Aloha

Escrito por Zã Nogueira | Revisado por Pepper

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  “Quer casar comigo?” era tudo o que dizia a mensagem. A remetente era , minha melhor amiga. Na verdade, ela era melhor amiga de , a namorada de e só por isso que eu a conhecia para começo de conversa. Eu as via o tempo todo já que, além de também morarem na Califórnia, apareciam com frequência em shows quando nós estávamos em turnê. No início, ela era apenas uma estranha que eu via bastante, mas em um dia de folga, e sumiram e eu chamei para sair. Gostaria de poder dizer que foi um convite sem segundas intenções, mas ela era bonita demais para me impedir de pensar em outra coisa. Depois daquele dia de verão no meio dos Estados Unidos, nós ficamos amigos. É, amigos. Mas o tempo passou e de repente, não ficar com ela não era ruim, visto que eu prezava demais a amizade dela para arriscar algo a mais. Era ela que eu chamava para ir a eventos em que deveria levar uma acompanhante, ou quem eu sempre comprava lembranças das minhas viagens pelo mundo. Mesmo depois que e terminaram, ela continuava a vir para San Diego e aos nossos shows e eu também ia visitá-la em Santa Monica.
  Todo mundo achava que nós éramos namorados, mas nunca nada acontecera nada além de uns selinhos inocentes quando ela precisava de ajuda para se livrar de malas em festas.
  “O que você está aprontando, ?” respondi. Tratando-se de , poderia ser qualquer coisa. Poucos minutos depois, meu celular estava tocando.
  - Você não vai acreditar! Ganhei em uma promoção de um shopping aqui da cidade uma viagem de lua de mel. O problema é que eu não tenho um marido...
  - E o que houve com Austin? Achei que vocês estavam juntos...
  - Carlile? Aquilo foi passageiro! De qualquer maneira, ele não merece um fim de semana com tudo pago em um resort no Hawaii.
  - Você tem certeza que não teremos problemas? E se eles descobrirem?
  - , desde quando você ficou tão responsável? Está com medo de ter o seu green card revogado?
  - É dessa maneira que você quer me convencer?
  - Eu vou te levar pro Hawaii de graça e você ainda quer ser convencido? Vai ser meu marido ou não?
  - Quando é a viagem?
  - No próximo fim de semana. Não podemos deixar brecha para que eles se lembrem de nos investigar.
  - Tudo bem. Se algo der errado, eu digo que você me enganou.
  - Qualquer coisa para você não ser deportado! Bom, eu tenho que ir, preciso achar biquínis novos! Vou te mandar um e-mail combinando os detalhes. Até mais, marido.
  - Até mais!

  Iríamos viajar na sexta-feira às 6 horas da tarde e chegou a San Diego no meio da tarde.
  - Oh, antes que eu esqueça, coloque isso! – Ela falou me estendendo um anel dourado.
  - Você comprou alianças?
  - Não! Aquelas coisas são caras! Esses são bijouterias baratas, mas vão cumprir o seu papel por um fim de semana – Ela falou e eu coloquei o anel – Ficou bom em você, já considerou a vida de casado? Só compre um anel de noivado que custe mais de dez dólares – E então ela estendeu a mão.
  - Anotado.
  - Você está pronto pra ir?
  - Vamos nessa.

   havia me avisado que deveríamos entrar no clima de romance já no avião e eu achei que era piada dela, mas quando recebemos taças de champanhe em nossos assentos na primeira classe, percebi que a coisa era séria. Se bem que não era nenhum sacrifício fingir que ela era minha, então aquelas cinco horas de viagem não foram torturantes como costumam ser.
  - Senhores passageiros, bem vindos ao aeroporto Kahului – Disse a comissária de bordo pelo alto falante – São oito horas da noite no horário local, aproveitem sua estadia. Aloha ahiahi!
  - Oito horas? Eu estou cansado!
  - Onze horas no nosso fuso. Espero que jet lag não atrapalhe nossos planos.
  - Vamos logo para o hotel assim podemos tomar um café e acordar um pouco.

  - Wow – Eu disse assim que chegamos ao resort. Eu nunca havia estado em um lugar tão luxuoso quanto aquele em minha vida e nem havíamos passado pela porta de entrada. Um carregador pegou nossas malas e nós caminhamos até o saguão. No meio do caminho, tomou a minha mão na dela com naturalidade, aquilo não era novidade se tratando de nós dois.
  - Aloha ahiahi – Disse a atendente do resort.
  - Aloha! – Nós respondemos sem ter certeza do que ela estava falando.
  - Reservas em nome de quem?
  - Senhor e senhora falou sorrindo e eu pensei que poderia me acostumar com aquilo.
  - Kalakaua irá guia-los até sua suíte. Tenham uma boa estadia.

  

  Ao chegarmos ao quarto, eu não conseguia deixar de olhar para aquela cama gigantesca que parecia ser altamente confortável. Meu corpo queria se arrastar até ela e comer todos os morangos cobertos de chocolate que estavam sobre os travesseiros.
  - O que acha de jantarmos aqui mesmo essa noite e deixar para explorar a ilha amanhã? – disse como se tivesse lido minha mente.
  - Ótima ideia.
  - Certo, eu vou trocar de roupa rapidinho – Ela disse levando a sua mala até o banheiro. Eu só tirei a regata que usava e coloquei uma camisa e um colete jeans. Achei que seria um simples jantar antes de voltarmos para o quarto, mas não estava para casualidades e deixou o banheiro usando um vestido justo salmão e outras coisas que eu deveria ter reparado, mas era difícil olhar para qualquer outra coisa além de suas pernas. Ela não costumava mostra-las muito, por isso eu tendia a aprecia-las quando tinha a chance.
  - Dormiu em pé? – Ela perguntou sacudindo a mão.
  - Ah. Não. Eu só me distraí. Está pronta?
  - Vamos.
  Caminhamos até o restaurante, meu braço estava em volta da cintura dela e sorriamos para todos os funcionários do local.

  - Não é difícil entrar em clima de lua de mel em um local como esse – Eu disse quando o garçom se retirou.
  - Incrível, não é?
  Nós ficamos debatendo o que gostaríamos de fazer naquele fim de semana e segurava a minha mão sobre a mesa. Olhei ao redor por um momento, nós não éramos o único casal naquele restaurante e não parecíamos muito diferentes deles.
  - Do que você está rindo?
  - Dessa história toda, só você pra armar uma dessas.
  - Você fala como se não me conhecesse – Ela disse sorrindo e eu sabia que aquele fim de semana ia acabar comigo de um jeito ou de outro. Eu já não tinha mais como negar que ela era a minha melhor amiga porque eu não podia tê-la como nada mais além disso. E como eu a queria. soltou a minha mão e eu me perguntava se havia pensado em voz alta, mas quando o garçom colocou nossos pratos na mesa, percebi que tudo estava bem.
  Não precisávamos nos esforçar demais para parecermos um casal, visto que todo mundo achava que éramos um mesmo não sendo. Já estávamos acostumados a jantares a dois (apesar de que era a primeira vez que o fazíamos a luz de velas) e com demonstrações de afeto. Sendo assim, tivemos uma refeição tranquila e logo depois voltamos para o quarto.
   se sentou na cama e eu fui até o frigobar para pegar os morangos cobertos de chocolate, estava pensando neles desde quando saímos do restaurante – além de pensar em como gostava de sentir a mão de na minha, mas ela nunca saía da minha cabeça, eu já considerava algo que fazia parte de mim, como me lembrar de respirar.
  - Quer? – Eu disse estendendo um dos morangos para ela, mas ao invés de pegá-lo com a mão, ela apenas se esticou e o mordeu.
  - Você está estranho, – Ela falou divertida e eu tentei me recompor, mas era difícil visto que a cena se repetia em câmera lenta em minha cabeça.
  - Uh, estava pensando que esse quarto tem só uma cama. Será que eles têm cobertores extras? Eu posso dormir na banheira...
  - Do que você está falando? Essa cama é grande o suficiente para nós dois, .
  - Ah. Okay. Tudo bem. Certo.
  - Okay – Ela disse fazendo uma careta divertida – Acho que devemos dormir porque essa jet lag está pegando você.

  Ao acordar, ainda era escuro lá fora e dormia ao meu lado. O pijama dela na verdade era uma blusa do A Day to Remember e uma cueca samba canção, ainda assim ela estava extremamente sexy. Eu achei que ia ser bem estranho caso ela acordasse e me pegasse observando-a, então me levantei e fui tomar um banho. Frio.

  - Bom dia – Eu disse quando saí do banheiro e encontrei espalhando roupas pela cama.
  - Bom dia! Sabe, acho que deveríamos casar de verdade, assim eu poderia ser acordada todas as manhãs por você cantando no chuveiro.
  - Eu te acordei? Desculpa!
  - Não, não, tudo bem. É bem melhor do que acordar com o meu celular. E quantas pessoas podem dizer que ouviram cantando Mayday Parade?
  - E o que vamos fazer hoje mesmo? – Eu mudei de assunto estrategicamente antes que falasse o que me fazia querer casar com ela.
  - Pensei que poderíamos tomar um bom café, receber uma boa massagem e ir explorar a ilha.
  - Ótimo.

  - Há quanto tempo vocês se conhecem? – Perguntou a massagista de .
  - Uns quatro anos, eu acho, mas estamos juntos faz três anos e oito meses – Ela respondeu e eu fiz as contas mentalmente para confirmar que ela estava falando a verdade, se considerarmos aquele dia em que a chamei para sair como início do nosso relacionamento.
  - E como foi o pedido? – Perguntou a minha massagista.
  - , conte a elas!
  - Hm, certo – Eu disse tentando ganhar algum tempo para pensar em algo – Foi em Santa Monica, no píer. Estávamos na roda gigante e eu contratei um daqueles aviões que para puxar uma faixa que tinha a grande pergunta. Então, quando estávamos parados lá em cima, eu apontei para o céu e ela falou ‘alguém vai se dar bem essa noite’. Quando ela olhou de novo para mim, eu estava segurando a caixa com o anel.
  - E então ele disse ‘por favor, diga sim, ou a descida será extremamente desconfortável’ – Ela completou – Eu obviamente disse que casaria com ele e todo mundo na roda gigante começou a aplaudir. Comemoramos com raspadinhas e churros. Foi um dia especial.

  - Só essa massagem já fez esta viagem valer a pena – Eu disse quando saíamos do hotel em direção ao centro em uma van do resort que fazia o translado.
  - Realmente, foi renovadora. E você foi bem criativo com a sua história.
  - O seu complemento foi ótimo também.
  - Chegamos! Praia de Papalaua – Disse o motorista.
  - Achei que você não era a maior fã de praia – Eu disse enquanto mal continha sua felicidade.
  - Eu sei, mas vir até o Hawaii e não surfar parece errado. Vamos, vai ser divertido.

  Foi mesmo. Depois da primeira meia hora, quando só caíamos na água.
  - Acho que eu já tomei os dois litros de água recomendados por hoje – disse quando já estávamos usando roupas secas e caminhando pelas ruas. Entramos em várias lojas, compramos algumas coisas, me deu um ukelele. O mais engraçado, era que ninguém ali precisava saber que éramos casados, ainda assim, nos comportávamos como se fossemos, ela chegou a assinar o livro de visitar do museu naval como senhora e me chamava de querido o tempo todo. Eu estava gostando daquilo e retribuía o carinho.
  Pouco depois do meio-dia, estávamos com fome demais para continuar e decidimos almoçar por ali mesmo. Com as energias recarregadas, voltamos a caminhar pela região.
  - Raspadinhas! – falou quando avistou o caminhão parado – Acho que devemos comemorar a nossa lua de mel, não é, meu bem?
  - Claro, meu amor – Eu disse enquanto atravessamos a rua.
  Depois de algumas risadas por conta dos corantes que coloriram nossas bocas e as caretas por causa do congelamento de nossos cérebros, parou de repente na calçada.
  - O que foi?
  - Skin Deep!
  - O que?
  - Skin Deep – Ela falou apontando para o estúdio de tatuagem em que estávamos parados em frente – É o estúdio mais antigo de todo o Hawaii. Vamos!
  Ela me puxou para dentro do estabelecimento, onde caras fortes e mal encarados nos receberam com sorrisos amistosos.
  - Aloha! – Disse o mais forte deles.
  - Aloha! – A minha mulher respondeu – Eu sei que é um tiro no escuro, mas alguma chance de vocês terem um horário disponível por agora?
  - Você quer fazer uma tatuagem? – Eu perguntei.
  - Claro!
  - Hoje é o dia certo para você. Estamos atendendo sem hora marcada. O que você quer tatuar?
  - Um copo de raspadinha com uma faixa dizendo ‘aloha’.
  Eu dei risada, achando que ela estava brincando. Não estava.
  - E você? – O grandão me perguntou.
  - Eu estou bem, obrigado.
  - Ele tem medo de agulhas – falou.
  - Eu não tenho medo de agulhas!

  Saímos do estúdio quase duas horas depois. A raspadinha verde de estava agora permanentemente desenhada no lado interior do seu braço. Por minha vez, eu tinha uma raspadinha roxa nas costelas.
  - Eu nunca fiz uma tatuagem, porque queria ter certeza de que se um dia fosse marcar a minha pele para sempre, seria por algo que vale a pena.
  - Você marcou sua pele por mim e pelo nosso casamento, nada vai durar mais do que isso, querido – Ela falou e me beijou a bochecha.
  - Esse casamento vai acabar amanhã.
  - Mas eu vou ser uma daquelas ex-mulheres que não segue em frente, pode ficar tranquilo - Eu rolei os olhos e sorri – De qualquer jeito, fico feliz em ter sido a pessoa com quem você perdeu a sua virgindade.
  - Certo, qual a próxima atividade? Você nadar com tubarões? Jogar rugby com os nativos?
  - Exagerado – Ela falou – Vamos para o aquário!

  Duas horas depois, saímos do Maui Ocean Center e carregava uma sacola cheia de lembranças.
  - Eu não sabia que era possível gastar tanto dinheiro em um aquário – Eu falei enquanto tomava a sacola da mão dela.
  - Droga! – Ela falou ao olhar o relógio.
  - O que foi?
  - Estamos atrasados! Faz parte do pacote entradas para um luau. A não ser que você queira fazer outra coisa...
  - Não, claro que não!

  Quando chegamos ao local, descobrimos que se tratava de um restaurante e nós estávamos decididamente mal vestidos para o local, onde famílias usavam roupas de missa de domingo, apesar do clima informal com todas aquelas tochas e garçonetes vestidas como dançarinas de hula.
  Mais tarde, viemos a descobrir que elas não estavam apenas vestidas, como eram de fato dançarinas. A apresentação foi muito legal e a comida estava ótima e passar tempo com sempre era bom. Saímos de lá quando o show terminou, pouco antes das nove da noite, e caminhamos em direção à praia. A lua cheia estava espelhada no oceano bem mais calmo do que durante a manhã.
  - Eu vou comprar umas cervejas, espere aqui – Eu disse ao avistar um mercado à distância.
  - Certo – falou e se sentou na areia.
  Eu não levei muito tempo fazendo a compra, mas foi tempo suficiente para quando voltasse, visse conversando com um rapaz. Eles estavam de costas para mim, então só notaram a minha presença quando eu estava ao lado deles. Pelo sorriso no rosto dela, eu não diria que ele estava incomodando-a, muito pelo contrário.
  - , esse é Kahoke! Ele mora aqui perto e acabou de me convidar para uma festa que ele vai dar. O que você acha?
  - Parece uma boa – Eu disse estendendo a garrafa para ela. Seguimos Kahoke pela praia, até que ouvimos a música. A casa de Kahoke ficava bem próxima da areia, onde estava uma grande fogueira. Ele nos apresentou para algumas pessoas e logo nós estávamos enturmados com os nativos.
  Perto das três da manhã, eu já estava começando a ficar cansado, mas parecia ainda estar se divertindo, dançando com todo mundo e bebendo bastante. Foi ai que um dos amigos de Kahoke se aproximou dela. No começo, eles estavam apenas dançando e então ele investiu sobre ela, que levou na esportiva e o afastou delicadamente. O movimento dele fez o meu sangue ferver, mas eu fiz todo o esforço do mundo para não me levantar, visto que ela havia administrado bem a situação. Infelizmente, não consegui ficar no meu lugar. Cruzei a sala da casa em poucos passos e tomei o rosto de com minhas mãos, colando nossas bocas. Os lábios dela estavam gelados, por conta da cerveja que ela havia bebido até então. correspondia o meu beijo e quando finalmente nos separamos, ela deu risada. Eu não sabia o que aquilo significava, era a primeira vez que eu a beijara de verdade e ela estava rindo. Talvez porque tinha achado incrível como eu havia achado ou talvez porque ela tinha me achado idiota. De qualquer jeito, ela entrelaçou os dedos nos meus e deu um longo gole em sua garrafa de cerveja. Não voltamos a nos beijar, mas ficamos juntos, dançando, bebendo e interagindo com os nativos. Tudo teria terminado bem, mas quando eu fui para o banheiro, o mesmo cara que estava dando em cima dela anteriormente voltou a insistir em beijá-la. Eu respirei fundo vendo se afastando dele, mas quando dei por mim, já estava acertando o rosto dele com meu punho cerrado e ela estava me puxando para fora da casa.
  - Vamos embora – Ela disse e nós caminhamos de volta para o centro da cidade, olhando sobre nossos ombros desejando não estarmos sendo seguidos pelos amigos de Kahoke.
  - Você está bem? - Eu perguntei quando finalmente estávamos em segurança nas movimentas ruas do centro.
  - Sim. E você?
  - Estou.
  - E o que você achou que estava fazendo?
  - Aquele cara estava em cima de você!
  - E eu estava com tudo sob controle!
  - Ah, sinto muito então por ter arruinado a sua festa – Eu falei irritado.
  - Hey, hey, não precisa ficar assim também – Ela disse. Eu continuei emburrado, o que a fez parar e me dar um abraço – Vamos voltar pro hotel.
  - Sim.
  Foi então que nós percebemos que não fazíamos ideia de como voltar. Depois de perguntar um pouco, entramos em um ônibus sem ter certeza de onde ela iria nos levar. Eu falei para pegarmos um táxi, mas ela disse que uma última aventura no dia seria divertido. Mal começamos a andar e encostou-se ao meu ombro e começou a cochilar. Eu acabei adormecendo pouco depois e quando voltei a abrir os olhos, a paisagem ao redor era bem diferente do que eu esperava. Cutuquei que acordou confusa.
  - Onde estamos?
  - Vulcão Haleakala – Disse o motorista.
  - Estamos longe do Four Seasons? – Ela perguntou.
  - Ih, vocês deveriam ter pego o 311 e não o 377 – Ele falou – Mas a viagem vai valer a pena, vocês vão conseguir ver o nascer do sol no topo do vulcão, acima das nuvens.
  Eu estava desejando desesperadamente pela minha cama, mas ao chegar ao topo do vulcão, tive de dar o braço a torcer. Aquela era a vista mais bonita do mundo. Haviam tantas estrelas no céu que parecia que ele havia sido pintado somente para ocasiões especiais. Eu e não falávamos nada, apenas observávamos abismados aquela infinidade de pontos brilhantes no céu.
  - Wow – Ela disse baixinho, como se qualquer barulho pudesse afugentar as estrelas.
  - Eu sei – Respondi no mesmo tom de voz, segurando a mão dela.
  Ficamos ali boquiabertos, observando as luzes das estrelas enfraquecerem, até sumirem e o céu ficar de um tom de azul cada vez mais claro e então o sol dava sinais de que iria aparecer, manchando o horizonte de amarelo. Aquilo era incrível, todas as pessoas naquele lugar estavam hipnotizadas como nós e eu nunca estive tão feliz pela nossa aventura. Ficamos lá até o sol estar no céu, tiramos algumas fotos sobre as nuvens e riu da minha pose fingindo estar voando.
  Eu não sabia como ainda estávamos de pé, logo fariam 24 horas que estávamos acordados. Pegamos o ônibus de volta, agora sabíamos onde deveríamos descer para pegar o certo e finalmente chegarmos até nossa cama.
  A viagem de volta durou uma hora. Dormimos a maior parte do caminho, mas nos momentos em que abríamos os olhos, haviam uma vista digna de cartão postal do outro lado da janela. Quando chegamos ao nosso quarto, tínhamos o nosso próprio cartão postal nos esperando, e eu não me referia ao oceano Pacífico bem em nossa frente, mas a cama super confortável pronta para nos receber. Dormimos sobre os cobertores e completamente vestidos.
  Tive a sensação de ter fechado os olhos por três minutos e logo estava me acordando.
  - Temos exatamente três horas no Hawaii – Ela disse quando eu abri os olhos. Eu estava disposto a dizer que pretendia passar essa três horas dormindo, mas ela estava usando um biquíni azul que me impedia de formular qualquer sentença que não me deixasse em perigo – Vou tomar café e depois cair na piscina, você vem?
  - Ahn, sim. Vá na frente, eu preciso de um banho, te encontro na piscina.
  - Certo – Ela me beijou no rosto e colocou um vestido, saindo do quarto em seguida.
  Suspirei profundamente, parte de mim queria ficar mais tempo aqui, mas outra parte já estava achando difícil controlar todos os meus impulsos que, ao contrário do que eu esperava, se intensificavam a cada momento.
  Depois de um banho mais longo do que o necessário, vesti uma regata e bermudas, caminhando até a área externa do resort. estava tomando sol em uma espreguiçadeira e eu me perguntava se estava sendo punido por algo que havia feito em vidas passadas, pois era injusto tudo aquilo está tão perto, mas ao mesmo tempo totalmente fora do meu alcance.
  Nós ficamos na piscina por um tempo, depois almoçamos e logo era hora de arrumar as malas. Nosso voo sairia às duas da tarde, o que encurtara bastante o nosso último dia na ilha.
  - Não acredito que já estamos indo embora – Eu disse enquanto olhava o Hawaii pela última vez através da janela do táxi que nos levaria para o aeroporto.
  - Nem me fale, só de pensar que tenho que encarar um turno de doze horas no hospital amanhã, me dá vontade de fugir e ficar aqui pra sempre.
  Infelizmente, voltamos para o continente. Chegamos em San Diego às dez da noite e fomos para a minha casa.
  - Muito obrigada por ter me emprestado o seu sobrenome por um fim de semana, – Ela disse me abraçando.
  - Sempre que precisar.
  - Agora eu tenho que ir, mais duas horas e meia de viagem até Santa Monica.
  - Você parece cansada, tem certeza que pode dirigir?
  - Tudo bem, quando eu começar a dirigir, o sono vai embora.
  - Não é assim que funciona, . Nós dormimos quatro horas noite passada e você insistiu em ficar acordada durante o voo.
  - Estava passando um filme com o Ryan Gosling – Ela disse como se fosse um argumento poderoso.
  - Vamos fazer o seguinte, eu dirijo.
  - Você não precisa.
  - Tudo bem, você pode ir dormindo e eu estou bem, ao contrário de certas pessoas, sou imune ao charme do Ryan Gosling e dormi bastante durante a viagem.
  - Certo, mas ninguém é imune ao charme dele – Ela disse me atirando as chaves.

   se esforçou para ficar acordada e me fazer companhia. Falávamos sobre o Hawaii e imaginávamos futuros destinos para outras viagens, mas quando estávamos passando por Long Beach, ela adormeceu.
  Foi um tanto complicado tirá-la do carro e carregá-la do estacionamento até a porta do apartamento dela, mas para a minha sorte, ainda estava acordada e abriu a porta para mim.
  - Certo, fique a vontade, eu só estava esperando chegar, tenho aula super cedo amanhã – Ela disse me acompanhando até o quarto da amiga, onde eu deitei em sua cama.

  Na manhã seguinte, acordei na cama de . Sem ela. O recado preso ao espelho dizia que ela estava no hospital e agradecia por tudo. Ela assinou como senhora , o que me fez rir.
  Foi então que eu parei para pensar: poderia voltar para San Diego e voltar a me enterrar sob essa pilha de sentimentos ou eu poderia dizer o que eu sentia e rezar pelo melhor.
  Eu estava sentado no sofá da sala, ainda pesando os prós e contras de falar para como eu me sentia, quando a porta se abriu.
  - ! – disse depois de claramente se assustar com a minha presença – Esqueci que você estava aqui.
  - Eu já estava de saída.
  - Não, tudo bem, pode ficar. Minha aula terminou mais cedo, pensei em vir almoçar em casa, você está com fome?
  - Na verdade não.
  - O que está errado?
  - Nada.
  - Vocês não conseguem esconder nada de mim, deveriam se lembrar disso.
  - É complicado.
  - Tem a ver com certo beijo trocado em uma festa havaiana?
  - Como você sabe disso?
  - me contou tudo no café da manhã...
  - E o que ela disse?
  - Isso não importa – Ela falou se sentando ao meu lado – Quero saber o que você tava pensando.
  - Eu não estava. Sempre que eu controlo meus impulsos, é porque penso. Penso que eu não posso correr o risco de perdê-la.
  - Mas você realmente acha que ela iria se afastar caso não correspondesse o seu sentimento? Você acha que ela vai jogar fora toda essa amizade que vocês têm? Por que não experimenta conversar com ela sobre o assunto, dar uma sondada e se você achar que é a hora, diga a ela o que sente.
  - Você acha?
  - , alguma vez eu te meti em uma enrascada?
  - Eu só tenho ficha na polícia por sua causa, .
  - Só porque eu te desafiei a dançar nu em uma fonte em Las Vegas, não significa que você precisava fazê-lo. Enfim, eu tenho uma festa para ir mais tarde, você pode falar que ficou porque eu te convidei.
  - Você acha que é uma boa?
  - Sim, prepare um jantar legal e vocês podem conversar. Não se preocupe comigo, eu vou jantar com Parker e de lá iremos diretamente para a festa.
  - Parker? Parker Cannon?
  - Sim...
  - , você o achava um idiota!
  - Ele só é um pouquinho convencido, mas não é tão mal assim.
  - De todos os vocalistas egocêntricos do mundo, você tinha que sair justo com Parker?
  - Ia ser estranho te chamar para sair depois de ter namorado .
  - Ouch.
  - Estou brincando, você sabe que sempre foi meu favorito.
  - Então quer dizer que
  - Precisamos mesmo falar dele? Não deveria ter trazido-o para a conversa.
  - Eu só queria saber por que você terminou com ele.
  - Ele fez por merecer.
  - Pode ser mais precisa?
  - Posso, mas aí vamos nos atrasar pra comprar as coisas do seu jantar – Ela disse e se pôs de pé.
  - Você não disse que queria comer em casa?
  - Isso foi antes de receber a minha missão. Agora vamos!

  Apesar das minhas tentativas de falar com sobre , ela era bem mais esperta do que eu e sempre mudava de assunto na hora certa. Quando ela começou a falar do jantar, eu esqueci completamente da situação dos dois, me concentrando no plano para a noite.
  - Você pode ficar com o meu carro, assim pode ir buscar o restante mais tarde – Ela disse quando voltamos para o apartamento delas com parte das coisas que eu precisaria para aquela noite. Ainda era quatro da tarde, mas eu estava ansioso – Tudo o que você precisa é me deixar no hotel do Parker às seis horas.
  - Não é cedo para jantar? – Eu falei levantando a sobrancelha.
  - chega em casa pouco depois das sete – Ela continuou ignorando a minha pergunta - Então você tem que deixar tudo pronto antes de sairmos e depois de me deixar, pegar a comida. Se tudo der certo, você vai chegar aqui uns quinze minutos antes dela, tempo suficiente para colocar a comida na mesa e esconder as embalagens.
  - Certo.
  - E eu adoraria te ajudar, mas tenho que ir me arrumar. Volto mais tarde para ver tudo, então capriche.

  Eu arrumei tudo e foi tomar banho. me fez comprar uma camisa nova e eu a vesti, fechando os botões dela enquanto me olhava no espelho de .
  - , eu estou pronta! – Ouvi gritar da sala.
  - E aí, o que achou?
  - Perfeito. Quer dizer, quase – Ela falou caminhando até mim e arrancando a etiqueta da minha camisa – Agora sim.
  - Certo, acho que deveríamos ir, não quero que chegue antes de mim.

  Eu fiz tudo como planejado, cheguei a tempo de colocar a comida no lugar e acender todas as velas.
  Quando abriu a porta, ela teve a mesma reação que , dando um pulinho e me xingando em seguida.
  - Achei que você já tinha ido.
  - Ahn, me convidou para uma festa, pensei que poderíamos ir, caso você não se importe por eu ter ficado...
  - Claro que não, fico feliz que você esteja aqui.
  - Ótimo. Eu pensei que poderíamos ter um último jantar como senhor e senhora .
  - Por isso o clima havaiano? – Ela falou olhando ao redor.
  - É...
  - Bonita camisa, aliás.
  - Obrigado.
  - Bom, faz sete horas desde que eu comi alguma coisa, podemos?
  - Oh, sim, claro.

  - Isso tá muito bom, onde você comprou?
  - Nem por um momento você cogitou a possibilidade de que eu fiz isso?
  - Não mesmo. Se fosse um miojo havaiano, eu até poderia acreditar.
  - Ok, ok, tem um restaurante havaiano na Avenida Lincoln.
  - Nossa, o que é isso? – Ela falou depois de dar um gole em seu copo.
  - Suco de abacaxi... Com vodka.
  - Acho que é o contrário! Está tentando me embebedar?
  - Talvez...
  Nós demos risada, mas aquilo era mais para mim do que para ela. Apesar de tomar ar e me preparar para começar o diálogo que havia repassado várias vezes em minha cabeça, nada disse sobre o assunto até depois que terminamos o jantar e fomos para o sofá em frente a TV. Eu encarava a tela preta, o aparelho estava desligado e podia ver o nosso reflexo nela. Olhei para , ele estava linda, mesmo estando visivelmente cansada.
  - O que foi? – Ela disse e eu me recompus.
  - Nada – Eu disse rapidamente, mas então lembrei que eu deveria dizer algo – Na verdade, eu queria conversar.
  - Claro, sobre o que?
  - O que aconteceu no Hawaii.
  - Ah, nem me fala do Hawaii que me faz querer voltar pra lá agora!
  - Eu me refiro a um evento mais específico. Naquela festa.
  - O beijo?
  - O beijo.
  - Você salvou a minha pele naquela noite.
  - Aquele beijo não tinha nada a ver com aquele cara, . Eu já estava querendo te beijar a muito tempo.
  - E por que você não o fez?
  - Eu não sabia se você sentia o mesmo.
  - Isso não te impediu de me beijar naquela festa.
  - Eu não estava pensando.
  - Então não pense – Ela falou e eu me aproximei devagar, sem saber se o que eu havia entendido era o mesmo que ela havia falando. Sem oposições, vi os olhos dela se fecharam momento antes de nossos lábios se tocarem.
  O beijo se aprofundou e se alongou, parecia impossível descolar a boca dela da minha. Eventualmente, nos separamos. Ela me olhou de um jeito estranho, então eu perguntei o que estava acontecendo.
  - – Ela disse dando uma pausa – Você está cheirando a morangos.
  - Ahn, eu, ahn, eu usei o seu shampoo.
  Ela gargalhou e eu sorri, ganhando um beijo em seguida.

  - Hey, e aquela festa? Você ainda quer ir? – Ela disse. Nós dois estávamos esmagados no sofá dela. Podíamos ir para a cama dela, que era grande o suficiente para nós dois, mas assim tínhamos a desculpa perfeita para podermos ficar o mais próximo possível um do outro.
  - Ah, pode ser. Se bem que Parker vai estar lá.
  - Parker? O que ele está fazendo aqui?
  - Saindo com , aparentemente.
  - Eu não acredito nisso.
  - Eu disse a mesma coisa.
  - Certo, eu vou lidar com isso mais tarde. Tenho exatamente nove horas e vinte e três minutos até ter que estar no hospital de novo e pretendo aproveitá-los.
  - Acho que posso ajudar com isso...
  Voltei a colar nossos lábios e logo correspondeu. Ela rolou, ficando sobre mim e minhas mãos começaram a viajar pelo corpo dela, desbravando todos os pontos que por muito tempo desejei tocar. Ela se afastou de mim, sentando sobre o meu corpo. Eu a observava e sem tirar os olhos de mim, tirou sua camiseta. Perdi o fôlego por um momento e ela deve ter percebido, pois me deu um sorriso torto. As mãos dela habilidosamente iam abrindo os botões da minha camisa e seus lábios tocavam a pele recém-descoberta, enquanto eu puxava levemente os cabelos dela. Quando ela chegou ao último botão, eu me livrei da camiseta e ela saiu do sofá, esticando a mão para que eu a acompanhasse. Caminhamos até o quarto dela o mais rápido que conseguíamos considerando que parecia impossível pararmos de nos beijar por um momento que fosse. Quando finalmente caímos na cama de , eu parei por um momento para olhar para ela.
  - O que foi? - me perguntou ofegante.
  - Você é linda - Eu disse e ela apenas sorriu, provando o que eu havia acabado de dizer e me beijou. Logo nós perdemos todas as roupas que ainda restavam e eu sentia o corpo dela contra o meu. A pele quente e macia de fazia com que eu quisesse tocá-la por completo. Apesar de minha afobação, respirei fundo e senti o perfume dela em seu pescoço. Não havia motivos para me apressar, ela estava bem ali e não pretendia ir para lugar algum. Não pelas próximas sete horas e dezenove minutos.



Comentários da autora


n/a: Aloha! Eu estou completamente apaixonada pelos meus mexicanos do PTV! Mal posso esperar para vê-los em julho com a bestie! Enfim, comecei a escrever essa fic quando o especial saiu pela primeira vez, mas não consegui terminar, então fiquei bem feliz com o repeteco! Besitos (: