A Ordem
Escrito por Nathara Sant'anna | Revisado por Natashia Kitamura
Capítulo Um
Meus pais não estavam felizes. Não depois dos últimos acontecimentos na academia. Com tudo o que aconteceu, eu fui obrigada a me afastar, e para minha mãe isso era algo inadmissível, ainda mais quando sua mãe, minha avó, era a diretora do local.
Minha família, nesse quesito, era um pouco disfuncional; enquanto minha mãe era filha de uma caçadora da Ordem, meu pai era filho de um lobisomem. Sim. Muito engraçado eles terem aceitado meu pai como caçador quando sabiam sobre sua descendência. E sabe o que é mais engraçado? Eles apenas aceitaram o relacionamento da minha mãe com meu pai pelo simples fato dele ter nascido com a marca da Ordem real. Sim. No meu mundo existem diferentes tipos de caçadores e os mais importantes são os que mantêm um pequeno sinal em forma de coração no pulso direito. Além do meu pai, eu sou a única no mundo que tem essa marca, algo que eu escondo sempre que possível, pois se eu pudesse mudar meu destino, nunca teria nascido com ela.
A família da minha mãe só passou a ter um posto mais alto na Ordem dos caçadores por conta do casamento dela com meu pai, esse sim foi o motivo deles terem aceitado o filho de um lobisomem na família, apesar de sempre negarem.
- . – minha mãe chama minha atenção novamente.
- Sim? – respiro fundo antes de encara-la.
- Desligue esse celular. – ela pede.
- Por que eu deveria desligar meu celular? – a questiono.
- ... – seu tom é de aviso, porém ignoro.
- Eu sei que vocês não estão felizes de me ter por perto, então por que não me deixam quieta? – largo meu celular no banco e cruzo meus braços.
- Você devia estar se formando. – a voz da minha mãe é estridente. – Esse era seu último ano. – reviro meus olhos e encaro a paisagem.
Eu estava voltando para casa depois de muito tempo, e tudo parecia ter mudado. Seis anos, esse foi o tempo que fiquei longe de Fallen Hills e parecia que eu não sabia nada sobre essa cidade, apesar do local continuar sendo um santuário verde.
- Eu sei disso. – bufo. Meus pais nunca seriam capazes de me perdoar sobre minha ultima escapada da escola, que resultou na minha expulsão.
- Se você ao menos nos escutasse. – minha mãe continua falando enquanto meu pai se concentra na estrada. – Você realmente foi muito inocente ao imaginar que sua avó iria aceitar seu envolvimento com um vampiro. – reviro meus olhos.
- é meu amigo. – acredito que essa era a pior parte para os meus pais, saber que eu não mato um ser sobrenatural até ter certeza de que ele merece ser punido.
- . – ouço um suspiro vindo do banco da frente. – Você não devia fazer amizade com qualquer pessoa senão um caçador. – eu achava uma hipocrisia minha mãe falar uma coisa dessas, ainda mais quando ela se casou com meu pai.
- Acho que eu aprendi a lição, não é mesmo? – eu não me arrependia de manter uma amizade com , e se soubesse que ser pega com ele acarretaria minha expulsão da academia, eu já teria feito isso há muito tempo.
- Ele deveria ter sido morto, você tem muita sorte dele ter fugido antes da Ordem chegar. – reviro meus olhos.
- Ninguém conseguiria fazer nada com ele. – eu sabia que era um dos vampiros mais habilidosos que eu conhecia.
- Somos treinados a vida toda para lidar com essas situações. – ela continua com seu discurso.
- Tudo bem, mamãe. – coloco o fone de ouvido e volto a ignora-la.
- . – continuo balançando minha cabeça ao som da música que estava ouvido, e tento ignorar a voz da minha mãe que praticamente gritava. – . – ela chama de novo e agora vejo que não poderia ignora-la.
- Sim? – pergunto.
- Odeio sua atitude. – mamãe gesticula com a mão.
- Se você não está satisfeita, por que deixou a vovó me criar? – pergunto.
- Sua avó sempre soube o que era melhor para você. – ela não tinha ideia do que minha avó me fez passar durante esses últimos seis anos que fiquei na academia.
- Claro. – balanço minha cabeça. – Então não reclame sobre a minha educação, sua mãe sempre foi uma pessoa justa, não é mesmo? – pergunto.
- . – pela primeira vez, depois de cinco horas de viagem meu pai se pronunciou. – Vamos encerrar o assunto por aqui. – ele fala.
- Então posso voltar a ouvir música? – o questiono.
- Desde que você não fique retrucando. – balanço minha cabeça concordando. Não valia meu tempo discutir com meus pais sobre algo que eles não aceitavam. A única coisa que eu achava ridículo nas atitudes deles, e principalmente do meu pai, era ele não aceitar meu envolvimento com pessoas do submundo.
Veja bem, eu não tinha vergonha de ser uma caçadora, eu tinha vergonha do que eles faziam para as pessoas. Aceitar matar seres sobrenaturais que ameaçassem qualquer pessoa era uma coisa, mas matar aqueles que não faziam nenhum mal era falta de bom senso. E meus pais não pareciam acreditar muito nisso. Na realidade, as únicas pessoas que estavam isentas das regras da Ordem, eram a família do meu pai, qualquer outra pessoa teria um fim trágico, sendo culpado ou não.
***
Apesar de ter feito uma viagem de cinco horas, a primeira coisa que meus pais fizeram ao chegarmos em casa foi me mandar para a escola, eu sabia que essa era a forma que eles encontraram de me punir sobre o meu recente comportamento, por isso resolvi não gastar minhas energias com o assunto, e logo saio do carro dos meus pais.
Olhando para a minha nova situação, vir para uma escola não parecia o certo, eu me lembro de ter suplicado aos meus pais que deixassem que eu estudasse em casa, assim eu teria mais tempo para praticar as artes maciais, porém os dois foram diretos ao falar que eu era obrigada a estudar, e que se eu quisesse continuar em uma escola, que nãofizesse as escolhas erradas. Eu estava tão cansada de mentir, e a perspectiva de conviver com pessoas que não sabiam o que existia do outro lado do seu mundo me incomodava um pouco.
Ao observar com mais afinco a escola, percebo que a mesma era muito antiga, e deveria, sim, ter tido muitas histórias por detrás das paredes, porém não era algo que cabia a eu julgar, e sim apenas apreciar. As pessoas pareciam curiosas ao me verem chegando, talvez pelo fato da cidade não receber tantas pessoas novas. Sim, ela era uma cidade velha que não recebia novos moradores há muito tempo. E meus pais, apesar de ter vivido há muito tempo aqui, já foram esquecidos.
- ? – mais cedo eu tinha sido instruída pelos meus pais que assim que chegasse na escola fosse diretamente para a secretária, por isso não fico surpresa quando uma secretária de aparência mais velha me chama.
- Sim. – sorrio cordialmente para ela, algo que aprendi desde cedo na Ordem.
- O diretor está a sua espera. – a secretária aponta para uma porta atrás de si e eu me levanto imediatamente da cadeira que tinha me sentado para descansar. Parando na frente da porta, eu bato levemente e espero uma resposta para entrar.
- Entre. – escuto um tom abafado vindo por de trás e abro a porta rapidamente dando de cara com o diretor. – Estava esperando por você. – dou um sorriso e me sento na cadeira à sua frente. – Senhorita . – ele começa a olhar meu histórico.
- Me chame de . – detesto quando as pessoas usam orifícios para se referir a minha pessoa.
- Tudo bem. – o senhor parecia um pouco sem graça. – Estava observando seu histórico. – ele ainda parecia um pouco surpreso, era visível em sua fisionomia.
- Ótimas notas, não? – pergunto com um largo sorriso. E apesar de vivermos na academia da Ordem, termos aulas de artes maciais e até mesmo de armamento, nós tínhamos aulas como qualquer outra pessoa, e notas boas eram obrigatórias para conseguir ser formar como um caçador.
- Você é realmente uma boa aluna. – o diretor continua observando meu histórico.
- O que eu posso fazer se ser a melhor está no meu sangue. – dou de ombros. Eu sabia que talvez eu fosse um pouquinho pretenciosa, mas eu sabia que era realmente boa em muita coisa, e adorava receber elogios. – Eu jamais conseguiria deixar algo inacabado. – finalizo com um sorriso.
- Bom... Como eu ia falando – o diretor pigarreia. Um pouco desconfortável com as minhas palavras –, seus horários estão aqui. – ele me entrega uma pequena folha que continha os meus horários de aula. – Infelizmente, você terá que esperar para se candidatar para alguma atividade extracurricular, pois todas estão preenchidas.
- Não vejo problemas com isso. – estralo minha língua. – Mais alguma coisa? – pergunto um pouco impaciente.
- Por enquanto não. – ele se levanta da cadeira. – Irei acompanhar você até a sua sala. – sigo seu gesto e me levanto.
- Tudo bem. – solto um suspiro e espero que o diretor saia de sua sala para que eu possa segui-lo.
- É por aqui. – assim que saímos de sua sala, o vejo cumprimentar alegremente sua secretária para que enfim pudéssemos dar sequência a uma caminhada por entre os corredores da escola.
A escola era maior do que eu esperava, devo admitir. Quando meus pais me deixaram mais cedo na frente dela, eu pensei que meus dias iriam ser completos de tédio e agonia, não que fosse ser diferente, porém com a escola sendo maior, a chance de alguém me irritar era menor. Os corredores eram bastante amplos e, para a minha surpresa, a escola estava adaptada para pessoas com necessidades especiais, algo muito importante, porém que poucas escolas ainda têm atento. Dos corredores abertos era possível ver o pátio interno perfeitamente e o que mais me chamou a atenção nisso tudo eram as estátuas postas perto de algumas pilastras centrais do local. Claro que próximo a essas estátuas eu podia ver alguns alunos se esgueirando, o que me passou um senso de amadorismo vindo deles, pois o primeiro local a se procurar alguma pessoa, seria ali.
Enfim, o diretor divagava sobre a estrutura da escola e como ele se sentia orgulhoso daquele prédio ter sido um dos primeiros a serem erguidos quando a cidade estava sendo criada, porém para ser bem sincera não presto muito a atenção, pois não era algo que estivesse relacionado a mim.
- Finalmente chegamos. – ele para na frente de uma porta e sorri. – Essa é a sua nova sala. – o diretor abre a porta de repente, surpreendendo o professor e os alunos que já estavam acomodados em seus lugares. – Quero que vocês deem boas vindas a sua nova colega de classe. – ele ergue a mão para me chamar e entro na sala. – . – o diretor volta a me apresentar para a turma. – Espero que vocês sejam receptivos. – ele adverte e eu reviro meus olhos.
- Por que você não se senta? – o professor indica o único lugar disponível para que eu sentasse.
- Claro. – respondo para ele e paro por um momento pra encarar todas as pessoas que estavam naquela sala.
Olhar curioso era o que eu estava recebendo no momento, então faço o que fui treinada para fazer tão bem, dou um sorriso fatal e caminho para o local indicado pelo professor.
- Olá. – aceno para a menina que ficaria ao meu lado amigavelmente, porém ela me ignora.
Reviro meus olhos.
- Agora que a senhorita foi devidamente apresentada, irei me retirar. – o diretor comunica, mas parecia que as pessoas ao seu redor não ligavam realmente para o que ele falava. Um pouco patético até mesmo para ele.
- Ok. – o professor bate no quadro para chamar a atenção dos alunos que começaram a falar loucamente desde a saída do diretor. – Vamos retornar de onde paramos na semana passada. – assim que ele tem a atenção de todos os alunos, percebo meus colegas de classe abrindo seus livros e fico apavorada.
Minha mente não funcionava muito bem quando eu tinha que prestar atenção em matérias escolares, geralmente eu gravava as aulas e depois estudava, era um movimento simples que facilitava muito a minha vida. Claro que apesar da minha mente entrar em modo automático, eu conseguia entender perfeitamente tudo o que as pessoas falavam ao meu redor, o problema era que muitas vezes eu ficava montando todo tipo de estratégia na minha mente, me fazendo se perder muitas vezes nos contextos ao meu redor.
- Olha aqui. – sinto um leve baque na minha mesa, e sou pega de surpresa. – Vou ser bem direta com você. – a garota loira ao meu lado parecia um pouco irritada, porém eu não conseguia entender o seu comportamento para cima de mim. – Não pense que só por ter tido a sorte de sentar ao meu lado que você irá copiar minhas anotações. – a encaro com as sobrancelhas erguidas e deixo que ela fale o que precisa. – Sugiro que você preste atenção na maldita aula, ao invés de ficar desenhando no seu caderno. – eu não tinha notado que ao cair em pensamentos eu estava desenhando automaticamente. A realidade é que esse gesto vinha acontecendo mais frequentemente, porém não achei que era algo a ser compartilhado com meus pais.
- Não se preocupe quanto a isso. – me apoio em meu braço e continuo encarando a garota. – Tudo o que o professor está falando no momento eu já aprendi na minha antiga escola. – sorrio. – Então pode ficar tranquila que não irei precisar das suas migalhas para poder acompanhar meus colegas de classe. – falo entre dentes. – Você é uma pessoa bastante julgadora. – a encaro de baixo para cima e com um sorriso desvio meu olhar para o professor.
O restante da manhã passou arrastando, esse era o tipo de vida que eu tinha quando estava seguindo o fluxo normal das coisas. Tenho certeza de que se eu estivesse na academia agora, eu estaria praticando tiro ao alvo com a minha melhor amiga Marnie e devo dizer que era um dos melhores momentos do dia.
Sentada o gramado do pátio eu me ponho a pensar. Eu não entendia muito bem a lógica dos meus pais decidirem se mudar para essa cidade novamente, afinal, quando fomos embora há seis anos, eles tinham sido claros sobre nunca mais voltar aqui, porém eu sabia que com eles não havia conversa, e perguntar o que estava acontecendo era o mesmo que entrar em um beco sem saída. O meu alívio nesse dia lento era esse pequeno intervalo que tínhamos para comer. Eu estava estressada quando a última aula começou e, por conta disso, meu humor estava a beira de um colapso, então quando finalmente o sinal bate, eu saio da sala rapidamente e encontro o lugar que estou no momento, calmo e sem pessoas por perto.
Depois de tanto pensar, lembro que eu tinha o último desenho que fiz no meu bolso e o tiro de lá. Esse desenho estava me deixando muito intrigada, pois fazia semanas desde que ele começou a aparecer nos meus sonhos, e agora eu estava desenhando eles inconscientemente.
- Posso me sentar aqui? – ouço uma voz feminina falar ao topo da minha cabeça e me surpreendo quando dou de cara com a garota que sentava ao meu lado em matemática avançada.
- Agora você quer se sentar aqui? – eu não queria parecer mal educada com a garota, porém hoje mais cedo eu realmente escutei algo completamente desnecessário.
- Na realidade, esse lugar é meu. – ela parecia um pouco sem graça ao falar isso.
- Verdade? – pergunto ao tentar ver algum nome gravado por ali. – Não parece. – sorrio.
- Olha... – ela parecia indecisa se fala ou não comigo.
- Sim? – tento estimulá-la a dar continuidade na sua fala.
- Acho que começamos errado hoje. – reviro meus olhos. – Sou Eleanor. – ela ergue sua mão para me cumprimentar.
- . – semicerro meus olhos e a encaro atentamente.
- Agora que você me conhece, será que posso sentar? – dou um sorriso e balanço a cabeça positivamente. – Você não parece ser uma pessoa que fala muito. – Eleanor, não mais a garota loira que sentou ao meu lado hoje cedo, fala.
- Não sou de ficar falando com pessoas que não conheço. – mordo a maçã que tinha trago comigo.
- Irá comer apenas isso? – a garota aponta para a minha fruta.
- Gosto de manter uma alimentação balanceada. – explico.
- Entendo. – ela começa a desembalar um sanduiche e acabo fazendo uma careta quando o cheiro dele me atinge.
- Nossa. – imediatamente tampo meu nariz para impedir que o cheiro penetre ainda mais.
- Você não gosta de sanduiches de atum? – a garota parecia um pouco sem graça.
- Isso definitivamente fede. – mesmo que eu não quisesse que esse gesto parecesse grosseiro, sou obrigada a me afastar dela. – Desculpe. – continuo tampando meu nariz, porém algo chama minha atenção de longe. – Quem são eles? – pergunto ao ter minha atenção chamada por dois garotos.
- e . – sua voz sai um pouco abafada por conta de estar mastigando.
- Interessante. – murmuro.
- Se eu fosse você, ficaria longe deles. – a encaro sem entender muito bem.
- Por quê? – pergunto de forma curiosa.
Continuo encarando os dois garotos que andavam pelo pátio como se fossem donos do local, e meus olhos acabam se conectando imediatamente com um deles.
- Eles costumavam ser meus melhores amigos, mas quando ganharam popularidade, me deixaram de lado. – ela arruma o óculos que estava deslizando sobre seu nariz.
- Isso é uma pena. – continuo encarando o garoto. Parecia que eu o conhecia de algum lugar, e o pior, que algo nos conectava assustadoramente.
- É um pouco grosseiro você falar isso. – Eleanor parecia um pouco magoada com as minhas palavras.
- Desculpe. – me levanto de repente.
- O que você está fazendo? – a garota me questiona.
- Você quer um conselho? – olho para baixo para encara-la. – Não leve muito em consideração o que garotos fazem, essa é a pior etapa da vida deles, e na maioria das vezes eles são uns babacas. – pisco para ela.
- Isso não é uma explicação lógica. – Eleanor me encara.
- Por isso é um conselho. – solto uma risadinha e começo a caminhar novamente. Eu não queria ter a companhia de ninguém, porém não queria que Eleanor pensasse que era algo relacionado a ela, por isso caminho sem rumo pela escola.
Para ser bem sincera, nunca pensei que diria isso, mas eu estava com saudades da academia, pois eu não ficaria nenhum momento parada naquele lugar. Geralmente eu estaria lutando com algum aluno, ou apenas ficando de bobeira com meus amigos, esperando nossas aulas voltarem.
Apesar de a academia ter sido criada para formar caçadores, felizmente mais e mais pessoas que entravam lá compartilhavam do mesmo sentimento que eu, porém, diferente de mim que não tinha nada a perder caso eu saísse, o que aconteceu de fato, eles perderiam muito.
***
Quando as aulas finalmente terminam eu volto caminhando para casa a pé, mas não sem antes parar na única lanchonete que tinha na cidade. Eu sabia que meus pais não estariam em casa quando eu chegasse, afinal, apesar deles esconderem de mim, meus pais apenas voltaram para cá porque existiam casos não solucionados pela polícia. Como eu descobri isso? Bom... As pessoas gostam de falar muito por aqui, e foi assim que eu soube. Ou seja, essa noite eu teria que cuidar de mim mesma, não que isso fosse um empecilho para mim, afinal, vivi minha vida toda na academia, sozinha.
- Ei. – um carro começa a andar lentamente ao meu lado, e quando a janela é baixada sou capaz de ver as feições da pessoa que tinha me chamado. – É sério que você irá me ignorar? – reviro meus olhos e tomo um gole do meu café. – Eu sou seu vizinho, . – o garoto continua andando lentamente com o carro.
- E o que isso tem haver comigo? – finalmente me viro para encara-lo.
- Eu vi que você está andando sozinha, então por que não oferecer uma carona? – reviro meus olhos. O garoto tinha um olhar um tanto quanto abobalhado.
- Primeiramente, eu ignoro quem eu quiser, assim como falo com quem eu quiser. – respondo um pouco irritada por ter tido minha caminhada interrompida. – Segundo, não preciso de uma carona.
Faço um rápido reconhecimento de campo. Como havia diversos casos sem solução ocorrendo nessa cidade, dirijo meu olhar atento para ver se tinha alguma coisa haver com o submundo. Porém, depois de uma boa observada, noto que ele parecia apenas ser um esquilo inofensivo.
- Geralmente você trata as pessoas dessa maneira? – ele para o carro de repente e eu acabo automaticamente parando junto.
- Geralmente não. – sorrio.
- Essa doeu. – o garoto finge massagear o peito. – Eu apenas estou oferecendo uma carona para você, é o que fazemos nessa cidade. – dou um olhar confuso para ele.
- O que você quer dizer com isso? – pergunto.
- Somos uma cidade pequena, cuidamos uns dos outros. – não consigo segurar uma risada.
- Isso não me pareceu real, desculpa. – continuo rindo.
- Talvez você não acredite porque Eleanor falou alguma coisa. – reviro meus olhos.
- Não só ela falou, mas como observei muitas coisas. – eu tinha passado boa parte do meu tempo na escola observando as pessoas, e para ser bem sincera, eu não vi nenhum gesto de cuidado delas, pelo contrário.
- , certo? – ele pergunta meu nome. – Não leve em consideração tudo o que Eleanor falar, ano passado muitas coisas estranhas aconteceram com ela, coisas que afetaram as pessoas ao seu redor. – presto mais atenção em .
- O que você quer dizer com isso? – inclino minha cabeça para o lado.
- Mais cedo ou mais tarde você irá ouvir algumas coisas, e essas coisas irão deixar você apavorada. – eu duvidava muito que algo pudesse me deixar apavorada, ainda mais com o histórico de treinamento que tive no tempo que estive na academia da Ordem.
- E acredito que esse assunto não será algo que você irá falar. – cruzo meus braços, tomando todo cuidado para não derramar o liquido do meu copo térmico.
- São apenas besteiras. – o garoto dá de ombros, porém não consegue me convencer de que apenas besteiras aconteceram no passado.
- Tudo bem se você não quer me contar. – digo para ele e volto a andar, porém o mesmo me segura pelo braço.
- Você vai entender sobre o que eu estou falando. – ele fala para mim, misterioso. – Só tome cuidado, ok? As coisas nessa cidade não são como você espera. – semicerro meus olhos.
Por que eu achava que ele sabia muito mais do que estava contando?
Capítulo Dois
A primeira coisa que faço quando chego em casa é avaliar todos os cantos daquele local. Fazia muito tempo desde que estive aqui, e a casa parecia não ter mudado nada nos últimos anos. Depois de fazer minha checagem, eu corro para o meu quarto e tranco a porta dele, a bolsa que estava nos meus ombros jogo em cima da minha cama e começo a me despir para tomar uma ducha.
O dia tinha sido completamente exaustivo para mim. Depois de viajar por cinco horas, e ainda por cima ir para a escola, tudo o que eu mais queria no momento era deitar na minha cama e dormir até o dia seguinte sem interrupções, porém meus sonhos são interrompidos quando ouço o barulho da porta se abrindo e fechando. Imediatamente eu assumo uma posição de estratégia, pois não sabia se eram meus pais que estavam chegando em casa, ou um estranho qualquer a invadindo.
- . – reviro meus olhos ao ouvir a voz da minha mãe vindo do cômodo abaixo. – Poderia descer por um minuto? – jogo minha cabeça para trás e encaro a porta do meu banheiro, decidindo que seria melhor não contrariar minha mãe no momento.
- Estou indo. – pego a blusa que tinha jogado no chão e a visto novamente e abro a porta do meu quarto, descendo imediatamente as escadas.
- Como foi sua aula? – semicerro meus olhos e observo minha mãe colocando um pouco de comida pronta na bancada.
- Foi boa. – dou de ombros e continuo a encarando. Minha mãe podia parecer uma pessoa jovem que se preocupa com o bem estar da sua filha publicamente, mas todos que a conheciam sabiam que ela preferia lidar com índigos e transmorfos a lidar com sua própria filha. – Por que a pergunta? – cruzo meus braços.
- Apenas queria conversar um pouco com você. – bufo.
- Desde quando você quer conversar comigo? – aponto para mim mesma.
Conversar era um gesto que eu definitivamente não esperava da minha mãe. Quando ela me mandou para a academia, minha mãe, assim como meu pai cortaram os laços completamente. Eles apareciam aqui e ali apenas para as pessoas acreditarem que éramos parte de uma Ordem forte e glorificada, algo que não era realmente verdade.
- Acho que você não é mais criança. – observo minha mãe se apoiando na bancada.
- Novamente, aonde você quer chegar com essa conversa? – eu já estava ficando sem paciência.
- Como você bem se lembra, há alguns anos vivemos aqui, mas o que você não sabe é que antes de termos vocês, eu estudei na mesma escola que a sua, assim como seu pai. – reviro meus olhos, e tento entender onde ela queria chegar com essa conversa. – Temos um motivo por voltarmos para essa cidade. – prendo meus dentes entre os lábios para evitar que uma risada saísse. – O quê? – minha mãe bate com a mão na bancada.
- Eu já sei o motivo de vocês estarem aqui. – cruzo meus braços e a encaro.
- Como? – mamãe parecia não acreditar muito em mim.
- As pessoas gostam de falar nessa cidade, e então eu descobri que existem alguns sumiços e algumas mortes que a polícia não conseguiu solucionar. – continuo sorrindo. – É só somar dois mais dois. – reviro meus olhos.
- Não é apenas isso. – minha mãe solto um suspiro. – Essa cidade é um farol para os sobrenaturais. – a encaro um pouco mais atenta.
- Esse é o motivo de vocês estarem aqui? Para matar todo mundo? – a questiono.
- Pessoas inocentes estão sendo assassinadas, . – minha mãe tenta me explicar.
- Apesar de pessoas inocentes estarem sendo assassinadas, isso não dá o direito de vocês quererem matar todo mundo. – gesticulo com as mãos, completamente irritada com o que minha mãe tinha acabado de falar.
- , já conversamos sobre isso antes. – mamãe continua me encarando e a julgar pelas suas feições ela estava dando o máximo para não me xingar.
- E eu irei continuar expondo minha opinião. – explico.
- Tanto faz. Você não é uma de nós. – por um momento suas palavras me machucam.
- Acho que você quem não deveria ter sido, mãe. – me refiro a sua insensibilidade comigo.
- Nunca pensei que ao ter uma filha, ela iria contra as regras da família. – jogo minha cabeça para trás e bato palmas.
- Regras da família? – pergunto irritada. – Talvez eu apenas siga o lema da família do papai. – eu sabia que falar sobre a família do meu pai iria ser um golpe baixo para minha mãe.
- Você não vê sua avó ou qualquer um deles tem muito tempo. – reviro meus olhos.
- Tem certeza? – pergunto. Minha mãe não tinha ideia de quantas vezes eu tinha saído da academia sem ser pega.
- O que você quer dizer com isso? – ela parecia um pouco irritada, e vamos ser sinceros aqui, minha mãe não era burra, ela teria entendido perfeitamente o que eu falei, apenas queria uma confirmação para poder me punir.
- Você entendeu muito bem. – pego uma maçã de cima da fruteira e mordo. – E mamãe. – apoio minha mão livre no queixo. – Eu não me formar como caçadora não significa que não irei lutar por aquilo que julgo certo. – aviso.
- , não faça coisas que você irá se arrepender depois. – a aflição na voz da minha mãe era visível, porém não era por medo de eu me machucar, e sim pela Ordem descobrir.
- Pelo contrário. – solto um suspiro. – Tenho certeza de que se eu não fizer o que julgo certo, irei me arrepender pelo resto da minha vida. – dou um pequeno sorriso para ela.
- Apenas não se meta no nosso serviço. – ela me avisa.
- Desde que vocês não se metam no meu. – ergo uma sobrancelha e me viro para sair da cozinha.
- ... – paro no meio do caminho ao ouvir minha mãe me chamando novamente. – Não faça eu me arrepender de ter trazido você conosco.
- Talvez seja tarde demais para arrependimentos. – volto para o meu quarto imediatamente.
Eu estava tão exausta e essa conversa com minha mãe piorou ainda mais o meu estado de espirito. Claro que eu tinha ideia de que não seria nada fácil voltar a morar com meus pais depois de tanto tempo, porém eles assumiram a responsabilidade de me trazer para cá. Se eu me envolver em alguma coisa referente à pequena missão dos meus pais, isso não seria minha culpa. Eles sabiam onde estavam se metendo quando me trouxeram para casa, então o mínimo que eles podiam fazer era me dar uma folga.
***
- Ei, querida. – meu pai aparece na porta do meu quarto e chama minha atenção.
- Sim? – eu tinha tirado um tempo depois de descansar para fazer minhas tarefas da escola.
- Sua mãe e eu iremos fazer uma ronda. – o encaro.
- E por que você estaria me falando isso? – o questiono.
- Porque eu conheço você muito bem. – ele baixa o tom de sua voz e entra no meu quarto. – Eu posso não ser o melhor pai do mundo, assim como sua mãe não é a melhor mãe do mundo. – finjo um bocejo. – Não faça isso. – meu pai me repreende. – Nós realmente nos preocupamos com você. – balanço minha cabeça, mesmo que eu não achasse que eles realmente se preocupassem comigo.
- Você está divagando muito, papai. – eu tinha que cortar logo o que ele estava falando, pois se deixasse, meu pai iria falar que tudo que eles fizeram até hoje foi pensando em mim.
- Desculpe, entendi que você não quer conversar. – ele para no meio do meu quarto. – Como estava falando, sua mãe e eu iremos sair para uma ronda. – papai suspira. – Não cruze o nosso caminho. – ele pisca para mim antes de sair do quarto.
Claro que apesar dele ser um caçador e aceitar tudo o que acontecia ao seu redor, ele ao menos parecia me dar um voto de confiança para seguir meus instintos. Eu sabia que sua atitude amigável era apenas para ficar de olho em mim, talvez ele esperasse que ao me dar pequenos avisos, eu iria confiar nele, porém o que acredito que ele não saiba é que eu sou uma pessoa que não confia facilmente nos outros.
***
Espero meus pais saírem de casa para que eu pudesse me arrumar rapidamente e fazer o que precisava ser feito. Eu sabia que nessa ronda, meus pais poderiam encontrar alguma coisa, como não poderiam encontrar nada, porém meu instinto falava mais alto, e ficar em casa sentada, de braços cruzados, não era uma alternativa para mim no momento.
Meu cérebro pedia para eu tentar solucionar o que estava acontecendo, assim como minha sede de curiosidade por saber quem estaria matando tantas pessoas em uma cidade como essa. As roupas que eu tinha colocado eram pretas, para combinar com o breu da noite, e eu estava equipada com uma pistola e uma faca de prata. Apesar de eu ser contra usá-las, lembro que teve uma ou duas vezes que não tive escolha, porém, mesmo sendo necessário o uso, eu carrego essa culpa comigo até hoje. Embora eu fosse contra algumas coisas na academia de caçadores, tenho que admitir que houve dias de aprendizado que foram muito úteis apara mim, como por exemplo aprender a me movimentar silenciosamente em qualquer ambiente, ou como eu tinha que ser paciente para conseguir as coisas que eu queria.
Como eu tinha dito antes, meus pais não eram burros, eles sabiam que eu iria sair para patrulhar também e é por isso que na primeira oportunidade que tive, eu entrei no meu carro que tinha chegado nessa tarde, e dou partida. Não era a melhor ideia, devo admitir, porém o local que eu queria ir era longe demais para percorrer a pé.
Quando me aproximo da escola, estaciono eu carro o mais distante possível para que eu não chamasse uma atenção indesejada e começo a caminhar pelas sombras. Enquanto caminho para a escola algo chama minha atenção, a cidade não tinha barulho de insetos, o que não fazia sentindo, ainda mais o local sendo próximo de uma floresta. Esse era um dos indícios de que as coisas que estavam ocorrendo na cidade eram sim sobrenaturais, e não um assassino em série.
- O que vocês estão fazendo aqui? – mal entro na escola e encontro e no local.
- Eu faço a mesma pergunta para você, , não é mesmo? – me encara com os olhos semicerrados.
- Olha aqui... – começo a falar quando sou interrompido por um grito extremamente agudo, e por conta disso eu saio correndo para achar o local que originava o grito, deixando os garotos para trás. – Droga. – não esperava que eu fosse ter companhia dentro dessa escola, e agora parecia que algo estava acontecendo por aqui. – Merda. – xingo quando percebo que entrei no lugar errado.
- É por aqui, . – ouço a voz de , e fico surpresa por ele estar me seguindo, o mesmo gesticula com as mãos para o local certo e eu começo a correr com ele bem atrás de mim.
- O que vocês estão fazendo aqui? – eu podia sentir que o garoto estava perdendo o ritmo e ficando para trás.
- Podemos falar sobre isso depois? – ele me pede enquanto tenta a todo custo me acompanhar. Quando viro para trás, percebo que não estava por perto e paro de repente.
- Cadê o seu amigo? – seguro o braço de fortemente.
- Ele apenas pegou um atalho. – o garoto dá de ombros e eu murmuro irritada.
- Se isso for um jogo para vocês, que fique bem claro, vocês irão sofrer as consequências. – explico pausadamente.
- Por que você acha que isso é um jogo? – me pergunta, porém não ligo muito para o que ele fala, minha mente trabalha mais rápido e minha mão praticamente voa para o peito do garoto, impedindo que ele entrasse na sala da onde o grito tinha vindo.
- Mas o quê? Oh meu Deus. – era impossível me afastar dos berros de , acredito que ele estava um pouco atormentado pelo que tinha acabado de ver.
- Acho melhor apenas se aproximar. – reviro meus olhos ao ouvir a voz de , afinal, não é como se eu nunca tivesse visto um corpo morto na minha frente, isso era o que mais fazíamos na academia durante o treinamento.
- Não me teste, . – passo por ele sem me importar com o cheiro que o corpo já exalava.
- Eu juro que não fui eu. – escuto uma voz feminina e meus olhos praticamente voam para ela.
- Então por que você está aqui? – pergunta.
- Eu estava na biblioteca até uma hora atrás. – Eleanor parecia apavorada demais, o que era visível em sua voz.
- Então você sabe o que aconteceu. – cruzo meus braços.
- Eu não sei. – ela continua atropelando as palavras. – Eu estava na biblioteca estudando, fui para minha casa e agora estou aqui. – a garota parecia não estar entendendo muita coisa, assim como eu e os garotos que estavam aqui momento.
- Como posso confiar em você? – olho para as três pessoas ao meu redor. – Ou melhor, em vocês? – era muito suspeito que os três estejam no mesmo local, e na mesma hora de um assassinato.
- E como nós poderíamos acreditar em você? – se pronuncia, um pouco mais frio do que ele aparentava ser na escola. – Afinal, você acabou de chegar na escola e uma morte acontece. – reviro meus olhos.
- Como se isso não estivesse acontecendo há muito tempo. – cruzo meus braços.
- Gente. – chama nossa atenção. – Vocês não se importam de conversar em outro lugar? – ele meio que aponta para o lado, local onde o corpo jazia.
- Não. – e eu falamos juntos.
- Não devemos chamar a polícia? – a voz de Eleanor se sobressai de repente.
- Não! – novamente e eu falamos juntos.
- Ele é o diretor. – acredito que tomou coragem e foi ver de quem era o corpo.
- Você fez um bom trabalho de reconhecimento. – faço um joinha para ele e me aproximo do corpo.
- Por que parece que você sabe o que está fazendo? – me pergunta.
- Porque eu sei o que estou fazendo. – tiro um lenço de dentro do bolso e mexo no pulso do diretor.
- Estou com medo. – Eleanor fala de repente, me desconcentrando um pouco.
- Não precisa ter medo. – olho para trás e pego seu olhar. – Isso não é nada. – eu não queria fazer pouco caso do diretor, porém, nesses anos como futura caçadora, eu passei por momentos extremamente desconfortáveis. – Por que vocês não vão embora? – pergunto. – Deixem que eu cuido disso. – nesse momento, tudo o que eu desejava era estar com o pó de amnésia que consegui com outro dia no submundo.
- O que podemos fazer? – pergunta prestativo.
- Você irá ficar comigo. – encaro . – , leve Eleanor embora. – aceno com a cabeça para ele ir.
- Como posso confiar em deixar você sozinha com meu melhor amigo? – ele pergunta.
- Porque somos vizinhos? – aponto de para mim e vice versa.
- Não sei se consigo deixar com você. – balança a cabeça.
- Veja bem. – coloco meu dedo indicador na testa. – Se eu quisesse fazer algum mal para qualquer um que estivesse aqui nessa sala, você acha que eu não teria feito antes? – eu tinha que manter minha pose mais ereta e confiante.
- E como você faria mal para mim? – pergunta.
- Eu sei que você é um lobo, e que a prata, assim como acônito, é um dos seus pontos fracos – tinha demorado mais do que o normal para descobrir isso.
- E você é o quê? – ele pergunta.
- Sou uma caçadora. – tento ser o mais transparente possível. – Saber sobre essas coisas é meu dever. – sorrio.
- Isso quer dizer... – o interrompo.
- Não se meta nos meus negócios, e assim eu não irei me meter nos seus. – pisco um olho para ele.
- O que você precisa que eu faça? – ele resolve mudar de assunto.
- Chegue perto do corpo e fareje bem, enquanto isso eu irei ligar para os meus pais. – essa parte burocrática era o que eu mais detestava, por isso pedi que meus pais viessem e resolvesse essa situação o quanto antes. Eu não era egoísta como meus pais, claro que eu tinha consciência de que se eles tivessem descoberto algo, não iriam me contar, porém, para ser sincera, eu não tinha as ferramentas necessárias para mover o corpo e muito menos descobrir quem tinha feito isso com ele.
- A propósito, seu amigo sabe o que você é? – sussurro quando estou ao seu lado, não tinha aguentado ver o corpo ensanguentado no chão, assim como Eleanor e ambos acabaram deixando e eu sozinhos.
- Ele estava comigo quando isso aconteceu. – balanço minha cabeça em sinal de compreensão.
- Olha... – para de farejar de repente. – Não sinto nenhum cheiro diferente. – ele me explica.
- Ok. – solto um suspiro e analiso o corpo sem vida na minha frente. Ele tinha sido mutilado, e seu coração arrancado. Eu não conseguia imaginar quem poderia ter feito isso, porém, a julgar pelas marcas profundas, a pessoa tinha garras afiadas e um senso muito delicado por partes de corpo. Eu sabia que meus pais teriam uma avaliação mais detalhada sobre isso, porém faço minhas anotações e bato algumas fotos de como o escritório do diretor estava para que eu pudesse analisar mais tarde.
- Seus pais estão vindo? – me pergunta assim que checo meu celular.
- Sim. – balanço minha cabeça. – Eles são os únicos que podem limpar essa bagunça. – dou um meio sorriso.
- Então eles são caçadores? – me pergunta.
- Sim. – confirmo sua pergunta. – Mas diferente de mim, se você continuar aqui, não garanto que irá sair com vida. – informo.
- O que você sugere? – o garoto continua me fazendo perguntas.
- Sugiro que vocês tirem Eleanor daqui e sumam, assim meus pais não irão saber que estiveram aqui. – claro que eu teria que limpar muitas coisas para que meus pais não soubessem da presença deles aqui, porém era algo que jamais falaria para .
- Isso é tudo muito estranho. – observo caminhado de um lado para o outro. – Eleanor acabou de encontrar um corpo, e muitas pessoas têm morrido. – ele continua compartilhando seus pensamentos comigo.
- E deixa-me adivinhar, você acha que ela tem algo haver com isso? – pergunto para ele.
- Não que eu ache que isso realmente possa ser verdade, mas é tudo muito estranho. – me responde.
- E o que você sugere? – pergunto.
- Você pode ficar de olho nela? – ele me pede.
- Não tenho tempo para isso. – suspiro, realmente desejando ter o pó da amnésia comigo nesse momento, mesmo que ele não fosse fazer o efeito desejado em , pelo menos me poupava a dor de cabeça com os dois que estavam fora dessa sala.
- Por favor? – ele continua insistindo.
- Se você continuar desse jeito, irei achar que o verdadeiro culpado é você. – cruzo meus braços.
- Juro que não sou eu. – me encara.
- Ok. – concordo com ele, apenas por achar que talvez Eleanor soubesse muito mais do que falava também. – Agora acho melhor você ir. – o pego pelo braço e carrego para fora da sala.
- Então? – Eleanor e estavam sentados no chão.
- Vocês devem ir embora com e não falar sobre isso com ninguém. – semicerro meus olhos, principalmente para Eleanor, já que aparentemente guardava o segredo do seu melhor amigo muito bem.
- Sério? – parecia animado por sair daqui. – E você? Irá ficar? – ele me pergunta.
- Sim. – balanço minha cabeça e tiro a faca do meu bolso. – Estarei protegida, não se preocupe. – pisco para ele.
- Você tinha isso o tempo todo? – ele parecia um pouco vidrado e um pouco mais afastado de mim.
- Sempre mantenho minhas armas comigo. – eu não queria ter que entrar em detalhes com eles. – Agora vá. – aponto para as escadas e encaro . – Se certifique que eles não falem nada. – minha voz soa um pouco mais séria.
- Ainda acredito que devemos chamar a polícia. – Eleanor se pronuncia pela primeira vez depois do seu choque.
- Não vamos envolver a polícia por enquanto, prometo para você que assim que eu terminar, a polícia será chamada. – explico calmamente. – Porém, acredito que você não irá querer explicar os motivos de estar aqui esse horário, não é mesmo? – tento ser persuasiva.
- Você tem razão. – a garota parecia ponderar sobre suas palavras.
- Vá com os meninos, eles irão deixar você em casa em segurança. – novamente encaro que confirma.
- . – se aproxima de mim. – Você irá ficar bem? – solto uma risada com a sua preocupação.
- Apenas vá. – o empurro levemente para que ele seguisse seus passos.
- Vamos. – finalmente parecia apto a fazer seu trabalho. – Amanhã iremos conversar, . – aceno com a mão para que ele se apresse.
Assim que eles se afastam, eu volto a entrar na sala do diretor e passo a analisar cada detalhe do local, procurando por algo que talvez eu tenha deixado passar. Eu não tinha começado minhas pesquisas sobre as mortes que estavam acontecendo nessa cidade, porém tinha certeza de que esse não foi um caso isolado. O corpo do diretor realmente estava em um estado deplorável, e para ser sincera, a julgar pela aparência, fazia algum tempo desde que ele estava morto, o que deixa Eleanor como a principal suspeita do assassinato, porém o choque em seu rosto quando a encontrei na sala era real, ou ela era uma boa atriz, afinal.
Depois de fazer uma breve avaliação e estudar os detalhes do local, limpo todas as pegadas de , afinal, a primeira pessoa que eles iriam atrás seria ele, apenas pelo fato dele ser um lobo, e meus pais iriam acabar associando a morte do diretor com o fato dele estar na escola no momento do assassinato, porém, ao encarar , eu tinha certeza de que ele não era o verdadeiro assassino, pois seus olhos estavam em uma cor de âmbar praticamente puxado para uma cor de dourado puro, e geralmente quando lobos cometiam assassinatos, seus olhos mudam para uma cor de vermelho sangue.
Capítulo Três
Aproveito o máximo de tempo que tenho antes dos meus pais chegarem ao local, e encaro um pouco mais o corpo, era estranho como a trilha de sangue seguia pelo escritório, respingado por alguns móveis do local. A pessoa que tinha feito isso não se preocupou em deixar o ambiente limpo, pelo contrário, parecia que deixá-lo desse jeito era seu plano, ou quem fez isso era um iniciante, não sei ao certo. As marcas no corpo do diretor também me deixaram intrigada, pois eram marcas de garras, e completamente profundas, mas não eram as marcas de garras que me chamaram a atenção, e sim o corte irregular que ia até o seu coração.
- . – meus pais, assim como eu, tinham sido treinados para serem fantasmas, por isso não escuto eles entrando, um grande erro meu, pois ao me perder nos pensamentos, deixei minha guarda baixa.
- Olá. – com um suspiro me levanto da onde estava agachada e encaro meus pais. – Não mereço parabéns? – pergunto ao apontar para o corpo.
- Isso foi apenas uma coincidência. – minha mãe se aproxima do corpo. – Por acaso você não afetou a cena do crime, certo? – ela olha para mim em busca de afirmação e eu reviro meus olhos.
- Vá em frente, a cena está a mesma desde que cheguei. – eu não precisava especificar para minha mãe que havia outras pessoas aqui.
- Quem poderia fazer isso? – observo minha mãe e meu pai se agacharem próximos ao corpo.
- Talvez seja algo que nós não conhecemos. – eu tinha estudado todo o ambiente e tentei puxar na minha mente alguma coisa que poderia ter causado isso, mas nada que eu tentasse encaixar caia no conceito que tínhamos na nossa frente. Não. Essa morte tinha sido diferente de tudo o que eu tinha visto na minha vida e olha que tive uma boa cota de pessoas mortas por causas sobrenaturais, e nenhuma delas tinha sido desse jeito.
- Isso é impossível. – minha mãe parecia descrente com a minha sugestão.
- Ok. – solto um suspiro. – Irei deixar esse trabalho para vocês. – meus pais não prestam atenção em mim. – Estou indo embora. – comunico.
- Apenas vá. – meu pai acena com a mão para eu seguir em frente e bufo.
Me sinto um pouco irritada com a ignorância dos meus pais, porém eu sabia que jamais receberia um convite dos dois para que ficasse naquele local, mesmo que a pessoa que achou o corpo fosse eu. Com um suspiro eu volto a caminhar para onde deixei meu carro, pensando em mil e uma teorias para o que eu tinha visto hoje, porém nada que eu puxasse na mente me levava para uma cena de crime como aquela.
- Mesmo você sendo uma caçadora, andar sozinha por aqui é perigoso. – solto uma risada, pois apesar de estar um pouco pensativa, eu tinha visto tentar se aproximar de forma silenciosa.
- Tem certeza que eu sou o perigo por aqui? – me viro rapidamente e desvio de , porém seguro seu braço no processo e o derrubo.
- Como? – sorrio ao ver o choque em seu rosto, afinal, lobos tem uma força descomunal, e geralmente não eram fáceis de ser derrubados.
- Como você mesmo falou, eu sou uma caçadora. – ajudo a se levantar do chão. – O que trás você até aqui? – caminho lentamente para o meu carro e me segue.
- Descobriu o que causou a morte do diretor? – reviro meus olhos.
- Apesar de eu ser uma caçadora. – paro no meio do caminho para encara-lo. – Eu não virei vidente. – explico. – E para ser bem sincera, não tenho ideia de quem possa ter feito aquilo. – aponto para trás, me referindo à escola e consequentemente o corpo do diretor.
- Por que você age de forma tão fria? – parecia um pouco inquieto com a minha atitude.
- Aprendi a nunca me envolver emocionalmente nos meus casos, então a morte do diretor não me afeta diretamente. – dou de ombros e destravo o carro.
- Isso é terrível. – faz questão de bloquear minha porta para que eu não pudesse entrar.
- Ossos do ofício. – cruzo meus braços e espero que ele saia da frente. – Preciso ir para casa, você vai ficar muito tempo ai? – pergunto.
- O que eu irei fazer com Eleanor? – fecho meus olhos ao me lembrar de que a garota estava mais cedo na escola.
- O que vocês falaram para ela? – pergunto.
- Nada. – bato na minha testa, com tamanha ignorância.
- E vocês esperam que a garota irá ficar em casa, tranquila, depois de ver um corpo completamente mutilado? – irritada eu emburro para sair da frente do meu carro.
- Aonde você vai? – ele me acompanha.
- Onde você acha? – sinalizo para que ele entre no carro. – Aonde a garota mora? – pergunto.
- Eu instruo você. – gesticula para eu dar partida no carro.
***
Eu estava tão irritada, irritada por ter confiado que ao menos fosse fazer algo certo, não que eu o conhecesse para confiar nele, porém tinha que ser o primeiro a querer que nenhum humano soubesse sobre o submundo, e o que ele faz? Ele apenas deixa uma testemunha livre para chamar a polícia. Droga. Eu realmente precisava de um pó da amnésia, então no meio do caminho eu faço algo que não queria fazer no momento, mando uma mensagem desesperada para , onde nela eu falo que o mundo dele depende disso. Claro que esse era o tipo de mensagem que deveria ser enviada para , pois o mesmo tinha deixado claro da última vez que não me daria nenhum pó da amnésia, tudo porque eu o usava repetidas vezes e para o processo de preparo era longo e cansativo.
- O que você irá fazer? – paro o carro na frente da casa de Eleanor.
- Vá até lá. – aponto para a porta.
- Por que eu? – aponta para si.
- Acredito que não devo explicar o motivo. – semicerro meus olhos.
- Não pense que você pode mandar em mim. – ele bufa, porém abre a porta.
- Talvez a sua pele de lobo fique bonita na minha sala. – o provoco.
Não que eu fosse fazer isso realmente.
- Você chegou hoje na cidade, e olha o que acontece. – se apoia na janela do meu carro e continua falando.
- Como se isso não estivesse acontecendo há muito tempo. – finjo soltar um bocejo. – Vá logo. – inclino minha cabeça para o lado e acaba me mostrando o dedo do meio antes de sair.
Assim que ele passa a caminhar até a porta de Eleanor, eu mando novamente uma mensagem para , o pó da amnésia era mais do que necessário no momento, pois eu precisava ter as memórias dessa noite apagadas da mente de Eleanor, para que a mesma não causasse mais confusões.
Como não me respondia, decido sair do meu carro e ir até a casa dela, apenas para saber como a garota estava, pois eu não gostava de deixar pontas soltas, e me culpava muito por nessa noite deixar isso acontecer, um erro de iniciante, sendo que eu não sou iniciante.
- Ela não abriu a porta ainda? – paro atrás de e ele dá um pulo. – Não precisa se assustar. – solto uma risada e bato em suas costas.
- Acho que ela não está em casa. – reviro meus olhos com sua ingenuidade.
- Vamos ser sinceros, ela deve estar em choque. – coloco minha mão na cintura. – Então acredito que ela não irá atender a campainha. – o jeito era arrombar porta mesmo, pois eu tinha certeza de que ela não iria abrir essa porta por nada.
- E o que você sugere? – me encara.
- Arrombe a porta. – gesticulo para a porta na nossa frente.
- Não posso fazer isso. – ele balança a cabeça negativamente.
- Medo? – o questiono.
- Apenas não quero causar prejuízo. – reviro meus olhos.
- Faça. – peço.
- Não. – irritada com sua atitude, tiro meu quite para poder arrombar portas para poder entrar dentro daquela casa.
- Deixa que eu faço então. – me agacho próximo ao miolo da fechadura e faço minha mágica.
- Isso é errado. – paro o que comecei a fazer e o encaro sem paciência.
- Vai ficar aqui batendo na porta calmamente enquanto ela chama a polícia? – pergunto. – Ou você se esqueceu de que era uma das pessoas que estava na escola quando encontramos o corpo? – o questiono.
- O que...? – respiro profundamente e conto até dez para manter minha paciência no controle.
- Se ela chamar a policia, nós iremos nos tornar os principais suspeitos da morte do diretor. – explico pausadamente.
- , você está brincando, certo? – era visível o medo que ele estava sentindo.
- Óbvio que não. – termino de abrir a porta. – Vá nafrente. – gesticulo para ele ir.
- Por que eu? – me pergunta.
- Porque você é um lobo. – dou uma piscadinha para ele.
Ao entrar na casa eu fico mais alerta, afinal, eu estava entrando em um ambiente completamente desconhecido, não queria ter que usar nenhuma arma, pois eu era contra, mas nesses momentos minha segurança era mais importante do que qualquer coisa.
- Como vocês conseguiram entrar aqui? – Eleanor estava sentada no sofá e coberta da cabeça aos pés.
- A gente... – começa a falar, e pressentindo que ele nos entregaria, o interfiro.
- A porta estava aberta. – aponto para o local que havíamos passado.
- Impossível. – Eleanor fala. – Tenho certeza de que a tranquei. – ela reage.
- Talvez o choque que você está a fez pensar isso. – tento convencê-la.
- Eu não sou louca. – encaro em busca de apoio.
- Ninguém falou que você é. – ele solta um suspiro. – A porta realmente estava aberta, Eleanor. – cruzo meus braços ao ver a cena se desenrolar diante dos meus olhos.
- Você chamou a policia? – decido que eu não deveria perder meu tempo com uma conversa supérflua.
- O que você acha? – ela me pergunta. – O diretor está morto. – fecho meus olhos e penso calmamente. Quais seriam as possibilidades de ter algum caçador trabalhando como policial em uma cidade como essa? Minha mãe tinha dito que Fallen Hills era um farol para os sobrenaturais, então seria normal se houvessem outros caçadores trabalhando por aqui.
- Estou preocupada. – finjo pensar um pouco e logo tenho a atenção de e Eleanor.
- Com o quê? – não estava nos meus planos ter que atuar, porém nesse momento era mais do que necessário.
- Vocês não se preocupam de nós sermos presos? – encaro os dois.
- Como assim? – a voz de Eleanor gagueja.
- Veja bem, nós estávamos reunidos na escola quando de repente você achou o corpo do diretor. – para ser bem sincera, Eleanor era uma das minhas principais suspeitas, então ao usar o pó da amnésia nela, eu poderia apagar suas memórias sobre os assassinatos; caso eles sejam interrompidos, eu teria a prova de que Eleanor era a assassina o tempo todo, o plano era meia boca, mas que parecia solucionar muitas coisas. – Então isso torna você uma das principais suspeitas de assassinato. – termino de falar calmamente e fico atenta as suas expressões.
- Talvez você esteja falando isso porque é a verdadeira assassina. – Eleanor aponta para mim.
- Foi você quem encontrou o corpo. – se pronúncia pela primeira vez. – E para ser bem sincero, esse não é o primeiro. – minha cabeça vira em direção a rapidamente.
- O que você quer dizer com isso? – o questiono.
- Esse não foi o primeiro corpo que ela achou. – ele me encara. – Ano passado, quando os casos aumentaram, tivemos toque de recolher, mas você sabe como os adolescentes são, não é mesmo? – balanço minha cabeça negativamente, afinal, minha educação tinha sido completamente diferente da dele. – Enfim, fizemos um luau próximo à cachoeira, e nisso Eleanor acabou sumindo por um tempo. – o tom de acusação era bem visível.
- Eu não matei ninguém. – Eleanor coloca as mãos sobre seus ouvidos, como se escutar as palavras de fossem doloridas demais.
- Prove. – parecia aborrecido.
- Não tenho como provar agora, não depois de vocês me encontrarem na escola, mas eu dou a minha palavra de que não sou em quem está matando essas pessoas. – ela me encara.
- Eu não tenho nada haver com isso. – ergo minhas mãos para cima. – Cheguei ontem. – eu não queria parecer à pessoa má da história, porém apesar de falar para ela que não tinha nada haver com suas desculpas, eu entendia perfeitamente o posicionamento de sobre as outras mortes.
- A polícia precisa achar o corpo. – cruzo meus braços e a encaro.
- E eles irão. – não é como se fossemos deixar o corpo do diretor na escola, esperando ser achado por alguém no dia seguinte.
- Como? – Eleanor me pergunta.
- Isso já não tem nada haver com você. – sorrio.
- Você acha que sou louca? – a garota pergunta de repente.
- Por que eu acharia isso? – ergo minha sobrancelha e olho para .
- Deve ser porque sou a única a surtar aqui? – ela pergunta.
- Eleanor... – começo a caminhar até o sofá. – Existem coisas que você não precisava ver. – suspiro.
- Tipo? – seus questionamentos começam a me irritar.
- Esqueça. – gesticulo com a mão. – O que eu preciso saber é quando e como você ligou para a polícia. – meu maior interesse em vir até aqui era saber quando ela tinha feito à ligação, pois dependendo de sua resposta, eu precisaria agir rápido.
- Eu liguei assim que eles saíram daqui. – ela aponta para que estava parado no meio da sala.
- Droga. – murmuro.
- O que você falou? – Eleanor me pergunta.
- Nada demais. – sorrio para ela. – Então... O que eles falaram para você? – a necessidade de saber era maior do que minha preocupação com meus pais, afinal, eles sabiam se virar.
- Eles iriam verificar a escola. – Eleanor se envolve ainda mais na coberta.
- Sua denúncia foi anônima? – pergunto.
- É claro. – ela parecia um pouco exaltada com a minha pergunta.
- Mesmo que sua denúncia seja anônima, eles ainda podem rastrear seu número e vir até aqui. – explico.
- Isso não é possível. – Eleanor balança a cabeça negativamente.
- Claro que é. – se aproxima da gente. – Você é idiota? – ele pergunta. – Não devia ter se metido nisso. – suspiro, era compreensivo a irritabilidade de , porém ele tinha sido um dos maiores irresponsáveis da noite, com uma parcela de culpa minha. Claro.
- Não me chame assim. – Eleanor se levanta do sofá de repente.
- Que bagunça é essa? – fecho meus olhos, aliviada por ouvir uma voz conhecida finalmente.
- O que... – pelo canto dos olhos eu vejo correndo até onde tinha aparecido. – Quem é você?
- Meu amigo. – me aproximo de com um sorriso no rosto. – Você veio. – me sinto aliviada.
- Depois da sua mensagem? Claro que eu viria. – me abraça. – Um lobo? – ele começa a rir. – Você está se afundando cada vez mais no submundo. – me solta. – Sou , e você? – ele pergunta para que se mantinha em posição de ataque.
- . – ele fala entre dentes, e era visível que estava se controlando para não ocorrer uma transformação e eu fico um pouco hipnotizada com seu controle excepcional.
- Relaxe. – eu ia me aproximar do garoto, porém me segura.
- Não acho seguro você ir até ele nesse momento. – o mesmo sussurra nos meus ouvidos.
- Ok. – fico ao seu lado. – Você trouxe? – pergunto ao olhar para Eleanor em choque.
- Claro. – me entrega um frasquinho.
- Obrigada. – praticamente corro em direção à garota. – Ei. – estralo meus dedos para chamar sua atenção.
- O que está acontecendo aqui? – ela me pergunta.
- Você quer mesmo saber? – como eu iria apagar a memória dela, não tinha o porquê de não acabar com esse sentimento de perturbação.
- Espera ai. – corre em minha direção. – O que você irá falar?
- O que você vai me falar? – Eleanor me pergunta desconfiada.
- Você acabou de se envolver com o submundo. – não queria provocar a garota, ou causar algum desconforto nela, porém, apesar de usarmos o pó da amnésia para apagar as memórias desejadas, não podemos mudar nosso subconsciente, por isso era importante ela ter o fechamento necessário das suas dúvidas.
- Essas coisas não existem. – ouço soltar uma risada e dou um olhar de aviso para ele.
- Desculpe. – imediatamente ele se retrata.
- Como eu ia falando antes de ser interrompida. – volto meu olhar para Eleanor. – Não só existe, como temos um lobo e um bruxo nessa sala. – explico.
- Claro, e você vai me falar que vampiros existem. – coço minha cabeça e prendo uma risada.
- Na realidade, sim. – fecho meus olhos. – Esse mundo é bem real. – eu não precisava entrar em detalhes, mas tinha que falar o necessário para que ela não buscasse por respostas depois.
- Vocês acham que sou louca. – ela balança a cabeça.
- Se você não acredita, como acha que cheguei até aqui? – caminha perfeitamente até nós. – Eu sou um bruxo. – o garoto não tinha problemas em revelar sua identidade para ninguém, na realidade, isso sempre nos colocou em algumas situações complicadas.
- O que eles estão falando é verdade. – fala. – Mas o que eu não entendo, é que se vocês irão fazer o que estão prestes a fazer, por que ficam falando essas coisas para ela? – ele parecia um pouco furioso.
- Quando eu tiver um tempo sobrando, irei contar. – pisco para ele. – Eleanor, eu preciso que você olhe atentamente para mim. – pego o pequeno frasco do meu bolso e tiro a tampa.
- O que você irá fazer? – ela me pergunta.
- Irei acabar com seu tormento. – inclino minha cabeça para o lado e encaro suas feições. – Não precisa sentir medo. – tento passar uma maior confiança para ela.
- Faça logo, . – pede.
- Ok. – pego o lenço que me oferece e coloco sobre o meu nariz. – Derrame para mim. – peço para ele.
- Aqui. – ele coloca um pouco de pó na minha mão. – Tome cuidado. – me pede.
- Pode deixar. – sorrio docemente para ele. – Preste atenção em mim. – chamo Eleanor. – Você irá se esquecer dessa noite para sempre, isso jamais aconteceu, você esteve a noite toda em casa assistindo um seriado e ficará completamente chocada ao receber uma noticia amanhã de manhã. – assopro o pó no rosto da garota. – Agora durma. – imediatamente ela fecha seus olhos e antes que ela pudesse cair, a segura.
- É isso? – ele me pergunta. – Ela não vai se lembrar de nada? – balanço minha cabeça negativamente.
- Não. – respondo. – Nada sobre essa noite ou qualquer outra coisa relacionada aos assassinatos. – dou de ombros.
- Como assim? – coloca a garota delicadamente no sofá.
- Se ela for a assassina, tudo está acabado. – sorrio.
- Foi por isso que você veio até aqui. – aponta para mim.
- Vai me falar que em nenhum momento passou pela sua cabeça que poderia ser ela, ou seu melhor amigo? – pensando bem, também poderia ser um suspeito, e estava o acobertando.
- é meio avoado, mas nunca faria mal a ninguém. – como esperado, o defende.
- Vamos deixar as coisas do jeito que estão por agora, mas eu estarei de olho em vocês. – sorrio. – Podemos ir? – olho para .
- Para onde? – ele me pergunta.
- Que tal uma volta pelo submundo? – peço esperançosamente.
- Não. – fala.
- Por quê? – faço um beicinho.
- Depois do que aconteceu com o , você está proibida de entrar lá por um tempo. – reviro meus olhos.
- Ele saiu ileso. – reviro meus olhos, indignada.
- Sua avó tacou o terror em muita gente. – bufo. Aquela mulher era relutante em aceitar minhas opiniões.
- Como ele está? – pergunto.
- Ele se isolou. – suspiro.
- Tenho certeza de que em breve irei vê-lo novamente. – falo com convicção.
- Quem é ? – nos interrompe.
- Meu amigo. – não presto muito atenção nele.
- Você deveria falar que ele é o seu amigo vampiro. – sorri quando pega a expressão fácil de . – Não achou que você era único no mundo, não é mesmo? – ele pergunta.
- Não, porém não fazia ideia de que outros existiam. – solto uma risada com a sua ingenuidade.
- Isso não é nada. – abano as mãos.
- O que você quer dizer com isso? – me pergunta.
- Em breve você saberá. – sorrio, não por sentir o medo dele de longe, mas simplesmente pelo fato dele não saber nada sobre seu mundo.
Capítulo Quatro
Depois de apagar Eleanor com o pó da amnésia, me despeço de , me sentindo um pouco triste por isso; além de , ele era uma das pessoas mais próximas que eu tinha no submundo.
Após minha despedida, e eu caminhamos para o meu carro, na realidade, ele parecia mais quieto do que o normal, não que eu conhecesse o suficiente sobre ele para saber se ele era uma pessoa falante ou não, porém quando estávamos indo para casa de Eleanor, ele não parou de falar por um segundo.
- Por que continua me seguindo? – destravo meu carro, porém não entro.
- Preciso de uma carona. – reviro meus olhos.
- Você é um lobo, corra, seja livre. – aceno para ele ir embora de uma vez.
- Não posso fazer isso aqui. – parecia sem jeito.
- Que belo idiota você é. – reviro meus olhos. – Você pode correr livremente por ai e tem a audácia de me falar que não pode? – pergunto.
- É um pouco complicado. – bato na minha testa, era inacreditável as palavras que saiam da boca dele.
- Ok. – respiro. – Entre. – minha voz soa um pouco irritada.
- Obrigado. – da à volta pelo meu carro entra pela porta do passageiro.
Deixo que me guie até a sua casa, e fico surpresa por ver que ele não morava tão longe assim da minha própria casa. Eu sabia que era meu vizinho, afinal, mais cedo ele tinha me atormentado para dar carona e ficou falando que éramos vizinhos o tempo todo, mas como ele estava sozinho, eu supus que morava em outro local.
- Saia! – digo assim que paro meu carro na frente da sua casa.
- Antes de eu ir, tenho uma pergunta. – bato com a minha cabeça no volante.
- Apenas fale, antes que eu perca minha paciência. – me viro para encara-lo e dou um sorriso cínico para ele.
- O que acontece agora? – suspiro.
- O que você quer dizer com isso? – pergunto.
- Vocês irão achar quem está fazendo isso caso não seja Eleanor? – fico pensativa, eu sabia que meus pais não iriam descansar até matar quem está fazendo isso, então a resposta era positiva.
- Tenho certeza de que meus pais irão fazer o possível. – aceno para ele sair do carro.
- E você não irá se envolver? – pergunta de repente.
- Por que você quer saber? – pergunto.
- Porque eu quero ajudar. – fecho meus olhos e penso um pouco. Eu não podia envolver mais pessoas nos assuntos da Ordem, mesmo que eu não fizesse mais parte dela, acredito que envolver só iria trazer dor e sofrimento para ele e sua família.
- Talvez não seja uma boa ideia você se meter nisso. – falo calmamente.
- E por que não? – parecia que seria impossível faze-lo mudar de ideia.
- Tem noção de que no final você pode acabar morto? – uso palavras sinceras para abrir seus olhos.
- Não me importo de morrer, se no fim eu conseguir matar quem fez isso. – suspiro.
- Olha... – paro por um momento. – Existem outras coisas que deveriam preocupar você. – tento convencê-lo.
- Não. – balanço minha cabeça.
- Você é teimoso. – faço uma careta.
- Eu quero proteger minha cidade, minha família e meus amigos. – passo minha mão no rosto repetidas vezes antes de encara-lo.
- Ok. – eu sabia que no fundo eu iria me arrepender de deixar se envolver nisso, porém ao ver sua insistência no assunto, ele em algum momento iria acabar sendo imprudente.
- Sério? – ele me pergunta, um pouco descrente.
- Dou a minha palavra, agora saia. – mando.
- Tudo bem. – sorri para mim. – Vejo você amanhã na escola. – ele abre a porta do meu carro e sai imediatamente.
- Amanhã não teremos aula. – reviro meus olhos.
- Oh, certo. – ele parecia por um momento ter esquecido da morte do diretor.
- Mas esteja pronto cedo, irei levar você em um lugar. – suspiro.
- Aonde? – me encara.
- Você verá. – aceno com a cabeça para ele fechar a porta. – Até amanhã. – falo enquanto dou partida.
Felizmente o trajeto até a minha casa não é demorado, porém quando paro meu carro dou de cara com o carro dos meus pais já estacionado na frente de casa e tento pensar nas melhores desculpas para dar a eles, afinal, os dois tinham me mandado direto para casa. Sem escolha, eu saio do carro, até porque eu não poderia dormir dentro do carro por medo dos meus pais.
- . – abro a porta devagar, mas quando vejo que meus pais estavam sentados no sofá apenas me esperando, não me importo de bater a porta com força.
- Olá. – aceno para eles com um sorriso no rosto.
- O que eu falei para você mais cedo? – minha mãe estava calma.
- Depende, você falou muitas coisas. – mantenho uma distância segura dela.
- Não brinque com o meu humor. – minha mão solta um suspiro audível. – Onde você esteve até agora? – ela me pergunta.
- Resolvendo algumas coisas? – coloco minha mão no bolso da calça.
- . – meu pai não parecia estar de bom humor também.
- Tinha mais alguém com você na cena do crime? – ele me pergunta.
- Já cuidei disso. – era quase certo de que a polícia tivesse ido até a escola enquanto meus pais estavam investigando.
- E o que você fez? – minha mãe parecia curiosa para saber.
- Diferente de vocês, eu trabalho de outro jeito. – continuo parada entre o corredor, a escada e a sala de estar.
- Não teste minha paciência. – o copo que estava ao lado da minha mãe é jogado no chão.
- Não estou testando sua paciência. – a encaro. – Apenas estou falando que meu trabalho é diferente do seu. – cada dia que se passava eu conseguia ver mais semelhanças entre minha mãe e minha avó.
- Se envolver com o submundo não é algo que você deveria fazer. – ela me encara séria.
- Você se envolveu, a fruta não cai muito longe do pé. – sorrio.
- Seu pai não faz parte desse mundo. – reviro meus olhos.
- Sua mãe tem razão. – meu pai se pronuncia.
- Negando suas próprias raízes, que decepção. – eu não queria ter um relacionamento ruim com meus pais, porém não tinha sido minha escolha, até porque foram eles que me afastaram de tudo o que eu conhecia apenas para ter uma filha caçadora.
- ... – meu pai me repreende.
- Por que vocês não me dão uma folga? – pergunto.
- Porque você fez merda. – minha mãe se levanta do sofá. – Dê graças a Deus que temos caçadores infiltrados na polícia, ou senão teríamos que ter uma conversa bem séria. – ela estava irritada, por isso dou um passo para trás.
- Eu não fiz nada. – tiro as mãos do meu bolso e cruzo os braços. – Talvez vocês não tivessem tido nem tempo de dar uma boa olhada no corpo se não fosse por mim. – sorrio para ela.
- O que você quer? Um elogio? – mamãe me pergunta. – Porque não é isso que você irá receber essa noite. – reviro meus olhos.
- Eu cresci sem receber nenhum elogio. – explico. – Então não preciso de você passando a mão na minha cabeça.
- Cuidado com o que fala. – minha mãe me encurrala na parede.
- O que você irá fazer? – tento não baixar a cabeça mediante a situação que me encontrava.
- Vamos parar. – meu pai decide intervir.
- Pat. – minha mãe encara meu pai.
- Vou me retirar. – nem tento esconder o sorriso nos meus lábios.
- Não sorria muito, . – minha mãe avisa. – Você pode perder tudo. – paro no meio do caminho.
- Eu perdi boa parte da minha vida trancada dentro de uma escola para caçadores, perdi muita coisa, então não venha com ameaças vazias. – subo as escadas rapidamente e ao entrar no meu quarto bato a porta atrás de mim.
Fecho meus olhos e tento reprimir a frustração que estava sentindo. Queria poder berrar por todos os cantos da casa e falar o quanto sou prejudicada pelos meus pais, porém eu me repreendo e me lembro de tudo que aprendi na academia, manter a calma era o passo essencial para eu não perder minha mente.
***
Acordo na manhã seguinte mais disposta, apesar da minha mãe ter passado dos limites na noite passada, eu não deixaria que essa situação me afetasse e muito menos saísse do controle. Eu precisava de respostas, respostas essas que não teria livremente dos meus pais, então eu iria atrás das únicas pessoas dispostas a me ajudar enquanto eu estivesse nessa cidade. Meus avós.
Quando falei mais cedo sobre meu pai, e sobre ele vir de uma família de lobos, eu não tinha contado tudo. Minha família paterna era um tanto quanto peculiar, meu avô era um lobo de nascença assim como teoricamente seus filhos deveriam ser, digo teoricamente, pois meu pai não era um lobo e não tinha nenhum poder. Já minha avó tinha uma origem um tanto quanto sombria, e quando digo sombria, falo pelo fato de ela ter relações com uma Banshee. Sim. Segundo a lenda, Banshee são mensageiras da morte, antigamente elas serviam para as grandes famílias da Irlanda, e cada uma tinha ligação com a família que servia, porém os tempos mudaram, as famílias se espalharam e as Banshee estão por ai, minha avó ter ligação com uma não é surpresa alguma, ainda mais quando ela tinha descendência irlandesa.
- Olá. – paro meu carro na frente da casa de e o espero.
- Aqui. – encaro o copo que me entrega. – É café. – ele revira os olhos e me entrega.
- Por que você está me dando café uma hora dessas? – na noite anterior eu tinha pegado no número de , apenas para poder entrar em contato com ele nessa manhã. Então assim que tive a confirmação de que não teríamos aula, mandei uma mensagem para ele informando que iriamos sair e que era para o mesmo estar me esperando na frente de sua casa.
- Porque não tenho ideia para onde iremos. – inclino minha cabeça para trás, apoiando ela no banco.
- Não irei fazer nada com você, só ajudá-lo. – bufo.
- Então, sobre isso... – parecia querer me falar alguma coisa.
- Desembucha. – estralo meus dedos.
- Podemos buscar ? – ele parecia estar com um pouco de medo no momento.
- Você falou para o seu amigo que iria ajudar? – era inacreditável como estava envolvendo outras pessoas nessa história.
- Ele tem me ajudado desde que me transformei em lobo, jamais o deixaria para trás. – fecho meus olhos com força.
- Você é tão ingênuo. – ligo o carro imediatamente e dou a volta para ir até a minha casa. – Como você faz uma coisa dessas e nem me pergunta? – continuo falando.
- Desculpe. – tomo um gole de café e quase me engasgo.
- Droga. – xingo quando vejo que eu tinha sujado minha roupa.
- não é ruim, ele é uma boa pessoa. – tento abstrair suas palavras, mas era difícil no momento.
- Sim. – balanço minha cabeça. – E ele é humano.
- Assim como você. – fala.
- Fui treinada a vida toda para ser uma caçadora. – explico.
- Entendo. – ele fica quieto.
- Droga. – xingo novamente. – Por que você tem que complicar as coisas para mim? – assim que entro na minha rua, xingo mais um pouco. estava parado na frente da sua casa, completamente empolgado.
- Olá. – coloca a cabeça para dentro do carro. – Esperei você sair de casa e fiquei chateado por ter visto que você tinha ido há um tempo. – reviro meus olhos.
- Entre no carro. – eu não queria que meus pais me vissem nessa rua até o final da tarde.
- Tudo bem. – ele se apressa em fazer o que peço. – Para onde iremos? – era a primeira pessoa a me perguntar isso.
- Iremos visitar minha avó. – dou partida no carro novamente.
- E por que iriamos visitar sua avó? – me pergunta.
- Porque eles irão saber conversar com você. – solto um suspiro. – , você dormiu bem na noite passada? – eu estava quase que me arrependendo por não ter apagado as memorias de e implorado para fazer um feitiço para apagar a mente de . Sim. O pó da amnésia só funcionava em humanos, pois a nossa mente funcionava diferente, já com um ser sobrenatural, era obrigatório o uso de feitiços.
- Apesar de ter ficado com medo na noite passada, eu consegui lidar bem com o sentimento de aflição. – reviro meus olhos, pois eu podia sentir a mentira sendo destilada de sua boca.
- Pelo que me lembro, você tem um grito bem agudo e afinado. – o encaro pelo retrovisor. – Quem sabe você deveria se tornar cantor. – solto uma risada ao ver sua expressão.
- Porque estamos nos envolvendo com ela, ? – fico um pouco confusa pela maneira que chama , mas não falo nado.
- Talvez seja porque ela aparenta ser mais experiente. – um sorriso se forma nos meus lábios.
- Obrigada. – viro meu rosto rapidamente e pisco para . – Realmente sou muito experiente. – sorrio.
O caminho para a casa da minha avó não era muito longe, típico de cidade pequena, porém sua casa diferente das outras, ficava perto de uma entrada para a floresta, ou seja, o que para algumas pessoas parecia ser assustador, para os meus avós era maravilhoso e automaticamente sorrio com as lembranças que tomam conta da minha mente. Quando eu era mais nova e meus pais ainda permitiam que eu ficasse com meus avós, nesse caso, quando eu não sabia nada sobre meus pais serem caçadores, ou que meu avô e tio eram lobos, eu passava boa parte do meu tempo brincando com meu primo na floresta, era engraçado ver que desde que eu era criança podia ter um senso de direção afiado. Foi só quando fiquei mais velha que meus pais falaram que eram caçadores, que lobos e vampiros existiam e que estávamos nos mudando, sempre temi que minha família paterna achasse que eu era igual aos meus pais e que estava dando as costas para eles, porém desde que entrei na academia fiz o possível para que eles não pensassem nisso.
- É aquela casa. – aponto para a casa dos meus avós para que os meninos pudessem vê-la.
- Nossa. – os dois pareciam surpresos com o que viram. – Esse lugar é incrível. – comenta.
- Claro que sim, meus avós gostam de caçar. – resolvo brincar com eles.
- Seus avós costumam caçar o quê? – pergunta sem jeito.
- O que você acha? – ergo minha sobrancelha para ele.
- Pare com isso, . – se pronuncia para defender seu amigo.
- Você me pede isso agora, mas logo estará me implorando para acabar com seu amigo antes de ele morder ou tentar comer você. – dou de ombros e saio do carro. – Vocês esperam aqui por um minuto. – digo. – Minha avó não gosta de muitas pessoas ao redor dela, então entrarei primeiro. – inclino minha cabeça para trás para saber se os meninos realmente tinham entendido o que eu pedi.
- Tudo bem. – responde meio sem graça, e sorrio para eles enquanto fecho a porta do carro.
Caminho lentamente para perto da casa dos meus avós, e tenho certeza de que os dois sabiam que alguém tinha chego ao local, pois sua casa era a única por aqui. Enquanto caminho, repasso tudo o que tenho para falar, e até mesmo as coisas que não eram de estrema importância no momento. Eu realmente queria compartilhar muitas coisas com ela.
- Veja se não é a minha neta. – minha avó abre a porta no momento em que eu iria bater.
- Olá vovó. – digo um pouco sem graça, eu não via minha avó há muito tempo, eu podia contar nos dedos quantas vezes eu tinha visto ela nos últimos anos.
- Soube que vocês se mudaram recentemente para cá. – minha avó continua para na porta, com os braços cruzados. – Esperei você vir me visitar.
- Eu não me mudei com eles imediatamente, na realidade, só estou aqui porque fui expulsa da academia. – explico.
- Soube sobre isso também, as noticias correm soltas no submundo. – ela solta uma pequena risada.
- Infelizmente estou proibida de entrar lá por um tempo. – minhas bochechas coram.
- Como ficou? – levanto minha cabeça e arregalo meus olhos, pois eu não tinha ideia de que minha avó soubesse que eu conhecia .
- Ele está bem, saiu a tempo. – a encaro, confusa. – Como você o conhece? – pergunto.
- Longa história. – minha avó abana o ar. – Fiquei sabendo sobre o diretor também. – suspiro.
- Infelizmente quando cheguei, ele já estava morto. – encaro o chão.
- Vamos conversar lá dentro, chame seus amigos. – minha avó semicerra os olhos enquanto os encara. – Eles não são caçadores. – ela parecia surpresa com sua descoberta.
- Não. – balanço minha cabeça.
- Então os chame. – ela pede e eu vou correndo até o carro.
- Vamos lá. – chamo os dois garotos que nesse momento estavam parados como estátuas em seus bancos. – O que está acontecendo? – pergunto.
- Você não irá matar a gente, não é mesmo? – pergunta.
- Se eu fosse fazer isso, não seria aqui. – reviro meus olhos e os chamo novamente.
– Vamos lá, não tem nada a temer na casa da minha avó, ela só mantém algumas armadilhas por lá, mas nada demais. – solto uma gargalhada ao notar suas caras amedrontadas. – Estou brincando. – eles não tinham nenhum senso de humor.
- Não há nenhum mal lá, certo? – dessa vez é que pergunta.
- Minha avó jamais faria mal a vocês, não ela. – falo calmamente.
- Ok. – os meninos decidem sair do carro.
- Sua avó é mesmo legal? – pergunta.
- Por que você não pergunta para mim? – eu não tinha visto minha avó se aproximando, ela, assim como eu, dominava a arte de parecer invisível quando queria, e nem a pessoa mais experiente do mundo conseguiria escuta-la se aproximar. – Vocês estão demorando demais, vamos. – ela acena com a mão e eu saio correndo, os deixando para trás.
Entrando na casa sou tomada por uma onda de energia pura, e um cheiro completamente familiar. Eu tinha sentindo muita falta de estar na casa da minha avó e poder compartilhar informações com ela.
- Não corra desse jeito. – assim que minha avó entra em casa, me repreende.
- Desculpe. – me jogo no sofá e dou um sorriso para ela.
- Então... – ela me encara. – Me conte o que está acontecendo e como vocês dois se envolveram com ela. – vovó encara e .
- A gente se encontrou sem querer na escola. – parecia um pouco envergonhado.
- E depois disso ele me seguiu feito um cachorro. – dou uma piscada para ele.
- Essas piadas não tem graça. – minha avó e falam juntos.
- Desculpa. – ergo minha mão para cima. – Muito tempo na academia. – reviro meus olhos.
- Bobinha. – minha avó se aproxima de mim e aperta minhas bochechas.
- Então, a realidade é que meus pais vieram para cá por conta dos assassinatos, e como fui expulsa da academia, tive que me mudar junto. – me ajeito no sofá. – Ontem eu estava fazendo uma investigação quando encontrei esses dois e mais uma garota na escola, a garota foi quem achou o diretor. – faço um biquinho.
- E nenhum dos dois é o culpado? – minha avó aponta para eles e solto uma risada ao ver a expressão dos meninos caírem.
- é um lobo. – aceno com a cabeça. – é um humano, ele não conseguiria matar o diretor. – solto uma risada baixa ao vê-lo resmungando.
- Há quanto tempo você é um lobo, garoto? – minha avó se volta para .
- Mais ou menos oito meses. – arregalo meus olhos com a informação.
- Você está falando sério? – me levanto num pulo.
- Por que vocês duas estão me encarando desse jeito? – ele pergunta.
- Você foi mordido, garoto? – vovó o questiona.
- Não. – recua um pouco.
- Ele não foi, eu mesma verifiquei, seus olhos são cor de âmbar, quase dourados. – explico.
- Isso é estranho. – minha avó dá a volta em .
- O que é estranho? – vovô de repente entra na sala.
- Vovô! – corro em sua direção e o abraço.
- Olá querida. – ele afaga minha cabeça. – Sobre o que vocês estão falando?
- é um lobo recém-transformado, mas não foi mordido. – solto um suspiro. – Pensei que talvez você pudesse saber de algo. – observo meu avô encarar da cabeça aos pés.
- É realmente estranho. – meu avô fica pensativo. – Geralmente os lobos se transformam aos cinco anos de idade. – balanço minha cabeça concordando. – Talvez você seja uma exceção. – solto um suspiro.
- Talvez? – se pronuncia.
- Sim, talvez. – vovô concorda. – Por que vocês dois não vêm comigo?
- Para onde iriamos? – pela primeira vez desde que chegamos, se pronuncia.
- Quero mostrar algo para vocês. – vovô sabia ser persuasivo, então os dois acabam seguindo ele.
- Então... – assim que eles passam pela porta, minha avó começa a falar. – Um lobo e um humano? O que seus pais acham sobre isso? – ela pergunta.
- Eles não sabem. – volto a me sentar no sofá.
- Esperta. – minha avó sorri.
- Sinceramente? – a encaro. – Eu só quero achar o desgraçado que estar causando toda essa bagunça. – suspiro.
- Tenho certeza de que você irá achar, e por incrível que pareça, você tem boas amigos. – reviro meus olhos.
- Eles não são meus amigos. – aponto para a porta.
- Você fala isso agora. – vovó finaliza.
Capítulo Cinco
Ao deixar a casa da minha avó com algumas respostas, sigo com e para a casa do último, já que seus pais não estariam no local. Depois da conversa com a minha avó, eu me sentia um pouco mais aliviada; não sabia ao certo ainda até aonde eu poderia confiar nesses garotos, porém minha avó garantiu que não existia nada de errado com eles.
Essa noite eu queria sair para caçar e precisava de um plano para não ter meus pais no meu pé. A escola era um lugar que ainda me deixava bastante intrigada, mas a floresta também era um local que merecia uma boa atenção, visto que muitas coisas podem se esconder por lá.
- Estou um pouco ansioso para hoje à noite. – esfrega as mãos uma nas outras e eu balanço minha cabeça negativamente.
- Não acho certo você se meter nisso. – suspiro.
- Por quê? – me pergunta.
- Não acho certo eu ter que cuidar de uma pessoa que não sabe nada. – esfrego minhas mãos no rosto.
- Eu sou esperto. – começo a rir de repente. Eu queria saber da onde saia essas ideias dele.
- Você pode morrer, . – dou um sorriso sombrio.
- Não morri até agora ao lado de . – bufo.
- Você está entrando em um terreno que nunca conheceu. – tento explicar.
- Novas experiências. – ele era teimoso demais para aceitar meu conselho.
- Ok. – dou de ombros, não adiantava eu ficar gastando saliva com uma pessoa que não iria considerar minhas palavras. – Mas lembre-se, quando você se lamentar, eu não irei livrar sua bunda de nenhuma confusão. – aviso. – E você – aponto para – melhor não me dar dor de cabeça. – suspiro.
- Eu sou um lobo, lembra? – o encaro, sem acreditar que ele falava as palavras e alto e bom som.
- Você não devia se gabar tanto. – nesse momento ele escolhe jogar uma almofada em minha direção, e se não fosse pelos meus reflexos, ele teria conseguido me atingir. – Eu tenho um bom reflexo. – ergo minha sobrancelha. – Você pode tentar me atingir várias vezes, mas não irá conseguir. – jogo a almofada em sua direção.
- Mudando de assunto agora. – se inclina um pouco para frente. – O que você irá fazer caso ache a pessoa que está fazendo tudo isso? – me pergunta, e pela primeira vez na minha vida eu não tinha uma resposta concreta para isso, afinal eu não tinha ideia de quem estava fazendo isso, muito menos sobre como lidar com essa coisa.
- Como não tenho ideia do que isso seja, eu não sei como as coisas irão prosseguir. – respondo com sinceridade.
- Então não temos noção de como acabar com isso? – ele me pergunta.
- Não. – balanço minha cabeça. – Para ser bem sincera, não sei o que nos espera, e era por isso que não queria que vocês se envolvessem nesse assunto. – mudo o tom de voz.
- É tarde demais para isso. – fala. – A gente já se envolveu demais. – ele se inclina para frente e me encara. – Vamos arrumar um jeito de acabar logo com isso. – balanço minha cabeça.
- Ok. – não era o envolvimento de que me deixava mais angustiada, e sim o de , afinal, ele não tinha nenhum conhecimento desse mundo, apenas sabia que seu melhor amigo era um lobo.
- Então... – parecia empolgado. – Que hora iremos sair? – ele pergunta olhando para mim.
- Daqui a pouco. – suspiro. – Apenas preciso que meus pais saiam de casa para eu pegar minhas coisas. – explico.
- Que coisas? – me pergunta.
- O que você acha? – pisco para ele.
- Melhor não saber. – ele gesticula.
- Isso mesmo. – faço um joinha para ele.
- Enfim, a floresta é um pouco grande, iremos nos separar? – a pior das hipóteses seria se separar.
- Vocês nunca assistiram filme de terror antes? – pergunto. – A pior coisa é fazer isso, iremos ficar juntos. – falo decidida.
- Ainda acho que seria melhor a gente se separar. – tenta argumentar.
- Não irei poder proteger ninguém se a gente estiver separado. – ergo minha sobrancelha ao tentar ganhar um ponto.
- Eu sei disso, por isso você fica com , eu irei sozinho. – suspiro.
- Ainda continuo achando uma má ideia. – cruzo meus braços.
- Pense que dessa forma podemos investigar mais rápido, e eu sou um lobo, sei me cuidar. – solto uma risada.
- Um lobo recém-transformado é igual a um bebê aprendendo a andar. – balanço minha cabeça, inconformada. – Mas se você quer isso... – abano minha mão no ar.
- É o certo a ser feito. – faço uma careta, porém não falo nada. Era mais fácil o deixar pensar dessa maneira.
Não demora muito para que deixássemos a casa de e fossemos até a minha, eu precisava pegar o máximo de suprimentos para não ter nenhuma surpresa enquanto estivesse dentro daquela floresta, afinal, ela parecia ser um pouco mais sombria ao entardecer.
Mais cedo, quando decidimos por onde iriamos começar, deixei claro que o interessante era começar pela floresta na parte de trás da casa da minha avó, por isso o carro de é deixado no terreno da vovó. Escolher aquela parte da floresta tinha sido interessante pelo fato de termos uma trilha para nos guiar durante o nosso trajeto. Optei por ela, para o caso de que se alguém se perdesse no meio do caminho, conseguiria achar a saída. Conforme começamos a entrar mais e mais para dentro do coração da floresta, meu coração começa a doer, e uma sensação ruim começa a tomar conta do meu corpo, de repente, ao olhar para o lado, percebo que não estava me acompanhando e arregalo meus olhos, pois os pensamentos do que poderia ter acontecido com ele nesse trajeto tomam conta da minha mente.
A neblina da floresta tinha desestabilizado minha visão, eu praticamente não conseguia ver nada na minha frente e isso me deixou levemente apavorada, pois eu precisava me manter invisível na floresta, como se fizesse parte dela, mas como isso seria possível, se eu não conseguia enxergar o que estava na minha frente? Na realidade, eu fiz uma das poucas coisas que eu costumava fazer, eu rezei, rezei para que e estivessem bem, e principalmente para que nada de ruim acontecesse comigo.
Depois de recuperar o folego e a minha sanidade, eu volto a andar lentamente pela floresta, e mesmo que eu não pudesse ver nada na minha frente, tentei manter um bom trabalho ao ficar calada e deixar meus passos leves como pluma. A floresta estava assustadoramente silenciosa, o que poderia ser considerado um mal pressagio não só para mim, mas para todas as pessoas dessa cidade, de repente eu escuto um pedaço de galho quebrando e olho para os lados em busca do barulho, porém algo no meu instinto me diz para começar a correr, e é isso que eu faço imediatamente.
Eu corro.
Ao olhar para trás, eu não consigo enxergar a forma correta do que estava me seguindo, então continuo correndo como se minha vida dependesse disso, porque ela dependia.
Eu não podia simplesmente dar o braço a torcer nesse momento, eu tinha gastado toda a minha munição, um ato nada inteligente da minha parte, admito, ao tentar atingir essa coisa que me perseguia, para piorar toda a minha situação, eu começo a sentir uma ardência no lado direto da minha barriga, e ao colocar a mão no local que doía, sinto algo quente encharcando minha blusa, e ao colocar a mão próxima ao meu nariz sinto o cheiro de sangue.
- Droga. – involuntariamente solto um grito assustador.
- Mas o quê? – de repente eu bato em uma base sólida e me assusto. – ? – me sinto mais aliviada ao ouvir a voz de , porém em seguida me coloco em defensiva, pois ele poderia ser a pessoa atrás de mim.
- Onde você estava até agora? – pergunto.
- Estava procurando por vocês. – ele parece farejar algo. – Você está ferida? – aproxima seu nariz no meu pescoço.
- Fique quieto. – os batimentos cardíacos de estavam normais, então ele não estava correndo loucamente por ai.
- Pare com isso. – eu tinha pressionado minhas mãos em sua boca para que ele não falasse mais nada. – Você está toda suja de lama. – ele me encara da cabeça aos pés e fala assim que consegue se livrar das minhas mãos.
- O animal que estamos procurando, ele está aqui. – sussurro.
- Como você sabe que é ele? Estamos aqui há bastante tempo. – fala, e nesse momento me afasto dele para mostrar a prova.
- Olhe para isso. – aponto para o ferimento latejante na minha barriga. – Isso não é um simples ferimento. – aquilo ardia como um inferno e eu podia sentir minha energia acabando aos poucos.
- Onde está sua arma? – pergunta.
- Acabou a munição. – me escoro nele, pois minhas pernas fraquejam.
- Ok. – continua me dando apoio, porém começa a andar. – Temos que achar .
- Droga. – resmungo, eu não sabia se era pela dor que eu estava sentindo, ou pelo garoto estar perdido na floresta sozinho.
Vir até aqui não tinha sido uma boa ideia.
Começamos a caminhar pela floresta em busca de , meu maior medo era de que a coisa o tivesse pegado antes de me atacar, enquanto isso eu tento me manter o mais silenciosa possível, e tento ao máximo não deixar transparecer a dor dilacerante que eu estava sentindo na minha barriga, pois não queria chamar a atenção da coisa, caso ele estivesse lá fora apenas observando.
De uma forma bastante perturbadora, eu também comecei a sentir uma aflição emanando de , assim como sua transformação à beira de um colapso, o que me deixava bastante preocupada, porque tudo o que eu não precisava no momento era um lobo se transformando ao meu lado.
- Talvez ele tenha voltado para o carro? – Enquanto caminhamos sugere.
- Acredito que não. parece ter um bom imã para se meter em problemas, então meu palpite é que ele esteja apenas perdido na floresta. – sugiro para .
- Você subestima muito o , . – a questão não era eu subestimar , a questão é que eu não confiava no senso de direção daquele garoto.
- Não precisa elevar o tom de voz, afinal, estamos em uma missão para encontrar seu amigo. – reviro meus olhos e me desvencilho de seus braços.
- Ande devagar, você está machucada e estamos em uma floresta cheia de armadilhas. – paro por um momento e encaro o chão.
- Me deixe adivinhar. – faço uma pausa dramática. – Você já caiu em uma dessas armadilhas? - pergunto.
- Mais ou menos. – parecia sem graça. – Só tome cuidado, ok? – aceno com a cabeça.
- Tudo bem. – balanço a cabeça e caminho lentamente até achar um local que aparentemente tinha acabado de ser mexido. – Acho que alguém caiu em uma armadilha. – segurando a minha barriga, me aproximo do buraco. – Tenho certeza de que foi . – solto uma pequena risada, e me sinto um pouco aliviada.
- Tenho certeza de que é ele. – para ao meu lado.
- Fique atento. – peço delicadamente. – Não sabemos o que pode estar realmente ali dentro. – explico.
- ? – assim que me aproximo da armadilha ouço uma voz conhecida.
- ? – pergunto intrigada.
- Sim. – ela berra de dentro do buraco. – Não acredito que escutei uma voz conhecida. – me aproximo do local e olho para baixo.
- O que você está fazendo aqui? – pergunto confusa.
- O que você acha? A academia não é a mesma sem você. – bufo.
- Não acredito que você deixou a academia. – balanço minha cabeça, totalmente desacreditada.
- Somos uma dupla, jamais iria abandonar você. – ela continua falando. – Pode me tirar daqui? Tem um garoto que apagou tem meia hora ao meu lado. – solto uma risada.
- ? – inclino minha cabeça para o lado ao notar o garoto apagado. – ? - o chamo. – Como iremos tirar eles dali? – pergunto, pois eu não podia fazer nenhum esforço.
- Temos corda no carro? – ele pergunta.
- Sim. – balanço minha cabeça positivamente.
- Espere aqui, em breve eu volto. – reviro meus olhos, mas concordo.
- Vocês estão machucados? – pergunto.
- Apenas alguns arranhões. – fala. – O garoto que está apagado que me preocupa.
- é aparentemente um pouco fraco. – resmungo. – Tente acordá-lo, não irá conseguir tirar vocês dai sozinho. – minha voz sai um pouco arfada.
- Aconteceu alguma coisa com você? – ela me pergunta.
- Apenas um machucado. – resolvo olhar para o local onde fui ferida e percebo que o local estava ficando mais escuro do que o normal. – Droga. – sussurro.
- Está muito feio? - me pergunta.
- Talvez. – solto uma risadinha estridente. – Não irei pensar nisso agora. – baixo minha camisa e continuo conversando com .
- ? – me chama.
- Sim? – pergunto.
- Você notou como a umidade da floresta está alta? – fecho meus olhos e tento me concentrar.
- Droga. – resmungo.
- Vampiros? – ela me pergunta.
- Tenho quase certeza. – me viro para ficar mais alerta, não que eu tivesse muito que fazer no momento.
- Isso seria uma armadilha de vampiros? – minha amiga pergunta.
- Provavelmente. – balanço minha cabeça, mesmo que ela não pudesse me ver. – O cheiro de sangue deve ter atraído eles até aqui. – suspiro.
- Você tem sua arma? – grita.
- Perdi toda a munição tentando acabar com a coisa que me atacou. – falo.
- Pegue a minha então. – ela me joga a sua arma, e a munição em seguida. – É seu dever nos proteger. – fecho meus olhos concordando e espero o inevitável.
- Ora, ora, ora. Veja o que temos aqui. – fico paralisada rapidamente ao ouvir aquela voz soar em meus ouvidos.
- . – eu praticamente grito para ele. – O que você está fazendo aqui? – eu quase tinha atirado nele, droga.
- Senti seu cheiro e resolvi ver o que você estava aprontado. – ele cruza seus braços e me encara com um sorriso enorme nos lábios.
- Me escute. – falo entredentes. – Caia fora daqui. – o encaro e não desvio meu olhar em nenhum momento.
- Vamos lá, prima, o que você pode fazer contra mim? – sinto o deboche sendo destilado de sua voz melódica.
- Se esqueceu de que sou uma caçadora? – pergunto irritada.
- Como eu poderia me esquecer, ? Você escolheu a família da sua mãe. – olho para ele chocada, pois em nenhum momento eu demonstrei que me tornar caçadora tinha sido um desejo meu.
- O que você está fazendo na cidade? – pergunto. – Não deveria estar em Nova York? – meu primo se mantinha distante.
- Esse assunto é um pouco delicado para ser tratado agora. – meu primo se aproxima lentamente. – Fique quieta, nós temos companhia. – rapidamente está ao meu lado.
- Fique fora disso. – dou uma cotovelada em sua barriga.
- Por que eu ficaria? Você sabe que eu adoro uma boa luta. – reviro meus olhos com sua teimosia.
- Finalmente encontrei o caminho de volta, estou com as cordas. – a voz de ecoa por dentro da floresta.
- Que merda é essa, ? – faço uma careta, era certo de que nesse momento, já tivesse captado o cheiro de .
- Não interessa. – digo rapidamente. – Isso é um assunto meu e você não deve se meter. – minha voz soa como uma ordem.
- Quando me falaram que você estava se afundando com o submundo, não tinha noção da imensidão que era. – reviro meus olhos.
- O que está acontecendo aqui? – se aproxima com cautela.
- Esse é meu primo, , aparentemente ele sentiu o cheiro do meu sangue e resolveu passar para falar oi. – dou de ombros, exausta demais para falar mais alguma coisa. – Podemos tirar eles dali? Eu realmente preciso de um curativo. – aponto para o buraco e logo depois para a minha barriga.
- Claro. – fala rapidamente e se aproxima do buraco. – , você está ai? – ele grita para o amigo.
- Não sei se o garoto que está ao meu lado é , mas posso garantir que ele está apagado. – solto uma pequena risada com a resposta de .
- Quem é você? – ele pergunta.
- Apenas os tire de lá, logo eu explico tudo. – faço um pouco cansada.
- Ok. – ele balança a cabeça e para minha surpresa o ajuda.
- Como vocês caíram ai? – meu primo pergunta.
- A armadilha já estava ativada quando cai, a neblina estava muito forte. – explica. – Já o garoto, eu não tenho certeza por quanto tempo está aqui. – suspiro.
- Apenas os tirem de lá. – me sento no chão, sem me importar de sujar minhas roupas, afinal, elas já estavam sujas.
- Ok. – os dois falam juntos e começam a trabalhar.
Os meninos levam cerca de vinte minutos para poder tirar e de dentro do buraco, esse tempo de espera tinha retirado toda a energia que me restava e eu podia sentir a febre tomando conta do meu corpo. Apesar de o sangramento ter parado um pouco, a dor que eu sentia era contínua e a fraqueza estava tomando do meu corpo, eu suspeitava que as garras do animal que me atacou pudessem conter algum tipo de veneno, um veneno que agia lentamente no organismo dos humanos, porém não mencionei para , pois não queria alarma-lo ainda mais com a situação.
Eu sabia que precisávamos sair o mais depressa possível de dentro da floresta, pois só assim iriamos evitar dar de cara com um vampiro, porém a caminhada realmente estava sendo um ato difícil de fazer, e quando me dou conta, uma mancha preta invade meus olhos e eu caio no chão.
- Vejo que você acordou. – abro meus olhos rapidamente quando ouço a voz da minha avó e, ao tentar me levantar da cama, sou impedida.
- O que aconteceu comigo? – pergunto a ela.
- Você desmaiou e eles a trouxeram para casa. – minha avó explica e rapidamente passo minhas mãos no ferimento que tinha barriga. – Não foi um ferimento bom, na realidade, quando você chegou, estava realmente preto. – olho para minha avó antes de soltar um suspiro.
- Você ao menos conseguiu uma amostra? – pergunto inquieta.
- Infelizmente não. – ela balança a cabeça. – Estive mais preocupada em salvar sua vida. – vovó sorri sutilmente para mim. – Você conseguiu ver o que era? – ela me pergunta.
- Não. – balanço a cabeça negativamente. – Tudo o que eu senti foi medo. – conto.
- O que você irá fazer agora? – ela me encara de um jeito curioso.
- Tem algo que eu posso fazer. – fico um pouco pensativa. – Mas tenho certeza de que a senhora não iria aprovar isso. – dou um pequeno sorriso.
- E o que seria? – ela parecia já estar desconfiando.
- Acho que eu deveria chamar até aqui. – falo convicta.
- E o que ele poderia fazer por você? – de repente vovô entra no quarto.
- Entrar nas minhas memórias. – encaro os dois parados na minha frente.
- Isso não é uma boa ideia, você precisaria de uma fada para ajudar. – balanço minha cabeça positivamente.
- Ainda bem que conheço muitas pessoas no submundo que podem me ajudar. – sorrio.
- Isso está fora de cogitação. – minha avó se levanta. – Além do mais, você está fraca para isso. – ela dá a última palavra.
- Eu sei disso. – faço uma careta, era um pouco inevitável, pois se eu não estivesse bem, nem e muito menos iriam me ajudar.
- Tente descansar. – minha avó coloca o cobertor em mim novamente. – O veneno já foi retirado do seu corpo, então você não corre perigo. – balanço minha cabeça.
- Obrigada. – dou um sorriso agradecido.
- Sabíamos que seria difícil para vocês, mas não a ponto de você se machucar desse jeito. – fecho meus olhos envergonhada.
- Estou com vergonha de mim mesma nesse momento. – viro meu rosto para o lado.
- Não sinta vergonha, é completamente normal algumas coisas darem errado. – vovô fala.
- Não no meu mundo. – retruco.
- Eu sei disso, mas lembre-se, você tem dois mundos. – ele sai do quarto deixando eu e minha avó sozinha.
- O que ele quis dizer com isso? – pergunto.
- Que você está cada vez mais envolvida com o submundo, e mesmo não sendo um lobo, você tem o sangue de um correndo em suas veias. – prendo minha respiração. – Por isso você tem um bom senso de direção e liderança. – ela sorri para mim. – Vou deixar você descanar.
- Espera. – peço antes de ela fechar a porta. – Por que está aqui? E como os meninos e estão? – pergunto.
- Mais tarde iremos falar sobre o motivo do seu primo estar aqui, e seus amigos estão descansando nos quartos ao lado. Essa noite foi perturbadora para todos, então descanse. – vovó finaliza a conversa enquanto apaga a luz e fecha a porta do quarto, me deixando sozinha novamente.
Capítulo Seis
Desperto com um cheiro familiar de comida que apenas minha avó saberia fazer e me levanto rapidamente, um pouco dolorida por conta da ferida que eu tinha na minha barriga. Minha avó tinha feito um bom trabalho ao dar pontos no local que eu havia sido atingida e aplicar uma erva para a rápida cicatrização, porém eu sabia que independente do que ela usasse em cima da minha ferida, eu continuaria com uma baita cicatriz no local.
- Ei. – me aproximo da minha avó, minha voz soando mais rouca do que o normal.
- Olha quem acordou. – vovó dá um sorriso para mim. – Está com fome? – ela me pergunta.
- Sim. – balanço minha cabeça. – Onde estão os outros? – pergunto.
- Ainda estão dormindo. – encaro o relógio e percebo que já amanheceu.
- Não avisei meus pais que estaria aqui. – fico um pouco aflita.
- Não se preocupe com isso, eu avisei para eles assim que você chegou aqui. – solto um suspiro.
- Falou que eu estava ferida? – pergunto.
- Tive que falar. – reviro meus olhos, nesse momento meus pais deveriam estar falando sobre o quão imprudente eu era. – Apenas estranhei o fato deles não perguntarem se era grave. – me sento em uma cadeira, pois não conseguia me manter em pé por muito tempo.
- As coisas são assim na nossa família. – dou um pequeno sorriso para ela.
- O que você quer dizer com isso? – vovó me pergunta.
- Desde que saí daqui, vivi na academia, meus pais apareciam de vez em quando apenas para mostrar que éramos uma família unida. – solto um bocejo.
- Como isso aconteceu? – era notável que minha avó não sabia a metade do que acontecia nas nossas vidas.
- Minha avó, ela se tornou diretora da Ordem e, como todo mundo sabe, os caçadores tem que ser instruídos desde novos na academia para poder se tornar um caçador. – explico. – Quando a gente se mudou daqui, meus pais me deixaram na academia e minha avó praticamente me criou. – não queria ter que entrar em mais detalhes sobre o tempo que passei naquele local.
- Não posso acreditar nisso. – minha avó parecia indignada. – Como você conseguiu sair para nos visitar? – apesar de serem poucas vezes, consegui persuadir de me levar ao submundo para que eu pudesse ver meus avós quando eles estavam por lá.
- Você sabe que eu sempre tive uma ligação com o submundo certo? – pergunto e ela acena. – Então, apenas pedi um favor a um amigo. – finalizo o assunto. – A propósito, o que está fazendo aqui? – mudo de assunto.
era o filho mais novo do irmão mais novo do meu pai, apesar de termos uma idade próxima, nós não costumávamos nos comunicar muito bem. Ele tinha uma visão do mundo completamente diferente da minha, e muitas vezes me via como inimiga.
- Ele está aqui para ajudar . – ouço um suspiro vindo da minha avó. – Desde que seus pais voltaram, as coisas estão um pouco tensas. – faço uma careta. – Seu tio não está feliz por ter caçadores na cidade. – ela continua sua explicação. – Ele esteve aqui quando vocês saíram para caçar e, pelo jeito que ele ficou, sei que não gostou da sua atitude. – reviro meus olhos. Eu não via meu tio fazia séculos, e achava que ele não tinha o direito de opinar em nada que eu fizesse, muito menos pelo fato de ter caçadores na cidade, sendo que ele era um lobo e deveria estar preocupado em não chamar a atenção para o seu povo.
- Espero que a raiva dele não seja direcionada para mim. – tento soar divertida para não deixar minha avó chateada, porém eu não confiava no meu tio, a natureza dele como lobo era explosiva, e eu realmente tinha medo de que em algum momento ele ferisse alguém por não saber controlar seus poderes.
- Ei, você acordou. – brota na cozinha do nada, me dando um susto.
- Escutando a conversa dos outros? – ergo minha sobrancelha.
- Como você sabia? – ele se aproxima de mim e pega uma maçã de cima da mesa. – Como está sua ferida? – aponta para a minha barriga.
- Uma merda. – suspiro. – O que você quer? – pergunto ao notar que ele não parava de me encarar.
- Apenas queria saber no que você se meteu. – reviro meus olhos.
- Ela está aqui apenas para ajudar, . – minha avó chama meu primo carinhosamente por seu apelido e eu faço uma careta.
- Não sei no que ela pode nos ajudar. – ele mostra a língua para mim.
- Parece que independente do que você deseja, não irá se livrar tão cedo de mim. – dou um grande sorriso para ele.
- Talvez eu desejasse um pouco de dor para você, mas acho que você tem recebido o suficiente. – dá de ombros.
- Seu humor está mais ácido do que o normal. – continuo alfinetando.
- Devo chamar seu guarda costas? – ele pergunta se referindo a .
- Não preciso de ninguém para me proteger, sozinha consigo acabar com você. – cruzo meus braços.
- Crianças. – minha avó nos repreende. – Eu sempre irei aceitar uma briga saudável, mas agora vocês passaram dos limites. – reviro meus olhos.
- Você é mais novo, deve me respeitar. – mostro a língua para ele.
- Tenho anos de experiência. – continua tentando demonstrar poder para cima de mim.
- Claro. – balanço minha cabeça positivamente. – O que temos para comer? – resolvo ignorá-lo para não magoar minha avó.
- Ovos mexidos e bacon. – vovó começa a organizar a mesa. – , chame os amigos de , por favor. – ela pede delicadamente e meu primo sai da cozinha resmungando. – ... – vovó me chama.
- Sim? – me finjo de inocente.
- Não entre em uma briga com seu primo, ele está com um pé atrás pelo fato de você ser uma caçadora. – reviro meus olhos.
- Eu nunca fiz mal para ninguém da família. – bufo.
- Sabemos disso, mas mesmo assim ele quer manter a cautela. – suspiro.
- Prometo tentar não entrar na onda dele. – ergo minha mão esquerda para cima. – Mas se ele entrar nessa briga de cabeça, eu não poderei fazer nada. – eu conhecia o suficiente para saber que ele iria continuar me provocando enquanto pudesse.
- . – a voz de se sobrepõe na cozinha. – Pensei que você tivesse morrido. – minha amiga me abraça rapidamente.
- Não exagere, , já passamos por coisas piores. – reviro meus olhos para o seu drama. – Agora, me explique o motivo de você ter deixado a academia. – peço.
- As coisas não estão boas por lá, sua avó realmente pirou. – ela sussurra a última parte para que ninguém ouvisse, porém e pigarreiam. – Detesto lobos. – ela dá um olhar de desdém para eles.
- Não fale isso. – meu primo mostra suas presas para ela.
- Não tenho medo de você. – volta a me encarar. – Desisti da academia porque somos amigas e fizemos uma promessa. – ela continua falando sem parar. – E foi por causa dessa promessa que eu vim atrás de você. – finaliza.
- Aonde você irá ficar? – pergunto. – Meus pais não irão acolher você. – bato na minha testa.
- Ela pode ficar conosco, desde que não se incomode de estar rodeada por lobos. – minha avó se prontifica.
- Sua avó sabe sobre nossas idas ao submundo. – faço uma careta e peço silenciosamente que ela não fale sobre esses assuntos. – Se não for incômodo para a senhora... – se vira para encarar minha avó. – Eu iria adorar. – balanço minha cabeça, pois eu conseguia imaginar o sorriso que ela estava dando para a minha avó no momento.
- Vocês dois vão ficar parados aí por muito tempo? – pergunto ao notar que nem , e muito menos se aproximaram da cozinha. – Por acaso isso é medo? – questiono.
- De você? – parecia criar mais confiança e entra na sala.
- Você é só um humano. – resmungo.
- Assim como você. – ele retruca.
- Não encha a minha paciência. – resolvo ignorá-lo enquanto massageio minha cabeça.
- Gostei de você, humano. – meu primo se pronuncia e vejo o momento que ele se aproxima de e o cheira.
- O quê? – Chris parecia um pouco incomodado com a atitude do meu primo.
- Não me julgue, mas seu cheiro é diferente dos outros lobos que conheço. – parecia um pouco hipnotizado com isso.
- Você está estranho. – me levanto da cadeira e vou até onde meu primo estava e desfiro um tapa em sua cabeça. – Pare com isso. – peço.
- . – ele me olha na hora.
- Desculpa, força do hábito. – dou um sorriso.
- Então... – minha avó chama nossa atenção. – Podemos comer? – ela pergunta.
- Claro. – acho que esse era o único momento que todos nós concordamos.
A comida já estava posta na mesa quando todos nós nos sentamos. Meu avô não estava presente, ele era uma pessoa um tanto quanto reservada e preferia fazer suas refeições sozinho. Meu tio não tinha dado as caras até o momento, e eu sabia que em algum momento nosso encontro seria inevitável, o cara era mestre em aparecer do nada e provocar uma confusão, eu vi isso acontecer de perto diversas vezes. , por outro lado, parecia ter perdido a língua enquanto estava ocupado demais fazendo sua refeição.
- Eu não entendo uma coisa. – de repente a voz de ecoa pela cozinha e todo mundo para o que estava fazendo para prestar atenção nele.
- O que você não entende? – me preparo mentalmente para o tipo de pergunta que ele iria fazer.
- Você sabe quem atacou você na floresta? – ele me pergunta.
- Não. – balanço minha cabeça.
- Como? – parecia curioso também.
- Quando eu notei, já era tarde demais, e eu estava sendo perseguida. – explico. – Gastei toda a minha munição tentando acertar a coisa que tinha me atacado, mas tenho certeza de que não consegui. – suspiro.
- Não existe nenhum jeito de você se lembrar? – e eu trocamos olhares.
- Na realidade... – minha amiga começa a falar.
- Existe sim. – completo sua frase.
- E o que seria? – parecia interessado.
- Isso não é algo que apenas me envolva. – baixo minha cabeça.
- Não. – minha avó bate na mesa.
- Vovó... – minha voz soa um pouco arrastada.
- O quê? – meu primo parecia um pouco perdido.
- Ela quer fazer a conexão. – vovó fala de maneira bruta.
- Como assim, conexão? – parecia que meu primo não sabia muito bem o que acontecia ao seu redor.
- Eu precisaria de um bruxo e de uma fada para conectar a minha mente. – olho para cada um que estava sentado próximo a mesa.
- Isso não é uma boa ideia, , não existe ninguém no submundo que ainda faça isso, é praticamente suicídio. – minha avó estava séria agora.
- Na realidade, existem duas pessoas que fazem isso. – respondo minha avó.
- Não quero que você pense nisso, nem de brincadeira. – reviro meus olhos.
- Gente, eu não estou entendendo nada. – se pronuncia novamente.
- Eu quero reviver a memória da floresta. – deixo claro, com um sorriso nos lábios.
- Isso realmente é possível? – pergunta.
- Sim, isso é possível. – falo.
- Podemos fazer? – , assim como eu parecia estar ignorando as reclamações da minha avó.
- Posso falar com hoje mesmo. – dou uma garfada no meu ovo mexido.
- Vocês duas... – Minha avó tenta chamar nossa atenção.
- Não se preocupe, vovó, eu já fiz isso outras vezes. – pisco para ela.
- Como assim? – ela parecia desacreditada com as minhas palavras.
- Não se preocupe. – repito. – ? – o chamo.
- Sim? – ele parecia ter voltado sua atenção para a comida.
- As pesquisas ficarão ao seu encargo. – sorrio.
- Por quê? – ele parecia meio confuso.
- disse que você o ajudou até aqui, então essa será sua parte, pesquisador. – eu queria fazer o possível para mantê-lo longe do perigo.
- É certo perdermos tempo com pesquisa? – pergunta.
- Escute aqui, vira-lata. – engrosso um pouco a minha voz. – Tempo é virtude, temos que ter paciência, conhecer nosso inimigo, de nada vale se fizermos um ataque de olhos vendados, primeiro precisamos entender nosso campo, para depois fazer alguma coisa. – explico.
- Enquanto isso, deixaremos que as pessoas ao nosso redor morram? – ele me pergunta, sério.
- Claro que não. – resolve se meter na conversa. – É nosso dever como lobos de manter as pessoas a salvo, assim como é o dever de caçadora da minha prima fazer o mesmo. – concordo.
- Então o que iremos fazer? – indaga.
- Iremos protegê-los, mas precisamos agir com cautela. – eu estava começando a me sentir fraca novamente.
- E como você pretende fazer isso? Sendo que está machucada. – ele fala um pouco irritado.
- Não se preocupe com isso, , graças às ervas que minha avó aplicou na ferida, em breve ela estará cicatrizada. – me levanto da cadeira e mostro a ferida. – E não está tão ruim quanto antes. – abaixo minha camiseta e encerro o assunto sem deixar brechas para que ele retrucasse.
Não fazia nem dois dias que eu estava na cidade e já tinha me envolvido em uma grande confusão. Meus pais estavam loucos por eu estar me envolvendo em algo que eles claramente me pediram para manter distância; meu primo aparentemente não confiava em mim pelo fato de eu ser uma caçadora; minha avó estava claramente insatisfeita por eu querer fazer a conexão para me lembrar do que aconteceu na floresta e, aparentemente, deixou a academia por conta de uma promessa que fizemos quando nos conhecemos anos atrás.
Quando entrei na academia, nos ensinaram que jamais poderíamos virar as costas para pessoas inocentes, que era nosso dever protegê-las de um mal que elas acreditavam serem lendas, e por conta disso eu precisava fazer meu trabalho certo, mesmo que para isso eu precisasse dar a minha própria vida.
Capítulo Sete
Pela primeira vez na minha vida, eu não tinha noção por onde começar. Ter que deixar para trás com a minha família, pessoas que ela nunca teve nenhum tipo de contato antes, partia meu coração, porém não tinha como eu simplesmente levá-la para casa e dizer para os meus pais que tinha abandonado a academia para vir atrás de mim, eles achariam esse ato um absurdo, e com toda certeza do mundo a fariam voltar para lá. E eu não queria obrigar uma das minhas melhores amigas a fazer algo que não queria no momento.
No entanto, mesmo com tudo acontecendo, e pareciam estarem mais empolgados do que o normal, e isso me deixava incomodada por vários fatores: para ser bem sincera, eu não sabia se poderia realmente confiar neles, e apesar da minha avó afirmar mais de uma vez que eu poderia acreditar no potencial dos meninos, eu ainda ficava com um pé atrás. A outra parte que me incomodava, era o fato de um deles poder se machucar seriamente e eu carregar o peso da culpa pelo resto da minha vida, afinal, sempre fui uma pessoa que prezou o zelo das pessoas próximas a mim.
- Pensei que jamais voltaria para casa. – a primeira imagem que tenho quando atravesso o hall de entrada é a dos meus pais organizando seus equipamentos de caça.
- Precisei de um tempo para me recuperar. – eu ainda sentia muita dor no local, e precisava desesperadamente de um remédio, porém não queria demonstrar fraqueza na diante dos meus pais.
- Se você tivesse feito o que pedimos e não saísse por aí com pessoas inexperientes, você não estaria machucada no momento. – me encosto na parede enquanto observo meus pais guardarem o restante das suas armas em uma bolsa.
- Aonde vocês vão? – eu queria desesperadamente mudar de assunto e também ter uma noção do próximo passo que meus pais dariam.
- Aonde você acha que iremos? – minha mão bufa e me encara de cima para baixo. – Iremos cuidar do que você não conseguiu. – ela não estava satisfeita e eu podia sentir isso na sua voz e no seu olhar. Eu tinha certeza que, para ela, eu estar machucada era um sinal de fraqueza que ela não queria que ninguém soubesse.
- Boa sorte então. – eu sabia que não devia gastar meu tempo precioso falando com eles.
- Por que você diz isso? – meu pai me encara enquanto embalava sua faca de prata.
- Porque aquilo que me atacou é praticamente invisível. – me desencosto da parede.
- Como assim? – parecia que eu tinha a atenção dos meus pais finalmente.
- Por um momento, eu achei que pudesse ser um transmorfo. – confidencio. – Porém ele não se parecia com um, apesar das características serem semelhantes. – semicerro meus olhos.
- Você acha que estamos lidando com um transmorfo? – inclino minha cabeça para o lado.
- Talvez? – pergunto. Era impossível no momento saber, afinal, existiam diversas categorias de transmorfos, e alguns podiam simplesmente assumir a forma tanto de animais, quanto de humanos.
- Então devemos nos prevenir, de qualquer forma. – minha mãe pega algumas balas de prata.
- Está confiando em mim? – fico um pouco surpresa.
- Transmorfos são difíceis de revelarem, então temos que ficar de olho. – balanço minha cabeça concordando.
- Vou deixar vocês trabalharem. – dou um sorriso e começo a me afastar.
- Descanse, , amanhã você tem aula. – fecho meus olhos com força.
Eu podia sentir minha ferida ardendo, e apenas o simples fato de meus pais mencionarem que eu deveria ir para escola amanhã me deixou desanimada, não que eles fossem fazer diferente, pois como eu já havia mencionado anteriormente, eles iriam achar formas de me punir pela minha expulsão da academia até eu me tornar maior de idade e me livrar deles.
Cansada, subo para o meu quarto e bato a porta. Eu precisava tomar banho, mas ao mesmo tempo a preocupação de molhar a ferida era gigante e apenas o fato de saber que eu iria sentir dor me deixava preocupada e chateada, pois eu tinha sido completamente descuidada enquanto estava na floresta no dia anterior, e a culpa me comia viva por isso.
Eu tentava a todo custo puxar na minha mente o momento em que fui atacada, porém nada que eu fizesse realmente me fazia lembrar o exato momento que isso aconteceu. Retomando meus pensamentos, eu lembro que tinha me perdido dos garotos por conta da neblina extensa, e em seguida eu comecei a ser perseguida por alguma coisa. Primeiramente pensei que poderia ser um vampiro, ainda mais por conta da neblina que surgiu no local, porém, depois de sentir as garras do predador, eu tive minha resposta: ele era diferente. Eu sabia que a única alternativa que eu tinha era contar com a ajuda de e , porém eu teria que fazer um bom trabalho para conseguir persuadir os dois a me ajudarem, já que da ultima vez eu quase não consegui voltar.
Eu tinha aproveitado o momento do banho para limpar minha ferida e passar as ervas que minha avó tinha mandado para mim, e apesar da ferida estar começando a cicatrizar, ela não estava ficando bonita, e infelizmente seria algo que eu teria que carregar comigo pelo resto da minha vida; não que eu realmente me importasse com isso, pois tinha algumas cicatrizes das missões que fiz enquanto estava na academia, mas admito que nenhuma delas superava as cicatrizes mentais que eu tentava a todo custo não abrir. Ser caçadora nunca foi fácil, principalmente para mim. Eu sempre parti do principio de que eu não deveria usar a força bruta para acabar com as pessoas ao meu redor, porém estive em situações que infelizmente tive que utilizar dessa força.
A academia em si não era um local amigável; para ser bem sincera, existiam diversas divisões dentro dela, da qual a maioria dos caçadores escolhia a dedo com quem ficariam e que tipos de aliança formariam. Lá, a competição também não era saudável, e muitas vezes nós brigávamos entre nós mesmos por conta dos nossos egos, e apesar da minha avó ser a diretora da academia, ela não fazia absolutamente nada para mudar esse fato, afinal, para ela, essa era a única maneira de saber quem tinha o espirito de caçador e quem não tinha.
Apesar de tudo o que acontecia na academia, aquele lugar era um dos locais mais seguros que já passei na minha vida, e muito bem equipado com uma tecnologia de ponta. Passar anos naquele lugar não tinha sido ao todo ruim, no entanto, tive que abrir mão de boa parte da minha vida para estar lá, e foi assim, como um ato de rebeldia, que eu acabei me envolvendo com o submundo.
Por outro lado, com um ar totalmente diferente da academia ou até mesmo da Ordem, o submundo era um local mais sublime, e não tinha nada haver com o que era retratado nas aulas de história que tínhamos na academia, na realidade, nossos professores sempre explicaram que aquele local havia sido criado como uma base para se rebelar contra os humanos, o que era completamente inadmissível. Eu sabia que o submundo tinha sido criado como uma força de proteção para todos os seres sobrenaturais do mundo, lá eles podiam viver livremente sem se importar com o que as pessoas vissem deles, afinal, apesar de terem características diferentes, todos compartilhavam de uma relação com o mundo sobrenatural. As divisões no submundo eram um pouco difíceis para memorizar, eu tinha estudado muito pouco sobre elas, pois na academia nós não tínhamos aprofundamento no assunto, porque, de acordo com eles, não fazia parte dos nossos interesses; porém ao conhecer , e , eu descobri como o sistema deles funcionava.
No submundo existia a família central, que era comandada por uma matilha de lobos, nela eles tinham um líder, o rei. E então tinha as subfamílias, que eram compostas por outros seres, e aí que entrava , e , cada um deles fazia parte de uma subdivisão da família central, sendo considerado o príncipe dos bruxos, logo após sua família ser dizimada na batalhada dos vinte anos, e único sucessor direto para o trono dos bruxos. Conhecendo como eu conhecia, ele detestava o fato de ser o único de sua linhagem, e detestava ainda mais as pessoas que o cercavam e tentavam a todo custo fazer com que ele se casasse com alguém apenas para que os sangues fossem misturados.
era o príncipe das fadas, ele vivia em um local um pouco mais afastado do submundo, pois o mesmo não sentia que seu povo estava completamente preparado para lidar com outras pessoas, afinal, eles eram seres mais sensíveis e o convívio com outras pessoas, principalmente de diversas índoles, segundo ele, iria acabar prejudicando seu povo.
era o príncipe dos vampiros, ele era calmo e calculista, e uma das pessoas mais reservadas que eu conheci na vida. por ser imortal acabou presenciando diversas batalhas entre caçadores e o submundo, e talvez seja por isso que hoje seja uma das pessoas mais sábias que eu conheço. Ele, diferente dos meninos, mantinha seu povo dentro de uma redoma, da qual ele cuidava e alimentava todos muito bem. Sua principal regra é que ninguém faria mal aos humanos e por conta disso criou um sistema único de alimentação aos vampiros, que até hoje parecia surtir um efeito positivo na vida de todos.
E você deve estar se perguntando, ok , como você acabou se envolvendo com eles? A resposta era simples e clara, nem mesmo eu sabia disso.
***
Não demorou muito para amanhecer e meu celular despertar. Um pouco desconfortável, me levanto da cama e noto que o curativo que eu tinha feito em cima da minha ferida estava manchado de sangue e eu não entendia o motivo de ele estar assim, afinal, minha avó tinha dado pontos no local e, aparentemente, as ervas que eu estava aplicando ali já eram para estar fazendo efeito mais rápido, ainda mais quando na noite anterior, após meu banho, o local já havia começado a cicatrizar.
- . – a porta do meu quarto abre de repente e eu me deparo com a minha mãe parada, me encarando.
- Sim? – baixo minha blusa e a encaro.
- Sua ferida ainda não está boa? – ela olha para o local que minha ferida deveria estar por debaixo da blusa.
- Vovó me deixou algumas ervas, tenho certeza que daqui a uma semana irá cicatrizar. – vou até a porta do meu banheiro e a abro. – Precisa de alguma coisa? – eu e minha mãe não tínhamos o melhor relacionamento, na realidade, nós duas mal podíamos nos aturar, e fazíamos isso apenas pelo fato da Ordem estar nos observando.
- Deixe-me pegar uma amostra da sua ferida. – ela tenta se aproximar de mim.
- Vovó já limpou o local, não existe nada para retirar para amostra. – explico.
- Ela pode ter limpado o local e aplicado ervas cicatrizantes, mas ao olhar para sua ferida, consigo ver que ela ainda tem muito pus, e olhando para a sua blusa, tenho certeza de que o local sangrou. – fecho meus olhos e respiro.
- Você está certa. – eu odiava ter que dar a razão para a minha mãe.
- Então posso coletar? – claro que se eu dissesse o contrário, ela faria do mesmo jeito, por isso eu apenas aceno com a cabeça e deixo que mamãe se aproxime de mim.
- Faça o que você quiser. – levanto minha camiseta novamente quando minha mãe se aproxima.
- O hematoma está com uma aparência horrível. – reviro meus olhos, pois eu sabia disso.
- Eu sei disso. – bufo.
- Faça a troca de curativos sempre que puder. – ela termina de passar uma espécie de cotonete no local e guarda em uma embalagem plástica.
- Espero que você não contamine isso. – dou um sorriso amarelo. – Posso me arrumar agora? – pergunto.
- Vá em frente, você tem uma escola para ir. – minha mãe parecia satisfeita por ter pegado uma amostra da secreção que saía do corte, e sai do meu quarto rapidamente.
Encaro a ferida novamente e baixo minha blusa irritada, afinal, eu precisava melhorar para que pudesse voltar a investigar mais o caso. Eu não iria descansar até descobrir quem estava fazendo tudo isso nessa cidade e principalmente, eu precisava saber o motivo daquela coisa não ter me matado quando teve a oportunidade.
Me arrumo rapidamente, tentando ao máximo não mexer na minha barriga e praticamente saio correndo de dentro de casa quando noto o carro de estacionado na frente da minha casa, o garoto realmente não tinha noção das coisas que acontecia ao seu redor, se meus pais sonhassem que ele estava envolvido no que aconteceu na noite passada, eu iria levar um sermão de sete dias corridos sobre como eu deveria ser responsável e não envolver pessoas comuns nos problemas de caçadores.
- O que você está fazendo aqui? – abro a porta do carro abruptamente.
- Pensei que seria legal irmos juntos para a escola. – reviro meus olhos e entro no carro.
- Você não pode fazer essas coisas e achar que está tudo bem. – cruzo meus braços e o encaro.
- Por quê? – me questiona.
- Não quero que meus pais pensem que você está se envolvendo nos assuntos de caçadores. – explico.
- E eu oferecer uma carona para você não poderia ser um ato de gentileza? – ele sorri para mim.
- Não existe gentiliza. – coloco o sinto e sinalizo para que ele de partida no carro.
- Claro que existe. – liga o carro e dá partida. – Nossa cidade é muito acolhedora. E como morador, é praticamente minha obrigação facilitar sua vida. – tento prender uma risada, mas não consigo. A imagem de com a mão no peito e uma feição séria era realmente hilária aos meus olhos.
- Se sua obrigação é facilitar minha vida, você poderia muito bem dar um passo para trás e deixar que pessoas treinadas cuidassem das coisas que acontecem nesse lugar. – o encaro com as sobrancelhas erguidas depois de parar de rir.
- É pelo fato dessa ser a minha cidade que eu devo protegê-la. – era incrível como o discurso de era o mesmo que o de .
- Você acha que apenas pelo fato de entender sobre lobos e saber que seu amigo é um, você realmente está preparado para lidar com o submundo? – pergunto.
- Eu aprendo rápido, . – por um momento fecho meus olhos.
- Não seja assim, , você realmente está contando com a sorte. – encosto minha cabeça no vidro.
- Por que você acha isso? – ele me pergunta de repente.
- Para você tudo parece ser novo e perfeito, mas a notícia é que cada vez que você entrar mais nesse mundo, as chances de sair dele são praticamente nulas. – suspiro.
- Ser caçadora foi uma escolha sua? – me pergunta e eu balanço minha cabeça negativamente.
- Nunca foi minha escolha, eu nasci em uma família de caçadores, então sempre tive grandes expectativas em cima de mim. – meus pais nunca falaram muito sobre a família da minha mãe, na realidade, a única coisa que eu sabia era que eles eram uma família comum que fazia parte da Ordem, porém ganharam reconhecimento e liderança depois que meus pais se casaram. As pessoas realmente respeitavam meu pai, talvez pelo fato dele carregar o símbolo real dos caçadores consigo, ou por ele ser um bom caçador, isso eu tenho que admitir, porém essas eram as únicas informações que eu tinha recebido por toda minha vida. Tentei por muito tempo pesquisar sobre a família da minha mãe, mas não existiam registros sobre ela. Era quase como se tudo tivesse sumido de propósito, para que ninguém encontrasse informações sobre ela.
- Parece que você não gosta muito de ser caçadora. – nós já estávamos próximos da escola.
- Pelo contrário, eu gosto de ser caçadora. Apenas não gosto da maneira que temos que agir. – dou de ombros.
- Você é estranha, . – chegamos ao estacionamento do colégio e logo ele para o carro.
- Isso vindo da pessoa que quer arriscar a própria vida por uma cidade. – não espero por uma resposta de , pois logo abro a porta do carro.
- Mas não é isso que você faz? Arrisca sua vida para ajudar as pessoas? – ele me pergunta assim que fecha a porta do carro e começar a me seguir.
- Você está certo, mas a diferença entre nós é que eu fui criada para isso, aprendi artes maciais, aprendi a manusear armas e muitas coisas, e você? – explico tudo em um tom de voz baixo para que ninguém entendesse e por fim o questiono.
- Apenas uso meu cérebro da melhor forma possível. – balanço minha cabeça e continuo meu caminho rindo. – A propósito, como Eleanor irá reagir hoje? – com tudo o que aconteceu conosco na floresta, eu não tive tempo de verificar Eleanor, então hoje seria a primeira vez depois de dois dias que eu iria encontra-la.
- Eu confio em . – falo enquanto subo as escadas.
- Quem é mesmo? – eu tinha esquecido que não estava conosco no dia que apaguei a memória de .
- Meu amigo. – sorrio para ele.
- Ah sim, o bruxo ou a fada? – se aproxima de mim e sussurra.
- O bruxo. – apenas soletro sem emitir nenhum som.
- Entendi. – concorda rapidamente. – Vamos, já estamos atrasados. – o sinal bate e eu faço uma careta.
- Não sabia que estávamos tão atrasados assim. – comento.
- Fiquei um bom tempo na frente da sua casa, esperando você. Por um momento achei que você tivesse vindo para escola, ou que não iria vir por causa do seu ferimento. – felizmente aquele dia na floresta apenas eu tinha me machucado.
- Esse ferimento não é nada. – minto, pois eu ainda sentia um pouco de dor enquanto me locomovia.
- Você é forte, se fosse eu, estaria chorando nesse momento. – solto uma risada.
era uma pessoa divertida, afinal.
- Tenho certeza de que você chora todo dia à noite quando se toca que está conectado com um mundo totalmente diferente do que você está acostumado. – nós dois andávamos pelos corredores da escola, sem realmente se importar com a aula que estávamos perdendo.
- Parece que estou em uma fase de aprendizado eterno. – ele me confidência.
- Então você deve se apressar e não ficar para trás. – abro meu armário para pegar meus livros. – Aqui. – entrego para ele um dos exemplares que trouxe comigo da academia.
- O que é isso? – me pergunta.
- Leia isso, mas não deixe que ninguém o pegue. – peço. – Esse livro é muito valioso e irá ajudar você com a questão do submundo. – eu não queria que estivesse despreparado, ou que fizesse pesquisas sem fundamento na internet.
- Você realmente está me emprestando ele? – os olhos de praticamente brilham.
- Sim, emprestando. – dou um olhar astuto.
- Entendi. – ele rapidamente guarda o livro na mochila. – Obrigado. – parecia agradecido.
Eu não sabia se realmente era uma boa ideia entregar esse livro para ele, porém o medo dele associar coisas nada haver com o assunto do submundo realmente me assustava. Claro que o livro trazia o olhar de um caçador, mas ele falava detalhadamente sobre todos os seres sobrenaturais encontrados até hoje, e até mesmo as formas que poderiam ser usadas para combater o mal que eles poderiam fazer.
- Vamos para a aula? – pergunto para ele.
- Sim, temos a primeira aula juntos. – se eu não soubesse que era atencioso demais, eu teria desconfiado dele no primeiro momento que o mesmo abrisse a boca, mas o que me chamava mais a atenção, era que o fato dele ser meio abobalhado, isso, de certa forma, era um charme que ele tinha.
Pegando o que eu precisava para as duas primeiras aulas, fecho meu armário e começo a caminhar até a sala de aula. Eu devia estar uns dez minutos atrasada para a aula, mas realmente não me importava com isso, os assuntos tratados aqui não me deixavam completamente introduzida, apesar de eu tentar inutilmente que isso acontecesse, minha mente sempre acabava viajando para algum lugar, ou para alguma coisa que eu poderia estar fazendo no momento em que a aula acontecia. Para falar a verdade, eu estava sentindo falta dos meus treinamentos, e agora, ferida, eu sabia que não poderia treinar por um tempo, nem mesmo se eu quisesse, pois apenas pensar na possibilidade de abrir os pontos da minha barriga, me deixava irritada.
- Olá. – bato na porta e a abro delicadamente. – Posso entrar? – tento parecer um pouco tímida para o professor.
- Não sei como funcionava na sua antiga escola, mas aqui os alunos devem entrar quando o sinal bate. – de repente me empurra delicadamente para o lado e aparece.
- Desculpe professor, mas meu carro quebrou e estava comigo, somos vizinhos. – ele parecia mais inocente do que o normal e acabo colocando a mão na boca para esconder uma leve risada.
- Entendo. – o professor parecia ponderar se deixava ou não a gente entrar na sala, mas no fim acaba cedendo. – Entrem. – ele gesticula para que andássemos logo e não interferíssemos mais em sua aula.
- Obrigada. – pisco para .
- Estou aqui para ajudar. – ele me guia para as ultimas carteiras vagas. – Sente-se. – tira minha bolsa dos meus ombros e me ajuda.
- Vou começar a desconfiar de você, se você continuar agindo dessa forma repentinamente. – minha voz sai entrecortada.
- Apenas aceite por ora, esse professor me ama. – reviro meus olhos, porém deixo que ele me ajude.
- Não tente ganhar confiança comigo. – semicerro meus olhos. – Porque isso não irá funcionar. – geralmente as pessoas ganhavam os seus lugares ao meu lado, e bajulação de graça não era ao que funcionava comigo.
- Tudo bem. – larga minha bolsa em cima da mesa e vai para a sua.
A aula ocorre como sempre, monótona e sem nenhum assunto interessante sendo tratado, então eu tiro esse tempo para fazer algumas anotações para que eu não viesse a esquecer dos acontecimentos das últimas noites. Se fosse depender de pedir informações para os meus pais, eu estaria perdida, pois eles não abririam o jogo de forma alguma comigo, então tudo o que eu precisava era melhorar o mais rápido possível para que pudesse voltar a investigar as mortes que estavam acontecendo na cidade, e quem sabe desvendar o mistério antes dos meus pais.
Capítulo Oito
Terrivelmente se passaram três dias para que eu pudesse fazer alguma coisa relacionada aos assassinatos que estavam acontecendo na cidade, pois só agora me sentia bem o suficiente para fazer algum tipo de esforço físico depois do ferimento que recebi na floresta. Eu queria manter minha promessa de que tentaria resolver o caso o mais rápido possível e que iriamos achar uma solução, mas nunca menti tanto para mim mesma quanto dessa vez. Eu me encontrava no chão da casa da minha avó com , e ao meu lado, tinha saído um pouco mais cedo com o meu tio para evitar o meu confronto com ele, e então meu primo prometeu que mais tarde voltaria para a casa da minha avó, pois tinha algumas coisas que ele queria conversar comigo e que seu pai não poderia estar presente. O que iluminava a minha vida no momento era o fato de que não ocorreu nenhuma morte nesses dias que eu passei descansando, o que aumentava as minhas considerações de que Eleanor realmente poderia ser a pessoa que estava assassinando todo mundo na cidade, mas o que me deixava mais surpresa era o que iria levar a garota a cometer uma atrocidade dessas e ainda por cima fingir muito bem que era uma vitima. Na realidade, hoje foi um dia cheio de surpresas, por exemplo, eu não tinha palavras para descrever realmente a inteligência de . Apesar de ele parecer meio tolo, ele era uma pessoa incrivelmente inteligente e que tinha boas ideias, acredito que esse seja o motivo de ter se mantido vivo até o momento e não ter se revelado para as pessoas ao seu redor.
Voltando para a inteligência de , ele tinha feito questão de trazer um quadro de anotações para a casa da minha avó, de início eu não tinha entendido muito bem o que ele queria fazer com aquilo, porém, a partir do momento em que ele começou a colar algumas fotos e fazer anotações no quadro, minha ficha caiu completamente.
- Quanto tempo faz que as mortes estão acontecendo? – eu estava apoiada na parte de baixo do sofá e encaro o quadro, pensativa.
- A primeira morte aconteceu no ano passado, mas depois as coisas ficaram silenciosas por um tempo. – me explica.
- E depois disso? – o questiono.
- A primeira morte aconteceu antes do início das nossas aulas e ficou mais frequente depois das férias de verão. – mordo minhas unhas enquanto penso.
- Qual a faixa etária das pessoas que morreram? – tínhamos que descartar se as mortes que estavam acontecendo em série tinham alguma ligação.
- A maioria das pessoas tinha mais de trinta anos. – inclino minha cabeça e escuto atentamente as palavras de . – Passei a noite toda pesquisando o nome das pessoas que morreram no decorrer do ano passado e desse ano. – ele tira alguns papeis de sua mochila e começa a pendurar no quadro. – Apenas cinco mortes tiveram casos parecidos, porém a única pessoa que teve o coração retirado, foi o nosso diretor. – encaro as fotos no local e me levanto para analisar.
- O que essas pessoas têm em comum? – murmuro.
- Nunca vi nada parecido com isso. – segue meu gesto e para ao meu lado. – O que pode ser? – ela vira para me encarar.
- Não tenho ideia. – e isso era o que mais me assustava no momento.
- Estou cansado de sair por aí procurando por algo que não temos ideia do que possa ser. – eu entendia muito bem a irritação que sentia, mas eu simplesmente não podia sair por aí em uma caçada desenfreada, eu precisava usar a cabeça e ser mais esperta do que essa coisa que estava solta por ai.
- Vamos pensar em conjunto. – pressiono minha mão na testa e fecho meus olhos. – Existe algo que não estamos conseguindo encaixar nessas informações. – olho mais atentamente para o quadro. – Mas o quê? – murmuro novamente, me sentindo levemente ansiosa por não estar conseguindo fazer uma boa conexão.
- Todos eles são moradores da cidade? – pergunta.
- Sim! – e falam ao mesmo tempo.
- Existe alguma possibilidade deles serem amigos? – encaro os dois.
- Talvez. – me encara. – Por terem a mesma idade e serem moradores daqui, provavelmente eles podem ter estudado juntos. – prendo minha respiração.
- Isso já é alguma coisa. – bato minhas mãos.
- E se a gente procurasse nos anuários? – cruzo meus braços, ao ouvir a ideia de .
- E onde iriamos encontrar os anuários antigos? – devia fazer uns quinze anos desde que essas pessoas se formaram, acredito que seja muito difícil que a escola ainda tenha anuários tão antigos assim em sua biblioteca.
- A escola mantém tudo guardado, é uma espécie de tradição. – ergo uma sobrancelha, um pouco abismada de que isso pudesse ser real.
- Acha que devemos ir até a escola, ? – cutuca meu braço para chamar minha atenção.
- Para averiguar? – penso por um instante. - Acho que devemos fazer isso, talvez haja uma ligação entre essas pessoas. – solto um suspiro.
- Acredito que não devemos ir todos. – se pronuncia. – Talvez você e devam ir juntos. – faço uma careta. – E nós dois. – ele aponta para e ele. – Ficamos por para trás a fim de achar mais informações. – Eu não via muita oportunidade em levar comigo, porém se confiava de que o garoto fosse me ajudar, eu iria concordar.
- Tudo bem. – respondo para ele e me afasto do quadro de anotações. – Podemos ir agora? – pergunto para .
- Agora? – ele parecia surpreso.
- É sábado, acredito que não irá ter ninguém na escola agora. – encaro o relógio no meu pulso.
- Mas está tão tarde. – ouço sua voz tremular.
- Está com medo? – ergo minha sobrancelha e o encaro diretamente nos olhos.
- Claro que não. – ele nega.
- Então vamos. – solto uma risadinha e coloco um casaco, pois a noite estava começando a esfriar.
- Me deseje sorte. – pede para e eu passo por ele balançando a cabeça.
***
e eu fomos para a escola silenciosamente. Eu não queria conversar naquele momento, mas sim me concentrar para que tudo fosse feito o mais depressa possível e com perfeição. Assim que nós chegamos, eu paro de repente e jogo minha cabeça para trás ao perceber que teria que arrombar uma porta novamente, não que eu não fizesse isso frequentemente, mas era um trabalho chato que geralmente eu deixava para , ou Marnie fazerem, além do que, antes de arrombar a porta eu teria que cortar a energia do colégio, pois só assim o alarme do local não tocaria, e eu evitaria que o segurança que cuidava do local se aproximasse enquanto estivessemos ali. Tudo tinha que ser calculado antes de ser feito, afinal, nós precisávamos chegar até a biblioteca sem sermos detectados pelo sistema da escola.
Quando chego até a caixa de energia e a desligo, chamo para andar o mais rápido possível e arrombo a porta para que nossa passagem ficasse livre, em seguida a fechando para não chamar a atenção de ninguém que resolvesse ir até o local e checar o motivo da falta de luz.
- Me sinto mal invadindo a escola dessa maneira. – sussurra próximo a mim.
- Engraçado você falar isso, já que invadiu a escola mais de uma vez sem nenhum remorso. – o relembro do dia em que a gente se encontrou na escola e suscetivelmente o corpo do diretor.
- Nem me lembre desse dia. – seu corpo solta um espasmo eu solto uma risadinha.
- Você ainda tem medo daquela noite. – caçoo da sua cara.
- Claro que não. – a negação de era engraçada, pois eu podia ouvir o medo em sua voz, porém devo dar credibilidade para a sua coragem de estar aqui novamente de noite, ou até mesmo por ter seguido com a sua vida depois daquela noite.
- Vamos rápido! Só assim poderemos voltar logo para a casa da sua avó. – concordo com ele enquanto olho para todos os lados atentamente.
- Apenas não faça barulho. – sussurro enquanto continuo caminhando.
- Não é como se eu fosse fazer um escândalo. – nesse momento um barulho nos pega de surpresa e segura meu braço fortemente.
- Você está me machucando. – tento tirar suas mãos do meu braço.
- Desculpa, não enxergo muito bem a noite. – fecho meus olhos.
- Não aperte meu braço com força, se isso acontecer novamente eu deixo você sozinho pelos corredores da escola. – aviso.
- Tudo bem. – no mesmo tempo que me responde ele acaba tropeçando no meu calcanhar e eu tenho que segura-lo com força para que não caísse.
- Cuidado. – bufo por sua instabilidade.
- Eu disse para você que não me dou muito bem com o escuro. – eu queria na cabeça dele por ele ser tão desastrado.
- Estamos chegando. – eu tinha que deixar meus instintos me guiar no momento, pois eu não podia nem ligar a lanterna do meu celular para poder iluminar o nosso caminho.
- Você acredita que alguém pode ligar as luzes novamente? – me pergunta.
- Tudo é possível, por isso, tente ficar fora de foco das câmeras da escola. – aviso.
- Como assim? – ergo minha mão para fazê-lo parar de andar e aponto para cima.
- Olhe para lá, as câmeras estão em lugares estratégicos para vigiar os alunos durante o horário escolar, se a energia voltar e estivermos em foco, iremos ser descobertos. – explico pacientemente.
- Entendi. – coça a cabeça e me encara. – A biblioteca é logo ali. – ele aponta.
- Vamos terminar logo com isso. – abro a porta da biblioteca e paro no local. – Apenas tome cuidado com as câmeras. – o relembro.
- Ok. – esfrega as mãos uma na outra. – Os anuários ficam lá em cima. – ele aponta para o local.
- E como iremos achar o que estamos procurando? – pergunto.
- Isso é fácil. – pela primeira vez na minha vida eu conseguia ver confortável com alguma coisa. – Meus pais estudaram com o diretor. – ele explica.
- Então iremos procurar pelo ano. – balanço minha cabeça.
- Isso mesmo. – toma cuidado ao entrar na biblioteca. – Esse local fica macabro de noite. – solto uma risada baixa, ele realmente não sabia o que era macabro.
- Foco. – balanço minha cabeça para dispersar os pensamentos.
- Vamos lá. – lidera a caminha para o andar de cima.
- Na realidade. – eu o paro de repente. – Se seus pais estudaram com o diretor, por que você não pegou o anuário deles? – pergunto, desconfiada.
- Meus pais não têm mais o anuário deles, e geralmente os anuários que ficam na escola estão assinados por todos os alunos. – inclino minha cabeça para o lado e pondero sobre o que ele falou.
- Tradição estranha. – resolvo deixar o assunto passar. – Então vamos lá. – o empurro levemente para que ele caminhasse.
- , você realmente acha que a pessoa que está fazendo tudo isso tem relação com o passado das pessoas que estão sendo mortas? – depois de um breve silêncio, me pergunta.
- Não tenho certeza de que a pessoa que esteja fazendo isso estudou com as pessoas que foram assassinadas, porém é uma pista para ser averiguada. – aponto.
- Ok! Vamos dar uma olhada no anuário e cair fora daqui. – sobe as escadas correndo.
- Tome cuidado, não queremos nenhum acidente aqui. – aviso.
- Está escuro, mas conheço essa escola com a palma da minha mão. – era tão seguro de si que chegava a me irritar.
- É claro que estaria escuro, é de noite, gênio. – faço de tudo para não revirar meus olhos, porém é inevitável.
- Eu sei que é de noite, . – olha para mim como se fosse muito óbvio.
- O que você quer que eu faça, ? Que eu acenda as luzes para você? – o empurro para continuar subindo as escadas.
- Ok. – ele bufa. – É por aqui. – começa a caminhar para uma fileira de estantes.
- Uau. – fico surpresa ao me deparar com diversas fileiras de estantes que tinham vários anuários. – A cidade realmente leva isso muito a sério. – solto um assovio baixo ao notar diversas cores de anuários empoleirados por ali.
Geralmente as bibliotecas tinham um sistema de catalogação e indexação para encontrarmos os livros rapidamente, e aparentemente sabia como esse sistema funcionava na escola, pois ele caminhou até o final do corredor e voltou com um anuário em mãos.
- Achei. – ele tinha um sorriso estampado nos lábios.
- Deixe-me ver. – pego o anuário de sua mão e começo a folhear ele. – Estranho. – assim que passo algumas pessoas, noto que meus pais estavam ali também.
- O que é estranho? – me pergunta.
- Aparentemente meus pais também estudaram nessa turma. – encaro a foto do meu pai ao lado da foto da minha mãe.
- Assim como o diretor e a primeira pessoa que foi encontrada morta na cidade. – ele aponta para a imagem de uma garota sorridente e cheia de sardas.
- Então talvez as mortes tenham alguma ligação. – observo atentamente todos os detalhes. – Vamos bater algumas fotos do anuário. – entrego para ele segurar enquanto tiro meu celular do bolso.
- Podemos ver ele amanhã. – sugere.
- Não. – balanço minha cabeça. – Quero chegar a casa e analisar tudo calmamente. – explico.
- Isso está ficando cada vez mais estranho. – aponta para uma foto de um cara.
- Quem é ele? – pergunto confusa.
- Ele é o nosso prefeito. – de repente os pelos da minha nuca se arrepiam. Eu conhecia essa sensação, era uma sensação de que estávamos sendo observados de perto.
- Segure esse anuário como se sua vida dependesse disso. – encaro e vejo confusão em seus olhos.
- Por quê? – ele olha para os lados, como se procurasse o motivo do meu alarde.
- Temos companhia. – falo entredentes e tiro a arma que tinha trago comigo.
- Como você trouxe isso? – ele olha para as minhas mãos com os olhos arregalados.
- ... – solto um suspiro e o coloco para trás do meu corpo, pois precisava defendê-lo do que estava por vir, porém, quando dou por mim, tudo fica preto e eu começo a despencar como se não fosse dona do meu próprio corpo.
***
Respirar.
Eu precisava desesperadamente respirar.
Desperto sem saber onde eu estava, e tento me manter calma ao ver que estava ao meu lado, desacordado.
Não lembro ao certo como fomos parar ali, em um momento estávamos olhando o anuário na escola, no outro os pelos da nuca se arrepiaram e tudo ficou preto. Lembro vagamente de ouvir os gritos de , porém nada mais depois disso.
- Se eu fosse você, não continuaria me mexendo tanto assim. – solto um gemido fraco assim que ouço uma voz na minha frente, porém ao tentar encarar o local que a voz vinha tudo era um breu.
- Quem é você? – meu instinto lutava a todo o momento, e manter uma conversa com o meu possível raptor parecia o certo para eu tentar associar sua voz.
- Não interessa. – a voz ruge na minha frente e novamente meus pelos da nuca se arrepiam. – Você e seus colegas estão me causando muita dor de cabeça. – a voz entoava cada vez mais de forma agressiva, enquanto eu tentava a todo custo me livrar das amarras da minha mão. – Mas devo admitir que vocês foram perspicazes. – ele aplaude. – Agora me ouça, caçadora. – novamente encaro o breu. – Não se meta nos meus negócios. – ele pede.
- O que você quer? – o desafio sem medo.
- Vingança. – sua voz soa mortal.
- Você não acha que já teve vingança o suficiente? – pergunto.
- Matar algumas pessoas dessa cidade ainda não saciou meu desejo de vingança. – a pessoa responde. – Eu gosto dessa brincadeira, para ser bem sincero, e adoro ver o olhar de medo nas minhas vítimas quando elas me reconhecem. – consigo ouvir uma risada macabra vinda dele.
- Você está ciente de que raptou dois adolescentes? – resolvo perguntar enquanto tento ganhar tempo suficiente para me soltar das amarras.
- Raptei? – sinto sua voz com um misto de alegria e terror. – Você ainda não entendeu? Ninguém irá saber onde você está, e ninguém sabe quem eu sou. – a pessoa na minha frente muda o tom de sua voz rapidamente, dificultando meu trabalho de reconhecimento.
- Por que você está fazendo tudo isso? – eu não tinha nada a perder por bater um papo com o meu suposto raptor. Se houve uma coisa que eu aprendi durante o meu treinamento de caçadora, era que você não devia temer a fera, você deveria jogar com ela. Então eu daria o mesmo tratamento que ela estava me dando. Frieza.
- Já disse para você, garota, tudo isso é por vingança. Uma doce vingança que venho planejando antes mesmo de você nascer. – ele fala tranquilamente.
- O que você fez com meu amigo? – escondo a preocupação em minha voz, me concentrando novamente na pessoa parada na escuridão.
- Ele é muito corajoso, mas não é tolerável a dor. – sinto minha raiva subindo aos poucos e a tento contê-la. – Acho que ele ainda deve estar desacordado.
- Você só deve ser algo abominável mesmo! – eu cuspo no chão e logo em seguida sinto uma ardência em meu rosto.
- Cale essa sua maldita boca! – a pessoa para na minha frente e me sacode. – Eu poderia matar você agora mesmo, mas isso perderia toda a graça. – eu franzo o cenho, não entendendo muito bem o que ela queria falar sobre isso.
- O que isso quer dizer? – me faço de desentendida.
- Que eu sei o que você está tentando fazer, sei que logo irá conseguir tirar essas amarras, mas infelizmente eu não estarei aqui para ver isso. – ele acaricia minha bochecha e eu viro meu rosto. – Boa caçada, . – eu ouço novamente a sua risada e em seguida nada, apenas o silêncio.
Assim que consigo finalmente me livrar das cordas ao redor dos meus pulsos, corro para o lado de . Eu precisava que ele acordasse antes que a pessoa que tinha nos raptado voltasse, e eu precisa que isso acontecesse o mais rápido possível, por conta disso, o sacudo para tentar acordá-lo, mas todo meu esforço é em vão. Procuro ao redor do local algo que eu pudesse usar para me defender caso alguém aparecesse para nos atacar e volto para o lado de , praguejando por ele ainda não ter despertado.
- Droga. – eu não tinha alternativa se não fosse bater nele, então fecho minha mão em punhos e dou um soco em seu rosto.
- Mas o que... – rapidamente desperta. E eu me sinto mais aliviada.
- Ei! Está tudo bem! – tento reconfortá-lo e ao mesmo tempo me sinto culpada por ter que agredi-lo.
- Caramba, parece que eu fui atropelado por um caminhão! – eu solto uma pequena risada com sua afirmação.
- Você foi apenas pego pelo desgraçado que estamos procurando. – fecho a cara. Eu estava muito irritada comigo mesma por não ter posto minhas mãos nele.
- Como você está bem, ? – sua voz soa preocupada.
- Apenas um pouco dolorida, mas nada que um banho de banheira não resolva. – desfaço o nó das amarras e liberto . – Devemos achar a saída, tenho certeza de que alguém deve estar nos procurando. – falo para ele enquanto o ajudo a se levantar da cadeira.
- E se ele ainda estiver lá? – me pergunta ainda meio atordoado por tudo que aconteceu.
- Então eu darei meu jeito. – tento tranquiliza-lo enquanto saio apalpando as paredes do local.
Nós precisávamos sair urgentemente daqui se quiséssemos sobreviver.
Capítulo Nove
A casa que estávamos era um labirinto sem fim, cada vez que passávamos por uma porta, tinha outra, sem contar os corredores, cada vez que entravamos em um e pensávamos que iriamos conseguir finalmente sair dali, era outro lugar sem saída.
- Espera um pouco. – seguro a mão de para ele parar. – Temos que nos concentrar. – tento recuperar meu fôlego.
- Se concentrar com o quê? – me dá um olhar confuso. – Eu só quero sair daqui. – puxo sua mão e tento fazer com que ele preste atenção em mim.
- A casa pode ter algum feitiço de ilusão. – tento raciocinar.
- A casa é apenas enorme. – ele abre uma porta, e somos levados para o quarto que nós estávamos presos.
- Não, , a casa tem um feitiço de ilusão, já passamos por aqui. – solto um suspiro ao notar que não saiamos do mesmo lugar.
- O que iremos fazer? – ele me pergunta desesperado.
- Espera um pouquinho. – penso rapidamente no que poderia ser feito para quebrar o encantamento. – Segure minha mão e tente imaginar a saída. – não tinha muito que ser feito no momento, apenas isso.
- Tudo bem. – faz o que peço.
- Vamos acabar logo com isso. – a irritação estava tomando conta de mim, então eu definitivamente precisava encontrar a saída antes que saísse por ai xingando todo mundo e querendo a cabeça de alguém.
- E se nós dois nos separássemos? – pergunta ao meu lado.
- Essa não foi a sua melhor ideia. – olho para ele. – Apenas, é claro, que você queira ser morto por alguma coisa, caso contrário, ficaremos juntos. – era obvio que se ficasse sozinho nessa casa ele acabaria morto.
- Desculpe! É que estou desesperado, e geralmente quando isso acontece, eu não consigo pensar direito... – paro por um instante e ponho meu dedo indicador em seus lábios para impedi-lo de falar.
- . – estralo meus dedos. – Você está divagando muito, respire um pouco. – faço a simulação de uma respiração calma com ele.
- Tudo bem. – ele respira profundamente e tenta igualar sua respiração com a minha, porém um estrondo do lado de fora faz dar um salto para trás.
- Merda. – protejo o com meu corpo.
- O que foi isso? – o desespero em sua voz era visível.
- Não tenho ideia, apenas fique atrás de mim. – peço para ele.
- Era eu quem deveria proteger você, não o contrário. – apesar de estar com medo, se expressa e mesmo com a situação não estando muito boa para nós, não consigo evitar em soltar uma risada.
- Temos que agilizar, , eu pensei que, nessa altura do campeonato, andando com , você já estivesse acostumado com os monstros. – balanço minha cabeça.
- Ok. – ele responde, porém permanece paralisado no local.
- ... – suspiro.
- Só não sei se devemos ir. – ele comenta.
- Você está duvidando da minha capacidade de defendê-lo? – pergunto e ele encolhe os ombros instantaneamente.
- Não, eu não duvido, mas tenho certeza de que se encontrar alguma coisa que possa nos fazer mal, eu irei desmaiar. – fecho os olhos fortemente, e depois os abro para encarar .
- Confie em mim. – eu peço enquanto o puxo pelas mãos e logo noto um pedaço de uma barra de ferro no chão, pegando por precaução. – Vamos. – caminho lentamente, e deixo todos os meus sentidos livres para que eu pudesse escutar cada detalhe do que estava acontecendo naquela casa. Eu não queria receber um ataque surpresa por estar distraída.
- . – puxa a barra da minha blusa.
- O quê? – me viro para encará-lo, irritada.
- O que é aquilo? – ele aponta para uma figura parada no final do corredor.
- Droga. – digo assim que percebo que a figura parada era um índigo. – Não se mecha. – peço para .
- Pode deixar, eu não irei me mexer. – sua voz soa mais fina do que o normal.
- Olha! Eu vim aqui em paz. – levanto minha mão como se fosse me render.
- Eu não quero saber se você veio em paz. – sua voz soa um pouco grotesca. – Eu tenho uma missão, e irei acabar com você. – bufo.
Geralmente eu não gostava de ter que brigar com seres sobrenaturais, ainda mais aqueles que aparentemente eram facilmente manipuláveis, porém, o olhar que o índigo me deu no momento que falou comigo deixou claro suas intenções, ele me queria morta.
- Entendi que não vai ser da maneira mais fácil. – me preparo para o ataque. – Por favor, fique parado, não se mova de nenhum jeito. – sussurro para , praticamente implorando para que ele não fizesse nenhum movimento.
Os índigos eram seres sobrenaturais perspicazes, com uma força sobre-humana, porém sua visão era um pouco danificada, esse foi o motivo de eu pedir para que ficasse parado e não fizesse nenhum movimento, pois ao ficarmos parados, nós desapareceríamos diante dos olhos dele; contudo, o fato do índigo saber que estou ali dificulta o nosso processo de fuga, e por conta disso resolvo levá-lo para o mais longe possível de . Eu não tinha os materiais necessários para realmente nos defender do índigo, mas queria ser positiva ao pensar que a barra de ferro retardaria o processo dele ir atrás de nós, afinal, para acabar com ele eu precisaria de fogo, e isso eu não tinha no momento.
- O que você vai fazer? – o garoto me olha, preocupado.
- Enquanto eu estiver lutando com o índigo, quero que você corra como se sua vida dependesse disso. – aperto meu aperto no seu pulso para fazer com que ele preste atenção em mim.
- Ok. – ele acena com a cabeça e me sinto mais aliviada.
- Ei, você! – começo a bater com a barra de ferro na parece. – Estou bem aqui. – o provoco e com um longo suspiro eu parto para cima dele com toda a força que eu tinha no momento.
Imediatamente me lembro das inúmeras lições que tive durante meu tempo na academia, eles sempre deixaram bem claro que os índigos eram extremamente fortes, e que não desistiam facilmente das suas presas, então tínhamos que ser mais espertos que eles. Enquanto luto com a criatura, faço um sinal para que começasse a correr. Eu sabia que o índigo não sofreria nenhum dano sério, mesmo se eu tentasse, pois os métodos para acabar com ele eram totalmente diferentes dos recursos que eu tinha no momento. A prata seria uma boa ajuda para causar um pouco de dor no índigo, e por conta disso arranco o colar do meu pescoço, que a propósito tinha o formato de uma lança, e espeto na mão do índigo. Claro que esse gesto não seria o suficiente para pará-lo, porém começo a bater nele com a barra de ferro e consigo desestabiliza-lo, criando um pouco de tempo para a minha fuga.
- Eu achei a saída! – acena para chamar minha atenção enquanto deixava a porta aberta.
- Não faça barulho. – peço desesperadamente e olho para trás para ver se o índigo estava me seguindo.
- Por quê? Você não acabou com ele? – me pergunta e eu nego.
- Apenas posso acabar com ele se eu tiver fogo. – passo pelo garoto e o puxo pelos braços. Eu podia sentir meu lado esquerdo começando a latejar e só podia rezar para que nada tivesse acontecido com a minha ferida.
- Estamos no meio do nada. – solto um suspiro ao observar a cena ao meu redor.
- Meu Deus. – não tinha como nós ficarmos expostos por tanto tempo em um local aberto, não quando tínhamos um índigo ainda vivo dentro daquela casa. Eu conseguia sentir a exaustão tomando conta do meu corpo, e me sentia traída pelos meus próprios sentidos, pois fui treinada a minha vida toda para ser uma caçadora, e de repente tenho errado suscetivamente, sem nenhum acerto até o momento, o que me deixava completamente frustrada.
Eu realmente esperava do fundo do meu coração que alguém estivesse nos procurando, porque, para ser bem sincera, eu tinha medo que a noite caísse e e eu estivesse aqui. Uma coisa sou eu conhecer algumas pessoas do submundo, outra era me deparar com seres sobrenaturais que me odeiam pelo fato de eu ser uma caçadora e verem na vulnerabilidade que eu me encontrava, uma forma de me matar.
Depois de inutilmente caminhar com ao meu lado, ele pede para se sentar, pois estava cansado, e apesar de ele ter ficado bastante tempo desacordado, eu entendia sua posição de reclamar, pois eu também me sentia exausta, ainda mais depois de ter que lidar com um índigo, minha mão estava doendo até agora para ser bem sincera.
- Você está andando um pouco curvada. – me olha.
- Não é nada. – tento desviar nossos olhos.
- É sua barriga? – ele se levanta de repente do chão e se aproxima de mim.
- Claro que não, o ferimento já está ótimo. – puxo uma respiração profunda quando ele coloca a mão no local.
- Mentirosa. – ele tem a audácia de dar um sorriso de lado.
- Quem deu o direito para você fazer isso? – fecho minhas mãos em punhos.
- Posso não ser o cara que irá proteger você, mas sei quando as pessoas sentem dor. – me dá um olhar de cachorro abandonado, e sou obrigada a desviar os olhos por me sentir um pouco incomoda com isso.
- Não faça isso. – faço uma careta.
- Fazer o quê? – ele se faz de desentendido.
- Essa cara de cachorro abandonado. – gesticulo para o seu rosto.
- Não seja rude quando estou sendo fofo. – se afasta de mim rindo.
- Não acredito que mesmo estando no meio do nada você está querendo flertar. – eu não tinha palavras que descrevessem a tamanha cara de pau que esse garoto tinha; na realidade, ele conseguia atingir duas facetas ao mesmo tempo, enquanto ele era fofo e inteligente, também conseguia ser idiota e inconsequente.
- Alguém falou alguma coisa que sugerisse flerte? – fecho meus olhos com força.
- Não fale comigo. – penso enquanto pressiono minha mão na testa.
- Ainda está sentindo dor? – se aproxima de mim um pouco atrapalhado.
- ... – não tenho tempo de falar nada, pois somos interrompidos por um som de buzina. – O quê? – noto uma SUV se aproximando de nós.
- Quem você acha que é? – meu instinto novamente faz com que eu coloque para trás de mim. – Sério, ? – ele parecia um pouco irritado com esse gesto.
- Cala a boca. – olho seriamente para ele.
- . – a porta do carro se abre de repente, e por um segundo eu deixo meu corpo relaxar.
- Qual é o motivo das pessoas estarem aparecendo na minha vida tão de repente agora, sem nenhum aviso? – pergunto irritada.
- Quem é ele? – sussurra no meu ouvido, porém eu o ignoro.
- É assim que você trata seus amigos? – se aproxima de mim com um sorriso brincando nos lábios.
- Claro que não. – abro um sorriso automaticamente. – Porém é estranho as pessoas que eu conheço estarem brotando de repente nessa cidade. – explico.
- Na realidade, eu tenho algumas coisas para resolver aqui. – ele suspira e sua fisionomia não parecia uma das melhores no momento. – Venha. – abre os braços para que eu fosse até ele.
- Senti sua falta. – o abraço com força, porém solto um pequeno gemido de dor.
- O que aconteceu? – ele me afasta rapidamente e me encara para saber se estava tudo bem comigo.
- Ela está ferida. – , permanência paralisado no local que o deixei há alguns segundos.
- Fique quieto. – falo entredentes.
- Você está ferida, ? – me segura delicadamente. – Vamos embora. – ele inclina a cabeça para o lado e dá um olhar para . – Entre no carro. – sua voz era ligeiramente autoritária.
- Não fale com ele assim, . – reclamo.
- Seu novo namorado? – ele solta uma risada ao falar.
- Engraçadinho. – eu me sentia mais aliviada por estar nos braços de . – Como você sabia que eu estava aqui? – pergunto por fim.
- Porque eu resolvi ficar na cidade desde que conheço minha amiga e sei que ela adora se meter em confusões quando está longe da academia. – reviro meus olhos ao ouvir a voz de .
- Estou falando sério agora. – me afasto um pouco de para que pudesse encarar , mas não o suficiente para que ele me soltasse, pois eu realmente estava precisando me apoiar em alguém no momento. – Isso tudo está muito estranho. – semicerro meus olhos.
- O que é estranho, ? – pergunta.
- Você continuar aqui tudo bem, eu pedi sua ajuda, porém, de repente e aparecem sem aviso nenhum. – reflito.
- está aqui? – parecia um pouco mais animado do que o normal.
- Sim. – balanço minha cabeça confirmando. – Ela apareceu faz alguns dias. – dou de ombros.
- Estarmos aqui para você significa que a amamos. – não era uma pessoa que expressa seus sentimentos abertamente, então fico tocada com suas palavras.
- Isso quer dizer que irão me ajudar? – pergunto.
- Depende. – fala.
- Depende do quê? – o encaro confusa.
- Se você irá me perdoar pelo que tenho que fazer. – olho para em busca de respostas.
- O que você tem que fazer? – pergunto.
- Seu tio matou um dos meus. – de repente, como um estralo na minha mente, todas as peças se juntam, então esse era o motivo de estar na cidade, ele veio para proteger meu tio.
- , você não pode entrar em uma guerra com os lobos. – cruzo meus braços.
- O conselho decidiu. – fecho meus olhos e os massageio.
- Foi em noite de lua cheia? – pergunto ao encara-lo novamente.
- Sim. – confirma.
- Você sabe como muitos lobos são instáveis em lua cheia. – eu não queria dar uma desculpa pelos atos do meu tio, na realidade, eu só não queria que as coisas se complicassem ainda mais no submundo.
- Os lobos são instáveis em luas cheias? – se pronuncia, e só assim me lembro de que ele estava conosco.
- Sim. – , e eu falamos juntos.
- nunca demonstrou nenhuma instabilidade. – o garoto parecia ligeiramente confuso.
- Ele está falando daquele lobo que estava com você? – me pergunta e eu balanço minha cabeça.
- Espera ai. – se afasta de mim e me olho nos olhos. – Você estava com um lobo? – ele parecia não acreditar nas palavras de , e me encarava como se buscasse a resposta oposta.
- Sim. – baixo minha cabeça.
- . – segura meus braços delicadamente. – Você precisa tomar cuidado. – ele me pede.
- Não é como se o cara fosse fazer mal para ela, na realidade, ele tem um controle perfeito. – defende .
- Isso é verdade, ele nunca fez mal para ninguém. – sai em defesa do amigo.
- Não importa, lobos conseguem ser instáveis. – não parecia feliz. – Não dê nenhuma brecha para que você seja ferida. – ele me conduz até o carro.
- Isso é por causa do meu tio? – pergunto.
- Em parte. – suspira e pede para que os outros entrem no carro.
- ... – o chamo.
- Depois conversaremos sobre isso. – ele tenta encerrar o assunto.
- Depois de você acabar com meu tio? – falo lentamente.
- Conversamos depois. – ele dá partida no carro e nos tira daquele local.
- Foi você quem me localizou? – me viro um pouco para encarar .
- O que você acha? – ele sorri para mim. – Quando soube que você tinha desaparecido, eu sabia que precisava estar aqui e encontrar você, apenas demorou mais do que o normal. – dá de ombros.
- Talvez enquanto estivéssemos dentro da casa, nós não podíamos ser localizados. – reflito.
- Como assim? – apoia sua cabeça no banco e me encara.
- A casa estava com um feitiço de ilusão, ficamos dando voltas e mais voltas até encontrar uma saída. – explico.
- Você claramente continua se pondo em risco. – observo apertando o volante com mais força e afago seu braço.
- Eu sempre me coloquei em risco. – solto uma risadinha. – Enfim, deve ser por isso que você não estava nos encontrando. – termino de falar.
- E então apareceu aquele monstro horrível na nossa frente e piorou todo o cenário. – o carro freia de repente e eu tenho e encarando .
- O que você quer dizer com isso? – pergunta e eu olho para como se quisesse arrancar sua cabeça no momento.
- Eu não sei o que era aquilo, mas era algo asqueroso demais. – seu corpo treme com a lembrança, patético.
- O que era, ? – agora tenho os dois me olhando seriamente.
- Um índigo. – faço uma careta.
- Você o matou? – me pergunta.
- Não. – balanço minha cabeça.
- E você resolveu falar isso apenas agora? – estava brabo.
- Desculpa? – encolho meus ombros.
- Será que devemos voltar? – me ignora e olha para .
- Acredito que seja tarde demais para fazermos alguma coisa. – ouço um suspiro vindo do meu amigo. – Teremos que ter cuidado redobrado a partir de agora. – fala.
- Por que teríamos que ter? – parecia meio perdido na conversa.
- Porque índigos geralmente caçam suas presas até serem mortas. – explica.
- Vocês estão brincando, certo? – o medo na voz de era visível novamente.
- Eu jamais brincaria com uma coisa dessas. – dá partida no carro.
Capítulo Dez
À volta para a casa da minha avó foi silenciosa. Em algum momento do trajeto, chegou a me questionar sobre onde ele deveria deixar e eu, e imediatamente peço que seja na casa dos meus avós. Eu não deixaria que arriscasse a sua vida por aparecer na frente da casa dos meus pais; se existiam pessoas que odiavam com todas as forças, tenho certeza de que seriam eles, meus pais ainda não me perdoaram por ter sido expulsa da academia, e muito menos que a causa da expulsão tenha sido .
- . – sinto cutucar meu ombro levemente e desperto.
- Olá. – dou um sorriso ao abrir meus olhos.
- Chegamos. – seu carro estava perfeitamente estacionado na entrada da garagem dos meus avós.
- Você não precisava deixar o carro aqui. – murmuro, pois apesar de ser mais seguro para ele ter nos deixado aqui, ainda era um território difícil para ele estar, afinal, estávamos entre lobos, e não vampiros.
- Sua segurança sempre é mais importante. – ele sorri para mim e solta meu cinto de segurança. – Agora saia. – fecha a cara e eu solto uma risada, pois esse era o jeito único dele de expressar o quanto tinha apresso por mim.
- , acorde. – subo no banco e me inclino para trás para mexer em .
- O quê? O quê? – ele desperta assustado.
- Coitado do garoto, . – sou repreendida por .
- Por que você não o acordou então? – cruzo meus braços e o olho de cara feia.
- – se aproxima de mim rindo. – Ele é seu amigo, não meu. – ele segura meu queixo e balança minha cabeça de um lado para o outro.
- Idiota. – dou um tapa em sua mão e me viro bem a tempo de ver nos encarando. – Você. – aponto para ele. – Saia do carro. – minha voz soa autoritária.
- Ok. – arregala seus olhos, talvez ligeiramente assustado com minha atitude.
- ... – solto um suspiro assim que ouço a porta de trás bater e encaro meu amigo.
- Não pense demais, , você já sabe a resposta. – solto a respiração que tinha prendido até agora.
- Meu tio é um pouco instável nas luas cheias, geralmente meus avós o prendem para que coisas do gênero não aconteçam. – começo a me explicar no lugar da minha família, porém ergue sua mão para me impedir de continuar falando.
- Eu estava com alguns colegas em Nova York quando seu tio atacou um dos meus. – ele suspira. – Imagina o choque que eu tive ao descobrir que aquele homem era seu tio? – sua postura era rígida.
- Isso não pode ser resolvido de outra maneira? – o questiono.
- De que outra maneira nós poderíamos resolver essa situação? Você sabe que é olho por olho, dente por dente. – sua expressão não muda.
- Você estar aqui só irá chamar ainda mais a atenção. – gesticulo com as mãos. – Temos um assassino a solto na cidade, e tenho certeza de que outros caçadores podem achar que é você. – tento fazer com que entendesse que era perigoso para ele estar nessa cidade no momento.
- É por isso que pretendo não ser visto na cidade. – ele sorri para mim. – Agora, saia do meu carro, . – acena com a cabeça em direção a casa da minha avó.
- Eles já devem saber que você quer a cabeça do meu tio. – murmuro enquanto abro a porta do carro. – Então não ache que será fácil chegar até ele. – eu não gostava de brigar com , não quando ele sempre fez muito por mim.
- Não se preocupe, , eu não irei sair machucado dessa batalha. – a ultima coisa que vejo antes de bater a porta do carro, é um sorriso enorme estampado no rosto de .
- Mande um beijo para . – era engraçado como tinha um sono pesado, eu tinha chacoalhado para que ele pudesse acordar, e mesmo com toda essa movimentação foi impossível de despertar.
- Pode deixar, . – inclina a cabeça levemente, gesto que dizia para eu sair do carro imediatamente.
Caminho dando passadas pesadas até a casa da minha avó e bufo ao ver que realmente todos estavam na varanda me esperando chegar. Eu ainda estava chateada com a minha pequena discussão com e somando o fato de que eu não pude me despedir de e que eu tinha perdido meu celular quando fui capturada na escola, eu estava quase insuportável, e agora provavelmente eu teria que lidar com a minha família nada feliz.
- Meu Deus do céu. – minha avó é a primeira a se pronunciar. – estava péssimo quando entrou, mas você... – ela aponta da porta para mim e vice-versa. – O que aconteceu? - vovó me dá um olhar preocupado,
- Ele não falou nada? Simplesmente entrou mudo? – decido que não ficaria ali na varanda explicando os fatos que ocorreram na escola e no local que ficamos presos, não, eu precisava entrar e me sentar um pouco, pois podia sentir minhas pernas um pouco bambas.
- Sim, na realidade ele falou que você explicaria tudo. – reviro meus olhos. – Isso é sangue seco na sua blusa? – se aproxima de mim, seus olhos preocupados passando do meu rosto para a minha blusa e depois me encara diretamente nos olhos.
- Sim. – olho para minha blusa manchada. – Posso pelo menos ir para dentro de casa? – pergunto um pouco exausta. – Juro que irei falar o que aconteceu conosco, apenas preciso me sentar e tomar uma agua gelada. – explico.
- É claro. – minha avó e começam a me seguir, porém noto que tanto meu avô, quanto estavam parados do lado de fora.
- Vocês irão ficar por ai? – tento falar o mais casualmente possível.
- Se acomode lá dentro, querida, em breve estaremos com você. – semicerro meus olhos.
- Não incomodem . – eu sabia muito bem o motivo deles estarem do lado de fora da casa, por isso solto um aviso.
- Você irá ficar do lado de um vampiro? – me encara.
- Foi seu pai que matou um deles. – dou de ombros.
Não tinha como amenizar a situação de nenhum dos dois lados, pois ambos achavam que estavam na razão.
- Não fale do meu pai. – estava irritado, e dou um sorriso de lado por saber que aquele era seu ponto fraco.
- Vocês são os culpados por ele estar marcado para morrer. – não queria parecer rude, no entanto essa era a realidade. – Todo mundo sabe como ele age durante as luas cheias. – balanço minha cabeça negativamente.
- . – o tom de voz que minha avó usa para chamar minha atenção era autoritário.
- Tudo bem. – eu tinha conseguido atingir com minhas palavras, e isso bastava.
- Agora me fale, onde vocês estavam? – minha avó pergunta enquanto eu andava até a cozinha.
- Mais ou menos uma hora de carro. – dou de ombros.
- Vocês conseguiram descobrir alguma coisa? – aparece de repente e solta um assovio baixo ao ver meu estado. – Amiga, você está péssima. – ela solta uma risada.
- Idiota. – reviro meus olhos.
- Então? – ela me pergunta.
- Estávamos perto de descobrir alguma ligação com as mortes, porém fomos capturados. – explico.
- Na realidade, acredito que o anuário tenha uma ligação com tudo o que está acontecendo. – entra na cozinha parando ao lado de , talvez procurando o apoio do amigo, faço uma careta.
- Como assim? – todos perguntam.
- Estávamos com o anuário na nossa mão quando tudo aconteceu, mas conseguimos ver que algumas das pessoas mortas estudaram na mesma sala. – explico.
- E quem são essas pessoas? – vovó pergunta.
- A primeira pessoa que foi encontrada morta e o diretor. – me sento em uma cadeira para descansar.
- Então as mortes realmente estão ligadas? – me pergunta.
- Não tenho certeza, porém é algo para ser investigado. – tomo todo o liquido que tinha no meu copo.
- . – fecho meus olhos ao ouvir a voz de entoar pela cozinha.
- Sim? – acho que todos notaram a mudança de clima de repente, pois aos poucos um a um sai da cozinha, deixando apenas meu primo e meus avós para trás.
- Por que você tem que se envolver com vampiros? – ele parecia irritado com isso.
- E por que não? – sorri para ele. – Vamos lá, , você sabe que seu pai é culpado, o que eu quero saber, é o que ele fez dessa vez. – apesar de ter me contado o que tinha acontecido, eu queria ouvir as palavras do meu primo, não por não acreditar em , pelo contrário, eu apenas queria saber até onde minha família iria para proteger meu tio, afinal, não foi uma, nem duas vezes que meu tio se meteu em problemas do gênero.
- Meu pai matou um dos guardas de ao tentar atacá-lo. – fecho meus olhos e balanço minha cabeça negativamente, porque era nítida as intenções do meu tio.
- Você sabe que é olho por olho, dente por dente. – apesar de eles serem minha família, um ataque planejado para o príncipe dos vampiros era suicídio, e meu tio sabia disso no momento que se rebelou.
- Ele realmente quer a cabeça do meu pai? – parecia perdido.
- O que você espera? Sabemos que o submundo não é o melhor lugar do mundo, mas o tratado de lobos e vampiros existe desde a guerra dos caçadores. – reviro meus olhos ao explicar detalhadamente a situação para ele. – Seu pai apenas fez um complô para acabar com um príncipe, não espere que eles tenham misericórdia. – meus avós me encaram de uma maneira completamente estranha. – O quê? – pergunto.
- Desde quando você conhece ? – minha avó pergunta.
- Ele foi a primeira pessoa que conheci do submundo. – dou de ombros. – Por quê? – a questiono.
- Ele é um príncipe, por que iria se envolver com uma caçadora? – minha avó semicerra os olhos.
- Porque eles se apaixonaram. – solta de repente e eu o encaro boquiaberta.
- Quem falou isso para você? – solto uma gargalhada.
- As fofocas rolam soltas no submundo. – dou um tapa na minha testa.
- Ninguém se apaixonou por ninguém. – balanço minha cabeça. – Eu estava em perigo, ele ajudou, depois disso viramos amigos. – não era algo grande, mas as pessoas ao nosso redor sempre pareciam surpresas ao saber da nossa amizade.
- Não acredito que uma relação genuína possa crescer entre uma caçadora e um vampiro. – resmunga.
- É incrível como você jorra idiotices. – não parecia muito feliz com as palavras do meu primo, e até eu mesma não estava.
- Vejo que a situação tem ficado cada vez pior. – minha avó parecia ironizar. – São caçadores se tornando amigos de vampiros, lobos e vampiros entrando em uma possível guerra, o que mais falta acontecer? – ela se levanta da cadeira e para ao lado do meu avô. – Vocês dois brigarem por atitudes de terceiros não irá resolver nada no momento. – a ouço suspirar e encaro meu primo de com uma cara feia. – Acho que a melhor coisa a ser feita no momento é todos irem dormir. – ela aponta para o corredor; para ser bem sincera, eu nunca tinha visto minha avó tão esgotada como agora, e mesmo querendo continuar minha discussão com , eu resolvo respeita-la. Por isso aceno com a cabeça e puxo pelas mãos para que pudéssemos ir para o quarto que minha amiga estava utilizando, porém o cinismo em mim é maior e no meio do caminha me sinto na obrigação de passar próxima a e sussurrar em seu ouvido:
- Babaca. – solto uma risada no final.
- Não sou um babaca. – ele rebate com má vontade. – Não estou no clima para brincadeiras, . – me empurra levemente para liberar o caminho para ele e o deixo passar, abrindo a porta do quarto que eu ficaria em seguida.
- Você é estranha. – me segue com um sorriso enorme nos lábios.
- ... – não preciso falar muito.
- O que está acontecendo? – imediatamente me pergunta, afinal, ela realmente me conhecia muito bem.
- Parece que tudo tem ido de mal a pior desde que saí da academia e me mudei para essa cidade. – minha voz soava um pouco manhosa.
- Você está falando das mortes que estão acontecendo em uma quantidade absurda ou sobre sua expulsão da academia? – ela me questiona.
- Talvez sobre tudo? – faço uma careta e me sento no chão, pois não queria sujar a cama. – Parece que tudo está mais difícil, e olha que nossas missões não eram fáceis. – fecho meus olhos ao tentar relembrar tudo o que aconteceu só nessa ultima semana.
- Não estou aqui há muito tempo, mas percebi que temos uma linha tênue sobre como o assassino se movimenta. – escolhe esse momento para tirar o celular da mesinha ao lado e começa a mexer nele.
- O que você está fazendo? – me levanto rapidamente para ver o que estava fazendo em seu celular.
- Mandando uma mensagem para . – sinto um aperto no peito de repente, e a saudade do meu melhor amigo aperta.
- Espero que ele não invente de sair da academia também. – diferente de , , assim como eu, era filho de caçadores, e pelo fato de ser o único filho homem, as expectativas que seus pais colocavam em cima dele eram grandes.
- Você sabe que é o , ele faria qualquer coisa para desestruturar o sistema. – solto uma risada.
- Verdade. – balanço minha cabeça, afinal era como tinha dito uma vez, ele sempre faria o possível para causar uma explosão no mundo dos caçadores, e não me surpreenderia se ele fizesse algo no momento, ainda mais estando sozinho. – Vou tomar um banho, depois conversamos mais. – eu estava me sentindo imunda no momento e um banho demorado era tudo o que eu mais queria no momento.
Levei mais tempo do que o normal para tomar banho, e tomei todo o cuidado para que eu não machucasse ainda mais o meu ferimento da barriga. Depois de estar devidamente de banho tomado, eu visto uma roupa que peguei de e tiro o secador do balcão da pia, afinal, não tinha como eu dormir de cabelo molhado e arriscar acordar com uma dor de garganta por causa disso. Geralmente eu fico muito pensativa quando seco o meu cabelo, e hoje não seria diferente; parando para pensar, hoje eu tive muita sorte do meu ferimento ter apenas sangrado e não aberto os pontos durante a minha luta com o wendigo. E por falar em wendigo, eu estava um pouco preocupada com o fato dele não estar morto, afinal, wendigos continuavam perseguindo suas presas até elas morrerem, porém eu não poderia me dar o luxo da preocupação no momento, não quando eu me sentia tão cansada no momento. Assim que termino de secar meu cabelo, guardo o secador no lugar novamente e saio do banheiro, apenas para encontrar babando no seu travesseiro.
- Chegue para lá. – a empurro delicadamente, mas peço com a voz mais alta do que o normal, porque dormia igual à pedra e acordá-la era quase impossível.
- Ok. – murmura enquanto mantém os olhos fechados. – Você disse que iriamos conversar. – sua voz não passa de um resmungo.
- Vamos dormir, amanhã podemos conversar. – digo.
- ? – chama meu nome.
- Sim? – pergunto.
- Você sabe que é minha melhor amiga, certo? – aceno com a cabeça, apesar de ela não conseguir ver. – Então saiba que eu tenho suas costas nessa batalha. – solto uma risada baixa e encosto minha testa na dela.
- E eu tenho as suas. – murmuro por fim antes de me virar para o outro lado e tentar dormir.
Com eu tinha dito anteriormente, enquanto e eu temos uma ligação direta com uma família de caçadores, com é totalmente oposto, ela foi retirada de um orfanato quando tinha uns quatro ou cinco anos, porque minha avó naquela época estava atrás de uma nova geração de caçadores, do qual eles seriam ensinados desde crianças todas as regras do nosso mundo e assim os tornando quase imbatíveis, era o que ela desejava, e de certa forma conseguiu, tudo o que ela fez há alguns anos atrás acabou mudando toda a diretriz da academia. Por ter sido “adotada” muito cedo, não sabe muito sobre seus anos de orfanato, apenas se lembra do tempo passado dentro da academia, inclusive seu nome foi dado pela minha avó, pois a mesma gostava de mitologia grega e sempre deixava claro o motivo de ter dado esse nome para , pois segundo mina avó, minha melhor amiga imitava tudo o que ela falava, principalmente suas ultimas palavras, e por conta disso recebeu esse nome. Apesar da história de na mitologia grega ser um pouco bizarra, o nome combinava perfeitamente para ela.
Por falar em , ela era sem duvidas a pessoa que eu sempre tentei proteger e iria continuar protegendo não importa o que, afinal, quando cheguei à academia, ela foi a primeira pessoa a me acolher e, depois disso, nos tornamos amigas e parceiras em todas as missões e atividades que a academia aplicava.
Marnie e demoraram um pouco para se aproximarem, na realidade, Marnie era uma das poucas caçadoras que esteve na academia desde que nasceu, pois ela tinha sido deixada pelos seus pais no local antes deles partirem para uma missão e nunca mais voltarem. , apesar de aparentar ser uma pessoa fria e que não gosta de se envolver com ninguém, era um das melhores pessoas que eu conhecia, e totalmente atencioso e amoroso com as pessoas próximas a ele. Em um verão, quando meus pais decidiram não ir até a academia, ele gentilmente convidou e eu para passarmos o verão com ele e sua família, e apesar de seus pais serem um pouco duros com ele, fizeram nosso verão realmente ser bom, naquela época Marnie estava fora em uma missão e infelizmente não pode se juntar conosco.
- . – sinto meu corpo sendo balançado de um lado para o outro e desperto.
- O quê? – noto a cara de quase colada na minha e a garota sorri.
- Esqueci que você também tem um sono pesado. – minha amiga se afastada de mim rindo. – Sua avó está nos chamando. – encaro o relógio que tinha no armário ao lado e percebo que já eram nove horas da manhã
- Droga. – passo a mão no meu rosto. – Pensei em dormir até mais tarde. – me levanto da cama resmungando.
- Sei disso, mas parece que é urgente. – encaro minha amiga sem entender muito bem a situação.
- Você já falou com ela? – pergunto.
- Não. – parecia tão confusa quanto eu. – Ela acabou de passar aqui no quarto. – semicerro meus olhos.
- Ok. – com um suspiro passo meus braços no de . – Vamos ver o que ela quer. – eu ainda me sentia um pouco desorientada, pois tinha acabado de acordar, porém o fato de que minha avó tinha algo urgente para ser tratado me deixou um pouco mais desperta.
Caminho pelo corredor até a cozinha, e sem querer eu esbarro em . Meu primo solta um rosnado baixo, atitude que arranca uma risada de mim e segue seu caminho ao meu lado.
- Qual o motivo de você nos acordar tão cedo? – meu primo é o primeiro a se pronunciar.
- Precisamos resolver algumas situações. – cruzo meus braços quando minha avó começa a falar. – E isso quer dizer que o assunto envolve a família. – imediatamente vira de costas e começa a se retirar da cozinha para deixar eu e minha família conversando, visto que até meu avô estava no local. – Você fica . – arregalo meus olhos ao ver que minha avó manda minha melhor amiga ficar.
- A senhora disse que precisava resolver isso em família. – eu conseguia sentir o desconforto de mediante a situação.
- Hoje recebi uma ligação bastante curiosa da minha irmã mais velha. – vovó se senta na cadeira e fica nos encarando.
- O que ela falou? – eu sabia que a irmã da minha avó tinha poderes sobrenaturais, mas não tinha ideia do que ligação dela poderia nos envolver.
- É sobre a situação atual. – bufo, eu não queria ter que falar sobre esse assunto tão cedo, ainda mais em um domingo.
- E por que isso me envolveria? – pergunta.
- Porque minha irmã citou você, e agora parece que você faz parte da família. – eu ainda estava confusa demais com o que minha avó estava falando.
- Esse assunto seria algo relacionado ao meu tio? – tento ao menos entender o que estava acontecendo.
- Não. – meu avô não parecia muito feliz no momento. – Esse é um assunto que eu irei tratar diretamente com e sem a interferência dos mais novos. – abro minha boca para falar, porém sou cortada pelo meu avô. – Nem você, nem irão se meter nisso. – semicerro meus olhos.
- Espero que você não faça nenhum mal para ele, lembre-se do tratado. – novamente estou aqui para lembrar que lobos e vampiros mantêm um acordo que foi feito diretamente com o rei.
- Eu sei muito bem disso. – meu avô cruza os braços.
- Pois bem, o assunto que temos que tratar é sobre você pedir o auxílio dos seus amigos para entrarem na sua mente. – ergo minha sobrancelha e logo depois encaro .
- Por que essa mudança tão repentina? – pergunto.
- Porque as previsões que minha irmã fez é de que se não pararmos essa coisa agora, pessoas inocentes irão morrer. – vovó explica.
- Então por isso você está deixando. – resmungo.
- Eu sei que, mesmo que não fosse permitido, você iria fazer. – a senhora olha diretamente nos meus olhos. – Apenas faça. – vovó determina.
- Com muito prazer. – abro um sorriso imenso e olho para .
Eu tinha certeza de que as coisas iriam dar certo.
Capítulo Onze
Depois de ouvir atentamente o que minha avó queria, eu volto para meu quarto com atrás de mim resmungando mil e uma coisas.
- – a primeira coisa que ela faz ao fechar a porta, é me chamar.
- Sim? – me jogo na cama novamente.
- Por que você acha que sua avó agora está confiando na gente sobre pedir para os meninos entrarem na sua mente? – ela me pergunta.
- Não sei explicar muito bem, mas minha tia é um pouco vidente – faço uma careta ao não encontrar a palavra certa para descrevê-la.
- Sua avó deve confiar muito nela, ainda mais sabendo os riscos de que algo pode dar errado – fecho meus olhos.
- Ai é que está! Talvez ela não saiba completamente os riscos e por isso decidiu incentivar. – dou de ombros. – De todo modo, iremos fazer. – me levanto da cama. – Pode me emprestar seu celular? – pergunto.
- Por que você iria querer meu celular? – ela parecia um pouco desconfiada.
- Porque eu perdi o meu e preciso mandar uma mensagem para os meninos – respondo.
- Vamos encontrar eles? – o sorriso que abre é enorme.
- Não sei se e estão nessa cidade, mas vou pedir para encontrar com eles. – começo a escrever rapidamente e envio a mensagem para eles. – O que você acha de irmos correr um pouco? – como era sábado eu não precisaria ir para a escola ou fazer qualquer coisa, então talvez uma corrida seja bom para começar a finalmente me exercitar.
- Pode ser! Eu trouxe roupas pra treino de qualquer jeito, você pode pegar algo – ela começa a mexer em sua mala.
- Onde você deixou o restante das suas coisas? – pergunto ao notar que ela só tinha duas malas e uma mochila e eu sabia que tinha muito mais coisas no dormitório.
- levou para a casa dele. – ela me olha. – Os pais dele não ficaram muito felizes ao saber que eu estava saindo da academia logo depois de você, e ficaram apreensivos com as atitudes de . – solto uma risada, pois eu imaginava os pais dele indo até a academia, tentando convencer o filho a não seguir nossos passos.
- E no fim tudo se resolveu? – pergunto.
- O que você acha? Eles fizeram prometer que não iria sair da academia, mesmo eu acreditando que isso pode acontecer a qualquer momento, porque estamos falando de – isso era exatamente uma atitude que eu esperava dos pais dele.
- Pelo menos eles guardaram suas coisas. – joga para mim uma legging e um top. – Obrigada. – eu não esperava que seguisse nossos passos, na realidade, eu não esperava que fosse fazer algo do gênero, porém eu me sentia feliz por ela estar ao meu lado nesse momento.
- Eles foram generosos em aceitar guardar minhas coisas, pelo menos fico tranquila em saber que elas não foram para o lixo. – concordo com ela. – Agora vá se vestir. – aponta para o banheiro.
- Você é uma chata – mostro a língua para ela, porém eu faço exatamente o que ela me pede.
- E você ama quando sou assim. – continuo escutando a voz de enquanto troco de roupa. – Será que e já acordaram? – fico pensativa. Eles não tinham tomado café da manhã com a gente, pois minha avó queria que eles continuassem dormindo, então não tinha como eu saber se eles tinham acordado ou não.
- Não tenho ideia, por quê? – pergunto.
- Vamos acordar eles? – a encaro assim que saio do banheiro.
- Você realmente quer acordar um lobo? – pergunto para ter certeza.
- Sim? – parecia um pouco indecisa.
- Se você está tão certa disso... – passo por ela. – Por que não vamos agora? – a chamo quando paro na frente da porta.
- Isso é um teste? – parecia um pouco desconfiada para mim.
- Por que seria um teste? – retruco.
- Porque geralmente você não concorda comigo facilmente. – ela continua me encarando.
- Às vezes você se supera, não precisa ficar desconfiada, vamos apenas acordá-los. – abro a porta do quarto. – O que você está esperando? – pergunto.
- Ok. – parecia despertar de um transe. – Depois vamos correr. – ela passa por mim falando.
- Pode deixar. – espero ela sair completamente do quarto para fechar a porta. – Só me tira uma duvida, por que você quer tanto acordá-los? – pergunto.
- Pra não me sentir mal em deixa-los sozinhos? – faz uma careta.
- Tudo bem, vamos lá. – a puxo pela mão, apenas no caso de que ela desista de acordá-los. – Preciso falar com de qualquer jeito. – dou de ombros.
Caminho até o quarto que minha avó tinha acomodado e e aproveito esse momento para por meus pensamentos no lugar. Realmente estávamos ficando aqui com mais frequência, e eu era muito grata por minha avó permitir que isso acontecesse e cuidasse tão bem de nós, porém eu não queria complicar a vida dela trazendo problemas pessoais para sua casa. Eu teria que achar uma maneira de resolver esse caso o mais rápido possível, não só porque pessoas estavam morrendo, mas também pelo motivo de que eu quero que meus pais vejam que apesar de não ser graduada como caçadora, eu era capaz de ir além dos ensinamentos da academia e da Ordem. Paro na frente da porta do quarto que os meninos dormiram na noite passada, e coloco minha orelha próxima a ela para saber se eles já estavam acordados, arrancando uma risada de , e como não ouço nenhum barulho vindo de lá, abro a porta devagar para que se eles estivessem dormindo, não se assustassem com a minha invasão.
Ao entrar no quarto me deparo com os dois dormindo profundamente, como se nada no mundo pudesse abalar seu sono, e inconscientemente solto uma pequena risada com o gesto de estar olhando para eles. Tenho que admitir que talvez eu esteja surpresa com a resistência de ambos, principalmente a do , pois ele é uma pessoa comum que em nenhum momento recebeu treinamento para lidar com uma situação como essa, e por incrível que pareça estava fazendo um bom trabalho em se manter tranquilo e ainda por cima ser bom o suficiente para manter o segredo do seu melhor amigo.
Ainda perdida em pensamentos me pergunto como acabei me envolvendo com eles, ou melhor, como deixei eles se envolverem comigo.
- Acorde eles de uma vez – sussurra para mim, e eu a encaro parada na porta, e me sinto um pouco irritada pelo fato que acabou sobrando para eu acordar eles.
Para ser bem sincera, ainda encaro os dois por alguns segundos antes de acorda-los, e meus olhos nesse momento acabam fixando em . Era um pouco assustador pensar nisso, mas ele vinha chamando minha atenção há algum tempo. Na realidade, era como se existisse um imã que me forçava olhar para ele atentamente, e essa não era a primeira vez que me vi nessa situação. Eu realmente estava muito curiosa para saber como ele levou tanto tempo para se transformar em lobo, ainda mais quando os lobos se transformavam ainda crianças. Na verdade, olhando por esse ângulo, seu comportamento lembrava muito os lobos do ártico, sim, os lobos selvagens que não tiveram interações diretas com humanos, a não ser os exploradores que se aproximaram para estudar o comportamento de uma matilha isolada do mundo.
- Ei. – fico parada na porta enquanto os chamo. Eu não sabia como poderia ser a reação de sendo acordado.
- Só mais cinco minutos, mãe. – resmunga e vira para o outro lado.
- Eu adoraria deixar vocês dormirem por mais cinco minutos, porém vocês precisam acordar. – falo calmamente enquanto me encosto na soleira da porta.
- ? – é o primeiro a despertar.
- Quem mais seria? – tenho um sorriso brincado nos meus lábios.
- Precisamos mesmo levantar? – ele resmunga e volto a deitar a cabeça no travesseiro.
- Sim. – estava para na soleira da porta e praticamente berra em meus ouvidos.
- . – se levanta ciente de que eu não iria deixa-lo voltar a dormir, e observo de forma divertida o momento que ele tenta inutilmente acordar .
- Ele tem um sono pesado, não é mesmo? – me aproximo da cama que os dois estavam dormindo e observo atentamente. – está ao menos respirando? – pergunto.
- Sim. – balança a cabeça. – É só um pouco difícil de acordar ele. – reviro meus olhos.
- Deixe comigo. – me aproximo ainda mais do garoto, pronta para fazê-lo acordar.
- O que você está fazendo? – segura meu braços.
- Se ele não acorda de maneira simples, devemos fazê-lo despertar da maneira mais difícil. – assopro meu punho e me preparo para bater no garoto.
- Nem tudo é resolvido na violência. – novamente me impede.
- Você não é nada engraçado. – faço uma careta, e me afasto.
- . – novamente começa a sacudir se amigo, que finalmente parecia estar despertando.
- O que aconteceu? – pergunta sonolento.
- Levante. – inclino minha cabeça para ver despertando. – Espero vocês na sala. – falo rapidamente, na realidade existia algo que estava me incomodando desde a noite anterior, e eu era obrigada a falar rapidamente com .
- Você devia ser mais suave. – reclama ao meu lado.
- A ideia de acorda-los foi sua, mas quem fez isso no final? – a encaro com as sobrancelhas arqueadas, afinal a ideia de acordar os meninos tinha sido dela, porém no momento que bati na porta, desistiu.
- Tudo bem, dessa vez você tem razão, a ideia de acordar os dois foi minha, mas então eu vi os dois dormindo tranquilamente e não tive coragem. – ela fala teatralmente.
- Ok. – gesticulo para ela andar logo, pois estava começando a ficar sem paciência.
- . – praticamente cantarola ao ver meu primo. – Como você está, lobinho? – ela passa por mim e vai até ele, atitude que acho um tanto quanto estranha.
- Você está bem, ? – pergunto.
- Claro. – minha amiga parecia feliz ao ver a cara feia do meu primo. – Talvez você não saiba, mas mesmo brigando com ele constantemente, estamos nos tornando cada vez mais próximos. – observo a cena enquanto belisca as bochechas de e arregalo meus olhos.
- O quão próximos...? – as palavras de poderiam facilmente ter duplo sentindo.
- Somos apenas amigos. – parecia se divertir com a minha cara.
- Não somos nada, você que se ilude facilmente. – meu primo não parecia estar gostando muito da brincadeira.
- Adoro sua negação, lobinho. – observo a cena se desenrolar na minha frente sem entender muito bem o que se passava na cabeça de .
- ... – parecia começar a se irritar.
- Já entendi... Ninguém precisa saber. – ela pisca para ele e eu arregalo meus olhos. – Os meninos irão demorar muito? – volta a olhar para mim.
- Não tenho ideia. – faço um biquinho. – Eu preciso sair para correr. – cruzo meus braços.
- É só ir. – resmunga.
- Acordou irritado? – o encaro de cara feia.
- Não. – sua resposta é curta e grossa e diz muito sobre seu humor no momento.
- Tem certeza? Porque desde o café da manhã você está um pouco... – balanço a minha cabeça e resolvo deixar para lá. – Quer saber, não é problema meu. – dou de ombros e me jogo no sofá. – Por que você não faz um favor para mim e chama os meninos? – bato meus olhos ao fazer o pedido.
- Já estamos aqui, não tem nenhuma necessidade de irem nos chamar. – aparece.
- Demoraram. – dou um sorriso fechado.
- Eu precisava fazer minhas coisas. – fala seriamente. – O que você queria? – ele me pergunta.
- Existe algo que precisamos conversar antes de eu sair para correr. – eu não sabia muito bem como eu iria explicar isso para , porém era um assunto necessário.
- Aconteceu alguma coisa? – me encara um pouco preocupado com o que eu iria falar, porém resolvo ignora-lo, afinal, eu não tinha nada para falar com ele no momento, apenas com seu amigo.
- ... – chamo seu nome lentamente.
- Não gosto quando as pessoas não vão direito ao ponto. – ele parecia um pouco irritado.
- Tudo bem, eu irei direito ao ponto. – o encaro e depois olho para meu primo. – A lua de sangue está se aproximando. – faço uma careta.
- Isso não é bom, estive tão imerso em tudo que está acontecendo que eu me esqueci completamente sobre isso. – o silêncio cai sobre a sala e os meninos me encaram confusos, e meu primo é o primeiro a falar.
- E o que isso significa? – novamente parecia não estar entendendo o que realmente estava acontecendo, e isso era compreensivo, visto que ele tinha se transformado a pouco tempo e nem ele e muito menos tinham alguma ideia de como as coisas costumavam funcionar nesse mundo.
- Significa que se você não tem controle total da sua transformação, você se torna um grande perigo pra as pessoas ao seu redor. – explica.
- E o que podemos fazer para que ninguém se machuque? – a preocupação de era evidente.
- Prender você. – faz uma careta. – Acredito que seja a coisa mais sensata a ser feita, até porque não tem como prevermos como sua transformação será. – concordo com meu primo.
- Luas cheias em si já são perigosas para os lobos que não tem um bom controle com suas transformações. – explico. – Agora uma lua cheia de sangue... – solto um suspiro.
- Isso é muito ruim? – me pergunta.
- É péssimo. – coço minha cabeça.
- Nós ficamos dez vezes mais fortes, então realmente é sensato deixarmos você preso. – meu primo volta a falar.
- Tudo bem. – parecia estar aceitando facilmente o fato de que não seria fácil.
- Alguém irá ficar com ele? – pergunta.
- Geralmente lobos recém-transformados ficam em uma cabana protegida. – eu não sabia muito bem como minha família lidava com isso, mas a meu ver, para proteger e as pessoas ao seu redor, seria melhor colocá-lo em uma cabana e selá-la com pó de tramazeira.
- Não se preocupe com isso, , iremos protegê-lo e proteger as pessoas ao nosso redor. – me olha.
- E você? – pergunto para ele.
- O que eu tenho haver com isso? – meu primo parecia um pouco confuso com a minha pergunta.
- Você tem controle sobre a transformação em uma lua de sangue? – pergunto.
- Você ficaria surpresa. – ele parecia estar me desafiando a desafia-lo, porém eu não entraria nesse jogo.
- Espero que você realmente esteja falando sério sobre isso. – falo para ele e me viro para encarar . – Você está de acordo? – era importante que ele concordasse com isso.
- Sim. – balança a cabeça.
- Ótimo. – aceno com a cabeça. – E espero que você – aponto para – fique longe de problemas nesse dia. – faço uma careta.
- Pode deixar. – ele faz um joinha para mim.
- Agora que as coisas estão esclarecidas, eu posso sair. – abro um sorriso enorme e encaro . – Vamos? Ou você quer falar alguma coisa? – pergunto para minha amiga.
- Vamos logo, sinto que se eu não sair nesse momento para correr irei cometer um crime. – ela fala rindo.
- Exagerada. – reviro meus olhos e a puxo pelas mãos. – Nós vemos na escola. – essa era eu mandando os meninos embora da casa da minha avó sutilmente.
Saio da casa da minha avó e logo pegamos a trilha para dentro da floresta. Talvez não fosse a melhor ideia do mundo, não depois de eu ter sido atacada lá, mas era interessante eu rever a cena do local que fui ferida, pois assim talvez eu pudesse me recordar de algo, visto que as lembranças daquele dia são vagas.
- Você lembra onde estava quando foi atacada? – me pergunta.
- Não me lembro muito bem. – solto um suspiro, pois eu realmente queria poder me lembrar mais desse dia.
- Isso é ruim, será que sua memória não foi apagada? – ela me pergunta.
- Ou talvez o choque tenha feito eu me esquecer das coisas que aconteceram naquele dia. – fico pensativa.
- Eu fico pensando no que poderia ter acontecido realmente com você naquele dia, você tem sorte de estar viva. – fecho meus olhos e concordo.
- Felizmente nada de ruim aconteceu comigo. – dou um sorriso para ela. – Agora você tem que concordar, essa floresta tem uma áurea um pouco pesada. – faço uma pequena reflexão.
- Sim, isso é verdade. – cruza os braços e analisa o local. – O que será que aconteceu aqui naquele dia? – ela fica pensativa.
- É o que eu procuro saber desde que saí ferida daqui. – me agacho para tentar analisar o solo, porém nada parecia de errado com ele, na realidade, fazia dias desde o meu ataque, então com certeza não haveria absolutamente nada que pudesse me ajudar no momento. – Você pediu para os meninos nos encontrarem aqui? – pergunto.
- Mandei uma mensagem para ; aparentemente, não quer atender minhas ligações. – ouço bufar.
- O que aconteceu? – semicerro meus olhos ao perguntar.
- Nada demais, apenas tivemos uma discussão. – solto uma pequena risada, afinal, e tinham o temperamento muito igual, o que de certa forma acabava causando alguns desentendimentos no meio do caminho, pois nenhum dos dois gostava de dar o braço a torcer.
- Pior que eu consigo imaginar como foi a discussão de vocês dois. – continuo rindo. – E respondeu você pelo menos? – mudo de assunto.
- O que você acha? – ela me pergunta.
- Que ele já deve estar por aqui, apenas esperando o momento certo para nos pegar de forma desprevenida. – era bem a cara dele fazer uma coisa dessas.
- Podemos esperar qualquer coisa vinda do . – concorda.
- Você devia ter mais cuidado com o que fala, seria um pouco triste acabar com você apenas com um estralar de dedos. – ouço a risada escandalosa de vindo por entre as árvores próximas a mim.
- – olho para todos os cantos a procura dele.
- Olá, princesa. – ele sussurra no meu ouvido e me viro para encara-lo.
- Idiota. – dou um pequeno tapa em seu braço. – Talvez você que devesse ser um vampiro. – reviro meus olhos, pois ele gostava de se esgueirar e sempre me dar sustos como esse.
- Não faça isso. – ele se afasta de mim reclamando. – Olá, . – para na frente dela sorrindo.
- Esses dois. – ouço se aproximando e o logo vou até ele.
- Senti sua falta. – faço um biquinho.
- Engraçado... Eu não. – ele começa a rir, provavelmente pela cara que eu faço no momento.
- Não sei o que está acontecendo com as pessoas ao meu redor por estarem de mau humor hoje. – começo a resmungar.
- Talvez o problema não seja as pessoas ao seu redor, e sim você. – se existia duas coisas que eu não gostava de lidar era o mau humor e a sinceridade de .
- Vou fingir que não ouvi o que você falou. – bufo.
- Sua escolha, e apenas sua. – caminha até . – Foi aqui que você foi machucada? – ele me encara novamente.
- Sim. – cruzo meus braços. – Vocês conseguem sentir isso? O ar estranho nesse local? – pergunto.
- Isso cheira a magia. – ouço falar.
- Sério? – então realmente existia uma explicação para eu não me lembrar de absolutamente nada.
- Sim, mas não é magia boa. – ele parecia um pouco pensativo.
- Então isso quer dizer que estamos em maus lençóis? – pergunta e parecia estar um pouco preocupada.
- Depende. – nos encara. – Qualquer magia pode ser perigosa. – ele parecia pensativo. – Tudo depende da pessoa que a usa. – solto um suspiro.
- O que podemos fazer? – observo enquanto pede uma solução para .
- Vocês sabem que qualquer tipo de magia pode ser localizado. – ele começa a explicar. – Porém isso exige tempo e esforço. – fico um pouco pra baixo.
- E aparentemente não temos tempo o suficiente para isso, certo? – me encara, esperando uma resposta.
- Você tem razão. – faço uma careta. – Então a única coisa que podemos fazer para poupar tempo, é entrar na minha mente. – olho diretamente para , pois eu sabia que ele não iria aceitar isso facilmente.
- Não. – como esperado ele fica contra o meu desejo. – Você prometeu. – parecia realmente sentindo com a minha atitude.
- Eu sei que prometi, mas não acho certo que pessoas inocentes paguem o preço por não conseguirmos achar o culpado. – explico.
- , não podemos achar um jeito rápido e que não saia ferida? – pergunta.
- Posso tentar alguma coisa, mas terei que ter comigo de qualquer jeito. – eu não sabia o que se passava na cabeça de nesse momento, porém eu tinha certeza de que ele faria o seu melhor para descobrirmos o que estava acontecendo ao nosso redor sem ter que usar magia em cima de mim.
- Não temos tempo hábil. – a preocupação era algo que estava me assombrando nos últimos dias. – Precisa ser algo rápido. – mordo meus lábios.
- Deixe comigo. – pisca. – Acho que vamos agitar essa cidadezinha. – ele comenta.
- ... – se aproxima dele. – Não podemos chamar atenção. – massageio meus olhos, pois eu conseguia imaginar a cena dele se juntando com e tudo virando uma bagunça.
- ... – chamo sua atenção.
- Sim? – ele se vira para me encarar um sorriso enorme nos lábios.
- Essa cidade tem caçador saindo até do bueiro. – explico. – Não quero que vocês sejam prejudicados por isso.
- Não precisa se preocupar, nós conseguimos nos virar. – reviro meus olhos pela sua teimosia.
- ... – se não tivesse me interrompido, eu com certeza teria dito o que pensava no momento.
- As meninas tem razão, existem muitas coisas acontecendo nessa cidade e um passo em falso que dermos, os caçadores irão usar isso como uma forma de nos punir e iniciar uma guerra. – concordo com tudo que fala.
- Então eu não posso agitar a cidade? – ele pergunta. – Nem um pouco? – reviro meus olhos, pois realmente era difícil tirar algo da cabeça de quando ele estava crente de que poderia fazer o que quisesse e sair da situação sem nenhum problema.
- Não! – , e eu falamos juntos.
- Tudo bem, não vejo graça nenhuma em trabalhar nas sombras, mas já que vocês insistem... – ele parecia um pouco chateado com a nossa recente proibição, porém eu tinha certeza de que em breve ele iria se esquecer disso.
- Em quanto tempo você acha que pode chegar? – pergunto mudando completamente de assunto.
- Vou entrar em contato com ele, quando chegar, eu aviso. – faço um careta.
- Ligue para . – aponto para minha amiga. – Ela é a única que está com o celular. – sorrio.
- Não comprou um ainda? – me pergunta. – E o wendigo? Pensou em como irá acabar com ele? – por um momento eu realmente tinha me esquecido dele.
- Sem tempo. – respondo a primeira pergunta. – E sobre o wendigo, ele ainda não apareceu, então quando ele vir atrás de mim, pensarei em alguma coisa. – dou de ombros.
- Você recebeu uma pancada na cabeça por acaso? – parecia atordoado com a minha resposta.
- Eu não tenho tempo de ir atrás de um wendigo no momento, eu tenho que resolver esse caso antes dos meus pais de qualquer jeito. – finalizo.
- Isso está virando um desafio. – observo colocando as mãos em seu rosto.
- Desafio por quê? – pergunta talvez curioso para saber o que minha amiga tinha para falar.
- Parece que estamos em uma corrida para vencer os pais de de qualquer jeito. – balanço minha cabeça, pois não era tão verdade assim.
- ... – talvez tenha exagerado um pouco.
- É verdade, . – a fisionomia de é séria.
- Acho um pouco exagerado você falar que estamos em uma corrida para vencer meus pais. – suspiro.
- Talvez esteja certa. – para concordar diretamente com alguma coisa que tenha dito, é porque ele sentia o mesmo.
- Sabemos como você é um pouco competitiva. – olho da cabeça aos pés, porque ele era uma pessoa competitiva, não eu. – Não me olhe assim, , você sabe que é isso. – continuo encarando ele. – Pare! – solto uma risada ao vê-lo ficar um pouco sem graça com meu gesto, pois eu sabia que ele sabia sobre o que eu estava me referindo apenas com o olhar.
- Tudo bem, vamos parar por aqui. – olho para o relógio. – Tenho que voltar para casa da minha avó e depois para minha casa, antes que meus pais apareçam por lá. – eu não duvidava muito que meus pais pudessem aparecer do nada na casa da minha avó apenas para mostrarem ter algum interesse na filha deles, e mesmo que isso seja um gesto completamente falso da parte deles, eu sabia que míseras palavras iriam atormentar minha avó e meu avô por muito tempo, e eu não queria isso para as pessoas que estavam me acolhendo a todo o momento.
- Odeio ter que me despedir de você. – se aproxima de mim e abre os braços. – Mas sei que é necessário. – concordo com ele.
- Não se esqueça de falar com , quanto antes conseguirmos essas informações, mais rápido iremos acabar com tudo. – sorrio para ele e o abraço. – E, por favor, tome cuidado enquanto circular pela cidade. – peço com gentiliza.
- Pode deixar. – desfaz o abraço e eu vou até .
- O mesmo para você, a situação entre lobos e vampiros está quente demais. – olho para ele atentamente. – Não quero que você se machuque.
- O mesmo vale para você. – me puxa para um abraço e novamente me surpreende, pois geralmente ele não demonstrava esse tipo de feição carinhosa na frente das pessoas.
- Você realmente é o que conhecemos? – pergunta.
- Não me irrita. – ele puxa para os seus braços depois de me soltar.
- Isso parece tanto com um filme de romance. – deixa escapar e eu arregalo meus olhos.
- Um dia quem sabe eu escreva a incrível história de uma caçadora e de um vampiro. – entro na onda de .
- Vocês irão morrer pelas minhas mãos. – aponta para e eu.
- Não seja exagerado. – pisco para ele. – Estamos combinados então? – pergunto para os meninos.
- Espere uma ligação nossa. – acena.
- Ok. – me despeço mais uma vez dos dois antes de ver ambos irem embora.
- O que você acha? – me pergunta de repente.
- Sobre o quê? – a encaro.
- Acha que esse método de rastreio da magia anterior irá da certo? – noto a preocupação em seus olhos.
- Se isso não der certo, infelizmente terei que quebrar minha promessa e fazer o que acho correto ser feito. – suspiro e olho ao redor novamente. – Eu só quero acabar com isso o mais rápido possível para que eu possa seguir com a minha vida. – eu estava sendo sincera quando disse que queria acabar com tudo isso de uma vez.
- Espero que não demore muito, pois estou começando a ficar aflita. – realmente parecia inquieta, e talvez ela estivesse mais inquieta do que eu imaginava.
Saindo da trilha e caminhando até a casa da minha avó, percebo um carro muito conhecido estacionado na frente da garagem e solto um suspiro, afinal, por que meus pais tinham que inventar de aparecer assim do nada? Eu sabia que eles estavam ali não por estarem preocupados comigo, mas sim porque queriam saber se eu tinha uma resposta para tudo o que estava acontecendo nessa cidade, até porque a verdade era uma só, eles não se importavam comigo.
Entro dentro de casa silenciosamente e ao notar que meus pais não estavam na sala caminho de forma silenciosa procurando por eles.
- O que você está fazendo? – sussurra.
- Quero saber onde meus pais estão e se eles estão falando alguma coisa. – sussurro de volta.
A casa da minha avó não era tão grande quanto aparentava ser, na realidade, ela tinha apenas um andar, porém a distribuição dos locais na casa era um pouco confuso, mas eu conhecia a casa com a palma da minha mão, então caminhei silenciosamente até chegar na cozinha, o cômodo mais afastado da casa.
- Isso é um absurdo. – rapidamente coloco minhas mãos na boca para abafar qualquer som que eu pudesse fazer.
- Vamos lá Pat, o que é um absurdo? - a voz da minha avó não parecia nada feliz, pelo contrário.
- Se vocês não dessem corda para as ideias de , ela não iria se meter nesse caso! - meu pai berra e eu arregalo meus olhos, um pouco surpresa pela falta de controle dele.
- Não fale besteiras, Pat, você sabe que nossas palavras não importam para ela. – parecia que meus avós e meu pai estavam reunidos na cozinha, então me aproximo mais um pouco para continuar ouvindo a conversa deles.
- tem se afundado cada vez mais no submundo, você devem achar isso maravilhoso, mas para uma caçadora é realmente perigoso. – reviro meus olhos, pois não era como se meus pais se preocupassem com meu bem estar, na verdade, eles só tinham medo de serem repreendidos pela Ordem por conta das minhas atitudes.
- Você está insinuando que é nossa culpa? – vovó pergunta irritada.
- Sim. – papai fala.
- Quanta hipocrisia. – escuto meus avós sussurrarem.
- O que está acontecendo? – dou um pulo para trás assim que escuto a voz de batendo no meu ouvido.
- Fique quieto. – coloco meu dedo indicador nos seus lábios e peço silêncio para ele e que quase deu um berrinho ao ouvir a voz do meu primo.
- A mandem para casa. – fico mais atenta na conversa. – E peçam para que ela pare de caçar, talvez escute vocês. – fecho meus olhos e os massageio em sequência, meus pais já deviam ter aprendido há muito tempo que quando coloco alguma coisa na minha cabeça, era muito difícil de mudar.
- Desculpe, Pat, mas não irei fazer isso. – vovó fala.
- O que seu pai está fazendo aqui? – diferente de mim, não precisava se esgueirar pelos cantos para poder ouvir conversas alheias.
- Você acha que se eu soubesse, eu estaria tentando ouvir a conversa deles? – me viro para encarar meu primo.
- Você está certa. – observo inclinando a cabeça para o lado para continuar ouvindo a conversa e faço a mesma coisa.
- Mamãe, seja consciente pelo menos uma vez na sua vida. – ouço meu pai pedindo. – se envolver nessa briga só irá piorar as coisas para ela. – dou o meu melhor para não invadir a cozinha nesse exato momento e pedir para que meu pai se retire, eles nunca se preocuparam comigo, então por que agora ele tinha tanto medo de eu me envolver nisso?
- Não insista, Pat. – acredito que vovó dá o assunto por encerrado, pois logo em seguida me empurra para entrarmos na cozinha.
- Olá tio. – meu primo invade a cozinha com uma confiança enorme.
- . – meu pai não parecia muito feliz em ver meu primo. – Pensei que você estivesse em Nova Iorque. – baixo minha cabeça e solto uma risada. – O que é engraçado, ? – ele me encara.
- Nada demais. – gesticulo com a mão. – Apenas fiz a mesma pergunta quando encontrei . – dou de ombros. - O que você está fazendo aqui papai? – pergunto.
- O que você acha? – meu pai não parecia feliz em me ver ao lado do meu primo. – Sua avó nos ligou ontem à noite avisando que novamente você ficaria aqui. – faço um biquinho enquanto meu pai continua gesticulando loucamente com as mãos.
- Pelo que você pode ver, estou ótima. – ergo meu dedo polegar para cima.
- Você não está bem, , e acho que você deve se afastar do caso. – meu pai continua falando.
- Por que você não a deixa decidir o que quer? – fica ao meu lado e muda sua postura ao falar com meu pai.
- Não se meta nisso, vira lata. – meu pai fala entredentes. Não era novidade para ninguém que meu pai não suportava ou qualquer pessoa da sua própria família.
- Não se esqueça de que ainda sou forte o suficiente para matar você. – meu primo continua com uma postura firme e eu solto um xingamento baixo.
- Será que todas as reuniões familiares tem que ser assim? – pergunto, chamando a atenção de todo mundo.
- Nunca tivemos reuniões familiares antes. – meu pai bufa. – Pegue suas coisas, vamos para casa. – ele usa um tom autoritário.
- Desculpe, mas não posso. – faço uma careta.
- Como? – papai parecia não acreditar nas minhas palavras. – Você resolveu se rebelar mais um pouco? – ele me pergunta, sério.
- Papai... – eu ia dar uma reposta à altura, porém sou interrompida.
- ? – acredito que finalmente criou coragem para entrar na cozinha e se revelar para o meu pai, não que ele já não soubesse que ela estava aqui.
- ? – meu pai praticamente berra ao ver minha amiga ali, quase como se estivesse realmente surpreso em vê-la ali.
- Olá Pat. – minha amiga fica atrás, sem dar nenhum passo ao ver meu pai parado na cozinha.
- Desde quando você está aqui? – o olhar do meu pai passa de para mim e por fim para na minha avó.
- Hã? – tenta se fazer de desentendida. – Talvez eu deva ir para o quarto? – ela aponta para a porta.
- Você fica. – minha avó manda. – Vamos resolver tudo isso agora. – ela passa a encarar todo mundo. – Se sentem. – ela praticamente ordena e até meu pai a obedece.
- Droga! – xingo e vou me sentar.
- Eu quero saber tudo o que está acontecendo, e não quero mentiras. – meu pai cruza os braços como se fosse um garoto mimado e faço uma careta.
- O que você quer saber? – ergo minha sobrancelha para ele.
- O que , e principalmente , estão fazendo aqui? – ele procura se apoiar na mesa e nos encarar
- Desde que eu não tenho pais, posso tomar qualquer decisão quando o assunto é minha vida. – parecia decidida em não baixar a cabeça para o meu pai.
- É isso? Eu quero saber o motivo de você ter desistido da academia. – meu pai engrossa a voz.
- Simples. – sorri. – Sua sogra enlouqueceu completamente desde que teve que expulsar da academia. – minha amiga estava mais relaxada do que antes. – Por conta disso eu resolvi sair e vim até . – ela termina sua explicação, e ao olhar para as feições do meu pai, ele não estava nada feliz.
- Minha família sempre considerou você parte da família, e é assim que você nos retribui? – papai pergunta.
- Não sei onde você achou que sua família me considerava parte da família, porque, para ser bem sincera, a única família que tenho aqui é , e você ou sua esposa não estão inclusos nela. – baixo minha cabeça para não ver a reação do meu pai, pois tinha certeza de que não conseguiria conter uma risada.
- ... – ele a repreende. – Você deve voltar imediatamente para a academia.
- Sinto muito, mas não irei. – ela cruza seus braços. – Me sinto muito confortável aqui. – coloco a mão por cima da minha boca para esconder um sorriso.
- Vocês estão ficando loucos. – meu pai parecia desacreditado. – Eu quero que vocês entendam que as coisas não estão boas, e vocês duas estão incluindo humanos num assunto da Ordem. – arregalo meus olhos, ficando surpresa pelo meu pai saber que tínhamos conosco.
- Como? – pergunto.
- Aquele garoto é bastante perceptível. – meu pai faz uma careta ao se referir a . – E ainda por cima, você está metida com lobos, vampiros e bruxos.
- Isso não é nenhuma novidade para nós. – conseguia falar demais quando queria.
- . – a repreendo.
- Vocês duas são um caso perdido. – meu pai balança a cabeça.
- Se elas são um caso perdido, o que você está fazendo aqui ainda? – pergunta.
- Porque, diferente de vocês, eu quero resolver as coisas. – eles ficam se encarando por um tempo.
- E como você tem tanta certeza de que não estamos fazendo o mesmo? – meu primo pergunta.
- Vocês estão apenas atrapalhando. – papai se levanta.
- Aonde você vai? – minha avó agarra o braço do meu pai.
- Estou farto de tentar por alguma coisa na cabeça de vocês. – ele para e olha diretamente para mim. – Você será a única culpada pela sua morte e pela morte dos seus amigos. – a frase que ele fala fica presa na minha mente, porém eu faria o possível para que ela não se tornasse realidade. – Nos vemos em casa. – ele não parecia feliz.
- Ok. – as palavras saem pausadamente da minha boca. – Acho que depois disso vou descansar na sala. – aponto para a porta atrás de mim e começo a sair de lá.
- . – corre até mim e entrelaça seu braço no meu. – O que iremos fazer agora? – ela me pergunta.
- Continuamos de onde paramos. – começo a tossir de repente.
- Você está bem? – me pergunta preocupada e eu aceno com as mãos, caminhando até o sofá.
- Acho que temos que terminar isso logo, meus pais estão à beira da loucura. – começo a resmungar.
- Seus pais irão causar problemas para nós, isso sim. – eu não tinha ideia de que estava nos seguindo, por isso fico surpresa quando ele se joga em um sofá ao lado do meu.
- O que você quer dizer com isso? – pergunto.
- Eles querem encrenca, e talvez tenham achado a formada perfeita para conseguir isso. – o encaro um pouco confusa.
- E de que forma seria? – o encaro enquanto espero por uma resposta.
- Usar você. – ele sorri como se tivesse razão.
- Talvez eles realmente estejam vendo uma oportunidade nisso tudo, e é por isso que temos que capturar o culpado dessas mortes. – faço um biquinho. – E a propósito, adorei o modo que você enfrentou meu pai. – faço um joinha para ele. – E ... – olho para minha amiga – eu sempre serei sua família, jamais pense o contrario. – seguro a mão da minha amiga com força.
- Sei que Pat pode até ser seu pai e um dos melhores caçadores que já conheci na minha vida, mas nada do que ele fale me fará voltar para a academia sem você. – ela me olha com desespero.
- Acho que nunca cheguei a perguntar, mas as coisas estão tão ruins assim na academia? – a questiono.
- Você sabe em partes o que aconteceu, mas acredito que não sabe que, depois da sua expulsão, sua avó foi até o submundo, certo? – prendo minha respiração, pois tinha comentado comigo sobre isso.
- Então esse é o motivo de estar proibida de entrar no submundo? – semicerro meus olhos, até parecia saber dessa minha restrição no momento.
- Sim. – como sempre falando demais. – Na realidade, ela foi até o submundo atrás do , mas não o encontrou. – ela sorri. – Se não me engano, essa foi à mesma época que um dos guardas dele foi morto. – as mãos de fecham em punhos.
- ... – faço uma careta, pois esse assunto ainda era delicado, e mesmo ela sabendo disso, minha amiga fez questão de mencionar.
- Então todo mundo ainda continua falando sobre o guarda do ? – meu primo pergunta.
- É claro! O cara foi estraçalhado. – arregalo meus olhos, minha melhor amiga não tinha filtro em suas palavras. – E ele era um dos melhores guardas do , o coitado foi pego totalmente desprevenido, seu pai fez um ótimo trabalho. – prendo minha respiração, pois eu não tinha ideia de como meu primo iria reagir a isso.
- E depois? – pergunta.
- Essa morte criou certo atrito entre vampiros e lobos. Acredito que as coisas não estão muito boas, e não me surpreenderia se procurasse vingança, o cara, além de ser guarda dele, era seu primo. – baixo minha cabeça com a informação.
- Parece que teremos uma batalha pela frente. – meu primo fala decidido.
- Sinceramente? – olha para ele. – Acredito que Celine e Levi não irão permitir que isso aconteça.
- Então o que você acha que irá acontecer? – parecia um pouco curioso com a resposta de .
- A verdade? É capaz de eles entregarem seu pai. – novamente arregalo meus olhos.
- Como você sabe sobre isso? – resolvo me intrometer na conversa.
- Antes de vir aqui, encontrei com . – ela sorri para mim. – Não estava conseguindo falar com , então não tive escolha a não ser ir até o submundo. – continua falando. – Eu vi o caos de perto, pensei que iam me matar, a propósito. – ela dá de ombros.
- As coisas devem estar tensas por lá. – tiro o esmalte da minha unha.
- Não quero pensar que eles iriam entregar um dos nossos, apenas para satisfazer o desejo de vingança dos vampiros. – meu primo parecia estar tentando convencer a si mesmo, e não a nós. Na realidade, era possível que algo do gênero acontecesse, afinal, o tratado entre lobos e vampiros estava sendo mantido de maneira firme até meu tio fazer isso.
- Apenas vamos torcer para não ter nenhuma guerra. – se levanta do sofá.
- Isso seria impossível. – meu primo fica ereto.
- A situação não está boa para o seu pai, , e aposto que não exista saída para ele caso Celine e Levi decretem que ele deva ser entregue. – apesar das palavras duras de , nós sabíamos que se Celine e Levi, reis do submundo ordenassem, não haveria como meu tipo escapar.
- Por que isso tem que acontecer tudo junto e em um momento tão crítico? – ele parecia um pouco atordoado.
- Porque assim é a vida. – faço uma careta ao falar. – Sinto muito, , mas nesse momento não há nada que possamos fazer pelo seu pai. – eu sabia que a única pessoa que poderia acabar de uma vez com tudo isso era , mas conhecendo ele como eu conhecia, eu tinha certeza de que ele faria meu tio sofrer um pouco antes de liberta-lo.
- Apenas aceite, , melhor estar preparado. – dá um sorriso para ele.
- Sinceramente? Não estou preparado para isso. – ouço um sussurro vindo dele, porém decido ficar quieta, afinal, eu não tinha nada para falar no momento.
Capítulo Doze
As coisas até o momento pareciam calmas demais, e talvez esse fosse o meu maior medo, pois geralmente depois da calmaria vem a tempestade, e acredito que ainda não estamos preparados para lidar com mais coisas no futuro, e esse era o motivo de eu ter uma lista de pessoas que eram passiveis a serem investigadas, e de algumas pessoas que eu precisava manter um olho bem aberto para proteger, afinal, se as mortes estavam interligadas, a pessoa que estava matando iria atrás de todos que estudaram naquela turma anos atrás. A curiosidade para saber o motivo por detrás de todas essas mortes era imensa, até porque nada parecia relacionar essas pessoas ao mundo sobrenatural, e para ser bem sincera, eu precisava agradecer por ter recolhido muitas informações em um período de tempo bem curto.
Em um momento como esse, a última coisa que penso é ir para a escola, e por conta disso acabo me reunindo com e para podermos trabalhar juntos em algumas coisas, e me sinto feliz por poder trabalhar com novamente, era como se fosse como antigamente, porém ainda estava faltando o resto da minha equipe.
Eu só não tinha muita certeza de como seria esse trabalho de campo, estava um pouco quieto nos últimos dias, talvez pelo fato de estar pensando em uma saída para livrar seu pai de um possível julgamento, e isso estava afetando meu primo em nossa investigação. Então você deve estar se perguntando, por que eu iria querer ter uma pessoa que esta afetando a minha instigação ao meu lado, e a resposta é porque eu preciso que ele limpe sua mente sobre tudo que está acontecendo no momento.
Sendo sincera, para as pessoas que não conhecem de verdade, é supernormal achar que ele é uma pessoa fechada e nada comunicativa, porém ele é totalmente o oposto disso, apenas não deixa transparecer para as pessoas que ele não se sente seguro. No geral, também é uma pessoa tímida, mas quando está confortável com as pessoas ao seu redor, se torna alguém extremamente bagunceiro e até mesmo encantador, então talvez esse não fosse o momento para as pessoas conhecerem ele.
Claro que eu entendia o motivo dele estar assim, e era compreensivo que ele tentasse achar maneiras de ajudar seu pai em um momento como esse, porém a situação do meu tio não era favorável, e nada que pudesse fazer iria mudar isso. Afinal, pelo pouco que sei, o principal foco do submundo é manter a paz dos sobrenaturais, e principalmente a paz entre lobos e vampiros, algo que foi quebrado por conta do ataque que ocorreu recentemente. Com isso, a lembrança de uma conversa que tive com meu avô há alguns anos veio em minha mente, ele tinha me dito uma vez, que no submundo as coisas funcionavam basicamente iguais à Ordem, lá era olho por olho e dente por dente, então a única pessoa que poderia livrar meu tio de um julgamento seria , porém, sendo bem sincera agora, eu não tinha mais certeza sobre isso acontecer.
- Espero que nosso serviço aqui seja rápido. – escuto a voz de assim que bato a porta do carro.
- Você sabe que não devemos fazer nada às pressas. – eu tinha estacionado o carro dentro do estacionamento da prefeitura, em um local totalmente estratégico, do qual as câmeras não pudessem nos filmar, e que pudéssemos ter uma visão privilegiada das pessoas que entravam e saiam do local.
- Eu sei disso. – ela parecia uma criança emburrada com o seu pirulito nas mãos.
- Doces não fazem bem para a saúde. – resmungo enquanto ela coloca o pirulito novamente na boca.
- Preciso disso para me concentrar. – reviro meus olhos e a observo abrir a porta do carro e tirar de lá uma garrafa térmica de café.
- Você é persistente demais. – resolvo ignorar por ora a garrafa de café em suas mãos e bato na janela do carro para chamar a atenção do meu primo. – Vai ficar por ai? – pergunto para ele, o trazendo de volta para a realidade, já que estava perdido em pensamentos.
- Desculpe. – meu primo parecia recobrar a consciência e sai de dentro do carro. – O que iremos fazer aqui? – seu olhar passa de para mim, porém não sou eu quem responde sua pergunta:
- Iremos fazer um trabalho de observação no momento. – parecia um pouco feliz por isso. – Não iremos invadir nada por enquanto. – ela tinha um copo de café em mãos e estende para mim. – Tem café para você caso queira, não fique de mãos vazias. – tenta dar um sorriso reconfortante para , talvez por estar um pouco preocupada com meu primo, ela quisesse parecer legal aos seus olhos, mas eu sabia que esse era o gesto que ela tinha encontrado para cuidar dele, mesmo que ele não estivesse ciente disso, e isso falava muito sobre o tipo de pessoa que era.
- Então é isso que vocês passam anos aprendendo na academia da Ordem? Observar? – meu primo não estava em seu melhor momento de humor, por isso tento absorver suas patadas hoje.
- Não necessariamente. – respondo com calma. – Mas aprendemos na academia que o ideal é apenas se movimentar quando a noite cai. – explico.
- Geralmente é de noite que seres sobrenaturais saem para caçar, por conta disso nosso trabalho é noturno, não diurno. – termina de explicar por mim.
- Quantas pessoas vocês mataram apenas porque a Ordem mandou? – essa era uma resposta um pouco difícil para ser dita, e por isso e eu nos encaramos por um tempo.
- Depende do ponto de vista. – faço uma careta.
- Como assim? – ele continua perguntando.
- Matamos algumas pessoas no decorrer dos anos, isso é um fato. – não tinha medo de falar sobre seus erros, pelo contrario. – Mas aprendemos com o tempo a diferenciar quem era o vilão e quem não era. – ela cruza os braços.
- E como vocês fazem isso? – era natural estar curioso para saber como os caçadores trabalhavam, porém ele tinha que ter em mente que diferente de mim ou de , existiam caçadores soltos por ai que mantinham o pensamento fixo de que deviam matar todos os seres sobrenaturais, eles sendo ou não inocentes.
- Primeiramente, tentamos o diálogo, e caso isso não aconteça, partimos para o ataque. – parecia disposta a sanar todas as duvidas do meu primo. – Mas é ai que está a diferença entre nós e os outros caçadores. – ela sorri para mim por um momento. – Não os matamos, apenas os apagamos. – termina de falar.
- E depois? O que acontece? – ele pergunta.
- É ai que entra o ; a gente apaga a memória dessas pessoas. – parecia um pouco macabro fazermos isso sem o consentimento da pessoa, porém enquanto temos essa opção, matar não era a escolha.
- Quando foi que vocês conheceram um bruxo? – solto uma pequena risada com sua pergunta.
- Eu o conheci por causa de . – meu primo fecha a cara imediatamente. – E foi assim que eu entrei para o submundo. – semicerro meus olhos e logo tomo um gole do meu café. – Droga. – falo ao sentir minha língua dormente. – Queimei minha língua. – abano minha mão na frente do meu rosto para aliviar a sensação de dormência na minha boca.
- Você fala sobre sua entrada no submundo com tanto orgulho. – se apoia na lateral do carro.
- Fomos aceitas no submundo mesmo sendo caçadoras, você sabe o que isso significa? – pergunta.
- Que vocês estão sendo observadas? – meu primo parecia convicto.
- Em parte, sim, mas com o tempo acabamos sendo aceitas, e garanto para você que ajudamos muita gente do submundo nesse tempo. – parecia orgulhosa de si mesma.
- Você quer um afago na cabeça e que eu deseje parabéns? – o sarcasmo de era visível.
- Não me irrite. – minha melhor amiga continua com o pirulito na boca. – Vamos continuar observando, acho que estamos conversando demais. – mesmo irritada com meu primo, acaba ficando no lado dele.
- Isso tudo é tão irritante. – sigo o gesto dos dois e me encosto no carro novamente.
- Você acredita que teremos mais mortes? – a preocupação na voz de era visível.
- Talvez? Não sei. – dou de ombros, porém eu não tirava a razão de ele estar preocupado, afinal, eu tinha medo de encontrar mais um corpo.
- Espero que não seja eu que encontre o próximo corpo se isso acontecer. – me empurra de lado. – Já tive minha cota durante a academia. – apesar de ela estar brincando com o assunto no momento, eu sabia como isso tinha prejudicado profundamente durante seu tempo na academia. Foi exatamente como eu havia mencionado antes, apesar da academia ser um bom lugar às vezes, um dos maiores problemas dela, era as pessoas que estudavam lá tinham o ego do tamanho do mundo. Por um longo período de tempo tinha sido apelidada de a morte pelas pessoas daquele lugar, apenas pelo fato dela ser a pessoa que encontrava a maioria dos corpos quando estávamos em trabalho de campo, o que me deixava extremamente irritada, pois mesmo e eu ameaçando e partindo para a ignorância com essas pessoas, elas continuaram a chamando desse jeito por muito tempo.
- Eu não sou uma pessoa que reza com frequência, mas vamos rezar para que isso não aconteça, espero que não haja mais mortes. – suspiro. – ... – novamente chamo a atenção do meu primo.
- O quê? – ele me encara com aquela expressão que só ele conseguia fazer.
- Não pense muito sobre o seu pai. – tento soar o menos fria possível, mas era um pouco difícil.
- Eu realmente estou bem com tudo isso, não é como se meu pai fosse ser atacado a qualquer momento. – o clima na minha avó não estava nos seus melhores momentos, e talvez tenha se agravado um pouco com aparecendo para me deixar na casa dela.
- Você, mais do que ninguém, sabe que seu pai foi o único a causar tudo isso, então sugiro que você dê um passo para trás e não se envolva. – eu queria me sentir triste pelo me tio, mas não tinha como, não quando foi ele quem atacou e matou alguém, causando assim uma tensão desnecessária no submundo.
- Não vou pensar nisso por agora. – ele se desencosta do carro. – Apenas quero que você me responda uma coisa. – para na minha frente e me encara diretamente nos olhos. – O que fez você acreditar que o prefeito possa ter algum envolvimento com essas mortes, ou talvez que ele possa ser uma próxima vitima? – bato meu pé no chão imediatamente. Um pouco ansiosa pelo que eu iria falar.
- Primeiro que eu acredito que as mortes possam estar, sim, conectadas uma com as outras. – faço um careta, pois eu não queria deixa-los alertas por conta de uma suposição. – Segundo, eu invadi o banco de dados da Ordem... – não consigo dar sequência em minha fala, pois no momento seguinte eu tinha berrando no meu ouvido.
- Você hackeou o banco de dados da Ordem? – arregala os olhos.
- O que você queria? Eu precisava de informações, não encontrei nada em casa e apesar de ter me ajudado muito, as informações que me passou não eram suficientes, então eu não tive escolha. – me defendo.
- E o que você achou lá? – se encosta à lateral do carro.
- O prefeito é um caçador aposentado. – coço minha cabeça.
- Como assim? – meu primo me pergunta.
- Aparentemente, depois da batalha dos vinte anos, algumas pessoas se aposentaram e ele foi uma delas. – eu não sabia muito bem o que tinha acontecido nessa batalha, pois não era algo que todos falavam abertamente, tudo o que sei é que muitas pessoas perderam seus familiares nela, tanto caçadores, quanto as pessoas do submundo, sendo uma das pessoas mais prejudicadas, pois a Ordem fez questão de matar um por um da sua família, e acredito que se não tivessem escondido com sua babá naquela época, ele teria sido assassinado também.
- Aparentemente, muita gente deixou o submundo e até mesmo a Ordem depois dessa batalha. – meu primo parecia pensativo.
- Até hoje eu não sei exatamente o que aconteceu, eu era muito nova. – falo um pouco confusa pelos fatos que eu não conhecia.
- Acho que tínhamos por volta de dois anos, no máximo, quando a batalha finalmente acabou. – fala.
- Você sabe sobre alguma coisa dela? A batalha dos vinte anos é praticamente um tabu na academia. – encara meu primo, ligeiramente curiosa.
- No nosso mundo eles não falam muito sobre ela, mas aparentemente essa batalha começou bem antes dos vinte anos. – ele nos encara.
- Tipo...? – o estimulo a dar continuidade no assunto.
- Lembro que cheguei em casa depois da aula e ouvi nossos avós conversando com meu pai. Eles estavam falando sobre a época que eles eram jovens e sobre o que eles passaram nas mãos da Ordem. Aparentemente naquela época as coisas não eram boas e ocorreu uma batalha, porém ao acabar, um novo diretor assumiu os direitos da Ordem, ele era jovem como os nossos avós, e por conta disso, tanto a Ordem, quanto o rei do submundo assinaram um tratado onde deixavam claro que não haveria ataques de ambos os lados. – ele faz uma pausa para tomar fôlego.
- E o que aconteceu depois disso? Porque, vamos ser sinceros, a Ordem e o submundo se odeiam. – cruzo meus braços e espero uma resposta.
- As coisas mudaram quando o diretor da Ordem foi assassinado e sua avó assumiu o poder. – arregalo os olhos.
- Você está falando que Olga pode ter alguma coisa haver com isso? – segura o braço de .
- Ninguém sabe ao certo, mas depois que o marido dela morreu de repente e ela assumiu a Ordem, Olga deixou claro que o culpado pelo assassinato do seu marido era do submundo e fez questão de demonstrar seu descontentamento ao iniciar um confronto com o meu mundo. – balanço minha cabeça tentando absorver toda a informação que eu tinha acabado de receber.
- Isso é um pouco chocante até para mim que não sou da família. – parecia um pouco pensativa.
- Então minha avó é o verdadeiro motivo de provocar uma guerra com o submundo? – minha avó nunca foi flor que se cheire, assim como os membros da Ordem, mas nunca imaginei que algo do gênero pudesse ser feito apenas para alimentar o ego deles.
- Essa guerra foi um ato genocida da Ordem para tentar dizimar a população do submundo, mas acho que eles não contavam que nós iriamos revidar. – parecia disposto em contar uma história e eu de escutar.
- E o que aconteceu depois? – minha curiosidade praticamente estava gritando.
- Você pode imaginar o que aconteceu depois disso tudo. – meu primo me encara com seriedade. – Parece que nossos pais foram às pessoas que deram fim nessa guerra. – ele explica. – Porém a paz nunca foi restaurada. – me sinto triste por tudo o que aconteceu com as pessoas ao nosso redor e principalmente para todos aqueles que faleceram por conta das atitudes da minha avó materna.
- Precisamos encontrar alguém que possa contar essa história por completo. – escuto a voz de ao fundo, pois eu estava perdida em pensamentos.
- Podemos tentar perguntar para ... – apesar de saber que era bem provável que meu amigo não fosse falar sobre o assunto, não custava tentar.
- Tenho certeza de que ele não irá falar sobre isso. – cruza os braços. – Você sabe como ele fica rabugento quando perguntamos sobre o passado. – eu tinha que dar crédito para o que tinha acabado de falar, porém não era novidade para ninguém que não falava sobre o passado.
- Esperar algo de um vampiro é piada. – bufa ao meu lado.
- Garanto que se você conhecesse como nós conhecemos – aponto de para mim e vice-versa –, você iria engolir essas palavras.
- Vampiros e lobos não se dão bem há séculos. – meu primo fala mal-humorado.
- Diga isso por você mesmo. – abro a porta do carro para colocar o meu copo de café lá dentro.
- Existe algo que eu não saiba? – me encara.
- Na realidade, as coisas estavam indo bem até esse recém-ataque aos vampiros. – se mete na conversa. – E lobos e vampiros estavam se dando bem na medida do possível.
- Ainda assim permaneço com a minha visão sobre o assunto inalterado. – me encara. – Agora quero saber o que será feito. – faço uma careta. – Vocês tem alguma ideia? Ou iremos ficar aqui vigiando eternamente? – o mau humor dele tinha voltado.
- Eu quero entrar no escritório do prefeito. – aponto para o local que ficava a sala dele.
- E como você sabe que aquele lugar é onde fica a sala dele? – meu primo questiona.
- A planta baixa da prefeitura está disponível na biblioteca. – sorrio abertamente.
- Você é muito esperta. – bate palmas e brinca com . – Melhore esse humor. – ela joga um beijo para ele, que consequentemente arranca um misero sorriso do meu primo. – Quando iremos fazer isso? – ela me pergunta.
- Hoje à noite? – encho minhas bochechas de ar e fico brincando com ela por um instante.
- Vocês tem que parar de querer invadir tudo. – observo fechar os olhos e o massagear.
- A invasão é o único meio que temos para coletar provas. – isso era tão obvio.
- Acredito que vocês conseguem fazer isso perfeitamente, mas a prefeitura é muito mais vigiada do que a escola que você invadiu. – ele aponta para mim.
- Nós invadimos muitos lugares durante os anos que estivemos na academia, você realmente acha que a prefeitura é um empecilho para nós? – parecia um pouco ofendida com o que tinha dito.
- Eu sei que não é, e é isso que me deixa mais assustado. – apesar de tudo, era a pessoa mais paciente e correta que eu conhecia na minha vida.
- Você se assusta muito fácil. – solta uma risada. – Vamos para casa, não iremos ganhar nada parados aqui. – dou a volta no carro e entro. – O que vocês estão esperando? – como o vidro do carro estava aberto, aproveito o momento para chama-los novamente.
- Seus pais não deveriam nomear você de . – encaro confusa quando ele abre a porta e se senta ao meu lado.
- Por quê? – pergunto ligeiramente confusa.
- Porque eles deram esse nome com um propósito, e você não está seguindo o propósito deles. – ergo minha sobrancelha e espero que ele continue, porém não fala mais nada.
- E que proposito ela deveria seguir, segundo os pais dela? – pergunta por mim.
- Que seria acabar com todos os seres sobrenaturais. – olha para trás. – Porém, ao contrário do que eles imaginavam, está se unindo cada vez mais a eles. – consigo pegar o momento exato que ele pisca para .
- Eu sempre gostei de ser diferente. – dou partida no carro.
- Esse foi motivo de e eu nos darmos muito bem desde o inicio. – minha melhor amiga finaliza.
- Você já estava na academia quando chegou? – pergunta.
- Sim, eu já estava na academia quando ela chegou. Inclusive, eu fui sua primeira amiga. – massageia meus ombros.
- E eu serei eternamente grata por isso. – solto uma risada.
- Ainda bem que você chegou, não sei o que aconteceria comigo se eu ficasse apenas com aquele pessoal. – resmunga.
- Você não viveria sem mim. – balanço minha cabeça.
- Não se ache, . – aperta meu ombro.
- Idiota. – levanto meu ombro em um gesto para ela tirar as mãos dali.
***
Tenho que admitir que o pouco tempo que ficamos na frente da prefeitura não foi o suficiente para saber sobre o comportamento das pessoas que trabalhavam ali, porém era inevitável continuar naquele local, ainda mais quando e , que aparentemente tinha recuperado sua vontade de falar, estavam sendo comunicativos demais, e acredito que em algum momento iriamos chamar uma atenção indesejada. Meu desejo em observar as pessoas ao redor da prefeitura era para chegar a um entendimento sobre como iriamos poder invadir o local sem sermos descobertos, porém eu tinha falhado miseravelmente nisso.
Outra coisa que estava me deixando um pouco incomodada era o fato de o prefeito ser um caçador aposentado. Eu não sabia se isso era bom ou ruim, ou se ele poderia ser considerado uma vitima ou não, pois os caçadores eram as pessoas mais traiçoeiras que eu conhecia, e o histórico deles em forjar cenas para justificar um assassinato era longo, ou seja, eu jamais poderia subestimá-lo, então eu não duvidava muito que a Ordem tenha designado ele para morar justamente nessa cidade, que ao que tudo indica, para os caçadores é um radar de sobrenaturais, algo que eu achava uma completa idiotice, pois tudo o que eu vi até agora foi uma boa parcela de lobos, porém sabendo como a Ordem era suja, tenho certeza de que eles não se importariam de matar alguns lobos que viviam nessa cidade.
- Não tem ninguém em casa. – ao voltarmos para a casa da minha avó mais cedo, percebi que a o local estava completamente silencioso, indicando que nem minha avó e muito menos meu avô estavam em casa, então ficamos por lá relaxando um pouco até que chegasse o momento de irmos invadir a prefeitura.
No primeiro indício de que estava escurecendo, começo a organizar minhas coisas na sala para que pudéssemos invadir a prefeitura de um jeito sutil e sem que fossemos detectados. Meu primo tinha melhorado um pouco o humor dele, mas não era o suficiente para evitar que ele continuasse resmungando o caminho todo até a prefeitura. Eu não tinha ideia do que poderíamos encontrar lá essa noite, e isso me deixava um pouco inquieta, na realidade essa tinha sido uma das missões que eu não havia mencionado para e muito menos para , pois não queria que eles atrapalhassem a investigação no momento.
- Não acredito que estamos aqui novamente. – é o primeiro a resmungar assim que estaciono o meu carro.
- Você reclama demais. – encaro . – Pare de drama. – retiro minhas coisas do carro. – Temos que andar rápido. – o apresso, pois não estávamos tão próximos assim da prefeitura e eu tinha deixado meu carro o mais longe possível das câmeras de transito que a cidade tinha.
- Serviço rápido? – me pergunta.
- Serviço rápido. – concordo com ela.
- Por que...? – coloca as mãos na cabeça como se estivesse sentindo dor.
- Deve ser por isso. – faço uma careta ao tirar um ramo de acônito.
- ? – os olhos de rapidamente ficam amarelos. – Droga. – ele xinga.
- Desculpe. – faço uma careta. – Mas isso é realmente necessário. – eu sabia que trazer acônito comigo era um tiro no pé, ainda mais estando com , porém eu precisava deixar isso dentro do escritório do diretor, apenas para ter certeza de que a coisa que estava atacando as pessoas não era um canino ou um felino.
- Você sabe o que isso causa em lobos. – eu tinha que me lembrar de aplaudir meu primo quando saíssemos daqui, pois eu realmente estava chocada com seu auto controle.
- Eu sei disso, mas confio em você para não se transformar. – coloco o ramo de acônito novamente no saquinho que tinha trago e encaro . – Não conte para ninguém que tenho isso comigo. – sorrio.
- E por que ninguém pode saber? – ele pergunta.
- Porque teoricamente somos proibidas de ter acônito. – fala animada, pois ela sempre amou quebrar todas as regras.
- Vamos! Não podemos perder tempo conversando. – os chamo novamente e começo a caminhar.
- O que você precisa? – meu primo se recompõe.
- Preciso que você e desativem a segurança da prefeitura. – dou um sorriso bonitinho para ele, pois eu sabia que se o pedido não fosse feito de maneira fofa, mandaria eu mesma fazer.
- Ainda bem que sou craque nisso. – puxa meu primo pela manga. – Vamos lá, lobinho, quero terminar isso de maneira simples. – balanço minha cabeça rindo ao ver soltando alguns palavrões pelo apelido que tinha dado para ele. – Assim que tudo estiver pronto, mandarei um sinal para você. – levanto meu dedo polegar e concordo com ela.
Em nenhum momento imaginei que chegaria a esse ponto da minha vida, e apesar das feridas que ganhei em tão pouco tempo, ir contra tudo o que estavam me pedindo para fazer era gratificante. Talvez eu tenha que admitir que fosse ousado da minha parte em invadir o sistema da Ordem em busca de pistas para desvendar um mistério, mas nesse caso a invasão tinha sido necessária.
- Tudo pronto. – e aparecem ao meu lado de repente.
- Droga. – coloco a mão sobre o peito. – Vocês me assustaram. – ameaço que vou bater neles e sorrio no final.
- Você parecia um pouco perdida em pensamentos. – me empurra levemente.
- Vamos acabar logo com isso. – eu estava na parte de trás da prefeitura, afinal, as portas do fundo sempre eram as melhores alternativas.
- Apenas deixe esse saquinho longe de mim. – meu primo parecia manter uma distância segura de mim.
- Não se preocupe com isso. – inclino a cabeça para o lado e entende que agora é com ela.
- Você nunca faz o trabalho sujo. – ela se agacha para poder trabalhar na fechadura da porta.
- ... – a repreendo.
- Que seja. – eu sabia que nesse momento estava me imitando, mas não me importo muito.
- Vamos invadir. – ela abre a porta lentamente, depois dando um chute nela.
- Ainda bem que vocês não têm medo do que podemos encontrar por aqui. – faço uma pequena piada.
- Já vi coisas piores do que essa escuridão. – sussurra.
- Como assim? – pergunta, porém ergo minha mão para cima de repente, um gesto silencioso para que os dois ficassem quietos repentinamente.
Começo a ouvir alguns sons estranhos não muito longe dali e começo a ficar mais atenta. Olho para e aponto para os meus ouvidos, perguntando se ele era capaz de ouvir alguma coisa além do barulho que eu tinha escutado, porém ele balança a cabeça negativamente.
- Nós temos que ser silenciosos e olhar tudo com muita atenção. – começamos a andar com cautela.
- Você acha que alguém pode estar aqui? – tira sua arma do suporte.
- Talvez o segurança? – meu primo pergunta.
- Espero que seja isso. – tento manter minha respiração calma. – Porém podemos estar prestes a ter uma visita não muito agradável. – eu tinha que estar aberta para todas as opções.
- Você ainda não está cem por cento para entrar em uma briga. – isso era verdade. Apesar das ervas cicatrizantes que minha avó tinha pedido para aplicar no ferimento, ele ainda estava se curando.
- Tenho certeza de que posso me virar. – dou de ombros, mas no fundo eu me sentia preocupada, pois lutar com o wendigo não tinha sido nada fácil e alguns pontos tinham estourado no processo, mas talvez a minha maior desconfiança fosse do wendigo estar nos seguindo e aparecer na prefeitura essa noite.
Por conta das minhas inseguranças no momento, tudo o que eu queria era conseguir invadir o gabinete do prefeito, verificar as coisas, e esconder o acônito lá.
- Ao menos quanto tempo você acha que iremos demorar? – pergunta enquanto tentamos caminhar silenciosamente pelos corredores.
- Pelo menos espero poder acessar o computador dele. – explico.
- Vai hackear algo novamente? – cutuca meu ombro.
- O sistema deve ser diferente, e como um caçador aposentado, ele deve manter cautela. – não tinha como o prefeito manter qualquer coisa que pudesse prejudica-lo nos computadores da prefeitura, e por mais que eu não quisesse assumir, eu sabia que seria um tiro no pé tentar provar algo que nem eu mesma sabia se era verdade.
Caminhamos mais um pouco até chegar ao escritório. Felizmente não tínhamos sido flagrados enquanto perambulávamos nos corredores, e por conta disso conseguimos chegar à frente do local indicado sem nenhum problema.
- Deixe que eu abra a porta. – passar por mim com seu kit e começa a trabalhar na porta.
- Por que você mesma não faz isso? – meu primo pergunta.
- Porque eu não tenho tanta prática como , ou até mesmo como . – geralmente eu levava muito tempo para arrombar uma porta, mas diferente de mim, tanto quanto conseguiam fazer o trabalho em questão de segundos.
- é mestre em arrombar portas, eu fico em segundo. – faz o numero dois com a mão e sorri para . – Está pronto. – ela empurra a porta e deixa que ela abra por si só. – Vamos entrar? – pergunta com cautela.
- Fiquem atentos. – sinalizo para que ela entre, e em seguida meu primo. Fico por ultimo para proteger a retaguarda.
- . – os dois chamam meu nome, e quando me viro dou de cara com uma cena da qual eu não estava preparada.
- Meu Deus. – coloco as mãos sobre minha boca, pois eu tinha certeza de que involuntariamente eu poderia gritar.
- O que vocês acham disso? – balança a cabeça de um lado para o outro. – E novamente o carma batendo na minha bunda. – eu sabia que ela estava se referindo ao corpo jogado no chão.
- Esse cheiro. – tampo meu nariz imediatamente.
- Enxofre? – parecia estar sentindo o mesmo que eu.
- Por que enxofre? – franzo minha testa.
- Não acredito que seja um dos seres lá de baixo que esteja fazendo isso. – aponta para o chão. – Eles não são desleixados assim. – observo minha amiga se aproximando do corpo. – Sem coração. – se pronuncia, chamando a minha atenção.
- Droga. – olho para o corpo da pessoa estirado no chão. – Estou de saco cheio em chegar sempre tarde demais. – fecho minhas mãos em punhos.
- Eu a conheço. – de repente a voz do meu primo se sobressai.
- O que você quer dizer com isso? – me viro para encara-lo.
- Ela é um lobo. – arregalo meus olhos.
- Você está falando sério, ? – praticamente corre para o lado do meu primo e o segura. – Se controle. Você não pode se transformar aqui. – era possível sentir pelas vibrações que meu primo estava a beira de se transformar.
- Não irei me transformar. – sua voz sai entrecortada. – Mas isso é um aviso. – olha diretamente para mim.
- Sobre o quê? – eu não sabia aonde ele queria chegar com isso.
- De que vampiros e lobisomens estão oficialmente em guerra. – fecho meus olhos e suspiro, eu não precisava de mais isso para me preocupar no momento.
Droga.
Capítulo Treze
Solto um longo suspiro ao ouvir as suposições de . Era óbvio que o ataque não tinha nada relacionado com uma possível retaliação de vampiros contra lobisomens, apesar de alguns ferimentos apresentarem características de um ataque de vampiro, mas o que me deixava ainda mais intrigada ao encarar o corpo daquela garota, era que também existiam evidências de ferimentos causados por um lobo, ou seja, juntando dois mais dois, era visível que a pessoa que cometeu esse crime tinha feito isso de propósito, pois se um vampiro encontrasse aquele corpo, iria automaticamente achar que o autor do crime era um lobo, e o mesmo aconteceria se um lobo encontrasse aquele copo e apenas focasse nos ferimentos causados por um “vampiro”. Claro que existia muito mais por detrás da raiva que sentia no momento, afinal, a garota que tinha sido morta era um deles, e por mais que fosse idiota, ele iria pensar em culpar a primeira pessoa que viesse na sua mente no momento, que nesse caso eram os vampiros.
- ... – eu sabia que o certo nesse momento não era me aproximar do meu primo, não quando eu conseguia sentir a raiva dele tomando conta da sala, porém eu precisava fazê-lo recobrar a consciência. – Você não pode achar que tudo de ruim que acontece é obra de um vampiro, muito menos querer começar uma guerra com eles sem provas de que o assassinato dessa garota está relacionado a eles.
- Olhe para ela, , eu tenho certeza de que foram eles. – a afirmação na voz de era clara e por conta disso começo a ficar um pouco apavorada sobre o que ele realmente poderia fazer.
- Sei que está sendo difícil para você. – eu podia sentir o suor se acumulando na minha testa. – Mas você precisa ser racional no momento. – peço.
- Pessoal. – tenta chamar nossa atenção.
- O quê? – minha voz soa um pouco rude, mesmo que eu não quisesse soar no momento.
- Isso não tem como ser obra de um vampiro. – faz uma careta. – A pessoa que fez isso... – ela parecia pensativa.
- O que tem? – por incrível que pareça, meu primo começa a se acalmar e olha atentamente para , esperando uma resposta.
- A primeira coisa que temos que observar é que pela quantia de sangue espalhada pelo escritório, nenhum vampiro iria conseguir se controlar, e então já teríamos alguns casos de morte. – sua observação fazia completamente sentindo, até porque, mesmo tendo criado um sistema único de alimentação para todos os vampiros, existiam aqueles que tinham seus deslizes. – Segundo, você não parou para pensar que talvez isso tudo seja um jogo do verdadeiro assassino? – pergunta para o meu primo.
- Aonde você quer chegar com isso? – ele pergunta, estreitando os olhos.
-Talvez o assassino queira realmente isso, criar uma guerra entre lobos e vampiros, pois eles sabem que uma grande parte da população de sobrenaturais, no momento, é de vampiros e lobos. – mordo minhas unhas, um pouco nervosa com os pensamentos de .
- Essa pessoa está tentando criar o caos. – minhas palavras não passam de um sussurro.
- Exato. – ela aponta para mim e seu olhar passa para . – Você ainda acredita que os vampiros iriam perder o tempo deles fazendo isso? – eu sabia que no não estava desdenhando da garota morta, porém suas palavras soavam um pouco rudes e desrespeitosas e poderia levar para o lado pessoal.
- Vamos supor que não foram eles os culpados, quem mais seria? – ou meu primo tinha entendido que queria falar, ou ele apenas ignorou as brutas palavras que saíram da boca dela.
- , isso aqui está longe de ser um trabalho de um vampiro. – faço uma careta por estar repetindo isso novamente. – E é por isso que somos obrigados a investigar. – solto um suspiro.
- Você tem razão. – cruzo meus braços. – A pessoa que está fazendo isso quer que ocorra desconfiança entre nós. – analiso o cenário novamente. – Acho que temos que chamar os meninos aqui. – digo um pouco apreensiva.
- Que meninos? – me encara imediatamente.
- e . – tiro meu novo celular do bolso e mando uma mensagem para .
- Você acha uma boa ideia ter aqui? – aponta para uma quantia realmente grande de sangue no chão.
- ... – ergo minha sobrancelha.
- Eu sei que ele é uma das pessoas mais controladas do mundo, mas mesmo assim... – ela inclina a cabeça para o lado.
- Precisamos deles aqui. – me mantenho séria.
- Então eu terei que ficar no mesmo lugar que um vampiro e um bruxo? – meu primo não parecia acreditar em minhas palavras ainda.
- Estão querendo colocar vocês uns contra os outros, então estar aqui é muito necessário. – explico pausadamente.
- Só me prometa uma coisa. – me encara, e talvez essa seja a primeira vez que eu esteja vendo ele completamente sério.
- E o que seria? – pergunto.
- Que quando a pessoa que está fazendo isso for capturada, você irá me deixar mata-lo. – imediatamente começa a balançar minha cabeça.
- Você sabe que não posso fazer isso. – eu jamais iria permitir que meu primo sujasse as mãos com isso, até porque esse era o meu serviço e não dele.
- está certa. – volta a se aproximar de . – Não podemos permitir que você suje suas mãos com isso. – ela sorri para ele. – E seus olhos são bonitos demais para se tornarem vermelhos. – baixo minha cabeça e prendo uma risada. Esse era o jeito que demonstrava que se preocupava com as pessoas, apesar de parecer que ela estava flertando com .
- Se eu não fazer isso, quem irá fazer no meu lugar? – meu primo não parecia convencido.
- É para isso que estamos aqui. – aponto de mim para . – Esse é o nosso trabalho. – falo.
- Não posso aceitar isso, vocês não são parte da família. – coloco minha mão sobre o peito.
- Agora você magoou completamente meu coração. – continuo com a minha mão lá.
- ... – o empurra. – Mesmo que você não queira, nós já estamos acostumadas com isso, porque esse é o nosso serviço. – ela continua rindo. – Agora, para ser bem sincera, achei muita falta de respeito você falar que não somos da família, na realidade, você falar isso para mim tudo bem, mas agora para ? Que é seu sangue? – faz alguns barulhos coma boca. – Estou muito decepcionada com você.
- Isso tudo é porque eu não sei se posso confiar em vocês. – observo meu primo se aproximar do corpo novamente.
- Olha , eu sei que a situação não é a das melhores, mas você pode confiar na gente. – coloca sua mão no ombro do meu primo. – Sempre fizemos o possível para ajudar as pessoas ao nosso redor, e dessa vez não irá ser diferente. – aceno com a cabeça.
- Só o tempo dirá se eu posso ou não confiar em vocês. – ele nos encara. – Podemos tirar ela daqui? Pelo estado que ela se encontra, aparentemente já deve estar morta por um longo tempo. – solto um suspiro.
- Vamos esperar os meninos chegarem, não é como se fosse ser fácil tirar um corpo daqui. – os lobos geralmente faziam seus próprios enterros, pois eles tinham um ritual a ser cumprido, querer tirar ela daqui o mais depressa possível deixava isso à mostra.
- Quando eles chegarem teremos que tomar todo o cuidado possível para remover o corpo. – parecia estar arquitetando tudo em sua mente.
Devo confessar que por um tempo eu estive crente de que Eleanor era a responsável pelas mortes que estavam ocorrendo, ainda mais pelo fato delas terem parado depois que eu usei o pó da amnésia nela, contudo, as coisas mudaram drasticamente e nessa noite tivemos mais uma morte, o que deixava incerta a posição do verdadeiro assassino. Então talvez eu tenha que admitir, nesse momento, que o assassino está a muitos passos à nossa frente, e ele foi esperto o suficiente ao tentar colocar uns contra os outros, pois assim o foco de acha-lo seria perdido em meio a uma batalha desnecessária entre lobos e vampiros.
- Você está pensativa demais. – sinto a mão de no meu ombro.
- Estou tentando absorver tudo. – infelizmente mais uma pessoa inocente tinha perdido a vida por conta de uma vingança que eu não tinha noção do que se tratava.
- Eles não vão aceitar essa morte. – anda de um lado para o outro.
- Precisamos trabalhar todos em conjunto para acabar logo com isso. – assumo uma postura mais séria.
- Foi aqui que pediram um bruxo? – de repente a porta do escritório que estávamos se abre e aparece junto com .
- Escandaloso como sempre. – bufa ao meu lado.
- Isso tudo é saudade? – os dois se encaram por um tempo antes de desviar os olhos.
- Podemos focar? – minha voz soa séria e meus olhos acabam capturando o momento que e começam a se encarar. – Eu sei que o momento não é propício para vocês dois. – ao chamar a atenção de ambos, e me encaram. – Porém podemos deixar isso de lado por algumas horinhas? – junto minhas mãos uma na outra por um pedido silencioso de paz.
- O que você precisa? – é o primeiro a dar um passo para trás.
- Alguém está tentando claramente incriminar os vampiros e começar uma guerra entre vocês. – aponto para e meu primo.
- Não precisamos de muito para começar uma guerra, não é mesmo, cachorro? – fecho meus olhos por um momento ao ouvir as palavras ásperas de .
- Por favor... – peço, apesar de estar me repreendendo mentalmente por ter colocado todos eles juntos.
- Por você eu irei deixar esse assunto de lado por um tempo. – se aproxima do corpo. – Ela é um lobo? – ele olha para .
- Sim. – e eu falamos juntos.
- Os cortes são profundos, como se tivessem sido feitos por garras. – semicerra os olhos. – E eles não são cortes limpos. – ele continua fazendo suas observações. – Então não foi um vampiro. – deixa suas presas à mostra.
- Não provoque. – faço uma careta.
- Pode deixar. – ele dá um sorriso de lado e volta sua atenção para o corpo.
- Vocês irão levar ela para algum lugar? – se aproxima um pouco, mas não o suficiente para fazer contato visual com o corpo.
- Sim. – meu primo dá um passo para frente. – Você acha que consegue leva-la para a casa da minha avó? – ele pergunta.
- Conseguir eu consigo. – baixo minha cabeça e a balanço negativamente. – Porém vocês terão que fazer algo em relação ao corpo dela, eu acho que não consigo transporta-la desse jeito. – ele finge um calafrio, como se fosse muito difícil para ele.
- Típico. – solta uma pequena risada. – Coloque um feitiço nela, assim você não consegue ver como o corpo está. – ela dá de ombros.
- Não é tão simples assim. – encara um pouco irritado.
- Por que não? – cruzo meus braços e o encaro. – Nós estamos há muito tempo aqui, precisamos sair logo. – falo.
- Não é simples porque eu sei o que tem por debaixo do feitiço. – reviro meus olhos.
- ... – a voz autoritária de soa pelo escritório. – Faça isso logo. – ele manda.
- Odeio quando você usa esse tom comigo. – ameaça ir para cima de e rapidamente o mesmo faz um feitiço na garota. – Satisfeito? – às vezes realmente se esquecia do que era capaz.
- Vamos acabar logo com isso, abra o portal. – continua dando ordens.
- Vocês irão à frente. – aponto para o portal recém-aberto.
- E você? – me encara.
- Preciso ficar para arrumar essa bagunça. – explico.
- Não seja por isso. – rapidamente pronuncia algumas palavras e o escritório do prefeito está completamente arrumado, como se nunca tivesse acontecido um assassinato aqui. – Vamos? – ele me chama.
- Ainda assim preciso ficar. – pego o pacote de dentro do meu bolso.
- Droga. – rapidamente se afasta de mim.
- Não é muito inteligente de a sua parte trazer isso quando temos um lobo. – resmunga e me põe para trás do seu corpo. – Vão na frente, iremos depois. – ele dá um olhar para que aparentemente entende na hora.
- Ok! Vamos lá pessoal, não posso ficar com o portal aberto por muito tempo. – ele chama e .
- Você vai ficar segura? – meu primo que até então estava com o corpo da garota nos braços me pergunta preocupado.
- Ela está com o , então é claro que ela vai estar segura. – começa a puxar meu primo pelos braços. – Vamos logo. – sinto que ela já estava começando a ficar um pouco impaciente.
- Ok. – não parecia cem por cento seguro, então gesticulo para ele andar logo em um sinal de que estava tudo bem eu ficar para trás.
- Nos vemos depois. – bate continência para mim e pisca seus olhos antes do portal se fechar.
- Agora que estamos sozinhos, você pode me explicar o que está acontecendo? – me pergunta na primeira oportunidade.
- Essas mortes já estão acontecendo desde o ano passado. – solto um suspiro. – Mas as últimas parecem ter uma ligação. – explico rapidamente.
- . – me encara preocupado. – Você só se mete em confusão. – solto uma risada.
- Não seria eu se isso não acontecesse. – cruzo meus braços.
- Você tem sorte de ter pessoas que amam você e que te protegem. – ele continua resmungando.
- Eu sei disso. – mostro a língua para ele. – Agora eu preciso guardar isso em um local estratégico.
- E por que você precisa esconder isso? – parecia curioso.
- Apesar de o prefeito ser um caçador aposentado, não sabemos com o que ele pode estar envolvido. – arqueio minha sobrancelha.
- Espera ai. – segura meu braço. – O prefeito é um caçador aposentado? – ele arregala os olhos.
- Sim. – balanço minha cabeça.
- E como você descobriu isso? – me pergunta.
- Eu invadi o banco de dados da Ordem. – dou um sorrisinho.
- Você hackeou? – ele parecia surpreso.
- O que você acha? – dou uma piscadinha.
- Que você é louca, mas legal. – faz um joinha para mim. – Esconda isso de uma vez e vamos embora, não estou gostando da áurea que esse lugar está emanado.
- O que você queria? Acabou de acontecer um assassinato aqui. – reviro meus olhos, e pode parecer novamente um pouco incessível da minha parte, porém eu realmente tinha sido criada para não ter vinculo com as pessoas, pois somente assim eu não iria sentir a dor da perda.
- Vamos logo, . – ele pede.
- Tudo bem. – começo a circular pelo escritório e acabo encontrando o lugar perfeito para esconder o acônito. – Aqui é o lugar perfeito. – abro um sorriso imenso. – Acho que agora podemos ir. – encaro meu amigo.
- Ótimo. – parecia estar começando a ficar de mal humor. – Vamos. – ele estica sua mão para que eu a pegasse.
- Uma volta rápida? – pergunto.
- Uma volta rápida. – ele acena.
Capítulo Catorze
Meu corpo e minha mente estavam ligados de uma maneira incompreensível, pensando em todas as possibilidades que poderiam ter nos trago até este momento. Estava claro que o assassino havia sido meticuloso em seu planejamento, e que os acontecimentos não só dessa noite, mas como as demais noites eram parte do seu plano, o que me deixava intrigada, no entanto, é que eu realmente queria saber o real motivo do assassino estar agindo dessa maneira, pois era óbvio que há alguma coisa por trás do seu comportamento. Essa questão dos assassinatos perdurou na minha mente enquanto e eu fizemos o trajeto de volta até o local que deixei meu carro estacionado.
A leve brisa batendo em meu rosto ajuda a clarear meus pensamentos, e, parando para observar toda a situação de um jeito frio e calculista, talvez eu não pudesse confiar em ninguém cem por cento, até porque minha prioridade era descobrir quem era o verdadeiro autor desses crimes. Minhas palavras podem até soar um pouco genuínas, mas a verdade era que eu queria acabar logo com tudo isso, e talvez esse tenha sido o motivo de eu acreditar que Eleanor era a verdadeira assassina, pois para mim seria muito mais fácil culpá-la. No entanto, nada parecia ligá-la às mortes que estavam acontecendo, o que me deixava completamente inquieta. Utilizar o pó da amnésia do tinha sido uma saída rápida para descobrir se ela era ou não a pessoa que eu estava procurando, e tenho que admitir que, por um momento, após os assassinatos terem parado, pensei que Eleanor fosse a verdadeira assassina, e admito também que talvez eu estivesse pensando em diversas maneiras de puni-la, porém a morte de hoje me deixou na estaca zero, e apenas o pensamento de ter que correr contra o tempo me deixava alarmada.
- ... – Seguro seu braço para impedi-lo de andar.
- O que foi, ? – pelas suas feições, ele não parecia muito satisfeito comigo.
- Acabei de pensar em algo muito sério. – compartilhar meus pensamentos nesse momento era um jeito de extravasar o que estava me deixando incomodada.
- Eu tenho muito medo quando você fala dessa maneira. – o humor dele parecia meio instável.
- Bom... – tento encontrar palavras que pudessem descrever corretamente o que eu queria contar a ele, mas não tinha certeza se isso soaria de forma positiva.
- Fale logo!
- Um tempinho atrás eu pedi para que me trouxesse um pó da amnésia. – dou um pequeno sorriso, era uma das pessoas que me encorajava a concertar minhas burrices utilizando o pó, então ele não iria me repreender por isso.
- me contou sobre sua aventura na casa daquela garota. – aquele garoto era um fofoqueiro e nunca me deixava contar nada. – Passei horas escutando ele reclamar sobre o fato de você achar que ele é uma máquina de fazer antídotos para concertar suas burradas. – me sinto um pouco perplexa com suas palavras.
- gosta de ser dramático, mas ama nos ajudar. – minhas palavras soam um tanto quanto grosseiras. – Agora voltando ao assunto antes que eu perca o foco... E se... Estivermos lidando com um transmorfo? – pergunto de repente.
- Então temos um grande problema, pois pode ser qualquer pessoa. – concordo com ele. – O que podemos fazer?
- Talvez e possam rastrear um transmorfo, se o que estamos lidando no momento for um. – pensamentos percorrem pela minha mente a mil por hora.
- , o que você quer fazer realmente? – me segura pelos ombros.
- Primeiro, eu tenho que tirar a prova de que Eleanor não é um transmorfo. – coço minha testa. – E para isso irei precisar de novamente.
- Você irá apagar a memória da garota? – ele não parecia muito feliz com a minha ideia. – Isso não parece certo, não quando feito recentemente. – fecho a cara.
- ... – minha voz soa um pouco melosa, pois eu precisava que ele amolecesse seus pensamentos.
- A garota pode ter efeitos colaterais, você está ciente disso? – sua voz soa um pouco áspera.
- Eu sei disso, porém, se ela for um transmorfo... – sou impedida de continuar falando.
- Podemos pedir apenas para que cheque se ela é ou não um transmorfo, se a resposta for positiva, então vocês poderão escolher o que fazer, caso contrário, ela permanece do jeito que está. – baixo minha cabeça e resmungo baixinho. – Você sabe que eu consigo ouvi-la, não é mesmo? – solta uma pequena risada.
- Odeio isso. – começo a andar com passadas firmes.
- Me espere, ! – praticamente berra no meio da rua e eu dou um olhar feio para ele, pois não queria que as pessoas nos ouvissem por aí.
- ... – o repreendo.
- Vamos lá! Não fique brava, você sabe que eu sempre penso no bem estar das pessoas ao meu redor, e , você mais do que ninguém deveria saber que os efeitos colaterais de mexer com a mente das pessoas é péssimo. – reviro meus olhos.
- Eu sei disso, eu fiz minha lição de casa, e não é como se eu nunca tivesse sido cuidadosa com as pessoas. – começo a resmungar. – Você, melhor do que ninguém, sabe que apagar a mente das pessoas, e principalmente de alguns seres sobrenaturais, foi a única saída que achei para não matar ninguém. – eu estava começando a ficar irritada e com fome, então nada do que falasse para mim no momento iria ser bem recebido.
- E eu serei eternamente grato por você pensar nas pessoas do nosso mundo, e de arrumar novas maneiras para solucionar as coisas, porém, nesse momento, eu não acho certo você simplesmente apagar a memória de uma pessoa sem ter uma confirmação.
- Por que você ficou assim de repente? – me refiro a sua postura.
- Porque eu não quero que mais ninguém se machuque. – suas palavras são curtas.
- Só me prometa uma coisa. – o encaro.
- Depende... – observo o momento que semicerra os olhos para mim.
- Se pegarmos o verdadeiro assassino, você pode diminuir o castigo do meu tio? – engulo em seco, pois eu sabia que trazer esse assunto à tona iria deixar irritado.
- Posso pensar em algo, porém ele ainda precisa ser punido pelos seus atos. – balanço minha cabeça concordando com ele.
- Apenas pense nisso. – mostro um pequeno sorriso, pois eu sabia que apesar de tudo, era uma pessoa completamente compreensiva e às vezes até humano demais para um vampiro.
Parando para refletir sobre o quão compreensivo era , uma lembrança de como o conheci me assola de repente. Eu lembro vagamente de estar em uma missão com , nossa primeira missão em dupla, já que tinha se ferido anteriormente. Nós duas estávamos caminhando por uma cidade, de uma maneira calma para não chamar a atenção das pessoas ao nosso redor, e foi nesse momento que meus olhos se encontraram com , talvez por eu ser um pouco inexperiente naquela época, eu tenha realmente achado que ele era apenas um humano inofensivo, até porque ele sabia se misturar muito bem entre os humanos, no entanto, sua identidade foi revelada mais tarde em um momento que eu e estávamos em apuros e prestes a morrer. Eu realmente queria saber o que o impulsionou a nos salvar naquele dia, porém nunca nos contou os seus motivos.
- ... – segura minha mão, impedindo que eu continue minha caminhada.
- O quê? – me viro para encará-lo.
- Vou ser bem claro com você. – meu amigo assume uma postura mais severa. – Se eu ver que você ou estão em perigo... – ele faz uma pausa. – Eu imediatamente irei levar vocês para bem longe daqui, fui claro? – suas palavras eram afiadas como uma faca e apenas concordo, apesar de achar errado fugir de uma briga, ela sendo favorável ou não para mim.
- Por acaso você apenas está fazendo isso por causa daquela vez? – mordo minha boca.
- Você sabe muito bem que não é apenas por causa daquela vez, e sim por todas as vezes que vocês se colocaram em perigo por causa da Ordem. – eu sabia que sempre ficava chateado comigo e com pelo fato de sempre nos metermos em confusão, porém era inevitável. – E vocês duas sempre acabam se ferindo por conta disso. – ele me encara. – O seu último ferimento quase tirou sua vida, e eu realmente fiquei apavorado com a ideia de não ter você ao meu lado. – parece pouco, mas momentos como esse deixavam meu coração mais quente, saber que tinha apreço por mim era maravilhoso, pois ele era um dos meus melhores amigos no mundo, e dificilmente ele agia dessa maneira na minha frente.
- Eu também odeio quando fico ferida nas minhas missões, e é por isso que quero pegar o maldito de uma vez. – beijo sua bochecha.
- E esse é o motivo de eu estar ajudando vocês no momento. Eu realmente fiquei apavorado quando soube que você ficou ferida. – jogo minha cabeça para trás e solto uma risada.
- Mesmo quando tento esconder as coisas de você, você dá um jeito de descobrir. – balanço minha cabeça.
- É porque somos amigos, não costumo fazer isso com os outros. – me sinto tocada com suas palavras.
- Promete que não irá embora? – ergo meu dedo mindinho para ele.
- Prometo. – ele entrelaça seu dedo no meu.
- Você sabe que a partir do momento que fazemos esse tipo de promessa, ela não pode ser quebrada. – dou um beijo nos nossos dedos para selar a promessa.
- Eu sei disso. – sorri. O típico sorriso sombrio dele, mas que era capaz de aquecer nossos corações.
- É por isso que eu amo você. – pisco para ele.
- Não fale isso perto de , ela pode sentir ciúmes. – não era de hoje que tinha um apreço diferente por .
- ... – eu não sabia muito bem o que rolava entre os dois, e o fato de ser uma pessoa muito simpática não me ajudava a desvendar sobre eles.
- Não comece com isso, . – ele sabia muito que eu iria falar, mas prefere me interromper.
- Tudo bem. – levanto minhas mãos para cima. – Vamos? – mudo de assunto rapidamente.
- Vamos. – ele apoia a mão nas minhas costas e começa a caminhar comigo até o local que eu tinha deixado meu carro estacionado.
***
O caminho para a casa da minha avó é silencioso e abre brechas para os meus pensamentos novamente. Eu ainda estava dividida sobre levar até a casa da vovó, pois eu sabia que minha família não iria recebê-lo muito bem, porém apesar de parecer improvável, essa pequena reunião era importante para definir os próximos passos, para que juntos pudéssemos capturar o verdadeiro assassino.
Se a situação não fosse tão cômica, seria no mínimo engraçado, afinal, quando poderíamos pensar em ter dois príncipes do submundo na casa da minha família? Sim, eu sabia que nesse momento minha avó deveria estar de cabelo em pé com em sua casa, e pensando em diversas maneiras de mandá-lo embora, pois meu amigo tinha uma mania de se sentir muito confortável na casa dos outros, e extrapolar da paciência das pessoas ao seu redor, mas ele era um doce de pessoa, o que acabava cativando todos que ficavam próximos a ele, porém nisso tudo o que me deixava preocupada era com o fato de ter outros lobos na casa da minha avó no momento que chegássemos lá, afinal, foi que levou o corpo da garota para a casa dela e provavelmente eles iriam prepará-la para um enterro digno que é passado de geração por geração nas alcateias.
- No que você pensa tanto? – tinha pedido para levar meu carro, apenas pelo fato dele não confiar em eu dirigindo por ai.
- Estou pensando qual será a reação dos meus avós quando você passar pela porta da casa deles. – eu não iria ficar fazendo rodeios sobre os meus pensamentos, ainda mais com .
- Não se preocupe com isso, hoje eu irei em paz. – não escondo meu desagrado, pois eu sabia que apesar dele teoricamente ir em paz, qualquer coisa que ele pudesse usar de oportunidade para insinuar as atitudes do meu tio, ele iria usá-la.
- Por que estou começando a ficar com dor de cabeça? – massageio minha testa.
- Talvez porque o dia tenha sido um pouco turbulento? – ele parecia se divertir as minhas custas.
- ... – minha voz soa um tanto quanto repreensiva. – Fique quieto. – peço enquanto ele estaciona o carro.
- Você está tensa demais, , não se preocupe. – ele sorri para mim de repente e se aproxima. – Eu irei me comportar. – prendo minha respiração enquanto ele solta meu sinto de segurança. – Vamos?
- Um dia você ainda irá me matar do coração. – abro a porta do carro e saio imediatamente. – Vamos acabar logo com isso. – suspiro enquanto encaro as luzes acesas da casa da minha avó. – Acredito que a família esteja toda reunida nesse momento. – resmungo.
- Seu tio também? – ele me pergunta com cautela.
- Menos ele. – começo a caminhar. – E lembre-se, você prometeu. – o encaro mais uma vez.
- Sim, sim. – resmunga.
A primeira coisa que noto ao caminhar para a casa da minha avó, era a ausência de outros carros no local, claro que eu sabia muito bem que lobos não precisavam utilizar carros, afinal, eles podiam correr livremente por ai, porém minha avó tinha dito que com os recentes assassinatos, todos os lobos entram em um acordo de não se transformar, pois não queriam chamar a atenção dos caçadores. E o motivo de eu estar tão nervosa, foi por conta dessas palavras ditas por ela, visto que ao ver junto com e , os três iriam acabar comentando que tinha ficado para trás para me ajudar, e com isso eles poderiam fazer uma emboscada para ele, ou no mínimo serem ariscos pelo tempo que estivesse aqui. Claro que eu não esperava que tivesse uma recepção gloriosa, ou que as coisas pudessem se resolver da melhor forma possível, mas desejo que o desenrolar dessa história seja positivo e não negativo e que as diferenças de e no momento pudessem ser colocadas de lado para que uma aliança fosse formada.
- Olá. – abro a porta de casa e noto que o ambiente estava quieto demais. – Alguém em casa? – apesar das luzes estarem acesas, era possível que não tivesse ninguém no local, o que me deixava um pouco preocupada, pois eu não tinha ideia de onde e poderiam estar.
- Será que todo mundo saiu? – entra com cautela dentro da casa dos meus avós.
- Provavelmente? – a indecisão na minha voz é evidente.
- Ou eles estão esgueirados em algum lugar, apenas esperando para me atacar? – a desconfiança de era normal, afinal, ele estava em um território inimigo.
- Entendo a sua preocupação, mas eles não arriscariam colocar tudo a perder. – dou um sorriso para ele. – Vamos para a sala, acredito que em breve alguém apareça. – dou de ombros.
- Onde será que eles foram? – ele parecia ligeiramente curioso.
- Talvez eles levaram o corpo da garota para a família dela. – suponho.
- Provavelmente irão demorar. – não parecia muito feliz.
- Acredito que não, apesar dela ser um lobo, geralmente os funerais se reservam apenas para a alcateia que ela pertence. – explico.
- Mas seu primo falou que a conhecia. – ele me questiona.
- Conhecer e pertencer são duas coisas totalmente diferentes. – me sento no sofá e aceno para ele fazer o mesmo.
- Não consigo entender como as coisas funcionam pra essa espécie. – solto uma risadinha ao ver revirar os olhos.
- Até porque você é um vampiro. – continuo rindo.
- Você está bem engraçadinha hoje, não é mesmo? – dessa vez ele me olha sério.
- Sim, sim. – seco uma lágrima que cai depois de rir tanto. – Eu sei que vocês tem uma maneira diferente de lidar com as mortes da família. – me inclino um pouco para frente para poder ter um olhar amplo do sentado na poltrona.
- Geralmente reunimos diversos clãs, temos bastante vinho e música. – toda vez que ele falava sobre os clãs eu me sentia deslumbrada.
- Vocês sempre foram extravagantes. – balanço minha cabeça e continuo rindo.
- Confesso que muita coisa mudou. – sua postura muda um pouco, ficando mais rígida.
- Vocês não vivem mais em castelos horripilantes. – finjo um calafrio.
- Isso é lenda. – se defende.
- Pode ser lenda, mas ficou marcado na minha infância. – antes e eu descobrir sobre o submundo, eu escutei muitos contos, e o dos vampiros não seria diferente.
- O que eu posso fazer para mudar sua opinião? – se aproxima de mim e me olha diretamente nos olhos.
- Infelizmente não posso pedir para você me levar em um funeral de vampiros, pois não quero ser a única humana por perto. – solto uma risadinha e desvio meus olhos de .
- Você tem razão, , eu jamais colocaria você em perigo. – ele se inclina para frente. – Então não tem como eu mudar isso para você. – faço uma careta.
- Vou confiar em você e nas suas palavras. – pisco para ele e ouço um barulho de carro entrando no terreno da minha avó. – Acho que eles estão aqui. – me levanto do sofá para ficar ao lado de .
- Por que você está aqui? – ele me pergunta confuso.
- Porque eu sou sua proteção hoje. – sorrio.
- Chegamos. – escuto minha avó falar ao abrir a porta.
- Estou na sala. – berro logo em seguida para que ela pudesse me ouvir.
- Está acompanhada? – ela pergunta.
- O que você acha? – devolvo a pergunta.
- Estou indo. – arqueio minha sobrancelha para e pergunto para ele silenciosamente se estava tudo bem.
- Sim. – ele sussurra para mim e fica mais relaxado no sofá.
- ... – minha avó está acompanhada do meu avô e eles não pareciam felizes.
- Olá Sally, olá Kevin. – encaro os três, curiosa, pois parecia que eles realmente se conheciam há bastante tempo.
- ... – meu avô o encara por um instante antes de olhar para mim. – É assim que você retribui, ? – eu nunca tinha visto meu avô tão bravo na vida.
- Depende do seu ponto de vista. – me ajeito no sofá. – não fez nada de errado, então não vejo motivos para vocês serem hostis com ele. – eu não queria parecer mal educada, porém meu avô me atacar dessa maneira não era justo.
- Você resolve as coisas, Sally, hoje foi um dia pesado demais para eu ter que lidar com . – meu avô se dirige para o corredor, provavelmente indo para o seu quarto.
- Bem... Eu não esperava uma recepção com abraços e beijos. – bato na coxa de , pois infelizmente ele não estava em posição de ser sarcástico no momento. – ... – seu olhar me corta como lamina e eu faço uma careta. – Onde estão e ? – ele muda seu olhar para a minha avó.
- Estão vindo com . – minha avó resmunga. – ... – presto atenção no que minha avó falaria. – Você não está cansado em se envolver nos assuntos que não dizem respeito a você? – ela é direta, e fico impressionada com isso.
- Se envolve meus amigos, diz respeito a mim. – diferente da minha avó que parecia apreensiva, estava bem relaxado.
- Me parece um tanto quanto possessivo a sua resposta. – arregalo meus olhos.
- Acredito que a palavra que a senhora usou seja um tanto quanto desrespeitosa para mim, afinal, eu protejo as pessoas próximas. – ele sorri. – Isso tudo seria inveja porque nunca cedi para você ou seu grupo? – ok, talvez trazer até aqui não tenha sido uma boa ideia.
- Você gosta disso não é mesmo? De receber atenção. – vovó solta uma risada e minha mão automaticamente voa para o braço de .
- Receber atenção? Eu sou o único que ofereceu suporte e proteção para e quando elas quase foram mortas, não uma e sim diversas vezes, e ai eu pergunto para você, onde vocês estavam quando isso aconteceu? – ele não parecia feliz com as palavras da minha avó.
- Eu não confio em você. – vovó desvia o assunto e isso me deixa ainda mais intrigada, pois ela não tinha respondido a pergunta de .
- Não preciso da sua confiança, e eu nem estaria envolvido diretamente com você se não fosse por . – as palavras de são duras. – Além do que, meu intuito era apenas encontrar com vocês durante o julgamento do seu filho. – ele sorri.
- Então é isso que você irá fazer? Colocar meu filho em um julgamento por conta de uma morte? – fecho meus olhos, desacreditada com as palavras da minha avó.
- Apenas uma morte? Como você se sentiria se eu tivesse matado alguém da sua família? – ele pergunta. – Porque eu tenho certeza, Sally, que você faria o mesmo, então não venha com esse papo pra cima de mim. – cruza os braços e me encara. – , infelizmente não tem como eu continuar aqui. – abro minha boca para falar, porém sou interrompida pela minha avó.
- Por mim você não se envolveria com , não estou feliz com essa amizade. – me sinto traída pelas palavras dela, pois nesse momento ela parecia meus pais falando.
- Ainda bem que não é você que tem que aceitar alguma coisa. – bate de frente com ela.
- , vamos ser sinceros aqui, você adora usar as pessoas para benefício próprio. – observo fechar os olhos e eu podia sentir que ele estava tomando todo o cuidado para escolher bem as suas palavras.
- Você ainda está sentida por eu nunca ter me relacionado com você? – se antes eu estava de boca aberta com as informações que estava escutando, agora tenho certeza de que iria querer saber aonde isso iria terminar.
- Como sempre pensando em si mesmo. – vovó parecia sentida, o que dá a entender que um dia ela realmente gostou dele.
- Desculpe Sally, mas meu coração pertence a outra pessoa. – faz uma careta boba e me encara. – Acredito que teremos que conversar mais tarde, , peça para me ligar assim que ele chegar. – ele fala.
- Eu irei com você, e assim podemos reunir o pessoal. – me levanto do sofá e paro ao seu lado.
- Você realmente irá sair, ? – vovó pergunta.
- Eu tenho coisas para resolver. – dou de ombros.
- Então é a minha neta que tem seu coração, ? – ela pergunta de repente.
- Não Sally, e mesmo que fosse, eu jamais falaria isso para você. – começa a caminhar para a saída.
- Desculpe vovó, mas tenho que ir. – aponto para o local que acabou de passar.
- Tudo bem, não é como se eu fosse impedir de você fazer isso. – ela vai se sentado aos poucos no sofá e eu fico dividida sobre o que tenho que fazer por um momento, porém no fim eu sigo .
***
Saindo de casa, eu penso sobre como eu poderia tocar no assunto anterior com , pois eu realmente estava muito curiosa para saber o que tinha acontecido no passado, entretanto, o medo de deixar ele ainda mais irritado do que já estava me inibe de perguntar.
- Para onde vamos? – faço uma pergunta diferente da que eu queria.
- Teoricamente falando, eu iria para casa. – é a primeira vez desde que saímos de dentro da casa da minha avó que me olha nos olhos. – Mas preciso de para isso. – ele fala.
- Vocês não estavam ficando na cidade? – pergunto exaltada.
- Conhecendo como conheço, eu não iria permitir deixar ele nessa cidade e chamar a atenção indesejada, então nós estávamos indo e vindo pelo portal. – fico boquiaberta.
- E ele não reclamou nem um pouquinho? – se a resposta fosse negativa seria tão estranho.
- O que você acha? – arqueia a sobrancelha.
- Que você o ameaçou. – isso era uma característica nítida da amizade dos dois que consistia em um ameaçar o outro, e no fim serem melhores amigos.
- Você é realmente inteligente. – reviro meus olhos.
- O que iremos fazer agora? Esperamos eles no carro? – pergunto.
- Acho que seria uma boa ideia, já que certamente eles devem estar chegando. – aceno com a cabeça.
- Então isso quer dizer que você irá pegar pela mão e deixar e eu para trás? – o encaro.
- Isso quer dizer que não irei resolver as coisas com seus avós a partir de hoje, e sim com seu primo. – faço uma careta.
- Como assim? – digo um pouco cautelosa.
- Acredito que seu primo deve estar desesperado, então resolvi fazer um trato com ele. – faz uma cara misteriosa que me deixa ligeiramente preocupada.
- E o que seria isso? – eu não tinha certeza se ele iria falar seus planos para mim, porém não custava tentar.
- Quando eu encontrar , você irá saber. – suas palavras são curtas e sérias. Detalhe, eu odiava ter que esperar algo.
Capítulo Quinze
Apesar de toda a minha irritação, e do humor do não está em um dos seus melhores momentos, esperamos juntos os nossos amigos para que pudéssemos discutir o próximo passo. Esperar... Essa palavra não fazia parte do meu vocabulário, ou até mesmo do meu dia a dia até eu entrar na academia da Ordem, e mesmo eu sendo uma garota pequena na época, eu tinha esse grande imã para problemas, e me lembro de que adorava me aventurar, principalmente na floresta que ficava na parte de trás da casa da minha avó.
Saber esperar foi algo que custou muito tempo, e muita dedicação da minha parte, pois eu sempre fui uma pessoa que fazia as coisas no impulso, e talvez seja por isso que as lembranças amargas dos meus momentos na academia ficaram tão marcadas no meu subconsciente. Lembro como se fosse ontem... Uma das primeiras lições que recebi ao chegar na academia, era responder qual a principal característica de uma caçada, e para ser bem sincera, recordo que falei sobre capturar a presa, reprovei. Todos riram de mim naquela ocasião, pois apesar de parecer clara as minhas intenções, minha professora explicou que a mais importante dentre elas era saber esperar.
Depois de um tempo, eu questionei minha tutora sobre isso, “Por que a principal característica de uma caçada é esperar?”, então, com muita paciência, ela me instruiu que, para uma caçada ser bem sucedida, devemos esperar, devemos ser cautelosos e silenciosos, pois só assim a presa não irá nos sentir, não irá duvidar dos nossos atos. Desse jeito podemos seguir com o próximo passo, que é matá-la de forma bem sucedida. Claro que para tudo sair de maneira perfeita, devemos conhecer o nosso oponente, usar a nossa inteligência e força para podermos capturá-lo, é um conjunto de coisas...
Então vocês devem estar se perguntando: "Ok. Por que ela está falando sobre isso agora?" Porque ao levar em consideração tudo que a minha tutora ensinou durante meus anos de treinamento, podemos claramente ver que o assassino, além de não agir por impulso, tinha escolhido a dedo suas presas. O que eu precisava saber, no entanto, era se as suas vítimas estavam ligadas umas às outras e se sim, o motivo, porque convenhamos, até hoje entender a mente de um assassino nunca foi fácil, e viver de suposições então? Muito menos.
- Ainda não acredito que aceitei estar aqui. – eu não esperava que esse contato de e fosse animador, pelo contrário, eu tinha uma leve noção de que eles poderiam se brigar aqui mesmo, porém eu precisava deles, e a única coisa que eu podia fazer era rezar para que ambos se comportassem.
- Se você não está feliz, é só ir embora. – eu podia sentir os pelos da minha nuca ouriçados com as poucas palavras de .
- Estou aqui por um motivo, e só por isso estou lindando com a sua cara feia.
A expressão corporal do meu primo estava estranha, quase como se ele pudesse se transformar nesse instante.
- Meninos... – os chamo, com cautela. – Vamos falar sobre o que realmente interessa.
- E o que seria? – parecia exausto, as bolsas de seus olhos inchadas, e suas olheiras evidentes.
- Eu sei que todos vocês estão cansados, eu também estou, entretanto existem algumas pontas soltas que deixamos para trás e precisamos corrigir. – eu não estava feliz, e aparentemente nem meus amigos estavam, porém não tínhamos outra escolha a não ser planejarmos e começarmos desde o começo.
- Não deveríamos reunir todo mundo? Tipo, trazer e para essa roda de conversa? – gesticula.
- Acredito que esse não seja o momento.
Eu não estava excluindo os meninos, pelo contrário, acredito que envolver e no momento não seja necessário.
Veja bem, além das constantes preocupações que tenho, a lua de sangue é um dos fatores decisivos para eu não chamá-lo aqui, eu precisava que ficasse longe de confusão por alguns dias, pois com a lua de sangue se aproximando, a tendência de seus sentidos ficarem confusos e perigosos seria inevitável, porém a falta de controle era um fator decisivo para acabar com a vida dele pelos próximos anos. Eu sabia muito bem, depois de tanto estudar, que a lua de sangue afetava muito o metabolismo de um lobo, e que eles ficavam completamente irreconhecíveis. Vi de longe o que um lobo bom pode fazer durante a sua falta de controle em uma lua de sangue, e meu maior medo era de cometer uma loucura nessas poucas horas, e que isso pudesse ficar marcado eternamente em sua mente.
Enquanto a , bom... Ele era uma incógnita para mim, porém era uma incógnita que eu queria manter sã e salvo. Ele tinha passado por tanta coisa nas últimas semanas que dar um descanso não só para ele, mas como para , era mais do que necessário, por isso minha primeira ação nessa reunião era não chamá-los.
A parte da floresta que estamos é silenciosa, silenciosa demais. E eu começo a ficar um pouco mais atenta com as coisas ao meu redor. O ar gélido da neblina que insistia em aparecer também me dá calafrios, porém acabo não me pronunciando para o restante do grupo, na esperança de que eles pudessem perceber sozinhos, afinal, tínhamos três pessoas do submundo aqui. Eu ando de um lado para o outro, escolhendo com cuidado as palavras que iria usar para contar para os meus amigos que deveríamos começar a nossa investigação do zero novamente. Quando paro de andar, percebo que tenho quatro pessoas me encarando sem entender absolutamente nada, e é meu primo quem resolve quebrar o clima tenso que estava entre nós, ao perguntar o real motivo de eu ter chamado todo mundo para vir até aqui.
- Como todos aqui já sabem, achamos um corpo no escritório do prefeito, e querendo ou não, ele é um caçador. – tento ao máximo não parecer insensível com a questão da morte da garota, ainda mais com meu primo conhecendo ela, porém era inevitável eu agir sem um centelho de frieza enquanto falo.
- Então eu devo matá-lo? – observo prensar seus lábios.
Queria entender a dor que meu primo estava passando, mas é um pouco difícil para mim, ainda mais não tendo nenhuma ligação com a garota. Eu sempre procurei lidar com frieza na maioria do tempo, porque era algo necessário na vida de um caçador, mas não nego ao falar sobre os sentimentos de incapacidade no passado, quando perdi companheiros. Geralmente tento manter essas emoções trancadas no fundo da minha mente, pois em momentos como esse, em meio a uma caçada, o desespero pode tomar conta e no fim da noite você ser a pessoa morta.
Apesar de tentar entender meu primo, fico em choque com o cenário que nos encontrávamos no momento. tinha as mãos fechadas em punhos, tentando ao máximo controlar seus sentimentos, e a surpresa toma conta dos meus olhos. Ele não era assim, e eu não podia deixar que seus sentimentos tomassem conta do seu corpo em um momento como esse, não quando ele podia simplesmente dar de costas e ir atrás do prefeito.
Para algumas pessoas, lidar com mortes e eventos trágicos era muito difícil, e levava muito tempo para aceitar os acontecimentos, algo que é totalmente diferente para mim, pois há muito tempo aprendi a lidar com essas situações de maneira fria para que nada pudesse atormentar a minha mente eternamente.
Claro que eu tinha muitas coisas para falar ainda, e eu não podia dar certeza sobre ele ser um assassino, apesar de ser um caçador. Eu não tinha escolha, assim como as pessoas que estavam aqui hoje, porém eu tinha duas opções: a primeira seria a hipótese do prefeito realmente ser o assassino, ao menos dessa garota, e querer iniciar uma guerra entre a Ordem e o submundo, ou, em uma última hipótese, ele seria inocente.
- Não sabemos ao certo se ele a matou... É somente uma suposição... – pela segunda vez em questão de segundos, ao pegar os olhos de em mim, me sinto desconfortável.
- Então você me fez vir aqui, depois da morte de uma amiga querida, para falar sobre suposições? – meu primo parecia irritado e eu fecho meus olhos ao ver se aproximando de sem hesitar.
me encara, perguntando silenciosamente se ele deveria fazer alguma coisa por conta da aproximação de e eu aceno negativamente com a cabeça. Apesar de parecer perigoso, não faria nada contra meu primo, no mínimo ele tinha se aproximado para que soubesse que ele estava de olho nele, e ao ver expressão do meu melhor amigo, era isso mesmo que ele estava fazendo.
- Precisamos falar sobre isso, ele realmente pode ser um assassino, mas ele seria o assassino que estamos atrás? – questiono todo mundo.
- Independente de ele ser ou não, é nosso dever punir ele. – meu primo estava mais aborrecido do que o normal. – Nós do submundo sabemos como a Ordem funciona, e se mesmo ele estando aposentando, ele caçar, a Ordem irá fazer questão de esconder isso de todos. – solto um suspiro.
- Você tem razão... – começo a falar. – Porém devemos investigar com cuidado, a Ordem é esperta, eles estão por todos os lados nessa cidade, se você der um passo em falso, será sua morte. – eu tinha ficado realmente surpresa em encontrar tantos caçadores aposentados nessa cidade depois de invadir a base de dados da Ordem, porém, as incertezas constantes estavam me incomodando, pois em nenhum momento foi definido quem era o assassino, o que ele era realmente, tudo foi apenas suposições da minha parte e dos outros.
No começo eu tinha certeza de que Eleanor poderia realmente ser a verdadeira culpada das mortes que estavam acontecendo, porém essa nova pista sobre o prefeito e termos encontrado um corpo em seu escritório me deixou muito confusa e mudou tudo. Era quase como se a pessoa que estivesse movendo as peças desse jogo de xadrez estivesse prestes a dar seu xeque-mate, e nós, que estamos tentando acabar com tudo isso, prestes a sermos eliminados.
- Então o que você sugere? – me pergunta depois de um longo silêncio.
- Realmente passou pela minha cabeça que podemos estar lidando com um transmorfo... – minha voz vai sumindo conforme termino de falar.
- Você... Você tem certeza? – se para mim já estava sendo difícil de acreditar que pudéssemos estar lidando com um transformo, imagina para , que teve grandes problemas com um.
Por muito tempo eu ouvi histórias sobre transmorfos, tanto no submundo, como na Ordem, e tudo o que eu ouvi nesses anos foi muito assustador, pois não temos um norte, não sabemos se estamos lidando com nossos amigos, nossos familiares, ou se estamos, no fim, lidando com um transmorfo.
Detectar um transmorfo é muito difícil, e isso se dá pelo fato de a Ordem ter matado muitos deles quando minha avó sucedeu ao cargo de diretora. É claro que muitos conseguiram fugir, e até então estavam quietos, sem nenhuma movimentação aparente.
- Acredito que o que esteja dizendo é verdade. – se pronuncia depois de um tempo.
- Isso que dizer que, se estamos lidando com um transmorfo, estamos trabalhando de olhos vendados. – faço que sim com a cabeça.
- Estamos perdidos. – é a vez do meu primo se pronunciar.
- Acho que iremos precisar de reforços... – meus olhos caem diretamente em . – Você consegue trazer com você? – pergunto.
- Por que você e eu não vamos até ele?
- Assim? Tão de repente? – fico surpresa com sua proposta. – Acha que ele não irá se incomodar se eu invadir seu reino? – pergunto.
- Não é invasão se você estiver visitando seu amigo. – sorrio com sua resposta.
- Vamos agora? – eu não me importava muito com o horário.
- Você realmente quer ir até ele? – me questiona novamente.
- Abra o portal, desse jeito eu posso conversar com ele pessoalmente. – eu sabia que ficar abrindo portais exigia muito da energia de , porém, se permitisse, poderíamos ficar no seu reino por uma noite.
- Vocês irão junto? – ele olha para nossos amigos.
- Por que não? Você sabe que eu adoro viajar dessa maneira. – corre e para ao lado de e enlaça seus braços nele.
- Mais alguém? – ele pergunta.
- Todos nos iremos. – puxa pela mão e eu arregalo meus olhos com essa atitude.
Não demora muito para abrir o portal que nos levaria para o reino de e, como sempre, ele não decepcionou. O ritual para a abertura do portal era intenso e cheio de palavras em uma língua totalmente desconhecida para mim. Ao fechar os olhos, sinto toda a energia fluindo ao nosso redor e acabo me segurando com mais força em , pois, para humanos como eu e , a energia que fluía era muito forte, e se não tomássemos cuidado, iriamos acabar sendo levadas para fora do círculo.
Apesar de se tratar de um portal, nem sempre o caminho seguido nele é fácil, e aparentemente ao caminhar para dentro dele eu sinto isso. Não sei bem se é pelo fato de irmos para um lugar totalmente distante, habitado apenas por fadas e algumas raposas, ou porque minha energia não esteja completa, porém, o que posso dizer nesse momento, é que à medida que vamos nos aproximando do final do portal para chegarmos às terras das fadas, eu vou me sentindo mais fadigada e com um leve aperto no peito.
- Estão todos bem? – é a primeira coisa que ouço falar, no entanto, eu estava longe de estar bem. Meu estômago doía, meus ouvidos estavam entupidos, e parecia que minhas pernas estavam bambas demais, então eu estava o oposto de bem no momento.
- Acho que eu preciso de um minuto para me recompor. – me agacho e fico assim por alguns minutos.
Eu precisava organizar minha mente e tomar controle do meu corpo novamente, porém, ao encarar a paisagem na minha frente, fico sem fôlego.
Sendo bem realista, eu nunca estive aqui. Eu sabia sobre o reino das fadas apenas pelo que e contavam, ou até mesmo pelo que me contou, porém, estar presencialmente aqui nunca ocorreu de fato, e agora eu estava chocada com a imensidão que o reino dele tinha.
O lugar não era como eu pensava, longe disso. Era melhor. Muito melhor. O reino também não tinha nada haver com o que víamos nos contos de fadas, pelo contrário, era um local comum, com casas comuns e com pessoas passeando por lá normalmente.
Nada de asas.
Nada de fadas voando.
Claro que eu não podia ver muito da onde estávamos, afinal, escolheu um lugar mais afastado para abrir seu portal, não que isso fosse impedir deles saberem que estávamos aqui, até porque fadas são muito perceptíveis, e eu tenho quase certeza de que nesse momento, já estava sabendo sobre os intrusos em seu reino.
- Já se recompôs? Ou precisa de mais algum tempo? – se agacha ao meu lado para conferir se eu estava bem.
- Acho que podemos ir. – ofereço um sorriso para ele, mesmo sabendo que eu não estava completamente bem.
Na realidade, essa não era a minha primeira vez utilizando um portal, e fiquei surpresa ao sentir os efeitos colaterais de estar nele. Minha respiração ainda estava entrecortada, e apesar de falar para que eu podia continuar, eu menti.
Minhas pernas ainda estavam um pouco bambas quando me apoio em , e sinto uma leve tontura. Eu sabia que ele não estava tendo nenhum esforço para me manter em pé, mas mesmo assim eu o agradeço silenciosamente por sempre estar cuidando tão bem de mim.
O caminho que estávamos seguindo não era fácil, e eu tinha que tomar muito cuidado para não tropeçar em uma pedra e machucar meu pé. A atenção nesse momento era fundamental e apesar de me sentir um pouco lenta, minha mente estava a todo vapor.
Claro que, mesmo diante a tanta dificuldade, eu não podia deixar de contemplar a paisagem do pequeno vale das fadas, que apesar de ter casas comuns, continuava encantador.
- Quem são vocês, e o que vocês fazem aqui? – ouço uma voz irritada romper a escuridão da noite e paro de andar imediatamente quando somos cercados por fadas vestidas em armaduras e apontando espadas em nossa direção.
- Somos amigos de . – ergue as mãos e fala com a maior calma do mundo.
Era estranho estar em uma posição como essa. Geralmente eu era a pessoa que abordava os outros, e não o contrário.
- ? – sai por detrás dos seus guardas.
Antes que ele pudesse falar alguma coisa para , me afasto de e começo a falar, pois a última coisa que eu queria, era que e brigassem.
- Fui eu quem pedi para ele me trazer aqui imediatamente.
- O que aconteceu com você? – me encara da cabeça aos pés e solta alguns resmungos em sua língua de fada.
- Talvez a travessia tenha sido um pouco difícil dessa vez. – eu ainda podia sentir minha energia sendo drenada.
- É porque você não foi feita para esse mundo. – ele continua resmungando.
- Bom... – olho para trás, apenas para ver na mesma situação que eu. – Talvez você tenha razão. – sorrio.
- Isso não é bom. – fala algumas coisas para os seus guardas e logo inclina a cabeça para seguirmos ele.
Não tenho como negar, a descida foi muito difícil para mim, e parecia que minha respiração ficava pior a cada minuto. E eu tenho que admitir, nenhum treinamento foi o suficiente para eu aguentar toda a dor que estava sentindo no momento. E acredito que sabia que eu estava tendo dificuldades, pois ele me pegou no colo e continuou me carregando até chegarmos à casa de .
Ao ter a primeira visão da casa dele, fico surpresa, lembro que eu imaginei mil coisas sobre seu estilo de vida, ainda mais para um príncipe, porém, para a minha surpresa, vivia em uma casa relativamente grande, mas não em um castelo.
- Eu gostaria de saber o que seria tão importante que fez vocês virem até aqui sem avisar. – a primeira oportunidade que tem, olha diretamente para mim e me questiona.
- O assunto realmente é urgente. – solto um suspiro ao me sentar no sofá.
- Pode começar a me contar sobre esse assunto agorinha, a comida logo será servida, então aguente mais um pouco. - ao mencionar comida, meu estômago automaticamente ronca.
- Acredito que os meninos já devem ter passado para você sobre os recentes acontecimentos. Certo? – pergunto na esperança de não ter que falar sobre os últimos acontecimentos.
- Sim. – com o canto dos olhos observo uma movimentação constante das pessoas que trabalhavam para , organizando tudo na sala ao lado, porém não me deixo prender por isso e volto minha atenção para o assunto que realmente importava.
- Ótimo... Então, para resumir tudo, acredito que estamos lidando com um transmorfo. – despejo tudo em cima dele, sem avisos.
- Um transmorfo? – não parecia muito feliz com as minhas palavras.
- tem razão... – eu não tinha ouvido meu primo soltar um piu durante todo o trajeto que fizemos, e ao falar, ele acaba chamando a atenção de .
- E quem seria você? – ele olha diretamente para o meu primo.
- , um lobo e primo de . – me surpreende ao se apresentar para de uma maneira leve e descontraída.
- Interessante... – meu amigo parecia estar avaliando atentamente. – Depois voltamos para as apresentações. – ouço uma risada de . – E você... – ele aponta para mim. – O que a leva crer que estamos lidando com um transmorfo? – me pergunta.
- Na minha vida, eu nunca demorei tanto para solucionar um caso. – começo a explicar. – E apesar de algumas mortes serem similares, as últimas acabaram não sendo. Admito que depois de estudar, observei que o padrão utilizado pelo assassino estava diferente. Eu tive acesso às fotos do primeiro corpo que foi encontrado, e os ferimentos que a pessoa apresentava eram completamente diferentes dos dois últimos corpos achados. O primeiro tinha ferimentos que poderiam muito bem ter sido causado por humanos, porém os últimos apresentavam ferimentos que poderiam ser causados por um lobo, assim como por um vampiro.
- Por isso um transmorfo? – me questiona.
- Levei muito tempo para pensar nisso, e me sinto um pouco idiota por esse não ter sido meu primeiro pensamento. – eu ainda me sentia irritada comigo mesma por todo o furo que não solucionei.
- Até eu não iria imaginar que a pessoa poderia ser um transmorfo. – parecia estar um pouco melhor do que eu no momento. – Todos nós sabemos que eles foram praticamente extintos na guerra contra a Ordem e que talvez esse tenha sido o único momento de união que tivemos dos nossos povos. – ela faz aspas no ar.
- Você está certa, porém o que me deixa intrigado é como deixamos um transformo passar despercebido. – parecia pensativo.
- Eu não estava na cidade quando os assassinatos aconteceram, porém minha avó acreditava ser obra de uma raposa. – faço uma careta ao ouvir as palavras do meu primo, e tento puxar na minha mente algum momento que minha avó pudesse ter falado sobre isso, e falho miseravelmente.
- Raposas são traiçoeiras, porém elas não seriam burras o suficiente para matar daquele jeito. – tinha razão e o encaro pela primeira vez, acreditando em suas palavras.
Infelizmente, raposas tinham uma reputação de serem traiçoeiras, e por esse motivo ninguém costumava acreditar nelas, contudo, de todos os seres sobrenaturais que eu conheci, nunca precisei matar uma raposa.
- Mas elas não costumam matar humanos. – faz uma observação. – Até aonde eu me lembro, as raposas estão tentando ser mais pacíficas. – elas eram um povo mais selvagem e poucos interagiam com os humanos.
- Elas são um pouco traiçoeiras. – resmunga.
- Acho que elas são incompreendidas. – a voz de soa no ambiente.
Não é de hoje que lobos e raposas não se dão muito bem. Normalmente por ser um porte menor do que os lobos, as raposas se mantêm afastadas, e não é novidade para ninguém que suas presas são pequenos roedores. Enquanto as raposas vivem em um número pequeno, os lobos vivem em matilhas e são caçadores excelentes.
- Então vamos supor que estamos lidando com um transmorfo? O que vocês pretendem fazer? – pergunta.
- É ai que você entra. – eu já estava começando a me sentir bem melhor.
- O que eu poderia fazer? – ele me encara um pouco desconfiado.
- Temos duas opções – ergo o meu dedo indicador para cima e faço a contagem – Você e poderiam tentar localizar o transmorfo, ou... – levanto meu dedo médio para cima. – Podemos tentar entrar na minha mente, e assim talvez eu possa ver a imagem da pessoa que me feriu na floresta naquele dia. – eu não sabia ao certo se ele iria compactuar com a minha ideia, não depois de eu quase ter ficado trancada na minha própria mente por conta de um erro meu.
- Não acho a sua segunda opção uma boa ideia. – resmungo ao ouvir suas palavras.
- Eu também não acho, porém talvez essa seja a nossa única escolha. – que estava ao meu lado olha diretamente para . – Não me olhe assim, , eu também não acho seguro ela fazer isso, entretanto, não temos escolha, e se o transmorfo tiver um bruxo ao seu lado...
Meu amigo não termina suas palavras, não era necessário. Todos nós sabíamos o que acontecia se um transmorfo tivesse um bruxo ao seu lado. E isso era o que me deixava ainda mais incomodada, pois nem e muito menos poderiam nos ajudar, a não ser se acessassem minha mente.
- Eu realmente não tenho medo das consequências, e sei que se eu tiver vocês dois para me guiar durante o processo de memória, eu voltarei. – explico.
O caminho para uma fada e um bruxo entrar na sua mente nunca foi fácil, e arrisco dizer que era um pouco doloroso, porém era algo que eu devia fazer naquele momento, independente da dor que sentisse, pois se tratava das minhas memórias, e elas sempre foram importantes para mim.
Não tinha sido tão ruim na última vez que fizemos isso, porém foi o necessário para atormentar os pensamentos dos meninos por dias. Eu ainda me lembro como se fosse ontem, eu estava desesperada para recuperar as memórias que eu mesma apaguei quando utilizei o pó da amnésia, que pedi para eles fazerem a ligação comigo novamente, porém, diferente do que eu havia imaginado, tudo começou a dar errado no momento em que me perdi nas minhas próprias lembranças e quase que os meninos não conseguiram me trazer de volta.
- É isso que me dá mais medo... Você não ter medo é um problema, e todos nós sabemos disso. – o encaro por alguns minutos e pondero sobre suas palavras.
Era visível que eu não tivesse medo de determinadas coisas, até porque eu tinha sido criada para não temer absolutamente nada.
- Sei que parece desconfortável para vocês, mas já vimos essa história antes. – me refiro ao transformo. – E não podemos deixar que ele continue agindo dessa forma. – eu tinha medo do que poderia acontecer com as pessoas que eu amava se o transmorfo realmente estivesse trabalhando com um bruxo.
- Vocês acham que conseguem localizar o transmorfo? – pergunta.
- Talvez? – parecia um pouco indeciso.
- O que você precisa para localizá-lo? – eu não me lembrava de como bruxos e fadas costumavam localizar as pessoas.
- Precisamos de sangue humano. – solto uma risada de repente.
- Isso nós temos em abundância. – aponto para e eu. – Quando podemos fazer?
Talvez pudesse parecer um pouco insensível da minha parte, porém eu contava com os meninos para pegar o transmorfo; e perder tempo não era algo que eu realmente esperava.
- Descanse, amanhã podemos fazer isso. – dá a palavra final.
Suas palavras batem nos meus ouvidos, e dou o meu melhor para não retrucar. Queria pedir para que não fizéssemos rodeios e fossemos adiante para tentar localizar o transformo, porém tinha razão em me pedir para descansar, afinal, eu podia sentir minha energia se esvaindo aos poucos. Nunca pensei que estar em um lugar do submundo pudesse me prejudicar de alguma maneira, mas fico surpresa em ver o que estava acontecendo com o meu corpo ao entrar em contato com o mundo das fadas e me sinto triste por isso, pois essa era uma oportunidade única para ver de perto um lugar tão rico e infelizmente eu não tinha a chance de aproveitar esse momento, e mesmo parecendo um pouco controverso da minha parte, eu queria dar uma voltar por ai e explorar o mundo das fadas, mesmo que rapidamente.
Depois que comemos, me leva para um dos quartos e fecha a porta, me deixando sozinha novamente. A casa era imensa, e por um momento me pergunto se não tinha pedido para utilizar um feitiço para aumentar o tamanho do local, pois o lugar era inacreditável e era quase impossível andar por ali e não se perder.
Percebendo que eu não tinha muito que fazer, eu vou diretamente para a cama e me jogo ali, um pouco irritada e sensível.
Mesmo depois de comer, muito mais do que o normal, tenho que admitir, meu humor ainda não estava num dos melhores momentos, e quando eu ficava irritada, era nítido que ninguém deveria mexer comigo, por isso eu fecho meus olhos e me forço a dormir, mesmo sabendo que não seria uma noite fácil, e querem saber por quê? Bem, porque eu não consigo dormir muito bem em lugares estranhos, tudo culpa da minha mente, que fica ligada demais e que acaba atrapalhando o pouco tempo que tenho para ter um bom sono.
Capítulo Dezesseis
Mesmo de olhos fechados, continuo escutando passos apressados pelos corredores da casa de , fazendo com que eu automaticamente ficasse em alerta a tudo que acontecia ao meu redor, sem contar, é claro, a sensação de estar sendo observada, isso faz com que meu sono, que já era péssimo, se esvaísse por completo. Essa situação me faz levantar da cama e vasculhar cada canto do quarto que eu estava, procuro em todos os lugares possíveis alguém escondido, e o fato de não ter encontrado nada me deixa intrigada, pois, os barulhos não vinham apenas dos corredores da casa do meu melhor amigo, estavam dentro do meu quarto também.
Ao ouvir um som agudo vindo por de trás da minha porta, me aproximo dela, logo me abaixando para ver por debaixo da fresta da porta o que poderia ser, e ao pegar um vislumbre de sombra por ela, me levanto num pulo. Minhas mãos tremiam por conta do susto que levei, e seguro aquela maçaneta com força, impedindo seja lá quem for de tentar entrar no meu quarto, me repreendo em seguida por sentir medo, sim... Quero dizer, sou uma caçadora, e não devia sentir medo, porém, esse é um daqueles momentos em que não estou armada, e não sei sobre o hábito noturno das fadas. Sei que isso pode soar estranho, e pode ser uma surpresa para algumas pessoas, mas a academia não tinha muitas informações sobre as fadas, não desde que elas saíram do submundo e se retiraram para as montanhas. Pode até parecer uma piada, mas era real! Eu não sabia muito sobre fadas, e tudo o que eu sabia foi por conta das poucas palavras de sobre elas.
Esses barulhos acabam mexendo comigo, tenho que admitir, e o fato de estar em um lugar estranho, conhecendo poucas pessoas, não me ajudava muito. Em suma, desde que entrei na Ordem, fui ensinada a não baixar a guarda, e ficar sempre em alerta ao ambiente desconhecido. Minha mente já estava acostumada com isso, e talvez esse seja um dos motivos de eu nunca conseguir dormir, ou relaxar por completo. Nesse instante, mesmo conhecendo por um bom tempo, eu não conseguia deixar meu instinto para lá e mesmo considerando ele como parte da minha família, eu jamais me colocaria em uma posição constrangedora com meus próprios instintos.
Depois de esperar mais um pouco, os barulhos cessam e volto para minha cama, tento um pouco de meditação para relaxar minha mente, pois, daqui a pouco amanheceria, e seria um dia crucial para achar as respostas que eu tanto procurava. Admito que minha falta de sono possa atrapalhar meus planos, mas eu acreditava que daríamos um jeito para descobrir algumas coisas, e quem sabe ter pela primeira vez, uma boa pista sobre quem é o verdadeiro monstro, e assim quem sabe eu possa juntar as peças desse quebra cabeça e acabar com tudo.
Ao me acomodar na cama, sinto minha ferida na barriga um pouco dolorida me deixando extremamente incomodada, visto que, ela já tinha que ter cicatrizado há muito tempo. Talvez esse fosse o lembrete diário de que eu precisava dar um fim nisso tudo, e quem sabe no fim me aposentar, penso que isso não seria uma má ideia, não depois de tudo o que aconteceu comigo nessas últimas semanas, já que chega uma hora que você acaba se sentindo esgotada com tudo que acontece ao seu redor. Claro que eu ainda tinha alguns caminhos a percorrer, e um deles seria os garotos fazerem a ligação, porém, isso era a última opção no momento, eu tinha certeza de que eles esgotariam todas as suas alternativas antes de fazermos algo do gênero, e mesmo que eu me sinta bem em fazê-la, os meninos não tinham tanta certeza disso e eu devia respeitá-los por enquanto. Não posso negar, eu também me repreendia por cogitar essa ideia, mas ela era necessária, assim como talvez fosse a hora de termos reforços, e com isso chamar para nós ajudar, afinal, ele sempre foi a mente do nosso grupo, diferente do que as pessoas costumavam imaginar. Veja bem, eu não queria causar mais problemas para ele, não quando e eu saímos da academia sem olhar para trás, até porque diferente de nós, tinha um legado a seguir, e seus pais jamais permitiriam que ele desviasse desse caminho.
Olhando para os últimos acontecimentos, eu poderia ser um pouco irresponsável e deixar que as pessoas mais velhas e mais treinadas fizessem o seu serviço, mas eu sabia que se eu permitisse que isso acontecesse, seria à custa de vidas inocentes, e eu não queria correr esse risco. Para nós caçadores, a vida era assim. Tínhamos que entender nossas perdas como um efeito colateral para salvar outras pessoas, e mortes ocorrerem no caminho era completamente normal. Algo que discordo totalmente, mesmo que nem sempre eu demonstre isso.
Em todos os anos que agi como uma caçadora, perdi muitas pessoas, principalmente pessoas da minha própria turma, e mesmo que não nos déssemos bem, eu senti profundamente essa perda. Então eu não compactuo com o lema dos caçadores, e acredito que não devemos tratar nossas perdas como um efeito colateral, afinal, uma vida continua sendo uma vida. Eu só tive que achar um jeito de fazer com que as pessoas ao meu redor, os caçadores, para ser mais específica, nunca percebessem o quanto eu sentia uma perda, e acredito que por sempre estar atuando sobre nunca me importar com as vidas que se esvaiam na minha frente, acabei ficando craque nisso, e não consigo esboçar mais nenhuma reação aos sentimentos de perda, mas ele está lá, escondido em algum lugar.
Não sei ao certo quando peguei no sono, mas começo a me revirar na cama ao sentir algo quente batendo nas minhas pernas, e ao abrir meus olhos, percebo as cortinas do quarto aberta e o sol entrando pelas janelas, noto uma pequena garota parada, próxima a minha cama, com um sorriso enorme nos lábios e se eu não fosse uma pessoa acostumada a ser pega de surpresa, teria gritado imediatamente.
- Senhorita, que bom que acordou. – arregalo levemente meus olhos ao ver a garota se movendo.
- Por que você não mantém a distância? – jogo meus cobertores rapidamente para o lado e me levanto da cama procurando por algo que eu pudesse usar como arma.
- Senhor quem me mandou acordá-la e pediu que eu fosse gentil ao fazer isso. – solto uma risada.
- Seria muito gentil da sua parte, se você não ficasse parada de um jeito estranho enquanto espera as pessoas acordarem. – me aproximo do local que tinha deixado minha roupa. – Onde estão minhas coisas? – pergunto.
- Levei para serem lavadas, o cheiro que vocês humanos exalam é muito estranho ao nosso olfato. – respiro profundamente e dou leves batidinhas com meus dedos em minha testa, eu precisava lembrar de ser paciente, afinal, não era todo dia que eles tinham contato com humanos.
- E o que eu irei vestir? – a encaro.
- Sua roupa está no banheiro. – ela aponta para o local que eu deveria me dirigir e vou até lá. Meus instintos gritavam para eu tomar cuidado com a estranha no meu quarto, mas minha vontade por tomar um banho era maior.
Ao entrar no banheiro, percebo que a banheira já estava preparada para o banho, e me dispo rapidamente, entrando na água em sequência. O contato da água morna faz meus pelos do braço se arrepiarem, mas não dou muita atenção para isso. Começo a me saboar lentamente, tomando todo o cuidando quando passo a esponja pela minha ferida, hoje ela estava doendo mais do que o normal, e tento ao máximo não molhar meu cabelo, pois, não queria perder muito tempo secando ele. O cheiro da água era muito agradável, e percebo que eles usaram flor de cerejeira para preparar o banho, por isso levo um bom tempo para fazer minhas coisas, ainda mais quando meu corpo se acostuma com a temperatura da água.
Ao sair do meu quarto, percebo que muitas pessoas viviam junto na casa de , não sei se eles trabalhavam para ele, ou apenas estavam ali, preenchendo os quartos vazios daquela enorme casa. Ainda acho engraçado o fato de fadas não terem asas, pois, eu acreditava que apenas a escondia para não chamar a atenção das pessoas ao seu redor, então no meu imaginário, quando eu conhecesse sua casa, eu veria fadas voando por aí, exibindo suas asas.
Dando uma última olhada para os corredores, solto um lamento por não poder explorar a área como imaginava que faria um dia, e isso me deixa um pouco triste. Eu sempre tive planos para esse momento, o momento que eu conhecesse as terras que vivia, porém, infelizmente o momento não era propício para exploração.
- Precisa de ajuda? – dou um pulo e olho pra trás, apenas para pegar pequenos olhos de raposa me encarando.
- Acredito que você não possa me ajudar. – a raposa parecia fofa, mas automaticamente lembro que não devemos confiar neles.
- Seus amigos já tomaram o café da manhã, gostaria de se juntar a mim? – seus olhos pareciam brilhar e desvio rapidamente, isso era típico das raposas, olhos fofos para pegar as pessoas desprevenidas.
- Não estou com muita fome. – tento sair de perto dele, porém, ele me impede.
- Sei que a fama das raposas não é uma das melhores, mas acredite, eu realmente sou confiável. – o jeito que o garoto falava também era doce, e apenas com uma olhada você poderia se apaixonar por ele.
- Qual é seu nome, raposa?
- . – o sorriso empolgado dele quase faz com que eu esqueça o que iria falar.
- Não sei o que você está fazendo aqui, ou como as fadas aceitaram você, então tudo o que eu peço é que enquanto eu estiver aqui, não tente ser legal comigo, eu não confio em você. – aos poucos o enorme sorriso que a raposa tinha em seus lábios, some e eu me sinto levemente culpada.
- Sinto muito, não sabia que minha presença incomodava a senhora. – ao vê-lo de cabeça baixa, meu coração se partiu um pouco.
- , não me leve a mal, mas é que eu não confio em pessoas estranhas. – sorrio.
- Principalmente em raposas, certo? – balanço minha cabeça positivamente.
- Desculpe, mas as histórias que conheço... – ele levanta a mão me interrompendo.
- Infelizmente pessoas boas como eu devem pagar o pato de algumas raposas que escolheram o lado ruim da história. – dou um sorriso meio sem graça para ele, pois, era exatamente isso que acontecia.
- A fama de vocês com os lobos também não é a das melhores. – eu não queria deixa-lo ainda mais para baixo, mas eu tinha que ser sincera.
- Entendo. – ele fica mudo rapidamente.
- Quem sabe um dia você possa provar ser uma boa raposa. – tento reconforta-lo. – Até que esse dia chegue, por favor, não fique muito próximo. – eu odiava ter que partir o coração das pessoas, mas até que se provasse ser uma boa pessoa, seria muito melhor manter certa distância dele.
Como meus amigos já tinham tomado café da manhã me sento sozinha para comer, sim eu tinha mentido ao falar que não estava com fome. Na realidade era engraçado ter comida humana no lugar, eu mal consigo imaginar o que as fadas realmente comem, e posso parecer ser uma amiga ruim, mas a realidade era que não se sentia muito bem falando sobre sua vida de fada, e está tudo bem. Eu entendia o medo que ele tinha de anotarmos coisas sobre o cotidiano das fadas para no fim entregar para outros caçadores. E ele estava certo em não confiar plenamente na gente. Hoje em dia, nunca se sabe em quem você pode confiar de olhos fechados, porque quando menos se espera, você pode ser apunhalado pelas costas.
Faço tudo o que tenho que fazer devagar, pois, eu queria aproveitar o ambiente de paz que o local transmitia para então poder fazer o meu trabalho do dia.
- Ainda comendo? – entra na sala que eu estava, rindo.
- Não posso? – resmungo de boca cheia.
- Claro que pode, mas temos que tentar localizar o transmorfo. – pisco meus olhos e empurro meu prato para frente.
- Se isso não dar certo, iremos ter que fazer a ligação, não é mesmo? – pergunto.
- Sim, . – cruza seus braços, e encaro seu rosto, suas sardas hoje mais evidentes.
- O que estamos esperando então? – me levanto rapidamente da cadeira.
- Você só pode estar brincando comigo. – era muito difícil tirar a paciência de , então apenas sorrio e dou de ombros.
- Desculpe! Força do hábito. – ergo minhas mãos para cima.
- Vamos para a sala, todo mundo está lá. – começa a me guiar para a sala, e assim que entramos percebo todos os meus amigos ali, incluindo .
- O que ele está fazendo aqui? – pelo tom da minha voz, era perceptível que eu não estava feliz em ver aquela criatura.
- ... – é o primeiro a me repreender.
- Não me venha com . – o imito. – Ele não faz parte do grupo, por que ele está aqui? – espero que alguém seja sensato e me responda.
- Ele fica. – engrossa sua voz. – Vamos dar continuidade, ou você prefere ir para casa? – eu nunca tinha visto dessa maneira.
- Ok, mas se ele trapacear, a culpa será de vocês. – encaro cada um deles, principalmente meu primo por estar compactuando com isso.
- Quanto de sangue humano você precisa? – se aproxima.
- O necessário. – entrega uma faca para nós, e eu a passo pela palma da minha mão, forçando o sangue sair em sequência e cair em um cálice.
- Espero que não tenha que fazer isso novamente. – me aproximo de e ele cura aquela ferida da minha mão, fazendo o mesmo com .
- Se afastem. – ele e pedem.
- Tomara que dê certo. – sussurra ao meu lado, e me afasto o suficiente de e , me aproximando de Minho e .
Observo como os dois trabalham em sua magia lentamente. Sempre achei muito bonita a maneira que os dois conseguem se conectar e conectar sua magia, tudo parecia se tornar único, apenas porque os dois estavam juntos. A luz que irradia daquela magia era dourada como ouro, e podíamos sentir os dois mundos se colidindo, o dos bruxos e fadas, mas não de uma maneira ruim, longe disso. Tudo o que eu conseguia sentir em meio a essa onda de energia, era a paz que os dois transmitiam, era quase como se cada palavra ecoada naquela sala, fosse música aos meus ouvidos, e isso valia cada minuto do meu tempo.
- Então...? – depois de um tempo, os meninos param de fazer magia.
- Não conseguimos localizar nenhum transmorfo. – parecia decepcionado.
- Então isso significa que pode não ser um transmorfo? – eu estava começando a me sentir um pouco chateada com toda a situação e prestes a deixar os adultos cuidarem disso, sim, eu estava pensando em jogar a bandeira.
- Eu senti vestígios de magia negra. – ouço Minho soltando um palavrão ao meu lado.
- O que isso significa? – apesar de o meu primo ser um lobo e ter contato com o submundo, acho muito difícil de ele ter escutado falar sobre magia negra.
- Que o pior pode estar acontecendo. – responde séria.
- Se existe vestígios de magia negra... – as palavras somem da minha boca.
- Isso quer dizer que se um transmorfo e um bruxo corrompido estiverem juntos... – escuto Minho engolir em seco antes de voltar a falar. – Será impossível encontra-lo.
- E isso quer dizer que as mortes irão continuar acontecendo. – sinto minha mente pesar. – ? – eu não tinha outra escolha, se não fazer aquilo que todos ao meu redor temiam. – Vamos fazer a ligação.
- . – Minho segura minha mão. – Você prometeu. – eu odiava ter que quebrar uma promessa, mas dessa vez eu não tinha escolha.
- Desculpa. – tento dar um sorriso para ele.
- Não se preocupe. já fez isso outras vezes. – tenta tranquilizar Minho, e a agradeço mentalmente.
- Acho que é a hora. – aponta para uma poltrona.
- Eu confio minha vida a vocês. – tento descontrair o ambiente.
- Preciso que você fique confortável. – ele me ajuda a me acomodar na poltrona e para na minha frente.
- Você sabe que não tem mais volta, certo? – parecia um pouco aflito.
- Como assim não tem mais volta? – meu primo arregala os olhos, fazendo com que ele parecesse um filhotinho de cachorro.
- Não escute o que ele diz. – abano minha mão.
- ... – sua voz era cautelosa, mas vejo que ele para de falar depois de levar um cutucão de .
- Confie em e nos meninos, . – percebo que encarava meu primo com um olhar intimidador.
- Se algo acontecer com ela, vocês serão os responsáveis. – cruza os braços e volta a ficar calado, e tenho que admitir que me sinto atingida pela recente preocupação dele.
- Tudo ficara bem, não precisa se preocupar. – pisco meu olho para ele. – Podemos? – chamo a atenção de todos.
- Você se lembra do quão doloroso é fazer a ligação? – se agacha na minha frente, baixando o tom de sua voz para que apenas eu pudesse ouvir.
- Eu não me importo com a dor. – minhas mãos estavam suadas, e passo elas pela minha calça na tentativa de secá-las.
- Então vamos nos preparar. – ele tenta sorrir para mim, mas eu sabia o quão difícil isso seria para ele também. – ... – eu podia sentir certa tensão no ar, o que me deixava ligeiramente desconfortável.
Aquela tinha sido a minha escolha, acessar minhas memórias perdidas, era a melhor alternativa para tentar descobrir quem estava por de trás de tudo que vinha acontecendo na cidade que eu vivia. Eu não precisava da autorização de ninguém para fazer isso, apenas da colaboração de e .
- Minho? – além de e , eu precisaria de Minho ao meu lado para que o mesmo pudesse me guiar durante a escuridão.
- Eu continuo sendo contra. – No fundo, eu sabia que a maior preocupação dele, era eu me perder durante a transição, porém, nada que ele fosse falar iria me fazer mudar de ideia.
- Todos preparados? – me aconchego ainda mais na poltrona que estava, e logo sinto as mãos frias de , sem aviso, sobre a minha cabeça.
No exato momento que e começam a recitar palavras antigas de suas línguas de origem, começo a sentir um leve formigamento pelo meu corpo, fazendo com que eu segure fortemente a mão de Minho. Tomo uma longa respiração e começo a me preparar para a dor agonizante que viria em seguida. O início que transcendia o meu mundo, para o mundo da minha mente, parecia ser um verdadeiro inferno. A dor na minha cabeça era agonizante e por um momento sinto como se meu corpo e minha mente não fossem aguentar tanta pressão. Involuntariamente, meu corpo vai para frente, quase como se eu não tivesse mais controle sobre ele, e então, tudo fica preto, silencioso.
Ao perceber o silêncio, me apavoro. Eu me encontrava exatamente onde estive da última vez, no breu da minha mente, sem ninguém ao meu lado pronto para me guiar. Não sei ao certo como eu tinha parado aqui novamente, o inicio do meu fim, e tento manter minha respiração controlada para não entrar em pânico, apesar de me sentir apavorada. Não ter ninguém para me guiar quando a ligação era feita, poderia ser muito perigoso, pois, eu poderia ficar presa na minha mente eternamente.
Quando digo que ficar no limbo, entre a transição do meu eu consciente, para o estado de pré-sono, é perigoso, se dá pelo fato de que ao ficarmos muito tempo nesse estado, podemos realmente morrer, isso tudo por conta da magia que é usada em um ser humano, que no caso sou eu.
Caminhar pela escuridão a procura de uma saída não parecia uma opção muito viável, e meu instinto me pedia para ficar onde eu estava, pois, Minho daria um jeito de me encontrar. Confesso que chamei algumas vezes por ele, com medo do próprio ter se perdido na minha mente e estar trancado em alguma memória, porém, mesmo o chamando, minhas tentativas acabam sendo falhas, e aceito que estava trancada naquele breu.
Lembro que dá última vez levei cerca de um dia para acordar, sem saber aonde eu estava, e com os meninos apavorados, pensando que eu tinha morrido. Dessa vez espero que seja diferente, que eu não leve um dia para conseguir sair da armadilha que era minha mente.
- Ai está você... – ouço uma voz, mas não consigo identificar o dono dela e novamente, uma sensação nada boa toma conta do meu corpo, e me sinto amedrontada, era quase como se alguma coisa ruim pudesse acontecer a qualquer momento.
- Minho? – mesmo tendo quase certeza de não ser meu amigo, pergunto. Afinal minha mente pode muito bem distorcer as coisas.
- Não... – a voz soa arrastada demais, e meus pelos da nuca se arrepiam. – Mas talvez eu possa ajudá-la a sair daqui.
- Não, obrigada. – a recusa faz com que um vento leve chegue até mim. – Como isso é possível? – sussurro, tentando entender o motivo de eu estar tendo essas sensações repentinamente dentro da minha mente.
- Que tal eu contar um segredo? – eu não podia ver a pessoa, mas podia senti-la perto de mim.
- Por que não o vejo? Você é apenas a escuridão? – pergunto, confusa.
- Tola. – ouço uma gargalhada. – Não entendeu ainda? – fecho meus olhos e tento manter minha respiração calma. – Sua ligação não deu certo, nesse momento, seus amigos estão aflitos tentando achar uma solução para trazê-la de volta.
- Como? – não tinha como a ligação dar errado, não quando eu estava no breu do meu subconsciente.
- Você pode não ter percebido, mas somos ligados um ao outro. – uma mão fria toca meu braço, e me viro rapidamente para tentar pegar um vislumbre de seu rosto, mas não sou rápida o suficiente.
- Não tem como isso acontecer. – começo a correr e as imagens que vem na minha mente são como um déjà vu. – O que você é? – quando percebo estar sendo perseguida pela voz que falava comigo, corro ainda mais.
- Seu maior pesadelo. – paro de repente, e sinto algo tocando na minha testa.
Quando acordo, eu não estava mais no meu subconsciente.
Capítulo Dezessete
Sinto uma pressão no meu peito, e abro meus olhos subitamente.
O ar parecia me faltar, e com os olhos arregalados observo as pessoas naquela sala. Era quase como um de já vu, aquela cena já tinha acontecido anteriormente, talvez cerca de um ano atrás. Parecia que eu continuava cometendo os mesmos erros, e isso, em algum momento poderia causar minha morte.
Meus amigos não pareciam felizes, na realidade era perceptivo o olhar de cansaço em cada um.
Tento me levantar, mas o simples movimento faz com que eu me sinta tonta. Minha cabeça estava prestes a explodir e eu sentia uma dor dilacerante na minha mão direta, o lado em que eu tinha minha marca de nascença.
- Quanto tempo eu dormi? – a preocupação toma conta de mim, afinal eu não tinha ideia de quanto tempo estive adormecida.
- Você está assim faz um tempo – Inclino minha cabeça para o lado, não parecia que meus amigos estavam realmente aliviados em me ver acordada.
- Eu perguntei por quanto tempo! – Minha voz anda estava falha.
- O suficiente para mais mortes acontecerem – parecia um pouco distante, porém eu acreditava ser minha mente tentando associar aonde eu estava no momento.
- Por que vocês não tentaram me acordar? – um desespero começa a tomar conta de mim, como assim várias pessoas morreram enquanto eu estive apagada? – Por que vocês não fizeram nada em relação as mortes?
- Porque tudo isso é culpa sua – Arregalo meus olhos com o ataque repentino que recebo de .
- Como assim? – eu ainda estava tentando digerir a situação ao meu redor, mas ver que meus amigos não pareciam satisfeitos me deixou ainda mais confusa. - Não brinque com uma coisa dessas. – Começo a sentir um dor no meu peito, como se algo estivesse errado ao meu redor.
- Ninguém brincaria com isso, – se aproxima de mim, seus passos lentos e letais. – Se você não existisse, nada disso estaria acontecendo. – Automaticamente minha mente viaja para o diálogo que tive que a pessoa que invadiu minha mente.
Ela tinha dito que nós éramos ligados de alguma forma e agora eu queria saber como, e também o motivo repentino das pessoas que eu mais confio estarem me tratando desse jeito.
- Vocês estão me deixando confusa, onde estão e ? – pergunto desesperada.
- Eles fazem parte da leva de pessoas que foram prejudicadas por causa do seu egoísmo – Arregalo meus olhos.
Não.
Isso não podia estar acontecendo.
- Por favor, me explique o que realmente aconteceu com eles – Tento manter a calma, mas minha voz entregava todo o nervosismo que eu sentia naquele momento.
- Eles estão mortos, , e você foi a culpada da morte deles – Por um momento sinto minhas pernas fraquejarem, e uma vontade de chorar surge.
- Isso não pode ser verdade, é uma fada, e ... é uma caçadora. – eu estava tentando achar uma razão lógica para que ambos estivessem mortos, porém nenhuma justificativa plausível respondia minha questão.
- Nós falamos desde sempre que a sua vontade de salvar o mundo e unir os nossos mundos iria matar alguém – também não parecia nada feliz.
- Aconteceu mais alguma coisa que eu não saiba? – tento me manter firme enquanto recebo notícias atrás de notícias.
- Nossos avós não sobreviveram também – me sinto derrotada com essa notícia. - A escuridão consumiu nossa família – Ele começa a explicar. – Enquanto você dormia profundamente, sua mãe e os caçadores invadiram a nossa casa, mataram nossos avós e meu pai. – parecia com um olhar perdido, e eu o entendo automaticamente.
- ... – eu não tinha palavras para expressar o que eu estava sentindo no momento.
A aflição de saber que pessoas próximas a mim faleceram era grande, ainda não parecia certo, era quase como se esse plano atual estivesse pregando uma peça em mim, porém por mais que eu quisesse que fosse mentira, seria algo com que eu teria que conviver todos os dias.
Na academia da Ordem aprendemos em como estudar os campos e situações que a gente se encontrava em cada missão. Nessa não seria diferente, assim que eu acordei, olhei tudo ao meu redor de forma minuciosa para ter certeza de que realmente eu estava aonde eu deveria estar e nada me pareceu estar fora da realidade, longe disso, parecia tudo muito real, até os sentimentos de frustração, tristeza e raiva dos meus amigos.
- Nossos avós morreram chamando por você. – Suas palavras me quebram, e assim eu começo a chorar.
Como eu não fui capaz de salvar as pessoas ao meu redor? Como eu fui capaz de ficar adormecida e deixar meus avós, as pessoas mais maravilhosas desse universo, morrer?
- Quanto tempo eu estive adormecida? – tento parar de chorar, mas não consigo.
- Você apagou por um ano – volta a se pronunciar, enquanto continua me encarando. – Não houve um feitiço que eu fiz que trouxesse você de volta.
- Vocês não estavam lá para me guiar. Eu tive que sair dessa sozinha – As lágrimas agora caiam livremente.
- Eu falei para você desde o começo que essa não era uma boa ideia, mas você não me escutou nem um segundo, a culpada dessas morte é sua, você disse que iria achar o verdadeiro culpado e nunca achou, você apagou enquanto todo mundo lutou pelas suas vidas, você largou todo mundo, deixou todos na mão – me ataca com uma enxurrada de palavras.
- Sinto muito – Começo a repetir essas palavras sem pausa enquanto chorava. – Eu realmente sou a culpada disso tudo. – F meus olhos, querendo morrer ali mesmo.
- Você tem que pagar por tudo de ruim que fez, você tem que pagar pelas mortes do nosso povo e do seu povo – As vozes vão ficando cada vez mais distantes, era como se eu estivesse dentro de um pesadelo e a todo momento eu lutava para sair dele, porém as duras palavras dos poucos que restaram ao meu lado vão me deixando cada vez mais para baixo, mas cansada e desesperada e no fim acabo concordando com eles.
Eu era a culpada por todas as mortes que estavam acontecendo.
Eu não tinha dado o melhor de mim para acabar com tudo isso.
Eu não aceitei a ajuda dos meus pais ou da Ordem.
Eu, apenas eu, era a culpada por tudo isso.
Esse era o meu inferno, e o meu maior pesadelo.
Capítulo Dezoito
Novamente eu me encontrava em um ambiente sufocante onde a escuridão se misturava à neblina espessa, impedindo que eu visse qualquer fecho de luz. Essa mesma neblina parecia transformar o lugar em um cenário surreal. Era quase como se eu pudesse ver as sombras dançando de forma indistinta, mas no fundo eu sabia que esse sentimento era apenas minha inquietação e desconforto perante toda a situação que eu me encontrava. E a atmosfera pesada contribuía para o peso dos meus tormentos.
A dor no meu peito era dilacerante.
Era como se eu tivesse a sensação ter uma ferida profunda, enraizada dentro do meu peito.
Ao tentar me levantar, minhas pernas fraquejaram como se estivessem presas por correntes invisíveis. Cada movimento era uma luta contra uma força desconhecida que me prendia ao chão.
A neblina, agora, parecia se tornar mais densa, como se resistisse ao meu avanço, amplificando minha sensação de impotência. E a visão das minhas mãos revelava uma imagem aterrorizante. Manchas de sangue escuro marcavam minhas palmas, uma representação da tragédia que se desenrolara. Essa visão me transportava de volta a conversa que tive com meus amigos, recordando a terrível história de que as pessoas que eu amava estavam mortas.
O peso da culpa se abatia sobre mim como pedras que desciam e me acertavam. Eu me via como a maior culpada por essas desgraças, uma vergonha para os caçadores, uma traição aos votos que fizemos.
O sangue nas minhas mãos era o símbolo da minha falha, uma marca que me ligava diretamente à tragédia.
Em meio à neblina espessa, a sensação de isolamento e desespero se intensificava. Eu percebia que não só falhara como caçadora, mas também como membro de uma família que agora, sem dúvida, me considerava uma vergonha.
O ambiente hostil ao meu redor parecia ecoar os lamentos das vítimas e as acusações silenciosas, criando um pesadelo onde a escuridão física se alinhava perfeitamente com a escuridão da minha alma atormentada.
É nesse momento que sinto alguém se aproximando, tento deixar meus olhos entreabertos, a fim de descobrir do que se tratava aquela sombra, mas falho miseravelmente.
- Ah, minha pequena caçadora, você continua carregando o fardo sombrio de suas escolhas. – Uma voz sinistra, gélida, sussurra em meu ouvido. – Você quem deveria ser a guardiã dos inocentes, sucumbiu aos seus próprios pecados e os abandonou.
Cambaleio um pouco para lado, lutando contra a dor que eu sentia.
- Por favor, quem é você? – o desespero ecoava em minha voz. Eu não aguentava mais aquela tortura.
- Ah, bobinha, você ainda não entendeu? Sou sua própria sombra, a manifestação dos seus medos, das suas falhas. – Sua risada ecoa perante a escuridão. – Enquanto você continuar miserável com as suas escolhas, enquanto você evitar olhar para os seus erros, nada será fácil, porque essa é a sua fraqueza, a falta de senso, a falta de empatia. – Suas palavras são como uma faca afiada penetrando meu coração profundamente. A dor no meu peito se intensifica, quase como se tudo o que eu ouvisse fizesse com que minha alma se desprendesse um pouco mais de mim.
- Sei que fiz o meu melhor, sei que não fui forte o suficiente... – Sou interrompida pela risada sarcástica da sombra.
- Sempre a eterna desculpa da fraqueza. – Sinto que ele para pôr um momento, e fecho minhas mãos em punhos. – Você não aprendeu que caçadores devem ser fortes, destemidos, implacáveis? Tudo o que vejo na minha frente é uma garotinha fraca, com medo das suas escolhas e que apenas dá desculpas esfarrapadas. – Consigo me levantar para confronta-lo.
- Eu não sou fraca! – grito em pleno pulmões.
- O sangue em suas mãos conta uma história diferente. – Encaro minhas mãos, o sangue que antes era vivo, agora está seco. – Você está presa, pois sua fraqueza é um farol nessa escuridão que alimenta as sombras perturbadas pelas suas escolhas. Eles riem perante a sua desgraça, pois é o seu desespero que as alimenta, que as mantém vivas.
Minhas pernas, já fracas, ameaçam ceder novamente, mas resisto à tentação de me render à escuridão que me cerca.
- Eu juro que tentei... – minha voz falha.
- Tentasse, mas não foi o suficiente. – Sua voz muda de repente, ficando mais séria. – A fraqueza é como uma praga que se espalha e contamina tudo à sua volta. – Ele avança lentamente, revelando um sorriso cruel em meio à escuridão. – A verdadeira força não vem da mudança, mas sim da resistência. Como caçadora você falhou, mas não por aquelas que morreram, e sim por ser sua própria ruína.
A sombra some em meio a escuridão, deixando um silencio perturbador ao meu redor.
O peso da culpa parece ser ainda pior ao absorver suas palavras. A escuridão não era apenas hostil, mas ela significava que minha esperança era vacilante, que eu tinha falhado muito como humana e como caçadora.
Sinto que minha energia vai se esvaindo aos poucos, e tudo o que eu vejo antes de apagar é uma raposa de pelagem avermelhada se aproximando, e as últimas palavras que escuto é...
- Acorde! – ouço uma voz distante.
- Você precisa acordar! – continuo ouvindo vozes, um eco que parece perfurar a névoa densa que eu me encontrava.
Desesperada, tento me erguer. Porém uma força invisível me mantém presa, como se as sombras ao meu redor tivessem adquirido uma vida própria determinadas a me manterem aprisionada.
- , você precisa acordar. – A voz antes nítida vai sumindo gradualmente enquanto tento a todo custo me levantar. Por um momento volto me sentir impotente, me sinto como uma marionete cujo os fios estão sendo controlados por forças que vão além da minha compreensão.
Eu podia sentir cada parte do meu corpo doer intensamente, como se eu tivesse enfrentado uma batalha sem fim comigo mesma. A dor me transporta para um dos piores dias da minha vida, o dia em que a ganância e a teimosia resultaram na perda dos meus amigos, da minha família.
A lembrança dos seus rostos, agora distantes e sem vida, ecoa como um lamento constante das minhas más escolhas.
Eu sou a maior culpada pelas mortes dos inocentes. Uma confissão amarga dos meus pensamentos que foram levados pela sina que eu tinha em tomar decisões que levavam as pessoas mais próximas a mim à ruina. Ainda consigo sentir os olhares de desgosto, da reprovação silenciosa que recebi há alguns dias dos meus amigos ao contarem sobre as mortes dos nossos, da nossa família. Meu peito aperta só de lembrar que por culpa minha, meu primo perdeu toda a sua família, sua matilha. Esses sentimentos apenas se intensificam e a sensação de sufocamento se torna marcante em meus pensamentos, em meu coração.
Cada palavra dita pelos meus amigos que sobreviveram, aumentam o peso da minha consciência, pois eu, , sinto que estou afundando em um abismo de culpa e de autodestruição que eu mesma criei, e tudo por conta da ânsia de querer estar certa, de não recuar nos momentos certos.
Agora, todas as minhas escolhas são um fardo insuportável que terei que lidar para o resto da minha vida.
Ruína... Sussurro para mim mesma enquanto sinto o peso da sombra que me acompanha. Era como se ela estivesse à espreita, apenas esperando o momento certo para consumir tudo, e eu sei que, se ela prevalecer, ninguém que sobreviveu saíra ileso.
- Onde estou? – minha voz ecoa, perdida no desconhecido. A ausência dos rostos dos meus amigos intensifica a sensação de estar aprisionada, uma repetição de pesadelos que continuam se entrelaçando.
- A viagem foi boa, ? – a pergunta flutua no ar, a voz que antes era enigmática, agora parecia familiar. Era uma voz que emergia do breu.
Tento me virar, mas a silhueta persiste em se esconder. A incerteza me envolve e meu cérebro tenta de fato entender aonde estou;a distinguir o que é real e o que é fictício.
- Quem é você? – Apesar da minha voz falhar, pergunto novamente para entender o que estava acontecendo ao meu redor, a hostilidade do ambiente fazia tudo se tornar ainda mais ruim.
- Você realmente não entendeu nada ainda, não é mesmo? – a voz solta uma risada sarcástica e continua me chamando de bobinha repetidas vezes, causando um arrepio em minha alma.
- Não! Não entendi. – a confusão e o desespero crescem em minha voz, e quando me dou conta, lágrimas caem, uma a uma, molhando meu rosto.
As sombras ao meu redor parecem gostar do meu desespero, pois elas se alimentam das minhas lágrimas e dançam perante a escuridão que me assombrava.
- É exatamente assim que eu queria ver você – Ele se próxima, sua voz num tom de maior intimidade – É tão doce ver seu desespero, assistir suas lágrimas caindo uma a uma. – sinto uma sensação de impotência vinda de mim. – – O sussurro gélido em meu ouvido faz com que eu me arrepie – Como está sua família? – a pergunta, cheia de familiaridade ameaçadora, me pega de surpresa. O choque percorre meu corpo. Eu estava incrédula, afinal, como ele poderia conhecer minha família?
- O que está acontecendo? – meu corpo, antes mergulhado em dor e confusão, parece ganhar um novo upgrade. Sou tomada por uma energia desconhecida que flui através de mim, dissipando a sensação de opressão.
- Lembra quando eu falei que eu era o seu maior pesadelo? – a voz, agora mais próxima parecia ainda mais sinistra, obscura. – Eu não estava brincando. – Sinto a proximidade dele, mas antes que eu possa discernir mais detalhes, um clarão ofuscante irrompe, me tirando da escuridão.
Num piscar de olhos sou arrastada de volta à realidade, mas as feições daquele que eu mais precisava ver permanecem um mistério.
- ! – sou puxada para a minha realidade e desperto num susto, sendo surpreendida pela presença de inclinado sobre mim com um rosto vermelho. Afinal, era dele a voz que me chamava incansavelmente? – Você está bem? – continuo tentando me orientar, e principalmente orientar minha mente ao ambiente que eu me encontrava.
- Aonde eu estou? – uma vertigem momentânea faz com que meus sentidos fiquem confusos.
- Estamos na casa do . – se aproxima, visivelmente fatigado, porém seus olhos transmitiam um alivio ao me encontrar consciente.
- Mas... – tento me levantar, porém sou detida por . – O que você está fazendo aqui? – minha garganta estava seca, então minha voz falha.
- Você se meteu em apuros, tive que largar tudo para vir ajudar. – Ele sorri de canto, uma expressão que oscila entre ironia e preocupação.
- Isso não faz sentido, as pessoas estão mortas. – Minha mente está turva, ainda tentando discernir entre a realidade e a ficção criada pelos meus pesadelos.
- , você esteve apagada por três dias, ninguém morreu. – se aproxima, uma tentativa de me trazer para a realidade.
- Como assim? Eu vi vocês nessa mesma sala, todo mundo falou que pessoas inocentes tinham morrido. – minha voz revela o desespero ao mesmo tempo em que eu me sentia desacreditada de distinguir se o que eu vivenciei foi um mero delírio ou algo forçado a me aprisionar.
- , preste atenção. – seguro minha mão, tentando criar um elo entre mim e a realidade. – Nós perdemos a ligação com você assim que iniciamos, algo aconteceu e eu fui expulso. – As palavras dele me prendem em confusão, desencadeado a ansiedade diante do desconhecido.
- Isso quer dizer que nada foi real? – a dúvida ecoa em minha voz, uma incerteza que me envolve pessoalmente.
- Isso mesmo! – tento transmitir tranquilidade, mas a sensação de que eu poderia voltar para o breu não me permitem relaxar.
- Nossos avós estão bem? – Meus olhos buscam , que aparece de repente na sala.
- Acabei de voltar de lá, nossos avós estão ótimos, assim como e . – Meu primo para de repente, farejando ao redor. – Sinto cheiro de alguma coisa anormal. – Sua expressão muda e meu corpo inteiro se arrepia.
- O que poderia ser? – se posiciona, cruzando os braços com uma expressão de alerta.
- Eu não sei, mas parece que algo não está certo. – O semblante sério de adiciona uma camada de tensão no ambiente.
- Vocês ficaram muito tempo aqui – aparece, acompanhado por - Devem ir embora. – Sua voz carregada de urgência, e a seriedade do aviso refletem seus olhos. No entanto, minha atenção é brutalmente desviada quando percebo a ausência de .
- , onde está ? – pergunto, um tom de desespero ressaltando em minha voz.
- Ela está com os caras na casa da nossa avó. – responde, sua voz indicando uma certa gravidade. – A lua de sangue está prestes a acontecer e todo cuidado é pouco. – Logo a compreensão e o alivio me pegam, aquela seria a primeira lua de sangue que passaria enfrentaria.
- Devemos ir então? – tento me levantar, mas sou detida por uma fraqueza descomunal.
- Você está fraca? – se aproxima, a preocupação estampada em seus olhos.
- Uhum. – Murmuro ao segurar sua mão e aceitar sua ajuda silenciosa para me levantar.
- Deixa que eu carrego você. – Apesar da reputação temível que nós caçadores carregamos, é totalmente o oposto, pois ele revela um coração gentil e sempre larga tudo o que estava fazendo para me ajudar.
- Você brigou com seus pais. – O questiono enquanto ele me auxilia.
- Eles nem sabem que estou aqui. – solta uma risada descontraída.
- Em uma missão? – faço referência à uma desculpa que ele provavelmente deu.
- Na realidade, eu fugi de uma missão para estar aqui. – Um lampejo de preocupação atravessa meus pensamentos. – Não se preocupe, nada fora do normal. – Ele tenta me tranquilizar, mas percebo a sombra de apreensão em seu olhar. – , você acha que irá conseguir abrir um portal? – a provocação de para não era novidade, e acabo revirando meus olhos para essa dinâmica de comunicação dos dois.
- Se você está tão preocupado assim, por que não tenta você mesmo? – É possível ver fazendo uma pausa dramática. – Ah! É claro que você não iria conseguir, afinal, não é um bruxo. – Ele passa por nós com um sorriso de vitória, deixando sem palavras diante do desafio.
A viagem de volta para casa é suave, um retorno ao conhecido, porém que é ofuscado pela nevoa dos meus pensamentos inquietos. Ao fundo é possível ver o crepúsculo que pinta o céu em tons quentes, mas até a beleza dele parece distante, perdida pelos meus pensamentos.
O cansaço crescente parece tingir o mundo ao meu redor, fazendo com que a paisagem perdesse a nitidez, onde as arvores à beira da estrada se tornam borrões de verde e marrom, que são beijados pelos raios de sol que se filtram pelas folhas criando um mosaico.
No entanto, um pensamento persiste.
A figura enigmática que se revelou no meu subconsciente permanece um mistério. Cada detalhe que tento lembrar escorrega entre os dedos da minha memória, como se as feições dela fossem feitas de sombras evanescentes.
Por que minha mente hesitava em recordar? Teria tudo isso sido preparado? Ou apenas foi uma projeção da minha imaginação? Um ser que nunca existiu?
As perguntas ecoam distantes, envolvendo meus pensamentos. Enquanto tento decifrar esse enigma, a verdade parece se esconder nas sombras inexploradas da minha mente, e eu me vejo envolta em um mistério que desafia a própria essência da realidade que busco compreender.
- ? – desperto do meu devaneio, e percebo que estamos nos fundos da casa da minha avó.
- Estou bem. – Aquela era mais uma afirmação para mim mesma do que para qualquer outra pessoa.
- Ótimo! – afaga minhas costas. – Sua avó está doida para vê-la. – Ele começa a me conduzir para dentro de casa, enquanto murmúrios sussurrados seguem atrás de mim.
- Algum problema? – pergunto para os meninos.
- Nada, apenas siga . – Ambos sorriem para mim. Mas eu sabia que no fundo algo estava acontecendo, pois, não era todo dia que , e estavam cochichando por aí.
Caminhamos em completo silêncio até alcançarmos a casa da minha avó. A madeira da porta range suavemente quando a abro e sou envolvida por um cenário que me deixa chocada.
Não é todo dia que me deparo com meus pais sentados no aconchego do sofá da casa da minha avó. A atmosfera tranquila que paira no ambiente contrasta com o turbilhão de emoções que meu retorno acarreta.
O cômodo, antes habitado apenas por pessoas conhecidas, agora abraça uma presença adulta deslocada. O sofá, revestido com o tecido que conheço desde pequena, sustenta a figura de meus pais em uma inusitada proximidade. O relógio de parede continua seu tique-taque constante, marcando o tempo em um ritmo que agora soa estranhamente audível.
A expressão de minha avó, testemunha silenciosa dessa inesperada reunião familiar, parece misturar surpresa e uma ponta de descontentamento. Seu olhar, porém, não interfere na dinâmica que se desenrola, deixando-me imersa na incerteza de como esses dois mundos aparentemente distantes se ligaram neste instante.
O silêncio é interrompido apenas pelo leve rangido da porta ao fechar-se atrás de mim, fazendo com que o ambiente ficasse ainda mais estranho. Meus passos hesitantes ecoam pelo espaço, enquanto a casa, agora povoada por presenças familiares inesperadas, parece aguardar a revelação de verdades que se ocultam nas sombras do desconhecido.
- O que vocês estão fazendo aqui? – De repente, me sinto traída, alguém deve ter contado a eles o que aconteceu e o motivo de eu estar tanto tempo fora de casa.
- Talvez você devesse explicar? – A voz da minha mãe é autoritária, deixando claro que ela queria uma explicação.
- Nada demais. – Dou de ombros, tentando minimizar a gravidade da situação, e me aproximo furtivamente da minha avó.
- Não tente se esconder na barra de saia da sua avó. – Parece que minha avó não está satisfeita com as atitudes da minha mãe, embora prefira não se intrometer.
- O que eu fiz dessa vez? – mesmo diante as circunstâncias, não posso baixar minha guarda na frente os meus pais.
- Ligação de mente? – mamãe me encara. – O que você realmente tem na cabeça? – ela berra, me impedindo de responder.
- Eu... – Antes que eu possa continuar, minha mãe não dá espaço.
- Essa palhaçada termina agora. – Seu rosto estava vermelho. – Você e , entrem no carro agora! – meus olhos se arregalam; nunca vi minha mãe agir com tamanha intensidade.
- ... – me encara, indicando que a situação é mais séria do que imaginávamos.
- E ? – Pergunto preocupada com minha amiga.
- Ela fica. – Minha mãe me agarra, e agarra pelos braços, nos puxando em direção ao carro.
Nenhum de nós ousa falar, o silêncio pesado ecoa, indicando que as coisas estão prestes a se complicar para mim.
N/a: Oii gente, alguém aqui ficou aguardando essa atualização? Demorei muito tempo para voltar a escrever e ainda não estou 100%, mas não queria deixar vocês sem nada até que eu voltasse a escrever um capitulo com 10 páginas ou mais.
Espero que tenham gostado dessa atualização, e prometo que vou tentar voltar a atualizar ela o mais rápido possível.
Capítulo Dezenove
O interior do carro se transforma em um eterno silêncio enquanto minha mãe assume o volante, suas mãos agarradas violentamente nele, deixando evidente a tensão que a mesma estava sentindo. O motor do carro parece ecoar a ira contida da minha mãe, e a cada curva da estrada que passávamos, era evidente a crescente onda de ansiedade que surgia diante da extrema tensão que estava no carro.
- , explique-se! – a indignação na voz da minha mãe ressoa como trovões na noite. Sua entonação deixa claro que aquilo era muito mais que um pedido, era uma ordem. Suas palavras carregam o peso da desaprovação, não que fosse algo diferente do que eu via todos os dias, porém isso não evitou que um arrepio percorresse minha espinha.
, que estava ao me lado, exala inquietação. Seu olhar é claro, estamos muito mais do que encrencados, estamos ferrados e dessa vez não haveria como fugir do nosso castigo, e é claro que nesse instante a realidade do que está por vir nos atinge como um trator.
O ar dentro do carro parece gelar de repente, e não é apenas a temperatura que contribui para o clima hostil que eu me encontrava. O desconforto era inevitável, pois, mesmo entre palavras não ditas, a névoa de um clima tenso é visível. Cada quilômetro percorrido é em volto de um silêncio mortal que aumenta o frio naquele veículo, enquanto as sombras do entardecer se infiltram pelas janelas, intensificando a sensação do meu desespero.
Ao adentrarmos a casa, um manto de escuridão nos envolve, como se as sombras, antes adormecidas, ganhassem vida própria. Os sons familiares da casa, os passos leves e o suave murmurar da TV ecoam de maneira distorcida, como se um véu de tensão pairasse sobre eles. Minha mãe, normalmente autoritária, parece agora envolta em sombras inusitadas. Seus olhos, antes calmos, adquirem uma intensidade de preocupação sob a luz tênue.
Algo está errado.
A dor no meu peito intensifica-se à medida que avançamos pelo corredor, um eco da minha ansiedade que envolve cada centímetro da casa. A sala, agora impregnada de uma quietude opressiva, revela uma tensão que faz meu estômago se revirar. Algo está errado e o medo se insinua como um frio sussurro na espinha. Eu avanço pelo corredor, consciente de que algo poderia acontecer, mas nada me fez estar preparada para o que me aguardava nas sombras.
- Olá, ! – eu conhecia aquela voz, e automaticamente prendo minha respiração. Meu corpo todos se enrijece. , corre para o meu lado e parece tão tenso quanto eu. O silencio momentâneo se torna mortal. – Você realmente acreditou que poderia escapar? – aos poucos o dono daquela voz se aproxima, revelando-se em meio a escuridão. Meu olhar se fixa no local que vejo uma movimentação distinta e meu coração dispara ao finalmente identificar o rosto que eu tanto procurava conhecer.
- Eu... – minha voz falha em ver o meu próprio reflexo, uma imagem sombria, que sorria em meio ao meu desespero.
- Você pensou que poderia realmente fugir, ? Achou que realmente poderia fugir das consequências dos seus atos? Das suas escolhas? – minha voz ressoa por toda a casa, minha própria imagem, sombria, me encarando.
- Isso não pode ser real... – Sussurro para mim mesma, tentando entender em como chegamos nessa situação. permanece ao meu lado o tempo todo, observando a cena com uma expressão preocupada e sem entendimento do que estava vendo com seus próprios olhos.
- Você tentou destruir tudo! Meus planos, meus sonhos! E agora sua punição está chegando. – Minha imagem distorcida se aproxima lentamente, cada passo que ela dava era como se eu estivesse sendo agredida. Meu peito aperta, uma sensação ruim me atingindo de forma insuportável. – Não existe saída, . – Minha cópia sussurra, sua voz penetrando como uma lâmina afiada. – E agora, chegou a hora de você pagar o preço.
Eu vejo minha cópia se aproximando em uma velocidade sobrenatural, seus movimentos rápidos me deixam paralisada. O medo que antes estava começando a surgir se intensifica, porém, antes que eu pudesse reagir, se coloca entre nós, agindo como um escudo de proteção para mim.
- Não tente se aproximar. – A voz de é firme, e vejo um vestígio destemido em seu olhar.
Vejo a minha cópia rindo, uma risada que ecoa na escuridão que minha casa se encontrava.
- , você sempre foi a sombra dela, não é mesmo? Mas nesse momento, mesmo sendo sua sombra, você não será capaz de protegê-la. – Meu amigo não se deixa abalar por aquela provocação.
- Não subestime a minha disposição de protegê-la. – Ele fala, e sou capaz de sentir a tensão no ar.
A sala se torna um campo de batalha, o confronto dos dois é como uma dança mortal, onde cada movimento era crucial para uma tragédia não acontecer. A cena se desenrola diante dos meus olhos atônitos, como se o tempo tivesse decidido desacelerar para dar espaço a um confronto sombrio. , como sempre, enfrenta o perigo de forma destemida.
Minha mãe surge em meio as sombras, se colocando entre e a pessoa que se dizia ser eu. Um silêncio tenso preenche a sala quando ela assume uma postura firme diante da minha cópia.
- Deixe os adultos brincarem... – Minha mãe olha no fundo dos olhos e o empurra em minha direção. Meu amigo fica atônito com modo que minha mãe lida com ele.
Ele respeitosamente recua, percebendo que, naquele momento, a batalha não era mais dele, e sim da minha mãe. Seus olhos se encontram com os meus, um sinal de compreensão.
Observamos silenciosamente os movimentos calculados da minha mãe, cada passo refletindo sua determinação como caçador. O brilho de sua faca cortando através da penumbra que se encontrava nossa casa era um espetáculo bem diante dos nossos olhos.
Somos pegos de surpresa quando o grito cortante irrompe na sala de estar, o impacto do corpo da minha mãe caindo no chão, sangrando, me deixa paralisada. Meus olhos fixando no cenário aterrorizante diante de mim. O transmorfo, outra hora com a minha forma, parece ceder e assume outra personalidade enquanto foge da cena, deixando para trás um rastro de destruição.
, em um reflexo de instinto, corre em direção à minha mãe, tentando conter a hemorragia e estabilizá-la. O brilho escarlate no chão contrasta com a palidez de seu rosto. Envolta pela urgência do momento, me movo rapidamente em direção a minha mãe, cujo o rosto pálido me deixa preocupada e perturbada. Minhas mãos tremem ao tentar pressionar o ferimento, enquanto a voz rouca de minha mãe tenta acalmar-me.
- Está tudo bem, ! Está tudo bem! – Ela sussurra, embora sua expressão revele a dor que ela está tentando esconder.
desaparece pela porta em busca de ajuda, deixando um rastro de incerteza no ar. Meus olhos se alternam entre minha mãe frágil e a entrada pela qual espero ansiosamente sua volta.
O tempo parece parar, cada segundo, uma eternidade. A atmosfera pesada se intensifica na casa, carregada não apenas pela angústia física, mas também pela incerteza do que o futuro nos reserva.
De repente ouço o eco distante de passos se aproximando.
A ajuda está a caminho.
E enquanto espero, sinto a pulsante necessidade de desvendar os mistérios que envolvem o transmorfo e a ameaça que ele representa para minha família.
Suspiro de alívio quando retorna para a minha casa acompanhado da minha avó, uma caçadora experiente, e outros membros da Ordem. A luz que eles trazem ilumina o ambiente, mas ainda assim a tensão permanece.
Minha avó e sua aparência impotente avalia rapidamente a situação. Seus olhos penetrantes como os de um falcão examinam minha mãe desmaiada, e por um momento vejo um lampejo de medo em seus olhos.
- O que aconteceu aqui? – A voz da minha avó corta o silêncio. E minha mãe, que antes estava apoiada em mim, é amparada por . Seus ferimentos, agora, evidentes por conta da iluminação.
- Existe um transmorfo solto... – minha avó ergue a mão, me impedindo de continuar.
- Transmorfos não se revelam facilmente. – Seu corte é seco, mas ela precisava me ouvir.
- Isso é real, está de prova. – aceno para meu amigo.
- Ele assumiu a forma de , senhora. – adiciona, sua expressão séria confirmando que o que eu acabei de falar era verdade.
Minha avó troca um olhar rápido com , um olhar silencioso que deixava claro seus anos de experiência como caçadora, e sem falar uma palavra, ela volta seus olhar para os outros caçadores, que começam a fazer uma limpeza desenfreada em nossa casa, enquanto minha avó se aproxima da minha mãe.
- Ela está viva, mas precisa de cuidados urgentes. – Informa ao verificar seus sinais vitais.
Enquanto minha mãe é carregada por outras pessoas e levada para um local mais seguro, me perco em pensamentos. A sala, agora quase vazia, se tornou um cenário sangrento, provocado por um ser que aparentemente procurava vingança.
- , você está bem? – indaga, seus olhos se repousando nas manchas de sangue que estavam impregnadas na minha roupa.
Respiro profundamente, tentando acalmar meus sentimentos sobre os recentes acontecimentos.
- Eu, estou... – eu não sabia muito bem o que falar, o choque era evidente na minha voz, afinal, eu jamais pensaria que algo assim pudesse acontecer com a minha mãe.
- Ninguém esperava que isso pudesse acontecer. – coloca sua mão em meus ombros, um gesto reconfortante. – Nem mesmo caçadores experientes conseguiriam imaginar que um transmorfo iria aparecer depois de anos. – Balanço minha cabeça em sinal de concordância.
- O que faria um transmorfo se revelar? – Eu não sabia muito bem sobre a história dos transmorfos, apenas que eles tinham sido expulsos da sociedade e, principalmente, que muitos tinham perdido suas vidas nas mãos dos caçadores.
- Eu também não entendo. – Meu amigo parecia pensar em algo.
- Ele estava usando a minha imagem... – engulo em seco, quanto tempo ele poderia estar passando por mim? – Será que ele... – não consigo pensar direito sobre o que levou o transmorfo assumir minha identidade, mas eu tinha certeza que não era por uma boa causa.
- Sabemos que transmorfos conseguem explorar nossos maiores medos e segredos. – parecia refletir.
- A ideia de isso ser real me assusta. – Isso era alarmante. Como ele conseguiu ter acesso a cada canto obscuro da minha mente? Como ele conseguiu estar comigo no momento em que eu estava apagada.
- É claro que não temos certeza, afinal, nunca lidei diretamente com um transmorfo. – O olhar astuto do meu amigo avalia cada canto daquela sala. – Mais uma coisa é certa, precisamos descobrir como ele entrou na sua casa e como conseguiu acesso em suas memórias.
se afasta, indo verificar os pontos de entrada da casa, a fim de saber se estávamos seguros.
Por um momento, ali parada na sala de estar, olho minhas mãos manchadas de sangue em um momento de reflexão; ainda trêmula, reviso o confronto aterrorizante que acabamos de vivenciar. O ar ainda parecia tenso, mas é quebrado com a abertura abrupta de uma porta, revelando a chegada dos meus amigos.
- , estamos aqui para ajudar. – se aproxima de forma solidária.
- O que aconteceu? – sinto um alivia quando vejo ao lado de e corro para abraçá-la, apenas me dando conta depois que eu estava suja de sangue.
- Encontrei alguns possíveis pontos de entrada. – volta para a sala, a seriedade em sua voz, algo não estava certo. – Mas temos um problema. – Engulo em seco.
- O que aconteceu? – pergunto. A sensação de vulnerabilidade cresce. Minha mente ainda parecia estar turva, tentando processar tudo o que aconteceu recentemente.
- A sala de armamento dos seus pais, ela estava aberta. – Prendo minha respiração.
- Isso quer dizer que algo sumiu? – olho para ele, tentando processar a recente informação.
A notícia de que a sala de armas dos meus pais estava aberta adiciona uma camada extra de tensão naquele ambiente. parece relutante em continuar e meus amigos aguardam em silêncio, seus olhares compartilhando a mesma preocupação.
- Sim... – ele para pôr um momento e coça sua cabeça. – Parece que algumas coisas foram levadas.
- Ele pode estar se preparando para algo maior, talvez ele tenha ajuda. – O peso das palavras de se aprofundam em minha mente. Meus amigos pareciam estar tão tensos quanto eu, pois todos estavam tentando absorver as palavras de .
- ! – o silêncio é interrompido pela voz de . – Você está bem? – ele se aproxima de mim, seu cenho franzindo ao ver sangue em minha roupa. – Droga! Você está ferida? – Anos de prática levaram ao auto controle, esse era o motivo por ele não estava me atacando no momento.
- Eu estou bem, no entanto... – acredito que pela rapidez que meus amigos chegaram, a notícia de que minha mãe tinha sido atingida chegou até eles, espero que meu pai esteja com ela, visto que minha avó não me informou para onde a levariam.
- O que podemos fazer? – , que até então permanecia quieto, pergunta.
- Primeiro temos que reforçar a segurança e monitorar qualquer movimentação. – para de falar por um momento antes de continuar. – Além disso, teremos que fazer algo que muitos aqui não irão concordar. – Por um momento eu acredito que meu amigo tenha ficado sem jeito, e por conta disso, sabia o que iria vir a seguir. – Vamos ter que solicitar ajuda da Ordem, acredito que eles são os únicos capazes de neutralizar esse transmorfo.
- Você está falando que não temos preparo? – meu primo dá um passo para frente, sendo impedido por .
- Infelizmente, sim. – é duro em suas palavras.
Envolver a Ordem era algo que me deixava aliviada e ansiosa ao mesmo tempo, pois eu sabia que pessoas inocentes poderiam perder suas vidas com a alta demanda de caçadores na cidade.
- Acho que devemos fazer isso. – Era difícil eu estar dando o braço a torcer, mas não era uma escolha, era uma necessidade e eu precisava prevenir que mais inocentes pudessem morressem.
O olhar de encontra o meu, uma mistura de agradecimento e compreensão.
A decisão estava tomada.
Para termos sucesso, iríamos precisar da ajuda da Ordem, mesmo que isso significasse ir contra todos os princípios que eu sempre defendi com afinco.
- Vamos informar a Ordem, mas vamos fazer isso de forma discreta. – nos encara, sua expressão determinada.
- Precisamos ser calmos nesse processo e agir rápido. – dá um passo para frente. – Quanto mais informações tivermos, melhor será nossa preparação. – Concordo com suas palavras.
- Toda pesquisa que fizemos foi como uma rua sem saída. – Cruzo meus braços.
- Temos que encontrar uma maneira de rastrear o transmorfo. – adiciona. – Ele claramente está envolvido com a sua família, . – Tento puxar na memória as palavras daquele transmorfo, mas parece que tudo é um breu.
Meu primo, ainda tenso, concorda em silêncio. Sei que envolver a Ordem não era de fato a melhor ideia, mas diante do que aconteceu com a minha mãe, não posso colocar meus amigos em perigo também, afinal, de todos nós, apenas eu, e temos treinamento suficiente para uma batalha, e visto como aquele transmorfo se move, nem isso eu tinha certeza que temos.
No fim, cada um de nós começa a arquitetar um plano.
- , você não consegue pensar em nada que sua família tenha feito para os transmorfos? – me pergunta.
- Ele mencionou algo sobre “consequências”, talvez isso seja relacionado à minha família? Em todos os meus anos como caçadora, eu nunca me envolvi com um transmorfo. – Algumas lembranças vêm como flashes em minha mente, mas a confusão do que era real e do que era fictício ainda perdura.
- Parece então que teremos que ir atrás dos registros da Ordem para podermos saber o que pode ter acontecido, afinal, vocês são obrigados a relatar sobre todos os acontecimentos da caçada, não é mesmo? – parecia feliz com a possibilidade de entrar nos registros da Ordem.
- Sinto muito em decepcioná-los. – Somos pegos de surpresa com a voz do meu pai adentrando o cômodo que estávamos. – Mas não existem registros suficientes sobre transmorfos na sede da Ordem. Eles foram perdidos. – Suas palavras são duras.
- Como assim? – Pergunto.
- Para vocês entenderem, terei que contar uma pequena história. Uma história de quando eu era um caçador novato, inexperiente. – Ele gesticula para que sentássemos no sofá. – Quando me tornei caçador, uma das minhas primeiras missões foi acompanhar o ataque de uma pequena vila de transmorfos, sua mãe estava na liderança da equipe naquela época. – Meu pai me encara, e eu começo a esperar o pior. – Naquela noite, sob o céu nublado, fizemos um ataque coordenado no vilarejo. – O silêncio paira naquela sala, todos prestando atenção nas palavras do meu pai. – Sabíamos que a aldeia não era pacífica, e a ordem que recebemos foi a de que não deveriam existir sobreviventes. Eles estavam tomando a identidade de outras pessoas, assumindo vidas que não eram suas, provocando o caos entre os humanos. – Arregalo meus olhos. – A Ordem decidiu que seria necessário erradicar aquela vila para evitar que eles pudessem começar a tomar a identidade de outros caçadores. – O tom em sua voz carrega um pesar, como se aquelas lembranças o atormentassem. – A batalha foi cruel, tivemos muitas baixas, mas em meio àquela batalha, conseguimos acabar com todos aqueles que estavam no local. Essa é uma noite que ficou presa em minha mente, mesmo depois de anos, pois eu vi o pior dos dois mundos e não foi bom. – Cada palavra dele corta o véu de nossas mentes imaginarias. – No final, os registros daquela operação foram mantidos em segredo pela Ordem, talvez para esconder a verdadeira extensão dos fatos.
O relato do meu pai revela uma faceta sombria para a Ordem, e principalmente para os caçadores.
- Então essa é a razão exata por não existir registros suficientes sobre transmorfos? – quebra o silêncio.
- Sim...
Enquanto o eco das palavras de meu pai se dissipa na sala, a tensão paira no ar. Um silêncio carregado preenche o ambiente e todos os olhares se encontram, compartilhando a inquietante revelação. O que mais a Ordem esconde sobre os transmorfos? Que segredos obscuros ainda esperam nas sombras da nossa história como caçadores?
N/a: Oii meus amores, dessa vez não demorei muito para trazer uma atualização recheada de reviravoltas para vocês. Algum palpite do que está para acontecer? O que acharam do transmorfo tomando a imagem de Faith? O que isso significa? Comentem...
sCapítulo Vinte
As palavras do meu pai pareciam ecoar pelos meus pensamentos, e acredito que com meus amigos não seria diferente. O silêncio era gritante e o ar parecia se comprimir naquela sala. Estávamos tão quietos que era possível ouvir o tique-taque do relógio pendurado na parede, indicando o tempo que estávamos perdendo.
Sempre soube que a Ordem era responsável por alguns aspectos, e que essa irresponsabilidade não era recente, porém ainda me choca saber que ela foi capaz fazer um ataque coordenado em um vilarejo e sumir com todas as provas que pudessem incriminá-la, e que nesse processo sumiu também com tudo relacionado aos transmorfos. Logo, um sentimento de impotência surge. Nesse momento, era como se estivéssemos diante de uma rua sem saída, encurralados por uma rede de mentiras e tendo que começar do zero mais uma vez.
— Se a Ordem sumiu com todos os documentos, o que mais ela esconde? — é a primeira pessoa a quebrar o silêncio. Sua voz estava calma, controlada, mas seus olhos carregavam uma fúria.
— Eu não sei. — A voz do meu pai é baixa, recheada de vergonha.
Essa era a primeira vez que Pat estava sem palavras, e nunca na minha vida eu imaginaria uma situação como essa. Beleza que meu pai não teve o mesmo contato que eu e minha mãe tivemos com a academia, ou com a Ordem. Afinal, ele se tornou um caçador um pouco mais velho do que os recrutas da academia, porém era impactante saber que aparentemente alguns assuntos da Ordem também eram escondidos dele.
— E como podemos contornar essa situação? — Meu amigo parecia estar querendo achar uma saída para o nosso problema, mas parecia que realmente não existia uma.
— A única coisa que posso falar para vocês, é que se a Ordem decidiu esconder alguma coisa sobre os transmorfos e sobre o que realmente aconteceu na noite daquele ataque, vocês devem ir atrás do arquivo da Ordem. — Eu nunca tinha escutado as pessoas ao meu redor falar sobre esse tal arquivo da Ordem, e muito menos sabia sua possível localização.
— E onde fica isso? — Pergunto ao meu pai.
— Esse deve ser o dia de sorte de vocês, porque o arquivo morto da Ordem fica escondido na floresta. — Faço uma careta.
— Como assim? — Se eu soubesse da existência desse arquivo morto, eu já teria dado um jeito de invadi-lo antes.
— O arquivo morto da Ordem está na floresta, na divisa de Fallen Hills e Eldermoon. — Meu pai exala uma calma enquanto fala.
— E por que ele estaria aqui, nessa cidade? — Pergunto.
— Porque a Ordem, há muito tempo, não era apenas formada por caçadores; ela era composta por um grupo de pessoas, inclusive do submundo. — Acho que muita gente que estava naquela sala não sabia sobre isso, até porque todo mundo parecia chocado com essa informação.
— Você quer dizer que, em algum momento, todos colaboraram? — Papai concorda.
— Isso é insano! — Muitas perguntas começam a surgir na minha mente, como a Ordem se tornou apenas uma Ordem de caçadores? Qual foi o estopim para que isso acontecesse? Eram tantas perguntas, porém eu não podia desviar do principal foco nesse momento, que era acabar com tudo isso de uma vez.
— Sr. , o que você sabe sobre isso? — se aproxima do meu pai, cruzando os braços.
— Tudo o que eu sei sobre a Ordem antiga foi o que os meus pais contavam quando eu era criança. — Era difícil assimilar tanta informação em um curto período.
— Nós iremos até lá. — Eu já estava decidida a achar o local, mesmo que meu pai não falasse onde o arquivo se encontrava. — Apenas me dê as coordenadas.
— O acesso não é fácil, e temos guardas no local. — Solto uma risada.
— E eu tenho um bruxo. — Aponto para . — Quando tudo isso acabar, você irá me contar o que ocorreu e como a Ordem tomou conta de tudo. — Pisco para ele. — Vamos.
Saímos de casa após meu pai passar a localização e começamos o nosso percurso até o local. Eu não queria que todo mundo fosse, até porque eu não tinha ideia do que iria encontrar assim que chegasse lá, e é esse o motivo de que apenas e vão comigo. Não fazia sentido levar todo mundo e, nesse momento, ter os dois ao meu lado era o suficiente. Eu estava sendo um pouco egoísta em não levar ou os outros, mas eu queria protegê-los. Não que eu não quisesse proteger e , mas eu tinha meus próprios motivos para não gerar uma grande movimentação em torno dessa descoberta.
Fazemos o percurso de carro, que balançava suavemente conforme nos aproximávamos da divisa entre Fallen Hills e Edermoon. A estrada era sinuosa e esburacada, um sinal de que a cidade estava caindo aos pedaços aos poucos. A tensão entre nós ainda era perceptível, e acredito que esse é um dos motivos para essa pequena viagem estar sendo tão silenciosa. Eu estava perdida em pensamentos, não sabia o que esperar desse arquivo, muito menos o que eu iria encontrar nesse local. Se a Ordem escondia isso até mesmo dos seus melhores alunos, quer dizer que muita coisa foi jogada debaixo dos panos e, principalmente, guardada a sete chaves.
Conforme fomos nos aproximando da divisa entre as cidades, nos preparamos. Sabíamos que não iríamos conseguir seguir de carro até o local, e essa era uma das razões para estacionar o carro no acostamento, um pouco antes do local que iríamos entrar, para não levantar suspeitas.
Entrar na floresta à noite me trazia algumas memórias, como, por exemplo, o dia em que fui atacada. Isso faz com que a aflição e desconforto fiquem evidentes, e é o vento gelado que bate em meu rosto que me traz de volta à realidade. O barulho das árvores se movendo no ritmo do vento parecia nos avisar para não seguirmos em frente, mas, nesse ponto, recuar não era uma opção. Automaticamente, as palavras do meu pai aparecem como um sinal de alerta “O arquivo é cercado por soldados”, e isso apenas indicava que o local guardava muitos segredos. Mais perguntas me atormentam: “Quantas vidas foram ceifadas? Quantos segredos estavam escondidos?”. Isso estava preso em minha mente desde o momento que saímos de casa, e eu sabia que, mesmo se quisesse, eu nunca teria todas as respostas.
Minhas mãos tremem, e não é por medo, e sim por raiva. Pensar em todas as pessoas inocentes que infelizmente cruzaram o caminho da Ordem e saber o que eles fizeram com essas pessoas me deixa de estômago embrulhado.
— Estamos chegando. — Era possível ouvir uma movimentação no meio da floresta, o que indicava que estávamos realmente perto do local que meu pai tinha informado.
— Eles parecem bem treinados. — Conforme nos aproximamos, percebemos alguns soldados da Ordem mais adiante.
— É porque eles não são apenas soldados, eles são caçadores de elite. — sussurra.
— Droga! — resmungo. — , você acha que consegue fazer com que passemos despercebidos? — Nos reunimos em um círculo e mantemos nossas vozes baixíssimas.
— Eu posso tentar criar uma ilusão temporária, mas estamos falando de caçadores de elite. — Solto um suspiro.
— E se eu e fossemos até lá? — revela seu plano, e solto uma risada baixinha.
— Nunca achei que você quisesse morrer jovem. — era muito expressivo, ou seja, não precisava de muitas palavras para entender onde ele queria chegar.
— Pensei em você apagando a memória deles. — Meu amigo estava agachado e deu um leve empurrão em .
A incerteza surge novamente, fazendo com que o brilho determinado em nossos olhos fosse se apagando aos poucos. Meu coração batia forte, culpa da adrenalina que estava sentindo no momento. Nosso tempo era curto, mas parecia que nossas decisões estavam levando uma eternidade.
— Podemos permanecer com a ideia original de tentarmos passar despercebidos pelos guardas. — Minhas pernas já estavam começando a adormecer por ficar parada muito tempo na mesma posição.
— Espero que isso dê certo. — Escuto um murmúrio vindo de , entretanto, meus olhos estão focados em e sua preparação.
Meu amigo parecia muito descolado enquanto se preparava para lançar um feitiço. Sua aura tinha uma energia tão intensa que eu conseguia sentir o leve formigamento em minha pele. Não era de hoje que eu sabia como o poder de era gigante, e como muitas pessoas ao redor dele o subestimavam por acharem ele novo demais para essa coisa de magia, e bonito demais, entretanto uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Ele era uma das pessoas mais poderosas, e não havia dúvida sobre isso. Prova disso era que com apenas um sinal de seu dedo, assisto um a um, dos soldados de elite da Ordem caírem sob os efeitos do feitiço lançado por . Como se já não bastasse, meu amigo envolveu o lugar em uma névoa espessa, que subia do chão e envolvia cada um dos caçadores que estavam guardando o local. Agora tudo o que nos restava era o silêncio.
Assim que tivemos a confirmação de que todos estavam sob efeito do feitiço de , saímos das sombras, avançando com precisão até a porta de entrada daquele lugar precário. Éramos movidos por uma sede inquietante de saber a verdade, e meu coração martelava de ansiedade por conta disso. À medida que nos aproximávamos, tentávamos ao máximo não tocar em ninguém, pois sabíamos que um único erro poderia comprometer completamente a nossa missão.
Com todo o cuidado do mundo, abrimos as portas pesadas do arquivo, tendo uma visão de escuridão total. O ar, que antes já era tenso, parecia estar ainda pior, afinal, não tínhamos ideia do que esperar a partir do momento que nós entrássemos naquele lugar. Mais uma vez, as palavras do meu pai vêm em minha mente “O lugar pode parecer precário, mas ele guarda grandes segredos e também grandes desgraças.” Suas palavras novamente me deixavam intrigada; parecia que ele sabia mais do que estava dizendo.
— Será que eles não colocaram armadilhas? — Conforme passávamos pelos túneis, traz algo muito importante à tona.
— Certeza de que, se fosse para ter, nós já teríamos… — Não consigo terminar de falar, pois somos surpreendidos com dardos sendo lançados em nossa direção.
— Merda! — Aceleramos os passos, e percebo que estava segurando seu braço; ele tinha sido atingido.
— Precisamos achar o mecanismo para fazer isso parar. — Vejo sangue escorrendo do braço de , o que me deixa um pouco aflita. — ! — Desculpe, . Mecanismo à prova de bruxos. — Reviro os olhos. Ele não está tão distante de mim, então escuto um “caralho” sair de sua boca ao ver o sangue que estava saía da ferida aberta nos braços de .
Paro por um momento, quando os dardos param de ser lançados, e respiro um pouco. Eu precisava focar no meu objetivo, que era encontrar o dispositivo que dispara os dardos para poder desativá-lo. Olho ao redor, tentando adivinhar onde ele poderia estar, mas nada parecia fora do comum, exceto uma rachadura na parede com alguns musgos ao redor. Me aproximo lentamente e com cautela, até porque eu tinha medo de o dispositivo ativar novamente e começar uma nova onda de dardos sendo atirada em nós. Ao chegar mais perto, percebo uma pequena formação rochosa na parede que não deveria estar ali.
— Achei! — aviso, com a voz baixa. — Preciso de ajuda. — Para minha surpresa, o painel era completamente eletrônico, nada de um sistema antigo e manual.
— , pensei que você fosse forte. — Fecho a cara, sabendo que iria fazer alguma piada pelo fato de eu estar pedindo ajuda.
Ao desarmar a armadilha, sons de porta arrastando ecoam naquela pequena sala, fazendo com que nós três nos olhássemos em dúvida. Será que seria seguro seguir adiante, mesmo com estando machucado? Ou o ideal seria recuarmos?
— Devemos ir? — Fico surpresa por essa pergunta sair da boca de .
— Você está ferido. — Resmungo.
— , vamos considerar a minha ferida uma dívida que você terá que pagar em breve. — Ele pisca para mim, mas somos interrompidos por um pigarro vindo de :
— Pensei que você e tinham alguma coisa, mas agora entendo o motivo de você não se envolver com ninguém. — A audácia de se sobressai, fazendo eu e nos olharmos.
— Cala a boca! — Falamos juntos. Resolvo ignorar e suas piadas, e entro naquele lugar.
Para a minha surpresa, assim que ilumina o ambiente, temos uma visão de quão grande ele é. Mas não vou mentir, achei que encontrar o local que os arquivos seriam mais rápido. Estranhamente, um lugar tão grande assim deveria guardar muito mais coisas do que eu ou qualquer outra pessoa poderia imaginar. Porém algo não fazia sentido. Eu sentia isso por conta da inquietação no meio peito. A Ordem não deixaria um arquivo tão importante assim à mercê de caçadores de elite; eles devem ter pensado em alguma coisa. Vamos lá, seria muito fácil apenas entrar aqui e nada acontecer. Meu pai foi muito taxativo quando disse que “Muitas pessoas conseguem entrar no arquivo, mas são poucas que saem de lá com vida”. No início eu até achei que ele estivesse se referindo aos caçadores que guardavam o lugar, entretanto, observando mais atentamente essa “casa”, percebo que ela era muito mais velha do que eu poderia imaginar. Suas paredes rochosas indicavam que aquele local existia muito antes da Ordem se tornar a Ordem, e, com isso, o lugar não se tornava uma armadilha por conta dos caçadores, mas sim pela sua ambientação.
A princípio, a casa que entramos, não, a cabana, se transforma em um caminho rochoso sem fim. O corredor extenso nos leva a um labirinto de túneis profundos, o ar acompanhando essa decadência, ficando cada vez mais frio à medida que descemos por eles. Observo as paredes úmidas por conta da formação rochosa, e suas fissuras demonstram o quão desgastado aquele lugar estava. Era quase impossível acreditar que documentos importantes ficavam ali. Não, espera, esse lugar era muito propício para a Ordem esconder o que queria sem ser descoberta.
Em algum momento da nossa caminhada, o chão começa a ficar irregular, e o forte cheiro de mofo penetra em nossos narizes, fazendo com que colocássemos máscaras em nossos rostos para que pudéssemos continuar andando. A caminhada era desgastante, e eu só imaginava se realmente iríamos encontrar esses documentos, ou se tudo isso tinha sido apenas uma manobra do meu pai para fazer eu e meus amigos perdemos mais tempo.
— Será que esse túnel tem fim? — Ouço resmungos vindos dos meus colegas.
— Eles devem esconder muitas coisas. — Prendo minha respiração ao passarmos por algumas celas e termos uma visão clara de corpos, ou melhor, de ossos algemados, revelando que o arquivo não era apenas um local para guarda de documentos, mas também de tortura.
— …— O chamado dos meus amigos deixa claro que pensamos igual.
— Eu sei… — Meu coração aperta.
Independentemente dos ideais da Ordem, que é “Honrar os humanos e protegê-los”, esse lema sempre me incomodou. Apesar de a própria Ordem não querer concordar, existem muitos seres sobrenaturais que nunca se expuseram ao mundo humano. Pelo contrário, vivem em suas pequenas aldeias muito bem desenvolvidas, então eu não entendo o motivo de a Ordem continuar essa caçada com quem nunca fez mal algum. Não existe lógica nessa perseguição sem fim.
Mais à frente, outra cena me chama atenção; uma cela em particular, com um corpo acorrentado, e extremamente debilitado. Tento me aproximar, porém sou impedida pela mão de , que segura meu braço. Eu sei que não podíamos parar, que deveríamos seguir adiante, mas algo me puxava para aquele corpo.
— Podemos? — Olho para os meus amigos.
— Não temos ideia do que ele possa ser… — Até parecia apreensivo.
— Vamos resolver nossas pendências, não há nada que possamos fazer. — Eu sabia que não estava querendo ser duro comigo, mas ele tinha que me puxar para a realidade.
Mesmo que minha vontade fosse me aproximar daquele corpo, sigo exatamente o pedido dos meus amigos e continuamos nosso caminho. Ignoro todos os meus pensamentos e respiro fundo, guardando para mim todos os sentimentos que surgiram por conta da descoberta desse lado obscuro da Ordem.
— Acho que estamos chegando. — murmura.
— Talvez. Parece que finalmente vamos ter acesso aos arquivos. — Minha visão estava um pouco embaçada, mas tinha que agradecer o fato de ser um bruxo e que ele estava iluminando todo o caminho. Só consigo imaginar o quanto de energia estava sendo drenada dele.
— , você consegue consertar isso? — A voz de não era a das melhores, o que me deixa um pouco preocupada.
— Posso fazer algo a respeito, mas não acho que irá durar muito tempo. — Ele encara a ferida de e responde sem muita convicção, gerando um impasse entre nós.
— Tem certeza de que não quer voltar? — Seguro suavemente o braço de e tento avaliar seu braço machucado mais uma vez. O sangue já tinha secado, mas aparentemente ele estava sentindo dor.
— Claro, tenho certeza de que essa será uma oportunidade única. Não vai ser meu braço machucado que irá me impedir. — Noto um cansaço em sua voz, que não dá para distinguir se é por conta do cheiro de mofo ou por conta de sua ferida.
Indo contra tudo, começa a caminhar novamente, sem perder tempo. Acredito que levamos aproximadamente dez minutos de caminhada até achar uma sala com muita documentação. O “arquivo” não era tão grande como imaginei, pelo contrário, ele era muito menor, e a documentação estava jogada em algumas prateleiras e até mesmo em cima da mesa que tinha naquele ambiente.
— É isso? — parecia estar tão incrédulo quanto eu. O desapontamento em sua voz reflete exatamente o que eu pensava no momento.
Ainda parecia surreal termos andado até aqui e encontrado apenas essa pequena sala de arquivo. O lugar era imenso, cheio de celas e túneis, para no fim o arquivo ser do tamanho de uma pequena sala de estar.
— Aparentemente… — Minha voz sai baixa, e me sinto completamente decepcionada. Eu esperava muito mais da Ordem.
Imagino que cada folha deveria estar colada uma à outra por conta da umidade do lugar. Faço uma careta ao perceber que eu teria que mexer nesses arquivos mofados e empoeirados, e sinto um leve medo dessas folhas se deteriorarem em minhas mãos. Sem mais delongas, parto para a verificação dos documentos. Eu precisava e queria sair daqui com as informações sobre os transmorfos.
A fraca luz vinda das mãos de serpenteavam na escuridão daquele lugar. As sombras eram irregulares e acompanhavam o nosso ritmo de pesquisa. , mesmo ferido, tentava ao máximo nos ajudar, para conseguirmos agilizar o processo. Minhas mãos tremiam conforme eu manuseava os papéis jogados na mesa, tomando todo o cuidado do mundo para não estragar nada. A tensão que se cria ao redor desses documentos era grande, e a cada folha a esperança ressurge.
— , você está bem? — A voz de ecoa naquele ambiente.
— Medo? — Solto uma risadinha.
O medo estava em minhas entranhas. Eu tinha medo de errar novamente, e que meus erros pudessem resultar em novas mortes.
— Gente… Precisamos ser rápidos. — Era possível ver o suor escorrendo pela lateral do rosto de , o que indicava que sua energia estava sendo drenada.
Tento ser mais ágil ao folhear os documentos, procurando a todo custo as melhores informações para que pudéssemos sair daquele local o mais rápido possível.
— , você encontrou alguma coisa? — pergunta enquanto folheia um livro.
— Ainda não, e você? — Pergunto, sentindo uma onda de frustração crescendo novamente.
— Acho que encontrei alguma coisa. — e eu nos aproximamos dele. — Tomem cuidado, esse livro está caindo aos pedaços. — avisa.
Me inclinando um pouco mais, permito que ele segure o livro enquanto eu leio o conteúdo que está escrito, “Sabemos que os transmorfos são criaturas perigosas que podem assumir qualquer forma, desde que tenham contato com o sangue de suas vítimas.” Essa informação claramente chamou minha atenção, mas guardo ela para mim, para depois compartilhar com meus amigos. Olho para os dois, que estavam concentrados na leitura daquele trecho, e penso se eles estão tentando lembrar de situações que nos envolvemos e que possivelmente poderiam ser obras de um transmorfo. “Hoje eles são considerados inimigos do submundo e, principalmente dos caçadores. Eles se tornaram um problema ao assumirem posições de poder, matando quem estivesse em seu caminho para que isso acontecesse.” Enquanto lia em voz alta, somos pegos pela escuridão.
— Minha energia está muito baixa, não sei quanto tempo irei conseguir manter o ambiente iluminado. — Sinto pena de , pois estávamos consumindo muito de sua energia para que pudéssemos encontrar a verdade.
— Vamos levar esse livro. — Suspiro.
— E se alguém perceber que estávamos aqui? — parecia um pouco preocupado.
— Esse seria o menor dos nossos problemas. — Fecho o livro, e logo consegue iluminar o local novamente.
— Será que temos a informação de como acabar com ele? — Essa era uma incerteza de que teríamos de lidar, pois não tínhamos mais tempo.
— Vamos abrir em uma página aleatória. — Fecho meus olhos e espero abrir em uma página importante.
“Para quem não sabe, os transmorfos aguardam nas sombras e sempre esperam o momento certo para agir. Antigamente, eles atacavam suas vítimas em florestas densas, mas com o tempo seus ataques foram evoluindo, e, com isso, qualquer pessoa pode ser sua vítima”
Não era exatamente a informação que eu procurava, mas era o suficiente para aprendermos um pouco mais sobre os transmorfos.
— Acho que conseguimos trabalhar com isso. — Suspiro.
— Vamos embora. — pega alguns documentos de cima da mesa. — O quê? Pode ser útil.
Começamos a nos afastar daquela sala, e percebo que o ar começa a ficar mais denso, diferente do eu sentia antes. Era perceptível que, quanto mais andamos para a saída, mais a luz que produzia para iluminar o nosso caminho ia falhando aos poucos.
— Estamos quase chegando. — Ouço sussurrar, talvez para tranquilizar eu e .
Sendo bem sincera, parecia que alguma coisa estava errada, principalmente à medida que estávamos chegando na parte da cabana. Parecia que algo tinha sido deixado para trás, e olho para os meus amigos, apenas para garantir que eles estivessem ali comigo e que ninguém tinha sido deixado para trás.
— ? — Do nada, a luz que mantinha se apaga completamente.
— O que está acontecendo? — se agarra em mim, sussurrando ao pé do meu ouvido.
O ar ao nosso redor fica gélido de repente, me lembrando do ataque que recebi na floresta no início da minha investigação.
— Esperem um pouco. — também sussurra, mas agora ele parecia tão tenso quanto eu e .
— Gente, alguma coisa não está certa. — Minha voz não passa de um sussurro.
ainda continuava com dificuldades em conjurar uma luz para seguirmos nosso caminho até a saída, e é aí que percebo que o som das nossas respirações, que até então deveriam ser as únicas naquele local, eram acompanhadas por mais um som baixo e aterrorizante. Era como se algo estivesse bem na minha frente, mas eu era incapaz de ver, apenas sentir. Tento a todo custo distinguir os sons que eu estava ouvindo, mas era praticamente difícil.
— Gente… — murmuro. — Algo realmente não está certo. — Seguro o braço de ambos, para ter certeza de que eles estavam ali comigo.
Nesse momento, é possível ouvir um leve balançar de correntes se aproximando de onde estávamos, e um sussurrar em uma língua que eu nunca tinha escutado antes. Eu sabia que não eram meus amigos, pois eu estava segurando o braço de cada um deles, o que indicava que não estávamos sozinhos, e que o perigo era real. Nossas respirações estavam pesadas, e não tínhamos para onde correr, porque não tínhamos uma visão do que estava ao nosso redor. A lanterna que eu tinha levado para essa missão tinha queimado logo no início, então dependíamos de para sair dessa.
— Vocês também estão ouvindo… — A voz de é cortada pelo som de um grito estridente, capaz de arrepiar a alma e causar calafrios.
— Não estamos sozinhos… — De repente, consegue conjurar uma luz, e nos deparamos com um corpo debilitado e cheio de cicatrizes correndo em nossa direção. — Corram!
Por um momento, me senti petrificada, o ar gélido tomando conta do lugar indicando que, seja lá o que fosse, esse ser seria muito perigoso se tivesse contato conosco. Além do grito constante, eu podia sentir as unhas desse ser arrastando-se e arranhando lentamente enquanto caminhava pelo túnel, causando arrepios espontâneos pelo meu corpo e tornado o cenário ainda mais aterrorizador.
Corremos.
Nossas vidas dependiam dessa corrida. Precisávamos encontrar o caminho o mais rápido possível, não havia tempo para olhar para trás, de entender o que era esse ser sobrenatural. Tudo o que podíamos e tínhamos que fazer era correr se quiséssemos continuar vivos.
N/A: Eu sei, eu sei... Essa atualização levou uns seis meses para sair, mas sendo bem sincera com vocês, cheguei num momento da escrita que as coisas não estavam fazendo sentindo e parecia que nada do que eu estava escrevendo ficava bom o suficiente, e foi por causa disso que comecei a reescrever a história, para entregar o melhor que vocês merecem como leitores.
Estamos chegando na reta final da história, e pelos meus cálculos faltam apenas quatro capítulos para o fim dessa jornada.
Não me abandonem...
Capítulo Vinte e Um
Fomos pegos de surpresa por aquele grito agudo que ainda ecoava em meus ouvidos. Eu nunca tive medo de nada, porém nesse momento, eu sentia que deveria fugir, que minha vida e a vida dos meus amigos dependia disso. Era perceptível o som das nossas respirações ofegantes. Parecia que a medida que corríamos por aquele túnel, mas engolidos pela escuridão éramos. As paredes estavam úmidas, e o cenário ficava pior à medida que avançávamos. Aquela criatura continuava nos perseguindo, e era possível ouvir o tilintar de correntes.
Um arrepio toma conta do meu corpo. Parecia que a cada passo que dávamos, mais denso o ar se tornava.
— ! Não podemos nos separar. — Em meio a corrida, tento ao máximo manter meus amigos próximos a mim. Não sabíamos o que estava nos perseguindo e muito menos o que ele queria de nós, então mesmo que correr não seja a coisa mais correta a ser feita, era a nossa única opção.
— Você não consegue nos tirar daqui? — Escuto a voz de um pouco mais atrás, fazendo um sinal de alerta surgir em minha mente.
— Estou com a minha magia limitada aqui, as paredes têm alguma coisa que não me permite tirar a gente daqui e muito menos usar todo o meu poder. — Tento pensar em alguma alternativa, algo que pudesse nos salvar, mas não eu não sabia nem do que estávamos correndo.
Novamente escutamos um grito estridente, eu arregalo meus olhos. Essa criatura queria nossas vidas e esse era o motivo de ela vir sedenta ao nosso encontro. Olho para meus amigos. e pareciam travar uma luta entre eles mesmos para manter o ritmo da nossa corrida.
— Droga. — Soltei um xingamento ao perceber que estávamos novamente em um beco sem saída.
— Estou tentando o meu melhor, mas existe algo bloqueando minha magia. — repete. Ele estava ofegante, e sinto pena do meu amigo.
— Nosso tempo está acabando. — Nos manter em silêncio naquele momento não era uma opção, porém a voz de não era a mais baixa de todas.
De repente, o chão começa a tremer aos nossos pés e olho assustada para os meus amigos. Parecia que as coisas iriam ficar ainda piores.
— Achei uma abertura. — Não tínhamos tempo para ponderar se era ou não uma boa ideia, então optamos por entrar naquele local e torcer para que as coisas não piorassem.
A criatura estava quase nos alcançando quando passamos por aquela fresta. Eu podia sentir sua respiração acelerada, afinal, apenas uma parede nos separava da vida e da morte. Suas unhas passam a arranhar as paredes ao nosso lado causando arrepios involuntários pelo meu corpo. Seu grito voltou a tomar conta do ambiente, e a única certeza que tínhamos era que por aquele momento, nós três estávamos a salvo.
— Estamos presos? — Escuto a voz de .
— Acho que sim… — Ao escutar os murmúrios de , automaticamente corro até ele. Meu amigo segurava seu braço machucado que parecia estar sangrando novamente.
— Sei que você está esgotado. — Me volto para . — Mas a ferida de voltou a sangrar.
Tínhamos corrido tanto tempo e continuava iluminando nossos caminhos, mesmo estando exausto. Sua energia deveria estar baixa e a hora que ele caísse, nós morreríamos, pois essa criatura não pararia até dar um fim em nossas vidas.
— Eu posso tentar por um feitiço, mas não tenho certeza de que ele irá funcionar. — Fecho meus olhos e peço mentalmente para que tudo dê certo.
— Vamos tentar achar uma saída. — se agacha.
— Não podemos ficar por aqui. — Minha voz soa um pouco trêmula. Olho ao meu redor e percebo que as paredes não eram mais rochosas como a sequência que tínhamos dentro dos túneis. Ali tínhamos madeiras firmes, o que indicava que estávamos mais próximos da saída. — Ali. — Aponto para um local que as madeiras pareciam levemente podres.
— O espaço é muito pequeno. — tenta passar pelo local, mas não tem muito êxito.
— Você acha que consegue pôr o braço para fora e conjurar algum feitiço? — O encaro, ansiosa.
— Posso tentar. — Não sei muito o que faz, mas ele consegue abrir mais espaço para que pudéssemos passar.
é o primeiro a se propor a passar por aquela fresta, mesmo lutando contra a dor que estava sentindo. E o mais engraçado era que, à medida que começamos a sair daquele local, mais a criatura parecia perder o controle. É nesse momento que sinto a adrenalina tomar conta do meu corpo novamente e assim que passo por aquela entrada, caio em um túnel escuro e vou escorregando até o final.
— Precisamos correr e não olhar para trás. — grita, o que faz meu corpo despertar e ignorar toda a dor que eu estava sentindo.
Tínhamos caído em outro túnel rochoso, e aparentemente nosso perseguidor tinha conseguido passar pelo local que foi aberto por e nos seguir. Era estranho a forma como estávamos sendo perseguidos, e não conseguia imaginar nenhuma criatura que pudesse ser mantida viva no arquivo da Ordem, não quando tudo parecia estar caindo aos pedaços.
Continuamos correndo, meu coração parecia querer sair pela minha boca, mas sinto uma leve pontada de esperança ao sentir uma corrente de ar vindo mais à frente. Tínhamos encontrado a saída.
— Falta pouco. — Aponto para o feixe de luz
O que eu não contava era que aquele feixe de luz daria em um precipício, abaixo de nós o mar. Algo bem estranho, diga-se de passagem, porque Fallen Hills não tinha praias.
— E agora? — olha para baixo, visivelmente preocupado.
— Não temos escolha. — Encaro meus amigos. — Precisamos pular. — E claro, contar com a sorte de ficarmos vivos, mas não falo isso.
— O quanto vocês confiam em mim? — Solto uma risada, pois eu confiava a minha vida a .
— Você já sabe a resposta. — Troco um olhar rápido com e sabia que meu amigo compartilhava do mesmo pensamento que eu.
Percebo que muda sua postura, e logo começa a murmurar algo em sua língua, algo que eu não tinha capacidade para entender. O vento toma intensidade, algumas folhas de árvores batem em meu rosto, e me pergunto de onde elas surgiram. A criatura que nos perseguia parecia avançar cada vez mais para perto de nós, causando um conflito interno entre eu cobrar para ir logo, ou tentar encarar a realidade e acabar com essa criatura.
— … — Murmuro ao ver um ser pálido se aproximando, suas garras eram afiadas e eu tinha certeza de que causaria um grande estrago se elas encostassem na gente.
parecia não me escutar, pois continuava murmurando palavras e palavras apontando para o céu, talvez conjurando um portal para nos tirar dali. Eu podia sentir uma vibração, como se o portal fosse surgir a qualquer momento.
O vento ao nosso redor se intensifica, e de repente uma luz surge no céu. nos encara com um sorriso simples nos lábios, mas era perceptível que ele não estava bem. Sua pele parecia pálida e seus lábios estavam rachados, meu amigo tinha drenado toda a sua energia para sairmos dali.
— Pulem agora! — grita, mas sou a última a seguir seu comando, o puxando junto comigo.
Sinto uma dor terrível nas minhas costas e eu sabia que tinha sido atingida. E estava tudo bem, pois eu tinha protegido de ser atingido. Agora, estamos envoltos pela magia de , e enquanto caimos pude observar um clarão atrás de nós. A criatura não nos seguia mais, ela tinha sido impedida de entrar no portal criado por , o que eu agradecia mentalmente, pois eu não teria físico para lidar com ela, não comigo machucada.
Sinto um clarão intenso em meu rosto, me fazendo voltar a realidade. A dor em minhas costas volta com maior intensidade. Minha blusa estava molhada, e uma sensação estranha toma conta do meu corpo. Tento me sentar e olhar ao redor, estávamos na floresta novamente. tinha conseguido nos tirar daquele local com vida.
Me levanto com um pouco de dificuldade, meu corpo latejava não só por conta da minha ferida, mas por conta da queda também. parecia apagado logo um pouco mais a minha frente e dou o meu melhor para chegar até ele. Eu precisava saber se meu amigo estava vivo. , por outro lado, estava encostado em uma árvore, completamente acordado.
— está vivo, já chequei. — Me sinto mais aliviada ao ouvir essa notícia.
— Conseguimos… — Minha boca estava seca e por conta disso minha voz saiu rouca.
— Por pouco não conseguimos. — Encaro o braço do meu amigo, agora sua ferida estava num misto de sangue seco e sujeira.
— Você está com dor? — Tento não pensar na minha própria ferida. e deveriam ser as prioridades no momento.
Ouço alguns resmungos vindos da direção que estava e praticamente corro até ele. Meu amigo abre seus olhos devagar, ele tinha uma aparência completamente cansada. E eu só queria que ele dormisse pelos próximos dias.
— Finalmente saímos de lá. — Sua voz não passa de um sussurro.
Eu queria poder falar que estava aliviada, mas não tínhamos ideia em qual local da floresta estávamos e se iríamos conseguir chegar até onde deixamos nosso carro, ou melhor, se ele estaria lá quando voltássemos. O sol já estava começando a dar os primeiros indícios da manhã.
— E agora precisamos achar a saída. — se levanta, segurando seu braço. — Não temos ideia se aquela coisa conseguiu passar pelo portal do . — Percebo que parecia um pouco pensativo, então resolvo perguntar para ele aquilo que estava preso em minha mente desde o momento que saímos por aquele portal
— … Você sabe o que era aquilo? — Pergunto, minha voz saiu baixinha.
— Pelas características de perseguição e tudo o que passamos naquele túnel… — Ele assume uma postura mais séria. — Aquilo era uma criatura antiga, uma Eidak. Essas criaturas não são tão comuns, e muito menos fáceis de lidar.
Meu coração para pôr um momento. Eidak. Eu já tinha escutado algumas pessoas ao redor da academia falando sobre isso, porém nunca tivemos um aprofundamento sobre a história deles em si.
— Isso significa… — olha nos meus olhos e balança a cabeça.
— Ele estava nos caçando. — Prendo minha respiração. — Essas criaturas são raras e perigosas, eles são os primeiros seres sobrenaturais. Os Eidak se movem nas sombras e são capazes de manipular a magia.
— Mais dentro do arquivo… — olha para a gente.
— Ele estava lá por um motivo, mas tenho certeza de que não era para proteger os arquivos que pegamos, pelo contrário. — agora tinha um olhar perdido.
— Você acha que ele pode ter nos seguido? — Pergunto, me sentindo um pouco preocupada.
— Não. — Meu amigo balança a cabeça e solta um suspiro. — Ele está preso naquele lugar. O Eidak está vinculado ao arquivo, a única forma dele sair de lá é quem o conjurou o libertar.
Alívio percorre o meu corpo.
— Isso é bom… Estamos seguros. — De repente começo a sentir uma falta de ar. Tento me apoiar em uma árvore, mas o ferimento começa a doer com mais intensidade.
— Está doendo, não é? — se aproxima de mim.
— Como você se machucou? Foi quando caímos? — também parecia preocupado.
— Antes de pularmos, o Eidak se aproximou, eu sabia que a intenção dele era ferir para que o encanto quebrasse, se isso acontecesse, nós não iríamos poder sair de lá, por isso me joguei na frente e recebi o golpe pelas costas.
— E eu agradeço você imensamente, um bruxo sendo ferido por um Eidak significa o fim da vida. — baixa a cabeça, parecendo levemente abalado.
— Sempre irei proteger suas costas. — Dou uma risada, e me arrependo amargamente.
O ferimento estava queimando, a dor era parecida com o ferimento que tive na minha barriga logo quando chegamos em Fallen Hills, o que estava me deixando levemente preocupada.
— Vocês podem dar uma olhadinha na ferida? — Encaro meus amigos e viro de costas para eles. Como estava com o braço machucado, quem acaba olhando a minha ferida é .
— O que foi? — Pergunto assim que escuto um suspiro vindo dos dois.
— Você não tem sorte, , sua ferida está ficando preta. — Prendo minha respiração. Os sintomas que estavam começando a aparecer eram os mesmos da minha primeira ferida; e se a criatura que me atacou na floresta não tivesse sido um transmorfo? E se no fim das contas era uma Eidak?
— Precisamos ir até a minha avó. — Me viro para encarar os dois. — Se isso for um terço parecido com a ferida na minha barriga, quer dizer que não tenho muito tempo antes de perder os sentidos.
— , você quer dizer que o ataque que você sofreu…? — franze a testa.
— Pode ser que sim, ou pode ser que o transmorfo tenha tido contato com um Eidak e assumiu a forma dele em algum momento. — Tento puxar na minha memória o dia do ataque, mas ele continuava sendo bloqueado na minha mente.
— Precisamos ir logo, não podemos deixar que a magia do Eidak se espalhe pelo corpo de . — estende o braço para eu me apoiar nele.
Tento me manter calma e focada. Precisávamos sair da floresta antes que meu estado pudesse piorar.
— Vamos voltar para o carro. — nos segue. — Acho que ele deve estar onde deixamos.
— Se tivermos sorte. — resmunga ao meu lado, mas sua voz parecia começar a ficar um pouco distante.
Nós não tínhamos outra opção a não ser andar todo o trajeto até onde supostamente o carro deveria estar. Eu não queria falar para eles, mas eu estava começando a sentir uma leve dificuldade para andar. Minhas pernas pareciam fraquejar, porém eu não queria causar mais nenhum desconforto aos dois, não quando eles também estavam machucados e exaustos. A floresta ainda mantinha uma neblina densa, mesmo que estivesse amanhecendo. O silêncio sendo quebrado apenas pelo barulho de folhas secas à medida que andávamos.
— O que vocês acham que a Ordem pode estar escondendo? — quebra o silêncio.
— Não tenho ideia, eles são sempre cautelosos. — era quem estava nos guiando.
— Uma coisa eu tenho certeza, eles não teriam uma Eidak conjurada no arquivo se fosse apenas a situação dos transmorfos, deve existir mais coisas. — Sinto minha boca seca, e por conta disso minha voz soa um pouco rouca.
— Certeza de que existe algo maior por trás de tudo isso. Sabemos que a Ordem sempre controlou tudo, talvez seja algo que ameace os caçadores como um todo.
As palavras de martelam em minha mente. Se ele estivesse certo, isso quer dizer que todos os caçadores mais antigos estão envolvidos e que possivelmente eles são culpados por alguma coisa, alguma coisa que não sabíamos ao certo o que era.
Depois de mais alguns minutos caminhando em completo silêncio, cada um perdido sem seus pensamentos, finalmente encontramos o local onde deixamos o carro. Por incrível que parece, ele estava lá, intocado, e consigo finalmente ficar calma.
— Chegamos. — parecia feliz, e praticamente correu até o carro.
— Você consegue aguentar mais um pouco? — me olha.
— Não tem muito o que fazer. — Sorrio levemente.
A verdade era que eu não queria falar realmente como estava o grau de dor naquele momento. Eu podia sentir minha ferida queimando como fogo, e se alastrando pelo meu corpo. Minha garganta parecia ainda mais seca e eu podia sentir meu corpo começando a suar.
— ? — A preocupação na voz de era perceptível.
— Vamos logo. — Eu precisava chegar até minha avó, só ela poderia me curar nesse momento.
Entrando no carro, meus olhos se fecham por um momento. Eu precisava me concentrar para não expor a minha dor e preocupar ainda mais os meus amigos, o caminho até a casa da minha avó não era longo, eu tinha calculado em média vinte minutos, ou seja, eu tinha uma missão nesse momento e era esconder toda a minha dor.
CONTINUA...
N/A: Essa atualização demorou um pouco mais do que eu imaginava para sair. A realidade é que eu empaquei na segunda página por umas duas semanas, escrevi e reescrevi algumas vezes até chegar nessa versão. Espero que tenham gostado.