All In
Doado por Julia Nakamoto
Escrito por Isabel Ávila
Prólogo - Eu sou você
Escrito por Isabel Ávila.
Kim Mirae
Seul, Coréia do Sul
{00h21A.M.}
* meses antes *
"Você preencheu o meu espaço
Você poderia preencher o espaço vazio em mim
Apenas por estar ao meu lado
Me ajuda muito..." - I Am YOU (SKZ)
Enquanto a música toca dentro do salão de festa do hotel, estamos isolados em um ponto cego.
A varanda do escritório do líder.
Eu sei que não devia estar aqui.
Nós dois não devíamos ter nos envolvido.
Mas há coisas na vida que não se tem controle.
O amor se encaixa nisso.
Eu não escolhi amá-lo.
Ele nunca quis amar.
Mas nossos corações foram unidos por um sentimento mútuo.
Paixão.
– Eu não sei até onde será possível esconder. Quando o chefe descobrir que estamos juntos... será um desastre - diz meu amado.
– Ainda não entendo o porquê de proibir que os integrantes do nosso grupo se relacionem. O quão amargurado ele pode ser? - questiono indignada.
– Tudo que se sabe é que algo muito ruim aconteceu no passado dele. Algo entre sua família fez com que se tornasse alguém que abomina relações amorosas. Por isso, a proibição surgiu. Segundo os mandamentos do grupo, o amor é um empecilho. E nós precisamos estar com o caminho livre para a revolução que planejam - afirma.
– Continua soando como loucura. Até onde a sede pelo crime nos afetará? Amar não é sequer pecado. Por que nos obriga a ir contra nossos próprios sentimentos? - para mim não faz sentido algum.
– Eu não faço ideia também. Mas precisamos ter o nosso próprio plano. Uma forma de sair daqui sem sofrer retaliação - vira seu corpo em minha direção e me encara - Eu te amo, Mirae-ah. Não quero esconder o sentimento tão bonito que temos. Quero assumir o nosso namoro e ser feliz ao seu lado - diz me puxando para um abraço em seguida, dando-me um beijo na testa.
– Eu também te amo - falo me aconchegando mais em seus braços - teremos que ser fortes e inteligentes. A partir de hoje, criaremos um plano para nos libertar. Seremos livres para viver o nosso amor - ele apenas me aperta mais forte contra si, passando-me segurança.
E eu estou segura de algo.
Se não há espaço aqui para que possamos amar um ao outro, não há motivos para permanecermos onde não somos bem vindos.
Uma fuga.
Uma fuga será a nossa liberdade.
[...]
Kim Mirae
Seul, Coréia do Sul
{03h22 A.M.}
* semanas depois *
– Não se preocupe, senhor. As coisas sob minha supervisão estão conforme o plano. O grupo residente na capital tem feito um bom trabalho, modéstia à parte - digo na ligação telefônica com o líder.
– Você é a melhor, Mirae-ssi - sorrio orgulhosa - De todos os representantes dos meus hotéis, nenhum se compara a sua competência. Valorizo sua fidelidade, é uma das poucas pessoas que confio. Um de meus braços nessa organização, diria - completa.
– Obrigada pela consideração. Apenas cumpro aquilo que é de meu dever - respondo.
– É, sua modéstia me parece interessante - ri - as últimas atualizações que passou me deixaram mais calmo. Sabe, daqui do Brasil não há muito o que fazer. É tedioso - suspira.
– Não seja negativo, em breve estará aqui conosco e iremos comemorar muito a sua volta - afirmo.
– Estou ansioso. Só espero dar tempo de ver por aqui o… - hesita no que iria dizer - Bem, nada importante. Apenas um desejo bobo meu - desconversa - nosso limite de tempo está acabando, preciso desligar. Até mais.
– Até mais, chefe - falo antes de desligar.
Saio daquele jardim na entrada do casarão e retorno para o quarto onde meu namorado me espera.
Assim que abro a porta, mal tenho tempo de agir e...
– O que ele queria? É de madrugada, caramba. Ele podia ligar mais tarde, estou cansado do trabalho de hoje - fala apressado.
Caminho em direção a sua cama e me sento na ponta antes de responder.
– Sabe como o chefe é. Lá ainda é de tarde, então para ele é muito cômodo me ligar agora. Mesmo que seja ruim pra mim - suspiro - Só queria saber sobre como as coisas estão por aqui. Segundo ele, está entediado com sua maldita vida brasileira de luxo.
– Típico dele - ri nasalado - Mas e então? Tudo conforme o planejado? - questiona.
– Sim. Ele está bem satisfeito com meu serviço. Muito em breve teremos as informações necessárias para colocar o plano em prática - acena com a cabeça em concordância.
Sem dizer mais nada, me aconchego a ele na cama e voltamos a dormir comigo sendo a conchinha de dentro.
Contudo, antes de ceder completamente ao sono, pensamentos inquietantes me vem à mente:
"O tempo está acabando"
"Precisamos ser cautelosos e astutos"
"Liberdade"
"Eu só quero ser livre para amar"
[...]
Kim Mirae
Daegu, Coréia do Sul
{21h34 P.M.}
* Atualmente *
Enquanto caminho mancando por aquele corredor, a nossa despedida repassa em minha mente.
"Seja forte"
"Eu deveria estar indo no seu lugar"
"Tudo bem. Não ficarei lamentando. Confio em sua capacidade"
"Se cuide, não quero te perder. Odeio que se machuque"
"Eu te amo"
"Isso não é um adeus"
Quando começamos a planejar como faríamos para nos ver livres do nosso círculo do crime, percebemos algo.
Não dava para fugir juntos.
Seria muito óbvio.
Para garantir que tudo sairia certo, alguém precisava ficar.
E alguém precisava...
...se entregar.
"Barulhos de tiro"
"Há uma poça de sangue escorrendo do corpo já sem vida do segurança do banco"
"As sirenes me perturbam enquanto os outros membros fogem para a vã"
"Finjo que o tiro que me deixei levar imobilizou meus movimentos"
"Eles vão embora"
"Estou sozinha"
"Portas arrombadas"
"Paramédicos analisam meu estado"
"Ela precisa remover a bala’, dizem"
"Algemas em meus pulsos"
"Minha respiração limitada no cubículo daquele ambulância"
Lapsos de memória representam aquele dia.
O dia em que fui pega em um de nossos assaltos ao Banco Central.
Tudo conforme o plano.
Eu só não imaginava que seria transferida para Daegu dias depois.
Mas tudo bem. Não há lugar nesse país que não queira pegar o nosso líder.
Chegamos em frente a porta com um placa escrito Sala de Interrogatório.
O policial me encaminha até onde seria meu lugar, garantindo que as algemas estão bem presas.
Me acomodo naquela mesa no centro da sala, de frente a um outro policial que já estava por ali.
– Boa noite, senhorita - me cumprimenta.
Mas eu não respondo. Estou reparando em cada detalhe daquele homem.
Seu corte de cabelo em dia.
Sua serenidade no olhar.
Sua postura de superior.
Seu crachá escrito Bang Chan.
Esse deve ser seu nome.
– Irei relevar seu silêncio. Afinal, não vim aqui para lhe ver e sim, porque estou curioso - diz.
Continuo em silêncio.
– Meus parceiros comentaram que você tem algo para mim. O que seria? - questiona.
Passo alguns instantes refletindo sobre minha resposta...
– Eu tenho informações que vocês precisam sobre... esse caso - digo o encarando - Mas há um pedido em troca da minha confissão - sou breve em falar.
– Uma criminosa fazendo pedidos para a polícia? Que inédito - ri - me diga, o que tanto deseja? Dinheiro? Troca de identidade? Proteção?
– Liberdade - me olha confuso - para mim e meu... parceiro. Só queremos ser livres.
– Verei o que posso fazer - folheia alguns documentos em cima da mesa antes de prosseguir - Por enquanto, que tal começarmos nossa conversa pela parte que te envolve com esse grupo chamado... SKZ?
Respiro fundo antes de iniciar meu interrogatório, abaixando a cabeça.
Então reparo na tatuagem em meu tornozelo.
"I Am You
Não se trata apenas de mim.
É sobre o nosso amor.
Nós só queremos amar.
Capítulo 1 - A volta de quem já se foi
Escrito por Isabel Ávila.
Han Jisung
"Daegu, Coréia do Sul
"{19h47 P.M.}
"... Eu quero muitas coisas
Mas nada sai do jeito que eu quero
Eu faço o que eu quero
Mas não sai como eu queria
Eu penso em várias coisas
Mas nada sai do jeito que eu pensava
Nunca funciona do jeito como eu disse
Como eu queria, como eu pensava…" - ANY/아니(SKZ)
Toda manhã para mim é necessário montar uma playlist de músicas. Caso contrário, não sou capaz de suportar a vida miserável que levo.
Se eu soubesse que as coisas seriam assim, jamais teria feito tantas escolhas por esse caminho. Mas é tarde demais para lamentar.
Dando um passo de cada vez.
Meu coração palpita de maneira levemente anormal.
Meus pés seguem um trajeto temível.
Não me surpreendo quando, ao estar prestes a abrir a porta para o incerto, me permito respirar fundo. Com um grande pesar em minha alma, mente e coração.
“Você sempre diz a mesma coisa, é irritante”
“Estranhamente não sou atraído a nada”
“Nada que você me diz, me agrada”
São os trechos da canção que estou ouvindo. São eles que me dão coragem ao girar a maçaneta e dá de cara com quem eu estava evitando nos últimos dias.
Porém, agora é impossível fugir. Não tem como evitá-lo.
Ninguém evita o chefe do departamento de segurança nacional. O meu chefe de departamento. Quer dizer, não nesse país.
E com certeza, não sem antes ser punido. Severamente punido.
– Boa noite, Chan-Sunbaenim - Faço o cumprimento adequado ao entrar na sala, retirando os fones de ouvido e os guardando no bolso da minha farda policial.
– Boa noite, Jisung-Hoobae. Por favor, sente-se - me curvo diante dele antes de cumprir o sugerido, me acomodando na poltrona de frente a sua mesa de trabalho.
– Tenho tentado lhe contatar a um tempo sem obter sucesso. Esteve fugindo de mim? - questiona me encarando com uma de suas sobrancelhas erguidas.
– N-não é isso. Estive ocupado com alguns casos recentes e também com trabalhos que eventualmente acumulei - desconverso.
– Tudo bem. Confiarei no que disse, embora ache improvável que um agente em análise esteja tão ocupado assim - seu recente comentário me faz engolir a seco.
– Longe de mim mentir, senhor. Pode checar minhas recentes atividades, porque, bem, devido a análise investigativa da minha conduta por conta dos... últimos acontecimentos, não tive como lhe retornar. Sinto muito - digo, em partes, a verdade. Titubeando nos pontos mais incômodos.
– Até faria isso, detetive Jisung-ssi. Mas tenho prioridades, não foi para questionar sua demora em falar comigo que lhe chamei - respira fundo antes de prosseguir - acho que finalmente temos um caso para você. E esse, duvido muito que venha a falhar. Ao menos esperamos que não - aponta.
Já fazem 6 meses. Malditos 6 meses que aconteceu.
Mas parece que tudo se resume aquela noite.
Aquele erro.
A minha falha.
A maior e pior falha que já cometi.
Meu caso mais traumatizante.
Algum dia esquecerão dele?
Ou serei sempre tachado como o detetive incompetente?
Que nem mesmo o caso mais fácil da delegacia conseguiu resolver?
Estou cansado disso.
Um trecho da música de antes rodeia meus pensamentos:
“Eu faço o que eu quero…
… Mas não sai como eu queria.”
Nunca foi como eu quis que fosse. Nunca será.
Diante do silêncio que se instaurou, pigarreio disfarçando meu ressentimento e busco forças para não perder a razão.
– Já se passou um tempo, senhor Chan. Pude rever meus erros e já não voltarei a repeti-los - tento ser firme.
– Claro que não repetirá. Ninguém aqui vai pensar duas vezes antes de te demitir caso tamanho absurdo no nosso departamento volte a acontecer - isso foi uma… ameaça?
– Eu entendo, sunbaenim. Darei o meu melhor para resgatar a honra da nossa divisão investigativa. É minha responsabilidade, arcarei com isso - digo com a cabeça baixa, submisso ao meu superior.
Eu errei. É minha culpa. Preciso resolver essa situação.
– Acho bom, hoobae. Não é todo dia que surge a oportunidade de salvar seu emprego e sua reputação - desdenha da minha atual circunstância no meu cargo de detetive - De qualquer maneira, não trabalhará sozinho. Teremos uma equipe que lhe ajude. Não é um caso qualquer.
Espera.
Trabalhar em equipe?
Eu?
O apelidado de Han Incompetente Jisung?
Deve ser castigo. Ninguém trabalharia com alguém que possui uma reputação tão ruim como eu. Nem mesmo pagando!
– Sunbaenim, não acho uma boa ideia. Trabalhar em equipe para mim não serve mais desde que… - sou interrompido.
– Entenda uma coisa: o que você acha ou deixa de achar diz respeito apenas a sua própria mediocridade. Ninguém cuida da segurança pública sozinho - me repreendeu enquanto eu abaixava meu olhar, desconfortável com o rumo da conversa.
– Não ache que conseguirá ir longe sem apoio. Da última vez sabemos no que deu. Não me disse que havia revisto seus erros? Tem certeza? - indaga.
– O senhor tem razão. Me desculpe. Irei dar o meu melhor para ajudar os outros a resolver esse caso - me rendo, mesmo que ache difícil voltar a trabalhar com o Changbin e os outros - Afinal, de que tipo de caso estamos falando?
– Do tipo que está aterrorizando todo o país, presumo - diz com sua ironia típica. E eu me calo sem entender muito bem.
– Tudo que precisa saber é que o nosso departamento ficou responsável por limpar essa bagunça - prossegue - Mas quando vimos de quem se tratava… - me encara de forma incisiva - … não ache que você é importante. Só está aqui por um único motivo.
– Como assim? Que motivo? - definitivamente não estou entendendo nada.
– Parece que você tem mais relação com esse grupo de criminosos do que imagina - aponta.
– O que? Eu não sou criminoso. E de que grupo está falando? - Me revolto com a acusação.
– Não estou duvidando da sua índole, detetive Han. Só imagine comigo o quão surpresos ficamos quando, ao finalmente termos uma filmagem do líder da gangue SKZ, a pior de todos os tempos, podemos reconhecer de imediato o seu rosto. Um rosto tão conhecido por nós - me acanho em plena confusão pelo que me é dito.
– Também ficamos confusos, hoobae - continua - Até que puxamos a sua ficha e veja que interessante, lá estava a resposta mais cabível para toda essa loucura.
– Ainda não estou entendendo, policial Chan.
– Deixe-me ser mais claro - volta a me encarar com seus olhos penetrantes - Jisung-ssi, me diga, a quanto tempo não vê o seu irmão gêmeo… Jungwoo?
De cenho franzido levo alguns segundos para processar o que me diz.
E em um lampejo tudo faz sentido.
Os policiais de campana para onde quer que eu vá.
O arquivo de levantamento da minha vida que o Jeongin citou ter visto.
Os noticiários enlouquecidos pelas barbaridades desse grupo de rebeldes intitulado SKZ.
Então aquele sentimento que já senti um dia volta.
O desamparo.
Meu mundo está ruindo mais uma vez.
E para completar o desastre, o culpado por isso ainda é o mesmo.
Han Jungwoo.
A pior versão de nós dois.
Aquele que desperta o pior em mim.
[...]
Han Jungwoo
Pernambuco, Brasil
{08h34 A.M.}
“Arrisque tudo, essa é a resposta
Não podem mais apagar as
chamas em meu coração
Mesmo que essa parte de mim
Queime até as cinzas” - ALL IN (SKZ)
Acordo para mais um dia de trabalho duro com o som irritante do celular tocando. Pelo menos a música do seu toque é… instigante.
Cambaleando pelo cômodo, tropeço em algumas garrafas de soju vazias perto do sofá.
Levei um tempo morando aqui para achar alguém que vendesse cerveja coreana no país, mas a noite de ontem foi bem produtiva até.
Quer dizer, para mim foi. Já para o meu fígado…
– Alô? - digo ainda sonolento quando acho o dono desse som incessante.
– Jungwoo? Aqui é o Felix. Precisamos conversar - diz apressado.
– Qual é, cara. Eu tava’ dormindo. Será que a sua racionalidade é tão ínfima que sequer sabe o que é fuso horário? Aqui ainda são 8h da manhã! - digo encarando o relógio digital na parede da sala.
– Foi mal, não tinha como deixar para depois. É urgente - suspiro.
– Sim, é certa a urgência de que você frequente mais aulas de geografia. Na Austrália não te ensinaram essas coisas? - seu silêncio me deixa impaciente - esquece. Agora me diga, o que aconteceu? - falo enquanto volto a me acomodar na confortável poltrona da sala, encarando a bela vista que a janela tem da Cidade das Flores.
– Vamos ter que adiantar a sua volta para cá, chefe - é breve no que diz.
– Como assim? Porque? Quem foi o incompetente dessa vez? - questiono já tendo uma noção de como meu pessoal é.
– Um dos nossos infiltrados informou que a polícia coreana, com apoio da internacional, está perto do seu radar. Até possuem uma filmagem em que aparece seu rosto, o disfarce foi comprometido. Não podemos arriscar que te encontrem.
– Era só o que me faltava. Eu nunca consigo descansar do serviço por conta da incompetência alheia e então, quando tenho a oportunidade única de ir para o carnaval no Brasil, me vem uma dessa - resmungo.
– Lamento, Jungwoo-ssi. Mas não temos muito tempo.
– Tá’, já entendi. Quando o transporte vem me buscar? - questiono admirando um belo pé de jasmim florescendo no canteiro.
– Em duas horas, suponho.
– Espero que esteja certo, minha paciência para mais um erro de cálculo é nula. Nos vemos em 2 dias, terei que fazer o trajeto mais longo.
– Sim, entendo. Aliás, tenho uma boa notícia - desperta minha curiosidade.
– Qual?
– O próximo furto já está organizado, tudo certo para acontecer.
– Menos mal. Precisamos dessa carga para garantir nossa força perante os outros e nos firmarmos no ramo. Nada impedirá o império do SKZ.
– Certamente, senhor. Estamos perto de conquistar tudo que sempre planejamos. Não será nenhum inimigo capaz de nos derrubar. Muito menos o departamento de polícia.
– Aqueles idiotas fardados nunca serviram para proteger ninguém, somente os próprios interesses. Eu bem sei disso - digo ressentido.
– Se o senhor diz, eu acredito - como sempre bajulador - Hum… o nosso limite de tempo de ligação fora do rastreamento policial está findando, temos que desligar.
– Tudo bem. Mas antes, diga-me, o que descobriu sobre aquilo que te pedi?
– Nada demais. É um cara normal. De uma vida normal. E mais incompetente que o normal também - ri.
– Como assim? - faço uma expressão confusa, mesmo que ninguém esteja vendo.
– Ele é um detetive e, pela fama, o pior do departamento de segurança nacional. Uma vergonha.
– Ele sempre foi de dar vergonha mesmo. Um homem vergonhoso de existir - debocho.
– É o que tudo indica.
– Acha que ele será um problema? Não quero que descubra sobre mim. Só atrasaria meus planos.
– Não, senhor. Ele é inofensivo, apenas um qualquer.
– Muito bem - sorrio pela vantagem sobre os adversários - obrigado por me contatar, Felix. Na próxima, vê se liga na hora certa.
– Não tenho controle sobre imprevistos, mas farei o meu melhor. Até mais. Uma boa viagem, Jungwoo-ssi.
Aceno com a cabeça mesmo que ele não possa ver, largando o celular de qualquer jeito na mesa de centro após o fim daquela ligação.
Ao que tudo indica, terei que voltar mesmo. Para aquele maldito país que, no máximo, me serve de renda. Criminosa, mas a minha renda.
Se as manchetes jornalísticas estavam impressionadas com o que viram até agora…
Eles não perdem por esperar.
O pesadelo da Coréia do Sul está voltando.
Nenhum grupo de K-pop ou K-drama do momento será capaz de superar o sucesso que o caos do SKZ carrega consigo.
Será o meu triunfo. O meu império. Ninguém irá me impedir.
Após chegar a minha indagação final, me levanto seguindo direto para a cozinha.
Enquanto me movo para preparar o café que irá me manter desperto pelos próximos dias - ou assim espero - não posso fugir de um detalhe.
A tatuagem.
A ridícula tatuagem no meu pulso.
“You can stay, STAY”
Eu não pude ficar. Ninguém quis que eu ficasse.
E agora, eu não ficarei mais parado.
Nada irá me deter.
Nem mesmo o meu sangue.
Muita menos a minha sina.
Minha sombra.
Minha angústia.
Minha família.
É, Jisung-ah. Até que estou ansioso para te rever, irmão.
Capítulo 2 – Planos e vantagem
Escrito por Isabel Ávila.
Han Jungwoo
Gwangju, Coreia do Sul
{09h21 A.M.}
* dois dias depois *
" Eu faço o que eu quero, eu pego o que vejo
O que eu fizer parece bom para mim
Eu não me arrependo de minhas escolhas
Eu escolho qualquer coisa ao meu alcance,
Deixo fluir... " - Easy (SKZ)
É impossível não formar um sorriso diante daquele som alto. Principalmente com uma música tão significativa tocando no lugar.
Sem ser notado por ninguém, entro no meu paraíso pessoal.
A sede do SKZ. O nosso cantinho da obscuridade.
O, aparentemente, inofensivo Hotel Cassino Infinite Boys.
O queridinho de Gwangju, pelo menos.
Nossos cassinos - falsamente - legais estão espalhados por todo o país.
E internacionalmente também.
Ainda não dominamos o mundo por uma questão de princípios.
Primeiro o caos.
Por conseguinte, a dominação.
O SKZ é uma rede formada por almas perdidas num mundo que os renega sempre que possível. Um grupo de renegados, isso que somos.
Nosso objetivo? Acabar com essa realidade que explora os cidadãos.
E claro, ter domínio, diversão e dinheiro é sempre bom. O DDD da felicidade.
Com um pouco de pressa, me aproximo do palanque localizado no canto mais amplo daquela sala. Ligo o microfone nos equipamentos e desconecto o som que antes tocava.
Se não for para ser o centro das atenções, qual a graça de estar em cima de um palco?
– Boa noite, meus amigos. Sentiram minha falta?
Os olhares confusos em minha direção me fazem ter certeza que meu disfarce está convincente tanto quanto deveria estar.
Se nem os meus me identificaram...
– Não estão me reconhecendo? - ninguém se pronuncia - é, acho que me saí bem em me disfarçar.
Após dizer isso, retiro a peruca e demais acessórios que estavam escondendo meu verdadeiro eu.
E é glorificante ver o sorriso de cada um ali surgir, seguido de tantos aplausos amaciando o meu ego.
– Obrigado, obrigado. Já podem se acalmar. - digo, sendo obedecido em seguida - o chefe está de volta, crianças. Mas não se preocupem. Continuem se divertindo. A noite de hoje promete muitos clientes vantajosos. E como agradecimento pelo trabalho até que digno da maioria, trouxe comigo alguns presentinhos.
Gritaria. É essa a maneira deles de mostrar gratidão pelo que disse.
– É pessoal, senti saudades. Não podia deixar de trazer uns mimos para as minhas crianças - sorrio vitorioso - teremos a partir de então um cozinheiro no refeitório especializado em comida brasileira. Parece que hoje vai ter feijoada do Brasil com muita cerveja de lá também. Espero que gostem - mais aplausos com gritaria - e para aqueles que esperavam ansiosos, bem, trouxe alguns brinquedos interessantes. O pessoal de lá tem seus dotes, não podia retornar sem trazer comigo umas armas apreendidas que me presentearam. Nossos inimigos não sabem o que guardamos para os próximos crimes.
Ao longe um rapaz ergue a mão e eu aceno com a cabeça para que ele faça sua pergunta.
– Como o senhor conseguiu esses... brinquedos?
– A polícia brasileira possui uma amizade muito boa comigo, principalmente em troca de dedurar alguns inimigos mais íntimos e dispensáveis. Já ouviram falar em delação premiada? Para quem vem do submundo, existe algo chamado "delação amistosa". Você divide os lucros com os fardados e eles te ajudam a prender quem te convém, além de agradecerem com presentes úteis - encaro o jovem - mais alguma dúvida?
– Não senhor, só tive curiosidade.
– Bem, um conselho que dou a todos, principalmente ao jovem ali, é que a curiosidade matou o gato. Não sejam engraçadinhos. Prefiram a ignorância. Há coisas que só de saber já é motivo de lhe matarem. Se quer manter sua vida intacta, faça menos perguntas. Prefira sufocar a própria curiosidade a ser morto por ela.
O rapaz engole a seco, acenando repetidamente com a cabeça.
– Mais alguém tem algo a questionar?
Agora é uma moça que levanta o braço.
– Quanto tempo o senhor ficará? É verdade que só voltou por conta de ter sido dedurado por um informante?
Não consigo evitar o sorriso de deboche que surge em minha face.
– Veja bem, moça. Não é apenas curiosidade que mata por aqui, boatos também tem seu perigo. Tenham cuidado naquilo que escutam e acreditam - repete o ato de engolir a seco do rapaz de antes - mas sendo honesto, como sempre prometi ser com minhas crianças… - suspiro -... sim. Meu disfarce foi comprometido. Nada demais, eu teria que voltar de qualquer jeito...
– ... Não sei bem quanto tempo ficarei. - prossigo - O suficiente para formarmos o império SKZ e dominar o mundo, espero. E o verdadeiro motivo da minha volta? Acho que estamos entediados com esse conto de fadas de premiações de K-drama e K-pop estampando as capas dos jornais. Está na hora de trazer entretenimento de verdade e o nosso grupo é o melhor nisso. O que há de mais divertido que caos, desordem e bagunça?
Aplausos. Risadas. Comemorações.
É esse sentimento que a minha volta trouxe para o SKZ.
Lágrimas. Angústia. Caos.
É isso que representa a nossa existência.
Nem a polícia, os jornalistas ou nossos concorrentes do ramo saberão o que passou por aqui.
Mas todos serão marcados pelo SKZ.
Da mesma forma que um dia fui marcado pelo STAY.
Só que melhor. Muito melhor.
Somos a versão mais vigorante de todas as revoltas criminosas já existentes.
E aqueles que discordam de nós, apenas não estão preparados para essa conversa.
Quando saio daquele palco improvisado e sigo para minha sala privada, sou reverenciado por muitas das minhas crianças enquanto abrem espaço para mim passar.
Ser o líder de uma revolução nunca foi tão bom.
– Qual o próximo passo? - questiona Felix abrindo a porta do cômodo privativo para mim.
– Iremos seguir com o que planejamos - me olha confuso.
– Um furto é o nosso próximo ato, Felix - nos encaramos sorrindo - um assalto de sucesso.
– Aliás, tem algo me incomodando - continuo - Faz uns dias que não consigo falar com a sede de Seul. Aconteceu algo para Mirae-ssi não estar me atendendo?
Não é preciso ser muito observador para perceber que alguma coisa fugiu dos planos.
E o corpo tensionado somado à expressão amedrontada na face de um dos membros que mais confio na SKZ só me confirma isso.
[...]
Han Jisung
Daegu, Coreia do Sul
{13h52P.M.}
"Minhas palavras particularmente frias naquele dia.
Meus bocejos foram muitos naquele dia
Estar ocupado se tornou minha desculpa
Em mais um ou dois dias
No fim, um coração frio se tornou óbvio. " - Ex (SKZ)
Policial Chan
| Estou te enviando essa mensagem para garantir que não falte na reunião de hoje.
| Presumo que será a primeira de muitas.
| Deixe suas frustrações do caso passado para trás, detetive Jisung-ssi.
| Por mais que nem todos estejam felizes com o seu envolvimento no caso SKZ, precisamos da sua ajuda.
| Ainda há chance de mostrar que é o melhor detetive desse departamento.
| Afinal, você sempre foi.
| Te espero na sala 08.
| Às 14h iniciaremos com ou sem a sua presença, tente chegar antes.
| Até depois.
(Enviado às 08h04 da manhã)
Você
| Tudo bem. Arcarei com meu dever.
| Obrigado pelo apoio. Nos vemos depois.
(Enviado às 08h31 A.M.)
Às vezes eu me sinto em um filme. E analisando o atual contraste entre a música entoando pelos meus fones de ouvido, com aquela breve troca de mensagens e a minha hesitação em entrar naquela sala...
... me parece uma encenação. Uma típica cena premeditada.
E talvez tenha sido.
Talvez tudo se trate de uma peça de Deus, do Destino ou até do próprio Departamento. O DDD que sempre me sucumbia à desordem.
Eu não sei. Como qualquer outro ser humano, não tenho as respostas que gostaria.
E como eu gostaria de ser respondido, só Deus sabe...
Um tapinha no meu ombro me faz dar um pequeno pulo devido ao susto.
Mas quando olho para quem me deferiu tal golpe, sinto-me menos... tenso.
– Nervoso com a batalha de hoje, Jisung-ah? - me questiona Jeongin enquanto eu guardo os fones na minha farda policial mais uma vez naquele dia.
Eu e o meu péssimo hábito de me refugiar dos problemas com a música.
– Batalha? Parece uma forma branda de se referir àquele ambiente. É algo mais... pessoal e próximo do que isso. Sinto que estou indo para um ringue de MMA direto pro soco da derrota. Aposto que nem tempo de reagir terei - digo rindo da minha própria desgraça.
– Pelo visto, positividade não é um adjetivo que te descreve nesse momento - diz acompanhando minha risada de forma descontraída.
– Positividade é um termo que, definitivamente, não me define - suspiro balançando a cabeça - mas sei que devo viver um dia de cada vez. Hoje é o primeiro passo, espero um dia poder me redimir por... tudo que aconteceu.
– Não se culpe tanto. O controle das coisas não estava em suas mãos. O caso era de sua incumbência, mas o que aconteceu foi uma fatalidade.
– Essa fatalidade só ocorreu porque eu fui cheio de si. Não dei o meu melhor desdenhando de um caso aparentemente fácil, gerando uma tragédia que poderia ter sido evitada. Uma tragédia que seria evitada se eu não tivesse cometido tamanho erro.
– Sabe, esse seu complexo de culpabilidade cansa. Segue em frente, tá’ bom? Todos estamos fazendo isso. Mas agora não é momento de debater sobre o passado. Preparado para dar mais um passo rumo à superação?
– Sendo honesto? Nem um pouco. Mas não posso fugir disso. Não mais.
– Não se cobre tanto. De toda forma, não está sozinho. Bem ou mal, estou com você. Do seu lado. Ainda é o meu sunbaenim preferido!
– Não minta. Eu sei que você diz isso pra todos - rimos - mas obrigado pelo apoio. É importante.
Ele sorri acenando em concordância com a cabeça.
Sabendo do meu nervosismo, gira a maçaneta no meu lugar adentrando primeiro.
Ao abrir caminho, tomei coragem e entrei naquele espaço que pode ser o meu recomeço.
– Boa tarde - eu e Jeongin dizemos em uníssono, dirigindo-nos em direção aos nossos assentos.
E eu? Sempre de cabeça baixa. Não tenho coragem de encará-los. Principalmente ... ele.
– Quanto tempo, Jisung-ssi. Esteve se escondendo? - questiona Hyunjin. Ele entrou no departamento pouco tempo antes daquilo acontecer.
– Não necessariamente, Hyunjin-ssi. Estive ocupado lidando com minhas responsabilidades - digo nervoso.
– Uma hora teria que arcar com as responsabilidades dos seus atos mesmo - diz Changbin, com um de seus comentários ácidos.
Eu me calo incômodo com sua fala. E ficamos em um silêncio ensurdecedor.
Não sei se sou capaz de discutir com aquele que um dia foi tão próximo a mim. Quase um irmão.
Encaro as mãos em meu colo sem saber o que dizer.
Um dia ele me perdoará?
Um dia alguém me perdoará?
Um dia eu me perdoarei?
Suspirou em frustração. E quando tomo coragem suficiente para pronunciar minha resposta...
– Ainda bem que estão todos aqui. Não tenho muita paciência para atrasados, como bem sabem - diz o policial Chan entrando na sala e já se dirigindo para a área de apresentação.
Nós apenas concordamos com a cabeça.
– Esse é um caso bastante... nebuloso. E por isso trouxe um slide para apresentar tudo sem perder nenhum detalhe - alguém levanta a mão - Changbin-ssi, qual sua dúvida?
– Por que ele tá’ aqui? Se é um caso tão importante devíamos designar para um líder mais preparado. Só eu acho isso? - me encolhi no meu canto.
– O que vocês acham ou não é irrelevante. O detetive Jisung-ssi é a pessoa ideal para estar aqui, não cabe a vocês decidirem, e sim a mim e a cúpula da direção - diz com a firmeza de sempre - se focassem no que é preciso saberiam do que estou falando. Ouçam todos os detalhes sobre esse caso e entenderão a importância do seu líder - finaliza.
Ninguém diz nada. Muito menos eu, que estou tendo que enfrentar essa situação mais cedo do que pensei.
– Peço para que deixem as dúvidas por último, há mais a ser dito do que imaginam. Foquem nas informações que trouxe - diz ligando o datashow com a sua apresentação.
Todos permanecemos em nosso silêncio de antes.
Logo, a próxima hora é recheada de dados sobre o grupo SKZ e todo desastre que carregam consigo.
O mais preocupante é sabermos tão pouco dessa rede criminosa.
Isso mesmo, rede.
Parece que o grupo não só tem gerado problemas na Coréia do Sul, mas em outros países também. Embora tenha sido em proporções menores.
Quando o policial Chan termina de se apresentar, não me impressiona a rapidez que teve ao beber o restante de líquido na sua garrafinha de água - que estava pela metade.
Ele gastou mais saliva do que achava possível para um ser humano nos últimos minutos.
– Bem, isso é tudo o que sabemos até então - completa.
– Deixe-me ver...vocês acreditam que, pelo fato do detetive Jisung-ssi ser irmão gêmeo do suposto líder da SKZ, tê-lo comandando as investigações é uma vantagem em relação ao grupo? - questiona Hyunjin.
– Diante dos fatos e do acervo de informações limitado que temos, é o nosso coringa do jogo. De algo deverá ser útil - afirma o policial Chan.
– Ainda acho uma má ideia. E se ele falhar de novo? Como antes? - indaga Changbin.
– Do jeito que fala, parece que nunca errou nesse trabalho - implica Jeongin.
– Meus erros nunca causaram a morte de ninguém - responde friamente meu antigo amigo.
Com um aperto no coração, percebo que nunca serei o mesmo de antes.
Nunca terei a mesma credibilidade com os outros.
Eu deveria continuar nesse emprego?
– Pare de culpabilizá-lo pela infelicidade do antigo caso. De toda forma, tente ser racional dessa vez e poderá perceber que são circunstâncias diferentes. - diz nosso chefe de departamento.
– E não se preocupem tanto - prossegue - ele não será a única carta na manga que nos ajudará a solucionar o caso SKZ.
– Do que o senhor tá’ falando? - me pronuncio pela primeira vez.
– Só um instante, eu já volto com a sua resposta - diz saindo pela porta nos deixando confusos.
– Não importa o que aconteça. Eu ficarei de olho em você, detetive. Não consigo confiar depois de tudo - fala diretamente comigo.
– Tudo bem, é seu direito. Só não deixe suas desconfianças atrapalharem o caso. Não seja o empecilho dessa vez, acredite, se arrependerá disso - falo cansado de tanta acusação.
Nada mais é dito. Minutos depois a porta é novamente aberta. Há uma moça acompanhando o policial Chan.
Mas não se trata de qualquer moça.
– O que ela faz aqui? - pergunta Jeongin, surpreso como todos nós.
– Nem sempre os criminosos são descartáveis. Alguns, possuem inimigos em comum. Usaremos isso ao nosso favor - responde com um sorriso de lado.
Tal afirmação só me deixa mais nervoso.
O quanto estamos dispostos a oferecer para solucionar o problema SKZ?
Devemos acreditar nela?
Kim Mirae.
Braço direito do líder da rede criminosa mais temida da Coreia do Sul, vulgo meu irmão, até onde sabemos.
Vale a pena arriscar?
– Não me olhem como se eu fosse ruim - sorri em nossa direção - Na verdade, realmente sou.
– Por que confiaríamos em você? - questiono.
– Porque é através de vocês que conseguirei o que quero - diz, suspirando logo após - É preciso que o SKZ deixe de existir. Só assim eu terei paz. Só assim poderei ser... Livre.
– Está dizendo que...- ela interrompe a fala de Hyunjin.
– Minha liberdade depende do sucesso de vocês - é breve em afirmar.
Talvez essa investigação não seja tão ruim.
Talvez haja esperança.
Ou talvez eu só esteja fingindo que está tudo bem.
Como sempre faço.
Capítulo 3 – Segredos e Aliados
Escrito por Isabel Ávila.
Seo Changbin
Daegu, Coréia do Sul
{01h34 A.M.}
"Fingir estar bem me deixa ainda mais solitário
Olhando para um lugar diferente, sozinho
Eu repito sem parar para desenhar
E apagar minhas preocupações
Mesmo se eu repetir, nada vai mudar" - Secret Secret (SKZ)
* uma semana depois *
Nunca me imaginei numa situação dessas.
Desconfiado. Sozinho. Amargurado.
É dessa forma que venho me sentindo nos últimos dias.
Desde o início da operação em conjunto com Mirae-ssi, não consigo ter um momento de paz.
O pior de tudo é ter que obedecer as ordens do detetive Han.
Mesmo sabendo o quão desqualificado ele é para essa função.
No fundo, eu só não consigo voltar a confiar nele.
Não depois de tudo que sofremos com o último caso sob sua supervisão.
Não dá. Nunca mais o vi como antes. Como o amigo/irmão que sempre havia sido para mim.
Nada é como era antes.
Além disso, há algo muito esquisito que envolve o Jisung-ah e o seu passado.
Passado esse que ele nunca quis conversar comigo. O que me deixa com ainda mais desconfiança.
E não importa o que ele quer ou o quanto dizem sobre ele ser o mais indicado para esse cargo.
Vidas inocentes estão em jogo.
Não deixarei o orgulho dele fazer mais uma vítima. Não dessa vez.
Ainda estou tentando superar meus traumas devido aos acontecimentos dos últimos meses.
A minha terapeuta que o diga...
Eu só não imaginei que haveria a necessidade de ir tão longe para confirmar minhas suspeitas.
[...]
{02h20 A.M.}
Minhas pernas fraquejam quando finalmente saio do meu esconderijo.
Estou desde às 21h de ontem escondido no armário do almoxarifado próximo a sala do policial Chan.
Com certeza essas horas que permaneci encolhido naquele minúsculo espaço ferraram com a minha coluna.
Mas tudo bem, está dentro do plano. Não há tempo para reclamar em vão.
Preciso seguir em frente se quiser obter as informações necessárias quanto ao histórico do Jisung-ah.
Se tudo ocorrer conforme o habitual, no presente horário, o sistema de filmagem do departamento irá reiniciar e durante 20 minutos não haverá nenhuma câmera funcionando nesse setor.
Tempo suficiente para que eu cumpra o serviço de enviar uma cópia dos dados armazenados no computador do Chan-Sunbaenim sobre o detetive Han para minha conta irrastreável de e-mail.
Existem algumas vantagens em se ter um primo formado em T.I. (Tecnologia da Informação)
Enquanto sigo meus passos em direção a sala, não levo muito tempo para entrar no cômodo e estar sentado na poltrona de frente ao computador na mesa principal.
Com tranquilidade, tomo a liberdade de ligar a tela.
A cena é simples:
#1 coloco um pendrive hacker irrastreável que dará acesso para o meu primo, que irá decodificar as senhas do programa de segurança. Levou menos de um minuto para que isso acontecesse, inclusive.
#2 acesso o sistema de arquivos confidenciais sobre cada profissional do nosso departamento.
#3 outra senha é decodificada pelo meu parceiro familiar.
#4 enfim, encontro o arquivo sobre o Han-sunbaenim.
Com um sorriso presunçoso nos lábios, encaminho o bendito material para mim e desligo tudo.
Porém, algo inesperado acontece em meio a esse processo.
Sons de passos.
Tem alguém vindo para cá.
Droga!
Sem ter muito o que fazer, busco o esconderijo que melhor me camuflaria.
O banheiro?
Não, o sistema de ventilação é péssimo. Ninguém sobreviveria àquele cheiro.
Embaixo da mesa?
Seria ridículo me esconder ali sendo um especialista tão bem treinado e...
Certo, eu não tenho tempo para isso.
Preciso me esconder. A mesa deve servir.
Em segundos tenho o ímpeto de me encaixar naquele espaço apertado e de grande risco de ser pego.
Nunca fui religioso mas, por Deus, que não me vejam.
Ouço o som da porta destrancando.
Prendo a respiração.
Vozes.
Policial Chan e...
Bem, pela ausência de respostas às suas perguntas e seu diálogo peculiar, ele deve estar ao telefone com alguém.
– Tem certeza disso? - indaga ele - Seungmin, nós te colocamos como infiltrado nesse caso por um único motivo: entender o conflito entre os gêmeos Han - sua fala desperta a minha curiosidade.
– Eu não posso perguntar ao meu detetive sobre isso, seria invasivo demais. Trata-se de algo pessoal, afinal de contas. Não tenho essa intimidade com ele - continua.
O que há de errado com o Jisung-ah?
Mais um detalhe que eu devia saber e esconderam de mim?
Será que se trata daquele segredo jamais me contado por ele?
– Você ao menos conseguiu alguma informação no orfanato municipal da cidade que eles nasceram? - acrescenta.
Essa novidade me afeta mais do que esperaria.
Então eles são... Órfãos? Eu nunca soube disso.
– Um nome? Como a p**** de um nome pode me servir de alguma coisa? - fala estressado.
– Calma - faz uma pausa - você está me dizendo que eles têm relação com o caso STAY? E onde esse nome que descobriu pode ser relevante? - também estou curioso para saber senhor Chan.
– Foi algo recente, não tive tempo de investigar mais a fundo. Porém, assim que vi o nome da mãe adotiva dos Han eu percebi na hora a relação - fala uma voz mecanizada. Provavelmente o tal Seungmin foi colocado no viva-voz.
– Que diabo de nome é esse, afinal? - exclamou irritado.
– Martin. Han Martin, senhor - diz de forma trêmula. Talvez pelo mal sinal da rede. Talvez pelo receio no que disse.
A verdade é: Han Martin foi simplesmente a maior criminosa já vista na Coréia do Sul. A última pessoa que sofreu pena capital neste país, inclusive.
Ela era a líder da antiga gangue STAY. E temida por todos que cruzassem o seu caminho.
Seria então o Jungwoo-ssi um discípulo da falecida gângster?
Seria tudo parte de um plano elaborado a mais tempo do que imaginado?
Ou pior.
Estaria Jisung-ah envolvido nisso? Um infiltrado entre nós?
Sinto meus ossos tremerem só de pensar nessa possibilidade.
De tão entretido com minhas dúvidas, perco o final da conversa do meu chefe.
Só percebo que o caminho está livre quando um barulho estrondoso de porta batendo me assusta.
Ele se foi. Estou liberado para sair.
Verifico o meu relógio digital de pulso.
02h37. Preciso sair rápido, tenho somente 3 minutos.
Com a destreza de um agente bem treinado, limpo a cena do delito, sendo ágil em me retirar do recinto.
E, já a caminho do estacionamento para buscar o meu carro e voltar para minha casa, pensamentos me atormentam.
Uma certeza me acomete.
Não importa o que eu tenha que fazer, jamais irei permitir que mais uma vítima de Han Jisung seja feita.
Nem que isso custe a minha própria vida.
[ ... ]
Hwang Hyunjin
Daegu, Coréia do Sul
{02h20 A.M.}
*enquanto isso, ao mesmo tempo *
Não lembro exatamente como me envolvi nessa história.
Acho que começou com o meu primo Lee.
Ele sempre foi muito convincente. Também sempre soube o quanto tenho estima por si.
De fato, ele com certeza é um abusador sem fim da minha boa vontade.
Não acredito que estou comprometendo a minha carreira, até mesmo minha vida, por conta dele e do seu amor bandido.
Ninguém imaginaria que ele iria se apaixonar logo por ela.
Kim Mirae.
Uma criminosa.
Quantas vezes já tive que cobrir o rastro deles para não correrem o risco de serem pegos? Não sei dizer. Foram mais do que gostaria de admitir.
Eu sei que eles não fazem parte da artilharia pesada do SKZ.
São apenas hackers criminosos tentando sobreviver em um universo sem lei.
Uma gangue.
O trabalho deles envolve vigiar câmeras privativas, roubar dados de usuários, senhas de bancos e ajudar nos assaltos dentro de um furgão extremamente computadorizado.
Estilo Scooby-Doo e a Máquina de Mistério.
Só que muito mais ilegal que isso.
Já eu, tenho a função de evitar que a polícia os encontre.
Cabe a mim apagar os registros de seus crimes.
Admito, também tenho sangue nas mãos.
É nisso que penso enquanto caminho pelo corredor que dá acesso à cela solitária da Mirae-ssi.
Me preparando psicologicamente para vê-la.
Quando nossos olhares se cruzam e eu paro diante dela, estando separado apenas por grades, respiro fundo.
– Trouxe o que te pedi? - indaga a mim.
– Nossa. Boa noite para você também. Estou ótimo, inclusive, e você? - não resisto ao meu deboche.
– Sem gracinhas, idiota. Estou presa aqui a tempo suficiente para querer enlouquecer. Preciso ter um contato externo urgentemente. - sua fala tira meu recente ânimo.
– Me chama de idiota, mas não sou eu quem está preso - resmungo baixinho.
Pela proximidade, é claro que ela me escuta.
No entanto, limita-se a me encarar com ira, erguendo uma de suas sobrancelhas erguida.
É uma cena assustadora de toda forma, acredite se quiser.
Então, apenas lhe entrego a encomenda.
Um celular. Sem rastreamento e com tecnologia de ponta.
Fruto de muita exploração de vidas, dinheiro ilícito e crimes de toda espécie.
Onde eu fui me meter?!
– Aqui está. Em pleno funcionamento. Fiz todos os testes cabíveis, seu uso é de confiança. Caso queira ligar para o meu primo, só tome cuidado com a vigia policial. Não precisamos de mais problemas - digo de forma objetiva.
– Certo, tanto faz. Obrigada por nos ajudar. Será de grande serventia - afirma.
– Só faço isso pelo meu primo e pela ajuda com o caso SKZ. Eu não sou criminoso - digo mais pra mim do que pra ela.
– É claro que não é, apenas trabalha com os criminosos - diz sarcástica.
– Para sua informação, eu nunca ganhei nenhum dinheiro com isso - tento preservar minha dignidade.
– Não ganha porque não quer - aponta - mas esquece, o que você faz ou deixa de fazer não me interessa. Se já terminou, pode ir. Não irei agradecer mais uma vez.
A olho indignado.
Como é possível que meu primo tenha se apaixonado por ela?
Essa é minha tese sobre o amor: os estranhos se atraem. E que ninguém tente me contradizer.
A Kim e o Lee são a prova viva disso.
– Eu realmente não sei o que meu primo viu em você, Kim. Só espero que vocês saibam onde estão se metendo. Desejo que tudo possa se resolver logo. Não suporto mais essa situação - digo convicto.
– Você não é o único, Hwang. Eu também tenho minhas esperanças. Tudo sairá bem. Tem que dar tudo certo. Nossas vidas dependem disso - vejo seu olhar longe, como se estivesse repensando cada perigo por trás dessa enrascada.
Também percebo algo que nunca havia visto ou sentido nela em todos esses anos de convivência.
Sinceridade.
Ela está sendo realmente sincera.
E eu só espero que ela tenha razão.
Porque uma coisa é indiscutível:
Tem que dar tudo certo.
[ ... ]
Lee Felix
Daegu, Coréia do Sul
{15h24 P.M.}
* dias depois *
Há algo de errado.
Por qual motivo esse homem está me ajudando?
Por que tanto interesse na SKZ?
– Quem é você? - pergunto mais uma vez.
– Só precisa saber que me chamo Chan - diz brevemente.
– Por que eu confiaria em você? O que te faz achar que eu diria algo tão importante para um qualquer? - indago perplexo.
– Existe um infiltrado entre os seus - sua fala me faz tensionar o corpo - Mas também sei que há um infiltrado entre os nossos.
Do que ele está falando?
– Seja mais claro, por favor.
– O caso SKZ precisa ter um fim. A Kim Mirae precisa de liberdade. Os demais gangsters, como você, precisam ser julgados. E os gêmeos Han... precisam ser punidos. Não acha? - questiona com um irritante sorriso ladino.
– Por que eu acharia isso? - pergunto.
– Eu sei que assim como eu, você não confia em um Han. Eles têm esse poder sobre pessoas como nós - diz.
– O que quer dizer com “pessoas como nós”? - Faço aspas no ar com os dedos das mãos.
– Quero dizer subordinados. Eles sabem como afetar seus subordinados. E há algo sombrio sobre o passado deles que eu preciso saber para garantir que haverá justiça para todos. Além de, claro, liberdade.
– O que te faz pensar que eu ajudaria nisso?
– Até o pior dos criminosos clama por justiça. Por que com você seria diferente?
Ele está certo.
Eu preciso de justiça.
Não poderei viver em paz se continuarmos sendo injustiçados.
Não se trata apenas de mim.
Com dúvida e desconfiança, fiz uma escolha decisiva para os rumos que se seguirão nos próximos dias.
– Será daqui a duas semanas, numa terça-feira. No horário de sempre - digo.
– O que será daqui a duas semanas?
– Um assalto de sucesso.
Minha fala o surpreende.
– E ... Onde será esse assalto?
– Na sede local da Stay Gold, a maior agência bancária do mundo.
– Irão assaltar tudo? Até os dados pessoais, senhas e...
– Tudo isso. E muito mais - o interrompo.
– Como posso confiar em você?
– Da mesma forma que eu. Não confiando.
– Se eu ajudar a SKZ, me dará acesso aos documentos e às informações que preciso?
– Sim. Terá a minha palavra de sangue.
– E do que isso me serve?
– Minha vida. Significa que você pode me matar caso não cumpra minha promessa. Funciona assim entre nós, no crime.
– Mas eu não sou criminoso.
– Claro que não - sorrio em escárnio - só está negociando com um.
Percebo sua mandíbula trincada diante do que digo.
O que de nada me assusta.
Há coisas mais temíveis na minha vida.
– Tudo bem. Acordo fechado.
Logo após seu pronunciamento final, nos levantamos da mesa da cafeteria, sendo objetivos em nossos próximos passos.
Pagamos a conta.
Saímos do lugar.
Nos curvamos um para o outro em forma de cumprimento.
E é quando damos as costas e seguimos cada um o seu caminho que eu chego a minha conclusão final.
Sem sombra de dúvida, há algo errado.
E eu preciso descobrir o que é.
Capítulo 4 – Elevador do Inferno
Escrito por Isabel Ávila.
Han Jisung
Daegu, Coréia do Sul
{11h47 AM}
“Eu estou rezando para que eu aguente
Para me salvar dos olhares perfurantes
Eles estão discutindo se eu sou louco ou não
Eu serei o palhaço de alguém” - Hellevator (SKZ)
* dias depois *
– Detetive Han, tem certeza que quer estar tão ativo na missão? Podemos agir enquanto fica no furgão monitorando as câmeras e... - interrompo meu hoobae.– Precisaremos de todo o pessoal possível para essa operação, Jeongin-ssi. Não se trata apenas de uma parte, mas sim de toda a SKZ se organizando para esse assalto. Segundo as informações da senhorita Kim, estamos lidando com algo que vem sendo planejado há anos. Se trata dos últimos passos para que eles formem seu império e se consolidem no crime. Temos que impedi-los. Não se preocupem comigo, assim como os demais, irei cumprir a minha função. Se cada um fizer a sua parte não teremos motivos para nos preocupar.
– Sabemos bem no que o seu costumeiro otimismo resultou na última vez, senhor Han. Perdemos vidas inocentes. Até quando vai continuar agindo como se não fosse inapto para estar aqui como líder do caso SKZ? - provoca Changbin.
Em resposta, como se tornou rotineiro ultimamente, eu e os demais na sala permanecemos em silêncio. Não há porquê bater boca com quem só tem ouvidos para aquilo que deseja ouvir.
Além disso, estamos na sala de reunião por um único motivo: aguardar a atualização do caso SKZ por parte do nosso superior que, estranhamente, está atrasado.
Os últimos dias têm sido bem difíceis. Changbin não colabora para que possamos trabalhar de forma mais profissional.
Por algum motivo, meu antigo amigo/irmão se mostra incrédulo quanto ao meu desempenho para o cargo que ocupo.
Até quando será assim? Quanto tempo mais preciso para provar o meu valor?
Já faz meses desde que o caso Abelha teve seu fim.
Foi trágico e, de fato, perdemos vidas inocentes por culpa do meu otimismo exagerado. Eu falhei.
Porém, não seria o pessimismo latente do Changbin-ssi tão falível quanto?
Eu não estou aqui por mero capricho. Eu sou importante para solucionarmos o caso SKZ.
Ninguém conhece mais da natureza perversa de Han Jungwoo que eu, a parte mais tendenciosa de nós dois.
Meu irmão sempre soube como manipular as pessoas e situações que o cercam.
Além disso, é alguém sonso. Ou seja, não importa o quanto achemos que ele está no escuro, por algum motivo, ele sempre sabe o que está acontecendo.
Alguns diriam que se trata de um dom. Eu diria que é puro charme de líderes criminosos.
Afinal, não é o primeiro líder do crime que eu conheço de perto.
Embora poucos saibam disso, o meu envolvimento oculto com o antigo caso Stay me proporcionou algumas dádivas.
Eu também sei agir e pensar como um gângster. Eu apenas escolhi estar do lado de cá da força. Ao lado da justiça.
Não será Changbin e o seu constante questionamento sobre minha capacidade o motivo para que eu desista de combater o meu irmão e sua organização criminosa.
[ ... ]
{13h12 PM}
– Senhor Han, tem certeza que o policial Chan marcou de nos encontrar hoje? Estamos esperando há um bom tempo por ele. Perdemos até mesmo o horário de almoço e, veja bem, não só de trabalho sobrevive um homem. O Lúcio está prestes a morrer de fome, senhor - dramatiza Hyunjin.
– Quem é Lúcio? - pergunta confuso Jeongin.
– É o nome do meu estômago. Eu acho essa palavra muito feia. Prefiro chamá-lo de Lúcio - sua fala nos faz rir.
– Você é... Inacreditável - digo após cessar o riso.
– De certa forma ele tem razão, quanto tempo mais iremos perder aqui, detetive Han? - indaga Changbin.
– E-eu... - antes de dizer qualquer coisa, a porta é, finalmente, aberta pelo nosso superior.
– Sinto muito, pessoal. Sei que é hipocrisia da minha parte chegar tão atrasado para a reunião, uma vez que exijo tanto a pontualidade de vocês, mas estive envolvido na busca de uma informação indispensável. Não tive como chegar antes. Já pedi que trouxessem comida para todos, o delivery chegará em alguns minutos.
– Sendo honesto, senhor Chan. Por comida grátis eu não me importaria que se atrasasse mais ve... - a cotovelada, nada discreta, que Jeongin dá no Hyunjin cessa sua fala.
– Q-quer dizer, não precisa se preocupar senhor. Estamos aqui a serviço do povo toda hora que for preciso - se corrige Hwang.
– Bem, se é assim... - suspira -... Apesar de termos detalhes fundamentais fornecidos pela senhorita Kim, como as estratégias de furto e fuga, horários e afins, faltava uma questão mais importante ainda.
– Vá direto ao ponto, senhor. Por favor - peço ansioso.
– Tudo bem. A verdade é que um dos nossos infiltrados na SKZ conseguiu repassar o último passo para definirmos nosso plano de ação. Já sabemos quando será feito o assalto.
– E quando será? - questiona Jeongin.
– Daqui a duas semanas. No dia 02 de agosto.
Sua afirmação comove a todos. Por isso, não conseguimos conter a animação com sorrisos de alívio.
Com a data marcada para a operação poderemos selecionar a melhor estratégia e o melhor pessoal para a ação.
Como não ficarmos eufóricos?
– Eu sei, é emocionante estarmos tão perto de finalizar o caso - Também nos presenteia com um sorriso – Mas não podemos ser negligentes. Faremos plantão pela próxima quinzena até termos tudo definido para o grande dia.
Ouvimos batidas na porta.
– Deve ser a comida. Bem, aqui estão os arquivos finais das informações sobre a SKZ e a operação Furto ao Banco Central. Deem uma lida enquanto busco nossos almoços - fala entregando os documentos para nós e, em seguida, se retira da sala.
Apesar das boas notícias, algo chama a minha atenção.
Por algum motivo, o Changbin-ssi não se mostrou surpreso. Sua reação foi mais de quem já sabia do que se tratava.
Mas como seria possível ele saber de algo antes de nós? A data de um crime?
Posso estar sendo desconfiado demais com ele, devido ao tratamento que venho recebendo de sua parte.
Mas talvez, só talvez, haja mais a ser investigado por mim do que eu imaginava.
[ … ]
Lee Know
Seul, Coreia do Sul
{02h32 AM}
* dias antes *
Não lembro em que momento eu me apaixonei pela representante da SKZ de Seul.
Não foi intencional ou premeditado por nenhuma das partes. Apenas aconteceu.
Mas não deveria ter acontecido. Não quando o nosso líder é veementemente contra o amor.
Nós não somos permitidos amar.
Foi diante desse fato que nos rebelamos contra a gangue. Um dia fomos acolhidos por eles, mas hoje, seríamos rejeitados por termos nos apaixonado.
~ Trrrim Trrrim ~
Ouço o meu celular tocar, enquanto me aconchego mais na minha cama de casal tão solitária sem a Mirae-ssi.
– Alô? - não demoro para atender a chamada.
– Jagi-ya? Sou eu, a Mirae - diz, me fazendo perceber o quão saudoso de sua voz me encontro.
– Como você está? Tem dormido bem? Soube pelo meu primo que te transferiram para Daegu. Eu nunca irei me perdoar por isso. Deveria ter sido eu, não você.
– Nós já conversamos sobre isso. Eles não confiam em você como confiam em mim, Jagi-ya. A primeira coisa que fariam seria... Tirar a sua vida para não comprometê-los ou dedurá-los e eu não suportaria te perder - sua fala soa gaguejante e cansada.
– De fato, eles confiam muito mais em você. Ainda assim me preocupo que queiram atentar a sua vida caso descubram o que estamos fazendo.
– Eu sei que está preocupado, por isso pedimos que o Hyunjin-ssi facilitasse a nossa comunicação. Para tranquilizarmos um ao outro. Aliás, por aqui eu tenho me saído bem, já consegui a proteção que precisávamos.
– E quanto ao assalto? Como vai funcionar?
– Eu não sei bem os detalhes, obviamente não me forneceram, mas a equipe que está cuidando do caso SKZ irá te resgatar durante a operação e ficaremos juntos em prisão domiciliar, sendo protegidos pelo estado.
– Então teremos que cumprir pena pelos nossos delitos?
– Pois é. Mas, como disse, estaremos juntos em prisão domiciliar. O que importa é termos a companhia do outro. Independente de qualquer coisa, não pense muito nisso, é algo que podemos deixar para depois. Por hora, apenas se cuide e garanta que se sairá bem na sua parte do plano.
– Tudo bem - respiro fundo.
– Sabe me dizer quando será o furto ao Banco Central? Não posso repassar a informação para a polícia, se não eles saberiam que eu estou tendo contato externo, mas eu gostaria de me preparar para isso. Estar atenta ao que vai acontecer. A equipe investigativa deve conseguir descobrir a data através de algum informante ou algo assim.
– Entendo. É melhor evitar comprometer seu disfarce.Quanto ao assalto, está marcado para o dia 02 de agosto.
Silêncio. É isso que tenho em resposta.
– Alô? Mirae-ssi?
– Se eu não me engano, essa foi a data que...
– Sim. Foi o dia em que executaram a líder da gangue STAY, Han Martin. Há 15 anos atrás. Pena capital.
– Cada dia mais eu suspeito do envolvimento do Jungwoo-ssi com a gangue Stay. Por mais que ele tente esconder, eu já reparei uma vez na tatuagem em seu pulso.
– De toda forma, não sabemos muito a respeito. Vamos deixar para a polícia arcar com esse detalhe.
– Tem razão. Eu preciso desligar. Em poucos minutos os guardas irão fazer a minha vigília. Fica tranquilo, estou bem e ficarei ainda melhor quando estivermos juntos. Por favor, se cuide. Ligarei amanhã no mesmo horário, quem sabe até um pouco antes. Fique atento. Até mais. Eu te amo.
– Eu estou bem também, ansioso pelo nosso reencontro. Irei me cuidar sim. Aguardo sua ligação. Até breve. Eu te amo.
Depois de trocarmos palavras amorosas em despedida, deixo o celular na cabeceira da cama e volto a me deitar.
Enquanto encaro o teto do meu quarto, milhares de pensamentos me atormentam.
Seremos enfim livres do crime?
Poderemos nos amar sem medo?
Valerá a pena todo o nosso esforço?
E de tudo que penso, algo tem me perturbado de maneira incessante nos últimos meses.
Afinal, qual a ligação entre as gangues STAY e SKZ?
Duas redes criminosas de alto nível e baixa compaixão.
Fora isso, o que mais em comum possuem?
Espero não ser o responsável por essa descoberta que cheira a... morte.
A verdade é que, por mais curioso que eu esteja, tenho medo de ter a resposta para minhas dúvidas.
Sinto que estamos caminhando para o mal.
Direto para a cobertura.
Sendo transportados pelo elevador do inferno.
Será que também iremos nos queimar?
Capítulo 5 – Criminal's Menu
Escrito por Isabel Ávila.
Han Jungwoo
Seul, Coreia do Sul
{23h44 P.M.}
"Agora acenda o fogo em seus olhos
Eu só quero provar, esquentar
Em uma nova grelha, cozinho essa música
Escolha o menu, me chame
O que você quiser, servimos " - God's Menu (SKZ)
* um dia antes *
Tenho tido um mal pressentimento desde que recebi a notícia de que Kim Mirae, meu braço direito na organização, foi presa.
Algo está fora do lugar. E eu não sou o único com essa desconfiança.
Embora pense que não notei, nas últimas semanas meu informante me alertou sobre uma movimentação estranha por parte de Felix.
Ele está investigando alguma coisa. Ou alguém.
Mas, diante das prioridades, resolvi deixar quieto. Ainda não existem motivos suficientes para desconfiar do meu braço esquerdo na SKZ.
A prisão de Mirae-ssi nos pegou de surpresa, no entanto, nada que não possamos resolver mais tarde. Ela, certamente, não irá sabotar nosso assalto de sucesso.
Além disso, há alguém que pretendo brevemente rever. Quanto tempo faz que não temos um encontro de gêmeos? Criminosos também sentem falta da família.
Escuto batidas na porta e, em seguida, ela é aberta. Contudo, permaneço imóvel na minha confortável poltrona em frente a janela do meu escritório no casarão, estando de costas para o indivíduo.
– O que quer comigo? - questiono a quem quer que seja.
– Boa noite, senhor. Desculpe incomodá-lo. Vim para repassarmos a atividade de amanhã.
– Boa noite, Felix. Estava mesmo pensando em você agora a pouco.
– Em mim? Fiz algo de errado? - percebo medo em sua voz.
– Não, não. Apenas fico feliz em poder ter alguém tão confiável por perto - o que não é de todo mentira.
– A SKZ salvou minha vida de diversas formas, Jungwoo-ssi. Somente estou sendo grato, retribuindo com trabalho duro.
– Me conforta saber disso. Agora vamos direto ao ponto, o que te trouxe até aqui? - pergunto curioso.
– Vim lhe ditar as informações principais que deve saber. Bem, nos últimos anos fizemos outros assaltos de menor porte ao Banco Central, de modo que, com ajuda de infiltrados, tiveram pouca visibilidade na mídia e na polícia. Além disso, conseguimos definir 5 rotas de fuga e 8 de entrada. Dos 22 furtos ao todo realizados, apenas um foi mal sucedido. O mesmo que levou a Mirae-ssi provisoriamente presa. Apesar de tudo, concluímos que a nossa entrada no local por meio dos dutos de ventilação é a mais interessante para o furto de amanhã. A equipe da senhorita Kim não tendo sucesso, comprometeu nossa estratégia de fuga. No entanto, com as experiências anteriores, temos alguns planos que ficarão sob responsabilidade de Jaehyun-ssi, o representante de Jeju.
– Por que deixaremos o Jaehyun-ah com essa função? - o interrompo.
– Bem, com a falta de Mirae-ssi tivemos que redefinir os papéis de cada um nessa missão. De todos os nossos, Lee Jaehyun é o que tem mais habilidade em estratégias de fuga e camuflagem - sua fala me faz respirar fundo enquanto encaro a vista do jardim.
– Entendo. Pode prosseguir.
E assim, pelos próximos minutos, discutimos o passo a passo do esquema.
– Me tranquiliza saber que está tudo bem alinhado, até mesmo para prevenir imprevistos. Odeio perder o controle das coisas.
– Compreensível, senhor. De toda forma, trata-se de um plano bem feito em que estamos há anos elaborando. Dará tudo certo.
– Sua firmeza me comove. Como pode estar tão seguro disso? - indago em genuína curiosidade.
– Tenho meus motivos.
– Seus motivos eu não sei quais são, mas tem alarmado o serviço de nossos informantes. Me diga, o que você tanto busca nos últimos dias? - não me viro para encará-lo, mas a demora em me responder revela que o peguei de surpresa.
– Não posso dizer ainda, Jungwoo-ssi. Mas garanto que é uma cartada final para que saiamos bem no assalto de hoje - é tudo o que se limitará a dizer, suponho.
– Vou relevar todo esse mistério por saber da sua lealdade e dedicação à SKZ. Mas não volte a me esconder ou me deixar a parte da situação. Eu sou seu líder, você é quem me deve subordinação e não o contrário.
– Sinto muito, senhor. Não voltará a se repetir. Se me permite, estou me retirando. Irei repassar com mais alguns membros o nosso plano. Até mais, tenha um bom descanso.
Felix se retira do local assim, sem ao menos esperar um cumprimento meu que, de fato, jamais viria a ter.
Encabulado e ansioso para o grande dia, me levanto da poltrona e me retiro do escritório.
Enquanto caminho vestido com meu típico pijama rumo ao meus aposentos, repenso em tudo que me levou a vir até aqui.
Se minha vida tivesse sido mais normal, que tipo de pessoa eu seria?
Eu seria um criminoso também?
Ou seguiria um caminho parecido com o do meu irmão, trabalhando em nome da lei?
São perguntas sem resposta. Eu continuo sendo só eu. Sem chance de mudar o meu terrível passado.
Ao me mover para entrar no cômodo, não posso ignorar a maldita tatuagem no meu pulso enquanto coloco minha mão na maçaneta.
Até quando a gangue STAY vai continuar me atormentando?
Ao adentrar o quarto, me permito encarar o relógio digital na cabeceira da cama.
{00h02}
A hora em questão me faz tremer ao recordar daquilo, ou melhor, de quem eu tanto busco esquecer.
É oficialmente dia 02 de agosto. O dia da execução de Han Martin. Minha tia por parte de pai.
O pior pesadelo da nossa família. A pessoa que destruiu a mim e ao meu irmão.
Se hoje eu sou mais um marginal na sociedade, minha criação justifica.
Logo, já deitado em meio a travesseiros e lençóis do mais caro conforto, me entrego ao repentino sono.
Estou cansado. Tem sido dias difíceis. Tem sido uma vida difícil.
Antes de me render aos braços de morfeu, pensamentos bagunçados me aturdem.
Eu preciso dar um fim a tudo isso.
Não podemos abrir mão do que é nosso por direito.
Não é admissível falhas.
Eu não posso falhar.
[...]
Kim Seungmin
Seul, Coreia do Sul
{22h23 P.M.}
* 02 de agosto *
– Você sabe o que está fazendo? - me questiona.– Sim, pode confiar. Ou melhor, espere e, até o fim da operação de hoje, confirme que somos de confiança. Eu e Chan estamos do mesmo lado. E agora te trouxemos para cá, para perto de nós.
– Espero que não esteja me enganando. Tem muito em jogo aqui. Minha vida está em risco por conta de vocês. É a primeira e última vez que confio no inimigo.
– Fica calmo. O Chan se comprometeu em fazer a parte dele e eu farei a minha. Temos um acordo benéfico para ambas as partes. Se preocupe apenas com o que deve fazer, do resto nos encarregamos.
– Ainda não entendi o que Know tem a ver com isso. Sei que o primo dele está infiltrado no departamento de polícia. Então, qual a necessidade dele ser pego hoje?
– Faz parte da nossa operação. Em breve fará sentido. Repito: nós temos um acordo, Felix. Te ajudamos no que precisa e você nos ajuda com esse detalhe.
– Fala como se esse detalhe não custasse toda uma vida - diz com ênfase na palavra “detalhe”.
– Sem pessimismo, sunbaenim. Se puder, ao menos tente confiar em mim, pode ser?
– Irei tentar.
– Aliás, conseguiu pôr em prática a sua parte?
– Sim. Coloquei o Jaehyun e o Know juntos na suposta rota de fuga, na zona Leste do galpão bancário.
– Pensei que a rota de fuga fosse ser na zona Oeste, onde tem a passagem subterrânea - digo confuso.
– Paguei um ex-presidiário para se passar por um membro da SKZ e falar para esses dois que houve um imprevisto, fazendo necessário fugirmos pelo outro lado. Assim que chegarem lá, a zona estará limpa e o cara lhe dará um golpe certeiro para que desmaie. Já deve imaginar o que vem a seguir.
– Saquei. Enquanto isso, nossa equipe fará o resgate de Lee Minho. Mais tarde, quando o encontrarem desacordado, acharão que foi um rapto do Know. Talvez uma represália por não ter mais a proteção de Mirae-ssi, sua supervisora. É uma boa história. Mas me diga, o que faremos com esse ex-presidiário? E como esse Jaehyun acreditará nele?
– Esse ex-presidiário é uma piada. Faz de tudo por dinheiro sem pensar muito nas consequências. Já armei tudo para que ele seja eliminado assim que tudo se resolver.
– Com eliminado você quer dizer... Morto?
– Quase isso - engulo a seco. Como policial, busco salvar vidas. Não tirá-las. Mas nem sempre as coisas saem como esperamos.
– Então, e quanto ao Jaehyun? Você não me respondeu - desconverso.
– Ele é um arrogante sem escrúpulos. Não é muito comprometido conosco, apesar de ter habilidades indispensáveis para a SKZ. Basta o cara que contratei dizer a chave de segurança e pronto, o canalha cairá direitinho na armadilha.
– Que chave de segurança é essa? Nunca ouvi falar.
– Você é recém chegado na gangue. Só membros de extrema confiança conhecem o ditado da chave de segurança. Nem mesmo Know sabe qual é. Trata-se apenas da nossa forma de nos proteger de infiltrados, como você e seus amigos.
– Entendo. É um bom plano.
– Sim, claro que é. Fui eu quem elaborei. Modéstia à parte, sou excelente no que faço.
– Bem, quem sou eu para discordar, não é mesmo? - ofereço um sorriso tenso - obrigado por isso, será de grande ajuda.
– Não agradeça. Estou agindo em benefício próprio, não por bondade. Agora vamos lá, nosso carro sai às 22h30. Já estão nos esperando.
Sem muita cena, saímos em silêncio rumo ao transporte que nos levará a caminho do Banco Central.
Nesse trajeto, uma insegurança me aflige.
Deus, se o senhor existir, permita que eu não passe mal com o menu criminoso de hoje.
Peço para o sabor amargo que sinto não refletir no resultado do nosso plano.
Precisamos vencer. Não posso falhar.
Pela primeira vez, tenho a oportunidade de degustar de alguma aventura neste trabalho.
Não perderei a oportunidade.
Capítulo 6 – Choro Silencioso
Escrito por Isabel Ávila.
Seo Changbin
Seul, Coreia do Sul
{17h34 P.M.}
"Há um choro silencioso.
Que apenas eu posso ouvir.
Um choro silencioso.
Que você esteve escondendo.
Até agora." - Silent Cry (SKZ)
*02 de agosto*
– ... E esse é o esquema para hoje. Espero que tenham prestado muita atenção. Não aceitaremos falhas - afirma o policial Chan, após termos revisado toda a operação planejada para mais tarde.
Ao encarar todos os presentes na sala e pensar na escolha que tomei, titubeio pela primeira vez.
Eu espero que ninguém saia muito prejudicado. No máximo, o detetive Han. Para ele, seria merecido.
– Eu tenho uma questão - falando no bendito...
– E qual seria, Jisung hoobae?
– Por que de última hora colocaram eu e o agente Seo juntos na função de resgate ao aliado Know?
– Há algum problema nisso?
– Q-quer dizer, nós dois temos nossas questões... Digo... T-temos mal entendidos q-que...
– Até onde sei, como líder da operação, devia saber melhor que qualquer um de nós separar o profissional do pessoal, não acha? - me intrometo.
– Engraçado. Fala como se não tivesse passado as últimas semanas empenhado em nos convencer a expulsar o Han Sunbaenim de sua liderança - rebate Jeongin.
Um breve silêncio incômodo se instala no ambiente. Pelo menos, até...
– Eu poderia explicar para os demais essa decisão repentina? - se pronuncia Hyunjin.
– Claro - suspira nosso chefe - vá em frente.
"Siga o plano"
"Não me decepcione"
São essas frases que faço questão de reforçar ao policial Hwang através do olhar, encarando-o.
Após esse rápido momento entre nós, pigarreia para em seguida se explicar.
– Bem, como sabem, eu fui o responsável por definir as possíveis rotas de entrada e de fuga da SKZ. Conforme as informações que temos sobre a planta do prédio e afins, percebemos que o mais provável é que fujam pela zona leste do lugar e é aí que iremos intervir. A equipe de contenção do departamento de polícia os deterá nesta região. No entanto, ainda há a necessidade de resgatarmos Lee Minho, como parte do acordo que fechamos com a criminosa aliada. Por isso, em conversa direta com o informante Kim, notamos que seria ideal esse resgate ser feito por pessoas experientes. E, bem, no último caso do detetive Han, ele e o senhor Seo foram responsáveis por resgatar Yoo Nabin, além de sempre terem sido referência e parceiros nesse tipo de caso no nosso departamento. Logo, a dupla mais interessante para tal função - finaliza Hyunjin-ssi.
– Apesar de não termos tido um resultado satisfatório no caso Yoo Nabin, sabemos da competência alheia. E estamos oferecendo uma segunda chance para o líder da operação, o detetive Han. Já tivemos uma conversa antes sobre o quão essencial é que se saia bem em sua liderança. Espero que se lembre disso, hoobae - completa o policial Chan.
Encaro de soslaio Jisung-ssi apenas para notar como engole a seco pelas palavras proferidas.
– Entendo. Desculpe questionar. Queria ter certeza que seria a melhor escolha. Obrigado pela explicação.
– Não se preocupe, sunbaenim. Estamos juntos nessa. Todos queremos dar o nosso melhor. E assim será - afirma Jeongin-ssi.
– Bem, acredito que já conversamos o suficiente. Apesar de termos a informação sobre o horário tardio em que será feito o furto, algo próximo da meia noite, precisamos nos infiltrar sorrateiramente no Banco Central. De modo que a gangue não perceba nossa represália e desista de cometer seu crime hoje. Estão dispensados. Se organizem e não deixem de ser pontuais. Nesse caso, os segundos irão contar como vantagem para que saiamos vitoriosos. Não desperdicem seu tempo - afirma nosso chefe, retirando-se logo após do local.
Aos poucos, cada um dos demais representantes fazem o mesmo.
Antes do policial Hwang se unir aos outros dois, o detetive Han e o policial Lee, interrompo-o.
– Hyunjin-ah, poderia ficar mais um pouco? Gostaria de conversar sobre algo contigo - tento soar natural.
– Ah, claro. Quer dizer, posso sim - seu nervosismo, no entanto, não é tão convincente.
– Quer que esperemos por você? - indaga Jisung-ssi.
Seu olhar desconfiado me deixa alerta. Eu sei que ele tem andado me cercando ultimamente. Como se não confiasse mais em mim, tal e qual não confio nele.
Mas isso não me preocupa. Somos parceiros no trabalho desde muito antes de entrar para o departamento de polícia.
O problema é que ele me conhece melhor do que gostaria. Tenho que despistá-lo.
– Não é necessário, detetive Han. Trata-se de um tópico... Digo... Um tanto íntimo. Sobre algo que o senhor Hwang me pediu ajuda - falo em plena atuação.
– E desde quando são íntimos? - ironiza Jeongin.
– Digamos que o Hyunjin-ah tem tido problemas com mulheres e, como devem saber, eu...
– Oh, claro. Quase me esqueço da sua fama de mulherengo. Vamos, acho que esses dois tem muito que conversar. Só não percam muito tempo, o trabalho de hoje não será fácil.
– Não se preocupe, Jeongin-ah. Seremos rápidos. Em alguns minutos nos encontramos no carro. Até depois - se despede Hwang.
– Até logo - Jeongin começou a se retirar. Mas, ao notar a paralisação de Jisung-ssi, questiona:
– Han, vamos?
Como se saísse de um transe, o citado balança a cabeça para os lados antes de segui-lo para fora em silêncio. Nem mesmo um adeus ou até logo. Mal educado.
Esperamos a porta ser fechada e os passos do corredor estarem quase inaudíveis para então conversarmos em paz.
Afinal, a sala de comando é o único lugar dessa sede que não contém escutas por motivo de segurança.
– O que quer de mim agora? - pergunta-me.
– Nada de mais. Queria agradecer pela ajuda de última hora e saber se fez a sua parte.
– Oh, sim. Depois de me chantagear para mudar todo o nosso plano contra a SKZ, me fazer mentir diante do chefe da polícia e nossos parceiros, está me dizendo que ainda duvida da minha palavra?! É claro que já fiz o que me pediu. Ou melhor, o que me obrigou a fazer.
– Sem drama, Hwang. Eu não consideraria chantagem sugerir dedurar para todos os outros o fato de termos um infiltrante da SKZ entre nós. Apenas um jogo de interesse.
– Sabe que é muito além disso. Comprometer meu disfarce seria o de menos, a real questão é não poder ajudar o meu primo a sair daquele inferno de gangue por estar preso.
– Justamente, um jogo de interesses. Eu ajudo o inimigo e o inimigo me ajuda com um pequeno favor. Nada demais. Ninguém será prejudicado.
– Nada demais... Até parece! Para ser honesto, não sei o que te faz ficar contra a sua própria equipe, talvez a sua repulsa injustificável pelo detetive Han tenha te cegado de vez. Eu só espero mesmo que ninguém saia prejudicado por conta das suas escolhas repentinas e sem lógica.
– Não se preocupe, Hyunjin-ah. Eu sei o que estou fazendo. E não, não estou cego sobre nada disso. Nem por repulsa, nem por falta de lógica. Tenho minhas justificativas. Só não posso revelar ainda.
– Que seja, Changbin-ssi. Só não espere que eu esteja satisfeito. O resultado da operação de hoje será reflexo da sua escolha. A responsabilidade está em suas mãos. Lide com isso sozinho, porque eu não apoio em nada.
Não tenho tempo de retrucar suas palavras. Ele sai do lugar antes de qualquer atitude minha, batendo com força a porta.
Ainda absorto, respondo ao vento:
– Não se preocupe. Dará tudo certo.
Não sei dizer se o que digo é uma certeza ou minha forma de me confortar.
De toda forma, preciso seguir em frente e ser confiante.
Sei o que estou fazendo.
Não irei permitir falhas dessa vez.
Ninguém será prejudicado novamente por conta de Han Jisung.
Não haverá novas vítimas de sua incompetência.
Faço isso não por mim. Mas por quem mais amei nessa vida.
Yoo Nabin, vingarei a sua morte. Por você, serei a melhor versão de mim.
Tudo por você.
[...]
Lee Minho
Seul, Coreia do Sul
{23h47 P.M.}
* 02 de agosto *
Estou nervoso. Inexplicavelmente, mas estou.
– Não acha que eles estão demorando? - questiona Jaehyun-ssi.
– Eu diria que... - sou interrompido por uma movimentação estranha.
Um homem todo vestido de preto e com a bandana da SKZ em sua testa se aproxima de nós, apressado.
– Qual a pressa, meu amigo? - indago confuso.
– Tivemos um imprevisto. Teremos que sair pelo lado leste desse lugar. Os tiras nos descobriram - diz o moço desconhecido.
– Mas que droga. Como posso confiar no que diz? - pergunta meu parceiro.
– Me pediram pra passar essa mensagem com um tipo de código, não sei. Algo sobre 14 de fevereiro.
Meu companheiro de serviço empalidece naquele instante.
Por acaso 14 de fevereiro é uma data importante para a gangue?
Afinal, o que o dia dos namorados tem haver com uma organização criminosa que proíbe tanto o amor?
– Já que é assim, vamos. Não podemos perder tempo. Os outros já migraram para a rota de fuga de emergência?
– Sim. Não conseguiram comunicá-los pelos pontos e me pediram para vir correndo. Só faltava vocês para dirigirem a fuga.
Em um movimento involuntário eu e Jaehyun retiramos nossos pontos para, em seguida, notar que eles não estão funcionando.
– Eu bem avisei sobre essas porcarias serem de segunda mão e que deveríamos ter investido em algo de melhor qualidade - resmungo.
– Sem tempo pro seu drama, hoobae. Só vamos embora logo, já me basta ter perdido o episódio novo do meu dorama. Não to afim de ser pego pela polícia.
Ninguém ousa questioná-lo, uma vez que ele está armado.
Mas o quão patético me soou um criminoso que acompanha doramas, não sei dizer.
Seguimos o caminho alternativo para a zona leste do lugar, comigo atrás dos outros dois fazendo a segurança caso sejamos pegos.
Estive tão concentrado em meu papel que não notei quando chegamos próximos ao nosso destino.
– Espera, onde estão os outros... - Antes de terminar a minha fala, sou surpreendido.
Vejo o meu comparsa Lee ser nocauteado na cabeça e desmaiar em minha frente pelo tal cara que nos trouxe até aqui.
– QUAL O SEU PROBLEMA? POR QUE FEZ ISSO? - digo alterado.
– Abaixa o tom que eu vim aqui pra ajudar, beleza? Tenho que voltar pro’ meu serviço antes que desconfiem do que fiz. Seu parente lá, o tal policial Hwang, vai estar te esperando por trás daquela porta. Vieram te resgatar.
– O q-quê? Ninguém me disse nada sobre isso.
– O que te disseram ou deixaram de dizer eu não sei. Mas já fiz o que fui pago pra’ fazer. Então tome aqui esse papel, me pediram pra’ te entregar. É só seguir pelo corredor e entrar pela última porta. Estão te esperando.
Me entrega um pedaço de papel do que julgaria ser um post it. Nele está escrito um código de confiança entre mim e meu primo.
" Minjin "
É isso que está escrito, a mistura dos nossos nomes (Minho + Hyunjin).
Apesar de achar bobo, foi algo que ele escolheu. Entre tantas coisas que já fez por mim, não custou nada levar a sério esse simples pedido.
No entanto, o que esse shipp realmente significa é a liberdade de todos nós.
– Obrigado pela ajuda - digo já correndo rumo à porta já citada.
– Não agradeça. Só vai embora logo e me deixe terminar meu serviço - escuto-o dizer.
Sem nenhuma outra troca de palavras, ou até mesmo preocupação com Jaehyun-ssi, sigo meu trajeto.
Ao alcançar a maçaneta e abrir a tal porta, vejo uma multidão armada mirando em mim, além de estar cercado por carros de polícia.
Eu estou sendo resgatado ou preso?!
– O que você está fazendo aqui? - Ouço um policial se aproximar de mim.
Em seu crachá está escrito "Bang Chan".
– E-eu vim ser resgatado. Só não esperava que tantos policiais se dedicassem a minha busca - digo confuso.
– Que asneira está falando??? Até onde sabemos você seria resgatado pela zona oeste.
– Como assim? Nosso… Quer dizer, o plano de fuga da SKZ sempre foi sair pela zona leste. Achei que soubessem pelo seu informante ou sei lá.
Quando todos em volta de nós baixam a guarda e eu percebo os olhos arregalados do policial em minha frente, noto que algo de muito errado está acontecendo.
– Como imaginei. Fomos enganados - diz o tal Bang Chan.
[...]
Han Jisung
Seul, Coreia do Sul
{01h42 P.M.}
* 03 de agosto *
Minha cabeça lateja enquanto repasso em minha mente os últimos momentos antes de ser desacordado.
Eu e Changbin discutimos sobre a demora de Lee Minho aparecer.
De repente, a porta é aberta. Mas quem aparece não é o nosso resgatado da missão e sim, homens vestidos de preto, com bandanas da SKZ.
Tentamos revidar e impedir a fuga, mas são dezenas deles contra dois de nós.
Vejo meu parceiro desmaiar em minha frente após um combate corpo-a-corpo com um desses gângsters.
Tento correr até ele e ajudá-lo.
Alguém me alcança antes disso e coloca um tecido em meu rosto até que me entregue a inconsciência.
Após processar meus últimos momentos lúcidos, abro os olhos assustados.
No entanto, tudo que percebo com a visão ainda turva é um lugar escuro, cheirando a mofo e mal iluminado.
Me parece um tipo de porão sujo.
Aos poucos, me acostumei com o ambiente e consigo ter mais clareza em minha visão. Noto uma figura à minha frente.
Ao encará-lo, consigo reconhecer sua aparência com muita facilidade. Afinal, trata-se do rosto que convivi a minha vida toda.
Han Jungwoo.
– Ora, ora. Finalmente a bela adormecida acordou. Quanto tempo, não é mesmo?! - diz o maldito.
Somente agora, ao tentar cuspir palavras de ódio àquele que me abandonou um dia, pude perceber.
Estou amarrado em uma cadeira. Correntes me mantém preso a ela. E tem um pano impedido que eu fale.
Logo, tudo que balbucio são palavras desconexas e sem muito som.
Isso lhe causa riso.
– Calma lá, irmãozinho. Eu também senti sua falta, não precisa ter pressa. Lhe permitirei falar tudo que quiser - diz se aproximando de mim.
Quando põe as mãos nos trapos que atrapalham meu momento de vociferar aquilo que tanto quero dizer...
– Antes de tirar essa bandana que está em sua boca, quero te fazer perguntas. Pense bem no que irá me responder. Só estarei livrando sua voz por minhas respostas, entende? Se não obedecer, pedirei para meus amigos virem aqui te colocarem em seu lugar com o soco inglês que há tanto tempo eles não usam. Está me entendendo? - sua fala me deixa atônito me relembrando nossa relação em outros tempos, quando, ao invés de me ameaçar, ele me defendia das ameaças.
– Caso não tenha ouvido direito, eu perguntei... ESTÁ ME ENTENDENDO? - repete com mais rispidez.
Como se voltando no passado, encarnei no garotinho frágil que já fui um dia e assinto com a cabeça em concordância ao que me diz. Assustado e com lágrimas contidas.
– Muito bem. Veja só, não ficarei repetindo minhas perguntas. Então, as primeiras delas são: o que relaciona a prisão de Kim Mirae com a de Lee Minho? Por que pegaram justamente eles? Eu sei que tem algo estranho nisso tudo. Não minta para mim. Já sabe as consequências.
Enquanto ele retira a tal bandana de minha boca, penso no quão comprometida foi a nossa operação de hoje.
Por isso, em meio a um choro silencioso, questiono-me sobre os fatos que me trouxeram até aqui.
Como pude falhar em algo tão importante?
O que fizemos de errado?
Por que o inimigo me sequestrou?
Quem irá se responsabilizar por esse erro?
E o principal:
Onde está Seo Changbin?
Capítulo 7 - Luzes vermelhas após um reencontro
Escrito por Isabel Ávila.
Han Jungwoo
Seul, Coreia do Sul
{ 02h23 A.M. }
"Não importa o quanto tente escapar, não há resposta
Até que eu adormeça junto ao sol,
Ainda mais profundamente
Eu realmente quero saber, sim
Eu já perdi o controle" - Red Lights (SKZ)
*03 de agosto*
Sentado na cadeira velha de sempre, continuo encarando o rosto tão conhecido por mim:
Han Jisung. O melhor de nós dois.
Trazê-lo até esse porão sujo foi fácil. Mas me trouxe sérias desconfianças.
Como Felix poderia ter elaborado um plano de fuga tão eficiente? Nenhum de nós tínhamos cogitado a hipótese de que a polícia teria conhecimento do nosso furto.
Isso me fez juntar algumas peças desse quebra-cabeças.
Kim Mirae, meu braço direito, foi presa.
Lee Know, seu principal ajudante, foi capturado.
Felix, meu braço esquerdo, está procurando informações sobre o meu passado que deveriam nunca vir a ser reveladas.
Lee Jaehyun, membro de confiança da SKZ, não abandonaria seu posto definido a menos que alguém lhe desse, ou melhor, dissesse-lhe um motivo para isso.
Apenas um número limitado entre nós sabe sobre o código 14 de fevereiro.
Com todos esses detalhes rodopiando meu raciocínio, só há uma conclusão cabível:
Estou sendo sabotado.
E certamente devemos ter infiltrados na gangue.
Talvez a polícia já esteja sabendo mais do que deveria ao nosso respeito.
Embora me conforte saber que Kim Mirae é confiável, não sei dizer se o Know também é leal à gangue.
Preciso me precaver e entender o inimigo.
Levo um susto quando uma movimentação me desperta dos meus devaneios.
Enfim, ele está acordando.
– Argh, como dói - resmunga meu gêmeo.
– Doeria menos se fosse mais inteligente e respondesse minhas perguntas. Aliás, devo reconhecer que o treinamento policial te vez bem, irmãozinho. Antes você aguentava apanhar por tão pouco tempo. Dessa vez levou pelo menos uns 20 minutos até desmaiar. Ou será que meus amigos foram muito brandos contigo? - finjo pensar no que disse.
– Você é um lunático! - vociferou.
– Oh, por favor. Não seja tímido. Pode continuar me elogiando assim, eu gosto. Embora isso não irá te livrar de mim, me parece divertido. Um belo reencontro familiar - sorri em sua direção.
– Reencontro familiar? Deixamos de pertencer à mesma família depois de tudo que aconteceu. Se dependesse de sua vontade, a STAY ainda existiria e aquela mulher... - o interrompo.
– NÃO OUSE FALAR DELA. Por sua culpa as coisas terminaram da pior forma possível. Você traiu a sua própria FAMÍLIA. E ainda foi ingrato com a ÚNICA pessoa que nos acolheu no pior momento.
– POR ACASO ESTÁ SE OUVINDO? Aquela mulher até pode ter nos adotado após nossos pais falecerem, mas o que ela fazia conosco... Era imundo. Tão imundo quanto somente Han Martin podia ser. Tenho nojo só de lembrar.
– NOJO? Nojo eu tenho de um idiota como você, que não serve pra’ nada. Tenho certeza que até o Departamento de Polícia irá te virar as costas depois de terem falhado miseravelmente nessa missão suicida sua. Martin tinha razão, você sempre será um inútil - vejo seu semblante escurecer em algo parecido com... Tristeza.
Devo ter afetado o seu ego como sempre fiz questão de afetar.
– Talvez esteja realmente com razão. Eu não sou o melhor no que faço, mas sempre ofereci o meu melhor. Eu prefiro estar do lado certo do que servir a um legado de um ser humano tão perverso como a nossa tia foi. Agradeço todos os dias pela sua execução. Não sei se eu teria sobrevivido até aqui caso aquela senhora ainda estivesse viva.
– Sempre será um ingrato mesmo. Por isso, quando vi que eu seria a pessoa responsável por reerguer o nome da nossa família, sequer cogitei a hipótese de ir até você. Só seria uma pedra no meu caminho. Então, fui embora e segui com os meus planos. Tudo ia muito bem, inclusive. Mas parece que alguém gosta muito de me perseguir. De todas as profissões que existem, tinha que escolher ser um policial - reclamei.
– Reerguer o nome da família? É sério? Não vejo orgulho algum de, por ser um Han, ter sempre alguém me associando a algum gângster coreano. Isso é vergonhoso e irritante. Sempre serei contra todos vocês da SKZ ou qualquer outra organização criminosa que seja. Foi por isso que me tornei detetive. E sei que estamos perto de acabar com todos vocês. No final, Han Jungwoo sempre será a cadelinha de Han Martin. Que mesmo morta, ainda permanece viva nessa sua mente perturbada. Eu queria te ajudar no passado, até procurei terapia para nós dois. Éramos jovens demais naquele tempo, o governo nos deu a chance de mudar de vida. Você nunca aparecia e eu sempre inventava uma desculpa para o nosso terapeuta. Um dia, eu cheguei no consultório em prantos porque o meu irmão, minha única família, havia sumido e ninguém conseguia o encontrar. Te considerei como morto desde então. Até o dia em que descobri a sua relação com a SKZ. E tudo por causa dos traumas que aquela pedófila doente causou em você. NÓS FOMOS VÍTIMAS DE UMA LOUCA, JUNGWOO-AH. E ISSO NÃO JUSTIFICA AS SUAS ATITUDES.
Em um ato impensado, tiro o soco inglês guardado em meu bolso, encaixo em meus dedos e lhe respondo da minha melhor maneira:
Com um golpe forte em seu rosto.
Sangue escorre de sua face já brutalmente machucada, tal e qual o resto do seu corpo.
Mas não me detenho. Com o maxilar trincado, me aproximo dele e o puxo pelo queixo para que me encare de perto.
Jisung-ah solta um praguejo de dor. Não ligo para isso. Quando nossos olhos se conectam...
– Você se acha muito superior, não é? Só porque veste a porra de uma farda policial e anda com esses caras da lei não existe garantia de que a sua vida será poupada. Escute-me bem. A SKZ irá se tornar tudo aquilo que a STAY deveria ter sido no passado. E dessa vez, não haverá um merdinha como você pra nos atrapalhar.
Noto-o engolindo em seco. Antes de voltar ao ponto inicial de nossa conversa e questionar sobre o que realmente preciso, que é impedir a sabotagem da SKZ e descobrir quem é o infiltrado entre nós, sou interrompido por batidas na porta.
Em nítida frustração, peço para que a pessoa entre.
– Desculpe-me atrapalhar, senhor. Mas tenho más notícias - fala hesitante, sem reparar muito em minha companhia.
– O que houve dessa vez? - suspiro cansado.
– Não sei ao certo, mas o Hwang Hyunjin está em ligação na sala de controle, lhe esperando para repassar os planos da polícia com o resgate de Lee Know. Pediram para que eu vinhesse lhe chamar.
Apesar de não estar satisfeito com a falta de respostas do meu convidado, não posso deixar de arcar com minhas prioridades.
Se o inútil do meu sósia não me oferecerá as informações que preciso, terei de ir até quem pode me ajudar. Ninguém melhor que o nosso infiltrado no departamento da polícia.
– Tudo bem, já vou indo. Fique aqui e se assegure de que o meu irmão se sentirá em casa - sorri perverso - tem minha autorização para se divertir com ele, senhor Kim.
Não espero que ele me responda e já saio rumo a tal sala citada. Lá, em poucos minutos de conversa com o Hwang, fico ainda mais decepcionado.
Nenhum detalhe me dito é relevante para que eu consiga entender o que a polícia está tramando.
Porém, seguro de que ainda tenho uma carta na manga, retorno até a minha recente fonte.
No entanto, paraliso ao encarar a porta do porão aberta em puro desleixo.
Tenho certeza que a havia fechado ao sair.
Com pressa, abro-a somente para me deparar com o que mais temia. A sala está vazia.
Nem sinal de Jisung-ssi ou do senhor Kim.
Procuro saber, questionando os outros membros responsáveis pela segurança da nossa sede, como eles podem ter saído sem serem vistos.
Bem, minha dúvida é esclarecida quando noto que a câmera dessa área está focando em uma direção oposta a que deveria estar.
Eu sei disso porque sempre verifico esses detalhes ao entrar em qualquer cômodo que seja do nosso esconderijo principal.
E é nesse momento que uma lâmpada acende meu raciocínio de antes:
O senhor Kim entrou para a organização faz poucos meses.
Estou certo de que ele deve ser o infiltrado do qual já desconfiava existir.
Porém, como é possível que o Hwang não tenha se dado conta de que havia um deles entre nós?
Simples. Kim Seungmin e Hwang Hyunjin estão trabalhando juntos contra nossa gangue.
E há algo a mais que me faz franzir o cenho e queimar meus neurônios...
Eles não correriam o risco de serem descobertos com tamanha facilidade.
O que me leva a crer que só há uma justificativa para isso.
Há mais traidores na SKZ do que imaginava.
E eu preciso detê-los antes que seja, definitivamente, tarde demais.
[...]
Yang Jeongin
Seul, Coreia do Sul
{ 9h38 A.M }
*03 de agosto*
Sinto uma dor maçante em meus ombros, como se estivesse carregando a culpa por algo que não foi de fato um erro meu.
Será que é esse o sentimento que o Jisung-ah tem tido nos últimos meses?
Se for, deve ter sido difícil de lidar...
Lembrar do detetive Han me causa ainda mais angústia.
Nossa equipe fracassou na operação de ontem e ainda não tivemos tempo nem de processar todo o ocorrido.
Nós falhamos, eu sei. Mas exatamente onde esteve o nosso erro?
Tudo que fizemos nas últimas horas foi esperar que o Seungmin-ssi chegasse logo no nosso departamento com o Jisung-ah resgatado.
Os dois chegaram a cerca de duas horas e o detetive foi imediatamente encaminhado para a enfermaria devido aos cuidados que precisava ter.
Desde então, sentado na sala de reunião junto aos outros, esperamos que o nosso líder chegue para iniciarmos a conversa não tão feliz de hoje.
Sua demora me dói por saber que deve estar muito ferido e com dificuldade de se locomover até aqui.
Minha hipótese se mostra verídica quando um enfermeiro abre a porta para, em seguida, adentrar com o seu paciente em uma cadeira de rodas.
Machucado. Cabisbaixo. Derrotado.
É essa a leitura que faço do meu amigo nesse momento.
– Tem certeza que se sente bem para estar aqui, detetive Jisung-ssi? - questiona o policial Chan.
– Sim. Inclusive, eu gostaria de pedir para ter a chance de falar antes de todos, se possível - fala com uma voz rouca e entrecortada.
– Tudo bem, sinta-se à vontade.
Todos fixamos o olhar no ser marcado por ferimentos diante de nós.
– Em primeiro lugar, quero me desculpar por ter cometido o mesmo erro da última operação. Irei me responsabilizar por tudo que aconteceu.
– Do que está falando? Não foi culpa sua, Jisung-ssi - digo fervoroso.
– Estou dizendo exatamente o que entendeu, Jeongin-ssi. Se eu tivesse sido mais cauteloso como devia, um erro tão básico como trocar zona oeste por zona leste não teria acontecido. O policial Seo estava certo, eu não devia ter ficado responsável por essa operação.
– Sunbaenim, veja bem... - o Hwang tenta dizer algo, mas Jisung-ssi o impede.
– Não preciso ouvir mais nada sobre isso. Na verdade, gostaria de poupar tempo e ir direto ao assunto.
Em uma troca de olhares tensa, nós permitimos que ele prossiga com sua fala.
– Eu já sei como podemos combater o caso SKZ a partir de agora. Mas, para tal, eu terei que deixar de ser o líder dessa equipe, sendo responsabilidade de vocês votarem pela nova liderança. Faço isso como responsabilização pelo erro de ontem e também por mudança de estratégia. Irei continuar a colaborar com a polícia, só que de uma maneira mais eficiente.
– E como pretende fazer isso? - pergunta o sempre desconfiado Changbin-ssi.
– Há informações que nem mesmo Kim Mirae ou Lee Minho sabem. Mas, por ter Jungwoo-ssi como parente, eu sei. Nada melhor para dar o xeque mate nessa partida do que capturar a rainha. Portanto, eu irei ajudá-los a atacar o líder da SKZ usando contra ele o que há de mais vulnerável: o seu passado. Como devem concluir, o passado dele também é o meu. E há algo que nem todos têm conhecimento. Han Jungwoo tem sido apenas um peão e seguido com os planos interrompidos de uma outra pessoa. Han Martin. Nossa...tia - diz, não contendo uma expressão enojada ao se referir a senhora Han.
– Espera - interrompe Hyunjin-ssi - Han Martin não era aquela líder da antiga gangue STAY?
– Exatamente - engole em seco - Jungwoo-ssi me confirmou que está buscando êxito naquilo que essa mulher não foi capaz de ter: liderar o caos no mundo. Eu sei como impedi-lo. Até porque, fui eu quem ajudei a derrotar a STAY anos atrás. E sinto que é minha missão fazer o mesmo com a SKZ. Nem que isso custe... a minha vida - finaliza sua fala.
Em um silêncio mútuo, nos permitimos refletir sobre as mudanças sugeridas.
Estas, por mais interessantes que sejam, não deixam de ser arriscadas demais para todos nós. Principalmente para o meu amigo já tão debilitado.
Assim, como se minha visão estivesse sendo afetada por luzes vermelhas que alertam sobre o perigo desse caso, só há uma conclusão tida por mim:
Não importa o quanto tente escapar. Eu já perdi o controle.
Capítulo 8 - Te deixar ir
Escrito por Isabel Ávila.
Seo Changbin
Daegu, Coreia do Sul
{19h31 P.M.}
"Eu pensei que poderia alcançar você
Se continuasse te perseguindo
Eu nunca sequer duvidei
Mesmo que eu tenha segurado você como imaginação
Mesmo que eu te abraçasse apertado com as duas mãos
Nos meus braços só sobrou um vazio
Vagando por aí, eu finalmente percebi
Que eu tenho que te deixar ir" - Levanter (SKZ)
*07 de agosto*
Eu não esperava ser descoberto. Nem que isso aconteceria tão cedo. E muito menos que seria logo ele a descobrir.
— Estou decepcionado com vocês. Como puderam armar um plano que pôs em risco a vida de tanta gente? Olha o que aconteceu com o detetive Han! Tudo culpa dessa sede de vingança! Superem e entendam: Yoo Nabin não irá voltar.
Quando o policial Chan chamou a mim e o Seungmin-ssi para uma conversa particular, eu não sabia o que me esperava.
E agora que sei, bem, me resta pouco a se fazer. Então dou início a minha fala...
— Apesar de termos saído um pouco do planejado na operação...
— Um pouco? Nós deixamos passar a oportunidade IMPERDÍVEL de capturar a gangue SKZ e ainda tivemos um dos nossos feridos e refém desses criminosos. E como se não bastasse, o nosso ÚNICO infiltrado teve que comprometer seu disfarce para trazer com segurança o Jisung-ssi. Tudo isso, por conta da missão suicida de vocês. Isso é pouco???
Nós, Seungmin-ssi e eu, trocamos olhares antes de voltarmos nossa atenção ao pivô dessa discussão.
— Eu sinto muito por esses imprevistos e por não termos te deixado ciente do nosso plano, senhor. Mas peço que confie em nós, nunca permitiriamos que houvessem feridos ou mortes. Não dessa vez. — digo com firmeza, encarando-o.
— Ah, claro. É óbvio que você iria usar o caso Yoo Nabin para justificar tanta imprudência.
— Eu jamais faria isso, e-eu...
— Você a amava mais que tudo, hobaenim. Todos sabemos disso. A senhorita Yoo também era nossa melhor investigadora e muito querida no departamento. Mas ela veio de uma família problemática e sem querer, foi colocada em uma situação de alto risco. Eu entendo a sua mágoa pelo Jisung-ssi não ter a salvado. Ele já se culpa o suficiente. Mas veja, naquela circunstância, ele precisou fazer uma escolha: ou salvava os sobrinhos dela ou todas aquelas crianças perderiam suas vidas. Sim, ele foi um irresponsável por ter ido resgatá-la sozinho, sem nenhum apoio seu ou da equipe designada. No entanto, já não se pode voltar atrás e ele continua sendo indispensável para o caso SKZ. Não consegue ver isso? Até onde a sua ansiedade por vingança vai?
Um silêncio irritante se espalha entre nós. Eu nunca irei superar a perda de Nabin ou de como tudo terminou. Não consigo perdoar o Jisung-ssi por isso também.
Algum dia essa dor irá embora?
— Não se trata disso, senhor. Apesar do ódio e da dor no meu coração por tê-la perdido... A verdade é que eu, racionalmente, não sabotaria o detetive Han por vingança. Nunca foi sobre isso. Nós dois vimos uma oportunidade de garantir que nunca mais uma gangue chegue tão longe, ao mesmo tempo que teríamos ajuda para prender as outras gangues ainda existentes. Nós não queremos que outra gangue surja para tirar a vida de outro inocente, como foi com Yoo... Nabin.
— O que quer dizer com isso?
Perante a minha recente queda de ânimo, o Lee continua meu raciocínio.
— O nosso plano não foi sobre sabotar a operação Furto ao Banco Central, senhor. Na verdade, tivemos que fazer isso para atrair um aliado nessa batalha contra as gangues. Alguém que poderá ser nosso ajudante e infiltrado sem deixar pistas.
— Como assim? Do que estão falando? Eu quero detalhes!
— Bem, é uma longa história, mas... Para resumir, o senhor já deve ter ouvido falar no famoso... Felix?
A expressão do policial Chan de repente empalidece, como se não acreditasse no que Seungmin-ssi está dizendo.
— Está se referindo ao criminoso mais astuto do meio gângster?
— Esse mesmo, senhor.
— Eu não entendo, no que ele poderá nos ajudar?
— Bem, digamos que temos um inimigo em comum.
— E quem seria?
— Han Jungwoo — me pronuncio.
— Estão querendo me dizer que o criminoso mais procurado será o nosso aliado desertor? Isso não faz sentido algum! O que ele ganharia com isso?
— Grandes atos, pedem grandes riscos. O que ele ganha nos ajudando eu não sei, mas foi por conta dele que consegui escapar com o detetive Han. Além disso, ele me passou... Informações.
— Que informações? Por que não me disse nada? — questiono me sentindo... Descartado.
— Não disse nada antes porque recebi o arquivo pouco antes de entrar na sala, mal tive tempo de checar, apenas vi por cima o conteúdo.
— E afinal, do que se trata? — indaga nosso chefe.
— Ao que tudo indica, só há mais um passo a ser dado pela SKZ em prol de conquistar seu objetivo maior que, ao contrário do que pensa Jisung-ssi, não tem nada a ver com continuar os planos da antiga gangue STAY.
Diante de nossas expressões confusas, o policial Lee prossegue:
— Não se trata de poder ou caos. Desde o início, a SKZ foi criada por um único propósito.
— E qual seria ele? — pergunto.
— Família, Changbin-ssi. É tudo sobre família.
Nos próximos minutos, checando as informações fornecidas pelo Felix e comparando com aquilo que nos foi revelado pelo detetive Han, chegamos na decisão final.
Finalmente temos o nosso plano pronto para ser executado.
Dessa vez, com o apoio do policial-chefe Bang Chan e a outra metade dos gêmeos Han, o Jisung-ssi.
No entanto, descobrir o real propósito da SKZ e de todo o império dos Hotéis Cassinos Infinite Boys me fez perceber algo.
Família. SKZ. Gêmeos Han. STAY. Han Martin. EVE. Yoo Nabin.
Todos esses elementos estão interligados da forma mais imprevisível que há.
O passado e o presente interagem entre si de forma assustadoramente brilhante.
E eu, definitivamente, preciso pedir desculpas a Han Jisung.
O culpei durante tempo demais por um crime que, agora, sei não ter sido sua culpa.
E carregarei essa injustiça minha por toda a operação como combustível para sermos vitoriosos no caso SKZ.
E no final, por mais hipócrita que isso soe, espero poder ser perdoado.
Meu amigo, por favor, me perdoe.
Eu fui injusto com você.
[...]
Kim Mirae
Daegu, Coréia do Sul
{15h26 P. M.}
*07 de agosto*
— De todas as visitas que imaginei poder receber, você nunca esteve entre elas, detetive — digo com meu típico sarcasmo.
— Não é como se fosse a minha pessoa favorita no mundo, senhorita Kim. Mas há algo que nós precisamos conversar — diz.
— E como eu posso ajudá-lo, gêmeo Han do bem?
— Talvez possamos começar com menos ironia e mais sinceridade. Afinal, pode ter conseguido enganar os outros policiais sobre o real motivo de estar aqui. Mas eu e você sabemos que não se trata apenas do seu relacionamento com o recém resgatado Know.
Sua afirmação estranhamente me faz arrepiar.
Como é possível que ele desconfie dos meus reais motivos?
— Não sei do que está falando, senhor detetive. Acho que o reencontro com seu irmão te fez mal para a mente. Devem ter batido com muita força nessa sua cabecinha, está até delirando o coitado!
— Não me trate como um perturbado mental quando os dois sabemos que a mente mais doentia de nós dois, não sou eu.
— Se veio me ver somente para ofensas gratuitas, espero que tenha suprido sua necessidade em se sentir melhor que alguém. Isso te faz muito parecido com o Jungwoo-ssi, inclusive. Mas se for só isso, já pode ir. Não tenho razões suficientes para me prestar a esse tratamento de sua parte.
— Sempre tão educada, Mirae-ssi. Isso não costumava ser muito de seu feitio.
Após sua provocação, me posicionei para levantar e deixar a sala de interrogatório. Porém, sou impedida pela sua próxima fala.
— O seu namoradinho já sabe o que fez?
Respiro fundo, de costas, apertando os olhos e os punhos com força, para respondê-lo:
— Não. Você, tanto quanto eu, sabe que eu jamais o contaria algo assim.
— Sim, sim. É compreensível que não queira comprometer sua atuação de boa moça revelando um pecado tão grande, até mesmo para um criminoso. Mas sabe, esses dias me peguei pensando no quanto eu e você somos parecidos.
— Não temos nada em comum!
— Como não? Nós dois fizemos o mesmo contra nossa família. Os traímos. Eu tive que fazê-lo para garantir justiça por todos aqueles que, assim como eu e meu irmão, foram vítimas da STAY. E já você... Bem, precisava dar um jeito de fugir da EVE e se livrar de Yoo Nabin, como sempre desejou fazer. A maior diferença entre nós é o lado em que estamos. Eu, ao lado da polícia. Você, ao lado dos criminosos. Mas, sem sombra de dúvidas, o que mais temos em comum é o fato de termos traído nossos irmãos. Embora no meu caso não tenha sido tão... Fatal.
Me viro bruscamente, caminhando em sua direção. No entanto, a maldita corrente em meu calcanhar não permite chegar tão próxima do seu corpo encostado na porta da sala como gostaria.
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É? DESDE QUANDO SE TORNOU ALGUÉM COM TANTA MORAL PARA JULGAR OS OUTROS? SUAS ESCOLHAS TAMBÉM MATARAM ALGUÉM! HAN MARTIN MORREU POR SUA CAUSA!
— HAN MARTIN ERA UMA CRIMINOSA NOJENTA! MAS YOO NABIN ERA INOCENTE. SUA IRMÃ ERA INOCENTE E MESMO ASSIM FOI VÍTIMA DA SUA IRRACIONALIDADE IMUNDA!
Lágrimas pesadas escorrem pela minha face sem permissão. Minhas pernas cedem, me deixando em desequilíbrio. Quando noto, estou em prantos de joelhos sobre o chão sujo do interrogatório.
— N-não é justo me julgar por isso! E-eu...
— Não é justo se justificar por isso, senhorita Kim. Eu nunca revelei a ninguém o que realmente aconteceu no caso Yoo Nabin, apenas em consideração aos seus filhos. Os sobrinhos dela que você abandonou! Por acaso, o seu namoradinho sabe da sua relação suja com o líder da EVE? Do por que ter passado um ano afastada da liderança da SKZ sem ninguém entender bem o motivo?
— Como você sabe de tudo isso? Como descobriu?
— Não fui eu quem descobriu. Foi sua irmã. Tudo que ela queria era resgatar as crianças daquele inferno que você as condenou. E por culpa disso, ela perdeu a vida. Por conta da sua traição. Até quando irá esconder a verdade?
Meu sofrimento silencioso acaba por revelar todos aqueles sentimentos de culpa que carrego nos últimos meses.
Algum dia serei honesta sobre quem eu sou?
— Considerarei seu silêncio como uma resposta. Não se preocupe, não serei eu a revelar toda essa imundice sobre você aos outros. Só saiba que, a qualquer momento, a SKZ cairá e junto a sua queda, todos os segredos virão à tona. A polícia já sabe o que sempre escondi sobre minha relação com a STAY e o Jungwoo-ah. Talvez você devesse fazer o mesmo. Se realmente ama tanto o Know ao ponto de se arriscar a ser presa por esse amor, não minta para ele.
— E-eu não entendo. Por que está dizendo isso? Por que quer me ajudar?
— Eu não faço para ajudá-la, senhorita Kim. Faço apenas a pedido de sua irmã. Em suas últimas palavras, me pediu que prometesse cuidar da família dela como se fosse a minha. E é isso que estou fazendo. Apenas por consideração a investigadora Yoo.
— N-não... Não me chame assim.
— Como?
— Eu não sou Kim Mirae. Eu sou ... Yoo... Dawon.
— Oh, entendo. Bem, agora eu tenho que ir para a fisioterapia. Meu maxilar não tem sido o mesmo desde… Você sabe. Até mais, Yoo Dawon. Se cuide.
É tudo que ele diz antes de dar as costas e sair porta a fora.
Tempos depois, já na minha cela encolhida na cama que tenho considerado como minha nas últimas semanas, sinto-me afogar em todos esses sentimentos.
Sentimentos que, por ser criminosa, não me permitia sentir.
Mas, por ser humana, mãe, irmã e filha, não consigo evitá-los.
Yoo Nabin,
De onde quer que esteja, espero que possa me perdoar.
Porque…
Vagando por aí, finalmente percebi.
Que eu tenho que te deixar ir.
Capítulo 9 - You Can STAY
Escrito por Isabel Ávila.
Han Jungwoo
Gwangju, Coreia do Sul
{20h17 P. M.}
"Eu pensava que a quente luz do sol,
Só incomodava
Obrigado por ter vindo para mim
E por me tornar uma luz
Quando eu era uma sombra
Você pode ficar, sim" - You Can STAY (SKZ)
*anos antes*
Hoje faz 48 meses que ela se foi. 02 de agosto. Partiu no mesmo dia que ele.
Eu nunca pude superar tudo que aconteceu. Mas, em algum momento, eu me revoltei contra o abuso que a senhora Han cometia contra mim e o meu irmão. O que me custou muito caro.
Desde que meus pais faleceram, ela era tudo que tínhamos. E isso nunca foi bom.
Após sua morte, apesar de ser um alívio não ser mais vítima de suas ameaças, tenho lutado para encontrar alguém que tenha as respostas que preciso.
Até onde um pai iria por seu filho?
— Ei, cara. Perdido nas ideias? Algo te incomoda? — Felix mal se senta no banco do bar à minha esquerda e já me enche de perguntas.
— Você sabe. 02 de agosto. Coisa e tal.
Seu silêncio acompanhado de um olhar acolhedor e sua mão em meu ombro são a resposta que tenho. Ele está do meu lado.
— Mas, mudando de assunto. Conseguiu descobrir algo sobre aquilo que te pedi?
Por algum motivo, ao citar esse assunto, seu semblante esmorece.
— Disse algo errado? — indago.
— N-não é isso... Quer dizer... Talvez você não goste do que descobri. Tenho receio.
— Já existem mentiras demais na minha vida, Felix. Conta logo de uma vez.
— Bem, eu sei como podemos encontrá-lo. Mas não será fácil.
— Por que diz isso? Seja mais claro.
— Há uma forma de te contarem onde ele está e quem foi a família que o adotou. No entanto, a condição é: teremos que terminar aquilo que começou.
— Como assim?
— Existe essa moça, ela é uma informante minha da gangue EVE. Foi a ela que Han Martin entregou a criança. É quem sabe o fim que levou o menino. — Um menino. O nosso filho era um... Menino.
—... Há uma forma dela nos oferecer essa ajuda.
— E qual seria?
— SKZ.
— S... O que?
— Teremos que construir um império. SKZ.
— Por que ela te pediu isso?
— Não sei muito bem. Ela quer se vingar de alguém e, para isso, precisa combater a EVE de alguma forma. Segundo o que me disse, teremos que fazer algum tipo de teatro. Enganamos os outros com a falsa ideia de que esse império se trata de continuar o que a STAY não conseguiu.
— E afinal, do que se trata tudo isso?
— Para ela e você, confesso que até para mim, trata-se de uma única coisa. Família. Sempre será sobre família, meu amigo.
[...]
Han Jungwoo
Gwangju, Coreia do Sul
{23h48 P.M.}
Sozinho na varanda do meu quarto no hotel, pego-me pensando.
Será que eu fiz certo em abandonar meu irmão?
Será prudente ir atrás do meu filho?
Será que fiz certo em entrar nessa farsa de SKZ?
Eu não sei. Não tenho certeza.
Mas há algo dentro de mim que me diz para seguir em frente. E há alguém em minha memória que jamais poderei esquecer.
Lee Jaesun. A mãe do meu filho. Farei por ela.
Com uma fotografia sua enquanto ainda estava grávida do nosso pequeno Jaewoo, tiro forças para uma vocação que nem sabia ter.
Ator. Eu até sou um bom ator.
Pego meu caderno intitulado "Querida Lembrança", em que escrevo mensagens para minha falecida amada.
Antes de ir me deitar, não hesito em escrever-lhe a minha recente declaração.
"Obrigado por ter vindo para mim
E por me tornar uma luz
Quando eu era uma sombra"
Tenho, ainda, a iniciativa de colar a foto anteriormente citada na mesma página de minha citação.
Com uma caneta permanente, escrevo em cima do retrato de sua barriga:
"You Can STAY, querido Jaewoo"
E só assim, me permito descansar e ter uma noite tranquila de sono. Até porque, de agora em diante, haverá muita bagunça em minha vida.
Capítulo 10 – Revelações - Parte 1
Escrito por Isabel Ávila.
Yang Jeongin
Daegu, Coreia do Sul
{19h32 P. M. }
"Sacudo as confusas preocupações em minha cabeça
Para onde eu devo ir, não me importa mais
Onde quer que meus passos me levem
(...) Eu estou me movendo " — Double Knot (SKZ)
*dias depois*
Amanhã será o dia cabal. Finalmente temos um plano definitivo para sanar a epidemia gângster que assombra nossa profissão.
As revelações tidas nas últimas semanas ainda não foram processadas por mim em sua totalidade.
Porém, o que mais me surpreendeu foi a confissão bêbada do policial Hwang.
Um infiltrado entre nós.
Admito haver culpa em mim por não tê-lo denunciado para nosso chefe de imediato. Mas, meu colega insistiu que eu precisava ajudar na causa.
Por isso, após ser convencido por ele, cá estou eu. Com um novo amigo/aliado.
Como se Jisung-ssi já não fosse trabalhoso o suficiente para lidar...
— Boa noite, Jeongin-ah. Pronto para a pseudo-missão? — pergunta meu hoobaenim assim que me vê adentrar no corredor feminino da prisão.
— Boa noite, Hyunjin-ah. Vim preparado com o que me pediu. Está tudo seguro para seguirmos com o plano?
— Claro. Já driblei o sistema de segurança e manipulei as câmeras conforme combinado. Ficarei de vigia caso surja algum imprevisto. Boa sorte. E, mais uma vez, obrigado — curva-se diante de mim.
— Não precisa agradecer. É por uma boa causa, afinal. Ou ao menos espero não estar enganado — finalizo sem esperar para ouvir o que ele iria dizer, apenas seguindo direto para o meu destino.
A poucos passos da cela em questão, noto-a já aberta. Como se esperasse por alguém.
Sabendo tratar-se de mim, entro no local tendo a primeira vista tudo já disposto conforme planejado.
O tripé posicionado no melhor ângulo enquanto aguarda a câmera que trouxe comigo.
A cadeira reservada para mim durante a filmagem.
O notebook em cima de um banco para a edição posterior do vídeo.
E o principal:
Kim Mirae. Com os tornozelos algemados, presos no pé da cama. Cabisbaixa e serena como nunca antes.
— Pronta para cumprir a sua parte? — indago-a.
— Sim, podemos começar — suspira ao fim de sua afirmação com a voz baixa.
Sem nenhum diálogo, encaixo minha câmera no tripé e ligo o notebook à minha disposição.
Com tudo configurado, peço-a que inicie seu relato, tentando disfarçar tamanha curiosidade minha.
Inicio a gravação e aguardo os instantes necessários para que a senhorita Kim possa esboçar suas palavras.
— E-eu... — respira fundo para prosseguir — ... Não sei bem por onde começar. Acho que o mais justo seria revelando o essencial.
— Gostaria que eu lhe guiasse com perguntas? Para ajudar no seu raciocínio.
— É, pode ser.
— Tudo bem... Nos diga, quem realmente é Kim Mirae? Uma gângster? Uma delatora? Uma apaixonada?
— Talvez um pouco de tudo isso, mas, principalmente, uma... Mentirosa.
Sua fala me confunde. Mentirosa? Ela esteve mentindo para todos nós esse tempo todo?
— Com mentirosa, o que quer dizer?
— Digo, eu não menti na minha delação ou sobre meu amor por Lee Minho. Nem mesmo teria como mentir ou negar sobre ser uma gângster.
— Então de que mentira estamos falando?
— Minha identidade. Eu não sou Kim Mirae.
Espantado com essa revelação, demorei para voltar ao meu papel de questionador.
Assim que processo como posso a informação, pigarreei brevemente.
— Se você não é Kim Mirae, então quem é ela? E quem é você?
— Eu sou as duas. Kim Mirae se tornou quem eu sou desde que tudo aconteceu. E antes de ser Kim Mirae, eu era...
— Qual sua verdadeira identidade? — insisto.
Lágrimas inesperadas escorrem por sua face e a resposta a minha pergunta vem acompanhada de um gaguejo choroso:
— Eu me chamo Yoo Dawon. Antiga membro da gangue EVE. Irmã de Yoo... Nabin.
Eu não sei bem como continuar. Yoo Nabin? A investigadora? Responsável e vítima do caso Abelha?
— Devo admitir estar surpreso com esse fato, senhorita Kim. Quer dizer, senhorita Yoo. Poderia dar mais detalhes sobre o que aconteceu?
— N-não sei mesmo por onde...
— Comece pelo princípio. Por que mudou de identidade? — interrompo-a.
— Eu não suportava ser Yoo Dawon depois de ter perdido minha irmã. Não suportava a culpa.
— E por que se sentiu culpada?
— Foi por minha causa que Nabin-ssi se envolveu nesse caso. Ela queria nos salvar.
— Nos salvar? Havia mais alguém com você?
— Sim. Meus filhos.
— Desculpe a indiscrição, mas como aconteceu? Eu conheço os sobrinhos da falecida investigadora Yoo e, até onde se sabe, eles são órfãos.
— Eu precisei afastá-los enquanto terminava o que começamos. Precisava finalizar a Operação Família.
— E do que se trata essa Operação Família?
— É o motivo da gangue SKZ existir. Nunca foi sobre caos ou vingança, esses eram apenas pressupostos dos personagens que assumimos.
— Assumimos quem?
— Eu, Lee Felix e o gêmeo do crime, Han Jungwoo.
— Está me dizendo que a SKZ é apenas uma farsa? Isso não faz sentido algum.
— O real inimigo da SKZ é um só. É por ele que lutamos com tanta força para liderarmos esse mundo paralelo, sem leis ou regras.
— E quem seria esse inimigo tão poderoso? Ao ponto de surgir toda uma organização criminosa para combatê-lo.
— O mesmo inimigo que o seu departamento tinha até poucos meses.
— De quem estamos falando?
— Do caso Abelha. Nosso inimigo sempre foi o mesmo: Park Bee. Líder da EVE.
— Não tem cabimento. Park Bee foi preso há meses, assim que finalizamos o caso Abelha. Por que a SKZ continua se firmando então?
— Vocês fardados não entendem nada sobre o crime. Vou te fazer uma simples pergunta: quando foi que a gangue STAY deixou de existir?
— Quando o nosso departamento finalizou o caso STAY e capturou a líder, Han Martin.
— Resposta errada, policial Yang. A STAY só se desfez no dia 02 de agosto, quando Han Martin foi executada.
— O que quer dizer?
— Uma gangue só é morta quando o seu líder é morto. É a única lei respeitada entre as gangues. Para acabar com a colmeia EVE, precisamos destruir sua abelha rainha definitivamente.
— Você quer dizer...
— Park Bee deve ser morto. Só assim eu terei aquilo que tanto preciso.
— Que seria?
— Liberdade. Sempre foi sobre liberdade.
— Pensei que fosse sobre família...
— Ambos estão relacionados, mas não quero me delongar.
— Certo, eu só não entendi ainda qual a sua culpa na morte da investigadora Yoo.
Percebo seu semblante esmuecer com minha dúvida.
— Ela descobriu sobre minha situação e quis salvar os meus filhos e o menino Jaewoo. Ela só queria me ajudar.
— Como assim? O Jaewoo não é seu filho também?
— Não. Meus filhos são Taehyun e Taemin.
— Então você é a mãe adotiva do Jaewoo?
— Não, não. Eu era a melhor amiga da mãe dele, antes de nos envolvermos com criminosos inimigos e nos afastarmos.
— Seja mais direta, senhorita Yoo. Explique melhor essa situação.
— Eu e Lee Jaesun éramos vizinhas desde sempre. Por morarmos perto, termos a mesma idade e estudarmos juntas foi inevitável surgir uma amizade. Quando tínhamos 18 anos, resolvemos fazer uma loucura e fomos escondidas para uma festa que havíamos sido convidadas. Era num local afastado, clandestino, e éramos muito inocentes. Tratava-se da sede da gangue EVE, a casa dos irmãos Park Bee e Park Boyoon. Ali, eu me envolvi com Boyoon-ssi, sem saber que ele era um criminoso. Já Jaesun, foi conquistada por um infiltrado da gangue STAY, conhecido como JW. Ela também não sabia da sua relação com o crime. Quando a festa acabou, nossos pares fizeram questão de nos levar para casa. Cada uma voltou sozinha com o seu respectivo par e só no outro dia confessamos a outro sobre a aventura que vivemos.
— O tempo passou, coisas aconteceram e nós acabamos namorando os criminosos em questão. Nossa amizade manteve-se tranquila, até o dia em que tudo veio à tona. Marcamos um encontro duplo. Na época a gangue EVE já havia descoberto que JW era um infiltrado e o expulsaram de sua sede com fortes ameaças. Nós duas não fazíamos ideia disso, até aquela quarta-feira à tarde. Quando eu e Boyoon chegamos no local, o outro casal já estava na mesa reservada. Poupando detalhes da briga que se desenrolou, eu e minha amiga descobrimos toda a verdade ali, sobre as gangues e a inimizade entre eles.
— Nós tomamos a pior decisão possível: escolhemos homens ao invés de nossa amizade. Dali em diante, não sei o que se passou com Jaesun. Não até o dia em que Han Martin me entregou o filho dela e do JW alegando que minha não mais amiga havia sido morta e o pai não queria assumir a criança. Naquela época muita coisa já tinha acontecido comigo. Eu briguei com minha irmã assim que ela descobriu meu envolvimento com um gângster e, ao ser ameaçada de contar aos nossos pais, fugi de casa e me tornei oficialmente uma EVE, sendo acolhida por Boyoon-ssi. O que nós dois tínhamos não podia ser chamado de relação, era muito imprudente e sem compromisso. Não digo que me arrependo totalmente de tudo, afinal, ele é o pai dos meus filhos e sempre nos protegeu da bagunça criminosa que ele era. Pelo menos, até onde pôde.
— Seu irmão, Park Bee, nunca aprovou nosso relacionamento. Sempre odiou a minha presença e mais ainda o nascimento dos nossos filhos. Cansado de dividir a liderança da EVE com o irmão, armou uma emboscada que tirou a vida de Boyoon-ssi. Só para me machucar ainda mais, mandou-me para a rua e tomou meus filhos e o Jaewoo, que ele achava ser adotivo, de mim. Eu nunca mais os vi desde então.
— Na rua, eu tive que engolir meu orgulho e pedi ajuda a quem me tinha como infiltrada até então: Lee Felix. Ele era amigo do Boyoon-ssi, foram criados no mesmo bairro e por pais que eram aliados do crime. Felix estava tão irritado quanto eu. Queríamos destruir a EVE o mais rápido possível. Foi quando ele resolveu unir o útil ao agradável me apresentando ao JW, pai do Jaewoo. Eu não sei bem o que aconteceu para JW querer recuperar o filho repentinamente, isso cabe a vocês fardados descobrirem. O fato é, nós três criamos a SKZ para destruir a EVE e recuperar tudo aquilo que foi tirado de nós. Trata-se de justiça pela nossa família.
7 minutos e 09 segundos. Esse foi o tempo que Kim Mirae, ou melhor, Yoo Dawon levou para finalizar seu relato.
Sem saber como reagir, apenas ofereci a ela a minha garrafa d'água imaginando que estivesse com a garganta seca após falar tudo, sem pausas.
— Eu não sei bem o que te dizer sobre essa revelação, há muito o que ser considerado. Nunca imaginei que a SKZ tivesse surgido no meio de tanta turbulência. Me diga, o que mais se esconde?
— A meu respeito, não há mais segredo algum. No entanto, há coisas que somente JW poderá esclarecer.
— E quem seria JW, afinal?
— Aquele que vocês tanto procuram. Han Jungwoo.
É quando eu finalmente me dou conta que estou caminhando por um trajeto inseguro e cheio de mistérios.
O quanto ainda falta descobrir? Até onde é verdade?
Minha pseudo-missão, como diria Hyunjin-ah, fez-me notar algo muito importante:
Onde quer que meus passos me levem,
Eu estou me movendo.
Toda essa história me deu um nó duplo na mente.
E agora, somente uma pessoa poderá desfazê-los.
Han Jungwoo.
A última peça desse quebra-cabeças.
Capítulo 11 – Revelações - Parte 2
Escrito por Isabel Ávila.
Han Jisung
Daegu, Coreia do Sul
{07h14 A.M.}
"Eu estou me segurando
Mas acho que não aguento
Continuar desse jeito, crio coragem
E dou um passo mais perto
Até esse passo foi tão difícil
Ainda demorei muito mesmo depois
De tomar a decisão" — Sorry, I Love You (SKZ)
*dia cabal*
Desde que Jungwoo-ssi deixou de fazer parte da minha vida, tive-o como morto. Nunca considerei que ele pudesse estar por aí, vivo. Não parecia possível.
Nós dois fomos vítimas de mais fatalidades do que se pode pensar. Perdemos nossos pais. Fomos envolvidos precocemente no crime. Nossa tutora legal nos... Violou.
Eu só não cheguei a imaginar que a dor do meu gêmeo poderia ser ainda maior. Ele perdeu a mulher que amava. Tiraram o filho de si.
Não que qualquer desses fatos venha a justificar a escolha errada dele. O crime nunca deveria ser uma escolha.
Mas eu penso na criança. No sobrinho que não sabia ter. E na cunhada que jamais conhecerei.
Caminhando em direção à verdade, permito-me caminhar pelos pensamentos mais tortuosos sobre o passado.
Quanto tempo já não passou?
Quanto tempo mais levarei sem conseguir superar meus traumas?
Eu cogitei esquecer tudo que vivi. Até procurei um hipnólogo que pudesse me ajudar nisso. Só não fui capaz de levar adiante esse plano.
Antes da consulta que havia marcado com o Dr. Kang, uma senhora conversou comigo no ponto de ônibus.
— Meu jovem, sabe qual a maior gratidão que tenho na minha longa vida?
Eu não soube o que dizer e nem tive tempo antes dela continuar:
— Sou grata por não ter me esquecido de nada. Por mais velha que seja, Deus me presenteou com a mente abençoada de recordações. Eu agradeço até pelas lembranças mais dolorosas e difíceis. O esquecimento é um mal que te consome e afasta do propósito real da sua vida. Deus te deu um dom, meu filho. Nunca se esqueça do seu talento. E sobre suas dores e lamentações, não as esqueça ou ignore. Supere. Não importa o quão difícil seja, você é forte o suficiente para superar.
Daquele dia em diante, fiz questão de nunca esquecer as palavras daquela desconhecida senhora. E tive que desmarcar o compromisso com o Dr. Kang.
Eu fui vítima de muitos males. E lutei, e sigo lutando, para superá-los. Mas Deus me presenteou com uma vocação que se tornou meu refúgio.
Não escolhi a carreira policial à toa. Tudo tem um propósito. E eu já aceitei o meu.
Dou um passo mais perto da porta. A porta da verdade. Com uma valentia atípica, giro a maçaneta e caminho para me sentar na cadeira reservada para mim.
Sem esboçar nenhuma reação.
Sem expressar nenhuma palavra.
Respirando fundo, permito-me encarar aquelas íris tão conhecidas por mim.
Han Jungwoo. A minha eterna sombra. A pior parte de nós. Sem dúvida, a parte mais quebrada de nós.
— Pelo visto o departamento de polícia tirou os seus bons modos, irmãozinho. Não vai me cumprimentar?
— Nossa conversa dispensa cumprimentos, Jungwoo-ssi.
— Jungwoo-ssi? Sério? Onde foi parar o Jungwoo hyung? Você era tão irritante com isso de ficar me cham...
Agradeço internamente quando sua fala é interrompida pelo meu antigo amigo não mais inimigo.
— Que bom que está por aqui, detetive Han. Podemos começar — afirma Changbin-ssi.
Iniciamos o interrogatório com perguntas de rotina, encurralando ao máximo meu irmão. Isso nos levou algumas horas.
Ainda nessa madrugada, em uma ação conjunta com o pilantra certo, capturamos o líder da SKZ sem que seus seguidores se dessem conta. Assim, enfraquecendo a gangue para atacarmos toda a criminalidade coreana.
Nada que o bandido herdeiro do maior esquema criminoso não pudesse ajudar. Lee Felix se tornou a nossa arma secreta em troca de cumprir uma pena sigilosa em liberdade.
Logo que o gêmeo Han do crime decidiu se abrir, fez-nos prometer proteção ao seu filho em troca da delação garantida. E como de praxe, demos nossa palavra de honra.
— Seja lá o que Mirae-ssi tenha dito a vocês, eu afirmo ser verdade. Prefiro não repetir a mesma história, seria muito... difícil. Apenas perguntem o querem confirmar ou saber mais — suspira cansado — ajudarei no que estiver ao meu alcance.
— Por que bolou esse esquema todo para recuperar o seu filho? Não seria mais fácil pedir ajuda à polícia? Ou até mesmo ao seu irmão que, por acaso, é policial? — questiona meu colega de trabalho.
— Não é assim que funciona no crime. As leis da justiça não se aplicam entre criminosos, a realidade é muito diferente.
— Nos deram a oportunidade de sair desse meio criminoso, lembra? — ele assente com a cabeça quando pergunto — Por que não aproveitou para sair desse mundo?
— Eu já estava envolvido demais, Jisung-ah. Tinha um filho para resgatar dessas pessoas. Ele precisa de uma vida muito melhor que a minha. Eu não pude ser um pai para ele ou devolver a mãe que ele tanto merecia. Com ajuda de Mirae-ssi, tive que me virar para tirá-lo das garras daquele tirano da EVE. Ele precisava ser salvo e envolver a polícia nisso só iria reduzir as chances de sairmos vivos dessa história.
— Ainda assim, eu podia...
— Você não podia nada, Jisung-ah! Eu não podia te envolver em algo tão sujo depois de tudo que vivemos na STAY. Sempre te protegi ao máximo da bagunça que se tornou a nossa vida depois da morte dos nossos pais. Acha mesmo que eu ia permitir que se envolvesse em algo tão perigoso? Você sempre foi a parte boa de nós dois. É algo que não se pode mudar. Tudo foi sobre família, irmão.
— Família? — repito em escárnio — Como ousa falar isso? EU SOU SUA FAMÍLIA, HAN JUNGWOO! E VOCÊ SIMPLESMENTE SUMIU E ME ABANDONOU COMO O COVARDE QUE SEMPRE FOI.
Percebo que nenhum dos presentes esperava essa reação minha pela expressão em seus rostos. Surpresa. Preocupação. Receio. Nem eu me imaginaria tendo essa atitude tão… genuína.
— Desculpem por me alterar — digo em baixo tom — eu só não consigo entender como pôde ir tão longe pela sua família e sequer cogitou pedir ajuda àquele que só tinha a você como família, Jungwoo-ssi. É tão injusto.
— Justiça nunca foi algo presente na minha vida, detetive Han — diz sarcástico — essa palavra só faz parte do seu vocabulário policial, não do meu. Sinto muito por te deixar para trás, mas a vida é feita de escolhas. Fico feliz que tenha se tornado alguém melhor. Algum de nós tinha que ser bom.
Não foi como eu imaginava. As palavras do não mais falecido Han Jungwoo me deixaram menos afetado do que pensei ficar.
Talvez aquela senhora estivesse certa. Todos nós temos um propósito nessa vida. E o do meu gêmeo tem algo a ver com ser alguém ruim o suficiente por todos os Han ainda vivos, por mais insano que isso soe.
O interrogatório do líder da agora não mais ativa SKZ foi mais tranquilo do que esperávamos. Tivemos as respostas certas. A verdade foi revelada.
Desde o início desse caso, eu pensei que o meu propósito de vida havia sido posto finalmente em meu caminho: destruir a SKZ.
Agora me dou conta que estava enganado. Tudo se trata de família. Mesmo que minha única família a partir de hoje esteja aprisionada em uma cela cumprindo pelos seus crimes das mais variadas espécies, a missão da minha vida é somente viver da melhor forma possível. Por mim. Pelo meu irmão. Pelo Jaewoo, meu sobrinho. Por meus pais. Por tudo de ruim que passamos.
Não importa o quanto sofra, eu não posso esquecer ou deixar para lá. Eu preciso superar. E para isso, cabe-me viver da melhor forma possível. Seguindo minha vocação.
Eu sempre acreditei no que as pessoas me diziam. E após o caso abelha, realmente pensei que era inútil. O detetive mais incompetente desse departamento.
O caso SKZ me ensinou a acreditar mais em mim. Em meu potencial. Assim como Jeongin-ah sempre fez. Ele foi a minha luz esse tempo todo. Preciso agradecê-lo algum dia por não ter duvidado de mim.
Em direção ao futuro, serei o melhor detetive. O melhor irmão. O melhor amigo. O melhor tio para o Jaewoo. O melhor de Han Jisung que puder. Esse é o meu propósito.
Portanto, antes de mais nada, eu tenho que me preparar para daqui a algumas horas. Quando, finalmente, colocaremos um fim nesse caso.
Park Bee. Nós iremos destruir a EVE. E, assim como será com a SKZ, nenhum líder terá que morrer para isso. Todos pagarão por seus crimes ainda vivos. E eu me comprometo a cumprir essa missão.
Pois, depois do perdão de Changbin-ssi, da esperança de Jeongin-ssi, da fé em minha liderança do policial Chan, da coragem em me resgatar de Seungmin-ssi, da redenção de Felix, da lealdade familiar de Hyunjin-ssi e da paixão comovente de Lee Minho e Kim Mir… Quer dizer, de Yoo Dawon. Eu sei que tudo é possível. Sei que sou capaz.
Horas depois
{21h47 P.M.}
Esperando o sinal de Sungmin-ssi, meu colega na operação, respiro fundo. Inquieto. Estou inquieto.
Quando ouço pelo ponto em meu ouvido a confirmação de que posso seguir com a minha parte na missão, recuo brevemente.
Mas não posso continuar desse jeito. Preciso fazer justiça. Precisamos deter Park Bee e sua legião do mal.
Então crio coragem. E dou um passo mais perto.
Até esse passo foi tão difícil. Não estou seguro de que vamos ser bem sucedidos.
Ainda demorei muito mesmo depois de tomar a decisão.
Mas não há tempo para titubear.
É meu propósito de vida. O motivo de Deus ter me colocado nesse mundo.
Família. Sempre foi sobre família.
Capítulo 12 – Liberdade
Escrito por Isabel Ávila.
Yang Jeongin
Daegu, Coreia do Sul
{21h26 P.M.}
"O verdadeiro eu foi liberado
Mal conseguindo se segurar
Depois de piscar uma vez, volta
Novamente, voltando a fazer
Cosplay do que a sociedade
Definiu como normal" - Maniac (SKZ)
*dia do reencontro*
Caminho em direção ao bar Liberdade, acompanhado de Seungmin-ah. Assim que adentro ao ambiente, posso notar uma figura masculina de destaque.
Lee Felix.
Em uma troca de olhares silenciosa, eu e meu parceiro nos direcionamos à mesa do nosso inesperado amigo.
Logo quando me sento em meu lugar, digo:
— Imaginei que iria demorar para te rever, só não pensei que levasse tanto tempo. Foram dois anos?
— Sabe bem que só fui liberado da prisão domiciliar a pouco tempo, também não é como se não pudesse me visitar. Eu quem deveria estar chateado. — responde o ex-gângster.
— Sinto muito por isso, estivemos bem ocupados depois da promoção que a nossa equipe teve — acrescenta Seungmin-ah.
Como um gatilho certeiro, começamos a discorrer mais sobre esse assunto.
Dois anos atrás, assim que concluído o caso SKZ, a equipe do detetive Han foi promovida para casos mais prioritários e importantes sobre gangues coreanas.
Segundo o chefe Chan, fizemos por merecer. Nos tornamos referência na solução desse tipo de crime.
— Eu realmente não imaginava me tornar um desses fãs de kpop ou um viciado em dorama até ser posto em prisão domiciliar e aquele ator... — o barulho da porta do bar abrindo me faz tirar o foco da fala de Felix para encarar o recém chegado.
Han Jisung.
Meu grande amigo.
Meu chefe capacitado.
Noto que o mesmo se direciona ao balcão. No entanto, ao reparar em nossa presença e em meu olhar curioso sobre si, ele se aproxima de nossa mesa para nos cumprimentar.
— Boa noite, rapazes. Faz tempo que não te vejo, Felix.
— Interessante que ninguém se preocupou em me visitar, mas em encher meu saco isso... — seu resmungo nos faz rir.
— Falando em tempo, não lembro a última vez que te vi em um bar, Jisung-ah. O que te deu? — questiono-o.
— Estava voltando para casa e fui buscar o Jaewoo na faculdade, mas ele me ligou querendo saber se podia passar aqui antes e pegar algo com seu amigo, o barman. Então, cá estou eu.
— Quem diria que o detetive Han se tornaria um grande paizão. — implica Seungmin-ah.
— O dever com a família é surpreendente, espero que um dia possa vivenciar isso.
— Por favor, meus amigos, de condenado aqui já basta eu. Não vamos condenar uma pobre moça a esse terrível destino de ser a mãe do filho dele. — brinca Felix.
Nesse clima descontraído e nostálgico, passamos a próxima hora distraídos entre conversas e lembranças.
No entanto, ao notar o horário, o gêmeo Han se despede alegando seu compromisso familiar rotineiro: Jaewoo. Seu sobrinho. Só não antes de pegar o que quer que seja com o barman. Sempre tão responsável...
Dois anos pode ser uma eternidade para pessoas isoladas como Felix, o casal Lee-Yoo ou até mesmo o gêmeo Han do crime, Jungwoo.
Mas para pessoas ocupadas como nós do departamento de polícia, passou rapidamente.
Não sei dizer se amadurecemos ou se ainda estamos nesse processo.
Contudo, de algo eu sei. Eles, sem exceção, tornaram-se importantes para mim. De um jeito torto e bagunçado, eles são a minha família.
Encarando meus companheiros de mesa, posso perceber que cada um de nós cresceu de forma proporcional.
E então me dei conta. O meu verdadeiro eu foi liberado.
Depois de piscar uma vez, vejo que a liberdade não é exclusiva dos ex-condenados.
Todos nós temos nossas próprias prisões. Todos merecemos ser libertados.
Han Jungwoo se libertou da culpa de destruir a vida de sua amada e seu filho. Hoje, prisioneiro, paga por seus crimes.
Han Jisung se libertou da incredulidade de seu potencial. Hoje, é o detetive mais habilitado do nosso departamento.
Lee Felix se libertou da herança familiar criminosa. Hoje, em liberdade condicional, tenta reconstruir sua vida.
Kim Seungmin se libertou da adrenalina de ser um agente infiltrado. Hoje, treina os futuros infiltrados do departamento de polícia de forma majestosa.
O casal Lee-Yoo se libertou das mentiras de seu relacionamento. Hoje, ainda em prisão domiciliar, tentam resgatar a confiança um no outro e, principalmente, em si mesmos.
Hwang Hyunjin se libertou da submissão inconsciente de seu primo. Hoje, mais maduro, decide o rumo de sua vida por conta própria, até mesmo está namorando uma moça que não chegamos a conhecer.
Seo Changbin se libertou do compromisso de vingar a morte de sua amada. Hoje, ele perdoou a todos que não puderam salvá-la. Ele perdoou a si mesmo por tal fato.
Bang Chan se libertou das desconfianças em relação a sua equipe mais desajustada. Hoje, confia em nós de forma admirável e gratificante.
E eu, a partir de hoje, liberto-me da preocupação em manter unida toda uma equipe improvável de combatentes ao crime. Minha missão está cumprida.
Família.
Liberdade.
Sempre foi sobre isso.
E sem notar, novamente, voltamos a fazer cosplay do que a sociedade definiu como normal.
Então, perdido em pensamentos, encaro a querida tatuagem em meu pulso.
"ALL IN FAMILY. ALL IN LIBERTY. "
Tudo em família. Tudo em liberdade.