ao que interessa... – O professor continuou. – Um de meus alunos me pediu encarecidamente para fazer uma homenagem à garota que ele ama.
- Não... – Encarei a madeira branca da mesa.
- O nome dele é Zayn e acho que todos sabem quem é essa garota especial. – Ed ainda falava, mesmo que uma melodia de piano tivesse começado. Pude sentir vários olhares se virando na minha direção.
(Ultimamente tenho pensado. Pensado no que tivemos)
I know it was hard, it was all that we knew, yeah.
(Eu sei que foi dificil, era turo que conhecíamos)
Have you been drinking, to take all the pain away?
(Você tem bebido, pra tirar toda a dor?)
I wish that I could give you what you deserve.
(Eu queria poder te dar o que você merece)
‘Cause nothing could ever, ever replace you…
(Porque nada nunca poderia te substituir)
Nothing can make me feel like you do.
(Nada pode me fazer sentir como você faz)
Eu sempre gostei de ouvir Zayn cantar e aquele momento não foi diferente. Ele sempre conseguia colocar a sua alma nas músicas e era quase como se eu estivesse de frente pra ele naquele instante. Podia sentir a dor em sua voz, o arrependimento. Aquela emoção toda que ele colocava nas palavras e no som do piano era algo de outro mundo. Levantei o olhar apenas para encontrar o de , tão surpresa quanto eu. Ela também não sabia daquela “homenagem”, isso estava claro. Nick fez um pequeno carinho nas costas da minha mão, sorrindo fraco. Ele ainda achava que tinha culpa no termino de Zayn e eu.
(Você sabe que não há ninguém com quem eu possa contar)
And know we won’t find a love that’s so true.
(E sei que não vamos encontrar um amor que é tão verdadeiro)
There’s nothing like us, there’s nothing like you and me.
(Não há nada como nós, não há nada como você e eu)
Together through the storm.
(Juntos através da tempestade)
There’s nothing like us, there’s nothing like you and me.
(Não há nada como nós, não há nada como você e eu)
Together…
(Juntos)
- Ele perdeu a cabeça… - Falei baixinho, pensando em levantar e sair dali, mas seria inútil. As caixas de som estavam espalhadas pela Academy inteira, então eu não teria pra onde correr.
- Zayn está tentando, ... – segurou a minha mão em cima da mesa. – Ele te ama muito.
- E agora ele está tentando mostrar isso pra todo mundo que puder ouvir. – Nick também ficou do lado do meu ex-namorado. – Eu acho que você devia ouvir o que ele tem pra dizer.
- Não custa nada. – A outra menina completou.
- Eu estou ouvindo. – Falei simplesmente, me soltando dos dois e encostando mais na cadeira em que estava sentada.
(Eu te dei tudo, baby, tudo que eu tinha pra dar)
Girl, why would you push me away?
(Garota, porque você me afastaria?)
Lost in confusion like an illusion.
(Perdido em confusão, como uma ilusão)
You know I’m used to making your day.
(Você sabe que estou acostumado a fazer o seu dia)
But that is the past now, we didn’t last now.
(Mas isso é o passado agora, nós não duramos)
Guess that this is meant to be…
(Acho que isso era pra ser assim)
Tell me was it worth it? We were so perfect.
(Me diga, value a pena? Nós éramos tão perfeitos)
But, baby, I just want you to see…
(Mas, baby, eu só quero que você veja)
There’s nothing like us.
(Não há nada como nós)
Era bem claro pra mim que Zayn estava prestes a começar a chorar, ali, no microfone de onde qualquer um poderia escutar. Aquela homenagem foi mais do que simplesmente mandar entregarem flores na minha casa. Ele estava vulnerável, abaixando todas as suas guardas. A pose de Bad Boy que tanto gostava de sustentar dentro daquela escola tinha ficado pra trás. Zayn estava deixando a sua insegurança de lado, se abrindo completamente, de forma nua e crua... Pra mim. Por minha causa. Aquelas últimas palavras me deixaram arrepiada. Olhei para as minhas próprias mãos no meu colo, lentamente sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Ele tinha razão, nós éramos perfeitos.
- E então? – quebrou o silêncio que preenchia o refeitório inteiro.
- Isso não muda nada.
Para a segunda etapa dos nossos exames, acabamos ficando na nossa sala de costume; o que me agradou bastante, já que assim eu possuía todo o conhecimento do espaço que teria para realizar o solo. Outra coisa que foi diferente da primeira parte é que os solos seriam abertos para quem mais quisesse assistir, ou seja, qualquer um podia simplesmente entrar na sala e se sentar em um dos cantos para assistir. O único requerimento é que ficassem calados. Uma banca de jurados foi formada no canto esquerdo, onde os meus três professores se posicionaram com suas cadernetas e observavam furtivamente as apresentações improvisadas de seus alunos tão queridos – ou quase isso. A ordem dos alunos seguiu a linha do alfabeto, então acabou tendo que ser uma das primeiras. Só pra constar, a ordem do alfabeto a que estou me referindo é a dos nossos sobrenomes, o que faz o “T” de “Tomlinson” ficar bem pro final. Por um lado isso era até reconfortante, mas por outro, a minha ansiedade crescia incrivelmente rápido.
Ah, é, e nem as nossas músicas eram escolhidas por nós mesmo. Tecnicamente éramos nós que tirávamos um papelzinho de uma urna, mas você entende os termos técnicos de um sorteio. O professor Sheeran se ofereceu para ficar no piano e tocar as músicas durante os solos, mas algo que dizia que ele estava ali por minha causa. Nós nos cumprimentamos no começo da aula, mas o assunto “Zayn Malik” não foi tocado. Por falar em amigos, Niall e Nick também se convidaram para assistir as apresentações; trazendo com eles alguns colegas que eu não fazia idéia de quem eram. Eu estava sentada no fundo da sala, alongando as minhas pernas enquanto ouvia a minha amiga sussurrar o quanto a sua apresentação avia sido incrível. De fato foi incrível, mas ela quase não dançou. interpretou um monólogo de um de seus autores preferidos e durante os seus cinco minutos ninguém lembrou que aquilo era um exame de ballet e não de teatro.
A letra “S” chegou e com ela uma menina chamada Alguma Coisa Simons tomou o centro da sala após ter sorteado a sua música. Ed estralou os dedos e começou a tocar uma melodia animada que reconheci ser de Vivaldi. Olhei em volta para os meus colegas de turma. Podíamos não ser íntimos nem nada, mas eu recordava em os sobrenomes da maioria deles. “É, eu sou a próxima.” Respirei fundo, tentando controlar os meus batimentos cardíacos que aceleravam com cada passagem do ponteiro do relógio na parede que marcava os segundos. tocou o meu ombro, me encorajando, e abri um meio sorriso. Não era a primeira vez que eu iria me apresentar para aqueles jurados, mas dessa vez parecia bem pior. No dia da minha audição, eu estava passando mal e quase desmaiando, porém, tinha a desculpa de que nenhum deles sabia o que esperar de mim. Agora, depois de um semestre inteiro ao lado deles, todos os professores tinham o direito de exigir excelência.
- Tomlinson. – O professor Hofstheder leu o meu nome no papel em suas mãos e todos se viraram pra mim.
- Deseje-me sorte. – Sussurrei para a minha amiga, levantando de onde estava.
- Você não precisa disso. – Ela sussurrou de volta, fazendo sinal de OK com os dedos.
- Aqui, ! – Ed me chamou, segurando a urna para que eu escolhesse a música.
- Certo, certo... – Quase esqueci desse pequeno grande detalhe e corri até o professor. Coloquei a mão dentro da urna e agarrei o primeiro pedaço de papel que toquei. – Pathetique, Beethoven.
- Ótima escolha. – O ruivo piscou como se dissesse “Confio em você”, o que me fez sorrir.
- Obrigada. – Respirei fundo e me preparei para voltar para o meio da sala.
- Quando quiser, . – Holly me assegurou, deixando a sua caneta na mesa e prestando atenção apenas em mim.
- Tudo bem... – Agradeci com a voz um pouco trêmula.
Olhei para os lados, encontrando os sorrisos confiantes dos meus três amigos que estavam ali presentes e na espera dos meus outros colegas que também queriam passar tranqüilidade. Eu estava segura ali dentro, cercada por pessoas que só desejavam o meu bem. Fitei, então, os professores. Holly e Laura me estudavam calmamente, enquanto o homem entre as duas parecia me julgar. Segui a linha do olhar dele e parei nos meus pés. Para ser mais exata, nas minhas sapatilhas. Todas as outras meninas haviam se apresentado usando sapatilhas de ponta, mas a minha era a normal. Respirei fundo pela décima vez, dizendo para mim mesma que sabia o que estava fazendo. Também afrouxei a amarração em meu cabelo para dar um ar mais bagunçado à minha performance.
Com um aceno de cabeça, avisei a Ed que estava pronta e ele começou a dedilhar as teclas do piano. Fechei os olhos e deixei aquela sensação tão íntima e conhecida me contaminar. Com um pé comportadamente colocado na frente do outro em quarta posição, continuei parada no mesmo lugar, mas meus braços e mãos se mexiam. As pontas dos meus dedos se tocaram e não tirei os olhos delas, deslizando-as pelos meus próprios braços em seguida. Depois de ter tocado o meu próprio corpo como se conferisse que era meu mesmo, lancei o olhar para cima. O começo daquela música era pesado, mas meus movimentos suaves. Finalmente deixei que meus pés se mexessem pela sala, em um sobe e desce delicado enquanto dava voltas em torno de mim mesma. Arqueei as costas para trás, fazendo com que a minha cabeça caísse na mesma direção.
Acompanhando o ritmo da música, voltei a minha postura para a posição inicial mesmo que os meus pés não quisessem parar de deslizar pela madeira do chão da sala. Elevei os braços até o topo da minha cabeça, com as palmas viradas para fora e olhei apenas para um ponto qualquer na minha frente. Minha perna esquerda foi estendida para trás, enquanto a direita se manteve firme presa ao chão. Em seguida, usei a mesma perna que estava para trás para me impulsionar em um rodopio que logo se transformou em várias piruetas delicadas. O mundo a minha volta tinha sumido há algum tempo e me vi em cima de um palco. Esse palco, porém, não ficava em um teatro, auditório ou coisa parecida. Estava no meio do nada. Eu era cercada pela escuridão, mas ela não me assustava. Era até como se estivéssemos dançando juntas...
Sorri sozinha quando uma dessas sombras saiu do lugar e percorreu o chão à minha volta, fazendo-me ter que dar mais uma volta para não perdê-la de vista. Quando a sombra avançou na minha direção, cambaleei para trás com o susto, mas logo voltei a persegui-la, correndo por aquele palco e fazia isso dançando. A sombra parou; me encarou. Nossa pequena perseguição devia ter cansado-a e usei isso ao meu favor. Como se quisesse pegá-la desprevenida, dei as costas a ela e me afastei, indo até um dos cantos daquele palco. A música a minha volta ganhou um ritmo mais acelerado, como se comandado pelos meus atos. Girando na ponta de um dos meus pés, dei meia volta e encarei a sombra como se quisesse ver através dela, mas era inútil. A massa negra era sedutora, quase chamando o meu nome. Aceitei aquele convite e me pus a correr. Chegando no meio do caminho, peguei impulso no chão e senti o meu corpo ir para o ar. Em um salto, abri os braços em forma de “L” e minhas pernas tomaram a forma de um “4” deitado.
O universo congelou por uns segundos enquanto eu estava no ar e aproveitei o meu pouso como se estivesse em câmera lenta. Ao cair de volta no chão, a escuridão me engoliu. Fui tomada pelos seus braços frios e senti que os meus cabelos se soltaram do coque previamente afrouxado. Os fios castanhos me cegaram momentaneamente enquanto a sombra me tirou pra dançar. Valsamos pelo salão e meus giros que se seguiram fizeram minhas mexas voar para trás do meu rosto. A música voltou a diminuir de velocidade e ficar cada vez mais baixa, como se estivesse se distanciando. Foi aí que eu senti medo. Medo de ter que me despedir daquela sombra que me encantava ao mesmo tempo em que me amedrontava. Eu a amava e não queria ter que ir embora daquele universo paralelo que descobrira.
“Adeus.” Posso jurar que escutei aquela simples palavra sendo sussurrada em meus ouvidos e então a escuridão sumiu completamente, me trazendo de volta à sala de ballet da Academy. Esse choque entre a fantasia e a realidade me fez perder o equilíbrio e então fui ao chão. Mas não foi um desmaio ou uma queda... Era como se eu tentasse pular novamente dentro da escuridão que me tocara com tamanho zelo momentos antes. Mais uma vez foi inútil. O sonho acabara. O momento escapou entre os meus dedos e escutar as palmas que encheram a sala ao meu redor não me fez sentir melhor. “O que foi isso?” Me levantei do chão ainda com um pouco de dificuldade de me situar e encarei os professores que aplaudiam de pé; inclusive o senhor Hofstheder.
Nos minutos que se seguiram, ninguém conseguiu falar nada. A pessoa que deveria vir depois de mim demorou a se tocar que era ela, mas os professores também não se lembravam que deveriam continuar com os exames. ainda me esperava no fundo da sala e me abraçou que cheguei perto dela. Admito que me senti muito bem comigo mesma e, acima de tudo, me senti leve. Era como se todos os meus problemas tivessem desaparecido. Não pude deixar de pensar em algo que Louis me falara no último sábado... Dançar realmente era o que me salvava. Agora eu tinha certeza disso.
- Você continua me surpreendendo cada vez mais, sabia?! – foi a primeira a quebrar o silêncio, me deixando sentar em um banco de madeira. – Isso porque estava nervosa!
- E-eu não sei o que aconteceu... – Passei as mãos pelos cabelos, querendo colocá-los pra trás.
- Eu te digo o que aconteceu! Você acabou de ganhar o prêmio Nobel da dança. – Colocou as mãos na cintura e riu do que acabara de falar. – Existe um prêmio assim?
- Acho que não. – Ri baixo, sem querer atrapalhar a menina que tomou o lugar em que eu estivera antes.
- Mas deveria existir! E você, meu bem, ganharia todos.
- Shh, ! Vamos prestar atenção na Sam.
- Já calei! – Passou os dedos na boca como se puxasse um zíper, mas logo voltou a falar: - Sabe quem também estava te vendo dançar?
- Quem? – Sussurrei enquanto olhava em volta.
- Zayn. – Aquela confissão me surpreendeu. – Ele não saiu da porta até você terminar de dançar.
- Ele gosta de me ver dançar... – Falei meio sem pensar, logo escondendo o pequeno sorriso que tentou se formar em meus lábios. – Mas ainda bem que não entrou na sala.
- Teimosa. – A ruiva resmungou.
- Se você tivesse virado à direita e depois à esquerda como eu falei, nós já teríamos chegado lá! – Falei com um pequeno tom de reclamação.
- Você falou esquerda e depois direita! – Lou rebateu, sentado no banco do motorista, com Haz ao seu lado. – Harry, fala pra ela!
- O Harry não conta, porque ele vai concordar com qualquer coisa que você falar! – Eu estava no banco de trás, com Li ao meu lado, olhando a paisagem fora do carro.
- Sendo assim, o Liam também não pode falar nada. – Meu irmão afirmou.
- O que eu fiz agora? – Liam riu. – Estou quieto aqui...
- Você não fez nada, Leeyum! – Segurei a mão dele e fiz carinho com o polegar. – E a Dani aceitou vir com a gente?
- Ela disse que vai tentar sair do ensaio mais cedo e dar uma passada na cafeteria. – Sorriu meio tímido.
- Espero que ela consiga! – Celebrei, já mais acostumada com a idéia de Liam ter uma companhia.
- , qual o nome do lugar mesmo? – Harry me olhou pelo retrovisor de dentro do carro. v
- Apple & Pears. – Respondi ao olhar pela janela. – Chegamos?
- Eu disse que era esquerda-direita. – Lou sorriu daquele jeito “sou melhor que você” e começou a diminuir a velocidade do carro.
- Eu disse que era esquerda-direita. – O imitei com a voz mais irritante que consegui forçar, fazendo os outros meninos rirem.
- Muito maduro, . – Liam ainda gargalhava ao meu lado.
- Muito maduro, . – Continuei com as minhas imitações, mas dessa vez acabei rindo junto.
Paramos de discutir e rir assim que meu irmão estacionou o carro em uma vaga que acabara de ficar livre na esquina do café. Londres se mostrava maior a cada dia, pois eu tenho certeza que nunca estivera naquela parte da cidade antes. Não existiam prédios naquele bairro, apenas pequenos estabelecimentos. O mais vintage de todos foi sem dúvida a cafeteria para onde estávamos nos dirigindo. O lado de fora era bem arrumadinho, mesmo que a madeira das paredes que não eram cobertas por janelas fosse meio envelhecida. Ok, pode ser que esse tenha sido o verdadeiro charme do lugar. Ao entrarmos na loja, um pequeno sino soou, mas duvidei que ele pudesse ser ouvido no fundo. Ninguém veio nos atender, portando entramos sozinhos e começamos a procurar algum lugar pra sentar.
Todas as mesas eram arredondadas e ficavam espalhadas pelo salão. No lado direito ficava o balcão extenso onde os pedidos eram feitos e mais para o canto encontrei o que parecia ser uma área de convivência, com algumas poltronas, mesinhas de centro e uma estante de livros realmente cheia. Com certeza eu daria uma passadinha lá antes de ir embora. Harry segurou a minha mão para que eu pudesse acompanhá-los quando encontraram uma mesa livre. Segui o menino, mas não parei de observar o lugar. Um palco baixo fora montado na ponta oposta do balcão, quase no canto da cafeteria, onde dois bancos de madeira, dois pedestais de microfone e dois violões estavam dispostos para quem quer que quisesse se aventurar.
Me senti em um cenário de filme de romance, onde a menina vai tomar uma xícara de café e acaba conhecendo o grande amor de sua vida. A noite de microfone aberto não parecia estar fazendo tanto sucesso quando eu esperava, pois o lugar não estava tão cheio quanto poderia ficar. Ao mesmo tempo me peguei pensando que talvez aquela fosse a clientela regular da cafeteria... Um lugarzinho pequeno e aconchegante para aqueles que apreciam a tranqüilidade enquanto aproveitam um bom café. Antes de sentar na cadeira que Harry puxou pra mim, tirei o meu casaco pesado e o pendurei nas costas do assento. Procurei Ed com os olhos, pois ele já deveria estar por ali, considerando o horário.
- está ali... – Lou apontou para a menina ruiva que carregava dois copos até uma mesa um pouco mais atrás da nossa. – Niall também.
- E o... – Liam se interrompeu antes de falar o nome do meu ex-namorado, mas eu já havia notado a sua presença. – Desculpa, .
- Não se desculpe por isso, Liam! – Forcei um riso como se estivesse tudo bem. Enquanto encarei aquele menino que costumava ser meu, os segundos pareceram se arrastar. Zayn estava lindo, isso eu não podia negar. Usava uma camisa xadrez vermelha por cima de uma branca; o cabelo perfeitamente alto como de costume.
- Será que devemos ir lá dar um oi? – Harry perguntou.
- Pode ir, Haz... – Informei que não sairia do lugar. – Você também, Li. Tenho certeza que está louco pra ir falar com o seu amigo.
- Voltamos logo, tá bem? – Li se levantou e chamou Harry com uma batida em seu ombro.
- Eu vou ficar aqui também. – Lou pulou uma cadeira até estar sentado ao meu lado.
- Lou, não precisa... – Tentei mostrar que ficaria bem sozinha, mas não teve jeito.
- Só estou com preguiça de andar. – Deu de ombros com aquela mentira e trocamos um sorriso.
Não olhei enquanto Liam e Harry se afastavam por estar com medo que os meus olhos azuis cruzassem os amendoados que eu tanto sofria pra evitar. Lou segurou a minha mão por baixo da mesa como se lesse os meus pensamentos e eu sorri para o meu irmão mais velho em agradecimento. Aproveitei que estávamos próximos e encostei a cabeça em seu ombro, fechando os olhos e relaxando ali. Boo bear cuidaria de mim, não importa o que acontecesse; nós estaríamos juntos e ele nunca me deixaria. Recebi um beijo na testa e voltei a enxergar o menino ao meu lado. Imaginei o quanto devia ser horrível pra ele quando era pequeno e tinha que me acalmar durante os meus ataques de pânico. Querendo ou não, quando meus pais começaram a brigar muito, ele era quem tinha que cuidar de mim. Eu podia me lembrar de todas as vezes que papai passava o dia inteiro no plantão e nossa mãe trancada no estúdio... Mesmo com Dorota lá em casa, quem cuidava e tinha responsabilidade sobre mim era meu irmão. Esse era um fardo muito pesado para um menino de sete anos.
- Como o amor de irmãos é lindo! – Uma garota se sentou na cadeira do meu outro lado. – Não fala mais com as amigas, ?
- Hey, . – Soltei o meu irmão com um sorriso discreto e puxei a ruiva para beijar-lhe a bochecha.
- Não me babe! – Fez careta e eu ri. – Você está linda. Toda indie...
- Estou vestida para a ocasião. – Pisquei. – Mas você também está.
- Como sempre, né? – Jogou os cabelos ruivos para um lado só, fazendo charme. – Aliás, vamos ter que nos dividir em duas mesas mesmo?
- Eu não me importo de ficar aqui sozinha. – Cortei qualquer idéia que pudesse ter de me fazer sentar na mesma que Zayn estava. – Pretendo aproveitar essa noite e não ficar em um clima estranho.
- E eu te faço companhia. – Louis, que estivera lendo o cardápio desde que se sentou, falou para nós duas. – Oi, .
- Tudo bem, Lou? – Acenou para o menino. – Ok, podemos nos separar em grupinhos e depois revezar. Não tem o menor problema! Só foi uma sugestão.
- Por que não me sugere algo pra beber ao invés disso? – Peguei o outro “cardápio” que estava em cima da mesa.
- Só mais uma coisa... – se inclinou na minha direção. – Zayn pediu pra perguntar se ele pode vir aqui te cumprimentar.
- Se ele tem que perguntar, é porque já sabe a resposta. – Eu mesma quase não entendera minha charada.
- Isso foi um sim ou um não? – Começava a se aborrecer.
- Acho que vou pedir esse Cappuccino número três... Com o dobro de chocolate! – Sorri ao imaginar a minha bebida. – O que acha?
- Ótima pedida. – Não foi nem Lou e nem quem me respondeu. Um ruivo sentou-se na minha frente, com a cadeira ao contrário.
- Eddy! – Sorri ao ver o professor.
- Eu vou pedir o seu café. – bufou enquanto levantava para ir até o balcão.
- Achei que a minha parceira ia me abandonar hoje. – Ed esticou a mão para receber a minha.
- Eu nunca faria isso! – Segurei a mão dele e o homem beijou as costas da minha. – Estou um pouco ansiosa, mas é normal...
- Sua irmã é uma cantora, sabia? – O ruivo comentou com o meu irmão, que gargalhou um tanto alto.
- Hey! – Empurrei o risadinha pelo ombro.
- Desculpa, , mas essa eu só acredito vendo. – Lou se controlou, mas ainda ria. – Ou ouvindo.
- Pois vai ouvir! – Comentei. – Acho que essa noite vai ser inesquecível pra você.
- Claro que vai. – Balançou a cabeça, mas ele não fazia idéia do que eu estava falando.
- Ah, eu não tive oportunidade de te dar os parabéns pela sua apresentação essa manhã, . Você foi a melhor, com certeza. – Ed me parabenizou e eu sorri com um leve corar nas bochechas. – Na verdade, acho que foi uma das apresentações mais tocantes que eu já assisti naquela academia.
- Não seja exagerado! Mas obrigada. De verdade. – Mantive o sorriso até que um movimento no palco prendeu o meu olhar.
Uma menina que aparentava ser ainda mais nova do que eu havia subido ao palco. Ela usava um vestido florido e um chapéu preto na cabeça; muito fofo, diga-se de passagem. Trazia consigo um violão marrom e se ajeitou sobre o banco, puxando um dos microfones mais pra perto. Se apresentou, falando que seu nome era Dalia e logo começou a dedicar uma melodia calma que logo reconheci ser um cover de uma música da Rihanna, com a pequena exceção de que era bem mais lenta que a versão original. A voz daquela menina era uma coisa de outro mundo. Se eu pudesse comparar com alguma seria com um pedacinho de algodão, pois era bem o que me lembrava.
logo voltou com quatro bebidas nas mãos. Não sei como ela não derrubou tudo no meio do caminho, mas enfim. Recebi o meu cappuccino ainda sem conseguir tirar os olhos de Dalia. Eu quase não piscava, pra ser bem sincera. Comecei a me sentir um pouco arrependida de ter aceitado o convite de cantar com Ed, pois sabia que nunca chegaria nem a sola do sapato daquela menina. Não podia mais desistir, então iria cumprir a minha promessa de qualquer jeito, é só que me senti um pouco amedrontada.
- Meow. – Louis literalmente miou ao meu lado e me fez olhá-lo. – A sua xícara...
- O que tem a minha... Que gracinha! – Olhei para o meu copo e vi do que ele estava falando. Um gatinho havia sido desenhado na espuma e sorri. – Como vou beber isso agora? Estou com pena de destruir! Só vou comer esse pedacinho de chocolate...
- Você tem que colocar o chocolate dentro do cappuccino. E aí ele vai derreter. – Ed explicou. – É muito gostoso.
- Acho que posso provar um pouco... – Fui convencida facilmente e peguei o pedaço de chocolate em forma de colher e o usei para mexer o café.
- Isso mesmo. – O ruivo bebeu do próprio copo e se virou para Louis. – Como vai a banda?
- Estamos recebendo algum convite de colaborações, acredita? – Meu irmão comentou animado. – E temos gravado algumas demos em um estúdio improvisado que Zayn montou na casa dele, mas ainda não sabemos o que fazer com elas.
- Salvem todas em um CD e levem em gravadoras... – Falei ao lembrar de algo que meu amigo Tom, cof cof, me falou. – Com a quantidade fãs pela internet que vocês já tem, vão ser loucos se não quiserem assinar um contrato com vocês.
- Ela está certa, Louis. E eu tenho alguns contatos também, então posso falar de vocês...
- Faria isso, Ed? – Lou perguntou.
- Óbvio que sim. – Afirmou com a cabeça. – Também acho que seja legal gravarem alguns vídeos pra colocar no Youtube... Hoje em dia essa coisa de internet está bem maior do que no meu tempo.
- No seu tempo, Ed? – Ri depois de limpar um pequeno bigode de espuma que se formou acima do meu lábio superior. – Você só tem vinte e dois anos.
- Mas a minha alma é velha, . – Até que ele podia ter razão, porque alguém que escrevia músicas como Ed, não podia ter só vinte e dois anos.
- Ei, ... – tocou o meu braço ao me chamar. – Aquela garota ali não é aquela dançarina do X Factor?
- Tem um cabelo grande e bem cacheado? – Perguntei sem arriscar olhar pra trás. – É a Dani. Ela tem saído com Liam desde aquele dia...
- Mas parece que trouxe o namorado! – Cochichou e eu tive que olhar pra ver o que estava acontecendo. – E ele está olhando pra você.
- Esse não é o namorado dela! – Voltei a olhar pra frente de uma vez, não estando muito certa do que fazer.
- Aquele não é o cara da festa? – Lou perguntou com uma risada divertida.
- , o que você aprontou?! – também se divertia com a minha situação. – Deixa pra lá, ele está vindo aqui. É melhor você se levantar.
Mesmo se eu não tivesse levantado de onde estava, meu irmão e teriam me feito passar vergonha do mesmo jeito. Arrumei disfarçadamente a minha saia antes de virar para o menino de olhos cinzentos que realmente vinha na minha direção. O que ele podia estar fazendo ali? Era óbvio que Dani o convidara, mas uma cafeteria como aquela não parecia ser muito o estilo de Joshua. Caminhei até o outro para encurtar a caminhada dele e parei exatamente no meio entre a minha mesa e a mesa onde Liam e Harry estavam. O engraçado é que eu sabia que estava sendo observada dos dois lados.
- . – Joshua pronunciou o meu nome de forma calma, como se cantarolasse uma bela melodia.
- Joshua. – O imitei, mas não fui tão musical.
- Você está... Diferente. – Acho que o que ele quis dizer foi “não vestida como uma vadia”.
- Uh, é... Na primeira vez que você me viu eu estava passando por uma fase difícil. – Ri, torcendo para que ele compreendesse.
- Deixe-me adivinhar... Terminou um namoro recentemente com aquele garoto de vermelho na outra mesa? – Deu um passo na minha direção pra que pudesse comentar sem ser ouvido por alguém que não fosse eu.
- Como sabe? – Estreitei os olhos.
- É que ele não para de olhar pra cá e quase me xingou quando perguntei onde você estava. – Joshua continuou falando perto demais e comecei a achar que ele estava se divertindo em passar ciúmes em Zayn.
- Então talvez devêssemos sair dessa área de observação. – Passei o braço pelo dele, não me importando em estar ganhando intimidade rápido demais. – Vamos pegar algo pra você beber.
O mais alto também não se importou com o meu toque e logo passou o braço que eu segurara para trás da minha cintura. Não olhei pra trás pra ver a reação de Zayn, mas sabia que ele não iria gostar. Nunca fui daquelas que gostava de ficar fazendo ciuminhos de propósito, mas não vou negar que gostei da sensação. Ambos caminhamos até o balcão dos pedidos e ele estava quase vazio, por isso não precisamos esperar na fila. Josh se distraia olhando os nomes das bebidas em um pseudo cardápio gigante preso à parede e eu passeei o olhar pelo palco onde agora dois meninos cantavam uma música original.
- Quer alguma coisa? – O menino ao meu lado perguntou após fazer o próprio pedido; que, aliás, eu não escutara o que era.
- Não, obrigada. Já tenho uma bebida na mesa. – Afirmei e fomos para a área de espera, onde o barman prepararia os pedidos.
- Não vale pedir pra eu dividir, hein?! – Riu e se apoiou sobre a madeira, mas olhando pra mim. – Você sumiu na sexta. Não consegui mais te encontrar...
- Você é que é um péssimo detetive! – Razoei divertida, cruzando os braços. – Não que eu fosse me lembrar se você realmente tivesse me encontrado...
- Bebeu tanto assim? – Gargalhou mais alto enquanto eu afirmava com a cabeça. – Acredite, ninguém se esquece do Joshy aqui.
- Tenho certeza que não... Joshy. – Foi a minha vez de achar graça.
- Era pra ser sexy! – Bagunçou os cabelos com a mão direita, o que me fez parar de rir e morder o lábio.
- Isso sim foi sexy. – Admiti.
- Aqui, mate. – O bartender bonitinho entregou uma taça para o meu acompanhante e logo voltei a rir.
- Você vem em uma cafeteria pra tomar Milk Shake? – Entortei o nariz. – Durante o inverno?
- Obrigado, cara. – Josh agradeceu e deu um longo gole no doce antes de se virar pra mim mais uma vez. – O que posso dizer? Gosto das minhas bebidas como gosto das minhas mulheres... Doces e geladas.
- E eu gosto do meu chá como gosto dos meus homens. – Também entrei na brincadeira. – Quentes e britânicos.
- Touchê. – Tirou o copo do balcão e se virou para as mesas. – Podemos sentar?
- Você quer sentar comigo ou com a Dani? – Olhei na direção das duas mesas. Todos que estavam sentados comigo anteriormente se mudaram para a mesa onde os outros estavam.
- Por mais que eu fosse adorar provocar o seu ex, prefiro sentar com você.
- Ótimo.
Então estava decidido. Nós dois caminhamos pelas mesas vazias e ocupadas por pessoas que chegavam cada vez mais rápido. Retiro o que disse anteriormente, pois a cafeteria começava a encher. Uma vez na nossa mesa, sentei no meu lugar de origem e Josh sentou ao meu lado; onde Louis sentara inicialmente. Bebi o meu cappuccino novamente, que estava um pouco mais frio, mas ainda era bebível. Eu gostava da companhia de Joshua e sabia que era invejada por meninas que possivelmente queriam estar no meu lugar. Ele era bonito sim, até demais, mas ainda não conseguia me sentir atraída por ele. Peguei um pedaço de papel que devia ter sido posto em cima da mesa quando saímos, pois não me lembrava de tê-lo visto lá. Corri os olhos rapidamente, constatando que se tratava de um quiz. Um passatempo para entreter os clientes. Vários poemas e citações estavam escritos para que definíssemos os autores de cada um.
- Isso aqui parece legal. – Coloquei a minha xícara no pratinho que a acompanhava e li a primeira linha: - “Seja a mudança que quer ver no mundo.”
- Gandhi. – Josh respondeu com a boca cheia de Milk Shake, quase babando, tamanha a sua pressa em responder.
- Esse foi fácil! – Ri, escolhendo um mais difícil: - “Não foi na minha orelha que você sussurrou, e sim no meu coração. Não foram meus lábios que beijaste, e sim a minha alma.”
- Mais fácil ainda! – Afirmou. – Judy Garland. Gosto de alguns poemas dela.
- Não acredito que você conhece poemas! – Nos dias de hoje era muito raro encontrar alguém que gostasse de poemas, quem diria um menino.
- Gosto de qualquer tipo de literatura. – Sorriu com a minha surpresa, provavelmente acostumado a receber muitas reações como a minha. – Quer ouvir um?
- É claro que sim! – Deixei o papel de lado e me apoiei na mesa, prestando atenção em Josh.
- Ouço-te na angustia de teus passos,/ no silêncio de teus lábios,/ na ausência de teus gritos,/ na solidão de teu cansaço./ Compreendo-te na mensagem de teus olhos/ ao contestar mentiras/ na confusão de teus sentidos/ a sondar meu infinito. – Joshua também deixou a própria bebida de lado para recitar aquele poema como se fizesse uma confissão. Escutei atentamente, presa pelos olhos cinzentos e quase prateados do menino. – Vejo-te nos hábitos,/ nos costumes,/ nos valores emergentes,/ tão sutis e diferentes,/ de tantos que já vi.
- Isso foi lindo... – Suspirei, ainda pensando naquelas palavras. – Você tem que escrever esse poema pra eu guardar!
- Ou se me der o seu telefone, eu posso te passar por mensagem esse e outros.
- Que ótimo jeito de pedir o meu número. – Ri baixo, entendendo a indireta dele.
- Também achei que fosse. – Deixou uma risada rouca escapar seus lábios e voltou a bagunçar o cabelo, rebelde.
- , vamos? – Ed interrompeu no momento exato que deveria e esticou a mão na minha direção.
- Já vai embora? – Josh questionou após sorrir educado para Ed.
- Não... Vou testar um de meus muitos talentos. – Avisei e aceitei o gesto do ruivo, colocando a minha mão na dele.
O homem que estivera cantando anteriormente recebeu os seus aplausos e então deixou o palco para trás. Bem a tempo, Ed me guiou até lá, perguntando se eu estava tranqüila e etc. Respondi que sim com um aceno de cabeça, dando a ele um voto de confiança. Além de ser meu amigo, ele era um professor prestigiado, então devia saber o que fazia. Nunca fui do tipo cantora, mas as noites de karaokê e os ensaios de canto na Academy deviam ter servido para alguma coisa. Edward pegou o segundo banco e o colocou ao lado do dele, indicando que eu deveria me sentar. O obedeci, claro, e arrumei a minha saia comprida para que ela ficasse no lugar certo. Cruzei as pernas e apoiei um dos pés na pequena barra de madeira do banco, visto que não alcançava o chão ali de cima.
O meu parceiro logo arrumou a altura do meu microfone e fez o mesmo com o dele, sentando-se ao meu lado. A diferença entre nós é que ele estava com um violão no colo. Olhei pra frente, colocando a minha trança para o lado esquerdo do pescoço. acenava na minha direção, animada. Louis ria de algo que Harry falara, mas os dois estavam do meu lado. Liam também me estudava atentamente e Dani prestava mais atenção nele do que em qualquer coisa. Niall conversava com Zayn, mas não arrisquei olhar para esse último. Finalmente voltei a encarar Joshua, que levantou o seu Milk Shake na minha direção, como uma espécie de brinde. Balancei a cabeça negativamente, rindo em resposta.
- Está pronta? – Ed perguntou com um sorriso animado no rosto e eu afirmei que sim com a cabeça, dando-o a deixa que precisava pra começar a dedilhar as cordas do instrumento.
(Tudo que eu soube essa manhã quando acordei)
Is I know something now,
(É que eu sei ago agora)
Know something now I didn't before.
(Sei algo agora que não sabia antes)
And all I've seen since eighteen hours ago…
(E tudo que eu vi, desde dezessete horas atrás)
Is green eyes and freckles and your smile.
(São olhos verdes e sardas e o seu sorriso)
In the back of my mind making me feel like…
(No fundo da minha mente, me fazendo sentir como…)
Respirei fundo e simplesmente deixei que as palavras deixassem a minha boca. Me inclinei levemente sobre o microfone e nem percebi quando meu pé começou a se mexer no mesmo ritmo da música. Comecei olhando pra baixo, ainda um pouco sem jeito, em seguida olhando para Ed, buscando alguma aprovação ou reprovação. O homem sorria orgulhoso do que me ensinara e acabei rindo um pouco sem parar de cantar. Aquilo podia ser divertido... Fitei a platéia na minha frente. Não eram todos que me olhavam, mas a porção atenta estava sendo agradada pelo que ouvia.
(Eu só quero te conhecer melhor, te conhecer melhor, te conhecer melhor agora)
'Cause all I know is we said "hello".
(Porque tudo que eu sei é que dissemos “olá”)
And your eyes look like coming home.
(E os seus olhos parecem com ir pra casa)
All I know is a simple name…
(Tudo que eu sei é um simples nome)
Everything has changed.
(Tudo mudou)
All I know is you held the door.
(Tudo que eu sei é que você segurou a porta)
You'll be mine and I'll be yours.
(Eu serei seu e você será meu)
All I know since yesterday…
(Tudo que eu sei desde ontem)
Is everything has changed.
(É que tudo mudou)
Nos juntamos para cantar aquele refrão e a nossa voz se juntou em uma melodia natural. Lembro que Ed falou -durante um de nossos ensaios- que eu tinha mania de esconder a minha voz quando a dele entrava na música, então devia prestar atenção nisso. Pude sorrir mais uma vez por não ter sobreposto e nem escondido a minha voz, mantendo as duas no mesmo volume. Minhas orbes teimosas foram diretamente para a pessoa que eu vinha evitando olhar quase a noite inteira. Zayn. Ele estava cabisbaixo, como se sentisse uma dor muito grande ao me escutar. Aquilo me incomodou. percebeu que eu estava encarando-o e deu uma pequena cutucada só pra que o menino pudesse me olhar de volta. Pensei em olhar para qualquer outro lugar, mas mais uma vez meus olhos não me obedeceram. Cantei as últimas linhas do refrão com o olhar conectado ao dele. Zayn abriu um sorriso calmo e eu sabia exatamente o que ele queria me falar. Mesmo depois de tanto tempo separados ainda conseguíamos nos entender por olhares e sorrisos. Em resposta, dei o braço a torcer e sorri de volta.
(Todas as minhas paredes se manteram altas, pintadas de azul)
I'll take 'em down, take 'em down
(Eu vou abaixá-las, vou abaixá-las pra você)
And open up the door for you.
(E abrir a porta pra você)
And all I feel in my stomach is butterflies, the beautiful kind,
(E tudo que eu sinto no estômago são borboletas, do tipo bonito)
Makin' up for lost time, taking flight making me feel like.
(Fazendo contar pelo tempo perdido, tomando vôo, me fazendo sentir como...
Foi a vez do solo de Ed e apenas fiquei olhando enquanto ele cantava. A sua voz era realmente bonita e eu estava feliz em ter sido escolhida para cantar ao seu lado naquela noite. Continuei movendo o pé, com as mãos apoiadas em meu colo. Não havia necessidade alguma de segurar o microfone, pois ele estava bem colocado na minha frente. Um assovio chamou a minha atenção; era Josh. Ninguém reclamou daquele chamado e nem foi alto tão alto assim, capaz de atrapalhar a nossa apresentação. Ele balançou um guardanapo com algo escrito, mas não consegui ler do que se tratava. Colocou-o no bolso do meu casaco que ainda estava pendurado na cadeira e eu fiz uma expressão meio confusa, o que o divertiu ainda mais.
(Volte e me diga porque)
I'm feeling like I've missed you all this time.
(Eu sinto como se sentisse sua falta esse tempo todo)
And meet me there tonight,
(E me encontre lá esta noite)
Let me know that it's not all in my mind…
(Me deixe saber que não é tudo da minha mente)
I just want to know you better, know you better
(Eu só quero te conhecer melhor, te conhecer melhor)
Know you better now...
(Te conhecer melhor agora)
- Eu já volto, tá bem? – Pedi licença a quem estava na mesa junto comigo.
Deixei Louis e Joshua conversando animadamente enquanto se levantava para ir até a mesa do próprio namorado. Eu havia bebido mais duas xícaras de café além do meu cappuccino, então não suportava mais ficar sentada sem fazer nada. Ninguém me impediu quando saí costurando entre as mesas e cheguei naquela parte ao lado do balcão onde ficavam os livros e poltronas. Fui direto para a estante, sorrindo com uma placa que dizia: “Esses livros precisam de um novo lar.” Ou seja, eu poderia escolher qualquer um deles para levar pra casa, assim, sem pagar nada. Outra coisa engraçada é que todos eles estavam embalados com um papel grosso que não nos deixava ver o conteúdo. A única coisa que me dava dicas sobre o conteúdo das peças literárias eram os comentários que os antigos donos deixavam escritos naquele mesmo papel. “Romance”, “Só leia se quiser chorar” e “Mudou a minha vida” são alguns exemplos.
- Escolhendo algo pra ler? – Eu sabia exatamente quem era aquela pessoa que se aproximara sorrateiramente.
- Sempre. – Respondi com um sorriso educado, sem me virar para encará-lo. – Só está difícil escolher.
- Posso recomendar um? – Zayn perguntou, ficando ao meu lado, e eu só afirmei que sim com a cabeça. – Esse aqui.
- Não é justo... – Segurei o livro que me foi entregue e antes mesmo de ler o que estava escrito, reconheci a caligrafia. Era a mesma que estava marcada permanentemente na minha pele; a letra de Zayn. – Você já sabe que livro é esse!
- Por isso mesmo! Acho que vai gostar dele. – Afirmou sem tirar os olhos de mim. – O cara não morre no final.
- Não sei se ainda confio nos seus spoilers. – Acabei rindo daquele comentário e o olhei. Duas pessoas podem conversar civilizadamente, certo?
- Vai ter que ler pra descobrir. – Seu sorriso parecia ainda mais lindo do que eu me lembrava. Ao ver que eu não sabia mais o que falar, Zayn continuou. – Quem é aquele cara que está sentado com você?
- Um amigo. O conheci em uma festa sexta-feira. – Comentei sem muita emoção, olhando para Josh ao longe. – A festa era dele, na verdade.
- Hm, sei... – Enfiou as mãos nos bolsos, visivelmente enciumado. – E vocês...
- Não, não... – O corrigi com mais pressa do que deveria. – Só estamos nos conhecendo.
- Eu assisti o seu teste hoje... – Mudou de assunto, atraindo o meu olhar novamente. – Você estava linda.
- Você gosta de me ver dançar. – Sorri verdadeiramente. Alerta vermelho! Minhas paredes começavam a ser abaixadas...
- Gosto. – Sorriu da mesma forma. Pelo que eu conhecia dele, devia estar sendo difícil não me tocar.
- E eu gosto de te ouvir cantar. – Se ele entendesse o que eu queria dizer, saberia que gostei da “homenagem” de mais cedo. – Tenho que ir... O Harry vai cantar.
Zayn só afirmou com a cabeça e eu dei as costas pra ele. Não sei exatamente o que o menino fez assim que afastei, mas sabia que estava feliz. Talvez com um pouco de esperança... Mas não era o que eu queria. Tivemos nossa primeira conversa civilizada, mas era só isso. Uma conversa de colegas. Com o livro que ganhara embaixo do braço, voltei para a mesa a tempo de ver Harry subindo ao palco. Louis estava ao meu lado novamente e perguntou com o olhar se eu sabia o que estava acontecendo. Mesmo sabendo exatamente o que Harry faria, neguei. O menino de olhos verdes parecia meio tímido ao pegar o violão e se sentar em um dos bancos que continuavam ali em cima.
- Boa noite... Meu nome é Harry Styles. – Hazza se apresentou daquele jeito calmo de sempre. – Uhn, eu precisava de um jeito pra contar à pessoa que eu gosto sobre os meus sentimentos... E uma amiga me deu a idéia de cantar tudo aquilo que eu não consigo falar. Ok... Lá vai...
(Agora você está parado aí, bem na minha frente)
I hold on, it's getting harder to breathe.
(Eu me seguro, está ficando dificil pra respirar)
All of the suddenly these lights are blinding me.
(De repente essas luzes estão me cegando)
I never noticed how bright they would be…
(Eu nunca notei o quão brilhantes elas seriam)
I saw in the corner, there's a photograph.
(Eu vi no canto, há uma fotografia)
No doubt in my mind it's a picture of you.
(Não há dúvidas na minha mente, é uma foto sua)
That lies there alone in its bed broken glass.
(Que descansa lá sozinha, na sua cama de vidro quebrado)
This bed was never made for two…
(Essa cama nunca foi feita pra dois)
I'll keep my eyes wide open…
(Eu manterei meus olhos bem abertos)
I'll keep my arms wide open…
(Eu manterei beus braços bem abertos)
Desde a primeira palavra daquele verso até a última me senti arrepiada. Harry dedilhava devagar, quase não tirando som algum do violão. Parecia que a cafeteria inteira tinha parado o que estava fazendo só pra prestar atenção nele. Mesmo que não tivesse nenhum holofote ou luz focalizada exatamente em cima de Haz, eu podia ver seus olhos verdes brilhando. Ele estava apaixonado e estava cansado de esconder. Tinha mais é que gritar pro mundo inteiro ouvir! Eu sabia que estar gostando de um garoto ainda o assustava um pouco, mas todos que o amavam não o tratariam diferente por causa disso. Eu com certeza não mudaria. Mordi o meu polegar tamanha era a minha animação. Olhei para Lou, que parecia ter esquecido de respirar. Ele sabia que aquilo era pra ele.
(Um dia eu te prometi que traria de volta uma estrela)
I caught one and it burned a hole in my hand.
(Eu peguei uma e ela queimou um buraco em minha mão)
Seems like these days I watch you from afar.
(Parece que nesses dias eu te vejo ao longe)
Just trying to make you understand.
(Apenas tentando te fazer entender)
I'll keep my eyes wide open…
(Eu deixarei meus olhos bem abertos)
Don't let me…
(Não me deixe)
Don't let me…
(Não me deixe)
Don't let me go.
(Não me deixe ir)
Cause I'm tired of feeling alone.
(Porque estou cansado de me sentir sozinho)
Don't let me…
(Não me deixe)
Don't let me go.
(Não me deixe ir)
Cause I'm tired of sleeping alone.
(Porque estou cansado de dormir sozinho)
Capítulo LXXI
- , para de beber essa água! – Sacudi os pés no meio da bacia tentando fazê-lo parar de beber daquela água! – Liam, pode fazer algo, por favor?
Liam estava esparramado ao meu lado no sofá. Não é que eu estivesse sendo uma preguiçosa e pedindo que ele fizesse tudo pra mim, porém, enquanto eu estava deixando os meus lindos pés de molho como preparação para a peça daquela noite, Li apenas mudava os canais da televisão sem se interessar por nenhum. , por outro lado, parecia determinado em beber a água morna onde meus pés estavam enfiados. Por mais que o afastasse, ele logo tratava de voltar correndo como se fosse uma brincadeira. Li resmungou algo com tanta preguiça que me fez rir. Na noite anterior ele havia saído com Dani para outra festa da equipe de dança do X Factor e por isso quase chorou ao ter que acordar na hora do almoço. Eu tinha pena dele, porque sabia o quanto estava cansado, mas também não podia pedir ajuda a Harry ou ao meu irmão.
Desde a declaração musical de Haz, os dois se tornaram mais inseparáveis do que antes, se é que isso é possível. Não digo que já estavam namorando, mas usavam todo o tempo que tinham juntos (vinte e quatro horas por dia) trocando carinhos, beijos, olhares profundos e etc. Teria sentido inveja se não estivesse tão feliz por eles finalmente deixarem de perder tempo e admitirem logo tudo que sentiam um pelo outro. Mas, enfim, naquele exato momento os dois estavam na sala de jantar. Pelo que eu podia enxergar de onde estava, Lou sentava sobre a mesa e Haz permanecia entre as suas pernas. Ocasionalmente Liam e eu escutávamos risadas escandalosas vindo daquele cômodo e apenas nos entreolhávamos com sorrisos cúmplices. O novo casal da casa era simplesmente adorável.
- Tudo eu, tudo eeeeeu! – Li reclamou. – Se hoje não fosse um dia tão importante pra você, eu mandaria você cuidar do seu filho!
- Leeyuuuuuuuum! – Comecei a fazer manhã, com um pequeno bico nos lábios. – Não fale assim do seu afilhado...
- Ugh, chantagem emocional é um golpe muito baixo, . – Acabou sorrindo contra a sua vontade e levantou do sofá. – Vem, ... Vamos pegar um brinquedo.
- Vai com o tio, neném, vai! – Afinei a voz e balançou o rabo, correndo atrás de Liam assim que este partiu em disparada para a escada. Em seguida, virei o pescoço para a sala de jantar. – Hey, love birds! Algum de vocês pode me fazer uma xícara de chá, por favor?
- Você e o seu chá... – Lou reclamou por causa do meu novo vício. – Era tão mais fácil quando você só tomava chá gelado.
- Olha só quem fala! – Peguei a toalha que estava em cima do braço do sofá e comecei a secar o meu pé direito. – Por favor, Lou...
- Eu faço, . – Haz aceitou meu pedido e se separou do meu irmão.
- Eu te ajudo... – O mais baixo pulou da mesa e foi atrás do outro.
- Eu não vou ganhar meu chá, né? – Perguntei retoricamente depois de ter secado meus dois pés.
Cobri a bacia com a toalha na esperança de impedir filhotes curiosos de voltar a beber daquela água e me estiquei até a mesinha de centro pra pegar o tubinho de creme hidratante especial para pés. Abri a tampa de rosquinha e coloquei um pouco do líquido gelado na minha mão para então começar a espelhar. O bom daquele creme é que sua textura não era tão... Cremosa, digamos assim. Então ele logo era absorvido pela pele e minhas mãos não ficariam grudentas por meia hora. O cheiro de hortelã que ele exalava também não era de se jogar fora.
Liam logo apareceu novamente na escava, com um ursinho de pelúcia em uma das mãos e o meu iPad com capa cor de rosa na outra. O filhote o seguia sem tirar os olhos de seu brinquedo e tentava pular para conseguir pegá-lo, mas Li era mais alto e mais rápido, provocando o animal que logo começaria a latir. O menino voltou rapidamente para o meu lado e desligou a TV com o controle remoto antes de jogar o ursinho do outro lado da sala para que fosse correndo atrás dele. Observei com uma risada enquanto o meu bebê escorregava pelo chão de madeira encerada, encontrando certa dificuldade de pegar o brinquedo. Em seguida, olhei para li, que me entregava o iPad.
- O que é isso? – Perguntei ao recebê-lo.
- Estava apitando. Pode ser importante. – Deu de ombros.
- Deve ser só o Twitter... – Desde que decidi me afastar de Zayn, acabei fazendo o mesmo com a banda. Sendo assim, troquei a conta do iPad pela minha pessoal. Não recebia tantas mentions como a conta dos meninos, mas de vez em quando alguma fã do One Direction falava comigo.
- Acho que você devia ver. – Pediu quase como se soubesse exatamente do que se tratava.
Tampei o hidratante e dobrei as pernas em cima do sofá antes de abrir a capa do tablet e digitar a senha para destravá-lo. Fui direto para o Twitter e o esperei carregar, bem certa de que não encontraria nada demais. Nesse meio termo, Louis saiu da cozinha e caminhou até onde estávamos, sentando ao meu lado; no braço do sofá. Harry gritou da cozinha que o chá estava quase pronto, mas que o leite havia acabado, então eu teria que tomar sem. Como ele já estava sendo um anjo em fazer aquele favor pra mim, não reclamei. Finalmente o Twitter carregou e dei uma olhada na minha timeline antes de ir para as mensagens. Nada além de alguns tweets das pessoas que eu seguia... Normal. Também passeei os olhos pelos Trending Topics locais e foi aí que eu quase engasguei com a minha própria saliva. A frase: “#QuebreAPernaStar” estava em quarto lugar.
- Porque estão desejando que você quebre a perna? – Lou perguntou horrorizado.
- Não estão... – Falei ainda um pouco confusa. – “Quebre a perna” é a mesma coisa que dizer “boa sorte” no teatro. Porque dizer “boa sorte” dá azar, então falamos ao contrário...
- Ah, então faz sentido... – Afirmou assim que eu cliquei no Trend.
- Não muito. Quero dizer... Eu já comentei sobre a peça de hoje no Twitter, mas nunca fiz propaganda e... – Me interrompi e olhei para Liam, que não conseguia disfarçar seu olhar culpado. – Algo a revelar, Payne?
- Eu? Algo a revelar? Pff, claro que não! O que eu teria a revelar? Porque eu saberia do que isso se trata? Não, não. – Nem mesmo uma mosca ficaria convencida daquilo. – Tudo bem! Nós achamos que seria uma boa fazer um pouco de propaganda e te dar esse incentivo...
- Nós quem, Liam? – Questionei, já tendo uma leve idéia de quem poderia ser.
- Eu e... Bem, a idéia foi do Zayn. Mas não entenda mal, . Nós demos a idéia, mas não conseguiríamos fazer isso se as pessoas não concordassem com a gente. – Liam explicou, mas eu me encontrava um pouco indecisa em como me sentir sobre aquilo.
- Você devia ler, ... – Lou pediu, apontando para a tela do iPad.
- Ler o que? – Haz se juntou a nós.
Curly entregou xícaras de chá para todos nós e recebi a minha caneca dos Ghostbusters. Dei um pequeno gole após assoprar o líquido enquanto todos olhavam pra mim na espera de alguma reação quanto aos comentários no TT. Rolei os olhos por saber que não teria escapatória e apoiei o iPad na minha coxa para que pudesse deslizar a tela e ainda segurar a minha caneca enquanto lia tudo. Mesmo que tivesse medo que alguém pensasse que eu estava usando a banda para promover a peça (como se precisasse disso, porque né) e fazer propagandas sobre a minha carreira, não conseguiria ficar com raiva de Liam ou até mesmo de Zayn. Ambos sabiam o quanto eu ficava nervosa momentos antes da apresentação e só queriam que eu tivesse um apoio extra. Após três goles no meu chá verde, respirei fundo para começar a ler os comentários, um pouco preocupada com o que poderia estar escrito ali.
“Além de ser linda, ainda dança? #QuebreAPernaStar”
“#QuebreAPernaStar está nos TTs? Conseguimos, Directioners!”
“#QuebreAPernaStar Ela merece!!!”
“Minha mãe acabou de chegar em casa com meu ingresso! Vou assistir @, @NiallOfficial e @zaynmalik hoje a noite. Meu sonho virou realidade! #QuebreAPernaStar”
“#QuebreAPernaStar ? Espero que ela quebre a perna mesmo. Essa garota só quer a fama dos meninos!”
“Se quiser falar mal dela vai ter que passar por mim primeiro, sua invejosa! #QuebreAPernaStar”
“Conheci a @ algumas semanas atrás e ela foi um amor! Merece tudo de bom hoje a noite! #QuebreAPernaStar”
“Vocês viram como o @zaynmalik falou da @? Achei muito fofo! Os dos combinam. I ship it! #QuebreAPernaStar”
“@ foi sempre tão legal com a gente! É a nossa vez de retribuir. #QuebreAPernaStar”
Li algumas mensagens que falavam mal de mim, me xingavam e etc, mas elas não eram nada comparadas à quantidade de pessoas me desejando “boa sorte”. Eu não fazia idéia de quantas pessoas gostavam de mim mesmo sem me conhecerem de verdade. Naquele momento eu comecei a me sentir mais do que apenas parte do “fandom” dos meninos. Eu estava sendo puxada para dentro da “bolha” que os envolvia, estava virando uma sub-sub-celebridade; se é que existe esse termo. Era aquela amiga da banda que todos – ou quase isso – gostavam. Diferentemente do que achava, comecei a me sentir muito bem. Mais confiante, mais ansiosa... Então algumas daquelas meninas estariam na platéia me assistindo? Isso seria incrível! Claro que elas iriam mais por causa de Zayn e Niall, mas eu estaria lá também. Tratei de responder, deixando a minha xícara de lado por uns instantes:
“Obrigada a todos que estão me mandando mensagens de apoio! Vocês não sabem o quanto isso significa pra mim. Não sei se mereço tudo isso, mas obrigada. xx”
- É claro que você merece isso, ! – Lou empurrou o meu ombro com o cotovelo.
- Sou o único que está ansioso por ela? – Harry riu e esfregou uma mão na outra, como se para se acalmar.
- Agora você sabe como eu me sinto antes de uma apresentação de vocês! – Sorri e fechei o iPad. Já era quase 15h30min e eu deveria chegar à Opera House às 16hrs. – Aliás, quem pode me dar uma carona?
- Eu te levo, . – Li se ofereceu.
- Obrigada, Leeyum. – Levantei do sofá e com esse meu movimento, também se colocou de pé. – Vou me arrumar...
- Então eu vou lavar os copos. – Harry pegou a xícara da minha mão e piscou. – Lou, me ajuda?
- Claro, Haz. – Meu irmão acompanhou-o para fora da sala.
- Eles não vão lavar os copos, né? – Cochichei para Li.
- Você realmente achou que iriam?
Mesmo que todo o elenco da peça devesse chegar pontualmente às quatro horas da tarde, fui a terceira e ainda assim as pessoas estavam demorando demais pra chegar. Os diretores Gavin e Agnes estavam supervisionando tudo, mas era o diretor –da peça- Colin que estava quase ficando maluco. Ele comandava os técnicos de iluminação na mesma hora em que controlava a entrada e retirada de cenários do palco, com cuidado para que nenhum deles fosse comprometido. Dentre os dez alunos que estavam por ali, eu não era íntima de nenhum. Margot puxava duas araras de uma vez e, apesar da sua muita idade, fazia isso com bastante facilidade. Ela deixou uma no meio do caminho e na medida em que se aproximava, consegui ler a placa daquele conjunto de fantasias: “Star T.”
- , você não tem nenhuma tatuagem, certo? – A figurinista secou o suor em sua testa, parecendo cansada
- Tenho uma pequena... – Admiti, vendo-a fazer uma careta de dor. – Mas não se preocupe, ela fica escondida pelo collant, então ninguém vai ver.
- Oh, essa foi a melhor noticia que você podia me dar! – Suspirou aliviada e um pouco mais feliz. – O menino que está interpretando o Páris é coberto por tatuagens! Então ele não vai poder usar nenhum figurino sem mangas.
- Acho que já vi ele por ai. – Acenei com a cabeça, sabendo que ela falava sobre Zayn. – Horrível, não é? Tantas tatuagens assim?
- Terrível! – Concordou comigo mesmo que eu estivesse mentindo. – Venha por aqui, por favor. Vou lhe mostrar o seu camarim.
- Vou ter um camarim só pra mim? – Sorri. Só as bailarinas mais importantes costumavam ter seus camarins próprios, então acho que eu podia me sentir especial.
- É claro que sim!
Olhe só pra isso! Começávamos a nos dar bem! Margot voltou a puxar a minha arara e foi cortando caminho entre as pessoas que trabalhavam pelo backstage. Deixei os meus colegas de academia para trás quando a segui. Teria ajudado-a com os figurinos, mas estava um tanto ocupada arrastando a minha própria mala de coisas que precisaria pra me preparar. Não demoramos nada pra chegar até um camarim com uma estrela na porta. Bem no centro dessa estrela, estava escrito o meu nome em letras douradas. Senti uma onda de felicidade invadindo o meu corpo. Eu sabia que os espetáculos da Academy eram uma grande coisa, mas aquilo já parecia ser demais. Margot me explicou que a estrela na porta acenderia junto com a luz interior do camarim. Ou seja, ela avisaria quando eu estivesse ali dentro para que ninguém fosse entrando sem bater e me pegasse no meio de uma troca de roupas.
Ela tirou um molho de chaves do bolso e destrancou a porta, passando antes de mim. Colocou a minha arara de roupas na parede vazia e começou a mexer em alguma coisa nelas enquanto eu observava o lugar. Não vou dizer que o camarim era grande, porque não era, mas seria mais que o bastante pra uma pessoa só. A sala era um quadrado perfeito. A parede do fundo era onde Margot arrumara os figurinos, ficando de frente para a porta. Se estivermos de costas para a porta, a parede da direita era onde ficava uma penteadeira de madeira branca, com um espelho embutido e aquelas luzes que ajudam na hora da maquiagem, e um espelho de corpo inteiro ao lado dessa penteadeira. Já do lado esquerdo, encontrei um sofá de dois lugares ao lado de uma portinha de correr que levava até um banheiro igualmente pequeno. Fora isso, uma cadeira confortável e uma mesa estreita estavam ali para a minha disposição.
- Bem, então é isso. Pode tirar o seu tempo para se acomodar... – Margot foi até a porta, parando para me dar alguns avisos. – Quando o resto do pessoal chegar, pedirei para que venham te chamar. Colin quer dar alguns avisos antes das seções de aquecimento.
- Obrigada, Margot. – Sorri em agradecimento e ela se foi, me deixando sozinha. – Oh, my God!
Ri sozinha com a minha animação, desistindo de segurar toda a emoção que eu estava sentindo por simplesmente estar ali. Parecia ser ontem quando eu estava entrando pela primeira vez na Academy, nervosa sem saber se seria boa o suficiente para o nível da escola. Todas as minhas inseguranças não haviam desaparecido como um passe de mágica, mas elas vinham diminuindo consideravelmente. É claro que eu ainda ficava nervosa ao pensar que em poucas horas estaria me apresentando na frente de mais de duas mil pessoas que não esperavam nada menos que a perfeição. Mas era isso o que eu queria, não? Esse era o meu sonho e eu estava prestes a começar a realizá-lo. Com um sorriso no rosto, investiguei cada cantinho daquele camarim que tinha o meu nome na porta. “Você está aqui, . Você conseguiu.” Repeti para mim mesma o que sabia que meu avô estaria falando se ele me visse ali.
Me concentrando no que tinha que fazer, peguei a minha mala e a coloquei em cima do sofá, abrindo o zíper para começar a arrumar as coisas que eu trouxera ali dentro. A primeira coisa que peguei foi a caixinha onde guardava as minhas quatro sapatilhas – duas de ponta e duas sem ponta; não que eu fosse usar as quatro, mas no caso de algo acontecer com uma, eu teria uma reserva. Deixei essa caixa na mesa estreita e também coloquei ali o collant rosa claro e a meia calça de mesma cor que usaria durante o espetáculo inteiro, apenas trocando os figurinos que iriam por cima. Minha caixa de maquiagens foi arrumada perfeitamente sobre a penteadeira. Nós bailarinas temos essa frescura; ninguém faz a nossa maquiagem além de nós mesmas. Pó, base, batom, sombras... Tudo foi espalhado em uma bagunça organizada. A minha nécessaire de produtos higiênicos foi para o banheiro e depois disso só a roupa que eu deveria usar no aquecimento permanecia dentro da mochila. Peguei a minha bolsa e procurei dentro dela o meu celular, já discando o número 2 na lista de discagem rápida.
- Quem é que está me ligando a essa hora? – atendeu, super sonolenta.
- , me diga que você não estava dormindo... – Empurrei a minha mala para o lado e sentei no sofá, colocando as pernas pra cima da cadeira na minha frente.
- Ah, é você, ... – Bocejou antes de continuar. – Bem, é isso o que as pessoas fazem durante a manhã. Nós dormimos.
- Tirando a parte que não é mais manhã, você está certa. – Gargalhei. – , são quatro e meia da tarde. Você está atrasada.
- Não pode ser quatro horas da tarde... AI MEU DEUS, ESTOU ATRASADA! Niall, sai de cima de mim! – Naquele instante ela já não falava mais comigo. – Que porra, Zayn, o que você está fazendo aí no chão? Acorda, temos que ir!
- Vejo que tiveram uma festa do pijama. – Ri mais ainda imaginando a cena de atropelando o menino que estava no chão. – Só espero que não estejam de ressaca...
- Nós não bebemos, idiota. – voltou a falar comigo e escutei a voz de dois garotos desesperados no fundo da ligação. – Niall, não dá tempo de almoçar!
- Vou deixar vocês se arrumarem pra vir... – Ri, tirando os tênis dos pés. – Mas não demore, ok? Você precisa ver o meu camarim!
- Seu camarim? – Repetiu animada. – Você viu o meu?
- Não vi... Mas não vi quase nada...
- É bom que eu tenha um camarim também! – Reclamou. – Vamos correr aqui, tá bem? Até daqui a pouco, bobona.
- Até, chata.
Ri sozinha e deixei meu celular em cima da penteadeira. Imagina se eu não tivesse ligado pra ela? Os três perderiam completamente a hora e isso não seria legal. Tentei não imaginar as coisas que e Niall andaram fazendo durante a noite, mas para Zayn ter dormido no chão do mesmo quarto, não devia ter sido nada demais. A não ser que ele tenha entrado no meio, mas essa era uma cena que eu preferi não visualizar. Levantei do sofá e procurei as roupas que vestiria para o aquecimento, já cansada de ficar sozinha naquele camarim. Talvez eu conseguisse encontrar Nick ou Holly pra me fazerem companhia. Despi a calça jeans e camiseta que vestia por baixo do casaco e coloquei a meia calça, collant e outros acessórios que serviam como a minha segunda pele. Amarrei os cabelos em um rabo de cavalo e calcei minha sapatilha sem ponta.
- O que você quer que eu lhe diga, senhorita Jones? – Ouvi a diretora Agnes falando para Brigitte assim que abri a porta. – Não tenho nada a ver com a divisão de camarins.
- Isso não é justo! – A oxigenada saiu batendo os pés. Pelo visto ela não tinha um camarim particular.
- Atrapalhei alguma coisa? – Perguntei para a diretora assim que ela me olhou.
- Não. – Respondeu secamente. Eu me preparava para deixá-la pra trás quando voltou a falar: - Ah, ? Poderia me procurar depois da peça? Tenho um assunto pra conversar com você.
- Tudo bem. – Assenti. Quis perguntar do que se tratava, mas duvidei que fosse ser respondida.
Para não me sentir frustradamente curiosa, torci para conseguir esquecer aquele assunto e me concentrar no que era mais urgente. Meus amigos obviamente não haviam chegado, mas ainda tive esperança de encontrar alguma face conhecida. Comecei a andar, lendo os nomes nos camarins e vendo as estrelas apagadas. Não éramos apenas dez pessoas, já que agora eu podia ver Jess caminhando com as suas amigas e Sean estava na outra ponta do backstage, entretido com alguma coisa qualquer. Foi ao ver uma figura alta e magra que fiquei aliviada por ter encontrado o meu Romeu. Ele estava de costas pra mim, conversando com a menina que dançara junto com ele na primeira vez que eu o vira dançar na aula da Academy. Fui devagar até onde ele estava e peguei impulso no chão antes de pegá-lo desprevenido ao pular em suas costas.
- BU. – Falei assim que me encontrei pendurada nas costas dele.
- Holy shit! ! – Brigou comigo por quase ter se desequilibrado, mas segurou os meus joelhos assim que passei as pernas em volta de sua cintura. – Como eu estava te falando, Sophie, a minha parceira é bem madura para a idade dela.
- Ele estava dizendo isso mesmo? – Perguntei enquanto a observava por cima do ombro do meu parceiro.
- Na verdade, estava sim... – Riu. Provavelmente Sophie nunca mais acreditaria em nada que ele falasse. – Vou deixar vocês a sós.
- Não precisa! – Tentei chamá-la de volta, mas já era tarde. Em seguida olhei para Nick. – Acho que ela não foi com a minha cara.
- Você só é um pouco mais... Viva, do que ela esperava. – Riu e também me olhou, ainda me sustentando em suas costas. – O que você quer, ?
- Como assim “o que eu quero?”? Uma pessoa não pode pular nas costas do amigo sem querer alguma coisa em troca? – Me fiz de ofendida, mas Nick me conhecia melhor que isso. – Eu só quero companhia pra me alongar...
- Eu sabia. – Gargalhou e deu uma volta em direção as coxias do palco. – Mas está na hora mesmo... Colin pediu pra corrermos em volta do palco.
- Então vamos!
Eu estava decidida a não sair das costas de Nick e ele parecia ter aceitado o desafio. Enquanto eu o abraçava pelos ombros pra não cair, o menino caminhou até o palco e já pudemos ver os alunos que faziam por ali o que o diretor pedira. Ainda nem sinal de , Niall ou Zayn. Não que eu ficasse procurando-os o tempo inteiro... Claro que não. Nck deu um jeito de entrar na roda e começou a correr em círculos. Ainda com um peso a mais, ele conseguia ser mais rápido que alguns dos meninos que estavam por ali. Colin apareceu e ficou no centro do palco, pronto para controlar os aquecimentos. Ele parecia estar bem mais calmo do que quando o vira pela primeira vez naquele dia, então tudo devia estar como deveria.
- , eu disse pra correr pelo palco, mas usando os seus próprios pés! – O diretor gritou pra mim, mas não estava brigando.
- Mas Romeu e Julieta são um só... – Tentei, mas já me preparava pra descer.
- Boa tentativa. – Riu e bateu palmas para chamar a atenção de todos. – Formem duplas, por favor.
- Quem será a minha dupla? – Perguntei retoricamente, me virado para Nick com olhar pidão.
- Você está muito grudenta hoje, , qual o seu problema? – Riu, mas me abraçou de lado, aceitando o meu convite.
- É só porque meus amigos não estão aqui, então tenho que me contentar com você. – Brinquei, levando um cascudo. – Hey!
- Eu já falei que vou sentir sua falta? – Nick riu, me deixando confusa.
- Não precisa! – Sorri como quem diz: “Ficarei no seu pé a vida toda.”
- Como não temos barras aqui, vamos revezar. – Colin continuou. – Enquanto um se alonga, o outro é a barra. Depois trocaremos.
Todo o elenco se espalhou pelo palco, formando as tais duplas. Talvez estivesse com sorte por continuar atrasada, já que assim escaparia da parte que ela tanto odiava em nossas aulas de ballet. Nick se ofereceu para ser a minha barra primeiro, então se firmou no chão e esticou os braços para que eu pudesse começar. Segurei nos bíceps flexionados propositalmente por ele e comecei a minha série de pliés e releves. Eu estava tão concentrada na contagem em minha cabeça que só fui escutar as risadas de Nick depois de um tempo.
- Você fica linda quando está centrada assim. – Riu mais uma vez. Vindo de outra pessoa, aquele elogio poderia ser considerado uma cantada, mas vindo de Nick eu sabia que era apenas um elogio.
- Besta. – Balancei a cabeça e fiquei de lado para ele, trocando as posições dos pés e flexionando os joelhos.
- Tonta. – Poderíamos ficar horas trocando aqueles insultos.
- O que você quis dizer com “vou sentir a sua falta”? – Perguntei, mudando para um assunto mais urgente. – Mesmo quando você sair da Academy ainda vamos poder nos ver...
- Claro que sim. – Sorriu, mas um sorriso melancólico. – Você tem um casaco de pele ou sabe falar Russo?
- Não e sim. Sou trilingue, não sabia? – Brinquei. – Falo francês, inglês e arraso no russo! Mas por que?
- Consegue guardar um segredo? – Ao fazer aquela pergunta, troquei de posição para que pudéssemos ficar frente a frente. – É claro que consegue, olha pra quem eu tô perguntando.
- Pode falar, Nick. – Afirmei.
- Eu fui convidado pra entrar na equipe de ballet do Bolshoi... – Falou devagar, como se não quisesse me dar a noticia de uma vez. – Então estou indo embora. Me mudo para a Rússia antes do fim do mês...
- Nick... – Fiquei sem palavras. Meu coração apertou por estar perdendo um amigo, mas ao mesmo estava muito feliz por ele. – Mas e quanto a você e Holly?
- ... – Sussurrou meu apelido e entendi o que ele queria dizer.
- Ela vai junto, não é? – Naquela altura eu já parara com todo e qualquer aquecimento.
- Meio que sim. – Sorriu fraco. Eu estava perdendo mais que um amigo e uma professora. – Nunca se perguntou como eu consegui os nossos ingressos para a apresentação do Bolshoi aqui?
- Achei que a sua mãe... – Parei a frase antes mesmo de terminá-la, triste. Não me importei em ser observada e puxei Nicholas para um abraço apertado. – Eu vou sentir tanta falta de vocês...
- Quem sabe você não vai pra lá depois que se formar também? – Sugeriu ao me abraçar de volta.
- Eu não posso deixar o... – Falei sem pensar e mais uma vez me interrompi. Não precisei terminar a minha frase pra Nick saber de quem eu falava.
- Você está certa.
Faltava uma hora para o começo da peça e eu começava a ficar louca. Já tinha ensaiado alguns solos e falas em frente ao meu espelho, e seus dois mosqueteiros chegaram sãos e salvos, as cortinas do palco haviam sido fechadas e o cenário da primeira cena do primeiro ato estava montado. Éramos obrigados a ficar em silêncio perto das coxias, o que indicava que as pessoas estavam começando a entrar. Lou e Liam me enviaram mensagens de “quebre a perna”, falando que já estavam na porta, esperando para seguirem aos seus lugares. Após os nossos afazeres, cada ator, dançarino, cantor e derivado foi para o seu camarim; fosse particular ou coletivo. Tomei um banho relaxante e lavei o cabelo, secando-o completamente em seguida, sendo obrigada a fazer quase uma escova. Segundo Margot, meu cabelo deveria estar liso. Ao menos as minhas pontas loiras não foram um problema tão grande quanto as tatuagens.
Eu estava vestindo a minha “roupa de baixo”, que se referia ao meu collant e meia calça. Nos pés, pantufas discretas. Não era um conjunto muito bonito, mas era confortável. Em volta do corpo, também usei um roupão preto que ganhara de Colin como um presente pelo tempo que trabalhamos juntos. Sentada na frente do espelho da penteadeira, limpava o meu rosto com produtos para a pele até que uma batida na porta me interrompeu. Levantei com cuidado e olhei a primeira roupa que eu deveria colocar, estendida cuidadosamente sobre o sofá. “Estamos com tudo sobre controle. Não se desespere.” Respirei fundo para me auto tranqüilizar e abri a porta para receber quem quer que fosse.
- Entrega pra você, . – Uma garota do terceiro período me entregou um buquê de rosas vermelhas.
- Sabe de quem são? – As recebi com um sorriso.
- Só me pediram pra entregar... Mas tem um cartão.
- Ah, claro! – Ri sozinha. – Bem, obrigada.
- Imagine. – Se despediu com um aceno de cabeça.
Fechei a porta atrás de mim e sentei no braço do sofá para apoiar as rosas no meu colo e poder pegar o envelope preto. O abri com cuidado e quase chorei ao ver o que estava escrito: “Como nos velhos tempos. Ass: Papai.” Era uma frase curta e simples, mas o significado pra mim era enorme. Meu pai não costumava estar sempre presente nas minhas apresentações de ballet por causa do seu trabalho, porém, o meu avô estava. E em cada peça, concerto, apresentação ou o que quer que fosse, papá me dava um buquê de flores vermelhas. Eu sempre ficava louca, mostrando para as minhas colegas de turma e me sentindo uma bailarina profissional. Quando papá se foi, eu já não esperava mais receber flores assim, mas pelo visto estava errada. Meu pai as enviara porque sabia que me fariam falta. Ele também já deveria estar na platéia.
Agora que tinha as minhas flores, podia mostrar para as minhas colegas de classe! Mas por que não mostrar ao mundo? Com esse pensamento em mente, deixei as flores sobre a madeira do chão por ser o melhor lugar para pegar uma boa posição. Sou muito boba, eu sei, mas queria tirar uma foto e postar no Twitter. Talvez as meninas que me desejavam coisas boas ficariam felizes... Ou simplesmente por eu ser uma menina e gostar dessas coisas de tirar foto e mostrar pra todo mundo que quiser ver. Porque teriam criado o Twitter ou Instagram se não fosse para esse tipo de garotas? Terminei a minha discussão interna pra decidir se eu ia mesmo fazer aquilo e acabei seguindo com o plano. Bati a foto e já mandei direto para o Twitter, com a seguinte legenda:
Enviei com um sorriso bobo, mal podendo esperar vê-lo e agradecer pessoalmente por aquele presente tão lindo. Tirei as flores do chão e as cheirei, sentindo aquele aroma impossível de não reconhecer. Deixei-as delicadamente arrumadas em cima do sofá e voltei a me sentar na cadeira da penteadeira, abrindo as minhas mentions só por curiosidade. Algumas meninas davam chilique, falando que as flores eram lindas e também queriam ter um pai como o meu. Outras queriam ter o meu próprio pai como sogro, mas isso não vem ao caso agora. Principalmente porque meu irmão já tinha um pretendente... Mas enfim. Um comentário em especial chamou a minha atenção:
A Opera House estava começando a encher! E pensar que tantas pessoas assim estariam deixando seus afazeres só pra vir assistir a um espetáculo de dança e teatro... Isso era simplesmente incrível. Deixei o celular novamente em cima da madeira e me olhei no espelho, percebendo então o tamanho do sorriso em meu rosto. Me preparei para voltar aos meus afazeres de beleza quando uma nova batida na porta me interrompeu. Quem poderia ser agora? Mais flores? ? Só saberia se abrisse aporta. Levantei com quase um pulo e fui até lá, sem nem perguntar quem era. Girei a maçaneta redonda e não pude acreditar quando vi as duas mulheres diante de mim. Levei as mãos à boca pra evitar um grito e meus olhos se encheram de lágrima.
- Nana! – Abracei a minha avó primeiro, me afundando em seu perfume tão nostálgico.
- , você está tão linda! – Jolene parecia tão emocionada quanto eu, acariciando os meus cabelos.
- Mum! – Passei para a minha mãe e a abracei da mesma forma. – Que saudade de vocês duas.
- Também sentimos muito a sua falta, querida. – Minha mãe segurou o meu rosto com as duas mãos e olhou dentro dos meus olhos, como se quisesse ver que eu estava de verdade na frente dela.
- Porque não me falaram que estavam vindo?! – Perguntei, olhando as duas ainda sem acreditar.
- Nós não sabíamos até algumas horas atrás, pra falar a verdade... – Vovó começou a explicar.
- Mas Zayn fez questão de pagar as nossas passagens de última hora e aqui estamos! – Jay abriu os braços em uma espécie de “ta dah”.
- Zayn? Zayn pagou pra vocês? – Repeti. – Porque não me falaram? Meu pai não se importaria...
- Até parece que nós o incomodaríamos com isso, filha! – Me interrompeu. – Aliás, encontrei ele e Rachel. Os dois já estão lá fora esperando o show começar...
- Você encontrou com meu pai e a Rach? – Mais uma vez repeti. Eu estava virando um papagaio. – E... Não brigaram?
- É claro que não, princesa. Hoje é a sua noite. – Sorriu e tocou o meu rosto.
- É a minha noite e vocês duas estão maravilhosas! – Olhei para os vestidos que as duas usavam. Elas estavam extremamente lindas.
- Não poderíamos perder por nada, . – Nana segurou a minha mão. – Seu avô daria tudo pra estar aqui conosco.
- Ele está, nana. – Sorri e acariciei a mão dela com o polegar.
- Mãe, temos que voltar para o salão... – Minha mãe se virou para a mãe dela. – Zayn conseguiu nos contrabandear pra cá, mas não podemos ficar muito.
- Eu vejo vocês depois, certo? – Me precipitei para abraçá-las mais uma vez.
- Assim que o espetáculo acabar! – Jay afirmou. – E, ... Merde!
- Obrigada! – Ri pela minha mãe ter xingado tão deliberadamente. – Boa peça pra vocês.
- Estaremos de olho em você. – Nana beijou a minha bochecha.
As duas se viraram pra ir embora e fiquei observando-as enquanto se afastavam. Eu não sabia se elas sabiam sobre o termino entre Zayn e eu, mas uma coisa tinha que admitir... O que ele fez por mim ao trazer aquelas mulheres para assistir a minha apresentação não tinha preço. Eu podia pensar qualquer coisa dele, mas seria eternamente grata. Olhei em volta, notando que a maioria do elenco já se encontrava ali fora, totalmente caracterizados. “Ih, estou atrasada!” Pensei e logo me tranquei no camarim novamente. Dessa vez eu teria que me apressar. Corri para a penteadeira e retoquei a base e o pó da minha maquiagem, igualando a pele. Podia não ser fã de maquiagem pesada, mas em apresentações como essa eu devia estar perfeita. Marquei os olhos com um lápis preto, usei uma sombra cor de pele/dourado claro com um pouco de brilho e apliquei cílios falsos. Os olhos estavam prontos: Check! Passei um blush rosa em contraste com a minha pele alva e terminei o look com um batom vermelho bem claro; semelhante à cor natural dos meus lábios.
- Dez minutos para a concentração! – Alguém bateu na minha porta e gritou, me apressando.
Não tinha mais tempo a perder e me desfiz do meu roupão preto, jogando-o no braço da cadeira. Meu primeiro vestido era quase simples se comparado aos outros. Não tinha mangas, era justo ao corpo na parte do busto – onde rendas delicadas foram bordadas – e caia solto até um pouco abaixo do meu joelho. Não era muito volumoso, mas girava graciosamente quando eu me mexia para os lados ou rodopiava. Sua cor era um amarelo bem claro. Já dentro dele, sentei no sofá para calçar as duas sapatilhas e amarrar a fita de seda em volta do meu tornozelo. Estava faltando alguma coisa... “MEU CABELO!” Exclamei internamente e acabei voltando para a penteadeira e pegando a escova. Meus fios estranhamente lisos deslizavam pelos dentes do objeto em minha mão e não foi difícil colocá-los de lado e fazer uma trança. Não podia deixar nenhum fio solto, por isso tive que repetir o processo mais duas vezes até que eu estivesse satisfeita com o resultado.
- ? – bateu na porta e já foi abrindo, mesmo que devagar. – Está pelada?
- Já me vesti, pode entrar. – Ri, olhando-a pelo reflexo do espelho. – Você está... Uau.
- Estou enorme, eu sei! – Fez uma careta ao bater na anágua ampla de seu vestido volumoso. Sem falar que seus cabelos estavam escondidos por um pano que parecia aqueles que as freiras usam nos conventos. – Você, por outro lado! Está linda.
- Isso foi um elogio ou uma reclamação? – Levantei da cadeira e fui até a arara, já querendo deixar separada a minha próxima toca de roupas.
- Um pouco dos dois. – Deu de ombros. – Depois você faz isso, ... Colin está nos chamando pra dizer umas últimas palavras.
- Estou indo, estou indo! – Deixei as coisas como estavam e a ajudei a sair do camarim. Sim, ajudei, porque o vestido dela era tão grande que a fez entalar na porta.
- Você está amando isso, não é? – Resmungou em meio às minhas risadas.
- Um pouco. – Pisquei e fechei a porta do camarim depois que nós duas estávamos no lado de fora.
segurou a minha mão e atravessamos um caminho tortuoso entre peças de cenários que estavam ali no backstage até chegarmos na grande roda que Colin organizara. Ele estava no meio e eu e a minha amiga ruiva tivemos que nos enfiar entre as pessoas para conseguirmos chegar até a frente. Ela afirmou que era pequena e precisava enxergar, mas só o que recebeu foram reclamações por quase atropelar e machucar um ou outro com o seu vestido enorme. Nick ficou ao meu lado direito, enquanto e Niall ocuparam o esquerdo. Zayn estava bem na minha frente, o que dificultava a minha vontade de não olhar pra ele. O menino estava vestido com uma calça colada verde escura, a mesma cor da sua blusa de mangas compridas. Margot fez de tudo para esconder as tatuagens dele e fez um bom trabalho. Nick estava usando a cor quase oposta; um azul bem claro, mesmo que as suas roupas fossem quase iguais. Na verdade, as roupas masculinas eram quase todas iguais. Só o que mudava era um detalhe aqui ou ali. Brigitte usava um roxo berrante e seu vestido parecia o de uma dama vitoriana. Veja a ironia... Ela era a mãe de Nick. Ou a mãe de Romeu, no caso.
- Meus queridos pupilos... Eu os chamei aqui porque acho que esse momento pede umas palavras de encorajamento! Primeiramente eu gostaria de agradecer a vocês por terem tido paciência para agüentar meus ataques, reclamações, gritos... Mas quero que saibam que se exigi muito de vocês é porque sabia que poderiam ser melhores. – Colin começou a falar e todos nós ficamos calados, prestando atenção. – Vocês foram incríveis. Todos vocês, sem exceção alguma. E aqui estamos nós... Meses depois. Nos minutos finais antes daquilo que vínhamos trabalhando e nos dedicando todos os dias. O que tenho a dizer agora é: Aproveitem! É o momento de vocês. Subam nesse palco e deixem as lágrimas, o sangue, o suor o que mais for possível. Estou muito orgulhoso do espetáculo que montamos, então espero que todas essas duas mil e trezentas pessoas que estão aí fora também possam apreciar a nossa grandiosidade. Então, uma salva de palmas pra você!
- É isso aí! – Alguém gritou e tomos começamos a aplaudir. Eu já estava pra lá de arrepiada.
- Agora, algumas dicas! – Colin voltou a falar. – Fiquem tranqüilos, ok? Se alguém errar as falas ou as marcações... Sigam com a peça. Improvisem, se for o caso. Imprevistos acontecem, então estejam preparados para qualquer coisa. Acima de tudo, ajudem uns aos outros. Lembrem-se que somos uma equipe. Bem, agora... Ah, sim. ...
- Hm? – Olhei espantada para o diretor. Já fiz algo errado?
- Eu gostaria de lhe pedir desculpas... – O homem caminhou até parar na minha frente e eu já não entendi mais nada. – Quando te conheci pela primeira vez, não dei muita coisa por você. Duvidei que pudesse acompanhar o meu ritmo louco. E agora... Eu vejo que nunca estive mais errado sobre alguém. Você é uma menina dedicada, esforçada e... Por Dionizio o deus do teatro, como você dança! Teve algumas dificuldades com suas falas no começo, mas não desistiu até decorá-las e é isso o que um bom artista faz. Ele não nasce sabendo, ele sofre muito pra chegar lá. E você, minha Julieta, está lá.
- Obrigada... – Minha voz quase não saiu, tamanha a minha emoção. Eu nunca esperaria ouvir algo assim vindo dele.
- Não. Eu é que agradeço. – Pegou a minha mão direita e a beijou. Em seguida, andou até estar de frente para o menino ao meu lado. – Nicholas...
- Eu também te amo, Colin. – Nick brincou.
- Vou sentir falta das suas brincadeiras. – O diretor gargalhou. Aquela frase me deu um aperto no coração, então acabei entrelaçando os dedos nos de Nick, tentando impedir que ele fosse embora do meu alcance. – Eu também quero te agradecer. Você é um dos dançarinos mais talentosos que já conheci, porque eu podia lançar qualquer coisa na sua direção e você agarrava com unhas e dentes, me mostrando o quanto era bom. Eu entendo que essa é a sua última apresentação com o nome da Academy, por isso só tenho a dizer que espero que você aproveite. Deixe a sua marca; a marca de um começo, pois sei que você vai ter um futuro brilhante.
- Obrigado, Colin! – Nick sorriu e apertou a mão do diretor com a que não estava segurando a minha.
- Seu futuro vai ser brilhante mesmo. – Repeti baixinho para o meu amigo. – Ele sabe disso, eu sei disso e em breve o mundo inteiro vai saber. Foi uma honra dançar ao seu lado, Nicholas Hoult.
- Posso dizer o mesmo, Tomlinson. – Sorriu e beijou a minha mão. Logo os outros começaram a se dispersar a nossa volta e até mesmo chegou a se afastar para nos deixar a sós. – Você foi mais que uma parceira de dança, foi uma amiga, uma confidente. Sabe que eu confio em você de olhos fechados. Quem diria que uma garota que conheci em uma festa se tornaria a única coisa de que realmente vou me sentir mal por estar deixando aqui?
- Eu te amo, Nicky! – Sorri mesmo querendo chorar e o abracei pelo pescoço.
- Eu amo você, pequena. – Envolveu a minha cintura e me levantou do chão. – Vamos parar antes que eu comece a chorar, ok?
- É melhor mesmo... – Ri baixo, me virando para a mulher que se aproximava assim que fui colocada novamente no chão. – Você! O que farei na Academy sem você?
- Vai continuar deixando todos de boca aberta. – Holly sorriu e abriu os braços.
- Cuide bem do meu parceiro, tá bem? – Pedi a ela assim que a abracei. – Porque tenho certeza que ele vai cuidar de você.
- Vou mesmo! – Nick concordou. – Acho melhor ir falar com o diretor... Vou entrar antes de você.
- Pode ir. – Acenei com a cabeça. – Quebre a perna!
- Você também! – A professora foi quem me desejou e acompanhou o namorado secreto.
- ? – Uma voz aconchegante encheu os meus ouvidos.
- Oi, Zayn. – Me virei pra ele com um sorriso. – Eu queria mesmo falar com você.
- Mesmo? – Sorriu ainda mais.
- É claro! O que você fez, trazendo a minha mãe e a minha nana... – Me perdi em palavras, sem conseguir agradecer o suficiente. – Muito obrigada.
Um menino, jovem demais talvez, estava na frente do palco, fazendo o papel de narrador. Eu estava bem escondida em umas das coxias, observando tudo. O lugar estava realmente cheio. Tentei procurar rostos familiares na platéia, mas foi inútil. Tentei procurar Nick antes de ir parar ali onde estava, mas também foi inútil. Niall, e Zayn também sumiram, então me encontrei sozinha. Todos deviam estar ocupados com os seus próprios problemas, já que todos entravam em cena antes de mim. Bem devagar, as luzes se apagaram quase completamente e as cortinas foram finalmente abertas. A platéia bateu palmas fervorosas com o começo da peça, onde podiam ver o primeiro cenário: A praça pública de Verona. Não eram apenas objetos de cena que enfeitavam o palco, mas também uma espécie de cortina no plano de fundo que ia do chão do palco até o teto. Com a ilusão de ótica e a pintura perfeita, aquela cortina dava a impressão de que o palco era mais extenso que o real e logo fomos absorvidos pela magia do teatro e transportados para Viena. Dois homens foram os primeiros a pisar no palco. Gregório e Sansão. Eu me lembrava de ter encenado parte daquele diálogo com Nick, quando ele foi na minha casa pela primeira vez.
- , saia daí! – Colin me chamou em um sussurro. – Essa parte é agitada, você pode atrapalhar.
- Desculpe! – Pedi e saí de fininho. Ele tinha razão. Aquela cena mostraria a primeira guerra entre Montecchios e Capuletos. – Eu só queria ver.
- Eu sei disso... – O diretor tocou o meu ombro para me levar para longe dali. – Ainda faltam uns quinze minutos pra você entrar e, se não me engano, Holly estava atrás de você.
- Vou procurá-la... Obrigada.
Ainda sem estar muito satisfeita com isso, saí de perto das coxias e não pude mais ver o palco. Romeu entraria logo logo, então eu perderia a entrada de Nick. Também perderia a entrada de Zayn, mas não que eu me importasse muito. Holly estava no ponto mais afastado possível e me chamou com a mão assim que me viu. Parecia muito importante, então corri o resto do caminho até onde ela estava.
- Ainda bem que eu te encontrei, ! – A professora sorriu aliviada. – Venha colocar o seu microfone!
Vinte minutos haviam se passado desde que Colin me expulsara das coxias, por isso eu havia voltado para lá. Dessa vez apenas esperando a minha hora de entrar. O cenário mudara mais vezes do que eu pude ver e agora mostrava uma espécie de corredor. Meu coração estava acelerado e quase parou quando as luzes foram apagadas, pois quando voltassem a acender seria a minha deixa para entrar em cena. Os segundos de intervalo se tornaram horas na minha cabeça e a luz fraca começou a iluminar o palco até que tudo se acendesse de uma vez. Colin me avisou para ir e assim o fiz, respirando fundo e abrindo o meu melhor sorriso. Minhas mãos estavam suadas, então as passei no meu vestido antes de começar a correr.
Todo o meu nervosismo foi embora assim que pisei no palco e pude ser vista pelas milhares de pessoas. Pude ouvir algumas arfadas mais pesadas vindo da platéia, mas ninguém chegou a gritar. Após correr até a metade do palco, parei e olhei para os lados rindo. Um soltado qualquer também entrou no palco, vindo atrás de mim, o que me fez gargalhar mais uma fez e correr até a coxia do outro lado. Não demorei muito por ali, pois logo fui obrigada a correr mais uma vez, dessa vez podendo me demorar um pouco em saltos divertidos e giros.
- Onde está Julieta? Ama, vai chamá-la! – A voz da senhora Capuleto soou aos meus ouvidos, mesmo que não pudesse vê-la. Em cima do palco, parei o que estava fazendo e coloquei as mãos sobre os lábios; estava encrencada.
- Por minha virgindade quando eu tinha doze anos: Já a chamei! – entrou no palco e eu me escondi atrás de uma pilastra do cenário, sem ter muita certeza do que fazer. Não podia ficar ali escondida, pois minha mãe me chamava. Mas também não podia ser descoberta correndo pela casa, pois isso não coisa que uma dama faça. logo continuou em seu papel como a Ama: - Minha ovelhinha? Vem cá, meu coração! Deus me perdoe, mas onde está a menina? Oh, Julieta!
- Que é que houve? – Saí de trás da pilastra como se estivesse comportada o tempo inteiro. Era incrível como a minha voz era elevada pelo microfone preso em meu vestido. – Quem me chama?
- Vossa mãe! Venha! – me chamou com mão para que eu a seguisse e logo corremos em direção à coxia novamente.
Uma troca rápida de cenário se fez presente e o corredor se transformou no quarto do senhor e da senhora Capuleto. A “minha mãe” estava sentada na cama perfeitamente arrumada e se levantou assim que entrei ali, voltando para o palco com a Ama ao meu encalço.
- Senhora, aqui estou eu. Que desejais? – Corri na ponta até onde a mais velha estava, segurando as laterais do meu vestido leve.
- Eis o assunto... Ama, deixa-nos sozinhas por algum tempo. Tenho de falar-lhe muito em particular. – A Sra. Capuleto fez um movimento para que a Ama saísse de lá, mas logo mudou de idéia, chamando-a de volta. – Não, Ama: Volta! Lembrei-me agora que é preciso que ouças nossa conversa, pois há muito tempo conheces minha filha.
- É certo, posso dizer que idade tem, hora por hora. – correu de um jeito desengonçado e parou ao meu lado, segurando as minhas mãos. Com o dedo indicador, tocou a ponta do meu nariz, me causando uma risada infantil.
- Tem quatorze anos incompletos. – Capuleto falou.
- Jogo quatorze de meus dentes... – me interrompeu antes que eu pudesse falar qualquer coisa. – ...em como ainda não fez ainda quatorze anos! Para um de agosto falta quanto ainda?
- Uma quinzena e pouco. – A outra mulher respondeu, também me interrompendo. Só o que restou fazer foi sentar na cama e encarar a barra de meu vestido.
- Foste a criança mais linda que criei. Se algum dia eu puder ver-te casada, é tudo o que desejo. – se aproximou de mim enquanto a outra mulher começava a andar pelo palco/quarto. Sorri olhando para a minha ama; um sorriso inocente.
- Pois foi para falar em casamento que te chamei. – Aquela frase me assustou, fazendo-me saltar da cama e ficar de pé, olhando para a minha mãe. – Filha Julieta, dize-me: Em que disposição estás para isso?
- É uma honra com a qual jamais sonhei. – Respondi com certa melancolia.
Mais algumas cenas se passaram e eu continuava sem conseguir assistir um pedaço que fosse da peça. Estava me sentindo confortável o bastante para entrar e sair de cena a qualquer momento que fosse. Ainda não tivera o meu momento de solo, mas vinha me saindo bem em minhas atuações e com as falas. era quem mais entrava em cena comigo, o que me tranqüilizava bastante. Minha segunda troca de roupa foi um pouco mais elaborada: Um vestido vermelho na mesma altura do primeiro, com a diferença de que ele tinha mangas transparentes que iam até o pulso. O busto era bem marcado e o tecido parecia veludo. Algumas pedrinhas brilhantes coram costuradas pela parte da saia; dando um toque charmoso e quase sensual. Aquele era um de meus preferidos. Meu penteado também mudou, pois a trança foi desfeita e deixei os fios soltos, com apenas um enfeite que parecia uma coroa, mas não era tão grande assim e estava bem presa para que não caísse durante a minha dança.
Um pequeno intervalo de no máximo três minutos foi feito para que o cenário pudesse ser trocado. No lugar de uma rua, o palco foi transformado no salão de baile dos Capuleto, onde uma festa tomaria seu lugar. Eu podia ver Nick do outro lado da coxia, com sua mascara de leão cobrindo mais da metade do seu rosto. Acenei, mas ele não respondeu. Devia estar ansioso. De qualquer forma, Colin deu sinal para que eu e pudéssemos entrar em cena. Passei o braço pelo dela e sorrimos uma para a outra antes de entrarmos em nossos personagens.
O baile já tivera inicio e metade das pessoas que estava por ali usava marcaras de animais e vestidos de festa. Grupos de dançarinos faziam suas apresentações com a música que a orquestra tocava, enquanto figurantes apenas passeavam por aqui ou por ali. Pelo canto de olho vi que Romeu chegou à festa com os seus amigos, mas eu não podia olhar pra ele. Não ainda. Na medida em que e eu caminhávamos, os convidados começavam a me notar, fazendo comentários uns com os outros, de como eu estava linda e esse tipo de coisas. De repente, meu pai, ou o Senhor Capuleto – também conhecido como Sean – tomou o centro do palco e todos pararam os seus afazeres para ver o que ele ia falar. A orquestra também diminuiu o volume da música.
- Cavalheiros, bem-vindos. As senhoras que não sofrerem no dedão de calos hão de dançar convosco. Olá, senhoras! Qual de vós há de agora recusar-se a dar uma voltinha? A que mimosa se mostrar por demais, faço uma aposta em como terá calos. Como! Agora ficamos juntos? Sede aqui, bem-vindos, meus senhores! Já vi também os dias em que punha uma máscara e sabia cochichar uma ou duas palavrinhas nuns ouvidos bonitos. E agradavam! Mas já lá vai o tempo... Tudo passa. Sois bem-vindos, senhores. Vinde, músicos! Tocai logo! Licença! Abri caminho... Com licença! Meninas, ligeireza! – Sean fez o seu discurso de boas vindas, andando de um lado para o outro do palco, onde as mulheres se reuniram no lado esquerdo e os homens no direito. Eu e ainda permanecemos no meio, ao fundo do palco, juntamente com a senhora Capuleto que logo nos fez companhia. O dono da casa tentava atrair pessoas para o centro, pedindo-os para dançar. Em seguida, se juntou à um outro homem e começaram a conversar enquanto casais começavam a se formar devagar. - Mais luz, marotos! Arrastai as mesas e apagai esse fogo, que está muito quente aqui dentro. Ah! Essas brincadeiras inesperadas chegam sempre a tempo. Sim, sentai-vos, sentai-vos, caro primo Capuleto; nós dois já não estamos na idade de dançar. Há quanto tempo deixamos de pôr máscara?
- Trinta anos, pela virgem! Trinta anos! – O segundo homem comentou.
Já não prestei mais atenção no que acontecia a minha volta, pois um garoto qualquer se aproximou e fez uma reverência, me convidando para dançar. Aceitei o seu convite com outra reverência e posicionei a minha mão sobre a dele. O cavalheiro me guiou até o centro do salão e começamos a dançar suavemente. Nós não nos tocávamos em momento algum, apenas fazendo aqueles paços de estilo vitoriano, onde nossas palmas se aproximavam, mas não chegavam a se encostar. Ora ou outra trocávamos olhares, mas não era adequado uma moça jovem ficar encarando um garoto. Ele parecia gostar de quando eu fugia de sua contemplação e por isso se aproximava e me fazia dar um passo para trás, envergonhada. Muitos convidados à nossa volta nos observavam bailar.
- Que dama é aquela que enriquece o braço daquele cavalheiro? – Nick perguntou à um criado. Continuei a dança e todos fingíamos que não podíamos escutar os sussurros de Romeu.
- Desconheço-a, meu senhor. – O seu criado respondeu.
- Oh! Ela ensina a tocha a ser luzente. Dir-se-ia que da face está pendente da noite, tal qual jóia mui preciosa da orelha de uma etíope mimosa. Bela demais para o uso, muito cara para a vida terrena. Como clara pomba ao lado de gralhas tagarelas, anda no meio das demais donzelas. – Romeu suspirou apaixonado, falando mais para si mesmo do que para o criado. Durante as falas de Nick, continuei dançando com o meu cavalheiro como se estivesse em outro mundo. - Vou procurá-la, ao terminar a dança porque a esta rude mão possa dar ansa de tocar nela e, assim, ficar bendita. Meu coração, até hoje, teve a dita de conhecer o amor? Oh! Que simpleza! Nunca soube até agora o que é beleza...
- Pela voz este aqui é algum Montecchio. Rapaz, vai buscar logo minha espada. – Niall apareceu no outro canto do palco, como Tebaldo Capuleto; meu primo. Ao escutá-lo, Romeu percebeu que seria pego e tratou de se misturar com os outros convidados. – Como! Esse escravo atreve-se a, com máscara grotesca, vir aqui, para de nossa festividade rir e fazer pouco? Pela honra do meu sangue e nobre estado, dar-lhe a morte não julgo ser pecado.
Antes que Niall pudesse se mexer para ir atrás de Nick, as luzes foram diminuindo lentamente, fazendo com que todos parassem o que estavam fazendo. O cavalheiro e eu nos separamos, pois o centro do palco foi tomado pelo mesmo menino que fizera a narração de começo da peça. Ele iria começar a cantar, então todos formamos um semicírculo em torno do jovem. As poucas luzes que ainda iluminavam o palco eram de um tom azulado, o que passava tranqüilidade e certa magia ao cenário. A orquestra começou lentamente a tocar a música e o menino respirou fundo antes de começar a cantar:
(O que é a juventude? Fogo impetuoso)
What is a maid? Ice and desire.
(O que é uma dama? Gelo e desejo)
The world wags on.
(O mundo segue em frente)
A rose will bloom it then will fade.
(Uma rosa vai florecer e então padecer)
So does a youth.v (Assim como a juventude)
So do-o-o-oes the fairest maid…
(Assim como a melhor dama)
Todos ficaram extremamente encantados com aquele jovem, enchendo nossos ouvidos com sua voz de anjo. Ninguém se mexia ou falava coisa alguma. Eu também estava assistindo-o, até que algo chamou a atenção do meu olhar. Um garoto de vestes azuis e mascara de leão. Algo naquele menino me prendia, me puxava. Eu precisava conhecê-lo, mas não poderia simplesmente caminhar até ele no meio de todas aquelas pessoas!
(Chega um tempo quando um sorriso doce)
Has its season for a while... Then love's in love with me.
(Tem a sua estação por um tempo… Então o amor está apaixonado por mim)
Some they think only to marry, others will tease and tarry.
(Alguns pensam apenas em casar, outros vão provocar e demorar)
Mine is the very best parry. Cupid he rules us all.
(A minha é a melhor defesa. O cupido controla a todos nós)
Caper the cape, but sing me the song.
(Amarre a capa, mas me cante a canção)
Death will come soon to hush us along.
(A morte chegará logo pra no scalar)
Sweeter than honey and bitter as gall…
(Mais doce que o mel e mais amarga que bílis)
Love is a task and it never will pall.
(Amor é uma tarefa e nunca vai enjoar)
Sweeter than honey and bitter as gall.
(Mais doce que o mel e mais amarga que bílis)
Cupid he rules us all…
(O cupido controla a todos nós)
Dei um passo para a minha direita, sem tirar os olhos do menino mascarado. Ele fez o mesmo, me seguindo com a mesma curiosidade que eu sentia. Ok, talvez tivesse sido apenas uma coincidência... Tentei mais uma vez, com mais um passo. Acabei esbarrando em uma jovem, me sentindo bem destrambelhada e pedindo desculpas com um sorriso. Ela logo voltou a prestar atenção no menino que ainda cantava. Dei uma pequena olhada na direção do menino que despertou meu interesse, mas ele não estava mais por lá. Suspirei desapontada, mas não demorou muito para que eu o encontrasse a apenas alguns metros de mim, na porta que levaria até o jardim.
(Uma rosa vai florecer)
It then will fade.
(Então vai perecer)
So does a youth.
(Assim como a juventude)
So does… The fairest maid.
(Assim... Como a melhor dama)
O menino então, desapareceu pela porta. Olhei para os lados, averiguando se estava sendo observada ou não. Como ninguém parecia estar prestando atenção em qualquer coisa que não fosse o cantor, parti na ponta dos pés pelo mesmo caminho que o garoto misterioso se foi; entrando na coxia. Colin me recebeu lá e sorriu, falando que eu tinha sido ótima. As luzes do palco foram apagadas para que mais uma vez o cenário pudesse mudar. O salão de baile se transformou em um jardim belíssimo. O chão do palco foi coberto por uma névoa baixa criada por uma máquina de fumaça e uma fonte jorrava água calmamente no centro do tablado. Observei enquanto Nick entrava no jardim antes de mim, caminhando até a fonte e meio que se escondendo atrás dela.
- , não pire, ok? – Uma voz inesperada surgiu atrás de mim.
- Nicholas! – Me virei pra ele, espantada. Colin não estava mais por ali pra me explicar o que estava acontecendo. – Como você tá aqui? Quem está no palco?
- Confie em mim, ok? – Ele estava usando roupas esverdeadas, diferente das de antes. – Agora vá! E faça o seu solo.
- Mas você não está lá!
Nossa discussão em sussurros não durou muito tempo, pois logo fui gentilmente obrigada a voltar para o palco. Se Nick não estava escondido atrás da fonte, quem poderia ser? E o mais importante: Que diabos estava acontecendo? Não tive muito tempo de pensar, pois logo estava na frente da platéia mais uma vez. Como o menino misterioso, literalmente, estava escondido, só eu podia ser vista. Era o meu momento de brilhar. A orquestra começou a tocar uma melodia bem calma e delicada, dando à atmosfera que eu precisava pra começar a dançar. A luz ainda era azulada e refletia sobre os brilhantes do meu vestido.
Me colocando sobre a ponta dos pés e abrindo o vestido, comecei a caminhar e girar com leveza, procurando o menino que se escondia de mim. Como não pude encontrá-lo, levei as mãos ao peito, me sentindo enganada ou esquecida. Ou ao menos era isso que Julieta deveria ter sentido. Corri até bem perto da borda do palco e parei na ponta do pé direito, deixando a perna esquerda estendida para trás. Olhei para um lado e para o outro da platéia, me impedindo de procurar qualquer rosto conhecido que fosse. Eu sabia que a minha família estava ali, mas vê-los poderia tirar a minha concentração. Em seguida, voltei correndo de costas para o centro do palco, próxima à fonte. Elevei e abaixei as mãos, girando na ponta de um dos pés e usando o outro para formar um “4”.
Se Nick estivesse ali, ele teria me segurado pela cintura para que pudéssemos começar a nossa dança em dupla, mas o menino escondido atrás da fonte não se mexeu. Pelo visto eu teria que continuar sozinha. Nada me impediria de fazer um bom trabalho, nem mesmo a loucura de Nicholas. Com um salto, pulei sobre a borda da fonte e me equilibrei novamente na ponta de apenas um dos pés, jogando o outro para trás em um ângulo de noventa graus; usando toda a minha força para girar graciosamente naquela posição. Com um movimento em falso, eu cairia dentro daquela fonte e o meu solo seria arruinado. Eu sabia desse porém, mas fiz o passo da mesma forma. Voltando a posição inicial e fechando as pernas, dei mais alguns giros comportados sobre a borda da fonte.
Para finalizar o pequeno solo, dei um pequeno rodopio e pulei para o chão em abertura completa até pousar suavemente. O menino finalmente se mexeu, mas fiz de conta que não o vira. Calmamente fui até a borda da fonte mais uma vez, sentando-me sobre e ela e olhando na direção oposta. Deixei a minha mão pousando no falso concreto e o menino entendeu a minha deixa, tocando com a sua e me fazendo olhar para ele, assustada. O Romeu que não era Nick não precisou tirar a mascara para que eu o reconhecesse seus olhos agora que os enxergava de perto, mas assim que o fez, fiquei paralisada. Não retirei a minha mão da dele, quase me esquecendo do que deveria fazer. Meu peito subia e descia com a minha respiração acelerada e nem com todas as aulas de teatro do mundo eu teria conseguido fingir uma surpresa maior do que aquela que eu realmente sentia.
- Se com minha mão indigna profanar este altar sagrado, que doce pecado. Os meus lábios, dois modestos peregrinos, estão prontos para suavizar esse toque indigno com um terno beijo... – Zayn recitou as falas com tamanha perfeição que me surpreendeu ainda mais. Demorei alguns segundos para me situar de que deveria dar continuidade na cena e retirei a mão da dele antes que pudesse encostar os lábios nela.
- Bom peregrino, sois injusto com a vossa mão, pois ela mostra uma devoção delicada. – Voltei a segurar a mão de Zayn, decidindo encenar primeiro e me preocupar depois. O fiz abrir a mão e encostei a palma da minha na dele, observando como as duas se encaixavam perfeitamente, mesmo que a dele fosse maior que a minha. – Porque as santas têm mãos que as mãos dos peregrinos tocam. E palmas que se tocam são o beijo dos peregrinos sagrados.
- As santas não têm lábios? – Perguntou em um tom travesso, ainda tocando a minha palma com a sua. – Nem esses peregrinos sagrados?
- Sim, peregrino, lábios que devem usar para orar. – Ri e retirei a mão da dele, me virando para o outro lado e dando as costas à Zayn.
- Então, querida santa, deixai os lábios fazer o que as mãos fazem. – Mudou de lugar e se sentou na minha frente, mais uma vez prendendo o meu olhar com o seu; dessa vez ainda mais próximo do que antes. Zayn elevou a mão aberta, que eu logo tratei de tocar com a minha esplanada, com um sorriso inocente. – Oram, concedei-me isso, para que a fé não se torne desespero.
- As santas não se movem, mesmo que atendam os rogos. – Retirei a mão e me virei, continuando com aquela brincadeira de fugir.
- Então não vos movais, enquanto recolho o fruto da minha prece. Assim, tocando meus lábios com os vossos, meu pecado fica expiado. – Quando Zayn chegou àquela fala e veio novamente para a minha frente, fiquei completamente imóvel por saber o que viria em seguida. Só o que me restou fazer foi fechar os olhos e deixar que ele levantasse o meu queixo com o dedo indicador e pressionasse os lábios aos meus, com tanta delicadeza que me deixou arrepiada. Durante os instantes que nosso beijo durou, senti o meu interior desmoronar.
- Então, os meus lábios têm o pecado que retiraram. – Sussurrei assim que nos separamos, o que não teria sido ouvido pela platéia se não fosse pelo microfone preso à minha roupa. Toquei minha boca com a ponta dos dedos e olhei para Zayn, que sorria.
- O pecado dos meus lábios? Doce invasão! Devolvei-me o meu pecado. – Se inclinou para me beijar mais uma vez, mas fomos interrompidos antes que o toque fosse realizado.
- Julieta! – A voz de me chamava, fazendo-me levantar apressada e olhar em volta. – Vossa mãe quer falar-vos, senhorita!
Ao olhar para Romeu mais uma vez, Zayn já colocara a mascara de leão em seu rosto novamente. Não tínhamos tempo de nos despedir, pois a Ama me chamava. Apenas nos olhamos uma última vez e saí correndo na direção da voz; em direção às coxias. Chegando no backstage e já estando segura dos olhares da platéia, procurei Nick com um misto de raiva e confusão. Ele parecia saber que eu estaria louca atrás dele, por isso se escondia atrás de . Colin tinha o rosto escondido nas mãos, provavelmente preocupado com o caminho que a sua peça estava tomando por causa da troca de papeis que Zayn e Nick fizeram.
- Você perdeu a cabeça?! – Esbravejei na direção de Nicholas, que ainda usava como escudo.
- , calma... – foi quem pediu.
- , não se meta nisso. – Apontei para o lado, como se mandasse ela sair de lá.
- Foi mal, Nick. – Com a minha ameaça, a ruiva correu.
- A idéia foi minha, . – Zayn também voltara para atrás do palco e virei em direção à ele, quase chorando.
- Por que?! – Me segurei para não começar um escândalo ali mesmo. – Você está tentando estragar a minha noite? O meu sonho? Nós nunca ensaiamos juntos, Zayn, agora espera saber de tudo?
- Eu ensaiei com ele, . Zayn sabe as falas e tudo que tem que fazer. – Nick veio para o meu lado, mas não me tranqüilizou nada.
- Mas ele não dança! – Retruquei. – E os nossos passos?
- Você vai fazer os mesmo passos, mas sem mim. – Meu ex-parceiro falou como se fosse a melhor solução. – Eu sei que consegue fazer isso.
- É? E os levantamentos? Tenho que aprender a voar? – Cruzei os braços.
- Você sabe que eu não te deixo cair. – Zayn se pronunciou.
- Colin, você não tem nada a falar? – Tentei apelar para o diretor, na esperança que ele resolvesse aquilo.
- Estou tão preocupado quanto você, , mas acho que não tem muito o que possamos fazer. – Colin passava as mãos pelos cabelos, descontrolado. – A platéia já viu Zayn como Romeu, então não podemos mudar agora. É bom que vocês dois saibam o que estão fazendo.
- Sabemos. – Nick e Zayn falaram ao mesmo tempo.
- Por que você está fazendo isso, Zayn? – Perguntei chorosa, mas não me atreveria a borrar a maquiagem.
- Porque eu queria que você olhasse pra mim do mesmo que Julieta olha para Romeu. – Explicou, mas não entendi muito o sentido. – Nem que por uma última vez.
- Por que você não me deixa em paz? – Minha voz saiu como um sussurro. Sem conseguir mais olhar para Zayn, dei meia volta para ir até o meu camarim.
- É isso o que você realmente quer? Seja honesta. Olhe nos meus olhos e diga que quer que eu te deixe em paz. – A sua voz machucada me fez parar de caminhar, mas não me virei. – Me dê até o final da peça e pense nisso. Se você realmente quiser que eu saia da sua vida, então tudo bem. Eu vou respeitar a sua decisão.
Não respondi. Sabia que não conseguiria mandá-lo embora da minha vida assim. Não teria forças para olhar nos olhos dele e dizer que não queria mais vê-lo na minha frente quando todo o meu corpo pedia pelo dele. Não sei o que se passava na cabeça de Zayn, sinceramente. Ele achava que seria tão fácil assim para mim, esquecê-lo? Não querer estar com ele a cada momento? Eu estava desesperada para tê-lo de volta, mas ao mesmo tempo sabia que não podia. E era justamente por isso que eu tentava me afastar cada vez mais, ignorar e me manter fechada na minha muralha de proteção. Zayn devia saber que eu não agüentaria resistir a ele se fosse obrigada a ter o mesmo contato e tratamento que Romeu e Julieta tiveram; nem que fosse em uma peça de teatro.
Finalmente chegamos ao segundo ato da peça. Tivemos um intervalo de vinte minutos para que a platéia pudesse ir ao banheiro ou comer alguma coisa e para os funcionários mudarem os cenários. Eu estava nervosa para a minha próxima cena, pois seria a cena da sacada, onde Romeu e Julieta trocam as suas primeiras juras de amor. O que mais me amedrontava é que eu sabia que as minhas palavras seriam mais verdadeiras dirigidas a Zayn do que seriam se Nick ainda estivesse fazendo o seu papel de origem. Eu não estava com raiva desse último, pois sabia que a sua intenção era boa. Ele sabia que eu sentia falta de Zayn e ainda se sentia culpado pelo nosso término, sendo capaz de fazer qualquer coisa para nos ver juntos novamente. Ah, é, Niall e também sabiam desse plano maluco dos dois meninos.
Minha terceira troca de roupa foi bem rápida, pois apenas vesti uma camisola branca tão leve quanto os meus dois primeiros vestidos. Antes que as cortinas voltassem a abrir, subi com calma até a minha sacada e me sentei sobre o parapeito, com todo cuidado para não escorregar. Dobrei os joelhos próximos ao corpo e olhei para o cenário lá embaixo. Mais uma vez um jardim foi montado, com a diferença que não havia mais nenhuma fonte, apenas alguns arbustos e árvores falsas. Quando tudo já estava pronto, recebi um sinal de que a peça recomeçaria.
Olhei para cima, abaixando as pernas para que elas ficassem comportadas, mas ainda permaneci sentada sobre o parapeito. As cortinas foram abertas e uma nova onda de aplausos encheu o anfiteatro. Ora ou outra eu suspirava, porém, não por causa do roteiro. Zayn me pedira pra pensar e mesmo que eu não quisesse, acabava pensando. Pensei em todos os momentos bons que passamos juntos e em todas as coisas que dividimos. Todos os segredos, todas as juras de amor. Lembrei de todos os beijos e carinhos. Uma pergunta era repetida várias vezes na minha cabeça: “Será que estou fazendo a coisa certa?”
- Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo. – Zayn entrou no palco, resmungando. Assim que me olhou, se escondeu atrás de uma árvore, mas ainda era capaz de ser visto pela platéia. Continuei suspirando e olhando para qualquer lugar que não fosse o menino, mesmo que desejasse com todas as forças poder olhá-lo enquanto recitava doces palavras. – Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! É o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala; contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto os olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas ás estrelas, como o dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os pássaros, despertos,
cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face!
- Ai, de mim! – Suspirei mais alto, descendo do parapeito.
- Oh, falou! Fala de novo, Anjo. – Aquele último apelido me deixou mais arrepiada do que eu esperava, pois tinha certeza que ele não estava no roteiro. Apesar de estar falando comigo, não o olhei ainda e continuei olhando para cima. – Porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.
- Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? – Falei para as estrelas, andando até o outro lado da sacada e colocando uma mão na testa. - Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo...
- Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo? – Zayn perguntou retoricamente.
- Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. – Falei sozinha, ainda andando pelo espaço de varanda que tinha a minha disposição. - Sê de outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira!
- Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu. – Finalmente falando comigo, Zayn saiu de trás da árvore, fazendo-me fingir um susto.
- Quem és tu que, encoberto pela noite, invade meu segredo? – Perguntei assustada, cobrindo o busto com as mãos.
- Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria. – Se aproximou.
- Minhas orelhas ainda não beberam cem palavras sequer de tua boca, mas reconheço o tom. Não és Romeu, um dos Montecchios? – Perguntei, me debruçando sobre o parapeito para vê-lo.
- Não, bela menina; nem um nem outro, se isso te desgosta.
- Dize-me como entraste e porque vieste. Muito alto é o muro do jardim, difícil de escalar, sendo o ponto a própria morte - se quem és atendermos - caso fosses encontrado por um dos meus parentes!
- Do amor as lestes asas me fizeram transvoar o muro, pois barreira alguma conseguirá deter do amor o curso, tentando o amor tudo o que o amor realiza. – Algo me dizia que Zayn interpretava aquelas falas em um nível pessoal. – Teus parentes, assim, não poderiam desviar-me do propósito.
- No caso de seres visto, poderão matar-te...
- Ai! Em teus olhos há maior perigo do que em vinte punhais de teus parentes. Olha-me com doçura, e é quanto basta para deixar-me à prova do ódio deles...
- Por nada deste mundo desejara que fosses visto aqui...
- Com o amor, que a inquirir me deu coragem; deu-me conselhos e eu lhe emprestei olhos. Não sou piloto; mas se te encontrasses tão longe quanto a praia mais extensa que o mar longínquo banha, aventurara-me para obter tão preciosa mercancia. – Não pude deixar de sorrir ao escutar aquelas palavras; um sorriso verdadeiro.
- Sabê-lo bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um rubor virginal me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer neste momento. Desejara - oh! minto! - retratar-me do que disse. Mas fora! Fora com as formalidades! Amais-me? Sei que direis “Sim” e acreditarei na vossa palavra. Mas, se jurásseis, talvez traísses vossa jura. Júpiter ri-se dos perjúrios dos amantes, dizem. Gentil Romeu, se amais, dizei-me com lealdade. Se achais que fui conquista fácil, farei cara feia, serei má e direi “não”, para me cortejares. Se não, não o farei. Em boa verdade, belo Montecchio, estou apaixonada. Portanto, talvez me julgueis leviana. Mas acreditai, senhor. Mostrar-me-ei mais fiel do que aquelas que sabem ser reservadas. – Aquela era de longe a minha maior fala e uma das que mais me deu trabalho para decorar. Mas ali, na frente de Zayn... As palavras fluíam facilmente. Era como se eu estivesse perguntando de para Zayn se o amor que ele sentia por mim ainda era verdadeiro. – Teria sido mais reservada, confesso, se não tivésseis ouvido, sem eu saber, a confissão do meu amor. Portanto, perdoai-me, e não atribuais esta entrega a um amor leviano, que a escura noite vos revelou.
- Senhora, juro pela sagrada Lua... – Zayn então, correu até a trepadeira e escalou mais rapidamente do que Nick o fizera nos ensaios. Com medo que ele pudesse cair, acabei correndo ao seu encontro.
- Não jureis pela Lua, a inconstante Lua que muda mensalmente, na sua órbita, a menos que vosso amor se mostre tão inconstante. – Segurei uma mão com a outra e olhei para os meus dedos. Dei um passo para me virar de costas, mas fui impedida pelo toque tão macio de Zayn em meu braço. Ele estava praticamente pendurado no parapeito da sacada.
- Então, juro pelo quê? – Perguntou com o sorriso torto.
- Não jureis por nada. – Falei ao também sorrir e me aproximei ainda mais dele. – Ou, se quiseres, jurai pela vossa graciosa pessoa, o deus da minha idolatria, e eu aceitarei.
- Se o doce amor do meu coração... Juro! – Com esse juramento, o segurei pelas laterais do rosto e o beijei. Na verdade, o enchi de beijos. Usei a desculpa para mim mesma de que apenas estava seguindo com o roteiro, mas a verdade é que eu sentia muita falta daqueles lábios. – Boa noite... Que a doce paz e o sossego que sinto vos envolva o coração.
- Abençoada noite! Receio que, por ser noite, tudo isto não passe de um sonho, demasiado doce para ser substancial. – Falou com um sorriso enorme e começou a descer a trepadeira enquanto eu andava de volta para o fundo da sacada.
- Três palavras, querido Romeu, e depois boa noite. – Parei no meio do caminho e corri até ele mais uma vez, que também subiu novamente. – Se vossa intenção é honesta e desejais casar, avisai-me amanhã do lugar e da hora da cerimônia.
Mais da metade da peça se passara e chegávamos as últimas cenas. Em mais um curto intervalo, as cortinas foram fechadas para que o último cenário pudesse ser montado. Preciso dizer que estava em nervosa para encerrar a peça, mas não pelos motivos que você pode estar pensando. O que me preocupava não eram falas difíceis e nem passos de dança complicados, porque tudo isso já passara. Também não estava me importando tanto com o final de todo aquele semestre de preparação ou com a reação que o publico teria ao final do espetáculo. O que me preocupava era que o prazo de Zayn estava acabando. Eu teria que dar a minha resposta e final e seria uma espécie de “é agora ou nunca”, pois, dependendo da minha decisão, o menino iria sair da minha vida, seguir em frente.
- Pode se deitar, ... – Colin pediu, assim que a longa pedra de mármore fora colocada no centro do palco.
- Estou nervosa. – Confessei, arrumando o meu vestido azul enquanto me deitava. – Não sei se vou conseguir cantar!
- É claro que vai. – O diretor riu, arrumando os meus cabelos sobre a pedra. – Sheeran me disse que você canta melhor do que se dá crédito.
- Espero que ele esteja certo. – Ri baixo, afastando o nervosismo.
- Você aí! – Chamou Zayn, que passava por nós. – Não invente mais nenhuma surpresinha, ok?
- Só mais uma... – Não me atrevi a levantar a cabeça, mas sabia que ele estava sorrindo.
- Ugh, não quero nem saber. – Colin bufou e bateu palmas silenciosas. – Vamos pessoal, o show tem que continuar!
Por mais que estivesse temendo o que mais Zayn poderia estar aprontando, torcia para que ele estivesse apenas brincando. O palco começou a se esvaziar e fechei os olhos para me concentrar e relaxar. Tecnicamente, eu deveria estar morta, então não podia simplesmente respirar profundamente a cena inteira. Acho que todo mundo sabe o que acontece no final de Romeu & Julieta, certo? Ela finge estar morta e o cara que deveria avisar Romeu chega lá atrasado, então o menino acredita que o amor de sua vida morreu de verdade. Então ele não agüenta viver sem a menina e se mata. A bela adormecida finalmente acorda e vê o seu amor morto, então resolve também tirar a sua própria vida para que eles possam estar juntos lá do outro lado.
As cortinas se abriram quando todos estavam posicionados nos lugares certos e apenas um foco de luz foi mantido fielmente em mim. Por sorte ele não era tão forte assim, caso contrário eu começaria a lacrimejar; mesmo de olhos fechados. O som de passos no canto do palco indicava que Zayn estava entrando, então apenas aproveitei que estava deitada para curtir as palavras daquele garoto que eu amava tanto, mas era orgulhosa demais pra dar o braço a torcer. O ouvi caminhando ao meu redor, mesmo sem poder vê-lo. Quando o menino se ajoelhou ao meu lado e tocou minha bochecha com o polegar, senti a pele queimar. Aquela mesma sensação que sempre me trouxe tanta segurança agora me fazia ter medo. Medo de não voltar a sentir aquilo depois daquela noite.
- Meu amor... Minha estrela... A morte, que vos roubou a doçura do sopro, ainda não teve efeito sobre a vossa beleza. Não fostes conquistada. O estandarte da beleza é ainda rubro nos vossos lábios e nas vossas faces. A pálida bandeira da morte não se instalou. – Falava ao meu lado, com calma. Eu podia sentir o seu olhar em cima de mim, junto com o toque de seus lábios que percorria o meu rosto gentilmente. Pude sentir sua voz chorosa, mas ele não estava apenas interpretando. Suas próximas palavras me provocaram um aperto no peio que parecia querer me sufocar: – Querido Anjo... Como me pedes agora que te veja distante? Como pedes que não possa mais ter o seu toque macio nos meus cabelos ou o sabor de teus lábios me desejando um bom dia? Antes de te conhecer, eu não sabia o que era o amor, mas tão facilmente aprendi a amar ao teu lado. Fostes o meu primeiro amor e como devo agora esquecer? Se me deixares agora culpa é apenas minha para carregar e aceitarei o meu destino com pesar. Mas diz-me mais uma vez que me ama.
“Levanta deste leito de morte e jurai mais uma vez, vossa santa, que és inteiramente minha. E as promessas que vos fiz embaixo das estrelas serão cumpridas. Dou-lhe minha palavra de homem que serei inteiramente teu e confiarei em vossa palavra. Por que ainda és tão linda? Eu não consigo me cansar de olhar pra você. E não quero ter que parar de te olhar. Eu te amo. Tenho tanta sorte de te amar. Por favor, não me faça parar de te amar agora, não quando todas essas coisas boas estão acontecendo na minha vida, mas não terão graça alguma se eu não puder dividi-las com você. E eu sinto muito... Oh! Eu sinto tanto pelo que eu te fiz passar, me tornando teu inimigo... Te fiz temer, quando só o que desejava era te proteger de todos os meus medos. Você tem que acreditar que existem riscos que valem a pena ser corridos.
“Mas se não fizeres isto, ainda irei lhe amar da mesma forma que eu puder; em silêncio. E espero que um dia você compre todos os vestidos bonitos que sempre quis. Espero que os use e dance descalça pela grama em um dia de verão e que ria muito. Eu espero que você sorria com as pequenas coisas, como flores no seu cabelo, ou o vôo das borboletas. Espero que consiga tudo o que você sempre sonhou, talvez até viver em um barquinho. Espero que nunca pare de cantar, mesmo quando o seu irmão falar que você não pode. Na verdade... Especialmente aí. Aí é quando eu espero que você cante o mais alto que puder. Espero que você compre uma pulseira em cada canto que vá, até que o seu braço esteja coberto por elas. Eu espero que você pare de se preocupar com coisas que te deixam fora do controle e que consiga ver o quanto você é especial. Acima de tudo isso... Eu espero que você seja feliz.”
Zayn fugira completamente do texto que deveria falar, mas ninguém pareceu se importar. A orquestra parou de tocar, simplesmente por não saber como acompanhá-lo, e isso tornou o momento ainda mais único. Só a voz de Zayn era escutada dentro daquele anfiteatro inteiro; se deixarmos de lado as fungadas e choros baixos que vinham na direção da platéia. Eu senti muita vontade de levantar dali e abraçá-lo, mandando o espetáculo para os ares, mas não podia. Não ainda. Mesmo estando “morta” algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto e Zayn as traçou e secou com os lábios, mas acabou molhando o meu rosto ainda mais, pois ele também chorava. Eu acreditava em tudo que acabara de ouvir. O menino tinha um amor tão puro que seria impossível não acreditar. Só ali percebi o quanto eu também era sortuda por amá-lo. Que outro garoto lutaria tanto assim pela menina que amava? Talvez apenas o verdadeiro Romeu.
- Olhos meus, olhai pela última vez! Braços meus, abraçai-a pela última vez! E, lábios, vós que sois as portas do sopro da vida, selai com um beijo o pacto infindável como uma morte absorvente. – Voltando para o texto da peça, Zayn ainda chorava. Ele me abraçou, por fim colando os lábios aos meus pela última vez; e uma despedida dolorosa. Senti o menino se afastando e um grito ficou preso na minha garganta. Não queria que ele se afastasse. Escutei seus passos quando ele foi para a ponta do palco, tirando o “veneno” de suas vestes. – Ao meu amor!
O que escutei em seguida fez o meu coração acelerar. Zayn gemia de dor, fingindo que era o veneno a fazer efeito. Eu tentava me concentrar, repetindo para mim mesma que era apenas uma encenação e que nada daquilo estava acontecendo de verdade. Eu não suportaria assisti-lo passar por tamanha dor, mas sentia como se aqueles barulhos mostrassem bem o que se passava no interior daquele menino que sempre se mantivera forte e inabalável. Contei até vinte bem devagar em minha cabeça e a orquestra voltou a tocar uma música calma e melancólica. Vagarosamente comecei a me mexer na pedra e a levantar até estar sentada sobre ela. Cocei os olhos sonolenta, mas na verdade usei esse ato para limpar as minhas lágrimas. Só esperava que a minha voz não quebrasse quando eu tivesse que falar.
- Lembro-me bem de onde devia estar e aqui estou... – Falei devagar, olhando as minhas mãos e tocando o meu próprio corpo, sentindo os efeitos do sonífero se arrastando para fora de mim. – Mas onde está o meu senhor? Onde está o meu Romeu?
Falei sozinha, esperando que as paredes pudessem me responder. Arrastei os pés para fora daquela pedra e levantei o rosto; dando de cara com um Romeu caído no chão. Zayn mantinha os seus olhos fechados e o corpo um tanto torto, virado mais em direção á platéia. Meu coração apertou ainda mais e a minha respiração se tornou pesada e descompassada ao ver o homem que eu tanto amava ali na minha frente, sem vida. Como não podia correr até ele, andei em passos curtos, quase como se não conseguisse acreditar; como se não quisesse acreditar. Ao chegar perto o suficiente, despenquei de joelhos atrás dele, tocando levemente o seu corpo ainda quente.
- O que é isto? Fora o veneno que o levara prematuramente? – Segurei a sua mão e retirei de lá o frasco do boticário, revelando o veneno que o “matara”. Em seguida, o virei sobre meus próprios lábios, mas fora inútil. – Bebeste tudo e não deixaras nada para me ajudar?
Àquela altura, lágrimas já rolavam sobre o meu rosto, não por causa da cena em si, mas pelo discurso apaixonado de Zayn. Toquei o seu peito por cima daquelas roupas e pude sentir o seu coração batendo acelerado, o que me tranqüilizou em parte. Com um pouco de dificuldade, puxei seu tronco para cima do meu colo e apoiei seu rosto em minhas mãos, puxando para um beijo terno. O deixei descansar sobre a minha perna, desistindo de fazer o meu último solo de ballet. O que devia ser feito, eu faria; mas não me distanciaria de Zayn nem por um minuto.
What is a maid? Ice and desire.
The world wags on.
A rose will bloom it then will fade.
So does a youth.
So do-o-o-oes the fairest maid…
Apenas um piano acompanhou enquanto eu cantava. Não me senti amedrontada ou nervosa por estar usando a minha voz nada profissional na frente de milhares de pessoas. Acariciei os cabelos de Zayn entre os meus dedos, olhando pra ele enquanto a canção que escutamos na primeira vez que nos vimos em cima daquele palco deixava os meus lábios. Dessa vez, porém, não restava alegria na música, apenas dor. A desventura de dois amantes que se perderam. Mas eu não deixaria isso acontecer comigo e com Zayn; não mesmo. Me sentia muito idiota por ter perdido tanto tempo longe dele, por causa de uma coisa que era tão pequena se comparada ao amor que nós dois dividíamos. Eu não o mandaria embora da minha vida, nunca seria capaz de fazer isso. Toquei os lábios do menino com o meu indicador, dedilhando-o.
Has its season for a while... Then love's in love with me.
Parei de cantar naquela frase, puxando o menino em meu colo para um novo beijo. Vozes confusas vinham de trás da coxia, que deveriam ser os soldados se aproximando para descobrir os corpos de Romeu e Julieta. Eu tinha que andar rápido, pois perdemos tempo demais. Sussurrando um pequeno “Eu te amo, e nunca vou te deixar ir”, peguei a adaga de brinquedo presa ao cinto da fantasia de Zayn e respirei fundo, olhando para a arma que tiraria a minha vida.
- Tua bainha é aqui. Repousa aí bem quieta e deixa-me morrer...
Epílogo
- Achei que esse seria um jantar de comemoração, não um encontro familiar! – Reclamei ao me sentar no colo de Zayn, mesmo que o sofá ao seu lado estivesse vazio.
- Deixa elas se conhecerem, ... – O menino passou o nariz pelo meu rosto, me prendendo ali pela cintura. Nossas mães estavam conversando em uma mesa mais distante na sala da casa dele.
- Não me importo que se conheçam, só não quero que fiquem trocando histórias embaraçosas de quando éramos pequenos. – Fiz um bico, sabendo que seria beijada pelo outro. – Sua mãe não precisa saber que eu pedia pra checarem se haviam monstros embaixo da minha cama até os treze anos de idade!
- Você fazia isso? – Zayn gargalhou divertido, jogando a cabeça pra trás daquela forma que eu tanto sentira falta. – É fofo...
- Não é fofo! É bem idiota, sei disso. – O deixei rir das minhas manias infantis e passei um braço em volta dos ombros dele, me aninhando mais em seu colo. – Mas é a verdade.
- Se serve de consolo... Não existe nenhum monstro embaixo da minha cama. – Piscou como se fosse um convite e eu é que ri dessa vez.
- Claro... Porque o monstro em cima da sua cama! – Estreitei os olhos.
- Então agora eu sou um monstro? – Fez cara de mal, mas acabou parecendo um filhote de leão fazendo “raawr”.
- Pior deles! – Gargalhei da cara fofa do meu namorado.
- Só porque eu quero te comer? – Comentou normalmente e eu quase gritei quando fui atacada por cócegas.
- Malik, isso é coisa que se fale?! – Me contorci, mas não quis sair do colo dele. A verdade é que nós dois andávamos mais grudados que antes; talvez por querer compensar o tempo perdido.
- Não falei nesse sentido, idiota. – Riu junto comigo, parando de me atacar. – Ok, talvez um pouco.
- Do que vocês dois estão rindo? – apareceu e se sentou no sofá, ao nosso lado. Ah, é, ela e o resto do nosso grupo estavam ali também.
- Estávamos comentando sobre o seu figurino de ontem. – Ri novamente e Zayn me acompanhou, o que resultou em uma careta da ruiva.
- Podem rir o quanto quiserem, mas tenho uma noticia muito boa. – Para ela não ter batido em nenhum de nós dois, a tal noticia devia ser boa mesmo.
- Qual é essa boa noticia, cabecinha de fogo? – Zayn perguntou, acariciando a minha cintura devagar.
- Deixa os meninos chegarem que eu conto. – Ela sorriu como se aprontasse algo. – VEM LOGO BANDO DE LERDOS!
- Quanto amor... – Comentei com o meu garoto e aproveitei aquele tempo livres pra roubar selinhos.
- Eu fico muito feliz que vocês tenham voltado, mas tentem manter a troca de carinhos em um mínimo, ok? – Louis reclamou, sentando-se em uma das poltronas na nossa frente. – Ela ainda é a minha irmã, Zayn.
- Por que não nos deixa em paz e vai fazer o mesmo com o seu namorado, Lou? – Zayn pediu, atraindo o olhar curioso da minha mãe; que não estava tão longe assim. Ela ainda não sabia oficialmente dos dois, mas devia ter suas desconfianças, o que explicava bem o sorriso que abriu ao olhar pra Harry.
- Pensando bem, , mantenha-o com a boca ocupada, por favor. – Meu irmão pediu, envergonhado.
- Com muito prazer. – Pisquei e puxei Zayn para mais um beijo.
- Muito bem, agora que todos estão aqui, eu posso falar... – começou o seu discurso e todos olharam pra ela. – , querida, não estudaremos juntas no próximo semestre. Eu recebi um convite pra entrar no curso de teatro! Então não precisarei fazer as aulas de ballet!
- Isso é incrível, cerejinha! – Niall a parabenizou.
- Finalmente você vai fazer algo que goste! – Sorri, feliz por ela. – Mas o que a sua mãe vai achar disso?
- Ela já sabe, pra falar a verdade. – Explicou. – E, depois da minha atuação incrível como Ama ontem a noite, aceitou que o meu destino não é em cima de sapatilhas.
- Estamos muito felizes por você, . – Haz sorriu.
- Pode ser que eu também tenha uma noticia boa... – Falei e as atenções se voltaram pra mim. – , nós realmente não teríamos aulas juntas no próximo semestre. Ontem Agnes e eu conversamos... E lembra da proposta dela de me deixar pegar classes mais avançadas?
- Mas que você acabou tendo aulas apenas do seu nível? – Li perguntou e eu confirmei com a cabeça.
- Bem... Acontece que isso foi proposital. Então, no lugar de pegar aulas adiantadas, Agnes me convidou a pular um nível. – Falei com um sorriso tímido. – Então vou para o terceiro semestre, não para o segundo.
- Com licença... – O celular de Lou começou a tocar, então ele se afastou.
- Parabéns, ! – Zayn foi o que mais sorriu, beijando a minha bochecha com força. – Estou orgulhoso de você. Mas não preciso nem dizer que você merece, né?
- Acho que não... – Sorri, levemente corada.
- Tudo está indo muito bem pra vocês! – Harry riu.
- Depois do espetáculo de ontem, acho que você devia é ir para o último nível logo! – Liam disse.
- Por falar nisso... É verdade que o Nick e a Holly estão juntos mesmo? – Niall perguntou e Zayn e eu nos entreolhamos.
- Yep. Há algum tempo já... – Falei. Após a peça, os dois resolveram admitir publicamente o relacionamento, já que estavam indo embora mesmo. – Os dois vão juntos para a Rússia, dançar no Bolshoi original.
- É isso o que você quer também? – Zayn perguntou, me fazendo olhar pra ele. – Entrar em uma companhia de dança famosa e ir pra longe?
- Costumava ser. – Admiti e deslizei os dedos pelo cabelo dele. – Mas eu não vou pra lugar nenhum em que você não esteja.
- Hey, hey, hey! – Louis voltou para a sala, com o celular já desligado. Ele parecia ter visto um fantasma, então falou as três palavras que mudariam as nossas vidas para sempre: - Querem assinar o One Direction.
FIM
Nota da autora: Muito bem, minhas Ballerinas! Ballet Shoes chegou ao fim!. UAU!
Primeiramente, gostaria de agradecer a cada pessoa que leu um capítulo ou uma frase que seja desta minha primeira fic. Às que acompanharam... Bem, nesse caso não existem palavras no mundo que sejam capazes de expressar o quanto isso é incrivelmente recompensador pra mim. Se eu pudesse bater na porta de cada uma apenas para dar um abraço apertado e agradecer pessoalmente, eu o faria! Comecei a escrever essa história em janeiro de 2012, porque era a minha única opção. Quero dizer, eu precisava de algo pra me distrair, algo pra me salvar. E escrever era tudo o que eu tinha. Minha única forma de expressar a minha criatividade e de escapar de uma realidade terrível que eu estava vivendo. Hoje em dia aceito que tudo que aconteceu naquela época foi bom, pois foram estas dificuldades que me fizeram escrever, publicar essa fic e possivelmente crescer como uma escritora de verdade no futuro. Por isso, se você está passando por um momento difícil, tudo o que posso dizer é: Olhe para si mesma no espelho e simplesmente continue. Daqui a um tempo as coisas podem estar totalmente diferentes por causa de algo que você fez agora! Então arregace as mangas e siga em frente! Yay.
Voltando aos agradecimentos... Se você acompanhou Ballet Shoes desde o começo ou se achou a fic uma semana atrás, isso não importa! Obrigada de qualquer forma.
Com este capítulo, deixo pra trás todas as minhas noites mal dormidas por ficar acordada até a madrugada escrevendo, todas as nossas risadas e nossas lágrimas. Vocês conheceram meus personagens e se apaixonaram por eles, então eles se tornaram seus personagens. Seus amigos, confidentes e amores. Por isso sei que é difícil dizer adeus agora, mas um dia teria que terminar. ):
Mas a jornada não termina aqui... De forma alguma. Os personagens e as histórias vão viver para sempre nos corações e nas lembranças de cada uma das leitoras. O que mais me animou na hora de mandar o primeiro capítulo para o site foi a idéia de “eternizar” as palavras. Enquanto o site existir, Ballet Shoes estará aqui para quem quiser ler, para quem precisar de uma distração, as vezes até do próprio mundo. E se uma de vocês, daqui a cinco, dez anos, se lembrar dessa história e de como ela pode ter mexido com você... Aí a minha missão terá sido cumprida.
Vou parar de ser dramática aqui, ok? Porque essa despedida não é para sempre. Logo poderão ler a SEGUNDA TEMPORADA DE BALLET SHOES! Porque a nossa dança não pode parar por aqui! Meus contatos estão aí embaixo e sempre me disponho a responder suas perguntas ou escutar o quanto querem matar o Zayn por ele ser tão perfeito ou quando faz coisa errada. Também gosto da briga interna ao ficarem dividas entre o Liam e o badboy! A nova temporada aguarda muitas surpresas e novidades, então não vão perder por esperar! Mais uma vez, obrigada de todo coração. Eu amo cada uma de vocês.
Até a próxima dança. xx