As Close As Strangers

Escrito por Bárbara A. | Revisado por Maria

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  — Acorda, sua preguiçosa! Acorda logo! — me apressava enquanto me batia com um travesseiro.
  — Sai de cima de mim, . — Reclamei, a empurrando para o outro lado da cama.
  Olhei no relógio na cabeceira ao lado de minha cama e meus olhos saíram de órbita ao ver que horas eram. Plenas oito da manhã de um domingo e resolve me acordar. Que melhor amiga.
  — Sério mesmo que você me acordou às oito da manhã? — Peguei as cobertas e cobri-me até o rosto.
  — Há uma coisa mega importante lá embaixo. — Ela disse se apoiando no batente da porta. — Estou te esperando lá.
   saiu do local, me deixando lá sozinha. Ela sabia que eu era curiosa demais para ficar ali nas cobertas, mesmo que fosse uma manhã fria de domingo. Saí da cama. Fui direto para o computador, assim como faço todas as manhãs. Bufei ao abrir o e-mail e ver que não havia nenhuma resposta dele. Seis meses e nenhuma resposta dele. Seis meses e nenhuma mensagem dele. Seis meses e nenhuma ligação dele. Seis meses e nenhum eu te amo dele. Seis meses e nada dele. Trocamos uma mensagem ou outra nos primeiros meses, mas logo depois nos afastamos.
  Eu sentia falta dele e dos abraços, dos beijos, das brincadeiras, das piadas sem graça e até mesmo de quando ele me irritava. Dá para imaginar como é ficar sem tudo isso por seis meses? Dá para imaginar como é ser esquecida por alguém que prometeu que nunca esqueceria? Doía mais que qualquer cólica que alguém podia ter, sério.
  Espera. Coisa importante. Lá embaixo.
  Certo, . Você é curiosa demais para continuar aqui mais um segundo.
  — Papai! — Exclamei pulando os dois últimos degraus da escada.
  Ele estava sentado no sofá com seus pés em cima da mesa de centro da sala e bebericava de uma xícara em sua mão, provavelmente café. Típico do papai. Ele e conversavam sobre algo e pararam na hora em que cheguei. Dei de ombros, mesmo muito curiosa por dentro.
  Ele colocou sua xícara na mesa assim que me viu e então pulei em seu colo. O abracei forte. Mesmo que ele tivesse ficado apenas uma semana fora, eu senti sua falta. Eu e papai éramos muito próximos, e sempre que ele voltava de uma viagem de negócios, íamos à mesma sorveteria e tomávamos os mesmos sorvetes: morango para mim e menta para ele. Mesmo que estivesse frio, nós nos arriscávamos a pegar um resfriado. A sorveteria ficava em frente à Praça do Chafariz e eu amava aquela praça. Não só por causa do papai, mas também porque foi lá que eu e nos beijamos pela primeira vez.
  Uau, ousei dizer — ou pensar — o nome dele em seis meses. Eu me referia como ele, ou com suas iniciais, ou até mesmo como Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Bom, o chamei assim apenas uma vez por não ter dado certo. "Voldemort?", me olhava desentendida e eu só conseguia rir da cara dela. Aquela fora a primeira e última vez que tentei o chamar assim.
  Após alguns minutos — ou devo dizer duas horas? — enrolando, conversando e tomando café da manhã, resolvi ir me arrumar e então fomos para a praça. foi junto, como em algumas vezes, já que na maioria das vezes que papai viaja ela fica em minha casa. Ao chegar lá, havia um tumulto de pessoas gritando.
  — Vamos ver o que é? — Meu lado curioso, mais uma vez, despertou.
  Papai e assentiram — com o que achei ter sido um olhar cúmplice —, então entramos naquele monte de gente, traçando um labirinto. Ao chegarmos na frente de toda aquela multidão, não havia nada. Absolutamente nada. Olhei para trás e as pessoas continuavam a gritar, observando o final da rua. Fiz o mesmo e vi um carro se aproximando. "Que merda é essa?", perguntei em um tom um pouco mais alto para , que respondeu um "sei lá". Revirei os olhos quando ela começou a gritar junto com o pessoal; ela sempre fazia isso, sempre ia na onda dos outros. Olhei para meu pai. Ele estreitava os olhos em direção ao fim da rua, tentando identificar o carro.
  O carro estacionou ao chegar um pouco mais perto da praça. Eu não podia acreditar no que via. Meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu em um "O". Era aquilo o que todas aquelas pessoas esperavam e meus olhos se arregalaram, minha boca se escancarou em surpresa. Ou era ele mesmo saindo daquele carro, ou eu estava tendo uma alucinação. Não podia ser.
  Ele estava mais lindo que nunca. Seus cabelos meio bagunçados davam-no um toque sexy. Ele usava suas típicas skinny jeans e vestia uma regata de sua banda preferida, deixando seus braços não tão musculosos, mas que eu tanto amava, à mostra. Revirei os olhos, deixando uma breve risada escapar de meus lábios. Ele não sentia tanto frio como o resto das pessoas, ele não mudara. Um grande sorriso estampou seu rosto e consegui ver um violão em uma de suas mãos. Eu já não sabia mais se conseguiria ficar ali.
  Senti uma mão de papai e outra de em meus ombros. Ao olhá-los, percebi que não eram papai e , mas sim e , e ao lado deles estavam , e meu pai. Eles sorriram para mim e consegui ouvir um "não vai querer perder isso" vindo de antes de alguns acordes de violão começarem a ser tocados e começar a cantar.

Six weeks since I've been away
(Seis semanas desde que fui embora)
Now you're saying everything has changed
(Agora você diz que tudo têm mudado)
And I'm afraid I might be losing you
(E estou com medo de que eu possa estar te perdendo)

Flashback

  — O que aconteceu, ? — usava seu tom preocupado.
  — É só que... — Fiz uma pausa, olhando para o rosto do garoto na tela do meu celular. — , tudo mudou, sabe? Parece que não somos os mesmos de algumas semanas atrás.
  — , eu te amo, certo? Isso não mudou e nunca vai mudar, eu prometo. Vou fazer de tudo para que isso dê certo. , eu...
  Ele demorou um pouco para completar a frase, então o apressei com um tom risonho.
  — ?
  — Eu tenho medo de te perder.

And every night that we spend alone
(E todas as noites que passamos sozinhos)
Kills me thinking of you on your own
(Me mata pensar em você sozinha)
And I wish I was back home next to you
(E eu queria estar em casa ao seu lado)

Flashback

  A lua estava mais brilhante a cada instante que se passava. Sentei-me na janela de meu quarto e fiquei a observando. A xícara de chocolate quente em minha mão esquentava a mesma. Virei minha cabeça.
costumava ficar sentado ali, olhando a lua, assim como eu estava fazendo naquele exato momento. Eu estava sozinha, com saudades dele e o querendo ali, ao meu lado e esperando que ele também sentisse minha falta.

-

Oh, every day you feel a little bit further away
(Oh, a cada dia você se sente um pouco mais distante)
And I don't know what to say
(E eu não sei o que dizer)
Are we wasting time, talking on a broken line?
(Estamos perdendo tempo, falando numa linha quebrada?)
Telling you I haven’t seen your face in ages
(Dizendo-lhe que não vejo seu rosto em anos)
I feel like we’re as close as strangers
(Sinto que estamos tão próximos quanto estranhos)
Won’t give up, even though it hurts so much
(Não vou desistir, mesmo que isso doa muito)
Every night I’m losing you in a thousand faces
(Todas as noites te perco em mil rostos)
Now it feels we’re as close as strangers
(Agora sinto que estamos tão próximos quanto estranhos)

Flashback

  — ! — Ouvi a voz e vi o rosto de na tela do computador assim que ele atendeu minha chamada no Skype.
  — Aleluia! — Ri.
  — Não vejo seu rosto há anos! — Ele brincou. — Ei, está tudo bem? — Ele perguntou ao perceber meu sorriso se desmanchar e um suspiro escapar de meus lábios.
  — Eu realmente não sei, .
  — O que você quer dizer com isso?
  — Eu me sinto cada dia mais distante de você, e eu não queria isso. — Segurei as lágrimas que queriam escorrer. — Sabia que isso ia acontecer, mas deixei minha vontade de querer você para mim ser maior e agora... Agora estamos há não sei quantas milhas de distância. Eu devia ter deixado você viver seu sonho sozinho, . Me desculpa.
  — O quê? Não! Parte do meu sonho é poder te chamar de minha, você é parte do meu sonho! Eu não vou desistir.
  — Mesmo que doa muito? — Perguntei.
  — Mesmo que doa muito. — Ele respondeu com a voz firme, parecendo selar um contrato.

Late night calls and another text
(Ligações tarde da noite e outra mensagem)
Is this as good as we're get?
(Esse é o melhor que podemos fazer?)
Another timezone taking me away from you
(Outro fuso horário me afastando de você)

Flashback

  Após pensar bastante, decidi enviar uma mensagem para . Ela dizia "Hey! Que horas são aí? Podemos conversar agora? Te amo xx ". Esperei por um tempo e acabei cochilando, mas acordei logo que meu celular apitou, indicando que havia uma nova mensagem.
  "Hey, baby! Não posso falar agora, são três da manhã e preciso descansar para o show de amanhã. Prometo que tentarei falar contigo o mais rápido possível. Te amo xx ".
  Joguei o celular na cama com força e bufei. Estávamos sem nos falar há um mês. Um mês inteiro e talvez alguns dias. Eu queria ver o rosto dele, ouvir sua voz e sua risada escandalosa que me fazia ter ataques por simplesmente ser muito fofo.

Living dreams in fluorescent lights
(Vivendo sonhos em luzes florescentes)
While you and I run out of time
(Enquanto você e eu ficamos sem tempo)
But you know I’ll always wait for you
(Mas você sabe que eu sempre esperarei por você)
Oh, every day you feel a little bit further away
(Oh, a cada dia você se sente um pouco mais distante)
And I don’t know what to say (E eu não sei o que dizer)
Are we wasting time, talking on a broken line?
(Estamos perdendo tempo, falando numa linha quebrada?)
Telling you I haven’t seen your face in ages
(Dizendo-lhe que não vejo seu rosto em anos)
I feel like we’re as close as strangers
(Sinto que estamos tão próximos quanto estranhos)
Won’t give up, even though it hurts so much
(Não vou desistir, mesmo que isso doa muito)
Every night I’m losing you in a thousand faces
(Todas as noites te perco em mil rostos)
Now it feels we’re as close as strangers
(Agora sinto que estamos tão próximos quanto estranhos)
On the phone I can tell that you wanna move on
(No telefone eu posso dizer que você quer seguir em frente)
Through the tears I can hear that I shouldn’t have gone
(Através das lágrimas consigo ouvir que eu não deveria ter ido)
Every day it gets harder to stay away from you
(A cada dia fica mais difícil ficar longe de você)

Flashback

  — O que foi, meu amor? — e eu finalmente conseguimos nos falar, e aquela seria minha única oportunidade para fazer o que estava prestes a fazer.
  — Eu... , eu... — Desabei em lágrimas sem nem ao menos terminar a frase. Era difícil para mim conseguir dizer aquilo. — Acho que devemos terminar aqui.
  — O quê? Por quê? — Dava para perceber tremor em sua voz, o que fez mais lágrimas escorrerem de meus olhos.
  — Por que, ? — Eu falava em meio aos soluços. — Você não percebe que quase não nos falamos mais? São raras as vezes em que conseguimos ter algum tipo de contato, e isso dói, sabe?
  — Eu sei, . Dói em mim também, mas vai doer muito mais saber que não estamos mais juntos.
  — , não estamos juntos há muito tempo. E eu só percebi isso agora. E nós só percebemos isso agora. Eu quero mais que tudo ficar com você, mas assim não dá e você sabe disso! A cada dia fica mais difícil ficar longe de você.
  — É difícil para mim também. — Uma longa pausa, um silêncio constrangedor pairou no ar. — Acho que é melhor para ambos, mesmo.
  — Fico feliz que tenhamos concordado. — Se ele estivesse me vendo, eu com certeza tentaria forçar um sorriso. Minha sorte era que estávamos nos falando pelo telefone, então não precisaria tentar fazer algo que eu sabia que não conseguiria.
  — Então, devemos seguir em frente?
  — Acho que sim.
  — Certo.
  — Certo.
  — Eu ainda te amo.
  — , eu também te amo. Mas devemos seguir em frente, lembra? — As lágrimas continuavam a cair.
  Eu não dizia mais nada, mas minhas lágrimas gritavam para que ele voltasse.
  — Tudo bem, . Tchau.
  — Tchau.
  Suspirei ao desligar. Eu havia terminado com o amor da minha vida e queria morrer naquele exato momento.

So tell me
(Então, me diga)
Are we wasting time, talking on a broken line?
(Estamos perdendo tempo, falando numa linha quebrada?)
Telling you I haven’t seen your face in ages
(Dizendo-lhe que não vejo seu rosto em anos)
I feel like we’re as close as strangers
(Sinto que estamos tão próximos quanto estranhos)
Wasting time talking on a broken line
(Perdendo tempo, numa linha quebrada)
Telling you I haven’t seen your face in ages
(Dizendo-lhe que não vejo seu rosto em anos)
I feel like we’re as close as strangers
(Sinto que estamos tão próximos quanto estranhos)
Won’t give up, even though it hurts so much
(Não vou desistir, mesmo que isso doa muito)
Every night I’m losing you in a thousand faces
(Todas as noites eu te perco em mil rostos)
Now it feels we’re as close as strangers
(Agora sinto que estamos tão próximos quanto estranhos)

   cantava a música toda olhando nos meus olhos marejados. Aqueles flashbacks em minha mente me faziam querer desabar em lágrimas ali mesmo, mas eu também queria continuar a ver o rosto — pouco — nítido dele. Eu o amava muito, precisava dele de volta. Na última estrofe, ele se levantou do banquinho em que estava sentado e caminhou até mim.

Six months since I went away
(Seis meses desde que fui embora)
And I know everything has changed
(E eu sei que tudo mudou)
But tomorrow I’ll be coming back to you
(Mas amanhã estarei voltando para você)

  — Eu te amo. — Sussurrei para que apenas ele escutasse.
  Ele sorriu, entregou o violão para um dos meninos e colou nossos corpos. Consegui contar quantas pintinhas ele tinha em seu rosto e também consegui ver alguns pelos que formavam uma barba rasa. Eu amava cada detalhe de , assim como sabia que ele amava cada detalhe meu.
  — Eu te amo. — Ele sussurrou de volta.
  Nossos lábios se preencheram como não faziam há seis meses. Meus braços contornaram seu pescoço como não faziam há seis meses. Suas mãos seguravam minha cintura como não faziam há seis meses. Nosso amor crescia como não fazia há seis meses. Eu o tinha como não fazia há seis meses.

FIM



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