Acreditando no Amor

Escrito por Candy (Vicky) | Revisado por Luba

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Capítulo único

Junho de 2018

  Depois de ser traída por quase todos os namorados que eu tive, é extremamente difícil acreditar que o amor realmente exista.
  As experiências traumáticas que tive na minha vida amorosa me fizeram acreditar que o amor é comercial.
  É lindo quando Junho se aproxima e todas as lojas decoram seu interior com balões de coração e liquidam metade do seu estoque para lucrar com essa data especial. Pessoas tolas gastam seu tempo e dinheiro para presentear outras que, em certo momento da vida, vão lhes pisotear, humilhar, trair…
  Quando meu último namorado foi visto pela minha melhor amiga beijando a ex dele, eu percebi que nada na minha vida daria certo.
  Se o problema era comigo? É claro que não.
  Babacas eram eles que quebravam a confiança que eu tinha neles.
  Como tudo na vida passa, eu realmente esperava que a minha aversão à romance finalmente passasse.
  Voltei a sair com as minhas amigas, voltei a beber - depois de ter parado por que meu ex achava que beber era coisa de mulher baixa - e voltei a me divertir como eu fazia antes de ele virar minha vida do avesso.
  Se minhas amigas achavam que eu era uma besta por me sujeitar a tudo isso? Achavam, mas eu já era bem grandinha e nada na minha vida era decidido baseado em opiniões de outras pessoas.
  Desde que aprendi a me amar antes de qualquer pessoa, toda e qualquer decisão que eu precisasse tomar sempre acontecia se eu estivesse confortável o suficiente para tal. Fora isso, pouco me importava o que as pessoas pensavam. E foi por isso que me envolvi com meu ex e quebrei a cara pela centésima vez consecutiva. E também foi por isso que eu decidi sair hoje, no dia dos namorados, com as minhas amigas para um bar novo há quatro quadras da minha casa.

  O Preteritas estava lotado de solteiros dispostos a passar a noite ao lado de um completo desconhecido, apenas para não passá-la sozinho. Enquanto eu andava pelo bar, notei todos os olhares que recebi pelo caminho, porque se havia algo em mim que chamava atenção, era o meu corpo. E deliciosamente apertado naquela saia de couro preta e na blusa tomara que caia sem sutiã que eu usava, eu me sentia totalmente poderosa.
  Amanda e Marcela foram direto para o bar, me deixando com Lucas, Henrique e para procurar alguma mesa disponível. É claro que foi quase uma missão impossível no meio daquela gente já bêbada, suada e risonha naquela pouca iluminação das lâmpadas roxas e azuis que decoravam o ambiente.
  Encontramos uma mesa bem ao fundo e logo as meninas estavam de volta com quatro garrafas long neck de cerveja e dois drinks coloridos demais para o meu gosto. Ainda bem que elas trouxeram a minha Heineken.
  - Acho que nossa vida sempre vai ser essa. - Levantei minha garrafinha, propondo o habitual brinde do grupo. - Bebendo todas e dançando que nem malucos numa pista de dança de um bar qualquer em pleno dia dos namorados.
  - Pelo menos estaremos juntos - Lucas disse e todos rimos. - Sempre juntos.
  Brindamos à mais um dia dos namorados celebrado pelo grupo de solteiros e as meninas me arrastaram para a pista.
  O DJ trocou a música, como se uma provocação para nós, e sorrimos uma para outra. Shout out to my ex era quase um hino que eu gostava de entoar para Guilherme, meu último ex traidor.

This is a shout out to my ex
(Esse é um salve pro meu ex)
Heard he in love with some other chick
(Ouvi dizer que ele está apaixonado por outra)
Yeah, yeah, that hurt me, I’ll admit
(Sim, isso me machucou, admito)
Forget that boy, I’m over it
(Esquece esse cara, eu já superei)

  Dançando com as minhas amigas, eu me lembrava de uma época muito remota onde eu sofri por ele ter me trocado pela ex. Foi bastante complicado e isso me fez perceber que nada na vida é para sempre. Amanda me olhou enquanto eu divagava e eu percebi que tinha parado de dançar. Qual é, eu prometi que não me deixaria levar por isso de novo. Voltei a dançar repetindo os versos com força.
I hope she gettin’ better sex
(Espero que ela ganhe uma transa melhor)
Hope she ain’t fakin’ it like I did, babe
(Espero que ela não finja como eu fingia, baby)
Took four long years to call it quits
(Demorei quatro longos anos para terminar)
Forget that boy, I’m over it
(Esquece esse cara, eu já superei)

  - Ainda bem que você terminou logo, amiga - Marcela gritou enquanto dançávamos.
  Dei de ombros.   - Não é como se ele fosse tão importante assim.
  Mas ele era. Bem no começo eu achava que talvez pudesse ser ele. Que ele finalmente fosse a luz no fim do meu túnel, a carona pela estrada deserta, o barco forte para enfrentar as tempestades. Mas no fim, ele era só mais um.
Shout out to my ex
(Um salve para o meu ex)
You’re really quite the man
(Você realmente é o cara)
You made my heart break and that made me who I am
(Você me machucou e isso me tornou quem eu sou)

  É verdade, ele realmente tinha me machucado. Mas ter passado pelo que eu passei com ele me fez ver quão forte eu posso ser e que eu não preciso de homem. Nunca precisei. Aprendi a amar a mim mesma antes de qualquer outra pessoa e isso só se fortaleceu quando ele foi babaca o bastante para me perder.
Here’s to my ex
(Essa é pro meu ex)
Hey, look at me now
(Ei, olha para mim agora)
Well, I’m all the way up , I swear you’ll never
(Bem, eu tô com tudo e, com certeza você nunca,)
You’ll never bring me down
(Você nunca vai me derrubar)

  Quando a música chegou ao fim e a Britney soou alto e animada nas caixas de som, percebi que minha cerveja já havia chegado ao fim. Pedi licença as meninas que ainda dançavam loucamente e caminhei até o bar, trocando olhares com vários rapazes pelo caminho. Ao menos um deles seria sortudo o bastante de me ter por uma noite, pois eu com certeza sairia de lá com alguém, era o plano da noite.
  Pedi mais uma cerveja e me preparava para voltar às meninas quando abraçou minha cintura.
  - Olha, … Se existisse um prêmio de mulher mais atraente da noite, você com certeza levaria - disparou e riu em meu ouvido. - Traz mais três Heinekens, amigão.
  - Você levaria o de homem mais atraente. - Dei uma golada na cerveja e me virei para ele. - As mulheres estão comendo você com os olhos. - Ergui uma sobrancelha e ele sorriu. Meu amigo era lindo e isso nunca passou despercebido por mim, mas uma ficada com ele nunca tinha sido levada em consideração.
  - Não só as mulheres… - o barman disse, colocando as cervejas no balcão e apontando para um rapaz dois bancos distante de nós e gargalhou. - Aposto que se o seu amigo chegar perto, o moço se derrete. - deu uma piscada para o rapaz e ele sorriu envergonhado, voltando a atenção para mim logo depois.
  - Uma pena eu gostar tanto de mulheres. - Apertou minha cintura e em seguida acariciou com os polegares. - Uma pena ainda maior a mulher que eu quero me ver apenas como um amigo.
  Estalou um beijo no canto da minha boca e, pegando as cervejas, voltou para a mesa que tínhamos escolhido.

  Minha cabeça explodia quando abri os olhos na manhã seguinte. As poucas lembranças que eu tinha eram de ter contado às meninas que tinha acabado de me cantar na maior cara de pau e, ainda pior, ter me deixado excitada com apenas um aperto na minha cintura. Levantei devagar, ainda sentindo os efeitos do vira-vira que fizemos logo depois dessa revelação louca, e não reconheci o quarto que eu estava. Mãos voaram para a minha cintura antes que eu pudesse raciocinar e perceber que tinha dormido com um dos meus melhores amigos. Sabe aquele clichê que todo romance mamão com açúcar que os produtores colocam nos filmes? Era bem assim que eu estava me sentindo.
  Nunca tive interesse amoroso em , apesar de já ter reparado nele mais de uma vez, dormir com ele nunca foi nem hipótese.
  Olhei para ele, ainda dormindo, e pensei comigo mesma se isso poderia dar merda.
  Éramos ótimos amigos e isso poderia ser benéfico para ele, tanto quanto foi para mim. Mas e se ele se apaixonasse?
  É assim que terminam os clichês, não é?
  Um se apaixona e o outro não, eles decidem seguir seu rumo, a amizade acaba porque o apaixonado não consegue estar no mesmo ambiente que o outro e nunca mais se apaixona por outra pessoa porque seu coração foi quebrado no passado.
  Mas, por outro lado, isso também poderia ser bom. não se apaixonava por ninguém, nunca, e eu também não queria me apaixonar de novo. O sexo poderia rolar e nenhum de nós teria que se preocupar com o outro no fim do dia.
  Olhei de novo para o meu amigo. Isso vai ser bom.
  Curvei-me na direção de seus lábios e o beijei até que acordasse. A intenção era conversar, mas estava mais disposto a sexo matinal e quem seria eu se recusasse um orgasmo?

  Três meses depois do nosso sexo pós-bebedeiras em pleno dia dos namorados, e eu estávamos muito mais envolvidos que uma simples amizade colorida e ainda mais confusos sobre se isso daria certo ou não. Decidimos tentar, sempre sendo sinceros sobre o que estávamos sentindo e sobre como continuaríamos caso aquela relação desse errado.
  O que não sabíamos era que a vida estava decidida a, pelo menos, nos manter amigos.
  Alguns dias depois de decidirmos oficializar aquela relação maluca, eu descobri a gravidez.
  Foi a maior loucura das nossas vidas. chorava e sorria ao mesmo tempo, o medo de ser um péssimo pai estava estampado em seus olhos, mas a felicidade de saber que haveria um ser dependente de si que o amaria por todos os dias até o fim dos tempos conseguia espantar qualquer outra emoção ruim.
  Eu, sinceramente, estava em pânico. Mal tinha terminado a faculdade, andava a trancos e barrancos para me sustentar com um emprego que eu tinha acabado de começar e eu sublocava um quarto no apartamento das meninas. Onde eu enfiaria um bebê?
  Mas passado o susto e o medo, e eu encontramos uma saída. Mudei para o apartamento dele que, inexplicavelmente, ficava muito mais próximo do meu trabalho do que do dele e nossa relação ficou um tanto mais melosa.
  Num dia de chuva, precisamos sair para a consulta e o uber quase foi embora por que eu não queria ter que sair correndo da portaria do prédio até o carro e acabei obrigando a voltar em casa para buscar o guarda-chuva.
  Minha vez na fila de espera não demorou a chegar e, quando entramos, ele parecia estar prestes a pegar o prêmio da loteria.
  Ouvimos os batimentos do bebê e meu coração pulava a cada batida do dele e encarava a tela vidrado, tentando adivinhar o que era o pequenino coração que era mais forte que o dos três adultos na sala.
  - Aqui - apontou a médica - está o coração do bebê de vocês… E olha… - moveu mais um pouco o aparelho e sorriu. - Já dá para saber o sexo, vocês querem? - Olhou para mim e eu não soube o que responder. , ao contrário de mim, balançava a cabeça freneticamente. - Pois bem, papais… Vocês estão à espera de… Um lindo menino.
  - Meu Deus… - apertou os olhos e lágrimas escorreram enquanto ainda encarava a tela. Seu transe acabou quando a médica me deu lenços para limpar a pouca barriga que começara a aparecer. - Eu te amo… Muito! - ele disse e logo depois selou nossos lábios.
  Fiquei estática por vários segundos enquanto limpava minha barriga e pegava minhas roupas no banco atrás dele. Será que havia percebido o que acabou de falar? Pelo visto não, pois ainda mantinha o sorriso fofo de quando soube o sexo e segurou minha mão, ajudando-me a levantar.
   - Já sabe que nomes vai querer? Eu tenho uma lista enorme e não sei se você vai gostar de algum porque você é chata demais e implica com tudo que eu falo e escolho, mas eu gostaria que você, pelo menos, considerasse alguns nomes que eu pensei porque seria legal se nós dois estivéssemos de acordo sobre isso - disparou de uma só vez, me deixando ainda mais tonta do que antes e arrancando risadas da médica.
  - Podemos resolver isso em casa? - foi a única coisa que saiu da minha boca, ainda num fio de voz. me olhou confuso e então arregalou os olhos.
  Sentei na cadeira à frente da doutora e ela me passou todas as vitaminas que eu precisaria para o segundo trimestre. Ele apenas continuou calado, por todo o final da consulta e o caminho para casa.
  Naquele dia, não voltamos a tocar no assunto e ele não disse, nenhuma vez mais, que me amava. O que era muito melhor, pois eu ainda não sabia se o amava de volta.

  Eu realmente só senti amor de verdade ontem, às 23h57 da noite do dia 16 de Março de 2019 quando, na sala de parto, no meio de um monte de médicos e de um extremamente nervoso e ansioso, o silêncio da sala foi cortado com um estrondoso chorinho fino e muito, muito alto.
  Gael nasceu forte e saudável, arrancando suspiros e olhares muito apaixonados de todas as pessoas que se aproximavam de nós.
  , ao meu lado, chorava copiosamente, agradecendo a Deus e a mim o tempo todo por ter trazido aquele bebê gordinho de bochechas rosadas e olhos extremamente claros.
  Gael foi colocado em meus braços e só quando ele segurou meu dedo e eu sussurrei: ”Está tudo bem, é a mamãe” foi que eu percebi que o amor não é comercial.
  Nenhum tipo deles é.
  Eu amava aquele pedacinho de gente que mal tinha saído de mim e que chorava estridente, e também amava aquele homem ao meu lado que também chorava, mas era um choro calmo de felicidade e de uma paz que aquele momento trazia.
  Então, depois de agradecer a Deus e ao e dizer de volta que eu o amava, eu agradeci silenciosamente a Guilherme e a todos os meus ex traidores porque, se eu não tivesse passado pela experiência, teria aceitado qualquer amor vagabundo que outros trastes iriam me dar e teria perdido a oportunidade de me apaixonar duas vezes. Uma pelo homem incrível que, além de pai do meu filho, é meu melhor amigo. E outra por um pedacinho meu e dele que faria malcriação, birra e chantagens emocionais comigo, mas que eu tenho certeza, seria meu guardião pelo resto da vida. E por tudo isso, me sinto em paz.

FIM



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