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#009 Temporada

Long Live
Taylor Swift

 

Antes do Amanhecer

Escrita por Queen B.

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   passara a vida toda com a sensação de despreparo, de estar esquecendo alguma coisa ou simplesmente não saber alguma coisa. Como se a vida insistisse, dia após dia, em cercá-lo de pessoas que sabiam mais do que ele. Sobre a vida, sobre o futuro e até sobre ele mesmo. Não era tão verdade, mas era como ele se sentia. Havia certa irracionalidade em seu complexo de inferioridade e ele sabia, mas não podia evitar. Se sentia menor do que era, era alto, mas parecia pequeno, porque projetava exatamente o modo como se sentia. 
  No dia seguinte, tinha uma entrevista com o escritório de admissão da faculdade na qual pretendia ingressar e não conseguia parar de pensar naquilo. No quão pequeno se sentia.
  Ele sabia que estava preparado, vinha se preparando a vida toda, sabia o que tinha que falar, quais perguntas escutaria e como respondê-las, mas, ainda assim, não tinha certeza se, mesmo sabendo o que e como falar, conseguiria o fazer. Era típico dele não conseguir.
  O percurso de trem até Seul levaria a noite toda e, a cada instante que passavam parados na linha, com os passageiros embarcando muito lentamente, ficava ainda mais nervoso. Esperava que quando estivessem em movimento conseguisse dormir um pouco, mas por enquanto tudo que era capaz de fazer era quase pingar de nervosismo. E pensar no quão pequeno se sentia.
  Não se importaria mais com aquilo, em ter passado a vida inteira se sentindo pequeno, se no dia seguinte, apenas no dia seguinte, quando sua entrevista chegasse, fosse capaz de se sentir diferente. Grande. Gigante.
  Só daquela vez...  Não era pedir muito, era?
   movia a perna direita numa representação física, e muito clara, de seu nervosismo, mas, caso ainda restasse dúvidas, ele estralava os dedos da mão também. Em algum momento, suspirou frustrado e jogou a cabeça para trás, resmungando qualquer coisa sem sentido numa reclamação pela demora.
  Será que não dava para irem logo? Quer dizer, quanto mais rápido fossem, mais rápido chegariam e poderia, finalmente, se sentir grande.
  Será que não dava para irem logo?
  — Com licença, posso me sentar aqui? – a voz feminina fez erguer o olhar só para dar de cara com um desafio inesperado. Era ali, a garota que estudara com ele, no mesmo colégio, a vida toda e por quem ele alimentava uma pseudo-paixão-platônica. Nunca haviam trocado mais que duas, três frases e agora teriam que ficar sentados juntos a noite toda a caminho da viagem mais importante de suas vidas?! – O trem está quase cheio. – ela acrescentou em seguida, quase como se pedisse desculpas por incomodá-lo.
  O tique na perna de parou imediatamente quando ele assentiu, endireitando-se com a postura excessivamente ereta em seu assento enquanto a garota se punha a sentar ao seu lado.
  — Tudo bem. – ele finalmente murmurou, desviando em seguida o olhar para a janela.
  Achou por um instante que já estavam em movimento, mas talvez fosse só o modo como seu estômago revirava e ele apertou os olhos. era, disparado, o que, entre todas as coisas, lhe fazia sentir menor.
  Para ela, ele devia parecer um gigante abestalhado. Porque era alto. Infelizmente, era alto e tudo que fazia para se esconder era inútil, pensamento o qual fez seu estômago revirar ainda mais, junto com o solavanco que atingiu seu corpo com o primeiro movimento do trem.
  Estavam partindo. Finalmente.

...

  Cerca de vinte, trinta, minutos depois, acordou. Ele nem notara quando pegou no sono, mas, ao abrir os olhos, não precisou de muito para ter a certeza que não dormira muito.
  Seus olhos ardiam e, normalmente, ele só viraria para o lado e voltaria a dormir, mas não o fez daquela vez. Ao virar para o lado, seus planos foram refreados pela visão de sentada bem ali, no assento ao lado do seu, concentrada numa pilha de sanduíches empilhados em sua bandeja embutida.
  — Peguei dois pra você e dois pra mim. – ela murmurou, como se soubesse que ele já acordara e lhe encarava, ainda que sequer houvesse desviado o olhar de sua bandeja. Ao menos, não parecia ter desviado, já que com o cabelo caindo sob sua pele como fazia não podia dizer com certeza o que ela via ou não. – Você estava dormindo e... – ela começou a acrescentar, desajeitada, ao virar para lhe encarar e fez que não, indicando que ela não precisava falar.
  — Obrigado. – ele murmurou, fazendo um esforço quase físico para espantar o nervosismo que congelava seus nervos e sorrir para a garota. Conhecia há anos, de modo que existia um relacionamento mesmo sem haver um e, por isso, entendia porque ela pegara os sanduíches para ele também. Conseguia acompanhar sua linha de pensamento.
  — Não foi nada. – ela respondeu, dando de ombros enquanto retirava o plástico que protegia o próprio sanduíche. Quando deu uma mordida, seus olhos se arregalaram e ela levou a mão à boca quase que imediatamente, fazendo com que arregalasse um pouco os olhos também, inclinando-se preocupado em sua direção. Antes que ele pudesse fazer ou falar qualquer coisa, no entanto, ela o fez: – Aigoo! Não foi mesmo nada. Sério, não come isso. – ela apontou os sanduíches que ele já segurava, os puxando de volta. – Que coisa horrível.
   acabou rindo daquilo, lhe estendendo uma porção de guardanapo que ela não pareceu lembrar que tinha no colo. Ela cuspiu os resquícios do lanche ali e ele mordeu a própria risada quando ela lhe encarou de cara feia.
  — Não ri.
  — Não estou. – ele garantiu e ela rolou os olhos, já que ele era, claramente, péssimo naquela coisa de prender a risada.
  — Estúpido. Vou me lembrar de não pegar mais nenhum lanche pra você essa noite, mesmo que tenham gosto de pé.
  — Eu fico agradecido. – ele retrucou, rindo novamente quando ela estapeou seu ombro, acabando por rir junto com ele dessa vez também. – Eu acho que tenho doce na mochila. – ele murmurou depois de um instante, se pondo de pé para pegar a mochila no compartimento acima de suas cabeças, tirando de lá de dentro um pacote com biscoito recheado.
   acabou cedendo e sorrindo quando ele lhe estendeu a embalagem, tirando de lá um biscoito e mordendo um pedaço sob o olhar do garoto.
   pensava em muitas coisas.
  A ideia de falar com , por si só, sempre lhe apavorara de modo irracional. Ele a idealizava, projetava alguém nela baseado apenas no que observava e não tinha como saber se estava certo, mas, naquele momento, enquanto ria com a guarda inegavelmente baixa, céus, ele torceu para que ela fosse. Torceu para que ela fosse exatamente tudo que sempre imaginara porque ela estava bem ali ao seu lado, dividindo um pacote de biscoito recheado com ele e lhe fazendo rir.
  Ele quase sentia os tornozelos doerem, como se pudesse sentir os ossos crescerem. Sua pequenez começava a se tornar algo combatível, algo inesperadamente combatível. Ele não estava acostumado com aquilo.
  Mas era só uma das coisas que ele pensava. E tudo se tornava muito contraditório e bagunçado, porque todo o restante de sua linha de pensamento era autodestrutiva, confusa e sombria.
  Aquilo não ia terminar bem. Ela era , era incrível e cheia de luz e ele... Ele era só ele. Ele faria alguma coisa, em algum momento, e estragaria aquele momento esquisito e agradável. Ele não sabia viver momentos esquisitos e agradáveis.
  Bom, sua vida toda era esquisita, mas em combinação com o agradável... Aquilo, definitivamente, era algo com o qual ele não tinha familiaridade. E ia estragar.
  A certeza se misturava a esperança de que não o fizesse, que, por algum milagre, desse tudo certo e ele conseguisse apenas manter uma conversa agradável com a garota de quem passara a vida toda gostando. Era sua última chance, afinal.
  — É bom. – a garota murmurou, chamando sua atenção enquanto levava outro biscoito a boca depois de engolir o anterior. Ele olhou dela para a embalagem e assentiu, abrindo um pequeno sorriso.
  — É, não é? – murmurou e ela lhe encarou de um jeito que ele não foi capaz de decifrar, assentindo um instante depois e desviando o olhar.
  Um arrepio alcançou a espinha de sem que ele conseguisse explicar o motivo e o garoto acertou novamente a postura, mesmo que já estivesse quase ereto e não houvesse o que realmente acertar.

...

  — Eu acho que é esse o momento. Sabe, o momento. – murmurou, aos sussurros já que o trem estava escuro demais para que ela tivesse a ousadia de fazer diferente. Já passava das uma e meia da manhã e a maior parte dos passageiros dormia, exceto por eles. Nenhum dos dois conseguia pregar o olho.
  — O momento? – perguntara ao ouvir sua afirmação repentina, conseguindo ver muito pouco de seu rosto, apenas o que a pouca luz vinda da janela ao seu lado permitia.
  Não conversaram muito depois que terminaram de comer, ambos tentaram, sem sucesso, dormir e ambos terminaram de olhos bem abertos, observando os ruídos ao seu redor diminuírem gradativamente, ao passo que os outros passageiros se entregavam ao sono e lhes causava inveja.
   quase se deixava esquecer que era ali e o que aquilo significava, ou quão pequeno aquilo lhe fazia sentir, mas então a vira iluminada apenas pela pouca luz que vinha da janela e, céus, ela nunca estivera tão bonita. E falando de momentos.
  Sua pequenez usava todas as armas que podia contra ele.
  — Sabe, o momento em que você quase pode ver tudo mudar. É agora. – explicou – Parece que o mundo inteiro está em silencio e, se fizermos silêncio também, podemos ouvir. Podemos ouvir os portões se abrindo para o resto das nossas vidas. – ela falava baixo, quase como se tentasse realmente escutar algo e quase se reconheceu na expressão ávida em seus olhos.
  Por mais nervoso que estivesse, ele não aguentava mais a vida como era, a tempo demais, e queria, desejava, aquela mudança. Estava preso entre ansiar por aquilo e temer, temer não estar pronto, porque o tempo todo não estava pronto e mesmo se preparando pra aquilo a vida toda, era pavoroso agora que chegara a hora e ele tinha histórico em não estar pronto.
  — Você está pronta? – ele, por fim, perguntou a , soando tão desesperado para se sentir reconfortado quanto se sentia, ainda que não soubesse realmente qual resposta ela poderia dar e ser capaz de, realmente, reconfortá-lo.
  Ela sorriu compadecida ao lhe encarar, parecendo saber o que ele queria dela.
  — Acho que não é pra estarmos prontos para esse tipo de coisa. – ela murmurou, respirando fundo. apenas continuou lhe encarando, tomado pela intensidade de sua beleza naquela pouca luz, tão estranhamente dramática e, ao mesmo tempo, confortante. Como se aquele fosse um momento só deles, secreto ao ponto de lhe fazer sentir a vontade para falar e sentir qualquer coisa, ainda que fosse assustador. – Acho que é assim que devemos nos sentir. Despreparados. Porque é algo novo, algo que nunca fizemos e não temos a menor ideia de como vai ser, de como vamos nos sair. – ela explicou seu ponto de vista, com o olhar fixo no fundo do assento a frente do seu no trem. 
  — Mas é como você se sente? – ele insistiu, com a sensação de que precisava ouvir para acreditar, porque a garota que projetara nela era segura demais para não estar. Quebrar aquilo, aquela projeção, parecia, de repente, o conforto de um abraço apertado em meio a uma crise intensa de ansiedade.
   sorriu outra vez, sem lhe encarar.
  — O tempo todo. – confessou – O tempo todo, eu me sinto pequena. Tão, tão pequena que uma ventania um pouco mais forte pode mudar tudo num piscar de olhos e me tirar as poucas certezas que tenho. Ou talvez menos... Bem, com certeza menos. Parece que qualquer coisa pode me tirar as poucas certezas que tenho, porque sou pequena e errada. – ela não lhe encarava enquanto falava, por isso não viu quando piscou, surpreso. De todas as pessoas, jamais imaginaria que ela sentia aquilo, tudo o que ele sentia.
  Aquilo era estranho.
  Pouco a pouco, , de fato, desfazia a projeção que tinha dela e aquilo era surpreendentemente bom. Era como, finalmente, sentir um sonho bom se infiltrar em sua realidade, aspectos dele, aspectos que podia tocar e sentir nos dedos. O pensamento lhe fez esfregar as mãos na calça e balançar a cabeça, tentando afastar a linha de pensamento que lhe fazia rumar a ideia de tocá-la. Tê-la se tornando uma pessoa real, uma pessoa com quem podia se identificar, já parecia bom o suficiente. 
  — Você esconde bem. – riu, por fim, e ela imitou, virando a cabeça um pouco para o lado para lhe encarar sem se afastar do estofado.
  — Você não. – murmurou e os dois riram juntos em seguida, antes que ele se virasse de lado na poltrona para ficar de frente para ela, imitando a postura que ela assumira antes. Seus olhos ficavam na linha dos dele daquele jeito e gostou daquilo. Ele costumava ter dificuldade para olhar as pessoas nos olhos, mas, estranhamente, ela lhe fazia sentir a vontade para isso. Ele gostava de olhar nos olhos dela, gostava de verdade. – Vamos ficar bem, -ah. – ela murmurou, soando muito certa do que dizia. – Tudo vai mudar e tudo bem, porque talvez a gente precise disso. Talvez isso nos faça sentir maiores.
  — Eu espero que sim. – ele murmurou baixinho, seu tom de voz deixando escapar uma melancolia impensada, que ele gostaria de poder tomar de volta para que ela não notasse, mas já era tarde.
  , no entanto, continuou a lhe surpreender, olhando em seus olhos por um longo instante, como se visitasse seu estado de espírito e se acomodasse ali, sem qualquer intenção de ir embora, mas apenas de sentar ali com ele, naquele lugar estranho, triste e cheio de inseguranças, e lhe fazer companhia. Como se ela pudesse fazer aquilo sem problemas porque já havia estado ali antes, porque conhecia bem aquele lugar.
  — Eu também. – ela falou baixinho, lhe dando um sorriso triste e estendendo a mão para que ela alcançasse a sua, pegando de surpresa ao tocar seus dedos com os seus.
  Ele quase pulou de susto com o contato, olhando de suas mãos juntas para o rosto da garota enquanto tinha certeza que seu coração poderia sair pela boca.  Céus, ele gostava dela.
  Gostava dela antes daquela viagem de trem e parecia que, quanto mais tempo passavam juntos naquele trem, gostava mais. Aquilo fazia sentido? Aquilo tinha alguma lógica cientifica na qual podia se sustentar? Era possível que a intensidade de um sentimento antes tão bobo, apenas baseado em projeções, aumentasse tanto com tão pouco?
  — O que foi? – ela riu, alheia ao motivo do movimento minimamente brusco dele e balançou a cabeça.
  — Nada. – murmurou, pigarreando pro ter falado baixo demais. – Devíamos tentar dormir. Amanhã temos um grande dia pela frente.
   assentiu, observando em silencio enquanto ele virava de costas para ela, de frente para a janela.
  — Você já é grande, . Só precisa ver isso. – ela murmurou, num fio de voz antes que o ruído em seu lugar denunciasse o movimento partido dela pra se virar na poltrona e tentar dormir também.
  De olhos fechados, sorriu, se deixando embalar pelas palavras da garota. Ele nunca quis tanto acreditar naquilo.

....

   não conseguiu pegar no sono e, pouco tempo depois, notou que também não. Os dois, enfim, cederam a insônia e voltaram a conversar, compartilhando histórias e pensamentos.
  Parecia ser algum tipo de efeito da madrugada nas pessoas, no fim das contas: Ninguém pensava muito no que falar ou não falar quando passava horas a fio, noite adentro, conversando. Era como se sentir seguro, porque parece ser um momento secreto, único e que ninguém nunca vai desrespeitar ou macular. Eles pareciam se sentir daquela forma naquele momento.
   se sentia.
  Eles falaram sobre a escola, sobre seus amigos e os planos de cada um deles agora que aquela fase de suas vidas estava acabando, sobre suas famílias e inúmeras outras coisas. era a filha do meio em casa, portanto ainda tinha uma irmã para quem podia dar dicas quando chegasse a vez dela e tinha uma irmã que já passara por tudo aquilo, o que era ótimo. Ela dissera que o melhor jeito de ter perspectiva: ter sempre os dois lados da moeda tão perto. era filho único, mas concordara. Seus amigos eram como irmãos para ele, portanto achava que podia dizer que entendia, pelo menos um pouco, do que ela estava falando.
   também descobrira que ela aprendera chinês desde muito nova porque sua mãe era de lá e sabia muito pouco de coreano, então as três filhas estavam no mesmo nível em ambas as línguas.
  Havia, enfim, muitas coisas incríveis sobre que ele descobrira. Coisas que ele nunca imaginara e coisas que ele já desconfiava antes, portanto houveram dois tipos de sorriso que ele deu enquanto ela contava sobre si mesma: o sorriso admirado, surpreso, e o sorriso admirado e orgulhoso, embora não houvesse ousado revelar que o orgulho que sentia era de si mesmo por conhecê-la de fato tão bem quanto imaginou fazer.
  Eles passaram horas conversando, horas e horas discutindo coisas relevantes e importantes, como os maiores problemas da humanidade e como resolvê-los, e coisas irrelevantes também, bobas, como, por exemplo, quem venceria uma briga entre a Mulher Maravilha e a Viúva Negra, e a melhor música já feita. Não chegaram a um acordo sobre isso, mas aquilo não foi um problema. Falar sobre músicas com fez sorrir tanto que suas bochechas doeram.
  Eles tinham gostos parecidos, mas não idênticos, o que tornava a discussão indiscutivelmente interessante. E ela sabia do que falava. Quando falava de música, ela falava do seu momento favorito nas canções como se houvesse feito parte da criação deles, como se pudesse sentir tudo que tornava o seu momento favorito o que era. adorava cantar e fazia aquilo desde novo, seu pai era apaixonado por música também e sempre tivera piano e violão em casa, habilidades que passou para o filho com prazer, mas ele não disse nada daquilo a ela. Não quis que ela soubesse que ele cantava simplesmente porque não acreditava tanto em si mesmo a ponto de falar, de se vangloriar.
  Era algo que gostava de fazer, mas era bom o suficiente para contar por aí?
   não seria se achasse que a resposta era sim, no fim das contas.
  Ele não contou, mas seu segredo estava fadado a ser descoberto. Ele não pensou nisso quando pegou o celular e os fones para lhe mostrar uma de suas músicas favoritas, assim como não pensou nisso quando reconheceu a música e se pegou cantando um trecho dela baixinho.
  — Uau. – murmurou, puxando os fones para ouvi-lo melhor, o que fez com que ele acordasse para o que fazia e fechasse a boca imediatamente, tirando os fones também, com o olhar encabulado. abriu um pequeno sorriso por isso. – Uau. – repetiu com humor, fazendo com que ele risse.
  — O quê? – ele perguntou, como se não entendesse quão perplexa ela parecia de repente e a garota riu por isso.
  — Você canta bem. – deu de ombros, como se não fosse nada demais. – Mas, sabe, não importa. Todo mundo canta, não é? – fez pouco caso e o garoto gargalhou, sem conseguir se conter. Ela fazia questão de deixar obvio que estava sendo irônica justamente porque ele estava agindo como se não fosse nada demais e notou aquilo com uma surpresa satisfatória.
  Ela achava que ele cantava bem.
  — Obrigado. – falou baixinho por fim, sorrindo com gratidão para ela, que riu e balançou a cabeça.
  — Você é inacreditável. – murmurou, sem conseguir esconder a surpresa por ele, de fato, parecer tocado com o que, para ela, parecia obvio. – Você canta tão bem que, um dia, vai ter uma multidão gritando por você. Se você se permitir acreditar, sabe, só um pouquinho... Vai ter.
   riu, mas não falou nada, balançando a cabeça ao em vez disso e lhe devolvendo um dos lados do fone enquanto pegava o celular da mão dela para escolher algo para ouvirem.
  Ela devia ter algum tipo de super poder porque, honestamente, parecia que quando falava algo bom, mesmo que parecesse uma realidade tão distante, era impossível não acreditar e sentir aquele formigamento agradável no peito de quem, de fato, sabia que tinha algo de bom vindo em seu caminho. Mesmo que só acreditasse realmente naquilo porque ela dissera.
  Ninguém mais era capaz de fazê-lo pensar assim, então só podia assumir que era aquilo. Ela tinha um super poder.

...

  A estação de Gwamgmyeong era a parada final parada final para os dois jovens. De lá, pegariam um avião para Seul ou um carro, não chegaram a realmente conversar aquilo, afinal era onde se separariam.
  Quando chegaram lá, e dormiam, abraçados sem que tivessem consciência daquilo. É claro que, ao acordar, com a campainha soando exageradamente alta indicando a chegada a estação final, corou ao notar o estado dos dois. estava praticamente deitada com o tronco por cima dele, de mal jeito, porém parecendo dormir de maneira serena enquanto tinha os braços dele ao seu redor.
  — Anh é... Eu acho que chegamos. – murmurou quando conseguiu acordar a garota, depois de algumas tentativas falhas. Ela passou a mão pelo rosto, sonolenta, e se endireitou na cadeira, fazendo uma careta para o modo como seu corpo estralou por isso.
  — Gwamgmyeong? – ela perguntou e ele assentiu com a cabeça, confirmando.
  Eles se encararam por um instante, absorvendo o que aquilo significava. Todos ao seu redor já se punham de pé e pegavam suas malas para sair, mas e sequer repararam.
  Os dois haviam tido uma noite surpreendente e incrível, uma da qual não iam esquecer e, por isso, não parecia certo quebrar a magia dela falando sobre o que viria agora. Não sabiam quando ou se iriam se ver de novo e aquilo parecia uma realidade extremamente esquisita.
  Não eram tão próximos antes, então talvez nem fizesse sentido que a hora da despedida fosse lhes pegar como um soco na boca do estomago, mas era exatamente o que acontecia. Haviam acabado de descobrir algo incrível, verdadeiramente ótimo, um no outro e já precisavam se despedir daquilo.
  Era uma droga.
  — Bom, é... Boa sorte, então. – murmurou, sem jeito, enquanto coçava a nuca e a garota assentiu, levando um instante para responder ainda assim.
  — Para você também.
   assentiu e os dois continuaram se encarando em silencio por mais alguns instantes, incertos quanto ao que fazer ou falar antes que a mesma mulher que passara duas vezes por eles entregando lanches fosse retirar o lixo de suas poltronas, lhes acordando para a urgência do momento: Precisavam ir.
  Engolindo em seco, olhou da moça para , assistindo-a se levantar e sair do caminho para que ela pudesse limpar a região de seu assento. Enquanto ela o fazia, foi obrigado a se manter onde estava para não atrapalhar, mas não desviou o olhar de ainda assim, mesmo que ela já estivesse em pé e pronta para ir embora.
  Ele tinha medo que ela realmente fosse. Quer dizer, sabia que ela ia, que não podiam ficar parados olhando um para o outro por muito mais tempo, mas queria. Queria poder olhar para ela e falar com ela por mais tempo.
  Ele sempre fora apaixonado por aquela garota, afinal de contas, não devia ser tanta surpresa assim que se sentisse daquela forma agora, devia? Parecia que havia finalmente descoberto como ela era de verdade e o quanto de tudo que sempre projetara sobre ela era verdade também.
  Ele gostou de descobrir, mas não conseguia parar de sentir que ainda podia descobrir muito mais. Não conseguia parar de querer descobrir muito mais.
  Céus, como queria.
  — Eu, hm... Preciso ir. – ela murmurou, desajeitada, quando ele se pôs de pé, parando de frente para ela.
   assentiu.
  — Boa sorte na sua entrevista. – murmurou, mesmo que já houvessem dito aquilo.  assentiu.
  — Boa sorte para você também.
  Ele assentiu e ela sorriu com constrangimento antes de se aproximar a abraçá-lo, de maneira robótica e desconfortável, que foi como terminou por retribuir o abraço também. se afastou rápido e acenou para ele, engolindo em seco antes de dar as costas, dando passos largos para fora do trem.
  A mulher que limpava seus assentos olhou para ele por sob o ombro depois que saiu e rolou os olhos, fazendo corar e engolir em seco, encabulado com a reação.
  — O quê? – perguntou, como se não entendesse porque ela lhe encarava daquele jeito. Exceto que entendia.
  Ele só não tinha certeza do que deveria pensar a respeito.
  — Eu reparei em vocês dois durante a viagem. – ela murmurou, dando de ombros como se falar aquilo não fosse nada demais. – Não é assim que quer se despedir dela.
  — Eu... – se interrompeu, deixando que a surpresa pelo modo direto que a mulher falara desse lugar a uma pontinha de ultraje. – Você não sabe disso.
  — Sei que gosta dela. – a mulher deu de ombros, como se não fosse nada demais. limpou a garganta, atitude que se misturou a uma tosse carregada, originada unicamente pelo nervosismo.
  — Você também não sabe disso.
  — Não conheço vocês, é verdade. – ela deu de ombros, cedendo. – Mas sei que, se fosse eu, não ia querer me despedir assim se não soubesse quando veria de novo o garoto de quem, um dia, eu poderia vir a gostar.
  — Acha que ela poderia vir a gostar de mim um dia? – perguntou, surpreso, soando exatamente como um adolescente sonhador e apaixonado, o que lhe fez corar e tossir outra vez, constrangido.
  A mulher riu.
  — Não se você for estragar a despedida de vocês assim. – deu de ombros e mordeu o lábio, olhando dela para a porta por onde a garota saíra.
   tinha um super poder. Ela o fazia sentir maior, do tamanho certo. Ele não queria e não podia se despedir daquilo com um abraço robótico e desconfortável.
  Pensando naquilo, agarrou sua mochila e pendurou de qualquer jeito em um dos ombros antes de correr para fora do tem, procurando ao olhar desesperado em volta na estação.
  Ela já estava quase na saída.
  — Aish! – ele resmungou, frustrado, antes de correr naquela direção, conseguindo puxar o braço da garota bem no instante em que ela o estendia para chamar um taxi.
  — ! – ela gritou, assustada, ao virar de frente para ele. — O que está fazendo?
  — Me despedindo direito de você. – ele murmurou, pousando uma mão em seu rosto e a trazendo para si, usando seu último suspiro de coragem ao moldar seus lábios. segurou imediatamente em seu pescoço, retribuindo o beijo intenso que ele iniciara e torcendo os dedos da outra mão em seus cabelos enquanto abria a boca e permitia que ele aprofundasse o beijo.
   sonhara com aquilo por tanto tempo que agora que, finalmente, estava acontecendo ele sequer podia raciocinar direito, tão entregue as sensações que a ideia de realmente formar um pensamento lógico parecia uma piada. Céus, piadas pareciam ilógicas.
  Quando, por fim, se afastaram, ele demorou um instante para abrir os olhos, mas o sorriso brotou em seus lábios imediatamente quando o fez. já sorria para ele.
  — Acho que vejo você por aí, então? – ela arqueou as sobrancelhas e ele assentiu, sorrindo. Ela imitou. – Ótimo.
  Ele sorriu e virou de costas para chamar um táxi para ela, já que fizera com que a garota perdesse o anterior.
  — , você é grande. Não pequeno, grande. – ela murmurou quando o táxi chegou e ele abriu a porta para ela, lhe arrancando um pequeno sorriso.
  — Boa sorte, -yah.
  Ela piscou e entrou no táxi, permitindo que ele fechasse a porta para ela em seguida. acenou e então sentiu um peso no peito quando o carro acelerou, levando-a dali. O peso, no entanto, não durou muito, parecendo descer para debaixo de seus pés.
  De repente, se sentia maior.
  Será que ganhara alguns centímetros naquela noite?

FIM

Nota: OLÁÁÁÁ! Gente,que loucura HAHAHAHHAA
 Long Live não é uma música fácil, não, viu? Dei muita sorte de já ter esse plot e mesmo assim foi um paro pra sair HAHAHA
 Enfim! Vida longa ao “momento”!
 Beijão!