Aliferous



Escrito por Stephanie Pacheco | Instagram | Twitter
Revisado por Natashia Kitamura

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Capítulo 01 – Dépaysement

“Sentir-se um peixe fora d’água”.

  Não havia nada que odiasse mais do que despedidas. Pelo menos era isso o que ela pensava enquanto apertava seus braços ao redor do namorado, que escondia o rosto na curva do pescoço dela e inalava a maior quantidade de perfume que conseguia. Talvez assim ele pudesse manter o cheiro da moça consigo por todo aquele tempo em que precisariam ficar afastados.
  Os dias que antecederam sua partida pareceram passar tão rápido que por mais ansiosa que ela estivesse com o que viria pela frente, não conseguiu deixar de praguejar o universo. Se Pietro ao menos estivesse partindo com ela, tudo seria muito mais simples.
  Porém, nada nunca foi simples para ela.
  — Prometa que vai me escrever todos os dias — escutou a voz do rapaz murmurar, antes dele afastar o rosto de seu pescoço para encará-la nos olhos. deixou um sorriso torto se formar em seus lábios.
  — Não preciso fazer isso, você sabe que eu vou — deu um selinho nos lábios dele. — Vai passar rápido, Pietro, você vai ver.
  Se ela continuasse repetindo aquilo, talvez o universo conspirasse ao seu favor, certo?
  — Mal vejo a hora de estar junto de você — tocou o rosto dela, lhe fazendo um carinho que foi interrompido pela chamada de passageiros, indicando que era a hora de embarcar. — Odeio ter que te deixar ir.
  — Pense nisso como uma chance de você realmente se preparar para conhecer o Senhor — ela brincou, piscando de leve para o rapaz. — Preciso ir.
  — Boa viagem, gata. Não esqueça de mim — beijou a namorada pela última vez e deixou que ela se afastasse.
  — Ih, quem é você mesmo? — brincou. — Pietro Langdon, nem se eu quisesse, esqueceria você.
  — Eu te amo, — disse, alto, chamando atenção de algumas pessoas.
  — Eu também te amo, babe. Até logo — a garota então apressou seus passos e entregou o cartão de embarque para que pudesse seguir até o avião.
  Olhou uma última vez na direção de Pietro e lançou um beijo para o rapaz, sorrindo e lhe dando as costas antes que desistisse de ir embora.
   odiava despedidas, mas sempre bancava a mais forte em todas elas. Não derramava lágrimas, mantinha todos os pensamentos o mais positivos possíveis e só quando estava sozinha, devidamente acomodada em seu assento, ela deixava que as emoções tomassem conta de si.
  Do lugar onde estava, ela conseguia avistar a janela onde ela sabia que o namorado permanecia ainda parado. Pietro só sairia do aeroporto quando o avião decolasse, não tinha dúvida alguma quanto a isso.
  — São apenas alguns meses, — murmurou, para si mesma, sentindo os olhos se enchendo de lágrimas.
  Sentia que a saudade já dava as caras em seu coração, junto à ansiedade do que vinha pela frente e o medo do rumo que sua vida tomaria dali em diante. estava deixando toda a sua vida em Ohio para trás e, sendo sincera, esperava que não precisasse mais voltar a morar ali. Não que odiasse, mas todos os seus sonhos lhe aguardavam em Baltimore – Maryland.
  Pensou em sua mãe, que só não lhe trouxe ao aeroporto por estar de plantão no hospital onde era enfermeira e praguejou pela milésima vez a chefe que não permitiu a troca de horário. No entanto, no fundo, sabia que a mãe também não gostava de despedidas. Talvez a garota nem tivesse forças para realmente partir se a mais velha estivesse no aeroporto.
  Colocou algum filme aleatório para assistir durante o voo e conseguiu se manter entretida até chegar ao seu destino.
  Ao ouvir o piloto anunciar que pousariam em poucos minutos, o frio na barriga lhe deixou até meio enjoada e a garota respirou fundo, se achando boba e soltando uma risada baixa.
  Desembarcou quase sem acreditar que realmente estava ali, respirando novos ares e prestes a conhecer tantas outras coisas novas.
  Assim que cruzou a porta de desembarque, no entanto, viu alguém que não era novo para ela e seu coração se aqueceu porque ali estava uma saudade que ela conseguiria aliviar.
  — Pai! — gritou, vendo o mais velho parar de procurar por ela e vir quase correndo em sua direção.
  Completamente atrapalhada com as malas, deixou a bolsa de mão cair para pular no pescoço do pai e abraçá-lo bem forte, sentindo-se absurdamente feliz por estar ali com ele.
  — Minha menina! — a voz grave do homem soou, com o mesmo alívio que ela sentia, e quando ambos se desvencilharam um sorriso torto se formou em seus lábios. — Não consigo imaginar sua mãe aceitando esse tanto de tatuagens.
  Uma gargalhada escapou dos lábios de e ele a acompanhou.
  — Ela chorou até a quinta. Depois disso, desistiu de implicar com elas — deu de ombros. — Mas se esse é o seu jeito de perguntar como minha mãe está, Senhor Charles, saiba que ela está ótima. Continua trabalhando feito maluca, mas está ótima — estreitou os olhos para ele, vendo-o coçar a nuca, sem jeito.
  — Que bom que ela está bem então. Falando em trabalho, precisamos ir porque o meu está me aguardando — torceu a boca. — Aqui, deixe eu ajudar com essas malas.
  O ajudar dele na verdade era carregar todo o peso sozinho e mesmo que dissesse que conseguia levar uma de suas duas malas, Charles insistiu.
  Pararam diante do carro e até arregalou os olhos. Não entendia nada de carros, mas logo viu que aquele valia uma fortuna.
  — Minha nossa — não conteve seu espanto, observando o pai guardar as coisas no porta-malas.
  — Você ainda não viu nada, querida. Ele tem mais dois — riu da surpresa dela.
  — E para que tudo isso se ele nem dirige? — questionou, se sentando no banco do carona.
  — Quem disse que ele não dirige, ? — Charles deu partida e logo seguiu pelas ruas da cidade.
  — É meio óbvio que não, papai. O cara tem motorista, segurança e sei lá mais o quê — deu de ombros, mexendo no rádio do carro, sem nem ligar se era do patrão do pai. — Nenhum CD? Ele deve ser entediante — Charles riu alto.
  — Está enganada quanto ao Senhor , . Ele não gosta de andar com motorista e seguranças. Só o faz porque precisa — explicou, em defesa do homem, mesmo que ele nem estivesse ali para ouvi-lo. Sua expressão então adquiriu um tom mais sério. — Tem sido dias difíceis, música não tem adiantado muita coisa.
   não soube se deveria ou não questionar o porquê, mas acabou deixando para lá quando pararam diante da casa onde ela moraria dali em diante.
  Era muito maior do que havia imaginado e se segurou para não deixar a boca aberta com o quanto só a visão externa a havia agradado.
  — É difícil de acreditar que ele não gosta dessas coisas. Olha só o tamanho dessa casa! — Charles desceu do carro e deu a volta, abrindo a porta para a filha e a esperando sair para depois ir pegar suas malas.
  — Você queria que um candidato a senador morasse onde? Em um apartamento no subúrbio? — comentou, cheio de graça.
  — Não sei se consigo me acostumar a morar aqui, pai. Espero conseguir um emprego logo, aí eu alugo um apartamento e...
  — Nada disso, . Você não vai gastar com aluguel, filha. Já falei que não tem problema você ficar aqui comigo. O Senhor é gente muito boa, você vai ver — tranquilizou a garota, vendo que ela estava desconfortável.
  — Ah, pai — suspirou, pegando a bolsa de mão e acompanhando o mais velho até a entrada dos fundos.
  — E o seu namoradinho? Achei que vinha com você — perguntou, indicando o corredor que dava acesso ao novo quarto de .
  — Ele vem, mas vai ter que aplicar de novo para a faculdade. Não conseguiu passar dessa vez — fez uma careta e o pai acenou, notando que aquilo lhe chateava.
  — Passa rápido, você vai ver — sorriu e ela retribuiu, parando diante da porta que o mais velho indicou. — Vá em frente.
   abriu a porta do quarto e seus olhos logo se iluminaram em satisfação. Assim como a casa, era muito maior do que ela esperava. Tinha uma cama king size que parecia tão fofa que lhe deixava louca para sair correndo e pular em cima e a cabeceira era de ferro francesa dourada. Havia um criado mudo em cada lado e na frente um grande espelho.
  — Tem sacada e tudo! — quase gritou, observando a grande porta de vidro fechada e seguiu com o olhar para a mesa de estudos próxima do local, o que ela achou perfeito porque seria maravilhoso estudar podendo observar o mundo lá fora.
  Uma porta dava acesso ao banheiro, surpreendentemente pequeno comparado ao tamanho do quarto, enquanto a outra guardava um closet.
  — Eu nem tenho roupa para isso — deu risada e não conseguiu mais resistir à tentação de se jogar na cama. — Minha nossa! E eu achando que ia dividir o quarto contigo, pai.
  Parado na soleira da porta, Charles apenas observava a filha, sorrindo por ver o quanto ela havia gostado.
  — O Senhor fez questão de que você tivesse o próprio quarto. Você pode mudar a cor dele se quiser e deixar mais a sua cara.
  — O que o senhor faz para ele ser generoso desse jeito? Se eu contar para qualquer pessoa, vai ser difícil de acreditar — riu, boba.
  — é como um irmão mais novo, filha. Meu pai também era chefe de segurança e meu avô cuidava dos antes disso. Você só não cresceu aqui porque, bem... Eu e sua mãe nos separamos — terminou de colocar as malas da filha no closet, porque ali já facilitava as coisas para ela.
  — É verdade. Se é como o senhor diz, faz sentido. Fico feliz que ele não seja nenhum carrasco — Charles balançou a cabeça em negação, rindo. Então olhou para seu relógio de pulso e praguejou baixo por estar quase atrasado.
  — Não é, minha querida. Vou deixá-la descansar. Preciso acompanhar o Senhor em um compromisso. Fique à vontade e se você sentir fome, procure pela Julieta na cozinha — se apressou e despediu-se de .
  — Tudo bem, pai. Não sei onde é a cozinha, mas eu me viro, não se preocupe — assentiu para o pai, sorrindo.
  — Até logo, querida — Charles saiu, encostando a porta e dando privacidade para .
  Ainda deitada na nova cama, olhou para o teto, vendo o belo lustre e suspirando sem ainda acreditar que ia mesmo morar em um lugar como aquele. Não ia mentir, ela nunca teve nada daquilo, mas a ideia de ter lhe agradava e muito, era por isso que ela havia se esforçado muito para passar na Universidade de Baltimore. Queria um dia ter um lugar como aquele para chamar de seu e ela teria, não desistiria enquanto não tivesse.
  Pensou no tanto que o pai se dedicava ao trabalho e em como ele falava bem de , o que a deixava realmente curiosa para conhecê-lo. Queria tirar suas próprias conclusões sobre o senador e de repente se sentiu um tanto idiota porque nunca nem sequer havia visto a cara dele.
  — Você vai cursar Direito e não sabe a cara do senador, como você é esperta, hein, ? — resmungou, resolvendo pegar o celular para pesquisar sobre o dono da casa, então se deu conta de que o pai não havia lhe passado a senha do wi-fi. — Droga — bufou, porque sem internet ela não poderia nem falar com Pietro e contar sobre a casa fabulosa onde agora morava.
  Ela devia era arrumar logo as coisas no closet, mas a cama estava tão macia e os olhos de de repente estavam tão pesados que ela parecia até ter tomado sonífero. Só deu tempo de a garota largar o celular ao seu lado na cama mesmo, porque não tinha forças para se esticar até o criado mudo, então ela se rendeu aos braços de Morfeu.

💋

  Meio atordoada, quando a garota despertou, estava até escuro lá fora. Deu um pulo na cama, sentando-se rapidamente e se arrependendo porque ficou levemente tonta. Seu estômago reclamou imediatamente e ela pegou o celular para ver que horas eram. Oito e trinta e sete da noite.
  Minha nossa, ela havia dormido demais!
  Precisava desesperadamente arrumar alguma coisa para comer, então saiu da cama e conferiu o estado de seus cabelos, caçando a escova dentro da bolsa para penteá-los rapidamente antes de se aventurar pela casa. Acabou tendo que refazer seus planos, porque seus cabelos na verdade estavam em um estado deplorável e se sentiu até meio nojenta por não ter nem tomado um banho antes de se deitar.
  Após pegar tudo o que era necessário, entrou no banheiro e ainda não conseguia acreditar que ela tinha uma banheira só para ela. Parecia que havia entrado em um daqueles contos de princesa.
  Pena que seu príncipe havia ficado em Ohio.
  Torceu a boca em um bico enquanto passava o sabonete pelo corpo rapidamente. Não tinha intenção de ficar esquecida dentro daquela banheira, pelo menos não naquele momento, já que a fome continuava fazendo seu estômago reclamar.
  Limpinha e cheirosa, ela logo tratou de vestir algo confortável. Normalmente, não usava pijama para dormir, preferia usar uma de suas camisetas grandes de banda e alguma calcinha que não ficasse lhe incomodando. E como ela não podia sair andando pela casa de calcinha, colocou ao menos um shorts.
  Sem a menor paciência para secar os cabelos, ela apenas tirou o excesso de umidade e então saiu do quarto, seguindo por aquele corredor e tentando gravar em sua memória de onde havia saído.
  Aquela casa realmente era grande demais, porque em menos de três minutos já estava perdida. Quantos andares aquilo tinha? Balançou a cabeça e mordeu os lábios.
  — Bem que podia passar alguma alma viva por aqui — resmungou, para si mesma.
  Desceu por uma escada circular, encontrando uma sala pequena, com algumas poltronas e seguiu por outro corredor, indo parar em outra sala.
  — Minha nossa, quantas salas! — e ela ia passar reto, como havia feito com a anterior, mas algo ali lhe chamou a atenção.
  Bem no canto, próximo a uma janela com as cortinas meio cerradas, havia um belíssimo piano.
  Seus olhos brilharam de imediato e um pequeno sorriso quis se formar em seus lábios. Ela não fazia ideia de que tipo de piano era aquele, a marca ou qualquer outra coisa, nem ao menos sabia tocar, mas ela era simplesmente fascinada por aquele instrumento desde pequena.
  Sem pensar direito, ela seguiu até o piano e seus dedos o tocaram suavemente, revelando a temperatura fria devido ao ambiente e lhe causando uma sensação agradável, porque seu sorriso então se alargou e seus olhos se cerraram.
  Quando era muito pequena, Charles colocava música clássica para que ouvisse e ela prosseguiu com aquele hábito.
  Todas as vezes em que ouvia uma música, ela se pegava imaginando como seria se tornar uma grande pianista e tocar para aqueles teatros lotados.
   às vezes era tão sonhadora!
  — Você toca? — seus pensamentos foram interrompidos por uma voz grave, fazendo a moça pular de susto e olhar rapidamente em sua direção.
  Surpreendeu-se quando seus olhos localizaram um homem parado a alguns metros dela, não apenas por ela não ter escutado seus passos, mas também porque tinha gostado imensamente de sua aparência. Podia-se ver os músculos dele ressaltados sob a camisa social clara, que fazia um conjunto perfeito com a calça de lavagem escura e a gravata perfeitamente alinhada. precisou conter a vontade de morder a boca, principalmente, quando subiu seu olhar até o rosto dele e notou o perfeito par de olhos lhe encarando com curiosidade.
  Minha nossa! Como é que ela conseguiria pensar em qualquer coisa que fosse com um deus daqueles trabalhando na mesma casa que ela morava?
  Pietro que lhe perdoasse pelos pensamentos, mas socorro?
  — Se eu toco? — resolveu falar, antes que ele pensasse que ela era alguma doida e o homem assentiu apenas. — Ah, não. Meu sonho de consumo sempre foi ter um desses em casa, mas nunca tive condições — sorriu, dando de ombros, sentindo uma enorme dificuldade em desviar o olhar dele. — E você, toca? — perguntou, por pura educação, e ele demorou alguns segundos para lhe responder, encarando-a demoradamente, como se retribuísse a análise que havia lhe feito.
  — Eu costumava tocar, agora não mais — disse, por fim, arriscando dar mais alguns passos na direção da moça, diminuindo a distância entre eles.
  — Sério? E por que não? Acho que se eu tivesse um desses e soubesse tocar, ficaria várias horas do meu dia só fazendo isso — soltou, de forma sonhadora, então riu um pouco de si mesma. — Não que eu seja uma desocupada, mas... Você entendeu — e ele apenas acenou afirmativamente, achando no mínimo curioso o jeito dela.
  — Não sou nenhum grande pianista, na verdade. Minha esposa costumava passar mais tempo do que eu aí e ela sim era fantástica — se surpreendeu pela resposta e só conseguiu pensar que a esposa daquele cara tinha tirado uma sorte grande. Além de bonito, ele exalava um charme quando falava que fez a moça desejar momentaneamente não ter namorado algum.
  — Entendi — ela levou uma das mãos aos cabelos, ajeitando uma mecha para trás da orelha e contendo a vontade de olhá-lo de cima a baixo novamente. Parecia que tinha voltado a ter catorze anos e os hormônios à flor da pele. — E onde ela está? Sua esposa? — não sabia por que estava insistindo em prolongar a conversa, mas ela o fazia.
  — Infelizmente, está morta — o choque atravessou o corpo de em um arrepio desagradável e ela imediatamente arregalou os olhos, levando suas mãos até a boca.
  — Oh, minha nossa! Me desculpe. Eu não sabia... Nossa, desculpa mesmo! — disparou a falar, imaginando o quanto falar aquilo poderia ter custado a ele, mesmo que não soubesse há quanto tempo a esposa dele havia falecido.
  — Tudo bem, não se preocupe com isso — fez um gesto que demonstrava isso mesmo, por mais que o olhar dele dissesse o oposto. Falar na esposa morta ainda lhe doía, sim, mas ele precisava se acostumar a isso uma hora ou outra.
  — É sério. Não consigo nem imaginar o quanto você deve sofrer por isso. Fui meio idiota e não atentei você ter falado dela no passado. Me perdoe, de verdade — insistiu, sentindo-se tão mal por aquilo que sua vontade foi a de sair correndo dali.
  — Eu entendo. É sério — repetiu o que ela havia dito, frisando e lhe lançando um singelo sorriso.
  — Eu... Na verdade, está mesmo na hora de eu ir. Meu pai já deve estar chegando e eu não quero causar problemas com o chefe dele... Digo, nosso chefe, certo? — disparou a falar, sentindo-se nervosa, mas repetindo mentalmente que precisava se acalmar porque ela não costumava agir daquela forma. Talvez a gafe a tenha deixado daquele jeito.
  — Chefe? — ouviu-o questionar, arqueando uma sobrancelha. Em seguida, um meio sorriso divertido tomou conta das feições dele. — Você deve ser a .
  A garota então voltou a encará-lo em surpresa. Como é que ele sabia?
  — Isso. , filha do Charles — assentiu e estendeu a mão, em um cumprimento, tentando não se mostrar tão abalada e falhando em tudo.
  — — o sorriso dele se alargou quando segurou a mão de e ela desejou que um buraco se abrisse abaixo de si para que pudesse se enterrar.
  — Socorro, você é o ? O chefe do meu pai? — ele assentiu, achando graça. — Desculpa! De verdade, eu não fazia ideia de como você era, o que é uma vergonha já que eu vim para cá fazer faculdade de Direito. Eu devia ao menos saber quem é o senador, mas enfim. Desculpa mesmo, Senhor ! — então ela o viu negar com a cabeça.
  — Primeiro, você precisa parar de se desculpar, — e algo no tom dele fez com que a moça se sentisse um tanto mais calma. — E, segundo, eu ainda não sou senador. Sou apenas candidato, mas seu pai já anda tratando como se eu tivesse ganhado a eleição, então não a culpo por isso não, embora seja preocupante você não saber quem são os candidatos.
  — É, eu não andei muito focada em política com todo o lance de passar para a faculdade e fazer a mudança — fez uma careta, mas acabou sorrindo de volta ao ver a expressão leve no rosto dele. — Prazer em te conhecer, Senhor .
  — Me chame de . E o prazer é meu, — ela precisava tomar muito cuidado para não ficar imersa no quanto aqueles olhos eram atraentes. Pareciam dizer tantas coisas que sentia-se louca para desvendar o que tudo aquilo seria.
  — Ah, ! Aí está você! — a voz de Charles chamou-a de volta à Terra e a moça desviou seu olhar para o pai, que imediatamente se voltou para . — Aposto que ela se perdeu e veio parar aqui sem nem saber como voltar. Espero que não tenha lhe interrompido, Senhor .
  — De forma alguma, Charles. estava me contando o apreço que tem por pianos — sorriu para homem, que voltou a encarar a filha brevemente.
  — Se deixar, ela fica tagarelando até semana que vem sobre isso — implicou com a moça, que lhe deu língua. — Vamos lá, mocinha. Tenho certeza de que está desesperada de fome.
  Para falar a verdade, até havia esquecido da fome, mas não podia e nem ia dizer aquilo ao pai.
  — Sim, por favor — assentiu, olhando para ao ouvi-lo rir baixo. — Bom, tenha uma boa noite, — piscou para o homem, que lhe abriu um sorriso.
  Honestamente, ela não se importava de ficar parada o tempo que fosse só admirando o quanto aquele cara sorria bonito. Na verdade, estava procurando os defeitos porque não tinha encontrado nada ainda e ninguém era tão perfeito assim.
  Foca no Pietro, . Foca no Pietro.
  — Boa noite, lhe respondeu, e a moça passou por ele para encontrar o pai. Os olhos do candidato a analisaram discretamente, então ele deu um aceno de cabeça para o homem. — .
  Andaram pelos corredores, fazendo um breve silêncio, então Charles relaxou um pouco sua postura profissional.
  — Devia ter visto a sua cara, filha. Parecia que estava vendo um fantasma — deu risada dela, que revirou os olhos.
  — Pai, acabei de conhecer seu chefe e já o fiz falar na esposa morta! Isso é a definição de querer se enterrar — contou, rindo para não chorar.
  — Uh, é mesmo? — Charles pareceu surpreso. — Mas olha só, não precisa ficar com receio de nada. é um cara legal, sei que deve ter percebido isso.
  — Sim, muito legal — assentiu.
  E muito gostoso também.
  — Ele gostou de você, fazia um tempo que eu não o via rir de forma sincera — o comentário fez com que algo dentro de se agitasse e quando deu por si, ela abria um sorriso bobo.
  — Isso é porque eu sou maravilhosa, pai — disfarçou, soltando em um tom convencido que fez Charles rir e negar com a cabeça.
  — Ô maravilhosa, apenas tenha cuidado ao sair explorando a casa. Hoje você foi parar na sala de música, mas imagino que não seria tão agradável assim acabar entrando no quarto do cara sem querer.
  Agradável seria pouco, na verdade.
  — Relaxa, senhor Charles. Só esqueci de pegar a senha do wi-fi e não vi sinal algum de Julieta. Tô me sentindo um peixinho fora d’água nessa casa gigante, mas logo eu pego o jeito da coisa — reprimiu um graças a Deus quando viu que finalmente chegaram à cozinha.
  — E eu não tenho dúvida alguma disso — o mais velho concordou.
  Depois daquilo, não tornou a encontrar com e depois de passar quase duas horas conversando com Pietro via SMS, imaginou que o fogo todo que tinha sentido quando viu o homem certamente passaria.
   não fazia ideia do quanto estava enganada.

💼

   permaneceu parado próximo ao piano, virado na direção da porta por onde havia saído com o pai. Não soube explicar, mas a presença da garota emanava uma energia tão agradável que, por alguns minutos, toda a sensação de luto foi embora.
   era o completo oposto do que ele havia imaginado quando Charles conversou com ele a respeito da mudança da garota para a sua casa. sabia da idade de , mas, por algum motivo, pensou nela com uma aparência bem mais jovem, praticamente uma adolescente, talvez porque Carter, sua irmã mais nova, sempre seria uma pirralha aos seus olhos e ela era apenas três anos mais nova que a filha de Charles.
  Foi inevitável para ele analisar a moça de cima a baixo assim que seu olhar a encontrou, na sala de sua casa. Primeiro, porque ela parecia fascinada diante daquele piano e, segundo, porque era linda.
  Ele se sentiu péssimo por olhar a garota daquela forma, principalmente, quando precisou conter a vontade súbita de umedecer os lábios. O sentimento de culpa ameaçou lhe corroer não apenas por Charles, mas por sua falecida esposa. fez o possível para não demonstrar o conflito interno e de repente não precisou mais se esforçar tanto. disparou a falar e, a cada frase afobada da moça, ele sentia vontade de sorrir.
  Um suspiro longo escapou de seus lábios assim que seus olhos se voltaram para o piano, então caminhou até a garrafa de uísque, disposta sob uma mesinha de canto, se servindo de uma dose generosa e bebendo um longo gole. Queria expulsar qualquer pensamento e o álcool andava lhe ajudando muito ultimamente.
  De forma quase involuntária, ele voltou para perto do piano e sentou-se diante do instrumento. Fixou seu olhar no teclado coberto, então ergueu a tampa para que as teclas entrassem em seu campo de visão. Dedilhou algumas delas e um sorriso triste surgiu em seus lábios ao mesmo tempo em que deixou a lembrança lhe atingir com força.

  — Mas o que é que você está fazendo escondido aqui, senador ? — o homem levou um pequeno susto ao ouvir a voz muito próxima. Ele observava o céu sem estrelas através da janela da sala, pensando que sentia falta das viagens que ele e a esposa costumavam fazer.
  — Só me peguei sentindo falta de quando ficávamos só nós dois — ele confessou, sentindo as mãos de Amelia tocarem seus ombros e apertarem com delicadeza.
  — Devo expulsar todos os seus convidados então? Não acharia nada ruim, para falar a verdade — a mulher brincou, fazendo com que sorrisse e se virasse para encará-la.
  — Já que estamos sendo sinceros, eu também não, só que eu perderia vários eleitores fazendo isso — fez uma careta, vendo a esposa imitar seu gesto e então aproximar seus lábios dos dele, lhe dando um selinho calmo. — Gosto quando me chama de senador — tocou o rosto da mulher com uma das mãos, lhe fazendo um carinho.
  — Só estou prevendo seu futuro, meu amor. Tenho certeza de que você vai vencer — encarou-o nos olhos, sorrindo pela carícia do marido. — Agora venha, preparei uma surpresa para você — entrelaçou seus dedos nos dele, puxando-o de volta ao salão, onde havia deixado seus convidados.
  — Aí está nosso homem do momento! — sorriu para Todd Phillips, seu assessor parlamentar, assim que ele veio em sua direção, abraçando-o pelos ombros e lhe dando um tapinha.
  — Aqui estou eu, Todd. Pode respirar sossegado agora. Sei que não vive sem mim — retrucou, em tom amistoso, fazendo com que o assessor balançasse a cabeça em negação, rindo.
  — Não posso discordar, você quem paga meu salário — a resposta fez com que gargalhasse.
  Suas atenções então se voltaram para Amelia , assim que a mulher as requisitou com o tilintar delicado em uma taça.
  — Gostaria de agradecer a todos que vieram prestigiar conosco o lançamento da candidatura de meu marido, — ela disse, em tom educado, abrindo um sorriso ao indicar o homem, estendendo a taça em sua direção. — Esta noite, é tudo sobre ele, o futuro senador do estado de Maryland. , meu amor, essa música é sua, assim como meu coração é todo seu — Amelia largou a taça e sentou-se diante do piano.
   abriu um sorriso enorme, sem conseguir ver mais nada ao seu redor além da esposa.

Wise men say
(Homens sábios dizem)
Only fools rush in
(Que só os tolos se apressam)
But I can't help
(Mas eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)

Shall I stay
(Se eu ficasse)
Would it be a sin
(Seria um pecado)
If I can't help
(Se eu não consigo evitar)
Falling in love with you?
(Me apaixonar por você?)

  Ele reconheceu a música assim que as primeiras notas começaram ao piano e seu sorriso se alargou ainda mais, se é que aquilo era possível. Um misto de emoções tomou conta e ao mesmo tempo em que ele não conseguia desviar seus olhos de Amelia, também não conseguia refrear as batidas de seu coração, que naquele momento eram tão aceleradas que ele sentia quase doer. Era o tamanho de seu amor por aquela mulher.

Like a river flows
(Como um rio que corre)
Surely to the sea
(Certamente para o mar)
Darling, so it goes
(Querido, é assim)
Some things are meant to be
(Algumas coisas estão destinadas a acontecer)

Take my hand
(Pegue minha mão)
Take my whole life too
(Tome minha vida inteira também)
For I can't help
(Porque eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)

  A voz de Amelia soava tão doce e perfeitamente afinada. Cada uma daquelas palavras exalava o sentimento verdadeiro entre os dois e, sem vergonha nenhuma daquilo, sentiu que seus olhos ficavam marejados.
  Ele amava Amelia , tinha se apaixonado por cada detalhe daquela mulher desde a primeira vez em que a havia visto.
  O que seria dele sem ela? Não conseguiria viver sem ela.

Like a river flows
(Como um rio que corre)
Surely to the sea
(Certamente para o mar)
Darling, so it goes
(Querido, é assim)
Some things are meant to be
(Algumas coisas estão destinadas a acontecer)

Take my hand
(Pegue minha mão)
Take my whole life too
(Tome minha vida inteira também)
For I can't help
(Porque eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)

For I can't help
(Porque eu não consigo evitar)
Falling in love with you
(Me apaixonar por você)

  Um suspiro carregado de tristeza e dor ecoou dos lábios de . Deixou sua mão cair do piano para o colo e seus lábios tremeram, o choro não pôde ser contido.
  Como ele viveria sem Amelia? Ele não queria, ele não podia, mas precisava. Precisava porque ela jamais permitiria que ele desistisse.
  As lágrimas escorreram pela bochecha do homem e ele soluçou em silêncio, deixando que esse fosse a única testemunha de seu desabafo.
  Perdeu as contas de quanto tempo permaneceu ali, tomado pela dor da ausência do amor de sua vida, até que o pranto foi se dissipando e a calmaria chegou ao seu coração dolorido.
  Num gole só, virou o restante de uísque de seu copo, seus olhos se voltaram para a porta e por fim ele decidiu se recolher aos seus aposentos. Fechou a tampa do piano e se levantou, deixando o cômodo.
  O dia seguinte seria cheio e ele mais uma vez precisava de toda a força do mundo para vencê-lo e conseguir vencer também a eleição.
  Por Amelia.

Capítulo 02 - Nepenthe

“Algo que lhe faz esquecer o luto ou o sofrimento”.

  — Não faço ideia de quem está acordado a essa hora e tenho certeza de que vou acabar me perdendo, mas eu juro que na próxima vez que nos falarmos por vídeo, vou te mostrar a cada inteira, meu amor. É gigantesca e eu só consigo pensar nas pessoas que limpam isso aqui, sério! — soltava toda empolgada em meio a uma conversa com seu namorado por vídeo chamada. — Quer ver o meu quarto?
  Antes mesmo de Pietro responder, já estava de pé, caminhando por todo o cômodo.
  — Adiantaria eu dizer que não? — ouviu-o responder, então encarou a tela do celular com a testa franzida.
  — Você não quer? — Parou de caminhar e talvez ela estivesse agindo com afobação demais diante disso, visto que os dois agora estavam separados por vários quilômetros de distância.
  Pietro riu, fazendo com que a garota soltasse a respiração, aliviada. Nem havia percebido que prendia.
  — Claro que quero, minha linda. Vai, mostra para mim. Só que eu vou querer toda essa ‘tour’ de novo quando eu estiver aí com você. — Aquela piscadela dele derretia inteirinha e ela abriu um largo sorriso.
  — Mas é óbvio que você vai fazer a tour outra vez. Não achei que isso estivesse em discussão. — Riu com ele, então virou a câmera para que pudesse mostrar todos os cantos daquele quarto imenso. — Lógico que ainda falta o toque e eu vou dar um jeitinho nisso assim que sair para comprar algumas coisas, mas enfim... Olha o tamanho dessa cama, Pietro! Acho que eu nunca dormi tão bem em toda a minha vida!
  Pietro estava achando uma graça a empolgação da namorada, mas prestava atenção em cada coisa que ela mostrava. Sabia que repararia caso ele não o fizesse.
  Ela seguiu da cama para a mesa de estudos, mostrou o closet, o banheiro e a sacada que com certeza seria um dos locais favoritos da garota. Pietro Langdon a conhecia bem demais e ela sempre dizia que queria morar em um lugar com sacada só para poder parar nela e pensar na vida.
  Não pôde deixar de pensar, no entanto, que, se ele tivesse conseguido passar na mesma universidade que , ambos agora estariam em um apartamento que alugariam juntos e aí eles teriam também a própria sacada.
  Sentia-se péssimo por não ter conseguido e deixado a garota partir sozinha, mas tinha algo que lhe incomodava ainda mais nessa história.
  Aquilo tudo estava sendo bom demais para a garota, e se ela não quisesse mais dividir apartamento com ele quando Pietro finalmente conseguisse se mudar para Baltimore?
  — Pietro, ainda está aí? — A imagem do rosto de havia voltado à tela e ela acenava com uma das mãos de forma frenética, meio preocupada porque a imagem de Pietro parecia ter congelado. — Será que essa porcaria travou? Droga... Vou desligar e ligar de volta para ver se resolve e...
  — Não, . Desculpe, estou aqui ­— se apressou em dizer, sorrindo da forma menos fraca que conseguiu porque aqueles pensamentos estavam lhe deixando maluco.
  — Ah, ótimo. Que susto foi esse? — reclamou dando uma risadinha, mas percebeu que a expressão do namorado não era das melhores e suas feições se distorceram em uma careta. — O que foi, amor? Está tudo bem? — questionou preocupada, fazendo com que Pietro se xingasse mentalmente por não conseguir se controlar.
  — Estou sim, relaxa. ­— Tentou sorrir de novo, mas suspirou em vez disso. — Só estou sentindo sua falta. Sei que é bem cedo ainda para isso, mas...
  — Também estou sentindo a sua — ela se atravessou em sua fala e Pietro a encarou nos olhos, mordendo a boca como se estivesse se contendo para não chorar.
  — Droga, . Faz menos de vinte e quatro horas que você partiu e eu já estou ficando louco sem você — Pietro confessou. suspirou, então de repente abriu um sorriso esperto.
  — Tecnicamente, já passou de vinte e quatro horas. — Ele estreitou os olhos para a garota. — Mas sim, eu também estou. Não imagina o quanto eu queria poder estar aí agarradinha com você. Ou melhor, que você estivesse aqui comigo. Essa cama é grande demais, eu já disse isso?
  Pietro abriu um sorriso de canto, ajeitando um pouco a posição em que estava sob a cama do próprio quarto.
  — Deve ser bem complicado mesmo dormir com todo esse espaço aí, sem ninguém para você se agarrar.
  — Dormir até que não foi tão complicado assim. O problema é ficar acordada nela sozinha. Me parece até um desperdício, se é que me entende. — Sentiu vontade de provocar o namorado com aquilo e ele arqueou uma sobrancelha, umedecendo os lábios, sem nem pensar em recusar entrar naquele jogo com .
  — Imagino que com companhia então o espaço fique esquecido no Tártaro — Pietro disse com uma expressão sugestiva capaz de deixar louca.
  — Eu já disse que adoro quando você fala desse jeito? — Mordeu o lábio inferior, percebendo que ele havia acompanhando o movimento com seu olhar.
  — De que jeito? — perguntou, mesmo já sabendo a resposta.
  — Nerd. Você sabe que inteligência me atrai e citar mitologia grega é golpe baixo — queixou-se, mas seu tom de voz era o de quem queria era que ele continuasse.
  — Vai falar em golpe baixo enquanto morde o lábio desse jeito, minha linda? — respondeu, acabando por imitar o gesto dela.
  — Algum problema com isso, meu amor? — provocou, fazendo-o mais uma vez.
  ­­— Para ser sincero, tenho alguns. Quando eu te vejo mordendo os lábios assim, só consigo pensar no quanto eu gostaria de estar fazendo isso e também em como gosto do toque dessa tua boca macia na minha pele. — Talvez devessem parar de se instigar daquele jeito, mas, se ela estivesse gostando tanto quanto ele, qual era realmente o problema?
  — Pois então me imagine puxando teus lábios com os meus dentes, Pietro. Meu beijo descer até o teu pescoço e seguir caminho até seus ombros. Gosto do desenho deles, dá vontade de morder também. — Observou o namorado fechar os olhos enquanto falava, tendo certeza de que ele imaginava mesmo cada uma das ações que descrevia. Aquela visão mexia com ela, fazia com que seu corpo inteiro esquentasse e de repente o pijama que ela vestia a incomodava até demais.
  — Se você fizer isso, vou querer levar minhas mãos até os teus cabelos, segurá-los entre meus dedos só para poder observar bem de perto o trajeto e te puxar para beijar teus lábios mais uma vez. Apertar tua cintura contra mim daquele jeito que vai te mostrar o quanto você está me deixando doido. ­— Droga, por que ela tinha começado aquele jogo mesmo? O que ela faria com o incômodo que as palavras de Pietro causavam entre suas pernas?
  — Pietro... — deixou escapar em um sussurro.
  — O que foi, minha linda? — questionou, sentindo vontade de grunhir com o tom torturado da voz dela.
  — Eu quero você — soltou com uma voz chorosa.
  — Me quer fazendo o que, ? — provocou e ela gemeu baixinho.
  — Eu quero você dentro de mim. Me fodendo daquele jeito que só você sabe fazer.
  As palavras dela o atingiram em cheio e se antes Pietro já se sentia excitado, naquele momento sua ereção latejava e não havia o que fazer além do óbvio.
  Mas antes que o garoto pudesse guiar a mão para dentro dos shorts, , que estava praticamente deitada, arregalou os olhos e se sentou ereta na cama.
  — Droga, ouvi um barulho na porta, Pietro. — Levantou apressada e respirou fundo, abanando o rosto para espantar a expressão de quem estava louca de tesão. — Vou desligar porque pode ser meu pai. Desculpa, eu te amo muito!
  Pietro sentiu a frustração vir como uma bofetada em sua cara. Teria que se virar com aquela ereção sem a namorada do outro lado da tela.
  — Tudo bem, linda, eu também. A gente se fala! ­ lhe jogou um beijo e então encerrou a chamada.
  — Minha nossa — resmungou baixinho e caminhou até a porta, percebendo que não estava totalmente fechada. Avoada como era, provavelmente nem tinha verificado aquilo antes de ir dormir. Empurrou-a preparada para ver o pai ali e querer se enterrar de vergonha.
  Quando deu de cara com o corredor vazio, foi impossível conter o grunhido de frustração.
  Provavelmente os passos que ouviu foram coisa de sua cabeça paranoica por estar praticamente transando virtualmente com o namorado em seu primeiro dia naquela casa.
  — Eu real vou pirar nesse lugar, pelo jeito. — Voltou a fechar a porta e encarou rapidamente o celular.
  Não adiantaria ligar de volta para Pietro, o clima já havia sido quebrado, então apenas lhe restava tomar um banho frio e descer até a cozinha para tomar café. A ideia era a de passar o dia conhecendo a cidade e comprando algumas coisas para seu quarto. Suas aulas começariam apenas na semana seguinte, mas até lá ela já queria estar no mínimo um pouco situada em Baltimore.
  — Bom dia! — cumprimentou a mulher de meia idade, que avistou assim que chegou à cozinha. O uniforme dela deixou óbvio que aquela era a Julieta que não tinha encontrado na noite anterior. — Então a senhora é a Julieta! — Sorriu.
  — Nada de senhora, menina. Pode me chamar de tudo menos de senhora! — Julieta já lhe repreendeu com um sorriso amistoso. — E você é a . Tão bonita quanto seu pai.
  — Julieta então. E onde está meu pai? — perguntou, já gostando da mulher logo de cara simplesmente porque Julieta a olhava de um jeito acolhedor.
  — Saiu a pouco com o senhor . Sente-se, vou arrumar o café para você. — Indicou a mesa e fez uma careta.
  — Não gosto de tomar café sozinha, Julieta. Sente-se comigo — pediu, fazendo um bico para a mulher.
  — Eu já tomei café, menina. Não se preocupe comigo. — Caminhou até a geladeira e foi tirando tudo o que achava que a menina poderia querer comer.
  — Vai, eu insisto. — Piscou os cílios de um jeito que fez Julieta rir.
  — Tudo bem. Mas só vou me sentar à mesa com você, não vou comer.
  — É o bastante. — sorriu satisfeita.

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   teve dificuldades para dormir na noite anterior. Na verdade, ele andava com aquele tipo de problema desde que Amelia havia partido. Por mais que tentasse, não conseguia se acostumar com aquele espaço vazio ao seu lado na cama.
  Era engraçado porque quando era mais jovem não se imaginava dividindo seu espaço com ninguém e costumava dizer aos quatro ventos que era espaçoso até demais, mas aquilo mudou completamente quando conheceu sua Amelia. É claro que, como em qualquer casamento, as coisas nem sempre eram um mar de rosas, mas a certeza de que ele acordaria no dia seguinte e seus olhos a encontrariam ao seu lado fazia com que ele esquecesse quaisquer que fossem os seus problemas. Amelia lhe trazia paz.
  Mas ele não tinha mais a esposa. Seu porto seguro havia partido, levada por um câncer no colo do útero que já estava em um estágio avançado quando diagnosticado. Ela foi forte, lutou até seu último segundo e ficou o tempo todo ao seu lado, mesmo sob protestos dela porque ele tinha uma campanha para cuidar. não quis saber, nada era mais importante do que ela. No entanto, o câncer é uma doença cruel, que se espalha e traz consigo a destruição. Assistir sua amada cada vez mais frágil não foi fácil e ele lutava todos dias para lembrar apenas dos momentos mais bonitos que tiveram juntos. Era isso que Amelia iria querer.
  Se dormir era uma tortura para , acordar era infinitamente pior. Todas as vezes que ele abria seus olhos sentia seu peito se apertar com aquela dor que aos poucos se tornava sua companheira fiel. Sua garganta se fechava com um nó incômodo e ele soltava um longo suspiro, reunindo forças para se levantar da cama e iniciar seus dias. Alguns eram um pouco mais fáceis do que outros, mas não eram os mesmos de antes e nunca seriam. Se Amelia era sua paz, sem ela, ele era o caos completo, dominado pela escuridão do luto. Pela ausência sufocante e a ideia agonizante da inexistência.
   não fazia ideia do que estava sonhando, mas sentiu vontade de gritar quando o toque de seu celular o acordou, anunciando que ele recebia uma chamada por ser diferente da música que ele usava como despertador.
  Abriu seus olhos rapidamente, piscando-os e os arregalando para conseguir mantê-los abertos, então pegou o aparelho e imediatamente amarrou a cara ao ler o nome no visor.
  — O que foi, Phillips? — atendeu mal humorado. Ele devia saber que acordá-lo antes da hora combinada era quase uma sentença de morte.
  — Bom dia para você também, . — Riu do outro lado, fazendo com que bufasse, mas logo tentasse se recompor e soar pelo menos educado.
  — Bom dia, Todd. Foi mal. Eu odeio ser acordado, você sabe disso. — Sentou-se na cama, já imaginando que não poderia voltar a dormir.
  — Assim está bem melhor. Nunca esteve nos meus planos ser assassinado via celular. — não achou graça naquele comentário, mas preferiu ignorá-lo.
  — Ao que eu devo a honra da tua ligação, então? — Talvez ele tivesse soado irônico, mas aquela não era mesmo a intenção.
  — Liguei porque você vai ter uma entrevista às nove horas na PostFM, depois disso segue para a reunião do partido. — Ficou surpreso com a primeira informação e verificou o relógio que mostrava ser seis e quarenta da manhã.
  — E por que eu só fiquei sabendo dessa entrevista agora? Todd, já te pedi para me avisar dos meus compromissos com pelo menos um dia de antecedência — reclamou, embora Todd sempre ignorasse aquele pedido. Não era novidade alguma surgirem compromissos de última hora para .
  — Eu sei. Desculpe, mas Italia Whitman vai falar com a GeorgetownFM, não podemos ficar um passo atrás. — Não havia muito o que fazer naquele caso, só lhe restava aceitar.
  — Já falei que você dá mais importância a Italia do que eu, Todd? — Sorriu de canto, por mais que o assessor não pudesse vê-lo.
  — Falou e eu disse que você deveria mudar isso. Você não faz ideia de como a popularidade dela anda crescendo entre os eleitores — Phillips frisou, talvez daquela vez conseguisse fazê-lo enxergar.
  — Mas está certo, Todd. Vou começar a me mexer então. Nos falamos mais tarde. — Imediatamente cortou a conversa e agradeceu aos céus quando desligou o celular.
  Se fosse permitido a ser completamente sincero, sua vontade de vencer aquela eleição havia se esvaído junto com a esposa e ele teria desistido se a voz dela não ecoasse em suas memórias lhe chamando de Senador . Era impossível não sorrir saudoso quando seus pensamentos eram dominados por ela, assim como era inevitável para dar a costumeira encarada no lugar vazio ao seu lado.
  — Ninguém me ensinou a viver sem você, Amelia. Dói a cada segundo — a voz de ecoou de forma rouca. O nó na garganta fez com que o homem fechasse os olhos e respirasse fundo. Não conseguiria voltar a dormir, por mais que pudesse tirar mais alguns minutos para um cochilo.
  Vamos lá, Senador . Você consegue.
  Em uma espécie de delírio, aquele mantra sempre soava no timbre de sua adorada esposa. Era o gás o qual ele necessitava todas as manhãs para que conseguisse sair da cama, mesmo que desejasse se afundar ali, mergulhado em sonhos onde Amelia não havia partido e lhe deixado ali sozinho.
   juntou forças e se levantou da cama, encarando o relógio mais uma vez enquanto resolvia que uma corrida matinal lhe faria bem. Fazia dias que não praticava nenhum esporte, o que não era de seu feitio. Desde jovem, sempre se preocupou muito com seu estado de saúde.
  Caminhou até o banheiro de seu quarto, fazendo uma careta quando notou suas feições no espelho. Parecia que um elefante havia dançado sapateado em seu rosto e sua expressão não era das melhores. Suspirou e abriu um sorriso que lhe pareceu tão forçado que o desfez de imediato. Praticar esportes e tomar uma bela xícara de café talvez levantassem um pouco o seu astral.
  Ou quem sabe a presença jovem da filha de Charles.
  Balançou a cabeça em negação, sem acreditar que havia pensado algo daquele tipo e tentando expulsá-lo enquanto erguia a tampa do vaso sanitário para fazer xixi. Por alguns segundos, o alívio lhe deixou isento de qualquer pensamento que fosse, mas quando ele deu a descarga e voltou à pia, lavando as mãos e aproveitando para passar uma água no rosto, o sorriso da garota apareceu em sua mente, o fazendo querer sorrir também, daquela vez de forma sincera.
   era diferente, não daquele jeito clichê, mas também não saberia dizer o que exatamente saltou tanto aos olhos dele quando se encontraram. Ela era divertida e ao mesmo tempo doce, mas havia algo no olhar da garota que lhe dizia que ela era muito mais. estava curioso para desvendá-la e com certeza adoraria conhecer melhor, sem segundas intenções, embora ela fosse realmente atraente.
  Depois de vestir uma roupa confortável para correr, o homem nem se preocupou em levar o celular porque odiaria ser interrompido em meio aos seus exercícios. Charles o acompanharia por segurança, então era provável que se houvesse qualquer mudança urgente em sua agenda, Todd daria um jeito de contatá-lo.
   seguiu pelo corredor em direção à cozinha, onde tomaria apenas uma xícara de café preto que lhe daria a energia necessária, mas quando estava passando por uma das portas algo lhe captou a atenção.
  — Nerd. Você sabe que inteligência me atrai e citar mitologia grega é golpe baixo.
  O tom da voz soou levemente familiar, o que fez com que parasse e erguesse uma de suas sobrancelhas. A princípio, imaginou que talvez estivesse imaginando coisas, mas logo mais palavras foram ditas e ele soube que não.
  — Algum problema com isso, meu amor?
  Escutar conversas do outro lado de portas entreabertas nunca foi seu costume, porém ao notar a quem a voz pertencia, bem como a nota de provocação, a curiosidade foi mais forte do que . Ele se viu até prendendo um pouco a respiração para que pudesse escutar melhor.
  — Pois então me imagine puxando teus lábios com os meus dentes, Pietro. Meu beijo descer até o teu pescoço e seguir caminho até seus ombros. Gosto do desenho deles, dá vontade de morder também.
  De repente, o rosto dele pegava fogo enquanto suas mãos pareceram suar. Não era certo que deixasse sua mente voar em meio àquelas descrições tão precisas, não se tratavam dele, mas não conseguiu evitar. Por mais que não conseguisse ver , era como se ela estivesse ali, sussurrando em seu ouvido e mordendo os lábios, desejando que ele fizesse aquilo em seu lugar.
  — Merda — murmurou, tentando forçar seus pés a lhe tirarem dali, mas sabia que não queria. Na verdade, nada lhe pareceu tão convidativo quanto a ideia de invadir aquele quarto.
  Como podia se sentir daquele jeito se mal conhecia a garota? Talvez ele apenas estivesse se sentindo sozinho demais.
  — Eu quero você dentro de mim. Me fodendo daquele jeito que só você sabe fazer.
  Soltou o ar pesadamente ao ouvir aquelas palavras. Correr com uma ereção não seria nada divertido.
  Ele só podia estar ficando maluco!
  Negou com a cabeça, tentando expulsar os diversos cenários que vinham aos seus pensamentos e quase não percebeu que estava tão próximo da porta, a ponto de esbarrar no local.
  Ouviu a voz alerta de e seu corpo se retesou. A garota com toda certeza o veria como o um maníaco ou algo do gênero, então, ainda atordoado, praticamente correu pelo corredor, só parando quando estava na cozinha.
  Julieta havia já lhe preparado o café e quando encarou o senhor parado a alguns metros da mesa, sentiu uma dose horrível de culpa lhe dominar.
  Charles havia confiado nele o bastante para trazer a filha para morar consigo e era assim que retribuía. Precisava esfriar a cabeça.
  — Bom dia, Julieta. Bom dia, Charles. Vou fazer uma corrida de uns vinte minutos — anunciou, não parando para se sentar à mesa, como fazia todas as manhãs.
  — Bom dia, senhor . Não vai tomar seu café da manhã? — Julieta questionou com o cenho franzido.
  — Hoje não. Estou com um pouco de pressa. — E seguiu para fora da cozinha, sentindo Charles vir em seu encalço.
  — Está tudo bem, ? — Ouviu-o questionar em tom preocupado.
  — Bem não está, Charlie. Mas vai ficar. — Sorriu fraco na direção do homem. — Preciso só colocar minhas ideias no lugar.
  — Não esqueça que estou aqui para o que precisar. Não só como segurança, mas como um amigo. As coisas não têm sido fáceis para você, não sei como não perdeu a cabeça de vez ainda. — O sentimento de culpa aumentou ao escutar aquilo.
  — Eu agradeço e, sinceramente, nem eu sei como. — Deu de ombros, então começou o alongamento, recebendo um meio sorriso de Charles e o espaço que ele precisava para praticar seus exercícios e organizar a mente.
  Quando se pôs a correr, um turbilhão pareceu anuviá-lo e ele puxou o ar para seus pulmões como se buscasse o fôlego para enfrentar cada um de seus problemas.
  Charles tinha razão, eram muitos acontecimentos para se assimilar. Sua candidatura exigia cada vez mais dele e ele não aguentava mais ouvir o nome Italia Whitman sair dos lábios de Todd, que parecia obcecado pela mulher de um jeito que talvez fosse necessário a ele se queria vencer a eleição. A morte da esposa de parecia um pesadelo sem fim, toda vez que achava estar superando, sofria uma recaída e desabava novamente em amargura. Ele também não via sua irmã caçula há dias, o que só poderia significar que logo a encontraria nas manchetes de revistas, envolvida em mais algum escândalo que faria seu assessor querer arrancar os cabelos.
  Parecia que sossego era um sonho distante, muito fora do alcance do candidato a senador.
  Então se viu mais uma vez lembrando do jeito leve de e do quanto ela sabia sorrir bonito. Com toda a certeza a garota tinha os próprios problemas, mas nenhum deles parecia pesar em seus olhos, como acontecia com . Ela carregava uma luz consigo, uma luz que poderia incendiá-lo a qualquer momento, mesmo que aquela não fosse a intenção da jovem.
  As palavras provocantes povoaram sua mente, algo se agitou mais uma vez dentro dele e uma vontade súbita de voltar para casa para ouvi-la repetir tudo o que dissera tomou conta de si.
   precisava colocar em sua cabeça o quanto pensar em daquela maneira era errado. Ela era muito mais nova do que ele, era filha de seu chefe de segurança e amigo de muitos anos e era comprometida com o rapaz a quem havia dirigido todas as suas provocações.
  Pietro.
  Um garoto de muita sorte, com certeza.
  — , deixe de ser maluco — murmurou, consigo mesmo, decidindo-se a tirar aquilo de vez de sua cabeça.
  Apressou seus passos, colocando mais velocidade em sua corrida e dando um jeito de esvaziar sua mente.

💋

  A tarde estava sendo extremamente agradável para . Depois do café da manhã reforçado, onde ela não sossegou até fazer com que Julieta também fizesse a refeição, a jovem resolveu colocar em prática seu plano de sair para explorar a cidade. Era importante para ela que criasse familiaridade com aquelas ruas, já que não podia e nem queria ficar dependendo de seu pai para levá-la aos lugares.
  Decidiu que primeiro conheceria melhor os arredores do Mount Vernon Cultural District, que era o bairro onde agora morava, e ficou absolutamente encantada com a arquitetura da maioria das residências. Era tudo em um estilo mais colonial, o que tornava a região bastante aconchegante aos seus olhos.
  Havia alguns bares e restaurantes que ela definitivamente gostaria de conhecer e a garota também descobriu que a Universidade de Baltimore não era lá muito distante de onde agora residia.
  Era uma vergonha a garota se mudar para um local e não ter ideia da distância entre sua nova casa e a Universidade, mas gostava de reforçar que tinha coisas demais em sua cabeça.
  De fato, só o estresse de sua mudança e a situação de ter que aguentar a distância entre ela e o namorado já eram o suficiente para justificar sua total falta de atenção.
  Enquanto andava pelas ruas de Baltimore, observando cada uma das casas e tentando gravar em sua memória alguns pontos específicos, sentiu suas bochechas esquentarem.
  Pensar no namorado trazia lembranças do que quase fizeram por chamada de vídeo. A jovem nunca havia feito nada daquele tipo. Sempre foi muito desconfiada quando se tratava de garotos, mas ela sabia de alguma forma que Pietro era diferente, ou pelo menos era nisso que gostaria de acreditar.
  Intrigou-se ao pensar no momento em pensou estar sendo observada e acabou concluindo que não havia de fato ninguém do outro lado da porta. Talvez ela tivesse recebido algum sinal divino de que não deveria se expor para Pietro naquele momento.
  O passeio da garota se estendeu para algumas regiões vizinhas e ela perdeu completamente a noção do tempo quando encontrou um outlet. Precisava mesmo comprar algumas coisas para deixar seu quarto mais “a sua cara” e aproveitaria as economias que juntou para isso.
  Mesmo carregada de sacolas, ela ainda conseguiu fazer uma chamada de vídeo com Brooke, uma de suas únicas amigas que havia deixado em Ohio.
  — To chocada com a quantidade de coisas que você comprou, . Juro! Até parece que não levou nada na mudança — a garota comentou com um tom de brincadeira ao final.
  — Até parece que você é contida quando se trata de compras. — estreitou os olhos para ela.
  — Vamos combinar que não sou contida quando se trata de várias coisas, não é? — Abriu um pequeno sorriso malicioso.
  — Sua safada! Pode me contar quem é o da vez. — se animou, mesmo que Brooke trocasse de “namorado” toda semana.
  — Não tem ninguém, garota. Deixa de ser enxerida!
  — E por que você está sorrindo com essa cara de piranha? Claro que tem, Brooke Mitchell. Pode desembuchar! — Não conseguia acreditar no doce que a outra estava fazendo para contar.
  — A cara de piranha não tem como tirar, ela já faz parte de mim — zombou, fazendo desejar estar perto para estapeá-la. — E eu estou falando pra você que não tem ninguém. Você acha mesmo que eu te esconderia isso? — Ergueu uma sobrancelha para a , que acabou se convencendo.
  — Tudo bem. Se você diz, eu acredito. — se deu por vencida.
  — Mas conta pra mim, como é a casa onde você está? É verdade que está morando com o senador de Maryland? — questionou toda interessada.
  Por alguns segundos, se distraiu ao lembrar da deliciosa figura do dono da casa. Ela se perderia naqueles músculos apertados pela camisa social dele sem nem pensar duas vezes.
  Conseguia até mesmo visualizar os botões saltando para todos os lados quando ela puxasse a peça de roupa daquele corpo.
  — Ele ainda não é senador, Brooke. Mas a casa é incrível, sensacional mesmo — frisou a palavra porque não era bem da casa que ela falava mesmo.
  — Ai que inveja. Me diga que vai me mostrar a casa qualquer dia desses. Melhor, me diga que vai me hospedar! Você precisa de companhia para conhecer todos esses bares. — A empolgação estava presente em cada uma de suas palavras e isso animou a .
  — Claro que vou te hospedar. Quando isso deixou de ser uma opção? — Ergueu uma sobrancelha para a mais nova.
  — Mas, me conta mais uma coisa. Como é esse senador? Eu ouvi dizer que ele é o candidato mais novo ao cargo, é verdade? Ele é bonito?
  Claramente, Brooke estava mais informada do que ela, que viu o homem e achou que fosse empregado da casa.
  — Ele é...
  O celular de apagou de repente e com uma careta de frustração ela constatou que sua bateria havia acabado. Como aquilo havia acontecido se ela tinha quase sessenta por cento no início da ligação?
  Talvez estivesse falando com Brooke por tempo demais.
  Agora estava ali, no meio da rua, sem bateria e sem o GPS.
  Espera, sem o GPS?
  Como voltaria para casa?
  Sentiu-se apavorada de repente e andou alguns passos a esmo, sem ter muita certeza para onde estava indo enquanto tentava se lembrar de alguma coisa.
  O problema era que quando estava nervosa a garota esquecia até mesmo de como respirava.
  Suas mãos começaram a tremer e de repente as casas ao seu redor pareceram grandes demais enquanto ela encolhia, sendo cada vez mais engolida por aquelas construções.
  Sentiu que a qualquer momento desabaria de joelhos no chão e se renderia ao choro.
  — Moça, tá tudo bem? — Uma voz desconhecida, porém gentil, lhe chamou atenção.
  Piscando os olhos algumas vezes, tentando conter as lágrimas que haviam se formado, negou com a cabeça. Não podia mentir que estava bem, não quando precisava de ajuda.
  — E-eu me perdi. Meu celular simplesmente descarregou antes do que eu planejava e eu não conheço nada daqui. Nem sei ao menos onde estou agora — foi sincera, recebendo um sorriso de canto.
  — Você sabe pelo menos onde fica o lugar em que está hospedada?
  A pensou por alguns segundos, buscando em suas memórias o endereço do casarão.
  — Sei — respondeu depois de um tempo, quando finalmente conseguiu se lembrar dessa parte, sentiu-se aliviada no mesmo instante.
  Com a ajuda da gentil desconhecida, conseguiu localizar um metrô e dele seguiria até a estação próxima ao lugar que agora dela chamava de casa.
  — Preste atenção às paradas. Na terceira, você desce, tudo bem? — A garota lhe encarou com uma preocupação genuína.
  — Certo, eu vou lembrar. Muito obrigada. Eu realmente estava desesperada — agradeceu de prontidão, quase abraçando a outra, que fez um gesto de negação.
  — Não se preocupe. Acontece mesmo. Boa sorte.
   se viu como uma mal educada por não ter perguntado nem ao menos o nome de sua salvadora, muito menos lhe disse o seu, mas a só foi se dar conta disso quando já estava dentro do metrô.
  Concentrou-se no fato de que teria que descer dali três paradas e quando desceu sentiu que a sensação de familiaridade com o ambiente quase lhe fazer chorar. Ao menos ali ela conhecia algumas coisas.
  Voltou imediatamente para sua nova casa, se praguejando mentalmente porque já havia anoitecido e isso que ela só tinha planejado dar uma passeio pela manhã e almoçar em casa.
  Passou por alguns empregados no jardim, cumprimentando a todos e já não se sentiu tão perdida dentro da residência em si. Sabia que passando a sala do piano logo ela estaria no andar de seu quarto.
  No entanto, enquanto passava pelo cômodo a mesma silhueta deliciosamente musculosa da noite anterior se encontrava parada diante da janela. Seu olhar parecia completamente perdido no céu noturno e havia um copo de uísque pela metade em sua mão.
  Não sabia se ele gostaria ou não de ter aquele momento de reflexão interrompido, mas de repente não conseguiu se controlar.
  — Tenho a impressão de que esse copo de uísque é um velho conhecido seu e você o vê com bastante frequência — comentou, vendo que o mais velho se sobressaltava ao ouvir sua voz. — Desculpe, senhor , não quis assustá-lo. — Deu um sorriso pequeno e sem graça.
  — — corrigiu a garota enquanto se virava na direção dela.
  Diferente da noite anterior, dessa vez ele vestia uma camiseta polo azul marinha e uma calça jeans de lavagem mais tradicional. Um pouco mais casual e absurdamente gostoso.
  O que eram aqueles braços? Seria muito esquisito se ela de repente apertasse em um deles?
  — Desculpe, . Espero não ter te atrapalhado. Eu estava só passando por aqui e o vi e...
  — Não atrapalhou. Na verdade, estava até me pensando que não a vi durante o dia todo.
  Ele estava pensando nela?
  Precisou se segurar para não fazer nenhuma dancinha da vitória, até porque nem lhe cabia isso. precisava de mais lembretes de que tinha um namorado lhe esperando em Ohio.
  — Eu saí para bater perna por aí e conhecer um pouco a cidade — contou, caminhando para um pouco mais perto de e parando ao seu lado diante da janela.
  — Baltimore não é uma das cidades mais seguras, por mais que tenha uns lugares aconchegantes — ele comentou, largando o copo de uísque na mesinha porque de repente já não sentia mais vontade de bebê-lo.
  , por outro lado, gostaria de tê-lo virado.
  — Confesso que nunca pensei nesse lugar enquanto procurava a universidade que faria, mas estou positivamente surpresa.
  — Isso é ótimo. Muito bom mesmo, . Estou feliz em tê-la por aqui. — A voz de havia soado tão agradável que a jovem não conseguiu não sorrir.
  — Estou feliz em estar aqui também, . Acabei me perdendo nas minhas aventuras de hoje, mas acabou valendo a pena — se referiu ao fato de estar ali conversando com ele naquele momento.
  — Você se perdeu? — Havia gostado e muito de ouvir a última parte, mas preferiu se ater à outra parte da conversa. Ainda não havia conseguido tirar de sua mente a cena de conversando com o namorado então precisava evitar perder todo o seu foco.
  — Sim. Minha bateria simplesmente acabou e eu quase chorei de desespero — confessou, fazendo uma careta e arrancando um breve riso dele.
  — E como conseguiu sair dessa? Da próxima vez, pode levar seu pai com você. Sem problema algum.
  — Encontrei uma garota que foi muito gentil e me ajudou a encontrar um metrô.
  — Isso é o que eu chamo de sorte. — sorriu abertamente e, pelos deuses, o sorriso daquele homem poderia ser facilmente a sua ruína.
  — Nem me fala. Espero que um dia eu a encontre novamente, não peguei nem seu nome e agora estou cansada demais para procurar.
  — Você cansada e eu lhe alugando. Vá descansar, . — Riu um pouco da situação.
  — Não se preocupe. Não está alugando nada. — Fez um gesto de negação.
  — De qualquer forma, eu tenho esse jantar que preciso ir por causa da campanha. Foi bom conversar um pouquinho com você, senhorita . — A voz dele soava mais educada do que parecia. — Boa noite.
  — Boa noite. Eu digo a mesma coisa, senhor... . — Ela sorriu um tanto sem graça ao completar com o nome dele.
   então caminhou tranquilamente até a saída da sala, deixando perdida em seus próprios pensamentos até que lembrou de algo que simplesmente não conseguiria manter somente para si;
  — Apenas um conselho, . — A voz dele fez a garota encará-lo novamente. — Na próxima vez, é melhor conferir se a porta do seu quarto está fechada antes de ter algumas conversas.
  Não sabia por que tinha resolvido falar sobre aquilo, mas o fez e quando se retirou acabou deixando uma com o rosto completamente em chamas e uma vontade de entender o brilho que passou pelos olhos de ao falar sobre o ocorrido.

CONTINUA...



Comentários da autora

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  Beijos e até a próxima!
  Ste.

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