A vida de uma garota gorda
Escrito por Luu Refundini | Revisado por Jaqueline Rocha
Prólogo
2003 – Rio de Janeiro
Era mais uma das tardes quentes da cidade maravilhosa. Nós já estávamos aqui a algumas semanas. Mais cedo eu tinha combinado com de ensaiarmos nossos números para o espetáculo de hoje. Nossos pais não querem que participemos de todas as apresentações, mas eu e minha melhor amiga amamos isso. Enquanto eu pensava em uma forma de convence-los vi que estava praticando nos panos da mãe dela. O dela tinha uma altura bem menor, pois ela ainda estava aprendendo. Se alguém descobre isso estamos ferrados, mas quem é que consegue segurar essa menina? Eu não.
- Olha , eu estou indo muito bem! – Comemorou a menina, se enrolando nos panos. Eu não entendo como ela não tem medo, é muito alto.
- , é melhor você descer daí antes que caia e se machuque. – Comentei preocupado, se ela caísse dali o estrago seria grande.
- Para de ser medroso. Não é porque você tem medo de altura que eu vou ficar igual você. Além do mais, já está praticamente perfeito. Olha só! – Ela exclamou, com um sorriso de orelha a orelha, e começou a fazer aquelas coisas que eu não entendo, mas acho lindo. É minha parte preferida do espetáculo. Eu estava olhando para ela com admiração quando percebi que tinha algo errado.
- , está tudo bem? – Perguntei preocupado.
- , eu acho que vou cair. Me ajuda, por favor! – Ela já estava se desesperando. Percebi que sua perna estava enroscada e ela não conseguia tirar.
- Fique calma e não se mexa, eu vou chamar ajuda. – Gritei para ela, já correndo para encontrar alguém. – Alguém me ajuda. A está enroscada nos panos e não consegue descer. – Falei quando saí da lona. A única pessoa que estava ali era Victória e eu não acho que possa ser de grande serventia. Vic e não se dão muito bem e ela é ainda mais nova que eu.
- O que aconteceu? – Perguntou ela, correndo para dentro do circo. Eu continuei em busca de um adulto para ajudar. De preferência a Marga que poderia tirar ela de lá. Avistei Tião saindo de seu trailer e corri até ele. – Tião, rápido, a precisa de ajuda. – Ele não perguntou nada, apenas veio atrás de mim. Quando entramos no circo eu tive uma surpresa, estava em cima de um colchão e Victória estava ao seu lado tentando acalma-la.
- O que aconteceu, ? Você está bem? – O pai dela parecia desesperado. Não era para menos, já que a parte de trás de sua cabeça estava sangrando.
- Quando eu cheguei aqui ela estava quase caindo, eu trouxe o colchão para cá e ela se jogou. Não dava para esperar mais. Eu não fiz nada, eu juro! – Vic exclamou, com medo da culpa recair sobre ela.
- Está tudo bem, Vic. Vamos leva-la ao hospital e tudo vai se resolver. – Tião parecia mais calmo. – , pode chamar a Marga para mim? E traga a chave do carro também, por favor! – Ele me pediu enquanto já pegava no colo. Até então ela não tinha dito nada. Parecia estar muito assustada com o sangue, mas pelo menos estava acordada. Eu saí correndo outra vez atrás da esposa de Tião.
• • •
acabou de chegar do hospital. Eu não fui junto pois meus pais disseram que eu poderia atrapalhar, então estou muito preocupado. Assim que ela desceu do carro veio correndo me abraçar.
- Você está bem, ? O que o médico falou? – Eu perguntei agora um pouco mais calmo, aparentemente ela estava bem.
- Eu estou bem , pode se acalmar. Foi só um susto, o corte não foi grande, mas tive que levar 3 pontos. Ele disse que vai ficar uma cicatriz! – Ela respondeu animada. Minha melhor amiga sempre quis ter uma cicatriz.
- Eu aqui morrendo de preocupação e você feliz porque ganhou uma cicatriz. Eu desisto de você, mocinha. – Respondi aliviado. Se alguma coisa de ruim acontecesse com ela eu nunca me perdoaria.
- Agora que os melhores amigos já conversaram, eu quero saber direitinho que história é essa de que você estava praticando nos meus panos, . – Margarida falou se aproximando de nós. E agora vem o castigo. Apertei a mão de na minha e ela contou a história. Quando terminou sua mãe sentenciou seu castigo: um mês sem se apresentar nos espetáculos. E ali eu soube que durante o próximo mês nós dois não faríamos o que amamos, pois sempre foi e sempre seria assim. e se metendo em encrenca e pagando seus castigos. Juntos.
Capítulo 1
Todo ano passamos o natal em uma cidade diferente. Esse ano a escolhida foi Curitiba. Estamos a caminho e enquanto isso estou repassando as lembranças que tenho da cidade em minhas memórias. Apesar de adorarmos a cidade, fazem alguns anos que não erguemos nossa lona aqui.
A última vez foi a uns cinco anos atrás e é nela que estou pensando. Foi quando conheci a única pessoa de fora do circo que já consegui manter uma amizade depois de ir embora. Entretanto, a algum tempo perdemos o contato e eu sinto muitas saudades de Laura. Espero poder reencontra-la nesses dois meses. O nosso circo é conhecido e sempre nos estabelecemos em algum ponto central, o que o deixa em evidência. Eventualmente ela nos encontrará.
Olho pela janela e vejo a comitiva do Lestar’s Circus atrás de nós. Somos um circo relativamente grande e com um bom tempo de estrada. Meus avós o fundaram a muitos anos, quando ainda eram jovens, e ele ficou para meu pai e meu tio quando eles faleceram. Ser circense está no meu sangue e eu me orgulho muito da minha profissão.
Eu faço acrobacia aérea junto de minha mãe e minha irmã mais nova. Aqui é assim, se você é filho de um palhaço, então palhaço você será. É claro que não é uma regra, mas acaba sendo uma coisa de família.
Já ia me esquecendo de me apresentar. Meu nome é Lestar, mais conhecida por todos como (ou bela, mas isso só se você for o meu melhor amigo). Tenho 20 anos, meu signo é escorpião e minha cor favorita é amarelo.
Agora que já fiz uma breve apresentação posso continuar com meu monólogo. Chegamos em Curitiba e esse lugar pode até ter o tempo bipolar, como Laura vivia dizendo, mas não posso negar que é muito lindo.
- Chegamos, ! – Essa todo empolgada é minha irmã mais nova, Maria Flor. Ela está muito animada para conhecer a cidade, já que não lembra de nada pois da última vez que estivemos aqui ela tinha apenas três anos.
- Estou indo, Flor, se acalme menina! – Respondi rindo e desci do trailer.
O lugar onde ficaremos desta vez é à beira de uma rodovia muito movimentada da cidade, a linha verde, e é ao lado de uma outra avenida também muito conhecida, a Avenida Marechal Floriano Peixoto. Soube pelo Google que fica muito próximo ao centro da cidade e eu estou louca para passear por aí. Sem dúvidas irei arrastar o comigo qualquer dia desses.
Observo meu pai todo animado, como sempre, já arrumando tudo para começar a erguer a lona. Ele adora essa parte. Outras pessoas já estão se aproximando para ajuda-lo e decido que hoje vou deixar essa tarefa para eles.
Minha mãe se aproxima de mim e entrega a chave do carro. Eu a olho com cara de interrogação e ela explica:
- Pega seus irmãos e seu melhor amigo e vão fazer compras para nós. Estamos quase sem mantimentos e daqui a pouco eles vão estar morrendo de fome. – Aponta para o pessoal que está montando o circo e eu pego a chave de sua mão.
- Tudo bem, mamãe. Quer algo especial ou o de sempre? – Pergunto animada, eu adoro esse tipo de programa com meus pequenos.
- O de sempre. E vão logo que já está quase na hora do jantar. – Ela resmunga e sai andando. Nossa relação nunca foi muito boa, mas ultimamente ela está muito estranha.
Afasto esses pensamentos e vou atrás de meus companheiros de mercado. Flor e Chico já estão me esperando perto do carro. deve estar escondido em algum canto. Preguiçoso que é, odeia ajudar na montagem do circo. Vou até o trailer de sua família e bato na porta.
Pode sair, preguiçoso. A gente vai no mercado – Digo num tom zombeteiro e me afasto quando a porta começa a se abrir.
- Nossa Bela como você é engraçada. Estou rolando de rir, está vendo? – Ele aponta para o chão, sua voz num tom entediado.
- Para de ser chato e vamos logo, as crianças estão nos esperando. – Pego sua mão e o arrasto comigo.
No caminho para o mercado as crianças e cantaram as músicas que tocavam no rádio. E quando eu digo cantaram leia berraram. Só fiquei observando e rindo pois se sem eu cantar estava ruim não quero nem imaginar se tivesse me aventurado nessa.
Entramos no mercado e pegamos um carrinho, as crianças saíram correndo na frente.
- Olha só boo, a culpa é sua por deixá-los elétricos. – Falei para meu amigo que só fazia rir. - Vamos logo antes que eles sumam de nossa vista. – Empurrei o carinho e fui atrás dos meus pequenos.
- Olha , chocolate! – Flor me disse toda animada.
Ela é uma chocólatra assídua, assim como eu. Ai o motivo de toda a empolgação para ir ao mercado, mamãe costuma ser mais econômica.
Fizemos as compras em meio a muita diversão. As crianças e se adoram, coisa que me deixa muito feliz. Eles são três das pessoas mais importantes de minha vida.
Em um momento onde Flor e Chico discutiam sobre algum salgadinho eu e meu melhor amigo estávamos os esperando abraçados perto do carrinho. Isso sempre foi normal, somos muito grudados desde que me entendo por gente. Riamos da cena das crianças quando uma senhora parou ao nosso lado e disse:
- Que casal lindo vocês formam! Mas por favor, me digam que aqueles ali não são seus filhos, vocês parecem muito novos para isso. – Ela disse muito simpática, eu já sabia o que iria responder então apenas aguardei. Essa não era a primeira e muito menos a última que nos confundiriam com o casal apaixonado.
- Oh, muito obrigado, minha nobre Senhora! Eu e minha jovem esposa ficamos muito honrados com o elogio! – Ele disse na maior pose de lorde inglês que podia. – E nos desculpe por decepciona-la, mas sim, aqueles dois são nossos filhos. Sabe, eles foram encontrados abandonados na casa ao lado da nossa e minha querida esposa não pode ter filhos. Havíamos entrado com um pedido de adoção há algum tempo e quando descobrimos que eles iriam para um abrigo fizemos de tudo para traze-los para nós. – Ele inventou com uma expressão triste. Não sei até quando conseguiria segurar a gargalhada que estava presa em minha garganta. – Mas entendo perfeitamente sua decepção em ver um casal tão jovem já com filhos tão grandes! – Finalizou ele, muito certo de que tudo que disse era a mais pura verdade. A pobre senhora não sabia se ficava emocionada, envergonhada ou pedia desculpas.
- Ah... é... eu... eu não sabia... – A senhora, de cabelos tão brancos que pareciam até algodão doce e óculos de grau, não conseguia formar uma frase coerente depois de tudo que meu querido esposo falso disse. – Digo, parabéns pela linda atitude. Eu preciso ir, até mais! – Assim que seu cérebro encontrou a conexão com a língua ela soltou essa frase e saiu de perto de nós apressadamente.
Eu não consegui mais me segurar e comecei a rir feito uma louca dentro do mercado. Isso chamou a atenção das crianças que pararam de discutir e vieram ver do que sua irmã louca tanto ria. estava com um sorrisinho de quem havia aprontado, mas nem se comparava ao meu estado de crise de riso. Assim que consegui me controlar deu um tapa no ombro do babaca do meu amigo.
Isso foi ridículo, Boo. Parecia até o Athos* fazendo uma apresentação. Você tem que parar de enganar as pessoas assim. – O repreendi, mas em tom de brincadeira. Eu nunca me cansaria disso, esse era um dos motivos de ele ser meu melhor amigo, eu amo seu senso de humor.
- Ah, qual é Bela, ela queira nos dar uma lição de moral, eu só dei o troco. – Já estava totalmente recuperado, nunca vou entender como ele consegue fazer uma palhaçada tão grande e adir normalmente.
Depois de inventar uma desculpa esfarrapada para as crianças, pagamos as compras e voltamos para o circo. Se mamãe desconfiasse dessa história, certamente eu e estaríamos ferrados. Ela não suporta quando aprontamos alguma, acho que está sobrecarregada de tudo que já fizemos nesses 20 anos de amizade.
Quando chegamos no trailer mamãe já estava impaciente. Tudo bem, talvez nós tenhamos demorado um pouquinho por conta da brincadeira de , mas ainda faltavam algumas horas para anoitecer. Ela está realmente estranha, preciso investigar isso.
Quando começou a escurecer a montagem do circo já estava bem adiantada. O que era bom já que hoje é quinta-feira e a ideia é que a noite de estreia seja no sábado. Geralmente temos um período mais longo de adaptação e montagem da lona, mas dessa vez a viagem foi um pouco longa o que diminui nosso tempo. Espero que ocorra tudo bem, do jeito que Margarida está mais pirada que o normal ela é capaz de enlouquecer se algo sair fora do que está planejado.
Por conta de toda a bagunça que virou a vida dela depois que fugiu com o papai agora ela gosta de ter tudo dentro do controle dela. E quando não acontece ela surta. Ela é minha mãe, mas quando começa a me encher o saco tenho vontade de deixá-la a ver navios.
Ela está terminando a janta coletiva com a ajuda de Isália, sua melhor amiga e mãe de Victória, e Elisa, mãe de , quando resolvo tomar um ar.
Sento-me um pouco afastada de todos e fico pensando em como será essa temporada, se ela terminará como todas as outras ou de uma maneira surpreende. Se meus planos derem certo com certeza todos ficaram surpresos.
Estava imersa em pensamentos quando sinto alguém sentar ao meu lado. Não sinto o perfume de , o que significa que só pode ser meu pai. Eles são os únicos que viriam aqui nesse momento. Eu tenho essa mania de ter um tempo só para mim as vezes e todo mundo costuma respeitar. Menos os dois caras que mais me conhecem nesse mundo, eles sempre sabem quando devem se aproximar.
Meu palhaço favorito número um (o dois é o Chico) passa um braço sobre meus ombros e me puxa para mais perto. Eu encosto a cabeça em seu ombro e suspiro. Ele decide que é uma boa hora para falar, coisa que não concordo, só de ficar ao seu lado em silêncio já seria o suficiente para eu me animar.
- O que está se passando nessa cabecinha, filha? – Ele pergunta em seu tom carinhoso de sempre.
- Muitas coisas, papai. Muitas coisas. – Se fosse qualquer outra pessoa além de pensaria que eu estou fazendo mistério, mas esse palhaço me conhece como ninguém.
- Você sabe que pode contar comigo para tudo, não sabe?
- Claro que sei, seu Tião. Eu só não quero falar disso agora. – Explico, apesar de ter certeza que ela já sabe disso.
Ele aperta mais o abraço e eu lembro de agradecer as forças divinas por ter me dado um pai tão carinhoso e atencioso como ele. Ficamos assim por um tempo até que nossa Flor vem nos chamar para jantar.
- Papai! ! O jantar está pronto, estamos só esperando vocês. Venham logo, eu estou morrendo de fome. – Nossa menina falou e saiu correndo em seguida. Ela realmente está em fase de crescimento.
Me levanto, respiro fundo e dou um abraço em meu pai. Ele não diz nada e nós vamos em direção a enorme mesa que está montada no meio de todos os trailers.
Eu olho para aquelas pessoas pensando em como cada uma é importante de uma forma em minha vida. Meus pais, meus irmãos, meu melhor amigo... até mesmo Vitória. Abro um sorriso e me junto a eles na mesa. Sento ao lado de e sei que ele sabe que tem algo acontecendo, mas não diz nada.
Apenas me olha com aquela cara de quem vai fazer alguma graça para me animar e eu já começo a rir. Ele pega seu prato na mão, grita um “ATACAR!” e sai correndo até onde a comida está. Eu nunca saberei viver sem ele.
Capítulo 2
Acordei sentindo um peso e muitas risadas em minhas costas. Pelo tom doce da voz que me chamava insistentemente percebi ser Flor. Ela ainda não havia percebido que eu estava acordada, então aproveitei um momento de sua distração e a joguei na cama, ficando por cima e iniciando um ataque de cocegas em sua barriga. Ela gargalhava o mais alto que conseguia e pela falta de ar ficava uma coisa muita engraçada de se ouvir. Fui diminuindo o ritmo quando percebi que era a hora e quando parei me joguei ao seu lado, os olhos atentos a minha pequena. Como eu amo o som que ela reproduz quando está aos risos. É uma das coisas que me faz bem, traz uma sensação de paz ao meu peito, e acordar assim não tem preço. Quando ela voltou ao normal me olhou tentando parecer zangada.
- Eu venho te chamar para não ficar sem café da manhã, já que Chico já está na mesa, e é assim que você retribui? – Com os olhos cerrados e tentando segurar um sorriso sapeca, ela diz.
- Se é assim vamos logo, antes que ele acabe com tudo! - Levanto assim que digo as palavras, num tom exageradamente teatral, com a expressão mais séria que consigo e a pego em meu colo correndo para nossa pequena cozinha. Ela não aguenta e solta mais uma de suas gargalhadas. Assim que chegamos na mesa encontro nossos pais e irmão sentados, também rindo da cena.
- Ei, eu ouvi essa conversa! - Chico exclama.
- E o que foi que falamos demais? Você é esfomeado mesmo e se deixar come toda a comida! – Digo a ele, dando a língua em seguida. Maduro, eu sei. Toda vez que digo que sou uma adulta perto de ele usa isso como argumento.
- Tudo bem, crianças. Sem discussão na mesa. – Até meu pai me trata como uma criança, estou mesmo perdida. Coloco Maria em seu lugar e sigo para a cadeira vazia ao lado de Chico.
Nosso trailer não tem nada de luxuoso, mas é muito confortável e o mais próximo de algo que posso chamar de casa, então tenho muito carinho por ele.
Do lado de fora é possível ver a faixada do circo em fundo amarelo. Não poderia ser diferente já que essa cor é a marca de nossa família e, sendo assim, do nosso circo também. A porta fica na lateral e logo que é aberta pode se ver três degraus que dão acesso a sala. Que é composta por um sofá pequeno, um tapete peludo, televisão bem ao lado da entrada e uma janela logo atrás do sofá. Do lado direito fica a cabine do motorista, nada mais é do que o assento de quem dirige, todos os aparatos de um carro normal e logo ao lado um assento carona. No outro extremo da sala temos a cozinha/sala de jantar. Um pouco afastada do sofá fica a mesa redonda de quatro cadeiras, ao seu lado a geladeira não muito grande, pois espaço aqui é ouro. Em frente à mesa e ao lado da televisão ficam a pia, os armários e o fogão, nem preciso dizer sobre o tamanho reduzido. Acabando isso ficam os quartos e o banheiro. No pequeno corredor ficam três portas. A primeira delas é o banheiro, por dentro temos o chuveiro, logo ao lado uma pequena janela, o vaso, uma pequena pia e um espelho na parede. Logo em frente o quarto que eu costumava dividir com Chico até Flor nascer, por ele ser menor que o outro papai e mamãe foram obrigados a nos ceder o maior, para que pudéssemos nos acomodar confortavelmente. Dentro do menor ficam a cama de casal dos meus pais, o armário e um criado mudo, na parede atrás da cama uma janela. No outro quarto temos uma cama de casal que eu divido com minha irmã e ao lado uma de solteiro para o Chico, em frente as camas um armário e ao lado uma cômoda e um baú, que é onde as crianças guardam seus brinquedos, a janela fica ao lado da cama de casal.
Pode parecer pouco, mas é um dos meus lugares favoritos em todo mundo. E o melhor disso é que ela está em todos os lugares, nunca fica para trás. Às vezes, quando estou aqui dentro finjo que tenho uma vida normal e que esse trailer é, na verdade, uma casa em um lugar fixo. Isso me traz uma sensação de segurança, mas que logo é dissipada quando alguém entra pela porta.
Saio de meus devaneios quando percebo que todos estão se levantado da mesa e indo se aprontar para o ensaio. Hoje o circo já está quase pronto e vamos aproveitar para ensaiar nossas apresentações.
Faço minha higiene matinal, visto uma roupa confortável e me dirijo para fora, dando de cara com meu melhor amigo também saindo de seu trailer. Ele vem até mim e me puxa para um abraço, dando um beijo em minha testa logo em seguida.
- Bom dia! – Digo com animação em minha voz.
Às vezes penso que gosto mais do ensaio do que do espetáculo em si, é tão bom estar ali com aquelas pessoas que eu amo. A diversão é garantida e não tem toda a pressão que o outro traz, é onde podemos errar quantas vezes for preciso até ficar perfeito.
- Bom dia, Bela! – Ele responde tão animado quanto eu.
- Vamos, quero chegar antes que Victória, não quero ter que aguentar suas gracinhas já cedo. – Puxo sua mão e vou em direção ao circo.
Assim que entramos percebo que os gêmeos já estão lá.
Paulo Augusto e João Pedro são os mais recentes em nosso circo. Eles estão conosco a cerca de um ano e meio, mas tenho a impressão de que é muito mais.
Os mímicos se aproximam assim que percebem nossa presença ali. Paulo é o primeiro a me abraçar.
- Bom dia, Bela! - Ele adora me chamar pelo apelido que me deu quando ainda éramos criança. Meu melhor amigo odeia que qualquer um use-o e por isso mesmo é que Paulo o faz sempre que pode. Dou uma risada já sabendo que irá reclamar. Ele me puxa para longe do amigo e me abraça possesivamente.
- Sai fora, Paulo. Só eu quem posso chama-la de Bela, arrume um apelido para si mesmo já que faz tanta questão! – Exclama fingindo irritação, mas no fundo de sua voz é perceptível o tom de brincadeira. Ele já se acostumou com as provocações de Paulo e sabe que é só para irrita-lo. Mas se fosse o outro gêmeo me chamando assim as coisas ficariam mais serias, já que os dois têm essa rixa besta.
- Qual é, , a nem liga. Não é mesmo, Bela? - Pergunta, os dois olham para mim, que ainda estou presa nos braços de . Eu posso até ser alta, mas ele é ainda mais e muito mais forte também.
- Parem de ladainha e vamos ensaiar! – Digo para os dois e finalmente me solta. Me aproximo de João e dou um beijo em sua bochecha, lhe dou um bom dia e ouço bufar logo atrás. Eu me divirto com a irritação dele em relação ao “gêmeo mal”, que é como ele costuma chamar João.
Esquecendo disso tudo ando em direção ao meu pano que já está pendurado nas armações do teto do circo. Começo me alongando e logo mamãe e Flor estão ao meu lado. Elas se juntam a mim no alongamento e quando terminamos começamos a praticar nossa coreografia.
Flor liga a música e com toda sua alegria diária se dirige ao pano que está pendurado um pouco mais para baixo do que o meu e de mamãe. Mesmo que ela já se dê muito bem com a acrobacia meus pais mantem a altura dela menor. Eles dizem que não querem que se repita o que aconteceu comigo quando era menor e decidi treinar nos panos da mamãe.
Olho ao meu redor e encontro todos meus colegas ensaiando seus respectivos números. Todos demonstram muito amor no que fazem e parecem gostar de estar aqui. Suspiro e volto ao meu ensaio.
Depois de três horas de ensaio mamãe diz que vai ir preparar o almoço, Elisa e Isália também param o que estavam fazendo e juntas elas vão para algum dos trailers fazer aquela maravilha que chamam de comida. Eu nunca tive muitas habilidades na cozinha, então prefiro continuar por aqui a atrapalhar o trabalho delas. Não deve ser fácil fazer comida para um batalhão.
As crianças resolvem que já está na hora de irem brincar lá fora. Chico, Maria e Gustavo são nossos xodós e, por serem tão pequenos, só participam de alguns espetáculos, geralmente os mais importantes ou quando estão com muita vontade. Assim foi comigo e todas as outras crianças que cresceram aqui também. Papai e tio Humberto só permitem que assumam um papel fixo nas apresentações quando se completa 15 anos. Normalmente quando fazem 15 anos as meninas ganham uma festa de debutante, eu ganhei o direito de ter um número fixo no circo de minha família. E eu não estou reclamando, muito pelo contrário. Meus sonhos nunca foram muito parecidos com os das outras pessoas que tem uma vida normal e isso nunca me incomodou.
Percebo que Flávia está sozinha e vou até ela. Seu número, de sua mãe Isália e de sua irmã Victória é o trapézio. Elas mandam muito bem e eu adoro vê-las voando de um lado ao outro.
- Olá, moça bonita! – Falo assim que estou próxima a ela. Percebo que estava perdida em pensamento quando me olha com uma interrogação no olhar. - Está no mundo da lua, é? – Brinco sentando me ao seu lado.
- Ah... Oi, ! Claro que não, só estava pensando. – Ela me responde com uma expressão estranha.
- Ei, está tudo bem, Fla? Você não está normal. - Pergunto preocupada. Flávia é sempre tão animada que costumam compara-la a Maria, é muito estranho que esteja tão para baixo.
- Eu estou ótima, . Só estava pensando que daqui algumas semanas eu vou poder finalmente dizer que trabalho no Lestar’s Circus! - Exclama animada, essa sim é a menina que eu conheço.
- Ata, entendi! Sei bem como se sente, é maravilhoso! - Digo dando risada. - Você vai adorar receber uma grana, por menor que seja, por fazer aquilo que ama! E também vai ter um pouquinho mais de liberdade, isso é ótimo! - Continuo animada, puxando-a para um abraço apertado.
Eu e Victória nunca nos demos bem, ela sempre implicou muito comigo e eu não deixava barato. Quando Flávia nasceu eu ainda era filha única, o que me fez ficar encantada pela pequena menina. E aproveitando que sua irmã mais velha estava muito ocupada sentindo ciúme eu me aproximei muito dela, e desde sempre somos muito próximas. Depois de um tempo o ciúme passou e Victória tentou se aproximar mais da irmã caçula, mas como ela não suporta ficar muito tempo no mesmo ambiente que eu elas tiveram muitas discussões. Acho que esse é mais um dos motivos pelo qual Victória não gosta de mim.
Ficamos ali conversando até que as crianças vieram chamar todos para almoçar. Assim que saio do circo, com Flávia ao meu lado, percebo que todos já estão ali, se servindo e indo se sentar na grande mesa. Geralmente almoçamos todos juntos e na janta, por conta do espetáculo, cada um vai para o seu trailer e faz o que pode, já que saímos mortos de fome.
Vou até a comida e faço meu prato. O cheiro está maravilhoso, como sempre. Me sento ao lado de meu primo Leandro e Flávia vai para perto da família dela.
Leandro é filho adotivo do meu tio Humberto. Ele o conheceu andando pelas ruas de Vitória quando o menino tinha apenas 7 anos. Conversando com a criança descobriu que ele tinha perdido a mãe muito novo e sido levado para um abrigo do qual tinha fugido há alguns meses. Meu tio o levou para ver o espetáculo e o menino se encantou com tudo e pediu para ficar conosco. Meu tio aceitou com a condição de que ele o deixasse ser seu pai, e assim foi. Ele é um menino incrível e eu o amo muito.
- E ai, Le? Tudo bem? - Pergunto após me sentar ao seu lado e deixar um beijo em seu rosto.
- Tudo sim, . E com você? - Ele devolve a pergunta, parando de comer para me olhar.
- Estou ótima! Ansiosa para rever a cidade logo. - Respondo dando um sorriso nostálgico. Nesse momento percebo se aproximando junto de meus irmãos.
Ele e Chico se sentam em frente a mim e Leandro e Flor se senta ao meu lado.
- E então crianças, estão gostando da cidade? - Pergunto a meus irmãos e eles apenas balançam a cabeça para afirmar que sim. Estão muito ocupados se alimentando, principalmente Chico. Dou uma risada e resolvo começar a comer também.
- Bela, o que acha de irmos passear pela cidade? - chama minha atenção com a pergunta.
- Claro que sim, Boo. Mas acho que só conseguiremos fazer isso segunda-feira. Minha mãe está um pouco surtada para estrear logo e preciso estar aqui caso de algo errado. Sabe como ela fica quando planeja algo. - Responde meu amigo com uma carreta de tédio no rosto.
- Tudo bem então, segunda iremos explorar Curitiba. Quem sabe não encontramos Laura em algum lugar? - Ele sabe que estou louca para encontrar minha amiga.
- É, quem sabe, né? - Respondo fugindo do assunto. Não quero que percebam que estou trise por ela. Apesar de que já sabe disso só de me olhar os outros não perceberam e as crianças odeiam me ver triste. Ele me lança um olhar de quem sabe o que estou fazendo e eu apenas arqueio as sobrancelhas para ele, pedindo com o olhar para que deixe esse assunto de lado.
Logo todos estão sentados à mesa fazendo suas refeições e o barulho da conversa é alta. Esse é um dos sons que entra para a lista junto com as gargalhadas de minha irmã. Eu adoro como mesmo com alguns problemas somos tão unidos, como uma família que a vida uniu.
Capítulo 3
O dia de ontem foi recheado de ensaios e diversão. A noite cada um foi para sua casa descansar pois hoje é dia de estreia. Durante a manhã revisamos os últimos ajustes das apresentações e agora papai e tio Humberto estão finalizando todos os detalhes para a o espetáculo.
Estou no trailer quando escuto uma movimentação estranha do lado de fora, parecem... gritos? Quando saí do trailer a primeira coisa que vi foi minha mãe gritando a todo vapor.
– COMO ASSIM O CIRCO AINDA NÃO ESTÁ MONTADO? O ESPETÁCULO COMEÇA DAQUI A TRÊS HORAS! – Margarida parecia realmente transtornada.
– Calma amor, nós já estamos terminando tudo. Só houve um problema que já foi resolvido! – Meu pai argumentou, tentando acalmar a esposa.
– O que está acontecendo aqui? – Pergunto quando chego onde eles estão.
– Esses irresponsáveis ainda não terminaram tudo. Você acredita nisso, filha? – Rebateu Marga.
– Fique calma, mãe. Papai já garantiu que está tudo bem, você não ouviu? Foi só um imprevisto. – Tentei contornar a situação. As pessoas que passavam na rua já estavam parando para observar o escândalo.
– Você como sempre defendendo seu pai, não sei por que penso que seria diferente. – Reclama minha mãe– Vá procurar seus irmãos, eles devem estar brincando em algum canto e já está na hora de começarem a se arrumar para a apresentação de hoje. – Finalizou ela, nos dando as costas e entrando no trailer.
Olhei para meu pai em busca de uma resposta e ele apenas deu de ombros. Eu já deveria estar acostumada aos surtos de minha mãe, mas é um pouco difícil. Desde que me lembro ela é assim e, sinceramente, acho que não vai mudar nunca. Só que as vezes eu entro em fase de negação, fico pensando que ela deveria agir como a mãe de três filhos que é, e não como uma adolescente com os hormônios a flor da pele. Decidindo parar de pensar nisso vou atrás dos meus dois tesourinhos.
Os encontro atrás do circo brincando de amarelinha, essa é a brincadeira favorita deles. Assim que me vêm as crianças correm para me abraçar.
– Oi meus amores, o que estão aprontando? – Pergunto, me abaixando para ganhar dois beijos estalados nas bochechas.
– Nós estamos brincando de amarelinha, . Vem brincar com a gente? – Pediu Chico, elétrico como sempre.
– Agora está na hora de irmos nos arrumar, Chico. Amanhã podemos brincar, tudo bem? – Respondo, já sabendo que viria manha.
– Mas a gente nem chegou direito e já temos que nos apresentar? – Reclamou Maria, fazendo biquinho.
– Vocês sabem que hoje mamãe está muito animada e ela gostaria muito que vocês se apresentassem, mas se não querem posso falar com ela. – Argumentei, sabendo que eles só não queriam parar de brincar. Por serem ainda muito novos meus irmãos não estavam em todas as apresentações, apenas faziam seus números quando queriam ou era algo importante, como noite de estreia, apesar de realmente amarem isso.
– Não, a gente quer sim! – Maria respondeu prontamente.
– A brincadeira já estava perdendo a graça mesmo. – Completou Chico, com seu espirito animado de sempre.
– Então vamos ficar lindos pois hoje é noite de estreia, criançada! – Comemorei animada.
Eu e meus irmãos nos dirigimos ao camarim que ficava na parte de traz do palco. Lá já estavam todos os nossos colegas.
Me sentei em uma das cadeiras vagas e me dediquei a caracterização de meus pequenos.
Chico vestiu um sapato, calças e colete pretos, camisa branca e na cabeça um chapéu preto com uma fita vermelha. Em todo seu rosto apliquei tinta branca, reforcei a sobrancelha com preta, fiz um risco em baixo de cada olho com o lápis de olho e no nariz uma bola vermelha, finalizando meu palhacinho.
Flor vestiu uma meia-calça e collant vermelhos, nos pés uma sapatilha da mesma cor. Em seu cabelo fiz um coque alto, deixando todos os fios bem presos para que não a atrapalhem na hora do número. Sua maquiagem foi uma versão mais simples da mesma que mamãe e eu usaríamos. Nos olhos sombra vermelha e rímel, no rosto um pouco de blush e um coração preto próximo ao canto de seu olho direito, na boca batom nude com fundo rosa.
Depois disso vesti meu collant, meia-calça e sapatilhas amarelos e percebendo que ainda tinha algum tempo até o espetáculo fui até o camarim dos meninos ver como eles estavam. Geralmente, e Paulo não tem problemas quanto a maquiagem. O primeiro, inclusive, usa apenas porque quer, já que seu cargo não exige tanto quanto a isso. Já Paulo e João, que são mímicos, precisam de mais cuidados. João tem certa dificuldade em aceitar e, principalmente em início de temporada, alguém tem que o encorajar e normalmente esse alguém sou eu.
Bato na porta e já vou entrando. Percebo que o clima parece tenso e assim que entro meu pai, o pai de , o de Victória e meu tio saem. Gustavo e Chico costumam ficar conosco no outro camarim, então sobram somente , Paulo, João e Leandro.
– Está tudo certo por aqui? – Pergunto cautelosa e me sento ao lado de meu melhor amigo no sofá.
– Claro, tirando o fato de que o seu melhor amigo quer me forçar a usar essas coisas está tudo ótimo e com você? – Percebo o tom de ironia na voz de João quando ele se pronuncia.
– Cara, você sabe que tem que usar, não entendo qual é o seu objetivo fazendo essa mesma cena toda vez. – responde irritado. Aproveito que sua mão está descansando em sua perna e a seguro, dando um apertão para tentar acalma-lo.
– Calma meninos, sem brigas por hoje. João, está certo, você precisa estar caracterizado. – Percebo que ele vai rebater, mas continuo falando sem dar a chance de reclamação. – Eu posso te ajudar com isso, o que acha? – Sugiro, tentando contornar a situação. Meu melhor amigo que até então ainda segurava minha mão a larga e levanta bufando.
Sei que outra discussão está prestes a começar, mas não permito. Me sento na cadeira ao lado de João e já vou pegando as coisas para começar. Ele ainda parece contrariado mas acaba cedendo. Percebo saindo pela porta e os meninos vão atrás dele. Nunca entendi esse ciúme exagerado que ele sente pelo mímico e nem toda a competição sem sentido que rola entre eles, mas também não me meto. Por mim eles que se matem, só não uma hora antes de nossa estreia, Marga enlouqueceria a todos.
Me concentro em terminar a maquiagem de João, que foi quase igual à de Chico, tirando o nariz vermelho e assim que termino volto ao camarim feminino para terminar de me arrumar. Minha maquiagem é composta por sombra amarela, cílios postiços, blush, e o mesmo coração e batom de Flor. Finalizo tudo rapidamente e vou para a coxia onde encontro Catarina.
Ela e Flávia abre o espetáculo maravilhosamente, como sempre. Em seguida, os gêmeos animam a plateia com suas expressões engraçadas. Meu pai, meu irmão e Leandro se juntam a eles no palco e da plateia só se escuta risadas.
Depois de algum tempo percebo se preparando para seu número, que é o próximo. Me aproximo dele e o abraço, desejando boa sorte. Imaginei que ainda estivesse um pouco bravo por conta do ocorrido do camarim, mas quando ele me olha e dá um sorriso aberto sei que está tudo bem entre nós.
Logo as luzes se apagam e os que estavam no palco passam por nós, Paulo deseja boa sorte ao amigo com um toque de mãos típico dos dois e Chico repete. Eles se juntam ao resto do pessoal e Boo entra no palco.Durante os próximos minutos observo o ilusionista fazer seus truques que surpreendem e levam a plateia ao êxtase.
Assim que sai é a minha vez. Quando ele passa por mim deixa um beijo em minha testa e um “Boa sorte, Bela!” baixinho. Lhe dou um sorriso e, junto de minha mãe e irmã, entro no palco. Cumprimentamos o público e nos dirigimos aos nossos panos que já estavam prontos. Depois de alguns minutos de acrobacia no ar nos deixamos o palco e é a vez de Victória, Flávia e Isália.
Elas vão direto ao trapézio e realização sua apresentação, literalmente voando de um lado a outro do picadeiro. Elas saem e logo os pais de , Elisa e Miguel que são pernas de pau, meu tio Humberto que é malabarista e Catarina com seu monociclo entram no palco. Eles entretêm o público durante suas apresentações em conjunto e pouco a pouco vão deixando o palco.
Agora é a hora de um dos espetáculos mais esperados da noite, a pirofagia. Cícero e Gustavo entram já com o fogo no palito em suas mãos e começam a engolir o fogo e fazer vários espetáculos que levam o público ao delírio.
Assim que eles se despedem da plateia Flávia e Cata voltam ao palco e encerram a noite. Todos nós nos dirigimos ao palco para nos despedirmos e agradecermos ao público que nos aplaude em pé. A noite de estreia foi um sucesso e todos demonstram a felicidade que isso traz com enormes sorrisos nos rostos.