A Ilha Invisível
Escrito por Fe Camilo
A ilha invisível - como era chamada pelos piratas - não existia em lugar algum e ao mesmo tempo em todos os lugares. As diversas lendas que contavam sobre essa ilha, divergiam sobre sua localização exata, como se houvessem réplicas de um mesmo lugar, ou como se ela mudasse de localização.
Há séculos atrás, quando a magia era predominante por todo o mundo, muitos viajantes foram atraídos pela ilha, porém com a magia sendo confinada a alguns poucos reinos, os poucos que chegavam à ilha, nem sempre de lá saíam.
Mas o que há de tão especial nessa ilha? Talvez você se pergunte. E eu lhe responderei que tudo é especial nessa ilha, desde as pequenas e raras plantas mágicas que são capazes de curar qualquer doença, até os cavalos alados que só aparecem para aqueles de nobre coração, com bravura o suficiente para montá-los.
Se quer saber, talvez, o elemento mais intrigante na ilha sejam as travessas, belas e deliciosamente maliciosas ninfas. As ninfas – supostamente - protegem o que há de mais precioso e poderoso na ilha, e para tanto, encontram maneiras criativas de torturar os viajantes que por ali se perdem.
Porém nessa história seguiremos uma ninfa em questão: Odeia. Uma ninfa de cabelos ruivos e encaracolados tão longos que chegavam aos seus calcanhares, com olhos grandes da cor das amêndoas, e um rosto tão sereno e afável que jamais poderiam supô-la com a mente ligeiramente diabólica que possuía.
Odeia era a líder de um pequeno grupo de ninfas, e como líder era responsável por arquitetar os planos maquiavélicos personalizados de cada um de seus viajantes, tarefa que sempre fizera com maestria, embora estivesse cada vez mais cansada da mesmice de sua rotina.
A ninfa já havia ouvido sobre a tripulação de marinheiros que acompanhavam um homem nobre chegando na ilha em um gigante navio flutuante, e embora não fosse designada a cuidar desses visitantes, a curiosidade em ver um navio flutuante pela primeira vez era maior do que poderia resistir.
Quando Odeia pousou os pés sobre o casco do que parecia uma mistura de navio com balão, um sorriso largo e repleto de empolgação dominou seu rosto. Explorou cada pedaço do navio, desde o leme onde poderia comandar aquela obra prima feita pelos homens, como os pequenos camarotes onde ficava a tripulação. E observou com atenção especial a câmara do capitão, o nobre que aparentemente era um Duque de uma região distante.
Encantou-se com cada detalhe de sua alcova: os móveis de mogno, a cama confortável na qual se deitou, tentada a repousar ali por horas a fio, e o retrato de uma moça absolutamente linda de cabelos castanhos encaracolados e volumosos. Tinha o retrato em mãos quando ouviu o chamado da ilha - haviam novos viajantes - o que significava mais trabalho a fazer.
Odeia se transmutou para sua forma original, seu corpo alto e curvilíneo se tornando pequenino com asas brilhantes e coloridas protuberando de suas costas, o seu modo preferido e mais rápido de viajar. Em poucos minutos estava nas margens da ilha, observando os viajantes e reconhecendo - de imediato - a bela garota que há pouco vira retratada no dormitório do Duque. Sorrindo maliciosamente, observou enquanto uma mulher tão linda quanto a primeira se aproximava dela com dificuldade, um semblante preocupado em seu rosto.
- , você está bem? - perguntou entre tosses, tentando estabilizar sua respiração.
- Sim, você? - perguntou , pegando o rosto da mais velha entre suas mãos, buscando atentamente por qualquer sinal de que esta não se sentia bem.
- Sim, só preciso tomar um pouco de ar. - disse tombando na areia branca da ilha.
- !!! - a ninfa virou-se observando o que só podia ser um pirata correndo na direção das duas mulheres, deixando Odeia intrigada com a situação que se debruçava à sua frente. O pirata se aproximou da bela moça a tomando em seus braços em um abraço apertado e aliviado.
Hum. Interessante. Pensou Odeia, notando a irritação da mulher tombada ao chão, a qual estranhamente se parecia muito com o pirata.
- Eu estou bem, acho que Amira está ferida. - disse , parecendo um tanto desconfortável com a situação, enquanto se desvencilhava do pirata e se ajoelhava junto a mulher chamada Amira.
E foi observando essa situação que Odeia teve uma ideia que lhe pareceu uma das melhores que já tivera. Batendo suas minúsculas palmas três vezes, logo estava junto de suas amigas, e com um sorriso maquiavélico disse ao grupo que liderava:
- Meninas, temos trabalho a fazer. E tive uma ideia super divertida!
As ninfas entreolharam-se curiosas, elas tinham um ótimo faro para entender os humanos com apenas uma análise, mas ainda não tiveram a oportunidade de ver os novos viajantes. Por certo que confiavam em sua líder sem qualquer sombra de dúvida, e por isso logo sorriam também com malícia, ouvindo os planos de sua líder enquanto deixavam que esta fizesse as devidas transformações em seus corpos.
Um fato curioso que nem todos sabem é que as ninfas possuem a habilidade perigosa de assumir a forma que quiserem, podendo - inclusive - imitar a aparência de humanos. Odeia observou as quatro ninfas à sua frente transmutadas nas belas figuras que vira na areia, e com um aceno de aprovação, ordenou que assumissem suas posições, batendo as palmas novamente e se encontrando sobre os viajantes que se encontravam alheios ao que estava prestes a acontecer.
- Acho que devemos explorar a ilha e tentar encontrar algo que possa nos ajudar a sair daqui. - Dizia o pirata convicto.
- Concordo. - A mulher chamada Amira respondeu, já de pé e parecendo muito melhor do que quando chegara. - Mas alguém precisa ficar e cuidar do baú, não podemos sair o arrastando por aí.
Odeia então notou do que a mulher falava, pois muito próximo dos três havia um baú trancado, o qual a ninfa logo percebeu ser mágico.
- Eu fico. - A voz suave de se manifestou. - Vocês dois tem muito mais habilidade para explorar e encontrar algo útil do que eu. - Complementou a garota ao notar a expressão de desagrado de ambos - Eu posso ficar aqui com o baú.
Os outros dois pareceram pensativos por alguns minutos antes de se resignarem.
- Tudo bem. Amira, você pode ir na direção esquerda e eu vou na direita. Precisamos estar de volta antes do pôr do sol para que não fique sozinha no escuro. - Comandou o pirata, sua voz não dando o menor espaço para argumentos.
Amira pareceu irritada com o tom de comando do rapaz, mas assentiu, se aproximando de e lhe dando um beijo no rosto, estranhamente próximo de seus lábios.
- Se cuide, eu volto logo.
O pirata revirou os olhos para a atitude da mulher que já se distanciava na direção esquerda da ilha, se emhando pelas árvores adentro. Ele também se aproximou da garota que corava fortemente depois da saída de Amira, mas diferente dela, o pirata segurou o queixo de na ponta dos dedos, a levando a mergulhar em seus olhos azuis. Como de costume, seus olhos deixaram a mais nova paralisada em encanto, e logo em seguida seus lábios selaram aos dela em um beijo rápido, mas repleto de sentimentos.
- Tome cuidado, . Não tenho intenção de te perder de novo.
A mais nova engoliu em seco, atordoada pelo beijo e sem saber o que dizer. Odeia sorriu ao notar que seu plano logo entraria em ação e tinha tudo para dar certo.
- ! - a garota gritou quando o pirata estava prestes a entrar na floresta densa à sua direita. - Se cuide também.
O pirata sorriu acenando em despedida e entrando floresta adentro. Odeia observou a garota que se sentava ao lado do baú por uma última vez antes de seguir voando atrás do pirata. A diversão estava prestes a começar.
FIM
Nota da Autora: Olá querides! ^^
Sim, finalizei esse spin-off com um gostinho de quero mais, porque ele tem a pretensão de apresentar essa personagem maravilhosa que é a Odeia e fará parte do universo de Staring at the Sunset, além de dar um sneak peek da continuação dessa história, que se chamará Staring at the Sunrise, e será lançada logo, então fiquem atentes. <3