3AM

Escrito por Tize | Revisado por Peps

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  Ela sentia suas pálpebras pesadas. Olhava para os livros, mas aqueles pensamentos e ideias não a deixavam assimilar adequadamente o que lia.
  – Como assim? Em uma página eles dizem que todos os pontos satisfazem a equação, e na outra dizem que nenhum ponto é capaz disso. Cadê o sentido? – ela exclamou com a voz chorosa. – EU DESISTO!
  Fechou o livro de matemática e se debruçou sobre ele. Aquele não era o melhor dia para avançar. Sua cabeça estava a todo vapor, como poderia se concentrar em coisas tão superficiais como equações?
  – Sua idiota. – ela murmurou enquanto se arrastava até a cama ao lado da escrivaninha. – Pare de tentar achar sentido.
  Soltou um longo suspiro. Aquela história estava corroendo-a por dentro. E não havia muito a ser feito. Afinal, ele mesmo tinha jogado aquelas palavras em sua cara.
  – Não, não pense nisso... – ela sussurrou colocando o travesseiro na cara.
  Mas já era tarde. A imagem de Yukwon, mais conhecido por U-Kwon entre amigos e inimigos, estava nítida atrás de suas pálpebras fechadas: o cabelo loiro, com raízes e mechas mais escuras, caía um pouco sobre a testa enquanto o seu olhar desconcertante não parava de encará-la. Ele parecia ser outra pessoa.
  – Eu não ligo mais para o que você faz ou deixa de fazer. – ele disse com um tom de deboche. – Terminarmos? Isso não poderia ter sido melhor. Eu estou realmente feliz. Estar sozinho me deixa contente, tanto é que nem penso em você à noite. Apenas vá cuidar da sua vida, sim?  
  Ele sorriu e virou-se para ir embora, colocando as mãos no bolso da calça e empinando o nariz. Quem olhasse de longe acharia que ele estava normal, mas sabia, ele estava à beira de um colapso. E ela não podia fazer nada, porque não era mais parte de sua vida. Nunca mais seria. O mundo de U-Kwon não lhe pertencia mais.
  – Eu sou uma idiota... – ela sussurrou revirando-se na cama.
  Pegou o celular que estava no criado mudo e resmungou como se fosse uma criança fazendo birra. Já era quase três da manhã e ela não estava estudando nem dormindo. Que tipo de pessoa inútil ela estava se tornando? A culpa só poderia ser dele!
  Desde que começaram aquele relacionamento, se viu apenas metida em problemas. Não conseguia ter uma rotina normal, tudo graças às loucuras que seu ex-namorado vivia aprontando. Coisas como ir parar na delegacia e assistir a lutas de gangues no meio de armazéns abandonados era comum, além das vezes em que ele a seqüestrava de casa para irem a festas nada convencionais.
  Esses eventos não passaram despercebidos pelos amigos e familiares, sendo que no fim a pressão social que impuseram acabou fazendo com que tomasse a pior decisão de sua vida: terminar o relacionamento. Mas não os seus sentimentos. Eles ainda estavam lá e, ela sabia, nunca deixariam de estar. Intuição feminina.
  De repente um barulho chama sua atenção. O celular vibrava em suas mãos, alguém estava ligando. Às três da manhã.
  – Quem seria a essa hora? – ela indagou franzindo o cenho enquanto olhava para a tela. Teve que segurar um grito quando reconheceu o número. – U-Kwon?!
  O desespero tomou conta de sua cabeça. Ele não estava ligando, aquilo era engano, com certeza ele estava bêbado e sem controle de suas ações. Depois de todas aquelas palavras, dificilmente isso aconteceria... Ele tentar entrar em contato novamente... Ou será que ela estava errada?
  Sem saber como reagir, atendeu a ligação e engoliu a seco, levando o aparelho para perto do ouvido.
  – ... – a voz inconfundível dele causou arrepios em sua nuca.
  – O que você está fazendo? – ela retrucou com um tom de irritação. – São TRÊS DA MANHÃ!
  – ... Eu preciso conversar...
  – Não, não precisa. Comigo, não! – ela disse entre suspiros. – Você mesmo disse que não queria mais saber de mim. Por acaso está bebendo?
  – Não, ... Eu talvez esteja sim bêbado.
  – Seu idiota! Eu já não te disse para parar com isso? Ou você quer ser um alcoólatra como...
  – Eu estou em frente a sua casa. – ele a interrompeu desesperado. – Eu preciso mesmo conversar contigo. Desça até aqui, vamos.
   sentiu a boca secar. Ele estava mentindo, não estava? Aquilo era só uma brincadeira de mau gosto, certo?
  – Você não está. – ela sussurrou incrédula.
  – Eu consigo ver a luz acesa no seu quarto. – ele comentou. – Eu vou subir até aí, como naquela vez em que eu você ficou sem poder sair de casa por todo o final de semana e então eu tive que ir te visitar às escondidas...
  – O quê? Não, U-Kwon, espera!
  – Eu consigo subir, não estou tão bêbado que nem aquele dia! – ele disse rindo.
  – O problema é que meu pai cortou os galhos da árvore depois disso, e você não vai conseguir... – explicou impaciente, levantando-se da cama e indo até a janela.
  – Mas tem ainda esses canos, eu posso tentar subir por eles. – U-Kwon continuava a falar enquanto ela hesitava em abrir as cortinas. – Eu consigo ver o seu semblante.
  Ela suspirou, afastando-se um pouco para trás.
  – Você disse que não se importava mais comigo, Yukwon. Por que está fazendo isso agora?
  – Eu realmente disse isso. Mas foi em outro dia. Hoje eu vou me contradizer. Não posso viver sem você. – ele respondeu sério.
   soltou outro suspiro, dessa vez mais pesado. Era sempre assim, não? Como se as barreiras nunca fossem reais perante aqueles olhos brilhantes. Ele sempre podia realizar seus desejos. Todos eles. Porque ele tinha a liberdade e a coragem necessárias. E isso era o que ela mais admirava e invejava nele.
  – Você nunca vai desistir, não é? – ela murmurou se aproximando na janela novamente.
  – Você sabe a resposta. – ele disse e conseguiu imaginar aquele sorriso óbvio e travesso se formar em seus lábios.
  – Você só me traz problemas.
   desligou o celular e abriu a cortina, procurando pela escuridão um sinal de vida. Avistou U-Kwon pulando o muro com rapidez e não conseguiu conter um sorriso satisfeito. Ele realmente estava ali.
  – Rapunzel! – ele exclamou assim que chegou embaixo da janela.
  – Shiu! Eles vão te ouvir, idiota. – ela repreendeu segurando o riso.
  U-Kwon sorriu e começou a escalar a parede usando qualquer coisa que encontrasse como apoio, enquanto observava de sua janela, soltando vez ou outra um sussurro de aviso para que tomasse cuidado ou não fizesse barulho. Após alguns minutos de tortura, ele finalmente se jogou na cama dela ofegante.
  – Por favor, se mude para o andar de baixo. – ele disse quando recuperou o ar.
  – Não tem quarto lá embaixo. – ela retrucou cruzando os braços sem encará-lo.
   estava achando aquela situação muito estranha. Ela não deveria ter deixando U-Kwon entrar em seu quarto àquela hora da madrugada, nem deveria ter atendido a maldita ligação. Ele já não fazia mais parte de sua vida. E precisava deixar isso claro.
  – Vem cá. – ele disse com uma voz doce.
  Ela permaneceu imóvel encostada no parapeito da janela. Não queria se aproximar dele, pois sabia que isso seria errado. Muito errado.
  – -ah! – ele chamou fazendo aegyo de um jeito que a fez sorrir.   – Vamos conversar sério, U-Kwon.
  Ele fez um biquinho apontando para o lugar ao lado dele na cama. fechou os olhos com força e respirou fundo.
  – Eu não quero conversar contigo se não for olho a olho. – ele disse sério.
   caminhou lentamente até a cama, sentando-se um pouco afastada de onde ele estava. U-Kwon suspirou e se aproximou decidido, encostando seu ombro no dela.
  – Não vamos terminar. Por favor. – ele começou suplicante com uma expressão que fez o coração de pesar.
  – Não há volta, U-Kwon. Você também disse que não estava mais como era no início...
  – ! – ele exclamou virando-se para ela e a encarando profundamente nos olhos. – Eu te amo.
  Ela ofegou sem conseguir acreditar. Durante todo o tempo em que estiveram juntos, ele nunca havia dito essas palavras. Era sempre “eu gosto de você”, “te adoro”, “eu me sinto bem quando estou contigo”, mas nunca “amor”. Por que, depois que estava tudo terminado, ele tinha decidido falar isso?
  – Vai embora. – ela disse com os olhos marejados, virando o rosto para o lado oposto a ele.
  U-Kwon hesitou, sem entender o que estava acontecendo. Tudo o que ele precisava era fazê-la sorrir, ao menos uma vez. Por que não estava saindo como deveria ser? Por que aquilo parecia cortar cada vez mais fundo seus corações?
  – ... – ele sussurrou levando uma das mãos até a bochecha úmida dela. – Não faz isso comigo.
  Ele a fez encará-lo. Aquele sentimento desesperado circulava novamente por suas veias, e a cura seria somente um sorriso dela.
  – Eu não queria fazer você chorar. Me desculpe. – ele disse soando levemente confuso e arrependido.    afastou a mão dele delicadamente e se aproximou para dar-lhe um selinho rápido.
  – Nós não combinamos, você sabe disso. E eu já estou cansada disso tudo. Nossas vidas... Elas são completamente diferentes. Eu não posso mais arcar com as consequências. – ela disse olhando-o nos olhos com um semblante triste. – Eu não quero te prender a algo que vai acabar atrapalhando a nós dois.
  U-Kwon se afastou um pouco, balançando a cabeça em negação.
  – Eu não concordo. Não posso concordar. – ele falava exaltado. – Se eu ficar sem você, eu vou acabar enlouquecendo novamente... , por favor, não me deixe!
  Ela sentiu o fluxo de lágrimas aumentarem. Estava ali o detalhe que a tinha prendido por tanto tempo a ele. E que ela achou que estava já esquecido e destruído.
  – Você já consegue sozinho, U-Kwon... – ela sussurrou controlando os soluços.
  – Não! – ele exclamou se levantando da cama, começando a andar de um lado ao outro do quarto. – Você sabe que não! Eu nunca consigo ficar longe de você por mais de dois ou três dias sem acabar recaindo...
   mordeu o lábio inferior tentando não chorar mais.
  – Mas você estava tão bem... – ela comentou com a voz trêmula. – A gente já tinha conversado sobre isso. Você estava curado, praticamente.
  – Eu estava bem, mas você estava lá para me ajudar. Não é tão fácil sozinho. As coisas... As pessoas... Os lugares... Nada para de verdade. – ele continuou. – Eles nunca me deixaram em paz. Mas pensar que você dependia de mim sempre me fez lutar contra isso. Quando você foi... Eu fiquei tão assustado... Eu...
  Eles se encararam por alguns segundos, em silêncio, até escutarem um barulho. Alguém tinha acordado.
  – ? – a voz da mãe vinha do outro lado da porta trancada. – Ainda está acordada?
  Ela respirou fundo, esperando a voz se normalizar para responder.
  – Sim, mãe. Mas já estou indo dormir, não se preocupe.
  – O que você está fazendo?
  – Estudando.
  – Parecia que estava conversando com alguém...
  – Não inventa, mãe. Eu gosto de estudar lendo em voz alta. – ela disse suspirando.
  – Está certo. Vai logo dormir, que amanhã tem aula...
  – Ok, ok. Boa noite.
  Os dois esperaram ela voltar ao quarto para voltarem a respirar normalmente.
  – Acho bom você ir agora. – começou sem conseguir encará-lo.
  U-Kwon assentiu em silêncio, indo para a janela.
  – Se você for por aí, vai acabar se machucando. – ela disse com um riso fraco.
  Ele não respondeu, apenas ficou parado olhando para fora. Não queria mais olhá-la. Sabia que se o fizesse, nunca mais poderia deixá-la ir. se levantou e destrancou a porta, tentando ser silenciosa.
  – Vem. – ela sussurrou chamando-o.
  O garoto a seguiu, cabisbaixo. Em um silêncio necessário, eles conseguiram alcançar a porta da frente.
  – Fuga com sucesso. – murmurou tentando soar engraçada, mas ele não estava no clima. – Você vai ficar bem.
  – Tanto faz. – ele disse ríspido, encarando o céu estrelado.
  Naquele momento, o perfil dele parecia tão fofo e inocente, que ela não conseguiu conter um suspiro.
  – Eu quero que você fique bem. – ela sussurrou e ele apenas a lançou um olhar de canto. – Acho melhor você ir indo.
  Ele concordou com um aceno de cabeça e, sem olhá-la, pulou o muro, desaparecendo de vista. Levando o coração dela junto.

    Os dias pareciam passar sem cor ou movimento. entrava e saía de casa, estudava, comia, respirava, dificilmente se importando com o que realmente fazia. Estava em modo automático. E ninguém parecia perceber isso. Como se eles se importassem de verdade.
  U-Kwon havia sumido. Era como se ele nunca tivesse existido. As pessoas não se lembravam dele, ou fingiam não se lembrar para não ter que tocar no assunto e, assim, criar uma atmosfera estranha. não sabia dizer se isso era bom ou ruim. Porque, afinal, ele fizera parte de sua vida. Ela precisava superar isso e seguir em frente, e todos ao seu redor também.
  Qual o motivo para não ser assim, então?
  – Você irá voltar para casa mais tarde? – era uma das colegas de classe que perguntou.
  – Sim. Tenho que terminar esse resumo antes que a biblioteca feche. – ela explicou focada nos livros a frente.
  – Mas a biblioteca já fechou. Acho melhor voltar outra hora...
  – O quê? Que horas são? – se desesperou, procurando o celular nos bolsos do casaco.
  – Quase dez horas. Bem, eu vou indo. Até segunda.
  – Ah! Até... – respondeu triste.
  Olhou ao redor: as salas pareciam vazias. Era tarde, e ela deveria esperar por isso. Suspirando, juntou o material de estudo e foi até o carro no estacionamento, que nem era tão longe assim. Estava praticamente deserto também.
  Com exceção de seu carro, havia apenas uma moto e uma bicicleta. caminhou apressada até o veículo, abriu o porta-malas, jogou tudo ali e sentou no banco do motorista. Enquanto olhava os retrovisores para dar ré, algo lhe chamou atenção. Desde quando havia um carro atrás do seu?
  – Mas que... – ela começou a se desesperar.
  Aquilo era muito estranho. O carro tinha vidros escuros e não era possível enxergar quem o conduzia. decidiu buzinar para chamar a atenção do motorista, mas isso pareceu não surtir muito efeito.
  – Quem esse idiota pensa que é? – ela resmungava enquanto apertava a buzina novamente.
  De repente o vidro do carro misterioso se abaixou, revelando um U-Kwon sorridente sentado no banco do motorista. sentiu que estava em problemas. Sem saber como reagir, ela pisou no acelerador, passando por cima da grama do canteiro à frente, sem se importar com as consequências. Ela precisava fugir dali. Precisava fugir dele.
  Ainda não conseguiria encará-lo adequadamente. Aqueles seus sentimentos estavam começando a ser controlados, ele não podia simplesmente aparecer assim e estragar tudo o que ela tentava arrumar!
  – Eu acho que quem está enlouquecendo sou eu e não ele... – ela sussurrou enquanto tentava sair do estacionamento.
  O carro dele, sabia, estava tentando fazer o mesmo, seguindo-a.
  – Seu idiota, não torne isso difícil... – ela implorou quando alcançou a saída e ele estava logo atrás.
  O celular começou a tocar. sabia muito bem quem era, mas ainda assim o retirou do bolso.
  – Eu não quero falar contigo. – ela exclamou ao reconhecer o número.
  Um toque. Dois. A garota suspirou e aceitou a ligação, colocando-a no alto-falante.
  – Pare o carro. – ele exclamava.
  – Não me diga o que fazer!
  – -ah,nós sabemos muito bem onde isso vai dar... Pare de fugir.
  – Você não deveria ter vindo. – ela disse com a voz embargada.

  U-Kwon bufou, desligando o celular. Ele não deveria, realmente. Ela estava certa nesse ponto. Ele precisava.
  – Tudo bem, sem estresse. Vamos ver até onde você vai com esse carrinho... – ele murmurou focando sua atenção no transito.
  Durante todo aquele tempo em que estivera sumido, U-Kwon havia tentado se reerguer. Afastou-se do mundo conhecido, se isolando, fugindo para outras cidades, longe de seu passado e presente. Essa era a única maneira para seguir em frente sem ela. Ou era o que ele achava, até que eles o encontraram. De alguma forma, fugir nunca é uma opção segura.
  – Você realmente pensa que pode fazer isso? – Zico, o líder da gangue, falava enquanto acendia um cigarro.
  U-Kwon sorriu, mostrando seus dentes brancos.
  – Eu queria acreditar. – ele respondeu.
  – Você não pode fugir de nós. – Zico continuou, soltando a fumaça do cigarro aos poucos. – Não sem antes acertar todas as contas.
  U-Kwon riu, assentindo. Era inútil ir contra aquele fato. Ele precisava resolver seus problemas pendentes e recomeçar dignamente. Suspirando, ele se aproximou dos seis rapazes que estavam perseguindo-o, fazendo Zico sorrir.
  – Bom garoto... – ele disse.
  E tudo escureceu. Talvez tenham se passado dias, semanas, meses. Ele não sabia dizer. Só existia a necessidade de cumprir as ordens de seu líder até o dia em que pôde se ver livre... Livre para se afastar daquela vida que apenas lhe trazia problemas e mais problemas, o empurrando para longe dela...
  Aquela que iniciara toda sua vida de verdade. Porque tudo realmente passou a ter sentido quando ele a encontrou. tinha feito-o nascer. Antes ele era apenas um ser sem alma ou razões para viver. Como uma sombra que não tinha um objeto para imitar, que acabou achando por acaso algo que o completasse, com as mesmas formas e reflexos. Porém, de um jeito diferente e correto.
   era seu exemplo, o objeto a se movimentar contra a luz. Ele seria sempre essa sombra, mas não se importava, pois era o que deveria ser. Um complemento necessário.
  E assim estava: seguindo-a como um louco psicótico pelas ruas quase desertas do subúrbio, enquanto ela própria não sabia para onde ir. Por sorte, o carro que usava não era dos melhores. Era um usado, pelo qual ela se apaixonara de cara, sem ninguém entender direito o motivo. U-Kwon agradeceu mentalmente por isso ter acontecido, caso contrário iriam rodar o país inteiro sem parar.
  – Não... – ela murmurou fechando os olhos com força e girando a chave devagar.
  Nada. O motor continuava apagado. Ela olhou pelo retrovisor e notou o carro dele parado também. Desesperou-se, girando a chave várias vezes, sussurrando mantras para que desse certo.
  – Por favor... – ela disse pouco antes de U-Kwon bater no vidro de sua janela, assustando-a.
  – -ah! – ele chamou com um sorriso fofo nos lábios. – Acho que alguém precisa de carona.
  Ela respirou fundo, contendo a irritação e o nervosismo. Ou ao menos tentando fazer isso.
  – Não preciso de sua ajuda. Por favor, me deixe em paz! – ela falou sem olhá-lo.
  U-Kwon riu, se afastando um pouco e a observando lutar para dar a partida. Após alguns minutos, finalmente desistiu e saiu do carro, indo encará-lo com raiva.
  – Você sabotou, não sabotou? – ela exclamou apontando o dedo indicador para o peito dele. – Anda, pode admitir, eu sei que você é capaz de fazer esse tipo de coisa idiota!
  Ele apenas olhou para o carro franzindo um pouco o cenho e soltou um “hummm” pensativo.
  – Você é um idiota. Eu te pedi para me deixar em paz! – ela continuou, seus nervos a ponto de estourarem.
  – Você está sendo injusta, . – ele a interrompeu segurando o riso. – Seu carro nunca foi dos melhores. Acho que agora ele se foi de vez...
   bufou, virando as costas para U-Kwon e encarando o carro parado no meio da rua.
  – Ainda bem que aqui não tem movimento. – ele comentou olhando para os lados como se para confirmar sua fala. – O que vai fazer?
  – Chamar o guincho. – ela disse enquanto discava o número na tela do celular.
  – Acho que não! – ele disse tomando-lhe o aparelho e colocando no bolso interno de seu casaco.
  – Ah... Muito maduro de sua parte. – ela resmungou entre suspiros.
  – -ah... – ele disse se aproximando dela com cautela. – Eu estou livre.
  – Eu sei. Eu te deixei livre. – ela respondeu abaixando os olhos.
  – Não. Eu estou dizendo que realmente estou livre... limpo. – ele falou colocando uma mão sobre o ombro dela, fazendo-a ficar tensa. – Eu não estou mais envolvido com esse mundo. Já acertei tudo.
   encarou-o séria.
  – Não brinque comigo.
  – Não estou de brincadeira. – ele suspirou. – O que vou precisar fazer para te provar isso?
  – Não pode ter se livrado te tantas coisas em tão pouco tempo. – ela falou arregalando os olhos. – Durante todos esses anos sua vida foi assim...
  – Eu não minto para você. Sabe que eu nunca fiz isso!
   suspirou, fechando os olhos com força e logo em seguida os abrindo para encará-lo séria.
  – Por que você só fez isso agora? – ela murmurou e U-Kwon prendeu a respiração, sem conseguir responder.
  – Eu... Ahn...
  – Tudo bem. – ela o interrompeu. – Acho que isso não importa agora. Você sempre foi o mais enrolado possível... Não deveria ter esperado algo diferente...
  U-Kwon a olhou, franzindo o cenho, e ela sorriu. Pela primeira vez em tanto tempo, ela estava sorrindo. Só para ele.
  – Sem ressentimentos? – ela perguntou estendendo a mão para ele apertar.
  – Você se entrega muito fácil. – ele disse espremendo os dedos dela entre os seus de propósito. Adorava provocá-la daquela maneira.
  – Yah! – ela exclamava tentando se livrar.
  – Eu achei que ia ter que fazer mais loucuras para te convencer... – ele continuava a falar, aumentando a pressão na mão.
  – Isso dói! – ela gritava desesperada, mas com um sorriso bobo nos lábios.
  – Você nunca quis isso de verdade, não é mesmo?
  U-Kwon puxou-a pela mão para que seus rostos ficassem próximos. por um instante se perdeu naqueles olhinhos brilhantes e castanhos.
  – Eu... Talvez... – ela balbuciava, engolindo a seco, o nervosismo controlando-a.
  U-Kwon sorriu vitorioso, aquele sorriso fofo e matador que só ele sabia dar, e que fazia o coração de perder o ritmo da batida.
  – Saranghae. – ele sussurrou antes de beijá-la com vontade, até deixá-la sem ar.

FIM



Comentários da autora

  N/Anne: Como não teve nota da autora, a beta e amiga se apoderou do espaço.
  NÃO SEI NEM O QUE DIZER PORQUE FOI TUDO ABSURDAMENTE LINDO E SEI LÁ, U-KWON <3 Todo badboy e tal nhac. Subindo minha parede e e e e e e e e
  To morta. Esse final foi perfeita (pra quem tava achando que ele ia morrer, qualquer coisa ia ser perfeita LKSDMGLDKMLKDSMGDS)
  Tize, obrigada pela fic linda <3 gostei muito mesmo mesmo mesmo mesmo mesmo <3 Obrigada por ter me transformado em BBC e tirado meu preconceito contra coreanos ~
  Agora não tem mais volta como você disse G.G
  Mas obrigada principalmente por todos os surtos e todo o amor, conhecer você foi A+++++ esse ano, muito feliz mesmo que isso aconteceu /o/
Vou parar antes que isso vire depoimento do orkut HUE
  Saranghae dongsaeng ♥
  xx B-Anne