7 Boys - Year 3000

Escrito por Tize | Revisado por Pepper

Tamanho da fonte: |


  Cheguei à casa apressada. Eu tinha exatamente uma hora para almoçar e voltar para aquela linda coisa desgraçada que chamamos de escola. Enquanto eu lutava desesperadamente contra a fechadura que insistia em não aceitar a chave, ouvi aquele barulho estrondoso.
  – Mas que...? – eu me perguntei assustada olhando para os lados esperando ver alguma coisa pegando fogo.
  Havia uma fumaça no quintal do vizinho. Ah! Claro que deveria ser daquela casa ao lado. Suspirei e olhei da porta a minha frente para a coluna cinza serpenteando o ar por cima do muro. Suspirei.
  – Yah! O que você está fazendo? – eu gritei no portão de grade da casa dele.
  Logo ouvi uma pilha de materiais pesados caindo e Taehyung aparecendo como um flash na minha frente, abrindo o portão.
  – Oh! ! – ele disse sorrindo.
  Confesso, ele estava uma bagunça. O cabelo, que recentemente tinha passado do loiro para o castanho, estava todo sujo de cinzas e talvez tivesse um fio no topo com uma chaminha de fogo. Seu rosto estava manchado com poeira e não sei mais o que, e as roupas melhor nem descrever.
  – Só podia ser você mesmo. – eu falei apagando a chama naquele fio de cabelo espetado antes que ele todo se queimasse.
  – Você não vai acreditar! – ele exclamou me puxando pelos braços e me guiando até a bagunça que havia numa parte do quintal.
  – TaeTae, eu não tenho tempo... – retruquei.
  Taehyung é um daqueles meninos que você claramente percebe que ele tem uma queda por você se ele tiver. Infelizmente, ele tinha uma queda no Tártaro por mim.
  – Não importa, você tem que saber disso. Eu sou um gênio! – ele dizia animado.
  Bufei enquanto ele me deixava parada ao lado de um carro velho e rodeado por fumaça.
  – Tadã! – ele exclamou esticando os braços para o alto como se estivesse me mostrando um presente-surpresa de aniversário.
  Olhei para ele entediada e ele revirou os olhos.
  – Te apresento a Ultramegapower Viajetor 3000! – ele continuou animado e batendo palmas. Tentei não rir, juro. – Essa belezinha é a primeira máquina de viagem no tempo. Sinta-se honrada.
  Eu o encarei tentando ver um pingo de sanidade naquela pobre alma, mas desisti e cai na risada.
  – O quê? Uma máquina que pode viajar no tempo? – eu dizia tentando controlar minha respiração, ainda rindo.
  Taehyung permaneceu indiferente até eu me acalmar.
  – Se não quer acreditar, tudo bem. Posso te levar até o futuro. – ele disse fazendo uma de suas caras mais sérias, o que me fez voltar a ter uma crise de riso.
  – Ok, ok... Você já experimentou, por acaso? – eu decidi entrar na brincadeira também.
  – Sim! Eu acabei de voltar do ano 3000. – ele disse com seus olhos brilhando de entusiasmo.
  – Ohhh! E como foi?
  – Waaah! É muito divertido! – ele disse parecendo uma criança de tanto entusiasmo. – Não mudou muita coisa.
  – Não, é?
  – Não. Só que lá eles estão vivendo embaixo da água.
  Ele me encarou pensativo e eu quase voltei a ter outra crise de riso, mas me contentei com uma risada apenas.
  – Sei, sei... E o que mais? – segui perguntando.
  Eu até que gostava dele. Taehyung não era nada normal. Alguns diziam que ele era um alien, mas eu acho que nem um extraterrestre seria tão bizarro. De fato, eu gostava muito dele porque ele é o que é: um excêntrico adolescente. Eu admirava muito essa coragem em assumir sua anormalidade, sem se importar com o que os outros pensam ou falam.
  – Aaah... As mulheres de lá nadam sem nada na parte de cima. – ele disse e eu ergui uma das minhas sobrancelhas.
  – Seu safado! – acusei e ele arregalou os olhos sem saber o que fazer.
  – N-não é nada disso... Eu... Aish! – ele corou e eu ri.
  – Mas só isso? – eu indaguei para tirá-lo daquele clima constrangedor.
  – Hm... Eu conheci a sua tataraneta, também.
  – O quê?! – eu exclamei e comecei a rir. – Waaah! Você é mesmo um mentiroso engraçado.
  – Não estou mentindo... – ele resmungou fazendo beicinho.
  – Ah... Desculpa, V, mas eu realmente tenho pressa. Até mais! – eu falei e sai dali ainda rindo.
  Ouvi ele resmungando alguma coisa enquanto suspirava, mas eu não entendi, já estava longe.

  No dia seguinte não havia aula. Aproveitei para passar o dia dormindo. Ou pelo menos essa era minha intenção, até começar aquele zunido insuportável.
  – Aish! O que o TaeTae ta aprontando agora?! – falei alto enquanto me levantava e ia me arrumar.
  Em menos de meia hora eu já estava batendo no portão da casa ao lado, gritando por ele. Taehyung apareceu como em um passe de mágica. Dessa vez não estava tão sujo quanto antes, mas suas roupas estavam úmidas e do cabelo pequenas gotas caiam, se espalhando pela testa, fazendo caminho pelo rosto até o pescoço. Era uma imagem sexy, tenho que admitir.
  – ! – ele exclamou um pouco ofegante com sua voz grossa.
  Fiquei sem saber o que dizer por alguns instantes. Oh! O que eu estava fazendo? Ele é quem gostava de mim, não eu, portanto ele tinha que ficar hipnotizado!
  – O que você está fazendo que não me deixa dormir num sábado?! – eu falei fingindo irritação.
  Ele ergueu um das sobrancelhas.
  – Se eu te falar você não irá acreditar, de qualquer jeito. – ele respondeu dando de ombros e eu bufei.
  – Você nem tenta se explicar. Incrível!
  Ele mordeu os lábios, me analisando por alguns minutos.
  – O que foi? – eu indaguei me sentindo incomodada.
  Ok, eu não estava lá muito ajeitada. Apenas levantei da cama e coloquei o primeiro sapato que vi na frente, mas meu pijama não era bem um pijama, era mais um short de corrida e uma camiseta larga da Hello Kitty.
  – Você quer que eu te mostre o que eu estava fazendo? – ele perguntou e eu senti minha pele arrepiar.
  Ele precisava usar um tom tão sexy assim para aquela pergunta? Desnecessário...
  – Vem! – ele disse sem me deixar responder.
  Agarrou meu braço e me arrastou pelo portão adentro e em meio a protestos ignorados, chegamos à garagem.
  – Que legal! – eu sussurrei admirada.
  V sorriu satisfeito. Ali havia um carro como o daquele do filme De Volta Para O Futuro, novinho em folha e todo brilhante.
  – Vamos dar uma volta. – não era uma pergunta, ele estava me obrigando a entrar no carro.
  Novamente, sem oportunidade de escolha, ele me empurrou no banco do carona – aaaah! As portas abrem para cima mesmo! – e logo em seguida ele sentou no do motorista, dando partida.
  – Isso é quase um seqüestro relâmpago! – falei.
  – Coloque o cinto. Vai ser mais seguro. – ele dizia dando ré.
  Só por precaução eu coloquei o cinto. Seja lá a doideira em que eu estava me metendo, era preciso lembrar que a segurança vem em primeiro lugar.
  – Pronta? – ele perguntou e eu assenti, sem saber se isso era verdade ou não.
  Ele acelerou o carro na rua e de repente não estávamos mais ali, mas sim em uma confusão de sons, imagens e objetos.
  – Hey, pode abrir os olhos já. – ele disse me cutucando levemente.
  Abri os olhos e quase não acreditei no que via. Era como se estivéssemos num aquário. A água azul nos rodeava, raios de sol atravessando-a aqui e ali. Vários cardumes de peixes se espalhavam coloridos e flutuantes.
  – WOW! – exclamei quando vi uma baleia atravessar na nossa frente, seu enorme corpo nos deixando na sombra por alguns minutos.
  Era uma visão fascinante.
  – Gostou? – ele perguntou.
  Eu o olhei sem saber o que pensar ou dizer. Aquilo era surreal e magnífico! Acabei sorrindo e assentindo com um movimento de cabeça. Taehyung pareceu ganhar o dia com essa minha demonstração de satisfação. Os lábios dele abriram mostrando dentes brilhantes e claros, enquanto os seus olhos escuros e penetrantes se enchiam de alegria. Parecia que poderia explodir a qualquer hora.
  Corei um pouco ao notar o quanto ele era bonito. Seu perfil reto e o cabelo levemente bagunçado. Ele era muito atraente daquele jeito. Então, sem aviso prévio, ele mordeu o lábio inferior e enquanto virava-se novamente para mim, foi soltando-o. Eu não consegui controlar as minhas ações.
  Seus olhos pareciam prender os meus, e nada mais existia além de nós dois. Suavemente, ele foi se aproximando, sua respiração ofegante, o coração acelerado...
  – Espera. – ele disse de repente, quebrando o clima. – Você antes tem que me dizer uma coisa, não tem?
  Eu levantei as sobrancelhas sem entender. Ele suspirou e revirou os olhos, esperando que eu lembrasse.
  – Desculpa, eu não sei o que tenho que falar. – eu disse após alguns segundos de tensão.
  – Você começou corretamente essa sentença. – ele disse e eu franzi o cenho.
  Ele riu e então apontou para fora do carro.
  – Onde acha que estamos? Quando estamos?
  Pisquei os olhos algumas vezes até tudo fazer sentido.
  – Ah! Estamos no ano 3000? – perguntei e ele abriu um sorriso exagerado. – Mas eu não consigo ver as pessoas...
  – É que elas estão lá embaixo. Na cidade. – ele disse apontando para minha janela.
  Eu olhei por ela e arfei. Lá embaixo, há alguns quilômetros de distância, havia um conjunto de casas e prédios estranhos, mas ao mesmo tempo bonitos e brilhantes. Uma cidade.
  – Hum. E como é que você conheceu minha tataraneta? – indaguei tentando adiar o que eu deveria realmente falar.
  Mas não funcionou. Ele seguia me encarando provocante. Suspirei.
  – Desculpa. Você estava certo. Isso é real. – eu murmurei enquanto ele aproximava os ouvidos para me ouvir melhor.
  – É assim que se fala, garota! – ele disse sorrindo e então, antes que eu pudesse ter outro tipo de reação, me beijou.
  Esse beijo me fez entender o que acontece quando no dorama o mocinho beija a mocinha e ela fica com os olhos abertos. Não é possível controlar o seu corpo quando você está chocada e surpresa. Alie isso à emoção de se estar beijando a pessoa amada e tenha a fórmula de beijos agonizantes com olhos abertos.
  Quando V se afastou, eu nem consegui pensar direito. Ele tinha me beijado.
  – Você está bem? – ele perguntou preocupado.
  Eu simplesmente o puxei pelo pescoço até nossos lábios se encontrarem novamente. Ele ficou assustado no começou, mas logo relaxou e eu o senti sorrir. Aquele era o melhor beijo embaixo d’água que alguém poderia ter.
  – Muito bem, calma. – ele disse ofegante quando nos separamos em busca de ar. – Você não queria saber como conheci sua tataraneta?
  – Eu acho que isso não é relevante. Ela nem nasceu ainda e acho que dificilmente irá nascer se eu não achar o tataravô dela... – falei e ele riu.
  – Eu acho que isso também não é mais prioridade. Você já achou. – ele disse e me olhou intensamente.
  Oh! Acho que então devemos achar os trisavôs deles...

FIM



Comentários da autora
--