A Dualidade de Murphy

Escrito por Sial | Editado por Lelen

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Prólogo

  Jungkook olhou para a porta de novo, um minuto depois da inspeção anterior.
  Mingyu revirou os olhos, pensando seriamente que o garoto havia perdido o controle da própria cabeça.
  — Jungkook! — Ele gritou, enfim chamando a atenção do amigo distraído. — Tira o papel!
  Jungkook olhou para os pedaços embolados na mão de Mingyu e demorou pelo menos um minuto para se lembrar do que estava acontecendo ali um momento antes.
  — Já disse que podem me dar qualquer quarto.
  — Você diz isso agora, mas se pegar o quarto do térreo, vai ficar reclamando até o dia de ir embora — Yugyeom murmurou do outro lado, enquanto tinha os olhos grudados no celular.
  — Eu não vou… — Jungkook tentou, mas estalou a língua e suspirou. — Tá bom, tanto faz. — Ele pegou um dos papéis da mão de Mingyu e abriu. — Número 7.
  — Sortudo de merda, pegou a suíte master! Meus parabéns, assim ninguém precisa aguentar seu violão tarde da noite. Agora você, Jaehyun. Um papel.
  — Ei, esse lance de tarde da noite vai existir nessa viagem?
  Mingyu cerrou os olhos, ainda com as mãos estendidas para Jaehyun, que parecia concentrado em algum ponto do lado de fora.
  — Você sabe do que eu ‘tô falando — ele murmurou, virando para o outro amigo. — Acelera, Jaehyun. As meninas já estão chegando.
  Jaehyun olhou para os papéis com cuidado, como se pudesse olhar o resultado dentro de cada um deles caso encarasse por muito tempo.
  Por fim, puxou um deles, entregando para Mingyu.
  — Número 3, final do corredor. É o suficiente também para tocar aquele seu teclado o quanto quiser. — Ele sorriu, embaralhando o restante dos números em suas mãos e oferecendo aos outros.
  Jungkook esperou que o rodízio de distribuição dos quartos terminasse para verificar suas mensagens de novo, não que já não estivesse fazendo isso há um intervalo de tempo cada vez mais curto. Eunwoo cutucou seu ombro, indicando as bolsas jogadas desordenadamente no hall de entrada, concedendo um típico aviso para que ele desse um jeito de se mexer e começar a se acomodar.
  Jaehyun, por outro lado, já começava a empilhar as suas e, de quebra, alguma outra de Yugyeom, que havia sido o feliz sorteado a pegar o quarto do térreo. Ele não reclamou, como era de se esperar. Ao voltar para a sala, observou Jungkook juntar a mochila preguiçosamente, junto ao violão nos ombros, com olhares nada disfarçados, porém rápidos, para a janela.
  — Quer ajuda? — Jaehyun perguntou, caminhando até o garoto.
  — Não precisa, eu só trouxe isso — ele respondeu, puxando a única mala de mão e indo em direção à escada em semi espiral.
  — Aposto que trouxe roupas contadas para os exatos três dias de feriado. — Jaehyun soltou uma risada enquanto seguia o amigo escada acima.
  Jungkook riu antes de suspirar e responder:
  — Não sou ambicioso só porque estamos em época de colheita, obrigado.
  Jaehyun balançou a cabeça até alcançarem o topo das escadas, arrastando as malas até o final do corredor, passando por Jungkook e sua rápida entrada no quarto de número 7.
  O último quarto era grande, porém isolado e com o maior déficit de luz natural do que todos os outros. As janelas eram direcionadas para um ponto central onde o sol parecia se esquecer de passar e as cortinas eram escuras e grossas, como uma versão blackout exagerada feita especialmente para vampiros. Ou, quem sabe, para…
  — Nossa, aqui é irado! — Ele ouviu a voz de Jungkook em suas costas enquanto ainda despejava a bagagem em cima da cama no centro do cômodo. — Mingyu estava errado, você tirou a sorte grande por aqui.
  — Você é doido? — O garoto respondeu, abrindo as cortinas e se deparando com a vegetação densa que impedia quase totalmente a luz. — Acha que eu sou fã das trevas que nem você? Vou precisar ligar as luzes durante o dia.
  — Desde quando você ficou tão exagerado assim? — Jungkook revirou os olhos, ainda observando o quarto. — Vamos fazer o seguinte, vamos trocar.
  — Não precisa…
  — É sério, de que adianta ganhar a suíte master se meus olhos quase doem com toda a luz que entra por lá? Garanto que é bem mais a sua cara.
  — Mas…
  — E aqui é praticamente uma toca de coelho, vamos concordar. Mingyu não vai ter motivos para reclamar do meu violão, talvez eu até possa cantar. — Ele sorriu, dando de ombros. — Vamos, vai, tem certeza de que a ideia de claridade desnecessária e um mega banheiro próprio não te atraem?
  Jaehyun mordeu o lábio inferior, examinando o quarto mais uma vez, pensando seriamente que não seria uma má ideia abandoná-lo.
  — Ok, me convenceu. Vamos trocar.
  — Muito bem, Jae! E pode ficar tranquilo, Mingyu e Miranda vão estar no quarto ao lado, mas eu confio na acústica dessas paredes…
  — Como é que…
  — ‘Tô indo buscar minhas malas! Não dá tempo de voltar atrás! — Ele riu e se virou para o corredor, mas retornou depois de três passos. — Ah, e não precisa contar aos outros sobre isso, ‘tá? Se Mingyu ficar sabendo que cedi a suíte pela livre e espontânea escuridão, ele me manda de volta para Seul com um belo chute no traseiro. Agora, se me permite…
  O garoto voltou saltitando para o quarto mais à frente, enquanto Jaehyun revirava os olhos e ria mais uma vez da situação.
  Antes de fechar a porta do agora antigo quarto, ele olhou mais uma vez para as horas. Em seguida, encarou a janela, mesmo que não tivesse qualquer visão da entrada da casa. Ainda assim, se viu tomado pela ansiedade de novo.
  Ela deveria chegar a qualquer momento.

CONTINUA...



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