Always Remember

Escrito por Giovanna Mendes | Revisado por Lelen

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  A luz fraca do sol adentrava o quarto pela fresta da cortina, batendo em seu rosto e ele acordou incomodado com a claridade. Olhou o relógio que marcava 2 da tarde, nenhuma surpresa, já que fora dormir às 2 da manhã. Passava quase o dia inteiro bebendo, o que explicava a ressaca.
  Só pensava nela, sentia falta de sua voz, seu sorriso, tudo. Se lembrou de um domingo, em que tomaram café juntos e ela disse que o amava. Só lembranças não bastavam para ele, mas ela havia sumido, sem dar satisfação.
  Olhou-se no espelho, estava acabado: o cabelo bagunçado, a barba por fazer, marcas fundas e escuras embaixo dos olhos. Não se importou, se ela não estava lá com ele, ele não queria parecer arrumado. Voltou ao quarto e analisou o estado do lugar, garrafas de cerveja e roupas espalhadas, a cama desarrumada e várias fotos no chão. Fotos dela. .
  Pegou uma lata de cerveja que ainda estava pela metade e bebeu todo seu conteúdo em um gole, sentindo o estômago reclamar pela bebida quente. Quando havia sido a última vez que tinha comido algo que não fossem salgadinhos de queijo? Nem se lembrava.
  Desceu até a cozinha e quando passou pelo telefone viu a secretária eletrônica marcando mais de 15 mensagens. Foi ouvindo enquanto procurava a aspirina no armário. A maioria dos recados era de seu amigo :
  “Dude, faz quase um mês que você não sai de casa ou fala com alguém, eu e a estamos preocupados com você. Dá pra mandar algum sinal de vida?”
   não falava com o amigo desde o sumiço de e decidiu que ligaria para ele mais tarde. Abriu a geladeira e encontrou apenas água, ovos, cerveja e comida congelada. Abriu o armário encontrando alguns salgadinhos, biscoitos e aspirina. Pegou a aspirina e um pacote de Cheetos. Voltou a sala e ligou a TV num canal qualquer quando a campainha tocou. Era .
  - E aí, cara. Ia te ligar agora - afastou-se da porta para que o amigo pudesse entrar.
  - Você não nos respondia e a ficou preocupada, então eu vim aqui. Você tá horrível.
  - Hm, obrigado pela parte que me toca. - Riu sem humor.
  - Olha esse lugar, tá uma bagunça.
  - , não banque a dona de casa, não faz o seu tipo. Afinal, você veio a quê? A passeio que não foi.
  - Vim te tirar dessa fossa. - bufou ao ouvir o amigo. - Não, sério. Olha pra você, não sai, fica aqui bebendo e comendo Cheetos, esse não é você. A fez isso com você. Ela agora deve estar em algum lugar badalado e nem deve lembrar de você.
  - Deixa a ouvir você falando isso da amiga dela.
  - Ela sabe o que eu penso sobre a e você também.
  - Você nunca deu uma chance pra conhecê-la melhor, ia ver que sempre esteve errado.
  - Não acho, e isso que está acontecendo agora só prova que eu estava certo.
  - Por favor, vamos parar de falar nisso? Fala logo o que você veio falar.
   estava irritado, não suportava quando falava de daquela maneira. Apesar de tudo que ela havia feito no passado, ela havia mudado, deixado tudo aquilo pra trás. Ele só não entendia seu sumiço, assim de um dia para o outro, sem deixar ao menos um bilhete. Ele se perguntava isso todos os dias, não queria acreditar em . Já havia ligado para os vizinhos dela, mas era a mesma resposta:
  “Desculpe incomodar, sei que está tarde, mas você sabe da ?”
  “Não a vejo há dias garoto, desculpe.”

  Isso quando eram educados.
  - O que tem pra comer? - perguntou após um tempo em silêncio. Foi até a cozinha e viu os armários praticamente vazios. - , não tem quase nada aqui, não me diga que você está a esse tempo todo à base de cerveja e salgadinhos - deu de ombros. - Não sei como ainda não passou mal. Vou ligar para a e pedir à ela para trazer comida.
   era namorada de e amiga de , aliás, foi através dela que os dois se conheceram. A amiga também não entendeu o sumiço da garota, mas sabia como ela era cabeça dura e não gostava de falar sobre seus problemas. Apareceu 15 minutos depois da ligação de com algumas sacolas de supermercado.
  - Oi, .
  - Você não tem mesmo jeito, , olha só pra você e pra sua casa - ela olhou ao redor. Sabia o quanto o amigo amava e, por um momento sentiu raiva dela por ter sumido sem aviso e deixado naquele estado.
  - E aí, amor, trouxe alguma coisa que não seja pizza ou salgadinhos? – perguntou enquanto ajudava a colocar as sacolas na bancada da cozinha.
  - Claro que sim, trouxe frutas, cereais, carne e macarrão. Vou preparar um almoço digno.
  - Não precisa, . Você já gastou seu tempo se preocupando comigo e trazendo essas coisas pra cá. Eu tô bem, de verdade.
  - É, eu tô vendo isso – respondeu ironicamente a garota. - E você vai comer sim, nem que eu tenha que te dar comida igual a uma criança de dois anos. E aí, vai ser por bem ou por mal? – ameaçou.
   se rendeu, não adiantava tentar discutir com , ela era teimosa e na maioria das vezes sempre conseguia o que queria.
  - Agora suba e dê um jeito nessa cara antes que eu mande o fazer isso por você.
  - Ei! Eu não lavo marmanjo não. , sobe logo e dá seu jeito.
   subiu e tomou um banho demorado, quando voltou ao quarto, já vestido, sentou na ponta da cama e olhou as fotos espalhadas no chão. Pegou uma do dia em que saíram pela primeira vez. Ela contou a ele sobre sua vida e o que tinha feito antes, mesmo assim ele não se importou, via nos olhos dela que ela tinha saído daquele meio e, de qualquer forma já estava gostando dela. A batida na porta o tirou de suas lembranças. entrou no quarto.
  - A tá chamando.
  - Tudo bem. – Ele respondeu, colocando a foto em cima da cama.
  - Olha, , me desculpe pelo que eu disse mais cedo, eu sei que você gosta dela de verdade e tá muito mal com isso tudo.
  - Tudo bem, acho que se fosse com você eu também agiria assim. É só que é difícil, sabe? Eu não sei onde ela tá, se está bem, se o que a gente viveu realmente significou algo pra ela.
  - Não fala assim, ela te ama, você sabe. A vivia me falando o quanto que ela gostava de você, e mais dia menos dia, ela volta, ou manda notícia, você vai ver.
  - Eu espero.
  Os dois desceram e o cheiro vindo da cozinha era muito bom. Só aí percebeu que realmente estava com fome.
  Os três almoçaram tranquilamente e até se sentia um pouco melhor na companhia dos amigos. Quando e foram embora, lá pelas 4 da tarde, deitou-se no sofá vendo algum programa que não conhecia na TV e acabou dormindo.
  Sonhou com ela.

  ”Estava numa rua e chovia muito, estava à sua frente falando algo, mas não conseguia ouvi-la. Ela foi se afastando, ainda de frente para ele. Ele queria ir atrás, mas seus pés não saíam do lugar, quando conseguiu se mover ela havia desaparecido. A chuva continuava e ele chamou seu nome uma última vez.”
  Acordou com um trovão relativamente forte. Estava chovendo desde a hora em que tinha ido até lá com as compras. relembrou o sonho um pouco confuso e resolveu ligar para a casa dela de súbito, como se fosse um aviso de que ela havia voltado.
  O telefone chamou cinco vezes e, quando já ia desligar uma voz feminina atendeu do outro lado. Ele não acreditava.
  - A-Alô? ? - perguntou com o coração acelerado.
  - Ahm, desculpe-me, mas não tem nenhuma aqui - a mulher disse. A voz não era nem um pouco parecida com a de , pelo contrário, parecia de uma mulher mais velha. não entendeu.
  - Ahm, mas ela mora aí - ele respondeu depois de um curto silêncio.
  - Oh, deve ser a moça que morava aqui então que você está procurando. Desculpe, moço, ela não mora mais aqui. O senhor era próximo dela?
  - Sim.
  - Conhece algum ? - seu coração acelerou novamente ao ouvir seu nome, como sabia dele?
  - Sim, sou eu. Por quê?
  - Bom, achamos um envelope com seu nome em uma gaveta aqui quando chegamos. - Então HAVIA uma carta. se alegrou com a notícia.
  - Olha, se não for incomodar, eu gostaria de poder ir pegar a carta agora, sim? – não queria esperar mais nenhum minuto sem ter alguma notícia de sua garota.
  - Oh, não vai incomodar, pode passar aqui.
  - Obrigado, estou indo aí - estava tão ansioso que desligou o telefone sem nem esperar uma resposta da mulher.
  Pegou um moletom qualquer e saiu na chuva mesmo. Assim que chegou ao fim da rua, a chuva aumentou, e muito, deixando-o completamente encharcado em pouco tempo.
  A casa não era muito longe da sua e chegou em pouco menos de 10 minutos. Tocou a campainha tremendo por causa do frio, mas não ligava, queria logo a carta, queria logo explicações para o sumiço repentino de . Uma senhora, que aparentava uns 50 anos atendeu à campainha e se assustou ao ver um rapaz molhado à porta.
  - Erm, oi, sou o .
  - Oh, sim, entre rápido, querido. - Ela deu passagem e ele entrou, reconhecendo o local. Apenas alguns detalhes estavam como era antes. - Essa chuva aumentou de repente, vou buscar uma toalha pra você, olhe só, está todo molhado - ela disse amavelmente - sente-se e fique à vontade.
   Não, não precisa, senhora, onde está a carta?
  - Está ali na sala, venha. - Ela o levou até a sala, onde havia um homem um pouco mais velho que ela assistindo o noticiário da noite.
  - Querido, pegue uma toalha para o , por favor? Sente-se, meu jovem, vou buscar sua carta.
  - Claro, um minuto - o homem se levantou e foi para onde lembrava ser a lavanderia.
  - Aqui está. - A senhora entregou-lhe um envelope e ele reconheceu seu nome na letra escrita por . Abriu-o rapidamente e pegou o papel que havia lá dentro com pressa e começou a ler:

  ,
  Carter me procurou depois de todo esse tempo e agora me ameaça se eu não fizer o que ele pede. Ele está ameaçando machucar você, não sei como te descobriu, mas você é importante demais para mim, não posso deixá-lo correr algum risco. Estou indo para Manchester por um tempo e não poderei manter contato, com ninguém, por favor, NÃO TENTE ME PROCURAR, ele tem capangas me vigiando e se te pegarem não quero imaginar o que podem fazer com você. Assim que tudo isso terminar, eu volto. E bem, como estou vendendo a casa por precaução, espero poder voltar e ficar com você, como você vinha insistindo. Não fique magoado por não ter dito nada e espero que receba esta carta o mais rápido possível. E não se esqueça, eu te amo.
   x ”

  Ao final da leitura algumas lágrimas escorreram e se misturaram ao rosto molhado pela chuva. Agora sentia medo, por , de acontecer algo com ela, pois ela já havia lhe falado uma vez sobre esse tal Carter e ele era perigoso. Sabia que ela teria cuidado, mas ainda assim, alguma coisa apertava em seu peito, como se algo de ruim pudesse acontecer. Viu que a senhora ainda estendia a toalha a ele, pegou-a e agradeceu.
  - Tudo bem com você, querido?
  - Agora sim, obrigado. Acho que já vou indo. - Ele fez menção de se levantar, mas ela o parou.
  - Nem pensar vou deixar você sair nessa chuva de novo, espere um pouco, Richard te leva pra casa. - Ela ofereceu e Richard concordou.
  - Está certo. – O rapaz aceitou.
  Os três se viraram para a TV ao ouvirem “Notícia Urgente”. O repórter falou:
  “Estamos aqui, ao vivo de Manchester, onde um dos traficantes mais perigosos do Reino Unido acaba de ser preso. A polícia foi avisada de que John Carter estava aqui por uma testemunha que estava sendo ameaçada por ele, mas que foi morta pelo traficante pouco antes da polícia chegar ao local, no fim da tarde. A vítima foi identificada como .”
   parou de ouvir após isso, estava paralisado. Não, aquilo na podia estar acontecendo. não podia estar morta. NÃO! Não sua , sua garota, a polícia tinha que estar enganada. Ele não acreditava e desabou no sofá ao ver a foto dela na TV, os pais da menina falavam ao repórter, chorando sua morte, reconheceu-os de uma foto que vira uma vez. Ele chorava sem parar, sem conseguir acreditar que havia partido para sempre. Apertou a carta em sua mão e saiu da casa correndo, sem dizer nada.
  Na rua, olhou para o céu escuro devido à chuva, pois ainda nem era tão tarde assim, enquanto a mesma ainda caía na mesma intensidade de antes, ou mais forte até, e se lembrou do sonho. Estava no mesmo lugar e agora entendia o que ela dizia:
  “Eu te amo para sempre, nunca se esqueça, estarei te olhando e protegendo daqui de cima, meu amor.”
  - Eu também te amo, , sempre.
  Ele não veria mais seu sorriso sapeca ao acordar ao seu lado, não sentiria mais seu toque suave, capaz de fazê-lo esquecer de tudo, não ouviria mais sua voz, dizendo todos os dias o quanto o amava, seu jeito estabanado de ser, sentiria falta de TUDO.
  Só restou a voltar para casa, na chuva, lembrando-se do último domingo ao seu lado.

FIM.



Comentários da autora


  Olá! Essa foi a primeira fic que eu comecei e terminei, rs. Eu sou completamente apaixonada por Remembering Sunday do ATL e resolvi escrever uma fic baseada nela. Espero que gostem e comentem. Se não gostar, pode comentar também e me falar o que não agradou.
  xx Gi.