Aquele Que Nunca Sorri

Escrito por Stelah | Revisado por Lelen

Tamanho da fonte: |


   Nunca antes tinha visto tamanha beleza radiar assim, diante de meus olhos, mesmo que de tão distante. Não precisava frisar palavras para dizer o quanto o desejava – talvez fosse essa minha cegueira -, mesmo desvendando os sonhos que quando acordo somem com a noite, não veria seu rosto. Estava além de meus murmúrios noturnos e eu faria estar além de qualquer coisa.
  Era aquele que, sem exageros, era meu tudo mesmo sem dele ter nada. Aquele dos olhos pequenos e brilhantes – ele dizia ser verde, eu jurava que era azul -, da pele branca, beirando ao pálido, e do rosto quadrado de queixo simétrico que rompia qualquer simetria que pudesse ter o tal do meu autocontrole.
  Autocontrole, aliás, que aproveitou a deixa e, como os últimos estiveram fazendo, resolveu partir e me deixar aqui com esse problema estranhamente bom – pois desde quando não seria?
  E para manter um péssimo costume, sim, eu andei mentindo quando disse que ele nunca sorri. Pois ele me mostrou os dentes, de forma contida – claro, já que preferia sorrisos de canto - ao menos uma única e curta vez.
  Seu nome era Adne – fica mais estranho quando se lê alto e pela primeira vez -, morava em Berlin, tinha 23 anos – o que fazia de mim uma criança de apenas 15. Ele não parecia um cara legal, por mais que eu me esforçasse a pensar positivo, continuava achando que ele desligaria na minha cara. Estava mais para um jovem alemão com pôsteres do Hitler na parede, preconceituoso da minha parte e até hipócrita para quem tem livros com seu nome na estante.
  Mas quando ouvi as vozes de fundo falando em alemão – pensei serem seus pais ou colegas de quarto - algum medo me tocou, o que fica bem idiota agora só porque não sou ariana. É uma língua bonita, perdoem-me a brincadeira sem hora, acho que devíamos voltar a ele. Ah, ele...

***

  Devia estar com muitas abas abertas, pois eu o ouvia digitar, mas nunca, nunca era para mim. Certo, agora fora um exagero, mas se posso me apresentar agora, sou do tipo um tanto dramática.
  Então ele sorria um pouco, bem forçado, apoiava o rosto numa das mãos – o que quebrava a monotonia para a garota que não conseguia minimizar a aba - e começava a digitar algo. Eu não conseguia disfarçar, dava alguns chiliques discretos e continha minha boca de gritar, mas acabava sempre me esquecendo da webcam ligada.
  Finalmente era pra mim. Aquele meu inglês de merda que só me permitia dizer: "What?". Ele era um "durão" fofo usando o tradutor Google, confessou. O único não implorou por peitos, apelando por um "Big ****".
  Adne me fez bem, e me faz só de pensar. E eu realmente estive pensando – como você pode ler agora -, pensando no quanto seu rosto extremamente masculino que outrora me lembrava um soldado podia me fazer sorrir, me fazer sentir algo que acreditei as esperanças terem perdido, algo como o amor, algo forte como o que chamam assim.

FIM



Comentários da autora