Aliferous
Escrito por Stephanie Pacheco | Instagram | Twitter
Revisado por Natashia Kitamura
Capítulo 02 - Nepenthe
“Algo que lhe faz esquecer o luto ou o sofrimento”.
— Não faço ideia de quem está acordado a essa hora e tenho certeza de que vou acabar me perdendo, mas eu juro que na próxima vez que nos falarmos por vídeo, vou te mostrar a cada inteira, meu amor. É gigantesca e eu só consigo pensar nas pessoas que limpam isso aqui, sério! — soltava toda empolgada em meio a uma conversa com seu namorado por vídeo chamada. — Quer ver o meu quarto?
Antes mesmo de Pietro responder, já estava de pé, caminhando por todo o cômodo.
— Adiantaria eu dizer que não? — ouviu-o responder, então encarou a tela do celular com a testa franzida.
— Você não quer? — Parou de caminhar e talvez ela estivesse agindo com afobação demais diante disso, visto que os dois agora estavam separados por vários quilômetros de distância.
Pietro riu, fazendo com que a garota soltasse a respiração, aliviada. Nem havia percebido que prendia.
— Claro que quero, minha linda. Vai, mostra para mim. Só que eu vou querer toda essa ‘tour’ de novo quando eu estiver aí com você. — Aquela piscadela dele derretia inteirinha e ela abriu um largo sorriso.
— Mas é óbvio que você vai fazer a tour outra vez. Não achei que isso estivesse em discussão. — Riu com ele, então virou a câmera para que pudesse mostrar todos os cantos daquele quarto imenso. — Lógico que ainda falta o toque e eu vou dar um jeitinho nisso assim que sair para comprar algumas coisas, mas enfim... Olha o tamanho dessa cama, Pietro! Acho que eu nunca dormi tão bem em toda a minha vida!
Pietro estava achando uma graça a empolgação da namorada, mas prestava atenção em cada coisa que ela mostrava. Sabia que repararia caso ele não o fizesse.
Ela seguiu da cama para a mesa de estudos, mostrou o closet, o banheiro e a sacada que com certeza seria um dos locais favoritos da garota. Pietro Langdon a conhecia bem demais e ela sempre dizia que queria morar em um lugar com sacada só para poder parar nela e pensar na vida.
Não pôde deixar de pensar, no entanto, que, se ele tivesse conseguido passar na mesma universidade que , ambos agora estariam em um apartamento que alugariam juntos e aí eles teriam também a própria sacada.
Sentia-se péssimo por não ter conseguido e deixado a garota partir sozinha, mas tinha algo que lhe incomodava ainda mais nessa história.
Aquilo tudo estava sendo bom demais para a garota, e se ela não quisesse mais dividir apartamento com ele quando Pietro finalmente conseguisse se mudar para Baltimore?
— Pietro, ainda está aí? — A imagem do rosto de havia voltado à tela e ela acenava com uma das mãos de forma frenética, meio preocupada porque a imagem de Pietro parecia ter congelado. — Será que essa porcaria travou? Droga... Vou desligar e ligar de volta para ver se resolve e...
— Não, . Desculpe, estou aqui — se apressou em dizer, sorrindo da forma menos fraca que conseguiu porque aqueles pensamentos estavam lhe deixando maluco.
— Ah, ótimo. Que susto foi esse? — reclamou dando uma risadinha, mas percebeu que a expressão do namorado não era das melhores e suas feições se distorceram em uma careta. — O que foi, amor? Está tudo bem? — questionou preocupada, fazendo com que Pietro se xingasse mentalmente por não conseguir se controlar.
— Estou sim, relaxa. — Tentou sorrir de novo, mas suspirou em vez disso. — Só estou sentindo sua falta. Sei que é bem cedo ainda para isso, mas...
— Também estou sentindo a sua — ela se atravessou em sua fala e Pietro a encarou nos olhos, mordendo a boca como se estivesse se contendo para não chorar.
— Droga, . Faz menos de vinte e quatro horas que você partiu e eu já estou ficando louco sem você — Pietro confessou. suspirou, então de repente abriu um sorriso esperto.
— Tecnicamente, já passou de vinte e quatro horas. — Ele estreitou os olhos para a garota. — Mas sim, eu também estou. Não imagina o quanto eu queria poder estar aí agarradinha com você. Ou melhor, que você estivesse aqui comigo. Essa cama é grande demais, eu já disse isso?
Pietro abriu um sorriso de canto, ajeitando um pouco a posição em que estava sob a cama do próprio quarto.
— Deve ser bem complicado mesmo dormir com todo esse espaço aí, sem ninguém para você se agarrar.
— Dormir até que não foi tão complicado assim. O problema é ficar acordada nela sozinha. Me parece até um desperdício, se é que me entende. — Sentiu vontade de provocar o namorado com aquilo e ele arqueou uma sobrancelha, umedecendo os lábios, sem nem pensar em recusar entrar naquele jogo com .
— Imagino que com companhia então o espaço fique esquecido no Tártaro — Pietro disse com uma expressão sugestiva capaz de deixar louca.
— Eu já disse que adoro quando você fala desse jeito? — Mordeu o lábio inferior, percebendo que ele havia acompanhando o movimento com seu olhar.
— De que jeito? — perguntou, mesmo já sabendo a resposta.
— Nerd. Você sabe que inteligência me atrai e citar mitologia grega é golpe baixo — queixou-se, mas seu tom de voz era o de quem queria era que ele continuasse.
— Vai falar em golpe baixo enquanto morde o lábio desse jeito, minha linda? — respondeu, acabando por imitar o gesto dela.
— Algum problema com isso, meu amor? — provocou, fazendo-o mais uma vez.
— Para ser sincero, tenho alguns. Quando eu te vejo mordendo os lábios assim, só consigo pensar no quanto eu gostaria de estar fazendo isso e também em como gosto do toque dessa tua boca macia na minha pele. — Talvez devessem parar de se instigar daquele jeito, mas, se ela estivesse gostando tanto quanto ele, qual era realmente o problema?
— Pois então me imagine puxando teus lábios com os meus dentes, Pietro. Meu beijo descer até o teu pescoço e seguir caminho até seus ombros. Gosto do desenho deles, dá vontade de morder também. — Observou o namorado fechar os olhos enquanto falava, tendo certeza de que ele imaginava mesmo cada uma das ações que descrevia. Aquela visão mexia com ela, fazia com que seu corpo inteiro esquentasse e de repente o pijama que ela vestia a incomodava até demais.
— Se você fizer isso, vou querer levar minhas mãos até os teus cabelos, segurá-los entre meus dedos só para poder observar bem de perto o trajeto e te puxar para beijar teus lábios mais uma vez. Apertar tua cintura contra mim daquele jeito que vai te mostrar o quanto você está me deixando doido. — Droga, por que ela tinha começado aquele jogo mesmo? O que ela faria com o incômodo que as palavras de Pietro causavam entre suas pernas?
— Pietro... — deixou escapar em um sussurro.
— O que foi, minha linda? — questionou, sentindo vontade de grunhir com o tom torturado da voz dela.
— Eu quero você — soltou com uma voz chorosa.
— Me quer fazendo o que, ? — provocou e ela gemeu baixinho.
— Eu quero você dentro de mim. Me fodendo daquele jeito que só você sabe fazer.
As palavras dela o atingiram em cheio e se antes Pietro já se sentia excitado, naquele momento sua ereção latejava e não havia o que fazer além do óbvio.
Mas antes que o garoto pudesse guiar a mão para dentro dos shorts, , que estava praticamente deitada, arregalou os olhos e se sentou ereta na cama.
— Droga, ouvi um barulho na porta, Pietro. — Levantou apressada e respirou fundo, abanando o rosto para espantar a expressão de quem estava louca de tesão. — Vou desligar porque pode ser meu pai. Desculpa, eu te amo muito!
Pietro sentiu a frustração vir como uma bofetada em sua cara. Teria que se virar com aquela ereção sem a namorada do outro lado da tela.
— Tudo bem, linda, eu também. A gente se fala! — lhe jogou um beijo e então encerrou a chamada.
— Minha nossa — resmungou baixinho e caminhou até a porta, percebendo que não estava totalmente fechada. Avoada como era, provavelmente nem tinha verificado aquilo antes de ir dormir. Empurrou-a preparada para ver o pai ali e querer se enterrar de vergonha.
Quando deu de cara com o corredor vazio, foi impossível conter o grunhido de frustração.
Provavelmente os passos que ouviu foram coisa de sua cabeça paranoica por estar praticamente transando virtualmente com o namorado em seu primeiro dia naquela casa.
— Eu real vou pirar nesse lugar, pelo jeito. — Voltou a fechar a porta e encarou rapidamente o celular.
Não adiantaria ligar de volta para Pietro, o clima já havia sido quebrado, então apenas lhe restava tomar um banho frio e descer até a cozinha para tomar café. A ideia era a de passar o dia conhecendo a cidade e comprando algumas coisas para seu quarto. Suas aulas começariam apenas na semana seguinte, mas até lá ela já queria estar no mínimo um pouco situada em Baltimore.
— Bom dia! — cumprimentou a mulher de meia idade, que avistou assim que chegou à cozinha. O uniforme dela deixou óbvio que aquela era a Julieta que não tinha encontrado na noite anterior. — Então a senhora é a Julieta! — Sorriu.
— Nada de senhora, menina. Pode me chamar de tudo menos de senhora! — Julieta já lhe repreendeu com um sorriso amistoso. — E você é a . Tão bonita quanto seu pai.
— Julieta então. E onde está meu pai? — perguntou, já gostando da mulher logo de cara simplesmente porque Julieta a olhava de um jeito acolhedor.
— Saiu a pouco com o senhor . Sente-se, vou arrumar o café para você. — Indicou a mesa e fez uma careta.
— Não gosto de tomar café sozinha, Julieta. Sente-se comigo — pediu, fazendo um bico para a mulher.
— Eu já tomei café, menina. Não se preocupe comigo. — Caminhou até a geladeira e foi tirando tudo o que achava que a menina poderia querer comer.
— Vai, eu insisto. — Piscou os cílios de um jeito que fez Julieta rir.
— Tudo bem. Mas só vou me sentar à mesa com você, não vou comer.
— É o bastante. — sorriu satisfeita.
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teve dificuldades para dormir na noite anterior. Na verdade, ele andava com aquele tipo de problema desde que Amelia havia partido. Por mais que tentasse, não conseguia se acostumar com aquele espaço vazio ao seu lado na cama.
Era engraçado porque quando era mais jovem não se imaginava dividindo seu espaço com ninguém e costumava dizer aos quatro ventos que era espaçoso até demais, mas aquilo mudou completamente quando conheceu sua Amelia. É claro que, como em qualquer casamento, as coisas nem sempre eram um mar de rosas, mas a certeza de que ele acordaria no dia seguinte e seus olhos a encontrariam ao seu lado fazia com que ele esquecesse quaisquer que fossem os seus problemas. Amelia lhe trazia paz.
Mas ele não tinha mais a esposa. Seu porto seguro havia partido, levada por um câncer no colo do útero que já estava em um estágio avançado quando diagnosticado. Ela foi forte, lutou até seu último segundo e ficou o tempo todo ao seu lado, mesmo sob protestos dela porque ele tinha uma campanha para cuidar. não quis saber, nada era mais importante do que ela. No entanto, o câncer é uma doença cruel, que se espalha e traz consigo a destruição. Assistir sua amada cada vez mais frágil não foi fácil e ele lutava todos dias para lembrar apenas dos momentos mais bonitos que tiveram juntos. Era isso que Amelia iria querer.
Se dormir era uma tortura para , acordar era infinitamente pior. Todas as vezes que ele abria seus olhos sentia seu peito se apertar com aquela dor que aos poucos se tornava sua companheira fiel. Sua garganta se fechava com um nó incômodo e ele soltava um longo suspiro, reunindo forças para se levantar da cama e iniciar seus dias. Alguns eram um pouco mais fáceis do que outros, mas não eram os mesmos de antes e nunca seriam. Se Amelia era sua paz, sem ela, ele era o caos completo, dominado pela escuridão do luto. Pela ausência sufocante e a ideia agonizante da inexistência.
não fazia ideia do que estava sonhando, mas sentiu vontade de gritar quando o toque de seu celular o acordou, anunciando que ele recebia uma chamada por ser diferente da música que ele usava como despertador.
Abriu seus olhos rapidamente, piscando-os e os arregalando para conseguir mantê-los abertos, então pegou o aparelho e imediatamente amarrou a cara ao ler o nome no visor.
— O que foi, Phillips? — atendeu mal humorado. Ele devia saber que acordá-lo antes da hora combinada era quase uma sentença de morte.
— Bom dia para você também, . — Riu do outro lado, fazendo com que bufasse, mas logo tentasse se recompor e soar pelo menos educado.
— Bom dia, Todd. Foi mal. Eu odeio ser acordado, você sabe disso. — Sentou-se na cama, já imaginando que não poderia voltar a dormir.
— Assim está bem melhor. Nunca esteve nos meus planos ser assassinado via celular. — não achou graça naquele comentário, mas preferiu ignorá-lo.
— Ao que eu devo a honra da tua ligação, então? — Talvez ele tivesse soado irônico, mas aquela não era mesmo a intenção.
— Liguei porque você vai ter uma entrevista às nove horas na PostFM, depois disso segue para a reunião do partido. — Ficou surpreso com a primeira informação e verificou o relógio que mostrava ser seis e quarenta da manhã.
— E por que eu só fiquei sabendo dessa entrevista agora? Todd, já te pedi para me avisar dos meus compromissos com pelo menos um dia de antecedência — reclamou, embora Todd sempre ignorasse aquele pedido. Não era novidade alguma surgirem compromissos de última hora para .
— Eu sei. Desculpe, mas Italia Whitman vai falar com a GeorgetownFM, não podemos ficar um passo atrás. — Não havia muito o que fazer naquele caso, só lhe restava aceitar.
— Já falei que você dá mais importância a Italia do que eu, Todd? — Sorriu de canto, por mais que o assessor não pudesse vê-lo.
— Falou e eu disse que você deveria mudar isso. Você não faz ideia de como a popularidade dela anda crescendo entre os eleitores — Phillips frisou, talvez daquela vez conseguisse fazê-lo enxergar.
— Mas está certo, Todd. Vou começar a me mexer então. Nos falamos mais tarde. — Imediatamente cortou a conversa e agradeceu aos céus quando desligou o celular.
Se fosse permitido a ser completamente sincero, sua vontade de vencer aquela eleição havia se esvaído junto com a esposa e ele teria desistido se a voz dela não ecoasse em suas memórias lhe chamando de Senador . Era impossível não sorrir saudoso quando seus pensamentos eram dominados por ela, assim como era inevitável para dar a costumeira encarada no lugar vazio ao seu lado.
— Ninguém me ensinou a viver sem você, Amelia. Dói a cada segundo — a voz de ecoou de forma rouca. O nó na garganta fez com que o homem fechasse os olhos e respirasse fundo. Não conseguiria voltar a dormir, por mais que pudesse tirar mais alguns minutos para um cochilo.
Vamos lá, Senador . Você consegue.
Em uma espécie de delírio, aquele mantra sempre soava no timbre de sua adorada esposa. Era o gás o qual ele necessitava todas as manhãs para que conseguisse sair da cama, mesmo que desejasse se afundar ali, mergulhado em sonhos onde Amelia não havia partido e lhe deixado ali sozinho.
juntou forças e se levantou da cama, encarando o relógio mais uma vez enquanto resolvia que uma corrida matinal lhe faria bem. Fazia dias que não praticava nenhum esporte, o que não era de seu feitio. Desde jovem, sempre se preocupou muito com seu estado de saúde.
Caminhou até o banheiro de seu quarto, fazendo uma careta quando notou suas feições no espelho. Parecia que um elefante havia dançado sapateado em seu rosto e sua expressão não era das melhores. Suspirou e abriu um sorriso que lhe pareceu tão forçado que o desfez de imediato. Praticar esportes e tomar uma bela xícara de café talvez levantassem um pouco o seu astral.
Ou quem sabe a presença jovem da filha de Charles.
Balançou a cabeça em negação, sem acreditar que havia pensado algo daquele tipo e tentando expulsá-lo enquanto erguia a tampa do vaso sanitário para fazer xixi. Por alguns segundos, o alívio lhe deixou isento de qualquer pensamento que fosse, mas quando ele deu a descarga e voltou à pia, lavando as mãos e aproveitando para passar uma água no rosto, o sorriso da garota apareceu em sua mente, o fazendo querer sorrir também, daquela vez de forma sincera.
era diferente, não daquele jeito clichê, mas também não saberia dizer o que exatamente saltou tanto aos olhos dele quando se encontraram. Ela era divertida e ao mesmo tempo doce, mas havia algo no olhar da garota que lhe dizia que ela era muito mais. estava curioso para desvendá-la e com certeza adoraria conhecer melhor, sem segundas intenções, embora ela fosse realmente atraente.
Depois de vestir uma roupa confortável para correr, o homem nem se preocupou em levar o celular porque odiaria ser interrompido em meio aos seus exercícios. Charles o acompanharia por segurança, então era provável que se houvesse qualquer mudança urgente em sua agenda, Todd daria um jeito de contatá-lo.
seguiu pelo corredor em direção à cozinha, onde tomaria apenas uma xícara de café preto que lhe daria a energia necessária, mas quando estava passando por uma das portas algo lhe captou a atenção.
— Nerd. Você sabe que inteligência me atrai e citar mitologia grega é golpe baixo.
O tom da voz soou levemente familiar, o que fez com que parasse e erguesse uma de suas sobrancelhas. A princípio, imaginou que talvez estivesse imaginando coisas, mas logo mais palavras foram ditas e ele soube que não.
— Algum problema com isso, meu amor?
Escutar conversas do outro lado de portas entreabertas nunca foi seu costume, porém ao notar a quem a voz pertencia, bem como a nota de provocação, a curiosidade foi mais forte do que . Ele se viu até prendendo um pouco a respiração para que pudesse escutar melhor.
— Pois então me imagine puxando teus lábios com os meus dentes, Pietro. Meu beijo descer até o teu pescoço e seguir caminho até seus ombros. Gosto do desenho deles, dá vontade de morder também.
De repente, o rosto dele pegava fogo enquanto suas mãos pareceram suar. Não era certo que deixasse sua mente voar em meio àquelas descrições tão precisas, não se tratavam dele, mas não conseguiu evitar. Por mais que não conseguisse ver , era como se ela estivesse ali, sussurrando em seu ouvido e mordendo os lábios, desejando que ele fizesse aquilo em seu lugar.
— Merda — murmurou, tentando forçar seus pés a lhe tirarem dali, mas sabia que não queria. Na verdade, nada lhe pareceu tão convidativo quanto a ideia de invadir aquele quarto.
Como podia se sentir daquele jeito se mal conhecia a garota? Talvez ele apenas estivesse se sentindo sozinho demais.
— Eu quero você dentro de mim. Me fodendo daquele jeito que só você sabe fazer.
Soltou o ar pesadamente ao ouvir aquelas palavras. Correr com uma ereção não seria nada divertido.
Ele só podia estar ficando maluco!
Negou com a cabeça, tentando expulsar os diversos cenários que vinham aos seus pensamentos e quase não percebeu que estava tão próximo da porta, a ponto de esbarrar no local.
Ouviu a voz alerta de e seu corpo se retesou. A garota com toda certeza o veria como o um maníaco ou algo do gênero, então, ainda atordoado, praticamente correu pelo corredor, só parando quando estava na cozinha.
Julieta havia já lhe preparado o café e quando encarou o senhor parado a alguns metros da mesa, sentiu uma dose horrível de culpa lhe dominar.
Charles havia confiado nele o bastante para trazer a filha para morar consigo e era assim que retribuía. Precisava esfriar a cabeça.
— Bom dia, Julieta. Bom dia, Charles. Vou fazer uma corrida de uns vinte minutos — anunciou, não parando para se sentar à mesa, como fazia todas as manhãs.
— Bom dia, senhor . Não vai tomar seu café da manhã? — Julieta questionou com o cenho franzido.
— Hoje não. Estou com um pouco de pressa. — E seguiu para fora da cozinha, sentindo Charles vir em seu encalço.
— Está tudo bem, ? — Ouviu-o questionar em tom preocupado.
— Bem não está, Charlie. Mas vai ficar. — Sorriu fraco na direção do homem. — Preciso só colocar minhas ideias no lugar.
— Não esqueça que estou aqui para o que precisar. Não só como segurança, mas como um amigo. As coisas não têm sido fáceis para você, não sei como não perdeu a cabeça de vez ainda. — O sentimento de culpa aumentou ao escutar aquilo.
— Eu agradeço e, sinceramente, nem eu sei como. — Deu de ombros, então começou o alongamento, recebendo um meio sorriso de Charles e o espaço que ele precisava para praticar seus exercícios e organizar a mente.
Quando se pôs a correr, um turbilhão pareceu anuviá-lo e ele puxou o ar para seus pulmões como se buscasse o fôlego para enfrentar cada um de seus problemas.
Charles tinha razão, eram muitos acontecimentos para se assimilar. Sua candidatura exigia cada vez mais dele e ele não aguentava mais ouvir o nome Italia Whitman sair dos lábios de Todd, que parecia obcecado pela mulher de um jeito que talvez fosse necessário a ele se queria vencer a eleição. A morte da esposa de parecia um pesadelo sem fim, toda vez que achava estar superando, sofria uma recaída e desabava novamente em amargura. Ele também não via sua irmã caçula há dias, o que só poderia significar que logo a encontraria nas manchetes de revistas, envolvida em mais algum escândalo que faria seu assessor querer arrancar os cabelos.
Parecia que sossego era um sonho distante, muito fora do alcance do candidato a senador.
Então se viu mais uma vez lembrando do jeito leve de e do quanto ela sabia sorrir bonito. Com toda a certeza a garota tinha os próprios problemas, mas nenhum deles parecia pesar em seus olhos, como acontecia com . Ela carregava uma luz consigo, uma luz que poderia incendiá-lo a qualquer momento, mesmo que aquela não fosse a intenção da jovem.
As palavras provocantes povoaram sua mente, algo se agitou mais uma vez dentro dele e uma vontade súbita de voltar para casa para ouvi-la repetir tudo o que dissera tomou conta de si.
precisava colocar em sua cabeça o quanto pensar em daquela maneira era errado. Ela era muito mais nova do que ele, era filha de seu chefe de segurança e amigo de muitos anos e era comprometida com o rapaz a quem havia dirigido todas as suas provocações.
Pietro.
Um garoto de muita sorte, com certeza.
— , deixe de ser maluco — murmurou, consigo mesmo, decidindo-se a tirar aquilo de vez de sua cabeça.
Apressou seus passos, colocando mais velocidade em sua corrida e dando um jeito de esvaziar sua mente.
💋
A tarde estava sendo extremamente agradável para . Depois do café da manhã reforçado, onde ela não sossegou até fazer com que Julieta também fizesse a refeição, a jovem resolveu colocar em prática seu plano de sair para explorar a cidade. Era importante para ela que criasse familiaridade com aquelas ruas, já que não podia e nem queria ficar dependendo de seu pai para levá-la aos lugares.
Decidiu que primeiro conheceria melhor os arredores do Mount Vernon Cultural District, que era o bairro onde agora morava, e ficou absolutamente encantada com a arquitetura da maioria das residências. Era tudo em um estilo mais colonial, o que tornava a região bastante aconchegante aos seus olhos.
Havia alguns bares e restaurantes que ela definitivamente gostaria de conhecer e a garota também descobriu que a Universidade de Baltimore não era lá muito distante de onde agora residia.
Era uma vergonha a garota se mudar para um local e não ter ideia da distância entre sua nova casa e a Universidade, mas gostava de reforçar que tinha coisas demais em sua cabeça.
De fato, só o estresse de sua mudança e a situação de ter que aguentar a distância entre ela e o namorado já eram o suficiente para justificar sua total falta de atenção.
Enquanto andava pelas ruas de Baltimore, observando cada uma das casas e tentando gravar em sua memória alguns pontos específicos, sentiu suas bochechas esquentarem.
Pensar no namorado trazia lembranças do que quase fizeram por chamada de vídeo. A jovem nunca havia feito nada daquele tipo. Sempre foi muito desconfiada quando se tratava de garotos, mas ela sabia de alguma forma que Pietro era diferente, ou pelo menos era nisso que gostaria de acreditar.
Intrigou-se ao pensar no momento em pensou estar sendo observada e acabou concluindo que não havia de fato ninguém do outro lado da porta. Talvez ela tivesse recebido algum sinal divino de que não deveria se expor para Pietro naquele momento.
O passeio da garota se estendeu para algumas regiões vizinhas e ela perdeu completamente a noção do tempo quando encontrou um outlet. Precisava mesmo comprar algumas coisas para deixar seu quarto mais “a sua cara” e aproveitaria as economias que juntou para isso.
Mesmo carregada de sacolas, ela ainda conseguiu fazer uma chamada de vídeo com Brooke, uma de suas únicas amigas que havia deixado em Ohio.
— To chocada com a quantidade de coisas que você comprou, . Juro! Até parece que não levou nada na mudança — a garota comentou com um tom de brincadeira ao final.
— Até parece que você é contida quando se trata de compras. — estreitou os olhos para ela.
— Vamos combinar que não sou contida quando se trata de várias coisas, não é? — Abriu um pequeno sorriso malicioso.
— Sua safada! Pode me contar quem é o da vez. — se animou, mesmo que Brooke trocasse de “namorado” toda semana.
— Não tem ninguém, garota. Deixa de ser enxerida!
— E por que você está sorrindo com essa cara de piranha? Claro que tem, Brooke Mitchell. Pode desembuchar! — Não conseguia acreditar no doce que a outra estava fazendo para contar.
— A cara de piranha não tem como tirar, ela já faz parte de mim — zombou, fazendo desejar estar perto para estapeá-la. — E eu estou falando pra você que não tem ninguém. Você acha mesmo que eu te esconderia isso? — Ergueu uma sobrancelha para a , que acabou se convencendo.
— Tudo bem. Se você diz, eu acredito. — se deu por vencida.
— Mas conta pra mim, como é a casa onde você está? É verdade que está morando com o senador de Maryland? — questionou toda interessada.
Por alguns segundos, se distraiu ao lembrar da deliciosa figura do dono da casa. Ela se perderia naqueles músculos apertados pela camisa social dele sem nem pensar duas vezes.
Conseguia até mesmo visualizar os botões saltando para todos os lados quando ela puxasse a peça de roupa daquele corpo.
— Ele ainda não é senador, Brooke. Mas a casa é incrível, sensacional mesmo — frisou a palavra porque não era bem da casa que ela falava mesmo.
— Ai que inveja. Me diga que vai me mostrar a casa qualquer dia desses. Melhor, me diga que vai me hospedar! Você precisa de companhia para conhecer todos esses bares. — A empolgação estava presente em cada uma de suas palavras e isso animou a .
— Claro que vou te hospedar. Quando isso deixou de ser uma opção? — Ergueu uma sobrancelha para a mais nova.
— Mas, me conta mais uma coisa. Como é esse senador? Eu ouvi dizer que ele é o candidato mais novo ao cargo, é verdade? Ele é bonito?
Claramente, Brooke estava mais informada do que ela, que viu o homem e achou que fosse empregado da casa.
— Ele é...
O celular de apagou de repente e com uma careta de frustração ela constatou que sua bateria havia acabado. Como aquilo havia acontecido se ela tinha quase sessenta por cento no início da ligação?
Talvez estivesse falando com Brooke por tempo demais.
Agora estava ali, no meio da rua, sem bateria e sem o GPS.
Espera, sem o GPS?
Como voltaria para casa?
Sentiu-se apavorada de repente e andou alguns passos a esmo, sem ter muita certeza para onde estava indo enquanto tentava se lembrar de alguma coisa.
O problema era que quando estava nervosa a garota esquecia até mesmo de como respirava.
Suas mãos começaram a tremer e de repente as casas ao seu redor pareceram grandes demais enquanto ela encolhia, sendo cada vez mais engolida por aquelas construções.
Sentiu que a qualquer momento desabaria de joelhos no chão e se renderia ao choro.
— Moça, tá tudo bem? — Uma voz desconhecida, porém gentil, lhe chamou atenção.
Piscando os olhos algumas vezes, tentando conter as lágrimas que haviam se formado, negou com a cabeça. Não podia mentir que estava bem, não quando precisava de ajuda.
— E-eu me perdi. Meu celular simplesmente descarregou antes do que eu planejava e eu não conheço nada daqui. Nem sei ao menos onde estou agora — foi sincera, recebendo um sorriso de canto.
— Você sabe pelo menos onde fica o lugar em que está hospedada?
A pensou por alguns segundos, buscando em suas memórias o endereço do casarão.
— Sei — respondeu depois de um tempo, quando finalmente conseguiu se lembrar dessa parte, sentiu-se aliviada no mesmo instante.
Com a ajuda da gentil desconhecida, conseguiu localizar um metrô e dele seguiria até a estação próxima ao lugar que agora dela chamava de casa.
— Preste atenção às paradas. Na terceira, você desce, tudo bem? — A garota lhe encarou com uma preocupação genuína.
— Certo, eu vou lembrar. Muito obrigada. Eu realmente estava desesperada — agradeceu de prontidão, quase abraçando a outra, que fez um gesto de negação.
— Não se preocupe. Acontece mesmo. Boa sorte.
se viu como uma mal educada por não ter perguntado nem ao menos o nome de sua salvadora, muito menos lhe disse o seu, mas a só foi se dar conta disso quando já estava dentro do metrô.
Concentrou-se no fato de que teria que descer dali três paradas e quando desceu sentiu que a sensação de familiaridade com o ambiente quase lhe fazer chorar. Ao menos ali ela conhecia algumas coisas.
Voltou imediatamente para sua nova casa, se praguejando mentalmente porque já havia anoitecido e isso que ela só tinha planejado dar uma passeio pela manhã e almoçar em casa.
Passou por alguns empregados no jardim, cumprimentando a todos e já não se sentiu tão perdida dentro da residência em si. Sabia que passando a sala do piano logo ela estaria no andar de seu quarto.
No entanto, enquanto passava pelo cômodo a mesma silhueta deliciosamente musculosa da noite anterior se encontrava parada diante da janela. Seu olhar parecia completamente perdido no céu noturno e havia um copo de uísque pela metade em sua mão.
Não sabia se ele gostaria ou não de ter aquele momento de reflexão interrompido, mas de repente não conseguiu se controlar.
— Tenho a impressão de que esse copo de uísque é um velho conhecido seu e você o vê com bastante frequência — comentou, vendo que o mais velho se sobressaltava ao ouvir sua voz. — Desculpe, senhor , não quis assustá-lo. — Deu um sorriso pequeno e sem graça.
— — corrigiu a garota enquanto se virava na direção dela.
Diferente da noite anterior, dessa vez ele vestia uma camiseta polo azul marinha e uma calça jeans de lavagem mais tradicional. Um pouco mais casual e absurdamente gostoso.
O que eram aqueles braços? Seria muito esquisito se ela de repente apertasse em um deles?
— Desculpe, . Espero não ter te atrapalhado. Eu estava só passando por aqui e o vi e...
— Não atrapalhou. Na verdade, estava até me pensando que não a vi durante o dia todo.
Ele estava pensando nela?
Precisou se segurar para não fazer nenhuma dancinha da vitória, até porque nem lhe cabia isso. precisava de mais lembretes de que tinha um namorado lhe esperando em Ohio.
— Eu saí para bater perna por aí e conhecer um pouco a cidade — contou, caminhando para um pouco mais perto de e parando ao seu lado diante da janela.
— Baltimore não é uma das cidades mais seguras, por mais que tenha uns lugares aconchegantes — ele comentou, largando o copo de uísque na mesinha porque de repente já não sentia mais vontade de bebê-lo.
, por outro lado, gostaria de tê-lo virado.
— Confesso que nunca pensei nesse lugar enquanto procurava a universidade que faria, mas estou positivamente surpresa.
— Isso é ótimo. Muito bom mesmo, . Estou feliz em tê-la por aqui. — A voz de havia soado tão agradável que a jovem não conseguiu não sorrir.
— Estou feliz em estar aqui também, . Acabei me perdendo nas minhas aventuras de hoje, mas acabou valendo a pena — se referiu ao fato de estar ali conversando com ele naquele momento.
— Você se perdeu? — Havia gostado e muito de ouvir a última parte, mas preferiu se ater à outra parte da conversa. Ainda não havia conseguido tirar de sua mente a cena de conversando com o namorado então precisava evitar perder todo o seu foco.
— Sim. Minha bateria simplesmente acabou e eu quase chorei de desespero — confessou, fazendo uma careta e arrancando um breve riso dele.
— E como conseguiu sair dessa? Da próxima vez, pode levar seu pai com você. Sem problema algum.
— Encontrei uma garota que foi muito gentil e me ajudou a encontrar um metrô.
— Isso é o que eu chamo de sorte. — sorriu abertamente e, pelos deuses, o sorriso daquele homem poderia ser facilmente a sua ruína.
— Nem me fala. Espero que um dia eu a encontre novamente, não peguei nem seu nome e agora estou cansada demais para procurar.
— Você cansada e eu lhe alugando. Vá descansar, . — Riu um pouco da situação.
— Não se preocupe. Não está alugando nada. — Fez um gesto de negação.
— De qualquer forma, eu tenho esse jantar que preciso ir por causa da campanha. Foi bom conversar um pouquinho com você, senhorita . — A voz dele soava mais educada do que parecia. — Boa noite.
— Boa noite. Eu digo a mesma coisa, senhor... . — Ela sorriu um tanto sem graça ao completar com o nome dele.
então caminhou tranquilamente até a saída da sala, deixando perdida em seus próprios pensamentos até que lembrou de algo que simplesmente não conseguiria manter somente para si;
— Apenas um conselho, . — A voz dele fez a garota encará-lo novamente. — Na próxima vez, é melhor conferir se a porta do seu quarto está fechada antes de ter algumas conversas.
Não sabia por que tinha resolvido falar sobre aquilo, mas o fez e quando se retirou acabou deixando uma com o rosto completamente em chamas e uma vontade de entender o brilho que passou pelos olhos de ao falar sobre o ocorrido.
CONTINUA...
Nota da autora: Se quiserem receber avisos de quando a fic atualizar, bem como spoilers ou informações sobre minhas outras histórias, além de interagir com essa autora meio doida, me sigam no instagram e entrem nos grupos do whatsapp e facebook!
Beijos e até a próxima!
Ste.