A lista de Dari

Escrito por Burbs Mota | Revisado por Natashia Kitamura

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   acordou com um sorriso no rosto. Era o primeiro dia das férias de natal e o rapaz tinha planejado uma série de festas e mais festas, já que havia convencido seus pais a ficar enquanto os mesmos viajaram à casa de uma tia distante. Convencido não é o melhor termo para se usar nesse caso. Chantagem: eis a palavra perfeita! O Sr e a Sra concordaram em deixar sozinho porque o mesmo prometeu que abrigaria duas primas (igualmente distantes) durante as duas semanas que seus pais passariam fora. concordou sem hesitar, afinal, que problema suas primas trariam?
  Não demorou muito para que o rapaz se aprontasse e saísse com destino certo: a casa do seu melhor amigo, cinco quarteirões além do fim da rua.
  - Buenos dias, burritos! - saudou ao abrir a porta para o amigo.
  - Está pronto? Precisamos ir antes que acabe o turno do . - o outro respondeu com um sorriso e logo os dois estavam a caminho do supermercado.
  , cujo pai era gerente do supermercado do bairro, disse que poderia pegar tudo o que fosse necessário para as festas de graça, mas só enquanto o seu turno durasse. E assim o garoto o fez: encheu o carro de salgadinhos, bebidas, comida e materiais de limpeza para a primeira festa, que aconteceria no dia seguinte. Mas ao invés de seguir diretamente para casa, foi à casa de , onde passou boa parte da tarde jogando vídeo games e conversando sobre coisas banais.
  Acordado por um telefonema de seu pai, tomou o carro, seguindo o caminho de casa por volta das 4 horas. Ao chegar na frente do imóvel, viu duas garotas em sua varanda com duas malas perto das mesmas. A mais velha usava somente um gorro e um suéter enquanto a mais nova, que dormia por cima dela, parecia ter sobre si todo o agasalho possível.
   guardou o carro na garagem e, logo em seguida, foi até as duas meninas, mantendo um enorme ponto de interrogação na mente.
  - Com licença. - tocou levemente o ombro da mais velha, que acordou de imediato e, ao analisar o rapaz à sua frente, se controlou para não estapeá-lo. Afinal, que tipo de anfitrião deixa as visitas esperando por horas num frio de inverno do lado de fora da casa? - Vocês estão dormindo na varanda da minha casa.
  - Dari? - chamou a pequena que se mexeu preguiçosamente. - Nosso primo chegou. - a garota pareceu despertar num estalo e se levantou alvoroçada.
  - Chegou? Cadê? Onde? Onde está? - olhou para o rapaz que parecia confuso. - Primo ! - Dari gritou abraçando o mesmo que sustentava um sorriso forçado, ainda tentando entender o que se passava ali.
  - Olá, prima... Dari? - arriscou e a mesma abriu seu mais largo e sincero sorriso.
  - Eu sabia que não tinha esquecido de mim! - a pequena exclamou, ainda sorridente.
  - Ninguém esqueceria. - a mais velha forçou um sorriso, já segurando as malas. - Vamos entrar ou passaremos mais 3 horas aqui? - sorriu venenosamente e se apressou para entrar com as garotas em casa.
  Tinha esquecido completamente do que o fez conseguir o acordo: a estadia das suas primas. Após guiar as duas ao quarto de hóspedes, se trancou em seu quarto, digitando rapidamente o número do seu melhor amigo.
  - ? Eu preciso de você aqui em casa. Agora!

  - Ah, qual é? Não é tão ruim assim! - declarou, enquanto observava, da porta da cozinha, e brincando com a pequena Dari perto da lareira. - A Dari é uma gracinha e a ... - olhou brevemente para a garota que estava no sofá, lendo um romance de Jane Austen sob um grosso edredom. Já , não havia tirado os olhos da garota. - Ela me parece ser uma garota muito legal. - concluiu sorrindo.
  - Ela me odeia. - riu sem humor.
  - Eu também te odiaria se tivesse que te esperar por 3 horas naquele lugarzinho aconchegante. - apontou na direção da varanda.
  - Continuo na mesma.
  - Claro. Ela é a chefe de uma facção de garotas independentes que odeiam e tá aproveitando a situação pra te matar. É isso? - riu. - Não se preocupe, . Vai dar tudo certo. Aliás, você deve agradecer tudo o que acontecer nos próximos dias àquelas duas. Lembre-se. - deu duas tapas nas costas do amigo e seguiu para o centro da sala, também entrando na brincadeira de Dari, que era ensinar e o melhor modo de se fazer uma festa do chá para ursos de pelúcia.
  , que ficara no mesmo lugar, continuou observando e como sua expressão mudava ao final de cada página. O que sentira em relação é garota estava bem presente e de forma bastante intensa. Havia um pressentimento e ele não era, deveras, ruim. O que era ruim, em si, era o que ele apresentava: sabia que a presença das irmãs ) traria mudanças. E ele odiava mudanças.
  O rapaz tentava buscar em sua mente lembranças de outras épocas das irmãs, mas a única que conseguia alcançar era o primeiro aniversário de Dari, quase 5 anos atrás. Lembrava-se de uma sorridente e receptiva, a exata controvérsia da garota que estava sentada em sua sala agora. Mas qualquer que fosse o caminho que sua linha raciocínio estivesse seguindo, fora completamente ignorado quando viu a garota conversando animadamente com . O problema seria ele, então? Não conseguia responder. Afinal, conquistava uma certa simpatia imediata das garotas, independente da idade. Talvez o fato de ter falado lhe diretamente uma única vez ( queria saber a que horas ele costumava jantar), seja o motivo, concluiu o rapaz que logo se focou nos preparativos da festa.

  - é bonito. - Dari comentou assim que sua irmã a cobriu.
  - É sim. - concordou sorridente, deitando ao lado da pequenina e também cobrindo-se.
  - Sua resposta está errada. - murmurou e franziu o cenho, confusa. Dari só falava isso quando queria que a pessoa discordasse dela. Normalmente, a mais velha sabia o que responder à garota, mas no momento não tinha a mínima ideia da resposta que a irmã queria.
  - Oh, está?
  - Você deveria dizer que é mais bonito. - não se conteve e riu. Não era raro ouvir sua irmãzinha falando coisas do tipo.
  - Concordo que é bonito, mas não significa que vou namorá-lo, ouviu bem?
  - E quando você vai namorar, hã? - a garotinha sentou-se, indignada, olhando para a irmã que procurava uma resposta absurda e ao mesmo tempo verossímil, para que a pequenina acreditasse.
  - Quando um príncipe encantado, vestindo uma jaqueta de couro, aparecer montado numa Ducati dizendo que o Papai Noel mandou ele pra mim. - sorriu ao perceber que a pequena Dari acreditara o suficiente na história para manter um brilho sonhador nos olhos. - Agora vamos dormir. Pelo que sei, ainda temos malas para desfazer amanhã.
  - Boa noite, sissy. - a mais nova declarou, tornando a deitar-se e a sua fértil imaginação deu sinais de trabalho.
  No quarto ao lado, checava pela última vez as listas de músicas e de convidados antes de decidir dormir, dando lugar ao universo onírico onde sua festa já havia começado. Seus amigos e os amigos de seus amigos estavam concentrados no centro da sala, se divertindo ao som de Pixxie Lott. andava entre eles com um sorriso enorme, se sentindo extremamente satisfeito por tudo ter dado certo. Lhe parecia faltar uma coisa somente, na verdade uma pessoa: Hayley Oxford, a garota mais desejada da cidade. Mas logo ela apareceu, caminhando a encontro do rapaz e, sem rodeios, o beijou, fazendo com que o mesmo abrisse um sorriso durante o sono.

  O sol parecia brilhar mais intensamente naquela tarde. Por mais que a temperatura fosse baixíssima e que a neve cobrisse tudo o que se podia cobrir, o grande astro fazia um belíssimo trabalho ao tornar o frio mais suportável. Dentro da casa dos , e terminavam de arrumar os últimos detalhes para a festa enquanto conversava, na cozinha, com os poucos convidados que já estavam no lugar.
  - Claro que não! - Ashley bradou. - Cereal de milho é o melhor existente!
  - Tem gosto de comida de cachorro. - declarou.
  - Como poderia saber? Você, praticamente, vive de comida enlatada! - rebateu.
  - Você d...
  - ? - apareceu na cozinha e o outro fez sinal para que ela continuasse. - Já tá tudo pronto: sacolas plásticas, kit de primeiros socorros, alarmes de incêndio... - enumerava a medida que contava nos dedos.
  - Você é o melhor, dude. - sorriu.
  - Sei que sou. Mas agora eu tenho que ir antes que eu me atrase.- franziu o cenho.
  - Espera, espera, espera... - se levantou e foi até o amigo que estava prestes a sair. - Não vai ficar?
  - Infelizmente, não vai dar. Tenho um compromisso inadiável. Desculpe. - sorriu torto e murmurou um "Tudo bem", sabia o quanto odiava perder compromissos. - Aproveite sua festa. - bateu uma breve continência e, então, seguiu para o lado da fora, onde Dari e o esperavam para ir ao zoo. Não era exatamente o esperado ela relação a palavra compromisso, mas na noite anterior tinha ouvido de que não era muito fã de festas e não queria deixar Dari no mesmo ambiente que adolescentes com hormônios descontrolados, então as chamou para passar a tarde no sol, recebendo como resposta um lindo sorriso grato.
  O trio seguiu seu caminho e não demorou muito para que a casa de estivesse cheia de adolescentes e a festa tomasse dimensões maiores.

  - Eu te abraçaria! - Dari declarou, sentada nos ombros de , que sorriu com a resposta. Há pouco ele tinha perguntado se alguém chegaria perto dele caso fosse um lobisomem, já que a pequena insistia em dizer que o lobo do zoo era um personagem de Twilight.
  - Obrigado, Dari. Pelo menos eu teria alguém no mundo que não desejaria a minha morte. - sorriu.
  O relógio da igreja da praça badalou, indicando que já eram 5 horas. suspirou. Estavam a apenas um quarteirão de um tédio estressante. O único motivo que levou a garota a aceitar naquela viagem até a casa de era Dari. A pequena insistiu tanto que a mais velha não se permitiu recusar. Mas não conseguia evitar que seu pensamento voltasse a Madrid, a sua casa, seus amigos, seu silêncio, sua vida... Não tinha nada contra o Reino Unido, mas não teve um único momento que quisesse lembrar. Pelo menos até agora, quando sorriu verdadeiramente pela primeira vez, desde que pisou naquele lugar. mostrara ser um grande amigo em muito pouco tempo, principalmente por ter se entrosado facilmente com ambas as irmãs. tinha certeza de que ela seria feliz tendo ele como irmão.
  - Vocês querem passar o natal la em casa? - colocou Dari no chão, dando a mão a ela enquanto perguntava como um garoto de cinco anos convidaria os amigos para dormir em sua casa pela primeira vez. sabia bem o significado desse convite: daria outra das suas espetaculares festas. Até mesmo no natal?, pensou ela. Isso não parecia certo.
  - Só se tiver uma árvore beeeeem grande. - disse Dari.
  - E cookies de caramelo. - entrou na brincadeira.
  - Mais alguma exigência, altezas? - perguntou fazendo a mais velha rir.
  - Fontes de chocolate. - completou.
  - Só um momento, preciso anotar. São muitas exigências. Se eu fizer algo errado é bem capaz de me demitirem.
  - Você precisa de uma lista de natal. - o rapaz franziu o cenho.
  - A Dari faz uma lista de natal, ela meio que gosta de provar ao Noel que com uma gosta garota. - explicou.
  - Sendo assim, me sinto honrado por tal consideração. Mas não posso fazer uma lista de natal. Sou bem malvado. - Dari, automaticamente, parou, olhando para a irmã com uma expressão confusa.
  - O que ele disse?
  - Que ele amaria estar na sua lista de natal. - sorriu docemente para a irmã que retribuiu com o mesmo gesto.
  - Chegamos. - declarou ao alcançarem a frente da casa que parecia extremamente calma.
  - A festa já acabou? - Dari perguntou ao entrar na casa, se deparando com o ambiente em completo silêncio.
  - Parece que sim. - concluiu ao analisar o cômodo: uma intensa bagunça. Desde embalagens de comida, passando por alguns itens plásticos até, acredite, uma peça de roupa íntima estavam jogados pelo local. E se pegou agradecendo mentalmente por tê-las levado para longe dali. - Festão, hein?
  - Só espero que isso não sobre pra mim. - confessou, encarando uma enorme mancha laranja no sofá de couro branco da Sra .
  - Não de preocupe. Você tem um ótimo álibi. - piscou marotamente para o amigo que retribuiu com um sorriso. Sorriso que de desfez ao encontrar caminhando em sua direção da forma menos equilibrada possível, . , curiosa, seguiu o olhar o rapaz e suspirou algo entre cansaço e incredulidade. estava bêbado.
  - Bom dia, amores da minha vida! - o garoto gritou, estendendo os braços para o alto, tendo como resposta as sobrancelhas arqueadas e o olhar curioso da pequena Dari quando tentou abraçar que se afastou rapidamente.
  - Agora não, ... - arrastou a voz ao perceber que seria ele o responsável pelo amigo naquele momento já que não parecia ter mais ninguém na casa e ele não deixaria essa tarefa para .
  - Eu vou subir com a Dari. - declarou e simplesmente assentiu, sorrindo parecia Dari, que havia lhe desejado um doce 'Boa noite'.
  - Boa noite, amor! - gritava repetidamente a medida que as garotas subiam as escadas.
  - Não acredito que isso tá acontecendo. - disseram e simultaneamente. O rapaz logo levou o amigo para o banheiro, abrindo o chuveiro sobre o mesmo quando entrara no box. Não era motivo de escândalo ter ficado bêbado, o que os deixou boquiabertos foi que, no dia anterior, ele prometera se comportar por causa de Dari.
  - O que aconteceu com o primo , sissy? - Dari perguntou preocupada ao sentar em sua cama e a mais velha ponderou, sentando-se ao lado dela.
  - Ele está um pouquinho doente, sis.
  - Doente? - levantou num estalo. - Mas o que ele precisa pra ficar bom?
  - Juízo. - a mais velha sussurrou pra si mesma. - Ele precisa de muitas coisas, Dari. Assim como todos nós.
  - Acha que se eu perguntar, ele me responde o que precisa? - perguntou ao perceber que a irmã não falaria nada certo quanto a isso.
  - E por que não responderia? - sorriu, da forma que sabia que confortaria a irmã.

  A noite passou sem muitas novidades e logo, residente e hóspedes estavam dormindo. A não ser pela mais nova, que bolara um plano digno de louvor - caso funcionasse -, para ajudar seu primo. Dari esperou pacientemente até que estivesse dormindo profundamente e, de forma impre!ssionante, saiu do quarto sem ser notada, portando consigo um lápis de cor vermelho e seu caderno de natal, onde anotava tudo o que fazia de bom durante o ano para mostrar ao Papai Noel e provar que merecia ganhar um presente.
  Seguindo seu plano, a garota com até o quarto ao lado com o intuito de fazer algumas perguntas ao seu dono, que dormia tão profundamente quanto a irmã da garota.
  Dari, então, subiu na cama, sentando ao lado do primo.
  - Primo ? - chamou num sussurro. Nada. - ? - chamou um poucos mais alto. Nada. Olhou para o que tinha nas mãos e teve uma ideia não muito recomendada. - Desculpa, . - pediu antes fazer seu caderno atingir o lado esquerdo do rosto do garoto, que se levantou num pulo.
  - Outch. - levou a mão ao lado atingido, massageando o local. Até que uma outra dor o atingiu, resultado da festa de mais cedo. - Outch! - levou as duas mãos à cabeça.
  - , você está bem? - perguntou a menina com os olhos entregando sua preocupação para com o primo.
  - Quase, Dari. Eu só... - respondeu categoricamente até que percebeu com quem estava falando. - Dari? O que está fazendo aqui?
  - A sissy falou que você estava doente, então eu vim ver o que você precisa. - ela disse tão pura e sinceramente que não pôde evitar um sorriso.
  - Eu estou bem agora, Dari. Obrigado, mas você não precisava se preocupar. - olhou para a pequena docemente, tomando as mãos delas nas suas.
  - Mas você está precisando de algo, não está? Não negue! Eu sei que está! - apontou e o rapaz riu fraco. Sabia que ela insistiria nisso. - Pode me dizer, eu vou te ajudar!
  - Pode mesmo? - arqueou as sobrancelhas, em tom de desafio.
  - É claro que posso! - declarou convicta, aumentando o sorriso do primo.
  - Então, eu posso fazer um pedido?
  - Deve.
  - Deixe-me pensar... - levou uma das mãos ao queixo, se fazendo de pensativo. Deveria pedir algo surreal e verossímil, tinha certeza. Mas o que pediria? Não conseguia pensar em nada que precisasse naquele momento. Tinha amigos, liberdade, uma vida feliz... A única coisa que não tinha era uma namorada, mas... Talvez fosse isso. Poderia pedir uma namorada, afinal precisaria de uma mais cedo ou mais tarde. - Eu preciso de uma donzela que precisa de resgate. - concluiu, fazendo com que a pequena abrisse o maior dos sorrisos, anotando o mais rápido que podia o pedido do primo.
  - Boa noite, . - a garotinha se pôs de pé.- Espero que esteja se sentindo melhor. - e então saiu, tomando o rumo do seu quarto.
  - Garota legal. - riu fraco e tornou a dormir.

  - Mais uma vez, me desculpa.
  - Mais uma vez, você está perdoado. - sorriu com a declaração que veio acompanhada de um rolar de olhos - muito bonitos, ele não pôde deixar de notar. Estava junto da sua prima num dos bancos da pracinha da Igreja, ambos observando a pequena Dari brincar no balanço com . Após terminar de limpar a casa inteira (sozinho), levou suas primas para um passeio completo pelo bairro para se redimir do dia anterior. - E se você pedir mais uma vez, não fale mais comigo.
  - Tudo bem. - levantou as mãos e prendeu um riso. Era a primeira vez que ele via uma intenção de riso da garota. Achou fofo. O que não deveria estar achando, por sinal. - O que está achando da estadia?
  - Sem maiores complicações até o presente momento.
  - ! - Dari gritou, recebendo o olhar da sua irmã. - O Papai Noel! - apontou para um cartaz avisando os horários do bom velhinho no shopping mais próximo. - Vamos, por favor?
  - Eu não sei se o ...
  - Ele vai ter que ir porque eu também quero ver o Noel. - declarou, cruzando os braços e todos encararam .
  - Claro. Só preciso pegar o carro. - deu de ombros.
  - Ótimo. Tenho que pegar meu caderno. - Dari se aproximou e os rapazes miraram .
  - Vocês não vão querer saber. - a mais velha se levantou, rumo à casa onde estava hospedada.
  Não demorou muito pra que chegassem ao shopping e logo estivessem aguardando numa fila - bem grande, por sinal - o momento em que Dari seria ouvida pelo Sr. Noel. Todos perguntaram o que ela pediria, mas a pequena jurou segredo até o natal.
  - Sua vez, mocinha. - um garoto sorridente vestido de duende falou à Dari que, igualmente sorridente, seguiu até o senhor de barbas e cabelos brancos, vestido de vermelho que já trabalhava ali há alguns anos.
  - Olá, Papai Noel. - a garota disse animadamente.
  - Qual o seu nome, garotinha? - perguntou assim que a mesma sentou em seu colo.
  - Dari , muito prazer. - estendeu a mão livre, suprendendo o senhor.
  - O prazer é todo meu, criança. - pigarreou. - Mas me diga: o que quer de natal?
  - Quanto a isso... - suspirou, abrindo seu caderno na última página escrita. - Gostaria de trocar meu pedido e minhas ações por isso. - mais uma vez, o senhor se surpreendeu com a pequena. Mas não sabia se era pela forma como a mesma havia falado ou pelo que ela havia falado. Quantos anos ela poderia ter?
  - Desculpe. O que disse?
  - Meu pedido de natal é que o pedido deles se realizem. - mostrou o que havia escrito no caderno, com uma letra comicamente garranchada:

  Um príncipe motoqueiro para .
  O maior presente do mundo pro .
  Uma donzela em perigo pro .
  Um companheiro pro .

  - Dari, querida... - a garota o fitou. - Quer mesmo abrir mão de seu presente?
  - Sim. - a garota afimou convicta.
  - Qual o motivo por estar fazendo isso, criança? - perguntou com o cenho franzido e Dari sorriu.
  - Todo mundo merece um natal, certo?
  O senhor sorriu, antes de pedir para ficar com o papel dos pedidos e se despedir da garotinha, que seguiu sorridente até os mais velhos.
  - Pediu o que queria? - a garota olhou para trás, encontrando o olhar do Noel sobre si.
  - Exatamente o queria. - sorriu para a irmã e então seguiram para casa.
  Os dias iam se passando e, conforme as festas aconteciam, os rapazes se revezavam para compensar as irmãs . ficava cada vez mais próximo das meninas, se comportava mais como uma criança pequena e se afeiçoava mais às primas, passando a ter uma admiração estranha para com . Já ela, começava a ver qualidades no rapaz acompanhados de alguns sinais de cavalheirismo. E Dari, esperava ansiosamente pelo dia de natal.

  - Não acredito que você vai fazer isso comigo! É natal! Natal se passa em família! - dizia, seguindo pelos corredores. A festa já havia começado, mas tinha um assunto mais importante para tratar: e Dari não ficariam para a festa.
  - Desculpe, . Mas nos convidou há algum tempo e eu quero muito ir. Além do mais, sua festa está bem longe do que eu considero como celebração de Natal saudável para Dari. - a garota entrou na cozinha, seguida de perto por ele.
  - , por favor? - implorou e se virou pra ele.
  - Desculpe, . Mas eu já dei minha palavra à . Desculpe. - pediu sinceramente, encarando o rapaz que assentia fitando o chão, e então seguiu para fora do cômodo, deixando e seus pensamentos numa batalha interna.
  Ele sabia que ela fazia questão de cumprir o que prometia e que ela tinha razão quanto à festa (realmente, não seria nada apropriado para Dari ter um bando de adolescentes bêbados na ceia de natal), mas não queria que ela fosse. Haviam comentários de que Hayley Oxford viria à festa, mas pouco se importava com isso. Não queria admitir, mas queria passar o natal ao lado de .
  - ? - chamou ao encontrar o amigo encarando o chão da cozinha, mas o mesmo não se moveu. - ? - chamou mais alto e o outro pareceu despertar.
  - O que foi? - perguntou sem ânimo, mesmo ao encarar o amigo vestido de Papai Noel.
  - Uou. Isso é tudo por causa da ? - riu, se sentando à mesa e logo sentou ao seu lado.
  - De onde tirou essa ideia? - franziu o cenho, extremamente incomodado com a indagação do amigo.
  - Talvez eu tenha visto ela saindo daqui, e ela tenha me desejado feliz natal antes de sair com a Dari pra casa do . - deu de ombros e sentiu algo estranho em si só de pensar que ela estava a caminho da casa de .
  - Tem algo muito errado. - apoiou o rosto nas mãos e riu.
  - Não há nada de errado em estar apaixonado. - se levantou de súbito.
  - Não estou apaixonado.
  - Se ainda não está, é por pouco tempo. - apontou.
  - Não estou apaixonado. - repetiu. Conhecia há alguns dias, a presença dela tanto o intrigava quanto o confortava e, deveras, se sentia diferente em relação à ela, mas não estava apaixonado. Não era possível, era? - Não posso estar apaixonado. E mesmo que eu estivesse, seria errado. Quer dizer, ela é minha prima. Não posso me apaixonar por ela, certo? - encarou a superfície da mesa e, mais uma vez, ouviu seu amigo rir.
  - Nada nessa vida é certo além da morte, caro . Ela é sua primo de nono grau, pelo amor de Deus! Acorda! - respirou fundo após seu drama. - Agora vai. - ordenou e o encarou, como se pedisse uma resposta. - Vai atrás da sua garota, imbecil!

   observou o que acontecia ao seu redor: crianças brincavam junto à grande árvore de natal da família enquanto os adultos conservasam sobre assuntos banais e os mais idosos lamentavam a passagem do tempo. Sorriu. Era uma típica celebração de Natal, do tipo que colocaria um enorme sorriso no rosto de Dari no fim do dia.
  - Obrigada por ter nos convidado, .
  - Era o mínimo que eu podia fazer por vocês. Deve ser estranho passar natal num lugar onde não se conhece ninguém. O mínimo que eu podia fazer era colocar vocês numa festa de natal familiar. Não que seja das melhores, mas já é alguma coisa. - deu de ombros e a garota riu.
  A mãe de chamou todos ao centro sala para que fizessem o amigo secreto, o que fez com que migrasse com Dari para um dos cantos da sala para observar melhor a cena. As garotas sorriram assim que o amigo ganhou de presente do tio um carro - o que ele queria há alguém tempo. E então percebeu a intensa atmosfera de afeto familiar formada no local, tendo seu pensamento transportado até quase que imediatamente. Ele não merecia ficar sem a família no natal, principalmente depois de demonstrar que realmente queria passar esse dia com parte dela.
  - Sis? - chamou e Dari a encarou. - Fique com , eu já volto. - sorriu de forma tranquilizadora e a pequena assentiu, seguindo até o amigo, no centro sala.
  , então, rumou até a saída da casa, sacando seu telefone da bolsa e buscando, quase desesperadamente, pelo número de . Ao achá-lo, não esperou para chamar e logo se encontrou xingando o rapaz por não atender sua chamada.
  Olhou para o chão e foranziu o cenho ao ver que uma luz amarela vinda detrás de si iluminava desde o chão até a árvore, na fachada da casa. Ouviu um ruído, como de uma freada de carro, e seus olhos se arregalaram. Por mais que tentasse fugir, não conseguia. Estava congelada de pânico. Fechou os olhos, esperando o impacto seguido da luz que a guiaria até o paraíso, mas tudo o que sentiu foi um par de braços a puxando para trás e o impacto sobre um corpo. Ouviu um estrondo, acompanhado de um cheiro de fumaça e uma música eletrônica, mas ainda assim, não abriu os olhos. O pânico ainda se apossava dela.
  - Você está bem? - a voz que ela menos esperava, perguntou esganiçada e ela teve coragem para abrir os olhos.
  - ? - se levantou, puxando o rapaz consigo, envolvendo-o num abraço que foi logo retribuido. - Obrigada. - sussurrou, ainda abraçada ao rapaz, que se apertou mais contra ela.
  - Ao, meu Deus! O que houve aqui? - um burburinho se formou logo após a exclamação do pai de . Começaram a questionar o motorista - bêbado - do Corolla e a Ducati abandonada no meio da rua enquanto Dari e procuravam pela mais velha das .
  - ? - chamou ao vê-la abraçada a na calçada. - Céus, você tá bem?
  - Sim. - respondeu encarando pela primeira vez, quase caindo para trás ao ver como estava vestido. Não podia acreditar. - , o que faz aqui?
  - Bom... - tentou raciocinar, falando algo estúpido, como descreveria depois. - Digamos que Papai Noel me mandou de presente pra você. - deu de ombros e tudo o que sentiu em seguida foram os lábios de nos seus e desejou que aquilo durasse para sempre.
  Dari sorriu com a cena. Só faltava um único pedido a ser realizado.
   sentiu seu bolso vibrar e logo estava rindo da mensagem de .
  - O que houve? - Dari perguntou.
  - adotou um gato.

FIM



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