Ainda Espero… Resposta
Escrito por Lizandra Antunes | Revisado por Mariana
Minha casa estava uma verdadeira bagunça. Minha irmã, , acabara de se mudar para cá, depois de ter se divorciado do marido que a batia, e trouxe consigo meus sobrinhos. Os dois corriam por todo o apartamento, enquanto minha irmã tentava controla-los, sem muito sucesso.
- , , desse jeito vocês vão destruir a casa da tia !
Eu ri enquanto tirava uma das caixas de dentro do elevador e dispensava o rapazinho que se propôs a me ajudar, entrando em casa em seguida.
- Calma, , não tem problema. Depois a gente arruma tudo, vai ser até divertido.
Eu amava meus sobrinhos e amava ter minha irmã comigo.
- Você é mesmo um anjo, ... – ela passou a mão pelo meu rosto – Não sei o que seria de mim agora que nós só temos uma a outra.
- Irmãs, é isso o que seremos, . Seremos uma família. Agora manda esses meus sobrinhos lavarem as mãos, porque eu vou pôr o almoço na mesa! – ri.
Ela sorriu para mim e eu vi que estava emocionada. teve um casamento horrível e agora estava tentando supera-lo – e eu, sem dúvida, a ajudaria com isso. Ela mandou que e entrassem no banheiro e os dois começaram a disputar o lugar diante da pia. já estava ficando quase de cabelo em pé com os filhos e eu pensava quando ela se acostumaria com a ideia de que crianças são sempre crianças. Quando todos eles finalmente terminaram de lavar as mãos, eu já tinha lavado as minhas e posto a mesa. As crianças invadiram a pequena cozinha da minha, agora nossa, casa e se sentaram com tudo, quase derrubando algumas travessas. Minha irmã brigou com eles e eu nem tirei a razão dela, afinal, não queria ver vidro nem comida espalhados pelo chão, mas não deixei de sorrir, pois não queria que meus sobrinhos me vissem como chata ou qualquer outra coisa do tipo. Bem, acho que, de qualquer forma, não será assim que eles me verão hoje, já que nosso cardápio é pura comida de criança: arroz, feijão, chikenitos e batata frita.
Chegando de noite, convidei para dormir na minha cama, assim poderíamos passar a noite conversando, como fazíamos quando éramos pequenas. Juntávamos nossas camas e formávamos uma só. Dessa vez, as coisas são mais fáceis, pois a minha cama é daquelas enormes e cabem pelo menos três grandes pessoas ali. , meio relutante de deixar os filhos, aceitou meu convite e se deitou ao meu lado. Conversamos por longos minutos, até que, enquanto eu falava, percebi que ela adormeceu. Senti o sono pesar em meus olhos e fui dormir também – o dia seguinte seria de puro trabalho.
•••
Acordei cedo e preparei o café da manhã para todos. acordou logo em seguida e me ajudou com as coisas. e demoraram para levantar, mas, quando notaram o dia lindo que fazia lá fora, pularam da cama e nos atormentaram para que os levássemos à piscina no topo do prédio. Concordamos que, se eles se comportassem até a hora do almoço, os levaríamos lá à tarde, quando o sol forte já tivesse passado. Eles, animados, aceitaram nossa oferta e confesso que pareciam dois anjinhos sentados ao nosso lado na mesa.
Por volta das 15h30, os dois voltaram a nos cobrar nosso acordo e nos lembramos do que havíamos prometido. Convenci a subir com eles, para que eu pudesse ficar ajeitando a casa. Sabendo que eu amava fazer uma boa faxina e que ela não conseguiria mover a mula empacada que sou para longe da vassoura e dos móveis, ela consentiu e foi se trocar. Os dois subiram quase derrubando o elevador e deixando novamente a mãe com os cabelos para o alto, fazendo-me rir. Assim que os três se foram, comecei a organizar as coisas. Limpei os pertences deles e organizei nas minhas prateleiras e armários. O antigo quarto de hóspedes se tornou o quarto dos meus sobrinhos e minha irmã dormiria comigo até que comprássemos uma cama para ela dormir com as crianças, já que era assim que ela queria. Eu ainda tentaria convencê-la a dormir comigo.
Arrumando meu guarda-roupa, achei algumas coisas de escola. Vi cadernos e apostilas, juntamente de estojos e outros materiais escolares. Eu concluíra o Ensino Médio há dois anos e gostava de manter minhas coisas de escola guardadas. Já meio nostálgica, decidi fuçar no que tinha ali e já aproveitar para organizar tudo com as coisas de . Peguei meus cadernos e, enquanto tirava-os do ponto mais alto do guarda-roupa, deixei cair algumas folhas avulsas. Coloquei os cadernos na cama e comecei a ajuntar as folhas do chão.
- Espera aí... – abri as folhas dobradas e me surpreendi. – Meu diário!
Aquelas eram folhas que eu escrevi quando era mocinha, que pertenciam a um antigo diário, já todo descosturado e solto. Ali se encontravam meus poemas, românticos e sonhadores, em sua maioria dedicados a um garoto: . Fui reler aqueles antigos – mas, infelizmente, ainda tão vivos – pensamentos.
Querido diário,
Eu estava voltando para casa depois da aula. A escola foi monótona e nada mais me interessava. Eu o vi conversando com outra menina. É isso mesmo. , o garoto bonzinho que trabalha na loja de discos do tio e que eu sou apaixonada desde a oitava série, estava conversando com outra garota. Você sabe: ele é lindo, com olhos castanhos profundos e misteriosos. Me pergunto se um dia terei a chance de desvendá-los... Bem, eu passei por todos na rua sem ao menos olhar os seus rostos, como eu sempre gosto de fazer, mas hoje, infelizmente, não era um bom dia para observar os outros. Cortei caminho por onde podia para chegar mais rápido em casa. Agora que estamos apenas eu e a , ela não gosta que eu chegue atrasada em casa. Irmão mais velho é fogo... Só que, quando eu cheguei a uma determinada esquina e precisei esperar o farol, que havia acabado de fechar, abrir, me deparei com do outro lado da rua. Ele nem ao menos olhou para mim, afinal, conversamos uma única vez e foi sobre trabalho – ele não tem a obrigação de sequer lembrar o meu nome –, por isso fiquei bem quietinha no meu canto. Afoguei a cabeça nos livros e cadernos, tentando me esconder dele. É, acho que deu certo... Porém, logo vi aquela menina com quem conversava na escola se aproximar dele, trazendo consigo outra garota. Meu coração ficou apertado e eu me senti a maior pata-choca do planeta! As duas eram bonitas e usavam roupas mais curtas e coloridas que a minha, chamando mais a atenção. Elas falaram com ele e ele sorriu para elas. Isso foi o fim. A única coisa que eu conseguia pensar era: “O nome daquela ali que ele conversava deve ser . Sempre as ’s são as malvadas!”, por causa de uma antiga inimiga da , que se chamava assim. Associei. Fiquei observando de longe , a pseudo e a amiguinha dela. Elas mais se mostravam para ele do que conversavam. Ele parecia não dar muita bola para isso, o que me deixou extremamente alegre. O sinal abriu e fomos atravessar a rua. foi na frente e as duas foram em seu encalço, deixando-me ainda mais envergonhada. Dei meus primeiros passos em direção ao outro lado da calçada com a cabeça baixa e abraçada a tudo o que tinha na mão, contudo, minhas coisas foram todas parar no chão, pois esbarrou forte em mim. Assustada, abaixei e tentei ajuntar meus cadernos e apostilas sem que ele visse nada. Eu estava com meus poemas ali no meio, sabia? Mas, na minha confusão, ele pegou justamente os papéis que eu queria esconder. Ele permaneceu ajoelhado em uma perna ao meu lado, ainda na faixa de pedestres, lendo seu nome em alguns dos meus escritos. Meu rosto queimou e eu percebi que ele sorriu. De repente, quebrando qualquer tipo de clima que aquele esbarrão criou, o carro parado pouco distante de nós buzinou e eu me levantei rápido, acompanhada de . Ele sorriu e me entregou minhas folhas, segurando minha mão em seguida. Meu querido e amado diário, o que será que isso quis dizer? Espero ter a resposta em breve!
Bem, até mais. Te vejo quando o me responder algo sobre o que leu. Tchau!
Terminei de ler sorrindo, mas com o coração apertado. era e sempre será meu primeiro verdadeiro amor. Lembrei-me que, depois daquele episódio, ele passou a me dar bom dia quando me via na escola e até saímos juntos certa vez, por causa da prima dele, que era da minha sala e amiga minha, a . Nós fomos tomar milk shake na sorveteria perto da escola e eu sentei sozinha com ele enquanto e mais uma amiga dela e um amigo do faziam nossos pedidos. Nós conversamos um pouco e ele sorria para mim, tão doce, mas nunca mencionando algo sobre o que eu escrevi. Como era um ano mais velho que nós, terminou o Ensino Médio antes e se dedicou integralmente ao trabalho na loja do tio dele, pai de . Quando nós duas terminamos o colégio também, ela e a família se mudaram para outro estado, então perdi contato com eles. foi junto. Ano passado, fiquei sabendo que eles estavam visitando alguns parentes no sul do país, mas nunca cheguei a procurar nada de verdade. Depois daquela leitura, meu coração estava apertado porque, apesar da pouquíssima amizade que eu consegui criar com nos únicos dois anos em que convivemos, ele nunca me disse nada sobre aquilo que sabia que eu sentia por ele.
Meus dias seguiram, tanto que eu nem me lembrava mais dele, mas, ao relembrar aquele amor de colégio – que não está assim tão distante dos meus dezenove anos de existência –, todo aquele sentimento que eu sempre tive por veio à tona. Estava escondido, não morto, então continuava ali o tempo todo, apenas esquecido.
Naquela tarde, terminei de ler todos aqueles papéis antigos – sim, eu li todos eles, pois lembrar de foi algo bom e ruim ao mesmo tempo, e eu sempre “curti” sofrer. Quando , e chegaram da piscina, me encontraram perdida em sonhos e desejos jamais cumpridos. Mostrei para tudo o que eu tinha lido e ela se lembrou de como aqueles foram os melhores – e os mais inseguros – momentos da minha vida. Eu sabia que tinha mudado comigo, tinha passado a me enxergar como algo mais do que simplesmente “a amiguinha da ”, mas ele também nunca me disse nada. Depois desses poucos anos, eu ainda espero uma resposta sobre aqueles versos tão simples e singelos que eu escrevi, que eu sei que ele leu e que nunca comentou. Ele me deixou nessa angústia por alguns meses, fazendo-me superar sua mudança de estado, que depois ajudou-me a leva-lo ao esquecimento.
Eu sempre teria meu amor por no coração, mesmo que adormecido e encoberto pelas mudanças que a vida nos obrigou a passar. Ele foi meu primeiro e único verdadeiro amor. Sei que parece infantil ou mesmo ridículo lembrar dele e me sentir da mesma forma que antes em tão pouco tempo, mas os sábios, aqueles que viveram o amor, saberão me entender e é nisso que eu confio.
Deixei de lado minhas lembranças e voltei a arrumar minhas coisas. Guardei todas elas no mesmo lugar de onde as tirei, tentando, novamente, esquecer aquele sentimento tão puro, mas que me deixou tão confusa. Brinquei com minha irmã e as crianças no restante da noite e, depois de um dia de sol, com direito a piscina e nuvens rondando meus pensamentos, fomos dormir. A vida segue, não?
•••
O dia em que me lembrei daquele garoto que foi tão importante para mim passou, deixando sua marca no meu peito. Mais uma vez, eu estava ansiosa e esperançosa, desejando que um dia eu o pudesse encontrar, para perguntar-lhe o que ele realmente um dia sentiu. Sejam suas palavras aquilo que eu quero ouvir ou não, só tenho um pedido: me dê uma resposta.
FIM
Oi, gente! Como vão? Gostaram? Ficou curtíssima, sem muitas explicações, talvez um pouco sem sentido, mas foi o que eu consegui fazer. Semana de provas e eu havia me esquecido do projeto, então esse foi o melhor que eu pude fazer. Espero que vocês tenham gostado pelo menos um pouquinho!
Mah, espero que você tenha gostado. Ficou super simples, mas foi de coração. A música é linda (profunda, óh...) e eu me apaixonei por ela, mas não consegui fazer nada mais elaborado por causa do tempo. Numa próxima vez, faço algo lindo pra você! Ah! Fiz a fic com o seu nome, só pra você saber. ;3
Enfim, meninas, é isso. Foi pequenininha, mas foi de coração. Meu twitter tá lá em cima e meu email tá na tabela da fic, então, qualquer coisa, é só me procurar. Até mais, fofuchos.