Accidental Love

Escrito por Beatriz "Beezus" Lobato | Revisado por Beezus

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  - Geg? Oi, sou eu... Eu sei que já faz tempo, mas...
  Lágrimas caiam sobre meus olhos como se fossem uma espécie de nascente de algum rio, que há muito tempo não via água. Voltar a chorar era uma experiência nova para mim.
  - Sinto sua falta... Tipo, o tempo todo. Não a um minuto da minha vida em que eu não pense em você... em nós dois. Passamos por tanta coisa, estivemos juntos por tanto tempo. Um amor como esse não desaparece tão rápido. Eu ainda o sinto, ainda amo você... Ainda dói...
  Muitas pessoas passavam por mim e me olhavam. Algumas por pena, outras entendiam bem o que eu estava passando.
  Estava eu sentada sobre a grama verde do cemitério de Hampton, chorando sobre a lápide do meu falecido marido. George Haynes. Filho, esposo, amigo. Com certeza essas não foram palavras escolhidas por mim. Então quando você morre tudo que se ganha é isso? Um pedaço de pedra com palavras tiradas de um comercial de cerveja? Ele merecia mais do que isso. Ninguém o conhecia. Não o conheciam como eu. Um pedaço de pedra velho não seria o bastante para escrever o quanto o Geg era bom. Mas eu não tive participação com isso. Depois do grande acidente fiquei duas semanas internada, três dias inconsciente, não compareci nem no enterro. Do meu próprio marido.
  George e eu já éramos casados há dois anos. Não é muito tempo, mas nos conhecemos já faz algum. Ele foi o meu primeiro, em tudo! Primeiro amor, primeiro namorado, primeira vez... Se isso não era o bastante então gostaria que me dissessem o que.
  Ele e eu tínhamos uma ligação muito forte, contávamos tudo um para o outro. A nossa relação nunca foi um simples namoro. Ele era a minha família, alguém que eu queria como família. Ele era meu amigo, meu irmão, um pai, um companheiro. Cuidava de mim, não importa o que acontecesse, até quando brigávamos.

  [FLASHBACK]

  - Para de ser burra, ! Você já está há anos presa num relacionamento que você sabe que não vai dar certo.
  - Para de falar isso...
  - Tá perdendo sua vida. Você poderia estar fazendo grandes coisas, conhecendo lugares, outras pessoas, bem melhores. – Anne, minha melhor amiga, gritava comigo.
  - Eu não quero conhecer outras pessoas, o George é o melhor pra mim. Nós já viajamos juntos, não quero conhecer outros lugares se não for com ele.
  - Ele não merece você!
  - Cala a boca!
  - Ele te traiu!
  - Ele não me traiu! – gritei, me controlando subitamente para não bater em Anne.
  - Ele se deitou com uma puta qualquer e só você não enxerga isso. Ele não te ama, ele engana você...
  - CHEGA! – Fui para cima de Anne, agarrando-lhe os cabelos e a empurrando para o chão. Coloquei minhas pernas em volta da sua cintura para a segurar, e prendi seus dois braços com apenas um meu; Anne era mais magra e mais fraca. Dei-lhe um tapa na cara e depois segurei seu rosto, a fazendo olhar para mim. – Eu nunca mais quero ouvir você falar isso de novo. O George não me traiu, ele me ame, me ama e, nunca faria isso comigo. A única puta aqui é você, que não consegue ficar feliz por mim. Eu vou me casar, ter filhos, e você? Não passa de uma estéreo de merda. Já pensou que talvez seja por isso que os seus relacionamentos não durem mais de um mês? Você tem inveja do que eu e o George temos, e por isso sempre tenta destruir o meu namoro. Mas quer saber, você não vai conseguir, não vai porque o que sentimos é forte, e nada destrói um amor!
  - Quem é você? - ela disse com lágrimas nos olhos. – É nisso que você se transformou? Eu não te reconheço mais. – Quando paralisei, ela me empurrou, fazendo-me sair de cima dela. - É isso que o fruto de um “amor tão bonito” trás? Me diga, porque, se for isso, não é o que eu quero para mim. Agora, por favor, se retire da minha casa antes que eu faça uma besteira ou ligue pra policia. está morta para mim, você é uma estranha.

  [FLASHBACK END]

  - Não importa o que digam de você, ou o que você tenha feito. Eu ainda amo você. No final os momentos bons sempre superam os ruins, é nisso que eu acredito, e ainda te vejo assim.
  Me levantei, tirando o pouco de grama das minhas pernas. Tirei as flores velhas que tinham e depositei o buque de tulipas do lado do seu memorial. George nunca gostou de rosas, dizia que eram muito fúnebres; aposto que não gostaria de ver algumas delas no seu tumulo. Dizia ele, que gostava de flores que o lembrassem um dia de sol; como girassóis, tulipas, lavandas, lírios... O Geg era um romântico nato.
  - Senhorita , quanto tempo! – me assustei sendo calorosamente recebida por aquele homem. Um homem que me trazia muitas lembranças, lembranças ruins para se dizer. Ele Tinha razão, fazia muito tempo. Não o via desde que foi me visitar no hospital depois do grande acidente.
  - É Senhora. Senhora Haynes.
  - Você ainda usa esse sobrenome? – ele perguntou, petulante.
  - E por que haveria de deixar de usar? É o meu sobrenome, o sobrenome do meu marido. – disse calmamente, não usando o mesmo tom rude que ele.
  - EX... Ex-marido. – Ele disse baixo.
  - Nós não nos separamos, portanto, ele continua sendo meu marido. Que significa que este sobrenome ainda é meu.
  - Bem, mas ele mo... Ele não está mais aqui! Se quer continuar a sua vida, não vejo necessidade de você...
  - E quem disse que quero continuar com a minha vida? Minha vida está muito bem do jeito que está!
  - Ah, é mesmo? Não foi o que eu fiquei sabendo. Em menos de um ano já teve duas internações, anda tomando remédios controlados, tem consultas psiquiátricas duas vezes por semanas. Sintomas de bipolaridade, depressão, alucinações... Suicídio. – ele sussurrou essa última palavra.
  - Eu não me... Eu não tentei me matar!.
  - Não foi o que os médicos disseram. Olha, quer saber? Acho que George Haynes continua fazendo mal à você até depois de morto!
  - Não fale assim dele, você não tem esse direito! Não tem o direito de vir aqui, com essa... petulância, falar mal de meu marido no seu lugar de repouso. Você não é bem-vindo aqui .
  - Me desculpe decepcioná-la, Senhorita , mas o cemitério costuma ser um lugar público.
  - É Senhora... Argh! Então saia daqui! Saia dessa ala, saia desse terreno, dessa grama, saia de perto do tumulo do meu marido. – Eu dizia enquanto o empurrava, ele apenas me olhava. – Fique longe de mim. – o atirei as flores secas.
  Maldito . Arrogante e petulante . Desde que ele entrou na minha só me trouxe desgraça e tragédia. A culpa é dele, eu o culpo. Antes ele Geg e eu éramos felizes, vivíamos bem. As depois que o conheci, George começou a ficar violento, o ciúmes, acaba com ele. Ele dizia que não viveria em um mundo onde não estivéssemos juntos. No começo eu achava isso lindo, mas depois... Não! Não, Geg me amava. A culpa foi dele, . Não há nada que eu sinta por ele à não ser ódio. Tenho poucas memórias sobre aqueles dias, algumas não gosto de me lembrar, mas me disseram que quando acordei no hospital, era quem estava no quarto comigo. Os médicos disseram que foi daí que começaram as crises violentas. Ouvi uma enfermeira contar que arranquei a agulha do soro de meus próprios braços e atirei em .

  [FLASHBACK]

  - Ai meu Deus, socorro! Eu vou botar fogo em toda a casa, eu vou queimar tudo. Meu Deus me ajuda... CALA A BOCA!. – disse me referindo ao alarme de incêndio que não parava de tocar.
  - Bombeiro!
  - Ali, naquele apartamento.
  - O cheiro de fumaça já está forte.
  - Essa mulher quer matar todos nós!

  - Tem alguém no apartamento? Por favor, abra. Recebemos uma denuncia de ameaça de incêndio.
  - Ameaça de incêndio? Mas que porr... – Abri a porta, e me deparo com um homem alto, pouco maior da minha altura, magro, cabelos pretos e olhos claros. Talvez o homem mais bonito que eu já tenha visto em tempos. – Não tem incêndio nenhum aqui. – consegui dizer.
  - Sinto o cheiro de fumaça.
  - É, mas... não tem fogo! Então o que significa que não tem incêndio. Nada com o que se preocupar, Senhor Bombeiro. – Dei o meu melhor sorriso, nervosa. Talvez assim o convencesse a ir embora.
  - Tem alguma coisa queimando? – ele perguntou.
  - Ah... sim, bem...
  - Me desculpe, Senhorita, mas tenho que verificar. – ele sorriu maroto.
  - Hã? O quê? Você não pode entrar assim na minha casa, sem autorização.
  - Quando o corpo de bombeiros recebe uma denuncia de incêndio, ai eu posso sim!
  - Mas que incêndio? Essas velhas são loucas, não tem incêndio nenhum aqui. Eu só estava... tentando fazer uma coisa diferente, mas acho que a panela ficou tempo demais no fogo.
  - A Senhorita regulou o seu alarme? Abriu portas e janelas para a fumaça sair? Tem um extintor em casa? Comunicou o seu sindico?
  - Ah... não!
  - Então, Senhorita, não tinha a situação sobre controle, o que sim, poderia resultar em um incêndio.
  - Olha, eu só... Argh! Será que você pode fazer esse negócio calar a boca? – Disse que referindo ao alarme. Rapidamente, o bombeiro a minha frente pegou uma cadeira, subiu, e apertou (o que eu acho ser um botão). Depois ficou me olhando, com uma cara do tipo “É simples, e saberia disse se tivesse lido as instruções”. – Eu já sabia disso.
  - Mas é claro!
  - Sabia sim, é que na hora o nervosismo não deixou!
  - Moça, com todo respeito, mas, a Senhorita é a pessoa mais despreparada para um incidente que eu já conheci!
  - Eu não sou despreparada! E, é Senhora, para a sua informação.
  - Senhora, é? Tem quantos anos por acaso para ser tratada como senhora? – estiquei a mão para que ele pudesse ver a aliança. – Ah, é casada... sorte a dele! Bom, Senhora, se me der licença, devo voltar para o meu posto. Existem pessoas que precisam do meu serviço de verdade. E já que a Senhora tem tudo sobre controle aqui...
  - Sim, senhor. Tudo sobre controle.
  - Meu trabalho aqui está feito!
  - Muito obrigada por nada, bombeiro... . – disse eu, finalmente vendo seu nome em sua farda.
  - Sempre que precisar, Senhora...?
  - . Haynes!
  - Haynes... Lembrarei desse nome quando ligarem por outra suspeita de incêndio por aqui. – Disse ele dando o ultimo de seus sorrisos marotos de duplo sentido, e saindo, porta a fora.

***

  Alface – confere
  Macarrão – confere
  Carne moída – confere

  - Pasta de amendoim? Quem ainda come isso? Confere. Agora só preciso pegar as coisas para higiene... Produtos para o lar, açougue, doces... Corredor um, corredor dois, qual o número do corredor... Ai! Mas que porcaria, não olha por onde anda, não?
  Naquela manhã havia ido ao mercado, repor algumas coisas que estavam faltando. George tinha ido viajar com alguns amigos, então aproveitei para fazer minhas coisas; geralmente não podia nem fazer compras sozinhas sem que Geg me questionasse. Não conseguia fazer qualquer outro tipo de coisa com ele em casa, às vezes ele me sufocava.
  - Me desculpe... Senhora Haynes, que surpresa! – Como se meu dia já não estivesse bom, tinha que encontrar justo com ele. Aquele bombeiro arrogante, que, só porque fez um cursinho qualquer de salva vidas se acha mais esperto do que os outros.
  - Bombeiro . Pra um homem que entende tanto sobre acidentes, sabe muito bem como causar um. – disse me referindo à nossa trombada; que resultou em todos os meus pacotes irem ao chão (já que eu me recuso a carregar cestas).
  - Se me perdoa, Senhora Haynes, não fui o único à não prestar atenção. Deveria tomar mais cuidado. Incêndios, esbarrões em supermercados, sua lista de acidentes me parece bem comprida. – ele dizia enquanto recolhia meus pacotes do chão.
  - E a minha lista de “pessoas que devo evitar porque me enchem muito o saco” também só ta aumentando. – ele riu. – Qual a graça?
  - Você me faz rir, .
  - Então eu sou motivo de chacota para você, ?
  - Só quando fica nervosa. O que me parece que um hábito comum. – sorri meio sem jeito. – Olha só, o que dizem das rosas? Tão belas, mas tão espinhosas? Deveria mostrar mais o seu sorriso para as pessoas. Pasta de amendoim? Ainda fabricam isso?
  - Pelo visto, sim. – ri.
  - Bom, está na minha hora. Ainda tenho que preparar o jantar...
  - Para sua esposa? – Não sei explicar porque fiz essa pergunta, só sei que ela surgiu em minha mente tão rápido quanto foi dita pela minha boca. Ele sorriu, maroto.
  - Não, minha irmã. Ela e o marido vem nos visitar. De qualquer maneira, foi bom rever você, Senhorita .
  - Foi bom... Espera, como sabe o meu sobrenome de solteira?
  - Até mais ver, .

***

  - Dois registros em menos de um mês... Acho que temos uma nova recordista aqui! – Eu estava parada de pé, no corredor do meu apartamento, com e um bloquinho de anotações.
  - Tá certo, o local já está liberado. – um outro bombeiro, que eu nunca havia visto antes, mas também muito bonito, disse.
  - Deu pra salvar minha casa?
  - Ainda da pra morar. Mas vai ter que trocar seu fogão.
  - Ai meu Deus, mais essa. O George vai me matar – resmunguei.
  - Seu marido. – o bombeiro perguntou. Assenti que sim.
  - Ele não ficou muito feliz da primeira vez quando os vizinhos ligaram pros bombeiros com uma “ameaça de incêndio”. Agora quando ele souber que teve um “incêndio real”... Ai meu Deus, não quero nem pensar.
  - Também com uma esposa com tendências incendiárias, até eu ficaria nervoso.
  - Olha só, eu não sou uma... incendiária mirim!
  - Ah não! Só acho que você gosta de provocar esses acidentes.
  - É claro, porque eu adoro receber o corpo de bombeiros em casa pra tomar chá... – ironizei.
  - É sério, ! – Pela primeira vez vi o bombeiro sem seus famosos sorrisos petulantes, e assumir uma postura de... bombeiro. – Sair de casa e esquecer a panela no fogo? Sabe a que isso poderia ter levado? Sua casa poderia ter se queimado, seus vizinhos poderiam ter sofrido um acidente. Tem crianças que ficam sozinhas em casa enquanto os seus pais vão trabalhar. Pensa que elas poderiam perceber que estava havendo um incêndio? Estamos falando de vidas! Fique feliz porque só seu fogão foi afetado.
  - Me... me desculpe, bombeiro . Isso não vai mais acontecer, eu... Eu prometo. Não terá mais reclamações minhas. Nunca... nunca mais vai ouvir falar de mim.
  - Algumas pessoas tem mais sorte do que outras, . Outras, só tem sorte por ainda estarem vivas.

***

  - Vamos comprar uma casa. Uma casa no interior, o que acha?
  - Pra eu causar outro acidente, ai morrermos os dois, sem ninguém para nos socorrer? Me parece bom, pelo menos não levarei outras pessoas comigo.
  - ...
  - Eu sou um horror na cozinha... Uma péssima dona de casa. Tudo que eu toco, eu... eu destruo. Eu quebrei a máquina de lavar, o tapete da sala entupiu o aspirador de pó, eu coloquei fogo na cozinha... duas vezes. Talvez eu não fosse pra casar.
  - Para de falar besteiras, meu amor. Quer saber? Eu também tenho culpa. Tenho culpa porque não ficamos muito juntos em nosso primeiro ano de casados. Eu estou sempre fora, viajando a negócios ou com amigos. De agora em diante, me dedicarei somente a você e ao nosso casamento, tudo bem? – fiquei em silencio. – ?
  - Eu não sei...
  - Ah, por favor, . Você... você não anda pensando naquilo que Anne te disse, não é mesmo?
  - Eu nem falei na Anne.
  - Então quer dizer que não acredita nela?
  - Eu não sei, não sei no que pensar, em quem acreditar, George...
  - , eu não te trai, nunca faria isso com você, meu amor.
  - Já fez antes. – falei baixo na esperança de que ele não ouvisse, mas soou mais alto do que eu esperava.
  - Porra, ! Eu nunca te trai! Isso... Isso é coisa da Anne, já te disse para ficar longe dela.
  - Ela é minha amiga.
  - Uma péssima amiga, você quis dizer.
  - Eu não sei, George, andei só pensando. Talvez fosse melhor se déssemos um tempo...
  - Um tempo? Você ‘tá terminando? Quer se separar de mim?
  - Eu não disse que quero me separar...
  - Mas disse que está pensando... Você tem outro homem?
  - O quê?
  - Você ‘tá me traindo? Anda trepando com outro cara? - Nessa altura George já gritava e esmurrava o volante.
  - Por favor, George, deixa de ser paranoico. Não tem ninguém.
  - Me diz quem é o desgraçado que eu acabo com ele.
  - Pelo amor de Deus, George, eu já disse que não tem ninguém. EU NÃO SOU COMO VOCÊ!
  - Então é isso? ‘Tá me traindo pra se vingar de mim? Pra dar o troco em mim? - “Não!”, gritei. – Mas fique sabendo que eu mato ele. Mato ele e depois mato você. Porque eu não vou ser chamado de otário.
  - George, cuidado!

  [FLASHBACK END]

  Lágrimas caiam sobre meus olhos. Todas essas lembranças, de algumas eu me recordava, de outras somente fraguimentos. O grande acidente. De todas as minhas besteiras, desastres, e azares, sem duvida foi o que acabou com a minha vida. Desde então foram centenas de consultas psiquiátricas, duas internações, remédios para depressão, bipolaridade, histeria... No começo eu só queria entender porque deu ser assim. Porque eu atraia tanta coisa ruim. Depois, se tornou uma maneira menos dolorosa de encarar a morte do George. Se eu acreditasse que teria uma coisa de “errada” dentro de mim, talvez eu me culpasse menos por ter causado a morte dele.
  No final, os médicos não constataram nada. Sem sinais de histeria, esquizofrenia, psicose, delírios... Somente uma garota que se casou cedo demais e que, infelizmente, não teve sorte. Então, depois de acreditar que a culpa não foi minha, eu decidi por a culpa em outra pessoa. Nele. Ele que apareceu no momento mais frágil da minha vida. No inicio de um casamento que já havia começado mal; logo depois de uma traição. Ele que sabia como sorrir petulantemente, e me fazer pensar que nada tinha sido tão certo. Ele que era o sinônimo da arrogância, e o primor da beleza. Ele por quem eu acredito ter me apaixonado desde o primeiro momento. Desde o primeiro sorriso até o ultimo olhar.

  - Não foi sua culpa. – disparei assim que abriu a porta do seu apartamento.
  - O quê? – ele estava com a cara de sono. Também não percebi que estava só de cueca, até então.
  - Disse que, mesmo por todas às vezes em que eu te vi e, disse que a culpa era sua, na verdade eu sempre soube que não. Mas, era mais fácil culpar você.
  - Como descobriu onde eu moro. – ele não me convidou para entrar, apenas ficou parado encostado no parapeito da porta me encarando com um olhar de superior, como sempre.
  - Eu... fui no corpo de bombeiros e disse que você salvou minha vida uma vez... Mais de uma vez. – suspirou, se desencostando da porta fez um aceno com a cabeça me convidando para entrar. – Você disse pra eu sumir da sua vida...
  - Eu sei...
  - E, antes disso, disse que eu nunca mais ouviria falar de você.
  - Eu sei, mas...
  - E antes disso, quando fui te visitar no hospital, você me furou com a agulha do seu soro! Eu quase peguei uma infecção.
  - Me desculpe por isso também, eu estava...
  - Instável. Foi à palavra que os médicos usavam para não te chamar de maluca.
  - Maluca... Por um tempo eu também achei que estava.
  - E o que te fez mudar de opinião?
  - Você! – ele arqueou as sobrancelhas. – Uma vez você me disse que algumas pessoas têm mais sortes do que outras. E que outras, só tem sorte por estarem vivas. – ele sorriu sincero, acho que pela primeira vez.
  - Por que disse que era mais fácil me culpar?
  - Era mais fácil te culpar por uma coisa ruim que aconteceu, do que aceitar que você talvez tenha sido umas das melhores coisas que já aconteceram comigo.
  - É mesmo? – ele sorria.
  - Aham... Desde que eu te conheci, eu nunca mais queimei mais nada na cozinha. – ele riu. – Nem, derrubei as compras de mais ninguém no mercado, ou quebrei algum eletrodoméstico dentro de casa. Não ri, é verdade.
  - E os medicamentos?
  - Eu não preciso mais. Os médicos disseram que tudo que eu passei foi normal, eu só... Expressei de maneiras diferentes.
  - Tipo agredindo as pessoas?
  - Tipo, furando bombeiros com agulhas contaminadas. – rimos. – Eu só queria te pedir desculpas, .
  Tá tudo bem, já passou. Isso ficou no passado. – ele tocou minha mão, e entrelaçou com a sua. Isso me passou um sinal de conforto.
  - Eu sou uma pessoa conturbada, . Sou cheia de problemas e defeitos.
  - Eu aceito seus problemas e defeitos, posso te ajudar a superar e conviver com eles.
  - Eu nem sei cozinhar sem queimar a comida.
  - Sou a pessoa mais prevenida para acidentes que você vai conhecer.
  - Eu sou um acidente, .
  - Eu sei lidar com acidentes...
  - Mas e se eu...
  - Shiii...
  Delicadamente, , que ainda segurava minha mão, me puxou para mais perto de si. Estávamos então, pela primeira vez, tão próximos, um sentindo a respiração do outro batendo sobre o rosto. Os olhos deles estavam fixos nos meus, já eu não conseguia desviar de seus lábios; por tempos pensei tanto em como seria beijar . Ele colocou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha, e levou a mão até minha nuca. Com a outra trouxe minha cintura para mais perto da sua; ele era mais alto que eu. Primeiro ele beijou minha testa, depois minha bochecha, então esfregou seu nariz no meu, para finalmente selar nossas bocas. Abri de imediato, esperei demais por esse beijo, não iria o enrolar agora. , porém, não parecia com pressa. Seus movimentos eram leves e doces, enquanto eu lutava com sua língua.
  - Isso tudo era pressa de me beijar?
  - Quis fazer isso desde que você entrou na minha casa. Eu só não sabia disso. – ele riu.
  - Deixa eu cuidar de você?
  - Tem certeza de que você quer mesmo se envolver com essa pessoa doida e problemática?
  - Eu já disse que sim. Por favor, me da à chance de provar que isso é o certo.
  - Não precisa me provar que é certo. É sei que é. Você é a coisa mais certa que já aconteceu na minha vida.

FIM!



Comentários da autora


This is the end… Põe Skyfall da Adele no fundo. SHAUSHAUHSUAH
Bom, essa loucura, esse devaneio, eu dedico para a minha amiga secreta Isadora Mariotto.
Isa, me desculpa qualquer coisa? Um dia eu acordei, meio grogue, meio bipolar, meio alegrinha, e tava com essa ideia na cabeça. Acho que nunca vi nada parecido, e, como sou uma pessoa de Lua, gosto de coisas estranhas! (Só que eu acho que se essa fanfic fosse long ficaria muito mais bem contada).
Bem, (as pessoas que leram também, obrigada). Espero que você goste, AS! Beijos! Xx

PS: Eu sou minha própria Beta, então qualquer erro nessa fiction é meu, Beezus. Informe no e-mail e não na caixa de comentários.