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Quiz #006
// O Tema

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// O Desafio

Verde





A Ilha Invisível II

Escrito por Fe Camilo

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  Rastros eram deixados sobre a terra que cobria o chão enquanto uma criatura deveras interessante e única por ali caminhava. A luz da lua refletindo nas árvores ao seu redor davam-lhe uma aparência esverdeada e brilhante, evidenciando os chifres que saíam no lugar onde deveriam estar suas orelhas. “Era aquilo um homem?”, você se perguntaria caso o olhasse com atenção, reparando nos olhos escuros e profundos, o nariz pontudo, lábios carnudos e até mesmo o tronco que se pareciam exatamente como os de um humano comum. Mas havia mais a encontrar os olhos, havia braços e ombros excessivamente peludos, bem como suas pernas que culminavam em duas patas de bode.
  Não tinha uma aparência simpática - tampouco maldosa - parecia simplesmente impassível e indiferente. Mas naquela noite em específico, quando a lua começava a despontar no céu azul escuro, havia um brilho certamente diferente em seu olhar, como uma criança que finalmente encontra seu brinquedo favorito depois de perdê-lo por tempo incontável.
  O homem – ou criatura – seguiu pela floresta com precisão, sabendo exatamente onde precisava ir. Em poucos minutos ele se encontrava com os pés na areia, os olhos presos na figura pela qual procurava, notando seus cabelos voando ao vento e o corpo encolhido parecendo tremer de nervoso ou medo.
   estava evidentemente preocupada, o tempo parecia passar cada vez mais rápido e a lua já despontava no céu sem qualquer sinal da volta de Amira e . Ela temia que teria de passar a noite por ali completamente sozinha, mas temia ainda mais a possibilidade de que alguma criatura medonha saísse daquelas matas e não houvesse nada que ela pudesse fazer para se defender. Olhou uma vez mais para a imensidão de árvores densas à sua frente como se com a força do pensamento pudesse invocar para protegê-la de qualquer mal que por ali espreitasse.
  A garota não notou a criatura que a observava com atenção e admiração, assim como também não reparou quando ele levou o objeto que carregava consigo aos lábios e iniciou uma linda e encantadora melodia. Somente quando os sons perfeitos e mágicos atingiram seus ouvidos, finalmente se atentou à criatura que caminhava em sua direção. No entanto, apesar da aparência estranha do ser que via, ele não lhe causou medo ou repulsa, tudo que ela foi capaz de sentir foi familiaridade e um senso estranho de pertencimento.
   sentiu seus músculos relaxarem e toda a tensão e preocupação que sentira antes se esvaírem, sua mente estava tranquila e leve como uma pena, tudo que ela podia pensar agora era em esparramar-se sobre a areia macia na qual se sentava e sentir todas as vibrações da terra através desse contato, e foi exatamente o que fez. A areia sujava seus cabelos, mas ela não podia se importar menos. Quando os sons harmoniosos chegaram mais perto, a garota chegou a pensar que era o som mais lindo que já ouvira em toda sua vida, e foi a última coisa que conseguiu pensar antes de fechar seus olhos e cair em um sono profundo.
  Assim que caiu na inconsciência, o som da flauta parou imediatamente. A criatura – ou homem – que já se encontrava ao seu lado ajoelhou-se para tocar-lhe os cabelos com carinho, sentindo a maciez da textura dos fios. Ele se aproximou ainda mais, observando com um misto de admiração e aprovação os traços delicados em seu rosto antes de depositar um beijo em sua testa.
- Bons sonhos, minha pequena criança. – sussurrou com um sorriso antes de voltar a tocar sua flauta, mas dessa vez com uma melodia mais rápida e sinistra.   O ser musical que não era um homem, mas também não chegava a ser uma criatura, acomodou-se na areia preparado para invadir e controlar os sonhos da garota á sua frente.

  


  

   se viu em meio a uma floresta densa, e imediatamente concluiu que havia sido teletransportada da praia para o meio da ilha. Olhando ao redor, não tinha a menor ideia de por onde caminhar se quisesse voltar para a areia onde estivera minutos antes, mas imaginou que também não deveria ser a ideia mais inteligente ficar parada esperando que a solução viesse magicamente do céu.
  Fechando os olhos, a garota se permitiu respirar profundamente para reunir toda a coragem que podia antes de começar a caminhar na direção que parecia indicar alguma luminosidade. Após alguns minutos de caminhada, ouviu o som de passos pesados quebrando alguns galhos pelo chão, e imediatamente tentou se esconder atrás de uma árvore na direção contrária, porém assim que se virou bateu de cara com um peitoral firme como rocha. Levantando os olhos assustados, enxergou o rosto daquele que deveria ter se tornado seu esposo: o Duque.
   sorriu maliciosamente levando a mão ao rosto da garota em uma leve carícia que seguiu até seus lábios.
  - Me parece que terei de ensinar-lhe uma lição, minha pequena. – murmurou , seu olhar mordaz parecendo congelar a espinha de em um arrepio frio. Em pânico, a única coisa que conseguiu fazer foi empurrar o rapaz e iniciar uma corrida desesperada sem se preocupar por onde ia.
  Ela conseguia ouvir os passos a perseguindo e precisou lutar contra o medo paralisante que a fazia pensar em desistir e simplesmente sucumbir às provocações contínuas de seu noivo.
  - Você pode correr, mas não pode se esconder, meu amor. No fim, você será minha.
  Não, ela afirmava para si própria, isso ela jamais poderia permitir. Com determinação redobrada ela correu ainda mais rápido, sentindo alguma distância se criar entre ela e . Ainda assim, a garota continuou a correr como se não houvesse amanhã, tão desesperada para escapar de seu noivo que sequer notou a mudança de cenário. Já não se encontrava mais em uma floresta, agora um campo pastoso com a grama mais verde que ela já vira se estendia a sua frente culminando em um lindo bosque.
  Sem coragem para voltar pelo caminho de onde surgira e ter de encarar o Duque uma vez mais, decidiu seguir bosque acima, esperando que quando chegasse no pico mais alto teria a visão perfeita do local para onde deveria ir. No momento que chegou ao cume do bosque notou um rochedo escarpado, e percebeu que havia alguém ali. Pensou por alguns instantes e estava quase certa de que o melhor era se afastar e procurar por um novo caminho quando a pessoa recostada na pedra se virou e ela pôde encarar aqueles lindos olhos tão familiares.
  - ! – arfou em um misto de surpresa e esperança, correndo para os braços do rapaz. se levantou e enlaçou a sua cintura a recebendo em um abraço forte, suas mãos grandes passeando pelas costas da garota de uma forma que acreditou ser terna – a princípio – mas logo se deu conta de que havia uma intenção além.
   se afastou com as bochechas coradas de vergonha e depositou seus olhos no rapaz, percebendo certa frieza e calculismo no olhar que lhe lembrava daquele de quem acabara de fugir. Preocupada, pensou em dar um passo para trás no mesmo instante em que ele estendeu a mão para segurar seu pulso a forçando a se aproximar novamente. Antes que ela pudesse protestar os lábios de estavam grudados ao seu, sua língua pedindo passagem incisivamente, e assim que o beijo iniciou, já sabia que aquilo estava muito errado, não havia paixão ou carinho nos toques do rapaz, que a segurava como se ela fosse sua propriedade.
  Colocando as mãos sobre o peitoral do rapaz conseguiu empurrá-lo, reparando uma vez mais nos olhos vazios e maliciosos que a encaravam de volta.
  - Quem é você? – perguntou, sabendo que aquele não poderia ser o .
  - Sou eu, milady. – respondeu da mesma forma que o pirata usualmente responderia - com a mesma voz e aparência - deixando ainda mais confusa. Não teve tempo de vociferar sua confusão, pois logo o rapaz a atacava novamente puxando a manga do vestido para desnudar seu ombro enquanto depositava beijos pela região.
  Imediatamente sentiu a mesma repulsa e asco que havia sentido quando estivera na mesma situação a meses atrás nos braços daquele com quem fora forçada a noivar. Determinada, tentou se desvencilhar dos braços de , mas foi impedida pela maneira como ele a segurava. Ela se debateu, pronta para lutar e se livrar das mãos possessivas que a dominavam.
  Porém, o que falhou em perceber era que – com os movimentos constantes para se afugentar do rapaz – seu corpo se movia cada vez mais em direção à ponta do bosque, e quando juntou toda sua força para empurrá-lo mais uma vez, ela acabou cambaleando para trás e sem encontrar apoio para os pés caiu desfiladeiro abaixo.
  A garota ouviu o grito de e estendeu as mãos para ser resgatada, mas já era tarde demais. O corpo caía em uma velocidade inimaginável e por mais que ela se retorcesse não havia onde pudesse se segurar, portanto ela acabou aceitando seu destino, aquele seria seu fim. Porém ao contrário do que imaginou, não foi sobre a terra que ela caiu e sim sobre a água.
  Seu corpo afundou assim que atingiu o lago, e sem saber nadar, ela batia seus pés e braços desesperadamente tentando encontrar uma forma de levar seu corpo para a superfície. A garota tentou e tentou sem qualquer sucesso encontrar uma forma de se salvar, mas quando a dor em seu pulmão sem ar se tornou cada vez mais forte, seu corpo entendeu que toda aquela luta era em vão.
  A água já adentrava seu corpo sem qualquer restrição e a sensação de queimação no nariz, garganta e pulmão era quase insuportável. pedia aos céus que ao menos acabassem com aquela tortura de uma vez para que ela não precisasse sofrer tanto, mas a resposta à sua prece veio na forma de mãos fortes que a puxaram consigo, a levando para fora do lago.
  Ela reconheceu através de seus olhos semicerrados a figura de Amira, mas não conseguiu reunir forças para agradecer a garota. Pôde perceber a preocupação na voz que lhe fazia perguntas as quais ela não conseguia compreender, ainda sentia como se estivesse sob a água e os sons pareciam estar distantes. Notou os lábios de Amira sobre os seus e sentiu uma tensão crescente no peito, imaginando se ela agiria como há alguns minutos. Se o fizesse, ela sabia que não teria força alguma para impedi-la.
  No entanto, Amira parecia simplesmente querer ajudá-la, levando as mãos ao seu peito em uma pressão firme e um tanto dolorosa antes de voltar a tocar seus lábios em um sopro. então percebeu a boa intenção da amiga e tentou sorrir em agradecimento ao notar que se sentia um pouco menos próxima da morte a cada minuto que passava.
  Em algum momento deveria ter perdido a consciência, pois quando conseguiu abrir os olhos grandes e belos como de uma boneca logo percebeu a feição cansada e preocupada de Amira sobre si. Não era possível identificar quem iniciou o ato, mas logo ambas se abraçavam em prantos, gratas pela vida da garota. Elas pareciam embaladas em sua própria melodia quando notaram os sons estranhos se aproximando.
   virou para o lado esquerdo e imediatamente reconheceu se aproximando com um sorriso maldoso enquanto empunhava sua espada. Em seguida, do lado direito ela notou se aproximando com o mesmo olhar vazio e mordaz que vira mais cedo.
  - Eu te disse pequena, você pode correr, mas não se esconder. – o Duque caçoou – E olha só, ainda terei o bônus de acabar com esse patife que ousou te roubar.
  - Camarada, acho que todos concordamos que já passou da hora de aceitar que ela simplesmente te deixou. – zombou de volta com um sorriso de escárnio e empunhando também sua espada.
  - Merda. , fique aqui que vou ajeitar as coisas. – Amira sussurrou no ouvido da garota antes de se levantar e empunhar sua espada também. – Sinto muito, rapazes, mas a donzela em questão não deseja a atenção de nenhum dos dois.
   não podia acreditar no que estava acontecendo em frente aos seus olhos. As provocações logo se tornaram um embate feroz de espadas e nenhum dos três parecia disposto a desistir parecendo completamente obcecados em provar seu mérito. Em uma das investidas de sobre Amira, a espada da garota voou na direção de quase a acertando, e foi nesse momento que ela percebeu que logo se tornaria efeito colateral.
  Reunindo coragem e forças depois de quase morrer por duas vezes naquela noite, a garota se arrastou pela grama na direção oposta a que os rapazes haviam chegado, contornando o lago no qual caíra. Ela ainda podia ouvir os grunhidos, provocações e o som cortante de quando as espadas se cruzavam com força, mas nenhum deles pareceu notar sua falta. Assim que estava distante o suficiente para não ser vista, se levantou e voltou a correr desesperadamente mesmo sem saber para onde ia.   Após correr até que suas pernas se cansassem a garota se permitiu recostar em uma árvore para descansar por alguns segundos, embora mantendo os olhos e ouvidos atentos ao seu redor. Não se passou sequer um minuto quando começou a ouvir a voz feminina que cantava uma melodia familiar.
  A primeira reação de foi de claramente ignorar o que quer que fosse o som que parecia convidá-la, porém quanto mais tempo se passava mais a melodia parecia impregnar em seu cérebro a obrigando a entendê-la. Como se suas pernas tivessem vida própria ela passou a caminhar na direção de onde vinha o som lindo e etéreo.
  Alguns minutos depois ela se encontrava em frente à uma pequena gruta - na qual entrou sem pensar duas vezes – logo se deparando com uma enorme árvore com folhas verdes e cintilantes, era de lá que a melodia parecia sair. se aproximou e tocou no tronco da magnífica árvore, uma lembrança de repente surgindo de seu inconsciente: a melodia pertencia à uma canção de ninar que sua mãe cantava quando era um bebê.

Bebezinho na casa escura
Você viu o sol nascer
Por que você está chorando?
Por que você está gritando?

Você perturbou o deus da casa
“Quem me perturbou?” diz o deus
É o bebê que te perturbou
“Quem me assustou?” diz o deus

O bebê te perturbou
O bebê te assustou
Fazendo barulhos como um chocalho
Quem não consegue ficar parado
Ele perturbou seu sono
"Chame o bebê agora", diz o deus da casa

  Enquanto ouvia a melodia e se lembrava da letra passou a cantar a canção perfeitamente exatamente como se lembrava na linda voz de sua mãe. Sua voz ecoou pela gruta e as folhas da árvore pareceram cintilar ainda mais brilhantes. Quando ela chegou ao fim do último verso seu corpo pesou terrivelmente e ela caiu sobre as raízes da árvore em um sono profundo.

  


A criatura que observava a garota dormir finalmente parou de tocar sua flauta, sorrindo com o resultado obtido pela garota. Ele aguardou mais alguns minutos para se certificar de que ela estava bem e colocou o prêmio merecido - uma pequena caixa entalhada - próximo da garota antes de se afastar e desaparecer se camuflando no verde da floresta.
  Quando abriu seus olhos pela manhã, a primeira coisa que notou foi a ausência de e Amira, os quais ainda não haviam voltado de sua busca pela ilha mesmo após tanto tempo. Em seguida, percebeu que tudo que vivenciara fora apenas um sonho, o que lhe causou imenso alívio. No entanto, logo notou a pequena caixa próxima de seus pés e a pegou com curiosidade ao perceber que aquele item não estivera ali quando chegaram na ilha.
   tocou com curiosidade o objeto tentando analisar todos os seus lados sem conseguir compreender as letras entalhadas na madeira até perceber que havia um pequeno fecho, o abrindo e ouvindo a canção que seria entoada repetidamente:

Minha bela filha, siga o seu próprio som
Estarei aqui sempre que precisar de mim
Basta ouvir a voz do seu coração.

A garota não conseguia compreender exatamente o que era o objeto, mas percebeu que havia um segundo compartimento o qual não conseguia abrir. Ao mexer a caixa ela ouviu o som de um pequeno objeto se mexendo ali dentro, portanto aquilo que parecia ser um presente deveria significar algo mais do que podia ver. “Teria a ver com o sonho?”, se perguntou sem encontrar qualquer resposta concreta. Relembrou a canção que se repetia sempre que retirava a tampa da caixa e concluiu que talvez ainda não fosse o momento certo.
Ouviu os passos se aproximando e o chamado de quando a viu sentada sobre a areia e decidiu guardar a pequena caixa no bolso da calça que vestia, decidindo que – por ora – aquele seria seu pequeno segredo.

FIM