Amizade Não Se Explica

Escrito por Valentine Dellacour | Revisado por Mary (até capítulo 05) | Angel
Nova revisão por Natashia Kitamura

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Capítulo 1 - A Chegada

  Meu nome é Valentina Bittencourt, mas pode me chamar de Nina. Tenho 17 anos, 1.75 de altura, cabelos castanhos cacheados que chegam até a altura dos seios e olhos azuis; nasci em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mas fui bem pequena para o Rio de Janeiro. Meu pai é engenheiro civil e foi chamado para trabalhar na Odebrecht, empresa que financia a construção de um estádio; sendo assim, nos mudamos pra Curicica, eu, meus pais e meu irmão gêmeo, Guilherme. Tivemos uma infância tranquila, brincamos bastante, caímos, nos machucamos, viajamos e aproveitamos do jeito que uma criança deve aproveitar.
  Conforme fomos crescendo, fomos descobrindo no que éramos bons. Meu irmão sempre teve jeito para música; desde pequeno aprendeu a tocar violão e guitarra, e no início da adolescência começou a fazer aulas de canto. Já eu tinha mais facilidade com os números; resolvia equações rapidamente, fazia diversas contas mentalmente e minhas maiores notas eram em matemática, matéria que a minha mãe leciona; também aprendi a cozinhar e fazia alguns doces pra vender na escola, como forma de ganhar um dinheirinho pra comprar minhas coisas.
  Até o ano passado, estudamos no Colégio Dom Pedro II, onde vinha estudando com afinco e me preparando para ingressar em uma universidade fora do país. Entretanto, esse ano fomos obrigados a nos mudar do Rio para Canela, também no Rio Grande do Sul. Minha mãe recebeu uma proposta pra lecionar no Colégio Marista Maria Imaculada e como o meu pai já aposentou, ela não hesitou em aceitar. Assim, nos mudamos. Melhor pra mim, já que nesse colégio eu vou poder dar continuidade aos meus estudos e preparação para ingressar em Harvard, nos Estados Unidos.
  O lado ruim de ter que se mudar no último ano do Ensino Médio foi ter que deixar os amigos que fizemos ao longo desse tempo no Rio. Não vou dizer que essa ideia me agradou muito; ter que deixar a Maya e a Fernanda, que são minhas melhores amigas, para encarar uma nova escola, onde a única pessoa que eu conheço tem a minha cara, não é legal. O Gui também teve que abrir mão dos amigos e da banda de rock, chamada Perdidos na Noite, que ele tinha com o Nelsinho, o Jordan e o Leônidas. Com a nossa mudança, o César, mais conhecido como Piolho, assumiu os vocais no lugar dele.
  Enfim, chegamos a Canela no meio de janeiro e duas semanas depois já estávamos totalmente estabelecidos. Nossa casa ficava a uns dez minutos do colégio, andando a pé, e tinha três quartos. A decoração era bem simples: paredes brancas, pisos e móveis de madeira, uma lareira na sala, para os dias mais frios, e uma piscina no quintal, para os dias mais quentes. No colégio, precisamos passar por uma entrevista pra conseguir fazer a matrícula, mas foi tranquilo.
  Hoje é o primeiro dia de aula e eu tô bem nervosa; estudei a vida inteira no mesmo colégio e nunca precisei me adaptar assim, mas acho que vai dar tudo certo. Minha mãe me acordou por volta de 6h e fui tomar banho. Depois, vesti o uniforme, prendi o cabelo num rabo de cavalo, peguei a mochila e desci pra tomar café. Estavam todos reunidos em volta da mesa; meu pai lia o jornal, minha mãe terminava de comer uma torrada com geleia e o Gui preparava um copo de Nescau batido.
  - Bom dia. – disse, me sentando ao lado do meu pai e pegando um pão com queijo e presunto.
  - Bom dia, minha filha. Animada pro primeiro dia de aula? – meu pai perguntou.
  - Não, você sabe que eu não sou muito boa em fazer amizades, ainda mais quando eu não conheço ninguém.
  - Deixa de ser dramática, garota. Até parece que eu não vou estar com você. – Guilherme disse, sentando ao lado da minha mãe.
  - Você e nada é a mesma coisa. Vai chegar lá, se enturmar e esquecer que eu existo. – reclamei.
  - Crianças, parem de briga. Valentina, para com essa bobeira de achar que não vai fazer amizades. Você é uma menina inteligente, bonita, vai ter muitas amigas na escola nova. E Guilherme, nem pense em abandonar a sua irmã. Agora terminem logo esse café, se não chegaremos atrasados. – minha mãe disse, levando sua xícara até a pia da cozinha.
  Terminamos o café da manhã, escovamos os dentes e saímos. Como a escola é perto de casa, fomos a pé. Chegamos lá cerca de quinze minutos depois e a minha mãe foi direto pra sala dos professores; eu e Gui fomos orientados a ir até a secretaria, pra pegar os horários e saber onde será a nossa sala de aula. O prédio é antigo, tem três andares e várias salas. Também conta com uma quadra de esportes, onde são realizadas as aulas de educação física e atividades extraclasse, além de uma sala específica para o grêmio estudantil e a pastoral jovem. Enfim, já ia procurar a secretaria quando o Gui me puxou pelo braço.
  - Maninha, você bem que podia ir lá na secretaria enquanto eu vou achar nossa sala, hein?
  - E qual a lógica de você ir procurar a sala de aula se vai estar indicado no horário?
  - É que eu queria dar uma volta pelo colégio, analisar como são os alunos, essas coisas. – disse, dando um sorriso maroto.
  - Entendi. Quer ver como são as garotas, né?
  - Exatamente.
  - Mas a mãe disse pra você ficar comigo.
  - Ai Valentina, para de ser patética e vê se cresce. Imagina quando você tiver na faculdade, longe daqui? Eu não vou estar lá pra te ajudar não.
  - Ta bem, vou pegar o horário. Só fica com o celular na mão, pra eu te mandar uma mensagem avisando o número da sala.
  - Ok. – disse e se afastou.
  Fui em direção à secretaria e peguei os nossos horários, mandei uma mensagem para o Guilherme e me dirigi à sala de aula indicada no papel. A sala era a última do terceiro andar e havia vários grupinhos próximos à porta. Pra minha surpresa, encontrei o Gui conversando com uns garotos. Cheguei de mansinho e cutuquei o braço do meu irmão, o que ele odeia, diga-se de passagem. Quando ele percebeu que era eu, pediu licença aos meninos e se afastou comigo.
  - Que foi, Valentina? – perguntou, irritado.
  - Vim te entregar o seu horário, idiota. – disse.
  - Precisava interromper o meu papo com os caras? Não dava pra me entregar essa porra de papel dentro da sala?
  - Por que tá todo estressadinho? Só por que eu interrompi o papo com um bando de garotos?
  - Não. Acontece que eles têm uma banda e eu preciso entrar em uma.
  - Ah tá, e como você sabe disso? – perguntei.
  - Quando você foi para a secretaria, eu fui dar uma volta e vi quando eles chegaram, fazendo a maior algazarra, falando que esse era o último ano deles na escola e que tinham que ensaiar pra festa de aniversário de uma tal de Débora. Aí eu resolvi segui-los e eles foram parar na porta da sala. Decidi puxar papo e tava conversando com eles quando você chegou. Satisfeita?
  - Aham. – não tivemos tempo de continuar a conversa, já que a inspetora apareceu no corredor e todos foram obrigados a entrar.
  As primeiras aulas do dia foram de Matemática e não foi nenhuma surpresa ver que a minha mãe seria nossa professora. Ela se apresentou e fez com que todos os alunos se apresentassem também. Em seguida, cada um foi pra um lugar e a aula teve início. Meu irmão ficou perto dos novos amigos e eu acabei sentando ao lado de duas meninas, uma loira de olhos verdes e outra morena de cabelos lisos. As duas cochichavam com outras duas garotas, que estavam na fileira do canto, e eu acho que falavam sobre mim, já que de vez em quando me olhavam. “Calma, é só o primeiro dia de aula, muita coisa vai acontecer. E presta atenção à aula, suas notas têm que ser bem altas, ainda mais em matemática.”, pensei. Respirei fundo e voltei minha atenção ao exercício que minha mãe havia passado no quadro.
  Na hora do intervalo, as que me olhavam no inicio da aula resolveram puxar papo comigo.
  - Oi. Seu nome é Valentina, não é? – a loira de olhos verdes perguntou.
  - Sim. – disse, tímida.
  - Meu nome é Sofia, e essas são Alice, Luiza e Beatriz. – disse, apontando pra cada uma delas. A morena de cabelos lisos era a Alice, a ruiva de olhos verdes era a Beatriz e a negra de olhos castanhos era a Luiza.
  - Prazer. – disse, sorrindo.
  - Você entendeu alguma coisa da aula de matemática? Nós vimos você resolvendo os exercícios com uma rapidez. – Alice perguntou.
  - Sim, a minha mãe é a professora. – disse, rindo, e iniciamos um papo animado. Um tempo depois os meninos se aproximaram, eu fui apresentada a eles. No fim, já éramos uma grande turma.
  E assim o primeiro dia de aula passou. Entre conversas, risadas e muita diversão, tivemos as primeiras aulas no novo colégio. Ah, e eu me inscrevi no Grêmio Estudantil, pra contar pontos na hora de me inscrever nas universidades americanas e britânicas.



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