Are U Mine?


Escrita porEvangeline Lichter
Revisada por Luba


Capítulo único

Tempo estimado de leitura: 14 minutos

  A noite quase o abandonava, ele sentia um desconforto nas costas, acreditava que o tapete da sala já foi bem mais aconchegante. Abriu os olhos lentamente e seus braços tremiam, o frio do amanhecer gelava todo o ambiente. Não queria acordar, tudo que gostaria era continuar sonhando. Ela estava no sonho. Apenas nele. Já era tarde demais, seu consciente já havia despertado e ela o abandonava mais uma vez.
  Levantou do tapete fino e direcionou-se a janela, fechando-a. Sentia seu rosto inchado e os cabelos negros caírem sobre os cílios e se lembrou daquele sorriso que ela tinha nos lábios ao dizer que %Henry% ficava lindo quando acordava. As lágrimas voltaram a marejar os olhos %castanhosesverdeados%. Voltou sua atenção para dentro da casa bagunçada, as fotos dos dois estavam por todos os lados e todo o lugar tinha o cheiro enjoativo de álcool e sexo, encarou as próprias mãos e o peitoral nu sentindo-se sujo, havia transado com outras garotas. Mas, caralho! Ele precisava tentar esquecê-la e tudo que pensou era que se envolver com outras mulheres traria o velho %Henry% %Marshall% de volta, pelo contrário, adquiriu um enorme peso na consciência. Já havia se passado nove meses desde que ela se foi e tudo porque não queria amar ninguém, era como um pássaro incapaz de ficar preso em uma gaiola. Não queria ser de ninguém além, dela mesma. Porém, %Henry% não possuía a mesma habilidade de não conseguir amar ninguém – Acreditava que sim antes de conhecê-la -, mas era quase impossível não se apaixonar pela doce %Mazie%. %Henry% caminhou até a geladeira e pegou mais um litro de whisky e abriu, levou a garrafa aos lábios, enquanto as lágrimas contornavam seu rosto relembrando quando a conheceu.
  Era sábado à noite e solitário no cubículo que %Henry% %Marshall% chamava de bar. As prateleiras possuíam pó excessivo e o piso rangia, ele só queria descansar após uma semana agitada naquele escritório de advocacia. Tinha plena consciência que seu chefe ainda o perturbava por ser novo demais para o serviço, mas adorava ver a cara do velho James quando trazia mais uma causa ganha, era o melhor da cidade com apenas vinte e quatro anos. A pequena caixa de som espalhava a voz melodiosa de Bon Jovi por todo o ambiente enquanto %Henry% saboreava a sangria no pequeno copo, algumas moças o observavam de longe, sentindo o olhar caloroso das três jovens sobre ele, tinha seu ego alimentado dessa forma. %Henry% sabia lidar com algumas mulheres, não poderia ser chamado de garanhão porque poucas iam realmente parar na sua cama, mas adorava sentir o assédio que era bem frequente por ser exageradamente bonito, dono de uma pele pálida e bem cuidada, possuía cabelos negros e um físico de tirar o fôlego, mas nada disso chamava atenção mais do que os grandes olhos %castanhosesverdeados% e os cílios invejados por muitas mulheres. %Henry% era a personificação de um Deus e sabia muito bem disso. As risadas e os comentários das três garotas começaram a aumentar quando ele cumprimentou-as levantando o copo e lançando seu melhor sorriso. Era um filho da puta gostoso! Provocava as garotas alisando o copo com o dedo indicador e levando-os aos lábios, olhando por cima do objeto de vidro, em um gesto similar a um ato sexual, brincando com as mentes das pobres coitadas que caiam no jogo de sedução. Era divertido, pois não ficaria com nenhuma delas. Deixou o copo sobre o balcão e seus lábios se curvaram em um sorriso mínimo.
  — Você não pretende levar nenhuma delas para casa, não é mesmo. — Uma voz feminina invadiu seus ouvidos em um tom divertido e irônico. Virou-se para mesa na lateral do balcão e se deparou com a bela imagem de uma morena. A pele parda era iluminada pela luz fraca acima da mesa, possuía cabelos negros e cacheados com um volume selvagem, a linha fina de da boca era pintada por um batom vermelho e um sorriso irônico, os olhos castanhos escorriam uma luxuria natural e o decote do vestido preto marcava os seios pequenos e redondos. C-A-R-A-L-H-O! A mente de %Henry% brilhava em um letreiro neon rosa chiclete e ele sentia seu jeans fica desconfortável.
  — Como você sabe? — Respondeu se recompondo, sua boca havia se aberto enquanto reparava os detalhes.
  — Se você quisesse já teria feito, elas estão te dando mole há muito tempo e você só está brincando com a mente de cada uma delas. — Ela riu e mordeu o lábio inferior. %Henry% riu junto e respirou fundo tentando espantar os pensamentos impuros de foder aquela boca.
  — Permita que eu te pague uma bebida por descobrir o meu jogo particular. — Foi tudo que conseguiu dizer.
  — Amor, isso é clichê demais para mim, sente-se deixa que eu te pegue uma bebida, porque você merece uma para relaxar. — Ela deixou os olhos caírem sobre o corpo do rapaz, parando no volume do jeans que agora era bem visível, um pequeno sorriso maldoso se formou. %Henry% sentindo o choque do efeito que a mulher tinha sobre ele puxou a camiseta azul escuro para baixo, numa tentativa frustrante de esconder o que não dava para ser escondido. Ela fazia com que ele se sentisse um adolescente virgem no colegial. Intimidante. Caminhou até a mesa e sentou-se na cadeira a frente.
  — %Henry% %Marshall%, prazer. — Estendeu a mão.
  — %Mazie% %Sanders%, e o prazer é todo meu, com certeza. — Sorriu e apertou a mão de %Henry% firmemente fazendo seu jeans apertar seu membro.

  As lágrimas se intensificaram enquanto desejava voltar a aquele momento. %Mazie% era um misto de mistério e luxuria, de amor e ódio, uma trégua entre Deus e o Diabo e tudo que %Henry% mais queria naquele momento. A dor consumia seu corpo e ele tombou no sofá da sala escutando a chuva começar a cair, e com mais um gole de álcool fechou os olhos e voltou para os braços de %Mazie%.
  — Stevie, traz dois whisky com red, põem na minha conta. — A morena pediu ao jovem no balcão que assentiu com a cabeça. — %Henry% me fale um pouco de você.
  — Não tem muito o que falar, eu sou advogado e tenho vinte e quatro anos, eu trabalho demais e não me resta muito tempo para fazer outras coisas. — %Henry% se sentiu a pessoa mais desinteressante do mundo ao ver que não tinha muito o que falar, mas a garota ouviu atentamente com uma expressão divertida no rosto.
  — Advogado? Isso é ótimo, já tenho você caso eu precise.
  — Você pretende entrar em alguma confusão para precisar de algum advogado? — Sorriu curioso.
  — Acredito entrar em uma confusão bem grande, talvez eu precise de um sim. — O tom de malicia invadiu a conversa. Seus olhos brincavam pulando entre o peitoral e as mãos entrelaçadas do rapaz sobre a mesa. %Henry% sentia-se queimar internamente, especificamente entre as pernas.
  — Ah Querida! Conte comigo para o que você precisar. Estou louco para te defender de um júri, te faço inocente. — A tensão que eles tinham era palpável, os olhos grudados como imã e metal, tão intenso e quente. Ambos podiam sentir
.   — Inocente? Tenho certeza que é mais complicado do que você imagina. — %Mazie% passou a língua entre os lábios. Se ele era a personificação de um Deus, ela era a de um demônio, o mais sexy e maldoso deles.
  — Acredite sou muito bom no que faço. — %Henry% sorriu. Stevie parou ao lado da mesa e serviu os dois copos sobre a mesa.
  — Stevie, já é o fim do seu expediente? — %Mazie% ainda mantinha os olhos fixos em %Henry%.
  — Daqui cinco minutos, querida. Por quê? — O jovem moreno com olhos acinzentados respondeu.
  — Leve os whiskys para dentro, acrescente mais um copo na minha conta e sirva para as três meninas na última mesa, diga que é por sua conta e pode escolher qualquer uma das três para passar a noite. Eu e o meu amigo aqui estamos de saída.

  O som da garrafa se partindo em mil pedaços sobre a parede. %Henry% passou a mão no rosto em desespero se lembrando da primeira noite que estiveram juntos, seus corpos eram as duas últimas peças do quebra-cabeça. Não tinha mais lágrimas e nem força. Sua mente era um telão com todas as lembranças.
  — %Henry% eu não sabia que você sabia desenhar tão bem. Deveria ter me dito. — %Mazie% folhava um caderno repleto de retratos e paisagens assinados por %Henry%.
  — Para de mexer no meu armário. Têm arquivos confidenciais aí, como esse caderno. — O moreno entrou no quarto com um sorriso radiante e se sentou tapete da sala à frente da garota, que contemplou a obra de arte que era %Henry% sem camisa e calça moletom.
  — Por que você nunca me disse? — Ela perguntou curiosa.
  — Eu estava no colégio, eu costumava desenhar as meninas que eu me apaixonava. — Ele disse e encarou %Mazie%, levou a mão no próprio queixo e cerrou os olhos como se a analisasse.
  — Apaixonado? Isso soa assustador. — Ela gargalhou.
  — Fique parada. — %Henry% correu até o quarto.
  — Espero que eu esteja enganada, sobre o que estou pensando. — A voz desconfiada ecoou no cômodo. %Henry% voltou com um estojo nas mãos. — %Henry% já conversamos sobre isso de ....
  — Fique quieta, não é nada disso. — %Henry% retirou o quadro da grande parede branca atrás do sofá e colocou no chão. — Fique parada, eu quero guardar esse momento.
  — Não vai me desenhar, eu estou horrível. Olha meu cabelo. — Ela apontou para o coque no alto da cabeça e retirou o pequeno cacho da frente dos olhos. %Henry% empurrou o sofá para o lado deixando apenas o tapete no centro da sala.
  — Você está linda, por favor, faz tanto tempo que eu não faço isso. — Ele desprendeu o cacho da orelha de %Mazie% e beijo-a nos lábios. O sol fraco iluminava parte do rosto da menina enquanto achava graça da situação.
  %Henry% pegou o lápis preto e começou a riscar o esboço dos olhos e do coque no alto da cabeça no grande espaço. Os olhos dele saltavam da parede para a morena sentada na famosa posição de indiozinho.
  — Não consigo, se você continuar me olhando assim tão sexy, vai ter que parar o seu desenho e vai ter que começar a pintar outra coisa. — Mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça de forma negativa, foi uma comparação ruim. Muito ruim.
  — Prometo que se você ficar quietinha eu pinto, bordo, grafito, tudo que você quiser. — Ele riu. — Você é uma tarada.
  — E você adora. — Ela gargalhou.

  Lá estava %Henry% observando os olhos irônicos e o coque no cabelo que ele tanto amava. O desenho parecia encará-lo e debochar de toda sua dor. Ele se perguntava o porquê dela ter partido sem dizer adeus, não se importou com ele e muito menos com o que ele sentia, talvez, para ela não tenha significado nada.
  — Feliz aniversário Vovó. — %Henry% brincou ao chegar ao quarto com uma bandeja de café da manhã, com todos os itens que %Mazie% mais gostava.
  — Vovó seu rabo! Vinte e seis anos de pura sedução, querido. — Ela se espreguiçou sobre os lençóis brancos da cama de casal e logo em seguida se sentou.
  — Vovó mais sexy do mundo. — O advogado sorriu e abriu os apoios da bandeja colocando sobre o colo dela.
  — Melhorou, tirando a parte da vovó. Caraca, nutella e creme de paçoca logo de manhã, olha eu posso me acostumar com isso. — Agarrou os dois pequenos potes e uma colher sorrindo.
  — Tem outra coisa que eu quero te dar antes de ir para o trabalho. — %Henry% tirou uma pequena caixinha preta do bolso da calça social. %Mazie% ficou pálida e seus olhos se arregalaram, seu coração pulsava forte e um nó se formou a sua garganta. Não! Não podia ser o que ela estava pensando, eles já haviam conversado sobre não ter relacionamento sério e deixar as coisas rolarem.
  — O. Que. É. Isso? — Falou pausadamente.
  — Uma surpresa, amor. — Ele foi abrindo a caixinha lentamente, %Mazie% largou os potes e a colher e cobriu os olhos com as mãos.
  — NÃO! Eu não quero ver, não fala nada %Henry%. Não fala! — Suplicou enquanto %Henry% começou a gargalhar alto, escutando a risada escandalosa, abriu os dedos, confusa, olhando entre as frestas e viu dentro da pequena caixa um pingente de saturno, com o globo de prata e o anel do planeta de ouro.
  — Você precisava ver sua cara! — O advogado limpava algumas lágrimas que caiam, seus pulmões faltavam oxigênio e tinha um incomodo na barriga. Retirou o pingente da caixinha e uma gargantilha prateada do bolso da calça, juntou as duas peças, era lindo.
  — Eu deveria te dar um soco, mas essa gargantilha é tão linda. — %Mazie% suspirou fundo e relaxando a tensão causada pelo quase infarto.
  — Eu sei que você adora esse lance de planetas, estrelas e tudo mais. — Abriu o pequeno fecho e fez um sinal para ela se curvar.
  — Eu adorei, é maravilhoso. — Estendeu o pescoço para que %Henry% o colocasse e assim ele fez.

  Chega! Era tortura demais para uma noite só. Nada pode matar um homem mais do que sua própria mente e era exatamente isso que %Henry% sentia, podia sentir a dor matá-lo por dentro a cada frase, cada lembrança e cada imagem. Sua cabeça girava, sua visão era embaçada pela quantidade de álcool ingerida. Um banho! Ele precisa de um banho. Subiu as escadas e caminhou até o quarto, lá era onde ela se fazia mais presente, esse era o real motivo para dormia muitas vezes na sala. Apoiou-se no batente da porta e tirou a calça jeans e a cueca, deixando ambas as peças jogadas ao chão. Abriu o Box de vidro e ligou o chuveiro, a água era um refresco para o cansaço do corpo, entretanto sua mente ainda viajava pelo vale da tortura, levando-o para última vez que a viu.
  Estavam estirados na cama, tentando recompor a falta de ar nos pulmões e se acostumar com a ausência do toque um do outro. O quarto estava em silencio, diferente de poucos minutos atrás onde as paredes eram o limite dos gemidos e palavras sem nexo. Saciados. Essa era realmente a palavra certa, mesmo depois de quase um ano juntos o sexo ainda tinha gosto de primeira vez, porém dessa vez algo foi diferente. %Mazie% tinha os olhos fechados, saboreando o descanso e os músculos relaxados, %Henry% a observava, o peito subir e descer já lentamente e o rosto vermelho voltar a cor natural. Instintivamente a puxou para perto, fazendo com que ela deixasse em seu peito. Afagou os cachos e beijou o topa da cabeça da menina.
  — %Mazie%. — Chamou baixo.
  — Sim. — Ela respondeu quase em um sussurro.
  — Eu sei que eu não posso. — Começou a falar sem jeito, seu coração voltava a acelerar, mas agora o medo tomava seu corpo. — Mas, Porra! Eu não consegui.
  — %Henry%, não diga! — Ela pediu baixo e ele sentiu algumas lágrimas molharem seu peito.
  — Eu preciso dizer! — Um exército de sentimentos se formava dentro dele e entre todos os sentimentos estava o que ele menos queria. — Eu te amo, %Mazie%.
  O amor.

  Lembrou-se da solidão da manhã seguinte de acordar e não a ver ao seu lado. Saiu do banho, e pegou o roupão estendido no suporte ao lado do Box. Vestiu a peça e deitou-se na cama, não queria mais chorar, só queria ser o %Henry% forte quando o sol raiasse, relaxou o corpo ainda úmido e cochilou.
  Um sino irritante se misturava ao som da chuva impiedosa. Abriu os olhos e encarou o despertador que marcava cinco e quinze da manhã, mas novamente o sino tocou, era a campainha.
  — Maldição. — Esperava que alguém tivesse morrido para ter um ser a essa hora na sua porta. Os relâmpagos estrondavam forte enquanto ele descia as escadas. Suspirou fundo e olhou no pequeno olho mágico. Sua boca secou e sua mente ganhou um branco absoluto, fechou os olhos por um minuto e respirando fundo sussurrou:
  — Não seja um sonho, por favor. — Levou a mão na maçaneta dourada, abriu os olhos e girou. Ela estava toda molhada, seus jeans e sua camiseta estavam colados ao corpo, os cabelos escorridos e o olhar cabisbaixo. %Mazie% sorriu fraco.
  — Oi %Henry%, posso entrar?

Fim

Capítulo único
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