Back Then

Escrita por Carol S. | Revisada por Mariana

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   gostava de pensar enquanto cozinhava. Era sábado à tarde, e o tópico era: amigos. Era difícil encontrar alguém em quem você realmente pudesse confiar. Ela só tinha uma amiga, a . Haviam se conhecido no Ensino Fundamental e não se desgrudavam desde então. Moravam juntas. Seus pais se mudaram para Espanha alguns meses antes, mas ambas decidiram ficar em Londres para terminar o Ensino Médio.
   tinha vários amigos, ela se dava bem com todo mundo. Todos a convidavam para as festas, e ela levava consigo. não reclamava, até que gostava um pouco daquelas pessoas, mas se sentia um pouco desconfortável, porque os amigos não eram realmente seus. Provavelmente só a toleravam por causa de .
  - Amigos podiam ser instantâneos como esse macarrão. – Ela disse, colocando o tempero por cima do miojo. – Prontos em três minutos. O lado ruim é que termina rápido, nem enche a barriga direito.
  - Falando sozinha, ? – a assustou. – E por que está fazendo macarrão às... – consultou o relógio de parede e arregalou os olhos. – três da tarde?
  - Eu estava com fome, aí vi que tinha miojo e resolvi preparar pra mim. – A amiga lhe lançou um olhar curioso. – Aonde vai toda arrumada? – Apontou com a cabeça para a roupa de : sneakers, calça jeans e uma blusa brilhante. Ela até havia feito chapinha.
  - Vou sair com o pessoal, vamos no cinema mais tarde. Quer vir junto? – Antes mesmo de perguntar, já sabia a resposta:
  - Não, obrigada, . Já tenho programado o que vou fazer.
  - É? O quê?
  - Maratona de Friends. Vão passar os melhores episódios das nove temporadas na TV. Amanhã tem a estreia da décima e última temporada. – ignorou o olhar triste da amiga. Ela sabia que deveria sair com , mas se cansou dos amigos dela. Queria encontrar seus próprios amigos, só não sabia por onde começar.

  Algumas horas depois, recebeu uma mensagem de convidando-a para ir jantar com ela e os amigos. Ignorou.
   estava tão entretida vendo TV que mal ouviu a campainha tocar. A pessoa do outro lado da porta teve que tocá-la algumas vezes até ela gritar “Já vai”.
  - Sim? – Ela abriu a porta sem olhar no olho mágico.
  - Olá! Eu sou seu novo vizinho. – Disse o rapaz com um sotaque forte. Ele parecia não saber que número usava, pois suas roupas eram largas demais pra ele. – O porteiro deixou suas cartas no meu apartamento por engano, vim trazê-las. – notou a pequena quantidade de cartas que ele trazia.
  - Ah, claro. Ele sempre faz isso. – Pegou as cartas e as colocou na mesinha ao lado da porta sem olhá-las. Na verdade, o porteiro não errava, mas não quis falar a verdade. – Obrigada.
  A garota estava prestes a fechar a porta quando ele a interrompeu.
  - Eu não quero incomodar, é que sou novo aqui e tal. – Ele colocou as mãos nos bolsos da frente da calça e sorria tímido. – O que você vai fazer hoje à noite?
  - Nada demais, na verdade. Tá passando uma maratona de Friends na TV, eu estava vendo.
  - Ah! – Ele pareceu um pouco decepcionado. Queria chamar a garota pra sair, mas não queria estragar os planos que ela já havia feito.
  - Bom... – pensou um pouco. Ter uma companhia não seria tão ruim. – Você pode assistir comigo, se quiser. E podemos pedir uma pizza mais tarde. Você gosta de Friends... ahn...?
  - Jones. Danny Jones. – Ele fez uma péssima imitação de James Bond. – E eu adoro Friends!
  - Meu nome é . . – Ela deu seu melhor sorriso. – Bem vindo ao prédio!
  Danny tinha acabado de chegar, então foi correndo para seu apartamento tomar um banho rápido e logo estava de volta.
  - Até que horas vai a maratona? – Ele perguntou, levando uma garrafa de coca-cola para a cozinha, sendo seguido por .
  - Vai até amanhã às 20h. Depois tem estreia da última temporada.
  - E nós ficar acordados direto até amanhã à noite? – fez que sim com a cabeça, adorando o fato de que ele disse “nós”. – Bom, vamos precisar de mais coisas se quisermos sobreviver até lá.
  - Eu tenho comida aqui, qualquer coisa tem um mercado 24h aqui perto. Pode pegar a fôrma de gelo na geladeira?
  - É? Tem um mercado 24h aqui perto? – Danny repetiu o que ela disse sem acreditar. – Eu sempre quis morar perto de um desses! – estava tomando um gole de coca-cola, mas espirrou o refrigerante pelo nariz quando riu da cara animada de Danny. Este, sem entender nada, riu com ela, que riu mais ainda da risada escandalosa dele.
  Passados alguns minutos, ambos conseguiram olhar pra cara do outro sem rir.
  - Quer pipoca? – perguntou, já pegando o pacote na despensa sem esperar resposta.
  - Quero. Você tem margarina ou manteiga? É bom colocar uns pedacinhos no pote de pipoca. Fica muito bom!
  - Não fica gorduroso? – Ela fez cara de nojo.
  - Fica. – Danny deu de ombros.

  Muitos episódios de Friends depois, recebeu outra mensagem de , avisando que não iria dormir em casa.
  “Tudo bem”, mandou pra ela. Sua expressão não mudou, mas por dentro estava soltando fogos de artifício. Com fora de casa, ela poderia aproveitar melhor sua nova amizade com Danny.
  - O que você faz? – Ele perguntou, tirando-a de seus pensamentos.
  - Só estudo. Estou terminando o Ensino Médio. – Respondeu, depois de se certificar que estava no comercial. – E você?
  - Eu estou tentando montar uma banda. – exclamou “Que legal!”, e Danny sorriu orgulhoso. – Conheci um garoto há algumas semanas, Tom Fletcher, e essa semana fizemos as audições.
  - E como foi? Encontraram alguém legal? – Ela se virou para o garoto, nem perceberam que o comercial já havia acabado.
  - Foi épico! Nunca vi tanta gente talentosa no mesmo lugar. – Ele sorria muito ao contar, percebeu. Ela gostava do sorriso dele. – Apareceu um cara lá que não se encaixava entre os outros, mas ele arrasou na bateria. E teve um garoto que vomitou antes de se apresentar!
  - Sério? – A garota fez cara de nojo. – E ele foi bem?
  - Foi ótimo! O melhor baixista que se apresentou até agora. Acho que vamos ficar com eles.
  - Que instrumento você toca?
  - Violão e guitarra. Quer me ouvir tocar?
  - Claro!
  - Já volto, então. – Danny saiu correndo, e riu da pressa do rapaz. Começou a pegar os copos e pacotes de comida que estavam espalhados pelo chão. Teria que ir ao mercado logo. – Voltei. Mas que tal pedirmos uma pizza antes?

  - Baby, we were born to run! - Danny cantava enquanto tocava violão. A garota o ouvia atentamente. Ele tinha uma voz rouca que não combinava muito com a sua idade, mas parecia ser perfeita. Seus dedos se mexiam sobre as cordas como se fizessem isso desde sempre.
  - Nossa, você é muito bom! – Ambos tentaram ignorar a malícia que surgiu por trás dessas palavras. – Você compõe também?
  - Obrigado, eu tento compor. Não sei se sou bom como compositor. Mas o Tom é. Ele escreve músicas com o pessoal do Busted. Acho que vou conhecê-los dentro de algumas semanas.
  - Com o Busted? Sério? – não conseguiu esconder o entusiasmo, Busted era sua banda favorita, e Danny não conseguiu não sentir uma pontinha de ciúmes. – Eu gostaria de ouvir uma de suas canções. – Ela deu seu melhor sorriso, queria encorajar Danny, mostrar que acreditava que um dia sua banda seria tão boa quanto Busted.
  Danny estava num dilema se tocava ou não uma música sua. Seus pensamentos foram interrompidos pelo som da campainha.
  - Deve ser a pizza. – se levantou e foi pegar sua carteira. – Quanto deu?
  - Deixa que eu pago. – Ele disse, quase deixando o violão cair ao tentar colocá-lo de lado e indo pegar a pizza, sem dar chance para protestar. – Você provavelmente vai ter que ir ao mercado só pra repor tudo o que eu comi.
  - Tudo bem. – A garota ergueu os braços em sinal de derrota.

  Como já tinha visto todos os episódios de Friends, permitiu-se pensar sobre a situação enquanto comia.
  Pela primeira vez em muito tempo, ela estava sozinha com alguém que era seu amigo. Danny estava ali porque gostara dela, não porque conheceu antes. Eles estavam se divertindo bastante, e a garota estava adorando isso.
  Ela não prestava a mínima atenção à série, embora seus olhos estivessem focados na tela. Mesmo assim ela ria das piadas, quero dizer, ela ria de Danny rindo das piadas. A risada dele era muito escandalosa.
  Se pudesse descrevê-lo em três palavras, elas seriam: idiota, idiota e idiota. Danny era bobo, mas de um jeito bom. Ele sabia ser engraçado na hora certa e parecia não saber que tinha um sorriso incrível...
  - Oh, oh.
  - O que foi? – O garoto a olhou preocupado, percebeu que havia falado em voz alta.
  - Ah, nada.
  - Você está bem? Não riu das piadas mais engraçadas do Chandler!
  - Estou bem, sim. Obrigada por se preocupar. – Sorriu para ele, mas este não se deu por convencido.
  - Já sei o que pode te animar. – Ele se levantou e foi em direção à porta, mas parou no meio caminho ao se lembrar de algo. – Espera, você já viu esses episódios de Friends?
  - Danny, eu já vi todos os episódios. – se levantou também. – Eu só estava vendo porque nunca me canso de Friends.
  - Não tem como se cansar, não é? – Ele a pegou pela mão e praticamente a arrastou para fora do prédio. – Vamos, .
  - Para onde? – Ela perguntou um pouco assustada. Era quase meia-noite. Não gostava de Danny tanto assim a ponto de ir pra rua com ele no meio da noite.
  - Eu vi um parque aqui perto esses dias. – O garoto respondeu depois de um tempo.
  - Não tem nenhum parque por aqui, Danny. – olhou em volta e começou a ficar assustada. – Aliás, eu nem conheço esse lugar que estamos.
  - Não conhece? – Danny perguntou, sentindo o pânico na voz da garota. – Eu achei que sabia onde era, mas acho que estamos perdidos agora.
  - Você acha? – Suas palavras estavam carregadas de sarcasmo. – Tá legal, nada de pânico. Vamos só voltar por onde viemos. – Ela apontou para um lado, mas sem muita certeza.
  Andavam em silêncio, só falavam quando era pra comentar a direção que deviam seguir. Danny estava envergonhado, só queria animar a garota, e estava um pouco irritada com ele.
  - O que é aquele ponto brilhante lá fundo?
  - Acho que é o mercado 24h, Danny. Vamos lá. Tenho que comprar comida, não é? Alguém acabou com o que eu tinha em casa. – Ela o empurrou de brincadeira e saiu correndo, Danny foi atrás dela, rindo. Alcançou-a quando ela já estava dentro do mercado. – Oi, John. – Ela disse com um grande sorriso para o rapaz no caixa, que retribui com um grande sorriso também.
  - Oi, John. – Danny a imitou, John o ficou encarando com um olhar estranho. Para , falou: - Parece que você vem bastante aqui.
   apenas virou para o lado para que Danny não a visse corada.
  Ela conheceu John na escola, ficaram juntos por um tempo, mas se separaram quando ele começou a faculdade. Há algumas semanas, John começou a trabalhar ali no turno da noite. Embora não sentisse mais nada ele, gostava de ir lá para vê-lo.
  - Vamos continuar vendo Friends, , ou você acha que não consegue me aguentar durante o resto da noite?
  - Não sei. Podemos ver se tá passando algum filme legal.
  Pegaram um carrinho e o encheram com tudo o que tinham direito: pizza, pipoca, salgadinhos, chocolates, refrigerantes... aproveitou para comprar alguns produtos de limpeza e higiene que estavam no fim.
  Na hora de pagar, Danny fez gracinhas e ficava cutucando , pois sabia que isso irritaria o tal de John. Ajudou muito o fato de que ela brincava também, sem perceber a cara que o antigo namorado fazia.
  - Ah, não! Começou a chover! – parou bruscamente no meio da rua, fazendo Danny quase bater nela.
  - Qual é o problema? Vai estragar a chapinha? – Danny disse, ele queria que parecesse brincadeira, mas o tom que usou acabou ofendendo a garota.
  - Não, idiota. Diferente de você, eu não preciso de chapinha. – Respondeu, talvez um pouco grossa demais, apontando para o cabelo dele, que começara a encaracolar. – Eu só não quero pegar um resfriado ou algo pior. Tenho várias provas na escola semana que vem.
  - Ah, desculpa. – Ficaram um tempo em silêncio na chuva, pensando. – O que acha disso? Vamos correndo até aquele ponto de ônibus, daí nos abrigamos lá até a chuva passar. – Foi o que fizeram. O ponto de ônibus não ficava longe e era fechado dos lados e atrás, de modo que a chuva não os alcançava. Sentaram no banco e deixaram as compras do lado. Foi quem quebrou o silêncio.
  - Pelo menos agora sabemos onde estamos. – Danny entendeu o que ela quis dizer.
  - Olha, , me desculpe. – Ele se virou para ela, mas ela não olhava para ele. – Você parecia triste. Não tem como não rir com Friends, e você estava séria. Eu só queria fazer você rir. – Decepcionado consigo mesmo, Danny encarou seus allstars molhados.
   finalmente olhou para ele, parecia arrependida por ter sido tão grossa antes. Foi dar um beijo em sua bochecha, mas Danny se virou na hora, e acabou beijando-o na boca.
  - Desculpe. – Ela se afastou rapidamente, indo para o outro lado do banco. – Eu só queria mostrar que não estou brava com você. Foi bom sair um pouco. Obrigada. – Sorriu tímida, se levantou e foi até a parte da frente do ponto de ônibus, onde a chuva molhava seus pés. Virou-se para Danny para falar mais, mas tudo o que viu foi o garoto indo em sua direção.
  Numa fração de segundos depois, Danny a segurava firmemente pela cintura, e arranhava sua nuca, suas bocas estavam coladas. Por causa do impacto, acabaram saindo do ponto de ônibus, indo parar na chuva.
  Nenhum deles admitiu isso depois, mas ambos sentiram como se estivessem em um filme. A situação, o beijo inesperado, mas desejado, a chuva... Ah, a chuva... Ela sempre deixa as coisas mais dramáticas, mais emocionantes.

  - Você viu? D. Jones? Tava escrito “D. Jones” no caminhão de esterco que caiu no carro do Biff! D. Jones. Danny Jones! – Danny ria apontando para a TV, parecia uma criança.
  A chuva não demorou a passar, e logo puderam voltar ao apartamento de . Ficaram deitados, abraçados, no sofá, assistindo a um filme sobre um garoto que, sem querer, voltava ao passado e acabava arruinando a chance de seus pais se conhecerem e se apaixonarem.
  - Qual é o nome da sua banda? – perguntou de repente.
  - Ainda não temos um nome. Precisamos ter uma reunião pra decidir. Por quê?
  - Ah, é que eu gostei do nome do personagem desse filme. McFly. Marty McFly.
  - Hm... McFLY. – Danny pensou um pouco. – É um bom nome. Mas será que daria certo? Quero dizer, parece nome de lanche do McDonald’s! – Ambos riram.

  Na manhã seguinte, Danny teve que ir. Ia se encontrar com Tom para discutir quem iria entrar na banda. Mas prometeu a que voltaria mais tarde para ver a estreia da nova temporada de Friends.
  Depois que terminou de limpar toda a bagunça que fizeram, apareceu.
  - Como foi seu sábado, ? – Perguntou, jogando a bolsa no sofá. – Muita diversão com Friends?
  - Foi legal. Me diverti bastante. – sorriu. Mais tarde contaria à amiga o que aconteceu, mas, por ora, queria manter o segredo para si.

FIM



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