Aquela do Jogador de Futebol

Escrito por Marcela Marche | Revisado por Mariana

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  - , aqui! - gritou um jornalista sorridente do lado direito. O jogador sentado no palanque debaixo de todos aqueles flashes acenou com a cabeça pedindo que continuasse. - O que você está achando da competição até agora? Estão dizendo que esta é a Copa das Copas!
  - Eu também acharia essa a Copa das Copas se estivesse enfiado na Vila Madalena enchendo a cara das nove da manhã até as duas da madrugada e rodeado de mulheres lindas como as brasileiras. - respondeu, fazendo a massa de imprensa a sua frente dar risada. - Já para a equipe é bastante pressão jogar em casa, mas eu particularmente tenho gostado muito dos jogos até agora.
  - O que você achou do cartão amarelo que... - Outro jornalista emendou, captando a atenção da maioria das pessoas do recinto, exceto à do jogador em si. tinha os olhos cravados na figura miúda e delicada que encontrava aos esbarrões um espaço bem à sua frente. Era , repórter do maior canal de esportes da TV fechada, e sua pedra na chuteira particular. A mulher estava encarregada de cobrir os jogos da seleção para a infelicidade dele, o que significava que, como sempre, uma onda de críticas e indiretas seriam despejadas sobre o mesmo. Ele não entendia, mas ela parecia ter um gosto especial por tirá-lo do sério. Talvez seu problema com o craque fosse pessoal, talvez ela só fosse amarga daquela forma mesmo. Fosse o que fosse, ele não pode deixar de bufar após responder de má vontade a última pergunta e vê-la com a mão levantada, o nariz arrebitado e o insuportável gravador vermelho em mãos.
  O assessor de fez um gesto para que ela prosseguisse, vendo que ele não faria por conta própria.
  - Há três jogos você não faz nenhum gol. Como se sente sabendo que existem grandes chances de o time afundar por sua causa? - Ela perguntou com um brilho astuto no olhar.
  - Não é sempre que a oportunidade se apresenta, mas eu continuo sendo o artilheiro do campeonato e estou seguro que farei o meu melhor no jogo de amanhã. - Ele respondeu, parecendo excepcionalmente cansado da provação que a mulher sempre o fazia passar.
  - O que você diz sobre os jogadores excelentes do time reserva que poderiam estar no seu lugar ajudando o time a vencer? - Ela continuou, sem sinal de que pararia tão cedo. Os outros jornalistas, já acostumados com a rixa da dupla, sequer tentavam intermediar ou impor suas próprias dúvidas.
  - Digo que eles podem trabalhar duro e um dia realmente irão merecer o meu lugar, mas que eu estarei trabalhando o dobro. - levantou uma sobrancelha, desafiando-a a dar o seu melhor.
  - Você está com 28 anos. Algum plano de aposentadoria? - Disse como quem se preocupa, ainda que o sorriso de escárnio não abandonasse seu rosto.
  - Sou novo ainda, existem jogadores ativos beirando a casa dos quarenta. - Ele ridicularizou, rolando os olhos.
  - Como se sente sabendo que o ex-técnico da seleção deu entrevista dizendo que não teria te escalado para o jogo de amanhã? - Ah, a fofoca dos últimos dias tinha que ser mencionada naquela Coletiva. Não havia ninguém mais sem escrúpulos que para fazê-lo.
  - Ele é ex-técnico por um motivo e eu estou grato pela equipe atual ter mais confiança no meu jogo.
  - Algum medo do técnico do Barcelona mudar de ideia sobre a sua contratação após se decepcionar com a sua performance na Copa?
  - Nenhum. A Copa impõe muita pressão, especialmente pelas críticas e pessimismo de alguns jornalistas, mas eu vou fazer o possível e o impossível para não decepcionar os brasileiros que acreditam em mim. - Rebateu, não contendo mais a boa politicagem, e levantou-se agradecendo aos presentes mecanicamente e dando o fora dali imediatamente.

  O juiz apita o início da partida. O adversário começa com a bola, mas isso não é problema para a seleção. Estão todos agitados e inflamados com garra e vontade de vencer depois de um discurso emocionado do capitão, e de escutar com orgulho e honra o hino do país. As arquibancadas estão abarrotadas de pessoas gritando seu nome, convocando-o a dar o seu melhor e fazendo tremer o chão do estádio lotado. Ele se sente confiante e capaz de cruzar o campo, desviar de todos os obstáculos e descer o pé contra a bola até que esta balançasse o fundo da rede do gol oposto ao seu. E é isso que procura fazer, a adrenalina quicando seu espírito e o impulsionando cada vez mais rápido para a frente. Toca para o companheiro à direita em uma jogada ensaiada, e o observa cruzar a sua diagonal, sabendo que precisa contornar o zagueiro armário no meio do caminho e chegar na grande área a tempo de pegar o passe e mirar no ângulo entre trave e travessão. Ele pisa em falso confundindo o oponente e lhe dá as costas ultrapassando-o. Está agora na cara da vitória. Apenas ele e o goleiro, e toda uma população segurando o fôlego. A bola está se aproximando como esperado, ele puxa o pé para trás pegando impulso, e:
  - GOOOOOOOOL! - A multidão agitada grita a plenos pulmões ao seu redor.
  Ele está momentaneamente surdo, cego e mudo com a realização e precisa encher os pulmões para comemorar junto.
  O ar se esvai.
  Uma mancha aparece na sua frente.
  O esbarrão inevitável.
  A dor excruciante na coxa esquerda.
  Ele cai no chão, imóvel e agonizante.
   curva o pescoço para poder olhar o ferimento. O músculo da perna está contraído de todos os jeitos errados, e uma grande marca de cravos de chuteira estampam sua pele junto com a sujeira de terra e grama. Ele sente o rosto molhado de outra coisa que não suor. Lágrimas. O jogo estava acabado para ele.
  O médico da equipe faz sinal para o juiz e uma maca invade o campo pronta para retirá-lo dali.
  Seu técnico tem os lábios pressionados, lamentando a perda do melhor jogador, mas tão logo se permite compaixão já se vira para o banco de reservas berrando instruções para aquele que iria substituí-lo.
  Ele escuta a discussão da equipe ao seu redor considerando a necessidade de levá-lo a um hospital. Todos parecem concordar que não é necessário naquele momento e apenas o carregam até o vestiário.
   se senta em uma maca no canto do lugar. O fisioterapeuta e o médico estão à sua frente, e ambos parecem impacientes. Eles murmuram uma coisa ou outra olhando para a coxa do rapaz, e logo colocam em suas mãos uma grande sacola de gelo e uma pomada anti-inflamatória.
  Eles deixam o vestiário listando instruções. A desculpa dos profissionais é que o machucado do craque pode esperar, mas é possível que mais alguém seja ferido, e eles precisam estar a postos para o caso de acontecer.
  "Besteira", pensa. Só querem ver o fim do jogo. Mas ele suspira e, sem opção, pressiona a compressa gelada por cima do músculo pinçado.

  "Outch!", pensou ao observar a feição de dor estampar o rosto do artilheiro da seleção. Ela estava no estádio, na parte exclusiva para imprensa assistindo ao jogo e anotando todos os comentários que pudessem ser utilizados posteriormente para infernizar os jogadores nas entrevistas. Bom, não todos eles, mas um em particular.
  - ! - Escutou a voz do chefe chamar. Respondeu prontamente. - Você vai atrás dele no vestiário. Não perca o de vista!
  - Mas, senhor, ele não está mais jogando, o que importa...? - Tentou argumentar, não querendo perder o resto do jogo acirrado para acompanhar o bebê chorão.
  - Quando o jogo acabar, todos vão querer saber o estado dele. - Explicou. - Nós teremos isso em primeira mão. Agora anda, some daqui!
  Contrariada, ela se levantou do assento confortável, passou o crachá no pescoço e procurou as escadas que a levassem até a plataforma inferior ao campo. Sabia que teria que driblar um ou outro segurança no caminho para conseguir chegar até o local onde acreditava que estava sendo atendido, mas isso nunca lhe foi problema. Não havia quem atrapalhasse o caminho de .
  Ao menos, não mais.

  - Nossa, achei que você fosse estar rodeado de gente babando o seu ovo. O que aconteceu? Eles perceberam que não vale a pena?
  - Olha, , agora não, tudo bem? Eu to sem cabeça e com dor demais pra lidar com você agora.
  - Tadinho do bebezão.
  - Sabe, , você não faz o menor sentido. Insinuou na coletiva que eu estava velho e devia me aposentar e agora me chama de bebê.
  - Eu não quero ser coerente, eu só quero te encher o saco.
  - Que pena, porque agora eu já to bem farto de você pra ter que te aguentar calado.
  - Engraçado, foi exatamente a mesma coisa que eu disse para mim mesma há alguns meses, quando fui te entrevistar pela primeira vez.
  - Como assim?
  - Nada, você não entenderia. - Ela abanou o ar, fazendo pouco caso da pergunta dele. - E então, o que aconteceu com a perna do menino de ouro? Tem conserto? - Ele suspirou sabendo que não adiantaria bater de frente com ela para questionar o sarcasmo e apelidos agressivos.
  - Músculo distendido. Nada que valha mais a pena para a equipe médica aparentemente do que saber se ganharam o bolão do jogo. Eu perdi uma das partidas mais importantes da minha carreira, e eles nem se preocuparam em me dar a porra de um analgésico. - Explicou com uma careta de dor. Malditos cravos da chuteira.
   olhou bem para o jogador, tão vulnerável como ela nunca o tinha visto. O incômodo na perna deveria estar realmente insuportável. Sentiu a irritação constante que tomava seu corpo quando ele estava perto esvanecer, dando lugar à compaixão. Aquele ali sofrendo não era o idiota que ela preferia ver morto. Era só uma pessoa frustrada com dor.
  Sentou-se ao lado dele e empurrou de qualquer jeito a bolsa de gelo para o lado, dando um pequeno tapa na mão dele.
  - O que você quer? - Ele perguntou sem entender.
  - Meu pai é fisioterapeuta. Eu posso ajudar, se você colaborar e ficar calado. - Resmungou então puxando o calção dele até o topo da coxa e analisando o vermelhão que ele tinha ali. Ele ia ficar bem, mas enquanto o músculo não soltasse aquilo ia doer como o inferno. Infelizmente pra ela e felizmente pra ele, ela sabia como relaxar o músculo. suspirou perguntando-se porque estava fazendo aquilo, e posicionou as mãos abertas com os dedões juntos em cima da parte lesada, para então começar a massagear.
  Com um pouco de atrito o nódulo se desfaria e o músculo voltaria para o lugar, cessando em pelo menos oitenta por cento a dor que ele sentia.
  Embora o choque térmico entre as mãos quentes dela e o local gelado por conta da bolsa de gelo já fosse fonte de imenso alívio para o artilheiro por si só, era de se admirar a precisão e delicadeza com que ela manejava o ferimento. sentia pontadas horríveis quando os dedos dela pressionavam o nódulo doído, mas assim que deixavam a sua pele o conforto que o tomava fazia com que grunhidos espontâneos saltassem de sua garganta.
  O músculo estava um pouco pior do que previra, mas o jogador estava se mostrando tão agradecido que ela sentiu um orgulho bobo inundá-la por ser a causadora do bem estar dele, e com isso, quis fazer o melhor trabalho que pudesse. Mas massagear a coxa farta do homem malhado exigia certo esforço físico, de modo que ela já sentia calor pela força que precisava aplicar. Mas resolveu que isso não a pararia, e quem sabe assim, quando ele estivesse consertado, ficaria devendo algo a ela. Puxou as mangas da camisa social até o cotovelo e abriu um ou outro botão para que o colo respirasse. Então abaixou-se à frente dele, que estava sentado no banco do vestiário, e voltou os movimentos das mãos.
  Ela precisava colocar todo o peso do corpo sobre os braços se quisesse ter chances de realmente desfazer aquele nó. E estava tão compenetrada em fazê-lo, que não percebeu o olhar do artilheiro direcionar-se precisamente na abertura do decote dela.
  De onde estava, tinha visão privilegiada, ainda mais depois de dois botões terem sido tirados de suas casas, e do esforço que ela fazia na sua perna, que apenas acabava por empurrar os montes redondos e lisos ainda mais pra cima, ou ainda mais um contra o outro. Ele estava hipnotizado.
  Ademais, sua concentração em resolver o problema não levava em consideração o local onde o ferimento se encontrava, de forma que a jornalista mais de uma vez esbarrava as costas da mão na virilha do rapaz.
  E foi a combinação de todos os fatores - alívio da dor, seios hipnóticos, e carinho íntimo - que fizeram ficar animado.
  Contra a sua própria vontade, para deixar claro. Mas ficou. Sentiu-se endurecer perto demais de onde o rosto e as mãos da mulher que mais o tirava do sério estavam.
  Por alguns segundos, ela ainda continuou alheia ao que estava acontecendo. Até sua visão periférica captar uma elevação suspeita no calção de .
  Ela parou o que estava fazendo aos poucos, absorvendo a nova informação. O nódulo estava já completamente amaciado e voltava para o lugar. caiu sentada sobre os calcanhares, ainda de frente para o homem que a olhava sem reação, com cara de quem não sabe o que fazer.
  - Eu... Desculpe por isso. - Tentou, temeroso de que ela começasse a berrar a qualquer momento.
  - Eu... Acho que tudo bem. Sua perna está melhor?
  - Sim. Obrigado, você realmente resolveu esse problema. - não tinha a intenção, mas na mente dos dois piscou que havia um outro problema a ser resolvido, e um que ela definitivamente tinha a capacidade de resolver também.
  - É. Bom, é melhor eu... - apontou com o polegar para trás de si, como se dissesse que ia embora, por mais que a saída ficasse do outro lado do cômodo. Se levantou ainda atordoada atrás da bolsa, mas não chegou a dar dois passos antes de ouvi-lo chamar atrás de si.
  - , espera. - Ele pediu, segurando-a pelo braço para que se virasse novamente. Ela engoliu em seco, sabendo que nada que prestasse poderia ser dito depois da despedida, mas resolveu arriscar.
  Nenhum dos dois entendeu o que se passou ali, naquela troca de olhares. Ninguém conseguiria explicar. Foi uma mistura de suplício misturada com incerteza e vontade. E no instante seguinte o baque da bolsa escapando de seus dedos pode ser ouvido, enquanto eles se agarravam no pescoço do jogador.
  As bocas se chocaram, sedentas pela troca de gostos e descobrindo um ritmo só deles. a enlaçou pela cintura, levantando-a na ponta dos saltos para que ficassem na mesma altura. Ele sugava os lábios doces da jornalista com devoção e fome, e ela respondia com puxões de cabelo e mordidas nada sutis que apenas o faziam endurecer mais contra o ventre dela.
  O restante dos botões de não viram clemência e logo o jogador achou um caminho delicioso para os famosos peitos hipnóticos entre chupões e sugadas enquanto se apoiava em sua barriga lisa.
  Impaciente, a mulher o empurrou longe para que pudesse arrancar qualquer pedaço de pano que escondesse o corpo tenso e trabalhado dele, que não se mostrou mais calmo ao arrebentar o fecho da calça social dela em sua busca por contato entre as peles.
  Segurando o quadril estreito, deu o impulso necessário para que pudesse enlaçá-lo com as pernas, e se jogou sobre o mesmo banco, agora com ela esfregando-se sobre si, muito excitada para aguentar parada os beijos lânguido que ele distribuía por seu pescoço em direção à orelha.
  Ele já aguentava aquele estado de rigidez há tempo o bastante para que soubesse que esperar não era uma opção. Por isso, afastou a calcinha de renda que ela usava para o lado, aproveitando para friccionar com dois dedos o clitóris inchado na velocidade mais frenética que conseguisse, até que ela mesma dissesse chega e tirasse o membro dele para fora da boxer.
  Não houve tempo para segurar a respiração antes de enterrar-se no paraíso molhado que era o meio das pernas dela. Eles suspiraram em conjunto, e uniram as bocas em mais um beijo descontrolado enquanto movimentavam-se um de encontro ao outro em busca de mais prazer.
  Ele tinha então descoberto um novo vício, de onde não conseguia tirar as mãos: a bunda de ; que por sua vez estava infinitamente indecisa sobre onde deixar as mãos, que acabavam passeando por todas as elevações de músculos que encontrava pelo caminho: costas, peitoral, braços, ombros, abdômen. Parecia-lhe justo que um músculo a tivesse levado até ali, e portanto que os outros a compensassem com igual devoção.
  E eles o faziam, contraindo cada vez mais sobre suas palmas, provando a boa forma física do jogador, fazendo valer os treinos incessantes que ele performava pela seleção e, antes, pelo clube que o tinha contratado.
  A cada novo levantar de em seu colo, fazia questão de puxá-la de volta com força, chocando seus quadris com intensidade e sendo agraciado pela mais deliciosa das reboladas. Ele tinha cada lado de sua bunda em uma mão, o maxilar entre os dentes e a respiração quente dela no ouvido quando se sentiu perto demais do limite e se viu levantando inconscientemente e pressionando a mulher contra uma fileira de armários para então estabelecer um ritmo enlouquecedor capaz de tirar de uma vez por todas os dois de órbita. Ela precisou enfiar os dedos na boca enquanto tremia inteira e deixava o corpo entregar-se a um orgasmo arrebatador, sendo seguida de perto pelo craque que liberou-se aliviado nas paredes internas dela ainda em contração.
   largou a cabeça contra a porta de ferro atrás de si e fez um carinho mole nos cabelos do jogador enquanto se recuperava, e ele aproveitou para encostar a testa ali também, agradecendo a temperatura mais baixa do móvel.
  Um apito foi ouvido ao longe e o grito de uma multidão o seguiu. Só então os dois se deram conta de que o jogo deveria ter acabado e que em breve aquele vestiário estaria lotado de marmanjos suados com sorrisos nos rostos ou lágrimas nos olhos. Trocaram um olhar alarmado antes de se desvencilharem, cada qual correndo para um canto e se vestindo tão rápido quanto possível.
  Não houve espaço de tempo suficiente para considerar se despedir com um beijo ou pegar um número, evaporou do cômodo praticamente segundos antes dele ser invadido por uma massa de pessoas em clima de comemoração pela partida da qual ele não tinha ideia do resultado.

  - Eu vou falar com essa mulher e eu vou falar agora! Saia da minha frente ou eu chamo meu assessor de imprensa e ele vai arrumar o maior... - tinha a voz elevada e o rosto vermelho e ameaçava a recepcionista da sede do canal como se a culpa de sua raiva fosse dela.
  - Deixe-o entrar, Loraine. - cortou aparecendo no corredor e logo fazendo um sinal para o jogador nervoso entrar na sala atrás de si.
  Ele passou por ela bufando como um touro, e logo ligou o tablet no último vídeo que estava em exibição, dando play. A voz de se fez ouvir pelo aparelho em sua mais recente matéria sobre a Copa.
  "- O artilheiro da seleção revelou à Sport TV em exclusividade que não confia no tratamento médico cedido aos jogadores. Após ter seu músculo da coxa esquerda distendido na última partida, o craque foi negligenciado pelos responsáveis pela sua saúde, não apenas não recebendo tratamento imediato como sendo deixado sozinho no vestiário agonizando em dor enquanto os profissionais que deveriam medicá-lo voltavam ao campo para assistir ao restante do jogo."
  - Que porra é essa, ? Eu te disse isso em confidência e não em uma merda de uma entrevista! Tem noção do fuzuê que tá rolando nesse momento? Tem torcedores acampados do lado de fora do meu hotel exigindo que alguma postura seja tomada pela equipe técnica para que nossos médicos e fisioterapeutas sejam trocados. - Exclamou, o nervosismo aparente.
  - Alguém tinha que fazer alguma coisa a respeito! Eu não disse nenhuma mentira, e se você quer saber, foi bem feito te jogar no olho do furacão. - Ela cruzou os braços, segura de sua atitude.
  - O quê? Você está louca, mulher? De novo essa historinha de eu "merecer" quando você é horrível? O que infernos eu fiz pra você ter tanto ódio assim por mim?
  - Você foi um grosso na primeira vez que eu te entrevistei, assim como está sendo agora! - fechou os olhos e apertou as têmporas. Sabia que tinha algum motivo.
  - O que eu te disse? - Quis saber.
  - Disse pra eu cuidar da minha própria vida, que não estava com paciência pra lidar com gente da minha laia, e que eu era uma mal comida que nunca chegaria a lugar nenhum na vida. - Ela ditou com amargura, lembrava-se de cada sílaba proferida por ele naquele dia.
  - Era você? - Perguntou com os olhos vidrados, não acreditava que tinha feito aquilo com quem não merecia. - Meu Deus, , me desculpa! Tinha uma repórter de um programa de fofocas me seguindo naquele dia e inventando um monte de mentiras sobre a minha vida amorosa, e eu devo ter achado que você era ela! - Ele se aproximou da jornalista que tinha feição magoada pegando suas mãos entre as dele. - Eu nunca diria aquilo pra alguém sem um motivo. Eu sinto muito mesmo. - Ela amoleceu com a sinceridade do homem. Sempre tinha achado estranho ele lhe ter dirigido aquele comportamento sendo que era sempre tão gentil com as pessoas ao seu redor.
  - Eu... Tudo bem. Você só se confundiu. E eu acho que também te devo desculpas pela matéria. - Pediu, amuada. - Mas eu não vou retirar nada! - Acrescentou. - Aquela equipe médica bem que merece ser questionada. Se eu não soubesse ajudar, você teria ficado com aquela dor insuportável por mais incontáveis minutos por incompetência deles. - Ela reclamava inconformada, o que apenas fez um sorriso contido aparecer no rosto do homem.
  - Sabe, acho que eu não vou te desculpar. - Disse, arteiro.
  - Como não?
  - Só desculpo se você aceitar sair comigo.
  - Em um... Encontro? Você está louco? A gente se odeia!
  - Odiava... Agora já foi tudo esclarecido, não foi? Vamos lá, , eu sei que você quer.
  - Se você só quiser repetir o que aconteceu no vestiário eu...
  - Não quero. Eu quero conhecer a verdadeira , que não grita comigo por motivo nenhum e nem questiona cada um dos meus passos. Pode ser? - De sobrancelhas erguidas, o artilheiro simulava o olhar pidão de algum desejo animado, e ela achou aquilo encantador.
  - Nesse caso acho bom avisar que essa tem uma leve quedinha por um jogador aí.
  - Acho que eu posso lidar com isso. - Ele piscou, então alcançando uma caneta em cima da mesa para que ela escrevesse em letras grandes o número de seu telefone no braço dele. Ele sorriu aberto, recebendo uma repuxada de lábios contrariada. Roubou um selinho e saiu pela porta rapidamente antes de escutá-la gritar um "Ei!" indignado.

   estava em Mônaco, encerrando a última temporada da Fórmula 1 da qual faria cobertura antes de ganhar as merecidas férias para dar atenção à coisinha que crescia em sua barriga. Após aquela última corrida ela poderia voar de volta a Madrid, onde estava sua residência fixa, e passar seus dias aproveitando o sol delicioso da Espanha enquanto assistia seu maridão treinando sem camisa com os companheiros do novo time, o Real Madrid.
   tinha saído do Barcelona depois que seu treinador o havia pedido para dar uma declaração à imprensa sobre a qualidade da equipe técnica do clube. Aparentemente, sua denúncia acidental sobre os médicos da seleção na Copa de dois anos atrás o havia deixado com fama de sincero e sem papas na língua, e agora todas as suas declarações eram consideradas a ferro e fogo. Mas ele não gostava que se aproveitassem dessa sua fama, como o antigo time queria fazer, então achou por bem aceitar a proposta do Real. Além do que, no contrato eles lhe cediam uma casa belíssima em um bairro residencial da cidade, onde ele podia perfeitamente imaginar o crescimento e prosperidade de sua família.
   apoiou sua decisão, como sempre fazia quando ele agia com o coração. Passou a incentivar que ele demonstrasse seus sentimentos, depois de descobrir a pessoa maravilhosa que ele na verdade era. Sempre alegre, solícito com os fãs, e fiel, o craque era tudo que um dia ela havia sonhado quando iniciou a carreira no futebol. Hoje, preferia se manter longe desse nicho específico do jornalismo, pois era de conhecimento público seu relacionamento e os dois concordavam em cuidar de sua privacidade.
  Mesmo assim, o jornalismo era sua paixão, e não iria largá-lo tão cedo, mesmo com aquela breve pausa para ter seu bebê. não podia negar que ela executava seu trabalho com maestria, lembrando-se sempre de histórias engraçadas sobre as brigas constantes que costumavam ter durante entrevistas.
  Ele só pedia que ela não fosse mais visitar nenhum esportista no vestiário.
  Afinal, aquele sempre seria o lugar deles, e assim havia de permanecer.

FIM



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