Atrás da Escada

Escrito por Sarah Lynn | Revisada por Pepper

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Prólogo

  O caminhão de mudança estacionou em frente da casa azul do jardim da frente bonito, e de arquitetura vitoriana, do final da rua, e ia sendo descarregado por dois homens grandes e fortes, enquanto observava tudo pela janela do quarto escuro do segundo andar, fazendo comentários nada educados para , o seu gato de estimação, que miava concordando ao seu lado.
  - Ela não vai durar por muito tempo. – disse sorrindo cínico enquanto via a nova dona da casa abrir a porta de entrada. Ele saiu da janela, e se sentou na cama, que era nova e estava forrada por uma colcha branca, coisa da moradora nova. o seguiu, subindo na cama e dando voltas em torno do tronco miando, aquilo era um pedido por comida.
  - Não seja estúpido, já te alimentei no começo da semana. – respondeu grosso e irritado, se levantando e desaparecendo no ar.

Capítulo 1

Espiando pelo buraco da fechadura

   estava cansada por causa da mudança para a sua nova casa, mas também, quem não estaria? Tudo já estava em seu devido lugar, a não ser algumas caixas com velhas coisas da faculdade, que acabariam por ficar nas caixas de papelão mesmo, jogadas de qualquer jeito no alçapão, e não nas prateleiras da sala de estar. Aonde ela planejou que seria o lugar delas. Mas ela estava exausta, então pensaria nos livros talvez mais tarde.
  Ela tirou os sapatos dos pés e deixou ao lado do sofá também novo, cor de vinho, que ela tinha comprado com seu último salario de estagiária recebido. Ela olhou pela janela uma última vez para ver se a chuva tinha dado uma trégua e é claro que não, tinha chovido o dia todo, e quando não chovia, garoava fino e fraco.
   subiu para o segundo andar da casa, entrou no quarto e pegou uma toalha do guarda-roupa, na outra parte do armário, um pijama verde. E se trancou dentro do banheiro ao lado do quarto.
  Ela se encarou no espelho e se deparou com uma expressão cansada dela mesma, mas não só pela mudança, e sim por tudo o que vinha acontecendo ultimamente. A formatura da faculdade, a mudança para uma vida independente, estava tudo tão diferente pra ela, que ela acabava se cansando, ela odiava mudanças, não se enquadrava bem nesse ponto de mudar, mas ela tinha que mudar, era necessário.
  Ela deu de ombros para as suas olheiras profundas, e ligou o chuveiro no quente enquanto se despia, fazendo com que subisse uma fumaça por todo o banheiro. Depois entrou de uma vez na água quente, que deixava sua pele vermelha para depois arrumar o chuveiro para o modo morno. Melhor assim.
   a observava espiando pelo buraco da fechadura, ela era mesmo uma garota bonita, ele sabia que era, mas mesmo assim, uma intrusa na sua casa. Ela cantarolava baixinho uma das musicas que um dia já pôde cantar de peito aberto, Brown Eyed Girl, enquanto se ensaboava. Ele atravessou a porta, ficou encostado no batente de braços cruzados, mas é claro que não conseguia o ver, nem mesmo se observasse muito bem. Ele estava invisível.
   sentiu uma pontada de inveja da garota, o que fez ele ter mais raiva por ela estar na sua frente, logo ele estaria a odiando, com todo o coração se é que ele algum dia teve um, mas isso talvez jamais saberemos.
   terminou o seu banho e desligou o chuveiro, saindo do box molhada e se enrolou na toalha macia. continuou a observando. Ele olhava cada centímetro da garota a sua frente, mas não por que era um aproveitador, mas para ver quais eram os pontos fracos dela, para logo acabar com isso.
  Ela se vestiu com seu pijama verde e saiu pela porta do banheiro, sem nem sentir a presença de . Ela também não era muito atenta as coisas a sua volta, porque se tivesse prestado um pouquinho de atenção, ela teria notado que sentira um calafrio estranho quando passou pela porta.
   foi para a cozinha preparar algo para comer, pegou uma panela media, e uma colher grande, uma concha na verdade, para preparar um macarrão instantâneo, e riscou o fosforo que se apagou. Riscou de novo. Mas antes de ela começar a preparar a sua janta e relaxar comento, ela ouviu um barulho. Um barulho vindo do andar de cima. Um barulho de algo batendo no piso de madeira.
   era valente e nunca teve medo de muitas coisas, se destacava no que dizia a respeito de ter coragem, pois ela tinha, mas por estar sozinha em uma casa nova e ainda sim estranha para ela, ela estremeceu, mas se negou a ficar parada e subiu as escadas devagar ainda segurando a colher na mão como se fosse a proteger. Ingênua, tão ingênua... Nem imaginava o que a esperava.
  Ela chegou ao topo da escada e se deparou com a porta do quarto, fechada, que ela tinha deixado totalmente aberta. abriu a mesma, que rangeu alto, coisa que ela não tinha reparado que a porta fazia. Parecia em perfeito estado antes, mas agora, estava velha, precisava de um reparo.
  Baruuum!
  Um vulto passou no escuro, pela janela, refletindo com o raio que acabara de acontecer. se assustou, e a colher foi ao chão. Ela sentia que algo estava vindo perto ela, seus sentidos ficaram um pouco mais aguçados por cauda do medo. Mas tudo já estava escuro de novo, ela encostou na porta que ela tinha deixado aberta atrás dela, mas agora estava fechada. Ela procurou pelo interruptor da luz, mas não achava, ela abriu a porta, uma luz clara entrou.
  Miaau!
  Ela olhou para trás, estava aliviada, era só um gatinho.
  - Ora essas, com medo de um gato ? - Ela perguntou pra si mesma, rindo um pouco nervosa, ainda recuperando o fôlego. Ela pegou no colo e quando se virou para sair do quarto...
  Baruum!
  Outro raio, e dessa vez com a luz, ela viu refletido, com olhos grandes e cínicos, sorrindo malicioso para ela encostado na porta, ele. Ele que ela não conhecia.
  O gato foi ao chão, rosando na perna do estranho.
  - Quem é você e como entrou aqui? Eu deixei a porra da porta trancada, não deixei? Será que não sabe bater? Ou falar? Eu vou chamar a polícia. Afinal qual é o seu nome? Quero que vá embora agora! Responda às minhas perguntas. – Ela disparou a perguntar para aquele homem escorado na porta. Ela estava com medo, ele poderia ser um estuprador, ela pensava. Ah coitada dela. Ingênua, tão ingênua...
   gargalhou alto e ela parou de perguntar assim que ouviu sua risada tenebrosa.
  - Eu sou, a partir de agora, o seu maior pesadelo! – ficou pálida, branca, sem cor nenhuma. Ela riu nervosa, ela sempre fazia isso quando estava em apuros. E engoliu em seco.
   abriu a porta para que ela saísse, e sem pensar duas vezes, lá estava , correndo como uma louca para fora da casa, tropeçando nos seus próprios pés até a porta de entrada, que estava trancada. Ela se virou para ir para a porta dos fundos da casa, mas de frente com ela estava ele, de novo.
   gritou apavorada, com o susto, mas a casa ria dela, os móveis riam dela, o gato ria dela, ria dela, com aquela sua risada alta e profunda como se o pavor dela estivesse mesmo o divertindo. Ela correu de novo. Tentou empurrar , mas ela o atravessou, sentiu um frio percorrer o seu corpo por completo, uma sensação de que sua alma estava sendo puxada para fora. Aquilo foi um dos piores sentimentos do mundo. Ela percebeu que ele era um fantasma. olhou para trás e viu que o estranho não estava mais lá. E ainda com medo, saiu pelos fundos da casa, que dava de frente para um jardim mal cuidado onde se tinha pinheiros altos, ela deu a volta correndo, eufórica, com medo, ela achava que estava louca, e só parou quando ouviu o barulho do carro freando em cima dela e o baque surdo do carro entrando em choque com o seu corpo. A chuva ficou ainda mais forte.

Capítulo 2

O meu nome é

  Em um bairro tão afastado onde tinha comprado sua casa, e com tão poucos moradores na rua, era certo de que ninguém tinha visto o seu atropelamento, e o motorista sabia disso, então ele foi embora, a deixando desmaiada no meio da rua.
   não queria que ela morresse, quer dizer não atropelada pelo menos, ele tinha que dar um jeito de ajudar aquela garota, afinal ele só a queria longe, não machucada.
  - , eu quero que a traga até aqui. – resmungou, mas ele sabia que teria que fazer o serviço, ele foi atrás da garota.
   tinha uma força sobrenatural que ganhara após a sua quase morte, acontece que ele não morreu totalmente, mas ao mesmo tempo ele se tornou um semi-morto, o deixou assim, ninguém sabia como, nem mesmo , mas depois do acontecimento de quase morte, se tornou mais forte, porém ele via mais do que o normal. Ele tinha um olho preto, o qual era o normal, e um outro olho cinza, quase branco, que o fazia enxergar os mortos, os bons e os ruins e suas futuras mortes.
   carregou para dentro da casa.

º º º

  My girl, my girl, don’t lie to me
  (Minha garota, minha garota, não minta pra mim)
  Tell me where did you sleep last night
  (Diga-me onde você dormiu a noite passada)

   ouvia a música sendo cantada ao longe por uma voz, uma voz rouca e sem emoção. Mas ela estava meia grogue, e a sua cabeça pesada, mal conseguia abrir os seus olhos. Desistiu.

  In the pines, in the pines
  (Nos pinhos, nos pinhos)
  Where the sun don't ever shine
  (Onde o sol nem sempre brilha)
  I would shiver the whole night through
  (Eu tremeria inteiro a noite toda)

  Ela conseguiu finalmente abrir os olhos, estava no chão sujo do quarto, encarando o alçapão do teto. Mas tinha algo de diferente no ambiente. Ela ainda podia escutar a música, ela se levantou devagar, se sentando, colocou a mão na cabeça, e sentiu um leve corte seguido por uma ardência no local, mas com uma dor irritantemente chata.

  My girl, my girl,where will you go
  (Minha garota, minha garota, onde você irá)
  I'm going where the cold wind blows
  (Eu estou indo aonde o vento frio sopra)

  Ela escutou um ranger estrando além da voz, que ela estava quase se convencendo de que vinha da sua própria cabeça, um ranger, um ranger que lembrava uma cadeira velha de balanço, algo velho, uma cadeira velha, ela estava tonta, ela se virou, uma cadeira de balanço balançava sozinha. Rangendo. A voz vinha de lá.

  In the pines in the pines
  (Nos pinhos, nos pinhos)
  where the sun don't ever shine
  (Onde o sol nem sempre brilha)
  I would shiver the whole night through
  (Eu tremeria inteiro a noite toda)

  Ela estava a ponto de se rastejar para fora de novo se fosse preciso, seu choro já estava estampado em sua cara, quando ele resolveu que era hora de aparecer, e lá estava , de invisível para visível na frente de . Silêncio.
  - O meu nome é . – Ele disse se aproximando da garota estendendo a mão. Ela se encolheu mais. Ele recuou com a mão. Afinal o que ele pensava que era? Um velho amigo? Ele riu pra si mesmo com isso. Uma risada diferente dessa vez, sem terror.
  - O q-que você quer a-aqui? – Ela disse, se encolhendo ainda mais, se é que era possível, gaguejando no seu próprio medo.
  - Eu só quero que vá embora. – Respondeu , sentindo pela primeira vez, pena de alguém que ele acabara de assustar. Mas o seu plano foi falho, ela se machucou de verdade, e não foi embora. Ele teria que consertar isso, como um bom inglês faria.
  - Eu não posso, por que você não vai? – Ela engoliu o choro.
  - Porque não posso. – Ele retrucou, e era verdade, ele estava preso.
  - E o q-que você é? – Ela voltou a gaguejar, seu medo ia e voltava. Quem diria que estaria com tanto medo assim?
  - Não esta óbvio para você? Eu sou um fantasma. – odiava ter que assumir o que era, não era aceitável por ele, morrer e não ter paz.
  - Estou vendo. – Ela não deveria ter abrido a boca, deveria ter ficado quieta concordando apenas, afinal isso o irritou.
  - Então por que perguntou? – Ele chutou a cadeira. Ela chorou alto. - Agora estou falando sério, se não calar a boca eu te mato aqui e agora sem antes de você me dar o que eu quero. – Ela se calou no mesmo instante.
  - E o que você...quer? – Ela não sabia o que pensar, não mesmo. O que um fantasma poderia querer?   - Quero que vá atrás de e . – Ele disse olhando dentro dos olhos de . Olhando fundo nos olhos castanhos dela. E a olhando ele percebeu que isso era perigoso.
  - Mas eu não sei quem são. – Suas lágrimas ainda caíam de seu rosto.
  - Isso não é problema meu. – E desapareceu no ar. caiu no choro.

Capítulo 3.

Um acidente em 2005

  Na manhã seguinte, levantou cedo, estava disposta, além de estar crente de que a noite passada fora apenas um sonho. Ela se levantou, fez sua higiene matinal, e desceu para tomar seu café da manhã. Cereal com leite, era o que ela comia todas as manhãs desde os seus doze anos, e não seria agora que mudaria, só porque se mudou, sem falar que ela já tinha testado como seria comer torradas e café puro. Era melhor mesmo um cereal.
  Mas antes que ela se esquecesse de tudo de ruim que tinha acontecido com ela na sua primeira noite na casa nova, lá estava ele, , sentado na pia brincando com , o gato. Ela sentiu sua cabeça doer, automaticamente ela colocou a mão na mesma e sentiu um curativo no topo de sua testa, olhou para seu pijama e estava com outro conjunto.
  Mas agora ela não estava com medo de , nem de , ela iria o ajudar, mas com uma condição inapropriada, na qual ele teria que ir embora depois de sua ajuda. Ingênua, tão ingênua...
  - Tudo bem , eu vou atrás de e . – Ela disse entrando na cozinha respirando fundo. Mas não deu atenção a ela, nem sequer a escutou.
  - ! – Ela gritou e ele a encarou.
  - Quem é você? – Ele perguntou a deixando surpresa, sem saber o que dizer. Mas o que ela não sabia, era que, ele por ser um fantasma, tinha a memoria um tanto quanto falha, ela ia e voltava, às vezes ele esquecia que estava morto, e acabava sendo o , que antes era vivo, depois de um tempo se esquecia do que aconteceu nesse período, e voltava a ser o fantasma que era.
  - Eu sou, eu sou... – Ela não soube responder, mas não tinha importância também, pois já tinha desaparecido.
   tomou seu café da manhã, angustiada achando que estava sendo observada, e estava mesmo, pois a olhava, a encarava. Ele passou por debaixo de suas pernas se acariciando. E passou todo o tempo a seguindo e miando. Ela não sabia porque, mas estava incomodada com isso, aquele gato era de uma assombração.
  Ela terminou seu café e foi direto para sala, pegando o seu notebook, com intenção de pesquisar quem era e , sem nem um sobrenome, mas eles não deveriam morar longe, mas assim que ela colocou o nome dos três juntos: “, e ” ela descobriu que eles eram amigos. E logo já estava no centro da cidade entrando no metrô indo para a casa de .
   não ficou contente com a visita, achou que fosse uma intrusa, mal ela descobriu alguma coisa sobre ele, nem nada sobre . Ela foi embora.
  O seu segundo passo era ir até a casa de , que não era tão distante por surpresa, mas fora de mão. Porém ela não estava lá muito animada, com esperanças de que descobriria algo, afinal mal a deixou entrar dentro de sua casa. Mas mesmo assim ela foi até lá. E para a sua surpresa, a recebeu diferente de , a convidando para entrar e ofereceu um chá para ela tomar, que educadamente recusou. Ele respondeu a ela tudo o que ela precisava e queria saber.

  2005

  “Foi um acidente inesperado” disse se referindo à morte de . Estavam os três juntos, , e voltavam para a casa depois de uma noite juntos, eram melhores amigos, e estavam bêbados, no centro da cidade em uma das avenidas mais movimentadas, era provável que acontecesse, e estavam brincando mas logo as brincadeiras se tornaram violentas, e quando se deram por si, estava sendo espancado no chão, sangrando. ficou apavorado, não sabia que era esse tipo de homem violento e tinha chamado a policia, mas , com medo o levou para sua casa, o deixando lá dentro antes que morresse para não levar a culpa, quando saiu da casa, estava com a polícia esperando que saísse. morreu naquela noite, e embora dissesse que não tinha escondido o corpo de , seus restos jamais foram encontrados.

Capítulo 4.

Siga o gato para cima do telhado

   estava tão surpresa com a causa da morte de que quase não teve reação quando terminou de contar a história para ela. apenas agradeceu por ele ter a contado, e foi embora sem nem ao menos responder a ele do porque ela queria saber disso.
  Em menos de quinze minutos ela estava em casa de novo, gritando a todos os quatro cantos da casa por , mas ele não estava, ele não apareceu, ele não a ouviu.
   largou a bolsa em cima do sofá, e subiu para o quarto para ver se achava o fantasma, mas nada dele se tornar visível, ela só viu a sombra de perto da janela subindo para o telhado, ela seguiu a sombra e se deparou com as costas de .
  Ela não o chamou, apenas subiu no parapeito da janela, e escalou com um pouco de dificuldade para o telhado, era perigoso cair dali, mas ela tinha experiências em subir em cima de aárvores altas, ela não cairia fácil dali, a não ser que fosse empurrada. Ingênua, tão ingênua...
  - , eu descobri, eu descobri como morreu. – Ela quase de desequilibrou correndo até ele afobada, ela poderia ter caído, e não mexeu nem um músculo para impedir que a garota se machucasse, mesmo que ela carregasse o que ele sempre quis saber, ele não se importava com a vida dela. Era só mais uma. Ele nem a encarou.
  Ela o olhou, esperando por uma reação. Ele encarava a calha da água entupida como se fosse a coisa mais interessante do mundo, ele estava em completa depressão naquele momento, e nem ela, e nem ninguém o tiraria daquele estado tão cedo, mas ela continuou, se agachando de frente para ele e levantando seu rosto gélido com as mãos.   - , foi o , – Ela fez uma pausa antes de continuar a falar. – Ele te espancou.
  - E por que estou preso aqui? – Perguntou baixo, ao longe, tão baixo que ela não conseguiu escutar. colocou a orelha perto da boca de e ele repetiu a frase.
  - Não sei, mas talvez porque o seu corpo nunca tenha sido sepultado. – Ela disse esperta, com o que era óbvio. finalmente a encarou nos olhos. - Está aqui, na casa, deve ser por isso que está preso aqui. Mas eu vou te ajudar, vamos encontrar o seu corpo e te tirar daqui.
  Isso foi o suficiente para que a achasse intrusa de novo, sua ira subiu a cabeça, desviou os olhos de e quando olhou nos olhos dela de novo, ele já estava com outra fisionomia, agora de matador. Ela se afastou, quase caindo do telhado. Por sorte , miou, ao fundo.
  - , finalmente. – correu abraçando o gato. – Estava tão preocupado achando que você tinha me deixado.

Capítulo 5.

"Esqueça, eu quero ficar"

  Tudo tinha mudado agora, tinha que resolver, ela precisava achar o corpo de para poder colocá-lo para fora de casa, e era isso que ela queria mais do que tudo, que aquele pesadelo constante acabasse logo, o que ela não esperava era que não quisesse sair. Ingênua, tão ingênua...
  Nesses últimos dias, seguia por toda a casa, aonde quer que ela fosse, e na maioria das vezes ela não podia o ver. Mas a cada minuto que ele passava a vigiando, mais ele gostava do jeito irritante dela. Que tinha uma marra por insistir em expulsa-lo. “Será que se ficasse invisível, ela o aceitaria ali, perto dela?” Ele chegou a pensar. Mas logo afastava os pensamentos, e continuava a espiar .
   procurou em cada canto daquela casa o corpo de , começando pelo andar de baixo, mas não achou nenhum lugar acessível para que tivesse escondido o corpo, até que ela se tocou de que o corpo não estaria em um lugar acessível. Talvez o corpo estivesse em um lugar onde ela jamais pensaria em procurar. Ingênua, tão ingênua...
  Ela correu para o quarto, puxando a cordinha do alçapão, que foi abaixado trazendo uma poeira solta no ar, ela subiu as escadas. Mas assim que terminou de subir, ela percebeu que não tinha nenhum corpo lá, pois a essa altura, ela conseguiria sentir o cheiro do corpo de em decomposição. O alçapão se fechou.
  - , não quero que procure mais pelo meu corpo. – dizia no escuro.
  - , cadê você não estou te vendo? – Ela olhava para todos os lados mas o escuro não deixava ela enxergar nada.
  - , você não precisa me ver, só por favor, não ache meu corpo. – Ele pedia, dizendo com a voz baixa e mansa.
  - Por que? Você não queria sair daqui? – Ela ainda o procurava.
  - Sim, mas nunca mais vou poder te ver. – apareceu atrás dela, que se virou o encarando, tentando entender aonde ele queria chegar com aquele papo.
  - Mas você tem que ir, , para um lugar melhor, você sabe disso. – Ela o encarava com olhos de pena.
  - E se não tiver lugar nenhum? – Ele desviou o olhar, sabendo que ela não tinha entendido o que ele queria dizer com esse papo de nunca mais vê-la.
  Ela ficou em silêncio, com certeza não tinha pensado sobre isso. Mas o pior de tudo era que ela não tinha compreendido o que queria dizer, a verdade era que ele não queria ir embora pois ele se acostumou com e até mesmo começou a gostar da garota.
  Mas ele estava morto e todos nós sabemos disso. Mas ela não percebeu onde ele queria chegar.
  - , eu vou te tirar daqui, juro que vou.
  Ela abriu o alçapão de novo e desceu por ele.

Capítulo 6.

Olhando para ela

  O tempo passou, não muito, nem pouco, talvez uma semana, mas também poderia ter sido um mês, já que mal saía de dentro da casa, no máximo ela olhava na janela. Passou todo o tempo procurando pelo corpo de , que não apareceu desde a última conversa no alçapão.
  Mas ela só encontrou o tal corpo perdido, quando se cansou de procurar e se jogou no chão da sala coberto por um tapete.
  O baque do corpo de com o chão, foi oco.
  Ela se colocou de pé, e saiu porta afora de dentro da casa, descendo os degraus de entrada, dando a volta pela escadinha, ela viu uma brecha, e por essa brecha, ela olhou, e lá estava o corpo de olhando diretamente para ela.
  - Você o achou. – disse saindo de dentro da casa parando no topo da escada.
  - Se sabia onde estava, por que não avisou? – Ela perguntou desviando os olhos do corpo intacto e encarando o fantasma. Começava a garoar outra vez.
  - Eu não tinha certeza. – Ele deu de ombros.
  - Como não? – Ela se levantou, limpando seus joelhos sujos, e subindo para perto de .
  - Não posso ver, já que para ver o corpo eu teria que sair da casa, e olha eu aqui preso de novo. A única coisa que eu não entendi é como me colocou ai, daria tempo? – Ele perguntou pensativo, encarando o céu escuro.
  - E se não foi ? – Nesse mesmo instante passou por eles, os rondando encarando os dois com seu ar de que era melhor e mais inteligente do que os dois juntos. Foi aí que percebeu.
  - , é o gato. – Ela sussurrou.
  - O que? – Ele não ouviu.
  - O gato , ele o arrastou para cá. – Ela falou mais alto, porém ainda baixo.
  - Mas eu... eu sempre cuidei dele... a não ser... oh porra! – se lembrou, vagamente se lembrou do terrível dia em que quase matou . Ele era uma criança brincalhona e bondosa, mas muito esquecida das coisas. Certo dia, a família iria viajar, e foi dado a ordem para que desse comida ao gato antes que eles todos partissem para suas merecidas férias. mal se lembrava, mas fazia sentido, ele esquecera a tigela do gato vazia.

Capítulo 7.

Um raio, um trovão, tudo no escuro

  - Se esconda, eu vou tirar você daqui. – Ela disse e no mesmo instante já tinha desaparecido.
   correu para chamar a polícia, mas o telefone estava mudo, e nenhum sinal do seu celular pegava por conta da chuva que começava a cair forte lá fora, talvez um raio tivesse atingido a torre de sinal, talvez a chuva tivesse interferindo na rede telefônica, ou talvez um gato tivesse cortado o fio do telefone.
   segurava o fio do telefone partido em dois assustada, já não estava perto dela para que ela se sentisse nem que por um centésimo mais segura, ela estava sozinha, somente ela e .
  Ela ascendeu uma vela, e andava devagar pela casa procurando pelo gato ou por , já que a vingança era com não com ela, o gato teria que se resolver com ele e não com ela, mas ele não pensava assim, “quanto mais morressem por ele, melhor a morte dele seria vingada” o gato ansiava.
  Ela não achava que o gato era tão esperto a ponto de se esconder dela, e deixar que ela fizesse o trabalho sozinha.
   foi até a cozinha, procurando por um pé de cabra enferrujado que tinha visto de relance quando se mudou, e lá estava ele, escondido no cantinho da cozinha. Ela o pegou com a mão que não segurava a vela, e lá estava ela, armada contra o gato, indo em direção ao corpo de .

Capítulo 8.

Cuidado com o raio

  A chuva era forte, mal dava para enxergar no meio dela, mas não desistiria por causa de uma chuvinha, ela pensava, tinha que se livrar deste pesadelo, para recomeçar sua vida. Com força, ela enfiou o pé de cabra entre a brecha onde antes tinha tido a certeza do corpo de , e puxou.
  O corpo ainda a encarava, cada movimento e o fantasma, assistia tudo do telhado.
  Ela mal tinha força para fazer isso, mas ela tentava, de todas as formas inimagináveis, ela tentava. Ela fincou na madeira mais uma vez, e puxou, sua tentativa foi falha. Mas continuou tentando. Ingênua, tão ingênua...
  Mas foi por uma obra do destino, que tudo foi posto um fim. Foi bem na hora, em que ela levantou o pé de cabra alto, acima de sua cabeça, que um raio, do céu, a eletrocutou. Ela caiu ao chão ainda viva, mas o pé de cabra caiu em sua cabeça, a desacordando.
  Vocês devem achar, assim como eu achei, que ela teria morrido, mas era forte, ela, . Porém, , o gato, sabia que ela estava viva. Então, apenas com sua pose de superior, a arrastou para junto do corpo de , como ela queria. A chuva cessou.

Capítulo 9.

Acordar, acorda!

  Alguns dias depois, acordou, debruçada sobre o corpo de , que a abraçava fortemente, parecia que tinha medo de a perder. Ela estava dolorida, machucada, exausta. Ela tinha desistido, a última coisa que conseguiu fazer por fim, foi chorar.
  E ela chorou. Chorou um choro fino, e baixo. Incessante. Não parou de chorar até que o seu corpo não aguentasse mais, e pelo que previ, ela se calou.
  Se calou, quando o seu coração parou de bater e os seus olhos se fecharam. Quando agora ela estava ao lado de .
  Ela abriu os olhos outra vez. Mas agora, já era tarde, ela estava no seu quarto, olhando pela janela com em seu encalço espiando o gato.
  - Vamos ficar juntos para sempre. – Ele disse beijando o pescoço da moça que se arrepiou com seu susto estampado em seu rosto.

Epílogo

  Eu poderia dizer que planejei cada acontecimento aqui, mas não, não foi obra minha, mas como narrador, eu devo agora, lhes contar quem sou eu nessa mera historia. Mas convenhamos, não posso ser o querido gato, . Nem mesmo a própria . Mas eu poderia ser o motorista que a atropelou, ou melhor, um vizinho. Mas não, eu me apresento a você agora, fazendo reverência a cortesia, pois o meu nome é .

FIM



Comentários da autora

BUUUU!! Tudo bem, tudo bem, eu duvido que eu tenha assustado alguém com essa fanfic, mas o que vale é a intenção né? Então, espero que tenha gostado, e que comente o que achou aqui no final hein? E se não gostou, comenta também, criticas são bem vindas kkk Enfim, espero que não tenha nenhum gato atrás de você, e até a próxima (:

Nota da beta: Devo apenas mencionar que depois dessa história, estou reconsiderando se quero ter mesmo um gato de estimação. Sou meio esquecida também e... x_x