Apocalipse
Escrito por Arcanjo Winchester | Revisada por Naty
Capítulo 01
- – chamou , o doutor da escola. Até hoje não me acostumei com a ideia de ele ser um médico tão renomado com tão pouca idade. Sem pestanejar, passei minha mochila no ombro esquerdo e entrei na sala fechando a porta.
- Como vai minha aluna favorita? – ele disse puxando a cadeira para eu me sentar.
- Adivinha? – sorri ironicamente.
- Se não me falha a memória e se eu me basear nos resultados anteriores, creio que sua semana foi cansativa, tediosa e depressiva. – se sentou.
- E o prêmio de um milhão e meio vai para... – fiz suspense – Doutor .
- Já disse que não precisa me chamar de doutor – pegou uma pasta – Vamos começar, tudo bem? E o sono, já está conseguindo dormir à noite com a ajuda dos remédios?
- Acho que essas olheiras respondem essa questão.
- Então podemos aumentar a dose – anotou em um papel – Os demais remédios você continua tomando, estou correto?
- Sim.
- Explique-me como você se sente, .
- De novo isso? – ele me encarou sorrindo – Tudo bem. Não vou com a cara de ninguém dessa escola, a não ser os únicos dois amigos que tenho. Por mim, deitaria na minha cama e ficaria lá para sempre, sem comer, beber. Meu rock clássico na trilha sonora. Eu já disse, não sei explicar... É uma sensação de...
- Não querer viver mais – me completou.
- É – abaixei a cabeça com tristeza ao admitir aquilo pela primeira vez – Eu acho que isso já resume tudo, não é?
se levantou e sentou-se sobre a mesa de frente para mim.
- , seu avô e sua avó estão fazendo de tudo para te fazer feliz. Ninguém gosta de te ver sofrer deste jeito. Você precisa abrir seu coração para as alegrias da vida, ficar trancada dentro de casa o dia inteiro só piora sua situação. Perder os pais com 17 anos não é nada fácil, mas a vida precisa continuar.
- Eu sei que precisa, , mas eu não quero, não tenho motivos.
- Mas prometa que vai tentar. Mudar não é fácil, e você sabe que tem meu total apoio, .
- Tudo bem, eu prometo – passei a mochila novamente em meus ombros.
- Espera, aonde você vai? Ainda não acabamos por hoje – disse.
- Esse é o meu jeito, não vou mudar. Acredite, é mais fácil me aceitar que tentar me mudar.
Bati a porta e sai correndo pelo corredor já vazio da escola. Desci as escadas do enorme colégio do centro da cidade e do lado de fora vi Edmmundo e me esperando escorados no banco privilegiados pela sombra.
- Saiu mais cedo por quê? – perguntou Ed.
- Estou cansada de repetições. Vamos? – eu disse apontando o carro.
Ed sempre nos dava carona após a escola e depois de quando saíamos, na época em que eu me divertia.
Cheguei em casa e como de costume, joguei a mochila em cima da cama junto com as meias e o restante da roupa. Vesti-me do meu jeito, como uma condenada a toda preguiça do mundo e apressei-me para chegar na cozinha onde encontraria a melhor comida do mundo. Meus pais morreram há quase um ano num acidente aéreo que abalou o país. Desde então, moro com minha avó Margareth e meu avô John.
- Bom dia, minha querida, como foi na escola? – disse minha avó trazendo a panela para a mesa.
- O mesmo de sempre. Cadê o vovô?
- Foi comprar os remédios na farmácia, mas já deve chegar.
Assim que almocei, me tranquei no quarto com um livro, um celular com músicas ótimas e horas para se passarem sem nada para fazer.
Surpreendi-me quando recebi uma mensagem de um número não conhecido com a seguinte mensagem: , preciso conversar com seus avós. Fiquei preocupado com a sua reação hoje, estou aqui para te ajudar.
Deduzi que fosse do . Desliguei o celular e voltei à leitura. Li metade do livro até vovó bater na porta e a sombra de duas cabeças se refletiram na parede: Ed e .
- Vamos, , New Orleans tem muito a oferecer – disse se jogando na cama.
- Está passando um filme muito legal hoje no cinema e eu, você e a vamos assistir – se jogou do outro lado Ed.
- Na boa, galera, vocês sabem que eu amo vocês, mas não vai rolar.
- Campbell, isso não é um pedido, é uma ordem! O filme começa em 1h30 e você vai conosco. – Ed me arrastou para fora da cama.
- Edmmundo e , meus queridos e amáveis amigos que dentro de segundos se tornarão inamáveis, eu não quero. Hoje o dia não foi bom e tenho que estudar.
- Estudar? Garota, você tem tanta nota que se fosse distribuir dez pontos para cada aluno da escola, não lhe faria falta. – disse .
- A minha resposta é não! Não vou! Não quero! – Virei as costas e mergulhei no livro novamente.
- É, Ed... Falhamos mais uma vez. Tudo bem, , nós tentamos, mas já que você quer assim, vamos respeitar.
Os dois me deram um abraço de despedida e logo pude relaxar novamente. Ouvi o barulho do carro do Ed se escoando pela rua. Quebrando o silêncio que havia planado no local, escutei o barulho de um carro parando em frente de casa.
- , você tem visita - disse meu irmão Jack.
Jack é meu único irmão e é cinco anos mais velho que eu. Não sei dizer se Jack já superou tudo, mas demonstra que sim. Ele faz medicina e passa a maior parte do tempo na universidade. É lindo, com olhos verdes que contrastam com o cabelo moreno e a pele clara. E sim, é óbvio que ele é rodeado de garotas perfeitas.
- Eu acho que preciso ensinar o que é “não” para aqueles dois! – disse bufando.
- Sou eu, – disse tímido entrando no ambiente.
- ? – pulei da cama surpresa com a visita – O que você está fazendo aqui?
- Eu vim ver como você está. Sua reação hoje na escola me deixou preocupado.
- Isso é realmente sério? Já sei, você veio aqui porque se atender os alunos em casa receberá hora extra?
- Estou fora do meu período de trabalho e não vim aqui por isso. Vim por sua causa, olhe-me como um amigo que quer te ajudar.
- Está bem, minha avó foi falar com você, não foi? Ela já foi dedurar que não estou tomando os remédios e não est... - me interrompeu.
- Não, , ninguém me pediu para vir aqui, eu vim por minha vontade. Espera aí – ele se sentou do meu lado – você parou de tomar os remédios?
- Parabéns para mim – disse decepcionada pela idiotice cometida.
- , você está fazendo tudo errado. Você precisa mudar seu jeito de ser, senão... Será esse mar de amargura para sempre? Já imaginou viver essa tristeza sozinha até seus noventa anos?
- Não se preocupe, Doutor, não pretendo viver tudo isso.
- Isso é o que mais me preocupa em você. Você não quer viver. Há quanto tempo não sai para relaxar um pouco? Você sabia que as pessoas ficam insanas se exiladas por muito tempo?
- Hm... Legal – ignorei.
- ...
- O que foi?
- Já volto – Disse saindo pela porta do quarto.
Peguei meu cobertor vermelho, praticamente a única cor naquele local pálido e me escondi debaixo dele. Espero que isso sirva como um sinal de alerta de “não quero conversar.”
- Vamos - disse me assustando ao tentar arrancar a coberta de cima de mim, mas continuei firme e não soltei.
- Deixem-me em paz!
- , você vai levantar dessa cama e nós vamos sair um pouquinho.
- O quê? Até você? Não! Vai embora, !
- Eu só saio daqui com você – ele ainda tentava tirar a coberta de mim.
Depois de tanta birra por ambos os lados, ele conseguiu arremessar minha coberta para o outro lado do quarto.
- Não me faça te tirar a força daí – disse ele bufando.
tem um corpo definido, que só pude perceber agora por ele estar descoberto do jaleco de médico e das camisas sociais. Nunca o vi fora da escola, mas confesso que tem estilo, estilo de macho alfa. Não sei de onde tirei essa frase, mas acho que serviu bem. Seu cabelo negro não estava comportado como de costume, mas todo repicado com um galã de cinema. Calculando bem, acho que ele conseguiria me arrastar para o outro lado do mundo com um só puxão.
- Eu não vou sair daqui. Tchau, .
- hm... Você não vai mesmo? Certeza? – ele fez cara de pensativo.
- Não!
E assim surgiu a certeza de que esta foi a pior palavra que pude falar em toda minha vida.
avançou em cima de mim, grudou nas minhas pernas e me puxou para a lateral da cama, mas antes, pude segurar na cabeceira e ali fiquei grudada como um gato evitando o banho. Ele mudou de posição e agora me agarrou pela cintura. Não resisti ao quarto puxão e vi a cabeceira se afastar de minhas mãos. me jogou por cima de seu ombro e me carregou pela casa como se fosse um homem das cavernas.
- Espera – gritei depois de perceber que minhas tentativas foram em vão – Eu preciso trocar de roupa. Não quer que eu saia por aí vestida desse jeito.
Ele então me colocou no chão e vi minha família toda ali na sala rindo da situação.
- , desencana. Vá se divertir um pouco – disse meu avô.
- Tudo bem - eu disse fingindo concordar com a situação – Eu só preciso de alguns minutos para me arrumar. Espere aqui, .
sentou-se na sala e ficou conversando com meu irmão. Aproveitei o momento de distração para ir até o quarto de Jack, ao lado do meu, no terceiro andar da casa. Abri a janela com cuidado e passei meus pés para o lado de fora. Estudei a descida e arrisquei-me chegando até o chão de uma forma ninja, mas o portão me entregou quando o abri, rangendo como trovão. Ouvi meu nome ser chamado e deduzi que era hora de correr. Corri muito e antes de virar a esquina, vi e meu irmão correndo atrás de mim. Ao virar a segunda esquina, trombei com um homem e derrubei uma esfera vermelha que reluzia no chão. A quebra da bola fez uma fumaça vermelha vir em minha direção.
- Desculpa, moço. Eu preciso ir. – disse e saí correndo lamentando pelo ocorrido.
Corri até a praça e lembrei-me do esconderijo embaixo do coreto. É um lugar para guardar as ferramentas para cuidar do jardim e quando era criança, escondia-me ali. Abri aquela portinha e me enfiei naquele pequeno espaço escuro. Agradeci por não ser claustrofóbica. O tempo estava passando e minha respiração estava curta devido ao ar rarefeito. Minha testa estava molhada de tanto suor.Resolvi abri um pouco a porta para respirar um pouco, mas logo fechei quando vi que os dois se aproximavam da praça.
Depois de muito tempo, não sei quanto, mas já não aguentava as dores nas costas e decidi sair. Estava tudo limpo. Apenas algumas pessoas por perto e os carros nas ruas, mas nada do meu irmão e do doutor idiota.
Corri por mais algumas ruas até parar e refletir sobre o que estava fazendo. O que eu estava fazendo? What the hell? Eu tinha que arrumar um local seguro para ficar. Lugares tinham, mas não eram seguros. Depois de pensar muito, decidi que deveria vagar por toda à noite até o sol chegar. É hora de fazer um tour por New Orlens. Fui me distanciando do centro e só percebi, quando olhares me observavam de forma diferente. Aquele bairro era barra pesada, famoso pelo tráfico de drogas. Não é normal uma garota de 17 anos estar sozinha, que não é drogada e prostituta estar andando por essas bandas esta hora. Para falar a verdade, eu nunca deveria ter vindo aqui. Dei meia volta e decidi voltar, mas acho que era tarde demais. Cinco homens mal encarados começaram a me perseguir e cada vez mais estavam próximos. Tomada pelo medo, comecei a correr. O farol de um carro apontou na esquina e agradeci soltando fogos quando percebi que era o carro do meu irmão. Abri a porta e saltei no banco traseiro travando as portas.
- Vamos sair daqui.
Jack pisou no acelerador e saiu cantando pneu. Assim que chegamos em casa, entrei batendo o pé e me tranquei no quarto.
Ouvi Jack telefonando para avisando que eu já estava em casa e que provavelmente queria ficar sozinha.
Jack bateu na porta do meu quarto, mas neguei-me a abri-la. Preciso ficar sozinha, no silêncio. Um banho e um sono profundo resolverão tudo.
Capítulo 02
O despertador infeliz me acordou naquela manhã. O pior era saber que teria que me trocar e ir para a maldita escola e provavelmente aguentar dando um sermão. Foi terrível sentar na cama e perceber que já cedo minha cabeça doía tanto. Abri a gaveta, peguei uma roupa e vesti as meias nos meus pés. A fome tomou conta de mim e deixei tudo para depois. Abri a porta do meu quarto e projetei meu corpo para chegar o mais rápido na cozinha, mas fui obstruída pelo corpo do meu irmão.
- Bom dia, , como você está? Precisamos falar sobre o que você fez – ele disse tentando impedir meu caminho.
- Não enche! – desviei-me dele e me sentei à mesa.
Seria bom de mais se um novo dia começasse e ninguém ficasse me encarando, mas foi isso que aconteceu. Vovô e vovó preferiram o silêncio, mas o olhar de pena que jogavam sobre mim era a pior punição. Enchi a xícara com café e dei uma golada profunda sentindo toda minha boca queimar. Olhei novamente a mesa e senti meu estômago embrulhar, não entendi o acontecido devido a minha fome minutos atrás. Os cheiros do ambiente aumentaram minha dor de cabeça e agora meu estômago sentia-se livre para imaginar que meu interior era um picadeiro e ele poderia dar quantas cambalhotas quisesse. Puxei a cadeira e saí o mais rápido da cozinha. Fui até o banheiro e encarei a privada com repreensão. Agachei-me mais próxima a ela e não pude controlar o vômito repentino. O líquido vomitado parecia sangue e senti meu coração acelerar. Apertei a descarga e me encarei no espelho, meu rosto estava pálido como roupa de médico.
- , está tudo bem aí? – perguntou minha avó.
- Está. Só estou escovando os dentes.
Ouvi os passos dela se distanciando e respirei com alívio. Ainda de frente com a pia, abri a torneira e joguei uma água bem gelada em meu rosto. Sequei e fui para o meu quarto terminar de me arrumar. Arremessei o meu material preciso naquele dia que seria biologia, química e matemática e fui correndo até a porta de entrada, abri vagarosamente e saí trilhando meu caminho rumo á escola.
- Espera, , hoje você não quer carona? – disse Jack parando o carro ao meu lado.
Eu andei o mais rápido possível, saí sem fazer barulho e mesmo estando à três quarteirões da minha casa, Jack aparece.
- Não – apertei os passos.
- Por que não? Para de birra, e entra logo aqui. – Jack abriu a porta do carro e eu parei para encarar a oferta.
- Assim que eu entrar neste carro, você vai querer discutir o que aconteceu ontem, mas acredite em mim, não quero falar nada sobre isso.
- Eu juro, vou ficar quieto até o caminho da escola, sem tocar no assunto.
Como Jack era um homem de palavra, eu acho, confiei nele e entrei no carro. Como prometido, ele foi até a escola sem falar nada, total silêncio.
- Tchau – saí do carro.
- Só um aviso, o caminho da escola acabou – ele deu um sorriso irônico e acelerou.
Que droga! Prevejo eu chegando em casa e levando uma bronca enorme. Droga! Droga!
Que ótimo, minha querida escola amarela, ou também zoológico amarelo. A escola de New Orleans conhecida pela qualidade e tradição estava repleta de idiotas, mas havia suas exceções, como eu, , Ed e mais alguns nerds legais de cada sala. Ou seja, estava repleta de idiotas com líderes de torcida vadias, jogadores de basquete e futebol vadios também.
- Por que se atrasou hoje? – disse .
- Problemas. Depois eu conto.
- Meninas, vamos porque o sinal já bateu – apressou-nos Ed.
Entramos na sala e o professor chegou logo em seguida.
- Abram na página 128. Quero que leiam com atenção porque depois responderemos oralmente aqui na sala e para casa quero essas 15 lindas questões de biologia respondidas como lição de casa amanhã em cima da minha mesa. A partir de agora, vocês têm 30 minutos.
Que ótimo, nada melhor do que começar o dia com seu professor na TPM. Nathalie Tokin, mais conhecida como Naty, a líder de torcida, sentou-se atrás de mim e irritantemente começou a chutar minha cadeira, provocando distração na minha leitura.
- Dá pra parar? – sussurrei para não chamar atenção.
- Não, não dá, queridinha.
- Você não entendeu - sorri sarcasticamente – eu mandei você parar – aumentei o tom de voz e o professor deu uma olhada encarando a situação, mas logo se voltou para os papeis em sua mesa.
- Vai lá, pede para o professor que só dá nota máxima para você, que eu pare. – as coleguinhas dela riram junto.
Assim que me virei para frente, vi Ed e a encarando como se fossem a queimar com os olhos, mas não adiantou, Naty continuou chutando minha cadeira. Já no limite da minha paciência, levantei-me da cadeira e a sala toda olhou para mim.
- Algum problema, Srta. Campbell? – disse o professor.
- Se você chutar minha cadeira mais uma vez, eu juro que não será legal o que farei com você – sentei-me novamente.
Quando pensei que tivesse me livrado daquela vadia, ela chutou minha cadeira novamente e as amigas delas tornaram a dar risada.
- Foi mal, orfãzinha.
- Foi muito mal, vadia – respondi e fiquei de pé. Dei um chute tão forte na mesa de Naty, que ela, a carteira e a mesa voaram para trás, e com a intensidade da força, acabou virando para o lado e caindo no chão.
O professor levantou-se e foi até Naty ajudar a vadia se levantar.
- , direto para a diretoria! Agora! – ele apontou para a porta.
- A Nathalie estava chutando a cadeira dela, seu cego! – retrucou Ed.
- Edmmundo, acompanhe até a diretoria.
- Qual é? – reclamou Ed também.
Nós dois saímos pelo comprido corredor cheio de armários e agora esperávamos pelo Sr. Reynolds nos chamar. Após uma mãe sair de sua sala, eu e Ed entramos.
- O que aconteceu, Srta. Campbell? – ele cruzou as mãos sobre a mesa e nos encarou.
- Nathalie ficou chutando a cadeira dela e não parava. se irritou e deu um chute na mesa da Nathalie e sem querer ela acabou caindo no chão. Nathalie a chamou de órfã – disse Ed e logo o encarei.
- Problemas com Nathalie novamente, ?
- Sim. Não sei porque, mas ela vive pegando no meu pé.
- E você, Edmmundo, por que está aqui?
- Ele só foi tentar me defender – respondi por ele.
- Acho que minha conversa então é com a Srta. Tokin. Vou falar com ela, vocês dois estão dispensados. Como falta pouco para o intervalo, podem descer para o pátio e aguardar os outros alunos. Espero que isso não se repita, e Edmmundo.
Saímos de lá com um olhar vitorioso.
- Não precisava me defender, Ed, mas obrigada.
- Amigos são para isso – ele passou o braço em volta do meu pescoço e continuamos nosso caminho.
O pátio da escola era um bom local para uma leitura. Era repleto de gigantes árvores e bancos, e na periferia havia uma quadra de basquete. A lanchonete ficava no centro e várias mesinhas a rodeavam. Ed foi comprar um lanche e eu fiquei ali esperando por ele e por . O sinal bateu e o rebanho todo saiu.
Acho que foi ao banheiro primeiro antes de vir nos procurar. Do portão que dava acesso ao pátio, vi Nathalie se aproximando com suas amigas, e aquilo cheirava confusão.
- O canguru idiota, você sabia que levei uma advertência por sua causa?
- Olha minha cara de preocupação – sorri ironicamente.
- Você não sabe o que te espera na hora da saída, vadia.
- Eu vou esperá-la na hora da saída e para o bem de todas vocês, espero não vê-las após o sinal – disse se intrometendo na historia.
Nathalie e seu rebanho saíram de perto e ocupou o lugar no banco. Saio de uma confusão e caio em outro. Ótimo dia.
- Oi, Campbell, tudo bem? Sabia que você corre muito? Você sabia que me deixou preocupado? - senti ironia em sua fala.
- , acho que não é hora nem lugar para começarmos uma consulta – enrolei meu fone em volta do celular e levantei do banco, mas a mão de puxou meu corpo para se sentar de volta.
- Precisamos conversar.
- Olha, uma outra hora, pode ser? - levantei-me novamente do banco e segui meu caminho.
- Por que vomitou sangue hoje cedo?
Senti meu corpo todo se arrepiar e vagarosamente olhei para trás. estava de pé, parado com as duas mãos dentro do bolso da calça e me encarava esperando uma resposta. Seu semblante era de alguém de que estava muito bravo e sem paciência.
- Como assim? Eu não vomitei – dei a costas para ele e saí correndo o mais rápido dali.
Vi Ed vindo em minha direção e pedi para que ele me acompanhasse até a secretaria, porque não estava passando bem e queria ir embora.
- Onde vocês estavam? Estava procurando vocês – disse chegando apressada.
- , vou embora, não estou me sentindo bem.
- O que você tem? – ela disse preocupada.
- Nada, acho que é só uma dor de cabeça.
- Tudo bem, então vamos lá na secretaria.
Cada um grudou em cada lado do meu braço e seguimos para a secretaria, mas senti um puxão ao travar meu corpo e e Ed seguirem em frente.
- O que foi, ? Viu um fantasma?
Pior. tinha me achado e agora caminhava rápido em nossa direção.
- Ah, esqueci de te avisar, estava te procurando, que bom que ele te achou – sorriu inocentemente .
- Com licença, garotos, preciso que sua colega venha comigo – grudou firme no meu braço direito começou a me puxar pelos corredores da escola até chegarmos na sua sala.
- Sente-se – ordenou .
- Você me machucou! Idiota.
me encarou de uma forma nunca vista antes, apenas ficou olhando, sem falar nada nem se mover.
- O que foi que eu fiz?
- O que você tem, ? Por que vomitou hoje cedo?
- Eu já disse que não vomitei, que saco!
- Vamos fazer o seguinte, você tem alguma doença? Eu posso te ajudar – se apoiou sobre a mesa.
- Eu não tenho nada, estou bem, vou para casa e descansar, ok?
- Eu te levo.
- Eu vou sozinha.
- Você vem comigo agora ou vou ligar para seu irmão e contar o que você anda fazendo com os remédios.
Segui em silêncio até o carro com , aliás, uma carona não mata ninguém. Mas ainda é assustador pensar como sabia do que aconteceu hoje cedo. Ninguém sabia, só eu. Peguei meu celular e comecei a digitar para avisar Ed e que já estava indo para casa.
O tempo estava virando, nuvens escuras cobriram o céu e relâmpagos cortavam a cidade. aproximou o rosto do para-brisa do carro para observar o céu com mais precisão.
- Vem chuva forte por aí. Fiquei dentro de casa – alertou .
- É óbvio que ficarei dentro de casa. O que eu faria nas ruas de New Orleans no meio de uma tempestade? - encarei-o ironicamente.
Paramos no semáforo e o silêncio flutuou assustadoramente. Ao nosso lado, uma senhora puxava seu carrinho da feira e parou para dar esmolas ao mendigo sentado no chão. Parou e abriu a bolsa, mas foi surpreendida por um rapaz armado que exigiu a entrega da bolsa. Por impulso, tentei puxei a maçaneta da porta para impedir que algo de ruim acontecesse com a senhora, mas travou as portas e segurou meu braço. Virei para encará-lo e quando olhei para o assalto novamente, o bandido atirou na idosa que caiu já desacordada no chão. O bandido saiu correndo e logo roubou uma moto para seguir com a fuga. O sinal abriu e engatou a marcha para seguirmos, mas puxei o freio de mão do carro.
- Abre essa droga de porta ou quebro o vidro desse carro.
- Não podemos fazer mais nada, .
- Abre – dei um soco no vidro.
- Você vai se machucar.
Avancei sobre o painel do motorista e eu mesma destravei a porta. Saí correndo até a senhora aonde várias pessoas já circundavam. Um homem alto de terno e gravata estava ligando para a ambulância.
- Afastem-se dela – gritei passando pelo meio da multidão.
Tirei meu casaco xadrez e apertei contra o sangramento na cabeça. Apoiei a cabeça dela sobre minha perna e ouvi a sirene da ambulância se aproximando. Os paramédicos puxaram a maca e levaram à senhora o mais rápido possível para o hospital mais próximo.
- Podemos ir agora? – se aproximou de mim.
- Eu agradeceria muito se não olhasse para sua cara até o próximo ano – levantei ainda assustada com o acontecido.
- Pegue – entregou-me seu casaco – já está começando a chover.
Peguei o casaco de e tentei a arremessar para o outro lado da rua, mas como o vento estava muito forte, não foi muito longe.
- Eu poderia ter evitado tudo isso, era só você abrir a porta e aquela senhora sobreviveria.
Abri a porta do carro para pegar minha mochila, passei-a nas costas e saí correndo para casa.
- , volte aqui - gritou .
Fingi que não ouvi e apertei os passos. Os primeiros pingos começaram a cair. Vi que um carro se aproximou de mim, que provavelmente seria e olhei somente para frente.
- , entra aqui, já está chovendo. Se você tivesse entrado no meio do assalto, neste momento estaria morta. Entra aqui, .
Ignorei-o por completo.
- Tudo bem, se você não vai dentro do carro...
acelerou o carro mais à frente e estacionou. Saltou do carro guardando a chave no bolso e se aproximou de mim. Começou a andar ao meu lado, mas continuei ignorando.
- Olha, a chuva está engrossando. Vamos parar naquela lanchonete para você tomar uma água e levar esse sangue da sua mão.
Só assim percebi que minha mão estava cheia de sangue.
- Olha, como você não quer se molhar, volte para o carro e vá embora – respondi.
- Eu só estava te protegendo, . Se você tivesse entrado no meio, o tiro seria para você.
- Como você sabe? Vê o futuro agora? O futuro que eu veria seria àquela senhora preparando o almoço em família e prestigiando os netinhos.
- Não, , isso não aconteceria – disse convicto.
- Dá para parar de me seguir. Eu sei o caminho de casa - Parei de andar para encarar com destreza.
- Se você não vai comigo no carro, vou com você do jeito que for.
Bufei estressada. Andei mais rápido ainda, mas eu já estava cansando e não apresentava nenhuma fadiga.
Assim que avistei a casa dos meus avós, corri deixando para trás. Entrei e tranquei a porta. Puxei a cortina para o lado e vi que estava indo embora. A casa estava vazia, provavelmente vovô e vovó saíram para fazer compras, o que os traria de volta para casa só depois do almoço. Joguei minha bolsa na cama e fui para um banho quente. Ouvi barulhos no telhado e me aproximei da janela. Estava chovendo granizo e o forte vento derrubara uma árvore em frente de casa, o que provocou a interrupção de eletricidade. Tudo ficou escuro, corri até a cozinha, abri a terceira gaveta de baixo para cima e acendi uma vela. A chuva parecia não ter fim. A enxurrada já subia pelas calçadas. Olhei novamente pela janela e vi dois homens ensopados encarando a casa. Um raio forte clareou tudo, o que fez eu levar um grande susto, quando olhei novamente, os dois homens haviam sumido. A chuva foi passando, mas o bairro ainda continuou escuro. Como ainda era de manhã, o sol era para estar intenso, mas as nuvens escuras impediam qualquer tentativa de dia ensolarado. Vesti um agasalho mais pesado e peguei meu guarda-chuva. Decidi sair para comprar mais velas e uma lanterna, já que parecia que ia chover mais forte ainda. Aproveitei a trégua e saí de casa. Um mercado ficava a poucos quarteirões dali. Comprei velas, lanterna, pilhas e o que provavelmente seria o meu almoço. Passei a sacola nos meus braços e saí do mercado. Do outro lado da rua avistei os dois homens novamente. A chuva começou forte novamente e conforme eu ia andando, os dois vinham me seguindo. Assustei-me ao perceber que eles estavam a poucos metros de mim. apareceu freando com o carro.
- , corre, entra dentro do carro – ele praticamente me arremessou no banco de trás e saiu cantando pneu.
- Você pirou, ? Estava me seguindo? – sentei-me no banco e vi um outro homem sentado ao seu lado.
- , este é Kutiel, é meu amigo – disse .
- Prazer, – estendeu a mão e eu retribuí.
- Para onde está me levando?
- Vamos para minha casa – respondeu .
- Vou ter que abrir esta porta novamente?
- Apenas nos responda uma pergunta, – disse Kutiel – Por que Baradiel e Barakiel estavam te seguindo?
- Não sei. Nem sei se eles estavam me seguindo...Espera, quem são esses?
- Sim, estavam, desde que deixamos a escola – disse .
- Baradiel é o anjo do granizo e Barakiel, o dos raios – respondeu Kutiel.
- O quê? Anjos? Você bebeu?
- Ele estava brincando, – disse encarando o amigo.
Capítulo 03
entrou com o carro na garagem e todos nós saímos do carro. Senti aquele embrulho no estomago de novo.
- Preciso ir ao banheiro.
- Claro, acompanhe-me, – disse mostrando o caminho.
Quando cheguei ao banheiro, tranquei a porta e botei para fora tudo novamente. O líquido novamente saiu forte e avermelhado.
- , o que está acontecendo? Abra a porta – disse por provavelmente ouvir o barulho.
- Não posso nem fazer xixi em paz? – disse limpando a boca.
Senti minha visão escurecer e minha cabeça começou a pesar. Apoie-me na pia, abri a torneira e deixei a água correr sob meu pulso, mas nada estava melhorando.
- , abre – gritou forçando a porta.
Eu tinha toda a certeza do mundo de que havia trancado a porta, mas como num passe de mágica, a abriu com toda a delicadeza. Eu não aguentei mais o peso do meu corpo e caí sobre os joelhos. Eu não estava desacordada, apenas estava fraca e enxergando tudo escuro. se aproximou de mim e quando coloquei os olhos nele, uma luz forte me impediu de enxergar o lugar. Então fechei os olhos e senti o braço de contornando meu corpo. Na verdade, essa foi à última coisa que lembrei até acordar no sofá da sala aonde limpava minha boca de sangue com um pano umedecido. O lugar cheirava a lavanda, típico de casas limpas e bem cuidadas, como a da vovó. Percebi que as almofadas foram alteradas para melhor me aconchegarem.
- Você está bem? – perguntou sentado ao lado do sofá.
- Me diga você, Dr. . Eu estou bem? Sinto que você sabe o que está acontecendo comigo – apoiei-me sobre o cotovelo para encará-lo melhor.
- Eu não sei te dizer o que você tem. Não é doença... Tem ligação com outra coisa.
- Que coisa? – insisti preocupada.
- , preciso que venha aqui – interrompeu-nos Kutiel.
se afastou e foi com Kutiel para a cozinha. Eu fiquei ali ainda curiosa e com medo da resposta de . Não foi por mal, mesmo que à distância entre meus ouvidos e a cozinha fosse gigante, eu conseguia ouvir a conversa dos dois.
- Acabei de receber uma péssima notícia, – informou Kutiel.
- O que aconteceu?
- O selo vital foi rompido e agora é apenas questão de tempo para o Apocalipse chegar.
- É questão de tempo? Quem rompeu o selo? Onde ele está? – disse furioso.
- Ainda não sabemos, mas já mandei os anjos procurarem por ele.
- Nada é possível se não tivermos o selo em mão. Nosso irmão anseia pelo retorno – disse estrangulando Kutiel contra a parede.
- – chamei.
ordenou que Kutiel cumprisse sua missão e veio até mim na sala como se nada tivesse ocorrido.
- O que foi? Está melhor? – disse carinhosamente. Até estranhei por estar à beira de um infarto segundos antes.
- Eu vou para casa. Jack deve estar preocupado. Mais tarde peço para ele me levar ao hospital caso não melhore – disse já me levantando.
- Então vamos, eu te levo – disse escorando seu corpo no meu.
- Eu estou fraca, não estou confusa. Sei muito bem onde fica minha casa e... Tenho GPS também.
- Não. Não custa nada eu te levar até sua casa – insistiu.
- Não, eu vou sozinha – senti medo ao encarar .
- Para o carro, agora, mocinha – sorriu ironicamente.
Resolvi aceitar para que não ficasse furioso como ficou com Kutiel antes. Fomos até o carro e o caminho para casa parecia não ter fim. New Orleans não era cinza como todos os parques industriais. New Orleans é cheia de vida, cores e aromas. Senti até um remorso por não saber aproveitar tudo isso.
- O que foi? – disse descontraído enquanto dirigia no meio de tantos carros.
- O que foi o quê? – disse perdida.
- Por que está nervosa? – disse apoiando-se contra a porta do carro.
- Eu não estou nervosa. De onde você tirou isso? – disse muito nervosa.
- Você evita contato com meus olhos, sua fala está pausada, sua mão transpira, sua respiração está curta... Algo mais para acrescentar?
Ele tinha razão. Minha mão estava suando como um corredor de maratona, não consegui olhar para o rosto dele desde que acordei no sofá. Mas era preciso negar tudo isso, pelo simples fato de não saber o que fazer, ou de ser teimosa.
- Tudo bem, , estou achando que o louco aqui é você – encarei os carros que passavam ao nosso lado.
- Então olhe nos meus olhos e diga isso, vai – desafiou.
Tentei encará-lo, mas não consegui. Mais uma vez estava assustadoramente certo.
- Falta muito para chegar? – insisti na mudança de assunto.
- Não, só mais cinco oito minutos – se divertia com meu nervosismo.
Encarei o celular para ver o horário e incrivelmente, oito minutos depois, cheguei em casa.
- Obrigada pela carona – disse desabotoando o cinto de segurança.
, com um movimento rápido, segurou meu pulso e só assim consegui olhar no fundo dos olhos dele, percebendo que a distância entre nós era tão pequena que até uma bactéria se espremeria para passar entre nós. Algo havia mudado. O olhar estava mais profundo e mais penetrante, mas ao mesmo tempo, frio.
- Vai me impedir de sair do carro agora? – disse brava soltando minha mão.
- Vai me dizer o que está acontecendo?
- Se tivesse algo acontecendo, eu juro, contaria.
- , não quero que fique com raiva de mim, estou fazendo isso para te ajudar.
- Não estou com raiva de você, estou apenas cansada. Tchau – desci do carro.
- Até amanhã na escola – buzinou entregando minha chegada em casa.
Olhei no relógio e já era quase o horário que eu saía da escola. Vovô e vovó já estavam em casa e descobri pelo cheiro de comida que estava no ar.
- Chegou mais cedo da escola querida? – perguntou vovó.
- Saí mais cedo hoje - dei um abraço nela e no vovô que mexia em algumas muambas velhas.
- Não vai almoçar? – disse ela vendo-me distanciar pelas escadas.
- Não, estou sem fome – gritei contornando o corrimão.
Cheguei no quarto e me joguei na cama. Dormi por um longo período. Quando acordei, vi que havia chamadas perdidas no meu celular, todas de Ed e . Olhei pela janela e vi que o tempo ainda estava de chuva e já era noite. Meu irmão entrou no quarto acendendo a luz e sentou-se na beira da cama.
- Oi, , ou melhor, bom dia.
- Jack, posso te pedir um favor?
- Claro, .
- Poderia me levar até um hospital?
- Hospital? – disse assustado – O que você tem?
- Não sei, não me sinto bem.
Imediatamente, Jack me envolveu em seus braços, abriu meu armário e pegou um caso. Fomos até a sala para avisar nossos avós. Quando Jack abriu a porta, levamos um tremendo susto. Escorado na entrada, estava .
- O que você está fazendo aqui? – perguntei me recuperando do susto.
- Vou com você até o hospital – disse convicto.
- Não! – rebati imediatamente.
- , vai ser melhor, ele é seu psicólogo e pode nos ajudar – disse Jack – pode vir conosco, .
Não perdoaria meu irmão de jeito algum pela traição. O que eu mais queria era quebrar um pedaço do vidro do carro e enfiar no meio da garganta de . Percebi que me encarava através do retrovisor em silêncio. Encarei a imagem dele através do espelho.
- Como sabia que eu iria ao hospital naquela hora ? Estava me espionando?
- , não começa – insistiu Jack – desculpa , está fazendo birra.
- Não faz mal, Jack, eu a entendo – disse cinicamente – É só aumentarmos a dose de um remédio e logo essa agitação toda passará – sorriu passando a língua entre os dentes.
Senti até um calafrio percorrer meu corpo. Chegamos ao hospital e ficamos sentados esperando o atendimento. Estava impaciente por ver ali sentado ao meu lado, a respiração dele estava me irritando, e existência dele também.
- Vou pegar um ar lá fora – disse para Jack.
Sinceramente, aquele dia parecia não ter fim. Enquanto aguardava o médico nos chamar, liguei para .
- O que aconteceu? Por que não me atendeu? – disse ansiosa .
- Eu tive uns probleminhas e agora estou no hospital.
- O quê? Você está bem? Passa o endereço que já estou indo aí! Você sofreu um acidente? Caiu da escada? O que aconteceu? – disse metralhando as palavras.
- Não, está tudo bem, fique tranquila. Daqui a pouco já serei atendida. Só estou com mal estar.
- Tem certeza que não quer eu vá até aí? Jura?
- Juro, , muito obrigada.
Vi saindo de dentro do hospital e girou a cabeça para todos os lados para ver onde eu estava.
- Tenho que desligar, , até amanhã.
Guardei o celular no meu bolso e passei diretamente por sem ao menos olhar na cara dele.
- .
Ignorei-o por completo. Cheguei na sala de espera e Jack logo se levantou avisando que era nossa vez. Entramos na sala e entrou logo atrás.
- O que a mocinha tem? – disse o médico bonitão de olhos castanhos.
- É o nome dela – intrometeu-se provocando total estranhamento em nós.
- Doutor, estou enfrentando uns problemas ultimamente. Tomo muitos remédios antidepressivos - encarei - e estou vomitando sangue.
- Vomitando sangue? – berrou Jack.
O médico anotou algumas coisas no papel.
- Sente dor, ? É alérgica á algum alimento ou medicação?
- Sinto dor de cabeça e não sou alérgica – respondi.
- Vamos fazer um exame bem rápido agora, tudo bem? Prometo que não vai doer.
Vestiram-me com uma roupa que mais parecia um pijama e me colocaram em uma máquina que faria a ressonância magnética. Estiquei o pescoço para ver meu irmão e de braços cruzados do lado de fora.
- Por favor, , não se mova até terminarmos – instruiu a mulher.
Ligaram a máquina e meu corpo foi sugado para dentro. Senti-me apertada e agradeci por não ser claustrofóbica, novamente. Relaxei meu corpo e fechei os olhos. Vi alguma mudança na paisagem e abri os olhos novamente para ver o que era. As luzes piscavam e o monitor que controlava a máquina disparava faíscas para todos os lados. Entrei em desespero e vi meu corpo ser puxado para fora da máquina rapidamente. Praticamente toda a equipe médica que havia naquele hospital se projetou dentro daquela sala. De repente, um apagão tomou conta do lugar.
- – gritei assustado sem saber porque chamei logo ele.
- Estou aqui, – Ele segurou na minha mão e me abraçou junto ao seu corpo.
Em segundos, o gerador de energia do hospital foi ligado e as luzes voltaram a iluminar o local.
Soltei-me imediatamente dos braços de e corri até os braços de Jack.
- Por favor, quero minhas roupas de volta e sair daqui o mais rápido possível, agora!
- Mas e seus exames?
- Vamos! – berrei.
No caminho de volta para casa, percebi que a cidade toda sofreu um apagão. Senti um calafrio pelo medo de toda aquela confusão ter sido causada pelo meu exame. E não sei, no fundo eu sabia que tinha razão.
Assim que chegamos em casa, e Jack ficaram conversando, enquanto corri até o quarto e me tranquei lá. Só saí após verificar mil vezes que tinha ido embora e que o caminho estava livre para um banho. O vapor da água quente tomou conta do banheiro. Desliguei o chuveiro e passei a toalha no meu corpo para me secar. Vesti o pijama e peguei o pente para pentear o cabelo. Passei a mão no vidro para desembaraçar quando derrubei o pente no chão. Agachei para pegá-lo e ao retornar a visão ao espelho, vi a o rosto de um homem me encarando. Pensei que fosse uma idiotice minha, mas ao olhar novamente, vi que o rosto permaneceu no espelho. Olhei para trás para verificar se tinha alguém atrás de mim, mas nada vi. Por fim, o espelho estava limpo, sem rosto algum.
Corri para meu quarto e escondi-me debaixo da coberta. Meu irmão trouxe um prato de sopa que vovó tinha acabado de fazer.
- Não quero comer.
- Vai comer sim! Já está sem comer a dias! Se não se alimentar direito, terei que contratar uma babá para você.
- Aff... – bufei, mas peguei logo o prato.
Capítulo 04
Mandei uma mensagem para Ed dizendo que não iria à escola hoje.
- , já está pronta? – gritou Jack do andar de baixo.
- Já estou descendo – berrei como resposta.
Ao invés de encher minha mochila com livros e cadernos, coloquei dinheiro e agasalho.
- Não vai comer nada antes de ir para a escola? – disse vovô.
- Não, estou sem fome.
Sem desconfiar de nada, Jack levou-me até a escola. Meu puro azar foi ver o carro de Ed estacionando logo adiante. Rezei para que eles não me vissem. Esperei Jack sair para fazer meu caminho o mais longe possível da escola. Puxei meu capuz para cobrir a cabeça e comecei a andar, definitivamente não sabia para onde, mas era preciso andar e evacuar toda essa confusão da minha cabeça. Passei pelo centro da cidade, o comércio estava a todo vapor, executivos correndo de um lado para o outro com suas maletas, mulheres carregando um copo de Starbuck na mão esquerda e na mão direita o celular. Coloquei meu fone de ouvido para ouvir Kansas. Senti uma mão me puxar pelas costas, virei-me rapidamente, mas nada vi. A sensação de estar sendo seguida soou alto e preferi guardar meus fones para estar atenta a qualquer movimento. No meio daquela multidão, perto da esquina, avistei o homem o qual vi o rosto no espelho noite passada. Ele estava de pé, de frente para mim. Uma mulher atrapalhou nossa imagem e o perdi de vista. Fui até a esquina e não achei mais nada dele. Meu estômago roncou, já beirava à hora do almoço e decidi parar em uma lanchonete com um estilo vintage dark para me alimentar.
- Eu quero um sanduíche com batatas e uma dose daquela – indiquei a garrafa de wisky na prateleira.
- E você tem idade para tomar aquilo? – resmungou o atendente.
- Não, mas tenho dinheiro o suficiente para comprar sua aceitação- joguei uma nota de 50 dólares em cima do balcão e ele logo enfiou no bolso.
Sentei-me na mesa e recebi o sanduíche, as batatas e o whisky. Os primeiros desceram de letra, mas a bebida... Desceu queimando e engasguei um pouco. Não sei porque fiz aquilo, nunca bebi e nem gosto. Paguei meu almoço e saí novamente pelas ruas. Comecei a olhar as vitrines das lojas, entrei em algumas e acabei fazendo umas comprinhas. O tempo estava fechando novamente, as nuvens pesadas cobriram o céu e um vento gelado insistia em movimentar meu cabelo castanho claro para trás. Parei diante da famosa ponte de New Orlens e vi que tinha ido longe demais. Talvez minha vida já tivesse ido longe demais e agora era hora de repousar. Se jogar dá ponte daria uma boa morte e uma excelente matéria para o jornal no dia seguinte. Se eu soubesse que ia me matar, teria comprado mais coisas e bebido duas doses de whisky. Ou pelo menos escrito alguma carta de despedida, mas não deu e agora vai assim mesmo. Comecei a andar na lateral e cada vez mais seguia adiante, alguns carros passavam e buzinavam, outras não davam a mínima importância. É... Ninguém nunca deu importância para mim ou me levou a sério. Coloquei minhas sacolas no chão e encarei a imensidão azul que estava embaixo dos meus pés. Fechei meus olhos e senti o vento forte gelando minha face. Olhei para o lado e vi novamente aquele homem que estava aparecendo para mim. Ele tinha cabelo louro escuro, olhos azuis e usava um terno, toda sua vestimenta era negra como o lugar mais profundo do oceano. Ele se aproximava em minha direção, quase correndo e decidi me apressar para grudar na barra de ferro e pular.
- Não pule – soou uma voz atrás de mim.
Olhei para trás e vi um jovem com cabelos negro e comportado. Seus olhos azuis eram tão claros que chegou a iluminar aquele tempo escuro. Olhei para o lado novamente e vi que o cara de preto tinha sumido.
- Eu tenho que fazer isto – olhei para baixo novamente. Senti medo, era muito alto.
- Não, , você não tem que fazer isto. Vamos sair logo daqui antes que a polícia chegue.
- Como sabe meu nome – gritei irritada.
- Eu posso te ajudar .
- A vida está cheia de pessoas que quiseram me ajudar, mas entenda, não quero ajuda.
Ele tinha razão, a polícia logo chegaria e aí o circo estaria armado. Não quero que meus avós liguem a Tv e vejam a neta deles tentando pular da ponte. Era hora de agir. Soltei minha mão do ferro que me sustentava e inclinei meu corpo para trás, começando uma queda livre que levaria a minha morte, mas algo deu errado, o garoto saltou atrás de mim e com uma velocidade incrível grudou suas mãos nas minhas e surpreendentemente caí sobre o sofá da sala de teatro que estava vazia na escola. O garoto acendeu as luzes e eu fiquei incrédula sentada olhando sua cara.
- Eu disse para você não pular.
- C-C-C-Como-o – gaguejei e senti meu corpo ainda tremendo.
- Você tem que tomar cuidado. É sério. – ele disse com toda a calma do mundo.
- Quem é você?
- Eu sou aquele que tem as respostas para suas perguntas.
- Eu conheço você de algum lugar.
- Claro que conhece – sorriu largamente como se fosse óbvio.
Um barulho acabou com nossa conversa.
- Preciso ir. Cuidado com o , ele não vai te machucar, mas tome cuidado.
- Como assim? – fiquei no vácuo porque o garoto desapareceu do nada.
- – gritou abrindo a porta - Aonde você estava? Seu irmão disse que te deixou na escola, sua amiga disse que você não viria hoje. O que aconteceu? Por que está tremendo tanto? – abraçou-me.
- Estou perdendo aula – deixei falando sozinho.
- , não dê as costas para mim, de novo não! – gritou .
E as portas do salão do teatro fecharam-se bloqueando minha passagem. Virei-me para rezando para que aquilo fosse pura coincidência.
- Quem estava aqui com você, ? Sinto o cheiro... – perguntou vasculhando o lugar.
- Ninguém, só vim aqui porque queria ficar sozinha – eu queria chorar, mas chorar por medo. Não sei explicar o que está acontecendo nem para mim mesmo, imagina para outra pessoa.
Corri até a porta e tentei abri-la, mas algo estava obstruindo-a. Forcei ate não querer mais. bateu as mãos acima da minha cabeça na porta, prensando meu corpo entre ele a porta. Senti sua respiração ofegante mexer meu cabelo atrás e cada vez mais sentia a respiração quente no meu pescoço.Virei para encará-lo melhor, mas sem querer acabei encostando nossos narizes e ele logo voltou o olhar para mim. Fiquei paralisada com a situação e a reação dele não me ajudou a controlar a tremedeira, pois não fez questão de separar nossos rostos, pelo contrário, aproximou-se ainda mais. Sua boca encostou minha bochecha e senti um calafrio da cabeça aos pés.
- , por favor, eu preciso ir. Eu não sei o que você é, mas, por favor, deixe-me ir, eu imploro – disse deixando escapar uma lágrima de desespero.
- Desculpe, , não queria te assustar – ele disse decepcionado e livrou meu caminho abrindo a porta para eu passar.
Limpei a lágrima do meu olho e entrei na sala de aula. Não sei como, mas minha mochila e minhas sacolas de compras estavam ali.
- Um garoto veio aqui e pediu para eu guardar para você – disse – Gatinho ele. Quem é?
- Não sei.
- Você não ia faltar hoje? – perguntou Ed.
- Eu decidi vir... Melhorei – meus olhos estavam arregalados.
Voltei para casa de carona com meus amigos e corri me exilar no quarto. Não havia ninguém em casa, provavelmente vovô e vovó estavam nas aulas variáveis para a terceira idade. A única coisa que consegui fazer ao sentar na minha cama, foi enfiar a cara no travesseiro e chorar. O que está acontecendo na minha vida? Será que cheguei ao ponto máximo em que começo a delirar? Talvez, eu estivesse o tempo todo ali no teatro da escola e o resto foi só ilusão.
Corri até o armário e peguei a caixa de sapato que guardava todos os meus remédios. A maioria era tarja preta. Desembalei no mínimo uns trinta comprimidos que ficaram esparramados pela mesa. Enchi um copo de água e engoli todos aqueles remédios de uma só vez. Agora era só esperar e a morte me abraçaria e me levaria para um lugar melhor. Voltei para o quarto e me deitei na cama com um caderno e um lápis na mão para o escrever o seguinte bilhete.
Gostaria de deixar bem claro que amo vocês, mas a vida foi difícil para mim. A culpa não é de vocês, estarei em paz agora.
Comecei a engasgar e um soco forte de dentro para fora havia me atingido. Acho que estava tendo um infarto. Uma ânsia tomou conta de mim e comecei a vomitar sangue novamente, só que desta vez, por estar deitada, engasguei com o vomito e vi a morte se aproximar.
- Estarei em paz agora – disse ironicamente o jovem que me salvou da ponte – É sério? – riu.
Ele caminhou até mim e se sentou ao meu lado. Encostou seu dedo na minha testa como se estivesse ali apenas para me esperar morrer. Até que morri.
Voltei com um solavanco que me fez sentar na cama. Eu estava viva, sem dor, sem nada.
- Isso não é possível – disse desesperada.
- Tentando se matar de novo, sério, ? Não vai desistir não?
- Isso é impossível, você é uma miragem – eu procurei as caixas dos remédios para ver se ilusões compunham as reações.
- Eu não sou uma ilusão, .
Continuei alucinada perambulando pela casa.
- Ilusões fazem isto – disse o garoto dando-me um tapa na cara.
Caí sentada no chão e então percebi que aquela droga era real.
- Desculpa, não queria te agredir, mas era o único jeito de te mostrar que eu existo.
- Quem é você? Você disse que eu te conheço.
- Claro que se lembra. Foi você que começou o apocalipse derrubando o selo vital das minhas mãos.
- O quê? – vasculhei minhas memórias – Espera...Você é aquele cara que eu esbarrei enquanto fugia do meu irmão e do .
- Bingo! – comemorou.
- O que você é? Você é um bruxo?
- Está assistindo Harry Potter demais, – brincou – Meu nome é , sou um Arcanjo.
Comecei a rir igual uma condenada. Meus olhos até lacrimejaram de tanto rir, mas senti minha risada se evacuar ao encarar a face séria de... .
- Pode me chamar de , estou aqui para te ajudar.
- Ajudar com o quê? Você é meu anjo da guarda? – debochei.
- Não, eu não sou seu anjo da guarda. é.
- O quê? Não, sério. Agora chega, por favor, para fora da minha casa – abri a porta – quer que eu abra a janela para você sair voando? – sorri ironicamente.
Ele me desobedeceu e sentou na cama.
- Acho que o poder vital está com você. Você quebrou o selo, só você poderá ascender Lúcifer.
- Para, eu não gosto destas coisas demoníacas – fiz o sinal da cruz.
- Fique calma. Meu irmão era um dos mais belos Arcanjos e o mais forte também.
- O quê? Você é irmão daquele coisa ruim? – neguei-me a falar aquele nome.
- Sim, sou.
- E ? Você me disse que era para eu ter cuidado com ele, mas ele não me machucaria. Como assim, por que ele não me machucaria?
- Ele não te machucaria porque ama você, isso é óbvio, . Até seu avô e sua avó perceberam isto.
- Então, Kutiel também é um anjo? Baradiel e Barakiel também?
- Como você os conhece? – perguntou indignado - Baradiel e Barakiel foram mortos por Kutiel. Eles foram enviados por mim para afastar Kutiel de você.
- Quem é Kutiel? E sinto muito pelos seus amigos.
- Kutiel é o anjo das águas e está ao lado de no Apocalipse. Quero deixar bem claro que está do pior lado, liderando.
- está do pior lado? E você, que lado está?
- Estou liderando o lado que todos os humanos sobrevivem e meu irmão continua trancado no inferno.
- Mas por que escolheu ficar deste lado?
- O universo é repleto de anjos e demônios. Nos últimos dois séculos os demônios começaram a mostrar maior poder e muitos anjos morreram por causa disso. O Apocalipse nada mais é do que a extinção de um dos lados. Ou o angelical ou o demoníaco. A batalha só chegará o fim quando Lúcifer for morto ou eu. Se Lúcifer sair, por ser mais poderoso e defender os demônios, nós perderemos. Se eu o derrotar, os anjos vencerão.
- Então qual o problema do Apocalipse? Por que os humanos morrerão?
- A batalha será aqui, , na Terra. Se a batalha acontecer, não restará um ser vivo sequer.
- Caramba – fiquei boquiaberta.
- E qual é o meu papel nesta bagunça toda?
- Tenho que ir – disse apressando-se – Seu anjo da guarda está chegando.
E sumiu deixando-me sozinha.
Capítulo 05
acertou que estava chegando, pois ouvi barulho de carro parando em frente de casa. Espiei pela janela e vi observando o céu cautelosamente e depois as ruas para então bater na porta de casa. Eu ainda estava de pijama e não queria que me visse daquele jeito. Ele é homem, e anjo, e ainda por cima se a teoria de estiver certa, ele gosta de mim.
- Toc, toc – disse enquanto abria a porta do quarto.
- Oi, você por aqui? – fingi surpresa.
- Vim ver como você estava e – ele abaixou a cabeça – pedir desculpas. Não foi um bom dia para... – ele interrompeu a fala e começou a vasculhar meu quarto do nada.
Olhou atrás da cortina e depois observou através da janela.
- O que foi ? – aquilo realmente me surpreendeu.
- É um cheiro familiar. Senti hoje cedo também.
- Deve ser o cheiro da sopa da minha avó, não é? – Arrumei esta desculpa porque já sabia o cheiro que sentia. Era o cheiro do Arcanjo que me salvou hoje cedo.
- Não, eu que estou ficando maluco mesmo – sentou-se ao meu lado – Diga...você fez algum novo amigo esses dias?
Big Shit! Ele é bom mesmo! Tenho que começar a treinar caso não queira entregar a presença de , aliás, não seria nada bom que o inimigo mortal do cara que te ama soubesse que estava fazendo visitas para mim.
- Novo amigo? ! – encarei com tom de ironia – Você que é meu psicólogo e diz que me conhece e fala uma coisa dessas? Você sabe que meus únicos amigos são e Edmmundo. Só.
- É, eu te conheço muito bem – pegou nas minhas duas mãos e senti o calor dele – tão bem que parece quê...
- Você é meu anjo da guarda – completei e me arrependi ao ver a expressão que fez.
E me arrependi muito. Ele não falou nada, ficou mudo, apenas me encarando. Já estava começando a ficar constrangida pelo jeito que ele me olhava. Para quebrar o momento, ele pegou um fio do meu cabelo que havia se soltado e prendeu atrás da minha orelha e lentamente, veio se aproximando seus lábios dos meus. Era hora de eu dizer alguma coisa antes que aquilo terminasse de uma forma que eu não queria que terminasse.
- É como um anjo da guarda, acho que quando você morrer, será um – interrompi os movimentos dele de aproximação.
- Por que você acha que sou seu anjo da guarda? – ainda insistia em se aproximar demais.
- Não sei – sentei na cadeira do computador para me distanciar dele – Você é o único que cuida de mim, que se importa. E não pelo cargo de eu ser sua parente ou amiga. Não sei também porque você faz isso, mas faz.
- Todo mundo te trata como uma criança que ficou indefesa pela perda dos pais, mas você não quer isso, você quer que as pessoas entendam que nada mais irá mudar, você nunca mais será a criança inocente que pegava os carrinhos escondido do irmão para brincar com as barbies – sorriu.
- Como você sabe que eu fazia isso? Ninguém, eu disse n-i-n-g-u-é-m sabia que eu fazia isso – disse surpresa.
- Eu apenas sei – sorriu reconfortantemente – já sei o que você precisa e darei um jeito nisso – e saiu do quarto.
- Espera, , aonde você vai? – fiquei com receio do que ele aprontaria.
saiu e me deixou falando sozinha. Peguei meu celular e enviei uma mensagem dizendo a e Ed que iria à escola amanhã e se rolaria uma carona, já que de sexta feira meu irmão não costumava me levar na escola. Fiz isso também para antecipar uma possível carona de já cedo. confirmou a mensagem e voltou no quarto novamente se aproximando mais do que devia.
- Já falei com sua avó, com seu avô e até com seu irmão. Amanhã de tarde, passarei aqui para te pegar, faça as malas para passarmos o final de semana na minha casa de campo. Vai ser bom para você esfriar a cabeça e outras coisas – informou .
- Espera, em algum momento você perguntou se EU queria ir – dei ênfase no eu.
- Se for depender de você, , nunca mais sairá deste quarto.
Isso ele estava certo, mas ele não pode me obrigar a ir viajar, ainda mais com ele. Sério, isso me deu medo.
- Mas... – Eu ia arrumar alguma desculpa.
- Mas nada, , já falei com todo mundo e você vai comigo – cortou .
Não sei porque diachos, beijou minha testa como despedida. Senti minhas bochechas corarem.
- Tchau, venho te pegar cedo para levá-la na escola.
- Eu já combinei de ir com o Ed, obrigada.
- Ed? Vocês são só amigos, não é? – ele disse como se fosse arremessar uma faca em mim se a resposta fosse sim.
- Claro, meu melhor amigo.
- Tudo bem, então até na escola. Estarei aqui de tarde.
saiu do quarto e eu corri enfiar a droga da minha cabeça no travesseiro. Queria matar meu irmão, era para ele ter dito um não bem grande na testa de .
- Aí está você, queria mesmo ter uma conversinha – disse ao perceber a presença do meu irmão no quarto.
- , sabe, eu também queria conversar com você – Jack ficou sem jeito – É meio constrangedor falar isso, esse seria o papel da mamãe, mas a vovó disse que eu precisava fazer isso.
- Falar o quê? – senti medo do que viria pela frente.
- Você sabe... Você, o , os dois – disse constrangido.
- Ah, não! Jack, poupe-me dessa conversa, e nós não temos nada – rebati furiosa.
- Não, é sério, você vai se comportar que nem uma pessoa madura e escutará o que tenho para ouvir.
- Mas vou repetir, não temos nada – cruzei os braços. Esse assunto é constrangedor.
- Eu, vovô e vovó estamos percebendo que esse Dr. arrasta uma asinha para você – ele não sabia mais o que falar – E agora vocês farão uma viagem juntos. Sozinhos – deu ênfase na última palavra.
- Mas eu não queria ir.
- Não me interrompa, esse assunto já é complicado, só deixe eu terminar – limpou a garganta – E aí, vocês vão ficar sozinhos, e... Olha, só acho que agora não é hora de uma gravidez, tudo bem? Não quero que vocês façam nada demais.
- Jack – olhei com ironia – Eu e faremos sexo selvagem e, sem camisinha – caí na risada.
- Ah, , eu estou aqui falando sério e você me vem com uma dessas? Eu treinei para falar isso, sabia? – Jack disse a arremessou uma almofada em mim.
- Pode deixar que chegarei viva em casa – eu acho, pensei comigo mesma.
- Tudo bem. Vou terminar um trabalho gigantesco da faculdade – Jack se despediu.
Aquilo tudo me deixou nervosa e ansiosa. Eu tinha que dormir, pois no dia seguinte teria aula. Meus pés enrugavam o lençol, peguei meu celular e comecei a jogar para atrair o sono. Não sei, mas o final de semana com estava me deixando ansiosa, e não era uma ansiedade ruim, aquilo até arrancou um sorriso do meu rosto que logo fiz questão de esconder. quer que o apocalipse ocorra, ou seja, ele é uma má pessoa, ou melhor, um anjo. O celular deu 3h30min e o sono foi chegando. Virei de lado e agarrei ao travesseiro pronta para mergulhar no sono mais profundo possível.
- Que fofo. Um final de semana a sós na casa de campo – Disse sentado na cadeira.
- Ai, droga – eu disse assustando com sua presença – Sabia que existe SMS? Whatsapp?
- Te ver pessoalmente é melhor.
- Olha, acho melhor você sair daqui. Acho que fica me observando.
- Eu sei que ele te observa, mas já se foi e verifiquei isso.
Fiquei assustada. Será que me observava durante o banho também?
- Por que veio aqui? – perguntei.
- De nada, primeiramente. Não sei se você percebeu, mas sua dor de cabeça, dor no estômago e vômitos sumiram.
- É verdade – só agora percebi – O que fez? Usou seu poder de cura mágica? – ri.
- Sim, mas você não tem uma doença, mas é o recipiente para o apocalipse. Parabéns.
Espero que ele tenha sido irônico.
- E o que veio fazer aqui?
- Não sei, apenas queria vir e aqui estou. Ainda me deparei com a história de que um casal feliz passará o final de semana, sozinhos.
- Eu estou com medo, sinceramente. às vezes parece ser mandão e abusivo.
- Não precisa ter medo, você não estará só no final de semana romântico com . Ou eu, ou algum guarda estará te vigiando.
- Não é final de semana romântico, não tenho nada com seu inimigo.
- Que bom – sorriu – porque eu vou matar ele e não é bom que você crie vínculos amorosos com o tal.
E por uma questão de milésimos de segundos, tinha sumido do meu campo de vista. Esqueci de agradecê-lo por me fazer perder o sono, mais uma vez. Desisti de olhar a hora e adormeci alguns minutos depois da partida de .
Acordei no dia seguinte com meu irmão gritando meu nome. Eu tinha me atrasado e logo meus amigos chegariam para dar carona. Não desci nem para tomar café da manhã, apenas vesti minha calça jeans, meu all star preto e minha camiseta do Panic! At the disco. Prendi meu cabelo em um coque alto e desci as escadas correndo ao ouvir a buzina do carro. Fechei a porta de casa e caminhava na direção do carro e quando cheguei mais perto pude observar que aquele homem de terno preto estava no banco de trás. Parei no meio do caminho com as pernas travadas.
- Vamos, , ou chegaremos atrasados – alertou Ed.
- Olhem para o banco de trás.
Eles olharam, mas não mostraram reação alguma, acho que aquilo tudo era a ilusão de algum remédio e só eu podia vê-lo. Ainda vendo o homem, sentei no banco de trás do carro ao seu lado, mas não fiz contato direto. Chegamos na escola e Ed estacionou o carro. O homem continuou ao meu lado e assim que abri a porta do carro para descer, senti tocar na minha mão e abrir um sorriso maléfico de orelha a orelha. Gritei imediatamente e vi e Ed me encarando.
- O que foi, ? – disse assustada.
- Ele me tocou – apontei para o banco de trás, mas ele havia sumido.
- Ele quem? – disse Ed.
- Deixa quieto, acho que vi coisas – segui meu caminho para a sala apressada passando por que viu a cena e me seguiu depois.
Eu não queria falar com ele, não agora, por isso apressei os passos e entrei na sala. O vi passando pela porta me encarando e rezei para ele não atrapalhar minha aula. O sinal bateu e a professora de geografia havia despejado todo seu material sobre a mesa.
Por sorte, até chegar em casa, não tinha vindo falar comigo. Inexplicavelmente, até agora, aquele dia estava sendo normal. Almocei, não por fome, mas porque vovô insistiu muito. Subi até o quarto e comecei arrumar minha mala. Abri o guarda roupa e fiquei indecisa com qual roupa usar nos dois dias com . Estendi tudo em cima da minha cama e fui excluído peça por peça até chegar em algumas mudas de roupa. Soltei um sorriso ao ver a mala pronta e deixei ao lado da cama até chegar. Peguei meu perfume favorito e acrescentei na mala, que por impulso, acabei colocando um creme e um batom. Agora sim estava tudo pronto, exceto eu.
Fui para o banho retirar a olheira que estava estampada na minha face. Liguei a água quente e deixei ela correr por todo meu corpo.
Capítulo 06
- , o chegou – berrou Jack.
- Já estou indo – peguei minha mala e saí correndo escada abaixo.
Chegando na sala vi como nunca tinha visto antes. Ele estava bonito, elegante e cheiroso. O blazer preto dava um tom de seriedade. me cumprimentou com um beijo molhado na bochecha, o que me deixou sem jeito na frente de todos presentes ali.
- Dormiu esta noite por conta da ansiedade? – Ele disse como se fosse óbvio – Eu também não – respondeu por nós dois sorrindo.
- Eu dormi muito bem – disse só para contrariar o fato de que ele sabia tudo sobre mim.
- Aham – soltou com ironia – Então, vamos?
- Claro.
fez todo aquele teatro de bom moço na frente dos meus avós, até abriu a porta do carro para eu entrar. Puxei o cinto de segurança e naquele momento desejei poder viajar no banco de trás e acertar um soco na cara do meu irmão por ele ter autorizado a viagem.
- Pode deixar que eu coloco – disse tirando a fivela do cinto da minha mão.
É óbvio que ele queria abotoar meu cinto, isso o traria o mais próximo do meu corpo. E foi o que ocorreu. invadiu todo meu espaço e me fez sentir todo seu perfume. Antes de se afastar, teve a audácia de lançar um sorriso safado para mim e como estava tão perto, parece que ele sorriu dentro de mim com aquele hálito de menta. Eu rezei para que minha família viva e até os espíritos dos meus não tivessem visto aquela cena.
Jack e fizeram aquela cena toda de despedida de macho e eu fiquei ali no carro entediada.
- Cuida dela ou eu arranco seu fígado – disse Jack dando tapinhas nas costas do meu anjo da guarda.
- Prometo que nada de mal acontecerá a ela – disse convicto.
- Vamos logo – eu apressei impaciente antes que Jack falasse besteira.
entrou no carro e deu a partida, senti meu corpo tremer e fui acenando conforme íamos nos distanciando. Seguimos por uma boa parte da estrada em silêncio. Eu encostei a cabeça e ia apreciando a paisagem, ainda nervosa, as árvores ficavam para trás e o sono foi chegando amigável, só assim comecei a relaxar.
- Até que enfim você relaxou, – disse quebrando todo o silêncio.
- Vai demorar muito para chegarmos?
- 46 minutos – soltou um sorriso fofo e me encarou me fazendo rir.
- O que foi?
- Sexo selvagem? Sério?
Todas as minhas falas e palavras fugiram da mente naquele momento. Não acredito que tinha escutado aquela conversa. Eu desejei como nunca que aqueles 46 minutos se transformassem em um minuto. Fiz cara de desentendida, mas eu sabia que ele poderia me espionar, já que era meu anjo da guarda. mencionou que só pode falar comigo após ir embora, ou seja, quase com o sol nascendo.
- Oi? – essa foi à única palavra que encontrei.
- Nada... Só não seria má ideia – ele riu condenadamente – Você gosta de cavalos?
- Gosto, só que nunca me aproximei de um.
- Eu tenho cavalos, podemos passear no final da tarde. O por do sol é maravilhoso, você vai adorar.
- Tudo bem, mas já vou avisando que não sei andar a cavalo. E se eu cair e quebrar o braço, a culpa vai ser sua.
- Eu prometi ao seu irmão que nada de mal te aconteceria. Nada de mau hoje, amanhã e sempre.
Aquelas palavras não soaram suaves nos meus ouvidos. O que faria ao descobrir que eu sou a chave para o apocalipse? Não pronunciei mais nada, apenas cochilei o restante da viagem e só acordei ao sentir que o carro brecou.
- O que foi? – perguntei ao ver que estávamos na estrada ainda. Desci do carro do mesmo jeito que desceu.
- Nada, entre no carro – disse enquanto observava o céu.
Fiquei com medo dele ter sentido a presença de algum anjo que prometeu que enviaria para minha segurança. Entrei de volta no carro e ele entrou logo em seguida. Acelerou e continuou com uma velocidade um pouco maior.
- , você teria medo das coisas que te rondam durante a noite? – soltou inesperadamente.
- Não sei o que me ronda durante a noite – rebati rapidamente.
Ele me encarou sério.
- E se o mundo estivesse acabando? Você teria medo?
- Não. Não tenho medo da morte.
sorriu maliciosamente e voltou a prestar atenção na estrada. Finalmente após alguns minutos, chegamos na casa de campo de . O lugar era muito bonito, árvores com flores amarelas contornavam o portão no estilo imperial do lugar. Uma ponte de madeira nobre no meio do caminho dava passagem ao riacho que cortava o lugar. Ao fundo, uma imensidão verde, os cavalos pastavam livremente e um homem colocava comida no cocho. Ao lado da garagem, uma enorme árvore segurava dois balanços.
- Que lugar lindo – eu disse encantada.
Descemos do carro e tirou minhas malas. O homem que colocava comida para os cavalos aproximou-se para dar boas vindas.
- Boa tarde, senhor. Boa tarde, senhora – Ele nos cumprimentou.
- Boa tarde – estendi a mão e ele retribuiu – Meu nome é , Campbell.
- É um prazer conhecê-la. Meu nome é Ariel e estou aqui a seu dispor.
- Ariel? Como o leão de Deus?
Os dois se entreolharam assustadoramente.
- O que foi? Nunca ouviram esta historia? – lancei para quebrar a tensão.
abriu a enorme porta central e avistei uma sala gigante com uma clareira no centro. Do lado direito, uma escada de madeira dava acesso ao segundo andar e aonde seria me quarto. Os dois me acompanharam até lá e vi que tudo já estava arrumado. Deixei minha mala no canto.
- Vamos comer alguma coisa, minha querida? Estou morrendo de fome – Disse e eu fiquei surpresa com ‘’minha querida’’. passou seu braço direito atrás da minha cintura e fomos assim até a sala de jantar. Fiz questão de tirar os braços dele de lá assim que chegamos no lugar e ele percebeu isso.
A mesa estava linda. Havia mais de cinco tipos de pão, leite, frios e muitas frutas. Ariel nos deixou a sós e fiquei tensa.
- Relaxe, você está muito nervosa. Trouxe você até aqui para relaxar um pouco, e porque também eu queria ficar perto de você, a sós.
- A sós para quê? – perguntei como se não soubesse a resposta.
- Depois eu falo – ele se levantou da mesa e esticou a mão para eu segurá-la, mas apenas levantei e o vi ainda com a mão estendida – Segure, eu não mordo.
Andar de mãos dadas com já era demais, aquilo me deixou mais nervosa do que eu estava, fiquei totalmente sem reação. então resolveu ele mesmo segurar na minha mão e me guiou para fora da casa.
- Viu? Eu não te mordi por segurar na minha mão. Seu problema, , é que não confia em ninguém. Você pode confiar em mim.
- Não gosto de confiar nas pessoas, elas mentem.
- E eu menti alguma vez para você? – ele perguntou.
- Ou talvez escondeu a verdade.
- Que verdade? – ele se fez de bobo.
- Nada, esquece.
Percebi que ele ficou desconfiado sobre o que falei, mas relaxou ao chegar perto do estábulo. Ariel tinha preparado dois cavalos para a montaria, um preto e um branco. Aquele cavalo negro me observou de uma forma estranha, era como se eu fosse atraída para ele. Fui me aproximando vagarosamente e os dois homens alertaram.
- Cuidado, , não se aproxime dele.
Ignorei-os completamente e passei a mão no cavalo. O animal foi dócil e se aproximou de mim. Os dois ficaram abismados com a reação do animal.
- Por quê? Ele me morderia? – perguntei ironicamente.
- Era para ele ter ficado agitado. Segundo o antigo dono dele, somente pessoas especiais poderiam montar nele, pessoas com – pensou na palavra certa – uma índole muito forte e um pouco... Maligna poderia montar nele.
- E você monta este cavalo? – perguntei curiosa – Não que eu acredite nesta história...
- Sim, mas sinto que ele não é totalmente leal a mim – sorriu – Eu pensei que ele não gostaria de você, mas gostou.
pegou impulso e montou no imenso cavalo negro. O animal ficou um pouco desajeitado, mas logo se acostumou.
- Vem – esticou a mão para mim.
- O quê? – fiz – me de desentendida. Não montaria naquele cavalo com nem morta. Bem, acho que morta andaria.
- Eu pedi o cavalo branco porque pensei que este não gostaria de você. Como ele gostou, você vem comigo.
encarou Ariel como se tivessem um plano. Sem que eu pudesse raciocinar, o empregado agarrou em minha cintura e me ergueu com uma força indescritível até eu agarrar as mãos de e eu mesma subir no cavalo. Eu ia montar atrás, pensando em como seria desagradável ter que laçar meus braços no corpo do meu anjo da guarda. Mas não tive tempo para reclamar, me puxou para frente e acabei sentando na frente de . O psicólogo entrelaçou minha cintura com suas mãos e segurou as rédeas bem firmes. Deu um tranco no cavalo e ele começou a galopar. Desejei do fundo do meu coração que não estivesse sentindo minhas pernas tremerem. Uma sensação estranha tomou conta de mim, não senti calafrios, mas sim um calor subindo dos pés a cabeça. parecia se divertir com meu nervosismo, a cada galopada que o cavalo dava, seu corpo colava ao meu. Como se ainda estivesse insatisfeito, apoiou sua cabeça no meu ombro. Tentei desviar minha atenção de e comecei a observar a paisagem. Aquele campo verde estava me deixando encantada, o sol dourado dava um brilho naquele lugar. Já estávamos bem distantes quando começamos a entrar em um lugar com uma mata mais fechada.
- Para onde estamos indo? – perguntei com medo da resposta, afinal, entrar na mata com um cara que quer o apocalipse não é boa coisa.
- Você vai gostar.
Foi a única resposta que recebi. Eu sabia que lá no fundo estava dando um sorriso enorme e se divertindo com minha preocupação. Mesmo estando de costas para ele, sabia que sua feição era de alegria. Ele me observava como se fosse uma joia rara jamais vista. Percebi todo o mistério quando chegamos a cachoeira. A imensa queda d’água refletia com o sol e transbordava águas cristalinas. Aquele lugar parecia ser mágico. Nas árvores, vi pássaros maravilhosos, com cores exuberantes.
- Você poderia ter acabado com minha preocupação se dissesse que estávamos vindo para esse lugar incrível.
- Eu gosto de te ver nervosa, com os olhos correndo para todos os lados, com as pernas tremendo e com uma sensação correndo pelo corpo. Você fica fofa. – Ele deu um beijo no meu pescoço. Ele realmente sabia como me deixar nervosa.
- Eu não estava nervosa – dei um tapa em seu ombro.
- Eu desço primeiro – disse pulando do cavalo.
Eu me adiantei para não ter que passar por aquela cena, mas era tarde demais. segurou minha cintura para me auxiliar na descida do cavalo. Ele, ainda não contente por nossa proximidade, aproximou meu corpo do dele na descida, fazendo com que eu deslizasse através de seu corpo até o chão. Meu rosto ficou vermelho e não tive outra saída a não ser olhar para aquela imensidão azul dos olhos dele. Se ele aproximasse mais um pouco rasgaria todo meu corpo e passaria por mim. não estava a fim de respeitar espaços, não estava a fim de ficar parado. Eu já estava sem reação, sem fala e quando sua mão segurou minha nuca, despedacei-me por dentro. Eu tinha que reagir, ou seria tarde demais.
- ... – foi a única palavra que achei.
- ... – sussurrou.
Reuni forças de algum buraco negro que foi gentil comigo para conseguir empurrar o corpo dele para longe. Os centímetros logo viraram metros e vi ele jogar a camisa para a margem.
- Não vai entrar? – ele disse como se nada tivesse ocorrido.
- Acho melhor eu ficar aqui – disse insegura.
- Esse momento tem que ser aproveitado, . Deixa de vergonha e dá um pulo aqui.
Aproveitei o mergulho de para o fundo para aproximar-me da água aos poucos. Eu não trouxe roupa de banho, então entraria daquele jeito mesmo. Minha pretensão era ficar com a água somente até os joelhos, mas me surpreendeu me puxando para dentro da água.
- Eu sei que você sabe nadar.
- A água está gelada – gritei ainda incrédula do ocorrido.
Fui para aquele lugar com a intenção de relaxar, então era isso que faria com aquela água cristalina em minha volta. Ignorei totalmente a presença de e mergulhei, bem fundo. A água era tão clara que era possível ver o fundo. Enormes pedras escuras forravam o chão e como meu fôlego estava bom, resolvi ir mais fundo. De repente, vejo aquele homem que vi no espelho do banheiro nadando do fundo para a minha direção. Virei meu corpo todo para cima e tentei nadar até a superfície, mas o homem agarrou meu pé e começou a me puxar. Debati com toda a força, mas meus movimentos ficaram lentos devido ao meio. Cada vez mais me distanciava da superfície, meus pulmões já estavam doendo. Talvez tenha chegado a minha hora, mas morrer no fundo de uma cachoeira é um pouco terrível. O homem me puxou e senti o fundo daquele lugar. Percebi que pulou e nadava em minha direção, mas como aquele lugar era muito fundo, minha respiração não aguentou mais. Comecei a engolir água e dentro de segundos, apaguei.
Capítulo 07
- Ainda bem – respirou aliviado.
Ele tampou meu nariz com uma de suas mãos e tocou sua boca na minha, lançando uma carga de ar. A respiração boca a boca tinha dado certo, eu ainda estava viva e agora vomitava litros e mais litros de água. Apoiei-me nos cotovelos ainda engasgando para analisar a situação. Acho que estava mais traumatizada e nervosa por tocar minha boca com sua, que ter sofrido um afogamento.
- Você está bem?
- Eu acho que sim.
- Acho melhor voltarmos, você precisa de um banho quente e uma coberta bem fofa. E quem sabe, um abraço bem quente também.
Voltamos até o cavalo e o animal, ao ver meu estado, abaixou-se até o chão para facilitar minha subida nele.
- Adestrou bem seu cavalo – comentei.
- Para falar a verdade, eu não ensinei nada a ele.
No caminho de volta foi menos radical e me segurava com mais força que o normal.
- Vai ficar tudo bem, meu amor – e deu outro beijo no pescoço.
Será que ele não entende que aquelas ações me deixam mais estranha ainda? Consegui respirar melhor quando avistamos a casa. Ariel nos auxiliou e desta vez fui mais rápida e saltei do cavalo antes que esfregasse seu corpo de novo no meu. Ariel pegou as rédeas e levou o cavalo de volta para o estábulo.
Após certificar-me que a porta do meu quarto estava trancada, fechei as janelas do quarto e deixei uma troca de roupa em cima da cama. Fui até o banheiro e tranquei a porta para tomar um banho em paz. Assim que liguei o chuveiro, uma água quente escorreu por todo meu corpo. Foi um banho calmo e relaxante, eu precisava daquilo após passar por todo aquele trauma. Tirei o excesso de água do cabelo e passei uma toalha em volta do corpo. Assim que abri a porta do banheiro, levei um susto ao perceber que estava sentado na ponta daquela enorme cama.
- Quer me matar de susto? Sai daqui para eu me trocar – sussurrei com medo que escutasse.
O anjo sumiu e só após eu ter colocado uma roupa e sentado na cama, ele voltou a aparecer.
- Eu é que faço esta pergunta, . Quer me matar de susto? Você tentando se matar afogada enquanto estava por perto? Você sabia que eu não poderia aparecer e te salvar! – ele corria de ponta a ponta do quarto.
- Eu não tentei me matar – debati indignada.
- Não? Então aquilo foi o quê?
- Espera, se é meu anjo da guarda, por que você que tem que aparecer como o super herói?
- Eu fiz isso.
- Isso o quê?
- Tirei o vínculo entre você e desde aquele dia que você tentou se jogar da ponte. Dessa forma ele ainda tem a preocupação de te proteger, só que não saberá sua localização. Por isso ele não apareceu. Ele ainda continua sentindo quando você está em perigo, essa foi sua sorte hoje.
- Por que você fez isso?
- Você tem que se distanciar de ! Ele não é um cara legal, ! – disse como se fosse a coisa mais óbvia do universo – Só que agora está mais difícil do que nunca.
- Por quê?
- Você não percebeu? Ele trouxe você aqui, para passar o final de semana com ele e provavelmente, o próximo também será com ele e assim continuará até que o fim chegue. Ele pode te monitorar na escola e na sua casa durante a semana, mas o final de semana você está livre para sumir sem ele perceber.
- Eu preciso saber mais sobre tudo isso, – Assim que disse isso, vi o arcanjo sumir da minha frente como um passe de mágica. A porta do meu quarto se abriu.
- Com quem você está falando, ? – disse entrando no lugar.
- Espera, esta porta não estava trancada?
- Acho que não. Tudo bem, acho que você não quer ser incomodada.
- Não, espera. Pode ficar. Eu só estava tentando ligar para o meu irmão, mas acho que fiquei sem sinal.
- Quer usar meu celular? – ele tirou o aparelho do bolso.
- Não precisa, depois eu falo com ele – sorri para disfarçar – O que fazia de bom?
- Espera – disse apressando os passos pelo quarto – tinha alguém aqui.
olhou atrás das cortinas e depois abriu a janela para vasculhar o lado de fora com os olhos.
- Como assim, ? Quem estava aqui? – tentei ser atriz o máximo que pude.
virou-se para mim e ficou encarando. Parecia que tudo tinha parado, exceto as cortinas que balançavam com o vento.
- , você engana qualquer pessoa nesse mundo, menos eu. Quem estava aqui?
- , não estou te entendendo. Como uma pessoa entraria aqui e depois sairia? Olha a altura dessas janelas!
- Batimento cardíaco acelerado, seus olhos estão piscando mais rápido, suas mãos estão agitadas – ele se apoiou de frente para mim, obrigando-me a deitar na cama – Você continua mentindo.
Seus olhos estavam tão próximos dos meus que não consegui inventar outra mentira. Se eu contar, vai matar ou o contrário. Não sei muito o que está acontecendo, já que não me contou tudo, então a única coisa que sei é que esse tal de apocalipse está como fogo perto bomba de gasolina. Um deslize e tudo explode. Encostei minha mão no peito de e o empurrei para longe. Aproveitei aquele momento para me levantar e sair correndo dali. Desci as escadas correndo e corri para o lado de fora da casa. Olhei para o lado e vi o balanço tão chamativo e sentei-me nele. Não demorou muito para que aparecesse e ocupasse o segundo lugar.
- Desculpa, outra vez. Não queria te magoar.
- Não magoou.
- Eu sei que você está magoada, não só comigo, mas com todos.
- É sério? Vai começar outra vez a ser psicólogo fora do seu período? – disse impaciente – As pessoas me magoaram tanto, que agora nem ligo mais.
- Como eu disse, você esconde tudo de todos, menos para mim. Você ainda se importa, sente e se magoa, mas fingi não sentir nada apenas para mostrar que o lado de dentro dessa armadura está esfaqueado e quebrado.
- Eu estou bem, ok?
se levantou do balanço e começou a me empurrar.
- Para com isso, estou parecendo uma garotinha de 5 anos.
- Para mim, você sempre será a garotinha de 5 anos.
Ele empurrou mais forte, e mais forte, e mais forte, até que o balanço atingiu uma altura considerável para um belo tombo. Ele parou de me empurrar e foi para frente do brinquedo, então comecei a pegar impulso sozinha mexendo as pernas para frente e para trás.
- Pula – ele disse de braços abertos.
- Nem morta.
- Ou você pula ou eu te derrubo daí.
- Não vou pular – foi para a parte de trás do balanço e deu um empurrão tão forte que o balanço não virou de ponta cabeça por pura sorte – Sai daí, , eu vou cair.
- Essa é a intenção. Ou você pula ou te empurro mais forte ainda.
- Está bem, mas saí daí de trás!
Ele voltou para frente do balanço e abriu os braços novamente. Peguei mais impulso com as pernas e me joguei do balanço. Meu corpo foi projetado para frente com muita força que cheguei a pensar que não me alcançaria e eu teria um gesso no braço no dia seguinte, mas não foi isso que aconteceu. me pegou em seus braços e eu estava segura, esse foi o sentimento que surgiu: segurança. Ele soltou um sorriso tão grande que não pude fazer outra coisa a não ser retribuir sorrindo também e o abraçando tão forte.
- Meu Deus, que abraço forte – disse se jogando de costas no chão e como eu ainda estava no colo dele, caí em cima de seu corpo.
- Quer me matar do coração? – eu disse assustada pela queda.
- Quero sim.
Se eu pudesse voltar no tempo para não ter caído nos braços de , eu voltaria. Agora não dava mais tempo para fugir daquela situação, tudo já tinha ido longe demais e como um jogo rápido, agora era o corpo de que estava em cima do meu. Suas duas pernas me bloquearam de qualquer movimento e suas duas mãos seguravam meu pulso. Minha respiração estava ofegante e senti uma vontade tremenda de chorar. Ele soltou meus pulsos e não reagi, pelo contrário, meu corpo respondeu de uma forma que nem mesmo eu esperava. Agora, minha mão direita contornava seu rosto fazendo carícia naquela pele de anjo. segurou minha mão e a beijou três vezes e agora me encarava sem piscar. Ele se sentou para trás e me puxou para cima de seu colo, sentando-me de frente para ele. Se antes eu queria fugir, agora não queria mais. contornou suas duas mãos em volta do meu rosto e aproximou nossos rostos. Ele investiu a primeira vez e pude sentir sua boca tocar a minha levemente. Seus lábios eram macios. Ele investiu outra vez tocando meu lábio por mais tempo, e agora na terceira vez ele tocou por completo minha boca causando histeria no meu corpo inteiro. Sua boca já começava a se abrir para dar um beijo mais profundo, eu tombei a cabeça para o lado direito para dar mais conforto aos movimentos dele, mas um barulho ensurdecedor como o apito de um trem nos deu um susto e afastou nossos corpos. ficou de joelhos no chão tampando os ouvidos e eu resisti mais ao barulho, mesmo assim, continuava agonizante. A árvore do balanço começou a ranger e vi as raízes saindo da terra. A árvore agora não tinha mais um ângulo de 90 graus e começou a cair para trás. O barulho ensurdecedor só parou quando a árvore atingiu o solo. Começamos a nos recuperar do barulho aos poucos, percebi que estava tonto mas ele veio até mim.
- Você está bem?
- Que barulho foi aquele?
- Não sei. Espera, como você conseguiu ouvir aquilo? – ele dizia incrédulo.
- Com os ouvidos.
- Sério? – disse com ironia – Rápido, vamos para dentro da casa. Ariel – gritou.
Ariel logo entrou na sala aonde nós aguardávamos ansiosos.
- O que foi aquilo? – perguntou Ariel.
- Nós sabemos o que foi aquilo, preciso que você fique aqui com ela para eu ir atrás.
- Sim, senhor – respondeu Ariel.
- Espera aí, , aonde você vai?
- Eu já venho – e saiu me dando as costas. Porém, ao chegar na porta, ficou olhando para o céu paralisado. Deu meia volta e entrou de novo na casa subindo as escadas correndo. Ao descer, voltou com uma espada prateada e aí sim saiu correndo gritando – Ariel, é que está aqui.
Quase gritei ao saber que era o autor daquele barulho ensurdecedor. Fiquei morrendo de medo que ele fosse pego, por isso comecei a rezar.
- Ariel, acho melhor você ir lá com . Vou me trancar no meu quarto.
- Desculpe-me, mas pediu para que eu ficasse olhando você.
- Eu prometo que não farei nada demais, só vou colocar um fone e dormir.
- Sinto muito, mas ficarei com você até ele voltar.
Fiquei inquieta vagando pela sala rezando para que tudo estivesse bem. Os minutos passaram e nada de voltar. Após quase meia hora de espera, ele voltou carregando a espada na mão.
- Virou Samurai? Quem é ?
- Não sou Samurai, mas se a sua segurança dependesse disso, eu me tornaria um. Então, está com fome?
Sentamos-nos para comer e eu ainda senti meus músculos repuxando de um lado para o outro. permaneceu frio, como se nada tivesse ocorrido. Só assim pude calcular o estrago que eu faria na minha vida se aquele barulho não tivesse aparecido. Deixei um bocejo escapar e percebeu meu estado. Após o ocorrido na cachoeira, meu corpo estava cansado, eu precisava descansar.
- Está com sono, meu amor? – Ele pegou na minha mão e a beijou.
- Muito. Acho que o dia de hoje foi cheio de surpresas.
- Isso foi uma indireta por eu ter te beijado?
Ai, caramba, ele tinha que ter tocado nesse assunto. Eu rezei, quase ajoelhei no milho para pedir que ele não comentasse nada, mas parece que minhas preces não foram ouvidas.
- Você não me beijou.
Levantei da mesa e lavei meu prato após Ariel quase me bater por eu fazer aquilo. Subi as escadas e dessa vez, verifiquei dez vezes se a porta do quarto estava realmente trancada. Puxei a coberta em cima do meu corpo e mandei uma mensagem para Jack avisando que estava tudo bem. Menti, outra vez. Não estava nada bem, como sempre. O meu interior está uma bagunça, é uma mistura de querer e não querer, fingir ou não fingir, sentir ou não sentir. Eu realmente estaria calma se a situação estivesse sob o meu controle, mas as rédeas fugiram da minha mão. E após muito tempo sem sentir, eu senti. O calor voltou a tocar meu coração congelado, transbordando a inundação da alma pelos olhos. Não sei se foi sorte, mas adormeci rapidamente.
Capítulo 08
Um ótimo dia começou. Minha mãe veio me acordar naquela manhã ensolarada de New Orleans. Enchi os pulmões e pude sentir o cheiro de panquecas que papai preparava. Fui até a cozinha e vi Jack enchendo a panqueca de recheio. Após o café da manhã, mamãe me chamou na sala e sentei em seu colo para pentear meus cabelos. Esparramei minhas bonecas pela sala e Jack jogava vídeo game a todo vapor. A campainha tocou e o vi entrar, o homem de preto, fiquei desesperada e corri a me esconder atrás do sofá. O homem matou meu pai e minha mãe com uma espada igual a que tinha e depois veio até mim dizendo “dorme meu bebê”. Fiquei aterrorizada e comecei a gritar sem parar.
- , calma, o que foi? – disse segurando meus dois braços.
- Ele – gaguejei.
- Ele quem? – observou o quarto.
Abracei por me sentir segura. Percebi que tudo aquilo não passava de um pesadelo ruim.
- Foi só um pesadelo.
- Tudo bem, eu estou aqui.
Após vestir uma roupa confortável, fomos tomar café e comunicou que iríamos embora após o almoço.
- Vamos dar uma volta?
- Vamos.
Começamos a andar e não sabia para onde queria me levar, só rezava para que não fosse a cachoeira novamente.
- Por que você se afogou ontem?
- Porque não consegui respirar, isso não é óbvio?
- É que você se debatia.
- Eu estava morrendo, dá um desconto.
Andamos, andamos e andamos, as conversas iam e vinham e um momento de silêncio planava sobre nós. Descobri para onde queria me levar, um jardim, para ser sincera o maior e mais bonito jardim que já vi em minha vida. Estava lotado de flores, uma fonte no meio abrigava muitos peixes coloridos e nas laterais havia muitas árvores frutíferas. se sentou em um banco no estilo imperial que ficava debaixo de uma árvore que fazia uma grande sombra. Fez sinal com a mão para eu ir me sentar ao lado dele.
- Eu te trouxe aqui para...
- Vai começar tudo de novo – interrompi.
- Não, na verdade te trouxe aqui para terminarmos o que começou ontem. Mas se você não quiser... – lamentou .
- Mas eu quero.
Se eu vasculhasse em todos os dicionários que existem nesse pequeno planeta Terra, em várias línguas e culturas, não acharia uma palavra para descrever aquele sorriso de .
- Garota, você acabou de me dar a maior alegria na minha vida.
se aproximou aos poucos, para ele, podia sentir que o momento era especial. Ele não tinha pressa, mas tinha precisão para que tudo fosse perfeito. puxou a franja rebelde que persistia cair em cima dos meus olhos para o canto, passou seu dedo indicador em todo o contorno dos meus lábios. Como se ainda não bastasse, deitou minha cabeça em cima de suas pernas e passou a mão em cima dos meus olhos para que eu os fechasse. Aos poucos, senti que se aproximava ao sentir sua respiração perto de mim. Sua mão agarrou minha nuca com força para elevar um pouco minha cabeça e ajudar a diminuir a distância entre nós. Enfim, sua boca encostou-se à minha, quente e macia, e agora sua língua girava em uma sincronia perfeita com a minha. Aquela posição estava me deixando em desvantagem com os movimentos, por isso, sem desgrudar minha boca da dele, sentei-me e lacei seu pescoço com minhas duas mãos. Um vaso grande e pesado se espatifou no chão atrás de nós, provocando um grande barulho e um susto. Levantei apressada dali e vi toda aquela terra espalhada no chão.
- Eu beijei a – gritou comemorando para o céu.
Era como se gritasse aquilo para , como se fosse uma vitória. Eu fiquei muda, sem reação e perdida. Campbell, como você pode se entregar daquele jeito para seu anjo da guarda líder do apocalipse?
Voltamos de mãos dadas para a casa, e sinceramente eu queria que aquele beijo não se repetisse, mesmo que tenha sido perfeito e tão profundo. O gelo em meu coração estava começando a derreter e minha armadura desmoronar. Não quero isso, se você abre o coração para a felicidade, a dor e tristeza de intrometidas entram também.
Após aquele beijo, passear de mãos dadas por todo aquele lugar pareceu uma coisa tão minúscula que não vi o tempo passar. Antes de voltarmos para a casa, passamos no estábulo para nos despedirmos dos cavalos e então aproveitou para me apresentar aos outros animais. Assim que voltamos, almoçamos e já deixamos as bagagens no carro.
- Foi um prazer conhecer à senhora – disse Ariel – Espero que volte logo.
- Voltaremos – respondeu por mim dando um selinho rápido que me deixou vermelha.
Entrei no carro e rapidamente invadiu meu espaço novamente, só que desta vez ele sabia que poderia agir, e agiu. Abotoou o cinto e rapidamente começou beijar meu pescoço e só parou até alcançar minha boca.
- - eu disse na expectativa que ele se contesse.
- Está bem.
Começamos a viagem novamente no silêncio, mas desta vez, foi eu que o quebrei.
- , quero deixar bem claro que o que ocorreu lá, deve permanecer lá, tudo bem?
- Você é difícil – ele começou a rir.
- Por que está rindo? Você quer ir adiante com esta historia? – aguardei a resposta com medo.
- É claro que sim, . Eu tinha medo de que você não gostasse de mim, mas você provou que meu medo foi bobo.
- Não, você me pegou em um momento de fraqueza.
- Isso que você sente por mim não é fraqueza e tem outro nome.
- Chega, , essa história não tem como ir em frente. O que pensarão de mim ao saberem que namoro meu psicólogo?
- Ora, ora senhorita, , senti um desvio de culpa. Desde quando você se importa com o que os outros pensam?
- Eu não ligo – fiz birra – , eu, não quero que essa historia siga adiante.
- Você gosta de outro garoto?
- Não, não é isso.
- Então você me acha feio.
- Também não é isso.
- Então você me acha bonito?
- É – e um silêncio prevaleceu até o sorriso de não ter mais espaço dentro daquele carro – Olha, esquece o que eu falei. Você só me deixa confusa.
- Confusa, agitada, nervosa... Eu já disse.
- Chega, – desabafei – Eu desejo silêncio até chegar em casa, pode ser?
Ele ligou o som e fomos ouvindo o cd do Arctic Monkeys. Pelo menos bom gosto ele tinha. tem esse estilo despojado e parece ser divertido, pude perceber isso só após conhecer ele fora da escola. No primeiro dia que ele assumiu como psicólogo na escola, ninguém sabia, então foi uma surpresa entrar na sala e ver que ali, atrás da mesa, havia uma pessoa diferente. Demorou um pouco, mas logo fui me abrindo mais com ele. Ele parece ser sério e estar sempre concentrado, mas quando sorri, abala as estruturas de qualquer um. Lembro-me claramente que observou sua beleza e até insistiu para eu dar em cima dele, mas a ignorei por completo e Ed ficou rindo da cena após eu quase puxar o cabelo dela de tanto que ela falava de . Minhas lembranças acabaram quando meu celular vibrou.
- É – disse .
Peguei o celular e fiquei chocada ao perceber que a mensagem realmente era de . Respondi a pergunta idiota da minha querida amiga com um “conto tudo depois”.
- Que tal um acordo?
- Como assim, que acordo? – fiquei perdida na situação e voltei o celular para meu bolso.
- Tem uma festa, quarta feira. É aniversário de um amigo meu e a festa vai sacudir a cidade.
- E? – franzi o cenho.
bateu a mão no volante e começou a rir. Eu tinha entendido que aquilo era um convite, e estava com medo do outro lado do acordo.
- Fala, , o que isso parece? – ele se divertia com a situação.
- Você está me convidando para sair – comecei a imitar a fala de um robô – mas eu já disse que não quero ir com esta historia adiante e não vou nesta festa com você, nem morta.
- E é aí que nosso acordo entra em cena – ele sorriu diabolicamente e comecei a ficar com medo – Você vem comigo e ninguém fica sabendo que você me beijou daquele jeito caloroso.
- Espera aí, você que me beijou!
- Quando um não quer, dois não beijam.
Encostei-me do banco para não perder o controle e dar um milhão de socos no . Chantagem? O máximo que ele conseguirá de mim será ódio, isso sim!
- Pronto? Aceitou? – eu olhei impaciente – Vamos, , você teve a prova que sair comigo não é tão ruim assim.
- Está bem, que saco! Ai de você se ousar contar para alguém.
Chegamos em casa e Jack foi me receber na porta com um abraço caloroso. Ele pode ser um idiota fofo, mas eu o amo. Vovô e vovó logo vieram também.
- Sentimos sua falta, .
- Eu também. Agora eu acho que preciso descansar, a viagem foi longa...
- Tudo bem, meu amor – disse vovó e eu logo fui entrando na casa – Não vai se despedir do seu amigo?
Na boa, se aproximar de para um abraço de despedida não era lá a melhor opção. Mas fui. O abracei rapidamente e desejei que aquilo durasse alguns milésimos, mas ele prolongou causando total histeria ao selar nossos lábios ali na frente de todo mundo. Eu o empurrei para longe e saí limpando a boca com as palmas da minha mão.
- Desculpem-me, família Campbell, mas eu tinha que fazer isso – disse entrando no carro e partindo logo em seguida. Que ódio de , ele disse que não contaria a ninguém. Não vou mais com ele naquela merda de festa também, pronto! Joguei todas as coisas de cima da minha cama no chão de tanta raiva que eu estava.
- Eu disse, – gritou Jack ao passar pela porta do quarto se exibindo por saber que sentia algo por mim.
- Cala boca, seu idiota – esfreguei meus cabelos.
- Vou levar vovô e vovó até a CAI e já volto, quer vir junto?
- Não – CAI é um centro que tem várias atividades para os idosos que vovô e vovó vão vários dias. Assim que os ouvi saindo, fui até a cozinha pegar um copo de água bem gelado para que desse uma dor de garganta forte e eu não fosse na escola no dia seguinte. Abri a porta da geladeira para pegar um pouco de água e quando a fechei, assustei ao ver atrás da porta , deixando a jarra cair no chão e se espatifar com o impacto.
- Quer me matar do coração? – apontei os estilhaços de vidro – Viu o que você fez?
- Dou um jeito nisso – ele estalou os dedos e a jarra estava perfeitamente inteira em cima da mesa – Foi você que derrubou, porque não está preparada.
- E pessoas que se assustam deveriam saber que seriam assustadas?
- Essa não foi minha intenção. Mas bem que você mereceu – ele torceu o nariz.
- Mereci? Então eu mereço ficar em paz só por um segundo sem anjos da guarda me azucrinando.
- Depois daquilo, não saio mais do seu pé – sentou-se na cadeira e fez cara de bravo – Beijar ? Eu tentei de todas as maneiras impedir aquilo, mas... – ele enfiou a cabeça no meio dos braços para tentar controlar o nervosismo.
- Então aquele barulho... Foi você, não foi?
- Claro que foi. Você não pode ficar com , nunca, muito menos gostar dele.
- Hey! – fiquei inconformada – Eu não gosto dele! Foi apenas... Não sei o que foi aquilo, mas tenho certeza que não acontecerá novamente.
- Espero que sim – ele sorriu não tão tranquilo assim – Vim aqui para te fazer uma proposta.
- Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
- Delicada como um coice de mula. Pois bem. Você tem a esfera vital no seu corpo e com o passar do tempo ela te deixará mais forte. Só que você não sabe como agir e quando os anjos descobrirem que o poder vital está com você, partirão para cima, até mesmo seu querido .
- E? – desta vez eu realmente não sabia do que se tratava.
- Eu vou te treinar, , deixar você mais forte. Não quero que você entre nesta batalha, mas se algo de ruim acontecer, não quero que você se machuque.
se levantou e acendeu a luz da cozinha, que antes era iluminada apenas pela luz que vinha da sala. Seu cabelo brilhou com a passagem da luz e só então pude perceber que algo estava diferente em . Seus músculos aparentavam estar mais apreensivos, ele não era de sorrir muito, mas hoje não havia nada de tranquilidade nele.
- , o que aconteceu?
- Nós tentamos , mas não deu certo – lamentou – o Apocalipse não começou ainda porque falta a esfera vital, que é você, e agora está descobrindo como libertar Lúcifer. Ou seja, praticamente só falta você para começar o Armagedon.
- Isso não é nada bom – lamentei – Não tem nada que possamos fazer?
- Nada. Agora é questão de tempo... Para libertar Lúcifer é preciso um ritual no qual você estará envolvida e é isso que está tentando descobrir, o ritual.
- Não tem como remover esse negócio de dentro de mim?
- Venho trabalhado dia e noite sem descansar junto com minha equipe para que possamos te livrar desta bagunça. Eu não quero que você se machuque, .
- E eu não vou. Você vai me treinar muito bem, sei que será um bom treinador e nós venceremos, sairemos vitoriosos dessa batalha.
me abraçou e senti ele se aliviar.
- Já pode me soltar agora – eu disse após o forte abraço.
- Desculpa – ele ficou sem graça – Após a escola fechar a porta, usaremos o ginásio para treinar.
- Mas que desculpas usarei para me livrar de todos e ir até lá?
- Você vai começar a fazer um curso, de educação física. Eu dou um jeito de conseguir papéis para que você possa provar para sua família.
- Tudo bem –assenti com a cabeça.
- Tchau – disse me surpreendendo com um beijo na bochecha.
Foi só sumir do meu ponto de vista que Jack estacionou o carro em frente de casa. Espero que possa me ajudar e dar um fim nesse mal todo, mas preciso pensar em algo mirabolante para tirar do lado errado. é divertido, engraçado e não parece ser tão ruim assim, por isso acredito que ele possa mudar. Ignorei totalmente o jantar trazido por Jack e me tranquei no quarto para arrumar o material e fazer um último trabalho, já que as férias estavam próximas e como eu havia fechado nota em todas as matérias, pretendia adiantar o descanso.
Capítulo 09
Simplesmente me joguei na carteira assim que cheguei na escola. Debrucei sobre a mesa e tudo que vi foi à escuridão. Faltavam alguns minutos para o sinal e os alunos iam chegando fazendo barulho para minha decepção.
- Bom dia, minha querida – chegou me assustando e eu a encarei com todo o ódio do mundo.
- Bom dia, para você também – Sorri da maneira mais irônica possível.
A Sra. Greene entrou na sala com todo seu material, sentou-se na cadeira e começou a fazer chamada. Como eu era a primeira da lista, respondi e enfiei a cabeça de novo no escuro de meus braços.
- Temos um aluno novo? Por favor, querido, diga seu nome – a professora ordenou.
- , Angelus.
Levantei a cabeça derrubando o estojo de cima de mesa ao reconhecer aquela voz que brotava do fundo da sala. Não poderia ser quem eu estava pensando, seria muita audácia. Fitei o relógio em cima da lousa para não me controlar e olhar para trás. Contive a curiosidade e fixei meus olhos somente na lousa, embora eu não estivesse prestando atenção em nada.
- Professora – ergueu a mão o aluno novo e eu ainda não tive coragem de verificar, rezei do fundo do meu coração para que não aparecesse de supetão – Posso sentar mais na frente?
- Claro, querido – ela sorriu – Sente atrás da senhorita Campbell.
Pronto! Que dia maravilhosamente perfeito. O que é isso, ? Você nem encarou o pobre garoto que talvez seja apenas um menino inocente que acabou de chegar na cidade. Senti minha cadeira tremer ao sentir que o novo aluno se sentou atrás de mim.
- Hey – ele sussurrou para que somente eu pudesse ouvir.
Meu corpo todo estremeceu e não aguentaria ficar ali por mais um segundo sequer.
- Professora, preciso ir ao banheiro – lancei já me levantando em direção a porta sem olhar para trás.
- Pode ir, mas não demora porque farei a correção dos exercícios.
Não estava nem aí se ela corrigiria os exercícios ou não, só queria ir embora dali o mais rápido possível. Fui ao banheiro e enrolei o máximo possível, depois decidi dar uma volta pelo pátio e vi que muitas cadeiras estavam sendo arrumadas pela inspetora de alunos.
- O que vai ter aqui?
- Depois da primeira aula vocês terão uma palestra com aquele médico famoso.
- Sinceramente, não faço a mínima ideia de quem seja. Vou te ajudar a arrumar as cadeiras.
- Você não está em aula?
- A professora só está corrigindo as ultimas coisas da apostila, já fechei nota e estou praticamente de férias.
- Então tudo bem.
Ufa, escapei dessa por pouco, só faltava uns 15 minutos para o sinal. Hoje não vi na escola e pensei na possibilidade de ir embora para casa mais cedo.
- ,você poderia pegar um pano na sala de limpeza para eu dar um jeito nessa sujeira aqui?
- Já estou indo pegar – sorri agradecendo por ela estar ocupando meu tempo.
Passei pelo corredor e ouvi o barulho vindo das salas, provavelmente já tinham sido avisados da palestra. Abri a porta do quartinho de limpeza e coloquei a cabeça aos poucos procurando pelo interruptor para acender a luz. Um empurrão me lançou para dentro do cômodo escuro e a porta se fechou atrás de mim. Bati contra a parede e ouvi algumas coisas caindo no chão e ao tentar lançar um grito, uma mão tampou minha boca abafando o som. Em seguida a luz foi acesa e eu pude ver quem era. Sim, era , mas de um jeito diferente. Seu cabelo estava bagunçado e sua expressão era de um jovem aluno. Ele usava uma calça e um coturno preto, com uma jaqueta jogada por cima da blusa despojada dele.
- Calma, , sou eu – ele tirou a mão da minha boca, mas não tirou seu corpo que estava me prensando contra a parede.
- Eu não estou calma porque é você – evitei encará-lo pela curta distancia entre nós – você está louco? Se o te ver aqui começa a terceira guerra mundial.
- Eu vim aqui para poder ficar mais perto de você.
- Para quê?
Senti seu corpo se afastar e ele pegou o pano que a inspetora pediu e colocou-o na minha mão.
- Hoje provavelmente a escola estará fechada às 16 horas, esteja aqui neste horário – ele tirou um papel do bolso e me entregou, dando-me as costas.
Se eu não me conhecesse bem, diria que tenho uma queda por anjos, ou melhor, um penhasco. O que era aquilo? só podia estar querendo me matar do coração e desta vez, senti uma vontade enorme de beijá-lo naquele pequeno espaço escuro e úmido. Saí desnorteada e entreguei o pano para a mulher. Em seguida, entrei na sala já vazia para pegar o material e liguei para meu irmão me dispensar. Fui me despedir de e Ed que já estavam no meio de todas aquelas cadeiras e avisei que iria embora.
- Você não me contou sobre – ela me puxou para perto.
- Não deu tempo.
- Cinco horas passo na sua casa para tomarmos um sorvete e você vai me contar tudo.
- Desculpa, , mas hoje não dá.
- Mais cedo ou mais tarde você vai ter me contar. Já estou imaginado o que aconteceu – vi um coração sendo formado por suas mãos.
- Para de ser idiota, não aconteceu nada. Tchau, até amanhã.
Segui me equilibrando no meio de tantos pés e cadeiras e ao chegar no final na fila, um pé me fez tropeçar e eu caí de cara naquele chão de cimento. Todos começaram a rir e vi que aquele maldito pé pertencia a Nathalie. Aquela vaca maldita. Levantei-me sentindo o gosto de sangue no canto da boca e arrumei o cabelo que tinha se projetado para frente. Era realmente por esse tipo de pessoas que evitava o Apocalipse. Limpei o sangue com as costas das mãos e saí o mais rápido dali para não bater naquela piranha. Já estava começando a rever meus conceitos se a humanidade realmente merecia ser salva.
Cheguei em casa e prometi não chorar por causa daquela idiota, mas eu precisava relaxar. Fui até a padaria perto de casa e comprei um maço de cigarros. Sentei no quintal e agradeci por estar sozinha em casa naquele momento. Eu nunca tinha fumado, mas para tudo na vida tinha uma primeira vez e já que eu sentia que ia morrer mesmo naquela batalha de anjos, era hora de começar a fazer o que quisesse e aproveitar a vida do meu jeito. Peguei um isqueiro e segurei a chama perto do cigarro que se acendeu. Puxei a primeira tragada e senti a garganta queimar, engasgando-me com toda a fumaça. Fiz isso mais uma quatro vezes bem devagar até pegar o ritmo. Só parei quando percebi que a embalagem havia se esvaziado pela metade. Ao menos pude sentir que meu corpo estava relaxado. Ainda não contente com tanta burrice, abri o armário da cozinha retirando de lá uma garrafa de whisky, um copo e peguei duas pedras de gelo na geladeira. Não economizei e enchi o copo até a metade, virando três dozes uma em seguida da outra. Pude sentir as consequências dos meus atos no meu corpo, que agora estava mole. Fumei mais um cigarro e escondi em uma viga do lado de fora, liguei a Tv e adormeci na sala.
Fui salva pelo despertador que inteligentemente coloquei antes de apagar para não perder o treinamento com .
- Você está bem, ? – perguntou vovó – vem comer alguma coisa.
- Não quero – entreguei o papel que tinha me dado mais cedo para minha avó – tenho que ir para meu curso.
Fui até meu quarto para colocar uma roupa mais confortável. Pus um short, um tênis e uma camiseta simples do Kansas. Saí apressada ao ver que nuvens pesadas começavam a cobrir o céu de New Orleans. A escola nunca pareceu ser tão longe devido aquele vento gelado que insistia arrepiar minha pele. Passei por um grupo de marmanjos drogados e ouvi um deles mexer comigo, mas apressei os passos e sai o mais rápido dali. Cheguei em frente e escola e vi que provavelmente seria necessário pular o muro. Encarei o bloqueio de concreto e peguei impulso projetando meu corpo para o outro lado e caminhei até o ginásio.
- O portão estava aberto, você não viu? – ele tirou com minha cara.
Eu não sabia que o portão estava aberto, mas sabia que meus olhos e minha boca estavam ao entrar no ginásio e ver apenas com uma calça jeans preta e toda sua musculatura esbelta de barriga e costas descobertas. Acho que foi má ideia aceitar um absurdo desses.
- Por onde começamos? – tentei ignorar como ele exibia seu corpo.
- O melhor ataque é a defesa, mas primeiro, preciso saber o quanto você sabe. Vem – ele disse abrindo aquele peitoral - Me ataca.
Atacar alguém não era tão difícil assim, era só imaginar que ele era Nath e tudo fluiria bem. Fui me aproximando dele desconcentrada por causa do sorriso brilhante que ele lançava. Travei meu corpo e parei no meio do caminho.
- É tão evidente que eu estou nervosa assim?
- Sim – sorriu novamente - vem, pode bater, eu sei que você não quer estragar esse corpinho lindo, mas te garanto que nada vai acontecer.
Bufei e fui me aproximando novamente. Comecei a entrar no ritmo agressivo, mas ele me interrompeu se aproximando demais em pouco segundo. Parou o polegar no canto da minha boca e ficou me encarando esperando explicações.
- Nath colocou o pé na frente e eu caí – encarei o chão.
- Vai melhorar – disse tocando seu lábio em cima do machucado e pude até sentir uma pequena parte de sua boca encostar na minha, o que gerou minha total aflição. O empurrei para trás bem devagar – calma, dá uma olhada – ele mostrou a tela do celular apagada e vi que o machucado tinha desaparecido.
- Obrigada – fiquei envergonhada por ele ter feito aquilo e por eu ter sido grossa pensando que ele estava com segundas intenções – Podemos tentar novamente?
Senti meu corpo mais preparado agora e lancei o primeiro soco acertando o nada por se esquivar com tamanha facilidade – mais rápido – lancei outro soco e nada de acertar ele – é só isso que tem para me mostrar? – Acho que ele não deveria ter me provocado daquele jeito. Comecei uma sequência de socos e dois acertaram o rosto dele, mas notei que ele não esboçou nenhuma reação, por isso continuei. Fui o encurralando para a parede até que ele a tocou ficando sem saída e lancei um chute que atingiria em cheio suas costelas, mas ele segurou meu pé e virou o jogo me lançado direto para a parede, onde senti minha cara ser esmagada por sua mão. Ele fez questão de lançar uma risada quente no meu ouvido e tenho certeza que ele notou meu corpo estremecer.
- Já sei como treinar sua defesa – sorriu maliciosamente - Corra, defenda-se, se eu te pegar, vou te beijar.
- Nem pense nisso, Agelus – já me afastei dele por precaução.
- Viu? Já está na defensiva, então corra.
Vi que ele se aproximava cada vez mais rápido e se não corresse ele me pegaria. Dei as costas e mirei o lugar mais longe dali, meditei em chegar no pátio por ser um lugar grande onde poderia me esquivar dele, mas com algum poder que achei injusto utilizar, fechou as portas do ginásio e todas as saídas estavam trancadas. Impulsionei meu corpo em uma das portas, mas nada adiantou. Aquilo estava parecendo fácil demais para e percebi isso porque ele não estava correndo, apenas andava na minha direção rapidamente sem piscar devido sua concentração, mas no fundo senti que ele se divertia com isso.
- Acho melhor pararmos com isso, – fiquei aflita por não ter outra saída e o espaço entre nós só diminuía.
- Primeiramente, ninguém vai ter dó de você, vão querer te matar, então não entregue sua vida assim de bandeja.
Tudo bem, se ele queria continuar com aquela brincadeira, eu continuaria, mas no fundo aquilo me assustava. Corri pela arquibancada e ele me cercou. Subia degrau por degrau se aproximando. Resolvi sair o mais rápido dali e pude sentir a mão dele raspando de leve pelo meu braço. Ao lado do bebedor tinha uma vassoura, a segurei e parei para encará-lo, mas ele continuou os movimentos me deixando mais aflita.
- Sério, uma vassoura? Vai virar bruxa e sair daqui voando? – zombou.
Achei um absurdo ele falar aquilo, mas eu realmente não sabia o que fazer com aquela vassoura. Ele se aproximava e meu espaço diminuía, então decidi quebrar o cabo da vassoura no meio da minha perna, fazendo daquele objeto uma lança devido sua ponta pontiaguda. Vi que gostou de minha atitude arqueando as sobrancelhas e soltado um riso malicioso até com o olhar.
- Pare aí mesmo ou eu vou enfiar em você – ele continuou me ignorando e veio se aproximando cada vez mais. Já não havia mais espaço entre nós. chegou laçando seus dois braços atrás do meu pescoço e me empurrou até a parede. Ele ignorou por completo minha situação e friamente continuou o jogo, aproximou nossos lábios e com certeza, ali não tinha mais de um centímetro de distancia para sua boca tocar na minha. Ele não se afastou e apenas jogou o ultimato.
- Ou você enfia essa estaca em mim, ou te beijarei.
- Por favor, , não faça isso – eu me recusava machucá-lo, e me recusava machucar qualquer outra pessoa.
- Vamos, , anjos são cruéis e frios.
puxou minha mão até a altura de seu abdômen e posicionou e pressionou a estaca levemente contra sua pele. Na ponta da madeira, minha mão tremia e temia por fazer o serviço. Minha mão direita foi segurada por suas duas mãos e com o auxílio delas, ele foi cravando a estaca de madeira na sua pele.
- Para com isso , você vai se machucar – estremeci vendo que o objeto pontiagudo perfurava seu corpo e ele se divertia com um sorriso malicioso que transbordava até no olhar.
O sangue escorreu por minhas mãos e depois de me encorajar, olhei o corpo de coberto de sangue e com a estaca de ponta a ponta.
- Puxe e acabe com minha dor, – ele dizia sem desviar seus olhos dos meus.
Como eu não estava gostando daquela cena, concentrei-me em puxar a madeira para fora de seu corpo e arremessei para o mais longe possível. Caí encostada na parede e tentei puxar o máximo de ar possível para recuperar a consciência e raciocinar o ocorrido. ajoelhou-se na minha frente e fez uma feição de misericórdia ao me ver naquele estado deplorável de desespero.
- Nunca mais faça isso – eu disse com dificuldade para encará-lo.
- Você não é o tipo de garota que entra em guerra, , por isso faço de tudo para te deixar fora do Apocalipse. Você tem essa armadura toda, mas ainda é capaz de sentir. Nessa guerra o coração deve ser deixado de lado e apenas à morte do inimigo poderá trazer seu sorriso e sua paz.
- Eu não sinto nada, e se você acha que devo me desligar mais ainda, por mim tudo bem. Eu não quero que nenhum anjo fique no meu pé enchendo meu saco, ok? Por hoje já chega, não acha? - saí deixando boquiaberto me olhando partir e vi que a ferida em sua pela tinha sumido.
Agradeci por ele autorizar minha saída liberando as portas para eu passar. Ignorei novamente o fato do portão estar aberto e pulei o muro que agora ficava umedecido devido aos pingos de chuva que começavam a cortar o céu cinza de New Orleans. Um vento gelado passou por mim arrastando todo meu cabelo para trás. Cruzei meus braços para diminuir o frio e andei o mais rápido depressa para chegar em casa. Já estava escurecendo e as luzes dos postes estava acesas, mas ainda brigavam com a luminosidade do final da tarde. Condenei-me por não lembrar de passar por aqueles homens que mexeram comigo mais cedo e para meu azar, eles ainda continuavam lá. Tentei passar despercebida e rapidamente pelo local, mas qualquer plano em mente fugiu ao ser cercada por quatro homens.
- E aí gatinha, fica aqui e troca umas ideias com a galera – o de moletom preto me encurralou contra a parede, tentei passar, mas todos os meus lados estavam bloqueados.
- Cara, eu realmente preciso ir embora, está escurecendo e ficando frio – procurei caminho, mas eles me impediram de ir novamente.
- Fica aqui e eu dou um jeitinho de te esquentar – disse o de jaqueta de couro dando um tapa na minha bunda.
- Sai daqui – gritei acertando um soco na cara dele. O atrevido caiu sentado no chão e os amigos dele riam sem parar. Aproveitei o momento de distração para fugir dali, eu estava em desespero e não sabia o que fazer. Implorei mentalmente para aparecer e me ajudar a me livrar daquelas caras, mas ele não apareceu, ninguém apareceu. A rua estava vazia assim como minha cabeça para bolar um plano. Fui surpreendida por dois caras que me seguraram pelo braço e me arrastaram de volta para a roda de homens.
- Calma aí, garota, a gente fez um convite e você não pode recusar. Sabe, gostei do seu estilo e acho que eu e você poderíamos conversar a sós em um lugar mais reservado – ele apontou a cabeça para uma casa de aparência duvidosa dez metros a nossa frente – não é uma mansão, mas te garanto que gostará do que podemos fazer lá dentro – soltou um sorriso malicioso.
- Desculpa, mas eu não estou a fim de ficar aqui mais um segundo, deixem-me em paz – tentei me soltar dos fortes braços que me agarravam, mas foi em vão. Eles começaram a me arrastar para a casa e eu mal pude revidar, já que era uma injustiça tantos homens para apenas uma garota.
- Oh, mal comidos, soltem ela – ouvi uma voz peculiar interromper tudo. Eles se viraram e então pude ver se aproximando furiosamente.
- Acho que ela já tem dona – o de jaqueta esnobou e em segundos caía no chão desmaiado após levar um forte soco na cara.
- Eu sei que ela tem dono e não é nenhum de vocês – chegou distribuindo socos e chutes enquanto lutava e por onde passava, deixava os homens caídos e desacordados pelo caminho. Finalmente pude contar os estragos pelos mais de dez homens caídos no chão.
- Obrigada, , se não fosse você eles – fui interrompida pela blusa xadrez de cobrindo meus ombros para me proteger daquele frio. Percebi que me acompanharia até em casa e relaxei ao saber que estava segura.
- E se aparecer na escola? Ele não é bobo, vai te reconhecer.
- Fica tranquila porque não aparecerá.
- Como assim? Como você sabe? – tive somente o silêncio como resposta e já pensei no pior – Aconteceu alguma coisa com ele?
- Não sei, não temos notícias dele.
Agradeci rapidamente por ter me ajudado e fui para meu quarto pegar roupas para tomar um banho e ignorei por completo minha família me chamar. Tentei desviar meus pensamentos de todas as maneiras, mas eles sempre se voltavam para . Eu estou preocupada e com medo, será que algo aconteceu com ele? Rolei o dedo no celular para encontrar o número de e assim que achei, disquei. Chamou três vezes até cair na secretária eletrônica. Tem algo muito errado acontecendo, eu sinto.
- Jack – berrei as escadas descendo a procura de meu irmão – Você sabe aonde o mora?
- Não, por quê? – ele berrou da cozinha e então finalmente o encontrei.
- Eu preciso vê-lo, urgentemente.
- Está tão apaixonada assim?
- Vai se foder.
Voltei para o quarto e fiquei sofrendo agoniada por não saber onde tinha se metido. Algo naquela história estava fedendo a peixaria e eu não sabia o que fazer. Anjos estão em um patamar tão elevado que tenho medo de me meter cada vez mais nessa história. As horas se passavam e eu já tinha percorrido cada centímetro daquele quarto á procura de uma ideia. Já fazia uma hora que Jack passou para avisar que sairia com uns amigos. Vovô e vovó não têm uma audição tão apurada assim, por isso peguei um agasalho bem grosso e fechei meu all star no pé para sair em busca de , só não sabia por onde começar. Fechei a portão e ninguém acordou, agradeci alegremente por assistir tantos filmes de ação. Comecei a andar pelas ruas de New Orleans, passei pelas principais avenidas lotadas de jovens querendo se divertir na noite. Comecei a desenhar uma linha de raciocínio e percebi que não apareceu para me salvar daqueles homens imundos, o que era estranho, pois ele sempre estava me vigiando e como é meu anjo da guarda, sentiria que eu estava em perigo. Será que se eu tentar me arriscar novamente aparecerá? Não custa tentar. Esperei o fluxo de carros aumentar e rapidamente saí correndo no meio da avenida movimentada até que um carro me atingiu em cheio e voei metros longe batendo a cabeça na calçada.
Capítulo 10
Ainda bem que não levei documentos ao sair, se não, minha família já estaria comigo naquele hospital. Percebi da janela que ainda era noite e que no mínimo cinco pontos costuravam minha testa. Eu ainda estava com minhas roupas e precisava fugir dali o mais rápido possível. Tirei as agulhas do meu braço e fui até a porta para ver se tinha alguém no corredor. Alguns médicos zanzavam de um lado para outro e tentar ser normal era o plano. Saí com a cabeça baixa do quarto e me dirigi até o corredor principal, de onde pude ver a porta de entrada.
- Garota, espera aí – gritou uma enfermeira ao me reconhecer – Você ainda não recebeu alta.
Droga, era tudo o que eu precisava. Comecei a correr desesperadamente na direção da porta, mas dois guardas bem grandes bloquearam a passagem. Devido minhas habilidades idiotas de brincar de pega-pega desde pequena, dei um olé à lá Pelé e consegui fugir do hospital. Tive que correr por uns dez quarteirões até ter certeza que despistei todos. Enfim, eu estava livre, mas perdida. Armazéns foi à única coisa que pude notar naquele lugar com pouca iluminação. Olhei para todos os lados e não lembrei de qual rua tinha vindo.
De repente, surge em minha mente a voz de me chamando. Ele sussurrava meu nome com muita dificuldade. Aquilo me gerou uma tremenda confusão e dor de cabeça, afinal, aquilo tudo era real? Ele sussurrou a palavra “esquerda” e então direcionei meus passos para lá. Tentei abrir a grande porta de metal e após muita dificuldade tive passagem para entrar naquele lugar escuro.
- ? – chamei na expectativa de uma resposta.
- , estou aqui – uma voz fraca veio ao fundo. Senti meu corpo relaxar.
Vi pela pouca luz que entrava no lugar que estava amarrado em uma cadeira com cordas muito grossas e seus rosto estava todo machucado.
- Meu Deus, o que aconteceu?
- Essas cordas são especiais, não consegui soltá-las.
Depois de muito esforço, tirei aquelas cordas dos braços e pernas de e ele desabou sobre mim.
- Precisamos sair daqui, rápido.
O apoiei no meu ombro e caminhei sem destino algum para qualquer rua que fosse longe dali. foi indicando o caminho e chegamos no que parecia ser sua casa. Era tão bonita e grande quanto a casa de campo. Ele tocou na porta e esta se abriu dando lugar a escuridão do ambiente. pressionou o interruptor e tudo ficou claro, o que me tranquilizou. Sentei-o na primeira cadeira que achei e vi que ele estava exausto. Procurei pelo banheiro e molhei a toalha na pia, voltando em seguida para onde estava sentado.
- Quem fez isso com você?
Ele preferiu o silêncio e me matar de curiosidade. Comecei a passar o pano pelo seu rosto para tirar as manchas de sangue. Ele me olhava como se não acreditasse que eu estava fazendo isso por ele, mas continuei limpando.
- Tem sangue em mais algum lugar? – girei em torno dele e vi que a camisa estava toda rasgada – ergue os braços – ele estranhou meu pedido e esticou os braços para cima, assim, pude tirar a camiseta dele com cuidado. Se o momento não fosse de dor e desespero, juro que aquilo seria constrangedor. Analisei cada parte de sua pele e senti uma vontade enorme de me jogar em seus braços, mas concentrei-me no corte que estava em suas costas.
- , isso precisa de pontos – tentei limpar o sangue ao redor, mas ele gritou de dor.
- Pode limpar, eu aguento. Na gaveta do banheiro tem agulhas e linha.
Fui até o banheiro e peguei a caixa de primeiros socorros onde encontrei a agulha e a linha. Algo estava errado, deveria se cicatrizar rapidamente.
- Pode deixar que eu me viro. Só espera um pouco que já te levarei até sua casa – Ele disse tomando a agulha da minha mão.
- Não. Você não consegue dar ponto sozinho, deixa que eu faço – tirei a agulha da mão dele e comecei a costurar suas costas – Você é teimoso – vi ele sorrindo.
- , muito obrigado por tudo que você está fazendo por mim – me fez parar só para poder segurar minha mão e beijá-la – Eu acho que você já pode me contar até onde sabe.
Tive que controlar minhas mãos ao ouvir aquilo porque estava costurando as costas de um anjo. Aquilo me pareceu um ultimato e temi até onde sabia sobre mim. Como sempre, preferi m fazer de desentendida.
- Como assim? Sei sobre o quê?
A sorte do pobre jovem rasgado é que eu tinha terminado de dar o nó na linha e vi o tamanho do estrago. Ele se levantou rapidamente e me pegou no colo, sobrando para mim como única opção laçar minha perna em volta de seu corpo. encostou nossas costas e senti um frio na barriga ao perceber que estávamos caindo em cima do sofá. Eu vi perder o controle, seus olhos ficaram profundos e expressivos. Já tinha percebido que aquele momento estava indo longe demais.
- , por favor, calma – eu implorei ao ver que seu corpo estava deitado no meio das minhas pernas. Minhas palavras foram em vão. Meu anjo da guarda agora segurava meu rosto com suas duas mãos e selou nossos lábios furiosamente, como se não quisesse perder tempo. Juro que desta vez meu corpo não quis revidar seu contato, eu apenas me entreguei dando passagem para sua língua furiosa que brigava por espaço dentro da minha boca se enroscando na minha língua. Sua mão direita contornou minha coxa com força e eu o agarrei puxando-o para mais perto. Sua boca tocou meu pescoço e me descontrolei beijando todo seu peitoral descoberto. me levantou sentando-me no seu colo e investiu vários chupões no meu pescoço.
Não, não. Campbell, o que isso? Você está se agarrando na sala com seu anjo da guarda?
- , para – gritei levantando-me desesperadamente.
- O que foi? – ele parecia não ter gostado por eu ter estragado o momento.
- Eu disse que essa história não iria adiante, – ele começou a rir como uma criança realizada por seus sonhos realizados.
- Claro, eu nem percebi você me puxando para mais perto pedindo mais – ele se sentou e deu dois tapinhas no sofá – Senta aqui, precisamos conversar.
Obedeci porque seria burrice tentar fugir dali. Enfim tinha chegado à hora da nossa conversa.
- Até onde você sabe sobre mim, Campbell?
- Você é um psicólogo, que trabalha na escola de New Orlens, é rico, tem fama com a mulherada e parece ser uma pessoa bem decidida. É um cara misterioso que até agora não me contou como e porquê apanhou deste jeito. E você, sabe algo sobre mim? – provoquei.
- , significa aquela que é amada. Tem 17 anos, perdeu os pais em um trágico acidente aéreo que abalou o país. Atualmente mora com os avós e com o irmão que presta medicina, está com o coração dividido entre me amar e amar alguém que não sei quem é, está confusa e com medo e até agora não me perguntou como eu fiz para falar na sua cabeça e fazer com você me encontrasse. Você sabe o que eu sou, e não sei como você descobriu isso, o que me assusta muito, então, por favor, conte para mim.
- Está legal – senti-me pressionada por suas palavras – Eu sei que você é meu anjo da guarda e estou achando muito estranho essas suas feridas não terem se cicatrizado ainda, mas quero deixar bem claro que não estou apaixonada por você nem por ninguém.
- Quem te contou? Que anjo está envolvido nisso?
- Calma aí, valentão – era hora de ser a melhor atriz de todos os tempos – Eu só conheço um anjo e é você. Eu descobri porque fiz pesquisas na internet e tudo indicou que você fosse um.
- Primeiramente, não dei evidências para você pensar isso de mim, segundo, isso é vida real, não é crepúsculo, minha querida.
- , preciso saber até onde você sabe sobre mim, por favor, conte tudo.
- Eu já disse, só sei que você é um anjo, só isso. Não sei como você falou na minha mente, não sei se você tem super poderes, só sei que você foi ferido e não cicatrizou, o que não é normal.
- Não cicatrizou porque fui ferido com a espada de um anjo. Sim, sou um anjo, o seu anjo da guarda e você só conseguiu me escutar na sua mente porque, como uma única definição, nós temos química – ele me abraçou e selou nossos lábios novamente – Você tem medo de mim?
- Não, afinal você é meu anjo da guarda, por que deveria ter medo? – Vi não controlar o sorriso aliviado – Preciso ir para casa, já está tarde e... – senti passar a mão na minha testa e só depois percebi que os pontos tinham sumido – Obrigada.
- Vamos, eu te levo – ele pegou a chave do carro e me enlaçou pela cintura me conduzindo até o veículo.
- Deixa que desta vez eu coloco o cinto – bufei vendo ele se divertir – não tem graça.
Entramos no carro e quando quase chegávamos em casa, pediu para eu abrir o porta-luvas, de onde retirei um convite que estava com meu nome. Deduzi que fosse da tal festa que tinha comentado anteriormente. Franzi o cenho em sinal de negação e ele me encarou.
- Me beijar na frente da minha família conta como contar sobre o ocorrido no final de semana.
- Eu disse que não ia contar e não contei, apenas te beijei. Vamos, você vai gostar.
- Você sabe que eu não gosto de festas, , entenda, por favor.
- Eu sei, mas sei que você gosta de estar perto de mim, então isso significa que você vai.
Eu fico simplesmente estática ao ver toda confiança de , ele realmente acha que gosto dele, talvez seja hora de eu subir um muro bem alto cheio de fios elétricos para deixar bem claro que isso já foi longe demais.
- Não vou.
freou o carro que cantou pneu e se eu não estivesse com um cinto de segurança, teria voado pelo para-brisa. Só então percebi que estávamos a alguns metros da entrada de casa.
- Tranca tudo e fica dentro do carro – ele disse saindo e batendo a porta.
Vi abrir o portão com cautela e adentrou naquela escuridão. Novamente um calafrio percorreu pelo meu corpo, mas esse calafrio era o pior que já havia sentido. A iluminação do poste começou a falhar. Se quer saber? Acho que ficar sozinha em um carro no meio da rua onde a iluminação está piscando e com ventos muitos fortes não é uma boa opção. Abri a porta do carro e caminhei até a entrada de casa vendo que entrava pela porta que agora se fechava. Devo ter feito algum barulho porque ele percebeu minha presença e veio correndo até mim.
- Está maluca? – ele sussurrou nervoso – Eu mandei você ficar dentro do carro.
- E quem disse que você manda em mim? – empurrei a porta com a mão direita e acendi a luz – Eu estou em casa, fica tranqüilo.
Medo, desespero e terror foi tudo o que senti quando projetei meus olhos para o interior da casa. Na parede que tinha na minha frente havia dois corpos pendurados de cabeça para baixo ensanguentados, eram os corpos dos meus avós. A cabeça de meu avô tendia á uma queda. Meus olhos se encheram de lágrimas e a única coisa que conseguiu sair foi um grito, que foi abafado pelas mãos de que me agarrou e tentou me acalmar.
- Calma, eu estou aqui... – ele dizia tentando conter meu choro, minha ânsia, meu desespero - Não olha para lá – ele tapou meus olhos e me levou para fora da casa.
- Jack, cadê o Jack? – foi a única coisa que conseguiu sair em meio ao choro.
- Calma, eu só preciso que você me prometa que vai ficar calma e eu já dou um jeito nisso – fiquei quieta e tentei segurar o choro – Vem – segurou na minha mão e começou a me conduzir por cada cômodo da casa.
- Jack não está aqui, liga para ele – ele me entregou o celular e disquei – Jack, aqui é o , tudo bem? Então...Acho que precisamos de você aqui na sua casa, tem como você vir urgentemente? - ele pausou para ouvir o que Jack falava do outro lado da linha – Não, está bem. Ok, estamos te esperando.
Sentamos no meu quarto antes de verificar o quarto e aguardávamos a chegada de Jack. Assim que ouvimos o carro parando em frente à casa, descemos para Jack não estar despreparado para a cena a seguir. discou para a polícia e explicou o que tinha acontecido para meu irmão. Jack ficou tão assustado e desesperado ao ver a cena que quase desmaiou. Eu me neguei a entrar e encarar os corpos dos meus avós ali pendurados na parede de uma forma masoquista. A policia logo chegou e interrogou todo mundo. Vistoriou a casa e disse que investigaria as mortes. A ambulância iluminou o lugar com suas luzes vermelhas e levou os corpos. Todos foram embora e ficou apenas eu, Jack e sentados sem saber o que fazer.
- Eu acho melhor vocês passarem a noite lá em casa – sugeriu .
- Nossa cara, não precisa se incomodar, nós vamos ficar bem – disse Jack fungando o nariz.
- Jack é até seguro vocês não ficarem aqui. Não sabemos quem fez isso e o porquê, não roubaram nada, então é melhor vocês virem comigo pelo menos esta noite para ficarem em segurança.
- Tudo bem cara, obrigado – estendeu a mão para ajudar Jack a se levantar do sofá.
Peguei apenas uma roupa para eu poder tomar um banho depois. Não me esqueci de pegar todos os meus remédios que tanto receitou porque hoje eu finalmente precisaria deles. Assim que chegamos na casa de , ele ofereceu um quarto para cada um de nós e eu fui tomar um banho. Ele até tentou nos consolar trazendo uma comida bem cheirosa, mas eu me recusei. Enquanto Jack e conversavam na cozinha e desciam um whisky duplo goela abaixo, fui para meu quarto e vasculhei a caixinha de remédios. Escolhi o que servia para eu dormir e engoli três comprimidos com um copo de água. Entrei na coberta e fechei os olhos esperando pelo sono. Não demorou muito para que eu finalmente apagasse por completo.
Durante a madrugada, acordei assustada e peguei meu celular para ver a hora. Eram 4 horas da manhã e meu pescoço suava como um maratonista após correr cem quilômetros. Vi que no pé da cama havia uma coberta que provavelmente deixou ali enquanto eu dormia. Aqueles três remédios pareceram não ser o suficiente para me apagar até à tarde do outro dia, por isso, peguei meu fone de ouvido e meu celular para tentar deixar a cabeça vagar e não voltar na cena que encontrei quando cheguei em casa. A luz do celular atrapalhou minha visão, mas após a insistência, achei o play music e coloquei uma música do muse para tocar. O que me surpreendeu foi que a música não tocou, por isso cliquei em outro e nada funcionou também. Encarei a tela do meu celular estressada e tentei pela última vez ouvir qualquer música, até que finalmente a música “” começou a tocar. Não me lembrei de ter uma música com meu nome do celular e apenas continuei prestando atenção no som do de balanço que a música reproduzia. Quase enfartei ao ouvir “balança mais rápido, papai” ao reconhecer minha voz e me lembrar da cena. Eu tinha cinco anos e papai me empurrava no balanço devagar. Insisti para ele me jogar mais longe após muita persistência ele me empurrou. Eu não era lá uma santinha, adorava fazer bagunça, então decidi saltar do balanço em movimento e caí em cima do meu braço ganhando uma fratura exposta. Comecei a chorar e vi papai vindo até mim, mas quando ele me pegou no colo, não havia mais fratura nem sangue. Com aquela idade não entendi o que tinha acontecido, mas pensei que pelo susto estava vendo coisas. “Precisamos conversar, querida ” saiu uma voz do meu fone de ouvido e imediatamente retiro-os jogando longe. Sentado na ponta da cama, vi o homem que perturbava meus pensamentos e ele tocou meu pé o acariciando.
- Não grite – ele me pediu levantando um dedo no meio da boca.
É claro que eu não o obedeceria, por isso gritei, e bem alto. Só que meu grito logo foi abafado por sua mão. Comecei a distribuir tapas pelo braço dele e tentei sair correndo da cama, mas ele me manteve fixa ali.
- Calma, não vou te machucar. Mais cedo ou mais tarde você terá que me ouvir.
Vou ouvir ele na puta que pariu. Debati – me com tanta intensidade que consegui me desgrudar dos braços fortes dele. Saí correndo em direção a porta e fui atropelada pelo corpo de que entrou desesperadamente no local.
- Ele está ali – apontei para a cama vazia – Ele está me perturbando há dias – informei .
- Quem? Não tem nada ali, – ele me abraçou ao perceber que estava chorando – Vem, vou dormir com você, só está assustada com o que aconteceu - me levou até a cama e me deitou no meio dos seus braços acariciando minha bochecha com seu polegar.
- Assim que eu acordar, será que poderíamos conversar? – supliquei indecisa.
- Tenho todo o tempo do mundo para você.
Conforme a respiração de fazia seu corpo subir e descer, fui pegando no sono novamente. Aquele infeliz me trazia segurança, droga!
Capítulo 11
- Sobre o que você queria conversar?
- Café da manhã na cama? Que coisa estranha – fiz careta estranhando a cena melosa – Isso está cheirando bem – peguei as torradas e um pedaço de queijo.
- Tentei fazer o que sei – ele sorriu simpaticamente. Sério que aquele ser doce e protetor quer provocar o apocalipse?
- É sobre o que aconteceu ontem á noite. Vejo um homem todo de preto e cabelos escuros. Ele está tentando entrar em contato comigo e várias memórias da minha infância vem a tona.
- Droga – ele xingou – Desculpa por tudo isso, , vou dar um jeito de acabar com isso – ele se levantou e pegou o celular.
- Mas o que é isso afinal? Então eu não estou louca?
- Não, não está.
Ele saiu apressado e o ouvi discutindo com uma outra pessoa no quarto ao lado pelo telefone. Jack apareceu logo em seguida e veio ver como eu estava. Pude perceber que ele estava mais traumatizado que eu.
- Oi – ele disse cabisbaixo – Eu tenho que ir para a faculdade, justo hoje tenho uma prova importante se eu for bem nela, já entro de férias.
- Não se preocupe, Jack, pode ir, eu vou ficar bem.
- Eu cuido dela, pode deixar. Acho melhor ela ficar aqui em casa, pode ser? – intrometeu-se .
- , obrigada pelo cuidado, mas eu prefiro ficar em casa, sozinha – abracei ele em forma de agradecimento – Eu vou agora com o Jack.
Peguei minhas coisas e entrei no carro com o Jack, apenas olhando se despedir irritado com minha decisão. Entramos em casa e Jack pegou o seu material rapidamente após um banho rápido e foi embora se despedindo de mim. Assim que vi ele sair, tranquei a porta, sentei no chão e comecei a chorar. Um choro só meu, que só eu entenderia e poderia sentir desabafar com aquelas paredes cheias de sangue á minha frente. Imediatamente, peguei um balde com água e sabão e comecei a tirar aquelas manchas de sangue. Tive que esfregar com bastante força para aquelas manchas saírem definitivamente dali. Jack logo chegaria e teríamos um enterro para ir. O último enterro que fui foi o dos meus pais e aquele foi um dos piores dias da minha vida. Por sorte, logo eu completaria 18 anos e seria maior de idade, Jack já está no último ano de medicina. Lembrei-me da aula que daria novamente no ginásio da escola e declarei-me oficialmente de férias. Meu celular tocava desesperadamente com ligações de e Ed, mas não atendi nenhuma das ligações. Peguei o maço de cigarros escondidos e sentei no chão gelado tragando um por um. Meus olhos insistiam em transbordar todo aquela tristeza, eu não aguentava levantar, meu corpo ganhou o peso de um caminhão e eu certamente perdi toda minha vontade de viver. Enxuguei o rosto molhado e fui até a mesa e joguei uma faca em cima dela. Se aquela realmente era minha decisão, não sabia ao certo. Passei a faca ferozmente na vertical no meu pulso que jorrou sangue rapidamente. Encostei minha cabeça na mesa gelada e vi o sangue escorrendo até atingir o chão. Meu corpo ficou mole e minha cabeça rodava.
- Eu deixo você sozinha por algumas horas e é isso que você faz? – ouvi a voz e reconheci ser de . Ele me tocou com a mão sob o ferimento e inacreditavelmente me senti bem, sem nenhum corte ou cicatriz – Está louca? – ele pareceu bravo.
- Que droga! Já estou de saco cheio de anjos se intrometendo na minha vida! – peguei a faca e enfie na minha barriga o mais profundo que pudesse ir. Dessa vez não fez nada, apenas me viu encostar à parede com o sangue escorrendo para o resto do corpo.
- Anjos? Você falou no plural. Que anjos estão te perseguindo, ?
- Vai se ferrar – eu ri – Quero morrer tirando onda com a sua cara.
- , fala, eu preciso saber. Você pode estar em perigo!
- Ficar perto de você é um perigo. Nós dois juntos somos uma combinação explosiva para o fim do mundo. Qual é? Pensou que eu iria namorar o cara que é o líder do Apocalipse? Se enxerga.
- Mas bem que você está suplicando por um último beijo meu antes de ir para o inferno – ele ironizou como se nada estivesse acontecendo. Nada como a garota que ama estar sangrando até a morte na sua frente.
- Prefiro mil vezes morrer a encostar minha boca na sua – Senti que minha hora tinha chegado, minha visão escureceu.
- Se eu não te amasse, juro que te deixaria morrer, mas... Vou te colocar para dormir para depois discutirmos suas informações de líder do apocalipse, meu amor – tirou a faca do meu corpo e tocou meu machucado que se cicatrizou. Como ele disse, não tive tempo de pestanejar, dormi em menos de um segundo.
Não sei ao certo quanto tempo dormi, mas percebi que já estava na hora de acordar ao ouvir a voz de Jack conversando com . Eu ainda tinha um enterro para ir, o enterro dos meus avós que com certeza foram mortos por anjos. Fui cautelosa até o banheiro e deixei a água quente escorrer pelo meu corpo. Passei a mão onde a faca tinha percorrido seu caminho e não senti nenhuma cicatriz. Eu não estou bem e sinto que cada dia que passa esse sentimento estranho e vazio me preenche mais. Não é como se eu estivesse por um fio, não. O fio já arrebentou e estou em queda brusca para cair em um monte de espinhos pontiagudos chamado morte, várias mãos se estendem para mim, eu posso alcançá-las, eu consigo, mas não quero.
Saí do banho enxugando os cabelos molhados e vesti uma roupa preta. Aquele enterro estava com mais cara de ser o meu enterro, meu corpo ficou aqui no mundo dos vivos, mas minha essência e minha alma já se foram quando aquele avião caiu. Sinto-me um pouco culpada, talvez meus avós estivessem vivos se eu não convivesse com dois anjos idiotas na minha vida.
Cheguei até a sala onde os dois me olharam com pena. Pelo jeito eles estavam apenas me esperando.
- Já podemos ir, Jack? – perguntei abraçando meu irmão que ainda estava muito abalado.
- Então vamos, não podemos mais adiar – lamentou.
- , você vai comigo ou com seu irmão?
- Com meu irmão, porque você não vai.
- Como assim, ? Pare de fazer birra – estranhou meu irmão – Ele só está querendo nos dar apoio.
- Se eu quiser apoio encosto na parede. Já deu, , eu não quero mais te ver, nunca mais – abri a porta mostrando a saída para meu anjo da guarda que estava sem palavras.
- , por que isso? Não faz isso comigo – estava incrédulo.
- , acho melhor você decidir o término do namoro outra hora.
- Não vou discutir agora nem outra hora, porque nós não estamos namorando e nunca estaremos.
ficou inconformado, pegou minha mão e me levou para o lado de fora da casa. Tentei recusar, mas ele lançou um olhar expressivo demais.
- O que pensa que está fazendo?
- Estou te mandando embora da minha vida.
- Você sabe que eu não vou.
- Vamos fazer o seguinte? Você some da minha vida por uma semana e depois a gente volta a conversar sobre você sumir da minha vida definitivamente.
- Esquece!
- , você está me atrasando para o enterro dos meus avós, respeite! – eu disse tentando ir embora, mas me puxou pelos dois braços e me colou na parede. Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto e tentei ignorar sua presença.
- Eu vou agora, mas eu volto – virei os olhos – e tente meter outro cigarro na sua boca que eu meto outra coisa em você – deu as cosas e saiu por aquele portão apressadamente.
Enfim, fomos ao velório. Os amigos de vovô e vovó vieram prestar seu pesar e cumprimentamos a todos. e Ed me consolaram tanto e me permiti ao conforto do braço dos meus amigos. Neguei-me chorar na frente de todos embora as lágrimas insistissem querer sair como uma rolha segurando uma represa. Já quase no final da tarde os corpos foram enterrados na lápide da família, agora, aquele lugar abrigava toda minha família. Restamos somente eu e Jack, mais nada. Sumi de repente no meio daquelas pessoas para poder ir até a escola e resolver mais um problema. Como o cemitério é longe da escola optei por pegar um ônibus que parou algumas esquinas da entrada. Entrei no ginásio e lá estava novamente se exibindo sem camisa.
- Demorou.
- Talvez eu estivesse enterrando meus avós.
- Fiquei sabendo. Foram demônios. Sinto muito.
- Como assim? Demônios?
- Nunca viu um?
- Claro que não! Como posso matá-los?
- Nem pensar, mocinha, você vai ficar bem longe disso.
- Se você não me mostrar, eu descubro sozinha. E precisamos conversar a respeito da sua viagem para a puta que pariu – ficou boquiaberto.
- Você está louca?
- Não, só estou decidida e decidi que não quero mais anjos na minha vida.
- Nem pensar. Esquece.
- Engraçado, mas quem decide isso sou eu – acenei com a mão e me dirigi para a saída que logo foi trancada por .
- Veio aqui à toa? Espere, treine hoje e te ensinarei a matar um demônio. E ainda tenho uma surpresa para você – sorriu maliciosamente.
- Tudo bem, se você estiver disposto a apanhar.
- É o que veremos.
Deixei meu celular no canto da arquibancada e estiquei os braços em sinal de alongamento.
- Não leve para o lado pessoal, – sorri ironicamente e o surpreendi com um soco no cara que o fez levar a mão no lugar acertado – mentira, acho que vou levar para o lado pessoal.
- Então você não está para brincadeira, querida . Mas o que eu te fiz?
- A partir de agora, odeio anjos e matarei todos os demônios que cruzarem meu caminho.
- A Barbie ficou irritada? Você não sabe nem cortar um pão, – disse se apoiando no joelhos devido as altas risadas.
Fiquei furiosa com aquilo, eu não sou indefesa, pelo contrário, sou muito forte e sei aquela tal de esfera vital realmente alterasse alguma coisa em mim, essa era uma boa hora para seu efeito surgir. Peguei impulso e corri em direção ao corpo de , dei um salto alto e enlacei minhas duas pernas em volta do seu pescoço, tombei minha mão no chão ainda o prendendo e o derrubei em um golpe de ninja. Só assim parou de rir e quem ria agora era eu. se levantou como se tivesse entendido meu recado e tentou acertar vários socos em mim, mas me desviei de todos e me deliciei com a cara de surpresa que meu parceiro de luta fazia. Eu estava dando tanta risada e não pude raciocinar o que estava fazendo, finalmente aquele poder vital surtiu efeito. Fiquei sem ar depois de ver a cara de derrotado que fez ao se apoiar em um canto para respirar.
- Mas já cansou? – dei as costas fingindo estar lixando as unhas e fui surpreendida por uma rasteira que me derrubou de cara no chão. Aquela queda me causou um bom corte na boca e era bom que concertasse isso depois. Tentei me virar para ele para reclamar e fui surpreendida com ele segurando meus dois pés e me arrastando por todo o ginásio – Me solta, seu idiota – retruquei tentando me soltar, mas não conseguia.
- Quem ri por último ri melhor, pequena aprendiz – ele parou ao perceber que um pouco de sangue havia ficado pelo chão – Meu deus, me desculpa – tentou se redimir e se ajoelhou ao lado do meu corpo.
- Você sabe tratar uma garota muito bem, isso explica o tanto de namoradas que você tem – acenei ironicamente para o ginásio vazio.
- Não, eu trato mulheres muito bem – ele frisou a palavra mulheres – e você é a única.
me aprisionou no meio de suas pernas, de forma que ele ficasse montado em cima de mim e puxou meu tronco para que me aproximasse dele. De uma forma inesperada, ele passou a mão esquerda na minha nuca e com a direita ele aproximou nossos corpos. Ele encarou o sangue que escorria da minha boca e agora já atingia meu pescoço e foi lambendo o sangue por toda minha pele, fazendo todos meus pelos se eriçarem, só parando quando encontrou minha boca e meteu sua língua suplicando passagem. E é óbvio que eu dei. Como não havia blusa cobrindo aquele corpo esculpido por Deus, o agarrei pelos ombros e fiz ele se deitar sobre meu corpo. Puxei-o mais para mim para que ele dominasse minha boca com seus lábios ferozes e ele correspondeu perfeitamente. juntou meus cabelos no meio de suas mãos e os apertava para eu chegar mais perto de si. Nossas línguas se enroscavam com tanto calor que fiquei sem fôlego e tive que nos separar para respirar. Só por um segundo. Beijei-o novamente no pescoço apimentando o clima, se ele não fosse um anjo, aqueles chupões deixariam lindas marcas em sua pele de seda. retribuiu mordendo meu lábio e soltei um pequeno gemido pela dor causada por sua atitude. Ele sorriu descaradamente e tirou minha blusa me deixando de sutiã naquele ginásio. Aquilo tinha que parar ou iria longe demais.
- Chega – me soltei dos seus lábios e tirei a mão direita do anjo que estava tocando meus seios – Vai devagar, cowboy – enfim pude me levantar e corri até minha blusa que tinha sido arremessada longe.
- Mas devagar se chega a algum lugar – ele sorriu maliciosamente – Já que você quebrou o clima, vou dar meu presentinho – caminhou até a arquibancada onde pegou uma mochila preta e de lá tirou um tubo de ensaio.
- Vamos brincar de alquimia? – desdenhei tirando com a cara dele.
Vi se aproximando como se aquilo em suas mãos fosse a porta para a felicidade. Estranhei ao ver um líquido vermelho escuro e torci para que aquilo não fosse sangue. E se fosse? O que ele faria com aquilo?
- Acho que isto chegou na hora certa – esticou os braços e me entregou o tubo – você não quer se livrar do seu anjo da guarda? Aí está.
- O que é isso? Como assim? Vou me livrar de ? – encarei o líquido escuro e destampei para cheirá-lo – É para eu beber?
- Pode beber e a resposta é sim, assim que você engolir este líquido, quebrará qualquer vínculo com , ou seja, ficará sem anjo da guarda – ele me encarou estranho pela cara anestesiada que apresentei – Você não quer se livrar de , estou certo? Esse beijo hoje foi apenas para tentar varrer o beijo dele da sua mente.
- Claro que não, eu já disse que não quero mais anjos na minha vida – encarei o tubo novamente e não sabia se beber era correto. Aquela atitude poderia afastar de vez e talvez ele nunca mais olhasse na minha cara. Mas não era essa a intenção? Para o cérebro sim e antes que o coração pudesse lutar, engoli todo o líquido de uma só vez. Era uma mistura de azedo e amargo, mas espremi os olhos e esperei que o gosto logo passasse – Abracadabra? Era para algo acontecer?
- Está feito, . A partir de hoje, considere-se uma desguardada.
- E agora é a hora que recebo o diploma – Peguei meu celular e encaixei os fones de ouvido para que o caminho de volta para casa fosse menos doloroso – Adeus, – acenei uma última vez.
Agora era a hora de recomeçar como uma fênix, do nada, das cinzas para a explosão da vida. Eu quero queimar, quero destruir tudo o que me destruiu. Uma nova surgirá e salvará o mundo sozinha desses idiotas antagônicos chamados de anjos e demônios. Se depender de mim, o apocalipse nunca atingirá seu auge, Lúcifer nunca voltará e todas as pessoas continuarão suas vidas pacatas como sempre. já é uma página virada, posso escrever no meu diário que foi apenas uma aventura. Não guardarei sentimento algum por aquele que só quer ver o fim do mundo. Será que ele se esqueceu que se o Apocalipse começar, eu morrerei junto com as outras 7 bilhões de pessoas que habitam esse planeta? Estou tão decidida em ferrar com aqueles demônios e acabar com o apocalipse, que se , ou até mesmo Jack tentarem me impedir, juro que sofrerão as consequências. Esse poder vital dentro de mim começou a surtir efeito. Caminhava rapidamente para casa quando meu telefone tocou, era Ed. Como já havia ignorado muitos ligações por hoje, resolvi atender esta exceção.
- , precisamos da sua ajuda? Onde você está?
- O que aconteceu? Eu estou indo para casa.
- Vou te buscar na sua casa, não é longe daqui.
- O que não é longe? Onde você está?
Tive a resposta somente da ligação caída.
Apressei os passos assustada para chegar logo em casa e vi o carro de Ed chegando junto comigo. Ele abriu a porta e eu me joguei no banco ao lado do motorista, logo saiu cantando pneu.
- Que droga! Custa me dizer o que está acontecendo?
- Eu e a estávamos te procurando pelas ruas após você sumir do enterro até que vimos o corpo de caído no chão no meio das calçadas. Várias pessoas fizeram uma roda em volta e disseram ter chamado a ambulância. Resolvi te chamar já que você é a única pessoa que pode ajudá-lo.
- Pare esse carro agora – briguei – eu não vou ajudá-lo, ele pode se virar muito bem.
- O quê? Ele é seu amigo e já suspeitamos que sejam namorados.
- Cale a boca e para de falar merda.
- , não estou te reconhecendo.
Infeliz Ed tinha razão e o lugar era próximo. Desci do carro como se o tédio tivesse se instalado sobre mim e me aproximei de que estava sendo colocado numa maca pela equipe de primeiros socorros. Eu queria que aquilo não tivesse ocorrido, mas ocorreu. Senti como se uma faca estivesse sendo cravada no meu peito ao ver aqueles olhos fechados e seu corpo sem expressão.
- Você é parente dele – perguntou um homem – Vai acompanhá-lo até o hospital?
- Sim, sou parente – menti entrando na ambulância – Ele vai ficar bem?
Os sinais vitais de haviam parado e os equipamentos apitavam loucamente. Senti um desespero tão grande, perder mais uma pessoa que eu... Gostava era demais. Segurei sua mão que estava imobilizada para evitar uma queda e chorei numa angústia profunda. O coração de respondeu e os batimentos começavam a se desenhar no equipamento. Respirei aliviada e desejei que tudo aquilo acabasse logo. Fiquei um bom tempo na sala de espera do hospital e depois de tanto esperar sem respostas, adentrei nos corredores a procura de . Vi seu corpo esticado em uma cama e abri a porta que dava para o quarto vazio de médicos.
- , você tem que acordar – supliquei perto do seu ouvido – Por favor.
- A bela adormecida acorda com um beijo .
- Isso é vida real - dei um tapa forte na cara dele – Quer me matar de susto?
dava risada como uma criança que fez bagunça e agora levava um sermão dos pais. Ele se levantou da cama e seu sorriso sumiu do rosto como uma chama sendo apagada por um balde de água.
- Você mentiu para mim, . Disse que não havia outro anjo envolvido.
- Olha, já vou embora. Adeus, .
- Não dá para ficar longe de mim, mesmo após você me desvincular de você.
- Como assim? Agora que você não é mais meu anjo da guarda, rala peito.
- Você não entende? A ligação de anjo da guarda era apenas... Um quinto do que nosso amor está ligado.
- Que coisa romântica mais fofa – fiz ironia com cara de apaixonada – Vai se foder e adeus.
Dei as costas e saí o mais rápido do hospital. Peguei um táxi, fui para casa, fiz as malas sem Jack perceber, pois estava no banho para tirar aquele clima fúnebre do corpo. Abri minha reserva de dinheiro que estava fazendo há mais de dois anos e peguei os dólares ali presentes para os guardar em uma carteira. O horário na passagem de ônibus já alertava meus olhos ao pousar sobre o relógio. Fiz meu último ato que foi deixar um bilhete de despedida para Jack. Aquilo apertou meu coração, eu sei que depois de minha partida meu irmão desmoronará, mas ele é forte e se reerguerá.
“Jack, meu querido irmão, estou partindo para uma vida solitária e sem volta. Pode parecer estranho, mas só estou tentando salvar o mundo. As pessoas que vivem perto de mim sempre morrerão e não quero que você seja o próximo. Você foi tudo o que sobrou, você é o único que nunca deixará a esperança morrer mim, eu te amo meu irmão. Vou ficar bem, fique tranquilo, tudo dará certo. Eu voltarei talvez, algum dia, talvez para sua formatura”
’ Lacei a mala em minha mão e segui para a rodoviária. Planejei chegar bem em cima da hora para não correr o risco de Jack aparecer por lá e tentar me impedir. O ônibus parou na rodoviária e embarquei deixando comigo somente meu celular com um novo número. Senti-me um pouco culpada ao sair sem me despedir dos meus dois amigos idiotas. Não demorou muito e o veículo balançou fazendo que ia sair. Adeus vida antiga.
Eu não iria viajar assim sem rumo, é óbvio, por isso fiz algumas pesquisas e espero que estejam certas de onde há uma aglomeração de demônios. Não me chamem de ladra, mas peguei um livro na biblioteca, ele parecia ser bem antigo devido ao seu estado de decomposição. O bibliotecário até me perguntou se eu faria uma adoração ao satã, mas logo ri. Estava longe disso. Antares, uma cidade que ficava há seis horas daqui apresentava algumas anomalias, como chuvas de granizo frequente, morte de animais e desaparecimentos constantes. Até onde pesquisei, tudo isso indicava sinais demoníacos. Aconcheguei-me no ônibus para poder dormir até o fim da viagem e acionei um despertador para tocar 5h30 depois. Conforme a paisagem passava pela janela do ônibus e as árvores insistiam em querer nos acompanhar, um filme se passou em minha cabeça e vi o ponto máximo que cheguei. Uma família feliz que se desfez, restando apenas uma garota perdida e trancada na solidão. Quem imaginaria que a garotinha que adorava brincar de bonecas se transformaria em uma caçadora de demônios? Anjos também poderão entrar nessa lista. A questão era, eu estou tentando evitar a saída de Lúcifer, enquanto está tentado o trazer de volta. Será que no final das contas, quando todos os números forem colocados sobre a mesa, às fichas serem lançadas, precisarei matar ? Por mais que isso doesse só de pensar, era melhor começar a trabalhar essa ideia na minha cabeça. Pensar faz a gente perder o sono, não é? Comecei a folhear o livro para descobrir como matar um maldito demônio. Eu preciso melhorar para que não seja morta já ao descer do ônibus. Após muita concentração cheguei à conclusão que para matar um demônio era preciso exorcizar ou somente a espada de um anjo o levaria a morte. Como a espada não está disponível no momento nem futuramente, o jeito é apelar para o exorcismo e para a água benta.
O ônibus freou bruscamente e meu livro foi parar no chão debaixo da poltrona da frente. Prendi meu cabelo atrás da orelha para facilitar a visão e tateei o chão a procura do objeto. Assim que o alcancei, perdi meu tempo tentando achar à página perdida. Ouvi a porta do ônibus se abrir e pensei ser mais um passageiro fora do ponto. Percebi que estava enganada quando dois homens altos de terno e gravata olhavam cada pessoa procurando algo.
- – eles chamaram por mim e me enfiei o mais fundo para baixo. Acho que Jack leu minha carta e mandou a polícia vir atrás de mim. Que ótimo – Sabemos que está aqui.
Eles se aproximavam cada vez mais de mim e não tinha para onde fugir. Levantar-me para ir até o banheiro no fundo do ônibus seria suspeito demais. Não tinha mais volta. Decidi então virar para o lado da janela e fingir que estava dormindo. Joguei a jaqueta bem em cima do meu rosto e fingi estar ouvindo música no fone de ouvido. Os passos se aproximavam e um frio na barriga me deixava mais tensa. Os passos então pararam e entrei em desespero profundo. Devido à blusa, não tinha noção do que estava acontecendo. Se eles me descobrissem, o jeito era negar que eu era e que haviam me confundido. A blusa foi retirada da minha cabeça e arremessada para o outro lado do ônibus, mas ainda continuei fingir estar dormindo. Uma mão pesada segurou meu braço esquerdo e me puxou com força, fingi acordar assustada e os encarei com reprovação.
- O que foi, solte-me, por favor – reclamei pela ação do homem.
- Campbell, você terá que nos acompanhar.
- Quem é Campbell? Acho que vocês se confundiram.
O sorriso que aquele homem deu, certamente, foi o mais assustador que vi na minha vida. Aquilo gerou uma aflição que brotou do meu interior e minha vontade era de correr, mas para onde e como? Só se eu quebrasse o vidro do ônibus, o que, talvez, fosse impossível. Mas não custava tentar. Enrolei a jaqueta na minha mão e deu o soco mais forte que poderia dar para que aquela janela se abrisse, mas nem se quer trincou. Senti minha mão latejar de dor e quase gritei agoniada. Foi nessa hora que eles se aproveitaram do meu momento de fraqueza para algemarem meu braço para trás e começarem a me arrastar pelo comprido corredor do veículo. Debati o quanto podia para tentar escapar, mas seu parceiro estava ajudando a me controlar. Eles me levaram até próximo ao carro e me pararam de frente para ele, enquanto o outro dava sinal para o ônibus seguir viagem e assim o fez. O outro se aproximou novamente enquanto mexia impaciente no celular.
- Sou menor de idade, a policia não pode me algemar - reclamei enquanto o que me segurava apertou meu corpo contra o carro. Ele começou a me revistar e me senti incomodada com sua mão atrevida que agora se aproxima da minha bunda. Ele não hesitou em passar a mão lá e lhe acertei um chute na canela – Tira a mão de mim.
- Não somos da polícia, – riu sarcasticamente e vi seus olhos ficarem negros. Provavelmente, caí nas mãos de demônios. Comecei bem minha caça, pensei.
- O que estão esperando seus desgraçados, me matem.
- Temos outros planos para você, senhora vital.
Que droga, eles sabem que aquela droga de esfera vital estava em mim. E aí, será que o dia não poderia ficar melhor?
O barulho de carro esportivo vinha do horizonte, eles trataram de me arremessarem dentro do porta malas cheia de cordas e fitas adesivas para que eu não tivesse a luxúria de escapar. Comecei a chutar aquele lugar somente na tentativa de reclamar, já que aquela ação seria em vão. O motor roncou e começávamos a seguir caminho pela estrada quando ouvi o barulho de pneus cantando e o carro em que estava freou bruscamente.
- Soltem ela – ouvi a voz vindo do lado de fora. Era ele, .
Estou salva, pensei. Droga, como ele me achou? Reclamei em seguida. Saio de um buraco para cair em outro.
O barulho de pancadaria dedurou que estava ganhando. O porta-malas se abriu e a luz invadiu o lugar dedurando o anjo da guarda ali presente. Ele tirou a fita da minha boca bem rápido e senti uma depilação naquele lugar que queimou. Rapidamente, as algemas e cordas haviam sido retiradas e assim que me vi livre, comecei a correr pela estrada para talvez chegar a lugar algum. Mas como tudo na vida não é fácil...
- Volta aqui – gritou estressado me derrubando no chão com um golpe de ninja. Agora eu estava imobilizada, sem ar devido ao peso de sobre os meus pulmões e com uma marca vermelha na pele pela extensão do meu rosto – Nunca mais pense em fugir de mim, está me escutando?
roçou sua boca na minha, deixando-me apenas na expectativa e loucura. Levantou e me ajudou também.
- Droga – ele gritou assustado – Entra no carro.
Só obedeci porque percebi que vários jipes pretos com atiradores em cima se aproximavam rapidamente. Contei no mínimo seis. Apertei o cinto e acelerou como se o mundo fosse acabar. E talvez vá, então era bom ele acelerar mesmo. Ele ultrapassava os outros carros com habilidade e já era possível ouvir o barulho das armas nos caçando.
- Se eles querem o apocalipse, igualmente a você, por que estão te perseguindo?
- Nós éramos aliados até eu descobrir que eles estão atrás de você, não é, minha querida, será que você esqueceu de mencionar que a esfera vital é você?
- Geralmente as pessoas não falam isso em um encontro – ironizei assustada. Eu realmente não sabia com quem era melhor/pior ficar.
- Será que tem algo mais que eu não saiba sobre você que poderia me contar, se puder, agora – ele insistiu prestando atenção na estrada e tentando se distanciar dos demônios.
- Eu não gosto de espinafre.
E mesmo naquela situação de adrenalina e perigo, ele olhou para mim e sorriu, provocando qualquer sensação que quebrasse meu medo. Foi má ideia fazer ele se desconcentrar.
- Cuidado, - gritei me segurando no que estivesse na minha frente.
Não sei como, mas o carro capotou. Fomos lançados do chão a uma altura extremamente alta, tudo pareceu um filme em câmera lenta, se soltado do seu sinto e me abraçando fortemente para que eu não me machucasse com o impacto. Não sei explicar como ele fez aquilo em questão de milésimos de segundos, ele pareceu flutuar no tempo para me salvar. O carro atingiu o chão e rodou, rodou e rodou até não aguentarmos mais. A cada impacto uma nova dor surgia no meu corpo. O barulho era assustador, um barulho de ferro se contorcendo. Mordi meu lábio inferior da boca e fiquei na expectativa de talvez viver após aquele acidente. Agarrei-me mais forte ao corpo do meu anjo e não o soltei nem quando o carro parou de ponta cabeça no meio da estrada.
Capítulo 12
Tudo parou, senti algo escorrer da minha cabeça e provavelmente era sangue. O cheiro forte da gasolina invadiu meu nariz e ao fundo, os jipes pararam despejando caras grotescamente grandes com armas nas mãos. Sai do transe ao ver que três deles carregavam o que parecia ser uma espada angelical. Imediatamente encarei que estava soltando meu cinto de segurança e tentando achar uma posição confortável que não fosse de ponta cabeça para que pudéssemos sair correndo dali.
- , corre sem parar, não pare e nem olhe para trás – disse removendo a porta do carro do seu caminho como se fosse uma folha de papel.
Rastejei até atingir o asfalto quente e juntei forças nas minhas pernas para fazer o que tinha mandado. Olhei para trás na tentativa de ajudá-lo para correr comigo, mas vi que ele já estava na mão do inimigo.
- Corre agora – ele gritou sendo segurado por dois homens grandes.
Projetei meu corpo para frente e comecei a correr desesperadamente. Minhas pernas estavam bambas devido ao susto e na maior parte do tempo, minha luta foi me manter de pé. A ficha caiu e entendi que se ficasse ali, provavelmente seria morto.
- Pare agora, garota estúpida. Dê mais um passo e eu corto a garganta dele – disse o talvez chefão deles.
Virei–me e deparei com uma cena não muito agradável. estava ajoelhado no chão e preso por braços fortes e agressivos. Um corte fundo na sua testa inundava seu rosto de sangue, portanto, só pode ser causado pela espada que agora estava na frente de seu pescoço, pronta para decapitá-lo.
- Ela não tem nada a ver com isso, deixem-na ir.
- Como não tem nada a ver? Ela é o que falta para o apocalipse começar.
- Solte ele agora – aproximei delicadamente. Meu medo não poderia me atrapalhar – Quem é você?
- Sou Azazel, agora novo líder, já que andou causando problemas para nós.
- Eu faço o que quiserem, mas deixem longe disso, esse era nosso acordo desde o começo – gritou com uma fúria que nunca tinha visto antes.
- Tarde demais, sua garota agora é o epicentro do que abalará a Terra.
Um brilho cortou o céu e me deparei com surgindo a poucos metros dali. Os demônios se aproveitaram da minha distração para também me fazer refém.
- Meu querido irmão – ironizou Azazel ao ver chegando.
- Espera, você é um anjo? – fiquei inconformada com a informação. O apocalipse dividiu os times literalmente. Uniu anjos a demônios, só poderia ser o fim do mundo.
- O traidor é seu, mas a garota fica comigo – negociou o anjo.
- E mais uma vez a garota é que define o rumo do universo. Será que vocês conseguem pensar com a cabeça de cima só um pouco? Será que vocês conhecem a história pelos dois lados da moeda?
- Cale-se! – berrou que logo foi calado com chute no estômago e caiu agonizando de dor – Se você disser uma palavra, eu juro que matarei você do jeito mais doloroso possível – gaguejou fracamente.
- Não o machuque – supliquei – é a mim que você quer e aqui estou.
- Eu sei, querida. Mas vamos jogar as cartas na mesa e você verá que está nadando no meio de monstros egoístas – e Azazel soltou a bomba – Primeiramente, vamos voltar no tempo. e eram amigos, porém, uma certa garota apareceu como uma estrela cadente para que se apaixonou completamente. Porém, seu anjinho da guarda notou a paixão de por você e logo brigaram por ciúmes. Enquanto os dois lutavam para ver quem ganharia seu coração, o apocalipse começava a ganhar farinha e fermento. Era a hora de escolher os líderes para cada frente. , por ser o mais velho e muito poderoso, foi consagrado líder para evitar o apocalipse. O papel antagônico foi oferecido á , mas ele recusou, disse que morreria, mas não aceitaria liderar o apocalipse. E é aí que o gênio entrou em ação, eu mesmo – esnobou abrindo os braços – Pensei assim, o que seria mais doloroso que a morte para ? – Azazel coçou o queixo para interpretar o papel de vilão – Que tal matar a amada dele? E aí veio com o rabinho entre as pernas suplicando que não fizéssemos nada de mal com você. E assim o pacto estava feito, o apoio e liderança de pela sua vida, .
balançou a cabeça em sinal de negação e estava incrédulo do outro lado sem reações.
- Era você, , você que estava importunando ela esse tempo todo.
- Desculpa, , eu não sabia – lamentou .
- A escolha agora está na sua mão, . Diga sim e seus dois amigos sobreviverão. Diga não e eles morrerão. De qualquer jeito você fará o que eu quero, só decidirá se eles vão viver ou não.
A lâmina prateada começou a cortar o pescoço de e me senti pressionada a responder logo. me encarava fortemente e podia traduzir que ele queria o meu não e que eu saísse correndo dali urgentemente.
- , pegue essa garota e a leve para o mais longe de toda essa confusão, ame ela como eu a amo e nunca deixe nada de mau acontecer com ela – ordenou – rápido.
golpeou os demônios que me seguravam e me resgatou, porém, ele sozinho não conseguiria enfrentar a fúria de Azazel. Percebi que se não tivesse uma atitude logo, seria morto.
- Que coisa meiga, ele dá a sua vida pela amada – ironizou o anjo do mal.
me arrastava para longe quando senti algo brotar de dentro de mim e sair como um furacão preso em uma garrafa de energético.
- Minha resposta é sim, vou te ajudar, agora deixem-nos em paz.
- É assim que eu gosto, querida.
- Não, você não poderia ter dito isso, – lamentou .
Azazel segurou minha mão e uma energia forte percorreu pelo meu braço. Meus olhos arderam como se tivesse caído detergente, e tudo ficou mais claro, como se uma luz forte inundasse tudo. Isso devidamente ocorreu porque meus olhos pareciam dois faróis naquele momento. Uma tremedeira passou pela minha coluna e senti minhas pernas fraquejarem fortemente. O lugar foi escurecendo aos poucos e percebi que o erro estava comigo, pois estava quase desmaiando. As mãos firmes de Azazel foi o que me deixava de pé. Ouvi ao fundo o que talvez seria e lutando contra os demônios. Azazel sumiu como fumaça levando todo meu apoio e senti meu corpo colidir com o chão. Minha cabeça deitou no asfalto áspero e vi a cena dos nobres guerreiros correndo até mim desesperadamente. chegou primeiro por não estar tão machucado como . Todos os demônios haviam sumido, juntamente com minha consciência.
Abri meus olhos lentamente e com facilidade, devido a pouca luz do lugar. A casa parecia ser abandonada e eu provavelmente estaria sozinha. Não sei como vim parar aqui e não sei responder se estou na mão do inimigo ou com o que posso chamar de anjos da guarda. Apoiei-me sobre os cotovelos rapidamente assustada ao lembrar que e eram inimigos mortais e que provavelmente, apenas um estaria vivo. Fui me apoiando naquele sofá velho e forrado até obter maior visão do meio que estava e percebi que não estava sozinha. viu eu me movimentando e sentou ao meu lado.
- Cadê o ? – foi a primeira coisa que perguntei.
- Estou aqui – adentrou no cômodo com o que seria uma sopa na mão – Você está bem?
Levantei e o abracei com tanta força, mas tanta força, que pensei estar matando sufocado. Como era bom sentir seu cheirinho de floresta inundando meu interior. Minha cabeça se encaixava perfeitamente no vão do seu pescoço, como se fosse a única peça para aquele quebra cabeça. Eu queria beijá-lo intensamente como se o mundo fosse acabar naquele exato momento, mas me lembrei que tínhamos um espectador que provavelmente estaria sofrendo com aquela cena. Virei e me deparei com agora segurando o prato nas mãos. Coloquei o objeto quente em algum lugar e também o abracei, porém de uma forma menos calorosa como o anterior e, não menos carinhoso.
- Que bom que vocês não se mataram – intercalei com a colherada daquela comida deliciosa. Só assim me dei conta o quanto tinha ficado sem ingerir alguma coisa.
soltou um gemido que poderia ter várias interpretações, como talvez a negação daquela cena bizarra: Dois inimigos dando sopinha na boca da pobre garota.
- E agora, o que acontece? – indaguei preocupada.
- Agora já está feito, . Azazel te “ativou”. Assim que ele começar com o feitiço para abrir as portas para Lúcifer, você querendo ou não vai parar lá imediatamente. É como se você fosse atraída para lá. Pode ser que na sua mente você não queira ir até Azazel, mas seu corpo foi programado para atender ao chamado.
- Então, o apocalipse começará?
- Sim, acreditamos que não demore mais que dois dias.
Comecei a chorar apoiada sobre os joelhos e os dois se aproximaram para me abraçar. Percebi que um encarava o outro para ver quem era o ganhador do meu abraço. Se eu não tomasse uma atitude logo, os dois se atracariam como dois leões selvagens disputando a fêmea.
- Vocês dois precisam parar com isso.
- A única que pode acabar com isso, é você, . O jeito é escolher quem de nós dois é o dono do seu coração.
- Pode falar, , será forte e entenderá que perdeu – disse discursando como o vencedor.
- Se eu fosse você, não cantaria vitória antes da hora, irmão, afinal, era comigo que ela estava rolando no chão do ginásio enquanto me beijava.
É, seria mais fácil evitar o apocalipse do que aquela briga. se levantou já socando a cara do outro como um saco de pancadas. atingiu em cheio a parede que se rachou em dois derrubando o gesso ali presente. não fez menção de parar e então eu me posicionei no meio daqueles dois brigões, mas ele passou por mim e continuou socando rapidamente. aproveitou uma brecha para revidar com um chute que lançou para o outro lado e caiu sobre a mesa,rachando-a no meio. Corri até a cozinha e peguei uma faca, cheguei na sala gritando um “parem” e enfiei a faca da forma que mirasse meu coração. Os dois pararam ao me ver sentada e toda ensanguentada.
- Por favor, levar uma facada dói menos que ver vocês dois brigando, por favor, parem – tocou a ferida que logo se cicatrizou e um se afastou do outro como duas cargas que se repelem – Agora é hora de união e não separação.
Eles entenderam meu recado e juntos, ajudaram a me levantar e me sentar em um lugar confortável. Agora era a hora de jogarmos os papeis na mesa e bolarmos um plano para salvar o mundo. Desejei profundamente que os Vingadores não fosse só um filme, desse modo à carga cairia somente sobre eles enquanto assistíamos de camorote. É difícil pensar quando a bomba esta em suas mãos.
Capítulo 13
Fizemos alguns planos, mas e sempre se opunham, cada um pensava de um jeito querendo mostrar mais liderança e no final das contas, chegávamos a um resultado de que não havia nada para ser feito. precisou sair para ir atrás de algumas coisas, como lençóis, pregos e martelos para cobrir tudo naquela casa. Disse também que iria atrás de um livro muito antigo que talvez pudesse ser útil. Ele saiu na insegurança de deixar eu e ali sozinhos.
- Eu vou morrer? - perguntei sei me importar com a resposta.
- , estamos com medo de que quando o poder vital sair de você, ele leve junto sua vida, pois o poder vital nada mais é do que vida e o feitiço é para retirar ele de você, assim como era para ser da esfera, só que o recipiente mudou, infelizmente – lamentou.
- Eu não estou com medo, se é assim que é para ser, será – sentei-me em seu colo – mas eu quero que você e prometam que vão matar aquele desgraçado do Lúcifer.
- Não fale como se você não fosse sobreviver, por favor.
- Eu sou realista, só isso.
- Você está sendo pessimista, isso sim – ele disse apertando meu nariz com o indicador e o polegar.
Nossos olhares se cruzaram cúmplices e me lembrei que não estava mais ali. Aquela imensidão azul me hipnotizou e não neguei o toque de sua boca faminta tocando meu pescoço como se fosse um pedaço suculento de carne. Minhas costas caíram sobre o sofá e o corpo do anjo caiu sobre o meu, o lugar parecia ser pequeno demais para a explosão. dava chupões em meu pescoço e não pude segurar um gemido de aprovação que deixei escapar pelos meus lábios. parou imediatamente para me encarar com aquele sorriso de orgulho porque eu estava gostando daquela ousadia dele. Eu fiquei envergonhada e minhas bochechas pareciam latejar pelo sorriso safado na boca dele. Suas mãos fortes apertaram minha cintura causando um calor que eu nunca tinha sentido antes, eu estava gostando daquilo e nada no mundo poderia estragar aquele momento. Sua boca invadiu a minha procurando o caminho mais profundo, eu amava o gosto dele, o cheiro e o contato de nossos corpos produziam um combustível jamais visto. sentou mais perto a ele dando uma mordiscada no meu lóbulo da orelha enquanto todos os pelos do meu corpo se eriçavam. Ele tirou a camiseta e a jogou para algum lugar que para mim não fazia a mínima diferença. Depois, mantendo os olhos nos meus para que pudesse detectar qualquer emoção, subiu minha camiseta aos poucos passando pelo pescoço e por último passando o tecido pelos braços. Tenho certeza que minha camiseta teve o mesmo destino que a dele. Sua língua roçou todo meu colo deixando aquele lugar todo excitado por sua passagem. Grudei a mão em seus cabelos forçando seu pescoço para trás e eu tomei a atitude de dar chupões devastadores em seu pescoço. também não aguentou e soltou um gemido, parei para rir e era minha vez de zoar com a cara dele. levantou-se para tirar sua calça negra juntamente com os sapatos, revelando uma Box preta com um material elevado por baixo. Ele não esperou por mim e deu um puxão forte para que minha calça saísse do meu corpo também. Saiu e levou junto a minha calcinha, deixando – me praticamente despida se não fosse o sutiã. Fiquei um pouco sem jeito, mas aquele homem na minha frente não me decepcionaria. Ele voltou a ficar por cima de mim e me senti mais completa com ele ali. Sentei-me exatamente sobre seu membro que estava contido por uma Box e rebolei em cima para deixá-lo mais excitado e pelo jeito, estava conseguindo. Nossas bocas não se desgrudavam um segundo sequer e nossos corpos estavam suados. Soltei a última peça que me impedia de ficar nua sobre aquele corpo perfeito e avançou chupando meus seios proporcionando um enorme prazer. Ele se sentou no sofá e me encarou com um olhar chamativo se eu realmente queria seguir adiante, e acreditem em mim, eu queria. O surpreendi liberando seu membro daquele tecido preto importuno que teve o mesmo destino que as outras roupas. Sentei-me em seu colo e senti o membro dele pressionando minha intimidade que clamava por ele. Levantei-me o suficiente para dar passagem ao membro dele e dar entrada em minha cavidade, e ele não me decepcionou. Ele apertou tão forte minha cintura que provavelmente no dia seguinte teria algumas manchas ali, e depois de encaixar minha cabeça em seu pescoço, penetrou seu membro que abria caminho dentro de mim me causando uma dor muito forte e um prazer que não poderia explicar. Gritei por estar perdendo minha virgindade naquele exato momento e fui calada por um beijo molhado e furioso, senti aquela coisa dentro de mim me pressionando e me apertando e começou a movimentar os quadris de forma que seu membro me estocasse cada vez mais fundo. Eu não estava aguentando mais, cada investida dele e eu gritava de prazer, eu estava entregue ali, no meio da sala e em seus braços, unidos como um só. parecia não querer parar tão cedo e ele continuou me socando sem piedade, cada vez mais me enchendo de prazer. Ele também estava gostando e percebi isso pelos seus gemidos e por suas mãos que apertavam minha bunda.
Pressionei seu membro dentro de mim e ele reclamou de dor ao ouvir a porta se abrindo e um boquiaberto parado na porta. Eu não sabia onde enfiava a cara. Desprendi-me de e tentei cobrir minhas partes nuas com as mãos, mas antes que eu pudesse sair dali, já havia tacado tudo no canto e saiu chorando para algum cômodo que eu ainda não conhecia. Eu juro que não queria magoar , ninguém tinha culpa naquela história. mostrou-se indisponível de uma reação pela cara de cansaço que estampava. Procurei minhas roupas e as vesti o mais rápido que pude longe dali, porque mesmo com o ocorrido, fiquei envergonhada pelo olhar carnívoro de sobre meu corpo descoberto. Voltei já vestida e vi que também tinha feito sua parte.
- Olha, por favor – as palavras certas vazaram da minha mente – não brigue com o .
- Eu não vou, sei que ele está sofrendo – assentiu me deixando menos preocupada.
Fui de cômodo em cômodo com me seguindo e encontrei sentado e chorando em um quarto que cheirava devidamente a lugar abandonado. Se não fosse a luz do sol que escapava pelos buracos das madeiras soltas da janela, aquele lugar estaria totalmente escuro. Fui até ele e sentei ao seu lado, passando meu braço em volta de seu corpo quente. estava escorado na porta de braços cruzados e observava em silêncio.
- Desculpa por você ter visto aquilo, – limpei as lágrimas de seu rosto e o fiz virar-se para mim.
- Você não tem que pedir desculpas... Eu sei que é sua escolha – abaixei a cabeça por ter que concordar com ele. Por mais que eu tentasse me afastar de , não conseguia. Eu sentia uma atração muito forte, eu sentia sentimentos por aquele idiota convencido e gostoso.
- Eu prefiro acertar a facada de uma vez a ficar desfiando sua carnes aos poucos. , eu sei que você gosta de mim, mas antes de hoje, pensava que eu seria somente um passatempo na sua vida, não sabia que você e tinham brigado por minha causa. Você é lindo, maravilhoso e tem um bom coração, eu gosto de você, mas como amigo. Nunca passará disso, sinto muito – eu o abracei para ver se podia controlar os soluços daquele forte homem que agora se desmanchava em meus braços – Desculpa, ok?
- Eu já disse que você não precisa se desculpar – ele ficou quieto um tempo tentando retomar o fôlego – Eu entendo sua decisão, mas será que eu poderia fazer um último pedido? Talvez nenhum de nós sobreviva após o ato final de Azazel, então, por favor, posso sentir sua boca uma última vez?
Eu realmente fiquei surpresa, não sabia o que responder. pareceu não ter gostado nem um pouco do que ouvira, e encarava o teto demonstrando não suportar aquilo. Eu e encaramos na porta e após ele tanto olhar aquele teto que nada tinha de especial a não ser buracos e cupins, encarou-nos.
- Por favor, , deixe-nos a sós por um momento, não será nada demais – pedi calmamente mesmo tendo um coração a quase mil dentro de mim.
- Eu vou ficar no corredor – saiu com dificuldade – só um beijo – ele soletrou já não sendo mais visto.
Ficamos somente eu e ali no quarto, um encarando o outro como se fossemos dois jovens prometidos um para outro, por suas famílias.
- Para você não é nada demais, não é? – ele deixou outra lágrima escapar. Medi minhas palavras e vi que tinha feito a colocação errada.
- Não entenda desse jeito, eu precisava amenizar a situação para não vir aqui e grudar no seu pescoço novamente – e o silêncio se instalou novamente.
Como o furo tinha sido meu, já que não é nada legal um amigo que te ama ver você transando com um cara na sala, pior ainda se o cara for um inimigo. Acariciei a bochecha dele com as costas da minha mão direita enquanto que com a esquerda, apoiava meu corpo naquele colchão velho. Vi que os olhos de já estavam fechados e seus rosto se aproximava vagarosamente e selei nossas bocas lentamente com um beijo rápido e me afastei. Ele encarou suplicando por mais e eu não pude resistir àquele olhar profundo. Puxei-o para mais perto e enrosquei nossas línguas em um beijo molhado que estava deixando saliva no contorno da minha boca. Nossas línguas se enroscaram em um jogo de quem seria mais profundo, então me soltei recuperando o fôlego, se eu não me soltasse agora, nunca pararia. Encostei minha testa na dele e ficamos ali sentindo a respiração um do outro de olhos fechados. Enlacei minhas mãos na dele e deixei que o silêncio consertasse as coisas ali. Levantei e depositei um beijo demorado na testa dele e que se levantou também. voltou a escorar a porta e passou por ele esbarrando no ombro dele, parando em seguida.
- Isso não significa que desistirei dela – encarou de lado o inimigo que se equilibrava novamente devido ao impacto e depois continuou seu percurso para longe dali.
soltou uma gargalhada baixa enquanto vinha me abraçar. Ele estava feliz por ser o vencedor daquela disputa, o vencedor do meu coração.
- , eu queria saber uma coisa - tentei achar as palavras certas para perguntar aquilo – De que lado você está agora?
Percebi que aquela pergunta mexeu com ele. tinha a mania de passar a mão nos cabelos quando estava nervoso e não sabia qual resposta dar, mas ele me respondeu de uma maneira convicta após formular um discurso.
- Eu só quero que saiba que eu fiz aquilo porque sua vida estava em perigo e como não pude te afastar dessa confusão toda, pude voltar a minha ideia de ainda salvar o mundo. Eu vou fazer de tudo para impedir que aquele maldito saia e bata suas asas por aqui novamente, mas sua vida estará em destaque, primeiro você, depois o mundo.
- Você sabe que de uma forma ou outra eu chegarei até o destino de escape, então não há nada para ser evitado.
- Enquanto a última folha estiver pendurada na árvore resistindo ao poder do outono, nós lutaremos – intrometeu-se – Se matarmos Azazel, o portal não será aberto.
- Não – rebateu – Precisamos matar todos, porque se matarmos Azazel, um sucessor ocupará o seu lugar e Lúcifer voltará do mesmo jeito.
- Então mataremos todos – finalmente concordaram os dois juntos.
- Tudo bem, espertões, seremos nós três contra... – fingi calcular – Um milhão de anjos?
- perdeu um exército, mas eu ainda tenho meu fiel exército de anjos – apontou .
- Será que não existe um ser mais poderoso que os anjos, talvez possam nos ajudar também.
- Existe, Arcanjos. Só duvido que vocês achem, não são visto há mais de séculos. Ao todo temos três arcanjos: Lúcifer, Gabriel e Miguel.
- Então é só acharmos Miguel e Gabriel – senti os olhares pesados deles sobre mim – Vocês não fazem a mínima ideia de como achá-los, não é?
- Não.
- , é melhor não perdermos tempo. Você vem comigo para recrutarmos nosso exército, temos uma guerra pela frente.
- Para onde vocês vão?
- Para casa – apontou o dedo para cima e presumi que falava do céu.
Antes de irem, pintaram um monte de símbolos estranhos na parede com o próprio sangue e disseram que aquilo serviria para me proteger de qualquer ser sobrenatural que tentasse me encontrar. Os dois partiram me deixando ali sozinha, com um coração estilhaçado e uma cabeça vazia. Procurei pelo meu celular e vi que este agora estava com a tela trincada. Provavelmente por causa do acidente hoje. Mandei uma mensagem para o celular de Jack que nessa altura do campeonato, já deveria estar tendo um infarto. Disse que estava bem e que como já estava de férias, resolvi passar um tempo na casa de para refrescar a cabeça. Fiquei cutucando a unha na expectativa que aqueles dois voltassem logo, já que ficar sozinha com um monte de anjos e demônios na sua cola não é nada confortável. Ouvi um barulho na porta e fui destrancá-la. havia voltado sozinho, perguntei por e ele disse que o mesmo já estava a caminho, só faltava pegar algumas coisinhas que seria úteis para nossa “missão’’. Tranquei a porta novamente e fiquei sentada no sofá encarando lendo uns livros tão grossos que com certeza ele trouxe aquilo com o auxílio de caminhão, ri comigo mesma. Ouvi batidas na porta novamente e abri de supetão, sendo surpreendida por uma ruiva alta e por um bonitão de olhos verdes. É claro que eles queriam me matar. Ou não. Gritei por que apareceu imediatamente gerando confusão. O homem entrou na casa batendo a porta e avançou para cima de que o atacou ferozmente, enquanto a ruiva tentava me imobilizar.
- Eu vim aqui te buscar a pedido do chefe.
Imaginei que Azazel já estivesse colocando seus planos em ação. matou o grandalhão com sua espada pontiaguda tirada de sei lá onde e a ruiva me ameaçou com sua espada angelical caso ele se aproximasse.
- Azazel mandou o recado que amanhã, Lúcifer voltará. Só assim teremos um lado vencedor.
- Você é um anjo, deveria estar do nosso lado. Você foi corrompida para o lado do mal.
- Não, eu só estou querendo ficar viva, já que Gabriel e Miguel não dão as caras, Lúcifer matará quem ficar contra ele e eu apenas me aliei ao lado vencedor.
- Todos morrerão, você sabe disso.
apareceu atrás da ruiva cravando sua espada nas costas dela e a anjo caiu morta no chão.
- Sentiram minha falta? – ele ironizou chegando com um saco cheio de coisas na mão – espero que sim.
Apoiei-me sobre os joelhos e respirei aliviada.
Capítulo 14
Uau, acho que não tenho como explicar como é horrível tentar dormir pela última vez. e ficam falando manso como se tudo fosse dar certo, mas eles não entendem que para mim o óbvio já está mais que óbvio, eu vou morrer. Sei que fui ousada ao pedir que os dois me fizessem companhia naquela cama. Dormi no meio dos dois, mas sem contato, porque ver dormindo de conchinha com seria um tanto bizarro. Embaixo de nossos lençóis jaziam as espadas que no dia seguinte deixarão rastro de corpos e sangues por onde passarmos. Se eles passarem. Tenho confiança em dizer que tenho os dois maiores guerreiros ao meu lado, mas já estou predestinada a abandoná-los para seguir meu destino. Esse negócio de que irei de forma involuntária guiada pela esfera até o portal que libertará Lúcifer está me causando medo. Meus músculos estão se repuxando na tentativa de ficar atenta e tentar resistir de uma maneira consciente a toda esta loucura. Só não estou reclamando mais da minha vida porque não tenho palavras para descrever a desgraça que se tornou. Antes eu reclamava por ter perdido meus pais e agora eu estou reclamando porque a vida de sete bilhões de pessoas no mundo estão em minhas mãos, e por enquanto, todas essas pessoas morrerão, porque não conseguimos achar uma saída para tudo isso. Se eu tivesse obedecido , Azazel não teria me “ativado” e essa bomba relógio dentro de mim. Pelo visto, minha última noite na Terra seria transformada em uma fábrica de olheiras, já que o sono estava vagando a quilômetros de mim. Mexi na tentativa de ficar mais confortável no meio daqueles quatro braços ao meu lado e vi os dois anjos pularem da cama pelo susto.
- Calma, gente, não aconteceu nada – eles soltaram a respiração de alívio – só estou sem sono. Para falar a verdade, não sei como vocês conseguem dormir com o fim do mundo programado para o dia seguinte.
- Se dormirmos, amanhã estaremos acabados para uma batalha.
- Se Miguel e Gabriel não aparecerem, quem poderá deter Lúcifer? Ou melhor, matá-lo?
Os dois riram debochando de mim, naturalmente. Percebi que éramos somente nós, aqueles três idiotas sentados na cama e talvez um exército que pulasse para trás quando Lúcifer dessa sua primeira rugida. Miguel e Gabriel não apareciam há anos, restava-nos apenas a morte.
- , meu amor – me puxou em seus braços – Desculpe-me por ser eu que estou falando isso, mas já perdemos. Ele é um arcanjo e nada poderemos fazer, mas vamos morrer lutando. O mundo não acabará assim em questão de segundos... Lúcifer tem seus planos, e acredito que após o caos, teremos mais uns três anos de vida nesse planeta e fim.
- Os anjos e demônios que se juntaram a ele, permanecerão vivos, mas o resto morrerá – completou .
- Mas caramba, o Apocalipse não é uma batalha entre anjos e demônios que terá como plano o nosso planeta? Por que alguns anjos nos traíram? – olhei para e vi que ele tinha abaixado a cabeça.
- Lúcifer foi banido do céu por não se curvar aos humanos, por isso ele não deixará um humano vivo. É sua vingança.
- Droga – eu comecei a chorar. Saí do quarto deixando os dois plantados ali e corri levando um agasalho. Ouvi os passos apressados atrás de mim que me seguraram na tentava minha de fugir por aquela porta, mas fui mais rápida e puxei a maçaneta avistando a paisagem do lado de fora.
Parei imediatamente quando percebi que a rua estava cercada de pessoas que nos encaravam. Os dois esbarraram em mim e quando viram e mesma cena, me puxaram de volta para dentro e trancaram tudo.
- Demônios? – perguntei tentando controlar minha respiração.
- Anjos, demônio e ceifeiros. Isso não é nada bom –afirmou .
- Ceife... O quê? – fiquei boquiaberta. Não poderia ser o que eu estava pensando...
- Ceifeiros, são funcionários da morte – disse fazendo o sinal de aspas com a mão – temos que tirar ela daqui.
- Como, inteligência?- zombou – Do mesmo jeito que esses símbolos impedem que eles entrem aqui, nós também não podemos bater nossas asinhas e tirar ela daqui.
parecia não ter gostado do modo que falou com ele, por isso deu as costas indo para outro lugar da casa. Por enquanto, estávamos seguros ali, uma casa no meio do nada, afinal, onde nós estávamos? Quando abri a porta vi apenas casas caindo aos pedaços, o chão todo empoeirado, as ruas desertas e os postes de iluminação não davam qualquer sinal de vida. me encarava com o pior olhar de todos, um olhar de piedade e aquilo estava me deixando desconfortável. Não quero que ninguém fique com dó de mim.
- Para de me olhar assim, , não estou com medo – bufei de braços abertos enquanto aquele homem me encarava sem reação.
- Aham – balbuciou levantando e andando na minha direção – Não está com medo? Sei... – gozou da minha cara.
- E por que eu estaria? – esnobei.
- Não está com medo de nada? – ele me perguntou novamente, insistindo nessa questão.
Sentei cruzando as pernas sobre o sofá e fiquei pensativa. É o Apocalipse, como não ter medo?
- Bom, eu tenho medo de uma coisa sim – encarei aqueles olhos azuis – Tenho medo de perder você.
fez uma cara de cachorrinho sem dono e se deitou no meu colo. Acariciei passando as mãos nos seus cabelos e beijei sua testa, descendo meus lábios roçando por sua face até encontrar sua boca quente que suplicava por um beijo meu. Encostei nossas bocas, mas fui obrigada a interromper por um que entrava agitado na sala.
- , ela não pode ficar aqui, por favor – suplicou o homem que deixou escapar uma lágrima de seu rosto. Corri até ele e o confortei em meu abraço enxugando suas lágrimas. Aquilo era demais para meu coração. Dei um beijo calmo na testa de e o puxei para sentar-se conosco, mas se levantou imediatamente dando as costas.
- Aonde você vai? – questionei vendo o anjo indo até a porta – eles podem te matar.
- Não tem como te tirar daqui, . Mas vou ver se posso tirar eles daqui. , não deixe ela sair – ele apontou o dedo para a cara de .
- E você vai tirar eles de lá conversando?
- Não, matando – disse batendo a porta atrás de si quando saiu.
Como eu sabia que ele nem sentiria, acertei com um soco no meio do nariz por ele tentar me segurar ali e impedir a idiotice que estava prestes a fazer. Um chute no meio de suas partes íntimas foi merecido por sua mão boba que tentou se aproveitar de mim. Infelizmente, aquele idiota conseguiu me segurar, mesmo que tenha sido preciso me amarrar em uma cadeira. se aproveitou do meu momento de fraqueza, amarrada e não culpo ele totalmente por aquilo, é que o mundo vai acabar amanhã e ele está desesperado. Como minhas duas mãos estavam amarradas para trás e minhas pernas eram presas nos pés da cadeira, o anjo se aproveitou para sentar em meu colo com uma perna de cada lado, deixando meu claro a elevação na calça o tamanho de sua animação. Ele passou a mão pela minha nuca puxando meus cabelos de leve, tentei me soltar e impedir que aquilo fosse adiante.
- Por favor, , não faça isso, por favor – supliquei esquivando de suas tentativas de me beijar. A cada investida dele, eu virava o rosto para o lado oposto, até que ele insatisfeito, resolveu atacar meu pescoço – , por favor! – dessa vez gritei.
- Eu sei que você quer sentir o gosto da minha boca, de novo.
Ele usou suas duas mãos para segurar minha cabeça parada e só assim conseguiu me beijar. Confesso que ele beija bem e acabei me distraindo no beijo dele, só que o impulso que percorreu meu corpo dizia que aquilo era errado. Se eu tivesse minhas mãos livres, eu já o teria afastado, mas nada poderia ser feito.
voltou com as espadas em punho e com sangue por toda sua roupa, deparando-se com a cena da qual eu e nos beijávamos. Percebi a presença de que estava paralisado na entrada da casa nos encarando e mordi a língua do , que me soltou resmungando. foi até mim e soltou as amarras, surtindo um clima pesado no ar, como se dois cachorros ferozes estivessem de frente um para o outro rosnando, prontos para o ataque. Mas nada ocorreu, cada um foi para um canto e eu tentei dormir novamente.
Capítulo 15
Pela luz forte do sol que insistia atravessar os buracos da janela, diria que já tinha passado da hora do almoço.Meus olhos estavam coçando e quando arrisquei levá-los até a pele, entendi que estava presa. Quatro correntes grossas me prendiam na cama, estava imobilizada e não sabia o porquê. Temi que e estivessem mortos a essa hora e o inimigo tivesse meu conteúdo em suas mãos. apareceu na porta, se escorando com um braço e na outra alguma coisa que cheirava bem e parecia ser comestível.
- Para que isso?
- Digamos que Azazel já começou o feitiço. Você estava sendo atraída para o lugar do feitiço e chegou até a nos agredir. Doeu sabia? – ele passou a mão pelo rosto – então prendemos você.
- Mas sabemos que isso não te segurará por muito tempo - chegou .
- , será que eu e podemos conversar a sós rapidinho?
- Tudo bem, casal destruição... Vou espionar o lado de fora – zombou – Ah! Só para avisar, tem mais ceifeiros, demônios e anjos do lado de fora.
Ele nos deixou a sós e deu de comer para mim, como um bebê. Com as minhas mãos estavam fortemente amarradas, ele levava cada garfada como um aviãozinho. Atreveu-se até a dar risada da minha ira após eu insistir muito para ele me soltar.
- Olha, desculpa por ontem – me referi ao episódio que ele viu ao entrar na casa. Ele bufou e vi que aquele assunto não deveria ser discutido, mas eu precisava me explicar.
- – ele acariciou meu rosto – eu te conheço como nenhuma outra pessoa. te atraí, o jeito dele, o beijo dele... Mas eu sei que você escolheu ficar comigo. Com ele, você tem desejo, comigo, você tem desejo e amor – ele selou nossos lábios e eu vi que tinha entendido tudo.
- Eu te amo, desculpa por ser tão dura com você, mas é que as coisas estão fora dos trilhos ultimamente. que me beijou ontem e eu estava assim – mostrei as correntes com o olhar.
- Eu te amo, , eu acho até que deveriam inventar uma palavra para descrever todos esses meus sentimentos para você. Você é tudo para mim.
- É que nós somos um só – ele sorriu, com certeza pela beleza de minhas palavras.
Comecei a tossir desesperadamente trazendo o outro anjo até o quarto também.
- Eu não estou me sentindo bem.
Um calor percorria meu corpo e o termômetro constatou incrivelmente uma febre de 56ºC. Eles ficaram ao meu lado esperando pelo o que ocorreria em seguida. É óbvio que Azazel já tinha começado tudo, estava chegando minha hora. Comecei a ter convulsão e tremia sem parar em cima daquela cama. Os dois me seguravam fortemente e tudo mudou. O clima e a temperatura haviam mudado. Um vento gelado começou a soprar pelo corredor e o barulho de raios que costuravam os céus era de arrepiar. Foram alguns minutos de agitação, as janelas foram arremessadas para dentro da casa dando total visão da quantidade de seres que tinham do lado de fora. De repente tudo parou e uma explosão de luz escapou pelos meus olhos e boca. Tudo ardia e eu gritei de dor, uma dor agonizante que estava me consumindo. Eu não queria fazer aquilo, mas meus braços e pernas forçavam as correntes a se arrebentarem, enquanto e tentavam me segurar em vão. Outros anjos provavelmente amigos de chegaram e também tentavam me segurar. Todos ficaram sem esboçar reação ao ouvirem o barulho das correntes se rompendo. Meus olhos estavam completamente brancos e é como se meu consciente estivesse trancado dentro de mim, meu corpo agia sem eu mandar, sentia-me caindo em um buraco e gritava por socorro presa dentro de mim mesma. Todos grudaram em mim e me pressionaram contra a parede e liderava aquela rede. Eu podia ouvir ele gritando meu nome pedindo que eu me controlasse, mas era em vão, eu não tinha como voltar ao controle.
Azazel apareceu do lado de fora e pedia que tudo já estava feito, só bastava deixar eu cumprir meu papel.
- Deixem sair ou vão acabar machucando-a – berrava Azazel. No fundo ele tinha razão. Não tinha mais o que ser feito, tudo tinha ido por água abaixo.
- Soltem ela – disse chorando se lamentando. Se tinha alguma chance de eu permanecer viva, não era sendo segurada ali que eu conseguiria isso . Os braços e o corpo do anjo se descolaram do meu e aos poucos os outros foram também.
Eu ainda tinha visão de tudo do que estava acontecendo e como meu corpo estava livre, caminhei até próximo a janela e vi a cena de guerra que estava do lado de fora. Anjos e demônios lutavam, um contra o outro ou lado a lado. Azazel deus as costas soltando um sorriso irônico e seguia para onde Lúcifer ressurgiria.
- Se ela passar pela batalha, vai se machucar – disse .
Eu abri meus braços e me joguei da janela. surtou ao ver a cena e correu até a janela, deparando-se com uma cena épica. Aquele cavalo negro no qual cavalgamos em sua fazenda veio me buscar e agora eu estava laçada a ele. Bati meus pés e sua volta e o animal saiu galopando no meio de todos. Eu não sabia dizer o porquê, mas por onde eu passava, os seres caíam mortos. Cavalgamos no meio de raios e por ruas movimentadas de carros e pedestres, as pessoas se assustavam com a cena, o cavalo estava muito rápido e por onde ele passava, o asfalto se abriu, os vidros se estilhaçaram e os animais morriam. Após alguns minutos, adentramos em uma floresta úmida e fechada que dificultava a passagem dos pingos de chuva. O cavalo parou e eu avistei a cena de três círculos rodeando um triângulo de no mínimo dez metros quadrados feitos de fogo. Dentro do primeiro círculo havia um anjo com os olhos que escorriam sangue.
- Um anjo que foi tocado pelo inferno – apontou Azazel enquanto me mostrava.
No outro círculo, um demônio sem camisa no qual sua pele demonstrava símbolos grafados na sua pele por uma faca.
- Um demônio que foi tocado pelo céu – apontou novamente o anjo – e a esfera vital.
Aproximei-me do circulo que se abriu para minha passagem e assim que entrei, ele se fechou. Todos os anjos e demônios que antes lutavam longe, agora estavam ali, inclusive e . Tudo aconteceu como as olimpíadas que interromperam a guerra, mas imagine que neste caso, a olimpíada era a ascensão de Lúcifer. Azazel se posicionou próximo ao círculo e começou a dizer muitas palavras em enoquiano. Tudo estava tão escuro, o céu estava negro e os raios cortavam as nuvens carregadas. Dentro de mim eu gritava em uma tentativa em vão de impedir tudo. O anjo e o demônio ao meu lado caíram mortos conforme as palavras eram ditas por Azazel. não aguentava mais ficar parado apenas observando, foi quando tomou a iniciativa te tentar matar Azazel. Correu em direção ao anjo que ordenou que seus capangas o matassem. viu que o outro anjo precisaria de ajuda e tratou de acabar com os anjos e demônios que tentavam impedir o caminho de até Azazel. O exército de obedeceu os seus comandos e começaram a atacar qualquer que seja a criatura que estava ao lado de Azazel. A luta estava tão equilibrada, mas conseguiu chegar até o anjo que libertaria Lúcifer.
- Pare com isso agora – ordenou .
- Mergulhou na escuridão e ainda tem bom coração – disse Azazel vendo que seria preciso agir – já acabou, não tem mais o que fazer – engoliu em seco as palavras, vendo em seguida uma que não aguentaria mais aquela situação.
- Eu só quero que ela sobreviva, por favor – suplicou caindo ajoelhado sem saber o que fazer. Suas forças escorriam para o chão tamanho o desespero de perder . Seus olhos se encheram de lágrima e o anjo maléfico parou novamente o ritual para poder zombar do choro do pobre coitado ajoelhado aos seus pés.
- Você não percebe? Nada disso foi por acaso. Você realmente acha que essa é tão inocente assim? Estava escrito que esse era o destino dela. Sabe por quê? Ela é uma criação de Lúcifer – caiu na gargalhada quando berrou um “não”, negando-se a acreditar naquilo – Como vocês não podem perceber, ainda mais você, , que é tão inteligente. Eu tinha ordens para matá-la, e acredite, eu a matei muitas vezes, só que ela renascia cada vez mais distante. Foi quando eu percebi que o nosso lado já tinha perdido esta guerra e me aliei ao exército de Lúcifer.
- Cala-essa-maldita-boca – gritou tentando se levantar, mas um chute no meio do seu queixo o jogou de cara no chão. Agora, os pés de Azazel prensavam sua cara naquele chão que estava quente.
- – berrou – ela é uma aberração. Aquele avião caiu porque eu o derrubei! Eu matei os pais de para limpar nosso caminho! A mãe da era um demônio! Está me escutando? – ele pisava mais forte – e o pai – sorriu maleficamente e já temeu o pior – Haha, o pai dela é Lúcifer! Então não se preocupe com ela, Lúcifer nunca machucará a filha que tanto ama.
- Eu vou te matar – tentou se levantar, mas em vão. estava ocupado demais assim como os outros para tentar tirar daquela posição.
- Errado, eu vou te matar – Azazel pegou sua espada com a mão direita e cravou o objeto prateado nas costas de que gritou de dor, mas por poucos segundos – e matei, finalizou Azazel vendo o anjo morto em sua frente.
De dentro do círculo presenciou tudo, e sua dor e sofrimento foram tão fortes que ela conseguiu tomar novamente o controle do corpo. Ela gritava em uma dor agonizante e parecia estar afogando em tanta tristeza. Berrava e levava as mãos à cabeça tentando apagar tudo aquilo de sua mente.
- Finis omnium saeculum – disse Azazel por fim e caiu morta no chão. O fogo se apagou e uma rajada de vento forte soprou derrubando algumas árvores ali próximo.
O céu brilhou laranja por alguns segundos e todos que estavam batalhando em prol do bem fugiram de medo pelo rugido que saía de algum lugar. viu que seria inútil batalhar sozinho, já que seu exército metade estava morto e metade houvera fugido, decidindo que era sua vez de ir também. Azazel pegou o corpo de em seus braços e caminhou para trás junto com o exército de demônios e anjos rebelados. Uma rachadura começou a se abrir na terra úmida do lugar e um tiro de luz saiu do lugar. Tudo ficou branco e nada podia se ver. Quando a luz cessou, puderam ver que não havia mais uma árvore de pé naquela floresta e na sua frente tinha um homem com o cabelo um pouco grisalho engomado em seu terno preto, que sorria de braços abertos. Ele voltou, Lúcifer estava de volta! Todos ali presentes ajoelharam-se diante do Anjo banido, mostrando sua lealdade. Somente Azazel ficou de pé segurando o corpo da menina e quando Lúcifer correu por si, correu até Azazel pegando a garota em seus braços e beijou sua testa.
- Desculpa a demora do papai – ele disse acariciando o rosto dela e depois um jato de luz saiu da sua mão e suspirou fortemente ainda desacordada.
Lúcifer deu as costas para os anjos e demônios que o admiravam, seguindo mais adiante e, antes de partir, encarou Azazel no fundo dos olhos.
- Eu preciso de um tempo com ela, não tardarei a cumprir minha missão, meus soldados – disse Lúcifer e sumiu em um piscar de olhos, deixando o chão em chamas no último lugar que havia pisado.