Always My Only One

Escrito por Annelise Stengel | Revisado por Pepper

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Prólogo

  Tudo que nós éramos era apenas crianças. Uma turma não muito grande, então todos acabavam sendo meio amigos, meio inimigos. Sempre tinha briguinhas, sempre tinha panelinhas, sempre tinha afinidades. Mas ainda assim, a turma inteira se sentava junto no lanche e oferecia cada um um pouquinho do que havia trazido para o outro, e haviam risadas e sorrisos. Todos nós, éramos apenas crianças.
  Como crianças, era natural fazermos aquele tipo de coisa. Se Byun Ji Na, mesmo sendo a garota mais bonitinha da 1ª série, viesse com as tranças tortas, nós riríamos dela e falaríamos como ela estava engraçada. Se Choi Sang Woon, mesmo com 7 anos, fizesse xixi na calça durante a aula por causa do nervosismo de sentar perto da Lee Hyo Rin, íamos gargalhar e passar a semana atormentando o coitado.
  Eu não costumava dizer nada maldoso sobre ninguém. Ria, é claro que ria, era absurdamente engraçado. Às vezes acontecia comigo. Uma vez, saí do banheiro e minha saia ficou presa na calcinha, e eu não reparei até entrar na sala e todos começarem a rir. Não havia alguém específico que sempre começava a zoar, era um ou outro. Normalmente quem conseguia pensar numa piadinha mais rápido. Então não tinha nada demais, éramos apenas crianças. Não deixávamos de ser amigos.
  Um dos alvos favoritos da sala era Park Kyung. Ele era um pouco mais baixo que os outros meninos, e normalmente não andava com muitos amigos, embora sempre fosse bem educado. Quem estava com ele era sempre Woo Ji Ho, mas Ji Ho não usava aparelho extra bucal que nem Kyung usava, e as garotas gostavam mais de conversar com ele. Às vezes Park Kyung ficava sozinho, com seu aparelho extra bucal que o deixava um pouco mais estranho e diferente dos outros. É claro que era necessário e que não era culpa dele, mas nós também não podíamos fazer nada. Éramos só crianças. Ríamos e sempre que alguém conseguia inventar uma nova piada sobre ele, Park Kyung era o alvo por dois ou três dias. Ele não parecia se importar tanto. Ele ria conosco às vezes, e continuava sentando na roda de lanche e dividindo seus sanduíches. Eu gostava quando ele me emprestava suas canetinhas coloridas, e ele parecia feliz em fazer isso também.
  Perto do fim do ano da 3ª série, quando tínhamos 9 anos, Kyung se confessou pra mim. Ele ainda usava o aparelho extra bucal, embora houvesse menos piadas sobre ele agora que havíamos crescido um pouco. Havíamos amadurecido e de repente havia uma distância entre garotos e garotas. A sala perdera alguns alunos, ganhara outros, e algumas piadinhas ainda eram feitas, mas não éramos só crianças mais. Coisas mudaram. Nós mudamos. Kyung cresceu um pouco, mas eu era mais alta que ele. Ele falou bem rápido e baixo, com o rosto bastante avermelhado, e deve ter sido bastante difícil, já que minhas amigas estavam atrás de mim e soltaram risinhos quando entenderam a situação. Eu fiquei envergonhada, não sabia o que responder na frente das meninas. Não é que não gostasse de Park Kyung, mas ele era... Park Kyung. Eu não conseguia pensar nele de outra forma além de o garoto que me emprestava canetinhas coloridas e dividia seus sanduíches gostosos no lanche, e no calor do dia, em frente ao seu rosto avermelhado e ansioso, com risinhos das minhas amigas atrás de mim, eu entrei em pânico. Pensei nas novelas que minha mãe assistia na televisão, naquelas garotas colegiais super populares, e foi a primeira reação que me veio à cabeça.
  Ri forçadamente pelo nariz, disfarçando meu embaraço, e respondi algo rude. Inventei uma nova piada sobre seu aparelho, nem ao menos me lembro qual era, mas foi ouvida não só pelas minhas amigas atrás de mim - que gargalharam escandalosamente - como também por outros meninos no pátio. Eu dei as costas a Kyung e corri, enquanto os meninos repetiam o que eu havia dito e Kyung ficava lá, no calor.
  Em casa, eu pensava em formas de pedir desculpas por ter sido tão rude, mas eu chegava na escola e o via, e simplesmente não conseguia falar nada para ele. Apenas nos sentávamos em cantos opostos da sala e nos ignorávamos. Se entre os meninos e as meninas da sala existia uma separação, entre eu e Kyung havia um abismo enorme e profundo. Eu havia acabado de cortar a frágil ponte de corda que nos unia, e agora talvez nunca houvesse outra passagem. Dessa vez, a piada durou um pouco mais. E dessa vez, Kyung pareceu se importar. Ele passou a ser mais ignorado na sala, mesmo que fosse tirar o aparelho logo. A única pessoa que continuava falando com ele era Woo Ji Ho. Eu queria falar com Kyung, queria que aquilo acabasse. Me sentia mal pela minha reação idiota e errada. Mas eu simplesmente não conseguia.
  Aquele menino que me emprestava canetinhas coloridas, e dividia seu sanduíche comigo, estava fora do meu alcance.
  Quando chegamos no Ensino Médio, Kyung se mudou. Eu não havia falado com ele praticamente nenhuma vez depois de sua confissão, mas não deixava de vê-lo e me sentir culpada, um pouco que fosse. Pensava se ele teria problemas de personalidade e se seria por minha causa, e comecei a achar que eu era uma pessoa horrível e que nunca apareceria ninguém como castigo por eu tê-lo rejeitado de maneira tão suja e baixa.
  Mas depois de alguns poucos meses que ele fora para Nova Zelândia (de acordo com o que me disseram), Woo Ji Ho também saiu da escola para fazer algum intercâmbio, e então todos os resquícios de Kyung foram apagados da minha vida, restando apenas memórias, que foram facilmente soterradas por futilidades e outras preocupações.

Capítulo 01

  Foi 2011 quando voltei a vê-lo, embora não soubesse disso de cara. Havia passado muito tempo, realmente. Eu estava jogada no sofá da casa para a que eu me mudara não havia muito tempo, completamente sozinha. As coisas estavam meio bagunçadas, com revistas e livros misturados com cadernos e outras coisas importantes do meu curso de Audiovisual. Era meados de Abril, estava de noite, e eu estava passando pelos canais de TV sem achar nada interessante. Acabei parando em um canal daqueles de fofoca de famosos. Os apresentadores falavam alguma coisa sobre uma banda que tinha acabado de debutar, mas o clipe havia sido banido porque era "sexy demais" para a Coréia do Sul. Ri sozinha com aquilo. Lembrava de meninos da escola que viam pornografia desde que tinham uns 12 anos. Fiquei curiosa para ver como seria o tal clipe e qual grupo estaria debutando. Eu pessoalmente não gostava muito dos grupos que estavam aparecendo, salvo um ou outro, e algumas músicas, mas ainda tinha esperanças para gostar da música que parecia estar representando o meu país internacionalmente. O MV ia ser exibido dali a pouco, naquele canal, então deixei por ali e fui buscar algo para beber.
  Voltei a tempo de ver o comecinho, haviam sete garotos de costas. Assim que a música começou e o primeiro apareceu, franzi minhas sobrancelhas em desaprovação. O que era aquilo?! Analisei as roupas e os penteados, e as danças. Havia alguns deles que pareciam estar fazendo propaganda de carro, exibindo os braços e roupas claras. Realmente, o que diabos era aquilo? Parei de assistir mais ou menos na metade do clipe, quando um cara com uma lateral do cabelo raspada e uma franja cortada irregularmente surgiu em um fundo meio poluído visualmente. Parecia uma ilusão de ótica e quase me deixou tonta. Desliguei a TV e suspirei. Sorri um pouco sozinha, porque o jeito que o cara cantava, o último que vi antes de desligar, me lembrava a voz de alguém que usava aparelho. A dicção, quero dizer. Não exatamente sua voz ou rosto me lembravam Kyung. Mas a dicção do cantor parecia-me de alguém usando um aparelho. Fazia muito tempo que eu não pensava em Kyung, e chegar nesse ponto me fez ficar encarando a parede por alguns instantes. Imaginei como ele estaria, se voltara da Nova Zelândia ou ficara por lá. Abanei a cabeça, pensando que não devia me prender a acontecimentos tão antigos como esse, que provavelmente não tinham nenhuma importância na atualidade.
  Com o passar do tempo, Block B passou a surgir mais na mídia. Houve alguns escândalos, alguns problemas, e vi que o nome do líder era Zico. Eu acompanhava tudo de longe, não é como se me interessasse por eles. Parecia mais que eles que me perseguiam, sempre aparecendo quando eu estava vendo TV - um pouco raro, eu normalmente alugava vários filmes e os assistia - ou tendo seu novo clipe exibido. Assisti NalinA quando foi lançado, achando um pouco estranho, mas melhor do que aquele primeiro. Parecia um pouco mais interessante. Reconheci Zico, de cabelo loiro claro, sempre centralizado. Não sabia nada sobre os outros. Depois de NalinA, parei para assistir Nillili Mambo inteiro por vontade própria. Gostei mais do estilo da música, mas algo me incomodou neles. Eu não sabia bem o que era, mas era algo em especial com o garoto de cabelos meio avermelhados e enrolados, que perseguia uma galinha nesse clipe. Algo no jeito dele me fazia sentir desconfortável, e por isso decidi que não ia dar mais tanta atenção para a banda. Foquei-me nos estudos, já que o curso começava a ter mais experiências de campo do que tanta teoria. Estava animada para aquilo. Não tinha que ficar me preocupando com nenhum perseguidor de galinhas.

  - Conseguimos alguns contatos incríveis esse ano, então vocês podem esperar o melhor dessa experiência pré-estágio. - o professor anunciou, animado, colocando uma pilha de pastas amarelas em cima da mesa. Sorri, animada. - Vou distribuir as pastas aleatoriamente, algumas são realmente incríveis, outras são mais ou menos, então não briguem e não matem o professor! - ele brincou e nós rimos. - Não tenho culpa se hoje não é o seu dia de sorte.
  Ele foi nos chamando, um a um. Fui chamada, peguei minha pasta amarela e sentei. O professor explicou que o que estava no trabalho era propositalmente enxuto de informações, descobriríamos a maior parte do serviço na hora, como ajudaríamos e com quem trabalharíamos. Abri minha pasta, não deixando pessoas espiarem, e tudo que li foi:

  Gravação de MV com um grupo K-Pop

  Embaixo havia um endereço e um horário. A data era dali a quatro dias. E só. Nada mais. Poderia ser qualquer grupo que eu vira na TV. Eu nem sabia o que poderia fazer num caso desses. Bufei e afastei a franja do rosto. Espiei o do colega do lado, que soltava gemidos de desaprovação.

  Gravação de documentário histórico

  Dizia. Tentei segurar a risada e abracei minha pasta, não deixando que ninguém se aproximasse. Muitas meninas da sala gostavam de grupos de K-pop e tenho certeza que amariam trocar comigo. Mas aquela era minha chance e eu não ia dá-la para ninguém, mesmo que não gostasse 100% dela. Poderia ser bem pior, como eu reparara. Imaginei que tipo de coisa eu teria que fazer, mas logo minha ideia foi afastada.
  - Hey, . - Im Ga Yun, uma das meninas com quem eu mais falava ali na sala, aproximou-se de mim. Apontou para a minha pasta amarela. - Você parece satisfeita. - ela riu.
  - Um pouco. Poderia ser pior. - cochichei, apontando o garoto ao meu lado, que lançava olhares para as pessoas, procurando contato visual para que pudesse fazer uma tentativa de troca. Nós duas rimos.
  - De qualquer forma, hoje está estreando aquele filme interessante que a professora mencionou na aula passada, lembra-se? - fiz um pequeno esforço e então lembrei-me do pequeno post it que eu criara para não me esquecer daquilo, já que parecia um programa legal. Fazia tempo que eu não fazia algo fora de casa, e ir ao cinema soava ótimo. - O que acha de irmos?
  - Perfeito pra mim! Naquele grande, no centro?
  - Acho que não vai estrear naquele. É um filme meio underground, sabe. - ela ficou pensativa. - Acho que aquele menor, no outro bairro, é mais provável que tenha. Vou me informar e te confirmo, mas provavelmente é naquele. Você sabe onde é?
  - Sei sim. - confirmei com um sorriso. Eu morava perto de lá antigamente, e o cinema era inclusive perto da minha escola primária. A escola que eu estudei com Kyung.
  - Então, nos vemos lá. - Ga Yun acenou e se afastou, me deixando com um sorriso amarelo no rosto.
  Por que recentemente eu estava me lembrando tanto de Park Kyung? Ele fora só um garoto de 9 anos que se confessara para mim e que eu potencialmente estragara a vida com uma humilhação pública e uma rejeição pesada. Quando eu cresci e entendi a importância e a preparação de uma confissão masculina, passei e me sentir ainda pior com o que tinha feito. Imaginava, à noite, um pobre Park Kyung praticando na frente do espelho e sentindo-se nervoso, e sorrindo sozinho pensando em mim, para chegar no dia e receber aquela resposta estúpida e grossa que fez todos rirem dele cada vez mais. Park Kyung tinha sido uma pessoa que, querendo eu ou não, havia me marcado fundo de alguma forma - provavelmente por ser o primeiro e único garoto a se confessar pra mim em todos os meus 20 anos - mas eu imaginava se ele ainda se lembraria daquilo. Deve ter sido um trauma, mas ele não teria superado e esquecido? Faziam tantos anos, ele nem deveria se lembrar mais de mim.
  Não sabia por que estava lembrando tanto de Park Kyung ultimamente. Às vezes eu tinha a sensação estranha de que ia reencontrá-lo - mas isso nem devia ser verdade. Eu provavelmente nem o reconheceria se ele passasse na minha frente. E ele também não faria questão de parar e falar, caso me reconhecesse. Não é como se eu fosse a melhor das lembranças dele.

Capítulo 02

  Esperava Ga Yun, já em frente ao cinema velho, quando recebi a SMS dela avisando que não poderia ir por causa de uma complicação familiar. Eu estava imaginando isso e já estava preparada, porque Ga Yun não costumava atrasar e o filme começaria logo. Suspirei. Já havia comprado o meu ingresso e realmente queria ver o filme, então entrei na fila. Como faltava realmente pouco tempo para a sessão iniciar, entrei logo e me ajeitei numa poltrona, achando o ambiente familiar e acolhedor, muito melhor do que aqueles shoppings super movimentados em que você poderia ser reconhecido por amigos de infância a cada passo.
  O filme foi tão bom quanto eu esperava, me fazendo chorar um pouco no final, mas não deixei de aproveitar cada cena. Sorri sozinha quando as luzes se acenderam e me levantei para sair. Fiquei um tempo parada com as costas viradas para a tela, arrumando minha bolsa e recolhendo o pouco lixo que eu criara com minha pipoca e a bebida, e dei um tempo para que outras pessoas saíssem na frente. Não estava muito lotado, mas causou uma pequena aglomeração na porta, então esperei no fim da minha fileira. Atrás de mim havia uns dois casais ainda sentados juntos, um garoto com o cabelo meio bagunçado e óculos de nerd mexendo em seu celular, um outro garoto que parecia procurar algo e um casal com uma filha pequena. Não demorei a sair e assim que cheguei do lado de fora, deparei-me com um vento um pouco frio que me fez encolher dentro do meu casaco um pouco fino para a situação. Pretendia seguir direto para casa quando uma voz atrás de mim me fez parar e virar.
  - ? - era um garoto de cabelos castanho escuro, com um boné preto virado para trás por cima, que eu não havia reparado no cinema. Ele poderia nem ter estado lá dentro, só passando pela rua mesmo. Quando voltei-me e encarei-o, percebi o quão estúpida eu estava sendo.
  Não reconhecer Park Kyung quando o visse? Passar despercebida por ele? Aquilo era ridículo. Pois bem ali na minha frente estava ele, com um sorriso um pouco hesitante, provavelmente tão surpreso quanto eu por ainda se lembrar e conseguir reconhecer. Analisando suas feições, tive outra surpresa: ele me era estranhamente familiar. E causava uma familiaridade desconfortável. Que nem aquele rapper do Block B que ela assistira perseguir uma galinha. Lembrei-me de associar a voz do rapper com a de alguém com dicção de quem usava aparelho, e de ter lembrado de Kyung com isso, e não consegui segurar uma risada breve, o que provavelmente causou a impressão errada. Park Kyung hesitou. Mordi meu lábio inferior.
  - Desculpe. Faz muito tempo, Park Kyung. - falei, um pouco desconfortável. Ele pareceu ignorar isso e sorriu largamente dessa vez.
  - Oh você ainda lembra! Faz muito muito tempo! Mal acreditei quando pensei que era você aqui. Estou feliz que se lembra de mim! - ele disse, animado. Eu me senti corando um pouco.
  Sim eu lembrava dele. Todo esse tempo e eu lembrava dele. Isso não era um pouco constrangedor? E o fato de ele estar tão feliz por isso, quer dizer que, todo esse tempo, ele também sempre lembrou de mim? Como ele poderia estar feliz, falando ali comigo? Será que ele agora atuava então só estava fingindo por causa do encontro inesperado? Mas eu passaria reto por ele, ele não precisava ter me chamado se não quisesse.
  Pisquei algumas vezes, me perdendo no que estava acontecendo. Park Kyung ainda sorria, em minha frente.
  - Eu... te vi na TV. - decidi comentar, desviando um pouco do assunto. Se é que é possível, ele sorriu ainda mais, e quase deu um pulinho animado.
  - Você me viu?! Isso é incrível! Você gostou? Você soube que era eu? - ele falava demais e estava me bombardeando de perguntas. Eu ainda estava atordoada com o reencontro e não sabia como reagir. Eu nunca tinha me preparado psicologicamente para aquilo, eu achei que nunca o encontraria de novo. Tantas histórias colegiais que contam como as pessoas perderam contato. E nós éramos só crianças! Como é que eu iria me preparar para algo como isso?
  - Eu... gostei. No começo achei ruim, aquela música debut. Mas depois passei a gostar mais. Nunca acompanhei muito, pra ser sincera. E eu só achei você familiar, não... realmente te reconheci. Só agora. - contei, envergonhada. Eu estava com medo de dizer qualquer coisa e ele ficasse com aquela expressão que ele tinha em seu rosto de 9 anos, quando eu corri para longe dele depois de rejeitá-lo.
  Mesmo que agora parecesse improvável daquilo acontecer. Park Kyung estava realmente sorridente e parecia alegre, e estava frio e não calor. Podia tudo ser diferente. Arrisquei um sorriso. Mas mesmo sorrindo, pensei melhor. O que eu ia fazer? Dar uma chance para ele agora? Só porque ele tirara o aparelho extra bucal e tinha um sorriso bonito (sem deixar de mencionar que estava mais alto que eu)?
  - Desculpe... eu... - apontei para trás. Estava com frio, mesmo. - Tenho que ir. - murmurei, e ele finalmente pareceu perder um pouco de sua animação.
  - Ah! Ah... Bem, ok... - ele coçou a nuca. Sorriu de novo. - Foi bom te ver novamente!
  - Sim. Foi interessante. - sorri educadamente. - Achei que não ia voltar. Você foi estudar fora, não foi? - não sei por que eu estava prolongando a conversa quando eu já tinha me despedido praticamente. Park Kyung sorriu.
  - Sim! Fui para a Nova Zelândia e passei três anos lá. Depois fui para os Estados Unidos, por um ano só. E aí voltei, estou no Block B, as coisas estão indo. Vou ficar mais por aqui, agora. - ele contou. Meus olhos brilharam imaginando a Nova Zelândia e os EUA. Uma das coisas que sempre quis era sair por aí viajando. Devia ser incrível.
  - Então talvez nos esbarremos novamente. - brinquei, incerta se queria realmente aquilo ou não. Park Kyung riu fraco.
  - Talvez. - falou, dando ombros. - O que você está fazendo da vida?
  - Estou estudando audiovisual. - falei, simplesmente, e uma rajada de vento me arrepiou toda, fazendo-me encolher. Park Kyung pareceu perceber, mas antes que ele dissesse algo, inclinei um pouco a cabeça e comecei a me afastar. - Desculpe, realmente tenho que ir! Foi bom te reencontrar, Park Kyung! - acenei.
  - Espera, ...! - ouvi-o me chamar, mas estava com muito frio e havia um táxi ali, então pela segunda vez eu corri de Park Kyung e o deixei para trás, sem olhar novamente para sua expressão.

Capítulo 03

  Eu arrumava minhas coisas na bolsa. Dali a pouco sairia de casa para ir para a minha experiência pré-estágio. Os dias passaram rápido, porque eu me mantive ocupada ao máximo. Não queria ficar lembrando o meu reencontro com o único garoto que se confessara para mim, então enchi minha cabeça de coisas inúteis ou desnecessárias. Era o que eu sempre fazia para fugir dessas coisas. Na verdade, fugir era basicamente o que eu sempre fazia.
  Parte de mim considerava que a banda que eu fosse trabalhar hoje seria a de Park Kyung. Mas haviam tantas, eu não poderia ter tanto azar assim, não é mesmo? Praticamente 10 anos sem o ver, e de repente vê-lo assim, reconhecê-lo, isso não poderia acontecer. Minha vida não era uma novela. Por isso, o grupo que eu trabalharia na gravação do MV hoje não seria Block B. Poderia ser SHINee, Super Junior, ou até um grupo feminino, como 4Minute ou 2NE1.
  Mesmo assim eu não estava completamente confiante. Em algum lugar do meu interior eu acreditava que veria Park Kyung hoje de novo, duas vezes na mesma semana. Eu não sabia se eu acreditava nisso porque eu queria ou porque eu tive aquele sentimento de lembrar dele e ele aparecer novamente na minha vida.
  Ouvi uma buzina do lado de fora da casa e percebi que meu táxi havia chegado, então tranquei tudo e corri até lá, sentindo um nervosismo apoderar-se de mim. Fosse qual fosse o grupo que eu trabalharia, tinha que dar o melhor de mim e fazer o máximo, para garantir uma nota boa. O percurso não foi demorado, cheguei a um estúdio e chequei o horário, estava um pouco adiantada, o que era bom, na minha opinião. Paguei o taxista pela corrida e com a bolsa a tiracolo entrei no lugar, pedindo licença.
  Uma mulher simpática veio me atender, e me entregou um crachá depois de eu mostrar meu cartão da faculdade. Nele estava escrito "Auxiliar", e eu novamente voltei a me preocupar com o que eu auxiliaria e, mais importante, quem. Me disseram para esperar em uma salinha, que logo me trariam informações, e eu me sentei num banco almofadado, observando as paredes brancas ao meu redor. Poucos minutos depois, um homem de cabelos um pouco grisalhos entrou, vestindo um terno, e eu me levantei para cumprimentá-lo.
  - Você é a garota da faculdade, que vai nos ajudar hoje, certo? - ele perguntou, depois que me apresentei e nos cumprimentamos devidamente. Concordei com um aceno da cabeça. - Certo, o que vamos precisar que você faça: - ele fez uma pausa e depois sorriu. - Ajude em um pouco de tudo. Como a sua área é Audiovisual e concordamos em ajudar, vamos pedir pra você fazer um pouco com os estilistas, um pouco com os maquiadores, um pouco com o pessoal da iluminação e da gravação em si. Você pode ajudar um pouco no roteiro, embora ele já esteja pronto, e também, pode ajudar os membros do grupo caso eles precisem de alguma coisa. - sorri, compreensiva, conforme ele falava. O homem fez uma pausa e depois acrescentou: - Alguma dúvida?
  - Não senhor. - neguei educadamente. Depois hesitei. - Ah, na verdade... ainda não fui informada com que grupo trabalharei.
  - Oh sim! - ele pareceu lembrar-se e então voltou-se para a porta, abrindo-a e fazendo um sinal para que eu o seguisse. - Eles já estão aqui, vou apresentá-los a você.
  Borboletas invadiram meu estômago e me deixaram com uma sensação desconfortável conforme eu ia atrás do homem por corredores brancos de piso de madeira e cheios de coisas nas laterais. Havia várias portas e de uma delas, entreaberta e mais à frente, podia-se ouvir uma algazarra. Foquei-me em manter o pensamento positivo e estritamente profissional, não podia deixar que experiências pessoais atrapalhassem meu rendimento - considerando que o grupo que eu trabalharia fosse Block B. Por mais que eu quisesse, não poderia excluir essa possibilidade, então devia estar preparada para tudo. Foi bom que eu pensasse dessa forma, porque assim que chegamos perto da porta, um garoto alto com cabelo vermelho vibrante como o de um palhaço saiu de lá rindo e falando algo, e eu o reconheci pelo rosto como um dos rappers do Block B, o que tinha a voz grave, embora eu não soubesse seu nome.
  Senti meu estômago afundar, mesmo estando um pouco preparada para aquilo fui pega de surpresa, e queria dar um soco na cara do destino por brincar daquela forma comigo. Por quê? Por que Park Kyung agora me perseguia? Por que depois de 10 anos?
  - P.O! - o homem ao meu lado chamou-o, em um tom meio sério, e o rapaz interrompeu-se como se fosse uma criança pega no meio da travessura e olhou para nós dois, parando seu olhar em mim. Eu não sabia se o homem havia falado "P.O", como em inglês, ou se o nome do garoto era Pyo, soava bastante parecido para mim. Poderia ser os dois casos. Quando seu olhar encontrou o meu, inclinei-me respeitosamente em cumprimento. - Entre aí, vou apresentá-la a todos vocês.
  - Ok. - o garoto sorriu e entrou, e a bagunça ficou um pouco mais barulhenta.
  Tudo silenciou quando o homem que eu seguia entrou na sala e eu apareci por trás dele. Um pouco envergonhada em entrar no ambiente, relutei em levantar os olhos, mas tive que fazê-lo quando ouvi:
  - ?! - Park Kyung sorria surpreso, e todos os olhares desviaram de mim para Park Kyung, que não se importou.
  - ? - Zico (que agora tinha cabelos brancos descoloridos, repartidos ao meio), o outro membro que eu supunha ser o líder e que eu sabia o nome além de Park Kyung, repetiu franzindo as sobrancelhas, olhando pra mim. Corei.
  - Olá, Park Kyung-sshi. - cumprimentei-o um pouco sem graça. Park Kyung sorriu ainda mais e bateu no ombro de Zico.
  - Zico hyung! Você não lembra dela? É a Howes! - ele apontou, mas olhava para Zico, que mantinha o cenho franzido. Imitei-o. Por que Zico do Block B lembraria-se de mim? Park Kyung decidiu fazer outra abordagem, e desistindo de Zico, virou-se para mim, animado. - , você não lembra dele? É Zi- quer dizer, Woo Ji Ho! - Ele corrigiu-se e Zico olhou para mim e eu o olhei. Woo Ji Ho...? Aquele Woo Ji Ho?!
  Arregalei os olhos ao mesmo tempo que Zico, ou Woo Ji Ho o fez, ambos nos reconhecendo. Aquele era o amigo de Park Kyung no primário? O que no fim acabou sendo o único amigo de Park Kyung depois do que fiz, e mudou-se para fazer intercâmbio?
  - Whoa! Agora eu lembro! - Zico apontou para mim e sorriu, completamente surpreso. - Você é a garota para quem o Kyung-ie se declarou na 3ª série!
  Para mim, o tempo parou. O desconforto que eu tinha no meu estômago apoderou-se de todo o corpo e eu fiquei sem saber como reagir. Não olhei para Park Kyung para ver como ele estava, mas eu sentia que poderia parar de respirar a qualquer momento. Senti frio e quis sair dali. Fugir. A verdade trazida tão inescrupulosamente à tona me fez querer dar um soco em Woo Ji Ho. Ele realmente não tinha ideia do quanto estava em jogo naquelas palavras? Forcei meu rosto congelado e quente de vergonha a virar-se lentamente para observar Kyung, com medo de encarar a expressão que eu havia visto no seu rosto naquele dia quente do primário. Ele estava um pouco corado e parecia sem graça, e não me olhava.
  Não sei quanto tempo se passou, poderia ser apenas questão de milésimos de segundos, mas de repente tudo explodiu em risadas e eu fiquei um pouco atordoada. Os outros membros que eu não conhecia começaram a rir e fazer piadinhas com Park Kyung, que parecia mais embaraçado, mas ria também. Zico pareceu um pouco perdido, como eu, mas considerou que aquela era a melhor situação e juntou-se às risadas.
  - Certo, certo, aquietem-se meninos! - levei um susto discreto ao ouvir o homem ao meu lado falando, eu havia praticamente esquecido que ele estava ali. Os meninos ainda estavam de risinhos e agora me olhavam com interesse, o que aumentou minha vontade de sair correndo pela porta. Eu não sabia se Park Kyung estava tão desconfortável quanto eu, mas esperava que não. Não queria que ele passasse por mais situações difíceis por minha causa.
  O homem voltou a falar:
  - É surpreendente que vocês se conheçam assim, do primário. - ele sorriu pra mim e eu forcei-me a me concentrar e fiz uma tentativa de sorriso, que provavelmente acabou sendo uma careta. - Bem, deixe-me apresentar-lhe os outros membros.
  O primeiro que ele me apresentou era o P.O, que ainda estava próximo de nós. Seu nome era Pyo Ji Hoon, mas sempre o chamavam de P.O na banda. O garoto de cabelos vermelho vibrante sorriu e me cumprimentou educadamente. Ele era o maknae, o que me surpreendeu. Seguido dele fui apresentada a B Bomb, cujo nome real era Lee Min Hyuk, um loiro com um rosto bonito. Ahn Jaehyo foi o próximo, com cabelo castanho escuro arrumado delicadamente e sorrindo educado. Lee Taeil, o mais velho, parecia um pouco com Harry Potter pra mim, com o cabelo castanho e aqueles óculos de aros arredondados. Ele brincava com um garfo e uma faca nas mãos, parecendo animado. O último que eu não conhecia e que me foi apresentado era um que eu julgaria ser o maknae, Kim Yu Kwon, ou U-Kwon como me informaram ser seu nome artístico. Ele também estava loiro e pareceu fofo quando sorriu para mim.
  - E bem, Zico e Kyung você já conhece. - o homem finalizou, apontando para os dois. Park Kyung sorriu pra mim, parecendo recuperado da vergonha (ao contrário de mim), e eu voltei a me inclinar para todos.
  - Conto com vocês. É um prazer. - falei, um pouco baixo. Queria sair dali e ir para junto da equipe de trabalho antes. Eu achava que conseguiria suportar a situação, mas depois que Zico falara aquilo e todos eles agora sabiam que não só Park Kyung e eu tínhamos aquela ligação, como era aquela ligação, tudo parecia bastante complicado.
  - Bem, vou te levar para a equipe de filmagem e para as outras para que eles te informem melhor sobre o trabalho. - o homem disse, salvando-me e eu concordei, acenando para os meninos e saindo atrás dele. Assim que a porta fechou-se atrás de mim, ouvi algum deles gritar lá dentro:
  - SE DECLAROU? - e a baderna recomeçou. Não fiquei para ouvir mais, corando e correndo para alcançar o homem de terno.

Capítulo 04

  A gravação do MV passou como um flash. As equipes que eu ajudava - praticamente todas - fizeram comigo o que eu mais precisava: me deixaram extremamente ocupada e sem tempo pra pensar em qualquer outra coisa além do trabalho que eu devia fazer. Corri levando roupas, maquiagens, segurando auxílios de iluminação, limpando câmeras. Às vezes parecia que eu estava sendo feita de capacho, mas eu não me importava. O máximo que eu ficasse ocupado, o mínimo eu pensaria ou prestaria atenção em Park Kyung. E caso não estivessem gravando alguma parte que ele aparecia, já que haviam cenas individuais no clipe, eu estar ocupada me permitia fugir de encontrá-lo e talvez começar uma conversa.
  Eu não sabia bem o que queria. Gostaria de perguntar sobre os sentimentos de Park Kyung, desde aquele dia até hoje. Não que eu tivesse alguma esperança que ele ainda gostasse de mim, principalmente depois que fiz; mas queria entender se eu realmente estragara sua vida como sempre pensei, e entender como ele me via agora. Estava sendo alegre e educado apenas para cobrir o que realmente sentia? Eu queria descobrir, parar e perguntar a ele, mas sempre que o avistava, mesmo que de relance, eu me sentia na 3ª série novamente, querendo falar com ele e me sentindo incapacitada. Um dos meus problemas sempre foi falar sobre sentimentos com as pessoas, não importa se fossem os delas ou os meus.
  Era bem tarde da noite quando terminamos, e quando eu parei e sentei para observar todos se cumprimentando e agradecendo o trabalho, senti meu corpo dolorido. Passara o tempo todo de pé, indo para lá e para cá. Imaginava como o grupo estava se sentindo, dançando, gravando e cantando. Ainda tinham energia para fazerem piadinhas e pregarem peças nos outros. Eles eram realmente incríveis, e a música nova era muito boa. Apesar de não permitir a aproximação de Park Kyung, outros membros como B-Bomb e Taeil surgiram em alguns momentos, conversando pouco e perguntando o que eu estava achando. Embora eles fossem bastante educados e gentis, percebia em seus olhos uma certa diversão, o que considerei pelo fato de eu ser "a garota para quem Park Kyung se declarara". Gostaria de saber se eles já estavam a par do fato que eu o recusara, de uma forma horrível ainda por cima. Mas nenhum incidente estranho aconteceu.
  Eu esperava o homem de terno terminar de assinar os documentos de presença e participação que a faculdade entregara, para ser liberada e ir embora. Block B já havia saído há algum tempo, e supus que já haviam ido embora. Não havia mais Park Kyung por perto, e eu me sentia esgotada, tanto pelo esforço do trabalho quanto por ter ficado tensa em sua presença. Peguei os papeis, agradeci por tudo diversas vezes e voltei para os corredores brancos, pegando minha bolsa e saindo.
  Estava bastante escuro e frio, e quando eu soprei o ar que havia inspirado profundamente, uma fumacinha se formou em frente a minha boca. Agasalhei-me e comecei a andar, saindo para a rua e procurando algum táxi com os olhos. As ruas iluminadas estavam quase vazias, e eu me arrepiei quando um carro preto aproximou-se de onde eu estava parada. Comecei a andar, me sentindo insegura, mas só pude dar alguns passos.
  - ! - a voz de Park Kyung me alcançou e eu me virei, observando-o de pé ao lado do carro, a porta do motorista aberta, e ele sorrindo. Corei. - Precisa de uma carona?
  - Hm, eu vou procurar um táxi, Park Kyung-sshi... não precisa se preocupar. - sorri fraco, relaxando um pouco da insegurança. Ele fez uma pequena careta.
  - Eu estou disposto a te levar, vamos. Você deu duro hoje, deve estar cansada. Não precisa se preocupar. - o jeito que ele falava as palavras era engraçado, e ele continuou olhando firme para mim. Suspirei e dei alguns passos até ele.
  - Não quero incomodar, Park Kyung-sshi... - murmurei. - Você também deve estar cansado, devia ir para casa.
  - Eu vou, depois de te levar. - ele sorriu, saindo de trás da porta e vindo até mim. - Ainda estou elétrico com toda a gravação, por isso preciso dar uma relaxada. Dirigir normalmente surte esse efeito em mim, por isso peguei meu carro, mesmo tendo a van. - explicou. Ele estava com um boné branco meio folgado na cabeça, a aba virada para cima. Parecia realmente um rapper. - Posso te dar carona?
  - Acho que tudo bem, então. - sorri, desviando os olhos de seu rosto para o chão. Park Kyung sorriu e abriu a porta para mim. - Obrigada e desculpe o incômodo, Park Kyung-sshi. - ele fez uma careta e segurou meu braço de leve, me impedindo de entrar.
  - Você pode me chamar só de Kyung, como todo mundo faz. Ou oppa. - ele riu, mordendo o lábio inferior depois. Sentindo meu rosto esquentar, concordei com a cabeça e ele me soltou, rindo fraco, e me deixou sentar no banco confortável de seu carro. Fechou a porta e deu a volta, sentando-se ao meu lado.
  Passei meu endereço a ele, explicando como chegar, e Kyung fez perguntas casuais enquanto dirigia. Como estavam meus pais, por que eu escolhera audiovisual, o que achara do MV de hoje e da música. Me surpreendi ao perceber que conversar com Kyung era extremamente fácil. Quando se passava o desconforto que eu sentia quando pensava em nós aos 9 anos, e pensava nele apenas como o Park Kyung atual, chegava a ser um sentimento muito bom.
  - Chegamos. - Kyung anunciou, sorrindo e arrumando o boné na cabeça. Olhei-o.
  - Muito obrigada mesmo, Kyung oppa. - sorri tranquilamente. Eu devia estar com muito sono, para estar me sentindo tão bem assim ao conversar com o Park Kyung.
  - Não há de quê. Assim me sinto tranquilo que você chegou perfeitamente bem em casa. - ele disse, um pouco convencido, fingindo ajeitar um casaco inexistente. Ri de sua atitude.
  - Boa noite então. - abri a porta do carro, mas antes que pudesse sair, sua mão estava apoiada em meu braço e eu hesitei, olhando-o. Kyung parecia embaraçado e novamente mordia o lábio inferior. Não pude deixar de notar, e de alguma forma meu coração bateu um pouco mais forte.
  - Desculpe, eu... eu sei que nunca fomos muito próximos, e ainda por cima teve... teve aquele dia... - Kyung embaralhava as palavras, parecendo nervoso, e só à menção daquele dia eu senti tudo desmoronar e lembrei-me quem eu era, quem Kyung era e tudo que havia acontecido. - Mas, bom, os outros se interessaram por você... hm, como posso dizer... depois do que o Zico falou... - ele parecia cada vez mais constrangido e agora eu só queria ir embora. - eles meio que querem te conhecer melhor então você poderia me passar seu telefone por favor para que eu possa te ligar e combinar um dia não sei talvez você possa ir na nossa casa para ver e conversar algo assim por favor. - ele finalizou tudo de uma vez, sem pausas, e depois levantou seus olhos para mim, as bochechas avermelhadas, respirando fundo. Pisquei algumas vezes, tentando assimilar o que ele havia me pedido.
  Meu telefone? Os outros queriam me conhecer melhor? Ligar para combinar de ir na casa deles? Mas o que é que estava acontecendo? E o pior de tudo, por que é que meu coração batia tão descontrolado?
  Ok. Talvez porque eu quisesse dar meu telefone a Park Kyung. Não por pena, não pra me redimir pelo que eu havia feito há tanto tempo, mas porque eu queria que ele me ligasse. Talvez porque agora Park Kyung tinha um sorriso bonito, estava alto e fazia rap muito bem, além de continuar gentil como sempre. Sinto que se eu pedisse um pedaço de sanduíche ou uma canetinha colorida, ele sorriria e me entregaria. Talvez eu quisesse superar aquela expressão marcada em minha memória, do dia quente do primário, e substituí-la por um Park Kyung sorridente e tranquilo.
  Saí de meus pensamentos, começando a sentir um aperto na boca do estômago. O que é que eu estava pensando? Em simplesmente ignorar tudo aquilo que eu havia feito, todos os problemas que eu provavelmente havia causado na vida de Park Kyung, só porque agora ele estava numa banda, estava bonito e pedia meu telefone? Eu poderia ser uma pessoa tão ruim assim?
  Ele ainda esperava minha resposta, ficando mais ansioso a cada segundo que passava. Olhei em seus olhos e analisei-o. Eu não seria capaz de negar alguma coisa para ele, fizesse isso de mim uma pessoa horrível ou não. Estiquei minha mão para a bolsa, abrindo-a e tirando uma caneta de lá. Seus olhos se estreitaram um pouco, quando ele sorriu. Peguei sua mão e puxei-a para perto de mim. Afastei a manga do casaco preto que ele vestia e, acompanhando o sentido de seu braço, escrevi meu número de celular. Minha respiração estava controlada, e eu tentava não assimilar a proximidade que nós estávamos. Ele poderia usar o outro braço para enlaçar minhas costas e então eu ficaria presa ali por quanto tempo ele quisesse.
  Afastei-me ao terminar, quase bruscamente, sentindo meu rosto tão quente como se fosse o dia do primário. Kyung sorria, analisando minha letra em sua pele.
  - Me ligue quando quiser combinar alguma coisa. - murmurei, colocando o pé para fora do carro. Ele levantou seus olhos para mim, ainda sorrindo.
  - Pode deixar. Boa noite, .
  - Boa noite, Kyung oppa. Obrigada mais uma vez. - acenei e fechei a porta, apertando-me em meu casaco. O vento frio fustigou meu rosto aquecido pelo embaraço, e eu corri para destrancar a porta. O carro preto só sumiu na noite depois eu a fechei atrás de mim, segura e aquecida em casa.

Capítulo 05

  Kyung não ligou no dia seguinte. E nem no depois dele. Eu não deveria me importar, mas estava me importando. Eu chegava até a conferir o celular várias vezes por dia, para ter certeza que não havia perdido nenhuma chamada. Cheguei a perder o sono de noite pensando se havia escrito o número certo. Aquilo me incomodava demais. Por que eu estava me sentindo daquela forma?! Era só Park Kyung. Ele me ligaria para que um dia eu fosse até o dormitório do Block B conhecer a todos melhor, a pedido - aparentemente - de todos os membros. Não é como se ele fosse me ligar para se confessar de novo, ou me convidar para sair. Não tinha nada que ficar nervosa.
  Mas ainda assim eu ficava. E aquilo me incomodava tanto, que em um almoço com Ga Yun, decidi desabafar com ela.
  - Ga Yun, o que você sentiria se hipoteticamente um garoto que estudou com você quando você era criança e se confessou e você deu um fora monstruoso nele aparecesse de repente na sua vida depois de todo esse tempo? Principalmente aparecesse muito mais bonito e, hm, interessante do que antes? - soltei tudo de uma vez e minha amiga piscou os olhos, abaixando os hashis.
  - Eu provavelmente estaria apaixonada por ele. - engasguei com a resposta rápida dela e senti meu rosto esquentar. Ela inclinou a cabeça ligeiramente para o lado e deu um sorrisinho.
  - É sério? - perguntei, na dúvida. Ela podia apenas estar zoando com a minha cara. Era bem possível.
  - Não sei. - ela deu ombros e eu senti vontade de me jogar da cadeira. Ou jogar a cadeira nela. - Só achei que não fosse uma situação hipotética e essa talvez fosse a resposta que você precisasse ouvir. - Ga Yun explicou e eu franzi minhas sobrancelhas.
  - O que você quer dizer?
  - Bem. Você aparentemente tem algum problema com o acontecimento do passado com esse garoto, mas quando fala dele seus olhos brilham um pouquinho e você ficou toda corada. Se você está confusa sobre os seus sentimentos, eu sugeriria que você se abrisse para a possibilidade de ter se apaixonado por ele. - ela disse, voltando a comer, e eu encarei meu prato.
  Apaixonada por Kyung? Seria possível? Quer dizer, ele está completamente atraente agora, e não é como se eu não gostasse dele antes. É que sempre houve aquele incidente na minha mente, então o que permanecia na minha cabeça era a pergunta: eu poderia me permitir à isso? Depois do que fiz com ele, fazendo-o passar por uma humilhação e ser excluído, eu poderia me dar ao luxo de apaixonar-me por ele e ainda querer tê-lo? Eu mereceria ser apenas uma das muitas garotas que o admiram e mantém distância.
  O toque do meu celular me tirou dos pensamentos turbulentos e eu o peguei, vendo um número desconhecido na tela. Ga Yun me olhou, como se esperasse que eu atendesse, e eu senti meu estômago se embrulhar. Seria ele?
  - É ele? - ela perguntou, como se lesse minha mente, abrindo um sorrisinho. Eu fiz que não sabia e atendi, e ela deu pulinhos animados no lugar.
  - Alô? - falei, um pouco hesitante, sentindo a garganta ficar seca de repente.
  - ? - a voz de Kyung soou e eu mordi meu lábio inferior. Ga Yun fez um gesto de comemoração que atraiu a atenção de outras pessoas que estavam no restaurante. Preferi ignorá-la.
  - Kyung oppa? - mesmo sabendo que era ele, decidi confirmar. Ga Yun ficou repetindo "oppa" apenas com o movimento dos lábios, sem som, fazendo diversas expressões constrangedoras. Decidi que era melhor sair dali ou eu riria na cara de Kyung e o coitado nem saberia por quê.
  - Sim! Estou ligando em má hora? - neguei, enquanto me levantava. - Ah, que bom. Desculpe não ter ligado antes, ficamos um pouco ocupados.
  - Tudo bem, eu entendo. Eu estava um pouco ocupada também. - não é como se eu estivesse conferindo o celular de hora em hora. Espera, eu estava.
  - Você vai estar livre esse domingo? - ele hesitou um pouco e eu parei, pensando. Nesse segundo que fiquei em silêncio, Kyung desembestou a falar. - Temos uma folga e aparentemente ninguém planeja visitar a família, acho que vamos estar um pouco livre da mídia o que é bom, você pode ir lá e vai ser bem discreto, pode ser divertido, mas só se você puder claro...
  - Eu posso, sem problemas. - decidi confirmar logo. Ele finalmente parou de falar e eu senti meu rosto esquentar por algum motivo. Não queria ter sido rude. Mas a entonação com que voltou a falar era bastante animada.
  - Que bom! Você quer que eu te busque?
  - Não precisa. Só me passe o endereço e eu dou um jeito de chegar. Que horas posso ir?
  - Ah, chegue... por volta de umas onze horas? Assim você almoça com a gente. Prometo que você não vai morrer. - ele deu uma risadinha e eu fiz o mesmo, um pouco insegura. - Vou te passar o endereço por mensagem então, pode ser?
  - Aham. Qualquer coisa eu te aviso ou te ligo. Esse é seu número, não é? - decidi confirmar. Kyung disse que era, nos despedimos e desligamos. Salvei o número em meu celular como "Park Kyung", e observei o nome por algum tempo, antes de voltar para a mesa e Ga Yun.
  Não. Eu não estava apaixonada por ele.

  Domingo chegou muito mais rápido do que eu imaginava, e então eu estava sentada em um táxi, observando meus sapatos e me perguntando se a roupa que eu escolhera estava boa o suficiente. Não conseguia não me sentir nervosa, e apertava minhas mãos. Logo o taxista estacionou no lugar que eu lhe passara e eu lancei um olhar para a casa.
  Ela era bastante arrumada por fora, mas eu sabia que não deveria me deixar enganar. Havia sete meninos morando ali dentro, então as imagens sobre como seria a parte interior que estavam em minha mente envolviam no mínimo caos completo.
  Paguei o taxista e assim que ele saiu, fiquei uns segundos parada na entrada, pensando o que eu estava fazendo. Isso não era comum, não é? Como assim os membros queriam me conhecer melhor? O que eu tinha de especial para ser merecedora de uma visita à casa do Block B? Um pensamento tempestuoso me atormentou: e se fosse uma vingança? Uma maldade de Park Kyung para se vingar do que havia acontecido há anos atrás entre nós? Tremi levemente, mas então pensei em Park Kyung sorrindo quando lhe passei o meu número de telefone, e o jeito que ele agia quando estava perto de mim. Aquilo me acalmou, por algum motivo. Dentro de mim, algo me dizia que Park Kyung nunca faria esse tipo de coisa e me protegeria caso algo desse errado.
  Corei com o último pensamento e apressei-me em tocar a campainha. Se fosse uma armadilha ou não, não quer dizer que eu não fosse merecedora. Talvez então eu poderia superar o que houve, assim como Kyung, e nós poderíamos recomeçar. Ouvi passos atrás da porta e respirei fundo, me preparando para encarar o que viesse.
  É claro que eu não esperava que um Pikachu abrisse a porta.
  - Oh! - Jaehyo (acho que era ele) arregalou levemente os olhos, suas bochechas ficando avermelhadas, e eu me senti um pouco constrangida também. Apesar de ele ser incrivelmente bonito e estar muito fofo na roupa amarela com orelhinhas. - É a namorada de Kyung!
  Eu não sabia o que Kyung estava espalhando por aí, mas havia algo de incoerente nisso. Fiquei sem reação, mas Jaehyo fez um sinal com o dedo para que eu esperasse e fechou a porta de novo. Obedeci, não havia muita escolha, e imaginei que ele havia ido chamar Kyung, uma vez que o mesmo apareceu segundos depois na porta.
  - ! - ele sorriu largamente e eu sorri de volta, sem que pudesse me controlar. Ele vestia um moletom canguru preto com linhas vermelhas contornando as costuras, e o capuz estava cobrindo seus cabelos escuros um pouco bagunçados e úmidos, como se ele não tivesse saído do banho há muito tempo. - Desculpe por Jaehyo hyung, ele foi mais rápido do que eu esperava. E desculpe também pelo que ele disse. - Kyung fez sinal para que eu entrasse e concordei com a cabeça, passando a passos lentos por ele. Seu rosto estava um pouco corado. - Não importa o que eu diga, eles não param de te chamar de minha namorada. - ele murmurou, envergonhado. Eu senti o rosto esquentar também, mas dei ombros.
  - Não se preocupe com isso. - falei, baixo, e então olhei ao redor.
  Eu estava em uma sala grande, com uma TV e videogames e muitas tomadas, onde três notebooks estavam sendo carregados. Havia algumas roupas espalhadas pelo lugar, mas muito menos do que eu imaginava, e eu supus que isso se dava ao fato de ter um maknae alto passeando pela casa com os braços cheios de peças de roupas.
  - -noona, desculpe a bagunça... esquecíamos que você vinha então deixamos pra arrumar tudo agora... - P.O disse, se curvando um pouco pra mim, e eu ri baixinho de como ele era todo grande e ainda assim bastante fofo. Me senti um pouco desconfortável com o noona, mas ele não pareceu se importar e eu decidi que faria o mesmo. Eles pareciam todos à vontade comigo, mesmo eu mal os conhecendo.
  - Não precisa se preocupar, Pyo Ji Hoon-ya... - eu não sabia se os chamava pelos nomes normais ou pelos que eles usavam sendo da banda, mas optei por ser educada e usar os nomes. Ele sorriu e sumiu em uma porta, que supus ser um quarto. Da mesma porta, segundos depois, B Bomb saiu ajeitando a camiseta e bagunçando o cabelo molhado.
  - Oh! -ya. Bem vinda. - ele sorriu e seguiu em direção a um outro cômodo, que era a cozinha. Zico já estava lá, batucando em algumas coisas, e Taeil lavava a louça. Ouvi barulho de chuveiro, então supus que U-Kwon, o único que eu ainda não havia visto, estava no banho. Os dois da cozinha me cumprimentaram quando Kyung me levou até lá.
  - B Bomb hyung fará o almoço. - Kyung informou, apontando para o rapaz que agora tirava as coisas da geladeira. - U-Kwon vai ajudar quando terminar o banho. Assim nenhum de nós morrerá. - ele brincou e eu ri.
  Jaehyo surgiu de volta na cozinha, dessa vez vestido com uma blusa branca e uma calça cinza que parecia confortável, e sorriu pra mim enquanto pegava um copo d'água. Eu estava nervosa por estar perto de Park Kyung daquele jeito, e ainda estava um pouco desconfortável com a situação. Mas vendo-os ali, o jeito que eles me tratavam e agiam em minha presença, deixava-me cada vez mais tranquila.
  Talvez fosse agradável passar o dia com aqueles sete garotos.

Capítulo 06

  Eu havia dito que seria agradável, mas não imaginava que seria tão divertido. Eles estavam sempre falando alto um com o outro, rindo e fazendo piadas, enquanto B Bomb e U-Kwon cozinhavam. Taeil reclamava sobre como ele sempre tinha que fazer todas as tarefas domésticas, já que os outros eram uns porcos, mesmo sendo o mais velho. P.O parecia ter uma forte relação de amizade com ele, ficando sempre perto e rindo.
  Eles me faziam diversas perguntas, primeiro casuais, mas depois de aproximadamente uns 15 minutos eles consideraram que já eram íntimos o suficiente para me fazer perguntas do tipo:
  - Como era estudar com o Kyung quando eram crianças?
  Ou:
  - Você era a garota mais bonita da sala?
  O bom é que eles pareceram perceber que aquelas perguntas me deixavam um pouco constrangida, e mudavam logo de assunto. De repente eu não era mais o alvo de atenção, mas ainda participava.
  - Ei, -ya! - Taeil chamou, e depois apontou para Kyung, que estava ao meu lado e ao lado de Zico, trocando comentários em voz baixa com ele ocasionalmente. - Você sabia que esse daí é o maior mulherengo?
  - Oi, Taeil hyung! Isso não é verdade! - Kyung voltou sua atenção para a conversa, completamente corado, e lançou um olhar nervoso pra mim. - Não é verdade! - insistiu apontando para si mesmo. Os outros riram do nervosismo dele e eu fiquei um pouco sem graça. Mulherengo?
  - Claro que é, Kyung hyung. - P.O disse, levantando para ajudar U-Kwon a trazer as panquecas kimchi que havia preparado. - Qualquer mulher que passe na sua frente é a mulher da sua vida.
  - Não é bem assim... - Kyung parecia realmente constrangido, mas animou-se rápido e apontou para Jaehyo. - Jaehyo hyung não é diferente! Ele é todo idiota e bobo, mas é só ter mulher na sala que ele já fica animado! - acusou, tentando jogar a atenção para Jaehyo. Eu ri, porque se Jaehyo não fosse tão bobo, não teria funcionado.
  - Eu não sou idiota! - ele tentou se defender, e B Bomb colocou um pedaço pequeno e cru de carne, meio gelado, na nuca do rapaz, que levantou-se num pulo e saiu fazendo uma dança esquisita, fazendo todos rirem.
  - Kyungcumber! - Woo Ji Ho, a quem eu ainda estava acostumando chamar de Zico, chamou-o apontando pra ele. - Não pense que pode nos distrair assim. Como -ya é sua convidada, é claro que você vai ser a pessoa que mais vai ser embaraçada aqui hoje. - ele disse e fez joinha pra mim.
  - Kyungcumber? - perguntei, confusa. Kyung corou.
  - Eles me chamam assim por causa de cucumber (pepino), por causa de meu rosto comprido. - Kyung murmurou e eu ri. - Também me chamam de Eggplant (berinjela).
  - E Sunk Park Kyung! (Park Kyung Gambá) - P.O lembrou e eu fiz uma expressão de nojo, me afastando um pouco de Kyung, enquanto todos riam.
  - E Dharma. Por causa daquela vez da lama. - B-Bomb disse, e todos eles riram novamente de Kyung que ficava cada vez mais envergonhado.
  Eles continuaram falando várias coisas que faziam Kyung soltar "Aish" e "Aigoo" repetidas vezes, até que se acalmaram o suficiente para terminarmos a refeição sem alguém engasgar de tanto rir. Meus olhos bateram novamente em algo que eu havia reparado e decidi que aquele talvez fosse o momento oportuno pra perguntar sobre aquilo.
  - Hm, eu queria perguntar sobre algo que reparei há um tempo... - comecei, com voz baixa, e os sete me olharam, curiosos. Apontei para a coisa. - Aquilo é mesmo um avental da Hello Kitty? - arqueei as sobrancelhas, vendo o avental rosa com o desenho da gata branca espalhado por todo ele.
  - Oh é meu! - Zico disse, alegre, e todos riram, provavelmente da minha expressão de surpresa. - Como tenho uma imagem muito forte, gosto da Hello Kitty. Ela dá uma neutralizada.
  - Oh, entendo. - comentei, tentando controlar meu riso.
  - Lavarei a louça com ele mais tarde pra você. - Zico sorriu e voltou a comer, enquanto eu concordava.
  O resto do almoço passou bastante tranquilo, e depois eles me mostraram a casa e contaram coisas do Block B. Era como se, mesmo só tendo conhecido Park Kyung e Woo Ji Ho antes, todos eles me considerassem como uma amiga. Ainda era um pouco estranho pra mim, mas eu não deixava de me sentir bem. Era um sentimento gostoso, estar perto daqueles sete idiotas, e nem mesmo meu passado com Kyung atrapalhou isso.
  Kyung estava sendo sempre gentil e me perguntando se eu gostaria de algo, se eu queria fazer algo em específico ou perguntar alguma coisa a alguém. Ele tentava ao máximo me deixar confortável e eu me senti extremamente grata àquilo. Envergonhei-me de haver pensado que aquilo era uma armadilha para uma vingança bem elaborada, porque Park Kyung, com sua doçura e seu jeito meio animado de fazer as coisas, não parecia nem um pouco o tipo de cara que guardava rancor.
  Várias vezes peguei-me, inconscientemente, observando-o com um sorriso bobo no rosto, e torci para que ele não houvesse notado. Aquilo que Ga Yun me dissera martelava em minha mente, e eu comecei a aceitar a possibilidade de estar apaixonada por ele. Seria muito fácil se apaixonar por Kyung. O único problema é que eu já havia tido a chance de tê-lo (mesmo que, com 9 anos, não é muito normal você ter alguém) e o rejeitei de forma rude e vergonhosa, e aquilo nunca poderia ser apagado de nosso passado.
  Começou a escurecer mais rápido do que eu percebera, e então eu tinha que voltar. Despedi-me de todos com um abraço rápido, exceto de P.O, que me abraçara forte e me segurara por um tempo, fazendo-me corar. Prometi a todos que voltaria logo, sim, sem problema, e Kyung me acompanhou até lá fora.
  - Vou te levar pra casa. - ele disse, sorrindo e balançando as chaves do carro na mão, fazendo-as tilintar. Sorri, concordando.
  Entrei no carro e ele entrou logo depois, ligando o rádio em alguma estação qualquer e deixando um volume baixo. Iniciamos o percurso em silêncio, mas pouco depois Kyung chamou-me.
  - O que achou deles? - seu rosto exibia um sorriso bonito. Não pude deixar de sorrir também.
  - Gostei muito de todos eles. É fácil ficar perto de vocês. São divertidos e mesmo com as pequenas briguinhas, parecem se gostar muito. É um ambiente bom. Obrigada por ter me convidado. - disse. Kyung me lançou um olhar rápido.
  - Fico feliz com isso. Você parecia sempre estar nervosa perto de mim, foi bom te ver alegre e se divertindo. - comentou, suas bochechas ficando um pouco avermelhadas. Tive certeza que as minhas poderiam estar em chamas.
  - É... é que era... tudo um pouco estranho, não? - falei, hesitante. Baixei meus olhos para minhas mãos, que se moviam nervosamente.
  - Estranho? - ouvi-o repetir.
  - Sim. Quer dizer... nós dois... depois de tanto tempo, assim. Nos encontrarmos... E você está famoso e importante, não é mais o pequeno Park Kyung que eu sempre tive em minha memória. - minha boca ficou seca, novamente me lembrando daquele Park Kyung. O que estava ao meu lado permaneceu em silêncio. - Eu estava meio perdida e... desconfortável.
  - -ya. - Kyung falou, um pouco rápido, antes que eu pudesse continuar falando qualquer coisa. Ainda assim, não o olhei. - Está melhor agora? Quer dizer, ficar perto de mim agora... está melhor?
  Corei com a pergunta. Arrisquei lançar um olhar para ele, mas ele encarava a estrada sério. Voltei meu olhar para minhas mãos.
  - Sim... acho que sim. - murmurei a resposta.
  - Que bom. Sei que passaram muitos anos, mas não há nada pra ficar desconfortável. Espero que você possa voltar sempre, tenho certeza que os outros gostariam também. - ele sorriu, me olhando. Estávamos na minha rua já. Levantei meus olhos e sorri fraco de volta, concordando com a cabeça.
  - Espero poder voltar também, oppa.

Capítulo 07

  Depois que os visitei, não perdi contato com Block B. Conversava quase sempre com eles no Twitter, e Kyung às vezes me ligava. Ele dizia que estava entediado, e que quando fica entediado gosta de conversar no telefone. O fato de ele ligar para mim me fazia corar, mas mesmo assim eu sempre mantinha meu telefone por perto. Conversávamos sobre qualquer coisa, normalmente quem puxava os assuntos era ele, perguntando da minha vida e como os últimos dez anos haviam passado. Eu ocasionalmente fazia perguntas sobre a banda, e ele, sempre tagarela, podia falar sobre isso por horas. Dava para ver que ele estava realmente contente com o que estava fazendo, e aquilo me deixava feliz. Eu gostava que Park Kyung estivesse feliz.
  Os momentos que ele não ligava começaram a se tornar um pouco difíceis. Eu parava e pensava, e então todas as memórias ruins voltavam, e eu me sentia mal por me aproximar tanto dele. Eu estava realmente confusa sobre tudo. Sobre meus sentimentos, sobre minhas ações, passadas ou futuras, sobre os sentimentos dele. Aquilo tudo era muito complicado.
  Visitei o dormitório do Block B mais umas duas vezes, e todas foram agradáveis como sempre. Também fui um pouco atrás deles e de sua história, para não parecer completamente idiota. Parecia que estava indo tudo bem.
  Com a aproximação do fim do ano, eles foram ficando mais ocupados e eu os vi menos. Não ia visitá-los e tentava manter contato, mas era complicado e eu não queria atrapalhar. Apesar de tudo, eles ainda eram famosos e eu apenas uma estudante. Nossos mundos eram bastante diferentes.
  Quando estava no curso, Ga Yun me fazia diversas perguntas. Acabei mostrando a banda pra ela, assim como os integrantes, e a minha sorte foi que ela gostou, então não se importava de passar quase uma hora ouvindo o que eu tinha para contar sobre eles. Era bom ter alguém a quem confidenciar tudo.
  Ela foi em casa numa noite, para que fizéssemos um trabalho, e ela perguntou finalmente o que havia acontecido entre Kyung e eu que me deixava tão insegura sobre tudo. Eu estava preparando o jantar e ela estava revisando as coisas do trabalho, quando trouxe a pergunta à tona. Parei o que fazia e encarei o nada por um tempo. Não gostava de pensar naquilo, gostava de me iludir e me esconder no mundinho bom que havia sido criado desde que eu reencontrara Kyung.
  Decidi que talvez ouvir conselhos de Ga Yun fosse bom, por isso sentei em sua frente e contei tudo. Ela me ouviu atentamente e, depois, ficou pensativa, mordendo a borrachinha do lápis que segurava.
  - É só isso? - ela finalmente disse, e eu arqueei as sobrancelhas.
  - Só isso? - repeti, confusa. Ela arregalou levemente os olhos e concordou com a cabeça.
  - Do jeito que você estava agindo, achei que você havia matado o bicho de estimação favorito dele ou algo pior. Você só rejeitou uma confissão, isso acontece o tempo todo, . Não precisa ser tão paranoica.
  Fiquei em silêncio, encarando-a. Para mim, o fora que eu dera em Park Kyung não era algo "só isso". Por minha causa, as piadinhas com ele voltaram e ele acabou se tornando bastante excluído na escola. Sem contar que tínhamos 9 anos, era necessário muita coragem para se confessar a uma garota nessa idade, ainda por cima porque crianças tendem a ser bastante verdadeiras sobre seus sentimentos. Eu via aquele dia quente na minha cabeça como um dia péssimo para Kyung, onde tudo deu errado. Não estava querendo me por em um posto alto nem nada do tipo, mas eu não conseguia ver como ele ficaria bem depois daquilo.
  Apesar de ele parecer bem, agora. Perfeitamente bem. Melhor do que eu jamais esperaria.
  Então talvez Ga Yun estivesse certa, também? Talvez não fosse nada demais e eu deveria parar de me preocupar tanto?
  Pensei no novo Kyung, neste que eu conhecera recentemente. Estar perto dele, embora muitas vezes fosse desconfortável, me fazia bem. E dos outros também, mas de Kyung principalmente. Eu gostava de estar perto dele, e a única coisa que me impedia disso era meu sentimento de que, por conta do passado, eu não merecia aquilo. Porém, como Ga Yun dissera, eu não precisava ser tão paranoica. Eu deveria aproveitar que nos reencontramos e utilizar esse reencontro para uma nova chance de fazer tudo certo.
  - Bem, você parece ter chegado em alguma conclusão. Então vamos terminar isso logo, certo? - Ga Yun, que estivera me analisando, sorriu largamente. Retribuí o sorriso e concordei com a cabeça, levantando-me para terminar o jantar.

  Eu encarava meu celular, parado em cima da mesinha de centro da minha sala. A televisão estava ligada em algum canal de fofocas, mas eu não prestava atenção nela. Toda a minha atenção concentrava-se no pequeno aparelho móvel ali, esperando que ele vibrasse ou tocasse alguma música.
  Fazia cerca de duas semanas que eu não via Kyung, e além de uma ou outra mensagem, não havíamos nos falado. Eu sabia que ele estava ocupado, e eu mesma me focava no meu curso que estava ficando um pouco mais puxado com a aproximação das férias de inverno. Ainda assim, gostaria de falar com ele. Sentia falta de conversar com ele sobre qualquer assunto. Talvez poderíamos marcar algo e ir jantar em algum lugar...
  - Como um encontro? - perguntei-me, em voz alta, e depois senti o rosto esquentar com aquele pensamento. Eu poderia mesmo sair em um encontro com Kyung?
  A cena veio em minha mente e eu sorri. Decidi que ligaria para ele e combinaria algo do tipo, mas assim que estiquei-me para pegar o celular ouvi o nome de Park Kyung na televisão e interrompi minha ação na metade, o braço ainda no ar, olhos fixos no televisor.
  Havia uma foto de Kyung, alguma promocional do Block B, e depois colocaram ao lado da dele a de uma garota com cabelos compridos e rosto bonito. Na legenda da foto, dizia seu nome e o nome de um girlgroup meio famoso, que inclusive eu já ouvira falar.
  O locutor falava sobre como os dois já tinham sido próximos, desde que Kyung começara no Block B, e que recentemente os dois haviam sido vistos várias vezes juntos. Fotos dos dois saindo de lugares, inclusive à noite, de jantares e almoços, foram exibidas na tela. Eu encarava tudo um pouco confusa, com a boca entreaberta de surpresa, o braço ainda elevado em direção ao telefone, que agora começara a vibrar e emitir luz, avisando que alguém me ligava. Eu ignorei, continuando a olhar a televisão.
  Os boatos eram de que Kyung estava namorando a artista havia algum tempo, em segredo, e que talvez agora que foram vistos mais vezes juntos iriam assumir. A apresentadora começou a levantar diversas hipóteses, mas eu finalmente me movi, alcançando o controle da televisão e desligando-a. Meu celular continuava a vibrar insistentemente, mas eu o deixei lá e recostei minhas costas no sofá, afastando-me. Encolhi minhas pernas, encostando-as ao meu peito, e abracei-as, pensando sobre tudo aquilo.
  É claro que ele devia estar namorando alguma garota famosa. É óbvio. O que eu estava pensando? Que só porque nós estudamos juntos há anos e ele se confessou pra mim, nós agora íamos ser super amigos e até poderíamos sair como um casal? Eu era realmente idiota. Se Kyung, agora, tem a chance de sair e encontrar garotas bonitas e famosas, e está tão bonito e gentil, por que ele não o faria? Por que ele iria sair com uma ridícula garota da infância dele, que ainda por cima o rejeitou quando fez sua confissão, e provavelmente estragou o resto de seus dias escolares?
  Percebi que havia uma lágrima escorrendo pela minha bochecha, logo seguida por outra, e outra. Apressei-me em esfregá-las, apagando seus vestígios, e funguei, respirando fundo. Precisava me acalmar. Não sei se por estar segurando o choro ou por causa da temperatura em si, mas senti-me muito quente. Abanei-me algumas vezes, tentando controlar as lágrimas e os pensamentos que me atormentavam. Eu realmente queria sair com Kyung, eu realmente gostava de Kyung.
  Talvez fosse isso que eu merecesse. Talvez fosse essa a vingança planejada por ele. Fazer eu criar sentimentos, criar esperanças, e então jogar tudo em minha cara, dando as costas à mim e me abandonando no calor, sozinha e desamparada.

Capítulo 08

  Fazia mais ou menos um mês que eu não via ninguém do Block B, ou falava com eles. Eu ignorava qualquer tentativa de comunicação que qualquer um deles fazia, principalmente Kyung. Eu não sabia porque ele continuava a tentar entrar em contato quando devia estar ocupado com sua namorada famosa. Ga Yun percebia que eu estava mais desanimada e triste do que antes, e fazia diversas perguntas sobre o que acontecera, mas eu não queria falar sobre aquilo. Queria que eu pudesse ir pra algum país estrangeiro, como Kyung fez, e passar anos lá para superar tudo aquilo. Eu poderia estar exagerando, mas me sentia mal com tudo aquilo. Eu preferiria nunca ter reencontrado Kyung, e nunca ter me lembrado dele, nem nada do tipo.
  Ga Yun me convencera, numa tarde bem fria de inverno, a passear um pouco pela cidade. Visitar o antigo cinema, andar, sair um pouco de casa. Com a desculpa dos trabalhos do curso, enfurnei-me em casa e de lá só saía para fazer compras essenciais e afins. Ga Yun não aguentava mais aquilo, então me arrastou para fora naquela tarde.
  Novamente, ela estava atrasada. Eu esperava perto de um parque, sentindo frio, apertada em meu sobretudo. Balançava minha perna direita nervosamente, aguardando e aguardando. Da última vez que marcara algo com Ga Yun e ela se atrasara, eu reencontrara Kyung, e eu esperava que nada do tipo acontecesse dessa vez.
  Óbvio que minha sorte não andava das melhores havia um tempo.
  - -ya! - ouvi atrás de mim e, fechando os olhos antes de me virar, voltei-me para a pessoa que me chamara.
  - Zico. - falei, tentando esconder o alívio em minha voz. Ele vestia um sobretudo preto e um gorro da mesma cor, com um cachecol creme contrastando. Sorriu um pouco e se aproximou.
  - Quase passei reto, não tinha certeza se era você. - ele disse, parando perto de mim. Sorri, um pouco sem graça. - Faz um bom tempo que não nos falamos. Está muito ocupada?
  - S-sim... - hesitei, apertando minhas mãos. - Coisas... do curso, e tal. - minha cara provavelmente entregava todo meu nervosismo. Zico me olhou, desconfiado.
  - É mesmo? Mas podia nos responder às vezes. Ou aceitar nossas ligações. Ou pelo menos... as de Kyung. - ele disse, olhando ao redor e soltando o ar, ao mesmo tempo que eu prendia a respiração. Desviei meus olhos para o chão, não querendo mais estar ali. Onde estava Ga Yun? Por que ela me metia nessas confusões? - -ya?
  - Sim? - engoli em seco, olhando-o. Zico analisava meu rosto, agora parecendo preocupado. Aproximou-se e colocou uma mão no topo da minha cabeça.
  - Você sabe que todos nós gostamos de você lá, não sabe? E gostaríamos de te ver de novo. Apareça logo.
  - Eu irei. - murmurei, sabendo que não era verdade. Eu não queria ver ninguém mais. Zico pareceu adivinhar o que eu pensava.
  - Principalmente Kyung. - ele disse, sugestivamente. Corei, afastando-me dele.
  - O que tem Park Kyung? - resmunguei, cruzando meus braços. Quis me fazer de forte, mas só a menção do nome dele fazia meu coração bater mais descontroladamente e de forma desconfortável, sem que eu pudesse evitar lembrar os boatos que ouvi na televisão e surgiram mais algumas vezes depois.
  - Ele sente sua falta. Mais do que todo mundo. Está sempre mencionando você, e pensando se fez algo de errado pra você ignorar as ligações dele e se afastar de nós. - Zico contou, colocando as mãos no bolso. Permaneci em silêncio. - Ele acha que você ficou sabendo dos boatos dele com Hyo Rin, e que é alguma coisa com isso. Você sabe que os boatos são falsos, não sabe? - ele perguntou, inclinando a cabeça levemente e continuou a me encarar. Eu queria que ele parasse de falar sobre aquilo e fosse embora. Respirei fundo, recuperando um pouco da minha pose.
  - Falsos ou não, as fotos não eram falsas, Zico. Eu vi tudo aquilo, ok? E eu não quero mais atrapalhar a vida de Kyung, depois de tudo que fiz a ele quando éramos mais novos. Ele realmente devia ir e namorar uma garota famosa, como tem direito, ao invés de ficar me ligando e "sentindo minha falta". - falei as últimas palavras com desdém, controlando-me para não parecer que aquilo tudo na verdade me machucava.
  Zico me encarou em silêncio por um tempo, e depois soltou uma risada pelo nariz. Olhei-o, confusa.
  - Você realmente não entende, não é -ya? - perguntou, e eu franzi as sobrancelhas. Não entendia o quê? Zico respirou fundo, desviando os olhos, parecendo que não ia falar mais nada, mas depois me olhou. Sorriu fraco. - Você não pode sumir agora, sabe disso? Não é certo com o Kyung-ie, nem com nenhum de nós, que também gostamos da sua companhia. Você apareceu nas nossas vidas e por sorte ou acaso acabou se tornando importante. E agora você quer simplesmente ir embora? Fugir?
  A última palavra chocou-me e eu recuei um pequeno passo para trás, arregalando levemente meus olhos e olhando-o. Zico esfregou a ponta do nariz, provavelmente sentindo frio. Estávamos ali já havia um tempo.
  - Eu... eu não... - queria responder algo, mas não sabia o quê. Estava completamente confusa. Eu queria ficar perto de Kyung, queria sair com ele e jantar, queria encontrar todos do Block B e passar outra tarde divertida ouvindo-os cantar e dançar e fazer piadas uns com os outros. Eu adorei aquele ambiente desde a primeira vez que fui lá, e afastar-me de tudo aquilo não era bom pra mim também. Ainda assim, Kyung me deixava desconfortável, pois eu não conseguia simplesmente deixar de pensar no incidente da nossa infância, ao mesmo tempo que queria estar perto dele e fazer tudo direito. Eu tinha esse direito? Eu podia ter uma outra chance? Eu não sabia. Estava completamente confusa.
  - -ya. - Zico me tirou dos pensamentos e eu foquei meu olhar nele. Ele estava checando o celular nos últimos segundos, e supus que ele tivesse que ir. - Não fuja, por favor. - ele deu um sorriso pequeno. - Não é assim que se faz na vida das pessoas. Você não entra e, porque algum inconveniente aconteceu, decide fugir do nada. Se você não quer mais atrapalhar Kyung-ie, fique na vida dele, e na nossa, como você esteve desde que nos reencontramos.
  Não falei nada, absorvendo as palavras, e ele sorriu, acenando e se afastando. Fiquei no lugar, como se ainda esperasse Ga Yun, mesmo sabendo que ela não viria mais, olhando Zico desaparecer e pensando em tudo que ele havia me dito.
  Talvez o problema fosse que eu pensasse demais, mas eu não podia evitar. Aqueles boatos confundiram toda a minha cabeça e, mais uma vez, eu não sabia o que fazer.

Capítulo 09

  Era o último dia de aulas. Eu estava distraída, batucando a caneta no papel, e se Ga Yun não tivesse me chamado, eu provavelmente não teria saído pro almoço. Ela já tinha combinado de conversar com um professor sobre uma recuperação, por isso acabei indo sozinha, mesmo sem nenhuma vontade de comer. Andei pelos corredores quase vazios e saí do prédio, pensando onde poderia almoçar.
  Onde eu iria almoçar. Eu gostava quando aquela era a coisa que mais me preocupava, e não como estaria Kyung e se eu deveria voltar a falar com ele ou não. É claro que eu estava pensando em Kyung o tempo todo. Continuava sem saber o que fazer, em relação a ele e em relação a minha vida, e tudo que eu queria era que aquele dia no passado nunca tivesse existido e eu pudesse gostar dele sem nenhum ressentimento ou nenhum medo de fazer algo errado e magoá-lo.
  Eu ainda achava que manter-me afastada era a melhor solução. Apesar do que Zico dissera sobre os boatos serem falsos, na noite anterior eu havia visto mais alguns deles, sobre a mesma garota e Kyung, e não havia melhorado minha situação. Se os dois estavam juntos, então por que ele se preocuparia em me chamar?
  Possivelmente Kyung só me enxergava como amiga, e eu quem estava embaralhando todas as coisas. Achando que poderia ter outra chance com ele só pelo fato de que ele, quando tínhamos 9 anos e dividíamos sanduíches e canetinhas coloridas, gostava de mim. Eu era absurdamente ridícula. Mas não podia controlar meus sentimentos. Park Kyung era sempre tão gentil, apesar de tudo que acontecera, que eu não tinha como evitar gostar dele de outra forma além de amizade.
  A conversa com Zico também não saía de minha cabeça e não melhorava em nada meu ânimo ou estado. O resto do Block B também sentia minha falta e eu sentia falta deles. Só por causa de Kyung, eu estava me afastando de todos? Aquilo era realmente certo?
  Gostaria de pegar exatamente o momento que tudo começou a se bagunçar na minha vida e apagá-lo. Naquele dia, no cinema, ter saído um pouco mais rápido da sala e então não teria esbarrado em Kyung. Porém eu provavelmente teria encontrado-o na gravação do clipe. Não teria como evitar. Era uma brincadeira sem graça do destino.
  Terminei de almoçar e voltei para a aula. O dia, além de frio, estava nublado e deixava tudo um pouco escuro. Pra melhorar, recebi uma nota baixa em uma matéria que me desanimou. Ultimamente não havia feito muito nas aulas, por causa da confusão da minha mente. Além de atrapalhar minha vida social, esse problema com Kyung também estava começando a afetar minha vida estudantil também.
  Não vi Ga Yun pelo resto do dia, e parece que sempre que ela desaparecia era que a vida decidia dar mais uma bagunçada. Saindo com o grupo de alunos livres das aulas, avistei parado na porta do prédio onde eu tinha minhas aulas, ninguém mais ninguém menos que Park Kyung, enrolado em diversos casacos e apoiado em seu carro preto. Ele ainda não havia me visto, e eu imaginei o que ele estava fazendo ali, embora desconfiasse. Ponderei se daria tempo de eu entrar e fugir, mas nesse momento ele me viu e, sem sorrir, levantou um braço num aceno, para que eu também o visse. Como se eu já não tivesse feito isso há alguns segundos.
  Engoli em seco e forcei minhas pernas a se moverem, agora já havia ficado para trás e tinha um ou outro retardatário comigo. Aproximei-me de Kyung e ele finalmente deu um pequeno sorriso, desencostando-se do carro e dando um passo em minha direção. Parei, mantendo uma distância entre nós, e encarei-o, sentindo o vento gelado açoitar meu rosto.
  - -ya. - ele disse, sorrindo. Inclinei um pouco minha cabeça, ainda sem dizer nada. - Faz um bom tempo que não nos vemos, não é?
  - Sim, Park Kyung-sshi. - murmurei, trocando o peso do corpo para a outra perna, completamente desconfortável. - Estive um pouco ocupada.
  - Eu também, mas acharia tempo pra sair com você ou conversar, mesmo por telefone, se quisesse.
  Sair comigo.
  Ele já não sorria mais e também não parecia confortável de estar tendo aquela conversa. Por que eu continuava fazendo isso? Por que eu continuava entrando na vida de Kyung e fazendo-o se sentir mal? Qual era meu problema que não conseguia simplesmente ficar perto de alguém que gosto sem pensar que estava estragando toda a sua vida, e acabar fazendo isso mesmo?
  - Por que você não queria? - resolvi perguntar, minha voz falhando um pouco. Kyung franziu as sobrancelhas.
  - Você não queria, -ya. - ele deu ênfase no "você" e eu encolhi-me ligeiramente. - Eu te liguei diversas vezes e você não atendia. Por isso que vim até aqui, para conversar direito com você. Queria saber por que está me evitando! Eu fiz algo errado? São os boatos idiotas que estão espalhando sobre eu e Hyo Rin? Eles são falsos, -ya, não tem o que se preocup...
  - E se eles fossem verdade, o que eu teria a ver com isso, Park Kyung? - cortei-o. Ele parou de falar e me olhou, um pouco surpresa. Talvez eu estivesse esgotada demais, de saco cheio da faculdade e dos boatos e de toda aquela bagunça na minha mente, além daquele frio e o vento que não dava trégua.
  - O que você quer dizer? - ele parecia meio hesitante. Respirei fundo.
  - Quero dizer que se você estivesse de fato namorando aquela garota, não teria problema, teria? É a sua vida! Eu não sou nada na sua vida, além de alguém que te deu um fora ridículo e rude quando você fez sua primeira confissão. Eu possivelmente estraguei toda a sua vida e ainda te fiz alvo de bullying do resto da sala por um bom tempo, até que você se mudou para longe. - soltei tudo, simplesmente desabafando tudo aquilo que sempre esteve dentro de mim. - E eu não me sinto nem um pouco bem com tudo isso, em nenhum momento me senti. E agora, que você está de volta à minha vida e tudo parece mágico e bem, meus sentimentos viraram uma explosão confusa e eu não consigo decidir se me afasto de você e deixo você em paz, pra não atrapalhar mais a sua vida, ou se sou egoísta e peço pra você ficar, mesmo tendo feito tudo que eu fiz antes! - terminei, quase ofegante.
  Kyung parecia extremamente confuso, obviamente não esperava que eu despejasse tanta coisa assim num simples encontro para saber o que havia de errado. Mas bem, não havia nada que eu pudesse fazer; tudo aquilo que eu falara estava errado. Eu não aguentava mais.
  Ele passou longos segundos em silêncio, parecendo procurar palavras, mas não parecia ser capaz de assimilar tudo e tomar alguma providência. Bati o pé com força no chão, em frustração, e olhei-o quase com raiva, enquanto ele se assustava brevemente.
  - Por que você não diz nada?! - quase gritei. - Por que você nunca tem alguma reação, Park Kyung?!
  Empurrei-o - porque senti necessidade disso -, de forma que ele voltou a ficar encostado no carro, ainda me olhando beirando confusão e susto. Saí correndo dali, para não ter que encará-lo, e esperava que nunca mais tivesse que fazê-lo.

  Na verdade, eu quis encará-lo de novo mais rápido do que imaginava. Depois de chegar ofegante em casa da corrida e sentar-me no chão com as costas apoiadas na porta, pensei que tinha acabado de deixá-lo para trás mais mais uma vez; aquilo parecia estar se tornando um hábito ridículo meu.
  Eu não devia ter falado as coisas daquela forma. Novamente, a situação e o ambiente me levaram a reagir exageradamente, e eu não sabia o que ia acontecer com Kyung dessa vez. Ele não era mais um garotinho de 9 anos se confessando, ao menos.
  Fiquei alguns minutos sentada no chão, recuperando fôlego e pensando em tudo, quando bateram na porta. Levantei-me, um pouco cambaleante, e sem olhar quem era, abri. Arregalei levemente os olhos ao ver Kyung parado em minha soleira, surpresa por vê-lo tão rapidamente. Quando me dei conta da situação, senti-me extremamente cansada, mas isso não evitou que minhas bochechas corassem e eu ficasse envergonhada com tudo que havia feito. Baixei os olhos para o carpete de entrada, onde seus tênis pretos estavam.
  - -ya. - ele disse, a voz levemente rouca, e eu percebi o quanto eu gostava de ouvir meu nome quando ele o dizia.
  - Por que você faz isso, Kyung-ie? - perguntei, a voz baixa. Apoiei-me no batente, ainda sem encará-lo. - Por que depois de tudo que faço com você, você sempre volta, de alguma maneira?
  - Dessa vez eu não quis esperar dez anos. - ele brincou, e eu levantei meus olhos para seu rosto, seu sorriso um pouco sem graça. Ele percebeu que eu não estava exatamente em clima de gracinhas, e ajeitou o casaco, balançando depois os braços ao lado do corpo. - Você quer saber por que eu sempre volto?
  Concordei com a cabeça, ainda olhando-o. Park Kyung era tão bonito. Ele deu um passo à frente, ficando muito próximo de mim, mas eu não ousei recuar, quase hipnotizada pelo jeito que ele me olhava. Kyung sorriu, mais naturalmente, e arrumou uma mecha de meu cabelo, que provavelmente estava uma bagunça.
  - Eu sempre volto, e sempre vou voltar, independente do que você faça ou me diga, -ya - ele começou, pousando a mão em uma das minhas bochechas. - porque você sempre vai ser a única pra mim.
  E então sua outra mão estava no outro lado do meu rosto, e seus lábios sobre os meus. E a confusão de sentimentos que estava em meu peito se clareou como o sol surgindo em um dia chuvoso, iluminando tudo e deixando tudo como deveria ser.
  Nada, nossa infância, nossos problemas, as briguinhas idiotas que eu causei e todas coisas que mal interpretei nas últimas semanas, nada disso mais importava. Eu percebi que o que ele havia dito aplicava-se a mim também, e talvez fosse por isso que o passado me atormentava tanto.
  Vai ver que, durante todo esse tempo, sempre, Park Kyung também havia sido o único pra mim.

FIM



Comentários da autora


  n/a: Demorei um pouquinho, mas finalmente acabei!
  Dongsaeng, apesar de ser difícil escrever que o Kyung é bonito etc etc etc, você me fez uma fanfic do U-Kwon que ficou linda, então merecia uma dessas também! Me empolguei nos capítulos eu sei, mas não sei fazer shorts e espero não ter enrolado demais em alguns deles.
  Nota off: Pare de me mandar mensagens no Whatsapp e me deixe terminar a n/a enquanto estou inspirada! -qq
  Para as outras coitadas Kyung biaseds que lerem isso (se alguém mais ler lol) espero que gostem ♥ mas ela foi escrita especialmente pra minha dongsaeng Tanize, por ela ser fofíssima e ser minha gêmea, e me chamar de onee-chan (sim somos multiculturais, ahazamos), e tudo. Ela me transformou em BBC ;-; but I have no regrets -qq
  ENFIM ~ é isso, espero que tenha gostado Tize, mesmo mesmo mesmo ♥ e que escreva logo minha fic Sleeping com o B-Bomb HUE ;)
  xx ~ B-Annie (não estou pedindo desculpas e -qq)