A Futilidade Mais Desgastante
Escrito por Jessie | Revisado por Mariana
Olho para baixo. Uau. Bem alto aqui. E se alguém cair? Em que parque estou mesmo? Não sei, algum desses que famílias acampam no oeste dos Estados Unidos. Mas esse tem penhascos enormes. Me afastei um pouco da minha família, queria um pouco de paz para refletir, por isso viemos para cá. As memórias passam em minha mente assim que sento, as pernas pendiam sobre o penhasco. Algumas pessoas gostam disso, e relembram momentos felizes. Queria ser assim também.
Anos antes:
- Acha que consigo? - pergunto a , que anda a meu lado no corredor. Ele me encara enquanto observo , o popular da turma, porque não, da escola.
- O quê? - ele segue me olhar - Não acredito que quer chamá-lo para sair de novo.
- Sim, . Sinto que nascemos para ficar juntos. E não desistirei. - o deixo quando fica sozinho. Ele tira os cabelos castanhos do rosto com a mão esquerda antes de me ver. Sorrio assim que me reparo a metros de distância. Um sorriso talvez desajeitado. Quero chamá-lo, falar com ele. Me aproximo mais, procurando uma distância boa para uma conversa.
Mas minha distração venceu.
A primeira pessoa que passa, assim que seu pé fica para trás na caminhada pelo corredor, se esbarra com o meu, e só reparo nisso quando estou caída no chão. Meus livros espalhados, e meus óculos jogados. Estava demorando...
- Ih, se não é a inútil. Se eu fosse você, ficava em casa, assim é melhor para o mundo. - disse . Não entendo por que me trata assim. Mas eu gosto dele. Muito. O perdoo por isso todos os dias.
Um pouco para o futuro:
É aula de artes. Começamos desenhando, e depois pintaríamos as telas. Para começar, fiquei quase a aula toda tentando fazer um dos traços do modelo a minha frente. A tela ficou toda manchada e borrada, por causa dos apagões e traços cada vez mais fortes. se ofereceu para ajudar, trocamos de tela, ele terminaria o desenho e eu pintaria. Deu errado de novo. Usei a cor errada, e por pura falta de raciocínio, passei uma outra por cima com a anterior ainda molhada. Acabou que meu trabalho ficou novamente borrado em cores e um toque de água.
Agora no presente:
Olho para baixo de novo. Pensando nisso tudo, me pergunto por que nasci tão inútil. Não sirvo para trabalhos manuais. Desastrada o suficiente para dar tudo errado em exercício físico. E ainda quase reprovo em todos os anos. Começo a imaginar um mundo sem : Meus pais teriam meu irmão, e quem sabe não teriam outra filha. não sentiria sua falta, provavelmente, arrumaria amigos, e teria uma namorada que a merecesse. Era só isso?
Olho uma terceira vez. Lágrimas grossas e salgadas deslizam por meu rosto, sorrio quando penso que faria a vida de todos melhor apenas extinguindo minha existência. Me levanto, alimentando a hipótese de cair daquele penhasco. Enxugo as lágrimas, e olho uma quarta vez, analisando o local que eu morreria. Por que eu sou tão inútil? Eu não sirvo de nada para esse mundo! Se pudesse voltar no passado, faria tudo de novo. De modo diferente. Ouço alguns gritos, devem ser animais ao longe. Quando curvo meu corpo, vejo de onde vêm os gritos. vem correndo em minha direção. Como ele chegou aqui?
- ! Não! , eu te amo!
Lágrimas vêm de novo. Ele tenta segurar minha mão, mas já caí o suficiente para declarar minha morte. Desculpe, , por não perceber o que eu mesma sentia. Desculpe, papai, desculpe, mamãe, desculpe, irmãozinho. Estou partindo. Meus cabelos loiros tomam minha visão. Aumento a velocidade a cada metro já caído. Meu coração bombeia o sangue agitadamente enquanto o ar parecia não querer entrar em meus pulmões. Uma batida. Acabou.
~
- Quanta gente. - comento ao ver a cena do meu velório. Realmente, parentes de lugares distantes, e que eu não lembrava estavam ali.
Minha mãe era a pior. Chorou o equivalente ao rio que eu caíra, quem sabe mais, e não apareceu depois que o caixão foi fechado para ser enterrado. estava lá, deprimido em um banco de madeira. Usava um terno preto, que davam contraste a seus olhos verdes. Segurava um colar que eu costumava usar, com um coração como pingente.
- Vamos, ? - pergunta o anjo que me acompanhara até ali. - Já deve estar na hora.
- Claro. Por acaso, já posso mandar uma mensagem? - ele assentiu, e logo que largou o colar de lado para chorar, escrevi um recado em um papel, e o preguei a corrente. Não fiquei muito tempo para ver sua reação, mas espero que tenha sido boa.
"Não se preocupe, estou bem. A propósito, eu também te amo. "
FIM

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