27-8

Escrito por Rayanni | Revisado por Lelen

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Música: Madhouse, por Little Mix

  Faz hoje três anos que me encontro limpa. Não, não estou falando de tomar banho ou coisas do gênero, estou falando de drogas, heroína mais especificamente.
  Tenho 27 anos e, posso dizer, que hoje estou em paz.

  Flash Back On
  3 de Junho de 2000

  - Filha, vem jantar! – Minha mãe me chamou no andar de baixo.
  - Não tenho fome, obrigada. – Eu tentei falar normalmente, mesmo estando muito mal.
  Tinha tido mais um dia difícil na escola, tal como todos os outros dias, desde que me lembro sempre ouvi comentários maldosos sobre mim. Digamos que não me encaixo no ideal de beleza estipulado pela sociedade.
  Passei mais uma noite chorando até pegar no sono.

  4 de Junho de 2000
  Levantei a mesma hora de sempre, me arrumei e fui para a escola. A única vantagem é que já era quarta, meio da semana, mais dois dias e podia descançar um pouco dos comentários maldosos.
  Sai da escola pensando em ir logo para a casa, me refugiar.
  Estava dando passos apressados com a cabeça baixa, evitando olhar para as pessoas, os seus olhares parecem sempre me julgar. Hoje isso não me ajudou, pois fui contra um rapaz, alto de olhos e cabelos claros, um príncipe que com certeza nunca olharia para mim.
  - Desculpa, eu estava distraída. – Eu praticamente sussurei, tinha vergonha porque ele estava com os amigos. Ele apenas disse "não tem problema" e foi embora, pensava eu que para sempre. Porém daquele dia em diante sempre nos encontrávamos e passado um tempo começamos a namorar.
  Flashback Off

  Por que ele tinha que surgir na minha vida, me passar segurança e conforto? Se eu andasse de cabeça levantada eu não tinha ido contra ele, nem tinha entrado para aquele maldito mundo das drogas.

  Flash Back On
  29 de Maio de 2001
  - Experimenta... – Ele indicou a maconha que tinha entre os dedos.
  Tal como não neguei o primeiro cigarro que ele me ofereceu também não neguei agora, esse foi o meu erro. Experimentei dessa vez e comecei a querer mais e mais.
  Com o passar dos tempos os efeitos provocados em mim já não me satisfaziam, eu precisava de algo mais forte, foi aí que conheci a heroína. Acho que naquele momento o nome fazia todo o sentido, ela tinha me salvado da solidão e da insegurança que tinha. Tinha me salvado do hospício que era o mundo dos "normais", o mundo "dos sem problemas".
  Flashback Off

  Quem imaginaria que uma garota, ou melhor uma criança de 15 anos poderia ter tantos problemas ao ponto de entrar no mundo das drogas. Nem eu imaginava, mas isso, infelizmente, aconteceu. O pior foi que essa criança nem pensou nos problemas ainda maiores que as drogas podiam trazer.

  Flash Back On
  25 de Fevereiro de 2009
  - Filha, isso é para o seu bem... – Minha mãe tinha os olhos marejados.
  - Meu bem? Eu estou bem, estou ótima na verdade! – Eu estava exaltada, eu já não me importa com os outros, eles e os sentimentos idiotas deles eram indiferentes para mim.
  Meus pais agora vieram com a idéia de me mandar para uma clínica de desintoxicação, disseram que a droga tinha me mudado, que eu estava diferente, essas coisas todas que os pais falam quando os filhos crescem, a minha única diferença eram as drogas, que na minha opinião eram boas, porque me davam autoconfiança e vontade de viver.
  Depois de muito relutar, fiz a vontade deles, afinal depois que saísse de lá podia continuar a minha vida, isso seria apenas umas férias.

  19 de Julho de 2010
  Finalmente ia sair daquela clínica, a verdade é que disseram que tive uma boa... "evolução". Pelo que eles disseram aos meus pais eu resisti bem a ausência da heroína, colaborava nas conversas em grupo,etc. Na verdade eu estava era cansada de estar fechada lá dentro, por isso colaborei com os internos para me soltarem logo.
  Passei dois anos ido naquelas reuniões de grupo para falar sobre como é estar limpa, como a minha vida melhorou e essa merda toda. No primeiro ano era uma tortura ter que sair de casa só por isso, mas depois passou a ser um hobbie.
  Arrumei um trabalho, um namorado, fiz novos amigos, agora em vez de me drogar usava a música para me levar para outro mundo, tudo estava começando a correr bem.
  Flashback Off

  Parece tudo perfeito, a escolha dos meus pais e a minha aceitação em relação a essa escolha, a minha magnífica "evolução", as minhas idas as reuniões de grupo, a minha reintregação na sociedade, minha nova droga, a música, tudo perfeito. Claro, até a minha recaída.

  Flash Back On
  27 de Agosto de 2012
  - Não fica assim , você vai achar outro namorado, melhor que ele. – Perrie tentava me consolar, ela que tem me apoiado nessa minha reintregação, apesar da nossa diferença de idade e o seu início de carreira como cantora, ela sempre me entende e arruma um tempo para mim.
  - Você tem razão... Obrigada por tudo. Pezz vou desligar, tenho que fazer a janta.
  - Sempre que precisar estou aqui. Beijos, te adoro.
  - Beijos, também te adoro.
  Depois de desligar me arrumei e fui a uma discoteca onde eu tinha a certeza que encontraria heroína.
  Comprei o suficiente para qual o dinheiro que eu tinha pudesse comprar e voltei para casa.
  Não esperei duas vezes e comecei a injetar a droga no meu sistema, com certeza a tristeza, solidão, insegurança e raiva que sentia por causa do meu ex namorado iam desaparecer, só não esperava que fosse com a minha morte.
  Flashback Off

  27 de Agosto de 2013, dias correntes.
  Perrie's POV
  - Vamos Pezz? – Jesy me chamava para subir em palco.
  Como a teria gostado de estar presente neste show, desde que eu disse a ela que queria ser cantora que ela sempre me apoiou, ela teria ficado orgulhosa de saber que eu consegui realizar o meu sonho e que ele está crescendo.
  - Boa noite Londres! – Eu subi no palco com as meninas. – Preparadas mixers? – Eu perguntei e o show começou.
  Passado algumas músicas chegou a que eu mais desejava. Madhouse!
  - Bem mixers, a próxima música eu queria dedicar a uma pessoa muito querida, eu prometi uma música a ela, mas infelizmente ela faleceu antes de ouvi-lá. Ela fez eu prometer que a música seria animada, nada triste, porque ela dizia que a vida dela já tinha sido triste demais. Essa música de certo modo retrata a vida dela, não estive com ela desde o início, mas ela se abriu comigo. Por isso minha querida irmã, , onde quer que você esteja, essa música é sua. Madhouse! – Eu já tinha os olhos marejados, porém olhei para os bastidores e pode ver Zayn me dando forças para continuar.

I feel a strange sensation
Taking over from my head to my toes
I got the shakes, body rippling
It's enough to shatter my bones

  Penso que teriam sido essas as primeiras sensações que surgiram quando a heroína fez efeito pela primeira vez no seu organismo.

Is it all a dream?
'Cause I don't wanna stay awake
But I won't remember a thing
And now it's running through my veins
I don't know what's happening
Beat's so sick

  Certamente era isso que a sentia quando se drogava. Ela não queria ficar "acorda", não queria viver, porque a vida era cruel.

Running from the madhouse
They won't take me back
Got the medicine to give me what I need

   tinha fugido do hospício que era o mundo, ninguém se amava, todos criticavam uns aos outros, ela tinha a heroína para se refugiar, era a única coisa que ela precisava.

Everywhere I look
I'm shook I got bloodshot eyes
I'm like a fugitive trying to climb the walls
But my hands are tied

  A verdade é que, apesar de ter ido para a clínica ela com certeza sentia falta da droga, estava de mãos atadas por mais que tentasse fugir dela e voltar a viver, ela não conseguia.

In just one touch
And I'm infected by the sound
Crawling all over my skin
And the sky is falling down
I don't know what's happening
Beat's so sick

  Passávamos tardes inteiras ouvindo músicas e cantando as mesmas, ela dizia que a música era a nova droga dela, que tal como a heroína, percorria as suas veias e a levava para outro mundo.

And they can't hear my voice
No matter how I scream
They're came for me

  A verdade é que a com certeza tinha perdido a voz e as forças, ao ter a recaída ela desistiu de tudo, não a podemos ajudar e os "Men in white coats", não os considero enfermeiros, mas sim anjos que a vieram buscar. Espero que eles cuidem delas, porque ela com certeza merece ser protegida.
  - Descanse em paz , meu anjo! – Eu disse para eu mesma.
  Perrie's POV Off

  Se olharmos para trás e fizermos as contas a não viveu 27 anos. Viveu apenas 19. Sim, 19, porque 27 anos de existência no mundo menos 8 anos dependente da droga a fez viver 19 anos e sobreviver 8. 27-8...-2012.

FIM



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