And They Call This Tragedy

Escrito por Mellancia (Mel) | Revisado por Luanna

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Capítulo 1

  Uma semana atrás...

How did I end up here?

   estava deitada em sua enorme cama, admirando o nada em sua frente. Ela andava pensativa pelos últimos dias e acontecimentos em sua vida; estava tudo sendo incrivelmente difícil para ela lidar com as situações em que a vida a colocava. E as pessoas pareciam não entender o quanto ela precisava de um tempo sozinha, com seus pensamentos e dores; ela só queria dormir e acabar com a dor que sentia tão profundamente em seu peito.
  Essa dor tem nome e sobrenome e é incrivelmente lindo. .
  "Um musico qualquer", como disse para uma de suas amigas; "ninguém importante", disse ao pai várias vezes seguidas; "alguém que eu amo", acabara de suspirar para si mesma.
  Assim que disse as palavras tão verdadeiras e profundas - até então desconhecidas por ela -, sentiu uma luz iluminar todo seu ser. Arregalou os olhos com a mais nova informação e passou a mão direita sobre a barriga. Sentou-se logo em seguida, ainda com os olhos arregalados.
  Ela finalmente descobrira.
  "Não é possível", murmurava para si seguidas vezes, com a mão direita sobre a barriga e a esquerda na boca. "Isso não pode acontecer. Não comigo!", continuou a falar sozinha, baixíssimo. Sussurrando para que ninguém mais ouvisse, além dela, o que era quase impossível já que só ela e uma das empregadas estavam no apartamento.
  A dor de descobrir o que tanto temia que poderia acontecer com ela, talvez, fosse maior do que descobrir que a estava traindo. A nova novidade - por mais que não fosse comprovada - estava deixando-a aterrorizada com o que viria a seguir. Estava com medo de perder o controle da sua vida perfeitamente planejada em todos os sentidos possíveis.
  Esticou o braço sobre a cama, alcançando o criado mudo e pegando o celular que estava em cima. Apertou o botão dois da discagem automática, colocando o mesmo próximo ao ouvido. Ainda com a mão na barriga, esperava impaciente.
  De alguma forma, ela queria sentir que aquilo era realmente verdade, ou era apenas mais uma de suas crises desesperadas e imaginárias de sua parte. Mas dessa vez algo estava diferente dentro dela. Certeza. tinha certeza do que estava acontecendo com ela.
  - ? - Chamou assim que uma voz animada atendeu o telefone.
  Sua voz estava fraca, não passava de um murmúrio inquieto. Ela estava fraquejando e isso não era normal para ela; sempre uma garota confiante e que agora estava com medo de que tudo desse errado em sua vida.
  - Eu preciso te contar uma coisa, pode vir em casa? - Perguntou envergonhada.
  Logo que a amiga respondeu que chegariam em dez minutos, voltou a deitar-se na cama com os olhos fechados.
  Não era mais a mesma garota de antes. Estava fraquejando e com vergonha, da sua própria melhor amiga! Não parecia uma das modelos mais bem pagas do mundo, parecia uma garota de quinze anos que esta desesperada por um namorado. Não que com essa idade ela ligasse para isso ou que faltassem opções, mas sabia como as amigas ficavam só de falar isso próximo à ela.
  Era algo além das suas particularidades e frescuras; algo além da sua arrogância e egoísmo. Era uma vida a mais. Nada mais nada menos.
  Alguns minutos depois levantou dizendo para a empregada ir embora, que não precisaria mais dela por hoje. Na verdade, ela não queria que mais alguém soubesse sobre o que estava disposta à falar com a amiga.
  Mais alguns minutos e estava esparramada no sofá, esperando que chegasse logo. Estava vestindo um shorts rasgado, uma camiseta da Nirvana - uma de suas bandas preferidas, mas que de acordo com seu empresário não poderia usá-la para não sujar sua imagem de modelo perfeita -, estava apenas de meias nos pés e seus cabelos estavam presos num coque mau feito.
  Se alguém a visse assim, ela estaria no olho da rua. Pode apostar.
  Com esses pensamentos esdrúxulos, ouviu a campainha sendo tocada, esperando ser já que o porteiro nem se preocupou em anunciá-la.
  Levantou-se arrastando seus pés até a porta. Não estava pronta para contar para alguém, mesmo que esse alguém fosse . Sem contar que nada estava certo ainda, poderia ser mais uma peça que sua cabeça pregava nela. Não seria a primeira vez, de qualquer forma.
  - ! - O grito histérico de pode ser ouvido assim que a dona da casa abriu a porta. - Você tá bem? - Olhou nos olhos da amiga e reparou no estado que a mesma se encontrava.
   não lembrava de ver a amiga tão caída e desarrumada depois que entrou para a vida de modelo. E não lembrava, muito menos, de ver os olhos da amiga tão vermelhos quanto estavam agora; ela devia ter chorado ou estar prestes a fazê-lo, pensou sentindo pena da amiga.
   deixou a bolsa no chão, do lado da porta, fechando essa atrás de si. Olhou para mais uma vez e vendo que ela estava prestes a desmoronar em sua frente, tanto em lágrimas, quanto fisicamente, puxou-a para um abraço. que não havia se mexido desde que abrira a porta, se aconchegou melhor no abraço da melhor amiga. Estava precisando disso.
  - Preciso de um favor. - afastou lendamente. concordou com um aceno de cabeça. - Preciso que vá à farmácia. - Suspirou. - Compre um teste de gravides. - Pronunciou a palavra final com amargura e desgosto.
   arregalou os olhos não acreditando no que acabara de contar. confirmou com a cabeça, quando os olhos investigadores de resolveram fazer a pergunta ao invés de sua boca, perguntaram se era verdade.
   virou-se de costas rapidamente, pegando a bolsa que estava no chão e saiu correndo da casa. voltou para o sofá, colou uma das várias almofadas sobre o rosto e abafou um grito que veio seguido de lágrimas pesadas.
  Por mais que estivesse com medo de tudo, o que mais a amedrontava era pensar no que as pessoas pensariam dela. Seu trabalho era feito em cima de sua imagem, como ela poderia lidar como uma gravidez indesejada sem um namorado ou algo do gênero agora que sua carreira estava montada e praticamente perfeita?
  Os minutos sem junto dela pareciam horas intermináveis e cansativas. Suas lágrimas já não existiam mais e o silêncio do apartamento estava começando a incomodá-la.
  - ? - Olhou em direção à porta vendo a cabeça de aparecer entre ela.
   entrou no apartamento segurando uma sacola um pouco maior do que imaginava que chegaria.   - Trouxe quatro testes e uma enorme barra de chocolate. - Disse com os olhos brilhando e entregando a sacola na mão de .
   tentava animar a amiga, mas as tentativas foram em vão. nem sorrira quando disse chocolate, como costumava fazer.
   levantou do sofá, sorrindo fracamente para e fazendo um aceno com a cabeça para que a amiga seguisse seus passos até o banheiro da suíte.
   entrou sozinha no banheiro, fazendo os quatro testes de uma só vez. Colocou cada teste em cima da bancada da pia, em cima da própria caixa.
  Saiu do banheiro encontrando sentada na cama olhando-a apreenciva. Abriu a barra de chocolate assim que sentou do lado de na cama e as duas comeram silenciosamente enquanto esperavam dar o tempo do teste ficar pronto. , inclusive, colocou o despertador do celular para tocar.
  Depois de alguns minutos de silêncio tenso, o celular de despertou fazendo com que as duas se entreolhassem. mordeu o lábio inferior com medo de se levantar e pediu com um olhar para ir lá.
   levantou suspirando e entrou no banheiro. Olhou para a pia, vendo os quatro testes, um do lado do outro, pegando o primeiro da fileira. Leu como deveria ser o resultado na caixa e olhou para o teste em sua mão.
  Positivo. Suspirou passando para o segundo: negativo. Uma onde de alívio passou por ela, mas não estava satisfeita; ainda faltavam dois testes. Passou para o terceiro. Positivo. O sorriso em seu rosto diminuiu e com o coração na mão, pegou o quarto e último teste.
  Positivo.
  Suspirou derrotada. Três contra um. Agora o problema era contar para .
   saiu do banheiro, encostando na porta e olhando para a amiga que encarava-a ansiosa. olhou-a tristemente e entendeu na hora. Desabou em lágrimas em seguida, como se não bastasse o que havia chorado toda essa manhã.
   foi ao encontro da amiga abraçando-a deseitadamente. Quando essa se acalmou, deitou no colo de que fazia um cafuné gostoso em sua cabeça, dizendo que tudo ficaria bem, era só esperar.
  Mesmo nenhuma das duas tendo certeza de nada, as palavras confortaram . E ela não demorou muito para dormir com o carinho e as palavras de consolo da amiga.

Capítulo 2

  Seis dias atrás

  - Marcus! - gritava por todo estúdio de fotografia procurando pelo empresário.
  Ela estava louca atrás de Marcus, tentara lugar inúmeras vezes e quando finalmente atendeu, marcou com no estúdio. Mas não conseguia encontrá-lo em parte alguma.
  - Camarim três. - Uma das modelos foi em direção à , bufando. - Ele está lá há séculos e não quer sair, Nathan disse que só tiraria as fotos com ele por perto. - Rolou os olhos.
   sorriu amigavelmente para a modelo e foi em direção ao camarim três. A demora, imaginou, ter um nome, ser loira e incrivelmente apaixonada por Marcus. Sophia.
  Logo que abriu a terceira porta do extenso corredor, sem bater, deu de cara com Sophia e Marcus aos beijos no sofá. Sorriu consigo mesma.
  - Sophia, fora! - disse autoritária; mesmo não tendo autoridade nenhuma sobre nenhum dos dois.
  A loira saltou de cima de Marcus, sorrindo tímida assim que passou por . Pediu um milhão de desculpas antes de fechar a porta e quando finalmente achou que estava à sós com o empresário começou a ficar nervosa novamente.
  - , que bom te ver. - Marcus disse irônico, acomodando-se de uma forma mais confortável no sofá.
  - Desculpa ser empata foda, literalmente - Sorriu sarcástica. -, mas eu preciso mesmo falar com você.
  Marcus ajeitou-se no sofá e chamou-a para sentar na mesa do centro, em sua frente, ela negou com a cabeça indo em direção a uma das cadeiras de maquiagem. Sentou-se e suspirou pesadamente, medindo as palavras do que estava para dizer.
  - Eu fiz um teste ontem... E bom, eu tô grávida. - Fechou os olhos esperando a reação do empresário.
   estava quebrada por dentro. Passara a noite toda chorando e não soube de onde vieram as forças para levantar essa manhã e vir ao encontro de Marcus, que com certeza pioraria sua situação. Ele faria com que ela tomasse a decisão mais importante da sua vida: fica ou não com o bebê.
  Mas assim que analisou as expressões de Marcus, soube de imediato, que não seria tão simples assim como imaginara.
  Marcus estava com os olhos levemente esbugalhados, vermelho e um sorriso estranho; como se o sorriso de incentivo de antes, tivesse morrido em seu rosto e ficasse paralisado daquela forma. Ele respirava rapidamente e, podia notar-se que estava se controlando para não gritar com .
  - É brincadeira, não é? - Ele levantou indo de encontro à . - , não percebe que isso arruinará sua carreira? O que vai fazer? - Colocou o dedão na boca e começou a mordê-lo; fazia isso quando estava nervoso ou a ponto de matar alguém. Nesse caso, os dois.
  - Eu não sei. - disse derrotada. - Tô aqui pra isso.
  - Tire! - Marcus saltou em direção à garota, ficando a poucos centímetros. - Não importa como, ou com o quê, simplesmente tire! - Parou, pensou e voltou a soltar as palavras rapidamente. - Não contou para o , contou? - Sua voz saiu esganiçada.
  Contar para estava fora de cogitação.
  - Não. - Negou veemente com a cabeça. - Nem vou contar. - Disse mais para si do que para Marcus.
  - Ótimo. - Pegou o celular. - Tem certeza disso, não tem? Posso te arranjar uma clínica para abortar, você que sabe.
   olhou-o assustada por um tempo, depois voltou a suas expressões normais. Negou com a cabeça, levantando-se da cadeira.
  - Vou a minha médica antes. Depois conversamos. - Saiu com o coração apertado da sala.

*

   abriu a porta espelhada, entrando no branquíssimo consultório médico. Do lado direito ficavam as poltronas, sofás e mesinhas de centro com revista de fofocas em cima; do lado esquerdo, a mesa das secretárias dividida em quatro partes, cada uma para uma secretária; logo mais a frente, um pequeno corredor que dava para o laboratório particular do consultório; uma escada levando para o segundo andar, onde tinham quatro portas.
  Ela olhou ao seu redor onde algumas recém mamães estavam sentadas junto aos maridos com uma criança no colo, outras estavam ainda grávidas, também, com os maridos. Por um momento, olhando essa cena familiar, sentiu-se estranha por não poder compartilhar essa felicidade com alguém.
  Tudo bem, ela nem sabia se estava grávida, nem queria o bebê, mas ela queria um dia poder dividir essa alegria com alguém que ela saiba que duraria. Não alguém como que, na primeira oportunidade, dorme com qualquer uma. Ela queria ser feliz.
  - Sente-se, Srta. Beltway. - A secretária simpática disse, depois de passar todas as informações necessárias. - A Sra. Greenley chamará quando possível.
  Lucille, estava lhe fazendo um grande favor. Ela ligara mais cedo pedindo um horário, que logicamente não tinha, já que Greenley é uma das ginecologistas mais procuradas, mas ela cedeu-lhe uma consulta. Nesse momento agradecia aos céus, por ser amiga há anos da Lucille.
   sentou-se numa das poltronas, mais afastadas da visão familiar e pegou uma revista em mãos. Sempre passava longe de revistas de fofocas, mas era a única coisa que eles tinham na mesa.
  Pegou-a na mão e começou a folhear. Nada lhe interessava realmente. Estava muito nervosa para sequer pensar em criticar o imbecil que escrevera aquelas fofocas inúteis.
  Antes de querer jogar a revista fora, uma imagem chamou sua atenção.
   estava num dos meets da banda, com uma criança no colo. O garotinho sorria como se aquele fosse o dia mais feliz da vida dele; devia ter no mínimo 6 anos. Segurava uma camiseta da banda, muito maior que ele, com os autógrafos.
  De repente, viu uma cena que ela nunca pensaria. Viu ela e juntos, andando de mãos dadas e uma criança no colo dele; um menino. A versão em miniatura dele. E, por um momento, sentiu-se feliz com essa imagem em mente.
  - Srta. Beltway. - A secretária levantou-se da mesa. foi em sua direção. Pegou uma prancheta que ela lhe estendia. - Pode entrar na sala, Sra. Greenley está te esperando.
  Aqueles pensamentos estranhos e felizes sumiram de sua mente em dois segundos; da mesma maneira que veio, foi-se rapidamente. Subiu as escadas morrendo de nervosismo.
  A porta estava entreaberta, deu duas batidas entrando em seguida. Lucille estava sentada em sua cadeira de costume, com um sorriso brincalhão em seus lábios. Ela sabia porque estava lá.
  - Sabia que uma hora ou outra estaria aqui, . - Lucille sorriu ainda mais.
  - E você sabia que não eram exames de rotina, porque...? - decidiu entrar na brincadeira da médica.
  Não estava no pique para brincadeiras, não estava com pique nenhum. Mas Lucille sempre fora um amor, e ela queria ser também.
  - Porque você queria tudo pra hoje! - Sorriu esperta. - Suspeitas de gravidez? - Perguntou séria, mas com o ar amigável de sempre. confirmou com a cabeça. - Faremos exames de sangue e veremos o que vai dar, tudo bem?
   mordeu o lábio inferior.
  Ela estava com medo. Medo de confirmar que estava grávida. Medo da reação das pessoas. Medo da própria reação.
  Mas ela não ficaria com o bebê. Teria mesmo que ter tanto medo assim?
  - Vai mesmo abortar se estiver grávida? - Greenley perguntou em meio ao um suspiro, derrotada. Ela conhecia muito bem.
  A garota não ousou olhar nos olhos da antiga amiga, simplesmente confirmou com a cabeça.
  - Pegarei as agulhas e faremos o exame. Como você é você - Disse secamente. -, passarei na frente das outras mulheres. - Levantou-se e entrou em outra sala.
  Lucille não disse mais nada depois que voltou. podia sentir o desapontamento de Greenley sobre si, mas não disse nada. Nada que dissesse faria Lucille entender o seu ponto de vista. Mesmo que nem ela entendesse direito.
  Não demorou mais de dez minutos e ela já estava na rua novamente. Lucille ligaria até, no máximo, seis horas e confirmaria ou não as suspeitas de .
  Entrou no carro ligando o rádio em seguida. Lógico que seu amigo lá de cima estava querendo brincar com a sua cara; Therapy começou a tocar escandalosamente. Esquecera que o CD estava lá dentro. Desligou o rádio em seguida e começou a prestar atenção no trânsito.
  Logo percebeu que com todo o que havia acontecido nos últimos dias, ela esqueceu por um bom tempo. Ele não estava mais grudado em seu pensamento vinte e quatro horas por dia, obrigatoriamente.

Capítulo 3

  Marcus andava de um lado para o outro dentro do apartamento, com o dedão na boca. Ele estava nervoso e não conseguia parar de andar, o que já estava irritando e que de vez ou outra rolavam os olhos para o empresário quando ele resmungava alguma coisa.
  - Você vai tirar! - Marcus parou bem na frente de , encarando-a firmemente.
  Ele havia tirado o dedo da boca e agora mordia o lábio por dentro.
  - Ela não vai! - levantou irritada, ajoelhando-se de frente à amiga.
  Na tarde do dia anterior, Lucille ligara. "Você está realmente grávida. Não direi os parabéns, mas espero que faça algo de bom", ela disse secamente. sentiu-se culpada pela forma que ela falara, mas não conseguiu achar nenhuma maneira de se desculpar. E ela tentara.
  - . - chamou a sua atenção, que até então estava no vaso de flores em cima da mesinha do centro. desviou os olhos do enfeite e colocou-os nos olhos da amiga que estava abaixada em sua frente. - Você não pode fazer isso, não é certo. - Ela dizia pela milésima vez.
  - É sim! - Marcus sobresaltou-se e rapidamente sentou-se ao lado de , colocando sua mão em cima da dela. - É o mais certo a se fazer, pense bem, sua carreira depende disso. - Dizia desesperado.
  - CARREIRA? - berrou, assustando que estava meio absorta em tudo que eles falavam. - Se é assim que você julga estar fazendo a coisa certa, pela sua carreira, então eu sinto muito por ainda ser sua amiga. - Ela levantou-se revoltada, pegou sua bolsa no chão ao lado do sofá e virou-se um pouco ,encarando chorosa. - Só mais uma coisa: minha mãe estava tomando remédio para que eu morresse. Ela só parou porque meu irmão pediu uma irmã, e aqui estou eu hoje. O que você teria feito sem mim, ? - Fitou a amiga com os olhos cheios de lágrimas. - Agora eu peço à você: não faça isso!
   abaixou a cabeça triste. Tudo estava tão confuso.
   suspirou pesadamente, entendendo que sua amiga faria independente do que ela falasse, e saiu batendo a porta atrás de si.
  - É a coisa certa. - Marcus disse, fazendo um leve carinho em sua mão. - Um filho seria a pior coisa agora.
  - Vai embora. - disse pela primeira vez depois que seu agente e sua amiga entraram no seu apartamento. Sua voz estava rouca e saiu muito baixa. - Preciso ficar sozinha. - Completou vendo que Marcus não cederia.
  Ele ficou alguns segundos em silêncio e levantou-se saindo de lá, deixando a garota com seus pensamentos.
  Assim que Marcus saiu, deitou-se no sofá encarando a tv desligada. Sua consciência estava pesada, não sabia o que era o certo a fazer. Sua melhor amiga e Lucille estavam bravas com ela, Marcus não ajudava quando dizia que tudo era pela sua carreira.
  Suspirou cansada, amaldiçoando por colocar sua vida de cabeça para baixo todas as vezes em que ele aparecia. Sentiu os olhos enchendo de lágrimas novamente e virou-se de barriga para baixo enfiando o rosto numa das almofadas, abafando um grito e vários soluços seguidos, que estavam presos em sua garganta.

*

  - Isso é péssimo. - Seu pai dizia pela terceira vez, em cinco segundos. - Como foi acontecer? - Encarou a mais nova em sua frente.
  - Quer que eu explique? - disse com um sorriso divertido. Não estava achando a mínima graça, mas precisava quebrar a tenção que instalara na sala.
  - Não! - Duncan disse rapidamente, tirando uma risada gostosa de . - Isso eu sei como foi acontecer - Disse fazendo uma careta enojada. -, quero saber como foi que você deixou Marcus tomar controle da sua vida. - Perguntou ficando sério.
  Algumas boas horas depois que Marcus e saíram de sua casa, ligou para o pai chamando-o para jantar. Pediu para a cozinheira fazer algo gostoso, e que não a enjoa-se e contou as últimas notícias para o mais velho.
  - Não sei, ele é meu agente. - Encolheu os ombros.
  Não havia percebido, até então, como Marcus estava tomando controle de sua vida sem ao menos que ela quisesse. Saiu de casa para seguir sua carreira e tornar-se independente. Agora dependia de alguém como ele para cuidar de sua vida. Incrível como a vida dá voltas.
  - O pai? - Apontou para a barriga de com um mini tomate preso ao garfo. - É o , não é?
  - É. - Disse seca.
  - Eu li em algum lugar sobre o término do namoro. - Disse comendo o pequeno tomate. - Não quero saber. - Disse quando ameaçou contar. - Mas ele é o pai, merece saber.
  Ótimo! Seu pai a faria contar à única pessoa que ela tinha medo de contar. Tudo o que ela mais precisava nesse momento.
  - Não tô afim. - Disse emburada, cruzando os braços sobre o peito. Parecia uma criança mimada.

Capítulo 4

  Quatro dias atrás

   sentiu o carro diminuir a velocidade e parar completamente, desviando sua atenção do livro em suas mãos para a entrada do hotel que ficaria por cinco dias. Foi o máximo que conseguiu com Marcus.
  Ela já estava de férias não declaradas, mas preferiu ficar em casa para descansar ao invés de ir para um dos lugares mais bonitos do mundo. Desperdício.
  Um dos funcionários do hotel abriu sua porta, obrigando-a a descer. Olhou em volta respirando ao ar puro da praia.
  Depois de pegar o cartão do seu quarto e da devida instalação, sentou na pequena varanda só para admirar a beleza do lugar. As coisas não poderiam estar melhores.
  Não, poderiam! Ela poderia estar com e não ter descoberto que estava grávida. Ou que descobrisse, mas que fosse tarde demais para um aborto.
  Decidida a não pensar sobre o assunto mais, pelo menos não naquele momento, arrumou suas coisas (livro, iPod, protetor solar e outras cositas más) e foi em direção ao pequeno paraíso do hotel: a piscina.
  Sentou numa das espreguiçadeiras, com seu fone e seu livros apostos, pronta para relaxar ouvindo a bela voz de M. Shadow e lendo um romance bobo. Sem contar a bela vista que tinha do lugar onde estava: a praia perfeitamente azul e branca em sua frente, o céu perfeitamente colorido pelo sol que se punha no horizonte.
  Sua alegria realmente durou, até sentir alguns - vários - pingos em sua perna. Abaixou o livro, marcando a página antes, e tirou os fones violentamente do ouvido, pronta para xingar o desgraçado que acabara com seu momento de prazer.
  Quando conseguiu achar quem fizera o favor de molhá-la, seus olhos focalizaram dentro da piscina com um sorriso sacana no rosto, apoiando a cabeça nos braços que estavam na borda da piscina. Seus cabelos estavam molhados pelo pulo e seu sorriso crescia cada vez mais. Irritando imensamente.
  Ele sabia desse poder que tinha sobre ela. Irritá-la era sua forma favorita de dizer que estava por perto e que era para ela notar sua presença. Ele sempre conseguia as duas coisas: que o notasse e que ela ficasse irritada com ele.
  - ! - Ouviu a voz de , fingindo espanto. - Não sabia que tava aqui.
   sorriu amarelo (depois de se recuperar do susto de vê-lo ali, não esperava por isso), pegou o short jeans que estava em cima da bolsa de praia, vestindo-o apressada; jogou o livro e o iPod na bolsa de qualquer jeito e vestiu a rasteirinha do lado da cadeira, levantando-se rapidamente.
  Realmente não queria te-lo encontrado. Mas como estavam ali, faria o máximo para evitá-lo. Nisso ela sabia que era boa, sempre fora.
  Ouviu o barulho da água e logo em seguida , completamente molhado, a segurava pelo braço.
  - Me larga. - Esbravejou entre dentes. - Agora! - Virou o rosto levemente, para mostrar que falava sério. Lançando um dos seus piores olhares para ele: sobrancelhas arqueadas, feições inexpressivas, olhos firmes nos dele e o pé batendo freneticamente no chão.
  - Ei, que bicho te mordeu? - Soltou o braço da garota, indo para sua frente. - To aqui em missão de paz. - Sorriu galanteador, erguendo as duas mãos para o alto, como se estivesse se rendendo.
   não conteve um sorriso irônico.
  - Não quero falar com você. Licença. - Deu a volta em que parecia que não mexeria um músculo sequer.
  - Seu pai me ligou. - Ele disse e ela paralisou. - Disse pra eu vir resolver as coisas. - Ela virou vendo-o coçando a nuca.
  - Ele o que...? - Perguntou ficando levemente vermelha. Raiva.
  - Ligou. - Encolheu os ombros. - Achei que você tivesse pedido, por isso eu vim.
   suspirou pesadamente várias vezes tentando não colocar seus dedos no lindo pescoço de e afogá-lo ali. Tentando não deixar que a raiva falasse mais alto que tudo.
  No momento a única coisa que queria era matar que estava em sua frente olhando-a com uma sobrancelha arqueada e em seguida pegar um avião de volta para casa e matar seu lindo pai.
  Seu pai havia armado para ela. Toda aquela história de "você precisa de umas férias e etc" era tudo uma baita de uma mentira. Como não percebera antes de embarcar no avião? Era muito estúpida por cair em mais uma armadinha de seu pai.
  Suspirou uma última vez e olhou-o profundamente nos olhos.
  - Me encontre pra jantar hoje, às oito. Vou te contar uma coisa. - Disse decidida e deu as costas a subindo para seu quarto.

  Depois de andar horas e horas por seu quarto, pensando num bom modo de dar a notícia a e imaginar as várias formas que ele reagiria à notícia, terminou de se vestir.
  Havia mandando um dos funcionários do hotel ligar para e lembrar que a janta estava marcada para às oito, sabia que ele esqueceria do horário. Não queria ter que falar com ele, poderia desistir a qualquer momento de todo o discurso que ensaiara a tarde inteira.
  Ela vestia um vestido tomara que caia branco, com algumas flores pretas espalhadas, um fino laço preso abaixo dos seios e uma rasteirinha preta. A franja presa com uma presilha e a maquiagem praticamente nula, apenas os olhos mais marcados.
   desceu pelo elevador analisando todas as possibilidades de como ele poderia reagir à notícia e isso estava assustando-a cada vez mais; iria quebrar seus dedos se continuasse a tentar estralá-los a cada dois segundos. Um péssimo hábito.
  Seu cérebro não parava um segundo sequer pensando em todas as possibilidades que esse jantar poderia tomar. Como poderia reagir, como ela reagiria ao dar a notícia, como as coisas seriam depois disso... Milhares de coisas. simplesmente não conseguia parar de pensar em tudo!
  Chegou ao restaurante avistando-o numa mesa do lado de fora, numa linda sacada que ficava de frente para o mar.
   reparou o quanto ele estava impaciente enquanto a esperava; as pernas de não paravam quietas um segundo sequer, demonstrando que ele estava nervoso.
  Assim como ela que estralava os dedos a todo segundo.
   não pretendia ficar mais que quinze minutos. Dar a notícia, esperar uma resposta (seja ela positiva ou negativa) e dar o fora dali o mais rápido possível. Além disso, suas malas já estavam prontas e sua passagem para o avião das dez estava mais que perfeita em cima do criado mudo.
  Ela sumiria da vida de a partir daquele momento. Para sempre.
  - Finalmente. - Ele disse assim que passou pela porta da sacada. - Tá linda. - Sorriu sincero.
  Ela devolveu o sorriso, sentando-se em sua frente.
  Estalou um silêncio entre eles enquanto tomava coragem para contar a novidade bombástica a ele. Nunca achou que estaria pronta para esse momento, mas pensou que as várias horas ensaiando o discurso poderiam ser úteis de alguma forma. Ledo engano.
  Ela limpou a garganta quando sentiu que ele não falaria nada.
  - Vou te falar uma coisa, então escute bem. - Disse calma.
  Calma. Era uma coisa que ela não tinha. Poderia parecer calma por fora, mas por dentro parecia um vulcão em erupção de tanto nervosismo. Não acreditava que estava conseguindo dizer aquilo tão calmamente.
  - Estou grávida. - Prendeu a respiração esperando uma reação.
  Agora não tinha mais volta. Já tinha falado tudo, escutaria o que ele diria, mas não levaria em conta qualquer que fosse a resposta; sua decisão estava tomada: ela tiraria a criança. Seja qual fosse a resposta.
  Na prática era fácil. Ela estava quase morrendo por dentro vendo as feições espantadas de .
  - O quê? - perguntou com a voz quase nula. - Não... não é possível. - Disse desconcertado. - Você vai abortar, não vai?
  Era tudo que ela precisava ouvir.
  Ela não esperava que ele fosse aceitar aquilo numa boa, pedi-la em casamento e formarem uma família feliz. Por mais que desejasse que isso acontecesse um dia, ela sabia que não era essa pessoa; ele nunca faria isso dar certo para eles.
  - Desculpa - A voz de interrompeu os pensamentos de . -, mas você é modelo e eu sou músico. Não daria certo um bebê agora. - Disse simplesmente. - Eu prefiro que você aborte. Não seremos bons pais.
   concordou silenciosamente. Ainda abalada por ter que ouvir aquilo.
  - Já decidiram por mim. - Ela disse. - E você acabou de confirmar o que disseram. - Levantou-se. - Boa sorte com a banda, eu já vou.
  Deixou o restaurante contendo as lágrimas. Não queria mais chorar por ele, não queria mais sofrer por causa disso.
  Afinal, ela não esperava que ele realmente fosse aceitar o fato dela estar grávida dele e simplesmente assumir a criança. Mas esperava que ele...   Sei lá, fosse entende-la melhor.
  No fundo ela esperava ouvir isso dele e, agora que confirmara suas expectativas, não restava duvidas de que o certo a fazer era abortar.
  Subiu para o quarto pegar suas coisas e ir para o aeroporto o mais rápido possível. Sua viagem que era para ter sido cinco dias não durara nem dois. Grande bosta ter tido essa ideia.

Capítulo 5

  Um dias atrás

"Loathing self-assassination you've been lied to just to rape you of your site and now they have the nerve to tell you how to feel"

   conseguiu ouvir a porta sendo aberta drasticamente, fazendo um enorme barulho, conseguiu ouvir vozes gritando consigo. A voz era muito fina para ser Marcus ou seu pai. Só poderia ser , tendo mais um dos seus ataques. Mas todo esse estardalhaço parecia tão distante de tudo, distante do seu sonho...
  - ! - Sentiu duas mãos agarrando seus ombros e balançando violentamente. - Levanta! Você está sem dar sinal de vida há dois dias, anda! - Ouvia a voz gritando e via o que parecia tão real em sua frente sumir lentamente. Tudo que conseguia ver agora era o preto.
  Ouvi abrir as cortinas e o Sol queimar seus olhos - mesmo estando fechados -, colocou a cabeça dentro do edredom que a cobria. Resmungou algo para e esta bufou, batendo o pé fortemente enquanto andava pelo quarto.
  Sentiu alguma coisa macia ser jogada em cima de seu corpo e ouviu bufar novamente.
  - Banho, ! - Foi a última coisa que ouviu antes da porta bater fortemente.

  Teria que conversar com sobre essa mania de bater porta a toda hora, urgentemente.
   havia passado os últimos dois dias na cama. Chorando e dormindo. Só comeu alguma coisa porque alguém deixara algo em cima de sua cama (alguma das empregadas talvez), se não fosse por isso não teria comido absolutamente nada nesses dois dias.
   tirou o edredom de cima da cabeça, ainda não acostumada com os raios do Sol. Foi andando com os olhos fechados até o banheiro, ligando o chuveiro, tirando a roupa - que acabara de reparar não havia trocado desde o dia que voltara da viagem - e se enfiando debaixo da água quente. Encostou sua cabeça na parede do banheiro, enquanto a água caia lentamente por suas costas e ficou assim durante uns dez minutos, depois disso ela resolveu tomar um banho de verdade.
  Alguns minutos depois estava na sala, sentada ao lado de e comia alguma coisa que a amiga preparara para ela.
  - Ele mandou eu abortar, . - Disse abruptamente, com a voz embargada.
  Novamente chorava por algo que envolvia , mesmo tendo prometido que nunca mais faria isso em toda sua vida.
  - Ele disse exatamente: "eu prefiro que você aborte, não seremos bons pais". - Imitou a voz de tirando uma risada abafada da amiga.
  - Eu sinto tanto, . - virou-se de frente para , mexendo em uma mecha do seu cabelo, tirando da frente do rosto. - Mas o que você queria que ele falasse, amiga? - Encostou a cabeça no encosto do sofá, olhando com dó para que fixava o nada em sua frente. Pensando numa resposta para a pergunta.
  - Eu não sei! - Falou frustrada, sentindo mais lágrimas caindo de seus olhos. - Sei lá, mas... Ah! - riu sem humor.
   estava preocupada com . Nunca tinha visto a garota naquele estado deplorável. Nunca, em todos os anos da amizade delas, ela ficara tão mau por causa de um garoto.
  - E o que você vai fazer? - perguntou.
  - O que todos mandaram.
  E a sala caiu em um silêncio profundo.
   não protestaria, apesar de ser contra a decisão de todos, mas sabia que estava sendo difícil para tomar essa decisão.
   não pediria que fosse com ela, sabia que ela não ter falado nada sobre a decisão já era um grande progresso, não abusaria da amizade de .
  E com esse silêncio entre pensamentos, as duas sabiam que poderiam contar com a amizade delas. As duas sabiam que não importa no que pensassem, no que acreditassem, sempre estariam ali, uma pela outra e as duas contra o mundo. Ou nem tanto assim, mas sabia quem poderiam contar uma com a outra.

*

   tivera que voltar a vida normal, deixando sozinha em sua casa com seus próprios pensamentos perturbados. confiava que não faria nada que fosse se arrepender depois. Pelo menos até o dia seguinte, por isso deixara ela sozinha. Mas depois de amanhã, ela não saberia como lidar com toda a situação. Só esperava que tudo desse certo, apesar dos pesares.
   estava sentada na frente da televisão, assistindo alguma série policial que passava. Seus olhos estavam vidrados na tevê, mas sua mente estava viajando em como seria o dia de amanhã. E, sem que percebesse, sua mão estava depositada levemente sob sua barriga. Esperando alguma reação. Não teria, logicamente, mas era um movimento impensado.
  - Você poderia me ajudar, sabe. - Disse olhando para a barriga coberta pela camiseta do Green Day. - Um sinal, um sonho, alguma coisa. Qualquer coisa! - Revoltou-se, tirando a mão de cima da barriga e jogando a cabeça para trás.
  Levantou, desligou a tevê manualmente porque não achava o controle e foi para o quarto, jogando seu corpo drasticamente sobre a cama.
  - Sei lá bebê, mas você poderia dizer algo, fazer algo, pra que eu soubesse que você quer nascer. - Suspirou enterrando o rosto no travesseiro mais próximo. - Eu não queria te tirar, mas o Marcus não te quer. O ... A única pessoa que tem que te querer mais do que eu está tão preocupada com a carreira quanto meu agente. - Sentiu algumas lágrimas molharem o tecido. - Eu não consigo ser ao menos forte para parar de chorar e tomar decisões por contra própria, quanto mais ter um filho. - Soluçou alto.
   estava com medo, isso era inegável. Queria o bebê, mas parece que era a única em toda a face da Terra. Seu pai e poderiam até querer também, mas sabia que não era da mesma forma que ela.
  E ela queria que tivesse dito algo como "não se preocupe, estou aqui. Te ajudarei, você sabe disso". Finalmente conseguira a resposta para a pergunta de . Mas ao invés de ficar do lado de , ele concordou com Marcus.
   não podia acreditar no que todos diziam a ela.
  - Desculpa, querido. - A voz de invadiu o silêncio que ficara no quarto. - Mas é o melhor para nós dois.   Virou para o lado, encarando o mural de fotos que tinha preso em sua parede desde que se mudara para o apartamento e adormeceu rapidamente.
  Seus sonhos foram assombrados por sua mãe e um bebê. Não um bebê qualquer, ela sabia que era o seu filho; e conforme o sonho passava ela o via crescer. Mas nada além disso. No final do sonho, apenas um frasco transparente com um feto dentro. Morto. Ela sabia, de alguma forma, que era ele.
  Quando sentiu os primeiros raios solares queimarem seus olhos, acordou assustada.
  O pior dia de sua vida chegara. E ela não estava pronta para isso. Nunca achou que estivesse, de qualquer forma.
  Passou a mão pela barriga inexistente, murmurando "desculpe" repetidas vezes. Depois, disse finalmente, numa voz que ela mau escutara: "é o melhor para nós dois".

Capítulo 6

"São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.? - Harry Potter

   tomou um banho demorado. Tudo que ela passara na última semana rondava sua cabeça várias e várias vezes. Essa fora a pior semana de toda sua vida e este era o pior dia.
  Terminou de se vestir e foi até a cozinha, onde o café da manhã estava preparado. Tomou um gole do suco de laranja e sentiu seu estômago dar várias voltas seguidas. Deixou a mesa enjoada demais para comer qualquer coisa, voltando para seu quarto.
  O celular tocou, revelando uma mensagem de Marcus. "10 horas em ponto. Não vá se atrasar.", olhou o relógio no criado mudo, revelando 8:47.
  Foi até o banheiro para terminar de se arrumar e ficar até às nove e meia assistindo algum desenho infantil. Prendeu seu cabelo num rabo de cavalo alto e resolveu não passar nenhuma maquiagem. Não estava disposta a passar quinze minutos para colocar diversos produtos em seu rosto e depois chorar até que tudo saísse.
  Pegou o celular que jogara na cama, mandando uma resposta a Marcus. Depois mandou uma mensagem para : "Tenho que estar lá às 10, quando eu chegar te ligo." e foi para sala, assistir os desenhos.
  Uma das empregadas veio lhe trazer algo para comer, mas recusou e dispensou todos os empregados. Não queria ninguém em casa a hora que ela voltasse. Não queria que ninguém além de visse seu estado deplorável.
  Enquanto esperava o tempo passar na frente da tevê, sentia seus olhos cansados por causa de mau noite mau dormida tentando se fechar, mas o desespero por novos pesadelos a impediam de fechá-los por completo.
  E o peso em sua consciência impedia que ela fechasse os olhos, assim como na noite anterior. Ela estava com medo de como Lucille poderia agir depois, mas saber que estava do seu lado novamente a tranquilizava.
  Olhou para o celular, vendo que marcava nove e vinte e dois. Seu coração deu um pulo em seu peito e ela conseguia senti-lo em todos os cantos do seu corpo; cada batida era dolorosa demais para ser suportada.
   entrou no carro ligando o rádio em seguida. Ela precisava se distrair do que estava prestes a acontecer. Mas cantarolar músicas que tocavam na rádio não estavam ajudando em nada, só deixando-a mais nervosa.
  A única coisa que se passava por sua cabeça era que tudo isso era um grande erro.
  Estacionou seu carro ao lado do consultório, vinte minutos depois. Seu celular tocou revelando outra mensagem de Marcus: "Não comente isso com ninguém, é segredo absoluto.?.
  Lógico, porque ela sairia se gabando em todas as entrevistas de agora em diante que fizera um aborto recentemente. "Olá, meu nome é , sou uma das modelos mais bem pagas em todo o mundo e recentemente fiz um aborto." Seria algo extraordinário em uma entrevista, huh?
   jogou o celular de volta na bolsa, antes que mandasse seu a gente à merda e suspirou profundamente tomando coragem para entrar no consultório.
  Um nó se formou em sua garganta quando abriu a porta e cada passo que dava, o nó apertava mais e mais. Seria capaz de ficar um bom tempo sem falar depois disso.
  Assim que abriu a porta, reparou em cada detalhe do lugar: era muito bem iluminado e perfeitamente branco, todos os detalhes eram brancos; parede, cadeiras, a mesa da recepção... tudo! Avistou algumas mulheres sentadas nas poltronas; algumas assistindo a algum programa feminino, outras lendo revistas de fofocas, algumas cuidado de seus recém nascidos.
  Mas logo sua atenção foi tirada por uma das recepcionistas. Uma morena baixinha, com cabelos extremamente curtos, roupas brancas assim como todos os outros detalhes do lugar. Ela não dirigiu uma palavra sequer à , simplesmente fez um movimento com a cabeça, mandando-a segui-la.
   assim o fez sendo levada até uma outra sala de espera. Essa sala, só possuíam quatro poltronas de couro preto, uma estante branca com café, água e derivados para os clientes, uma tevê enorme estava presa à parede mais ao fundo e uma única porta que indicava o banheiro.
   esperou (im)pacientemente por vinte minutos, enquanto olhava algumas revistas de fofocas que estavam ao seu alcance. A enfermeira adentrou novamente na sala.
  - Sua sala está sendo preparada nesse instante. Terá que aguardar mais alguns minutos. - E saiu sem dizer mais nada.
   afundou-se na poltrona, batendo um dos pés freneticamente no chão e seus dedos batiam no braço da poltrona inquietos. Ela mordia o lábio por dentro o tempo inteiro, demonstrando que estava angustiada.
  Dois minutos depois a enfermeira entrou na sala novamente. começou a se levantar, pronta para ser levada à sala, antes que mudasse de ideia, mas a enfermeira fez um gesto com as mãos mandando-a sentar novamente.
  - Este senhor quer falar com a senhorita. - E saiu da sala.
  Enquanto a recepcionista saia, viu entrando na sala.
   arregalou os olhos e sua boca fez um perfeito "O". riu sem humor pelas feições de .
  - O que você ta fazendo aqui? - não conseguia se mexer por causa do susto de vê-lo ali, e estava começando a sentir cada parte do seu corpo ficar extremamente irritada por ele estar ali.
  Simplesmente não era justo o que ele estava fazendo.
  - Um pedido. - coçou a nuca um pouco sem graça. - Na verdade, dois pedidos. - Concertou a si mesmo.
   encarava com uma expressão indecifrável em seu rosto. O que ela mais queria era que a recepcionista aparecesse o mais rápido possível e a tirasse dali.
  - Eu não quero saber.
  - Ok, aqui vai: - fingiu não ouvir . - o primeiro pedido... - Ele começou. - Não fala nada até eu terminar, ok? Bom, eu queria pedir pra você não fazer isso. - Apontou com o dedão para trás.
   se assustou com o primeiro pedido. Isso não estava nos planos dela e, muito menos, nos dele, já que ele havia pedido para ela fazer isso.
  Ela não estava entendendo mais nada.
  - Mudei de ideia. - Ele disse, pelas expressões de . - O segundo pedido... Não me mate - Sorriu sem graça -, mas eu... hum, queria... bom, te pedir em casamento.
   segurou o ar enquanto ajoelhava em sua frente e segurava uma caixinha azul, em suas mãos tremulas.
   não conseguia pensar em nada. Suas pernas tremiam, seu coração estava batendo extremamente forte e sentia suas mãos suando.
  Ela lembrou de tudo que a fez passar em todos os anos que eles estiveram juntos (mesmo o relacionamento sendo um vai-e-vem), mas também lembrou de como ele e somente ele a fazia se sentir única.
   não conseguia distinguir o que se passava na mente de . Sua expressão estava fazia.
  Mas quando ela mordeu o lábio por dentro, ele soube que ela confiava dele e que isso era quase como se ela estivesse aceitando o pedido de casamento.
  Ele levantou, vendo que ela não faria nenhum movimento.
  - Desculpa por ser um idiota. - Olhou fundo nos olhos de .
  Algumas lágrimas estavam se formando nos olhos da garota. abraçou delicadamente, dizendo "desculpas" várias vezes seguidas por tudo. concordava com a cabeça todas as vezes.
   afastou e deu-lhe um beijo delicado. Como nunca fizera antes. Um pedido de desculpas mudo, dessa vez, por tudo que fizera, principalmente nessa semana.

FIM



Comentários da autora

A  ntes de mais nada queria agradecer a Lu e a Manu por tudo, tudo mesmo. Sou eternamente grata à vocês duas. <3 E, lógico, à todas que leram; Natashia e Luanna por betarem e cuidarem tão bem do meu bebê, obrigada de coração :3

  É isso, espero que tenham gostado.

  xx Mel