Ele a observou olhar para os lados antes de abrir seu doce sorriso. Gostava dos sorrisos que %Yuni% dava; todas as suas variações, inclusive aqueles que mascaravam uma tristeza que representava o vazio que ela sentia no meio de tanta gente.

  %Yuni% era assim desde pequena. Se preocupava mais com os outros, do que consigo mesma. Por esse mesmo motivo, vivia mais atenta ao bem-estar das pessoas ao seu redor, do que cuidar de si. Esse papel quem preenchia era ele, Yuki.

  — Ela não vai. — Ele passa um braço pelos ombros da melhor amiga, que o encara com surpresa.

  — Ah, lá vem… — Akio resmunga para os amigos, que soltam risadinhas. — O incrível protetor e herói, super Yuki.

  As meninas, por outro lado, não optaram por rir e fazer piada. Esperavam mais que %Yuni% impusesse um limite no melhor amigo e dissesse que queria fazer o passeio que elas estavam propondo.

  Acontece que %Yuni% não queria. Ela queria poder ficar em casa e ler um livro, não sair com as amigas para paquerar quem quer que fosse no shopping.

  — Mas ela disse que tudo bem, Yuki… — Kina, uma das amigas, diz já em tom de que sabia que o jovem não iria dar um passo atrás. Yuki nunca dava quando se tratava da melhor amiga.

  Ninguém sabia de onde veio o sentimento superprotetor do garoto; se foi algo imposto pelos pais, melhores amigos de infância, ou se foi devido à personalidade natural do jovem. Fosse um ou outro, todo mundo sabia que quando Yuki se colocava à frente da amiga, não havia touro que tirasse esse obstáculo da frente.

  — Ela se esqueceu, mas eu lembro. Nós dois combinamos de jogar videogame hoje. Eu pedi revanche no Mario.

  O grupo solta um muxoxo de impaciência. A desculpa de Yuki sempre era alguma programação caseira inventada para %Yuni% ficar em casa. As amigas dela odiavam essas desculpas; estavam justamente tentando tirar a garota de casa, pois, como os próprios pais dela diziam, ela precisava se divertir mais ao invés de só ficar perdida em livros e filmes.

  %Yuni% abre um pequeno sorriso e dá um passo mais perto de Yuki. O simples ato foi o suficiente para todos se sentirem derrotados.

  — A gente se vê segunda na escola… — os amigos se despedem dos dois, que acenam e fazem o caminho contrário do grupo.

  Quando os dois estavam longe o suficiente do grupo, Yuki olha para a melhor amiga, que tem em mente exatamente tudo o que poderá fazer durante todo o final de semana.

  — Você sabe que precisa sair mais, não é?

  %Yuni% encarou o melhor amigo com as sobrancelhas erguidas.

  — Por quê? É gostoso ficar em casa.

  — %Yuni%. Você já tem 15 anos. Nunca foi a uma festa noturna. Até seu pai veio me perguntar se eu poderia levá-la para alguma.

  — Meu pai? — %Yuni% arregalou os olhos. O pai dificilmente demonstrava preocupação com relação à vida pessoal da filha. — O que você disse?

  — Que você é capaz de ir às suas próprias festas.

  A jovem suspirou aliviada. Sabia que sempre podia contar com Yuki para acobertá-la.

  Contudo, o que não sabia, era que Yuki fosse se mudar do Japão por conta do vôlei, que o fez conseguir uma bolsa em uma universidade na Itália.

  Com a ausência do melhor amigo, %Yuni% precisou aprender a se virar para ir ou deixar de ir aos seus rolos. Com a falta de prática e a necessidade de deixar o outro à vontade, as coisas acabaram saindo um pouco do controle.

  O prédio de três andares parece um local pacífico para se viver. Com dois carros parados na garagem e muitas árvores ao redor, Yuki achou a residência com uma localização a cara de sua melhor amiga de infância.

  O lugar de dentro, por outro lado, era outra história.

  — Eu já falei para você que não gosto da comida assim! Sua inútil!

  Os gritos foram seguidos pelo som de metal ao chão e alguns vidros se estilhaçando. As ofensas não pararam por aí. Cada vez mais alto, o homem gritava mais e mais, até que finalmente saiu de casa batendo a porta.

  Como uma simples reação, Yuki se escondeu atrás do poste para ver Higa saindo em passos largos, terminando de vestir o terno do trabalho e com um olhar furioso. Ao entrar no carro, bateu a porta com toda a força e através de uma leitura labial, o jogador de vôlei viu o antigo amigo xingar alguns palavrões antes de ligar o automóvel e acelerar para longe de casa.

  Olhou na direção do primeiro andar, onde o amigo e %Yuni% viviam. Os dois haviam se casado há 2 anos, coincidentemente após o pai da mulher falecer e deixar uma grande fortuna para a esposa e filha única. Sem explicação nenhuma, o casal surgiu noivos.

  %Yuni% não quis contar a Yuki o motivo de tanta pressa, já que não namoraram por muito tempo. Na verdade, Higa era o primeiro namorado da amiga, e nunca teve fama de ser muito bom com as mulheres. Tinha um histórico violento e orgulhoso. Trabalhava como advogado de uma empresa grande e quem não o conhecia, o adorava. Com uma beleza acima do padrão japonês, Higa tinha carisma de sobra, conseguindo absolutamente tudo o que queria. À frente de todos mostrava-se um marido perfeito; carinhoso e cavalheiro.

  O sangue subiu à cabeça de Yuki com a cena que havia ouvido há pouco.

  Ao ver uma moça sair do prédio, aproveitou a deixa para entrar.

  — Oh! Yuki Ishikawa! — a mulher exclamou. — Sou uma grande fã!

  — Obrigado. — ele sorriu e concordou em tirar uma foto com a moça, afinal, sem saber a mulher havia o ajudado muito. Certamente %Yuni% não permitiria a entrada dele nas atuais condições.

  Subiu as escadas para o primeiro andar às pressas e bateu à porta da amiga.

  — Sim! — ela gritou de dentro.

  Ele decidiu não responder. Sua atenção estava demais na voz trêmula da mulher, de alguém que estava chorando.

  Quando ouviu o som da porta destravando, respirou fundo.

  Imaginou ver uma mulher com os cabelos desgrenhados e os olhos vermelhos, mas não havia se preparado para encontrar, além disso, marcas roxas e um corte pequeno na testa.

  Os olhos de %Yuni% imediatamente se arregalaram ao vê-lo. Tentou fechar a porta, mas o amigo foi mais rápido.

  — O que diabos aconteceu? — ele perguntou empurrando a porta e forçando-se a entrar.

  — Vá embora.

  — Com você assim? Não vou.

  %Yuni% abriu a boca para retrucar o amigo. Achou que conseguiria, mas não percebeu quando suas pernas desabaram, nem quando as lágrimas começaram a cair. Yuki a pegou a tempo e desceu com ela até o chão. Enquanto segurava a amiga aos prantos, olhou para a casa ao redor. Havia, sim, pequenos detalhes que eram a cara de %Yuni%, mas a maioria dos móveis e objetos eram de Higa.

  — Por que você se casou com ele? — ele perguntou e ela se encolheu ainda mais. — %Yuni%, precisamos ir à polícia.

  — Eles não vão me ouvir e eu só irei apanhar de novo.

  — Eles vão ouvi-la, é claro que vão.

  %Yuni% balançou a cabeça.

  — Higa, ele… ele consegue convencer qualquer um.

  O jogador se calou. O que a amiga dizia fazia sentido. As amigas em comum haviam dito que após o casamento, %Yuni% nunca mais saiu com ninguém. Quando a visitaram de surpresa, puderam ficar somente por alguns minutos antes dela precisar começar a preparar o jantar para o marido.

  — Por que você não foi para a casa de sua mãe.

  — Ela se casou de novo. Não quero atrapalhá-la.

  — Ela sabe que você está apanhando?

  — Não! — A mulher olhou para o amigo. — E ela não vai saber.

  — Por que você está se remetendo a isso, %Yuni%? Por que não sai de casa?

  — Eu… não consigo…

  Ele já havia lido sobre algo assim nas redes sociais. Quando chega o dia da mulher e milhares de sites fazem postagens falando sobre como as mulheres que sofrem abuso têm medo de enfrentar os agressores.

  — Alguém já tentou te ajudar?

  — Ninguém sabe. Você não deveria saber.

  — Caramba, %Yuni%. — Ele passa a mão pelo cabelo. Esperava visitar a amiga após muitos anos longe e a encontrou muito pior do que imaginava. O que o pai dela diria para si? Havia pedido para que cuidasse da filha caso algo acontecesse. É claro que não esperava tanto após a ida dele para a Itália, mas Yuki sempre mostrou preocupação com a melhor amiga mesmo longe. — Por que você casou com ele? — perguntou novamente. Dessa vez, a resposta veio como uma lâmina afiada:

  — Porque ele foi o único que ficou.

  As palavras lhe sumiram. Ela não estava errada, mas saber que pensava dessa forma o machucou. Mesmo da Itália, Yuki sempre ligou para a amiga e sempre enviou presentes para tentar compensar sua falta. Não esperava que a ausência física dele fosse significar tanto, afinal, %Yuni% foi quem mais celebrou quando ele conseguiu a bolsa, e mais ainda quando ele realizou o sonho de ser convocado para a seleção. Agora, como capitão, sentia que podia voltar à amiga e ser seu orgulho.

  Ele não via nenhum orgulho nela. Nem por ele, nem por ela mesma.

  — Você…

  — Você foi embora, Yuki. Eu precisei seguir a minha vida de alguma forma.

  — Não precisava casar com o primeiro que aparecesse!

  — Não fale como se ele tivesse surgido no momento que você foi embora. Eu esperei 10 anos- — %Yuni% cortou a si mesma e olhou para o chão. — Não importa.

  Lentamente os dois se levantaram e %Yuni% passou a organizar toda a sujeira feita há pouco, antes de Higa sair de casa.

  — Suas amigas sentem sua falta. — Ele tenta mudar de assunto e recebe o silêncio como resposta. — %Yuni%…

  – Elas não precisam de alguém como eu.

  — Alguém como você? — Ele coloca as mãos na cintura. — Pois eu acho que elas precisam de alguém exatamente como você. Alguém doce, empática, carinhosa…

  — Pare! — %Yuni% levou as mãos aos ouvidos, deixando os cacos caírem ao chão novamente. — Pare de mentir!

  — O que o imbecil do Higa fez com você… — ele murmurou. — %Yuni%, o que o idiota do seu marido…

  — Ele não é idiota, Yuki!

  — Ele te bate! Olhe para sua cara! Como você pode continuar com uma pessoa dessas?

  — Foi um pequeno acesso. Ele não é assim. Cuida bem de mim.

  — De você ou do seu dinheiro? Você tem recebido as cartas que te enviei?

  O olhar confuso da amiga respondeu no lugar de suas palavras.

  — Caramba, %Yuni%. Você está na porra de um relacionamento abusivo! Ele acabou com a sua confiança, apagou de você suas qualidades.

  — Vai embora! — Ela o empurra de repente. — Se você veio para criticar a mim e à minha família, vá embora!

  — Eu não vou. — Ele permaneceu parado no mesmo lugar. Não lembrava das mãos da amiga serem tão pequenas. — Da última vez que eu fui, veja só como você ficou.

  O choque da determinação do amigo em não se mover fez %Yuni% perder a fala e a reação. Esperava por isso há um tempo, para ser sincera. Alguém. Qualquer pessoa que pudesse fazer um pequeno movimento para quebrar o muro que Higa havia criado ao seu redor. Quando foi à psicóloga, foi taxada de louca pelo marido; quando procurou um policial, saiu com fama de retardada mental.

  — É melhor que você vá.

  — Eu já disse que não vou — Yuki diz e pega o celular. Liga para o próprio advogado. — Eu vou fazer o que deveria ter feito há muito tempo.

  %Yuni% balançava a cabeça, negando. Ele não entendia. Tentar salvá-la na verdade só a afundaria mais. Higa iria ganhar e a única pessoa a ser punida seria ela. Estava cansada. Havia dias que queria ser só qualquer outra pessoa.

  Sabia que o marido havia se casado com ela pelo dinheiro. Por isso mesmo nunca deu um centavo para ele, o que o fez se tornar o monstro que é hoje. O advogado esperava ter uma vida de luxo e participar dos grupos da alta sociedade que o humilhava durante o início da vida adulta. Ele queria devolver na mesma moeda o que aqueles empresários arrogantes fizeram consigo. Para isso, precisava de dinheiro rápido.

  Mas %Yuni% fingiu não saber da palavra secreta que o advogado do pai mencionou precisar para liberar todo o dinheiro. Deu todos os tipos de palavras possíveis para o profissional, que negava em uma expressão de pesar toda vez. A mãe não se importou de não receber o dinheiro dela; estava presa demais no próprio luto e, quando saiu, foi por conta de um bom homem que a ajudou a se reerguer e levá-la para o litoral, onde vivem pacificamente com um pequeno restaurante que ela e Higa foram visitar somente uma vez desde que se casaram.

  A verdade é que %Yuni% sabia exatamente a palavra para o cofre do pai. Também sabia que não poderia permitir que o dinheiro arduamente conquistado pelo querido pai fosse parar nas mãos de Higa, que queria fazer uso por arrogância e ambição pessoal. Quando ele ergueu a mão para ela a primeira vez após ela errar a terceira tentativa, %Yuni% soube que ele jamais tocaria naquele dinheiro.

  E então ela se esqueceu. Esqueceu-se de todas as suas qualidades, como Yuki disse. A única coisa que sabia, era que não valia nada, principalmente sem Higa.

  Observou Yuki falar no celular com alguém e então encarou ao seu redor, até se deparar com a foto de seu pai.

  Quis proteger o dinheiro dele das mãos sujas de Higa, mas não conseguiu proteger o que mais importava para o homem. Seu maior tesouro: ela.

  Caiu em lágrimas e chamou a atenção de Yuki, que foi até ela socorrê-la.

  — Ele deve me odiar… — ela disse quando se acalmou. Yuki já havia desligado o celular com o advogado. — Meu pai deve estar decepcionado comigo.

  — Ele está orgulhoso por você ter aguentado tudo isso sozinha — o amigo disse a abraçando. — Você precisa sair daqui, %Yuni%.

  Ela concordou com a cabeça.

  — Meu advogado está vindo. Vamos até a delegacia da mulher. Lá eles poderão ajudá-la e nos orientar sobre como nos livrar desse bandido.

  Yuki se levantou e estendeu a mão para %Yuni% se levantar. Dali de baixo, o melhor amigo parecia um anjo. Será que era um sonho? E se for e ela acordar no pesadelo de sua vida?

  %Yuni% apertou os lábios. Lembrou de todas as cenas que apanhou, ouviu xingamentos e teve suas qualidades maceradas até virarem pó. Se era um sonho, então ela tinha total controle sobre o que iria acontecer.

  Segurou a mão do melhor amigo, que sorriu, parte feliz por vê-la se mexer por conta própria; parte aliviado por ter tido permissão dela para ajudá-la.

  Ele não cometeria os mesmos erros novamente. Primeiro, não sairia do Japão até que ela pudesse sair com ele; segundo, reconstruiria cada pedaço da autoestima dela com todas as qualidades que enxergava na amiga; terceiro, cumpriria a promessa que fez ao tio e cuidaria dela para sempre.

  — Você disse que não me deixaria sair sozinhaaaaaaaa!

  Yuki afastou o celular do ouvido aos risos e olhou para os companheiros de time, que ergueram as sobrancelhas por poderem ouvir o que a pessoa do outro lado da linha dizia, mesmo que não entendessem a língua que ela falava.

  — Eu disse que não deixaria você passar por apuros. Ir até o mercado comprar alguns legumes não é apuro. Você mal precisa falar para isso.

  %Yuni% soltou um palavrão italiano em resposta, fazendo os amigos de Yuki caírem na gargalhada junto dele.

  — Olha só como você está se adaptando bem.

  — Você vai comer só legumes essa semana, Yuki. Já que é para eu aprender italiano, eu vou para um restaurante comer pizza! — E sem deixar ele responder, desligou o telefone.

  — Acho que você vai dormir no chão essa noite, Yuki — um de seus amigos disse em meio aos risos.

  O atacante soltou uma pequena risada. Seria verdade, se ele não conhecesse a melhor amiga tão bem.

  %Yuni% havia se mudado para a Itália com ele fazia 6 meses. Após o fatídico dia, o advogado de Yuki fez todo o processo do divórcio e, se não fosse por ela saber de todos os planos indecentes que Higa tinha arquivado contra alguns clientes, talvez ela jamais pudesse se livrar do ex-marido. Todo o processo levou 3 meses; durante esse tempo, %Yuni% foi morar com a mãe no litoral e a ajudou com o restaurante. Saber sobre o que a filha havia passado quebrou o coração da mulher, que foi forte em saber seu papel e sua posição naquela situação, ajudando a filha a se reerguer, assim como o atual marido havia a ajudado.

  Assim que o processo foi encerrado e Higa foi proibido de se aproximar de %Yuni%, ela decidiu permanecer no Japão por um tempo até conseguir reorganizar a própria vida; até que Yuki precisou tomar frente para dizer que não aguentava mais ficar longe dela, a convencendo a ter uma nova vida na Europa.

  Foi quando %Yuni% percebeu que precisava finalizar a questão de sua herança. Junto da mãe, ela foi até o escritório do advogado da família para dizer que finalmente havia "lembrado" do código. Jamais iria se esquecer que seu pai com certeza usaria como palavra, aquela que ele sempre se relacionava a ela.

  — Tesouro — ela disse ao advogado, que abriu um sorriso de alívio. — A palavra é tesouro.

  No caminho de casa, Yuki comprou flores e passou no mercado para comprar tudo aquilo que ele sabia que %Yuni% não compraria.

  Ao chegar no apartamento em que moravam, viu a mulher assistindo a um filme na televisão com um enorme pacote de pipoca no colo.

  — Esse é seu jantar?

  — Sim, o seu está no mercado.

  Yuki soltou uma risada e ergueu as sacolas com as compras. %Yuni% bufou e voltou a olhar para o filme.

  — A legenda não deveria estar em italiano?

  — Não me enche.

  — Olha só quem está afiada hoje — Ele se jogou no sofá e tirou o saco de pipoca do colo dela para poder apoiar a cabeça no lugar.

  — Ei!

  — Também estou com fome.

  — Eu já disse que seu jantar…

  — Sim, sim, vou preparar a nossa janta. A minha fome é de saudade de você.

  %Yuni% revirou os olhos e se mexeu para empurrá-lo para longe, mas Yuki era claramente mais forte que ela.

  — Balela, balela — ela disse.

  — Nenhum dos elogios que eu teço a você são balela. — Yuki a puxou no momento em que ela tentou se levantar e a fez se deitar com ele, deixando o rosto muito próximo do dele. — Me diga algo bom que você observou em si hoje.

  — Você não precisa fazer isso todo dia… — ela resmungou. O homem permaneceu encarando-a e ela sentiu as bochechas queimarem de vergonha. — Eu vesti aquele vestido florido que você me deu semana passada e deixei que um pintor na praça principal pintasse um retrato meu. Dei meu melhor sorriso e adorei que ele conseguiu realçar a minha covinha.

  Os olhos de Yuki desceram até a covinha que %Yuni% tinha do lado esquerdo da bochecha, próximo ao lábio e sorriu. Deixou um beijo ali e em seguida na testa.

  — Perfeito.

  — É sério — ela murmurou abafado pela camiseta dele. — Você não precisa fazer isso todo dia.

  — Fazer o quê?

  — Ser tão cuidadoso.

  — Ué. Só estou fazendo o básico. — Ele se afasta e a encara. %Yuni% ergue as sobrancelhas e ele sorri. — Quem ama, cuida.

  As bochechas da namorada voltaram a corar com a frase do jogador.

  — Além disso, não posso decepcionar o tio Ogawa. — Ele olha para um retrato das duas famílias unidas em um dos últimos encontros que eles tiveram antes da morte do pai de %Yuni%.

  — Você está fazendo isso pelo papai? — ela pergunta quando ele se levanta para ir até a cozinha preparar a janta.

  Yuki se volta para %Yuni% com uma careta no rosto.

  — Acho que não estou sendo claro com meus elogios a você. Eles não são palavras repetidas do seu pai; são o que estão em meu coração.

  A mulher abriu um sorriso tímido e corre para abraçá-lo. Ele a aperta em seus braços e com uma voz doce, diz à namorada:

  — A única coisa que peguei do meu sogro, é o fato de ter você como o meu maior tesouro.