A Dor do Amor
Escrita por Khloe Petit
“Quinto andar.”
Meus pés se moveram automaticamente.
Seis míseros passos até topar com minha porta. Duas giradas da chave. O som da solidão, minha única companhia há exatos oito meses, doze dias e oito horas.
Sentei no sofá, jogando a mochila na cadeira da mesa de jantar. Era lá que ela ficava desde que Amber foi embora.
Olhei a tela do celular. Um fundo do próprio celular tomava conta. Apenas para esconder a tela inicial, onde sua foto ainda permanecia lá. Apertei o aparelho na mão. Eu havia prometido não ligar mais.
– Me desculpe. - falei da última vez que tentei e a última que ela me atendeu.
– Não me ligue mais. - ela respondeu. – Prometa.
Amber sabia que eu não consigo quebrar promessas. Ela fez de propósito.
Soltei o ar ao mesmo tempo que minha mão deixou cair o celular no chão. Não me importei de pegá-lo, apressado, pensando ter ouvido um ‘creck’ da tela sendo quebrada. A tela não havia quebrado, só meu coração. Mais uma vez.
Descansei meu corpo, jogando-o para trás, sem sentir que estava, de fato, relaxando. Encarei o teto e ignorei o ronco que meu estômago deu. Ele tem reclamado com muita frequência. Mas sou do tipo de pessoa que apenas come quando tenho fome; e sinto muitas coisas ruins no momento, menos fome.
Como parte da rotina, passo a pensar no momento em que passamos juntos. Desde quando nos tornamos amigos no ginásio, nos tornamos amantes no colegial e passamos por todas as dificuldades da transação da adolescência, para a vida adulta. Foram bons e maus momentos com dores amenizadas e alegria duplicada porque ela estava ao meu lado.
E, de repente, o amor foi embora. Sem avisar.
Decidimos morar junto, porque é o primeiro passo para o matrimônio. Dizem que se dura depois de morando juntos por um ano, então não há dúvidas que somos almas combinadas. Foram exatos seis meses.
– Quero terminar. - ela disse, com os olheiras e a pele pálida.
Eu sabia que ela havia pensado muito e estava se martirizando, só pela sua aparência. não é pessoa de deixar o sentimento do outro de lado só porque é o melhor a se fazer. Ela pode ser muitas coisas, mas não egoísta. Talvez consigo própria.
Tentei entender, mas só tive minha resposta quando ela disse:
– Estou apaixonada por outra pessoa.
Ela explicou que não era recíproco, mas que o sentimento era muito mais forte do que sentia por mim. Eu era um irmão. Um amigo do peito. Ela achava que fosse amor. Eu acho que é amor. Mas não sei o que ela sentiu, porque nunca encontrei outra pessoa que fizesse meu coração bater mais forte. Tive que aceitar, porque não posso decidir por ela, o que ela sente; nem julgar se é certo ou errado.
Após sua saída do apartamento, nunca mais nos falamos. Nossas famílias por um tempo fingiram que era apenas uma crise e então pararam de se falar também. Minha mãe e minha irmã tentaram, em vão, falar mal de , mas as duas sabiam que, considerando o modo que terminamos, eu apenas estava machucado porque ainda amava .
– A pessoa que recebe a notícia sempre sente mais, porque não teve tempo para pensar. - mamãe disse.
Mas tenho quase certeza de que não é verdade. Vi nos olhos de , quando ela arrumava suas coisas, que seu coração estava tão quebrado quanto o meu.
Sua melhor amiga veio tentar amenizar algo que não existia, meu ódio ou raiva. Quis explicar o quão se sentia mal por ter me colocado na situação em que estou. Que chorava quando lembrava.
Ela estava sentindo a dor que deveria sentir. Assim como eu.
– É melhor superar isso, . Só assim a dor irá passar. - ela disse, em nossa última ligação. – Não quero que me ligue porque eu superei. Porque não quero sentir aquela dor de novo; demorei um bom tempo, é injusto que me arraste de volta. Eu não fiz nada de mal. E nem você, então pare de se machucar, por favor.
Eu sabia que ela tinha razão. Sabia que, a partir do momento em que ela superou, só eu estava no caminho da amargura. Diferente do que eu imaginava, ela não foi retribuída pela pessoa pela qual se apaixonou. Quando pedi para nossos amigos em comum perguntarem se ela não tinha intenção de voltar comigo, a resposta foi negativa:
– Não o amo como um amante. O amo como um amigo, e assim será para sempre. Não acalentem o coração dele de uma forma que o machucará mais. A realidade doerá por menos tempo, se ele superar logo.
Soube que ela mudou de cidade. Recebeu uma proposta que veio a calhar. Ela deixaria de ver o homem por quem estava apaixonada, e viveria uma nova vida. Fiquei feliz por ela. No momento em que soube, senti um pingo de remorso. A vida poderia estar colaborando comigo também.
– Talvez você não esteja enxergando as oportunidades que a vida está te oferecendo, cara. - Brock me disse. – Já faz quatro meses, sai dessa. Tente sair dessa.
A ressalta foi justa. Eu não estava tentando. Por que não conseguia? Por que meu cérebro insistia em me trazer para baixo? Por que meu corpo não se movia, quando eu decidia que era hora de tentar algo novo?
– Que tal um psicólogo? - me disseram no trabalho. – Fui a um quando minha filha morreu. Estou bem. Posso te indicar.
Aceitei e agradeci, mas o número nunca chegou a ser discado.
Um dia, então, decidi que queria dizer a ela que eu estava bem. Mas estando, de fato, bem.
Saí de casa e peguei minha bike. Pedalei por três quilômetros até o parque central, onde várias pessoas utilizam a ciclovia, por ser uma das melhores da cidade. Tentei dispersar minha mente, pensar em algo novo. Tentei comprar um lanche e comer sentado no pé de uma árvore. Tentei jogar um jogo no celular enquanto esperava a digestão terminar.
No final do dia, me senti miserável. Um sentimento de falha. Decepção.
Saudade.
Fui até a laje do prédio, onde tinha uma visão privilegiada das estrelas. Senti a animação de volta. Eu podia fazer algo. Podia superar.
Olhei para baixo, não pensei duas vezes.
Pulei.
Eu estou morrendo, morrendo por dentro
É tanta saudade, morando em meu peito
Vida, devolva minhas fantasias
Meu sonho de viver a vida
Devolva-me o ar