74 Dias

Escrito por Dinha | Revisado por Natashia Kitamura

Tamanho da fonte: |


Prólogo

  

  A minha visão já estava ficando turva, o ar estava ficando pesado e eu sabia que não ia conseguir aguentar por muito mais tempo, já sentia a paz tomar conta do meu corpo e era só o que eu queria em meio a tanta tortura. Já havia se passado 23 horas desde que eu estava amarrada na cadeira, toda machucada e sangrando. Os meus olhos já estavam pesados e eu precisava fechá-los, mas a voz DELE ecoava em minha cabeça sussurrando: “, aguente firme, não feche os olhos, não desista de viver. Eu te amo!”, eu tentava resistir à vontade de dormir, pois sabia que não conseguiria acordar nunca mais. Engraçado, na beira da morte eu tinha uma gana ensandecida de viver, tudo o que eu queria era sobreviver pelo Harry.
  De repente, um jato de sangue subiu por minha garganta me fazendo vomitar um liquido pastoso e quente, era o indício de que algo dentro de mim também estava quebrado, a dor era enlouquecedora e nesse instante eu queria morrer, queria acabar com aquilo de uma vez, juntei minhas forças e em um sussurro sofrido pedi a pessoa que estava em minha frente:
  - Me mata!
  - O que você disse minha querida? – meu assassino falou aproximando-se um pouco mais de mim.
  - Por favor... ME MATA! – dessa vez saiu um gritou brutal de minha garganta.
  O homem a centímetros de mim ria em tom de deboche, ele estava adorando aquilo, a minha dor lhe dava prazer eu percebia isso em seu sorriso.
  - Ah sim meu anjo, você vai morrer! Só que antes eu vou me divertir mais, eu não estou tão satisfeito assim.
  No momento seguinte eu senti meu maxilar quebrar e alguns dentes saiam da minha boca, ele havia pegado um pedaço de madeira e batido no meu rosto. Eu não conseguia chorar, não conseguia gritar, a dor tinha desenvolvido um nível tão alto que eu estava entorpecida já, e mentalmente comecei a rezar para um Deus que eu nem era tão devota assim, pedia a Ele que me levasse de uma vez, mas o homem que estava me torturando sabia o que fazia e ele não me batia pra matar, por isso eu sabia que por mais que eu suplicasse a Deus só morreria quando o meu assassino quisesse.
  Em meio aos pensamentos ouvia o som de algo sendo amolado, e o homem cantarolando uma melodia alegre, as lágrimas voltaram a cair no meu rosto, eu sabia que minha hora estava chegando. E cada vez que meu choro aumentava a risada daquele desgraçado subia também. Ele ia me matar, ia acabar com meus sonhos, com minha velhice e com tudo que um dia eu adiei viver por falta de tempo. Injusto, isso era injusto!
  E foi assim, do nada, que minha vida começou a passar na minha frente: meus pais, o primeiro dia na escola, minha apresentação de balé. De repente tudo ficou tão devagar e, bonito. Eu sabia o que viria em minha cabeça a seguir, eu iria me lembrar do dia em que conheci o amor da minha vida. Diante dessa conclusão, de maneira súbita e insana um sorriso brotou de minha boca machucada fazendo com que o rosto do homem em minha frente mudasse a expressão, de felicidade para uma que pudesse refletir o seu choque.

  

I - Conhecendo Harry Styles

Sugestão de música. Quando eu disser aperta o play: http://www.youtube.com/watch?v=eg3F4zpOdK8

  74 dias antes.

  - Pronta ? – Angelina me perguntou enquanto paramos no restaurante em que estava marcada a reunião com a banda.
  Angelina é uma mulher magnífica, é alta, loira, olhos azuis claros e extrovertida. Diferente de mim que sou mediana, morena, olhos castanhos e totalmente tímida, dava até medo ficar ao lado dela de tão normal que eu parecia ser. Angie é a figurinista da One Direction e estava entrando no seu sétimo mês de gestação, por isso mesmo ela não poderia acompanhar a banda em sua turnê pela América do Norte, ao mesmo tempo, os rapazes não poderiam ficar sem ter alguém para apontar quem vestirá o que em seus shows e entrevistas. E é justamente aí que eu entro. Como sou formada em moda e já fiz alguns editoriais de revistas com a Angie, ela me indicou para substituí-la nesse período e hoje é o dia em que eu conhecerei pessoalmente a banda e equipe da turnê (pelo menos os mais essenciais) então o Paul, empresário dos meninos, teve a brilhante ideia de fazer a reunião em um restaurante para que eu não ficasse travada. Só que não tava funcionando!
  Descendo do carro, Angelina percebeu minha hesitação e de uma maneira bem maternal, devido ao seu estado, diga-se de passagem, colocou a mão em meu ombro e disse de maneira que só eu podia ouvir:
  - Eles são ótimas pessoas, toda a equipe, você vai gostar da experiência – bem mãe mesmo – os meninos só mordem se você pedir – Essa última parte nem tão mãe assim.
  O restaurante estava vazio a não ser por uma mesa gigante encostada na última parede do recinto, estava abarrotada de gente e isso me fez ficar mais nervosa, já que era ali o meu destino. Em momentos de extrema ansiedade, iguais a esse, eu tenho uma mania irritante de repassar todos os meus dados pessoais e a única coisa que eu escuto na minha cabeça é: “meu nome é tenho 22 anos, recém-formada em moda, moro em Londres na companhia do meu labrador Sam. Meus pais moram na África do Sul desfrutando de suas férias eternas. Meu nome é ...”
  - Gente, essa é a a minha substituta na turnê – então eu acordei e percebi que tinha que falar alguma coisa já que todos, eu disse TODOS, os olhares estavam em mim.
  - Oi, erh... A Angie já me passou quase todas as instruções e pode ter certeza que não farei ninguém vestir uma blusa Poá com calça de babado – eu tinha que abrir minha boca pra falar besteira, e pra completar tinha que dar uma risada idiota indicando que eu achei o que acabei de falar realmente engraçado.
  - Ainda bem, porque eu nem sei o que é uma Poá mesmo – Liam Payne era o meu salvador, todo mundo riu do seu comentário e então eu pude sentar e conversar igual a qualquer pessoa normal.
  O jantar ocorreu bem, eu fui o centro das atenções por ser “a garota nova”, que foi como Josh me descreveu brilhantemente. Eles eram realmente ótimos, como Angelina havia dito, já estava me sentindo parte da Up All Night Live Tour, só faltava pedir a um dos cinco pra me morder... Quem sabe mais tarde!
  O bom da minha timidez é que ela acaba tão rápido quanto começa, basta eu me sentir em casa e ela desaparece, e como eu estava à vontade ali, já estava conversando mais do que eu devia talvez. Duas horas depois que cheguei quase todo mundo da mesa havia ido embora, ficando apenas Josh, Angelina, Harry, Niall, Zayn e eu, os rapazes tinham bebido bastante e apresentavam sinais de alegria além do normal e nenhuma vontade de ir pra casa.
  - , eu não entendi, por que seus pais moram na África do Sul mesmo? – Harry Styles me fez tremer ao ouvir meu apelido em sua boca, e ele tinha aquela doce mania de perguntar as coisas me olhando nos olhos. Eu não ligava em olhar nos olhos das pessoas quando conversava com elas, até prefiro na verdade, mas o Harry estava sendo um lindo problema pra mim desde que cheguei naquela “estranha” reunião, ele olhava bastante em minha direção e isso me deixava desconcertada a ponto de não conseguir manter meu olhar no dele, eu estava gostando de ter a atenção dele, claro, ele é um cara bastante interessante, só que ao mesmo tempo aquilo era... Ah, não sei como explicar, isso era bom e estranho ao mesmo tempo!
  Harry estava sentado na cadeira em minha frente e era praticamente impossível não perceber o quão sem graça eu ficava quando ele falava comigo. Sem contar o fato de que eu não conseguia encarar aqueles olhos por mais de dois segundos; mesmo assim, tentei responder sua pergunta o mais normal que eu conseguia:
  - Eles eram donos de uma rede de hotéis na Inglaterra, e há dois anos receberam uma proposta de compra tão generosa que garantia que os dois não precisassem trabalhar mais, e como o senhor Peter Roux já estava cansado de trabalhar resolveu vender.
  Meus olhos duraram dois lindos segundos nos olhos dele, mas precisei baixar minha cabeça assim que ele despontou um sorriso torto em minha direção me obrigando a prestar atenção em meus dedos brincando com o guardanapo. Eu não estava entendendo o porquê de eu estar agindo assim, era involuntário e bem chato. Só que o Harry ao invés de me ajudar e parar de falar comigo resolveu que queria ser meu melhor amigo e não parava de me perguntar:
  - E eles mudaram para Cape Town?
  - Aham, pois é! Minha mãe sempre teve esse sonho de morar lá e meu pai achou que era à hora e chance de realizá-lo. Meu pai é do tipo que morre pra ver a mulher da vida dele feliz.
  - E você gosta desse tipo, ? – Maldito sorriso torto que permanecia naquela boca. E afinal, que diabo de pergunta era aquela? Ainda bem que eu tinha o Niall, bêbado, pra ser o segundo herói da minha noite:
  - Ah cansei disso aqui, vamos pra um lugar com música pra dançar e beber mais um pouco?
  - Eu acho uma boa ideia já que amanhã é domingo de folga e eu não preciso acordar cedo pra trabalhar. Vamos logo pra boate antes que eu durma nessa mesa – Zayn tinha uma maneira engraçada de falar, eu gostava daquele menino. Poderíamos até ser melhores amigos um dia.
  - Eu me rendo e vou pra casa, preciso dormir – Josh jogou o guardanapo creme de pano em cima da mesa, e começou a procurar sua carteira no bolso da calça.
  - Meninos, eu vou embora porque uma hora dessas meu marido já deve estar achando que eu fui sequestrada. Mas segunda a gente se encontra, eu preciso mostrar algumas coisas pra ainda. Josh você me da uma carona? - ele por sua vez limitou-se a balançar a cabeça de forma afirmativa
  - Não, eu te levo. Estou indo também.
  - Nem pensar novata, você vai sair com a gente. Nem adianta reclamar. Você vai com a gente, sim – eu podia ignorar essa ordem do Harry, mas eu queria continua aquela noite com ele. Pra quê mesmo? Não sei, mas eu estava pagando pra ver mesmo se o preço fosse muito alto depois.
  Então eu estava ali no meu carro, com três caras bêbados, indo direto para uma das boates mais badalada de Londres. Harry estava na frente – porque ele fez questão, e eu não reclamei – controlando o rádio enquanto Zayn e Niall cantavam alegremente a música do Jay-Z que o Styles acabara de achar. Chegando ao local recebi instruções, dos próprios meninos, de estacionar nos fundos da boate. Eles conheciam os donos de lá e estavam mais do que acostumados a entrarem pela porta traseira, assim, evitavam confusões e imprensa.
  Para chegar a parte “boa” da boate precisávamos passar por um corredor um pouco estreito e por isso nosso grupo dividiu-se, Zayn e Niall iam à frente conversando sobre alguma música nova do Usher, e eu não estava prestando mais atenção porque nesse exato momento Harry colocou a mão direita ao redor da minha cintura com o pretexto de me conduzir, mas na verdade aquele toque mais parecia uma carícia, já que enquanto seus quatro dedos me seguravam firme o seu polegar fazia movimentos verticais, subindo discretamente o pedaço da minha blusa que estava encostando na minha calça, fazendo com que nossas peles se encontrassem. O toque dele em mim me provocava arrepios na nuca e calafrios na barriga, ele tinha aquela mão macia, quente e forte e tudo o que eu queria era esquecer quem estivesse ao nosso redor e encostar aquele homem na parede. Eu não sou santa, longe disso, estou no auge dos meus hormônios e por isso mesmo acho muito difícil resistir a um cara gato me provocando e é, conheço o Harry faz menos de cinco horas, mas qualquer uma que o conhecesse, em um minuto estaria querendo levá-lo para a cama. Só que sou mais forte e em um movimento de quadril – meio sexy – esquivei meu corpo da mão daquele abusado sedutor e com o canto dos olhos pude ver sua boca formando um sorriso torto, que eu poderia interpretar como: “você será minha”. Merda, alguma coisa sussurrava em minha consciência que ele estava certo.
  Por fim aquele corredor gigante havia acabado e quando chegamos à parte central, um segurança nos guiou até uma área vip, no andar de cima, e era composta por vários cômodos individuais, garantindo a privacidade dos clientes. A sala era pequena, mas comportava muito bem quatro pessoas nela, a decoração era toda em vermelho e dourado imitando uma noite árabe, Zayn combinando perfeitamente com aquele ambiente. Havia um sofá de couro marrom bastante espaçoso encostado no canto oposto a porta de acesso, almofadas vermelhas espalhadas em volta de uma mesinha de vidro pequena, e nela havia uma garrafa de champanhe em um balde de gelo esperando ser aberta, um narguilé e algumas taças para tomarmos a bebida. A parede de frente à pista de dança fora substituída por um vidro, o que permitia nossa visão da boate, um hip-hop tocava na pista e lá de cima era possível ver as pessoas dançando, suando e esfregando seus corpos uns nos outros. Aquele lugar exalava sexo.
  Eu quase ousava a dançar. Veja bem: eu sou do tipo de garota que vai para uma balada tipo essa para me divertir. Dançar, beber, dançar mais um pouco e quem sabe no final da noite levar um cara para casa. Eu não tenho muito problema com sexo, aprendi a satisfazer minhas vontades sem culpa alguma, talvez eu não fosse boa em fazer amizades, mas levar estranhos pra cama era totalmente diferente. Enfim. Só que ali, naquele momento, tudo era diferente eu estava saindo com três dos meus novos chefes – mesmo que temporariamente- e em um pouco mais de duas semanas viajaríamos para outro país, ficaríamos por dois meses trabalhando juntos. Eu realmente não sabia como me portar já que nunca na vida eu havia trabalhado para uma banda antes. Minhas experiências até ali tinham sido apenas com modelos, e elas mal sabiam falar direito, o que tornava meu trabalho muito mais fácil.
  Na verdade, meu drama todo era apenas por estar ali com Harry me provocando e me tocando agora que não existia nenhuma mesa pra nos separar. No restaurante, apesar de tudo, eu me sentia segura com todo mundo em nossa volta, mas ali não. A única segurança que eu tinha eram Zayne e Niall que estavam tão bêbados, e tendiam a piora já que não paravam de beber, que se eu e Harry arrancássemos nossas roupas na frente dos dois, no outro dia nenhum iria lembrar. Eu realmente estava em zona de perigo ali e meu cérebro já estava esquecendo qualquer postura profissional que eu deveria ter, e eu tinha aquele sentimento crescente pelo Styles, que começou como uma mera curiosidade, passou para um interesse e virou esse desejo todo. Eu só tenho a dizer que ele tinha esse efeito rápido nas pessoas. Pelos menos fora rápido em mim.
  Niall me ofereceu uma taça de champanhe, aceitei e virei de costas para os meninos. Parei em frente à parede de vidro para observar as pessoas dançando na parte inferior, afim de aliviar meus pensamentos, eu já não entendia quase nada da conversa atrás de mim, mas conseguia pegar alguns fragmentos e disso eu ouvi Niall e Zayn dizendo algo como “descer pra dançar”. Harry descartar a ideia. Ouvi um “até logo”. Ouvi uma porta fechando. Ouvi uma taça sendo deixada na mesa... E acordei do meu transe abrindo bem meus olhos. Puta merda, eu estava sozinha com Harry Styles!
  Quase que instantaneamente ele chegou perto de mim, meu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto o que dava a Harry acesso total a minha nuca, e sem a mínima vontade de ser discreto ele encostou seu corpo no meu até eu poder sentir seu hálito em meu pescoço, o que me fez arrepiar, ele estava tão perto que era bem provável que tinha percebido. Mas como um bom sedutor, o cara atrás de mim subiu seus lábios até meus ouvidos me fazendo fechar os olhos ao ouvir falando maliciosamente:
  - Você é sempre quieta assim?
  Eu abri os olhos, mas não fiz menção nenhuma de me afastar dele, pelo contrário, dei um jeito de colar mais ainda nossos corpos - se é que isso fosse possível - e curvei meu pescoço sutilmente convidando-o a continuar como estava. Ele sabia que era questão de tempo até conseguir o que queria. Então, paciência gafanhoto, eu aguentaria as consequências depois. Ao invés de responder eu abri um sorriso malicioso e perguntei a ele:
  - E você, é assim conquistador sempre? – eu consegui ouvir a risada discreta dele e então ele aproximou-se mais e, bem devagar mordeu meu lóbulo. Meus joelhos amoleceram e por um instante agradeci por Harry estar ali me segurando. Então, em um movimento, ele passou os dois braços em volta da minha cintura e começou a dar beijos em meu pescoço até chegar em ombro, fazendo o caminho inverso até meu ouvido pra responder o que eu havia perguntado:
  - Só com quem eu quero. E eu quero você , desde o momento que te vi atravessando a porta daquele restaurante, mas se tiver incomodando eu paro. Só preciso que você diga que não quer também.
  E em um movimento ele me virou cuidadosamente para que eu não escapasse de seu abraço, meu olhou diretamente nos olhos e eu sabia que era verdade, se eu quisesse, ele não encostaria mais em mim. Mas eu queria que ele parasse? Claro que não. Ao invés de responder eu apenas baixei meus olhos para a sua boca, que era convidativa, eu o queria também, ma tudo tem um porém:
  - Harry, vamos trabalhar juntos e eu te conheço a menos de um dia. Se isso aqui não der certo? Como a gente faz depois?
  Ele encurtou ainda mais a nossa distancia grudando nossas testas, deixando nossas bocas muito perto uma da outra. Seus olhos intercalavam em olhar para os meus e minha boca demonstrando desejo, e com sua voz rouca, em um tom baixo e bastante sedutor:
  - Bem, a gente só vai saber onde isso aqui vai dar experimentando e, - ele começou a falar de maneira mais provocativa – o bom é que quando a gente viajar a produção poupará um quarto em cada hotel, porque você vai dormir comigo.
  Pro inferno a minha sanidade. Eu mordi meus lábios como forma de consentimento para o beijo e, antes de fechar meus olhos, consegui ver um sorriso torto - e encantador - do Harry. Enquanto ele passava a ponta do nariz em minha bochecha, uma de suas mãos subia para os meus cabelos fazendo com que ele me segurasse firme e puxasse para encostar sua boca na minha. O beijo começou terno, quente e devagar como se estivéssemos apenas nos conhecendo, mas eu queria mais, e em um impulso joguei meus braços em volta do seu pescoço e com uma mão bagunçava seu cabelo na parte de trás, mordi de leve o seu lábio inferior. Entendendo o que eu queria Harry aumentou a intensidade do beijo, agora nos beijávamos como se aquilo fosse a última coisa que faríamos antes do mundo acabar. Puro desejo. Suas mãos desciam pelas minhas costas, parando em minha cintura me dando um impulso para subir até seu colo cruzando as pernas em volta do seu quadril. Sem parar de me beijar ele nos conduziu até o sofá de couro encostado na parede me deitando por baixo. Nesse momento, Harry descolou nossas bocas para beijar meu pescoço descendo bem devagar até o decote da minha blusa. Arqueie minhas costas, e cada vez que ele encostava em mim sentia uma onda de choque vindo de dentro, que só iria cessar quando ele fosse meu por completo.
  Harry então desceu seus beijos até minha barriga, e percebeu que minha blusa estava atrapalhando, e mais que rápido possível ele tirou jogando-a no chão deixando meu sutiã preto à mostra. Hazza fez questão de medir a parte do meu corpo que estava nua, melindrosamente, descendo até meus seios beijando suavemente minha pele descoberta pela peça. Minhas mãos passeavam por todo corpo dele, na parte interna da camisa, arranhando de vez em quando só pra escutar um gemido de aprovação saindo da boca dele. Era delicioso saber que ele me desejava, me fazia quer mais dele. Harry já havia desistido de beijar meus seios para dar lugar as suas mãos, a carícia era forte e me fazia gemer e morder meu lábio inferior e, o que agradava aos olhos do homem em cima de mim. O puxei para perto da minha boca e mais uma vez nossas línguas se encontraram demonstrando perfeita sincronia, desabotoei o sinto dele e minha mão já estava pronta pra tirar sua calça quando Harry em um gesto rápido a segurou e prendeu acima da minha cabeça. Ele queria me mostrar quem estava no comando ali, tudo bem por mim, eu adorava ser controlada na cama. Harry então partiu nosso beijo, encostou a testa na minha e com a mão que estava livre segurou minha coxa na parte interna, em um movimento sutil ele afastou mais minhas pernas encaixando-se perfeitamente em mim.
  Harry subia e descia em mim, fazendo que nossas intimidades encostassem. E mesmo ainda estando de roupa eu conseguia sentir a excitação dele. Como eu dava graças a Deus por aquele lugar ser escuro e impossibilitar a visão de terceiros para a nossa pegação semipornográfica. Harry parou de se movimentar e finalmente soltou meu braço, enquanto beijava meu pescoço sua mão desceu até minha calça e antes de abri-la ele brincou com seus dedos passeando pela barra, descendo centímetros suficientes para provocar calafrio pelo meu corpo todo. Um sorriso safado surgia cada vez que ele me via tremer, e eu nem me importava com isso. Harry desabotoou o botão da minha calça e eu estava pronta pra fazer o mesmo com ele, mas um lapso de sanidade brotou em minha cabeça. Afastei suas mãos da minha calça e o empurrei, ele me olhava com ar incrédulo:
  - Que foi? Não me diz que você desistiu. Porque eu não estou em condição de aceitar desistência aqui - Harry então abaixou a cabeça em direção ao volume em sua calça... Digamos que ele realmente me queria.
  - Não, eu não desisti de nada. Eu quero você Harry - falei olhando em seus olhos e quando ele fez menção de me beijar mais um vez eu o detive e continuei meu argumento - Mas Niall e Zayn devem voltar a qualquer hora, e eu não estou disposta a que mais de um membro da 1D me veja nua. Eu preciso vestir minha blusa.
  Empurrei mais um pouco conseguindo sair do sofá pra vestir a minha blusa. Mesmo de costas pra ele eu ouvi o cinto sendo abotoado e a mão dele ajeitando o próprio cabelo. Eu estraguei todo o clima, acabou a pegação com Harry. Acabei de ajeitar minha roupa, soltei meu cabelo porque o rabo perfeito já tinha sido desfeito naquele sofá, quando senti Harry me abraçando por trás e jogando meu cabelo pro lado, só pra encostar de novo sua boa em minha orelha pra dizer:
  - Vamos embora. Mas antes eu preciso saber: para a sua ou para a minha casa?
  Se eu fosse uma pessoa decente, essa era a hora de dizer que não queria continuar com aquilo, mas o diabo estava me tentando, e como tentação é a única coisa que eu não resisto me limitei a dizer apenas:
  - Pra sua.
  Não encontramos os meninos e fomos embora sem despedir mesmo. Saímos pela mesma porta dos fundos que chegamos e Harry me guiou até sua casa. Era um lugar legal, aliás: espaçoso, decorado em tons de preto e branco, bem charmoso apesar da bagunça, poucos móveis. Típico apartamento de solteiro.
  Enquanto Harry ia até a cozinha pegar alguma bebida, analisei as fotos que estavam ao em uma cômoda. Em uma ela estava abraçado no meio de sua mãe e sua irmã, era um Harry, aparentemente, sete anos mais novo que sorria abertamente, covinha charmosa e os olhos mais vívidos do mundo. Parecia ser um bom menino, sorri ainda encantada com a foto, mas me afastei em tempo de vê-lo chegar com dois copos com dose de Whisky em mãos.
  - Querendo me embebedar, Styles? - a fofura de Harry já havia desaparecido totalmente de minha mente dando lugar a malícia.
  - Eu preciso? - ele perguntou enquanto entregava um copo para mim.
  Sem tirar os olhos dele balancei a cabeça em negativa e bebi de um gole só o conteúdo em meu copo, a bebida descia rasgando em minha garganta, mas eu não me importava com isso, não agora.
  - Boa garota - então ele me seguiu e bebeu seu whisky de uma vez colocando o copo na mesa de centro ao lado do meu. Aproximou-se um pouco mais de mim - Sabe o que eu reparei senhorita Roux? Que você não é muito de falar, não é?
  - Sabe o que é Styles? Eu prefiro ação a palavras.
  Play aqui
  E dessa vez fui eu que me aproximei, puxei sua camisa até que nossos corpos ficassem colados, tive que ficar na ponta do pé para conseguir alcançar sua boca, abracei sua nuca quando, enfim, nossas línguas se encontraram em um beijo perfeito. Dessa vez sem pressa, era um beijo quente, sedutor e envolvente. Num impulso, Harry me jogou no sofá grande e fofo e antes de ficar por cima de mim, mais uma vez, ele próprio tirou sua camisa. Era a primeira vez que eu o via com um pouco menos de roupa e era agradável minha visão. Ele não era forte demais, era magro e definido. Do jeito que eu gostava. Sem que ele me pedisse eu tirei a minha blusa também, fazendo com que ele deitasse sobre mim para beijar pescoço intercalando com pequenas mordidas até chegar ao meu ouvido e sussurrar um divertido:
  - Tsc, tsc! De igual para igual .
  Dito isso ele passou uma mão por trás de mim até chegar ao fecho do sutiã e, com uma habilidade invejável, o desabotoou jogando-o bem longe do nosso alcance voltando a beijar meu pescoço com pequenas chupadas, descendo devagar até o meu colo chegando ao meu seio, os quais Harry fez questão de explorar cada parte com sua língua em movimentos circulares, chupando forte os mamilos, me fazendo ter ondas de prazer em todo o meu corpo. Sua mão explorava meu corpo, descendo e subindo por minha barriga até o meu seio livre. Sem aguentar mais, desci minhas mãos até sua calça desabotoando e a tirando sem cerimônia, Harry me ajudou e completou o serviço, e então foi a minha vez de tirar a minha calça. De igual para igual, certo? Com minha mão desci até a barra de sua boxe, quase que pedindo permissão para entrar, ele então me encarou esperando meu próximo passo, e eu fiz o que ele queria: bem devagar coloquei minha mão dentro da sua cueca, segurando firme seu membro duro e então, massageando com vigor em tempo de vê-lo fechar os olhos gemendo de prazer com meu toque, eu aumentava minha intensidade conforme os gemidos dele aumentavam também. Senti Harry empurrando minha calcinha para o lado, abri mais minhas pernas porque sabia o que ele iria fazer, com dois dedos ele me penetrou, entrando e saindo de mim com a mesma intensidade em que eu o tocava. Nossos corpos dançavam de forma sincronizada com ambas as respirações aceleradas, a casa vazia nos permitia ser barulhentos conforme o nosso tesão. Ele tirou seus dedos de dentro de mim, por completo, e colocando-os em minha boca me fazendo sentir o meu próprio gosto, ele substituiu seus dedos por sua boca e enquanto me beijava ferozmente, suas mãos deslizaram para minha calcinha me despindo por completo agora tirando sua própria boxer em seguida. Com suas mãos na parte interna da minha coxa, Harry separou o quanto pode minhas pernas e olhou para mim que consenti com um movimento de cabeça. Então, ele me penetrou. Forte e lento da primeira vez, aumentando a intensidade a cada ida e vinda de dentro de mim, eu pedia por mais a toda investida que ele me dava, “mais forte” e era o que ele me dava. Mais rápido e mais forte cada vez mais. Eu gemia alto por não conseguir me controlar, ele gostava e pedia que eu gemesse mais e mais alto. Senti meu corpo arder por dentro, minha respiração ficou mais pesada e eu estava me contorcendo e, dessa vez, meu gemido era quase um grito. Atingi meu ápice e uma sensação boa tomou conta de mim, mas Harry não parou até que ele próprio tivesse conseguido gozar também, quando o fez ele deitou sobre meu corpo e eu o abracei passando meus dedos entre seus cachos. Aquilo tinha sido incrível, eu não esperava tanto empenho; pra um garoto de dezoito anos Harry havia mostrado que sabia a hora certa de ser homem.
  - - eu acordei do devaneio quando ele me chamou - vem, vamos subir lá em cima, tem um chuveiro esperando pela gente - Harry levantou a cabeça para poder olhar pra mim, eu vi aquele típico sorriso torto que eu sabia o que significava, eu ri de volta porque eu também já estava pronta pra outra rodada.

II - Meu anjo e meu demônio

Sugestão de música. Quando eu disser aperta o play: http://www.youtube.com/watch?v=XkPGa4pA3Yo

  Acordei sentindo o braço do Harry sobre o meu corpo, eu não tinha ideia de que horas eram, mas sabia que já tinha passado da hora de ir embora. Devagar, peguei a mão que me envolvia e afastei de meu corpo para que eu pudesse levantar da cama sem acordá-lo.
Consegui sentar na cama sem fazer barulho, e antes de me levantar olhei mais uma vez para o rapaz que ainda estava deitado em sono profundo, a visão foi a coisa mais perfeita que eu já havia visto. Harry parecia um anjo em descanso com seus cabelos cacheados e rosto de menino, sorri e não resisti à tentação e me curvei para encostar sutilmente os nossos lábios, e por um breve instante tive vontade de ficar e preparar o café para nós dois. Mas eu não podia, então eu afastei esse pensamento e peguei o lençol, que estava jogado ao lado da cama, e o usei para cobrir meu corpo já que minhas roupas estavam no andar inferior da casa. Sai do quarto e desci as escadas em passos de formiga, eu já estava acostumada a ir embora à surdina, mas eu sabia que se acordasse o Harry eu me convenceria fácil de ficar um pouco mais.
  Peguei todas as minhas peças espalhadas pelo chão e me troquei no banheiro ao lado da sala. Amarrei meu cabelo em um coque simples, lavei meu rosto para limpar vestígios de uma maquiagem borrada e não coloquei os sapatos para que o salto não fizesse barulho quando eu fosse andar. Procurei por minha bolsa e a achei em cima da mesa de jantar, conferi as horas pelo meu celular - 6am - e as chaves do meu carro, já ia rodando a chave da porta quando a minha consciência pesou e me fez parar. Eu não poderia ir embora sem deixar um bilhete para ele. Vasculhei minha bolsa e achei meu moleskine, por mais que me doesse tirar uma folha dele, era o único disponível, achei a caneta e escrevi rápido um: “Desculpa não te esperar acordar. Te encontro no trabalho, certo? Beijos S.” Não foi a poesia do ano, mas servia, coloquei o bilhete junto a uma das muitas chaves de carro em um porta-chaves que ficava ao lado da porta e finalmente sai.
  Dez minutos depois eu estava estacionando meu mini Cooper em frente a meu prédio. Eu morava em um bairro muito bom graça aos meus pais, que antes de mudarem para a África do Sul venderam a nossa mansão, compraram esse apartamento em meu nome e o resto do dinheiro da venda foi aplicado em minha conta no banco, dinheiro esse que eu nunca precisei mexer já que sobrevivia com dinheiro dos meus trabalhos e da “mesada” que minha mãe insistia em mandar por não acreditar que eu conseguiria viver dignamente com o meu salário de Freelancer. Dinheiro extra desnecessário, mas não recusado.
  Entrei no meu hall e cumprimentei James, o porteiro do meu prédio, com o sorriso largo que foi retribuído por ele. Peguei o elevador parei no 3º andar - eu tinha um pequeno problema com altura - entrei no apartamento 308. Quando abri a porta encontrei um labrador caramelo abanando o rabo por felicidade só por eu estar de volta em casa. Abaixei para dar um pouco de carinho para o meu companheiro de apartamento:
  - Hey Sammy, meu garotão! Vem comigo pra tomar seu café da manhã - despejei ração no recipiente vendo meu cachorro o atacando logo que imediatamente.
  Fui até minha bolsa, peguei meu celular e disquei para a minha melhor amiga enquanto andava para o quarto:
  - São 06h30min da manhã e eu só acordaria daqui à uma hora. Por favor, que você tenha me acordado por um motivo muito importante.
   , nomeada por mim apenas como , minha melhor amiga. Nascida em York, mas desde os sete anos tinha um sonho de sair de lá. O pai dela era inglês e a mãe brasileira, da pra imaginar o tamanho da beleza dela agora? estudou na mesma faculdade que eu, a Central Saint Martins, e mesmo sendo dois anos mais velha do que eu viramos grandes amigas. Hoje ela trabalha como editora de uma das grandes revistas de moda de Londres, e volta pra York apenas no Natal.
  - Bom dia pra você também . Liguei porque quero tomar café com você e com o hoje e de quebra eu tenho uma coisa bem legal pra contar, sim.
  - Hmm... tá, me convenceu. Daqui a meia hora no Warffles do tio Jack?
  - Ok. Beijos.
  Tomei banho e em exatos vinte e cinco minutos pós ligação eu já estava pronta e sentada na parte externa da lanchonete que mais frequentávamos em Londres. Primeiro, por ter o melhor breakfast da cidade e segundo, por ser o local de trabalho de , meu melhor amigo gay. Como o movimento de segunda estava fraco ele sentou na mesa comigo e enquanto não chegava, me contou o quão divertido tinha sido o seu final de semana em seu loft com o namorado, fumando maconha e assistindo True Blood. era daqueles tipos que não precisava de muito para estar feliz, ele era ator de teatro, mas nunca tinha estrelado uma peça grande, como o dinheiro era pouco, precisava trabalhar na lanchonete para cobrir suas despesas. A família o havia renegado assim que ele assumiu sua homossexualidade e, desde então, dedicava total amor a mim, , tio Jack e Brad, seu namorado. Não demorou muito e o táxi que estava parou em frente ao estabelecimento, assim que ela sentou pedi que trouxesse nossos cafés e sentasse para que agora eu pudesse contar a minha aventura do domingo. Contei tudo, esconde alguns muitos detalhes e esperei que eles começassem a falar:
  - Você dormiu com uma das celebridades do momento?
  - É . Mas pouco me importa que ele seja o Papa, o lance aqui é que eu vou trabalhar com ele por quase dois meses.
   que tava mais interessada em comer seu warffle com chocolate largou o garfo pela primeira vez se pronunciar sobre o assunto:
  - Na verdade , eu não vejo um problema aqui. Você transou com seu chefe, que nem é tão chefe assim. São dois meses, só e depois você nem olha mais pra cara dele, a não ser pela TV. Ainda não sei porque da preocupação.
  - Eu também não. Só que hoje eu acordei ao lado dele e queria ficar mais um pouco. Dois anos e essa é a primeira vez que isso aconteceu.
  - querida - falava como se estivesse explicando a uma criança que Papai Noel não existia. - Isso é carência. Já se passaram dois anos e o mais perto de um namorado que você teve foi o Sam, e ele é um cachorro. Tá na hora de se envolver com alguém, não com o Harry porque ele é famoso e não vai te querer mais mesmo, além de ser uma criança.
  O acontecido referido por foi no Natal de 2010, quando eu e meus pais ainda tínhamos costume de passar essa data com toda a família na casa da minha avó materna. Eu namorava desde meus quinze anos com um amigo de infância, o Joe. Cinco anos de namoro depois eu estava pela casa da minha avó procurando o meu namorado para ceiarmos felizes junto aos outros familiares. Algumas portas abertas depois, encontrei meu namorado sendo galopado, literalmente, pela minha única prima na cama da minha própria avó. Foi a única vez que fiz um escândalo na vida. Xinguei, bati e expus os traidores para toda a família presente e então, minha avó me acusou de ter estragado o Natal de todos: “Não podia ter esperado até o dia 26, ? Agora nem os presentes salvam esse fiasco que você causou.” Dois anos depois e eu estava totalmente desapegada de namoros, de família - exceto meu pai e minha mãe - e de avós que não são tão graciosas quanto as de um filme. Dois anos depois, Joe e Anne, minha prima, tiveram seu primeiro filho e casaram às presas. E há dois anos atrás eu prometi a mim mesma não deixar outro homem machucar meu coração, e assim, eu não arruinaria outros natais felizes em família. E igual a um empurrão eu ouvi a voz de muito próximo de mim o que me fez acordar daquelas péssimas memórias.
  - Uma criança que sabe fazer sexo . E de acordo com a faz muito bem. Eu se fosse você ia explorar mais do corpo do Harry. Sabe como é né? Pesquisas comprovam alto rendimento no trabalho quando há prazer.
   era o homem, mas mesmo assim conseguia ser o mais romântico de nós três. Muitas vezes ele batia de frente com as ideias liberais demais da , por isso depois de ouvir tamanho absurdo da boca de ele levantou e olhou diretamente em meus olhos para dizer:
  - , há dois anos você escuta os conselhos dessa anta pornográfica. Se você não quer se envolver com alguém, apenas não se envolva. Não precisa se esfregar em um homem para provar o quão sexualmente livre você é. Não pensa que eu não sei das suas noites em frente à TV assistindo Bridget Jones com um pote de sorvete na mão - então deu um suspiro dramático antes de falar suas últimas palavras - Olha, eu em seu lugar faria o seguinte: esquecia o que aconteceu com o Harry ontem, trabalharia loucamente e voltava pra casa sã e salva. Enfim, eu vou voltar ao meu trabalho porque a Karen já está precisando de ajuda, o café foi por minha conta hoje.
  Play na música.
  Sem se despedir virou as costas e entrou na lanchonete para ajudara Karen a atender os poucos clientes que havia ali. Olhei para a minha frente e percebi que ela não estava com uma cara boa também, talvez ser chamada de anta pornográfica machucasse os sentimentos de qualquer um. Eu não tinha pedido conselhos, eu só queria conversar com meus melhores amigos e por fim causei a briga do anjo e do demônio da minha consciência. Eu tinha escutado demais ali e agora não sabia o que fazer: aproveitar o corpo de Harry o máximo possível nos Estados Unidos ou deixar o menino em paz de uma vez por todas. Enquanto eu pensava só em mim uma frase de retornava ecoando em minha cabeça: “...ele não vai te querer mais mesmo” . Isso era verdade, ele provavelmente não iria me querer mais. E isso tinha importância? Sim, tinha.
  - , depois disso você me deve pelo menos uma carona até o trabalho.
  Sim, tinha porque eu queria ter o Harry por mais uma noite. Talvez duas até.
  - , vamos eu já tô atrasada - acordei e vi em pé estalando os dedos querendo chamar minha atenção para ela.
  - Tá, tá. Vamos.
  Peguei minha chave e junto a caminhei até meu carro e por todo o nosso caminho eu só pensava: Merda! Merda! Merda!
  Deixei no trabalho e tomei meu próprio caminho. Precisava encontrar Angelina em sua casa para estudar o estilo de cada um na One Direction, porque, segundo ela, se eu confundisse sequer a cueca, as fãs não me perdoariam nunca. Angie tinha seu próprio ateliê em sua casa onde ela já estava me esperando na companhia de Lou, maquiadora da banda, que ajudaria a me mostrar o estilo de cada um. Passamos o dia vendo roupas, tecidos, combinando cores com peles e cabelos. Havia fotos dos meninos espalhados por todo ateliê e cada vez que eu me deparava com uma foto de Harry sorrindo meu coração disparava um pouco e eu lembrava de cada segundo da noite passada, mas não por muito tempo porque minhas duas “professoras” não me davam folga nem pra sonhar um pouco. Quando achei que meu trabalha estava acabando por aquele dia Angie me desapontou:
  - Precisamos ir ao escritório agora. Lou, você já pode ir pra casa, eu só preciso pegar os portfólios dos meninos e entregá-los a .
  - Tá, vou pra casa cuidar da minha filha então. foi um prazer te conhecer, vou adorar trabalhar esse tempo com você. Te vejo daqui a dois dias, na entrevista dos meninos pra MTV.
  A Lou era adorável e eu não teria problema nenhum em ser companheira de trabalho dela. Além de que a filha dela era um bônus tão lindo e fofo pra turnê. Depois que a Lou foi embora, eu e Angelina seguimos para o escritório, chegando lá subimos direto para a sala dela que era pequena, mas bem charmosa, então Angie me entregou cinco pastas contendo, cada uma, no mínimo cinquenta fotos de cada membro da banda:
  - Esses são as fotos de tudo o que os meninos vestiram em entrevistas e eventos deste ano. São poucas porque estamos em Abril ainda, mas eu preciso que você estude cada uma destas pastas com cuidado. Você não posso deixar que o Zayn apareça com o moletom do Niall, nem o Liam com o suspensório do Louis. Parece bobagem de , mas é essencial que cada roupa esteja no seu devido lugar.
  - Eu sei Angie, e prometo que vou estudar todas as pastas minuciosamente. E em dois dias você vai ver que fui uma ótima aluna. E pelo amor de Deus, vai pra casa descansar antes que essa criança resolva nascer antes do tempo.
  Angie mostrou que confiava em mim e por um momento conseguiu sorrir naquele dia. Estávamos quase no meu carro quando eu vi algo que me fez congelar. Harry estava ali, descendo da sua Land Rover com Niall de carona. Ele estava lindo rindo de alguma coisa dita por Niall e andava com aquele ar de descontração, até que me viu parada ao lado de Angelina. O sorriso desapareceu de seu rosto, mas não mostrava raiva, arrependimento ou até mesmo nojo. Era um rosto que não me mostrava nada, ele estava indiferente a mim. Os dois se aproximaram e Niall foi o único a me cumprimentar com um beijo na bochecha, enquanto Harry apenas disse um “oi”, sem demorar um segundo olhando pra mim.
  - O que vocês estão fazendo aqui? Achei que só íamos nos encontrar na quarta - Angie estava totalmente indiferente ao clima ali, assim como o Niall.
  - Reunião de emergência. Paul liga e a gente vem correndo, é assim que funciona.
  - Inclusive, estamos atrasados – Impressão minha ou o Harry estava com presa pra sair do meu lado? - A gente precisa mesmo ir, os outros já devem ter chegado. Vamos Niall, vamos entrar.
  Não era impressão. Era realidade. Estar ao meu lado incomodava o Harry, eu abri minha boca pra protestar, mas me impedi a tempo de vê-los andando para dentro do local. Eu não entendia aquilo que tinha acabado de acontecer, nem por educação Harry havia sido agradável comigo. Segui Angelina e caminhei para o meu carro a tempo de virar minha cabeça e olhar mais uma vez para ele por cima dos meus ombros. Então, mais uma vez a voz do meu anjo ecoava em minha cabeça: “... ele não vai te querer mais mesmo.”

III – If you say you want me to stay I’ll change my mind.

Aqui a música pra da play quando eu pedir: http://www.youtube.com/watch?v=vlqFppJfgA8

  

  Cheguei em casa recebida pelo meu fiel escudeiro de quatro patas, fiz um afago na cabeça do meu cão e entrei pro banheiro para um banho de espuma bem demorado. Depois de ter me julgado relaxada o bastante sai e vesti um pijama confortável, antes de começar a trabalhar peguei dois pedaços de pizza que estavam na minha geladeira desde sexta, não esquentei, divide com Sam até me sentir satisfeita. Peguei os cinco álbuns em minha frente e estudei um por um, anotando sempre algumas observações em meu caderno, já tinha em mente todo o figurino deles para a entrevista de terça-feira vendo que não tinha mais nada há ser feito resolvi que já era hora de deitar e descansar.
  Já na cama olhei uma última vez pro meu celular e percebi que haviam sete chamadas perdidas da minha mãe, conhecendo dona Annalice do jeito que eu conhecia achei melhor retorna suas ligações porque sabia que ela não ficaria bem enquanto eu não fizesse isso.
  - Oi mãe.
  - , custava você atender esse telefone? Eu estava com o coração na mão aqui minha filha - Minha mãe era algo próximo a pessoa mais dramática do mundo, tinha sido um tormento terrível pra ela ter que me deixar pra morar em outro país e mesmo depois de dois anos morando sozinha ela não acreditava que eu era capaz de me cuidar por conta própria.
  - Saudades de você também Annalice. - ri pra aliviar - mãe eu tô em casa, tô segura com o Sam, meu celular estava aqui no quarto no silencioso, eu só não ouvi tocar.
  - , eu estava aqui pensando... Sabe a sua viagem pros Estados Unidos? Eu acho que você não deveria ir, meu bem - a voz dela ficou trêmula e ela continuou mais devagar - sabe o que é? Eu tô com essa sensação ruim, eu não sei o que é... mas toda vez que imagino você viajando meu coração fica apertado.
  - Mãe, por favor, não começa. É trabalho, vai ser bom pro meu currículo e eu não posso deixar o pessoal na mão agora, eu já aceitei - achei melhor não continuar conversando senão ela insistiria naquele assunto - Posso falar com meu pai?
  - Eu não vou te fazer desistir né? - do outro lado da linha eu disse um “não”. - Pelo menos me promete que vai tomar cuidado enquanto estiver lá, ok?
  Prometi o que minha mãe queria e conversei um pouco com meu pai, ele me convenceu de que depois da América eu tiraria um tempo pra passar com eles na África, eu concordei e pedi que ele cuidasse dessa angústia repentina da minha mãe, ele me disse que era saudade, que ela sentia de cuidar de mim e que logo passaria. Desliguei o telefone e pude finalmente dormir.
  De repente o cenário mudou, era uma sala abandonada suja e coberta de dejetos de animais, eu estava acorrentada pelos pés e pelas mãos deitada em uma maca enferrujada, tinha um rádio velho tocando uma canção triste que falava sobre morte. Eu tremi. Na parede escrito em sangue tinha o nome Manicômio St. Evans, então percebi que eu era paciente daquele antro de loucura. Tentei me soltar das correntes, mas só fazia me machucar mais ainda. Tentei gritar pedindo por socorro, mas a esponja em minha boca impedia que qualquer grito saísse, em meio ao meu desespero percebi que tinha um homem encostado na parede observando minhas ações, em suas mãos pude perceber um bisturi tão velho quanto a cama que eu estava deitada, só de imaginar sua intenção comecei a chorar e me contorcer de medo. O estranho na sala aproximou-se de mim e eu pude vê-lo melhor. Ele era medonho: tinha um corpo esquelético, pele branca e enrugada, estava sujo com sangue de outra vítima espalhado por sua roupa e sua face, faltavam-lhe vários dentes na boca, o que não o impedia de soltar risadas esganiçadas enquanto me via debatendo, seus olhos eram insanos e inquietos. Era a expressão mais animalesca que eu já tinha visto. Ele ficou perto demais a ponto de corta minha perna, o corte foi profundo e longo, o rasgo irregular em minha carne doeu tanto que soltei um grito ensurdecedor, mas o som que saiu da minha boca tampada foi um grunhido aterrorizante. Meu corte fez com que meu algoz tomasse mais coragem para continuar me machucando e dessa vez ele veio em direção ao meu pescoço afundando o bisturi em minha pele pronto pra me cortar, meu medo crescia cada vez mais, o que me fazia debater na maca mais ainda. Me debatia em vão, porque a morte era uma certeza.
  - Para de mexer , vadia. - o louco em minha frente gritava com uma voz aguda, e sem paciência nenhuma. Quando percebeu que eu não ia parar de me mexer ele mudou o ângulo da faca e gritou uma vez mais, só que mais alto e cuspindo as palavras em mim. - FICA QUIETA VADIA! - cada vez que ele mandava eu ficar quieta meu corpo reagia de forma contrária, me mexia tanto a ponto de meus pulso estarem sangrando muito por baixo das correntes, no ímpeto da raiva ele puxou o bisturi para cima e desceu o instrumento em direção ao meu pescoço em uma velocidade grande, foi quando meu corpo se rendeu e ficou imóvel fechei os olhos esperando a dor e a morte virem ao meu encontro e…

  Acordei gritando com o horror da cena, eu estava chorando e apalpando meu pescoço pra me certificar que ele não tinha sido danificado, minha respiração estava ofegante demais e meu coração acelerado demais. Um pesadelo, eu tinha tido um pesadelo, mas tinha sido tão real que eu estava tremendo. Olhei pro relógio e eram 2:00 a.m, eu não ia conseguir dormir mais depois daquele sonho, tinha medo de que eu voltasse para aquele lugar sombrio. Levantei e pensei em usar minha insônia para desenhar algumas roupas para a futura loja que eu abriria em sociedade com , a Mary Margaret. Esbocei um croqui e no final tudo o que tinha conseguido era um vestido extremamente mórbido: “Por diabos , foi só um sonho.”
  Minha criatividade estava sofrendo um bloqueio nítido por causa da agonia que eu ainda sentia do pesadelo que tive há minutos atrás, ainda sem coragem o suficiente para dormir abri um vinho que estava na geladeira, coloquei Breakfast at Tiffany’s no dvd e sentei no sofá afim de ver meu filme favorito, Sam me fez companhia subindo no lado oposto e enconstando sua cabeça em minha coxa pedindo por carinho, foi o que fiz. O vinho relaxava meu corpo e na terceira taça consegui dormir, apaguei ali na sala mesmo dessa vez sem pesadelos, sem sonhos apenas uma imensidão preta me acompanhava em sono.
  Não sei quanto tempo dormir, mas não foi muito, acordei com a porta do apartamento sendo aberta e gritando sem pudor algum um “Bom dia flor de maracujá”, era em momentos como esse que eu me arrependia de ter dado uma cópia da chave para ela, na época eu disse para que ela usasse apenas em emergências o problema é que não sabia o verdadeiro sentido da palavra. Abri os olhos, mas continuei deitada em posição fetal no sofá, ela então sentou no lado vazio disposta a me colocar de pé.
  - Hey, levanta! - sem delicadeza nenhuma me sacudiu até que eu, sem paciência, me dei por vencida e sentei - Achei o lugar perfeito para montarmos a loja, e eu tenho exatamente - ela então olhou para o relógio em seu pulso - uma hora até chegar no trabalho, então, você precisa vestir suas roupas logo.
  Só de mencionar a loja eu joguei meu mau humor de lado, nós pensávamos em montar nosso próprio negócio desde a faculdade, era um sonho secreto o qual juramos compartilhar para outros só quando estivesse concreto. O combinado era que eu desenhava a linha de roupas e entrava com o dinheiro enquanto faria a ponte para atrair os clientes, a gente já tinha tudo em mãos, mas ainda faltava o lugar perfeito.
  Pulei do sofá e corri pra vestir uma roupa decente, nos guiou o caminho todo até chegar em um bairro bastante movimentado, paramos em frente a um loft de dois andares e ao lado da porta estava James, o corretor, esperando para mostrar o lugar. Por dentro as paredes eram todas revestidas de tijolos laranjas, era espaçoso, descontraído e ao mesmo tempo tinha uma charme próprio. Era isso, o lugar ideal estava ali ao nosso alcance não tinha o que discutir. Segurei a mão de , apertei em cumplicidade, ela por sua vez olhou para mim com um sorriso estampado no rosto.
  - , você tem o dinheiro, certo?
  - Certo. E você os clientes, certo?
  Ela balançou a cabeça afirmando que sim, então olhamos para James que estava ansioso por nossa resposta, em sintonia perfeita falamos juntas para o corretor em nossa frente:
  - Negócio fechado!
  Meu dia tinha começado de maneira bizarra depois daquele pesadelo horrendo, mas estava caminhando para ser um dos mais perfeitos da minha vida. Era isso, já tínhamos achado o lugar, já tínhamos desenhos de roupas para iniciar a coleção e finalmente a Mary Margaret iria virar realidade. Aquele era o meu sonho saindo do papel.
   havia me chamado para uma pequena comemoração com de noite, mas eu recusei, inventei uma dor de cabeça e prometi recompensá-los depois. Em casa, eu só pensava no amanhã, ou melhor, meu reencontro com Harry. Eu não conseguia, por mais que tentasse, tirar ele da cabeça só o trabalho me distraia e eu não tinha mais nada no que trabalhar por hoje, então... Olhei no relógio – 8pm – eu estava ficando com fome mas a preguiça de preparar qualquer coisa vencia meu estômago. Pizza, eu poderia pedir pizza, mas estava enjoada de comer a mesma coisa desde sexta. Suspirei e fui pra cozinha preparar uma omelete, fácil e rápido. Perfeito!
  Antes de quebrar o primeiro ovo ouvi a campainha tocar. Estranho, ninguém vem aqui essa hora só , mas ela não toca campainha, podia ser o James para entregar alguma coisa que deixaram na recepção. Abri a porta sem nem olhar pelo olho mágico, só podia ser James. Só que não era.
  - Ei – eu nunca me acostumaria a ouvir aquela voz rouca chamando por mim – A Angelina me passou seu endereço. – Agora tava explicado o que Harry Styles estava fazendo na porta do meu apartamento – Eu vim me desculpar por ontem, eu fui rude com você. Eu trouxe comida, espero que não tenha jantado ainda – abri espaço e deixei que ele entrasse.
  - Achei que você não quisesse mais conversar comigo. Ou era TPM ontem?
  - Eu estava chateado, sei que você não tem nada a ver com isso, mas é que... Ah, desculpa, eu nunca mais vou fazer isso e eu trouxe comida chinesa pra me desculpa – o sorriso torto, eu não resistia aquele sorriso.
  - Sorte sua Harry é que eu estou com fome e que eu gosto muito de comida chinesa. Vou pegar os pratos, pode colocar as coisas ali naquela mesinha perto da televisão...
  Senti a mão de Harry segurar meu braço impedindo que eu passasse por ele, nossos corpos ficaram próximos e nossas bocas se uniram em um beijo calmo, quente e seguro. Tínhamos o encaixe perfeito, minha língua explorava cada parte da boca dele. Eu tinha me esquecido do poder do beijo dele em mim. Era perfeito. Era perfeito para mim.
  - Eu já estava com saudades, pequena.
  Harry era encantador, como não cair por um homem desses? E ele tinha me chamado de pequena? De todos os apelidos que alguém poderia ter me dado, aquele era o que eu mais amava, principalmente quando saia da boca dele.
  - E eu já estava com fome.
  Eu consegui ouvir a risada dele enquanto chegava na cozinha para pegar os pratos e talheres. Eu não podia negar que a atitude dele ontem tinha sido no imatura, e que suas desculpas hoje não tinham sido satisfatórias, mas o que eu poderia esperar de um garoto de dezoito anos?   O jantar foi agradável, conversamos por muito tempo, e ele me contou muita coisa sobre sua vida. Era confortável estar com ele eu me encantava cada vez mais, e eu nem ligava de sentir isso por ele, não mais. Eu tinha decidido de uma vez que não sairia mais escondido da cama quando ele estivesse ao meu lado, eu ficaria e prepararia o nosso café da manhã.
  Já no play!
  - Você salvou minha noite Harry, eu ia comer uma omelete sem recheio e você chega aqui com esse banquete Chinês – debrucei sobre ele e beijei outra vez a sua boca, mordendo de leve seu lábio inferior – Meu herói! – senti a mão dele deslizando pela minha cintura por dentro da minha blusa – Pena que não temos sobremesa.
  - Quem disse que não?
  Ele me colocou por baixo dele, no sofá, sua mão explorava cada pedaço do meu corpo me dando prazer. Fizemos amor de maneira calma, diferente da primeira vez, como que por uma necessidade de conectar nossos corpos não apenas por uma satisfação física. Tudo estava indo rápido demais com Harry, mas eu não queria frear meus sentimentos, eu estava pronta para me entregar. Eu não ia ter medo, não dessa vez. Observei ele dormir, meu anjo, e fechei meus olhos com a certeza que dessa vez eu não teria nenhum pesadelo, não com Harry ao meu lado. Meu dia perfeito!

IV – Quatro pessoas, um cachorro e alguns pedaços de torta.

Coloca para carregar: https://www.youtube.com/watch?v=oRbmK9LkKeg

  As semanas passaram rápidas, trabalhei em alguns programas com a banda e isso ajudou Angelina a ganhar confiança suficiente para entregar seu posto a mim. Depois de duas semanas de affair com Harry, não era surpresa que todo mundo da equipe já estivesse sabendo de nós dois, o que eu achei que seria um problema tornou-se pouca coisa quando percebi que ninguém ligava que Harry estivesse comigo, porém, Paul fez um pedido: “Sejam discretos para a mídia, se esse romance vazar agora vai ser uma loucura. É melhor evitar”. Eu não tinha dúvidas disso, até porque o romance não era nada oficial por enquanto.
  Pela necessidade de sermos discretos que eu estava em casa arrumando a mala com e enquanto Harry estava em boate com a banda na véspera da viagem. Eu não confiava. Toda vez que eu pensava nele lá sem mim eu lembrava de Joe com minha prima. Mas eu tentaria por mim e por Harry acreditar que nem todo homem era igual ao meu ex. Por isso que eu estava em casa fingindo controle.
  O cheiro de alho invadiu o meu nariz e logo meu estômago mostrou que estava com fome.
  - e seu frango ao molho de alho. Eu tinha esquecido como a comida dele cheira bem – fechei a mala finalmente e olhei mais uma vez ao meu redor, acho que eu não estava esquecendo nada essencial – , você não se importa mesmo de ficar aqui nesse tempo que eu estiver fora?
  - Claro que não. Seu apartamento inteiro para mim nesses dois meses? Será um prazer. E o Sam precisa de alguém para cuidar dele, não vou deixar nosso mascote aprisionado em um hotel para animais só porque a dona dele está em lua de mel na América – então ela lançou um olhar para mim acompanhado de um sorriso sarcástico porque sabia que tinha acabado de me irritar – desculpa: só por que a dona dele está trabalhando na América. Melhorou?
  Apenas revirei meus olhos como resposta, então caminhei até meu guarda roupa para pegar uma bolsa escondida bem no fundo dele. Joguei o objeto perto de onde estava na cama. Ela, por sua vez, tirou sua atenção do telefone e se endireito para me ouvir melhor. Então afastei o quadro de flores que ficava pendurado perto da minha cama revelando o cofre por trás dele.
  - Fui ao banco hoje e pedi a retirada da quantia exata para dar inicio as reformas na Mary Margaret – abriu a bolsa e conferiu o dinheiro dentro dela, voltando a olhar para mim esperando por mais instruções – Acho que seria melhor se você guardasse o dinheiro aqui no cofre, não estamos em um bairro perigoso nem nada, mas eu gosto de ser precavida. Toma – entreguei um papel pequeno para ela – esse é a combinação. Memoriza e joga fora o quanto antes.
  - Nossa, onde você aprendeu essas habilidades de guerra ?
  - Isso se chama cuidado e não habilidade de guerra e herdei do meu pai quando ele ainda era um homem de negócios. Agora me dá a bolsa que eu vou colocar aqui dentro.
  - E o dinheiro é a conta exata para...
  - Arquiteto, mão de obra e o designer de interior para quando a reformar estiver pronta. Tudo de acordo com o orçamento que fizemos. Se você precisar de alguma coisa me liga.
  - Tudo bem. Amanhã mesmo vou conversar com o arquiteto e explico o que queremos. Te mantenho informada senhorita.
  - Ah – peguei a pasta que estava em cima da cama e entreguei para – pedi para o advogado do meu pai fazer essa procuração em meu nome, eu estou te autorizando a falar por mim caso precise na parte burocrática de tudo. Adianta o que puder enquanto eu estiver fora.
  - Quando você voltar, a loja vai estar quase pronta, eu prometo – de um jeito bem dramático ela levantou a mão direita enquanto a esquerda estava posicionada no peito. Não era surpresa nenhuma zombar da minha organização, mas tinha aprendido isso com meu pai e precisava ser metódica assim por nós duas, aliás.
  Enquanto voltava o quadro para o seu lugar ouvi nos avisar que o jantar estava pronto. Deixei que fosse à frente enquanto eu procurava por meu telefone. Olhei para o visor e vi que tinha uma mensagem de texto:
  Isso tá um saco!! O Liam disse que eu não estou gostando porque você não está aqui. Eu concordo. Vou dar um jeito de passar na sua casa no final da noite, só preciso ficar aqui mais um pouco e distrair os paparazzis na saída. Beijos.
  Hazza

  Eu poderia ter respondido que ele não precisaria arriscar me encontrar hoje porque amanhã estaríamos juntos, mas não, eu queria que ele voltasse para mim de noite. Eu queria dormir enrolada em seu abraço. Eu queria ele.
  Cheguei à sala e meus dois amigos já estavam sentados esperando que eu me juntasse a eles. O jantar estava maravilhoso, tinha o dom de cozinhar bem, era o único de nós três que tinha paciência de ir para a cozinha. Ao longo da refeição me lembrei de algo que tinha esquecido de contar para eles:
  - Liguei para a minha avó hoje – a atenção foi unanime e eu larguei meus talheres para poder narrar melhor minha aventura familiar – Achei que como eu tinha seguido em frente com essa história do Joe finalmente eu poderia tentar dar uma chance para a nona também. Então eu liguei hoje de manhã.
  - E aí? – dividia o interesse entre mim e seu prato.
  - E aí que quando ela soube que era eu no telefone ela soltou a seguinte frase – pigarreei e fiz uma imitação bem grotesca da minha vó ao telefone - Olha só, o Grinch lembrou que tem família. – Não agüentei e comecei a gargalhar na frente dos dois, porque eu realmente não me importava de ser odiada por ela. Até achava engraçado, por fim estávamos todos rindo– aí a gente trocou umas meias palavras e desligamos. Mas não antes dela me dizer para não aparecer por lá, já que Joe vai ser o papai Noel desse ano.
  - A sua família faz a minha parecer muito normal .
  - O que eu posso dizer ? Eu adoro ser o Grich – literalmente gostava porque o Natal me dava náuseas, claro que isso tudo por causa da cavalgada pornográfica de Joe e Anne que fui obrigada a presenciar há dois anos.
  - A sua avó adora o Natal, mais do que gosta de você. Acontece! Me lembra de mandar um presente digno para ela esse ano? – levantou recolhendo nossos pratos – Deixa que eu lavo a louça.
  - E tem mais – aumentei minha voz para que pudesse ouvir da cozinha - Na verdade, o filho deles é uma menina que foi batizada de Joeanne.
  - Meu Deus, até que ponto a humanidade pode ser brega? – enquanto mostrava asco pelos meus primos, de fundo era possível ouvir as risadas de na cozinha.
  A noite continuou leve e agradável, continuamos conversando com Sam entre as nossas pernas. Eu não me importava mais com a traição do meu ex nem com a sua família em formação, esse drama eu já tinha superado. Eu não precisava mais guardar rancor de ninguém, até estava pensando em comprar uma lembrancinha para Joeanne e compensá-la por esse nome ridículo. Só que não!
  Continuamos bebendo vinho e assistindo a algum filme de terror sem graça. E depois de ouvir pela milésima vez reclamar que eu não tinha sido capaz de comprar uma sobremesa decente para eles escutei a campainha tocar. Sammy foi o primeiro a chegar à porta, pelo balançar alegre do rabo do meu cachorro só podia ser a senhora do 309 pra me entregar outro bolo caseiro, Sam podia sentir de longe o cheiro daquelas delícias. Mas não era a senhora Thompson com o bolo em mãos, era alguém melhor... Quantas vezes eu poderia me surpreender ao ver Harry na porta da minha casa? Acho que nunca me acostumaria àquilo.
  Eu estava meio tonta por causa do vinho e só consegui abri um sorriso bobo para aquele que estava na minha frente, inclinei meu corpo para beijá-lo, mas fui impedida por um cachorro afoito pelo carinho de Harry.
  - Desde quando o meu cachorro gosta de você?
  - Desde quando eu frequento esse apartamento mais que a minha própria casa. Ele já deve estar acostumado comigo – depois de ter dedicado uma pequena atenção a Sam, Harry me puxou levemente pela nuca para me beijar. Nossas bocas uniram-se em um beijo delicado e rápido, mas com potencial de me deixar trêmula – Vou poder entrar ou não?
  Abri espaço para que ele passasse, porém, ao invés de seguir na minha frente ele depositou sua mão em minha cintura e me guiou até a sala. Ao seu lado. A televisão já estava no mute e os dois já estavam virados para a nossa direção. Eles não conheciam Harry pessoalmente ainda, e não faziam nenhuma questão de serem discretos.
  - Harry, esses são e – apontei para o sofá – meus amigos.
  - Prazer – Harry não demonstrou desconforto com os olhares fixos nele, pelo contrário ele mostrou seu sorriso mais bonito – A fala demais de vocês, é quase como se eu já os conhecesse. Eu trouxe torta de chocolate...
  - Vou pegar os pratos – essa era demonstrando interesse maior em um pedaço de torta do que em minha visita.
  Harry separou-se de mim para colocar a torta na mesinha de centro sendo acompanhado por Sam que agora sentia melhor o cheiro do doce.
  - Eu amo aquela música de vocês: More than this. Uma vez eu briguei com meu namorado e ele a cantou pra mim como pedido de desculpas – esse era o meu amigo não fazendo questão de ficar calado, e mais uma vez Harry fazia questão de ser simpático.
  Play aqui.
  Eu continuava em pé porque algo me impedia de me mover, não sei se era efeito do vinho, mas olhar para os três interagindo na minha sala me despertou um sentimento saudosista. Um nó surgiu em minha garganta no momento em que eu tive a sensação de que aquela cena nunca mais se repetiria. Olhei para e e agradeci mentalmente tudo o que eles já tinham feito por mim. Eu poderia ter chorado se não fosse a voz de Harry ter chamado para juntar-me a eles. Afastei a sensação ruim e sentei do lado dele me servindo de um pedaço de torta de chocolate.
  Flash Back Off

  Um barulho ensurdecedor tinha atraído minha atenção. O homem estava descontrolado, mais do que antes, batia repetidamente uma barra de ferro na mesa como se estivesse punindo alguém por algo muito ruim. Por um instante achei que fosse o alvo de descontentamento dele mas um nome saiu de sua boca e não era o meu. Amelia. Quem quer que fosse Amelia tinha deixado o cara com muita raiva. Eu já tinha pena dela.
  De repente ele parou de bater a barra e sussurrar o nome de Amelia. Virou o corpo em direção a mim. Acho que aquele era o meu momento afinal. Por favor, que fosse. Ele então caminhou para perto de mim, estranhamente controlado agora, ajoelhou-se em minha frente e segurou meu rosto. Eu tinha nojo, mas não tinha forças para afastá-lo. As lágrimas voltaram a cair. Ele não se importava.
  - Amelia, você continua tão bonita – sua mão ossuda deslizava por minha face espalhando minhas lágrimas - eu guardei o seu vestido azul, o meu favorito, gostaria que usasse...
  - O meu nome não é Amelia – Conseguir falar serviu para me mostrar que minha mandíbula não tinha sido quebrada como imaginei horas atrás, porém o esforço de dizer aquela pequena frase era um absurdo. Doía mais do que qualquer outra coisa e se ele não estivesse muito perto não conseguiria ouvir meu sussurro sofrido.
  Senti o tapa no rosto, tão intenso quanto a raiva que voltava para ele. Ele olhou fixamente para mim e vi que fez um movimento discreto com a barra de ferro que ainda estava em uma de suas mãos. Mas ele limitou-se a segurar sua vontade. Ele sabia que se me batesse como queria eu não resistiria por muito tempo. Ainda não era a minha hora.
  - Só mais um pouco e você se juntará as outras piranhas que eu tive aqui – depois de sua última palavra ele fez questão de cuspir no meu rosto. Ele não podia me surrar naquele momento, mas nada o impedia de me humilhar mais um pouco – vocês mulheres... Tão bonitas, mas tão vadias. Vocês me dão nojo!
  Ainda tomado pela raiva ele saiu de perto de mim e subiu pelas escadas que davam acesso a casa. Ele me mantinha em um porão fétido e com vestígios das outras quatro mulheres que estiveram ali antes de mim. Lembrei das reportagens. Lembrei da crueldade. Chorei. Eu não merecia estar ali, nenhuma das outras quatro mereciam. Cada parte de mim doía. Eu queria voltar no tempo e escutar minha mãe me pedindo para ficar quieta em casa e não viajar para outro país.
  Meus pais. Será que eles já sabiam que eu estava desaparecida? Será que alguém tinha percebido? Eu não era do tipo das outras vítimas do maníaco, talvez ninguém ligasse meu sumiço a isso. Então toda a equipe da banda saberá o que aconteceu comigo quando meu nome estampar a manchete do jornal. Harry...Sofreria mais do que todos os outros.
  Ainda chorando copiosamente joguei minha cabeça para trás podendo encostá-la na pilastra que minha cadeira estava amarrada. Eu estava cansada, mas era incapaz de dormir, sabendo que a qualquer momento ele voltaria. Eu tinha medo do que viria a seguir. Fechei os olhos e roguei para que meus pensamentos voltassem mais uma vez para a minha história com Harry, que era o que me afastava do inferno que estava passando. Se é que isso fosse possível esquecer por um misero momento tudo aquilo que eu estava vivendo.

V - You belong to me

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=IFPELvgiYiA

  Flash back on
  O primeiro destino da turnê era a Flórida, os meninos fariam cinco shows no estado e algumas entrevistas, o que nos daria duas semanas por lá. O aeroporto de Miami era um caos e engraçado porque cada hora eu ouvia um idioma diferente passar perto de mim. Chequei mais uma vez a placa que dizia que estávamos na Flórida porque por um instante pensei que tinha pousado no Brasil por engano. adoraria isso, ela sempre diz que seu lado brasileiro é mais forte do que a nacionalidade inglesa que constava em sua certidão, apesar dela só saber falar “obrigada” em português.
  O primeiro compromisso da banda era para um programa local, seria uma entrevista ao vivo que duraria um bloco inteiro, quinze minutos mais ou menos. O planejado era que eu e Lou fossemos antes para a emissora, enquanto os meninos descansavam em algum hotel da cidade. O canal era pequeno e provavelmente não tinha nenhum programa sobre música, mas era compreensível que eles quisessem a One Direction na programação. Quem não queria?
  Fomos direcionadas até o camarim em que a banda ficaria antes de entrar no estúdio, Lou conferiu todo seu material de trabalho e eu retirei as roupas das malas as colocando no cabide. O próximo passo seria passá-las.
  - Eu não posso fazer nada enquanto os meninos não estiverem aqui. Posso ajudá-la se precisar.
  - Você sabe passar roupa, Lou?
  - Depois que eu tive a Lux sei passar roupa dando pirueta e fazendo malabarismos. Me dá um pouco de roupa aqui.
  Tudo estava pronto com a metade do tempo que eu gastaria normalmente. Era bom ter ajuda. As peças já estavam nos cabides esperando pelos seus respectivos donos, que já deviam estar chegando. Como em uma irritante coincidência a porta e abriu e eu vi Louis entrar com Lux no colo, sendo seguido pelos outros. Eu não tinha visto Harry desde que descemos do avião mais cedo, ele estava sexy com aquela touca surrada na cabeça. Só ele ficava bem com aquilo. Ele ficava bem com qualquer coisa na verdade. Ele atravessou a sala e veio de encontro a mim selando nossas bocas em um beijo rápido. Eu ficava desconcertada com as demonstrações de carinho publicas, mas por mais que eu já tivesse falado Harry nunca levava em consideração meu pedido de se conter.
  - , fizemos uma reunião ontem e temos um comunicado importante para lhe fazer – a expressão do Louis era séria então só esperei que ele continuasse a falar – a verdade é que estamos te proibindo de deixar o Harry mais bonito que nós. Sei que você tem suas preferências, mas nós temos nossos direitos.
  Por um instante eu gelei, aquilo era de verdade? Porque todo mundo continuava com a cara séria, inclusive Harry que estava ao meu lado. Eu já tinha trabalhado com inúmeras pessoas de vaidade extrema, por isso aquilo não chegava como exagero nos meus ouvidos. Mas será que eles realmente achavam que eu seria capaz de dedicar maior atenção a Harry, do que a eles? Por favor, eu sou profissional! Eu devia estar amarela já, porque Zayn soltou a risada que tanto estava prendendo. Ele e todo mundo que presenciou a cena.
  - Pelo amor de Deus , é brincadeira – o mesmo Zayn saiu do seu lugar até vir me abraçar como um consolo pela piadinha conjunta – Harry nunca será mais bonito do que eu, nem se eu estiver fantasiado de morador de rua – então ele se afastou de mim.
  - Muito engraçado, todos vocês – apontei para cada um – Isso vai ter volta. Agora anda, vão pegar as suas roupas. Estão etiquetadas com o nome de cada na arara. Você também bonitão – cutuquei Harry – vai vestir sua roupa.
  Harry não moveu um centímetro para longe de mim, ele estava sério e com braços cruzados. Eu o conhecia bem demais para saber que ele queria me pedir algo, era assustador, mas eu sabia exatamente o que ele queria.
  - O que foi grandão?
  - , tem certeza que não quer ficar essa noite em Miami comigo?
  O primeiro show da One Direction seria em Tampa na próxima noite. Paul determinou que parte da equipe fosse hoje para a cidade adiantar a transição da banda. Ficariam em Miami só os essenciais para a permanência dos meninos. Como meu serviço terminaria depois do programa eu estava entre as que iriam para Tampa naquela noite mesmo.
  - Tenho – ele tinha ficado um pouco decepcionado com minha resposta – eu queria ficar, eu não trocaria você por nada... Mas o Paul pediu mil vezes para sermos discretos, se eu ficar pode ser um risco...
  - Eu não ligo. Não me importo de mostrar ao mundo que estou com você. Você sabe que pode ficar se quiser, mas... – ele abaixou os olhos antes de continuar falando, ele parou para medir suas palavras.
  - Mas o que, Harry?
  -... Às vezes eu acho que você não quer.
  Eu não pude evitar uma risada. Tínhamos acabado de inverter os papéis: Harry demonstrava a insegurança que sempre pairava sobre minha cabeça. Ele se mostrando tão vulnerável era a coisa mais doce do mundo. Peguei em sua mão continuei encarando seus olhos.
  - Eu quero ficar com você por cada segundo, de verdade. Só que ainda é muito cedo. O Paul tem razão, viraria uma loucura: imprensa, fãs, tudo em cima da gente – passei minha mão pelo rosto dele e sorri a fim de melhorar sua expressão – eu só acho que é muito cedo, e que a gente consegue disfarça por dois meses – fiquei na ponta do pé até alcançar sua boca e beijá-lo de leve. Serão dois meses só nossos, sem precisa dividir com ninguém.
  Não sei se isso o convenceu de algo, mas a expressão dele já tinha melhorado um pouco. Nada do que eu disse tinha sido mentira, eu tinha medo. Medo de enfrentar a imprensa e de encarar os fãs, não sei até onde estava preparada. Eu tinha tido uma conversa com Eleanor, a namorada do Louis, ela me contou tudo sobre o começo do namoro deles, de como era difícil receber as criticas e as insinuações que vinham de todos os países. Claro que nem todas era assim, ela mesma tinha alguns fã-clubes espalhados por aí, mas no final as ofensas é que marcavam o dia. Segundo Eleanor isso nunca mudaria, mas o tempo me ajudaria a ser compreensiva com esse tipo de ataque. Por isso, para mim, era importante manter sigilo no começo.
  - Vai vestir sua roupa Harry, quero ver o quão bonito você estará hoje na televisão.
  Depois de convencer Niall a não usar seus tênis laranja meu trabalho estava terminado, fui brincar com a Lux enquanto Lou fazia a sua parte. Harry logo se juntou a mim e eu admirei a facilidade que ele tinha em lidar com a criança. Ela o amava e ele também adorava aquela pequena. Era impossível não ficar hipnotizada com a cena.
  Enquanto eu ainda babava em Harry brincando com a Lux a porta foi aberta sem aviso, todos olhamos para enxergar o intruso. Uma loira alta de pernas longas entrou como se fosse dona de todos nós. Ela era linda como um anjo: olhos azuis, cabelos dourados, alta e com um belo corpo ressaltado por um vestido justo vermelho. Porém sua beleza não lhe dava direito de olhar para os meninos como uma cadela no cio, menos ainda quando seu olhar demonstrou um leve brilhou quando parou em Harry. Com os olhos ainda sobre ele a loira abriu um sorriso perfeito e se dignou a falar pela primeira vez.
  - Oi rapazes! Eu sou Tiffany Stuart, apresentadora do programa de hoje...
  Eu contorci meu rosto porque ela era tudo que eu não gostava. Gesticulava tanto que quase confundi sua fala com uma performance de uma cheerleader. Olhei de relance para Lou e ela fez questão de revirar os olhos demonstrando antipatia pela loira também. Tiffany continuou falando e mostrando os dentes com seus sorrisos forçados. Eu simplesmente não escutei mais nada que saia da boca dela e dediquei-me a observar o quanto Harry era simpático com ela. Tão simpático que Tiffany tinha uma liberdade atrevida de encostar suas mãos em seu ombro, em seu braço...
  - Harry, preciso trocar esse seu blazer – eu não tinha sangue de barata e não deixaria que esse projeto de Barbie encostasse mais em nenhuma parte do corpo do meu homem – acho que o outro vai ficar melhor.
  No momento em que encostei minha mão nele Tiffany soube. Soube que eu estava com ciúmes, soube que Harry era meu. Ela tinha o rosto mais doce do mundo, mas o olhar que sustentou em mim era o de uma exímia caçadora, eu sabia. Eu tinha acabado de dar um motivo maior para que Harry fosse seu novo alvo. O sorriso irônico direcionado apenas a mim deixava claro que agora ela estava na disputa e ela não tinha entrado para perder.
  Ou eu estava ficando maluca?
   - Bom meninos, eu tenho que ir – então Tiffany levantou seu corpo perfeito do sofá – O programa começa daqui a dez minutos. E não esqueçam que hoje depois daqui nós vamos para o Mambo, melhor boate de Miami – então seus lindos olhos azuis, mais uma vez, foram de encontro a Harry – Certo?
  - A gente vai sim – Zayn respondeu com um belo sorriso. Todos os homens da sala estavam babando por Tiffany, inclusive Harry, que tinha esquecido completamente que eu estava ali ao seu lado. Eu queria beliscá-lo, mas me segurei.
  A loira mal tinha ido embora e os meninos começaram a enumerar todas as suas qualidades: doce, educada, simpática e linda. Eu poderia vomitar com tanto açúcar, mas minha raiva impedia. Não ela não era isso, era uma víbora. Eu sentia. Meu corpo tremia só de pensar que Harry sairia com ela hoje à noite, eu não podia deixar porque tinha dúvidas se ele resistiria a ela. Retornei à minha lucidez e percebi que ele ainda estava na minha frente de braços cruzados esperando por alguma coisa.
  - , cadê o blazer? – eu nem lembrava mais disso. Eu não ia trocar o blazer do Harry, tinha sido só uma desculpa para afastá-lo da comedora de homens – tá tudo bem?
  - Eu fico. Eu fico hoje aqui com você. – um sorriso despontou nos lábios dele, eu tinha cedido finalmente - Mas tem uma condição... Que eu e você não sairemos do hotel. Essa noite seremos só nós dois. Promete?
  - Será um prazer passar essa noite com você pequena. – abri um sorriso. Eu estava aliviada porque ele tinha escolhido ficar comigo, por mais que não percebesse.

xxx

  Assisti ao programa do lado da Lou, no bloco em que a 1D estava presente ficou nítido o quanto Tiffany se jogava para cima de Harry. Até ele percebeu e tentou o máximo manter-se afastado dela, um pouco sem graça com tudo aquilo. Quinze minutos pareceu uma eternidade, não via a hora daquele bloco terminar. Assim que tudo acabou e eu vi que Harry estava inteiro respirei fundo por não precisar mais ver aquela imitação de Taylor Swift na minha frente.
  Antes de irmos embora Lou pediu para que fosse com ela fazer algumas compras, disse que queria aproveitar os preços de Miami antes de viajar para Tampa. A única coisa que eu queria era ir para o hotel, mas cedi por gostar demais da Lou e por Harry ter insistido além do necessário para que eu saísse com ela. Andamos bastante e Lou não comprou quase nada, mas antes de ir embora ela pediu para tomarmos um sorvete juntas.
  - Eu não tô aguentando de calor , por favor. Prometo que não vai demorar, até porque meu vôo sai daqui a três horas.
  - Tudo bem, pode desfazer essa cara de pidona aí?
  A sorveteria não era a mais bonita do mundo, mas eu tinha certeza que tinha o melhor sorvete de manga que alguém conseguia vender. Eu estava satisfeita em sentar e tomar aquela delicia, porém alguma coisa me dizia que Lou estava me prendendo na rua. Estranho. Contudo eu não queria mais ficar suspeitando de nada. Mas sentir que estava sendo enrolada me dava o total direito de ter uma conversa mais séria com ela. Tinha uma coisa que eu precisava saber.
  - Lou – eu mordi meu lábio inferior procurando um jeito mais agradável de fazer minha pergunta, até perceber que a melhor forma era sendo direta mesmo – você também percebeu que aquela tal Tiffany estava dando em cima do Harry, né?
  - Depois de um tempo, eu achei que ela ia sentar no colo dele.
  - É sempre assim? As investidas das mulheres nos meninos...
  - É – ela me encarou – , desde que eu trabalho com eles eu vejo meninas e mulheres se oferecendo. Uma vez, uma garota mandou um vídeo dela fazendo um strip-tease para o Liam, ela realmente tirou tudo e no final colocou o telefone dela para que ele entrasse em contato. A menina não tinha nem dezoito anos.
  - Mas eles gostam?
  - Claro que sim, eles são homens. Mas isso assusta, e muitas vezes os meninos apenas ignoram. Eles amam as fãs, isso é inquestionável, mas algumas pessoas passam do limite. Ninguém gosta disso.
  - O que eu quis dizer na verdade é...
  - Se eles levam essas mulheres para a cama? – balancei a cabeça confirmando – Sim, como eu disse, eles são homens. Mas se o que você quer saber é se o Harry levaria a Tiffany para a cama hoje? Sim. – meu coração acelerou tanto que tive medo de todos que estavam perto ouvirem minha palpitação – Sim, se ele não estivesse com você. – eu duvidava e meu rosto deixou claro – Olha , eu sou muito amiga do Hazza e posso te dizer com toda propriedade que ele está apaixonado por você. De verdade, você tem o poder aqui. Confia em mim.
  - Tá, eu acho...
  Certamente eu parecia uma daquelas meninas de quinze anos insegura no amor. Eu ainda tinha minha duvidas, e sabia que precisaria controlar porque Harry era um ídolo mundial e muitas meninas eram apaixonadas por ele, isso não ia mudar. Talvez se ele demonstrasse essa paixão por mim...
  Lou resolveu que já estava na hora de ir embora, então enquanto ela seguiu para o aeroporto eu ia para o hotel, finalmente. Eu estava ansiosa para passar um tempo com Harry, precisava me sentir segura de novo. Nada que seus belos braços não resolvessem.
  Play aqui.
  Não encontrei ninguém pelos corredores do prédio, os meninos já deviam ter saído para encontrar a cabeçuda loira. Sorri ao pensar que Harry não estava entre eles, ao contrário, ele estava me esperando no quarto. Eu não podia estar mais feliz. Abri a porta com o cartão que tinham me entregado na recepção, não tinha necessidade nenhuma de bater ou anunciar que eu estava chegando. Porém ao abrir a porta algo me fez parar...
  O quarto estava decorado com diversas tulipas, minha flor preferida. Elas estavam por todo o lugar. Eram de todas as cores possíveis: vermelhas, amarelas, roxas, rosas... E tinha velas. Velas que davam um tom bonito no ambiente. Lindo. O quarto estava lindo. Dei alguns passos, e vi a mesa para dois disposta no meio do cômodo. Talvez eu tenha entrado no quarto errado porque eu não conseguia encontrar Harry. Andei mais um pouco, entorpecida pelo perfume das flores passando a mão em cada pétala do meu caminho, apenas para sentir a textura. Parei mais uma vez.
  Na cama, sentado com uma única rosa vermelha em mãos estava Harry. Prendi o fôlego ao vê-lo de terno e gravata esperando por mim. Ele me olhava sem desviar os olhos sustentando o seu sorriso torto que eu tanto amava. O sorriso que fazia tudo valer à pena.
  Olhei em volta mais uma vez. As flores, as velas, o jantar e ele... Tudo era para mim, não consegui conter minhas lágrimas. Era bonito demais. Perfeito demais para ser verdade. Pensei em me beliscar para comprovar o que eu via, mas o toque de Harry em meu rosto já foi o suficiente. Eu não estava sonhando. Ele então encostou nossas testa e eu me vi obrigada a encarar seus lindos olhos verdes. Ele sorriu mais uma vez e eu o acompanhei.
  - Espero que você tenha gostado disso pequena. – com a mão que estava fazia ele enxugou as lágrimas em minhas bochechas - Precisei mandar a Lou te distrair enquanto eu arrumava tudo.
  - Eu não sei o que dizer... Tá lindo. Eu amei.
  - Eu só quero que você saiba o quanto é especial para mim. – ele separou nossas testas e me entregou a rosa que estava em sua mão. Eu a cheirei – Rosa é a flor do amor, é clichê, mas ela é sua, assim como eu sou seu. Só seu.
  Eu não tinha o que falar. Eu não conseguia falar. Passei minhas mãos por sua nuca e puxei Harry para um beijo. Nossas bocas tinham o encaixe perfeito. Nossas línguas mantinham o ritmo perfeito. O beijo ficou mais intenso, assim como a necessidade que tínhamos um do outro. Sem separar nossas bocas ele me conduziu até a cama. Ao deitar minha cabeça no travesseiro senti os beijos de Harry fazerem um caminho até meu pescoço. Arqueei minha coluna com o arrepio que senti, soltei uma leve risada que indicava o quão bom era aquilo.
  Delicadamente a mão dele acariciava minha barriga por debaixo da blusa. Eu o ajudei e tirei de uma vez aquela peça de mim, os olhos dele contemplavam cada pedaço à mostra da minha pele enquanto seus dedos passeavam por cada curva do meu corpo seminu. Cada toque dele provocava um emaranhado de sensações em mim. Harry desceu sua boca até minha barriga dando leves mordidas até que chegasse perto da barra da minha calça, acompanho por seus dedos que com maestria a desabotoou. Ajudei Harry a tirar suas roupas até que ele estivesse apenas com a boxer.
  Antes que minha mão se apresasse a tirar a última peça dele, senti a mão de Harry deslizar por dentro da minha coxa até atingir o pedaço de pano que ainda cobria minha intimidade para então afastá-lo um pouco. Com dois dedos ele massageou meu clitóris provocando calafrios por todo meu corpo. Minha mão percorreu seu corpo até chegar à barra de sua cueca. Sem esperar desci minha mão até achar seu membro rígido esperando por meu toque. Cada investida minha Harry aumentava a intensidade de seus movimentos fazendo minha respiração ficar mais ofegante. Eu conseguia ouvir seus gemidos também, o que me deixava mais excitada.
  Com um dedo ele penetrou minha vagina fazendo movimentos de fora para dentro enquanto beijava meu pescoço. Minha mão subiu até seus cabelos, bagunçando cada fio cacheado dele. Sem demorar muito ele penetrou um segundo dedo acelerando as investidas, aumentando meu prazer. Antes que pudesse aproveitar mais, ele tirou seus dedos de dentro de mim, subindo suas mãos até meus seios.
  - Não... – meu pedido saiu como um sussurro. Eu não queria que ele tivesse parado. Fiz menção de tirar a boxer dele para que ele pudesse me possuir de verdade, mas ele me impediu.
  - Ainda não . – Os olhos dele brilhavam com intensidade anormal. Abri minha boca para reclamar, porém Harry me impediu mais uma vez – Shiiiuu... Essa noite é sua pequena... Só aproveita tá?
  Dito isso voltou à atenção para meus seios. Sua língua fazia movimentos circulares em meus mamilos enquanto uma mão acariciava o outro. Depois de uma leve mordida ele seguiu beijando minha barriga até que alcançasse a barra da minha calcinha. Antes de continuar, ele voltou a olhar para mim com o sorriso safado nos lábios, eu sabia o que viria a seguir e o retribui com o mesmo sorriso fechando meus olhos em seguida para desfrutar melhor do prazer que me aguardava.
  As mãos de Harry deslizaram até que minha última peça estivesse fora do meu corpo, senti suas mãos afastando um pouco mais minhas pernas enquanto ele beijava cada centímetro interno da minha coxa até chegar ao destino que tanto desejava. A língua de Harry explorava meu membro com cuidado enquanto suas mãos apertavam minhas nádegas. Os movimentos lentos passaram a ficar mais intensos, e meus gemidos aumentaram. Harry fazia movimentos circulares em meu clitóris alternando com leves mordidas. Um arrepio subiu pelo meu corpo provocando pequenos espasmos que me fazia apertar com força o lençol da cama. Mais um arrepio subiu por mim, dessa vez com mais intensidade. Meu corpo estava pronto para o orgasmo, mas antes que eu atingisse o meu auge, Harry parou.
  Antes de abrir os olhos senti a boca de Harry nas minhas em um beijo forte que demonstrava o desejo dele por mim. Minha mão deslizou pelo corpo dele e dessa vez ele não impediu que eu tirasse sua boxer. Eu o queria dentro de mim, mas ele também precisava me possuir. Era um desejo mútuo.
  Sem aviso Harry penetrou forte em mim arrancando um gemido alto da minha boca. Mais uma investida, mais um gemido até que ele aumentou o ritmo do movimento deixando nós dois ofegantes. Meu corpo dançava conforme o ritmo que Harry ditava, os movimentos eram apressados, eram fortes do jeito que necessitávamos. Por cada vez que Harry entrava e sai de mim meu corpo pedia por mais até que senti meus músculos contorcerem e uma onda de prazer invadir meu corpo. O arrepio tomou conta de mim e minha coluna arqueou no auge do clímax. Harry por sua vez não parou de investir até que ele próprio chegasse ao gozo.
  Logo que chegou ao auge ele deixou que seu corpo caísse sobre o meu, ainda dentro de mim. Nossas respirações eram fortes o bastante para entender a intensidade que fora aquele sexo. Eu sorri. Ele sorriu. Nós dois estávamos satisfeitos. Por fim, Harry saiu de mim deitando ao meu lado me puxando para um abraço.
  - Você é tão perfeita , que às vezes eu preciso me certificar que não estou sonhando.
  - Você não está sonhando. Eu não estou sonhando. Isso aqui é real, nós somos de verdade. E eu sou toda sua.
  - Eu sei que é – ele afastou uma mexa do meu cabelo que insistia em cair nos meus olhos.
  - Obrigada pela noite. Obrigada pela surpresa. Eu não sei como te agradecer.
  - Já agradeceu.
  Levantei um pouco a cabeça e vi o sorriso safado de novo nos lábios de Harry. Aquilo era tão sedutor que se eu não estivesse cansada pularia em cima dele para começarmos tudo de novo. Ao invés disso sentei na cama e antes de falar dei uma última olhada em seu corpo nu. Ele era perfeito!
  - Eu tô com fome.
  Ele riu e em um impulso saiu da cama, pegando em minha mão. Enquanto Harry não se importava em continuar pelado eu juntei o lençol no meu corpo. Ele me levou até a mesa posta para nós dois, eu sentei enquanto ele abria as bandejas com a comida. Hambúrguer e batatas fritas era o que tinha para o jantar. Totalmente fora da decoração que ele tinha feito. Eu ri e olhei para ele.
  - Não tinha como encomendar um jantar completo com o pouco tempo que eu tinha. Então McDonald’s era a única opção.
  Levantei um pouco da cadeira e me inclinei até conseguir alcançar sua boca, antes de voltar para minha cadeira falei:
  - Eu adoro McDonald’s.

Capítulo VI - O motivo

  Música do capítulo: Link

  Os dias passaram, os shows na Flórida tinham sido ótimos. Os meninos estavam muito bem no palco e eu muito cansada por causa da correria do trabalho. Mesmo assim, tudo era incrível e eu estava amando. As fãs eram muito apaixonadas e apesar de saberem tudo sobre eles ainda não desconfiavam do meu caso com Harry.
  Acordei no quarto do hotel em Miami, onde tinha sido o último show da Flórida, sem Harry ao meu lado. Procurei pelo quarto, tentei ouvir o chuveiro e nada. Era estranho porque ele nunca saia sem me acordar antes. Dei de ombros e fui ao banheiro tomar meu banho e acordar dignamente.
  Após o banho olhei o relógio: 11:00 a.m. Era dia de folga da banda e todos estávamos cansados para acordar cedo. Meu estômago deu o primeiro sinal de fome, eu precisava colocar alguma coisa na boca e conseguir esperar o Hazzah para almoçarmos juntos, como de costume. Antes de descer para comer qualquer coisa avistei um papel na mesinha ao lado da porta, era um bilhete dele.
  “Bom dia pequena. Desculpa precisei ir a uma entrevista de última hora com a MTV. Não me espere para o almoço. Te vejo mais tarde. H.”
  Tudo bem almoçarei sozinha então.
  Ao mesmo tempo em que eu abria a porta do meu quarto Liam fechava a do dele, que ficava em frente ao que eu e Harry estávamos.
  - Pensei que você estivesse na entrevista para a MTV?
  - Não, só o Harry foi chamado. Às vezes eles só querem um de nós para a matéria.
  Reparei no rosto dele, Liam estava abalado, não do tipo cansado, mas do tipo triste. Seus olhos estavam inchados e suas olheiras ressaltadas, ele havia chorado uma boa parte da noite ao que parecia.
  - Está tudo bem? - ele balançou a cabeça em negação – Quer conversar?
  - Se você não se importar em ouvir meus lamentos? Sim.
  - Não me importo desde que tenha um prato de comida na minha frente. Eu tô com muita fome – ele me olhou e deu um sorriso discreto depois concordou e saímos.
  O restaurante italiano ficava na mesma rua do hotel, mal nos acomodamos e percebemos uma movimentação nada discreta dos Paparazzis, mas não nos importávamos já que éramos apenas amigos.
  - Vai ser divertido quando publicarem - Liam disse assim que percebeu que estavam tirando fotos nossas – “Liam Payne almoça com mulher misteriosa depois e terminar namoro com a dançarina...”
  - Era por ela que você estava chorando? – ele me olhou com cara de surpresa – seus olhos inchados te entregaram assim que te vi.
  - Sim, era por ela. Eu tô cansado de ouvir que o tempo vai curar essa maldita dor, sabe? Eu queria correr até ela e dizer que a quero ao meu lado, que ela é a mulher certa para mim e eu tenho certeza que sou o homem da vida dela – ele fez uma pausa acompanhada de um suspiro de pesar – eu sei o quanto ela sofreu, eu não tenho coragem de fazê-la passar por isso de novo, seria muito egoísmo .
  Liam tinha terminado o namoro há três semanas. Na verdade a ex-namorada não aguentava mais ser criticada por fãs e ver seu nome envolvido em mentiras divulgadas por mídias duvidosas. Eu nunca cheguei a ler o que mandavam ou escreviam sobre ela, mas Harry contava que eram coisas pesadas.
  Mesmo determinado a seguir em frente eu conseguia sentir a dor nas palavras de Liam, parecia muito injusto perder um amor por tão pouco, mas eu não conseguia julgá-la. Eu mesma estava morrendo de medo de que meu caso com Harry fosse exposto, eu não saberia se ia agüentar.
  - Eu sinto muito Liam.
  Segurei a mão dele que estava em cima da mesa e apertei em solidariedade. Ele tinha o maior coração do mundo e me deixava triste vê-lo daquele jeito, em pouco tempo tínhamos construído uma ligação forte, depois de Harry, era com ele que eu mais me identificava da banda. Nós tínhamos criado uma amizade e era por isso que ele estava ali se abrindo para mim.
  - Não sinta . A vida é feita de escolhas, e a nossa foi essa. Com o tempo passa, não é isso que todo mundo fala? Com o tempo eu aprendo a dosar a saudade – uma lágrima solitária desceu pela bochecha dele e eu me apressei a secá-la – me promete que nunca vai deixar o Harry por isso? Eu sei que você é forte, eu sei o quanto vocês se gostam, então não deixe que o erro do meu namoro aconteça com vocês também.
  - Eu não sei Liam, eu tenho medo...
  - Supere! E quando você receber critica dessas que vão te fazer querer pular de um prédio, lembre o quanto Harry é importante para você e, supere.
  Olhando para Liam tão devastado, eu soube que não valia a pena ter medo de perder Harry por tão pouca coisa. Eu sabia que tinham fãs, que tinha a imprensa e esse era o trabalho dele. Eu sempre soube. E ele amava fazer o que fazia. O desabafo de Liam me ajudou a ver que eu precisava passar por cima de tudo isso. Ser forte como Payne mesmo disse, e era isso que eu faria.
  - Eu prometo – falar sobre aquilo tinha ajudado de certa forma o homem que estava na minha frente. Agora Liam tinha um rosto melhor, mais tranquilo – mas você vai ficar bem?
  - Vou sim, me ensinaram um mantra que repito todos os dias: “o tempo ajuda”.
  - É o que dizem.
  Depois disso mudamos de assunto, assim o almoço conseguiu ser mais agradável. Conversamos sobre filmes e eu o decepcionei muito quando contei que não gostava de Toy Story. Mesmo depois de quase duas horas no restaurante os paparazzis não nos davam sossego, era um tanto incomodo, principalmente para mim que não estava acostumada com aquilo.
  Por um milagre nenhuma fã tinha descoberto onde estávamos, senão seria impossível voltar para o hotel, já que estávamos a pé e sem nenhum segurança para dar apoio. Porém a portaria do hotel estava lotada de meninas esperando e gritando pelos rapazes, eu já tinha me acostumado, por isso tomei a frente e entrei antes que Liam já que ele ficaria muito tempo do lado de fora tirando fotos e dando autógrafos.
  Olhei no relógio e já era tarde o suficiente para que Harry tivesse voltado da entrevista. Eu estava louca para encontrá-lo e dizer que eu finalmente estava pronta para contar ao mundo sobre nós, ver a tristeza de Liam tinha me ajudado a enxergar que eu não queria estar no lugar dele e não queria ver Harry daquele jeito também.
  Atravessando o saguão eu consegui reconhecer o topete de Zayn e percebi que ele estava conversando com uma mulher. Ele sorria muito, e nem olhava para o lado, um tanto quanto patético. Talvez eu passasse reto para não atrapalhar a paquera. Talvez, se eu não reconhecesse os cabelos loiros, o sorriso doce e os dois metros de perna. Meu sangue subiu rápido demais, e quando dei por mim já estava ao lado dos dois quase que bufando.
  - O que você está fazendo aqui Tiffany?
  A loira não demonstrou nenhuma surpresa ao me ver, até porque ela estava satisfeita com minha reação. Ela riu levantando levemente seu lábio superior, Zayn estava parado com olhando surpreso para mim, ele não esperava que eu fosse grossa com ela. Eu não me importava.
  - Oi querida. Desculpa eu esqueci seu nome – eu podia bater naquela Barbie cínica ali mesmo, mas não faria em consideração a Malik que ainda estava parado sem nenhuma reação – não te contaram? Eu consegui um emprego na MTV, logo depois da apresentação dos meninos no programa.
  - O nome dela é , Tiffany. - olhei feio pra Zayn dando a deixa pra ele ficar calado.
  - Mas isso foi há duas semanas atrás. Como você conseguiu mudar de emissora tão rápido? E de novo, o que você está fazendo aqui?
  - Ah sim... . Eu tava esperando essa oportunidade há muito tempo. E ela chegou – a oportunidade se chamava teste do sofá, só podia ser – e eu tô aqui por que como ainda não tenho programa na MTV eles pediram para acompanhar a turnê dos meninos. Vou fazer entrevistas e coletar material para posteriormente transformar em um documentário.
  Por um instante achei que o chão tinha se aberto sob meus pés. Aquilo era a coisa mais insana que eu já tinha escutado. Como alguém poderia migrar tão rápido de um emprego para o outro? Só podia ser Deus rindo da minha cara e fazendo questão de sambar na minha felicidade. Diante da minha inércia Tiffany ela aproveitou para continuar jogando os fatos na minha cara.
  - Eu achei que você soubesse afinal eu almocei com o Harry hoje. Pensei que ele tivesse comentado com toda a equipe.
  As palavras caíram como pedras em minha cabeça. Era com ela que ele esteve hoje, era ela o tempo todo e eles simplesmente tinha omitido para mim. Por quê? Por que ele sabia que eu impediria, mas ele não queria ser impedido, ele queria estar com ela. Não fui capaz de esconder meu desapontamento, o que fez Tiffany ficar satisfeita e não se contendo apenas em me devastar com palavras ela veio em minha direção com braços aberto.
  - Eu acho que seremos ótimas amigas – um abraço selou nossos corpos. Eu continuei imóvel, ela chegou perto demais até alcançar meus ouvidos e me dizer em um tom que achou que só eu conseguiria escutar – na verdade eu tenho conversado com Harry por telefone nas últimas semanas. Eu me aproximei e você nem percebeu. Apostou que ele não te contou isso também né ?
  Então desgrudou do meu corpo a tempo de vestir sua face mais doce. Ela não tinha me abraçado por que queria minha amizade, nem porque era simpática o bastante para tentar se dar bem comigo. O abraço fora apenas para disfarça sua verdadeira intenção: me atingir. Eu tinha esquecido de Zayn, mas ela não, ele ainda não entendia o porque de eu estar tão incomodada com ela. O tempo que ajudaria Liam a superar a ex-namorada também ajudaria Malik a entender tudo aquilo.
  - Eu acho que não seremos amigas Tiffany. Agora, se me dão licença.
  Eu me virei com intenção de seguir para o quarto, mas a mão de Zayn no meu braço impediu. Olhei para o moreno esperando uma bronca pelo que tinha acabado de falar, mas para a minha surpresa os lábios dele formaram outras palavras. Conseguir ver Zayn me perguntando em silêncio: “Está tudo bem?” em reposta eu sorri e afirmei com a cabeça, então ele me soltou e eu pude ir para o meu destino.
  Play na música.
  O caminho até o quarto tinha durado uma eternidade, mesmo assim, ali, antes de abrir a porta jurei a mim mesma que daria outra chance ao Harry: perguntaria a ele com quem ele tinha ido almoçar e esperaria a resposta verdadeira. Finalmente entrei no aposento, e encontrei Harry sentado em uma das poltronas olhando fixamente para o seu celular, seu rosto estava fechado em uma expressão séria que fez meu coração palpitar mais forte involuntariamente. Quando por fim percebeu que eu estava lá apenas olhou para mim e sem demorar muito baixou seus olhos para o aparelho outra vez.
  - Sabe – suas palavras eram pausadas como de costume, mas tinham um peso extra – por um tempo eu acreditei que você tinha medo de sair comigo por causa da mídia. Mas acho que medo não é a palavra certa já que, ao que parece, você não se importa muito em ser fotografada.
  Antes que perguntasse o que estava acontecendo ele colocou o celular em minhas mãos, no visor aparecia uma foto minha com Liam de pouco tempo atrás. Na imagem eu estava segurando a mão dele, mas diferente do que tinha acontecido a foto mostrava um afeto maior do que realmente houvera no restaurante. Mexi na tela e consegui ler uma legenda que dizia: “Liam Payne e mulher misteriosa trocando carinhos hoje no almoço.” Exatamente como ele imaginou que ia ser.
  - Eu fui almoçar com o Liam, você não estava aqui lembra?
  Aquilo era muito inapropriado, Harry estava fazendo alvoroço por nada, me jogando contra a parede sem motivo. Eu é que tinha sido enganada, eu é que devia estar cobrando respostas.
  - Harry, não tem motivo nenhum para você alterar por causa dessa foto.
  - Não é por causa da foto . É por todas as vezes que eu precisei implorar para você ficar ao meu lado, por todas as vezes que fui obrigado a sair sozinho querendo estar com você, e você sempre dizendo que estava com medo, que precisávamos de mais tempo, que não estávamos preparados – ele fez uma pausa antes de continuar, suas palavras eram tensas e carregadas de rancor – mas sua foto com Liam me diz o contrário. Se eu não conhecesse vocês também acharia que são um novo casal. Então, qual é o seu problema comigo?
  Com a mão levemente trêmula passei o celular que estava comigo para ele. No meio dessa confusão eu tinha conseguido ler, bem rápido, os primeiros comentários da matéria.
  - Leia os comentários. Os dois primeiros são ofensas leves, o terceiro eu não consigo ler em voz alta de tão pesado e o quarto é de alguém desejando felicidade ao Daddy Direction – me permitir sentar na cama para continuar com aquilo. Eu estava cansada, precisava de um apoio para minhas pernas – só que eu não me importo, nem um pouco. Justamente por não ter nada com Liam – ele sentou do meu lado começando a dar sinais de compreensão – mas com você seria diferente... Eu me importaria. Eu me importo com o nós.
  Joguei meu corpo para trás me possibilitando deitar na cama. Era um péssimo começo esse: Harry me acusando por pouca coisa eu com a cabeça cheia de insegurança. Será que eu já poderia começar a jogar todas as omissões que ele tinha me feito em sua cara, ou esperava por mais alguma acusação idiota? Engoli e em seco e esperei o próximo passo dele. De olhos fechados senti que ele deitou ao meu lado, logo em seguida senti sua mão tentando chegar à minha, ignorei o toque me afastando.
  - No meu almoço com Liam conversamos muito. No meio da conversa ele me mostrou que não valia a pena me esconder, e que por mais que fosse difícil eu nunca poderia ignorar o que sentia por você – abri meus olhos para encontrar os olhos verdes dele, que agora mostravam arrependimento – eu voltei louca para te ver... Louca para de contar que eu não tinha mais medo, que eu iria enfrentar. Mas...
  - Me desculpa, eu exagerei. Eu não consigo controlar, você mexe com meus sentimentos de uma forma totalmente nova. É tudo novo quando estou com você e eu não sei como agir – o nariz de Harry encostou em minha bochecha e permaneceu assim por um tempo – vou melhorar, prometo. Eu me importo com o nós também. Só me diz que tá tudo bem.
  Ele depositou um beijo demorado em minha bochecha, movendo seu corpo até abraçar o meu enquanto eu permanecia na mesma posição. Eu queria poder abraçá-lo e concordar que estava tudo bem, e resolver a briga como todo casal. Mas não estava, tinha uma coisa que ainda me incomodava.
  - Não está tudo bem. Harry, com quem você almoçou hoje?
  - Eu já disse , eu dei uma entrevista para a MTV.
  - Você sabe que não é isso que eu quero saber. Você sabe o que eu estou te perguntando. Por favor, seja honesto comigo.
  Uma lágrima teimosa insistiu em cair dos meus olhos indo de encontro ao rosto de Harry, que ainda estava encostado ao meu. De uma vez, ele levantou e sentou-se na cama em que ocupávamos, eu o acompanhei para conseguir olhar em seus olhos enquanto ele me respondia.
  - Com a Tiffany – o tom da sua voz era baixo, carregado de culpa – eu ia te contar, mas precisava de tempo. Eu não sou burro , eu sei que você não gosta da dela... Com o tempo eu sei que vocês vão ser amigas, confia em mim.
  - Não Harry, ela não vai ser minha amiga. Nós não podemos ser amigas porque desejamos a mesma pessoa.
  - Eu não sou uma peça de tabuleiro – ele pegou minha mão e colocou sobre seu peito. Eu conseguia senti as batidas do coração dele aceleradas. Coloquei a minha outra mão no meu próprio peito para sentir que meu coração batia no mesmo ritmo que o dele – eu sou de carne e osso. Eu tô aqui por você. É você que me faz sentir vivo, pelo amor de Deus. Por toda vez que você duvidar eu estarei aqui, disposto a te lembrar o quanto você é importante para mim.
  Eu não conseguia resistir àquilo, por mais que me magoasse eu sempre estaria disposta a perdoá-lo facilmente. Além de tudo era impossível ignorar a reação dos nossos corpos quando estávamos juntos, quando nos tocávamos. Harry despertava em mim uma outra pessoa, sentimentos que eu também não conhecia e por mais que não estivesse tudo bem eu queria deixar qualquer obstáculo para trás apenas para tê-lo em meus braços de novo.
  - Me promete uma coisa – tirei minha mão do seu peito e levantei meu corpo até que eu estivesse sentado em seu colo com minhas mãos sobre seus cabelos – quando você cansar de mim, eu serei a primeira a saber.
  - Eu nunca vou me cansar de você.
  Ele me puxou para um beijo demorado e apaixonado. Mesmo ouvindo ele dizer que gostava de mim eu sabia que alguma coisa não estava certa. Enquanto minha boca ainda estava colada a de Harry um frio na barriga me fez sentir algo terrível e por mais que ele me prometesse eu sabia que não poderíamos ficar juntos. Esse sentimento me fez tremer e puxar ainda mais Harry para nosso beijo, me dando certeza que ele não sumiria naquele momento mesmo.
  Uma dor muito forte assolou minha cabeça e eu preferi passar o resto do meu dia no hotel, enquanto os outros despediam de Miami. Inclusive Harry. Inclusive Tiffany. Mesmo fingindo não me importar mandei uma mensagem pra Lou pedindo que ela ficasse de olho nos dois, preferia ficar no hotel descansando ao invés de entrar nos joguinhos da loira. A dor tinha me deixado exausta, até para lidar com meu ciúmes, por isso, eu apenas dormi. Dormi a tarde toda acompanhada de uma angústia inexplicável.

Capítulo VII - A queda.

  Música do capítulo: Link

  Acordei com o peso do corpo de Harry sobre o meu, ele dormia ta e eu nem tinha percebido ele chegando. Mesmo ainda estando um pouco magoada com as mentiras eu adorava estar em seu abraço, o caos simplesmente desaparecia quando ele estava ao meu lado. Minha dor de cabeça também havia passado e eu me sentia mais disposta para tudo. Tentei levantar sem acordar Hazzah, mas assim que tirei seus braços de mim ele abriu os olhos.
  - Desculpa, não queria te acordar – passei minha mão por seu rosto - nem vi quando você chegou.
  - Tem meia hora só. Vi você dormindo e não resisti – ele sentou e passou a mão por seus cabelos para consertá-los, mas só piorou a situação, mesmo assim, era um charme – a produção vai fechar um karaokê pra a gente hoje, combinamos de sair daqui à uma hora e meia. - Eu confirmei com a cabeça, ainda estava meio lenta para conversar – eu só queria te avisar que toda a equipe que trabalha na turnê foi convidada.
  - Por toda equipe da turnê eu posso entender a da MTV também, certo? – dessa vez foi ele quem confirmou com a cabeça sem vontade de falar – eu acho que essa será a minha pedra no sapato até irmos pra casa. Tudo bem, eu vou tomar banho.
  Terminei meu banho e sentei para ver qualquer coisa que passava na televisão enquanto Harry ocupava o chuveiro. Eu estava em um daqueles dias que não são os nossos preferidos, aparentemente as coisas entre mim e Harry estavam bem outra vez, mesmo assim eu sentia um pouco de raiva. Eu não conseguia deixar de pensar em Tiffany nos acompanhando por algumas semanas e se jogando para cima dele, só de pensar naquela mulher meu estômago revirava.
  Porém os enjôos se intensificaram então joguei a barra de chocolate que estava em minhas mãos o mais longe que conseguia o cheiro do doce só fez piorar meu mal-estar. De nada adiantou ter me livrado do chocolate, mas por sorte Harry saiu do banho no mesmo minuto que eu correria de encontro ao vaso sanitário.
  - Está tudo bem ?
  Ouvi Harry falando por de trás da porta, sua voz era preocupada. Respirei fundo, e sentada no chão, joguei minha cabeça para trás até que ela encostasse no móvel da pia, eu ainda sentia náuseas e então ficaria ali até que soubesse que tudo estava bem já que além do enjôo eu estava um pouco tonta.
  - Acho que comi doce demais – eu não tinha culpa de estar angustiada e com TPM.
  - Você devorou quase uma barra de chocolate enquanto eu estava no banho. E tem papel de bala aqui também. Tô começando a achar que eu durmo com uma formiga.
  A lembrança do doce me fez sentir mal de novo, e outra vez, eu estava abraçada ao assento sanitário. Pelo menos isso me fez melhorar e já sentia que podia levantar sem problemas nenhum. Só não conseguia pensar em bala e chocolate mais, eu ficaria um mês, no mínimo, sem comer aquilo. Sério!
  - me deixa entrar, você não tá bem.
  - Não, eu já tô bem. É melhor você ir arrumando enquanto eu tomo outro banho rápido, já estamos atrasados pra sair.
  - Tem certeza?
  - Absoluta Harry.
  Eu ainda estava pálida, mas não sentia nada mais, já estava quase com fome de novo. Sai do banheiro e encontrei um Harry lindo de calça jeans e blusa preta me esperando. E depois de me fazer confirma pela segunda vez que estava bem saímos para encontrar com os outros que já estavam no karaokê esperando.
  O táxi estava estacionado na porta do hotel, eu mal com conseguia andar com tantos flashes em meu rosto. Nós não estávamos de mãos dadas, mas eu sabia que as dúvidas e as insinuações surgiriam no dia seguinte: “a garota do Liam agora é a garota do Harry.” Porém, só me preocuparia com isso no outro dia. Um passo de cada vez , um passo de cada vez!

  xx

  O lugar era aconchegante com suas madeiras em contraste com o vermelho dos detalhes. No palco já estavam Josh e Niall fazendo um dueto muito desajustado de “Don’t” da Shania Twain, ouvir Josh cantar me fazia entender o porquê dele ser o baterista. Mas todos estavam se divertindo e cantando junto com ele, já que Niall tinha parado de tentar acompanhá-lo para apenas rir. Não deixava de ser divertido.
  - Achei que não viriam mais – Zayn aproximou e entregou uma caneca com chopp para Harry eu recusei a minha por ainda sentir leves enjoos.
  - A criança aqui – Harry apontou com a cabeça para mim – comeu doce além do que devia e teve um contratempo, a gente esperou um pouco ela melhorar para vir – então ele beijou minha testa - vou chamar o Louis para cantar comigo.
  Eu ia me juntar ao grupo, mas Zayn continuou parado em minha frente, um pouco sério para quem estava em uma confraternização. Ele queria conversar, eu sabia, eu estava cansadas de conversas por hoje, porém revirei os olhos e deixei que ele começasse a falar.
- Eu só queria saber se você está bem.
  - Tô, eu melhorei sabe. É só porque eu comi muito doce e...
  - Eu não tô falando disso – ele riu e cruzou os braços enquanto encostava-se à mesa que estava atrás dele - eu não sou cego e nem surdo, percebi o que aconteceu no saguão do hotel hoje com a Tiffany. Por fim eu enxerguei que ela não é tão boa assim quanto parece... Está tudo bem pra você ela vir com a gente no resto da turnê? – Zayn falava sério demais para ser uma brincadeira - se não, eu dou um jeito de cancelar esse documentário.
  Play na música.
  Zayn estava ali me dando uma opção, me dando certeza de que se eu quisesse a pedra no meu caminho não estaria mais por perto. Era tudo o que Harry não tinha feito, ao contrário disso ele apenas me fizera aceitar os fatos. Entretanto Zayn mostrava que eu não precisava aceitar, e que ele, e não Harry faria de tudo pelo meu bem. Então finalmente eu entendi a angustia que me perturbou a tarde toda. O que me Incomodava, mesmo sem saber, era que Harry não se importava em afastá-la mesmo que isso fosse melhor para mim.
  - Obrigava Malik – desviei o meu olhar para Harry e enxerguei o moreno escolhendo alguma música com Louis, voltei a olhar para Zayn – é tentador, acredite, mas não precisa. Minha mãe sempre diz que a vida nos testa sempre que preciso e são esses testes que nos ajudam a tomar as nossas decisões. Eu acho que a Tiffany é um teste.
  - Um teste para você?
- Não. Ela é um teste para o Harry.
  Sem deixar brecha para mais perguntas peguei na mão dele e nos guiei para perto dos outros que estavam preparados para ouvir a canção de Harry e Louis. Os dois cantariam Free Fallin’ do John Mayer, essa era uma das minhas músicas preferidas e assim que eles começaram a cantar, eu não conseguia desgrudar meus olhos de Harry.
  Antes que terminasse eu vi Tiffany muito perto do palco, o vestido preto curto contrastava com seu cabelo loiro, ela estava linda. Louis deixou que o amigo cantasse a última e eu percebi que os olhos de Harry passeavam entre mim e a Tiffany, nesse momento eu entendi que a música não tinha sido escolha aleatória. Ela expressava tudo que ele sentia.
  Mais uma vez Harry havia me enganado. Não era verdade que estava tudo bem que ele não tinha dúvidas de quem queria. Ele só não tinha coragem de admitir, não tinha coragem de ser verdadeiro comigo. De novo. Abaixei meus olhos por não conseguir encarar mais ele, mesmo que ninguém percebesse aquele era o aviso de que tínhamos problemas. Eu era a garota que teria o coração partido e Harry seria o responsável por aquilo. Estávamos em queda.
  - Hazzah, agora é a minha vez de cantar com você – levantei meus olhos a tempo de ver que Tiffany já estava no palco com um Harry sorridente bebendo sua segunda caneca de chopp – por favor, desde já me perdoem por estragar a música, mas tenho certeza que meu companheiro vai ajudar bastante.
  A Barbie tinha escolhido cantar Lucky do Jason Mraz, tão clichê que fez meu enjôo voltar, não só o enjôo como a tonteira também. Como eu não precisava presenciar aquilo segui para a mesa mais distante antes que caísse no meio da música e fosse acusada de estragar o dueto perfeito. Não fiz questão de prestar atenção na voz dela, mas conseguia ouvir os gritos animados da pequena platéia.
  Sentei na cadeira encostando minha cabeça na parede e fechando meus olhos para ver se tudo aquilo passava de uma vez, inclusive o show que estava acontecendo naquele momento. Ouvi um barulho de copo sendo colocado na mesa, abri os olhos achando que era Harry querendo se desculpar, mas não.
  - Água com limão, vai te fazer bem.
  Continuei olhando o desconhecido em minha frente, eu nunca o tinha visto com a equipe, nem tinha reparado que ele estava ali naquela noite. Mas era um homem lindo, isso eu não poderia negar. O moreno tinha a pele naturalmente bronzeada, seus olhos castanhos faziam uma parceria com os cabelos da mesma tonalidade, que estavam em pé formando um topete – não tão charmoso quanto o de Zayn. O sorriso era acompanhado por dentes brancos e alinhados perfeitamente e covinhas que apareciam para contrastar com o rosto másculo dele.
  - Desculpa, mas quem é você?
  - Pedro – ele estendeu a mão direita em direção a minha que continuava abaixada – Pedro Lopes. Eu sou o cinegrafista e fotógrafo contratado pela MTV para o tal documentário com a banda.
  - – estiquei minha mão para o cumprimento – eu trabalho com a banda do tal documentário.
  Pedro tinha um sotaque muito forte, não era igual ao meu, era mais acentuado dando a perceber que sua língua de origem não era o inglês. Continuei olhando para ele esperando saber quais eram as intenções dele ali e porque diabos ele tinha me oferecido um copo com água e limão.
  - Eu vi quando você ficou verde e veio para cá. Na Espanha, quando a gente fica assim é sinal de náuseas – o estranho era tão sociável que não precisei perguntar para saber que ele era da Espanha e tinha percebido que eu estava passando mal – toma a água, vai melhorar. Eu garanto.
  - Obrigada.
  Fiz o que ele pediu e no final do copo eu já me sentia melhor. Pedro continuou me fazendo companhia, conversamos bastante o que me fez simpatizar pelo rapaz e ficar mais tempo do que tinha planejado naquele lugar. Descobri que ele morava nos Estados Unidos há cinco anos e trabalhava como freelancer produzindo curtas. Morava sozinho em Los Angeles, mas quase não ficava em casa por causa do trabalho.
  Pedro era uma companhia agradável e quase me fez esquecer de que Harry me ignorava por mais ou menos uma hora. Pelo canto do olho eu conseguia ver que ele já estava levemente alterado e Tiffany não saia de perto dele, nem ele fazia questão de que ela saísse. O poder que ela tinha de mudá-lo era incrível, e eu me sentia fraca diante de tudo.
  - Preparada para Nova Iorque amanhã, ?
  - Sim. Eu amo aquele lugar, quando eu estava na faculdade fiz um curso de verão lá – era fácil conversar com Pedro, não me sentia incomodada por contar coisas da minha vida para ele – eu me lembro de ligar para minha mãe e dizer que nunca mais ia voltar para Londres.
  - E o que aconteceu?
  - Ela me xingou e 24hrs depois eu estava no avião, voltando para casa.
  - Há algum risco de perdermos você por lá nessa viagem?
  - Hum... Não. Não dessa vez.
  - Bom saber, eu ia odiar ter que ligar para a sua mãe pedindo para ela te obrigar a seguir essa turnê comigo – ele olhou para onde Tiffany estava e voltou para mim – já é sacrifício demais ter que trabalhar com Tiffany Stuart. Acredite, a moça é tão mimada que me faz querer pular de alguma ponte assim que ela começa a falar.
  - Junte-se ao clube – levantei meu copo vazio imitando um brinde– antes que eu queira me jogar de uma ponte também, vou aproveitar que estou melhor e ir embora – levantei devagar para evitar qualquer tipo de tontura repentina – foi muito bom te conhecer Pedro. Nos vemos amanhã na Big Apple.
  - Te espero lá senhorita – ele mais que depressa abriu um sorriso estonteante para mim. Lindo.
  Enquanto atravessa o bar não conseguia encontrar Harry e nem Tiffany, senti meu coração acelerar um pouco. Harry tinha cantando uma música anunciando que iria ser mau comigo. Harry havia me ignorado a noite toda. Harry iria fazer besteira, mas eu não precisava passar por aquilo. Desisti de procurá-lo e fui de até Liam, precisava pedir um favor a ele.
  - Ei, posso dormir com você hoje?
  - Mas e o Harry...
  - A gente não está mais de lua-de-mel. Por favor, só me responde se eu posso ou não dormir no seu quarto hoje.
  - Claro que pode - Liam deixou o copo na mesa mais próxima, e ainda com cara de surpreso me guiou até o guarda-volume para pegar nossos casacos - Eu vou com você. Cansei de festa também.
  - Não precisa Liam, é só me passar o cartão do quarto.
  - Fica quieta, e vamos embora.
  Mesmo depois de ter desabafado com Liam nada tinha ficado mais leve. Eu não tinha conseguido dormir e olhava meu celular toda hora na esperança de encontrar algum sinal de Harry. Nada. Ele não tinha dado notícias, nem sequer quis saber por onde eu andava. Muitas vezes eu me segurei para não levantar e conferir se ele estava no quarto, há muito tempo eu não era esse tipo de mulher insegura e não queria voltar a ser, então me segurava no quarto de Liam.
  Foi só eu perceber que o sol tinha saído que levantei com muito cuidado para não acordar o meu amigo, entrei no meu quarto com a mesma leveza que saí do quarto de Liam. Para o meu alivio Harry estava lá, sozinho e acordado. Ele me esperava sentado na cama com uma xícara de café em mãos, ao me ver, seu rosto continuou sem expressão acompanhando meus passos.
  - Você sumiu no meio da festa, eu ia te ligar, mas eu perdi meu telefone.
  - Eu não consigo Harry – eu não enrolaria mais, seria direta por mais que doesse. Encostei meu corpo na parede e encarei o rosto de cansado dele. – Eu sei que ela mexe com você, afinal, todo o tempo que ela esteve ao seu lado você nem lembrava que eu existia- ele tentou falar alguma coisa, mas eu impedi – eu não quero mais isso. Eu gosto muito de você, tanto que dói, mas viver nessa agonia é demais para mim.
  - ...
  - Não, eu não vou ouvir mais nada. Eu só vim dizer que a partir de hoje nós somos apenas colegas de trabalho, que você está livre para se envolver com quem quiser e que – um nó subiu por minha garganta, meus olhos se encheram de lágrimas, eu precisei parar antes de não conseguir falar.
  - Não faz isso – a voz de Harry também estava pesada os olhos marejados – a gente precisa conversar, tudo não passa de um mal entendido.
  - Chega, por favor. Para de mentir pra você mesmo, para de se enganar Harry. Eu cansei, não quero conversar mais... É isso, já decidi.
  Sem esperar por mais nenhuma palavra dele peguei minhas malas e sai arrastando para fora do quarto. Bati sem pudor na porta de Liam que atendeu sem demora. Ao ver minha mala Payne entendeu tudo o que havia acontecido e esticou os dois braços me oferecendo seu abraço que eu não recusei.
  E chorei. Chorei muito.
  Desabei em prantos enquanto Liam me confortava, sem dizer nenhuma palavra, apenas sendo um bom amigo aceitando minha dor.

  Xx

  O calendário da turnê da 1D marcava duas visitas à Nova Iorque: uma que seria agora apenas para entrevistas e programas, que duraria dois dias e outra no final da turnê que teria o último show da Up all nigth live tour. O voo estava marcado para 14:00hs, o que dava tempo suficiente dos meninos chegarem na cidade e cumprirem seu primeiro compromisso por lá.
  Na espera do embarque comecei a passear com Lux pelo aeroporto, até parar em uma loja e comprar uma gatinha de pelúcia para a pequena, eu fazia de tudo para não ficar perto de Harry. E antes de voltar pro grupo o jornal do dia me chamou atenção. Na manchete eu conseguia ler: “Terror em Nova Iorque – policia confirma a volta do serial killer nomeado de açougueiro.” Peguei Lux e voltei para perto de todos, mostrei o jornal e li um pedaço da matéria.
  “... Mais um corpo foi encontrado em Nova Iorque, é a segunda vitima em duas semanas. A execução das duas jovens é idêntica aos assassinatos de 2007, nos quais mulheres foram abusadas sexualmente e esquartejadas.
  A polícia descartou a ação de um imitador e avisa que o serial killer está agindo novamente depois de cinco anos. A agente Miller da Unidade de análise comportamental do FBI acrescenta que a vitimologia continua a mesma: mulheres de cabelos claros, altas, jovens e de boa aparência . Ainda de acordo com a oficial acredita-se que o maníaco não tenha envolvimento prévio com nenhuma das vítimas, por isso, é preciso que o cuidado seja reforçado. “A recomendação do FBI é que mulheres portadoras dessas características não andem sozinhas pelas ruas da cidade...”

  - Bela notícia para se ouvir antes de embarcar para Nova Iorque.
  Lou foi a primeira a dizer alguma coisa depois que li a matéria. Era óbvio que todos estavam preocupados com ela, que se encaixava no perfil de uma vitima em potencial, e mesmo acreditando que nada aconteceria a Lou era difícil não se preocupar.
  O “açougueiro” ficou bastante conhecido no mundo em 2007 e eu lembrava até hoje dos detalhes sobre o caso. O assassino de Nova Iorque cortava o corpo de sua vitima com muita destreza, por isso o apelido. Depois de toda atrocidade fazia questão de abandonar os corpos em locais públicos para que todos tivessem conhecimento do seu trabalho. A polícia nunca tinha conseguido uma pista concreta do monstro e depois de um tempo acreditou que ele tinha morrido relaxando na investigação.
  - A boa noticia é que vamos ficar apenas por dois dias – eu disse para tentar aliviar o clima – e que não deixaremos você nenhum minuto sozinha Lou. E eu espero que quando voltarmos para o final da turnê esse louco já tenha sido preso.
  - Tomara porque o frio na barriga que eu senti quando você leu a reportagem não foi normal.
  Eu não queria dizer, mas eu também me sentia um pouco nervosa com tudo aquilo, mesmo não me encaixando no perfil também tinha medo.
  - Bom garotas – Niall chegou do meu lado e me abraçou pelo ombro – teremos que ficar de olho em vocês nesses dois dias, sinto muito.
  - Eu não preciso ser escoltada – mesmo com medo era verdade – eu não me encaixo no perfil do “açougueiro” e raramente um psicopata muda seu modo de operação, isso só acontece em situações extremas. E em casos como esse, no qual o assassino é bastante metódico, a mudança pode ocasionar o caos e fazer com que ele vacile em algum momento sendo capturado.
  - E você sabe disso tudo por quê? – ouvi a pergunta de Niall e percebi que todos estavam curiosos. Apesar de não ser grandes coisas meu conhecimento sobre psicopatia despertava interesse em todos.
  - Sei disso porque a mãe da minha melhor amiga é psicóloga forense em York, e ela costumava dar aulas para a gente sobre isso. Mas juro que é a única coisa que eu sei sobre esse tipo de gente. Juro.
  Para finalizar com o assunto amassei o jornal em minha mão e joguei na lixeira mais próxima, nada aconteceria a Lou e ninguém precisava chegar à Nova Iorque com medo de alguma coisa.
  - De qualquer forma a gente vai ficar de olho em vocês duas.
  Ouvi a voz grave de Harry e pela primeira vez, desde ontem, olhei para o seu rosto. Eu sabia só de olhar para suas olheiras, idênticas as minhas, que ele não havia dormido nem um minuto depois de nossa conversa. Achei que evitar Harry deixaria as coisas mais fáceis, mas não era bem assim. Apesar de apenas Liam saber o que de fato tinha acontecido, todos que eram mais próximos já tinham percebido que algo estava errado entre a gente.
  De todo modo ainda doía muito e minha vontade era de abraçá-lo e dizer que tudo tinha sido uma besteira e que a gente devia ficar junto outra vez. Mas eu sabia que isso não seria o certo e que se não fosse desse jeito eu teria meu coração partido, de novo. E dessa vez eu não agüentaria.
  Antes que eu abrisse minha boca para dizer alguma coisa, a mulher no alto-falante anunciou que deveríamos entrar para a sala de embarque. Harry foi o primeiro a levantar e seguir o caminho indicado, claramente aborrecido e sem vontade de falar com ninguém. Niall, ainda com as mãos em meus ombros dando um apoio silencioso, me guiou até o portão de raio-x.
  Meus olhos ainda acompanhavam Harry e entregavam toda minha tristeza, mas ergui minha cabeça e respirei fundo, eu tinha tomado aquela decisão então eu precisava ser forte. Além do mais, eu estava indo para Nova Iorque nada de mal poderia acontecer.

Capítulo 8 - I know this is love but…

  Música do capítulo: Link

  Eu encarava o jornal em minhas mãos há uns dez minutos, uma sensação ruim subia pelo meu peito e ardia sem modéstia. A vontade de chorar era clara, mas eu era orgulhosa demais para me expor tanto. Eu seria forte até o final da turnê.
  A foto que eu encarava mostrava Harry e Tiffany juntos na noite anterior, apesar da péssima resolução era nítido que eles estavam próximos demais um do outro para estarem apenas conversando. A posição dos dois mostrava que ele tentava se esconder com a loira, mas tinha falhado, e por isso todos podiam ver o beijo capturado pela câmera. E agora, com as mãos nas fotos eu finalmente soube o que ele fazia enquanto estava sumido do Karaokê. Mesmo com tudo acabado entre nós doía muito ver aquilo.
  Mais uma vez traída. Mais uma vez enganada. Eu me odiava por ter me deixado levar pela paixão de novo. Eu merecia sofrer para aprender finalmente a não confiar em ninguém e não me enganar nunca mais.
  , você não nasceu para o amor aceite isso e compre mais um cachorro para te fazer companhia.
  - Sonho com o dia que não precisarei te ver em algum canto com esse rosto triste – a voz de Pedro era inconfundível. Ele tinha a habilidade de chegar perto sem ser notado e por isso me assustei quando percebi que ele estava ao meu lado. Sorri um pouco acanhada para ele – Esse é um bom começo senhorita. O que tem nesse jornal que está te deixando assim?
  - Isso? – levantei o jornal e em seguida o amassei com as duas mãos de uma só vez – Não vale à pena nem comentar.
  - Então, se não vale a pena - ele tomou a bola de papel da minha mão e jogou em uma cesta de lixo no canto da sala – a gente joga fora, pra nunca mais ver.
  Sim, isso era uma verdade. Eu deveria esquecer Harry de uma vez, voltar a ser aquela que não precisa de um amor para ser feliz. Ser racional. Mas meu coração não entendia que o desapego era a melhor solução para tudo, pelo contrário, ainda batia muito forte quando estava perto de Harry. Coração burro!
  Fui obrigada a acordar de meu devaneio quando um flash disparou em meu rosto. Pedro estava com sua câmera tirando repetidas fotos minhas, e ele sorria enquanto eu tentava fazê-lo parar com aquilo. Não era a melhor cena do mundo.
  - Eu prefiro tirar fotos suas do que de cinco homens, então deixa eu ser .
  - Claro que não. - eu colocava minhas mãos na lente para dificultar a ação dele, mas ao invés de me deixar irritada eu ria, agora de verdade, por me divertir com algo tão pequeno. Pedro parou de tirar as fotos para me encarar com o rosto mais doce que conseguia ter – o que foi?
  - Você está sorrindo senhorita e, é muito bonito. Parei para te admirar.
  Senti minha face corar diante do elogio, era inevitável, ainda mais quando vinha de um homem tão bonito quanto ele. Eu tinha ficado sem jeito com o comentário, mas nada poderia ser pior que assistir Tiffany entrando no camarim com ar triunfante.
  A loira andava de um jeito imponente que preenchia toda a sala e fazia as poucas pessoas que estavam lá olharem para ela. Uma cobra também é capaz de chamar atenção para o seu rebolar. Eu a encarava, com ódio por dentro, minha vontade era estapear o rosto perfeito dela na frente de quem que estivesse ali.
  Mas não, eu não faria isso. Apenas ignoraria Tiffany pelo resto da viagem. Porém, me ignorar não era a vontade dela. Mostrando uma elegância suprema ela caminhou para onde eu e Pedro estávamos, sorrindo como uma atleta vitoriosa recebendo sua medalha. Eu mantive meu olhar no dela, Tiffany podia ter vencido, mas não me intimidava nenhum pouco.
  - querida, me agrada muito saber que você e meu assistente aqui estão se entendendo – a voz era tão irritante quanto à dona dela – Afinal, ele precisa de companhia enquanto eu – muita ênfase na última palavra – gasto meu tempo livre com o Harry. A gente está cada vez mais próximos sabia? Ele não desgruda de mim.
  Nojo. Eu sentia um nojo daquela mulher, sentia nojo de Harry por se envolver com ela e em um nível tão íntimo.
  - Pela décima vez Tiffany, meu nome é Pedro. P-E-D-R-O. Mas eu entendo sua dificuldade em aprender, já que seu cérebro não gosta muito de pensar – eu não disfarcei minha risada quando vi o rosto dela se contorcer de raiva.
  - Se você quiser ajudo a desenhar com letras grandes e coloridas para ela entender melhor Pedro.
  Dessa vez o sorriso de vitória era meu, e eu fazia questão de compartilhá-lo com Pedro que mostrava sua antipatia mútua pela companheira de trabalho. Tiffany não perdeu mais um minuto perto da gente e correu para o lado de Paul, que não tinha escutado nada. A raiva que ela sentia estava refletida em seus olhos, e eu não me importava, por hora eu estava vingada.
  Mesmo assim dividir o ambiente com ela ainda me dava náuseas e olhando para o meu relógio eu sabia que teria mais meia-hora antes da banda sair da entrevista. Eu precisava sair dali, precisava de ar. E sem avisar caminhei até a porta o mais rápido possível.
  - Senhorita, onde você pensa que vai?
  - Qualquer lugar que eu não precise olhar para ela – apontei para Tiffany que agora estava quase deitada no colo do empresário – Eu tenho uns minutos de folga ainda, então...
  - Eu não vou deixar você andar sozinha por Nova Iorque. Eu vou com você.
  - Eu não preciso de segurança Pedro.
  - Precisa sim, não vou deixar você por aí com um serial Killer à solta – me abraçando pelo ombro ele abriu a porta me conduzindo para fora do cômodo – Além do mais, eu prefiro olhar para você que para ela.
  O Espanhol conseguiu ganhar muitos pontos comigo em poucos minutos, sem contar que o seu corpo aquecia o meu só por estar próximo. Eu não tirei as mãos dele dos meus ombros, ele tão pouco fez questão de afastá-las de mim. Decidimos que o melhor lugar para relaxar seria na escadaria externa do prédio. Então, lado a lado conversamos.
  - Acho que você foi o único homem que destratou a Tiffany até hoje – o vento gelado fazia minha voz tremer – Qual é o seu problema com a doçura da sua companheira?
  - Se você prometer não me achar arrogante eu conto – cruzei os na boca como sinal de que prometia, ele continuou a falar meio sem jeito – Eu recusei quando ela se jogou pra cima de mim. Acho que ela tem raiva por isso – ele olhou para mim a tempo de ver minha cara de espanto – Ela não faz meu tipo.
  - Acho que você não existe Pedro.
  Ele deu de ombros e não falou mais sobre aquele assunto. Por alguns minutos ficamos observando os cidadãos elegantes passarem pela porta do edifício em que estávamos. Eu tinha me distraído um pouco, mas nada me fazia esquecer Hazza. Quando voltássemos para o hotel Harry não me acompanharia até o quarto, nós não conversaríamos sobre coisas banais que fizessem nossas gargalhadas sobressaírem ao silêncio. Por mais que negasse eu sentia falta dele. Muita falta.
  - Eu conheço um restaurante árabe muito bom perto daqui. Janta comigo hoje? Apenas nós dois.
  A pergunta direta tinha me deixado sem reação, apesar de me divertir com Pedro eu não sabia se queria sair com ele. Eu sabia quais eram as suas intenções e eu ainda não estava pronta para satisfazê-las. Meu coração estava muito machucado com os fatos recentes.
  Ainda procurando as palavras certas para negar o convite dele ouvi a voz de Lou na portaria dizendo que já estava na hora de voltarmos para o camarim. Levantei o mais depressa que consegui, talvez se eu não desse a resposta ele esqueceria a proposta.
  - Quem cala concede - voz dele estava alta o suficiente para que eu pudesse ouvir bem o que ele dizia – Vou tomar seu silêncio como um sim.
  Merda!
  Assim que voltei todos os meninos já estavam no camarim. Ao ver Harry meu coração acelerou, eu suspirei forte e tentei ignorar o homem com cara fechada que tomava o seu chá afastado dos demais. Logo Pedro também estava lá e mais que depressa ligou sua câmera para filmar os bastidores do programa. Tiffany, ao ver a câmera ligada, fez questão de se aproximar de Harry pegando excessivamente em seu braço.
  Meus olhos teimavam em olhar a cena que me machucava muito, apesar de ainda manter a cara fechada Harry não afastava a loira de perto dele, ele queria a companhia dela. E doía muito, porque ela fazia questão de mostrar que ela o teria depois e, eu não. Eu precisava superar. Eu estava disposta a tentar, mesmo que isso machucasse uma terceira parte.
  - Eu aceito sair com você hoje – foi tudo o que disse quando Pedro chegou perto o bastante e permitiu que eu sussurrasse em seu ouvido e ele, abriu o sorriso de vitória.
  Afastei-me e deixei que o moreno fizesse seu trabalho em paz, ao mesmo tempo, vi que Tiffany se posicionou em frente à câmera perguntando algo muito idiota para Louis, que educadamente respondeu. Aquele documentário ia ser a pior coisa na carreira da 1D, certeza!
  Play aqui.
  Eu não precisava prestar atenção naquilo, então procurei algo mais interessante para me entreter. O pote de biscoito chamou minha atenção, e então eu estava mais interessada nas guloseimas do que no que estava acontecendo ao meu redor. Minha boca encheu de água e eu estiquei minha mão para saciar minha vontade, mas antes que alcançasse a delícia senti o toque quente em meus braços. Um arrepio subiu por minha pele, eu não precisava virar para saber quem seria capaz de causar aquelas reações em mim.
  Harry.
  Ele, ainda com as mãos em mim, me guiou até um canto mais isolado do cômodo. Ninguém podia nos ver. E finalmente ele me virou permitindo que eu olhasse em seus olhos fazendo meu corpo tremer. Com a mão firme Harry deslizou, delicadamente, um dedo por minha face me fazendo fechar os olhos com o toque que tanto me agradava. Eu rezei em silêncio para que o mundo parasse e eu não precisasse sair dali. Perto dele eu era fraca demais, não tinha forças para lutar contra, pelo contrário, minha única vontade era de me entregar.
  - Eu sinto a sua falta – e eu sentia a dele – Vamos conversar? Eu posso explicar o que aconteceu e conserta tudo... Por favor, eu preciso de você.
  A voz dele era uma súplica. Eu também precisava dele, mas não podia. O jornal de mais cedo tinha me mostrado que Hazza não era digno de minha confiança, tinha mostrado a traição que ele tinha cometido... Mas talvez se eu o deixasse explicar as coisas poderiam voltar a ser como antes.
  Não, eu não podia ceder.
  - Não Harry – tentei afastar o corpo dele do meu, mas ele era forte e não saia do lugar – me deixa ir embora. Acabou. A gente não tem o que conversar mais, por favor... Me deixa ir.
  - Por quê? Você precisa dar uma chance...
  Harry estava próximo demais e eu sabia que uma parte de mim desistia de ir contra. Eu deixaria que ele falasse e acreditaria em cada palavra porque precisava dele ao meu lado. Os lábios de Harry não completaram a frase, mas vieram de encontro aos meus. Sem demora dei permissão para o beijo, sem pressa nossas bocas movimentavam-se matando a saudade que tínhamos um do outro. As mãos dele percorriam meu corpo enquanto as minhas estavam brincando em seus cachos.
  Naquele momento eu tinha deixado de ser orgulhosa, eu tinha me entregado mais uma vez a Harry. Eu não me importava tudo se encaixava perfeitamente como sempre fora...
  - Harry, só falta você para responder minhas perguntas – a voz aguda de Tiffany me fez recobrar a consciência e me afastar do beijo – Cupcake, só falta você pra gente terminar por hoje.
  Percebi o desespero no olhar de Harry, ele não esperava que aquilo acontecesse. Mas a raiva, que tinha desaparecido, tomou conta de mim mais uma vez, e com uma força além do que eu era capaz de ter empurrei Harry e o tirei de perto de mim finalmente. Escutei os murros de frustração que ele dava na parede. Não olhei para trás e nem prestei mais atenção em nada o que acontecia. Fiz meu trabalho, juntei minhas coisas e esperei por Pedro.
  Senti o olhar furioso de Hazza quando Pedro me chamou para ir embora, eu não ligava, ele teria Tiffany para aquecer de noite.

  Xx

  Pedro era uma ótima companhia e a comida estava deliciosa. Ele era espontâneo e caloroso, sempre me lembrando que tinha o sangue hispânico correndo na veia. E o sorriso era do tipo que iluminava qualquer lugar, e para a minha sorte Pedro sorria facilmente.
  Um homem irresistível.
  - Sabe qual a nossa próxima parada da turnê? – ele disse limpando suas mãos após comer um pouco do quibe cru que eu tinha recusado dividir com ele.
  - Califórnia – respondi com desconfiança sem saber onde ele queria chegar com aquilo.
  - Los Angeles – ele apressou-se a dizer – Sabe o que isso significa?
  - Que vai estar mais quente que aqui? – arrisquei ainda sem entender nada.
  - Não – um brilho malicioso tomou conta dos seus olhos escuros – Significa que você ficará comigo... Na minha casa.
  Então aquela era a segunda vez que ele me deixava sem resposta na noite. Ele continuou me olhando de forma maliciosa, e eu sabia as intenções por trás daquele olhar. Qualquer mulher se sentiria tentada a descobrir os prazeres que Pedro era capaz de proporcionar, mas eu não era uma elas... Ainda.
  A noite tinha terminado de forma agradável, entretanto eu precisava descansar um pouco minha cabeça e dormir. Eu estava com muito sono.
  - Obrigada por tudo Pedro. Foi uma noite agradável.
  - Foi? Quem disse que acabou senhorita?
  Eu estava pronta para argumentar sobre o quanto precisava da minha cama quando um sinal de mensagem apitou em meu celular. Antes de responder ao homem em minha frente eu li o que tinha chegado para mim.

  “Eu sei que ainda não acabou e você também sabe disso. Volta pro hotel. Volta para mim. Meu quarto é o 207, estou te esperando.

Hazza”

  Assim que desgrudei meus olhos do visor percebi a mão de Pedro estendida como um convite para continuar a noite, em contra partida, a mensagem de Harry dizia que ele me esperava para voltarmos a ser como antes. Eu teria que escolher o que queria, e não podia esperar.
  Minha mão foi de encontro à de Pedro permitindo que ele me guiasse pela noite da cidade. O meu sono podia esperar. Harry podia me esquecer.

IX – Positivo ou negativo?

  Música do capítulo
  O sol ameno da Califórnia me fez fechar os olhos para aproveitar melhor os raios que chegavam até mim, o parque estava repleto de crianças que aproveitavam o dia bonito que fazia aqui fora, a risada inocente de Lux chamou minha atenção me fazendo abrir os olhos outra vez. Lux gargalhava ao simples toque seu com a areia o que deixava a cena linda de acompanhar.
  Os dias agora se resumiam a passar minhas horas livres com Lux e Lou em seus passeios diários, quando Harry não estava presente, claro. Eu aceitava qualquer coisa que me tirasse de perto dele e seu novo penduricalho: Tiffany.
  O problema é que mesmo longe a sombra do novo casal pairava sobre mim. Na rua era possível escutar grupos de adolescentes discutindo se Tiffany era boa o suficiente para ele ou não. A maioria das revistas estampava em suas capas a foto dos dois passeando por diversos pontos do país: ela exibindo o mais lindo sorriso e ele sempre com a cara carrancuda, nitidamente incomodado.
  E eu, me recolhia todos os dias tentando controlar a luta entre a tristeza e o ciúme dentro de mim.
  Pouco mais de um mês e minha vida tinha virado uma confusão total. Conheci Harry. Fiquei com Harry. Me apaixonei por Harry e agora ele estava com outra. Tão pouco tempo e tanta coisa. Sem contar que ainda tinha o fator Pedro.
  Em Nova Iorque eu tinha enxergado em Pedro um novo ombro amigo, mas ao que tudo indicava ele queria mais de mim do que eu podia oferecer. Na noite do jantar ele me levou a uma boate incrível e depois de algumas danças houve uma tentativa – por parte dele – de um beijo, a qual eu me esquivei prontamente. Sem que eu mencionasse uma palavra Pedro havia entendido que meu coração já estava ocupado por outro. Ele respeitou minha decisão, mas deixou claro que não desistira tão fácil. Eu não queria magoá-lo, por isso, precisava manter a distância entre nós.
  Senti a mãozinha coberta de areia de Lux puxando a minha para que eu me juntasse a brincadeira de mãe e filha. Era impossível não sucumbir a um pedido delicado desses, mesmo com minha cabeça cheia com um problema chamado Harry Styles. Levantei pronta para me jogar na areia, porém uma tonteira repentina tomou conta de mim, desabei de volta ao banco levando minhas mãos trêmulas até a cabeça.   
  - , você está bem? – Lou havia chegado ao meu lado em um segundo, agora ela afagava a filha que tinha tomado um leve susto com meu movimento brusco.
  - Tá tudo bem – falei quase recuperada da sensação estranha que meu corpo sentia – Acho que levantei rápido demais. Só preciso de um tempo aqui.
  - Você anda estranha esses dias. Talvez o seu mal-estar seja por outra coisa – olhei para ela desconfiada do rumo que a conversa tomaria – Enjôos constantes, tonteira e muitas idas ao banheiro... Tem uma farmácia aqui perto.
  A incredulidade tomou conta de mim, olhei para Lou esperando que ela retirasse o que estava sugerindo pelo simples fato de que não poderia ser.
  - Você está sugerindo que eu estou...
  - Sim , eu estou te dizendo para comprar um teste de gravidez.
  As palavras chegaram ao meu ouvido como pedra, eu me permitir petrificar diante delas.
  Grávida.
  Fazia sentido, mas eu não queria pensar naquilo. Estava tudo confuso e eu não precisava de mais nada para pior as coisas. Senti mais outra vez uma mão me convidar a levantar, dessa vez era a de Lou e eu sabia para onde ela estava me levando. A farmácia mais próxima.

  xX

  Um medo invadia meu corpo, tão intenso que me paralisava. Eu estava no quarto encarando a caixinha do teste lacrada em minha frente. Não sei quanto tempo passei naquela situação, mas estava assustada demais para tentar me mover. Prometi a Lou que faria o teste o mais rápido possível, mas eu não conseguia.
  No auge do desespero eu havia ligado para e e narrado todo o meu drama, mesmo longe os dois prometeram ficar comigo durante toda a espera, mas eu tinha decidido esperar um pouco mais. O telefone do quarto tocou alto demais permitindo que eu saísse do transe de encarar a caixa.
  - Boa tarde senhorita . Temos uma entrega para o seu quarto, posso mandar subir?
  - Sim, pode.
  Estranho alguém me enviar alguma coisa. Geralmente se a produção quisesse me mandar algo batiam diretamente em minha porta ou me ligavam no celular avisando. Em menos de dois minutos ouvi o chamado na porta, peguei uma nota em minha carteira preparada para agradar o entregador.
  Um buquê de rosa sorriu para mim assim que abri a porta, o arranjo era tão grande que mal me deixava ver o homem por trás dele. Ele me passou desajeitado a encomenda e eu o entreguei sua gorjeta apressada para fechar a porta.
  Aperte o Play.
  As rosas eram de um vermelho vivo e dividiam espaço com algumas poucas tulipas laranjas. Revirei o arranjo até achar o bilhete pendurado entre as flores, com apenas uma frase e sem identificação nenhuma.

  It just won’t feel right ‘cause I can love you more than this.

  Eu não precisava procurar, eu já sabia de quem eram.
  O bilhete fazia todo o sentido, eu sabia. Eu também não achava justo e sabia que eu poderia amá-lo melhor do que ela, mas por alguma razão não estávamos juntos. Mesmo ouvindo todas as juras de amor não era para mim que ele voltava todas as noites e isso doía cada vez mais.
  Minha mente voltou ao hotel em Miami quando Harry havia enfeitado o quarto com flores e prometido que seria só meu. Claro, as rosas mostravam que a paixão não tinha morrido, pelo contrário, ela tinha crescido. As lágrimas que desciam sem pressa por meu rosto foram inevitáveis.
  Meus olhos voltaram a percorrer o quarto até caírem na caixinha intacta em minha cama. Mais um pouco. Eu adiaria aquilo por mais um pouco.
  Minha cabeça doía com tudo que estava acontecendo. Porque Harry insistia em mostra que me amava se estava com outra? Porque eu não o esquecia? Eu realmente estava grávida? Muita pergunta e nenhuma resposta. Eu sabia que todas as respostas estavam ao alcance da minha mão, só estava com medo da verdade.
  Minha vontade era de acampar debaixo do meu lençol aconchegante até que o mundo me mandasse sinal de que estava tudo bem, mas hoje teria show e de qualquer jeito eu ia encarar um Harry apaixonado e uma Lou cobrando resultados. Sem mencionar o galante espanhol que queria me arrastar por um tour em sua cidade logo depois do show.
  Eu queria sumir.
  Na minha cabeça escutei a voz de , sempre impaciente, ecoando: “Levanta dessa cama e tome uma atitude. Você é uma mulher ou o que? Anda não tenho o dia todo, você precisa resolver isso, não é?”
  Sim, eu precisava resolver, mas seria uma coisa de cada vez.
  Decide qual seria o meu primeiro passo e mais que depressa peguei meu celular, disquei o número que sabia de cor e esperei que ele atendesse.
  - Alô – não precisou muito para que a voz rouca dele atendesse ao telefone.
  - As flores são lindas – foi tudo que eu consegui dizer na hora, minha voz tremia de acordo com o meu corpo – Obrigada.
  - Eu queria entregá-las pessoalmente, mas achei que você não deixaria que eu entrasse.
  - É provavelmente não deixaria mesmo – ouvi a risada dele do outro lado da linha. Talvez eu já conhecesse Harry o suficiente para saber que ele estava deitado olhando para o teto, assim como eu – Eu preciso de umas respostas.
  - Eu posso ir até aí, te encontrar.
  - Melhor não – olhei diretamente para a caixinha do teste em minha cama – Eu preciso saber...- ponderei um pouco, mas sabia que a melhor forma de começar aquilo era sendo direta - O que você tem com a Tiffany? Eu preciso saber a verdade. Por favor.
  - Eu não tenho nada com ela, eu juro – ouvi um suspiro. – Eu sei o que as fotos mostraram, mas nada é o que parece. No dia do Karaôke ela me empurrou para fora dizendo que estava passando mal e precisava de ar, então quando eu percebi, ela já estava me agarrando tentando me beijar. Eu estava um pouco bêbado, mas consegui empurrá-la o mais rápido possível. Quando voltei você já não estava mais lá e Tiffany foi atrás de mim e dizendo ter te visto saindo com o assistente dela. Quando cheguei ao hotel você não estava no quarto, por um momento eu achei que ela tivesse razão.
  - Mas eu não...
  - Eu sei, Liam me mandou mensagem algum tempo depois dizendo que estava com você. Ele ainda disse que você estava chateada demais comigo. Foi então que eu pirei, achei que talvez você tivesse visto Tiffany me beijando e tirado a conclusão errada. E depois de tudo a foto vazou no jornal e eu não conseguia me explicar para você – houve uma pausa antes dele continuar a falar – , eu te disse uma vez e repito de novo: é você quem eu quero.
  - Mas eu continuo vendo fotos de vocês juntos, isso não ajuda muito.
  - Eu sei, e elas não significam nada. Lembra quando disseram que você e Liam estavam juntos? – eu disse um rápido sim para não interromper sua explicação. – A Tiffany é doida. Ela aproximou muito de mim esses dias, no começo ela era uma boa amiga não posso negar, mas agora me incomoda muito. Ela conta histórias de como se sente sozinha e já chegou a mencionar que uma vez tinha cortado os pulsos porque ninguém gostava dela. No fundo eu tenho dó e por isso continuo deixando que ela fique por perto.
  Ouvindo finalmente tudo da boca de Harry eu sabia que era verdade. Como eu tinha certeza? Não sei, apenas sabia. Continuei quieta, pensando no porque não ter deixado Harry se explicar antes. Agora tudo estava melhor. Mais leve.
  - Eu sinto muito a sua falta pequena.
  - Eu também sinto muito a sua falta, Hazza – as palavras saíram relutantes de minha boca. Não era difícil dizê-las, mas eu ainda tinha um pouco de receio. Houve uma pausa longa em que nós dois apenas aproveitávamos o som de nossas respirações. A minha quase inaudível e a dele acelerada. Era bom saber o efeito que eu tinha sobre ele, me fazia sorrir.
  - Harry, eu preciso te contar uma coisa – quebrei o silêncio no momento que percebi minha necessidade de dividir minha segunda dúvida com ele.
  - Pequena, abre a porta – foi tudo o que ele disse.
  Em um pulo sai da cama deixando meu celular jogado nela, abri a porta tomada por uma ânsia jamais vista em mim. Ao vê-lo parado em minha frente meu coração se agitou mais. Era felicidade e, por isso, um sorriso largo apareceu facilmente em meu rosto acompanhado por um dele. Sem precisar pedir nossos corpos se aproximaram e nossas bocas se uniram em um beijo apaixonado e cheio de desejo, sem pressa nos entregamos como se fosse o primeiro beijo. Meu corpo estremeceu ao encostar-se ao corpo de Harry, e ele me segurou mais forte entre seus braços.
  E, de novo, tudo fazia sentido. Agora tudo estava certo.
  Mas ainda precisávamos resolver uma última coisa.
  - Harry – separei nossas bocas ouvindo protestos da parte dele – Eu preciso te falar uma coisa.
  - Não pode ser outra hora?
  - Não.
  Abri espaço para que ele entrasse no quarto e fechei a porta atrás de nós. Um pouco hesitante caminhei até a cama e mostrei a caixinha para ele. Harry precisou ler mais de uma vez para entender o que aquilo significava, mas assim que soube seu rosto foi tomado por um leve pânico. Eu não o culpava, eu também estava apavorada.
  - Você está...? – não deixei que ele completasse a pergunta.
  - Eu ainda não sei. Eu tô com medo de descobrir.
  Para a minha surpresa ele me abraçou como consolo, ainda assustado com tudo, e depositou um beijo demorado em minha testa.
  - Tudo bem, eu estou aqui agora – Havia um tremor em sua voz, mas ele tentava passar uma falsa tranqüilidade para mim. Harry quebrou o abraço e esticou a mão me entregando a caixinha.
  Era a hora de responder minha segunda dúvida.
  Andei até o banheiro nervosa, esperei o que pareceu ser uma eternidade para descobrir o que estava acontecendo. Positivo ou negativo?
  Flashback Off

  O som dos passos na escada me fazia tremer mais ainda, eu sabia que ele estava voltando, eu sabia que algo ia acontecer. O açougueiro, aquele que eu jurava que nunca conheceria agora estava em minha frente pronto para me torturar das mais diversas maneiras.
  Ele aproximou mais uma vez de mim, não cantava e nem falava coisas sem sentido, mas tinha um brilho insano em seus olhos. Era desejo. No mesmo momento eu percebi o que viria a seguir, e fui tomada pelo pavor.
  Essa era a hora que antecedia minha morte, essa era a hora do abuso. Chorei em pensar nas atrocidades que ele faria comigo, mas não adiantaria, minhas lágrimas era o combustível para a crueldade dele.
  - Há muito tempo atrás eu conheci uma garota – ele começou a falar calmamente, muito perto de mim – O nome dela era Amélia. Ela tinha os cabelos loiros como um anjo e tinha o sorriso reluzente que fazia o dia valer à pena - senti as pontas do dedo dele passear por minhas pernas desnudas por causa do vestido – Eu me apaixonei. Claro que me apaixonei. Loucamente. Amélia foi à mulher mais linda que eu conheci em toda minha vida.
  O toque dele subia levemente a barra do meu vestido. Meu choro aumentou em proporção ao nojo que eu sentia daquele homem tomando posse de mim. Mesmo eu tentando afastá-lo os dedos dele brincavam em meu corpo.
  - Eu passei cinco anos calado, de longe, observando os passos dela. Mas teve um dia que eu precisei contar tudo sobre meu amor porque eu tinha certeza que ela me amava também – ele parou de me tocar e manteve seus olhos distantes presos a uma lembrança que eu não conhecia – Bom, ela pareceu muito assustada quando eu falei de tudo o que eu sentia, disse que tinha nojo de mim e que nunca me amaria.
  Pobre Amélia.
  Ele olhou em meus olhos, satisfeito com sua história, eu me sentia mais aterrorizada com tudo aquilo e chorava mais forte. O açougueiro, como todos o conheciam, passou os dedos por meus cabelos em um afago macabro que eu não fazia questão de receber.
  - Ela estava louca e por isso eu precisei levá-la para a minha casa até que ela reconhecesse que me amava também. As pessoas não procuraram muito por ela depois, prova de que só eu a tratava do jeito que ela merecia – meu estômago revirava em pensar no que Amélia havia passado sendo prisioneira daquele maníaco – Um tempo depois ela engravidou. Nós íamos ser uma família finalmente, mas ela... – agora havia uma magoa em sua voz – Ela não agüentou e se matou. Eu perdi minha amada e meu filho.
  Minha respiração estava ofegante, eu tentava afastar meu corpo do seu toque gelado dele, mas sem sucesso por causa das cordas que me imobilizavam.
  - Todo esse tempo eu procurei em outras mulheres tudo que Amélia despertou em mim. Eu procurei nas que tinha as mesmas características: os mesmos cabelos dourados, a mesma altura. E nenhuma foi capaz de me fazer sentir vivo como eu um dia fui com ela. Ninguém jamais chegou aos pés dela e então, eu precisei matá-las. Todas eram inúteis – a maneira tranquila dele falar sobre as mortes que cometera arrepiava minha espinha – Mas eu te encontrei... Você não tem o mesmo cabelo e nem a mesma altura, mas o rosto é idêntico. Eu sempre procurei nos lugares errados, até de achar... O mesmo sorriso, o mesmo olhar. Você é minha nova Amélia, eu sei disso.
  Senti os lábios dele em meu pescoço, provando cada pedaço de mim. As mãos avançaram, com brutalidade, por meus seios ainda cobertos pelo pano da roupa. Soltei um grunhido de nojo e minhas lágrimas desceram com mais força, eu não tinha capacidade de falar, mas meu corpo balança freneticamente tentando afastar a podridão de perto de mim. A boca dele alcançou a minha e uma ânsia de vômito invadiu meu corpo, tranquei meus lábios enquanto a língua dele pedia passagem, suas mãos ainda acariciavam meu corpo inquieto.
  - Fica quieta – senti o tapa em meu rosto – Eu preciso de mais uma coisa pra ter certeza que você é a certa. Eu preciso te provar.
  - Por favor, não – eu implorava com a voz fraca. – Por favor... Eu estou grávida.
  Ele se afastou como se houvesse levado um choque, mas seu rosto não mostrava raiva. Ele sorriu de um jeito doentio, olhando diretamente para mim suas mãos tocaram, agora com delicadeza, minha barriga. Eu ainda estava desesperada, não sabia do que ele seria capaz. De repente o açougueiro olhou em minha direção e eu consegui ver uma lágrima solitária descer em seu rosto.
  - Amélia, nós vamos ter um bebê – as palavras saíram carregadas de emoção de sua boca.
  Naquele momento eu soube que meu inferno tinha acabado de começar.

  Flashback On
  Sai do banheiro ainda com dificuldade para respirar. Olhei para Harry em minha cama, agora sem disfarçar a preocupação, ofegante ao me ver sem reação aparente.
  - Positivo – estiquei o teste para que Harry visse com seus próprios olhos o resultado. Ele não aceitou e tremia tanto quanto eu – E agora?
  Ele bateu com a mão do lado vazio da cama me convidando a deitar ao seu lado. Ao deitar coloquei minha mão por cima do peito dele, senti o coração dele bater em ritmos apressados. Ele apertou meu corpo com força perto do seu para me proteger de uma ameaça invisível. Fechei meus olhos e deixei que minha própria voz repetisse a pergunta em minha cabeça: E agora?
  - O importante é que estamos juntos – finalmente ele disse. Apesar da simplicidade das palavras eu sabia que tinham um significado forte.
  Harry continuava me apertar em seus braços e eu a sentir suas batidas. O coração dele não se acalmava, nem o meu. Eu não estava preparada para ser mãe e Harry também não pensava em ser pai naquele momento, e isso deixava as coisas mais assustadoras. E agora? Eu não sabia. Ele não sabia. Mas estávamos juntos e, assim, eu tinha certeza que no final as coisas dariam certo.

X. Provando do próprio veneno

  - Vocês têm certeza? Sabe como são esses testes de farmácia... Dizem que não são 100% confiáveis.
  Liam ainda não acreditava na notícia anunciada há cinco dias - só para a banda. -, mas não poderia culpá-lo, eu ainda não acreditava também. E sim, era verdade que testes de farmácia não eram os mais confiáveis, mas eu havia feito três vezes e todas ela tinha dado o mesmo resultado. Positivo.
  Balancei a cabeça afirmando o que Liam havia perguntado. Sim, nós tínhamos certeza. E era devido a essa certeza que eu e Harry arrastamos Payne para o backstage do show minutos antes deles entrarem no palco. Ali, sozinhos, poderíamos fazer a proposta a ele. O momento perfeito para começarmos a nossa aliança.
  - Agora que estamos aqui, só nós, eu posso perguntar – Liam hesitou um momento antes de continuar, seus olhos percorriam meu rosto e o de Harry, que estava ao meu lado – Como vocês estão com tudo isso acontecendo?
  Ao mesmo tempo senti Harry me abraçar por trás e me puxar para mais próximo de seu corpo, me fazendo sentir um calor confortável. Engoli em seco, essa era a pergunta que eu tanto tinha evitado fazer a ele, simplesmente por medo da resposta. Eu sabia bem como estava me sentindo com tudo aquilo. Assustada e revoltada por ter me deixado ser tão irresponsável, mas e quanto a Harry? O que ele estava sentindo? Eu tinha medo dele fugir e me deixar sozinha com uma criança para cuidar.
  Virei o rosto em direção ao dele, para que ficasse claro que eu também precisava ouvir aquilo. Ele esticou uma mão para acariciar meu rosto, em seguida virou-se para Liam.
  - Eu me sinto esquisito, essa é a verdade. Eu amo crianças e sei que jurei proteger e ajudar a cuidar da Lux – ele fez uma pausa e eu percebi que seus olhos ficaram um pouco obscuros – Mas pensar que eu vou ser pai, me faz tremer. Não vou mentir e dizer que está tudo bem. Não, eu estou com muito medo. Não to preparado.
  Eu sabia ele tinha sido sincero em tudo, eu não estava sozinha em minhas inseguranças. Voltei meu olhar para Liam enquanto Harry continuava a falar atrás de mim.
  - Mas ao mesmo tempo eu sei que – ele chegou nossos corpos mais perto um do outro e suas palavras agora eram mais para mim do que para o amigo em nossa frente – Quando eu falhar terei uma ótima pessoa para me ajudar – a mão dele tocou de leve minha barriga fazendo carinho no pequeno ser que eu carregava – No final, em meio a tanto caos, eu sei que é a mãe que eu quero para os meus filhos. Então, isso que tá acontecendo pode ser uma surpresa para todos, mas não é errado. Não é.
  Respirei aliviada depois de escutar todo aquele discurso. Eu não estaria sozinha em momento nenhum, eu sempre teria Harry para me ajudar. Senti meu coração palpitando mais forte, o calor em meu corpo me confortou e então, pela primeira vez, eu tive uma pontada de felicidade em ser mãe.
  Liam continuou calado, mas seus olhos foram de encontro aos meus. Ele queria saber de mim. Queria uma resposta minha. Suspirei fundo e respondi ainda com os olhos grudados em Liam. Eu não era tão corajosa para encarar Harry naquele momento.
  - Eu estou com medo. Muito medo – eu fui sincera tanto quanto Harry havia sido segundos antes – Eu não tive coragem nem de contar para os meus pais ainda. Nunca pensei em ser mãe, não sei se vou conseguir ser boa o bastante para essa criança, mas...
  - Mas vocês dois foram irresponsáveis e um bebê está a caminho agora – Liam não demonstrava nenhum tipo de raiva ao me interromper. Sua voz mantinha um tom calmo, similar a de um pai pronto para dar o melhor conselho para seus filhos – Sinto muito por vocês estarem assustados, eu não me imagino com uma responsabilidade tão grande pela frente – olhei para ele pensando que Payne tinha a paternidade em seu sangue, ele seria um ótimo pai quando chegasse a hora – Só que agora não é hora para isso, vocês precisam ser fortes. Está na hora de amadurecer e aceitar que serão pais. – Ele então cruzou os braços e lançou um olhar de reprovação para nós dois, que ouvíamos atentos a bronca do daddy direction – Eu não sei e não me importa de quem foi a ideia de não usar camisinha, o que interessa é que essa criança tenha os melhores pais do mundo.
  Abri um sorriso para Liam em seguida olhei mais uma vez para Harry, percebendo que ele também sustentava um sorriso em seu rosto.
  - Eu disse que a gente estava fazendo a coisa certa – ele disse ao mesmo tempo em que se posicionava ao meu lado.
  - O que está acontecendo aqui? – Liam já estava mais relaxado agora.
  Harry cutucou de leve meu braço me encorajando a começar a falar. Mordi meu lábio inferior pensando nas palavras certas. Droga, eu não sabia que aquilo seria tão difícil!
  - Liam, nós estamos totalmente perdidos com isso, é verdade – parei um momento para respirar fundo e continuar – Mas a gente sabe por onde começar. Pensando como pais, pensando no bem dessa criança, a gente queria te fazer uma pergunta.
  - Nós estávamos conversando e chegamos a uma conclusão – a voz forte de Harry se fez presente aguçando ainda mais a curiosidade de Liam – A gente precisa da ajuda de uma pessoa equilibrada e responsável para criar nosso filho.
  - Desculpa gente, mas eu não posso adotar essa criança. Não posso.
  Olhei incrédula para ele. Tá certo que a vontade de ser mãe não era a maior em mim, mas daí entregar meu filho para adoção era bizarro demais. Por outro lado, Harry soltou uma risada divertida antes de continuar a falar.
  - Liam, seu tapado, tudo o que a gente quer saber é se...
  - Você aceita ser o padrinho do bebê? – Interrompi Harry pelo simples fato de que eu, como mãe, precisava fazer aquela pergunta. Pela segunda vez o instinto materno se fez presente, e cada vez mais eu sentia o orgulho de mim mesma.
  Liam sorriu abertamente para nós, porém antes que abrisse a boca para responder ouvimos alguém limpando a garganta para anunciar sua presença. Rezei em silêncio para que fosse alguém da equipe para chamar os meninos para o show. Alguém que soubesse de tudo já.
  - Desde quando você está aqui? – meu coração disparou ao ouvir o tom preocupado na voz de Harry – Tiffany, essa é uma conversa particular.
  Tiffany. De todos os demônios esse era o que eu mais queria evitar naquele momento. Eu tive vontade de chorar, mas eu não daria esse gosta a ela, ao invés disso, olhei com firmeza para a loira espantada que ao me ver assumiu uma expressão demoníaca em seu rosto. Vingança, era o que ela teria finalmente.
  - Meu Deus, que coisa linda. Um bebê. Imagina quando eu contar para todo mundo? Vai ser a notícia do ano – em um gesto ela levantou as mãos no alto da sua cabeça – Já to imaginando a manchete: “Harry Styles engravida estilista da banda” – de repente um brilho pervertido iluminou os olhos azuis e um sorriso de vitória surgiu em sua boca – Preparada para ver sua vida virar um inferno – os olhos dela fizeram questão de ir aos encontros dos meus, assustados.
  - Tiffany, você não precisa fazer isso.
  - Claro que preciso, Payne. A vingança tem um gosto muito bom... Que eu adoro desfrutar.
  Minhas pernas tremiam e minha boca estava seca. Eu não tinha reação, só conseguia ficar olhando para Tiffany, gloriosa e absoluta diante de mim. Claro que contaríamos para todo mundo sobre a gravidez, mas seria em Londres. Em casa. Só assim estaríamos – no caso eu – prontos para responder e lidar com todo o caos que surgiria dali. Minha cabeça doeu em pensar na minha mãe sabendo da minha gravidez por um jornal ou pela TV.
  - Quanto você quer para ficar de boca fechada? - Nem a raiva na voz de Harry com Tiffany se intimidasse.
  - Não, eu não seria capaz de aceitar dinheiro Styles – em um gesto cínico ela posou uma das mãos em seu peito – Pensando bem – a expressão em seu rosto voltou a ser séria, e agora sua atenção estava voltada para os dois membros da banda presente – Harry, eu quero que você finja um namoro entre nós dois para a imprensa. Você vai dar declarações dizendo que está apaixonado por mim e me apresentar para todos como sua nova namorada, então depois de um tempo vamos fingir que você me traiu e fez um filho nessa aí.
  - Você é louca – Harry fechou as mãos controlando toda a raiva que tinha dentro de si.
  - Esse é meu preço. É isso, ou eu começo um inferno na vida de todos vocês.
  Olhei perplexa para Tiffany, tão oportunista que me dava náusea. Empurrei Harry e andei até ela, sem pensar duas vezes levei minha mão em seu rosto com toda a força que eu podia ter. Diante do tapa Harry e Liam postaram-se entre nós duas evitando mais ataques.
  - Essa é sua resposta, querida Tiffany. Harry não vai ser mais nada seu, nem fingindo – disse entre os dentes cuspindo todo meu ódio em direção a ela – Eu não me importo mais com suas ameaças.
  - Idiotas.
  Foi tudo o que ela disse antes de correr para longe da gente. Abri os braços para receber o abraço de Harry. Será que ela esperaria o fim do show para anunciar a gravidez? Talvez desse tempo de ligar para os meus pais. Sai do abraço disposta a enfrentar tudo de cabeça erguida, antes que eu desse o primeiro passo Liam abaixo até ficar na altura da minha barriga.
  - Criança, não se preocupe, seu padrinho é uma pessoa equilibrada e tranquila. Eu não vou deixar que você tenha o gênio da sua mãe.
  Eu ri sem perceber e então, nós três, saímos para enfrentar uma longa noite.

  Xx

  Eu encarava o celular sem saber como dizer aos meus pais que eu teria um filho de um cara que eles nem sabiam que era meu namorado. Se Harry não estivesse no palco nesse instante eu o colocaria para falar com os sogros e, assim, contar a novidade. Ótimo jeito de todos se conhecerem.
  - Ei – levantei minha cabeça ao ouvir o sotaque sedutor de Pedro – Eu tenho algo que vai melhorar sua noite.
  - Duvido – joguei as palavras e em seguida abaixei minha cabeça até meus joelhos. Eu precisava sumir.
  Após descobrir sobre mim e Harry Pedro tinha se afastado de mim. Ele me evitava e toda vez que ocupávamos o mesmo espaço. Se ele estava ali não podia ser bom e eu não precisava ser educada com ele.
  - , olha para mim – a mão forte dele tocou meu joelho – Eu tenho uma coisa importante para te dizer.
  Gemi e levantei a cabeça, me obrigando a olhar para ele. Pedro era dono de uma beleza encantadora, e tinha os olhos castanhos como eu nunca havia visto antes. Eu torcia para que ele encontrasse uma pessoa que pudesse amá-lo do jeito que ele merecia.
  - A Tiffany acabou de me procurar – ele pronunciava cautelosamente as palavras – Ele me contou tudo sobre você, Harry e o bebê – ele apontou sem jeito para minha barriga - Inacreditável – a expressão do seu rosto mudou e assumiu uma raiva que eu nunca tinha vista nele. Eu tremi e logo ele voltou ao normal – Ela queria ajuda para divulgar isso, e achou que eu seria uma ótima pessoa já que... Bem, eu tenho interesse em você.
  O desespero bateu em mim, Pedro ia ajudar a loira naquele plano e estava ali para pisotear ainda mais sobre mim. Continuei congelada esperando que ele desse a facada final.
  - Eu não concordei com isso. Eu não poderia – respirei aliviada diante daquela afirmação. Pedro era íntegro e eu fui uma estúpida por achar que ele poderia me fazer mal – O bom nisso tudo é que ela também não falará mais nada para ninguém.
  - Como assim?
  - Eu não sou burro – a risada dele ajudou a quebrar um pouco a minha tensão – Eu tenho amigos na emissora. Pessoas que trabalham na equipe de segurança do prédio – continuei olhando para ele ainda sem entender onde ele queria chegar - Tiffany só foi aceita na MTV porque dormiu com o presidente da emissora. O problema é que o cara é casado e eles tiveram seu momento de romance na sala dele.
  - Eu imaginava isso. Só que não sei como essa informação pode ajudar agora. Eu não tenho provas disso.
  - Porém eu tenho – abri a boca em sinal de surpresa e encorajei Pedro a continuar a falar – Todas as salas são monitoras por câmeras, disso Tiffany não sabia e o velhote estava animado demais para lembrar que estava sendo vigiado, se é que me entende – fiz cara de nojo em pensar na cena – Mas eu tenho amigos na equipe de segurança que acharam que eu poderia querer ter as fitas daquela noite, já que eu iria trabalhar com ela nesses meses que viriam.
  - Mas por que eles fizeram isso?
  - Tiffany só engana quem ela quer. Ela é egoísta e grossa com todos que não podem fazê-la aparecer para a mídia. Muita gente acha que ela é um anjo, mas por trás de tudo, muita gente sabe que ela não presta - Ele continuava a olhar para mim – Quando ela veio me propor fazer um vídeo contando sobre a sua gravidez – ele contorceu o rosto com a palavra e eu me encolhi ainda mais no sofá – Eu discordei e mostrei a fita que tinha na minha mochila. Ela concordou em ficar calada desde que eu me calasse também. E foi assim que eu salvei o dia.
  Era a história mais louca que eu podia ter escutado, mesmo assim, eu estava agradecida por aquilo tudo. Tiffany tinha provado do seu próprio veneno graças a astúcia de um segurança. Minha vontade era abraçar Pedro como agradecimento, mas algo dentro de mim anunciou que não era uma boa opção. Ao invés disso, dos meus lábios saíram um sincero “obrigada”.
  - Eu fiz isso por você . Não quero te ver sofrer. Mas tenho que confessar que sua gravidez me fez perder o fôlego – ele olhou raiva para minha barriga, o que me fez levar as mãos até ela como forma de proteção – Enfim, seu segredo está a salvo agora. Tiffany e eu vamos para Nova Iorque com vocês amanhã terminar o documentário, pode ficar tranquilo que não vou a deixá-la fazer mal a ninguém, prometo.   
  Pedro se levantou e seguiu firme para a porta. Antes de sair voltou a olhar para mim, em seus olhos não havia mais doçura. Apesar do bem que ele acabara de fazer por mim eu tive medo. Aquele na era o Pedro que eu havia conhecid
o.
  - Mais uma vez, obrigada – falei por fim.   - Vejamos isso como meu presente para o seu bebê – e então ele foi embora.

XI. Adios Up all night live tour.

  Música do capítulo

  De todos os momentos que eu vivi esse era o mais intenso de todos. Estar em Nova Iorque para o encerramento da turnê era uma loucura, mas era lindo também. Um ciclo estava sendo fechado para que outro fosse iniciado. Era encantador ver o empenho da banda em fazer com que tudo saísse perfeito.
  Apesar da empolgação, deixar os Estados Unidos significava enfrentar minha nova vida. Harry havia me convencido a levá-lo para Cape Town e apresentá-los aos meus pais de uma vez, então, contaríamos a novidade para eles. E depois, nós contaríamos ao mundo o que estava acontecendo. Se me perguntassem agora o que eu estava sentindo com o encerramento da turnê eu diria que eu sentia medo. Era isso.
  Ouvi de fundo, a risada empolgada de Lux que brincava com sua mãe enquanto esperávamos a entrevista da One Direction terminar. Aproximei-me mais da janela estreitando os olhos para ver melhor a vista que eu tinha do alto do prédio. Nova Iorque continuava sendo um dos meus lugares favoritos no mundo. Tão sóbria, tão urbana e tão elegante. Não tinha como não se inspirar. Porém dessa vez tudo estava diferente, havia uma nebulosidade pairando por ela.
  O “açougueiro” ainda estava à solta e já totalizava o número significante de cinco vítimas. Todas com as mesmas características. Os noticiários não cansavam de alerta, principalmente as mulheres, sobre o perigo que rondava. Cuidado era a palavra mais usada ultimamente. O psicopata era silencioso e ninguém tinha sobrevivido para contar como ele atacava, mas os corpos mostraram como ele agia e esse era um fim que eu não desejaria para ninguém. Um ser misterioso que carregava a morte, não era surpresa que a Big Apple estivesse temerosa.
  Fechei meus olhos e balancei minha cabeça para afastar os maus pensamentos de perto. Hoje seria uma noite especial e eu não queria mais pensar em coisas ruins. Voltei a olhar a cidade. E dessa vez eu apenas olhava.

  xX

  - Bom show – abracei Harry.
  Eu estava nervosa. Muito nervosa. Ele também estava eu conseguia sentir o coração dele bater mais forte.
  - Vai ser um ótimo show, eu sei – ele então colocou a mão na minha barriga – Eu andei pensando em nomes. Se for menino, Dylan e se for menina Emma. O que você acha?
  - Eu não acho que agora seja hora para pensar nisso amor – segurei a mão dele que estava repousando na minha barriga – você tem um show muito importante agora, depois nós decidimos o nome – sorri para amenizar a dureza na minha fala.
  - Eu penso nessa criança o tempo todo. Meu filho. Nosso bebê – Harry me puxou para mais próximo selando nossas bocas em um beijo rápido – Eu te amo, .
  Sorri ao ouvir as palavras dele. A sensação de ouvi-las era boa e me bastava. Eu sentia a felicidade invadir meu corpo. Ao lado dele eu estava completa. Levei minha mão até seu rosto ainda mantendo nossos olhares.
  - Eu também te amo.
  Antes que eu pudesse dar outro beijo em Harry senti Niall nos empurrando para perto dos outros.
  - Desculpa interromper o momento romântico, mas falta poucos minutos para o show começar e precisamos de vocês dois para completar o círculo da positividade.
  O círculo da positividade nada mais era do que o momento para pedir por coisas boas durante a apresentação. Era um ritual feito por toda equipe presente pouco antes dos meninos entrarem no palco. Então agradecimentos e desejos de boa sorte foram feitos, estava na hora do espetáculo.
  Coloca a música.
  Os shows funcionavam assim: enquanto os meninos estavam cantando eu me posicionava em um espaço destinado para a troca de roupas, Lou me ajudava a dar conta de vestir os cinco em pouco tempo. Nós ficávamos perto do palco o que nos permitia ouvir todo o show. Enquanto eu ajeitava as roupas que seriam usadas percebi Pedro parado olhando para mim.
  Desde o incidente com Tiffany eu não encontrava com os dois. Ela estava com muita raiva para chegar perto e ele esquisito demais para vir falar comigo. Olhei para ele e acenei com a cabeça, Pedro hesitou por um instante, porém retribuiu o aceno, mas seus olhos estavam carregados por uma determinação que eu não conseguia saber qual era. Uma sensação ruim tomou conta de mim e eu desviei meu olhar do dele, ele então voltou a filmar o show.
  A primeira troca de roupa fora feita, rápida como deveria ser. O show estava indo bem e de longe era possível ouvir os gritos de euforia do publico. Perfeito. Mesmo assim eu não conseguia tirar a sensação ruim dos meus ombros, aquilo estava me incomodando e nada poderia tirar minha atenção naquela noite.
  - Lou, preciso ir ao banheiro, vou aproveitar que os meninos vão demorar um pouco pra voltar e ir. Volto logo, tudo bem?
  - Tudo bem – ela voltou sua atenção para o telefone em sua mão.
  Comecei a andar pelos corredores escuros do backstage, minha única intenção era lavar o rosto e aliviar minha tensão. Enquanto eu tomava meu rumo, senti uma presença me acompanhando. Eu estava me tornando uma paranoica, ninguém poderia estar me seguindo. Não. Olhei para trás e comprovei minha teoria... Não tinha ninguém além de mim.
  Acelerei o passo ainda com a sensação de estar sendo acompanhada. Eu não ouvia, não enxergava, mas sabia que tinha alguém atrás de mim. Droga o que estava acontecendo comigo? Por fim avistei a porta do banheiro e estiquei minha mão para enfim abri-la.
  Antes de abrir a porta alguém puxou por trás, colando meu corpo em seu corpo segurando minha cabeça me impedido de virar. Antes que eu pudesse gritar uma mão cobriu meu nariz e minha boca com um pano besuntado por um líquido de cheiro forte. O terror tomou conta de mim e então comecei a me debater e gritar. Tudo em vão. Ninguém poderia me escutar com aquele pano em minha boca.
  Senti a anestesia tomar conta dos meus sentidos, meu corpo já não tinha forças para continuar lutando, meus olhos estavam pesando além do normal e por mais que eu tentasse ficar acordada eu não conseguia. Então, antes de entregar minhas forças eu escutei meu agressor pela primeira vez.
  - Shiiiiu – ele permanecia calmo, e sabia o que estava fazendo - seja uma boa menina. Isso. Isso.
  Por mais que eu não lembrasse quem era, eu conhecia aquela voz... Sem aguentar mais, meu corpo cedeu e eu fui tomada pela escuridão.

Capítulo XII. O demônio desconhecido

  Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=NSoIWEGL1YM

  O quarto tinha um cheiro forte de mofo e o único enfeite era uma foto emoldurada na parede, tão velha quanto o papel de parede. Cheguei mais perto a fim de examinar melhor aquele retrato. Amélia, era ela. Minhas mãos trêmulas tocaram o rosto desfigurado inanimado em minha frente, mesmo o efeito do tempo não tinha sido capaz de ofuscar a beleza da mulher na fotografia. Tão bela e com um fim trágico.
  Chorei por Amélia. Chorei por mim.
  O quarto não tinha janelas e nem trancas por dentro, aquilo era uma jaula de luxo. Perceptível, nas paredes, havia marcas de unhas, alguém esteve aqui antes de mim, olhei mais uma vez a fotografia na parede, meu estômago revirou, ali tinha sido a prisão de Amélia antes de ela morrer e eu estava revivendo aquela história macabra.
  Uma pontada forte em minha barriga me fez cair, eu estava tão acostumada com dor que não gritei, permaneci encolhida esperando o sofrimento acabar. De relance vi meus punhos machucados manchando de sangue o vestido azul, que um dia tinha sido de Amélia, e hoje eu era obrigada a usar.
  A dor na barriga ficou mais forte e eu me encolhi mais, ainda engolindo o grito, depressa enfiei minha mão por entre minhas pernas para ver se havia algum sangramento. Não havia. Senti uma pontada de alívio, pois na minha cabeça imatura de mãe, meu bebê estava a salvo se não houvesse sangramento.
  - Meu filho – sussurrei para minha barriga, por algum motivo eu sabia que meu bebê era um menino – a mamãe precisa que você seja forte aqui, nós vamos sair dessa eu prometo – na verdade eu não tinha tanta certeza assim – Eu preciso de você comigo, ok? A mamãe te ama não me deixa agora.
  Encostei-me à parede mofada para suportar a dor, que já estava um pouco mais amena, respirei fundo pensando em uma maneira de sair daquele inferno. Olhei mais uma vez para a porta tentando achar uma maneira de fugir enquanto meu algoz estava na parte debaixo preparando o almoço. Só que era impossível sair daquele quarto, eu já devia me conformar.
  Olhei mais uma vez o quarto e tudo o que havia ali era uma cama velha de latão e uma mesinha com o único enfeito: uma vaso com flores campestres. Lembro quando o açougueiro trouxe as flores, ele disse que era para deixar o ambiente mais alegre, que o bebê precisava de alegria. Muito irônico isso. Olhei mais uma vez para o vaso e sabia o que eu devia fazer, podia ser a minha única chance.
  Levantei com um pouco de dificuldade, as dores ainda continuavam, peguei o vaso e embrulhei no lençol da cama. Com o pouco de força que eu ainda tinha joguei o objeto contra o chão, o barulho do vidro quebrando fora abafado pelo pano, mais que depressa escolhi o pedaço ideal, escondi o resto dos cacos com o pano debaixo da cama. Agora era só esperar que o momento certo aparecesse.
  Enfiei o vidro debaixo do travesseiro e sentei, dando conta de que minhas dores abdominais já não existiam mais, despreocupada passei minha mão pela barriga para acariciar meu companheiro de horror.
  Mantive a posição de alerta enquanto esperava, prestando mais atenção eu consegui distinguir uma voz a diferente dentro da casa. Tinha alguém lá, era a primeira vez que alguém aparecia naquele lugar desde que eu estava ali. Corri em direção a porta e comecei a esmurrá-la.
  - SOCORRO – bati na porta com tanta força que os machucados do meu punho voltaram a sangrar – ME AJUDA! – sentindo que os meus socos não eram o bastante chutei a porta com força – AQUI EM CIMA!
  Nada adiantava. Não era possível que o estranho não estivesse me ouvindo. Ouvi a porta lá de baixo bater, quem quer que fosse que estivesse ali tinha ido embora e me deixado.
  - Droga!
  Os passos na escada chamaram minha atenção, corri para cama e posicionei minha mão debaixo do travesseiro segurando firme minha arma, os passos indicavam que ele estava mais perto então concentrei minha atenção na porta enquanto meu coração batia forte. Ouvi a chave virar pelo lado de fora, meu corpo ficou mais ereto, eu estava nervosa, mas precisava deixar que ele chegasse perto o bastante para atacá-lo. A maçaneta virou e eu apertei mais o caco em minha mão a ponto de me cortar, mas eu não me importava, levantei a cabeça para olhar diretamente nos olhos dele. A porta finalmente abriu, mas para minha surpresa era uma pessoa diferente da que eu esperava entrando no quarto.
  - Pedro? – não escondi a surpresa em minha voz, ele, porém continuava com a expressão parcial em seu rosto como se aquilo tudo fosse normal – Pedro, me ajuda – me levantei e corri para perto dele, eu não queria pensar no que ele estava fazendo ali, só queria que ele me ajudasse – Eu não sei o que ele te disse, mas esse homem é perigoso, ele é um psicopata e me sequestrou – as lágrimas e o desespero tomaram conta de mim, ele continuava parado, observando – Me ajuda. Me tira daqui. A gente precisa sair daqui, esse cara ele é o...
  - Esse cara é meu irmão – o choque tomou conta de mim e eu não queria acreditar, mas os olhos de Pedro me mostravam o ódio que ele carregava – E não foi ele quem te sequestrou ... Fui eu.
  Meu corpo estava paralisado e grudado ao chão. Aquilo não podia ser verdade, Pedro não era uma pessoa ruim, ele não tinha me sequestrado. Eu saberia se ele tivesse feito isso. Senti os braços fortes dele me jogando outra vez na cama que outrora eu ocupara por instinto me afastei o máximo que podia dele, e outra vez enfiei minhas mãos debaixo do travesseiro.   - Meu irmão foi comprar algo especial para o almoço, algo que Amélia gostava, ou seja, você – enquanto ele falava percebi que o sotaque estrangeiro havia sumido – Enquanto isso nós vamos conversar – o sorriso torto e perverso apareceu em sua boca.
  - O seu sotaque, sumiu – eu estava tão em choque que essa era a única coisa que eu conseguia falar.
  - Eu sou americano, sua estúpida – tremi com as palavras jogadas na minha cara – Foi tão fácil enganar você, não foi?
  - O que tá acontecendo aqui, Pedro?
  - Vou te contar minha história e vai ser a última que você vai ouvir. Você e seu bebê – o rosto de Pedro era cruel, era maléfico, diferente do que eu conhecia. Eu não conseguia tirar meus olhos dele. Desgraçado.
  - Minha mãe veio da Espanha tentar a vida aqui – continuou ele com uma calma terrível na voz - Alguns anos dois ela conheceu meu pai, um típico fazendeiro americano, os dois se apaixonaram e casaram uma linda história de amor até que ela percebeu a personalidade um pouco alterada do meu pai. Ele batia nela, era cruel com os funcionários e infiel – ele encostou o corpo mais na cama procurando uma posição confortável para continuar – Só que percebeu isso quando meu irmão já tinha seis anos, e segundo ela, já tinha sofrido influências demais do meu pai. Eu nasci e meu pai foi ficando pior, assim como meu irmão. Você acredita que ele chegou a matar um cachorro afogado aos sete anos, por diversão? – ele riu como se aquilo fosse natural.
  - Como você pode achar isso normal?
  - Cala a boca – encolhi mais ainda em meu canto – Continuando... Minha mãe fugiu para a Espanha com medo do meu pai, mas covardemente ela abandonou meu irmão por achar que ele não tinha mais solução, eu tinha cinco anos na época e cresci achando que ele estavam mortos. Minha mãe falava inglês comigo para que eu não me esquecesse de minhas origens, engraçado porque ela tirou de mim o meu sangue - ele parou por um tempo - Então ela adoeceu e antes de morrer me contou tudo...
  - Mas você disse que sua mãe estava viva.
  - JÁ MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA – no descontrole ele bateu a palma da mão no colchão me deixando aterrorizada – Porra, eu to tentando contar uma história aqui – e assim ele voltou a ficar calmo – Então ela me contou tudo antes de morrer, além disso, pediu que eu procurasse pelo meu irmão e que o ajudasse caso fosse preciso. Então com o nome, sobrenome e endereço em mãos eu o achei. Nosso pai já havia morrido também.Foi difícil ele confiar em mim no começo, mas eu era insistente precisava ter o amor dele – ele sentou e apontou para a fotografia de Amélia na parede – Um dia, sem querer, eu acabei descobrindo Amélia aqui na casa, eu prometi que não contaria a ninguém e que eu o ajudaria com aquilo. Olha, Amélia era realmente uma vaca, ela não valorizava meu irmão e mesmo com um filho dele na barriga ela queria abandoná-lo.
  - Você é louco – olhei com cara de nojo para ele que me olhava de volta em tom de advertência.
  - O negócio é que Amélia suicidou um tempo depois de descobrir a gravidez, ela se enforcou com o lençol da cama – senti um arrepio na espinha em imaginar a cena – Claro que ele ficou arrasado e por um tempo foi morar comigo em L.A., mas nada era o bastante, nada o fazia feliz. Eu tive medo de que ele também se matasse. Até que eu tive a ideia – ele levantou e começou a andar pelo quarto – Bom, mandei ele voltar para Nova Iorque e comecei a seduzir mulheres, pela internet, com o mesmo perfil que Amélia. Eu as seduzia as com propostas de emprego, ou até mesmo com a possibilidade de um relacionamento, de qualquer formar era tudo muito rápido e não dava tempo delas contarem para ninguém sobre mim. Claro que eu sempre marcava os encontros em algum restaurante de Nova Iorque, e aí quando eu me sentia seguro, eu atacava. Trouxe todas para cá, e ninguém suspeitou do Espanhol gente boa, aqui.
  Lembrei de mim mesma encantada por Pedro, achando que ele um homem perfeito, mal sabia da mente doentia por trás do homem sedutor. Eu me odiava por ter confiado nele.
  - A gente precisou parar com isso, de matar mulheres, quando a policia estava quase perto de desvendar o caso. Meu irmão saiu da cidade e eu voltei a trabalhar em meus vídeos normalmente. Mas há dois meses ele não aguentou mais e começou a matar de novo, ele precisa disso pra se sentir completo, entende? – balancei a cabeça perplexa com aquela história – Eu recebi a proposta de trabalhar com a MTV eu não consegui recusar, mas de qualquer forma eu precisava ajudar meu irmão porque por eu peguei gosto pela coisa, a adrenalina de caçar, eu me sinto vivo entende? – eu ficava horrorizada com cada palavra que saia da boca dele - Então prometi a ele uma mulher perfeita no final da turnê se ele não fosse atrás das pressas sozinho. Eu ia sequestrar a Tiffany, ela era perfeita para a gente, mas aí você apareceu.
  Play
  - Por quê? O que eu fiz para você?
  - Você me trocou por aquele moleque . Isso doeu e você me rejeitou igual a Amélia fez com meu irmão, e por isso merecia morrer também. Então convenci meu irmão que você era a cópia da amada dele – ele se aproximou do meu rosto – O que não é verdade e convenci ele de matar você. Mas, porra , ele não quer te matar agora e eu serei obrigado a fazer isso. Eu vim aqui hoje para te matar.
  Ele chegou mais perto, até que nossos corpos estivessem muito perto, passou a mão em meu cabelo e encostou os lábios em meu ouvido. Eu tremia ainda sem acreditar no que eu tinha escutado.
  - Ah, você precisa ver como o seu garoto Harry está arrasado, ele colocou a policia em peso atrás de você. Quase senti dó dele. Quase – chorei ao ouvir o nome de Harry, Pedro riu e deu um beijo em minha bochecha – Outra coisa – agora ele segurava meu rosto me obrigando a olhar para ele – Meu irmão não conseguiu aproveitar de seu corpo, mas eu sim. Fiz amor com você enquanto você ainda estava desacordada... Foi tão bom.
  Meu estômago revirou ao ouvir aquilo. Pedro era tão cruel quanto o irmão, tão perverso e sujo. Senti nojo dele segurando meu rosto. Senti nojo de mim agora que sabia que tinha sido alvo de abuso. Chorei em pensar na atrocidade que ele tinha feito comigo.
  - EU TENHO NOJO DE VOCÊ – cuspi no rosto dele e ao invés dele me surrar como eu imaginei ele sorriu.
  Pedro chegou mais perto de mim e beijou meu pescoço, gemendo como um animal no cio. Tentei me soltar dele, mas ele era forte demais, com cuidado tirei meu braço debaixo do travesseiro e ainda pensando na violência que ele tinha me feito, na história que ele tinha me contado cravei o vidro na jugular dele, com toda minha força. Ouvi Pedro gritar e sair de cima de mim. Eu o vi agonizar no chão e seu sangue jorrar pelo piso, mas eu não me importei, naquele momento eu me senti vingada e apreciei ele morrendo em minha frente pedindo por ajuda. E então, foi minha vez de sorrir.

Capítulo XIII. O Fim

  Música
  Minha respiração estava irregular e eu não conseguia tirar os olhos do corpo em minha frente. Pedro já estava imóvel a tempo suficiente para eu declarar sua morte, eu não chegaria perto daquele monstro outra vez, nem mesmo para saber se ele estava vivo. Olhei para minhas mãos lambuzadas de sangue e senti o líquido quente escorrer pelo meu rosto. Eu tinha matado alguém.
  Alguém que havia me violentado e me jogado naquele cativeiro, mesmo assim, eu havia matado alguém. Respirei mais um pouco procurando restabelecer a calma em mim, olhei em volta e sorrir ao ver a porta do quarto aberta. Pedro me devia aquilo e graças a ele eu fugiria daquele lugar.
  Pulei o corpo sem vida dele e alcancei o corredor sem iluminação da casa. Mesmo sabendo que estava sozinha caminhei com cuidado para não fazer barulho, desci as escadas devagar por medo das minhas pernas fracas cederem ao meu peso. Eu não poderia cair, não agora.
  A casa era grande e bem organizada, diferente dos dois cômodos onde fui obrigada a viver nos últimos dias. As paredes brancas contrastavam com o chão de madeira escura, os móveis e os quadros florais pendurados mostravam uma visão oposta ao chão sujo e aos retratos das vítimas expostos no sótão como objetos de tortura emocional. Se eu não fizesse parte daquele pesadelo não acreditaria que ali era a toca de um animal medonho.
  Sujei a cortina branca com o sangue de minhas mãos só para constatar que a janela principal era gradeada, claro que era. Corri até a porta só para ter a certeza de que ela estava trancada. Procurei pelas chaves, mas claro que não havia nenhuma ali. O desespero tomou conta de mim, eu estava presa em uma jaula. Não tinha para onde correr.
  Eu poderia gritar, mas o medo do desconhecido me conteve, eu não sabia onde estava, não sabia até onde aquela loucura ia. Se é que existia uma vizinhança ali. Eu nem sabia se estava em Nova Iorque ainda.
  O fato era que eu não tinha muito tempo e precisava agir antes que o açougueiro voltasse. Na cozinha me armei com uma faca esquecida na bancada, eu não me orgulhava de ser uma assassina, mas se fosse preciso eu mataria mais uma vez. Olhei mais uma vez pela casa, sem telefones, sem uma janela livre e nenhuma porta aberta. Voltei mais uma vez para o quarto em que outrora eu estava, relutante revistei todos os bolsos de Pedro a procura de uma chave ou de qualquer coisa que me ajudasse. Nada.
  Minhas chances de sair daquele inferno eram mínimas, mas eu não iria desistir não agora que eu tinha a oportunidade. Olhei todos os cômodos da parte de cima, banheiro, quartos e escritórios todos trancados, impossibilitando meu acesso. Mais uma vez o desespero tomou conta de mim, senti a dor percorrer meu corpo mais uma vez deixando minhas pernas fracas. Olhei para a faca em minhas mãos e pensei na pior solução de todas. Suicídio. Eu não deixaria aquele verme me torturar outra vez.
  A porta no fim do corredor chamou minha atenção, faltava aquele cômodo ser vistoriado e essa era a minha última esperança. Andei trôpega até a porta e mal contive minha surpresa ao conseguir abri-la. O quarto era simples, contendo apenas uma a cama e alguns móveis essenciais, entre eles, o criado mudo ao lado da cama em cima dele uma foto: Amélia. A expressão dela era de sofrimento e dor, ela usava o vestido azul que eu estava sendo obrigada a vestir e no detalhe eu consegui ver que suas mãos estavam amarradas. Ela tinha sido obrigada a posar para aquela foto.
  Aquele era o quarto do meu sequestrador, e alguma coisa ali poderia me tirar daquele lugar. No impulso abri a gaveta do criado-mudo, soltei um grito com o que achei: uma caixa com tufos de cabelos loiros, cada um preso a uma fita contendo nome e data de morte de cada pessoa que ele havia matado. Vomitei com a visão daquele suvenir sórdido em minhas mãos. Procurei a janela para respirar um pouco e outra vez, tive uma grata surpresa. Não tinha grades, não tinha trancas. O único lugar da casa onde não havia trancas era o quarto do desgraçado, era muita arrogância para uma pessoa. Olhei a altura que eu me subteria a pular e senti uma vertigem. O segundo andar era mais alto do que eu pensava e a queda quebraria alguma coisa minha, passei a mão pela barriga.
  - Deus, o Senhor já brincou demais comigo e agora essa é minha chance de sair daqui – eu conversava baixo para poder ouvir qualquer barulho vindo do lado de fora – Vamos fazer um acordo: pode quebrar meus braços ou minhas pernas, mas não leva meu filho. Não tira ele de mim, por favor. Olhei mais uma vez para baixo, decidindo se pularia ou não. Antes que eu desistisse do que tinha que fazer, ouvi a porta da sala batendo. O medo tomou conta de mim mais uma vez, as lágrimas desciam por meu rosto e eu tampei minha boca com a mão suja para que nenhum barulho escapasse. Fiquei quieta para ouvir melhor o que acontecia na parte de baixo. Talvez eu tivesse me enganado e, assim, eu poderia procurar outra maneira de sair dali.
  - Ramon – a voz era inconfundível e eu tive certeza que o monstro havia voltado – Ramon eu trouxe aqueles camarões gigantes que você tanto gosta – a voz vinha da cozinha ainda distante – Ramon? Não acredito que você foi embora seu ingrato, eu demorei muito para achar esses camarões frescos.
  Ramon, esse devia ser o Pedro, aquele filho da puta não me disse nem o nome verdadeiro. Corri para a janela agora sem nenhuma dúvida do meu passo seguinte. O silêncio era a certeza de que essa era a hora certa para eu pular. Ouvi passos na escada assim que sentei na janela, uma perna de cada vez. Escorreguei segurando meu corpo pelos braços eu ouvi os passos ficando cada vez mais perto então, eu pulei.
  A dor era aguda demais, eu quis gritar, mas contive, eu não sentia meu braço direito e a pontada na minha barriga era forte demais. Respirar era quase impossível e mesmo com dificuldade eu puxei o ar para os meus pulmões sentindo a ardência dentro de mim. O esforço que eu fiz para sentar era entorpecente e em minha mete tentei ignorar todas as dores e machucados que eu acumulava e me arrastei o máximo que eu pude até escutar o grito.
  - AMÉÉÉÉLIA!
  Coloca a música para tocar aqui.
  A adrenalina que me invadiu ao saber que ele já tinha descoberto que eu fugira me fez levantar e conseguir andar mais rápido mesmo com as dores. A casa ficava cercada por uma espécie de parque me dando a certeza de que eu estava isolada do resto da cidade. Andei o mais rápido que conseguia e entrei por entre as árvores.
  - Eu. Vou. Te. Pegar. – ouvi cantarolar a frase em algum ponto não muito longe de mim.
  Andei mais ignorando a dor em minhas pernas, andei o mais longe que aguentava e quando não conseguia mais me enfiei atrás de uma árvore grossa o bastante para me esconder. Não dava mais. Eu não aguentava suportar minhas pernas fracas demais. Escorreguei até o chão mantendo o meu corpo encostado no troco áspero. As lágrimas desciam sem controle e, mais uma vez, tampei minha boca com a mão para evitar qualquer barulho.
  - , eu juro que tentei ser bonzinho com você – a voz estava longe mas não o suficiente – Eu te dei um quarto. Eu estava disposto a criar o nosso filho, mas o que eu recebo em troca? – o barulho das folhas secas no chão ficaram mais próximas - Você mata meu irmão – ouvi um barulho de algo cortando algum galho de uma árvore. Ele estava perto – É aqui que nós terminamos meu amor. É aqui que eu te mato!
  O barulho de outro galho caindo me fez pular de susto, o choro ficou mais intenso mas ainda silencioso por causa da minha mão. Eu não tinha forças para correr, nem sequer conseguia levantar mais. Eu conseguia ouvir os passos calmos dele, cada vez mais em minha direção.
  - Marco – ele tinha voltado a brincar enquanto me procurava. Eu estava cansada demais para me esconder e compartilhando do mesmo humor negro do meu assassino eu queria gritar “Polo” e acabar de uma vez com aquilo.

  - Marco – ele cantarolou mais uma vez destruindo aos poucos o meu psicológico.
  Respirei fundo criando coragem para enfim atraí-lo para meu esconderijo quando um som diferente chamou minha atenção. Não só a minha, mas a dele também, pois os passos cessaram. Apurei mais meus ouvidos e consegui ouvi latidos ao longe. Latidos?
  - Droga! Droga! Droga! Isso não terminou aqui , eu vou voltar e vou te encontrar nem que seja no inferno. Vou fazer você se arrepender de cada segundo da sua vida, sua vadia!
  Então ele correu em direção oposta a que eu estava. Eu não acreditava em milagres, mas aquele momento era um. Ao longe eu conseguia ouvir sons de latidos cadê vez mais perto de mim. Eu estava alucinando ou aquilo estava acontecendo mesmo? Um. Dois. Três minutos se passaram até eu sentir o focinho de um labrador em mim.
  - Sam?
  O cachorro latiu mais ainda, pulando ao meu redor como se para chamar atenção de alguém. Eu queria fazê-lo calar e não entregar meu esconderijo, mas ele ficava cada vez mais agitado, ouvi passos rápidos e a tensão tomou conta de mim, eu queria levantar, mas não conseguia. Queria bater naquele cachorro que não saia do meu lado, mas ele não parava quieto.
  - Christopher, volta aqui garoto - o homem corpulento saiu por de trás de um arbusto me fazendo encolher, o susto dele ao me ver foi maior do que o meu – O que diabos é isso? – Ele correu para perto de mim abaixando próximo demais – Meu Deus, você é a moça do jornal. Você tá muito machucada.
  Mais que depressa ele tirou o celular do bolso do moletom, eu me encolhi ainda mais. Christopher, o cachorro, tinha sossegado, mas ainda montava guarda ao meu lado. O homem andou de um lado para o outro insatisfeito por não conseguir sinal, logo em seguida ele voltou para perto de mim, dessa vez tomando cuidado de para não me assustar mais.
  - Meu nome é Brian Cohen e sou policial, pode confiar em mim, eu sou o mocinho. Eu não consigo sinal de celular e por isso vou precisar carregar você até meu carro, pode doer um pouco, mas vai ser preciso – nenhuma dor seria pior do que a que eu sentia. - Eu vou ligar para a policia e te levar para o hospital. Você está muito machucada – balancei minha cabeça concordando. – Eu não sei as coisas que você passou, mas eu juro que acabou.
  - Me tira daqui! – foi tudo o que eu disse ao desconhecido, nada poderia ser pior do que o que eu tinha passado.
  - Tudo bem, eu vou pegar você no colo vai doer um pouco, mas você tem que aguentar.
  E assim Brian me levantou em seus braços e a dor era insuportável, cada pedaço do meu corpo doía. Ele tentava não me machucar enquanto andava, mas era praticamente impossível e a dor me tomava, eu não conseguia mais. Eu não suportava mais, então fechei os olhos e me entreguei.

XIV

  Música: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UTeXkHfWYVo

  Eu tinha voltado muitos anos no meu passado e agora eu encarava minha miniatura que balançava demonstrando a felicidade que era ser criança. No momento em que nossos olhos se encontraram eu não consegui conter a tentação de me juntar a ela.
  Não havia mais ninguém no parque, apenas as duas versões minhas que estavam adorando o vento batendo em nossos rostos, o céu estava tão lindo e limpo do tipo que jamais eu tinha visto em Londres. Porque eu estava em casa, eu podia sentir o aconchego que só meu lugar poderia oferecer.
  Play aqui.
  De lugar nenhum uma música começou a tocar, tentei procurar de onde ela vinha, simplesmente tinha surgido no ar. Reconheci a letra de imediato, era minha música preferida. Era uma cena bucólica vista de fora, mas eu estava gostando.
  - Nós vamos gostar muito dessa música né? – a pequena falou com aquela voz que eu reconhecia tão bem – Eu queria que você me balançasse bem alto...
  -... Como se eu fosse voar – completei a frase que eu conhecia tão bem. Era assim que eu pedia para que meu pai empurrasse o balanço.
  Rapidamente me posicionei atrás da menina e comecei a empurrar, primeiro devagar como meu pai sempre fizera comigo, à medida que eu aumentava a velocidade eu escutava o riso da criança virar uma gargalhada, o que me empolgava a empurrar mais forte. Em poucos segundos a pequena estava balançando o mais alto possível, então parei para observar.
  O vento no cabelo dela, o jeito como impulsionava o corpo para pegar velocidade até o frio na barriga toda vez que o balanço voltava eu conseguia sentir. Lembrei-me de como eu adorava aquilo quando eu era pequena e entendi toda a diversão que ela estava tendo.
  - Viu? – a menina virou-se para mim – Estou voando.
  Como se fosse em câmera lenta tudo aconteceu. As mãos dela se soltaram da corda e eu vi seu corpo sendo projetado para fora do brinquedo, o pânico tomou conta de mim tanto que eu não conseguia me mover, observei a pequena bater no chão com lágrimas nos olhos, uma força maior me prendia e tudo o que eu conseguia fazer era chorar.
  - Não há o que fazer , eu vou morrer – sua respiração era falha indicando que lhe sobrava pouco tempo - Você estragou tudo...
  Antes de completar a frase ela deu o último suspiro, meu corpo cedeu e caiu sobre a grama, agora cada pedaço meu sofria com uma dor aguda que me impedia de respirar ou tentar ir embora dali. Os olhos da pequena ainda estavam abertos e me encaravam de um jeito acusador. Um líquido quente e pastoso desceu do meu nariz, eu estava sangrando. O céu que antes era limpo agora estava escuro e feio, a música tinha parado de tocar e agora eu ouvia choro de vozes diferentes.
  O medo me invadiu de um jeito que fazia meu corpo tremer. Ainda deitada no chão ouvi passos em minha direção, eu sabia quem era e isso me fez debater tentando sair do lugar, sem êxito. De repente a cara ossuda ficou próxima do meu rosto, analisando e rindo da minha desgraça. Eu tinha chegado ao fundo e isso o deliciava.
  - Eu disse que não tinha acabado Amélia.
  Da mão, que mais parecia uma garra, surgiu o pedaço de vidro que eu tinha usado para matar Pedro e em um golpe rápido ele enfiou o objeto no meu coração, finalmente.

  Acordei assustada e ainda tremendo com o pesadelo que eu tinha acabo de ter. Minha cabeça doía como nunca doera antes, o cômodo era estranho aos meus olhos e por um momento tive medo de ter voltado para o cativeiro de outrora, pensei em fugir, mas vários fios prendiam meus braços fora a dor que chegava ser surreal. O nervosismo começou a tomar conta de mim outra vez, minha respiração era irregular e eu só queria sair dali. Eu precisava ir embora, não podia ficar presa de novo. Eu tinha que pensar em um jeito de sair. Respirei fundo, tentando pensar em um modo de escapar. Foi quando meu cérebro começou a raciocinar, aquele lugar não era um cativeiro, era um hospital. Todos os aparelhos me monitorando, minha perna enfaixada...
  Aos poucos fui lembrando tudo: o parque, Brian e seu cachorro. Bem devagar virei minha cabeça, que ainda doía muito, procurando alguma forma de comunicação com alguém ali, achei o botão vermelho bem ao alcance dos meus dedos. Segundos depois uma mulher baixa e gorducha entrou no quarto, mais surpresa do que eu esperava.
  - Você acordou – ela chegou perto checando meus sinais vitais – Estão todos aguardando que você acordasse.
  - Todos?
  - Sim, quando você chegou aqui estava muito machucada, mas a gente sabia que era a moça que estava desaparecido – ela regulou o oxigênio – Seus pais estão muito preocupados com você.
  - Meus pais? – uma emoção tomou conta de mim, se não fosse tão doloroso eu até poderia chorar – Posso vê-los?
  - Primeiro eu vou chamar o médico para te examinar melhor, depois vou ver o que posso fazer – ela percebeu meu olhar de reprovação. – Visitas não são permitidas na UTI e eu só posso deixar que um deles entre, mesmo assim bem rápido.
  - Obrigada.
  Depois de me examinar e constatar que eu estava fora de risco o Doutor Jake pediu que eu fosse transferida para um quarto, onde ele poderia enfim me dar informações de tudo o que aconteceu depois que eu havia dado entrada no hospital. Eu estava muito cansada, mas recusava a dormir outra vez, mesmo que o Dtor. Jake repetisse que faria bem para mim. Não, eu queria estar acordada e atenta.
  O quarto era branco e sem graça, mas o melhor lugar onde eu poderia estar agora. Tudo em mim ansiava pela presença dos meus pais, não importa como eles haviam chegado ali eu só queria a proteção deles nesse momento. Encarei a porta a fim de ver a hora que eles entrariam por ela, meu desejo era gritar como uma criança medrosa, mas me contive.
  Quando finalmente eles chegaram eu pude ver meu pai e minha mãe, mais velhos do que de costume, o cansaço tinha acabado não só comigo. Minha mãe chorava muito e não se conteve em me abraçar, fiz sinal para que meu pai se juntasse a nós. Então juntos, nós três choramos.
  Doía muito ter os dois me apertando, mas qualquer dor era um alívio depois do que eu havia passado. Eu ainda tinha medo, muito medo, mas a presença dos meus pais me dava a sensação de que nada mais poderia acontecer comigo.
  - , o que fizeram com você?
  Minha mãe passava letamente o dedo nas feridas do meu rosto, me fazendo lembrar de cada surra que eu havia levado o que me fez chorar mais. Ao ver meu desespero ela tentou me acalmar, e com o canto dos olhos eu percebi a ira do meu pai. Eu não via meu rosto há um bom tempo, mas imaginava o estrago que ele havia feito.
  - Você quer nos contar o que aconteceu?
  - O que aconteceu? – olhei incrédula para o meu pai que correspondia meu olhar – Vocês não sabem?
  - Não – minha mãe tremia como eu nunca vi antes. – A única coisa que sabíamos é que você havia desaparecido, mas...
  O pânico tomou conta de mim, eu sabia que Brian não teria como contar porque eu não havia contado minha história, mas desde que eu tinha acordado minha esperança é de que tinham prendido o desgraçado que me fizera sofrer. Não podia ser, eles estavam tão perto, aquele maníaco não poderia estar solto ainda.
  - Não, não, não – eu repetia a palavra balançando minha cabeça – Não, não, não... – senti as lágrimas caírem por minhas bochechas, e de longe ouvi o desespero na voz da minha mãe me pedindo calma – Não pode ser. Não pode.
  O desespero me dominou, meu corpo debatia na cama e eu não me importava mais com a dor. Eu queria ir embora. Eu queria me esconder. Quase não senti quando me seguraram e me injetaram algo forte me fazendo dormir o mais rápido possível.
  Enquanto adormecia eu escutava o choro da minha mãe, o que me partia o coração.

  Xx

  Abri os olhos devagar, notando o vulto ao meu lado, sentado na mesma cama que eu tomando o cuidado de não encostar-se a mim. Mesmo sem enxergar direito eu tinha certeza de quem era.
  - Harry – sussurrei o nome com mais dificuldade que imaginei.
  Meu coração disparou mais uma vez, mas não era medo e sim felicidade, fechei meus olhos por um segundo e quando os abri já conseguia ver normalmente. Seu rosto estava contraído em preocupação, mas eu não me importei porque tudo que eu mais queria era poder ver de novo a pessoa que eu amava. Ele se virou para me encarar e eu notei as lágrimas que ele tanto teimava contra.
  - Eu achei que você não fosse mais voltar pequena – ele parou olhando fixo para mim como se ainda não acreditasse que estivesse ali – Eu achei... -Ele deixou que o choro viesse a tona, sem pudor, mas eu não o confortei apenas olhei.
  - Eu perdi não é? – ele olhou para mim, ainda chorando – O nosso bebê... – o nó na garganta me impediu de continuar, Harry me encarava mas não respondia, como se ele não fosse capaz de responder .
  - Sinto muito pequena – ele acariciou com cuidado minha mão.
  - Eu tentei protegê-lo, eu juro. – ele limpou minhas lágrimas com delicadeza.
  - , nada disso foi sua culpa – sua mão escorregou até minha bochecha onde havia um pequeno corte, ele acariciou meu machucado sem tirar os olhos dele – Você está viva, isso que importa agora. Eu tive tanto medo .
  - Mas o nosso filho, ele se foi – tateei minha barriga tentando sentir alguma coisa, algum vestígio.
  - Nós vamos ter outra chance – foi tudo o que ele disse.
  Eu tinha parado de chorar, mas a tristeza era eminente em mim, eu tinha perdido minha dignidade e agora o meu filho, nada mais restava. Eu poderia ter morrido naquele cativeiro. Afastei a mão de Harry de mim sem me importa se ele se sentiria ofendido com aquilo. Ele estava errado, eu era a culpada daquilo tudo. Eu tinha deixado Pedro entrar na minha vida e fazer dela um inferno.
  - A polícia está aí fora esperando para fazer algumas perguntas, eu preciso avisá-los que você acordou.
  - Você vai me deixar sozinha? – olhei outra vez para ele, suplicando para que ele continuasse ali – Eu preciso de você aqui. Eu não quero que você vá embora – pensar em perder Harry mais uma vez era horrível, eu não podia deixar que ele saísse daquele quarto – Não sai daqui, por favor. Fica.
  - Tudo bem, eu não vou a lugar algum – a mão dele voltou a segurar a minha – Vou chamar o Dtor. Jake pelo interfone, eu estou aqui e não vou sair – eu segurei a mão dele de um jeito esquisito que doía menos.
  Depois que o doutor Jake entrou eu fiquei sabendo o que tinha acontecido comigo depois que dei entrada no hospital. Eu estava inconsciente e assim permaneci por 48hr, eu tinha algumas costelas fraturadas, um pé quebrado e muitos hematomas pelo corpo, além disso, eu estava tendo um aborto espontâneo e eles não puderam esperar que eu acordasse para fazer a coleta do feto morto. Minha foto estava nos jornais e noticiários com o número de contato caso alguém me encontrasse, por isso fora fácil achar todos. Ainda de acordo com o Dtor. Jake eu não teria nenhum tipo de sequela e precisaria de repouso para curar meus machucados. Brian Cohen tinha chamado a policia responsável pelo caso mas não havia voltado ao hospital para saber como eu estava. De qualquer forma eu era grata aquele homem pelo resto de minha vida.
  - Você ficará aqui por mais uns dias, até que melhore por completo – ele apontou para as minhas costelas – Eu sinto muito pelo bebê – olhei de relance para Harry que ainda segurava minha mão – Mas o aborto não atrapalhará você ter outras gestações – agora foi a vez de Jake olhar para Harry que se limitou a concordar com a cabeça – No mais é isso, e se precisarem de mim é só apertar aquele botão – ele apontou para o aparelho que Harry tinha usado para chamá-lo antes – Está pronta para contar sua parte na história? Você não precisa fazer isso agora.
  - Quero terminar logo com isso.
  Assim que o Dtor Jake saiu uma mulher loira, alta e carrancuda entrou acompanhada de um homem igualmente alto porém mais careca e simpático. Os dois fizeram apresentações formais – agentes Karen Collins e Phill Roust respectivamente – eles disseram que só fariam algumas perguntas o que ajudaria a pegar o bandido que tinha feito aquilo comigo. Dei graças a Deus por meus pais estarem no hotel descansando ao invés de estarem naquele quarto ouvindo minha saga tenebrosa.
  Suspirei e comecei a contar, o mais rápido possível, tudo o que tinha acontecido. Contei de Pedro, de como ele caçava as vítimas do irmão e de como ele havia me violentado. Contei das torturas e do porão e das alucinações psicóticas do monstro. Falei sobre a história de Amélia e dela ser o gatilho disso tudo. De como meu filho tinha me salvado de uma morte e como eu tinha conseguido fugir, depois de matar Pedro.
  No final da minha narrativa olhei para Harry que já não segurava minha mão e estava no canto da sala assustado com cada palavra que eu tinha dito. Olhei para Karen e Phill que estavam surpresos com minha história, me senti um animal com todos aqueles olhares em mim e de novo, agradeci por meus pais não precisarem escutar aquilo.
  - Não é possível – a voz da loira tinha chamado minha atenção.
  - Você está achando que eu inventei tudo isso? – não me interessava se Karen era policial ou o Papa, eu não deixaria ela desdenhar da minha dor assim.
  - Não é isso – Phill o policial bonzinho estava disposto a limpar a barra da colega – É que tem algo muito errado nisso.
  Harry tinha voltado para o meu lado e agora eu estava disposta a jogar meu soro na cabeça de Phill também. O policial conversava com a loira baixo o suficiente para que eu não escutasse, olhei mais uma vez para Harry buscando apoio mas seu olhar estava perdido em algum lugar longe dali, e só conseguia ver raiva. Karen mexia no celular, enquanto Phill secava sua careca molhada de suor.
  - Você já viu esse homem ? – Karen estendeu o celular até que eu pudesse ver a foto de um estranho gordo, moreno e totalmente estranho.
  - Não, eu nunca vi esse homem – eu estava confusa e minha cabeça voltava a doer – O que tá acontecendo aqui? – olhei para os dois em minha frente procurando alguma resposta.
  Karen saiu apressada do quarto com o celular em mãos, Phil suava mais que nunca e Harry estava sentado ao meu lado, tão confuso quanto eu.
  - – Phill chegou mais perto – O homem que Karen mostrou para você foi preso há uns dias atrás, suspeito de ser o “açougueiro” – aquela notícia tinha caído como uma pedra sobre minha cabeça.
  - Nããão! Esse homem é inocente, o “açougueiro” é totalmente diferente desse homem...
  - No dois primeiros dias nós pensamos que seu caso estivesse ligado ao do “açougueiro”– Phill continuava a falar, mas a preocupação era evidente – Mas aí apareceu outra vítima dele: mesmo biótipo das anteriores e mesmo modus operantis, só que dessa vez ele tinha deixado pista que ligava o crime ao Caleb, o homem que você viu na foto.
  - Pedro estava lá o tempo todo – Harry falava pela primeira vez – Ele deve ter tentado desviar as suspeitas.
  Nesse momento Karen voltava em passos apressados pelo corredor, de novo o celular em mãos estendido em minha direção. Mas a foto era de outra pessoa e dessa vez eu sabia muito bem quem era.
  - Você conhece esse homem ?
  - Pedro – meu estômago revirou de nojo.
  Harry olhou para a mesma foto e concordou com a cabeça, sua mão apertou um mais forte a minha fazendo doer um pouco mais. Karen olhou preocupada para o companheiro de trabalho, engolindo em seco.
  - Assim que Brian entrou em contato conosco nós fomos investigar o parque atrás de suspeitos – ela falava mais para Phill do que para mim – Encontramos a casa que acabou de mencionar – ela já tinha se virado para mim e Harry – mas ela estava pegando fogo. Os vizinhos chamaram os bombeiros, mas o estrago já tinha acontecido – ela respirou fundo controlando a raiva que tinha. - O fato é que acharam um corpo carbonizado no andar superior, mas nós conseguimos identificar quem era pela dentição. Demorou um pouco porque o nome dele não era fichado – ela engoliu em seco mais uma vez – Rámon Vegas era o nome verdadeiro dele, mas em seu registro não consta o nome do pai e nem de outro parente. Além do corpo acharam vestígios na casa que nos liga ao “açougueiro”.
  - Os vizinhos podem dizer o nome dele, não é? – como eu não gostava da Karen direcionei minha pergunta para Phill.
  - Aquele bairro é o mais antigo de Nova Iorque – ele respondeu. –, logo os vizinhos são pessoas mais velhas também, sempre estavam em casa e não sabem dizer ao certo como era o homem.
  - Eu posso fazer um retrato falado, eu lembro bem do rosto daquele monstro.
  Eu estava agitada do mesmo modo que havia ficado mais cedo, era o pânico invadindo novamente. Duas pessoas em minha frente dizendo que era praticamente impossível achar o monstro que havia prometido me buscar no inferno e continuar a fazer da minha vida uma barbárie, pra coroar tudo eles haviam prendido o homem errado e agora ninguém estava preocupado em procurar pelo psicopata certo. Meu corpo voltou a tremer.
  - Vocês deviam deixá-la descansar agora. Saiam por favor – o braço de Harry circulou meus ombros me fazendo apoiar a cabeça nele, mais uma vez eu voltei a tremer.
  Os dois saíram por um momento nos deixando em paz, depois de alguns minutos Phill voltou com alguns papéis em mãos.
  - , eu preciso que você assine um acordo de confidencialidade – Phil mantinha a voz terna, mas agia de um jeito sem graça – Ninguém pode saber que Caleb era inocente, não por enquanto.
  - Por quê?
  - Porque Caleb cometeu suicídio no mesmo dia em que você deu entrada no hospital – dessa vez fora Harry quem tinha me respondido, sua voz carregada de acusação ao homem que estava em minha frente.
  Abri os olhos no espanto, enquanto Phil me entregava os papéis para assinar. Eles haviam causado a morte de uma pessoa inocente.

XV – She’s gone.

  Música: http://www.youtube.com/watch?v=-ICWCTy5pEk

  Os dias passaram e eu ainda estava me recuperando no hospital, meus machucados já estavam melhorando e eu quase estava conseguindo minha alta. O caso “açougueiro” continuava na mesma, ninguém conseguiu achar o verdadeiro psicopata. Meu medo era constante e eu já não conversava com ninguém, tinha entrado em uma bolha na qual ninguém mais tinha acesso.
  Ainda recebia visitas, até tinha voado para Nova Iorque, mas eu ignorava a todos, inclusive Harry. Eu não conversava, quase não comia e ficava repassando em minha cabeça cada momento que eu fui obrigada a viver, meu estado era de constante vigia e o policial na porta do quarto já não era suficiente. Eu precisava ir embora, só assim me sentiria um pouco mais segura.
  A pedido meu Zayn, Louis, Niall e Liam tinham voltado para Londres com intenção de não deixar o caso vazar, e por mais que eu o ignorasse Harry continuava indo ao hospital segurar minha mão. Meus pais o amavam e por umas duas vezes minha mãe pediu que eu fosse mais agradável com ele, e por mais que ele fingisse eu sabia que estava sofrendo com tudo aquilo e me doía demais, só que eu não conseguia sair do meu confinamento mental, era mais forte do que eu.
  Karen e Phil apareciam vez ou outra para novas interrogações, esperando que alguma coisa milagrosamente resolvesse o caso. Caleb ainda era tido como o criminoso, eu me incomodava com isso só que não tinha forças para debater com o resto do mundo, e ainda tinha o contrato que eu tinha assinado. Pelo menos meu silêncio valeu um documento feito pelo próprio Phill me autorizando a viajar sem meus documentos.
  - Amanha você estará liberada . – ouvi o meu médico dizer. – Vai precisar usar muletas por um tempo pequeno, mas você não corre risco nenhum e por isso pode viajar quando quiser.
  - Obrigada – me limitei a dizer, mas por dentro eu estava satisfeita em retornar para casa.
  Eu teria uma última coisa para fazer em Nova Iorque.

  Xx

  Play na música.
  Tinha um jardim lindo na lateral do hospital, o lugar perfeito para eu ter minha conversa com Harry. Em sua visita naquela tarde pedi que me acompanhasse até lá. O jardim, como de costume estava abandonado, o que achei muito bom, então o guiei até o banco mais próximo no qual pudéssemos sentar.
  Eu não sabia por onde começar, e nem se conseguiria, olhei para Harry e quase não pude acreditar na beleza dele. O sol batendo em seu rosto, deixando os seus olhos mais verdes do que nunca, os cabelos escondidos debaixo da fiel touca azul que eu tanto gostava. Por um momento esqueci do propósito daquela conversa apenas para lembrar o quanto eu o amava, um sorriso involuntário surgiu da minha boca fazendo com que ele sorrisse de volta, mostrando a covinha no canto da boca. Segurei o impulso de acariciar seu rosto e me foquei em não olhar mais para ele.
  - Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida Styles – o nó cresceu em minha garganta – E tudo o que a gente viveu, foi tão... Lindo. Nós vivemos uma vida em 74 dias. Estávamos juntos, depois separados e mais uma vez juntos – ele tentou segurar minha mão, mas eu afastei bruscamente – E então éramos pais – não aguentei segurar mais o choro e olhei para ele que tinha uma expressão confusa – E de repente, tudo acabou.
  - A gente não precisa falar disso .
  - Tudo bem, eu preciso continuar – respirei fundo tentando continuar – Enquanto eu estava vivendo aquele terror eu pensava em viver por você, por nosso filho. Eu queria sobreviver e construir nossa família, mas...
  - Mas você sobreviveu.
  - Não Harry, eu to morta por dentro – coloquei minha mão no peito – Eu não sou mais a mesma, eu vivo com medo e eu sei que vai ser assim para sempre. Eu sei – as lágrimas continuavam abundantes.
  - O que você quer dizer com isso ?
  Os olhos dele estavam marejados o que indicava que Harry já sabia o que eu estava planejando para nós. Passei o polegar para limpar a lágrima solitária que descia em seu rosto.
  - Eu estou dizendo que por mais que eu esteja morta e presa em um sofrimento, você tem o direito de viver sua vida – ele balançava a cabeça negando - Eu não quero que você viva em função do meu sofrimento. Não é justo e você merece mais do que a pessoa pela metade que eu me tornei. Não adianta dizer que não é isso, desde que eu estou nesse hospital você não tem feito outra coisa a não ser cuidar de mim. Até da música você esqueceu. Eu não quero isso para você. Não quero.
  - Eu não vou te deixar – a voz dele estava mais rouca do que nunca.
  - Harry – fechei os olhos pensando em cada sílaba que pronunciaria a seguir – não é uma opção, eu estou terminando com você.
  - Não é justo – ele tinha se afastado um pouco – Eu também to sofrendo. Eu vi o quão machucada você estava quando chegou aqui. Ouvi tudo o que você passou nessa semana – ele bateu em seu peito enfatizando a dor que sentia – Eu também perdi meu filho. Agora, eu vou perder você?
  - Desculpa, assim vai ser melhor.
  - Mas eu te amo – ele me olhou implorando outra chance, mas eu tava firme em minha decisão – Eu não consigo sem você.
  - Você vai ficar bem – tentei segurar seu rosto mais uma vez, mas agora foi ele quem se afastou – Acredite, você não precisa de mim.
  - Você pode me afastar , mas eu nunca vou te esquecer. Nem hoje, nem amanhã.
  Harry levantou sem aviso e saiu o mais rápido que podia, fiquei observando ele se afastar querendo gritar para que ele ficasse, mas me contive.
  - Eu te amo Harry, você foi a melhor coisa que me aconteceu. Hoje, amanhã e sempre – sussurrei quando ele não estava mais à vista.
  Fiquei alguns minutos sozinha pensando em tudo o que eu havia perdido por causa de um louco, Harry tinha acabado de entrar na minha lista. Tão pouco tempo e eu tinha vivido o melhor e o pior que a vida tem para oferecer. A bondade e a crueldade da humanidade. Eu não sabia mais em que acreditar.
  - Precisando de ombro?
   estava em minha frente, eu aceitei a oferta e ela se sentou sem dizer uma palavra, apenas deixando que eu chorasse o quanto fosse necessário. E eu chorei por muito tempo.

Extra

  O voo não demoraria a sair, ele já estava posicionado em sua poltrona satisfeito por ninguém o impedir de embarcar. A raiva ainda o alimentava, e isso o motivava a caçar. Sim, era assim que ele pensava em suas vítimas, como caças. Michael não tinha raiva pelo irmão morto, na verdade ele nem pensara muito nisso, achava que Rámon havia sido estúpido por se deixar enganar, além disso, a culpa dela ter fugido tinha sido dele.
  Por sorte Michael soubera poupar bem a herança deixada pelo pai, e isso o deixaria confortável pelo resto da vida. Ele suspirou fundo pensando que teria toda calma do mundo para pegar o que queria e dessa vez ela não escaparia. Discretamente ele enfiou a mão no bolso da calça tirando o documento de identificação com a pequena foto sem qualidade dela.
  Sorriu ao lembrar da bolsa que Rámon erroneamente havia levado junto com a vítima, ele tinha discutido com o irmão por causa daquele deslize, mas agora sentia que aquele era o melhor presente que ele poderia ter pedido. Antes de incendiar a casa Michael lembrou de procurar alguma coisa valiosa naquela bolsa, e realmente tinha achado: além do documento com o nome completo tanto dela quanto dos pais ele tinha achado o caderninho com o endereço bobamente escrito à mão.
  Michael suspirou feliz pela conquista e encostou a cabeça de forma confortável na poltrona, afinal a viagem até Londres seria longa.

FIM



Comentários da autora

Acabou, acabou e acabou. Vou chorar! Confesso que enrolei um pouco -muito - para finalizar 74 dias, mas eu não queria que chegasse ao fim. O final não me agradou, mas essa nunca foi uma história de amor. Ou foi? hahahahahaha
Eu vou escrever sim a segunda parte da fic, mas ainda não tenho nome para ela, porém vou dizer assim que eu achar o nome apropriado. Espero que vocês continuem comigo na segunda fase e que continuem gostando. E não vou demorar tanto assim para escrever.
Quero muito agradecer a todas que leram até aqui e que esperaram pacientemente por minhas atts demoradas. Muito obrigada por cada comentário, por cada mention no twitter falando da fic. Quero dizer que muitas aqui viraram minhas amigas e que sou muito grata por isso. Também sou grata por cada palavra de incentivo e pelas criticas que foram úteis para construir a história.
Não vou responder individualmente porque eu seria injusta em não responder desde a primeira nessa nota, mas se eu fizesse isso ficaria enoooorme. E não queremos ler coisas enoooorme, né?
Só queria dizer que muitas vezes eu estava triste, passando por um dia difícil e então eu vinha aqui ler os cometários ou alguém ia lá mexer comigo no twitter e tudo valia à pena outra vez. Então, mais uma vez obrigada.
Beijo da Dinha.
Qualquer coisa me cutuquem no Twitter: @_dinhagabius
Ou pela page no Facebook: http://www.facebook.com/pages/74-dias/106117222895997