After That Night

Escrito por Carol V. | Revisado por Francielle

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Prólogo - Noite Especial

  December 11; 2010 - Saturday

  Os lábios dele tocavam os meus com ferocidade e urgência, e isso me deixava cada vez mais desconfortável com a situação. O garoto bateu a porta atrás de nós dois e ainda me beijando, guiou meu corpo até minha cama, jogando-me sobre a mesma sem a miníma delicadeza. Ele aproximou seu corpo quente do meu novamente, por cima de mim, enquanto me beijava. Eu queria poder parar com aquilo. Não era pra ser assim. Na droga de uma festa idiota de fim de semana, totalmente bêbada e sem consciência nenhuma do que eu fazia. Mas e que escolha eu tinha? Eu estava completamente fora de mim. A bebida consumia meu cérebro, minha cabeça e principalmente meu corpo. Por um breve momento, pude escutar meu cérebro lembrando-me de meu juramento á mim mesma. Parei o beijo e olhei em seus olhos.
  - Isso tem que ser especial! - falei totalmente embriagada, soluçando no meio da frase e pondo meu dedo sobre seus lábios. Ele riu, tirou minha mão de seu rosto e juntou nossos lábios em outro beijo nada romântico.
  - Pode deixar comigo, você nunca vai esquecer essa noite. - ele disse enquanto depositava beijos em meu pescoço.
  - Você promete? - perguntei ainda deitada, encarando o teto enquanto ele tentava abrir o fecho de meu vestido.
  - Sim, eu prometo! - ele disse mais uma vez antes de deitar-se sobre mim novamente depositando mais beijos em meu pescoço.
  E de fato, ele prometeu uma noite inesquecível, e ela foi. Nada romântica, nada carinhosa, nada especial. Mas inesquecível.

  Quando minhas pálpebras de abriram, a única coisa que me cobria era um lençol fino de ceda, virei-me para o lado e fechei os olhos enquanto soltava um suspiro de decepção. Sentei-me na cama, carregando o lençol comigo. Encarei o quarto inteiro, meu vestido da noite anterior estava jogado em um canto qualquer do quarto, minha lingerie em outro. Estava tudo ali, menos ele. Bom, e o meu orgulho, que ele também teria levado. Apertei os olhos e abracei meus joelhos. Eu me sentia tão idiota. Não simplesmente por ter ido para cama com ele, mas por ter caído em seu jogo. Ele me induziu a beber, até que eu perdesse totalmente o sentido, e eu nem ao menos notei seu plano. Me senti ainda mais idiota ao lembrar que nem sequer sabia seu nome. Senti uma lágrima escorrendo por meu globo ocular direito. Sequei-a rapidamente. Ergui-me da cama e caminhei até o meu closet. Peguei um short branco velho e uma blusa azul com um pequeno coelho desenhado no centro dela. Vesti os mesmos e pus uma pantufa. Sai do pequeno e apertado closet e andei até a porta, estava destrancada. Ao encarar o corredor, as lembranças ruins invadiram minha mente. Fechei os olhos e me contive. Não ia chorar. Não pelo cara que provavelmente agora estaria rindo. Balancei a cabeça para afastar os pensamentos e comecei a descer a escada. O estado de minha casa era deplorável. Agradeci a Deus por minha empregada existir. Claro que eu sentia dó de Dorothy, e ia ajudá-la com a bagunça. Mas só de pensar em ter que fazer tudo sozinha, tinha arrepios.
  Ao analisar a sala, caminhei até o sofá, onde encontrei Allyson jogada sobre o mesmo. Sentei-me na beirada, ao seu lado, e a balancei com cuidado. Ato que fez a garota com cabelos preto-azulado saltar. Ela encarou a sala inteira com uma expressão confusa. Apoiei meus cotovelos no joelho e meu rosto sobre as mãos.
  - Meu Deus, eu não me lembro de absolutamente nada do que fiz ontem a noite. - ela disse pondo a mão esquerda sobre a testa.
  - Quem me dera ter esta mesma sorte. - respondi encarando meus pés enquanto brincava com eles.
  - Nossa! Sua noite foi assim, tão péssima? - ela perguntou pondo a mão sobre meu ombro. Suspirei encarando o nada.
  - Minha manhã. - respondi tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair, mas foi inútil, quando me dei por conta, meus olhos já ardiam. - Acordar sozinha em uma cama e lembrar que você fez a maior besteira de toda sua vida não é exatamente o meu senso de um bom dia. - disse com a voz já manhosa por conta do choro.
  Allyson abriu a boca para contestar mas fechou a mesma. Passei a mão sobre o rosto, tentando secá-lo. Mas no momento em que Allyson me abraçou, parei de lutar e me rendi as lágrimas.
  - Pode me dizer, quem foi o desgraçado? - ela perguntou soltando-me e me olhando nos olhos. Ela estava com raiva, quase tanto quanto eu.
  - Eu não sei, Ally! - respondi balançando a cabeça negativamente, já querendo me espancar. - Eu não sei quem ele era, não o conhecia. Nem ao menos sei seu nome.
  Ela me olhou com dó ao ver minhas lágrimas. Mordi o lábio tentando conte-las, mais uma vez inutilmente. Ela não disse mais nada, e somente me abraçou.
  - Eu estou do seu lado, pequena! - ela cochichou em meu ouvido. - Vou estar sempre do seu lado, !

Capítulo 1 - Ele De Novo

  December 15; 2014 - Sunday

  - E cá estamos nós. Se acomodem e sintam-se em casa, meninas. - Lia dizia enquanto adentrávamos a casa.
  - Wow! - disse notando a decoração ultra-mente detalhada de natal. - Isso é realmente lindo!
  - tem razão! - Allyson concordou comigo largando as malas no meio da sala e andando até a árvore branca com decorações em cores azuis que ocupava o canto da sala. - Essa árvore é fantástica!
  - É, eu e passamos a semana inteira montando a casa com a decoração. - Lia disse andando até o sofá em passos lentos.
  - Por falar no , onde está seu irmão? - Ally perguntou se jogando sobre o sofá.
  - Ele está lá em cima. Passou a tarde trancado no quarto. - Lia disse jogando os cachos morenos definidos para trás após tirar o cachecol. A menina dos olhos castanhos largou o cachecol sobre o sofá e andou até a escada. Ela subiu dois degraus e gritou, chamando por seu irmão. - ! VENHA CUMPRIMENTAR AS MENINAS!
  Enquanto aguardávamos, fui até a árvore e fiquei brincando com os pequenos bonequinhos do Papai Noel, que ficavam presos á árvore de Natal. Sorri idiotamente para árvore. Eu adorava essa época do ano, em minha opinião, era a mais bonita. Tanto aqui quanto no Canadá. Virei meu corpo noventa graus e encarei a janela a minha frente. Afastei a cortina com delicadeza e observei a rua. Sorri com a visão, a neve cobria a calçada como um cobertor branco, e as casas que eram avistadas continham muitas luzinhas brilhante, o que deixava a noite ainda mais linda.
  Fui tirada de meus devaneios ao ouvir o som de um voz masculina ecoando ao fundo da sala. Virei meu rosto para o lado, com a intenção de cumprimentar o garoto. Mas assim que meu rosto deu a volta, senti um arrepio percorrer por minha espinha. Fiquei boquiaberta ao ver de quem se tratava. Pisquei constantemente durante um tempo para ter certeza do que via. Minha respiração falhou, quando ele olhou para mim. Percebi por sua expressão que eu não era a única que estava extasiada com a situação. Pude notar que minha presença ali, também não o agradara muito. Durante um tempo, ficamos nos encarando em silêncio.
  - Então, , esse é o meu irmão, ! - Lia disse pondo a mão em seu ombro e sorrindo. Sorri em retribuição.
  - Olá, é um prazer. - disse estendendo minha mão. Ele recuou por um instante, mas depois, apertou a mesma e sorriu assentindo. Assim que soltamos as mãos, não hesitei em tentar sair dali o mais rápido possível. - Lia, você se importaria se eu fosse descansar? Eu estou realmente exausta.
  - Claro que não, ! Podem subir. Os quartos de vocês são os últimos do corredor, o seu é o da direita. - ela disse, sorri e agradeci puxando Ally pelo braço.
  Ela se assustou, mas me acompanhou. Peguei minha mala e a arrastei comigo, Alysson fez o mesmo. Enquanto eu e ela subíamos as escadas, tentei evitar todo e qualquer contato visual que eu pudesse vir a ter com ele, para que os outros não notassem, mas eu senti que era bem notável o nosso estranho comportamento quanto ao outro.
  Assim que chegamos no fim do corredor, entrei no quarto da direita e larguei a mala perto da porta. Andei até o meio do quarto e suspirei fundo fechando os olhos e pondo as mãos na cintura. Assustei-me ao sentir a mão de Allyson tocar meu ombro, por um momento, acreditei que estava sozinha.
  - O que houve? - ela perguntou levemente preocupada.
  - Nada! - respondi disfarçando. Não queria ter que contar que todas as ameaças de morte que ela fizera eram para seu primo. - Eu só estou com um mal estar. Deve ser o cansaço.
  - Ah, claro! - ela disse revirando os olhos. - Você não me engana, ! Pode ir falando o que aconteceu.
  - Ally, eu já disse que estou bem. - respondi encarando o chão.
  - Então vai lá, olhe nos meus olhos e repita essa frase. - ela disse erguendo meu queixo levemente e me fazendo encará-la. Tentei falar, mas eu não conseguia, mentir pra ela parecia ser extremamente errado. Soltei o ar e desviei o olhar.
  - Tá legal! - falei soltando-me dela e indo em direção a minha cama, sentei na beirada e suspirei fundo tentando criar coragem para desabafar. - Bom, você lembra dos dias antecedentes aquela grande festa, quando você contou que seu primo estava na cidade?
  - Sim! E eu mandei você ficar longe dele. E o comando continua valendo. O não presta. - ela disse. Apertei os olhos e suspirei ao lembrar do que ela me dissera naquela época: "Ele só usa as garotas, não merece alguém como você".
  - Lembra que eu pedi para que convidasse ele pra festa e você disse que ele não podia porque ia embora naquela manhã? - perguntei, ela assentiu. Respirei antes de falar. - Só que ele não foi. - Allyson franziu o cenho e me encarou confusa.
  - O que quis dizer com isso? - ela perguntou. Mexi os olhos para cima para conter a ardência que tomava conta deles.
  - Ele foi a minha festa Allyson. - disse a olhando nos olhos, ela riu fraco sem humor e revirou os olhos.
  - É claro que não foi, ! Eu não o vi por lá. - apertei os olhos suspirei mais uma vez. E isso foi a deixa, uma lágrima caiu sobre minha bochecha, a molhando.
  - Eu o vi, Allyson. - finalizei, fungando por conta do choro.
  Ela abriu a boca e me encarou com dó. Eu achei que ela fosse me abraçar, mas ela simplesmente se levantou, sua expressão havia mudado. Fiquei de pé em sua frente também, mas antes que eu tivesse a chance de perguntar a respeito, Allyson saiu batendo pé pela porta. Arregalei os olhos ao ver que ela tinha dobrado o corredor, apressei o passo e fui atrás dela, mas quando cheguei na escada, era tarde demais.
  - Hey, ! - ela o chamou. Assim que o garoto se virou, ela marchou até ele e o empurrou com força, ele se assustou com contato. Tampei a boca e encolhi-me contra ao corrimão da escada, me escondendo o máximo possível. - Você sabe que causou um trauma emocional pra essa menina, não sabe? Sinceramente, como é que você pode ser tão idiota? Você, por um momento, pensou no que ela ia sentir depois? Pensou? Ela tinha 15 anos, ! Nossa! Eu tenho vergonha de ser sua prima! - ela gritava o mais alto possível. Ele estava ficando nervoso. - E não se faça de desentendido, eu sei que você sabe muito bem do que eu estou falando. Não é possível que você seja tão imbecil a ponto de esquecer o que fez. - ela disse o olhando nos olhos. Ela pôs o dedo em seu rosto. - Escute aqui, eu vou falar só uma vez, ! Se você chegar perto da , tocar, falar com ela, ou qualquer outra coisa que envolva contato físico, eu mato você!
  Mais lágrimas caiam do meu rosto, eu detestava relembrar essa história, e agora, eu tinha um bilhete de entrada para assistir tudo. Ele me encarou por um segundo, desviei o olhar, fiquei encarando meus pés até sentir o braço de Allyson pegando no meu para que eu andasse. Enquanto subia os degraus, lhe dei uma última olhada, ele encarava o chão como uma criança quando leva bronca e sabe que está errada. Mas logo ele saiu de minha vista. Allyson puxava meu braço e andava com rapidez, que quase nem notei o caminho.
  - , se você precisar de qu...
  - Você não acha que pegou pesado com ele? - interrompi-a.
  - O quê? É claro que não. Eu fui até delicada, !
  - É só que, talvez, ele também estivesse bêbado. E você não sabe se ele não se arrependeu. - disse.
  - , você não disse que foi ele quem incentivou você a beber?
  - Sim, Ally, mas isso não quer dizer que ele estava sóbrio.
  - , se ele realmente a incentivou a beber, é porque ele tinha isso tudo planejado em mente. Acredite, eu o conheço bem. Esse é um dos seus joguinhos, ele faz isso com todas. Todas as garotas, pra ele não passam de objetos. - a maneira como ela colocou as palavras na frase, cortaram meu coração como com uma faca. Ela notou meu incomodo. - Oh, sinto muito, !
  - Não, não, está tudo bem, Ally! Eu estou um pouco cansada, você se importa se eu for dormir um pouco? - a cortei, tentando fugir do assunto enquanto limpava uma das lágrimas. Ela suspirou e sorriu sem vontade.
  - Claro que não. Vai lá. - ela disse apontando com a mão meu quarto.
  - Obrigada. - agradeci, antes de me virar para entrar no quarto.
  Assim que fechei a porta atrás de mim, reparei na decoração. Não havia notado o quão era lindo. As parede eram da cor azul bebê e com desenhos de nuvenzinhas, pode parecer um pouco infantil, mas eu gostava, era fofo. A cama era encostada no canto e acima dela, uma prateleira com livros, livros sobre dança, ficção, livros que eu não tinha ideia de que eram, mas adoraria ler. A coberta da cama também era na cor azul bebê combinando com as paredes, no centro da coberta, havia um ursinho branco, que vestia tutu e dançava balé. Sorri. Eles devem ter perguntado á Allyson, para que curso eu tentaria ganhar a bolsa, pois eu via várias coisas sobre dança. Quadros tinham de monte. A pessoa que tinha decorado o quarto, tinha acertado em cheia. Na cabeceira da cama, encontravam-se aquelas luzinhas bonitinha que ficam penduradas. Ao lado da cama uma janela bem grande, que dava para a sacada, era coberta por uma cortina de cetim azul. Logo ao fundo do quarto, havia uma pequena peça, que eu deduzia ser um banheiro. Após analisar cada detalhe do quarto, andei até meu armário e pus a mala, ainda fechada, dentro dele, arrumaria tudo amanhã. Peguei um dos cabides que ali estavam e pendurei meu casaco e meu cachecol nele. Tirei as blusas de lã e deixei somente a blusinha mais fina, e meu jeans, estava com preguiça de tirá-lo. Andei até a cama e puxei a coberta, deite-me sob a mesma e aconcheguei-me. Virei para o lado e fechei os olhos, já pesados. Adormeci sem resistência.

Capítulo 2 - Coincidência Pra Caramba

  December 16; 2014 - Monday

  Acho que este vai servir! Pensei comigo mesma, enquanto rodopiava repetidas vezes em frente ao espelho. Os cachos loiros caiam sobre minhas costas realçando o casaco cor de rosa bebê. Sorri. Casa nova, cidade nova, vida nova! Pensei sozinha novamente. Meu falatório mentalmente solitário fora interrompido por batidas em minha porta.
  - Entra! - convidei quem quer que fosse, sem tirar a atenção do espelho.
  - Oi. - virei-me ao ouvir a voz de . Imaginei que Allyson talvez fosse ficar zangada com um diálogo entre nós dois. Mas ela não poderia nos impedir de conversar, morávamos sob o mesmo teto agora, mais cedo ou mais tarde algum de nós se manisfestaria. - Minha mãe está chamando você para o café da manhã.
  - Claro! Só um segundo. - comecei a procurar por meu telefone dentro da bolsa.
  - An... ? - ele chamou-me.
  - Hum? - murmurei sem ao menos encará-lo.
  - É verdade o que Allyson disse ontem à noite?
  - Sobre? - perguntei virando-me para encará-lo.
  - Eu ter causado à você um trauma emocional ou algo do tipo. - o tom de voz dele soava preocupado.
  Senti um frio percorrer minha barriga. É claro que eu não ia me fazer de pobre coitada, apesar de ser verdade, eu tinha meu orgulho próprio, tinha que mostrar que aquilo não era nada. É como dizem: Quem vive de passado é museu. No momento em que desviei o olhar, pude ver meu celular, que se escondia em baixo do travesseiro. Andei até a cama e o peguei na mão. Virei-me novamente na direção de e tentei parecer o mais calma possível.
  - Não! A Allyson exagerou, você sabe como ela é. Além do mais, quem não quer perder a virgindade com um cara bêbado que quando acordar vai esquecer de tudo e se mandar? É o sonho de toda menina, não é mesmo? - brinquei, deixando de lado o fato daquilo me machucar.
  - Nossa, me desculpe! - ele pediu notando o quão horrível isso soava.
  - Não precisa se desculpar. Já passou, não é? Afinal, você não pode fazer nada pra voltar àquela noite.
  Ele permaneceu quieto, somente me observando, senti em sua expressão um sentimento de culpa. Ele estava no portal da porta, se apoiando de um lado e com o braço esticado, tocando a outra ponta.
  - Agora se me der licença, vou tomar café! - dito isso, pus o celular no bolso dos jeans claros e caminhei até a porta, passei por de baixo do braço dele, agachando-me um pouco.
  Suspirei fundo ao sair do quarto. Mais uma pergunta e eu me atrapalharia toda. Puxei o ar mais uma vez e desci as escadas rapidamente, atravessei a sala e adentrei a cozinha. As duas garotas e dona Ashley estavam sentadas na mesa tomando café e comendo seus pãezinhos. Lia vestia o uniforme da escola, enquanto Ally e dona Ashley permaneciam de pijama.
  - Bom dia, flores do dia! - disse sorrindo de maneira meiga para todos que estavam sentados na mesa.
  - É impressionante o bom humor de certas pessoas pela manhã! - a garota em estado deplorável reclamou. Ri fraco de sua expressão cansada, andei até minha amiga e peguei a caneca ao seu lado e aproveitando a proximidade, a dei um beijo na bochecha.
  - Uau! - a cabeça de Allyson virou-se para mim e assoviou ao ver minha roupa e maquiagem, sorri enquanto ia na direção do balcão. - Onde vai assim, tão gatinha?
  - Estava pensando em sair para conhecer o local relaxar um pouco. Talvez encontre um gatinho. - brinquei, fazendo Lia rir. - Gostaria de vir?
  - Está maluca? - ela perguntou me encarando com uma expressão indignada, como se eu acabasse de convidá-la para se atirar de um precipício. - Frio, neve, caminhar. Essas três palavras não deveriam nunca estar em uma mesma frase, cuja comece com "A Allyson...".
  Ri enquanto virava a jarrinha de café, deixando o mesmo escorrer para a caneca. O cheiro estava ótimo.
  - A Allyson não gosta de frio, odeia a neve e detesta caminhar! Está vendo? As pus em uma mesma frase e ela ao menos foi positiva. - disse sorrindo e em seguida, goleei a caneca.
  - É, talvez tenha esta exceção. - ela respondeu com a boca cheia de panquecas.
  - Ally, querida, não fale de boca cheia, isto é falta de educação. - dona Ashley pediu calmamente.
  - Desculpe! - Allyson pediu depois de engolir o que tinha na boca. - Eu tinha me esquecido que aqui é todo mundo educadinho.
  - Ok, Ally! Eu vou indo, está bem? - avisei a garota, enquanto saía da cozinha de forma apressada.
  - Claro! Boa sorte no passeio na neve! - Allyson gritou com desgosto para que eu pudesse ouvir, já que eu já estava próxima da porta.
  - Obrigada! - disse por último antes de fechar a porta.
  Respirei fundo e comecei a andar. Não imaginava que em algum lugar do mundo pudesse existir uma cidade tão linda como essa. Depois de caminhar alguns quarteirões a pé, admirando cada espacinho do lugar, parei em frente a uma cafeteria. Entrei e sentei-me na primeira cadeira vazia que avistei. Fiquei alguns segundos examinando o menu e depois de já ter me decidido chamei a garçonete e fiz meu pedido, não demorou muito e meu donut e meu cappuccino haviam chegado. Mordisquei o donut saboreando o delicioso gosto do mesmo. Após o termino de meu doce levantei-me, para continuar meu passeio enquanto tomava meu cappuccino. Mas ao dar um passo, confesso, meio distraída, acabei trombando com um garoto e derramando meu cappuccino por toda sua blusa. O encarei incrédula e em seguida pus a mão na boca.
  - Oh, meu Deus! Perdoe-me! - desculpei-me pelo acontecido. Ele riu de minha expressão, eu provavelmente estava ficando vermelha.
  - Tudo bem! - ele disse me acalmando.
  - Não, não está tudo bem. Eu derramei café em você! - eu dizia enquanto apontava para a camiseta molhada do garoto. Ele riu mais uma vez.
  - Eu estou bem. Minha camiseta está molhada, mas ela seca logo logo. - ele disse fechando os botões da camisa xadrez que vestia por cima, na tentativa de esconder o molhado.
  - Desculpe! De verdade. Sou a pessoa mais desastrada que você poderia encontrar no mundo. - tentei me redimir de alguma maneira. Rangi os dentes ao lembrar da cor da camiseta. - Isso vai deixar uma bela mancha.
  - Ah! - ele disse fazendo um sinal com a mão, sinalizando que não se importava. - Branco nunca foi exatamente minha cor preferida. Só as uso porque minha mãe compra.
  Sorri.
  - Eu sinto muito. - desculpei-me mais uma vez.
  - Eu já disse que está tudo bem. - ele repetiu olhando em meus olhos e sorrindo. Por um instante, foi como se algum encanto caísse sobre mim. Sentia necessidade de olhar para os seus olhos o quanto fosse possível. Eles brilhavam. O verde reluzia com seu sorriso branco, o que deixava tudo ainda mais lindo. Saí de meu transe e balancei a cabeça de leve.
  - Será que teria alguma forma de eu me redimir com você? - perguntei.
  - Eu já disse que não precisa. - ele disse, mas logo sorriu cheio de segundas intenções. - Mas se quiser mesmo se redimir de alguma forma, que tal se você me acompanhasse o resto da tarde?
  Virei o rosto 50°C para o lado esquerdo, deixando minha bochecha direita mais visível para ele. Apertei os olhos e o encarei.
  - Eu não sei, não! Você pode ser um assassino. - disse assentindo. Ele riu. - Eu normalmente não saio por aí aceitando convites de estranhos com o dobro do meu tamanho.
  - Ah, vamos! Podemos ir nos conhecendo no caminho. E você me deve essa, me molhou todo com café. - ele disse sorrindo sugestivo, esperando por uma resposta. Pensei por uns segundos, talvez fosse legal arrumar amigos por aqui. E ele não parecia ser o tipo de cara que te sequestra e depois de mata.
  - Está bem! Você me convenceu. Eu te acompanho.
  Imediatamente, o garoto com cachos leves e bagunçados ergueu os dois braços para cima, indicando vitória.
  - YES! Consegui fazer a gatinha passar a tarde comigo. - ele brincou, comemorando. Ri abaixando a cabeça. Ele estendeu-me a mão, pus a minha mão sobre a dele e o deixei me guiar.
  Assim que descemos o último dos três degraus que dividiam a rua da cafeteria, soltei sua mão e passei a minha sobre meus cabelos, arrumando os cachos que voavam com o vento.
  - E então, onde pretende me levar? - o encarei, o garoto prestava atenção no caminho e a sua frente, e sem desviar, respondeu a mim.
  - Bom, se você não se incomodar, levarei você para conhecer uns amigos. - ele disse enquanto andava.
  - Aí depende muito. - respondi seguindo seu exemplo e concentrando-me no caminho.
  - De quê?
  - De que tipo de amigos estamos falando. - respondi sorrindo para ele de maneira desconfiada. Ele riu mais uma vez.
  - Eles são legais. Vai gostar deles. - ele disse, tornando tudo um silêncio novamente. Tentei puxar assunto.
  - Mas então, se eu vou passar a tarde com você, ao menos preciso te conhecer melhor. - disse interessada.
  - Bom, meu nome é Brian! Ás segundas, quartas e sextas eu tenho ensaio da banda com os garotos, eu não faço nada além de jogar vídeo game e minha mãe acha que eu sou um encosto. - ele disse me encarando. Ri por um instante.
  - Huh, interessante! Quer dizer então que você faz parte de uma banda?
  - É uma banda de garagem, mas ainda sim, uma banda. - ele disse fazendo uma careta. Em seguida, voltou a atenção a mim. - Mas e você?
  - Que tal você tentar adivinhar. - brinquei.
  - Está bem! - ele limpou a garganta e tomou postura. - Você é mulher de 37 anos que fingi ter 20, vem do Texas e usa o truque do café na camisa para seduzir os garotos.
  Fiquei boquiaberta com o que ele me dissera, e depois de uns segundos de surpresa, comecei a rir.
  - Nossa, você é péssimo nisso! - disse entre risos.
  -Então vai lá! Me diga seu nome, idade, ocupação e de onde vem esse sotaque tão irresistível. - ele disse sorrindo de maneira sedutora e apertando de leve uma de minhas bochechas.
  - Ok. - disse sorrindo para ele. - Eu sou , tenho 19 anos, vim para a Inglaterra para tentar conseguir bolsa para a faculdade no ano que vem e estou morando na casa dos tios de minha melhor amiga. Ah, e eu sou canadense.
  - Wow! Eu realmente sou péssimo nisso. - ele disse fazendo uma careta. Ri mais uma vez.
  Caminhamos por mais alguns minutos em silêncio. Era impressionante como até a movimentação em Londres era calma. As pessoas andavam com cuidado e sem pressa, com seus cafés na mão, enquanto falavam ao telefone ou mexiam no mesmo. Muito diferente do Canadá.
  - Brian, não querendo parecer a garota mais preguiçosa do mundo, mas vai demorar muito? - perguntei com uma expressão cansada. Ele sorriu.
  - Na verdade - ele pegou em minha mão e me fez rodopiar surpresa, quando o giro foi completado, notei que eu estava virada de frente para uma casa amarela muito bonita, com cercas brancas, o que deixava tudo mais bonito diante da neve -, nós já chegamos.
  Sorri com tamanha beleza. Era uma casa simples, mas muito bonita. Algumas luzes de natal estavam enroladas nos postes de sustentação da varanda.
  Ele puxou-me pela mão devagar, passamos pelo portão de madeira e adentramos o pátio, subimos juntos os pequenos degraus e ele tirou a chave do bolso. Após alguns segundos tentando encontrar a chave certa em seu chaveiro, ele abriu a porta. Entrei ainda um pouco constrangida, com medo dos moradores acharem que eu era uma maluca invasora, mas a casa estava vazia, o que fazia sentido devido a ser uma segunda-feira de manhã. Brian pegou em minha mão mais uma vez e me guiou até os fundos da casa, onde abriu uma porta de madeira. No momento em que passamos por ela, 3 garotos andaram até nós com pressa, pegando da mão de Brian um pacote que continha cupcakes, todos os 3 se serviram de um, e só após dar a primeira mordida, notaram minha presença. Corei.
  - Brian, quem é essa menina? - um deles perguntou de boca cheia enquanto apontava para mim. Abaixei a cabeça e cruzei os dedos em frente ao meu corpo.
  - Conheci ela na cafeteria. Ela derramou café em mim e eu a chamei pra sair. - Brian respondeu enquanto tirava o cachecol e o jogava no sofá rasgado do canto. Ri.
  - É claro. Você é sempre tão romântico. - um garoto loiro disse enquanto limpava da boca a cobertura dos cupcakes. Brian riu.
  O garoto moreno mais baixo parou em minha frente e estendeu-me a mão, curvando-se em sinal de reverência.
  - Oh, vossa excelência, é um prazer conhecê-la. - ele dizia ainda parado naquela posição olhando-me nos olhos. Pus a mão contra seu rosto e comecei a rir. Ele voltou ao normal. - Eu sou Luke! O gostoso da banda.
  Ri novamente. Brian parou atrás dele e pôs a mão em seu ombro apoiando-se enquanto me olhava.
  - É, é o que ele acredita.
  - Eu sou ! - cumprimentei-o estendendo a mão. Ele sorriu como um bobo para mim, me deixando no vácuo.
  - Seu sorriso é tão lindo. - ele falou ainda me olhando daquela maneira. Abaixei minha mão e meu rosto assim que senti minhas bochechas esquentarem. Luke levou um tapa de Brian na nuca.
  - Aí, seu tapado. Eu a vi primeiro. - ele disse, fazendo minhas bochechas ficarem mais e mais quentes.
  - Estão deixando a garota constrangida, seus idiotas. - um outro garoto surgiu ao meu lado os olhando feito. - Vão mesmo discutir por uma garota que acabaram de conhecer?
  - Sim! - ambos responderam sérios, fazendo-o revirar os olhos.
  - É, vocês são dois patetas! - ele disse, virando-se para mim, em seguida. Ele estendeu a mão para mim e sorriu simpático. - Eu sou Dave.
  - ! - apertei sua mão.
  - É um prazer conhecê-la. - ele disse. Sorri.
  - Hey, que barulho todo é e... - ele parou de falar no instante em que me viu. Tranquei a respiração. Não podia ser verdade, esse choque de vê-lo, de novo. - ?
  - ? - perguntei. - O que faz aqui?

  * * * *

  - Er..Eu posso ir ao banheiro? - perguntei a Brian. Eu não estava com a mínima vontade, mas precisava fugir do clima tenso que eu e havíamos causado minutos atrás.
  - É claro! É logo ali próximo da sala de estar. - ele disse apontando para a porta que dividia a garagem da casa. - Quer que eu te mostre?
  - Não, obrigada. Acho que consigo me achar. - disse levantando-me e indo até a porta.
  Assim que fechei-a atrás de mim, pude ouvir os murmúrios que correram pela garagem. Aproximei-me da porta e pus meu ouvido contra a mesma. Sim, eu ia ouvir a conversa, e não negaria isso, tinha quase certeza que o assunto sobre o qual falavam era eu.
  - E então? A ... - ouvi Brian dizer. Bingo!
  - O que tem ela? - pude ouvir perguntar.
  - De onde você a conhece? E por que ficou todo nervosinho quando a viu? - dessa vez fora Luke quem perguntara.
  Houve alguns segundos de silêncio antes de continuar:
  - Vocês lembram daquela viagem que eu fiz para o Canadá a mais ou menos uns 4 anos atrás? - perguntou. os garotos murmuraram sim em concordância. - Então, no dia que eu havia marcado pra voltar, acabei sendo convidado por uns amigos pra ir em uma festa, e eu aceitei. E quando eu cheguei lá, eu vi uma garota, e fui logo pra cima.
  - É sabemos como é, , você não perde tempo. Metade dessa história conhecemos, você a embebedou até ela aceitar ir pra cama com você e pah. - Josh disse. Os garotos permaneceram em silêncio.
  - Então, nós subimos para o seu quarto e passamos a noite juntos. Como eu sempre fiz com todas as outras garotas. - apertei os olhos e deixei que dor consumisse meu corpo. Ouvi-lo dizer aquilo me quebrava. - Só que com ela foi diferente. Ela era... Incrível. Parecia que cada segundo ao seu lado devia ser apreciado. Ela tinha um jeitinho doce, porém, forte. Era sensível, delicada, inocente, engraçada e realmente muito linda. Logo que subimos, ela me disse que queria que aquela noite fosse especial. - a cada palavra que ele dizia minha boca ia ficando cada vez mais e mais aberta. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Era mesmo ele me chamando de "incrível"? O cara que me abandonou? Houve um breve silêncio antes de ele continuar. - Caras, ela era virgem. Era só uma inocente garota de 15 anos. E ainda assim, a bebida não deixou com que eu me controlasse. - apertei os olhos novamente, dessa vez, tentando conter o que ameaçava cair de meus olhos. - No outro dia, eu acordei com a consciência pesada. Eu pensei em ficar, pensei em como seria doloroso para ela acordar e encontrar-se sozinha. Mas também pensei na raiva que ela provavelmente sentiria de mim. Então...
  - A abandonou. - Dave terminou sua frase. Limpei uma lágrima e pisquei os olhos para aliviar a ardência.
  - É! - ele disse. - Eu queria ter ficado. Ter me desculpado. Ela era uma garota incrível e eu a decepcionei.
  - Essa garota, ela era..
  - Sim. Essa garota era a . - ele o interrompeu. - Eu me sinto um lixo toda vez que olho para ela.
  - Pode tentar evitá-la. - Luke disse.
  - Não dá, cara! Allyson voltou pra cá, para tentar a bolsa para a faculdade de artes no ano que vem. E acontece que e Allyson são amigas.
  - Não vai me dizer que... - Brian disse em um tom assustado.
  - É, mora comigo agora. - finalizou. Afastei-me da porta e suspirei fundo secando as lágrimas caídas. Tomei postura e abri a porta novamente, adentrando a garagem.
  - E aí, garotos? Falavam de quê? - perguntei sorrindo, fazendo-me de desentendida.

Capítulo 3 - Relacionamento Complicado

  December 21; 2014 - Sunday

  - Oh, eu não sabia que estava ocupado, desculpe! - disse ao entrar na sala que eu alugara.
  - Não, eu já estou saindo. - a garota ruiva disse saindo de sua posição e andando até o rádio para desligá-lo. - O meu horário já acabou a um tempo. Mas eu gosto de aproveitar cada segundo.
  - Gosta de dançar? - perguntei me aproximando dela.
  - Sim! - ela disse fechando a mochila e a pondo no ombro. - Estou treinando bastante para tentar entrar na escola de artes no ano que vem.
  Sorri ao ouvi-la citar a escola.
  - Vai entrar para o curso de dança na Westminster? - perguntei sorrindo.
  - Eu vou tentar. - ela disse se aproximando de mim. - Você também?
  - Sim! - disse sorrindo animada.
  - Ótimo! - ela sorriu de volta e ergueu o queixo um pouco. - Se entrar, procure por Kylie Johnsonn. Aposto que seremos ótimas amigas.
  Dito isso, a garota sibilou um "Até mais" e saiu pela porta antes mesmo de eu ter a oportunidade de me apresentar. Depois de me encontrar totalmente sozinha, peguei um rabicó na mochila e amarrei os cabelos. Tirei a jaqueta e o cachecol que me cobriam, ficando somente de leggin, camisa, polainas e meus tênis. Pus meu rádio no canto da enorme sala espelhada e liguei-o ao pequeno amplificador que cabia em minha mochila. Liguei a música e posicionei-me no centro da sala e encarei-me no espelho, esperando que a parte animada da música Am I Wrong se iniciasse para que eu iniciasse minha coreografia.
  Assim que minha deixa foi dada, comecei a me movimentar no ritmo da música. Isso era algo que me relaxava. Dançar. Era como se o mundo se desligasse por um momento. Como se os carros parassem de andar, como se as pessoas parassem de conversar, mexer no telefone ou até mesmo andar. Como se a única coisa se movimentando no mundo fosse eu. A cada som que a música emitia, eu me animava mais e mais e os passos estavam ficando mais rápidos, até eu ser interrompida pelo susto que levei ao ouvir alguém espirrando. Gritei ao sentir o impacto no chão.
  - Oh, meu Deus! - disse assustado andando até mim com rapidez. Ele ergueu a mão e eu me apoiei levantando-me. Depois de já estar de pé o encarei surpresa e zangada.
  - O que você faz aqui? - perguntei em um tom mais grosseiro do que eu queria parecer.
  - Me desculpe! - disse, me encarando, enquanto eu cruzava os braços. - Eu não queria te assustar, é que eu estava indo para a casa do Brian, e vi você entrando aqui. Fiquei curioso e vim ver o que você estava fazendo.
  - Você me seguiu? - disse incrédula, com tom de voz elevado e realmente irritada. Ele abaixou a cabeça.
  - Você colocando dessa maneira parece realmente errado. - ele disse. Revirei os olhos, pressionando os lábios um contra o outro e rindo de raiva.
  - Ah, você acha? - disse o encarando com os olhos semi-cerrados.
  - Desculpe! - ele repetiu. Suspirei fundo e o encarei descruzando os braços.
  - Tudo bem! - disse. Do que adiantaria eu brigar com ele? Só ia causar um clima mais tenso do que já era. - Mas você tem que aprender que as garotas não gostam de ser seguidas e vigiadas. Por exemplo, se você fizer isso com a Allyson, ela quebra o seu braço. - disse sorrindo.
  - Eu não mexo mais com a Ally desde que ela começou a fazer karatê. - ele brincou, ri. Houve alguns segundos constrangedores de silêncio antes de ele tentar puxar assunto mais uma vez: - Não sabia que dançava. Você leva jeito.
  - Obrigada! - disse encabulada.
  - É sério. Não estou falando isso só por educação, você é realmente boa. - sorri, dessa vez com sinceridade. - Eu nunca ia conseguir fazer o que você faz.
  - Não é tão difícil quanto parece. Vem cá. - disse o puxando pela mão e o levando ao meio da sala. - Eu vou te mostrar um pouco. Repete comigo.
  Fiz alguns passos de dança básicos e menos femininos, para que ele não tivesse vergonha de tentar. Assim que terminei o encarei e esperei que ele começasse. Ele se preparou e fez os primeiros passos, mas ao tentar dar um giro, ele tropeçou nos próprios pés, caindo. Abri a boca e não contive a risada.
  - Do que você está rindo? - ele perguntou se levantando, rindo também. - Eu não tenho culpa se não sou bom nisso. Diferente de você, eu tenho ossos.
  Franzi o cenho e abri a boca.
  - Pois fique você sabendo que eu tenho 206 ossos perfeitos. - eu disse o encarando desafiadora, ele sorriu e assentiu.
  - Olha só! Temos uma sabe-tudo entre nós. - ele disse, revirei os olhos. Era assim que era conhecida na escola, por ser a garota que sempre corrigia as pessoas, inclusive os professores. - Então, deve saber que ao contrário da maioria das pessoas, os seus ossos são feitos de elásticos.
  - Você é um bobão! - brinquei, batendo de leve em seu braço.
  - Mas então? Quer tentar o desafio de me ensinar esse passo aparentemente impossível? - ele perguntou apontando para mim. Sorri.
  - Claro! Adoro desafios.
  - Então vamos lá! - ele disse ficando ereto. fui por trás dele e me aproximei.
  Suspirei fundo, era a primeira vez em 4 anos que eu ficava tão próxima dele, eu nem me lembrava que ele era tão alto, eu batia pouco acima de sua nuca e eu não era considerada uma garota baixinha. Peguei em seus braços e os movi enquanto dava instruções. Não sabia se aquilo estava sendo tão desconfortável para ele como estava sendo para mim, mas logo que tive a oportunidade, o soltei. Ele prosseguiu, conseguindo executar todos os passos certinhos, até a parte do giro. Quando o garoto tentou girar, tropeçou mais uma vez e consequentemente caiu. Justamente em cima de mim.
  Eu sentia sua respiração pesada enquanto olhava em seus olhos. Ele também parecia constrangido. E o que eu mais estranhava, era que ao mesmo tempo que eu queria empurra-lo e sair correndo, eu queria permanecer ali e ficar somente olhando em seus olhos e sentindo seu corpo próximo ao meu.
  No momento em que eu ia dizer algo, fui imediatamente calada por um beijo. Um beijo intenso, porém calmo, delicado, lento e posso até arriscar dizer, romântico. Foi como se eu simplesmente tivesse aprendido a voar. Me sentia a dez metros do chão, tocando as nuvens. Tudo que me passava pela cabeça eram seus lábios, eu não me importava com meu orgulho, ou com a bronca que levaria da Allyson ou até mesmo com a dor que ele avia me causado, tudo que importava no momento eramos eu e ele, aquele beijo e o tempo que ele duraria.
  Ao ouvir o toque de meu telefone, despertei-me o separando de mim. Provavelmente era o alarme que eu avia posto para tocar quando meu horário acabasse. O empurrei fazendo-o sair de cima de mim. Ergui-me e andei até o telefone, desligando-o e suspirando fundo ainda de costas para ele.
  - , eu..
  - Não fala nada! - eu disse o encarando. - Só... Esquece esse beijo, esquece o que aconteceu, esquece tudo isso.
  Abaixei-me e peguei meu rádio e amplificador os guardando na mochila. Peguei meu celular e o pus no bolso.
  - Mas e se eu não quiser? - ao ouvir sua pergunta o encarei confusa, desistindo de pegar a mochila que estava no chão. Ele se aproximou tocando minha mão. Separei-me - Eu não quero esquecer esse beijo, ! Acredite, foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo.
  Franzi os cenhos e ri fraco desviando o olhar.
  - Isso é patético. - eu disse o encarando. - Você é patético. - disse elevando o tom de voz. - Primeiro, você decide me seguir, e então me beija. Acha mesmo que vai conseguir me levar pra cama mais uma vez? Deixa de ser idiota, , eu não sou mais aquela criancinha imbecil de quatro anos atrás. Eu não caio mais na sua. Não vou ser tão besta a ponto de...
  Antes que eu pudesse continuar ele me interrompeu com outro beijo. Eu não queria ser tão fraca, mas acabei sedendo, o beijo permaneceu calmo, como o outro, só que desta vez, foi ele quem separou nossos lábios. Ele me olhou nos olhos e suspirou fraco.
  - Não quero levar você pra cama! - ele disse. - Não consigo te tirar da minha cabeça. Eu sei é loucura, nós nos conhecemos a praticamente 7 dias, e você não dirigiu a palavra a mim uma única vez, a não ser que fosse para pedir que eu te passasse o leite no café da manhã. Mas eu estou vidrado. Eu não sei se é o seu sorriso, a sua voz, o seu jeito meigo ou talvez sejam os seus olhos. Eu só seu que não consigo tirar você da minha cabeça desde que você entrou por aquela porta.
  Ele dizia olhando em meus olhos, nossos narizes se roçavam devido a proximidade.
  - Não acredito em você.
  - E por que não? - ele quis saber.
  - Porque Allyson me contou sobre você. Brian me alertou sobre você. Você nunca se quer namorou uma garota e agora vem querer dizer que está gostando de mim? - disse cínica semicerrando os olhos.
  - Você acha que é única que está confusa com essa história? - ele disse se afastando. - Eu não consigo entender o que você tem pra me deixar tão alucinado. Eu não consigo me concentrar, não consigo prestar atenção em nada e nem mais consigo tocar. Sábado que vem eu e os garotos temos uma apresentação e eu não decorei nem uma única palavra da letra. Porque nos ensaios eu só consigo imaginar você sentada naquela droga de sofá me assistindo. Eu realmente não sei o que está acontecendo, só sei que eu quero ter você por perto. Só sei que quero ter você comigo.
  Ele finalizou me encarando. Eu estava paralisada. Eu não sabia o que fazer, o que dizer, como agir. Abaixei a cabeça, fitando meus pés.
  - Não podemos ficar juntos. - falei o encarando, tentando controlar-me para não chorar.
  - Você não sente o mesmo, não é? - ele disse. Parecia realmente decepcionado.
  - Não é isso. - desviei o olhar. Eu odiava admitir, mas sentia uma atração forte por ele.
  - Então, sente algo por mim? - ele perguntou dando um passo a frente.
  - É. - respondi, ele sorriu.
  - Então me diz, por que não podemos ficar juntos? - ele perguntou. Ouvi-lo dizer aquilo era estranho. Pelo que Ally falava, não era do tipo que tinha um relacionamento sério.
  - Ouvi uma conversa entre Allyson e sua irmã. - disse pegando a mochila e pondo em meu ombro. - Ela disse à Lia que não queria você perto de mim. E que se me visse me aproximando de você mais do que o necessário, ligaria para os meus pais.
  - Mas e que efeito seus pais teriam nisso? - ele perguntou se aproximando mais. - Por que Allyson faria isso?
  - Allyson disse que não quer que nos aproximemos porque tem medo de você me machucar mais uma vez. E se ela ligar para os meus pais e contar a eles que estou morando na casa do cara que tirou minha virgindade, eles com toda certeza vão me mandar voltar para casa. E se eu voltar para o Canadá, minhas chances de me tornar uma dançarina séria vão para os aires. - disse me aproximando mais dele. - Não quero por em risco minha carreira por causa de algo que sinto por você.
  Dito isso, desviei de seu caminho e andei até a porta, planejando sair sem me despedir.
  - , espera! - virei-me de volta para ele e esperei que prosseguisse. Ele se aproximou de mim e segurou em meu rosto. - Allyson não precisa saber.
  Balancei a cabeça em negação.
  - Está maluco? Não vou mentir para minha melhor amiga. - eu disse franzindo o cenho. - Além disso, para que Allyson não descobrisse, ninguém poderia saber. , Bradford não é uma cidade grande, não é possível esconder algo de uma pessoa só.
  - Então esconderemos de todos. - o olhei nos olhos. - Ninguém precisa saber, seremos só você e eu.
  - Isso é doideira. - disse tentando me soltar de seus braços, mas ele me segurou pela mão.
  - ! Eu só quero tentar.
  - E se der errado? - perguntei. - Eu acabo com minhas chances de ir para a escola de artes e meus pais ainda dão um jeito de prender você.
  - Eu corro o risco. - ele disse me olhando nos olhos. - Você só precisa estar disposta a correr também.

  * * * *

  Eu não conseguia nem acreditar que havia topado. Eu me sentia uma completa imbecil por ter posto minha carreira e minha amizade nas mãos de . Mas eu simplesmente não resisti.
  - Heey! - Ally chamou-me estalando os dedos. - Terra chamando !
  - Ah, desculpe! - disse voltando a ela. - Onde estávamos?
  - Estávamos na parte em que você me conta sobre o seu chameguinho com o Brian. - ela disse maliciosa. Suspirei, ah se ela soubesse. - Diz aí, você o encontrou hoje depois de sair do ginásio de dança, não é? Quero os detalhes mais sórdidos.
  - Não há detalhes sórdidos, Allyson. Não vou me envolver com ninguém agora. - disse. Mentira. - Tudo que eu quero é me concentrar na dança.
  - Ah, fala sério! Watson , deixe de ser tão careta. Brian é um gato. - ela disse. - E beija bem pra caramba.
  Arregalei os olhos e abri a boca.
  - Você e o Brian? - disse sorrindo maliciosa. - Conta aí, amiga, quando foi isso?
  Ela revirou os olhos enquanto ria.
  - Foi a bastante tempo. Nós ainda tínhamos 15 anos, Brian veio em uma festa aqui na casa do . E nós ficamos.
  - Uau! E você aí, tentando me empurrar pra ele. - disse rindo.
  - Ah, para! Isso foi a 5 anos atrás, ele nem ao menos deve lembrar, fora que, muitas outras linguinhas passaram por essa boquinha depois da dele. E algumas foram bem além da boca.
  A encarei incrédula enquanto ria.
  - Allyson, você é tão suja. - disse ainda rindo. Ela começou a rir junto a mim. Ela tacou uma almofada que estava em cima de minha cama em mim.
  - Não ria, sua idiota! Eu não tenho culpa se no movimento que me relaxa são necessários dois indivíduos. - comecei a gargalhar ainda surpresa com o tipo de piada imunda que ela dizia.
  - Você é tão besta. - falei atirando a almofada de volta.
  Paramos de rir quando ouvimos alguém bater na porta. Gritei para que a pessoa entrasse e assim ele fez. Abriu a porta e pôs a cabeça para dentro. Meu coração acelerou ao vê-lo.
  - Minha mãe mandou chama-las para o jantar.
  - Nós já descemos. - Allyson disse levantando-se e indo em direção ao meu banheiro, provavelmente, para lavar as mãos.
  - Ok! - ele disse e antes de sair, aproveitando que Ally estava de costas, me mandou um sorriso. Sorri de volta e abaixei a cabeça. É, essa era minha vida agora, sorrisos as escondidas.

Capítulo 4 - Primeira Crise De Ciúmes

  December 24; 2014 - Wednesday

  "Consegue dormir? Porque eu não! Xx"

  Ri de sua mensagem. Eram 02:26 a.m e ele estava me mandando SMS's sobre sua insônia. Ainda sonolenta, sentei-me apoiando minhas costas na cabeceira da cama e digitei uma resposta.

  "Que fofo! Por quê? Está esperando o Papai Noel? Xx"

  "Engraçadinha você, hein! Xx

  "Obrigada! Haha u-u Xx"

  "Dá pra abrir a porta? Xx"

  "De novo? Você sabia que eu tenho uma preguiça a zelar? Xx"

  "Só abre! Xx"

  Levantei da cama devagar e fui até a porta ainda relutante. Estava preparada para virar a cabeça para a esquerda, para olhar para a porta de seu quarto, onde ele estaria parado e acenaria, como havia feito na noite passada. Mas ao abrir a porta, levei um susto, levando a mão até a boca para não gritar. Ele riu e pôs um dedo sobre os lábios sibilando um shii. Peguei em seu braço e o puxei para dentro fechando a porta devagar para que a mesma não fizesse barulho. Virei-me para ele zangada e gritei em forma de sussurro.
  - Você tá maluco? - ele ria.
  - O que é? Não posso querer te ver? - ele perguntou sarcástico.
  - Não quando são duas da manhã, estão todos em casa e nosso relacionamento é secreto. - repreendi-o novamente.
  - Ah deixa de frescura, vai. Ninguém vai acordar. - ele disse andou até mim e puxando-me pela cintura. Soltei-me.
  - Como pode ter tanta certeza? - perguntei frustada.
  - , são duas da manhã! - ele disse arqueando as sobrancelhas.
  - Ainda assim é arriscado, . - disse sentando-me na cama. Ele suspirou e andou até mim, sentando-se em meu lado e pegando em minha mão. Ele a acariciou por um tempo em silêncio.
  - Lembra que noite passada você disse que seria legal uma única vez, nós dormirmos juntos? Sem que isso envolvesse a relação sexual? Só eu e você, abraçados? Lembra disso? - ele perguntou, fazendo-me olhar em seus olhos. Assenti.
  - Sim, eu lembro disso. - disse lambendo os lábios enquanto o olhava.
  Ele soltou minha mão e segurou em meu queixo, beijando-me.
  - Estou aqui pra isso. - ele disse sorrindo pra mim. - Vou dormir com você.
  - Você é doido, é? - perguntei arqueando as sobrancelhas. - Aí amanhã de manhã, Allyson vem me chamar para o café e me encontra agarradinha com você.
  Ele riu e estendeu o telefone.
  - Eu já pus o alarme. Vamos acordar antes de todos, ninguém irá nos pegar. - ele disse.
  - Mas e se...
  - Já chega! - ele me interrompeu. - Se você continuar fazendo perguntas, eu vou acabar desistindo. Pode ir se deitando ali. Eu vou desligar a luz e trancar a porta e já volto.
  - ...
  - , deita! - ele ordenou. Revirei os olhos, mas deitei-me na cama, tapando-me com as cobertas. Ajeitei o travesseiro no meio para que nós dois pudéssemos ficar confortáveis. Depois de desligar a luz e trancar a porta, andou até a cama, sentou-se ao meu lado e tirou a camiseta, jogando-a em um canto qualquer do quarto. Ele ajeitou-se próximo a mim e passou o braço por minha cintura, puxando-me um pouco, consequentemente fazendo com que ficássemos cara a cara. Sorri para ele, e em retribuição, o garoto beijou meu nariz.
  - Durma bem, anjo. - dito isso, ele fechou os olhos. Sorri uma última vez antes de abaixar minhas pálpebras também.

  * * * *

  Abri os olhos ao encontrar-me sozinha na cama. Sentei-me e escorei-me na cabeceira, o quarto estava vazio, ele provavelmente já tivera saído. Passei a mão pelos braços nus e esfreguei-os, lembrando-me de eles serem aquecidos por . Sorri idiotamente ao lembrar de seu abraço.
  - Pensando em mim? - ouvi sua voz. Assustei-me ao vê-lo sair do banheiro. - Você estava sorrindo como uma boba, é claro que estava pensando em mim.
  Larguei os braços sobre a cama e revirei os olhos.
  - Você é sempre assim, tão convencido? - perguntei, ele riu e continuou a caminhar em minha direção.
  - E você - ele disse sentando-me ao meu lado -, é sempre assim tão bonita ao acordar?
  - Não. É que eu tive uma ótima noite. - disse tocando seu ombro nu com a unha do indicador.
  - Ah, é? - ele mexeu-se para mais perto de mim, tocou meu rosto e beijou-me nos lábios. - Que bom saber disso.
  Ele levantou-se da cama e andou até a escrivaninha, pegando a camiseta que ele deixara pousada sobre a mesma, vestiu-a e passou a mão sobre os cabelos para arruma-los.
  - O que você vai fazer hoje a tarde? - perguntou voltando a caminhar até mim.
  - Eu vou até o ginásio treinar um pouco. - respondi levantando-me e ficando frente a frente com ele, notando mais uma vez a diferença de altura. - Eu preciso estar pronta para o teste no sábado.
  - Eu podia ir com você. - ele disse, puxando-me pela cintura e sorrindo maliciosamente.
  - Nem pensar. - eu disse calma separando-me dele. - Eu vou ensaiar minha dança e Ally vai comigo para gravar tudo. Ela também quer praticar para o curso de cinematografia.
  - Droga! - ele reclamou. - Eu queria ver você dançar de novo.
  - É uma pena. - disse sentando-me na cama e observando-o. - Mas você vai no teste não vai?
  - É claro que eu vou, Anjo! Eu não perderia isso por nada. - ele disse andando até minha cama e sentando-se ao meu lado.
  - Ótimo. - toquei seu rosto e acariciei sua bochecha. - Quero você lá, pra bater palmas pra mim quando eu ganhar a bolsa.
  Ele riu e selou meus lábios de surpresa.
  - Mas Allyson não me verá? - ele perguntou.
  - Minha apresentação será bem antes. Não terá ninguém lá, além de você. - falei encarando minha mão que acariciava sua nuca. - As apresentações são fechadas a público. A não ser que seja família.
  - Interessante. - ele disse pondo um sorriso malicioso sobre os lábios. - Ally vai querer que você a espere, e isso provavelmente vai demorar. Vamos poder aproveitar um pouco.
  Sorri antes de beija-lo mais uma vez.
  - Agradeço por ir ao teste. - disse ainda bem próxima de seu rosto. - Eu preciso do seu apoio.
  - Eu não deixaria você ir sem mim. - ele disse ajustando sua mão em minha cintura.
  Encostei meu rosto em seu ombro. Ele passou a mão por meu pescoço e aconchegou-me.
  - Eu amo você. - disse ainda abraçada a ele, sem olhar em seus olhos. Ele demorou algum tempo para responder.
  - Eu... - ele hesitou. Franzi o cenho encarando o chão, esperando por sua resposta. - Eu também gosto muito de você.
  Fechei meus olhos e inspirei o ar. Eu sentia que um pequeno homenzinho dentro de meu peito havia estraçalhado meu coração com um martelo. Soltei-me dele e arrumei os cabelos bagunçados.
  - Acho melhor você ir para o seu quarto. Se alguém decidir ir chamar você e perceber que não está, pode ir tudo por água a baixo. - disse sorrindo sem vontade, tentando disfarçar a chateação.
  Ele assentiu nervoso enquanto erguia-se da cama. Depositou um beijo carinhoso em minha testa e saiu do quarto.
  Joguei-me sobre a cama. Não estava acreditando que eu realmente havia dito aquilo. E o pior, não estava acreditando que eu realmente sentia aquilo.

  * * * *

  - Olha, sem querer parecer grossa, até porque a casa não é minha, mas confesso achei estranho quando Lia me disse que viriam jantar. - disse diretamente a Brian, Luke, Dave e Josh.
  - Bom - Luke começou a responder, mas deu uma pausa para engolir o que tinha na boca -, eu e Brian comemoramos o natal sempre nas manhãs do dia 25.
  - Eu moro sozinho. - Dave disse rápido.
  - E os natais na minha casa são um tédio. - Josh respondeu fazendo uma careta.
  - Seus pais não ficam chateados de você sair? - perguntei curiosa. Meus pais jamais me deixariam sair na noite de natal.
  - Na verdade, eles nem percebem. Só ficam brincando de amigo secreto. - ele disse com desgosto enquanto engolia a comida que tinha na boca. Ri.
  - Bom, de qualquer forma, a adorou a companhia de vocês. - Allyson disse me encarando maliciosa enquanto arqueava as sobrancelhas. Revirei os olhos.
  - De fato. Eu adoro a companhia deles. - disse sorrindo repreendedora para ela.
  - É. Especialmente de um deles. - ela disse. Revirei os olhos e não contive um sorriso de raiva. Olhei para de relance, ele encarava-me confuso, porém, levemente irritado.
  - Eu não entendi. - Luke disse encarando Allyson.
  - Allyson sismou que está afim do Brian. - Lia explicou a todos.
  - Só que a Allyson é maluca. - disse encarando a menina de cabelos azuis, ela sorriu.
  - Então você não está afim de mim? - ele perguntou fingindo estar chateado, comecei a rir.
  - Brian, nós mal nos conhecemos. - respondi.
  - Mas isso resolvemos em pouco tempo. - ele disse, sorri. - O que acha de um cinema?
  - Pra você me levar para assistir The Crime Night? Não, obrigada. - disse séria, pegando meus talheres para cortar mais um pedaço de carne.
  - Credo! Não. Eu estava pensando em algo como "The Dream Of a Guy". - ao ouvi-lo citar o filme, quase engasguei-me, larguei os talheres sobre a mesa e encarei-o. Passei a ouvir a risada de todos.
  - VOCÊ TÁ BRINCANDO COMIGO? - gritei. Ele negou ainda rindo de mim. - CARACA, ASSISTIR ESSE FILME É O MEU SONHO.
  - Eu achei que o seu sonho fosse dan...
  - CALA BOCA, ALLYSON! - gritei, ela começou a rir.
  - Então fechou? - ele perguntou. Sorri e assenti.
  - Quando você quiser. - disse animada, ele sorriu.
  - Que tal no sábado?
  - Claro, depois do teste da faculdade? - perguntei ainda sorrindo animadamente.
  - Eu passo aqui. - ele respondeu confirmando. Assenti e voltei ao meu jantar.
  - Beleza, senhor e senhora Sparks, podem me agradecer pelo encontro mais tarde. - Allyson gabou-se, brincando com o sobrenome do garoto. Revirei os olhos e sorri.
  - , pode me passar o refrigerante? - pediu. Provavelmente só para chamar minha atenção. Ao notar sua expressão em seu rosto, pude perceber que ele havia ficado com raiva. Assenti e estendi o refrigerante para Lia para que ela passasse para , que estava sentado longe de mim. - Obrigado.
  Ele agradeceu de forma fria, sorri e assenti. Por algum motivo, Brian passou a mão por meu ombro e sorriu confortavelmente. Foi quase como se ele soubesse de algo.

Capítulo 5 - O Teste

  December 27; 2014 / Saturday

  - . - ouvi a voz do homem que me diria se eu estava ou não dentro da escola. Tomei postura e caminhei até o palco.
  Passei as mãos sobre a camiseta branca que usava e me posicionei no centro. O homem olhou para mim e esperou que eu começasse.
  Liguei o rádio com a música e iniciei minha coreografia. Movimentei meu corpo conforme o ritmo da música "Rather be". Eu havia ensaiado essa coreografia durante muito tempo e queria que tudo saísse exatamente perfeito. Não podia nem pensar em não passar nesse teste.
  Assim que a música deu seu último toque, finalizei a dança. Ergui-me do chão e suspirei fundo para recuperar o ar. O frio que antes eu sentia, agora era coberto pelo suor e o calor do nervosismo. Encarei o homem á minha frente. Ele passou a mão na cabeça, como se fosse arrumar o cabelo. E talvez fosse o caso, se ele tivesse algum.
  - Então, , você é uma ótima dançarina. - sorri ao ouvir o elogio. - Mas não é exatamente o que estamos procurando para a Westminster.
  Meu sorriso se desfez aos poucos. Franzi o cenho decepcionada enquanto o encarava.
  - Mas eu poderia tentar uma nova coreografia, com uma nova música e então talvez, você pudesse reconsiderar, por favor. - implorei. Ele abaixou os óculos e encarou-me como se eu fosse patética.
  - Queridinha, sabe quantas garotas ótimas eu tive que rejeitar hoje? Sabe quantas delas me pediram por favor? E eu disse não a todas. Por que eu reconsideraria a você? - suspirei fundo.
  - Talvez porque eu me esforcei muito pra isso. Talvez porque esse é realmente meu único sonho. Talvez porque eu tenho treinado sem parar durante muito tempo. Talvez porque eu tenha vindo do Canadá até a Inglaterra para tentar a bolsa pra essa escola. - funguei e continuei a falar. - Mas, se acha que eu não estou preparada, então eu sinto muito tê-lo feito perder tempo. Pode apostar que eu tentarei no ano que vem. Eu realmente queria entrar nessa escola.
  Dito isso, peguei meu rádio e vire-me de costas, andando em direção á lateral do palco.
  - Espere. - ao ouvi-lo chamar-me virei-me novamente. - Dançarinas não são só garotas que decoram coreografias. Para ser realmente uma dançarina, é necessário ambição e muita força de vontade, e você acabou de provar que realmente quer isso. Senhorita , será um prazer tê-la como minha aluna no ano que vem.
  Meu sorriso cresceu de orelha a orelha. Encarei as poltronas atrás do homem, estava lá, sentado com um touca na cabeça. Ele sorriu para mim e fez sinal de positivo com a mão. Sorri para ele e então voltei a atenção para o homem mais velho a minha frente.
  - Obrigada! - agradeci ainda sorrindo animadamente. O homem deu um leve sorriso para mim.
  - Não me decepcione, Senhorita ! - ele disse. Sorri.
  - Eu não vou. - dito isso, vire-me de costas e caminhei para fora do palco.

  * * * *

  - Eu ainda não acredito que passei.
  - É claro que você passou. - ele disse acariciando meu rosto. - Você é incrível. Ele seria um idiota se não reconsiderasse.
  - Eu estava com medo. - disse olhando em seus olhos. - De não passar. Eu teria que voltar para o Canadá e...
  - Isso acabaria com as suas chances de ser uma dançarina profissional e blá, blá, blá, eu sei. - ele interrompeu-me. Sorri e o selei.
  - Isso não é mais minha prioridade. - falei acariciando sua nuca.
  - Como é? - ele franziu o cenho.
  - É claro que isso acabaria com minhas chances de um futuro na dança e tal. Mas o mais importante é que eu perderia você. - o olhei nos olhos. Ele sorriu. - Não quero que isso aconteça.
  - Eu também não. - ele disse ainda sorrindo calmamente. Ele aproximou-se de mim e tornou inexistente o espaço entre nossos lábios, dando início a um beijo calmo, romântico, profundo e extremamente prazeroso.
  - Eu te amo. - deixei escapar mais uma vez.
  Depois de ouvir o que havia dito, arrependi-me profundamente, não acredito que havia cometido o mesmo erro duas vezes. Ele hesitou novamente e simplesmente beijou-me mais uma vez. Assim que separamos nossos lábios, ele abraçou-me confortavelmente.
  Suspirei ainda encostada em seu ombro. Eu realmente era muito patética.

  * * * *

  - Ela me contou, hein. - disse rindo.
  - Foi a muito tempo. - ele insistiu. - Eu nem sabia que ela lembrava.
  - Ah, ela lembra, e disse que você beija bem. - falei ainda rindo, ele me acompanhou.
  - Ela também. - ele respondeu talvez um pouco encabulado.
  Peguei um punhado de pipoca e pus na boca, e em seguida, tomei um gole da coca-cola.
  - Mas e você e o ? - ele perguntou. O encarei surpresa.
  - An... Eu e o ? O que tem eu e o ? - perguntei nervosa, ele riu.
  - Calma, . Ele contou pra nós. - revirei os olhos.
  - Ah, claro, ele conta para todos os seus amiguinhos, e eu não posso contar para minha melhor amiga. - disse com indignação.
  - Bom, eu não tenho nada contra você. - ele disse comendo um pouco de pipoca.
  - É, você tem razão. - concordei comendo a pipoca também. - Mas Brian, você não pode contar a ninguém.
  - Eu não vou. - ele disse. - Eu não estragaria o primeiro relacionamento de verdade do .
  - Posso perguntar uma coisa? - ele assentiu. - Acha que ele gosta de mim? Assim, de verdade.
  - É claro. Ele fala de você o tempo inteiro. E acredite, nunca o vi tão feliz. - suspirei fundo ao lembrar daquela manhã. Brian pareceu perceber pelo toque em minha mão. - O que houve?
  - Nada, é que - passei a mão nas pontas dos cabelos e arrumei o gorro -, há alguns dias atrás eu disse ao que o amava. E acontece que ele respondeu que também gostava muito de mim. E hoje de manhã, eu acabei deixando escapar mais uma vez, e ele simplesmente não respondeu.
  Brian segurou minha mão e a apertou como forma de consolo.
  - Você tem que entender que o nunca amou ninguém antes. Ele nem sabe o que essas palavras significam, . não pode dizer a você que te ama porque ele não sabe exatamente o que sente por você.
  - Acha que ele não me ama? - perguntei com medo da resposta.
  - Não, eu não disse isso. - ele falou arqueando as sobrancelhas. - Acho que ele te ama, mas não sabe disso. , o não pode dizer pra você o que nem ele sabe. Dê tempo ao tempo, uma hora a ficha do garoto cai.
  Sorri e apertei sua mão.
  - Você é incrível.
  - Eu sei. - ele gabou-se, fazendo-me rir.

Capítulo 6 - Eu Te Amo

  December 31; 2014 - Weednesday

  - Uh la la, não é só porque é um trabalho meu, mas você está fan-tás-ti-ca. - Mike disse pausando a última palavra.
  - Eu devo admitir, você é melhor que a estilista da minha mãe. Quando houver qualquer outra festa para ir, com todo a certeza chamarei por você.
  - Lia tem realmente muita sorte em ter você a disposição. - Ally disse admirando seu reflexo.
  - Mike, você é minha fada madrinha. - Lia rodopeava em frente ao enorme espelho.
  - Eu sei, eu sei. Agora me digam, o que são três princesas sem um público? - nos entreolhamos e sorrimos uma para a outra. - São vocês! - ele gritou prolangando a última vogal de maneira extremamente afeminada o que me fez rir. - Corram, garotas, corram! Quero que todos lá em baixo fiquem babando por minhas meninas.
  Nos aproximamos da porta ainda aos risos. Segui em direção as escadas junto as meninas, e ao enxergar os dois garotos nos esperando ao pé da escada, comecei a rir. Brian e Luke estavam tão fofos que pareciam dois príncipes, e quando fizeram reverencia a nós três eu tive que me controlar para não rir.
  - Eu fui encarregado de levar essa maravilha de cabelos loiros até seu determinado destino. - ele disse me mandando um olhar discreto ao pegar em minha mão. Abaixei a cabeça e ri ao perceber que ele se referia a .
  - E eu - Brian intrometeu-se antes que Ally perguntasse algo -, vim buscar a princesa de cabelos azuis e lhe garantir uma extrema diversão para esta noite. - ele continuou elegantemente estendendo a mão para Allyson, que corou imediatamente.
  - E Lia, Miles espera pela senhorita próximo ao bar. - Luke disse em um tom tão sério que me fez lembrar de Reginald, um mordomo que minha mãe contratara para ela a pouco tempo atrás.
  - Obrigada, Luke. - ela sorriu para ele enquanto descia os degraus da escada. - Meninas, seria uma honra passar a festa com vocês, porém, o meu príncipe espera por mim.
  E antes que Allyson tivesse a chance de zoar com Lia, a morena distanciou-se de nós.
  - Luke, será que podemos ir logo? Deveríamos deixar Ally e Brian a sós. - provoquei. Era uma desculpa, evidentemente, eu queria mesmo era ir logo até .
  - Vamos nessa. - ele me ajudou a descer as escadas e antes de mergulharmos na múltidão de gente elegante com suas taças de champanhe, acenei para os dois.
  - Onde ele está? - perguntei ao notar a ausência de no local onde Luke havia me deixado.
  - Vindo pra cá. - ele disse olhando para o celular, provavelmente mandando uma mensagem. - Ele ficou um pouco distante. Sabe, para garantir que Allyson não os visse juntos.
  - Uhum. - assenti mordendo o lábio.
  - Aí, cara, eu sinto lhe dizer que essa linda princesa encantada em sua frente já esteja bem comprometida. - simplesmente surgiu ao lado de Luke tocando em seu ombro, fazendo com que um sorriso surgisse em meu rosto.
  - Beleza. Sua encomenda foi entrega. Agora, se me derem licença, há muitas princesas encantadas bem solterinhas por aí. - Luke abriu um sorriso malicioso nos lábios, revirei os olhos enquanto o via partir.
   aproximou-se de mim e virou meu corpo um tanto para o lado, ficando em minha frente e tapando a visão de todos de mim. Coloquei minhas mãos sobre seus ombros e sorri.
  - Dá pra acreditar que você conseguiu ficar mais bonita? - ele perguntou acariciando meu rosto. Rolei os olhos.
  - Dá pra acreditar que você conseguiu ficar mais mentiroso? - retribuí. Ele riu e selou meus lábios.
  - Estou falando sério. - ele disse. - Eu posso apostar que você é a dançarina mais linda daqui.
  Comecei a rir.
  - Posso apostar que sou a única dançarina aqui. - eu disse.
  - Você perdeu! - ele disse. - Nós temos a irmãzinha do Brian e do Luke. - assenti rindo.
  - Ela dança? - perguntei.
  - Ela dança balé como ninguém. - ele brincou. - Talvez, quando ela passar da segunda série você e ela possam dançar juntas.
  - É claro. - eu disse rindo mais uma vez. Sessando os risos, alisou minha cintura e beijou-me.
  - Eu estava com saudades. - ri fraco.
  - , não fazem nem 5 horas que nos vimos. - eu disse, ainda com minhas mãos em seus ombros.
  - É. Mas fazem 3 dias que nós não ficamos juntos. - ele disse fazendo uma careta.
  - Eu não tenho culpa se nosso relacionamento é secreto. - briguei. Ele assentiu.
  - Você tem razão. - ele disse fixando seus olhos nos meus. - Acho que devíamos parar com isso.
  Minha expressão mudou. Abaixei minhas mãos tirando-as de seus ombros. Pisquei.
  - Você está falando em terminar? - perguntei decepcionada.
  - Não. É claro que não. - ele negou, me deixando mais aliviada. Soltei o ar que prendia e desviei o olhar. - Estou falando em contarmos a Allyson. - o encarei rápidamente arregalando os olhos.
  - Você tá maluco? - perguntei. - Se Allyson descobrir isso ela vai correndo contar para os meus pais, e babau faculdade de artes.
  - , não podemos esconder isso para sempre. Podemos convencer a Allyson. Eu posso voltar ao Canadá com você durante, sei lá, sua férias, nós podemos conversar com seus pais.
  - , eles não vão entender. Vão me querer o mais longe de você o possível. Eu prefiro continuar como estamos. Pelo menos ainda estamos juntos. - insisti. desviou o rosto encarando o nada com olhar feio. - Hey, nós podemos resolver isso depois?
  - Tudo bem. - ele assentiu substituindo sua carranca por um leve sorriso. - Você tem razão. Vamos aproveitar enquanto pudermos.
  Sorri para ele e acariciei seus cabelos. O garoto puxou-me pela cintura delicadamente e juntou nossos lábios em outro daqueles beijos que só ele sabia dar.

  * * * *

  - , você não vai acreditar. - Allyson surgiu exasperada em minha frente. Ela estava corada e eu não pude deixar de rir pelo batom totalmente borrado.
  - Sugiro que limpe o batom antes de continuar. - provoquei, deixando a menina ainda mais vermelha. - O que houve?
  - Eu e Brian... - ela hesitou. Sorri maliciosa e esperei que ela continuasse. - Por que é que estou com vergonha de você mesmo? Ok, dane-se. Sabe o quarto onde Mike estava nos arrumando? Eu e ele estavamos subindo pra lá, e acontece que o quarto não tava vazio.
  - Deixa eu adivinhar, Lia e Miles? - perguntei bebericando o copo com uísque.
  - Antes fosse, pelo menos eu saberia lidar com a situação. - ela disse fazendo com que eu a encarasse com sarcasmo.
  - Jura? Você ia era rir dela.
  - É! Mas pelo menos não ficaria aquele clima tipo: Porra, sinistro. - franzi o cenho.
  - O que viram, afinal? - perguntei curiosa.
  - Sabe a Melanie? Aquela loira nojenta que está sempre de biquíni por algum motivo?
  - Ah, sei. - respondi com desgosto. Melanie era do tipo que adorava se jogar em cima de todo mundo. E sim, isso inclui o , mais um motivo para que eu a detestasse. Eu e Allyson a conheciamos como a vadia do biquíni, simplesmente pelo fato de que, se ela ia regar as plantas, ela punha um biquíni, se ela ia lavar o carro, ela punha um bíquini, se ela ia ir a padaria, ela punha um biquíni. Resumindo, Melanie só andava de biquíni. - O que tem ela?
  - Quando chegamos lá, ela tava no maior beijão com um cara. - arqueei as sobrancelhas.
  - E qual a novidade?
  - A novidade é o cara. Ele vivia dizendo que garotas oferecidas demais não faziam o tipo dele, sempre achei que Melanie estivesse fora de questão. Mas pelo jeito, ele passa o rodo em geral e não está nem aí.
  - Quem era o cara?
  - .
  Meu estômago revirou-se do avesso. Eu estava em um misto de três coisas: Raiva, mágoa e nojo. Raiva por ele ter me traído. Mágoa por acreditar que ele gostasse de mim. E nojo. Nojo por pensar que a boca que tivera tocado a minha tantas vezes tão apaixonadamente, estivesse nesse momento beijando a boca de Melanie Smith.
  - O que disse? - queria que ela me dissesse que eu havia ouvido errado. Queria que ela dissesse que era Luke lá em cima, ou Josh, até mesmo Dave, mas não . Não o cara que eu amava. Não ele.
  - É. E você tinha que ver a cara do Brian, como se ele soubesse que aquilo era errado. Eu até perguntei o que tinha de tão errado, mas ele não quis responder. Você tá sabendo de algum namorado da Melanie?
  - Não. - respondi puxando o ar. Mordi o lábio tentando conter as lágrimas. - Ally, você pode me dar licença? Eu preciso ao toalete.
  - Claro. - ela respondeu. - Mas, você não parece bem.
  - Melanie, . Duas pessoas que eu não gosto se pegando, acho que isso me deu um mal estar. Eu estou bem. - mentira. - Estou ótima. - outra mentira.
  E durante o caminho até o segundo andar tudo o que passava por minha mente era: Ele é um babaca. E tinha que concordar com minha mente. As lágrimas escorriam por meu rosto e o corselet do vestido começava a doer devido a eu estar inchando o peito toda vez que fungava, o que acontecia com frequência.
  Ao estar no topo da escada, pude ver saindo do quarto. Sequei minhas lágrimas e ergui o rosto, encarando-o com raiva. Marchei rápidamente e empurrei-o com força.
  - Como você pôde? - gritei com raiva, logo sentindo mais lágrimas escorrerem, e em uma inútil tentativa de limpa-las, passei a mão sobre as bochechas.
  - , eu...
  - Caraca, eu acreditei em você. Acreditei quando disse que gostava de mim. Acreditei quando disse que se importava comigo. , eu confiei em você. Confiei minha carreira, a minha amizade, a minha vida inteira a você - funguei. - E você me traiu. Me diz, pra que você queria assumir nosso relacionamento? Me humilhar escondido já não era o suficiente? É claro que não, né? Fala sério. Me explica uma coisa. Por que? Por que você me iludiu tanto? Por que disse que me queria se era para me trair? Por que você quebrou a droga do meu coração? Por que você fez isso de novo? E todas aquelas vezes que eu disse que te amava? Você riu? Quando você saiu de perto de mim, você riu? Você nunca gostou de mim de verdade, não é? Eu nunca passei de um objeto sexual pra você. Quer saber? Obrigada, . Obrigada mesmo por me machucar de novo. - eu disse com a voz manhosa. Sequei as lágrimas de meu rosto.
  - , me escuta, eu não tive a intenção. Eu perguntei ao Luke, e ele disse que achava que você tinha subido, eu vim até aqui e quando entrei Melanie estava de costas, vestindo preto, eu achei que era você. Me perdoa. - ri sem humor.
  - Para com a palhaçada. - aproximei-me dele. - Acha mesmo que eu sou tão sonsa de acreditar que era eu quem você queria beijar?
  - Pelo amor de Deus, acredite em mim. Eu... Eu te... - minha expressão zangada se desfez, tornando-se uma de breve esperança. Podia jurar que ele me diria que me amava, porém, eu estava errada.
  - Você? - incentivei. abaixou a cabeça. Assenti sentindo mais lágrimas caírem sorrateiramente. - É. Foi o que eu imaginei.
  Virei-me de costas para ele dando um passo em direção a escada, mas fui parada imediatamente ao avistar Allyson parada ao pé da escada. Ela me encarava decepcionada. Abaixei a cabeça por um segundo, ela provavelmente me odiava agora, e com razão, eu havia mentido para ela. Muitas e muitas vezes. Suspirei fundo antes de erguer a cabeça para encara-la, mas Allyson não estava mais lá. Passei as costas da mão sobre o rosto molhado.
  - ! - chamou-me, me fazendo virar a cabeça para ele. - Eu sinto muito.
  Assenti de maneira deprimente. Virei-me de costas para ele novamente e enquanto caminhava para longe, respondi:
  - Eu também.

  * * * *

  - Por que você não me contou antes? - Allyson gritava comigo.
  - Porque sabia que se contasse, você contaria para meus pais e eles me mandariam imediatamente para o Canadá.
  - É claro! Mas faria isso por você, . não é um garoto pra você. Ele não presta.
  - Eu sei, Ally. Eu sei. Mas acontece que... Cara, eu o amo. - minhas lágrimas queimavam meu rosto como se fossem lava. - Ele é um idiota. A droga de um conquistador idiota. - cerrei os dentes enquanto falava. - Mas eu o amo. Allyson, me disse que gostava de mim. Disse que não me tirava da cabeça. Ele me fez acreditar, que lá no fundo, ele também me amava. - suspirei fundo tentando recuperar-me. - Olha, o fato é, se você quiser me dedurar para os meus pais, beleza, vai em frente, depois dessa noite, não tenho mesmo pra onde ir.
  - Olha, . Eu não sei o que você viu nele de tão especial. Mas vai ver, é só o charme dos 's. - ela brincou, me fazendo rir entre o choro. - Eu estou chateada, mas não porque mentiu. Estou chateada porque não era o que eu esperava de você. Estou chateada porque caiu na dele mais uma vez. Estou chateada porque ele magoou você de novo. Mas fala sério, você é minha melhor amiga, e eu não vou dedurar você para o seu pai. - Allyson pôs a mão sobre meu ombro e sorriu, me fazendo sorrir de volta. - Não quero que desista de seu sonho. Então, vou conseguir um apartamento pra você ficar por um tempo, até você poder ir para a faculdade.
  - Obrigada. - agradeci sentindo outras lágrimas queimarem meus olhos.
  - Que nada. - ela sorriu e puxou-me para um abraço.
  - Faça um favor pra mim? - pedi soltando-me. Ela murmurou uma resposta. - Pode por minhas coisas em uma mala e deixa-las separadas? Eu peço para o Dave buscar amanhã.
  - Vai para a casa do Dave? - ela perguntou um pouco confusa. Assenti.
  - Quando eu estava voltando pra cá, ele me mandou uma mensagem, disse que o Brian tinha contado tudo a ele, que ele tinha um quarto de hóspedes no apartamento, e que se eu quisesse ir pra lá, estava convidada. - expliquei. Ally sorriu e acariciou meu braço.
  - Eu ponho suas coisas na mala. - ela disse antes de me puxar para outro abraço. - Você sabe que eu vou estar sempre aqui quando você precisar, não sabe?
  - Eu sei. - assenti ainda sendo abraçada. - E eu agradeço muito por isso.
  - Vou estar sempre do seu lado, . - ela disse, me fazendo lembrar da primeira vez que tive uma decepção em relação a . Ela havia me dito a mesma coisa, e havia cumprido. Desde sempre. E eu realmente não sabia o que faria sem Allyson comigo aqui.

  * * * *

  Eu estava assistindo Bob Esponja na sala de estar, Dave já tinha ido dormir e a não ser a voz irritantemente engraçada do Bob, nada soava por perto. Pelo menos não até as 11:55 da noite.
  - ! - ele gritava. Revirei os olhos. - Eu sei que você está aí. E sei que não quer falar comigo. E você tem toda a razão. Eu fui um completo imbecíl com você. Mas o que você disse naquela festa não era verdade. Eu gosto de você. , eu sempre gostei. Desde que saí do seu quarto naquela noite há quatro anos atrás, eu sabia que você tinha algo de especial. Eu sabia que você era diferente de todas as outras. E quando eu fui embora, eu nunca pensei que veria você de novo, mas eu agradeço a Deus por ele ter me dado a chance de ter algo sério com você. - meus olhos começavam a arder quando senti um lágrima molhar minha maçã do rosto. - Se você não quiser sair na varanda, eu vou entender, se você nunca mais quiser ver a minha cara, eu vou entender. Mas antes eu quero que saiba que pra mim você foi bem mais do que um objeto sexual. Com você eu aprendi diversas coisas que eu nunca saberia nem explicar. Todas as noites que eu ia dormir, eu perdia uns cinco minutos de sono porque eu ficava pensando em você, e em como você estaria linda quando acordasse naquela manhã seguinte. - ergui-me do sofá e andei até a varanda, ao me enxergar ele sorriu. Ignorei-o continuando séria. - Acredite em mim quando eu digo que não era a Melanie que eu queria beijar. Eu não quero nada com a Melanie. E sabe por que? Porque ela não é você. Ela não tem os seus olhos pequeninos e azuis como o mar. Ela não tem aquelas suas bochechas rosadas, ou então as suas sardinhas loiras que iluminam o seu rosto. Ela não tem a sua delicadeza e a sua flexibilidade. Ela não é inteligente, engraçada, ou sarcástica como você. E ela também não tem o seu sorriso hipnotizante e suas mãos macias. Ela não chega ao seus pés. Nenhuma garota do mundo chega. Bom, o fato é, eu vim aqui pra poder te dizer uma única coisa, e se depois disso, você me mandar embora, e nunca mais quiser me ver, eu saio da sua vida, e nunca mais te encomodo. Mas antes disso, eu preciso dizer três novas palavras que você me ensinou, . Eu amo você.
  As lágrimas de meu rosto caíam sem parar. Suspirei fundo e saí da varanda sem lhe responder uma única coisa. E antes que tivesse a chance de entrar no carro e dar o fora, apressei o passo, saindo pela porta da frente e desci as escadas correndo até chegar na portaria. Empurrei a porta de vidro e sorri ao ver recém virando-se para o outro lado. Chamei por seu nome fazendo-o virar para mim. Ainda mais rápido, corri em sua direção, pulando em seus braços e juntando nossos lábios em um beijo totalmente mágico. Pude ouvir o som do gongo do relógio bater. Meia noite. Os fogos de ano novo explodiam no céu e eu podia senti-los brilhar a cima de nossas cabeças. Separei nossos lábios e olhei em seus olhos sorrindo idiotamente.
  - Eu também amo você. - repeti selando seus lábios com rápidez diversas vezes. - Repete mais uma vez?
  - É claro. - ele pôs as mãos sobre meu rosto e olhou em meus olhos como se olhasse através deles. - Eu amo você.
  E esse 2015 não podia começar melhor.

FIM



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