All We Ever Do Is Say Goodbye
Escrita por Marcella R. | Revisada por Lelen
Se preferir, ouça a música enquanto lê!
Deitado na cama, apenas pensando no quão idiota eu sou, percebi que não poderia mais fugir. Não dela. E, além do mais, mesmo depois de tudo o que passamos, eu não queria mais fugir. Estiquei o braço até a mesinha ao lado da cama e peguei meu iPod, procurando por músicas tristes e melancólicas só pra me lembrar ainda mais dela.
- Droga de iPod, não tem nenhuma música menos agitada? – disse pra mim mesmo e bati na minha própria testa logo após – Ótimo, agora até falar sozinho eu falo. Isso é perfeito !
Larguei em uma música qualquer e afundei a cara no travesseiro novamente. O dia estava sendo perfeitamente ridículo, em todos o sentidos.
"Just when I had you off my head
Your voice comes thrashing wildly through my quiet bed
A música começou a tocar e eu não me lembrava de tê-la colocado no iPod antes. Na verdade, eu nunca nem tinha escutado aquela música!
Eu e minha mania de colocar qualquer porcaria naquela coisa...
Quando ia mudar pra próxima música, uma estrofe me chamou a atenção.
"You say you wanna try again
But I've tried everything but giving in
- Mas que porra é essa? – falei sozinho novamente, e percebi que devia parar de ser louco, ou pelo menos tentar.
Mas “você diz que quer tentar de novo, mas eu já tentei de tudo menos ceder?” Só podia ser brincadeira!
Decidi que ia escutar a música até o fim, só pra ter certeza de que não estava ficando doido. Ou com problemas de audição.
"Why you wanna break my heart again?
Why am I gonna let you try?
When all we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
Eu não sabia de onde diabos aquela música viera, ou do porquê de a letra ser tão filhadaputamente parecida com a minha história com ela, mas eu não podia mais ignorá-la. Nem barrar as lembranças que, de repente, invadiam minha mente, porque assim como a música, “tudo o que nós fazemos, é dizer adeus”
“- Alô? – eu disse, em uma voz sonolenta. Quem diabos liga pra casa dos outros às 10 horas da madrugada?
- ? – o sono simplesmente desapareceu quando ouvi aquela voz. Minha garganta ficou seca e tudo o que eu conseguia pensar era: "Não pode ser, não pode ser!".
- ? – perguntei, hesitante, depois de quase um minuto em silêncio.
Ouvi um suspiro do outro lado da linha, e somente aquele som foi suficiente pra que um arrepio se passasse pela minha nuca. "Não seja gay" eu disse pra mim mesmo, tentando controlar a torrente de emoções que me acometeu.
- É, sou eu... – ela disse, finalmente, e eu realmente não sabia o que responder. – Tá tudo bem?
- Tudo ótimo, e você?
- Não sei – como sempre, tinha aquele traço de sinceridade na voz que eu admirei desde que a conheci. – – ela chamou, depois de mais uma rodada de silêncio – Desculpa se eu te acordei, mas eu... Eu precisava falar com você. Precisava saber se... se pra você está sendo tão difícil como está sendo pra mim.
- E faz diferença, ? – perguntei, dessa vez magoado.
- Você sabe que faz, , não se faça de idiota! – usou o mesmo tom de exasperação que eu tanto conhecia.
- Talvez faça – admiti – Mas eu realmente não te entendo, . Foi... Foi você quem terminou tudo, lembra?
- E você não discordou, não é? – ela retrucou e eu não tive como me defender contra essa acusação.”
É, eu não havia discordado quando ela veio com todo o papo de “acho melhor não nos vermos mais”, mas foi só porque eu não queria parecer ter saído por baixo. Só porque não queria parecer um desesperado, que correria atrás dela até ela desistir de desistir de nós.
Mas do jeito que me acusara, parecia pensar que fora fácil desistir dela, deixá-la ir. E eu bem queria que tivesse sido assim, mas a dura realidade é que fora bem mais difícil do que eu imaginei e eu preferia não passar por tudo aquilo de novo.
Eu e meu orgulho idiota. Eu e meu jeito idiota. Eu e minhas palavras idiotas. Eu e... Eu idiota!
Mas eu sabia que, de um jeito ou de outro, acabaria deixando aquela garota me destruir de novo se ela pedisse.
"I bought a ticket on a plane
And by the time it landed, you were gone again
I love you more than songs can say
But I can't keep running after yesterday
“- Eu sei – eu disse, ainda ao telefone. – Mas eu não vou ficar me apegando ao passado, , porque não adianta de nada.
- Foi seu orgulho, não foi? – ela indagou, aumentando o tom de voz e ignorando o que eu havia dito. – Me diz que foi isso, !
- Por que você quer que eu diga? – perguntei, já sabendo a resposta.
- Porque eu quero ter certeza de que o que você dizia sentir era verdade. Porque eu quero ter certeza de que você também não queria terminar e só escolheu isso por ser a saída mais fácil! – agora ela falava com a voz embargada pelo choro e, como o idiota que eu era, desejei estar ao lado dela. – Eu só preciso ouvir isso...
- Precisa ouvir isso depois de seis meses?
- É, depois de seis meses! – ela confirmou – Porque mesmo depois desses seis meses, eu não consegui seguir em frente. Eu não consigo nem... Nem pensar em outros homens.
- Eu também não – admiti, depois de algum tempo, com a voz baixa, me sentindo envergonhado – Não... Não quis dizer que também não consigo pensar em outros homens... Não consigo pensar em outras mulheres, foi o que eu quis dizer – me enrolei, como de costume, e quis me chutar. Isso é hora de neurônios dormirem?
Ela riu da minha complicação e a saudade que eu sentia apertou.”
"So why you wanna break my heart again?
Why am I gonna let you try?
- Não é possível! – me levantei, pensando em que porra de música era aquela. – Música filha da puta!
Mas, depois disso, eu ainda continuei ouvindo. Porque por mais que eu odiasse relembrar tudo aquilo, tudo aquilo significava eu e ela, juntos, e essa era a única coisa que eu não podia mais ter a não ser através de lembranças.
"When all we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
Fui até o banheiro e lavei o rosto, me lembrando de todas as vezes que tudo o que restava para nós, eram as despedidas.
27 de Novembro de 2009
“- Você tem certeza disso? – ela perguntou, pela vigésima vez, olhando pra baixo e tentando não chorar.
- Tenho – eu disse, embora meu coração dissesse que não. Que queria ficar ali.
Ela cruzou os braços em volta do meu pescoço e ficou na ponta dos pés, pra me dar um beijo. Segurei-a pela cintura, mas ela logo se afastou, deixando meus dedos formigando por mais daquele toque.
- Tchau, . Até... Qualquer dia.
Ainda pude ver uma lágrima escorrer por sua bochecha, antes dela se virar e caminhar pra longe de mim. Tive que me controlar pra não ir atrás dela. Nunca corri atrás de ninguém e achava que aquela não seria a primeira vez.
Me peguei pensando no quanto eu admirava aquela garota. Como era forte, decidida e como não se deixava abalar. E eu a havia feito chorar...
- Última chamada para o voo 951, com destino à Londres...
Aquela voz me tirou do transe em que me encontrava e eu dei as costas pra cidade onde nasci, onde estava a minha família e onde abandonaria a única garota que algum dia me importei de verdade.
Segui para o portão e ainda virei o rosto para olhá-la duas vezes, antes de perdê-la de vista. Embora eu tenha o feito, ela não olhou pra trás nenhuma vez.”
09 de Maio de 2010
“Ela jogou o travesseiro em mim e eu me controlei pra não xingá-la.
- Você é um idiota, por que eu ainda insisto em você?
- Talvez porque você seja a idiota! – gritei sem dó, mas logo me arrependi do que disse.
- Devo ser mesmo. – ela tentava controlar a raiva – Realmente, sou uma idiota. Uma idiota que esperou a vida inteira até você a notar e que, quando você notou, teve que aguentar te ver ir embora, como se não significasse nada! E pior ainda, esperou você voltar, porque tinha esperanças de te ter de novo. Você tá certo, eu que sou uma idiota!
se virou pra ir embora, mas eu a segurei pelo braço, impedindo que ela desse outro passo.
- Não precisa ser assim, ...
- O quê? – ela disse, se virando completamente pra mim.
- Não precisa ser assim – repeti. – Eu... Se você acha... Não foi fácil pra mim, ok? Quando eu fui pra lá, não foi fácil pra mim! E eu não quero te deixar de novo. Eu não quero que acabe assim. A gente... A gente pode se entender. Mesmo com todas essas brigas, a gente não precisa se separar...
- É mesmo? – ela disse, sarcástica e um pouco incrédula. - Porque parece que é isso que você tem tentado fazer.
- Não diz isso – eu pedi, olhando-a nos olhos. – Eu te quero do meu lado, . - ela não disse nada, o que me preocupou. Nunca fui muito o tipo de cara que demonstra o que sente, por isso pensei que diante daquela pequena demonstração, ela me entenderia. E então ficaríamos bem. - – eu chamei-a, a segurando pelo braço novamente – Por favor! – Isso era realmente inédito: implorando por algo. Mas se isso fizesse que ela pensasse melhor, valeria à pena – Por favor, fica comigo... Eu te amo, - eu tentei, em uma última esperança e suspirei aliviado vendo-a sorrir, quando ouviu as palavras que sempre quis ouvir saindo da minha boca e que eu nunca tinha dito antes. Pena que aquele sorriso era um sorriso de tristeza.
- Às vezes só o amor não basta.”
Claro que ela não ficaria comigo. Claro que não, porque eu sempre fui um idiota. Demorei anos pra notá-la e depois fui embora. E quando voltei, voltei tão mudado que ela nem ao menos me reconhecia. Nem eu me reconhecia.
Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto e a sequei com raiva. Uma pequena parte do meu cérebro prestava atenção na música, enquanto uma outra parte tentava se controlar pra não chorar. Mas a parte maior se concentrava em pensar nela. Em evocar memórias. Em querê-la por perto.
"We say goodbye
We say goodbye
We say goodbye
22 de Agosto de 2011.
“- Você não vai ficar, não é? – ela perguntou, assim que viu minha reação ao receber uma ligação que impulsionaria minha carreira e mudaria minha vida.
- , essa é a chance da minha vida, será que você não entende? - perguntei, exasperado.
Ela suspirou e voltou a se sentar no sofá da nossa casa, aquela para a qual mudamos quando decidimos tentar uma terceira vez.
- Você não vai dizer nada? – perguntei, ajoelhando-me em frente à ela, já sentindo aquele costumeiro aperto no peito.
- Tem algo que eu possa dizer? – ainda não me olhava.
- Não sei - resmunguei, agora meio irritado com ela - Achei que você pudesse me incentivar, me dizer que eu não posso desperdiçar essa chance, mas parece que você está mais a fim de melar tudo e me fazer desistir de ir!
Me arrependi do que disse exatamente na mesma hora que a última palavra saiu da minha boca. Porque nenhuma delas era verdade, e o fogo que começou a queimar nos olhos dela me mostrava que ela também sabia disso.
- Você quer que eu diga algo? - ela perguntou, agora me encarando com raiva. - Então eu digo: Tchau! - levantou-se e se trancou no quarto, o que me fez, irracionalmente, querer gritar com ela. Por que ela não podia entender o meu lado? Se colocar no meu lugar?
- Se é assim, então tchau mesmo! - gritei a plenos pulmões, pra que ela me ouvisse através da porta trancada - Eu já decidi! Eu vou embora. Quando eu puder, eu volto. Aliás, se eu puder!
- Então é isso? – ela gritou e abriu a porta do quarto estrondosamente – Você vai desistir de nós de novo?
- Não... – eu disse, agora hesitante – Eu não quero desistir. Eu te amo, – falei, mais confiante, deixando de uma vez por todas a raiva de lado. – Eu... Eu vou e você fica. A gente pode conversar por telefone todos os dias se você quiser. A gente não precisa terminar e quando eu voltar...
- Se voltar, não é? – ela falou em um sussurro. Levantou a cabeça e agora falava de um jeito decidido - É sempre assim, . Você vai embora e eu fico. Eu não aguento mais isso! Se você quisesse mesmo ficar comigo, não me deixaria aqui já que tem outra opção! E se você for... – ela disse, com a voz embargada – , se você for, vai ser melhor terminarmos. E dessa vez não vai ter volta.
A olhei por um momento, incrédulo. Ela não podia ter dito aquilo, podia?
Meu coração estava acelerado e algo em minha barriga doía. Que porra era aquela?
- Talvez seja melhor mesmo – eu respondi, escondendo tudo aquilo que eu sentia e pude ver a decepção nos olhos da mulher que eu amo.
Saí de casa e, quando voltei, foi somente pra fazer as minhas malas antes que pudesse mudar de ideia. E eu sabia que mudaria.”
"All we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
All we ever do is say goodbye
Senti um milhão de lágrimas escorrendo pelo meu rosto, me sentindo um idiota por isso, e lembrei-me da voz dela ao telefone.
“- ... Eu não quero viver sem você. Por favor, para de ser orgulhoso. Eu... Eu am...
- Não! Não diz isso – interrompi, tentando controlar a minha mão que tremia. – Você terminou.
- Mas eu te quero de volta.
- Talvez seja tarde demais – disse, com o restinho de força que me sobrava.
Ouvi um soluço do outro lado da linha e sabia que não poderia jogar pra sempre na defensiva.
- , eu... – suspirei – Eu não vou voltar.
- A gente não pode terminar assim, ! - Fiquei em silêncio, tentando pensar em algo pra dizer, mas não consegui. - Tudo bem – ela disse por fim, depois de alguns minutos de silêncio esperando uma resposta que não veio. Percebi que o tom de sua voz havia mudado e senti meu estômago revirar – Boa sorte, . E se cuida.
Não sabia se podia suportar perdê-la de novo. E sabia que, dessa vez, a culpa seria totalmente minha.
- Eu ainda te... – Ouvi o telefone desligar e senti a primeira lágrima cair.
Tarde demais.”
Voltei pra minha cama e coloquei a música pra tocar novamente. Li o nome do cantor: John Mayer. Um viadinho, com certeza. Quem ele pensa que é pra escrever uma música como aquela?
Sem uma razão aparente, lembrei-me da época em que eu e morávamos juntos e que durou apenas alguns meses, mas que me fez entender o porquê de insistir tanto nela, mesmo depois de despedidas que pareciam não ter fim.
Março de 2011
“Estávamos no nosso apartamento, na agitada Londres, abraçados no sofá da sala que era tão pequena que quase não cabia a TV. Depois que se tornou maior de idade, decidimos tentar de novo. Uma vida em um lugar diferente e uma vida juntos e, finalmente, as coisas pareciam começar a dar certo.
- Lembra daquela vez que eu fui te empurrar no balanço, mas você tava distraído olhando praquela menininha loirinha do terceiro ano? – ela me perguntou, rindo.
- O que tem? – perguntei, rindo também quando me lembrei do fato.
- Nada... Só estou bolando uma teoria do porque a sua cara é meio amassadinha assim. É que quando eu te empurrei você caiu de cara no chão, deve ter sido isso...
- Ah, vá se ferrar! – eu disse, rindo com ela. – Ei, espera aí... – continuei, pensativo – Meu rosto não é amassado! – gritei e ela gargalhou, batendo em sua própria testa, em um sinal bem óbvio de que me achava um burro.
- Eu amo você, meu burrinho – ela disse, me dando um beijo na bochecha.
- Mesmo que eu tenha a cara amassada?
- Aham, mesmo com a cara amassada! – disse, tirando sarro.
- É melhor você se preparar pro ataque – ela arregalou os olhos.
- Cócegas não, , por favor – gritou, quando me viu avançando pra ela.
- Agora a sua barriga vai ficar amassada! – gritei ameaçadoramente.
Ela riu alto.
- Como você é idiota – gritou de volta, enquanto corria.”
"Why you wanna break my heart again?
Why am I gonna let you try?”
Com um estalo, me levantei da cama. Finalmente havia chegado a hora de assumir que eu faria aquilo que desde a ligação dela, eu já sabia que faria.
Coloquei uma calça qualquer e peguei minha mochila, jogando algumas roupas que nem olhei direito lá dentro e pegando algum dinheiro, com uma ideia fixa na cabeça.
"Que se dane o meu orgulho" Pensei. Não perderia aquela garota por nada desse mundo. Não de novo.
Minha namorada é mais importante que um orgulho que não me serve pra nada, eu pensava. Só pra nos manter separados quando devíamos estar juntos.
Lembrei da música e sorri, enquanto calçava meus tênis, que estavam ao lado da porta. Não me importaria se ela partisse meu coração novamente, se depois continuasse do meu lado e o consertasse. E me fizesse amá-la mesmo quando a odiasse.
Abri a porta, na maior agitação, só pra sentir meu queixo cair e ouvir um estrondo atrás de mim: tinha largado a mochila, de susto.
- Oi – disse, com os braços cruzados em frente ao corpo para se proteger do friozinho de fim de ano que fazia e que castigava quem estivesse do lado de fora, mesmo que ela estivesse com aquele agasalho duas vezes maior que ela que tanto adorava. E foi nesse momento que eu me dei conta de que ainda estava com a boca ligeiramente aberta. Fechei-a rapidamente, tentando pensar com clareza, tentando convencer a mim mesmo de que não estava sonhando ou tendo alucinações. Ela estava mesmo ali.
- O que você... – comecei, mas ela não me deu chance de continuar.
- Você disse que não ia voltar... Então... – suspirou, olhando nos meus olhos – Resolvi vir te buscar.

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