Arizona Roads

Escrito por Lia | Revisado por Natashia Kitamura

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Capítulo 1

  Sexta-feira, acho que não existe dia mais abençoado do que esse! Entrei em meu carro e comecei a dirigir rumo ao prédio de advocacia em que trabalho. Liguei o aparelho de som e sintonizei em uma rádio country. Ri da música que tocava pelo sentimento que ela me trazia. Liberdade, acho que era isso o que eu realmente precisava.

  Cheguei, estacionei meu carro e fui ao quinto andar.
  - Bom dia, . - disse à minha secretária.
  - Bom dia, senhor . Aquele cliente que estava lhe devendo alguns documentos ligou e disse que hoje mesmo vai trazê-los.
  - Ok, obrigado. - respondi. - E a minha agenda, como está?
  - Hoje o senhor tem um horário vago, mas amanhã ela está lotada. - ela me disse e eu apenas assenti.

  Entrei em meu escritório, fechei a porta e comecei a observar o local. Uma estante cheia de livros e mais livros de leis, papéis por todos os lados e um sofá confortável. Percebi que minha mesa estava organizada e me lembrei que fazia isso todos os dias. Sorri e me joguei em cima do sofá, me perguntando o porquê de ter escolhido ser advogado. Me sentia sufocado e preso àquela profissão, eu tinha vontade de fugir por um tempo, de ser irresponsável e não me sentir culpado.

  Me ajeitei e fui até meu computador, checando alguns processos que eu teria que analisar. Respirei fundo e logo minha secretária avisou que o primeiro cliente tinha chegado. Esse seria um longo dia.

  Algumas horas passaram e já era o horário do almoço. Saí do meu escritório exausto e desanimado, cansado dessa rotina.
  - Está tudo bem, senhor ? - perguntou.
  - Tudo sim, . Acho que só estou um pouco cansado disso tudo.
  - Eu entendo... Me sinto assim às vezes.
  - Sério? E o que você faz pra ficar bem? - me interessei mais.
  - Eu saio por aí, vou em um restaurante diferente ou um parque. Tomar novos ares é sempre bom. - ela sorriu e desviou o olhar.
  - Você não vai almoçar? - perguntei.
  - Vou sim, estou apenas terminando alguns detalhes aqui.
  - Ah, ok. - me sentei em uma das cadeiras que haviam naquele pequeno espaço e ela me olhou pelo canto do olho.

  Logo a vi se levantar e pegar sua bolsa.
  - O senhor não vai? - ela me olhou confusa.
  - Estava te esperando. Pode me levar a um restaurante legal? Estou farto de todos os que vou.
  - Tudo bem. - ela assentiu um pouco desconfiada.
  Descemos juntos e a guiei até meu carro.
  - Entra aí. - apontei para a porta e ela fez o pedido. - Já decidiu onde vai me levar? - disse, ligando o carro.
  - Já sim. - ela sorriu e me olhou.

  Comecei a dirigir e ela me guiou até chegarmos à um restaurante simples, com algumas mesas do lado de dentro. Acho que é italiano.
  - É aqui. - ela sorriu e eu parei o carro.
  Entramos e escolhemos uma mesa ao lado da janela.
  - Eu adoro esse lugar. É ótimo pra observar o movimento da rua. - disse.
  - ? - uma senhora de meia idade a chamou. - Querida! Achei que não viesse aqui hoje! - ela veio abraçar minha secretária.
  - Hanna! Eu não iria vir mesmo, mas trouxe meu chefe! Este é . - ela me apontou e logo a mulher estendia sua mão em minha direção.
  - Prazer em conhecê-la. - a cumprimentei e sorri.
  - O prazer é todo meu! - ela disse ainda mais sorridente e então se dirigiu a .
  - E então, o que vão pedir? - me olhou e dei de ombros, indicando que ela poderia pedir o que quisesse.
  - Traz dois Spaghettis a lá carbonara. - ela pediu e logo a mulher já havia desaparecido do meu campo de visão.
  - Então... . - a chamei e ela olhou para mim e soltou uma risada.
  - Ela me conhece há uns bons anos, acho que por isso ela me chama assim senhor .
  - , por favor. - disse e ela riu, depois murmurando um "ok". - Mas bem, como vai sua vida? - deixando claro que eu não estava dando em cima dela.
  - Bem, obrigada. - ela me olhou um pouco desconfiada. - E a sua, ?
  - Eu não sei. A minha vida se resume em trabalhar, chegar em casa e conversar com meu gato. - eu disse sério e ela riu.
  - Você tem um gato? - ela perguntou.
  - Eu tenho. - eu abaixei a cabeça e comecei a rir. - O nome dele é Leonard.
  - Nome de nobre! - ela fechou os olhos e riu mais ainda. Se eu estivesse com minha câmera, eu tiraria uma foto disso.
  - Como é sua rotina? - perguntei.
  - Bem, eu venho trabalhar, chego em casa e faço o jantar, converso um pouco com minha mãe, as vezes ligo o computador e então durmo.
  - Você mora com sua mãe?
  - Sim, minha mãe, e minha irmã mais nova. E eu tenho um cachorro chamado Ben.
  - Legal. - respondi e continuamos a conversar.
  Depois de um tempo nosso pedido chegou e confesso que nunca havia provado uma iguaria tão boa. Não sabia que existia um restaurante tão bom como esse em Tempe. tinha bom gosto.

  Voltamos ao escritório conversando bastante e rindo. Ela trabalhava comigo há seis meses e eu nunca havia parado para conversar com ela. Mas agora, parecia que nos conhecíamos há anos.
  Logo um cliente chegou e eu o atendi, voltando à rotina que tanto me incomodava.

  Assim que esse cliente saiu, pedi para cancelar todos os meus horários por uma semana. Eu finalmente teria minhas tão merecidas férias.

  Me joguei em uma das poltronas do espaço onde trabalhava, afrouxei a gravata e baguncei o cabelo. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando relaxar.
  - ? - ouvi a voz de minha secretária e então percebi que havia caído no sono.
  - Ah, hey. - respondi.
  - Terminei, o que eu faço agora?
  - Vá para casa e amanhã esteja pronta às nove da manhã.
  - Eu? Pronta? Como assim? - ela me olhou bastante surpresa.
  - Você vai viajar comigo essa semana... Se você quiser é claro. - eu disse um pouco envergonhado.
  - Eu... Ah, o quê? Como assim? Viajar pra onde?
  - Tá afim de conhecer o Arizona todo? - olhei em seus olhos.
  - Não sei... Eu...
  - É pegar ou largar. Vamos, é só por uma semana! - insisti.
  - Ahhh... Tudo bem. - ela disse baixo.
  - Anote seu endereço pra mim. Prepare tudo o que você tiver porque amanhã nós vamos conhecer o Arizona.
  - Ok. - ela sorriu e fez o que eu havia pedido.

  Não sei o porque fiz isso para ser sincero. Mas depois daquele almoço, fiquei bastante encorajado a deixar meu trabalho um pouco de lado. tinha um ar aventureiro, e me fazia sentir bem ao lado dela. Todos esses meses e eu nunca havia percebido isso.
  Arizona... Aí vamos nós!

Capítulo 2

  Cheguei exatamente às oito e cinquenta da manhã na casa de . Buzinei duas vezes até ela aparecer do lado de fora de sua casa com uma garotinha de no máximo dez anos em seu encalço.

  - Esse é o moço bonito que você falou, ? - a garotinha disse inocentemente e eu soltei uma risada.
  - Hey! - a repreendeu. - Esse é o .
  - Oi ! - ela veio até meu rumo com os braços esticados. A abracei e ri. - Por que você usa esses óculos escuros?
  - Por causa do sol! - respondi e logo senti suas pequenas mãos tentando tirando o objeto do meu rosto.
  - Seus olhos são tão bonitos! - ela sorriu. - vem cá ver a cor dos olhos do moço bonito! - ela gritou e logo apareceu.
  - O que houve Sarah? - ela perguntou.
  - Olha a cor do olho do , é muito bonito! - se aproximou e olhou ao fundo de meus olhos. Senti-me um pouco desconfortável e acho que ela percebeu, pois se afastou.

  Logo a pequena Sarah desceu de meu colo e comecei a colocar as malas de no bagageiro do meu carro. Logo a vejo me encarando e viro para encará-la também. Ela usava um short jeans curto, uma regata branca e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo um pouco bagunçado. Sexy, pensei.
  - Sarah se esqueceu de devolver. - ela me apontou meus óculos escuros.
  - Ah, tudo bem. - respondi e os coloquei de volta em meu rosto.
  - Eu estou pronta. - ela disse assim que fechei o bagageiro.
  - Então vamos! - apontei para a porta da frente e então nós iniciamos nossa viagem.

  - Pra onde nós vamos? - ela perguntou tentando prender os cabelos em um novo rabo de cavalo.
  - Primeira parada: Tucson! - respondi e ela apenas sorriu.
  - Posso? - ela apontou para o aparelho de som.
  - Claro! - respondi e então ela conectou seu iPod e começou a pular algumas músicas. - Pare! Deixe essa! - eu disse quando começou a tocar While Listening to Rock and Roll do The Maine.
  - Turn it up, it's my song… - cantarolei alto. - I can't sing but I sing along. - continuei e a vi sorrir.
  - Yeah, I can feel it in my bones... I litte rock, a little roll. - ela continuou e a olhei de canto de olho.
  Estávamos em uma estrada um pouco deserta rumo ao Mt. Lemmon Scenic Byway e a velocidade do carro fazia com que o vento ficasse forte e bagunçasse os cabelos de a todo instante. No começo ela se irritou, mas logo começou a rir e deixou que o vento fizesse o que bem entendesse de suas madeixas.

  Dirigi por quase duas horas até chegarmos no Mt. Lemmon Scenic Byway e eu realmente confesso que fiquei maravilhado com aquele lugar.
  - É simplesmente incrível ! É tão lindo... - disse e sorriu largamente pra mim.
  - Concordo com você. - eu sorri.
  - Muito obrigada! - ela disse e logo senti seus braços me envolvendo em um abraço forte. Senti seu perfume pela primeira vez e fiquei um pouco desconsertado.
  - Não tem que me agradecer, . - entrei dentro do carro e procurei por minha câmera.

  Comecei a tirar algumas fotos do lugar e de , que se divertia fazendo poses engraçadas. Ela tinha uma vibe boa, alegre e tranquila.
  - Vamos , deixe de ser chato, eu quero tirar uma foto sua! - ela insistia.
  - Não , por favor! É melhor não. - eu ia dizendo até que ela tomou minha câmera das minhas mãos.
  - Há! Agora eu vou tirar sim! - ela começou a bater fotos minhas aleatórias e ria.
  - Ok, eu tiro, mas só uma, tudo bem? - eu disse.
  - Ta bom! - ela sorriu e apontou o objeto para mim.
  - Sorria! - ela disse e eu continuei sério. - Sorria , por favor! - ela insistiu então o fiz.
  Ela sorriu radiante ao ver a foto.
  - Ficou linda!
  - Eu sou lindo. - disse e logo ela riu.
  - E humilde.
  - E você irônica. - ela me olhou cerrando o cenho e logo ri.

  Ficamos ali por algum tempo e depois começamos a escalar uma montanha.
  - Wow, nossa. Acho que dá pra ver o Arizona todo daqui de cima. - disse assim que chegamos a um dos pontos mais altos da montanha que estávamos subindo.
  - É lindo. - eu disse e comecei a tirar fotos novamente.
  Após alguns minutos, nos sentamos nas rochas e começamos a observar a paisagem.
  - Quem diria hein... - eu disse sozinho.
  - O quê? - me olhou indecisa.
  - Quem diria que até ontem de manhã a minha vida era completamente diferente do que ela é agora? E quem diria que eu estaria viajando justo com você? - eu a olhei.
  - A vida dá voltas, . - ela disse séria e voltou a encarar a paisagem.

  Me levantei e comecei a voltar até onde estava meu carro com ela me seguindo. Entrei no veículo e fiz sinal para que ela fizesse o mesmo, e ela o fez.
  - Vamos almoçar. - eu disse, pegando a estrada novamente.
  Cheguei até um restaurante que eu havia visto quando estava indo para Tucson. Entramos lá e me senti num verdadeiro velho oeste. Sua decoração tinha várias bandeiras do nosso estado e mesas de madeira um pouco velhas.
  - Bom dia! - uma moça simpática nos atendeu. - Em que posso ajudá-los?
  - Você poderia conseguir uma mesa para dois? - perguntei e ela assentiu sorridente.

  Eu e nos sentamos, fizemos nosso pedido e começamos a conversar sobre a viagem e as paisagens. Seus olhos brilhavam intensamente e ela demonstrava intensa felicidade, me senti bem por isso.
  - Pra onde vamos agora? - ela perguntou novamente.
  - Eu estava pensando em irmos para Globe.
  - Legal! Me disseram que lá é bem interessante. - ela sorriu animada.
  - Veremos. - sorri desafiador.
  Vamos ver o que Globe nos reserva.

Capítulo 3

  Depois do almoço, fomos até um posto de gasolina para abastecer. foi até a pequena loja de conveniências e comprou dois sorvetes para nós.
  - Eu amo sorvete de morango. - eu disse.
  - Eu imaginei. - ela disse e depois riu.

  Após alguns minutos de conversa jogada fora, entramos dentro do carro e partimos para a estrada novamente. Duas horas depois, havíamos chegado no Besh Ba Gowah em Globe.
  - Esse lugar é maravilhoso! Olhe essas ruínas, tudo tão surreal! - disse encantada enquanto tirava os óculos escuros do rosto.
  - Concordo. Temos até cactos aqui. Estamos literalmente no deserto. - eu disse e ela riu.
  - Não exagere, .
  Andamos pelas ruínas e eu tirei algumas fotos. acabou parando uma jovem para tirar uma foto de nós dois sentados em uma das ruínas, e obrigatoriamente me fez sorrir para a fotografia.
  - ? , cadê você? - eu perguntei ao perceber que ela havia sumido. Havia a procurado por todos os lugares, mas não havia a encontrado.
  Comecei a andar rumo ao carro e então a avistei, sentada ao lado de um cacto e com a cabeça entre as mãos.
  - Tá tudo bem? - me aproximei.
  - Ah, tá sim. Acho que só estou um pouco cansada.
  - Entendo. Duas viagens em um só dia. - me sentei ao seu lado e então percebi a vista linda que aquele lugar tinha. Já era hora do por do sol, então comecei a observar o céu trocar de cor.
  - Por que você resolveu fazer essa viagem? - perguntou depois de alguns minutos silêncio.
  - Eu não sei. Eu estava farto daquela rotina, entende? Estava cansado de ter que cuidar de dezenas de processos e esquecer minha própria vida.
  - Como assim, esquecer sua própria vida?
  - Eu não tenho namorada, não vejo minha família há meses e tudo o que eu tenho em casa é Leonard e café.
  - Entendo. - ela disse. - Eu realmente não sei o que dizer, porque, bem, eu nunca passei por isso. Eu sempre tive minha família ao meu lado e nunca me senti muito sozinha. Mas, você não acha que já está na hora de mudar isso?
  - Talvez, mas acho que as coisas acontecem no tempo certo. - eu disse.
  - É verdade. - ela se calou e então desviou o olhar. Ficamos sentados vendo anoitecer em silêncio. Logo a vi bocejar e decidi que já era hora de irmos.

  Dirigi por alguns minutos até chegar na área mais urbana da cidade, onde encontramos um pequeno hotel.
  - Boa noite. - uma senhora nos disse assim que adentramos a recepção.
  - Gostaria de alugar dois quartos. - eu disse.
  - Dois quartos... Vocês dormem separados. - a mulher disse um pouco indecisa.
  - Sim. Somos apenas amigos. - eu respondi.
  - Vou checar se temos disponível. - a mulher disse, logo depois voltando com uma chave na mão.
  - Só temos um quarto, mas com duas camas. Os outros estão ocupados porque essa semana chegou uma caravana da Austrália e eles se hospedaram aqui. Eu sinto muito. - ela disse.
  - Ah... - eu olhei para , que murmurou um "Por mim, tudo bem". - Ok então. - comecei a acertar os detalhes da hospedagem enquanto aguardava.

- Pronto. - eu disse, me dirigindo ao carro para pegar nossas malas.
- Finalmente! Tô bastante cansada. - ela disse.
- Eu percebi. - ri baixo. - Vamos. - peguei algumas malas e subi junto com ela, que carregava o restante da bagagem.
- Até que o quarto é legal! - ela disse assim que adentramos o espaço.
- Também gostei. - me joguei em cima da cama. - O que vai fazer agora? - perguntei.
- Não sei, acho que vou tomar um banho. - ela disse, procurando algo em sua mala.
- Boa ideia. - eu disse, me levantando rapidamente e pegando uma toalha e uma boxer. Corri para o banheiro e a ouvi me xingar. Ri levemente e comecei a me despir.

  Quando saí do banho, estava dormindo com a TV ligada no canal de culinária. Ela parecia uma criancinha de dez anos, com os braços em torno de um dos travesseiros que havia na cama.
  - Hey. - a chamei, fazendo-a abrir os olhos lentamente e me encarar. - Acorde.
  - Oi . Eu tive um sonho bom. - sorriu lentamente.
  - Ah é? O que você sonhou? - perguntei.
  - Não me lembro. Mas deve ter sido bom, acordei me sentindo bem. - soltei uma gargalhada e ela acabou rindo também. - Sim, eu sei, sou idiota. - ela disse.
  - Totalmente! - eu respondi, logo depois recebendo um tapa no braço.
  - Abusado.
  - Já desocupei o banheiro, vá tomar um banho agora. - eu disse a empurrando até a porta do ambiente.
  - Wow, ta bom então senhor limpinho!! - ela riu irônica e eu apenas dei de ombros.

  Me deitei na cama e comecei a checar o celular. Ele esteve desligado durante toda a viagem, então resolvi ligá-lo e havia mais de trinta chamadas perdidas. A dura vida de um advogado que resolveu abandonar o cargo por uma semana, pensei.
  Fiquei mais alguns minutos olhando algumas coisas no celular, até que saiu do banheiro trajando uma camisola branca com "I prefer bears" escrito na frente.
  - O que foi? - ela me olhou confusa. Comecei a rir.
  - Nada, é só que... Ah cara, é engraçado! - eu disse rindo mais ainda.
  - O que é engraçado? A minha camisola? - ela disse ainda confusa.
  - É! - falei e ela me olhou feio. - Mas é bonitinha, sério! - tentei consertar, mas foi tarde demais. Seu travesseiro já havia me acertado.
  - Retardado. - ela disse, se deixando em sua cama e se enfiando debaixo dos cobertores. - Vá pedir o jantar, estou morrendo de fome.
  - Eu? Por que você não pode pedir? - me levantei indignado, procurando o telefone do quarto.
  - Porque eu sou uma princesa. - ela disse séria e logo depois riu. - Pede qualquer coisa que mate minha fome.
  - Ok, princesa. - ri e pedi nossa comida.

  Logo o serviço de quarto chegou e nós jantamos.
  - Quero assistir algum filme. - disse, pulando em minha cama e trocando de canal. Passava Rei Leão na Disney e ela sorriu.
  - É esse que eu quero ver.
  - Tem certeza? - perguntei.
  - Claro! Eu amo esse filme! - se ajeitou em minha cama. Apesar de ser verão no Arizona, essa noite estava confortavelmente fria.
  - Ok. Mas, ahn... - eu disse um pouco sem jeito por ela estar em minha cama.
  - querido eu não mordo. Deita aqui logo, cabeção. - ela disse impaciente e então fiz o que ela disse.
  Ficamos assim assistindo o filme, um ao lado do outro, mas sem muito contato físico. Quase no fim, se aconchegou em meu peito e passou seu braço por volta de minha cintura. Sua cabeça se encaixou entre meu obro e pescoço, então ela pareceu dormir. Sua respiração tranquila batia em minha pele, me fazendo arrepiar em alguns momentos. O aroma leve de seu perfume e o cheiro de seus cabelos me tranquilizaram bastante, então acabamos dormindo juntos.
  E confesso que gostei.

Capítulo 4

  Acordei antes de e fiquei por alguns minutos a observando. Ela era realmente bonita. Não uma modelo, ou uma Megan Fox, mas bonita. Tinha traços delicados e o formato de sua boca era... Perfeito. Comecei a sentir uma enorme vontade de beijá-la, mas não podia. Era errado, eu era seu chefe, ela é minha amiga. Como eu poderia estar sentindo isso tudo por ela em apenas dois dias? Como eu poderia querer beijá-la se há dias atrás eu mal olhava em seu rosto?
  Senti-a se mexendo e então virou seu rosto para mim.
  - Bom dia. - ela sorriu levemente, se sentando na cama e espreguiçando-se.
  - Bom dia. - disse meio sem jeito por estar pensando aquilo tudo.
  Logo a vi indo para o banheiro e saindo de lá totalmente pronta.
  - O que vamos fazer hoje? - ela perguntou.
  - Não sei, eu estava pensando em irmos para Scottsdale.
  - Por mim, tudo bem. Onde você for, eu vou. - ela disse, se sentando ao meu lado.
  - Posso perguntar uma coisa? - ela me olhou confusa e logo assentiu. - Você tem namorado? - perguntei, me arrependendo no mesmo momento.
  E o troféu de cara mais idiota vai para: .
  - Não... Por quê? - ela disse.
  - Ah, não, nada. - desviei o olhar, logo depois me levantando e procurando alguma roupa para vestir.

  Tomamos café da manhã e logo partimos para a estrada. Ela se manteve calada a todo o momento.
  Depois de algumas horas, chegamos ao Phoenician Resort Courses em Scottsdale.
  O lugar era bonito e bem verde, na verdade um campo de golf. Sorri e estacionei o carro.
  - Sabe jogar golf? - perguntei assim que fez o mesmo.
  - Se eu sei jogar golf? Isso é um insulto. - ela riu.

  Depois de conhecermos o lugar, logo estávamos jogando golf. E sim, ela sabia.
  De dez partidas que jogamos, nove ela ganhou. É sério, essa garota é um gênio.
  - Não acredito nisso. - eu disse assim que terminamos a última partida.
  - Oh ... - ela disse e logo me abraçou. - Que dó de você.
  - Sem ironias, ok? - eu disse chateado.
  - Tudo bem então... Vamos almoçar? - ela perguntou. Já passavam das 13 PM e eu estava faminto.
  - Vamos. - fomos até a cantina e almoçamos.

  Conversamos por um tempo e fomos até uma parte mais reservada do campo de golf. Eu havia levado minha câmera, então comecei a fotografar aquela paisagem.

  - , olha o quanto isso é lindo... - eu disse, e ao me virar para ela me deparei com seu corpo deitado sobre o chão. Ela estava dormindo.
  - Hein? - ela falou um pouco sonolenta.
  - Não, nada, pode dormir. - eu disse e ela soltou uma risada legal, voltando a dormir de novo.
  Tirei mais algumas fotos e me deitei ao seu lado. Logo ela acordou e se virou para mim, me fitando.
  - Oi. - ela sorriu e apoiou sua cabeça em uma das mãos.
  - Oi. - fiz o mesmo.

  Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas nos olhando. Minha vontade de beijá-la voltou e dessa vez estava bem mais forte. Comecei a suar frio e a me sentir nervoso, meu estômago revirava e eu tinha vontade de ir embora dali. Mas ao mesmo tempo, eu queria ficar.

  - Por que você tá me olhando? - ela me perguntou.
  - Ahn, eu? Ah, por que... Você tá me olhando também !!
  - Você tá nervoso! - ela riu alto e então me senti ficar vermelho.
  - Eu não estou não! - me defendi, mesmo sabendo que ela estava certa.
  - Tá bom... Por que você está nervoso? - ela disse.
  - Eu já disse que não estou nervoso. - abaixei a cabeça.
  - , me fala, por favor! - ela insistiu.
  - Não. Melhor prosseguirmos a viagem antes que fique tarde. - me levantei e ela me seguiu.

  Fomos até o carro e prosseguimos nossa viagem, rumo ao FireSky Resort & Spa. Passaríamos o dia todo descansando no resort para amanhã partirmos para Sedona.

  Chegamos lá e reservei um quarto para nós. Uma cama de casal. Ri quando me olhou confusa, mas o fato é que eu realmente queria dormir ao seu lado novamente.
  - Poxa, só uma cama? - ela me olhou.
  - Ah, qual é, nem vai ser tão ruim assim. - eu disse, logo a fazendo me olhar maliciosa.
  - Entendi... - ela disse e começou a abrir sua mala. - Quero ir pra piscina. Vamos?
  - Tudo bem, vou só pegar meu calção de banho. - eu disse e logo a vi pegando seu biquíni.
  - Vou colocar o biquíni, você me espera? - ela perguntou e eu apenas assenti, me sentando na cama.

  Fiquei pensando sobre tudo, sobre ela ter percebido que eu ficava nervoso quando estava com ela e que talvez ela tenha percebido a minha real intenção. Mas eu não podia, não sabia se ela queria. E eu não entendo como isso tudo pode acontecer tão rápido, em tão poucos dias.
  Será que eu estava me apaixonando?
  Creio que não.
  Espero que não.
  Não pode ser.

  - Pronto. - ela saiu do banheiro e eu entrei em estado de choque. Meu Deus do céu, que corpo era aquele? Senti algo estranho em meu estômago e presumi que era melhor eu parar de olhá-la. - Eu vi isso hein. - ela disse séria e depois gargalhou.
  - O quê? O que você viu? - perguntei confuso.
  - Você todo bobo me olhando... Parece que nunca viu mulher na vida. - fiquei rosa, vermelho, roxo, acho que virei um arco íris quando ela disse isso. Sinceridade era o lema então.
  - Vamos logo. - a puxei pela mão e fomos até a piscina.

  Chegando lá, havia algumas dezenas de pessoas no local se divertindo, conversando e rindo. Fui até a borda da piscina e comecei a observar. O local era realmente lindo, com algumas cadeiras de madeira que davam um charme ao local. Era tarde já, então ficaríamos provavelmente até anoitecer na piscina.

  Estava tão perdido em meus devaneios que só senti a água me acertar em cheio. Logo, olhei para a piscina e vi rindo como uma criança.
  - Isso não tem graça. - eu disse, olhando o estrago que ela tinha feito em minha camiseta.
  - Ah, tem sim! - ela disse rindo. - Você fala isso porque não viu a sua cara.
  - Ok então. - tirei minha camiseta e pulei ao seu lado na piscina.
  - Tomou coragem, senhor certinho? - ela me olhou desafiadora.
  - Isso aí, vai debochando de mim... - eu apenas me virei e logo a vi do meu lado, sorrindo e me abraçando.
  - A água tá gelada , vamos sair daqui. - eu disse, me desvencilhando de seus braços.
  - Eu tô adorando. Deixa de ser chato, .
  - Ok, senhora super-hiper-mega-legal.
  - Não sabia que um advogado utilizava estes termos. - ela riu novamente.

  Me afastei e fui para uma das bordas da piscina, me abraçando por causa do frio. Logo senti o olhar de uma moça loira sobre mim e me virei para encará-la.

  Era realmente bonita e digamos... Vocês devem entender o que eu chamaria de "hot". A vi nadando até mim e quando chegou, disse:
  - Olá. - sorriu sedutoramente.
  - Oi! - respondi e sorri do mesmo modo.
  - Então... Qual é seu nome? - ela perguntou, se aproximando.
  - , e o seu? - perguntei.
  - Meggie. - apenas a olhei chegar bem mais perto de mim. Senti-me hipnotizado pelo seu olhar misterioso. - O que vai fazer hoje à noite?
  - Ainda não sei, acho que não tenho... - eu ia dizendo até que interrompeu.
  - , está tudo bem? - ela se aproximou e então Meggie se afastou.
  - Tudo sim, . - fui rude.
  - Legal, preciso que você venha aqui comigo. - ela me puxou pelo braço, não dando chances de eu me despedir de Meggie. - Quem é aquela cabeça de ameba? - ela disse, assim que saímos da piscina.
  - É Meggie, algum problema? - a olhei desafiador.
  - Quer saber ? Nenhum problema. Tomara que a noite de vocês seja ótima! - ela me deu as costas, pegando sua toalha e andando rapidamente, talvez rumo ao quarto. Me toquei do que eu estava fazendo e fui atrás dela.

  Eu não estava errado, ela realmente havia ido para o quarto. Quando voltei, ela estava no banho. Comecei a me secar e encostei- me ao batente da porta. Logo ela saiu, e quando viu que eu estava ali, me ignorou.
  - O que foi? - perguntei, enquanto ela guardava suas coisas. Vestia um shorts jeans e uma regata branca.
  - Nada . Nada. - ela sequer me olhou.
  - Olha só... - eu me aproximei e toquei em sua mão. - Me conta, por que você ficou daquele jeito?
  - Eu já disse que não foi nada , mas eu realmente agradeceria se você me deixasse sozinha. - ela disse e se deitou na cama.
  Fiquei alguns minutos a observando, e ela apenas me ignorou, abraçando um dos travesseiros e fechando os olhos. Logo me dei conta do que era. Ciúme só podia ser.

  Abaixei-me ao lado da cama e fiquei perto de seu rosto. Logo seus olhos encaravam os meus e eu tive coragem de perguntar.
  - Você estava com ciúmes, não é? - eu perguntei e logo ela desviou o olhar. - , por quê? - perguntei.
  - Eu não estava com ciúmes.
  - Estava sim.
  - E se eu estivesse? E daí? - ela me olhou finalmente e então entendi.
  Levantei-me, dei a volta na cama e me deitei ao seu lado. virou seu corpo e me encarou.
  - Você não tem que ter ciúmes de mim.
  - E você acha que eu não sei disso? - ela riu, irônica.
  - Não, não por causa disso... - me dei conta do modo em que ela havia entendido. - Você não tem que ter ciúmes de mim com outras garotas, eu nunca terei nada com elas, não enquanto eu... - ela me olhou e me encorajou. - Enquanto eu gostar de você.
  Sua cara de espanto me assustou um pouco.
  - Você... Gosta de mim? - ela perguntou.
  - Não sei... Talvez, eu não sei, acho que sim. Eu não sei. - eu disse, meio confuso. Logo ela abaixou o olhar e eu me aproximei.

  Coloquei-me por cima dela, fazendo-a me olhar nos olhos. Coloquei uma das mãos em seu rosto e fiz um carinho, vendo-a fechar as pálpebras. Nossos rostos foram ficando cada vez mais perto e eu conseguia sentir sua respiração descompassada.

  Então, eu a beijei. Beijei como nunca havia beijando nenhuma outra garota, talvez porque eu realmente quisesse muito aquilo. Senti suas mãos envolvidas em meu cabelo e então sorri. Depois do beijo, a olhei e a vi corar. Sorri novamente, abraçando-a depois.
  Ficamos trocando carícias até anoitecer, quando ela dormiu. Coloquei-me ao seu lado e senti a confusão que minha cabeça havia virado.

  Era possível eu estar me apaixonando em tão pouco tempo? Era possível ela se apaixonar por mim em tão pouco tempo? Eu estava confuso. Mas tinha certeza de que ficar ao seu lado agora era o que eu realmente queria.

Capítulo 5

  Acordei bem cedo no outro dia, como de costume. Ela ainda dormia, então tratei de ligar meu computador e checar o próximo local da viagem: Sedona.
  Alguns minutos depois, se levantou, sussurrando um “Bom dia” e indo para o banho. Eu já havia decidido tudo, então a esperei para tomarmos café da manhã juntos.
  - Oi... - ela disse, saindo do banheiro e um pouco séria.
  - Oi... Dormiu bem? - perguntei.
  - Aham... E você? - ela perguntou e eu apenas assenti.
  - Vamos tomar café da manhã?
  - Tudo bem. - ela soltou um pequeno sorriso e depois descemos juntos para o refeitório.
  Lá, comemos em silêncio. Havia um clima desconfortável entre nós, talvez por causa do beijo. Ao perceber isso, comecei a me arrepender de ter tomado a atitude. Agora nós estávamos tão longe, e ao mesmo tempo tão perto.
  Acertei as contas no hotel e logo fomos para a estrada, rumo a Cathedral Rock. Depois de um pouco mais de duas horas, já havíamos chegado ao monumento, incrível por sinal.
  Tirei minha câmera de sua proteção e comecei a tirar fotos do local, mas percebi que estava bastante quieta.
  - Hey! - a chamei, mas ela continuou sem me dar atenção. Seu olhar me parecia distante. - ! - a chamei novamente, a fazendo despertar de seus devaneios e me encarar confusa. - Tá tudo bem? - perguntei e ela não disse nada, apenas assentiu e sorriu torto.
  Decidi continuar conhecendo o local e a deixei um pouco de lado. Estava tirando fotografias ótimas, até que a ouço gritar.
  Senti o nervosismo e o desespero em minhas veias e fui procurá-la. A achei caída no chão, com o joelho direito todo machucado.
  - O que houve? - eu perguntei e ela me encarou.
  - Eu tropecei nessa maldita rocha e caí. - ela disse brava, observando seu joelho esfolado.
  - Espera aí. - fui até o carro buscar meu kit de primeiros socorros.
  Voltei e comecei a fazer o curativo em seu joelho, enquanto ela me encarava atenta.
  - Pronto. - a olhei nos olhos e sorri, vendo-a repetir o gesto docemente.
  - Obrigada. - ela disse, tentando se levantar, mas sem sucesso.
  - Dói muito?
  - Pra caramba. - rimos e então a ajudei a se levantar, apoiando um de seus braços em mim e a levando até o carro.
  - O que quer fazer agora? - a perguntei.
  - Eu não sei, não queria estragar nosso dia. - ela falou e abaixou os olhos.
  - Você não estragou o dia. Olha, tem muita coisa que nós podemos fazer ainda! - a olhei e a vi rir.
  - Não, eu estraguei o dia sim, . - ela falou e eu liguei o rádio, a encarando.
  - Você não perde por esperar. - dei partida no carro e fomos até um posto de gasolina, onde abasteci e lanchamos.
  Logo pegamos a estrada novamente, até um hotel a beira da estrada. Era simples, mas era bonitinho até. Aluguei um quarto e então me joguei na cama. se sentou ao meu lado com alguma dificuldade, se deitando a meu lado após.

  - O que nós fazemos agora? - ela perguntou.
  - Espera aí. - me levantei, saí do quarto e fui até meu carro. Voltei com uma mochila nas costas e ela me olhou surpresa. - Vamos ver o que temos... - comecei a tirar meu videogame e algumas guloseimas para fora e ela começou a rir.
  - É sério que você carrega seu videogame? - ela me olhou com as sobrancelhas erguidas.
  - Nunca se sabe quando podem acontecer imprevistos. - a olhei e rimos.
  Conectei o aparelho na TV que havia no quarto e passamos o resto do dia assim, jogando e comendo guloseimas. Jogamos todos os tipos de jogos possíveis, mas quando chegamos em Resident Evil, não conseguimos parar.- Malditos zumbis. - disse concentrada.
  - Maldito jogo. - eu disse, mas de repente a TV desligou.
  - O que houve? - perguntou.
  - Acho que acabou a energia. - eu disse, tateando a cama procurando meu celular. - Desde quando são cinco da tarde?
  - Acredito que desde quando nós começamos a jogar videogame! - a olhei e ri. - E agora garotão, alguma ideia do que fazemos?
  - Eu tenho. Vem comigo. - me levantei e peguei em sua mão, a ajudando a se levantar. Fomos até a parte de fora do hotel e então encontrei uma pedra um pouco afastada da entrada. Sentei-me e se sentou ao meu lado.
  - Consegue ver aquela nuvem? - apontei uma nuvem que havia o formato de um dinossauro para ela e ela assentiu.
  - Eu adoro olhar o céu. Me sinto mais leve, uma paz tão boa... - ela olhou para cima e sorriu, falando abobada.
  - Você é muito bobinha.
  - Me respeita, ! Você não está falando com suas negas. - ela me olhou brava e eu a olhei, sorrindo.
  - ... - depois de alguns minutos, eu a chamei. O céu trocava de cor e estava quase noite. Ela me encarou e então me aproximei de seu rosto, sentindo a ficar um pouco nervosa. Então eu a beijei novamente. E novamente. E novamente.
  Então começou a chover. No Arizona. Chover. Milagres podem acontecer.
  - , acho melhor a gente... Hmm... - ela disse, cortando o beijo e me fazendo perceber que estava começando a chover forte.
  - Seu joelho está melhor? - perguntei e ela assentiu, andando um pouco e me mostrando que estava quase totalmente recuperada. - Então me dá sua mão. - ela o fez e então comecei a andar com ela pela calçada da rua, enquanto a chuva engrossava.
  - Você é louco! A gente pode pegar uma gripe, sabia? - ela disse, rindo.
  - Tudo bem, nada que um remédio não resolva. - eu disse, a abraçando.
  - Já estamos encharcados, você realmente é um idiota. - ela sussurrou, mas logo foi calada por um beijo.
  - Beijo na chuva? Que romântico. - ela disse e então rimos.
  - Se você quiser, nós podemos continuar isso em outro lugar, if you know what I mean... - eu disse e ela riu maliciosamente, me dando um leve tapa no braço.

  Voltamos ao hotel totalmente encharcados. Tivemos que ouvir a recepcionista reclamar que nós estávamos molhando todo o tapete da sala mas não demos a mínima, continuamos nosso caminho apenas rindo de tudo o que estava acontecendo.
  - Tá vendo? Estou toda molhada! - disse, olhando sua blusa completamente encharcada.
  - Eu também, não reclame. - eu disse, tirando a camiseta e a fazendo me olhar de canto de olho. Sorri e então me aproximei dela, selando nossos lábios novamente. A abracei e aos poucos as coisas foram esquentando, tanto é que senti meu cabelo um pouco mais seco. Estávamos ofegantes, então a olhei. Ela sorriu, me fazendo querer prosseguir.
  Aos poucos, as peças de roupa que usávamos iriam caindo no chão e nossos corpos se satisfaziam. Ela era incrível.

Capítulo 6

  No outro dia, acordei e não estava mais ao meu lado. Abri os olhos lentamente, de acordo com o que a claridade permitia e pude localizá-la em uma poltrona do quarto, concentrada em um livro. Logo ela olhou para mim e sorriu, vindo até mim e se deitando ao meu lado.
  - Bom dia! - ela disse sorrindo.
  - Bom dia. - eu falei ainda sonolento. - Aonde quer ir hoje?
  - Não sei... Que tal se a gente ficasse aqui mesmo?
  - Por mim tudo bem...
  - Então... Vamos continuar o que começamos ontem? - ela me olhou maliciosa e eu comecei a rir. Não conhecia esse lado de até ontem.
  Passamos o dia todo juntos, conversando, nos conhecendo melhor e namorando... Quando anoiteceu, pegamos estrada para Phoenix, onde passaríamos o último dia de viagem antes de voltarmos para Tempe. Chegamos por volta das oito da noite na cidade, e nos hospedamos em um hotel luxuoso, posso dizer. Deixamos nossas malas no quarto e fomos dar uma volta no saguão e na área de diversão.
  - Vou pegar uma água, já venho. - ela disse, me dando um selinho e se afastando.
  A observei caminhar, não percebendo a presença de uma moça ao meu lado.
  - Sozinho? - ela me olhou e perguntou.
  - Não, estou com minha... - eu parei um pouco, afinal nós não tínhamos nada sério.
  - Entendo. - a moça disse, soltando uma risada. - Bom, se você não sabe o que ela é pra você, então provavelmente eu tenha uma chance. - ela disse, então eu desviei meu olhar. Encontrei abraçada com um cara muito alto e forte. Tive uma sensação ruim, então meu sangue esquentou e eu estava possesso de raiva.
  - Talvez você tenha. - sorri forçadamente para a moça, decidido a esquecer . Amanhã voltaríamos para Tempe e tudo isso acabaria. Afinal, o que eu estava pensando?
  A garota então sorriu animada e me beijou lentamente. Logo estava completamente envolvido por ela, sem me dar conta da realidade. Quando abri os olhos, me declarei com estática a minha frente. A garrafa de água estava no chão e os olhos cheios de lágrimas. Lembrei-me da raiva que eu estava sentindo por ela e acho que ela percebeu isso pelo meu olhar nada bom, pois saiu correndo.
  Fiquei o resto da noite com a garota, aproveitando e me esquecendo de . Nós nunca daríamos certo, eu era o chefe dela, nossas vidas eram diferentes e nossos objetivos também. Nós éramos de mundos diferentes e tudo o que havia acontecido foi apenas um conto de fadas, nada real.
  Era madrugada quando voltei para o quarto. estava dormindo no pequeno sofá que havia ao lado de uma grande janela, que dava de frente a uma vista linda, onde se podia ver toda a noite de Phoenix. Seus olhos estavam inchados e ela estava praticamente abraçando o cobertor. Suas malas estavam ao lado, todas feitas. Parei para pensar sobre o que havia acontecido, sobre o que eu havia feito. Talvez ela tivesse algo para me dizer, talvez tenha sido um mal entendido. Talvez ele seja seu ex-namorado ou algum amigo. Talvez eu tenha me exaltado.
  Deitei-me na cama e fiquei a observando. A janela era enorme e trazia uma luminosidade para o quarto e seu rosto. Era engraçado o modo como ela dormia, já que o sofá era um pouco pequeno para seu corpo, mesmo que ela fosse baixa. Sorri sozinho me levantando e indo ate ela. Me agachei e comecei a fazer carinho em seu rosto, vendo-a abrir seus olhos alguns minutos depois. Ela me olhou feio e tirou minha mão de seu rosto com agressividade.
  - Será que a gente pode conversar? - perguntei.
  - Não. Eu quero dormir, se você não se importa. - ela disse rudemente, não me encarando.
  - Quer saber? Eu me importo! Para de tentar contornar a situação, para de tentar esquecer e esperar a poeira baixar! Algumas coisas tem que ser resolvidas na hora, sabia? - eu aumentei o tom de voz e me levantei, a vendo me olhar assustada.
  - O que você quer então? Quer que eu diga que você está certo, que eu sou uma vadia? É isso? - ela também se levantou e a vi expressar seu melhor olhar de raiva.
  - Não porra, eu só quero entender o que aconteceu hoje!! Nós estávamos tão bem antes de você ter que sair e buscar aquela maldita água!
  - Não, , nós estávamos bem antes de eu te ver se atracando com aquela ameba verde!
  - O quê? - ri irônico. - Engraçado, porque quem começou isso foi você quando abraçou aquele cosplay de Huck!
  - Eu? , você deve estar brincando comigo. Você tem noção de quem era ele? - ela perguntou e eu fiquei calado, apenas a olhando. - É O DANIEL, PORRA!!! ELE É MEU PRIMO QUE EU NÃO VEJO HÁ DOIS ANOS!
  - Sério? - eu perguntei, um pouco envergonhado e arrependido.
  - Sério. Você realmente achava que EU ia te trair? - ela disse e eu apenas a olhei. - Você acha que só por causa disso você podia sair beijando a primeira vagabunda que aparecesse na sua frente? Você ao menos procurou saber ? Mas sabe? Eu entendo.
  - , eu não...
  - , tá tudo bem. No final das contas, eu não te traí e você não me traiu. Afinal, nós nunca tivemos nada sério. Pra você eu não signifiquei nada.
  - Não fala isso, você significa sim...
  - Não! Eu sou apenas sua secretária que resolveu viajar com você por uma semana. Amanhã nós vamos embora e as coisas vão voltar a ser como eram. Vamos esquecer isso.
  - Me desculpa , eu não sabia... Eu errei. - me aproximei de seu rosto, a vendo se afastar.
  - Não me toque, por favor. Vou dormir agora se não se importa. - ela disse, voltando a se acomodar no sofá.
  Eu era um burro, um tolo, um idiota. Agora ela estava chateada comigo e ela tinha razão.
  Me deitei na cama e tentei dormir, mas foi em vão. Talvez fosse assim que as coisas terminassem, todos felizes e eu sozinho. Como sempre...
  Ela merecia ser feliz. Nesta semana, ela se mostrou tão doce e tão gentil comigo que bom, eu acho que ela merece alguém melhor do que eu.
  Talvez fosse o certo.

Capítulo 7

  Acordei e estava deitada com seus fones de ouvido. Suas malas estavam prontas e então eu a chamei.
  - Vamos? - perguntei.
  - Vamos. - ela mal me encarou.
  Paguei as despesas do hotel e depois pegamos a estrada, de volta a Tempe. esteve calada por todo o percurso, o que me fez sentir desconfortável. Eu errei e ela não queria me perdoar, ela não iria me perdoar, talvez ela não conseguisse.
  Havíamos chegado a porta de sua casa, e ela logo desceu do carro, indo rumo ai bagageiro pegar suas malas.
  - Obrigada. - ela disse, sem me encarar.
- Tudo bem... Me perdoa, por favor! - eu disse.
  - Adeus, . - ela se virou, pegou suas malas e entrou em sua casa, enquanto eu apenas a observava. Coloquei meus óculos escuros e então comecei a dirigir até um parque que havia perto do meu apartamento. Me sentei em um dos bancos, sentindo o calor arizonense me afetar.
  - Parabéns, . Sempre estragando tudo. - eu disse para mim mesmo. Fiquei sentado ali por mais alguns minutos, pensando no que fazer. Eu acabei me apaixonando e me decepcionando em menos de uma semana, esse fora meu recorde.
  Fui até o hotel para animais e busquei Leonard. Estava sentido falta do meu companheiro.
  Abri a porta do meu apartamento, sentindo um vazio muito grande. Fechei a porta e abri as janelas procurando por alguma claridade. Fui ate a geladeira, peguei uma cerveja e me sentei na varanda, observando o movimento do meu pequeno bairro. Essa era a minha vida, talvez eu devesse me acostumar com isso, me acostumar a ser sozinho. Mas não seria nada fácil tendo que ver todos os dias.
  Eu estou me sentindo um completo estúpido por ter me apaixonado tão fácil... Eu sabia que não daria certo e insisti, e agora estou eu aqui, sozinho novamente.
  O dia passou lentamente a base de cervejas e futebol. Me tranquei em meu apartamento por toda a sexta feira. No sábado, fui ate o supermercado e comprei mais cervejas, e bom, talvez as coisas fossem ser assim por um bom tempo. Me lembrei do dia em que fomos ao supermercado em Tucson para comprar algumas besteiras e ela entrou dentro do carrinho de compras, me fazendo rir por horas. Tudo ao lado dela se tornava divertido. Já era domingo quando eu resolvi sair de casa para tomar um ar. Eram aproximadamente oito da noite quando resolvi ir a um barzinho no subúrbio de Tempe. O local não estava muito lotado, havia algumas rodinhas de amigos, todos rindo e se divertindo. Me senti extremamente invejoso naquele momento. Parecia que eu nunca poderia ter aquilo, um momento daqueles.
  - Uma dose dupla de vodca, por favor. - eu pedi pro garçom, me sentando em uma das banquetas e observando o movimento da rua.
  Acho que eu deveria estar no quinto shot de vodca quando a vi entrar no bar com algumas amigas. A raiva subiu sobre minha cabeça e senti minhas bochechas esquentarem. Ela estava se divertindo então?
  Vi me olhar de canto de olho rapidamente e seguir para uma das mesas vazias, se sentando. Desviei meu olhar, pedindo mais e mais shots de vodca. Eu estava cansado.
Eu já estava bêbado o suficiente pra cair, e bom, a bebida entra e as verdades saem. Quando vi, já estava com uma das mãos no rosto de , que me olhava assustada, e a outra estava na mesa. Eu estava quase caindo e meu estomago estava revirando, mas eu não me importava. Eu só tinha que expulsar toda a raiva do meu corpo.
  - Então quer dizer que você tá se divertindo? - as palavras saiam meio emboladas.
  - , você tá bêbado, vá embora. - ela disse calmamente, tirando minha mão de seu rosto.
  - Ah, agora você quer que eu vá embora? Engraçado que você não disse isso no dia em que a gente... Você sabe... - eu sorri malicioso e vi todos na mesa a olharem chocados.
  - Cala a porra da sua boca e vaza daqui! - ela ficou nervosa.
  - Não vou embora enquanto não falar tudo o que eu tenho pra falar!! Você acha o que, que é fácil me deixar apaixonado por você e depois me tratar assim? Eu aqui sofrendo e você saindo, se divertindo, como se nada tivesse acontecido?? - aumentei o tom de voz e agora todo o bar nos olhava. - Você acha que pode sair da minha vida depois de tudo o que nós passamos essa semana? É tão difícil pra você me perdoar? É tão difícil pra você demonstrar que também tá sofrendo? Pelo que eu tô vendo, você não tá. - eu terminei, com um pouco de mágoa na ultima frase. Seus olhos estavam indicando que ela iria chorar e me arrependi de tudo naquele exato momento.
  - A vida continua, . - ela disse, pegando sua bolsa e saindo em seguida. Todos os seus amigos me encaravam feio e vi uma das garotas se levantar, provavelmente indo atrás de .
  Sai do bar, entrando em meu carro. Ao fechar a porta, olhei para o lado e senti uma lagrima escorrendo de meu rosto. Eu não queria magoá-la.
  Eu precisava dela, precisava mais do que tudo. E ela parecia não precisar de mim. Assim que a vi rindo com seus amigos, soube que eu deveria sair de sua vida. Ela seria feliz sem mim, talvez.
  Mas sinceramente? Eu espero que não.

Capítulo 8

  Já haviam se passado dois meses desde o ocorrido no bar. não foi trabalhar mais, e então sua mãe levou uma carta dela pedindo demissão. Aquilo cortou meu coração.
  Eu estava sentado em um dos bancos do parque junto com Leonard, que vivia rodeando meus pés. Observava tudo com calma, afinal eu não tinha pressa. Sempre que eu saia do escritório, saía cansado, sem energia nem para piscar. Era quase noite de um sábado e eu estava mais uma vez pensando na falta que ela faz.
  - Meu Deus, isso não vai passar nunca? - disse em voz alta, mas falando para mim mesmo. Afinal, eu só tinha a mim mesmo.
  - Decepções, filho? - um senhor de mais ou menos 70 anos de idade se sentou ao meu lado.
  - Decepções... - eu disse cabisbaixo.
  - É amor? - ele perguntou, me olhando atentamente.
  - Eu a magoei e ela não quer me perdoar. Eu não sei mais o que faço! - passei a mão pelos cabelos nervosamente, procurando alguma saída em minha mente.
  - Tente novamente, mas de um jeito que você nunca tentou.
  - Como? - eu o olhei confuso.
  - Dê o seu melhor e dê seu coração e sua alma. Se for verdadeiro, ela vai gostar. - então ele se levantou deixando uma interrogação enorme na minha cabeça. O que eu faria?
  Já era noite e eu já estava em casa. Nada do que eu pensava parecia ser bom o suficiente, e aquilo estava me deixando louco. Entrei em meu quarto, me jogando na poltrona e meu olho foi direto ao meu antigo violão que estava em cima do meu guarda roupa. Me lembro que eu o adorava na adolescência, eu sempre adorei musica. E então me lembrei de uma das nossas conversas em que ela me disse que adorava John Mayer e seu jeito romântico... Uma ideia me surgiu na hora e então comecei a preparar tudo.
  Corri até a floricultura mais próxima, comprando um buquê de rosas brancas. Eram suas favoritas.
  Quando cheguei em casa, já se passavam das dez da noite, e ela provavelmente estaria dormindo. Mas eu não desistiria tão fácil, não desta vez.
  Coloquei o violão dentro do meu carro, junto com o buquê e fui até o endereço que não saia de minha cabeça.
  Cheguei até a porta de sua casa e então senti toda a minha coragem se esvair. Minhas mãos gelaram e meu estomago estava dançando tango na velocidade máxima. Respirei fundo, saindo do carro e pegando meus instrumentos pra guerra.
  Cheguei até onde eu supus ser a janela de seu quarto, coloquei o buquê no chão e comecei os primeiros acordes de The Heart Of Life.

  I hate to see you cry
  Lying there in that position
  There's things you need to hear
  So turn off your tears
  And listen

  Pain throws your heart to the ground
  Love turns the whole thing around
  No it wont all go the way
  It should
  But I know the heart of life is good

  You know it's nothin new
  Bad news never had good timing
  Then the circle of your friends
  Will defend the silver lining

  Pain throws your heart to the ground
  Love turns the whole thing around
  No it wont all go the way
  It should
  But I know the heart of life is good

  Pain throws your heart to the ground
  Love turns the whole thing around
  Fear is a friend who is
  Misunderstood
  But the heart of life is good
  I know it's good

  Quando terminei de cantar, vi toda a vizinhança acordada, me olhando, menos a dona da janela. Encarei o vidro por algum tempo, quase perdendo as esperanças. Talvez ela estivesse jantando com seu novo namorado.
  De repente, vi a luz da tal janela se acender e pude sorrir levemente. Mas quando a janela foi aberta, na verdade era uma senhora muito irritada e que acabou de mando um banho de água gelada.
  - Da próxima vez vá acordar sua avó! - ela disse zangada, fechando a janela e me fazendo querer esconder no buraco mais próximo. Eu havia errado o número da casa de , provavelmente por causa do meu nervosismo extremo. Peguei as flores, me dirigindo até meu carro.
  - , espera! - ouvi sua voz doce e me arrepiei. Quando olhei para trás, ela estava usando sua camisola com "I prefer bears" na frente, escondida por um roupão. - Isso... Foi lindo. - ela disse.
  - Era pra você... - eu passei a mão pelos cabelos, envergonhado. - E, ahh... Essas aqui também são suas. - me aproximei, entregando-lhe o buquê, fodo molhado. - Me desculpe, era pra ele estar em perfeito estado...
  - Por que você fez tudo isso, ? - ela me olhou curiosa. Seus olhos brilhavam.
  - Eu queria que você me perdoasse. Eu nunca quis te magoar, nem te fazer sofrer... Eu queria que você me perdoasse, porque dessa vez, eu prometo fazer as coisas certas.
  - , eu...
  - Eu amo você, . Eu amo. - eu disse, surpreendendo a mim mesmo. Nunca havia parado pra pensar que eu a amasse, mas agora vejo que isso estava em minha cara.
  - Eu... - ela se aproximou e colocou a mão em meu rosto, passando seus dedos delicados pela minha barba. - Eu te amo, . - ela disse e então a felicidade me possuiu. Acho que devo ter dado o maior sorriso do mundo, antes de beijá-la.
  Eu a amava.
  Eu a amo.
  Eu sempre vou amá-la.

Epílogo

  Eu sempre fui acostumado com a solidão. Era mais fácil para mim manter uma distancia confortável de qualquer um que pudesse me trazer sofrimento. Era mais simples não me magoar. Todos os dias eu via tantos casos de casais se separando e não compreendia o porquê. Se eles se amavam, porque se separavam? Talvez a rotina, o dia a dia e os problemas fizessem o amor acabar, e esse era meu medo. Mas agora, sempre que acordo e vejo ao meu lado, tenho certeza de que o amor de verdade supera tudo. O amor é paciente, é sincero e é corajoso. Talvez ele seja um pouco complicado, mas no final... Todo o sofrimento que ele tenha causado é superado com um beijo e com cada momento simples que se passa com quem se ama.
  O amor vale a pena, basta acreditarmos que ele é real.

FIM

Será?



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