Apenas mais um na multidão
Escrito por Gaby Mdrs | Revisado por Mary
Alguns podem me achar insensível, outros podem entender meu modo de agir, compreender porque creio que as coisas sejam melhores dessa forma. Contudo, de um modo ou de outro, não me importo com a opinião alheia. Antigamente, poderia dizer que sim, isto me afetava, mas agora não mais. E é preferível assim; menos sofrimento para mim.
Hoje tenho uma pequena história para contar, não vai levar muito tempo, juro, apenas alguns minutos. Esta história é sobre mim e sobre como eu quase quebrei a lei que rege minha vida. Em outras palavras, menos líricas, irei contar como quase fiz papel de otária.
*** * ***
2 meses atrás
A batida da música pulsava por meu corpo, o suor escorria pela minha pele. Corpos e mais corpos misturavam-se na multidão, e eu precisava de mais uma bebida. Vodka, de preferência, mas qualquer outra serviria, contanto que aliviasse minha garganta seca.
Saí costurando um caminho por entre o mar de corpos que se movimentavam no ritmo da música eletrônica que tocava na boate e cheguei até o bar, onde esperei um tempo insuportavelmente longo para ser atendida. Era noite de sábado, então era de se esperar que o lugar estivesse mesmo lotado, no entanto, isto não apaziguava minha irritação por não ser atendida logo.
Somado a isso, contribuindo para minha atual falta de paciência, o fato de eu ainda não ter conseguido meu objetivo da noite estava me deixando inquieta. Como eu poderia estar rodeada de pessoas e não ter encontrado alguém com quem valesse a pena passar a noite? Claro que eu já havia sido abordada por diferentes homens desde que cheguei, mas nenhum que realmente despertasse meu interesse.
Quando, por fim, recebi minha merecida bebida, também notei o cara que faria minha noite valer a pena.
Alto, se sobressaía na multidão, tinha cabelos negros e a pele bronzeada. De onde eu estava não dava para distinguir a cor dos olhos, mas isto não importava muito. Eu não iria encarar muito o seu rosto quando estivéssemos transando. Eu iria obter o prazer que viera buscar ali e iria embora, revigorada para mais uma semana chata no trabalho.
Ele não me notou de imediato e aproveitei para analisá-lo um pouco mais enquanto bebia minha bebida. Estava se movimentando rapidamente, só que, ao contrário do que inicialmente imaginei, não estava se dirigindo ao bar, mas sim à saída. Ah, não. Ele não ia escapar de mim.
Coloquei meu copo vazio no balcão atrás de mim e enfrentei a multidão novamente. Consegui alcançá-lo a tempo, mas não tinha nenhuma ideia de como deveria abordá-lo. O que eu deveria fazer? Mas que droga, por que nenhuma ideia me vinha à mente?
Em meio aos pensamentos que estava tendo, não prestei atenção ao meu entorno e acabei sendo empurrada para frente por um rapaz que tentava passar, esbarrando justamente na pessoa que eu não sabia como me aproximar. Bem, eu tinha que trabalhar com o que tinha.
- Desculpe - tentei me fazer ouvir acima do barulho da boate. Quando nossos olhares se encontraram, tudo o que eu havia mencionado antes caiu por terra. Que olhos eram aqueles? Tão escuros, tão vivos, mas também pareceram um pouco assustados. Ele fez menção de falar algo, no entanto, foi empurrado pela massa de corpos em direção a mim. Nunca conseguiríamos ter uma interação direito se continuássemos na pista de dança.
Sem me importar se era uma loucura ou não, peguei sua mão e comecei a puxá-lo em direção ao bar. Ele tentou se soltar, no entanto, eu aumentei a força do meu agarre, para impedi-lo de se soltar.
- Desculpa te arrastar até aqui desse jeito. Não ia dar para falar ali – disse assim que estávamos mais afastados da multidão, ao soltar sua mão.
- Só não faça um escândalo aqui, por favor. Eu estava tentando passar despercebido. – fiquei sem entender o que ele quis dizer com isso. Por que diabos ele pensou que eu ia querer fazer um escândalo? Por acaso era louco?
Pelo visto era sorte demais eu encontrar um cara assim tão gato. Claro que tinha que haver algo para fazer eu perder o interesse.
- Olha, eu não sei o que está se passando na sua cabeça. Eu te vi de longe, achei bonito e quis ver se rolava alguma coisa, mas agora perdi o interesse. Boa sorte aí, tentando passar despercebido.
Bem, eu tinha tentado. Realmente, tinha sido corajosa e ido atrás do que queria; mas não tive sorte.
- Espera – dessa vez ele que pegou meu braço, impedindo-me de avançar para longe, quando comecei a me afastar. Encarei-o com visível impaciência, esperando para ouvir o que ele tinha a me dizer. – Você realmente não sabe quem eu sou? – indagou, quando me soltou.
- E por que eu deveria saber? – retruquei. Depois pensei com mais calma e talvez eu já o tivesse visto antes, quem sabe em alguma reunião em que não estava prestando atenção. – Espere aí, você faz parte do corpo administrativo de alguma empresa? Eu juro que não tive a intenção...
Ele começou a rir. Não foi uma risada estrondosa, foi mais contida, mas seus olhos brilharam com diversão.
- Acho que fui um pouco paranoico, desculpe. E não se preocupe, eu não faço parte de nenhuma empresa.
Sei que deveria ir embora depois desse momento, porém resolvi dar uma mais uma chance. Só esperava não me arrepender disso depois, por isso era melhor ele valer mesmo a pena o esforço.
- Acontece – falei simplesmente, dando de ombros. – Posso te desculpar se você me pagar uma bebida. – arqueei uma sobrancelha, dando um sorriso cúmplice.
- É pra já, madame – ele piscou e se encaminhou para o balcão, sendo atendido muito mais rapidamente do que eu, voltando com dois copos e me entregando um deles. - Então, você não vai me dizer seu nome?
- Acho que é mais interessante se mantivermos as coisas assim, você não acha? – respondi, após dar um gole na bebida que trouxe para mim. Whisky. – Uma escolha um tanto arriscada, hum?
- Eu nunca erro quando o assunto é bebida.
- Quero ver se você também acerta em outras coisas – sorri maliciosamente, ao pronunciar a frase com duplo sentido. – O que acha de irmos dançar?
- Acho uma ótima ideia.
*** * ***
Havia um barulho irritante próximo ao meu ouvido. Seria meu despertador? Abri um olho e tateei para encontrar a fonte do som, mas não encontrei meu criado mudo, como pensava. Passando a mão por baixo do travesseiro encontrei meu celular e sem nem olhar quem era, atendi.
- Simmm – falei arrastado, com a voz rouca de quem acabou de acordar.
- , onde diabos você está?! – afastei um pouco o celular de meu ouvido, ao ouvir minha colega de apartamento e melhor amiga do outro lado da linha.
- O quê? – perguntei, sem ainda entender. Meu cérebro estava funcionando com metade de sua capacidade. – Por que você está me ligando, se eu tô no quarto ao lado?
Ergui meu corpo, para me sentar com as costas encostadas na cabeceira da cama e não precisei ouvir a resposta de minha amiga para entender o porquê de sua ligação. Eu não estava em casa. Eu totalmente havia quebrado uma de minhas regras e tinha passado a noite fora. O cara com quem havia transado ainda dormia ao meu lado. De repente minha mente foi atingida com lembranças da noite passada.
Depois que eu o havia chamado para dançar, nós permanecemos na boate apenas o tempo de mais duas músicas, pois o clima esquentou quando seu corpo se aproximou do meu e começamos a nos mover no ritmo que tocava. Não demorou muito para que ele sugerisse que fôssemos para um lugar mais reservado, e eu, obviamente, não recusei. Entretanto, as coisas tiveram que ser nos meus termos, ou seja, só podíamos ir para o meu lugar – um apartamento simples que eu mantinha apenas com esse fim (esse era um dos pequenos luxos que me permiti comprar com o dinheiro que ganhei de herança da minha avó paterna).
Só que eu nunca, nunca passava a noite inteira com os caras com quem transava. Nós nos divertíamos e só. Eu não queria carinho ou conversa após o sexo. Todavia, na noite passada eu estava tão cansada, que acabei adormecendo.
- Eu chego em casa em meia hora, desculpe não estar aí para nossa corrida matinal.
- , se o cara foi tão bom a ponto de você não voltar para casa logo em seguida, como sempre faz, eu acho que você devia aproveitar mais - eu podia imaginar o sorrisinho maroto que ela devia estar dando depois de dizer isso.
- , é melhor você calar a boca! – grunhi, me levantando e fazendo uma busca visual por minhas roupas. Meu movimento na cama deve ter acordado o homem, pois quando me virei novamente, seus olhos estavam abertos e encarando meu corpo nu. – Preciso desligar agora, nos vemos daqui a pouco.
- Eu não vou esperar que você volte logo! – ela praticamente cantarolou. Encerrei a chamada, antes que eu resolvesse gritá-la por telefone.
Agora eu não sabia direito o que fazer. Há muito tempo não precisava lidar com a constrangedora “manhã seguinte”. O que eu devia dizer? Obrigada pela noite passada, mas preciso que você vá embora agora? Oh, droga! Isso ia ser estranho.
- Bom dia – ele se espreguiçou e foi preciso muita força de vontade para não ficar encarando seu abdômen, quando o lençol desceu por seu corpo, ficando amontando na cintura. Foco, . Não importa que ele seja bom de cama. A noite de vocês foi ontem, hoje é um novo dia e o que aconteceu não vai mais se repetir.
- Bom dia – falei ao mesmo tempo em que pegava uma camiseta jogada no chão e a vestia rapidamente. O fato de ser a camiseta do estranho não passou despercebido para nenhum dos dois, mas foi a primeira coisa que vi e a que estava mais perto de mim.
- Escondendo seu corpo de mim, não é? Peguei a dica, não se preocupe – quase suspirei de alívio. Eu não ia precisar dizer com palavras que queria que ele fosse embora. – Apesar de achar um desperdício de oportunidade. Por que não aproveitamos um pouco mais?
Eu pisquei uma, duas, três vezes. Ele devia estar aliviado que eu estava dando a brecha para ele ir embora, não fazendo uma proposta para estendermos as coisas, mesmo que apenas por esta manhã. Homens geralmente adoravam ter a oportunidade de escapar logo, temendo que as mulheres fossem querer algo mais. Por isso, sempre finalizava as coisas assim que recebia o prazer que estava buscando, pois eu não queria algo mais; eu não almejava isso.
- Por quê? Porque já tivemos nosso divertimento na noite passada.
- E poderíamos nos divertir ainda mais – ele abriu um sorriso malicioso e, antes que eu me desse conta, se inclinou em minha direção, me puxando para a cama. A camiseta que eu estava vestindo subiu um pouco, expondo minhas pernas. Sua proximidade arrepiou minha pele e eu sabia que não conseguiria vencer esta discussão. Não quando minha capacidade de julgamento havia subjugada pelas sensações que me dominavam.
- Quer saber? – murmurei, meio sem fôlego, pois suas mãos estavam acariciando minhas coxas. – Você está certo, devíamos aproveitar um pouco mais.
Eu já havia quebrado uma regra, podia muito bem quebrar outra e obter ainda mais prazer. Sim, realmente não era um mau negócio.
*** * ***
- Olhe só como ela está radiante esta manhã! – passei direto por , quando entrei no apartamento que dividíamos, revirando os olhos para seu comentário. De fato, eu estava aparentando estar feliz. Mas também, quem não estaria depois de três orgasmos seguidos? A melhor coisa que fiz foi ter ficado novamente com aquele estranho gostoso. Ele com certeza sabia como dar prazer uma mulher; só de lembrar do que havíamos feito hoje... Era melhor nem pensar, pois não conseguiria me concentrar em mais nada.
- ... – falei em tom de aviso.
- Só falando a verdade – ela me seguiu para a cozinha e se empoleirou em uma das banquetas, enquanto eu ia direto para a cafeteira encher uma xícara de café. – Então, me conta tudo sobre este ser que fez você quebrar uma valiosa regra dos casos de uma noite!
- Não há muito o que contar – respondi, depois de dar um gole no café e pegar uns biscoitos no pote. Eu ainda não tinha tomado café da manhã. Tinha vindo direto do outro apartamento para cá e já passavam das dez da manhã, porque eu tinha demorado mais tempo do que imaginava lá. – Como sempre, não houve nomes, porque não são necessários, mas a noite foi maravilhosa – sentei-me ao seu lado e terminei de tomar meu café. Ia precisar de algo mais substancial. Aquele estranho realmente havia consumido toda minha reserva de energia. – Ainda tem daquela torta de frango na geladeira?
- Sinto muito, , mas eu comi o resto ontem – fez cara de culpada.
- Tudo bem, vou procurar outra coisa para comer.
- Que tal se nós fossemos para a delicatessen da outra rua, assim eu posso te contar todas as novidades do mundo dos famosos! Você não vai acreditar em quem estava na cidade ontem!
Contive minha vontade de dizer algo desagradável e me limitei a sorrir e concordar com um aceno de cabeça, pois adorava a delicatessen que havia mencionado. No entanto, ouvir as fofocas dos famosos não era muito minha praia. Eu já tinha tantas coisas para fazer e com que me preocupar, que tinha muita paciência para ficar me informando sobre a vida dos famosos. Na verdade, eu odiava todo esse escrutínio sobre a vida dessas pessoas. Não conseguia nem imaginar o quanto deveria ser difícil ter todos os seus passos vigiados e dissecados por outras pessoas. Sinceramente, eu não conseguiria suportar se fosse comigo.
- Rick Marshfoi visto saindo de uma boate com uma mulher, só que não conseguiram capturar o rosto dela na foto! – , como a obcecada que era pelos famosos, continuou a falar sobre o assunto que eu não estava interessada em ouvir.
- Quem é esse mesmo? – questionei, enquanto descíamos de elevador do 8° andar até o térreo.
- Oh, meu Deus, ! Eu já falei nele tantas vezes e você ainda não sabe quem é? – ela parecia horrorizada.
- Desculpe se ando meio esquecida, mas ultimamente só guardo informações importantes na mente.
- Rick Marsh é um dos vocalistas da Walker Danger! É a boy band mais falada do momento, como você pode ter esquecido?
- Sei lá, talvez porque o nome da banda seja meio brega? – dei uma risadinha. – E qual o problema ele ter sido visto com uma mulher?
- Problema nenhum, só queria comentar mesmo. Quem sabe ela não será a próxima namorada dele? Ele não pode escondê-la por muito tempo, um shipp tem que ser criado! Mas com certeza não é nada sério, eu acho; ou talvez seja...
Me desconectei do seu falatório sem fim, voltando a pensar no moreno com quem passei a noite, em suas carícias. Isso era muito melhor do que ter que escutar sobre esse tal Rick Marsh e sua vida amorosa.
*** * ***
Depois de uma semana bastante lenta, pelo menos para mim, na empresa de marketing em que trabalhava como chefe da equipe de pesquisa externa, o sábado havia chegado novamente, e, como de costume, eu estava em busca de alguém com quem passar a noite. Até o momento dois rapazes haviam chamado minha atenção, mas ainda não tinha me decido em qual dos dois iria investir. Por enquanto iria apenas aproveitar para beber meu drink sossegadamente. Quem sabe um deles não iria se aproximar primeiro? Isso facilitaria muito as coisas, e eu adorava quando eles vinham atrás de mim.
- Veja só que coincidência – minha pele se arrepiou ao ouvir esta voz conhecida e meu radar de figurinha repetida começou a apitar. Virei-me para encarar minha companhia do sábado passado.
- Hum... oi – falei, meio sem jeito.
- Precisando de companhia?
A sua, não.
- Na verdade, não. Legal te ver. – saí para pista de dança. Um dos caras que achei interessante estava em uma das mesas do outro lado e eu precisava chamar sua atenção. Deixei que a música que estava tocando me envolvesse e comecei a me movimentar em seu ritmo. Algum tempo depois, senti um corpo masculino se aproximar do meu e minha pele arrepiou, bem como minha frequência cardíaca aumentou.
- Mentirosa – sussurrou em meu ouvido, enquanto seu corpo se movia junto ao meu.
Virei-me para ficarmos cara a cara, mas me arrependi instantaneamente. Era muito mais fácil enfrentá-lo sem que ter que encarar aqueles poços de mistério, os olhos mais penetrantes que já vi e que estavam me seduzindo novamente, assim como há uma semana atrás.
- O que você quer? – a pergunta era retórica, mas falei a primeira coisa que me veio à mente. Não tinha nem ideia se ele havia conseguido entender o que eu tinha dito, por causa da música alta.
- Você. – aparentemente ele podia fazer leitura labial. Balancei minha cabeça em negativa e voltei a me afastar dele, me dirigindo a uma área onde poderíamos nos ouvir corretamente. Eu precisava deixar claro, outra vez, que não repetia encontros casuais.
- Olha, eu não... – comecei a falar, mas ele me interrompeu, colocando um dedo em meus lábios para me silenciar.
- Sei o que você vai dizer. Que já tivemos nossa noite e você não repete encontros casuais, mas deixe eu te dizer uma coisa: não consigo parar de pensar em você desde domingo e tenho certeza de que você também não consegue parar de pensar em mim. Uma atração como a nossa não pode ser ignorada.
Tirei sua mão de mim e pensei no que dizer. Apesar de querer negar, ele tinha razão. Não conseguia parar de pensar nele e reviver os momentos que passamos juntos, mas estava decidida a não sucumbir ao desejo que sentia. Isso só traria complicações depois.
- Não preciso dessa complicação na minha vida – retruquei.
- Sábado passado não foi uma complicação, por que agora seria? – Ele não ia desistir mesmo? Por favor, só siga seu caminho. Talvez eu não seja tão forte quanto imagino ser!
- Porque as coisas tendem a se complicar, uma hora ou outra. É mais fácil deixar as coisas como estão. Você encontra outra mulher para passar a noite e eu, outro homem.
- Eu não quero outra mulher, quero você. – ele se aproximou ainda mais de mim, de modo que eu recuei, até não ter mais para onde ir, ficando encostada à parede. – Vai me dizer que não sente isto? Esta tensão cada vez que nossos corpos se aproximam?
Eu não ia conseguir. Estava caindo, cada vez mais fundo. Eu não tinha força de vontade suficiente para negar estar com ele, não com meu corpo clamando para que o deixe me tocar novamente.
- Por que você não pode facilitar as coisas para mim? – Sussurrei, quase fôlego.
- Porque não desisto quando tenho um objetivo – ele murmurou antes de colar seus lábios aos meus, beijando-me de uma forma que me deixou ávida por mais. – Será que desta vez podemos dizer nossos nomes?
- E eu tenho outra alternativa?
- Claro que tem. Se eu sentisse que você não me quer, não iria insistir, mas sabia que só estava lutando contra isso por causa de alguma regra que você tem. Será que posso saber seu nome?
- Meu nome é , sr. Insistente. E qual o seu nome?
- E eu me chamo Henrique – ele piscou e eu dei uma risadinha. Agora não éramos mais meros estranhos que passaram uma noite juntos, sabíamos o primeiro nome um do outro, um nível mais pessoal do que eu já havia tido em muito tempo.
- Henrique é um nome muito longo, vou te chamar de Henri. – dei um sorriso. - Agora, será que podemos curtir a noite de outra maneira?
- Não precisa dizer duas vezes, .
*** * ***
Não parou naquela noite. Depois que concordei em encontrar o Henri pela segunda vez, acabamos trocando números de telefone e nos falar, por mensagem e ligação. Eu nem me reconhecia mais. Por muito tempo acreditei que não precisava de ninguém, que estar sozinha era muito melhor e menos complicado, no entanto as últimas semanas haviam mudado isso. Eu estava descobrindo que ter alguém para conversar (além da ), desabafar meus problemas do trabalho, ou simplesmente falar sobre algo que havia achado interessante, era muito bom.
Essa admissão, contudo, era feita com relutância, já que para mim ainda era difícil aceitar que estava mais feliz depois que conheci Henri Marshall. Nossa relação não possuía um título definido, algo que eu não estava ansiosa para discutir e nos víamos apenas algumas vezes, pois o trabalho dele não permitia estar por muito tempo na cidade. Henri trabalhava como agente imobiliário e viajava constantemente para apresentar os imóveis que estavam sendo vendidos.
- Então, quando vou conhecê-lo? – ergui meus olhos da tela do celular para encarar , que tentava impedir que um sorriso aparecesse em seu rosto, escorada no batente da porta do meu quarto.
- Sinceramente, não sei – respondi, me movendo para uma posição sentada na cama. – O Henri é tão ocupado que mal nos vemos.
- Sabe, eu nunca pensei que você, a pessoa mais anti-compromisso que conheço, fosse arrumar um namorado antes de mim. O modo como as coisas às vezes acontecem é tão maluco!
- Ei, ele não é meu namorado! – joguei uma almofada em sua direção.
- Só porque vocês não colocaram um título, não quer dizer que não seja.
- É tão estranho pensar que até uns dias atrás eu tinha aversão a sair duas vezes com um mesmo cara e agora...
- Ah, eu sabia que um dia isso ia acontecer! Não tinha como você resistir quando encontrasse o homem certo.
- Acho que esse papinho romântico já deu por hoje, não é, ? Posso estar saindo com alguém, mas isso não implica que tenha passado a acreditar no amor, em almas gêmeas, todas as coisas que você vive idealizando. – ela fez uma careta de desgosto e balançou a cabeça, entrando de vez no quarto e se sentando ao meu lado na cama.
- Ele ainda vai amolecer seu coração, eu não duvido.
- ...
- Tudo bem, eu já parei! – Ela ergueu as mãos, rindo, em sinal de rendição.
*** * ***
Duas semanas depois, Henri finalmente havia tido uma pausa em sua agenda, que estivera bastante ocupada nos últimos dias, e iria conhecer o apartamento em que eu morava. Nas outras vezes em que nos encontramos preferi que fosse no outro apartamento, já que tudo ainda estava no começo e não queria tornar as coisas mais sérias do que eram trazendo-o para o lugar em que vivia. Infelizmente, justo nesse dia não ia estar em casa, pois tivera alguns problemas para resolver em sua cidade natal e ia passar o fim de semana fora, de modo que mais uma vez ia ficar sem conhecer o homem que me fizera quebrar minhas regras.
Enquanto ele não chegava, aproveitei para dar uma arrumada na casa. Haviam revistas de celebridades espalhadas por todas as superfícies possíveis, tantas que a pilha em meu braço ficou com uma altura considerável. No caminho para o quarto de acabei esbarrando em uma cadeira da mesa na sala de jantar e derrubando algumas revistas, de forma que precisei me abaixar para pegá-las novamente. A capa de uma delas, entretanto, fez com que eu ficasse paralisada.
Rick Marsh
Em entrevista, cantor da Walker Danger fala sobre possível namoro com a atriz Natalie Crawford
A revista era uma edição do mês passado, mas o que chamou sua atenção fora a foto estampada na capa, Rick Marsh não era qualquer famoso, sobre o qual ela não queria ouvir falar. Não, ele era o homem com quem estava saindo, Henrique Marshall. Só que Henrique não era um simples agente imobiliário, era vocalista de uma famosa banda e um cara que saía com diferentes mulheres, se os relatos de estavam corretos.
Oh, meu Deus!
Eu não podia acreditar que isto estava acontecendo comigo. Como ele pudera me enganar por tanto tempo? Por que fizera isso? Eu fui apenas algum tipo de brincadeira doente para ele?
Eu estava furiosa, queria esbofeteá-lo, gritar com ele, colocar toda a minha frustação para fora.
A campainha soou e meu sangue gelou nas veias; era o momento de confrontá-lo.
Respirei fundo e me encaminhei para a porta.
- Hey, – ele me cumprimentou quando abri a porta, mas me esquivei quando tentou me beijar. – Aconteceu alguma coisa? – indagou, diante de meu comportamento frio.
- Você pensou que eu nunca fosse descobrir? – vociferei.
- Do que você está falando? – não conseguia acreditar em tamanho cinismo.
- Disso aqui, seu cretino! – joguei a revista em sua direção. – Quanto tempo achou que poderia me enganar?
Henri olhou para a capa da revista por um instante, antes de soltá-la em cima do sofá.
- , por favor, me escute – ele suplicou. Ou fingiu suplicar, com ele não dava para saber o que era real e o que falso. – Eu não...
- Por favor, Henri, eu não quero ouvir mais mentiras. – fechei os olhos tentando controlar a dor que sentia, era quase uma dor física; e eu ainda o tinha chamado pelo apelido que estava familiarizada. Se quisesse sair disso aqui sã, precisava me lembrar que não estava falando com o homem que pensara conhecer, a quem dei uma chance, quando nunca tive a intenção antes de ter alguém em minha vida. – Você teve sua diversão, conseguiu o que queria. Será que você riu com seus parceiros da banda enquanto falava da idiota com quem estava saindo, que nem sabia quem você era?
- , não. Eu nunca, nunca faria algo como isso.
- Oh, me poupe, Rick Marsh. Agora que eu sei quem você realmente é, sei do que você é capaz. Só não consigo acreditar que eu tenha sido tão estúpida para ter sido enrolada por tanto tempo!
- Se você realmente me conhecesse, saberia que eu nunca faria algo assim! – ele gritou. – Eu jamais...
- Então por que não me contou quem você era? Por que contou tantas mentiras? Você criou toda uma vida falsa para que eu não desconfiasse de nada! – explodi, o rosto vermelho de fúria.
- Você acha que foi fácil para mim, ter que fazer isso? Eu quis tanto contar, mas sabia que você reagiria assim e eu não queria te perder. Você não tem ideia do que é viver tendo toda a sua vida exposta; eu não consegui ter um relacionamento saudável sequer depois que fiquei famoso. As pessoas só se aproximavam de mim com interesse no que podiam ganhar, mas com você foi diferente. Com você é diferente!
- Eu preciso que você saia daqui – pedi, tentando segurar as lágrimas, que estavam se formando em meus olhos. – Não adianta continuarmos com isso.
- , por favor, não faça isso. Com você eu não era o Rick Marsh, vocalista da Walker Danger, eu era apenas o Henrique, um cara comum; apenas mais um na multidão.
- Eu não vou mais repetir. Vá embora daqui; eu só quero esquecer que te conheci! – virei, para encarar a parede, ficando de costas para ele. Ao som da porta se fechando, deixei que as lágrimas que estava segurando molhassem meu rosto.
*** * ***
E esta é a história de como Rick Marsh fez com que eu quase lhe entregasse meu coração de bandeja, quando, na verdade, ele apenas estava se divertindo às minhas custas. Mas eu não o odiava, não conseguia me fazer sentir nada por ele, muito menos um sentimento tão forte e poderoso quanto o ódio. Ele não merecia que eu dedicasse tanto tempo e energia nutrindo algo por sua pessoa.
O que tivemos acabou e nunca mais precisaríamos ter qualquer tipo de contato um com o outro; ou assim eu esperava. Havia algo que poderia atar nossos destinos para sempre, algo que eu vinha ignorando desde o início da semana. Era hora de saber se o que tinha suspeitado antes era verdade ou se havia sido apenas um susto. Eu sinceramente, e sem vergonha nenhuma em admitir, esperava que fosse a segunda opção. Porque se fosse a primeira... Eu não queria nem pensar no que aconteceria daqui pra frente.
Abri o envelope do laboratório de Análises Clínicas e fiquei petrificada por uns instantes ao ler o resultado.
Não. Pode. Ser.
O universo devia me odiar.
Uma lágrima escorreu por minha face enquanto encarava o pior de meus temores. A primeira opção era a verdadeira. E agora, o que eu iria fazer?
FIM
Esta história é para você, minha amiga secreta, espero que goste, escrevi com carinho. Eu tinha em mente uma forma diferente para a história, quando a planejei inicialmente (como longfic), mas como sabia que não conseguiria desenvolvê-la da forma como gostaria, deixei a ideia guardada no fundo da mente, só esperando uma oportunidade para utilizá-la e esta oportunidade veio com o AS de Natal. Confesso que quando vi seu nome no sorteio fiquei um pouco perdida sobre o que escrever, pois nunca tivemos uma conversa. Então, dei uma espiadinha no post do grupo e vi que você não possuía nenhuma restrição quanto a algum gênero e resolvi me arriscar com a ideia que estava guardadinha, só esperando que eu pudesse dar-lhe vida.

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