Arms

Escrito por Natália Gomez | Revisado por Flavinha

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  Era pouco mais da meia-noite quando a campainha tocou. Damon, que estava acordado na sala de estar assistindo a um jogo de futebol americano, pôs o rosto perto do olho mágico na linda porta branca e checou quem estava tentando entrar em sua casa em uma hora daquelas. Ele jurava que fosse ser algum assaltante, ou então a polícia mesmo, acusando-o de algum crime que ele certamente cometera. Talvez fosse alguém do Conselho, também. Eles eram espertos o bastante para descobrirem sua verdadeira identidade, mesmo que depois de todo esse tempo em que Damon esteve infiltrado na organização.
  Mas não era Liz, nem a Sra. Lockwood ou nem ao menos Bill, o pai de Caroline, quem estava parado na frente do apartamento de luxo que Damon alugara em Manhattan. Era apenas ela, a mulher de sua vida, a que não conseguia decidir-se entre ficar com ele e deixar que ela se afogasse em lágrimas ou simplesmente deixá-lo salvar sua vida ficando afastado, mesmo que aquilo significasse perder tudo o de mais sagrado na vida dele. Damon suspirou e abriu a porta, segurando-se no marco de madeira branco, impedindo-a de entrar. Não queria ficar perto dela, de jeito nenhum.
  Laurel bufou, rindo da cara que ele fazia. Obviamente não estava exatamente feliz em vê-la, mas também não estava feliz não a vendo todos os dias, ela podia notar. Seus cabelos negros estavam despenteados, e seus lindos olhos azuis estavam quase sem cor, representando toda a tristeza que ele tinha dentro de si. A barba, coisa que ela nunca vira em seu rosto, estava dominando toda a área do rosto abaixo do nariz, apenas fazendo uma breve pausa em volta da boca, como em qualquer outro homem, e ela também estava enorme. Obviamente, Damon não estava com muita vontade de voltar a ser como era antes de conhecê-la, saindo com uma garota nova a cada dia.
  Entretanto, Laurel também não ficava muito atrás. Era possível ver os sinais de depressão em sua face, já que há dias ela não cuidava da aparência. Seus cabelos estavam retos, penteados de qualquer jeito. Os olhos estavam inchados, resultado de horas e horas chorando por causa de um coração partido. A boca estava estranha, completamente reta, sem demonstrar nenhum sinal de humor, apesar de há poucos segundos ter rido de alguma coisa que ela nem sabia o quê. Estava ficando louca sem ele, precisava ao menos ouvir o tom suave de sua voz. Se ele não a quisesse, tudo bem, ela encontraria um jeito de seguir em frente. Ou não, também. Ela podia simplesmente viver daquele jeito para o resto da vida.

  [Comece a tocar a música agora!]

  I never thought that you
  Would be the one to hold my heart
  But you came around
  And you knocked me off the ground from the start

  Damon encarou-a, tentando gravar aquela imagem na cabeça. Nem podia acreditar que ela estava realmente ali, com a intenção de implorar por seu amor. Ele achava que nunca mais a veria, e secretamente torcia para que ela o achasse, apesar de saber que aquilo não era o certo. Laurel não deveria ficar com alguém como ele, alguém que apenas quebraria seu coração ainda mais. Ele a amava demais para forçá-la a continuar vivendo daquele jeito. Mesmo que hoje ela não entendesse, um dia ela o faria e o agradeceria por ter feito aquilo. Não era bom viver eternamente, preso à sede de sangue, preso ao fantasma do passado. Como ela reagiria depois de alguns anos terem se passado e todos os seus parentes terem morrido? Ela era frágil demais para aguentar uma coisa como essas.
  - Como sabia que eu estava aqui? - ele perguntou, tentando refrear suas emoções ao máximo.
  Laurel deu um passo para trás, apreensiva com o tom frio que ele tinha na voz.
  - Eu não sabia. - disse. - Stefan falou que você tinha uma queda por Manhattan, então fiz algumas pesquisas. Procurei os apartamentos de luxo e então localizei cada um deles, procurando saber se havia alguma boate por perto. Sei que você fica perto de lugares assim para se alimentar.
  - Então resolveu aparecer aqui para uma visita? Eu poderia estar com alguém em casa, Laurel.
  - Não acho que podia, não. Apesar de você tentar mentir para todos, eu sei que você tem um coração bom e puro, e que se apaixona profundamente igual a mim. Você não iria seguir em frente tão rápido, e nem ao menos usaria alguém como uma distração para o seu sofrimento. Você simplesmente não é assim.
  Ela olhou para o sofá atrás dele e para a televisão, e então perguntou:
  - Você é fã do Dallas Cowboys? Aposto que os Jets estão ganhando.
  - Na verdade, eles não estão. Miles Austin acabou de marcar um Touchdown, mas o kicker errou o chute. Estamos com um ponto de diferença. - Damon bufou, impaciente. - Você veio para ficar conversando sobre futebol? Ótimo, vá conversar com o tio da esquina, Laurel.
  A menina pôs as mãos na cintura e forçou uma risada.
  - Como você nunca me disse que era um poeta, Damon? Sua escolha de palavras é tão... Ah, eu não sei, linda? - ela perguntou, sarcasticamente.
  - Por que você veio aqui, Laurel?
  Quanto à essa pergunta, Laurel nem ao menos respondeu. Apenas atirou-se nos lábios de Damon, sentindo cada pedaço de sua boca correspondendo ao beijo com uma urgência apaixonada. Os dois entregaram-se um ao outro, esquecendo de que ainda estavam parados na porta de um apartamento, e poderiam ser vistos por qualquer pessoa. Também, não lhes importava se alguém visse aquele beijo; tudo que estava passando por suas cabeças era o quão bom aquele ato era. Sentir o amor que um tinha pelo outro era o maior presente para eles, mas Damon não podia deixar levar-se tão fácil assim. Ele rompeu o beijo, arfando, e jogou-se no sofá de couro preto. Laurel o seguiu logo após fechar o porta, mas sentou-se em uma poltrona ao lado do sofá, não querendo ser muito insistente.
  - Damon? - perguntou. - Por que você não me quer?
  - Eu nunca disse isso, Laurel.
  - O que você quer dizer com isso? - ela perguntou, confusa, ficando parada na frente de Damon.
  Ele suspirou, sentou-se em um canto do sofá e deu lugar à amada.
  - Você sabe que eu faço isso para proteger você. Acredite, você não merece uma vida assim. E quando você está comigo, sempre estará correndo perigo. Eu sou um monstro, Laurel, e tenho sede de sangue. Imagine o que aconteceria se eu me irritasse com você? Eu sou impulsivo, não penso nas coisas antes de agir. E se eu resolvo lhe dar um tapa? Ou então fico bravo e mato você? Faço isso em um segundo, você sabe disso.
  - E você não acha que eu já sou grandinha o suficiente para fazer as minhas próprias decisões? - ela aproximou-se dele, segurando suas mãos. - Eu tenho 21 anos e eu amo você. Amor, Damon, por que você se nega a acreditar em amor? Eu não preciso de segurança, eu não preciso ficar com você eternamente. Apenas o meu período de tempo como humana, se você não quiser me transformar. Mas eu quero ficar com você, Damon. Eu amo você, essa é a única coisa que eu sei.
  Aquilo foi demais para ele. Laurel pôs as duas mãos, uma em cada lado de sua cabeça, e os dois iniciaram um longo e apaixonado beijo. Eles queriam mais, queriam que nunca mais se separassem, mas ambos sabiam que Damon a largaria novamente. Laurel tinha a certeza de que, quando ela acordasse na manhã seguinte, estaria sozinha. Entretanto, aquilo não lhe importava; agora, tudo o que ela tinha bastava.

  You put your arms around me
  And I believe that it's easier for you to let me go
  You put your arms around me and I'm home

  - Eu amo você. - Laurel disse entre beijos.
  Damon não respondeu, não produziu som algum. Apenas continuou beijando a amada, tentando fazer com que ela nunca fosse embora. Ele beijou sua orelha, fazendo uma trilha de beijos até seu pescoço. Laurel gemeu, tomada pelo prazer de finalmente ter aquele homem para si depois de tantos dias sem ele. Os dois entregaram-se um ao outro, não ligando para o amanhã. Eles se amavam e estavam compartilhando este sentimento juntos, não lhe importando o que Damon iria fazer no futuro.

  How many times will let you me
  Change my mind and turn around?
  I can't decide if I'll let you save my life
  Or if I'll drown

  O celular de Laurel tocou e a acordou em um pulo. Ela não olhou no visor, não importava quem estava ligando. Mesmo que fosse o seu maior inimigo ligando para perturbá-la, aquilo não era possível. Ela acabara de ter a melhor noite de sua vida, nada no mundo poderia aborrecê-la. A menina até mesmo esqueceu de olhar para o lado na cama de Damon, para checar se ele ainda estava ali. Ela tinha um pressentimento de que ele não a havia deixado.
  - Onde você está? - Foi a primeira coisa que Laurel ouviu. Podia distinguir aquela voz em qualquer lugar, e por isso riu. Riu de como Julie era preocupada, do jeito irritado que ela ficava sempre que Laurel resolvia sumir da face da Terra. Eram engraçadas as caretas que ela fazia quando estava daquele jeito.
  - Bom dia para você também, Julie. - respondeu. - Faz ideia de que horas são? Eu estava dormindo.
  - Sim, eu faço bastante ideia de que horas são. Uma hora da tarde, querida, e espero que você tenha uma boa explicação para ter faltado a sua aula hoje. Tive que assumir a sua turma e deixar a minha estagiária comandando o grupo senior.
  Laurel pigarreou, preparando-se para ouvir o xingão que iria tomar.
  - Bem, eu tenho uma explicação maravilhosa, mas você não vai achar tão boa assim. Eu estava com...
  - Com o Damon! - a amiga exclamou. - Que maravilha! O cara te abandonou, Laurel, te abandonou! Fazem cinco dias e ele não ligou, não mandou uma mensagem, um e-mail... E você corre atrás dele? E agora? Ele te expulsou do apartamento dele? Ou você foi trouxa o suficiente para cair na conversa dele só para ser abandonada hoje? Duvido que ele esteja aí com você. Ele está? Me diga, Laurel! Ele está aí do seu lado na cama? Aposto que não.
  - Ele deve estar cozinhando. Como você disse, já são mais de uma hora. Julie, preciso desligar. - Laurel esquivou-se do assunto. - Tchau!
  Desligou o telefone.

  I hope that you see right through my walls
  I hope that you catch me 'cause I'm already falling
  I'll never let our love get so close
  You put your arms around me and I'm home

  - Damon? - ela chamou. Virou-se para o lado e não o encontrou deitado na cama ao seu lado. Entretanto, era mais de 13h e ele já deveria estar de pé. Certo?
  Laurel levantou-se rapidamente e pegou suas roupas. Iria tomar um banho, tinha que segurar Damon em casa o máximo de tempo possível. Isso se ele já não tivesse saído.
  Saindo do banho e já vestida, Laurel procurou por Damon no apartamento. Não havia nenhum sinal dele, nem parecia que havia mais de uma pessoa naquela casa. Laurel procurou e procurou por um bilhete na cozinha, no banheiro, na sala de estar, no quarto, principalmente no quarto, mas não havia nada. Damon havia simplesmente sumido e provavelmente seria mais cuidadosa desta vez. Ele não queria realmente ficar com ela, ou tinha se cansado da relação "proibida" deles, já que ela era humana e ele tinha medo demais de a machucar.
  Fosse o que fosse, Laurel estava arrasada. Arrasada demais, na verdade, ainda mais do que estava na primeira vez em que ele a deixou. Talvez fosse por causa das três palavras que ele lhe disse antes de eles terem a melhor noite de sua vida; provavelmente era. Mas Laurel não conseguia suportar. Ela correu até a cozinha e pegou alguns comprimidos para dor de cabeça. Abriu a gaveta à procura de uma faca para esmagar os comprimidos gigantes, já que ela desde pequena se negava a tomar comprimidos muito grandes inteiros, e a segurou.
  Mas não fez o que queria fazer com a faca. Lágrimas e mais lágrimas caíam de seus olhos, e ela não conseguia refreá-las. Ele a abandonara... de novo. Se realmente a amava, como conseguia levantar-se da cama e deixá-la dormindo, completamente inocente, sem saber nada do que realmente estava acontecendo? O sentimento de arrependimento era esmagador.

  The world is coming down on me
  And I can't find a reason to be loved
  I never wanna leave you
  But I can't make you bleed if I'm alone

  A faca em sua mão de repente começou a chamar sua atenção. Ela brilhava, refletindo na luz, como se para intuir Laurel a fazer alguma coisa. A menina ficou encarando o objeto por alguns minutos, chorando, e, antes de se dar conta do que estava fazendo, cortou um dos pulsos. O sangue escorreu, vermelho e quente, por todo o seu braço, até seu cotovelo, para só então cair no chão. Uma poça vermelha estava se formando no piso de linóleo branco da cozinha de Damon, mas Laurel não chorava por causa da dor horrível que o corte a havia causado.
  Chorava porque havia sido abandona, porque havia sido estúpida o suficiente para cair no papo dele mais uma vez e se deixar levar pelas emoções. Por que tinha achado que desta vez seria diferente? Estúpida, ela se xingava mentalmente. Imbecil. Outro pulso foi cortado, e agora haviam duas poças no chão. Ela chorava e chorava, arrependendo-se de cada ato seu na noite anterior. Como havia sido tão idiota?
  Com a mão já cortada, ela pegou a faca e fez um enorme corte em seu peito, indo de um ombro ao outro. Já estava começado a doer, o que era bom para ela, que queria sentir qualquer coisa que não fosse culpa. Culpa por ter falado que o amava, por ter beijado os seus lábios, por tê-lo confortado, por tê-lo ajudado... Chega. Ela estava tremendo por causa da dor que sentia. Sua mão esquerda ajudou sua mão direita a segurar a faca com força. Ela sincronizou-as e, com um pouco de esforço, conseguiu levantá-la até a altura do pescoço. Apenas um movimento e...
  Pronto.

  You put your arms around me
  And I believe that it's easier for you to let me go...
  I hope that you see right through my walls
  I hope that you catch me 'cause I'm already falling
  I'll never let our love get so close...
  You put your arms around me and I'm home...

  O cheiro era indiscutível. Era sangue, com certeza; a garganta de Damon afirmava isso. O arranhão em sua garganta era forte, o que queria dizer que ele estava com fome e precisava muito de qualquer sangue que conseguisse. Mas não beberia aquele sangue. Não aquele. Ele sabia de quem era. Era o cheiro de Laurel, o seu perfume, mas bem mais forte. Aonde ela estava? Ele não conseguia ouvir seu coração.
  - Laurel? Você ainda não foi embora?
  Não houve resposta alguma.
  - Laurel?
  Quando na segunda vez ela não respondeu ao seu chamado, Damon resolveu procurar por ela. Olhou pelo quarto, pelo banheiro, pela sala de estar e pela sala de jantar; ela estava na cozinha. Correu até ela, com um sorriso no rosto, mas não viu absolutamente nada. Estava tudo monótono, não havia nada naquele cômodo. Além de um forte cheiro de sangue.
  O organismo de Damon se preparou. Ele sentiu seus olhos arderem e sua pele formigar, o que significava que ele estava pronto para o almoço. Ele se abaixou, ficando em posição de caça. Agora era só correr até lá... Ah, Meu Deus.
  Damon arregalou os olhos. Havia um corpo atrás do balcão, em cima de uma mancha de sangue.
  Laurel estava com uma faca na mão, um corte no pescoço e mais dois nos pulsos e peito. Ela havia feito isso... a si mesma? Não parecia ser coisa dela. Mas era. Damon havia provocado um choque tão grande nela que ela foi capaz de se matar. Ele correu até seu corpo e posicionou o ouvido em cima de seu peito, tentanto, sem sucesso, ouvir um coração. Nada.
  Seu pesadelo havia se realizado.

  I try my best to never let you in
  To see the truth
  And I've never opened up
  I've never truly loved till you

  - Você me mordeu. - Laurel falou.
  - Eu mordi você? E você não falou nada, Laurel? - Damon perguntou, completamente frio. - Sabia que eu podia ter matado você?
  - Por que você fica dizendo isso? - ela teimou. - Você não vai me matar, Damon. Você não conseguiria me matar de verdade.
  - Já disse para você que eu não consigo controlar a minha raiva, a minha sede. Se eu... Beba isso. - Damon mordeu o pulso e o colocou na boca da amada.
  Depois de beber, ela apenas perguntou:
  - Você bebeu o sangue da Katherine, também, para se tornar um vampiro?
  - Sim. - Damon assentiu. - Mas não vamos falar dela. - Ele então beijou a amada uma, duas, três vezes.

  Put your arms around me
  And I believe that it's easier for you to let me go...

  O coração finalmente voltou a bater. As feridas de seu corpo começaram a curar. Sua pele estava mais clara; seu cabelo, mais escuro. Ela estava se transformando, de uma vez por todas. Damon chorava rios de lágrimas, lamentando tudo o que já havia feito para ela. Se soubesse que ela algum dia seria capaz de matar a si mesma... Teria feito tudo diferente. Teria tranformado-a, se ela quisesse, mas adiaria aquilo um pouco mais. Teria ficado com ela para sempre, também, se ela assim quisesse. Na verdade, o que o levara a deixá-la sozinha? Ah, claro, o seu estúpido amor. Como havia se metido em uma confusão daquelas? Pelo que sabia, sua humanidade estava desligada.
  Não estava?
  Laurel tossiu duas vezes, e então abriu os olhos. Assustadoramente bonita, e finalmente com cabelos negros e olhos, outrora tão azuis quanto o mar mediterrânio, que agora estavam vermelhos.

  I hope that you see right through my walls
  I hope that you catch me 'cause I'm already falling
  I'll never let our love get so close...
  You put your arms around me and I'm home...
  You put your arms around me and I'm home.

FIM



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