
As Sete Princesas (Livro 1)
Escrito por Mikaelson | Revisado por Lelen
Prólogo
O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e rosados, enquanto Zípora e suas seis irmãs conduziam o rebanho para o curral. As risadas e os gritos alegres das irmãs ecoavam pelo vale, criando uma sinfonia única que se misturava ao balido das ovelhas. Zípora, a mais velha, caminhava à frente, seu coração pulsando com a expectativa de um encontro casual com Vinícius. Ele sempre passava por ali ao entardecer, e cada vez que seus olhares se cruzavam, havia uma troca silenciosa de promessas e sonhos.
Laressa, com sua harpa a tiracolo, começou a tocar uma melodia suave que fazia as ovelhas se acalmarem. As notas delicadas flutuavam pelo ar, atraindo a atenção das irmãs.
— Oh, Laressa, como você faz isso parecer tão fácil! — exclamou Lerye, arrumando os cabelos ruivos e sorrindo para a irmã. — Você deveria nos ensinar a tocar, quem sabe assim, poderíamos fazer um espetáculo para o príncipe.
— Seria lindo! — respondeu Vanete, com os olhos brilhando de entusiasmo. — Eu poderia recitar algumas passagens da Torá enquanto você toca. Seríamos muito aplaudidas. — Sua fé inabalável irradiava um calor que contagiava todas ao redor.
Yuliane, porém, fez uma careta.
— Aplaudidas? Ou seriam apenas massa de manobra para os nobres que não sabem valorizar o verdadeiro talento? — A indignação em sua voz fez com que as irmãs parassem por um momento, refletindo sobre o que realmente importava. — E de qualquer forma, quem precisa de aplausos quando você tem Jantoni te olhando com aqueles olhos hipnotizantes? — completou, com um tom provocador.
Adah, que até então estava em silêncio, lavando as mãos na água de um pequeno riacho, interrompeu com um olhar sério.
— Temos que nos lembrar do que realmente importa. Cantar e tocar é maravilhoso, mas cuidar do rebanho e de nossa família é o que nos une. — A expressão de Adah era uma mistura de carinho e proteção, revelando um lado dela que muitas vezes guardava só para si. O gosto de sua comida caseira era um testemunho do cuidado que ela tinha pelos outros.
A conversa continuou enquanto caminhavam, com Heloíse correndo de um lado para o outro, tentando imitar as notas da harpa com sua pequena flauta de bambu. A risada da irmã mais nova era contagiante, e todas elas se deixaram levar pelo momento. A união inquebrantável entre elas era um forte laço que desafiava qualquer adversidade, e mesmo que cada uma tivesse suas peculiaridades, era exatamente isso que as tornava especiais.
Com o rebanho finalmente dentro do curral, Zípora percebeu que o céu começava a escurecer. O coração a esperava ansiosamente, e a expectativa de ver Vinícius crescia a cada instante.
— Por que não fazemos um piquenique à noite, sob as estrelas? — sugeriu Lerye, piscando um olho para Zípora. — Assim, podemos confraternizar e ainda esperar o príncipe aparecer.
— Ótima ideia! — exclamou Laressa empolgada. — Vou pegar um pouco de mel e algumas frutas!
— E eu farei um pãozinho fresco — acrescentou Adah, a animação começando a quebrar seu semblante sério.
Enquanto as irmãs se moviam para preparar o piquenique, o calor da família as envolvia como um abraço apertado, fazendo-as esquecer preocupações e inseguranças, pelo menos por uma noite. Assim, sob as estrelas que começavam a brilhar como diamantes no céu, as irmãs se sentaram em círculo, compartilhando risadas, música e sonhos.
Capitulo 1 — O Começo do Sussurro do Passado
Na vastidão árida da antiga Mesopotâmia, duas cidades floresciam num cenário que, para os olhos do comum, parecia próspero e vibrante. Sodoma e Gomorra, com suas muralhas imponentes e ruas movimentadas, eram o testemunho de um tempo em que o prazer era a única lei, e a moralidade, uma mera sombra no horizonte do horizonte das consciências adormecidas. No entanto, por trás desse véu de ostensiva vitalidade, escondiam-se segredos obscuros e pecados que clamavam aos céus. As manhãs começavam na cidade com a luz do sol banhando os campos e as casas de tijolos de barro. As mulheres faziam o pão em seus fornos, e os homens se dirigiam ao mercado, onde o comércio fervilhava. Porém, a atmosfera era carregada de uma energia peculiar, como se cada risada fosse acompanhada de um sussurro maligno.
— Você ouviu sobre a festa na casa de Lot? — perguntou um homem de cabelos desgrenhados a um amigo, enquanto passava ao lado de uma taverna. — Dizem que ele está realizando sacrifícios para os deuses, e que os homens da cidade estão se aglomerando como abelhas ao redor do mel.
O amigo riu, mas seu sorriso estava tingido de uma dúvida inquietante.
— E se for apenas mais uma de suas excentricidades? Lot sempre foi um pouco… diferente.
Porém, a curiosidade havia sido plantada na mente do homem. O que estava em jogo nas festividades de Lot? A cidade estava tomada por uma voracidade que não deixava espaço para a dúvida ou a compaixão. As festas eram regadas a vinho e excessos, e a moral tinha se tornado uma relíquia de tempos passados.
Durante uma noite escura e abafada, um grupo de homens se reuniu nas ruas de Sodoma. Suas vozes altas ecoavam por entre as casas, e seus risos se entrelaçavam com os gemidos de dor que vinham de um beco vizinho.
— Basta de tanta hipocrisia! — gritou um deles, com os olhos brilhando de uma frenesia insaciável. — Vivemos apenas uma vez! Vamos nos entregar aos prazeres, sem medo das consequências!
Naquela mesma noite, como em muitas outras, as orgias eram o ponto alto da vida social. Homens e mulheres se abandonavam à luxúria, e os limites do que era aceitável foram diluídos até se tornarem quase irreconhecíveis. O que antes era considerado uma transgressão agora era a norma. As práticas sádicas tornaram-se uma forma de entretenimento, e o sofrimento alheio se transformou na diversão de uma multidão ensandecida.
Enquanto isso, os altares de demônios se erguiam nas periferias das cidades. Sacrifícios eram oferecidos ao que muitos chamavam de deuses, mas que, na verdade, eram entidades sombrias que apenas alimentavam o desejo por mais poder e controle.
— Não podemos mais viver sem a presença deles! — gritou um sacerdote, seu rosto pintado de cores vibrantes. — Eles nos dão o que desejamos, e em troca, apenas um pequeno tributo!
Ouvindo aquelas palavras, a multidão aplaudiu, embriagada pelo fervor de sua própria depravação. Os rituais tornaram-se cada vez mais grotescos, e o sangue de inocentes manchava a terra sagrada, tornando-se um símbolo do pacto sombrio entre os habitantes e as forças malévolas que afligiam suas almas. Mas em meio a toda essa depravação, havia um olhar que observava. Deus, que contemplava o que se passava em Sodoma e Gomorra, sentiu o peso do desespero e a repulsa por tantas maldades. Os gritos dos inocentes e as ações impensáveis ecoavam em Seu coração. Em meio à dança do prazer, a indiferença ao sofrimento alheio tornava-se um eco profundo, reverberando pelas realidades celestiais.
— Até quando permitirei que essa iniquidade se amplie? — sussurrou Deus, os sentimentos de tristeza e raiva entrelaçando-se em sua essência. Ele enviou Seus mensageiros para que observassem. — Vão e vejam o que está acontecendo. O tempo do juízo está se aproximando.
À medida que o sol se punha, tingindo o céu de cores vermelhas e laranjas, um grupo de viajantes surgiu na estrada que levava à cidade. Eram homens de aparência séria e resoluta. Ouvindo os rumores que cercavam as cidades, decidiram investigar a situação de perto.
— Devemos nos preparar — disse um deles, o mais velho do grupo. — O que encontramos aqui pode ser mais do que apenas prazer. O mal está enraizado, e a cidade não está ciente da tempestade que se aproxima.
No centro da cidade, a festa continuava, e os homens não percebiam a presença dos visitantes. As risadas ecoavam como um canto hipnótico, enquanto um ataque de loucura dominava a multidão. Mães chamavam por seus filhos, que estavam perdidos em meio à confusão de corpos e almas perdidas. A decadência se tornava palpável, e os viajantes sentiam que cada passo que davam os aproximava de um destino inevitável.
Conforme a noite avançava, a tensão aumentava. Os viajantes eram confrontados por um grupo de homens que, em sua embriaguez, sentiram-se ameaçados pela presença estranha.
— Por que vocês estão aqui?! — gritaram, aproximando-se com hostilidade. — Aqui não há espaço para estranhos!
— O que fazemos aqui não é de sua conta — respondeu um dos viajantes com firmeza. — Viemos para trazer uma mensagem, mas se você continuar a agir assim, a escuridão que vocês cultivam se voltará contra vocês!
Nesse momento, a cidade parecia tremer sob o peso das palavras. O ar estava pesado, e uma sensação de pânico começou a se espalhar. Os homens perceberam que algo estava errado, que havia uma presença sobrenatural envolvendo a cidade em sua totalidade.
— Vocês não têm poder sobre nós! — gritaram em resposta, mas a dúvida começava a se infiltrar em suas vozes.
Enquanto isso, a luz da lua se intensificava, refletindo os acontecimentos caóticos. A atmosfera estava impregnada de um cheiro de desespero, como se a própria terra estivesse se preparando para um desfecho trágico. O clamor de almas perdidas ecoou, e os cidadãos de Sodoma e Gomorra se viram envolvidos em uma luta entre a liberdade e a condenação.
A festa, antes repleta de alegria, agora se tornava um campo de batalha entre a razão e a loucura. O caos se instalava, e a escuridão da cidade se tornava palpável. Deus, em Seu trono celestial, observava a cena com um misto de tristeza e determinação. O tempo de agir estava próximo, e as chamas do juízo começavam a se acender.
Com isso, o capítulo se fechou em um clima de suspense, deixando a incerteza pairando no ar e o destino das cidades em uma balança delicada. O que aconteceria a seguir? As luzes da festa se tornariam a luz do juízo, ou haveria salvação para aqueles que ainda mantinham a fé? O que se avizinhava era algo que não poderia ser evitado, e a história de Sodoma e Gomorra estava longe de chegar ao fim.
*********
“E eis que vi sete donzelas. E delas veio sete reinos, sete príncipes”
— Bito! Bito! — disse Zipora enquanto começava a pastorear as ovelhas. Seguida por ela vinha suas seis irmãs.
— Adah, já disse... Eu e o Jantoni não temos nada, embora... — começou Yuliane.
— Por que não admite logo que gosta dele? — perguntou Laressa. — Eu gosto do Menachem também.
— Deixem de falar bobagens — disse Larye. — Temos ovelhas a pastorear.
— Mas eu quero brincar! — disse a pequena Heloise se sujando na terra.
— Temos que voltar logo, nosso pai vai falar mais a respeito da história de Abraão e eu gosto de ouvir — disse Vanete.
— Até quando vais esconder seu amor pelo Vinicius Cesar, Zipora? — perguntou Yuliane com um sorriso malicioso nos lábios.
— Já está na hora de eles se casarem, não é? — concordou Adah.
— O pai jamais permitiria — disse Zipora.
De repente ouviu-se um barulho, um grupo de homens mal-encarados, saqueadores com olhares predatórios, se aproximou das sete meninas. Eles começaram a abordar e cerca-las dizendo que apenas queriam se divertir, quando um egípcio as defendeu bravamente. Zipora e Adah ficaram encantadas.
— Eu sou Moisés e estou aqui para proteger as sete.
— Oi, Moisés, sou Zipora e essas são minhas seis irmãs.
Capitulo 2 — Moisés na casa de Reuel
As sombras da noite começavam a se espalhar pelo vilarejo quando Moisés, o egípcio, e as sete irmãs filhas de Reuel cruzaram a porta da humilde casa. O ambiente estava impregnado com o aroma do pão fresco assado por Adah e Yuliane, e as chamas da lareira dançavam, lançando um brilho suave nas paredes de barro. Reuel, um homem de aparência austera, mas de coração generoso, aguardava ansiosamente. Ele sabia que a coragem de Moisés era digna de reconhecimento.
— Portanto, você os enfrentou sozinho? — perguntou Reuel, enquanto se acomodava em um banco de madeira, olhando para o jovem com admiração. — Isso é digno de um verdadeiro guerreiro.
Moisés sorriu timidamente, lembrando-se da adrenalina que o consumiu durante o resgate. As irmãs não podiam conter a curiosidade e se aproximaram, criando um círculo ao redor do visitante.
— Eu apenas fiz o que qualquer um faria — respondeu Moisés, sua voz firme, mas modesta. — A vida delas estava em perigo, e eu não poderia ficar parado.
— Como é a vida no Egito? — indagou Yuliane, a mais ousada das irmãs, com os olhos brilhando de curiosidade. — Ouvi dizer que é um lugar de grandes palácios e mistérios.
— É verdade — começou Moisés, ajeitando-se no assento e se preparando para contar suas histórias. — O Egito é um lugar de contrastes, cheio de riqueza e também de injustiças. Há muito a se aprender e muito a se mudar.
Laressa, sempre a mais sonhadora, interrompeu:
— Você viu as pirâmides? Elas são mesmo tão grandiosas quanto dizem?
Moisés riu, seu coração leve diante da inocência e entusiasmo das irmãs.
— Sim, vi as pirâmides. Elas se erguem como montanhas de pedra, desafiando o tempo. Mas também há histórias de pessoas que vivem sob a sombra delas, lutando para encontrar seu lugar.
— E como você chegou a ser um homem tão corajoso? — perguntou Larye, admirando-o. — O que o motivou a enfrentar aqueles homens?
Com um olhar distante, Moisés respondeu:
— A coragem não vem de uma escolha, mas de um chamado. Senti que deveria fazer algo, não apenas por vocês, mas por todos que não têm voz.
Adah, a mais reservada, observava em silêncio, mas seu olhar atento não perdia um detalhe. Quando finalmente falou, sua voz era suave, mas firme.
— E você não sente medo? De voltar a enfrentar tais perigos?
Moisés respirou fundo antes de responder.
— O medo é natural, mas não podemos deixar que ele nos paralise. Às vezes, é preciso enfrentar o que nos assusta para encontrar o que realmente somos.
A conversa fluiu, entre risadas e questionamentos, enquanto a noite avançava. Cada irmã revelava um pouco de si mesma, e Moisés, por sua vez, compartilhava não apenas suas experiências, mas também seus sonhos e esperanças. Ali, naquela casa simples, os laços começavam a se formar, e o destino de todos eles parecia mais interligado do que nunca.
— Então, você realmente matou um egípcio? — perguntou Larye e Moisés assentiu.
— Para defender um hebreu — respondeu ele.
As irmãs olharam Moisés encantadas.
À noite as sete irmãs se despediram do pai, cada uma indo para sua cama, enquanto Moisés conversou mais um pouco com Reuel antes de ir dormir também.
No dia seguinte, Moisés viu que Adah já preparava o café da manhã. O café estava com um bom cheiro e Moisés se inclinou para sentir o aroma. Parecia realmente bom! Adah, com seu jeito quieto e reservado, olhou para Moisés e desviou o olhar. Zipora logo acordara, dando um bom dia para Moisés assim como as outras irmãs que saíram para pastorear. Entretanto, Laressa ficou tocando um pouco de harpa para Moisés. Moisés ficou encantado com a forma que Laressa tocava harpa. Ao entardecer, as irmãs voltaram do pastoreio.
— Fiquei sabendo que vai ter uma festa local por aqui essa noite — disse Yuliane com um sorriso. — Você deveria se apresentar, Laressa.
— Eu concordo — disse Larye.
— Seria uma honra vê-la cantar em uma festa local, Laressa — disse Moisés.
— Ela canta muito bem — disse a pequena Heloise.
A tarde começou a chegar e logo chegou a oportunidade de Laressa cantar em uma festa local. Todos da cidade estavam reunidos para vê-la cantar. Moisés e as irmãs de Laressa estava ali para ouvi-la cantar e tocar harpa
Eu tenho um Deus
Que não vai deixar
Essa luta me matar
O desespero me tomar
Por mais pressão que seja
A situação
O controle ainda está
Na palma de suas mãos
Eu tenho um Deus
Que não vai deixar
Essa luta me matar
Desespero me tomar
Por mais pressão que seja
A situação
O controle ainda está
Na palma de suas mãos
O choro dura uma noite, mas a alegria
Ela vem pela manhã
Eu creio, eu creio
O choro dura uma noite, mas a alegria
Ela vem pela manhã
Eu creio, eu creio
Conforme a música continuava a ressoar, Laressa era aplaudida. As irmãs sorriram ao ver a irmã cantar. As irmãs se juntaram, começando a cantar juntas. Moisés, que nunca vira sete irmãs assim tão unidas, demonstrou encanto pelas irmãs cantando. Zipora viu o garoto que gosta, Vinicius Cesar, olhar para ela com um sorriso e sorriu de volta. Vinicius começou a convidar Zipora para dançar. Enquanto uma das pessoas da festa, convidou Laressa para cantar mais uma música um dia em outra festa da cidade.
— Moisés, dança comigo? — pediu Yuliane e Moisés assentiu.
Capitulo 3 — Os Desafios das Irmãs
Os dias em Midian se arrastavam com a suavidade do vento que balançava as palmeiras. Moisés, se sentia como um peixe fora d'água. Enquanto ajudava nas tarefas diárias da família de Reuel, sua mente borbulhava com pensamentos sobre seu novo lar e as mulheres que o habitavam. A presença de Zipora, a mais velha das irmãs, atraía seus olhos e sua atenção. Seu charme era inegável, mas tudo que Moisés podia fazer era observar à distância, enquanto ela sorria e brincava com Vinicius Cesar, um jovem que ela parecia preferir.
— Olhe, Moisés! — disse Yuliane, interrompendo seus devaneios. — O que você acha de Zipora?
Moisés hesitou, buscando uma resposta que não deixasse transparecer seu interesse.
— Ela é... especial, eu diria. Mas parece que o coração dela já tem dono.
Yuliane franziu a testa, um brilho conspiratório surgindo em seus olhos.
— Isso não é um obstáculo. Se você realmente gosta dela, por que não tenta conquistar seu coração? Às vezes, as coisas não são o que parecem...
Enquanto isso, Laressa e Menachem, um jovem de uma família rival, se encontravam em segredo, longe dos olhares críticos de seus parentes. O clima de tensão pairava no ar, e Larye, a irmã mais calma, tentava intervir para evitar que a situação se tornasse um campo de batalha.
— Meninas, por favor! — exclamou Larye, com a voz carregada de exasperação. — Não vamos deixar que nossos pais destruam nossa união. Sempre fomos mais fortes juntas.
— Falar é fácil, Larye! — retrucou Vanete, batendo os pés impacientemente. — Como podemos permanecer unidas quando Laressa se encontra com aquele...?
Mas antes que a discussão pudesse se intensificar, Reuel, o pai das irmãs, entrou no ambiente. Seu olhar severo fez com que todas se calassem instantaneamente.
— Lembrem-se, minhas filhas — começou Reuel, com a voz grave —, a união é a nossa força. Não deixem que rivalidades nos dividam.
Moisés, que havia observado toda a cena em silêncio, sentiu um peso no peito. Ele não era apenas um espectador; suas emoções se entrelaçavam nas tensões do dia a dia. E, enquanto Laressa começava a se interessar por Jantoni, o ciúme de Yuliane crescia como uma sombra à espreita.
“O que será que o futuro reserva para nós?” pensou Moisés, ciente de que as dinâmicas entre as irmãs mudariam a cada dia.
— NÃO! — disse Yuliane brava. — Você não pode se interessar pelo Jantoni, Laressa.
— Meninas, vamos tentar se acalmar — disse Adah
— Ninguém pediu sua opinião, Adah — disse Heloise, a mais criança querendo ver onde a confusão daria.
— A Adah tem razão, somos família e família não briga — disse Larye interrompendo novamente.
*********
O sol já se tinha escondido atrás das montanhas quando Yuliane se aproximou de Moisés, seu coração palpitando em um ritmo acelerado. Ele havia notado como as risadas de Zipora ecoavam mais alto ao lado de Vinicius Cesar, e, embora tentasse ignorar, a sombra do ciúme começava a se instalar em seu peito.
— Moisés — começou ela, hesitante —, você viu como Zipora está feliz? — O tom de sua voz era quase melodioso, mas havia um subtexto de insegurança.
Moisés, que estava absorto em pensamentos, apenas acenou com a cabeça, sem perceber a profunda inquietude que tomava conta de Yuliane.
— É, parece que eles estão se divertindo — respondeu ele, olhando para o casal que parecia perdido em um mundo à parte.
A expressão de Yuliane se fechou. Ela não queria que Moisés desviasse sua atenção para Zipora, e, com um impulso, decidiu que era hora de agir.
— Você sabe que sempre pode contar comigo, não é? — disse, com um sorriso que tentava esconder sua determinação. — Posso te ajudar em qualquer coisa que você precisar.
Enquanto isso, a atenção de Adah estava voltada para Moisés, e Yuliane não pôde deixar de notar os olhares que trocavam. A irritação crescia dentro dela.
— Por que ela precisa olhar assim para ele? — resmungou para si mesma, enquanto Laressa, com suas mãos delicadas, dedilhava a harpa na tentativa de criar uma atmosfera mais leve. O som suave da música parecia desviar a tensão, mas Yuliane estava decidida a não deixar as coisas como estavam.
— Yuliane, você deveria se juntar a nós — disse Laressa, percebendo a tensão que emanava da irmã. — A música pode nos ajudar a esquecer os problemas por um tempo.
Mas Yuliane estava focada em seus planos.
— Eu tenho um jeito de conquistar Moisés — murmurou, quase inaudível, enquanto seus olhos se prendiam à figura do jovem.
De repente, um grupo de forasteiros apareceu à distância, e o clima de festa se transformou em um silêncio tenso. Os homens se aproximaram, suas intenções não eram claras, mas um deles se destacou, olhando diretamente para as garotas.
— Venham conosco, e nada de mal lhes acontecerá — disse o homem com um sorriso irônico, suas palavras carregadas de ameaças veladas. Moisés ergueu-se imediatamente, percebendo o perigo.
— Fiquem atrás de mim! — ordenou, sua voz firme ecoando na noite.
A fé de Vanete, que até então estava quieta, foi testada naquele momento. Ela fechou os olhos e começou a orar em voz alta, pedindo proteção. A música de Laressa parou abruptamente, e o som da harpa deu lugar a um tumulto de emoções e incertezas. Moisés, percebendo a desconfiança nos olhos do grupo, se preparou para defender as irmãs.
— Não vão levar ninguém daqui! — gritou, sua voz cortando o ar como uma espada.
Enquanto isso, Yuliane lutava contra a frustração e o ciúme. “Esse é o momento”, pensou, olhando para Moisés, que estava se posicionando como um verdadeiro guardião. “Se eu conseguir conquistar sua atenção agora, ele não poderá esquecer de mim.”
E com isso, seus planos de conquistar Moisés se tornaram ainda mais calculados e urgentes, enquanto a tensão no ar só aumentava. Mas Moisés conseguira salvar as irmãs.
Assim, destinos começavam a ser tecidos...
Com o passar dos dias, o romance entre Zipora e Vinicius Cesar se fortaleceu, repleto de sorrisos e momentos compartilhados sob o céu estrelado de Madian. Enquanto isso, Laressa e Menachem começaram a se encontrar em segredo, trocando olhares cúmplices e sussurros à sombra das árvores. A tensão aumentou quando Yuliane, ao observá-los, não conseguiu conter a irritação ao notar que Moisés parecia estar cada vez mais encantado por Zipora. Com um semblante preocupado, ela se aproxima de Moisés, que, por sua vez, está concentrado em ajudar Zipora a cuidar dos rebanhos.
— Moisés, você poderia me ajudar com os fardos de palha? — perguntou Yuliane, tentando captar sua atenção.
— Claro, Yuliane. Mas por que não se junta a nós? Zipora sempre precisa de uma mão amiga — sugeriu Moisés, sem perceber o olhar desapontado de Yuliane.
— Eu só quero passar um tempo com você, Moisés — ela respondeu, a voz tremendo entre a determinação e a frustração. Enquanto isso, Zipora observava o diálogo, um sorriso tímido nos lábios, mas sentindo a tensão da situação.
Do outro lado da história, no Egito, o faraó Adikam se revelava cada vez mais tirano, oprimindo os hebreus com sua crueldade implacável. Os gritos de dor e desespero ecoavam por todo o reino, e o temor se espalha entre os povos subjugados.
Retornando à trama de Madian, somos apresentados ao passado de Adah, uma figura maternal e uma das irmãs de Zipora. Sentada à beira do rio, ela rememorava sua infância, quando se via forçada a cuidar de suas irmãs, ora mais velhas, ora mais novas, enquanto seu pai e mãe discutiam intensamente.
— Lembro-me de como tentava acalmá-las — murmurou Adah para si mesma. — “Não se preocupem, tudo ficará bem”, dizia, mesmo quando meu coração se quebrava com os gritos que vinham de casa.
A memória de sua primeira experiência amorosa também a invadiu: Anibal, o irmão de Menachem, a quem nunca conseguiu esquecer. Os risos deles, os segredos trocados entre um olhar e outro, tudo parecia vívido em sua mente.
Percebendo que seu afeto por Moisés não era correspondido, Yuliane decidiu usar uma tática arriscada. Ela se aproximou de Adah, buscando uma aliança entre elas.
— Adah, eu preciso da sua ajuda — disse Yuliane, com um olhar persuasivo. — Se você me ajudar a conquistar Moisés, eu garantirei que sua vida aqui em Madian seja mais fácil.
— Mas isso é chantagem, Yuliane! — Adah respondeu, chocada, mas a pressão do momento a fez hesitar.
— Pense nas nossas irmãs, Adah. Você não quer que elas sofram, quer? — A voz de Yuliane era firme, e Adah se viu diante de um dilema angustiante.
Enquanto elas discutiam, Vanete começou a demonstrar sua fé em Deus, ajudando quem mais precisava. Um dia, encontrou uma mulher desgastada pelas dificuldades da vida.
— Eu estou aqui para ajudar — disse Vanete, estendendo a mão. — Juntas, podemos encontrar esperança.
Nesse emaranhado de emoções e desafios, as vidas de cada personagem se entrelaçavam, revelando a força e a fragilidade dos laços humanos em tempos de adversidade.
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— Vamos revisar o plano — disse Adah. — Como você pretende conquistar Moisés? — perguntou a Yuliane.
— Eu não sei, por isso preciso da sua ajuda, irmã — disse Yuliane.
— Você tem que mostrar a Moisés que pode ser tão forte quanto Zipora, mostre a ele seu lado encantador que sabemos que você tem — disse Adah em tom maternal.
— Obrigada, Adah — agradeceu Yuliane com um sorriso, já criando uma ideia.
Capitulo 4 — O Faraó Adikam — Capítulo Especial — Parte I
Adikam tinha vinte anos quando reinou sobre o Egipto, após a fuga de Moisés. E enquanto ele reinou, excedeu seu pai e todos os reis precedentes na maldade, e ele aumentou o jugo sobre os filhos de Israel. E ele foi com os seus servos a Goshen, aos filhos de Israel, e ele reforçou o trabalho sobre eles, e disse-lhes:
— Completem o seu trabalho, a tarefa de cada dia, e não afrouxem as mãos do nosso trabalho de hoje em diante como vocês fizeram nos dias do meu pai.
E ele colocou seus oficiais sobre eles, entre os filhos de Israel, e sobre estes oficiais, ele colocou mestres de tarefas entre os seus servos. E ele colocou sobre eles uma medida de tijolos para que fizessem de acordo com esse número, dia a dia, e ele retornou ao Egito.
Naquele tempo os mestres de tarefa do Faraó ordenaram aos oficiais dos filhos de Israel de acordo com o comando do Faraó, dizendo:
— Assim diz Faraó, faça o seu trabalho a cada dia, e termine a sua tarefa, e observe a medida diária de tijolos; não diminuam em nada. E se acontecer de vocês baixarem a medida diária de tijolos, vou colocar as suas crianças em seu lugar.
E os capatazes do Egito fizeram naqueles dias como o Faraó lhes ordenou. E sempre que qualquer deficiência fosse encontrada na medida diária de tijolos dos filhos de Israel, os mestres de tarefa do Faraó iam para as esposas dos filhos de Israel e tomavam suas crianças para onde haviam baixado sua cota, levavam por força de suas mães, e colocavam no edifício em vez dos tijolos. E seus pais e mães choravam e lamentavam quando ouviam o choro de seus filhos na parede do edifício.
E os capatazes prevaleceram sobre Israel, e os israelitas deviam colocar seus filhos no edifício, de modo que um homem colocava seu filho na parede, e colocava argamassa sobre ele, enquanto seus olhos choravam sobre ele, e suas lágrimas corriam em seu filho.
E os capatazes do Egito fizeram isto aos bebês de Israel por muitos dias, e ninguém teve pena ou compaixão pelos bebês dos filhos de Israel. E o número de todas as crianças mortas no edifício foi duzentos e setenta, alguns foram colocados no lugar dos tijolos que haviam faltado pelos seus pais, e alguns que haviam sido retirados mortos do prédio. E o trabalho imposto sobre os filhos de Israel nos dias de Adikam ultrapassou as dificuldades que eles realizavam nos dias de seu pai.
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— Por que nada dá certo? — perguntou Yuliane a irmã, Adah. — Moisés só tem olhos para Zipora. Por mais que ela esteja com outro, ele só tem olhos para ela.
— Eu não sei como te ajudar, Yuliane, todos os nossos planos deram errado — disse Adah. — Moisés realmente ama Zipora!
— Eu não posso deixar Zipora ficar com o que é meu — disse Yuliane. — Vou recorrer a meu último esforço.
— E qual seria esse esforço? — perguntou Adah preocupada.
— Nada demais, por enquanto — disse Yuliane com um sorriso maroto nos lábios.
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Enquanto isso, Vanete tinha seus momentos de fé, observando Moisés conversar sozinho com Deus. Ela começou a compartilhar da fé de Moisés e passou a ter uma fé mais elevada de Deus. Buscando o Senhor em todos seus caminhos, mesmo que para isso enfrentasse desafios, mas começou sua jornada de fé.
No Egito, Adikam avançava de forma implacável em sua tirania, consolidando seu poder através de leis ainda mais cruéis que aprofundavam a opressão dos hebreus. Enquanto isso, Moisés permanecia em Madian, sob a proteção de Reuel, onde o peso da injustiça que afligia seu povo o atormentava constantemente. As súplicas dos hebreus ecoavam pelos campos, clamando por uma intervenção direta de Deus, um clamor desesperado que chegou aos céus.
Em Madian, porém, a atmosfera era marcada por uma inocente tranquilidade. Heloise, a caçula entre as seis irmãs de Zipora, vivia uma infância repleta de alegria e leveza que contrastava fortemente com a dureza da realidade egípcia. Com sua energia contagiante, Heloise se dedicava a travessuras, especialmente com as ovelhas do rebanho, o que provocava uma mistura de irritação e diversão em Zipora.
— Você vai acabar espantando as ovelhas, Heloise! — Zipora exclamou, tentando manter uma expressão séria enquanto um sutil sorriso traía seu desagrado. As travessuras da irmã mais nova não apenas provocavam risadas, mas também criavam laços mais profundos entre as irmãs, como uma rede de amor que suavizava as adversidades da vida.
Laressa, Larye, Yuliane, Adah e Vanete se uniam a Zipora, rindo e trocando olhares cúmplices enquanto Heloise se embrenhava em novas travessuras.
— Aposto que ela vai tentar fazer as ovelhas dançarem de novo — comentou Yuliane, os olhos brilhando com a expectativa das travessuras que estavam por vir.
O calor das risadas e os momentos de ternura preenchiam o lar e deixavam Moisés impressionado. Ele observava com admiração a lealdade inabalável entre as irmãs, um claro reflexo de um amor que resistia a qualquer tempestade, uma luz de esperança em meio à escuridão que reinava em outros lugares.
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Enquanto isso, no Egito, a esposa de Adikam encontrava-se grávida enquanto Adikam continuava a afligir o povo hebreu. Os dias começavam a se passar. Yuliane começa a ver que Moisés realmente amava Zipora. Zipora, por sua vez, rompeu seu relacionamento com Vinicius Cesar e começa a ver Moisés de forma diferente. Reuel, o pai das sete filhas observava feliz. Enquanto isso, o caminho fez os encontros as escondidas entre Menachem e Laressa se intensificar. Os dois trocavam beijos e carícias. O casal teve um momento em que se beijaram apaixonados, enquanto tentavam esconder da família esse sentimento. Já Vanete começava a ver em Vinicius Cesar um possível romance, mas temia que isso pudesse atrapalhar sua fé. Enquanto isso, Adah continuava a cuidar das irmãs. Enquanto um romance começava entre Zipora e Moisés, outros romances começaram como o de Vanete e Vinicius Cesar e Adah e Anibal. Os dois desenvolveram alguns momentos juntos.
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Adah, uma das irmãs de Zipora, caminhava pelas ruas movimentadas com sua irmã Yuliane. As vozes da cidade envolviam-nas, mas o olhar de Adah se fixou em Anibal, que passava por elas com um sorriso que irradiava charme, enquanto seus olhos a observavam com uma intensidade apaixonada. O coração de Adah pulsou acelerado, e um leve rubor coloriu suas bochechas.
As irmãs estavam a caminho de uma loja encantadora para escolher vestidos que refletissem sua beleza e elegância. Enquanto passeavam, o riso delas ecoava pelas calçadas, mas a atmosfera festiva logo se tornou tensa quando um grupo de saqueadores islâmicos apareceu de maneira ameaçadora. Adah, por um momento, ficou sozinha, afastando-se levemente de Yuliane. Foi então que os homens, com olhares predatórios, se aproximaram, oferecendo a ela uma proposta indecente de um encontro íntimo.
A ousadia deles a deixou paralisada de medo, mas a determinação de se proteger a fez recuar. No entanto, os saqueadores eram astutos e criaram uma armadilha elaborada. Com um movimento rápido, capturaram Adah, levando-a para longe de sua irmã e do familiar abraço da cidade.
O desespero tomou conta de Yuliane, que gritou por ajuda, mas sua voz foi ofuscada pelo barulho da rua e pela rapidez da ação dos sequestradores. Nenhuma de suas irmãs, nem mesmo Moisés, poderia intervir a tempo. Assim, Adah foi levada em uma caravana tumultuada rumo ao Egito, a incerteza a consumindo.
No Egito, Adah encontrou-se em um palácio opulento, onde seus olhos se encontraram com os de Adikam, o faraó. Ele a observava com um fascínio inquietante, como se ela fosse um tesouro inestimável. Ela sentiu um misto de medo e curiosidade enquanto a rainha do Egito a observava atentamente do fundo da sala, um semblante de desconfiança estampado em seu rosto.
O clima estava carregado de intrigas e jogos de poder, e Adah se viu no centro de um turbilhão de emoções, entre a esperança de escapar e a realidade de sua captura. As conversas na corte ecoavam ao seu redor, repletas de segredos e planos, enquanto Adah tentava desvendar seu novo mundo, enfrentando não apenas os desafios de ser uma prisioneira, mas também o peso de ser o objeto do desejo de um faraó. A cada dia que passava, ela se sentia mais presa, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente, enquanto o jogo de sedução entre ela e Adikam se intensificava, complicando ainda mais seu destino.
Capitulo 4 — Parte II
E os filhos de Israel suspiraram a cada dia por conta de seu trabalho pesado, pois diziam entre si: “Eis que quando o Faraó morrer, seu filho se levantará e aliviará o nosso trabalho!” Mas eles aumentaram o último trabalho mais do que o anterior, e os filhos Israel suspiraram por isso, e seu clamor subiu a Deus por conta de seu trabalho.
E a rainha do Egito era estéril naqueles dias.
Moisés, por sua vez, passava cada vez mais tempo com Zipora, conhecendo um lado dela pouco conhecido. Assim, o tempo começava a se passar e Zipora e Moises desenvolveram sentimentos. Reuel abençoou o casamento de Zipora e Moisés que se tornaram marido e mulher. Yuliane, por sua vez, teve um enlace com Jantoni, e Laressa e Menachem começaram um relacionamento, entre beijos.
O tempo começou a se passar... E Zípora concebeu e deu à luz um filho, e ele o chamou de Gérson, porque disse: “eu era um estranho em uma terra estrangeira, mas ele não circuncidou prepúcio dele”. E ela concebeu novamente e deu à luz um filho, mas o prepúcio foi circuncidado dele, e chamou o seu nome de Eliezer, pois Moisés disse: “Porque o Deus de meus pais foi a minha ajuda, e livrou-me da espada de Faraó.”
E Faraó Adikam, rei do Egito, aumentou consideravelmente o trabalho dos filhos de Israel naqueles dias, e continuou a fazer o seu jugo pesado sobre os filhos de Israel. E ele ordenou um anúncio a ser feito no Egito, dizendo:
— Não se dê mais palha para as pessoas fazerem tijolos, deixem-nas ir e reunir-se a palha, pois elas podem encontrá-la. Também a soma de tijolos que farão a cada dia se aumente, e não diminuam nada a partir deles, porque eles estão ociosos em seu trabalho.
E os filhos de Israel ouviram isto, e eles choraram e suspiraram, e clamaram ao Senhor por causa da amargura da sua alma. E o Senhor ouviu o clamor dos filhos de Israel, e viu a opressão com que os egípcios os oprimiam. E um dia Deus apareceu para Moisés dizendo que ele deveria libertar os hebreus da escravidão e Moisés foi até o faraó se surpreendendo ao ver sua cunhada Adah, que agora esperava um filho do faraó, enquanto a outra rainha do Egito, também tinha um filho, o pequeno Amenhotep. E Moisés anunciou as pragas do Egito, mas nem assim o faraó se rendeu.
— Eu não vou libertar seu povo, Moisés! — disse o faraó.
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E Moisés, naqueles dias, estava com Deus e Deus libertou os hebreus da escravidão.
Capitulo 5 — Egito e Liberdade
E no dia em que Moisés, com a ajuda de Deus e seu irmão Arão, finalmente libertou os hebreus da escravidão, um sentimento de esperança e alívio pairava no ar. Após a dura batalha contra as pragas que assolaram o Egito, Moisés proclamou a liberdade dos hebreus, ecoando sua voz entre os vales e montanhas. Dentre os que ansiavam por liberdade, estava Adah, a irmã de Zipora e esposa do faraó Adikam. Decidida a mudar seu destino, ela escolheu partir com os hebreus, mesmo sabendo das consequências que isso poderia acarretar.
O momento da travessia do mar Vermelho foi épico. Com a água se dividindo em duas paredes imensas, Moisés liderava o caminho, enquanto Adah olhava maravilhada o desespero e a esperança se entrelaçando em seu coração. Ao lado dela, a família de Moisés seguia firme, e um grupo de egípcios, tocados pela coragem dos hebreus, decidiu se unir à jornada.
— Você está certa de que devemos fazer isso? — perguntou um jovem egípcio, nervoso, enquanto atravessava a terra seca que antes estava submersa.
— É nossa única chance de encontrarmos um futuro melhor — respondeu Adah, a determinação brilhando em seus olhos. — A opressão não é o nosso destino.
Assim, enquanto os hebreus respiravam a liberdade pela primeira vez, eles se lançaram no deserto, onde o sol ardente os recebia. Ao entardecer, montaram acampamento sob um céu estrelado, onde as conversas se tornaram um bálsamo para a alma.
Moisés, cercado por seu povo, falava sobre a terra prometida.
— Juntos, construiremos uma nova vida, longe do sofrimento. Não desistam, pois Deus está conosco.
Entre risos e lágrimas de alegria, Adah se aproximou de Zipora, sua irmã, e as duas trocaram palavras de esperança e coragem.
— Nossa força está na união — disse Zipora, olhando para as estrelas que brilhavam mais intensamente do que nunca.
— O deserto pode ser árido, mas nosso espírito é indomável — respondeu Adah, enquanto o vento suave dançava entre os segredos da noite.
E assim, sob a luz da lua, a nova jornada começava, cheia de desafios, mas também repleta de promessas de um futuro radiante. E os hebreus e egípcios começaram a andar sobre o deserto, cada um com suas próprias famílias e próprios dilemas. E foi assim, que aquela geração que veio antes do Êxodo começou a se montar sobre o deserto, fazendo tendas.
E assim, o mundo estava se reconstruindo. Apuki, sua esposa, seus filhos, egípcios antigos feitores do Egito, Korah, Dotan entre outros, seguiam Moisés. E naqueles dias, a mulher de Corá, Bina, dera à luz dois filhos: Assir e Elcana. Mas Korah não respeitava sua esposa Bina.
Já Zipora e Moisés e seus filhos passaram a viver no acampamento. Yuliane, por sua vez. perdeu o marido, que morreu e agora estava casada com o rei de Moabe, Balaque, de quem esperava um filho. Quanto as outras irmãs, seguiam sem maridos e filhos. Adah por sua vez, estava no deserto pensativa. Havia vivido tantas coisas...
Moisés servia como guia e líder, conduzindo os hebreus através das vastas areias e sob o calor escaldante do sol. No entanto, chegou o momento em que ele precisou se afastar um pouco para receber as tábuas dos Dez Mandamentos diretamente de Deus. A ausência prolongada de Moisés gerou temor e incerteza entre o povo. Após alguns dias sem notícias, a ansiedade tomou conta dos israelitas, e muitos começaram a acreditar que Moisés havia encontrado a morte nas montanhas ermas.
Foi então que Apuki, um dos líderes entre os hebreus, tomou a palavra, seu olhar carregado de inquietação.
— Arão! O que vamos fazer? Este homem nos trouxe até aqui, mas agora está perdido. Não podemos ficar sem um guia!
As murmurações cresceram, e a ideia de criar um ídolo começou a tomar forma em suas mentes.
— Vamos construir um bezerro de ouro e adorá-lo como nosso Deus! Ele nos dará a força que precisamos! — propôs Apuki, na esperança de unir o povo em torno de uma nova liderança.
Cansado e pressionado, Arão hesitou, mas viu o desespero nos rostos dos israelitas.
— Está bem… vamos fazer isso — concordou, sua voz carregando um peso de resignação.
Enquanto isso, os egípcios que acompanhavam o acampamento começaram a trabalhar fervorosamente na construção do ídolo, moldando o ouro em uma figura reluzente e atraente. Em pouco tempo, a festa tomou conta do acampamento, com danças e cânticos ecoando pelo deserto, todos adorando o bezerro como se fosse o próprio Deus.
No meio da celebração, Adah, irmã de Zipora, observava a cena com indignação. Ela se aproximou de Korah, primo de Moisés, que estava no meio da multidão, incentivando as danças.
— Isso é errado, Korah! Não podemos adorar um ídolo! Moisés nos ensinou a adorar ao Deus verdadeiro! — exclamou, seu olhar feroz.
Korah, com um sorriso provocativo, respondeu:
— Adah, não seja tão rígida. Olhe ao nosso redor! Todos estão felizes, celebrando a vida! O que há de errado em se divertir um pouco? Moisés pode não voltar nunca mais! — Ele gesticulou para o bezerro, que brilhou sob a luz do sol, e a multidão em êxtase parecia dar razão a ele.
Mas Adah não estava convencida.
— A verdadeira felicidade vem de um coração fiel a Deus, não de um ídolo feito por mãos humanas! — insistiu, sua voz firme em meio ao barulho da festa.
Enquanto a ebulição da celebração crescia, um vento quente levantou poeira do chão do deserto, e Moisés, portando as tábuas sagradas, começou a descer a montanha. O som festivo chegou a seus ouvidos, e seu coração se encheu de preocupação ao perceber que o povo estava se desviando do caminho. O que ele encontraria ao retornar? A dúvida o acompanhava enquanto ele se apressava para alcançar seu povo.
Capitulo 6 — O Desviar dos Caminhos
Quando Moisés retornou, muitos estavam adorando o bezerro de ouro. A raiva tomou seu coração. Ele deixou as tábuas e brigou com o povo. Insatisfeito, Deus começou a falar que eles vagariam 40 anos no deserto e somente seus descendentes veriam a terra de Canaã. E a esposa de Balaque, Yuliane, deu à luz aqueles dias em Moabe a um filho. Mas, entretanto, era uma menina, Cosby. Decepcionado pela falta de herdeiros homens, Balaque decidiu que quando a filha crescesse iria ser sacerdotisa de Moabe. Enquanto isso, Laressa esperava seu primeiro filho com Vinicius Cesar. Alguns romances começavam...
No vasto deserto, cientes de que seus destinos os levariam a vagar por quarenta longos anos sob a liderança de Moisés, tanto egípcios quanto hebreus começaram a se adaptar à nova realidade e a construir suas vidas e famílias. Korah, casado com Bina, a quem secretamente desprezava, olhava para o futuro com ansiedade. Pai de dois filhos, Assir e Elcana, sua mente estava distante. Ele tentava, com gentileza, se aproximar de Adah, a irmã de Zipora. A conexão dela com a esposa de Moisés despertava em Korah uma esperança renovada de formar um novo lar, um lar que poderia trazê-lo novamente à dignidade que ele sentia ter perdido.
— Adah — ele disse num tom suave, enquanto os ventos do deserto sopravam levemente em seu rosto. — A vida aqui é dura, mas talvez possamos encontrar consolo juntos. Você não gostaria de se unir a mim e à minha família?
Adah, surpresa, não sabia ao certo como responder. Seus olhos vagaram e ela respondeu hesitante:
— Korah, eu… não sei o que você espera. Minha lealdade está com minha irmã e sua família.
Enquanto isso, Dotan, casado com Safira, também buscava uma companheira. O olhar de Larye, uma jovem cujos olhos brilhavam como estrelas no céu noturno, chamou sua atenção. Ele a observava em silêncio, tentando encontrar a coragem para se aproximar.
— Safira — ele murmurou, inspirado pela visão de Larye. — Você já considerou como seria nossa vida se tivéssemos mais filhos? Eu tenho visto uma jovem que…
— Dotan — Safira interrompeu, uma expressão de preocupação em seu rosto. — Você sabe que esses sentimentos podem complicar muito as coisas. Devemos focar em cuidar do que temos.
Lá ao longe, Laressa e Vinicius Cesar celebravam a chegada de seu primeiro filho. A alegria deles era palpável, um raio de esperança em meio à aridez do deserto.
— Olha, Vinicius — disse Laressa, segurando o recém-nascido nos braços —, ele é nosso futuro. Devemos garantir que ele cresça forte e saudável neste lugar desafiador.
Vinicius, com um sorriso largo, respondeu:
— E ele será! Vamos ensinar-lhe a ser corajoso, como Moisés, e a amar sua família acima de tudo.
Enquanto isso, Vanete, em um canto mais afastado, cruzou caminhos com Zur, o jovem moabita que havia sido enviado ao deserto por Balaque. O ar estava cheio de curiosidade quando ela se aproximou.
— Você realmente se sente à vontade aqui, Zur? O deserto pode ser solitário.
Zur, com um sorriso tímido, respondeu:
— Eu busco um propósito, e você parece ser uma luz nesse caminho. Este deserto me ensina tanto.
Assim, sob o céu aberto, romances inesperados começavam a florescer, entrelaçando vidas e histórias em um cenário onde a esperança e o amor tentavam superar a dureza da vida no deserto.
Capitulo 7 — Primeiros Romances
— Korah, por que você não é mais como antes, parece afastado — disse Bina.
— Você sabe que nunca te amei, Bina — disse Korah.
Enquanto isso, hebreus e egípcios começam a vagar pelo deserto, vivendo vidas difíceis, tendo de aprender a conviver em equipe. Ambiciosos e buscando ter herdeiros, Dotan e Korah decidiram começar a investir em Adah e Larye, duas das irmãs de Zipora. Dotan era mais gentil e carismático, enquanto Korah utilizava elogios e charme. Em meio a isso, Laressa e Vinicius Cesar começam a ter filhos.
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O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o deserto com tonalidades de laranja e dourado. No acampamento hebreu, os sussurros do vento eram acompanhados por conversas animadas entre os beduínos que se reuniam ao redor das fogueiras. Mas, em meio à alegria e ao calor humano, havia corações ardendo em desejos secretos e ambições ocultas.
Korah, um homem de estatura média e olhar astuto, caminhava com passos lentos, observando todos ao seu redor. Casado com Bina, uma mulher de caráter bondoso, mas sem a paixão que ele tanto almejava, seu coração pulsava por outra. Adah, irmã de Zipora a esposa de Moisés, o libertador dos hebreus, havia capturado sua atenção. Ela era uma visão de beleza e determinação, e a ideia de conquistá-la iluminava suas noites solitárias.
“Por que eu não posso ter o que desejo?” pensava Korah enquanto se afastava das mesas onde os homens discutiam sobre a jornada no deserto. A tensão aumentava com os rumores de que Moisés anunciara que vagar naquele deserto por quarenta anos seria a realidade dos hebreus. O desespero começava a tomar conta de alguns, enquanto outros tratavam de buscar alternativas.
— A vida é curta, e eu não posso perder tempo — murmurou Korah, enquanto seus olhos seguiam o movimento de Adah e suas irmãs. Num canto, Dotan, seu amigo e cúmplice, compartilhava de sua inquietação.
— Você viu Adah hoje? Ela parecia mais radiante do que nunca — comentou Dotan, seu tom revelando uma intenção oculta.
Casado com Safira, que era estéril, Dotan também sonhava com filhos e um futuro diferente. Seu olhar se fixou em Larye, uma das irmãs de Zipora, com quem ele também nutria uma atração crescente.
— Sim, mas ela é um tesouro que pertence a Moisés. Não sei se vale a pena o risco — respondeu Korah, embora suas próprias palavras soassem mais como um desafio do que uma declaração de desistência.
— E quem disse que não podemos nos aproximar dela? O deserto é vasto, e as regras são mais flexíveis quando se trata de corações — insistiu Dotan, piscando de maneira conspiratória. — Afinal, eu preciso de filhos, e Larye é perfeita.
Korah sorriu, a ambição tomando conta de seu ser. O desejo de conquistar Adah crescia a cada dia, enquanto a ideia de Dotan em relação a Larye apenas alimentava suas próprias intenções.
— Vamos fazer isso, então. Vamos conquistar o que é nosso por direito — disse Korah, o tom de sua voz quase um sussurro, mas com uma determinação fervorosa.
Enquanto isso, Vanete, uma jovem cheia de vida e sonhos, olhava ao redor com um brilho nos olhos. Havia algo mágico no ar, e Jantoni, um rapaz que sempre a encantara, parecia estar mais próximo do que nunca. A tensão do deserto não afetava sobre seus sentimentos.
— Vanete, você já pensou em como seria se pudéssemos explorar juntos? — Jantoni perguntou, seu olhar intenso deixando claro o que ele desejava.
— Explorar? O deserto? Ou algo mais? — provocou ela, o sorriso brincando em seus lábios.
— Ambos, quem sabe? — respondeu Jantoni, dando um passo mais perto. — Quero saber mais sobre você, sobre seus sonhos.
Enquanto o flerte entre Vanete e Jantoni se intensificava, as conversas no acampamento giravam em torno das palavras de Moisés. O anúncio de que vagar pelo deserto por quarenta anos seria o destino do povo hebreu trouxe desespero e esperança. Eles estavam presos em um ciclo sem fim, e muitos começaram a se questionar sobre suas escolhas.
Numa noite em particular, enquanto as estrelas brilhavam intensamente no céu, Korah decidiu que era hora de agir. Ele saudou Adah com um sorriso encantador quando a viu sozinha, a luz da fogueira refletindo em seu rosto.
— Boa noite, Adah. A noite é tão bela quanto você — disse Korah, seu tom doce e envolvente.
— Você sempre tem palavras doces, Korah. O que você deseja? — Adah respondeu, com um olhar curioso, mas cauteloso.
— Eu desejo apenas saber se você se sente tão presa neste deserto quanto muitos de nós. Às vezes, parece que estamos destinados a vagar sem propósito — disse ele, observando cada movimento de seu rosto.
— Às vezes, a liberdade está em nossa mente, não em nossa situação. E eu encontro força na minha família e na missão de meu cunhado — respondeu Adah, mas a hesitação em sua voz não passou despercebida por Korah.
— Mas e se houvesse alguém que pudesse te fazer sentir viva, mesmo em meio ao deserto? A vida é feita de riscos, Adah. Às vezes, precisamos nos permitir sentir — ele sussurrou, sua voz carregada de intenções.
Dotan, por sua vez, não perdeu tempo e se aproximou de Larye. Ele a encontrou olhando as estrelas, pensativa.
— Larye, você não se sente triste por estarmos perdidos assim? Eu sonho com um futuro melhor, com filhos correndo ao nosso redor — disse Dotan com um tom de sinceridade.
— Sonhos são importantes, Dotan, mas a vida é incerta. Moisés tem um plano, e devemos confiar nele — respondeu Larye, mas seus olhos revelavam uma centelha de esperança.
— E se você pudesse escolher? Se houvesse liberdade para amar e sonhar sem amarras? Eu poderia te fazer feliz — ele disse, sua voz suave enquanto se aproximava dela.
Naquele instante, Dotan tomou a coragem que precisava e, sem hesitar, ele a beijou. O beijo, inesperado, fez o coração de Larye disparar, e a conexão que havia entre os dois se intensificou.
Enquanto isso, as histórias de amor e ambição se entrelaçavam. O deserto, que parecia tão árido e sem vida, agora pulsava com sentimentos complexos. As relações estavam mudando, e os desafios da vida no deserto pareciam menores diante da força do desejo humano.
Em Moabe, Yuliane também vivia seu próprio dilema. Ela se viu atraída por Zur, irmão de Balaque, um homem intrigante e provocante. Os dois se encontraram furtivamente sob a luz da lua, onde a tensão entre eles era palpável.
— Você não tem medo do que as pessoas podem pensar? — perguntou Yuliane, seus olhos brilhando de emoção.
— Medo? Não, eu desejo mais que isso. Quero viver intensamente, e você é a razão pela qual meu coração bate mais forte — respondeu Zur, puxando-a mais perto.
A noite estava cheia de promessas e possibilidades. O deserto, com todas as suas dificuldades, se tornava um cenário de paixões ardentes e decisões complicadas. Enquanto Korah, Dotan e os outros lutavam contra suas próprias ambições, a jornada dos hebreus se tornava cada vez mais complexa. O futuro ainda era incerto, mas uma coisa era clara: os corações estavam se entrelaçando em um emaranhado de amor e desejo, e a vida no deserto jamais seria a mesma. E assim, sob o vasto céu do deserto, os destinos se entrelaçavam, e as histórias de cada um começavam a se desenrolar em uma tapeçaria de amor, traição e anseios proibidos. O deserto, testemunha de tantas lutas e esperanças, guardaria segredos que poderiam mudar o curso de suas vidas para sempre.
Capitulo 8 — O Conto de Ijona
Korah e Adah se beijavam. Adah sabia que aquilo era errado, já que Korah tinha uma esposa, Bina, mas não poderia negar que ele era atraente e ter que viver no deserto por 40 anos, a fazia querer buscar por uma família. Então em um momento, sentiu Korah puxa-la para um beijo. Um beijo convidativo, um beijo que mostrava o quanto ela poderia ser amada. Enquanto Korah aprofundava o beijo, Adah sentia o beijo se intensificar e seus corpos se grudarem um no outro, por um momento de emoções, o mesmo acontecia entre Larye e Dotan. Entretanto, a vista mudou...
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Ijona ainda era uma criança quando a cidade de Sodoma pulsava com uma vida que ofuscava os céus e, ao mesmo tempo, enchia os corações de medo. Era um lugar onde as sombras se alongavam, onde o pecado e a maldade eram companheiros constantes nas ruas empoeiradas, e onde o riso muitas vezes se transformava em gritos de desespero. A pequena Ijona, com seus olhos grandes e curiosos, não entendia completamente a gravidade da vida ao seu redor, mas sentia, em seu coração inocente, que havia algo de muito errado no ar pesado que pairava sobre a cidade.
Em sua casa, a rotina era marcada por discussões acaloradas. Seu pai, um homem de temperamento forte, frequentemente se exaltava com sua mãe, uma mulher submissa, que tentava manter a paz em meio às tempestades emocionais de seu marido. Ijona muitas vezes se refugiava em seu próprio mundo, onde as histórias de heróis e anjos a acompanhavam, distantes das realidades cruéis que a cercavam.
— Ijona! — chamou sua mãe, interrompendo seus pensamentos. — Venha aqui, sua ajuda é necessária!
A menina correu para a cozinha, onde a mãe lutava para organizar o jantar, enquanto o pai grunhia em outra sala, provavelmente a respeito do vizinho que havia se mudado e que, segundo ele, não passava de um vagabundo.
— O que você precisa, mãe? — perguntou Ijona, tentando sorrir.
— Preciso que você me ajude a picar os legumes. E, por favor, tente não fazer barulho. Seu pai está de mau humor hoje.
Ijona assentiu e começou a ajudar, mas sua mente vagava. O que poderia ser mais empolgante do que picar legumes? A cidade estava cheia de segredos e histórias que ela queria descobrir, mas o medo de seu pai a mantinha presa em casa. Naquela noite, enquanto a cidade iluminava-se com as luzes de festas e os sons de celebrações, um brilho intenso chamou a atenção da menina.
Ao olhar pela janela, Ijona avistou uma figura magnífica com asas que reluziam sob a luz da lua. O coração da criança disparou. Ela nunca tinha visto algo assim antes. O anjo desceu lentamente, pairando sobre a terra, e Ijona, fascinada, hesitou apenas um momento antes de abrir a janela.
— Não tenha medo, pequena Ijona — disse o anjo, a voz suave como uma brisa de verão. — Eu estou aqui para conversar com você.
— Você… você é um anjo? — perguntou Ijona, os olhos brilhando de admiração.
— Sim, sou. E venho em paz. Vim lhe mostrar que há outras formas de ver a vida em Sodoma.
Ijona olhou para as ruas escuras da cidade, ouvindo os gritos e risos ao longe.
— Mas… meu pai diz que Sodoma é um lugar de pecado. Eu não posso me divertir. É errado.
O anjo sorriu, um sorriso que parecia iluminar toda a noite.
— A diversão não é pecado, Ijona. O que é pecado é a maldade; a crueldade que você vê nas ações das pessoas. Eu não estou aqui para dizer que você deve ignorar isso, mas sim para abrir sua mente às possibilidades. A vida é muito mais do que as sombras que você observa.
Ijona não sabia o que dizer. O que o anjo estava dizendo fazia sentido, mas a ideia de se divertir em uma cidade com tanta maldade era perturbadora.
— E… o que você sugere? — perguntou, hesitante.
— Venha comigo e veja o que está além do medo. Você encontrará pessoas boas, momentos alegres. Não precisa se entregar ao que é negativo. Há um equilíbrio.
— E se meu pai descobrir? — Ijona sussurrou, sentindo o peso da dúvida em seu peito.
— Ele não precisa saber. Sua vida é sua, Ijona. Aprenda a viver com alegria, mesmo que ao seu redor a escuridão tente dominar.
Ijona olhou para o anjo, a hesitação dando lugar à curiosidade.
— O que eu devo fazer?
— Siga-me. Vamos explorar, mas lembre-se: a escolha de como viver é sua. Você pode sempre retornar para casa.
Com um último olhar para a segurança de seu lar, Ijona decidiu seguir o anjo. Eles voaram sobre as ruas de Sodoma, testemunhando a vida vibrante que coexistia com a maldade. Havia festas, música, danças, e, por um breve momento, a criança se perdeu na beleza que se desdobrava diante de seus olhos.
— Veja estas pessoas! — exclamou o anjo, apontando para um grupo de jovens que dançavam e riam. — Eles podem não perceber, mas estão criando momentos de luz em meio à escuridão.
Ijona observou fascinada. Embora houvesse muita maldade, havia também alegria. Ela se lembrou de sua família brigando e sentiu que, talvez, houvesse mais na vida do que brigas e discussões. Para cada ato de maldade, havia um ato de bondade. Poderia ela ser parte dessa bondade?
— O que eu faço para ser assim? — perguntou, ansiosa.
— Comece com pequenas ações. Seja gentil, ajude aqueles que precisa, e acima de tudo, busque a alegria em sua vida e na vida dos outros. A bondade pode ser uma luz, mesmo nas noites mais escuras.
Enquanto o anjo falava, Ijona percebeu que havia algo mais profundo em suas palavras. O desejo de ser parte dessa bondade começou a crescer dentro dela. Ela tinha o poder de escolher como se comportar, mesmo em uma cidade marcada pela crueldade.
As horas passaram e Ijona, agora ciente da responsabilidade que tinha sobre sua vida e suas ações, sentiu que era hora de voltar.
— Eu preciso ir — disse ela, um misto de determinação e tristeza na voz. — Minha família… eles precisam de mim.
— Então vá, Ijona. Lembre-se do que aprendeu esta noite. E, acima de tudo, nunca deixe que a escuridão a impeça de brilhar.
Com um último olhar para o anjo, Ijona se despediu e fez o caminho de volta para casa, o coração pulsando com novas esperanças e oportunidades. Agora, mais do que nunca, ela estava decidida a trazer luz para sua família e, talvez algum dia, até mesmo para Sodoma.
Diversão, é o que a gente quer,
Nessa vida, o que vai fazer,
Vou fazer o que decidir,
Eu sou menina e vou me divertir,
Eu sou menina e vou me divertir,
O que a gente quer, o que a gente quer,
Os garotos querem mandar,
Aqui não, querem escolher e nos impedir,
Vamos, meninas, vamos trabalhar
Enquanto Ijona, já adolescente, se dava as festas com os homens e anjos da cidade, se dando a perversões, se divertia fazendo o que era mau aos olhos do criador, seus risos em meio a diversão desenfreada, era incapaz de coexistir.
E Sodoma tinha quatro juízes para quatro cidades, e estes são os seus nomes, Serak na cidade de Sodoma, em Gomorra Sharkad, Zabnac em Admá e Menon em Zeboyim. E assim faziam aos visitantes. E por desejo de seus quatro juízes, o povo de Sodoma e Gomorra tinha posto camas nas ruas das cidades, e se um homem viesse a esses lugares, ordenaram que o tomassem e o forçassem a deitar-se em uma de suas camas. E assim que se deitasse, três homens estariam em sua cabeça e três aos seus pés, e o esticassem pela cama, e se o homem fosse menor do que o leito, esses seis homens teriam de estica-lo em cada extremidade, e quando ele gritasse para eles que não poderiam responder-lhe. E, se ele fosse maior do que a cama, eles afastariam as duas extremidades da cama, até que o homem houvesse chegado às portas da morte. E se continuasse a gritar, eles iriam responder, dizendo: “Assim será feito ao homem que vem em nossa terra”. E, se um homem pobre viesse à sua terra, eles lhe dariam prata e ouro, e proclamavam em toda a cidade que não lhe fosse dado sequer um pedaço de pão para comer, e se o estranho permanecesse lá alguns dias e morresse de fome, não tendo sido capaz de obter um bocado de pão, depois de sua morte todas as pessoas da cidade vinham e tomavam a sua prata e ouro que tinham dado a ele. E aqueles que pudessem reconhecer a prata ou ouro que lhes tinham dado, o levavam de volta, em sua morte, eles também lhes tiravam as roupas, e lutariam por elas, e o prevalecesse sobre o seu vizinho as tomaria para si. Eles depois o levavam e o enterravam sob algum dos arbustos nos desertos, e deste modo eles fizeram todos os dias a qualquer um que viesse até eles e morresse na sua terra. E Ijona, em uma dessas festas de Sodoma e Gomorra, conhecera Lot, um homem justo e íntegro diante de Deus. Ele parecia diferente de seu povo e isso a intrigava.
— Você não é como as pessoas daqui — ela opinou.
— Se isso foi um elogio, foi muito bem dado. — Lot sorriu de volta.
— Foi o único elogio que dei minha vida inteira — disse Ijona com um sorriso.
— Me sinto lisonjeado por isso — disse a Ijona. — Eu sou Ló.
— Prazer, Ló, sou a Ijona.
Os dois se olharam por um instante antes de começarem a dançar na festa.
Capitulo 9 — Sodoma e Gomorra
E naquele tempo a mulher de Ló lhe deu uma filha, e chamou o seu nome Paltith, dizendo: "Porque Deus tinha entregue ele e toda a sua família dos reis de Elão", e Paltith, filha de Ló cresceu, e um dos homens de Sodoma a tomou para esposa.
E um homem pobre chegou à cidade em busca de manutenção, e ele permaneceu na cidade alguns dias, e todas as pessoas de Sodoma proclamaram, como era seu costume, de não dar a este homem um pedaço de pão para comer, até que ele caísse morto sobre a terra, e elas assim fizeram.
E Paltith, a filha de Ló, viu este homem deitado na rua morrendo de fome, e ninguém lhe dava qualquer coisa para mantê-lo vivo, e ele estava prestes a morrer. E a sua alma se encheu de compaixão por causa do homem, e ela lhe deu secretamente pão para muitos dias, e a alma deste homem reviveu. Ela o alimentou. E naqueles dias, a esposa de Ló concebeu novamente e deu à luz uma menina, Tamires. E deu à luz outra menina, Ijaska. E Paltith morreu naqueles dias, por dar ao homem o que comer.
O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo os céus de vermelho e dourado, quando Ló caminhava pelas ruas de Sodoma. Ele sentia uma pressão no peito, uma sensação de desconforto que não o abandonava. A cidade, com suas paredes imponentes e ruas movimentadas, era um lugar de beleza exterior, mas uma feiura moral que se escondia sob a superfície.
— Ló, você não pode continuar aqui — disse sua esposa ao seu lado. O seu nome era Ijona, e seu olhar refletia preocupação. — Essas pessoas... elas se perderam de um modo que não consigo entender.
Ló parou por um momento, observando a multidão que se aglomerava na praça central.
— Mas elas precisam de nós, Ijona. Eu sou um dos poucos que ainda teme a Deus. Se não estivermos aqui, quem vai mostrar o caminho?
— Você não pode salvar todos, Ló! Olhe ao seu redor! A imoralidade e a corrupção estão em cada esquina. Eles não ouvem mais — Ijona respondeu, sua voz carregada de desespero.
— Eu tenho fé. Acreditar é o primeiro passo — Ló insistiu, tentando se convencer e à sua esposa ao mesmo tempo.
Enquanto Ló e Ijona discutiam, um grupo de homens se aproximou, rindo e trocando palavras de forma leviana. Um deles, de cabelos desgrenhados e olhar lascivo, se dirigiu a Ló.
— Ei, Ló! Você ainda não se juntou à diversão da cidade? Estamos organizando uma festa para celebrar a liberdade — disse o homem, com um sorriso sarcástico.
— Liberdade? — Ló retrucou, sua voz firme. — O que você chama de liberdade é escravidão ao pecado. Vocês não veem que essa cidade está se perdendo?
Os risos cessaram, mas logo um dos outros se riu novamente.
— O que você sabe sobre liberdade? Você se considera um justo, enquanto todos nós sabemos que as suas ações estão se tornando tão imorais quanto as nossas.
Ijona apertou a mão de Ló, tentando puxá-lo para longe daquele confronto.
— Vamos, Ló. Não vale a pena discutir com eles. Eles não entendem.
Mas Ló estava determinado. Ele decidiu se manter firme em suas convicções.
— Eu não me calarei enquanto houver uma chance de trazer alguma luz a esta escuridão.
Os homens se afastaram, mas a tensão pairava no ar. Enquanto caminhavam para casa, Ijona olhou para Ló e perguntou:
— Você acha que eles alguma vez ouvirão? Que podem mudar?
— Se eu não falar, quem falará? O Senhor me mandou aqui para ser Sua voz — Ló respondeu, embora a dúvida também fizesse parte de seu coração.
Naquela noite, enquanto a cidade de Sodoma estava envolta em festividades e pecados, Ló decidiu fazer uma visita à porta da cidade. Ele queria observar e, talvez, entender melhor o que estava acontecendo. Ao chegar lá, encontrou-se com um grupo de homens em torno de uma fogueira. A conversa girava em torno de atos imorais, e todos riam com desprezo.
— Viu a nova casa que construíram perto do rio? Dizem que é um verdadeiro antro de pecado! — um deles comentou, rindo.
— E não se esqueça das festas! Nunca vi tanta devassidão em um só lugar. As pessoas perderam a noção do que é certo — outro acrescentou, balançando a cabeça.
Ló não pôde suportar mais. Ele se aproximou e, com a voz elevada, questionou:
— Vocês não têm vergonha? A moralidade se despedaçando diante de vocês, e vocês riem? O que acontecerá com suas almas?
Os homens se viraram para olhar Ló, e a risada se transformou em murmúrios de irritação.
— Olhe quem fala! O juízo de Deus não está sobre nós, mas sobre você, que se diz justo enquanto vive entre nós!
Um deles, mais ousado, avançou em direção a Ló.
— Se você não gosta do que vê, por que não vai embora? Este é o nosso lar. Aqui nós vivemos como queremos, sem as amarras da moralidade.
Ló sentiu uma onda de desespero subindo dentro dele. O que ele poderia fazer? Ele não tinha poder para mudar o coração dessas pessoas. Sentou-se em uma pedra, com a cabeça baixa, sabendo que estava prestes a enfrentar uma tempestade que não poderia evitar.
Na manhã seguinte, enquanto o sol ainda mal começava a iluminar a cidade, dois homens, que Ló reconheceu como mensageiros de Deus, chegaram à sua porta. Ele os recebeu com hospitalidade, embora sua mente estivesse se dividindo entre o receio e a esperança.
— Ló, temos uma mensagem para você — um dos mensageiros disse, sua voz clara e autoritária. — Sodoma e Gomorra estão prestes a ser destruídas. O pecado que aqui se cometeu chegou ao céu. Você deve reunir sua família e sair antes que seja tarde demais.
— Mas, por que apenas eu, Senhor? Há outros aqui que também tentam o bem — Ló implorou.
— Quais? Aqueles que zombam do justo e se entregam ao pecado? Você é a única esperança que temos. Avise sua família e prepare-se para partir — disseram os mensageiros.
Quando Ló voltou para casa, seu coração estava pesado. Ele encontrou Ijona, que estava preparando o café da manhã.
— Ijona, precisamos ir. Os homens de Deus disseram que a cidade será destruída.
— Destruída? Você está certo, Ló? Espero que não esteja se deixando levar por suas visões — Ijona respondeu, preocupada.
— É verdade! Não há mais tempo! Reúna os meninos, precisamos partir agora! — Ló exclamou.
Aquela manhã foi uma correria. Ló, Ijona e suas filhas tentaram convencer os familiares, mas muitos estavam tão arraigados em suas práticas e prazeres que não conseguiram ouvir. Apenas suas filhas, um tanto relutantes, aceitaram o aviso.
Enquanto corriam em direção à saída da cidade, Ijona olhou para trás uma última vez. A visão de Sodoma, com suas luzes e festas, agora parecia um pesadelo. Ela percebeu que havia se perdido em seus próprios esforços para salvar a cidade, e agora tinha que escapar de sua própria criação.
— Não olhe para trás, Ijona! — Ló gritou, mas já era tarde demais. Ijona, consumida pela curiosidade e pela ligação com tudo o que deixava para trás, virou-se e, num instante, foi transformada em uma estátua de sal.
A dor no coração de Ló era insuportável. Ele sabia que tudo o que havia construído, todas as esperanças e tentativas de mostrar o caminho, haviam se esvaído em um instante. Ele e suas filhas continuaram sua jornada, com a cabeça baixa, compreendendo que, às vezes, a luta pela justiça pedia sacrifícios que o coração nunca está preparado para enfrentar. E assim, a sombra de Sodoma e Gomorra permaneceu sobre a terra, um lembrete dos perigos da imoralidade e da necessidade de vigilância no caminho da retidão.
Capitulo 10 — As Filhas de Ló
E aconteceu que naqueles dias viviam na terra de Sodoma e Gomorra, duas jovens, filhas de Ló, e seus nomes eram Tamires, a mais velha, e Ijaska, a mais nova. Tamires estava casada com Dougie, um sodomita. Ela seguia retamente os mandamentos de Deus assim como seu pai, Ló, mas a irmã, Ijaska, se deixava levar pela alegria da cidade. Ela sonhava em ser feliz e amada, mas o que Ijaska não imaginava era que sua vida estava prestes a mudar.
Quando sua mãe olhou para trás, ela, Tamires e seu pai Ló tiveram que abandonar tudo para viver em uma caverna. A mãe, uma estátua de sal, causava a dor nas filhas por vê-la sem vida. Tamires lamentara muito a morte da mãe, mas não tanto quando Ijaska, sendo que esta tinha na mãe a figura de uma heroína. Mexia com magia, mas a vida em Sodoma tivera de ser deixada de lado. E as duas filhas de Ló tiveram filhos do pai. A mais velha deu à luz Moabe e a mais nova a Benami. Mas esta não é a história toda...
*********
Na escuridão da caverna, o cheiro da terra molhada se misturava ao aroma do vinho. Ló, o patriarca de um povo outrora próspero, encontrou-se em um estado de torpor. Após a destruição de Sodoma e Gomorra, a solidão e o desespero o perseguiram, e, em sua embriaguez, ele não percebeu que suas duas filhas, Tamires e Ijaska, se encontravam à sua volta, preocupadas com o pai. As sombras dançavam nas paredes da caverna, refletindo a luta interna de Ló, que se sentia perdido e abandonado.
— Pai, você precisa parar com isso! — exclamou Tamires, com a voz embargada. Os olhos dela estavam vermelhos, não apenas pelo choro, mas pela preocupação que a consumia.
— Deixe-o, Tamires. Ele precisa de um tempo para si mesmo — respondeu Ijaska, mais calma, mas com a voz trêmula. Ela tinha sempre sido a irmã mais compreensiva, mas a angústia a consumia.
— Um tempo? Ele está se afundando! Olha para ele! — Tamires apontou com o dedo, a frustração transbordando. Ló mal conseguia manter os olhos abertos.
E assim a noite seguiu, com as filhas tentando acordar Ló de seu estado bêbado. A conversa passava entre sussurros de preocupação e gritos de desespero, enquanto o vinho se tornava a única companhia do patriarca.
Certa hora, Ló acordou com um sobressalto. Ele se levantou abruptamente, suas mãos tremendo. O vinho que ele havia consumido ainda dançava em seu sistema, confundindo sua mente.
— O que aconteceu? — murmurou ele, tentando recordar o que se passara nas últimas horas. O olhar perdido encontrou o de Tamires. — Eu… o que vocês estão fazendo aqui?
— Estamos juntas, pai. E você precisa de nós — respondeu Ijaska, com uma voz suave, mas firme.
Ló olhou ao redor, a caverna parecia mais escura e opressiva. Ele se lembrou da destruição, do fogo, do lamento. Não queria carregar mais um fardo, mas não sabia que suas filhas estavam prestes a mudar o rumo de suas vidas.
— O que vocês querem que eu faça? — Ló perguntou, a voz embargada de dor e confusão.
— Nós queremos que você nos ajude a reconstruir o que foi perdido — Tamires comentou, dando um passo à frente.
— Mas como? Estou quebrado, não sei como seguir em frente. — Ló afundou a cabeça entre as mãos, mas a solidão e o desespero clamavam por respostas que não tinham.
As horas se passaram, e o vinho continuava seu trabalho. Os corações das filhas batiam em uníssono, e quando a embriaguez finalmente tomou conta de Ló novamente, as palavras se transformaram em ações que mudariam suas vidas para sempre.
Naquela noite fatídica, não havia conselhos, apenas um desespero compartilhado que se transformou em caos. E assim, Tamires e Ijaska se tornaram mães sem intenção, cada uma trazendo em seu ventre a semente de seu pai.
Quando a manhã chegou, o sol banhou a caverna. Ló despertou com a percepção do que havia ocorrido, as memórias da noite anterior surgindo como um pesadelo entre seus pensamentos.
— O que nós fizemos? — Ló sussurrou, o horror estampado em seu rosto.
— Pai, nós… — Tamires hesitou, a vergonha fazendo sua voz falhar.
— Nós engravidamos de você — Ijaska completou, a verdade pesando em seus corações.
O silêncio que se seguiu foi sufocante. Ló olhou para suas filhas, sabendo que a culpa e a vergonha o acompanhariam para sempre. Contudo, a realidade era inegável. Ele se tornara o esposo involuntário de ambas, e a responsabilidade agora pesava sobre seus ombros.
— O que devemos fazer agora? — questionou Tamires, sua voz evocando em temor.
— Precisamos aceitar o que aconteceu, e cuidar de vocês — Ló falou, e a resignação em sua voz era palpável. — Não posso negar que sou o pai de meus próprios filhos.
Assim, Moabe e Benami vieram ao mundo, trazendo uma nova vida à caverna que, antes, era repleta de dor. Com o passar dos anos, Ló se tornou um pai protetor, embora a sombra do que aconteceu pairasse sobre eles como um manto pesado. A presença constante de Tamires e Ijaska o ajudou a enfrentar o passado, mas o peso da culpa ainda o acompanhava.
— Mãe, o que devemos fazer hoje? — perguntou Moabe, com olhos curiosos, enquanto brincava com seu irmão, Benami, próximo à entrada da caverna.
— Hoje é dia de explorar as redondezas — respondeu Ijaska, com um sorriso carinhoso. — Mas lembrem-se, sempre juntos.
As risadas das crianças ecoavam pela caverna, e por um momento, Ló sentiu uma centelha de esperança. Ele não poderia mudar o que aconteceu, mas poderia moldar o futuro deles. Com o passar do tempo, a aceitação tornou-se um exercício diário, e a vida continuou, mesmo que de forma atípica.
— Está tudo bem, pai? — perguntou Tamires, um dia, enquanto observava Ló com um olhar preocupado.
— Sim, filha. Apenas refletindo sobre o que fomos e o que somos agora — Ló respondeu, um sorriso triste nos lábios.
— Nós somos uma família, mesmo que tenhamos um começo diferente — Ijaska acrescentou, sentando-se ao lado do pai. — O importante é que estamos juntos.
E assim, nas trocas de olhares e palavras, entre os laços de amor e responsabilidade, a história de Ló, Tamires e Ijaska continuava a se desenvolver. Com o tempo, novas vidas surgiram: Zilpa nasceu, trazendo uma nova luz à caverna, e onze anos depois, Bila chegou, como um presente inesperado.
— O que você deseja ser quando crescer, Bila? — perguntou Zilpa, enquanto as duas brincavam com flores silvestres.
— Quero saber até onde a luz do sol nos pode levar! — Bila respondeu, sonhadora.
E com isso, as filhas de Ló continuaram a viver, a cavar novos caminhos em meio à dor e à culpa, transformando a caverna em um lar recheado de risos e esperanças. A história de sua origem se tornaria uma antiga lenda, mas a essência da vida permaneceria. Ao final, a caverna não era apenas um abrigo, mas um símbolo de resiliência e amor, onde o passado, embora sombrio, não poderia apagar a luz que surgia nas novas gerações. A vida ainda pulsava, e a história de Ló e suas filhas se tornaria um testemunho de que, mesmo nos momentos mais sombrios, sempre é possível encontrar um caminho para a luz.

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