A Melhor Realidade

Escrito por Zã Nogueira | Revisado por Natashia Kitamura

Tamanho da fonte: |


  - Você tem certeza que vai ficar em casa? – me perguntou pela milésima vez enquanto colocava os sapatos.
  - Sim, eu tenho que terminar esse artigo para a primeira aula de segunda – Eu disse sem tirar os olhos da tela de meu computador.
  - , é sexta-feira! Você deveria deixar para fazer isso no domingo enquanto lida com uma ressaca como todo bom universitário nova-iorquino...
  - Não posso, eu meio que tenho planos para os próximos dias.
  - Ah, verdade! Esqueci completamente que os meninos estão vindo!
  - O show é amanhã, você vai não é?
  - Claro, de graça eu até esqueço o quão ruim eles são – Ela falou brincando enquanto acenava.
  Ouvi a porta bater e voltei a me concentrar em meu artigo.   No dia seguinte, chegamos ao show poucos momentos antes do All Time Low subir ao palco, graças ao trânsito caótico da cidade na hora do rush. Após o show, encontramos nossos amigos. Faziam alguns meses que não nos víamos, então foi bom abraçá-los, mesmo que suados e colocar o papo em dia. Eles falaram com alguns fãs na saída da casa de shows e eu a recebemos alguns olhares, mas já havíamos passado da fase de nos importamos com eles. Nós acompanhamos os garotos na van de volta ao hotel. Ainda no lobby, nos despedimos da equipe que estava determinada em tomar um banho e ir até o Pete’s Tavern, bar que ficava no mesmo quarteirão, para gastar as gorjetas acumuladas na turnê.
  - Apareçam em Baltimore, meninas – Rian disse ao nos abraçar, seguindo o fluxo em direção ao elevador em seguida. Acenamos de longe para Zack que parecia entretido demais com uma loira peituda para pensar em qualquer coisa além de chegar ao seu quarto.
  - Bom, nós adoraríamos nos juntar a vocês, mas infelizmente não podemos mais entrar lá – disse.
  - O que vocês fizeram? – Alex perguntou.
  - Como sempre, aprontou e eu me dei mal como efeito colateral – Eu disse.
  - Certo, porque fui eu quem invadiu o bar e deu cerveja de graça para o pessoal – falou – Eu só estava dançando no bar e talvez tenha derrubado uma garrafa de tequila, mas eu disse que ia pagar por ela!
  - E ai o seu cartão de crédito foi recusado, ou seja, não fez diferença nenhuma.
  - Eu pelo menos tive a intenção de pagar, você nem ao menos assumiu o seu crime.
  - Se matar a sede da classe trabalhadora dessa cidade é errado, eu não quero estar certa.
  - E eu achando que nós dois é que éramos as más influências por aqui – Jack disse – Certo, visto que vocês não foram barradas neste hotel, podemos ficar por aqui, aposto que o bar ainda está aberto.
  - Parece uma boa, porque vocês não começar e nós já vamos até lá? – Alex disse e Jack e deram de ombros, caminhando para o bar.
  - Alguma coisa errada? – Eu perguntei quando já estávamos a sós.
  - Ah, não – Ele sorriu – Só queria combinar as coisas para amanhã – Ele falou se referindo ao dia de folga dele, havíamos combinado de fazer alguma coisa.
  - E os meninos não vão conosco?
  - Pensei que poderíamos dar uma volta e conversar, faz tempo que não saímos só nós dois.
  - Ah, parece uma boa ideia – Eu sorri.
  - Bom, então eu passo em sua casa perto das onze, assim podemos almoçar juntos, o que acha?
  - Perfeito.
  - Certo, acho que deveríamos ir atrás daqueles dois antes que eles sequem o bar.   - Você está bem? – Eu disse ao aparecer na porta do quarto de na manhã seguinte. Ela estava realmente tentando fazer os trabalhos da faculdade enquanto se recuperava de uma ressaca.
  - Fora que no momento que consegui dormir, meu despertador tocou e que essa ressaca vai acabar me matando, sim, estou ótima. Lembre-me de nunca mais tomar shots de Jägermeister e de nunca acreditar no que o Barakat diz.
  - Ontem a noite não parecia que vocês estavam usando as bocas para conversar, então o que ele pode ter te falado?
  - Eu não estou sóbria o suficiente para ter essa conversa, – Ela disse colocando a mão nos olhos – Se é possível eu ainda estar bêbada.
  -Você que é a médica aqui, deveria saber essas coisas, não acha?
  - Pra mim ainda é um mistério como duas garotas como nós mantém uma vida social desse nível e uma vida estudantil em uma universidade de prestígio.
  - A minha maior dúvida nesse momento é o que vestir, na verdade.
  - Eu adoraria ajudar, mas não faço ideia do que uma pessoa deve usar em um não-encontro com o seu ex-namorado. Acho que depende das suas intenções.
  - Nós só vamos dar uma volta e conversar...
  - Isso é o que você diz – Ela falou e eu rolei os olhos, voltando para o meu quarto.   - Você está linda – Foi a primeira coisa que eu ouvi de Alex ao abrir a porta do minúsculo apartamento que morava com . Eu usava uma saia coral, uma regata branca, sapatilhas vermelhas e minha câmera fotográfica no ombro. Ele também estava vestido casualmente, uma regata da Glamour Kills, calça jeans escuras e vans vermelhos.
  - Obrigada, vejo que você até tomou banho, está querendo me impressionar?
  - Pois é, para você ver como é especial – Ele riu e então deu uma olhada no lugar – Não mudou muito por aqui...
  - Só mais bagunçado e alguns livros novos, sabe como é a vida universitária – Eu falei. Inúmeras foram as vezes que Alex fora me visitar naquele mesmo apartamento quando namorávamos, mas normalmente passávamos pouco tempo na sala.
  - Acho que nunca conseguiria ser um universitário.
  - Você iria se acostumar fácil com as festas em republicas e fatias de pizza por um dólar – Ele sorriu eu disse que podíamos ir, então deixamos o apartamento.   Hell’s Kitchen estava iluminada naquela manhã de domingo, o que combinava com o meu humor. Eu e Alex caminhávamos sem destino, passando pelos nossos lugares favoritos do que parecia ser uma vida passada.
  - Você pensa em nós?
  - Ás vezes – Admiti.
  - É, eu também.
  E então ficamos em silêncio. Imagina que assim como eu, ele estava ponderando cada aspecto que nos levara até aquele momento, onde éramos apenas amigos falando sobre o passado. Parei e peguei minha câmera e tirei uma foto de Alex bem no momento em que ele olhava sobre o ombro, provavelmente querendo saber o que eu fazia ali parada. Ele sorriu depois que a imagem foi registrada e esperou que eu o alcançasse, passando o braço pelo meu ombro.
  - Você gosta mesmo dessa cidade, não é? – Ele falou quando eu parei novamente, dessa vez para fotografar Nova York.
  - Confessor que no começo, tudo me assustava – Eu disse e ele tirou a câmera de minha mão, preparando-se para me fotografar – Nova York é mil vezes maior do que a minha cidade e eu sentia que seria engolida por essa selva de concreto, mas logo me acostumei... Não penso em sair daqui.
  - Eu sei – Ele disse estendendo a câmera de volta para mim.
  - Isso não teria mudado as coisas, Alex – Eu disse na defensiva. A distância entre nós fora um dos motivos que levou ao término do nosso relacionamento – Não é como se você passasse muito tempo em Baltimore de qualquer jeito.
  Ele apenas sorriu. E então eu sorri de volta. Havíamos tido aquela mesma conversa vezes demais para nosso próprio bem. Fizemos um pacto silencioso naquele momento, nada de falar sobre o que fomos e sim do que poderíamos ter sido.
  E falamos. Durante nossa caminhada, nosso almoço e além. Sobre os lugares que poderíamos ter visitado, as coisas que poderíamos ter feito, porém nesse mundo inventado, só havíamos nós dois e mais ninguém, nenhum trabalho, faculdade ou turnê, o único compromisso que tínhamos era um com o outro.
  - E você não deixaria a toalha molhada em cima da cama – Eu disse com ar sonhador enquanto tomávamos sorvete sentados a mesa na calçada, observando os táxis amarelos passarem.
  - Nem mesmo na mais perfeita das realidades alternativas eu me lembraria da toalha largada na cama – Ele falou rindo e eu o acompanhei, mas logo meu sorriso murchou. Realidade alternativa. Nada daquilo aconteceria, nós tínhamos o mundo real diante de nós como lembrete de que havíamos falhado.
  - E porque nunca mais apareceu em Baltimore? – Alex disse quebrando o silêncio - Mamãe sempre pergunta de você...
  - Cada vez era mais difícil – Eu disse encolhendo os ombros – Tanto ir como voltar.
  - Eu sentia que você estava tão perto, mas não perto o suficiente ao mesmo tempo. Faz sentido?
  - Claro que faz, era exatamente como eu me sentia – Eu disse largando minha colher dentro do pote vazio.
  Eu fiquei em silêncio novamente e Alex sorriu.
  - O que é tão engraçado, Gaskarth?
  - Eu sei por que eu me sentia assim, é porque eu ainda gostava de você. Imagino que se você sentia o mesmo, é porque também gostava de mim.
  - O tempo está começando a virar, acho que deveríamos voltar.
  - – Alex colocou a mão sobre as minhas mãos – Eu não sou mais o garoto que você conheceu.
  - Eu sei que não.
  - O que eu estou tentando dizer – Ele sorriu – Bom, é que eu ainda gosto você. De verdade. E eu acho que é idiota eu ficar fugindo disso quando eu sei o que eu preciso. Eu preciso de você. E eu sei que você sabe disso tudo, então achei que parar de fingir que somos apenas bons amigos seria uma boa, visto que eu não tenho interesse nenhum em ser apenas isso para você, exceto se você não me der outra opção. Então, se você puder ver você com outra pessoa, que não seja o – Ele completou ao me ver abrindo a boca – eu ficarei na minha e nunca mais trarei esse assunto à tona, mas se você não vê ninguém além de mim, como eu não vejo ninguém além de você, não vejo porque de não tentar mais uma vez.
  Eu apenas o olhava, sem saber exatamente o que pensar daquilo tudo, além de que ele gostava de mim.
  - Você não vai dizer nada? – Ele sorriu – Logo você?
  - Eu não vou deixar Nova York, e não posso deixar a faculdade em segundo plano para ficar viajando pelo mundo, e não vou ficar esperando por promessas que não vão ser cumpridas, e não quero me sentir culpada por não fazer mais do que eu posso – Eu disse me pondo de pé. Alex me acompanhou e nós nos dirigíamos de volta ao meu prédio.
  - Como eu disse, eu não sou mais um garoto, . Eu sei que nós dois temos vidas agitadas, mas também sei que vale a pena. Então vamos fazer tudo funcionar, você vai ver. Eu sei que não temos a chance de ter um primeiro começo novamente, mas podemos ter um recomeço ainda melhor e aprendermos com nossos erros. Podemos fazer da nossa a melhor das realidades.
  Eu sorri encarando as calçadas cinza da cidade. No fundo eu sabia que tudo aquilo era o que eu queria, ficar longe de Alex era péssimo. Mesmo quando brigávamos sem motivo, era com ele que eu queria brigar, e eu ficava feliz em saber que não havíamos perdido nossa chance de tentar mais uma vez.
  - Agora não somos mais garotos viajando numa van pelo país, eu posso pegar aviões onde estiver para vir te ver – Alex continuou listando os motivos pelos quais agora seria diferente – Eu sinto muito por ter levado tanto tempo para dizer o que eu realmente sentia, mas esses meses de afastamento foram necessários para que eu pudesse crescer e ter certeza que eu ia ser a pessoa que alguém como você merece ter ao seu lado.
  Alex falava e falava e eu apenas escutava, sorrindo sem parar enquanto ele dizia o quanto eu era importante para ele.
  - Eu até aprimorei minhas técnicas culinárias para não te deixar morrendo de fome – Ele falou orgulhoso – Ainda não sei cozinhar coisas propriamente falando, mas faço ótimos sanduiches!
  Então eu parei e ele deu mais alguns passos.
  - O que foi?
  - Chegamos – Eu falei indicando meu prédio com a cabeça. Estávamos tão distraídos que quase havíamos passado o edifício.
  - Ah – Ele fez um bico.
  - Eu tenho que entrar, ainda deixei algumas coisas para a aula amanhã pendentes.
  - Entendo – Ele disse colocando as mãos nos bolsos da calça jeans.
  - Bom, obrigada pelo almoço e tudo mais.
  - É isso, então?
  Senti as primeiras gotas de chuva tocando meu rosto e puxei Alex para a marquise do meu prédio.
  - Quer dizer que a chuva ainda te faz sorrir – Ele falou se aproximando de mim.
  - Eu não mudei tanto assim.
  - Que bom – Ele falou colocando as mãos em meu rosto. Aqueles momentos antes de nossos lábios se tocarem pareciam ter durado uma eternidade. Senti meu coração acelerar, borboletas na barriga e até um meio sorriso nos lábios, exatamente como na primeira vez em que ele me beijou, anos atrás. Quando o beijo de fato ocorreu, eu notei que aquilo era a coisa certa a se fazer, que era ele quem conseguia mexer comigo daquele jeito e que ninguém conseguiria substituir aquilo.
  Continuamos a nos beijar enquanto a chuva caia, somente quando um morador nos interrompeu, pois impedíamos a sua passagem é que nos separamos. Entramos no lobby do prédio e Alex tinha um sorriso tão grande quanto o meu.
  - Eu realmente tenho que ir – Eu falei.
  - Certo... Só para deixar claro, você é minha namorada, não é?
  - Da primeira vez você foi mais romântico ao fazer o pedido – Eu disse brincando.
  - Ah, desculpe – Ele disse ajeitando o cabelo – , você quer ser minha namorada? De novo?
  - É, vou fazer esse sacrifício – Eu disse fazendo careta e voltando a beija-lo.   Me joguei em minha cama e sorri. Minhas bochechas até estavam doloridas de tanto que eu havia sorrido e gargalhado naquele dia. A verdade é que ninguém me fazia tão feliz quanto Alex e agora finalmente estávamos juntos novamente.

FIM



Comentários da autora

  OLÁ MELISSA! Espero que você tenha gostado desse passeio! (: Feliz Natal e bom 2013!