Au revoir mon amour

Escrito por Sabrina Pires | Revisado por Natashia Kitamura

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  Naquela triste agonia na lembrança da perda de um ente querido, eu chorava colocando para fora toda a dor que já não cabia mais em meu peito para fora. Por mais que tentasse conter as lágrimas elas insistiam em escorrer de meus olhos e um soluço escapava da minha garganta. Por mais que eu tentasse eu sentia-me a cada dia mais distante dele, mesmo ele tendo prometido a mim naquela noite – “meu amor, eu estarei com você pra sempre” – eu sentia que algo está errado, eu já não o sinto mais e isso dói.
  E quando dos olhos partem as lágrimas, isso significa que o coração não suporta mais a dor.

  Flashback
  Eu ainda lembro como se fosse hoje do dia em que nos conhecemos. Era uma tarde de inverno onde uma leve brisa soprava, seus cabelos levemente desarrumados pelo vento. Ele correndo em direção aquele táxi, senti que algo estranho aconteceu, senti a minha pele eriçar. O destino neste momento amarrava o laço de nossas vidas e um sorriso surgiu em meus lábios.
  Depois que o táxi partiu eu não sabia o que aconteceria, será que o veria novamente? Será que teria a chance de perguntar-lhe seu nome? O conheceria? Impossível de saber, porém, eu queria muito vê-lo, poder conversar com ele. Conhecer seus gostos, seus defeitos, suas qualidades, seus sonhos, seus medos, queria saber tudo sobre ele.
  Após alguns segundos de ecstasy consegui continuar meu rumo, fui para meu escritório, haviam montantes de processos me esperando. Sabe aquele dia em que você não consegue se concentrar em nada direito? Que sua mente voa para lugares desconhecidos? Eu estava assim, perdi as contas de quantas vezes precisei retornar a leitura dos processos. Cheguei a parar e ficar olhando para o nada, com um sorriso bobo nos lábios. Eu não fazia ideia do que aconteceria, mas algo mudaria e em breve.
  Ao chegar o fim da tarde, o sol estava se pondo no horizonte, o céu estava em uma mescla de azul, laranja e preto que vinha trazendo à tona a noite. Depois de um dia nada produtivo no trabalho, mas que trouxe uma renovação da esperança. Aquele sentimento de que algo bom aconteceria e não levaria muito tempo para acontecer fazia com que um sorriso aparecesse em meus lábios.
  Com uma noite incrível, onde as estrelas brilhavam iluminando a penumbra da noite. Havia uma brisa soprando levemente, resolvi sair para caminhar. Algo que não fazia com muita frequência. Hoje realmente é um dia diferente. Com as forças renovadas por aquele encontro inesperado com alguém que eu nem sei quem é.
  Fui caminhar na beira mar, depois de uns quinze minutos de caminhada parei para apreciar a paisagem que tinha em minha frente. Sentei na areia e fiquei olhando o mar, a lua refletia linda e prateada na água do mar com suas ondas calmas. Fechei os olhos e expirei fundo, lembrando de tudo o que havia acontecido naquele dia. Ainda não conseguia entender esse sentimento que surgiu em meu peito, o coração acelerado, os pelos eriçados.
  Ao abrir os olhos lá estava ele. se alongando provavelmente para correr, em um impulso e pelo medo de nunca mais vê-lo e talvez pela curiosidade de descobrir quem é ele.
  - Oi, tudo bem? – perguntei ao me aproximar dele. Meio confuso com a minha chegada, ele sorriu e respondeu:
  - Oi, tudo sim e com você? – Ele perguntou-me.
  - Que bom... – eu sorri envergonhada. – Desculpe, como é seu nome?
  - . – Ele disse estendendo a mão para que eu a apertasse. – E o seu, bela moça? – o sorriso ainda estava em seu lábios.
  - Meu nome é . – Eu retribuí o aperto de mão. – Er, você vai correr?
  - Sim, gostaria de me acompanhar ? – .
  - Adoraria. – o silêncio tomou conta de onde estávamos. Fiquei apenas ouvindo o som ritmado das ondas quebrando no mar.
  - Pronta? - Estava absorta em meus pensamentos que quase não ouvi quando ele perguntou se eu estava pronta.
  - Sim, estou pronta. – e partimos correndo lado a lado. Às vezes o braço dele roçava no meu. Sendo de propósito ou não, eu ainda sentia que algo diferente aconteceria.
  Após uns quarenta minutos de corrida eu já estava exausta e ficando para trás. Assim que notou que eu não estava mais ao seu lado ele parou e ficou procurando por mim por todos os lados. Ele começou a rir quando me viu parada. Eu estava levemente curvada para frente com as mãos nos joelhos tentando recuperar meu fôlego.
  Não tenho o hábito de correr e confesso que vê-lo rindo de mim me deixou encabulada pela minha falta de preparo físico. Nota mental: “praticar corrido todos os dias”.
  - Você está bem? – Ele perguntou ainda rindo levemente. Confesso que estou me sentindo a pessoa mais patética do mundo. Aceito o convite para correr com ele e não aguento acompanhá-lo até o fim.
  - Estou sim. Desculpe-me, não sou acostumada a correr. – Confessei sentindo minhas bochechas corarem.
  - Sem problemas! – Ele sorriu, afagando levemente meu braço. Senti os pêlos da minha nuca eriçarem com seu toque. – Gostaria de beber um suco?
  Flashback End

  E foi assim neste dia estranho que nos conhecemos. E conforme foram passando os dias fomos nos aproximando mais. Quando notamos, já estávamos totalmente apaixonados um pelo outro.
  Mas nem tudo são flores.
  Hoje faz um ano que se foi de nossas vidas, estou eu aqui na capela rezando e pedindo a Deus que me dê forças para continuar, principalmente no dia de hoje!
  Quando faleceu naquele acidente. Eu jurei que colocaria o desgraçado que o matou na cadeia. O assassino do meu marido pagou fiança e pode ficar em liberdade condicional. Desde que não tentasse sair da cidade. Mas hoje eu o colocarei atrás das grades ou não me chamo !
  - Deus dê-me força e sabedoria neste momento, para que a justiça seja feita hoje! – Rezei baixinho, dei um beijo na testa do Junior e pedi para que a babá o levasse para um passeio e depois aguardasse em minha casa até que eu chegasse.
  Entrei no tribunal e sentei no meu lugar de advogada de acusação. Sim, fiz questão de estar ali. Aguardei ansiosa e um pouco apreensiva pelo início da sessão solene.
  Após quase seis horas de julgamento eu estava esgotada e ansiosa para saber o que o tribunal decidiria. Mas infelizmente, isso seria adiado por cinco minutos, pois o juiz pediu esse tempo para que o júri pudesse se reunir e tomar a decisão com coerência. Apesar do meu cansaço, sei que fiz um ótimo trabalho e pelo que eu pude perceber na reação do júri, enquanto contava o que havia acontecido no dia em que o réu matou meu marido, que eles estavam compadecendo de toda a minha dor e que esse assassino não sairia impune hoje!
  Finalmente o juiz retornou a sua bancada com o envelope que continha a decisão do júri em suas mãos. Ouvi atentamente qual havia sido a decisão.
  Não consegui conter as lágrimas, que estavam trancadas em meus olhos desde o ínício daquele julgamento. Finalmente permiti que elas escorressem livremente pelo meu rosto sem me importar se isso borraria a minha maquiagem. Alex Malaurem será condenado a quinze anos de reclusão por assassinato.
  Saí mais uma vez satisfeita com a minha atuação como advogada, sem conseguir conter as lágrimas ainda. Várias pessoas vieram me cumprimentar pelo meu brilhante desempenho em mais um julgamento.
  - Parabéns . – Eva, uma colega que foi convocada como júri, falou. – Tenho certeza que onde quer que esteja. Ele está muito feliz! – ela sorriu e deu um abraço rápido.
  Saí do fórum e fui até o cemitério onde havia sido enterrado. No caminho até lá, parei em uma floricultura e comprei uma rosa. adorava me dar rosas, ele sempre comprava uma rosa para mim nas datas especiais, e em alguns momentos trazia uma de surpresa para mim.
  Um dia após uma briga que tivemos quando ainda éramos recém-casados. Ele trouxe um buquê com 15 rosas, o tanto de meses que estávamos casados. Eu sempre chorava quando ele me trazia rosas. Mas neste dia, ele mandou que elas fossem entregues no meu escritório e tinha um trecho escrito de próprio punho no cartão.

  Meu amor,
  Eu sei que sou o marido mais babaca desse mundo, sei que você chorou a noite toda ontem. E através destas quinze rosas que simbolizam o tanto de meses da nossa união lhe pedir desculpas. Sei que fui um completo idiota ontem, e me arrependo de tudo o que lhe disse! Perdoe-me.
  De seu grande e eterno amor,
   .
  P.S: Eu te amo!

  Sorri com a lembrança deste dia. Ao chegar no cemitério, coloquei carinhosamente a rosa sobre a lápide.
  - Oi meu amor, como você está hoje? – Eu falei, esperando alguns segundos para que ele pudesse responder e continuei. – Hoje faz um ano que você nos deixou, e eu nem ao menos consegui lhe contar naquele dia que estava esperando um filho nosso! – Enxuguei a lágrima que escorreram dos meus olhos e continuei.
- Nosso pequeno Junior está tão lindo. Ele tem seus olhos e já consigo perceber algumas manias que você tinha nele. – eu sorri ao lembrar-me das manias loucas do meu marido. – Sinto tanto sua falta meu amor. Eu queria que você estivesse comigo. Hoje, amor, sei que a justiça foi feita. Pois o homem que o matou está atrás das grades. – Eu sorri com a minha vitória. – Mas senti que metade da culpa que aquele homem tinha, eu também tenho. Pois se não tivéssemos brigado naquela noite, você não teria saído desnorteado de casa. E hoje eu não precisaria ter condenado aquele homem, e nem estaria aqui, conversando com você. – As lágrimas já não podiam ser mais contidas. Uma dor no peito crescia a cada palavra que eu pronunciava. Uma mistura de saudade, solidão e culpa.
  - Eu te amo – as palavras já quase não saiam mais de meus lábios, mas continuei em meio a soluços. – Naquela noite, eu apenas queria lhe contar, que eu estava grávida. Mas por um destino cruel, não foi o que aconteceu. Perdoe-me, eu não queria ter brigado com você. Eu não queria que você tivesse saído por aquela porta!
  Fiquei ainda um tempo olhando para a foto do meu marido na lápide e permitindo que as lágrimas escorressem por meu rosto. Quando percebi que já havia esgotado tudo o que podia de lágrimas. Enxuguei meu rosto e fui para casa.
  Ao me aproximar de casa, novamente vieram lembranças de dias felizes que passei com . Lembrei do nosso primeiro dia nesta casa. me pegou no colo e atravessou à porta sussurrando “eu te amo” no meu ouvi. Foi nossa primeira noite de amor na nossa casa!
  Quando entrei em casa tive a sensação de ouvi-lo sussurrando “eu te amo meu amor, nunca se esqueça disso!”



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