A Chance (To Change)

Escrito por Chewby | Revisado por Mah

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Prólogo

  Meu coração batia irregularmente em meu peito, meu ar entrava e saía de meu corpo com uma pressão forte e sufocante. Meus lábios estavam secos e eu tentava ao máximo manter minha boca hidratada com a saliva que restava abaixo de minha língua.
  Olhei para trás e vi aquela enorme sombra se lançando em minha direção, não aguentava mais o tanto que corria, mas sabia que tinha que continuar.
  Pelo meu futuro. Por mim. Por ela. Por nós.

01

  Senti um peso estranho em cima de meu corpo e sorri, por baixo de minhas pálpebras uma luz forte brilhou e eu apertei mais os olhos.
  - Vamos acordar, raio de sol? – a voz de veludo soou em meus ouvidos e meu sorriso aumentou.
  Outra luz forte piscou e então eu abri meus olhos.
  - Sabe, você fica uma graça enquanto dorme. – ela disse sorrindo com a câmera na mão.
  Segurei sua cintura e me coloquei por cima dela.
  Peguei a câmera de sua mão e tirei a primeira foto de seu rosto, ela estava com um sorriso automático lindo.
  - Você também é uma graça. – disse para ela.
  Abaixei mais meu rosto, cuidando para que meu peso não ficasse completamente por cima de seu corpo, deixei a câmera ao lado de meu corpo e encostei meus lábios nos dela.
  Senti um incômodo em meus olhos e afastei meu rosto do de Alicia.
  Ela sorria.
  - Essa foto vai pra nossa estante. – ela sorriu mais abertamente.
  Revirei os olhos sorrindo, peguei a câmera de sua mão e a coloquei na cabeceira da cama, e logo voltei de onde havia parado.

...

  - Amor! – ouvi a voz de Ally gritando-me do andar de cima. Larguei o copo na pia e fui em direção ao quarto.
  - Oi. – adentrei o quarto e não a encontrei. – Alicia?
  - No banheiro! – ela gritou de novo.
  Andei até o banheiro e a encontrei sentada na privada.
  - Está bem, amor? – perguntei enquanto abaixava-me em sua frente.
  - Estou ótima. – ela sorriu abertamente.
  - O que houve? – perguntei.
  - Tenho uma novidade para te contar. – ela apertou um lábio no outro e fez uma cara de sapeca.
  - O que é?
  - Lembra daquela nossa conversa sobre filhos? – ela começou. – Então, eu...
  O telefone do quarto tocou e Ally fez um bico engraçado demonstrando sua insatisfação.
  - Já volto. – ela passou ao lado de meu corpo e andou à passos pesados até o quarto.
  Ergui-me do chão e fui atrás dela.
  Coloquei meus braços ao redor de sua cintura e comecei a dar leves beijos em seu ombro.
  - Alô? – ela atendeu rudemente. – Licença, Eric. – ela andou e eu a segui. – Mas eu achei que... Tudo bem, tudo bem... Serei rápida.
  Ally desligou a ligação e jogou o telefone na cama.
  - Quem era? – perguntei.
  - Meu chefe.
  - Qual o problema?
  - A fotógrafa estagiária da empresa faltou e sobrou pra Alicia aqui ir segurar uma câmera na frente de cinco modelos anêmicas, em plena folga. – ela sorriu sarcasticamente.
  - Precisa ir agora? – perguntei.
  - Infelizmente. – ela me abraçou com doçura. – Vou só tomar um banho e vou sair.
  - Quer que eu vá te buscar? – perguntei depois de beijá-la o rosto.
  - Não precisa, vou passar na oficina para pegar meu carro. – ela sorriu.
  - Vai demorar? – falei com voz de criança.
  - Não, Eric, não irei. – ela abriu aquele sorriso lindo que eu amava.
  - Ótimo. – apertei-a em meus braços.
  - Eu te amo, sabia?
  - Todos os dias eu sei um pouco mais o quanto você me ama, e todo dia eu me apaixono um pouco mais por você e por esse seu amor. – beija - a de leve.

  Fiquei um tempo sentado na sala esperando Alicia terminar de se arrumar.
  Algumas coisas passeavam em minha mente, algumas memórias nostálgicas, alguns fatos importantes, algumas lembranças dolorosas.
  Lembrava-me de coisas sobre minha infância, coisas sobre minha família e quando estava prestes a lembrar de coisas sobre Alicia, senti um peso minha cabeça.
  Levantei a cabeça e encarei aqueles lindos olhos azuis me encarando com um sorriso lindo no rosto.
  - Olá? – ela disse.
  - Como você consegue? – perguntei.
  - O quê? – ela riu de leve.
  - Ficar mais linda todo dia.
  - Não sou linda, você vê isso porque está apaixonado. – ela sorriu docemente.
  - Então eu devo estar muito apaixonado, beirando à loucura. Pois olho para todas as mulheres desse mundo e mesmo assim só vejo você em todas elas. – disse.
  Os olhos de Ally brilharam e então seus lábios tocaram os meus levemente.
  - Eu te amo. – ela disse.

...

  Estava deitado em meu sofá, quase pegando no sono, quando ouvi o toque irritante do telefone.
  Estiquei minha mão até a mesinha de centro e peguei o aparelho.
  - Alô?
  - Alô, senhor Eric Baker? – a voz de uma mulher soou do outro lado da linha.
  - Sim, ele mesmo. – respondi.
   - Bem, aqui é Mandy, sou secretária do Sr. Monroe, e estou ligando para avisar que a Sra. Coleman passou mal no trabalho essa tarde, e foi levada ao hospital St. Mary. – no exato momento em que ouvi a palavra hospital e o sobrenome de Alicia na mesma frase, meu coração disparou e o telefone foi largado em cima do sofá.
  Levantei na pressa e nem me preocupei com a roupa desgrenhada que vestia, apenas calcei um par de tênis qualquer e corri em direção ao carro.
  Sabia que Alicia tinha muitos problemas de saúde e que vivia indo ao hospital para fazer os devidos tratamentos para todos eles, então, sabia que qualquer coisa grave que acontecesse, eu poderia perdê-la.
  O carro corria pela rua e eu não me preocupava com o semáforo, placas e nem com os outros carros, apenas dirigia acima da velocidade, querendo o mais rápido possível chegar ao meu destino.
  Estacionei o carro bruscamente em frente ao pequeno hospital particular e logo corri em direção à recepção.
  - Alicia Coleman. – disse o nome de Ally e logo a recepcionista me disse o número do quarto.
  Quando cheguei ao local, não acreditei que aquela era minha Alicia.
  Tubos de respiração, bolsas de soro e um aparelho cardíaco que fazia um barulho irritante, estavam ligados ao corpo de Ally, que se encontrava inconsciente na maca de hospital.
  Seu peito estava conectado ao aparelho cardíaco e seu nariz estava tampado por uma máscara de oxigênio.
  A ficha médica estava ao lado de seu corpo, em cima de uma mesa.
  Peguei o laudo médico e li cada palavra com toda atenção precisa. Precisei ler mais de duas vezes para que a ficha finalmente caísse sobre minha cabeça e eu precisasse de toda a força do mundo para não perder meu mundo naquele exato momento.
  Alicia estava com leucemia.
  Minha Alicia.

02

  Algumas semanas passaram desde que Alicia havia sido levada ao hospital, seu estado era grave e ela até conseguiu ter uma melhora, mas infelizmente não havia sido 100%, logo, ela havia voltado ao estado grave.
  O médico que estava cuidando de Ally avisou que o câncer dela não havia sido tratado desde o início, logo, a recuperação dela poderia não ser 100% e que havia uma forma de ao menos tentar fazê-la se recuperar.
  Claro que a recuperação não seria rápida e muito menos seria um recuperação completa, afinal, o câncer não fora tratado desde cedo, então já estava aflorado.
  - Senhor Baker? – virei meu rosto para trás e observei o Dr. Briel caminhar lentamente até mim.
  Eu estava sentado ao lado da cama onde Alicia estava deitada, ainda dormindo.
  Desde o dia em que havia feito a quarta quimioterapia, Alicia estava mais desgastada, mais cansada, acordava vez ou outra para comer e beber água, precisava de minha ajuda ou da ajuda de sua mãe para tomar banho, e sempre que acordava pela madrugada, reclamava de dores fortes, e para amenizar o desconforto tomava uma série de remédios induzidos diretamente na veia, para que conseguisse voltar à dormir.
  E, desde o dia em que Alicia havia dado entrada no hospital, eu não havia me deslocado de seu quarto para nada, saía por dez segundos para buscar algum biscoito na máquina que ficava ao lado do quarto dela e tirava cochilos de segundos.
  - Oi. – levantei-me da cadeira e me pus ao lado do doutor.
  - Alicia deu uma piorada desde o último exame... – ele começou e eu soltei o ar pesadamente. – Mas temos uma esperança que mesmo sendo pequena, é válida.
  - A operação? – perguntei.
  - Sim. As chances são pequenas, eu sei. Mas também há uma chance de dar certo.
  - Eu... Eu preciso pensar. – disse.
  - Sei disso, senhor. Mas, infelizmente, o tempo é curto e já não temos mais saídas para o caso da Alicia. A probabilidade de ela falecer da noite pro dia é grande...
  - Assim como a probabilidade de ela falecer na mesa de operação também é. – interrompi.
  - Infelizmente é a única saída. Da mesma forma que pode dar errado, também pode dar certo. – ele se virou e antes de sair da sala disse. – Encontramos doadores de medula compatíveis com a Ally, só para constar.
  Dr. Briel deixou a sala e eu voltei a sentar-me ao lado de Alicia.
  Minha mente dava voltas. Eram tantas as opções, que eu ficava até tonto só em vê-las rodando em minha mente.
  Abaixei a cabeça no colo de Alicia e fechei os olhos com força. Estava tentando me manter forte por tempo demais, não havia conseguido chorar desde que esse pesadelo começou, mas às vezes sua mente e seu corpo cansam de ficar aguentando tudo no silêncio e você simplesmente desabafa.
  Senti as lágrimas escorrendo em meu rosto e nem me importei com cada gota que molhava a barriga de Ally.
  Senti um leve toque em meu rosto e ergui minha cabeça.
  Alicia estava apertando os olhos, tentando abri-los com dificuldade.
  - Eric? – ouvi meu nome ser chamado quase que inaudível e tentei esconder as lágrimas.
  - Oi, amor. – segurei suas mãos levemente e aproximei meu rosto do seu.
  Alicia abriu um sorriso fraco e eu permiti que uma lágrima caísse em suas mãos.
  - Está chorando? – ela perguntou e eu abaixei os olhos. – Pare já de chorar, seu bichinha.
  Levantei os olhos e sorri em meio às lágrimas.
  - Não quero que você vá. – deitei a cabeça em seu colo e senti uma de suas mãos se livrarem das minhas e irem de encontro ao meu cabelo, onde ela começou a acariciar levemente.
  - Eu não vou a lugar algum, Eric. – ela disse.
  - Eu não quero que você vá, Alicia. – repeti.
  - Eric, Eric, me ouça. – ela tentou erguer meu rosto. – Eu não vou sair daqui. Nunca. Eu vou continuar aqui até depois da morte. – ela proferiu aquelas palavras e logo meus olhos voltaram a queimar.
  - Eu te amo tanto. – eu disse.
  - Eu também te amo, amor. – ela fez um carinho em meu rosto. – Mas às vezes, há coisas que temos que deixar partir. Por mais difícil que seja.
  - Não fale isso, Ally. Por favor. – apertei mais suas mãos nas minhas.
  - Desculpe-me. – ela sussurrou.
  Levantei a cabeça de seu colo e a encarei.
  Alicia havia fechado seus olhos, estava cansada.
  - Promete que estará aqui pela manhã? – perguntei.
  Ally acariciou meus dedos e assentiu levemente.
  Voltei a deitar minha cabeça em seu colo.
  - Eric... – ouvi seu chamado e me ergui novamente. – Me beija?
  Aquele pedido soou estranho aos meus ouvidos, mas não negaria nada que viesse dela.
  Aproximei meus lábios dos seus e delicadamente os encostei aos dela.
  O gosto amargo em seus lábios me fez querer chorar, sentia falta do gosto de morango que seus lábios tinham.
  - Não me deixe. – aquele pedido soou como uma súplica.
  - Eu te amo. – ela me deu um beijo de leve. – Preciso dormir agora, amor.
  Assenti e afastei-me de seu corpo.
  Observei Alicia fechar seus olhos e puxei o ar para dentro de seus pulmões com força, e então ela adormeceu.

  Acordei com um barulho irritante, um som ensurdecedor que não cessava, havia começado. Parecia com o barulho de uma campainha que estava quebrada.
  Ouvi algumas vozes perto de meu ouvido e apenas uma frase me fez acordar “Não dá mais, a estamos perdendo.”.
  Acordei assustado e observei aquele aglomerado em volta da cama de Alicia.
  Senti que meu coração já não estava mais no peito, minhas mãos tremeram e logo eu perdi o ar.
  - Senhor Baker? – ouvi chamarem meu nome, mas meus olhos continuaram focados na pessoa imóvel na maca de hospital.
  Fiquei um tempo imóvel até finalmente perceber o que estava acontecendo. Meu cérebro demorou para captar a mensagem, mas meus olhos não demoraram tanto assim, já que senti algum líquido descendo pelos meus olhos.
  Eu já chorava antes mesmo de me dar conta de que aquele havia sido o último beijo que eu dera em Alicia.
  Minha Alicia.

...

  Ouvi o padre orando e fazendo o discurso clichê que sempre fazia em todos os velórios. Não prestava atenção em suas palavras, apenas observava o buraco que havia sido cavado, pronto para ser preenchido com um caixão em que havia sido posto o corpo de Alicia.
  Senti meus olhos queimarem, mas me contive.
  O instrumental de Gone Too Soon do Michael Jackson começou a tocar e logo o caixão foi colocado lentamente dentro do buraco.
  Tirei e coloquei minha mão no bolso da calça diversas vezes, estava louco para ir pra casa, na verdade, estava louco para ir pra casa e encontrar Alicia me perguntando como havia sido o velório de uma pessoa qualquer. Mas eu sabia que não a encontraria hoje, e nem amanhã e nem depois de amanhã e nem nunca mais.
  Ouvi alguns amigos e familiares me darem os pêsames e dizerem o quanto sentiam muito, mas minha mente já estava longe dali, bem longe.
  Terminei de me despedir de todos e de dizer que ficaria bem, e então peguei o carro e fui para casa.
  Adentrei aquele pequeno aposento e puxei o ar pesadamente.
  Fazia um bom tempo desde que eu não ia para casa, logo, o local estava bagunçado.
  Andei pela casa olhando tudo em volta.
  Aquele lugar não era meu lar, não era o local ao qual eu pertencia. Tudo nele soava estranho.
  Adentrei o banheiro e sentei-me em cima da privada, a roupa usada pela Alicia na manhã em que ela foi para o hospital ainda estava jogada no chão.
  Levantei a blusa vermelha que estava no chão e suspirei pesadamente, vi algo branco ficar pendurado em uma manga.
  Peguei o tubo branco e observei atentamente.
  Já havia visto aquilo antes, mas não lembrava o que era.
  Levantei a tampa da lixeira e achei uma caixinha que tinha o desenho do tubo exibido na frente.
  “Teste de gravidez”
  Era o que dizia na caixa.
  Meu coração disparou e eu precisei engolir saliva por duas vezes consecutivas para enfim entender o que era.
  Olhei a parte da trás da caixa e lá tinham as instruções.
  “Azul para positivo, vermelho para negativo”
  Peguei o tubo e o virei em meus dedos.
  Respirei com força e deixei o tubo cair no chão.
  “ - Tenho uma novidade para te contar.
  - O que é?
  - Lembra daquela nossa conversa sobre filhos?”

  Havia dado azul.

03

  Senti meus olhos queimarem e minha primeira reação foi a de jogar o tubo em direção à parede.
  Eu achava que não havia mais o que ser perdido, mas havia sim, eu ia ser pai, eu e Alicia finalmente teríamos uma família, se não fosse pela Divina Santidade que decide quem vai e quem fica. E por que tinha de ser logo Alicia? A minha Alicia?
  Joguei-me na cama e soltei um urro de dor, solidão, tristeza, lamúria.
  Deixei que as lágrimas escorressem livremente por todo meu rosto, enquanto eu apertava com força o edredom da cama.
  Eu havia sido forte por tempo demais, não continuaria com o teatrinho de namorado razoável. Eu estava sofrendo e tinha esse direito. Mais do que ninguém, eu tinha o direito de gritar, chorar e se fosse preciso, até mesmo me matar.
  Puxei o ar com força e fechei os olhos.
  O cheiro de Alicia ainda estava impregnado na peça de roupa.
  Sua fragrância doce, com um leve cheiro de rosas, ainda estava presente no edredom.
  Apertei mais os olhos e deixei que minha mente sucumbisse à escuridão e logo tudo o que sobrasse fosse apenas o vazio.

  “ - Você me ama? – ouvi sua voz doce fazer a mesma pergunta pela terceira vez e eu tornei a sorrir.
  - Amo. – respondi.
  - Se amasse mesmo, teria me soltado. – ela fez um bico estranho.
  - Já disse que quem ama agarra a pessoa como se ela pudesse fugir a qualquer momento.
  - Mas eu estou com vontade de ir ao banheiro. – ela mordeu os lábios.
  - Eu te conheço, Alicia. Não joga essa pra cima de mim não, mocinha. – beijei-a de leve.
  - Faz de novo? – ela pediu.
  - O quê?
  - Esse beijo.
  Segurei sua cintura com mais força e encostei meus lábios aos seus, só que dessa vez demoradamente.
  - Assim? – sussurrei ainda com a boca colada na sua.
  - Por que você é assim? – ela perguntou ainda de olhos fechados.
  - Assim como?
  - Perfeito e tão...
  - Seu?
  - Você é meu? – ela mordeu meu queixo.
  - Sempre que você quiser que eu seja.
  - Então você é meu pra sempre?
  - Pra todo ele. – beijei-a.”
  Senti algo molhado em meu travesseiro e sem abrir os olhos tateei o lado da cama.
  - Ally, me dá uma toalha? – pedi e recebi o silêncio como resposta. – Alicia?
  Respirei fundo e abri os olhos.
  Meu quarto encontrava-se “vazio”. Alicia não estava ali, nem ela e nem a roupa que vestia antes de dormir.
  Sentei-me na cama e esfreguei os olhos.
  Demorou alguns segundos para que eu recuperasse a memória e então tudo viesse à tona.
  Assenti algumas duas vezes e fechei os olhos com força.
  Decidi que um banho e um copo d’água fariam muito para minha situação, então, antes de ir beber um copo d’água na cozinha, dirigi-me ao banheiro e tomei um rápido banho gelado.
  Saí do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e caminhei até a cozinha.
  Bebi um copo médio de água e logo voltei ao meu quarto.
  Parei na porta e observei o quarto com atenção.
  Um frio percorreu por toda minha espinha e eu engoli em seco.
  - Olá. – ele levantou-se da poltrona que ficava em meu quarto e andou em minha direção.
  Não, não era medo o que eu sentia, era pavor, mas era um pavor bom, confiável, algo estranho viria a acontecer.
  - Quem é você? – minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
  - Você me conhece, Eric. Dos seus sonhos, dos seus pesadelos, dos seus tormentos, da sua vida. – ele foi caminhando até mim.
  - Eu não me recordo de você. – me mantive com uma postura firme.
  - Sei toda sua vida, Eric. Seus desejos, seus temores... – ele parou. – Suas perdas.
  Meu coração deu uma pequena acelerada e eu puxei o ar com força.
  - Quem é você? – perguntei.
  - Sou aquele que irá saciar tuas vontades, aquele que vai sair um pouco da rotina, que vai fazer o papel de bom moço. Sabe aquela história de “policial bom e policial ruim”? – ele fez aspas. – Dessa vez eu serei o policial bom, já que alguém se desfez desse posto. – ele gritou a última parte.
  Fiquei algum tempo tentando decifrar o que ele queria dizer com aquilo, mas foi em vão.
  - Então, Eric... Diga-me o que quer.
  - Mas eu nem sei quem você é.
  - Eric, não importa quem sou eu, o que importa é que eu sei quem você é. – ele sorriu triunfante. – Eric Baker, vinte e dois anos, arquiteto, nascido na Flórida, perdeu a mãe quando ainda era um bebê, não vê o pai desde os 19 anos e atualmente só tem um desejo.
  Apertei os lábios com força e respirei fundo.
  - Alicia. – falamos juntos e meus olhos encararam os seus.
  Seus olhos eram de um tom escuro, faziam minhas pernas tremerem e meu corpo enrijecer.
  - Você quer sua preciosa Alicia de volta, não é mesmo? – abaixei os olhos e assenti. – Eu, melhor dizendo, você pode trazê-la de volta.
  - Você é louco? – encarei-o. – Já ouvi demais, é melhor sair.
  - Eric, você vai negar a única ajuda que tem para trazer sua amada de volta? – ele sorriu.
  Um sorriso frio, medonho.
  - Só você pode trazê-la de volta, Eric. Vai perder a única chance?
  - Como eu posso fazê-lo?

FIM



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