A Stranger

Escrito por Alice Anselmo | Revisado por Natashia Kitamura

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Parte do Projeto Sorteio Surpresa - 7ª Temporada // Tema: Fogos de Artifício

  Véspera de Ano Novo - 21hrs

  - , desça e venha conversar com seus primos. É véspera de ano novo filha, fique mais animada. - Eu escutava minha mãe insistindo para que eu fosse até a sala da grande casa que meus tios têm na praia usada pala família durante o ano novo, para que pudéssemos "socializar" falando sobre coisas que, a meu ver, são chatas e desinteressantes.
  A verdade é que minha família é um porre. Não os suporto... Meus tios se acham os "maiorais" por serem os mais ricos da família. Os seus filhos, Karla, minha prima de 18 anos e David, meu primo de 20, são metidos, mimados e filhos de papai. E o pior de tudo: Minha mãe acha que eu tenho que ser amiga deles só pelo fato de termos uma idade próxima.
  Ai tem a minha avó, não posso reclamar dela, é um doce de pessoa e cuida de mim como ninguém. Sei que ela me ama. Mas ela fica um pouco irritante quando a família se junta, tenta agradar a todos e passar por cima das brigas e diferenças só porque estamos comemorando uma data festiva.
  Mas comigo não funciona assim. Eu considero falsidade e hipocrisia todos falarem mal uns dos outros durante todo o ano, e ao chegar o ano novo, agir como os grandes amigos de uma família bem estruturada - coisa que não somos.
  Ai tem meus outros tios, os irmãos da minha avó, primos em geral, e claro, toda aquela palhaçada de "parentes distantes" que você nem ao menos recorda o nome.
  E minha mãe ainda fazia questão da minha presença lá em baixo.
  - Venha logo , está com algum problema de audição?
  - Estou. - Retruquei.
  - Olha o tom, mocinha. - Minha mãe disse, enquanto caminhava até minha cama e sentava ao meu lado. - Qual o seu problema, querida?
  - Todos. - Falei a encarando, no fundo ela sabia qual era. E concordava. - Não quero ficar aqui, eu lhe disse desde que colocamos os pés nesta casa que não concordo e não suporto tudo o que acontece aqui.
  - Querida, combinamos que quando o relógio anunciasse meia noite, eu a deixaria sair e fazer o que quisesse, contanto que fosse educada com sua família.
  - Mãe. Não sei se você não percebe ou se só finge que não vê, mas eu não me sinto bem aqui. Então eu prefiro ficar sozinha... Não estou sendo mal educada, eu evito ser, e por isso fico sozinha. Olha isso, até coloquei o vestido branco que você insistiu. - Provoquei uma risada da minha mãe com a minha ultima fala, e isso me fez sorrir.
  - E está linda. - Sorri - Mas você tem que descer, vamos jantar... Ai você finge se interessar pelos sapatos novos da Karla e sobre o carro novo do David, ou simplesmente fique ao meu lado conversando com seus tios. Prometo que depois da meia noite, irá tudo melhorar. Ok?
  - Ok, mas eu irei ver os fogos na praia. E sozinha, sem os comentários importunos da Karla. - Falei - Eu odeio essa garota. Aliás, odeio todos eles.
  - Já sei disso, , já sei...

  Véspera de Ano Novo - 22hrs e 30min

  - E então eu conheci um garoto fantástico. Ele tinha um rosto bonito, olhos claros e um cabelo loiro totalmente perfeito, e ele tinha uma barriguinha fantástica... Era muito forte. Eu e minhas amigas ficamos loucas por ele, mas adivinhem? Ele quis ficar comigo. - Karla dizia enquanto eu fingia me importar e David falava ao telefone com uma das suas peguetes. - Minhas amigas morreram de inveja, falaram que eu era sortuda e que queriam ser como eu.
  - Uou, surpreendente. - Falei demonstrando tédio.
  - Mas me fala de você - Ah, como se você se importasse né? - Tá namorando? Ou continua encalhada?
  Menina desaforada, mal ela sabe que meu sonho é quebrar esses dentes branquinhos dela.
  - Na verdade, eu terminei com meu namorado a seis meses e estou dando um tempo disso, tá legal? - Falei e Karla me escutava pensando em alguma piadinha idiota para se achar melhor que eu - Sabe como é, prima, não quero pegar certa fama... Me entende? - Falei sarcástica. Ela é burra, mas entendeu meu recado.
  - Claro, só acho que quando um menino se interessar pela sua aparência, você deveria agarrar de unhas e dentes... - Ela riu.
  - E eu só acho que quando um menino não fugir de você assim que abrir a boca pra falar, você deveria chegar se ele não tem problemas mentais. - Falei e até mesmo David largou o celular pala rir da cara que minha prima fez.
  Me senti orgulhosa de mim mesma, admito.
  - Com licença, priminha... - Disse me levantando e indo até minha mãe que conversava com algum parente na sala.
  - Mãe, eu vou sair para a praia, irei dar uma caminhada... Já aturei o bastante. - Falei e sai o mais depressa possível, não lhe dando a chance de negar ou até mesmo de algum outro parente começar uma conversa ridícula.
  Tirei meus saltos brancos que coloquei por insistência de minha tia que afirmava que "irá combinar com seu vestido rodado, " e comecei a caminhar sobre a areia macia da praia.
  Não havia muitas pessoas na beira da praia ainda, elas chegavam cerca de uma hora, ou meia hora antes dos fogos para garantir um bom local. Caminhei bastante ao longo da praia, para poder garantir um lugar o mais longe possível das pessoas da minha casa.
  Eu queria sossego e tempo para mim mesma; e quanto mais longe eu estiver, mais isso tem chances de acontecer.
  Finalmente.

  Véspera de Ano Novo - 23hrs

  Eu ainda iria ter de esperar uma hora para poder ver o show de cores e explosões que o céu iria se transformar durante a virada do ano, já não conseguia mais conter minha ansiedade e confesso que eu havia começado a ficar com tédio. Porém de jeito algum ousei voltar para casa, eu sabia que ficar aqui seria melhor do que ficar lá.
  A praia tinha certo movimento, porém, eu estava sentada em um dos bancos no calçadão da praia, e a maioria das pessoas já ocupava um local na areia para ver os fogos mais de perto. A aglomeração de pessoas começava um pouco mais a minha frente, então quem estava à procura de sossego ficava mais atrás, como eu.
  Onde eu estava tinha apenas um casal de jovens, uma família com seus dois filhos, um grupo de amigos bebendo que eram os únicos fazendo barulho por perto e um garoto sentado a dois bancos de distancia do meu.
  Esse garoto que eu falei vestia uma camisa branca básica e uma calça em tom bege, não sei por que eu reparei, mas, de certo modo, combinou com sua pele morena. Seus pés brincavam com a areia da praia atentamente e isso me prendeu a atenção, antes mesmo que eu pudesse perceber, o garoto me encarava divertido como se estivesse achando estranho o modo que eu o encarava.
  E ele estava.
  Ri tímida e voltei minha atenção ao mar, as ondas me tranquilizavam. O menino - muito bonito, por sinal - se levantou de seu banco, e eu, achando que ele iria embora, senti um vazio. Idiota, eu sei, mas a solidão dele estava fazendo companhia a minha solidão. Mas eu fui surpreendia quando alguém se sentou do meu lado e disse:
  - Posso ficar aqui com você?
  Virei-me de lado para encarar seu rosto, e ele era lindo. No fundo eu sabia que a pessoa ao meu lado era o garoto dos dois bancos de distância, só queria ter certeza e também olhar para ele mais de perto.
  Ele tinha traços delicados, um olhar intenso e seus olhos castanhos eram mais lindos que muitos olhos azuis por ai. Ele estava sorrindo, tinha dentes lindos, e um cabelo bem legal, admito. Oh céus, o garoto era tudo de bom.
  - Ér... Pode. - Sorri para ele, o mesmo abriu mais ainda o sorriso (lindo demais para ser real), e eu sentia que iria corar.

  Véspera de Ano Novo - 23hrs e 30min

  Eu e Zayn - sim, Zayn era o nome dele - conversávamos a alguns poucos minutos e eu já estava encantada demais. Ele era legal, engraçado, fofo e lindo. Descobri que ele tinha praticamente vinte e um anos, passava o Natal e Ano Novo com sua família desde que se entende por gente, mas que esse ano resolveu mudar um pouco e veio sozinho para a praia, ele é solteiro e me contou sobre sua ex-namorada e seu fim trágico de namoro.
  Já eu contei a Zayn sobre minha "boa" relação com meus primos, que o ano que estava passando tinha sido difícil tanto em questões familiares quanto para meus relacionamentos, e que tinha cansado de passar o Ano Novo perto da falsidade da minha família e resolvi tirar um tempo para mim.
  - Quer dizer que você praticamente chamou sua prima de puta? - Zayn riu divertido.
  - Ela me tira do sério! - Falei rindo - Duvido que ela tenha entendido, para ser sincera. - Zayn gargalhava divertido, sua risada era gostosa de escutar, era tão linda e parecia te convidar para rir junto.
  - Mas me conta, porque você e seu namorado terminaram? - Ele pareceu ficar sério de repente.
  - Ele me traiu. - Disse simplesmente, Zayn continuou me encarando em um pedido mudo para que eu explicasse mais - Bom, eu estava indo a casa dele o avisar sobre a festa de uma amiga minha, eu o queria como minha companhia, afinal namorávamos a um ano e meio e não era segredo para ninguém nosso relacionamento. Quando cheguei, toquei a campainha algumas vezes e nada dele me atender. Entendi como se ele não estivesse em casa, pois eu nem ao menos tinha o avisado que iria lá. Mas eu comecei a escutar alguns barulhos e gemidos e comecei a pensar o pior... - Pausei - Ai eu tentei abrir a porta da frente e vi que estava aberta, aproveitei a oportunidade e fui em direção ao quarto dele, quando cheguei lá e abri a porta o vi na cama com a minha prima. - Limpei uma lágrima que teimou em escorrer - Eu e ela nunca fomos amigas, mas assumo que nosso ódio se fortaleceu depois desse acontecimento. Ela me julga como sem sal, e eu a julgo como uma vadia que não se dá o respeito. Eu era muito apaixonada por ele e sempre achei que ele fosse por mim, tolice minha pensar isso. Sabe, eu já superei... Mas admito que ainda dói. - Falei e não consegui conter as lágrimas, Zayn me abraçou e ficou acariciando meus cabelos por um tempo, e logo depois disse:
  - Eu sei que dói, não precisa se culpar por ainda se importar. - Ele quebrou o abraço e me olhou nos olhos. - Quem perdeu, no fim das contas, foi ele. Veja a menina maravilhosa que você é, eu te conheço há minutos e já consigo perceber... Quem perdeu foi ele, você só ganhou: Se livrou de um idiota que não te merece e não te valoriza como merece. Você e linda e nada nem ninguém pode ter o direito de ti colocar para baixo, ok? - Assenti e ele sorriu para mim, ele tinha um sorriso tão encantador que até melhorei.
  - Zayn... Você já foi traído? – Perguntei.
  - Tá tão na cara assim? - Ele riu fraco.
  - Não. - Falei prontamente - Eu perguntei apenas porque o jeito que você fala é tão diferente da maioria dos garotos sabe? Parece até que não existe de verdade - Ri com minha fala, sou muito idiota - Aí pensei que talvez seja porque você já sentiu a dor da traição, sei lá...
  - Sim, minha namorada e eu terminamos a cerca de três meses. Antes dela eu admito que eu era meio galinha, ficava com qualquer menina bonita ou gostosa que me desse mole... Mas ai eu conheci ela, e algo em mim mudou. Eu me apaixonei por ela e ela por mim. Confesso que eu magoei muitas garotas, muitas acharam que nossos rolos seriam mais sérios e eu não pensava da mesma forma, mas com ela foi diferente. E veja, agora quem tá magoado sou eu... - Ele fez um gesto em negação - E caso queria saber como aconteceu, ela simplesmente me ligou um dia antes de completarmos dois anos de namoro e disse praticamente um "Hey Zayn, cansei de você e acho que deveríamos terminar. E caso lhe interesse saber, eu e Zac estamos saindo juntos a cerca de seis meses." Ela não prestava. Me traía há tempos e eu nem ao menos desconfiava...
  - Ela também saiu perdendo, pode confiar no que digo. - Falei sorrindo - Realmente Zayn, esses dois não nos merecem. - Rimos.
  - Vamos parar de assuntos tristes? É questão de minutos para a virada do Ano e eu e você iremos assistir aos fogos juntos, sem pensamentos negativos. Ok? - Zayn disse rindo e eu concordei - Vamos procurar um lugar bom na praia, vem.

  Ano Novo - 00:00

  As pessoas na praia faziam uma contagem regressiva e eu apenas olhava admirada Zayn gritando os segundos e rindo animado, hora ou outra me olhando rindo.
  TRÊS!
  DOIS!
  UM!

  - Feliz Ano Novo, ! - Zayn gritou me pegando no colo e me girando no exato momento em que os fogos começaram.
  - Zayn me põe no chão agora! - Gritei me debatendo e dando tapas de leve em suas costas. Já falei que esse garoto é cheiroso?
  Ele me largou alguns segundos depois e começou a rir.
  - Feliz ano novo Zayn. - Falei o abraçando - Agora vamos ver os fogos, é a melhor parte.
  Então começamos a prestar atenção no show de cores que o céu se transformou. Desde pequena sempre amei fogos de artificio e de como eles se libertavam nas alturas. Diferente das outras crianças, quando começava a estourar os fogos eu não sentia medo do barulho, muito pelo contrario, eu ficava encantada com a beleza que eles proporcionavam e inventava sentidos poéticos para eles.
  Quando percebi, eu e Zayn estávamos de mãos dadas, virei o rosto para olhar ele, que por sua vez parou de encarar o céu brilhante e colorido para olhar para mim, e sorrir. Sorrir do mesmo jeito que sorriu para mim durante nossas conversas... Lindo da mesma forma, encantador da mesma forma, paralisante e tão apaixonante que chega a ser perigoso.
  Soltei uma risada fraca, mas ele percebeu.
  - O que houve sua doida? - Perguntou
  - Eu devo ser muito doida mesmo, pois estou passando a virada do ano junto de um estranho que conheci a uma hora atrás na praia. - Falei - E o mais louco de tudo é que não me sinto com medo dessa pessoa ou com receio de ela ser um, por exemplo, maluco do machado. - Zayn riu alto - Eu me sinto feliz, me sinto simpatizada com essa pessoa e por incrível que pareça, é um dos melhores 1° de Janeiro da minha vida. - Sorri tímida, Zayn me encarava maravilhado e sorria feito um bobo.
  - Eu não sou um estranho, sinto como se te conhecesse a anos, . - Ele riu - Estamos nos conhecendo melhor, e estou ficando encantado em te conhecer... Na verdade, estou encantado em te conhecer desde que você deixou eu te fazer companhia ali atrás, naquele banco. - Sorri e Zayn me puxou para um abraço.
  Continuamos a assistir os fogos de artificio no céu, abraçados, mas eu não conseguia pensar em nada que envolvesse os fogos neste momento, pela primeira vez meus pensamentos estavam direcionados a uma pessoa, tal pessoa que me abraçava. Eu me sentia bem naquele abraço.
  Zayn abaixou a cabeça para me olhar nos olhos e eu mudei a posição do abraço para poder olhar ele frente a frente. Zayn sorriu para mim, alternando entre olhar para meus olhos e olhar para minha boca. Sorri instantaneamente com meu pensamento e quando percebi já cedia passagem a Zayn para o nosso primeiro beijo.
  E não sei por que, mas eu sentia que muitos ainda iriam vir...



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