A Sickness Called Love

Escrito por Gabe Ferreira | Revisado por Mandyy

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  Não conseguia se lembrar da última vez que ficaram tanto tempo sem machucar um ao outro. Não conseguia se lembrar de como haviam chegado àquele ponto, mas também não conseguia se lembrar de sua vida sem ele.
  Estavam sentados um de frente para o outro. Ele encostado à cabeceira da cama e ela na ponta da mesma. Nada era dito, palavras não eram necessárias. Ambos temiam que algo que acabasse com a paz daquele dia fosse dito.
  O único dia em meses que nenhum dos dois perdia o controle. O único dia em meses que não estavam tentando se matar entre juras de eterno amor.
  Ela o olhava encantada. Os fios de seu cabelo – que ainda estavam molhados graças ao banho recentemente tomado - cobriam parcialmente seus belos olhos . Seus braços cruzados em frente ao seu peito subiam e desciam no ritmo de sua respiração tranquila. Olhou atentamente cada tatuagem que cobria seu corpo, lembrando-se dos dias que deitava ao seu lado e desenhava com os dedos cada uma delas. Esses dias lhe pareciam tão distantes agora...
  Ele a olhava encantado. Os fios de seu cabelo – igualmente molhados – caiam sobre seus ombros, totalmente desgrenhados. Aos olhos dele, isso só a deixava mais bela. Seu lábio inferior estava sendo mastigado, um hábito que havia sido adquirido na tentativa frustrada de parar de roer as unhas.
  Mas o que mais chamava a atenção de ambos eram os hematomas espalhados em diversos pontos dos corpos dos dois.
   sentiu um aperto no coração ao ver sua mão marcada detalhadamente no pescoço de sua garota. Havia perdido o controle quando ela ameaçou deixá-lo.
   sentiu como se tivessem desferido um soco em seu estômago quando viu os pontos expostos no ombro de seu garoto. Havia perdido o controle quando o viu saindo do apartamento de uma de suas vizinhas depois de ter passado a noite toda fora.
  Sabiam a história de cada corte e hematoma que habitava temporariamente o corpo de seu parceiro. E odiavam cada vez mais a si mesmos ao se lembrarem de quão idiotas essas histórias eram.
  Ela respirou fundo, estava decidida.
  Levantou-se da cama e cada movimento seu foi assistido pelos olhos curiosos de . Caminhou até o guarda-roupa e retirou de lá uma calça jeans e a vestiu. Calçou seu tênis surrado sem se importar em colocar as meias. Passou a mão pela camiseta gola V branca – que claramente era de – no intuito de desamassá-la.
  - ... – A voz rouca de ecoou pelo quarto e sentiu uma corrente elétrica atravessar seu corpo. Quanto tempo fazia desde a última vez que seu nome havia sido pronunciado de forma tão doce por ele?
  - Fique bem. – Seu tom de voz era igualmente rouco. Não havia utilizado sua voz nas últimas horas.
  Pegou a alça da mochila e jogou a mesma sobre o ombro. A mesma estava arrumada desde a última vez que ameaçou ir embora. Levou a mão até o pescoço quando se lembrou de como ele havia tentado impedi-la de ir embora.
  Tentado, pois aquela não havia sido a verdadeira razão pela qual ela havia optado ficar. Havia ficado pois ele disse que a amava.
  Mas daquela vez seria diferente. Iria se aproveitar do clima daquele momento quase pacifico para deixá-lo.
  Pegou o maço de cigarros e o isqueiro que estavam jogados no chão e os colocou no bolso da calça. Caminhou até e parou ao seu lado. Tomou sua mão grande entre suas delicadas mãos e beijou a palma da mesma. Um sorriso fraco tomou conta do rosto do mais velho. Ele deslizou a mão até a bochecha macia de e ela fechou os olhos. Ele estava de acordo.
  Não souberam quem quebrou o espaço entre seus lábios, nem quanto tempo haviam gastado para que tal momento acontecesse, só sabiam que fazia muito tempo que não se beijavam tão docemente.
  Os lábios se movimentavam lentamente, aproveitando cada segundo juntos.
  Não havia pressa de nenhuma das partes.
  E também não houve pressa quando suas línguas se chocaram e puderam sentir aquele gosto único que possuíam.
  Quebraram o beijo, ambos ofegantes.
  Ela gravou cada detalhe do rosto de seu amado em sua mente e ele fez o mesmo. Pegou a mochila que agora estava jogada aos seus pés e caminhou para fora daquele quarto.
  Do quarto onde tivera os melhores e também os piores momentos de sua vida. Caminhou para fora da casa onde aprendera o que era amor e também o que era ódio. Mais do que isso, aprendeu que ambos andam de mãos dadas.
   enrolou o corpo nu no lençol branco que já o cobria antes e caminhou lentamente até a sala. Parou em frente a grande janela e ainda conseguiu ver sua garota virar a esquina em direção de qualquer lugar do mundo fora de seu alcance.
  Não se preocupou, não entrou em desespero.
  Ela voltaria.
  Aquele amor que nutriam um pelo outro era uma doença, mas juntos se transformavam no remédio que a controlava. Apenas controlava, pois era uma doença crônica. E logo ela perceberia isso.

FIM



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